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fs pergunta
Btducação Sexual para Pais Democratas
z^Annie Reich
3’>2? ED1Ç^°
sà
JSobre
Onanismo
-^A/ilhelm Reich
pTcducaçao
' ^Sexual
Repressiva >
j -Romel A. Costa
espaço
Psi .. .
r
l
0 filho reflete a gente?
Às vezes me envergonho, às vezes me comove, às
vezes me embelezo ou entristeço quando observo
em meu filho atitudes semelhantes às minhas.
Gostaria de ser perfeito e, naturalmente, ter um
filho assim também, melhorado. Sinto que muitas
modificações que preciso exercitar em mim mesmo,
quando observo o dia a dia de meu filho.
"Se teu filho te pergunta" não resolve estes proble
mas tão enraizados em nós, pais. O livro de Annie
Reich sugere, em liguagem simples, o comporta
mento que podemos perseguir, para uma contribui
ção sem moral ismo na formação deste ser todo
novo, que está aqui no nosso espaço.
O apêndice de Wilhelm Reich, na época marido de
Annie, trata esclarecedoramente do onanismo, po
pularmente conhecido como punheta, siririca, mas
turbação.
Romel Alves Costa, terapeuta reichiano, interliga
os dois assuntos. Os textos, de leitura simples, ser
vem bem para aproximarmos da nossa própria
sexualidade.
Bom proveito.
Luiz Fernando Sarmento
-
>
3 Annie Fleich
3
1
3
□l 1
> Sobre o Onanismo a
Wilhelm Reich
• ESPAÇO PSI
i editora, livraria e comunicações itda
Tradução
Sylvia Moretzsohn
Capa/Diagramação
Carmem Saporetti
Arte Final
Í r' Wilson Rodrigues
Composição
Serthel Editora
■ ■ Foto capa
Ipojucan Pedroso Ludwig
Primeira impressão
Gráfica Clip
Inverno de '80
> ■
•
R- Tenste Gutnerfc» 67 _
BoWogo - R® de Janero - RJ
CEP 22280050 Brasil
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Tel: 21 2558 3509
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penetram na existência do indivíduo e o impedem de ter uma
vida sexual sadia e natural. Desejamos explicar e descrever
brevemente essa situação; nossa intenção fundamental é mos
trar as consequências da educação sexual dominante que, sob
o pretexto da moral, introduz no espírito de cada trabalhador
as tendências mais reacionárias. Para maior clareza, tratamos
o problema da educação sexual das crianças sob a forma de
exemplos e diálogos. Assim procedendo, não poderemos, cer
tamente, informar sobre todos os problemas da educação
sexual, mas já ficaríamos satisfeitos se a leitura desse trabalho
ajudar as mães a se convencerem de que a visão burguesa da
questão sexual é infundada e nociva, e a tomarem consciência
de que o problema da educação sexual não é apenas médico,
mas também um importante problema político.
Mentiras
— Mamãe, de onde vêm os bebes?
— É a cegonha que traz, já te disse.
— E de onde ela tira os bebés?
— Do lago dos bebês.
--Ela também traz os bebês no inverno?
— Claro.
— Mas no inverno o lago está congelado... onde estão os
bebês, então?
— João, pare de perguntar bobagens. Tenho que trabalhar.
João, de 5 anos, receioso e mal-humorado, vai brincar no
quintal, chega então Carlos, que já tem 9 anos e sabe de tudo
— inclusive daquilo que o vizinho faz com sua irmã mais ve
lha. Naturalmente, faz tempo que Carlos discute o problema
com João, nos mínimos detalhes.
Por um momento eles brincam, apostando quem conse
gue cuspir mais longe um caroço de cereja. De repente, João
diz, com desprezo:
— Minha mãe deve ser muito boba, já teve 3 filhos e
ainda acredita em cegonha.
Mas não se pode dizer isso a uma criança...
— Sim, doutora, já entendi... mas como é que eu faço,
um menino tão pequeno... cinco anos; não vou poder contar
4
a ele, morro de vergonha. E além disso, um menino tão
pequeno não entende muito bem as coisas...
