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SM&teufílho

fs pergunta
Btducação Sexual para Pais Democratas
z^Annie Reich
3’>2? ED1Ç^°

JSobre
Onanismo
-^A/ilhelm Reich

pTcducaçao
' ^Sexual
Repressiva >
j -Romel A. Costa

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0 filho reflete a gente?
Às vezes me envergonho, às vezes me comove, às
vezes me embelezo ou entristeço quando observo
em meu filho atitudes semelhantes às minhas.
Gostaria de ser perfeito e, naturalmente, ter um
filho assim também, melhorado. Sinto que muitas
modificações que preciso exercitar em mim mesmo,
quando observo o dia a dia de meu filho.
"Se teu filho te pergunta" não resolve estes proble­
mas tão enraizados em nós, pais. O livro de Annie
Reich sugere, em liguagem simples, o comporta­
mento que podemos perseguir, para uma contribui­
ção sem moral ismo na formação deste ser todo
novo, que está aqui no nosso espaço.
O apêndice de Wilhelm Reich, na época marido de
Annie, trata esclarecedoramente do onanismo, po­
pularmente conhecido como punheta, siririca, mas­
turbação.
Romel Alves Costa, terapeuta reichiano, interliga
os dois assuntos. Os textos, de leitura simples, ser­
vem bem para aproximarmos da nossa própria
sexualidade.
Bom proveito.
Luiz Fernando Sarmento
-

e Escola Pós-Reíchiana F«dorico Navarro


R. Teresa Guimaries 67

a Botafoço - Rio de Janeiro - RJ


CEP 22280-050 Brasil
>PFN
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Tel:21 2558 3509
"J? www.orgonomia.com.br

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> Sobre o Onanismo a

Wilhelm Reich

J> -Educação Sexual Repressiva


Romel A. Costa
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• ESPAÇO PSI
i editora, livraria e comunicações itda

Se teu filho te pergunta


Annie Reich

Tradução
Sylvia Moretzsohn
Capa/Diagramação
Carmem Saporetti
Arte Final
Í r' Wilson Rodrigues
Composição
Serthel Editora

■ ■ Foto capa
Ipojucan Pedroso Ludwig
Primeira impressão
Gráfica Clip

Inverno de '80

espaço psi Rua Farani 42 C — Botafogo - Rio de Janeiro — RJ —


CEP22231

> ■


R- Tenste Gutnerfc» 67 _
BoWogo - R® de Janero - RJ
CEP 22280050 Brasil
EFEN
........
Tel: 21 2558 3509
www.oraonomia.corn.br

Se teu Filho te Pergunta


Annie Reich

om este trabalho pretendemos mostrar aos pais, e


principalmente às mães, de uma forma muito sim­
ples, a atitude a ser adotada frente ao problema da
educação sexual de seus filhos; como se deve e como
não se deve proceder.
E, sobretudo, queremos demonstrar que a educação
sexual dos filhos não pode ser considerada isoladamente, mas
em relação à situação geral da sexualidade na sociedade capi­
talista.
Do mesmo modo que a sociedade capitalista limita as
necessidades materiais das massas, também distorce as necessi­
dades sexuais das mesmas. Há uma impressionante quantida­
de de problemas sexuais e nervosos; as leis contra o aborto e
as dificuldades para a prevenção dos nascimentos geram a in­
felicidade de milhões de seres humanos, levando-os ao crime e
à morte; uma moral hipócrita e normas sexuais reacionárias
3

•:•>?.a-,r
penetram na existência do indivíduo e o impedem de ter uma
vida sexual sadia e natural. Desejamos explicar e descrever
brevemente essa situação; nossa intenção fundamental é mos­
trar as consequências da educação sexual dominante que, sob
o pretexto da moral, introduz no espírito de cada trabalhador
as tendências mais reacionárias. Para maior clareza, tratamos
o problema da educação sexual das crianças sob a forma de
exemplos e diálogos. Assim procedendo, não poderemos, cer­
tamente, informar sobre todos os problemas da educação
sexual, mas já ficaríamos satisfeitos se a leitura desse trabalho
ajudar as mães a se convencerem de que a visão burguesa da
questão sexual é infundada e nociva, e a tomarem consciência
de que o problema da educação sexual não é apenas médico,
mas também um importante problema político.
Mentiras
— Mamãe, de onde vêm os bebes?
— É a cegonha que traz, já te disse.
— E de onde ela tira os bebés?
— Do lago dos bebês.
--Ela também traz os bebês no inverno?
— Claro.
— Mas no inverno o lago está congelado... onde estão os
bebês, então?
— João, pare de perguntar bobagens. Tenho que trabalhar.
João, de 5 anos, receioso e mal-humorado, vai brincar no
quintal, chega então Carlos, que já tem 9 anos e sabe de tudo
— inclusive daquilo que o vizinho faz com sua irmã mais ve­
lha. Naturalmente, faz tempo que Carlos discute o problema
com João, nos mínimos detalhes.
Por um momento eles brincam, apostando quem conse­
gue cuspir mais longe um caroço de cereja. De repente, João
diz, com desprezo:
— Minha mãe deve ser muito boba, já teve 3 filhos e
ainda acredita em cegonha.
Mas não se pode dizer isso a uma criança...
— Sim, doutora, já entendi... mas como é que eu faço,
um menino tão pequeno... cinco anos; não vou poder contar
4
a ele, morro de vergonha. E além disso, um menino tão
pequeno não entende muito bem as coisas...
— A senhora subestima as crianças. Quando se fala com
uma criança de três, quatro anos, de um modo simples e pre­
ciso, ela entende tudo. Falar com ela assim só é difícil se se
sente vergonha. E essa vergonha vem desde o tempo em que a
senhora era criança. Então, sua mãe dizia: "Rosa, pare de
perguntar bobagens", e o padre, no colégio, enunciava com
voz ameaçadora o sexto mandamento. "Não pecarás contra a
castidade". Foi assim que a senhora aprendeu que o simples
fato de pensar em questões sexuais era uma coisa suja, um
pecado. Pense que, quando a senhora mente, inspira na crian­
ça um sentimento de desconfiança e desprezo. E as crianças
sempre sabem quando são enganadas. Assim, nunca confiarão
em seus pais.
A primeira explicação
O que, então, deve ser dito a uma criança? Exatamente
aquilo que ela quer saber. As primeiras perguntas que as
crianças fazem, até os 3 anos, estão geralmente relacionadas à
diferença entre os dois sexos. É importante deixar claro para
a criança que existem dois sexos, que assim deve ser e é bom
que assim seja, pois, quando ela não está preparada, a desco­
berta da diferença entre os sexos provoca-lhe, na maioria das
vezes, um grande choque.
A menina acha que o membro do menino é mais bonito
e sofre por não ter um igual, e o menino, em contrapartida,
preocupa-se em perder seu belo membro e ficar com um furo,
tal como a menina. Reproduzimos, em seguida, uma das pri­
meiras explicações.
Lúcia é uma menina sadia e esperta, que ainda não com­
pletou 3 anos. Um dia, ela volta à casa de seu avô um tanto
excitada e pede o urinol, mas não quer sentar-se nele, quer
fazer pipi em pé e explica: <
— Hoje quero fazer pipi igual a Otávio.
— Mas você é uma menina, as meninas fazem pipi senta­
das e os meninos em pé. Você viu como Otávio faz?
— Vi. Por que ele tem um pauzinho?
— Porque é um menino e todos os meninos e homens
5
têm um pauzinho. Por outro lado, todas as meninas e mulhe­
res têmiuma pequena abertura, por onde fazem pipi.
Com essas explicações, Lúcia senta-se e explora seu cor­
po, até achar o orifício. Depois de um momento...
— Eu também quero um pauzinho. É mais bonito.
— Não é verdade, Lúcia, o que você tem também é bo-
bonito.
— Vovô, você também tem um pauzinho?
0 avô confirma. Durante as semanas seguintes, todos
são perguntados sobre seus órgãos sexuais. As respostas são
dadas com calma e objetividade. A menina investiga essa
questão com a mesma tranquilidade e inocência com que
investiga outros assuntos. Em seguida ela será informada com
a mesma naturalidade sobre todos os outros problemas relati­
vos à vida sexual. E é bom que seja assim.
Como falar sobre isso com meu filho?
é muito fácil:
— Então, Ana, você sabe de onde vêm os ovos?
— Sei, mamãe, da galinha.
— Muito bem. E de que lugar da galinha eles vêm?
Ana não tem muita certeza.
— Da barriga da galinha?
; — Claro, e os bebés saem da barriga das mães. Você, por
exemplo: te puseram no meu ventre, que é uma espécie de
ninho, e no início você era pequenininha, e depois foi cres­
cendo, ficando cada vez maior, até que estivesse grande o
bastante para sair da barriga e nascer.
— E como foi que saí? Cortaram a sua barriga? (Essa é
uma idéia muito comum entre as crianças). <
— Não. Você saiu por uma pequena abertura que as mu- / •
lheres têm entre as pernas. Esse furinho pode alargar-se^até .
que esteja suficientemente grande para que o bebê possa sair.
Essa explicação é satisfatória? Não, porque responde
- apenas à metade da pergunta, ou seja, como o bebê sai do
ventre da mãe, mas não como ele entra ali. Essa explicação
esquece completamente o papel do pai.
Entretanto, na maior parte das vezes, é dado esse tipo de
explicação, que para a criança é insuficiente, e até equivoca-
6 •
da. Por que? Porque, desse modo, pretende-se esconder da
criança precisamente aquilo que ela quer saber, ou seja, a
natureza da sexualidade.
A explicação completa
Ana:
— Mas, mamãe, como é que o bebe faz para entrar den­
tro da mãe?
— Para um bebé nascer, é preciso que um elemento do
pai se una a um elemento da mãe. Cada mulher tem no ventre
milhares de ovos pequenininhos. Um ovo só começa a crescer
e se transforma em um bebê quando se encontra com uma pe­
quena semente dp pai. Você já viu um menino nu e notou
que, entre as pernas, ele possui uma espécie de bolsinha com
duas coisas redondas que parecem ovos. Nesses "ovos"
crescem milhões de minúsculas sementes. Através do pauzi­
nho, com que os meninos também fazem pipi, a semente sai
em forma de líquido leitoso. O homem introduz esse pauzi­
nho, o pênis, na pequena abertura que a mulher possui entre
as pernas, e injeta a semente no seu ventre. Dessa maneira, a
semente pode fecundar o ovo. Já reparou como o galo fica
em cima da galinha e como se comportam os cachorros com
as cadelas? Acontece o mesmo com as pessoas.
Naturalmente, essa é apenas uma das mil formas possí­
veis de explicação; pretende unicamente demonstrar que é
preciso chamar as coisas pelo seu próprio nome, e falar com
sinceridade e clareza. O comportamento a ser adotado em
cada caso depende exclusivamente do que a criança deseja
saber, daquilo que ela vá perguntar, dando-lhe exemplos com
os'quais ela possa se identificar.
t ‘.p<\?,Quanto maior for a criança, mais clara e "cientificamen-
. ^.te^se poderá falar com ela. A vida sexual não começa na pu-
berdàde, conforme se pensava até há pouco tempo, mas sim
na primeira infância. Uma criança pequenina já experimenta a
excitação sexual e demonstra um vivo interesse pelo sexo,
reflete sobre ele, procura explorar esses fenômenos para ela
incompreensíveis, e formula suas próprias teorias infantis
sobre o nascimento e a concepção, às quais ela fica presa se
não se lhe oferece outra explicação melhor.
7
Seria bom, na medida do possível, averiguar essas fanta­
sias sexuais da criança para saber-se de onde se pode começar
; a explicação e quais as idéias que devem ser corrigidas.
Também é útil antecipar-se às perguntas da criança, ten­
tando descobrir como ela pensa que as coisas acontecem.
Duas teorias sexuais infantis
Ruth está brincando num canto de jardim. Está comple­
tamente absorta, pois a brincadeira é muito interessante. Ela
fez um buraco na terra, encheu-o de água,e está tirando o
barro, que coloca em montinhos redondos em volta do
buraco.
— Ruth, o que é isso?
— Ah, mamãe, estou me divertindo muito! Estou fazen­
do filhos, veja, já tenho seis!
Os filhos de Ruth são de uma natureza muito pouco
agradável — o que, por outro lado, não a preocupa — de fato
são constituídos por pequenos "excrementos" que ela tira de
um buraco. Ruth pensa, efetivamente, que os filhos são gera­
dos no ventre materno, porque pôde observar como a barriga
de sua mãe crescia e inchava quando seu irmãozinho nasceu.
Os filhos de Ruth são "intestinais"; saem de uma cavida­
de, como os excrementos saem dos intestinos. Ruth está con­
vencida de que seu irmãozinho nasceu por via anal. Uma vez,
' quando teve uma defecação difícil, disse que, então, deveria
ter feito um filho muito grande.
É preciso explicar a Ruth a diferença, é preciso dizer-lhe
que as mulheres têm uma outra abertura, além da anal. Mas
não é necessário proibir a criança de brincar com os "excre­
mentos"; ela o deixará por si mesma, porque, devido a esse
estreito vínculo entre vida sexual e defecação, tal proibição se
estenderia à vida sexual em geral, e conduziria a uma distor- -
, çao do desenvolvimento sexual. *-
— Carlos, que foi que você colocou em cima da barriga?
- O que é isso?
j — São meus irmãozinhos; eu vou tirar todos eles agora.
— E como você vai fazer isso?
Carlos não tem muita certeza.
— Cortando, não é?

