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UNIVERSIDADE DE LISBOA

FACULDADE DE FARMÁCIA

RELATÓRIO DE ESTÁGIO

MESTRADO EM ANÁLISES CLÍNICAS

Cristina Maria Prata Furtado

Lisboa, 2015
UNIVERSIDADE DE LISBOA - FACULDADE DE FARMÁCIA

RELATÓRIO DE ESTÁGIO

INSTITUTO PORTUGUÊS DE ONCOLOGIA DE LISBOA


FRANCISCO GENTIL, E.P.E

ORIENTAÇÃO:
Dr.ª CIDÁLIA VIEIRA e Dr.ª GLÓRIA MEIRELES – BIOQUÍMICA
Dr.ª Mª FILOMENA COIMBRA e Dr.ª MARIA LOURENÇO – IMUNOLOGIA
Dr.ª CARMO ORNELAS e Dr. MÁRIO CUNHA – VIROLOGIA

CINTRAMÉDICA II, SERVIÇOS DE SAÚDE, LDA

ORIENTAÇÃO:
Dr.ª INÊS STILWELL e Dr.ª SANDRA NÓBREGA – MICROBIOLOGIA

MONOGRAFIA
“O LABORATÓRIO CLÍNICO PERANTE A LESÃO HEPÁTICA”

ORIENTAÇÃO:
Prof.ª Dr.ª MARIA CRISTINA MARQUES

MESTRADO EM ANÁLISES CLÍNICAS

CRISTINA MARIA PRATA FURTADO

LISBOA, 2015

Página | 2
Relatório de Estágio e Monografia do
Mestrado em Análises Clínicas
2015

Cristina Maria Prata Furtado

Página | 3
ÍNDICE

I. Relatório de Estágio
Pág.

LISTA DE ABREVIATURAS ix

ÍNDICE DE FIGURAS xv

ÍNDICE DE TABELAS xxi

RESUMO xxii

ABSTRACT xxiii

1. INTRODUÇÃO 1
2. O INSTITUTO PORTUGUÊS DE ONCOLOGIA DE LISBOA
1
FRANCISCO GENTIL, E.P.E
a. O SERVIÇO DE PATOLOGIA CLÍNICA 2
3. A CLÍNICA CINTRAMÉDICA 2
a. O LABORATÓRIO DE ANÁLISES CLÍNICAS CINTRAMÉDICA II 3
4. FASE PRÉ ANALÍTICA 3
5. VALÊNCIA DE BIOQUÍMICA 7
a. O LABORATÓRIO DE BIOQUÍMICA 8
b. MÉTODOS DE ANÁLISE NO LABORATÓRIO DE BIOQUÍMICA 8
i. Espectrofotometria 8
ii. Imunoturbidimetria 8
iii. Potenciometria 9
iv. Amperometria 9
v. Cromatografia de Troca Iónica 10
vi. Quimioluminescência 10
vii. Imunoensaio de Fluorescência Polarizada – FPIA 11
c. METABOLISMO DOS HIDRATOS DE CARBONO 12
i. Glucose 12
ii. Hemoglobina Glicada (HbA1c) 12

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ÍNDICE (Continuação)
Pág

d. METABOLISMO DOS LÍPIDOS E LIPOPROTEÍNAS 13


i. Colesterol Total 13
ii. Triglicéridos 13
iii. Lipoproteínas 14
e. METABOLISMO DAS PROTEÍNAS E AMINOÁCIDOS 15
i. Proteínas Totais 15
II. Proteínas Totais na Urina e LCR 16
iii. Albumina 16
iv. Imunoglobulinas 17
v. β2-Microglobulina 19
f. MARCADORES DA FUNÇÃO HEPATOBILIAR 19
i. Aminotransferases Hepáticas: AST e ALT 19
ii. Gama Glutamil Transferase (γGT) 20
iii. Fosfatase Alcalina (ALP) 20
iv. Bilirrubina Total, Direta e Indireta 20
g. MARCADORES DA FUNÇÃO PANCREÁTICA 21
i. Amilase 21
ii. Lipase 22
h. MARCADORES DA FUNÇÃO RENAL 22
i. Creatinina 23
ii. Ureia 23
i. METABOLISMO DOS ÁCIDOS NUCLEÍCOS E PURINAS 24
i. Ácido Úrico 24
j. METABOLISMO DO FERRO 25
i. Ferro 25
ii. Transferrina 26
iii. UIBC 28
k. MARCADORES DE ANEMIA 27
i. Ferritina 27
ii. Folatos e Vitamina B12 27
l. MARCADORES DE INFLAMAÇÃO 28

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ÍNDICE (Continuação)
Pág

i. PCR – Poteína C Reativa 28

m. MARCADORES DE LESÃO MUSCULAR 29


i. Lactato Desidrogenase 29
ii. Creatina Quinase 30
n. MARCADORES CARDÍACOS 30
o. MARCADORES TUMORAIS 33
p. MONITORIZAÇÃO DE FÁRMACOS 35
q. METABOLISMO MINERAL E ÓSSEO 42
i. Cálcio 42
ii. Fósforo 42
iii. Magnésio 43
r. EQUILÍBRIO ELECTROLÍTICO E ÁCIDO-BASE 44

i. Ionograma (Sódio, Potássio e Cloro) e Dióxido De Carbono 44

ii. Gasimetria 46
s. URIANÁLISE 49
i. Urina Tipo II – Análise Bioquímica e Microscópica Do Sedimento
49
Urinário
6. VALÊNCIA DE IMUNOLOGIA 57
a. O LABORATÓRIO DE IMUNOLOGIA 57
b. TRIAGEM NO LABORATÓRIO DE IMUNOLOGIA DO IPOLFG 57
c. NEFELÓMETRO – EQUIPAMENTO BN ProSpec® da SIEMENS 58
i. Nefelometria 58
ii. Proteínas Doseadas no Equipamento BN ProSpec® 59
d. ELECTROFORESE DE PROTEINAS – EQUIPAMENTO InterlabG26® 64
i. Electroforese de Proteínas - PROTEINOGRAMA 64
ii. Imunofixação 65
1. Imunofixação no Soro/Urina 66
2. Imunofixação Bence Jones 66
3. Avaliação da Proteinúria – Perfil Proteinúria 67
4. Imunofixação no LCR 68

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ÍNDICE (Continuação)
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e. ELETROFORESE HEMOGLOBINAS – EQUIPAMENTO Hydrasys®. 69


f. CYTOSPIN – EQUIPAMENTO Cytospin 2®. 72
g. PESQUISA DE CRIOGLOBULINAS 72
h. AUTOIMUNIDADE 74
i. ANA – Autoanticorpos Anti Nucleares 75
ii. Pesquisa de Autoanticorpos em Tecidos – ASMA, AMA, APCA,
78
LKM
iii. FI- Autoanticorpos Anti Fator Intrínseco 80
iv. ANCA – Autoanticorpos Anti Citoplasma dos Neutrófilos 80
v. Anticorpos Anti-Neuronais – Síndromes Paraneoplásicas 81
vi. Encefalite Autoimune – Teste de Imunofluorescência Indireta 85
vii. Autoanticorpos Anti-Fosfolípidos – Síndrome Antifosfolípidos 85
viii. Autoanticorpos na Doença Celíaca 86
i. SEROLOGIA 88
i. Serologia para Salmonella spp. 88
ii. Serologia para Brucella spp. 89
iii. Serologia para Treponema pallidum 90
iv. Serologia para Echinococcus granulosus 91
v. Serologia para Rickettsia conorii 92
vi. Serologia para o vírus Epstein-Barr (EBV) 92
vii. Serologia para Aspergillus spp. - Deteção do Antigénio
92
Galactomanano de Aspergillus spp.
7. VALÊNCIA DE VIROLOGIA 94
a. O LABORATÓRIO DE VIROLOGIA 94
b. TRIAGEM NO LABORATÓRIO DE VIROLOGIA DO IPOLFG 96
C. CULTURAS CELULARES 97
D. PESQUISA ANTIGÉNIOS – ANTIGENÉMIA CITOMEGALOVÍRUS 100
e. SEROLOGIA 101
i. Serologia ARCHITECT® 101
ii. Serologia Liaison® 101
iii. Serologia HHV6 / HHV8 – Imunofluorescência Indireta 101
f. BIOLOGIA MOLECULAR 102

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ÍNDICE (Continuação)
Pág

g. MARCADORES TUMORAIS 113


8. CONTROLO DE QUALIDADE (CQ) NO SPC DO IPOLFG 114
A. CONTROLO DE QUALIDADE INTERNO (CQI) 115
i. CQI Laboratório de Bioquímica 116
ii. CQI Laboratório de Imunologia 116
iii. CQI Laboratório de Virologia 117
B. CONTROLO DE QUALIDADE EXTERNO (CQE) 119
i. CQE Laboratório de Bioquímica 120
ii. CQE Laboratório de Imunologia 120
iii. CQE Laboratório de Virologia 120
9. VALÊNCIA DE MICROBIOLOGIA 121
a. O LABORATÓRIO DE MICROBIOLOGIA 121
b. TRIAGEM NO LABORATÓRIO DE MICROBIOLOGIA 123
c. MEIOS DE CULTURA 130
d. PERIODO DE INCUBAÇÃO / CONDIÇÕES DE INCUBAÇÃO 139
E. COLORAÇÕES 140
F. IDENTIFICAÇÃO DE BACTÉRIAS – MORFOLOGIA DE COLÓNIAS E
143
CARACTERÍSTICAS METABÓLICAS
G. TESTE DE SENSIBILIDADE AOS ANTIBIÓTICOS – APARELHO
144
VITEK® 2 COMPACT
H. PRODUTOS BIOLÓGICOS – ENSAIOS E METODOLOGIAS DE
146
ANÁLISE
i. Urina 147
ii. Expectoração 152
iii. Fezes 155
iv. Esperma 159
v. Exsudado Vaginal / Exsudado Vulvar 164
vi. Exsudado Uretral 171
vii. Exsudado Nasal 173
viii. Exsudado Faríngeo 174
ix. Exsudados Purulentos 176
x. Sangue 181

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ÍNDICE (Continuação)
Pág

xi. Pele, Unhas e Cabelos 182


10. CONTROLO DE QUALIDADE NO LABORATÓRIO
183
MICROBIOLOGIA – LAC CINTRAMÉDICA II
11. CONCLUSÃO 184
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 185

II. Monografia
Pág.

LISTA DE ABREVIATURAS ii

ÍNDICE DE FIGURAS vi

ÍNDICE DE TABELAS vii

RESUMO viii

ABSTRACT ix

1. INTRODUÇÃO 187
2. FUNÇÃO HEPÁTICA 188
2.1. Fisiologia 188
2.2. Fisiopatologia 188
3. O LABORATÓRIO CLÍNICO: PERFIL HEPÁTICO METABÓLICO,
VIRAL E IMUNOLÓGICO 190

3.1. Parâmetros Bioquímicos 190


3.1.1 Transaminases – ALT e AST 190
3.1.2 Fosfatase Alcalina (ALP) 192
3.1.3 Gama Glutamiltransferase (γGT) 193
3.1.4 Bilirrubina Direta (BD) e Bilirrubina Total (BT) 193
3.1.5 Albumina (ALB) 195

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ÍNDICE (Continuação)
Pág

3.1.6 Tempo de Protrombina (TP) 195


3.1.7 Amónia (NH3) 196
3.1.8 Globulinas 197
3.1.9 5' nucleotidase (5'NTD) 197
3.1.10 Lactato Desidrogenase (LDH) 198
3.2. Marcadores Serológicos e Determinação da Carga Viral 199
3.2.1 Hepatite A - Vírus da Hepatite A (HAV) 199
3.2.2 Hepatite B – Vírus da Hepatite B (HBV) 200
3.2.3 Hepatite C – Vírus da Hepatite C (HCV) 202
3.2.4 Hepatite D – Vírus da Hepatite D (HDV) 203
3.2.5 Hepatite E – Vírus da Hepatite E (HEV) 204
3.2.6 Hepatite F e Hepatite G – Vírus da Hepatite F (HFV) e Vírus da
Hepatite G (HGV) 204

3.2.7 Hepatite a Vírus Hepatotrópicos Inespecíficos – Citomegalovírus


(CMV) e Vírus Epstein-Barr (EBV) 204

3.3. Autoimunidade 206


4. O LABORATÓRIO CLÍNICO: MARCADORES DE LESÃO
HEPÁTICA 208

4.1. Screening da população Saudável 208


4.2. Avaliação do Paciente com Suspeita de Lesão Hepática 208
4.2.1 Avaliação da Lesão Hepatocelular 208
4.2.2 Avaliação do Fluxo Biliar e Lesão das Vias Biliares 209
4.2.3 Avaliação da Função de Síntese do Fígado 209
5. O LABORATÓRIO CLÍNICO: LESÃO HEPÁTICA AGUDA vs
LESÃO HEPÁTICA CRÓNICA 210

5.1. Lesão Hepática Aguda 210


5.1.1 Diagnóstico 210
5.2. Lesão Hepática Crónica 210
5.2.1 Diagnóstico 210
5.2.2 Screening 210

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ÍNDICE (Continuação)
Pág

6. O LABORATÓRIO CLÍNICO: DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL DE


LESÃO HEPÁTICA 211

6.1. Hepatite Viral 211


6.1.1 Hepatite B 215
6.1.2 Hepatite C 216
6.1.3 Hepatite D 218
6.2. Lesão Hepática Aguda de Etiologia Não Viral 219
6.2.1 Esteatose Hepática não Alcoólica 219
6.2.2 Hepatite Alcoólica 221
6.2.3 Lesão Hepática Isquémica e Tóxica 223
6.3 Lesão Hepática Hereditária 224
6.3.1 Hemocromatose 224
6.3.2 Doença de Wilson 225
6.3.3 Deficiência em Alfa-1-Antitripsina (α1-AT) 226
6.4 Lesão Hepática Autoimune 226
6.4.1 Hepatite Autoimune (HAI) do Tipo1 e do Tipo2 227
6.4.2 Cirrose Biliar Primária (CBP) e Colangite Esclerosante Primária
(CEP) 228

7 O LABORATORIO CLÍNICO: MARCADORES DE SEVERIDADE E


MONITORIZAÇÃO DA LESÃO HEPÁTICA 229

7.2 Marcadores de Severidade 229


7.3 Monitorização 231
8 O LABORATÓRIO CLÍNICO: ESPECIFICAÇÕES DE QUALIDADE
PARA AS PROVAS HEPÁTICAS – Recomendações AASLD e NACB. 231

9 CONCLUSÃO 234
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 235

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LISTA DE ABREVIATURAS

Ac – Anticorpo

AEQ – Avaliação Externa da Qualidade

ALP – Fosfatase Alcalina (do inglês, alkaline phosphatase)

ALT – Alanina Aminotransferase

AMA – Anticorpos Anti Mitocôndria (do inglês, anti-mitochondrial antibodies)

AMP – Adenosina-5-monofosfato

ANA – Anticorpos Anti Nucleares (do inglês, anti-nuclear antibodies)

ANCA – Anticorpos Anti Citoplasma dos Neutrófilos (do inglês, anti-neutrophil


cytoplasmic antibodies)

anti-LKM – Anticorpos Anti-Microssomais Hepáticos e Renais (do inglês, anti-liver,


kidney microsomal antibodies)

APCA – Anticorpos Anti Células Parietais Gástricas (do inglês, anti-parietal cell
antibodies)

AR – Artrite Reumatóide

ASMA – Anticorpos Anti Músculo Liso (do inglês, anti-smooth muscle antibodies)

AST – Aspartato Aminotransferase

ATP – Adenosina Trifosfato

β2M – β2-microglobulina

BHE – Barreira Hematoencefálica

BHI – Meio de cultura de Cérebro e Coração (do inglês, Brain Heart Infusion)

BNP – Péptido Natriurético Humano Tipo B

CA – Antigénio Carcinogénico (do inglês, cancer antigen)

CAN2 - Gelose ChromID™ Candida

CBP – Cirrose Biliar Primária

CEA – Antigénio Carcinoembrionário (do inglês, carcinoembryonic antigen)

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LISTA DE ABREVIATURAS (Continuação)

CK – Creatina Quinase (do inglês, creatine kinase)

CK – MB – Isoenzima MB da Creatina Quinase

Cl – Clearance da Creatinina

Cl- - Cloro

CLED – Meio de cultura para Urina (do ingês, Cystine Lactose Electrolyte Deficient)

CLIA – Imunoensaio por Quimioluminescência “Flash” (do inglês, chemiluminescent


immunoassay)

CMIA – Quimioluminescência (do inglês, chemiluminescent magnetic immunoassay)

CMV – Citomegalovírus

CNA - Gelose Columbia ANC com 5% de sangue de carneiro

CO2 – Dióxido de Carbono

COS - Gelose Columbia com 5% de sangue de carneiro

CPS - Gelose ChromID™ CPS® Agar

CQ – Controlo de Qualidade

CQI – Controlo de Qualidade Interno

CQE – Controlo de Qualidade Externo

DNA – Ácido Desoxirribonucleico (do inglês, deoxyribonucleic acid)

dsDNA – DNA dupla cadeia (do inglês, double stranded DNA)

dNTPs - Desoxirribonucleotídeos trifosfatos

EAM – Enfarto Agudo do Miocárdio

EBV – Vírus de Epstein-Barr (do inglês, Epstein-Barr virus)

EIA – Imunoensaio Enzimático (do inglês, enzyme imunoassay)

ELISA – Enzyme-Linked Immunosorbent Assay

ENAs – Antigénios Nucleares Extraíveis (do ingês, extractable nuclear antigens)

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LISTA DE ABREVIATURAS (Continuação)

EUCAST - European Committee on Antimicrobial Susceptibility Testing

Fe2+ - Ião ferroso

Fe3+ - Ião férrico

F-actina – Filamentos de actina

FFUL – Faculdade de Farmácia da Universidade de Lisboa

FI – Factor Intrínseco

FPIA – Imunoensaio de Fluorescência Polarizada (do inglês, flurescence polarization


immunoassay)

GABA – Ácido gama-aminobutírico

GAR – Gelose Gardnerella

GFR – Taxa de Filtração Glomerular (do inglês, glomerular filtration rate)

γGT – Gama Glutamil Transferase

GMB – Membrana Basal do Glomérulo

GMP – Guanosina-5-monofosfato

GTP – Guanosina Trifosfato

H2O2 – Peróxido de Hidrogénio

HAI – Hepatite Autoimune

HAV – Vírus da Hepatite A (do inglês, Hepatitis A Virus)

Hb – Hemoglobina

HbA1c – Hemoglobina Glicada

HBV – Vírus da Heptite B (do inglês, Hepatitis B Virus)

HCO3- - Ião Bicarbonato

HCV – Vírus da Hepatite C (do inglês, Hepatitis C Virus)

HDL – Lipoproteínas de Alta densidade (do inglês, High-Density Lipoprotein)

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LISTA DE ABREVIATURAS (Continuação)

Hep-2 – Células Hep-2 (do inglês, Human epithelial cell line: type 2)

HHV – Herpesvírus Humano (do inglês, Human Herpes Virus)

HIV – Vírus da Imunodeficiência Humana (do inglês, Human Immunodeficiency Virus)

HLA – Antigénio Humano Leucocitário (do inglês, Human Leukocyte Antigen)

HPLC – Cromatografia Liquida de Alta Eficiência (do inglês, High Performance


Liquid Chromatography)

HPV – Vírus do Papiloma Humano (do inglês, Human Papilomavirus)

HSV – Vírus Herpes Simplex (do inglês, Herpes Simplex Virus)

HTLV – Vírus T-Linfotrópico Humano (do inglês, Human T-Lymphotropic Virus)

IFI – Imunofluorescência Indirecta

Ig – Imunoglobulina

IPOLFG – Instituto Português de Oncologia de Lisboa Francisco Gentil, E.P.E.

ISE – Eléctrodo Seletivo de Iões (do inglês, Ion-Selective Membrane Electrode)

ISH – Hibridação in situ

Jo-1 – Histidyl-tRNA synthetase

K+ - Potássio

LAC – Laboratório de Análises Clínicas

LCR – Líquido Cefalorraquidiano

LDH – Lactato Desidrogenase

LDL – Lipoproteínas de Baixa Densidade (do inglês, Low-Density Lipoprotein)

LES – Lúpus Eritematoso Sistémico

MAC – Mestrado em Análises Clínicas

McK – Meio de Cultura Mac Conkey

MGUS – Gamopatia Monoclonal de Significado Incerto (do inglês, Monoclonal


Gammopathy of Uncertain Significance)

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LISTA DE ABREVIATURAS (Continuação)

MRSA – Staphylococcus aureus Resistentes à Meticilina

MTX – Metotrexato

Na+ - Sódio

NFAT – Factor Nuclear de Células T Activadas (do inglês, Nuclear Factor of Activated
T-cells)

NSE – Enolase Neuro-Específica (do inglês, Neuron Specific Enolase)

OMS – Organização Mundial de Saúde

pCO2 – Pressão Parcial de Dióxido de Carbono

PCR – Proteína C Reativa

PCR – Reação em Cadeia da Polimerase (do inglês, Polymerase Chain Reaction)

PETINIA – Imunoensaio Turbidimétrico Homogéneo do Tipo Microparticle-Enhanced


(do inglês, Particle-Enhanced Turbidimetric Inhibition Immunoassay)

pO2 – Pressão Parcial de Oxigénio

PSA – Antigénio Específico da Próstata (do inglês, Prostate Specific Antigen)

PVX – Gelose Chocolate PolyViteX

RbP – Proteina de Transporte do Retinol (do inglês, Retinol-binding Protein)

RLUs – Unidades de Luz Realativas (do inglês, Relative Light Units)

RNA – Ácido Ribonucleico (do inglês, Ribonucleic Acid)

rpm – Rotações por minuto

SAF - Síndrome Antifosfolípidos

SCA – Síndrome Cardíaco Agudo

SCC – Antigénio de carcinoma de Células Escamosas (do inglês, Squamous Cell


Carcinoma)

Scl70 – Scleroderma antigen – 70 kDa

SGC2 – Gelose Sabouraud Gentamicina Cloranfenicol 2

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LISTA DE ABREVIATURAS (Continuação)

Sm – Smith

SNC – Sistema Nervoso Central

SNS – Sistema Nacional de Saúde

SPC – Serviço de Patologia Clínica

SPS – Síndrome de Pessoa Rígida

SS – Síndrome de Sjögren

SSA/Ro – Sjögren’s Syndrome – antigen A/index patient with anti-SSA antibody

SSB/La – Sjögren’s Syndrome – antigen B/index patient with anti-SSB antibody

STRB – Gelose ChromID™ Strepto B

TASO – Anti-Estreptolisina O

TPHA – Treponema pallidum Hemaglutination

TSA – Teste de Sensibilidade aos Antibióticos

UIBC – Capacidade Não Saturada de Ligação do Ferro (do inglês, Unsaturated Iron
Binding Capacity)

VCA3 – Gelose Chocolate PolyViteX VCAT3

VDRL – Veneral Disease Research Laboratory

VLDL – Lipoproteínas de Muito Baixa Densidade (do inglês, Very Low-Density


Lipoprotein)

VZV – Vírus da Varicela Zoster (do inglês, Varicella Zoster Virus)

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ÍNDICE DE FIGURAS

Pág.

Figura 1. Fluxograma do Processo de Triagem e Avaliação das Amostras. 6


Figura 2. Diretrizes para a conservação de amostras entregues ao SPC. 7
Figura 3. Esquema do Método de Quimioluminescência. 10
Figura 4. Esquema do Método FPIA. 11
Figura 5. Estrutura das HDL. 14
Figura 6. Constituição das LDL. 14
Exemplo de um algoritmo para o diagnóstico e diferenciação do
Figura 7. SCA, com recurso ao doseamento dos vários marcadores 32
cardíacos.
Figura 8. Tiras Multistix® 10SG. 50
Figura 9. Procedimento manual de leitura da tira urinária. 51
Figura 10. Células Epiteliais. 53
Figura 11. Exemplo de cristais patológicos. 54
Figura 12. Aspeto dos cristais urinários mais frequentes. 54
Figura 13. Sedimento urinário. 56
Fluxograma do circuito das amostras no Laboratório de
Figura 14. 58
Imunologia.
Figura 15. Mecanismos de ativação da cascata do complemento. 61
Figura 16. Estrutura das Imunoglobulinas. 62
Figura 17. Perfil electroforético normal das proteínas séricas. 65
Sistema informático especializado UPES (Urine Protein Expert
Figura 18. 67
System) – Protis.
Exemplo da caracterização de um perfil proteinúria de um doente
Figura 19. de 58 anos do sexo masculino efetuado no Laboratório de 68
Imunologia e do respetivo perfil transmitido ao clínico.
Figura 20. Perfil electroforético de hemoglobinas de um adulto saudável. 69
Figura 21. Comparação estrutural entre hemoglobina normal e a HbS 70
Caso clínico positivo para HbS. Exemplo dos vários testes
Figura 22. 70
laboratoriais efetuados para diagnóstico diferencial.
Figura 23. Deteção de crioglobulinas. 73
Figura 24. Padrões nucleares em células HEp-2. 76

Página | 18
ÍNDICE DE FIGURAS (Continuação)

Pág.

Figura 25. IFI em substrato de Crithidia luciliae. 76


Imagem ilustrativa dos vários autoanticorpos identificados em
Figura 26. 78
tecidos.
Padrão característico da presença de autoanticorpos anti-Yo:
Figura 27. marcação granular citoplasmática das células de Purkinje no 81
cerebelo.
Ac anti-neuronais nucleares (ANNA) do tipo anti-Hu, marcando
Figura 28. o substrato cerebelo e o plexo mesentérico do corte do intestino 82
de macaco.
Ac anti-neuronais nucleares (ANNA) do tipo anti-Ri, marcando
Figura 29. 82
apenas os núcleos do sistema nervoso central.
Figura 30. Padrão característico da presença de autoanticorpos anti-GAD 82
Padrão característico da presença de autoanticorpos anti-MAG
Figura 31. 83
marcando o nervo suralis.
Autoanticorpos anti-anfifisina marcando ligeiramente a camada
Figura 32. granular do cerebelo de macaco, e intensamente a região 83
sináptica na camada molecular.
Autoanticorpos anti-Ma2 marcando os nucléolos neuronais no
Figura 33. 84
cerebelo.
Células Transfectadas: anticorpos contra NMDA e CASPR2 (à
Figura 34. esquerda), AMPA-1 e LGI1 (no meio), AMPA-2 e GABAB 85
(direita).
Figura 35. Padrão de IFI na presença de Ac. anti-EMA. 87
Esquema reacional do Platelia™ Aspergillus Ag na deteção de
Figura 36. 93
galactomananos.
Figura 37. Fluxograma do circuito das amostras no Laboratório de Virologia 97
Figura 38. Células MRC5 (ATCC® CCL – 171TM). 98
Figura 39. Células HeLa (ATCC® CCL – 2TM). 99
Figura 40. Células VERO (ATCC® CCL - 81™). 99
Figura 41. Antigenémia CMV (pp65) 100
Avaliação da precisão da quantificação dos produtos de PCR, de
Figura 42. 103
acordo com os ciclos de replicação.
Esquema gráfico da quantificação de DNA na PCR em Tempo
Figura 43. 104
Real.
Figura 44. Esquema reacional dos diferentes tipos de PCR 105

Página | 19
ÍNDICE DE FIGURAS (Continuação)

Pág.

Esquema da PCR em Tempo Real com deteção por sondas


Figura 45. 106
TaqMan.
Etapas do processamento das amostras recebidas no Laboratório
Figura 46. 109
de Virologia para deteção de HPV.
Esquema da Tecnologia de Microarrays e das microplacas do
Figura 47. 111
PapilloCheck®.
Local das sondas específicas nas tiras INNO-LiPA® HPV
Figura 48. 112
Genotyping Extra.
Figura 49. Cartão de leitura do INNO-LiPA® HPV Genotyping Extra. 113
Figura 50. Representação esquemática do erro total. 115
Figura 51. Diferença entre precisão e exatidão. 116
Figura 52. Esquema da rotina de um programa de AEQ. 119
Figura 53. Esquema do Laboratório de Microbiologia. 122
Fluxograma do circuito das amostras no Laboratório de
Figura 54. 123
Microbiologia.
Figura 55. Gelose CLED: Em baixo – não inoculada; Em cima – inoculada. 132
Gelose Mac Conckey: Em baixo - não inoculada; Em cima –
Figura 56. 132
inoculada.
Gelose SS: à direita meio estéril; à esquerda meio inoculado, com
Figura 57. 132
colónias suspeitas de Salmonella sp
Meio CAM inoculado. Colónias suspeitas de Campylobacter
Figura 58. 133
intestinais.
Figura 59. Tipos de hemólise observáveis em gelose de sangue. 133
Meio CNA: à esquerda e ao centro inoculado, com Streptococcus
Figura 60. grupo A isolado no Laboratório de Microbiologia; à direita meio 134
estéril não inoculado
Gelose de Chocolate: Em cima, inoculado, com colónias
Figura 61. 134
suspeitas de Haemophilus sp.; em baixo, não inoculado, estéril.
Meio VCA3 inoculado. Colónias suspeitas de Neisseria
Figura 62 135
gonorrhoeae.
Meio Löwenstein-Jensen: à esquerda não inoculado, estéril; à
Figura 63. 135
direita inoculado com Mycobacterium tuberculosis.
Meio SG2: à esquerda não inoculado, estéril; ao centro com
Figura 64. 135
crescimento leveduriforme; à direita com fungo filamentoso.
Gelose Dermatófitos inoculada: à esquerda Trichophyton
Figura 65. 136
tonsurans; à direita Microsporum canis.

Página | 20
ÍNDICE DE FIGURAS (Continuação)

Pág.

Meio GAR inoculado no laboratório de Microbiologia (exsudado


Figura 66. 136
vaginal). Positivo para Gardnerella vaginalis.
Urocultura (+) meio CPS para E.coli obtida no Laboratório de
Figura 67. 137
Microbiologia; colónias vermelho escuro.
Urocultura (+) meio CPS para Citrobacter sp. obtida no
Figura 68. 137
Laboratório de Microbiologia; colónias Azul-acinzentadas.
Exsudado vaginal (+) meio CAN2 para C.albicans obtido no
Figura 69. 138
Laboratório de Microbiologia; colónias características azuis.
Exsudado vaginal (+) meio STRB para S.agalactiae obtido no
Figura 70. 138
Laboratório de Microbiologia; colónias características vermelhas.
Sistema gerador de atmosfera GENbox® utilizado no Laboratório
Figura 71. 139
de Microbiologia.
Bactérias Gram (-) e Gram (+): características estruturais da
Figura 72. 141
parede celular e imagem ao microscópio ótico.
Figura 73. Método de Gram. 141
Figura 74. Método de Ziehl-Neelsen. 142
Procedimento para a grupagem de estreptococos utilizando o
Figura 75. Slidex® Strepto Plus da BioMérieux. Exemplo de resultado 144
positivo para estreptococos do grupo A de Lancefield.
Figura 76. Câmara de contagem para sedimentos urinários. 147
Aparelho sediMAX® e sedimento urinário obtido no LAC
Figura 77. 148
Cintramédica II.
Procedimento aplicado no Laboratório de Microbiologia para a
Figura 78. 149
identificação de patogénios urinários.
Uroculturas positivas em meio CLED obtidas no LAC
Figura 79. Cintramédica II. A - Gram (+) Staphylococcus saprophyticus; B - 150
Gram (-) klebsiella pneumoniae; C - Gram (-) E.coli.
Uroculturas em meio CLED positivas para E.coli obtidas no
Figura 80. LAC Cintrmédica II. A, B e C estirpe Lactose (+); D estirpe Lac 150
(-).
Urocultura em meio CLED positiva para Pseudomonas
Figura 81. 150
aeruginosa obtida no LAC Cintramédica II.
Urocultura em meio CLED positiva para Proteus mirabilis obtida
Figura 82. 151
no LAC Cintramédica II.
Figura 83. Técnica de estiramento. 152
Protocolo de processamento de amostras de fezes para
Figura 84. 155
coprocultura no LAC Cintramédica II.

Página | 21
ÍNDICE DE FIGURAS (Continuação)

Pág.

Figura 85. Ovos, Quistos e Parasitas mais comuns em fezes humanas. 156
Procedimento para a pesquisa de antigénios de Giardia
Figura 86. 157
intestinalis usando o CerTest® Giardia.
Figura 87. Resultados possíveis no CerTest® Giardia. 157
Procedimento para a pesquisa de Sangue oculto com o teste
Figura 88. 158
cassete NADAL® FOB da nal von minden.
Amostras processadas no LAC Cintramédica II para a Pesquisa
Figura 89. 158
de Sangue Oculto.
Protocolo de processamento de amostras de esperma para
Figura 90. 160
espermocultura no LAC Cintramédica II.
Estrutura normal dos espermatozóides e exemplos de alguns
Figura 91. 162
defeitos morfológicos.
Amostra esperma processada - observação a fresco. Imagens
Figura 92. 163
obtidas por fotografia ao microscópio ótico.
Figura 93. Exsudado Vaginal - exames a fresco. 166
Figura 94. Exsudado Vaginal - esfregaços corados pela técnica de Gram. 166
Protocolo de processamento de amostra vaginal ou vulvar
Figura 95. 167
(exsudado) para o exame cultural no LAC Cintramédica II
Exemplo de uma amostra processada no LAC Cintramédica II
Figura 96. 168
negativa para Micoplasmas.

Exemplo de uma amostra processada no LAC Cintramédica II


Figura 97. 168
positiva para Ureaplasma spp. e Mycoplasma hominis.

Protocolo de processamento de amostra vaginal ou retal


Figura 98. (exsudado) para a Pesquisa de Estreptococos β-Hemolíticos do 170
Grupo B, no LAC Cintramédica II.
Protocolo de processamento de amostras da uretra (exsudados)
Figura 99. 172
para exame cultural no LAC Cintramédica II.
Protocolo de processamento de amostras nasais (exsudados) para
Figura 100. 173
exame cultural no LAC Cintramédica II.
Ilustração da tira reativa do teste Strep A Dipstick bioNexiaTM da
Figura 101. 174
BioMérieux.
Procedimento teste Strep A Dipstick bioNexiaTM da BioMérieux
Figura 102. 175
(Fig.1a – Fig.6). Interpretação dos resultados (Fig.7).
Protocolo de processamento de amostras da orofaringe
Figura 103. 175
(exsudados) para exame cultural no LAC Cintramédica II.

Página | 22
ÍNDICE DE FIGURAS (Continuação)

Pág.

Protocolo de processamento de amostras de exsudados


Figura 104. 178
purulentos para exame cultural no LAC Cintramédica II.
Exsudado Purulento Superficial processado no LAC
Figura 105. 180
Cintramédica II. Aspeto das colónias isoladas em meio McK.

Página | 23
ÍNDICE DE TABELAS

Pág.

Tabela 1. Resumo das características das imunoglobulinas séricas. 18

Resumo da aplicação e significado clínico dos principais analitos


Tabela 2. 21
envolvidas na avaliação da função hepatobiliar.
Principais características dos marcadores cardíacos doseados no
Tabela 3. 31
Laboratório de Bioquímica.
Principais características dos marcadores tumorais doseados no
Tabela 4. 34
Laboratório de Bioquímica.
Características dos antibióticos doseados no Laboratório de
Tabela 5. 36
Bioquímica.
Caracterização das Drogas Terapêuticas doseadas no Laboratório
Tabela 6. 38
de Bioquímica.
Tabela 7. Resumo dos distúrbios ácido-base e patologias associadas. 49
Parâmetros determinados na urina pelo aparelho Urysis 2400 ®,
Tabela 8. 50
valores de referência e resultados possíveis na análise.
Tabela 9. Tipos de cilindros urinários e seu significado clinico. 55
Tabela 10. Proteínas mais representativas de cada fração electroforética. 64
Intervalos de referência para as diferentes frações proteicas no
Tabela 11. 65
soro.
Tabela 12. Características dos padrões nucleares mais comuns 76
Tabela resumo dos principais padrões ANA identificados por IFI
Tabela 13. em células HEp-2 e respetivos antigénios alvo, com maior 77
relevância para a clínica.
Padrões de fluorescência observados na presença de ANCA nos
Tabela 14. 81
diversos fixadores.
Vírus Respiratórios identificados de acordo com os primers
Tabela 15. 108
utilizados.
Análise e expressão de resultados na Deteção de Vírus
Tabela 16. 108
Respiratórios
Expressão dos resultados de deteção e genotipagem do HPV por
Tabela 17. 111
tecnologia de Microarrays.
Resultados possíveis e respetiva interpretação das bandas controlo
Tabela 18. 112
presentes em cada tira
Tabela 19. Quantificação de BAAR e expressão dos seus resultados. 153

Página | 24
RESUMO

O presente trabalho constitui o elemento de avaliação final do Mestrado em


Análises Clínicas (MAC) ministrado pela Faculdade de Farmácia da Universidade
de Lisboa (FFUL). É composto por duas partes fundamentais, o Relatório de
Estágio e a Monografia. Na primeira caracterizam-se os locais de estágio (Instituto
Português de Oncologia de Lisboa Francisco Gentil, E.P.E. (IPOLFG) e
Laboratório de Análises Clínicas Cintramédica II) e sua duração, e enumeram-se as
valências frequentadas (Bioquímica, incluindo a Fase Pré Analítica, Imunologia,
Virologia e Microbiologia) abordando-se ensaios, metodologias e Controlo de
Qualidade; na segunda, desenvolve-se o tema “O Laboratório Clínico Perante A
Lesão Hepática”, onde se pretende caracterizar a patologia Hepática (etiologia e
fisiopatologia), a importância do Laboratório Clínico no auxílio ao seu diagnóstico
e as várias análises que disponibiliza para esse fim. Identificam -se os diferentes
marcadores hepáticos (bioquímicos, serológicos e de autoimunidade), abordam -se
metodologias de doseamento e diretrizes de qualidade que visam a estandardização
laboratorial e a qualidade dos resultados.

Página | 25
ABSTRACT

The present document constitutes the final evaluation element of the Master of Clinical
Analysis (MAC) administered by the Faculty of Pharmacy, University of Lisbon
(FFUL). It consists of two main parts, the Internship Report and the Monograph. The
first characterized the Laboratories (Portuguese Institute of Oncology of Lisbon
Francisco Gentil, E.P.E. (IPOLFG) and Clinical Laboratory Cintramédica II), the
internship duration and cited the frequented valences (Biochemistry, including Phase
Pre Analytics , Immunology, Virology and Microbiology) covering up tests,
methodologies and quality control; in the second, it develops the theme "Clinical
Laboratory Facing the Liver Injury", which aims to characterize the Liver pathology
(etiology and pathophysiology), the importance of clinical laboratories to aid in the
diagnosis and the various analyzes that provides for this purpose . Identifies the
different hepatic markers (biochemical, serological and autoimmunity), an approach
methodologies assay and quality guidelines aimed at laboratory standardization and qua

Página | 26
1. INTRODUÇÃO

O presente trabalho constitui o elemento de avaliação final do Mestrado em


Análises Clínicas (MAC) ministrado pela Faculdade de Farmácia da Universidade
de Lisboa (FFUL). É composto por duas partes fundamentais, o Relatório de
Estágio e a Monografia, que se interligam nos seus objetivos numa união entre os
conhecimentos teóricos e práticos. Na primeira caracterizam-se os locais de estágio
e enumeram-se as valências frequentadas abordando-se ensaios, metodologias e
Controlo de Qualidade; na segunda, desenvolve-se o tema “O Laboratório Clínico
Perante A Lesão Hepática”.

O estágio profissional em Análises Clínicas é parte integrante do plano de


estudos do MAC e possui como objetivos gerais: promover a integração no seio
profissional e o contato com outros profissionais de saúde; aplicar os
conhecimentos teóricos adquiridos num contexto real de trabalho; promover a
capacidade de trabalho em equipa e, igualmente, a autonomia; desenvolver a
capacidade de organização e de execução das actividades diárias na rotina
laboratorial; e promover o contato com os doentes, aplicando princípios éticos e
deontológicos. O estágio decorreu em dois locais distintos, no período
compreendido entre Dezembro de 2013 e Janeiro de 2015. No Instituto Português
de Oncologia de Lisboa Francisco Gentil, E.P.E. (IPOLFG), nomeadamente no
Serviço de Patologia Clínica (SPC), foram realizadas as seguintes valências:
Bioquímica (integrando também a Fase Pré Analítica), Imunologia e Virologia; e no
Laboratório de Análises Cintramédica II a valência de Microbiologia.

Neste trabalho proponho-me: apresentar os locais de estágio, descrever e


ressalvar a importância da Fase Pré Analítica, identificar os produtos biológicos
necessários à execução das diferentes análises e abordar o trabalho laboratorial
desenvolvido em cada uma das valências frequentadas, fazendo referência à
importância clínica do doseamento de determinada substância, a métodos analíticos,
técnicas implementadas e equipamentos. É ainda um objetivo destacar o tema
Controlo de Qualidade: ferramentas, importância e sua aplicabilidade ao
Laboratório de Análises Clínicas (LAC).

2. O INSTITUTO PORTUGUÊS DE ONCOLOGIA DE LISBOA


FRANCISCO GENTIL, E.P.E

O IPOLFG, fundado em 29 de Dezembro de 1923 e sediado na Rua


Professor Lima Basto, é a actual designação de uma organização com mais de oito
décadas de tradição no tratamento de doentes com cancro. É uma entidade pública

Página | 27
empresarial, integrada no Sistema Nacional de Saúde (SNS) que tem a sua área
geográfica de intervenção definida no âmbito das administrações regionais de saúde
de Lisboa e Vale do Tejo, do Alentejo e do Algarve. Com actividade abrangente e
intensa nas áreas de investigação, ensino, prevenção, diagnóstico, tratamento e
reabilitação, é a única instituição da sua área de influência geográfica com
possibilidade de tratamento específico de doentes oncológicos em idade pediátrica e
é das raras que dispõe de condições para proporcionar uma abordagem diagnóstica
e terapêutica integrada na patologia tumoral mais complexa.

O IPOLFG é uma entidade acreditada bem como o SPC, fazendo recurso ao


controlo de qualidade interno e externo para avaliar o desempenho de
trabalhadores, equipamentos, técnicas e assegurar resultados fiáveis com relevância
clínica.

2.1 O SERVIÇO DE PATOLOGIA CLÍNICA

O SPC foi criado em 1998, e é atualmente dirigido pela Dra Margarida Silveira.
Está incluído (em conjunto com o Serviço de Anatomia Patológica) no Departamento de
Diagnóstico Laboratorial. Sediado no Pavilhão de Medicina (maioritariamente) e no
Pavilhão de Rádio do IPOLFG, engloba seis laboratórios (Bioquímica, Hematologia,
Imunologia, Endocrinologia, Virologia e Microbiologia), cada um supervisionado por
um Responsável de Laboratório, e três áreas de suporte (Gestão da Qualidade, Urgência
e Central de Colheitas).

O SPC tem como missão a realização de análises clínicas para o diagnóstico,


prevenção e tratamento dos doentes oncológicos do IPOLFG. É acreditado de acordo
com o referencial NP EN ISO 15189. Estabelece, implementa e regula um Sistema de
Gestão da Qualidade com base nas normas portuguesas: NP EN ISO 15189 e NP EN
ISO 9001, na legislação aplicável ao setor e no Manual das Boas Práticas Laboratoriais.
O serviço executa cerca de 100000 análises/mês, destas 63% são requisitadas a doentes
em ambulatório, 30% a doentes internados e 5% em urgência. A produção de análises
está automatizada em cerca de 75%.

3. A CLÍNICA CINTRAMÉDICA

A Cintramédica, clínica médica e de diagnóstico, situada na Travessa da


Portela, em Sintra, foi criada em 2004 com o objetivo de trazer para o Concelho
melhores condições ao nível da saúde privada. Disponibiliza num único espaço uma

Página | 28
série de serviços clínicos diferenciados. É certificada pela APCER, Associação
Portuguesa de Certificação, através da norma NP EN ISO 9001:2008.

3.1 O LABORATÓRIO DE ANÁLISES CLÍNICAS CINTRAMÉDICA II

O Laboratório de Análises Clínicas Cintramédica II, certificado pela Norma ISO


9001:2008, constitui um dos muitos serviços que a unidade de saúde Cintramédica tem
ao dispor dos seus utentes. Localizado no 1º piso, o Laboratório de Análises Clínicas
tem como responsável o Dr. Carlos Marques. O horário do laboratório permite que os
utentes usufruam de colheitas em período alargado, com capacidade de responder com
urgência a pedidos de análises que possam surgir no decorrer da consulta. Disponibiliza
também um serviço de colheitas ao domicílio através da marcação junto dos serviços do
laboratório.

4. FASE PRÉ ANALÍTICA

A Fase Pré analítica (integrada na valência de Bioquímica), sobre a orientação


da Dra Cidália Vieira e da Dra Glória Meireles, constituiu a primeira valência que
frequentei durante o estágio. A sua duração inicial (91h) estendendeu-se na realidade a
todo o período de estágio na valência de Bioquímica no IPOLFG.

A Fase Pré Analítica engloba todos os procedimentos que medeiam desde a


prescrição pelo clínico das análises a efetuar, até à amostra estar pronta para a sua
análise laboratorial. Neles se incluem: a requisição das análises clínicas com a respetiva
abertura da ficha informática; a identificação, a orientação sobre as exigências e
particularidades da colheita e a preparação se necessária do paciente; a identificação
correta dos tubos de colheita; a colheita da amostra biológica pelo paciente ou por um
profissional especializado; o transporte até ao laboratório; e a triagem.

O SPC recebe amostras biológicas colhidas internamente na sua central de


colheitas e externamente provenientes dos outros serviços do IPOLFG (internamento,
urgência, hospital de dia e consultas), e de outras entidades (hospitais, clínicas privadas,
etc.). São recepcionadas e triadas através do código barras presente na etiqueta da
amostra, com auxílio de software apropriado, o CLINIDATA XXI®. Os tubos recebidos
contêm na sua etiqueta informação essencial à identificação da amostra e no código
barras toda a indicação das análises a efetuar. Existem diferentes materiais e tubos, com
ou sem anticoagulante, e com tipo e proporções diferentes de anticoagulante, consoante
as exigências das análises laboratoriais a que se destinam:

Página | 29
Bioquímica, Virologia, Imunologia, Imunohemoterapia e Endocrinologia

Tubos de vácuo com Gel e acelerador da coagulação: tubos de tampa amarela


(5 e 8,5mL) e tampa vermelha (9mL). O gel de separação proporciona uma
barreira efetiva entre o coágulo de sangue e o soro, após a centrifugação do tubo.
O ativador da coagulação propícia a ativação da cascata da coagulação e
consequentemente diminui o tempo de formação do coágulo.

