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Da Ilha a Vila:

UM DOSSIÊ PARTICIPATIVO SOBRE


A PESCA TRADICIONAL EM CABO DE
SANTO AGOSTINHO

Da Ilha a Vila: UM DOSSIÊ SOBRE A PESCA TRADICIONAL EM CABO DE SANTO AGOSTINHO 1


Ficha Técnica
PROJETO CAMBOAS TUPI: EDUCAÇÃO PATRIMONIAL
SOBRE AS ATIVIDADES DE PESCA TRADICIONAL EM CABO DE SANTO AGOSTINHO.
Coordenação Geral | Debora Herszenhut
Coordenação Pedagógica | Debora Herszenhut e Mario Wiedemann
Facilitador do curso | Mario Wiedemann
Assistentencia Pedagógica | Guimarães José da Silva e Leonardo Moura
Produtora Executiva | Debora Herszenhut
Produtor de Campo | Guimarães José da Silva
Organização do Dossiê | Debora Herszenhut e Mario Wiedemann
Projeto Gráfico | Refinaria Design

GOVERNADOR DE PERNAMBUCO
Paulo Câmara
VICE-GOVERNADOR
Luciana Santos
SECRETARIA DE CULTURA
Secretário de Cultura | Gilberto Freyre Neto
Secretária Executiva | Silvana Meireles
Chefe de Gabinete |Anita Carneiro

FUNDAÇÃO DO PATRIMÔNIO HISTÓRICO E ARTÍSTICO DE PERNAMBUCO – FUNDARPE


Diretora-Presidente | Marcelo Canuto
Vice-Presidente | Severino Pessoa
Chefe de Gabinete | Patrícia Bandeira
Gerente Geral de Preservação do Patrimônio Cultural | Célia Campos
Gerente de Acão Cultural | André Brasileiro
Gerente de Produção | Júlio Maia
Gerente de Administração e Finanças | Jacilene Oliveira
Superintendente de Gestão do Funcultura | Aline Oliveira Cordeiro da Silva
Superintendente de Planejamento e Gestão | Gustavo Leite

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Da ilha a vila:
UM DOSSIÊ SOBRE A PESCA
TRADICIONAL EM CABO DE
SANTO AGOSTINHO

Este projeto foi realizado com o patrocínio da Secretaria de Cultura do Estado de Pernambuco
através da Lei Aldir Blanc.

Pernambuco, 2021

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SUMÁRIO
1. Apresentação ...........................................................................................................................9
1.1. METODOLOGIA ................................................................................................................................................ 10

2. Introdução ...............................................................................................................................11
2.1. CONSIDERAÇÕES SOBRE A ARQUEOLOGIA E A ETNOHISTÓRIA DE OCUPAÇÃO DA BAÍA DE SUAPE ........... 12
2.2. TATUOCA HOJE ............................................................................................................................................... 17

3. O Saber da Pesca ....................................................................................................................18


3.1. O TERRITÓRIO ................................................................................................................................................ 20
3.2. ENTRE A ILHA E A VILA .................................................................................................................................... 22
3.3. O ACAMPAMENTO: UMA CELEBRAÇÃO À TRADIÇÃO ...................................................................................... 25
3.4. TÉCNICAS E ARTEFATOS ................................................................................................................................. 28

4. Considerações Finais .............................................................................................................32

5. Agradecimentos .......................................................................................................................33

Bibliografia .............................................................................................................................34

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Cesto de peixes no chão.
Cheio de peixes, o mar.
Cheiro de peixe pelo ar.
E peixes no chão.
Chora a espuma pela areia,
na maré cheia.
As mãos do mar vêm e vão,
as mãos do mar pela areia
onde os peixes estão.
As mãos do mar vêm e vão,
em vão.
Não chegarão
aos peixes do chão.
Por isso chora, na areia,
a espuma da maré cheia.

Cecília Meirelles

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1. Apresentação
Com o objetivo de realizar ações de educação patrimonial sobre as atividades da pesca tradicio-
nal e ressaltar a importância desta enquanto patrimônio cultural do estado de Pernambuco, o
projeto “Camboas tupi: Programa de educação patrimonial sobre a atividade de pesca tradicio-
nal no litoral sul de Pernambuco” realizou, com o aporte financeiro da Lei Aldir Blanc no Edital de
Formação e Pesquisa LAB-PE, de 2020, a formação em educação patrimonial com 12 pescadoras,
pescadores, articuladores sociais e jovens estudantes da Vila Nova de Tatuoca, localizada no mu-
nicípio de Cabo de Santo Agostinho, litoral sul do estado de Pernambuco. O curso foi realizado
entre os meses de Janeiro e Março de 2021
O projeto propôs, através de diferentes processos didáticos pensar a pesca artesanal, enquanto
patrimônio material e imaterial, revelando a história e a pré-história de ocupação do litoral sul
de Pernambuco, seus contextos culturais atrelados aos contextos socioeconômicos e ambientais.
Pretendemos assim, ressaltar a importância patrimonial destes antigos hábitos tradicionais de
pesca para a construção e elaboração da identidade cultural da população desta região nos dias
atuais. Hábitos estes que trazem muitas informações sobre a história de ocupação do estado. A
valorização e conhecimento desta prática, incentivam a manutenção destas enquanto referências
culturais e contribuem para a elaboração de políticas públicas relativas a estas práticas e saberes.