— A senhora subestima as crianças. Quando se fala com
uma criança de três, quatro anos, de um modo simples e pre
ciso, ela entende tudo. Falar com ela assim só é difícil se se
sente vergonha. E essa vergonha vem desde o tempo em que a
senhora era criança. Então, sua mãe dizia: "Rosa, pare de
perguntar bobagens", e o padre, no colégio, enunciava com
voz ameaçadora o sexto mandamento. "Não pecarás contra a
castidade". Foi assim que a senhora aprendeu que o simples
fato de pensar em questões sexuais era uma coisa suja, um
pecado. Pense que, quando a senhora mente, inspira na crian
ça um sentimento de desconfiança e desprezo. E as crianças
sempre sabem quando são enganadas. Assim, nunca confiarão
em seus pais.
A primeira explicação
O que, então, deve ser dito a uma criança? Exatamente
aquilo que ela quer saber. As primeiras perguntas que as
crianças fazem, até os 3 anos, estão geralmente relacionadas à
diferença entre os dois sexos. É importante deixar claro para
a criança que existem dois sexos, que assim deve ser e é bom
que assim seja, pois, quando ela não está preparada, a desco
berta da diferença entre os sexos provoca-lhe, na maioria das
vezes, um grande choque.
A menina acha que o membro do menino é mais bonito
e sofre por não ter um igual, e o menino, em contrapartida,
preocupa-se em perder seu belo membro e ficar com um furo,
tal como a menina. Reproduzimos, em seguida, uma das pri
meiras explicações.
Lúcia é uma menina sadia e esperta, que ainda não com
pletou 3 anos. Um dia, ela volta à casa de seu avô um tanto
excitada e pede o urinol, mas não quer sentar-se nele, quer
fazer pipi em pé e explica: <
— Hoje quero fazer pipi igual a Otávio.
— Mas você é uma menina, as meninas fazem pipi senta
das e os meninos em pé. Você viu como Otávio faz?
— Vi. Por que ele tem um pauzinho?
— Porque é um menino e todos os meninos e homens
5
têm um pauzinho. Por outro lado, todas as meninas e mulhe
res têmiuma pequena abertura, por onde fazem pipi.
Com essas explicações, Lúcia senta-se e explora seu cor
po, até achar o orifício. Depois de um momento...
— Eu também quero um pauzinho. É mais bonito.
— Não é verdade, Lúcia, o que você tem também é bo-
bonito.
— Vovô, você também tem um pauzinho?
0 avô confirma. Durante as semanas seguintes, todos
são perguntados sobre seus órgãos sexuais. As respostas são
dadas com calma e objetividade. A menina investiga essa
questão com a mesma tranquilidade e inocência com que
investiga outros assuntos. Em seguida ela será informada com
a mesma naturalidade sobre todos os outros problemas relati
vos à vida sexual. E é bom que seja assim.
Como falar sobre isso com meu filho?
é muito fácil:
— Então, Ana, você sabe de onde vêm os ovos?
— Sei, mamãe, da galinha.
— Muito bem. E de que lugar da galinha eles vêm?
Ana não tem muita certeza.
— Da barriga da galinha?
; — Claro, e os bebés saem da barriga das mães. Você, por
exemplo: te puseram no meu ventre, que é uma espécie de
ninho, e no início você era pequenininha, e depois foi cres
cendo, ficando cada vez maior, até que estivesse grande o
bastante para sair da barriga e nascer.
— E como foi que saí? Cortaram a sua barriga? (Essa é
uma idéia muito comum entre as crianças). <
— Não. Você saiu por uma pequena abertura que as mu- / •
lheres têm entre as pernas. Esse furinho pode alargar-se^até .
que esteja suficientemente grande para que o bebê possa sair.
Essa explicação é satisfatória? Não, porque responde
- apenas à metade da pergunta, ou seja, como o bebê sai do
ventre da mãe, mas não como ele entra ali. Essa explicação
esquece completamente o papel do pai.
Entretanto, na maior parte das vezes, é dado esse tipo de
explicação, que para a criança é insuficiente, e até equivoca-
6 •
da. Por que? Porque, desse modo, pretende-se esconder da
criança precisamente aquilo que ela quer saber, ou seja, a
natureza da sexualidade.
A explicação completa
Ana:
— Mas, mamãe, como é que o bebe faz para entrar den
tro da mãe?