São centrifugados a 3500 RPM, em centrífuga refrigerada durante 10min. Antes


da sua entrada no equipamento é necessário a remoção da possível fibrina
existente.

Hematologia, Bioquímica, Imunohemoterapia, Virologia, Hemato-Oncologia e


Endocrinologia

Tubos de vácuo com EDTA: tubos de tampa roxa com 3mL de EDTA (a
Imunohemoterapia e a Biologia Molecular usam também os de 6mL). O EDTA
é o anticoagulante de escolha para quase todas as análises na área da
Hematologia porque é o anticoagulante que melhor preserva a morfologia das
células sanguíneas. Atua através da formação de um complexo com iões
cálcio, formando um sal não ionizável.

Hematologia - Coagulação Sanguínea

Tubos de vácuo com Citrato de Sódio: tubos de tampa azul claro. O Citrato
de Sódio a 3,2% é o anticoagulante de eleição para todos os estudos da
coagulação. Atua ao combinar-se com o cálcio no sangue formando assim um
composto de cálcio não ionizado, evitando desta forma o processo de
coagulação. Assim sendo permite obter o plasma necessário para a realização
dos testes da coagulação. A proporção utilizada é de uma parte de
anticoagulante (1/10), para nove partes de sangue (9/10).

São centrifugados a 3500 RPM, em centrífuga refrigerada durante 10min.

Página | 30
Hemato-Oncologia – Valência da Citogenética

Tubos de vácuo com Heparina de Sódio: Tubos de tampa verde com 6mL do
anticoagulante. São utilizados para a realização de análises através de técnicas
de citogenética. Esta técnica permite a análise de diversos parâmetros, contudo
os mais comuns são o volume e complexidade celular, a análise e classificação
de cromossomas, proteínas, antigénios de superfície, antigénios intracelulares,
antigénios nucleares, entre outros.

Hematologia, Bioquímica, Imunologia, Imunohemoterapia, Virologia e


Endocrinologia

Tubos secos – contrariamente a todos os tubos já descritos, são


tubos secundários, sem nada adicionado, com tampa transparente
que permitem, sempre que necessário, tomar alíquotas a partir do
tubo primário.

Bioquímica, Imunologia e Endocrinologia

Contentores de recolha para urina 24h – Existem contentores próprios


mas pode ser usado qualquer recipiente, desde que bem limpo, com tampa
que permita um fecho hermético e com capacidade suficiente para
recolher toda a urina de 24h.

Microbiologia

Frascos de Hemocultura (aeróbio, anaeróbio, pediátrico, Myco/F-


Lytic), tubo PORTAGEM, recipiente estéril para expectoração,
recipiente estéril/seringa de aspiração para secreções e lavados
broncoalveolares, contentores estéreis para urina e fezes, saco
colector pediátrico, tubo/seringa para doentes algaliados, tubo
estéril seco e zaragatoa em meio de transporte.

Página | 31
Endocrinologia

Tubos Salivette – tubos de tampa verde.

As amostras são avaliadas de modo a verificar se cumprem os critérios de


aceitação. Deles fazem parte amostras não identificadas, colhidas em tubo/material
inadequado, coaguladas, hemolisadas e com volume incorreto ou insuficiente. Alguns
incumprimentos levam à rejeição imediata por um ou mais critérios inviabilizarem o
correto processamento da amostra (ex. amostra colhida em tubo/material inadequado,
amostra coagulada), outros dependem das análises a efetuar (ex. um grau de hemólise
elevado é critério de rejeição quando se analisam analitos intracelulares) e da
possibilidade de se aplicarem ou não medidas corretivas ao incumprimento detetado.

Figura 1- Fluxograma do Processo de Triagem e Avaliação das Amostras.

A conservação das amostras quando necessária é efetuada na Central


Automática, de acordo com o esquema seguinte:

Página | 32
Sangue / EDTA: 2-8°C
Imunologia
Sangue / Heparina / Lítio: 2-8°C
Virologia Soro / Gel: 2-8°C
Endocrinologia Soro /Tubo seco: Temp.Ambiente
Hemato-Oncologia Urina: 2-8°C
Imunohemoterapia Produtos Respiratórios: 2-8°C
Líquidos Biológicos: 2-8°C

LCR: 37°C
Hemoculturas: Temp.Ambiente
Fezes: 2-8°C
Exsudados: Temp.Ambiente
Microbiologia Urina: 2-8°C
Produtos Respiratórios: 2-8°C
Líquidos Biológicos: 2-8°C
Ponta de Catéter: Temp.Ambiente
Pús: Temp.Ambiente

Figura 2- Diretrizes para a conservação de amostras entregues ao SPC.

5. VALÊNCIA DE BIOQUÍMICA

O estágio na valência de Bioquímica decorreu de 4 de Dezembro de 2013 a


28 de Fevereiro de 2014 (308h), no IPOLFG, sobre a coordenação da Dra Cidália
Vieira e da Dra Glória Meireles. Permitiu o conhecimento dos procedimentos que
envolvem a fase pré analítica, com maior relevo para a receção e triagem de
amostras, bem como a fase analítica, com a determinação de analitos nos diversos
fluidos biológicos do organismo humano e a fase pós analítica com a validação de
resultados como item principal. A Bioquímica é uma ciência cujo objeto de estudo
principal são as vias metabólicas do organismo humano e respetivas alterações
patológicas. Foram objetivos deste estágio a sua compreensão através do estudo do
metabolismo dos glúcidos, lípidos e lipoproteínas, proteínas e aminoácidos, ácidos
nucleicos e purinas, iões, equilíbrio ácido base, doseamento de drogas terapêuticas
e imunossupressoras, marcadores tumorais, cardíacos e de anemia e exame sumário
de urina, conteúdos abrangidos pela valência de Bioquímica.

Página | 33
5.1 O LABORATÓRIO DE BIOQUÍMICA

Parte integrante do SPC e localizado no Pavilhão de Medicina, o Laboratório de


Bioquímica tem como responsável a Dra Cidália Vieira. Como principais actividades,
para além das análises laboratoriais de rotina, salientam-se o doseamento de fármacos,
drogas imunossupressoras e de marcadores cardíacos, tumorais e de anemia. Para as
suas determinações utilizam diferentes fluidos biológicos, sendo o principal, o sangue
(maioritariamente soro mas também plasma e sangue total colhido em EDTA), e os
seguintes equipamentos: Architects® ci8200 da Abbott, Urisys® 2400 da Roche,
TDX/FLX® da Abbott, RapidPoint® 450 da Siemens e o ARKRAY® A.Menarini HA-
8160. Também são utilizados como amostra urina aleatória ou de 24h (para
determinação de clearance), Líquido Céfalo Raquidiano (LCR), líquido ascítico, líquido
pleural e mais raramente, líquido de quistos pancreáticos.

5.2 MÉTODOS DE ANÁLISE NO LABORATÓRIO DE BIOQUÍMICA

O Laboratório de Bioquímica está organizado em três setores, de acordo com a


metodologia utilizada e a natureza dos parâmetros efetuados: Análises rotineiras e
algumas mais especializadas, Gasometria e Urianálise.

5.2.1 Espectrofotometria

É uma técnica que utiliza a luz, uma forma de energia de natureza ondulatória,
caracterizada pelos diferentes comprimentos de onda. Parte da luz que interage com a
matéria é absorvida, enquanto a outra é transmitida. Um espectrofotómetro é um
aparelho que faz passar um feixe de luz monocromática através de uma solução, e assim
mede a quantidade de luz que foi absorvida (absorvância) por essa solução em
diferentes comprimentos de onda. Esta técnica laboratorial tem como base a Lei de
Lambert-Beer que relaciona a quantidade de luz absorvida com a concentração da
substância, permitindo a identificação e a quantificação da mesma.

5.2.2 Imunoturbidimetria

A turbidimetria é uma técnica que consiste na quantificação de analitos em


solução, por dispersão da luz, devido à diminuição da intensidade do feixe incidente
após a sua passagem através da solução. A imunoturbidimetria alia estas propriedades à
imunologia, mais concretamente à formação de imunocomplexos. A formação de

Página | 34
imunoprecipitados leva à diminuição do feixe de luz incidente que atravessa a solução,
devido à turvação no meio reacional.

O princípio base da turbidimetria tem paralelo com a espectrofotometria, em que


a quantidade de luz absorvida diminui devido à concentração de partículas em
suspensão. Um analisador químico comum consegue executar estas duas técnicas,
exemplo do Architect®, o aparelho principal do Laboratório de Bioquímica.

Imunoensaio Turbidimétrico Homogéneo do Tipo microparticle-enhanced


(PETINIA, do inglês, particle-enhanced turbidimetric inhibition immunoassay).

Este imunoensaio baseia-se no princípio da imunoturbidimetria, mas é utilizado


no doseamento de fármacos por serem moléculas de pequenas dimensões. Consiste
numa competição, relativamente aos locais de ligação ao anticorpo, entre o fármaco
presente na amostra e o fármaco revestido com micropartículas.

5.2.3 Potenciometria

A potenciometria mede a tensão ou o potencial que é gerado entre dois


eléctrodos numa célula electroquímica, quando a corrente atua. Compõem esta célula
um eléctrodo específico, para o ião a dosear (ex. Cl, K, Na), e um eléctrodo de
referência, de cloreto de prata. Um eléctrodo de iões seletivo é um sensor (ou um
transdutor), capaz de converter a actividade de um ião presente numa solução, em um
potencial eléctrico, que é posteriormente medido e traduzido em concentração. A
potenciometria indireta em sistema de análises clínicas determina a concentração de
iões e representa apenas uma estimativa da actividade ou da concentração molar livre.
Esta é a técnica de eleição para a determinação dos iões que compõem o ionograma (ião
cloro, sódio e potássio) e que no Laboratório de Bioquímica são doseados nos aparelhos
Architect® (no soro) e no RapidPoint® 450 (como parte integrante da gasometria). O
eléctrodo indicador utilizado é o eléctrodo seletivo de iões (ISE, do inglês, ion-selective
membrane electrode), constituído por uma membrana de vidro com permeabilidade
seletiva para os aniões, ou catiões, a analisar.

5.2.4 Amperometria

A amperometria é um método electroquímico para a determinação da


concentração de um analito em solução, através da aplicação de uma tensão fixa entre
dois eléctrodos, numa célula electroquímica, medindo a corrente que a atravessa, ou
seja, de acordo com a intensidade de corrente de electrólise. Esta depende, não só, do
potencial electrolítico, como também, da concentração das substâncias electroativas
presentes na solução. A proporcionalidade entre a velocidade com que o analito se

Página | 35
difunde em direção ao eléctrodo (velocidade limite ou de difusão), e a sua concentração
no seio da solução, fundamenta toda a análise amperométrica.

No Laboratório de Bioquímica, o princípio deste método está implementado no


aparelho RapidPoint® 450 da Siemens (gasimetria), com especificidade para a medição
da pO2.

5.2.5 Cromatografia de Troca Iónica

A cromatografia é um método físico-químico de separação que se fundamenta na


migração diferencial dos componentes de uma mistura. É formada por duas fases
imiscíveis: uma fase móvel e uma fase estacionária. O tipo de cada uma das fases
utilizadas dá o nome ao tipo de cromatografia. Assim, na cromatografia de troca iónica
a fase estacionária é representada por uma resina trocadora de iões, que interagem
electroquimicamente com os iões presentes na solução da fase móvel. A maior ou
menor afinidade para a resina, determina o tempo de retenção/separação de uma
substância, face à passagem de uma solução eluente, e esse tempo, determinará a
concentração da mesma.

No Laboratório de Bioquímica, o princípio deste método está implementado no


aparelho ADAMSTM HA – 8160, com uma especificidade para a substância a dosear, a
Hemoglobina Glicada. Essa especificidade, consiste em uma cromatografia de troca
catiónica em fase inversa, que confere maior sensibilidade, na separação da fração
pretendida, das outras hemoglobinas presentes na amostra.

5.2.6 Quimioluminescência

É um tipo de luminescência em que o evento de excitação é causado por uma


reação química. O evento físico da emissão de luz ocorre num único estado de excitação
em que a luz é emitida quando o electrão regressa de um nível energético superior ao
seu estado basal de energia. A excitação é causada por uma reação química que envolve
a oxidação de um composto orgânico por um agente oxidante. A reação ocorre na
presença de um catalisador, como as enzimas, iões metálicos ou complexos metálicos.

Figura 3 - Esquema do Método de Quimioluminescência.

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A quimioluminescência é um método ultra sensitivo, usado num vasto leque de
imunoensaios automatizados competitivos e não competitivos em sandwich, que
utilizam anticorpos ou antigénios ligados a um marcador luminescente. Os marcadores
quimioluminescentes, emitem luz quando combinados com um reagente trigger
(gatilho), sendo os derivados da acridina os mais usuais. Estes emitem grandes
quantidades de luz sendo mais fácil a sua medição, tornando o método mais sensível.

O equipamento Architect® usa uma versão patenteada da quimioluminescência


associada ao imunosaio, o ChemiFlex®. É um ensaio não competitivo em sandwich, em
que o sinal medido é diretamente proporcional à concentração de analito na amostra.

5.2.7 Imunoensaio de Fluorescência Polarizada – FPIA

O FPIA baseia-se em três conceitos no doseamento de analitos em imunoensaios


denominados homogéneos (que não necessitam de lavagem para remover o excesso de
anticorpo adicionado): fluorescência, rotação molecular em solução e luz polarizada.

A fluorescência ocorre quando uma molécula absorve luz a um determinado


comprimento de onda e emite essa mesma luz a um comprimento de onda maior. A luz
polarizada ocorre quando as suas ondas passam através de materiais cristalinos
(polarizadores) e os seus vetores eléctricos se orientam num único plano. Assim, os
fluoróforos (moléculas que fluorescem) absorvem luz num estado em que o seu
relaxamento rotacional é mais lento que o seu tempo de fluorescência, sendo a luz
fluorescente emitida polarizada.

A fluorescência polarizada é usada


para quantificar analitos pelo uso da
mudança na despolarização da fluorescência
seguida de reações imunológicas (Método
FPIA). A quantificação é obtida pela adição
de uma quantidade conhecida de uma
mólecula do analito, adicionada de um
fluorocromo, a uma solução reacional
contendo um anticorpo (Ac) específico. O
analito não marcado presente na amostra do
paciente, compete com o analito marcado
Figura 4- Esquema do Método FPIA.
para o Ac. Esta alteração na ligação do analito
com o fluoróforo marcado, causa alteração na fluorescência polarizada que é
inversamente proporcional à concentração do analito a determinar na amostra.

O FPIA é utilizado em Bioquímica para medições precisas e sensíveis de


pequenos analitos toxicológicos, como o doseamento de drogas terapêuticas, de que é
exemplo o Metotrexato, quantificado no aparelho TDX/FLX® no laboratório.

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5.3 METABOLISMO DOS HIDRATOS DE CARBONO

5.3.1 GLUCOSE

A glucose é a molécula mais importante do metabolismo dos hidratos de


carbono e é canalizada para as células como a principal fonte de energia. É regulada por
diferentes hormonas, como a insulina, o cortisol e o glucagon. Alterações no
metabolismo da glucose correspondem, na maioria dos casos, a uma hiperglicemia ou,
em menor extensão, a uma hipoglicemia. O doseamento da sua concentração no sangue
e na urina (glicosúria) é útil no diagnóstico de várias patologias metabólicas, sendo a
principal a Diabetes mellitus. A diminuição dos seus níveis no líquor é um dado
importante no diagnóstico das meningites bacterianas, tuberculosa e fúngica, nas quais
encontramos geralmente valores baixos a muito baixos. Já nas meningites virais, os
níveis variam de normais a discretamente baixos. Níveis elevados de glicose no LCR
não possuem significado clínico, refletindo aumento dos níveis da glicemia sistémica.
Acidentes de punção podem, ocasionalmente, causar aumento da glicose no LCR

DETERMINAÇÃO LABORATORIAL DA GLUCOSE

Amostras:

 Soro ou Plasma – colhido em jejum, pós-prandial ou a tempos


determinados após sobrecarga de Glucose.
 Urina - primeira da manhã colhida em jejum.
 LCR – devem ser colhidas amostras conjuntas, no mesmo momento,
de amostras de LCR e Sangue.

Método: Espectrofotometria.

Equipamento: ARCHITEC® ci8200 da Abbott.

5.3.2 HEMOGLOBINA GLICADA (HbA1c)

A hemoglobina A pode ser glicosilada no radical terminal de cada cadeia beta


(grupos amina livres da hemoglobina dos eritrócitos). Esta glicosilação depende apenas
da quantidade de glicose livre em circulação no sangue e do tempo de semi vida dos
eritrócitos. Forma-se continuamente, de uma forma lenta, irreversível e estável durante a

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vida média de um eritrócito (cerca de 120dias). É constituída por três frações: HbA1a,
HbA1b, HbA1c. Sendo a fração HbA1c a fração maioritária, é nela que reside o
interesse laboratorial, para avaliação do grau de controlo glicémico.

DETERMINAÇÃO LABORATORIAL DA HBA1C

Amostra: sangue total (K3EDTA como anticoagulante – tubo de hemograma). A sua


obtenção não é condicionada pela ingestão de alimentos. Na rotina laboratorial do IPO,
a sua determinação é realizada uma vez na semana à quarta-feira.

Método de determinação laboratorial: Cromatografia por Troca Catiónica em Fase


Reversa.

Equipamento: ADAMSTM HA – 8160 da A. Menarini Diagnósticos.

5.4 METABOLISMO DOS LÍPIDOS E LIPOPROTEÍNAS

O interesse no doseamento dos lípidos e das lipoproteínas baseia-se no facto de


poderem ser indicativos de risco de doença cardiovascular. Alguns dos analitos que
constituem o perfil lipídico de risco podem estar aumentados noutras doenças, como no
hipotiroidismo, na diabetes ou em patologias renais.

5.4.1 COLESTEROL TOTAL

É um lípido sintetizado pelo fígado usado para a produção de hormonas


esteróides e como constituinte das paredes celulares. Quando elevado, é preditivo de
risco cardiovascular. O seu doseamento é importante para o diagnóstico e classificação
das hiperlipoproteinémias. A sua quantificação pode ainda ser utilizada como indicador
da função hepática, da função biliar, da absorção intestinal e do funcionamento da
tiróide. Fatores como o stress, a idade, o sexo, o equilíbrio hormonal e a gravidez
afetam os níveis normais de colesterol.

5.4.2 TRIGLICÉRIDOS

São uma família de lípidos que podem ser absorvidos a partir da dieta (via
exógena), ou produzidos no fígado por via endógena, a partir de hidratos de carbono e
ácidos gordos. São a forma química dos ácidos gordos para transporte e armazenamento
no tecido adiposo. A quantificação dos triglicéridos é importante no diagnóstico e

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tratamento das hiperlipidémias e constituem um factor de risco independente para o
desenvolvimento da aterosclerose.

5.4.3 LIPOPROTEÍNAS

As lipoproteínas plasmáticas são partículas esféricas que contêm quantidades


variáveis de colesterol, triglicéridos, fosfolípidos e proteínas. As proporções relativas de
proteínas e lípidos determinam a densidade destas lipoproteínas e fornecem uma base
para a sua classificação: os quilomicrons, as lipoproteínas de muito baixa densidade
(VLDL, do inglês, very-low-density lipoprotein), as lipoproteínas de baixa densidade
(LDL, do inglês, low-density lipoprotein) e as lipoproteínas de alta densidade (HDL, do
inglês, high-density lipoprotein). Diversos estudos clínicos demonstraram que as
diferentes classes de lipoproteínas têm efeitos distintos e variados no risco de
desenvolvimento de doenças cardiovasculares.

COLESTEROL DAS HDL (LIPOPROTEINAS DE ALTA DENSIDADE)

A principal função das HDL, no metabolismo


lipídico, é a captura e transporte de colesterol dos
tecidos periféricos para o fígado, através de um
processo conhecido como transporte reverso do
colesterol. Elevados valores deste parâmetro estão
relacionados com efeito cardioprotetor arterial. A
relação colesterol total / colesterol HDL é um
biomarcador de risco cardiovascular.
Figura 5 - Estrutura das HDL.

COLESTEROL DAS LDL (LIPOPROTEINAS DE BAIXA DENSIDADE)

As LDL transportam o colesterol do fígado para


os tecidos periféricos. Contribuem para a formação de
placas ateromatosas nas paredes dos vasos gerando a
aterosclerose.
Figura 6 - Constituição das LDL.

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DETERMINAÇÃO LABORATORIAL DOS LÍPIDOS E LIPOPROTEÍNAS

Amostras: Soro ou Plasma – colhida em jejum (preferencialmente de 8-12h).

Método: Espectrofotometria.

Equipamento: ARCHITEC® ci8200 da Abbott.

5.5 METABOLISMO DAS PROTEÍNAS E AMINOÁCIDOS

5.5.1 PROTEINAS TOTAIS

As proteínas que são o foco da análise clínica laboratorial são as que circulam na
corrente sanguínea. Nestas incluem-se as proteínas plasmáticas, proteínas de transporte,
de defesa e de coagulação. O doseamento das proteínas totais compreende a
quantificação dessas proteínas no sangue (proteínas séricas), na urina (proteinúria) e no
líquor, com maior relevância para a albumina e as imunoglobulinas, que representam a
maior porção desse valor.

O valor das proteínas totais séricas pode sofrer variações por alteração de uma
ou mais proteínas específicas ou por alterações do volume de água no plasma. As
alterações nos níveis de proteínas totais apresentam uma correlação clínica variada e o
interesse da sua determinação é, essencialmente, o uso como teste de screening para
avaliar se os níveis proteicos estão de acordo com o esperado.

DETERMINAÇÃO LABORATORIAL DAS PROTEÍNAS TOTAIS

Amostras: Soro ou Plasma.

Método: Espectrofotometria.

Equipamento: ARCHITEC® ci8200 da Abbott.

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5.5.2 PROTEÍNAS TOTAIS NA URINA E LÍQUIDO CEFALORRAQUIDIANO

PROTEINÚRIA

Proteinúria é o termo aplicado à eleminação excessiva de proteínas através da


urina. Do ponto de vista laboratorial, a proteinúria é definida como a concentração de
proteínas na urina de 24h superior a 150 mg/dia ou um rácio albumina/creatinina da
primeira urina do dia superior a 300 mg/dia.

A proteinúria é um achado laboratorial comum a várias doenças renais: doenças


glomerulares, excesso de proteínas no sangue e incapacidade de reabsorção apropriada
ao nível do túbulo contornado proximal do nefrónio. Assim sendo, a proteinúria é
solicitada ao Laboratório de Bioquímica com os seguintes objetivos: triagem de
indivíduos em risco (sobretudo doentes com mielomas e diabéticos), avaliação da
função renal e monitorização de fármacos nefrotóxicos.

PROTEÍNAS NO LCR

O LCR é um fluido pobre em proteínas sendo que a maior parte é proveniente do


plasma. A sua composição é controlada pela barreira hematoencefálica (BHE), pelo que
alterações a este nível traduz comprometimento da permeabilidade da mesma e/ou
produção intratecal de imunoglobulinas. A presença de proteínas no líquor é preditivo
de doenças do sistema nervoso central, como sejam, tumores e infecções.

DETERMINAÇÃO LABORATORIAL DAS PROTEÍNAS TOTAIS NA URINA E LCR

Amostras: Urina (preferencialmente de 24h) e LCR

Método: Turbidimetria.

Equipamento: ARCHITEC® ci8200 da Abbott.

5.5.3 ALBUMINA

A Albumina é a proteína mais abundante do plasma (40-60%) e a principal


proteína de ligação e de transporte para um vasto leque de substâncias no sangue. É
muito importante como tampão, na manutenção do pH sanguíneo em níveis fisiológicos,
e na manutenção da viscosidade e da pressão oncótica do plasma. Tem um tempo de

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semi-vida de cerca de 15-19 dias, pelo que alterações à sua síntese traduzem-se em
modificações lentas nos seus níveis séricos.

A determinação sérica da Albumina é clinicamente significativa na avaliação da


síntese proteica no fígado, da função renal, da integridade da BHE, da pressão oncótica
e do estado nutricional de um individuo, pelo que a sua solicitação laboratorial nos
diversos fluidos biológicos (sobretudo sangue e urina) é rotineira. É uma proteína com
relativo peso molecular que normalmente só passa em pequenas quantidades para a
urina (<30mg/24h), pelo que a albuminúria é um marcador de lesão glomerular. No
LCR, conjuntamente com a determinação do quociente albumínico LCR/soro, é um
importante indicador da integridade da BHE e da possível síntese intratecal de
imunoglobulinas. Nos líquidos ascítico e pleural permite a distinção de um exsudado de
um transudado.

DETERMINAÇÃO LABORATORIAL DA ALBUMINA SÉRICA

Amostras: Soro e Plasma (Heparina de litio e de sódio)

Método: Espectrofotometria visível – Complexo corado Albumina-Verde de


Bromocresol.

Equipamento: ARCHITEC® ci8200 da Abbott.

5.5.4 IMUNOGLOBULINAS

As imunoglobulinas (Ig) são glicoproteínas encontradas no soro que são


produzidas na medula óssea pelos linfócitos B / plasmócitos, quando estes são
estimulados por um determinado antigénio. As Ig reconhecem estruturas antigénicas
específicas sobre proteínas, vírus ou bactérias, ligam-se a estes e despoletam uma série
de reações, que constituem a resposta imune, projetada para desativar e destruir o
antigénio.

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Tabela 1- Resumo das características das imunoglobulinas séricas.

Classe Cadeia
Descrição
Ig Pesada

Associada ao componente secretor. Encontra-se na saliva,


lágrimas, secreções do trato respiratório e digestivo prevenindo
IgA Alfa (α)
a sua colonização por patogenios. Existe sob duas formas
moleculares diferentes, IgA1 no soro e IgA2 nas secreções.

É a imunoglobulina que se encontra em maior concentração no


soro humano normal (75-80%). Possui 4 subclasses. Integra a
IgG Gama (γ) resposta imunitária secundária. Eficiente no combate a toxinas
e vírus intervindo em reacções de precipitação. Atravessa a
placenta (IgG1) conferindo imunidade ao feto.

É a segunda imunoglobulina a aparecer na superfície das


IgD Delta (δ) células B naïve. Papel chave na iniciação precoce da resposta
das células B imunocompetentes através da sua ativação.

Participa em reações de hipersensibilidade imediata (alergias)


IgE Epsilon (ε) por estimulação da produção de histamina. É o escudo contra
parasitoses.

Estrutura Pentamérica. É a primeira a ser expressa na superfície


dos linfócitos B imaturos estando associada à função de recetor
IgM Mu (μ) do antigénio na sua superfície. Responsável pela resposta
imunitária primária. Efetiva contra bactérias. Propriedades
aglutinantes.

DETERMINAÇÃO LABORATORIAL DAS IMUNOGLOBULINAS

Amostras: Soro, Plasma.

Método: Imunoturbidimetria

No Laboratório de Bioquímica, é efectuado apenas o doseamento das imunoglobulinas


séricas pertencentes às classes IgA, IgG e IgM.

Equipamento: ARCHITEC® ci8200 da Abbott.

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5.5.5 Β2-MICROGLOBULINA

A β2-microglobulina (β2M) é um constituinte da cadeia leve dos antigénios


leucocitários de classe I (HLA, do inglês, Human Leukocyte Antigen – Complexo Major
de Histocompatibilidade). Como resultado do metabolismo e degradação de HLA, a
β2M aparece na sua forma livre e pode ser encontrada em baixa concentração no soro,
urina e outros fluídos biológicos. A β2M livre é eliminada do organismo por filtração
glomerular, seguida de reabsorção tubular e degradação. Os níveis séricos de β2M são
frequentemente elevados em pacientes com uma variedade de desordens
linfoproliferativas e inflamatórias. É útil na diferenciação entre patologias renais
glomerulares e tubulares.

DETERMINAÇÃO LABORATORIAL DA Β2-MICROGLOBULINA

Amostras: Soro, Plasma (Heparina de sódio e EDTA) e Urina.

Método: Imunoturbidimetria.

Equipamento: ARCHITEC® ci8200 da Abbott.

5.6 MARCADORES DA FUNÇÃO HEPATOBILIAR

A função hepatobiliar é extensamente abordada na segunda parte deste trabalho


(Monografia), pelo que neste capítulo, referem-se apenas os aspetos laboratoriais
seguidos de um breve resumo das características destes marcadores.

5.6.1 AMINOTRANSFERASES HEPÁTICAS: AST e ALT

DETERMINAÇÃO LABORATORIAL DAS TRANSAMINASES

Amostras: Soro, Plasma (não utilizar heparina de amónio).

Método: Espectrofotometria UV – oxidação NADH a NAD

Equipamento: ARCHITEC® ci8200 da Abbott.

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5.6.2 GAMA GLUTAMIL TRANSFERASE (γGT)

DETERMINAÇÃO LABORATORIAL DA ΓGT

Amostras: Soro, Plasma.

Método: Espectrofotometria

Equipamento: ARCHITEC® ci8200 da Abbott.

5.6.3 FOSFATASE ALCALINA (ALP)

DETERMINAÇÃO LABORATORIAL DA ALP

Amostras: Soro, Plasma (Heparina de Lítio e de Sódio).

Método: Espectrofotometria Visível – p-nitrofenil fosfato (incolor) é hidrolisado pela


ALP a p-nitrofenol (amarelo) e fosfato inorgânico.

Equipamento: ARCHITEC® ci8200 da Abbott.

5.6.4 BILIRRUBINA TOTAL, DIRETA E INDIRETA

DETERMINAÇÃO LABORATORIAL DAS BILIRRUBINAS

Amostras: Soro, Plasma (Heparina de Lítio, de Sódio e EDTA).

Método: Espectrofotometria Visível – Reação Diazo.

Equipamento: ARCHITEC® ci8200 da Abbott.

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Tabela 2- Resumo da aplicação e significado clínico dos principais analitos envolvidas na avaliação da função
hepatobiliar.

Parâmetro Descrição Significado Clínico

↑ – Patologias Hepáticas, Enfarte do


AST Avaliação da doença hepática.
Miocárdio, Trauma.

Avaliação da doença hepática


ALT (indicador mais específico do que ↑ – Hepatite, Cirrose, Mononucleose.
a AST).

Avaliação de dano ou doença ↑ – Obstrução Biliar (icterícia obstrutiva),


γGT hepática (indicador sensível de Alcoolismo; Hepatite Infecciosa (aumentos
doença hepatobiliar). moderados).

↑ – Patologias Hepáticas e Ósseas; durante


o crescimento (devido à actividade
Avaliação de doenças ósseas e osteoblástica);
ALP
hepáticas.
↓ – Hipotiroidismo, Hipofosfatemia,
Anemia Perniciosa.

Testar a capacidade do fígado ↑ – Obstrução Hepática, Cirrose, Hepatite,


Bilirrubina
para conjugar a bilirrubina e algumas doenças hereditárias (ex. síndrome
Direta
excretá-la. de Dubin-Johnson).

Bilirrubina
↑ – Hepatite, Cirrose, Doenças
Avaliação da função hepática. Hemolíticas, Obstrução Hepática.
Total

5.7 MARCADORES DA FUNÇÃO PANCREÁTICA

5.7.1 AMILASE

A ɑ-amilase é uma hidrolase produzida e secretada pelo pâncreas e glândulas


salivares, responsável pela digestão dos amidos. O seu doseamento é importante para o
diagnóstico da pancreatite (inflamação do pâncreas) e tumores pancreáticos, situações
patológicas onde os valores séricos e urinários da enzima se encontram elevados. Estão
também associados a síndromes abdominais dolorosos sem lesão pancreática, pelo que a
amilase, apesar de sensível, não é um teste específico de doença pancreática. O seu
significado clínico adquire maior relevância em conjunto com a determinação sérica da

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Lipase. Níveis diminuídos de Amilase sérica podem ocorrer em algumas doenças
hepáticas.

5.7.2 LIPASE

É uma enzima digestiva secretada pelo pâncreas e glândulas salivares


responsável pelo processamento dos triglicéridos. O seu doseamento é importante para
o diagnóstico da pancreatite aguda ou crónica, tumores pancreáticos e outras patologias
do pâncreas acompanhadas de cálculos biliares, onde esta enzima se encontra
normalmente elevada.

DETERMINAÇÃO LABORATORIAL DA AMILASE E DA LIPASE

Amostras: Soro, Plasma (amostras colhidas em jejum) e Urina.

Método: Espectrofotometria

Equipamento: ARCHITEC® ci8200 da Abbott.

5.8 MARCADORES DA FUNÇÃO RENAL

Os rins desempenham um papel central nos mecanismos homeostáticos do


organismo através da filtração, reabsorção e excreção de vários metabolitos. Uma
diminuição da função renal está fortemente relacionada com o aumento da morbilidade
e da mortalidade por acúmulo de toxinas e produtos de catabolismo no sangue, como
por exemplo, creatinina e ureia (ureia nitrogénio BUN); e por perda de substâncias
importantes que normalmente são reabsorvidas como a albumina.

O processo de filtração renal tem lugar em regiões estruturais, os glomérulos, e a


filtração é frequentemente avaliada, por um conceito chamado taxa de filtração
glomerular ou GFR (do inglês, Glomerular Filtration Rate). A GFR é expressa como o
volume de sangue plasmático do qual é removido uma substância específica a cada
minuto. Diferentes substâncias podem ser usadas para este propósito, mas a mais
comum é a creatinina.

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5.8.1 CREATININA

A creatinina é o produto final da eliminação da creatina, uma proteína que


resulta do catabolismo muscular. É eliminada pelo rim e o seu doseamento pode ser
efetuado no sangue ou na urina. A quantificação da creatinina sérica é utilizada no
diagnóstico e monitorização da doença renal aguda e crónica, na determinação da GFR
ou para avaliar a função renal dos pacientes submetidos a diálise. A análise da
creatinina na urina é utilizada para calcular a clearance da creatinina:

Cálculo da clearance da creatinina e expressão dos resultados:

CL (mL/min) = (CrUrina / CrSoro) x (Vol. (mL) / 1440 min.)


Clearance da Creatinina (mL/min/1.73m2)

DETERMINAÇÃO LABORATORIAL DA CREATININA

Amostras: Soro, Plasma e Urina (de 24h).

Método: Espectrofotometria Visível – Formação do complexo Creatinina-Picrato a pH


alcalino.

Equipamento: ARCHITEC® ci8200 da Abbott.

5.8.2 UREIA

A Ureia é o produto final do catabolismo das proteínas, utilizada para o


diagnóstico de determinadas patologias renais e metabólicas. É formada no fígado e
excretada pelo rim. O seu doseamento tem interesse quando acompanhado com o da
creatinina para avaliar a função renal, para diagnóstico diferencial da hiperuremia e para
a monitorização de doentes em diálise. A hiperuremia pode ser de origem:

 Pré-renal (descompensação cardíaca, depleção hídrica, aumento do


catabolismo de proteínas);
 Renal (glomerulonefrite, nefrite crónica, rim policístico, nefrosclerose,
nefrose tubular);
 Pós-renal (obstruções do tracto urinário).

A Ureia sérica aumenta na disfunção renal, stress e na dieta rica em proteínas; e diminui
na doença hepática e na dieta pobre em proteínas.

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DETERMINAÇÃO LABORATORIAL DA UREIA

Amostras: Soro e Plasma.

Método: Espectrofotometria.

Equipamento: ARCHITEC® ci8200 da Abbott.

5.9 METABOLISMO DOS ÁCIDOS NUCLEÍCOS E PURINAS

As purinas são compostos orgânicos heterocíclicos nitrogenados, utilizadas na


síntese dos ácidos nucleicos. São também componentes importantes de várias
biomoléculas essenciais ao organismo, como o ATP (armazenamento de energia), GTP
(substrato para a síntese do RNA durante o processo de transcrição), AMPc (molécula
responsável pela transdução de sinais na célula), NADH (transportador de eletrões nas
reações bioquímicas a nível celular), e Coenzima A (síntese e oxidação de ácidos
gordos, descarboxilação oxidativa do ácido pirúvico anterior ao ciclo de Krebs).

A síntese de purinas ocorre por duas vias:

 “Síntese de Novo” – sintetizadas por ligação à ribose-5-fosfato dos seus precursores


metabólicos (aminoácidos, dióxido de carbono). Via altamente regulada pelo AMP
(Adenosina-5-monofosfato) e GMP (Guanosina-5-monofosfato), produtos finais da
via, que inibem alostericamente a enzima crucial do processo (a glutamina PRPP
amino transferase).

 “Vía de Recuperação” – reciclagem dos produtos de degradação dos ácidos


nucleicos.

A degradação dos ácidos nucleicos, e consequentemente, dos nucleótidos


contendo purinas, ocorre principalmente no fígado, sendo o seu produto final o Ácido
Úrico. Defeitos e/ou alterações na regulação da síntese das purinas, resulta numa
sobreprodução de purinas, originando a hiperuricemia (elevação sérica do Ácido Úrico).

5.9.1 ÁCIDO ÚRICO

É o produto final do catabolismo das purinas, sendo eliminado maioritariamente


pelo rim. Níveis elevados podem levar ao depósito de cristais de urato nas articulações
(patologia denominada de gota) ou nos rins (cálculos renais). O seu doseamento é

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requerido para avaliar a inflamação articular e para monitorizar a sua produção nos
pacientes sujeitos a diálise e a tratamentos radiológicos ou de quimioterapia.

DETERMINAÇÃO LABORATORIAL DO ÁCIDO ÚRICO

Amostras: Soro, Plasma e Urina.

Método: Espectrofotometria Visível - Uricase.

Equipamento: ARCHITEC® ci8200 da Abbott.

5.10 METABOLISMO DO FERRO

5.10.1 FERRO

O ferro representa o metal de transição mais importante e abundante do


organismo humano. É obtido de duas fontes principais: dieta e reciclagem de hemácias
senescentes. É essencial à síntese de hemoglobina e mioglobina, além de estar presente
em várias reações bioquímicas do metabolismo, sendo vital para a homeostase celular. É
crucial para o transporte de oxigénio, para a síntese de DNA e um cofator importante
para enzimas da cadeia respiratória mitocondrial e na fixação do nitrogénio.

É necessário um perfeito equilíbrio no metabolismo do ferro. Essa homeostase,


regulada a nível sistémico ou intracelular, possibilita a manutenção das funções
celulares essenciais e, ao mesmo tempo, evita possíveis danos tecidulares. A Anemia
Ferropénica (carência de ferro) tem por base: má absorção do ferro (doença
gastrointestinal), hemorragia prolongada, hematúria, e gravidez. Por sua vez, o ferro
excedente fica armazenado nas células reticuloendoteliais do fígado, baço e medula
óssea, nas formas de ferritina e hemossiderina. Quando as reservas ficam saturadas, o
ferro em excesso tende a depositar-se nos órgãos, resultando numa patologia
progressivamente grave, de efeitos cumulativos, denominada de Hemocromatose. Esta
é, predominantemente, secundária a outras patologias: Anemia Megaloblástica, Anemia
Hemolítica Crónica; e à sobrecarga de ferro: por transfusões sanguíneas frequentes e
hemodiálise prolongada.

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DETERMINAÇÃO LABORATORIAL DO FERRO

Amostras: Soro ou Plasma (sais de Heparina). Amostra coletada em jejum e


preferencialmente pela manhã, pois sofre variação circadiana.
pH = 4,8
Método: Espectrofotometria Visível – Ferene S + Ferro complexo corado

Equipamento: ARCHITEC® ci8200 da Abbott.

5.10.2 TRANSFERRINA

Transferrina ou siderofilina é a designação dada ao complexo Apotransferrina-


3+
Fe . É uma glicoproteína responsável pelo transporte do ferro no plasma para os
diferentes compartimentos. Também é encontrada no citosol de várias células,
envolvendo-se no transporte intracelular do ferro. A sua requisição ao laboratorio visa a
avaliação do status de ferro e do estado nutricional do indivíduo. É útil no diagnóstico
diferencial da anemia. Os seus níveis séricos estão aumentados na Anemia Ferropénica
e diminuídos na Patologia Hepática Crónica, no Síndrome Nefrótico e no excesso de
ferro devido a transfusões múltiplas ou Hemocromatose.

DETERMINAÇÃO LABORATORIAL DA TRANSFERRINA

Amostras: Soro ou Plasma (Heparina de lítio, de sódio e EDTA).

Método: Imunoturbidimetria

Equipamento: ARCHITEC® ci8200 da Abbott.

5.10.3 UIBC

A Capacidade Latente de Fixação do Ferro (UIBC, do inglês, Unsaturated Iron


Binding Capacity), é a máxima concentração de ferro que a Transferrina consegue ligar.
A capacidade de fixação do ferro é pedida com maior frequência junto com a dosagem
de ferro, para avaliar indivíduos com suspeita de deficiência ou de sobrecarga desse
metal. Os dois exames são usados para calcular a saturação da transferrina, um
indicador mais útil que o ferro e a UIBC isolados.

100 X Ferro sérico


Saturação da Transferrina (%) = UIBC
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5.11 MARCADORES DE ANEMIA

5.11.1 FERRITINA

A função primária da ferritina é de acumular o ferro intracelular, protegendo a


célula dos efeitos tóxicos do metal livre, constituindo uma reserva de ferro rapidamente
mobilizável. É uma proteína globular de fase aguda, produzida no fígado e distribuída
por inúmeras células, com maior ênfase para o fígado, baço e medula óssea. A sua
concentração no plasma encontra-se em equilibro com as reservas corporais e, a
variação na quantidade de ferro nos compartimentos de reserva, reflete-se na
concentração plasmática da proteína. A ferritina é o mais sensível e fiável marcador de
anemia por falta de ferro.

A ferritina encontra-se aumentada quando: há excesso de ferro (múltiplas


transfusões), doenças inflamatórias crónicas (artrite reumatóide e doença renal), lesão
hepática e em numerosas malignidades, especialmente linfomas, leucemias, cancro da
mama e neuroblastoma; e está diminuída na deficiência em ferro. O doseamento da
ferritina visa sobretudo a avaliação da quantidade de ferro armazenada, mas no IPO,
constitui também, um meio de avaliar a atividade da doença maligna.

DETERMINAÇÃO LABORATORIAL DA FERRITINA.

Amostras: Soro ou Plasma (Heparina de lítio e EDTA-3K).

Método: Quimioluminescência (CMIA).

Equipamento: ARCHITEC® ci8200 da Abbott.

5.11.2 FOLATOS e VITAMINA B12

Os folatos pertencem ao complexo das vitaminas B e designam simultaneamente


o ácido fólico e os sais (os folatos). As coenzimas dos folatos são essenciais para a
transferência de unidades de carbono, para a síntese, reparação e funcionamento do
DNA e RNA. A sua necessidade aumenta especialmente durante os períodos de
crescimento rápido, onde a divisão celular é intensa, como na infância e gravidez
(importante para o normal desenvolvimento do feto, pois a sua deficiência pode causar
defeitos no tubo neural).

A Vitamina B12 ou Cianocobalamina é uma vitamina hematopoiética


hidrossolúvel necessária à maturação dos eritrócitos. É composta por um anel

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tetrapirrólico que rodeia átomos de cobalto e por uma cadeia lateral nucleotídica ligada
ao cobalto. Tem uma função importante a nível neuronal. Na sua ausência, não ocorre a
transformação da Metil-malonil CoA em Succinil CoA, havendo uma acumulação
anormal de lípidos no sistema nervoso.

Estas duas vitaminas, absorvidas da dieta alimentar e armazenadas no fígado sob


a forma de reservas, são cruciais para a normal formação dos glóbulos vermelhos. Se
alguma ou as duas estiverem diminuídas, os eritrócitos não serão produzidos e
desenvolver-se-á Anemia Megaloblástica e desordens neurológicas. Algumas causas
para níveis séricos diminuídos incluem patologias absortivas, como a Doença Celíaca
ou a falta de fator intrínseco, uma proteína que promove a absorção da vitamina B12 no
intestino. Assim, a deficiência nestas vitaminas pode ser um indicativo de patologia
autoimune ou outras desordens intestinais. Os níveis de folato também são
influenciados por algumas drogas, como por exemplo, metotrexato, ácido valpróico,
fenobarbital, fenitoína, entre outras.

DETERMINAÇÃO LABORATORIAL DOS FOLATOS E VITAMINA B12.

Amostras: Soro (Preferencialmente – a heparina tem a habilidade para se ligar à


vitamina B12) ou Plasma (Heparina de lítio). Os folatos também podem ser doseados
em sangue total. Amostra coletada em jejum.

Método: Quimioluminescência (CMIA).

Equipamento: ARCHITEC® ci8200 da Abbott.

5.12 MARCADORES DE INFLAMAÇÃO

5.12.1 PCR – Proteína C Reativa

A PCR é uma proteína de fase aguda, sintetizada no fígado, que se eleva no soro
em resposta à inflamação. A sua função fisiológica é ligar-se à fosfocolina expressa na
superfície de células mortas ou lesionadas (e alguns tipos de bactérias), para iniciar a
sua eliminação, através da ativação do sistema do complemento e células fagocitárias,
funcionando como uma opsonina. É um indicador extremamente sensível de
inflamação, apesar de ser pouco específico.

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DETERMINAÇÃO LABORATORIAL DA PCR

Amostras: Soro e Plasma.

Método: Imunoturbidimetria.

Equipamento: ARCHITEC® ci8200 da Abbott.

5.13 MARCADORES DE LESÃO MUSCULAR

5.13.1 LACTATO DESIDROGENASE

A Lactato Desidrogenase (LDH) é uma enzima chave do metabolismo dos


glúcidos que pode ser encontrada na maioria dos principais tecidos, como o coração,
pulmão, fígado, rim e músculo esquelético. Em aerobiose, transforma o lactato em
piruvato que será em seguida utilizado na gliconeogénese. Em anaerobiose, intervém no
final da degradação da glicose em lactato, libertando energia sob a forma de ATP.
Existe em cinco isoformas, numeradas de LDH-1 a LDH-5 consoante os tecidos onde
predomina. O seu valor sérico reflete o grau de lesão, mas individualmente, não
identifica a causa ou a localização da mesma.

DETERMINAÇÃO LABORATORIAL DA LACTATO DESIDROGENASE

Amostras: Soro e Plasma.

Método: Espectrofotometria.

Equipamento: ARCHITEC® ci8200 da Abbott.

