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ano xiv

Rio de Janeiro
agosto 2013

notícias nº 50

conferência
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teatro
exercícios
clínicos

temas livres
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“ Quem sabe estamos doutrinados “Pode-se, especulativamente, “Quanto às novas patologias, o


e parados nos conhecimentos cotejar os movimentos que analista tem que estar atento e
desenvolvidos por Freud e estamos testemunhando neste se informando sobre a produção
seguidores sobre o funcionamento junho de 2013 no Brasil com o contemporânea, mas seu vértice
mental e o tratamento das texto Totem e Tabu?
” é psicanalítico.

enfermidades mentais? ”
A constituição do psicanalista Totem e Tabu no Contemporâneo Entrevista
Sebastião Abrão Salim Anette Blaya Luz Luiz Tenório Oliveira Lima

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palavras da presidente
Gleda Brandão Coelho Martins de Araujo

Queridos colegas, eleições para a próxima gestão da FE- tro de Convenções e o Museu do Indio.
Chegamos ao fim deste semestre de BRAPSI, o que significa que dentro de Esse foi outro assunto de grande desta-
muito trabalho. Em seguimento a uma algum tempo serão enviados regras e que antes, durante e após a Assembleia,
das primeiras atividades do ano, a reu- prazos para a apresentação das chapas. pois estamos nos aproximando a passos
nião dos presidentes das federadas com No dia 22 de junho pp. os delegados largos do nosso grande evento, e esses
o consultor contratado pela Febrapsi, das diversas federadas se reuniram últimos dias têm sido de trabalho inten-
partimos para a contratação de um ge- em Campo Grande para a Assembleia so por parte de todos os envolvidos. An-
rente, processo ainda não concluído, já regimentar, que transcorreu em clima tes de finalizar, aproveito para convidar
que nossa primeira tentativa não foi bem amistoso e produtivo. Dentre os assun- cada membro e candidato para virem
sucedida. A Diretoria como um todo, ou tos discutidos e votados naquela assem- a Campo Grande participar do XXIV
em parte, apoiou eventos preparatórios bleia destaco a entrada oficial do Grupo Congresso Brasileiro de Psicanálise. As
para o Congresso Brasileiro, como os que Psicanalítico de Curitiba nos quadros da atividades científicas e culturais que es-
aconteceram em Brasília, Ribeirão Pre- Federação, e a confirmação das cidades tão sendo preparadas certamente irão
to, Porto Alegre e Aracaju. Vale a pena de São Paulo e Fortaleza como anfitri- agradar a todos.
destacar o evento realizado em parceria ãs dos congressos brasileiros de 2015 e Até nosso próximo número.
com a Fepal na cidade de Uberlândia, 2017 respectivamente. Foi escolhida a
onde um grupo de colegas psicanalistas comissão eleitoral e marcada a Assem-
vem trabalhando incansavelmente na di- bleia de Delegados para 30/11 na cidade
fusão da psicanálise naquela região, e no de Campinas. Também foi referendada
momento está se organizando em busca a decisão da diretoria de aumentar de 10
de institucionalização. para 12 por ano os intercambios cienti-
Tivemos o prazer de ver os dois co- ficos aos quais as federadas têm direito.
legas brasileiros, Altamirando Andrade Antes da Assembleia, a diretoria
e Ruggero Levy, serem eleitos como re- reuniu-se com o comitê local e com
presentantes pela América Latina junto membros da empresa organizadora do
ao Board da IPA, por mais dois anos. Congresso visando a incrementar a or- Sociedade Psicanalítica de Mato
Em novembro próximo teremos as ganização do mesmo, e visitou o Cen- Grosso do Sul (SPMS) MS

FEDERADAS E PRESIDENTES NÚCLEOS Nelson José Nazaré Rocha


Nilde J. Parada Franch
Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo (SBPSP) Núcleo Psicanalítico de Curitiba Paulo Marchon
Nilde J. Parada Franch Núcleo de Psicanálise de Marília e Região Paulo Quinet de Andrade
Sociedade Psicanalítica do Rio de Janeiro (SPRJ) Núcleo Psicanalítico de Natal Rachel B. Lomônaco Beltrame
Judit Letsche Núcleo Psicanalítico de Maceió Roberto Calil Jabur
Sociedade Brasileira de Psicanálise do Rio de Janeiro (SBPRJ) Núcleo Psicanalítico de Florianópolis Ronaldo Mendes de Oliveira Castro
Celmy de A.A. Quilelli Correa Núcleo Psicanalítico de Aracajú Sergio Antonio Cyrino da Costa
Sociedade Psicanalítica de Porto Alegre(SPPA) Núcleo Psicanalítico do Espírito Santo Sérgio Kehdy
Viviane Sprinz Mondrzak Núcleo Psicanalítico de Salvador Viviane Sprinz Mondrzak
Sociedade Psicanalítica de Recife (SPR) Núcleo Psicanalítico de Santa Catarina
José Fernando de Santana Barros CONSELHO PROFISSIONAL
Sociedade de Psicanálise de Brasília (SPB)
DELEGADOS
Carlos de Almeida Vieira Diretora: Ana Paula Terra Machado (SBPPA)
Sociedade Brasileira de Psicanálise de Porto Alegre (SBPdePA) Ambrozina Amalia Coragem Saad. SBPSP - Alícia B.Dorado de Lisondo
Helena Ardaiz Surreaux Andreas Zschoerper Linhares SPRJ - Paulo Lessa
Sociedade Psicanalítica de Pelotas (SPPel) Ana Cláudia G.R. de Almeida SBPRJ – Vania Cidade
José Francisco Rotta Pereira Ana Paula Terra Machado SPPA - Rudyard Emerson Sordi
Sociedade Brasileira de Psicanálise de Ribeirão Preto (SPRP) Carlos de Almeida Vieira SPR - Maria Crisales Lima Rezende
Rachel B. Lomônaco Beltrame Celmy de A.A. Quilelli Correa SPB - Sylvain Nahum Levi
Associação Psicanalítica do Estado do Rio de Janeiro (APERJ RIO 4) Christine Marques Castro Vinhas SBPdePA - Beatriz Saldini Behz
Maria Adelaide da Cunha Neves Leonardo Delza Maria da Silva Ferreira de Araújo SPPel - José Francisco Rotta Pereira
Sociedade Psicanalítica do Mato Grosso do Sul (SPMS) Eleonora Abbud Spinelli SBPRP - Maria Auxiliadora Campos
Lenita Osório Nogueira Araujo Gisèle de Mattos Brito APERJ Rio-4 – Sergio Antonio Cyrino da Costa
Grupo de Estudos Psicanalíticos de Minas Gerais (GEPMG) Hang Ly H. de Ikegami Rochel SPMS - Ana Deise Leonardo Cardoso
Sérgio Kehdy Helena Ardaiz Surreaux GEPMG - Eliane de Andrade
Grupo de Estudos Psicanalíticos de Goiânia (GEPG) José Francisco Rotta Pereira GEPG - Daniel Emídio de Souza
Delza Maria da Silva Ferreira de Araujo Judit Letsche GEPFOR - Roberto Nóbrega Teixeira
Grupo de Estudos Psicanalíticos de Fortaleza (GEPFor) Lenita Nogueira Osório Araujo GEPCampinas - Hang Ly H.de Ikegami Rochel
Paulo Marchon Luis Tenório Oliveira Lima
Grupo de Estudos Psicanalíticos de Campinas (GEPCampinas) Maria Adelaide da Cunha Neves Leonardo Revista Brasileira de Psicanálise
Nelson José Nazaré Rocha Maria Arleide da Silva
Grupo Psicanalítico de Curitiba (GPC) Maria de Fátima Chavarelli Editor: Bernardo Tanis (SBPSP)
Marcio Antonio Johnsso Marísia Abrão Editora Associada: Alice Paes de Barros Arruda

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Betty Joseph como ser humano

