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TREBUNAL DE JÜSTtCA DO ÊS l
BIBLIOTECA
DES. HOMERO MAFRA
A DEFESA DOS
INTERESSES DIFUSOS EM JUÍZO
M E IO A M B IE N T E - C O N S U M ID O R • P A T R IM Ô N IO
{.
CULTURAL • PATRIMÔNIO PÚBLICO e outros interesses
1
! Amor: M A Z ilL L I.K U G O N IGRO
2 Ü 1 e diçã o
í— revista, ampliada e atualizada
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2007
E d itora
38200693 0820069
'O I Saraiva
ISBN 978-85-02-06507-9
D a d o s In te rn a c io n a is (le C a ta lo g a ç ã o n a P u b lic a ç ã o ( C I P )
■ (C â m a r a B ra | ile ira d o L iv ro , S P, B ra s il)
M a z z illi, .H u g á N jg ro , 1 9 5 0 - , .
■ - - A d e fe s a t fo s 'in te re s s e s d ifu s o s e m ju íz o :
m e io a m b ie rilê ,'c o n s u m id o r , p a trim ô n io c u ltu ra l,
p a trim ô n io p ú b lic o e o u tro s in te re s s e s 1 H u g o N ig r o
M a z zilli. — 2 0 . e d .r e v .,' a m p l. e a t u a i:— S ã o P a u lo :
S a r a iv a , 2 0 0 7 . -
0 7 -3 5 9 8 ■ C D U - 3 4 7 . 9 2 2 .3 3 (8 1 )
ín d ic e p a r á c a tá lo g o s is te m á tic o :
" 1 . B ra s il : In te íé s s é s d ifu s o s : D e fe s a : P ro c e s s o
civil í | 3 4 7 . 9 2 2 . 3 3 (8 1 )
Editora
i Saraiva
Av. M a rq u ê s de S ã o V ic e n te , 1 6 9 7 — C E P 0 1 1 3 9 -9 0 4 — B a rra F u n d a — S ã o 'P a u lo * S P
Vendas: (1 1 ) 3613-3344 (lei.) / (11) 3611 -3268 (fax) — S A C : (1 1 ) 3613-3210 (Grande S P ) / 0800557668
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LIVROS D O AU TO R
NA ÁREAJURÍDICA
NA ÁREA DA INFORMÁTICA
_ ARTIGOS E TRABALHOS
TESES APROVADAS
(
10— TRABALHOS PUBLICADOS
to), “Pedro Jorge de Mello e Silva” (Mococa), “Ronaldo Porto Macedo” (Pre
sidente Prudente), “César Salgado” (São José dos Campos, Taubaté e Guara-
tinguetá), da Média Sorocabana (Ourinhos), “João Baptista de Santana”
(Marília), “Luiz Gonzaga Machado” (Jtu), “João Severino de Oliveira Peres”
(Araçatuba), “Amaro Alves de Almeida Filho” (Santo André), “João Baptista
de Arruda Sampaio” (Moji das Cruzes), “Magalhães Noronha” (Araraquara) e
no Grupo “Mário de Moura Albuquerque” (Bauru), quando, ainda substitu
to e sob plena Ditadura militar (1976), defendeu a inafastábilidade do pro
motor das suas funções legais, tese que foi a precursora do hoje consagrado
prin cíp io do p rom otor natural (RT, 494:269', Justitia, £5:175 e 245).
Recebeu o primeiro prêmio do concurso Melhor Arrazoado Foren
se, conforme decisão unânime da comissão-julgadora da Associação Paulista
do Ministério Público (1988).
Apresentou e viu aprovadas inúmeras Teses em Seminários e Con
gressos; é autor de diversos livros, bem como de artigos jurídicos, publica
dos nas principais revistas especializadas.
Proferiu conferências, palestras e aulas em cada ramo dos Ministé
rios Públicos do País (da União e dos Estados), bem como na Faculdade de
Direito da Universidade de São Paulo (SP), na Faculdade de Direito da Pon
tifícia Universidade Católica (SP), dentre outras faculdades; na Escola Supe
rior do Ministério Público — Centro de Estudos e Aperfeiçoamento Funcio
nal do Ministério Público do Estado de São Pauio; na Escola Superior do
Ministério Público da União; na Escola Paulista da Magistratura; na Escola
Paulista de Advocacia — Instituto dos Advogados de São Paulo; na Ordem
dos Advogados do Brasil (secção de S. Paulo) etc.
Participou de diversas Comissões instituídas pela Procuradoria-Geral
de Justiça e pela Associação Paulista do Ministério Público (v.g., Comissão
de Estudos sobre o Projeto de Código de Processo Penal — 1983; Comissão
de Estudos Constitucionais — desde 1983; Comissão de Assessoramento à
Coordenadoria de Defesa do Meio Ambiente — desde 1985; Comissão de
Estudos sobre o Projeto de Lei que modifica o Código de Processo Civil —
-1985; Comissão que elaborou o Anteprojeto da "Carta de Curitiba” — 1986;
Comissão de Estudos sobre a Justiça Criminal — 1987; Grupo de Trabalho
sobre a Reorganização Administrativa do Ministério Público de São Paulo —
1991; Comissão de Estudos sobre as Reformas Constitucionais da Adminis
tração e da Previdência — desde 1998; Comissão de Estudos da Conamp
que preparou a AJDIn n. 2.384-DF, contra a Med. Prov. n. 2,088-35, que cer
ceava indevidamente a atividade funcional dos membros do Ministério Pú
blico nacional — 2000; Comissão de Estudos da Conamp que elaborou
anteprojeto de lei sobre o inquérito civil — 2001).
Acompanhou ativamente os trabalhos constituintes, especialmente
no que diz respeito à instituição a que pertenceu, bem como a tramitação
dos projetos que levaram à edição da Lei n. 7.347/85 — Lei da Ação Civil
Pública, e da Lei n. 8.625, de 12 de fevereiro de 1993 — a atual Lei Orgânica
Nacional do Ministério Público.
BREVE CURRÍCULO D O AUTOR— 13
G
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í.
c.
SIGLAS E ABREVIATURAS
CP — Código Penal
CPC — Código de Processo Civil f
CPJ — Colégiò de Procuradores de Justiça ^
CPP — Código de Processo Penal '
CR — Constituição da República de 1988
CSMP — Conselho Superior do Ministério Público (
CTN — Código Tributário Nacional í
Dec. — Decreto (
Dec.-Lei — Decreto-Lei (
Des. — Desembargador f
Dir. —- Direito v
DJE — D iá rio da Justiça do Estado ('■
DJU — D iá rio da Justiça da União í,
DOE — D iá rio Oficial do Estado de São Paulo (
DOU — D iá rio Oficial da União ^
E — Embargos
EC — Emenda Constitucional
ECA — Estatuto da Criança e do Adolescente '
ed. — edição C
Ed. — Editora (
ED — Embargos de Divergência f
EDecl — Embargos de Declaração ■
EDREsp — Embargos de Declaração em Recurso Especial
EFPCtT — Estatuto dos Funcionários Públicos Civis da União
EOAB — Estatuto da Ordem dos Advogados do Brasil V
EREsp — Embargos em Recurso Especial - (
est. — estadual f
ExSusp — Exceção de Suspeição .
fed. — federal
FGTS — Fundo de Garantia do Tempo de Serviço ^
HC — habeas-corpus C.
Ibama — Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e V.
dos Recursos Naturais Renováveis
v. .
id. ib. — idem, ibidern
inc. — inciso ^
Inq. — Inquérito - C
(
22— SIGLAS E ABREVIATURAS
j- — julgado
JSTF — Jurisprudência do Supremo Tribunal Federal (Lex)
JSIJ — ■Jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça e
Tribunais■Regionais Federais (Lex)
JTACrimSP — Julgados /Jurisprudência do Tribunal de Alçada
Criminal de São Paulo (Lex)
JTACSP — Julgados /Jurisprudência dos Tribunais de Alçada
Civil de São Paulo (Lex)
/
JV — Julgados /Jurisprudência do Tribunal de Justiça (Lex)
/'
IACP — Lei da Ação Civil Pública
f~ LAP — Lei da Ação Popular
\,
LC — Lei Complementar
LCP — Lei de Contravenções Penais
('
LDP — . Lei da Defensoria Pública
( LF — Lei de Falências
( ’ LIA — Lei de Improbidade Administrativa
(y ■ Liv. — Livro
LMS — Lei do Mandado de Segurança
( '
LOEMP — Lei Orgânica Estadual do Ministério Público
( LOMAN — Lei Orgânica da Magistratura Nacional
(. LOMPU — Lei Orgânica do Ministério Público da União
( LONMP — Lei Orgânica Nacional do Ministério Público
c LQ — Lei de Quebras
LRP — Lei de Registros Públicos
c —
MC Medida Cautelar
K.
Med. Prov. — Medida Provisória
G Min. — Ministro
v.. MP — Ministério Público
c . MP — Kevista do Ministério Público do Estado do Paraná
MPSP — Ministério Público do Estado de São Paulo
V.
MS — Mandado de Segurança
L,
m.v. — maioria de votos
L. n. número
L. OAB — Ordem dos Advogados do Brasil
L- ONU — Organização das Nações Unidas
op. cit. opus citatum
C
V .
SIGLAS E ABREVIATURAS— 23
RR — Recurso de Revista
RS7J — Revista do Superior Tribunal de Justiça
RT — Revista dos Tribunais
rjj — - Revista Trimestral deJurisprudência
s. — seguintes
s.d.p. — sem data de publicação
seç. —- seção
Serasa — Serasa S.A.
SL — Suspensão de Liminar
SP — São Paulo
SPC — Serviço de Proteção ao Crédito
SS — Suspensão de Segurança
STF — Supremo Tribunal Federal
STJ — Superior Tribunal de Justiça
Súm. — Súmula
t. — tomo
T. — Turma
I o TAC — o extinto I Tribunal de Alçada Civil de São Paulo
2o TAC — o extinto II Tribunal de Alçada Civil de São Paulo
TACrim — o extinto Tribunal de Alçada Criminal de São Paulo
tb. — também
Tít. — Título
TJPR ■ Tribunal de Justiça do Paraná
TJRS — Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul
TJSP — Tribunal de Justiça de São Paulo
TRF — Tribunal ^Regional Federal
TSE — Tribunal Superior Eleitoral
TST — Tribunal Superior do Trabalho
últ. — último
v. — volume
V. — vide
v.g. -- verbi gratia
v.u. -- votação unânime
ÍNDICE SISTEMÁTICO
Trabalhos publicados........................................................................ .5
Breve currículo do autor..... ............................................................. 11
Nota à 20a edição........................ .....................................................15
Siglas e abreviaturas.......................................................................19 ■
TÍTU LO I
C A P ÍT U L O ^ ) .
As várias categorias
de interesses
1. Interesse público e interesse privado.......................................... 45
2. Interesse público primário e secundário..................................... 47
3. Interesses transindividuais e sua tutela coletiva........................... 48
4. Interesses difusos.......................................................................50
5. Interesses coletivos........................!............ ........................... 52
6. Interesses individuais homogêneos.............................................53
7.. Conclusões................................................................................54
26— ÍNDICE SISTEMÁTICO
. . íl I
CAPlTULO|2 J
Legitimação ordinária e extraordinária
1. Legitimação ordinária.... :.........................................................61
2. Legitimação extraordinária............................................... .......61
3. Conclusão...............................................................................65
TÍTULO II
no processo civil
I. Atuação no processo civil em geral........ .79
ÍNDICE SISTEMÁTICO— 27
*
T ÍT U LO III
A DEFESA D O S INTERESSES
D IF U SO S E COLETIVOS
CAPITULOfó
Objeto da Lei n. 7 3 4 *7/85
1. Campo de incidência..... ................. ........... ............................123
2. O veto imposto à Lei n. 7.347/85;............................................. 125
3. A defesa de qualquer interesse transindividual.......................... 127
4. Causa de pedir e natureza do pedido.......................................127
5. A defesa do patrimônio público e da probidade administrativa.... 130
6. O controle do ato administrativo.....;.............. ....................... 130
7- Os princípios da eficiência e da razoabilidade........................... 132
8. Ação civil pública e ação direta de inconstitucionalidade........... 133
9. A defesa do contribuinte e de outros interesses análogos.......... 137
10. Õs danos morais e patrimoniais............................................... 143
11. Direito de resposta coletivo................................... ................. 143
12. Distinção entre ação civil pública,, ação popular e
mandado de segurança coletivo........y**^................................144
CAPÍTULO ^
Proteção ao meio ammente
1. A proteção legal ao meio ambiente.......................................... 147
2. Conceito de meio ambiente.....................................................151
3. A proteção às coisas, aos animais e aos vegetais........................ 152
4. Consciência social da preservação ambiental.............................153
5. Legitimação para a ação ambiental...... .....................................154
CAPÍTULO 8
Proteção ao consumidor
1. Conceito doutrinário de-consumidor........................................159
2. Conceito legal de consumidor...........!..................................... 161
3. O papel do Ministério Público.................................................168
4: O consumidor individual......................................................... 171
5. O Ministério Público e o atendimento ao público......................173
ÍND ICE SISTEM ÁTICO— 29
CA PÍTULO 9
Proteção ao patrimônio cultural
CAPÍTULO 10
Tombamento
1. O tombamento como forma de proteção administrativa............ 211
2. Outras formas especiais de proteção............................ ..........213
3. Natureza jurídica do tombamento............................................ 215
4. Conclusões..............................................................................216
30— ÍND ICE SISTEMÁTICO
CAPÍTULO 11
Ações principais e cautelares
e áções individuais
1. Ações principais e cautelares................................................... 217
a) Provimentos jurisdicionais possíveis................ ...................217
b) Provimento mandamental.................................................. 218
c) Provimento injuntivo..........................................................220
2. Rito processual................................ :................ :.............. .....220
3. A ação cautelar............. .............. ............. ...................... ...... 221
4. Antecipação da tutela............................. .................................223
5. Ações individuais........................................................... ........224
CAPÍTULO 12
Ação penal para defesa de
interesses transindividuais
1. Generalidades............................. :........................................229
a) O direito de punir............................................................. 229
b) Tutela penal de interesses transindividuais..........................230
c) Prejudicialidade entre ação civil e ação penal....................... 230
d) Prejudicialidade entre ação penal e ação civil...................... 231
2. Iniciativa da ação penal............................................................ 233
3. A ação penal privada subsidiária..................... ...... ................... 234
4. Assistência ao Ministério Público...... /^X................................ 235
CAPÍTLJLoÁj 3
Ações declaratórias e constitutivas
1. Ações alcançadas pela Lei n. 7.347/85..... ............................... ..237
2. A norma residual de proteção a outros interesses difusos,
coletivos e individuais h o m o g ê n e o s . . . ........... .................. 239
CAPITULOU 4 j
Conexidade, continência
e litispendência
1. Conexidade e continência....................................................... 241
ÍN D IC E SISTEMÁTICO— 31
2. Litispendência.........................................................................244
3. Unidade ou extinção de processos................ ......................... 248
CAPÍTULO (í5
Competência
1. As regras gerais................. .............:.......................... ...........251
2. As questões decorrentesdas relações do trabalho........... .......... 254
a) A competência da Justiça do trabalho.................................. 254
b) O meio ambiente do trabalho............................................. 255
c) Òs interesses transindividuais indiretamente ligados
às relações do trabalho..................................... :.............. 258
3. A competência absoluta......................................................... 260
4. A competência em matéria de interesses transindividuais........ 260
a) Interesses difusos e coletivos.................................... .........260
b) Interesses individuais homogêneos...........................;....... 261
c) Os Jimites da competência territorial do juiz prolator.......... 261
d) Conclusão......................................................................... 266
5. A competência em matéria de defesa do consumidor.............266
i a) Competência relativa........................ ................................266
J b) O domicílio dos substituídos............................................. 268
6. A competência em matéria de infância e juventude................... 269
7. Os danos nacionais e regionais................................................ 269
8. O critério da prevenção........... ..................................... :.......271
9. O interesse da União e de vários Estados................ ................ 272
^0. A disputa sobre direitos indígenas......... ................................277
11. A questão do foro por prerrogativa de função.................... ,....278
’ ;12. A inexistência de juízo universal nas ações coletivas............... 284
- .13. Considerações finais............. ..................................................285
;/V CAPÍTULO/^6^
‘ Legitimação ativa
1- Legitimados ativos........ ...... ....................................................287
r 2- Representatividade adequada.................................................. 290
Legitimação das associações civis, dos partidos políticos,
dos sindicatos e das fundações privadas..................................297
a) Legitimação das associações civis........................................ 297
32— ÍND ICE SISTEMÁTICO
CAPITULGfil 7
í
Litisconsórcio
e assistência
1. Generalidades........................................................................ 319
2. Litisco nsórcio......................................................................... 319
3. Litisconsórcio ulterior e aditamento à inicial................ ............323
4. Ministério Público autor e fiscal.............................................. 324
5. Litisconsórcio entre Ministérios Públicos..................................325
6. As várias formas de assistência................................................. 330
à) Os co-legitimados...... ...... ....... .........................................330
b) Os indivíduos lesados.... ................. .................................. 330
ê) Os terceiros............. ..........................................................333
CAPÍTUL0118
Legitimação pas:
1. Os legitimados passivos....................................................... :...335
a) A regra geral............ ..........................................................335
b) A ação declaratória incidental............................................. 335
c) O Ministério Público como réu........................................... 336
d) As autoridades no pólo passivo................................ ..........336
e) A desconsideração da personalidade jurídica....................... 337
f) Entes sem personalidade jurídica........................................ 339
g) A intervenção de terceiros...................................................339
h) A citação dos beneficiários do ato impugnado..................... 339
2. A substituição processual no pólo passivo................................ 341
3. O Estado como legitimado passivo................... ........................344
4. A responsabilidade solidária e a responsabilidade
regressiva................................................ ..’............... .......... 347
ÍNDICE SISTEMÁTICO— 33
CAPÍTULO(l9j
Interesse processual
1. Interesse processual quanto ao Ministério Público........... .........349 -
2. Os demais legitimados............................................................... 351
3. A subsistência do interesse processual........................... ............ 352
CAPÍTULO^Oy
Unidade do Ministério Público
1. Princípios institucionais............................................................. 355
2. As promotorias de Justiça.......................................................... 356
3- Pluralidade ou unidade de agentes no feito................................ 358
4. Conflitos de atribuições............................................................. 359
5. Litisconsórcio de Ministérios Públicos........................................ 362
. CAPÍTUL<^21^)
Desistência da açao
1. Generalidades sobre a desistência da ação civil pública................363
2. Recusa ministerial em assumir a ação.........................................366
3- Homologação pelo Conselho Superior do Ministério Público........367
Desistência pelos demais legitimados ativos.............................. 368
\
CAPÍTULO 22 j
^ J
Desistência pelo Ministério Público
1. ■Igual tratamento processual para as formas de desistência.........369
2, Homologação pelo Conselho Superior do Ministério Público........372
r \
CAPITULO: 23 J
V
Transação e
compromisso de ajustamento
1. Generalidades...........................................................................375
a) A possibilidade de transigir......................... ..........................375
34— ÍND ICE SISTEMÁTICO
CAPÍTULO 24
Desistência e renúncia do recurso
1. Atos de desistência ou renúncia do recurso.............................. 401
2. Caráter excepcional dos atos....................................................402
3. Efeitos............................................................. ......................402
4. Desistência _pelo Ministério Público......................................... 403
5. Oitiva do Conselho Superior do Ministério Público.................. 404
CAPÍTULO 25
Notificações, requisições
e dever de informação
1. As notificações....................................................................... 405
2. As requisições........................................................................ 406
3- As matérias sigilosas...................................................... ;.......409
4. A requisição de informações eleitorais e bancárias.................... 412
5. Requisições à autoridade policial............................................. 414
6. Desatendimento à requisição....... ......................... !.............. 414
7. O particular e o acesso à informação....................................... 414
8. A chamada Lei da Mordaça..................................................... 415
ÍND ICE SISTEMÁTICO— 35
CA PÍT U LO 26
Inquérito civil
1. Generalidades.......................................................................... 421
2. Instauração, competência e objeto............................................ 426
1:■3. Instrução e sigilo............................. ........................................ 428
4. Conclusão..........................................:................................. 429
5. O arquivamento implícito......................................................... 431
6. Controle do arquivamento....................................................... 433
7. O arquivamento de outros inquéritos civis que não os
da Lei n. 7.347/85 - ......... - .................... - ............ ....... .......436
8. Recursos no inquérito civil.................. ....................................437
9- Compromisso de ajustamento...................................................439
CA PÍT U LO 27
Tramitação do inquérito civil no
colegiado competente
1. As providências prévias....................... .....................................441
2. O arrazoamento pelas associações..... ............................. -.... 442
.'3. O arrazoamento pelos demais legitimados e por terceiros.........443
.4. A matéria regimental........................... ........................... ........443
■\5. A deliberação do colegiado........... ........................................... 444
CA PÍT U LO 28
Efeitos do arquivamento
do inquérito civil
1- Generalidades.......... :...... .................................................. ...447
2. Compromisso de ajustamento.................................................. 450
3. O arquivamento e a decadência........................... .................... 452
V.v.'
CA PÍTULO 29
te-:.- -
;i. Impedimento e suspeição
1- Distinções........................................................................ ...... 453
t: L- a) Generalidades...................................................................... 453 ‘
36— ÍND ICE SISTEMÁTICO
CAPÍTULO 30
Crime contra a
Administração Pública
1. Os crimes do art. 10 da Lei n. 7.347/85 e do art. 8o, VI,
da Lei n. 7.853/89..................................................................463
2. Crítica aos institutos.............................................................. 466
CAPÍTULO 31
^ Liminares e recursos
1. Distinções prévias.................................................................. 469
2. O mandado liminar.......................... ...................................... 472
3. A proibição de concessão de liminar........ .. .......................... ..473
4. Impugnações à decisão sobre a liminar................................... 476
a) Impugnação à concessão da liminar............ :......................476
b) Impugnação à denegação da liminar...................................482
5- A reconsideração da liminar................................................... 483
6. Os recursos em geral..............................................................484
CAPÍTULO 32
Multas
1. As multas cominatórias...........................................................489
2. Multa liminar....................................................... ..................490
3. Multa imposta em tutela antecipada........................................490
4. Multa imposta na sentença..................................... ................ 491
5. Multas administrativas e multas impostas em
compromisso de ajustamento....... ........................................ 493
ÍNDICE SISTEMÁTICO— 37
CA PÍTULO 33
Fundo pará
reconstituir o bem lesado
1. A reparação de interesses difusos lesados................................. 495
2. O fundo do art. 13 da Lei n. 7.347/85....................................... 496
3. Os fundos semelhantes................ ............................................ 498
4. . Fundo federal e.fundos estaduais.............................. .............. 498
5. A participação de membros do Ministério Públicò.......... ..........499
6. As receitas do fundo ............................. ................. ............... 499
7. As finalidades do fundo........................................................... 500
8. ' A reparação das lesões individuais ......... ..................................502
CAPÍTULO 34
Liquidação,
cumprimento da sentença
e execução
1. A liquidação da sentença......................................................... 507
2. O cumprimento da sentença-no processo coletivo..................... 509
a) Generalidades......... ............ ................. ......................... -509
b) Regras para efetuar o cumprimento da sentença..................510
c) A execução provisória................ ............................. :.........513
( A execução de título extrajudicial............................................. 514
4. Observações comuns à liquidação e à execução.........................514
5. A presença de mais de um tipo de interesse transindividual.......515
6. A escolha do foro pelo lesado individual.................................. 516
7. O foro para a liquidação e a execução coletivas......................... 517
8. Os autos em que se deve fazer a liquidação ou a execução......... 517
. 9 . A questão da competência territorial do ju iz............................. 519
10. A preferência das indenizações individuais................................521
11. O papel do Ministério Público.................................................. 522
CAPÍTULO 35
Coisa julgada
1. A coisa julgada como fenômeno processual.............................. 525
38— ÍND ICE SISTEMÁTICO
CAPÍTULO 36
c As custas e os demais
encargos da sucumbencia
(
i. As custas processuais..............................................................547
' 2. Conseqüências processuais da sucumbência............................548
( 3. O Ministério Público, os honorários e a Improcedência............ 553
c
CAPÍTULO 37
e Avaliação dos danos
c 1. As dificuldades na avaliação............ .........................................557
í 2. O papel da perícia................................................................. .560
(
CAPÍTULO 38
i. Responsabilidade estatal
c.- 1. O Estado como causador do dano a interesses transindividuais ... 561
2. O Estado no pólo passivo da ação............................................562
c. ■
CAPÍTULO 39
.
L, Responsabilidade e culpa
c . 1. Responsabilidade com ou sem culpa....................................... 565
2. Exclusão da responsabilidade........................ "....................... 569
ÍNDICE SISTEMÁTICO— 39
CAPÍTULO 40
Responsabilidade dos agentes públicos
1. A responsabilidade dos agentes públicos e dos agentes
políticos...............:................................................................ 577
2. A responsabilidade do membro do Ministério Público............... 579
3- A atividade optnativa do membro do Ministério Público........... 581
4. A questão da responsabilidade por culpa do membro do
Ministério Público.................................................................. 581
5. A ação de responsabilidade civil.............................................. 584
6. A denunciação da lide....... ...................................................... 586
7. A responsabilização de membro do Ministério Público
por medida provisória......... ,..................................................586
, 8. Conclusões.............................................................................. 589
TÍTU LO IV
D IFU SO S E COLETIVOS
CA PÍT U LO 41
Defesa das pessoas
portadoras de deficiência
.1 - O princípio da igualdade......................................................... 593
40— ÍNDICE SISTEMÁTICO
CAPÍTULO 42
Defesa dos investidores
CAPÍTULO 43
Defesa da criança
e do adolescente
1. A defesa de interesses difusos e coletivos na área de
proteção à infância e à juventude....................... .....................617
2. A competência para a ação civil pública.......... ......................... 620
3. Hipóteses de ações civis públicas............................................. 621.
CAPÍTULO 44
Defesa da ordem econômica
e da economia popular
1. Generalidades.................... ..................................................625
2. Hipóteses de ações civis públicas............................................. 629
CAPÍTULO 45
Defesa da ordem urbanística
1. Generalidades.........................................................................631
2. A defesa dos interesses transindividuais ligados ao
urbanismo......................'..................................................... 634
ÍNDICE SISTEMÁTICO— 41
CA PÍT U LO 46
Defesa das pessoas idosas
1. Generalidades................................................ ..... -................ 637
2. A política nacional do idoso.................................................... 639
3. O Estatuto do Idoso.................................................................641
4. O Ministério Público e as pessoas idosas............................. :....644
CA PÍT U LO 47
Defesa de grupos étnicos
e das minorias
1. A democracia e seus problemas.... ........................ .................. 649
2. O respeito aos grupos étnicos e às minorias.......... ...................652
3- A chamada discriminação positiva.... ....................................... 653
4. A defesa dos interesses transindividuais ligados à
proteção das minorias.....................................................:..... 655
C A P ÍT U LO 48
Defesa das mulheres
*tl. Generalidades...................... .... .............................................. 659
2. O princípio da igualdade............ .;.......................................... 660
3. A defesa de interesses transindividuais......................................661
CA PÍT U LO 49
Defesa de qualquer
interesse transindividual
1. Generalidades..........................................................................665
2. A vedação de tutela coletiva.............. ....................................... 666
3. A defesa de interesses difusos ou coletivos................................667
4. A defesa de interesses individuais homogêneos........................ 668
42— ÍND ICE SISTEMÁTICO
TÍTULO V
CONCLUSÕES
CAPÍTULO 50
Síntese dos principais pontos do trabalho...................................... 673
ANEXOS
LEGISLAÇÃO
1. Lei n. 7.347, de 24 de julho de 1985....................................... 679
2. Lei n. 8.078, de 11 de setembro de 1990 (CDC, arts. 81-104)....684
SÚMULAS D O CSMP
Súmulas do Conselho Superior do Ministério Público do
Estado de São Paulo...............................................................691
M O DELO S
1. Portaria inicial de inquérito civil.................................................. 725
2. Compromisso de ajustamento.......................... .......................... 727
3. Promoção de arquivamento de inquérito civil.............................. 729
4. Petição inicial de ação civil pública (meio ambiente)...... ............. 731
5. Petição inicial de ação civil pública (consumidor).........................733
6. Quesitos para perícias ambientais mais comuns........................... 735
INTERESSE E LEGITIMAÇÃO
CAPÍTULO 1
AS VÁRIAS CATEGORIAS
D E INTERESSES
1. É o que faz, v.g., o art. 82, JII, do CPC, quando limita a atuação do Ministério Pú
blico às causas em que haja interesse púbiico, evidenciado pela qualidade da parte ou pela
natureza da lide.
2. Márcio Flávio Maira Lea1, Ações coletivas: história, teoria eprá tica , Sérgio Fabris,
1998.
3. Mauro Cappelletti, Formazioni sociali e interessi di gruppo dávanri alia giustizia
civile, em Rivista d i D iritto Processuais , 30-.367, 1975; La tutela degli interessi diffusi nel
d iritto com parato , Giuffrè, 1976.
4. Massimo Villone, í,a collocazione istituzionale dell'interesse diffuso, em La tutela
degli interessi diffusi nel d iritto comparato, Giuffrè, 1976.
AS VÁRIAS CATEGORIAS DE INTERESSES— 47
4. Interesses difusos12
Difusos — como os conceitua o CDC — são interesses ou direitos
“transindividuais, de natureza indivisível, de que sejam titulares pessoas
indeterminadas e ligadas por circunstâncias de fato” .13 Os interesses difu
sos compreendem grupos menos determinados de pessoas (melhor do
que pessoas indeterminadas, são antes pessoas indeterm ináveis), entre
as quais inexiste vínculo jurídico ou fático preciso. São como um feixe ou
conjunto de interesses individuais, de objeto indivisível, compartilhados
p o r pessoas indetermináveis, que se encontram unidas p o r circunstân
cias de fa to conexas.
coletivo em sentido estrito, pois o grupo atingido estará ligado por uma
relação jurídica básica comum, que, nesse tipo de ação, deverá necessaria
mente ser resolvida de maneira uniforme para todo o grupo lesado.
Tanto os interesses difusos como os coletivos são indivisíveis, mas
se distinguem não só pela origem da lesão como também pela abrangência
do grupo. Os interesses difusos supõem titulares indetermináveis, ligados
p o r circunstâncias de fa to, enquanto os coletivos dizem respeito a grupo,
categoria ou classe de pessoas determinadas ou determináveis, ligadas
pela mesma relação ju ríd ica básica.
Por sua vez, os interesses coletivos e os interesses' individuais ho
mogêneos têm também um ponto de contato: ambos reúnem grupo, cate
goria ou classe de pessoas determináveis; contudo, distinguem-se quanto à
divisibilidade do interesse: só os interesses individuais homogêneos são
divisíveis, supondo uma origem comum.
Exemplifiquemos com uma ação coletiva que vise à nulificação de
cláusula abusiva em contrato de adesão.20 No caso, a sentença de proce-
: dência não irá conferir um bem divisível aos integrantes do grupo lesado. O
interesse em ver reconhecida a ilegalidade da cláusula é compartilhado
pelos integrantes do grupo lesado de forma não quantifícável e, portanto,
indivisível: a ilegalidade da cláusula não será maior para quem tenha dois
ou mais contratos em vez de apenas um: a ilegalidade será igual para todos
eles (interesse coletivo, em sentido estrito).
Tomemos mais um exemplo de interesse coletivo em sentido estri
to. Pode o Ministério Público do Trabalho, com base nó art. 83, IV, da Lei
Complementar n. 75/93, propor ação civil pública para a declaração de nu
lidade de cláusula de contrato, acordo coletivo ou convenção coletiva que
viole as liberdades individuais ou coletivas ou os direitos individuais indis
poníveis dos trabalhadores.21 Em relação aos atuais trabalhadores, o inte
resse §erá coletivo (grupo determinado); no que diz respeito aos trabalha
dores futuros, o interesse será difuso (grupo indeterminável).
24. RE n. 163-231-3-SP, STF Pleno, Inform ativo STF, 62, e DJU, 29-06-01, p. 55; R
332,545-SP, I a T. STF, Inforrncitivo STF, 389■ |
AS VÁRIAS CATEGORIAS DE INTERESSES— 5 5
sula (apenas em seu exclusivo benefício). Por outro ladó, até mesmo os
interesses difusos são transindividuais, pois, embora não permitam sua
defesa estritamente individual em juízo, na verdade não passam de interes
ses individuais compartilhados por um gnipo indeterminável de lesados.
A distinção entre os vários tipos de interesses transindividuais tem
conseqüências práticas. Entre outros aspectos, adiantemos que a lei trata
diversamente a coisa julgada de acordo com a natureza do interesse ofendi
do; além disso, só os interesses individuais homogêneos têm objeto divisí
vel; ademais, a sentença de procedência em ação civil pública só poderá ser
executada individualmente se a lesão envolver interesses individuais homo
gêneos, ou ainda, como veremos mais adiante, se envolver interesses coleti
vos em sentido estrito.28
Interesses difusos, coletivos e individuais homogêneos sempre exis
tiram; não. são novidade de algumas poucas décadas. Nos últimos anos,
apenas se acentuou a preocupação doutrinária e legislativa em identificá-los
e protegê-los jurisdicionalmente, agora sob o processo coletivo. A razão
consiste em que a defesa judicial de interesses transindividuais de origem
comum tem peculiaridades: não só esses interesses são intrinsecamente
transindiinduais, como também sua defesa ju d icia l deve ser coletiva, seja
em benefício dos lesados, seja ainda em proveito da ordem jurídica. Dessa
forma, o legislador estipulou regras próprias sobre a matéria, especialmente
para solucionar problemas atinentes à economia processual, à legitimação
ativa, à destinação do produto da indenização e aos efeitos de imutabilidade
da coisa julgada.
Pára a defesa na área cível dos interesses individuais homogêneos,
coletivos, e difusos, e, em certos casos, até mesmo para a defesa do próprio
interesse público, existem as chamadas ações civis públicas ou ações cole
tivas.29
Qual expressão é a mais correta: direitos transindividuais ou inte
resses transindividuais? E comum vermos na doutrina, na jurisprudência e
até nas leis referências tanto a interesses difusos como a direitos difusos,
tanto a direitos coletivos como a interesses coletivos. Qual a terminologia
mais preferível?
Interesse é o gênero; direito subjetivo é apenas o interesse protegi
do pelo ordenamento jurídico. Considerando que nem toda pretensão à
tutela judicial é procedente, temos que o que está em jogo é a tutela de
interesses, nem sempre direitos. Assim, para que interesses difusos, coleti
vos ou individuais homogêneos sejam tutelados pelo Poder Judiciário, é
preciso que esses interesses estejam garantidos pelo ordenamento jurídico;
e esse é, precisamente, o caso do direito ao meio ambiente sadio, do direito
à defesa do consumidor, do direito à proteção às pessoas portadoras de
30. CDCf arts. 66-68. A propósito da ação penal para a defesa de interesses transin
dividuais, v,t áinda, o Cap, 12.
c
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CAPÍTULO 2 .. (
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LEGITIM AÇAO ORD1NARIA '
E EXTRAORDINÁRIA (
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SUMÁRIO: 1. Legitimação ordinária. 2, Legitimação extraordiná
ria. 3. Conclusão. (
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W ' (-
1. Legitimação ordinária1 (
_ A clássica maneira de defender interesses em juízo dá-se por meio (
da chamada legitimação ordinária, oú normal, segundo a qual a própria
pessoa que se diz lesada defende seu interesse. Assim, se o Estado se en
tende lesado, seus agentes provocam a jurisdição (como ocorre na ação (
penal pública, no bojo da qual o Ministério Público, age privativamente
contra o provável autor do ilícito penal); se o indivíduo se diz lesado, ele (
próprio busca a defesa de seu interesse em juízo (como numa ação civil de
perdas e danos).
V ,. Assim, sob o sistema da legitimação ordinária — que constitui a re
gra no Direito — , àquele que invoca a condição de titular do direito mate-
rial supostamente lesado, é que cabe pedir sua proteção em juízo (ainda
que o direito material possa efetivamente sequer existir; daí, pois, a auto- (
noin ia do direito de ação).
Excetuadas as hipóteses em que o Estado reserve para si próprio a
iniciativa de agir, no mais, diante da natureza disponível dos direitos priva- (
vdos, o ordenamento jurídico privilegia o individualismo para identificar os
sujeitos legitimados que podem pedir a atuação dos órgãos jurisdicionais
em busca da restauração da ordem jurídica violada. (
2. Legitimação extraordinária
A legitimação será extraordinária, ou anômala, quando o Estado
não levar em conta a titularidade do direito material para atribuir a titulari- k
1. A propósito dos legitimados ativos para a açãó civil pública ou coletiva, v. Cap. 16.
62— CAPÍTULO 2
dade da sua defesa em juízo. Em alguns casos, o Estado permite que a defe
sa judicial de um direito seja feita por quem não seja o próprio titular do
direito material, ou, pelo menos, por quem não seja o titular exclusivo des
se direito.
Porque é excepcional, a legitimação extraordinária depende de ex
pressa autorização legal (ao contrário do que ocorre com a legitimação or
dinária), e poderá ocorrer: d) quando, em nome próprio, alguém esteja
autorizado a defender direito alheio (na substituição processual);
h) quando, numa relação jurídica que envolva vários sujeitos, a lei permite
que um só dos integrantes do grupo lesado defenda o direito de todos
(como nas obrigações solidárias).
A substituição processual é uma forma de legitimação ■extraordi
nária, que consiste na possibilidade de alguém, em nome próprio, defen
der em juízo interesse alheio.2
A legitimação extraordinária, por meio da substituição processual,
é, pois, inconfundível com a representação. Na representação processual,
alguém, em nome alheio, defende o interesse alheio (como é o caso do
procurador ou mandatário); já na substituição processual, alguém, que não
é procurador ou mandatário, comparece em nome próprio e requer em
juízo a defesa de um direito que admite ser alheio. Pelo nosso sistema, al
guém só pode defender em nome próprio direito alheio, se houver expres
sa autorização legal para isso.3 Como exemplos de substituição processual,
lembremos o gestor de negócios ou o curador especial.4
Vejamos o que ocorre nas ações civis públicas ou coletivas, para de
fesa de interesses transindividuais (clifusos, coletivos e individuais homogê
neos).5 Por meio delas, alguns legitimados substituem processualmente a
coletividade de lesadòs (legitimação extraordinária).
A legitimação extraordinária ou especial dá-se em proveito da efeti
vidade da defesa do interesse violado.6 Nas lesões a interesses de grupos,
classes ou categorias de pessoas, seria impraticável buscar a restauração da
ordem jurídica violada se tivéssemos de sempre nos valer da legitimação
ordinária, e, com isso, deixar a cada lesado a iniciativa de comparecer em
juízo, diante dos ônus que isso representa (não só os relacionados com o
custeio da ação, como os de caráter probatório). A necessidade de compa-
recimento individual à Justiça, sobre impraticável quando de lesões idênti
cas a milhares ou milhões de pessoas, produziria ainda dois efeitos indese
10. Nesse sentido, Nelson e Rosa Nery, Constituição Federal comentada, cit., no
ao art. 5o da Lei n. 7.347/85.
LEGITIMAÇAO ORDINÁRIA E EXTRAORDINÁRIA— 65
soas, os quais não estariam legitimados a defender a não ser por expressa
autorização legal. Daí porque, para que pudessem defender esses interesses
transi ndividuais. foi preciso o advento de lei que lhes conferiu legitimação
para agir em nome próprio, em favor de todo o grupo — é o que o fizeram
a Constituição, a Lei da Ação Civil Pública, o Código de Defesa do Consu
midor e tantas outras leis subseqüentes. Dessa forma, cremos que esse fe
nômeno configura preponderantemente a legitimação extraordinária, ainda
que, em parte, alguns legitimados ativos possam, nessas ações, também
estar a defender interesse próprio, englobado no pedido coletivo.
Ao menos no tocante à tutela de interesses individuais homogêneos,
a própria lei consigna que os legitimados à ação coletiva poderão propô-la,
em nome p róp rio e no interesse das vítimas ou de seus sucessores (art. 91
: do CDC), o que confere a essa ação coletiva os contornos efetivos da legiti
mação extraordinária.11
Em nosso entendimento, a substituição processual nas ações civis
públicas ou coletivas vai mais além. Ela não se dá apenas nas hipóteses de
defesa de interesses individuais homogêneos. Como já antecipamos, tam
bém quando agem na tutela judicial de interesses coletivos, e, portanto,
indivisíveis, os co-legitimados à âção civil pública ou coletiva defendem
interesses individuais dos integrantes do grupo lesado, Da mesma forma,
quando agem no zelo de interesses difusos, os co-legitimados à ação civil
pública ou coletiva, a par de também süstentarem interesses institucionais
próprios (no caso das associações civis, do Ministério Público ou do próprio
-Estado), sem dúvida estão defendendo interesses individuais de titulares
dispersos no seio da coletividade.
É o mesmo que ocorre na ação popular, na qual o cidadão, embora
também não seja representante da coletividade — pois age por direito pró
prio a ele conferido pelo ordenamento jurídico — , na verdade busca “a
tutela jurisdicional de interesse que não lhe pertence, ut singuíi, mas à
eoletiyjdade” .12
Enfim, se entendêssemos que os Jegitimados ativos à ação civil pú
blica ou coletiva agem por direito próprio, chegaríamos à incorreta conclu
são de que jamais haveria litispendência entre duas ações civis públicas com
a mesma causa de pedir e o mesmo objeto, quando movidas por legitima
dos ativos d ife re n te s .13
3. Conclusão
Como é excepcional que se admita a defesa de um direito por quem
não seja seu titular, antes do advento da Lei n. 7.347, de 24 de julho de
XI. CPC, art. 6o. Cf., a propósito, de Paulo Valério da) Pai Moraes, O compromisso
dc ajusta memo, cm Revista Jurídica, 266:61.
12. José Afonso da Silva, Curso de D ireito Constitucional p o s itiv o , p. 459, 11a ed.,
Malheiros, 1996.
13. A propósito, v. Cap. 14, n. 2.
66— CAPÍTULO 2
14. Lei n. 4.717/65. Na prática, as ações populares sempre foram, porém, muito !’s
pouco ajuizadas, predominantemente por morivos eleitoreiros. ;|
15. Como a ação reparatória de danos ao meio ambiente — Lei n. 6.938/81, art. 14, s
§ I o. A propósito das ações civis públicas conferidas ao Ministério Público, v. Cap. 3. ^
16. V! o antigo Estatuto da OAB (Lei n. 4.215/63, arts. I o, parágrafo único, e 129), ou ?f
a antiga Lei de Direitos Autorais (Lei n. 5.988/73, art.’104). Entretanto, tais normas criaram
antes hipóteses quase que teóricas, sem maior eficácia concreta. *
17. CDC, art. 81, parágrafo único, III. Z
18. CDC, arts. 87, 103 etc. 1
19- REsp n. 235.422-SP, rel. Min. Rosado de Aguiar, 4a T. STJ, v.u., j. 19-10-00, DJU,
18-12-00, p. 202, e RSTJ, 146:557■ í
Título II
A Ç Ã O CIVIL PÚ B LIC A
11. Essa aruação do Ministério Público na promoção da ação civil ex d elicto , em fa-
vor tle vítima pobre que o requeira, hoje só se admite em caráter subsidiário, até que se viabi
lize, em cada Estado, a implementação da Defensoria Pública, nos termos do art. 134, § I o, da
..CR.;Nesse sentido, v. RE n. 341.717-SP, STF, decisão dé 07-08-02 do rel. Min. Celso de Meüo,
Informativo STF, 272; REsp n. 68.275-MG, 4B T. STJ, j. 13-02-01, v.u., rel. Min. Rosado de
Aguiar, DJU, 02-04-01, p. 295; RE(AgRg) n. 196.857-SP, I a T. STF, j. 06-03-01, rel. Min. IZllen
■;Gracie, Infonnativo STF, 219-
12. Como ensina D e Plácido e Silva, seqüestro é o depósito ou a apreensão judicial
de coisa certa, sobre que se litiga; arresto é apreensão de bens do devedor em garantia (Vb-
■CdbutárioJurídico, Forense, 1984).
