Você está na página 1de 5

PRINCIPAIS ESTILOS E SUAS RAMIFICAÇÕES:

Atualmente existem muitos estilos de tatuagem onde alguns termos e conceitos se confundem
ou se misturam entre si com bastante frequência. É comum que em certos momentos algumas
características de trabalho ou subdivisões dentro de uma mesma categoria acabem ganhando
seu próprio status de estilo com o tempo. Porém boa parte, senão todos os estilos que temos
hoje, recebem influência direta ou indireta dos estilos que são praticados há milhares de anos
pela humanidade.

Para analisar os desdobramentos do tema, vamos trabalhar inicialmente com o tribal, o


oriental e o old school como as três matrizes principais para desenvolver uma linha cronológica
mais apurada dos principais estilos.

TRIBAL: Tribo + al; referente a tribo, relativo ou pertencente a tribo. Uma tribo é um conjunto
de pessoas agrupadas por uma cultura, língua, história e costumes comuns.

TRIBO: Sociedade rudimentarmente organizada. De acordo com a antropologia, é o grupo das


pessoas que descendem do mesmo povo, partilham a mesma língua, têm os mesmos costumes
e tradições. Por extensão, pode ser a divisão relativamente grande de uma família.

Quando falamos em tribal, a primeira imagem que nos vem à mente invariavelmente é a
estética pontiaguda muito popular entre as décadas de 1980 e 1990. Porém se considerarmos
a definição do termo, veremos que existe uma gama de manifestações culturais imensa ao
redor do mundo que podem muito bem se enquadrarem nessa categoria.

Para destacar algumas podemos iniciar pelas ilhas do Pacífico, mais especificamente a região
da Polinésia que ao meu ver, é a ligação mais antiga que temos com a tatuagem da
antiguidade ainda em uso nos dias atuais.

O arquipélago possui mais de mil ilhas que compartilham as mesmas raízes culturais,
idiomáticas e históricas, porém cada uma desenvolveu a própria identidade cultural.
Destacando três dos estilos mais populares da região, temos a tatuagem Māori, a tatuagem
samoana e a tatuagem marquesiana que são muito confundidas tanto pelos apreciadores do
estilo quanto por tatuadores mais experientes, apesar das distinções estéticas entre elas.

O tā moko por exemplo, tradicionalmente feito no rosto, nos glúteos e nas coxas para os
homens e nos lábios, queixos e algumas vezes na garganta para mulheres, é uma tradição
Māori, e um símbolo de integridade, identidade e prestígio. Apenas tatuagens feitas entre os
membros da cultura Māori são consideradas moko. Quando os desenhos de tatuagem Māori
são usados por motivos estéticos, sem o significado tradicional ou por pessoas que não
pertencem à cultura, são chamados de kirituhi ou simplesmente skin art.

Saindo da Polinésia e subindo um pouco para as Ilhas Filipinas, vamos encontrar tatuagens que
em parte se aproximam estética e culturalmente das tatuagens polinesianas, no entanto assim
como existem distinções entre as tatuagens das ilhas já mencionadas, não poderia deixar de
ser diferente nesse caso.

Havia uma pequena distinção linguística para diferenciar as tatuagens masculinas das
tatuagens femininas. Para os homens o termo usado era “batok” enquanto que para as
mulheres o termo era “fatok”. Um outro detalhe é que na cultura kalinga, um povoado ao
norte das ilhas Filipinas, as sessões eram acompanhadas por ritos e cânticos.
Existiam desenhos destinados apenas aos guerreiros que necessariamente tinham que fazer
por onde merecê-los, e a escolha do local cabia ao tatuador decidir onde posicionar o desenho.
No geral as mulheres da cultura kalinga se tatuavam apenas por motivos estéticos para
parecerem mais atrativas enquanto os homens se tatuavam por motivos de honra e bravura.

Saindo das Filipinas e subindo para a América do Norte, temos a remanescente tatuagem
Haida, que tem origem em uma tribo ameríndia que se dividem em dois
grupos, Kaigani e Haida. Os Kaiganis encontram-se na Ilha do Príncipe de Gales no Canadá
enquanto que os Haidas vivem nas Ilhas da Rainha Carlota, atual Haida Gwaii. A estética da
tatuagem Haida é bem peculiar explorando basicamente elementos da fauna local em forma
de totem, usualmente nas cores pretas e vermelhas.

Descendo um pouco para a América do Sul, temos alguns povos nativos das terras brasileiras
que antes da colonização europeia também tinham o hábito de marcar suas peles, porém a
prática foi caindo em desuso durante o período colonial. É possível listar algumas tribos como
os Waujás, os Zorós, os Jurupixunas e os Kadiwéus que se tatuam ainda hoje mas em grande
parte, a prática se perdeu com o tempo. Atualmente alguns tatuadores brasileiros têm se
inspirado no grafismo presentes nos artesanatos indígenas como forma de resgatar a estética
das tatuagens feitas por aqui há centenas de anos.