artigo
Elizabeth L. da Rocha Barros e Elias M. da Rocha Barros

Betty Joseph nasceu em março de de todos. Ela lhe sugeriu que interpre- ro andar viviam Joseph e Anne Marie
1917 e faleceu em Londres a 5 de abril tasse o quanto o paciente teria ficado Sandler, e tinham como vizinho James
de 2013, com 96 anos. Deixou uma obra aliviado de compartilhar tão horrível se- Strachey.. Foi bastante tocada pelas fi-
escrita, outra falada (supervisões e co- gredo com alguém. guras de S. Isaacs, J. Rivière, Ella Shar-
mentários)e ainda uma terceira vivida Apreciava o bom vinho e a boa co- pe, H. Rosenfeld, Clare Britton, e Clare
constituída pelo que transmitia através mida. Tinha paixão por jardins. O seu Winnicott. Esse clima intelectual do
de sua convivência. Vamos falar de sua era belíssimo e com frequência na pri- chamado grupo Bloonsburry, que carac-
pessoa, de como impactava os que com mavera suas supervisões eram ao ar li- terizou uma época da vida intelectual de
ela conviveram. Seu traço mais caracte- vre. Também adorava viajar e quando Londres, deixou traços significativos em
rístico era a vivacidade alimentada por o fazia, explorava tudo, era incansável. sua personalidade. Betty tinha especial
intensa curiosidade. Possuía memória Adorou suas muitas viagens ao Brasil e gosto pelo compartilhamento de ideias e
muito peculiar, intacta até o último dia ficava muito tocada pelo carinho com o pelo clima de debates. Em 1962 formou
de sua vida. Suas lembranças não se limi- qual era recebida. um grupo de discussão clínica frequen-
tavam a fatos. Guardava uma espécie de Acreditava que havia dois tipos de tado pelas principais figuras do grupo
Gestalt emocional de cada pessoa, o que analistas, os que tinham nascido analis- kleiniano e suas cercanias. Tivemos o
fazia com que tivesse insights fantásti- tas, como Rosenfeld, Bion e Segal, e os privilégio de fazer parte desse seminá-
cos quando falava de amigos e filhos dos que se tornavam analistas por esforço rio depois que nos tornamos membros
amigos, pelos quais tinha especial cari- e dedicação, grupo no qual se colocava. efetivos. Ele durou cerca de 50 anos, ou
nho, traço pouco conhecido das pessoas Fez uma primeira análise com Michael seja, quase até seu falecimento. John
que não conviviam com ela. Em seu fu- Balint, durante a guerra, e quando este Steiner, Dana Birksted-Breen, Ron Brit-
neral seu sobrinho Henry falou de mui- se mudou para Londres ela o acompa- ton, Michel Feldman, dentre outros dele
tas dessas crianças que a consideravam nhou. Sua segunda análise foi com Paula participaram por mais de 30 anos.
“Tia Betty”, hoje adultas e muitas pre- Heimann. Seu diploma inglês de gradu- Quem conviveu com Betty é teste-
sentes no crematório de Golders Green. ação e pós-graduação era em Psychiatric munho de que ela não envelheceu. H.
Levava crianças e jovens adultos a sério, Social Work. Durante os anos da guerra Segal brincava dizendo que Betty era a
sabia conversar com eles, estimular a (1939-1945) fazia parte do grupo de pro- coisa mais próxima da imortalidade que
comunicação, e guardava tudo o que lhe fissionais evacuados de Londres devido ela havia conhecido. Continuou guiando,
era dito. Essa empatia se transforma- aos bombardeios, e nesse período parti- saindo à noite, indo a teatros, exposições,
va em compreensão na sessão. Robert cipou de muitos trabalhos comunitários lendo romances, até o fim. Mantinha sua
Oesner conta-nos de uma supervisão e integrou um grupo de defesa civil onde vivacidade, sua curiosidade, jamais era
em que apresentou material de paciente lhe coube dirigir um caminhão, apesar repetitiva, e assim deixou a esperança
que considerava delinquente, até mesmo de sua conformação petite. A seguir pas- de se poder envelhecer com dignidade,
má pessoa, e que lhe relatara um de seus sou a cuidar de crianças evacuadas de sem nunca perdermos o viço da juventu-
piores atos de maldade, até então oculto Londres, em clínicas especializadas. de. Não teve filhos, mas seus sobrinhos
Sua formação psicanalítica foi no Ins- ficaram a seu lado durante toda sua vida
tituto Britânico (1942-49), tendo sido e por eles Betty nutria imenso carinho.
colega de W. Bion, Money-Kyrle e Lois Betty Joseph deixa muitas saudades.
Monroe que, embora mais velhos, esta- Falamos com ela pela última vez dia 7 de
vam ainda em formação devido às au- março quando nos pareceu estar ótima.
sências em consequência da guerra. Depois disso sofreu uma queda que fez
Joan Rivière e Susan Isaacs foram com que sua saúde se deteriorasse rapi-
suas supervisoras durante a formação damente. Preferiu não ser hospitaliza-
e depois Melanie Klein e Hanna Segal. da e morrer em casa. Sua pessoa física
Lembra-se de Klein como pessoa muito deixou de fazer parte deste mundo, mas
viva, de inteligência original, muito sim- ela sobrevive vivamente através de suas
ples, apreciadora da boa mesa, de bons ideias, das centenas de conversas que
vinhos e de teatro. Recordava a genero- teve com os amigos, da lembrança de seu
sidade e doçura de Klein, ainda que fosse entusiasmo pela vida e de sua curiosida-
ciosa da lealdade às suas ideias. de universal.
Durante um tempo viveu no terceiro
Sociedade Brasileira de Psicanálise
andar do número 42 da Gordon Square
de São Paulo (SBPSP)
no bairro de Bloonsbury. No primei- sp

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A constituição
do psicanalista
Sebastião Abrão Salim

Agradeço ao amável convite de Nilde Advertiu, ao longo de sua obra, do a fisiopatologia do órgão a ser operado,
Franch, incansável e qualificada editora início ao fim, que se deveria esperar maior a possibilidade de êxito terapêu-
do FEBRAPSI NOTICIAS, para apre- pelo desenvolvimento da Biologia para tico. Levei décadas nesse percurso. Foi
sentar minhas referências sobre a cons- explicar a psicopatologia da Neurose gradual porque acredito na existência
tituição do psicanalista. Traumática. Afirmava que não era re- em nós de uma tendência para nos re-
Considero este tema atual e comple- sultado de conflitos emocionais. meter para distante daquilo que não
xo, de importância vital para aprimorar No meu entendimento e estudos, esta nos é familiar.
a Psicanálise, que vem recebendo cres- envolve o paciente atípico, a depressão Reuni recentemente no livro Psica-
centes críticas e ressalvas da comunida- vazia, a depressão sem tristeza, a clínica nálise, Trauma e Neurobiologia meus
de científica. do vazio, do desvalimento e da perda da estudos. De forma paradoxal defendi,
Afastamo-nos do apogeu experimen- vitalidade, os distúrbios alimentares, os e continuo defendendo, que embora os
tado até próximo de 1975, quando a Psi- sintomas psicossomáticos, os distúrbios quadros clínicos citados não tenham
canálise era mais presente nas univer- autistas, as adições às drogas, os distúr- etiologia psicogênica, o elemento cen-
sidades e o futuro psiquiatra aceitava a bios do pânico e outras. tral do tratamento é a Psicoterapia Psi-
indicação da análise pessoal como com- Tenho considerado a psicopatologia canalítica.
plemento de sua formação profissional. desses pacientes definida e diferente da Contrário a esse movimento pessoal,
Hoje, afastados daquele apogeu, damos psicopatologia das Neuroses de Defesa. venho assistindo a uma tendência dos
pouca relevância ao esclarecimento Relaciono-a ao trauma físico ou psíqui- psicanalistas para a Filosofia, o Cultura-
das causas dessa mudança. Quem sabe co precoce, sentido com noção de mor- lismo e o Existencialismo.
estamos doutrinados e parados nos co- te em paciente com predisposição. Para Entre os fatores externos menciono
nhecimentos desenvolvidos por Freud preservar a vida, sua vítima reage com a exigência da comunidade científica
e seguidores sobre o funcionamento uma defesa biológica e recursos inatos por evidências, para se considerar um
mental e o tratamento das enfermida- originados da autogeração de sensações método como científico, mediante a ex-
des mentais? Quem sabe as ciências hu- sensoriais para o apaziguamento da an- perimentação como se faz nas ciências
manas e biológicas apresentam novos gústia de morte resultante. exatas. Não podemos negar que a Psi-
desenvolvimentos importantes, con- Essa psicopatologia requer uma ade- coterapia Cognitiva vem abiscoitando
forme Freud pressagiou? Caso positivo, quação da teoria e da técnica psicanalí- terreno da Psicoterapia Psicanalítica,
estaríamos resistindo em introduzi-los tica, mas constato que os psicanalistas embora deixe a desejar como tratamen-
e adequá-los a nosso referencial teórico continuam tratando esses pacientes to, e possa ser iatrogênica em pacientes
e técnico? com o referencial teórico e técnico das com insuficiência cognitiva. Como na
Vou me deter, de passagem, nesta Neuroses de Defesa. É evidente que os Psicanálise essa metodologia é impra-
questão. Penso que há fatores intrín- resultados terapêuticos não são mais os ticável, os cientistas leigos continuam
secos à Psicanálise, e outros de ordem mesmos de antes. Geralmente os trata- afirmando que não se pode considerar
externa. Entre os primeiros destaco o mentos são interrompidos pelo paciente. a Psicanálise como ciência. Desconhe-
fato inegável de que a primazia da psi- Algum colega pode considerar o es- cem que nosso método tem elementos
copatologia da clínica atual é diferente tudo dessa neurose, devido sua cone- idiossincráticos como a associação li-
dos tempos de Freud. Sabemos que ele xão com a Biologia, como um distan- vre de ideias, o setting terapêutico, o
desenvolveu sua teoria e técnica de tra- ciamento da Psicanálise. Não penso trabalho interpretativo dos fenômenos
tamento a partir dos pacientes portado- assim. Minha aproximação da Biologia de transferência e contratransferência,
res de Histeria, Fobia e Obsessão, como ensejou o conhecimento da psicopato- das relações interpessoais e das relações
resultado da repressão sexual. Reuniu- logia das entidades clínicas citadas, fa- intrapessoais entre Id, Ego e Superego.
-as sob o nome de Neuroses de Defesa cilitando o exercício da associação livre Por meio deles podemos aferir respostas
e as diferenciou da Neurose Traumática de ideias, da interpretação de sonhos, terapêuticas de nossos pacientes. A pos-
relacionada aos neuróticos de guerra, dos atos falhos, da manutenção do set- tura radical da maioria dos representan-
às vítimas de catástrofes terrestres, de ting e a compreensão dos fenômenos da tes de ramos das ciências leva a perdas
torturas, de sequestros, de maus tratos, transferência e da contratransferência. para todos e para os pacientes, mas in-
de violência sexual, de acidentes de ve- Usando uma metáfora médica, quanto felizmente será assim por muito tempo.
ículos e outros. mais o cirurgião conhece a anatomia e Outros fatores a considerar são as