5.13.2 CREATINA QUINASE

A creatina quinase (CK, do inglês, Creatine Kinase) é um enzima que intervem


no aporte de energia aos músculos estriados. Encontra-se principalmente nos músculos
esqueléticos, no músculo cardíaco e no cérebro. A CK é um dímero cujas subunidades
M (músculo), B (cérebro) estão na origem de três isoenzimas: CK-MM (músculo
esquelético), CK-BB (cérebro) e CK-MB (miocárdio). A actividade da CK é maior no

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músculo estriado e no coração, relativamente aos outros tecidos, como o cérebro, pelo
que a sua determinação é um indicador importante de dano muscular ou cardíaco. O
aumento dos valores séricos de CK pode ser fisiológico, aumentando na sequência da
prática de exercício físico intenso, ou ocorrer em vários tipos de patologias que causem
distrofia muscular, como a Distrofia de Duchenne, a Miosite ou a Poliomiosite.

DETERMINAÇÃO LABORATORIAL DA CREATINA QUINASE

Amostras: Soro e Plasma (heparina de lítio e de sódio). Recomenda-se colheita em


jejum, salvo em casos de urgência. Antes da colheita devem evitar-se, se possível,
esforços físicos, actividades desportivas, injeções intramusculares e biópsias
musculares. Considerar o grau de hemólise, que quando moderado a elevado, pode
libertar ATP e glucose-6-fosfato, interferindo na quantificação da CK.

Método: Espectrofotometria UV. A técnica utiliza a N-acetil-L-cisteína (NAC) sob a


forma de reactivador enzimático e recorre às propriedades enzimáticas da CK
(catalisação da transferência de grupos fosfato para o ADP, a partir da creatina fosfato).

Equipamento: ARCHITEC® ci8200 da Abbott.

5.14 MARCADORES CARDÍACOS

Os marcadores cardíacos são proteínas libertadas na circulação pelo músculo


cardíaco danificado. Atualmente, os testes bioquímicos são parte da rotina de
investigação para diagnóstico diferencial de lesão cardíaca, por critérios definidos pela
Organização Mundial de Saúde (OMS). Estes são solicitados na presença de um quadro
sintomatológico, que inclui a dor no peito, pressão, náuseas e/ou respiração insuficiente,
para ajudar a detetar, diferenciar e avaliar o grau de gravidade de Síndrome Cardíaco
Agudo (SCA). O SCA é causado por uma diminuição repentina na quantidade de
sangue e oxigénio que chegam ao coração. Esta diminuição deve-se normalmente ao
forte estreitamento das artérias coronárias (diminuição do seu lúmen) ou ao bloqueio do
fluxo sanguíneo nas mesmas. Pode causar angina (dores no peito) ou quando o fluxo
sanguíneo para o coração é significativamente reduzido, morte das células cardíacas,
provocando um enfarte agudo do miocárdio (EAM). Os biomarcadores disponíveis
laboratorialmente para doseamento, dividem-se em dois grupos:

1) Marcadores cardíacos que ajudam a diagnosticar, avaliar e controlar pacientes com


suspeita de SCA - CK e, especialmente, a CK – MB; Troponina I e T; Mioglobina.
2) Marcadores que avaliam o risco de problemas cardíacos (prognóstico) - Péptido
Natriurético Humano Tipo B (BNP); PCR.

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Tabela 3- Principais características dos marcadores cardíacos doseados no Laboratório de Bioquímica.

VARIAÇÃO
MARCADOR DEFINIÇÃO / ESPECIFICIDADE
NÍVEIS PRESCRIÇÃO
CARDIACO LOCALIZAÇÃO CARDÍACA
SÉRICOS

- ↑ 4h a 6h após
-Enzima
lesão.
citoplasmática
envolvida no
- Eleva-se em situações de - Pico sérico nas
armazenamento de Solicitada em
lesão muscular 18h-24h após
CK energia nos tecidos. conjunto com a CK-
lesão.
MB
- Baixa especificidade
- Encontrada em
- Normaliza 48-
tecidos de alto
72h se lesão não
consumo de energia.
persistir.

- Dosagens seriadas
- Eleva-se com maior - ↑ 4h a 6h após
- Isoenzima da CK. aumentam a
intensidade em situações lesão.
sensibilidade para o
- Maioritariamente de lesão cardíaca, e em
diagnóstico de
menor, nas lesões - Pico sérico 12-
localizada no coração. enfarto agudo do
musculares esqueléticas. 20h após lesão
Envolvida no miocárdio.
CK-MB
metabolismo do tecido - Normaliza 24-
- Pode sofrer elevação
muscular cardíaco. - Solicitada em
importante em caso de 48h se lesão não
conjunto com a CK
desfibrilação. persistir e/ou se
-Também presente no para diferenciação
não surgirem
músculo esquelético entre lesão cardíaca e
- Boa especificidade novas réplicas.
muscular esquelética.

- Proteína que - Marcador cardíaco


pertence ao complexo mais importante.
- ↑ 4h a 8h após
do aparelho contrátil
lesão cardíaca. - Útil ao diagnóstico
miofibrilar múscular. - Deriva exclusivamente da
lesão do músculo cardíaco, do enfarto agudo do
- Pico sérico nas
- Liga-se à actina e após destruição da miocárdio.
TROPONINA 12-20h após
inibe as interações membrana do miócito.
I entre a actina e as
lesão. - Permite um
cabeças da miosina na - Elevada sensibilidade e diagnóstico
- Normaliza 5 a
contração muscular. especificidade. retrospetivo, pelo
10 dias após
tempo que leva a
lesão.
- Isoforma cardíaca normalizar os seus
especifica do coração. níveis séricos.

- É libertada do ventrículo
- Útil ao diagnóstico,
esquerdo do coração.
avaliação e
Idicativa de lesão ou
prognóstico da
- É sintetizado como sobrecarga do ventrículo
insuficiência
BNP uma pró-hormona, esquerdo. Aumenta na
cardíaca; e na
ProBNP insuficiência cardíaca.
monitorização do
tratamento da
- Alta sensibilidade e
mesma.
especificidade.

- É uma proteína - É libertada na corrente - Pode ser útil como


usada principalmente sanguínea se lesão, infeção preditivo de uma
PCR
como biomarcador da ou inflamação. Pouca nova réplica após um
inflamação. especificidade. primeiro enfarte.

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A determinação seriada de dois ou mais marcadores para o diagnóstico,
avaliação ou monitorização do SCA é essencial, de modo a aumentar a especificidade e
a sensibilidade dos mesmos. Os de maior especificidade e relevância clínica são a
Troponina I cardíaca e a CK-MB, sendo os restantes, em conjunto com outros
parâmetros bioquímicos, como a LDH, e não bioquímicos, como o ECG, auxílios à
caracterização de patologia cardíaca.

Figura 7 - Exemplo de um algoritmo para o diagnóstico e diferenciação do SCA, com recurso ao doseamento dos vários
marcadores cardíacos.

DETERMINAÇÃO LABORATORIAL DOS MARCADORES CARDÍACOS.

Amostras: Soro e Plasma.

Método: Quimioluminescência.

Equipamento: ARCHITEC® ci8200 da Abbott.

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5.15 MARCADORES TUMORAIS

Os marcadores tumorais são macromoléculas presentes no tumor, no sangue ou


em outros líquidos biológicos, cujo aparecimento e/ou alterações nas suas concentrações
estão relacionados com a génese e o crescimento de células neoplásicas. Do ponto de
vista bioquímico, são geralmente proteínas ligadas a hidratos de carbono ou a lípidos,
que podem comportar-se como antigénios celulares, hormonas, enzimas ou proteínas
séricas. A presença destas proteínas podem ser eficientes para rastreio, como auxiliares
de diagnóstico, para estadiamento do tumor, monitorização da efetividade da terapêutica
e para evidência de recorrência da doença. Nem todos os marcadores tumorais podem
ser utilizados para todos estes propósitos. Relativamente poucos são úteis para o rastreio
numa população assintomática. A maioria são primariamente vantajosos, para a
monitorização do tratamento e evidência de recorrência do tumor. No Laboratório de
Bioquímica, de acordo com a realidade do IPOLFG, o doseamento destes marcadores é
rotineira.

DETERMINAÇÃO LABORATORIAL DOS MARCADORES TUMORAIS.

Amostras: Soro e Plasma. A α-Fetoproteína também pode ser determinada no líquido


amniótico. O PSA é determinado exclusivamente em soro.

Método: Quimioluminescência.

Equipamento: ARCHITEC® ci8200 da Abbott.

Tabela 4- Principais características dos marcadores tumorais doseados no Laboratório de Bioquímica.

MARCADOR TIPO DE TUMOR PROPÓSITO DO


DESCRIÇÃO
TUMORAL CORRELACIONADO DOSEAMENTO

- Rastreio pré-natal da
grávida;

- Monitorizar pacientes em
- Glicoproteína com uma risco de desenvolver tumor
única cadeia polipeptídica, hepático (hepatites crónicas
sintetizada no fígado; - Fígado: o principal; virais e cirrose);
α-
FETOPROTEINA - Proteína maioritária do soro - Ovário, testículo: alguns tipos. - Indicador de prognóstico
fetal. É um análogo fetal da carcinoma hepatocelular;
albumina.
- Monitorizar tratamento e
sucesso de cirurgia;

- Determinar recorrência.

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MARCADOR TIPO DE TUMOR PROPÓSITO DO
DESCRIÇÃO
TUMORAL CORRELACIONADO DOSEAMENTO

- Confirmar diagnóstico. Útil


para a diferenciação entre
doença ovárica benigna e
- Antigénio glicoproteico de
maligna;
superfície, da família das
CA 125 mucinas, secretado a partir da
- Estadiamento da doença;
superfície das células
- Ovário.
Antigénio Carbohidrato tumorais do ovário.
- Monitorizar tratamento;
125
- Reconhecido pelo anticorpo
- Indicador de prognóstico e
monoclonal OC 125.
de progressão do tumor;

- Determinar recorrência.

- Mama: o principal.
- Estadiamento da doença;
- Antigénio glicoproteico do Aumento significativo, normalmente
CA 15-3 - Indicador de prognóstico e
tipo mucinoso. resultante de metástases de outro
de progressão do tumor;
tumor primário; Aumento mais
Antigénio Carbohidrato
- Reconhecido pelo anticorpo discreto no carcinoma mamário
15-3 - Monitorizar tratamento;
monoclonal (MAb) DF3. primário;
- Determinar recorrência.
- Ovário: alguns tipos.

Confirmar diagnóstico. Útil


- Glicoproteína do tipo para a diferenciação entre
mucina, de elevado peso doença pancreática benigna e
molecular, sintetizada maligna;
CA 19-9 - Carcinoma gástrico, Pâncreas: os
principalmente por células
principais.
gástricas, pancreáticas, ductos - Indicador de prognóstico e
Antigénio Carbohidrato
biliares e células do cólon. de progressão do tumor;
19-9 - Colorectal.
- Identificado por anticorpos - Monitorizar tratamento;
monoclonais.
- Determinar recorrência.

- Coadjuvante no
estadiamento da doença.
CEA - Glicoproteína normalmente - Colorectal: o principal; Indicador de prognóstico e de
encontrada nas células progressão do tumor.
Antigénio epiteliais embrionárias e - Pulmão, mama, fígado, pâncreas, Preditivo de metástases;
Carcinoembrionário fetais (proteínas oncofetais). bexiga.
- Monitorizar tratamento e
determinar recorrência.

- Screening de pacientes
assintomáticos;

- Confirmar diagnóstico.
- Específico de orgão.
Maior sensibilidade quando
Exclusivamente produzido
em conjunto com exames de
pelas células epiteliais e
PSA TOTAL diagnóstico;
ductos da glândula prostática;
Próstata
Antigénio Prostático - Estadiamento da doença;
- Circula no sangue sob duas
Específico
formas maioritárias: PSA
- Monitorizar terapêutica;
combinado (fração maior) e
PSA livre.
- Indicador de prognóstico e
de progressão do tumor.
Preditivo de metástases;
Determinar recorrência.

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MARCADOR TIPO DE TUMOR PROPÓSITO DO
DESCRIÇÃO
TUMORAL CORRELACIONADO DOSEAMENTO

- Estadiamento da doença;
- Glicoproteína de superfície Carcinoma de células escamosas:
SCC celular; - Monitorizar terapêutica;
- Colo uterino e pulmão – são os
Antigénio do carcinoma - É uma subfração purificada principais. - Indicador de prognóstico e
de células escamosas do antigénio tumoral 4 (TA- de progressão do tumor;
4). - Cabeça e pescoço.
- Determinar recorrência.

- Confirmar diagnóstico. Útil


para a diferenciação entre
doença pulmonar benigna e
maligna. Elevada
especificidade.
- Pulmão, nomeadamente, carcinoma
CYFRA 21-1 - Citoqueratina (proteína
das células não pequenas do pulmão. - Estadiamento da doença;
estrutural) que forma
É o principal.
Fragmento da subunidades de filamentos
- Monitorizar terapêutica e
Citoqueratina 19 intermediários epiteliais;
- Cancro da bexiga mioinvasivo. eficácia da cirurgia;

- Indicador de prognóstico e
de progressão do tumor;

- Determinar recorrência.

- Monitorizar terapêutica e
eficácia da cirurgia;
HE4 - É o produto do gene
WFDC2 (HE4) que é sobre
Ovário - Indicador de prognóstico e
Proteína humana expresso em pacientes com
de progressão do tumor;
epidídimo 4 carcinoma do ovário.
- Determinar recorrência

- É o homólogo Humano do - Confirmar diagnóstico. Útil


péptido bombesina; para a diferenciação entre as
malignidades do pulmão.
- É um neuropéptido
Pro-GRP
regulador que estimula a - Estadiamento da doença.
Pulmão - cancro de pulmão de
libertação da gastrina pelas Indicador de prognóstico e de
Péptido Pro Libertador pequenas células.
células G do estômago. progressão do tumor;
da Gastrina
- Possue atividade mitogénica - Monitorizar terapêutica;
no carcinoma do pulmão de
células pequenas. - Determinar recorrência.

5.16 MONITORIZAÇÃO DE FÁRMACOS

Os fármacos que requerem a monitorização dos seus níveis plasmáticos são


aqueles que possuem uma margem terapêutica estreita. Isto significa que há uma
concentração rigorosamente definida, à qual, o fármaco é ativo e efetivo mas não tóxico.

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O papel do laboratório é o doseamento destes fármacos quando os seus níveis
são esperados atingirem o seu máximo, e quando os mesmos, se esperam atingirem o
seu mínimo, usualmente, imediatamente antes da próxima dose (o tempo de
amostragem é factor crítico). Estes dois tempos de doseamento são referidos como o
pico máximo e o vale de concentração respetivamente. É a partir deles, que se traça o
perfil farmacocinético de um fármaco para um determinado individuo, com
características fisiopatológicas especificas, de modo a instituir doses terapêuticas e
regimes posológicos adequados à efetividade da droga administrada.

1) ANTIBIÓTICOS

Tabela 5- Características dos antibióticos doseados no Laboratório de Bioquímica.

INDICAÇÃO
ANTIBIÓTICO MODO DE AÇÃO TOXICIDADE
FARMACOLÓGICA

- Aminoglicosídeo semi-
sintético que exibe - Ototoxicidade
- Interfere com a
actividade bactericida
síntese proteica - Nefrotoxicidade
AMICACINA
contra uma variedade de
nos
agentes patogénicos.microorganismos
- Usado em infeções susceptíveis.
sistémicas severas.

- Glicopéptido tricíclico
geralmente usado no
tratamento de infecções - Ototoxicidade
por Staphylococcus - Inibe a síntese
aureus resistentes à da parede celular - Nefrotoxicidade
VANCOMICINA meticilina (MRSA).
da bactéria,
- Profilaxia e tratamento levando à sua lise.
de endocardites e outras
infeções graves causadas
por cocos gram +

DETERMINAÇÃO LABORATORIAL DOS ANTIBIÓTICOS

Amostra: Soro e Plasma.

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Tempo de Amostragem no Intervalo de Administração: varia com o fármaco e a via de
administração do mesmo

Método:

o Amicacina - Imunoturbidimetria (PETINIA)


o Vancomicina - Quimioluminescência

Equipamento: ARCHITEC® ci8200 da Abbott.

2) DROGAS TERAPÊUTICAS

DETERMINAÇÃO LABORATORIAL DAS DROGAS TERAPÊUTICAS

Amostra: Soro e Plasma.

Tempo de Amostragem no Intervalo de Administração: normalmente antes da


administração da dose, mas pode variar com o fármaco e a via de administração do
mesmo.

Método:

o Ácido Valpróico e Digoxina – Imunoturbidimetria (PETINIA);


o Carbamazepina, Fenitoína, Fenobarbital e Teofilina – Espectrofotometria
associada a Imunoensaio Enzimático Homogéneo competitivo.

Equipamento: ARCHITEC® ci8200 da Abbott.

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Tabela 6- Caracterização das Drogas Terapêuticas doseadas no Laboratório de Bioquímica.

DROGAS INDICAÇÃO
MODO DE AÇÃO TOXICIDADE
TERAPÊUTICAS FARMACOLÓGICA

- Antiepilético utilizado
- Bloqueia as descargas repetidas e
isoladamente ou em - Hepatotoxicidade
prolongadas dos neurónios, que estão
combinação com outros
na origem de uma crise epilética. Estes
fármacos para o - Trombocitopénia
Ácido Valpróico efeitos devem-se, em doses
tratamento de crises
terapêuticas, à diminuição da Margem terapêutica:
convulsivas.
condutância dos canais de sódio 50–120 μg/ml
voltagem-dependentes.

- É um bloqueador dos canais de sódio - Depressão medular


- Controlo de convulsões. das membranas dos neurónios, em altas doses
reduzindo a intensidade e a frequência (depressão respiratória
- Doença bipolar (ou dos disparos neuronais, controlando as potencialmente fatal).
Carbamazepina maníaco-depressiva). convulsões.
- Hepatoxicidade.
- Síndrome de - Potencializa a ação do GABA um
Abstinência Alcoólica neurotransmissor fisiológico que inibe Margem terapêutica:
a geração de potenciais. 4–12 μg/ml

- Glicosídeo cardiotónico
- Ligação reversível à Na+/K+ ATPase - Nefrotoxicidade
para o tratamento de
inibindo-a e aumentando a quantidade
insuficiência cardíaca e
de sódio no cardiomiócito e de cálcio - Hepatotoxicidade
da taquicardia.
intracelular. Assim, a quantidade de
Digoxina
cálcio disponível no potencial de ação - Arritmias
- Tem efeito inotrópico
é maior, aumentando a força de
positivo, ou seja, aumenta Margem terapêutica:
contração do coração e diminuindo a
a força de contracção 0,8 - 2,0 ng/mL
frequência cardíaca.
cardíaca.

- Inibe os canais de sódio, potássio e


cálcio, existentes na membrana dos - Hepatoxicidade
neurónios, diminuindo a excitação
neuronal em geral. - Anemia
Fenitoína - Controlo de convulsões.
- Altera concentrações locais de Margem terapêutica:
neurotransmissores como GABA, 10–20 μg/ml
noradrenalina e acetilcolina.

- Barbitúrico usado no - Nefrotoxicidade


controlo de convulsões,
como hipnótico e - Atua nos receptores do GABA, - Hepatoxicidade
Fenobarbital
sedativo. imitando-o ou potencializando-o.
Margem terapêutica:
15–40 μg/ml

- Inibição da fosfodiesterase com - Hepatoxicidade,


Antiasmático utilizado no aumento dos mediadores celulares Convulsões e
tratamento crónico da cAMP e cGMP. Arritmias
Teofilina
asma e de outras doenças
broncospásmicas. - Antagonista dos receptores do Margem terapêutica:
neurotransmissor depressor adenina. 10-20μg/mL

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3) IMUNOSSUPRESSORES

Os imunossupressores possuem índices terapêuticos estreitos e a sua


farmacocinética é fortemente variável, razão pela qual, é essencial conhecer a variação
farmacocinética individual, de modo a estabelecer e a ajustar doses posológicas,
minimizando o risco de infecções oportunistas, doenças linfoproliferativas e níveis de
toxicidade elevados específicos de cada droga, derivados de uma imunossupressão
excessiva ou da rejeição do transplante por uma imunossupressão ineficaz.

Nos transplantes se não houver imunossupressão, há activação e proliferação dos


linfócitos T no organismo transplantado, levando à rejeição do mesmo. A activação das
células T resulta da forma ativa da calmodulina cálcio dependente da serina/treonina
fosfatase calcineurina, que ativa a transcrição e translocação nuclear de uma série de
fatores, como o fator nuclear de células T activadas (NFAT).

Uso terapêutico: transplantes de órgãos sólidos e medula, no Mieloma Múltiplo,


doenças autoimunes e em determinados processos alérgicos.

CICLOSPORINA

É um péptido cíclico, lipossolúvel, constituído por onze aminoácidos, isolada do


fungo Trichoderma polysporum. É efetiva, e a primeira escolha, na supressão da
rejeição aguda de transplantes sólidos: renal, cardíaco, hepático e pancreático; e de
transplante de medula óssea.

A sua actividade imunossupressora ocorre por um mecanismo multifacetado


quer a nível humoral quer a nível celular, mas maioritariamente em mecanismos que
inibem a activação dos linfócitos T. É um inibidor da forma ativada da calmodulina
cálcio dependente da serina/treonina fosfatase calcineurina, inibindo ativação das
células NFAT.

DETERMINAÇÃO LABORATORIAL DA CICLOSPORINA.

Amostra: Sangue total colhido em EDTA. A ciclosporina tem cerca 90% ligação às
proteínas, sobretudo às dos eritrócitos. Deste modo, é essencial proceder ao seu
doseamento em sangue total e não no plasma.

Método: Quimioluminescência, precedida de tratamento manual com solução reagente


de solubilização (permite a lise dos eritrócitos) e reagente de precipitação (precipita as
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células). Após centrifugação recolhe-se o sobrenadante para doseamento automático
pelo método de CMIA.

Equipamento: ARCHITEC® ci8200 da Abbott.

Na rotina do SPC a ciclosporina é doseada à 3ª feira e à 6ª feira, permanecendo as


amostras conservadas no frigorífico (2-8°C), até à sua análise.

TACROLIMUS

É também conhecido como FK506. É um macrólido, isolado do Steptomyces


tsukubaensis, maioritariamente usado no transplante renal e hepático. A sua ação
imunosssupressora ocorre por formação de um complexo com imunofilinas, à
semelhança da ciclosporina. O complexo tacrolimus-FKBP12, no linfócito T, leva à
supressão da síntese de citoquinas e mediadores inflamatórios.

DETERMINAÇÃO LABORATORIAL DO TACROLIMUS

Amostra: Sangue total colhido em EDTA. O tacrolimus tem uma larga extensão (99%)
de ligação às proteínas, sobretudo às dos eritrócitos. Deste modo, é essencial proceder
ao seu doseamento em sangue total e não no plasma.

Método: Quimioluminescência, precedida de tratamento manual com solução reagente


hemolisante (permite a lise dos eritrócitos e a precipitação celular). Após centrifugação
recolhe-se o sobrenadante para doseamento automático pelo método de CMIA.

Equipamento: ARCHITEC® ci8200 da Abbott.

Na rotina do SPC o Tacrolimus é doseado à 2ª feira e à 5ª feira, permanecendo as


amostras conservadas no frigorífico (2-8°C), até à sua análise.

METOTREXATO (MTX)

O MTX é um antineoplásico com actividade imunossupressora. É um


antimetabolito antagonista do ácido fólico que interfere com os processos de síntese dos
ácidos nucleicos, e consequentemente, com os processos de replicação e reparação
celular necessários para a divisão celular. É usado na clínica para tratamentos em
oncologia (especialmente em Leucemias do tipo Linfoblástica Aguada em crianças,

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Linfomas e cancro ósseo), em doses baixas na Psoríase, Artrite Reumatóide e outras
doenças autoimunes e gravidez ectópica. É tóxico para as células de divisão rápida.

No tratamento de tumores as doses elevadas por administração endovenosa e o


prolongamento sérico de MTX são inevitáveis, pelo que é imperativo o uso de
substâncias que possam resgatar as células saudáveis do hospedeiro da inibição do
MTX. São exemplos o ácido folínico e principalmente a leucovorina que possuem
actividade celular equivalente ao ácido fólico mas não requerem a ação da dihidrofolato
redutase para a sua conversão. A leucovorina é um substrato sintético para a
dihidrofolato redutase que resume a síntese de pirimidinas tetrahidrofolato dependentes,
reiniciando a síntese de DNA. O MTX e a leucovorina são administrados em dias
alternados, consoante o doseamento sérico do MTX, como co-adjuvantes terapêuticos
da quimioterapia num plano quimioterapêutico completo, no qual poderão resgatar do
MTX as células da medula óssea e da mucosa gastrointestinal.

A monitorização laboratorial do MTX, torna-se assim fundamental para:

 Monitorizar potencial toxicidade

 Identificar o “timming” da intervenção terapêutica com a leucovorina - para dar


início ao resgate celular. Ocorre quando os níveis de MTX são inapropriadamente
altos para uma nova dose de MTX;

 Determinar a dose, a duração e o tempo de manutenção com a leucovorina;

 Manutenção do pH urinário - a nefrotoxicidade do MTX quando administrado em


altas doses, parece estar relacionado com a solubilidade do MTX na urina ácida,
pelo que normalmente alcaliniza-se a urina antes da administração do MTX. Este
procedimento diminui o risco de precipitação intratubular do MTX que leva a uma
nefropatia obstrutiva. Dos níveis séricos de MTX depende a duração da
alcalinização, por terapêutica adequada, da urina.

A concentração do MTX, normalmente, é monitorizada passadas 24h, 48h e 72h


depois de uma toma única do fármaco.

DETERMINAÇÃO LABORATORIAL DO MTX

Amostras: Soro ou Plasma.

Método: Imunoensaio de Fluorescência Polarizada (FPIA).

Equipamento: TDX/FLX® da Abbott

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5.17 METABOLISMO MINERAL E ÓSSEO

5.17.1 CÁLCIO

A quase totalidade do cálcio (cerca de 99%) do organismo encontra-se no osso.


É um mineral requerido para a formação óssea, para a coagulação sanguínea, regula a
permeabilidade das membranas ao sódio e potássio, e é importante na função muscular e
neuronal. O seu largo espectro de ação exige um controlo complexo e multifacetado: as
hormonas (paratormona, calcitonina), o equilíbrio ácido-base, o metabolismo da
vitamina D e o metabolismo do fosfato influenciam os níveis de cálcio séricos. Assim, o
cálcio é frequentemente doseado como screening de diversas alterações metabólicas.

DETERMINAÇÃO LABORATORIAL DO CÁLCIO

Amostras: Soro, Plasma ou Urina.

Método: Espectrofotometria Visível


Solução ácida
Cálcio + Corante Arsenazo III Complexo Azul-Lilás

Cálculo e Expressão de Resultados: Quando é solicitada a excreção urinária destes


iões, o resultado é convertido de mg/dL em mg/dia de acordo com a seguinte fórmula:

Excreção de 24h (mg/dia) = (V*C)/100

Em que V= volume de urina de 24h (mL) e C = concentração do analíto (mg/dL)

Equipamento: ARCHITEC® ci8200 da Abbott.

5.17.2 FÓSFORO

A maior parte do fósforo do organismo (cerca de 80 a 85%) está presente na


matriz óssea, sob a forma de hidroxiapatite, a restante encontra-se sob a forma de
fósforo inorgânico e ésteres de fosfato. É um mineral importante no metabolismo ósseo,
na produção de energia e na função neuronal e muscular. Normalmente é doseado em
conjunto com outros analitos como ajuda ao diagnóstico de patologias relacionadas com

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o metabolismo do cálcio. O cálcio e o fósforo séricos apresentam geralmente uma
relação de reciprocidade, ou seja, quando os níveis de cálcio diminuem, os níveis de
fósforo aumentam e vice-versa.

DETERMINAÇÃO LABORATORIAL DO FÓSFORO

Amostras: Soro, Plasma (heparina de sódio ou de lítio) ou Urina.

Método: Espectrofotometria UV

Fosfato Inorgânico + Molibdato de Amónio Complexo hetero-poliácido

Cálculo e Expressão de Resultados: Quando é solicitada a excreção urinária destes


iões, o resultado é convertido de mg/dL em mg/dia de acordo com a seguinte fórmula:

Excreção de 24h (mg/dia) = (V*C)/100

Em que V= volume de urina de 24h (mL) e C = concentração do analíto (mg/dL)

Equipamento: ARCHITEC® ci8200 da Abbott.

5.17.3 MAGNÉSIO

O magnésio é um mineral essencial envolvido em várias funções bioquímicas.


Desempenha um papel estrutural nos ácidos nucleicos e partículas ribossomais, é
importante na estrutura óssea, é necessário como activador para várias enzimas
(sobretudo as que convertem energia para a função muscular) e participa na fosforilação
oxidativa para a produção de energia. Aproximadamente 35% do magnésio no plasma
está ligado a proteínas, principalmente à Albumina, pelo que as alterações na sua
concentração podem afeta-lo. O seu doseamento é requerido para um follow-up de um
cálcio ou potássio diminuídos, ou para avaliar sintomas que reflitam problemas
musculares como fraqueza, câmbrias e arritmias cardíacas.

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DETERMINAÇÃO LABORATORIAL MAGNÉSIO

Amostras: Soro ou Plasma (heparina de lítio).

Método: Espectrofotometria

Equipamento: ARCHITEC® ci8200 da Abbott.

5.18 EQUILÍBRIO ELECTROLÍTICO E ÁCIDO-BASE

5.18.1 IONOGRAMA (SÓDIO, POTÁSSIO E CLORO) E DIÓXIDO DE


CARBONO

Os electrólitos são responsáveis pela manutenção da pressão osmótica, e pelo


equilíbrio electrolítico, desempenhando um papel de suma importância nos processos
metabólicos.

 Sódio (Na+)

É o catião mais importante do fluido extracelular. Desempenha um papel central


na manutenção da osmolaridade, do potencial eléctrico nas células musculares e no
controlo da permeabilidade das membranas celulares. Os níveis sanguíneos são
controlados através da excreção e reabsorção do sódio pelo rim. Encontra-se
normalmente aumentado: na Síndrome de Cushing, desidratação grave ou consumo
elevado de sal sem a respectiva compensação em água, Diabetes Insípidus; e diminuído:
por utilização excessiva de diuréticos, por perda gastrointestinal (diarreia ou vómito
prolongado), Acidose Metabólica, Doença de Addison, Doença Renal.

 Cloreto (Cl-)

O cloreto é o anião mais importante dos líquidos corporais. Existe


principalmente no espaço extracelular e regula, com uma série de outros fatores, a
distribuição de água no organismo. O cloreto constitui o contra-ião do sódio. Na maior

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parte dos casos, o equilíbrio do cloreto é abalado no mesmo sentido que o equilíbrio do
sódio, contudo é possível verificar desvios isolados de cloreto em desequilíbrios ácido-
base. Está normalmente aumentado: na desidratação, na Acidose Metabólica associada à
diarreia prolongada e à perda de Na+ e na doença dos túbulos renais; e diminuído:
quando níveis séricos de Na+ estão diminuídos, no vómito prolongado acompanhado por
perda de HCl, em casos críticos da Doença de Addison, na acidose metabólica em geral
e na perda de sal em consequência de Doença Renal.

 Potássio (K+)

O potássio é o catião intracelular mais importante do corpo humano, sendo o seu


valor dentro das células muito superior ao encontrado fora das mesmas. Tem como
funções a manutenção do potencial de repouso celular da membrana e da pressão
osmótica e tem, uma participação essencial nos processos eléctricos dos tecidos
musculares, em especial, o do miocárdio. A regulação do equilíbrio de potássio
apresenta um poder de adaptação reduzido, pelo que, oscilações nos seus valores
constituem sempre um perigo de morte. As perturbações no seu equilíbrio podem surgir
devido a fornecimento ou eliminação inadequada de potássio ou devido a desequilíbrio
entre o espaço extracelular e intracelular. A monitorização sérica dos níveis de potássio
é usada especialmente em pacientes que sofrem de perturbações do ritmo cardíaco ou de
insuficiência renal aguda, em pacientes que vão ser operados e em doentes sujeitos a
tratamentos com diuréticos, digoxina e a realizar diálise. Está normalmente aumentado:
na Doença Renal e na Lesão Cardíaca; e diminuído: quando há vómito e diarreia
prolongados, pelo uso de diuréticos e em alguns tumores.

 Reserva Alcalina (CO2) e GAP Aniónico

O CO2 é o maior anião envolvido no tamponamento do sangue. Está aumentado


na alcalose metabólica e diminuído na acidose metabólica.

O GAP Aniónico é um valor calculado. Representa o estado de equilíbrio


electrolítico do organismo. É o resultado da soma das concentrações sanguíneas dos
principais iões positivos (sódio e potássio) subtraídos dos principais iões negativos
(cloro e dióxido de carbono) ou seja:

GAP Aniónico = ([Na+] + [K+]) – ([Cl-] + [CO2])

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DETERMINAÇÃO LABORATORIAL DO IONOGRAMA (NA+, K+ E CL-)

Amostras: Soro, Plasma (Heparina lítio ou sódio) e Urina. A hemólise é um


interferente de suma importância no que ao K+ diz respeito.

Método: Potenciometria (ISE indireto). É usado o sistema ICT (Integrated Chip


Technology) do ARCHITECT® para o doseamento.

Cálculo e Expressão de Resultados: Quando é solicitada a excreção urinária destes


iões, o resultado é convertido de mEq/L em mEq/dia de acordo com a seguinte fórmula:

Excreção de 24h (mEq/dia) = (V*C)/100

Em que V= volume de urina de 24h (mL) e C = concentração do analíto (mEq/L)

Equipamento: ARCHITEC® ci8200 da Abbott.

5.18.2 GASIMETRIA

A gasimetria baseia-se no princípio em que a pressão parcial de um gás


dissolvido no sangue, e por definição, é igual à pressão parcial do gás, numa fase
imaginária ideal do gás, em equilíbrio com o sangue. No equilíbrio a pressão parcial de
um gás é a mesma nos eritrócitos e no plasma, e a pressão parcial é ainda igual, no
sangue total e no plasma.

A gasimetria arterial é um teste que efetua a medição do pH e de gases


sanguíneos, como a pressão parcial de oxigénio (pO2) e a pressão parcial de dióxido de
carbono (pCO2). Permite a identificação de alterações no equilíbrio ácido-base e é
indispensável para a monitorização terapêutica de doentes que estejam a receber
oxigénio por ventilação mecânica e para avaliar o grau de uma insuficiência respiratória
aguda, distinguindo hipoxemia com ou sem hipercapnia.

 Hipoxemia sem hipercapnia: A hipoxemia desencadeia uma hiperventilação,


reflexo que permite que o CO2, muito difundível, seja eliminado. Observa-se
então hipocapnia e alcalose respiratória por hiperventilação alveolar.

 Hipoxemia com hipercapnia: A hipercapnia é acompanhada, muito


frequentemente, de acidose respiratória mais ou menos compensada por um
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aumento do bicarbonato plasmático, consoante a insuficiência respiratória é mais
ou menos recente.

O2

A gasimetria avalia o estado de oxigenação através de:

1 - Saturação do oxigénio – mede a proporção em que o oxigénio está ligado à


hemoglobina. É um indicativo da capacidade dos pulmões de transmitir oxigénio ao
sangue. É o melhor indicador da disponibilidade total de oxigénio para as células do
organismo. Deverá ser superior a 96%.

2 - Pressão parcial de oxigénio - refere-se ao oxigénio dissolvido no plasma. No sangue


arterial é um indicativo da capacidade dos pulmões de enriquecer o sangue com
oxigénio. Reflete a disponibilidade total de oxigénio para os tecidos. É um parâmetro
essencial para calcular o grau de saturação do oxigénio de um paciente, tendo em conta
o grau de hipoxémia (carência de O2 no sangue arterial).

pH

O valor de pH extracelular tem uma estreita correlação com o intracelular e é,


por isso, particularmente importante para a deteção de perturbações ácido-base que
assentam em verdadeiras causas patológicas, nomeadamente renais, respiratórias ou
gastrointestinais. O pH representa o logaritmo inverso do número de iões de hidrogénio
livres numa solução e o seu valor no sangue é indicado pela relação do ião bicarbonato
(HCO3-) face ao respetivo ácido CO2. O pH normal do sangue varia entre 7,35 e 7,45.
Para valores de pH abaixo do limite inferior estamos perante uma acidose e acima do
lime superior perante uma alcalose.

CO2

A pCO2 depende principalmente do funcionamento dos pulmões e da


eliminação de CO2. As alterações da pCO2 permitem inferir uma alteração do estado
respiratório.

 Valores de referência normais: 35 - 46 mmHg


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 Valores mais elevados (hipercapnia) – sinal de troca gasosa deficitária nos
pulmões.
 Valores mais baixos (hipocapnia) – sinal de uma respiração demasiado rápida ou
profunda; ou compensação de uma acidose metabólica.

HCO3-

Os rins são o principal órgão de controlo do ião bicarbonato. A sua concentração


tem relevância clínica na determinação dos componentes não respiratórios, ou seja
renais e metabólicos, em caso de perturbações ácido-base. As alterações da
concentração de HCO3-, conjuntamente com os valores de pH, ajudam a identificar se
existe uma acidose ou alcalose de origem metabólica. É um parâmetro calculado
automaticamente pelo aparelho.

Desequilíbrio de bases: BE – excesso de base; BD – défice de bases

Designa a quantidade de ácido ou base necessária para repor o valor fisiológico


de pH, ou seja, reflete a capacidade total de neutralização das bases. É um parâmetro
calculado automaticamente pelo aparelho a partir das medidas do pH, da PCO2 e da
hemoglobina.

Um deficit de bases indica a existência de acidose metabólica, enquanto o


excesso de bases indica alcalose metabólica. O cálculo da diferença de bases orienta o
clínico para a severidade do desequilíbrio ácido-base instalado e para uma terapêutica a
instituir mais precisa, no intuito de repor a normalidade do pH sanguíneo. Note-se que
pequenas oscilações podem originar descompensações graves, pelo que, a terapêutica
instituída para normalizar um desequilíbrio ácido-base, deve ser cautelosa e assertiva,
de modo a compensá-lo e não a causar um novo desequilíbrio no sentido oposto.

Se BD - maior que - 5 ou - 10 acompanham as acidoses leves e moderadas. Acidoses


severas cursam com deficits maiores.

Se BE - maior que + 5 mEq/l acompanha as alcaloses leves a moderadas. Raramente o


BE é superior a + 10. Nesses casos, geralmente o paciente recebeu doses excessivas de
bicarbonato de sódio ou outros agentes alcalinos.

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Tabela 7- Resumo dos distúrbios ácido-base e patologias associadas.

Exemplos de Distúrbio Ácido- Variação Alteração Resposta


Patologias Base pH Primária Compensatória
Cetoacidose Diabética; ACIDOSE
 pH [HCO3-]  PCO2
Diarreia; Patologia Renal METABÓLICA
Vómito prolongado;
ALCALOSE
Administração prolongada  pH [HCO3-]  PCO2
METABÓLICA
de fármacos diuréticos
Obstrução pulmonar ACIDOSE
 pH  PCO2 [HCO3-]
crónica (DPOC) RESPIRATÓRIA
Baixos valores de
ALCALOSE
oxigénio no sangue;  pH  PCO2 [HCO3-]
RESPIRATÓRIA
Ansiedade

5.19 URIANÁLISE

5.19.1 URINA TIPO II – ANÁLISE BIOQUIMICA E MICROSCÓPICA DO


SEDIMENTO URINÁRIO

A urianálise (análise física, química e microscópica da urina) é extensamente


usada em rotina médica. Fornece informações sobre as principais funções metabólicas
do organismo, por meio de exames laboratoriais simples e de baixo custo. As principais
razões da sua solicitação são: suspeita de infecções urinárias, monitorização e controlo
da Diabetes e patologias com alterações renais.

A. – ANÁLISE BIOQUÍMICA DA URINA

Tipo de Amostra

A amostra utilizada é, preferencialmente, a primeira urina da manhã, fresca e


não centrifugada.

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Procedimento – Automatizado e Manual

 Automatizado – Aparelho Urysis 2400® Roche

É um sistema totalmente automático de análise de urinas, que usa tiras teste,


cada uma com dez bandas reativas individuais, que determinam os seguintes parâmetros
físico-quimicos: pH, leucócitos, nitritos, proteína, glucose, corpos cetónicos,
urobilinogénio, bilirrubina, sangue (eritrócitos e/ou hemoglobina), densidade, cor e
aspeto. Estes parâmetros são determinados pelos seguintes métodos:

o Parâmetros bioquímicos – fotometria de refletância;


o Aspeto – turbidimetria;
o Densidade específica – refratometria.

Tabela 8- Parâmetros determinados na urina pelo aparelho Urysis 2400®, valores de referência e resultados
possíveis na análise. NEG - negativo; POS - positivo; NORM - normal; Leu - leucócitos; Eri - eritrócitos.

Parâmetro Valores de Referência Resultados

pH 4,8 – 7,4 5, 6, 6.5 , 7, 8, 9

Leucócitos <10 Leu/μL NEG, 25, 100, 500 Leu/μL

Nitritos - NEG, POS

Proteínas <10 mg/dL NEG, 25, 75, 150, 500 mg/dL

Glucose <30 mg/dL NORM, 50, 100, 300, 1000 mg/dL

Corpos Cetónicos <5 mg/dL NEG, 5, 15, 50, 150 mg/dL

Urobilinogénio <1 mg/dL NORM, 1, 4, 8, 12 mg/dL

Bilirrubina <0,2 mg/dL NEG, 1, 3, 6 mg/dL

Eritrócitos/Hemoglobina 0-5 Eri/μL NEG, 10, 25, 50, 150, 250 Eri/μL

 Manual - Tiras Multistix® 10SG

São usadas tiras teste reativas (tiras Multistix® 10SG)


como dispositivo médico para diagnóstico in vitro. São
semelhantes às que o aparelho automático utiliza, realizando
os mesmos testes de acordo com as mesmas reações
químicas que produzem uma mudança cromática. As cores
Figura 8 - Tiras Multistix® 10SG.
resultantes comparam-se visualmente com a tabela fornecida

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pelo fabricante. O procedimento manual é efetuado em caso de avaria do aparelho ou de
amostra insuficiente (p.ex.em casos de amostras pediátricas).

PROCEDIMENTO MANUAL

Introduzir a tira reagente no tubo, após


homogeneização da amostra, molhando-a completamente.
Escorrer o excesso, aguardar dois minutos e proceder de
imediato à leitura comparando visualmente os resultados
Figura 9- Procedimento manual de
com a tabela fornecida pelo fabricante. leitura da tira urinária.

 Interesse e significado clinico dos parâmetros analisados

Cor – a cor normal amarela é conferida pelo urocromo, pigmento endógeno que em
condições normais é produzido a uma velocidade constante. A coloração da urina pode
ir desde a ausência de cor até ao negro. Esta variação pode ser fisiológica ou patológica.

Aspeto – refere-se à transparência da amostra. Normalmente é transparente. A turvação


pode ser fisiológica ou patológica, mas normalmente a turvação é um motivo de
preocupação e um indicativo para a sua observação ao microscópio, uma vez que as
principais causas de turvação são a precipitação de cristais amorfos, os leucócitos,
hemácias, células epiteliais e bactérias.

Densidade – é definida em comparação com a densidade de um mesmo volume de água


destilada à mesma temperatura. Mede a densidade das substâncias químicas dissolvidas
na amostra.

pH – A sua importância reflete-se na ajuda a detetar possíveis distúrbios eletrolíticos


sistémicos, de origem metabólica ou respiratória, e para distúrbios urinários ou
condições terapêuticas em que há necessidade de manter o pH urinário num
determinado valor (ex. doentes com terapêutica de metotrexato para diminuir a sua
toxicidade renal).

Proteínas – é um bom indicativo para averiguar possíveis alterações da fisiologia renal.

Glicose – a sua maior utilidade é na deteção e no controlo da Diabetes mellitus. A


glicosúria também poderá ser um preditivo em doenças que afetam a reabsorção tubular.

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Corpos cetónicos – São produtos da metabolização das gorduras. Podem estar
presentes na urina quando: há incapacidade de metabolizar os carbohidratos (ex. na
Diabetes mellitus), aumento de perda de carbohidratos por vómito intenso (ex. durante
tratamentos quimioterapia com efeitos secundários exacerbados) e na ingestão
insuficiente de carbohidratos associada à carência alimentar e anorexia.

Sangue - poderá estar presente na urina sob a forma de hemácias integras (hematúria)
ou do produto da sua destruição, a hemoglobina (hemoglobinúria). Tem maior relação
com distúrbios de origem renal ou urogenital (ex. cálculos renais, pielonefrite, doenças
glomerulares), mas também poderá ser sugestivo de anemias hemolíticas, infeções e
reações transfusionais.

Bilirrubina – pode ser a primeira indicação de patologia hepática. A bilirrubina


conjugada (a única forma que pode ter excreção renal), aparece na urina quando o seu
ciclo normal de degradação é interrompido por obstrução dos ductos biliares e/ou
quando as funções hepáticas estão comprometidas.

Urobilinogénio – Resultante da redução intestinal da bilirrubina pelas bactérias da


flora. Este pigmento biliar pode ser sugestivo de alteração hepática (porque diminui a
capacidade do fígado de processar o urobilinogénio) ou de distúrbios hemolíticos
(destruição massiva das hemácias – aumento da bilirrubina – aumento de urobilinogénio
que é filtrado pelo rim).

Nitritos – é um método rápido de detetar infeções no trato urinário e determinar a


necessidade de uma urocultura, sobretudo em pacientes considerados de alto risco, com
infeções urinárias recorrentes (ex. diabéticos e gestantes) e que podem ser
assintomáticos.

Leucócitos – A sua presença na urina é um indicador de uma possível infeção e poderá


ser usado como seleção de amostras para cultura bacteriana.

B. ANALISE MICROSCÓPICA DO SEDIMENTO URINÁRIO

 CRITÉRIOS DE EXECUÇÃO DO EXAME MICROSCÓPICO DO SEDIMENTO URINÁRIO NO


LABORATÓRIO DE BIOQUÍMICA

 Solicitação expressa do médico de acordo com o historial clinico do paciente;

 Quando a análise físico-química deteta anomalias - parâmetros da tira reagente


positivos, nomeadamente leucócitos, proteínas, glicose, nitritos e eritrócitos.

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 OBJETIVO DO EXAME MICROSCÓPICO DO SEDIMENTO URINÁRIO NO LABORATÓRIO DE
BIOQUÍMICA

Detetar e identificar os elementos insolúveis presentes na amostra de urina


nomeadamente leucócitos, eritrócitos, cilindros, células epiteliais e cristais. A
quantificação dos elementos é de extrema importância, pois alguns destes achados só
têm significado clínico em determinadas quantidades.

