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RELATÓRIO FINAL
FORTALEZA- CEARÁ
2007
PARTEIRAS CEARENSES
COORDENAÇÃO INSTITUCIONAL
Observatório de Recursos Humanos em Saúde
Estação CETREDE / UFC / UECE
EQUIPE DE ELABORAÇÃO
João Bosco Feitosa dos Santos (Coordenador)
Flávia Emanuela de Oliveira
Noélia Alves de Sousa
Regianne Leila Rolim Medeiros
Rosana Lima Rodrigues
Telma Bessa Sales
Zeila Costa
SUMÁRIO
APRESENTAÇÃO ......................................................................................................... 4
1 INTRODUÇÃO ........................................................................................................... 6
2 A PARTEIRA NAS SOCIEDADES OCIDENTAIS .............................................. 11
2.1 A trajetória do ofício de partejar nas sociedades ocidentais .......................... 11
3 PARTEIRAS CEARENSES E SUAS HISTÓRIAS ............................................... 15
3.1 A constituição da categoria das parteiras no Ceará ........................................ 15
3.2 O início da atividade de partejar....................................................................... 21
3.3 A relação da parteira com o sistema formal de saúde..................................... 24
3.4 Condições e organização do ofício de partejar................................................. 30
3.4.1 O deslocamento.............................................................................................. 31
3.4.2 Os procedimentos e instrumentos de partejos ................................................ 32
3.4.3 Auxiliares ...................................................................................................... 33
3.4.4 Formas de remuneração ................................................................................. 34
3.4.5 Riscos e dificuldades no exercício da profissão............................................. 35
4 PRÁTICAS CULTURAIS PRESENTES NA ARTE DO PARTEJO .................. 39
5 A ARTE DO PARTEJO: OFÍCIO RELACIONAL .............................................. 50
6 HISTÓRIAS E MEMÓRIAS DE PARTEJOS ....................................................... 56
6.1 A Saga de Patrocínia........................................................................................... 56
6.2 “Causos” de Margarida, de Palmácia............................................................... 59
6.3 Histórias de Dona Dalva..................................................................................... 61
6.4 Narrativa de Dona Raimunda ........................................................................... 62
6.5 A Luta de Dona Eunice ...................................................................................... 63
7 CONSIDERAÇÕES FINAIS.................................................................................... 68
BIBLIOGRAFIA .......................................................................................................... 70
ANEXO.......................................................................................................................... 73
1. Relação das Parteiras Entrevistadas................................................................... 73
2. Mapeamento das localidades no Ceará............................................................... 74
APRESENTAÇÃO
1
Observatório de recursos humanos em saúde no Brasil: estudos e análises. André Falcão do Rego Barros
(org.) Brasília: Ministério da Saúde, 2004.
5
2 História, Saúde e RH: análises e perspectivas. In: Observatório de recursos humanos em saúde no
Brasil: estudos e análises. André Falcão do Rego Barros (org.) Brasília: Ministério da Saúde, 2004, p. 37-
48.
1 INTRODUÇÃO
A atividade de parteira é uma das mais antigas funções de que se tem registro na
história da humanidade e também uma das quais se encontram registros em
praticamente todas as culturas. Passando pela Antigüidade, quando nos registros
bíblicos aparecem as parteiras Sifrá e Fuá, que se negam a seguir as ordens do Faraó do
Egito que lhes ordenara matar as crianças do sexo masculino nascidos entre o povo
hebreu (Êxodo, 1: 15:2), e, durante o Período Medieval, quando eram perseguidas até
mesmo pelos tribunais da Inquisição, as parteiras sobreviveram, sendo em muitas ou na
maioria das situações o único recurso disponível às mulheres durante o trabalho de
parto.
Desde então, a parteira vai ser identificada como serviço de assistência materno-
infantil de áreas pobres, em especial, áreas rurais com poucos recursos em saúde,
principalmente dos países periféricos.
Portanto, nesse contexto, o objetivo deste estudo foi pesquisar e entender a situação
atual do trabalho desenvolvido pelas parteiras, buscando compreender quem são, essas
8
com a família, com o sistema formal de saúde, além de reflexões sobre as condições e
organização do ofício de partejar apresentadas pelas narrativas das parteiras
entrevistadas.
3 Observatório de recursos humanos em saúde no Brasil: estudos e análises. André Falcão do Rego
Barros (org.) Brasília: Ministério da Saúde, 2004, p. 28.
10
Andando pelo interior e litoral do Estado, não foi difícil encontrar mulheres que
passaram vários anos de suas vidas dedicadas à arte de partejar, o que já não aconteceu
na Capital, Fortaleza. Quando o trabalho de campo foi iniciado, pelo contato com essas
mulheres, observou-se, que, dentre as parteiras entrevistadas, a maioria fazia parte de
uma mesma faixa etária, igual classe social, semelhante grau de instrução e todas
tiveram de alguma forma contato com procedimentos do sistema de saúde formal, antes
ou depois de iniciarem no ofício de partejar. O que as diferenciava, ou seja, lhes dava
singularidade, era a maior ou menor aproximação com o sistema de saúde formal 4 . Com
efeito, optou-se por alargar o foco de observação desta pesquisa, de “parteiras
tradicionais”, para “parteiras”.
Assim, foi definida, neste trabalho, a idéia de que, para fins da diferenciação dos
saberes e fazeres do partejar, parteiras tradicionais ou leigas são aquelas que não
trabalharam em hospitais, postos de saúde ou qualquer outra instituição formal de saúde
e, se tiveram algum treinamento formal, que fosse inferior a um mês. Os treinamentos,
ou cursos para parteiras, tinham como objetivo orientá-las em procedimentos que
diminuíssem os riscos durante o parto, sobretudo no que se refere à higiene. Já as
parteiras que possuíam algum vínculo com o sistema de saúde formal, como
maternidades, hospitais, postos de saúde etc., foram denominadas parteiras
profissionais.
4 Neste trabalho, “sistema de saúde formal” é entendido como o sistema de procedimentos que visa a
diagnosticar e tratar doenças, baseado no conhecimento científico moderno. Não foi considerado,
contudo, o conhecimento das parteiras, como um conhecimento científico informal – ou em oposição ao
formal - , mas um conhecimento tradicional. A especificidade que o contato com a realidade mostrou é
que a realidade é constituída de um amálgama de concepções, noções, visão de mundo herdados pela
tradição em seu aprendizado prático e aquele que receberam ao serem abarcadas pelo sistema formal de
saúde; todas informadas pela cultura da qual fazem parte, contudo, a realidade mostra que, para essas,
permanece uma dicotomia com as concepções do sistema de saúde formal, ou hegemônico, que aos
poucos as excluiu do ofício.
16
Ela ensinava como era que a gente pegava, ela tinha muita prática. Ela
ensinava como era que a gente pegava o menino, quando a criança vinha
chegando, aí nascia. A gente cuidava do umbigo, amarrava o umbigo e
banhava o menino, vestia, botava na rede, que nesse tempo berço era difícil.
Maria Dalva
Na região do Cariri, localizada no sul do Ceará, uma das parteiras iniciou seu
trabalho no hospital: dona Margarida. Duas iniciaram de maneira tradicional, dona
Patrocínia e dona Guiomar, mas realizaram posteriormente um curso de parteira.
Apenas uma iniciou tradicionalmente na arte, dona Patrocínia, a qual disse nunca ter
participado de um curso formal. Em Aracati, região litorânea, dona Leninha iniciou no
ofício de parteira em observações que fez de partos realizados no hospital onde
trabalhava.
5
As bélgicas: foi usando esta expressão que dona Adelita fez referência às religiosas que iniciaram cursos
na década de 1970 na comunidade na qual ela participou na cidade de Baturité. É possível fazer uma
relação da expressão com a nacionalidade destas, pois neste período muitas freiras da Europa (alemãs,
holandesas etc) desenvolveram um trabalho comunitário em diversas localidades do Estado.
19
sido registrado algumas que partejaram há pouco menos de quatro anos e ainda se
disponibilizariam a fazê-lo. Com os recursos disponíveis no setor de saúde formal,
porém, a maioria prefere deixar para os médicos o oficio, conforme relataram ao serem
indagadas sobre a possibilidade de (re) assumirem a profissão, conforme aponta dona
Raimunda, da cidade de Crateús:
Várias são oriundas da zona rural, dos municípios em que moram. Tinham como
atividade principal o trabalho doméstico e auxiliavam a família nas atividades agrícolas,
situação semelhante à maioria dos moradores das localidades da zona agrícola do
Estado.
Por ser um oficio que requeria a ausência, muitas vezes, por dias, do ambiente
familiar, essas mulheres contavam com a compreensão do marido e filhos para exercer
suas atividades. Por unanimidade, os maridos foram enaltecidos como compreensíveis e
até orgulhosos de terem casado com mulheres cujo “dom de fazer o bem” era
reconhecido por toda a comunidade.
Quando se casou, ele sabia do meu trabalho. Me casei com vinte anos, ele já
sabia do meu trabalho. Eu disse: só me aceita se me aceitar, mas meu
21
trabalho eu não abro mão. É um trabalho que ele vem do coração. E foi aí
que minha vozinha, ela faleceu, ela passou isso pra mim e isso eu quero
passar pra alguém que tenha responsabilidade. Por que nas mão da minha vó,
nunca morreu ninguém, nas minhas mão, nunca morreu ninguém.