%
— Carlos,/você é um menino e os meninos não parem
filhos; isso quem faz são as mulheres e não é preciso cortar-
lhes a barriga: elas já possuem uma abertura, mais embaixo, .
por onde saem os filhos.
Essa explicação não satisfaz a Carlos. Durante muitas se­
manas é preciso repetir-lhe a mesma coisa, mas ele vê como
uma desvantagem o fato de que os homens não possam parir,
e quer compreender bem tudo isso. Mas, quando chega o
verão, seu pai leva-o à piscina e o ensina nadar, e Carlos sente
tamanho entusiasmo por esse esporte que renuncia à esperan­
ça de vir a ser mãe de 12 filhos.
— Mãe, é verdade que quando eu como muito a minha
barriga cresce e fica cheia de filhos?-
Todas essas teorias relacionam-se ao papel de mãe. As
teorias sobre o papei do pai são, entretanto, mais obscuras.
As crianças intuem que entre o pai e a mãe acontece alguma
coisa, mas o quê? O bebé é fabricado quando se come,
quando se beija, quando vão tomar banho juntos ou quando
vão para o quarto? Tudo isso parece ser um pouco cómico,
mas para nossos filhos é muito sério. Muitas dessas teorias são
tão interessantes, tão aterradoras, que se não são corrigidas,
podem trazer efeitos negativos.
Dentre essas teorias está, em primeiro lugar, aquela que
diz que entre os pais ocorre algo de atroz e sanguinário. Fre-
qíientemente, mais até do que se pensa, a criança tem oportu­
nidade de ver, às escondidas, a relação sexual de seus pais.
Não compreende o que se passa, só ouve gemidos e arquejos,
acredita que os pais estão brigando, que estão se machucando.
Talvez, dois dias mais tarde, a criança veja na cama de sua
mãe uma gota de sangue, e então se convence de que o pai
■ feriu a mãe com seu membro.
Se teorias desse tipo perdurarem por muito tempo, po­
dem prejudicar muito toda a vida sexual futura. Para a meni­
na, a relação sexual é vista como um fenômeno estranho,
temível; para o menino, em contrapartida, ela é uma espécie
de crime. Quando homem, deve renunciar à satisfação e tor-
na-se incapaz de ter uma relação sexual.
De tudo que foi dito, deduz-se que pode ser perigoso
para os filhos assistir, de alguma forma, à relação sexual dos
9

X
pais, e que é absolutamente necessário que pais e filhos te­
nham quartos separados. Mas as casas que o capital privado
constrói para as massas são, na maioria das vezes, tão peque­
nas e tão caras que chega-se até a dividi-la entre 6 ou 7 pes­
soas, e muito raramente as crianças dispõem de uma cama só
para si.
Em que idade é necessária uma explicação?
Geralmente, no momento em que a criança começa a
perguntar. 0 que acontece, se ela não está particularmente
intimidada, entre os 3 e os 4 anos. Muitas vezes as perguntas
1 da criança não são claras, mas está implícito o que deseja
saber. Nesse caso, é preciso procurar entender e levar a crian­
ça, pouco a pouco, a perguntar o que realmente quer saber.
Por conseguinte, durante esse período, deparamo-nos com
uma série de perguntas aparentemente sem sentido. "Por que
esse carro está aqui? Por que o carro é amarelo?" Etc...
Essas perguntas sem sentido demonstram que, na reali-
‘ dade, a criança coloca problemas sexuais que não consegue
ou não se atreve a explicar, uma vez que, desde muito cedo,
ela sabe que "é feio interessar-se pelo sexo", e assim procura
esconder a sua curiosidade. Como ela chega a essa conclusão?
Porque, embora sem proibições explícitas, observa que, por
exemplo, os adultos evitam aparecer nus diante dela, e que
. teve que envergonhar-se de seus órgãos sexuais. Chegou, inclu-
. sive, a associar o sexo — orientando-se pelo lugar que ocupam
no corpo os órgãos reprodutivos — à defecação, que desde
cedo aprendeu a rejeitar como uma coisa suja.
Com isso, demonstra-se mais uma vez que a educação
higiénica da criança’ também tem enorme importância para o
desenvolvimento da pessoa, e que uma educação muito rígida
ou precoce sobre o controle da defecação toma a criança
compulsiva e obstinada, não constituindo, de fato, o ideal da
, educação higiénica.
O senso de limpeza deve desenvolver-se gradativamente e
sem castigos, de maneira que a criança se habitue lentamente.
Com repreensões e castigos obtém-se justamente o resultado
• oposto, ou seja, que a criança, por vingança, suje-se intencio-
nalmente. Justamente porque, na concepção da criança, exis-
•10
í
te uma relação entre vida sexual e defecação, é preciso agir no
I
sentido de que as crianças não sintam muita repulsa pela •
r sujeira. Também não se deve criar muito caso quando as
crianças sujam as calças. Naturalmente, uma excessiva aten­
ção ou uma admiração pela defecação da criança é também
contraproducente, porque desse modo se chama muito a
atenção da criança para essa função.
Basta uma reclamação, um sinal de desaprovação dos
i pais, para a criança ser levada a reprimir sua curiosidade sobre
o sexo. E, muitas vezes, essa repressão à curiosidade prejudica
a atividade intelectual da criança. A história relatada a seguir
constitui um pequeno exemplo da redução das faculdades
intelectuais depois da repressão sexual.
Meninos e meninas tomam banho, nus, num lago públi­
co. Então aparece o padre, surpreso, exclamando:
► — Como vocês podem fazer tamanha porcaria?
• Ao que um menino responde:
► — Reverendo, quando não tiramos a roupa, não pode­
mos saber quem são meninos e quem são meninas.
► Muitas vezes as limitações intelectuais não se devem a
k uma incapacidade real, mas são o resultado final dos "bons
costumes". Vejamos outro exemplo.
k
A repressão do desejo de saber conduz à imbecilidade
k
Júlia, uma menina de 5 anos, pergunta a seu pai:
i — Como é que Lídia teve um filho sem ser casada?
> — Você não entenderia, ainda é muito pequena.
Alguns dias mais tarde, eles saem para passear, e Júlia vê
um menino fazer xixi. Observa com curiosidade, mas o pai
intervém:
— Não olhe, é feio ficar olhando.
I À tarde, seus pais estão conversando e Júlia ouve alguma
F coisa sobre menstruação. Quer entender, saber do que estão
falando, fica nervosa. 0 pai se irrita:
— Você é muito pequena para ficar sabendo de tudo,
F
isso não é coisa para crianças.
Júlia brinca no jardim com seu amiguinho Guilherme.
I Eles haviam tirado a roupa, e estão comparando seus corpos;
11
C- *