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1.1. Metodologia

Respeitando os protocolos de distanciamento em razão da Pandemia de COVID-19, as 21 horas


de formação, proposta do projeto, foram divididas entre aulas “online” realizadas com o devido
distanciamento social, com 5 encontros de 2 horas cada e 11 horas de atividade de Campo, rea-
lizada na Ilha de Tatuoca com a participação dos alunos do curso sob a orientação do assistente
pedagógico do projeto. As atividades online (com um total de 10 horas) incluíram a apresentação
do projeto, apresentação de questões que relacionam o patrimônio cultural à atividade de pesca,
apresentação de técnicas de pesquisa de campo e apresentação das Fichas do INRC. A ferramenta
de comunicação entre os membros do projeto (whatsapp) foi fundamental para a complementa-
ção de informações e registros das atividades do curso.
As atividades de campo (11h) do curso incluíram a realização de um acampamento de pesca en-
tre os dias 12 e 17 de fevereiro de 2021, em que as pescadoras e membros do curso, documenta-
ram a atividade de pesca exercida por elas em locais tradicionais da pesca, dentro do conjunto de
dados levantados. Toda a produção do acampamento foi realizada pelas pescadoras e seu núcleo
familiar. O registro das atividades de pesca foi realizado através do celular e posteriormente, com-
partilhado entre todos os participantes do curso e facilitadores através das atividades “online” do
projeto.
Através de métodos mistos, com a realização de entrevistas e aplicação das fichas do inventário
participativo (utilizando como modelo de referência os parâmetros sugeridos pelo IPHAN através
do Inventário Nacional de Referências Culturais - INRC), relatos de áudio, e compartilhamento
de fotos. Como resultado deste processo de formação organizamos este dossiê sobre a pesca tra-
dicional na Vila de Tatuoca a partir da metodologia de inventários participativos elaborada pelo
IPHAN.
Participaram da elaboração deste documento: os alunos, Maria Lúcia dos Santos da silva, Ading-
ton De Araújo Soares, Eliane María Silva dos Santos, Maria de Jesus da Silva, Edjane Maria da
Silva, Janiene Maria dos Santos, Lígia de Souza Santana, Maria Verônica da Silva, Fabia Maria Da
Silva, Maria José da Silva e Marta Marieli da Silva; os monitores do curso e produtores de campo
Leonardo Moura e José Guimarães da Silva; e os coordenadores do projeto Debora Herszenhut e
Mario Wiedemann.

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2. Introdução

Figura 1: Família de índios do Brasil, século XVI. LERY, Jean de. Histoire d’un voyage fait
en la terre du Brésil, Autrement dite Amérique, 1578.

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No litoral Sul do estado de Pernambuco, no município de Cabo de Santo Agostinho, está localiza-
da a comunidade da Vila de Nova Tatuoca. A Vila se formou em 2004 com a remoção dos morado-
res da Ilha de Tatuoca a propósito da construção do Complexo industrial e porto do Suape. A co-
munidade de moradores da Ilha era composta essencialmente por mulheres, homens e crianças
que viviam (e ainda vivem, mas agora em outro contexto), da pesca artesanal. São famílias que
praticam a pesca tradicional em um território com extenso histórico de degradação ambiental,
ocupação urbana, turística e industrial.
O território de exercício do saber da pesca, nesta (e em outras comunidades do litoral brasileiro),
compreende uma paisagem extensa que abrange uma área espacialmente ampla. Está inserido
na praia, na Ilha, na Vila, na pinguela e no quintal de casa. Ele abrange os rios e canais do mangue,
a praia da ilha de tatuoca, a ilha do francês e a praia de cocaia que formam o rico estuário que se
desenha no litoral de Pernambuco nesta porção do sul do estado.
O Saber da pesca é uma referência cultural que está relacionada a uma complexa cadeia opera-
tória, e mais do que isso, envolve, segundo os parâmetros do INRC, um conjunto complementar
de referências culturais, que envolve lugares, objetos, memórias e celebrações. E neste sentido o
saber da pesca ali, abrange momentos específicos que residem na memória e na história pessoal
e coletiva dos dos pescadores artesanais da Vila de Tatuoca.
Os elementos que compõem este documento são, portanto, apresentados a partir de três ele-
mentos fundamentais. São eles: O saber da pesca; o território de vida e pesca; e o acampamento,
que compõe a parte de atividade de campo e registro etnográfico realizado pelos alunos do curso.
Neste item tratamos também das celebrações locais e dos objetos de referência que envolvem a
realização destas atividades.

2.1. Considerações sobre a arqueologia e a etnohistória de ocupação da


Baía de Suape

A costa nordeste deve ser interpretada como uma área de interesse fundamental para o enten-
dimento da ocupação das terras baixas da amazônia e da costa atlântica. Essas ocupações, se-
gundo estudos mais recentes de PEREIRA e SCHANN (2010) ocorreram há mais de 6000 anos, e
apresentam no contexto mais antigos sítios sambaquis localizados na margem de rios, ilhas e
estuários, que foram visitados por grupos ceramistas, pescadores e coletores. Um dos temas coa-
lescentes à ocupação da costa leste da Amazônia e da costa atlântica como um todo, guardadas
as diferenças de cada contexto, refere-se às modificações profundas na paisagem, derivadas de
transformações ambientais nos últimos 5.000 anos (MARTINELLI et al., 2013), mudanças estas que
foram acompanhadas de mudanças na cultura dessas sociedades.