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a construção do analista
transformações da cultura, as mudan- e o exame do currículo escolar do aspi- texto científico, sem idealização ou en-
ças sociais e políticas e os fatores eco- rante. Se necessário, um período de aná- deusamento. É desanimadora a obser-
nômicos envolvidos no tratamento das lise pessoal para finalizar a seleção. vação do apego a ele de forma religiosa,
enfermidades mentais. Estes últimos Segue-se a análise didática. Lembro- como se fosse um pontífice a ser segui-
estão interferindo na conclusão do novo -me, nesse quesito, da sábia advertên- do. Essa postura cega e empobrece.
código de doenças mentais, devido a in- cia de Fábio Herrnann com relação Penso que os candidatos devem es-
teresses de laboratórios farmacêuticos ao ‘paciente criado’, segundo a qual, o colher os temas dos seminários e os
em criarem novas entidades clínicas analista precisa estar consciente para docentes, no último ano da formação.
com indicação de novos medicamentos. não construir seu paciente com suas te- Em alguma etapa desse período deveria
Feito estes apontamentos, fica im- orias e afastá-lo do seu eu, quando ele haver uma atividade de pesquisa super-
plícito que o psicanalista deve ser um vem exatamente à procura de si mesmo. visionada. Antes, exigia-se um estágio
profissional em constante formação, Entendo que o mesmo fenômeno pode psiquiátrico; hoje, desconheço essa exi-
necessitando conviver com colegas em ocorrer com a análise do candidato. O gência. Devemos voltar a debatê-la?
reuniões cientificas, congressos, grupos almejado é que o didata se permita ser Falta mencionar as supervisões ofi-
de estudo e cursos interdisciplinares criado pelas necessidades do candidato ciais, não menos importantes que os
ministrados por especialistas de suas dentro dos parâmetros psicanalíticos. itens anteriores. Os supervisores devem
áreas, assim como evoluir para a expe- Essa conduta é importante para pre- ser da escolha do candidato e podem
riência didática, a redação e apresenta- servarmos e estimularmos a esponta- variar entre duas e três supervisões de
ção de trabalhos próprios e a pesquisa. neidade e a criatividade do candidato, acordo com a carga horária estabelecida.
Isso é recomendável porque é comum elementos relevantes para o trabalho e Ao final da formação o candidato
colegas se identificarem com uma cor- a pesquisa psicanalítica. deve apresentar uma monografia sobre
rente psicanalítica e só se envolverem Paralelamente à análise didática, um tema desenvolvido em seu curso.
com cursos e estudos relativos a essa acontecem os seminários teóricos e Para ficar em sintonia com meus
corrente, isto é, ficarem extremistas. técnicos com duração de quatro ou cin- apontamentos iniciais, sugiro a existên-
Vou me permitir relatar uma experiên- co anos. Considero recomendável que cia de cursos regulares de carga horária
cia pessoal, quando assistia a uma con- 50% da carga horária sejam destinadas curta sobre Neurobiologia, Genética,
ferência feita por um estudioso sobre a a seminários teóricos e a outra metade Psicologia Experimental, Introdução à
origem da vida. Ao terminá-la, pergun- para seminários clínicos. Sou simpático pesquisa científica, Antropologia, Oto-
tei se durante seus longos anos de estu- à ideia de que esses últimos comecem logia, Filosofia, Sociologia, Cultura, Ar-
do e pesquisa havia pensado em deixar no início do curso para ir favorecendo tes e outros, desde o início da formação.
sua pesquisa por resistências de colegas a integração da clínica com a teoria. As Para finalizar, espero que este meu
às suas teorias. Respondeu-me que esta- supervisões coletivas devem ser promo- texto sirva para estimular discussões
va se afastando de suas pesquisas, mas vidas pelos Institutos de Ensino para entre colegas sobre a constituição do
que não era por resistências ocorridas, auxiliar com o objetivo dos mesmos. O psicanalista, seja mediante encontros
e sim porque se conscientizou que se candidato tem a oportunidade de ir fa- científicos ou grupos de estudo com-
tornara repetitivo ao longo das mes- zendo o cotejamento das possíveis dife- postos para esse fim, com a ajuda dos
mas, sem dar a si a chance de repensá- renças de abordagens dos supervisores, recursos da informática, que não os
-las. Convenceu-se de que devia esperar geralmente didatas. substitui, mas pode nos aproximar.
pela avaliação de terceiros e abrir um Outra olhada para a grade dos semi-
espaço dentro de si para o diálogo com nários, principalmente para aqueles que
outros. Esta é uma questão que remete dizem respeito à obra de Freud, mostra
a discussão da reanálise do psicanalista, o vício de ministrar todos os seus tra-
pouco tratada entre nós. balhos, às vezes de forma cronológica,
Prosseguindo, saliento que a consti- com a demanda enorme de número de
tuição do psicanalista começa antes do horas. Devemos nos espelhar em Freud
curso de formação, por idiossincrasias como um pesquisador, que desenvolveu
do seu perfil psicológico. É necessário uma teoria e uma técnica baseado na
um olhar cuidadoso no processo de sele- observação clínica. Ele foi o pai e o con-
ção sobre a genuína vocação do aspiran- quistador de um território oculto para
te para o exercício futuro da profissão. as ciências do seu tempo. Suas teorias
Sebastião Abrão Salim (GEPMG)
É pertinente a avaliação por três didatas devem ser debatidas dentro de um con- MG

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tema do congresso

Totem e Tabu no Contemporâneo


A n e t t e B l aya L u z

“Contemporâneo é aquele que mantém fixo o olhar no seu tempo,


para nele perceber não as luzes, mas o escuro”

Giorgio Agamben

O próximo Congresso Brasileiro de Psi- de uma nova ordem social. No lugar da das redes de televisão brasileiras e in-
canálise da Febrapsi que vai acontecer ordem selvagem sob o domínio despó- ternacionais, a propósito das inúmeras
em Campo Grande, Mato Grosso do Sul, tico dos direitos e privilégios exclusivos manifestações que têm surgido em di-
entre os dias 25 e 28 de setembro deste do pai, os homens teriam instituído a or- ferentes pontos deste Brasil. Impacto e
ano, tem como título Ser Contempo- dem caracterizada pela exogamia e proi- surpresa. Milhares de pessoas insatis-
râneo: Medo e Paixão. Este tema pre- bição do incesto sob a proteção de um feitas com tantas e diferentes questões
tende homenagear os 100 anos de um Totem, simbolizando o Pai Primordial neste país, subitamente se deram conta
dos mais criticados livros de Sigmund assassinado, dando origem ao sentimen- de sua força quando unidas frente ao
Freud: Totem e Tabu e, ao mesmo tem- to religioso frente ao sagrado. objetivo comum, qual seja, o de protes-
po, propor um debate sobre as ideias de “Um acontecimento como a elimi- tar. Ouviu-se comentário jocoso, feito
Giorgio Agamben, filósofo italiano, a nação do pai primitivo pelo bando de por um manifestante: “parece que o gi-
respeito do Contemporâneo. irmãos teve que deixar traços inerra- gante se deu conta que estava amarra-
Para a elaboração desse livro, que tem dicáveis na história da humanidade” do com um pedaço de barbante podre
como ponto de partida discussões de escreveu Freud (1913). As três religi- e velho”.
ideias com Wundt e Jung, Freud apoia- ões monoteístas podem ser entendidas Pode-se, especulativamente, cotejar
-se em três teses científico-literárias: como um exemplo desses traços cica- os movimentos que estamos testemu-
a primeira, de Charles Darwin, sobre a triciais. A partir desse enfoque, os três nhando neste junho de 2013 no Brasil
horda primeva ou horda selvagem des- homens responsáveis pela implanta- com o texto Totem e Tabu? Há muitas
crita na obra “A descendência do homem ção dessas religiões agiram de acordo abordagens para pensar. Os brasileiros
e seleção em relação ao sexo” (1871). A com D’us. Assim, no Primeiro capítulo seriam divididos em três grupos: mani-
segunda sugere que o indivíduo em sua do Velho Testamento D’us declara as festantes pacíficos, manifestantes vio-
ontogênese repete a filogênese de sua “regras totêmicas” e a proibição-tabu. lentos e não-manifestantes, não consi-
espécie. E a terceira, há muito abando- Moisés foi informado por Jeová sobre derados omissos. Apenas não é o modo
nada, propunha a hereditariedade dos as Tábuas Sagradas, regras que são a deles viverem.
caracteres adquiridos. Nesse texto Freud base do judaísmo há quase 6.000; de- Passado o primeiro impacto fren-
descreve como os irmãos da horda pri- pois de 4.000 anos surgem o profeta te a esse cenário, tão fora do habitual,
meva, revoltados com o direito de pri- Jesus, como filho de D'us, e o Novo Tes- é possível sentir orgulho. Orgulho de
mazia exclusivista do macho-pai sobre tamento, que reúne o que os contempo- ter diante dos olhos uma manifestação
todas as fêmeas, resolvem unir-se com râneos aprenderam com ele; e Maomé pacífica, bonita, viva, repleta de caras
o fim de assassiná-lo. Após esse assassi- escreveu o Alcorão que foi ditado por jovens, cheias de esperança de ter um
nato, cometido grupalmente, a violên- Alah ou seu representante. Portanto, o Brasil melhor. Manifestação civilizada.
cia coletiva prossegue com aquilo que mundo moderno tem nesse D'us seu an- Movida a desejo de vida. Vida melhor.
conhecemos como o festim totêmico: o tepassado primevo, como os indígenas Vida digna e criativa.
ato canibal de devorar o corpo do pai as- australianos descritos em Totem e tabu No entanto, em que pese a legitimi-
sassinado. O impacto de tal gesto assas- tinham seus animais - todos funcionan- dade e grandeza do protesto, a manifes-
sino e canibal sobre os homens da horda do como símbolos totêmicos. tação deixa de pertencer exclusivamen-
provocou intensa culpa e remorso. Esse Outro enfoque possível, que atesta te à categoria pacífica, da “civilização”
momento, i.é, o momento em que culpa a impressionante atualidade do tex- do amor à vida, da beleza da vida. Al-
e remorso ocuparam a psique desse ho- to freudiano, apesar de seus 100 anos, guns grupos, protegidos pelo anoni-
mem selvagem, seria o ponto de início ocorre quando se assiste aos noticiários mato característico dos fenômenos de

