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FILOZOFICKÁ FAKULTA
Lenka Zemanová
na época do tropicalismo
2009
Prohlašuji, že jsem diplomovou práci vypracovala samostatně
s využitím pramenů uvedených na příslušném místě.
Tištěná verze práce je shodná s její verzí elektronickou.
……………………………………………
Na tomto místě bych chtěla poděkovat
Mgr. et Mgr. Vlastimilu Váňovi
za veškerou pomoc, věnovaný čas a podnětné rady.
ÍNDICE
1. INTRODUÇÃO.............................................................................................. 6
2. BIOGRAFIA DE CAETANO VELOSO.................................................... 8
2.1 Gilberto Gil – o principal companheiro de Caetano Veloso na época ...... 9
3. A CARACTERÍSTICA DO MOVIMENTO TROPICALISTA ............. 10
3.1. A situação política durante o tropicalismo ............................................... 11
3.2 O surgimento do nome do movimento, a época inicial ............................ 12
4. CAETANO VELOSO E A SUA ACTUAÇÃO
ARTÍSTICA DURANTE O TEMPO DO TROPICALISMO ................ 15
4.1 Os Festivais de Música Popular Brasileira ............................................... 15
4.2 O show na boate Sucata ............................................................................ 19
4.3 O programa Divino, Maravilhoso ............................................................. 21
4.3.1 A sua passagem pelas drogas .................................................. 23
5. O NOVO ACTO E AS SUAS CONSEQUÊNCIAS ................................ 25
5.1 A prisão ...................................................................................................... 25
5.1.1 O interrogatório principal ......................................................... 27
5.2 A prisão «domiciliar» ................................................................................ 28
5.2.1 A sua actividade artística em Salvador ..................................... 29
5.2.2 O show da despedida ................................................................ 30
6. NO EXÍLIO ................................................................................................. 32
7. DE VOLTA NO BRASIL ........................................................................... 34
8. CONCLUSÃO ............................................................................................. 35
9. BIBLIOGRAFIA ........................................................................................ 36
APÊNDICE ................................................................................................... 38
Caetano é uma luz, um dos artistas mais importantes da minha geração e do Brasil
de sempre. Essa luz não iluminou apenas a música brasileira, mas também os
nossos cinema, teatro, poesia e até a vida quotidiana dos brasileiros.
-6-
Finalmente, o último capítulo vamos dedicar à sua volta ao Brasil depois de
algum tempo vivido em Londres.
No espaço de todo o trabalho, ocupamo-nos não só com os factos, mas
também os tentamos de enriquecer dos próprios sentimentos e das opiniões de
Caetano Veloso para podermos perceber de forma ainda mais larga a sua
personalidade e o seu modo do comportamento.
-7-
2. BIOGRAFIA DE CAETANO VELOSO
«No João, parece que é tudo mais justo, necessário: melodia, as vogais, as
consoantes, os sentimentos, o respeito por aquela forma, que ele reconheceu ali,
o jeito daquelas coisas se expressarem esteticamente. João traduz a canção.» 3
(Songbook Caetano Veloso vol.1)
3
Caetano Veloso, Biografia [online].[citado 2009-03-15]
Disponível em WWW:
http://www.dicionariompb.com.br/detalhe.asp?nome=Caetano+Veloso&tabela=T_FORM_A&qdetalhe=b
io
-8-
nasceu o primeiro filho deles, Moreno Veloso. No dia 7 de Janeiro de 1979 Júlia, que
morreu dias depois. Em 1986, já separado de Dedé Veloso, começou a viver com a
carioca Paula Lavigne. Com ela teve mais dois filhos – Zeca Lavigne Veloso, nascido
no dia 7 de Março de 1992, e Tom Lavigne Veloso, nascido em 25 de Janeiro de 1997
em Salvador.
«Caetano! Venha ver aquele preto que você gosta!» Assim a mãe de Caetano
chamava-lhe, quando o Gilberto Gil, em 1962 surgia na televisão. Caetano estava
com 20 anos, e ficava impressionado ao ver Gil dedilhar o violão. Ouvir o mestre da
Bossa Nova pela primeira vez tivera o efeito duma revelação grande na vida do
Caetano. Conheceram-se pessoalmente em 1963. Principalmente a admiração por
João Gilberto surgiu como um definitivo ponto da identidade entre os dois.
Gilberto Gil, sem dúvidas, não é menos importante do que o próprio criador
do Tropicalismo Caetano Veloso. Quase toda a época passaram os dois cantores
juntos, propagando o movimento. Por isso vamos dedicar um pouco de espaço
também a vida dele.
Gilberto Passos Gil Moreira nasceu em 26 de Junho de 1942 em Salvador.
Três semanas depois, segiu junto com o seu pai, o doutor José Gil Moreira e a sua
mãe, a professora primária Claudina para Ituaço, no interior da Bahía. Formou-se em
Administração, mas desde cedo já demonstrava interesse pela música. Quando
resolveu seguir o caminho da música popular, escolheu o violão. Um compacto duplo
gravado em 1963 foi o início da sua trajetória de sucesso na música popular
brasileira.
Junto com o Caetano foi preso e acabou exilado em Londres. No início de
1972 retornou ao Brasil. No final dos anos 80, teve sua primeira experiência como
político, tornando-se vereador em Salvador.