— Para um bebé nascer, é preciso que um elemento do
pai se una a um elemento da mãe. Cada mulher tem no ventre
milhares de ovos pequenininhos. Um ovo só começa a crescer
e se transforma em um bebê quando se encontra com uma pe
quena semente dp pai. Você já viu um menino nu e notou
que, entre as pernas, ele possui uma espécie de bolsinha com
duas coisas redondas que parecem ovos. Nesses "ovos"
crescem milhões de minúsculas sementes. Através do pauzi
nho, com que os meninos também fazem pipi, a semente sai
em forma de líquido leitoso. O homem introduz esse pauzi
nho, o pênis, na pequena abertura que a mulher possui entre
as pernas, e injeta a semente no seu ventre. Dessa maneira, a
semente pode fecundar o ovo. Já reparou como o galo fica
em cima da galinha e como se comportam os cachorros com
as cadelas? Acontece o mesmo com as pessoas.
Naturalmente, essa é apenas uma das mil formas possí
veis de explicação; pretende unicamente demonstrar que é
preciso chamar as coisas pelo seu próprio nome, e falar com
sinceridade e clareza. O comportamento a ser adotado em
cada caso depende exclusivamente do que a criança deseja
saber, daquilo que ela vá perguntar, dando-lhe exemplos com
os'quais ela possa se identificar.
t ‘.p<\?,Quanto maior for a criança, mais clara e "cientificamen-
. ^.te^se poderá falar com ela. A vida sexual não começa na pu-
berdàde, conforme se pensava até há pouco tempo, mas sim
na primeira infância. Uma criança pequenina já experimenta a
excitação sexual e demonstra um vivo interesse pelo sexo,
reflete sobre ele, procura explorar esses fenômenos para ela
incompreensíveis, e formula suas próprias teorias infantis
sobre o nascimento e a concepção, às quais ela fica presa se
não se lhe oferece outra explicação melhor.
7
Seria bom, na medida do possível, averiguar essas fanta
sias sexuais da criança para saber-se de onde se pode começar
; a explicação e quais as idéias que devem ser corrigidas.
Também é útil antecipar-se às perguntas da criança, ten
tando descobrir como ela pensa que as coisas acontecem.
Duas teorias sexuais infantis
Ruth está brincando num canto de jardim. Está comple
tamente absorta, pois a brincadeira é muito interessante. Ela
fez um buraco na terra, encheu-o de água,e está tirando o
barro, que coloca em montinhos redondos em volta do
buraco.
— Ruth, o que é isso?
— Ah, mamãe, estou me divertindo muito! Estou fazen
do filhos, veja, já tenho seis!
Os filhos de Ruth são de uma natureza muito pouco
agradável — o que, por outro lado, não a preocupa — de fato
são constituídos por pequenos "excrementos" que ela tira de
um buraco. Ruth pensa, efetivamente, que os filhos são gera
dos no ventre materno, porque pôde observar como a barriga
de sua mãe crescia e inchava quando seu irmãozinho nasceu.
Os filhos de Ruth são "intestinais"; saem de uma cavida
de, como os excrementos saem dos intestinos. Ruth está con
vencida de que seu irmãozinho nasceu por via anal. Uma vez,
' quando teve uma defecação difícil, disse que, então, deveria
ter feito um filho muito grande.
É preciso explicar a Ruth a diferença, é preciso dizer-lhe
que as mulheres têm uma outra abertura, além da anal. Mas
não é necessário proibir a criança de brincar com os "excre
mentos"; ela o deixará por si mesma, porque, devido a esse
estreito vínculo entre vida sexual e defecação, tal proibição se
estenderia à vida sexual em geral, e conduziria a uma distor- -
, çao do desenvolvimento sexual. *-
— Carlos, que foi que você colocou em cima da barriga?
- O que é isso?
j — São meus irmãozinhos; eu vou tirar todos eles agora.
— E como você vai fazer isso?
Carlos não tem muita certeza.
— Cortando, não é?
%
— Carlos,/você é um menino e os meninos não parem
filhos; isso quem faz são as mulheres e não é preciso cortar-
lhes a barriga: elas já possuem uma abertura, mais embaixo, .
por onde saem os filhos.
Essa explicação não satisfaz a Carlos. Durante muitas se
manas é preciso repetir-lhe a mesma coisa, mas ele vê como
uma desvantagem o fato de que os homens não possam parir,
e quer compreender bem tudo isso. Mas, quando chega o
verão, seu pai leva-o à piscina e o ensina nadar, e Carlos sente
tamanho entusiasmo por esse esporte que renuncia à esperan
ça de vir a ser mãe de 12 filhos.
— Mãe, é verdade que quando eu como muito a minha
barriga cresce e fica cheia de filhos?-
Todas essas teorias relacionam-se ao papel de mãe. As
teorias sobre o papei do pai são, entretanto, mais obscuras.
