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Arquitetura moderna

em associação com o
passado pré-hispânico:
o caso do Campus
Universitário da
Universidade Nacional
Autônoma de México
(UNAM)

TRABALHO MONOGRÁFICO

Macarena Anabel Albarenque


Universidade Federal de Santa Catarina, Centro Tecnológico,
Departamento de Arquitetura e Urbanismo, Florianópolis, Santa
Catarina, Brasil

Disciplina Arquitetura Latinoamericana


Professor Raphael Grazziano

2022
TRABALHO MONOGRÁFICO | Macarena A. Albarenque

Índice

Índice .......………………………………………………………………………..………...02

Introdução ……………………………………………………………….…….…………...03

Contexto socioeconómico e político …………….…………………………....…………...04


2

Implantação do CU ...……………………………………………………………………...05

. .......…………………………………………………………………...06

........…………………………………………………………………...07

O projeto e seus autores ....………………………………………………………………...08

Análises do CU .....………………………………………………………………………...09

.…………………………………………………………………………...10

.........……………………………………………………………………...11

.........……………………………………………………………………...12

.........……………………………………………………………………...13

.........……………………………………………………………………...14

Conclusão .................……………………………………………………………………...15

Referências Bibliográficas ...……………………………………………………………...16


TRABALHO MONOGRÁFICO | Macarena A. Albarenque

Introdução

O rigor da teoria funcionalista, que já estava bem desenvolvida e difundida na América


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Latina em meados do século XX, excluiu não apenas a ornamentação, mas também a
continuidade histórica e a linguagem simbólica da arquitetura. Com o orgulho do racionalismo
radical, procurou estabelecer uma nova arquitetura, distanciada do contexto e da tradição, mas
a produção arquitetônica do México mostra que a história não pode ser abolida por decreto,
nem é possível banir a dimensão simbólica da arte. Neste sentido, a procura de identidade na
arquitetura mexicana em meados do século XX é visionária ao conseguir uma síntese entre a
modernidade e o caráter nacional da arquitetura que pode ser exemplificado com o Campus
da Universidade Nacional Autônoma de México, edificado entre 1949 e 1952 e situado no sul
da capital mexicana, o qual, integra edifícios académicos, administrativos, foros e instalações
esportivas distribuídos entre espaços abertos.

O projeto para o Campus Universitário, como Eggener o vê, "foi um esquema utópico
do Movimento Moderno: arquitetura e planejamento urbano destinados a acomodar e alcançar
mudanças sociais fundamentais e, neste caso, ajudar a preparar o novo mexicano" (Eggener,
2014, p.73). Isto porque, quando foi projetado, o México estava em uma fase de
desenvolvimento econômico consolidado e em aumento, graças à solidez de suas instituições
e a os fundamentos de sua revolução social. Assim, o governo mexicano procurou expressar
este momento através de projetos de modernização do país após a revolução, que retomariam
os elementos de identidade latentes na cultura mexicana e os integrariam à arquitetura da
época.

Nesta monografia será analisado então desde o mais geral até o particular, o Campus
Universitário da UNAM projetado no contexto mencionado e considerado um ícone do
modernismo na América Latina, tentando verificar como está relacionado com as formas
arquitetônicas e urbanísticas do Movimento Moderno e das culturas pré-hispânicas. Analisar
o contexto socioeconômico e político do país no ajudará a entender as ideias que estavam
circulado na época que foi projetado o caso de estudo, e como estas influenciaram na eleição
da localização, os princípios construtivos e formas estéticas que levaram a demostrar como se
produze no conjunto do Campus Universitário uma mistura entre arquitetura internacional e
nacional.
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Contexto socioeconómico e escapando da guerra e de suas consequências,


político americanos evitando a histeria anticomunista
do início dos anos ‘50 e muitos outros,
No período de 1940-1960 a Cidade de
invadiram a cidade em busca de emprego e
México teve um processo de modernização e
novas oportunidades. Num período de só
transformação urbana extraordinária,
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vinte anos, a população da área metropolitana