13. Olvidando a vocação constitucional do Ministério Público para empreender a de-
:fesà de interesses indisponíveis, e, assim, decidindo sem maior acerto, a 2a T. do STJ, por
-maioria de votos, tem anulado aíguns processos em razão da suposta ilegitimidade ativa do
Ministério Público para p ropor ações civis públicas no zelo de direito individual de menores,
■'^ual seja, garantir-lhes matrícula em creches (REsp n. 485.969-SP, j. 11-11-03, In form a tivo de
Jurisprudência STJ, 191; REsp n. 466.861 -SP, j. 17-06-04).
74— CAPÍTULO 3
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res em geral, para assegurar condições de aleitamento materno (art. 9o);
b) contra a Fazenda Pública para assegurar condições de saúde e de educação
(arts. 11, caput, e § 2o, e 54, § I o); c) contra hospitais, para que cumpram ;
disposições do Estatuto (art. 10); d) contra empresas de comunicação (arts.
76 e 147, § 3o; arts. 220, § 3o, e 221 da CR); e) contra editoras (arts. 78-79 e ,
257); f ) contra entidades de atendimento (arts. 97, parágrafo único; 148, V;
191); g) contra os próprios pais ou responsáveis (arts. 129, 155, 156); h) de
execução das multas (art. 214, § I o).
16. À vista do disposto no art. 7o, II, da Lei n. 9.447/97, a legitimidade do Ministério
Público persiste mesmo após cessada a intervenção. Nesse sentido, v. REsp n. 444.948, 2a Seç.
STJ, j. 11-12-02, v.u., rel. Min. Rosado de Aguiar, D/U, 03-02-03, p. 261; REsp n. 480.-í 18-RO,
y '*'• STJ, j. 21-10-03, v.u., rel. Min. Castro Filho, DJU, 17-11-03, p. 321.
17. Sobre a vigência da LC n. 40/81, v. nota de rodapé n . 14, retro. A a s s i s t ê n c i a ju
diciária cabe às Defensorias Públicas; só em caráter supletivo poderá ser exercida pelo Minis
tério Público (v.g., art. 68 do CPP). e desde que não gere impedimentos ou incompatibilida
des para o exercício das funções típicas dos membros desta instituição.
76— CAPÍTULO 3
18. Ainda, que não relacionados especificamente com a defesa do meio ambiente,
consumidor, patrimônio público ou cultural. A legitimação é genérica.
19. Admitindo a consticucionalidade desse dispositivo, v. RE n. 248.869-SP, STF Ple
no, m.v., j. 07-08-03, rel. Min. Maurício Corrêa., inform ativo STF, 315,319 e 339■
AÇÃO CIVIL PÚBLICA— 77
7. Por isso, afora outros vícios jurídicos, foi terarológica a Med. Prov. n. 2.088-35/00,
editada pelo então Presidente Fernando Henrique Cardoso, que instituiu reconvenção nas
aÇões de improbidade administrativa movidas pelo Ministério Público, com base na Lei n.
«■429/92...
8. Entendem alguns que, quando o Ministério Público sucumbe, não há encargos
nein para esta instituição — com o que concordamos — nem para o Estado — do que discor
damos. Para melhor discussão da matéria, v. Cap. 36. Quanto à análise da responsabilidade
db membro do Ministério Público, será feita no Cap. 40.
9 .H C n. 83-255-SP, STF Pleno, m.v., j. 05-11-03, rel. Min. Marco Aurélio, In form a ti
vo.STF, 328.
10. Comentários ao Código de Processo Civil, v. I, p. 377, nota ao art. 81, Forense,
1981.
82— CAPÍTULO 4
ciais, coletivos ou difusos, vedada toda e qualquer atuação fora de sua voca
ção institucional.11 Em vista disso, só poderá exercitar a defesa de interesses
individuais homogêneos, ainda que disponíveis, se estes tiverem suficiente
abrangência ou repercussão social.12
A Constituição vedou ao Ministério Público a representação das en
tidades públicas.13 Com a vigência das Leis Complementares ns. 73/93 e
75/93 (Lei Orgânica da Advocacia-Geral da União e LOMPU), os membros
ministeriais já não mais podem agir como procuradores da Fazenda. Mesmo
quando o Ministério Público proponha ações em defesa do patrimônio pú
blico, não mais o farã como representante da Fazenda, e sim como substitu
to processual.1^
a ) O dever de agir
V.;'
i
17. Acolhendo nossa posição, v. REsp n. 23<S.ltíl-DF, 4a T. STJ, j. 06-04-06, v.u., rel. ■>!
Min. Aldir Passarinho Júnior, DJU, 02-05-06, p. 333; RH n. 248.869-SP, STF Pleno, m.v., j. 07- f
08-03, rel, Min. Maurício Corrca, Inform ativo STF, 315, 319 e 339- '
*
18. Sobre a distinção entre interesse público primário e secundário, v. Çap. 1, n. 2. . j
19. CR, art. 127.
20. CR, art. 129, III. ■ ■ J
21. Cf. Hélio Tomaghi, Comentários ao Código de Processo Civil, v. I, comentário f
ao art, 81v Revista dos Tribunais* 1976. \
r
A ATUAÇÃO D O M INISTÉRIO PÚBLICO N O PROCESSO CIVIL— 85
sistir, ou até desistir do recurso, desdé que entenda nãosestar presente hi- .:
pótese em que a própria lei torne obrigatório seu prosseguimento .28
da ativa da Fazenda. Por igual, não se justificará sua presença num mandado :
de segurança que tenha o mesmo objèto que seria possível pedir numa ação j
ordinária na qual não devesse atuar o Ministério Público, í
Agora, ao contrário, num mandado de segurança impetrado por a1- :
gumas pessoas portadoras de deficiência visando à garantia de acessibilida-.;
de em espaços públicos, a ação dirá respeito ao interesse, de toda a coletivi-
dade, e a intervenção do Ministério Público será indispensável. Da mesma '
forma, se a Fazenda não agir contra o administrador ímprobo, terá, sim, J
toda a pertinência a iniciativa do Ministério Público na propositura de ação •:
civil pública ou na intervenção em ação popular correspondentes. . i
Tomemos outro exemplo. Menciona a lei a necessidade de inter- ‘
venção do Ministério Público nas ações de usucapião de bem imóvel;36 en- V
tretanto, visando a adequar a atuação à sua destinação institucional, tem-se '.i
entendido que ele só deva oficiar nesse tipo de ação quando estiverem em
jogo interesses sociais ou individuais indisponíveis.37 ■}
Em face da nova gama de atribuições do Ministério Público, a ele •
conferidas na Constituição de 1988, é necessário, pois, repensar sua atua-
ção na esfera civil, dando enfoque à expressão social do interesse contro- j
vertido. _ 1
Cabe ao próprio Ministério Público identificar a presença do ime-
resse que; lhe incumba defender. Assim, por exemplo, tudo recomenda in-
tervenha num mandado de segurança em que se discuta o acesso de pes- '!
soas portadoras de deficiência às instalações do Metrô ou a um edifício
público, pois sua solução diz respeito a toda uma categoria de pessoas. Ao
reverso, hoje pode não mais se identificar interesse social relevante, consi
derada a-abrangência ou a natureza do dano, quando se cuide de sua inter
venção em mandado de segurança no qual se discuta apenas uma relação
tributária individual. Não se diga que o mandado de segurança é ação de
índole constitucional, porque também o são quaisquer ações judiciais. Nem
o fato de essa ação questionar um ato possivelmente ilegal de autoridade,
nem o só rito peculiar do mandamus, nada disso, por si só, seria suficiente
para ainda hoje justificar a intervenção ministerial, quando a mesma lide, se
fosse ajuizada por meio de ação ordinária, não imporia essa mesma inter
venção.
A nosso ver, e de lege ferenda, a melhor maneira de adequar o Mi- f
nistério Público ao seu atual perfil constitucional será conferir-lhe a lçi, ff
gradativamente, maior discricionariedade para identificar as hipóteses em -1
que entenda necessário agir ou intervir. Assim, poderá concentrar esforços ê
nas questões em que se busque maior efetividade em sua atuação concreta. íj
Mas, naturalmente, essa discricionariedade deverá ser muito bem controla' :fj
da. Para que o sistema proposto funcione adequadamente, será necessário ■;
estabelecer um sistema de controle da inércia, mediante o qual qualquer j
42. Cf. arts. 81 e 82 do CDC, e art. 82, II e III, do CPC, com a redação que lhe deu a f
Lei n. 9.415/96. .s
43. LACP, art. 5o, § I a- 'l
44. CPC, art. 8 2 ,1 e III. '
1
A ATUAÇÃO DO MINISTÉRIO PÚBLICO N O PROCESSO CIVIL— 91
48. Nesse sentido, v. RT, 464:212 (STF). Contrariamente, entendendo que, nesse ca
so, o membro do Ministério Público está impedido até'mesmo de opinar contra o incapaz, v.
. Cândido Rangel Dinamarco, Fundamentos do processo civil moderno, p. 332, Revista dos
;Tribunais, 1986,
49. Nessa linha, cf'.RT, 571:141,569:135,5<SS:109,5<S8'.12.Q-Justitia, Z30-.187.
V 50. V., tb., neste Cap., o tópico n. 13.
. ) 51. Jncide, pois, em equívoco o art. 6o, § 4o, da LAP, quando pretende impedir que,
;: na aÇão popular, o Ministério Público defenda o ato impugnado, que p od e ser legítimo.
s.-.' . 52. Acolhendo nosso enrendimento, v. REsp n. 100.960-D1', 4a T. STJ, m.v., j. 29-10-
.98, rel. Min. Sálvio Teixeira, JS7J, 4:261.
' Ov;' 53. Cf. Justitia, 130-.X87-JTACSP, 78-.295,
54. CC de 2002, art. 1.637.
94— CAPÍTULO 4
" " : -J
62. Para a discussão aprofundada da matéria, v. nosso Regime jurídico do Ministério ■,í
Público, cit., Cap. 6, n. 9. •'•}
63. É o mesmo o entendimento de Antônio Ciáudio da Costa Machado, em A inter-tà
venção do Ministério Público no processo civil brasileiro, cit., p. 570. <
A ATUAÇÃO D O M INISTÉRIO PÚBLICO N O PROCESSO CIVIL— 97
64. REsp n. 156.291-SP, 2a T. STJ, j. 09-10-98, rel. Min. Adhemar Maciel, DJU, l°-02-
99, p. 149,75^7,3:183.
65. Em caso de danos diretamente causados por eles (CC, art. 928), ou em caso de
sucessão processual (CPC, arts. 41 e s.).
66. CPC, art. 302, parágrafo único.
67. CPC, art. 8 2 ,1.
68. CPC, art. 82, III.
69. CC de 2002, art. 66.
70. CR, arts. 129, V, e 232.
71. Lei n. 7.853/89, art. 5o.
98— CAPÍTULO 4
, :: 82, Nesse sentido, v. REsp n. 498.280-CE, I a T. STJ, v.u., j. 09-09-03, rel. Min. Luiz
FUx, tíjlf, 29-09-03, p. 159.
83. Código de Processo C ivil com entado , cit., art, 83.
' 8'í ld. ih. V. nota de rodapé n. 83, supra.
' 100— CAPÍTULO 4
dividuais uma vez que a expressão “interesses coletivos” tem alcance consti
tucional próprio.87
A segunda linha de entendimento é ampliativa. Afirmam os partidá
rios desta posição qué a resposta à questão anteriormente formulada só
pode ser positiva, já que o legislador conferiu in thesis legitimidade ao Mi
nistério Público para a defesa de quaisquer interesses transindividuais,88 daí
não ser lícito ao intérprete questionar a presença do interesse social legiti
mador de sua intervenção, pois a presença deste interesse já foi presumida
pelo próprio legislador, que considerou todá e qualquer relação de consu
mo como matéria de ordem pública.89 Assim, as ações coletivas do CDC
evitam a multiplicação de ações individuais e asseguram acesso à jurisdi
ção.30 Em outras palavras, argumenta-se que, se o CDC permite ao Ministé
rio Público ajuizar ação cpletiva para zelo de interesses difusos, coletivos e
individuais homogêneos, não só em matéria atinente às relações de consu
mo, mas também em qualquer outra área que envolva interesses transindi
viduais (CDC, arts. 81-82 e 90, e LACP, art. 21), não haveria razão para res
tringir a iniciativa da instituição e excluir de sua investigação os danos a
interesses coletivos ou individuais homogêneos.91 Em reforço a essa argu
mentação, costuma-se invocar que o art. ó°, VII, d, e XII, da Lei Comple
mentar n. 75/93 (LOMPU), e o art. 25, IV, a , da Lei n. 8.625/93 (LONMP),
também permitem expressamente que o Ministério Público instaure inqué-
nto civil para defesa de interesses individuais homogêneos.
Embora respeitável esta última posição, parece-nos que generaliza
.demais as hipóteses de atuação do Ministério Público em defesa de interes
ses. transindividuais. Essa posição não leva em plena conta que o legislador
ordinário só pode cometer ao Ministério Público atribuições compatíveis
çom seu perfil constitucional.92 Assim, é necessário conciliar a defesa do
interesse a ele cometido na legislação infraconstitucional com a destinação
constitucional do Ministério Público, voltada para uma atuação social. Por
isso, noxaso dos interesses difusos, em vista de sua abrangência ou exten
são, não ná como negar, está o Ministério Público sempre legitimado à sua
defesa; no caso, porém, de interesses individuais homogêneos ou no caso
de interesses coletivos em sentido estrito, sua iniciativa ou sua intervenção
87. Nesse sentido, e com toda a razão, foi o voto do rel. Min. Néri da Silveira, no
jVlsamento unânime do RE n. 213.015-DF, 2a T. STF, j. 08-04-02, DJU, 24-05-02, p. 69.
* ' ' 88. CDC, aits. 81-82.
89. Admitindo a presunção da relevância social na tuteía coletiva de interesses indi-
!l Uais homogêneos pelo Ministério Público, v. Ada Pellegrini Grinover, Código brasileiro de
. efescido consum idor , 7a ed., cit., p. 801.
90. Nesse sentido, Nelson e Rosa Nery, Código Civil anotado e legislação extrava-
&*nte, Revista dos Tribunais, 2003, notas aos arts. I o e 82 do CDC.
91. Nesse sentido, REsp n. 294.021-PR, i. 20-02-01, v.u., I a T. STJ, rel. Min. José Del-
Sado, DJU, 02-04-01, p. 124. -
92. CR, art. 129, IX. ' _
102— CAPÍTULO 4
93. REsp n. 404.239-PR, 4a T. STJ, j. 26-11-02, v.u., rel. Min. Ruy Rosado, DJU, 19-12-í
02, p. 367; REsp n. 371.385-PB, 5a T. STJ, j. 12-11-02, v.u., rel. Min. Felix Fisher, DJU, l 6 - l ^ f
02, p, 363; EREsp n. 547.704-RN, CEsp STJ, j. 15-02-06, v.u., rel. Min. Menezes Direito, •
mativo S1J,274. v
94. V. nosso artigo Interesses coletivos e difusos, RT, 668-.52; no mesmo sentido, i n
vocando nosso posicionamento, JTJ, 158:9, 152:9, 151:20; REsp n. 34.155-MG, j. 14-10-96, ;
T. STJ, v.u., rel. Min. Sálvio Teixeira, DJU, 11-11-96, p. 43.713; REsp n. 95.993-MT, j. 10-12-9$;]..
4a T. STJ, v.u., rel. Min. Sálvio Teixeira, DJU, 24-02-97, p. 3.341. -1
. ‘ :í
95. Essa Súmula foi por nós proposta ao CSMP-SP, que a aprovou em 1994, a partlf.f
da apreciação do Pt. n. 15.939/91, de que tivemos a oportunidade de ser Relator. '.0
96. Decidindo nesse sentido e invocando nosso entendimento, v. REsp n. 108.577v£
PI, j. 04-03-97, 3a T. STJ, v.u., rel. Min. Carlos Alberto Menezes Direito, DJU , 26-05-97, P í
22.532; REsp n. 51.408-RS, j. 26-08-96, 4a T. STJ, v.u., rel. Min. Barros Monteiro, DJU, 18-lV,f|:.:-
96, p, 44.898.
A ATUAÇÃO DO MINISTÉRIO PÚBLICO NO PROCESSO CIVIL— 103
:... • 97. Ainda sobre a atuação do Ministério Público na defesa de interesses individuais
homogêneos, v. Cap. 8, ns. 4 e 8.
98. Nesse sentido, RE n. 248.869-SP, 2* T. STF, j. 07-08-03, m.v., rel. Min. Mauricio
12-03-04, p. 38, e Inform ativo STF, 319\ EREsp n. 114.908-SP, C on e Especial
)■ O7’ ! 1-01, m.v., rel. Min. Eliana Calmon, DJU, 20-05-02, p. 95.
s' 99. Tutela dos interesses difusos e coletivos, p. 21, Juarez de Oliveira, 2006.
104— CAPÍTULO 4
105. Vi£., LC n. 75/93, art. 6o, VI; Lei n. 8.625193. art. 32, I. Equivocado, pois, o r.
despacho da Min. Cármen Lúcia, na AC n. 1.450-MG, de 15-01-06, que exigiu que o Ministério
Público constituísse advogado para propor ação cautelar junto ao STF. Ora, se a lei lhe confe-
re legitimação para agir em defesa de um interesse público, está implícito o poder de ajuizar
ações cautelares necessárias, sendo sua capacidade postuJatória mera decorrência. N ão é
P °r outro motivo que o STF Pleno reconheceu sua capacidade postulatória para defender,
Por meio de mandado de segurança, as prerrogativas institucionais (v. nota de rodapé n. 103,
supray,
106. V. Cap. 40.
107. V.g., art. 944 do CPC. V., ainda, Cap. 18, n. 2.
10(3— CAPÍTULO 4
passivo da relação processual. Isso afasta, nas ações civis públicas ou coleti
vas, até mesmo a possibilidade de reconvenção.108
Total heresia jurídica foi o que pretendeu a Med. Prov. n. 2.088-..
35/00, editada pelo então Presidente Fernando Henrique Cardoso, ao admi- i
tir uma “reconvenção” em .ação civil pública de improbidade da Lei n.
8.429/92, mediante a qual a autoridade acionada como ré, poderia acionar,
nos mesmos autos, o membro do Ministério Público autor da ação. Ora,
entre essa ação e a reconvenção não há conexidade de pedidos ou causa de
pedir, nem nelas as partes são as mesmas (na ação, parte é o Ministério i
Público; na reconvenção, parte seria o membro da instituição, pessoalmente j
considerado)... Naturalmente, nem bem completou um mês de existência, 1
a medida provisória foi alterada, suprimindo-se esse absurdo.
Pelas peculiaridades da ação civil pública ou coletiva, não se há de ■
admitir ação declaratória incidental, se requerida pelo réu.109 1
Somente em situações excepcionais o Ministério Público e os de- j
mais legitimados ativos à ação civil pública poderão ser réus em ação civil ';
pública ou coletiva. Isso poderá ocorrer quando do ajuizamento de embar- ;i
gos de terceiros, ou ainda quando o executado oponha embargos à execu- '
ção fundada em título extrajudicial. Não fosse assim, neste último caso, p. '
ex., seria impossível ao executado desconstituir o título executivo inidô- 'j
neo.110 Ainda mais uma hipótese: o Ministério Público e os demais co-
legitimados poderão ser réus em ação rescisória destinada a atacar a coisa
julgada Obtida em ação civil pública ou coletiva. .. : |
E o membro do Ministério Público? Pode ser acionado pessoalmen
te? A respeito dessa questão, reportamo-nos ao Cap. 40.
108. Sobre a legitimação ativa e passiva nas ações civis públicas e coletivas, v., ainda, ].;
Caps. 16 e 18. S
109. A propósito, reportamo-nos ao Cap. 18, n. 1. ’
110. Ainda sobre a legitimidade passiva na ação civil pública ou coletiva, v. Cap. 18.
111. CR, art. 129, § 1°. " M
A ATUAÇÃO DO MINISTÉRIO PÚBLICO NO PROCESSO CIVIL---107
125. Nesse sentido, REsp n. 5.469-MT, 4a T. STJ, j. 20-10-92, v.u., RT, 694-. 183; em
sentido contrário, R7J, 72:267, 80:861.
126. CPC, art. 14, V, e parágrafo único, com a redação da Lei n. 10.358/01.
127. ADIn n. 2.652-DF, STF Pleno, j. 08-05-03, v.u!, rel. MIn. Maurício Corrêa, DJU,
} 4-11 -03, inform ativo STF, 307.
128. CPC, arts. 16-18.
129. Como, p. ex,, a OAB ou a CGMP.
110— CAPÍTULO 4
legal. As sanções processuais dos arts. 16-18 do CPC destinam-se às partes, '
apenas. Como bem registrou Pontes de Miranda (conquanto escrevendo a;
propósito da redação original desses dispositivos, e antes, portanto, das
alterações legislativas que sobrevieram), “a temeridade e a malícia podeni i
ser apenas do procurador, e nada têm com os arts. 16 e 17” .130 -
Assim, por atos desleais exclusivos dos procuradores, não imputá-;
veis, pois, às partes, não se pode impor a estas as sanções do art. 18, que--'
àqueles dispositivos evidentemente se reporta. .
Ora, no caso do Ministério Público, a instituição pode ser parte, não ;
seus membros, quando ajam nesta qualidade. ;í
Retomemos, então, a análise da questão iniciai: pode o Ministério | ;
Público, enquanto órgão estatal, ou podem seus membros, agindo nesta |
qualidade, ser condenados como litigantes de má-fé? í
-V
A nosso ver isso não é possível. Ainda que os agentes do Ministério |
Público possam cometer erros ou até abusos — e nessa condição responde- :
rão por isso, na esfera administrativa, civil e penal, conforme o caso — a 1
instituição, em si mesma, não poderá ser responsabilizada. A uma, porque, ;
pelos fins constitucionais do Ministério Público, não se pode admitir que, !
enquanto instituição, aja de má-fé (CR, art. 127, caput) . A duas, porque, ;
se de má-fé a ação foi proposta ou conduzida por um membro do Ministé- |
rio Público, esse membro responsabilizará ao Estado e, regressivamente, a si
mesmo,132 mas não ao Ministério Público, que não detém personalidade ír J
jurídica e é órgão do Estado.133 |
Dados os objetivos e as funções de excepcional significância consti
tucional do Ministério Público, e considerada a imprescindibilidade de sua
atuação processual nos casos exigidos pela lei — a tal ponto que, se não *
tiver proposto algumas ações, nelas deve intervir — , não sé compatibilizaria ,j
com o ordenamento jurídico admitir pudesse ele, enquanto instituição, f ;
litigar de má-fé. Da mesma forma, se um juiz errasse, ainda que dolosamen- j .
te, não se poderia dizer que o Poder Judiciário, enquanto instituição, agiiçf v
de má-fé.
130. Comentários ao Código de Processo C ivil, t. I, p. 394, notas aos arts. 16 e 17, .
Forense, 1973. ■' - ■
131. O STJ tem afastado o reconhecimento da litigância de má-fé pelo Ministério 'f '
Público, desde que exista “fundamentação razoável" para sua atuação (REsp n. 182.736-MG,;
1“ T. STJ, j. 04-09-01, v.u,, DJU, 11-03-02, p. 175; REsp n. 152.447-MG, I a T. STJ, j. 28-08-03
v.u., DJU, 25-02-02, p. 203, ambos relatados pelo Min. Milton Pereira), ou, ao menos, quando j
não haja prova caba! ou inconteste de má-fé (v. nota de rodapé n. 134, mais adiante, neste,vL
mesmo Cap.). ■[ ’
132. Sobre a responsabilidade pessoal do membro do Ministério Público, v. Cap. 40. . t
133. Também sustentando que a condenação de litigância de má-fé-não é aplicávtl -
“em princípio" ao Ministério Público, v. Rodolfo de Camargo Mancnso, Ação civ il pública, 5* •“.
ed., cit., p. 253. B.
A ATUAÇÃO DO MINISTÉRIO PÚBLICO NO PROCESSO CIVIL— 111
ãVL-V
i ::-'/"■:■
"Ws- 's'
134. REsp n. 198.827-SP, l 1 T. STJ, J. 04-03-99, v.u., rel. Min. José Delgado, DJU, 26-
" 4-99, p. 66, RT, 756--198; REsp n. 258.128-MG, 3a T. STJ, j. 08-05-01, v.u., rel. Min. Menezes
Direito, DJU, 18-06-01, p. 150; REsp n. 480.156, I a T. STJ, j. 03-06-03, v.u., rel. Min. Luiz Fux,
PJV, 23-06-03,' p. 260.
135. REsp n. 196.932-SP, I a T. STJ, j. 18-03-99, v.u., rel. Min. Garcia Vieira, DJU, 10-
”5-99, p. I i 9 ; i^ s p n , 57 . 162-MG, 2a T. STJ, j. 24-10-96, v.u., rel. Min. Pádua Ribeiro, DJU, 25-
vH-96, p . 46.174; RSTJ, SJ-.168.
Título III
13. Cf. A tutela jurisdicional dos interesses difusos no sistema brasileiro, em A tutela
dos interesses difusos, de Ada Pellegrini Grinover, cit., p. 177, 1981. Ainda sobre a nicsnn* ;?
questão, v. Cap. 16, n. 4. i
14. Sob a atual Constituição, o Ministério Público não maisintegra o Poder Executfc;|'..
vo. A propósito da crítica sóbre a independência da instituição, V, nossos Regime ju ríd ic o dóy;
Ministério Público e 0 acesso à Justiça e o M inistério Público, cit. .j •
1-5. CR, art. 129, III. Ainda sobre a matéria, v. nosso O inquérito civ il — investigd': j
ções do Ministério Público, compromissos deajustamento eaudiências públicas , 2a ed-,
Saraiva, 2000. . d --
ORIGENS E ALTERAÇÕES DA LEI N. 7.347185— 119
c,
c
L
C
L.
L
c ..
C'.
L..
40. CDC, art. 90, e LACP, art. 21.
CAPÍTULO 6
1* Campo de incidência
v Segundo o art. I o, caput, da LACP, regem-se pelas disposições dessa
Lei, sem prejuízo da ação popular, as ações de responsabilidade por danos
morais e patrimoniais causados:1
(. I — ao meio ambiente-,
lit — ao consumidor;
• . III — a bens e direitos de valor artístico, estético, histórico, turís
tico e.paisagístico;
IV ■— a qualquer outro interesse difuso ou coletivo;2
V — por infração da ordem econômica e da economia popular;3
. VI — à ordem urbanística.4
14. CDC, art. 110; LACP, art. I o, IV, com a redação que the deu o CDC. Sobre a or-
.. . dctn de numeração dos incisos do art. I o da LACP, v . , ainda, a nota de rodapé n. 2, neste
mesmo Cap.
15. As Med. Prov. ns. 2.102-26/00 e s., e 2.180-35/01 e s., introduziram um parágrafo
Unico at> art. 1° da LACP, tentando impedir o acesso coletivo à jurisdição nos casos de interes-
, sedogoverno.
16. CPC, art. 282, III.
17. CPC, arts. 469 e 470. V., ainda, o Cap. 35, ns. 1 e 9.
18. CPC, art. 282, IV.
19. CPC, art. 286.
20. CPC. art. 286. II.
128— CAPÍTULO 6
. -1
Ao responder ao pedido do autor, a sentença deve ser certa,21 .ouj
seja, o objeto da condenação deve ser determinado ou, pelo menos, deter-i
minãvel, o que significa que deve dispor precisamente sobre “aquilo a que j
condene o réu”.22 Assim, a sentença deve “tornar indubitável aquilo a que ]
condena o réu (sentença condenatória) ou o que declara (sentença declara- j
tória) ou o que constitui ou desconstitui (sentença constitutiva)” .23 . ;
Em matéria de ações civis públicas ou coletivas, por exceção, a lei j
admite condenações genéricas. Assim, "em caso de procedência do pedido, ’
a condenação será genérica, fixando a responsabilidade do réu pelos danos
causados” .24 Como anota Ada Pellegrini Grinover, “a condenação versará
sobre o ressarcimento dos danos causados e não dos prejuízos sofridos.:;
Isso significa, no campo do Direito Processual, que, antes das liquidações e:
execuções individuais, o bem jurídico objeto de tutela ainda é tratado de
forma indivisível, aplicando-se a toda a coletividade, de maneira uniforme, a
sentença de procedência ou improcedência”.25
O fato de a condenação ser genérica não lhe retira, porém, o caráter:
de certeza e liquidez (existência e determinação do objeto).
A ação civil pública e a ação coletiva estão sujeitas à observância do;
princípio da congruência, ou da correlação ou seja, o juiz deve decidir á.
lide dentro dos limites do pedido.26 Assim, se o autor do processo coletivo
quer que a sentença também forme título executivo em favor de lesados
individuais homogêneos, deverá formular pedido correspondente, sob pena,
de não se poder aproveitar o decisum em ações individuais.27
Suponhamos que um ente legitimado ajuíze ação civil pública, pre-,
tendendo que, como uma fábrica polui (causa de pedir), seja ela fechada^
(pedido) 1'Eventual procedência permitirá apenas que a fabrica seja fechada;
mas isso não importará dizer que o réu já esteja condenado, ipso facto, a,
pagar os danos individuais homogêneos decorrentes da poluição, os quais,
no caso, sequer foram objeto da ação. Para que a coisa julgada possa ser;
executada pelos lesados individuais, é indispensável tenha sido pedida a
reparação a danos individuais homogêneos, pois só desta maneira se viabN
lizará que o réu exerça a ampla defesa, dentro do devido processo legal. Ern
nome do mero aproveitamento in utilibus do julgado coletivo, não se pode
to da obrigação de fazer. Enfim, o que não pode, apenas;' é ser o réu con-
denado a restaurar o meio ambiente lesado e, também, a pagar na íntegra o
custo do projeto de sua recuperação, o que já estaria incluído na primeira
sanção,33
O fato de caber, em tese, qualquer pedido em ação civil pública não
quer dizer que possam, pois, ser cumulados pedidos simultâneos even
tualmente incompatíveis.34
Em suma, as razões sócío-jurídicas que levaram à eclosão da defesa
coletiva dos interesses transindividuais justificam que, em benefício da ex-,
pressiva parcela da população destinatária dessa tutela, o direito processual
seja interpretado com Iargueza, em proveito da questão de fondo, pois, em
matéria de interesses transindividuais de alta densidade social, “há uma
singular mobilidade para o intérprete, possibilitando ao jurista buscar uma;
efetiva tutela para a comunidade".35 's
33. REsp. n, 247.162-SP, 1:' T. STJ, j, 28-03-00, v.u., rel. Min. Garcia Vieira, DJU, Oftv
05-00, p. 73; v., tb., REsp n. 94.298-RS, R S T f , 121:86.
34. CPC, art. 292, § I o, I. ‘
35. Luiz Renato Topan, Do controle prévio e abstrato dos contratos de adesão pelo
Ministério Público, RT, 686:46.
56.J1J, 145:25,-RT, <585:85.
37. Curso de D ireito Administrativo, 7a ed., p. 245-6, Malheiros, 1995.
OBJETO DA LEI N. 7.347/85— 131
38. AC n. 85.594-5/0 - S. Paulo, 8" Câm. Direito Público TJSP, rel. Des. Torres de
Carvalho (DOE, seç. 1, 09-02-00, p. 20).
39. REsp n. 292.846-SP, 1° T. STJ, j. 07-03-02, v.u., rel. Min. Humberto de Barros,
P M ' 15-04-02, p. 172.
. 40. Cf. o art. 3o da LACP.
41. CDC, art. 102.
- 42. RE n. 190.938-MG, 2= T. STF, v.u., j. 14-03-06, rel. Min. Carlos Velloso, Inform a-
‘ú o .S T F ,4 j <j. '
132— CAPÍTULO 6
4Ò.JHJ, 155V 8. | 1
44./JJ, 157:205. A propósito, v., de Rodolfo de Camargo Mancuso, A ação civilpà~ i
blica como instrumento de controle judicial das chamadas políticas públicas, em Açãó civil- ! -
pública — Lei 7-347185 — ■15 anos, Revista dos Tribunais, 2001. - 1
proferida por juiz singular pudesse suprimir toda e qualcjuer eficácia etgai
omnes de uma lei — mas isso seria inadmissível, pois tal efeito só pode ser í
obtido em nosso sistema por meio de uma ação direta de inconstitucionali': ;
dade. Para evitar esse risco, os tribunais não admitem que aquelas ações ;
sejam usadas como sucedâneo da ação direta de inconstitucionalidade..!
Assim, se numa ação civil pública ou coletiva o pedido visa, por vias trans-
versas, a obter, em proveito da coletividade, a supressão de todos os efeitos j
pretéritos, atuais e futuros de uma lei (lei no sentido material, e não apenas 1
formal), essas ações estariam servindo de indevido sucedâneo à ação direta;
de inconstitucionalidade. ; 1
Por isso, a jurisprudência tem recusado o uso de ação civil pública]
ou coletiva destinada a atacar leis em,'tese. A razão desse entendimento.é"
que, se elas pudessem ter esse objeto, tomar-se-iam indevidos sucedâneos.:,
da ação direta de inconstitucionalidade ou da ação interventiva, que são
privativas dos tribunais, enquanto as ações de caráter coletivo são processa-;;
das originariam ente junto aos juízos de primeiro grau. Ora, pelo sistema
constitucional em vigor, somente por meio de ação direta de inconstitucio
nalidade ou ação interventiva é que os tribunais podem retirar erga omnes a:
eficácia da.s leis; aos juizes singulares só se admite proclamar a inconstitu-:
cionalidade de leis ou atos normativos com imutabilidade inter partes, de
maneira que não se podem valer dos processos coletivos para suprimir, em
face de toda a sociedade, a eficácia de uma norma legal abstrata.49
Com efeito, assim como ocorre em ações populares e mandados <l<’’
segurança, ou em qualquer outra ação cível, a inconstitucionalidade de uni :
ato normativo pode ser causa de pedir (não o próprio pedido) de uma açãoj ;ç;
civil pública ou coletiva.50 Até aí, não há problema algum. Nesse sentido, ;
aliás, o Supremo Tribunal Federal corretamente já tem admitido a possibili-J -í;
dade de controle difuso de inconstitucionalidade mesmo em sede de ação »
civil pública da Lei n. 7.347/85.51 Na mesma esteira, nesta ação também t j
possível a declaração incidental de inconstitucionalidade de leis ou atos
normativos do Poder Público, desde que a controvérsia constitucional não _;
figure como pedido, mas sim como causa de pedir, fundamento ou simples ■
questão prejudicial, indispensável à resolução do litígio principal.52 Jí
53. Em oposição a uma norm a em tese, que regula fatos abstratos, a lei de efeitos
ÇOnctfítos é considerada um ato administrativo revestido da forma de lei, que trai em si mes-
. f 1* um resultado específico (MS n. 20.993-3-DF, STF Pleno, j. 07-08-92, v.u., rel. Min. Moreira
:’Alvês; RTJ, 144-M5\ MS n. 20.910-1-DF, STF Pleno, j. 12-4-89, v.u., rel. Min. Carlos Madeira,
.PJU, 05-05-89, p. 7.560).
54. Eecl. n. 602-6, STF Pleno, j. 03-09-97, m.v., rel. Min. Ilmar Galvão; RE rt. 227.159-
PP> T. STF, j. 12-03-02, v.u., rel. Min. Néri da Silveira, DJU, 17-05-02, p. 73-
55. O STF e os tribunais, entretanto, têm tido entendimento majoritário restritivo
Mu.into à possibilidade de utilização da ação civil pública para defesa do contribuinte. Por sua
■ <i Med. Prov. n. 2.102-26/00, revigorada pela Med. Prov. n. 2.180-35/01, introduziu um
parágrafo único no art. I o da LACP, em razão do qual não caberia ação civil pública para a
efesa coletiva de contribuintes. A propósito da matéria, v., neste Cap., o tópico seguinte.
56. CR, arts. 52, X, 102, I, a, e 125, § 2°. Nesse sentido, v. Recl. em MS n. 1.733-SP,
ucusio do Min. Celso de Mello, cio STF, de 24-12-00, DJU l°-12-00, p. 103; REsp n. 175.222-
— T. STJ, j. 19-03-02, v.u., rel. Min. Franciulli Netto, DJU, 24-06-02, p. 230; REsp n.
04 044-DF, 2a T. STJ, j. 09-04-02, v.u., rel. Min. Franciulli Netto, DJU, 05-08-02, p. 298.
136— CAPÍTULO 6
57. Nesse sentido, v. Recl. n. 602-6, STF Pleno, j. 03-09-97, ni.v., rel. Min. l
vão; RE n. 227.159-GO, 2a T. STF, j. 12-03-02, v.u., rel. Min. Néri da Silveira, DJU, 17-05-02, p-;
73‘, REsp n. 404.044-DF, 2a T. STJ, j. 09-04-02, v.u., rel. Min.Franciulli Netto, DJU, 05-08-02, p-:
298. Ainda no sentido do texto, mas agora se referindo apenas à ação popular, mas con):
argumentos em nido aplicáveis à ação civil pública da Lei n. 7.347/85, v. Recl. n. 664-RJ 6;
1.733-SP, STF, Inform ativo STF, 269 e 212, respectivamente. , ’
OBJETO D A LEI N. 7.347/85— 137
58. Nesse sentido, inúmeros acórdãos têm afirmado a ilegitimidade ativa d o Ministé-
.no Publico para propor ações civis públicas da Lei n. 7.347/85 contra aumentos ilegais de
i/npostos (v.g. , REsp. n. 57.465-PR, j. l°-6-95, I a T. STJ, v.u., rel. Min. Demócrito Ueinaldo,
DJO, 19-06-95, p. 18.643, RSJJ, 78:106; REsp n. 178.408-SP, j. 17-08-99, I a T. STJ, m.v„ rel.
Mm. Milton Pereira, DJU, 25-10-99, p. 49).
59. RE n. 195.05<S-PR, STF Pleno, m.v., j. 09-12-99, RTJ, 171:288; AgRgAgI n. 382.292-
^ i informativo STF, 346.
61. RE n. 195 056-PR, STF Pleno, m.v., j. 9-12-99, rel. Min. Carlos Velloso, vencido
Min. Marco Aurélio (Informativo STF, 58, 124, 130 e 174).
62. RE n. 379495-SP, I a T. STF, j. 11-10-05, Inform ativo STF, 405- '<
63- RE n. 213.631-0-MG, j. 09-12-99, DJU, 07-04-00, vencido o Min. Marco Aurélio
(R7J, 173:288).
64. Nesse sentido, admitindo corretamente ser cabível, em tese, a ação civi
na defesa de contribuintes, desde que não como indevido sucedâneo da ação direta de in*/
constitucionalidade, v. REsp n, 478.944-SP, I a T. STJ, v.u., j. 02-09-03, rel. Min. Luiz Fux, Djfy;
29-09-03, p. 153; REsp n. 175-222-SP, 2a T. STJ, v.u., j. 19-03-02, rel. Min. Franciulli Neto, RT’ ■
806:133. i
OBJETO DA LEI N. 7-347/85— 139
nes da lei (o que não seria mesmo lícito pedir em ação civil pública), mas
sim a obter o cancelamento de lançamentos concretos, e apenas para seus
associados.
Afora a incompreensão que às vezes advérn dos tribunais em relação
às ações coletivas, mesmo dos mais altos, ainda mais estava por vir.
Não obstante a clara dicção constitucional que assegura que a tutela
coletiva é um direito fundamental, e caberá em quaisquer interesses difusos
e coletivos, lato sensu, o governo federal não teve pejo em, mais uma vez
abusando da edição de medidas provisórias, buscar evitar ou impedir exa
tamente o acesso coletivo à jurisdição, em matérias onde ficaria em cheque
o interesse público secundário (visto pelo ângulo da Administração). Assim,
o Presidente da República editou medida provisória segundo a qual “não
será cabível ação civil pública para veicular pretensões que envolvam tribu
tos, contribuições previdenciárias, o Fundo de Garantia do Tempo de Servi
ço — FGTS ou outros fundos de natureza institucional cujos beneficiários
podem ser individualmente determinados"...65
Ou seja, é como se o governante dissesse assim: como a Constitui
ção e as leis instituíram um sistema para defesa coletiva de direitos, e como
esse sistema pode ser usado contra o governo, então impeço o funciona
mento do sistema pára não ser acionado em ações coletivas, onde posso
perder tudo de uma só vez. Sim, o fundamento é esse, pois, se, em vez da
ação coletiva tiver de ser usada a ação individual, cada lesado terá de con
tratar individualmente um advogado para lutar em juízo. Em caso de danos
.. dispersos na coletividade, isso só será bom para o causador do dano, nunca
. para os lesados, já que, na prática, a grande maioria dos lesados não busca
rá acesso individual à jurisdição, diante das enormes dificuldades' práticas
supervenientes (honorários de advogados, despesas processuais, demora,
pequeno valor do dano individual, decisões contraditórias etc.). E é com
■ isso que contam os governantes, quando cobram “empréstimos compulsó
rios” jatnsjis devolvidos, criam contribuições “provisórias" que se tornam
definitivas; cobram impostos confiscatórios sobre salários-, retêm devolu
ções de impostos cobrados a mais, negam devolução da correção monetária
de que se apropriou o Estado nas contas do FGTS...66
, Basta ver o que tem acontecido tantas vezes: quem é que, indivi
dualmente, recorreu ao Poder Judiciário contra o inconstitucional bloqueio
■ ■■■ 65, LACP, art. I o, parágrafo único, introduzido pela Med. Prov. n. 2.1.02-26/00, revi-
ficiratia peta Med. Prov. n. 2.180-35/01. Note-se que o texto irupede o uso de ação civil pública
pjra ‘veicular pretensões que envolvam contribuições previdenciárias’’, nada dispondo sobre
P^-lensões que envolvam benefícios previdenciários.
^ 66. Em setembro de 2000, o STF reconheceu o direito adquirido de 30 trabalhado-
^es J.correção monetária no saldo das contas do FGTS, referente aos meses de janeiro de
(1'Iano Verão) e abril de 1990 (Plano Collor 1). já antevendo a derrota da tese do gover-
Ví.sando a prevenir-se contra demandas coletivas, às vésperas da decisão judicial, o Presi-
e(ifC fja República expediu medida provisória proibindo o uso de ação civil pública para
elesa dos trabalhadores lesados na questão da correção monetária do FGTS (Med. Prov, n.
984-21, de 28-08-00)...
140— CAPÍTULO 6 |
' -'1■:
............................................ ...... —1
— ---- ---- ----------- -------- -----*‘i •■
dos ativos financeiros (Plano Collor — 1990)? Ou ajuizou ação contra a|
cobrança progressiva do imposto de transmissão de bens imobiliários, já!
declarada inconstitucional pela mais alta Corte do País, mas cobrado duran-f.
te quase uma década no Município de São Paulo (de 1991 a 2000)?67 Ou í
bateu às portas da Justiça pedindo devolução de empréstimos compulsórios]
sobre o combustível,68 ou pedindo correção nas tabelas de retenção do*
imposto de renda na fonte, ou combatendo a indústria das multas de trânsi- [
to, os aumentos abusivos de pedágios, e tantas outras ilegalidades ou abu- v
sos? Muito poucos. (
E é exatamente com isso que contam alguns governantes: como-
nem todos os indivíduos vão à Justiça (na verdade, ao contrário, pouquís
simos é que o fàzem), passa a ser um bom negócio causar lesões a interes
ses transindividuais, e, ao mesmo tempo, proibir o uso de ações coletivas, ;
contando, não raro, com a conivência, o endosso ou a conformidade dos.'
tribunais.