O definitivo reconhecimento internacional foi em 1998, quando Gil obteve o
Prêmio Grammy de melhor disco de World Music por «Quanta Gente Veio Ver».
Em 2002 tornou-se Ministro da Cultura de governo de Luís Início Lula da
Silva. Hoje em dia segue compondo e fazendo shows.
-9-
3. A CARACTERÍSTICA DO MOVIMENTO TROPICALISTA
Tropicalismo foi um movimento musical que teve lugar entre 1967 e 1968
pautado pela intervenção crítico-musical no cenário cultural brasileiro liderado pelo
Caetano Veloso. Os outros participantes foram Gilberto Gil e Tom Zé, os poetas
Torquato Neto e Capinam, os maestros de formação erudita Rogério Duprat,
Damiano Cozzella e Júlio Medaglia, o grupo Os Mutantes, a cantora Gal Costa e o
artista plástico Rogério Duarte, entre outros artistas.
A música brasileira pós-Bossa Nova e a definição da qualidade musical no
país estavam cada vez mais dominadas pelas posições tradicionais ou nacionalistas de
movimentos cujas ideas foram orientadas à esquerda. Contra essas tendências, os
tropicalistas procuraram universalizar a linguagem da música popular brasileira
incluindo elementos da cultura jovem mundial, como o rock, a psicodelia, a guitarra
eléctrica. As idéias tropicalistas acabaram impulsionando a modernização não só da
música, mas também da própria cultura nacional.
O fundamento é estético. O movimento foi uma estética de vanguarda, queria
que a arte evoluísse. O tropicalismo renovou também a letra da música, seguindo das
tradições dos grandes compositores da Bossa Nova e incluindo novas referências e
informações do seu tempo. Misturou rock mais bossa nova, mais samba, mais bolero,
mais rumba. Sua atuação quebrou as barreiras que permaneciam no país – pop x
folclore, alta cultura x cultura de massas, tradição x vanguarda.
Além dos discos antológicos, que foram produzidos, também a televisão foi
outro remédio fundamental de atuação de grupo – principalmente os Festivais de
Música Popular da época.
Na visão tropicalista, não há uma verdade que o compositor tem de anunciar.
Caso haver, ela não é conhecida. A realidade está fragmentada, há múltiplos
estímulos, factores novos, e o compositor encontra-se perplexo.4
A tropicália transformou os critérios de gosto não só quanto à música e à
política, mas também ao comportamento, ao sexo, ao corpo e ao vestuário. A
contracultura hippie foi assimilada, com a moda dos cabelos longos e das roupas
coloridas e berrantes.
4
Tropicalismo na ditadura [online].[citado 2009-03-15]
Disponível em WWW:
http://www.scribd.com/doc/3965513/PORTUGUES-Tropicalismo-na-Ditadura
- 10 -
O movimento durou pouco mais de um ano e acabou reprimido pelo governo
militar. Porém, a cultura do país já estava marcada para sempre pela descoberta dos
trópicos.
5
MACIEL, Luiz Carlos: Geração em transe: memórias do tempo do tropicalismo – Nova Fronteira: Rio
de Janeiro, 1996, op.cit., p.31
- 11 -
Até 1968, movimentos e intelectuais de esquerda podiam agir livremente, só
com pequenos problemas com a censura. A política fazia-se presente em todas as
áreas – teatro, cinema, artes plásticas.
A partir de 1967, no campo da música, houve confrontos entre os artistas
nacionalistas de esquerda e os vanguardistas do tropicalismo, que se manifestaram
contra o autoritarismo e a desigualdade social. Para os tropicalistas, entender a cultura
de massas tinha tanta importância quanto entender as massas revolucionárias.
As tensões no país chegaram ao máximo em 1968. Intesificaram-se as greves
operárias e manifestações estudantis. Com o crescimento da oposição, Costa e Silva,
na época pressionado pela extrema direita, respondeu com o endurecimento político.
Em 13 de Dezembro, o Ato Institucional N° 5 decretou o fim das liberdades civis e de
expressão – até ano 1984, quando o general João Figueiredo deixa a presidência do
país.