 PREPARAÇÃO DA AMOSTRA E REALIZAÇÃO DO TESTE

A amostra de urina, após ter sido analisada no sistema automático, é


centrifugada a 1500 rotações por minuto (rpm) durante 10 minutos. O sobrenadante é
decantado e procede-se à ressuspensão do sedimento em aproximadamente 1 mL da
própria urina. O sedimento obtido é então observado ao microscópio óptico.

 Elementos, com relevância clínica, que podem ser visualizados no exame


microscópico do sedimento urinário

 Células Epiteliais

As células epiteliais são um achado comum no sedimento urinário, já que


provêm dos tecidos de revestimento do sistema urogenital, sendo classificadas de
acordo com a sua origem no mesmo. As mais frequentes são as células epiteliais
escamosas. As de maior relevância clínica são as células do epitélio tubular renal,
sugestivas de necrose tubular. A sua presença traduz a existência de patologias que
causam lesão tubular, entre as quais pielonefrite, infeções virais, rejeição a transplante e
efeitos secundários à glomerulonefrite.

Figura 10- Células Epiteliais. À esquerda - Células epiteliais escamosas; ao centro - células do epitélio de transição;
à direita – célula renal tubular.

 Cristais

Os cristais são frequentes no sedimento urinário. São formados pela precipitação


de sais na urina, como consequência de alterações de pH, de temperatura ou de

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concentração, afetando a sua solubilidade. Contudo, a urina normal recém eliminada
pode conter cristais formados nos túbulos ou, com menos frequência, na bexiga. Os sais
precipitados aparecem na urina na forma de cristais verdadeiros ou de material amorfo.

A presença de alguns cristais anormais pode representar doenças hepáticas, erros


inatos do metabolismo ou lesão causada pela cristalização de metabolitos de fármacos
nos túbulos.

Figura 11- Exemplo de cristais patológicos.

Os cristais são geralmente classificados de acordo com o pH da urina em que


estão presentes, ácido ou alcalino. Na urina ácida são observados os uratos, constituídos
por ácido úrico, os uratos amorfos e os cristais de oxalato e cálcio. Na urina alcalina são
os fosfatos, como o fosfato triplo (ou “tampa de caixão”, designação dada devido à sua
morfologia característica), o fosfato amorfo e o fosfato de cálcio.

A B E

F
C

Figura 12- Aspeto dos cristais urinários mais frequentes. A- Uratos amorfos; B- Ácido úrico; C- Fosfato de cálcio; D- Fosfato
triplo; E- Oxalato de cálcio; F- Fosfato amorfo.

 Cilindros

Os cilindros são os únicos elementos exclusivamente de origem renal


encontrados no sedimento urinário. O seu principal componente é a proteína de Tamm-
Horsfall, excretada pelas células dos túbulos renais. A aparência dos cilindros é
influenciada pelo tamanho do túbulo onde foram formados, pelos materiais presentes no
filtrado no momento da sua formação e pelo tempo que permanecem no túbulo.

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Tabela 9- Tipos de cilindros urinários e seu significado clinico.

Tipo de
Origem Significado Clínico Imagem Microscópio
Cilindro

Secreção tubular da proteína


de Tamm-Horsfall que se Glomerulonefrite, pielonefrite,
agrega às fibrilhas. São os doença renal crónica,
Hialino
mais frequentes. Relevantes insuficiência cardíaca
quando presentes em número congestiva.
elevado.

Eritrócitos ligados à matriz da


proteína de Tamm-Horsfall.
Têm cor amarela a
Eritrocitário Glomerulonefrite.
acastanhado. Indica
sangramento no interior do
néfron.

Leucócitos ligados à matriz


da proteína de Tamm-
Pielonefrite, nefrite intersticial
Leucocitário Horsfall. Indicam inflamação
aguda.
ou infeção no interior do
néfron.

Células tubulares que


permanecem ligadas à
proteína de Tamm-Horsfall.
Epiteliais Lesão do túbulo renal
Distinguem-se dos
leucocitários pelos núcleos
redondos.

Origem não patológica: nos


lisossomas excretados, o
metabolismo normal dos
túbulos renais.
Lesão tubular inespecífica,
Granuloso Origem patológica:
geralmente patológica.
Desintegração de cilindros
celulares e de células
tubulares e agregados
proteicos filtrados pelos
glomérulos.

Representam um estágio Estase prolongada do fluxo


avançado dos Cilindros urinário por lesão tubular.
Céreo hialinos e granulosos. Placas Cilindros da IRC, da rejeição
rompidas de proteína de transplantes e das doenças
superficial. renais agudas.

Lipídico Corpos adiposos. Síndrome nefrótico

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 Leucócitos e Eritrócitos

As hemácias ao microscópio óptico aparecem como um disco bicôncavo, sem


núcleo e com membrana citoplasmática refringente. São mais pequenos que os
leucócitos. Os leucócitos são células nucleadas com membrana citoplasmática bem
definida e refringente. Podem aparecer isolados ou em conjunto (normalmente em
infeções do trato urinário).

Figura 13- Sedimento urinário: à esquerda Leucócitos; à direita Eritrócitos.

Note-se que outros elementos podem figurar no sedimento urinário, como sejam,
bactérias, elementos leveduriformes e parasitas, mas são achados que não têm
relevância na análise sumária de urina no Laboratório de Bioquímica, uma vez que, as
amostras tratadas não são colhidas em assepsia e, muitas vezes, chegam ao laboratório
armazenadas em recipientes não estéreis.

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6. VALÊNCIA DE IMUNOLOGIA

O estágio na valência de Imunologia decorreu de 3 de Março de 2014 a 17 de


Abril de 2014 (238h), no IPOLFG, sobre a coordenação da Dra Maria Filomena
Coimbra e da Dra Maria Cesaltina Lourenço. Permitiu o conhecimento dos
procedimentos que envolvem a triagem e aliquotagem de amostras para as diferentes
secções, bem como a fase analítica, com a determinação de parâmetros nos diversos
fluidos biológicos do organismo humano e a fase pós analítica com a validação de
resultados como item principal. A Imunologia é uma ciência cujo objeto de estudo
principal é o sistema imunitário e respetivas alterações patológicas. Foram objetivos
deste estágio a sua compreensão através das áreas da imunoquímica, da serologia e do
estudo da autoimunidade, conteúdos abrangidos pela valência de Imunologia.

6.1 O LABORATÓRIO DE IMUNOLOGIA

Parte integrante do SPC e localizado no Pavilhão de Medicina, o Laboratório de


Imunologia tem como responsável a Dra Maria Cesaltina Lourenço. Como principais
actividades, salientam-se a avaliação imunitária, a pesquisa de antigénios e anticorpos
na serologia infecciosa, a avaliação proteica nos diversos fluidos biológicos e o
diagnóstico e monitorização de doenças autoimunes específicas de órgão e sistémicas,
bem como, de doenças de proliferação monoclonal plasmocitárias. Estas atividades
estão distribuídas por três sectores: a imunoquímica, que engloba a
electroforese/imunofixação, a nefelometria e algumas técnicas manuais; a
autoimunidade da qual fazem parte técnicas de imunofluorescência, de ELISA e de
immunoblot; e a serologia que comtempla sobretudo técnicas manuais de aglutinação,
mas também a quimioluminescência, técnicas de ELISA e a nefelometria. Para as suas
determinações utilizam diferentes fluidos biológicos: urina (maioritariamente de 24h e
aleatória), LCR, líquido pleural, LBA, sendo o principal, o sangue (maioritariamente
soro); e os seguintes equipamentos: na imunoquímica - o BN ProSpec®, InterlabG26® e
o Hydrasys®, na serologia - o Mago Plus® e o Evolis Twin Plus® e na autoimunidade –
o Mago Plus®, o Euro Blot Master® e o microscópio de fluorescência Olympus RH2-
RFC®.

6.2 TRIAGEM NO LABORATÓRIO DE IMUNOLOGIA DO IPOLFG

Todos os produtos biológicos que dão entrada no Laboratório de Imunologia


regem-se pelo seguinte fluxograma:

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Figura 14 - Fluxograma do circuito das amostras no Laboratório de Imunologia.

6.3 NEFELÓMETRO – EQUIPAMENTO BN ProSpec® da SIEMENS

6.3.1 NEFELOMETRIA

 FUNDAMENTO DO MÉTODO

A nefelometria baseia-se no fenómeno de dispersão da luz (dispersão de


Rayleigh), produzida quando um feixe de luz incidente atinge uma partícula, ou um
complexo antigénio-anticorpo, em solução. É tipicamente utilizada para dosear
proteínas específicas, que formam complexos imunes com anticorpos que se ligam a
elas, resultando em agregados em solução. A intensidade da luz dispersa é diretamente

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proporcional à quantidade de antigénio presente na amostra, quando a reação decorre
em condições particulares de excesso de anticorpo do reagente, e pode ser determinada,
por comparação com diluições seriadas de um padrão de concentração conhecida.

 CAMPO DE APLICAÇÃO

Doseamento de proteínas específicas.

 AMOSTRA

- Soro e Urina (maioritáriamente); LCR e outros fluidos biológicos.

6.3.2 PROTEÍNAS DOSEADAS NO EQUIPAMENTO BN ProSpec®

ALBUMINA

Ver valência de Bioquímica (pág.20)

PRÉ ALBUMINA

A Pré Albumina é uma glicoproteína sintetizada no fígado. Possui como


funções: o transporte das hormonas tiroideias e suporte proteico para a proteína que
transporta o retinol (RbP, do inglês Retinol-binding Protein). Tem um tempo de semi-
vida curto (cerca de 2 dias), o que lhe confere uma sensibilidade elevada como
marcador do estado nutricional de um indivíduo. É solicitada ao laboratório para
avaliação da eficácia e ajustes da nutrição parental, bem como da monitorização, em
casos patológicos de desnutrição.

ɑ1-ANTITRPSINA

A ɑ1-Antitripsina é uma glicoproteína de fase aguda positiva que migra na


região ɑ1 da eletroforese de proteínas. Possui actividade anti proteásica, cuja função
principal é a inibição (através da formação de complexos irreversíveis), da elastase e da

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colagenase libertadas pelos neutrófilos no processo inflamatório, de modo a impedir a
formação de pus e a liquefacção tecidular. As doenças deficitárias nesta proteína têm
frequentemente origem genética ou em patologias associadas a grandes perdas
proteicas, enquanto níveis séricos aumentados tem subjacentes normalmente quadros de
inflamação e de infeção.

HAPTOGLOBINA

A Haptoglobina é uma ɑ2-glicoproteina polimórfica (com três principais


fenótipos diferentes), de fase aguda positiva no processo inflamatório. Exerce uma
função protetora sobre o rim e a hemoglobina, formando um complexo reversível,
quando a mesma é secretada durante a lise dos eritrócitos e na eritropoiese inefectiva,
prevenindo a sua perda a nível renal e a toxicidade para o órgão. O seu doseamento é
solicitado ao laboratório maioritariamente para diagnóstico e monitorização do decurso
de uma anemia hemolítica. Perante uma hemólise intravascular há aumento da secreção
de hemoglobina, levando à diminuição da concentração de Haptoglobina. Contudo o
aumento da concentração de Haptoglobina no sangue também pode ter significado
clínico: na patologia inflamatória e infecciosa, em desordens autoimunes, na presença
de tumores malignos, na Síndrome Nefrótica, na Artrite Reumatóide, na colestase e em
estados fisiológicos como a gravidez ou a toma de contracetivos orais.

CERULOPLASMINA

A Ceruloplasmina é uma ɑ2-glicoproteina multifuncional. É a proteína


plasmática mais importante no transporte do cobre e exerce actividade enzimática como
oxidase sobre diferentes substratos, incluindo a do ião ferroso (Fe2+) a férrico (Fe3+),
importante para o transporte e disponibilidade do ferro para as células. É uma proteína
de fase aguda positiva, que migra na fração ɑ2-globulina da eletroforese proteica. A
Ceruloplasmina pode estar diminuída nas insuficiências hepáticas, na síndrome de perda
de proteínas, na doença de Wilson e síndrome de Menkes (deficiência secundária de
ceruloplasmina). Os seus níveis séricos aumentam nas colestases, com a toma de
contracetivos orais na menopausa e em reações de fase aguda (inflamação).

ɑ2-MACROGLOBULINA

A ɑ2-Macroglobulina é uma das maiores proteínas plasmáticas e o componente


maioritário da fração ɑ2 da electroforese proteica. Inibe a actividade de várias protéases
e, conjuntamente com a proteína inibidora da C1-esterase regula a produção de cininas.
A Pancreatite Aguda (ɑ2-Macroglobulina diminuída), o Síndrome Nefrótico (ɑ2-
Macroglobulina aumentada) e o perfil da proteinúria (ɑ2-Macroglobulina marcador de
lesão pós renal) são as principais razões para o pedido do doseamento desta proteína.

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No laboratório de Imunologia do IPOLFG o doseamento da ɑ2-Macroglobulina é
efetuado exclusivamente na urina.

ɑ1-MICROGLOBULINA

A ɑ1-Microglobulina é uma glicoproteína de baixo peso molecular que migra na


fração ɑ1 da eletroforese de proteínas. É fisiologicamente filtrada pelo glomérulo renal
e reabsorvida pelos túbulos proximais dos nefrónios. Devido às suas características
(baixa variação biológica, elevada concentração na urina e elevada estabilidade mesmo
a pH urinário baixo), o doseamento desta proteína na urina, é um teste laboratorial de
grande utilidade na ajuda ao diagnóstico precoce de patologia renal tubular e na
monitorização da função reabsortiva dos túbulos. A ɑ1-Microglobulina é um dos
parâmetros da avaliação do perfil da proteinúria.

PROTEÍNAS DO COMPLEMENTO C3 e C4

A ativação do complemento permite a destruição de antigénios específicos


diretamente por ligação ao imunocomplexo (antigénio-anticorpo) – via clássica; e de
antigénios não específicos - pela via alterna, na qual os polissacáridos microbianos são
o gatilho de ativação da cascata, que leva à fagocitose e ao recrutamento e cooperação
das células inflamatórias, constituindo a primeira linha de defesa face a uma infecção. A
ativação do sistema do complemento é fortemente regulada por vários inibidores, sendo
o de maior expressão o inibidor do fator C1.

A proteína C3 é um dos fatores centrais do sistema do complemento cuja


ativação ocorre maioritariamente através das vias clássica e alterna. Quando este é
ativado, uma cascata de eventos é
despoletada e consequentemente, o
fator C3 que circula no plasma no
estado inativo é ativado, diminuindo
assim a sua concentração plasmática. A
determinação laboratorial conjunta do
fator C4 indica-nos a via do
complemento que foi ativada, uma vez
que contrariamente ao C3, o C4 só
Figura 15 - Mecanismos de ativação da cascata do complemento. intervém na via clássica do
complemento. Assim, se as
concentrações sanguíneas de C3 e C4 se encontram diminuídas é indicativo da ativação
da via clássica do complemento, concentrações de C3 diminuída e C4 normal sugerem a
ativação da via alterna. A proteína C4 à semelhança da C3 é também uma proteína de
fase aguda positiva que se eleva durante o processo inflamatório e que rapidamente os
seus níveis plasmáticos se consomem com a ativação do sistema do complemento.

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IMUNOGLOBULINAS

As Ig possuem a mesma estrutura base: duas cadeias polipeptídicas pesadas (H)


e duas leves (L) que se encontram ligadas entre si por pontes bissulfídricas. Em cada
uma existem regiões constantes e regiões variáveis. A região constante (fragmento Fc)
determina as funções efectoras do anticorpo, enquanto a região variável (fragmento Fab)
determina a especificidade para cada antigénio. Diferenças físico-químicas e variações
antigénicas localizadas primariamente na região constante das cadeias pesadas,
determinam a classe e subclasse dos anticorpos. Existem cinco tipos de cadeias pesadas
originando cinco idiotipos ou classes de Ig diferentes (abordadas na valência de
Bioquímica (ver pag. 20)).

Figura 16 - Estrutura das Imunoglobulinas.

As imunoglobulinas são detetadas na fração gama da eletroforese proteica. Dela


se podem depreender deficiências, excessos ou a presença de uma ou mais bandas
monoclonais. Este aumento da síntese tem origem em várias linhagens celulares, cada
uma produzindo a sua imunoglobulina específica, obtendo-se um aumento difuso da
massa proteica em toda a região gama da electroforese – padrão de resposta policlonal.
Num componente monoclonal, um plasmócito específico (um clone) é duplicado um
grande número de vezes, produzindo um tipo de imunoglobulina em excesso,
denominada proteína monoclonal ou vulgarmente proteína M. As deficiências ou até
mesmo a ausência de imunoglobulinas estão fortemente associadas a transtornos
genéticos ou surgem secundariamente a infecções graves, patologias autoimunes,
doenças malignas e a tratamentos imunossupressores.

Assim, a determinação laboratorial das imunoglobulinas (isotipo e subclasse), é


fortemente informativa no escrutínio da deficiência imune primária ou secundária, na
clarificação da hipergamaglobulinénia e no diagnóstico da alergia. No Laboratório de
Imunologia são também doseadas por nefelometria a IgG, IgA e IgM no LCR no auxílio
à clínica na avaliação da síntese intratecal de imunoglobulinas, e a IgG na urina, na
avaliação da proteinúria.

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CADEIAS LEVES DAS IMUNOGLOBULINAS

As cadeias leves, parte integrante da estrutura das imunoglobulinas, podem ser


de dois tipos: Kapa (κ) ou Lambda (λ). Cada cadeia leve tem duas regiões unidas por
uma cadeia Ј: uma região variável no n-terminal e uma região constante no c-terminal.
Mais do que as variações das concentrações das cadeias leves livres isoladas, o seu rácio
(κ/λ), e mais especificamente a sua alteração quantitativa, reveste-se de suma
importância na clinica, na ajuda ao diagnóstico de patologias de cariz linfoproliferativo,
destacando-se as mais frequentes o Mieloma Múltiplo e os MGUS, nas quais
determinado tipo de cadeias leves são secretadas em excesso perturbando o balanço
fisiológico das mesmas.

FATOR REUMATÓIDE (RF)

O termo fator reumatóide (FR) engloba um grupo de autoanticorpos das classes


IgM (maioritariamente), IgG e IgA, que têm em comum a capacidade de reagir com
diferentes epitopos da porção Fc das gamaglobulinas policlonais humanas (IgG). O FR
é o marcador serológico por excelência da Artrite Reumatóide. Os anticorpos IgG
produzidos pelos linfócitos nas articulações sinoviais reagem com outros anticorpos IgG
ou IgM, produzindo complexos imunes, ativação do complemento e destruição tecidual.

TÍTULO ANTI-ESTRPTOLISINA O (TASO)

O TASO é um imunoensaio para a determinação quantitativa in vitro de


anticorpos anti estreptolisina O por uma técnica de imunonefelometria reforçada com
partículas de polistireno (latex). A estreptolisina O é uma das proteínas com actividade
enzimática produzida pelo Streptococcus pyogenes. É uma proteína fortemente
antigénica, hemolítica no estado reduzido, mas que é rapidamente inativada na presença
de oxigénio, surgindo os anticorpos anti estreptolisina O. Estes são encontrados em
concentrações sanguíneas consideráveis e permitem, com elevada sensibilidade, precisar
o diagnóstico de uma infeção estreptocócica duas a três semanas após uma infeção
aguda. A determinação imunoquímica de anticorpos específicos contra produtos
metabólicos de estreptococos, tem a sua maior relevância quando se suspeitam de
patologias que advêm de uma infeção estreptocócica precedente.

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6.4 ELECTROFORESE DE PROTEINAS – EQUIPAMENTO InterlabG26®

6.4.1 ELECTROFORESE DE PROTEÍNAS - PROTEINOGRAMA

 FUNDAMENTO DO MÉTODO

A electroforese é a migração de partículas carregadas num campo eléctrico,


através de uma solução de electrólitos. A electroforese sérica de proteínas parte da
premissa de que todas as proteínas do soro a pH= 8,6 em gel de agarose se encontram
carregadas negativamente e quando submetidas a um campo eléctrico migram até ao
ânodo. A velocidade com que o fazem e a direção que tomam (mais para o ânodo ou
mais perto do cátodo) depende, entre outros parâmetros, do grau de negatividade da
carga que tomam os grupos carboxyl das proteínas após ionização. Nestas condições,
especificamente controladas, obtêm-se cinco bandas que se dispõem do seguinte modo,
partindo da mais rápida: Albumina, Alfa1, Alfa2, Beta e Gama. A proporção relativa
destas frações são úteis na clínica para o alerta ou confirmação do diagnóstico de
determinadas patologias, nas quais se obtêm perfis de proteinogramas característicos.

Tabela 10 - Proteínas mais representativas de cada fração eletroforética.

FRAÇÃO PROTEINAS REPRESENTATIVAS


Albumina Albumina
α1-antitripsina, α1-glicoproteína ácida,
α1-globulinas
α1-fetoproteína e α-lipoproteína
α2-macroglobulina, Haptoglobina e
α2-globulinas
Ceruloplasmina
Transferrina, Ferritina, Proteínas do
β-globulinas
Complemento C3 e C4 e β-lipoproteína
Gama Imunoglobulinas e Proteína C Reactiva

A concentração de cada fracção (em g/dL) é obtida de acordo com a seguinte equação:

(área da fracção/área total) * concentração das proteínas totais (g/dL)

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Os intervalos de referência estabelecidos para o soro humano são os abaixo
indicados originando o seguinte perfil de proteinograma:

Tabela 11 - Intervalos de referência para as diferentes


frações proteicas no soro.

Intervalos de Referência
Fração Proteica
(g/dL)
Albumina 3,20 – 5,3
Alfa1 globulina 0,08 – 0,22
Alfa2 globulina 0,55 – 1,10
Beta globulina 0,52 – 1,15
Gama globulina 0,64 – 1,54

Figura 17 - Perfil eletroforético normal das proteínas séricas

 AMOSTRAS

Soro e Urina (maioritáriamente); Devem evitar-se amostras com hemólise


(aumenta as fracções Alfa2 e Beta e/ou produz uma banda adicional), amostras de
plasma (o fibrinogénio presente leva ao aparecimento de uma banda suplementar) e as
urinas devem ser concentradas (≥ 20g/L) e livres de partículas em suspensão. A
concentração das urinas, quando necessária, é efetuada no Laboratório de Imunologia
com o equipamento Minicon B15 Concentrator® até um valor de proteínas próximo de
25g/L.

 CAMPO DE APLICAÇÃO

A electroforese de proteínas é o teste laboratorial de rotina mais utilizado para


avaliação de anomalias proteicas presentes no sangue, reflexo de patologias hepáticas,
metabólicas, renais, hematológicas, entre outras.

6.4.2 IMUNOFIXAÇÃO

 FUNDAMENTO DO MÉTODO

A imunofixação é uma técnica que quando em conjunto com antissoros


monoespecíficos permite a identificação e caracterização das bandas monoclonais.
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Compreende uma fase electroforética em gel de agarose para a separação proteica,
seguida de fixação e de imunoprecipitação, após a aplicação direta sobre o gel dos
antissoros e de um fixador ao nível das pistas de migração. A coloração das proteínas
imunoprecipitadas com violeta ácido permite a leitura e a interpretação das bandas de
imunoglobulinas formadas.

6.4.2.1 IMUNOFIXAÇÃO NO SORO/URINA

A imunofixação sérica e/ou urinária está indicada sempre que seja detetado um
pico monoclonal na electroforese e/ou quando haja suspeita clínica de gamapatia
monoclonal maligna, pois mesmo que aparentemente o perfil electroforético seja
normal, se a proteína M apresentar concentrações inferiores a 0.2 g/dL pode não ser
detetada. A imunofixação caracteriza a cadeia presente e é um critério importante e
essencial para a análise da remissão no Mieloma Múltiplo.

Normalmente a amostra é testada para as cadeias pesadas que com maior


frequência estão na origem das bandas monoclonais – Gama (IgG), Alfa (IgA) e Mu
(IgM) e para as cadeias leves totais - Kappa e Lambda. Contudo, e de acordo com
outros dados clínicos e laboratoriais, nomeadamente o doseamento das imunoglobulinas
e das cadeias leves livres no soro, poderá haver a necessidade de testar também para as
cadeias pesadas Epsilon (IgE) e Delta (IgD) bem como para as cadeias leves livres
Kappa e Lambda.

6.4.2.2 IMUNOFIXAÇÃO BENCE JONES

As proteínas de Bence Jones são cadeias leves livres monoclonais que se


distinguem das outras proteínas urinárias pela sua solubilidade a 100ºC. Nas discrasias
plasmocitárias podem ser produzidas cadeias leves livres em quantidades superiores à
capacidade de reabsorção das mesmas pelos túbulos proximais do nefrónio, levando à
sua excreção na urina, para além da evidente elevação das suas concentrações a nível
sérico. A pesquisa da proteína de Bence Jones pode ser feita na urina ou no soro com
metodologia idêntica à imunofixação diferindo apenas nos antissoros aplicados
relativamente às cadeias leves. Um índice Albumina/Proteínas Totais inferior a 0,4 é
sugestivo de possível proteinúria de Bence Jones.

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6.4.2.3 AVALIAÇÃO DA PROTEINÚRIA – PERFIL PROTEINÚRIA

Do ponto de vista laboratorial, a proteinúria é definida como a concentração de


proteínas na urina de 24h superior a 150 mg/dia ou um rácio albumina/creatinina da
primeira urina do dia superior a 300 mg/dia. Existem três mecanismos principais que
podem causar proteinúria: doenças glomerulares, excesso de proteínas no sangue e
incapacidade de reabsorção apropriada ao nível do túbulo contornado proximal do
nefrónio. Assim sendo, a proteinúria é solicitada ao Laboratório de Imunologia com os
seguintes objetivos: triagem de indivíduos em risco (sobretudo doentes com mielomas e
diabéticos), deteção dessa condição em exames rotineiros, determinação da sua
etiologia, avaliação do tipo e quantidade de proteína libertada, e avaliação da função
renal.

No Laboratório de Imunologia o perfil proteinúria compreende a determinação


de vários parâmetros e a sua posterior análise no
Protis®, um software da siemens preparado para
avaliar de um modo célere o tipo de proteinúria
presente: glomerular, tubular, mista (glomerular-
tubular), pré renal ou pós renal. É uma aplicação
que se baseia numa base de dados com 500
padrões de eliminação de diagnósticos conhecidos
e que fornece um relatório interpretativo com base
nos seguintes parâmetros:

 Quantificação de proteínas na urina -


proteínas totais, α1-microglobulina,
albumina, α2-macroglobulina, IgG e
cadeias leves livres kappa e lambda;

 Doseamento da creatinina - urinária e


sérica;

 Avaliação da análise sumária de urina -


Figura 18 - Sistema informático especializado UPES
concretamente leucócitos, glicose, (Urine Protein Expert System) - Protis.
hemoglobina e proteínas.

A albumina e a IgG são os marcadores de lesão glomerular, a α1-microglobulina é o


marcador de lesão tubular, a α2-macroglobulina é o marcador de lesão pós renal e as
cadeias leves kappa e lambda são os marcadores de lesão pré renal. A interpretação
gráfica do rácio α1-microglobulina/ creatinina versus o rácio albumina/creatinina faz a
diferenciação entre as nefropatias glomerulares das tubulo-intersticiais, e a interpretação
gráfica do rácio IgG/albumina versus α2-macroglobulina/albumina a diferenciação entre
hematúria renal e pós renal.

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Concentração da urina 10x
Urina
Prot totais - 2.356g/L ↑↑ (<0.100)

Albumina - 14.40mg/dL ↑ ( 0-3.0)

IgG - 45.50 mg/dL ↑↑ (< 0.96)

Kappa- 175.0 mg/dL ↑↑

Lambda- <0.40 mg/dL

α1 microglob - 132.0 mg/L ↑↑ ( <12.0)

α 2 macroglob - <2.66 mgdL (<2.5)

Figura 19 - Exemplo da caracterização de um perfil proteinúria de um doente de 58 anos do sexo masculino efetuado no
Laboratório de Imunologia e do respetivo perfil transmitido ao clínico.

6.4.2.4 IMUNOFIXAÇÃO NO LCR

O LCR é um fluido pobre em proteínas sendo que a maior parte é proveniente do


plasma. A sua composição é controlada pela BHE, pelo que alterações a este nível
traduzem comprometimento da permeabilidade da mesma e/ou produção intratecal de
imunoglobulinas. Alterações na permeabilidade podem ocorrer na meningite, encefalite,
tumor cerebral e hemorragia intra-craniana, enquanto a síntese intratecal de
imunoglobulinas ocorre normalmente em doenças do sistema nervoso central (SNC)
como a Esclerose Múltipla, Neurosífilis, entre outras.

A pesquisa da presença de bandas oligoclonais avalia a ocorrência de


imunoprodução intratecal. É realizada uma corrida eletroforética em gel de agarose
simultânea de LCR e soro, colhidas na mesma altura, seguida de imunofixação. O
achado de bandas monoclonais ou oligoclonais na amostra de LCR que não estejam
presentes na amostra de soro, ou ainda, a demonstração inequívoca da presença mais
intensa no LCR em relação ao soro, demonstram a produção intratecal dessas proteínas.

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6.5 ELETROFORESE DE HEMOGLOBINAS – EQUIPAMENTO Hydrasys®

A electroforese de hemoglobinas, conjuntamente com estudos funcionais e


complementada em determinadas situações com técnicas cromatográficas (HPLC de
troca catiónica e HPLC de fase reversa das cadeias de globina), é uma ajuda preciosa à
clinica no diagnóstico e caracterização de hemoglobinopatias, bem como da sua
prevenção quando usada como screening na deteção de portadores, para a identificação
de casais em risco de conceberem um filho com estas patologias.

As hemoglobinopatias são desordens hereditárias, na sua maioria de transmissão


autossómica recessiva, na síntese de aminoácidos das cadeias de globina ou das suas
regiões regulatórias, quer a nível estrutural, em que resultam hemoglobinas
estruturalmente diferentes (variantes de hemoglobina – HbS, HbC, HbD - Punjab, HbE,
HbO - Arab, HbM e Hb Lepore são exemplos das mais comuns), quer quantitativo, nas
quais se verifica ausência ou redução na taxa de síntese das cadeias de globina
(talassemias). Fazem parte ainda das hemoglobinopatias anormalidades a nível do
desenvolvimento da hemoglobina (ex. persistência de hemoglobina fetal).

A hemoglobina num adulto saudável é constituída por diferentes frações:

 Hemoglobina A (ɑ2β2) – é a fração maioritária – 90%;


 Hemoglobina A2 (ɑ2δ2) – corresponde a 2-3%;
 Hemoglobina fetal (ɑ2γ2) – representa até 1-2%. A hemoglobina fetal (HbF)
predomina ao nascimento e os seus níveis vão decrescendo até cerca dos seis
meses, idade a partir da qual, os seus valores atingem valores semelhantes aos de
um adulto saudável.

O seu padrão electroforético a pH alcalino caracteriza-se


pela presença de hemoglobina HbA na posição anódica, a
HbA2 na posição catódica e a HbF em posição intermédia
Figura 20 - Perfil electroforético de (mas pela pequena expressão que representa a sua banda
hemoglobinas de um adulto saudável.
normalmente não é visualizada por esta técnica).

No Laboratório de Imunologia, a electroforese de hemoglobinas é efectuada no aparelho


semi automático Hydrasys® (Sebia), tendo como suporte o gel de agarose e um meio de
tamponamento que permite fixar o pH a 8,6. Partindo do hemolisado, obtido por
lavagem dos glóbulos vermelhos, a pH alcalino a hemoglobina adquire carga negativa
migrando no sentido do ânodo. A visualização das frações de hemoglobina presentes na
amostra é conseguida após coloração com negro de amido, e a sua respetiva
identificação, por comparação com um padrão de referência patológico, que corre
simultaneamente com a amostra na electroforese. Este permite a identificação da HbA,
HbF, HbS e HbC, respectivamente, partindo da mais rápida na migração electroforética.
A densitometria de padrão permite a quantificação relativa de bandas de hemoglobina.

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Interpretação dos achados eletroforéticos

Das diversas anomalias qualitativas existentes, nas quais o mecanismo molecular


mais frequente são as mutações puntiformes, a variante hemoglobínica mais comum é a
HbS. A hemoglobinopatia S ou drepanocitose, é
caracterizada pela presença de eritrócitos que adotam
a forma de foice quando diminui a oxigenação,
precipitando a nível da micro vasculatura de todos os
órgãos. Esta alteração estrutural resulta da
substituição de uma timina por uma adenosina no
codão 6 da β globina, codificando para o aminoácido
valina em substituição do ácido glutâmico. A HbS
que se forma apresenta uma diminuição da
Figura 21 - Comparação estrutural entre
hemoglobina normal e a HbS. mobilidade electroforética, migrando numa posição
central entre as frações HbA e HbA2. Outras variantes de hemoglobina, como por
exemplo a HbD e a HbG, podem migrar na mesma zona, bem como diferentes
associações com outras hemoglobinopatias, por exemplo talassemias, podem surgir,
pelo que outros achados laboratoriais são necessários para o diagnóstico final, entre
eles, o teste de solubilidade (positivo para HbS), a dosagem de HbF e HbA2, a o
hemograma demonstrando a presença de drepanócitos. Uma electroforese em meio
ácido é também uma ajuda para a sua distinção, uma vez que a este pH, HbD/HbG e
HbS migram em bandas distintas.

Figura 22 - Caso clínico positivo para HbS. Exemplo dos vários testes laboratoriais efetuados para diagnóstico diferencial.

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A HbC é a segunda variante de hemoglobina mais comum. Resulta da
substituição do ácido glutâmico por uma lisina na mesma posição 6 da cadeia β da
globina. Assim, ao pH a que a electroforese é levada a cabo, a molécula de hemoglobina
resultante adquire carga positiva, e consequentemente, uma mobilidade electroforética
mais reduzida, e um ponto isoeléctrico semelhante à fracção HbA2 migrando do mesmo
modo durante a fase de focagem isoeléctrica. Partindo da premissa de que valores
elevados de HbA2 são incompatíveis com a vida, achados laboratoriais desta natureza
despoletam a suspeita da presença de HbC. A HbC possui uma solubilidade reduzida
formando estruturas paracristalinas e apresenta a nível do esfregaço sanguíneo
abundantes dianócitos ou target cells.

As mutações afetando genes reguladores promovem desequilíbrio do conteúdo


quantitativo das cadeias e, consequentemente, dos tipos normais de hemoglobinas,
causando as talassemias. Estas são um grupo heterogéneo de distúrbios genéticos em
que a síntese de uma das cadeias de globina está parcial ou totalmente diminuída, pelo
que, o organismo tenta compensar este défice com o aumento da síntese de outras
cadeias para que o tetrâmero se forme, originando uma maior destruição dos glóbulos
vermelhos e, consequentemente, anemias. As formas melhor caracterizadas e
clinicamente mais relevantes de talassemia são as α talassemias, as β talassemias e as δβ
talassemias. Nas α e δβ talassemias o tipo de mutações predominantes são as deleções
parciais ou totais de um determinado gene, nas β talassemias, substituições de
nucleótidos que alteram a transcrição ou a maturação do mRNA, impedindo a tradução
da molécula de globina afectando a síntese da HbA. Na maioria dos casos, a
confirmação diagnóstica da α talassemia só se pode realizar através da análise do DNA,
que permite identificar a natureza exata da alteração genética, pois o padrão
electroforético das hemoglobinas é, nesses casos, normal. Exceção verifica-se na α
talassemia menor, em que se pode observar apenas nos recém-nascidos entre 5 a 10% de
Hb-Bart (γ4) no perfil eletroforetico, e na hemoglobinopatia H em que o défice de
cadeias ɑ gera um excesso de cadeias β suficientes para se formar um tetrâmero β4,
dando assim, lugar ao aparecimento da HbH visível como uma fração de migração
rápida na corrida eletroforética de um adulto a pH alcalino. Em contraste, as β
talassemias com expressividade clínica e biológica, traduzem-se em padrões mais ou
menos característicos no perfil eletroforético das hemoglobinas. Por exemplo na β
talassemia menor é característico o aumento da fração HbA2 que poderá ser
acompanhada também por um discreto aumento da HbF. Nas δβ talassemias o perfil
elctroforetico das hemoglobinas identifica um aumento da HbF sem nunca aumentar a
HbA2 (forma heterozigótica) ou um aumento considerável de HbF (praticamente de
100%), com o desaparecimento da fracção HbA (forma homozigótica). A persistência
hereditária da hemoglobina fetal por conduzir a um menor desequilíbrio ɑ/β traduz-se
numa menor expressividade clínica.

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6.6 CYTOSPIN – EQUIPAMENTO Cytospin 2®.

O cytospin é um método citológico especificamente formulado para concentrar


fluidos que possuem pequenas quantidades de células. É aplicado a amostras de LBA e
Líquido Pleural visando a pesquisa de células anormais, que não pertençam à linhagem
hematológica, quando há suspeita de invasão por células neoplásicas, e a elaboração da
fórmula leucocitária, para pesquisa de invasão por células polimorfonucleares (também
efetuada no Líquido Ascítico).

As amostras de LBA chegadas ao Laboratório de Imunologia são


cuidadosamente medidas e o seu volume exato registado. Sofrem uma primeira
centrifugação a velocidade elevada de modo a concentrar o número de células presentes,
seguida de contagem das células totais e da elaboração da lâmina por cytospin, com
coloração e observação ao microscópio óptico (com elaboração da fórmula leucocitária)
subsequentes, pela Hematologia. As células totais (com exceção dos eritrócitos) são
contadas em câmara de Neubauer® e o resultado final é dado em nº de células/dL, tendo
em conta as dimensões da câmara, as diluições efetuadas, o volume tomado e o volume
total de que partimos.

6.7 PESQUISA DE CRIOGLOBULINAS

As crioglobulinas são paraproteínas presentes no soro que possuem a propriedade de


precipitarem a temperaturas inferiores à temperatura corporal, maioritariamente a 0-4ºC,
e dissolvem-se novamente com reaquecimento a 37ºC. As crioglobulinas são
heterogéneas quanto à composição química. A análise dos seus componentes possibilita
a sua classificação em três tipos:

o Crioglobulinas tipo I: imunoglobulinas monoclonais puras (IgG, IgM ou IgA ou


raramente proteína de Bence Jones) sem atividade de fator reumatóide e que não fixa
o complemento. Têm uma pobre solubilidade a baixas temperaturas devido à sua
sequência única de aminoácidos. Denotam normalmente malignidade.

o Crioglobulinas mistas do tipo II: imunoglobulinas monoclonais (IgM, IgG ou


IgA), geralmente com atividade de fator reumatóide, associadas à IgG policlonal,
podendo ainda conter ou não antígenios próprios ou microbianos. Fixam o
complemento originando imunocomplexos. São comuns em doenças infeciosas
crónicas, sobretudo envolvendo o vírus da hepatite B e principalmente o da hepatite
C, que é a causa mais comum de crioglobulinémia.

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o Crioglobulinas mistas tipo III: imunoglobulinas de origem policlonal e,
geralmente, uma delas com atividade de fator reumatóide. Fixam o complemento
originando imunocomplexos. São observadas em algumas doenças reumáticas como
LES, artrite reumatóide, mas também ocorrem em doenças infeciosas crónicas,
virais, bacterianas e parasitárias.

A pesquisa de crioglobulinas e a caraterização do seu fenótipo são importantes na


gestão de pacientes com vasculite e na diferenciação da crioglobulinémia resultante de
malignidade, da que decorre da estimulação da imunidade do indivíduo. O tratamento
depende da causa, dos sintomas e do fenótipo destas imunoglobulinas séricas especiais.

Técnica:

- Colher sangue por punção venosa para dois tubos secos previamente aquecidos a
37ºC;

- Transportá-los com a maior brevidade possível para a estufa e deixar coagular. Um


dos tubos segue o protocolo que se descreve em seguida, o outro permanecerá na estufa
se a ele for necessário recorrer;

- Centrifugar o tubo e separar o soro para dois tubos secundários de vidro


transparente. Tapar os tubos com parafilme;

- Colocar um tubo a 4ºC (tubo teste) e o outro na estufa a 37ºC (tubo controlo
negativo);

- Observação diária dos tubos e registo das mesmas em folha de trabalho padronizada
para a técnica; esta é realizada no máximo até 8 dias após
o dia da colheita e cessa precocemente, se for observado
formação de precipitado no tubo teste, que quando
aquecido novamente a 37ºC ressuspende. A caracterização
das imunoglobulinas constituintes do crioprecipitado é
feita pela técnica de imunofixação, utilizando antissoros
específicos para cada isotipo. A não observação de
crioprecipitado no tubo teste ao fim de 8 dias é sinónimo
de um resultado negativo para a pesquisa de
Figura 23 - Deteção de crioglobulinas.
Tubo A - tubo controlo; Tubo B - tubo
crioglobulinas na amostra.
teste.

Página | 99
6.8 AUTOIMUNIDADE

A autoimunidade traduz-se pela falha de um compartimento funcional


do sistema imunológico designada de autotolerância, que resulta em respostas imunes
contra as células e tecidos do próprio organismo, devido à sua incapacidade de
distinguir o self do não self. Os autoanticorpos têm as mesmas
propriedades bioquímicas e físico-químicas dos outros anticorpos, mas com
propriedades imunológicas diferentes, sendo específicos de epitopos múltiplos dos
domínios funcionais dos antigénios autólogos. Normalmente são da classe IgG mas
também podem ser IgA e mais raramente IgM. O processo global das patologias
autoimunes, geralmente envolve a presença de células T auto reativas, autoanticorpos e
inflamação. As doenças autoimunes podem ser orgão específicas – doenças mediadas
por dano celular direto; ou inespecíficas de orgão – doenças sistémicas.

Laboratorialmente existem métodos para o rastreio de autoanticorpos e métodos


para a determinação da especificidade dos mesmos:

 A Imunofluorescência Indirecta (IFI) é o método de eleição para a deteção e


semi quantificação de autoanticorpos no soro. Nesta, os hipotéticos autoanticorpos
presentes no soro fixam-se aos antigénios de um substrato (variável de acordo com
o grupo de autoanticorpos em pesquisa), cuja revelação é feita com a adição de um
antissoro polivalente conjugado com fluoresceína, que se fixa ao autoanticorpo
ligado. A determinação do padrão fluorescente e sua titulação orientam para
diagnóstico, tratamento e prognóstico das patologias em que se encontram
envolvidos. Os principais padrões são reconhecidos e indicam a presença de
diferentes autoanticorpos.

 Os Imunoensaios Enzimáticos (EIA), nomeadamente MicroElisa e Immunoblot,


são empregues numa segunda fase, na qual se pretende evidenciar a especificidade
dos autoanticorpos, caracterizando o seu fenótipo.

 MicroElisa é uma técnica automatizada, levada a cabo no aparelho MAGO


PLUS® da Diamedix no Laboratório de Imunologia, que permite a
identificação e quantificação de determinados autoanticorpos no soro (ex. anti-
antigénios mitocondriais M2, anti-dsDNA, anti-cardiolipina), através de um
método imunoenzimático em sandwich. Utilizam-se anticorpos monoclonais
com duas funções distintas: para revestir a superfície de poliestireno da
microplaca (estes irão unir-se aos autoanticorpos presentes na amostra), e para
detetar o anticorpo ligado nas microplacas sensibilizadas (reagente conjugado,
anticorpos monoclonais ligados à peroxidase). Os resultados são determinados
com base num cut-off (gerado especificamente pelo analisador) ou curva de
calibração, dependendo do método em causa, a partir das absorvâncias lidas
pelo equipamento.

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 O Immunoblot é uma técnica semi automatizada, presente no aparelho Euro
Blot Master® da Euroimmun no Laboratório de Imunologia, para a
caracterização qualitativa de autoanticorpos que se encaixam num determinado
perfil (neuronal, hepático, miosites, ANA, gangliósidos). Tiras de nitrocelulose
estão impregnadas de múltiplos antigénios correspondentes a um perfil
específico (note-se que um determinado antigénio pode estar presente em mais
do que um perfil), permitindo identificar por reações imunológicas diferentes
autoanticorpos.

6.8.1 ANA – Autoanticorpos Anti Nucleares

Os autoanticorpos contra antigénios nucleares (ANA) são um grupo heterogéneo


de autoanticorpos que reagem contra antigénios nucleares, nucleolares ou perinucleares,
que integram os componentes celulares como ácidos nucleicos, histonas, cromatina e
proteínas nucleares e ribonucleares. São os autoanticorpos mais prescritos na prática
médica, sobretudo na ajuda a diagnósticos de patologias inflamatórias crónicas dos
tecidos conectivos (os ANA são os verdadeiros marcadores das enfermidades
conjuntivas) e da Hepatite Auto Imune.

Os autoanticorpos ANA são frequentemente pesquisados em células HEp-2 (do


inglês, Human Epithelial Cell Line: Type 2). Estas são células de carcinoma laríngeo
humano que possuem várias características, que conferem elevada sensibilidade à
técnica de IFI.

Padrões de fluorescência mais comuns e sua interpretação

A natureza e a localização da fluorescência definem o aspecto da mesma ou do


padrão, podendo este ser nuclear e/ou citoplasmático (note-se que as células HEp-2
também podem evidenciar fluorescência de componentes citoplasmáticos na sequência
da presença de outros autoanticorpos que não os ANA). Os padrões de fluorescência
nucleares são os mais comuns e apresentam as seguintes características quando
observados ao microscópio de fluorescência:

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Tabela 12 - Características dos padrões nucleares mais comuns.

Padrão Nuclear Descrição

Fluorescência difusa e uniforme


Homogéneo dos núcleos em interfase, mitoses
positivas.

Fluorescência granular fina ou


A B
Mosqueado grosseira dos núcleos em interfase,
mitoses negativas.

Numerosos pontos fluorescentes,


Centrómero
mitoses positivas.

Fluorescência exclusiva dos C D


Nucleolar nucléolos, mitoses positivas ou
negativas. Figura 24 - Padrões nucleares em células HEp-2.
Legenda: A - Mosqueado, B - Homogéneo, C -
Nucleolar, D - Centrómero.

Perfil ANA

Antigénios nucleares extraíveis (ENAs) são componentes solúveis, nucleares e


citoplasmáticos, que são alvo de autoanticorpos. Inúmeros antigénios foram descritos,
dos quais seis, Sm, U1-snRNP, SSA, SSB, Scl-70 e Jo-1 são suficientemente
presuntivos de diagnóstico ou severidade de determinadas patologias para serem
testados em uma base clínica de rotina.