Mas, mesmo assim, temeroso de que os tribunais possam hipoteti;/
camente reagir — apesar de não terem tradição de o fazerem com a brevi
dade e eficiência necessárias (basta ver que, no caso da correção do FGTS,,|
só saiu em 2000 a decisão final do STF, mas não a execução, referente à
correção'monetária de planos econômicos lesivos de mais de uma década,
tendo a decisão beneficiado apenas duas dúzias de lesados; no caso do in
constitucional bloqueio dos ativos financeiros do Plano Collor, o repúdio,
jurisdicional da mais alta Corte levou anos para advir ...) — , ainda assim o
governo age preventivamente e busca impedir o acesso coletivo ao PoderJ
Judiciário; E o faz com o uso, ou melhor, com o abuso das medidas prpvisó
rias — ao "qual os tribunais não puseram o devido cobro.
O parágrafo único do art. I o da LACP, introduzido pela Med. P
n. 1.984-21/00 e mantido na n. 2.180-35/01, fere, pois, a regra constitucio
nal de que a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou
ameaça a direito. Essa regra não se refere apenas a lesão ou ameaça dé lesão
a direitos individuais, e sim também coletivos, pois de ambos cuida o art.
5o da Constituição. Considerando que o sistema processual clássico não
viabilizava a defesa judicial em caso de lesões difusas, coletivas ou indivi
duais homogêneas, a Constituição de 1988 instituiu o acesso coletivo à ju
risdição, que tem a mesma índole que a referente ao acesso individual: tra
ta-se de garantia fundamental. Suprimida que fosse a possibilidade de aces
67. KE n. 234.105-3-SP, STF Pleno, v.u., j. 08-04-99, rel. Min. Carlos Velloso, DJU, 31'
03-00, p. 61.
68. Na ação coletiva, o STJ negou que o Instituto Brasileiro de Defesa do Consumi
dor - IDEC tivesse legitimidade ativa para ajuizar ação coletiva p or danos a interesses indivi
duais homogêneos contra a União (R S T J , 55:93)...
69- Em decisão episódica, antes da EC n. 32/01, o STF acabou admitindo o contraste !"
da urgência e relevância na edição abusiva de medidas provisórias pelo governo (v. AD InM f !
n. 1.753-DF, DJU, 12-06-98, p. 51, contra a Med. Prov. n. 1.577-6/97, que instituía prazos espc -j-
ciais para a ação rescisória em favor da Fazenda). T
OBJETO DA LEI N. 7.347/85— 141
70. REsp n. 252.803-SP, 2a T. STJ, j. 27-08-02, v.u., rel. Min. Peçanha Marrins, DJU,
14-10-02^.199.
71. Nesse sentido, o correto voto minoritário do Min. Marco Aurélio, no julgamento
<iu 1115 n- 195.056-1-FR (Inform ativo STF, 58, 124, 130 e 174).
142— CAPÍTULO 6
autoriza a defendê-los.72 Nem é certo negar, a p rio ri, que a ação civil públi- í
ca possa ser usada em benefício de contribuintes, ainda que estes não se 1
enquadrem na categoria de consumidores. Por mais simpáticas que possam ;
ser essas teses aos governantes, aceitá-las seria relegar à impossibilidade j
prática a defesa coletiva dos contribuintes, que seriam obrigados a recorrer ;
ao velho sistema de acesso individual à jurisdição, contra quaisquer abusos {
fiscais. Ou seja, voltaríamos ao sistema em que o Estado faz suas ilegalida-J
des contra milhões, mas somente algumas centenas efetivamente se defen- S
dem (v.g., impostos que deveriam ser restituídos e nunca o foram; bloqueio <
inconstitucional dos ativos financeiros no Governo Collor; sonegação dê t
correção monetária nos benefícios previdenciários; vencimentos suposta-;]
mente irredutívèis do funcionalismo, que não são corrigidos há uma déca- J
da, apesar de o serem os créditos do Estado etc.).
Embora tendo, pois, presente a ressalva de que a ação civil pública
da Lei n. 7-347/85 não é substitutiva da ação direta de inconstitucionalida- :
de, em alguns casos não se pode afastar a p rio ri o cabimento da primeira. '
Alguns tributos podem assumir caráter de lesão a interesses transindivi*;
duais, áté mesmo divisíveis, como em cobranças indevidas de contribuições
de melhorias,73 ou em aumentos ilegais de taxas ou até impostos (nos quais
pode haver danos a interesses coletivos ou individuais homogêneos).74 Nes
ses casos, se não é mesmo possível, nem próprio, ajuizar ação civil pública
para obter, por vias transversas, aquilo que só uma ação direta de inconsti- V
tucionalidade permitiria (como a supressão de todos os efeitos atuais e ;
futuros da própria lei),75 ao menos é perfeitamente possível que a ação civil e
pública da Lei n. 7.375/85 seja utilizada, por exemplo, para obter o cance
lamento de lançamentos concretos indevidos em determinado exercício, ou
para buscar a repetição do indébito de tributos já recolhidos, sempre em-
defesa de grupo, classe ou categoria de pessoas que tenham sofrido lesão a
interesses individuais homogêneos. Mas é preciso reiterar: o ajuizamento daí
ação civil pública só será possível se seu objeto não visar a atacar todos os
efeitos da lei, atuais e futuros, e sim só alguns efeitos concretos. Se tivermos^
esse cuidado, não se poderá dizer que a ação civil pública estaria a substi
tuir indevidamente a ação direta de inconstitucionalidade. v
72. Cf. o art. 5o, II, a , da LC n. 75/93, aplicável ao Ministério Público dos Estados por
força do art. 80 da Lei n. 8.625/93.
73- Em favor do cabimento de ação civil pública contra im posição de contribuição ,,
de melhoria, v. AC n. 124.211-5/6-00, de Guarujá, julgada em 29-06-00, 5a Câm. de Direito ;
Público, TJSP.
74. Admitindo a legitimidade do Ministério Público nas ações civis públicas da Lei n-
7.347/85 que combatam o aumento ilegal de taxas, v. REsp n. 49-272-RS, J. 21-09-94, I1 T. STJ,;/
v.u., rel. Min. Demócrito Reinaldo, DJU , 17-10-94, p. 27.868 (RT, 720:289); REsp n. 109 013-
MG, j. 17-06-97, I a T. STJ, v.u., rel. Min. Humberto Gomes de Barros, DJU , 25-08-97, p- ',
39.299; REsp n. 28.715-SP, j. 31-08-94, I a T. STJ, v.u., rel. Min. Milton Pereira, DJU, 10-10-‘H
p. 27.108; AgREsp n. 98.286-SP, j. 15-12-97, I a T. STJ, v.u., rel. Min. José Delgado, DJU, 23-03'
98, p. 17. Ainda no mesmo sentido, v. RJTJSP, 175:92.
75. V., neste Cap., o n. 7.
OBJETO D A LEI N. 7.347185— 143
76. LACP, art. 1°, caput , com a redação que lhe deu o art. 8S da Lei n. 8.884/94.
ç ■ 77. Em sentido contrário, por maioria de um só voto, v. REsp n. 598.281-MG, I a T.
flij. 02-05-06, m.v., rei. Min, Teori Zavascki, DJU, l°-0 6 06, p. 147.
78. CC de 2002, art. 186.
144— CAPÍTULO 6
79- Em ação civil pública inédita, promovida em 2004 pela Procuradora da RcpiiLili
ca Eugênia Augusta Gonzaga Fávero e pelo Advogado Hédio Silva Júnior, em 2005 a juíza
federal Marisa Cláudia Gonçalves Cucio concedeu liminar, confirmada pelo TRF 3a R. (5a Vara ;
Federai, São Paulo, Proc. n. 2004.61.00.034549-6). Nesse sentido, v. artigo de Sérgio./
Gardenghi Suiama, A voz do dono e o dono da voz: o direito de resposta coletivo nos meios '
de comunicação social, em Boletim Científico da Escola Superior do M inistério Público ào ■
União, -5:107, Brasília, ESMPU, 2002.
80. V'. Cap. 16. -
81. Lei n. 4.717/65, art. <5°.
82. V. Cap. 6.
O B jETÒ DA LEI N. 7.347/85— 145
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O.
CAPÍTULO 7
PROTEÇÃO AO MEIO AMBIENTE
que fica sujeito o devedor simplesmente por ser titular’do direito sobre a
coisa.12
No que diz respeito à degradação dos ecossistemas, do patrimônio e
dos recursos naturais da zona costeira, a lei infraconstitucional -estabelece
uma regra especial: exige que o Ministério Público comunique ao Conselho
Nacional do Meio Ambiente (Consema) o teor das sentenças condenatórias
e dos acordos judiciais que disponham a respeito.13
Supondo tenha havido um dano ambiental, a regeneração natural
do local atingido obstaria a qualquer, ação judicial na proteção do mesmo
bem já restaurado pela natureza? <
Não é raro que os causadores de danos ambientais não façam nada,
para repará-los, deixando só à natureza o pesado encargo de levar anos
para consertar o que o homem destrói em minutos com o emprego de fogo
ou máquinas. Entretanto, mesmo que esteja havendo ou se tenha comple
tado a recuperação natural do meio ambiente degradado, antes disso já terá
havido violação do Direito, suscetível de reparação indenizatória. Assim dá
mesma forma que a natureza se encarrega de reparar as pequenas lesões;
corporais, também os pequenos danos ambientais, ainda que passíveis de
recuperação espontânea pela natureza, nem por isso deixam de ser viola-'
ções indenizáveis, e o produto da indenização deve reverter para o Fundo;
de que cuida o art. 13 da Lei n. 7-347/85. No caso, da violação do direito
surge o dever de indenizar a coletividade pelo período em que teve dimi; •
nuída a fruição de um bem jurídico a ela assegurada (interesses difusos). ?
Assim como no Direito Penal, no Direito Ambiental também é ne-í
cessário construir uma teoria de prevenção geral positiva, que busque dé-|
senvolver a confiança do cidadão nas normas concretas: “é uma teoria dê?
prevenção geral (trata da população como um todo) e é positiva, porque
não é dissuasória (negativa) e sim meta positiva, ou seja, a construção de
uma consciência de normas”14 — no sentido de preservação do habitat do;
ser humano, não só para a atual como especialmente para as futuras gera
ções.
Torna-se, pois, imperioso não apenas reprimir, como dissuadir, com
a certeza da aplicação da lei, pois a impunidade é o maior estímulo à viola
ção da lei. s^
Algumas questões que também dizem respeito à tutela ambientai fo-.:
ram por nós cuidadas em outros tópicos desta obra, e a eles nos remete-
mos: a) o sistema prescricional em relação às infrações ambientais é ab >r
dado no Cap. 39, n. 4; b) a desconsideração da responsabilidade jurídit t L
enfrentada no Cap. 18, n. 1, e.
7
*Nesse sentido, v. Luís Paulo Sirvinskas, M anual de D ireito Am biental , p, 28, cit.
16. Cf. art. 2o, III, da Lei n. 9-985/00.
. 17. Sobre o que seja patrimônio público e patrimônio cultural, noções que em parte
J^inudem com valores ambientais, v. Cap. 9, n. 1.
' 18. Nesse sentido, a lição de José Afonso da Silva, D ireito am bientai constitucional,
. . p. 3, Malheiros, 1997; Luís Paulo Sirvinskas, M anual de direito am biental , p. 235,
saraiva, 21)02. Na mesma linha de entendimento, Nelson e Rosa Nery invocam como exem-
„PS meio ambiente artificial o urbano, o rural, o cultural, o do trabalho ( Constituição
e eralcomentada, cit., nota ao art. 1“ da IACP).
.. ■> 19. Sobre o conceito de meio ambiente do trabalho e a competência para as ações
'Vis públicas a respeito, v. Cap. 15, n 2.
152— CAPÍTULO 7 |
•--------:— —-------------- ---------------- ------------------------------------------------- :- I
I'
'•'1
pecialmente nos centros urbanos (aeroportos, trios elétricos, trânsito, alar- :]
mas, carros de som, igrejas, clubes, propaganda ruidosa etc.).20 |
A propósito do meio ambiente do trabalho, reportamo-nos ao Cap, {
15, n. 2, a. ; [
Quanto à responsabilidade civil por danos ambientais, v. Cap. 39. '!
20. Cf-, de Waldir de Arruda .Miranda Carneiro, Perturbações sonoras nas edific
ções urbanas , cit. Admitindo a legitimidade do Ministério Público para combater a poIu>Ça°
sonora por meio de ação civil pública ambiental, v. RT, 790:233, 774:230, <594:78.
PROTEÇÃO AO MEIO AMBIENTE— 153
público (CR, art. 5o, LXXIII). Por sua vez, também os sindicatos podem de
fender o meio ambiente do trabalho.25
No pólo passivo da ação civil pública, estará o poluidor, pessoa físi
ca ou jurídica.
Nos termos da Lei n. 9-605/98, as pessoas jurídicas serão responsabi
lizadas na esfera administrativa, civil e penal,2tí quando a infração tenha sido
cometida por decisão de seu representante legal ou contratual, ou de seu
órgão colegiado, no interesse ou benefício da sua entidade; entretanto, a
responsabilidade das pessoas jurídicas não exclui a das pessoas físicas, auto
ras, co-autoras ou partícipes do mesmo fato.27
A ação civil pública por danos ambientais pode ainda ser proposta
contra o responsável direto, contra o responsável indireto ou contra ambos.
Nesse caso, temos responsabilidade solidária.
Quando presente a responsabilidade solidária, podem os litiscon-
sortes ser acionados em litisconsórcio facultativo (CPC, art. 46, I); não se
trata, pois, de litisconsórcio necessário (CPC, art. 47),28 de forma que não
se exige que o autor da ação civil pública acione a todos os responsáveis,
ainda que o pudesse fazer.
Por outro lado, por força de legislação ambiental específica, admite-
se a desconsideração da pessoa jurídica em matéria ambiental, sempre que
s.sua personalidade seja obstáculo ao ressarcimento de prejuízos causados à
qualidade do meio ambiente.29 De qualquer forma, deve ser registrado que
,o. CC. de 2002 ampliou as hipóteses de desconsideração de personalidade
■jurídica, sempre que houver abuso caracterizado por desvio de finalidade
ou confusão patrimonial.50
Uma empresa, aindã que esteja autorizada pelo Poder Público a fun-
jt-ionar nos moldes em que já o venha fazendo, mesmo assim pode causar
i danos ambientais, e a licença de funcionamento não a forrará do dever de
. indenizar^ps danos causados.31 Não estará em causa a licitude da atividade
pxerçula, nem a da licença ou autorização; o que importa é que, causado
um dano ambiental, com ou sem culpa, haja sua pronta reparação por
.fluem o causou ou por quem seja, segundo a lei, responsável por sua repa
25. N o Cap. 15, n. 2, discutiremos a questão da competência para as ações que ver-
scni a defesa do meio ambiente do trabalho.
26. V. Responsabilidade p e n a l da pessoa ju ríd ic a , MPMG/PGJ/CEAF, Belo HorUon-
te, 2002
ração.32 Neste último caso, a lei dispensa o nexo causai: póde ser obrigado-
a reparar mesmo quem não tenha causado o dano, desde que se trate del'
pessoa a quem a lei cometa o dever de repará-lo (como nas obrigações
propter rem, a que já aludimos).
O Estado também pode ser responsabilizado pela prática d
ambientais, mas da responsabilidade estatal ocupar-nos-emos em momento
próprio.33
Examinemos agora os danos ambientais causados por proprietário
de imóvel. Se a ação de responsabilidade for movida contra ele, a sucessão ;
processual será feita na forma disciplinada pela lei.34 Mas, uma vez que.ele:
já tivesse vendido o bem, Contra quem deveria ser proposta a ação?
A questão tem provocado controvérsia. Em certos casos e dentro de :
cèrta medida, graças às peculiaridades da defesa ambiental, o novo adqui-
rente do imóvel poderá ser parte legítima para responder por ação fundada
em dano ambiental ocorrido antes mesmo da aquisição. Primeiro, porque,:
ao adquirir a propriedade, ele a assume com todas as limitações já impostas
pela legislação ambiental vigente.35 Assim, por exemplo, se o dono anterior
de imóvel rural destruiu a reserva legal de mata de preservação permanen
te, a ação para restauração da área só pode ser dirigida contra o novo titular
do domínio, até porque o vendedor não mais teria como responder à pre-,
tensão (sé a ação fosse de caráter indenizatório, deveria ser movida contra;
o causador do dano ou seus sucessores; mas a ação para restauração da:
área só poderá ser ajuizada contra o atual proprietário). Em se tratando de
reserva flejrestal, em razaão das limitações impostas por lei, o novo proprie-'
tário, ao .adquirir a área, recebe o ônus de sua preservação; assim, ele se
torna responsável pela recomposição da área degradada, mesmo que não,
tenha contribuído para devastá-la.36 Depois, a responsabilidade pela repa{
ração do bem não é só dos autores diretos do ato, mas também até mesrrjp;.;
dos proprietários.37 Por fim, a obrigação de não poluir um bem, ou, em
caso de já ter ele sido poluído, a obrigação de recompor o bem assim lesa
do, modernamente se vem reconhecendo ser de natureza propter rem, não:
32. REsp n. 28.222-SP, 2a T. STJ, j. 15-02-00, m.v., rel. Min. Nancy Andrigiii, DJU, 15?:
10-01, p. 253. . '
33. V. Cap. 18, n. 3.
34. CPC, arts. 41 e s.
35. Lei n. 4.771/65, art. 16.
36. REsp n. 282.781-PR, 2a T. STJ, v.u., j. 16-04-02, rel. Min. Eliana Calmon, DJU, 27"
05-02, p. 153; REsp n. 264.173-PR, I a T. STJ, j. 15-02*01, v.u,, rel. Min. José Delgado, DJU, 02-
04-01, p. 259; LexSJJ, 132:156-, REsp n. 222.349-PR, I a T. STJ., m.v., rel. Min. José Delgado, j-
23-03-00, LexSJJ, 132:184. Em sentido contrário: REsp n. 156.899-PR, XSJJ, 113:78-, REsp %
214.714-PR, LexSTJ, 126-.219-, REsp n. 229-302-PR./S77, 14:103 - todos da 1* f . do STJ, relata
dos pelo Min. Garcia Vieira. ■}•
37. Lei n. 4.771/65, art. 29. í:
PROTEÇÃO A O M EIO AMBIENTE— 157
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ív-
-
vV - .
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•^ ’ ' ■
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38. Nesse senrido, v. REsp n. 264.173-PR, STJ, cit. na nota 35 supra• REsp n.
, 74l.pR( 2a T. STJ, j. 04-06-02, v.u., rel. Min. Franciulii Netto, DJU, 07-10-02, p. 225; REsp
“ 327 254-PA, 2a T. STJ, j. 03-12-02, v.u., rel. Min. Eliana Calmon, DJU, 19-12-02, p. 355; AC n.
0 329-8 TJPR, rel. Des. Fleury Fernandes, cit. no REsp n. 264,173-STJ.
»5 39. N o sentido do texto, v. Edson Luiz Peters, Reserva florestal-legal — obrigação de
reflorestar, em Revista do Centro de Apoio Operacional das Prom otorias de Justiça de Prote-
. í<fo ao /nei0 Ambiente, do Estado do Paraná (http://www.mp.pr.gov.br/institucional/publica/
'O-iniL>i/obrircfl.htm1, acesso em jul. 02); Luís Henrique Paccagnella, Reserva florestal lega)
P ''Avwrv.anibientafonline.hpg.ig.com.br/artigoS.hrm, acesso em jul. 02).
' í;-:v
CAPÍTULO 8
PROTEÇÃO AO CONSUM IDOR
12/fosé Geraldo Brito Filomeno, Código brasileiro de defesa do consum idor , cit.,
comentários ao art. I o, p. 28.
13. CDC, arts. I o, 4o, 6o e 7o. ’
i 14, "A empresa responde, perante o cliente, pela reparação de dano ou furto de veí-
™lo ocorridos em seu estacionamento" (Súm. n. 130 do STJ; RS7J, 72:387). O conforto ofere-
rido e aparência de segurança deixam clara, por parte da empresa, a captação de clientela,
POr-meiO de serviço prestado no interesse do próprio incremento do comércio.
‘ • 15. A propósito, v. o exemplo da explosão ocorrida no Osasco Plaza Shopping, em
11-06-96, caso em que o Tribunal de Justiça paulista reconheceu, com acerto, haver relação
■<?e Wiimiuio, ainda que potencial, entre os freqüentadores do shopping e as lojas ali cstabele-
a gerar o dever de indenizar independentemente de culpa (AC n. 71.502-4l0-0sasco, 4:‘
âin,.de Direito Privado, TJSP, v.u., j. 24-06-99, rel. Des. José Osório).
í ' : : 7 1<5. Depois de vários anos parado o feito com vista ao Min. Nelson Jobim, finalmente
o Sri' teconhece.u a relação de consumo para os usuários desses serviços (ADIn n, 2.591-DF,
” tl: Meno, j. 07-06-06, m.v., rel. Min. Eros Grau, DJU, 29-09-06, p. 31). O STJ já vinha enten-
iido, corretamente, que os usuários de serviços bancários inserem-se na conceituação do
3° § 2a, do CDC (REsp n. 213.825-RS, DJU, 27-11-00, p. 167; REsp n. 207.3 lO-DF, DJU,
STJ1*’00, p ' 520; CComP n- 29.088-SP, DJU, 13-11-00, p. 130). Assim dispõe a Súm. n. 297-
s ... 9 CDC é aplicável às instituições financeiras”.
164— CAPÍTULO 8
s-' ■ 27. CDC, art. 51. Nesse sentido, v. AgRgRHsp n. 718.744-RS, 411T. STJ, j. 05-05-05,
Y-ü., rel. Min. Fernando Gonçalves, DJU, 23-05-05, p. 305; AgRgREsp n. 657.259-RS, 4a T. STJ,
1,07-06-05, v.u., rci. Min . j org e Scartezzini, q jU , 22-08-05, p. 293; AgRgAg n. 718.124-KS, 3a T.
.1, j. (13-05-05, v.u., rel. Min. Castro Filho, DJU , 23-05-05, p. 289. Em sentido contrário, REsp
■^■^1-153-r S, 2a Seç. STJ, j. 08-06-05, v.u., rel. Min. César Rocha, DJU, 14-09-05, p. 189-
28. CDC, art. 51, § 2".
29. Comentários ao Código de proteção do Consumidor, p. 198, Saraiva, 1991.
16 8 — CAPÍTULO 8
30. REsp n. 774.035-MG, 3a T. STJ, j. 21-11-06, v.u., rel. Min. Gomes de Barros, DJÒi’,
05-02-07, p. 222; REsp n. 669.525-PB, 3a T. STJ, j. 19-05-05, v.u., rel. Min. Pádua Ribeiro, ^ / ®
20-06-05, p. 283. ;
31. CDC, art. 51, §4°.
32. Nesse sentido, v. REsp n. 416.298-SP, 4a T. STJ, v.u., 27-08-02, rel. Min. Rosada
de Aguiar, DJU, 07-10-02, p. 266; AgRgAgI n. 405.505-RJ, 3a T. STJ, v.u., 19-09-02, rel. Min-;
Castro Filho, DJU, 07-10-02, p. 252; REsp n. 404.239-FR, 4a T. STJ,'v.u., j. 26-11-02, rel. Min-
Rosado de Aguiar, DJU, 19-12-02, p. 367; REsp n. 457.579-DF, 4* T. STJ, v.u., j. 19-11-02, rel-
Min. Rosado de Aguiar, DJU, 10-02-03, p. 222•, REsp n. 292.636-RJ, 41 T. STJ, v.u., j. 11 -06-%
rel. Min.. Barros Monteiro, DJU, 16-09-02, p. 190.
33- Lei n. 10.671/03, art. 40.
34. A propósito da atuação do Ministério Público no processo civii, v. Cap. 4,
especial, o item n, 14.
PROTEÇÃO AO C ONSUM IDOR— 169
35. Nesse sentido, v. RE n. 163-231-3-SP, STF Pleno, j. 26-02-97, v.u., rel. Min. Mau-
TlClü c'<>rrea, DJU, 29-06-01, p. 55.
170— CAPÍTULO 8
do grupo lesado; para que sua defesa seja assumida pelo Ministério Público,
exige-se apenas que tenha ela relevância social.
Na defesa de interesses apenas individuais, raramente se justificará a
iniciativa ou a intervenção da instituição ministerial, que poderá ocorrer
quando a questão diga respeito a saúde, educação ou outras matérias indis
poníveis ou de grande relevância social. Assim, tanto é problema do mem
bro do Ministério Público zelar pelo acesso à educação de centenas ou mi
lhares de menores, como de apenas uma única criança.
de experiência: por isso, não está adstrito aos critérios do art. 2o, parágrafo
único, da Lei n. 1.060/50 (que define os beneficiários da assistência judiciá
ria gratuita), até porque não há razão para aqui entender a hipossuficiênciá
apenas sob o aspecto econômico.
A inversão do ônus da prova não é automática: depende não só de
identificar o juiz uma das hipóteses em que a lei a admite, como ainda de o
juiz, no caso concreto, reputã-Ia adequada ou conveniente.58
Em face da inversão do ônus da prova, pode, por exemplo, o juiz
determinar ao réu antecipe as custas de uma perícia requerida pelo autor
beneficiário dessa inversão.59 Não querendo a parte antecipar as custas}
decorrentes da inversão do ônus probatório, arcará com as conseqüências [' ”
processuais de não o fazer. Assim, “a inversão do ônus da prova (art. 6°,
VIU, do CDC e art. 3o, V, da Lei n. 1.060/50) não tem o efeito de obrigar a ■
parte contrária a pagar as custas da prova requerida pelo consumidor, po
rém ela sofre as conseqüências de não produzi-la” .60
O fundamento para inverter-se o ônus da prova em defesa do
sumidor não consiste apenas no custo econômico de sua produção: esse
custo normalmente existe e também deve ser levado em conta pelo juiz, :,
quando se resolva a usar da faculdade da inversão. Contudo, há ainda um
outro aspecto a ser considerado pelo juiz: muitas vezes seria totalmente
impraticável atribuir ao consumidor, ou ao substituto processual que o
defenda, o ônus de provar que o produto está desconforme com especifica
ções técnicas de alta complexidade, que nem o consumidor, nem seus ad
vogados liem o Ministério Público ou qualquer outro co-legitimado para as
ações coletivas ou individuais teriam facilidade de demonstrar. Para o fabn-,
cante, pqr exemplo, a prova em sentido contrário poderá ser perfeitamente v
factível e exigível.61
Nos casos em que se invoque a hipossuficiênciá como fundamento
da inversão do ônus da prova, é o lesado que tem de ser hipossufidenie.^.
não seu substituto processual. Desta forma, a inversão do ônus da prova
pode aproveitar a grupos de consumidores, em ações civis públicas ou cole
tivas movidas em seu benefício por associações civis ou quaisquer outros
co-legitimados.
58- REsp n. 122.505-SP, 3a T. STJ, v.u., j, 04-06-98, rel. Min. Menezes Direito, R
115:271; REsp n. 332.869-Itf, 3a T. STJ, v . u j . 24-06-02, rel. Min. Menezes Direito, DJU, 02 09
02, p. 184; REsp n. 383.276-RJ, 4a T. STJ, v.u., 18-06-02, rel. Min. Rosado de Aguiar, DJU, &
08-02, p. 219; REsp n. 171,988-RS, 3a T. STJ, v.u., j, 24-05-99, rel. Min. WaJdemar Zweiter, AÍi
770:210.
59. REsp n. 436.731-SP, 4a T. STJ, v.u., j. 26-11-02, rei. Min. Rosado de Aguiar. D}V
10-02-03, p. 221; REsp n. 383.276-RJ, 4a T.'STJ, v.u., j. 18-06-02, rel. Min. Rosado de Agu‘‘ir’
DJU, 12-08-02, p. 219.
60. REsp n. 435-155-MG, 3a T. STJ, v.u,, j. 11-02-03, rel. Min. Menezes Direito,
10-03-03, p - 193.
61. Nesse sentido, v. REsp n. 140.097-SP, 4a T. STJ, v.u.. j. 04-05-00, rel. Min. Ccsaf
Rocha, RT, 785:184.
PROTEÇÃO AO C ONSUM IDOR— 177
9- Conclusões
Integrando-se a LACP ao CDC, cabe todo tipo de ação civil publica
ou coletiva, em defesa de interesses transindividuais de consumidores.70
Incorreta tem sido a resistência que às vezes se vê na jurisprudêncííU
contra a defesa de interesses difusos, coletivos ou individuais homogêneoh;
em diversas matérias como os aumentos abusivos de mensalidades escola-
res ou em questão de taxas e contribuições sociais.
E indevida — embora facilmente explicável — tem sido a resistência;
dos governantes contra a defesa de interesses transindividuais. Primeiro,
quando da sanção da LACP, o chefe do Poder Executivo vetou a norma rcs.i-..
dual ou de extensão que permitia a defesa de outros interesses difusos C-
71. Cap. 6, n. 2.
72. Esse abuso persistiu desde a vigência da Constituição de 1988 acé a edição da EC
73• Cf- Med. Prov. ns. 1.570/97 e 1.798/99, que originaram a Lei n. 9.494/97, e Med.
n' 2.180-35/01. A propósito, v. Caps. 6 e 34.
74. V. Cap. 6.
CAPÍTULO 9
PROTEÇÃO AO PATRIMÔNIO CULTURA1
E AO PATRIMÔNIO PÚBLICO E SOCIAL
G e n e r a lid a d e s
__ O patrim ônio público veio originariamente definido, para fins de
açao popular, como o conjunto dos bens e direitos de valor econômico,
artístico, estético, histórico ou turístico.1 Entretanto, como a Constituição
j 1988 alargou o objeto da ação popular para nele incluir a moralidade
ac,ministraiiva, o meio ambiente e o patrimônio cultural, podemos conside-
-também estes valores como incluídos no conceito legal de patrimônio
publico2 ■
A expressão p a trim ôn io cultural tem sido utilizada em doutrina pa-
rt‘fcrii-se ao conjunto dos bens e interesses que exprimem a integração
° homem com o meio ambiente (tanto o natural como o artificial), como
a<lude.s de valor artístico, estético, histórico, turístico, paisagístico ou ar-
1. Lei n. 4.717/65, art- I o, § 1°, com a redação que lhe deu a Lei n. 6.513/77.
2. CR, art. 5o, LXXIII.
1S2— CAPÍTULO 9
■êm casos concretos pode haver litispendência ou até coisa julgada entre
ação civil pública e ação popular.20
d ) O objeto da investigação
Quaisquer atos que importem improbidade administrativa podem
ser abjeto de investigação por parte do Ministério Público, ou seja, tanto os
que importem enriquecimento ilícito de agentes públicos, como os que
importem lesão ao erário, como, enfim, os que atentem contra os princípios
da administração (arts. 9o a 11 da Lei n. 8.429/92).
- 31.' "Nesse caso, o ato efe improbidade é legalmente presumido”, cabendo ao agente
-si ,;^Onstrar'a origem lícita de seu patrimônio desproporcional, com inversão do ônus da
Cív: n. 35.570-5/0, São José do Rio Preto, T J S P , v.u., 9a Câm. de Direito Público, j.
5 00, rel. Gonxaga Franceschíni).
32. Cf. art. 9° da Lei n. 8.429/92,
33. Cf. arts. 16 a 18 da Lei n. 8.429/92.
r 34. A propósito da questão do prejuízo, v., neste Cap., o n. 7.
190— CAPÍTULO 9
7. As sanções
A Constituição estabelece que os atos de improbidade administratiív
va importarão a suspensão dos direitos políticos, a perda da função pública,!
a indisponibilidade dos bens e o ressarcimento do erário, na forma e grada-
ção previstas em lei, sem prejuízo da ação penal cabível?1 deixando claro,
assim, que essas sanções especiais têm natureza civil e não criminal.38 ;
-v'i, ■ : •••
AJ^ém das sanções civis, penais e funcionais a que podem estar sujei
tos os que violem a Lei de Improbidade Administrativa, impõem-se no art
12 desta mais algumas sanções especiais, como é o caso da perda de bens_
ou valores, do ressarcimento integral do dano, da perda da função pública,'
da suspensão de direitos políticos, da multa etc.39
Diz, pois, o art. 12 da Lei n. 8.429/92 que, independentemente â »
sanções penais, civis e administrativas, previstas na legislação específica,
está o responsável pelo ato de improbidade sujeito às seguintes comi',
nações:
a) na hipótese do art. 9o, perda dos bens ou valores acrescidos
tamente ao patrimônio, ressarcimento integral do dano, quando houver,
perda da função pública, suspensão dos direitos políticos de oito a dez a
nos, pagamento de multa civil de até três vezes o valor do acréscimo patr>'
monial e proibição de contratar com o Poder Público ou receber benefício5
40. Nesse sentido, REsp n. 505.068-PR, 1“ T. STJ, v.u., j. 09-09-03, rel. Min. Luiz Fux,
:, ^9-09-03, p. 164; despacho liminar d o Min. Nélsou Jobim do STF, na Recl. n. 2.138-6-DF,
11-09-02, DJU, 17-09-02.
41. Lei n, 8.429/92, art. 12, parágrafo ú n ic o .
194— CAPÍTULO 9
8. O processo
Segundo os arts. 16 e 17 da Lei n. 8.429/92, a ação de improbidade
será ajuizada pelo Ministério Público ou pela pessoa jurídica interessada,'
tendo rito ordinário.
Para o ajuizamento da ação de improbidade, nãó se exige prova pré-,
constituída; bastam indícios de autoria e materialidade; caberá à instrução,
sob as garantias do contraditório, fornecer ou não as provas necessárias.
Interessado em resguardar mais os administradores e políticos que 2
coletividade, diversas medidas provisórias instituíram um juízo de preüba-
ção para que, antes do recebimento da petição inicial, o agente público;
possa ser notificado para apresentar manifestação por escrito. Aumentando,
o rol procrastinatório, as medidas provisórias ainda instituíram recurso
contra a decisãò que receber a petição inicial. . .45
Ainda por força do uso abusivo de medidas provisórias, o adimíp?-.-
trador resolveu cometer à Advocacia-Geral da União a representação judicial;
dos titulares dos Poderes da República, de órgãos da Administração Pública
Federal direta e de ocupantes de cargos e funções de direção em autarquias
e fundações públicas federais, concernente a atos praticados no exercido:
de suas atribuições institucionais ou legais.40 Transmudou-se um órgão que
a Constituição instituíra para representação judicial e extrajudicial da Uniáo_
(CR, art. 131), em órgão de defesa das autoridades,..
No mesmo afã de dificultar ou até inviabilizar as ações civis públiçaS;
contra os governantes, outra medida provisória chegou ao cúmulo de tentar
9. A prescrição
Qual o prazo prescricional para a ação de indenização em razão de
danos ao erário?
É imprescritível a ação civil pública para recomposição do patrimô
nio público,51 não se aplicando as regras de prescrição do Direito Privado.5?
A propósito da prescrição e da decadência, v . , mais especialmente, o
Cap. 39, n. 4, onde a análise da matéria será desenvolvida.
50. AgRgREsp n. 681.571-GO, 21 T. STJ, j. 06-06-06, v.u., rel. Min. Eliana Calmon,
ÚJU>^9-06-06, p. 176.
51. CR, art. 37, § 5o. Nesse senrido, REsp n. 403.153-SP, I a T. STJ, m.v., j. 09-09-03,
José Delgado, DJU, 20-10-03, p. 181. Em sentido contrário ao texto, v. Ada Pellegrini
/lover, Ação de im probidade adm inistrativa - decadência e prescrição, em Interesse
Ubhco, 33:S5i Noradez, RS, 2005.
.52. if T, 7S8:245-'l']SP.
I,,-, , .■■ 53. REsp n. 434.661-MS, 2a T. STJ, v.u., j. 24-06-03, rel. Min. Eliana Calmon, DJU, 25-
“9-0.3, p. 280.
196— CAPÍTULO 9
Observe-se, porém, que nas ações civis públicas contra o agente pú
blico que tenha violado os arts. 9o a 11 da Lei de Improbidade Administrati
va, nem sempre se poderá pedir a perda da função pública. Para algumas
autoridades, há regras de competência e procedimentos específicos para a
decretação da perda do cargo: são as autoridades que têm forma própria de 1
investidura e destituição, prevista diretamente na Constituição (como ò
chefe de Poder Executivo federal ou estadual, ministros do STF, membros
do Poder Judiciário, do Ministério Público e dos Tribunais de Contas etc;).5* j
Para a decretação da perda da função pública ou para a suspensão de direi
tos políticos desses agentes, é necessário utilizar-se do procedimento pró
prio, perante o foro adequado, que se aplica às autoridades que estejam
sujeitas a julgamento por crime de responsabilidade. -. -
No tocante, porém, à responsabilização pecuniária do agente públi- ■'
co, esta pode e deve dar-se junto aos juízos de primeiro grau, como já é da \
tradição de nosso Direito (como nas ações populares), pois não se confun
de a responsabilidade civil com a responsabilidade penal ou político-
administrativa, para a qual a Constituição estatuiu foro privilegiado.55
Outrossim, de forma irrita, a Lei n. 10.628/02, alterando o art. 84 do
Código de Processo Penal, pretendeu instituir foro privilegiado até para ex<
autoridades, mesmo em matéria cível, tentando ampliar competências cons
titucionais,,.dos tribunais superiores... Em decisão da ADIn n. 2.797-DF,
porém, o'Supremo Tribunal Federal reconheceü a inconstitucionalidade (
dessa novidade. ■ ' r,
A questão da competência decorrente de foro por prerrogativa de
função será desenvolvida no item n. 11 do Cap. 15.
54. V: nosso Regime ju ríd ico do-Ministério Público, 511ed., cit,, Cap. 5, n. 16, b. •
55. CR, arts. 37, § 4°, in fin e , 52, 1 e II, 102, I, b e c, 105,1, « .
56. CR, art. 129, III; LC n. 75/93, art. 6o, VII, b (de aplicação subsidiária nos Estado*-
cf. LONMP, art. 80); Lei n. 8.429/92, art. 17, caput e § 4o; Lei n. 8.625/93, art. 25, rv, a e £>;1
í
n. 7.347/85, art. I o, I e III.
PATRIMÔNIO CULTURAL E PATRIMÔNIO PÚBLICO— 197
57. V., mais adiante, as nocas de rodapé ns. 62 e s., neste Cap.
58. Nesse sentido, v. decisão monocrática de 10-11-99, do Min. José Delgado, do
- I) no HEsp n. 149.832-MG, DJU, 15-02-02, .
198— CAPÍTULO 9
62. REsp- n. 119.827-SE, I a T. STJ, j. 29-04-99, rel. Min. Garcia Vieira, DJU, .1"-07-99,
p. 121 (v., tb., REsp n. 226.863-GO; REsp n. 199-478-MG; REsp n. 213-714-MG; REsp r
154.128-SC; REsp n. 162.377-SC). Reconhecendo legitimidade do Ministério Público para a
ação civil pública em defesa do patrimônio público; v.JTJ , J56-.127, RT, 745/210-STJ; REsp n-:
31-547-9-SP, rel. Min. Américo Luz, DJU, 08-11-93, p. 23-548; REsp n. 132.107-MG, I a T. STJ, t
13-11-97, rel. Min. José Delgado ,DJU, 16-03-98, p. 20; REsp n. 9 8 . 6 4 8 - M G , 5a T. STJ, j. 10-03-v «
97, rel. Min. Arnaldo da Fonseca, DJU, 28-04-97, p. 15.890; REsp n. 180.712-MG, I a T. STJ,L S
16-03-99, rel. Min. Garcia Vieira, DJU, 03-05-99, p. 101, RS1J, 122A19-, REsp. n. 225.777-SP, 6*
T. STJ, v.u., j. 24-09-02, rel. Min. Fernando Gonçalves, DJU, 14-10-02, p. 285- Nesse sentido,
Nelson e Rosa Nery, Código de Processo C ivil cit., nota- ao art. 17 da Lei n. 8.429192.
63. RE rr. 208.790-SP, STF Pleno, v.u., j. .27-09-00, rel. IJmar Galvão, DJU, 15-12-00, p-\
105; no mesmo sentido, RE n. 234.439-MA, 241.132-MA, 242.327-MA, 248.067-MA, 254.07®-■ .
MA, 267.023-MA, 230.232-MA, todos do STF. X
64. Um bem de valor histórico, p. ex., é considerado pela LAP como integrante dÇi-,
patrimônio público; ao mesmo tempo, é um interesse difuso. í- j
PATR IM Ô N IO CULTURAL E PATR IM Ô N IO PÚBLICO— 203
tiva áo Ministério Público, seja para acionar, seja para intervir na defesa do
patrimônio público, sempre que especial razão exista para tanto, como
quando o Estado não tome a iniciativa de responsabilizar o administrador
por danos por este causados ao patrimônio público, ou quando motivos de
moralidade administrativa exijam seja nulificado algum ato ou contrato da
Administração que o administrador insiste em preservar, ainda que em gra
ve detrimento do interesse público primário.65
Como bem ressaltou o Promotor de Justiça Sérgio Seiji Shimura, em
parecer lançado nos autos da AC n. 142.032.5/0-00, do Tribunal de Justiça
de São Paulo, "nem seria plausível que um único indivíduo pudesse impug
nar ato administrativo lesivo ao patrimônio público, através da ação popu
lar, enquanto essa legitimação não fosse reconhecida à população, como
um todo, por meio da instituição que a representa (Ministério Publico) e
através da ação civil pública prevista constitucionalmente” . Acrescentamos
nós que essa possibilidade ainda fica mais fortalecida quando falhe a legiti
mação ordinária para a defesa do patrimônio público pela própria Adminis
tração, ou quando se mostre o governante preocupado em manter o ato
ilegal que ele próprio praticou.
Em nosso país, tem sido sério problema o ataque ao patrimônio
público por parte dos administradores em geral, e, contra isso, a sociedade
ainda não reagiu suficientemente, como se entendesse natural a corrupção
■.nos governantes e abusivas as investigações promovidas pelo Ministério
Público/’6
Insistentes tentativas do governo Fernando Henrique Cardoso, de
msmuir sanções contra os membros do Ministério Público que dêem publi
cidade a atos investigatórios (a chamada Lei da Mordaça), ou que propo-
.nham ações que venham a ser recusadas (v.g.; Med. Prov. n. 2.088-35/00),
ou que pretendem beneficiar autoridades que já deixaram o cargo com o
. inadmissível foro por prerrogativa de função que não mais ostentam,67 tudo
•*
69. Agi n. 44.761-5-RJ e 44.189-0-RJ, rel. Min. César Asfor Rocha, d o STJ (DOU, 07-
12'93), no mesmo sentido,JJJ, 357-9-, RDA, i.95:211-TJSP; RT, 709:180-STJ.
70. Cf. art. 4o da Lei n. 4.717/65-, nesse sentido, a lição de Hely Lopes Meirelles,
üfètotedo de segurança cit-, 2a parte, Cap. 4.
71. RE n. 1Ó0.381-SP, 21 T. STF, v.u., j. 29-03-94, rel. Min. Marco Aurélio, DJU, 12-08-
H p 20.052.
72. Cf. arts. 9o a 11 da Lei n. 8.429/92.
73. Cf. art. 21 da Lei n. 8.429/92.
74. Cf. art. 10, VHI e Dí da J.ei n. 8.429/92.
75. Cf. art. I o, caput, da LACP, com a redação do art. 88 da Lei n. 8.884/94. N esse
corretamente sustentando que o sistema jurídico admite qualquer ação que vise à
esa do patrimônio público sob o ângulo material (perdas e danos) ou imatería! (lesão à
Imoralidade), v_ juisp n. 427.140-RO, I a T. STJ, m.v., j. 20-05-03, rel. Min. Luiz Fux,D JU , 25-08-
U3 P.-, 263.