Saindo do continente americano e atravessando para o outro lado do atlântico, vamos


encontrar os povos africanos marcando suas peles com desenhos em forma de cicatrizes
chamadas por alguns pesquisadores de marcas de nação. Nesse caso não se usava nenhum
tipo de pigmento, apenas provocavam o relevo subcutâneo através de cortes ou queimaduras
na pele para formar os padrões de maneira definitiva.

Cada tribo possuía suas marcas características e como muitas tribos africanas não
desenvolveram a escrita, não se pode afirmar com precisão há quanto tempo essa prática
existe, porém com base na tradição oral podemos deduzir que é muito antiga. A prática
também caiu em desuso devido à escravidão que também foi usada como forma marcar o
escravo como propriedade.

Dos termos e estilos que receberam influência dessas vertentes que acabamos de listar,
podemos destacar o Black Work, o geométrico, o Dotwork, o Line Work e o Ornamental, sendo
que alguns deles também receberam bastante influência dos ornamentos vitorianos, indianos
e também da Art Nouveau.
ORIENTE: (do latim oriente) significa "o lado do sol nascente", "o leste", "o levante".

IREZUME: Palavra japonesa para a inserção de tinta sob a pele deixando uma marca decorativa
permanente.

A vinculação de que a identidade asiática é restrita apenas aos povos que vivem nas regiões
sul, leste e sudeste do continente, gera uma falsa sensação de identidade cultural única dos
povos do oriente, porém vale lembrar que a parte conhecida como Oriente no globo é a parte
onde se encontra a maior diversidade cultural, linguística, étnica e comportamental do nosso
planeta.

Apesar da expressão “tatuagem oriental” está diretamente associada à tatuagem japonesa, a


arte pode ganhar formas e elementos diferentes entre os países asiáticos relacionados (China,
Taiwan, Tibete, Coréia e Japão), recebendo influência direta da cultura e da arte local com
base nas lendas de personagens mitológicos.

Como grande parte da arte oriental, as tatuagens remontam há séculos e um dos registos mais
antigos que temos, estão em uma cônica chinesa do século III (Wei-Chih) que menciona
“homens jovens e velhos, tatuando seus rostos e decorando seus corpos com desenhos”,
porém em meados do século VII a tatuagem no Japão caiu em desuso e começou a ser usada
para punir e marcar prisioneiros, criminosos e cortesãs. Essa pratica duraria cerca de mil anos
até que no século XVIII as gravuras de artistas como Utagawa Kuniyoshi dariam à tatuagem um
novo significado, popularizando a arte novamente.

As imagens de personagens lendários tatuados presentes nas gravuras Ukiyo-e do período Edo,
serviram de referência para as pessoas se tatuarem como seus personagens favoritos e
segundo a crença local, incorporar os seus atributos.

Ao contrário da tatuagem ocidental que surgiria no final do século XIX, na tatuagem oriental
pode-se fechar um braço, uma perna ou até mesmo o corpo inteiro com os chamados
bodysuits explorando um só tema para contar histórias através das lendas populares.

Devido à associação com classes mais baixas e sua longa e desagradável história, o
Irezumi acabou se tornando ilegal no Japão, embora artistas nativos ainda pudessem
legalmente tatuar estrangeiros. Essa brecha no sistema acabou ajudando a disseminação da
tatuagem japonesa pelo mundo durante o século XIX, porém a tatuagem ficou sendo uma
forma de arte ilegal até recentemente no Japão.

Hoje se faz uma diferenciação entre o oriental tradicional que ainda mantém a estética inicial
baseada nas lendas e nas gravuras clássicas do período Edo com cores mais sólidas, e oriental
moderno que recebeu uma certa influência do ocidente acrescentando mais cores, volumes e
movimentos mais soltos em relação ao oriental tradicional.
OLD SCHOOL: “Velha escola”, estilo clássico da fase moderna da tatuagem com grande
influência dos temas marítimos, muitas vezes também referida como “tatuagem tradicional
americana” ou simplesmente “tradicional americano”.

O estilo não só marca o início da fase moderna da tatuagem, como também o início do uso
comercial da prática juntamente com o surgimento da máquina de tatuar elétrica.

Muito popular entre os marinheiros no início do século XX, os temas geralmente estavam
ligados à memória afetiva explorando os símbolos náuticos, a fé religiosa, as superstições, os
símbolos patriotas, as aventuras amorosas e a família. Ao contrário da tatuagem oriental, na
tatuagem old school os desenhos eram feitos de forma aleatória pelo corpo sem
necessariamente terem nenhuma ligação entre os temas abordados.

Os desenhos sempre traziam significados implícitos na maioria dos casos, entre eles podemos
citar alguns temas clássicos como a andorinha que se fazia depois de navegar cinco mil milhas
náuticas, a âncora que se fazia depois de atravessar o atlântico ou o navio equipado que se
fazia depois de contornar o Cabo Horn no sul do Chile.