Imunofluorescência em substrato de Crithidia luciliae

A técnica de IFI em substrato de Crithidia luciliae, é um método de screening para a


deteção da presença de anticorpos anti-dsDNA. A Crithidia luciliae é um protozoário
monoflagelado, que possui uma mitocôndria gigante, o cinetoplasto, que contém apenas
dsDNA e não ssDNA, histonas ou outros autoantigénios comuns.

Figura 25 - IFI em substrato de Crithidia luciliae À esquerda, Crithidia luciliae positiva, mostrando a fluorescência do dsDNA no
cinetoplasto e,mais esbatida, do núcleo; À direita Crithidia luciliae negativa.

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Tabela 13 - Tabela resumo dos principais padrões ANA identificados por IFI em células HEp-2 e respetivos antigénios alvo, com
maior relevância para a clínica.

Autoantigénio Doença
Padrão IFI/HEp-2 Significado Cínico
Alvo Associada
↑↑↑ valor diagnóstico para o
dsDNA LES LES. O seu título correlaciona-
se com a atividade do LES.
LES induzido por
drogas; Diversas Ac com pouca especificidade.
Histonas
Nuclear Homogéneo patologias Interesse relativo para a clínica.
autoimunes ou não.
Útil ao diagnóstico do LES,
quando ds-DNA negativo
Nucleossoma LES
coexistente com elevadas
suspeitas da patologia.
↑↑↑ especificidade e critério de
Síndrome de diagnóstico da Síndrome de
Ro/SS-A
Sjögren; LES Sjögren primário. Fator de risco
Lúpus Neonatal. C
Síndrome de O
La/SS-B Sempre associado ao Ro/SS-A.
Sjögren; LES N
Nuclear Mosqueado
Sobretudo relevante ao E
U1-RNP DMTC; LES diagnóstico das conectividades C
mistas.
Sm LES ↑↑↑ especificidade para LES.
T
PCNA LES Ac raramente observados. I
Dermatomiosites V
↑↑↑ especificidade para as
Mi-2 (DM);
Dermatomiosites Autoimunes.
I
Poliomiosites (PM). T
Sobreposição Marcador diagnóstico e E
+ Poliomiosites e prognóstico com incidência ↑
Homogéneo
PM-Scl
Esclerodermia de Fenómeno de Raynaud e S
(PM/ES) Pneumopatia Intersticial.
Nucleolar
Valor diagnóstico ↑↑↑ para a
+ Esclerodermia Esclerodermia Sistémica
Scl-70
Mosqueado Sistémica Difusa Difusa. Risco acrescido de
Fibrose Pulmonar e Cancro.
Marcadores de diagnóstico das
Poliomiosites; PM/DM e da Síndrome das t-
t-RNA Sintetases
Citoplasmático Síndrome das t- RNA Sintetases; valor
(Jo-1, Pl-7, Pl-12)
RNA Sintetases prognóstico de fibrose
pulmonar.
Esclerodermia
Marcador de bom prognóstico
Sistémica Limitada
Centrómero da Esclerodermia Sistémica.
(Síndrome de
Valor preditivo ++
CREST)
Valor diagnóstico ++ dos Ac
Cirrose Biliar
Membrana Nuclear anti-poros nucleares (anti-
Primária
gp210).
Cirrose Biliar Específicos da CBP (Ac anti-
(Múltiplos) Nuclear Dots
Primária (CBP) Sp100)
Homogéneo ou Especificidade Hepatites
Critério de diagnóstico das HAI
Mosqueado desconhecida Autoimunes (HAI)

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6.8.2 Pesquisa de Autoanticorpos em Tecidos – ASMA, AMA, APCA, LKM.

A pesquisa de autoanticorpos em tecidos é efetuada por IFI, em lâminas nas


quais se encontram fixados tecido triplo de rim, estômago e fígado de ratinho. A
presença de anticorpos específicos no soro do doente diluído em tampão fosfato,
formam imunocomplexos estáveis que se vão ligar com a imunoglobulina anti-humana
marcada com a fluoresceína, nos vários tecidos presentes. Os mais frequentes na clínica
são o AMA (mitocôndria), o ASMA (musculo liso), APCA (células parietais gástricas)
e LKM (autoanticorpos microssomais fígado/rim).

Figura 26 - Imagem ilustrativa dos vários autoanticorpos identificados em tecidos.

 ASMA – Autoanticorpos Anti Músculo Liso

Os ASMA têm diferentes antigénios alvo, encontrados nos filamentos do músculo


liso e estriado: actina, vimentina, tubulina, desmina, tropomiosina, troponina e
citoqueratina. Os anti actina são os autoanticorpos clinicamente mais relevantes, pois
em títulos elevados são fortemente específicos da Hepatite Autoimune (HAI) do tipo I.

 AMA – Autoanticorpos Anti Mitocôndria

Existem vários autoantigénios mitocondriais, contudo os autoanticorpos anti-M2 são


os detetados com maior frequência e são os de maior relevância clínica. Estes reagem
com uma variedade de subunidades do complexo piruvato desidrogenase, localizado na
membrana mitocondrial interna. PDC-E2 é a subunidade dominante e os autoanticorpos
que a ela se ligam são bastante indicativos de Cirrose Biliar Primária (CBP).

 APCA- Autoanticorpos Anti Células Parietais Gástricas

O antigénio alvo destes autoanticorpos são as subunidades da bomba de protões


H+ / K+ ATPase, GPC α e β, localizadas nas membranas intracelulares e apicais das
células parietais. Esta especificidade de autoanticorpos predominantemente da classe
IgG está associada a um tipo de Gastrite Autoimune (Gastrite Atrófica Crónica) e à

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Anemia Perniciosa. Também são encontrados em pacientes com doenças específicas de
órgãos (Ex.Diabetes mellitus tipo1) e doenças endócrinas (Ex.doença de Addison).
Apesar dos anticorpos anti-APCA serem detetados no estômago, o ensaio é efectuado
em substrato triplo (estômago, rim e fígado de rato), para que o diagnóstico diferencial
com os aAMA seja possível. Os AMA conferem uma marcação semelhante aos anti-
APCA em cortes de estômago, mas ao contrário destes últimos, também se ligam aos
antigénios mitocondriais do fígado e do rim.

 LKM- Autoanticorpos Anti Microssomais Fígado/Rim

Os antigénios alvo dos LKM são citocromos P450, uma família grande e
diversificada de enzimas caracterizadas pela presença de um pigmento heme.
Anticorpos Anti-LKM1 estão associados à clínica na HAI do tipo 2, os anticorpos Anti-
LKM2 (menos frequentes) à patologia Autoimune Poliglandular associada a drogas e os
anticorpos anti-LKM3 (raramente detetados), estão associados com HAI tipo 2, Hepatite
C e Hepatite D. O padrão de fluorescência no corte renal de ratinho é a base da
diferenciação do padrão anti-LKM dos anti-AMA, que marcam simultaneamente
túbulos renais proximais e distais. É mais frequente haver associação de APCA com
LKM do que AMA com LKM.

Perfil Hepático

A confirmação da presença de autoanticorpos contra antigénios hepáticos e sua


caracterização é realizada pelo método de Immunoblot, um ensaio qualitativo que
pesquisa a presença de autoanticorpos da classe IgG contra diferentes antigénios: AMA-
M2 (comlexo piruvato desidrogenase), M2-3E(BPO – proteína de fusão das
subunidades E2 das ɑ-2-oxo ácido desidrogenases da membrana interna da
mitocôndria), Sp100 (proteína de grânulos nucleares, nuclear dots), PML (proteína de
leucemia promielocitica, nuclear dots), gp210 (complexo poro nuclear), LKM-1
(microssoma hepático e renal – Citocromo P450 II D6), LC-1(antigénio citosólico
hepático do tipo 1 – formiminotransferase ciclodesaminase), SLA/LP (antigénio solúvel
hepático / antigénio fígado pâncreas) e Ro52, em amostras de soro ou plasma.

Devido à sua relevância clínica, sobretudo para o diagnóstico de CBP, os


autoanticorpos anti-M2-3E de isotipo IgG podem também ser doseados por técnica de
ELISA.

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6.8.3 FI- Autoanticorpos Anti Fator Intrínseco

O antigénio alvo destes autoanticorpos é o fator intrínseco, uma glicoproteína


secretada pelas células parietais da mucosa gástrica. O fator intrínseco liga-se à
vitamina B12, permitindo a sua absorção ao nível do íleo. Estes autoanticorpos são
detetados por IFI, em lâminas contendo um biochip, que combinam tecido de estômago
de primata e de fator intrínseco. Deste modo, facilita a ajuda ao diagnóstico da anemia
perniciosa, que terá uma elevada possibilidade de existir, se os dois poços da lâmina
positivarem.

6.8.4 ANCA – Autoanticorpos Anti Citoplasma dos Neutrófilos

Os ANCA são da maior importância clínica na avaliação de pacientes com


patologias autoimunes vasculares. A estratégia laboratorial para a sua determinação
passa primeiramente por uma técnica de screening: IFI em neutrófilos fixados em
etanol. Os ANCA são autoanticorpos que possuem diferentes antigénios alvo nos
grânulos azurófilos dos neutrófilos humanos, produzindo padrões de fluorescência
distintos no citoplasma dos neutrófilos fixados em etanol:

 p-ANCA – são autoanticorpos anti-citoplasma dos neutrófilos de tipo


perinuclear, que reagem maioritariamente contra a mieloperoxidase (MPO).
Apresentam uma fluorescência granular fina à volta do núcleo dos neutrófilos.
 c-ANCA – são autoanticorpos anti-citoplasma dos neutrófilos de tipo
citoplasmático, que reagem maioritariamente contra o antigénio Proteinase 3
(PR3). Apresentam uma fluorescência granular difusa citoplasmática. È um
padrão altamente sugestivo da Granulomatose com Poliangite.
 x-ANCA – são autoanticorpos anti-citoplasma dos neutrófilos atípicos que se
desenvolvem por contacto com outros antigénios diferentes da MPO ou PR3.
Apresentam uma marcação perinuclear nos granulócitos semelhante aos p-
ANCA.

Quando a marcação resulta numa fluorescência perinuclear surge a necessidade de


utilizar outros fixadores, como o formol e o metanol, de modo a clarificar os diferentes
padrões mencionados, nomeadamente o padrão x-ANCA.

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Tabela 14 - Padrões de fluorescência observados na presença de ANCA nos diversos fixadores.

Fixador →
Padrão Etanol Formol Metanol

p-ANCA Fluorescência
Fluorescência Periférica Negativo
Citoplasmática

c-ANCA Fluorescência Fluorescência Fluorescência


Citoplasmática Citoplasmática Citoplasmática

x-ANCA Fluorescência Periférica Negativo Fluorescência Periférica

6.8.5 Anticorpos Anti-Neuronais – Síndromes Paraneoplásicas

As síndromes paraneoplásicas são um conjunto de manifestações do sistema


nervoso, mediadas por mecanismos imunológicos, com origem em efeitos indiretos da
presença de neoplasia maligna. O tumor geralmente está oculto e estas alterações
neurológicas precedem o seu diagnóstico ou podem ser um alerta da recidiva de um
tumor pré-existente e anteriormente diagnosticado.

No Laboratório o screening de autoanticorpos anti-neuronais das classes IgG,


IgA e IgM, em amostras de sangue ou LCR, é feito por IFI, em lâminas contendo um
biochip constituído por quatro tecidos: nervo suralis, cerebellum, intestino e pâncreas de
macaco, que permite a determinação qualitativa de autoanticorpos anti-nervos
mielinizados e anti-antigénios do cerebellum. A presença de autoanticorpos anti mielina
só terá significado clínico se ainda forem positivos numa diluição de 1:100.

Padrões de fluorescência mais comuns e sua interpretação

 Autoanticorpos Anti-Yo

Estes autoanticorpos, também denominados de


PCA-1, são anticorpos que reagem contra
componentes celulares das células de Purkinje
(ribossomas, retículo endoplasmático rugoso e
aparelho de golgi). Os antigénios alvo são
normalmente proteínas relacionadas com a Figura 27 - Padrão característico da presença de
autoanticorpos anti-Yo: marcação granular
degeneração cerebelar: CDR 34, CDR62 (CDR1) e citoplasmática das células de Purkinje no cerebelo.

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CDR62 (RDC2), sendo este último, o de maior relevo. São autoanticorpos de
praticamente exclusividade feminina, pois na sua maioria estão associados a neoplasias
ginecológicas (da mama e ovário).

 Autoanticorpos Anti-Hu

Este autoanticorpos, também denominados


ANNA-1, reagem contra os antigénios Hu. Estes
antigénios possuem um papel crucial no
desenvolvimento e manutenção dos neurónios. Os
Anti-Hu são frequentemente associados com a
encefalomielite paraneoplasica e a pesquisa da
presença de carcinomas pulmonares de pequenas Figura 28 - Ac anti-neuronais nucleares (ANNA) do
tipo anti-Hu, marcando o substrato cerebelo e o
células, é a directriz a seguir perante a positividade plexo mesentérico do corte do intestino de
macaco.
para estes autoanticorpos.

 Autoanticorpos Anti-Ri

Estes autoanticorpos, também designados de ANNA-2, são anticorpos que


reconhecem duas proteínas neuronais específicas
de ligação ao RNA, codificadas pelos genes Nova
1 e Nova 2, com aparente intervenção na
maturação dos neurónios. Estes anticorpos são
predominantemente encontrados com as
características clínicas de ataxia axial e distúrbios
do movimento ocular. A malignidade
Figura 29 - Ac anti-neuronais nucleares (ANNA) do subadjacente são frequentemente os carcinomas
tipo anti-Ri, marcando apenas os núcleos do
sistema nervoso central. da mama ou pulmonares de células pequenas.

 Autoanticorpos Anti-GAD (Ácido Glutâmico Descarboxilase)

O antigénio alvo destes


autoanticorpos, a enzima glutamato
descarboxilase, tem duas isoformas,
GAD65 e GAD67. Esta enzima
catalisa a conversão de ácido
glutâmico a ácido gama-
aminobutírico (GABA), o principal Figura 30 - Padrão característico da presença de autoanticorpos anti-
GAD, marcando no pâncreas as células dos Ilhéus de Langerhans,
neurotransmissor inibidor do resultado da ligação dos anticorpos ao antigénio GAD65 encontrado nas
sistema nervoso central, importante células β e ao antigénio GAD67 localizado nas células α; e a camada
granular do cerebelo (aspeto pele de leopardo).
na regulação da excitabilidade

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neuronal e na regulação do tónus muscular. Anticorpos contra a GAD65 estão
associados com a Diabetes mellitus insulino dependente, enquanto os anti-GAD67 a
pacientes com Síndrome de Pessoa Rígida (SPS), em elevados títulos e inclusive com
síntese intratecal dos mesmos.

 Autoanticorpos Anti-MAG (Glicoproteína Associada à Mielina)

Estes autoanticorpos têm como antigénio alvo a glicoproteína associada à mielina,


mais concretamente, epitopos oligossacarídeos da
glicoproteína. A MAG está envolvida no espaçamento de
neurofilamentos e é expressa na mielina do sistema
nervoso periférico em regiões periaxonal e paranodal, bem
como, nas incisões de Schmidt-Lantermann. A expressão
da MAG na mielina do sistema nervoso central é
considerada baixa. Os doentes com anticorpos anti-MAG
(maioritariamente da classe IgM) apresentam uma
neuropatia sensorial progressiva lenta, devido a Figura 31 - Padrão característico da
presença de autoanticorpos anti-MAG
desmielinização dos nervos periféricos mediada pelos marcando o nervo suralis.
autoanticorpos Anti-MAG. Estes, estão por vezes
presentes, em associação com patologias como o Mieloma Múltiplo ou a
Macroglobulinemia de Waldenstrom.

 Autoanticorpos Anti-Anfifisina

A anfifisina possui duas isoformas e existe como


um dímero, sendo parte integrante da endocitose
mediada pela clatrina. Encontra-se nas vesículas
sinápticas (onde é necessária para a reciclagem das
vesículas), em certas células do sistema endócrino,
na retina e nos espermatócitos. A malignidade
subadjacente é maioritariamente o carcinoma
Figura 32 - Autoanticorpos anti-anfifisina
marcando ligeiramente a camada granular do pulmonar de pequenas células e o tumor da mama.
cerebelo de macaco, e intensamente a região
sináptica na camada molecular.
Estão presentes em alguns pacientes com SPS
associados aos anticorpos anti-GAD.

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 Autoanticorpos Anti-MA

Estes autoanticorpos reagem contra três antigénios Ma (MA1 / MA, MA2 / TA e


MA3), que são expressos nos nucléolos das células
neuronais. Todos mostram homologia significativa,
no entanto, só o antigénio MA2 foi detectado em
todos os soros positivos para anticorpos anti-Ma. A
malignidade com maior associação destes
autoanticorpos é o tumor dos testículos, seguido da
ataxia pulmonar e ataxia cerebelar, onde os Figura 33 - Autoanticorpos anti-Ma2 marcando
pacientes tendem a ser jovens, entre 22 e 45 anos de os nucléolos neuronais no cerebelo.
idade. Os anticorpos anti-MA1 e MA3 são mais comuns em pacientes idosos, que
tendem a desenvolver uma gama mais ampla de sintomas cerebelares e tem associadas
neoplasias de células germinativas.

Perfil Anticorpos Anti-Neuronais

A confirmação da presença de autoanticorpos paraneoplásicos e sua fenotipagem


são efectuadas pela técnica de Immunoblot num ensaio qualitativo que pesquisa
autoanticorpos da classe IgG, contra seis diferentes antigénios: Anfifisina, CV2.1,
PNMA2 (Ma2/Ta), Ri, Yo e Hu, no soro ou plasma.

Perfil Gangliósidos

O sistema nervoso periférico também pode ser alvo de autoagressão, afetando


nervos, gânglios e bainhas de mielina, originando as neuropatias periféricas. Os
autoanticorpos anti-gangliósidos são marcadores característicos destas patologias
nomeadamente, da síndrome de Guillain-Barré e suas variantes. A caracterização de
autoanticorpos contra os gangliósidos é realizada por técnica de Immunoblot, que
identifica os antigénios: GM1, GM2, GM3, GD1a, GD1b, GT1b, e GQ1b.

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6.8.6 Encefalite Autoimune – Teste de Imunofluorescência Indireta

É um teste de screening para deteção de anticorpos anti-neuropil (anticorpos que


se localizam numa área do sistema nervoso, como por exemplo o cérebro, composta
maioritariamente por axónios não mielinizados, dendrites e células da glia). Esses
anticorpos incluem: recetores de glutamato do tipo NMDA e do tipo AMPA, LGI1,
CASPR2, receptores GABAB). É um ensaio utilizado na avaliação da Encefalite
Autoimune que utiliza células HEK293 transfectadas, que permitem a deteção sensível e
monoespecífica de anticorpos anti-neuropil e a sua diferenciação. Uma lâmina positiva
mostra uma fluorescência homogénea suave a granular fina no citoplasma das células
HEK293 transfectadas.

Figura 34 - Células Transfectadas: anticorpos contra NMDA e CASPR2 (à esquerda), AMPA-1 e LGI1 (no meio), AMPA-2 e GABAB
(direita).

6.8.7 Autoanticorpos Anti-Fosfolípidos – Síndrome Antifosfolípidos (SAF)

Os anticorpos anti-fosfolípidos são um grupo heterogéneo de anticorpos


dirigidos contra fosfolípidos aniónicos e/ou complexos de proteínas-fosfolípidos, que
estão associados a uma condição autoimune grave, a síndrome antifosfolípido-proteina.
Esta é uma desordem autoimune multissistémica caracterizada clinicamente por
tromboses recorrentes (resultantes da presença destes anticorpos específicos que afetam
a coagulação) e morbilidade na gravidez (abortos repetidos).

Os antigénios alvos destes autoanticorpos são fosfolípidos da cascata da


coagulação e das membranas celulares, principalmente das plaquetas e células
endoteliais. Podem ser caracterizados por ensaios em fase sólida, que identificam
anticorpos anti-cardiolipina e anti-β2-glicoproteina I, e ensaios em fase líquida que
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identificam anticoagulantes lúpicos. Os anticorpos anti-cardiolipina e anti-β2-
glicoproteina I são de extrema relevância clínica pois são parte integrante dos critérios
de classificação da SAF.

 Autoanticorpos Anti-Cardiolipina

Os autoanticorpos anti-cardiolipina dependentes da β2-glicoproteina I estão


maioritariamente associados a processos trombóticos e são os mais sensíveis na ajuda
ao diagnóstico da síndrome antifosfolipidos. São determinados por técnica de ELISA
em microplaca à semelhança dos anticorpos anti-fosfatidilserina e anti-β2-glicoproteina
I. A técnica de ELISA permite a identificação do isotipo (normalmente IgG ou IgM) e a
quantificação dos títulos.

 Autoanticorpos Anti-β2-glicoproteina I

São autoanticorpos normalmente da classe IgG ou IgM com elevada


especificidade para o diagnóstico da SAF. A β2-glicoproteina I é o principal alvo
antigénico.

 Anticoagulante Lúpico

Está presente na sindrome anti-fosfolipidos secundária a outras patologias, como


por exemplo o LES. In vitro interfere com as provas da coagulação dependentes de
fosfolípidos, provocando o alongamento das mesmas, estando a sua atuação dependente
de dois cofatores plasmáticos, a protrombina e a β2-glicoproteina I. Estes
autoanticorpos são determinados por técnicas de coagulação e estão relacionados com
episódios trombóticos mas não hemorrágicos.

6.8.8 Autoanticorpos na Doença Celíaca

A Doença Celíaca, também conhecida como enteropatia glúten-induzida, é uma


patologia autoimune que afeta o intestino delgado de adultos e crianças geneticamente
predispostos, precipitada pela ingestão de alimentos que contêm glúten. Os péptidos de
gliadina são reabsorvidos na mucosa intestinal e desaminados pela enzima tecidular

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transglutaminase, com a transformação da glutamina em ácido glutâmico. Em
indivíduos geneticamente predispostos, os péptidos de gliadina ligam-se às moléculas
HLA-DQ2/DQ8 das células apresentadoras de antigénios que despoletam uma resposta
imune extensa, perpetuando-se uma inflamação crónica com alterações patológicas no
intestino delgado com infiltração linfocitária intraepitelial, atrofia das vilosidades e a
hiperplasia das criptas, causando prejuízo na absorção. A produção de citoquinas
inflamatórias causam dano tecidular na mucosa e ativam as células plasmáticas para
produzir anticorpos contra a gliadina, a transglutaminase tecidular (tTG) e o endomísio
(EMA), um elemento do tecido conjuntivo que envolve o músculo liso.

Testes serológicos clinicamente relevantes para o diagnóstico da Doença


Celíaca

1) – Autoanticorpos Anti-Transglutaminase Tecidular (Anti-tTG)

De acordo com as guidelines mais recentes, o Laboratório estabelece numa primeira


abordagem ao diagnóstico da Doença Celíaca, a determinação dos níveis de anticorpos
da classe IgA anti-tTG, por um método de MicroElisa em amostras de soro ou plasma.

2) – Autoanticorpos Anti-Endomísio (Anti-EMA)

De modo a aumentar a especificidade do diagnóstico, especialmente em indivíduos


com níveis borderline de IgA anti-tTG, são determinados
também os autoanticorpos de isotipo IgA anti-EMA,
utilizando lâminas com biochip para a deteção de
anticorpos anti-gliadina e fígado de primata para a
visualização de anticorpos anti-EMA (por IFI). Os
últimos quando presentes reagem com os sinusóides
intralobulares,
Figura 35 - Padrão de IFI na presença de apresentando uma fluorescência
Ac. anti-EMA.
característica. Esta técnica permite a pesquisa de
anticorpos da classe IgA e IgG.

3) – Autoanticorpos Anti-Gliadina Desaminada (Anti-DGP)

Estes autoanticorpos são maioritariamente solicitados pela pediatria, sobretudo em


crianças com menos de 2 anos de idade que ainda não possuem níveis detetáveis de
autoanticorpos anti-tTG e anti-EMA e que apresentam forte suspeita clínica de Doença
Celíaca. A determinação quantitativa destes autoanticorpos é ainda de suma
importância, na monitorização do progresso da doença, da avaliação do cumprimento da
dieta livre de glúten instituída e como avaliação do grau de tolerância ao glúten. São
doseados pelo método de microELISA em placa.
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Numa primeira abordagem, em que não se possui dados clínicos anteriores, também
se deve proceder à determinação dos níveis plasmáticos de IgA Totais, de modo a
excluir o diagnóstico de deficiência seletiva de IgA, assegurando assim, a veracidade
dos resultados negativos obtidos. Se se confirmar uma deficiência de IgA, o doseamento
dos anticorpos do tipo IgG anti-tTG e/ou anti-EMA também oferecem resultados de
confiança, com excelente sensibilidade e especificidade nestes indivíduos. Qualquer um
destes testes laboratoriais só terá significado clínico para diagnóstico da patologia, se o
paciente não tiver iniciado ainda uma dieta livre de glúten.

6.9 SEROLOGIA

A serologia engloba um conjunto de técnicas imunológicas, que visam o estudo


científico do soro sanguíneo de um indivíduo, através da pesquisa no mesmo de
anticorpos e/ou antigénios. É particularmente útil no auxílio ao diagnóstico de doenças
infecciosas, quando adaptada à deteção de anticorpos específicos que são produzidos em
resposta a um determinado agente infeccioso.

6.9.1 Serologia para Salmonella spp.

As Salmonella spp. são bactérias gram negativas, em forma de bacilo, na sua


maioria móveis (flageladas), que causam uma infecção denominada de salmonelose. A
salmonelose é uma das principais formas de intoxicação alimentar, adquirida pela
ingestão de alimentos ou de água contaminados, bem como, pelo contacto com fezes de
animais infectados.

As salmonelas são classificadas em serogrupos e em serotipos. Os primeiros


dependem do antigénio O (integra a parte sacarídea do LPS; é um antigénio somático),
enquanto a classificação em serotipos depende do antigénio H (antigénio flagelar). De
entre as de maior importância para a saúde humana, destacam-se a Salmonella typhi,
que causa infecções sistémicas e febre tifóide e a Salmonella typhimurium, um dos
agentes causadores das gastroenterites.

A Reação de Widal é um método serológico presuntivo, que quantifica os


anticorpos anti-O e anti-H presentes no soro do doente, por reação de aglutinação direta

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em placa com suspensões antigénicas de Salmonela (S.paratyphi A O, S.paratyphi A H,
S.paratyphi B O, S.paratyphi B H, S.Typhi O e S.Typhi H). Uma elevação paralela e
acentuada dos anticorpos O e H permite um diagnóstico, contudo a Reação de Widal
não é específica, podendo existir reações cruzadas (na brucelose também há aglutinação
com o antigénio O), surgir falsos negativos devido à antibioterapia ou à janela de tempo
que medeia o início da infeção e o aparecimento dos anticorpos.

6.9.2 Serologia para Brucella spp.

A brucelose ou febre de Malta é uma infecção caracterizada por febres ondulantes


com acentuação vespertina, causada por cocobacilos gram negativos intracelulares do
género Brucella spp. As espécies mais virulentas para o Homem são a B.melitensis (a
mais comum) e a B.abortus que são transmitidas ao homem pelas várias espécies de
gado. É uma zoonose, na maioria, das vezes contraída pelos profissionais que criam
e/ou manuseiam os tecidos ou órgãos dos animais infectados.

Apesar do diagnóstico bacteriológico com o isolamento do microorganismo a partir


do sangue, medula óssea ou tecidos, ser o diagnóstico definitivo, existem vários
métodos serológicos de diagnóstico presuntivo para a deteção, entre eles, reações de
aglutinação – Reacção de Huddleson; e de imunocaptação seguida de aglutinação -
BrucellaCapt.

 Reação de Huddleson

É uma reacção de aglutinação direta, executada em placa, que utiliza uma suspensão
antigénica de Brucella abortus, particularmente útil na fase aguda da infeção, na qual
predominam IgM (Ig com maior poder de aglutinação). É de esperar que nos casos de
Brucelose crónica o resultado seja negativo, quer pela ausência ou baixas concentrações
de IgM, quer pela fraca reactividade das IgG que abundam nesta fase.

 BrucellaCapt – Pesquisa de anticorpos totais anti Brucella abortus

A BrucellaCapt é um método de imunocaptura e aglutinação executado em


microplacas revestidas com imunoglobulina anti-Humana, às quais se adiciona a
amostra de soro em análise e o antigénio (suspensão de Brucella abortus). Permite a
pesquisa de anticorpos aglutinantes (sobretudo da classe IgM) e não aglutinantes e
incompletos (sobretudo das classes IgG e IgA). Assim, é um método de maior utilidade
na fase crónica da patologia.

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6.9.3 Serologia para Treponema pallidum

O Treponema pallidum é uma bactéria gram negativa, do grupo das espiroquetas,


que tem como habitat a mucosa urogenital. É o agente causador de uma doença
sexualmente transmissível, a Sífilis. Esta é uma infecção que na ausência de diagnóstico
e tratamento segue naturalmente três fases: uma infeção local primária, adquirida por
contato sexual direto com as lesões infeciosas de outra pessoa; uma secundária, em que
predominam as manifestações sistémicas, com erupções simétricas no tronco e
membros incluindo palmas das mãos e dos pés, e na qual o indivíduo é extremamente
contagioso; e uma terciária, na qual os sintomas se complicam podendo afetar o sistema
nervoso e cardiovascular. É ainda, uma fase caracterizada pela formação de gomas
sifilíticas. A Sífilis pode ainda apresentar um estadio de latência, tipo portador, em que
o indivíduo está infectado e é infeccioso mas não apresenta sintomas significativos.

Nas fases tardias da Sífilis existem poucos microorganismos, pelo que os métodos
de diagnóstico, para qualquer um dos estadios da doença, devem ser preferencialmente
indiretos, recorrendo à serologia, para a pesquisa quer de anticorpos anti-treponémicos,
quer de anticorpos não treponémicos. De acordo com as guidelines europeias mais
recentes, um exame de sangue treponémico deve ser a primeira abordagem perante a
suspeita de infeção a Treponema pallidum. No IPOLFG o método aplicado é um
imunoensaio de micropartículas por quimioluminescência (CMIA) a dois passos, para a
deteção qualitativa de anticorpos anti Treponema pallidum em soro e plasma humanos.
De acordo com os índices calculados pelo equipamento, a amostra é considerada reativa
ou não reativa para anticorpos anti Treponema pallidum.

Perante um resultado positivo no ensaio treponémico, a análise deve prosseguir com


um teste treponémico confirmatório (de metodologia diferente do de screening e
preferencialmente que pesquise uma base de antigénios diferentes) e com um ensaio não
treponémico, de modo a orientar à melhor gestão do paciente (ajuda a estadiar a
infecção). Os ensaios não treponémicos, são métodos inespecíficos que detetam
anticorpos das classes IgG e IgM contra determinados lípidos da superfície celular da
bactéria. Os anticorpos não treponémicos (reaginas), podem ser detetados pela técnica
VDRL (do inglês, Veneral Disease Research Laboratory) ou RPR (Rapid Plasma
Reagin). No IPOLFG é utilizado o RPR, um teste de floculação em placa de cartão, no
qual um complexo de partículas de cardiolipina, lecitina e colesterol, numa matriz de
micropartículas de carvão ativado, reagem com o anticorpo do tipo reagina, obtendo-se
uma floculação macroscópica.

Um novo ensaio treponémico (teste confirmatório) é também realizado de modo


a obviar falsos positivos. O Laboratório de Imunologia utiliza o método TPHA
(Treponema Pallidum Hemaglutination). O TPHA utiliza uma suspensão de eritrócitos
de perú (aves) sensibilizados com Treponema pallidum. A hemaglutinação indireta
ocorre com o soro do doente com anticorpos anti-Treponema.

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INTERPRETAÇÃO FINAL DOS RESULTADOS

 Ensaio treponémico de screening não reativo – individuo não teve contacto com
a bactéria;

 Ensaio treponémico de screening reativo e RPR positivo – individuo infetado


pelo Treponema pallidum, com doença em fase aguda; Se o título serológico > 1:16
infecção aguda ativa, se < 1:16 infeção aguda mais residual (resultado normalmente
de tratamento) encaminhada para a cura.

 Ensaio treponémico de screening reativo e RPR negativo:

o Se ensaio treponémico confirmatório reativo - Individuo teve contacto com a


bactéria. O significado clínico é possivelmente de um contacto antigo ou de uma
infeção já resolvida. Contudo, se o paciente evidenciar sinais clínicos sugestivos de
Sífilis, é recomendado efectuar um ensaio específico anticorpos anti treponema
classe IgM, que se se revelar positivo, indicará uma infeção aguda pelo Treponema
pallidum.

o Se ensaio treponémico confirmatório não reativo – Possível falso positivo no


ensaio treponémico de screening. O individuo não terá contactado com a bactéria
não necessitando de avaliação mais profunda ou tratamento.

6.9.4 Serologia para Echinococcus granulosus

O Echinococcus granulosus é um cestode cujo hospedeiro definitivo é o cão,


podendo ter como hospedeiro intermediário o Homem ou outros animais. No Homem, é
responsável pela hidatidose, patologia que resulta da evolução das formas larvares deste
parasita em quistos (quisto hidático), nos tecidos onde se instalam (hepático, pulmonar).
A ruptura destes quistos é perigosa, podendo conduzir ao choque anafilático.

Laboratorialmente utiliza-se uma técnica de hemaglutinação indireta para a


pesquisa de anticorpos anti-Echinococcus granulosus. O reagente é constituído por
eritrócitos de carneiro sensibilizados com o antigénio do parasita. Na presença de
anticorpos específicos os eritrócitos aglutinados formam uma rede que cobre o fundo do
poço numa cor vermelha acastanhada. Na ausência dos mesmos, os eritrócitos livres
sedimentam e formam um botão de cor intensa.

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6.9.5 Serologia para Rickettsia conorii

As bactérias do género Rickettsia são bacilos gram negativos intracelulares, que


se desenvolvem estritamente nas células eucariotas atuando como parasitas obrigatórios.
São transmitidas por artrópodes (hospedeiro natural) e têm os mamíferos como
reservatório. O homem é geralmente um hospedeiro eventual, quando picado pelo seu
vetor, a carraça do cão ou do bosque. A R.conorii provoca a febre botonosa
mediterrânea ou febre da carraça que se caracteriza pelo aparecimento de febre,
exantema e mancha negra, ou de inoculação, na zona da picada.

A técnica clássica para o diagnóstico serológico são os ensaios


imunoenzimáticos, nomeadamente MicroElisa, nos quais se evidenciam anticorpos IgG
e/ou IgM para R. conorii, no soro humano.

6.9.6 Serologia para o vírus Epstein-Barr (EBV)

O EBV é um herpesvírus, e como tal, é caracterizado por fenómenos de latência,


de imortalidade celular, que podem ser alternados com reativações, onde se produz um
ciclo com lise celular. In vivo o EBV infecta linfócitos B e células epiteliais da
orofaringe após transmissão direta, principalmente via saliva.

A Mononucleose Infecciosa (MNI) corresponde à infeção primária pelo EBV. É


uma doença linfoproliferativa sistémica, de curta evolução e geralmente benigna, na
qual os linfócitos T respondem imunologicamente às células B infectadas. Na primo-
infecção surgem, numa percentagem elevada, anticorpos heterófilos de classe IgM.
Estes são a base do MONOSPOT, um método semi quantitativo utilizado no laboratório
para a deteção de anticorpos heterófilos associados à MNI, que compreende uma técnica
de aglutinação direta em placa. São utilizadas partículas de látex revestidas com
antigénios extraídos de hemácias bovinas, aos quais os anticorpos heterófilos
apresentam reatividade.

6.9.7 Serologia para Aspergillus spp. - Deteção do Antigénio Galactomanano


de Aspergillus spp.

Em geral, as infeções por Aspergillus spp. (aspergiloses) são infecções


oportunistas que têm início nos pulmões (porta de entrada), após a inalação de esporos

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deste fungo presentes no meio ambiente. Ocorrem principalmente, em doentes
neutropénicos (no seguimento de tratamentos contra o cancro) e em doentes tratados
com supressores de imunidade (transplantes de órgãos, particularmente no transplante
de medula óssea) e corticosteróides.

O Platelia™ Aspergillus Ag em conjunto com outros procedimentos


(radiografias) fornece
um diagnóstico
presuntivo célere e
credível de
Aspergilose Invasiva,
de modo a poder
instituir-se o mais
rapidamente possível
Figura 36 - Esquema reacional do Platelia™ Aspergillus Ag na deteção de galactomananos.
um tratamento eficaz.
É um ensaio imunoenzimático de microplaca, tipo sanduíche, que deteta a presença de
galactomanano no soro humano e no LBA. Utiliza anticorpos monoclonais EBA-2 de
rato, dirigidos contra o galactomanano de Aspergillus, que revestem os poços da
microplaca. Os tubos de recolha deverão ser estéreis e deverão permanecer bem
fechados até que o doseamento se inicie.

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7. VALÊNCIA DE VIROLOGIA

O estágio na valência de Virologia decorreu de 21 de Abril de 2014 a 14 de


Maio de 2014 (113h), no IPOLFG, sobre a coordenação do Dr Mário Cunha e da
Dra Carmo Ornelas. Permitiu o conhecimento dos procedimentos que envolvem a
fase pré analítica, com maior relevo para a triagem, aliquotagem de amostras para
as diferentes áreas no laboratório e para a seroteca, bem como a fase analítica, com
a determinação de parâmetros nos diversos fluidos biológicos do organismo
humano e a fase pós analítica com a validação de resultados como item principal. A
Virologia é uma ciência cujo objeto de estudo principal são os vírus (identificação e
caracterização das suas propriedades), e respetivas alterações patológicas que
originam nos seres vivos. Foram objetivos deste estágio a sua compreensão através
de técnicas que permitem a pesquisa e a identificação viral, abordadas nas áreas da
serologia, biologia molecular, pesquisa de antigénios e culturas celulares .

7.1 O LABORATÓRIO DE VIROLOGIA

Parte integrante do SPC e localizado no Pavilhão de Rádio – 1º piso, o


Laboratório de Virologia tinha (à data de inicio do estágio) como responsável a Dra
Carmo Ornelas, posteriormente substituída pelo Dr Mário Cunha.

Como principais atividades, salientam-se:

 Deteção direta de vírus por Biologia Molecular – PCR em Tempo Real (do
inglês, Real-Time Polymerase Chain Reaction) com metodologia In House e kits
comerciais; e por deteção de antigenémias;

 Deteção indireta de vírus – através da serologia;

 Cultura de células - visando a obtenção de controlos de qualidade internos


positivos, a preparação de antigénios e a obtenção de linhas celulares
específicas (observação de efeitos citopatogénicos);

 Manutenção de serotecas e DNAtecas – para estudos retrospetivos dos


pacientes quando necessário.

Estas atividades estão distribuídas fisicamente por três setores: culturas


celulares e mais dois sectores, divididos de acordo com o tipo de deteção viral e a

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metodologia utilizada (Serologia – deteção indireta e Biologia Molecular – deteção
direta).

ORGANIZAÇÃO ESPACIAL E REGRAS DE TRABALHO DO SETOR DAS CULTURAS


CELULARES

O setor da Cultura de Células obedece a várias especificações, de acordo


com a legislação em vigor e as boas práticas laboratoriais. A sala de culturas
celulares possui características próprias, adequadas às necessidades imputadas ao
trabalho que nelas se desenvolve. É imperativo um ambiente com elevado nível de
assepsia refugiado o mais possível de contaminantes do exterior. O setor das
Culturas Celulares encontra-se fisicamente separado dos restantes, sendo que a sala
possui as seguintes áreas principais:

 Ante sala – ambiente de receção que protege a sala de contaminantes externos.

 Área para manipulação asséptica – zona onde são realizadas exclusivamente


inoculações e transferências de material celular. Possui uma câmara de fluxo
laminar (onde são manipuladas as culturas) e armários (onde se encontra
armazenado todo o material estéril necessário a estes procedimentos).

 Área de meios de cultura – local onde se preparam meios de cultura e


soluções várias, necessárias à cultura e manutenção das linhas celulares.

 Área para incubação das culturas – local dotado de sistema de controlo de


temperatura, humidade, luz e dióxido de carbono (estufa de dióxido de
carbono), no qual as culturas são mantidas, por tempo adequado.

 Área para observação e avaliação das culturas – ambiente contendo uma


bancada de trabalho munida de microscópio ótico e microscópio ótico
invertido, para avaliações parciais ou finais do trabalho desenvolvido.

 Área de lavagem – área destinada ao descarte dos meios de cultura utilizados e


de outros resíduos, bem como à lavagem de vidrarias.

Nesta sala é mandatório a desinfeção das mãos à entrada, o uso de luvas e


bata e essencial que, estas e o material de laboratório sejam exclusivos da mesma.

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ORGANIZAÇÃO ESPACIAL E REGRAS DE TRABALHO DO SETOR DA BIOLOGIA
MOLECULAR

O sector da Biologia Molecular obedece a várias especificações, de acordo


com a legislação em vigor e as boas práticas laboratoriais no âmbito da Virologia.
O espaço físico no qual decorrem as análises que envolvam técnicas da Biologia
Molecular no Laboratório de Virologia está organizado do seguinte modo:

 Sala de preparação de reagentes – é a área onde se preparam os vários reagentes


que compõem o stock laboratorial necessário para a realização dos diversos
ensaios. Nesta sala a pressão é positiva.

 Sala de preparação de amostras ou Pré PCR – é a área onde se preparam as


amostras e se procede à extração dos ácidos nucleicos (manual ou automática),
bem como, à purificação do mesmo. Nesta sala a pressão é negativa.

 Sala de amplificação e deteção ou Pós PCR - é a área onde se localiza o aparato


automatizado necessário para a amplificação e deteção do virús em estudo
(termocicladores, sequenciadores, aparelhos de Real Time PCR, tinas de
eletroforese, transiluminador, ...). Nesta sala a pressão é negativa.

A proteção pessoal (batas, luvas) deve ser exclusiva de cada sala. As


micropipetas utilizadas são manuseadas com pontas especiais que contêm barreira
de aerossóis. A movimentação nas diferentes áreas de trabalho rege-se pela regra de
“marcha em frente”, ou seja, é unidirecional (sala de preparação de reagentes 
sala de preparação de amostras  sala de amplificação e deteção). Nada da sala de
amplificação pode ser transportado para a sala de preparação de reagentes ou para a
sala de preparação de amostras.

7.2 TRIAGEM NO LABORATÓRIO DE VIROLOGIA DO IPOLFG

Todos os produtos biológicos que dão entrada no Laboratório de Virologia


regem-se pelo seguinte fluxograma:

Página | 122
Recepção de Produtos

As amostras devem cumprir alguns requisitos.


Verificar:
Protocolo de aceitação de amostras.
Conferência de Requisições - Se identificação clara e correta;

- Acompanhamento da requisição e
documentação anexa;

- Tipo de amostra;

Emissão de Etiquetas - Condições de transporte e conservação


(temperatura, meio de transporte utilizado para
conservação da amostra, tempo de chegada, ...)

- Volume
Aliquotagem
- Presença de possíveis interferentes e
inibidores: sais, hemoglobina, heparina, ureia,
formol, etc.

Processamento e/ou Armazenamento

Eliminação das Amostras

Figura 37 - Fluxograma do circuito das amostras no Laboratório de Virologia.

O laboratório possui uma seroteca referente a amostras de soro, plasma e LCR,


advindo a necessidade de as aliquotar.

7.3 CULTURAS CELULARES

A cultura de células em laboratório engloba um conjunto de técnicas que


permitem manter células vivas in vitro, provenientes de um tecido ou órgão, mantendo
as suas características próprias.

As culturas celulares em Virologia são de uma utilidade singular, uma vez que
os vírus necessitam de um hospedeiro para viver. A cultura de células clássica permite a
inoculação de produtos biológicos para isolamento viral, a pesquisa de efeito

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citopatogénico para a deteção viral, a pesquisa de antigénios precoces e avaliar a
suscetibilidade dos diferentes tipos celulares a determinados vírus. São ainda utilizadas
para a elaboração de controlos de qualidade internos (positivos e negativos).

PRINCIPAIS CÉLULAS MANIPULADAS - LABORATÓRIO VIROLOGIA IPOLFG

- MRC5 (ATCC® CCL – 171TM) - são células diplóides humanas derivadas de tecido
de pulmão fetal normal (fibroblastos). Estas células podem ser:

 Inoculadas com fluidos biológicos para a pesquisa direta de determinados vírus -


ex: alguns herpes vírus e poliovírus;

 Inoculadas com sobrenadante de determinadas linhas celulares infetadas para a


obtenção de controlos de qualidade interno positivos – ex: linha celular AD169 é
uma linhagem infetada com CMV, que quando inoculada nas células MRC5,
permite-nos obter controlos positivos para a técnica de Antigenémia CMV que
pesquisa a expressão da proteína viral pp65. Deste modo obtemos controlos em que
visualizamos células infetadas a expressar a proteína e outras não infetadas que não
a expressam.

 Utilizadas para controlo negativo de HPV.

Figura 38 - Células MRC5 (ATCC® CCL – 171TM). À esquerda


baixa densidade celular, à direita elevada densidade celular.

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- HeLa (ATCC® CCL – 2TM) - são células epiteliais provenientes de um
adenocarcinoma do cérvix numa mulher adulta de raça negra, em que cada célula
contém entre 50 a 300 cópias integradas de HPV 18. São células genética e
morfologicamente diferentes do tecido original, que não possuem inibição por contato e
são capazes de proliferar infinitamente quando em cultura. São utilizadas no
Laboratório de Virologia para a elaboração de controlo positivo para o HPV.

Figura 39 - Células HeLa (ATCC® CCL – 2TM). À esquerda baixa


densidade celular, à direita elevada densidade celular.

- VERO (ATCC® CCL - 81™) - são células epiteliais normais de rim (fibroblastos) de
macaco verde adulto africano. São suscetíveis a um leque alargado de microorganismos
de que são exemplo o Mycoplasma sp e os vírus polio humanos, rubéola, arbovírus e
reovírus. É uma linha celular autorizada para a elaboração de vacinas.

Figura 40 - Células VERO (ATCC® CCL - 81™). À esquerda baixa


densidade celular, à direita elevada densidade.