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massa, conduziram o movimento de com surpresa estranha e familiar, ines- seram fim à horda patriarcal. Unidos,
volta à categoria da “selvageria”. Cate- perada e aguardada ao mesmo tempo. ousaram e conseguiram fazer o que con-
gorias Civilização e Selvageria utiliza- É evidente que vivemos numa so- tinuaria impossível para o indivíduo.”
das aqui em aproximação aos estágios ciedade bem mais evoluída do que as (Freud, 1913)
da história da cultura da humanidade tribos e clãs do texto Totem e Tabu de Moderna e atual. É a mesma desco-
proposto por Lewis Morgan. Freud. Por essa razão não é possível berta descrita por Freud há 100 anos, e
Pode-se entender que o povo brasi- fazer-se uma sobreposição exata. O que vivenciada desde os primórdios da hu-
leiro que foi às ruas do país, naquelas está sendo proposto é o exame do ponto manidade. É, pois, a descoberta de um
manifestações grupais, espontâneas e de vista psicanalítico desse fenômeno, Ser contemporâneo, que vê o escuro de
coletivas estaria cansado de se subme- tanto inesperado e desconhecido quan- sua época.
ter aos privilégios desse pai poderoso, to familiar e aguardado. A atemporali- Mas, há diferenças gritantes entre
cheio de privilégios chamado Estado dade e universalidade do fenômeno é a os indivíduos que protestam em lon-
Brasileiro. A exemplo do poder a que questão em pauta. gas caminhadas com seus amuletos e
estavam submetidos os homens da hor- Sabe-se que ninguém suporta sentir- símbolos empunhados com segurança,
da primeva, controlados pelo macho- -se lesado por tempo indefinido. A su- tais como as bandeiras do Brasil osten-
-pai, detentor da propriedade e pri- bordinação passiva, acuada pelo medo, tadas orgulhosamente, e aqueles que,
mazia sobre todas as fêmeas, e tal qual mais cedo ou mais tarde, explode. Aqui- em contraste, precisam ser violentos ou
os irmãos da horda, muitos brasileiros lo que estava reprimido retorna com os que precisam ter seus rostos enco-
constituídos principalmente pelas clas- força e vigor redobrados. Principalmen- bertos atrás de máscaras improvisadas
ses sociais menos poderosas e mais jo- te se protegido no anonimato da grande com camisetas, gesto que revela medo
vens deste país, por estarem cansados massa coletiva. Protestar contra as frus- de terem a identidade descoberta, ou de
de se sentir excluídos dos privilégios, trações e insatisfações que acontecem serem vítimas de futuras perseguições
revoltaram-se. A rebelião tomou as ruas no dia-a-dia do país parecia não surtir políticas, ou simplesmente precisam se
e praças do país com força inesperada efeito e também poderia ser perigoso, proteger contra o gás lacrimogênio. To-
pela maioria da população. Manifesta- se realizado individual e solitariamente. das as possibilidades são válidas e não
ção que impacta pela força e vitalidade, Mas esse mesmo indivíduo que protes- excludentes. A televisão mostrou caras
e pela estranha surpresa que causa em ta, quando imerso no grupo e apoiado pintadas de verde e amarelo, transbor-
muitos de nós. Estranhamento familiar, por este, sente-se forte, exatamente dando a Paixão pela causa em questão
quase esperado. Das Unheimlich (1919), como os homens da horda selvagem. O e caras encobertas pelo Medo do gás, da
em alemão no texto de Freud, é usada grupo descobre na coletividade a força identidade descortinada ou da violência.
para descrever algo que é assustador da própria voz. Esta descoberta é tão Quando o homem que assassina o
por ser novo e desconhecido; ao mesmo antiga quanto a época dos selvagens da pai-dominador sente culpa e remorso,
tempo em que é familiar e esperado, horda primeva descrita na elucubração algo se transforma. A civilização é inau-
pois retorna do recalcado. Assim me pa- freudiana: gurada. Nasce a cultura, a religião, a or-
rece que foram vivenciados os protestos “Um dia, os irmãos que haviam sido dem. O Pai passa a ser simbolizado no
que aconteceram nas últimas semanas expulsos reuniram-se, espancaram o pai Totem que não permite que o assassina-
em quase todos os recantos deste Brasil: até a morte e devoraram-no, e assim pu- to seja esquecido. Ao mesmo tempo esse

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Totem adquire a função protetora da- por G. Agamben, um dos maiores filó- perceber não as luzes, mas o escuro”.
quele grupo de pessoas e passa a ser por sofos vivos da atualidade. Nascido em Portanto, conseguir ver nessa escuri-
elas adorado. Quando, ao contrario deste Roma em 1942, é autor de várias obras dão é condição de ser contemporâneo a
cenário, o nome do Pai não é lembrado, que percorrem temas que vão da esté- seu próprio tempo. Ser contemporâneo
seja porque o Totem não esteja cumpri- tica à política. Os trabalhos de Agam- é justamente “neutralizar as luzes que
do sua função protetora a contento, seja ben mais conhecidos incluem sua in- provém da época para descobrir as suas
porque o indivíduo não suporta sentir vestigação sobre os conceitos de estado trevas, o seu escuro especial, que não é,
culpa, então pode haver um retorno a de exceção e homo sacer. Na busca da no entanto, separável daquelas luzes”.
um funcionamento –K, em que a violên- compreensão do mecanismo político Pode-se conjeturar alguns exemplos
cia é pura expressão da pulsão de morte, contemporâneo, Agamben toma em- disto: “perceber o que há no “escuro”
e o símbolo perde seu vigor. prestado de Foucault o termo disposi- da comunicação ao neutralizar as lu-
Na condição de retorno ao selvagem, tivo e o alarga. Amplia imensamente. zes excessivas da televisão; entender
o Totem não mais existe como símbolo Sugere que o dispositivo seja “qualquer o silêncio, quando a música está exa-
de valor e não há o Tabu que impede a coisa que tenha de algum modo a ca- geradamente alta; as relações sociais,
livre satisfação de qualquer pulsão. Não pacidade de capturar, orientar, deter- enquanto todos se evitam por pressa; a
há Pai morto, venerado e adorado atra- minar, interceptar, modelar, controlar arte, enfim, quando o que há de pro-
vés do Totem. Não há Pai morto porque e assegurar os gestos, as condutas, as dução artística é um sem-fim de lugares
provavelmente não houve Pai vivo. Não opiniões e os discursos dos seres viven- comum” (CAD MAMAN).
houve a lei. Não houve o impedimento tes”. Relaciona o Ser, o vivente, com os Que tal debater mais a respeito des-
que leva à frustração e que pode condu- dispositivos, dando origem ao sujeito. tas questões? Nosso Congresso visa
zir ao assassinato simbólico do Pai. As- Propõe uma reflexão sobre a sociedade proporcionar momentos importantes
sassinato este que, por ser simbólico, é contemporânea em sua responsabilida- exatamente sobre estas Reflexões: Ser
libertador e pode ser transformado em de na geração de sujeitos “dessubjetiva- Contemporâneo: Medo & Paixão. Nes-
Lei interna. dos”, e como esses são mecanismos que te artigo é apresentado uma brevíssima
O Totem, símbolo da culpa pelo pai buscam controlar os indivíduos. amostra, um aperitivo para convidar a
assassinado, não pode ser desenvolvido E sobre ser contemporâneo? O que todos a desfrutar de estimulantes en-
quando o amor pela vida é nulo, quan- pode ser dito? A pergunta que inaugura contros científicos. É também uma
do a criança nasce em ambiente hostil nosso debate é: “o que significa ser con- ótima oportunidade de um agradável
e pouco acolhedor, onde o maltrato é a temporâneo?”. Para Agamben é preciso convívio social com colegas de todas as
regra, onde à criança é negada a chance recorrer a Nietzche em busca de uma latitudes deste Brasil. De quebra o con-
de cultivar a esperança na raça humana resposta. Para esse autor, a contempora- gressista poderá desfrutar das belezas
e em uma vida segura e plena, onde a neidade é uma condição intempestiva: que Mato Grosso do Sul oferece, com
culpa não tem chance de se desenvol- está dada numa relação de desconexão sua natureza exuberante e viva.
ver frente ao festim totêmico. As tribos e dissociação com o tempo presente. Esperamos todos vocês em
e clãs primitivas consideravam o Totem Somente aqueles que estão afastados de Campo Grande!
como relacionados a seus ancestrais e seu tempo (mas não de forma nostálgi-
por isso mesmo seriam seus protetores. ca), apreendem sua própria especifici-
A proteção seria então garantida como dade. Dessa forma, diz-nos Agamben,
recompensa sempre que o Tabu fosse “a contemporaneidade é uma singular
respeitado. Mas, se o Totem se mostra relação com o próprio tempo, que ade-
incapaz de proteção, o Tabu pode ser re a este e, ao mesmo tempo, dele toma
ameaçado de rompimento. distancia”. Todo indivíduo que coincide
Para dar origem ao Totem protetor, a muito plenamente com sua época, que
refeição totêmica que é um ato coletivo em todos os aspectos a esta se identifica
precisa estar repleta de ambivalência: com plenitude e perfeição, não pode ser
dor e júbilo pela morte do animal totê- contemporâneo porque, exatamente
mico. Dor e júbilo foi o que se viu frente por isso, não consegue vê-la, não pode
às manifestações do povo brasileiro. manter fixo o olhar sobre ela. Agam-
Além do vértice freudiano, através ben sugere uma relação com o escuro: Sociedade Psicanalítica
de Totem e Tabu, nosso Congresso pre- “contemporâneo é aquele que mantém de Porto Alegre (SPPA)
PA
tende enfocar algumas ideias propostas fixo o olhar no seu tempo, para nele