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Nestes contextos, a pesca, a coleta e a interação humana com as sociedades1 dos rios e estuários,
praias e matas, representa parte importante das atividades desenvolvidas pelas comunidades
pré-históricas do Brasil e são evidenciados nos estudos arqueológicos em sítios costeiros a par-
tir de vestígios encontrados em contexto, em diferentes regiões do Brasil. Os sítios pré-coloniais
litorâneos, conhecidos como sambaquis, na região Sul e Sudeste, amplamente estudados pela
arqueologia, nos informam que a importância dos sítios e sua magnitude emerge da disponibili-
dade de alimento do ambiente (FIGUTTI, 1998; 2014).
A costa da região Nordeste do Brasil e mais especificamente da área desta pesquisa, tem geomor-
fologia costeira particular, com grandes variações de maré, grandes estuários, grandes rios e ex-
tensas plataformas continentais. Segundo pesquisadores, a ausência de evidencias que apontem
para a existência de sítios arqueológicos nesta região pode derivar justamente deste movimen-
to da linha da maré (acima referido), causando implicações sobre os prováveis assentamentos,
quando as águas, hoje, ocupem as áreas mais antigas deste litoral (CALIPPO, 2010). No entanto,
é necessário ainda que sejam realizadas pesquisas mais aprofundadas sobre o tema na região.
No Nordeste do Brasil e em especial na costa, alguns trabalhos trazem evidências arqueológicas
pré-históricas de sociedades plenamente adaptadas à paisagem (BUENO & DIAS, 2015). Os es-
tudos realizados em Alagoas (SILVA, 2009), Maranhão (BANDEIRA, 2012) e Ceará (SOUSA, 2011),
Bahia (Santana, 2019) entre outros estados (PROUS, 1992), avançam na direção da superação de
uma visão (já ultrapassada) que categorizam estas populações esencialmente como pescadoras-
-coletoras de moluscos com hábitos essencialmente nômades e sazonais. Estes estudos passam,
portanto, a entender estas como sociedades complexas, com identidades étnicas, grandes gastos
de energia voltados à monumentalização e visibilidade dos seus assentamentos na paisagem e
na escolha por ambientes mistos, capazes de suprir necessidades sazonais (FONSECA & SILVA
2017: 132).
Tanto no campo de estudos da etnoarqueologia da pesca quanto da arqueologia costeira pré-
-histórica há um consenso sobre a importância do contexto, de uma biografia da paisagem ( SIL-
VA, 2009) que interage com as práticas de pesca para a compreensão destas sociedades nesses
“ambientes mistos” , ou seja, um território que abrange o mar, o rio, o estuário, o mangue e as
sazonalidades.
A mudança cultural dos grupos caçadores-coletores do litoral é evidente em contextos com sítios
ocupados por mais de 2.000 anos (CALIPPO, 2004; BIANCHINI et al, 2011). De forma simplificada, e
ainda pouco conhecida pela arqueologia, esses grupos caçadores-coletores tiveram contato com
grupos tupi que chegam à costa trazendo consigo outro arcabouço cultural. Esses aprendem a
pescar e mariscar no novo contexto com seus “anfitriões” e assumem as áreas de ocupação. Um
exemplo desta relação pode ser identificada já na etimologia da palavra Sambaqui, um termo

1 Aqui o termo Sociedades está referida ao que convencionou-se chamar de recursos da fauna e da flora, e que
aqui, assume-se a perspectiva mais contemporânea da antropologia que trata plantas, animais e paisagens, por exem-
plo, como parte de um sistema vivo e membros sociais ativos ( CASTRO,1996)

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tupi para referir-se ao acúmulo de conchas ou monte de conchas vistos na paisagem e produzidos
ao longo de muitos séculos de ocupação.
Dentre as ocupações arqueológicas identificadas na costa Nordeste a mais conhecida é a cultura
arqueológica dos grupos Tupi (CORRÊA, 2014; PEREIRA, 2009). Corrêa realizou uma pesquisa so-
bre a origem e mudança na trajetória destes grupos, baseado em pesquisas sobre a tradição cera-
mista tupi-guarani. Neste sentido, os grupos Tupi da costa atlântica são um dos elos da ocupação
que antecede a colonização europeia. Segundo o autor, no período do contato (início do século
XVI), o interior e sobretudo a costa eram densamente dominados pelos grupos Tupi com socio-
diversidade cultural de uma proporção ainda desconhecida, além de usarem de forma ampla e
profunda os recursos naturais disponíveis.
Cultivadores da mandioca, milho, feijão, batata-doce, cará, pescadores, caçadores, remadores e
produtores de artefatos que até hoje usamos. Um dos primeiros registros imagéticos destes tupi2

Figura 2:Contexto tupinambá do século XVI com destaque para as atividades de


pesca e a paisagem. Hans Staden, 2012- (1557)

2 A marcação em Itálico refere-se a diversidade cultural destes grupos tupi, podendo se auto definirem ou defi-
nirem outros de diferentes maneiras, como os caetés, tabajaras, tupinambás, tupiniquins e nomenclaturas de grupos,
muitas herança do processo colonial.

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foi feito por Hans Staden3, que esteve em Igarassu em 1549.
Nesta ilustração produzida por Hans Staden aparecem identificadas diferentes estratégias de
pesca, pode-se perceber a utilização de um artefato muito similar ao puçá numa pescaria dentro
de uma Camboa4 ou Tapagem, uma reentrância no mangue, no estuário. As pesquisas arqueoló-
gicas que buscam desvelar a origem e expansão dos grupos tupi e da tradição (e sub tradições)
ceramistas tupi-guarani (HECKENBERGER et al ,1998; ALMEIDA & NEVES, 2015; CORRÊA 2014)5, ga-
nham novos rumos quando observados numa perspectiva de longa duração6.
As comunidades tupi pré-cabralinas, que viviam nesta região por volta do ano de 1500 (herdeiros
de uma densa pré-história de vida na pesca e coleta nos estuários),viviam uma densa e pujante
ocupação ao longo de toda a costa nordestina naquele momento.
Segundo dados indicam, a região onde hoje localiza-se a vila de Tatuoca era, nesta época, ocu-
pada por grupos Caeté e Tabajara7. Grupos tupi que foram imediatamente escravizados e mortos
pela força colonial portuguesa.
“As aldeias tupinambás, compostas por um número variável de
malocas — em geral, de quatro a oito — dispostas em torno de
um pátio central, possuíam, segundo os relatos da época, uma
população de quinhentos até 2 ou 3 mil índios. A distância en-
tre os diversos grupos locais não era uma constante, mas fun-
ção das condições ecológicas e políticas de cada região.’ Várias
aldeias, possivelmente ligadas por laços de consangiiinidade
e aliança, mantinham relações pacíficas entre si, participando
de rituais comuns, reunindo-se para expedições guerreiras de
grande porte, auxiliando na defesa do território. Esse conjunto
informe de grupos locais circunvizinhos, porém, não estava su-