de repente, chega a mãe de JúIia, grita com ela e lhe dá uma


surra. Júlia já não poderá mais ir brincar no jardim, e fica
completamente transtornada. O mundo está cheio de misté­
rios, mas não se pode conhecê-los se ainda se é muito pequeno.
Só adultos têm o direito de saber. Júlia se sente terrivelmente
’ pequena e indefesa. Esquece subitamente tudo o que conse­
guia fazer sozinha e faz sua mãe vesti-la e despi-la, como se
esse fazer-se mimar fosse uma compensação pela independên­
cia a que está começando a renunciar.
Nos anos seguintes, Júlia frequenta a escola, e sobre sua
cabeça desaba todo um universo de novos problemas. Mas
Júlia sente que estes "não são coisa para ela, que ainda é mui­
to pequena". Não pode saber, não pode compreender as
mesmas coisas que os adultos porque tudo é feio, tudo é proi­
bido. Não consegue estudar com facilidade. Seu pai tem de
ajudá-la a fazer os deveres, ela não consegue responder às per­
guntas mais simples, não se lembra de nada, nem mesmo se as
coisas lhe são repetidas vinte vezes. Seu pai se impacienta,
parece convencido de que a filha nunca saberá nem entenderá
nada. Por seu lado, Júlia está totalmente desesperada porque
seu pai lhe nega afeto e atenção e fica cada vez mais desalen­
tada à medida que sua inaptidão aumenta.
Conhecemos Júlia aos 19 anos. Parecia uma pessoa men­
talmente retardada, incapaz de lutar pela própria sobrevivên­
cia. E isso não era fruto de um problema congénito, mas de
uma educação sexual completamente equivocada.
Nos casos mais simples, as dificuldades de estudar dimi­
nuem se se permite que a criança exponha seus problemas
sexuais. Uma cura tão simples de um problema como esse só
é possível nos casos menos graves, e ainda assim no início da
manifestação dos mesmos. Quanto antes as coisas forem devi­
damente explicadas, tanto melhor será possível falar. Repeti­
mos mais uma vez que o melhor momento para tanto é o
período entre o 39 e o 59 anos. As explicações aos 10 ou 11
anos chegam invariavelmente atrasadas. Nessa idade, a criança
já realizou suas investigações por conta própria há muito
tempo, sozinha ou com outros colegas, e na maioria das vezes
possui noções aproximadas ou falsas a respeito do problema.
12
A dificuldade das explicações
Ouve-se dizer frequentemente que as crianças a quem se
dá uma explicação muito cedo, logo a esquecem completa­
mente, passando a adotar, entre si, a história da cegonha, que
tiveram oportunidade de ouvir em algum lugar. Com isso, pre­
tende-se demonstrar que a história da cegonha é.a mais ade­
quada para a mentalidade da criança, ao passo que a realidade
pura e simples "não cabe" na cabeça da criança, que, portan­
to, a rejeita. Na verdade, em casos como esse, a explicação foi
dada de forma equivocada: enfrentou-se uma ou duas vezes o
tema proibido, pecaminoso, com a criança, mas nunca mais
falou-se sobre. A explicação não permanece viva na criança, já
que se deve falar sobre essa questão todas as vezes que surgir
a ocasião; exatamente como se procede em relação a qualquer
outro problema. Mesmo porque, pelo fato de se haver falado
com tamanha seriedade nessas ocasiões, a criança entendeu
que "eu estou falando dessas coisas, mas na verdade estou
intimamente convencido de que tudo isso é muito desagradá­
vel, e que só devemos nos ocupar disso quando for absoluta­
mente necessário".
Se estamos tão contrariados — e todos estamos, uns
mais, outros menos, contaminados pela condenação burguesa
do sexo —, daremos a entender esse nosso sentimento em
várias ocasiões, embora com todas as intenções de nos com­
portarmos racionaimente. Apesar de termos explicado à
criança o nascimento e a concepção, pode acontecer, por
exemplo, que ela encontre um absorvente esquecido em
algum lugar, para que então gritemos, sem refletir, que isso
deve ser esquecido imediatamente, que isso não são coisas
para crianças.
É claro que também se deveria conversar com a criança
sobre a menstruação. Mas, de fato, intimamente vivemos a
menstruação com vergonha e desgotos, e daí o nosso compor­
tamento em relação ao assunto.
A boa vontade pode muito pouco contra essas inibições
internas. Uma mãe dá as devidas explicações com escrupulosa
clareza, e acaba dizendo que, agora, tudo já foi dito, e não se
deve mais voltar ao assunto. A explicação torna-se ineficaz e
13
í é esquecida’se, ao mesmo tempo, os pais, através de palavras
e de seu comportamento, condenam o sexo.
! Às vezes um menino leva uma bofetada porque toca os
órgãos genitais, ou leva uma bronca porque quer estar com
! sua mãe quando ela vai tomar banho. Ademais, a criança não
está numa redoma de vidro, e não vê apenas os pais, mas todo
tipo de gente. E se os pais entenderam que se deve tornar a
sexualidade natural e compreensível para a criança, talvez seja
uma vizinha quem irá manifestar a condenação que geralmen­
j!
te existe para o sexo. O ar que respiramos está saturado dessa
fi atitude em relação ao sexo.
Não se pode acreditar que, com uma explicação dada de
uma vez por todas, será possível derrubar todos os tabus que
o poder dominante ergueu em relação ao sexo. Uma correta
i: educação sexual é uma batalha que dura tanto quanto a pró­
pria educação da criança. Deve-se, além disso, estar conscien­
te de que qma correta educação sexual levará a um grande
I conflito com a sociedade capitalista.
Vejamos um exemplo real:
Ernesto é filho de pais de esquerda. Aos 4 anos, lhe é
explicado, claramente, que ele vai ganhar uma irmãzinha.
Nessa época, ele está em seu primeiro ano de colégio. Um dia,
fala-se na escola sobre a cegonha, e Ernesto grita, de seu lugar,
que "isso é uma bobagem, os filhos nascem de suas mães".
Produz-se uma grande confusão, as mães dos outros meninos
vão à escola reclamar. A mãe de Ernesto é chamada ao colé­
gio, dizem-lhe que o menino está corrompido, que é preciso
I proteger seus colegas, etc. Finalmente a questão termina, por
assim dizer, num compromisso. Com os outros meninos.
Ernesto deve se comportar como se nada soubesse. Em casa, é
preciso explicar-lhe que todos os outros pais mentem aos
filhos na ignorância e lhes dizem mentiras, e que a escola
contribui para essa situação. Mas a explicação deve ir mais
longe. Ernesto aprende, pela primeira vez, nesse confronto
• com o mundo burguês, a diferença de classes. Começa a en­
tender que o interesse dos ricos é manter os pobres e os tra­
balhadores na ignorância e imbecilidade, e que a cegonha, os
milagres. Deus e a concepção de que nesse mundo as coisas
são como devem ser, passam pelo mesmo fio condutor.
14
Um segundo confronto na escola faz Ernesto compreen­
der ainda menos a situação. Por ocasião do Natal, o professor
faz as crianças escreverem uma lista de desejos, a qual devem
colar na janela da casa, para que o menino Jesus venha retirá-
la. Ernesto chega em casa com a lista e diz que irá colocá-la
na janela, mas faz todos prometerem que ninguém irá tirá-la
dali. Ernesto, um menino cujas faculdades mentais não se
deixam dobrar pelo tabu, quer submeter a questão do menino
Jesus a uma investigação, por assim dizer, científica. Natural­
mente, a lista não sai do lugar. "Eu também já sabia que isso
de menino Jesus era uma mentira, mas por que explicam essas
coisas às crianças? Sim, por quê? Porque dessa forma elas são
educadas, com a ajuda de meios sobrenaturais, à obediência
cega e à submissão, e são preparadas para converter-se, depois,
em objetos de exploração. A menina que reza todas as noites,
cheia de medo, ante o menino Jesus, mais tarde, quando for
uma operária têxtil, não se atreverá a lutar contra a explora­
ção no trabalho. "0 Senhor nos dá, o Senhor nos tira, louva­
do seja o nome do Senhor".
Ernesto já compreendeu. Aos 7 anos, já tem consciência
de classe. É fácil imaginar que suas relações com o professor
não são muito boas. Já se encontra em luta. É preciso estar
consciente do que significa explicar em tempo ao próprio
filho os problemas sexuais... É preciso estar consciente daqui­
lo com o que a criança vai se defrontar. A criança que rece­
beu explicações satisfatórias sabe que pais e professores são
indivíduos que, como ela, realizam atos sexuais, e deixa, por­
tanto, de considerá-los como divindades intocáveis.
A obediência incondicional é a base de toda educação
reacionária. Os "bravos" cidadãos são educados com ò porre­
te e o serviço militar. Nenhum defensor desses sistemas edu­
cacionais admitirá abertamente que o que interessa é a educa­
ção da obediência absoluta, mas dissimulará seu real objetivo
sob uma fachada de palavras bonitas.
"Devemos proteger a pureza da infância de toda influên-
... // è/ £ M M » w. m z^ ■ z-J z> i m Íh AI •
cia corruptora",; "é preciso proteger a inocência da infância";
i
,
etc
etc... Vejamos de uma vez o que é realmente essa inocência.
’■ 15
A inocência da infância
0 pequeno Fidel tem 4 anos. Ele tem, naturalmente,
como todas as crianças, estímulos sexuais, e como todas.as
crianças apaixona-se por todos os fenònemos sexuais, mas
seus pais nada percebem. É um menino a quem é dada muita
atenção; sua mãe lhe é muito dedicada e cuida sempre para
que diante do filho não se diga nada que ele não possa ouvir.
Quando as visitas chegam, ele é levado para a cozinha, mas à
noite, naturalmente, dorme no quarto de seus pais. Às vezes,
durante a noite, estranhos ruídos o despertam, uns gemidos
terríveis e inexplicáveis, como se os pais estivessem lutando
entre si. Uma vez, uma luz estava casualmente acesa, e Fidel
pôde ver tudo. A partir de então, ele custa muito para dormir.
Fica acordado até altas horas, contendo a respiração, esperan­
do que o fenômeno se repita; quando isso acontece, a ansie­
dade e a excitação fazem com que ele fique coberto de suor,
e leve automaticamente suas mãos aos órgãos sexuais, come­
çando a se masturbar. Todas as noites, sua mãe reza com ele
e fala sobre Deus, a Igreja e o pecado, e finalmente conclui
dizendo que um menino bom nunca põe as mãos sob as
cobertas. Fidel se sente pecador, tenciona combater seus ins­
tintos, mas não consegue. Exteriormente, seu conflito não é
percebido, porque ele não se atreve a falar com ninguém
sobre isso. Apenas tornou-se mais pálido e silencioso. Não
obstante, sua mãe continua mandando-o buscar um copo
d'água quando alguém explica que uma mulher teve um filho.
Porque é preciso proteger a inocência de Fidel.
Infância e proletariado
Um cômodo só: a mãe é uma proletária casada e triste.
O pai se embebeda duas, três vezes por semana, e bate na
mulher diante dos filhos. Há briga e fome. Ana vai à casa de
sua avó, uma mulher dura e fria, que vive invocando a Deus, e
deseja incutir em Ana, com a ajuda de pancada, devoção e
disciplina. Mas o tio José é muito amável, vive dando presen­
tes a Ana, mas, em troca, quer que ela acaricie seu membro
até a ejaculação. Ana faz o que ele pede, e tem um medo
horrível. Se a avó soubesse! Um ano depois, completados os 6
anos, Ana é atraída com o mesmo fim por um desconhecido a
16
um portão. Aos sete, encontra-se num povoado para onde foi
levada juntamente com outras crianças, numa colónia. AH é
testemunha das orgias dissolutas que meninos e meninas,
todos juntos, organizam no palheiro. Ela retorna à casa com­
pletamente rebelde. Ninguém dedica-lhe afeição. Aos oito
anos consegue encontrar, por conta própria, o afeto que lhe
foi negado. Converte-se na líder de um bando de meninos da
rua, que fazem suas arruaças durante o dia. Isso a deixa feliz.
Torna-se mais tranqiiila, mas em casa a situação é insuportá­
vel: gritos, ameaças e surras. A avó e seu Deus vingativo "edu­
cam-na" até que Ana se rende e converte-se novamente, da
menina esperta que era, numa "boa menina" intimidada. Po-
rém, ao mesmo tempo, tem de dividir sua cama com dois
irmãos — por quem se faz masturbar todas as noites — e não
poderia ser de outra maneira, uma vez que vivem 7 num
mesmo cômodo. Ela tem, em consequência disso, um forte
sentimento de culpa. Aos 16 anos deixa-se seduzir por um
irmão mais velho, e com ele mantém relações durante 4 anos,
o que lhe provoca angústia e medos terríveis e, finalmente,
traz as suas consequências. Hoje, Ana encontra-se doente
devido a fortes ataques de angústia.
Poderíamos dizer que Ana é uma pessoa depravada, mas
isso não seria verdade; era uma menina amável e tranquila. Fi­
cou doente em função de sua educação e do ambiente em que
vivia, isto é, em função das constantes ameaças, proibições e
da carência de afeto, e das numerosas seduções e excitações
sexuais. Uma criança dividida entre essas duas realidades
opostas, abandonada por todos, não poderia ser outra coisa
senão uma pessoa doente, e sem identidade.
0 caso da pequena Ana parece particularmente espanto­
so. Porém, acaso não é assim que vive a maioria dos filhos dos
proletários? Amontoados em casas por demais pequenas, em
quartos mínimos divididos com muitas outras pessoas, con­
vertem-se forçosamente em testemunhos da vida sexual dos
adultos.
O fato de crianças dormirem na cama de seus pais é um
costume muito difundido, e os pais não sabem que o fato de
que seus filhos sejam testemunhas de sua vida sexual é, para
77
estes, gravemente prejudicial. Além de, evidentemente, a pre­
sença da criança atrapalhar a vida sexual dos pais.
Nas atuais condições, não tem sentido dar conselhos pe­
dagógicos sobre a conveniência de se separar o quarto dos
pais dos filhos. A pobreza das casas do mundo capitajista tor­
na impossível uma educação sexual adequada. Mas não é pos­
sível mudar essa situação se se continua a construir casas, não
com o intuito de abrigar as pessoas, mas em função unica­
mente do aluguel que os proprietários dos imóveis possam
conseguir.
Corrupção e superexcitação sexual são a consequência
dessa situação. Por outro lado, o proletariado está contamina­
do pela moral dominante da burguesia e por sua condenação
do sexo. Também os pais proletários batem em seus filhos
quando os surpreendem numa prática sexual. Que contradi­
ção! Outra das consequências é o fato de que a miséria e o de­
sespero tornam os pais duros e desumanos em relação aos fi­
lhos, miséria e desespero tais que, muitas vezes, os levam a
cair na embriaguez, estado em que perdem totalmente o con­
trole.