principalmente como consequência do
da Cidade de México aumentou de 1,7
processo de industrialização do país que já
milhões para 5,4 milhões com consequências
tinha começado no período do “Porfiriato”
imediatas na configuração espacial da cidade
(1880-1910), que foi incrementado no
capital, polo de concentração das atividades
Período post-revolucionário (1930-1940), e
do novo sistema econômico. Esse acelerado
alcançou seu ponto máximo de
crescimento urbano, leva à mesma a ser
desenvolvimento no período da Pós-guerra
provavelmente uma das urbes mais povoadas
(1940-1980) quando se consolida a troca de
a nível mundial na aquela época. Por essa
um sistema económico concentrado nas
razão, a produção cultural e a construção
importações e produção de matéria prima nas
floresceram, financiada pelo governo, que
áreas rurais, a um sistema concentrado na
procurava melhorar a fisionomia e a estrutura
exportação e produção de manufaturas,
da cidade tentando dar a imagem de cidade
dando origem assim, a uma nova era
progressista e moderna, estabelecendo um
comercial e de serviço.
padrão para os desenvolvimentos futuros
Assim, como Eggener explica, o
baseado na expansão do centro para a
investimento nacional e internacional no
periferia.
México, e junto com ele, o crescimento
Os ideais de progresso e
econômico e industrial do país, disparou.
industrialização foram evidentes na
Camponeses deslocados, empresários de
construção de novas ruas e a extensão do
classe média, expatriados europeus

Figura 1. Desenvolvimento urbano da Cidade de México 1870-1980. [Gráfico], por Arq Araceli García Parra, 2006,
TDX (Tesis Doctorals en Xarxa (https://www.tdx.cat/handle/10803/6961#page=1) Anexo 1.
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“Paseo de la Reforma” e a “Avenida histórico da cidade. Essas instalações


Insurgente”, as quais articulavam no só os académicas, no contexto de crescimento
novos prédios funcionalistas, mas também, o urbano mencionado, já não eram funcionais
crescimento periférico da cidade ao Norte, ou adequados para brindar ensino de acordo
com as áreas industriais, e ao Sul, com os com a pedagogia contemporânea, nem para a
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novos bairros populares e de classe meia quantidade de estudantes em uma cidade em


(Figura 1). continuo crescimento, assim como também
Mercados públicos, imensas torres de não para os ideais do Movimento Moderno –
escritórios e hotéis, complexos culturais, adoptados como configuradores da imagem
governamentais, educacionais e industriais, progressista da cidade–, gerando-se, uma
instalações médicas e de transporte, e caros zona conflitiva pela concentração de
projetos residenciais que atendem a todas as atividades, de tráfico pedestre e veicular, e a
classes sociais surgiram. Uma cidade falta de espaços abertos para o jogo, lazer ou
geograficamente contida, em escala pedestre, repasso das aulas que era feito então, nas ruas
tornou-se uma metrópole em expansão, de e muitas vezes terminava em distúrbios, de
edifícios de vidro, subdivisões urbanas, acordo como o que explica Acevedo
autoestradas e favelas, com a crescente Escobedo. Além disso, seguindo à autora
preocupação de dar a imagem ao exterior de Noelle, já havia, desde começos do século
uma cidade moderna, controlada e planejada, XX, uma preocupação por estabelecer uma
ordenada, racional, progressista econômica e sede definitiva que reunisse as diversas
culturalmente, aberta as ideias internacionais escolas em um espaço comum, ao mesmo
de arquitetura e urbanismo, mas também, tempo em que oferecesse espaço adequado
valorizando e reafirmando seu patrimônio para o trabalho docente.
artístico da antiguidade americana que Por outro lado, lembrando o ideal do
conformava sua identidade e diferenciava do eleito presidente Miguel Alemán, de
resto do mundo. consolidar o México como um país
fortalecido sobre as bases de sua Revolução,
Implantação do CU que deu origem a um nacionalismo que
revalorizava a origem mesoamericana e as
No contexto mencionado, as
culturas indígenas como forma de
atividades académicas da UNAM eram
legitimação da identidade do país, e que olha
desenvolvidas em antigos prédios coloniais
para o futuro, como Godoy Patiño descreve,
dispersos no chamado “bairro universitário”
era necessário refletir esta imagem por meio
que coincidia geograficamente com o centro
de um grande projeto que promovesse o
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desenvolvimento do México moderno e 1946, o governo federal, adquiriu 7 km2 de