Buscando encontrar parteiras, muitas vezes foi preciso viajar a lugares muito
afastados da sede dos municípios pesquisados. Lugares que ainda não convivem
diretamente com as facilidades do mundo global. Alguns permanecem com as mesmas
características de há 20 ou 30 anos. Diante disso, não foi difícil entender, nas falas
dessas mulheres, os episódios de dificuldades no início de suas carreiras. Trabalhar nas
sedes dos municípios era sempre um diferencial de acesso a conhecimentos de pessoas e
técnicas que poderiam assegurar maior facilidade no exercício da profissão, enquanto
aquelas que ficavam mais afastadas não tinham o mesmo acesso, ou proximidade com
esses procedimentos diferentes dos procedimentos tradicionais.
Diante do que se viu e ouviu das parteiras, o início do ofício pode ser classificado
como casual ou premeditado. A maneira mais comum era a casual. Era freqüente iniciar
a profissão, ao se depararem com um evento no qual não tiveram alternativa senão
assumir o papel de parteira, “aparando” 6 crianças que nasciam inesperadamente diante
delas. Nesses casos, as parteiras entendiam esses episódios como “um sinal”, desde o
qual se sentiam escolhidas por Deus “para fazer o bem”. Assim, consideravam que
possuíam o dom de partejar. A comunidade, onde viviam, reconhecia esse privilégio e
sua fama se alastrava rapidamente pela região. Tornavam-se, portanto, parteiras da
comunidade, e, na maioria dos casos, referência em questões de saúde e doença.
6
Aparar, pegar ou apanhar eram termos êmicos utilizados com o sentido de fazer o parto.
22
Dona Guiomar, da cidade do Crato, com sua história do início, representa grande
parte das parteiras, que segundo ela começavam por acaso:
A primeira eu fiz quase que obrigada, num sabe que tem coisa que você faz sem
saber e ao mesmo tempo sabendo porque eu já tinha filho. Uma mulherzinha
dali ... ela foi tirar tala pra fazer cesta. Ai subiu, se aperreou, num dia de
segunda-feira, se aperreou ai subiu, ai chegou lá em casa aperreada, barriguinha
muito pequena, eu achei que não era nem pra ganhar menino, ai a cunhada dela
pediu pra ela ficar lá em casa enquanto ia arranjar o carro, mas é um pessoal
bem pobrezim. Ai ela ficou aperreada, eu fui e disse, “ Muié, que é que tu
tem?” ela disse que é pra ganhar menino, aí eu peguei e ajeitei ela lá num canto,
ai eu sei que ela disse, “Eu vou ali”, aí ela foi ali no pé de caju, aí quando dei fé
ela gritou e foi uma coisa rápida, “Guiomar, corre aqui”, quando eu corri, ela
tinha se pegado aqui num pé de caju e o menino já tinha nascido, foi coisa de
vinte e cinco minuto por ai assim fora, só deu tempo dela chegar lá em casa, ai
eu peguei o menino, ela era mãe de família, levei o menino pra casa, ela
também, botei uma rede, cortei o imbigo do menino que ela já tinha
experiência, que ela me explicava que tinha que medir três dedos no imbigo pra
poder cortar...
A gente morava num sítio isolado,... eu mocinha, ... eu era bem pequenininha,
mas eu sempre naquela de criança, toda vida eu gostei de saber em pouco de
doença, né? Qualquer coisa. Então minha avó achou que eu tinha aquele dom, e
começou me levando pra ela não ir só, naquele tempo mulher não gostava de
andar só, ela me levava. E começou, ela achando que eu era capaz de entrar
numa sala e o que eu ouvi e vi, eu vi não e não ouvi, entende?
Nunca fiz [curso]. Foi só mesmo da minha vontade. Que a primeira vez que
eu vi uma criança nascer, escute essa, foi a coisa mais linda, [que] eu achei
na minha vida. Aquela criancinha vinha, aquela cabecinha assim, e vinha e
voltava. O povo diz que é a coisa mais feia do mundo, eu achei lindo,
quando nasceu (...). Aí, eu me apaixonei, eu fui e disse, aqui tinha um
enfermeiro o Paiva: Ô Paiva, eu queria essa arte pra mim, mas eu não sei lê!
23
Aí, ele disse: Não, não tem problema não, pois eu vou lhe ensinar um toque
numa mulher.
:...Em 63 foi que eu fui ter contato com a maternidade do hospital, no César
Cals. Do César Cals pra João Moreira. É o mesmo, é emendado um com o
outro, ainda hoje é emendado. Aí, lá fiz o curso, fiz meu diploma de parteira,
assinado por todos os médicos que me conheciam lá, feito teste por lá, se eu
sabia trabalhar, se não sabia. E eu aprendi mesmo, gostei, gostei muito. E
nesse tempo, estava construindo a Maternidade Escola. E nós já recebemos
lá o convite que, quando funcionasse a Maternidade Escola, o Dr. Galba ia
escolher as que ele queria que fosse pra lá. E eu fui uma das escolhidas. Aí
comecei desde o comecinho da Maternidade Escola, em 65.
Dona Maria de Caldas já havia feito oito partos, quando participou do curso de
parteira em Canindé, que, segundo ela, foi importante para o desempenho do oficio,
conforme afirmou: “Tinha vinte oito parteiras por aqui, mas só quem ganhou a bolsa foi
eu. Eu ganhei a frasqueira dessas de alumínio de mão, vinha duas cuba, a tesoura, a
pinça, a trena, a balança, tinha tudo”. Dona Maria Pereira trabalhou na Maternidade-
Escola Assis Chateaubriand durante muitos anos até se aposentar. E conta com orgulho
que, no ano de 2000, foi feita uma festa no hospital, para a qual foi convidada, onde
recebeu a proposta para voltar ao hospital, mas desta vez como “Amiga da Gestante ou
doulas”, atividade que desempenha até o dia que tivemos contato com ela.
24
7
Capturado do sitio computacional http://www.opovo.com.br/opovo/fortaleza/711495.html , do jornal O
Povo em 29 de agosto de 2007.
25
realização de um “bom parto”. Dona Raimunda, por exemplo, garante que em apenas
uma ocasião realizou um parto fora da maternidade onde trabalhava, no Município de
Crateús. Para ela, a estrutura da maternidade era essencial para a realização de um parto
seguro e tranqüilo:
Ave Maria, eu fiz foi muitos [partos]. Eu tenho uns aqui, que já me viram,
sabe tem homem aqui que já se formou-se, já me visitou por aqui, já
formado. Eu fiz [o parto]. Eu não tenho nem a soma.
(...)
Tudo aqui, tudo só aqui dentro. Só este [que eu estava falando,] que foi fora
que eu fui obrigada. Fui mesmo sem gostar.
(...)
Por que aqui, eu tinha coragem e fora eu não tinha. Agora era uma reza
danada pra ir fazer fora.
(...)
Que eu não confiava, que ali eu tinha tudo, ali na estufa, tinha os remédios,
já sabia qual era e tudo. E fora, eu não confiava, eu só confiava se fosse ali
dentro na sala de parto. Ali, eu ficava tranqüila, podia tá só, só mais Deus, e
dava certo. Não tinha medo. Dona Raimunda de Crateús.
Na minha casa, eu não fiz não. Eu fiz, (...) a mulher estava sentindo dor e
disse : dona Margarida! Ela mandou a mais velha me chamar. Aí, eu fui. Eu
sempre gosto de carregar umas luvinhas e quando eu cheguei lá, botei um
par de luvas e examinei, e eu disse: Tonete, meu deus! Você vai largar é
aqui, não vai dar tempo de ir pro hospital não. Então mandei buscar o
material e fiz o parto na casa dela. Mas eu não gosto não de fazer parto
assim.
(...)
A diferença... Não é muito bom, por que no hospital tem a mesa de parto, ali
a gente se sente a vontade e lá na casa, eu fiz na cama dela mesmo. É baixo.
O parto que eu fiz em casa, foi só o dela. Na casa dela, por que não deu
tempo de ir para o hospital.
Mas eu não gosto de fazer. Só se não der tempo mesmo. Aí, o jeito é fazer.
É evidente a preferência, por parte das parteiras profissionais, por fazer o parto na
maternidade ou no hospital. A relação com o sistema de saúde fica mais clara ainda,
quanto se observa dona Margarida priorizando as luvas descartáveis (um símbolo do
processo de higienização), quando foi assistir um parto fora do hospital.
A inserção da parteira no sistema de saúde formal, a partir dos anos 1960, foi se
intensificando; era evidente. Os partos naturais nos hospitais e maternidades ainda eram
responsabilidade das parteiras. O conhecimento do ofício era reconhecido inclusive
pelos médicos, como pode ser observado no relato de dona Cesária, de Crateús,
26
relembrando um dos partos que fez fora da maternidade, a pedido de um médico, pois
também não se sentia à vontade trabalhando fora da maternidade:
Aí, quando o Doutor (...). Por que ele conhecia demais o meu trabalho. Às
vezes, a pessoa ia chamar ele assim à noite pra ir pra lá, ele dizia assim:
Não, chama ali a Cesária. Que nós moramos pertinho vai. Ele dizia: Vá
chamar ela, que ela vem, se precisar, agora vá lá pra dentro vá, se precisar
de mim ela chama. Eu ia.
Leninha: Chegou o doutor (...), o doutor (...) e doutor (...), esses foram quem
me prendia mais.