As crianças intuem que entre o pai e a mãe acontece alguma
coisa, mas o quê? O bebé é fabricado quando se come,
quando se beija, quando vão tomar banho juntos ou quando
vão para o quarto? Tudo isso parece ser um pouco cómico,
mas para nossos filhos é muito sério. Muitas dessas teorias são
tão interessantes, tão aterradoras, que se não são corrigidas,
podem trazer efeitos negativos.
Dentre essas teorias está, em primeiro lugar, aquela que
diz que entre os pais ocorre algo de atroz e sanguinário. Fre-
qíientemente, mais até do que se pensa, a criança tem oportu
nidade de ver, às escondidas, a relação sexual de seus pais.
Não compreende o que se passa, só ouve gemidos e arquejos,
acredita que os pais estão brigando, que estão se machucando.
Talvez, dois dias mais tarde, a criança veja na cama de sua
mãe uma gota de sangue, e então se convence de que o pai
■ feriu a mãe com seu membro.
Se teorias desse tipo perdurarem por muito tempo, po
dem prejudicar muito toda a vida sexual futura. Para a meni
na, a relação sexual é vista como um fenômeno estranho,
temível; para o menino, em contrapartida, ela é uma espécie
de crime. Quando homem, deve renunciar à satisfação e tor-
na-se incapaz de ter uma relação sexual.
De tudo que foi dito, deduz-se que pode ser perigoso
para os filhos assistir, de alguma forma, à relação sexual dos
9
X
pais, e que é absolutamente necessário que pais e filhos te
nham quartos separados. Mas as casas que o capital privado
constrói para as massas são, na maioria das vezes, tão peque
nas e tão caras que chega-se até a dividi-la entre 6 ou 7 pes
soas, e muito raramente as crianças dispõem de uma cama só
para si.
Em que idade é necessária uma explicação?
Geralmente, no momento em que a criança começa a
perguntar. 0 que acontece, se ela não está particularmente
intimidada, entre os 3 e os 4 anos. Muitas vezes as perguntas
1 da criança não são claras, mas está implícito o que deseja
saber. Nesse caso, é preciso procurar entender e levar a crian
ça, pouco a pouco, a perguntar o que realmente quer saber.
Por conseguinte, durante esse período, deparamo-nos com
uma série de perguntas aparentemente sem sentido. "Por que
esse carro está aqui? Por que o carro é amarelo?" Etc...
Essas perguntas sem sentido demonstram que, na reali-
‘ dade, a criança coloca problemas sexuais que não consegue
ou não se atreve a explicar, uma vez que, desde muito cedo,
ela sabe que "é feio interessar-se pelo sexo", e assim procura
esconder a sua curiosidade. Como ela chega a essa conclusão?
Porque, embora sem proibições explícitas, observa que, por
exemplo, os adultos evitam aparecer nus diante dela, e que
. teve que envergonhar-se de seus órgãos sexuais. Chegou, inclu-
. sive, a associar o sexo — orientando-se pelo lugar que ocupam
no corpo os órgãos reprodutivos — à defecação, que desde
cedo aprendeu a rejeitar como uma coisa suja.
Com isso, demonstra-se mais uma vez que a educação
higiénica da criança’ também tem enorme importância para o
desenvolvimento da pessoa, e que uma educação muito rígida
ou precoce sobre o controle da defecação toma a criança
compulsiva e obstinada, não constituindo, de fato, o ideal da
, educação higiénica.
O senso de limpeza deve desenvolver-se gradativamente e
sem castigos, de maneira que a criança se habitue lentamente.
Com repreensões e castigos obtém-se justamente o resultado
• oposto, ou seja, que a criança, por vingança, suje-se intencio-
nalmente. Justamente porque, na concepção da criança, exis-
•10
í
te uma relação entre vida sexual e defecação, é preciso agir no
I
sentido de que as crianças não sintam muita repulsa pela •
r sujeira. Também não se deve criar muito caso quando as
crianças sujam as calças. Naturalmente, uma excessiva aten
ção ou uma admiração pela defecação da criança é também
contraproducente, porque desse modo se chama muito a
atenção da criança para essa função.
Basta uma reclamação, um sinal de desaprovação dos
i pais, para a criança ser levada a reprimir sua curiosidade sobre
o sexo. E, muitas vezes, essa repressão à curiosidade prejudica
a atividade intelectual da criança. A história relatada a seguir
constitui um pequeno exemplo da redução das faculdades
intelectuais depois da repressão sexual.