206— CAPÍTULO 9
79. Considerações sobre: parecer prévio, p rin cíp io da legalidade, competência pa-
TaJulgamento, em Revista do Tribunal de Contas da União 5 (8 ):4 l-arí.
. 80. Dispensa e Inexigibilidade de licitação, 3a ed., Malheiros, p. 93.
81. Op. cit., p. 94.
82. Nesse sentido, REsp n. 260.821-SP, STJ, m.v., j, 21-05-02, rel. Min. Eliana Cal-
" 10ni JlE n. 160.381'SP, 21 T. STF, v.u., j. 29-03-94, rel. Min, Marco Aurélio, DJU, 12-08-94, p.
“V°52.
208— CAPÍTULO 9
(art, 217, § 3o), à comunicação social (art. 220), à organização social (art.
231) e ao serviço social (art. 240).
; Além disso, como se sabe, as expressões p a trim ôn io social e inte
resse social também são utilizadas em Direito quando se quer referir a entes
morais ou entidades corporativas (pessoas jurídicas). Contudo, não é nesse
último sentido que a Constituição usou a expressão para cometer a defesa
de interesses sociais peío Ministério Público.
O exame de contexto do uso de cada expressão deixa bem claro que
0 constituinte não se valeu do adjetivo social com o mesmo valor, mas sim
o fez em diversas acepções, como quando o ligou claramente ao interesse
público, ora ao interesse da sociedade como um todo, ora ao das classes
menos favorecidas economicamente, ora aõ equilíbrio das relações de traba
lho. O próprio Código de Processo Civil, embora denominando de atuação
em razão do interesse pú blico, conferiu ao Ministério Público um papel
nitidamente de caráter social, quando lhe cometeu intervenção nos litígios
■ coletivos pela posse da terra rural.87 Por sua vez, o Código do Consumidor
entendeu como manifesto interesse social aquele evidenciado pela dimen
são ou características do dano ou pela relevância do bem jurídico a ser pro
tegido.88
. No caso da atribuição do Ministério Público de defender o patrimô
nio público e social, a nosso ver, com esta última expressão, quis a Consti
tuição significar mais do que apenas a defesa de grupos hipossuficientes
(pessoas pobres, necessitados, trabalhadores, favelados, posseiros, vítimas
, de crimes, presos, indígenas, pessoas marginalizadas etc.), mas também “os
pilares da ordem social projetada pela Constituição e na sua correspondên
cia com a persecução dos objetivos fundamentais da República, nela consa
grados”,89 e até mesmo o próprio patrimônio da sociedade como um todo
(interesses gerais da coletividade, sejam materiais ou imateriais, como os
interesses estritamente culturais).90
’• Erífem, a lei não define o que seja patrim ônio social, embora já se
tenha valido do conceito de interesse social, para fins de desapropriação.91
c
c.
í,
íj
c ...
L-
F
F.
F
L.
CAPÍTULO 10
I T~T^ : - —;
9 CR, art. 216, § I o.
' ’ >' 10. Lei n. Ò.924/61.
' 11. CR, art. 216, V.
( *2 Lei n . 9.610/98, arts. 7o, X, 9°, 29, VIII,./, 46, VIII, 77 e 78.
l i . Lei n. 9.610/98, art. 24, § 2o.
14 Lei n. 4.737165, art. 328, caput , e parágrafo único.
15. CP, arts. 163, parágrafo único, III, 165 e 166. Cf. RT, 483'-328.
16 Lei n. 4.717/65, arts. I o a 4o, 10, 26.
loo 17 c f - arts- 2° e 3° díl Lei n - 4.717/65, art. I o do Decreto n. 89-336/84, e arts, 197 e
U8t,a CF paulista.
J.Ü. Cf. art. 9o da Lei n. 6.902/81.
„ ' 19 Lei n, 9.650198, arts. 62-3.
214— CAPÍTULO 10
4. Conclusões : ^
É perfeitamente cabível a proteção ao bem de valor cultural, esteja
ou não tombado. Um bem pode ter acentuado valor cultural, mesmo que
ainda não reconhecido ou até mesmo se negado pelo administrador. Como
vimos, o tombamento é ato declaratório -e não constitutivo desse valor
pressupõe esse valor; não é o valor cultural que decorre do tombam ento.
Do tombamento, ou até mesmo da procedência do pedido fomiu-'
lado em ação civil pública destinada a impedir modificações ou destruição
de um bem de valor cultural, é possível que surjam restrições ao seu uso otí
ao gozo dos direitos de propriedade. Nesse caso, deverá o Poder Público
arcar com a indenização do interessado, à vista das restrições que lhe foram
impostas em proveito da coletividade.
Acaso seria de admitir que tal indenização em favor do proprietário
ou do possuidor do bem fosse discutida e fixada na própria ação civil públi
ca que impôs as limitações ao uso da coisa?
Suponhamos seja movida ação civil pública contra o particular, pro-:
prietáriõ ou possuidor do bem, cujò objeto seja criarem-se restrições à siiaj
utilização ou modificação: poderia o réu denunciar à lide a entidade estala!;
a quem aproveitem as restrições ao uso do bem, e que devam ser impostas,
em prol de sua preservação no interesse cultural da coletividade? ■
Deverá ser recusada a denunciação da lide quando introdu^a fun
damento jurídico novo na ação civil pública, especialmente quando se trate
de danos ambientais ou outros danos que envolvam matéria na qual st
prescinda da discussão sobre a existência de culpa (responsabilidade objeti
va/) . Nesses casos, em ação própria, movida pelo legitimado ordinário, deve
se discutir a eventual indenização que caiba ao particular, em vista das s&
trições que possam ter sido impostas ao uso ou à propriedade de seu be®
tombado ou objeto de restrições semelhantes.30
9. AgRgMS n. 266-DF, STJ, I a Seç., rel. Min. Carlos Velloso, j. 12-12-89, v.u., RSTJ,
-Í.V254.
2. Rito processual 16
Nas ações civis públicas, pode-se valer do procedimento sumário ou
ordinário, nos termos da lei processual.17
Embora o art. 3o da Lei n. 9-099/95 nada tenha disposto a respeito, a
lei qúe instituiu os juizados especiais cíveis e criminais no âmbito da Justiça
federal estabeleceu que, nos juizados especiais, não poderão ser ajuizadas
ações civis públicas que versem improbidade administrativa, ou direitos
difusos, coletivos e individuais homogêneos.18
Nós processos de conhecimento, a fase de execução poderá abran
ger: a) execução para a entrega de coisa;19 b) execução de o b rig a ç õ e s de
fazer e de não fazer;20 c) execução por quantia certa contra devedor solven
te ou insõlvente.21 A partir da Lei n. I I . 232/05, o processo autônomo de
execução-sficou reservado para os títulos executivos extrajudiciais, coiiiq
compromisso de ajustamento de conduta.22
No Cap. 34, faremos análise especial da liquidação, do cumprimen
to da sentença e da execução no processo coletivo, à luz da Lei n
11.232/05.
3, A ação cautelar2^
Para evitar que o dano provocado pela violação do direito seja agra
vado pela demora na prestação jurisdicional definitiva (pericúlum in m ora),
o Direito admite o provimento jurisdicional de caráter acautelatório, me
diante o qual, havendo base razoável para a pretensão (fumus boni iuris),
pode o juiz conceder de forma antecipada, mas provisória, a prestação ju
risdicional pretendida.
Cuidando da ação civil pública em defesa de interesses transindivi
duais, a Lei n. 7.347/85 refere-se à possibilidade de ajuizamento de ação
cautelar,2^ e, a seguir, passa a enumerar os órgãos e pessoas jurídicas com
. legitimação ativa para sua propositura.25
■; Ao dispor sobre o assunto, o texto do art. 4° da LACP ficou assim
redigido, depois do veto parcial: “poderá ser ajuizada ação cautelar para os
fins desta Lei, objetivando, inclusive, evitar o dano ao meio ambiente, ao
consumidor, aos bens e direitos de valor artístico, estético, histórico, turísti
co e paisagístico (VETADO).”
À primeira vista, talvez hoje pudesse parecer, a alguém desavisado,
.que todo o art. 4o teria sido vetado. Mas não foi isso o que ocorreu. Na
época, sob a vigência da Carta de 1969, era cabível o veto a partes de artigo,
parágrafo, inciso ou alínea (o que a Constituição de 1988 não mais permi-
te),^ de forma que o veto presidencial incidiu não sobre todo o dispositivo,
nta^ sim apenas e tão somente sobre as expressões "ou a qualquer outro
mtcresse difuso”, com que se encerrava a enumeração do caput do art. 4o.
Esse véto, entretanto, acabou perdendo qualquer importância, por força do
alargamento do objeto da ação civil pública ou coletiva.27
Em matéria de tutela coletiva, admite-se, pois, não só a ação cautelar
wstrumenlal (medida preventiva, no sentido preparatório ou incidente),
como também a chamada ação cautelar satisfativa (medida preventiva e
definitiva). ^
É certo que as ações cautelares ditas satisfativas não são a rigor ver
dadeiras ações cautelares, porque não supõem a propositura de uma futura
aÇUo principal, mormente se atendida a cautela pretendida. Não raro, en
volvem um pedido de liminar que objetiva uma verdadeira obrigação de
. ^er ou não fazer, que se exaure com seu atendimento. Nelas, não é inco-
que haja adiantamento da tutela de mérito, com ou sem justificação
Prévia « ’
haja recurso previsto nas leis processuais, òu possam ser modificados por
viade correição.37
4, Antecipação da tutela
■!' Além da tutela cautelar, caberia também tutela antecipada nos pro
cessos coletivos?
. Sem dúvida é possível a tutela antecipada em ação civil pública ou
coletiva. Nãò bastasse a regra genérica do art. 273 do CPC, ainda temos que
o § 3° do art. 84 do CDC permite que o juiz conceda a tutela liminarmente
q u após justificação prévia; ora, esta regra não vale apenas para as ações
■coletivas do CDC, mas estende-se a todo o sistema das ações civis públicas,
' por força do art. 21 da LACP.
Como anotam Nelson e Rosa Nery, não se confundem tutela ante-
típada (antecipação do próprio provimento jurisdicional) e tutela cautelar
: (medida instrumental) :^8 “a tutela antecipada dos efeitos da sentença de
mérito não é tutela cautelar, porque não se limita a assegurar o resultado
prático do processo, nem a assegurar a viabilidade da realização do direito
; afirmado pelo autor, mas tem por objetivo conceder, de forma antecipada,
o próprio provimento jurisdicional pleiteado ou seus efeitos. Ainda que
.fundada na urgência (CPC 273 I), não tem natureza cautelar, pois sua fina
lidade precípua é adiantar os efeitos da tutela de mérito, de sorte a propi-
uar sua imediata execução, objetivo que. não se confunde com o da medida
cautelar (assegurar o resultado útil do processo de conhecimento ou de
s Execução ou, ainda, a viabilidade do direito afirmado pelo autor)” ,59 De
qualquer forma, a tutela antecipada também é decisão interlocutória e pro
visória, que não dispensa o advento da sentença.40
s ", Assim, e em suma: a) a tutela cautelar é instrumental, pois se des
tina a assegurar o resultado prático do processo ou a viabilidade da realiza-
S^P do direito (p. ex., um arresto no curso de ação principal, ou uma pro-
l ífuçâo antecipada de provas); b) a tutela antecipada busca conceder, ante
cipadamente, o próprio provimento jurisdicional ou os seus efeitos (p. ex.,
erli ação civil pública, o juiz proíbe antecipadamente a destruição do bem
objetivado na ação, ou proíbe o uso de um agrotóxico prejudicial à saúde
humana) •
A antecipação da tutela tem caráter de liminar sátisfativa. Como é
. "-c<são interlocutória, não se confunde com o julgamento antecipado da
“ de, que é sentença de mérito.
5. Ações individuais 43
Para a defesa dos direitos e interesses difusos, coletivos e indivi
duais (homogêneos ou não), no que for cabível, aplicam-se os dispositivos
do Título III do CDC, que dizem respeito à defesa do consumidor em júízo
(arts.- 81-104).44 .
Os co-legitimados à ação civil pública ou coletiva exercerão em juízo
a defesa dos interesses individuais homogêneos, não só em matéria de rela
ções de consumo, mas de quaisquer outros interesses transindividuais equt
valentes.45
Nessa linha, invocando os dispositivos que o CDC traz sobre a defe--
sa de interesses individuais homogêneos, que se integram aos da LACP, Ada
Pellegrini Grinover demonstra ser cabível a iniciativa dos legitimados ativos-
do art. í5° da Lei n. 7.347/85, visando “à reparação dos danos pessoalmente.:
sofridos pelas vítimas dé acidentes ecológicos, tenham estes afetado;oU;
não, ao. mesmo tempo, o ambiente como um todo. E a ação coletiva de
responsabilidade civil pelos danos ambientais seguirá os parâmetros dos
arts. 9L a 100 do CDC, inclusive quanto à previsão da preferência da repa-,
ração individual sobre a geral e indivisível, em caso de concurso de crédito
(art. 99 CDC).”40 ;
Em suma, o acesso à jurisdição é garantia não só individual como
coletiva, o que significa que tanto o acesso individual como o acesso colct^.,
vo não podem ser obstados aos lesados. Mas, se o lesado optar pela defe2■
de seus interesses em ação individual, só a ele caberá decidir se lhe convcffl
41. Recl. n. 902-SE, STF Pleno, v.u., j. 25-04-02, rel. Min. Maurício Corrêa, DJlh
08-02, p. 60; Al n. 100.200.0/2, TJSP Câm. Esp., v.u., 07-04-03, rel. Des. Òenser de S,ã.
42. CPC, arts. 730 e 741. N o mesmo sentido, Nelson e Rosa Nery, Código d e l ’»**5
so C ivil comentado, cit., notas ao art. 273 do CPC. Inadmitindo tutela antecipada contraí
Fazenda, em matéria de condenação pecuniária, v. Recl. n. 2.726-DF, STF Pleno, )- J7-H ®
v.u., rel. Min. Sepúlveda Pertence, s.d.p.
43- A propósito da legitimação ativa dos titulares de direitos individuais, v. Cap ^
n. 7; v., ainda, Caps. 14, n. 2, e 17, n. 6.
44. JLACP, art, 21, com a redação que llie deu o CDC.
45. V. Cap. 6, n. 3- '
46. V. artigo Ação coletiva fortalece proteção, em O Estado de S. Paulo , ^ -
1991, Caderno Justiça, p. 8.
AÇÕES PRINCIPAIS E CAUTELARES E AÇÕES IND IVID UAIS— 225
^ 47. CDC, art. 104. V., tb., os Caps. 14, 16, n, 7, e 35, n. 2.
KLo 4S' Rj;sp n - 176.907-SC, I a T. STJ, v.u., j. 15-09-98, rel. Min. Garcia Vieira, DJU, 19-
W-98, p 42; CComp n. 41.953-PR, I a Seç. STJ, j. 25-08-04, v.u., rel. Min. Teori Zavascki, DJU,
9-04, p. i <$5 o ajuizamento da ação coletiva não faz desaparecer o interesse processual
0 autor da ação individual (v. Cap. 19, n. 2).
49. Sobre a coisa julgada nas ações coletivas, v, Cap. 16.
' 50. Cf, Vicente Greco Filho, Comentários ao código de proteção do consumidor.,
' n''tas ao art. 104.
51. Coisa julgada e litispendência, cit., p. 204.
226— CAPÍTULO 11
venia, não nos parece assim. Embora o fornecedor possa noticiar ao juiz da
ação individual o ajuizamento da ação coletiva, pois ele é o réu em ambas®
ações, não nos parece tenha o dever processual de noticiar isso, nem daí
Lhe advém ônus processual algum. A própria lei afasta a litispendència entre
ambas as ações, de forma que elas podem correr simultaneamente, sem que
o julgamento da ação coletiva interfira necessariamente na ação individual;
depois, é uma opção do lesado exercer seu direito à tutela jurisdicional;
individual ou preferir aguardar eventual solução da ação civil pública ou
coletiva. Para que os próprios lesados, querendo, possam exercer sua opção,
de requerer ou não o sobrestamento da ação individual, a lei já assegura
que, por edital publicado no órgão oficial, seja noticiado o ajuizamento.di; ■
ação coletiva (art. 94 do CDC). Desta forma, o réu não tem o ônus de noti-i
ciar ao juiz da ação individual o ajuizamento da ação coletiva; a nosso veijv
não estará o réu faltando à lealdade processual se nada disser nos autos da
ação individual sobre a existência da ação coletiva, pois o ajuizamento e ó,í
prosseguimento da ação individual sãõ um direito e uma ópção do autor. 0',
ônus é só do lesado individual que, caso não requeira opportuno temporei
suspensão do processo individual, não se beneficiará in utilibus com o.
resultado do processo coletivo; nesse passo, o sistema processual não insti
tuiu ônus algum ao réu.
Até que momento permite-se que o indivíduo requeira a suspensão;
de seu processo individual? O art. 104 do CDC não o diz, mas o limite deve- ,
rã ser o julgamento final de qualquer uma das ações, a individual ou a colc-s
tiva, após o que a economia processual objetivada teria perdido a razão de
ser.52 '•
/'-íS
Sobre o pedido de suspensão do processo, deve ser ouvido o reu,.:
até porque pode não haver correlação entre a ação individual e a ação civil
pública ou coletiva, de forma que o pedido pode ser impugnado e a siis-i
pensão indeferida.
A lei não fixa o tempo máximo dessa suspensão.53 Nem é o caso, í •
nosso ver, de invocar analogicamente prazos de suspensão do processo,|
previstos no sistema codificado em vigor. Primeiro, porque o art. ! 0Í <1°--
CDC permitiu a suspensão e não a condicionou a prazo; depois, p o rq u e , dQí
exame sistemático do instituto da suspensão do processo in d ivid u a l,
face do ajuizamento do processo coletivo, conclui-se que a mens legü C
aproveitar, in utilibus, o julgamento do processo coletivo para beneficiarei
lesados individuais, de forma que a suspensão do processo individual hí de-;
perdurar até o julgamento final do processo coletivo; por fim, usar a regf?.
geral do sistema codificado e suspender o processo individual apenas pot
um ano, à espera de que o julgamento definitivo do processo c o le tiv o %
ocorra nesse interregno, seria tirar os pés da realidade e tornar de todo.'
52. N o mesmo sentido, v. Antonio Gidi, Coisa ju lga d a e litispendència, cit., p- 1??; ;sj
53. Assim tambem entende Antonio Gidi (Coisa ju lga d a e litispendència, cit., p- f í j
e s.); em sentido contrário, Ada Peilegrini Grinover invoca o prazo de um ano para a
são, referido no art. 265; IV, a, do CPC (Comentários ao código brasileiro, cit., p. 868)- jg
AÇÕES PRINCIPAIS E CAUTELARES E AÇÕES INDIVIDUAIS— 227
CAPÍTULO 12 (
■■V,
F t ;
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’ 1; Generalidades1 ■Ü
At
( '
:lv:-
C' O direito d e p u n ir :j;V..
U 1
»%_>■ O direito de punir não é interesse difuso, nem coletivo, nem indivi- 1)
' dua] homogêneo: como decorrência ou expressão direta da soberania esta-
é interesse público, em sentido estrito. O Estado é o único titular do ;|Í.,
uiteresse material de impor sanção pelo descumprimento da lei criminal ilF F
que ele próprio previamente tenha editado. Há dois mecanismos básicos
Dara aplicar a lei penal: ora se vale o Estado de seus próprios órgãos para :F ; F
- lrlstaurar a ação apta para exercer o ius puniendi (a ação penal pública),
F í .■
0r^> Çni casos excepcionais, permite que o particular acione a jurisdição (a ‘i-■■’i
ação penal privada). ■■;ii
' : ; :1
* ; O legislador criminaliza diversos comportamentos que violem inte- l ,j
ressÇs transindividuais (como alguns danos ao meio ambiente ou aos con-
^midores, globalmente considerados). Entretanto, ainda que o objeto des- '. l !
Sas aÇões penais pressuponha uma violação a interesses difusos, coletivos
F ’( :;
lridividuais homogêneos, na verdade o objeto da ação penal daí decor-
rer,te não será a defesa direta de interesses transindividuais, mas sim o F "
■ ,. f
k.í:vf
2. Cf. Gianpaoío P. Smánio, Tutela penal dos interesses difusos, p. 140, Atlas, 2000 **
3. AgRgRecl a. 1.110-1-DF, RTj, 167:166, rel. Min. Celso de Mello-, Inform ativo STF, 17’;-.í
4. CPP, arts. 92-93- Nesse sentido, Júlio Fabbrini Mirabete, Código de P r o c e s s o p e i'^
interpretado, notas aos arts. 92-93, Atlas, 1997.
AÇÃO PENAL FÁKA DEFESA DE INTERESSES TRANSINDIVIDUAIS— 231
20. CR, art. 5o, LIX. Sobre os mecanismos de controle da inércia d o Ministério PúWf
co, v. nosso Regime ju ríd ico do M inistério Público, cit., Cap. 5, ns. 6, d, e 24, a.
21. Sobre a legitimidade do cidadão para propor ação penal privada subsidiária, e1";
caso de inércia do Ministério Público na defesa do patrimônio público, v. nosso Regime jurí
dico do M inistério Público, cit., Cap. 5, n. 24, a.
22. Cf. Súm. n. 524 do STP; R7J, 112-Âlò-, cf. Damásio E. de Jesus, Código de Proces'
so Penal anotado, art. 29, Saraiva, 1990.
AÇÃO PENAL PARA DEFESA DE INTERESSES TRANSINDIVIDUAIS— 235
que é a ação penal privada subsidiária — , e essa válvula está hoje consagra-
da na própria Constituição.23
Não há, porém, inércia, quando, dentro do prazo da lei, advém ma
nifestação do Ministério Público, que ofereça denúncia, ou requisite dili
gências faltantes ou mesmo requeira ao juiz o arquivamento do inquérito
policial.2'*
CO N EX ID AD E, C O N T IN Ê N C IA
E LITISPE ND Ê N CIA
1. Conexidade e continência
i - •
2. Ainda a respeito das ações individuais dos lesados e sua intervenção nas
vis públicas ou coletivas, v. Caps. 11, n. 4, e 16, n. 7.
CONEXIDADE, C O N T IN Ê N C IA E LITISPENDÈNCIA— 243
■ 3- Nesse sentido, v. REsp n. 1Ó3.483-RS, 2a T. STJ, m.v., j. l°-09-98, rel. Min. Peçanha
Martins, DJU, 29-03-99, P- 150.
4. CDC, art. 94.
5. Cf. art. 104, in fin e , do CDC.
6. CDC, arts. 103, § 3o, e 104. -
7. CDC, art. 104.
244— CAPÍTULO 14
2. Litispendência9
(S&mo a litispendência consiste na coincidência dos três elemen
tos identificadores da ação (partes, pedido e causa de pedir), à primeira ;í
vista seriamos tentados a crer que litispendência só haveria entre duas j
ações civjs públicas ou coletivas, se elas tivessem sido propostas pelo
mesmo legitimado ativo, contra o mesmo réu, sob a mesma causa de pe
dir e versando o mesmo pedido. Nessa visão literal das regras clássicas do j
processo;- seriamos levados a concluir que não haveria litispendência se *
as duas ações civis públicas ou coletivas fossem idênticas em tudo, exceto-(
no tocante à polaridade ativa da relação processual, ou seja, se uma de
las, por exemplo, estivesse sendo movida por uma associação civil, e ou
tra delas estivesse sendo movida por outra associação civil ou por qual'
quer outro co-legitimado. '
Entretanto, a um exame mais atento do problema, c o n c l u i r e m o s ^
que, mesmo aí, haverá litispendência. Senão vejamos. O que são litispen
dência e coisa julgada, senão o mesmo fenômeno processual, com a só dife
rença de que, na litispendência, as duas ações idênticas estão em andamen
to, e na coisa julgada uma das ações já tem decisão de mérito defimtiva? ^
Ora, se nas ações civis públicas ou coletivas a coisa julgada se forma et$p
omnes, é porque a segunda ação, mesmo que proposta por outro co-
legitimado, constitui repetição idêntica da prim eira ação — ainda, que %
primeira ação tenha sido movida por uma associação civil e a segunda ação
8. CComp n. 7.432-DF, I a Seç. STJ, j. 07-06-94, v.u.„ rel. Min. Hélio Mosimann, SSff',
06:49.
9. A respeito da posição do indivíduo em face das ações civis públicas ou 1
tb*, os Caps. 11, n. 4, 16t n, 7, e 17, n. 6.
CONEXIDADE, C O N TIN Ê N C IA E LITISPENDÊNCIA— 245
tenha sido movida por outra associação civíí, ou pelo Ministério Público, ou
p o r qualquer outro co-legitimado à ação civil pública ou coletiva.10
Ora, se pode haver coisa julgada entre duas ações civis públicas com
o mesmo pedido e a mesma causa de pedir, embora com autores diferentes,
é evidente que, por identidade dè razão, haverá litispendência entre ambas,
se, ao contrário de estar uma delas já definitivamente julgada, estiverem
afnbas em andamento. É o mesmo fenômeno que ocorre nas ações popula
res, propostas por cidadãos diferentes, com o mesmo pedido e a mesma
causa de pedir, porque, tanto o cidadão nas açõés populares como os co-
legitimados ativos nas ações civis públicas, tpdos eles agem por substituição
processual em benefício da coletividade lesada.
; Colocadas essas premissas, vejamos agora o que dispõe a respeito o
ordenamento jurídico em vigor.
O art. 104 do CDC expressamente nega a possibilidade de litispen-
. dência entre ações individuais e ações civis públicas ou coletivas para defe
sade interesses difusos e coletivos - 1 1 Na verdade, isso até é óbvio, pois não
coincidem partes e pedido, quando se trate, de um lado, de uma ação m<íz-
vidual para reparação de danos diferenciados, e, de outro lado, de uma
ação coletiva que verse interesses indivisíveis.
Mas, em decorrência dessa mesma norma, dever-se-ia concluir, a
contrario sensu, que o CDC admite a existência de litispendência entre
ação individual e ação civil pública ou entre ação individual e ação coletiva
destinada à defesa de interesses individuais homogêneos...
Ora, a rigor, nem mesmo no caso de interesses individuais homo
gêneos teremos vera e própria litispendência entre ação civil pública (ou
coletiva) e ação individual, uma vez que não coincidem seus objetos: o caso
-seria antes de conexão, ou, sob circunstâncias específicas, até mesmo de
continência, quando o objeto da ação civil pública ou coletiva compreen
d e ; . po^jue mais abrangente, o objeto da ação individual. Ademais, “o
ajuizamento de ação civil pública sobre o mesmo objeto não induz litispen
dência porque não" pode impedir o direito individual subjetivo de ação,
..assegurado na Carta Magna” .12
Mas, para que haja, a contrario sensu, a litispendência de que fala o
.art 104 do CDC, ou, mais corretamente, a continência, é condição implícita
í Ue a) na ação individual o lesado esteja postulándo reparação daquilo
Que seu dano tenha de comum ou uniforme com O de outros lesados (p.
"(IV
^ i num produto de série, com o mesmo defeito, será comum para os con
sumidores o custo da substituição ou a indenização pela reposição da peça
. 10. No mesmo sentido, v. Antonio Gidi, Coisa julgada e litispendência ent ações co-
Wa*, cit., p, 218 e s.
11, Quanto ao erro de remissão contido no art. 104 do CDC, reportamo-nos aos
entários constantes do Cap. 11, n. 4, in fin e .
j» 12. Cf. decisão denegatória de seguimento ao REsp n. 264.423-RS, do Min. Franciulli
tr «o do STJ, DJU, 15-09-00, p. 229-
246— CAPITULO 14
mitir esse argumento seria aceitar, também, que, já que não se formaria
litispendência entre ambas as ações, p o r fo rça da mesma razão (diversida
de de ações), não se formaria coisa julgada erga omnes... Assim, porque
leva ao absurdo, o raciocínio não poderia ser aceito.
Com efeito, se nesses casos negássemos houvesse litispendência,
como poderíamos admitir a formação de coisa julgada erga omnes, nessas
mesmas hipóteses?! Em outras palavras, suponhamos que um cidadão ajuíze
uma ação popular para ver nulificado um ato lesivo ao patrimônio público,
e a.vê julgada improcedente por motivo outro que não a mera falta de pro
vas. Nesse caso, ao transitar em julgado a sentença de mérito, a coisa julga
da impedirá não só que o mesmo ou outro cidadão proponham outra ação
popular com a mesma causa de pedir e o mesmo pedido, como também
impedirá que os legitimados à ação civil pública formulem idêntico pedido
com igual causa de pedir, em matéria sobre que já se formou imutabilidade
erga omnes.11 E, se pode formar-se coisa julgada entre ambas as ações,
também pode haver litispendência entre elas.
Segundo a atual redação do art. 16 da LACP, a imutabilidade erga
omnes da coisa julgada proferida em ação civil pública deveria ficar circuns
crita aos limites territoriais do juiz prolator. Embora essa questão mereça
crítica e. desenvolvimento adequados (Caps. 15 e 35 desta obra), desde já
■.-.devemos adiantar algumas considerações a respeito. Se a coisa julgada pro
ferida em ação civil pública ou coletiva gerar a imutabilidade erga omnes ou
uhra partes do decisum, relevância alguma terá saber qual a competência
territorial do juiz prolator para fins de determinar os limites da coisa julga
da. A competência do juiz será decisiva para saber qual órgão da jurisdição
: julgará o pedido; mas a imutabilidade erga omnes ou ultra partes do deci-
mm não dependerá da competência do juiz, e, sim, antes dependerá do
resultado do processo (secundum eventum litis).
• Não nos parece, pois, tenha seguido a melhor orientação o acórdão
: ÇJe disse quq. “a ação civil pública ajuizada no Estado de São Paulo não
.atrai aquela proposta no Estado de Pernambuco, para julgamento simultâ-
ne°j ainda que sejam conexas em razão da identidade de pedidos e de cau-
SJ* de pedir; são ações sujeitas a jurisdições diferentes” .18 Na verdade, essa
solução leva a coisas julgadas contraditórias, proferidas ambas em sede de
:aÇ°es civis públicas, como se, pela mesma lesão praticada por uma empresa
tm l°do o país, os lesados de São Paulo não merecessem a mesma solução
os Jesados de Pernambuco...
- Por fim, resta negar a possibilidade de conexão, continência ou li-
ispendência entre ação civil pública ou coletiva e ação penal.
Como já demonstramos, não há cogitar de conexidade, litispendên-
ou continência entre ação civil pública ou coletiva e ação penal, dada a
.9^1 diversidade de objetos entre ambas (pedidos e causa de pedir), ressal-
24 REsp n. 112.647-RJ, 2a T. STJ, ). 13-1098, v.u., rel. Min. Peçanha Martins, RS’ÍJ,
0 18<$,« o mesmo sentido, RSTj, 42:451-, ET, 628.124., 600.194.
, 25 Cf. art. 105 do CPC. N o caso, deve-sé anJicar o sistema dos arts. 103, § 3o, e 104,
d0(Dc
^ 26. Nesse particular, cremos que aqui melhor ficou discutido o exemplo constante
.. .. ídiçôcs anteriores desta obra (8* a 10a), quando não nos ocupáramos das considerações
0rafeitas
' ■■■■<■ 27. CComp n. 53-435-RJ, 2a Seç. STJ, j. 08-11-06, v.u., rei. Min. Castro Filho, Infor-
vj, m .
i=tL : .
250— CAPÍTULO 14
C O M PE T Ê N C IA
' <<tt
‘L As regras gerais
A. lei estabeleceu regras especiais de competência para as ações civis
Públicas ou coletivas, com o escopo de facilitar a defesa dos interesses tran-
MndivitUiais em juízo. Assim, como regra geral, dispôs que essas ações de-
Vem ser ajuizadas no fo ro do local do dano.
Exporemos aqui, de forma sumária, essa regra geral e suas exceções,
‘íye dispõem sobre a competência para o processo coletivo:
"a) Na defesa de interesses transindividuais indivisíveis (difusos ou
coletivos), a competência é estabelecida, de forma absoluta, em razão do
0cal do dano.1 Por força de opção expressa da lei, no caso a competência
funcional e, por isso, absoluta. Como já antecipamos, o escopo da
norma é facilitar o ajuizamento da ação e a coleta dã prova, bem como as
2. Ainda sobre a questão da competência por danos nacionais ou regionais, f., neste^:
Cap., o tópico n. 7-
3. CDC, art. 93. N o mesmo sentido, v. Ada Peilegrini Grinover, Código brasilM*0
cit., art. 93. 1 ,
4. CDC, art. 93, I.
5. A propósito, v. item n. 5, deste Cap. Contrariamente, Ada Peilegrini Grinover &
Código brasüeiro de defesa do consumidor, 7a ed., cit., nas notas que faz ao art. 93, su sí^
que no caso haveria uma “competência territorial absoluta” (p. 807-9). Afirmando tambéin*c
tratar de competência absoluta, v. Rodolfo Mancuso, Comentários ao código de proteç0°
consumidor, cit., notas ao art. 93, Saraiva, 1991; Arruda Alvina, Código do Consumido? ^
mentado , cit., notas ao art. 93, Revista dos Tribunais, 1995. s
^;Fte-;F:.
FFV' ;.
COMPETENCIA— 253
x 6 Cf. tb. REsp n. 436.81 5-DF, 3* T. STJ, v.u., j. 17-09-02, rel. Min. Nancy Andrighi,
Q/V, 2H 10 02, p. 313; CComp n. 26.354-RJ, 21 Seç. STJ, v.u., ;. 25-08-99, rel. Min. Ary
lpMBlendcr, DJU, 04-10-99, p. 37; C Com p n. 18.652-GO, 2* Seç. STJ, m.v., j. 13-05-98, rel.
, HCfsdr Rocha, DJU, 26-03-01, p. 362; C Com p n. 17.735-CE, 2a Seç. STJ, m.v., j. 13-05-98, fel.
te' M;n Meneses Direito, DJU, RSTJ, 114.115.
^ 7. CDC, art. 101,1.'
8. CDC, art. 93, II. Chegáramos, em edições anteriores, a entender que, para os da-
......nos regionais, as ações devériam ser propostas na Capital dos Estados, e, para os danos na-
Cl°nais, na Capital do Distrito Federal. Depois nos convencemos de que a norma legal confe-
Unn alternativa para o autor, pará mais ampla defesa dos interesses transindividuais. Ainda
^ Proposito da matéria, v., neste Cap., os tópicos ns. 5 e 7.
S. Cai-se na regra geral da competência do local do ato ou fato (CPC, art. 100, V).
10. ECA, art. 209- V;, tb., Cap. 43, n. 2.
, 11. A solução dessa questão pende ainda de decisão do STF na Recl. n. 2,138. A pro-
r itt0. v nota de rodapé n. 38, p. 192. Sobre o foro por prerrogativa de função, v., neste
t i aP o item n. 1 1 . -
2 54— CAPÍTULO 15
1*5 CComp n. 7.204-MG, STF Pleno, j. 29-06-05, m.v., rel. Min. Carlos Britto, DJU,
J # 1 2 0 5 ,p 5 .
16 Ai incluído o combate ao chamado trabalho escravo.
17 LC n. 75/93, art. 83, III-V.
‘ 18 CR, art. 114, §§ 2o e 3o, com a redação que lhe deu a EC n. 45104.
■
íí . 19. Cf. Súm, n. 15 do CSMP.
■s, • 20. Entendendo que as ações civis públicas para a defesa do meio ambiente do tra*
:KrrCOrrerá° em vara comum e não acidentaria, v. J'IJ, 141:206; REsp n. 207.336-SP, 3a T.
H G * ' , DJU’ 1L-06-01, p. 200; entendendo em favor da Justiça do trabalho, v. RE n. 206.220-
>2a T. STF, Inform ativo STF, 142 e 162. A propósito da legitimação ativa na matéria, v., tb.,
; ° C;lP L6, n.3.
2 56— CAPÍTULO 15
Justiça comum .28 As ações civis públicas que versem a defesa do meio am
biente do trabalho serão processadas e julgadas pela Justiça do trabalho
quandò sua causa de pedir e seu pedido envolvam questões de natureza
trabalhista-, fora daí, a competência será da Justiça comum estadual.
Nessa linha, por exemplo, o Supremo Tribunal Federal já entendeu,
corretamente, caber à competência da Justiça trabalhista conhecer e julgar
ação civil pública movida pelo Ministério Público do Trabalho, na qual se
discutia a duração de jornada de trabalho.29 Ao mesmo tempo, o Superior
Tribunal de Justiça vinha reconhecendo caber à Justiça comum dos Estados
processar ação civil pública movida pelo Ministério Público local, destifiadj
a evitar acidentes do trabalho.-30
A nosso ver, com a extinção dos juizes trabalhistas leigos ou classis-'
tas,31 cremos ser inevitável e até desejável a valorização crescente da Justiça
do trabalho. Deve-se aproveitar sua especialização para ampliar sua compe
tência, de.forma gradativa, até cobrir integralmente a matéria acidentaria ou
previdenciária do trabalho, bem como as ações relacionadas ao meio am
biente do trabalho.
Entretanto, nada impede è, ao contrário, tudo recomenda, que, nes:.
sa matéria, quando for o caso, desde já o Ministério Público estadual e o do
Trabalho atuem em litisconsórcio e profícua colaboração.32
As ações civis públicas de competência da Justiça do trabalho serão
processadas e julgadas por vara do trabalho, e não, originariamente pot
tribunais do trabalho, uma vez que, embora digam respeito a interesses de;
categoria de trabalhadores, não são, tecnicamente, “dissídios coletivos" de
competência dos tribunais.33
34, Contra o dispositivo, foi ajuizada a ADIn n. 1.852-DF. O Plenário do STF, por
Unanimidade, indeferiu a liminar, mantendo a vigência da norma (Inform ativo STF, 278).
35. REsp n. 47S.783-BJ, 3a T. STJ, v.u., j. 14-10-03, rel. Min. Nancy Andríghi, DJU, 10-
11 t o p. 18 7 ,
3. A competência absoluta
Diz a LACP que a competência para as ações civis públicas é fundo
nal, do foro do local do dano.39 s. "te ,
Como não foram sequer instituídos juízos com competência funcio
nal para a defesa de interesses difusos ou coletivos, a nosso ver-, quis a leite
apenas assegurar que a competência nessas ações, embora fixada em razão
do local do dano, é absoluta, e, portanto, inderrogável e improrrogável por
vontade das partes.40
Mais clara foi a dicção do ECA, que se referiu ao “foro do local onde
ocorreu ou deva ocorrer a ação ou omissão, cujo juízo terá competência
absoluta para processar a caúsa”.41
Embora nas ações civis públicas o foro seja o do loca l do dano, pelo.:
sistema próprio instituído pela LACP, a competência é, pois, absoluta e,
conseqüentemente, não é territorial ou relativa, ao contrário das apaiên
cias. Houvfe equívoco do legislador quando, mais tarde, na disciplina da
coisa julgada, mencionou a suposta competência territorial do jui2 que t.
sentencia;{£ ação civil pública.42
1
43. Art. 16 da LACP, com a redação atual.
44. Esperamos que, com a promulgação da EC n. 32/01, que restringe a edição das
ss^da.s provisórias, seja coibido o abuso.
262— CAPÍTULO 15
de trinta dias significava não terem sido aceitas pelo Congresso, que apenas •
deveria disciplinar as relações jurídicas delas decorrentes, e nunca coones- .
tar a reedição indefinida de medidas cuja eficácia de todo já se perdera.
Mas, longe disso, acabaram se tornando o meio pelo qual o Poder Executivo
federal conseguia legislar ordinariamente, sem a real participação do Poder.. :
Legislativo.45 Nesse abuso, que não encontrou devido ou suficiente cobro
nem do Congresso Nacional, nem dos tribunais, nem da sociedade, os pre
sidentes da República pós-1988 usurparam constantemente as funções le
gislativas do dócil Congresso Nacional, como, aliás, foi exemplo a medida
provisória que se converteu na Lei n. 9.494/97.
Essa lei é, pois, fruto da conversão da Med. Provisória n. 1-570/97,
editada sem a presença dos pressupostos constitucionais autorizadores dé
relevância e urgência (CR, art. 62), e que se destinúu a alterar um dispositi
vo processual que estava em vigor há mais de uma década, sem contestação;: V'
de qualquer tipo.4<*
Com efeito, tal lei deu nova redação ao art. 16 da IACP, para ficar
consignado que “a sentença civil fará coisa julgada erga omnes, nos limites
da competência territorial do órgão prolator, exceto se o pedido for julgado-,
improcedente por insuficiência de provas, bipótese em que qualquer legi
timado poderá intentar outra ação com idêntico fundamento, valendo-se tle
nova prova” .
A alteração trazida ao art. 16 da Lei da Ação Civil Pública pela Lei n, .
9.494/97 consistiu em introduzir a locução adverbial “ nos limites da compe
tência territorial do órgão prolator” , pretendendo-se assim limitar a eficácia
erga omnes da coisa julgada no processo coletivo. Trata-se de acréscimo de
todo equivocado, de redação infeliz e inócua. O legislador de 1997 confun- s:
diu limites da coisa julgada (cuja imutabilidade subjetiva, nas ações civis'
públicas ou coletivas, pode ser erga omnes) com competência ( s a b e r qual
órgão do Poder Judiciário está investido de uma parcela da jurisdição esta-
tal); e ainda confundiu a competência absoluta (de que se cuida no art. 2 r
da IACP), com competência territorial (de que cuidou na alteração procL- ,
dida no art, 16 , apesar de que, na ação civil pública, a competência não ij
territorial, e sim absoluta) ...47 Ademais, a Lei n. 9.494/97 alterou o art. 1° :■
da Lei n. 7.347/85 mas se esqueceu de modificar o sistema do Código (Je
Defesa do Consumidor, que, em conjunto com a Lei da Ação Civil Pública. ■:
disciplina competência e coisa julgada nas ações civis públicas e coletivas,
ainda hoje dispõe corretamente sobre a matéria... E mais. A Lei n. 9.49^!?' \'
Ora, é lógico que o juiz tem que ter competência absoluta para de
cidir uma ação civil publica; mas não se trata de competência territorial,
nem sua sentença só vale para os seus comarcanos...
Não fosse inócua, a alteração trazida ao sistema da coisa julgada das
ações civis públicas pela Lei n. 9.494/97 levaria a paradoxos como estes:
a) um dano a interesses difusos em duas ou mais comarcas vizinhas, do
mesmo Estado ou de Estados diferentes (p. ex., a poluição atmosférica cau
sada por uma fábrica), jamais poderia ser conhecido e julgado por um úni
co juiz, pois nenhum dos juizes do loca l do dano teria competência territo--
\rial sobre todo o local do dano; b) nesse caso, a seguir a solução absurda
da Lei n. 9-494/97, teriam de ser propostas diversas ações civis públicas,
uma em cada foro do local do dano, podendo gerar decisões contraditórias
e simultaneamente inexeqüíveis, c) por outro lado, de nada adiantaria pro
por a ação civil pública na Capital do Estado, ou no Distrito Federal (para
danos regionais ou nacionais, respectivamente), pois se poderia objetar que
nem o juiz da Capital do Estado nem o juiz distrital teriam competência
sobre lodo o território do dano, como parece querer a Lei n. 9.494/97...