através do ensino superior como um fator de terreno no campo de pedra formado pela
progresso. A construção de um Campus erupção do volcam Xitre, de 2000 anos no
Universitário, expressava o avance social e limite sul da cidade, numa área conhecida
econômico do país e a região a traves da ideia como o Pedregal de San Ángel, e
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de dar educação de qualidade para a proporcionou esse mesmo, no 11 de setembro


comunidade em um espaço comum que de 1946, ao Dr. Salvador Zubirán, Retor da
fomentara o intercâmbio de ideias entre os Universidade Nacional Autónoma de
distintos sectores universitários junto a México, junto ao apoio para iniciar e levar a
maiores oportunidades de aprendizagem. cabo a construção do Campus Universitário
Essas preocupações junto à (Figura 2).
conjunção de uma series de fatores históricos, O espaço destinado para o projeto foi
económicos e culturais favoráveis, levaram à escolhido então, por razões de conveniência
procura de um novo sitio onde desenvolver e ideológicas que mostram o primer contacto
um Campus Universitário. Assim, entre 1943 entre ideias modernas e a revalorização pré-

Figura 2. Vista aérea da Cidade Universitária no Pedregal de San Angel [Fotografia], por CIA Mexicana Aerofotos,
S.A., 1951, Acervo Histórico Fundación ICA
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hispânica. Em quanto as primeiras, e possível controle, era uma solução frente à ameaça de
mencionar que, a origem vulcânica do solo manifestações, protestas e distúrbios no
havia impedido o desenvolvimento urbano da centro da cidade, tradicionalmente
área assim como também, sua utilização para encabeçadas pelos estudantes.
a agricultura; mas, sua localização ao sul, Em quanto as razões ideológicas,
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para onde a cidade estava sendo expandida e seguindo ao autor Eggener, o sitio era rico em
novos bairros estavam nascendo, como o associações históricas, principalmente pré-
fraccionamento dos Jardins do Pedregal de hispânicas, por ser uma paisagem vulcânica
Luís Barragán, despertou o interesse nessa. num país onde os vulcões tinham há muito
Nesse sentido, era um local grande, tempo um profundo significado cosmológico
disponível, acessível, económico e e cultural. Era também onde viviam espécies
sismicamente estável, atravessada por uma pouco comuns de plantas e animais; onde
das principais artérias da cidade, a Avenida antigos mexicas haviam vivido e construído
Insurgentes. Além disso, era um sitio que casas, tumbas e templos, como a pirâmide de
servia de refúgio para criminosos por estar Cuicuilco (Figura 3), onde também, geração
longe da cidade, que, baixo os ideais mais recente de mexicanos nativos havia
modernos do governo federal que tinha o procurado refúgio dos espanhóis, e era um
controle -das formas e da sociedade- como dos poucos lugares que não foram intervindos
centro, era necessário povoar para poder pelo imperialismo europeu. Assim, em
assim controla-lo; e baixo a mesma ideia de meados do século XX, o Pedregal era visto

Figura 3. Pirâmide de Cuicuilco [Fotografia], por Instituto Nacional de Antropología e Historia, ano unknown,
Mediateca INAH
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como o antigo coração do México. A Cidade O projeto e seus autores


Universitária, disse o Reitor da Luis Garrido,
No processo inicial para a realização
"se ergue num lugar marcado pelo destino. El
do projeto deve-se lembrar, como explica
Pedregal foi a sede de uma civilização
Noelle, que em 1946, os diretores da Escola
milenar e agora será a sede da cultura do
de Arquitetura da UNAM decidiram realizar
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futuro". (Garrido, 1952, p.198)