Entrevistadora: Prendiam como?
Leninha: Botavam eu pra tudo. Chegava uma emergência: Chame Leninha.
Se eu não desse jeito, se não fosse pra mim, aí, era que eu chamava. E o
neném no interior, chegava pra me livrar, se chama [diz] pra “me livrar”. Se
desse pra mim fazer sim, e se não desse, já tinha que chamar [o médico].
Entrevistadora: Quer dizer que a senhora trabalhava sozinha. E, quando era
mais complicado, os médicos eram chamados?
Leninha: É, aí tinham outras que depois foi aprendendo. Por que já tinha
pena de mim [de tanto trabalhar]. Aí, eu fui ensinando pra meio dia, eu tirar
um cochilo. Foi quando foi começando para os interiores.
Entrevistadora: Antes da senhora ensinar outras mulheres a fazer parto, era
só a senhora quem fazia?
Leninha: Por isso que, se passasse a noite trabalhando, de dia, de manhã, só
fazia subir tomar banho, trocar de roupa. Aí, chegava a olhar um neném no
interior, faltava outro quando, lá ia ser outro sacrifício.
Se desse pra fazer [o parto], fazia. Se não desse, era eu [chamando pelo
médico]: cesárea!
Era eu que acompanhava o trabalho de parto, quando não dava, chamava já
indicando pra eles que ali ia ser uma cesárea.
Entrevistadora: A senhora sabia quando podia fazer o parto ou não?
Leninha: Ora se não!
evidente a auto-imagem da parteira, que lhe fornece legitimidade para partejar, estando
ou não no sistema formal de saúde. Para as parteiras profissionais, os partos só não eram
sua responsabilidade, quando havia complicações, como se viu anteriormente. Um fato
que ocorreu com dona Leninha, de Aracati, ilustra a evidência dessa “propriedade” do
ofício. Dona Leninha, em determinado momento da sua vida, resolveu parar de
trabalhar no hospital, onde partejava, e foi trabalhar em uma farmácia, como balconista.
Seu reconhecimento como parteira, porém, lhe seguiu, e várias vezes foi chamada para
fazer partos, às quais, quase sempre, correspondeu.
É interessante notar que dona Dalva, ao ser indagada sobre sua iniciação no ofício,
que foi observando sua mãe partejar, priorizou falar que tinha feito um curso de
parteira no hospital, no qual, logo em seguida, diz não ter aprendido muito mais do
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que já sabia sobre partejar. Dona Valdelice 8 lembra-se da história de uma parteira,
dona Geralda, uma parteira tradicional, que fez o curso, recebeu um kit de
instrumentos, mas não utilizou nenhum, continuou a partejar da forma como havia
aprendido:
Diante dessas falas, é possível perceber que a realidade é muito mais complexa do
que sua descrição. Ao mesmo tempo em que se tem no curso de parteira um símbolo do
sistema formal de saúde, sendo ressaltado pelas parteiras, pode ser percebida pela fala
de dona Valdelice (professora da escola local) a demonstração de enaltecimento do
trabalho de uma parteira tradicional, que adquiriu “fama”, ou seja, o reconhecimento
público, pela sua capacidade e experiência. A profissionalização e a “medicalização” do
ofício de parteira, porém, é evidente. O depoimento de dona Raimunda, de Crateús, uma
parteira profissional que sempre trabalhou em uma maternidade, mas não fez curso de
parteira (aprendeu o ofício com um enfermeiro), ressalta o valor atribuído ao diploma de
um curso de parteira. Apesar de trabalhar no hospital de Crateús, diz não se considerar
uma “parteira verdadeira”, porque não realizou nenhum curso de parteira.
Raimunda: É por que, ela era as parteiras de verdade, era ela, não era eu
Entrevistador: Por que? A senhora não era parteira?
Raimunda: Por que eu não fiz curso, não fiz nada. (...) Eu achava que eu
não era de verdade. Ela que tinha feito os cursos delas, sabia as coisas. Eu
sei que era formada. Ela era filha do Doutor (...) e as outras disse que tinham
feito tudo. Anda lá de papel na mão mostrando que tinham feito curso em
instituto e eu não tinha o que mostrar. Uma que eu não sabia lê, mal eu
botava meu nome.
8
Dona Valdelice fora indicada pelo Sindicato dos Trabalhadores Rurais do Crato como parteira. Na
verdade, ela era professora da escola local e reunia em sua casa as parteiras, quando faziam os cursos.
Portanto, embora ela tenha sido entrevistada, para efeito da pesquisa, ela não foi considerada parteira.
29
Apesar do que relatou, dona Raimunda era uma das parteiras mais requisitadas na
maternidade. Além disso, o fato de não ter feito formalmente um curso, ela, como visto
anteriormente, é uma das parteiras que não gosta de fazer partos fora da maternidade
pela falta de infra-estrutura, que somente o sistema formal de saúde oferece.
Já quem não tinha nem curso, nem experiência em unidades de saúde, fazia
questão de ressaltar o respaldo de médicos, profissionais reconhecidos pelo sistema
biomédico, como indica a narrativa de Patrocínia, do Cariri.
Como a gente morava no sítio, não tinha esse posto. Depois [foi] que
começou esse posto perto das casa. Assim, nos bairro das pessoas. E as
mulher também fazia o pré-natal, depois que vim morar na rua. Depois foi
que alguns médicos vieram saber e me aplaudiram.
Os relatos dessas parteiras podem sugerir que, ao mesmo tempo em que elas
buscam o reconhecimento do seu trabalho, pelo sistema de saúde formal, elas, de
alguma forma se sentem inferiores nesse sistema. Não foi o observado, porém - é
também claro na fala das parteiras - que elas constantemente reafirmam o valor da sua
prática, inclusive quando apontam que se tratando de partos normais, elas muitas vezes
entendem mais dos procedimentos do que os próprios médicos, o que reafirma, segundo
elas, o reconhecimento dos seus trabalhos, por parte dos profissionais do sistema formal
de saúde.
30
[Antigamente era] muito difícil. Que hoje tá tudo fácil. Ali, leva a criança
pro hospital, tem o médico, tem aquelas enfermeiras boa que sabe mais ou
menos quantos centímetros falta, tal, tal. [É] melhor do que em casa. Por que
ninguém vai arriscar. Eu não “risco”. Deus me livre! Um dia desses, uma
teve o menino bem aí. Já tinha tido. Mandou vir [me] chamar: Não, minha
filha, lave e leve pro hospital. Ia cortar o umbigo e dá problema? Que eu não
sei como foi nascido nem nada. Eu digo: não, leve pro hospital. A gente tem
medo, por que antigamente, você sabe disso, era o jeito que tinha apelar aos
milagres de Deus. Que nós não tinha médico, não tinha nada. O jeito que
tinha era apelar, mas hoje, que tem tanta facilidade. Que não é como
antigamente. Você pegava o umbigo da criança, olhava. Hoje em dia, faz
mal. Agora tudo lá é com aquelas merthiolate.
para algumas, muitas vezes não era adequada ao exercício da atividade, pois, via de
regra, a função de parteira não era a principal. Geralmente contratadas para outra
atividade, como visto anteriormente, como serventes, essas mulheres se interessarem ou
eram requisitadas para auxiliar nos partos até se tornarem parteiras de fato.
3.4.1 O deslocamento
Ser parteira significa estar disponível vinte e quatro horas por dia, pois o momento
do nascimento não tem hora, nem lugar, marcados, considerando, evidentemente, um
parto eutócico normal. Somando a isso as informações coletadas, das peculiaridades da
zona rural do Estado, pode-se aferir as dificuldades por que passaram essas mulheres,
por exemplo, no deslocamento para a casa das parturientes.
Guiomar: Às vez, de pé, levando chuva, outras vez de bicicleta, outras vez
ia com o menino nos braço, com o menino novo de resguardo, como essa
que eu ganhei no mês de dezembro. Eu fui com 20 dias, eu fui lá pro
Cancelão, lá em cima, chovendo e o meu cumpade, que sempre todos
chamam cumpade, com a menina no braço e eu atrás. Quando nós chegamo,
32
aí, dento desse mei de mundo escuro, quando o sol clareava, você só via a
varendinha, quando o relampo abria, e a água dando aqui no mei da canela.
Aí, quando uma vez a gente ia, eu de resguardo, o cachorro deu uma
abocanhada assim na minha perna, que eu dei um grito maior do mundo, só
sofrimento.
Mesmo quando a casa da parturiente era longe, se estivesse chovendo, elas iam.
Como disse dona Margarida, do Crato, só não ia se estivesse muito doente, mas, mesmo
assim, ela ficava preocupada e terminava indo; ou seja, a preocupação e o compromisso
com a profissão sempre eram mais importantes e serviam de estímulo a não faltar com a
responsabilidade que assumiram.
É duas pince e uma tesoura e uma pincezinha dente de rato, que se chama
dente de rato. Que são três pince, gaze, algodão, essas coisa assim... álcool
(...). Tesoura, uma dente de rato e duas que servem pra grampar de um lado e
do outro que é pra cortar no meio o cordão.
Passava álcool nele, puxava com minha própria boca, puxava as coisa do
nariz, da boca. Isso, por que naquele momento, eu queria era salvar, não
queria saber o que eu tava fazendo, mas eu queria salvar, eu fazia isso pra
salvar. Quando eu via que a criança tinha nascido e tinha engolido muito
secreção do parto, né? Depois [é] que a gente vai pensar. (...) naquele
momento, eu não via nada, só queria ver a felicidade daquela criança.