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7.4 PESQUISA DE ANTIGÉNIOS – ANTIGENÉMIA CITOMEGALOVÍRUS (CMV)

O CMV possui como fatores de virulência a cápside e as proteínas da matriz que


fazem a união da mesma ao envelope. A pp65 é a proteína viral dominante presente nos
leucócitos polimorfonucleares (principalmente nos neutrófilos) do sangue periférico
durante uma infeção ativa. É produzida em quantidades detetáveis mesmo nos estadios
precoces da infeção, sendo utilizada para o diagnóstico precoce de CMV,
providenciando medidas profiláticas e terapêutica apropriadas nos pacientes de risco
(transplantados e imunodeprimidos).

ANTIGENÉMIA CMV PP65

É uma técnica semi quantitativa que procura se o indivíduo expressa ou não a


proteína pp65. Requer que o paciente possua um mínimo de células sanguíneas brancas
(>1000).

 Princípio da Técnica: Método imunocitoquímico que permite a identificação da


fosfoproteína estrutural pp65 em leucócitos do sangue periférico, utilizando
anticorpos monoclonais marcados com peroxidase. O núcleo dos leucócitos,
quando positivo, cora de vermelho, podendo ser observado ao microscópio ótico.

Figura 41 - Antigenémia CMV (pp65).

 Amostra: Sangue total (colhido em EDTA) sem coágulos, pois estes podem
aprisionar as células pretendidas. Não refrigerar. Não congelar.

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7.5 SEROLOGIA

7.5.1 SEROLOGIA ARCHITECT®

No equipamento ARCHITECT® (metodologia ChemiFlex® descrita na valência


de Bioquímica) são pesquisados os seguintes vírus: vírus da Imunodeficiência Humana
(HIV-1/2), vírus Linfotrópico da Célula Humana (HTLV-I/II) e vírus da Hepatite A, B e
C. São processadas amostras de dádivas, de indivíduos que sofreram acidente de
exposição ao sangue (e respetiva fonte) e amostras de rotina do Laboratório de
Virologia. Nas duas primeiras, não é pesquisado o vírus da Hepatite A.

7.5.2 SEROLOGIA LIAISON®

O aparelho LIAISON® adota uma tecnologia de Quimioluminescência “Flash”


(CLIA) com uma fase sólida de micropartículas paramagnéticas. Esta tecnologia baseia-
se no princípio da Quimioluminescência (anteriormente descrito), que combina a
resposta imunitária de elevada especificidade com as propriedades da
Quimioluminescência na qual a emissão de luz ocorre num espaço de tempo muito
curto, resultando numa tecnologia altamente sensível. São pesquisados os seguintes
vírus: Herpes simplex 1 e 2 (HSV), Varicela Zooster (VZV), vírus Epstein-Barr (EBV),
CMV e Parvovírus B19.

7.5.3 SEROLOGIA HHV6 / HHV8 – IMUNOFLUORESCÊNCIA INDIRETA

A IFI permite uma deteção precoce da presença do vírus, nomeadamente, a


deteção dos anticorpos específicos para o Vírus Herpes Humano 6 (HHV-6) e do Vírus
Herpes Humano 8 (HHV-8).

Fundamento do método – ver Valência de Imunologia, capítulo da autoimunidade.

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7.6 BIOLOGIA MOLECULAR

A Virologia é uma das áreas que mais utiliza as técnicas de Biologia Molecular
para o estudo da estrutura e função do material genético e seus produtos de expressão,
as proteínas. Das várias técnicas disponíveis, a mais aplicada para a deteção de carga
viral, onde por vezes a quantidade de ácido nucleico disponível é reduzida, é a Reação
em Cadeia da Polimerase (PCR – Polymerase Chain Reaction).

Reação em Cadeia da Polimerase (PCR - Polymerase Chain Reaction)

A PCR é utilizada para amplificar regiões específicas do genoma de uma forma


exponencial. Sequências de cDNA (obtido por ação da enzima Transcriptase Reversa
que converte o RNA viral em DNA complementar – cDNA) ou DNA especificas,
dentro de um modelo, podem ser copiadas (ampliadas), detetadas e quantificadas. É um
método muito sensível de análise cujo processo consiste basicamente em utilizar os
mecanismos da replicação in vitro. Assim, a PCR compreende as seguintes etapas:

 Extração prévia do material genético – DNA ou RNA;

 Adição de uma mistura (também conhecida como pré-mix) – contém:

- dNTPs (desoxirribonucleotídeos trifosfatos) - bases nitrogenadas ligadas


com um três fosfato;

- Primers (também chamados de oligonucleótidos ou iniciadores) –


específicos para o genoma a detetar;

- Enzima DNA polimerase incluída numa solução tampão.

 Incubação em termociclador – equipamento que realiza ciclos de temperatura


pré-estabelecidos com tempos exatos específicos para cada reação (fragmento a
ser amplificado). Cada ciclo contempla três fases:

 Primeira etapa do ciclo (Desnaturação) - a temperatura é elevada até aos


94 a 96 °C por um breve espaço de tempo para que haja a separação da
dupla cadeia de DNA.

 Segunda etapa do ciclo (Aneeling) - a temperatura é reduzida para 50 a


60 °C, dependendo da quantidade de citosina (C) e guanina (G) presente
no primer, para que os mesmos se emparelhem com a cadeia molde de
DNA (anelamento).

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 Última etapa do ciclo (Elongação) - a temperatura é elevada a 72 °C para
que a enzima atue sintetizando a nova molécula (extensão ou elongação).

A metodologia de deteção do produto amplificado depende do tipo de PCR


aplicado.

 - PCR Clássico

É um sistema aberto no qual a deteção e quantificação do produto amplificado se


realizam no final da reação, após o último ciclo de PCR. O resultado é analisado através
de uma eletroforese em gel de agarose ou de poliacrilamida, e interpretado, tendo como
base um padrão de peso molecular adicionado paralelamente com a amostra. Na prática,
nos primeiros ciclos de amplificação, a reação não está na sua fase exponencial
originando erros associados a amplificações inespecíficas que podem interferir no
resultado final quando a quantificação é efetuada apenas no final da PCR.

Figura 42 - Avaliação da precisão da quantificação dos


produtos de PCR, de acordo com os ciclos de
replicação. A verde. fase exponencial com elevada
precisão. A vermelho, nitida variação da fase de
plateau (final da reação de PCR).

 - PCR em Tempo Real

É um sistema fechado que recorre à utilização de marcadores fluorescentes, que


são incorporados no produto de PCR, permitindo a quantificação do produto
amplificado a cada ciclo. Este método utiliza o momento do ciclo da reação no qual a
amplificação de um genoma alvo ultrapassa um limite (cut-off / Threshold). Quanto
mais alto o número de cópias iniciais do ácido nucleico alvo, mais rápido será
observado a quantidade de fluorescência superior ao cut-off. O aumento do sinal de
fluorescência é diretamente proporcional ao número de moléculas de produto
amplificado (Amplicon) formadas na fase exponencial da PCR

Toda a análise é efetuada através de software apropriado sem a necessidade de


recorrer à deteção em gel. Assim, para a quantificação do DNA, estabelece-se uma linha
de base (baseline), que resulta de uma análise do fundo (background), e que traduz os
primeiros ciclos a partir dos quais se verifica uma ligeira alteração do sinal de

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fluorescência. Em função da baseline, estabelece-se uma linha a partir da qual se
verifica um aumento estatisticamente relevante do sinal de fluorescência, em que o vírus
é dado como detetado (Threshold), eliminando-se o ruído de fundo e obtendo-se um
valor de cut-off analítico para cada corrida, assim como, o ciclo a partir do qual o
Threshold é cruzado, verificando-se a duplicação do genoma viral (Ct – Cycle
Threshold).

Threshold
(Fluorescência)
Log

Fluorescência Background Fase


Exponencial

Cycle Threshold (Ct):


ciclo em que a amostra
Nº de Ciclos cruza o Threshold.

Figura 43 - Esquema gráfico da quantificação de DNA na PCR em Tempo Real.

A PCR em Tempo Real pode ser aplicada: quando se pretende uma


quantificação absoluta (ex. carga viral), uma quantificação relativa (ex. expressão
génica) ou uma descriminação qualitativa (presença / ausência de DNA).

Existem várias metodologias de deteção da PCR em Tempo Real:

1. Corantes fluorescences – o mais usado é o corante SYBR® Green I. É uma


deteção inespecífica.

2. Sondas – as mais usadas são as sondas TaqMan® (que funcionam por Hidrólise).
Existem ainda sondas que operam por hibridação. A deteção por sondas é
específica.

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Figura 44 - Esquema reacional dos diferentes tipos de PCR.

 PCR EM TEMPO REAL POR SYBR® GREEN

Esta metodologia utiliza o corante SYBR® Green (um fluoróforo em suspensão)


e assenta na propriedade deste se ligar de forma altamente especifica ao DNA de dupla
cadeia (liga-se no minor groove do DNA intercalando-se), para detetar o produto da
PCR, à medida que este se acumula durante os ciclos replicativos, possibilitando a
monitorização contínua da reação.

 PCR EM TEMPO REAL POR SONDAS TaqMan®

Usa uma sonda com dois fluoróforos, na extremidade 5´uma molécula


fluorescente (Reporter) e na extremidade 3’ uma molécula bloqueadora ou silenciadora
(Quencher - molécula que aceita energia de um fluoróforo na forma de luz e dissipa a
energia sob a forma de luz ou de calor). Se não ocorre amplificação do DNA, a sonda
está intacta, e a proximidade do Reporter ao Quencher bloqueia a fluorescência emitida
pelo primeiro. Por outro lado, durante a fase de elongação da PCR, a sonda emparelha

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com o DNA alvo e é então clivada pela actividade exonuclease da Taq Polimerase,
conforme o primer vai sendo estendido. A clivagem da sonda leva à separação entre o
Reporter e o Quencher, resultando na emissão do sinal. É um sistema de deteção
específico no qual oligonucleótidos marcados com fluoróforos altamente específicos da
sequência alvo emitem fluorescência apenas na presença do produto de PCR de
interesse. A emissão da fluorescência é diretamente proporcional à quantidade de
produto amplificado gerado.

Figura 45 - Esquema da PCR em Tempo Real com deteção por sondas TaqMan®.

DETERMINAÇÃO DA CARGA VIRAL

No IPOLFG a determinação da carga viral é efetuada por técnica de PCR em


Tempo Real. Com exeção dos Vírus Respiratórios, HBV e HCV cujas cargas virais são
determinadas por metodologias que empregam kits comerciais de PCR, as restantes
(HSV-1, HSV-2, VZV, CMV, EBV, HHV-6, HHV-7, HHV-8, BKV, JCV e Parvovírus
B19) são realizadas por metodologias in house, devidamente validadas em todos os
passos analíticos. O genoma viral é amplificado e detetado nos equipamentos ABI®
7300 e ABI® 7900 através de sondas TaqMan® e no Rotor-Gene® Q por corante SYBR®
Green. Nestes ensaios pretende-se a quantificação absoluta, ou seja, o número exato de
moléculas (cópias de DNA ou ng de DNA). A concentração inicial de uma amostra é
quantificada a partir de uma curva padrão de concentração conhecida.

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DETERMINAÇÃO CARGA VIRAL – POLIOMAS (BKV E JCV)

É realizada por técnica de PCR em Tempo Real, com metodologia in house, e


deteção por sondas TaqMan®, em que o Quencher está marcado com um corante que
ancora no DNA (quando este está presente) e emite fluorescência. São monitorizados
nos transplantados renais e em indivíduos com suspeitas de Cistite Hemorrágica ou
indivíduos com nefropatia.

DETERMINAÇÃO CARGA VIRAL HHV-6 DADORES DE MEDULA

A determinação da carga viral do vírus HHV-6 é um dos parâmetros incluídos


no rastreio serológico efetuado a dadores de medula, conjuntamente com a serologia
para o mesmo vírus e para os vírus CMV, EBV, HSV-1, HSV-2 e VZV.

Estima-se que uma percentagem da população tem o genoma do HHV-6


integrado no seu genoma celular, e que, quando o transplantado recebe essas células,
pode ter expressão viral com uma súbita elevação da carga viral no sangue. Esta é a
razão pela qual é importante a determinação da carga viral. Vai permitir distinguir, caso
se verifique posteriormente no transplantado esse aumento, uma infeção ou reativação
do HHV-6 no transplantado que é causa de morbilidade e necessita de tratamento
antiviral, de uma integração de genoma, que é uma condição benigna e não acarreta
consequências nefastas para o transplantado ou para o dador.

A integração do genoma viral do HHV-6 é detetada pela determinação da carga


viral, pela metodologia de PCR em Tempo Real, a partir de um cabelo com o respetivo
folículo do dador.

VÍRUS RESPIRATÓRIOS

A deteção de vírus respiratórios no IPOLFG é efetuada por um Sistema


Multiplex de PCR em Tempo Real Quantitativo com recurso à Transcrição Reversa
(RT-qPCR) (a maioria dos vírus respiratórios são vírus a RNA pelo que é necessário
proceder à síntese de cDNA antes da amplificação). Diferentes tipos de amostra podem
ser processados: plasma, LBA, aspirados e zaragatoas. O procedimento compreende as
etapas anteriormente descritas para a técnica de PCR em Tempo Real (Extração,
Transcrição reversa, Amplificação e Deteção) com recurso a kit comercial. Na
amplificação são usados dois primers que reconhecem um grupo de vírus diferente: um

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primer para o set de vírus A e outro para o set de vírus B (ver tabela 15). São
preparadas, portanto, duas mix, uma para cada painel de vírus.

Tabela 15 - Vírus Respiratórios identificados de acordo com os primers utilizados.

Painel A Painel B
- Adenovírus (AdV) - Vírus Sincicial Respiratório A (VSR A)
- Influenza A vírus (FluA) - Vírus Sincicial Respiratório B (VRS B)
- Influenza B vírus (FluB) - Bocavírus 1/2/3/4 (HBoV)
- Parainfluenza vírus1 (PIV1) - Metapneumovírus (MPV)
- Parainfluenza vírus2 (PIV2) - Coronavírus 229E (CoV 229E)
- Parainfluenza vírus3 (PIV3) - Coronavírus NL63 (CoV NL63)
- Parainfluenza vírus4 (PIV4) - Coronavírus OC43 (CoV OC43)
- Rinovirus A/B/C (HRV) - Enterovírus (HEV)

A distinção dos diferentes vírus é realizada por análise da curva de dissociação,


característica de cada vírus A interpretação e expressão de resultados são efetuados com
base no seguinte (tabela 16):

Tabela 16 - Análise e expressão de resultados na Deteção de Vírus Respiratórios.

Resultado da Análise Preliminar Expressão dos Resultados

Sem Vírus Detetado e com Controlo Amostra Negativa. Vírus Respiratórios Não
Interno Detetado Detetados.

Sem Cópias Detetadas e Controlo


PCR Inibido.
Interno Não Detetado

Com Cópias Detetadas e Com/Sem Amostra Positiva. Vírus Respiratórios


Controlo Interno Detetado Detetados (são indicados os vírus detetados).

VÍRUS DO PAPILOMA HUMANO (HPV)

As metodologias de deteção do DNA do HPV contribuem para um melhor valor


preditivo negativo, como teste de screening. A combinação da citologia com o teste de
HPV atinge um valor de eficácia muito alto, e a sua utilização, pode permitir aumentar

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os intervalos de triagem no rastreio do Cancro do Colo do Útero. Os métodos mais
utilizados para análise molecular do HPV são: a Hibridação in situ (ISH), Reação em
Cadeia da Polimerase (PCR) que varia desde a PCR alelo específica, passando pelo tipo
Nested e a PCR Multiplex, e a mais nova técnica baseada na tecnologia de Microarray.

DETEÇÃO DO HPV – LABORATÓRIO DE VIROLOGIA

As amostras que chegam ao Laboratório de Virologia para a deteção do HPV seguem o


seguinte fluxograma

Amostra para a
Deteção do HPV

Preparação da Amostra

Extração do DNA

RT – qPCR SYBR Green

+ - Resultado

Genotipagem A partir do Extraído:


por INNO-LIPA PCR Clássico

Genotipagem
Resultado por Microarrays Resultado
(Papillocheck®)

Figura 46 - Etapas do processamento das amostras recebidas no Laboratório de Virologia para deteção de HPV.

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RT-PCR SYBR Green na Deteção do HPV

Está implementada uma metodologia in house de PCR em Tempo Real na qual


são empregues primers consenso e degenerados específicos (SPF10) complementares a
uma região altamente conservada do gene L1 (amplificação de um fragmento de DNA
de 65pb) e que são potencialmente capazes de descriminar todos os tipos de HPV que
infetam as mucosas, com a propriedade de deteção simultânea de múltiplos genótipos.
A deteção da amplificação é feita através do sistema do corante SYBR ® Green I. Como
controlo interno são utilizadas células Ca Ski, HeLa ou SiHa mantidas em cultura
celular, infetadas com HPV.

A tecnologia de genotipagem a desenvolver determina a escolha dos primers


para a amplificação. Para a genotipagem por INNO-LIPA pretende-se a ampliação da
região L1 do DNA do HPV e por Microarrays a ampliação da região E1. Assim, para a
genotipagem por tecnologia de INNO-LIPA, parte-se diretamente da amplificação
genómica resultante da metodologia de PCR em Tempo Real mas, para a tecnologia de
Microarrays, é necessário partir do extraído e proceder a nova amplificação por PCR
clássico com os primers adequados.

PCR Clássico na Deteção do HPV

Está implementada uma metodologia in house na qual um fragmento de DNA de


aproximadamente 350 pb do gene E1 do HPV é amplificado na presença de um
conjunto de primers específicos e nucleótidos marcados com fluorescência (Cy5), por
técnica de PCR clássico. Paralelamente com o objetivo de detetar possíveis falsos
negativos, um fragmento do gene humano da albumina é amplificado na reação e
informa sobre a qualidade da amostra (controlo interno). Os produtos de amplificação
serão hibridados para sondas de DNA complementares na microplaca (Chip).

TIPAGEM DO VÍRUS PAPILOMA HUMANO (HPV)

Sendo que diferentes tipos de HPV podem causar diferentes tipos de lesão a
genotipagem é o objetivo fulcral, pois é o único método que pode informar se um
determinado genótipo cancerígeno de alto risco ao HPV está presente. A tipagem é
efetuada por tecnologia de Microarrays ou INNO-LiPA:

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 Tecnologia Microarrays (PapilloCheck®)

O microarray é uma técnica que consiste na incubação do produto da PCR em


um chip contendo 24 tipos diferentes de sonda para 15 tipos de HPV de Alto Risco (16,
18, 31, 33, 35, 39, 45, 51, 52, 56, 58, 59, 68, 73 e 82), 2 de Provável Alto Risco (53 e
66) e 7 de Baixo Risco (6, 11, 40, 42, 43, 44/55 e 70). O DNA presente amplificado
pela técnica de PCR clássico é hibridado com as sondas específicas presentes em cinco
réplicas no chip. Durante a hibridação é introduzida a etiquetagem fluorescente que
permitirá a leitura dos diferentes tipos de HPV.

Figura 47 - Esquema da Tecnologia de Microarrays e das microplacas do PapilloCheck®.

Expressão dos Resultados

Tabela 17 - Expressão dos resultados de deteção e genotipagem do HPV por tecnologia de Microarrays.

Resultado da Análise Preliminar Expressão dos Resultados

Ausência de DNA viral na amostra ou em


quantidade inferior ao limite de sensibilidade do Amostra Negativa. Vírus HPV Não Detetado.
teste.

DNA viral na amostra Detetado pela PCR em


Tempo Real mas Não Detetado pelo kit de Ensaio Inconclusivo.
genotipagem.

Amostra Positiva. HPV Detetado (é indicado o


DNA viral na amostra Detetado pela PCR em
ou os genótipos específicos, com denominação de
Tempo Real e Detetado pelo kit de genotipagem.
Alto Risco (AR) ou Baixo Risco (BR).

Impossível chegar a um resultado final por


presença de substâncias inibidoras da Ensaio Inibido.
amplificação.

Material insuficiente que garanta uma extração


Amostra insuficiente.
eficiente.

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 Tecnologia INNO-LiPA

O INNO-LiPA® HPV Genotyping Extra é um ensaio de sondas em linha, para


diagnóstico in vitro, concebido para a identificação de 28 genótipos diferentes do HPV
(15 de Alto Risco: 16, 18, 31, 33, 35, 39, 45, 51, 52, 56, 58, 59, 68, 73 e 82; 3 de
Provável Alto Risco: 26, 53 e 66; e 7 de Baixo Risco: 6, 11, 40, 43, 44, 54 e 70. Ainda
deteta os tipos adicionais não classificados: 69,71,74), através da hibridação reversa, do
produto de amplificação com primers SPF10 de sequências específicas da região L1 do
genoma viral biotinilado, previamente desnaturado, com sondas oligonucleotídicas
especificas. Um par de iniciadores adicionais para amplificação do gene humano HLA-
DPB1 é adicionado para monitorizar a extração e a qualidade da amostra.

Interpretação visual (manual) do sinal padrão

As tiras são lidas quando totalmente secas. Uma linha é considerada positiva
quando no final do teste se visualiza uma faixa de cor púrpura/ castanha nítida.

Figura 48 - Local das sondas específicas nas tiras INNO-LiPA® HPV Genotyping Extra. A linha de marcação inicial existente na
parte superior da tira serve para orientação.

Tabela 18 – Resultados possíveis e respetiva interpretação das bandas controlo presentes em cada tira.

Resultado de HPV Resultado de DNA humano Interpretação


Ausência de banda Ausência de banda Resultado inválido
Presença de banda (s) Presença de banda Resultado Não detetado
Presença de banda (s) Ausência de banda Resultado Detetado
Presença de banda (s) Presença de banda Resultado Detetado

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Análise das tiras das Amostras

- Todas as linhas visíveis são classificadas de acordo com o cartão de leitura do INNO-
LiPA® HPV Genotyping Extra. Este cartão é um diagrama de interpretação, constituído
por uma grelha, que em função das linhas que positivam, nos dá o genótipo (ou
genótipos) do HPV detetado. Exemplo: reativo nas linhas 12 e 25 – genótipo 68 Alto
Risco identificado; reativo linhas 1, 8, 13 e 18 – genótipo 6 Baixo Risco e genótipo 40
Baixo Risco identificados. Coinfeção. (ver fig.49)

Figura 49 - Cartão de leitura do INNO-LiPA® HPV Genotyping Extra.

7.7 MARCADORES TUMORAIS

No Laboratório de Virologia é doseado apenas a Enolase Específica dos


Neurónios (NSE) e o Antigénio polipeptídico específico Tecidular (TPS).

Amostras: Soro; O grau de hemólise da amostra é importante no doseamento da NSE


porque os glóbulos vermelhos também possuem a enzima.

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Método: Quimioluminescência.

Equipamento: ARCHITEC® ci8200 da Abbott.

NSE

A NSE é uma enzima glicolítica associada a neurotumores endócrinos que a


secretam como o cancro de pulmão de pequenas células (para o qual tem elevada
especificidade), neuroblastoma e tumor carcinóide. Determinações seriadas para este
marcador num doente diagnosticado com esta malignidade, é importante para a
monitorização da evolução da doença (estagiamento do tumor, prognóstico, eficácia de
terapêutica, recidivas).

TPS

O Antigénio Polipeptídico Específico Tecidular pertencente ao grupo das


citoqueratinas (citoqueratina 18), proteínas que compõem os filamentos intermediários
do citoesqueleto das células epiteliais. É concretamente um epitopo antigénico no
complexo TPA (Antigénio Polipeptídico Tecidular) especificamente reconhecido pelo
anticorpo monoclonal M3. O TPS está correlacionado com a atividade proliferativa de
tumores do pulmão, nomeadamente com o carcinoma do Pulmão de Células Não
pequenas. Determinações seriadas para este marcador num doente diagnosticado com
esta malignidade, é importante para a monitorização da evolução da doença
(estagiamento do tumor, prognóstico, eficácia de terapêutica, recidivas).

8. CONTROLO DE QUALIDADE (CQ) NO SPC DO IPOLFG

O CQ é parte integrante da estrutura de um sistema da qualidade, com o objetivo


de verificar e assegurar que os resultados obtidos cumprem com os requisitos de
qualidade pré estabelecidos, de modo a serem fiáveis. Com esta ferramenta, pretende-se
detetar a presença de possíveis erros, em qualquer etapa do processo – fase pré analítica,
analítica e pós analítica.

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O SPC obteve a acreditação da totalidade dos seus ensaios, nas suas várias
valências, de acordo com a NP EN ISO 15189:2007. Aplica ferramentas objetivas de
decisão da validade dos métodos, como meio de julgar a adequabilidade dos mesmos,
através do CQ (interno e externo), e de conceitos como erro total analítico, erro total
aceitável e incerteza de medição. O erro total está dependente do coeficiente de
variação, que reflete a imprecisão, e que se obtém do controlo de qualidade interno; e do
BIAS, que reflete a inexatidão, e que é fornecido pelo controlo de qualidade externo. A
rastreabilidade das suas medições é promovida através da implementação de planos de
calibração e ensaios de equipamento, calibração dos métodos com recurso a
calibradores rastreáveis a materiais de referencia certificados sempre que possível,
implementação de medidas de conservação dos materiais de referência/calibradores e
participação ativa em programas de avaliação externa da qualidade, nacionais e
internacionais.

8.1 Controlo de Qualidade Interno (CQI)

Trata-se de um controlo intralaboratorial que consiste na análise estatística de


amostras controlo (materiais de referência), cujos valores analíticos são conhecidos,
avaliando a precisão e exactidão dos métodos. Este controlo permite garantir a
reprodutibilidade dos resultados, verificar a calibração dos sistemas analíticos e a
ocorrência de não conformidades que desencadearão medidas corretivas.

O CQI tem a capacidade, entre outras, de revelar as diferentes variações ou tipos


de erro que podem ocorrer na rotina diária de um laboratório de análises clínicas: erros
aleatórios e erros sistemáticos. Os erros aleatórios correspondem a erros positivos ou
negativos, cuja direção e magnitude não pode
ser prevista e que se revelam através da
dispersão em redor da média, de um conjunto
de medições efetuadas na mesma amostra.
Estão, assim, relacionados com a precisão de
um dado método. Os erros sistemáticos
assumem sempre a mesma direção (positivo
ou negativo) e, portanto, provocam um
desvio da média em relação ao valor
“convencionalmente exacto” da grandeza
que está a ser medida. Deste modo, estes
Figura 50 - Representação esquemática do erro total.
erros estão relacionados com a exactidão de
um método. O erro total descreve a contribuição conjunta dos erros aleatórios e
sistemáticos, podendo funcionar como estimativa da incerteza de medição. O erro total
admissível corresponde ao intervalo de erro estipulado pelo laboratório, com base em
referências nacionais ou internacionais, que serve de base para caracterizar as margens
de erro aceitáveis para um determinado método, tendo em consideração a utilização
clínica prevista para os resultados.

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Figura 51 - Diferença entre precisão e exatidão.

8.1.1 CQI LABORATÓRIO DE BIOQUÍMICA

Para cada um dos analitos doseados, é definida a tolerância de acordo com as


tabelas em vigor, avaliação externa da qualidade e/ou erro total do laboratório
(especificação interna). A monitorização do CQI é efetuada através do software
MultiQC6. Estabelecem-se cartas de controlo, com definição dos limites máximo e
mínimo da nuvem de aceitação, em torno de uma média móvel. São utilizados
diferentes tipos de controlo, consoante o analito em causa (multiconstituinte ou de
analito único; liofilizados que necessitam de reconstituição prévia ou líquidos prontos a
usar, refrigerados ou congelados em alíquotas). A periocidade com que são analisados
varia de acordo com o volume de amostras processadas para determinado analito (por
exemplo analitos que são doseados rotineiramente como a glicose, transaminases entre
outros, o controlo é analisado de manhã e à tarde; analitos com maior instabilidade
como os eletrólitos, necessitam de um controlo mais apertado – 3xdia; analitos com
baixa frequência de análise ou com dias específicos de doseamento, como o doseamento
de fármacos e doseamentos na urina, os controlos são analisados apenas quando
necessários para a validação da corrida).

8.1.2 CQI LABORATÓRIO DE IMUNOLOGIA

Imunofixação - são aplicados os critérios do fornecedor para a monitorização do


CQI, analisando-se os perfis e as bandas resultantes das respetivas corridas, que se
efetuam conjuntamente com as amostras em análise. Resultados do controlo fora do
intervalo de aceitação implicam a rejeição de todos os valores obtidos para as
amostras, anulação da corrida e repetição da mesma após a toma de medidas
corretivas.

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Proteinograma e Eletroforese de Hemoglobinas - A monitorização do CQI é
efetuada através do software MultiQC6 à semelhança da valência de Bioquímica.

Autoimunidade – Técnicas de Imunofluorescência e de Immunoblot; Serologia


– Técnicas Manuais. - Às Técnicas mencionadas são aplicados os critérios do
fornecedor para a monitorização do CQI, quer as automatizadas, quer as executadas
manualmente. Os controlos são manuseados como se de uma amostra se trata-se, e
são concomitantemente analisados no ensaio das mesmas. Resultados não válidos
para os controlos, invalidam todos os resultados obtidos para as amostras e
implicam a repetição de todo o procedimento, após a toma de medidas corretivas.

8.1.3 CQI LABORATÓRIO DE VIROLOGIA

De modo a monitorizar os ensaios realizados, o CQI é aplicado:

 Através de análise de materiais de referência, nomeadamente, controlos comerciais


fornecidos com os kits de reagentes em simultâneo com as amostras a ensaiar, e que
permitem avaliar o desempenho dos ensaios de acordo com periodicidades
determinadas, cujos resultados são conservados nos equipamentos ou em folhas de
registo dos resultados;
 Através da realização de ensaios em duplicado para uma mesma amostra, utilizando
o mesmo método ou métodos diferentes;
 Através da análise de amostras anteriormente ensaiadas com valores conhecidos.

Todos os ensaios (kits comerciais e metodologias in house) têm definido os


parâmetros de validação e respetivo controlo de qualidade. No caso dos resultados dos
materiais de referência não se enquadrarem nestes registos, ultrapassando os limites
especificados nas bulas de ensaio, não são validados e o ensaio será repetido para todas
as amostras ensaiadas.

Ensaios Quantitativos

 InterQC - Este software permite a monitorização semanal dos ensaios realizados no


equipamento ARCHITECT®, através de controlos multiconstituintes para diversos
analitos. Para além da monitorização da precisão (CV%), esta metodologia permite
avaliar o erro sistemático (Bias), o erro total e o Sigma, uma vez que podemos
comparar com outros laboratórios que efetuam a mesma técnica, usando o mesmo
Página | 143
equipamento, funcionando, desta forma, como programa de Avaliação Externa da
Qualidade (AEQ).

 MultiQC - Este software permite a monitorização do CQI do Laboratório para


ensaios de Serologia e Biologia Molecular. Para esta monitorização existem duas
Bases de Dados implementadas:

 Ensaios automáticos – MultiQC EA e MultiQC AUT


 Ensaios manuais – MultiQC CV:

 Ensaios De Serologia (MultiQC6): monitorização da técnica de


Quimioluminiscência, realizada nos equipamentos ARCHITECT® (Abbott) e
LIAISON® (Diasorin).

 De Biologia Molecular (MultiQC6), nomeadamente Determinação de Carga


Viral por kit comercial (HBV e HBC). A periodicidade dos controlos dos
diferentes ensaios, definida como diária, indica que os controlos devem ser
sempre em simultâneo com as amostras, de modo a validar uma corrida
analítica.

 De Biologia Molecular (MultiQC7), nomeadamente da Determinação de


Cargas Virais com metodologia in house. É em tudo semelhante ao
MultiQC6, com a variante dos resultados serem introduzidos não em
cópias/UI mas em escala logarítmica. A periodicidade dos controlos: diária.

Ensaios qualitativos

São utilizados critérios definidos pelo fornecedor e/ou pelo laboratório. Os


controlos são manuseados como se de uma amostra se trata-se, e são
concomitantemente analisados no ensaio das mesmas. Resultados não válidos para os
controlos, invalidam todos os resultados obtidos para as amostras e implicam a
repetição de todo o procedimento, após a toma de medidas corretivas. Incluem-se nestes
ensaios:

 Imunofluorescência Indireta: Serologia HHV-6 e HHV-8.

 Periodicidade da Monitorização do Controlo Negativo, Controlo Positivo,


Branco e Resultados – Diária;

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 Tipo de Avaliação do Controlo Negativo, Controlo Positivo, Branco e
Resultados – Critérios do fornecedor.
 Tipo de Avaliação dos Resultados - Comparação de resultados entre
diferentes operadores.

 Os testes confirmatórios: HCV, HIV-1 e HIV-2 e HTLV.

 Periodicidade da Monitorização do Controlo Positivo e do Controlo


Negativo – Por corrida;

 Tipo de Avaliação – Critérios do fornecedor.

 Antigenémia CMV pp65

 Periodicidade da Monitorização do Controlo Positivo e dos Resultados -


Diária e Mensal respetivamente;
 Tipo de Avaliação do Controlo Positivo - Células Positivas (presença de
núcleo corado); Tipo de Avaliação dos Resultados - Comparação de
resultados.

8.2 Controlo de Qualidade Externo (CQE)

O CQE permite a avaliação do desempenho de um laboratório, através da


monitorização/avaliação dos resultados laboratoriais obtidos, por meio de Programas
Externos ou Interlaboratoriais geridos por uma entidade externa. O SPC participa em
Programas AEQ, nacionais ou internacionais, que
visam permitir, entre outros, a melhoria da
comparabilidade/uniformidade interlaboratorial, a
recolha de dados de desempenho dos métodos, a
avaliação do desempenho dos equipamentos e
reagentes, a verificação da existência de fatores que
afetam a qualidade dos resultados e a validação
retrospetiva de resultados. As amostras do CQE são
processadas conjuntamente com as amostras dos
Figura 52 - Esquema da rotina de um programa doentes, estando sujeitas as mesmas condições
de AEQ.
laboratoriais.

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8.2.1 CQE LABORATÓRIO DE BIOQUÍMICA

 - NEQAS - UK National External Quality Assessment Scheme;


 - PNAEQ (INSA, I.P.) - Programa Nacional de Avaliação Externa da
Qualidade – Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge (INSA,
I.P.);
 - RIQAS - Randox International Quality Assessment Scheme;
 - INSTAND e. V. - Gesellschaft zur Förderung der Qualitätssicherung in
Medizinischen Laboratorien e. V;

8.2.2 CQE LABORATÓRIO DE IMUNOLOGIA

 - NEQAS - UK National External Quality Assessment Scheme;


 - Euroimmun
 - PNAEQ (INSA, I.P.) - Programa Nacional de Avaliação Externa da
Qualidade – Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge (INSA,
I.P.);
 - RIQAS - Randox International Quality Assessment Scheme;
 - INSTAND e. V. - Gesellschaft zur Förderung der Qualitätssicherung in
Medizinischen Laboratorien e. V;

8.2.3 LABORATÓRIO DE VIROLOGIA

 - NEQAS - UK National External Quality Assessment Scheme;


 - INSTAND e. V. - Gesellschaft zur Förderung der Qualitätssicherung in
Medizinischen Laboratorien e. V;
 - InterQC - Integrated Quality Control for Laboratories (Vitro S.A.);
 - MCA
 - QCMD – UK Quality Control for Molecular Diagnostics;
 - CAP - College of American Pathologists;
 - WHO HPV LabNet

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9. VALÊNCIA DE MICROBIOLOGIA

O estágio na valência de Microbiologia, no Laboratório de Análises Clínicas


Cintramédica II, decorreu de 10 de Novembro de 2014 a 30 de Janeiro de 2015
(350h), sobre a coordenação da Dr.ª Sandra Nóbrega e da Dr.ª Inês Stilwell.
Permitiu o conhecimento dos procedimentos para as condições exigidas para a
obtenção, transporte e conservação de amostras para a valência de Microbiologia;
bem como a fase analítica, com a manipulação de metodologias conducentes à
identificação dos microorganismos e à determinação de parâmetros nos diversos
fluidos biológicos do organismo humano e animal; e a fase pósanalítica com a
validação de resultados como item principal. A Microbiologia é uma ciência cujo
objeto de estudo principal são os microorganismos (bactérias, fungos e parasitas)
através da sua identificação e caracterização das suas propriedades, e respetivas
alterações patológicas que originam nos seres vivos. Foram objetivos deste estágio
a sua compreensão através do manuseamento de técnicas (seleção de meios de
cultura, sementeira, isolamento, identificação, exame macroscópico e microscópico,
testes de sensibilidade aos antibióticos) que permitem a pesquisa e a identificação
de bactérias, fungos e parasitas.

9.1 O LABORATÓRIO DE MICROBIOLOGIA

Como principais atividades, salientam-se:

 Sementeiras e Isolamento de Colónias – efetuados em ambiente estéril com


recurso a ansas estéreis descartáveis (10μL e 1μL) e calibradas, em meios de
cultura apropriados.

 Identificação de Bactérias e Fungos – nas diversas amostras biológicas por


observação macroscópica e/ou microscópica de frescos e colorações (Gram,
Ziehl-Neelsen), através da utilização de meios de cultura cromogéneos
apropriados (meio CPS e meio CAN2) e por técnicas que têm por base
propriedades bioquímicas específicas manuais (Pastorex TM STAPH-Plus,
Slidex ® Strepto Plus, Slidex ® Pneumo Kit) e por Galerias Api ® (Pesquisa de
micoplasmas) ou automatizadas (aparelho Vitek ® 2 compact);

 Teste de Sensibilidade aos Antibióticos - visando a obtenção de um conjunto


de antibióticos de classes farmacológicas diferentes que podem ser prescritos
pelo médico e administrados de modo a debelar a infeção presente detetada.
Está implementada uma metodologia automatizada levada a cabo no aparelho
Vitek® 2 compact.

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 Estudo das Fezes – nomeadamente através da pesquisa de sangue oculto,
ovos quistos e parasitas, pesquisa direta de antigénios da Giardia intestinalis,
grau de digestão das fezes, pesquisa de leucócitos e pesquisa de substâncias
redutoras.

 Estudo do Esperma – espermograma.

ORGANIZAÇÃO ESPACIAL E REGRAS DE TRABALHO NA MICROBIOLOGIA

O setor da Microbiologia obedece a várias especificações, de acordo com a


legislação em vigor e as boas práticas laboratoriais. A sala de Microbiologia possui
características próprias, adequadas às necessidades imputadas ao trabalho que nelas
se desenvolve. Encontra-se fisicamente separado das restantes valências, com
comunicação direta com a sala de lavagem. A sala possui o seguinte esquema:

Amostras Amostras a
Estudo das Fezes.
Câmara de
Vitek
Colorações

processadas Fluxo Laminar processar


Sementeiras
Estufas

Bancada
Bancada

Microscópio
Frigorífico

Comunicação com
a sala de lavagem

Entrada

Figura 53 - Esquema do Laboratório de Microbiologia.

A movimentação nas diferentes áreas de trabalho rege-se pela regra de


“marcha em frente”. Amostras processadas não voltam à bancada das amostras por

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processar e cada tipo de amostra é processada na bancada para a qual está
destinada. Deste modo evitam-se contaminações e erros de processamento.

9.2 TRIAGEM NO LABORATÓRIO DE MICROBIOLOGIA

Todos os produtos biológicos que dão entrada no Laboratório de Microbiologia


regem-se pelo seguinte fluxograma:

Colheita das Amostras

Recepção de Produtos

As amostras devem cumprir alguns requisitos.


Verificar:
Protocolo de aceitação de amostras.
- Se identificação clara e correta;

- Tipo de amostra;

- Condições de colheita;
Emissão de Etiquetas
- Condições de transporte e conservação
(temperatura, meio de transporte utilizado para
conservação da amostra, tempo de chegada, ...)

Processamento e/ou Armazenamento - Volume

Aliquotagem (se
aplicável)

Eliminação das Amostras

Figura 54 - Fluxograma do circuito das amostras no Laboratório de Microbiologia.

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Obtenção De Amostras – Condições de Colheita

A colheita apropriada da amostra é a etapa mais importante para a confirmação


de que um microrganismo é responsável pelo processo infeccioso.

 Condições Específicas de Colheita

URINA

A. Urocultura

 Colheita jato médio Homem – afastar o prepúcio e limpar a glande com compressas
embebidas em água ou soro fisiológico. Manter o prepúcio afastado durante toda a
colheita. Desperdiçar a primeira porção de urina, recolher o jato médio e rejeitar a
porção final da mesma.

 Colheita jato médio Mulher – afastar os grandes lábios vaginais e limpar a zona
com compressas embebidas em água ou soro fisiológico da frente para trás. Manter
os lábios vaginais afastados durante toda a colheita. Desperdiçar a primeira porção
de urina, recolher o jato médio e rejeitar a porção final da mesma.

 Saco coletor em crianças – Limpar toda a zona genital externa com compressas
embebidas em água ou soro fisiológico. Aplicar um saco autocolante estéril,
evitando tocar no bocal do mesmo, e aguardar que a criança urine. Se ao fim de 30
minutos não tiver urinado retirar o saco e repetir todo o procedimento anterior.

B. Pesquisa de Mycoplasma sp.

Seguir as medidas e o procedimento de limpeza descritos para a urocultura, mas


recolher o primeiro jato da primeira urina da manhã.

C. Pesquisa de Mycobacterium sp.

Seguir as medidas e o procedimento de limpeza descritos para a urocultura, mas


recolher toda a primeira urina da manhã (volume mínimo 40mL).

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EXPETORAÇÃO

Respirar profundamente várias vezes e recolher a expetoração proveniente de


tosse profunda, de manhã e em jejum, lavando previamente a boca apenas com água.
Pretende-se que a amostra contenha o mínimo de saliva possível para não a diluir e que
seja livre de corrimento nasal. Para o exame cultural, a amostra deve ser entregue no
próprio dia da colheita com a maior brevidade possível. Se o exame exigir mais do que
uma amostra, estas devem ser colhidas em dias consecutivos e apenas uma amostra por
dia nas condições descritas.

FEZES

Para qualquer exame a realizar, das fezes emitidas retirar uma amostra do
tamanho de uma noz para o coletor estéril. Se houver porções purulentas ou
sanguinolentas escolher estas porções. O recipiente para onde se defeca deve ser
previamente lavado com detergente e nunca com álcool. A amostra não pode estar
contaminada com urina.

A. Coprocultura

A amostra deve ser entregue ao laboratório com a maior brevidade possível e


não pode ser refrigerada. Se for requisitada a análise de três amostras, estas devem ser
recolhidas em dias consecutivos e ser entregues diariamente. Não é necessária qualquer
dieta.

B. Pesquisa de Ovos, Quistos e Parasitas

Normalmente é efetuada a análise em amostras de três dias consecutivos, mas é


variável de acordo com a requisição médica. Rotular cada recipiente com a sequência de
recolha (1º dia, 2º dia, etc...). As amostras podem ser refrigeradas e entregues
posteriormente ao laboratório, caso não seja possível faze-lo diariamente. Não é
necessária qualquer dieta.

C. Pesquisa de Sangue Oculto

Seguir o procedimento referido para a pesquisa de ovos, quistos e parasitas.

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D. Grau de Digestão das Fezes

Nos três dias que antecedem a colheita, efetuar uma alimentação variada e não
usar laxantes. As amostras podem ser refrigeradas e entregues posteriormente ao
laboratório, caso não seja possível faze-lo no próprio dia.

ESPERMA

A. Espermograma

O esperma deve ser recolhido após um período de abstinência de relações


sexuais de 3 a 5 dias e ser entregue no laboratório num prazo máximo de 30 minutos,
mantendo-o à temperatura corporal. O não cumprimento destas especificações e volume
de esperma inferior a 1mL constituem critérios de rejeição da amostra.

B. Espermocultura

A amostra deve ser obtida após a higiene prévia dos genitais e ser entregue no
próprio dia no laboratório à temperatura ambiente.

EXSUDADO VAGINAL / EXSUDADO VULVAR

O exsudado vaginal é efetuado a nível do endocolo com espéculo (exceto nas


gestantes: efetuado sem espéculo e a ¾ da vagina), de modo a expor corretamente o
colo do útero. O exsudado vulvar é efetuado ao nível da vulva, como alternativa ao
exsudado vaginal, em crianças e mulheres virgens nas quais não se pode utilizar o
espéculo nem alcançar o endocolo. Não deve ser efetuado qualquer tipo de higiene.

Exame Bacteriológico e Micológico

- Efetuar uma primeira colheita com zaragatoa estéril apropriada – zaragatoa a


utilizar na sementeira;

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- Efetuar uma segunda colheita com zaragatoa estéril e proceder à execução de dois
esfregaços em lâmina (para coloração Gram). Colocar a mesma zaragatoa num
pouco de soro fisiológico – zaragatoa a utilizar para o exame a fresco.

Pesquisa de Mycoplasma sp.

A obtenção de amostra para a pesquisa de Mycoplasma sp., por ser uma bactéria
intracelular, deve ser feita ao nível do endocolo, com zaragatoa apropriada e uso de
espéculo, procedendo à raspagem das células da parede do mesmo. Caso seja prescrito o
exame bacteriológico e micológico e a pesquisa de Mycoplasma sp., proceder primeiro à
obtenção da amostra para a primeira análise.

Pesquisa de Estreptococos do grupo β

Efetuar a colheita no terço inferior da vagina com zaragatoa apropriada e sem


recurso ao espéculo. Normalmente é também realizado um exsudado retal com uma
segunda zaragatoa previamente humedecida em soro fisiológico.

EXSUDADO URETRAL

Todas as amostras devem ser obtidas de manhã antes do utente urinar ou no


mínimo três horas depois da última micção, ao nível da uretra. Toda a zona circundante
à uretra deve ser limpa com compressas embebidas em água ou soro fisiológico

A. Exame Bacteriológico e Micológico

- Efetuar uma primeira colheita com zaragatoa estéril apropriada – zaragatoa a


utilizar na sementeira. No Homem, previamente, pressionar ligeiramente a uretra de
modo a estimular a saída de corrimento e facilitar a colheita.
- Efetuar uma segunda colheita com zaragatoa estéril e proceder à execução de dois
esfregaços em lâmina (para coloração Gram). Colocar a mesma zaragatoa num
pouco de soro fisiológico – zaragatoa a utilizar para o exame a fresco.

Evitar que haja sangramento durante todo o processo da colheita.

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B. Pesquisa de Mycoplasma sp.

A obtenção da amostra para a pesquisa de Mycoplasma sp., por ser uma bactéria
intracelular, deve ser feita com zaragatoa apropriada, procedendo à raspagem das
células da parede da uretra.