Assim como no oriental, a paleta de cores também era bem reduzida devido à falta de recursos
da época. Limitava-se basicamente entre o preto, o vermelho, o amarelo, o azul, o verde e as
misturas conseguidas entre esses tons. Essa limitação na paleta de cores acabou se tornando
uma das características mais marcante do estilo que ainda hoje é bem popular.

Em termos de comparação, existe também uma certa distinção entre o Old School Americano
e o Old School Europeu. Ambos exploram basicamente os mesmos elementos, porém no Old
School Europeu percebemos uma certa influência da estética parisiense das primeiras décadas
do século XX, devido a grande influencia cultural que a França exercia nessa época. As cores
usadas no velho continente também eram limitadas devido à época, porém eram mais comuns
os tons pastéis em sua paleta de cores.

Dos estilos que receberam influência direta do Old School, nós temos o New School que surge
em meados da década de 1990, incorporando mais cores, mais movimentos, mais volumes e
distorções ao desenho, com linhas mais encorpadas e com bastante influência do cartoon, se
contrapondo automaticamente ao estilo dos marinheiros que oficialmente passou a ser
chamado de Old School. Também temos o New Traditional ou Neo Traditional onde o termo
faz menção à nova forma de se fazer o tradicional explorando temas mais abrangentes, porém
mantendo algumas características herdadas do Old School e trabalhando de maneira mais
refinada com passagens de tons mais suaves, incorporando elementos da Art Nouveau, da Arte
Vitoriana e também da renascença em alguns casos.
OUTROS ESTILOS:

Dentre os estilos mais recentes que podemos listar aqui estão o Realismo que inicialmente
começou de maneira tímida e um pouco rudimentar ainda na fase dos marinheiros com a
reprodução de retratos (portrait), ganhando força nas décadas seguintes com a refinação das
técnicas, evoluindo para outras categorias como o Realismo Colorido, o Hiper-realismo e o
Surrealismo.

Temos também o Preto e Cinza iniciado nas cidades litorâneas da Costa Oeste nos Estados
Unidos influenciado em parte pelas artes produzidas nas penitenciárias retratando o cotidiano
das gangues de rua, usando elementos da fé católica e registrando as aventuras amorosas
juntamente com letras e frases que posteriormente gerou a categoria do Lettering com letras
que vão desde as cursivas mais clássicas às letras de garffiti usadas nas pichações. O estilo
também vai influenciar em termos técnicos a estética mais sombria do preto e cinza que
explora temas mais macabros como monstros e demônios.

Podemos citar também o Biomecânico muito popular nos anos 1990 e como o próprio nome já
diz, une o organismo e a robótica usando tubos e engrenagens com movimentos e dimensões
que sempre acompanham a anatomia do local onde é tatuado. Eventualmente também pode
ser chamado de Bio-orgânico quando explora mais texturas orgânicas e microrganismos.

Além desses principais estilos, ainda temos outras categorias mais novas que surgiram e se
firmaram com a chegada dos anos 2000, porém alguns termos acabam sendo mais uma
subdivisão, uma característica ou um recurso que pode ser usado em quase todos os estilos.
Isso pode causar uma certa confusão até mesmo para quem está há algum tempo na profissão.

Por exemplo termos como Fine Line, Floral/Botânica e Aquarela se analisados mais de perto,
veremos que não justificam o status de estilo que ocupam.

No primeiro caso, a categoria Fine Line (linha fina) é um recurso que pode ser usado em
praticamente todos os estilos em algum momento, mas acaba sendo usado para definir
tatuagens que se enquadrariam perfeitamente em categorias como o Ornamental ou o Line
Work.

No segundo caso, temos o termo Floral que dependendo do caso pode ser incluída no
Ornamental ou até mesmo no New Tradicional.

No terceiro caso, temos o termo que define uma técnica de pintura virando um estilo de
tatuagem, porém a referida estética de tinta manchada normalmente associada ao termo
“Aquarela” pode ser alcançada com outras técnicas como Acrílico e Óleo por exemplo.

Como já foi mencionado aqui no início, inúmeros estilos e nomenclaturas foram surgindo com
o tempo, porém alguns termos e nomenclaturas se confundem entre si enquanto outros
surgem e desaparecem de tempos em tempos.

Poderíamos citar aqui ainda mais alguns termos como o Sketch Tattoo, o Lowbrow Tattoo (que
se difere um pouco do movimento artístico de mesmo nome), o Trash Polka Tattoo e mais uma
infinidade de termos que circulam pelo mundo da tatuagem atualmente, mas vamos nos reter
aos que já foram mencionados aqui para não deixar o nosso estudo muito cansativo e também
por se tratarem dos estilos mais pioneiros que de uma certa maneira, deram a base para todos
os outros estilos e categorias que foram surgindo com o passar dos anos.

Você também pode gostar