Você está na página 1de 6

BALANÇA COM STRAIN GAUGE E PONTE DE WHEATSTONE

ANDRÉ ALMEIDA SANTOS*, GABRIEL ALMEIDA SANTOS*, JOSÉ ROBERTO LIMA*

*Laboratório de Instrumentação, Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia da Bahia, - IFBA


Campus Vitória da Conquista
Av. Amazonas, nº 3.150, Bairro Zabelê – Vitória da Conquista - BA, CEP 45.030-220
E-mails: andre.zx10r@gmail.com, gab.biel2011@gmail.com,
robertolimajs@hotmail.com

Abstract The following work aims to develop a balance using deformation sensors named Strain Gauges. Aims, too, under-
standing how that sensors work and the best way of make the data acquisition because these type of sensors have a small varia-
tion when under load.

Keywords Strain Gauge, Balance, Wheatstone.

Resumo O seguinte trabalho tem o objetivo de desenvolver uma balança utilizando sensores de deformação, Strain Gauges.
Objetiva-se, também, entender o funcionamento desses sensores e a melhor forma de realizar a aquisição de dados para o mes-
mo, pois ele apresenta uma variação muito pequena quando submetido à uma carga.

Palavras-chave Strain Gauge, Balança, Wheatstone.

1 Introdução 2 Metodologia

Por volta do ano 5.000 A.C. os egípcios in- 2.1 Strain Gauge
ventaram a balança pela necessidade de pesar o ouro,
Deformação é a medida da variação relativa de
que sempre foi o metal mais precioso da terra. Além
comprimento de um corpo resultante da aplicação de
de ser usada para medir ouro, há relatos de que a
uma força sobre o mesmo. O strain gauge, um dispo-
balança era usada também como forma de “julgamen-
sitivo cuja resistência elétrica varia proporcionalmen-
to final” onde o peso do coração do falecido, em con-
te com a medida da deformação no dispositivo. O
tra peso com a pluma da deusa Anubis, seria o res-
strain gauge metálico é formado por um fio muito
ponsável por indicar se o espirito do morto ia para o
fino ou, mais comumente, por folhas metálicas dis-
“paraíso” ou “inferno”.
postas em um padrão de grade. O padrão de grade
Ao decorrer da história foram surgindo ou-
maximiza a extensão de fios ou das folhas metálicas
tros tipos de balanças, como a romana, que possui
sujeitas à deformação na direção paralela.
duas pratos de comprimentos desaguais. Porém a
balança sempre foi vista como um objeto de equilí-
brio, igualdade e justiça, sendo seu desenho represen-
tando diversos símbolos no mundo inteiro.
Com o advento da tecnologia as balanças
que antes eram analógicas passaram a ser digitais.
Utilizando recursos da eletrônica que a tornassem
mais precisas e especificas para área de aplicação de
interesse. A sociedade de hoje em dia necessita do
uso da balança em diversas aplicações possíveis.
Desde realizar a medida precisa de “gramas” de certo
produto farmacêutico, como saber o peso de um ga- Figura 1: Sensor Strain Gauge.
do. É nessa diferença entre aplicações que se faz ne-
cessário o uso da eletrônica, pois o mesmo sistema Os valores de resistência dos Strain Gauge po-
utilizado para medir gramas, não é utilizado para dem variar de acordo o modelo escolhido sendo que
medir toneladas. existe valores comerciais nominais de resistência de
O trabalho tem o objetivo de desenvolver 30 a 3000 Ω. Na prática, as medições de deformação
uma balança de massa baseada em sensores cuja re- raramente envolvem valores maiores que alguns mi-
sistência variam com a deformação, possibilitando o listrains (e x 10-3). Assim para medir variações tão
desenvolvimento de um equipamento capaz de reali- pequenas de resistência, os strain gages são quase
zar medidas de elementos em uma faixa específica.
sempre usados em uma configuração em ponte, com porcional à diferença de tensão entre as suas entra-
a inclusão de uma fonte de tensão de excitação. das.