, A vida sexual infantil


Enquanto as crianças, já desde cedo, têm oportunida­
de de presenciar a qualquer momento a vida sexual dos a-
dultos, os pais proletários pretendem conservar a "inocência"
dos filhos. Poderíamos pensar que o desenvolvimento precoce
da sexualidade das crianças é produto das seduções sofridas
em casa, ou da influência perniciosa da rua, mas isso não é
verdade. Desde cedó, a sedução exacerba o conflito, mas, co­
mo destacamos várias vezes, todas as crianças, durante o pe­
ríodo compreendido entre o 39 e o 69 anos de vida, atraves­
sam uma fase de intensa excitação sexual. Como o adulto, ela
experimenta, durante esse período, tensões sexuais que le­
vam-na a tocar-se para eliminar o estímulo, friccionando e
• apertando o órgão. Isso não é outra coisa senão o tão temido
onanismo infantil (auto-satisfação), que não é, ao contrário
do que se pensa, absolutamente perigoso. Se não se dá impor­
tância a ela, e se se deixa a criança em paz, a masturbação
nunca terá consequências negativas, mas, pelo contrário,
18
constituirá um período preparatório muito importante para a
sexualidade do adulto. Mas, se se contraria a criança, castigan­
do-a ou ameaçando-a, dizendo-lhe que, se ela repetir essa prá­
tica sexual, terá seu órgão cortado, ou ficará muito doente,
ele procurará deixar de se masturbar. Mas com isso o impulso,
que tem sua origem na excitação física, não cessará; portanto,
ou bem a criança irá masturbar-se angustiada, ou conseguirá
dominar-se, mas se sentirá angustiada da mesma forma, por­
que basta que sinta um forte desejo de desobedecer para que
tema igualmente o castigo prometido. A criança que tem me­
do de se masturbar torna-se nervosa, angustiada e difícil de
ser educada.
Esses fenômenos adquirem importância devido ao fato
de que o onanismo da criança é acompanhado por fantasias
que habitualmente provocam medo e sentimento de culpa. Os
desejos sexuais da criança, tal como acontece com os adultos,
dirigem-se a outra pessoa por quem a criança, pretende ser
amada e saciada fisicamente. Naturalmente, essa outra pessoa
faz parte do estreito círculo familiar da criança, e na maioria
das vezes é o próprio pai ou a própria mãe. A menina quer ser
amada pelo pai, ter filhos seus, tomar o lugar da mãe. O meni­
no quer substituir o pai e fazer com a mãe as coisas inquietan-
tes e proibidas que o pai faz com ela, justamente porque a
criança tem, muitas vezes, uma imagem pouco precisa do
sexo, é evidente o caráter proibido e indecente de que esse
desejo se reveste para a criança, sobretudo porque o progeni­
tor do mesmo sexo, que ao mesmo tempo é objeto de amor,
1 deve ser eliminado como um rival pouco desejado. Se, além
disso, os pais proibem severamente o onanismo, castigam os
jogos sexuais da criança, esta relaciona tais castigos com as
fantasias proibidas, e a angústia crescerá até o infinito.
Normalmente, çprn o tempo, a criança renuncia ao dese­
jo do pai ou da mãe e se volta para outros indivíduos com os
quais é possível,.em princípio, ter relações sexuais normais.
Mas se a criança, na primeira infância, experimentou uma
sensação de medo demasiado forte, estará impossibilitada,
no futuro, de manter qualquer atividade sexual. Tornar-se-á
impotente ou, se mulher, frígida. Mas, mimar excessivamente
a criança é tão prejudicial quanto dar-lhe uma educação seve-
19
ra,'porque, desse modo, forçosamente, a criança se apegará
demasiado aos pais. Quando, por exemplo, permite-se que as
crianças vão para a cama de seus pais, elas começam a se aper- .
tar e a se coçar, e as fantasias sexuais com respeito aos pais
aumentam-consideravelmente. Há muitas mães que, desiludi­
das com o matrimonio, dedicam toda sua ternura aos filhos e
buscam neles uma compensação ao amor perdido mantendo-
os sempre perto de si, procurando diligentemente monopoli­
zar todo seu amor. Essas crianças, em geral, ao crescerem,
convertem-se em "filhinhosde mamãe", em adultos incapazes.
Sem perceber, as mães muitas vezes excitam o filho de­
dicando-lhe excessivos cuidados corporais. Entre estes encon-
tra-se, por exemplo, o interesse exacerbado que alguns pais
demonstram pela defecação de seus filhos; os supositórios são
particularmente pouco aconselháveis, já que também provo­
cam estímulos sexuais. t
Vejamos agora um par de exemplos, tirados da prática,
sobre as consequências de uma educação sexual equivocada.
A criança angustiada
Há algum tempo, José, um menino de 5 anos, acorda
dando gritos horríveis. Senta-se na cama tremendo, esconde
as mãos sob as cobertas e grita sem parar: "Não! Não!" Sua
mãe tem que levantar-se, fazê-lo urinar e levá-lo para cama
com ela, onde, finalmente, o menino dorme. O que está acon­
tecendo com ele? Toda noite ele tem o mesmo pesadelo.
Toda noite vê um homem barbudo que se aproxima dele com
uma faca nas mãos para atacá-lo. Que se pode fazer nesse
caso? O menino não sabe explicar seu medo. Só depois de
muitas atenções consegue-se descobrir de quê ele tem medo.
A figura noturna quer corta-lhe as mãos e o órgão sexual. Isso
é o que leva o menino a esconder as mãos sob as cobertas. E
por isso só se tranquiliza quando vê que seus genitais estão
sãos e salvos. Como surgiu esse temor? O menino, que ama
sua mãe com ternura, havia acordado algumas vezes durante a
noite, e observado seus pais fazerem amor. Mas, como não
entendeu o que estava acontecendo, havia apenas experimen- ’
tado o desejo de fazer as mesmas coisas que seu pai. E, com
essas fantasias, se havia masturbado. Uma manhã, seu pai o
20
viu e ameaçou cortar-lhe o membro. Animado por sua excita­
ção sexual, o menino sente desejos de ir com sua mãe e fazer
aquelas coisas de que suspeita, ou pelo menos, de masturbar-se.
Mas surge-lhe o pai gigantesco e ameaçador, e então ele tem
que gritar de medo. Nesse caso, conseguir satisfazer o desejo
de dormir junto à sua mãe constitui um fato de importância
apenas secundária.
Ao cabo de algumas semanas, os ataques de angústia no­
turna do pequeno José cessam automaticamente. Parece,
pois, que o problema não era tão grave. Pode suceder que
alguns estados de angústia desapareçam repentinamente, mas
de outras vezes o significado dos mesmos permanece. José,
que até então tinha sido um menino esperto e alegre, torna-se,
a partir desse momento, silencioso e medroso. Aos 14, 15
anos, começa a sair com as meninas, e é nesse período que o
problema reaparece. Ele está obcecado pelo medo de ter con­
traído alguma infecção; e, entretanto, ainda não teve relações
sexuais, apenas algumas boi inações com as meninas. Seu
medo é compíetamente absurdo, é consequência direta de
seu antigo temor: quando se busca o prazer sexual, recebe-se
um castigo relacionado com os genitais. Seu medo cresce.
Ouviu falar de doenças cardíacas, pulmonares e nervosas que
podem derivar da sífilis. Converte-se num hipocondríaco,
que se submete a repetidos exames para descobrir em si novos
sintomas de doenças. Quando, mais tarde, tenta ter uma rela­
ção sexual normal com uma jovem, torna-se impotente. 0
medo do castigo, que ameaça toda relação sexual, é demasia­
do grande.