EXSUDADO NASO-FARÍNGEO

I. Exsudado Nasal

Introduzir uma zaragatoa apropriada numa narina e rodá-la suavemente na


mucosa nasal fazendo-a deslizar lateralmente pela asa nasal interna. Introduzir nova
zaragatoa na outra narina e proceder do mesmo modo. Evitar o sangramento durante
todo o processo de colheita.

II. Exsudado Faríngeo

Pressionar a língua para baixo com auxilio de uma espátula de madeira. Passar
uma zaragatoa apropriada por toda a superfície de aspeto patológico (vermelha ou com
pús). O utente não deve comer nem efetuar higiene bucal nas duas horas que antecedem
a colheita.

EXSUDADOS PURULENTOS

 Superficiais

- Colher a amostra com auxílio de zaragatoa esterilizada fazendo deslizar a


mesma pela superfície purulenta: zaragatoa para exame cultural.

- Proceder do mesmo modo com uma segunda zaragatoa e efetuar dois esfregaços
em lâmina: para coloração Gram.

A zona não deve ser limpa previamente e não devem ser utilizados cremes
antibióticos nos 2 a 3 dias que precedem a colheita.
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 Profundos

A amostra é obtida através de seringa esterilizada. Desinfetar o local da punção


com álcool e solução iodada. O local da punção, após desinfeção, não pode voltar a ser
tocado (caso seja proceder a nova desinfeção). Deixar secar, proceder à recolha do
líquido e tapar de imediato a seringa, de modo a preservar a viabilidade de possíveis
patogénios anaeróbios.

SANGUE

Desinfetar a pele local com álcool a 70º e solução iodada. Deixar secar e
proceder a colheita de sangue total por punção venosa (adultos: 10-20mL sangue;
crianças: 1-5mL sangue). A obtenção da amostra deve ser coincidente com o início da
subida da temperatura (pico de temperatura) ou segundo indicação médica. O local da
venopunção, após desinfeção, não pode voltar a ser tocado (caso seja proceder a nova
desinfeção). A amostra não pode ser obtida a partir de um cateter. Após inoculação dos
frascos (Frasco tampa verde: adultos; Frasco tampa laranja: pesquisa de anaeróbios;
Frasco de tampa amarela: pediátricos), estes devem ser mantidos à temperatura
ambiente e enviados ao LAC com a maior brevidade possível.

PELE, UNHAS E CABELOS

A obtenção da amostra para a pesquisa de dermatófitos é efetuada com auxílio


de lâmina, bisturi ou pinça, após passagem prévia de uma zaragatoa embebida em álcool
a 70º para eliminar contaminantes bacterianos. Não utilizar iodo. Amostra de pele –
obter o raspado das bordas da lesão; Amostra de unha - obter o raspado e/ou material
abaixo da unha; Amostra de couro cabeludo – inclui a obtenção de cabelo.

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Meios de Transporte e Condições de Conservação de Amostras

Após a colheita é desejável que as amostras sejam rapidamente enviadas ao


laboratório, evitando assim a perda de viabilidade de alguns microrganismos ou o super
crescimento da flora indígena.

• Meio de Cary Blair – destinado sobretudo a microrganismos intestinais


patogénicos e outros coliformes fecais. A ausência de compostos nitrogenados
impede consideravelmente o crescimento de microorganismos e a composição
nutritiva (com hidratos de carbono) garante a sobrevivência deles;

• Meio Stuart – é um dos meios mais utilizados. Permite o transporte de diversos


materiais e a conservação de vários microorganismos patogénicos tais como:
Haemophilus spp., Pneumococcus, Salmonella spp., Shigella spp., entre outros. A
carência de uma fonte de nitrogénio impede consideravelmente a multiplicação de
microrganismos e a composição nutritiva garante a sobrevivência deles.

• Meio de Amies – é um meio de Stuart modificado no qual o glicerofosfato é


substituído por um tampão fosfato inorgânico. A presença de tioglicolato de sódio e
uma pequena quantidade de agar permitem obter um ambiente reduzido. A este,
pode ainda ser adicionado carvão. O carvão ajuda a neutralizar substâncias tóxicas
para patogénios sensíveis como a Neisseria gonorrhoeae.

• Meio com Indicador de anaerobiose – o meio de transporte para bactérias


anaeróbias possui azul de metileno que vira os 2/3 inferiores do meio para azul
quando à entrada de ar. Deste modo, assegura-se a integridade da anaerobiose do
meio e da amostra;

9.3 MEIOS DE CULTURA

Os meios de culturas são preparações químicas, que possuem na sua formulação


nutrientes necessários para que os microorganismos possam multiplicar-se, permitindo
o seu estudo e análise em laboratório. A seleção do(s) meio(s) de cultura para o
processamento inicial da amostra é muito importante e está condicionada à flora
patogénica desse local e à possível flora contaminante presente no trajeto que o produto
biológico percorre até ser colhido.

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MEIOS DE CULTURA UTILIZADOS NO LABORATÓRIO DE MICROBIOLOGIA

1. MEIOS LÍQUIDOS

 Caldo Coração - Cérebro (BHI)

O meio BHI (Brain Heart Infusion) é um meio de enriquecimento, composto por


uma base nutritiva enriquecida (cérebro, coração, peptona, entre outros),
especificamente adaptada ao crescimento de microrganismos aeróbios exigentes.

 Caldo Selenito F

O meio de Selenito é um meio de enriquecimento seletivo, composto por uma


base nutritiva enriquecida (selenito, peptona, entre outros), especificamente formulado
para favorecer o crescimento de bactérias do género Salmonella sp., no seio de uma
amostra polimicrobiana como as fezes. Inibe a maioria das Enterobacteriaceae,
incluindo algumas estirpes de Shigella sp.

 Caldo Todd-Hewitt

O meio de Todd-Hewitt é um meio de enriquecimento seletivo, composto por


uma base nutritiva suplementada com antibióticos (ácido nalidíxico e colistina),
especificamente formulado para favorecer o crescimento de estreptococos β hemolíticos
(Streptococcus agalactiae em gestantes), no seio de uma amostra polimicrobiana. Os
antibióticos presentes no meio inibem a maioria dos microrganismos Gram (-) da flora
de acompanhamento.

2. MEIOS SÓLIDOS

 Gelose CLED - Isolamento de Microorganismos Urinários

O meio CLED (Cystine Lactose Electrolyte Deficient) é um meio não seletivo


mas diferencial, utilizado para o isolamento e quantificação de colónias de
microrganismos presentes em amostras de urina (Gram positivos (+), Gram (-) e
leveduras). A presença da lactose diferencia bactérias fermentadoras:

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- Bactérias Lactose (+) – fermentadoras. Originam colónias
amarelas-pálidas e amarelas por acidificação do meio.

- Bactérias Lactose (-) - não fermentadoras. Originam colónias


verdes, azuis ou incolores.
Lactose (+) Lactose (-)

E a deficiência de eletrólitos permite limitar a invasão da gelose


pelos Proteus sp. (inibe o swarming dos Proteus sp.).

Figura 55 - Gelose CLED: Em baixo – não


inoculada; Em cima - inoculada.

 Gelose Mac Conkey (McK) - Isolamento seletivo de Enterobactérias

O meio de Mac Conkey é um meio seletivo e diferencial, que possui na sua


fórmula cristal de violeta, lactose, sais biliares, vermelho neutro, entre outros, que
favorece o crescimento de bactérias Gram (-), no seio de uma amostra polimicrobiana. É
utilizado para a pesquisa de Enterobactérias, a partir de amostras de origens diversas.
Permite evidenciar a fermentação da lactose pela viragem do meio
em função do indicador vermelho neutro:

- Bactérias Lactose (+) – fermentadoras. Originam colónias


rosas ou vermelhas, por vezes contornadas por um halo de
sais biliares; Lactose (+) Lactose (-)

- Bactérias Lactose (-) - não fermentadoras. Originam colónias


incolores ou ligeiramente bege.

A seletividade em relação às bactérias Gram (+) é proporcionada


pelos sais biliares e pelo cristal de violeta que inibem,
especialmente, o crescimento de Enterococos e Estafilococos.
Figura 56 - Gelose Mac Conckey: Em baixo - não inoculada;
Em cima – inoculada.

 Gelose SS - Isolamento seletivo da Salmonella sp. e Shigella sp.

O meio SS é um meio seletivo para a


pesquisa das espécies de Salmonella e Shigella, a
partir de amostras de fezes, e diferencial para a
presença de estirpes fermentadoras de lactose
(coloração rosa) e capazes de reduzir o tiosulfato
(produção de H2S - coloração negra). Possui na
Figura 57 - Gelose SS: à direita meio estéril; à
esquerda meio inoculado, com colónias suspeitas de sua composição sais biliares, citrato de sódio e o
Salmonella sp.
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corante verde brilhante que inibem a maior parte dos microrganismos Gram (+)
incluindo os coliformes.

 Gelose Campylosel (CAM) - Isolamento seletivo dos Campylobacter

O meio Campylosel é um meio seletivo para o isolamento


dos Campylobacter intestinais (C. jejuni e C. coli principalmente),
a partir de amostras de fezes. Contem na sua fórmula sangue de
carneiro, mistura de substâncias redutoras, antibióticos e
antifúngicos, entre outros, que privilegiam e potenciam o
crescimento destas espécies em detrimento de outras, inibindo a
maior parte dos contaminantes bacterianos e fúngicos. Figura 58 - Meio CAM inoculado. Colónias
suspeitas de Campylobacter intestinais.

 Gelose Columbia + 5% de sangue de carneiro (COS) - Isolamento de Bactérias


Exigentes. Deteção de Hemólise.

A gelose Columbia é um meio de isolamento que contém na sua fórmula uma


mistura de peptonas que facilita o crescimento de microorganismos exigentes.
Suplementada com sangue de carneiro, obtém-se um meio nutritivo muito rico adaptado
ao crescimento da maioria das espécies bacterianas (Gram (+) e Gram (-)). A presença
de sangue (eritrócitos íntegros) favorece a formação de halos de hemólise nítidos
(expressão da hemólise) que constitui um critério de base para a orientação da
identificação bacteriana. Assim, a gelose de sangue COS é um meio
enriquecido não seletivo mas diferencial para a hemólise:

• Hemólise alfa (α) – há formação de um halo esverdeado em


volta da colónia indicando hemólise parcial das hemácias;
• Hemólise beta (β) – observa-se uma zona clara ao redor da
colónia indicando uma hemólise total das hemácias; Figura 59 - Tipos de
hemólise observáveis em
• Hemólise gama (γ) – o meio permanece íntegro, sem hemólise gelose de sangue.
das hemácias, ao redor da colónia.

 Gelose Columbia ANC + 5% de sangue de carneiro (CNA) - Isolamento


Selectivo de Bactérias Exigentes. Deteção de Hemólise.

A gelose de sangue CNA possui uma fórmula base idêntica ao meio COS à qual
é adicionada uma mistura de antibióticos (ácido nalidíxico e colimicina) que permitem
inibir a maioria das bactérias Gram (-), bem como, as Gram (+) do género Bacillus sp..

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Assim, é um meio de isolamento seletivo e diferencial para o desenvolvimento das
bactérias Gram (+) frequentemente detetadas nas amostras clínicas: géneros
Streptococcus spp. e Staphylococcus spp. na sua maioria.

Figura 60 - Meio CNA: à esquerda e ao centro inoculado, com Streptococcus grupo A isolado no Laboratório de Microbiologia; à
direita meio estéril não inoculado.

 Gelose Chocolate PolyViteX (PVX) - Isolamento de Bactérias Exigentes

A gelose de chocolate é um meio rico não seletivo, que permite o crescimento da


maioria das bactérias inclusive, quando incubado em atmosfera controlada de CO2, de
microaerófilos. À base nutritiva do meio é adicionado sangue de
cavalo, carneiro ou coelho a temperatura elevada, provocando a
lise das hemácias, libertando-se hemina e hematina, compostos
fundamentais para o crescimento dos microrganismos exigentes.
A gelose PVX é composta por uma gelose de chocolate
adicionada de PolyViteX que enriquece ainda mais o meio em
factores X (hemina) e V (NAD). É um meio de isolamento não
seletivo mas que se destina particularmente ao crescimento de
estirpes fastidiosas pertencentes aos géneros Neisseria sp.,
Haemophilus sp. e Streptococcus pneumoniae por apresentarem
neste meio colónias características.
Figura 61 - Gelose de Chocolate: Em cima, inoculado, com colónias
suspeitas de Haemophilus sp.; em baixo, não inoculado, estéril.

 Gelose Chocolate PolyViteX VCAT3 (VCA3) - Isolamento Seletivo de Neisseria


gonorrhoeae e Neisseria meningitidis

O meio VCA3 é uma gelose de Chocolate PolyViteX modificada. É um meio


seletivo para o isolamento de Neisseria gonorrhoeae e Neisseria meningitidis. Contém

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na sua fórmula antibióticos (vancomicina, colistina e
anfotericina) que inibem o crescimento de Neisserias saprófitas,
fungos e outras bactérias (Enterobactérias e bactérias Gram (+)),
promovendo e potenciando o crescimento das espécies de
interesse, quando incubadas sobre atmosfera controlada de CO2.
Figura 62 - Meio VCA3 inoculado. Colónias suspeitas de
Neisseria gonorrhoeae.

 Meio LÖWENSTEIN-JENSEN - Cultura de Mycobacterium tuberculosis e


Outras Micobactérias.

O meio Löwenstein-Jensen é um meio enriquecido com a


presença de ovo, de asparagina e de fécula entre outros, que
favorecem o crescimento das micobactérias. O verde malaquita, que
confere a cor ao meio, é adicionado para inibir o crescimento de
bactérias Gram (+) que colonizam habitualmente a orofaringe e que
podem contaminar a amostra durante o seu trajeto. Funciona ainda
como um indicador de pH.
Figura 63 - Meio Löwenstein-Jensen: à esquerda não
inoculado, estéril; à direita inoculado com
Mycobacterium tuberculosis.

 Gelose Sabouraud Gentamicina Cloranfenicol 2 (SGC2) - Isolamento Seletivo


de Leveduras e Bolores

A gelose SGC2 é
um meio que contém na
sua fórmula peptonas,
glucose e uma mistura de
antibióticos (gentamicina e
cloranfenicol) que o torna Figura 64 - Meio SG2: à esquerda não inoculado, estéril; ao centro com crescimento
seletivo para o isolamento leveduriforme; à direita com fungo filamentoso.
das leveduras e fungos filamentosos a partir de amostras polimicrobianas. Os
antibióticos presentes inibem a maioria das bactérias Gram (-) e Gram (+) e um pH da
gelose, ligeiramente ácido, favorece ainda o crescimento dos fungos face ao
desenvolvimento bacteriano.

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 Gelose Dermatófitos - Cultura Seletiva de Dermatófitos

A gelose Dermatófitos é um meio seletivo que permite a


cultura dos dermatófitos. Essa seletividade é assegurada pela
gentamicina e clortetraciclina que inibem o crescimento de
bactérias e pela actidiona que inibe algumas espécies de leveduras
e de fungos filamentosos saprófitos. Na formulação do meio é
ainda incluído o vermelho de fenol que funciona como um
indicador positivo da presença de dermatófitos. O crescimento
destes alcaliniza o meio, promovendo a viragem da gelose amarela
alaranjada a vermelho.
Figura 65 - Gelose Dermatófitos inoculada: à esquerda
Trichophyton tonsurans; à direita Microsporum canis.

 Gelose Gardnerella (GAR) - Isolamento Seletivo de Gardnerella vaginalis

É um meio de isolamento seletivo destinado à deteção de Gardnerella vaginalis


a partir de colheitas genitais. A
presença de sangue humano facilita o
crescimento da espécie procurada e
permite a obtenção de uma ß hemólise
à volta das colónias. Os antibióticos
(colistina e ácido nalidíxico) e a
Figura 66 - Meio GAR inoculado no laboratório de Microbiologia anfotericina B presentes no meio
(exsudado vaginal). Positivo para Gardnerella vaginalis. inibem a maioria dos contaminantes
Gram (-) e das leveduras respetivamente.

 Gelose ChromID™ CPS® Agar (CPS)

A gelose chromID™ CPS® é um meio de isolamento e de identificação que se


destina às amostras urinárias. É constituída por uma base nutritiva rica que associa
diferentes peptonas e três substratos cromogénicos, que permitem revelar a atividade
enzimática correspondente. A incorporação de triptofano favorece a revelação do indol
(caso seja necessário complementar a identificação com o teste do indol) e a
concentração elevada em agar permite frenar a invasão da gelose pelo Proteus sp..

Assim este meio permite efetuar:

• A contagem microbiana da amostra com um método de sementeira padronizado.

• A identificação da espécie ou dos géneros bacterianos seguintes:

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 Escherichia coli – a sua identificação
baseia-se no principio da coloração
espontânea (rosa a vermelho escuro)
das estirpes produtoras de ß-
glucuronidase e/ou ß-galactosidase. A
identificação direta desta bactéria é a
principal utilização deste meio no Figura 67 – Urocultura (+) meio CPS para E.coli obtida no
Laboratório de Microbiologia. Laboratório de Microbiologia; colónias vermelho escuro.

 Enterococcus sp. – a sua identificação baseia-se no principio da coloração


espontânea turquesa das estirpes que exprimem uma ß-glucosidase. Esta
identificação tem de ser complementada com a observação de cocos Gram (+)
no exame direto.

 Klebsiella sp., Enterobacter sp., Serratia sp., Citrobacter sp. – a sua


identificação baseia-se no principio da coloração espontânea azul-esverdeada a
azul-acinzentada das estirpes que exprimem uma ß-glucosidase. Esta
identificação tem de ser complementada com a observação de bacilos Gram (-)
no exame direto.

Figura 68 – Urocultura (+)


meio CPS para Citrobacter sp.
obtida no Laboratório de
Microbiologia; colónias Azul-
acinzentadas.

 Proteus sp., Providencia sp., Morganella sp. – a sua identificação baseia-se no


principio da coloração espontânea castanha (colónias bejes com halo castanho)
das estirpes que exprimem uma desaminase. Esta identificação tem de ser
complementada com o teste identificativo do indol:

 indol (-) identifica Proteus mirabilis;


 indol (+) identifica Proteus sp., Providencia sp., Morganella sp.

 A identificação presuntiva das seguintes espécies:

 Staphylococcus saprophyticus - colónias rosa claras opacas. A identificação do


microrganismo isolado deve ser seguida de testes complementares.
 Streptococcus agalactiae - colónias azuis-violeta a violeta. A identificação do
microrganismo isolado deve ser seguida de testes complementares.

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 Gelose ChromID™ Candida (CAN2)

É um meio cromogénio para o isolamento seletivo das leveduras e a


identificação direta de Candida albicans. Esta seletividade é conseguida pela adição de
uma mistura de antibióticos que inibe o crescimento bacteriano. A hidrólise específica
de um substrato cromogénio de hexosaminidase na presença de um indutor da enzima
leva à coloração azul das colónias de C. albicans e à sua identificação direta. A eventual
hidrólise de um segundo substrato leva à coloração rosa das colónias permitindo
diferenciar as culturas mistas e orientar a identificação para outras espécies –
identificação presuntiva das espécies Candida tropicalis, Candida lusitaniae e Candida
kefyr.

No Laboratório de Microbiologia este


meio é utilizado sobretudo na sementeira de
amostras de exsudados vaginais para a
identificação da presença do género Candida
sp. e em especial para a identificação direta de
um dos principais agentes causadores de
infeções vaginais a Candida albicans.
Figura 69 - Exsudado vaginal (+) meio CAN2 para C.albicans obtido
no Laboratório de Microbiologia; colónias características azuis.

 Gelose ChromID™ Strepto B (STRB)

É um meio cromogénico seletivo utilizado para a deteção de Streptococcus


agalactiae em mulheres grávidas e em recém-nascidos a partir de amostras de origem
clínica. É constituída por uma base nutritiva que associa diferentes peptonas, três
substratos cromogénicos e uma mistura de antibióticos. Estes componentes permitem
detetar o S. agalactiae através do aparecimento espontâneo de colónias rosa pálido a
vermelho. A maioria das outras espécies bacterianas e leveduras não se desenvolvem
neste meio ou não formam colónias características.

No Laboratório de Microbiologia este meio


é usado sobretudo para o rastreio de S. agalactiae
em gestantes a partir das trinta semanas, tendo
como base amostras (exsudados) vaginais e retais.
Esta bactéria é responsável por infeções graves no
recém-nascido (meningite) pelo que a sua pesquisa
Figura 70 - Exsudado vaginal (+) meio STRB para
faz parte do programa de rastreio pré natal da S.agalactiae obtido no Laboratório de Microbiologia;
colónias características vermelhas.
grávida.

Página | 164
9.4 PERIODO DE INCUBAÇÃO / CONDIÇÕES DE INCUBAÇÃO

Atmosfera

De acordo com os microorganismos em pesquisa, os meios semeados com as


amostras biológicas são incubados nas seguintes condições atmosféricas:

- Atmosfera Microaerofilia – meio CAM;

- Atmosfera controlada de CO2 – gelose de sangue (meio COS, CNA e GAR) e


gelose de chocolate (meio PVX e VCA)

- Atmosfera normal – todos os outros meios e meio COS quando a amostra


inoculada é urina.

De momento o LAC Cintramédica II não procede à pesquisa de


microorganismos anaeróbios. Para os restantes, utiliza geradores de atmosfera
comerciais em saquetas, que quando colocados em jarras de incubação hermeticamente
fechadas, absorvem o oxigénio das mesmas libertando o CO2 contido. O tipo e a
quantidade de gerador dependem da atmosfera pretendida e é função dos
microorganismos em pesquisa e do tamanho da jarra de incubação.

Figura 71 - Sistema gerador de atmosfera GENbox® utilizado no Laboratório de Microbiologia.

Temperatura

O crescimento microbiano depende diretamente de como a temperatura afeta as


membranas, os ribossomas e as enzimas celulares. Existe uma temperatura óptima para
o desenvolvimento da maioria dos microrganismos, à qual a taxa de reprodução é
máxima, que ronda os 35-37ºC (microorganismos mesófilos). Contudo, alguns podem
desenvolver-se a temperaturas mais baixas, como a Listeria spp. (4ºC), e outros a
temperaturas mais elevadas, como o Campylobacter spp. (42ºC).

Página | 165
Deste modo, no Laboratório de Microbiologia, de acordo com os
microorganismos em pesquisa, os meios semeados são incubados nas seguintes
condições de temperatura:

- Estufa a 42ºC – meio CAM;


- À temperatura ambiente – meio Dermatófitos;
- Estufa a 37ºC – todos os restantes meios.

Humidade

A maioria dos microrganismos possui desenvolvimento optimizado com uma


humidade igual ou superior a 70. Atualmente as estufas possuem um sistema de
circulação de ar que promovem uma distribuição uniforme da temperatura e asseguram
a humidade necessária. Numa estufa normal é possível contornar a questão colocando
dentro da mesma um recipiente com água.

Tempo de Incubação

O tempo de incubação necessário para o desenvolvimento de um determinado


microorganismo, num meio de cultura que lhe é favorável, depende das suas
características e da concentração em que se encontra no inóculo. Assim, o período de
incubação pode variar desde as 24h até meses. A maioria das bactérias cresce num
intervalo de 24-48h, exceptuando as micobactérias que podem necessitar de até 60dias
para se desenvolverem. Meios específicos para fungos incubam por 2-5dias (leveduras
crescem mais rápido, fungos filamentosos mais lentamente) com exceção dos
dermatófitos cujas culturas são observadas até às 3semanas após sementeira.

9.5 COLORAÇÕES

O exame microscópico de preparações coradas permite precisar as características


morfológicas das bactérias (forma, tamanho, arranjo celular e afinidade para os
corantes). No Laboratório de Microbiologia as colorações mais utilizadas são a
Coloração de Gram e a Coloração de Ziehl-Neelsen.

Página | 166
COLORAÇÃO DE GRAM

A Coloração de Gram é uma coloração


diferencial que permite agrupar as bactérias em dois
grandes grupos, de acordo com as características
estruturais (propriedades físicas e químicas) da
parede celular bacteriana a partir das colorações que
estas adquirem após tratamento com agentes
químicos específicos:

- Bactérias Gram (-) – coram de vermelho. Figura 72 - Bactérias Gram (-) e Gram (+):
características estruturais da parede celular e
- Bactérias Gram (+) – coram de roxo escuro. imagem ao microscópio ótico.

Esfregaços
efetuados durante
a colheita
Passar a
lâmina 4 -5x
sob a chama.

Ou

1. Cobrir esfregaço com cristal de violeta


e deixar por 1min.
2. Escorrer excesso de corante e lavar.
3. Cobrir esfregaço com lugol e deixar por
1min.
4. Escorrer excesso de corante e lavar.
5. Cobrir esfregaço com álcool acetona até
descolorar (máx. 30s.).
6. Lavar com água corrente
7. Cobrir esfregaço com Fucsina e deixar
por 1min.
8. Escorrer excesso de corante, lavar e
deixar secar.

Figura 73 - Método de Gram.

Página | 167
COLORAÇÃO DE ZIEHL-NEELSEN

Coloração utilizada para a deteção de Bactérias Álcool-Ácido Resistentes


(BAAR), nomeadamente Mycobacterium spp. Estas bactérias possuem uma parede
celular muito rica em lípidos (ácido micólico), criando uma grande hidrofobicidade, não
sendo susceptíveis à penetração pela maioria dos corantes habituais e dificultando a
ação dos mordentes e diferenciadores de corantes aquosos.

Colónias suspeitas
de Mycobacterium
sp.

Passar a
lâmina 4 -5x
Usar material de sob a chama.
proteção: bata, óculos,
máscara e luvas
Ou

.
Amostra biológica:
1. Cobrir esfregaço com fucsina
expectoração ou
urina Ziehl-Neelsen.
2. Passar à chama até à emissão de
vapores.
3. Deixar atuar durante 10min.
4. Lavar com água.
5. Cobrir esfregaço com solução
álccol-ácido durante 1min.
6. Lavar com água
Proceder à coloração 7. Cobrir esfregaço com azul de
de Ziehl-Neelsen metileno durante 15- 20s.
8. Lavar e deixar secar

Resultados

Expressão de resultados
Número de BAAR observados

-
0/100 campos

1-9/100 campos
1-9/100 campos

1+
10-99/100 campos

2+
1-10/campo

3+ Figura 74 - Método de Ziehl-Neelsen


>10/campo

Página | 168
9.6 IDENTIFICAÇÃO DE BACTÉRIAS – MORFOLOGIA DE COLÓNIAS E
CARACTERÍSTICAS METABÓLICAS

No LAC Cintramédica II a identificação de bactérias e leveduras é sempre que


possível levada até à espécie. Para esta identificação vários processos são utilizados:
meios de cultura identificativos, observação da morfologia das colónias obtidas,
colorações e técnicas manuais e automatizadas que evidenciam características
metabólicas e propriedades bioquímicas dos microorganismos.

MORFOLOGIA DE COLÓNIAS

A observação cuidadosa da morfologia das colónias é o primeiro passo na


avaliação de um meio de cultura inoculado com crescimento, permitindo a decisão de
valorizar (ou não) a cultura obtida. A sua interpretação fornece, normalmente,
informação quanto ao género do(s) microorganismo(s) presente(s) e diretrizes para as
técnicas de identificação com base em características metabólicas e propriedades
bioquímicas que comprovam (ou não) as primeiras elações, podendo inclusive
complementá-las com a informação sobre a espécie.

TÉCNICAS MANUAIS QUE EVIDENCIAM CARACTERÍSTICAS METABÓLICAS


E PROPRIEDADES BIOQUÍMICAS

Existem várias técnicas descritas, mas no LAC Cintramédica II são utilizadas


apenas algumas de forma rotineira e a maioria incorporadas em kits comerciais.

Teste da Catalase

A catalase é uma enzima intracelular, encontrada na maioria dos organismos,


que decompõe o peróxido de hidrogénio (H2O2) segundo a reacção química:

2 H2O2 → 2 H2O + O2.

O teste da catalase é usado em microbiologia para separar os estreptococos


catalase negativa de outros cocos Gram(+) produtores de catalase, essencialmente,
estafilococos.

Página | 169
PastorexTM Staph-Plus

É um teste de aglutinação rápida para a deteção simultânea dos antigénios da


parede celular com afinidade para o fibrinogénio (fator “clumping”) e Proteína A e
polissacáridos capsulares do Staphylococcus aureus, a partir de colónias suspeitas
isoladas.

Slidex® Pneumo-Kit

O Slidex® Pneumo-Kit da BioMérieux é um teste rápido de aglutinação de


partículas de látex, para a identificação de Streptococcus pneumoniae, revestidas de
anticorpos contra os antigénios capsulares (cobre todos os serotipos existentes) desta
estirpe bacteriana. Se um antigénio estiver presente, o reagente de látex é aglutinado.

Slidex® Strepto Plus

O Slidex® Strepto Plus da BioMérieux é um teste rápido de aglutinação de


partículas de látex, revestidas de anticorpos anti-estreptocócicos, que permite a deteção
imediata dos antigénios estreptocócicos dos grupos A, B, C, D, F e G, segundo a
classificação de Lancefield, após simples extração enzimática, a partir de colónias
suspeitas isoladas.

Aglutinação  resultado (+)

1gota do extrato +
Preparação do Extrato:
1gota do reagente
200μL de reagente de extração 10min. estufa do serogrupo em
em tubo de hemólise + 1-2 estudo
colónias suspeitas

Figura 75 - Procedimento para a grupagem de estreptococos utilizando o Slidex® Strepto Plus da BioMérieux. Exemplo de
resultado positivo para estreptococos do grupo A de Lancefield.

9.7 TESTE DE SENSIBILIDADE AOS ANTIBIÓTICOS – APARELHO VITEK® 2


COMPACT

O Teste de Sensibilidade aos Antibióticos (TSA) avalia a capacidade de um


antibiótico de inibir o crescimento de bactérias em cultura, permitindo a escolha mais
eficaz da terapêutica a ser instituída ao doente. A seleção de antibióticos a serem

Página | 170
testados deve ser uma decisão de cada laboratório clínico em conformidade com a
Comissão de Farmácia e Terapêutica e a Comissão de Controle de Infecção, que geram
diretrizes e uniformizam esta seleção. O LAC Cintramédica II segue as recomendações
EUCAST (European Committee on Antimicrobial Susceptibility Testing) de acordo com
a norma da direção geral de saúde.

Os testes de susceptibilidade disponíveis podem-se classificar em dois grandes


grupos: método por difusão em gelose e método das diluições. O primeiro baseia-se no
facto de um antibiótico depositado sobre uma gelose nutritiva se difundir segundo um
gradiente de concentração. No método das diluições, utiliza-se uma série de poços
reacionais com o mesmo inóculo e incorpora-se em cada tubo quantidades crescentes do
antibiótico em estudo adicionado de meio de cultura. A menor concentração de
antibiótico capaz de inibir o crescimento da estirpe em estudo designa-se Concentração
Mínima Inibitória (CMI). Uma redução de 99,9% no número de colónias indica a
Concentração Mínima Bactericida (CMB). Quanto à sensibilidade a um determinado
antimicrobiano o microorganismo pode ser:

 Sensível – o microrganismo responde à terapêutica com o antimicrobiano utilizando


a dosagem normalmente recomendada para aquele tipo de infecção e espécie
bacteriana;

 Resistente – é improvável uma boa resposta terapêutica às concentrações


farmacologicamente aceitáveis do antibiótico e/ou está presente um mecanismo
específico de resistência;

 Intermediário – a CMI do antimicrobiano para o microorganismo é próxima do


valor que ele pode atingir no sangue ou tecidos e para a qual a resposta clínica é
inferior à de uma estirpe sensível. Implica clinicamente a sua utilização em locais
onde a droga é concentrada fisiologicamente (urina) ou a utilização de altas doses
do antibiótico (β-lactâmico).

Todos os antimicrobianos devem ser referidos utilizando os nomes genéricos e


agrupados por classes farmacológicas, tendo em consideração os critérios, presentes nas
EUCAST expert rules.

METODOLOGIA VITEK

O aparelho VITEK® 2 Compact é um equipamento destinado à identificação de


bactérias e leveduras e à realização do TSA. Permite a avaliação dos valores da CMI e a
identificação de alguns fenótipos. Sãoutilizadas as seguintes cartas colorimétricas:

Página | 171
a) Cartas de Identificação (baseadas em testes bioquímicos identificativos)

 GN – carta de identificação para Gram (-);


 GP – carta de identificação para Gram (+) e Gardnerella vaginalis;
 YST – carta de identificação para leveduras;
 NH – carta de identificação para Neisseria gonorrhoeae, Neisseria meningitidis,
Haemophilus sp., Gardnerella vaginalis, Campylobacter sp. e outros
microorganismos fastidiosos.

b) Cartas de Antibiograma (baseadas no método das diluições)

 AST-N244 – antibiograma para bacilos Gram (-) aeróbios com significado clínico
(maioria das bactérias isoladas em urinas);
 AST-N222 – antibiograma para bacilos Gram (-) aeróbios com significado clínico
não fermentadores, principalmente Pseudomonas sp.;
 AST-P619 – antibiograma para Gram (+) com significado clínico, principalmente
Staphylococcus sp.;
 AST-P586 – antibiograma para Gram (+) com significado clínico, principalmente
Streptococcus agalactiae e outros Streptococcus sp., Enterococcus sp.;
 AST-STO1 – antibiograma principalmente direcionado para Streptococcus
pneumoniae, Streptococcus β-hemolíticos nomeadamente S.pyogenes,
Acinetobacter sp.

A preparação das cartas é efetuada a partir de colónias isoladas. É transferido um


número suficiente de colónias morfologicamente idênticas para uma solução salina
estéril (3 mL), de modo a obter uma suspensão de microorganismos homogénea
(solução mãe) livre de bolhas e que deverá ter uma densidade equivalente a um padrão
McFarland (padrão de turvação). Para a identificação é utilizada a solução mãe, para o
TSA é efetuada uma diluição apropriada em solução salina. A aspiração e a inoculação
das cartas são automatizadas bem como a leitura das mesmas que é conseguida através
de métodos turbidimétricos e colorimétricos.

9.8 PRODUTOS BIOLÓGICOS – ENSAIOS E METODOLOGIAS DE ANÁLISE

A decisão do modo de processamento das amostras biológicas e valorização


clínica das estirpes isoladas, baseia-se na compreensão da patogenia da infeção nos
diferentes locais anatómicos.

Página | 172
9.8.1 – URINA

As infecções urinárias agudas são geralmente causadas por bactérias da flora


intestinal saprófita, que invadem o aparelho urinário por via ascendente através da
uretra, podendo atingir os rins causando as pielonefrites.

Agentes etiológicos mais comuns

 Bactérias Gram (-) – São os principais agentes etiológicos, sobretudo as


bactérias do género Enterobactereaceae com destaque para Escherischia coli,
Proteus sp. e Klebsiella sp.

 Bactérias Gram (+) – O Staphylococcus saprophytus é o mais representativo.

Análises laboratoriais

A. Urocultura

É composta por um exame cultural e por um exame citológico a fresco


(sedimento urinário), pela ordem indicada.

A1. Exame Citológico a Fresco – Observação do Sedimento Urinário

A observação do sedimento urinário pode ser efetuada manualmente ao


microscópio óptico ou automatizada em aparelho apropriado. No LAC Cintramédica II
as duas técnicas são utilizadas.

 Técnica Manual – é efetuada após centrifugação da urina


a 1500RPM por 10min. No LAC Cintramédica II é uma
técnica quantitativa com recurso a câmara de contagem
apropriada na qual são quantificadas células, leucócitos e
eritrócitos por μL de urina. Deve ainda ser referida a
presença de outros elementos tais como leveduras ou
parasitas. Figura 76 - Câmara de contagem
para sedimentos urinários.

Página | 173
 Técnica Automatizada – no LAC Cintramédica II é efetuada no aparelho
sediMAX® da Menarini Diagnósticos. Este capta imagens de microscopia de alta
definição a partir das quais efetua a análise morfológica e a contagem de elementos.

1 5

Figura 77 - Aparelho sediMAX® e sedimento


urinário obtido no LAC Cintramédica II.

Legenda do sedimento:
4
3
1-Célula epitelial, 2-Leucócitos, 3 – Eritrócito,
4-muco, 5-Bactérias.

A2. Exame Cultural – Valorização, Contagem e Identificação de Colónias

Valorização de Colónias

Nem sempre a observação de crescimento no meio semeado é sinal de uma


cultura positiva. A avaliação e valorização de colónias, após as 24h de incubação, é um
passo crucial e deve ter em conta:

• O método para a obtenção da amostra – permite retirar elações sobre o grau de


pureza da mesma, quanto a possíveis contaminantes e se o número de colónias
obtidas é suficiente para ser valorizado;
• O tipo de utente (homem, mulher, criança, diabético, grávida, etc...) e a sua
sintomatologia;
• As características morfológicas dos microorganismos clinicamente relevantes
passíveis de serem encontrados;
• As características do sedimento observado no exame citológico a fresco;
• Resultados bacteriológicos anteriores quando disponíveis.

Página | 174
Contagem de Colónias

Efetuada após valorização positiva do crescimento bacteriano. O número de


colónias de interesse clínico na placa tem a seguinte correspondência com o número de
unidades formadoras de colónias por mililitro (UFC/mL):

1 colónia ------------------ 1000 UFC/mL

10 colónias ----------------- 10000 UFC/mL

100 colónias ----------------- 100000 UFC/mL

Identificação de Colónias

Cultura Primária Pura

Sim Não

Sim
Colónias suspeitas de E.coli Repicagem

Não Meio CPS – suspeita de E.coli

Meio McK – suspeita de bactéria Gram (-)


Colónias presuntivas de Sim
bactérias Gram (-) ou Gram (+) Meio COS – suspeita de bactéria Gram (+)

Não

Coloração de Gram

Preparação da suspensão
para identificação e/ou
®
TSA no aparelho VITEK 2
Compact

Figura 78 - Procedimento aplicado no Laboratório de Microbiologia para a identificação de patogénios urinários.

Página | 175
Para a interpretação do fluxograma (fig.78) é necessário ter presente os seguintes
conhecimentos:

• As colónias originadas por bactérias Gram (-) causadoras de infeções urinárias têm
um aspeto cremoso ou mucoso que contrasta com as Gram (+) que são de aspeto
mais seco;

A B C

Figura 79 - Uroculturas positivas em meio CLED obtidas no LAC Cintramédica II. A - Gram (+) Staphylococcus saprophyticus; B -
Gram (-) klebsiella pneumoniae; C - Gram (-) E.coli

• A principal bactéria causadora de infeções urinárias, a E.coli, apresenta


normalmente na cultura primária (meio CLED) colónias com elevação de tamanho
pequeno a médio amarelas, com bordos regulares, brilhantes e de aspeto cremoso,
contudo existem estirpes da mesma Lactose (-) que não viram o meio e as colónias
apresentam-se de azul;

A B C D

Figura 80 - Uroculturas em meio CLED positivas para E.coli obtidas no LAC Cintrmédica II. A, B e C estirpe Lactose (+); D estirpe
Lac (-).

• Colónias sugestivas de Pseudomonas sp. possuem um aspeto mucoso e um odor


intenso característico. Apresentam coloração esverdeada, com bordos irregulares e
uma taxa de crescimento elevada criando uma “napa”.

Figura 81 - Urocultura em meio CLED positiva para Pseudomonas aeruginosa obtida no LAC Cintramédica II.

Página | 176
• Colónias sugestivas de Proteus sp. são transparentes, brilhantes, com elevação e de
aspeto mucoso. O meio permanece azul (bactérias Lactose (-)) e emana um odor
característico a flores.

Figura 82 - Urocultura em meio CLED positiva para Proteus mirabilis obtida no LAC Cintramédica II.

 Os resultados obtidos no exame cultural são cruzados com os obtidos no exame


direto. Um número de leucócitos/ μL superior a 10 é preditivo de infeção urinária.
Nem sempre um resultado negativo na cultura primária (meio CLED) dita de
imediato o resultado. Se não se observa crescimento e o exame ao sedimento revela
um resultado sugestivo de infeção urinária, quer a sementeira quer a avaliação do
sedimento urinário são repetidos. A sementeira é efetuada em meios mais ricos em
termos nutritivos (meio CPS e meio COS) e o sedimento urinário efetuado pela
técnica manual. Este procedimento obvia possíveis erros técnicos durante a
sementeira e/ou exame citológico direto e dificuldades de crescimento bacteriano
por parte de estirpes mais exigentes e/ou presentes em menor concentração na
amostra.

B. BK Direto / BK Cultural - Pesquisa de BAAR (Mycobacterium sp.)

Este tema será abordado mais extensivamente no capítulo seguinte (9.8.2), pois é
na expetoração que esta pesquisa é mais solicitada. O exame cultural é composto pela
pesquisa direta e pela sementeira em meio Löwenstein-Jesen.

C. Pesquisa de Micoplasmas

Este tema será abordado mais extensivamente no capítulo (9.9.5), pois é nos
exsudados vaginal e uretral que esta pesquisa é mais solicitada. A Pesquisa de
Micoplasmas é efetuada no dispositivo MYCOPLASMA IST2® da BioMérieux.

Página | 177
9.8.2 – EXPETORAÇÃO

A expetoração é um produto biológico de manuseamento delicado no


Laboratório de Microbiologia. A dificuldade na obtenção de uma amostra representativa
do local de infecção, quer pela sua frequente diluição com saliva, quer pela
contaminação inevitável com a flora saprófita do trato respiratório superior durante o
seu trajeto, é uma realidade incontornável. Para obviar estas contrariedades a pesquisa
de microorganismos patogénicos neste tipo de material restringe-se apenas aqueles cuja
infecciosidade e patogenicidade está bem estabelecida: Staphylococcus aureus,
Pseudomonas aeruginosa, Streptococcus pneumoniae, Klebsiella pneumoniae,
Haemophylus influenzae, Moraxela catarrhalis e Mycobacterium tuberculosis.

Análises laboratoriais

A. Exame Bacteriológico e Micológico

Esta análise é composta pelo exame direto e pelo exame cultural.

EXAME DIRETO

Consiste na elaboração de um esfregaço por técnica de estiramento a partir de


uma porção de amostra (expetoração) purulenta ou ensanguentada, seguida de coloração
por técnica de Gram.

Figura 83 - técnica de estiramento – colocar uma porção de produto numa lâmina e pressionando
com outra lâmina, fazer deslizar as duas lâminas ao longo uma da outra, várias vezes.

Ao microscópio é avaliada a qualidade da amostra em termos de número de células e de


leucócitos e à presença de elementos leveduriformes e bactérias. Esta avaliação permite
verificar se a amostra é representativa e adequada para processamento laboratorial, bem
como, fornecer uma prespetiva do tipo de flora predominante.

Página | 178
EXAME CULTURAL

Para o exame cultural são semeados os seguintes meios:

 SGC2 – para selecionar, se presentes, fungos filamentosos e leveduras. Incuba


durante 5 dias a 37ºC em atmosfera apropriada de modo a permitir, se presentes, a
visualização de fungos filamentosos que são de crescimento mais lento
comparativamente às leveduras.

 McK – para selecionar, se presentes, bactérias Gram (-);

 CNA – para selecionar, se presentes, bactérias Gram (+);

 PVX – para selecionar, se presentes, bactérias fastidiosas como por exemplo o


Haemophylus sp;

B. BK Direto / BK Cultural - Pesquisa de BAAR (Mycobacterium sp.)

As bactérias do género Mycobacterium são o agente etiológico de uma infecção


pulmonar crónica, a tuberculose. O Mycobacterium tuberculosis é o complexo mais
frequentemente envolvido na infecção respiratória. A tuberculose é uma doença de
notificação obrigatória (em Portugal, ao INSA).

PROCEDIMENTO LABORATORIAL – BK DIRETO

Para a pesquisa direta de BK na expetoração é efetuado um esfregaço pela


técnica de estiramento, que após secagem e fixação pelo calor, é corado pela técnica de
Zielh-Neelsen. A lâmina é observada ao microscópio ótico com objetiva 100x sendo
pesquisada a presença de Mycobacterium sp. Devem ser observados pelo menos 100
campos para que a amostra seja considerada como negativa. O resultado é expresso de
acordo com a seguinte quantificação de BAAR (tabela 19):

Página | 179
Tabela 19 - Quantificação de BAAR e expressão dos seus resultados.

Número de BAAR observados Expressão de resultados

0/100 campos -

1-9/100 campos 1-9/100 campos

10-99/100 campos 1+

1-10/campo 2+

>10/campo 3+

PROCEDIMENTO LABORATORIAL – BK CULTURAL

As amostras provenientes de locais contaminados, tais como, a expetoração e


outras secreções respiratórias (LBA e aspirado brônquico), gástricas e de urina, devem
ser sujeitas a descontaminação antes da inoculação no meio de modo a prevenir o sobre
crescimento da flora normal. As amostras de expetoração com muco em quantidade
relevante necessitam ainda de ser fluidificadas.

 Método de fluidificação e descontaminação


Alia a ação de um agente mucolítico de ação rápida, a L-Cisteína, a um agente
descontaminante da flora acompanhante, o Cloreto de Benzalcónio, que destrói a maior
parte dos microorganismos excetuando as micobactérias. Neste processamento prévio
da amostra, são ainda adicionados um tampão fosfato que neutraliza o pH e albumina
bovina que atua como agente protetor.

 Sementeira – Inoculação do Meio


A inoculação é efetuada em meio de Löwenstein-Jesen por descarga completa de
0,1mL do sobrenadante da amostra descontaminada na rampa do meio.

O Exame BK Cultural, para além da sementeira, é ainda composto pelo


procedimento descrito para BK Direto, com a pesquisa em lâmina das micobactérias.

Página | 180
9.8.3 – FEZES

Análises laboratoriais

A. Coprocultura

A Coprocultura é o exame bacteriológico das fezes, utilizado em casos de


gastroenterite maioritariamente adulta. Os patogénicos de interesse clínico nestas
enfermidades são: Campylobacter sp., Salmonella sp., Shigella sp. e Escherichia coli
enteropatogénica. Nas crianças até um ano de idade é importante considerar também
infeções por Clostridium sp.

Procedimento:

Dissolver em tubo esterilizado de vidro uma pequena quantidade de fezes em


cerca de 2mL de soro fisiológico estéril. Seguir o seguinte protocolo:

Suspensão de Fezes

Meio McK Meio SS Meio CAM Meio Selenito

Se fezes Incubar Incubar Incubar


diarreicas em atmosfera atmosfera atmosfera
crianças < 1ano adequada adequada adequada
24h 48h 24h

Incubar
atmosfera Repicar para Meio SS
adequada
Repicagens se necessário
24h
(culturas não puras ou colónias Incubar
insuficientes p/ ID e TSA) atmosfera
adequada
Incubar 24h
atmosfera
adequada
24h
Resultado
ID e TSA
Figura 84 - Protocolo de processamento de amostras de fezes para coprocultura no LAC Cintramédica II.