33
3.4.3 Auxiliares
Os homem não tinha filho não, o filho era dos dois. Então o marido tinha que
se preocupar com a mulher e com o filho da mulher. Por que o que a mulher
sentisse, o bebê tava sentindo, se o marido brigava com a mulher, o bebê
ficava triste lá dentro. Por que ele tava escutando ... o bebê conhecia a fala
da mãe na barriga da mãe, e a fala do seu pai, os pais tem que acariciar, ele
não tá vendo, mas ele tá ali.
E tinha deles que até que chegavam, até que me ajudavam, quando era
mulher fortona, que eu não podia, depois que o bebê que já tava pra cair
mesmo, pra criança nascer, a pessoa não tem coragem pra nada, né? A gente
ficava ali. Aí, às vezes que ela ia se levantar, qualquer coisa, eu chamava o
caba: vem cá! E ele vinha: levanta ela aqui, assim. Às vezes, segurava ela
nos ombro, e eu ficava na luta.
Nunca cobrei não, nem quero cobrar nunca. Uma coisa, o dom que Deus me
deu, eu ajudar aos meus irmãos, eu ficava tão feliz. Mas eu ficava feliz
[também], quando eu via aquele bebê com saúde. Nunca fiz nem cobrei
nenhum, nenhum parto, meu Jesus!.
Afirmou, porém, que sempre ganhava alguma coisa pelo trabalho realizado, um
“agrado”, procedimento comum em cidades pequenas. Dentre os depoimentos sobre o
que recebiam como pagamento, os presentes destacados são simbólicos e, muitas vezes,
demonstravam a condição de miséria da população, como se pode ver na narrativa de
Margarida, da cidade do Crato:
Há um caso, contado por dona Adelita, da cidade de Baturité, em que ela ficou
assustada com tanta miséria. Ao voltar para casa, foi procurada pelo marido da
parturiente que lhe trouxe dois pãezinhos enrolados num papel, como forma de
pagamento por seus serviços. Ela agradeceu, mas pediu para ele dar os pães aos filhos,
pois a família era extremamente pobre.
Portanto, diante de uma vocação que parece mais divina do que técnica, cobrar
de seus clientes cuja situação financeira era miserável era como se fosse um sacrilégio,
pois partejar, mais do que uma profissão, era um dom.
35
Qualquer atividade laboral possui riscos, algumas com maior e outras com menor
intensidade. No ofício de parteira, o risco se apresentava de várias formas. Desde o
deslocamento, como visto, pois poderiam surgir problemas, como chuvas, alagamentos,
caminhadas durante a noite sem boa iluminação, podendo se deparar com cobras ou
sofrer algum acidente de trajeto. Em seqüência ao deslocamento, o momento entre a
chegada à residência da parturiente e a concretização do parto era repleto de motivos de
estresses: quando a família era extremamente pobre, a parteira tinha que munir a
parturiente com paninhos para o bebê, ou tinha de ela mesma fazer uma refeição para
ser dada pós-parto e tudo isso no aguardo de que o parto transcorresse normalmente. Se
complicasse, em alguns casos, quando era possível, tinha de providenciar um transporte
para transferir a paciente ao hospital mais próximo, momento a partir do qual ela
passaria a ter menos responsabilidade, mas igual estresse. E caso não tivesse acesso a
essa possibilidade, teria que ela mesma (e “Deus”) ultrapassar as dificuldades. Dona
Guiomar tinha segurança de que seu dom era infalível: Aí parece que era um dom que
eu tinha que quando eu chegava lá e não dava pra mim resolver ai eu já levava pra
cidade.
Essa mulher nunca tinha ido a médico, nunca. O marido dela não deixava ela
ir no médico, era a maior coisa. Aí, tinha o asseio, né? Que eu fazia, antes de
eu fazer o parto. Eu fazia o asseio do jeito que era pro doutor pegar. Por que
se fosse preciso o doutor pegar, já tava livre, né? Aí, nesse dia eu fui fazer
esse parto. Passei a noite trabalhando. Aí, quando foi na hora d’eu fazer o
asseio, o ‘home’ pegou uma faca grande, botou em ‘riba’ da mesa:
- Se a minha mulher morrer, eu lhe mato em ‘riba’dessa cama.
- Morrer por quê? Não, não dá pra morrer não”,
- Não, por que eu nunca ouvi falar nesse negócio aí.
Eu disse: Isso aqui é mandado pelos médico.
Aí, botou a faca lá, chega bufava.
Mas eu tinha moral no meu trabalho. Quando eu dizia que ia fazer uma
coisa, eu fazia.
Aí ele, ele foi, botou a faca assim. Aí, começou a falar que eu só não era
gente. Levei o nome de tudo, quanto era no mundo, eu levei.
Aí, eu fiquei ... mas, eu não saí de perto, não. Fiquei rezando.
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Você acredita que foi daí de Boqueirão até Russas, a mulher não deu mais
um gemido! Aí, eu fiquei... eu peguei nela, ela parada. Chamei o nome dela,
ela só fez olhar assim. Peguei no pulso dela, o pulso fraco. Aí, eu:Puxa pelo
pé. Com o Carlos o dono, o motorista: Puxa logo!
E ele: Tá acontecendo alguma coisa?
Eu: Num tá nada bom aqui, a mulher não tá bem.
Chegamos lá no hospital, não tinha vaga.
Aí, nós: Vamos pro outro. Vamos!
Aí, também aquela dificuldade.
Aí, eu disse: Olha eu quero uma maca pra tirar essa mulher daqui pra vê se
salva ela.
Aí, eu até entrei, mulher! Na sala de cirurgia, o médico tentando fazer, pra
vê se salvava, mas a pressão zero já. Nem fez a cirurgia, por que não podia
com a pressão baixíssima, não podia operar com a pressão já baixa.
(...) Mas não deu tempo salvar nem a criança. A mulher morreu.
Assim, ser parteira nem sempre significava experenciar situações boas, felizes,
como contou dona Leninha em seu relato.
Uma das situações mais difíceis, durante o parto, relatada pelas parteiras, era o
“segundo parto”, ou seja, a saída da placenta, conforme indica a narrativa de Margarida,
de Palmácia:
(...) ficava umas duas ou três horas olhando a testa. Por que se esfria é
hemorragia interna. Só depois eu ia embora.
As que tinham contato mais próximo com o sistema de saúde formal, quando
deparavam com as complicações no parto ou distocias (e a dificuldade do segundo parto
é uma delas), imediatamente encaminhavam a parturiente para um hospital, ou
chamavam por um médico, como relata dona Raimunda, de Crateús:
Pois era, sei que era perigoso mesmo, cansei de correr ali e chamar o doutor
Soares pra tirar o segundo. (...) mas isso aí, eu nunca fiz, de tirar o segundo
parto, não. Eu não confiava não, meter a mão lá por dentro, sem saber o que
era que eu tava pegando. Aí, era pra quem era entendido.
Nem sempre, no entanto, havia médicos por perto. Nesses momentos, quem
resolvia o problema era a própria parteira, com sua sabedoria sobre o assunto. Dona
Francisca, também de Cratéus, relatou que rezava com a parturiente em voz alta a
oração de Santa Margarida para a placenta sair:
(...) pra mim, não tinha nada difícil. Por que, ela chegava e aí, eu examinava
ela e eu dizia: Tal hora, até tal hora, você ganha esse menino.
E ganhava mesmo!
38
Examinei ela e disse: olhe, daqui pra seis horas, você ganha esse menino.
Eu tinha esse dom, minha filha, antes do sol se pôr o menino nasceu. Dalva.
9 Sobre a relação do trabalho das parteiras e as crenças e religiosidades será visto mais profundamente no
capítulo quatro.
4 PRÁTICAS CULTURAIS PRESENTES NA ARTE DO PARTEJO 10
Esta frase de dona Fransquinha, de Crateús, indica como essas mulheres tinham
consciência da complexidade dos seus ofícios. Quando contavam suas histórias, as
parteiras destacavam marcas, desejos, memórias e contavam suas experiências,
definindo como central no seu trabalho de parteira a doação, o ato de fazer partos como
missão, como um dom de Deus.
Hoje, não praticam mais o ofício, mas muitas continuam sendo procuradas por
pessoas da comunidade para dar conselhos, orientações a respeito de saúde da mulher,
cuidados com o bebê e, ainda, “rezam” em crianças, em adultos, rezam para tirar dor de
cabeça, dor de dente, “mau olhado”, dentre outros. Seus conhecimentos e experiências
como parteiras, e, em alguns casos, como rezadeiras, são reconhecidos através das
gerações no âmbito da cidade onde residem. Em certa medida, indicam que o “dom”
que possuem, continua - no sentido de fazer o bem, ajudar as pessoas para curar dores -,
como tinham para ajudar a nascer, ou como elas mesmas dizem “aparar” crianças.
No tocante a estas práticas culturais no cotidiano das parteiras entrevistadas, nota-
se que estão presentes ainda hoje, como pode ser percebido nas falas em que apresentam
uma rica e diversificada receita para o tratamento da mulher e da criança no trabalho de
parto. É interessante destacar que este aspecto foi evidenciado pelas parteiras e pode
revelar a cultura popular expressa nas crenças passadas pela tradição da oralidade e que
sobrevivem através de gerações.