A maneira correta de vencer òs paradoxos aqui apontados consiste,
puis, em considerar ineficaz a alteração trazida pela Lei n. 9.494/97,52 A
propósito, como bem anota Ada Peilegrini Grinover, “a competência territo-
■nal nas ações coletivas é regulada expressamente pelo art. 93 do CDC. (...)
li a regra expressa da lex specialis é no sentido da competência da capital
do Estado ou do Distrito Federal nas causas em que o dano ou perigo de
dano for de âmbito regional ou nacional. Assim, afirmar que a coisa julgada
se.restringe aos ‘limites da competência do órgão prolator’ nada mais indica
d.Qque a necessidade de buscar a especificação dos limites legais da compe
tência: ou seja, os parâmetros do art. 93 do CDC, que regula a competência
territorial nacional e regional para os processos coletivos”,53 A nosso ver,
■■Çfcsc raciocínio não se restringe apenas à defesa dos interesses transindivi
duais de consumidores, mas se aplica à defesa de quaisquer interesses tran-
sindividuàSs, de consumidores ou não, em vista da integração absoluta que
existe entre as regras processuais do CDC e as da LACP.54
Se os danos, ainda que não cheguem a ter caráter estadual ou na-
PPnal, mesmo assim se estenderem a mais de um foro, o inquérito civil
deverá ser instaurado e a ação civil pública deverá ser proposta seguindo os
,cr<iénos da prevenção; se os danos se estenderem ao território estadual, ou
52. Nesse sentido a lição de Nelson e Rosa Nery, Constituição Federal comentada,
Clt, notas ao art, 16 da LACP; Ada Peilegrini Grinover, Código de Defesa do Consumidor
\?>ncntado, cit., p. 821, Forense Universitária, 1999; Rodolfo de C. Mancuso, Ação c iv ilp ú -
... hca, 5“ ed., p, 207, Revista dos Tribunais. Por sua vez, José Marcelo Vigliar defende, ainda, a
inconstitucionalidade da alteração trazida ao art. 16 da LACP ( Tutela ju risd icion a l coletiva, p.
■*74, AU.is, 199S).
53. Código brasileiro de defesa do consum idor comentado, cit., p. 850, 7a ed., Fo-
- rense Universitária; Revista Jurídica, 264:64.
54. CDC, art, 90, c.c. a LACP, art. 21.
266— CAPÍTULO 15
nacional, o inquérito civil deverá ser instaurado e a ação civil pública pro
posta, alternativamente, na respectiva Capital ou no Distrito Federal.55 .
Assim, no processo coletivo, quando o dano ou a ameaça de dano
ocorra ou deva ocorrer em mais de uma comarca, mas sem o caráter esta- ;
dual ou nacional, a prevenção será o critério de determinação da compe- :
tência. Se o dano ou a ameaça de dano tiver o caráter estadual ou nacional,
então se deve aplicar, analogicamente, a regra do art. 93, II, do CDC.
d ) Conclusão
Nos termos da disciplina dada à matéria pela LACP e pelo CDC, por-;
tanto, e ressalvada a competência da Justiça federal, os danos de âmbito;:
nacional ou regional em matéria de interesses difusos, coletivos ou indivi
duais homogêneos serão apurados perante a Justiça estadual, em ação pro
posta no foro do local do dano; se os danos forem regionais, alternativa
mente no foro da Capital do Estado ou do Distrito Federal;56 se nacionais,
igualmente no foro da Capital do Estado ou no foro do Distrito Federal,.,
aplicando-se as regras do Código de Processo Civil nos casos de comprtên
cia concorrente.57
a ) Competência relativa :.
Em matéria de defesa transindividual dos consumidores, o CDC só j ,
editou uma norma, referente à defesa de interesses individuais homogc- '■^
neos: trata-se do art. 93 , que está situado no capítulo das ações coletivas,'.'
para a defesa de interesses individuais homogêneos. Nada dispôs sobre a
defesa de interesses difusos e coletivos de consumidores.
Como, em matéria de interesses transindividuais, o sistema da LACP'’'
é de aplicação integrada ao do CDC, passa a ser absoluta, porque funcion<il. '
a competência para as ações civis públicas ou coletivas, que envolvam direi
tos difusos ou coletivos (art. 2o da LACP, c.c. o art. 90 do CDC).
particular, o entendimento, é passamos a admitir que, no caso, existe uma alternativa, a cj itt-ri^
do co-legitimado ativo,- o que concorre para melhor defesa dos interesses t r a n s i n d i v i d u ® 1* -
lesados e mais eficiente acesso à'Justiça.
COMPETÊNCIA— 267
58. A propósito, convém lembrar que a Lei n. 11.280/06 incluiu um parágrafo único
' CPC, por meio do qual ficou dito que a nulidade de cláusula de eleição de
ern contrato de adesão, pode ser declarada de ofício. A declinatória de foro deverá ser
"p eni ^avor do domicílio do réu, se for ele o aderente (Neison e Rosa Nery, Código de
... - Civil comentado, cit, notas ao art. 112).
-:T
;T;-.yiy"uy'
268— CAPÍTULO 15
COMPETÊNCIA— 269
autor), mas sem ter imposto para a hipótese a competência absoluta entãn de classe de caráter nacional ou estadual (p. ex., uma associação de servido
a competencia ai é territorial, em sentido estrito, e, portanto, relativa. N|n res públicos ou de bancários) jamais poderia defender coletivamente os
obstante termos chegado a esta conclusão, devemos convir, porém que a interesses de todos seus associados numa ação civil pública, e sim cada
admissao do critério territorial exigirá algumas peculiaridades, como acima lesado teria de propor uma ação individual em cada comarca do País... Isso
ja toi ressaltado, pois a defesa de interesses transindividuais não comporta seria negar o acesso coletivo à jurisdição, violando-se, pois, garantia consti
v.g., foro de eleição, já que nao poderiam os legitimados ativos pactuar foro tucional — que visa a assegurar tanto a efetividade do acesso individual
contratual de sua preferência, que vinculasse os demais co-legitimados. como coletivo à Justiça. O que se deve entender é que, se o dano tiver cará
Assim, conquanto em regra a competência para as ações civis públi ter naciònal ou regional, a ação coletiva poderá ser proposta na Capital do
case coletivas seja absoluta, ainda que determinada pelo local do dano5? m Estado ou do Distrito Federal (art. 93, II, do CDC), e o juiz terá competên
V admite critérios de competência territorial ou relativa no tocante à - cia para decidir a lide para todos, residentes ou. não na respectiva Capital.
defesa de interesses individuais homogêneos,60 ou no tocante às ações de ■ Assim, se a ação for proposta perante autoridade judiciária que tenha com
responsabdidade do fornecedor de produtos e serviços, que podem SLr petência para resolver a questão regional ou nacional, a-associação poderá
propostas no domicílio do autor.01 . fazer pedido que abranja os interesses de todos seus associados, indepen
dentemente da relação nominal destes ou independentemente do foro do
Quanto à competência de que cuidam os arts. 93 e 101 do CDC en luiz prolator da sentença.65
tendemo-la, pois, relativa, uma vez que, ao contrário do que o fazem o ari
2 da LACP, ou o art. 209 do ECA, os arts. 93 e 101 não aludiram nem ao ■ Apesar de, em alguns casos, ser relativa a competência para a ação
cnteno funcional, nem absoluto, para qualificar a competência.62 - coletiva, justamente para atender às peculiaridades que iluminam a atuação
dos legitimados ativos — meros substitutos processuais dos lesados — , não
se pode eleger nem renunciar ao foro para a ação coletiva.
b ) O domicílio dos substituídos
À vista de quanto se expôs, não há, pois, falar em incidência da re
Buscando alcançar esses casos em que a competência na ação cole- ' gra instituída pelo art. 4a da Med. Prov. 2.180-35/01 em matéria de interes-
Uva seja territorial, o art. 4° da Med. Prov. n. 2.180-35/01,63 acrescentou um :. ses difusos e coletivos. E, mesmo na defesa de interesses individuais homo-
art. .2 -A a Lei n. 9-494/97, com o seguinte teor: “a sentença civil prolatida ‘geneos, as exigências instituídas por essa medida provisória devem ser en
em açao dé carater coletivo proposta por entidade associativa, na defesa dos tendidas em termos. Nas ações de caráter coletivo, porque envolvem substi
interesses erLdireitos dos seus associados, abrangerá apenas os substituídos tuição processual, a legitimação das associações civis é extraordinária, de
que^ tenham, na data da propositura da ação, domicílio no âmbito da com forma que não se deve exigir autorizaçãp dos associados para que sejam
petencia territorial do órgão prolator. Parágrafo único. Nas ações coletivas . defendidos em juízo, diversamente do que ocorreria se a hipótese envolves-
propostas contra a União, os Estados, o Distrito Federal, os Municípios e ' se.mera representação.66
suas autarquias e fundações, a petição inicial deverá obrigatoriamente estar ‘
instruída com a ata da assembléia da entidade associativa que a autorizou,
- 6- A com petência em matéria de infância e juventude
acompanhada da relação nominal dos seus associados e indicação dos res
pectivos endereços”.64 Sobre a competência em ação civil pública cujo objeto consista na
N ã o podemos dar, entretanto, interpretação ampliativa às restrições ■ tateia de interesses transindividuais relacionados com a proteção de crian-
que canhestramente tentçu criar o administrador com mais essa mcdxM . ^as e adolescentes, reportamo-nos, especialmente, ao Cap. 43, n. 2.
provisoria. Se fôssemos tomar ao pé da letra o disposto no art. 2°-A da Leis
n. 9-494/97, chegaríamos ao contra-senso de entender que uma associação. Os danos nacionais e regionais
O art. 93, II, do CDC dispõe que, ressalvada a competência da Justi-
_Ç<i federal, os danos de âmbito nacional ou regional em matéria de interes-
59- LACP, art. 2°; CDC, art, 93. *es difusos, coletivos ou individuais homogêneos serão apurados perante a
■ 60. CDC, art. 93. : estadual, em ação proposta no foro do local do dano; se o dano for
^ j - 6 j CDC’ ^ 101’ r' Ainda no raesmo sentido, v. Vicente Greco Filho, Comentários,
ao código de p roteçã o do consumidor, notas ao art. 1Ó1, Saraiva, 1991.
65. Nesse sentido, v. JtMS n. 23.566-DF, 2-' T. STF, j. rel. Min. Moreira Alves. A pro-
62..Sustentando o posicionamento contrário, v. autores indicados na nota de roda-., POSlto
pé n. 5, na p. 252, retro. . : tb., o Cap. 16, n. 2; MS n. 6.318-DF, 3=* Seç. STJ, v.u., j. 13-11-02, rel. Min. Fernando
° nÇalves, DJU, 02-12-02, p. 218. .
63. Q ue é reedição, com aíterações, da Med. Prov. n. 1.984/25-00.
66. RE n. 182.543-SP, 2a T. STF, v.u,, j. 29-11-94, rel. Min. Carlos Velloso, DJU, 07-04-
164. Para a crítica desse dispositivo, v. Caps. 16, n. 2, e 35, n. 3. J5’ P 8 900.
270— CAPÍTIJI.O 15 COMPETÊNCIA— 271
regional ou nacional, no foro da Capital do Estado ou do Distrito Federal, a teniativãmente, na Capital de um dos Estados atingidos ou na Capital do
escolha do autor, aplicando-se as regras do CPC nos casos de competência Distrito Federal;
concorrente. .. b) Em caso de ação civil pública destinada à tutela de interesses
Referindo-se a essa norma, com razão anotou Ada Peilegrini Grino- transindividuais que compreendam todo o Estado, mas não ultrapassem
ver: “o dispositivo tem que ser entendido no sentido de que, sendo de ânv seus limites territoriais, a competência deverá ser, conforme o caso, de uma
bito regional o dano, competente será o foro da Capital do Estado ou do das varas da Justiça estadual ou federal na Capital desse Estado;
Distrito Federal. No entanto, não sendo o dano de âmbito propriamente ' . c) Em se tratando de tutela coletiva que objetive a proteção a lesa
regional, mas estendendo-se por duas comarcas, tem-se entendido que a dos em mais de uma comarca do mesmo Estado, mas sem que o dano
competência concorrente é de qualquer uma delas”.67 ■ alcance todo o território estadual, o mais acertado é afirmar a competência
E quando o dano tiver âmbito nacional? segundo as regras de p r e v e n ç ã o , reconhecendo-a em favor de uma das co
Nesse caso, entendemos que a competência será concorrente ou da marcas atingidas nesse Estado;
Capital do Estado ou do Distrito Federal, a critério do autor, para mais cô^ d) Na hipótese de tutela coletiva que envolva lesões ocorridas em
moda defesa dos interesses transindividuais lesados e mais eficaz acesso à. mais de um Estado da Federação, mas sem que o dano alcance todo o terri
Justiça.68 Confortando esse entendimento, o Superior Tribunal de Justiça, tório nacional, a ação será da competência de uma das varas estaduais ou
entendeu que, “interpretando o art. 93, II, do CDC, já se manifestou esta federais da Capital de um dos Estados envolvidos, conforme o caso, à esco
Corte no sentido de que não há exclusividade do foro do Distrito Federal lha do co-legitimado ativo. Mais sensato nos parece utilizarmos as regras da
para o julgamento de ação civil pública de âmbito nacional. Isto porqu e o prevenção, ajuizando a ação na Capital de um dos Estados atingidos, e dei
referido artigo, ao se referir à Capital do Estado e áo Distrito Federal, invoca, xando para ajuizá-la na Capital do Distrito Federal somente quando o dano
competências territoriais concorrentes, devendo ser analisada a questão liver efetivamente o caráter nacional.
estando a Capital do Estado e o Distrito Federal em planos iguais, sem co
notação específica para o Distrito Federal”.69 1 ■ 8. O critério da prevenção
Nas ações civis públicas ou coletivas que versem danos a interesses;
Nas ações civis públicas ou coletivas, quando o dano ocorra ou deva
de âmbito regional ou nacional, os efeitos da sentença se estenderão a todo-
ocorrer em mais de uma comarca, mas não tenha abrangência regional ou
o território nacional.70
'nacional, a prevenção será o critério de determinação da competência.
Consideremos alguns exemplos atinentes à aplicação da norma do.;
^ * Da mesma forma, se o dano atingir todo o País, e várias ações idên
art. 93 do CDC:
ticas tiverem sido ajuizadas em foros concorrentes (Capitais de Estados ou
a) Tratando-se de danos efetivos ou potenciais a interesses trans%
tio Distrito Federal), a prevenção também deverá determinar a competên
dividuais, que atinjam todo o País, a tutela coletiva será de com petência de cia Assim, já se decidiu que, “em se tratando de ações civis públicas inten-
uma vara do Distrito Federal ou da Capital de um dos Estados, a critério diL, ..todas cm ju&os diferentes, contendo, porém, fundamentos idênticos ou
autor. Se a hipótese se situar dentro dos moldes do art. 109, I, da CR, h assemelhados, com causa de pedir e pedido iguais, deve ser fixado como
competência será da Justiça federal; em caso contrário, da Justiça estadual iòro competente para processar e julgar todas as ações, pelo fenômeno da
ou distrital. A ação civil pública ou coletiva poderá, pois, ser proposta, aL • Prevenção, o juízo a quem foi distribuída a primeira ação”.71
í * A regra da prevenção foi expressamente mencionada pelo parágrafo
único do art. 2o da LACP e pelo § 5o do art. 17 da Lei n. 8.429/92, introdu-
; z'dos ambos pela Med. Prov. n. 2.180-35101. Segundo esses dispositivos, a
,
67. Código brasileiro de defesa do consumidor cit., notas ao art. 93, 7a ed., p- ;
Propositura da ação civil pública prevenirá a jurisdição para todas as ações
<58. V. nota de rodapé xi. 8, na p. 253- N o mesmo sentido, REsp n. 218.492-ESi ; .P°stenormente intentadas, se tiverem a mesma causa de pedir ou o mesmo
STJ, j. 02-10-01, v.u., rel. Min. Peçanha Martins, DJU, 18-02-02, p. 287; CComp n. 26.842 0 ■
objeto 11
2a Seç. STJ, m.v., j. 10-10-01, rel. Min. César Rocha, DJU, 05-08-02, p. 194. Ainda no mesm°
sentido, v. Arruda Alviin, Therexa Alvim et ed., Código do Consumidor comentado, cit-, n° !'jS Procurando, porém, restringir a coisa julgada nas ações civis públi-
ao art. 93, p. 426. Em sentido contrário, entendendo que a competência será necessarjan'e,1?r J"38! a Lei n. 9-494/97 deu nova redação ao 16 da LACP, e disse que a sen-
do foro" do Distrito Federal, v. Ada Peilegrini Grinover, Código brasileiro de defesa do a '.
sumidor, cit., notas ao art. 93, 7a ed., p. 808. -
69. CComp n. 17.533-DF, 2a Seç. STJ, v.u., j. 13-09-00, rei. Min. Menezes
DJU, 30-10-00, p. 120. ” 71. CComp n. 22.693-DF, I a Seç. STJ, j. 09-12-98, v.u., RS'JJ, 120:27.
70. REsp n, 403.355-DF, 2a T. STJ, v.u., j. 20-08-02, rel. Min. Eliana Calmon, O fi ^ i. 72. A propósito da aplicação do parágrafo único do art. 2o da LACP, v., tb-, o item n.
09-02, p. 244. ■n« t c Cap. ' .
4 ç-
272— CAPÍTULO 15
que em tese seriam afetas à Justiça federal;81 entretanto, para que isso possa
ocorrer de fato, é necessário o advento de lei expressa.82 Ora, o art. 2o da
LACP apenas estabelece competência'de foro; não é regra de jurisdição. Éo
art. 109, I, da Constituição quem dá jurisdição à Justiça federal sobre os
interesses da União e entidades de que participe, e as exceções à regra são
matéria de direito estrito. A LACP não diz que cabe à Justiça estadual pro
cessar e julgar ações civis públicas de interesse da União, nas comarcas que.
não sejam sede de varas federais — como o pretendeu a Súm. n. 183 do
STJ; assegura apenas que a competência funcional será a do foro do local;
do dano. Isso significa que, se se tratar de questão afeta à Justiça estadual, "
conhecerá e julgará a causa o juiz estadual com competência funcional so
bre o local do dano; se se tratar de questão afeta à Justiça federal, será o juiz
federal com competência funcional em relação ao local do dano.83
Assim, nas ações civis públicas ou coletivas, nosso entendimento éo
de que a competência será de juizes ou tribunais federais: a) se houver
interesse da União, entidade autárquica ou empresa pública federal, na
condição de autora, ré, assistente ou opoente ;84 b) se houver interesse dc
fundação federal, a quem se dá o mesmo tratamento das autarquias;85 c) st :
houver interessé das pessoas jurídicas de direito público mencionadas nas
letras anteriores, na condição de litisconsortes necessárias;80 d) quando se
tratar de danos causados por poluição de óleo;87 e) se houver conflito entre F.
a União e os Estados, a União e o Distrito Federal, ou entre uns e outros,
inclusive as respectivas entidades da administração indireta.88
■ A controvérsia acabou desaguando na mais alta Corte. Dirimin
controvérsia, o plenário do Supremo Tribunal Federal, por u n anim idade,
recusou a tese da S ú m . n. 183 do STJ, e reconheceu a competência dos
juizes federais e não do juiz estadual local, nas ações civis públicas em quÇs
seja interessada a União, entidade autárquica ou empresa p ú b l i c a federal,
mesmo que na comarca não haja vara federal.
Consoante decidiu o Supremo Tribunal Federal, o dispositivo con
tido na parte finai do § 3o do art. 109 da Constituição é dirigido ao legisla
81. Com o o faz nas execuções fiscais ou nas ações previdenciárias, em comarcas que
náo sejam sede de vara federal.
82. CR, art. 109, § 3o.
83- Nesse sentido, v. Édis Milaré, em Ação c iv il p ú b lic a J— Lei 7.347/85, cit., p. 251
84. CR, art. 109, L
85. RE n. 127.489-DF, 2a T. STF, v.u., j. 25-11-97, rel. Min. Maurício Correa, DJU>
03-98, p. 16. A propósito, v, nota de rodapé n. 76, retro, p. 272.
86. REsp n. 431.606-SP, 2a T. STJ, 15-08-02, v.u., rel. Min. Eliana Calmon,
09-02, p. 249. .
87.JS7J, 49:66. Em sentido contrário, v. RS7J, 39-49 e 28:40; Jty, 157:136, c, aind*|
Theotonio Negrão, Código de Processo Civil, cit., nota ao art. 2o da LACP.
88. CR, art. 102, I , f A jurisprudência do STF considera que, havendo conflito
rativo justifica-se a competência da mais alta Corte (ACO Q O n. 515-DF, STF Pleno, v.u.,)-
09-02, rel. Min. Ellen Gracie, DJU, 27-09-02, p. 80; Inform ativo STF, 280 e 283).
COM PETÊNCIA— 275-
89. RE n. 228.955-9-RS, STF Pleno, j. 10-02-00, v.u., rel. Min. Ilmar Galvão, recorre n-
,e Ministério Público Federal-, recorrido: Município de SSo Leopoldo (Inform ativo STF, i n e
ttz.nrr, 1 72:992).
•- 90. A súmula foi cancelada durante o julgamento dos EDecl no CComp n. 27.676-
B*. sessão de 08-11-00, I a Seç. do STJ, DJU, 24-11-00, p. 265.
91. Lei n. 5.010166, art. 11.
-| 92. Cf. art. 109, I, da CR. Nesse sentido, invocando nosso entendimento, v. acórdão
'vJ*— ÍF da 5“ Reg,, Pleno, j. 02-09-92, rel. o Juiz Neneu Santos, no MS n. 5.091-PE, pub. em
" t f . 45-588.
276— CAPÍTULO 15
93. REsp n. 431.606-SP, 2a T. STJ, 15-08-02, v.u., rel. Min. Eliana Calmon, DJU, 3^
09-02, p. 249-
94. Nesse sentido, CComp n. 25-818-DF, 3a Seç., j. 25-09-02, m.v., rel. Min. Vicei#
Leal, DJU, 31-05-04, p. 170. ,
95. CComp n. 34.204-MG, I a Seç. STJ, v.u., j. 11-12-02, rel. Min. Luiz Fux, D O U # ^
12-02, p . 323-
■ ■(
10. A disputa sobre direitos indígenas ;
s A Constituição estabelece as principais regras para proteger a orga-
nização social, costumes, línguas, crenças, tradições edireitosoriginários 3T
íqbre as terras dos índios.101 |j!
, r% Poderá o Ministério Público propor ações civis públicas em defesa ;r2
dcw interesses das populações indígenas.102 Além da legitimação ativa do
;Minisrérto Público nessa matéria, os próprios índios, suas comunidades e
organizações também são partes legítimas para ingressar em juízo na defesa
i^e seús próprios interesses. Neste último caso, intervirá no feito o Ministé-
sdo Público.
.-%V‘ ■
A disputa sobre direitos indígenas é matéria de competência da Jus-
í‘ea federal.104 Cremos, entretanto, que a competência em questão se dirige
, 98. CCom p n. 28.747-Rjt I a Seç. STJ, ). 18-12-00, v.u., rel. Mm. Milton Pereira, DJU ,
■■ ^ ■ 0 1 , p. 273* ' '
99. Cl. Súm. n. 8 do CSMP-SP (v. a integra das súmulas e sua fundamentação, a p.
.691 es, desta o b ia ). v> tb súm n 556 do STF. RT' 655 ..83- REsp n . 151.855-PE, 33 T. STJ, j.
. / ‘05-?8>. v.u .1 rel. Min. Waldemar Zweiter, DJU, 29-06-98, p. 167; REsp n. 200.200-SP, I a T.
'■'■H , J. 20-08-02, rei. Min. Milton Pereira, DJU, 30-09-02, p, 161.
' 100. RE n. 366.168-SC, I a T. STF, j. 03-02-04, v.u., rel. Min. Sepúlveda Pertence, DJU,
-05-04, ata n . 14.
101. CR, arts. 231-232 e 210 , § 2o.
102. CR, art. 129, III e V.
„ 103. CR, art. 232.
104. CR, art. 109, XI.
27S— CAPÍTULO 15
a atos de interesse global dos indígenas, como aqueles de que cuida o art
231 da Constituição (como um conflito sobre a posse ou propriedades dc
terras indígenas, uma disputa sobre direitos indígenas, uma questão atinen-
te à cultura indígena etc.); não vemos, dessa forma, que seja vedado ao
Ministério Público local e aos juizes estaduais oficiar em ações que digam
respeito à defesa de interesses individuais. .
A propósito, decidiu o STJ que a competência da Justiça Federal pi
ra o julgamento de causas sobre os direitos indígenas, inclusive pretensões
do grupo indígena, diz respeito aos direitos de que cuida o art; 231 di
Constituição, não às pretensões de natureza particular.105
105. CComp n. 39.818-SC, I a Seç. STJ, j. 10-03-04, rel. Min. Teori Zavascki, :
03-04, p. 167. ‘ te/li
106. A propósito, v. , tb., o Cap. 9, n. 10. :r ; |
COMPETÊNCIA— 279
tior hierarquia seria, pois, uma garantia bilateral — garantia contra e a favor
do acusado.
> Forçoso é reconhecer, entretanto, que essa argumentação parte de
uma premissa que está muito longe de ser demonstrada — a de que os tri
bunais superiores são mais imparciais que os juizes.singulares. De um lado,
everdade, na época da edição da Súm. n. 3 9 4 , havia mesmo uma razão que
apontava a possível sujeição dos interesses dos juizes singulares às autori
dades administrativas; antes da Constituição de 1 988, as promoções dos
juizes eram efetivadas por ato do Poder Executivo, e, portanto, impregna
vam-se de forte influência política; assim, como os juizes de última instância
játinham galgado todos os cargos da carreira, estavam livres dessa sujeição.
Mas, se isso era verdade, sobreleva hoje o reverso da medalha. Os juizes
'singulares são investidos por concurso público de provas e títulos, e agora
são promovidos pelo próprio Poder Judiciário, ao passo que ò procurador-
geral da República e os ministros dos maiores tribunais do País são nomea
dos livremente pelos próprios administradores e políticos cuja impunidade
eles podem assegurar...
Passemos à análise do segundo argumento.
, „ Sustentou-se que a Súm. n. 394, ao menos de forma indireta, tam-
■,bémprotegia o exercício do cargo ou do mandato, se durante ele o delito
■Jqjsc praticado e o acusado não mais os exercesse. E inegável que essa ar-
ígumentação, pelo menos durante algum tempo, pareceu relevante ao Su-
7premo Tribunal Federal, pois foi ela que justificou a manutenção da súmula
..durante várias décadas, mesmo com a troca de tantos ministros.
‘í> Entretanto, após o advento da Constituição de 1988, aos poucos os
tempos vêm mudando. Depois do eclipse provocado pela ditadura militar,
í.9 regime democrático vem renascendo. As ações penais e de improbidade
rcontra os políticos e administradores, que antes eram verdadeira raridade,
passaram a ser mais comuns. Não que os administradores e políticos atuais
.tivessem passado a ser menos honestos do que os de antigamente, mas é
que o Ministério Público ganhou maior independência cóm a Constituição
ocl988,ií)7 e as investigações e ações começaram a virar rotina, o que num
.paib democrático não deveria, aliás, causar mãior perplexidade...
Assim, por força dos novos tempos, em 25 de agosto de 1999," não
sem ccrta tardança, o Supremo Tribunal Federal cancelou sua Súm. n. 394,
^tendendo que o art. 102, I, b, da Constituição — que estabelece a compe-
Çncia dessa Corte para processar e julgar originariamente, nas infrações
Panais comuns, o presidente da República, o vice-presidente, os membros
•9 Congresso Nacional, seus próprios ministros e o procurador-geral da
publica — não alcança essas pessoas quando não mais exerçam mandato
cargo.
Z.
■
109. Inq. 687-SP QO, voto do Min. Sydney Sanches, Inform ativo STF, 159- i
í
COMPETÊNCIA— 281
115. Na ADIn n. 1.901-MG, rel. Min. limar Galvão, j. 03-02-03, o STF, por maioria de
f >entendeu que ps crimes de responsabilidade configuram matéria penal e não política.
284— CAPÍTULO 15
116. ADIn ns. 2.797-DF e 2.860-DF, STF Pleno, |. 15-09-05, m.v,, rel. Min. íicpúl"
Pertence, DJU, 19-12-96, p. 37.
117. N o mesmo sentido desla ressalva, embora se referindo apenas à situaç1"
presidente da República, v. Suzi D ’Angelo e Éício D ’Angelo, O p rin cip io da probidflde'l > -}
nistrativa e a atuação do Ministério Público, p. 91, LZN Ed., 2003. ■: ■
118. CPC, art. 253, III, induído pela Lei n. 11.280106. te'te
COMPETÊNCIA— 285
L
L
1 Sobre a natureza da legitimação ativa, se ordinária ou extraordinária, v. Cap. 2.
2 IACP, art. 21; CDC, art. 90.
L - 3. Propondo limites para a legitimação do Estado-membro em face da Uniãc, v. voto
-doMtn Pertence, no MS n. 21.059-1-RJ, STF Pleno, j- 05-09-90, DJU, 19-10-90, p. 11.486.
" 4. A propósito da legitimação ativa para a ação civil pública ou coletiva, v., ainda,
e i; Lei n. 7.853189, art. 3o; ECA, an. 210.
288— CAPÍTULO 16
12. MC em RE n. 1.707-MT, STF Pleno, j. l°-07-98, v.u., rel. Min. Moreira Alves, DJU,
290— CAPITULO 16
Í.EGITIMAÇAO ATIVA— 291
(CDC, art. 82, I a III). Assim, é de todo pertinente estender o requisito teirP
poral de pré-constituição âs fundações privadas, não às públicas.
Desta forma, só os legitimados públicos não estão sujeitos aos re- :
quisitos de pré-constituição há pelo menos um ano. Um Estado ou um Mu
nicípio recém-criados podem imediatamente ajuizar ação civil pública ou
coletiva; também de imediato uma autarquia ou uma empresa pública o
podem. Nessa linha de entendimento, já decidiu o Superior Tribunal de is
Justiça que as empresas públicas estão legitimadas para o exercício de ação;
civil pública, não necessitando adimplir os requisitos dos incisos I e II do
art. 5o da LACP.26 ■is is.;
Para o ajuizaménto de ação coletiva, pode o juiz dispensar o prazo'?
de pré-constituição, se houver manifesto interesse social evidenciado pela
dimensão ou característica do dano, ou pela relevância do bem jurídico a
ser protegido .27 E, no sentido de tornar mais eficaz a defesa coletiva de
interesses transindividuais, já se admitiu que o prazo de pré-constituição
pode ser completado no curso da própria ação.23 •;.. ,is
Já o segundo requisito — o de pertinência temática das associações
— não pode ser dispensado pelo juiz (ao contrário do requisito da pré-
constituição, que se pode relevar).29 Tal pertinência significa que as assoaa
ções devem incluir entre seus fins institucionais a defesa dos interesses
objetivados na ação civil pública ou coletiva por elas propostas, dispensadj
embora, a autorização de assembléia.30 Em outras palavras, essa pertinência *
é a adequação entre o objeto da ação e a finalidade institucional.31
As associações civis necessitam, portanto, ter finalidades instituao-^,
nais compatíveis com a defesa do interesse transindividual que prt tendiois
.wU.
tutelar em juízo. Entretanto, essa finalidade pode ser razoavelmente gcnen
ca; não é preciso que uma associação civil seja constituída para defender (.m
juízo especificamente aquele exato interesse controvertido na hipótese con./
ereta. Em outras palavras, de forma correta já se entendeu, por exempl<V.
que uma associação civil que tenha por finalidade a defesa do consumidor <,
pode propor ação coletiva em favor de participantes que tenham dcsisticto
de consórcio de veículos, não se exigindo tenha sido instituída para a defe
sa específica de interesses de consorciados de veículos, desistentes ou ina'íf
dimplentes.32 Essa generalidade não pode ser, entretanto, desarra^oadíi <
:i
-----------------------------------------------------—— . ■
' • ' 39. RMS n. 23.566-DIr, rel. Min. Moreira Alves, j. 19-02-02, Inform ativo STF, 258.
40. A respeito da c o n f u s ã o q ue o administrador fez entre competência e coisa julga-
- ’ editar suas medidas provisórias, v. Cáps. 15 e 35.
296— CAPÍTULO 16
j 54. A O n. 152-8-RS, STF Pleno, j. 35-09-99, in.v., vencido o rel.. Min. Carlos Velloso,
JU’ 01-03-00, p. 19, inform ativo STF, 180.
o- 55. RE n. 182.543-SP, 2a T. STF, v.u., j. 29-11-94, rel. Min. Carlos Velloso, DJU, 07-04-
«900.
(ÍV ^esse sentido, AgREsp n. 651.038-PR, 3a T. STJ, v.u., rel. Min. Nancy Andrigbi, j.
>08-04, DJU, 23-08-04, p. 237.
3 0 0 — CAPÍTULO 16
I
O art. 103, III, do CDC, dispõe claramente que, em matéria de inte
resses individuais homogêneos, a procedência será erga omnes, parabene
ficiar todas as vítimas e seus sucessores. Como as associações civis públicas
estão em pé. de igualdade com os demais legitimados ativos para a defesa de
interesses transindividuais, nada impede que o pedido que façam.beneficie
também pessoas que delas não são associadas. O que importa é que tenha®
pré-constituição temporal mínima e finalidade institucional compatível com
a defesa do interesse pretendido.
Nessa linha, corretamente o Superior Tribunal de justiça já reco
nheceu que as associações de moradores de bairros podem ajuizar ações de
natureza coletiva êm proveito de grupos maiores que apenas seus própnós
associados;57 já tem ainda admitido a legitimidade de associações civis para?
pleitear em.juLxi em favor de todos quantos se encontrem na situação al- , .
cançada por seus fins, ainda que dela não sejam associados.58
Diz a letra b do inc. V do art. 5o da LACP que a associação será admi
tida à propositura da ação civil pública caso “inclua, entre suas finalidades
institucionais, a proteção ao meio ambiente, ao consumidor, à ordem eco
nômica, à livre concorrência ou ao patrimônio artístico, estético, histórico,
turístico e paisagístico”.59 Naturalmente, esse rol não é taxativo, à vista da
interpretação sistemática da lei, que admite a utilização da ação civil pública^ ••
para a defesa de quaisquer interesses difusos e coletivos (art. I o, IV), e nao
apenas daqueles mencionados na letra b do inc. V do art. 5o.
Questão incomum, que já compareceu, entretanto, nos foros, foi a
de saber seiuma associação civil pode defender em juízo interesses de um ,
grupo de associados, quando esses interesses contrariem outro grupo de
associados.10 STJ recusou-lhe a possibilidade, por entender que, assim
fazendo, a associação estaria contrariando em parte seu fim institucionalfiu
Pode a associação civil gozar dos benefícios da assistência ju d iciá ria
gratuita, para ajuizar uma ação civil pública ou coletiva?
A LACP apenas as dispensa d e antecipação de despesas processuais,
contudo, são mais amplos os benefícios da assistência judiciária, pois in
cluem dispensa de honorários de advogado.61
57. REsp n. 31.150-SP, 2a T. STJ, j, 20-05-96, v.u., rel. Min. Ari Pargendler, DJUj
00-96, p. 20.304. ■ '
58. Nesse sentido, v. REsp n. 157.713-RS, 3a T. STJ, v.u.,;. 06-06-00, rel. Min. Bduar
do Ribeiro, RT\ 784: ISS; REsp n. 302.192-RJ, 4;l T. STJ, v.u., j. 10-04-01, rel. Min.. Rosado de
Aguiar* DJU , 25-06-01; REsp n. 132.724-RS, 3a T. STJ, v.u., rel. Min. Ari Pargendler, DJU, 29-0
01, p. 162; REsp n. 72.994-SP, 3a T. STJ, m.v., j. 19-04-01, rel. Min. Menezes Direito, R&l'
152:291; REsp n. 132.502-RS, 4a T. STJ, v.u., j. 26-08-03, rel. Min. Barros Monteiro, DJV.
11-03, p. 193.
59. Com a redação da Lei n. 11.448/07.
60. RMS n. 15.311-PR, 2a T. STJ, v.u., j. 20-03-03, rel. Min. Eliana Calmon, DJU, li ’ '
04-03, p. 205.
61. Lei n. 1.060, art. 3°. '
LEGITIMAÇÃO ATIVA— 301
62. EREsp n. 388.045-RS, CE STJ, v.u., j. 1°-08-03, rel. Min. Gilson Dipp, DJU, 22-09-
J P 252; REsp n. 431.239-MG, 43 T. STJ, v.u., i. 03-10-02, rel. Min. Barros Monteiro, DJU, 16-
12°2,P 344.
63. Voto proferido no AgRg na ADIn n. 3-153-DF, Inform ativo STF, 361.
64. CR, art. 17, g 2"; Lei n. 9.096/95, art. I o.
65. CC, art. 44, V, e § 3o, com a redação da Lei n. 10.825103.
66. CR, arts. 5o, LXX, a, e 103, VIII.
302— CAPÍTULO 16
67, ROMS n. 1-348-MA, 2a T. STJ, ). 02-06-93, m.v., rel. Min. Américo Luz, DJU
93, p- 27.424; MS n. 1.252-DF, I a Seç. STJ, j. 17-12-91, m.v., rel. Min. Américo Lu7,
31-,255.
68. A propósito, v ., neste Cap., o tópico n. 2.
69- CR, arts. 5°, LXX, b, e 8o, III.
70- CR, art. 8o, I; REsp n. 384.212-MG, 6ã T. STJ, v.u., j. 05-02-02, rel. Min. Iíamfl«Qf’
Carvalbido, DJU, 04-03-02, p, 317.
Velloso, DJU, 05-03-99, p. 14; REsp. n. 281.434-SP, 6* T. STJ, v.u., j. 02-04-02, rel- Min Icr
nando Gonçalves, DJU, 29-04-02, p. 328.
LEGITIMAÇÃO ATIVA— 303
; 75. Apesar da redação mais restritiva da Súm. n. 310 do TST, a legitimação dos sin-
4içato.s não é menor do que a das demais entidades associativas. Nesse sentido, v. RE n.
211 872, Inform ativo STF, 98\ REsp n. 567.257-RS, 5a T. STJ, j. 06-11-03, v.u., rel. Min. Félix
Fisher, nju, 15-12-03, p . 394.
76-A Súm. n. 310 do TST não esgotava, porém, as possibilidades de substituição
i.JJ^Pcessuál do grupo pelo sindicato (RR n, 499-215198, TST, j. 2002, NewsLetíer Síntese, 586).
' 7 7 . ERR n. 175.894-95, TST Pleno, m.v., j. 25-09-03.
78. Nesse sentido, v. MS n. 22.132-RJ, STF Pleno, j. 21-08-96, v.u., rel. Min. Carlos
JJelloso, DJU, 18-11-96, p. 39.848; RE n. 181.438-SP, STF Pleno, j. 28-06-96, rel. Min. Carlos
Vellosti; MS n. 7.319-DF, 3a Seç. STJ, j. 28-11-01, v.u., rel. Min. Vicente Leal, DJU , 18-03-02, p.
llEsp n. 295.875-MT, 5a T. STJ, ). 15-02-01, v.u., rel. Min. Edson Vidigal, DJU, 26-03-01, p.
’ « 7>HEsp n. 233.802-DF, 5a T. STJ, j. 18-11-99, v,u., rel. Min. Gilson Dipp, DJU, 06-12-99, p.
Ms n. 4.146-DF, 3a Seç. STJ,- j. 25-03-98, v.u., rel. Min. Fernando Gonçalves, DJU, 20-04-
S8.P 14.
79. A Súm. n. 629 do STF dispõe que entidade de classe pode impetrar mandado de
^fiürança coletivo em favor de seus associados, independentemente da autorização destes.
"'esmo sentido: RE n. 1S2.543-SP, a 2a T. STF, v.u., j. 29-11-94, rel. Min. Carlos VeIJoso,
0 7-04-95, p. 8.900; REsp n. 547.690-RS, 5a T. STJ, v.u., j. 04-05-04, rel. Min. Jorge Scar-
llu DJU, 28-06-04 p. 396.
304— CAPÍTULO 16
80. MS n. ó ^ lS -D F ,^ 11Seç. STJ, j. 25-08-99, v.u., rel. Min. Fernando Gonçalves, tííj:
13-09-99, p- 40 (julgamento originário); RMS n. 23.566-DF, I a T. STF, v.u., j. 19-02-02, «!■;
Min. Moreira Alves, DJU, 12-04-02, p. 67 (cassação do julgamento); MS n. 6.318-DF, 3" ^
STJ, v.u., j. 13-11-02, rel. Min. Fernando Gonçalves. DJU, 02-12-02, p. 218 (julgamento
81. Rectius, assistentes litisconsorciais. Cf. CDC, art. 103, III, e § 2o, e LACP, art 21
Sobre a imutabilidade da sentença dentro do grupo, v. Cap. 35.
82. LACP, art. 16; CDC, art. 103,1.
83- Sem razão, com a devida vênia, a controvérsia que a respeito se instaurou.?®
julgamento do RE n. 193.579-SP, Inform ativo STF, 431.
84. CDC, arts. 94 e 104, e LACP, art. 21. Sobre a referida ciência nos autos, V-.&P.
LEGITIMAÇÃO ATIVA— 305
^ 85. MS n. 22.132-RJ, STF Pleno, j. 21-08-96, v.u., rel. Min. Carlos Velloso, DJU, 18-11-
J6_P 39 848; RE n. 181.-Í3S-SP, STF Pleno, j. 28-06-96, rel. Min. Carlos Velloso.
86. CDC, art. S2, IV, e § I o. N o mesmo sentido, v. Francisco Antônio de Olivei-
’Açâo civil pública: instrumento de cidadania, Coletânea doutrinária f ed. Plenum, 1999.
! 87. Nesse sentido, v. José dos Sanros Carvalho Filho, Ação civil pública, cit., notas
p(, 5 o, p. 84; Ricardo Pierí Nunes, M am tal de p rin cíp ios institucionais do M inistério
* hco p, 15 ^ Espaço Jurídico, 2001.
306— CAPÍTULO 16
88. Nesse sentido, Nelson e Rosa Nery, Constituição Federal com entada , c
ao art. 5o da LACP.
8 9 -CDC, art. 90, e LACP, art. 21.
90. Sobre a aptidão do Ministério Público para a defesa de interesses íranM'1^1'1
duais, v. Cap. 4, n. 14.
91. V. Cap. 5, n. 2.
LEGITIMAÇÃO ATIVA— 3 0 7
92 A propósito de uma crítica no projeto originário de iei de ação civil pública, v.,
„ , r I>toni° Augusto Mello de Camargo Ferraz, Édis Milaré e Neison Nery Júnior, A ação c iv il
P“Mrca, cll , p. 65 e s.
93 Le rôle du Ministère Public, de la prokuratura et de /'áttorney general dans la
r rt . ,c c,v^e- Public interest, parties and the active role o f the judge in c iv il Htigation,
^ ‘Ufirè, e Nova Iorque, Dobbs Ferry, 1975.
94 A tutefa jurisdicional dos interesses difusos no sistema brasileiro, em A tutela
S M ereces difusos, cit., p. 177, 1981. Ainda sobre a mesma matéria, v. o Cap. 5, n. 2.
-' ’ 95 Interesses difusos — conceito e legitimação p a ra agir, cit., p. 219.
96. Formazioni sociali e interessi di gruppo davanti alia giustizia civile, cit., p. 375.
308— CAPÍTULO 16
97. Cf. Vincenzo Vigoritti, II pubblico ministero nel processo civile ita lion òy^
Rivista d i dirittoprocessuale, 1974, p. 296.
98. Conferências, Revista do Ministério Pú blico do Estado do R io Grande do
1, n. 18, p. 17 e 20.
99. Id. ib.
100. Cf. Camargo Ferraz et a lii, A ação c iv il pública, cit., p. 65-6. steí
LEGrTIMAÇÂO ATIVA— 309
' í :: Mais grave, entretanto, que a vinculação ju ríd ica do Ministério Pú
blico com o Poder Executivo, que não gera por si só dependência ou su
bordinação entre aquele e este, é a vinculação p o lítica , apta a servir de
instrumento para negociar orçamentos e vencimentos da instituição.
