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CRIANÇAS, SEMPRE: infância na melhor idade, à guisa de sonhada 'fórmula da juventude

PRESENTES de aniversários: inesquecível pedalada dominical, de sabor à 'dèjá vu'

Pro Fiote, Amor ao Infinito!

*H.A.

Pra não perder o bonde - pra lá de oportuno - da reflexão aos Mestres, Títono à parte...

Em vez de bonde - que lembra VLT, de triste memória do que não foi para a cuiabania, inclusaí a da Vadjú
- pessoalmente nesse quase meio século já, foi regressar pedalando no breve espaço-tempo,
mesmíssima Estrada da Passagem, em vigor passado dos longínquos 'vinte e poucos anos', na carcaça de
empréstimo já um tanto desgastada, que inda dá pro gasto.

Lembrança voou mais longe noutro-espaço, interior paulista 'terra da cachaça', Pirassununga, patrás
mais no tempo, à distante infância - naqueles tempos ainda véspera da aborrescência, mais precoce
geração após outra, nestes dias em velocidade cibernética.

Primeira bicicleta, pai militar levou o filhote nos seus dez pra onze anos a escolher.

Espelho verde-oliva, já via na imaginação sem limite do menino, o sonho...

Não eram tantas as casas do ramo na interiorana urbe - uma após outra, não tinha verde.

Pai ofereceu até as mais 'top' - creio não era ainda 'top', mas vá lá, - até com farol a dínamo.

Amor projetado em verde, outra matiz não servia... Dê-lhe sola de sapato a procurar.

Já quase finda esperança, - já extenuado o guri inteirão "o velho" - , a jóia.

Igualzinha à que imaginara, sem tirar nem por.

Depois, meio a fórceps - quase manu militari, meio a fórceps, de cara já tirou as 'rodinhas' de apoio
lateral, planejadamente em férias da caserna, ensinou a pedalar - sem nunca antes, contou-me depois e
de lá pelo que sei até o desenlace da matéria, ter subido numa bicicleta.

Enquanto pedalávamos juntos, ao contar ao entusiasmado piloto da máquina do tempo sobre duas
rodas, que antes pergutara se pedalávamos juntos interrompeu o Neto, honra o nome que do avô
herdou, entre curioso e incrédulo:

- Sééériiio, pai?

Infância pobre, não teve em pequeno o brinquedo - e nunca aprendeu a pedalar.

Assim mesmo, soube ensinar - era fantástica pela própria simplicidade, a didática.

ENSINAR À MORTE
Nas indeléveis lembranças - tão presentes, sempre, para sempre neste breve caminhar terreno, quiçá
além - e 'para além do espelho, salve sábio samba, viva João Nogueira! -, força do limiar 50, até, de
estudar nesses dias de Bruxas e Santos ancestrais exéquias herdadas desde as mais distantes civilizações
das que tem registro a Humanidade - duas rodas viram asas na inevitável reflexão do só o que há de
certo desde o primeiro respirar de cada um, cada uma: a Morte.

Em casa, tratada por sua própria Natureza, nunca foi tabu - todo ser vivo, morre.

"E pra morrer, basta estar vivo", não cansava de ensinar "o velho".

Porém, falava da dita cuja apenas e tão somente se perguntado.

Nisso, forçoso reconhecer - não crucificai, piedade! - pra lém talvez 'exagero na mão'.

Sempre que oportuniza o colóquio, misteriosa e pintada tão terrível - pra desmistificá-La.

Foi por longo tempo na primeira infância, entretanto, esperada a pergunta - tempo era dele.

Precoce no prematuro de sete meses, antes de esperada - foi lá entre quatro, cinco anos...

- Pai, o que que é morrer?

Assim de chofre, inesperadamente, numa noite quando pensava no que seria janta.

Aflorou ancestral didática paterna, da roça ou até mais, potencializada, quase selvagem...

Leveio até o poleiro das penosas, escolhida a mais carnuda vítima para o sacrifício em nome da Ciência,
em favor também da Gastronomia doméstica, mal cacarejou, pescoço quebrado.

Passado breve extertor da bípede emplumada, o enrijecer após consumado fim.

Imóvel, inanimada, exangue a carcaça jovem galinácea - tadinha dela!

Não ficou sequer resquício de dúvida sobre o aprendizado - bem aprendido, a bem dele...

Advertência - "você pode morrer" - é dos poucos limites contra os quais nunca insurgiu-se.

E de passo em passo - um de cada vez -, agora pedalando também, vai aprendendo limites.

E ao longo da vida breve, todos, todas - cada qual no seu tempo e medida -, também, creio...

Passa ponte do Pari, já mais um pouco passa Jardim Guanabara, à memória cerradão doutrora.