3 Hans Staden era alemão, nascido em 1525 e esteve no Brasil na década de 50 do século XVI e como outros via-
jantes , como Claude D´Abeville, Yves d’Évreux e Gabriel Soares de Sousa, deixou relatos sobre as populações nativas
de Pindorama. Staden estava a serviço da coroa portuguesa e combatia contra grupos nativos ( tupinambás, caetés,
entre outros) de oposição à ocupação portuguesa. Ver mais em:ABBEVILLE, C. d’- História da Missão dos Padres Capu-
chinhos na Ilha do Maranhão e terras circunvizinhas. Belo Horizonte: Itatiaia; São Paulo: Edusp, 1975 [1614]
4 Nome pelo qual é identificada uma reentrância do mangue na região de Barra de Catuama, Goiana, Pernam-
buco.
5 Segundo os dados etnológicos atuais existem no Estado do Pernambuco, cerca de 11 grupos indígenas ocu-
pando algumas regiões do Agreste e do Sertão, sobretudo as áreas da Bacia do Rio São Francisco. Para detalhes sobre
população, histórico e dentre outras especificidades, pode-se consultar portais como o do Instituto Socioambiental
(http://pib.socioambiental.org/pt) e do Núcleo de estudos e pesquisas sobre etnicidade- NEPE/UFPE. (https://www.
ufpe.br/nepe/povosindigenas/)

6 Os grupos Tupi são um dos grupos mais estudados pela etnologia indígena atual (CASTRO, 2011; FAUSTO,
1992, 1996), fato este que decorre da resistência indígena ao longo dos séculos.
7 Os grupos Caeté e os Tabajara, segundo a historiografia tradicional, aparecem como grupos rivais e essa re-
gião, um limite entre seus domínios. No período do contato, segundo esta corrente, os Tabajaras aliam-se aos portu-
gueses e os Caetés, sendo tupinambás, são mortos ou fogem para outras áreas, aliando-se aos Franceses, “rivais” dos
portugueses na disputa por territórios coloniais.

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jeito a uma autoridade comum, nem possuía fronteiras rígidas:
era fruto de um processo histórico em andamento, onde se de-
finiam e redefiniam constantemente as alianças.”
(FAUSTO, 1992:384)

Esses grupos aparecem já no mapa etno histórico construído por Curt Nimuendaju8 relacionados
a dados do século XVII, nos momentos finais da existência de aldeamentos tupi no litoral. Con-
forme apontam estudos realizados por ALMEIDA (2015) a história Tupi-Guarani é uma história de
expansão, sendo as migrações muito mais ligadas a catástrofe pós-contato, quando os grupos
tupinambás-caetés saem de Pernambuco, rumo ao Maranhão, a pé, por terra, fugindo da coloni-
zação portuguesa.

Figura 3: Fragmento do mapa Original de Curt Nimuendaju (fonte: Nimuendajú, Curt (1883-1945). Mapa etno-histórico
do Brasil e regiões adjacentes Curt Nimuendajú ; Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, Instituto Bra-
sileiro de Geografia e Estatística. 2. ed. – – Brasília, DF : IPHAN, IBGE, 2017.

Esta expropriação ocorrida durante os primeiros contatos com a colônia, pode ser vista aqui como
um simulacro da expropriação do território de vida e pesca da comunidade de pescadores da Ilha
de Tatuoca cinco séculos depois, imposta pela instalação do porto de Suape, como veremos mais
adiante.
Há ainda um elemento de curiosidade histórica no contexto desta pesquisa, trata-se da visita
de Vicente Yáñez Pinzón, navegador espanhol. Pinzón, segundo dados, avistou o Cabo de Santo
Agostinho em 26 de janeiro de 1500, meses antes da famosa chegada de Pedro Álvares Cabral.
Ele ancorou suas naus num porto abrigado e de fácil acesso a pequenas embarcações. O referido
porto era a enseada de Suape que a expedição espanhola denominou Cabo de Santa María de la
8 Mapa etno-histórico do Brasil e regiões adjacentes Curt Nimuendajú ; Instituto do Patrimônio Histórico e Artís-
tico Nacional, Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. 2. ed. – – Brasília, DF : IPHAN, IBGE, 2017.

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Consolación (LABRADO,2004). A Espanha não reivindicou a descoberta, minuciosamente regis-
trada por Pinzón e documentada por importantes cronistas, devido ao Tratado de Tordesilhas,
assinado em Portugal9.
Esta região, posteriormente, passou pelos dos ciclos de exploração do Brasil colônia, primeira-
mente de Pau-Brasil e depois, da cana de açúcar (esta ainda hoje, uma das principais ativida-
des econômicas da região). Cabe destacar também que neste processo de exploração da cana de
açúcar, muitos engenhos foram instalados às margens destes estuários litorâneos do estado. Na
região deste estudo composta pelo estuário da Baía de Suape, por exemplo, foi instalado o Enge-
nho Massangana10, construído já no século XIX às margens do Rio Massangana.
Podemos, desta forma, afirmar que os antigos pescadores e coletores desta região viviam em
intenso contato com o mar, em relação com os peixes e a mata. Não sabemos que língua falavam,
ou o que sonhavam, mas sabemos que comida comiam, como se deslocavam, e como pegavam
o peixe.

2.2. Tatuoca hoje


O município de Cabo de Santo Agostinho tem hoje, sua população estimada em cerca de 208.000
pessoas11, conforme dados divulgados pelo IBGE em 2020 (consultado em 08/04/2021) e apre-
senta características socioeconômicas similares aos demais municípios que abrangem a região
metropolitana do Recife, capital do estado. De acordo com estes dados, 50.9% dos domicílios do
município possuem esgotamento sanitário adequado, 26.9% dos domicílios urbanos estão loca-
lizados em vias públicas com arborização, 24.6% dos domicílios urbanos estão em vias públicas
com urbanização adequada (presença de bueiro, calçada, pavimentação e meio-fio). O município
desenvolve prioritariamente atividades econômicas relacionadas à economia da cidade do Reci-
fe, como o turismo de veraneio e atividades industriais.
A atividade de pesca artesanal, não consta nas estatísticas oficiais como atividade econômica
desenvolvida na região. No entanto, esta é claramente uma atividade econômica de enorme re-
levância (verificada durante a realização desta pesquisa) para as pescadoras e pescadores da vila
de tatuoca. E através da observação desta tradição vemos revelar-se um claro exemplo de conti-
nuidade cultural milenar, de pessoas e grupos coletores e caçadores e pescadores que habitavam
(e ainda hoje habitam) a região. Assim, as pescadoras da Ilha de Tatuoca nos permitem conhecer
a dimensão histórica da pesca, revelando sua ancestralidade e seus saberes.