2.2 Ponte de Wheatstone


A ponte de Wheatstone, criada por S. H. Christie
em 1833 e aprimorada por C Wheatstone em 1843
nada mais é do que dois divisores de tensão em para-
lelo. Foi construído para medir um valor de resistên-
cia desconhecido através do ajuste de três resistores
conhecidos e seu balanceamento. Por ser capaz de
medir pequenas variações de resistência, hoje em dia
é muito utilizado em instrumentos de medida se mos-
trando mais eficiente do que apenas um único divisor
de tensão.

Figura 3: Amplificador Subtrator.

Fazendo-se R2  R4 e R1  R3 , temos:

Vout  (Vin 2  Vin1 )


R2
(3)
R1

2.4 Esquemas do Strain Gauge


Utilizando apenas um Strain Gauge, 1 quar-
to de ponte, em um braço da ponte é possível encon-
trar uma variação que não seja totalmente linear com
Figura 2: Ponte de Wheatstone. a deformação do sensor. Além de que, o Strain Gau-
ge por ser um fio se deforma também com a tempera-
Através da análise do circuito acima podemos
tura do mesmo, o que pode influenciar na medição de
ter como saída uma tensão relativa entre o ponto D e
tensão.
B:

VG  VDB  ( 
Para contornar esse problema de temperatu-
R2 Rx
R2  R1 Rx  R3
)Vs (1) ra é recomendado utilizar dois Strains Gauges em
configuração de meia ponte.

Onde: Vs é a tensão de alimentação da ponte.

 , VDB  0
R1 R3
Se (2)
R2 R x
Conhecendo os valores de R1 , R3 e R x e vari-
ando R2 é possível colocar a ponte em desequilíbrio
e medir o valor de VDB .

2.3 Amplificador Operacional


Como a ponte de Wheatstone é capaz de medir Figura 4: Strains Gauges em configuração de meia ponte.
pequenas variações de resistência é necessário utili-
zar um amplificador na saída da ponte para detectar o
Com esse esquema as resistências R3 e Rx da
pequeno desequilíbrio da ponte VDB . Figura 4 vão mudar proporcionalmente com a tempe-
Com o objetivo de encontrar VDB foi utilizado ratura sem desbalancear a ponte, só acontecendo
quando houver uma força externa física aplicada, o
um amplificador subtrator que gera uma saída pro-
Strain Gauge que serve de balanceamento da tempe-
ratura é chamado de Strain Gauge fantasma.
A sensibilidade da ponte à deformação pode ser tência de cada Strain Gauge, que formasse uma ponte
dobrada quando colocamos dois gages ativos em uma no modelo da Figura 6.
configuração de meia ponte montada em tensão
(RG+DR) e outra montada em compressão (RG-DR).
Essa configuração gera uma tensão de saída linear,
que aproximadamente dobra a saída do circuito de
quarto de ponte.

Figura 5: Strains Gauges em configuração de meia ponte com


sensibilidade dobrada.

Para aumentar ainda mais a sensibilidade do cir-


cuito, coloca-se strain gages ativos em todos os qua-
tro braços da ponte, em uma configuração de ponte
completa. Figura 7: Strains Gauges utilizado na balança.

A Figura 8 mostra a balança com os quatro sen-


sores antes da preparação para a ligação em ponte. A
vantagem do uso desta balança foi o aproveitamento
da estrutura, podendo utilizá-la como base para a
nova balança criada.

Figura 6: Strains Gauges em configuração de ponte completa.

Sendo que esse esquema gera uma saída linear,


onde:

R
Vo   VEX
R

Figura 8: Balança com sensores posicionados.