No recordar infindáveis percursos pelas trilhas dali adentro, algumas, verdadeiras 'picadas', no dizer do
Antanho, o ensinar sobre tesouros de Verdade, no rememorar vitalícia amizade - iniciado na tribo
'mountain bike, nas trilhas ao derredor da Passagem, pela companhia do impagável mago das imagens
Raimundo - Cândido, que nem Rondon, em nome e no ser - dos Reis, o Rai, que trago na conta de irmão.

Alma divagante trazida ao hoje, volta à Terra, no aproximar da avenida Mário Andreazza.
À frente do restaurante da família Oliveira, já faz tempão naquela quase esquina, sempre amáveis no
servir delícia de comida caseira 'com amor', palavras da mãe, lembranças Débora, ao pai também - dia
desses a gente almoçaí.

À frente, já perto de transpor nosso ancestral tão resistente, agonizante há décadas - o Cuyabá, que se
vai matando cada vez mais e sempre, um pouco a cada dia, há décadas desde quase a segunda metade
do século passado - retorna à reflexão do ser, a Morte

Perto da ponte - frente onde tocava bolicho saudoso velho amigo "Nhô", contador de ca usos.

Indestrutível 'poste do jumento', nonde outrora poupado pela mão do Inefável a este pobre embarcar na
canoa do Caronte - bêbado feito gambá, tal se dizia antigamente, a pretexto de (sempre tem um o
bebedor) 'briga capatroa' daquelas idas noites - naquela, "livramento" da colisão na peça de concreto,
reduzido à forma cúbica o bão e velho 'uninho mille', by Fiat.

De mal, pra bem - quase trágica, a quase-morte - transmutação à absoluta abstinência.

Gratidão à solidariedade, pelo aprendizado, aos irmãos de Alcoólicos Anônimos.

Ficou bebida, ficou bebedeira - dia de cada vez - já vão quase sete anos patrás.

Volta ao barulho da Terra, sobre as águas silenciosas, atenção no transpor o rio.

Impõe-se a velho e menino, por Natureza do Ser, pit stop no contemplar o rio.

Por oportuno, ensino a ele o mítico referencial no curso d'água a jusante direita.

Formação rochosa de primevas eras, testemunha silenciosa o mítico 'Poço do Cavalo'.

Conto o causo do lugar encantado, misterioso relinchar vinha das águas profundas...

No recontar mitos ao filho, avesso às caraminholas, conceitos e precoceitos de pretensa Moral - muitas
das vezes distantes da própria em medida astronômica -, e, sobretudo, às fobias inclulcadas no através
de gerações ao universo lúdico, assim à pureza de espírito, nas cabecinhas de meninos e meninas, desde
a mais tenra infância.

Em suma, no aproveitar ensinamentos e desmistificar alegorias aprisionantes, despersonalizantes até,


muitas das vezes - e conforme a medida e rigor da imposição dos adultos - a quem discorda, sempre o
devido e por aqui habitual respeito, via de mão dupla.

Minha inesquecível e saudosíssima bisa - Vó Tunina, saudade sempre! - ditava a regra:

"Filhos, cada família educa os seus, do seu jeito e parente, ninguém tem que dar pitaco."

Do causo, suponho a lógica da mitificação, quiçá um animal perdido por ali quebrou a pata...

Imaginação e medo, a par da tradição cultural mítica por excelência, nasce a lenda!
Mas por outra, também não duvido - e lembro do shaksppeariano apontar nossa vã filosofia.

Infinitésimo grão de areia, do início para sempre fascinação dos mistérios entre Céu e Terra.

Passada a ponte, à esquerda pela Cidade Verde, só descida via Novo Terceiro, até atalho arremedo de
trilha, à rua da escola, mesma que no prolongar-se dá acesso ao castigado rio, impróprio ao banho -
literalmente, 'que merda!' -, águas passadas, limpas e piscosas ainda lá pelos começos dos oitenta,
século passado, onde a diversão da molecada nos fundos de casa.

Para além da morte tentada ao cultuar Deusa-Mãe, é da própria, carrasco, a Humanidade.

Mais um pouquinho, metros finais da pedalada - filhote exultante, luminescente, feliz.

Renovado, remoçado, velho satisfeito regressa da viagem atrás quatro décadas...

Foram contados exatos - de início a fim do inesquecível percurso - 40 minutos.

Casa de mamãe - e melhor, da Vó -, lá com ela a sobrinha, princesa do tio.

Bênçãos as duas, benção também meu guri - Deus o abençoe, sempre.

Onde há crianças - onde habita a Criança - é doce o envelhecer...

Tranquila transmutação Além, sem traumas aos que ficam.

Se desde bem cedo, assim aprendem.

Graças a Deus!

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