Educação de súditos dóceis


Damos agora outro exemplo que mostra, ainda mais cla­
ramente, que não estamos tratando de casos particularmente
trágicos, mas de um sistema educacional generalizado. Esse
sistema significa a formação de pessoas que, precisamente
porque tiveram sua vitalidade destruída, sua sexualidade de­
turpada e seu caráter pervertido, estão particularmente passí­
veis de serem exploradas e de se converterem em cidadãos
dóceis.
21
0 pequeno Francisco tem de dormir na mesma cama
com sua mãe e irmãs. Toda noite, aperta-se contra os corpos
quentes femininos, seus seios,tenta seus órgãos sexuais. Então,
tomado de uma forte excitação sexual, aperta seu pequeno
membro contra o corpo de sua mãe e se masturba.
Mas seu pai é muito severo e deu-lhe uma grande surra
ao surpreendê-lo masturbando-se, ameaçando-o entregá-lo ao
bicho-papão se o pegasse outra vez. Passaram-se dois anos. Na
aula de religião: "Não pecarás contra a castidade", Francisco
continua dormindo na mesma cama com sua mãe. "Não le­
vantarás falso testemunho", "não roubarás", "não farás isso,
não farás aquilo, e se não obedeceres irás para o inferno, onde
arderás pelos séculos dos séculos".
Francisco sente constantes remorsos devido à sua ativi­
dade noturna e a seus desejos sexuais. Vive num medo eterno:
primeiro do pai, depois do bicho-papão, agora de Deus. Tor­
na-se devoto, está sempre na Igreja. Além disso, também tem
medo da polícia. Os policiais são quase tão temíveis quanto o
bicho-papão. O medo da autoridade e a devoção apoderam-se
dele, e ele nunca mais conseguirá superá-lo.
Segundo sua posição social, Francisco é um proletário,
é pobre e explorado. Mas politicamente é um reacionário.
Intimamente, vive seu estado de necessidade como um justo
castigo para seus pecados sexuais. E preciso aceitar com hu­
mildade o que Deus nos dá. Frente a qualquer superior, fren­
te a qualquer policial, Francisco treme e fica sem ação.
Vocês sabem que há milhares e milhares de Franciscos
pelo mundo? Qualquer atividade sexual das meninas é repri­
mida com maior severidade ainda que a dos meninos, porque
deve entender que somente o casamento é lícito, e que qual­
quer outra atividade sexual é pecaminosa. A submissão da
mulher ao homem e a renúncia à sua liberdade é relativamen­
te fácil de ser conseguida, porque a vida instintiva e a vontade
da mulher foram debilitadas desde a primeira infância, é jus­
tamente a maior repressão que a mulher sofre aquela que a
compele aos braços da Igreja e dos partidos reacionários.
A proibição de qualquer reflexão sobre o sexo é, para as
mulheres, particularmente severa e as leva a renunciar defini­
tivamente a refletir, tornando-se propensas a crer na lingua-X-
22
gem reacionária. As mulheres formam, de fato, a maioria dos
eleitores fascistas e cristãos, embora ambos os partidos as
considerem seres humanos de segunda classe. "As mulheres se
submeterão aos homens como a seus senhores, porque o ho­
mem é o senhor da mulher como Cristo é o senhor da Igreja",
escreveu textualmente o Papa em sua encíclica sobre o casa­
mento cristão. A mulher será serva e escrava, deve trabalhar,
servir, sofrer e procriar; estas são as tarefas que tem pela vida,
e se for trabalhar fora, seu salário será uns 40% inferior ao do
homem. E deve procriar filhos para que o povo seja "valente",
ou seja, para que na próxima guerra haja suficiente carne de
canhão.
é evidente a razão pela qual interessa, ao capitalismo,
manter as mulheres submissas. A repressão sexual é um dos
sistemas de luta mais eficazes através dos quais a burguesia
paraliza a combatividade do proletário.
Mas, se uma mulher consegue se libertar e compreender
a razão e as formas da repressão, ela converte-se normalmente
numa militante especialmente lutadora e ativa pela libertação
da humanidade do jugo do capitalismo.
I Outra conversação mantida durante a hora de consulta
— A senhora disse muitas vezes que a masturbação não
prejudica a criança. Mas distraí-la é mais positivo ainda: se
J fizer ginástica ou um esporte qualquer, pensará menos no
j
onanismo.
— Olhe, a senhora continua considerando o onanismo
como uma espécie de doença. Naturalmente a criança deve
praticar algum esporte, mas não para combater o onanismo.
A criança não deve ter a sensação de que sua sexualidade é
J algo pouco natural, da qual deve ser afastada. Tenho plena
consciência de que estou pedindo que a senhora vá além de
) suas próprias possibilidades; a educação que a senhora rece­
beu praticamente a impede de educar seu filho livremente.
No fundo, a senhora não acredita quando lhe digo que o ona­
nismo não é prejudicial.
— é verdade, não consigo acreditar nisso. Em todo lugar
J
a gente ouve dizer o quanto o onanismo é prejudicial, todos
;os médicos e livros de higiene dizem isso.
23
— Tem razão, mas é que, há até alguns anos, a ciência não
sabia, de fato, que as crianças também possuíam uma sexuali­
dade, acreditava-se, isso sim, que esta se apresentava de repen­
te por volta dos quatorze anos. As crianças sempre se mastur­
bam e sempre brincaram de “médicos" para poderem olhar-se
e tocar umas nas outras. Mas esses fenômenos sempre foram
observados com pouca clareza, ou, simplesmente, foram igno­
rados ou explicados como um mau comportamento, sem que
se lhes fosse dada muita importância. Lembro-me de que uma
vez conversei numa escola com uma professora que tinha
essas opiniões. No jardim, diante de nós, as crianças brinca­
vam. Enquanto falava, eu olhava peia janela e justo à nossa
frente estava um garotinho. De repente, .ele desabotoou as
calças tranquilamente, tirou o pénis e começou a brincar com
ele com muita compenetração. Olhei para a professora: ela
olhava na mesma direção e, entretanto, não havia visto nada.
— Ela mentiu para a senhora intencionalmente?
— Não, ela se limitava a não ver aquilo que não queria
ou não podia ver. Porque, provavelmente, observações desse
tipo teriam afetado sua sexualidade, por sua vez reprimida.
Nesse caso concreto, nós podemos facilmente generalizar: os
cientistas ignoram a sexualidade infantil porque não podem
encontrá-la em si mesmos, já que também estão submetidos
à repressão sexual da burguesia. Mas, quando são obrigados a
ver que existe algo como o onanismo infantil, então vêem
esse fenômeno inócuo e natural como uma degeneração pato­
lógica. Porque reconhecer que a criança possui estímulos
sexuais completamente naturais seria praticamente admitir
também a satisfação dos referidos estímulos.
— Se se soubesse que todas as crianças se masturbam e
que, apesar disso, transformam-se na maioria das vezes em
adultos perfeitamente sãos, deveria permitir-se que as crianças
se masturbassem tranquilamente.
■ — Muito bem. Mas se isso não lhes causa nenhum proble­
ma, por que não se lhes permite?
— Sim, e o que a senhora pensa que o senhor padre lhe
diria? Justo há pouco, o Papa divulgou uma circular sobre o
casamento cristão, na qual dizia textualmente: “A relação
matrimonial não é lícita, nem sequer com o legítimo esposo,
• 24
se nela se obstaculiza a concepção de uma nova vida. Assim
fez Onan, filho de Judas, e por isso Deus o matou'*. 0 que
significa que a relação sexual é consentida apenas em função
da concepção. Portanto, em circunstâncias materiais particu­
larmente favoráveis, ela só é consentida três ou quatro vezes
em toda a vida. As outras vezes, ela é pecado mortal. Mas
uma pessoa sadia, em trinta anos de maturidade sexual, tem
em média duas ou três vezes por semana o desejo de satisfa­
ção sexual. Evidentemente, ninguém vive segundo os princí­
pios da Igreja, mas de todos os modos os homens sempre
vivem com fortíssimas imposições à sua sexualidade. Em
muitos lugares, vivem em abstinência até o matrimonio, e é
sabido o tipo de inferno que tal matrimónio costuma ser. Isso
é válido sobretudo para as mulheres, já que os homens não
observam tanto os preceitos morais, mas também para eles a
sexualidade se reduz a práticas baixas e sujas, obtidas através
de dinheiro, com mulheres proletárias que têm de vender seu
corpo por necessidade. Olhe, a vida sexual doentia de nossa
época tornou-se possível precisamente pelo fato de que a vida
instintiva é torcida desde a primeira infância. Se a criança
tivesse desenvolvido plenamente a sua sexualidade, mais tarde
já não poderia reprimí-la completamente. Não se pode permi­
tir que um menino de 5 anos se masturbe e mais tarde se proi­
bir ao adulto de ter uma relação seuxal matrimonial utilizan­
do métodos anticoncepcionais.
Se a senhora proíbe a seu filho o onanismo, o terá feito
de boa-fé, mas, sem sequer suspeitá-lo, a senhora terá sido, ao
proceder assim, um instrumento da classe dominante.
— Entendo muito bem que a Igreja exija o respeito a
seus mandamentos, que para ela o sexo seja pecado, e que,
dessa forma, provoque nos homens um sentimento de culpa
com o que os prende ainda mais. Mas a Igreja já não tem mui­
ta importância. O número de crentes, hoje em dia, não é mui­
to grande.
— De acordo; mas a posição dos regimes burgueses coin­
cide com a da Igreja. Por exemplo, ambas proibem a interrup-
> ção da gravidez. Num momento em que no mundo há quaren­
ta milhões de desempregados, obrigam-se as mulheres do prole-
' tariado a parir ainda mais filhos, enquanto a burguesia aco-
25
modada pode abortar nas clínicas, pagando uma discreta soma
de dinheiro. Mas, às mulheres dos operários, não lhes resta I
outro caminho além das parteiras ou de algum curandeiro.
1
Esse tipo de aborto causa mais vítimas que a tuberculose, a
pior praga de nosso povo. Segundo um cálculo de professores
burgueses, e'f portanto, não segundo os jornais radicais, a cada
<
ano morrem em torno de 20 mil mulheres por causa do abor-
1 to, ao passo que entre 60 e 80 mil ficam gravemente doentes.* <
O aborto é uma operação absolutamente inócua, se rea­ 1
lizada nas condições adequadas. Na Rússia, onde o aborto é
’ legal, ou seja, onde ele é praticado gratuitamente nos hospi; 1
tais estatais, entre 50 mil casos existentes em 1929, por exem­
1
plo, não foi registrado nenhum caso de morte.
E por que o aborto está proibido? Antes de mais nada, <
porque se necessita de carne de canhão para a próxima guerra. 1
, Mas também por causa da moralidade. Porque, se as pessoas
solteiras, especialmente os jovens, pudessem facilmente elimi­ <
nar uma gravidez não desejada, seria mais fácil ter relações
I
sexuais, e isso iria minar as bases do matrimónio e da família,
e o Estado burguês precisa da família. Através da família^, a 1
criança recebe, desde cedo, aqueles juízos, idéias e opiniões
1
que deverá ter quando crescer, como cidadão de um Estado
burguês. E o que o pai introduz no menino, com a ajuda da <
pancada, enraíza-se de tal forma que, mais tarde, ao longo de
toda a vida, será dificilmente superado. I
Consideremos agora o fato de que um operário com seu 1
trabalho, produza várias vezes a quantia que leva para casa
1
como pagamento: esse pagamento corresponde ao mínimo
vital, ao passo que o dono da fábrica vive luxuosamente. O
. fato de que o operário, não apenas suporta essa situação
como muitas vezes pensa que assim deve ser, demonstra uma
capacidade de aceitação que adquiriu, em primeiro lugar, na
família. E um dos principais instrumentos educativos que esta
utiliza é a repressão da sexualidade infantil.
— Compreendo... creio que vou falar com meu filho e
dizer-lhe que afirmava coisas que não tinham sentido.
— Assim é melhor, é melhor que ele se dê conta de que
também sua mãe pode equivocar-se, do que crescer uma
criança intimidada e cheia de temores.
26
£_ possível resolver hoje o problema sexual?
Através da influência que os pais exercem sobre a vida
instintiva da criança, formam seu caráter e determinam, além
disso, seu futuro. Uma tarefa de grande responsabilidade. A
mãe proletária que trabalha oito horas na fábrica, ocupa-se
também da casa e deve cuidar de três filhos; pode ela assumir •
bem essa tarefa? 0 desempregado que precisa passar o dia em
ócio forçado e que assiste à depauperação da família devido à
subnutrição, pode ter paciência e calma para conversar com
seus filhos? Quando vivem sete pessoas num cômodo, existem
sempre cinco sobrando, e as expressões naturais de vitalidade
de uma criança tornam-se sempre insuportáveis e excessivas,
até o ponto que a mãe acaba batendo no filho que seja dema­
siado travesso.
Os homens que vivem lutando contra a miséria e as preo­
cupações, dificilmente se tornam bons educadores.
Por conseguinte, só se pode conversar livremente com
uma criança sobre a vida sexual quando se é, por sua vez, sufi­
cientemente livre nesse terreno. Mas isso só acontece quando
a própria vida sexual é satisfeita. Como pode uma mãe prole­
tária viver sua própria vida sexual se a cada mês espera, receo­
sa, a vinda de sua menstruação? Como pode seu matrimónio
ser feliz se anos e anos de miséria deixaram-na totalmente
exausta? Tampouco o homem pode ter uma vida sexual sadia,
também ele está preso por milhares de vínculos morais e eco­
I
nómicos, também ele se vê obrigado a desvalorizar sua sexua­
lidade, para continuar vivendo como for possível.
► Daí vêm as inúmeras influências negativas e hipocrita­
mente moralistas sobre a vida sexual a que são submetidas as
crianças na escola, nas aulas de religião, etc., ao que se soma a
pobreza das moradias e a pouca adequação das ruas da cida­
de como espaços para recreação.
Todas essas circunstâncias fazem com que, hoje, seja
I. impossível para a grande massa uma educação sexual minima­
mente adequada. E não há reformas que possam eliminar as
necessidades, a exploração e a miséria das moradias, nem tam­
pouco a infelicidade geral dos casamentos, porque estas são as
consequências do modo de produção capitalista, cuja caracte-
rística essencial é enriquecer a uns poucos com o trabalho de
27

-■ .•;->^.;m^^-;..v.; •-.. . ^-Swvy
muitos, e estes poucos só põem a produção em movimento
quando conseguem lucro suficiente. E para que o consigam,
o proletário deve trabalhar até que cuspa sangue, e os salários
devem baixar até chegarem ao nível que permita ao trabalha­
dor tão somente não morrer de fome.
Quando o produto do trabalho pertencer àqueles que o
criaram, quando os trabalhadores tiverem tomado o poder e
as fábricas, uma vez feita a revolução, tudo será de^todos, e
então/as condições de vida do proletariado se tornarão huma­
nas.
Estas não são palavras ocas.
Enquanto reduz-se cada vez mais o gasto com a política
social, assistência sanitária, assistência à infância, proteção à
mãe, etc. na Rússia, a verba destinada para esses fins triplicou
desde 1917 até hoje. Foram abertas numerosas creches,
colégios e alojamentos em que as mães podem deixar seus
filhos enquanto encontram-se no trabalho. E desse modo se
criam as bases para uma nova educação.
Essa nova educação é, além do mais, uma educação cole­
tiva, ou seja, a tarefa de educar a criança desliga-se cada vez
mais da família, passando para as mãos da comunidade infan5
til. Os colégios russos são administrados pelas crianças, elas
próprias estabelecem as regras a que vão se submeter, num
ato espontâneo de disciplina. Por conseguinte, já desde cedo
as crianças crescem como iguais entre iguais e o processo de
adaptação à comunidade, que a família muitas vezes só pode
impor com restrições brutais, realiza-se automaticamente na
coletividade; na família, a criança está isolada e tende a se
considerar o centro do mundo; os inúmeros conflitos que nas­
cem da inveja entre os seres humanos, as tensões com os pais,
desaparecem no colégio e o desenvolvimento da criança é
mais simples e natural. Evidentemente, a sinceridade e a natu­
reza ajudam também as explicações e a educação sexual.
Dizem mentiras ecalúnias aqueles que sustentam que, na
Rússia, as crianças são arrancadas à força do seio dos pais.
Muitos pais reconheceram que os seus filhos estão melhor nos
colégios e os mandam para lá de boa vontade. Outros mantêm
os filhos em casa e os mandam aos grupos infantis por apenas
uma parte do dia. Mas também a posição da criança naíamí-
28
lia mudou profundamente. Isso se deve, sobretudo, à trans­
formação ocorrida na vida familiar.
A mulher libertou-se de sua opressão, tendo sido equipa­
rada ao homem em todos os aspectos, material, político e
jurídico. Desse modo, os casamentos converteram-se numa
união livremente contraída, que existe enquanto perdura a
atração recíproca. Mas já não existe qualquer obrigação eco­
nómica que prenda duas pessoas que não se sintam bem
vivendo juntas, já não existe qualquer moral hipócrita que
arruine as pessoas só porque elas se amam. Desse modo,
está-se amadurecendo lentamente uma nova vida sexual livre,
que é a premissa para a nova educação sexual.
Mas o caminho para essa nova vida é a luta, a destruição
do mundo capitalista, a revolução proletária. A libertação do
proletariado de sua opressão será o que irá levar à libertação
da vida sexual.