um concurso interno de ideias entre os
Desta maneira, a expansão da Cidade
professores para a realização de um
do México foi direcionada para o sul, tendo o
anteprojeto do Campus Universitário cujo
Campus Universitário como um importante
júri estava composto pelos próprios
polo de desenvolvimento. A consequência
concorrentes, e a decisão favoreceu dois
imediata foi a desocupação dos edifícios que
projetos semelhantes, os dos arquitetos Pani
abrigavam as diferentes faculdades e escolas,
e Del Moral. Esses, serviram de base para o
dispersas no Centro Histórico, para que
projeto definitivo do Plano Reitor do CU que
pudessem iniciar uma nova era, articulados
seria presentado pela Escola para o Concurso
em um projeto visionário que insertasse o
Nacional de Marzo de 1947, cujo equipe
país na modernidade dando uma imagem de
ganhadora foi formado pelos estudantes
cidade ordenada, planejada, eficiente e
Enrique Molinar, Teodoro González de León
controlada.
y Armando Franco, baixo a direção dos
Em conclusão, o lugar onde foi
arquitetos Pani e Del Moral. Posteriormente
implantado o Campus Universitário foi
foi presentado ante o presidente do país,
escolhido por brindar a possibilidade de
Miguel Alemán, quem em 1949,
construir uma nova cidade completamente
oficialmente, lhes encarga a os arquitetos a
moderna, limitada, mas espaçosa, em
coordenação dos equipos de arquitetos,
contraste e longe da cidade metropolitana
engenheiros e artistas responsáveis de cada
superpovoada, desordenada e caótica à qual
um dos projetos para os edifícios individuais
serve. Desenvolvendo assim uma cidade
que integrariam o conjunto.
modelo, paradigmática e sujeita ao controle
As construções iniciaram o 5 de Junho
de suas formas coisa que nunca posso ser
de 1950 e o Campus foi inaugurado só dois
aplicada na capital, seguindo os ideais
anos depois, o 20 de Novembro de 1952. No
estéticos do Movimento Moderno para
entanto, o início das atividades académicas
insertar o país numa nova época sem
no novo espaço não iniciaram até Fevereiro
renunciar à identidade nacional.
de 1954.
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Temos que destacar que, se bem as Análises do CU


ideias do funcionalismo eram bem
Analisar o conjunto do plano do Campus
conhecidas e trabalhadas por Pani y Del
Universitário como dispositivo arquitetônico
Moral, entretanto, eles procuram superar o
e urbano junto as principais construções que
funcionalismo radical e julgaram importante
integram ele, nos ajudara a entender essa
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revestir os ossos das estruturas com


presencia e mistura entre princípios
elementos que tivessem em conta os fatores
construtivos e formas estéticas funcionalistas
climáticos, socioeconómicos y culturais,
próprias do Movimento Moderno, por um
recusando-se a copiar modelos erigidos em
lado, e as próprias das culturas pré-hispânicas
outras regiões ou circunstancias.
por outro lado, dando origem a uma
Lembre-se que o projeto foi pensado
arquitetura funcionalista nacionalizada, que
nos mediados do Século XX, momento no
já tinha começado na eleição da implantação.
qual, México superava uma revolução que
Seguindo o testemunho de Teodoro
buscava reforçar a identidade cultural
González de León, “a cidade universitária foi
nacional ao mesmo tempo que eram
a primeira aplicação do urbanismo do
difundidas as ideias do movimento moderno.
Movimento Moderno em México, um projeto
Neste contexto, Del Moral e Pani procuravam
de grande escala num país que apostou, nesse
um projeto que tivera em conta as inquietudes
momento, ao futuro; foi a primeira grande
contemporâneas funcionalistas mais também,
obra pública integral da arquitetura moderna”
enfatizara um arraigo local e uma
(Gonzáles de León, 2011, p.27). Assim,
preocupação social. Neste sentido, o Campus
tendo em conta que o projeto foi concebido
Universitário é um conjunto monumental
para uma zona ainda sem urbanizar, foi
exemplo do modernismo do século XX que
possível para os autores pôr em prática ideias
integra urbanismo, arquitetura, engenheira,
que não eram possíveis de levar a cabo no
paisagismo e belas artes, com referências às
resto da cidade, como podemos mencionar as
tradições locais, principalmente a o passado
ideias proféticas de Le Corbusier de
pré-hispânico de México que é incorporado
“superbloco” y de tecido urbano em
como valor de identidade e pode ser visto al
harmonia com as novas formas de construir e
analisar o plano do conjunto do campus,
habitar, e a procura de avanços tecnológicos
assim como também cada unos dos edifícios
e materiais. Da mesma maneira, e notável a
que integram ele, em uma sínteses entre
incorporação das teorias do “Sistema
história e modernidade.
Herrey”, que consiste, como explica Noelle,
na disposição de calçadas unidirecionais;
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assim como também foram incorporados os veicular e é cruzado pela Avenida