9 Tordesilhas, é o nome da cidade espanhola onde foi assinado em 7 de junho de 1494, um tratado entre o Reino
de Portugal e a Coroa de Castela, cujo tratado dividia, a grosso modo, a porção sul das américas, descoberta após a
descoberta de Cristovão Colombo na america central e Caribe, em 1492.Ver detalhes em SOUZA, 1946 (link na bibliogra-
fia)
10 Neste local viveu Joaquim Nabuco, importante figura política da história de Pernambuco. ( MONTENEGRO,
2014)
11 https://cidades.ibge.gov.br/brasil/pe/cabo-de-santo-agostinho/panorama

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3. O Saber da Pesca
É muito comum, em diferentes comunidades de pesca do Brasil, a utilização do termo pescar para
referir-se a diferentes atividades de caça, pesca e coleta de peixes, mariscos, moluscos ou crustáce-
os. Aqui optamos por utilizar o termo nativo nesta compreensão mais ampla e, portanto, quando
utilizarmos o termo pescar aqui, referimo-nos a toda uma cadeia de acontecimentos, artefatos, mo-
mentos e celebrações que ampliam o ato “de caçar o peixe”.
De natureza imaterial e transmitido através da tradição oral, ainda na infância, este saber não está
descrito em manuais e sua transmissão depende das possibilidades de ele ser realizado. Precisa de
seus mestres, precisa de um território, lugares e artefatos. A dimensão material da atividade está
então, intimamente ligada com sua dimensão imaterial, visto que fora um conhecimento transmiti-
do como técnica, com objetos, lugares e celebrações que o acompanham. Neste sentido, a dimen-
são material da pesca é aqui estendida também aos artefatos necessários para a realização de sua
cadeia operatória12 e são também objeto de atenção deste trabalho.
A cultura material da pesca tende a ser modificada pelo tempo, mas o saber enquanto estratégia
de pesca persiste, agora submetido a uma lógica semi-industrial. Para que hoje possamos visualizar
atividades de pesca e coleta tradicionais como a mariscagem e os currais de pesca13, foi necessário
que este fosse transmitido ao longo de séculos, através de tempos que antecedem o período do
contato com o colonizador.
O Saber da Pesca na Ilha de Tatuoca envolve o exercício e conhecimento de diferentes estratégias,
diferentes artefatos e o conhecimento dos diferentes contextos da paisagem. Pesca-se: marisco,
ostra, siri, guaiamum, mariscao, aratu e marisquinho.
De varinha no Rio Tatuoca realiza-se a pesca da Saúna, da Tainha, da Cioba, da Carapeba14 e do Ca-
murim (Robalo). Nas áreas de pedra e laje é onde se pega a Carapitinga, o Baiacu e a Moreia.
Entre as pescadoras de Tatuoca a atividade de pesca, na maioria das vezes. é praticada coletiva-
mente. A ida para o mangue é de jangada, cada jangada com 4 ou 5 pessoas (pelo menos). Ali a maré
e suas variações são um orientador da pesca. É preciso conhecê-las e segui-las. Tem a maré grande
e a maré pequena. A maré de lançamento é melhor, pois seca muito e enche muito. A lua cheia e a
nova são as melhores luas para a pesca no mangue, quando a vazão é total e permite a locomoção
da embarcação.

12 O termo “cadeia operatória” está relacionado ao conceito usado pela arqueologia para referir-se, de forma
simplificada, ao processo de produção de um artefato lítico, desde a busca de matéria prima, elaboração do artefato,
uso e descarte. Aqui ele pode ser entendido como o conjunto de ações, movimentos, lugares, objetos e celebrações que
envolvem a pesca
13 Os currais de pesca estão evidentes em outros contextos do litoral nordeste e associados a ocupações antigas
( WIEDEMANN, 2019) e foram identificadas em projeto de educação patrimonial similar ao desenvolvido com as pesca-
doras da Ilha de Tatuoca. Ver: https://www.academia.edu/35034625/Currais_da_Ilha_UM_DOSSI%C3%8A_PARTICIPA-
TIVO_SOBRE_A_PESCA_TRADICIONAL_EM_ITAMARAC%C3%81
14 Aqui destaque para a nomeclatura nativa para muitos dos peixes, os quais são de origem tupi, como Carapeba

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Neste trabalho, propomos olhar para a “cata de mariscos” como uma possíbilidade de síntese des-
te conhecimento específico, ancestral e de origem tradicional. Para as moradoras de Tatuoca, um
saber aprendido com a família ainda na infância e que, hoje, sofre com o desinteresse das novas
gerações, que perdem a “festa” (como são tratadas as idas ao mangue). A pesca das pescadoras
de tatuoca é uma referência cultural para esta comunidade. É um lugar de compartilhamento de
conhecimento e celebração de épocas importantes.
“Eu aprendi com a família, de avós para maes, filhos, participando
da pescaria, começaram com 9 a 10 anos, ou mais cedo. A geracao
de hoje em dia, nao tem coragem de entrar no mangue e participar
da “festa”. (Relatos coletivos de aula)

Figura 4: Atividade de pesca das crianças pescadoras durante o acampa-


mento, na prática do saber da pesca. ( Foto: Verônica, aluna do curso)

Cabe aqui destacar o lugar das mulheres nas atividades de pesca e coleta em comunidades tra-
dicionais do Brasil, como portadoras de conhecimentos que integram as comunidades. A cata do
marisco e outras atividades relacionadas, reveladas neste inventário, pelas alunas e pescadoras,
mostram a centralidade das mulheres como tutoras de diferentes estratégias de pesca. Acompa-
nhadas de suas crianças, fazem desse espaço, o local de aprendizado e (re)conhecimento da pai-

Da Ilha a Vila: UM DOSSIÊ SOBRE A PESCA TRADICIONAL EM CABO DE SANTO AGOSTINHO 19


sagem, atualizando-o a partir de seu contexto e condições de existência atuais, e que nesta área de
estudo, em específico, interferem diretamente na manutenção deste saber.