Correta foi a solução da Constituição de 1988, ao cometer ao Poder
judiciário e ao Ministério Público o provimento originário e derivado de
seus próprios cargos,106 dando mais um importante passo em prol da sua
independência e autonomia. As conquistas, porém, ficaram a meio cami
nho, porque, quanto ao Ministério Públicô, a Constituição manteve um
único provimento externo, mas justamente o menos recomendável: a per
niciosa investidura política externa do procurador-geral pelo chefe do Exe
cutivo, da qual não abrem mão os governantes. B tp o u r cause.
í: Esse problema, na verdade, não é só do Ministério Público. De um
lado, supõe mudança da vontade política do legislador, pois a sistemática
-atual favorece esse estado de coisas. E, de outro lado, também cabe aos
próprios membros do Ministério Público, à Ordem dos Advogados do Bra
sil, à Magistratura, à imprensa e à população em geral exigir um Ministério
Público mais independente, a começar pela sua chefia.
Em suma, a excessiva ligação com o Poder Executivo sempre, foi um
grande mal que marcou a instituição do Ministério Público brasileiro, como
de muito o temos denunciado.107 Entretanto, nosso Ministério Público grá-
.tlatfvamente está reagindo aos vícios de suas origens, e vem assumindo
papel cada vez mais independente, o que lhe fez elevar extraordinariamente
seu status constitucional e sua força política desde 1988. Se fôssemos atri-
huir-lhe com exclusividade a defesa de interesses transindividuais, de fato
ligação incestuosa entre Ministério Público e governo seria, sem dúvi-
.da, suficiente para desaconselhar tal solução, sob pena de importantes inte
resses transindividuais ficarem sem acesso ao Judiciário, quando os gover-
lentes não o quisessem. Entretanto, o sistema brasileiro conferiu ao Minis-
teno Public® legitimação concorrente e disjuntiva para a proteção de inte
resses transindividuais, de forma que não há maior risco em aceitar a cola
boração ministerial.
Ademais, como o Ministério Público não detém legitimação exclusi-
?? Para propor ação alguma na área cível, a legitimação concorrente e dis-
jUntiya de várias entidades para a propositura de ações civis públicas ou
^•etivas assegura o acesso à jurisdição mesmo naqueles casos em que o
miMério Público resolvesse não agir em defesa de interesses transíndi-
vtfuais
O outro argumento é inaceitável de todo. Para sustentar a descon-
.. ^ência da iniciativa do Ministério Público na área da ação civil pública em
-..?-sa de interesses difusos ou coletivos, já se chegou a dizer que a defesa
113- Nelson e Rosa Nery, entre outros doutrinadores, destacara a natureza ort*!nf^. -T
ou autônoma da legitirnação para a ação civil pública, exceto e.m matéria de i n t e r e s s e s >r 1 ,
duais homogêneos, em cujo âmbito admitem a substituição processual (Constituição j
comentada, cit., riotas ao art. 5o da LACP). A propósito, v. Cap. 2, n. 2. ^
A
LEGITIM AÇÃO ATIVA— 315
i 1
114. CR, art. 129, § I o.
:.ft: . 115. V., aqui, o tópico n. 2; a propósito, v., ainda, o Cap. 19.
116. CPC, art. 6o.
, 117. CR, arts. 5°, XXI, LXX, LXXffl, 8Q, 129, III e 232; v., ainda, Leis ns. 7.347/85,
«>53189, 7 913/89, 8.069190 e 8.078/90.
118. Quanto aos Procons, v. nora de rodapé n. 22, no Cap. 23-
119. A propósito da matéria, v., tb., neste Cap., ò item n. 1, in fine.
316— CAPÍTULO 16
120. Sobre as ações principais e cautelares ajuizadas pélo indivíduo, cf. Cap- 1* J j
4; sobre o ajuizamento de ações individuais simultâneas com ações coletivas, cf. Cap. I 1’ n *,
sobre a assistência, v. Cap. 7, n. 6. ,"
121. CR, art, 5o, LXXIII.
122. Cf. arts, 94 e 104 do CDC, aplicáveis às demais hipóteses p or força do art 21*^^
LACP. A propósito do alcance da coisa julgada, v. Cap. 35.
123. V. Súm. n. 1 do CSMP-SP, p. 691 e s.
124. Sobre a questão do erro de remissão do art. 104 do CDC, v. Cap. 11, n. 4-
LEGITIM AÇÃO ATIVA— 317
biente causados pela explosão de. uma usina nuclear), então existirá a ne
cessária correlação entre a ação individual e a coletiva, e o indivíduo poderá
pedir a suspensão de seu processo individual para eventualmente aprovei
tar, in utilibus, a coisa julgada erga omnes que venha a formar-se na ação
civil pública, evitando ter de discutir novamente a existência e a autoria do
mesmo dano, que é a base do seu pedido individual;
b) se a ação civil pública ou coletiva versar defesa de interesses cole
tivos, também não haverá litispendência com ações individuais acaso em
curso: inexistirá identidade de partes ou de pedidos. Aliás, a rigor, em todas
ashipóteses desmembradas do art. 104 do CDC, só poderemos ter em tese
conexão ou no máximo continência entre ação coletiva e ação individual.
Não pode haver identidade alguma de pedidos entre a ação coletiva e a
ação individual, para que se'pudesse falar em litispendência. Continência
ou conexão, sim, isso é possível. Como exemplo de continência,125 supo
nhamos que, em ação individual relativa a questão de consumo, seja pedida
anulidade de uma cláusula contratual, e, em ação civil pública, o Ministério
Público peça a nulidade da mesma cláusula em benefício, agora, de todos
os consumidores que se encontrem na mesma situação. Para que o indiví
duo st: beneficie do resultado da ação civil pública, deverá requerer a sus
pensão de seu processo individual; fazendo-o a tempo, o interessado pode
rá.habilitar-se como litisconsorte na ação civil pública ou coletiva;120
£ ' c) se a ação civil pública ou coletiva versar interesses individuais
homogêneos, o CDC sugere, em interpretação a contrario sensu, que haja
litispendência de uma dessas ações com as ações individuais dos lesados
,que vi,sem à reparação do prejuízo divisível, naquilo que tenha de idêntico
com o dos demais lesados.127 Entretanto, o certo é afirmar o contrário: não
há falar verdadeiramente em litispendência nesses casos, pois nao se trata
da mesma ação. O mais correto é considerar a hipótese como de continên-
Cia. por ter a ação coletiva objeto mais abrangente que as ações individuais,
te o autor da ação individual não requerer sua oportuna suspensão, sua
,3Çao prossegüirá e não será afetada pelo julgamento da ação coletiva,128
mas, sc ele preferir a suspensão da ação individual, poderá habilitar-se co-
mo litisconsorte na ação coletiva.129
, _ Proposta a ação civil pública ou coletiva, será publicado edital no
Orgão oficial, a fim de que os interessados, tendo ou não ação individual em
andamento, possam, caso o queiram, intervir no processo como litisconsor-
Naturalmente, nesses casos o juiz não pode impor o litisconsórcio
vT)C, art. 104, in fin e), mas pod? limitar o número de litisconsortes, para
na<?1 mviabiíizar o curso da ação (CPC, art. 46, parágrafo único). Deve ser
125. Para melhor discussão sobre as hipóteses de continência e conexão, v. Cap. 14.
126. Rectius, assistente litisconsorcial. CDC, art. 94.
. 127. CDC, art. 104, a contrario sensu.
1 128. CDC, art. 103, § 2o. Nesse semido, v. RHsp n. 157.669-SP-STJ, decisão monocrá-
14-03-00, da Min. Nancy Andrighi, DJU, 03-03-00.
129. Rectius, assistente litisconsorcial. CDC, art. 94.
318— CAPÍTULO 16
í.’ Generalidades -
Grosso m odo, foi adequada a solução que o legislador brasileiro
,deu ao problema da legitimação ativa para a defesa coletiva dos interesses
transindividuais. Não só as ações civis públicas ou coletivas não foram atri-
t,_-buí(Ias com exclusividade a ninguém (ao contrário, o sistema é de legitima
ção concorrente e disjuntiva), como ainda se permitiu o litisconsórcio, não
- sc excluindo a assistência.
F-3 ; L litisconsórcio
V'
, 'c" Admite-se em ação civil pública ou coletiva tanto o litisconsór-
1 J-10 como o ulterior.
- Em conseqüência da legitimação concorrente e disjuntiva para as
dt<>es civis públicas ou coletivas, é possível o litisconsórcio ativo inicial, um
Co legitimado pode ingressar em juízo só ou em litisconsórcio com outro
ou outros co-legitimados.
Se, porém, um co-legitimado ingressa em ação já proposta por ou-
° deles, cabe distinguir: a) se ele adita a inicial para alterar ou ampliar o
tycto do processo, haverá litisconsórcio ulterior, b) se a causa de pedir ou
Podido continuam o mesmo, não há litisconsórcio e sim assistência litis-
c°nsorcial
r . _ O art. 5o, § 2o, da LACP admite que “o Poder Público e outras asso-
iaÇ°es legitimadas" se habilitem como litisconsortes em ação já proposta,
no VCrc^ac^e>como se viu, se algum órgão público ou associação se habilitam
u pulo ativo de ação civil pública já proposta, só serão verdadeiros litis-
320— CAPÍTULO 17
cabe denunciar terceiro à lide para discutir sua eventual culpa.5 Como regra
gerai, só não pode ser ré, em ação civil pública ou coletiva, a própria coleti
vidade considerada transindividualmente.6
Vejamos de forma mais detida a questão do litisconsórcio de indiví
duos no pólo ativo da ação civil pública ou coletiva.
is.:' O sistema da legitimação extraordinária foi concebido justamente
para permitir que indivíduos, fragmentariamente lesados pela violação de
direitos, sejam substituídos no pólo ativo de um único processo coletivo
por um legitimado ativo, para obter-se uma só prestação jurisdicional que
beneficie' todo o grupo de pessoas lesadas. Pela sistemática vigente, exce
tuada a hipótese de ação popular, os indivíduos não poderão ser autores d.e
ações em que se defendam interesses transindividuais (difusos, coletivos ou
individuais homogêneos, de tòdo o grupo, classe ou categoria de pessoas),
quer isoladamente, quer em litisconsórcio unitário facultativo, pois os legi
timados ativos são aqueles do art. 5o da LACP e do art. 82 do CDC. Afinal, só
pode ser litisconsorte ativo quem pode ser autor, e, normalmente, em ma
téria de ação civil pública ou coletiva, essa não é a situação da pessoa, indi
vidualmente considerada.
Como já antecipamos, a exceção ao que acima se disse corre por
.conta das hipóteses das ações populares. Sempre que na ação civil pública
/o pedido seja idêntico ou conexo com o que qualquer cidadão poderia
feíer em ação popular, não há como recusar a este último o litisconsórcio
isou a assistência litisconsorcial no pólo ativo da ação coletiva.7 Assim, por
exemplo, em tese tanto pode defender o meio ambiente o cidadão, por
* meio de ação popular, como o Ministério Público ou uma associação civil,
P°r meio de ação civil pública.
Por absurdo, caso não se admitisse o litisconsórcio entre cidadão e
Stóociaçao civil, ou entre cidadão e Ministério Público, bastaria, por exern-
Plo, que.as duas ações (a popular e a ação civil pública) fossem simultânea
°ü sucessivamente propostas, com a mesma causa de pedir, mas com pedi
do mais abrangente na segunda ação, que, em vista da continência, os pro-
,, cess°s seriam retinidos e as partes tratadas como litisconsortes que são...
Na defesa judicial de interesses difusos, normalmente não teremos
indivíduos na posição de litisconsortes em ações civis públicas ou coletivas,
^üas exceções sofre essa regra: a) a hipótese em que o cidadão poderia
. . cr idêntico pedido por meio de ação popular-, b) a hipótese em que o
Ir>diVj(|UO] jesacj0 pelo mesmo dano que se discute na ação coletiva, pre-
. Jení*a beneficiar-se in utüibus do julgamento do processo coletivo, e, após
er requerido a suspensão de seu processo individual, habiíite-se como as-
S|stente litisconsorcial no processo coletivo.8
!5. Cf. art. 14, § I o, da Lei n. 6.938/81. V., ainda, Caps. 18, n. 1, e 39.
6. K Cap. 18, n. 2.
7. Cf., CR, art. 5o, JLXX1JI, e Lei n. 4.717/(55, art. 5o, g 6o.
8. CDC, art. 104. A propósito desta hipótese, v. Cap. 16,n. 7, a.
322— CAPÍTULO 17
9. O art. 94 do CDC fala em litisconsórcio, mas, a nosso ver, trata-se antes de ass ■
téncia litisconsorcial. Se se tratasse mesmo de litisconsórcio, o indivíduo poderia corw -s
sozinho a ação coletiva, o que não é verdade. :
10. V, neste Cap., o item n. 6. s'
11. CPC, art. 46, parágrafo único. íí
LITISCONSÓRCIO E ASSISTÊNCIA— 323
“■ 20. V. nossos livros M anual do prom otor de Justiça, cit., p. 199, 204 e 214-7; O M i-
Público na Constituição de 1988, cit., p. 53, e Regime jurídico, cit., Cap. 6, n. 9; no
651110 sentido, RTJ, <>2:139 e s., e, especialmente, p. 143. V. Caps. 4 e 20.
V 'ÍX.justitia, JJÍ-A:443, e RT, 611:14.
I
326— CAPÍTULO 17
28. fíazuo Watanabe e Netson Nery Júnior, Código brasileiro, 7a ed., cit., p. 763,
29. Esta última hipótese é cuidada na LC n. 75193, art. 37, parágrafo único.
LITISCONSÓRCIO E ASSISTÊNCIA— 329
a ) Os co-legitimados
Os co-legitimados à ação civil pública ou coletiva, se não a tiverem
proposto como litisconsortes, podem nela intervir na qualidade de assisten
tes litisconsorciais. is-isí'
j 36. CPC, art. 54. N o mesmo sentido é a conclusão de Arruda Alvim et al., em Código
9 ^<Jnsunndor comentado, cit., notas ao art. 94 do CDC.
37 À vista do que dispõe o art. 104 do CDC, a nosso ver o art. 94 do CDC não só se
cni 13 3S ^'PÓteses de interesses individuais homogêneos (expressamente) como de-interesses
t!vos ou difusos (analogicamente).
38. CDC, arts. 94 e 104. A propósito, v., cb., Cap. 16, h. 7.
3 32— CAPÍTULO 17
c ) Os terceiros
Por fim, registre-se ser possível a intervenção de terceiros, assistindo
uma das partes num dos pólos da relação processual.
No pólo ativo, já examinamos a possibilidade de o próprio lesado
.assistir, os co-legitimados ativos. Por sua vez, os próprios co-legitimados
■ativos podem ser assistentes litisconsorciais do autor da ação civil pública
ou coletiva.
No pólo passivo, mais do que interesse prático, exige-se interesse
jundico de quem queira assistir a parte para poder opor-se ao pedido do
autor Nesse sentido, por exemplo, a jurisprudência já recusou, acertada-
mcnte, a intervenção de agência governamental em ação civil pública, pois
ela desejava Assistir o réu, embora só tivesse interesse prático que não a
.qualificava nem como litiscon sorte necessária nem como assistente litiscon-
?^oreial-47
‘
O Superior Tribunal de Justiça enfrentou outra hipótese de inter-
■VünÇão de terceiros no pólo passivo de ação civil pública. Tratava-se de ação
Proposta contra município litorâneo, visando a compeli-lo a não expedir
j^arás de construção em loteamento irregular em área de manguezal. O
Tíbunal reconheceu que os efeitos da sentença de procedência não se limi-
taVdrn às partes, mas sim se estendiam a terceiros, atingidos pela sua eficá-
-L*a>e com isso afetavam o exercício do direito de propriedade destes últi
48. REsp n. 193.846-SC, 1“ T. STJ, j. 13-04-99, v.u., rel. Min. Milton Pereira,
06-99, p. 57.
49- CPC, arts. 56 e s., e 1.046 e s. A propósito da intervenção de terceiros fl° P j
passivo, v. Gap. 18. is- - 1
CAPÍTULO 18
t< '
W
L -5 „ Os legitim ados passivos 1
V
a) A regra g era l
i Nas lições civis públicas ou coletivas, qualquer pessoa, física ou jurí
dica, pode, em tese, ser parte passiva. Há, porém, uma limitação: os legiti \ \r!!‘
mados ativos, em regra, não podem representar passivamente a categoria,
classe ou grupo de lesados.
Abordaremos essas exceções no item n. 2, deste Capítulo.
+1
; • b ) A ação declaratóría incidental
IV
\' E quanto à ação declaratóría incidental? Caberá pedido de declaração
^cidental no bojo de ação civil pública ou coletiva?
Se em ação civil pública ou coletiva o réu contestar o direito que
°nstitui fundamento do pedido,, poderá o autor requerer que sobre ele o ': ■
Profira decisão incidente.2 Dúvida, entretanto, há de surgir se for o réu
-L K , tb., Cap. 7, n. 5*
2- CPC, art. 325.
336— CAPÍTULO 18
5?
\ ’ 5. V Cap. 15, n. 11.
r i- 6. CDC, art. 28.
fF ' v 7. CDC, art. 28, § 5o.
* ‘ 8- REsp n. 279.273-SF, 3a T. STJ, m.v., j. 04-12-03, rel. Min. Nancy Andrighi, DJU, 29-
03 04 P- 230.
^ 9. Lei n. 9.605198, art. 4a. V., tb., Cap. 7, n. 5.
338— CAPÍTULO 18
ver abuso de direito, excesso de poder, infração da lei, fato 6u ato ilícito ou
violação dos estatutos ou contrato social; b) quando houver falência, estado
de insolvência, encerramento ou inatividade da pessoa jurídica provocados
por má administração.10 ' ;. is
4) Nas relações cíveis em geral, o CC de 2002 ampliou as hipóteses
da disregard doctrine, admitindo-a sempre que haja abuso da personalida
de jurídica, caracterizado por desvio de finalidade ou confusão patrimonial.,
(art. 50).11 O juiz poderá decidir, a requerimento da parte ou do Ministério
Público, nos casos em que lhe caiba intervir, que os efeitos de certas e de
terminadas relações de obrigações sejam estendidos aos bens particulares.
dos administradores ou sócios da,pessoa jurídica.12
O desvio de finalidade (teoria subjetiva) compreende a u
da pessoa jurídica, pelo administrador ou pelo sócio, com fraude ou abuso
de direito (quando se aproveitem da autonomia patrimonial com finalidade
diversa dos fins lícitos almejados pelo ordenamento, como para lesar credo
res, prejudicar a pessoa jurídica ou violar o objeto social).15
A confusão patrim onial (teoria objetiva),14 para os fins do mesmo
dispositivo legal, alcança as hipóteses anotadas por Fábio Konder Com
parai o, nas quais: a) a atividade social e os interesses individuais de deter
minado sócio estejam de tal maneira entremeados que não seja possível
dissociá-los; b) quando haja “confusão aparente de personalidades. Não
apenas a confusão interna — isto é, quando os administradores são co
muns, as assembléias gerais reúnem-se no mesmo local, e,'praticamente, no
mesmo horário; as empresas possuem departamentos unificados e os em--:
pregados recebem ordens indistintamente, de várias administrações, não
sabendo ao certo para quem trabalham — mas também a confusão externa,-
ou seja, a sua apresentação perante terceiros”.15
Como anotou Comparato, “esse efeito jurídico fundamental da per*,;
sonalização — separação de patrimônios — (...) deve ser n o r m a lm e n te afas
tado, quando falte um dos pressupostos formais, estabelecidos em lei* etf
também, quando desapareça a especificidade do objeto social de explora'
ção de uma empresa determinada, ou do objetivo social de produção e
g ) A intervenção de terceiros
Cabe denunciação da lide ou chamamento ao processo em ação civil
pública ou coletiva?
A questão do chamamento ao processo será discutida mais adiante,
neste mesmo Capítulo (n. 4). Mencionemos agora a denunciação.
Quando a hipótese envolver responsabilidade, objetiva, não se admi
tirá denunciação da lide para discutir culpa de terceiro nos autos da ação
cml pública ou coletiva, porque a lide secundária (fundada na culpa) .não
. interessará à solução da lide principal.18
ras, pois isso tornaria impossível qualquer medida judicial, bastando a cita
ção por edital de réus incertos e desconhecidos.19
Em ação civil pública movida contra a Municipalidade paulistana d
Ministério Público estadual pleiteara a remoção do assentamento de favela
dos em área de preservação ambiental, com reparação dos danos urbanísti-
cos. O Tribunal de Justiça local entendeu que, posto supondo seu interesse
de fato na solução da demanda, não tinham os favelados aptidão para esti
mular o pólo passivo da relação processual nos limites do pedido, jã que
não teriam como realizar o complexo das medidas pretendidas pelo autor,
algumas delas até mesmo em seu próprio benefício; entendeu ainda que a
solução não consistiria em citádos como réus, nem impor sua substituição ;
processual por um legitimado de ofício, e sim admitir sua intervenção facul
tativa no feito, como assistentes litisconsorciais.20 A solução foi engenhosa c
aceitável, mas não perfeita, porque a assistência litisconsorcial supõe mais
do que mero interesse de fato, e sim a existência de interesse jurídico dos
favelados, o que o próprio acórdão estava a negar. De qualquer maneira,
porém, a intervenção de terceiros, em litisconsórcio facultativo, pode sem-:
pre ser limitada pelo juiz, se, pela sua forma ou pelo seu grande número,
puder inviabilizar o curso do feito.21
Em outro precedente jurisprudencial, o Tribunal de Justiça paulista
deparou-se com ação civil pública movida pelo Ministério Público local con
tra os responsáveis pela implantação de um Ioteamento clandestino em_árta
de proteção a mananciais. O juiz do feito negara a liminar pretendida pdo-
autor, o qual visava à remoção de qualquer pessoa que para o local se inu-
dasse a partir da propositura da ação-, ao decidir o agravo de instrumento
interposto pelo autor, o tribunal entendeu haver justo receio do prosse-
guimento da ocupação clandestina do imóvel, para construir favela, o que *
provocaria grande dificuldade na execução da sentença, em caso de proçÇ'-
dência. Assim, ante a iminência de grave lesão ambiental, foi deferida a li
minar, pois “ não convence a afirmação do magistrado de que é temerárias 'j
extensão do pedido a terceiros incertos. E que, com o ajuizamento da íiçap ■
e citação dos réus, o Ioteamento, tido como clandestino, tornou-se litigioso, -■
e qualquer pessoa que ali ingresse, no curso da ação, está sujeito às deter- .
minações judiciais” .22 ' 'í
Se o resultado do processo coletivo deve atingir, porém, direitos
subjetivos de terceiros, a citação destes será indeclinável. Assim, numa aÇa0 ^
civil pública cujo pedido consistia em mandar desfazer um p a r c e l a m e n t o
19. CPC, art. 231. Nesse sentido, u, REsp n. 154.906-MG, 4a T. STJ, v.u., j. 04 05 Oi
rel. Min. Barros Monteiro, DJU, 02-08-04 p.395; AgRgMC n. 610-8-SP, 3:l T. STJ, m.v., j ,
96, rel. Min. Menezes Direito, RT; 744-.172. r
20. Agi n. 35.649-5/0 - S. Paulo, TJSP, j. 06-08-97, rel. Des. Walter Theodósio.
21. Cf., analogicarnente, o art. 46, parágrafo único, do CPC, introduzido peUl***1 t e
8.952/94. . •
22. Agi n. 40.039-5-São Bernardo do Campo, 8a Câm. Direito Público TJSP, j 29 ^ j
97, rel. Des. Toledo Silva (DOE, seç. I, 05-08-98, p. 29). *jjí
LEG1TIMAÇAO PASSIVA— 341
, „ 23. REsp n. 405.706.SP, I a T. STJ,v.u., j. 06-08-02, rel.Min. Luiz Fux, DJU , 23-09-02,
P 244 _
processual do grupo lesado no pólo ativo.28 Por isso é que não cabe ação
civil pública ou coletiva contra o grupo lesado, nem mesmo por meiode
reconvenção.
Aduziu a propósito Humberto Teodoro Júnior: “no que se refere às
ações coletivas, é de repelir-se o cabimento de rêconvenção. A causa é pro
posta por um substituto processual, que atua em defesa dos consumidores,
mas que não pode senão beneficiá-los, pois no caso de Improcedência da
ação, a coisa julgada, formada contra o ente associativo, não impedirá os
consumidores de intentarem ações individuais contra o mesmo fornecedor
que saiu vitorioso na demanda coletiva (Lei n. 8.078, art. 103, § 1°). Isto
quer dizer que a coisa julgada em tais ações só tem eficácia plena para o
associado quando a sentença for de acolhida da demanda. A rejeição, do
pedido só atingirá o consumidor individualmente se ele houver ingressado
na ação coletiva como litisconsorte da associação” .29 /
Embòra a regra seja, pois, a de que os co-legitimados à ação cíyü
pública ou coletiva só podem substituir processualmente a coletividade
lesada no p ó lo ativo, a verdade é que, por exceção, em algumas hipóteses o;
Ministério Público, as pessoas jurídicas de direito público interno, os órgãos
da administração indireta, as associações civis etc. podem acabar no pólúí■ ■
passivo da relação processual enquanto defendem o grupo lesado. Asf"
tomemos, por exemplo, uma execução de compromisso de ajustamento de 1
conduta: se o executado apresentar embargos à execução, o exeqüei tu
passará a figurar como embargado, ou seja, estará no pólo passivo da açao.:;
de embargos, por meio da qual o executado quer desconstituir o título exe
cutivo. Um outro exemplo-, quem não foi parte no processo coletivo pode,
sofrer turbação ou esbulho na posse de seus bens por ato de apreensáp.v
judicial (penhora, arresto, seqüestro etc.); nesse caso, poderá ajuizar em
bargos de terceiro, e as partes no processo principal (de conhecimento ou ,
de execução) serão rés na ação de embargos.30 Mais um último exemplft
Suponhamos tenha advindo coisa julgada erga omnes em ação civil piíbjiÇ1 -s
Nada impede que, dentro do prazo da lei, o réu proponha ação re s c is o ra , -'
visando a desconstituir a coisa julgada; a coletividade, então, será subsiiwj' ■;
da processualmente no pólo passivo da ação rescisória, pelo mesmo subsüV
tuto processual que o acionara na ação anterior, ou pelo Ministério Public0' ;
partepropopulo, na falta daquele.
Ainda poderíamos lembrar que o sistema processual vigente já s.
mite, ocasionalmente, que se forme título executivo erga omnes contra a
coletividade, abstratamente considerada, como na própria ação civil púb^ "
ou na ação popular julgadas improcedentes por qualquer motivo que I'a05;-''
mera falta de provas,31 bem como na ação de usucapião de bens imó\'eiS
41. RT, 742:256 (TJSP, 9a Câm., j. 01-04-97, v.u., rel. Des. Ruiter Oliva).
10 q 42' n- 12-640-SP, 2a T. STJ, ]. 10-08-99, v.u., rel. Min. Elíana Calmon, DJU , 04-
p . 47.
43. Lei n. 4.717/65, art. 6°, § 3o.
ÉSlifé':
LEGITIM AÇÃO PASSIVA— 347
346— CAPÍTULO 18
INTERESSE PROCESSUAL
-í.üj
4. Tratatto del processo civile, n. 62, p. 104, Morano, 1958 (nossa a tradução)-
5. Sobre o princípio da obrigatoriedade, v. Cap. 4.
6. Cf. CR, art. 129, EX. V fl
7. Para evitar essa confusão, o CPC de 1973 abandona a expressão clássica
de agir e se vale apenas de interesse processual (art. 267, VI), V
INTERESSE PROCESSUAI^-351
í
O desaparecimento do interesse pode, porém, ser apenas parcial.
Justiça federal.10 Assim, mero interesse de fato, ou interesse que as coloque
oor exemplo, suponhamos que o Ministério Público proponha uma
em situação de assistência simples e não litisconsorcial, não será o bastante
para deslocar a competência em favor da Justiça federal.11 ■ . acão civil públicá visando a obter, cumulativamente, não só a paralisaçao de
nhras feitas sem prévia licença ambierital dos órgãos competentes, como
Seria inegável o interesse da União se tivesse sido ela a causadora ainda a indenização pelos danos já causados. Se sobrevier a licença, ambien
do dano ou se este tivesse ocorrido em detrimento de seus bens ou servi- ■ tal competente, isso não importará senao a perda parcial do objeto da de
ços- Mas que interesse poderiam ter, por exemplo, uma empresa pública,
manda.15
uma autarquia ou até mesmo uma simples associação de bairro para intervir
Deve ficar claro, OLitrossim, que o eventual deferimento de liminai,
em ação destinada a obter reparação por danos que não as atingem nem.
ferem seus fins legais ou estatutários? ' em Sede de ação civil pública ou coletiva, não fez desaparecer, em relaçao
aos lesados, o interesse processual à tutela individual.
Numa ação em que se discutam danos ambientais resultantes da po- ,
luição de um rio interestadual, poderia, por certo, estar presente o interes
se dos Estados e dos Municípios ribeirinhos. Contudo, qual interesse (rela
ção entre utilidade e necessidade) poderia ter um Estado do Norte em que
se protegesse o consumidor do Sul? Ou que interesse poderia alegar aque
le, para evitar agressão à paisagem gaúcha, que lá não se contempla? Salve-'
se nestas hipóteses o Estado nortista pudesse demonstrar uma repercussão
direta em sua esfera jurídica de interesses, não poderia ser admitido a prtK;
por ou a intervir em ação reparatória de danos que não o atingem nem
podem atingi-lo (isto é, quando da procedência ou da Improcedência do
pedido, nenhuma repercussão jurídica haverá na sua esfera de interesses).
Já, ao contrário, suponhamos que um produto agrícola do Rio Grande do
Sul seja cómercializado nuih Estado do Norte; nada impediria que o Estado,.?
nortista ajuizasse a competente ação ambiental para combater eventual
utilização, no Sul, de agrotóxicos nocivos à saúde do consumidor de ptodu-
tos que no Norte são vendidos.12 ,
Enfim, na ação civil pública ou coletiva aplica-se a regra geral “paraj,
propor ou contestar ação é necessário ter interesse e legitimidade”.1^
■ ' . £
3. A subsistência do interesse processual
Assim como ocorre com as demais condições da ação, o interesse
processual tem de estar sempre presente, desde a propositura da ação ate*r
cada passo de seu desenvolvimento. Se, embora presente o interesse qu^ /
do da propositura da ação, vier a desaparecer posteriormente, sobrevirá ^
carência de ação e, conseqüentemente, o processo deverá ser extinto, se# t
resolução de mérito.14 _
1. Princípios institucionais
São princípios institucionais do Ministério Público a unidade, a in
divisibilidade e a independência funcional.1
, Unidade significa que os membros de cada Ministério Público inte-
^rarn um só órgão, sob uma só direção; indivisibilidade quer dizer que
seus membros podem ser substituídos uns pelos outros na forma estabele
cida;ná lei.2 Entretanto, cada instituição tem sua unidade: sendo federado
nosso Estado, o Ministério Público de cada Estado-membro é uno; e até
mesmo cada um dos ramos do Ministério Público da União também tem sua
.própria unidade.5 Uma unidade nacional do Ministério Público só existe
abstratamente na lei, quando esta, por exemplo, confere uma atribuição à
instituirão, como ao lhe cometer a promoção da ação penal pública. Mas,
Wncionalmente, cada um dos diversos Ministérios Públicos brasileiros tem
^a própria unidade (autonomia), e as substituições de seus membros só
1Podem ser. feitas dentro de cada um deles, sempre por integrante da respec-
llvacarreira, e apenas nas hipóteses previstas em lei.
O princípio da unidade do Ministério Público, antes de ter sido con-
rj^do na Constituição de 1988 ou em sua primeira Lei Orgânica Nacional
V j n- 40/81), tinha caráter apenas doutrinário. A doutrina nacional o tinha
■“'portado do parquet francês, este sim órgão de Estado unitário. Há, pois,
uma certa liberdade em sustentar a unidade do Ministério Público brasilei de P ro c u ra d o re s de Justiça, em crime de atribuição originária do chefe do
ro, quando sabemos que, em cada Estado-membro, o respectivo Ministério parquet.6 , , ... ,
Público tem carreira própria e autonomia funcional e administrativa, e esses 3 . As atribuições dos membros do Ministério Público devem ser fixadas
diversos Ministérios públicos unidade alguma mantêm entre si ou com os «nrlei e não por atos administrativos da própria instituição ou de seus din-
vários ramos do Ministério Público da União. Assim, somente será possível eentes O princípio do prom otor natural significa, portanto, a. existencia
admitir a unidade do Ministério Público nacional no que diz respeito à sua S m â o do Ministério Público escolhido p o r prévios critérios legais e nao
função, abstratamente considerada diante da lei. casuisticamente7 Não fosse assim, a garantia constitucional da inamovibdt-
Independência é o oposto a hierarquia funcional. No Brasil, o Mi dade do órgão ministerial seria uma falácia; alem disso, seria possível que
c h e f e dadnstituição manipulasse as acusações penais e as demais atuações
nistério Público só conhece hierarquia em sentido administrativo, pois de
tém autonomia funcional (autonomia em face de outros órgãos do Estado) Ssteriàis, designando membros para atuarem conforme sua convemen-
e tanto seus órgãos como seus membros gozam de plena independênda cia que não raro coincidiria com a do governante que o escolheu e que
funcional (independência em face de outros órgãos do mesmo Ministério pode ou não reconduzi-lo. Por isso, não basta que não.se Possa
Público). Em decorrência desses princípios, podemos concluir que: a) o. .iraiover o membro do Ministério Público do cargo, e mister que se ihe
Ministério Público exérce seu ofício sem ater-se a ordens ou injunçõesde assegure o efetivo exercício das funções. Ao cargo devem estar agregadas
outras instituições ou órgãos do Estado, quaisquer que sejam, .subordinan atribuições previamente determinadas por lei.
do-se apenas à Constituição e às leis; b) seus membros exercem os misteres ^ Não se compadece com o princípio do promotor natural, investido
que lhes são próprios, sem ater-se a ordens ou injunções funcionais de ou emprévias atribuições legais, a situação em que se confira apenas uma. is-
tros membros da própria instituição, nem mesmo do procurador-geral oú ; criininação genérica de atribuições a órgãos administrativos, como aspío-
dos demais órgãos de administração ou execução. ,0 motorias de fustiga (que não são nem têm função de orgaos de execução),
A chefia do Ministério Público envolve apenas a direção administra-, e que estas ou quaisquer outros órgãos da instituição, livremente e s
tiva da instituição (v.g., poderes de designação na forma da lei, disciplina enténo legal preestabelecido, distribuam entre seus integrantes as atiibui
funcional, solução de conflitos de atribuições). Não há hierarquia no senff- L. ções genericamente cometidas à própria promotona. Surgiria grande i se
do funcional.^ ' t gurança para os órgãos da instituição e para a coletividade se as aLl’^ ^
de cada integrante da promotoria não fossem previamente disciplinadas por
Os poderes do procurador-geral (designação, avocação ou delega^, 'ben definidos critérios legais. A não ser assim, sena possível a mampulaç.
ção) encontram limite nas prévias hipóteses legais, bem como na indepen- * da distribuição de casos concretos (inquéritos civis inquéritos P ' ™ ' 5/
dência funcional dos membros da instituição, os quais d e v e m , aama de.; processos judiciais), com sérios danos à impessoalidade da admmtstraçao.
tudo, servir aos interesses da lei e da sociedade, o que nem sempre toinuss
de com os do Estado, dos governantes ou do próprio chefe do Ministério , Nos casos de sua atribuição originária, os membros do
Público. » Público, na qualidade de agentes políticos, nao dependem de deliberações
colegiadas ou. em grupo para exercer suas funções e definir suas pri0“ da'
- desde aiuaçao: estas vêm fixadas diretamente na lei e na avaliaçao de cada
2. As prom otorias de Justiça órgão de execução. Quanto às prioridades da lei, sao inúmeras, como, p.
Segundo as leis orgânicas do Ministério Público, as p r o in o t o n ^ L , • « ” « c.«os de réus presos em relação aos soltos; os feitos de
mQntiae da juventude em relação aos demais; a defesa do interesse indis-
procuradorias de Justiça são órgãos estritamente administrativos, que ni0
podem ser destinatários de atribuições funcionais. As atribuições dccorren porível sobre o disponível; o zelo do interesse coletivo sobre o individual
tes das atividades-fim da instituição cabem aos promotores e p rocu rador ^1 1 Precedência do interesse público primário sobre o secundário, a pnoudade
de Justiça, órgãos de execução do Ministério Público,5 ou, em alguns Poü
cos casos, a alguns órgãos colegiados dé execução, entre os quais
inserem as promotorias e as procuradorias de Justiça. Com efeito, há p°u -< ’ 6. LACP, art. 9o, 5 2o, e Lei n. 8.625/93 1.2, XI.
cos casos de atribuições colegiadas tipicamente de execução no Minis£erl, ' ’ 7. Do p rin cíp io do p ro m o to r natural também nos consideramos um dos p r e c u r s r >
Público, como as de revisão do arquivamento do inquérito civil pelo ^ol^ 0 „ i** Em 197Í5 ainda durante a vigência da ditadura militar no País, já s u s te n ta m o s a neces-
lho Superior, ou revisão de arquivamento de inquérito policial pelo CoW ’ > d*de<lc lin/jtar os poderes de designação do procurndor-geral, pondo-lhes
«"baiSoe, legais do promotor titular de promotoria (O Min.steno Publico.no
nal. em RT 494-269) A propósito do alcance do principio hoje em d.a, v. nossos Re^nne
J^ í '-0 dòM inistério Público e O Acesso à Justiça e o M inistério Publico, cit. -
8. Apresentamos em nosso Regime ju ríd ic o do Mmistén
4. Cit, art. 127, §§ I o e 2o. -J^sta sobre uma nova organização das promotorias de Justiça, confermdo-se verdadera infra
i ^ t u r a administrativa para os agentes do Ministério Publico.
5. Lei n. 8.625/93, arts. 6", 19 e 23.
3 5 8 — CAPITULO 20
í. Conflitos de atribuições 16
Caracteriza-se o conflito de atribuições entre membros do Ministé
rio Publico quando: a) dois ou mais deles manifestam, simultaneamente,
atos que importem a afirmação das próprias atribuições, em exclusões, às de
outro membro (conflito positivo); b ) ao menos um membro negue a pró
pria atribuição funcional e a atribua a outro membro, que já a tenha recu-
’. sado (conflito negativo).
.- Os conflitos de atribuições entre membros de um mesmo Ministério
:Público hao de ser resolvidos nos termos da respectiva lei orgânica. Assim, e
cm síntese, a decisão dos conflitos de atribuição incumbe: a) ao respectivo
. procurador-geral de Justiça dos Estados;17 b ) ao procurador-geral da Repú-
jbljcu, se disserem respeito a integrantes de diferentes ramos do Ministério
Público da União,18 c) às Câmaras de Coordenação e Revisão, com recurso
, ap respectivo procurador-geral, se disserem respeito a integrantes do Minis-
térioTúblico Federal,151 do Ministério Público do Trabalho,20 do Ministério
.Público Militar,21 e do Ministério Público do Distrito Federal e Territórios.22
Ki
Conçtudo, a legislação é omissa sobre a solução de conflitos de atri
buição entre membros de Ministérios Públicos diversos — p. ex., o Federal
1 ° de um dos Estados; ou o de um Estado em face do de outro.
•iÇ#
Jfc A vista da teoria da organicidade,23 já vínhamos propugnando que o
de atribuições entre Ministérios Públicos de Estados diversos confi-
24. Como reconhecido no AgRgCAtr n. .115-SP, 2;l Seç. STJ, j. 12-11-01, v.u-, _is
Nancy Andrighi, £)/Il, 12-11-01, p. 123.
25. CR, art. 102, I,/. N o mesmo sentido, v. Paulo Cezar Pinheiro Carneiro, 0 Wíw,s "y
tério Público no processo civ il ep en a l — promotor natural, atribuição e conflito — com b3^ ^
na Constituição de 1988, 4:l ed., p. 184, Forense, 1992; v. nossos M anual do prowoto^ .
Justiça , cit., p. 531; Regime ju ríd ico do M inistério Público, cit., Cap. 6, n. 27; Inquérito.0*,
cit., Cap. 10. ••• .is
26. O raciocínio parece razoável, pois que ao STJ incumbiria resolver os
entre juizes vinculados a tribunais diversos, caso aqueles encampassem os conflitos de nl
bros de Ministérios Públicos diversos (CR, art. 105, I, d ); nesse sentido, cf. Pet n. 1.503- '
STF Pleno,' Inform ativo STF, 284 e 290.
27. Pet n. 3.528-BA, STF Pleno, j. 28-09-05, v.u., Inform ativo STF, 403-
UNIDADE D O M INISTÉRIO PÚBLICO - 361
28. Sobre a falta de intervenção do Ministério Público no processo civil, quando ne-
^síria, v. Cap. 4, n. 17.
362— CAPÍTULO 20
DESISTÊNÇLA D A A ÇÃO
agindo até mesmo de má-fé, poderia, acumpliciado com o réu, propor uma'
ação civil pública e dela desistir por três vezes, e, ipso facto, estaria impe-
dindo definitivamente qualquer co-legitimado de ajuizar a ação civil pública
novamente. Ora, se nem a coisa julgada, por Improcedência de provas, obs-
taria ao ajuizamento de nova ação civil pública, quanto mais a só peremp-
ção...- /
ciada nos autos, mas o membro do Ministério Público diz, falsa ou leviana
mente, que tião a identifica.
/ Não se há de dar azo a que qualquer associação civil, ou qualquer
colegitímado, ajuíze ações temerárias, manifestamente infundadas, sem o
mínimo suporte fático ou jurídico e sem a menor viabilidade processual, e
mesmo assim obrigue o Ministério Público a assumir sua promoção em caso
de desistência ou abandono. Nem a que uma fundação privada, uma em
presa pública ou um outro co-legitimado abandone injustificadamente uma
ação civil pública, e o Ministério Público, ou qualquer co-legitimado, sejam
-impedidos de prosseguir na sua promoção, só porque o § 3o do art. 5o da
LACP não se referiu expressamente a esta hipótese.
FFÍ:--- -
íte''te /: SllMARIO: I. Igual tratamento processual para as formas de de-
.sistência. 2. Homologação pelo Conselho Superior do Ministé-
;\te " ric Público.
■tete: te
,#í sv ■
vi--1..- r. 1.
íf- j .-J:'! .v: ■
12. Cf. Antônio Celso de Camargo Ferraz, Reuniões de estudos de direito processual
pGJlAPMP, 1974.
13. Istituzioni del processo civile italiano , n. 98, Roma, 1956.
w ^ 14. Nesse sentido, v. REsp n. 37.271-SP, 2" T. STJ, j. 12-03-02, v.u., rel. Min. Peçanha
^ ‘ns, DJU, 13-05-02, p. 178.
DESISTÊNCIA PELO M INISTÉRIO PÚBLICO— 373
372— CAM TULO 22
. Enfim, com toda a razão anotou Nelson Nery Júnior que a indispo Bsação ministerial.18 Fazê-lo, porém, é gerar uma situação indesejável, por
nibilidade que incide na ação civil pública diz com o direito material.de- que pode comprometer a isenção do magistrado.
fendido em juízo, de sorte que: a) como autor, ao Ministério Público é ve Caso o juiz acolha o pedido de desistência e extinga o processo co
dado renunciar ao direito sobre o qual se funda a ação (art. 269, n. V, CPC); letivo poderá haver interposição de oportuno apelo por algum interessado
b) como réu, não lhe é possível reconhecer juridicamente o pedido (art. ou, então, propositura de nova ação civil pública por um dos co-legi-
269, n. II, CPC). Mas o sistema nada lhe veda a disposição do conteúdo..