princípios da Carta de Atenas entre os que Insurgentes em forma de ponte para separar
podemos encontrar: a separação de funções e os fluxos, diferenciar a ruas de acordo com
fluxos da cidade, e a distribuição dos seu uso, incorporar diferenças de níveis e
edifícios entre grandes espaços abertos, evitar a desintegração do espaço. Do mesmo
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presentados como uma descontinuidade na jeito, são geradas três zonas principais dentro
trama urbana da zona metropolitana, espaços do anel periférico que ficam encriptas dentro
de cultura, diversidade, tolerância e de circuitos de circulação veicular de único
relaxação; a consideração da topografia, o sentido também (Figura 4). "Em resumo, as
clima e o isolamento; a diferenciação das ruas diferentes grandes zonas da Cidade
de acordo com o uso, já seja habitação, Universitária são definidas pela disposição
passeio, trânsito veicular ou pedestre, livre da lava que as limita, bem como pelos
incorporando diferenças de níveis para que o circuitos fechados de circulação dos veículos,
pedestre possa tomar caminhos diferentes sem que nada impeça os pedestres de
que os automóveis. intercomunicarem livremente de zona para
Retomando esses princípios, o projeto do zona, já que as passagens a diferente nível
CU, tem em conta a topografia na maneira, necessárias, estão localizadas nos lugares
em que os "espaços irregulares bem definidos mais convenientes” (AA.VV, 1952, p.211).
isentos (da capa de lava), sugeriram o partido Mas, além da conveniência, as diferenças de
adotado, ao permitir nestes espaços livres, a níveis e as grandes extensões de pavimentos
classificação e localização dos principais de pedra junto a escadas entre plataformas,
elementos da composição arquitetônica" lembram também, à morfologia dos sítios
(AA.VV, 1952, p.211). Assim, o projeto pré-hispânicos, de acordo com o explicado
iniciou com o traço dum anel periférico de por Godoy Patiño.
todo o conjunto que serve de circulação

Figura 4. Desenhos da implantação do CU no campo de lava do sitio [Croquis], por Mario Pani e Enrique Del
Moral., 1952, Revista Arquitectura México No. 39
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Fica então uma composição que, tradicionais do sitio, como pedra vulcânica e
respondendo ao programa funcional geral, é metais como o ónix. Da mesma maneira, as
dividida nas seguintes áreas: 1. Escolar, com formas de algumas estruturas sugiram
a plataforma e praça de acesso principal em vulcões como o Estádio Olímpico ou
torno à qual são dispostos os prédios da construções pré-hispânicas como os
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Reitoria, o Aula Magna, a Biblioteca, o “Frontões” que serão analisados


Museo, e as diferentes Faculdades, posteriormente. E, assim como os conjuntos
configurando o eixo principal da mesoamericanos presentavam pátios
composição; 2. Estádio, sobre o mesmo eixo interiores separados das praças maiores, os
do lado oposto, cruzando a Avenida edifícios individuais do Campus tem
Insurgentes; 3 Moradias para estudantes e pequenas praças, espaços abertos menores ou
professore e área de prática de esportes; 4. jardins de escala humana que logram uma
Serviços gerais; 5. Centro cívico. Todas estão articulação entre conjunto e subconjunto e
articuladas com espaços abertos e lugares conferem unidade ao projeto.
para reuniões íntimas e coletivas, deixando as É possível ver então, como desde os
atividades de vivenda, estudo e lazer inícios das tarefas de desenho, os arquitetos
separadas pero bem comunicadas como incorporam valores de identidades ao
sugeria a Carta de Atenas, igualmente, como Movimento Moderno, procurando uma
explica Godoy Patiño, os monumentais síntese entre tradição e modernidade.
espaços abertos determinam a dimensão do Como explica Godoy Patiño, deve-se
campus e incorporam amplias perspectivas lembrar que, ao renunciar aos estilos do
que favorecem a percepção dos volumes passado, o funcionalismo inaugurou uma
arquitetônicos e enfatizam sua jerarquia nova estética. A linha reta, o plano e os
como acontecia na arquitetura sólidos geométricos regulares eram a
mesoamericana. essência de sua linguagem. Descartar toda
Por outo lado, seguindo os princípios da ornamentação tornou-se um preceito,
Carta de Atenas, além do racionalismo com sacrificar o complexo em prol do simples era
que se projeta o conjunto e o linguagem o postulado ético de este movimento. Mas
arquitetônico dos prédios que compõem ele, também, na arquitetura mesoamericana
a maioria em forma de caixas baixas de observamos, em coincidência com as
tabiques, concreto armado, lajes, acero e aspirações puristas da nova arquitetura, a
cristal inspiradas em Mies Van der Rohe e Le composição ortogonal, a importância do
Corbusier, é possível também encontrar o uso plano, a continuidade horizontal em contraste
de materiais e técnicas construtivas com a verticalidade e o claro-escuro como
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uma ênfase expressiva. Resulta assim claro, a que incluíram, como explica Eggener, temas
concordância entre formas arquitetônica como: "O Direito de Aprender", "A
mesoamericanas e modernidade, mas Conquista da Energia", "A História das Ideias
também, detrás de essa associação lógica, no México", "Esporte Pré-Hispânico".
existe um motivo ideológico para as A Reitoria, tanto em termos de sua
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reminiscências pré-hispânicas na linguagem localização quanto de sua elevação, é a