3.1. O Território

Figura 5: Vista da praia no local de acampamento, na ilha de tatuoca.

A área de pesquisa está implantada em paisagem recente, que se constitui nos últimos 15.000
anos, compreendida majoritariamente por planícies formadas pelos depósitos de sedimento flú-
vio marinho holocênico15. Significa dizer que a Ilha formou-se a partir de sedimentos depositados
pelos rios do estuário e pela maré ao longo do referido período.
Figura uma paisagem praticamente plana com baixas elevações e sedimento arenoso, lamoso,
15 ( Q2fm- Banco de Dados do IBGE, 25/022021)

Da Ilha a Vila: UM DOSSIÊ SOBRE A PESCA TRADICIONAL EM CABO DE SANTO AGOSTINHO 20


rico em matéria orgânica que compõe o extenso mangue e a vegetação de restinga. A Lama é um
elemento marcante na pesca em Tatuoca. A vegetação é composta pelo mangue nas cotas baixas
e vegetação de restinga, com coqueiros nas cotas acima.
O território de pesca abrangido aqui sofreu diferentes pressões, em diferentes momentos da his-
tória. Essas pressões representam, de forma prática, a perda dos territórios de pesca (demons-
trada, inclusive, pelo abandono paulatino das atividades de pesca pelas novas gerações). São
pressões do turismo e ocupações urbanas. E principalmente, a instalação do porto e seus aces-
sos. Tais processos alteram as características da paisagem e dinâmica das águas, poluindo os
estuários dos rios e mangues associados. O esgotamento industrial e doméstico são apontados
como os principais fatores pela redução da piscosidade na área

Figura 7: Mapa indicativo do território de pesca e da área da antiga area de ocupação das pescadoras de Tatuoca.

Figura 8: Imagem antiga , recuperada pela pescadora Janiene, onde estão evidentes, os turistas e os navios cargueiros

Além de condições “naturais” da maré, que orientam as atividades de catação e pesca, em épocas
específicas do ano, há o “tempo” de cada animal, como referido, que marcam as escolhas locais,
no que tange ao tipo de pesca praticada, subvertendo a rotina da pesca. Esse período também
atrai pessoas de diferentes localidades. Esses diferentes ambientes de pesca16 são ocupados por
estruturas que integram a comunidade de pescadoras e pescadores da ilha de tatuoca.
16 Do original em Inglês Fishing environments (PRESTES-CARNEIRO et Al, 2019:11)

Da Ilha a Vila: UM DOSSIÊ SOBRE A PESCA TRADICIONAL EM CABO DE SANTO AGOSTINHO 21


Figura 9: Moradia das pescadoras na Ilha de tatuoca. (Foto: Figura 10: mutirão de construção de casa de pau-a pique
Janiene) ( estuque) na Ilha. (Foto: Janiene)

Figura 11: Rancho e casa na beira do estuário. (Foto: Figura 12: Antigo bar e comércio na ilha de tatuoca. (Foto:
Janiene) Janiene)

3.2. Entre a Ilha e a vila


“Bom dia gente. Eu fiz essa montagem dessas fotos. Peguei, algu-
mas fotos que tinha da ilha e agora da nossa vida pra diferenciar.
Mostrar a diferença de localização, geograficamente né?
A geografia do ambiente, o clima, o solo. Hoje a gente vive nessa
vila. O tamanho das casinhas... né? Não tem nenhuma árvore que
ajude a gente a se proteger do sol que aqui é muito quente. Na ilha
era um clima muito bom, a gente sentava embaixo de uma árvore
para conversar A gente tinha como se distrair. Aqui a gente só tem
que ficar dentro de casa com o ventilador ligado e a situação hoje
é essa né? A diferença...de tudo... do que mudou. Foi de oito para
oitenta totalmente. ”

Da Ilha a Vila: UM DOSSIÊ SOBRE A PESCA TRADICIONAL EM CABO DE SANTO AGOSTINHO 22


Figura 13: Imagem antiga da Ilha, recuperada por Janiene, familia chegando para pescar.

A vila de “Nova Tatuoca” é formada em 2004, devido à remoção imposta pela construção do porto
de Suape e de lá para cá, muitas coisas mudaram, a cultura mudou, a paisagem mudou e o co-
nhecimento da pesca também mudou. Muito embora seja um projeto da década de 70, o porto
de Suape, avança no seu licenciamento ambiental nos anos 2000 com a expansão dos terminais
portuários no Nordeste. O porto do Suape integra o Complexo Industrial e Portuário do Suape e
contribui primariamente para as alterações das características ambientais da paisagem (SILVEI-
RA, 2010). A antiga área de ocupação teve que ser abandonada e seus moradores “receberam”
novas casas, em outro local, mais afastado da praia e do mangue, da natureza e da serenidade.
Colocadas em espaços formatados, a vida dessas famílias mudou drasticamente, cambiando a
percepção que têm da paisagem e dos meios de produção da suficiência alimentar, de seu lazer
e de suas tradições mais antigas. “ A diferença é tudo”, fala de Verônica, pescadora e participante
do curso, nos faz refletir sobre os efeitos advindos da construção do porto e da nova vida. Na ima-
gem abaixo (figura 15), observa-se ao fundo, as falésias referidas pelo grupo que em períodos de
chuva, erodem e o sedimento é carreado para dentro da vila, conforme contam.
A mudança do local de moradia impactou a vida destas famílias de forma mais severa pois criou
um distanciamento geográfico de seu território de pesca. Afastou as pescadoras dos sinais diretos
dados pela paisagem que fazem parte deste saber e da identidade de cada uma delas.
Como destaca Wiedemann (2019:82) “Tendo como ideia que conhecimento é cosmovisão e que a
perda de conhecimento implica em mudanças severas na prática cotidiana, no corpo, na alimen-
tação e no comportamento social, é possível afirmar que a identidade é um território cosmológi-
co, pois ela está presente tanto numa perspectiva material e física quanto sensível e intangível,

Da Ilha a Vila: UM DOSSIÊ SOBRE A PESCA TRADICIONAL EM CABO DE SANTO AGOSTINHO 23


movida pela inconstância da relação entre memórias e histórias locais”

Figura 14: Montagem produzida por Janiene, mostrando o antes e o depois da remoção da comunidade da Ilha da
Tatuoca.