6
MACIEL, Luiz Carlos: Geração em transe: memórias do tempo do tropicalismo – Nova Fronteira: Rio
de Janeiro, 1996, p.196
- 12 -
«[...]me soa não apenas mais bonito: ele me é preferível por não se confundir
com o "luso-tropicalismo" de Gilberto Freyre (algo muito mais respeitável) ou
com o mero estudo das doenças tropicais, além de estar livre desse sufixo ismo,
o qual, justamente por ser redutor, facilita a divulgação com status de
movimento do ideário e do repertório criados.» 7
7
Caetano Veloso em: Tropicália – um projecto de Ana de Oliveira [online].[citado 2009-03-26]
Disponível em WWW:
http://tropicalia.uol.com.br/site/internas/verd_onome.html
8
PERRONE, Charles A.: Letras e letras da MPB – Elo Editora e Distribuidora Ltda.: Rio de Janeiro,
1988, p.68
- 13 -
«Acho que a música brasileira , depois da bossa nova, ficou discutindo tudo que
a bossa nova propôs, mas não saiu dessa esfera, não aconteceu nada maior. Eu,
pessoalmente, sinto necessidade de violência. Acho que não pé pra gente ficar se
acariciando. Me sinto mal já de estar ouvindo a gente sempre dizer que o samba
é bonito e sempre refaz o nosso espírito. Me sinto meio triste com essas coisas e
tenho vontade de violentar isso de alguma maneira. É a única que me permite
suportar e aceitar a idéia de manter uma carreira musical, porque uma coisa é
inegável: a música é a arte mais viva em todo o mundo. O que acho é que a
música tem sido utilizada muito pra gente se manter enganado e eu não quero
mais. Quero que a gente saiba mesmo, que a gente engula e veja que a gente está
num país que não pode nem falar de si mesmo. A gente tem que passar a
vergonha toda pra poder arrebentar as coisas.» 9
Numa outra entrevista Caetano declara, que a gente falava sobre a necessidade
de um movimento de renovação da música popular brasileira já no ano 1966. Gil
tinha feito umas reuniões no Rio com os outros compositores e músicos para tentar
trasmitir o novo modo de ver. Mas o pessoal não entendeu. Caetano também
conversava com os outros músicos sobre a falta de capacidade de aventura do criador
de música popular no Brasil, sobre os resguardos dentro do mundo de bom gosto e do
politicamente correcto na época, também sobre o preconceito contra o rock. Os outros
embora não se interessassem tanto em princípio, tinham uma vitalidade para descobrir
as coisas novas.10
9
Caetano Veloso em: CALADO, Carlos: Tropicália: a história de uma revolução musical – Editora 34
Ltda.: São Paulo, 1997, op.cit., p.117
10
Tropicália – um projecto de Ana de Oliveira [online].[citado 2009-03-26]
Disponível em WWW:
http://tropicalia.uol.com.br/site/internas/entr_caetano.php
- 14 -
4. CAETANO VELOSO E A SUA ACTUAÇÃO ARTÍSTICA DURANTE
O TEMPO DO TROPICALISMO
Na década dos anos 60, o Brasil vivia uma grande efervescência cultural. Uma
ponta-de-lança mais importante era a música. Os primeiros ídolos da televisão foram
por isso músicos e cantores. Nesse período foram também criados, pela TV Record,
os Festivais de Música Popular Brasileira. Marcaram a história da música brasileira –
pela comoção que instauraram, pelas discussões que detonaram, pelo espaço que
ocuparam em meio à ditadura e principalmente através desses espaços o movimento
tropicalista pôde eclodir com todo o seu arrojo.
Alguns festivais foram especialmente marcantes, como o de ano de 1967.
Caetano queria compor algo especial, uma canção que pretendia ser uma espécie de
manifesto, uma síntese pessoal das conversas e discussões sobre os novos rumos
estéticos da música popular brasileira.
Decidiu que no festival de 1967 deflagraria, junto com o Gil, a revolução.
Queria compor uma canção que fosse fácil de aprender por parte dos espectadores do
festival, mas ao mesmo tempo caracterizasse a nova atitude que queriam inaugurar.11
O resultado foi a canção «Alegria, alegria» apresentada no terceiro Festival de
MPB12 de TV Record de São Paulo. Classificou-se, para desgosto de muitos, em
quarto lugar.
Toda apresentação da canção nova foi muito rápida. Os Beat Boys, o grupo
argentino de rock, acompanhando o Caetano, surgiram no palco do Teatro Paramount,
com guitarras e cabelões. Iniciou-se uma vaia que o Caetano interrompi entrando em
cena, com uma expressão muito irada, antes que o seu nome fosse anunciado. Isso
assustou locutores, directores, produtores e público. A entrada de Caetano foi ainda
mais chocante, porque o seu vestido era diferente de todos os cantores, músicos e
apresentadores – tinha um terno xadrez e uma camisa laranja. O público aplaudiu
euforicamente, e o próprio Caetano ficou surpreendido com a rápida mudança de
11
VELOSO, Caetano: Verdade tropical – Companhia das Letras: São Paulo, 1997, p.166
12
«Música popular brasileira» em forma abreviada.
- 15 -
atitude do público, que primeiro ficou, por causa do susto, quieto. Neste momento
inaugurou-se o tropicalismo. Cresceram os desafetos, a violência da platéia.
Imediatamente após do festival, «Alegria alegria» era tocada nas rádios de
todo o país. Transformou-se em hit, ultrapassou a marca de 100 mil cópias vendidas.
A base rítmica da canção foi a tradicional marcha, mas o acompanhamento
musical, como já mencionámos, foi feito por um grupo pop. Nos festivais existia o
preconceito contra os instrumentos eléctricos, pela maioria eram vistos como uma
manifestação de alienação ou de sentimento antinacionalista. A instrumentação dada
por Caetano foi uma declaração, relacionada ao refrão, que podia soar como um
desafio: «eu vou, por que não?».13
A letra da canção era completamente inovadora para a MPB. Na letra
podemos destacar dois aspectos fundamentais para a compreensão das tendências do
tropicalismo – a crítica aos intelectuais de esquerda14:
que pode ser vista como a crítica às «grandes palavras» dos intelectuais, que não se
tornaram reais.