Muitas delas eram chamadas para rezar nas pessoas da comunidade, como
informa Patrocínia, da cidade de Barbalha: rezava pra saber como ela [a parturiente]
estava se sentindo, como é que estava o parto dela, que já vinha acompanhando, agora
no pré-natal.
Feita esta observação, a vida de mulheres trabalhadoras rurais e/ou pobres das
periferias das cidades era conhecida pelas parteiras que as assistiam, morando ou não
nas redondezas, mas que atuavam considerando as carências, limitações e necessidades
das populações com as quais convivia, principalmente respeitando suas particularidades
culturais, sobretudo por que elas provinham do mesmo local ou de lugar semelhante,
sentindo-se mais do que parteiras, pares, com trajetórias semelhantes. Esse modo de
partejar marca um modelo diferente, por exemplo, do padrão de partejar do sistema
formal de saúde.
Partejar, para essas mulheres, era mais do que um ato solidário, era um momento
de partilhar experiências de vida, de responder ao dom de que se sentiam investidas.
Todo saber era valorizado e utilizado para ajudar no momento do parto, a ajuda do
marido, como já se viu, ficar sentada, deitada, sozinha, acompanhada, gritar, chorar e
rezar.
Tudo está contido no ritual vivido pela parturiente e pela parteira. No relato de
dona Patrocínia, é possível observar a centralidade que a reza tem no processo do parto:
Eu era chamada pra fazer reza, mas nas pessoas que eu já ia. Que eu rezava
pra saber como ela tava, como é que tá o parto dela, que eu já vinha
acompanhando (...) Tem a oração do Senhor do Bonfim, que a gente reza na
barriga, e a mulher era logo aliviada. Se tiver em perigo de parto, era logo
aliviada. E tem aquela, tem também a oração quando a mulher ela ganhava a
menina, a gente não deixava ela fazer força.
Eu rezo tanto. Quando eu tenho uma aperreada, [eu digo:] minha filha, tenha
calma, que Deus está segurando na sua mão e seu neném só nasce na hora
que Ele marcou, enquanto isso ele não nasce, só na hora que Deus marcou,
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porque aquela hora é a hora marcada, nós não marcamos por qualquer
maneira, não. Todos nós temos a hora de nascer, nem que faça o que fizer,
não nasce antes da hora. Aí, Ave Maria, lembro a ela pra se lembrar de
Jesus, pegar na mão de Nossa Senhora, rezar, pedir a Deus, elas fazem. As
bichinhas são boazinhas. A minha oração, a oração minha é só a fé em Deus,
só é fé em Deus, “segure na mão de Jesus que ele está segurando na sua”.
Sou católica. Eu só gosto de conversar com as pacientes e dizer quem é o
nosso dono, nós só temos um dono, que é Deus. E é ele que faz a hora.
Dona Maria Vieira, de Beberibe, costumava pedir a Deus sua proteção na hora
de partejar, mas a força que ela alegava possuir vinha de uma oração escrita em um
papel que sua avó parteira (que ela insistia em chamar carinhosamente de cachimbeira)
havia lhe entregue:
Minha avó dizia que quem tinha essa oração em casa estava livre de morte com
faca, roubo, morte súbita, de parto, de fome... eu colocava a oração nos peitos
dela e dava certo... mas eu nunca fui atrás de saber que oração era...
Mesmo as parteiras que disseram não rezar na hora do parto, demonstraram
alguma crença ou fé, como é possível perceber no relato de dona Raimunda, de Crateús:
Eu nunca rezei. Não que eu não sabia. Nunca aprendi oração nenhuma. Mas
tinha a Nossa Senhora de Bom Parto, mas eu não fazia oração nenhuma. Só
fazia pedir a Deus mesmo, me valei-me, chamava Nossa Senhora pra estar
comigo... Às vezes, assim de uma pessoa que, eu me aperreava na hora do
parto da mulher que faltava, eu me valia de uma pessoa que eu sabia que ela,
a criatura, já estava na outra vida e podia me ajudar. Como a finada Maria
Francisca, uma velhinha que morreu em meu poder... Ainda hoje eu chamo
por ela quando eu me vejo aperreada, peço ajuda dela e vejo, não sei se
tenho fé demais, mas dá certo, dá certo. Me lembro dela aí chamo ela.
passa a mão na sua cabeça. Parece que você fica com tanta felicidade, que
você vai sorrir com o vento. Olha, é uma horinha, que é uma hora que, só
quem não sentiu essa dor foi Nossa Senhora, que nós passamos, é uma dor
pra poder vir um desses, que é uma coisa tão bonita, tão linda. Não é ruim
ter menino não. Vamos pedir a Jesus que seja bem normal, e seja por onde
você recebeu ele, por onde você concebeu ele, se Deus quiser, você vai
pegar ele nos seus braços.
Tem a imagem de Nossa Senhora do Bom Parto. Elas dizem assim: Oh!
minha Nossa Senhora do Bom parto, me ajude a ter neném. É assim, Nossa
Senhora do Bom Parto. Essas que são católicas, né? As que não são católicas
se valem de Deus, Jesus Cristo, as que são evangélicas. Tem das que não
sabem se são católicas, se são evangélicas e se valem de Deus dizendo
assim: ah, meu Deus, meu Deus me ajuda, oh! Dona Margaridinha me
ajuda, me dá sua mão aí pra eu segurar. É desse jeito. Eu tenho essa
experiência, eu não sei se é besteira, mas eu tenho pra mim que quando faz
força na minha mão, a dor fica e não desce.
Eu só fiz perguntar: cumade Luiza e a reza que a gente reza quando a gente
sai pra ir fazer o parto? Aí, foi, ela disse: minha filha, a gente reza a Salve
Rainha até nos amostre. Se você errar, tem embaraço.
“Embaraços” podem ser previstos de outras formas, como no caso de dona Dalva,
de Crateús:
Só uma mulher que eu assisti com ela, e ela depois do parto, teve
normalzinho o menino, mas o doutor Abidoral já tinha passado por lá e tinha
dito: Olhe você tenha cuidado que você... talvez você.... Disse para o marido
dela que [talvez] ela vá morrer desse parto! Aí, quando eu saí, eu saí assim
com um receio minha filha. Eu primeiramente, eu fui pegar um menino ali
perto. Era até de uma comadre minha. Aí, eu disse assim: Compadre, eu não
queria ir. Me deu esse negócio. Aí, ele disse: Não comadre, faça isso não.
Quando eu cheguei no caminho, encontrei um negro e uma negra, que
moravam perto. Me deu um arrepiamento tão grande, que eu disse:
Compadre, eu não vou mais não, vá em Crateús buscar um carro, vá buscar
um carro pra ir levar ela em Crateús. [E ele disse:] O que foi que você viu
comadre? Eu disse: Me deu uma coisa ruim, não vai dar certo não. Ela teve
o menino, mas morreu!
45
Além das rezas feitas antes e durante o parto, também havia a reza para ajudar
num dos momentos mais delicados, como já vimos - a saída da placenta, também
conhecida pelas parteiras como “segundo parto” e “mãe do corpo”:
Além da reza, dona Fransquinha utilizava outros ritos para auxiliar nesse
momento. Um deles era a parturiente vestir a camisa do marido: Veste a camisa do
marido que é pra num ficar parte nem custar.
Também dona Adelita, de Baturité, recorda de alguns procedimentos utilizados
pelas próprias parturientes para auxiliar no “segundo parto” ou saída da “mãe do
corpo”:
Eu fiz um parto uma vez, a mulher estava no sexto filho. Depois do parto,
deu tudo direitinho, e a mãe começou a soprar as mãos e disse que era para a
mãe do corpo sair. Outra vez ouvi que vestir a camisa suada do marido, pelo
avesso ajuda a sair a placenta. Ela chamava a placenta de mãe do corpo.
Carne de porco, só se fosse o primeiro menino, ela podia comer dos seus
vinte dias em diante, tatu ela podia comer, já peba não. Feijão de corda só
quando tivesse pelo menos com quatro dias, o feijão mulatinha podia comer
até na hora que ganhasse.
(...)
Tapioca, dar a tapioca pura não pode, por que pode dar, o pessoal não fala
muito no corrimento de mulher, tando de dieta não pode, assim, pelo menos
no começo dos primeiros dias tem que fazer misturado com a farinha, pouca
farinha, mas tem que usar.
Era assim: quando a mulher tava sofrendo a pessoa pegava e fazia um chá de
pimenta do reino e dava. Os médicos agora num querem que dê, por que diz
que faz mal ao coração. Aí, faz aquele caldinho insosso e dava à mulher pra
tomar. Era desse jeito. Você podia dizer que a mulher tava grávida, tomasse
um susto, aí fazia o remédio e era assim: pegava a chaleira, botava no fogo,
aí botava aquela água e dava à mulher pra beber. Que é bom.
(...)
Só a água quente. Que é pra num perder a criança. Ê! Minha filha. Aí,
quando a mulher ia ter o menino, a gente fazia o chá pra resistir as dor, né?
Da pimenta do reino. E dava.
(...)
Ardia que só pimenta mesmo. Aí, tomava. Chega ficava pra morrer com a
boca ardendo. Mulher, a gente sofria demais. Quando num era, pegava essa
manteiguinha da terra, amornava e dava pra mulher tomar.