29

7.
Sobre o Onanismo
Wilhelm Reich

O onanismo é prejudicial?
0 onanismo, em si, não é prejudicial se praticado sem problemas,
ou seja, sem sentimento de culpa ou remorsos periódicos, e se, além
disso, o curso da excitação não é perturbado. A atribuição de conse­
quências nocivas ao onanismo é resultado (na maioria das vezes incons­
ciente) de fantasias e escrúpulos que desviam o curso da excitação. A
Igreja condena toda emissão de sêmen que não tenha como finalidade a
concepção, e considera o onanismo, portanto, um grave pecado. Até os
cientistas burgueses, que não se libertaram da ideologia eclesiástica, pro­
curam apresentá-lo como um vício, e recomendam contra ele medidas
totalmente prejudiciais, medidas que provocam doenças e que, às vezes,
conduzem os jovens ao suicídio. O onanismo é simplesmentes a expres­
são do fato de que o indivíduo já é sexualmente maduro numa fase em
que não tem condições de casar-se, e em que a possibilidade de encon­
trar uma parceira sexual é muito relativa.
Aos 13 e 14 anos — às vezes antes, às vezes depois —, a pessoa
atinge a maturidade sexual, isto é, está em condições não apenas de
manter uma relação sexual como também de gerar filhos. Os sinais dessa
31
maturidade são, nos meninos, o endurecimento do pénis, o aparecimen­
to de pelos nos órgão sexuais e a maior gravidade da voz; nas meninas, o
crescimento dos pelos nas proximidades dos órgãos sexuais, o desenvol­
vimento dos seios e o surgimento do fluxo menstrual. Do ponto de vista
psíquico, o aumento da energia comporta uma inquietação e uma tensão
interna e, na maior parte dos casos, um impulso consciente para a ativi-
* dade sexual. Depois de um afluxo mais abundante de sangue nos órgãos
sexuais, produz-se uma tensão que se manifesta por uma espécie de co­
ceira num determinado local da pele. Como se acaba, normalmente,
com uma coceira? Coçando e friccionando a parte afetada. Por conse­
guinte, a coceira dos órgãos sexuais é eliminada mediante a fricção a
que são submetidos. O alívio da tensão expressa-se, no homem, pela
ejaculação;* as mulheres, normalmente, também se relaxam. Depois
disso, se o processo produziu-se sem qualquer perturbação, passa um
período em que não se nota desejo de atividade sexual, até que o estí­
mulo reaparece. Dependendo das pessoas, os comportamentos variam.
Umas tém necessidade de masturbar-se duas ou três vezes por dia,
outras, apenas uma vez por semana. Entre os povos primitivos, os meni­
nos e meninas que atingiam a maturidade sexual encontravam-se nas
chamadas casas da comunidade, onde tinham relações sexuais. O ona-
1
nismo da adolescência entre nós simplesmente substitui a relação sexual.
Entre os primitivos, não tinha nenhuma relevância.
0 onanismo é, portanto, completamente inofensivo até que passa
a relacionar-se ao sentimento de culpa. Então, o menino começa a com­
batê-lo, procura reprimir o estímulo sexual que, entretanto, é mais forte
que sua vontade consciente.
f
Então, ele começa a masturbar-se, mas vivendo uma contradição
consigo mesmo, e o ato acaba sendo prejudicado, a satisfação não é 1
natural e o sistema nervoso é afetado. Ademais, unem-se ao onanismo
í
fantasias inconscientes que normalmente despertam o sentimento de
culpa e de inquietação. Soma-se a isso o fato de que o menino chega a í
relacionar, de maneiras muito variadas, o onanismo com um dano físico.
í
Nota do Revisor:
Posteriormente Reich observou que nem sempre a ejaculação era companhada de
í
alívio de tensão. Descobriu a potência orgástica — capacidade de entrega e alívio <
expontâneo da tensão sexual — através de pulsações involuntárias de toda a ativi­
dade corporal por meio de contração e expansão, também expontâneos; comum
ao homem e à mulher. Movimento corporal de prazer, basicamente inibido nas
culturas contemporâneas pela educação sexual repressiva. í
32
Isso o angustia, porque, em primeiro lugar, acredita ser a única
pessoa no mundo a “comportar-se desse modo". Começa a distanciar-se
dos demais, e assim contrai o sentimento de isolamento típico de quem
pratica o onanismo. Não se dá conta de que, pelo contrário, tem inúme­
ros colegas que seguramente creem, como ele, que são os únicos no
mundo que se masturbam.
O onanismo só satisfaz durante um certo período de tempo; a
longo prazo torna-se insatisfatório, pois começa-se a fantasiar sobre a
parelha sexual.
O onanismo, quando deixa de ser satisfatório, torna-se prejudicial
na mesma medida em que é uma relação sexual praticada contra os pró­
prios desejos. A melhor saída para o onanismo é a relação sexual com
uma parelha por quem se sinta atração física e psíquica.

Praticar o onanismo provoca tuberculose na medula espinhal?


Como isso poderia acontecer? Essa é apenas uma das muitas
ameaças que os pais ignorantes usam para obrigar os jovens a respeitá-
los. Mas essa ideia também surge, com frequência e espontaneamente,
em alguns jovens que, não tendo recebido a explicação adequada, não
conseguem entender de onde sai o fluxqjque acompanha a ejaculação, e
se convencem de que o líquido que surge provém da medula espinhal.
Naturalmente, isso não é verdade.
Em primeiro lugar, a medula espinhal não é um líquido, e, em se­
gundo, não tem outra relação com os testículos — que produzem o
sêmen — além do fato de que a medula e o aparelho genital estão liga­
dos por nervos que permitem a excitação sexual, já que dilatam os vasos
sanguíneos.-

Como responder ao fato de que, embora a masturbação se dê sem senti­


mento de culpa, produzam-se os mesmos transtornos nervosos?
Como o tratamento psicanalítico do onanismo demonstra, exis­
tem sentimentos de culpa inconscientes, idéias inconscientes sobre sua
nocividade. Não se deve esquecer que desde a primeira infância tudo o
que tem a ver com sexo é destacado como coisa proibida, nociva e cri­
minosa. Mesmo quando os jovens se libertam conscientemente dessas
falsas opiniões, não conseguem exercer qualquer influência sobre suas
opiniões inconscientes, sobre as imagens ocultas que foram geradas na
infância que só se tornam conscientes com um tratamento psicanalítico.
Daí deduz-se que a pura e simples explicação de que o onanismo é ino-
33
fensivo muitas vezes não consegue qualquer resultado porque a per­
suasão só se dá a nível consciente, e não chega a influenciar os concei­
tos que atuam sobre o inconsciente. Mas essas idéias inconscientes per­
turbariam muito mais se pudessem agir de forma consciente.
Outro motivo por que podem produzir-se transtornos nervosos
no onanismo, conscientemente livre de sentimento de culpa, pode ser,
conforme dissemos anteriormente, o fato de que ele já não satisfaça.
Nesse caso, o problema pode ser solucionado com a relação sexual com­
pleta.
O onanismo é prejudicial quando a relação sexual é levada a cabo medi­
ante o onanismo mútuo?
Prejudica apenas quando levada a cabo durante muito tempo e,
assim mesmo, devido aos motivos já mencionados, ou seja, ao fato de
que o onanismo nunca pode ser tão satisfatório quanto a relação sexual.

Mas por que há aqueles que se masturbam um ao outro em vez de ter


uma relação sexual?

Em primeiro lugar, por medo da gravidez.


•'.i'.

'i.! • E, entretanto, existem métodos anticoncepcionaisl Ou, também,


porque se pensa, graças à moral dominante, que apenas o ato sexual
está proibido, enquanto todo o resto é lícito. Aqui poderíamos falar do
fato de que muitas meninas permitem tudo, evitando apenas o ato
sexual, porque o temem, consciente ou inconscientemente. Quando um
homem se comporta do mesmo modo, o faz frequentemente por não se
sentir seguro de sua capacidade sexual. O medo da gravidez ou os escrú­
pulos morais escondem, na maior parte das vezes, inibições ou temores
inconscientes. Não é higiénico, de um ponto de vista sexual, praticar
reciprocamente o onanismo sem uma relação sexual normal, porque a
excitação é maior que a satisfação lograda.

Há quem se masturbe sem estímulos, mentalmente, por exemplo?


0 onanismo é estimulado não apenas por impulsos e tensões físi­
cas, mas principalmente por fantasias. Ocorre com muita frequência que
o sujeito não se permite tocar-se os genitais, e em contrapartida chega,
de vez em quando, à ejaculação, fantasiando intensamente. Portanto,
existe também uma espécie de onanismo “mental", que é nocivo por­
que provoca a excitação de um modo irregular, e com o tempo pode
34
produzir neurose. 0 onanismo mental é muitas vezes sintoma de uma
neurose incipiente. Quanto antes se lança mão de uma intervenção
psicanalítica, melhor. Nos jovens, certos estados passam por si, se eles
conseguem ter relações sexuais a tempo. Talvez a atividade esportiva
possa distrair a atenção, mas a longo prazo não pode ajudar na solução
do problema.

Fantasiar é uma doença?


Durante uma determinada fase da adolescência, até que se alcance
uma vida sexual regular, sonhar acordado é um fenômeno típico. A lon­
go prazo, isso enfraquece os vínculos com o mundo real e faz cair cada
vez mais em fantasias infantis ou inconscientes.
Tal como o onanismo mental, esse fenômeno, nos casos de mais
longa persistência, converte-se em sintoma de neurose incipiente. Preju­
dica principalmente a capacidade de trabalho e comporta, geralmente,
uma dificuldade cada vez maior para orientar-se no mundo real. Exis­
tem dois tipos de “sonhos com olhos abertos", os de fundo heroico e os
de fundo sexual. Em ambos os casos, com o decorrer do tempo, o
mundo fantástico torna-se mais agradável que o real, e dessa maneira
chega-se facilmente a uma redução da própria vitalidade.
É prejudicial interromper a masturbação imediatamente antes da ejacu­
lação? V-
Quem se masturba desse modo geralmente acredita que a mastur­
bação traz um dano físico. Este tipo de comportamento é o pior que se
pode ter, e conduz à neurastenia. Muitos crêem que não se masturbam
se só se limitam a friccionar o membro, ao passo que a ejaculação seria
a autêntica má ação. Reter a ejaculação significa reter o pleno desenvol­
vimento da excitação e não aliviar a tensão, de forma que a excitação
sexual se desvia para outros canais e a pessoa se enerva.
O onamismo pode ser nocivo para as meninas se, eventualmente, não
conhecendo a sensibilidade dos órgãos sexuais femininos, efetua-se a
masturbação com as mãos sujas, etc. ?
Não está muito claro o que se entende por "sensibilidade". Os
órgãos sexuais são muito sensíveis, mas não a ponto de serem danifica­
dos por um contato com mãos pouco limpas. Nenhum órgão deveria ser
tocado com as mãos sujas, mas isso não é uma advertência específica
para o onanismo.
35

c.
Temo que essa pergunta esconda duas preocupações: a primeira,
de que o onanismo seja prejudicial; a segunda, de que o órgão sexual
feminino seja particularmente vulnerável. Muitas pessoas têm a ideia
inconsciente de que o onanismo traz, como consequência, a vulnera­
bilidade ou o dano dos órgãos sexuais, temores esses que as crianças
adquirem desde os primeiros anos, devido às espantosas ameaças dos
pais, e contra as quais não tém uma explicação imediata que seja sufi­
cientemente enérgica, porque essas primeiras impressões e temores da
criança fundem-se profundamente com os que vêm imediatamente
depois.

Um dos argumentos contra o onanismo é o de que sua execução mecâ­


nica traz determinadas alterações dos órgãos sexuais externos. Conse­
quências ulteriores seriam a ejaculatio precox na relação normal e,
portanto, a não satisfação da parelha. Que resultados positivos oferece
a medicina prática? Essa argumentação é justificada?

Não se sabe muito sobre isso. É bastante improvável que o ona-


nismo produza tais alterações. Não se vé a razão disso acontecer. A
ejaculatio precox na relação sexual depende de outro tipo de questões:
é a expressão de uma ansiedade geral, e em particular,'depende do sen­
timento de culpa e da ansiedade de quem pratica o onanismo, mas não
do ato mecânico em si. Esta é apenas uma das muitas idéias pelas quais
se cré que o onanismo é um ato nocivo à virilidade.

A relação sexual de um jovem provoca consequências psíquicas?