O outro aspecto é a presença dos meios de comunicação de massa15:
Caetano começou a ser tratado como um popstar. O novo ídolo era recontado
em superlativos na grande parte da imprensa: «Caetano Veloso, o homem de maior
prestígio no mundo de arte no momento» (O Sol); «o maior ídolo da platéia paulista»
(Última Hora); «a personalidade mais discutida da música popular» (Manchete); «o
13
PERRONE, Charles A.: Letras e letras da MPB – Elo Editora e Distribuidora Ltda.: Rio de Janeiro,
1988, p.63
14
Ibid
15
Ibid
- 16 -
letrista de maior imaginação criadora» (Tribuna da Imprensa); «o líder de uma
juventude que procura novos caminhos» (Fatos & Fotos); «verdadeiro revolucionário
de nossa música» (Notícias Populares).16
16
CALADO, Carlos: Tropicália: a história de uma revolução musical – Editora 34 Ltda.: São Paulo,
1997, p.150
17
CYNTRÃO, Sylvia Helena: A forma da festa – tropicalismo: a explosão e os seus estilhaços – Editora
Universidade de Brasília: São Paulo, 2000, p.78
- 17 -
podemos observar que a plateia já sabia muito bem quem ia vaiar, no show não era
provocada pelo momento.
O Caetano apareceu vestido com roupas de plástico, colares exóticos e bolas
do papel. Entrou em cena rebolando, fazendo uma dança erótica, que lembrava uma
relação sexual. A plateia ficou escandalizada e deu as costas para o palco. Os
Mutantes reagiram imediatamente – sem parar de tocar, viraram as costas para o
público.
Caetano fez um longo discurso, que quase não se podia ouvir pelo barulho
dentro do teatro. Citamos agora alguns fragmentos importantes do seu discurso:
«Mas é isso que é a juventude que diz que quer tomar o poder? Vocês têm
coragem de aplaudir, este ano, uma música, um tipo de música que vocês não
teriam coragem de aplaudir no ano passado! São a mesma juventude que vão
sempre, sempre, matar amanhã o velhote inimigo que morreu ontem! Vocês não
estão entendendo nada, nada, nada, absolutamente nada [...] Gilberto Gil está
comigo, para nós acabarmos com o festival e com toda a imbecilidade que reina
no Brasil. Acabar com tudo isso de uma vez. Nós só entramos no festival pra
isso. Não é Gil? Não fingimos. Não fingimos aqui que desconhecemos o que
seja festival, não. Ninguém nunca me ouviu falar assim. Entendeu? Eu só queria
dizer isso, baby. Sabe como é? Nós, eu e ele, tivemos coragem de entrar em
todas as estruturas e sair de todas. E vocês? Se vocês forem... se vocês, em
política, forem como são em estética, estamos feitos! ...»18
18
Caetano Veloso em: Tropicália – um projecto de Ana de Oliveira [online].[citado 2009-04-02]
Disponível em WWW:
http://tropicalia.uol.com.br/site/internas/proibido.php, op.cit.
19
VELOSO, Caetano: Verdade tropical – Companhia das Letras: São Paulo, 1997, p.304
- 18 -
escreviam palavras de ordem nas paredes dos muros. Uma destas foi: «É proibido
proibir».
Nesta canção Caetano verifica a afirmação repressiva dos valores
estabelecidos pela estrutura social vigente – restrições sexuais familiares («A mãe da
virgem diz que não»), à manipulação das consciências da economia capitalista de
consumo («E o anúncio da televisão»), à codificação da ideologia dominante numa
superestrutura jurídica e formal («Estava escrito no portão»), ao cerceamento da
liberdade artística através da estética tradicional («E o maestro ergueu o dedo»), ao
policiamento organizado dos interesses de classe dominante («E além da porta há o
porteiro»). Tal tese do estabelecimento é sintetizada numa nota musical a que
corresponde a palavra «sim» («E eu digo sim») A estrofe acaba com o refrão negador:
«E eu digo não» / E eu digo não ao não / E eu digo é proibido proibir». 20
Caetano também recusa as restrições sexuais («Me dê um beijo meu amor») e
convoca ao protesto geral, com uma evocação às manifestações estudantis em Paris
(«Eles estão nos esperando» / «Os automóveis ardem em chamas»), ele edifica às
palavras de ordem do espírito anárquico dessas manifestações que propõem uma
reformulação radical de todos os valores estabelecidos («Derrubar as prateleiras / as
estantes / as estátuas / as vidraças / louças / livros»).21
A canção tem sua força. Sua importância liga-se muito ao contexto em que
vivia a geração, ao questionamento de valores e crenças que propunhavam na época.22
20
MACIEL, Luiz Carlos: Geração em transe: memórias do tempo do tropicalismo – Nova Fronteira: Rio
de Janeiro, 1996, p.201-202
21
Ibid
22
Ibid
23
CALADO, Carlos: Tropicália: a história de uma revolução musical – Editora 34 Ltda.: São Paulo,
1997, op.cit., p.229
- 19 -
detrimento de vanguarda tropicalista. O show mostrou com clareza que eles estavam
a fim de levar às últimas consequências a sua actual posição de vanguarda.