8
entrevista
Luiz Tenório Oliveira Lima

FEBRAPSI: Em muitos dos textos de ria de Jung. O diálogo com a psicologia mente anterior à Primeira Guerra Mun-
Freud é possível traçar uma genealogia experimental de Wundt também está dial que, por suas dimensões, modificou
das ideias e dos conceitos nos próprios presente; Freud também guarda dis- completamente o modo de se pensar o
escritos freudianos iniciais (pré-psica- tância dela, mas a respeita e considera mundo, a produção científica, a literatu-
nalíticos) ou mesmo em suas cartas de muito eficiente para o contexto. ‘Totem ra, a psicanálise e o próprio Freud. A se-
juventude. Uma exegese do texto ‘To- e tabu’ é escrito como resposta a essas gunda tópica, a teoria estrutural, ‘O ego
tem e tabu’ faz sentido nesses moldes? duas formas de explicar os fenômenos e o id’, a teoria dos instintos, ‘Além do
Tenório: A pergunta é interessante pois culturais: a partir de uma visão que hoje princípio do prazer’, vêm imediatamen-
ela vem de encontro ao método que há nós chamaríamos de behaviorista, ou te após a Primeira Guerra, como tam-
tempos venho utilizando em meus se- como vai se desenvolver depois, refle- bém o desenvolvimento da teoria das re-
minários de Freud, que é justamente a xológica, que se relaciona com técnicas lações de objetos, a partir de Abraham,
genealogia das ideias e das teorias in- e formas de pesquisa cognitivas (Wun- Klein, Jones e Otto Rank. Nos cinquenta
ternamente ao texto, como resposta aos dt), e as tentativas mais mitológicas de anos anteriores à Primeira Guerra, a Eu-
problemas advindos da atmosfera cultu- compreender e explicar tais fenômenos ropa vinha num desenvolvimento cien-
ral em cada momento evolutivo da obra. culturais, como aponta a posição de tífico e cultural extraordinário e é nesse
Esse modo de ler e estudar Freud e os Jung. Com muita perspicácia, compe- contexto que eu quero examinar 'Totem
autores significativos se relaciona com tência extraordinária e cultura, Freud e tabu', pois isso mostra a atualidade de
o método genético-histórico, por oposi- foi levado a abordar o tema principal Freud em relação às ciências humanas.
ção ao método lógico em que se faz uma da antropologia e das ciências sociais da Tanto na Alemanha como na Inglaterra
leitura conceitual de forma horizontal. época, na Europa, que era o totemismo. e nos Estados Unidos, em todas as obras
Na leitura de como as ideias foram sen- Ele dá uma solução que se afasta tanto do fim do sec. XIX e início do XX, o tema
do constituídas, é muito rico perceber da visão positivista de Wundt, quanto do totemismo era não só antropológico
a tensão entre os diferentes métodos, da visão metafísica, mais idealista, de como também discutido na literatura.
principalmente utilizando as caracterís- Jung, e assim fica mais moderno. Apesar Bem como o eram os temas “das profun-
ticas de metodologia rigorosa da tradi- dos problemas etnográficos, das teorias dezas da mente”, do inconsciente, so-
ção positivista – falo no sentido positivo evolucionistas, etc.,atualmente ainda se nambulismo, sonhos e o tema do inces-
do termo, pois às vezes se usa pejorati- pode dialogar com esse texto. Alguns to, que na verdade torna-se a motivação
vamente. À luz dessas diferenças é que textos são datados, mas esse tem uma e o foco essencial desse trabalho. Além
examino muitas das teorias produzidas, vivacidade e até atualidade do ponto de de polemizar com as duas áreas metodo-
tanto as pré quanto as propriamente vista antropológico. lógicas (Wundt e Jung), Freud constrói
psicanalíticas. Respondendo especifica- um mito, o da horda primitiva, baseado
mente à sua pergunta, ‘Totem e tabu’ é FEBRAPSI: Como o contexto histórico em dados da antropologia de visão evo-
um texto em que por excelência já está de 1913, tanto em seu aspecto político e lucionista, que contém a ideia de que a
em jogo uma grande tensão entre algu- social, quanto em relação à história da história da humanidade é contínua, vem
mas interpretações da teoria de Freud psicanálise, influencia e está presente desde os primitivos até o homem civi-
para explicar certos fenômenos cultu- na escrita de ‘Totem e tabu’? lizado europeu, ideia em grande parte
rais, antropológicos, e outras, das quais Tenório: Esse é um aspecto importante ultrapassada pela antropologia que veio
ele discorda radicalmente, como a teo- porque esse texto é de 1912-13, imediata- posteriormente. Essa visão evolucio-

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nista percorre todo o texto, e Freud vai canalítica, tal como a entendo, oferece virtude, nessa virtus em nosso trabalho
construir um mito dentro da grande tra- o modelo de personalidade clivada, des- analítico de consultório, evitando seja
dição dos mitos de origem, remontando contínua em seus desenvolvimentos. a especulação excessiva, seja a terapia
a Platão, no “Timeo”. Intuitivamente ele FEBRAPSI: Com relação ao que você comportamental mais cognitiva. Para
se vale de uma tradição mítica no oci- falou sobre a modernidade de Freud, Freud, ciência é controle. Setting analí-
dente para construí-lo. Do ponto de vis- em que medida ela se deve à equivalên- tico é controle, e se sairmos do setting o
ta psicanalítico, essa mitologia corres- cia que ele coloca entre a evolução da descontrole surge imediatamente. Mui-
ponde ao processo de individuação, do espécie e a evolução da cultura, ou seja, tos analistas, e também o senso comum
nascimento da criança da pré-história à ideia de que a civilização em alguma psicanalítico, usam isso quase literal-
de todos nós em relação à nossa infân- medida reproduz o desenvolvimento mente, filogênese e ontogênese como
cia primitiva. Se nos deslocarmos para do homem primitivo e da criança? eram compreendidas por Freud na pri-
esse plano, é de uma atualidade espan- Tenório: Primeiro é necessário precisar meira década daquele século, quando
tosa. Não se trata mais do primitivo, da o termo moderno: o sec.XIX é moder- o biológico estava muito próximo do
horda, mas do internalizado do ponto de no. Então, trata-se do que é ‘atual’, que psicanalítico. Um dos desenvolvimen-
vista psicanalítico. Embora Freud fosse está também no tema do Congresso. As- tos possíveis das ideias de Freud e da
um homem do sec. XIX, isso não o torna sim, o texto continua atual, não se tor- psicanálise depois da Segunda Guerra é
anacrônico. Somos herdeiros, apesar das na discrônico ou anacrônico. A respeito se afastar da biologia. Mas não do cor-
grandes rupturas, de tudo o que foi pro- da filogênese e da ontogênese, daquilo po, não da condição invariante de que
duzido na segunda metade do sec. XIX. que se repete na cultura, a teoria bio- somos suportados biologicamente, isso
Essa herança foi atacada pela Primeira lógica clássica do sec. XIX desenvolveu é diferente. A ideia de ontogênese per-
Guerra, que a interrompeu e introduziu a ideia de que a ontogênese repetia a deu atualidade, mas o que é muito atual
o ceticismo quanto à ideia de progresso filogênese. E em grande parte, Freud é que o individuo adulto repete o tempo
e de desenvolvimento contínuo. Se nós se rendeu a essa tradição. Segundo mi- todo sua história primitiva. O equiva-
observarmos os textos de Freud da pri- nha interpretação, ele procurou dar um lente da filogênese para o analista, hoje,
meira década do século XX, eles estão contorno, confinar seus talentos a uma é a presença do mundo primitivo. Não
em grande parte comprometidos com a posição objetiva, positiva, científica. para ser extirpado, porque o evolucio-
ideia de evolução, de contínuo progres- Embora tivesse vocação para a escrita, nismo acabou, mas pelo contato com os
so, de cura. Isso se rompeu. No caso da para a literatura, para a filosofia, para o aspectos que o indivíduo poderá desen-
constituição do campo psicanalítico, em direito, ele priorizou o vértice científi- volver e com aqueles que jamais serão
“A interpretação dos sonhos”, a atuali- co. Nós, analistas, muitas vezes temos desenvolvidos, que são a substância da
dade permaneceu porque a teoria psi- dificuldades de ficar nesse meio, nessa vida inconsciente. A partir de ‘O ego e