Figura 15: Barranco ( falésia) localizada próxima a Vila de Nova tatuoca. ( Foto Janiene)

Lugares, objetos e paisagens, movidas e manejadas por esse saber, tornam-se uma tradição de
conhecimento ( MURA, 2006) e conforme aponta Brandão (1982, p. 38) “ “Aquilo que se reproduz
entre pescadores, índios e camponeses como saber, crença ou arte reproduz-se enquanto é vivo,

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dinâmico e significativo para a vida e a circulação de trocas de bens, de serviços entre pessoas
e grupos sociais. Enquanto resiste a desaparecer e, preservando uma mesma estrutura básica, a
todo momento se modifica. Ou como afirma, “o que significa que a todo momento se recria.”

3.3. O acampamento: Uma celebração à tradição

Figura 16: Um arco-íris e a montagem do acampamento na Ilha de Tatuoca. ( Foto Verônica)

Entre os dias 12 e 17 de fevereiro de 2021, as pescadoras da Ilha e da Vila de Tatuoca, partiram


em grupo para uma pescaria (atividade de campo do curso). O acampamento foi feito na Ilha de
Tatuoca, próximo do Canal que se forma com a Ilha de cocaia, tendo como paisagem, o mangue, a
praia, a restinga e o estuário. O pano de fundo é o parque industrial do porto de Suape, o turismo
e a especulação imobiliária da região litorânea.
“Pode-se ver que passam muitos turistas. Eles procuram a região
para a diversão. Vem das pousadas. Em Tatuoca, tem muitas po-
sadas e barcos para turistas. Também tem passeios de “bugre”. Na
região existe um grande resort/hotel, conhecido como Vila Galê,
que atende a turistas de fora da região e do estado, através de pa-
cotes turísticos.” (Relatos coletivos de aula)

A área de acampamento é um local conhecido pelas pescadoras e aproveita aspectos relevantes


e estratégicos da paisagem. Nesse local é construída uma barraca para abrigar a todos; Mulheres,

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Homens e crianças. Como ficam muitos dias, todo o equipamento necessário para cozinhar e dor-
mir é trazido, como redes e colchões, mesa, cadeira, água potável entre outros objetos pessoais.
Um fogão é construído para preparo da comida do grupo.

Figura 17: Equipamentos protegidos no acampamento. Figura 18: Cozinha improvisada e preparação da comida
no acampamento.

Figura 19: Marta Marieli na coleta de folhas de coqueiro Figura 20: Artefatos de pesca sendo levados para o acam-
para uso no acampamento pamento.

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Na interação com a paisagem, as pescadoras coletam as madeiras, palhas de coqueiro e outros
objetos que servem para confortar e divertir todos. Neste acampamento, construíram um ba-
nheiro com piso de concha de marisco e paredes de palha de coqueiro. Conhecida, a paisagem
é categorizada, mapeada mentalmente e, portanto, manejada para uso constante, sazonal ou
intermitente. Esta interação com a paisagem fornece a segurança necessária para que possam
circular por diferentes locais deste território.

Figura 21: Marta Marieli, segue caminho conhecido no mangue.

Nesse sentido, o acampamento, entendido como uma celebração, está inserido como uma re-
ferência cultural do saber da pesca que, em si, detém uma “cadeia operatória“ 17própria. Essa

17 Referência ao conceito da arqueologia já previamente citado.

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cadeia inicia-se na escolha do local e sua preparação e, assim como um sítio arqueológico, a pas-
sagem das pescadoras deixa vestígios dessa atividade. A prática deste saber da pesca através do
acampamento fomenta os encontros e trocas sociais, propiciando, assim, um ambiente de inova-
ção e expansão do próprio saber sobre a paisagem e suas mudanças, como a descoberta de novos
locais, além de fomentar os vínculos sociais entre membros da comunidade.

3.4. Técnicas e artefatos


O grupo, no acampamento segue preparado para a prática de diferentes estratégias, abaixo, se-
rão apresentadas as estratégias e os artefatos de pesca que foram utilizados, a partir do resultado
desta pescaria.
Taioba: A Taioba é um molusco Bivalve ( 2 conchas) pescado na areia da praia e o trabalho é rea-
lizado com o uso de um Puçá ou mesmo com a mão. O trabalho antigamente era realizado com
a mão e hoje utiliza-se mais o puçá. A Taioba é coletada e depositada em um balde ou em uma
galéia ou outro artefato disponível. A pesca de Taioba também é realizada para a sua comercia-
lização para os restaurantes ou na própria vila. Destaca-se aqui que para compor 1kg de taioba
“limpa” é necessário encher 1 balde de 20 litros com a Taioba. O quilo de Taioba limpa é vendido
por 20R$ na vila.

Abundante em todo o litoral atlântico, a Taioba em outras regi-


ões do Brasil é conhecida também como “Tarioba”, seu nome
científico é Ephigenia Brasilienses. No município de Rio das
Ostras, litoral norte do estado do Rio de Janeiro, há um sítio
arqueológico denominado “Sambaqui da Tarioba”18. Trata-se
de um local ocupado há mais de 5.500 anos por antigos caça-
dores, pescadores e coletores que deixaram suas marcas de
interação com essa paisagem. O sambaqui da Tarioba recebe
este nome, em razão da quantidade abundante deste marisco,
concentrado ao longo do tempo.

Marisquinho: Nome científico é Anomalocardia brasiliana. Abundante nos ambientes estuarinos,


o Marisquinho também é pescado na areia utilizando-se o Puça. Composto por duas conchas, é
utilizado há milhares de anos como alimento, No Brasil ele recebe diferentes nomes, como Berbi-
gão, também presente nos sítios arqueológicos
18 Este local que hoje abriga um museu foi identificado enquanto um sitio de ocupação pré-histórica. Os sítios Sambaqui
são caracterizados por seu o acúmulo de conchas que se davam em razões de descarte e /ou uso ritual, como sepultamentos
ou construções de fogueiras. Em muitos casos essas fogueiras eram usadas para o trabalho de produção de ferramentas líticas
lascadas e trabalho com ossos de peixe.