O espectáculo era construído com inteligência destinado a envolver
progressivamente o espectador. No palco pequeno foram instaladas duas bandeiras,
com as inscrições «Yes, nós temos bananas» e «Seja marginal, seja héroi» (seguindo
uma outra obra de Hélio Oiticica, criada em homenagem ao bandido Cara de Cavalo,
já exposta em outras ocasiões).24
Primeiro, entravam os Mutantes, com sua alegre ironia. Depois, o Gilberto Gil
subiu ao palco. Com ele iniciavam-se os primeiros choques, a entrada de Caetano
ficava então preparada. Começava a cantar quietamente sua canção «Saudosismo»,
composta havia poucos dias, acompanhando-se de um violão. No fim, cantava alguns
versos da canção de João Gilberto «Chega de Saudade». Cantava cada vez mais alto,
até ficar berrando no palco. Logo a seguir explodiam as guitarras eléctricas dos
Mutantes.
O surpreendente foi, que a plateia participava de alguma forma também. Além
de aplaudir, alguns iam até o palco para dançar ou cantar. Mas havia também
espectadores mais agressivos que na impossibilidade de entrarem na boate carregando
tomates e ovos, jogavam cubos de gélo e água sobre o palco.
O Caetano foi depois acusado de ter cantado o Hino Nacional durante um dos
shows, enxertando versos ofensivos às Forças Armadas.25 O cantor manifestou-se na
forma que se segue:26
24
CALADO, Carlos: Tropicália: a história de uma revolução musical – Editora 34 Ltda.: São Paulo,
1997, p.229
25
Idem, p.232
26
Ibid
27
Caetano Veloso em: Ibid, op.cit.
- 20 -
4.3 O programa Divino, Maravilhoso
28
Caetano Veloso em: CALADO, Carlos: Tropicália: a história de uma revolução musical – Editora 34
Ltda.: São Paulo, 1997, op.cit., p.235
- 21 -
estavam acompanhadas com guitarras eléctricas. Os intérpretes vestiam roupas
extravagantes e pareciam ter saído de uma festa tropicalista. Até uma antiga adversária
de Caetano, Gil e Mutantes, a chefe de torcida Telé Cardim, disse: «Foi uma fabricação
em massa de tropicalismo. Ninguém quis reconhecer as inovações do baianos, e agora
todos procuram imitá-los: nas roupas, nos sons, nas palavras. Mas imitam mal». 29
Anoiteceu
O sino gemeu
Agente ficou
Feliz a rezar
(...)
Já faz tempo que eu pedi
Mas o meu Papai Noel não vem
Com certeza já morreu
Ou então felicidade
É brinquedo que não tem
29
Telé Cardim em: CALADO, Carlos: Tropicália: a história de uma revolução musical – Editora 34
Ltda.: São Paulo, 1997, op.cit., p.242
30
Idem, p.251
- 22 -
Por causa de provocações desse tipo no programa não era surpresa que logo nas
primeiras semanas já se comentava que o Divino, Maravilhoso tinha seus dias contados.
O auditório da TV Tupi era frequentado por policias à paisana, o que ainda mais
contribuia para mal-estar dos tropicalistas. Todos tinham consciência de que a qualquer
momento poderiam ter problemas com a polícia.
«O importante é que se discutiu o que nós fizemos. O fundamental é que fizemos
o que nos deu na cabeça»31 revelou Caetano numa entrevista do Jornal da Tarde. O
réporter também se interessava por os novos projectos do compositor para o ano
seguinte. Caetano, apesar de ter mostrado a incerteza, entre os seus planos mencionou
trocar São Paulo pelo Rio de Janeiro, talvez morar por um tempo no exterior, e também
realizar o antigo sonho de dirigir seu primeiro filme. A respeito do programa Divino,
Maravilhoso, o programa ainda continuaria por mais cinco semanas, o período que
faltava para terminar o contrato assinado com a TV Tupi. Ninguém sabia ainda, se o
contracto seria renovado. Ironicamente, o único plano do compositor, que se realizou
meses depois, foi o de morar no exterior.32
31
Caetano Veloso em: CALADO, Carlos: Tropicália: a história de uma revolução musical – Editora 34
Ltda.: São Paulo, 1997, op.cit., p.253
32
Ibid
- 23 -
pouco mais de meio copo. É claro que Caetano a princípio recusou, porque não queria
passar por aquela experiência assustadora outra vez. Gil, tentando convencê-lo,
argumentou: «Eu entendo porque você sofreu tanto, Caetano. Eu gosto de maconha,
mas ela realmente dá um tapa em você. Com isso aqui, você não vai ficar tonto, nem
distante do mundo. Você ganha a capacidade de alucinar, mas não perde a sua
vigília».33
Como ele estava ali entre os seus amigos, diante do único copo de auasca que
não era desvaziado, tomou a coragem e engoleu todo o conteúdo. Caetano estava à
espera dos efeitos. Realmente nada aconteceu de comparável ao tapa da maconha.
Começou a achar cómica a música do Pink Floyd que estava a tocar no toca-discos.
Também logo a carpete de náilon do quarto do som apresentou o seu modo peculiar,
tanto como o tapete de nylon. Caetano teve sensação de saber de forma exacta como
aqueles cores se manifestavam a partir de cada um dos fios do tapete. Era também
interessante que os efeitos levaram-no a ver os amigos de um modo diferente. Teve a
impressão de poder compreender o ser de cada uma daquelas pessoas, assim que o
sentimento que o ligou a elas. Começou a ver alguns pontos de luz coloridos, e tudo lhe
parecia simétrico, sentiu felicidade.