Não, se o jovem for psiquicamente sadio. Tenha-se em considera­
ção que os homens no estado natural iniciam relações sexuais assim que
chegam à maturidade sexual. Alguns argumentam contra a relação
sexual dos jovens entre os 15 e os 18 anos alegando que nessa idade o
desenvolvimento sexual e psíquico fica obstaculizado por causa destas.
Nessa afirmação, parece existir maior interesse pela "moralidade da
juventude" e por sua castidade pré-matrimonial do que, de fato, razões
objetivas. Contra essa afirmação, há inúmeros augumentos: se a relação
sexual obstaculiza o desenvolvimento, o onanismo, que é praticado por
quase todos os jovens, não deveria produzir o mesmo efeito? Os confli­
tos relacionados ao onanismo não são muito mais complexos que os
relativos â ação sexual. Ademais, pode-se dar como exemplo toda a
juventude perfeitamente sadia que breve, ou seja, assim que tiverem
36
atingido a maturidade sexual, manterá atividades sexuais, e que precisa­
mente por isso permanecerá sadia e íntegra em seus atos. As dificulda­
des são de outra ordem.
Nossos jovens, do ponto de vista sexual, já foram desviados por .
falsas opiniões, e se chegam às relações sexuais, sofrem transtornos
sexuais devidos tanto à falta de moradia quanto ao medo da gravidez.
Sua permanência na casa de pais pequeno-burgueses fica ameaçada, bem
como sua posição material. As dificuldades, portanto, são de origem
social, e não biológica. Ademais, esquece-se o fato de que entre a alta
burguesia e no proletariado a juventude pratica as relações sexuais mui­
to cedo, entre os 15 e os 16 anos, e devo dizer que não é preci­
samente a pior juventude a que tem a coragem de fazer prevalecer suas
exigências naturais contra a "cultura", ou seja, contra os interesses do
mundo burguês. Pela lei, uma menina pode casar-se a partir dos 16 anos.
Ter a certidão de casamento no bolso constitui um talismã contra os
presumíveis danos que relações sexuais mantidas nessa idade pudessem
causar. Mas fora do casamento a relação sexual nessa idade é nociva, e
repentinamente devemos ocupar-nos do bem-estar psíquico da juventu­
de. Talvez fosse melhor procurar levar em consideração o infinito
númbro de desgraças que a excitação, o onanismo praticado com senti­
mento de culpa e a abstinência provocam instantânea ou posteriormen-
te. Os conceitos sobre moral sexual estão evasivos, cheios de subterfú­
gios. É preciso invertê-los, e então teremos a imagem' precisa. O proble­
ma da relação sexual dos jovens requer um exame mais profundo do
que se lhe pode dedicar nesse momento. Não obstante, seria totalmente
falso afirmar que os jovens deveriam ter relações sexuais, sem maiores
considerações. Depende, em cada caso, da medida em que se é psiquica­
mente são: das condições materiais, da situação de moradia e de outras
dificuldades. Quem se encontra diante desses problemas deve socorrer-
se de uma consulta sexual.

Que fazer quando um menino de dois anos brinca com seu membro?
Deixe que o menino se masturbe tranquilamente.Normalmente, o
onanismo aparece pela primeira vez nessa idade. Proibir o onanismo po­
deria unicamente lançar as bases para sucessivos transtornos sexuais, e
devido ao sentimento de culpa que acompanharia o menino quando ele
começasse a se masturbar, se obteria justamente o resultado oposto, ou
-seja, que o menino se masturbaria com muito maior freqiiência, já que
37
. o sentimento de culpa, o medo e a contrariedade aumentam a excita­
ção sexual.*

Estou casado há três anos e minha mulher afirma nunca ter atingido sua
' satisfação sexual. Devo esclarecer que minha muiher masturbou-se des­
de sua primeira juventude. Por que? É possível curá-la?
Se o homem é normal relativamente à sua capacidade sexual, a
insatisfação da mulher indica, nesse caso, a presença de transtornos mais
■ profundos que poderiam ser solucionados mediante uma intervenção
j psicanalítica. As mulheres que se masturbaram muito chegam à apatia
devido ao fato de terem sempre excitado o clitóris, ao passo que, no
ato sexual, a excitação e, normalmente, também a satisfação, verifica-se
na vagina. A incapacidade da mulher de deixar-se levar completamente
no ato sexual é também frequentemente motivo de sua insatisfação.*
As razões dessa incapacidade são principalmente tanto os temores infan­
tis num nível inconsciente como as inibições sexuais derivadas de uma
educação anti-sexual.

Nota do Revisor:
0 medo e a culpa irracional são também consequências da contenção da excita­
ção sexual.

Nota do Revisor:
O deixar-se levar completamente no ato sexual é um sinal de potência orgástica.
38
Educação Sexual Repressiva
Romel A. Costa

uerra, não! já se tentou resolver assim por diversas vezes e não


deu certo. Não dá mais pra encobrir tamanha irracionalidade,
tamanha perturbação. Guerra, não! Tortura, não! terrorismo,
não! Morte, não... a não ser que seja natural.
Guerra, às vezes, é uma boa desculpa para derramar a violência
acumulada em cada um; sem culpa, sem remorso. Violência basicamente
1 originada devido à perturbação da pulsação biológica, espontânea, do
organismo; perturbação de sua pulsação vital, emocional, sexual. Isso,
em decorrência de uma educação sexual distorcida, quase sempre sádi-
I co-masoquista, dando origem a pessoas opressoras e oprimidas e tam-
k bém, entre outras dificuldades, a situações existenciais de fome e misé­
ria. Uns dominam, outros são dominados; dominam de forma sádica, se
p submetem de forma masoquista. O movimento vital espontâneo fica,
quase sempre, definitivamente muito prejudicado. Mata-se e morre-se em
I vida. A educação sexual repressiva está socialmente estruturada,
| instituída. A violência pode se manifestar de forma sádica ou de forma
masoquista; violência com o outro e consigo mesmo; complementam-se
e uma pode se transformar na outra. A guerra tem muito a ver com esse
I 39
conflito básico e muitas vezes é utilizada como forma de encobri-lo;
usada para encobrir conflitos de classes ou grupos dentro de uma socie­
dade ou entre sociedades. Nesse aspecto, que é o núcleo do problema, a
fome é secundária. Mas torna-se primária e essencial sob o aspecto do
mais necessário, do mais urgente, do mais vital. Mas se fome existe, não
é por falta do que comer e sim, devido à irracionalidade na distribuição
daquilo que se tem; devido à exploração. Uns com excesso, outros com
falta. O problema é muito complexo e é necessário muito estudo, muita
ação. O que o mundo gasta com arma daria para resolver o problema da
fome e, ainda, para uma programação racional.
Vamos rever, estudar seriamente a educação das crianças; referi­
mo-nos aqui principalmente ao lado emocional e sexual. A educação
é uma responsabilidade de cada um: a possibilidade ou a inibição do
prazer estão ligadas diretamente à educação. E a inibição se consegue às
custas da repressão do movimento emocional, repressão do movimento
de prazer. O movimento emocional do organismo como um todo, cor­
responde ao seu movimento de vida, à sua força vital. O movimento
emocional ou pulsação biológica é inerente a todo organismo vivo. Duas
são as direções básicas do movimento emocional:
Quando a direção da excitação é de prazer, o movimento emocio­
nal é de expansão; de dentro para fora, do centro de si para a periferia;
para fora de si mesmo, para o mundo„ para o outro. A esse movimento
de expansão do organismo corresponde, além da sensação de prazer,
sensação de conforto e bem estar, um aumento do potencial bioenergé-
tico da pele, de toda a superfície corporal; de forma mais acentuada nas
zonas erógenas( locais que apresentam um potencial bem mais elevado
que o verificado em outras regiões do corpo quando em presença de ex­
citação satisfatória). Fortes sentimentos afetivos também estão presen­
tes.
Sabe-se agora que a sexualidade descoberta por Freud correspon­
de ao movimento emocional de prazer do organismo, a seu movimento
de expansão. Quando não perturbado, o organismo tende a se regular
através do movimento de prazer; do movimento de pulsação da energia
biológica. Naturalmente, o organismo tende a se autorregular através do
princípio do prazer. Mas para que isso possa ter possibilidade de acontecer
é necessário que haja condições existenciais adequadas. Novamente o
problema económico passa a ter importância crucial. E a consequência
funcionando também como causa e de forma intensiva.
40
0 outro movimento emocional básico, o de angústia, é antitético
ao movimento de prazer; mas ao mesmo tempo, prazer e angústia cons­
tituem uma unidade; é um mesmo movimento em direções diferentes.
Naturalmente predomina um equilíbrio dinâmico, vivo, com a excitação
crescendo na direção do prazer. E aparece a atividade, o movimento; a
necessidade de descarga da excitação sexual produzida, acumulada. Des-
• carga através do princípio do prazer. A descarga de excitação se dá
através de diversas maneiras dependendo da época de vida, momento
histórico, cultura, sexo, etc. A criancinha quando nasce auto-regula sua
excitação, sua energia, principalmente através do crescimento, do conta­
to corporal e da atividade. Um corpo busca outro corpo. Se o contato
é quente, afetivo, gostoso, ele se entrega; se não, se recolhe, fica ansio­
so, se retrai, fica ressentido. Ao início do desenvolvimento extra-uterino
é a zona oral a que propicia sensação de prazer mais forte. Além do pra­
zer ligado ao alimento ingerido, há intenso prazer em sugar o seio. Se a
criança é privada do contato, do afeto, o crescimento contínuo da
excitação — pois é uma coisa viva, contínua — vai começar a incomodar;
a criança vai ficando tensa; a pulsação espontânea vai se tornando mais
difícil; o organismo começa a se encolher numa tentativa de reduzir a
excitação, de reduzir a produção de excitação. Contrai, começa a preva­
lecer agora a angústia; a energia se concentra no centro do organismo.
Está iniciando o processo de repressão do movimento emocional de
prazer do organismo. Diante da frustração do movimento de prazer
i (sexual), o organismo fica ressentido. A criança protesta; da angústia
nasce a raiva; a atividade ou movimento que antes era de descarga, de
prazer, agora é destrutivo, violento.