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Mariscão: O mariscão é um marisco maior, pescado mais na lama ou lugares enlameados. Pesca-
-se também com o puçá.

Figura 22: Uso do puçá na coleta de diferentes mariscos, Figura 23: A pescadora e o detalhe do marisco coletado.
na praia.

Figura 24: Limpeza e tratamento do marisco com detalhe Figura 25: Detalhe da limpeza do marisco
da estrutura construida.

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Uma estrutura é construída no acampamento para o processamento do marisco coletado, que
significa cozinhar, retirá-los da concha e limpar. Esta é uma etapa fundamental para o funciona-
mento da cadeia operatória da atividade da mariscagem.

Figura 27: Separação do marisco para tratamento. Figura 28: Marisco limpo e pronto para ser consumido.

Guaiamum: O Guaiamum, é uma espécie de Caranguejo, presente no mangue e pescado nesses


locais. Para capturar o Guaiamum, as pescadoras de Tatuoca utilizam uma armadilha conhecida
como “Ratoeira”. Trata-se de uma caixa construída de madeira onde é colocada uma ceva para
atrair o Guaiamum. Utiliza-se frutas e pedaços de frango para atraí-lo, capturando-os quando
morde a isca. Cada ratoeira é capaz de capturar apenas um Guaiamum. Coloca-se a ratoeira no
mangue pela manhã e no final da tarde coleta-se o guaiamum pescado.
Siri: O Siri é pescado na praia ou no mangue. A pesca do siri é realizada principalmente à noite,
facheando com uma lanterna (mas também de dia) e utilizando uma forquilha. Também utiliza-se
um artefato conhecido na ilha de tatuoca como Jererê, um puçá maior, com rede e é colocado na
água com uma ceva no fundo para atrair o siri.

Da Ilha a Vila: UM DOSSIÊ SOBRE A PESCA TRADICIONAL EM CABO DE SANTO AGOSTINHO 30


Figura 29: Pescadora Edjane Maria da Silva mostra o Figura 30: Criança com Puça pescando o siri.
Guaiamum coletado no mangue.

Figura 31: Detalhe da Ratoeira, armadilha artesanal con- Figura 32: Armadilha jererê, utilizada para pescar siri.
struída para a captura do Guaiamum.

Peixe: Para a pesca de peixe, no acampamento utiliza-se diferentes artefatos, como a rede de es-
pera, o Mangote ou a tarrafa. Na praia é pescada a Tainha, Saúna, Carapeba, e Salema. Como em
outras estratégias, o pescador ou pescadora deve estar atento aos sinais da natureza, da maré e
do farfalhar da água com a passagem do cardume. Na estrada da maré acompanha-se com olhar
atento a entrada da água e dos cardumes que seguem rumo ao mangue. Outros peixes , como a
Cioba e o Terra, captura-se na maré cheia.

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Figura 33: Peixes na tarrafa, capturados durante o acam- Figura 34:Detalhe dos peixes pescados durante o acam-
pamento. pamento, com tarrafa.

4. Considerações Finais
Este inventário amostral sobre a pesca tradicional, contemplou especialmente as mulheres pes-
cadoras da Vila (e da Ilha) de Tatuoca e revelou aspectos da recorrentes presentes na cultura de
pesca praticada em diferentes contextos do litoral do estado de Pernambuco. Aspectos estes, que
referem-se a ancestralidade deste saber, sua riqueza cultural, sua importância econômica para a
comunidade e sua riqueza material na sua extensa cadeia de execução.
Este trabalho revelou também, a existência de uma série de conflitos sócio ambientais que en-
frentam essas pescadoras, oriundos das formas de gestão da ocupação desta região, que há dé-
cadas vem estreitando e poluindo este território de pesca através das restrições ambientais e
das políticas de urbanização e de exploração do turismo, assim como as políticas de exploração
agro-industrial da região. ( Conselho Pastoral dos Pescadores, 2016)
Para Wagner & Silva (2013) os territórios de pesca são mais do que espaços delimitados, “são
lugares conhecidos, nomeados, usados e defendidos. Cada grupo possui uma familiaridade com
essas áreas criando territórios que são incorporados à tradição cultural”, constata-se, assim, con-
forme aponta Wiedemann (2019), a existência de um cenário de profunda mudança cultural para

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as comunidades de pesca do Nordeste. A perda paulatina do território de pesca, por razões já des-
critas, incorre em mudanças da identidade ou uma desconexão “haliêutica”19, ou seja, o distan-
ciamento dessas comunidades do mar, de seus ciclos naturais, de sua técnica e, por fim, de sua
prática. A relação do conhecimento da pesca transformar-se–á, inevitavelmente, nos próximos
anos, em razão do abandono das atividades relacionadas à prática e reprodução desse saber.
Diante de tais constatações, faz-se fundamental a elaboração e aplicação de políticas públicas
constituídas a partir do diálogo entre os diversos atores sociais (Estado, corporações e popula-
ções nativas) com o objetivo de respeitar os territórios e práticas tradicionais nas ações de miti-
gação socioambiental.

5. Agradecimentos
Agradecemos a todos que contribuíram para a realização deste trabalho, em especial a equipe
do SERTA, a Associação de Pescadores de Vila de Tatuoca e a comunidade da Vila de Tatuoca que
abriram as portas destes territórios para nossa equipe e compartilharam com muita generosi-
dade do seu universo e saberes. Agradecemos ainda a todos os entrevistados que, com muita
generosidade, compartilharam esta tradição oralmente. Por fim, a todos os alunos do curso que
mergulharam de cabeça nesta aventura e traçaram um caminho sem volta em suas descobertas
no universo da antropologia e da arqueologia, relacionando com maestria esses conhecimentos
adquiridos em suas práticas pedagógicas cotidianas. MUITO OBRIGADA!

19 Ver Wagner & Silva, 2013, outros contextos de conflito sócio ambiental.

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