A volta à consciência foi terrível e demorou algum tempo. Caetano achava que
nunca mais se reencontraria, que teria enloquecido definitivamente. Não podia
reconhecer os seus amigos, até o seu reflexo no espelho. Só no dia seguinte tudo
voltou-se a forma normal. Apesar disso, Caetano ficou com a definitiva sensação de
que nunca mais foi a mesma pessoa. Nas semanas seguintes, comandando as gravações
do programa Divino, Maravilhoso continuou com esta impressão. Mesmo enquanto
trabalhava ao lado dos seus amigos pensava que não fazia mais parte daquele universo
e sentia se vivendo como que um palmo acima de tudo o que existe. Como ele próprio
disse: «Na verdade, algo de essencial mudou em mim a partir daquela noite».34
33
Gilberto Gil em: CALADO, Carlos: Tropicália: a história de uma revolução musical – Editora 34
Ltda.: São Paulo, 1997, op.cit., p.240
34
VELOSO, Caetano: Verdade tropical – Companhia das Letras: São Paulo, 1997, op.cit., p.329
- 24 -
5. O NOVO ACTO E AS SUAS CONSEQUÊNCIAS
5.1 A prisão
35
VELOSO, Caetano: Verdade tropical – Companhia das Letras: São Paulo, 1997, op.cit., p.349
- 25 -
maneira também a noite de ano-novo. Durante aquela primeira semana não comeram
nada, só alguns pedaços de pau.
Caetano podia atenuar a angústia e o medo lendo. Com sorte conseguiu receber
dois romances, que foram introduzidos em sua cela clandestinamente, por um coronel
rebelde.
Depois desta uma semana foram ambos trancados para outro quartel da Polícia
do Exército, em Deodoro, na zona oeste. Ficaram em celas colectivas, conseguiram
então ter até uma conversa, embora muito precária.
Durante a época vivida no prisão, Caetano identificava-se com a afirmação de
um criminoso que tinha lido numa entrevista: «Às vezes eu acho que nasci aqui, que
sempre vivi aqui, que o mundo lá fora, tudo o que eu vivi, só existe na minha
cabeça».36 Ao Caetano, o apartamento de São Paulo, o seu casamento com Dedé, a
Bahia, os estúdis de gravação, os palcos de auditórios, tudo lhe parecia desprovido da
realidade.37
Também começou a sentir-se incapaz de mostrar os sentimentos. Os dias dele
pareciam na forma que se segue – dormia muito cedo a noite, era acordado por
soldados pela manhã, passava a manhã inteira sentado no cobertor, no meio dia, depois
do almoço adormecia outra vez por algum tempo. Ele descreve a situação assim: «O
meu sono de presidiário era um sono triste e infalível do qual eu emergia sem nenhum
resíduo de sonho.» 38
Um dia até pensou que ia a morrer. Segundo o comportamento dos soldados e
da atmosfera no ar pensava que ia a acontecer algo horível, que iam fazer alguma coisa
física com ele. Mas o objectivo verdadeiro foi levar-lhe à barbearia do quartel. Logo a
seguir sentiu a imensa alegria que não ia a morrer, mas foi empanada pela constatação
do ridículo deprimente de tudo aquilo. O corte do cabelo era, para eles, mas não para
Caetano, um assassinato simbólico. «Se eu tivesse pensado em cabelo, teria
imediatamente adivinhado o que ia se passar, e não teria tido medo de que me
matassem» 39, confessou Caetano.
36
VELOSO, Caetano: Verdade tropical – Companhia das Letras: São Paulo, 1997, op.cit., p.349
37
Ibid
38
Idem, op.cit., p.363
39
Idem, op.cit., p.382
- 26 -
5.1.1 O interrogatório principal
40
VELOSO, Caetano: Verdade tropical – Companhia das Letras: São Paulo, 1997, p.397
- 27 -
os superiores do major não pensavam da mesma maneira, ou ainda não tivessem
decidido o que fazer. Caetano ficou ainda mais um mês na prisão.
Nos dias finais na prisão, Caetano compôs uma canção, inspirando-se com o
nome de sua irmã mais nova:
Quando chegou o dia da libertação, Caetano e Gil foram levados para Salvador.
Antes de ter saído ficaram sabendo que estavam terminantemente proibidos de deixar a
Cidade de Salvador e que tinham de se apresentar diariamente à Polícia Federal. Caso
contrário voltariam para a cela.
Em total ficaram presos cerca de dois meses. Durante aquela época o
comportamento do Caetano era totalmente diverso do de Gil. Era caladão, deprimido
com a situação, descobria que o sofrimento não serve para absolutamente nada. Gil, ao
contrário, pedia uma violão e cantava e tocava toda a noite, também seu
comportamento e temperamento mudaram para melhor e para sempre.
- 28 -
encontrou como a solução a sua saída do país. O exílio foi a solução que lhe parecia
inteligente.
Como também não tinham dinheiro para comprar as passagens e financiar as
estadias dos primeiros meses, o coronel convenceu as autoridades mais altas de que
precisavam fazer uma apresentação em Salvador para conseguir esse dinheiro
assegurando que não fariam dela uma incitação à subversão.