Meninos e meninas tomam banho, nus, num lago públi
co. Então aparece o padre, surpreso, exclamando:
► — Como vocês podem fazer tamanha porcaria?
• Ao que um menino responde:
► — Reverendo, quando não tiramos a roupa, não pode
mos saber quem são meninos e quem são meninas.
► Muitas vezes as limitações intelectuais não se devem a
k uma incapacidade real, mas são o resultado final dos "bons
costumes". Vejamos outro exemplo.
k
A repressão do desejo de saber conduz à imbecilidade
k
Júlia, uma menina de 5 anos, pergunta a seu pai:
i — Como é que Lídia teve um filho sem ser casada?
> — Você não entenderia, ainda é muito pequena.
Alguns dias mais tarde, eles saem para passear, e Júlia vê
um menino fazer xixi. Observa com curiosidade, mas o pai
intervém:
— Não olhe, é feio ficar olhando.
I À tarde, seus pais estão conversando e Júlia ouve alguma
F coisa sobre menstruação. Quer entender, saber do que estão
falando, fica nervosa. 0 pai se irrita:
— Você é muito pequena para ficar sabendo de tudo,
F
isso não é coisa para crianças.
Júlia brinca no jardim com seu amiguinho Guilherme.
I Eles haviam tirado a roupa, e estão comparando seus corpos;
11
C- *
29
7.
Sobre o Onanismo
Wilhelm Reich
O onanismo é prejudicial?
0 onanismo, em si, não é prejudicial se praticado sem problemas,
ou seja, sem sentimento de culpa ou remorsos periódicos, e se, além
disso, o curso da excitação não é perturbado. A atribuição de conse
quências nocivas ao onanismo é resultado (na maioria das vezes incons
ciente) de fantasias e escrúpulos que desviam o curso da excitação. A
Igreja condena toda emissão de sêmen que não tenha como finalidade a
concepção, e considera o onanismo, portanto, um grave pecado. Até os
cientistas burgueses, que não se libertaram da ideologia eclesiástica, pro
curam apresentá-lo como um vício, e recomendam contra ele medidas
totalmente prejudiciais, medidas que provocam doenças e que, às vezes,
conduzem os jovens ao suicídio. O onanismo é simplesmentes a expres
são do fato de que o indivíduo já é sexualmente maduro numa fase em
que não tem condições de casar-se, e em que a possibilidade de encon
trar uma parceira sexual é muito relativa.
Aos 13 e 14 anos — às vezes antes, às vezes depois —, a pessoa
atinge a maturidade sexual, isto é, está em condições não apenas de
manter uma relação sexual como também de gerar filhos. Os sinais dessa
31
maturidade são, nos meninos, o endurecimento do pénis, o aparecimen
to de pelos nos órgão sexuais e a maior gravidade da voz; nas meninas, o
crescimento dos pelos nas proximidades dos órgãos sexuais, o desenvol
vimento dos seios e o surgimento do fluxo menstrual. Do ponto de vista
psíquico, o aumento da energia comporta uma inquietação e uma tensão
interna e, na maior parte dos casos, um impulso consciente para a ativi-
* dade sexual. Depois de um afluxo mais abundante de sangue nos órgãos
sexuais, produz-se uma tensão que se manifesta por uma espécie de co
ceira num determinado local da pele. Como se acaba, normalmente,
com uma coceira? Coçando e friccionando a parte afetada. Por conse
guinte, a coceira dos órgãos sexuais é eliminada mediante a fricção a
que são submetidos. O alívio da tensão expressa-se, no homem, pela
ejaculação;* as mulheres, normalmente, também se relaxam. Depois
disso, se o processo produziu-se sem qualquer perturbação, passa um
período em que não se nota desejo de atividade sexual, até que o estí
mulo reaparece. Dependendo das pessoas, os comportamentos variam.
Umas tém necessidade de masturbar-se duas ou três vezes por dia,
outras, apenas uma vez por semana. Entre os povos primitivos, os meni
nos e meninas que atingiam a maturidade sexual encontravam-se nas
chamadas casas da comunidade, onde tinham relações sexuais. O ona-
1
nismo da adolescência entre nós simplesmente substitui a relação sexual.
Entre os primitivos, não tinha nenhuma relevância.