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o id’, o inconsciente é substancial. Há zou de um modelo médico, que a partir cultura, do social, das transformações
muita crítica dos filósofos a esse res- de “A interpretação dos sonhos” já es- aceleradas no mundo externo e no com-
peito, principalmente dos pensadores tava sendo flexibilizado; mesmo assim, portamento externo das pessoas. Mas
franceses, que acham que essa compre- a ideia de diagnóstico continuou a ter no mundo interno, como isso se reflete,
ensão se aproxima demais da metafí- influência na área das neuroses. Entre do ponto de vista do que é invariante?
sica. Mas é fato de que há uma matriz 1907-8 e 1914, a Escola de Zurich trouxe Essa é uma questão importante porque
inconsciente que é corporal e é vivida como problema principal a questão da certas coisas são irredutíveis,como por
como um todo, como um bloco de vi- psicose. Esse foi um momento crucial, exemplo a teoria freudiana dos instin-
vências que são sensoriais e psíquicas ao qual ‘Totem e tabu’ foi uma resposta, tosl. O que são os instintos, do ponto de
simultaneamente. Daí a força. Isso é id, junto com ‘Luto e melancolia, ‘Introdu- vista psicanalítico? Nesse sentido, tanto
que se diferencia em eu e objeto inter- ção ao Narcisismo’ e a ‘História do Mo- no homem primitivo,como no bebê ou
no. Podemos rever e voltar à abstração vimento Psicanalítico’. Mas Freud vai em nosso analisando, os pressupostos
da primeira tópica, consciente e incons- continuar considerando que os pacien- são os mesmos. Não há alteração.
ciente somente, como uma forma abs- tes psicóticos não fazem transferência,
trata, como produtores de marcas, que assim como as crianças.. Isso vai ser FEBRAPSI: E você diria, então, que no
é aquilo que vai ser desenvolvido por modificado depois da Segunda Guer- atendimento psicanalítico às ditas no-
Lacan com a teoria da linguagem, que ra Mundial por Abraham, o primeiro a vas patologias, o setting é a esteira em
é muito útil também, mas é uma teoria trabalhar com isso, e por Melanie Klein, que o analista precisa se manter?
desencarnada. Freud enfrentou uma com a clínica de pacientes psicóticos. Tenório: Olhando para as novas patolo-
luta enorme para manter encarnada O termo ‘psicótico’, que costumamos gias, têm-se os quadros típicos do ponto
essa teoria. utilizar, ou aspectos psicóticos, par- de vista da nosografia psiquiátrica, que
te psicótica da personalidade, partes estão no centro do espectro diagnósti-
FEBRAPSI: No número 49 do FN, a neuróticas, não significa que estamos co. E a partir daí, tem-se os quadros e
propósito do tema do próximo con- tipificando, pois paciente e analista variantes periféricos, muitos deles cha-
gresso, Sérgio Nick comenta que “o ‘ho- estão sujeitos a esse funcionamento. mados de novas patologias porque ante-
mem freudiano’ deu lugar ao ‘homem Posso controlar na Grade, ou perceber riormente não eram reconhecidos nem
pós-moderno’”, a uma nova subjetivi- que minha contratransferência foi uma tipificados. Quando eu trabalhava com
dade e a novas patologias, demandando atuação psicótica, posso dizer “meu pa- psiquiatria clínica, trabalhei muito com
também novos posicionamentos para ciente teve uma atuação perversa”, tudo PMD, que ai sim era tipificado; hoje, ele
dar conta da “Clínica do Vazio e dos isso é perfeitamente legítimo, mas não é o centro do espectro, e na periferia
Pacientes de Difícil Acesso”. O que há tem o mesmo sentido que os psiquiatras há muitos dos quadros que retrospec-
de “novo” e o que se mantém como a dão. Quanto às novas patologias, o ana- tivamente Freud diagnosticou como
mesma condição humana de sempre, lista tem que estar atento e se informar histeria, e que não se curaram a não ser
apenas com uma nova roupagem? sobre a produção contemporânea, mas momentaneamente, com a cura trans-
Tenório: Essa questão é muito impor- seu vértice é sempre psicanalítico. O ferencial. Muitos desses quadros estão
tante, e acredito que meu ponto de psiquiatra trata com antidepressivo ou no espectro do transtorno afetivo bipo-
vista é um pouco contra a corrente. neuroléptico e eu, como psicanalista, lar, transtornos alimentares, na perife-
Penso que existem muitas situações vou ver o paciente psicanaliticamen- ria e com maior ou menor gravidade. O
que aparentam novas patologias, mas te. Para se manter como psicanalista, mesmo acontece com as esquizofrenias:
acredito que esse vértice não seja espe- a melhor coisa é manter o setting rigo- você tem o centro, e na periferia certos
cificamente psicanalítico. Isso não quer roso que Melanie Klein foi a primeira a estados bordelines, fronteiriços que
dizer que os analistas não possam se instituir com crianças e psicóticos. Não nós atendemos. Nesse sistema há mui-
preocupar com ele. Dialogo com cole- é necessário mudar o setting. Do surto, tas modificações culturais, com a cul-
gas psiquiatras, estou atento a isso; não da família, outros cuidam. Nesse aspec- tura das drogas, do exibicionismo das
podemos perder de vista esse viés, mas to, penso que a ideia do Bion de varian- ‘modelos’, que vão resultar no que os
ele não é especificamente psicanalítico. tes e invariantes é muito útil. Há certas psiquiatras mais antigos chamavam de
Primeiro porque a psicanálise só se in- noções psicanalíticas que se referem a patoplastias. Eu gosto muito disto, de
teressou por psicopatologia e por noso- invariantes que são norteadores para o observar a maneira como aquela per-
grafia, portanto novas patologias tipifi- trabalho do analista, para que ele não se sonalidade, em interação com a cultura,
cadas, antes da Primeira Guerra. Vindo deixe confundir pelo outro plano, tam- produz determinado tipo de sintoma.
do estudo das neuroses, Freud se utili- bém importante, que se dá no nível da Eu diria que muitas das novas patolo-

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XXIV congresso
brasileiro de psicanálise
"Ser contemporâneo: medo e paixão"

25 a 28 de setembro de 2013
Campo Grande- MS
informações: www.febrapsi.com.br/congresso

gias são patoplastias contemporâneas, ção. Não sei se ele usou a palavra luto determinado tempo vivido. E a paixão
são formas irredutíveis que se manifes- no mesmo sentido que vou usar, pois eu seria a face de ligação, de construção, a
tam e às quais temos que ficar atentos. perguntaria: luto de quê? Eu não diria face clara da experiência”. Você pensou
São formas até interessantes e que às que é necessário um luto de conceitos, no tema relacionado ao ‘Totem e tabu’?
vezes se confundem com o meio cultu- porque estes podem ir se atualizando, Tenório: Tenho pensado o tema do
ral; ouve-se: “Ah é coisa de adolescen- mas na verdade talvez ele esteja falan- Congresso em relação a ‘Totem e tabu’,
te!” Mas, se observarmos com cuidado, do de algo mais abrangente. Os analis- mas não na direção em que o colega do
pode haver algo de psicose em germe, tas têm dificuldade de reencontrar sua Rio pensou, porque não era o meu foco.
do tipo clinico, se formando. Acho que identidade porque sua identidade estava Do ponto de vista psicanalítico, o medo
o analista deveria ser treinado para muito ligada a um aspecto triunfante e a angústia são um desdobramento na-
observar essas possibilidades, porque em relação às demais disciplinas, um tural. O que sobra no lugar da ação ou
muitas vezes, o uso da maconha, por aspecto de superioridade, hegemônico, do stress associado à ação, da proteção
exemplo, é sintoma patoplástico. Mui- de que a psicanálise iria resolver tudo. contra o predador, é a angústia. Acho
tos pacientes psicóticos inteligentes, Eu até vivi, durante muitos anos, esse que tanto o medo quanto as formas que
com alto grau de comprometimento no clima e adotava a ideia de que nossos a paixão assume sempre existiram, são
espectro esquizofrênico, podem con- conceitos – que, aliás, embora eficien- invariantes. Mas o problema das famí-
fundir-nos, porque o que apresentam tes, são tão precários - eram superiores lias atuais, os conflitos, as disputas, as
é patoplástico; por exemplo, vão para o aos dos psiquiatras, dos psicopedagogos, paixões e a situação edípica tendo tanta
Santo Daime, como aquele que matou dos psicoterapeutas de outras orienta- ativação, advém do fato de que as fa-
o desenhista Glauco; é típico esquizo- ções. Nós nos sentíamos muito centra- mílias se constituíram por amor. O ca-
frênico, não há dúvida. É patoplástico, lizados. Nesse sentido, sim, esse aspecto samento monogâmico por amor, que é
porque apareceu ali contido numa de- narcísico da nossa identidade precisou uma conquista, cria muitos problemas,
terminada situação. Ao invés de pensar e precisa de luto, porque nós analistas porque desde o sec. XIX os filhos pas-
sobre o diagnóstico, escapa. Isso é um não temos esse poder. Nós não somos saram a ficar presentes, a viver com os
perigo para nossa atividade. filósofos, sociólogos, pedagogos, nós pais, o que gera inúmeras tensões. Por
não somos militantes, nós somos ana- outro lado, foi esse elemento que tor-
FEBRAPSI: “Fazer o luto de muitos de listas. Podemos até ser cada uma dessas nou possível a teoria do Édipo, baseada
nossos conceitos é a tarefa mais urgen- coisas, mas enquanto analistas estamos na própria autoinvestigação de Freud
te para o psicanalista contemporâneo”, confinados a uma situação muito delica- e a instauração do tabu do incesto que,
nas palavras de Marcio Giovannetti no da, muito precária e que requer muito em grande parte, sustenta a atualidade
número 49 do nosso Jornal. Quais se- da nossa atenção. Nesse sentido o luto da psicanálise.
riam esses conceitos e por que deve- é necessário. Agora, quanto a conceitos,
ríamos proceder a seu luto? Ele ainda não necessariamente.
afirma que é para uma “crise identitá-
ria (das instituições psicanalíticas e da FEBRAPSI: A propósito do tema do
psicanálise) que o contemporâneo nos próximo Congresso, Admar Horn afir-
convoca”. Como você vê essa crise? mou no número 48 do Jornal que “O
Tenório: Vamos matizar a pergunta. medo seria uma das formas possíveis
Acho interessante a maneira como Már- de se lidar com a obscuridade, lem-
cio fala. Concordo; de fato, vivemos uma brando que a obscuridade é inerente
crise, não só do ponto de vista do mo- a toda experiência contemporânea, tal Sociedade Brasileira de
vimento psicanalítico, como do trabalho como entendida por Agamben; talvez Psicanálise de São Paulo sp
psicanalítico, do exercício dessa fun- seja a face propriamente escura de um (SBPSP)