Dona Maria Vieira, de Beberibe, fazia o caldo de pimenta apenas com farinha
peneirada (cevada, como ela referiu) e a pimenta. Ela não colocava sal para não “subir a
pressão” explicou.
O conhecimento das ervas também era utilizado para cuidar das crianças,
conforme aponta Dona Patrocínia:
Patrocínia: Por exemplo, criança chora às vezes com dor de barriga, num é?
Aí pegava a alfazema, queimava, aí tirava o leite de peito e dava pra criança
tomar que era um santo remédio. Hoje em dia é só remédio. De farmácia. Só
remédio de farmácia. Hortelã também é muito bom pra dor de barriga. As
mulher dava o chá... hoje num é mais pra dar chá à criança. Que diz que dá
cólica, dá num sei o quê... nada disso faz mal. Tudo era bem. Quando era
época da criança tá com diarréia, você pegava aquela goma aí fazia aquele
mingau... de cidreira, o chá. Aí dava aquele mingauzinho pra’quela criança
pra passar a dor de barriga. E servia. Hoje num serve... que tudo faz mal.
Todos esses elementos deixam entrever o lugar dado à tradição nos relatos das
parteiras. Eram procedimentos nos quais todos da parturiente, a família dessa e a
comunidade acreditavam na eficácia. E por isso eles adquirem um grande espaço em
seus relatos.
Importante é salientar que todo parto inclui não somente o ato de aparar uma
criança, mas de prestar os primeiros cuidados. Nessa atividade também havia rituais e
práticas especificas para os recém-nascidos: defumar o umbigo (pratica de soprar a
fumaça do cachimbo no umbigo após cada banho); jamais banhar a criança no sétimo
dia de nascido (poderia banhar antes e depois, nunca no sétimo dia); quando o umbigo
caísse, colocar um botão no lugar; usar uma fita vermelha no braço para espantar mau-
olhado, entre outras que as parteiras ensinavam as recém-mamães. Eis alguns
depoimentos de dona Fransquinha:
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Elas chamavam e dizia: Olha meu filho, é sua mãe, sua mãe.
Não [me] chamavam de parteira, era tudo cumade.
Era mãe de fulano, mãe de cicrano ... era assim.
história de vida da mãe, procuravam conversar e colher informações sobre sua saúde,
acerca de como tinha sido sua gravidez e a respeito do relacionamento com a família. O
relato de dona Adelita, da cidade de Baturité, demonstra essa preocupação que a parteira
tem com a parturiente, inclusive quando esta não fazia parte de seu círculo de amizades:
A gente tem que saber cuidar do menino, do feto, depois a mãe. Saber
quando a mãe está bem, saber dos sinais vitais, se aquela mulher vai ter
condições. Saber da gravidez, se é casada, se o marido é bom pra ela, se o
homem bebe. A gente tem que fazer essas perguntas, por que não fui eu
quem fez o pré-natal, ela só veio ter.
O relato de dona Adelita deixa claro que a preocupação dessas parteiras não
estava relacionada somente com os sinais vitais da parturiente, pois era importante para
elas, também, por exemplo, ter informações sobre o tipo de relacionamento que a
mulher tinha com seu marido; questão que vai além de um diagnóstico clássico
(baseado na Medicina formal) e adentra questões subjetivas e culturais.
Eu digo: minha filha tenha paciência, que ele entrou só um grãozinho e pra
sair desse tamanho, minha filha, tem que sentir alguma coisa. (...) Mas
quando a gente chega perto, elas se acalmam, mas tem delas que são
escandalosas mesmo. Mas também a dor deve ser grande, né? Acho que
existe dor uma maior do que a outra. Por que umas suportam e outras não.
Além disso, a parteira mais do que orienta, segura, “dá carinho”. E o carinho, o
toque, tem um papel importante, como se observa no relato de dona Margarida:
Quanto mais a gente dá carinho, melhor é. Se a gente for com abuso, for com
ignorância, a mulher fica nervosa (...). Seguro, dou carinho. Dou minha filha,
carinho, por que eu sei que é uma dor grande. A mãe que está pra ganhar um
bebê é uma dor grande, grande mesmo. Se às vezes a mulher morre de parto
é a dor, e se a pessoa não der carinho como é que pode ser?
O relato dessas mulheres demonstra que ser parteira é ser a principal referência da
parturiente durante o processo do parto, que vai além do momento do nascimento,
fazendo parte também o pré-parto como vimos, mas também o pós-parto, que muitas
vezes durava meses.
Quando os partos eram feitos em casas de parto ou nas casas das próprias
parturientes, as parteiras faziam inclusive a comida da parturiente, como aponta dona
Dalva na sua fala:
53
Ficava até cair o umbigo, e cair os pontos dela. Uma semana, oito dias, às
vezes 6 dias, muitas queria um mês, o mês todinho. Eu ia, fazia (...).
Orientava. (...) Chegava lá, botava ela pra tomar banho, depois do banho (...)
a gente ia fazer o curativo, botava tudo enxutinho, tudo com mercúrio, ou
merthiolate, do jeito que médico passasse, ou a pomada do jeito que o
médico passasse. E ali ela ficava só trocando o modess, até o outro dia que a
gente chegava lá. Depois dos pontos caídos, não [vou mais], já tá tudo bem,
né?
Além, das crianças receberem a assistência das parteiras, geralmente até “cair o
umbigo”, também o cuidado com a higiene e tratamento do local era de
responsabilidade da parteira, segundo comentário de dona Guiomar :
Pegava, às vezes, (...) dava um banho, ou então, nessas vezes limpava bem
limpim, deixava lá. Quando era no outro dia, era que eu ia banhar, por que
sempre explicavam que não era bom banhar na hora que a criança nasce, por
que diz que é muito quente.
Aí, sempre eu carregava assim um óleo, alguma coisa, limpava bem limpim,
aí arrumava, botava lá e vinha pra casa. No outro dia, ia lá, durante aqueles
dias até o imbigo cair eu sempre acompanhava, num sabe? Pra botar um
remédio no imbigo, pra ver como era que tava, se o povo tava cuidando
direito. Aí, depois que caía o imbigo, eu diminuía.
Diminuíam as visitas para cuidar do bebê, mas como visto, entre parteiras e
recém-nascido, cria-se um laço de afinidade, que chega às vias do parentesco. Todas
elas contam com orgulho que possuem muitos filhos espalhados pelo mundo e que as
crianças quando viam suas “segundas-mães”, não deixavam de pedir a benção, como
destaca dona Fransquinha:
A importância que tem essa relação para as parteiras pode ser observada, por
exemplo, no fato de dona Dalva, de Crateús, fazer questão de ressaltar a forma como foi
cumprimentada por uma criança, que chegou durante a entrevista que estava dando:
Você viu esse aqui tomar a benção: mãe Dalva. Tudo chamam mãe Dalva. E
eu tenho maior prazer na minha vida!
E o orgulho que essas mulheres têm por seus “filhos” ultrapassa tempo e
fronteiras. Fazem questão de lembrar os que moram em outros estados, que estudaram e
se formaram médicos, advogados, que já estão adultos e “encaminhados” na vida. Uma
situação que tanto demonstra a relação próxima e subjetiva que essas profissionais têm
com as pessoas a quem ajudaram a nascer, quanto, de certa forma, também legitimam o
seu trabalho. É o que aponta dona Fransquinha em seu depoimento:
Tem filho meu morando em Teresina, no Rio de Janeiro. Em São Paulo, tem
filho meu.
A parteira tem tanto orgulho, quanto a própria mãe, de ter um “filho” com uma
profissão valorizada na comunidade, como a de médico, de secretária da saúde, segundo
D. Adelita:
É uma amizade, por que quando nós se encontra, é uma amizade tão bonita,
que estremece o coração da gente, a gente sente mesmo a emoção. Por que
as pessoas fica de parto fica assim, surge uma amizade tão bonita, mas é isso
que me interessa muito.
E essa amizade é permeada pelo objetivo que todas têm de salvar vidas, ajudar
quem está precisando, como indica a narrativa de dona Fransquinha, de Cratéus.
uma amizade sincera. Que dali ficam respeitando a gente, né? É bom, muito
bom.
O apoio e ajuda que essas mulheres davam às famílias das parturientes iam além.
As famílias mais carentes recebiam os mais variados produtos, como panos necessários
para a criança após o nascimento, lençóis, camisolas, comida, medicamentos da parteira.
Muitas realizavam mutirões na cidade para arrecadar produtos para levar à parturiente.
Esta é uma realidade para dona Guiomar, que assim relata:
Aí, pegava assim um monte de coisa, levava, lençol, cobertor, coisinha que
servisse pra aquela criança e pra mulher também, aí levava. E depois disso,
ainda ia pedir ajuda a alguém pra aquela criatura. (...) Ás vez, levava
dinheiro, lata de leite, roupa, fardo de massa, trazia muita coisa. E às vez
vinha naquele dia e depois ainda vinha novamente.
Reste evidente nessa relação é que se constrói e acontece de uma forma muito
próxima. Parteira e parturiente compartilham códigos culturais e esses as aproxima,
configurando um parto diferente daquele realizado por um profissional da área da saúde,
onde esse vínculo não faz parte do processo. Esse aspecto parece ser central para o
papel que a parteira, tanto tradicional como profissional, possuía na arte de partejar. E
sobre essa relação humanizada do parto elas nos oferecem um modelo de relação
diferente de assistência à saúde e ao partejar formal.