:tünados.
processual da lide, pois, na ausência de norma específica que limite o livre. ■
exercício do direito de ação pelo Ministério Público, deve preponderár a [
regra geral de que o autor pode desistir dã ação por ele intentada, guarda
dos os demais requisitos da lei, como, por exemplo, a concordância do réu
que jã tenha sido citado (art. 267, § 4o, CPC).15 is
15- Nelson NeiyJúnior, Código brasileiro, 7“ ed., cir., p. 935-6. , 18. Não há razão para analogia com o art. 28 do CPP, já que o art. 9“ e parág^fos da
16. LACP, art. 9o. ..Ucp‘ «e prestam à solução analógica do problema dentro do mesmo sistema da açao ci 1
17- Cf. art. S>° da CVCP, por analogia. ^publica -
CAPÍTULO 23
TRANSAÇÃO E
C O M PR O M ISSO DE AJUSTAMENTO1
\ík -
,!■
vi b*jt
Generalidades
a ) A possibilidade d e transigir
’ j-- Nas ações civis públicas ou nas ações coletivas para defesa de inte- ■
/esbes difusos, coletivos ou individuais homogêneos, os co-legitimados ati-
;;,™>,.não agem em busca de direito próprio e sim de interesses transindivi-
t Uais Ainda que alguns deles em parte possam também estar defendendo
.j^çresse próprio, como as associações civis ou as fundações privadas, que
bus
cam fms estatutários, ou o próprio Estado e seus órgãos, que buscam
fins
'.nstitucionais, na verdade o objeto do litígio coletivo será sempre a
reParação ou a tutela acautelatória de interesses transindividuais.
Posto detenha disponibilidade sobre o conteúdo processual do lití-
o legitimado extraordinário não tem disponibilidade do conteúdo ma-
,F y t c ) O veto
x ' í 1 Curioso é anotar que, dias depois de ter pura e simplesmente san
cionado o art. 211 do ECA, de forma incoerente o mesmo Presidente da
>r -V*
tfs 4. CPC, art. 55.
F ' 5, REsp n. 129.182-SP; 3* T. STJ, m.v., j. 15-12-97, rel. Min. Waldemar Zveiier, DJU,
jte°3 98, p. 45; REsp n. 195.425-SP, 4“ T. STJ, v.u., j. 14-12-99, rel. Min. Sálvio Teixeira, DJU,
-te^OO, p 121. REsp n 333.099-SP, 4“ T. STJ, v.u., j. 04-06-02, rel. Min. Ruy Aguiar, DJU, 02-
^02 p 194
. 6- Lei n. 8.429192, art. 17, § I o. Se não cabe transação nas ações de improbidade
'"rnistrativa, a f o r tio r i não se admitirá transação nos respectivos inquéritos civis.
7. ECA, art. 211.
TRANSAÇÃO E COMPROMISSO DE AJUSTAMENTO 379
3 78— CAPÍTULO 23
i siers^-s ri
compromisso de ajustamento, agora em matéria de relações de consumo,., 211 do ECA ou o do v e t a d o j ^ nn 5o da 1ACP, em razão
O veto ao § 3o do art. 82 do ÇDC, contudo, acabou sendo inócuo,
pois, pór uma peculiaridade que melhor analisaremos adiante, o compro
misso de ajustamento também constava de outro dispositivo do CDC, o ■
qual — novo paradoxo — não foi vetado pelo mesmo Presidente... Com
efeito, o art. 113 do CDC continha idêntico dispositivo, ou seja, admitia o
compromisso de ajustamento de conduta. . is S â r i f ^ m e ^ m o p â T í d e f e s ^ d o, c o n s u m i d o r e s , « . » * * . - t i r o u
toda e qualquer eficácia do próprio veto... _
É, então, o caso de indagar: Por que razão a mesma lei (o CDC) ins
tituiria em dois dispositivos diferentes o m esm o compromisso de ajusta/ É verdade, argumentam alguns, qtic a leitura J^a Repú-
mento de conduta? E por que q Presidente da República só vetaria um des W íntegra, d e m o » » , * do compromisso
ses dispositivos, ainda que ostensivamente quisesse fazê-lo em relação aos i Mca intentava vetar ambos os disposmvosqu ^ ^ ^ afflbo5 do CDC,
doiS? ' is- is de ajustamento, tanto o art. 82 3 ,q Dróprias razões do veto.
É verdade que, em sua redação original, o projeto do CDC inserira .; como, aliás, ele o disse com todas as letras, nas próprias ^ ^
p o r duas vezes a previsão de compromisso de ajustamento: uma, no dispa Entretanto, aí resta um ^
sitivo que corresponderia ao atual art. 82, § 3o, dentro do título que cuidou; S Y pS
da defesa coletiva do consumidor em juízo; outra, em seu atual art. 113,
dentro do título das disposições finais, quando mandou inserir um novo, .equivocada, pois, por falha técnica do g is tendo havido qualquer
oau 113 f o i p r o m u l g a d o na sua integra, jamais tendo nav! 4 M
parágrafo ao art. 5o da Lei da Ação Civil Pública, para, assim, permitir fosse
celebrado compromisso de ajustamento de conduta em matéria relacionada retificação de publicação.9 on_
à tutela de qualquer interesse transindividual, e não apenas à defesa coleti . . Apreciando a questão, o Min^ a
va do consumidor. Assim, de acordo com a versão final do Código de Defc-^ signou: “procurei obter na Camara dos p , -. eIa qUal verifiquei
sa do Consumidor já aprovada no Congresso Nacionál, deveria h a v e r duas^ ramitação e votação da rcfenda mcnsag ^o na’ mensagem da Presi
hipóteses análogas: a) art. 82, § 3 compromisso de ajustamento em mate- d e realmente nao existe veto ao art. 3- assim não foi obje-
ria de defesa do consumidor; b) art. 113: compromisso de ajustam ento em^ dêntu da República a expressa mençao ao . t quando tratava
matéria de defesa de quaisquer interesses difusos, coletivos ou individuais to de veto; n e m a referência constante Nacional co-
homogêneos, e não apenas aqueles ligados à proteção do consumidor. i de justificar 92, veio a ser \
o veto ao art.veto;^Porwnto,^concluc^que^l^ts^aç legislação emtermo vigor
compreensiya^do
Ocorre que, enviado o texto do projeto já aprovado pelo Congresso
Nacional para a necessária sanção, o Presidente da República da época — 0 "í .permite a constituição de título executivo < com o § 6o do art.
de compromSsso de ajustamento ^ c o n d u ta de « o r d o c o m o g
mesmo que tinha sancionado sem vetos o art. 211 do ECA, adm itindo
compromisso de ajustamento! — , poucos meses após ter san cion ado o t 5° da Lei n. 7.347185; na redação dada pelo art. 113 do C D C .
compromisso de ajustamento na área da infância e da juventude, agor3'^
quando se tratava da defesa do consumidor, exerceu o veto. Assim, o Presiis^ d ) As razões do veto
dente vetou, expressamente, o § 3o do art. 82 do CDC. E fez mais. Ao.&nV
damentar o veto a outro a r tig o do CDC, mais precisamente o veto ao ■ Em razão de quanto se expôs, ôb £
art. 92 , ainda disse, por expresso, desconsiderada a colocação pronomin^-tr^ 113 do CDC. E, não bastasse isso, nem mesmo seriam p
que “assim também, vetam-se, no aludido art. 113, as redações dos §§ 5 ;
6o” — com isso querendo alcançar novamente o compromisso de ajusta
mento para quaisquer outros interesses transindividuais, que não apenas0 notas ao § 6o do art.
dos consumidores. : 8. Como o faz Theotonio Negrão, C ódigo d e Processo C ivil, cit.,
da LACP.
Entretanto, o fato é que o Presidente da República promulgo11 ^ ■ tb. Caps. 5, n - e n'
9- Sobre a questão do veto parcial ao art. 113 do CDC, v. nublicacão da
CDC e fez excluir da parte sancionada o § 3o do art. 82, m a s sanciono#,
prom ulgou na íntegra os §§ 5o e 6o d o a r t. 5o da LACP, in t r o d u z id o s pt
art. 113 d o CDC, dispositivos estes que foram publicados no D i á r i o Q/* q y > , __ 0 a T c^ri i i?,íVU)2 v.u,, rel. Min. Milton rere a, j ■ >
da União, e passaram a integrar a parte sancionada da nova Lei n. 8.07<jy . 11. REsp n. 222.5S2-MG, 2- T. STJ, j. 12 05 , rodaüé ns. 17 e 18, neste
04 02, p. 1 6 6 . no mesmo sentido, v. acórdãos citados nas notas de P
—- ou seja, ficou promulgado o compromisso de ajustamento no art I J
em contrariedade com a fundamentação do veto... ^ m o Cap. ’ -
380— CAPÍTULO 23
12. Cf. arts. 585, II, VII e VIII, e 645, do CPC, com a redação das Ix-is ns. 8.953/5^ e
11 . 382 /0 6 .
13. Para superar essa dificuldade, os compromissos de ajustamento de conduta . ,
vinham contendo cláusula penal, aliás de existência sempre recomendável. . , .
...
I4 hCf. art. 645‘do CPC, com a redação que IJ>e deu a. Lei n. 8.953/94. ^
TRANSAÇAO E COMPROMISSO DE AJUSTAMENTO— 381
e ) Conclusão
Podemos, enfim, concluir que óbice algum existia ou existe para
conferir-se qualidade de título executivo extrajudicial a compromissos ad
ministrativos de ajustamento de conduta. E, se vetado foi o § 3o do art. 82
do CDC, inadvertidamente o presidente da República sancionou e promul
gou na íntegra o art. 113 do mesmo estatuto, que, de forma ãté mais ampla,
introduziu o compromisso de ajustamento de conduta em matéria afeta à
proteção de quaisquer interesses transindividuais, sejam ou não ligados às
relações de consumo.
- Tem, pois, qualidade de título executivo extrajudicial o instrumento
de transação ou o compromisso de ajustamento referendado peio Ministé
rio Público,16 bem como peios demais órgãos públicos mencionados no
§ 6o do art. 5o da LACP.
Há mais de uma década em vigor o compromisso de ajustamento no
. Direito brasileiro, é ele usado diariamente, nos milhares de comarcas do
;„faís, com o endosso jurisprudencial e doutrinário, ora de forma expressa,17
ora implícita.18
í*’ Sendo o Ministério Público um dos co-legitimados que pode colher
^compromisso de ajustamento de conduta do causador do dano, é natural
Jí,,.
382— CAPÍTULO 23
que a composição do dano, por ele acordada com o causador da lesão, pos í
sa levar ao arquivamento do inquérito civil ou das peças de investigação, e,
nesse caso, o Conselho Superior da instituição deverá homologar o arqui-
vamento, se a composição for satisfatória.19
Desta forma, sob o aspecto cível, o Ministério Público, por seu ór
gão competente, poderá previamente ajustar a composição do dano como .
causador da lesão ambiental, mas só o deverá fazer nos casos em que dis
ponha de critérios técnicos e objetivos para tanto.
£
---------------------------------------
rt 21: José Cretella Júnior, Tratado de D ireito Adm inistrativo, v. I, n. 30, p. 92, Foren-
1%6
22. N o Estado de São Paulo e em alguns de municípios, entretanto, os Procons as-
sniuiram personalidade jurídica própria. A Lei paulista n. 9-192, de 23 de novembro de 1995,
Pr!,01'*20' 1 ° p°d e r Executivo a instituir a Fundação de Proteção e Defesa do Consumidor —
con, com personalidade jurídica de direito público, vinculada à Secretaria de Estado da
j ,^J e da Defesa da Cidadania-, a seguir, o Decreto estadual n. 4 1.170, de 23 de setembro
' -l *996, instituiu regularmente a correspondente fundação pública (cujos estatutos foram
Pifados P el ° Decreto estadual n. 41.727, de 22 de abril de 1997).
À* ' ^5. Art. 4o, II, do Dec.-Lei n. 200/67.
j íii ' Art. 3o do Dec.-Lei n. 900/69-
rfsàh '*5- Curso de direito constitucional positivo, 11a ed., p. 605, Malheiros, 1996. Ainda
, a distinção entre empresas públicas prestadoras ou exploradoras de serviços públicos, e
^ Públicas exploradoras da atividade econômica, f., na mesma obra, p. 733..
384— CAPÍTULO 23
26. No sentido do texto, v. José dos Santos Carvalho Filho, Ação civ il pública te-
136. Assim, o Procon de São Paulo é hoje fundação pública e continua celebrando coiftP
missos de ajustamento. V., ainda, nota de rodapé n. 22, supra.
27. Dec.-Lei n. 200/67, art. 5o.
28. CR, art. 173, § t°, com a redação da EC n. 19/98.
TRANSAÇAO E COMPROMISSO DE AJUSTAMENTO— 385
3, Natureza jurídica
Qual é a natureza jurídica do compromisso de ajustamento de con
duta?
E ele um título executivo extrajudicial, por meio do qual um órgão
público legitimado toma do causador do dano o compromisso de adequar
suaconduta às exigências da lei.
Como tem natureza bilateral e consensual, poderíamos ser tentados
a identificã-lo como uma transação do direito civil. Não seria correto, po
rém, esse raciocínio. Se tivesse mesmo a natureza de transação verdadeira e
própria, seria um contrato, porque suporia o poder de disposição dos con-
traentes, que, por meio de concessões mútuas, preveniriam ou terminariam
o litígio (CC, art. 840).
Entretanto, o compromisso de ajustamento de conduta não é um
contrato; nele o órgão público legitimado não é titular do direito transindi-
:vidua], e, como não pode dispor do direito material, não pode fazer conces
sões quanto ao conteúdo material da lide.30 Nem se diga que o compromis-
soteria natureza contratual porque o órgão público nele também assumiria
obrigação, qual seja a de fiscalizar o seu cumprimento. Essa obrigação
dccorre do poder de polícia da Administração, não tendo caráter contratual,
janto que, posto omitida qualquer cláusula a respeito no instrumento,
( njesiio assim subsistiria por inteiro o poder de fiscalizar.
' E, pois, o compromisso de ajustamento de conduta um ato adminis
trativo negociai por meio do qual só o causador do dano se compromete; o
r °rgão público que o toma, a nada se compromete, exceto, implicitamente, a
. nao propor a^ão de conhecimento para pedir aquilo que já está reconheci
do no título. Mas mesmo isto não é verdadeira concessão, porque, ainda
Çue o órgão público a nada quisesse obrigar-se, e assim propusesse a ação
de conhecimento, vê-Ia-ia trancada por carência, pois lhe faleceria interesse
PfocessuaI em formular um pedido de conhecimento, se já tem o título
■executivo.
O compromisso de ajustamento não perde sua natureza administra-
iem mesmo quando é tomado pelo Ministério Público, que é um órgão
j^tatal que não integra tecnicamente a Administração. Embora o Ministério
J^olico esteja colocado em Capítulo próprio na Constituição, fora da estru-
*4orgínica do Poder Executivo (Administração), isso não significa negar a
’ 29, Geisa de Assis Rodrigues sustenta posição diversa, entendendo que, mesmo
^ uo as sociedades de economia mista e empresas públicas prestam serviço público, de-
íeceber tratamento idêntico ao dispensado às pessoas jurídicas estritamente privadas
pú blica e termo de ajustamento de conduta, cit., p. 161-2).
30. Nesse sentido, v. Alexandre Gavronski, Tutela coletiva , cit., p. 115.
TRANSAÇÃO E 'COMPROMISSO DE AJUSTAMENTO— 387
3S6— CAPÍTULO 23
natureza administrativa dos atos por ele praticados.31 Assim, nada tem de mianto à sua existência, e determinada, quanto ao seu objeto, e ainda deve
irregular que o Ministério Público pratique atos administrativos, como Jonter obrigação exigívcL56 O compromisso assim obtido constitui utulo
quando fiscaliza fundações privadas (p. ex., aprovando seus estatutos), ou executivo extrajudicial.37 ■
como quando fiscaliza as habilitações de casamento (p. ex., autorizando o s •; Porque é tomado por termo, o compromisso de ajustamento de
matrimônio, à vista da ausência de impedimentos), ou quando homologa conduta também é conhecido pelos operadores do Direito como termo de
acordos extrajudiciais,1para dar-lhes eficácia de título executivo. No fundo, é ajustamento de conduta (TAC).
o Estado que, por um de seus órgãos, aprova ou homologa atos dos particu Sob o aspecto terminológico, quem é compromitente e quem é
lares para dar-íhes eficácia (a chamada jurisdição voluntária, que não é ato
compromi.ssârio no termo de ajustamento de conduta?
de jurisdição verdadeira e própria).
* Os dicionaristas em geral definem compromitente e compromissá-
O compromisso de ajustamento de conduta gera um título executi rio à luz do compromisso de compra e venda, no qual o compromitente e o
vo em favor do grupo lesado, e não em favor do órgão público que o toma. \endedor (que promete vender) e o compromissário é o que assume a
Assim, se necessário, poderá ser executado por qualquer co-legitimado à obngação de pagar, para depois receber a escritura definitiva de aquisiçao.
ação civil pública ou coletiva. Essa é a razão pela qual deveria a lei instituir ,Iara os dicionários, portanto, o compromitente é quem toma o compromis
um cadastro nacional dos compromissos de ajustamento de conduta, para
permitir melhor controle da coletividade sobre sua existência, seu objeto e sode compra e venda.38
sua execução. . te •; Esse conceito é imprestável para o termo de ajustamento cie condu
ta-Neste, quem toma o compromisso é o órgão público legitimado, q «e a
Como se regula a prescrição das pretensões executivas fundadas nos nada se obriga, a nada se compromete, e, portanto, não pode ser, em hipó
compromissos de ajustamento de conduta? A resposta dependerá da natu tese alguma, compromitente... No compromisso de ajustamento de condu
reza do direito material objetivado no compromisso,32 a propósito do que ta, só o causador do dano é que se obriga; só ele é que se compromete; so
teceremos considerações no Cap. 39, n. 4. cie é compromitente, porque se obriga a adequar sua conduta as exigencias
dalei. : .
4. C aracterísticas te Se o compromisso de ajustamento versar apenas a adequação da
•conduta do causador do dano às exigências legais, mas omitir multa comi-
Apontemos as principais características do compromisso de ajusta íutóna, mesmo assim passa a ensejar execução por obrigação de fazer ou
mento de conduta: a) é tomado por termo por um dos órgãos públicos não fazer 39 Na parte em que comine eventual sanção pecuniária, permitira
legitimados à ação civil pública-, b) nele não há concessões de direito mate a txecução por quantia líquida em caso de descumprimento da obrigaçao
rial por parte do órgão público legitimado, mas sim por meio dele o causa. ^ de fazer 40 E, em face das modificações por que passou a legislação proces-
dor do dano assume uma obrigação de fazer ou não fazer ( a j u s t a m e n t o de j -■suai civil, mesmo que verse apenas obrigação de fazer, pode ser executado
conduta às obrigações legais); c) dispensam-se testemunhas instrume nta 'Qdepcndentemente de prévia ação de conhecimento.
rias; d) dispensa-se a participação de advogados; e) não é colhido nem í10" 1 ‘I F " Observa, com razão, Geisa de Assis Rodrigues não ser imperioso que
mologado em juízo;55 f ) o órgão público legitimado pode tomar o cofl - ...9 obrigado assuma expressamente a culpa pelos danos ocorridos, seja por-
promisso de qualquer causador do dano, mesmo que este seja outro ente-, *lue isso pode obstar ao ajuste, seja porque pode haver responsabilidade
público (só não pode tomar compromisso de si mesmo);5** g) é prctis° ,,
prever no próprio título as cominações cabíveis, embora não n e c e s s a r i a fcL
mente a imposição de multa;35 h) o título deve conter obrigação ced2»
í 36. CPC, art. 586, com a redação da Lei n. 11.382/06.
- 37 LACP, art. 5o, § 6“, e CPC, arts. 585, II e VIII, e 645, com a redação das Leis ns.
31. V. nosso Regime ju ríd ico do M inistério Público e introdução ao M in ii^ rtC> ^ **55394 c i ! 332/06.
blico, cit.; e nosso artigo A natureza das funções do Ministério Público e sua posição1,01 ^ V f 38 N o sentido do texto, v. Aurélio e Michaelis. Embora também endosse a imprecisa
cesso penal, RT, 805-464. o í finiçao dc que compromitente é quem toma o compromisso, mais adiante Houaiss apnmo-
32. Nessa linha de raciocínio, v. Geisa de Assis Rodrigues, Ação civil públicttc ^ef>> ■■■■ j 0 íoncetto e define “com prom itenle como quem toma sobre si o fazer ou o realizar e
de ajustamento de conduta, cit., p. 209. "■ ^tjm unado ato jurídico”. ' .
33- Sobre transações em juízo, v., neste Cap., o n. 4. ^ ' “ ; ® Cf. arts. 585, II e 645 do CPC, com as alterações da I.ei n. 8.953194.
34. Nesse sentido, dispõe a Súm. n. 279 do STJ: “£ cabíveí execução por título e*0* ^ ' 40 Cf. Nelson Nery Júnior, Código brasileiro de defesa do consum idor , cit., p. 943-
^ Vicente Greco Filho, Com entários , cit., p. 377-378; Nelson e Rosa Nery, Código de Pro-
judicial contra a Fazenda Pública”. 1 ^ àJZssó"- •- '
:? Civil, cit., notas ao art. 5° da IACP
35. Na falta de fixação da multa no próprio título, o juiz a fixará quando da e-xl? .
v 41 Cf. CPC, arts. 585, II, e 645, com as modificações trazidas pela Lei n. 8.953194.
(CPC, art. 645). ‘ ^
3S8— CAPÍTULO 23
sem culpa.42 Entretanto, quando haja, a admissão de culpa pode ser inte-
ressante para maior segurança do título porque, nas execuções fundadas
em títulos extrajudiciais, poderia o executado alegar qualquer matéria que
seria objetável em processo de conhecimento.43
Dado o caráter consensual dos compromissos de ajustamento, que
constituem garantia mínima em favor dos indivíduos lesados, sua grande
aplicação prática acabou permitindo ultrapassassem o campo das obriga
ções de fazer ou não fazer, adquirindo maior alcance. Não raro o órgão
público legitimado e o causador do dano a interesses transindividuais ajus
tam quaisquer tipos de obrigação, ainda que medidas compensatórias de
natureza diversa das. meras obrigações de fazer ou não fazer, e esse ajuste é
convalídado seja pelo seu caráter ihteiramenté consensual, séja pelo fato de
que prejuízo algum traz à defesa dos interesses lesados, já que constitui
garantia mínima e não limitação máxima de responsabilidade do causador
do dano.44 De qualquer forma, para que possa permitir execução forçada, é
indispensável que nesse ajuste se reconheça uma obrigação exigível, e que
seja certa, em sua existência, e determinada, em seu objeto.45
Pode ocorrer que a lavratura do compromisso de ajustamento pelo
órgão do Ministério Público sirva para embasar a promoção de arquivamen
to de inquérito civil. Nesse caso, o Conselho Superior do Ministério Público
só deverá homologar o arquivamento do inquérito civil, se entender satisfa
tórias as medidas ajustadas com o causador do dano.
Segundo o Código de Processo Civil, na execução de o b r i g a ç ã o de
fazer oü -não fazer, fundada em título extrajudicial, o juiz, áo despachar a
inicial, fixará multa por dia de atraso no cumprimento da obrigação e a data
a partir dá qual será devida; entretanto, se o valor da multa já estiver previs
to no título, o juiz poderá reduzido, caso o entenda excessivo.46
Não nos parece demais insistir em que, para que as obrigações pe
cuniárias assumidas no compromisso de ajustamento tenham liquidez, o
título deve conter obrigação certa, quanto à sua existência, e d e t e r m i n a d a ,
quanto ao seu objeto.47
O procurador precisa dispor de poderes especiais para cómpí£>me'
ter o mandante no ajuste de conduta?
Firmar compromisso de ajustamento de conduta é algo que.ul^'
passa bs limites da mera administração. Não basta a procuração com pode'
; res gerais a que se refere o art. 661 do CC de 2002: é preciso que o instru
mento do mandato contenha poderes para transigir ou firmar acordos. Não
$e exige, porém, que a procuração mencione o poder de firm a r com pro
misso a que alude o § 2o do art. 66l, porque aqui o Código Civil não se
refere ao compromisso de ajustamento de conduta, e sim ao compromisso
de submeter-se a juízo arbitrai (CC, arts. 851-853). Para os fins que ora nos
interessam, se é necessário que o mandato mencione poderes para transigir
ou firmar acordos, não é preciso que autorize expressamente o mandatário,
afirmar compromisso de ajustamento de conduta. Embora, sob o ponto de
vista do órgão público que toma o compromisso de ajustamento de condu
ta, não seja este uma verdadeira e própria transação (pois o tomador do
compromisso a nada se obriga no campo do Direito material), já do ponto
de vista do causador do dano, este assume.obrigação material.
Uma última questão: pode-se tomar compromisso de ajustamento
de conduta de pessoa jurídica de Direito Público?
Nosso entendimento é afirmativo, observando-se, porém, que a exe
cução Contra a Fazenda supõe um procedimento específico.48
A propósito das multas impostas em compromissos de ajustamento,
reportamo-nos, ainda, ao Cap. 32.
5. Compromissos preliminares
Cuidaremos agora de uma forma especial' de composição voluntária
di lide: aquela que, referendada extrajudicialmente pelo Ministério Público,
envolve apenas uma solução parcial dos problemas investigados num in
quérito civil. São os chamados compromissos preliminares — terminologia
utiluada no Ministério Público paulista.
Se o órgão do Ministério Público tomar compromisso de ajustamen
to dc conduta no curso de um inquérito civil, e se o considerar plenamente
satisfatório, «Sfeverá encerrar suas investigações e promover o arquivamento
..dos autos. Caberá ao Conselho Superior do Ministério Público homologar
°u nao o arquivamento das investigações, na forma da LACP.
Casos há, porém, em que o compromisso de ajustamento não põe
ter®o ao inquérito civil. Assim, dispõe a Súm. n. 20 do CSMP-SP: “Quando
;r;9. compromisso de ajustamento tiver a característica de ajuste preliminar,
JiUe não dispense o prosseguimento de diligências para uma solução defini-
. a>salientado pelo órgão do Ministério Público que o celebrou, o Conse-
í?0 Supe rior homologará somente o compromisso, autorizando o prosse-
e^unento das investigações”.
Para bem compreender o alcance dessa súmula, é indispensável re-
eniorar como eia nasceu em 1994, junto ao Conselho Superior do Minis-
. j 110Público paulista, que integrávamos na ocasião.
4#. CPC, arts. 73^ e 741, este com a redação da Lei n. 11.232/05.
390— CAPÍTULO 23
49. LC paulista 11. 734193, art. 112, parágrafo único. Cf., ainda, os Pt. ns.
9.245194 e 17.282/095, MP-SP. - í
TRANSAÇÃO E COMPROMISSO DE AJUSTAMENTO— 391
51. Cf. art. 475-N, III, do CPC, introduzido pela Lei n . 11.232/05. • !
52. Nesse sentido, v. Geisa de Assis Rodrigues, Ação c iv il pública e t e r tn o deP}1
tamento de conduta, cit., p. 205. ‘ is
TRANSAÇÃO E COMPROMISSO DE AJUSTAMENTO— 393
, S3. Nesse sentido, v. REsp n. 265-300-MG, 2a T. STJ, j. 21-09-06, v.u., rel. Min. Hum-
ett0 Martins, DJU, 02-10-06, p. 247.
54. Cf. art. 53 do CPC.
394— CAPÍTULO 23
por co-legitimado, com maior razão pode opor-se a uma transigência, que >
atinge diretamente o próprio interesse material em litígio, ao contrário da
mera desistência. Como poderia ser válida contra ele a transigência se a ela
se opusesse, ele que é co-legitimado ativo nato para a ação, encarregado de
assumi-la em caso de desistência ou abandono? Seria maneira indireta de/
burlar a lei admitir pudesse ser homologada a transação sem a aquiescência '
ministerial: uma verdadeira desistência indireta poderia ser facilmente for
jada, com efeitos mais gravosos, no entanto.
Se o juiz entender que a oposição do Ministério Público não é ra
zoável, e homologar a transação, restar-lhe-á a via da insurgência recursal,
por meio de apelação.56
Ainda outros aspectos conexos a estes serãó abordados no tópico
seguinte, que cuida da eficácia do compromisso de ajustamento e das txan-
sações judiciais, inclusive em relação a terceiros.
65. Nesse sentido, v., tb., Fiorillo, Rodrigues & Rosa Nery, D ireito processual cit.
p. 178; Paulo Vaiério dal Pai Moraes, O compromisso de ajustamento, Revista Juríd,cí!’
266:74.
66. CPC, art. 269, IIL-
67. CPC, art. 267, VI.
68. Cf. art. 475-N, ÍII, do CPC, com :t redação que lhe deu a Lei n. 11.232/05-
69. Nas hipóteses do art. 55 do CPC.
TRANSAÇÃO E COMPROM ISSO DE AJUSTAMENTO— 397
,429/92 e x e c u t e d ir e t a m e n t e , s e f o r o c a s o , o t ít u lo e x e c u t iv o e x t r a ju d ic ia l
Em sentido contrário, porém, o Conselho Superior do Ministério thfdo nelos demais órgãos públicos legitimados.
Público paulista vem entendendo que, no caso, o controle não é adminis . colhido peios ucu a „h.<;raniento node ser rescindido
trativo e sim judicial; desta forma, editou sua Súm. n. 25: “Não há interven ■ Por outro lado, o compromiss ) fraude coação ou simula-
ção do CSMP quando a transação for promovida por promotor de Justiça no '■■■amo os atos jurfdicos e m P “ ( dido voluntariamente, pelo mesmo
curso de ação civil pública ou coletiva” . Assim o colegiado fundamentou seu ^ m ° e , u I ™ e S p l e i t o , '^co n ten cio sa m e n te, por meio de açao
entendimento: “O controle, na hipótese aludida, não é administrativo, ta\
como ocorre no caso de arquivamento de inquérito civ il (art. 9o, § 3°, da
Lei n. 7-347/85), porém, ju risd icion a l?2 consistente na homologação por f ^ ^ m a transação judicia .
sentença do ju ízo". A solução tem o grave inconveniente de poder permitir tomo os atos juríd.cos em g era l.E m b ^ ^ cabiyel parll res.
que se comprometa a imparcialidade do juiz, até porque a jurisdição con entendimento que nos parece coire no caso, a sentença e
tenciosa é prestada inter nolentes e não inter volentes. cindi-la será a anulatórâ, não a re®c‘ís?F10 ’tf ansacionai 74 Se o -«cio for da
meramente homoi ° sat^|fao sl baseou numa transação para compor a
10. O cumprimento e a rescisão do compromisso de; própria sentença de mento que se b VIII). Mas, como advertem
hde, admite-se a açao rescisor,a (CPC , transaçâo enquanto
ajustamento '
Caso o órgão do Ministério Público tome um compromisso de ajus orfo
tamento de conduta do causador do dano, promoverá o arquivamento total te : É simples a razão: não ^ b Í S ^ o S i d e r ^ d o s títu-
oü parcial das investigações levadas a efeito por meio do inquérito civil.-
homologado em juízo e x e III), e levam à extinção, do pro-
Entretanto, o arquivamento do inquérito civil não o desonerará do dever dt los executivos judiciais (CPC art‘ te ’ 269 j e m y76 pora daí, porem, as
acompanhar a execução do compromisso de ajustamento. •• cesso com resolução de mento (CPC art. ibJ, 1 e 1 substitutiva do
Como diz a Súm. n. 21 do CSMP-SP, “homologada pelo Conselho :vdiscrepâncias são marcantes: na coi i r i na transação as próprias partes é
Superior a promoção de arquivamento de inquérito civil ou das peças dc Estado em relação à das partes, enquan • num verdadeiro
informação, em decorrência de compromisso de ajustamento, incumbira ao-, , que encerram a demanda por “ to“ ” P ° S df e m poucos casos, estri-
órgão do Ministério Público que o celebrou fiscalizar o efetivo cumprimento, neHocio P roces*ual; ^ ° ™ : ^ s fv já os atos judiciais que não dependem.de
do compromisso, do que lançará certidão nos autos”. tamente limitados (CPC, art. 485), Ia o i ( atória podem ser rc.scin-
_ sentença, ou em que esta for meramen e l a civil (CPC, art.
Assim fundamentou o Conselho paulista seu entendimento súmula- didos como os atos jurídicos em geral, nos tetmos aa ie v
do: “O compromisso de ajustamento é previsto no art. 5o, § 6o, da Lei fecie-.
ral n. 7.347185. Aceito pelo Conselho Superior o compromisso fímudo
entre o órgão ministerial e o interessado, o inquérito civil ou as peças de. f 6> Por último, registre-se que a
informação, ressalvada a hipótese prevista na Súmula 20, serão arquivados Ministério Público pode, em tese con igu P observada a homologa-
(art. 112 e seu parágrafo único da Lei Complementar estadual n. 734/9í)j,i atnbiental” a que alude o art. 27 da Le . . _ (transação nas infra
mas o órgão do Ministério Público que o firmou deverá naturalmente fist-a>. ção judicial de que cuida o art. 74 da Lei n. j u j j i j s \
lizar o seu efetivo cumprimento” . Ções penais de menor potencial otensivo).
O Conselho Superior do Ministério Público paulista, em 2000, re ‘ '
solveu editar sua Súm. n. 30: "O Conselho Superior homologará arquiva V-- ' ■
mento de inquéritos civis ou assemelhados que tenham por objeto o dcS- ^5 ■
cumprimento de compromisso de ajustamento de conduta firmado P° :
outros órgãos públicos, sem prejuízo da apuração da ocorrência de ‘:Vt>n s ó s c a n u la p o r d o l ° ' ° ü e r r ° e s s e n c ia l
tual ato de improbidade administrativa (art. XI, II, da Lei n. 8.429/92) 0 à pessoa ou coisa controversa (art. 849). ^ ^ ^ ^ ^ ^
omissão injustificada do co-legitimado” . t 1 74. Cf. art. 486 do CPC. Nesse sentido «;_ R E n ^ 9 0 . 9 ^ ^ ^ ^ ^ FalcSo>
Apesar do teor da Súm. n. 30 do CSMP, nada impede que o L- daSüveira DJU de 28-02-86, p. 2-348, e n. - _ 6Q5'211 -STF; RMS n. 303-RJ, 4a T.
d-W de-28-02-86, p. 2.350; tb., RTJ, | RT 605-2 1 1 ^ ^ n 3^ .
rio Público, sem prejuízo de eventuais providências na área da I el
* S j- 05- ° 3'91- reI- M i" ' Hth°s tT / J / U 23-09-91 P 13-082; REsp n. 450.431-PR, 1“ T.
' STJ, ]. .10-09-91 rel. Min. Cláudio Santos, DJU, 23 LU J , I 537-STJ.
T , STJ' j . 18-09-03, rel. Min. Luiz Fux, DJU, 20-10-03, P- 185: RSU, 4-1337 J
1 - F- 75. Código de Processo Civil comentado, cit., notas ao art. 269, IU.
72. Por impropriedade técnica, a súmula fala em controle “jurisdicional”,
76. Redação conforme a Lei n. 11.232105-
ato do juiz, que homologa uma transação, é ju d ic ia l e não ju risd icion a l, em sentido pfOP
,-á. •
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CAPÍTULO 24 (
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DESISTÊNCIA E R E N Ú N C IA D O RECURSO c
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SUMÁRIO: 1. Atos de desistência ou renúncia do recurso. 2. Ca
ráter excepcional dos atos. 3. Efeitos. 4. Desistência pelo Minis
tério Público. 5. Oitiva do Conselho Superior do Ministério Pú
blico.
Do pouco que LACP disse, podemos tirar algumas conclusões: a) se blica fundada em nova prova, ou, em tese, até mesmo caber a propna açao
a associação civil pode o mais, que é desistir da ação, também pode desistir rescisória.6
de recursos; b) se a lei admite haja desistências infundadas da ação civi]
pública, é porque, a contrario sensu, podem existir desistências fundadas 4. Desistência pelo Ministério Público
da ação, lançadas por associação civil, as quais não obrigam o Ministério
Público a assumir a promoção da ação; c) se assim é, nos mesmos casos, Ouanto à desistência do pedido pelo Ministério Público, já foi estu
mutatis mutandis, pode haver desistências fundadas não só de ações como dada em momento próprio.7 Resta agora discutir o problema da desistencia
também de recursos, seja por parte da própria associação, seja também por . eda renúncia aos recursos, pelo Ministério Público.
quaisquer outros co-legitimados ativos à ação civil pública ou coletiva. . ' Na esfera processual penal, a lei institui o princípio da indisponibi
Deve-se aqui fazer um registro de caráter prático. Deparando-se com ' lidade da ação penal pública, por isso que o Ministério Publico nao pode.
uma sentença ou decisão que lhe pareça merecer impugnação recursal, o a) desistir da ação,8 b) desistir do recurso;9 c) renunciar ao direito de re
Ministério Público ou qualquer co-legitimado deve impugná-la diretamente; S o^p od e desistir da ação nem do recurso, a fo rtio ri nao pode
por meio do recurso próprio, e não se fiar em recurso já interposto por um renunciar previamente ao direito de recorrer); 4> transigir sobre o próprio
co-legitimado. Com efeito, constitui atitude processual de risco a de fiar-se direito material controvertido, salvo, por exceção e em modesta medula
em recurso já interposto e não recorrer diretamente, pois aquele que já nas infrações penais de menor potencial ofensivo. Assim, excetuada a
recorreu poderá mais tarde desistir do recurso, e então a preclusão extinti faculdade que tem para identificar ou nao a hipótese de propositura da
va, já consumada, iria impedir que os outros interessados viessem a mani ação penal pública, e para transigir em infrações penais de menor
festar, somente então, sua serôdia inconformidade... ofensivo, no mais a lei processual penal não lhe concede poder de dispom-
bilidade nem sobre o direito material nem sobre a promoção da açao _E isso
se compreende porque, sendo ele o titular constitucional privativo da açao
2. Caráter excepcional dos atos penal pública, temeu o legislador que pressões acaso exercidas sobre a ins-
Todos os atos de disposição máxima do conteúdo processual do li-.,..; . tituição pudessem fazer com que a ação, mesmo ajuizada, pudesse ser oDje-
tígio, embora em tese possíveis, devem ser normalmente evitados nao só, 3 -to de desistência incontrastável.
pelo Ministério Público como por qualquer substituto processual, especiaL • Na ação civil pública, porém, não existem as mesmas razões restriti
mente a desistência ou a renúncia.4 * vas tiue imperam no campo penal: a) o Ministério Público não e titular pu-
Como na ação civil pública ou coletiva há vários co-legitimados ati, vativo de ações civis públicas;11 b) embora a lei tenha instituído diversas
vos, e como podem valer-se do litisconsórcio ativo (inicial ou ulterior), ou-, mdisponibilidades no campo do direito material civil, nao as instituiu na
da assistência litisconsorcial, o recomendável é que cada um deles, inde-.- promoção da ação civil pública nem vedou a desistência de recursos ao
pendentemente do outro, interponha o recurso que entenda cabível 0 Ministério Público; c) nesta matéria, não há razao para fazer analogia do
recurso aproveitará a todos, e, se cada litisconsorte interpuser seu própn° processo civiL,com o processo penal, se os fundamentos que levaram a im
recurso, em caso de eventual desistência por parte de um, o recurso do Pedir a desistencia no processo penal não concorrem na açao civil pumica,
outro terá assegurada sua tramitação normal. - area na qual o Ministério Público não monopoliza o exercício da açao.
. v Sob o aspecto funcional, porém, só se admitem atos de desistência
3- Efeitos do Ministério Público quando não violem seu dever de agir. Ou seja, se o
%>isténo Público identifica hipótese em que a lei torne obrigatoria sua
Os efeitos da desistência da própria ação civil pública ou colcti^
podem ser menos graves que os da desistência ou renúncia de recurso n°
primeiro caso, o processo será extinto sem resolução de mérito; nos doí*
últimos, poderá sobrevir coisa julgada material.5
Mesmo havendo desistência da ação ou renúncia d o recurso, ^ 6. LACP, art. 16, e CPC, art. 487,1 e III.
forme seja
eja o caso, ainda poderá caber a propositura de nova ação civil pu ^ 7. V. Cap. 22,
8. CPP, art. 42. . ’
9. CPP, art. 576. ■
10. CR, art. 98, I.
11. CR, art. 129, § I o; LACP, art. 5o; CDC, art. 82.
4. Cf. nosso artigo Curadoria especial, em RT, 584:290, n. 5. 12. N o mesmo sentido, v. Rodolfo Mancuso, Ação civ il pública, cit., p. 149; Nelson
5. LACP, art. 16. ' ?Hos:ia Nery, Constituição Federal comentada , cit., nota ao art. 14 da LACP.
404— CAPÍTULO 24
açao-, não poderá eximir-se do dever de agir, nem desistir da ação já propôs-
ta, nem renunciar ou desistir do recurso.13
Pode, entretanto, ocorrer que o Ministério Público, mesmo depois
de ter interposto um recurso, verifique que não se justificava sua inconfor
midade; pode, ainda, suceder que, proferida a sentença na ação civil públi
ca', seu pedido seja inteiramente acolhido. Em ambas as hipóteses, surge a
dúvida: poderá desistir do recurso interposto, ou até mesmo renunciar ao
direito de recorrer?
Em tese issó lhe será possível. Entretanto, só por exceção o Ministé
rio Público pode desistir de recurso, mas normalmente não deve renunciar
ao direito de recorrer. Não que não The seja possível, em tese, até mesmo a
renúncia do direito de recorrer. Em alguns casos, a renúncia ao direito de
recorrer pode agilitar o cumprimento de uma sentença benéfica ao interes
se transindividual que ele está defendendo, ou benéfica a um incapaz a
quem esteja assistindo.1^ Entretanto, insistimos em que de regra o membro
do Ministério Público, especialmente, não renuncie ao direito de recorrer,
pois isso pode cercear gravemente a atividade ministerial, prejudicando a
atuação de outros membros da instituição, que podem suceder-se ao pri
meiro e deste discordar. Assim, afora a possibilidade da serôdia reconside
ração do próprio agente, o mais comum é que outro membro da instituição
que se suceda ao primeiro verá prejudicada sua liberdade de ação, por força,
da preclusão lógica. Arrisca-se o membro do Ministério Público quando
antecipe um juízo irretratável sobre a desconveniência de um recurso cuja
oportunidade ou necessidade podem só vir a ser conhecidas depois da
núncia. Pçde estar menos informado sobre a matéria de fato, e sua renuncia-
ou desistência podem não convir ao interesse público.
?■' As notificações
Nos procedimentos de sua atribuição, o Ministério Público pode
expedir notificações, que são verdadeiras intimações por meio das quais faz
■ saber a alguém que deseja ouvi-lo, em dia, hora e local indicados com a
, ^ntucedência necessária; em caso de não-comparecimento, cabe condução
çoercitiva.1
Antes*^le notificar, a experiência mostra ser normalmente produtivo
(lUe 0 membro do Ministério Público convide a pessoa a comparecer a seu
gabinete, para os fins que devem ser indicados no convite. Os convites em
são bem recebidos, pois não raro o comparecimento é do interesse
cwproco de quem convida e de quem é convidado, muitas vezes evitando-
S- ecluívocos e esclarecendo-se pontos de fato, assim permitindo uma atua-
.ftó mais correta do membro da instituição. Só em casos indispensáveis se
eVe valer da notificação formal, que pode incluir cominação de condução
c°t‘rcitiva, apenas se desatendida a notificação e se necessária a presença
Ousada.