A descarga prazeirosa da tensão é um movimento agressivo; mas


• não é destrutivo; é forte, suave, doce, ativo. É agressivo no sentido de
descarga, de atividade. Se torna destrutivo na medida em que passa a
existir uma estase de excitação devido ao processo de repressão, de ini­
bição do movimento espontâneo. Aí seria como se o organismo quisesse
vencer a frustração de qualquer maneira. A violência é também um pro-
' duto da repressão da sexualidade natural. A agressão é uma atividade,
um movimento em busca da gratificação de desejos e necessidades não
satisfeitos. O desejo pode também ficar distorcido pela educação, com a
distorção do movimento emocional. Quando a agressividade se torna
destrutiva é porque foi frustrada nas tentativas da realização do desejo
espontâneo, natural.
41
Dependendo da constituição física da criança e da estrutura do
caráter do educador, ela pode se estruturar reagindo de forma agressiva,
ativa, às frustrações; ou reagir de forma violenta, destrutiva, ou de for­
ma resignada. A resignação corresponde a uma inibição na atividade
vegetativa; corresponde também a uma diminuição do nível da energia
corporal. Com isso diminui a vontade, a atividade, o raciocínio, a sexua­
lidade, a sexualidade genital. Sim, porque a sexualidade é o movimento
emocional, biológico e biofísico de prazer; a sexualidade genital é uma
de suas partes.
Diante da frustração genital, a criança reage de forma angustiada.
Seguramente, a educação sexual mais importante é a que acontece na
relação das crianças com as pessoas mais significativas, mais intimas,
mais influentes na sua educação. A vida viva da pessoa é o seu movimen­
to emocional, ou se manifesta nele. Em consequência da angústia, apa­
rece então a raiva, o medo, a culpa, a depressão, a impotência vital. Para
evitar a dor, a criança então começa a assumir atitudes de retenção de
sensações e sentimentos dolorosos, aos quais tem sido submetida duran-
muito tempo de forma repetida e sistemática. A criança se fecha, se
defende. Retira o seu contato do mundo.
Quando a criança se desenvolve e começa a se locomover no espa­
ço, parte significativa de sua energia é regulada através desse processo,
sempre na direção do prazer. Sem inibições profundas, a criança é ativa,
curiosa, espontânea, toca em tudo, mexe em tudo, movimenta muito; às
vezes pára e fica olhando, olhando, num contato profundo com o
outro; depois de um tempo corta essa e entra novamente em um outro
contato profundo, agora com a atividade; é ambivalente. O movimento
e o brincar são um aprendizado e um prazer. Quando adulto, o brincar,
em consequência, deveria ser um trabalho útil; o trabalho, uma brinca­
deira útil. A essa fase de maior atividade motora corresponde também
uma maior severidade de educação no que diz respeito à higiene. Já
existe também um maior nível de excitação sexual (movimento de
prazer) no segmento pélvico; a zona anal se encontra mais ativada e
também recebe uma maior atenção e severidade na educação e higiene.
Uma atenção compulsiva, exagerada severidade e principalmente preco­
ce, favorece a fixação ou inibição da pulsação do movimento emocional
nessa fase do desenvolvimento. Inibido o prazer, novamente a angústia,
a raiva, a ira, o ódio, o medo, a dor, a inveja, a tristeza, a resignação, etc.,
serão os sentimentos que terão mais possibilidade de predominar na
estrutura de caráter da personalidade.
: 42
Entre 3 e 6 anos é que a zona genital se torna o local que propicia
a maior intensidade de prazer. Naturalmente, a atividade motora ainda
continua sendo fonte de muito satisfação e participa ativamente no
processo de auto-regulação emocional, sexual, bioenergética do organis­
mo. E aí que o édipo se intensifica; é a época em que genitalmente a
criança procura se identificar na relação com as pessoas mais significati­
vas, mais próximas, na educação. Vai predominar, com maior ou menor
intensidade, o prazer ou o sofrimento; dependendo das inibições que
foram sendo instaladas na estrutura através do seu processo de desenvol­
vimento e do momento histórico e social de cada um. Dentro do movi­
mento de prazer ou sexual do organismo, o funcionamento plenamente
liberado da genitalidade desempenha o principal papel no processo de
auto-regulação da pulsação biológica ou vital. Existe um movimento
corporal do organismo que corresponde ao sentimento que o movimen­
to emocional expressa.
Dependendo do sexo de cada um, da forma como as pessoas mais
significativas interferiram na educação sexual (do movimento de prazer,
inclusive genital) em cada momento histórico, a sexualidade da criança,
ao final da fase fálico-genital,/poderá ficar sexual e emocionalmente
estruturada de forma natural, culpada, lasciva, mística e, quanto ao
objeto, de forma heterossexual, homossexual, bissexual, etc.. . vai depen­
der de como se processou todo o desenvolvimento, principalmente de
como ficou resolvida e estruturada a sexualidade genital. Dizemos que o
movimento sexual é emocionalmente natural quando se apresenta de
forma espontânea, não forçada, afetiva, forte, doce, quente, sensual.
Afeto e sensualidade constituindo unidade; o abraço genital acontecen­
do como consequência de movimento afetivo e sensual mútuo, na dire­
ção do prazer, com predominância da excitação genital.
Neste livro, publicado pela primeira vez em 1931,Annie Reich, de
forma simples, objetiva e sem rodeios, expõe os desastres de uma educa­
ção sexual repressiva e ao mesmo tempo dá exemplos práticos de situa­
ções nas quais a criança está curiosa ou envolvida com sua sexualidade;
tenta mostrar quais as atitudes mais adequadas, mais naturais e também
mais reais de se tratar com os processos ligados com a sexualidade e
com o movimento emocional; e de como verbalizar isso com a criança
de forma mais espontânea lem cada situação. Procurar também relacio­
nar o interesse da repressão sexual com o interesse capitalista. Hoje
sabe-se que a repressão sexual tem também uma profunda ligação com
todas as formas de autoritarismo. E quanto mais sexualmente negativo,
43
mais violento. Reza Pahlaví matava pelo poder, Khomeini está matando
pela moral. Não há muita diferença nesse aspecto. E esse é também um
fato muito importante. A educação está estruturada basicamente de
forma a produzir grupo de pessoas opressoras e oprimidas; de explora­
dores e explorados; uns com predominância da agressão, outros com
predominância da inibição; uns com tendências sádicas, outras de ten­
dências masoquistas. No desenvolver do tema, Annie mostra que a edu­
cação sexual não está isolada do contexto, estrutura e momento histó­
rico que as crianças vivem. A educação sexual corresponde à educação
de como o indivíduo deve viver a vida, pois é também a educação de seu
movimento emocional. Se resignadamente, se de forma sádica, se de
forma masoquista; ou se de forma mais espontânea, mais adequada,
mais satisfatória, dentro das reais possibilidades de cada momento que o
indivíduo vive.
Procurar inibir a atividade sexual e produzir a culpa, é uma forma
universal de controle. Cria-se a culpa, e então, a raiva, que antes era para
fora e agora é contra si mesmo; mesmo que seja para agredir o outro com
o próprio sofrimento. A inibição da atividade espontânea, devido à
repressão do movimento emocional sexual, empobrece, gera medo e
aurnenta a dependência. Inibida a atividade, agora é necessário alguém
que dê proteção, que oriente sempre numa atividade, mesmo que seja
uma orientação mecânica. Agressão (atividade) reprimida e reforço da
dependência; se tentar ser diferente, sente angústia, culpa e medo. Aí
recúa; acha até que é pecado. À criança é ensinado que demonstrar os
ressentimentos é mau, que demonstrar sua insatisfação é coisa feia, imo­
ral, deseducado, pecado. Mas o adulto chefe pode demonstrar e demons­
trar a sua. É a dupla moral na educação. Demonstrar insatisfação não é
falta de respeito; pode ser desagradável, desconfortante, ou violentação,
dependendo da forma como isso aconteça, de como é demonstrado.
Aborda também de forma simples e clara as consequências possí­
veis de uma relação mentirosa com a criança e o que poderia surgir daí.
E afirma que se deve dizer "exatamente o que a criança quer saber".
i
Respeitar o desenvolvimento emocional, sexual da criança é de impor­
tância fundamental como base de uma vida saudável. A curiosidade da
criança pela sexualidade deveria ser tratada de forma natural, liberal,
como são tratadas outras situações quaisquer da vida. É uma necessida­
de biológica como outra, tão fundamental quanto as demais e, além
disso, intensamente prazeirosa. Annie Reich mostra como é possível
naturalmente explicar para a criança o funcionamento de sua sexualida-
44
e isso de várias formas possíveis, em função da relação da criança
com o outro. A repressão sexual corresponde também a inibições no
desenvolvimento do movimento emocional com o estabelecimento de
fixações.

Outro fato a destacar é que, para a criança, fantasia e realidade são


coisas muito parecidas ou sem diferenciação; a realidade é o que ela vive
emocionalmente. Assim se contarmos histórias ou piadas que envolvam
ameaça genital, de castração, de mutilação, etc. ligadas à realização do
ato sexual ou masturbação, a criança provavelmente viverá a história
como se fosse real e seguramente passará a temer o contato genital ou a
vivenciá-lo com muita angústia, com muito medo; irá assumir atitudes
corporais de retenção ou de inibição da excitação sexual genital. Como
a excitação genital faz parte do movimento emocional do organismo
como unidade, uma inibição a esse nível repercutirá de forma negativa
no movimento emocional, vital, da personalidade global do indivíduo;
da mesma forma que a perturbação do movimento emocional em outros
níveis da personalidade, irá repercutir negativamente no funcionamento
da sexualidade genital. A inibição do movimento emocional correspon­
de a uma inibição da atividade vital com a consequente diminuição da
capacidade de atividade, de ação, de criação, de trabalho, de amor.
Extrema severidade ou excesso de proteção a ponto de impedirem ou
prejudicarem o desenvolvimento, são, com certeza, atitudes inadequadas.
Seguramente, também, um dos fatores que mais influencia na formação
da estrutura emocional da criança é a forma como está estruturada a
vida emocional ou sexual das pessoas mais significativas na sua educação.
A idéia e a exigência de perfeição na educação acaba contribuindo tam­
bém para dificultar a relação. Não é possível partir do que não se é; perfei­
ção e onipotência não cabem nos limites das realidades práticas. A exis­
tência é dialética, contraditória. O mais adequado seria partir das pró­
prias dificuldades, das próprias limitações. A sexualidade está estrutura­
da no social basicamente de forma sádico-depressiva. Uns são dóceis,
submissos, resignados, culposos; noutros predomina a lascividade, a
necessidade de dominar, de subjugar, de agredir, de controlar, de des­
truir fisica ou moralmente; emocionalmente. A dificuldade da entrega
plena, afetiva e sensual, é o ponto comum dessas estruturas básicas da
sexualidade contemporânea.
Isso se consegue inibindo-se a motilidade vegetativa, de forma
mais intensa numa determinada fase, numa determinada época do
45
desenvolvimento histórico de cada um, através da educação sexual
repressiva; ao invés de uma educação de liberdade, de autonomia com
os limites inevitáveis e inerentes a cada momento histórico. O confor­
mismo social ou a reação destrutiva são as consequências sociais do
sado-masoquismo; o fascismo e o autoritarismo, político ou religioso, de
i direita ou esquerda, são consequência da predominação do desejo de
' domínio, do sadismo. Ambos decorrem de inibições, fixações, encoura-
çamento, rigidez do movimento emocional espontâneo; se inibição
antes do desenvolvimento satisfatório da libido,.com predominância de
culpa e de comportamento submisso, passivo; se, depois de um desenvol­
vimento satisfatório, o organismo se deparar com uma frustração repen­
tina, violenta e repetitiva, terá a tendência a se estrutura de uma forma
autoritária, sádica, violenta. Mesmo que intelectualmente o indivíduo
queira se comportar de forma racional, não consegue na maioria das
vezes; emocionalmente é um reacionário e é isso o que na realidade ele
mais é: sua própria vida em cada momento. O masoquista é reacionário
resignadamente, passivamente. O natural seria uma atividade espontânea,
adequada a cada momento, com o racional e o emocional constituindo
uma unidade na determinação do movimento espontâneo do organismo.
Ninguém é totalmente natural, sádico ou masoquista; através da estrutu­
ração da vida de cada um, haverá predominância de um ou de outro
componente. Potencialmente,'as três possibilidades estão presentes.
Acredita-se que a razão natural seja a mais adequada, a mais construtiva,
a mais cooperativa. Não existe de forma absoluta, é questão de predo­
minância na estrutura de caráter de cada um; na maneira como cada um
foi estruturado através da educação sexual que recebeu e das mudanças
acontecidas durante o desenvolvimento. Educação do movimento emo­
cional..
Annie encerra seu texto afirmando que “a liberação do proletaria­
do de sua opressão será o que levará à liberação da vida sexual". Ao pro­
letariado acrescentaríamos todas as minorias estigmatizadas, assim tam-
, bém como as maiorias. A estigmação tem sido generalizada, o que tem
variado são os aspectos atingidos em cada grupo e as consequências daí
advindas. Os oprimidos são as crianças, os adolescentes, os trabalhado­
res, as mulheres, os homossexuais, as prostitutas, os negros, os cristãos,
. os espiritas, os mulçumanos, os crentes, os lascivos, os místicos, os
1 ateus ou incrédulos, etc. Diríamos que um trabalho verdadeiro, dentro
• dos limites de cada momento, no sentido de preservar a sexualidade
natural das crianças e dos adolescentes e de resolver o problema de
: 46,

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fome e habitação,‘seria de importância fundamental e básica, no sentido
de uma tentativa da criação de uma sociedade mais feliz e mais justa.
Rever e estudar seriamehte a educação sexual ou o movimento vital do
organismo é básico nesta proposição.
O livro de Annie foi publicado pela primeira vez em 1931, em
Berlim. Nessa época tanto Annie como Reich eram psicanalistas e casa­
dos. Posteriormente Reich tornou-se dissidente e Annie continuou liga­
da à Sociedade Internacional de Psicanálise.
Um apêndice intitulado “Perguntas e respostas sobre o onanismo",
por Wilhelm Reich, retirado de um texto seu sobre “Excitação e satis­
fação sexual", obra publicada em Viena em 1929, encerra o presente
volume.

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Foi bom poder editar "Se teu filho te pergunta"


• pelo próprio prazer de realizar o trabalho, nossa
í primeira experiência — pela Espaço Psi — na área
editorial;
• pelos contatos realizados, em especial com Eva
Reich, filha do primeiro casamento de Wilhelm
Reich com Annie Reich — autora do livro, que nos
fortaleceu a decisão;
• pela oportunidade de divulgar um documento
histórico, pois o texto confirma as posições polí­
ticas assumidas por Annie, em seu trabalho com
Reich de educação sexual junto à população que
pretendiam mobilizar;
• por acreditar que a sexualidade humana, como
tema, merece maior atenção por parte dos editores
brasileiros, especialmente em sua visão política;
• por viver a certeza de que vamos continuar neste
caminho com novas edições, debates, trabalhos
conjuntos com pessoas e grupos interessados em
desmistificar a sexualidade humana.
Desejamos que, entre elas, esteja você.
Valéria Pereira

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