O público mal notava a sua ausência nos palcos e na TV. A jornalista Marisa
Alvarez Lima veio a Salvador fazer uma reportagem em que Caetano aparecia
fotografado e em cujo texto apenas se dizia misteriosamente que Caetano estava em
Salvador e parecia triste.41
Nesse meio tempo Caetano, assim como Gil, fez um disco. Como não podia ir
ao Rio de Janeiro ou ao São Paulo, fez as gravações num estúdio pequeno de Salvador,
apenas com a violão. As fitas foram enviadas para São Paulo ou Rio para que Rogério
Duprat adicionasse baixo, bateria e orquestra. Não havia proibição de radiodifusão das
músicas deles.
O LP de Caetano com o nome «Caetano Veloso» não conseguia esconder a
tristeza e a depressão que o autor tinha vivido durante os seis meses que precederam a
gravação. O disco começa pela versão de «Carolina», a popular canção de Chico
Buarque42, que Caetano decidiu gravar ao ver crianças pobres de Salvador cantarem-na
em um programa de caloiros.43
A atmosfera de melancolia dominava quase todo o álbum (apesar da euforia
carnavalesca da canção «Atrás do Trio Eléctrico») especialmente em faixas como «The
Empty Boat» – uma das primeiras canções em inglês de Caetano, o fado «Os
Argonautas», a versão de «Chuvas de Verão» de Fernando Lobo.
41
VELOSO, Caetano: Verdade tropical – Companhia das Letras: São Paulo, 1997, p.416-417
42
Compositor, cantor, escritor brasileiro. Na época da ditadura militar no Brasil exilou-se na Itália. Um
dos artistas mais activos na luta pela democratização do Brasil.
Fonte: Biografia de Chico Buarque [online].[citado 2009-05-09]
Disponível em WWW:
http://www.dicionariompb.com.br/
43
CALADO, Carlos: Tropicália: a história de uma revolução musical – Editora 34 Ltda.: São Paulo,
1997, p.260
- 29 -
5.2.2 O show da despedida
44
Caetano Veloso em: CALADO, Carlos: Tropicália: a história de uma revolução musical – Editora 34
Ltda.: São Paulo, 1997, op.cit., p.260
45
VELOSO, Caetano: Verdade tropical – Companhia das Letras: São Paulo, 1997, op.cit., p.419
- 30 -
proclamou Caetano.
- 31 -
6. NO EXÍLIO
Dia 28 de Julho de 1969, Caetano partiu para Lisboa, e segiu o seu caminho,
junto com o Gil, até Londres. Na véspera do seu dia da partida ainda fez uma
entrevista para o Última Hora, onde deu a sua opinião sobre a situação do movimento
e a acção dos tropicalistas daquela época:
«Sei que o movimento que a gente começou está influenciado meio mundo.
Mais dia, menos dia, era inevitável que aqui também se começasse a utilizar
uma linguagem nova. Isso demonstra que estávamos certos e que o que
fazíamos, aquela confusão toda, era um acontecimento natural no processo
musical brasileiro. Quanto ao Tropicalismo, ainda não posso falar muita coisa. É
claro que ele mantém raízes. O fato é que Gal Costa se tornou a mais importante
cantora brasileira a partir dele e eu acho que isso já compensa. Se o
Tropicalismo passou, eu não sei, mas acho que, ele continua, e do modo certo,
com Gal.» 46
Primeiro, os dois cantores ficaram hospedados por alguns dias num hotel em
Sothampton, depois mudaram-se para bairro de Chelsea, numa casa de três
pavimentos. Logo o ambiente da casa era muito parecido como no apartamento de
Caetano e Dedé em São Paulo. Os amigos visitavam-lhes frequentamente, e assim
criou-se lá uma comunidade brasileira. Por isso, Caetano falou principalmente
português, mas também estudou inglês.
Fez um disco com composições como «London London» – sobre a solidão
dos dias vividos no outro pais, ou «If You Hold a Stone» – na letra desta canção
confessou o seu próprio sentimento da vida no exílio: «Eu não vim aqui para ser
feliz». Ele próprio não gostou de LP por causa da depressão pelo qual passava – não
se podia acostumar a frio e chuva e achava Londres escura e feia. Até parou de
compor durante alguns meses, porque não viu mais sentido em fazer música fora do
Brasil.
Depois de sete meses passados na Inglaterra Caetano e Gil fizeram juntos um
primeiro show, na primeira semana de Março de 1970. O show teve sucesso, mas os
46
Caetano Veloso em: CALADO, Carlos: Tropicália: a história de uma revolução musical – Editora 34
Ltda.: São Paulo, 1997, op.cit., p.264
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críticos sugeriram que os cantores ainda não estavam familiarizados com o gosto
europeu.
Em relação com o Gil, Caetano não se envolveu tanto em Londres com a cena
musical. Entre os artistas de que ele gostou mais, foram Jimi Hendrix, Richie Havens
e os Rolling Stones. Mas os concertos de rock levou-lhe a sentir as saudades do
Carnaval da Bahia.
Depois de viver um ano e meio fora do país, as autoridades militares
permitiram ao Caetano fazer uma visita no Brasil – foi dia 7 de Janeiro de 1971.