0 onanismo é, portanto, completamente inofensivo até que passa
a relacionar-se ao sentimento de culpa. Então, o menino começa a com
batê-lo, procura reprimir o estímulo sexual que, entretanto, é mais forte
que sua vontade consciente.
f
Então, ele começa a masturbar-se, mas vivendo uma contradição
consigo mesmo, e o ato acaba sendo prejudicado, a satisfação não é 1
natural e o sistema nervoso é afetado. Ademais, unem-se ao onanismo
í
fantasias inconscientes que normalmente despertam o sentimento de
culpa e de inquietação. Soma-se a isso o fato de que o menino chega a í
relacionar, de maneiras muito variadas, o onanismo com um dano físico.
í
Nota do Revisor:
Posteriormente Reich observou que nem sempre a ejaculação era companhada de
í
alívio de tensão. Descobriu a potência orgástica — capacidade de entrega e alívio <
expontâneo da tensão sexual — através de pulsações involuntárias de toda a ativi
dade corporal por meio de contração e expansão, também expontâneos; comum
ao homem e à mulher. Movimento corporal de prazer, basicamente inibido nas
culturas contemporâneas pela educação sexual repressiva. í
32
Isso o angustia, porque, em primeiro lugar, acredita ser a única
pessoa no mundo a “comportar-se desse modo". Começa a distanciar-se
dos demais, e assim contrai o sentimento de isolamento típico de quem
pratica o onanismo. Não se dá conta de que, pelo contrário, tem inúme
ros colegas que seguramente creem, como ele, que são os únicos no
mundo que se masturbam.
O onanismo só satisfaz durante um certo período de tempo; a
longo prazo torna-se insatisfatório, pois começa-se a fantasiar sobre a
parelha sexual.
O onanismo, quando deixa de ser satisfatório, torna-se prejudicial
na mesma medida em que é uma relação sexual praticada contra os pró
prios desejos. A melhor saída para o onanismo é a relação sexual com
uma parelha por quem se sinta atração física e psíquica.
c.
Temo que essa pergunta esconda duas preocupações: a primeira,
de que o onanismo seja prejudicial; a segunda, de que o órgão sexual
feminino seja particularmente vulnerável. Muitas pessoas têm a ideia
inconsciente de que o onanismo traz, como consequência, a vulnera
bilidade ou o dano dos órgãos sexuais, temores esses que as crianças
adquirem desde os primeiros anos, devido às espantosas ameaças dos
pais, e contra as quais não tém uma explicação imediata que seja sufi
cientemente enérgica, porque essas primeiras impressões e temores da
criança fundem-se profundamente com os que vêm imediatamente
depois.
Que fazer quando um menino de dois anos brinca com seu membro?
Deixe que o menino se masturbe tranquilamente.Normalmente, o
onanismo aparece pela primeira vez nessa idade. Proibir o onanismo po
deria unicamente lançar as bases para sucessivos transtornos sexuais, e
devido ao sentimento de culpa que acompanharia o menino quando ele
começasse a se masturbar, se obteria justamente o resultado oposto, ou
-seja, que o menino se masturbaria com muito maior freqiiência, já que
37
. o sentimento de culpa, o medo e a contrariedade aumentam a excita
ção sexual.*
Estou casado há três anos e minha mulher afirma nunca ter atingido sua
' satisfação sexual. Devo esclarecer que minha muiher masturbou-se des
de sua primeira juventude. Por que? É possível curá-la?
Se o homem é normal relativamente à sua capacidade sexual, a
insatisfação da mulher indica, nesse caso, a presença de transtornos mais
■ profundos que poderiam ser solucionados mediante uma intervenção
j psicanalítica. As mulheres que se masturbaram muito chegam à apatia
devido ao fato de terem sempre excitado o clitóris, ao passo que, no
ato sexual, a excitação e, normalmente, também a satisfação, verifica-se
na vagina. A incapacidade da mulher de deixar-se levar completamente
no ato sexual é também frequentemente motivo de sua insatisfação.*
As razões dessa incapacidade são principalmente tanto os temores infan
tis num nível inconsciente como as inibições sexuais derivadas de uma
educação anti-sexual.
Nota do Revisor:
0 medo e a culpa irracional são também consequências da contenção da excita
ção sexual.
Nota do Revisor:
O deixar-se levar completamente no ato sexual é um sinal de potência orgástica.
38
Educação Sexual Repressiva
Romel A. Costa
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