2.5 Experimentação A Tabela 1 apresenta um conjunto de dados refe-


Para a montagem da balança foi utilizado Strain rentes a várias massas medidas e suas respectivas
Gauges de uma balança disponível no mercado, saídas de sinal da ponte. Para tais medidas foram
CAMRY EB9013, na qual os sensores foram apro- utilizados peças de materiais do laboratório e a massa
veitados para uma nova construção de uma ponte, de alguns colegas de sala, tudo medido em balanças
fazendo-se uso da estrutura da balança comprada. já calibradas e confiáveis.
A Figura 7 apresenta uma imagem do modelo fí-
sico de Strain Gauge utilizado. Como pode ser visto, Massa (Kg) Saída (mV)
ele possuí três fios, indicando ser um braço de uma 0 10.6
ponte já montada, com dois sensores resistivos. Cada 3.95 10.8
resistência apresentava variações em torno de 1000 Ω 4.25 10.82
com sentidos contrários uma em relação à outra. Para 5.6 10.85
a correta ligação de uma ponte completa, os quatros 7.45 11.01
sensores disponíveis na balança original foram utili- 14.05 11.13
zados, a fim de realizar uma ligação com uma resis- 18 11.49
22 11.59 o ganho desejado. Na Figura 10 pode ser visualizado
26.1 11.90 os dois amplificadores de condicionamento em pro-
30.1 12.33 cesso de montagem.
37.55 12.95
39.8 13
43.8 13.08
68 14.46
74.5 14.9
88.9 16.1
98.7 16.48
Tabela 1: Dados colhidos da ponte.

Com estes dados foi possível identificar um ga-


nho necessário para que a tensão na saída do condi-
cionador de sinal fosse próxima de 5V quando a mas-
sa fosse próxima de 100 Kg. Utilizando a Equação 3,
considerando 5V na saída quando a diferença entre as
tensões da ponte fosse 18mV, chegou-se a um ganho
de 277,8. O valor de 18mV foi utilizado para se ter
uma faixa em que pudesse ser realizadas medições de
até 100 Kg com uma certa segurança para o Arduíno,
limitando a saída em 5V. Figura 10: Amplificadores para condicionamento.
A Figura 9 apresenta um dos testes realizados
com o circuito ainda na protoboard.
A Tabela 2 traz os dados das medidas após amplifi-
cação.

Massa (Kg) Saída (V)


0 2.9447
3.95 3.0002
4.25 3.0058
5.6 3.0141
7.45 3.0586
14.05 3.0919
18 3.1919
22 3.2197
26.1 3.3058
30.1 3.4253
37.55 3.5975
39.8 3.6114
43.8 3.6336
68 4.0170
74.5 4.1392
88.9 4.4726
98.7 4.5781
Tabela 2: Tabela com dados de saída amplificados.

Figura 9: Teste de medição.

Na figura acima pode ser verificada a estrutura


física da balança, na qual seus terminais de saída
estão já conectados de forma a montar a ponte de
Wheatstone e a medição realizada em laboratório.
Com os dados da tabela 1 e o ganho identifica-
dos, o circuito condicionador foi montado com dois
amplificadores. A saída da ponte foi conectada em
um amplificador subtrator de ganho unitário, com
resistores de 1MΩ, tendo sua saída ligada à um am-
plificador inversor, de modo a amplificar o sinal com
3 Resultados 4 Conclusão

Utilizando os pontos da Tabela 2, foi encontrada Ao fim do trabalho percebe-se o quão delicado
a reta da balança, através de uma linearização, que é se trabalhar com um sensor de deformação como o
pode ser visualizada na Figura 11. Esta linearização Strain Gauge, pois sua variação é muito pequena re-
foi realizada com o software MATLAB, onde é pos- querendo um circuito de condicionamento que seja
sível identificar os coeficientes da reta e a confiabili- muito sensível a variação do sensor. O ideal é se tra-
dade destes coeficientes. balhar com amplificadores de instrumentação, porém,
durante os testes a melhor opção que se chegou foi o
amplificador subtrator seguido de um inversor devido
aos testes com um amplificador de instrumentação
construído não funcionar da maneira desejada.
O circuito de condicionamento montado apre-
sentou repostas aceitáveis dentro da faixa de medição
entre 0 e 100 Kg, apresentando uma variação dentro
no limite especificado pelo software de linearização
quando testado na protoboard em laboratório, porém,
quando da montagem da placa para o mesmo, ele não
respondeu da maneira que se esperava, apresentando
erros que não foram identificados completamente
para a correção do circuito e a utilização do Arduino
para leitura e tratamento dos dados.