É desse jeito...
O início...
“A minha vó me pediu pra mim entrar com umas mão-de-obra assim, num sabe?
Ferver as linha, desinfetar aquelas tesoura, aquela linha era uma linha que pra desinfetar
a gente guardava numa caixinha, ela era desinfetada também, não tem os aparelho de
injeção? Eu aplico injeção também. Passava álcool, e ali fervia, tesoura, a linha, e ali ela
me ensinava tudo, então ela já ficou meia cega, quando ela ficou cega, aí ela disse
“Olha, agora é com vocês”. Quando a mulher tiver a dores só pra trás, a gente pega
assim na mulé, ela deitada mesmo, porque tem mulé que tem desses forte e outra que é
mais fraca né? A dor no pé da barriga, com a dor, então você faz o toque, suas unha tem
que ser cortada, unha bem cortadinha ...
toque. ... porque a mulher tem um organismo que se chama dona do corpo, que quer
tomar a frente do bebê, entendeu? (referia-se a placenta). A gente fazia o toque, na hora
que ela (a dona do corpo) sentia o cheiro do alho, ela já ia pro local dela .... A gente
fazia o toque, se for de cabecinha, a gente vê, reconhece quando o menino é normal. E
tem a reza que a gente sabe, porque o dom mesmo é dado por Deus, por Jesus, porque a
gente conhece, quando a dor é no trivial (apontava para o púbis) certo, a mulher tem
menino normal, no toque a gente sabe se ele tá de cabecinha, tá de bumbum, se o causo
é muito perigoso, a gente ajeita, nós vamos tirar as pressas....tem que arrumar um carro
e levar pra cidade, entende?... Ficava aguardando, quando as dores tava, as dores tava
faceira, preguiçosa, a gente mandava mornar um ovo e ele ficava com aquela clara
quando cozinhada mais que a gema, mole, não muito cozinhada. Botava a pimenta do
reino e dava pra mulher tomar... mas também manteiga da terra... E era ovo de
capoeira. Depois a gente dava um chá de pimenta do reino pra aquelas dores, pra mulher
não ficar sofrendo, aquelas dor machucadeira, pra elas chegar e vim de melhor à
melhor, pra gente quem tá sofrendo quer ser aliviado....
Entre a fé e as superstições...
...Tem a oração do Senhor do Bonfim, que a gente reza na barriga, e a mulher era
logo aliviada. Se tiver em perigo de parto, era logo aliviada. E tem aquela tem também a
oração quando a mulher ela ganhava a menina, a gente não deixava ela fazer força,
porque tem delas que não queria ficar deitada, a gente fazia o gosto, eu via o marido
dela lá em cima, na cabeceira, e ela assim, nem muito deitada, e nem também sentada,
porque não queria sentar, porque quando o bebê tava pra troar ninguém pode deixar
sentar. Quando elas ia pro assento, sentada na cama, e eu puzia ela aqui, ela ficava nem
sentada nem de coca, eu aqui, ela aqui nessa posição, botava uma coberta na frente, só
que, quem via só sabia que o trabalho era por ali, mas ele (o marido) mesmo não via, ...
a gente não gostava de muita gente não, a gente tem aquelas tradição de família de achar
que alguém fique conversando lá fora, a não ser que fosse uma pessoa de confiança pra
ajudar a gente.
O nascimento...
“Aí a gente dizia ‘Oh, tem que ficar aí, vai ficar aí’. A nossa força é a primeira de
Deus, a segunda a sua e a dela, e a senhora crie coragem, porque sua mãe passou por
isso quantas vez? Tinha delas de ter 24 filho, outras de doze, naquele tempo mulher
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tinha filho... Aí eu pegava nos dois joelho dela e não deixava ela passar... sentava
mesmo, com um pano ali, botava ali, porque ela não ficava sentada na cama, ela ficava
assim, encostada de coca mas não de coca também, e eu ali, quando ela não queria e
quando tinha o bebê, o bebê ficava no pescoço, e ela, a dor ia simbora, acabava as força,
porque tem mulher fraquinha... ‘força minha filha’, ‘eu não tenho mais’, abre a boca sua
aí, aí quando metia a minha mão, a minha mão sebosa né? Metia a mão na boca dela e
dizia ‘Abre a boca bem aberta’, aí a força chegava, porque a força quando a gente tá
assim (de boca escancarada), tá lá embaixo... pegava assim nas perna dele (do bebê),
Oh! Pegava um pouco de álcool, limpava primeiro o narizinho, pra não deixar ele
engolir né? Pegava assim nas perninha dele...
Ali a criança começava a qüen, qüen, qüen, deixava chorar bastante pra deixar
receber aquele ar, porque aquele ar é vitamina, doía aquele ar, mas vem a vitamina pra
ficar forte... o dedo aqui na tripa do imbigo, quatro dedo, daqui eu pegava uns cinco, lá
do cordão umbilical, ficava puxano, e com a mão ali, puxava, bem aqui eu dava o nó
aqui, bem dado, (mostrava nu cordão que estava sobre a mesa), aí danava a puxar pra
cá, aquele sanguim que vem no cordão umbilical, aí eu dava os nó. Quando eu cortava
era aqui, ficava com os dois nó, um aqui e outro aqui. Eu ia confiando, os paninhos
fininho de... que hoje existe ainda, morim alvejado, não sei como chamam de morim,
daqueles bem ralinho. E eu pegava essas coisa né? Cortava três tantim ali, ia pro
candeeiro, juntava ali, dobrava bem dobradim, botava ali. Dobrava o pano assim, aí
nesses bico aqui eu dobrava outra vez, pra ficar assim, quando fica assim (mostrava com
aponta da blusa).
‘A gente tinha aquela competição (queria dizer, empolgação) de às vezes dizer ‘já
ganhou, já ganhou’, ninguém ganhou menino aqui, fiquem calado. Enquanto a mulher
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não sair a placenta, ela não teve menino ainda. Aqui não nasceu ainda, não nasceu
ainda, ninguém sabe, porque ninguém diz, se é homi ou mulé. Isso é coisa da gente
mesmo, se tava tudo direitinho. Deixava ela bem limpinha, limpava ela com o pano, eu
pegava nas perna e o marido botava na caminha, porque tinha uma paninho que a gente
botava assim... que puxava pra frente, botava ela de bandinha, e tinha, o marido dela e
ela de banda, pra esses osso (mostrava o local da bacia), é procurar o lugar deles.
Pronto, dor no quarto a mulher não sentia mais, entendido?
Desfecho....
“Na hora que a mulher saísse da cama o capão tava pronto pra dar um prato de
pirão, não tem esse negócio não, era um prato de pirão com arroz. Eu só saia quando
comesse o pirão mais ela. Mas tinha que ser a carne branca, o resto do capão dava para
as outra pessoa da casa” (D. Patrocinia)
Contração e Beliscão
Uma vez nós descemos era 4 horas da manhã com uma senhora que estava tendo
um problema, não podia parir aqui, o médico não estava na Cidade e nós descemos, eu e
a parteira 4 horas da manhã num jipe, o jipe sem freio, pra levar essa mulher pro
hospital, pra Maternidade-Escola. Nesse tempo também eu desci mais a minha colega,
um sufoco tão grande e a mulher estava esperando neném com as contrações muito
fortes e a bolsa rompeu e quando a bolsa rompeu apresentou logo o pezinho da criança.
Nesse dia foi no hospital comunitário e a Dona Zilda “e agora o que vai fazer?”, já era
quase 11 horas da noite e tinha outra mulher pra ganhar neném. Essa que estava com a
bolsa rompida foi no carro, numa carroceria. Em cima do carro, o carro correndo a
estrada e a gente vendo assim e tinha uma tábua e a gente vendo assim a estrada e eu
disse assim “meu deus Lucilene é um sufoco”, “Lucilene pelo amor de Deus!” e a
mulher lá embaixo´, a outra mulher mais o motorista quando vinha a dor beliscava o
pobre do motorista. Beliscava e nós em cima mais a outra com o pezinho da criança
apresentando, apresentando. Minha filha, foi um sufoco tão grande nesse dia, foi um
sufoco que eu disse “Lucilene, pelo amor de Deus, Lucilene”, aí graças a deus quando
nós chegamos à maternidade fomos logo recebidas, mas o carro desse jeito minha filha,
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eu não to lhe dizendo, faltando uma tábua assim na carroceria. O carro correndo e a
gente vendo a mulherzinha deitada no colchão, nós encostadas e a outra lá perto do
motorista, e quando vinha a dor dava um beliscão no pobre do João Luz (risos). Era um
sufoco!
Gêmeos no trânsito
Olha, uma vez, esqueci de te dizer, uma vez chegou uma mulher pra ganhar
neném, e essa mulher, ela não sabia que eram gêmeos. O doutor encaminhou pra
Fortaleza. Quando chegou ali no Maranguape não tem outra estrada nova, aí eu fui mais
o Célio, o motorista. Quando a gente vai a gente leva tudo preparado, leva a malotinha
com todo o preparo de parto. Aí eu fui. Tinha de tudo. São as pinças, a tesoura as gazes,
é a pêra de aspirar... Aí eu fui. Quando chegou lá na estrada a mulher “Dona
Margarida?”, “que é minha filha”, “parece que eu vou ganhar neném”. “Para, para, para
Célio”, e o Célio parou. Era uma e meia da tarde, um sol quente, numa estradona assim,
perto de um abrigo. Acho que era a estrada do Maranguape mais não é aquela que vem
porque não passa em frente do Maranguape.