arquitetônica da modernidade no México: estrutura mais visível do complexo, como
revalorizar a origem mesoamericano do país convém à dignidade de seu propósito. Sua
como garantia de autenticidade e inscrição na arquitetura internacional pode
aproximação ao povo. ser vista em sua composição volumétrica,
Por outro lado, se for dada atenção aos quase cubista, que incorpora um jogo
edifícios individuais, essa reminiscência com volumétrico vertical-horizontal, com
as formas pré-hispânicas, aparece em diferentes ritmos e sequências, e sua reposta
distintos níveis de intensidade; mas, na a critérios funcionalista e racionalistas. Sua
maioria dos edifícios, além de outras medidas volumetria isenta, consiste em um prisma
projetuais que serão mencionadas horizontal, planejado para serviços
posteriormente, a valorização da origem educacionais, que contrasta com o prisma
mesoamericana es vista nas paredes internas vertical da torre, onde estão os escritórios.
e externas que foram decoradas com murais, Consiste em estacionamento subterrâneo,
mosaicos e baixos-relevos em grande escala, térreo e doze níveis; no entanto, neste caso
didáticos e figurativos, produzidos por encontramos uma busca de identidade
artistas de destaque como Diego Rivera, nacional, utilizando materiais como o ônix
David Alfaro Siqueiros e Juan O'Gorman, para algumas janelas, a articulação com os

Figura 5. A Reitoria e a Biblioteca articuladas por espaços abertos [Fotografia], autor anónimo, 2009, Site Web
Flickr
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edifícios próximos a través de espaços por este desenho, O'Gorman, de representar a


abertos e, mais especialmente, apostando nos pertença do edifício à paisagem da qual
claro-escuros que dão origem à integração emerge, ligada ao horizonte vulcânico do
plástica das obras do pintor David Alfaro Vale do México e à topografia particular do
Siqueiros (Figura 5). Pedregal, seguindo os princípios da Carta de
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A Biblioteca, por outro lado, ícone da Atenas e a procura do arraigo local. Por outro
Universidade, consiste na sala de leitura lado, o tema geral do mural está relacionado,
horizontal e num prisma, quase cúbico, donde segundo Solís Ávila, à evolução da cultura
se encontra o acervo. Ao igual que a Reitoria, mexicana, destacando e aproveitando um
sua composição volumétrica, materialidade elemento raramente utilizado na arquitetura
construtiva, e planta completamente moderna: a ornamentação. O'Gorman toma,
funcionalista, adscreve à arquitetura as raízes da cultura mexicana em todos seus
internacional. E, sua disposição isenta no períodos transcendentais (o período pré-
conjunto articulada com espaços abertos hispânico, a Conquista, o Virreynato, a
permite que seja vista de todos os ângulos, Independência e a Revolução, até o momento
sem qualquer obstáculo que obstruísse a histórico em que o CU foi criado) para
visão, dando-lhe importância dentro do capturá-los na fachada do edifício.
conjunto e lembrando à configuração No Estádio Olímpico, por sua parte, a
espacial mesoamericana. Além disso, como mistura entre formas pré-hispânicas e
explica Solís Ávila, o pátio menor do modernas é mais evidente. Como remate do
edifício, está rodeado por um muro sólido de eixo de composição principal, é uma das
pedra com figuras esculpidas em relevo, que obras mais modernas, atemporais, funcionais
contrasta com o mural multicolorido do e belas da arquitetura universal moderna,
volume que sobe, mas ao mesmo tempo enquanto em suas texturas, materiais e
reflete a intenção do projetista responsável formas resultantes encontramos claras