12
artigo

Carlos Vieira

Medo e Paixão sos desejos”, canta o poeta, de uma ma- psíquico de cuidado e dedicação mútua,
neira metafórica e simbólica para des- mesmo porque as pessoas têm diferen-
crever a experiência da paixão humana. ças, e não só igualdades. Quando se está
O próximo Congresso Brasileiro de Psi- É óbvio que esse estado (de paixão) é disponível para amar é necessário fazer
canálise tem como tema - Ser contem- algo necessário, contundente, arrebata- renúncia ao egoísmo mortífero, para
porâneo: medo e paixão. dor, mas passageiro, como um prelúdio desse modo desenvolver uma relação
O que chama atenção nesse título nos ao Amor, o amor maduro, consciente com individualidade própria. Sempre
dias de hoje? Por que medo e paixão, de que mesmo juntas, duas pessoas são juntos e separados, essa é a sabedoria
ou no meu entender, medo da paixão, pessoas separadas, únicas, diferenciadas de amar.
medo de amar, de se envolver afetiva e e não fundidas, confundidas, que não A intolerância atual à frustação, e
emocionalmente com outra pessoa? O perdem sua individualidade! principalmente ao desapontamento
individualismo e egocentrismo do ser Acontece que vivemos num mun- amoroso, cria o pavor, o medo e a dúvi-
humano hoje é uma grande defesa psí- do de consumo, da predominância dos da de se ligar a alguém. Principalmente
quica evitar a elaboração dos conflitos impulsos orais, canibalísticos para ter quando se trata de pessoas que viveram
inerentes de uma vida amorosa. Uma o Outro, a posse dele, não como obje- desapegos e abandonos precoces em sua
vida amorosa que inevitavelmente co- to de amor e sim de uso para o prazer, infância, assim como pessoas que nasce-
meça pela paixão é natural que traga controle e a serviço da necessidade ego- ram com um sentimento de gula e vora-
medo, pavor de se machucar, desapon- cêntrica, narcísica, individualista e por cidade muito intensos. Diz a sabedoria
tar e perder a pessoa amada. que não dizer, incorporadora do outro popular – “essas pessoas são gatos escal-
A paixão, que tem como modelo ini- como posse. dados que têm medo de água fria”. É ver-
cial o apego pela mãe, enquanto primei- O que o poeta escreve de uma manei- dade mesmo, a clínica psicanalítica vive,
ra relação de amor, fala da necessidade ra simbólica, as relações amorosas da dia a dia, trabalhando essa experiência
de se criar alguém “salvador” da condi- pós-modernidade acredita de um modo emocional de – medo da paixão – pavor
ção precária, física e emocional do ser concreto, necessário e permanente. das relações de intimidade afetiva.
humano. A vida começa por uma expe- Será que estamos vivendo a predomi- Acrescentro a esses pensamentos a
riência inicial de abandono e uma ne- nância da relação de posse para a satis- transcrição da letra de uma música de
cessidade de ser acolhido. Ninguém co- fação puramente física, sexual, material Paul Simon – Eu sou uma Rocha
meça uma relação sem paixão, sem esse em detrimento da relação amorosa de (I am a Rock):
“fogo intenso, desejo convulsivo em parceria, complementação e tolerância
direção à alma gêmea”. Alma gêmea, à às diferenças? Se faz sentido pensar que “Ergui paredes
procura do nosso gêmeo, experiência o modelo atual é um modelo de uso, sim- Uma fortaleza, alta e forte
fantástica, imaginária, com a finalida- plesmente do “ficar” e não “do envolver- Que ninguém pode penetrar.
de de nos oferecer um sentimento de -se amorosamente”, tem sentido, perti- Não preciso de amizades.
completude. A paixão é uma vivencia nência a preocupação dos psicanalistas Amizades causam dor.
turbulenta, fusional, proporcionando em estudarem o medo e as paixões! É o riso e é amar o que eu desdenho
experimentar a “ilusão de unicidade” Amar é se envolver com prazer e Sou uma rocha,
necessária momentaneamente. com dor. É desenvolver capacidade psí- Sou uma ilha
“A tua boca de chama, o colo túrgido, quica de estar sempre elaborando os Tenho meus livros
Teu ardente perfume afetos envolvidos na relação amorosa. E E minha poesia para proteger-me
Arrastam-se a um abismo de alegria: os afetos contidos em qualquer relação Estou blindado em minha armadura
Ah ser em ti, perder-me todo em ti, dizem respeito a – amor, ódio, rivalida- Oculto em meu quarto
E em declínio soldar nossos desejos.” de, competição, inveja, ciúme, desejo de Seguro dentro do meu útero
Versos de um poema de Cláudio posse, cuidado, respeito, consideração e Eu não toco em ninguém e ninguém me toca
Allori, traduzido pelo nosso poeta Ma- responsabilidade. Sou uma rocha
nuel Bandeira em seu livro – Estrela da É óbvio, e você vai concordar co- Sou uma ilha.
Vida Inteira, Poesia Completa. migo, que: na escolha de uma pessoa, E uma rocha não sente dor
Veja, caro leitor, “ser em ti, perder-me passa-se necessariamente pelo estado e uma ilha nunca chora”.
todo em ti,/ E com delírio soldar os nos- inicial da paixão, mas requer trabalho

13
O Poeta e ria o poeta, assim, detentor de antenas diz respeito à angústia da vivência do
Apreensão especiais, dádiva ou não divina, mas, de Tempo, e do prazer e dor que se sofre
qualquer forma, dom que o separa dos quando se vive uma mudança psíquica.
da Realidade demais mortais e sobre eles o eleva, ao Quando se experimenta uma mudança
Psíquica permitir atravessar a pele dos objetos quebra-se um modo de ser anterior;
ou dos eventos e vislumbrar-lhes as en- instala-se um tempo de desorganização
“O amante, o lunático e o poeta tranhas ou, ainda, o que, por trás de tais necessária, e vai aparecendo uma nova
São de imaginação somente feitos. objetos ou fatos, está acontecendo ou forma de ser e funcionar psiquicamen-
Um vê mais diabos do que cabe o inferno, por acontecer.” te – essa é a função primordial de uma
Assim é o louco e também o amante. A formação de uma psicanalista vai análise. Não há mais possibilidade de se
Vê a bela Helena num semblante egípcio. exigir que o mesmo tenha e aprenda os voltar ao antigo.
O olho do poeta, delirante vaga, recursos da poética. Wilfred Bion, ana- Melhor deixar, caro leitor, o Poeta falar:
Passa da terra ao céu, do céu à terra. lista indiano com formação na Inglater-
Ulisses,
E enquanto dá contorno à fantasia ra, desenvolveu um método de observa-
O Retorno
A coisa até então desconhecida ção da realidade psíquica que abrange
A pena do poeta lhe dá vida três vértices: o científico-filosófico; o “Como voltar/ depois de Itaca/ das
E ao que era vácuo um nome dá estético-artístico e o místico-religioso. sereias/ dos cíclopes/ de tanto assombro/
e um lugar fixa” Freud afirmava que via nas narrativas de tanto sangue na espada?
dos romances aquilo que escutava em Como voltar/ se aquele que partiu/ partiu-
William Shakespeare, sua sala de análise. se/ e voltará os fragmentos do excesso?
A Midsummer’s Night Dream, v.I. Outro dia, lendo e relendo um poema Não há retorno/ Há outra
Tradução de Geraldo Holanda Cavalcanti de Affonso Romano de Sant’Anna, poe- viagem/ diariamente urdida/
ta, ensaísta, cronista, jornalista, e mais dentro da viagem/ antiga.
Há anos que estou convencido de um dos grandes mineiros da Literatura Embora o caminho/ da volta/ seja
que a Literatura é uma ferramenta in- Brasileira que migraram para a Cidade percorrido/ ninguém retorna/
dispensável às pesquisas psicanalíticas Maravilhosa, como Drummond, Paulo apenas volta a viajar/ no espaço
e à aprendizagem do ofício para se ser Mendes Campos, Fernando Sabino e anterior/ estranhamente familiar.
Analista. Impossível pensar-se num psi- tantos outros de não menos importância Como se o regresso/ fosse acréscimo/ e o
canalista que não tenha como recurso – Ulisses, O Retorno – contido em seu li- viajante descobrisse/ que é atrás/ que está
interno a capacidade estético-artística. vro “Vestígios” (2005), dei-me conta do a fonte/ e na alvorada/ o horizonte/ não há
A observação do mundo psíquico de intróito que faço neste escrito de hoje retorno./ Há o contorno/ do próprio eixo/
uma pessoa requer alguém que tenha, sobre a importância da apreensão da re- o tempestuoso/ périplo do ego/ um diálogo
que treine e discipline o olhar para aqui- alidade psíquica pelos poetas passeando de ecos/ como quem/ tenta encaixar/
lo que se esconde além da consciência. de mãos dadas com os analistas. diferentes rostos/ no mesmo espelho.
Foi assim que Freud denominou sua A experiência de uma análise é uma Por isto, o retorno/ inelutável/ é perigoso/
psicologia – Metapsicologia –, um olhar ousadia mútua, de duas pessoas cora- exige mais perícia/ que na partida/ mais
que transcende a impressão sensorial josas no sentido de adentrar o interior destreza/ que nos conflitos/ pois o risco/
e vai apreender o “sem nome”, o “não da mente e experimentar medo, an- é naufragar/ exatamente/ quando
dito”, enfim tudo aquilo que repousa no gústia, temores, alegrias e satisfações, chegar ao porto.”
Inconsciente e no Consciente não pen- na vivência em adquirir conhecimento
sado, urgindo ser traduzido em palavras. psíquico e, quem sabe, empreender mu-
Ainda citando o belo livro de Geral- danças em suas vidas. – é o que plagio
do Holanda Cavalcanti – A Herança de de Glauber Rocha – “Deus e o Diabo na
Apolo – Poesia Poeta Poema – Ed. Civi- Terra do Sol”. Freud deixou esse lega-
lização Brasileira, 2012 – “O poeta por- do: a mente traz dentro de si “impulsos
tuguês José Gomes Ferreira também de vida e impulsos de morte”. Podemos
vê no escuro o que os outros homens pensar num modelo simpático: Caim e
não vêem. Poeta é o que?/Um homem Abel não eram duas pessoas, e sim pares
que leva/ o facho da treva/ no fundo da de opostos num só Ser. Todos nós temos
mina/ - mas apenas vê/ o que não ilu- dentro aspectos Caim e de Abel. Naqui-
mina”... Escreve Geraldo Holanda: “Se- lo que o poema de Affonso me tocou, Sociedade Psicanalítica
de Brasília (SPB) BSB