B. Pesquisa de Leucócitos

Os leucócitos polimorfonucleares são a primeira e principal linha de defesa


contra microorganismos que ganham acesso à circulação sistémica. Quando as paredes

Página | 181
intestinais são afetadas, normalmente por bactérias, são observados nas fezes. A
presença de leucócitos nas fezes, bem como o seu número podem ser presuntivos de um
determinado tipo de infecção ou doença intestinal.

Procedimento:

A partir de uma amostra de fezes, preparar uma suspensão concentrada em soro


fisiológico. Proceder à elaboração de um esfregaço fino estendido com cabeça, corpo e
franja (tipo esfregaço sanguíneo), corar pela técnica de May Grünwald-Giemsa e
observar ao microscópio ótico. O resultado é semi quantitativo, sendo registado o
número de leucócitos por campo.

C. Exame Parasitológico - Pesquisa de Ovos, Quistos e Parasitas

Para o diagnóstico das parasitoses mais comuns recorre-se à observação


macroscópica e microscópica de uma amostra de fezes. A primeira permite detetar
características presuntivas de infecção (amostras muco-sanguinolentas, amareladas e
espumosas, etc...) e pesquisar formas adultas de helmintas mais comuns no Homem:
Enterobius vermicularis, Taenia sp. (proglótis) e Ascaris lumbricoides. A pesquisa
microscópica de protozoários (quistos) e helmintas (ovos) pode ser efetuada diretamente
utilizando uma suspensão de fezes em soro fisiológico ou após concentração por
métodos físicos, difásicos ou combinados. Os protozoários de maior relevância clínica
são amibas (Entamoeba histolytica e Entamoeba coli) e protozoários flagelados
(Giardia intestinalis); nos helmintas, os de maior incidência são Fasciola hepatica,
Schistosoma sp., Ascaris lumbricoides, Trichuris trichiura, Enterobius vermicularis,
Hymenolepis sp., Ancylostoma duodenale e Taenia sp.

Figura 85 - Ovos, Quistos e Parasitas mais comuns em fezes humanas.

Página | 182
Procedimento Pesquisa de Ovos, Quistos e Parasitas LAC Cintramédica II

Uma pequena porção da amostra é homogeneizada em cerca de 5mL de soro


fisiológico e concentrada por método combinado (físico e difásico). Este emprega uma
solução fecal aquosa adicionada de um conservante (formol) e de um solvente de
lipídios (éter). Após a concentração por centrifugação obtém-se um sedimento mais
limpo livre da maioria dos resíduos lipofílicos. Uma ou duas gotas do sedimento é
montada entre lâmina e lamela com uma gota de lugol para evidenciar as formas. A
observação é efetuada com objetiva de 20x e 40x (observação detalhada das estruturas).

D. Pesquisa Direta de Antigénios de Giardia intestinalis

A pesquisa direta de antigénios de Giardia intestinalis no LAC Cintramédica II


é eftuada no CerTest® Giardia, um teste de um só passo para a deteção qualitativa destes
antigénios por imunoensaio cromatográfico, em formato de cassete.

Procedimento: - Identificar todos os tubos. Retirar a


tampa do tubo coletor de fezes com
diluente e com a sua haste recolher
uma porção de amostra, picando-a em
várias partes diferentes. Para fezes
diarreicas pipetar 125μL.
Homogeneizar.

- Retirar a cassete da embalagem


protetora (apenas antes de usar).
Identificá-las. Cortar a ponta do tubo e
dispensar 4 gotas na janela circular (s),
evitando a saída de partículas sólidas
com o líquido.
Figura 86 - Procedimento para a pesquisa de antigénios de Giardia
intestinalis usando o CerTest® Giardia
- Ler o resultado obtido exatamente ao
fim de 10min (e nunca mais).

Resultados:

- Negativo (A) – surge apenas a linha controlo verde. Antigénios


de Giardia intestinalis não detetados;
B
- Positivo (B) – surgem a linha controlo verde e a linha de teste
vermelha. Antigénios de Giardia intestinalis presentes e detetados;

C
- Inválido (C e D) – o resultado é inválido sempre que a linha
controlo verde não apareça. O teste não pode ser lido e nenhuma
conclusão pode ser retirada. Estes resultados podem ter diferentes
D
origens: procedimento incorreto, detioração dos reagentes, volume
insuficiente de amostra, etc... Repetir o ensaio com um novo teste.
Figura 87 - Resultados possíveis no CerTest® Giardia.

Página | 183
E. Pesquisa de Sangue Oculto

A pesquisa de sangue oculto nas fezes reveste-se de elevada importância clínica


no auxílio ao diagnóstico de hemorragias do trato digestivo e no rastreio de Cancro do
Cólon na população de risco. Podem ter por base os efeitos catalíticos dos compostos de
heme sobre a oxidação de substâncias orgânicas como a benzina entre outras ou
anticorpos específicos envolvidos em testes imunológicos.

Pesquisa de Sangue Oculto nas Fezes – LAC Cintramédica II

É efetuada com o teste cassete NADAL® FOB da nal von minden. É um teste
rápido de visualização imunocromatográfica, para a deteção qualitativa de hemoglobina
humana em amostras de fezes. As fezes contendo hemoglobina reagem com anticorpos
monoclonais específicos vinculados a partículas de ouro, formando um complexo que
migra pela membrana do dispositivo, alcançando os anticorpos anti-hemoglobina que
revestem a linha de teste (FOB), adquirindo uma coloração rosa.

Procedimento:
- Identificar todos os tubos. Retirar a
tampa azul do tubo coletor de fezes
com diluente e com a sua haste
recolher uma porção de amostra,
picando-a em várias partes diferentes.
Homogeneizar e inverter o tubo na
bancada.

- Retirar a cassete da embalagem


protetora (apenas antes de usar).
Identificá-las. Retirar a tampa branca
e cortar a ponta do tubo. Dispensar 3
gotas na janela circular, evitando a
saída de partículas sólidas com o
líquido.

- Ler o resultado obtido exatamente


ao fim de 5min (e nunca mais).

Figura 88 - Procedimento para a pesquisa de Sangue oculto com o teste cassete NADAL® FOB da nal von minden.

Resultados:
• Negativo – a linha
de controlo (C) é a
única presente.

• Positivo – estão
presentes a linha
de controlo (C) e a
+ linha de teste
(FOB).

• Inválido – sempre
que a linha de
- controlo (C) esteja
ausente.

Figura 89 - Amostras processadas no LAC Cintramédica II para a Pesquisa de Sangue


Oculto. Série F positiva; D1 e E3 ambos resultados negativos. Página | 184
9.8.4 – ESPERMA

Análises laboratoriais

A. Espermocultura

A espermocultura permite a pesquisa de infeções do trato genital masculino e da


glândula acessória (próstata). É composta por um exame direto e um cultural.

 Agentes etiológicos mais frequentes


Neisseria gonorrohoeae, Enterococcus sp., Staphylococcus aureus e
Enterobacteriaceae. Microorganismos como a Chlamydia trachomatis e Mycoplasma
sp. são também responsáveis por infecções neste local, contudo só são pesquisados
quando pedidos expressamente pelo clínico, não fazendo parte desta análise.

EXAME DIRETO

É colocada uma gota de esperma entre lâmina e lamela para observação ao


microscópio ótico. São avaliados qualitativamente: células, leucócitos, eritrócitos,
leveduras e parasitas (Trichomonas vaginalis). É ainda efetuado um esfregaço, que é
corado pela técnica de Gram, para pesquisar a eventual presença de bactérias.

Página | 185
EXAME CULTURAL

Amostra de Esperma

Meio Can2 Meio McK Meio CNA Meio PVX Meio VCAT3

Incubar Incubar Incubar Incubar Incubar


atmosfera atmosfera atmosfera atmosfera atmosfera
adequada adequada adequada adequada adequada
48h 24h 24h 24h 48h

Resultado ID Colónias
Se necessário: Repicagem (culturas
suspeitas de
Se necessário não puras ou colónias insuficientes p/ Neisseria sp.
Incubar atmosfera ID e TSA); Testes ID confirmatórios
adequada 24h
Sim
Esfregaço para
Resultado Não
Coloração de Gram
ID e TSA
Resultado ID
TSA no exterior

Figura 90 - Protocolo de processamento de amostras de esperma para espermocultura no LAC Cintramédica II.

São valorizadas as culturas com crescimento de colónias suspeitas (dos


microorganismos referidos) nos meios McK, CNA e PVX, se estiverem em cultura pura
e se a quantidade exceder as 1000 UFC/mL (10 colónias). Culturas com mais de um
tipo de colónias são preditivas de contaminação.

B. Espermograma

O espermograma tem como objetivo a avaliação físico-química, qualitativa e


quantitativa do esperma. É requisitada pelo clínico para a monitorização cirúrgica nas
vasectomias e para o estudo e acompanhamento terapêutico da infertilidade masculina.
No LAC Cintramédica II, o método de análise é não automatizado e executado de
acordo com as normas da OMS (Organização Mundial de Saúde).

Página | 186
Procedimento:

As amostras são processadas entre os 30min a 1h após a colheita tempo


necessário para que ocorra a liquefacção completa da mesma. Durante este tempo,
permanece na estufa. Depois de bem homogeneizada, a amostra é processada de
imediato e de um modo célere para que não se percam as características originais.

Análise Macroscópica – Características avaliadas:

a) Volume – medido em pipeta graduada;

b) pH – determinado com tira apropriada (Aution Stick). Valores elevados são


sugestivos de processo inflamatório agudo dos órgãos sexuais acessórios. Valores
baixos, da obstrução das vias excretoras ou processo inflamatório.

c) Aspeto – reportar a sua aparência: cor, homogeneidade, aglomerados, etc...

d) Viscosidade – encher uma pipeta com uma alíquota de esperma e deixar cair
espontaneamente. Se:

 A queda ocorre gota a gota – viscosidade normal;


 A queda é contínua formando filetes – viscosidade aumentada.

Análise Microscópica – Características avaliadas:

1) Abordagem inicial ao microscópio – é um exame a fresco. Permite ter uma


percepção da estimativa da concentração, da motilidade, da aglutinação dos
espermatozóides e da presença de outros elementos celulares;

2) Motilidade – São quantificadas, em percentagem, as formas móveis, distinguindo a


percentagem com motilidade progressiva e não progressiva;

3) Citologia – é referida, de um modo qualitativo (raros, alguns ou muitos), a


existência de células epiteliais e eritrócitos;

Página | 187
4) Morfologia – é efetuado um esfregaço estendido que
posteriormente é corado pela técnica de May-
Grünwald Giemsa. É observada ao microscópio
ótico, com objetiva 100x, a morfologia dos
espermatozóides no que diz respeito a cabeça, peça
intermédia e cauda. Todas as formas boderline
devem ser consideradas anormais. É anotada a
percentagem de formas normais e a percentagem
descriminada das formas anormais.

Figura 91 - Estrutura normal dos espermatozóides e


exemplos de alguns defeitos morfológicos.

5) Vitalidade – de entre os espermatozóides íntegros (cabeça, peça intermediária e


cauda) imóveis é determinada a proporção de espermatozóides vivos, utilizando
para tal, uma coloração vital com eosina. Esta coloração baseia-se no princípio de
que as células mortas, com a membrana plasmática danificadas, adquirem certas
colorações. Assim, os espermatozóides vivos não coram (cabeças permanecem com
aspeto translúcido esverdeado) contrariamente aos espermatozóides mortos, cujas
cabeças coram de rosa. Partes iguais de esperma e corante são misturadas num
tubo. A vitalidade é importante para determinar a percentagem de formas vivas, e
portanto viáveis, em termos de fertilização;

6) Contagem - são contados os leucócitos e os espermatozóides em câmara de


Neubauer®, a partir de uma diluição apropriada da amostra em soro fisiológico.

Exemplo de um Espermograma processado no LAC Cintramédica II

34 anos Raça negra


Amostra CM21068 - Informação relevante Consulta de infertilidade (1ª vez)
3 dias de abstinência

 Análise Macroscópica
 Volume – 2,3mL
 pH – 9,0
 Aspeto – cor amarelo opalescente; com aglomerados em suspensão;
 Viscosidade – Normal
 Tempo de liquefacção < 30min

Página | 188
 Análise Microscópica

 Abordagem inicial ao microscópio - Observação do fresco


2

Observação B

Microscópio
ótico
4

Figura 92 - Amostra esperma processada - observação a fresco. Imagens obtidas por fotografia ao microscópio ótico.
Fig.A: 1 - Ovo de S.haematobium, 2 – célula epitelial, 3 - aglomerado de leucócitos; Fig.B: 4- larva ciliada isolada de
S.haematobium, 5 – aglomerado de cristais de oxalato de cálcio.

- Raras células
- Muitos leucócitos
- Alguns eritrócitos
- Cristais de oxalato de cálcio – componente urinário
- Parasitas – Schistosoma haematobium; muitos ovos, alguns com larva
ativa no seu interior; algumas larvas isoladas;

Critérios utilizados para a identificação do parasita:

- Morfologia;
- Habitat do parasita versus produto biológico em estudo - o esperma passa
na uretra e pode arrastar componentes urinários. O S.haematobium
coloniza habitualmente o plexo venoso da bexiga;
- Incidência geográfica do parasita – África.

80% progressiva
 Motilidade – 90% 10% de espermatozóides
10% não progressiva imóveis

Página | 189
 Vitalidade – em 100 espermatozóides imóveis contaram-se 50 vivos, logo
dos 10% de espermatozóides imóveis, 5% são formas vivas

Vitalidade total = 90% formas móveis + 5% de formas imóveis vivas = 95%

 Morfologia – Em 100 espermatozóides:

- Formas normais = 79%


- Formas anormais = 21%, das quais: 10% anomalias da cabeça, 6% da
peça intermédia e 5% do flagelo.

 Contagem celular

- Leucócitos – 10x106/mL
- Espermatozóides – 27x106/mL

9.8.5 – EXSUDADO VAGINAL / EXSUDADO VULVAR

Estes exsudados são um auxiliar de diagnóstico nas infecções do aparelho


genital feminino, que habitualmente são provocadas por microorganismos endógenos
cuja patogenicidade é despoletada por fatores do hospedeiro ou por desequilíbrios da
flora saprófita. A flora vaginal da mulher em fase reprodutiva é composta
predominantemente por bacilos de Döderlein (também denominados de lactobacilos).
São bacilos finos e compridos Gram (+), produtores de ácido láctico e peróxido de
hidrogénio, que mantêm o pH vaginal ácido e impedem a proliferação de bactérias
patogénicas. A quantidade de lactobacilos presente é função da produção de
estrogénios, assim na infância e na menopausa, dada a sua ausência, o pH vaginal é
neutro e esta flora é substituída por outras espécies microbianas.

Página | 190
Principais Tipos de Infeção Vaginal - Microorganismos Envolvidos

 Vulvo vaginite – provocada essencialmente por Candida sp e Trichomonas


vaginalis. É a infecção mais comum na mulher sexualmente ativa;
 Vaginose – provocada essencialmente por Gardnerella vaginalis. É a infecção
mais comum em mulheres na menopausa;
 Cervicite – provocada essencialmente por Chlamydia trachomatis, Neisseria
gonorrhoeae e Mycoplasma sp.
 Endometrite e salpingite – provocadas essencialmente por Chlamydia
trachomatis, Neisseria gonorrhoeae e anaérobios como Bacteroides fragilis e
Prevotella bivia.

Nas gestantes do 3ºtrimestre reveste-se ainda de grande importância a


colonização do canal vaginal pela bactéria Streptococcus agalactiae. Esta espécie não
aporta qualquer situação de relevância clínica para a mulher, mas para o recém nascido,
contaminado na altura do parto, pode causar septicémia, meningite e pneumonia.

Análises laboratoriais

A. Exame Bacteriológico e Micológico

É composto pelo exame direto (observação de esfregaço vaginal corado por técnica
de Gram e exame a fresco) e pelo exame cultural.

EXAME DIRETO

1) Exame a Fresco

É descarregada, entre lâmina e lamela, especificamente a zaragatoa obtida


durante a colheita para o efeito (zaragatoa em soro fisiológico), para observação ao
microscópio ótico. São avaliados qualitativamente: células, leucócitos, eritrócitos (se
presentes em quantidade significativa), leveduras e parasitas (Trichomonas vaginalis).

Página | 191
A B

C D

Figura 93 - Exsudado Vaginal - exames a fresco. Fig. A – exsudado vaginal normal observando-se células epiteliais e bacilos de
Döderlein. Fig. B – exsudado vaginal parasitado (Trichomonas vaginalis – setas a negro) com aglomerados característicos de
leucócitos (seta azul). Fig. C – exsudado vaginal sugestivo de clue cells (aglomerados de bactérias que se dispõem ao redor das
células por adesão às suas paredes celulares). Fig. D – exsudado vaginal com elementos leveduriformes.

2) Observação do Gram

Avaliar e descrever a flora vaginal: bacilos de Döderlein (ausentes, raros, alguns


ou muitos), tipo de flora predominante (mista, Gram (-), Gram (+), bacilos, cocos,
etc...), presença de clue cells, etc...

A B C

Figura 94 - Exsudado Vaginal - esfregaços corados pela técnica de Gram. Fig. A - exsudado vaginal normal. Fig. B
– Exsudado vaginal com clue cells. Fig. C – exsudado vaginal com estreptococos do grupo B (pequenos cocos
corados de roxo).

Página | 192
EXAME CULTURAL

Exsudado Vaginal

Semear Executar

Meio Can2 Exame Direto

Incubar +
atmosfera Informação
adequada Clínica
48h  Meio Gar – se presença de clue
Semear cells;
Resultado ID  Meio COS + Meio VCAT3 – se
presença de elevado número
de leucócitos e/ou queixas
clínicas;
Incubar atmosfera adequada 24h – 48h Se  Meio CNA + Caldo Todd-
necessário repicagens (culturas não puras) e Hewwit – Se gestante com
Resultado Testes ID confirmatórios 30semanas ou mais de gravidez
ID e TSA para despiste de Streptococcus
Repicagem obrigatória do Caldo Todd-Hewwit
agalactiae.
às 24h para Meio STRB. Incubar 24h em
atmosfera adequada

Figura 95 - Protocolo de processamento de amostra vaginal ou vulvar (exsudado) para o exame cultural no LAC
Cintramédica II.

Nota: a Chlamydia trachomatis e Mycoplasma sp. são também responsáveis por


infeções neste local, contudo só são pesquisados quando pedidos expressamente pelo
clínico, não fazendo parte desta análise. A Chlamydia trachomatis é pesquisada por
técnica de PCR (Polymerase Chain Reaction) no exterior.

B. Pesquisa de Mycoplasma sp.

A Pesquisa de Micoplasmas é efetuada no dispositivo MYCOPLASMA IST2 ®


da BioMérieux. Permite a cultura, a identificação, a contagem indicativa e o TSA de
Ureaplasma spp. e de Mycoplasma hominis. A presença de substratos específicos (ureia
para Ureaplasma spp e arginina para M.hominis) e de um indicador (vermelho de fenol)
permite, em caso de cultura positiva, visualizar uma mudança da cor do caldo ligada a
um aumento de pH. A seletividade em relação à flora de contaminação eventualmente
presente na amostra é fornecida pela associação de três antibióticos e um antifúngico.

Página | 193
Figura 96 - Exemplo de uma amostra processada no LAC
Cintramédica II negativa para Micoplasmas.

Figura 97 - Exemplo de uma amostra processada no LAC


Cintramédica II positiva para Ureaplasma spp. e Mycoplasma
hominis.

Exemplo de um Exsudado Vaginal processado no LAC Cintramédica II


Para o Exame Bacteriológico e Micológico e Para a Pesquisa de
Micoplasmas do Endocolo.

21 anos
Amostra CM21547 - Informação relevante Sem informação clínica, mas análises
prescritas todas do forro microbiológico
para o despiste de infecções vaginais.

 Exsudado Vaginal – Exame Bacteriológico e Micológico

 Exame Citológico:
 Células – muitas;
 Leucócitos – alguns;

 Exame Bacteriológico

 Direto – Gram:
 Alguns bacilos de Döderlein;
 Alguns elementos leveduriformes;
 Cultural
Não se isolaram microorganismos considerados patogénicos;

Página | 194
 Exame Parasitológico – Negativo;
 Exame Micológico – Positivo para Candida albicans;

 Pesquisa de Micoplasmas do Endocolo

Leitura dos Resultados

CM 21547 Micoplasmas Endocolo

+ + - + - - - - - + - - - - - + + - - - - -
+ + - - - - - - + - + + - - + + - - + + -

Frasco Positivo (+)

Interpretação dos Resultados

Exame Cultural – Galeria MYCOPLASMA IST2® da BioMérieux

 Mycoplasma hominis – Negativo;


 Ureaplasma spp. – Positivo;

Página | 195
 Antibiograma – Galeria MYCOPLASMA IST2® da BioMérieux

 Sensível – Azitromicina, Tetraciclina e Doxiciclina;


 Intermediário – Ofloxacina;
 Resistente – Eritromicina, Claritromicina e Ciprofloxacina.

C. Pesquisa de Estreptococos β-Hemolíticos do Grupo B - Streptococcus agalactiae

Esta pesquisa pode ser efetuada apenas a nível vaginal ou pode ser prescrita pelo
clínico, também a pesquisa a nível retal, como complemento. O procedimento é igual e
rege-se pelo seguinte fluxograma:

Exsudado Vaginal e/ou


Exsudado Retal

Semear

Meio CNA Caldo Todd-Hewwit

Incubar Incubar
atmosfera atmosfera
adequada 24h adequada 24h
Repicagem p/
Meio STRB
Se necessário: Repicagem (culturas
não puras ou colónias insuficientes p/ Incubar atmosfera
ID e TSA); Testes ID confirmatórios adequada 24h

Se necessário incubar
atmosfera adequada 24h

Resultado ID e TSA

Figura 98 - Protocolo de processamento de amostra vaginal ou retal (exsudado) para a Pesquisa


de Estreptococos β-Hemolíticos do Grupo B, no LAC Cintramédica II.

Página | 196
9.8.6 - EXSUDADO URETRAL

Esta análise é um auxiliar de diagnóstico das infecções do aparelho reprodutor


masculino e feminino. As uretrites são infecções da uretra com sintomatologia
normalmente mais marcada no homem comparativamente com a mulher. Os
patogénicos frequentemente associados a esta morbilidade são: Chlamydia Trachomatis,
Ureaplasma spp, Mycoplasma hominis, Neisseria gonorrhoeae, E.coli e outras
Enterobactericeae, Trichomonas vaginalis e Candida sp.

Análises laboratoriais

A. Exame Bacteriológico e Micológico

É composto pelo exame direto (observação de esfregaço uretral corado por


técnica de Gram e exame a fresco) e pelo exame cultural.

EXAME DIRETO

1) Exame a Fresco

É descarregada, entre lâmina e lamela, especificamente a zaragatoa obtida


durante a colheita para o efeito (zaragatoa em soro fisiológico), para observação ao
microscópio ótico. São avaliados qualitativamente: células, leucócitos, eritrócitos (se
presentes em quantidade significativa), leveduras e parasitas (Trichomonas vaginalis).

2) Observação do Gram

Avaliar e descrever a flora uretral ou seja o tipo de flora predominante (mista,


Gram (-), Gram (+), bacilos, cocos, etc...). As observações do Gram são importantes
para a valorização de culturas.

Página | 197
EXAME CULTURAL

Exsudado Uretral

Meio Can2 Meio McK Meio CNA Meio PVX Meio VCAT3

Incubar Incubar Incubar Incubar Incubar


atmosfera atmosfera atmosfera atmosfera atmosfera
adequada adequada adequada adequada adequada
48h 24h 24h 24h 48h

Resultado ID Colónias
Se necessário: Repicagem (culturas
suspeitas de
não puras ou colónias insuficientes p/ Neisseria sp.
ID e TSA); Testes ID confirmatórios

Sim
Esfregaço para
Coloração de Não
Resultado Gram
ID e TSA
Resultado ID
TSA no exterior

Figura 99 - Protocolo de processamento de amostras da uretra (exsudados) para exame cultural no LAC Cintramédica II.

Notas: são valorizadas as culturas com crescimento significativo de colónias suspeitas


(dos microorganismos referidos) nos meios McK, CNA e PVX, tendo sempre presente
que a mucosa da uretra anterior é normalmente colonizada por uma flora comensal não
patogénica (limitada em simultâneo pelas micções e pelas defesas locais). A pesquisa de
Chlamydia trachomatis e de Mycoplasma sp. só é efetuada quando solicitada
diretamente pelo clínico, sendo que a primeira é efetuada no exterior.

B. Pesquisa de Mycoplasma sp.

A Pesquisa de Micoplasmas é efetuada no dispositivo MYCOPLASMA IST2 ®


da BioMérieux, de acordo com o descrito no capítulo anterior para os exsudados
vaginais.

Página | 198
9.8.7 – EXSUDADO NASAL

A sua realização tem particular interesse na deteção de portadores sãos de


Staphylococcus aureus e de Neisseria meningitidis. A primeira bactéria é importante
para a vigilância e controlo de surtos de infecção nosocomial e a segunda, no controlo
da disseminação da infecção a partir de um caso de doença meningocócica. Contudo,
pode também ser prescrita para isolamento de determinados microorganismos quando
existam queixas e dados clínicos susceptíveis de tais infecções – Streptococcus
pneumoniae, Moraxella catarhalis e Haemophilus influenzae.

Análises laboratoriais

Exame Bacteriológico Cultural

Exsudado Nasal

Semear

Meio CNA Meio PVX

Incubar Incubar
atmosfera atmosfera
adequada 24h adequada 24h
Colónias suspeitas de
Neisseria meningitidis
Se necessário: Repicagem (culturas
não puras ou colónias insuficientes p/
ID e TSA); Testes ID confirmatórios Esfregaço para Sim
Coloração de
Gram
Não
Se necessário incubar
atmosfera adequada 24h

Resultado ID
TSA no exterior
Resultado
ID e TSA

Figura 100 - Protocolo de processamento de amostras nasais (exsudados) para exame cultural no LAC Cintramédica II.

Notas: são valorizadas as culturas com crescimento significativo de colónias suspeitas


(dos microorganismos referidos) nos meios CNA e PVX, considerando os dados
clínicos disponíveis e o grau de pureza da cultura, tendo sempre presente que a mucosa
nasal é normalmente colonizada por uma flora comensal não patogénica.

Página | 199
9.8.8 – EXSUDADO FARÍNGEO

A orofaringe é colonizada por uma flora residente da qual podem fazer parte,
transitoriamente e em pequena quantidade, alguns microorganismos patogénicos:

• Streptococcus pneumoniae;
• Streptococcus pyogenes – é um estreptococo β-hemolítico do grupo A segundo
Lancefield e é o principal agente etiológico da faringite bacteriana. O seu
diagnóstico é importante, pois quando não devidamente tratado pode estar na
origem da febre reumática, glomerulonefrites e endocardite reumática.
• Haemophylus influenzae;
• Neisseria meningitidis e, por vezes, Neisseria gonorrhoeae;
• Klebsiella sp. e outras Enterobacteriaceae;
• Candida sp. – as infecções por fungos (candidíases orofaríngeas) ocorrem
sobretudo em indivíduos imunocomprometidos, HIV/SIDA, doentes oncológicos,
portadores de próteses dentárias e diabéticos.

Análises laboratoriais

A. Pesquisa direta de Streptococcus β-Hemolítico do Grupo A - Phadirect

A pesquisa direta de Streptococcus β-Hemolítico do Grupo A consiste num teste


imunocromatográfico de diagnóstico rápido, para a deteção qualitativa do antigénio
estreptocócico do grupo A de Lancefield, a partir de amostras da orofaringe obtidas com
zaragatoa. No LAC Cintramédica II é utilizado para o efeito o dispositivo Strep A
Dipstick bioNexiaTM da BioMérieux.

1 Zona de manipulação da tira.

C Linha de Controlo (C).

T Linha de Teste (T).

2 Linha “MAX” indicando a profundidade máxima de imersão.


Figura 101 - Ilustração da tira reativa do
teste Strep A Dipstick bioNexiaTM da 3 Zona p/ mergulhar no material de amostra.
BioMérieux

Procedimento e Interpretação dos Resultados


Página | 200
Neg. Pos. Pos. Inválido Inválido

Figura 102 – Procedimento teste Strep A Dipstick bioNexiaTM da BioMérieux (Fig.1a – Fig.6). Interpretação dos resultados (Fig.7)

B. Exame Bacteriológico e Micológico

Exsudado Faríngeo

Semear

Caldo Todd- Meio CNA Meio PVX


Hewwit

Incubar
Incubar
atmosfera
atmosfera
adequada 24h Colónias suspeitas de
adequada 24h
Neisseria sp.
Repicagem p/
Meio CNA
Esfregaço para Sim
Coloração de
Incubar
atmosfera Gram
Não
adequada 24h

Se necessário: Repicagem (culturas Resultado ID


não puras ou colónias insuficientes p/
TSA no exterior
ID e TSA); Testes ID confirmatórios

Se necessário incubar
atmosfera adequada 24h
Figura 103 - Protocolo de processamento de amostras
da orofaringe (exsudados) para exame cultural no LAC
Resultado Cintramédica II.
ID e TSA
Página | 201
9.8.9 – EXSUDADOS PURULENTOS

Os exsudados purulentos podem ser profundos ou superficiais. As secreções


provenientes de supurações superficiais, abcessos ou líquidos serosos são heterogéneas
tanto pela natureza dos agentes bacterianos como pela fisiopatologia da infecção. A
metodologia para o estudo microbiológico de qualquer exsudado purulento deve
considerar o local da infecção, a história clínica do utente, o tipo de utente (diabético,
imunodeprimido, etc...), o tipo de infecção e o modo como foi efetuada a colheita.

Agentes etiológicos frequentes

 Exsudados Purulentos Profundos

Principalmente microorganismos anaeróbios.

 Feridas

Staphylococcus aureus, Streptococcus pyogenes, Enterococcus spp.,


Enterobacteriaceae (E.coli, Klebsiella spp.), Pseudomonas aeruginosa, Aeromonas spp.
e microorganismos aeróbios.

 Exsudado Auricular – Otite média

Streptococcus pneumoniae, Haemophilus influenzae, Streptococcus pyogenes; e mais


raramente, Moraxella catarrhalis, Staphylococcus aureus, Enterobacteriaceae e
anaeróbios. Nos recém-nascidos também pode estar implicado o Streptococcus β-
hemolítico do grupo B.

 Exsudado Auricular – Otite externa

Pseudomonas aeruginosa é o principal agente bacteriano. Os fungos do género


Aspergillus sp. e Candida sp. também podem colonizar o canal auditivo normalmente
em co-infecções bacterianas.

Página | 202
 Exsudado Ocular – Infeções palpebrais

Staphylococcus aureus é o principal agente bacteriano. Outros agentes incluem


Staphylococcus coagulase (-), Streptococcus pyogenes (em adultos) e Haemophylus
influenza (em crianças < 5anos).

 Exsudado Ocular – Conjuntivites

Staphylococcus aureus, Streptococcus pneumoniae, Streptococcus pyogenes, Moraxella


catarrhalis, Haemophilus influenzae, Neisseria gonorrhoeae e Chlamydia trachomatis.
No recém-nascido principalmente Neisseria gonorrhoeae e Chlamydia trachomatis por
transmissão vertical durante o parto. Nos imunocomprometidos principalmente
Pseudomonas aeruginosa e Enterobacteriaceae.

 Exsudado Ocular – Infecções do Saco Lacrimal e da Córnea

Nestas infeções podem estar implicados alguns fungos dos géneros Aspergillus sp e
Candida sp.

Análises laboratoriais – Exame Bacteriológico e Micológico

A. EXSUDADOS SUPERFICIAIS

Exame Direto – Coloração de Gram

Um esfregaço, efetuado preferencialmente no ato da colheita, corado pela


técnica de Gram, permite a percepção da flora existente (de um eventual predomínio) e
do grau de infecção (pela quantidade de leucócitos presentes). É um auxílio na
valorização de culturas conjuntamente com o grau de pureza e quantidade de colónias
presente nas culturas.

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Exame Cultural

Exsudado Purulento

Meio SGC2 Meio McK Meio CNA Caldo BHI Meio PVX

Incubar Incubar Incubar Incubar Incubar


atmosfera atmosfera atmosfera atmosfera atmosfera
adequada adequada adequada adequada adequada
2 a 5 dias 24h 24h 24h 24h

Se necessário: Repicagem (culturas


Resultado ID Repicagem Meio Colónias
não puras ou colónias insuficientes p/
CNA, McK e PVX suspeitas de
ID e TSA); Testes ID confirmatórios
Neisseria sp.
Incubar atmosfera adequada 24h

Sim
Esfregaço para
Não
Coloração de Gram
Resultado
ID e TSA Resultado ID
TSA no exterior

Figura 104 - Protocolo de processamento de amostras de exsudados purulentos para exame cultural no LAC Cintramédica II.

Notas: Normalmente, um meio de cultura com mais de três espécies microbianas


diferentes não é valorizado. Nos exsudados profundos normalmente estão implicados
microorganismos anaeróbios, e estes não são contemplados no protocolo apresentado na
figura 104.

Exemplo de um Exsudado Purulento Superficial processado no LAC


Cintramédica II

49 anos
Amostra DCM 908 - Informação relevante Tractomia
Ferida na traqueia

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 Observação do Gram:
 Flora mista: Cocos Gram (+) e Bacilos Gram (-), com
predomínio dos Gram (-).

 Exame Bacteriológico Cultural

1º Dia de observação das placas

 Meio McK – crescimento de dois tipos de colónias:

 Col.1 – cor beje, translúcidas e de aspeto mucoso (em maior quantidade);


 Col.2 – cor rosa com pigmento fuchia, opacas e de aspeto mucoso (em
menor quantidade);
Repicagem para meio McK para isolamento das colónias beje. 24h a incubar
em atmosfera adequada.

 Meio CNA – crescimento. Mais 24h a incubar em atmosfera adequada;

 Meio PVX – confirma o crescimento observado no meio Mck e meio CNA;

2º Dia de observação das placas

Repicagens do meio BHI

 Meio McK: confirma o predomínio dos 2 tipos de colónias anteriormente


visualizadas no mesmo meio de cultura. Repicagem das colónias rosa para
isolamento;

 Meio CNA: Crescimento de colónias suspeitas do género Staphylococcus

Teste confirmatório Pastorex® Staph Plus Resultado Negativo para S.aureus

Página | 205
3º Dia de observação das placas

Figura 105 - Exsudado Purulento Superficial processado no LAC Cintramédica II. Aspeto das
colónias isoladas em meio McK. À esquerda col.2 rosa e à direita col.1 beje.

De acordo com o Gram e o teste confirmatório, o crescimento no meio de CNA não é de


valorizar. Os dois tipos de colónias Gram (-) estão em predomínio, pelo que os dois são
de valorizar.

Identificação e TSA no Vitek® 2 Compact das colónias isoladas de bactérias Gram (-).
Cartas de ID usadas: col.1 e col.2 – GN; Cartas de TSA usadas (col.1 – N222, col.2 –
N244).

Resultados

• ID
 McK col.1 – Pseudomonas aeruginosa
 Mck col.2 – Escherichia coli

• TSA

Col.2
Col.1 Col.2 Col.1
Amoxicilina Cefixima S
R S
Amoxicilina/Ácido Clavulânico Ciprofloxacina R
S R
Piperacilina/ Tazobactam Trimetoprim/Sulfametoxazol R
R R
Cefalosporinas 1ª geração Gentamicina S
I S
Cefuroxima Colistina
R S
Ceftazidima
S S

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 Exame Micológico Cultural

Observação da placa às 24h

Crescimento de leveduras. Colónias suspeitas de Candida sp. Mais 24h a incubar em


atmosfera adequada;

Observação da placa às 48h

Confirmação e valorização do crescimento de leveduras do género Candida sp.


Identificação no Vitek® 2 Compact. Carta utilizada: YST. Não foi possível determinar a
espécie.

9.8.10 – SANGUE

A maioria das doenças infecciosas pode apresentar bacterémia transitória,


intermitente ou persistente. O sangue é um produto biológico estéril. O isolamento de
um microorganismo a partir de uma hemocultura determina o agente etiológico.

Exame Cultural – Procedimento

 Semear a gelose por inundação, colocando o frasco na horizontal 5-10min;

 Incubar em aerobiose 35-37ºC no mínimo por 7 dias e até 14 dias efetuando


sementeiras de gelose todas as 48h por inundação;

 Observar o aspeto macroscópico diariamente. O aparecimento de turvação, de


hemólise no caldo, a produção de gás, eventuais depósitos na superfície do caldo ou
o desenvolvimento de colónias sobre a gelose são sinais de positividade da amostra;

 Efetuar subculturas dos frascos que não apresentem crescimento visível às 72h para
meio COS e PVX e incubar em atmosfera de 5% CO2, 48h a 35-37ºC ao fim de 7
dias, e antes de considerar o resultado como negativo, efetuar novamente
subculturas para meio COS e PVX.

Página | 207
9.8.11 – PELE, UNHAS E CABELOS

Nas amostras de pele, unhas e cabelos interessa a pesquisa de dermatófitos,


fungos que causam infecções nestas estruturas devido à sua capacidade de obter
nutrientes de matéria queratinizada. Dermatófitos é uma designação comum para um
grupo de três géneros de fungos que causam infeções em animais e humanos
denominadas dermatofitoses. Os géneros das formas anamórficas destes fungos são:
Microsporum, Epidermophyton e Trichophyton.

Análises laboratoriais – Exame Micológico

Exame Direto

O exame direto consiste na observação ao microscópio ótico, em pequena e


média ampliação, da amostra. Quando é pele ou unhas, uma porção desta sofre um pré-
tratamento com hidróxido de potássio a 20% durante alguns minutos para a dissolução
da queratina e melhor visualização das estruturas fúngicas.

Exame Cultural

O exame cultural consiste na sementeira da amostra em Meio Dermatófitos. A


amostra é disposta sobre o meio produzindo-se sulcos, distanciando os fragmentos entre
si, e incubada por 3 semanas à temperatura ambiente ao abrigo da luz.

Observação das colónias fúngicas (fungos filamentosos)

 Observar a frente – cor (branca, perolada, marfim, preta,...), consistência


(filamentosa, pulverulenta, tipo algodão,), e a topografia (plana, rugosa,
pregueada).
 Observar o verso. Identificar o pigmento predominante.
 Observar as características microscópicas. Tamanho, formato, arranjo e
estrutura das hifas. Identificar microconídios e macroconídios.

Observação das colónias fúngicas (fungos leveduriformes)

 A identificação é efetuada no aparelho VITEK® 2 Compact.


 Em alternativa, e como a espécie Candida albicans é normalmente a
levedura implicada – Prova da Blastese: baseia-se na propriedade desta
espécie formar tubo germinativo quando colocada em soro humano ou
animal.

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10. CONTROLO DE QUALIDADE NO LABORATÓRIO MICROBIOLOGIA
– LAC CINTRAMÉDICA II

I. Controlo de Qualidade VITEK® 2 Compact

É um controlo de periodicidade mensal, efetuado com estirpes ATCC (do inglês,


American Type Culture Collection), de Staphylococcus aureus e Escherichia coli, que
permite atestar a qualidade das cartas de identificação e de TSA, bem como do método
operacional e de quem o executa. As amostras de controlo são tratadas da mesma forma
que as de rotina utilizando a metodologia VITEK® 2 Compact.

II. Controlo de Qualidade Coloração por Técnica de Gram

É um controlo de periodicidade semanal, efetuado a partir das estirpes ATCC


semeadas para o controlo de qualidade do VITEK (Staphylococcus aureus e
Escherichia coli), que permite atestar a qualidade dos reagentes, bem como do método
operacional e de quem o executa.

III. Controlo de Qualidade da Solução Salina do VITEK

É um controlo semanal à esterilidade da solução, no qual deve haver ausência de


crescimento bacteriano.

IV. Controlo de Qualidade do Volume do Dispensador da Solução Salina do


VITEK

É um controlo semanal ao volume dispensado para efetuar as soluções


necessárias à identificação de microorganismos e ao TSA.

V. Controlo de Qualidade do Volume do Aparelho Densichek

É um controlo semanal ou sempre que se verifique ser necessário monitorizar a


precisão do aparelho e a reprodutibilidade das medições. É efetuado por leitura direta no
aparelho de padrões DensiCHEKTM Plus de diferentes densidades, que o acompanham.

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11. CONCLUSÃO

O estágio como parte integrante do MAC permitiu-me consolidar os


conhecimentos teóricos, aplicá-los num contexto real de trabalho e desenvolver destreza
prática e capacidades técnicas aplicadas ao LAC.

Estagiar em ambiente hospitalar e num LAC que recebe uma variedade de


amostras, revelou-se numa experiência muito enriquecedora. Traduziu-se a nível
laboratorial num contato riquíssimo com inúmeros casos clínicos que evoluem e se
expressam de formas distintas, permitindo o reconhecimento de que o laboratório é uma
constante aprendizagem onde a prática diária e uma base teórica sólida são essenciais.

Os objetivos iniciais propostos foram cumpridos. A integração na rotina


laboratorial, com o contributo incansável de toda a equipa técnica de ambos os locais de
estágio, foi excelente, permitindo-me o manuseamento de amostras, dos vários
equipamentos e a realização das vastas metodologias que ali têm implementadas. O
acesso ao historial clínico dos doentes, durante a validação de resultados, contribuiu de
forma essencial para a articulação dos conhecimentos teóricos com a sua aplicação
prática, visando a compreensão da contextualização dos vários achados laboratoriais, da
importância dos mesmos e da necessidade de uma observação crítica antes de validar
um resultado e transmiti-lo ao clínico.

Estagiar em laboratórios que têm implementado um sistema da qualidade bem


estruturado e funcional, permitiu-me um conhecimento mais aprofundado desta área, ao
nível da sua implementação, da sua aplicabilidade à realidade do LAC e às vastas
metodologias nele realizadas, bem como, das mais valias que a implementação das
diretivas da qualidade e a sua aplicação diária aportam ao cumprimento dos objetivos de
um laboratório: proporcionar informação útil e fiável para o clínico na ajuda ao
diagnóstico, implementação e monitorização da terapêutica e avaliação da evolução da
doença.

Página | 210
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

 Apontamentos da disciplina de Bioquímica Clínica, V Pós graduação em


Análises Clínicas da Faculdade de Farmácia da Universidade de Lisboa; 2007.
 Apontamentos da disciplina de Imunologia, V Pós graduação em Análises
Clínicas da Faculdade de Farmácia da Universidade de Lisboa; 2007.
 Apontamentos da disciplina de Virologia, V Pós graduação em Análises Clínicas
da Faculdade de Farmácia da Universidade de Lisboa; 2007.
 Apontamentos da disciplina de Virologia e Bacteriologia, V Pós graduação em
Análises Clínicas da Faculdade de Farmácia da Universidade de Lisboa; 2007.
 Banha L., Cochicho D., Cunha M., Ornelas C., Rebelo, L.; Apresentações do I
Curso de Virologia Molecular no Instituto Português de Lisboa, Francisco Gentil,
E.P.E.
 Banha L., Cochicho D., Cunha M., Ornelas C., Rebelo, L.; Instruções de
Trabalho do Laboratório de Virologia do Instituto Português de Lisboa,
Francisco Gentil, E.P.E.
 Bradwell AR, Hughes RG. Atlas of hep-2 patterns. 3ª ed. Birmingham: The
Binding Site; 2007. 9780704425958.
 Bulas aparelhos ARCHITECT® e LIAISON®.
 Bulas do Aparelho VITEK® 2 Compact.
 Bulas dos meios de cultura da BioMérieux.
 Bula Mycoplasma® IST 2.
 Bula do teste Pastorex® Staph Plus.
 Bula do teste Slidex® Pneumo Kit.
 Bula do teste Slidex® Strepto Plus.
 Burtis CA, Ashwood ER, Bruns DE. Tietz Textbook of Clinical Chemistry and
Molecular Diagnostics. 4ª ed. Philadelphia: Elsevier Saunders; 2006.
 Castro Christine, Gourley Mark, Diagnostic Testing and Interpretation of Tests
for Autoimmunity National Institutes of Arthritis and Musculoskeletal and Skin
Diseases (NIAMS), National Institutesof Health (NIH), Bethesda, MD, U.S.A.
 Chaitoff K. Learning Guide Immunoassay. USA: Abbott Laboratories,
Diagnostics Division; 2010.
 Coimbra MF, Lourenço MC, Instruções de Trabalho do Laboratório de
Imunologia do Instituto Português de Lisboa, Francisco Gentil, E.P.E.
 Coimbra MF, Lourenço MC, Proteinúria duas abordagens, Instituto Português de
Lisboa, Francisco Gentil, E.P.E. 27 Fevereiro 2014.
 Cunha M. Manual da Qualidade do Serviço de Patologia Clínica do Instituto
Português de Lisboa, Francisco Gentil, E.P.E.
 Francesco Dati, Lars-Olof Hansson, Protein Learning Guide, USA: Abbott
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS (Continuação)

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 http ://www.ipolisboa.min-saude.pt [sitado 2014 Janeiro]
 Hughes R, Surmacz M, Karim A, Bradwell. Atlas of tissue autoantibodies. 3ªed.
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 Métodos de Ensaio do Laboratório de Bioquímica do Instituto Português de
Lisboa, Francisco Gentil, E.P.E.
 Métodos de Ensaio do Laboratório de Imunologia do Instituto Português de
Lisboa, Francisco Gentil, E.P.E.
 Métodos de Ensaio do Laboratório de Virologia do Instituto Português de
Lisboa, Francisco Gentil, E.P.E.
 Métodos de Ensaio do Laboratório de Microbiologia do LAC Cintramédica II
 Orientações para a Elaboração de um Manual de Boas Práticas em
Bacteriologia, Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge no âmbito do
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 -Rapidlab analisador de pH/gases sanguíneos 348 – manual do operador.
Siemens HealthCare LLC; 2003.
 Reed R. Learning Guide Clinical Chemistry. USA: Abbott Laboratories,
Diagnostics Division; 2010.
 Real Time PCR. From Theory to Practice. Invitrogen Corporation 2008.
 Regulamento Interno do Instituto Português de Oncologia de Lisboa Francisco
Gentil, E.P.E.
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 Vieira C., Meireles G., Instruções de Trabalho do Laboratório de Bioquímica
do Instituto Português de Lisboa, Francisco Gentil, E.P.E.

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