Agradecimentos

Agradecimento ao professor Wilton Lacerda pe-


Figura 11: Linearização dos dados.
lo apoio em sala de aula e ajuda para entender algu-
mas das particularidades quando se trata de projeto
Com os dados da linearização se chegou aos se- de circuitos.
guintes valores de coeficientes:
Referências Bibliográficas

a = 58.88 , b = -171.1 Medições de deformação com strain gages: guia prá-


tico. Acesso em:
Assim: http://www.ni.com/tutorial/7130/pt/
Instrumentação e Técnicas de Medidas. Circuitos de
Y(x) = ax + b, onde: Medida em Ponte. UFRJ, 2013/1.
BRAGA, Anísio R; JOTA, Fábio G; OLIVEIRA,
X é a tensão de saída do circuito e Y(x) a massa José Carlos R. de; Instrumentação Balança de
calculada. Precisão Com Strain Gages. Belo Horizonte.
Os coeficientes apresentam limites de confiança 2008.
de 95%, especificado pelo software MATLAB. Ao Strain Gauges. Chapter 9 – Electrical Instrumentation
simular a entrada de dados na equação foi percebido Signals. Acesso em:
uma variação entre os valores calculados e medidos, http://www.allaboutcircuits.com/textbook/direct-
porém essa variação se encontrava dentro dos limites current/chpt-9/strain-gauges/
de erros especificados acima. Von Zuben, F. J. Técnicas de linearização de Siste-
ma. 2004. 12f. Notas de Aula.
Apêndice A

%massas medidas em Kg:


Kg = [0 3.95 4.25 5.6 7.45 14.05 18 22 26.1 30.1 37.55 39.8 43.8 68 74.5
88.9 98.7];

%Pontos de tensão medidos em volts:


V = [2.9447 3.0002 3.0058 3.0141 3.0586 3.0919 3.1919 3.2197 3.3058 3.4253
3.5975 3.6114 3.6336 4.0170 4.1392 4.4726 4.5781];

%Chamada da função que gera a equação do sensor:


Eq = createFit(V, Kg)

title('GRÁFICO DA RETA DO SENSOR DE MASSA')


xlabel('Tensão de saída do sensor (V)')
ylabel('Massa calculada (Kg)')
legend('pontos medidos com o Strain Gauge','Linearização dos pontos', 'Lo-
cation', 'NorthWest')

Quadro 1: Código principal a ser executado no MATLAB.

function [fitresult, gof] = createFit(Kg, V)


%CREATEFIT(KG,V)
% Create a fit.
%
% Data for 'untitled fit 1' fit:
% X Input : Kg
% Y Output: V
% Output:
% fitresult : a fit object representing the fit.
% gof : structure with goodness-of fit info.
%
% See also FIT, CFIT, SFIT.

% Auto-generated by MATLAB on 16-Dec-2015 15:38:38

%% Fit: 'untitled fit 1'.


[xData, yData] = prepareCurveData( Kg, V );

% Set up fittype and options.


ft = fittype( 'poly1' );
opts = fitoptions( ft );
opts.Lower = [-Inf -Inf];
opts.Upper = [Inf Inf];

% Fit model to data.


[fitresult, gof] = fit( xData, yData, ft, opts );

% Plot fit with data.


figure( 'Name', 'untitled fit 1' );
h = plot( fitresult, xData, yData );
legend( h, 'V vs. Kg', 'untitled fit 1', 'Location', 'NorthEast' );
% Label axes
xlabel( 'Kg' );
ylabel( 'V' );
grid on

Quadro 2: Código gerado no MATLAB com o aplicativo ‘Curve Fitting’ para a linearização.

Você também pode gostar