Desembarcou no Rio de Janeiro, mas a recepção que obteve foi muito «fria». Logo
foi acompanhado pelos policiais e depois interrogado durante seis horas. Os militares
intimidaram e chantagearam-lhe. No fim estabeleceram os mandados - Caetano
poderia dar entrevistas só por escrita, não tinha permissão de raspar a barba ou cortar
o cabelo durante sua visita e teria de fazer uma apresentação na TV determinada por
os militares – foi dia 4 de Fevereiro, na TV Globo. Caetano cantou só uma samba.
Ainda por cima, durante o seu estágio, ele com a sua mulher estavam
espionados todo o tempo. Três dias depois do show na TV voltaram para Londres.
Conhecendo a situação no Brasil, Caetano mudou os seus planos de voltar em breve
para o seu país.
No extrangeiro, Caetano ainda lançou novo disco pela Famous Records no
início de Julho. Formou uma banda, junto com os artistas brasileiros os quais
convidou para Londres. Apresentou-se também na Suíça, Holanda e França.
Um dia recebeu o convite do mestre da bossa nova João Gilberto participar no
seu programa especial no Brasil. Apesar de não querer voltar tão cedo para o Brasil,
decidiu finalmente tomar parte do programa. Dia 8 de Agosto de 1971 chegou ao
Brasil, e ficou surpreendido ao ser recebido com sorrisos, inclusive pelas autoridades.
Para o show escolheu as canções novas londrinas. Caetano voltou para Londres com o
muito melhor sentimento, e já com os planos de voltar.
- 33 -
7. DE VOLTA NO BRASIL
«Eu não quero assumir nenhum tipo de liderança. Quero só cantar as minhas
músicas, para as pessoas verem que continuamos cantando e trabalhando. Não
existe nenhuma esperança de organizar as pessoas em torno de um ideal
comum.» 47
declarando assim que não voltou ao país com a intenção de resgatar o papel de líder
que tinha na época do tropicalismo.
47
Caetano Veloso em: CALADO, Carlos: Tropicália: a história de uma revolução musical – Editora 34
Ltda.: São Paulo, 1997, op.cit., p.288
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8. CONCLUSÃO
- 35 -
9. BIBLIOGRAFIA
PERRONE, Charles A.: Letras e letras da MPB – Elo Editora e Distribuidora Ltda.:
Rio de Janeiro, 1988
VELOSO, Caetano: Verdade tropical – Companhia das Letras: São Paulo, 1997
Fontes da Internet:
- 36 -
Tropicalismo na ditadura [online].[citado 2009-03-15]
Disponível em WWW:
< http://www.scribd.com/doc/3965513/PORTUGUES-Tropicalismo-na-Ditadura>
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APÊNDICE
1) Alegria, Alegria
2) Através Do Trio Eléctrico
3) É proibido proibir
4) If You Hold A Stone
5) London London
6) The Empty Boat
7) Tropicália
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1) Alegria, Alegria
Em caras de presidentes
Em grandes beijos de amor
Em dentes, pernas, bandeiras
Bomba e Brigitte Bardot...
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Sem fome, sem telefone
No coração do Brasil...
- 40 -
2) Atrás Do Trio Eléctrico
O sol é seu
O som é meu
Quero morrer
Quero morrer já
O som é seu
O sol é meu
Quero viver
Quero viver lá
- 41 -
3) É Proibido Proibir
E eu digo não
E eu digo não ao não
Eu digo: É!
Proibido proibir
É proibido proibir
É proibido proibir
É proibido proibir...
(falado)
Cai no areal na hora adversa que Deus concede aos seus
para o intervalo em que esteja a alma imersa em sonhos
que são Deus.
Que importa o areal, a morte, a desventura, se com Deus
me guardei
É o que me sonhei, que eterno dura e esse que regressarei.
E eu digo sim
E eu digo não ao não
E eu digo: É!
Proibido proibir
É proibido proibir
É proibido proibir
É proibido proibir
- 42 -
É proibido proibir...
E eu digo sim
E eu digo não ao não
E eu digo: É!
Proibido proibir
É proibido proibir
É proibido proibir
É proibido proibir
É proibido proibir...
- 43 -
4) If You Hold A Stone
- 44 -
5) London London
- 45 -
6) The Empty Boat
- 46 -
7) Tropicália
Viva a bossa
Sa, sa
Viva a palhoça
Ca, ça, ça, ça...(2x)
O monumento
É de papel crepom e prata
Os olhos verdes da mulata
A cabeleira esconde
Atrás da verde mata
O luar do sertão
O monumento não tem porta
A entrada é uma rua antiga
Estreita e torta
E no joelho uma criança
Sorridente, feia e morta
Estende a mão...
Viva a mata
Ta, ta
Viva a mulata
Ta, ta, ta, ta...(2x)
- 47 -
Autenticando eterna primavera
E no jardim os urubus passeiam
A tarde inteira
Entre os girassóis...
Viva Maria
Ia, ia
Viva a Bahia
Ia, ia, ia, ia...(2x)
Viva Iracema
Ma, ma
Viva Ipanema
Ma, ma, ma, ma...(2x)
Domingo é o fino-da-bossa
Segunda-feira está na fossa
Terça-feira vai à roça
Porém!
O monumento é bem moderno
Não disse nada do modelo
Do meu terno
Que tudo mais vá pro inferno
Meu bem!
Que tudo mais vá pro inferno
Meu bem!...
Viva a banda
Da, da
- 48 -
Carmem Miranda
Da, da, da, da...(3x)
- 49 -