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Três anos antes, Elimar Pereira Santos, conhecido como Nouve, na época com
18 anos, morador das Cajazeiras 10, bairro a 25 quilômetros do centro da
cidade, enviava um e-mail para o já famoso Emicida. Nouve dizia ter interesse
de revender, em Salvador, as camisas, discos e produtos comercializados pelo
rapper em São Paulo. O precoce empreendedor já possuía experiência no
ramo.
“Naquela época, era muito difícil conseguir os CDs de rap, mas eu já vendia os
de Kamau e Projota”, diz Nouve. No começo, ele negociava nas portas dos
shows, mas, com o tempo, foi ficando conhecido e recebendo encomendas por
telefone. “Para minha surpresa, Emicida respondeu ao meu e-mail e me tornei
representante da marca”.
Emicida criou um laço comercial, mas também de amizade com a turma do rap
baiano. “O pessoal de Salvador deveria fazer que nem o Nouve, mandar e-mail
mesmo e correr atrás”, aconselha o ídolo para um grupo de admiradores, no
saguão do hotel em que estava hospedado, na capital baiana. Nas duas vezes
em que esteve em Salvador, em 2009 e 2011, foram os amigos soteropolitanos
que abriram seus shows.
No entanto, Emicida adverte: “As iniciativas mais bem sucedidas são as que
começaram com uma causa. Fazemos rap porque gostamos. Não adianta só
correr atrás do dinheiro, pois podem se frustrar, depois de anos sem alcançar
esse fim. A única coisa que podemos contar é com o amor das pessoas pela
música”.
Seguindo a influência do famoso amigo paulistano, o franzino e calmo Nouve
foi à luta. No colégio, escrevia versos com os colegas e participava de
concursos de arte, canções e poesias. Depois, gravou alguns raps e mais tarde
um CD. “Hoje, Nouve vende os discos dele até na praia”, diz Rangell Santana,
do grupo Versu2.
Daqui em diante, resta aguardar para saber o que acontecerá com o hip hop na
terra do candomblé. “Já estou articulando a minha produtora”, diz o jovem e já
veterano rapper Nouve. Ele e os parceiros das “quebradas” trocam várias
experiências de beats. Nesse meio, se destacou um dos garotos mais
talentosos. Com 17 anos, Felipe Gurih sequer toca um instrumento, mas no
seu computador pessoal, com alguns anos de uso, cria uma verdadeira
orquestra virtual.
O rapper Emicida ainda vai além. Gosta mesmo é de ser reconhecido por
esses vendedores ilegais. Na visão dele, a pirataria é uma espécie de MST
(Movimento Sem Terra) da reforma agrária musical que ele deseja fazer.
Emicida começou a ganhar fama graças aos vídeos caseiros que eram feitos
durante as batalhas de rap de que ele participava - e vencia. “Na época em que
vivemos, não tem sentido sair por ai cantando piolho de quem coloca meus
vídeos e discos na internet ou vende em barraquinha. Quero mais é ser
pirateado mesmo.”
Seu primeiro CD foi feito na unha. Para divulgar o trabalho, Emicida criou a
Laboratório Fantasma. Dentro de casa, e com a ajuda do assessor, Evandro
Fióti, eles gravavam, copiavam, embalavam e vendiam os discos nos shows. O
que inicialmente era apenas uma gravadora de fundo de quintal, hoje caminha
para virar um selo de rap.
Outro expoente do rap, Criolo, também parece dar de ombros à venda - legal
ou ilegal - de discos. Para garantir que seus fãs lotarão as casas de shows não
apenas para cantar a já conhecida “Cálice”, releitura da música de Chico
Buarque, ele colocou o álbum completo em seu site pessoal para ser baixado
de graça. “Acredito que disponibilizar o disco pra download ajuda a diminuir a
distância entre o público e a música que faço”, diz.
http://adrianosribeiro.blogspot.com.br/2011/12/o-rap-em-salvador.html
http://g1.globo.com/pop-arte/noticia/2012/01/quero-ser-pirateado-dizem-
artistas-como-emicida-e-gaby-amarantos.html