Foi aí quando a criança nasceu. Nasceu a criancinha. Aí eu peguei e fiz o parto. Fiz o
parto da mulher e disse Célio, a criança não está bem não. Ele disse, “vamos já ali, pra
Albanisa”. E chegando a Albanisa eu entrei num hospital bem ligeiro, pra salvar a
criança. Chegando lá dentro, os cabelos eram bem grandes naquele tempo, eu correndo,
correndo... Cheguei e já “doutor, a criança não está passando bem não, está precisando
de oxigênio”. Nós não levamos oxigênio na ambulância. Ai o doutor botou no oxigênio
e o doutor perguntou “Como é o seu nome?”, “Dna Margarida, fique fazendo assim com
esses dedos”, eu fiquei fazendo e quando eu vi o bichinho já estava se animando. E
quando eu dei fé a mulher tinha ficado na porta, lá fora, pra depois a gente ir buscar a
mulher. Lá fora, de frente ao hospital Albanisa. Quando eu cheguei lá o Célio gritou
“Dna Margarida, chega aqui, a mulher está parindo outro menino!”. Lá se vai, e eu corri
e fui fazer o parto. Minha filha, mas nesse dia foi um sufoco. Aí eu fiz o parto da
mulher... Dentro do carro. Aí ela já tava na ambulância... E aí a parteira veio, pegou e
levou ela lá pra dentro e terminou o parto. Mas, oh sufoco! (risos)
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Aviso do Além
Aí eu disse: “No dia em que eu for pegar menino que eu ver aquela mulher eu não
vou, eu volto.” Aí o cara da bicicleta veio me buscar, quando eu cheguei ali pra lá
dessas casas, lá se vem o homem e a mulher, o negro e a negra, aí eu disse assim:
“Senhor pare aqui!.” Eu ia na bicicleta. Aí ele disse: “O que foi que houve?” Eu disse:
“Eu não vou mais não.” “Dona Dalva pelo amor de Deus não faça uma coisa dessas.” E
eu disse: “Vou não que a mulher não vai escapar, a mulher vai morrer.” Aí ele disse:
“Não tem não, ela tem lá uma parteira mais ela, é porque ela mandou chamar a senhora
que a senhora sabe mais do que...” Eu disse: “Eu posso ir, mas fica na responsabilidade
de vocês.” Quando chegou lá mulher, não teve jeito logo. Tão boazinha a bichinha,
mandou matar galinha pra nós almoçamos e quando foi a tarde ela começou as dores e
ai eu disse: “Não tem outra parteira por aqui não?” Aí ela disse: “Tem a tia !” Aí a
mulher chegou, aí eu disse: “Porque essa mulher vai morrer!” Começou nas agonia, teve
um parto direitinho, aí começou com agonia, com agonia, com agonia, aí eu disse:
“Bem que eu não queria vir! Eu sabia que essa mulher tinha perigo.” Aí ele disse: “Não,
mas a senhora não é culpada não.” Aí a mulher morreu.
Seu Luiz era um motorista, ele chegou ali na minha casa e bateu assim na porta,
eu tinha chegado da maternidade naquele instante, aí eu disse: “Oh! Meu Deus! Eu
queria tanto dormir!” Mas eu fui atender.
Aí ele: “Dona Cesária é o seguinte: parece que era Zé.. de num sei o quê!
[referindo-se não lembrar o sobrenome] Eu vim aqui por que ele mandou eu ir atrás de
uma parteira lá na favela, pra fazer o parto da mulher dele. E eu andei nessa favela
todinha e não encontrei essa mulher. Aí, eu disse pra ele, que tinha você, era uma
pessoa que entedia do serviço há muito tempo! Era melhor levar você. Ele mandou que
eu viesse, pra lhe buscar!”. Eu fui. Ô mulher de Deus! Mas quando, eu cheguei lá, o
homem morria de ciúme da mulher!
E quando, ele abriu a porta, ele botou só a cabeça e abriu gritando: “Entra! Entra!
Entra!”. Eu olhei pra traz, lá estava o seu Luis fechando a porta, eu disse: “Não seu
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Luis, num feche a porta não, espera aí, deixa eu ver a mulher, depois você fecha a
porta. [...] eu não sei como é que tá lá dentro, se precisar de você. Se num der certo aqui
eu vou embora, espera aí.” O seu Luis esperou. Quando eu cheguei lá, a mulher tava
morta! Quase morta mesmo, da cor de uma flor de algodão, bem alvinha! E uma listra
de sangue descendo pra cá, outra pra aqui. Que eu vi aquela listra de sangue, eu digo:
“Ave Maria! Mas que barbaridade é essa minha gente?” O homem disse assim: “Dona
essa hemorragia?” Eu disse: “Isso aqui é um crime!” Ele disse assim: “Essa hemorragia
começou ontem a espalhar no corpo!” [...] Corri, quando eu vi, o menino de fora.
“Seu Luis entra aqui.” “Eu posso entrar?” “Num venha me perguntar se o homem
pode entrar ou não, por que ele vai entrar!” “Seu Luis me ajude aqui por favor.” [...]
“bora seu Luis, bota dentro do carro esta cristã!”. “E peça passagem nessa rua!”
Ainda bem que era pertinho pra chegar aqui. Quando nós chegamos, aí menina,
eu vinha banhada daquela situação [...] só tinha sangue! O doutor tava lá e disse: “Dona
Cesária o que é isso?” “Tá aí,o marido! Taqui a esposa! E taqui a placenta!”.
O marido dela veio. “Não eu não gosto de ir pra nenhuma parte não!” “Não, mas o
menino ta chorando!” Ai foi o jeito que tem eu ir. Ai fui cheguei lá peguei minha
coisinha, cheguei lá o menino nuzinho. Lavei, ela toda direitinho. O segundo veio todo
direitinho todo direitinho e não tinha ficado uma pele de nada nela. Digo: “Taí se quiser
levar ela no hospital, leve e se não quiser, não leve. Mas ela ta muito friinha.” Porque o
banheiro tava muito gelado. Ai ele disse: “E ai?” “E ai que vamos esperar. Ou então
leve logo!” “E o bichinho?” “Se levar ela, leve o bichinho também.” Ai parece que ele
era dessas criatura descansado e não levou não, mas também a mulher não teve nada.
Boazinha que é Deus que ajuda que ela tava geladinha lá no banheiro, o chão tava muito
molhado e o banheiro não era muito cheiroso não, ai eu disse: “Leve!” Ai ele disse:
“Não vamos esperar mais, porque você acha que tem que levar?” “Não é porque ela ta
geladinha demais, pode ter alguma queda de pressão.” Ai ele ficou por ali, mexendo
(...), mas graça a Deus! “Pois daqui pra de noite eu quero saber - isso era um dia de
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domingo - eu quero saber lá pra sete horas, eu quero saber como ela vai. Se você não
levar, porque se você levar tudo bem.”.
Concorrência Desleal
Dona Eunice, parteira formada em Belém, retornou a sua cidade natal, Senador
Pompeu, a convite do Padre, que era dono do hospital da cidade, para trabalhar de
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(...) aluguei, abri uma porta de uma casa para outra e (...) no outro dia
butei na rádio que tinha saído do hospital nun dei satisfação a eles,
tinha saído do hospital e ia trabalhar a domicílio e atendia qualquer
hora do dia e da noite, aí pronto, acabou-se tempo ruim, fui ganhar o
meu dinheiro e ganhei dinheiro mesmo. Dona Eunice
Cumpre aditar que as bruxas parteiras são as que maiores males nos
trazem, pelo que nos contam outras bruxas penintentes: ‘Não há quem
mais malefícios causem à Fé Católica do que as parteiras’. Pois
quando não matam as crianças, para atenderem a outros propósitos
tiram-nas do recinto em que se encontram, elevam-nas nos braços e
oferecem-nas aos demônios (MURARO,1998).
as mulheres que queriam abortar, bastava saber como iniciar o aborto que depois do
resto ela cuidava e para a população não havia muita diferença entre fazer um aborto e
realizar a curetagem.
Ao sair do hospital e abrir uma “maternidade” em casa, Dona Eunice comprou
uma briga não só com os médicos, mas também com o Padre, que era dono do hospital.
Então, obviamente, havia o maior interesse tanto dos médicos quanto do padre em não
só destruir sua imagem diante da comunidade, como, principalmente, impedir que ela
exercesse seu ofício. E, para atingir estes objetivos, não se furtaram de acusá-la de
prática do aborto, que, se comprovada, impediria Dona Eunice de continuar atendendo
em domicílio.
A terceira questão ajuda a esclarecer os motivos da suspeita de prática de aborto:
Dona Eunice recebia pensionistas em sua casa, pensionistas que vinham de todo o Ceará
para terem seus filhos longe de suas famílias e de suas localidades:
parteira desempenhava então um papel que ia além de seu ofício, o de partejar, pois
também estabelecia relações que se configuravam em ações solidárias com mulheres
que precisavam de apoio e de socorro e não de acusações e recriminações.
7 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Conhecer a trajetória dessas mulheres não foi apenas registrar histórias de uma
categoria prestes a desaparecer, mas reconhecer que elas estão cada vez mais presentes
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