Figura 6. O Estádio Olímpico [Fotografia], autor anónimo, Figura 7. Frontões [Fotografia], autor anónimo, 2009,
ano unknown, Jornal “El Heraldo de México” Site Web Flickr
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evocações da arquitetura pré-hispânica, de multidões para a resolução de um programa


acordo com López Padilla. Neste sentido, se complexo.
afasta da volumetria prismática e ortogonal Finalmente, a reminiscência com as
característica do complexo e se integra à formas pré-hispânicas pode se ver também
paisagem circundante da mesma forma que a nas áreas secundarias como as quadras e
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arquitetura mesoamericana, com uma planta ginásios da área esportiva conhecidos como
circular rodeada por espaços abertos, como a os “Frontões” (Figura 7). Esses, abertos e
pirâmide de Cuicuilco próxima à área, parece fechados, mostram uma completa
emergir da terra como um vulcão, por meio sensibilidade para resolver um programa
de taludes de pedra, que gradualmente e com bastante elemental e meramente funcional.
fluidez chegam à altura necessária (Figura 6). Sua forma de pirâmide truncada e o
“O estádio representa um entendimento tratamento de uma plataforma que serve de
completo do programa arquitetônico, com base para o volume principal, resolvido à
uma solução estrutural original, cujo maneira de uma plataforma com taludes de
resultado é a integração na paisagem do sul pedra ao igual que as paredes, de acordo com
da Cidade do México, num diálogo natural López Padilla, remetem a imagens de
com uma tradição milenar” (Godoy Patiño, pirâmides e quadras pré-hispânicas, dando a
2011, p.19). Funcionalmente, os projetistas sensação de estar realmente numa das antigas
tiveram em conta a circulação de grandes cidades mesoamericanas.
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Conclusão

Em resumo, o Campus Universitário da UNAM é um dos complexos mais significativos


do México do século XX por suas contribuições arquitetônicas e urbanas, já que combina
matrizes pré-colombianas com formas espaciais do movimento moderno, resultando em uma
estratégia de projeto alternativa relacionada às tradições latino-americanas, as sementes das
propostas por vir como um país participante da modernidade, e da procura de uma identidade
nacional baseada no passado indígena que conseguiu colocar o México na vanguarda da América
Latina, em termos de criação arquitetônica, de ensino superior e de cultura.
O Campus Universitário, então, significa uma reinterpretação cultural de maneira
contemporânea para alcançar uma arquitetura que seja, ao mesmo tempo, universal e nacional,
evitando cópias de imagens cenográficas que não correspondem aos tempos atuais, a outras
regiões ou circunstâncias.
Assim, como é possível deduzir deste trabalho, a arquitetura e o planejamento urbano do
CU expressam a mesma mistura de referências históricas e idealismo futurista. A composição
axial do projeto, os terraços, os pátios abertos, evocam antigas cidades mesoamericanas e, ao
mesmo tempo, incorporam os princípios da Carta de Atenas do CIAM (Congrès International
d'Architecture Moderne) de 1933, que defendia a importância de que os urbanistas atenderem à
topografia, às considerações de recursos econômicos e locais, às necessidades sociológicas e aos
valores espirituais, à análise funcional, às áreas verdes, ao zoneamento e às circulações. Em
resumo, a interpretação do espaço aberto em grande escala, o uso de materiais regionais, a
coloração que lembra o arte popular e os murais com temas de inspiração pré-hispânica são
formas de assimilação mesoamericana, enquanto a ortogonalidade, a predominância do
quadrilátero e os contrastes volumétricos são coincidências formais com os postulados da
arquitetura funcionalista.
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