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Associação Psicanalítica
Internacional (IPA)
Mauro Gus

As atividades de Co-Chair dos No- que estão à disposição de todos nós na tes de novas Sociedades, possibilitando
vos Grupos da IPA são muito intensas página Web da IPA. a troca de experiências com a mesma
e relevantes por constituírem-se como Trata-se de tarefas de grande res- língua e cultura. Importante salientar
o principal formato que construímos ponsabilidade, sendo necessários cons- a ativa participação de Heitor Gunther
para a instalação de novas Sociedades tantes contatos pelos atuais meios de Perdigão, Secretário Geral da IPA, para
nas três áreas integrantes de nossa Ins- comunicação entre o Chair do ING alcançarmos esta expressiva decisão de
tituição Maior e que, por manterem Jorge Canestri, o Co-Chair pela Eu- construirmos duplas de Sponsors que
uma expressiva comunicação com as ropa e outro pela América do Norte e fossem brasileiros para brasileiros.
Federações crescem de significado, Canadá. Reunimo-nos em NYC, anual- Para finalizar citamos os Novos Gru-
pois trabalham em conjunto para a di- mente, e cada Congresso das Federadas pos da IPA na América Latina: no Mé-
vulgação e manutenção da Psicanálise proporciona condições de trocarmos xico, Guadalajara, Monterrey e Leon-
tal como a pretendemos científica, téc- ideias com os Sponsors que cobrem a -Guanajuato, no Paraguai o Grupo de
nica e teoricamente. construção dos Novos Grupos em cada Assunción, no Brasil Fortaleza, Belo Ho-
As atividades do ING são orientadas Continente. rizonte, Campinas, Goiânia e Curitiba.
de acordo com os preceitos estabeleci- Assim a FEBRAPSI colabora ativa-
dos pelos Regulamentos e pelas Admi- mente com muitos brasileiros e, em
nistrações da IPA e aprovados pelo Bo- nossa gestão, alcançamos a aprovação,
ard de Representantes Regionais. pelo Board, para a formação das duplas
Assim sendo e como participante há de Sponsors com colegas brasileiros,
dez anos deste Comitê e nos últimos evitando assim o deslocamento de cole-
quatro anos ocupando o cargo de Co- gas de outros Continentes para exerce-
-Chair para América Latina, tivemos rem essa função. Como decorrência de
o prazer de orientar a construção de nossas dimensões continentais, colegas
nove Novos Grupos e indicar os Spon- das mais variadas latitudes constroem
sors que exercem sua função com ab- novos grupos, o que diminui os custos Sociedade Psicanalítica de
soluta dedicação aos eixos reguladores de modo significativo para os integran- Porto Alegre (SPPA) PA

notícias da IPA *
*International Psychoanalytical Association
(Associação Internacional de Psicanálise)

Resultado das eleições 2013


para o Board da IPA
Representantes da América Latina:

Beatriz María De Léon de Bernardi (Uruguai)


Ruggero Levy (Brasil)
Mónica Seidmann de Armeto (Argentina)
Altamirando Matos de Andrade Jr.(Brasil)
Carlos Ernesto Barredo (Argentina)
Jorge Bruce (Peru)
Ruth Axelrod Praes (México)

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palavras da editora Nilde Parada Franch

Este é o quinto e penúltimo núme- ças entre paixão e amor, e muito mais. Civilização é inaugurada.” “Quando, ao
ro do FN da presente gestão. É basica- Luiz Tenório Oliveira Lima (SBPSP), contrário, o nome do Pai não é lembra-
mente centrado no tema do Congresso grande estudioso da psicanálise, da fi- do, ….a violência é pura expressão da
Brasileiro, ainda que fiel à nossa opção losofia, história e literatura responde pulsão de morte”.
de investigar a Construção do Analista, a algumas questões do FN. Falamos a Aguardamos com ‘paixão e medo’ a
de diferentes pontos de vista.Nosso co- respeito do método genético-histórico realização de nosso Congresso, a que
lega Sebastião A.Salim (GEPMG) psica- por ele utilizado em seus estudos e se- nossa Presidente Gleda Brandão, o
nalista e escritor, aqui nos oferece seus minários sobre a obra de Freud e ou- D.Científico Admar Horn, seu secretá-
pensamentos sobre o tema baseados tros autores; perguntamos sobre como rio Daniel Delouya e todos nós, direto-
em sua longa experiência. via, de seu ponto de vista, as influências res, nos dedicamos com muito amor.
A homenagem que prestamos a dos aspectos políticos e sociais da épo- Até o próximo FN e boa leitura a todos!
Betty Joseph, recentemente falecida, ca na escrita de Totem e Tabu, e sobre
foi escrita por Elizabeth e Elias Rocha a atualidade desse texto. Propusemos o
Barros (SBPSP), seus grandes amigos desafio de ligar pensamentos expressos
que aqui compartilham conosco por Admar Horn, Marcio Giovannetti e
aspectos relavantes da personalidade da Sérgio Nick em números anteriores a
admirada colega da Sociedade Britânica. seu modo de pensar algumas questões
Mauro Gus (SPPA) nos proporciona Anette Blaya Luz (SPPA) nos apre-
possibilidade de saber mais sobre o Co- senta reflexão importante e bem cons-
mitê de Novos Grupos, da IPA, de que truída sobre a relação dos fenômenos
foi Co-Chair para América Latina até de massa, das manifestações de rua
julho último. observados nos últimos meses no Bra-
O belo texto de Carlos Vieira (SPB) sil, com as ideias contidas em Totem e
estimula nossas reflexões sobre o medo Tabu. Destacamos: “Quando o Homem
Sociedade Brasileira de
de amar, o temor de estabalecer vínculos que assassina o Pai-dominador sente Psicanálise de São Paulo sp
afetivos pelo medo da perda, as diferen- culpa e remorso, algo se transforma.A (SBPSP)

CONSELHO DIRETOR CONSELHO CIENTÍFICO DEPTO DE PUBLICAÇÕES E DIVULGAÇÃO

Presidente Diretor: Admar Horn Editora: Nilde Parada Franch


Gleda Brandão Coelho Martins de Araujo Secretário: Daniel Delouya Co-Editora: Sandra Maria Gonçalves
SBPSP: Vera Regina J.R. Marcondes Fonseca Corpo Editorial: Maria Aparecida Duarte Barbosa , Maria
Secretária Geral
SPRJ: José de Matos do Carmo Groke, Patricia Vianna Getlinger, Suely Gevertz
Silvia Helena Heimburger
SBPRJ: Liana Albernaz de M Bastos
Tesoureira SPPA: José Carlos Calich Jornalista Responsável: Helena Prado (MTB 51271)
Rosaura Rotta Pereira SPR: Carolina Cavalcanti Henriques Site: Q&I- Qualidade e Informática

SPB: Mirian Elizabeth Bender Ritter de Gregorio Projeto gráfico e Diagramação: Três Design
Diretor do Conselho de Coordenação Científica
SBPdePA: Astrid Muller Ribeiro Gráfica: Vida e Consciência
Admar Horn
SPPel: Lúcia Valquiria Souza Grigoletti
Diretora do Conselho Profissional SBPRP: Lia Fátima Christóvão Falsarella SECRETARIA
Ana Paula Terra Machado APERJ_RIO 4: Eliana Lobo Renata Lang Marcel (renata@febrapsi.org.br)
Diretora do Depto de Publicações e Divulgação SPMS: Leila Tannous Guimarães
Nilde J. Parada Franch GEPMG: Rosália Lage Martins Bicalho EXPEDIENTE
GEPG: Marísia Abrão Federação Brasileira de Psicanálise
Diretora de Relações Exteriores
GEPFor: Galba Lobo Jr. A. N.Sra de Copacabana 540, sala 704 - RJ
Anette Blaya Luz
GEPCampinas: Martha Prada e Silva CEP 22020-001
Diretor Superintendente Tel/Fax 55 21 2235.5922 / 2545.5138
Sérgio Antônio Cyrino da Costa e-mail:febrapsiI@febrapsi.org.br
site: www.febrapsi.org.br

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