Quando expedir notificações, o membro do Ministério Público deve
sSí dentro dos limites das atribuições do cargo e respeitar as prerrogativas
■>s Çfuídãs em lei. Assim, as notificações e requisições dirigidas a algumas
R ito CR’ artl 129’ LC n' 75/93> art- 8° ’ I; T-ei n - 8.625/93, art. 26, I, « ; LC paulista n.
■4 Co art' ^ *>or analogia ao art. 238 do CPC, as notificações podem ser feitas pefo
53 !rj' com aviso de recebimento.
406— CAPÍTULO 25 ; isi í - NOTIFICAÇÕES, REQ
autoridades — como o governador, os membros do Poder Legislativo ou os' documentos ou informações por parte do destinatário à autoridade re-
membros de segunda instância do Poder Judiciário -— serão encaminhadas nuisitante.7 Algumas notificações só podem ser encaminhadas pelo propno
pelo procurador-geral de Justiça.2 Serão expedidas pelo órgão de execução ■ nrocurador-eeral,, quando tiverem como destinatários o governador do Es-
competente, mas encaminhadas pelo chefe da instituição. A responsabili : Ljo os membros do Poder Legislativo estadual e os desembargadores.^ As
dade das notificações e requisição é do órgão de execução que as expediu. reauisições ministeriais serão cumpridas gratuitamente e tambem supoem
O chefe da instituição não pode deixar de encaminhá-las, salvo se tiverem prazo mínimo razoável para atendimento, que dependerá das circunstancias
sido expedidas com algum vício (falta de atribuições, desvio de poder ou: concretas.9
finalidade etc.). , -is: Constitui objeto das requisições do Ministério Público: a) o forne
Em alguns casos, o membro do Ministério Público está sujeito a cimento de documentos, exames, perícias e informações; b) a realizaçao
ajustar previamente dia, hora e local com juizes, outros membros de sua devistorias, exames e perícias;11 c) a instauração de inquérito policial ou a
própria instituição ou outras autoridades.3 ' ., realização de diligências investigatórias;12 d) a instauração de smdicancia ou
procedimento administrativo,11
Deve sempre assinar prazo razoável para o comparecimento, não se s
admitindo notificações para comparecimento imediato; esse prazo não po iis s Amando em sua área de atribuições, -o órgão do Ministério Público
derá ser inferior a 24 horas,. por analogia ao sistema de intimações do pro-. tèrá o poder de requisição, não importa seja federal, estadual ou municipal
cessó civil,4 :: ■aautoridade, a repartição ou o órgão destinatário da requisição. Importa
apenas se quém requisitou tinha atribuições para fazê-lo.
A condução coercitiva só pode ser imposta pelo Ministério Público, '
de desatendimento à notificação para comparecimento, e tão-somente se o is : . Assim, por exemplo, se um procurador da República está investi
comparecimento for necessário ao esclarecimento de ponto de fato índis- gando um dano ao patrimônio público da União, poderá requisitar de um
pensável para o exercício das atribuições funcionais. is servidor estadual quaisquer documentos e informações de interesse para
sua investigação. Igualmente, um membro do Ministério Publico estadual
Quando exista direito ao silêncio (por parte das pessoas investiga-.:,
‘pode estar investigando danos ao consumidor, e, dentro da alçada de suas
das), deve ser respeitado, pois, em nosso Direito, ninguém é obngado a ' aliibuições, pode necessitar de informações que estejam em poder de auto
C. produzir prova contra si mesmo.5 ; ndade federai. Em todos esses casos, a requisição é cabível. .
O espírito dos dispositivos legais que cometem tais poderes ao Mi /•’> Nada impede, pois, que um órgão do Ministério Público estadual
c nistério Público, liga-se ao fato de que, na defesa da Constituição e das leis,;
investigue dano cuja reparação seja da competência da Justiça local, mas
para o correto zelo de interesses indisponíveis do indivíduo e da coletivida
C .. precise de documento que esteja em poder de uma autoridade ou de uma
de, e para o cabal desempenho da ação penal e da ação civil pública, o.M^ _
c: nistério Público precisa de instrumentos eficazes como a notificarão de’ , :jeparlição federal.
pessoas e a requisição de documentos e informações, para instruir os ^ Apreciando caso nessas condições, o Superior Tribunal de Justiça,
c
cedimentos de sua competência.6 „ emmandadoide segurança impetrado pelo Ministério Público paulista con
c. ta 0 Ministro de Estado da Aeronáutica, admitiu que “a competência do
^nistério Público no concernente à requisição de informações e documen
c_ 2. As requisições * tos de quaisquer órgãos da Administração, independentemente de hierar-
Nos procedimentos a seu cargo, o membro do Ministério Públic°t
u
pode também expedir requisições. Entre óutras finalidades, a requisiÇj*
L pode consistir em ordem legal de realização de diligências ou apresenta 7 CR, art. 129, VI e VIII; Lei n. 8.625/93, art. 26, I, b, e II; LC n. 75/93, art. 8o, II e IV;
^ *04,1, 6, da LC paulista n. 734/93- .
c
" 8 Lei n. 8.625193, art. 26, 5 1°; LC n. 75193, art. 8o, § 4o. Embora o § I o do art. 26 da
C. 2. LONMP, art. 26, § 1°; LC paulista n. 734193, art. 104, § 5°. So sc. refira aos -mem bros do Poder Legislativo", to u l court, na verdade não alcança
®»utondades municipais, como se depreende da análise sistemática da questão.
3- Cf. art. 33, I, da LC n. 35/79 (LOM AN); art. 40, 1, da Lei n. 8.625/93
ó 9. Lei n. 8.625193, art. 26, S 3°; UVCÍP, art. 8D, § l n; LC n. 75/93, art. 8°, § 5".
art. 18, II, g, da LC n. 75/93 (LOM PU). O art. 8o, § 4o, da LC n. 75/93 — que é de
e, subsidiária pnra o Ministério Público dos Estados (art. 80 da Lei n. 8.625/93) —■te^ia ° n3,„ ÍV„ 10. LACP, art. 8o, § I o; Lei n. 8.625193, art. 26, 1 e II; LC n. 75193, art. 8o, II, IV e VIII;
c.. autoridades que têm prerrogativa de marcar data, hora e local para serem ouvidas, 'is >
gicamente, os arts. 411, do CPC, e 220-1 do CPP. -'
- ^ Paulista n. 734193, art. 104, I, b, VIII.
rr.-ilS+f' 11. Lei n. 8.625193, art. 26, I, b\ I-C n. 75/93, art. 8o, II.
c., 4. CPC, art. 192. „ **
12. CR, art. 129, VIII; CPP, arts. 5U, II, e 13, II.
5- A propósito, v. nosso O inquérito c iv il , cit., Cap. 11, n. 1. -si 15. LC n. 75193, art. 7o, III; Lei n. 8.625193, art. 26, III; Lei n. 8.429192, art. 22; LC
C.
6. RSTf, 707:21. ^ l i s t a n 7 3 4 /9 3 , art, j 04, IV.
408— CAPÍTULO 25
___________________________
—_■ >
■ ___________________
— —
t*
f1'—\
14. MS n. 5.370-DF, I a Seç. STJ, j. 12-11-97, v.u., rei. Min. Deihócrito Reinaldo,
15-12-97, p. 66.185, e KS'JJ, 107:21, em cujo julgamento se acolhe nosso posicion-u1'®1 t
(Regime ju ríd ic o do Ministério Público, cit-, 2a ed., p. 407-9; 5a ed., p. 444 e s.) e de
Rosa Nery (Código de Processo Civil , cit., 2a ed., p. 1425; 3a ed-, p. 1144; 5a ed., p
notas ao art. 8o da IA C P ).
15. Lei n. 8.625/93, art. 2 6 ,1, a; LC n. 75/93, art. 8o, II e IV.
16. LACP, art. 8o, § I o; Lei n. 8.625/93, art. 26, II; LC n. 75/93, art. 8o, IV.
17. V.g. art. 6° da Lei n. 7.853/89; art. 201, VI, c , do ECA.
18. LONMP, art. 26, § I o; LC paulista n. 734/93, art. 104, § 5o.
19- LACP, art. 6o, e Lei n. 8.429192, art. 15.
NOTIFICAÇÕES, REQUISIÇÕES E DEVER DE INFORMAÇÃO— 409
44. Para exame mais completo da maréria, v. nosso Inquérito c iv il , cit., Caps. 33 ^
45. V.g., o art. 3o da LC n. 105/01 refere-se à quebra do sigilo das informações P°f
ordem do Poder Judiciário; já o art. 4a da mesma lei também prevê atendimento às re<3u
çôes do Poder Legislativo.
46. V.g., Resol. TSE n. 20.132/98; Consulta 516-SP-TSE, de 1998.
47. Proc. n. 11.039-CE, j. 17-05-99, TSE, m.v., DJU, 31-05-99, p. 88.
NOTIFICAÇÕES, RJEQUFStÇÕES E DEVER DE INFORMAÇÃO— 413
48. LC n. 75193, art. 8”, §§ I o e 2o, de aplicação subsidiária para o Ministério Público
Estados (Lei n. 8.625193, art. 80). Entendeu contrariamente, mas sem discutir os funda
d o s aqui expostos, o STJ {RHC n. 1.290-MG e/ íC n . 1.458-2-RS).
49. KSTJ, 707:21; v., ainda, nota de rodapé n. 14, supra.
50. Proc. 2001.02.01.033100-1, 2a T., v.u., j. 31-10-01, rel. Des. Paulo Espírito Santo.
« ^ ■■ 51. M.S ti. ?ll.729-DI:, rel. Min. Néri da Silveira, STF-Pieno. Inform ativo STF, 246. :
414— CAPÍTULO 25
Público vir negado seu acesso a informações sigilosas a que tenha direito
restar-lhe-á a via judicial.52
6. Desatendimento à requisição
A LACP criou uma nova figura penal: poderá haver crime contra a
administração pública, se ocorrer, apenas sob forma dolosa, recusa, rctar-,
damento ou omissão de dados técnicos indispensáveis à propositura da
ação civil pública, quando requisitados por órgão do Ministério Público
(LACP, art. 10).
A propósito desse crime, reportamo-nos ao Cap. 30.
52. ROMS n. 7.423-SP, I a T. STJ, 12-06-97, v.u., rel. Min. Mííton Pereira,
10 2 : 62 .
53. CK, art. 129, V1H; Lei n. 8.625193, art. 26, IV; LC n. 75193, arts. 7o, II, e 9°. Ct?'
arts. 5o, II, e 13, 11.
54. CR, art. 5o, XXXIII.
55- Sobre a distinção entre interesse público primário e secundário, v. Cap. 1. f1
: NOTIFICAÇÕES, REQUISIÇÕES E DEVER DE INFORM AÇÃO— í 15
como ainda pode servir para arquivamentos escusos, que não serão jamais mais sejam levados a público dados a respeito dos quais a lei imponha sigi-
trazidos à luz do dia. ln sob pena de responsabilidade civil e penal dos infratores, e ainda res-
nònsabilidade fúncíonal, quando cabível; nem sejam divulgados e publica
Fazendo justa crítica a exageros da ideologia da segurança nacional, dos dados ou informações que visem a expor de forma gratuita e injustifi
o Min. Celso de Mello corretamente investiu contra o sigilo, quando indevi cada pessoas que estão sendo apenas investigadas e que nao tenham sido
do: “Alguns dos muitos abusos cometidos pelo regime de exceção instituído
definitivamente condenadas.
no Brasil em 1964 traduziram-se, dentre os vários atos de arbítrio puro que
o caracterizaram, na concepção e formulação teórica de um sistema clara Nada impede, entretanto, e, ao contrário, tudo recomenda que as
mente inconivente com a prática das liberdades públicas. Esse sistema, for autoridades, quando não recaia na hipótese o sigilo legal, prestem con^ a
temente estimulado pelo ‘perigoso fascínio do absoluto’ (Pe. Joseph sociedade, publicamente, do que estão fazendo ou fizeram no desempenho
Comblin, A ideologia da segurança nacional — o poder m ilita r da Améri de múnus público tnvestigatório (a quem estão investigando e por que, a
ca Latina, p. 225, 3a ed., 1980, trad, de A. Veiga Fialho, Civilização Brasilei quem denunciaram, porque denunciaram, qual o objeto da açao,_ quais as
ra), ao privilegiar e cultivar o sigilo, transformando-o em praxis govema- providências determinadas ou já realizadas); nesse caso, e claro, nao devem
mental Institucionalizada, frontalmente ofendeu o princípio democrático, antecipar juízos de valor, especialmente em razao da presunção constitu
pois, consoante adverte Norberto Bobbio, em lição magistral sobre o tema cional de inocência.
(O futuro da democracia, 1986, Paz e Terra), não há, nos modelos políticos
que consagram a democracia, espaço possível reservado ao mistério. O no
vo estatuto político brasileiro — que rejeita o poder que oculta e não tolera
o poder que se oculta — consagrou a publicidade dos atos e das atividades
estatais como valor constitucionalmente assegurado, disciplinando-o, com.
expressa ressalva para as situações de interesse público, entre os direitos t:
garantias fundamentais. A Carta Federal, ao proclamar os direitos e deveres
individuais e coletivos (art. 5o), enunciou preceitos básicos, cuja compreen-,
são é essencial à caracterização da ordem democrática como um regime do
poder visível, ou, na lição expressiva de Bobbio, como um modelo ideal do
governo público em público"'.64
Em suma, não é recomendável impor, como regra, o sigilo nas in-.,
vestigações policiais ou ministeriais. O que se deve fazer, sim, é c o a r c t a r os
abusos, quando ocorram. ■
É preciso haver efetiva responsabilidade no trabalho investigatoüO
não só dos profissionais do Direito (delegados, promotores e juizes), íonio
também dos parlamentares que investigam (nas Comissões P a r l a m e n t a r á ,
de Inquérito — CPIs), e até mesmo dos profissionais da imprensa quando.,
se dedicam ao chamado jornalismo investigativo (jornalistas e
editorialistas que avançam opiniões sobre quem já prejulgaram culpados)
Eventuais abusos devem merecer cobro administrativo, civil e ate pe*135
conforme o caso. Mas tentar remediar abusos impingindo a mordaça, *erí,
ocultar da sociedade as investigações, com propósitos inconfessáveis, aj,
porque, longe do sistema atual, em que a autoridade presta contas puj& .
camente do que investiga em nome do povo, amanhã teremos o mevita^ ^
efeito das informações passadas em o jf para a imprensa, que a s s e g u r a r a . ,
sigilo de fonte.. ,65
O correto é que, não só nos inquéritos civis ou nos processos de
correntes de ação civil pública ou coletiva, como em quaisquer outros,)
IN Q U É R IT O C IV IL1
!• Generalidades
, Criado na Lei n. 7.347/85 e logo depois consagrado na Constituição
de 1988,2 o inquérito civil é uma investigação administrativa a cargo do
Ministério Público, destinada basicamente a colher elementos de convicção
para eventual propositura de ação civil pública; subsidiariamente, serve
ainda para que o Ministério Público: a) prepare a tomada de compromissos
de íjustamento de conduta ou realize audiências públicas e expeça reco
mendações dentro de suas atribuições; b) colha elementos necessários para
o exercício de qualquer ação pública ou para se aparelhar para o exercício
de qualquer outra atuação a seu cargo.3
Com o fito de determinar a materialidade e a autoria de fatos que
possam ensejar o ajuizamento do processo coletivo pelo Ministério Público,
P°r meio do inquérito civil podem-se promover diligências, requisitar do-
16. HC n. 69.912-HS (segundo), STF Pleno, m.v., j. 16-12-93, rel. Min. Carlos VeU0?®’-
DJU, 16-12-93, p. 6.012; HC n. 73.510, inform ativo STF, 96-, HC n. 874.531-SP, Infori»a l,v0
STF, 126.
17. ROMS n. 5.563-RS, I a T. STJ, }. 21-08-95, v.u., rel. Min. César Bodia, tf*4'
204;205- N o mesmo sentido, v, Antônio Augusco de Camargo Ferraz, Apontamentos, cit.
18. ROMS n. 12.248-SP, I a T. STJ, j. 10-04-01, v.u., rei. Min. Francisco Falcão, & 0,
17-09-01, p. 109. ’■
19. M IC n. 5.873-PR, <5“ T. STJ, j, 24-11-97, v.u., rel. Min. Vicente Leal, DJU, 19'12 91
p. 67.532.
20. CR, art. 96, I I I , c.c. a CE, art. 74, IV. Nesse sentido, v. REsp n. 78.864-SI', 5 ^
STJ, v.u., j. 19-08-97, rel. Min. Cid Scartezzini, DJU, 22-09-97, p. 45.514; RHC t\. 11 .242-MG.
T. STJ, j. 04-09-01, v.u., rel. Min. Pauío GaUotti, DJU, 04-02-02, p. 546.
21. CE, art. 79, § 1°.
IN Q U É R ITO CIVIL— 425
ação ju d k la fo T ^ t r a fn f5 - U£ ° corrêncía Pos™ ensejar a proposituia de 32.H C n. 84.367-RJ, I a T. STF, j. 09-11-04, v.u., rel. Min. Carlos Britto, DJU, 18-02-
ra atuaçao funcional por parte do Ministério Público
t'j5,p29
terminadS comnmnr^gra ^ tm e -s e o inquérito civil a investigar fatos dt .fj 33. REsp n . 223.395-RJ, 6a T. STJ, v.u., j. 2J-10-01, DJU, 12-11-01, p. 176. N o mesmo
pode também o inni ^ tlPlcldade é norma aberta na área civil, n sentido, também o STJ, v. RHC ri. 3.586-PA, RT, 707:376; RJIC n. 8 9 2 -S P ,./.S 7 J, Í5--339 e RS7J,
ou uma situação nerm f C1V CSt,inar"Se a investigar um estado dc coisas i . Í3? 326, HC n. 12.685-MA, DJU, 11-06-01, p. 240; RHC n. 8.106-DF, DJU, 04-06-01, p. 186;
determinado Assim « nte> * inda cIue nüo< exatamente, um unico fato j M ft n 8 732-RJ, J577, 10-,347; RHC n. 6.128-MG, DJU, 02-02-98, p. 117. Sobre os fins penais
priamente fruto de úm at?fsobdó a P ° Iuí$áo do Ti« ê (SP) nao e pro- °o inquérito civil, v. nosso O in qu érílo civil — investigações do M inistério Público, com-
^wissos de ajustamento e audiências públicas, cit., Cap. 6, n. 5.
da somatória de mi l haresdc’ ^ C° ÍSaS’ - ^ .
Wí ^ 34. HC n. 26.543-1’R, 6a T.. S‘1J, j- l°-03-05, v.u., rel. Min. Hamilton Carvalhido, DJU,
' ^ 0 8 05 p. 560. ■
íS,/ 35- RHC n. 10.947-SP, 6a T. STJ, j. 19-02-02, v.u., rel. Min. Fernando Gonçalves, DJU,
-------- ----------------- -- -J ^ 208°3. P- 260.
--- * M
36. Existe controvérsia a propósito da investigação tlireta do Ministério Público para
ções dos me m b r o $ cío in isiér 'i T ^ ° t* C O n lP e t Ê n c ia > d a s questões atinentes as atribui $ 1 Penais: corretamente, no sentido favorável, v. RE n. 83-157-MT, STF Pleno, m.v., j. 06-05-
civil — investigações do M i n Z ° b,et0 n o inrI u (-T Í l 0 c "v il, »- nosso O i t i q ^ 10 í re' Min. Marco Aurélio, Inform ativo STF, 314; HC n. 82.865-GO, 2a T. STJ, j. 14-10-03, rel.
públicas, cit., Caps. 4-6 e 10. ” ' coml}romissos de ajustamento e audtértCt^ ( -í ^STp ^ L^son Jobini, Inform ativo STF, 325; cm sentido contrário, v. HC n. 81.326-DF, 2a T.
30. V., tb., o Cap. 15. 06-05-03, rel. Min. NelsonJobim, DJU, l°-08-03, p. 142.
y
' 37. Essa resolução é objeto das ADIn ns. 3.806-DF e 3.836-DF, ajuizadas pela Asso-
ções d o s o f e i a i s f ™ °n f0et„H 3
0 ^ ° A* ° 212^-P G J-C G M P -C SM P regu.amenU ‘ín -^ ^os delegados de Polícia do Brasil e pelo Conselho Federal da OAB, ainda sem julga-
S de Promoto« a nos inquéritos civis e procedimentos preparatórios iSr^o final. . * •
428— CAPÍTULO 26
IN Q U É R ITO CIVIL— 429
3- Instrução e sigilo
fito civil, bem como terá direito ã expedição de certidões. Ao fim das inves
tigações t— sempre ressalvadas as hipóteses de sigilo legal — , deve-se dar
deres i n s t r u t ó r i o s S ^ s p r ! ^ inquérito civil tenip* ampla publicidade ao que nele foi apurado, inclusive para que os interessa
o delegado de Polícia, no inquérito p o lS a í V ^ P n l í C° m° ° C° rre c°m dos possam arrazoar perante o Conselho Superior do Ministério Público,
• provas admissíveis em Direito notaiiampruo a valer-se de quaisquer quando da revisão do arquivamento,47 ou propor diretamente a ação civil
pública, na qualidade de co-legitimados natos e autônomos.
Pública também deve ser a sessão em que o Conselho Superior de-
dda sobre o arquivamento do inquérito civil. Assim, quando de nossa ges
i n v e r s ã o d ^ W da Tò tão junto ao Conselho Superior do Ministério Público paulista (1994-1995),
propusemos e vimos aprovada, no respectivo regimento, a-regra da publici
dade das sessões em que o colegiado aprecia se homologa ou não os arqui
p“ ° £ s * vamentos dos inquéritos civis.48 '
' À.respeito do sigilo no inquérito civil, reportamo-nos, ainda, ao que
ficou dito no Cap. 25, n. 3.
' 46. CP, art. 325; CR, art.5°, XXXIII. ( 50. Quanto aos efeitos do arquivamento, v. Cap. 28.
51. CPP, art. 28.
430— CAPÍTULO 26
52. Cf. nossa tese O Ministério Público no processo penal, RT, 494-.21Q, n. 1,
53. V. Cap. 27.
54. A propósito, v. Cap. 28. . ■■■ s- i
55- CDC, art. 26, § 2°, 111.
56. Cf, Súm. ns. 5 e 10 do CSMP. ?
?
INQUÉRITO C rviL— 431
6. Controle do arquivamento62
Segundo a LACP, o controle de arquivamento do inquérito civil está
: icargo do Conselho Superior do Ministério Público (art. 9o, §§ I o a 3o).
s s; Em todos os ramos do Ministério Público da União, tem-se entendi
do que a revisão do arquivamento de inquéritos civis ou peças de informa
ção é afeta às respectivas Câmaras de Coordenação e Revisão.63 Nesse sen-
- tido, õ Estatuto do Idoso alude por expresso a que o controle de arquiva
mento de inquéritos civis relacionados com seu objeto deve ser feito por
; Câmaras de Coordenação e Revisão, órgãos estes próprios do Ministério
Público da União (Lei n. 10.741/03, art. 9 2 , § 2o) .
No sistema da LACP, tendo lançado promoção de arquivamento do
inquérito civil ou das peças de informação, comete falta funcional o promo
tor de Justiça que não remeta os autos ao Conselho Superior do Ministério
i ?úblico para revisão de seu ato, em três dias.64
; } i Recebendo os autos de inquérito civil, com manifestação de arqui-
i .yanicnto lançada por membro do Ministério Público, poderá o Conselho
. Superior, na forma de seu regimento: a) homologar a promoção de arqui
vamento; b) reformar a promoção de arquivamento, determinando seja
Proposta a ação civil pública; c) determinar novas diligências investiga-
tónas/'5
QualquSr que seja a decisão do Conselho Superior do Ministério
^Público, há necessidade de que sua deliberação seja precedida de relatório
e fundamentação, pois é dever de todos os membros da instituição indicar
rí-9®A'ndamentos jurídicos de suas manifestações processuais.66
sos, pois se concentram propositada e especialmente nas mãos dos proçuis. 'instruída com a cópia integral dos respectivos autos, para a apreciaçao do
radores-gerais, que muitas vezes fazem parte da estrutura de poder ou pelo; CSMP’'-77 ; ' - , . . , .
menos a coonestam de maneira acrítica.75 . - Aplica-se o mesmo sistema de controle de arquivamento do ínquen-
Se o órgão do Ministério Público entender que não tem atribuições' fíi civil pelo Conselho Superior do Ministério Público ou pelas Camaras de
para realizar as investigações ou para a propor a ação civil pública, lançará Coordenação e Revisão nas mais' diversas áreas cíveis de atuaçao ministerial
manifestação fundamentada e encaminhará os autos do inquérito cjvil a ícomo em matéria de investigação de danos ao patrimonio publico por
quem de direito. Quando essa remessa significar o envio dos autos ao Mi Improbidade administrativa, ou de danos a crianças e adolescente, a idos° s>
nistério Público de outro Estado ou a um dos ramos do Ministério Público atovestidores no mercado de valores mobiliários, a pessoas portadoras de
da União, o órgão do Ministério Público que pretenda efetivar essa remessa deficiência etc.), desde que se enseje, em tese, ajuizamento de açao civil
deverá fazê-la por intermédio do Conselho Superior de sua própria institui pública pelo Ministério Público. ^
ção. Isso se justifica para viabilizar a revisão de seu ato', que em última aná-í O e n te n d im e n to que tem predominado é o de que todo inquérito
lise significa a declinação de atribuições da instituição a que pertence. No civil ou todas as peças de informação q u e enT tcse. possam cnsejar a pro
caso, caberá analogia com o controle de arquivamento instituído pelo § 1°; positura de ação civil pública por parte do Ministério Publico, sc t o
do art. 9o da LACP. is arquivados, estarão sujeitos ao controle de arquivanicnto pelo Conselho
Superior da instituição; não nos demais casos. Nessa linha, o Conselho Su
7. O arquivamento de outros inquéritos civis que jião perior do Ministério Público paulista editou sumula neste teor: _ Nao ha
necessidade de homologação pelo Conselho Superior da promoção de ar
os da Lei n. 7.347/85 is quivamento de todos os procedimentos administrativos instaurados co
O inquérito civil visa basicamente a investigar danos ao patrimônio base no art. 201, VI, do Estatuto da Criança e do Adolescente, mas somente
público e a quaisquer interesses individuais homogêneos, coletivos ou difii-; daqueles que contenham matéria a qual, em tese, podena ser objeto de
sos, como os referentes ao meio ambiente, ao consumidor, ao patrimônio açãocivil pública” (Súm. n. 19 do CSMP).
cultural, a pessoas portadoras de deficiência, investidores no mercado fie
valores mobiliários, crianças e adolescentes.76 is Recursos no inquérito civil
Por analogia, aplica-se o mesmo sistema da LACP no tocante a in’ .kf l ' A Lei Complementar paulista n. 734/93 criou recursos contra a ins-
quéritos civis e peças de informação destinados a apurar lesões a inteiesses
Wraçao ou a não-instauração do inquérito civil. Fe-Io, porem, de forma,
outros qué não os difusos, coletivos e individuais homogêneos. ,
tatá Não que a lei estadual não possa dispor sobre procedimentos; o qu
Nesse sentido, a Súm. n. 12 do CSMP-SP dispõe: “Sujeita-se àhomo-: '"ão pode é criar normas sobre procedimentos já disciplinados por lei fede
logação do CSMP qualquer promoção de arquivamento de inquérito civil 0» nd, violando o modelo federal do inquérito civil.7®
de peças de informação, bem como o indeferimento de representação q116 Desbocando completamente do âmbito que lhe reservou a Consti-
contenha peças de informação, alusivas à defesa de interesses difusos, cole
;tuiÇãO da República — que seria somente matéria de organizaçao, atribui-
tivos ou individuais homogêneos” (v. p. 691 e s.). C°es e estatuto do Ministério Público local — 79 diz a Lei Complementar
Na mesma esteira, diz a Súm. n. 24 do CSMP-SP: “Nas hipóteses de Paulista n. 734/93 que: a) do indeferimento de representaçao para instaura
intervenção, administração provisória e liquidação extrajudicial de institui, do de inquérito civil, caberá recurso ao. Conselho Superior do Ministério
ções financeiras ou entidades equiparadas (tais como distribuidoras de t,tu Mbhco, no prazo de 10 dias, contados da data em que o autor da represen
los e valores mobiliários, cooperativas de crédito, corretoras de càmhio , t o tiver ciência da decisão; b) da instauração do inquérito civil cabera
consórcios), o inquérito realizado pelo Banco Central contém peças 0 rmirso ao Conselho, no prazo de 5 dias, a contar da ciência do ato impug
informação, e, por isso, a promoção do seu arquivamento, por membro fl . nado 80
Ministério Público, sujeita-se à homologação do CSMP. Neste caso, o org8
do Ministério Público deverá providenciar a remessa de sua manifestaÇ30,r
76. CR, art. 129, III; LACP, arts. 1o, IV, e 9o, § I o; Lei n. 7.853189, art. T . 10 *■ ,79. CR, art, 128, § 5o.
7-913/89, art. 3"; ECA, arts. 223-4; CDC, art. 90. . 80. LC paulista n. 734/93, arts. 107, § I o, 108, e § I o.
i n q u é r i t o c rv iL — 439
438— CAPÍTULO 26
No primeiro caso, a tramitação é semelhante ao antigo rito do agra nistério Público só estão submetidos ao controle de legalidade a cargo do
vo de instrumento, antes das alterações trazidas pela Lei n. 9.139/95. Criou- judiciário.
se recurso inócuo, porque, com ou sem ele e suas razões, o indeferimento . A lei complementar paulista instituiu o mesmo absurdo que o teria
da representação deve ser sempre revisto pelo Conselho Superior do Minis feto se tivesse criado um recurso interna corporis, no âmbito do propno
tério Público, porque eqüivale ao arquivamento de peças de informação. E, Ministério Público, contra a requisição de inquérito policial ou contra o
em qualquer caso, os interessados poderiam, baseados apenas no direito oferecimento da denúncia: assim, antes de a requisição ser cumprida pelo
genérico de petição, apresentar ao Conselho suas razões. delegado de polícia, ou antes de a denúncia ser recebida pelo P°der Judi
. No segundo caso, a lei local pretendeu conferir inadmissível efeito ciário, haveria inadmissível controle hierárquico interno dentro do Ministé
suspensivo ao recurso, até seu julgamento. O dispositivo, porém, inova em rioPúblico... _
desarmonia com a LACP: cria recurso irrito contra a instauração do inquéri É possível que ocorram ilegalidades ou abusos na instauração ou na
to civil e desnatura as atribuições dos órgãos de execução do Ministério condução de inquérito civil. Caberá, então, habeas-corpus (p. ex., em caso
Público. Sem dúvida, a lei federal que criou e regulamentou o procedimen de condução coercitiva indevidamente decretada)’ ou mandado de seguran
to do inquérito civil teria podido instituir recursos contra sua instauração ça (p. ex., em caso de instauração do inquérito sem justa causa ou quando
ou não-instauraçãó; não a lei estadual, em desarmonia com o modelo fede de requisições ilegais etc.). Esse controle jurisdicional sobre os atos dos
ral, assim criando uma indevida sujeição hierárquica é funcional. . .. agentes políticos não pode ser substituído por controle hierárquico sem
Agentes políticos que são, dotados de plena liberdade funcional, os previsão em lei federal, sob pena de desfigurar a liberdade funcional dos
membros do Ministério Público podem instaurar e conduzir diretamente 0 membros do Ministério Público.
inquérito civil. No caso, sujeitam-se, sem dúvida, a controle de legalidade
de seus atos, o qual está afeto ao Poder Judiciário e não a outros órgãos do 9. Compromisso de ajustamento
próprio Ministério Público.81 A lei federal conferiu ao Conselho Superior do.
Ministério Público o encargo de rever o arquivamento do inquérito ctml, No curso do inquérito civil, pode sobrevir compromisso de ajusta-
mas não lhe deu poderes para impedir sua instauração nem para impedlf % ,.mento.8í
investigações. • t Diz a lei do Ministério Público paulista que a eficácia do compro
É o mesmo que ocorre no controle de arquivamento do inquériio misso fica condicionada à homologação da promoção de arquivamento do
policial-, embora detenha o procurador-geral a última palavra sobre seu-. mquento civil pelo Conselho Superior do Ministério Público.
arquivamento,82 não pode controlar a legalidade e a justa causa da requisi- -■ *•*" Não poderia a lei estadual, entretanto, dispor sobre o momento em
ção de instauração de inquérito policial feita pelo mais novo prom otor de-,. : que se constituí o título executivo extrajudicial, matéria de processo. Ade-
Justiça substituto: como órgão dotado de independência funcional, sua fflais, nem sempre o compromisso de ajustamento leva ao arquivamento do
requisição sofre controle só afeto ao Poder Judiciário. ®quérito civil- há compromissos preliminares que não dispensam o prosse-
Incurial, portanto, que, dispondo sobre o inquérito civil, o legisla;.. BMmento de diligências.86
dor estadual se afáste do modelo federal e inove, ao instituir recurso contra^
- sua instauração.
Nem o membro do Ministério Público que instaurou o i n q u e n t o c'
vil, nem outro membro qualquer podem impedir o p r o s s e g u i m e n t o d
investigações iniciadas, a não ser promovendo regularmente seu aiqi|,va
mento, que deve ser submetido aos correspondentes mecanismos dc c0^ ^ .
trole. Órgão ministerial algum tem ascendência ou hierarquia n0 "
sobre os demais, em vista do princípio da independência f u n c i o n a l .
desempenho d e seus atos finais, os órgãos originários de execu ção
irre-
81. Naruraimente, os membros do Ministério Público respondem por seus ato
gulures na área penal, civil e administrativa ou funcional. A propósito, v. Cap. 40. -.... -
. 82. CPP, art. 28. ■84. Sobre os compromissos de ajustamento, v. Cap. 23-
83- Dentro do Ministério Público, o princípio funcional é o da i n d e p e n d ê n c i 3 j P ■85. LC paulista n. 734193, art. 112, parágrafo único.
da hierarquia; assim, a hierarquia é administrativa, não funcional (CR, art. 127, § l 0)- ■ r$
1* 86, V. Cap. 23, n. 5.
CAPÍTULO 27
TRAMITAÇÃO D O IN Q U É R IT O CIVIL N O
C O LE G IA D O COMPETENTE
1- A s providências prévias
A Constituição comete ao Ministério Público a presidência do in
quérito civil, e a LACP impõe um rigoroso sistema de controle de seu arqui
vamento. Assim, esgotadas todas as diligências, se o órgão ministerial se
convencer de que não há base para a propositura da ação civil pública, de-
Fera promover seu arquivamento de maneira fundamentada, submetendo
pa decisão à revisão do Conselho Superior do Ministério Público.1
Nem sSntpre, porém, a revisão será feita pelo Conselho Superior,
"or força de normas próprias de organização do Ministério Público da
União, nos correspondentes ramos da instituição, o controle do arquiva
mento será afeto às respectivas Câmaras de Coordenação e Revisão.2
Sujeita-se, pois, à homologação do colegiado competente qualquer
Proino^ão de arquivamento de inquérito civil ou de peças de informação,
e(l1 como o indeferimento de representação que contenha peças de infor-
^Ção alusivos à defesa de interesses difusos, coletivos ou individuais ho-
m»Uêrteos.3
5. A deliberação do colegiado
A LACP comete ao Conselho Superior do Ministério Público o papd
de órgão reyisor do arquivamento de inquéritos civis;17 enquanto isso, nos is
diversos ramos do Ministério Público da União, já vimos que essa função e
desempenhada pelas respectivas Câmaras de Coordenação e Revisão.18
No. tocante ao arquivamento de inquéritos civis de que cuida o Esta
tuto do Idoço, este diploma legal é expresso em determinar seja seu contro
le exercido por Câmaras de Coordenação e Revisão, órgãos estes própnos:
do Ministério P ú b lico da União (Lei n. 10.741/03, art. 92, § 2 o).
A o apreciar a promoção de arquivamento do inquérito civil ou de -
peças de informação, pode o Conselho Superior do Ministério Público ou o
colegiado competente: a) determinar a instauração de inquérito civil, em
caso de se tratar de meras peças de informação, e se ainda não houver base
para a propositura da ação; b) converter em diligência a decisão do caso ,
(para colherem-se novas provas, esclarecer-se questão de fato, juntar se :
documento, elaborar-se laudo, realizar-se vistoria oú diligência etc). '
c) homologar a promoção de arquivamento (o que não impede a propôs1’
tura da ação por qualquer outro co-legitimado); d ) rejeitar a p r o m o ç ã o de
arquivamento (nesse caso, delegará a outro membro d o Ministério Public0 ^
atribuição d e ajuizar a ação, cabendo ao procurador-geral expedir a res>peC'
tiva portaria de designação).
15. LACP, art. 9o, § 3o; Lei n. 7.853/89, art. 6°, § I o, in fine-, ECA, art. 223, § 4°
16. V. Cap. 26, n. 8; RICSMP, arts. 240-245.
17. LACP, art. 9o e parágrafos.
18. V. nota de rodapé n. 2, na p. 4 4 l.'
TRAM ITAÇÃO D O IN Q U É R ITO C m L N O COLEGIADO— 44 5
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CAPÍTULO 2 8
EFEITOS D O A R Q U IV A M E N T O
D O IN Q U É R IT O CIVIL
1. Generalidades
Sob pena de falta disciplinar, o membro do Ministério Público que
promoveu o arquivamento de inquérito civil ou de peças de informação
deve, em três dias, submeter os autos, com sua promoção, ao reexame do
Conselho Superior do Ministério Público.1
'Mf1” Se o Conselho Superior homologar a promoção de arquivamento,
M> âmbito do Ministério Público a questão normalmente estará decidida,
embora possam outros co-legitimados propor de imediato a ação civil pú
blica ou coletiva que o Ministério Público entendeu por bem não ajuizar;2
?°deriam moçmo propô-la até durante o próprio curso do inquérito civil ou
:^psmo enquanto o Conselho discute a questão, pois a decisão administratL
■»do Ministério Público, a respeito da propositura ou não da ação civil
publiça, de módo algum condiciona a iniciativa dos demais co-legitimados,
ÜFS‘Vista de deterem estes legitimação concorrente e disjuntiva.
Se o arquivamento do inquérito civil não limita a iniciativa dos co-
lígUimados à ação civil pública ou coletiva, resta questionar se, do ponto de
,?sta do Ministério Público, arquivado o inquérito, poderia ser ele reaberto
Pela própria instituição.
Saindo do âmbito que lhe demarcou a Constituição,3 a Lei Com-
Ptennentar paulista n. 734/93, em vez de apenas estabelecer a organização,
^ ateibuições e o estatuto do Ministério Público local, passou a disciplinar o
1.IACP, art. 9o, § I o- V., tb., nosso O inquérito civil; cit., Caps. 16-26.
2. CR, art. 129, § I o; LACP, art. 5o; CDC, art. 82.
448— CAPÍTULO 28
2. Compromisso de ajustamento9
Sobrevindo compromisso de ajustamento no curso do inquérito d-V
vil, isso não impede que os codegitimados, discordando da solução obtida, :
proponham as ações civis públicas ou coletivas eventualmente cabíveis.
O Conselho Superior do Ministério Público do Estado de São Paulo
editou súmulas de sua jurisprudência a propósito de compromisso de ajus
tamento obtidas no curso do inquérito, das quais vale aqui transcrever as
mais relevantes:10
Súm. n. 4: “Tendo havido compromisso de ajustamento que. atenda
integralmente à defesa dos interesses difusos objetivados no inquérito uvil,
é caso de homologação do arquivamento do inquérito. Fundamento O art
5o, § 6o, da Lei n. 7.347/85, introduzido pela Lei n. 8.078190, permite que
os órgãos públicos legitimados tomem compromisso de ajustamento cios, -,
interessados, o que obstará à propositura da ação civil pública e pernitit'
rá o arquivamento do inquérito civil."
Naturalmente, se o compromisso de ajustamento não resolveu to
dos os aspectos investigados no inquérito civil, será caso de arquivamento
parcial deste último; o inquérito civil deverá prosseguir em relação aos dc- -
mais pontos sobre os quais não houve acordo. Em caso de o termo de ajus- ;
te de conduta não resolver no todo o problema investigado no inquérito
civil, mas todas as diligências já estarem completas, será o caso de propor-®e-
ação civil pública em relação aos pontos não cobertos pelo com prom isso de
ajustamento.
Súm. n. 9: “Só será homologada a promoção' de a r q u i v a m e n t o de
inquérito civil, em decorrência de compromisso de ajustamento, se des
constar que seu não-cumprimento sujeitarão infrator a suportar a exeçuça
do título executivo extrajudicial ali formado, devendo a obrigação ser ce
quanto à sua existência,, e determinada, quanto ao seu objeto. Fundaiticn
"£or. força do art. 5o, § 6o, da Lei n. 7-347/85, introduzido pela Lei n.
8-078/90, o compromisso de ajustamento terá eficácia de título executivo
extrajudicial. Ora, para que possa ter tal eficácia, é indispensável que
nele se insira obrigação certa quanto à sua existência e determinada
quanto ao seu objeto, como manda a lei civil (art. 5o, § <5°, da Lei n.
3347185; art. 1.533 do CC; Ato n. 52/92-PGJ-CSMP-CGMP) .”
Registre-se que essa súmula é anterior à alteração do sistema pro
cessual civil codificado, em virtude da qual passou a ser admitida a execu
ção de obrigação de fazer por título extrajudicial, ainda que neste não se
tenha previsto multa cominatória. Mas, mesmo assim, é extremamente con
veniente, embora não obrigatório, consignar a multa no próprio título, a
qual poderá, entretanto, ser reduzida pelo juiz da execução, se a entender
'excessiva.11
Súm. n. 20. “Quando o compromisso de ajustamento tiver a caracte
rística de ajuste preliminar, que não dispense o prosseguimento de diligên-
das para uma solução definitiva, salientado pelo órgão do Ministério Públi
co que o celebrou, o Conselho Superior homologará somente o compro
misso, autorizando o prosseguimento das investigações. Fundamento.- O
parágrafo único do art. 112 da Lei Complementar estadual n. 734/93 con-
diciotm a eficácia- do compromisso ao prévio arquivamento do inquérito
ctvil, sem correspondência com a Lei fed era l n. 7.347/85■ Entretanto, pode
acontecer que, não obstante ter sido form alizado compromisso de ajus
tamento, haja necessidade de providências complementares, reconhecidas
püo interessado e pelo ôrgão ministerial, a ser tomadas no curso do in
quérito civ il ou dos autos de peças de informação, em busca de uma so-
hição mais completa para o problema. Nesta hipótese excepcional, é pos-
®vel, ante o interesse público, a homologação do ajuste prelim in a r sem o
arquivamento das investigações."
vfà ' A propósito dos chamados compromissos preliminares, reportamo-
'nos ao que fç o u dito no Cap. 23, n. 5.
J Súm. n. 21: "Homologada pélo Conselho Superior a promoção de
..arquivamento de inquérito civil ou das peças de informação, em decorrên
cia de compromisso de ajustamento, incumbirá ao órgão do Ministério Pú-
“co que o celebrou fiscalizar o efetivo cumprimento do compromisso, do
(IUe lançará certidão nos autos. Fundamento: O compromisso de ajusta-
,Mento é previsto no art. 5°, § 6o, da Lei federal n. 1.347185- Aceito p elo
' y ^ flh o Superior o compro?nisso firm a d o entre o órgão ministerial e o
J*te)yssado, o inquérito civ il ou as peças de informação, ressalvada a
Pótese prevista na Súmula 20, serão arquivados (art. 112 e seu parágra-
•° único da I.ei Complementar estadual n. 734/93), mas o órgão do Minis-
0 Público que o firm o u deverá naturalmente fiscalizar o seu efetivo
Cuniprmiento."
£ • •
^ Se o compromisso de ajustamento resolveu todos os problemas in
stigados no inquérito civil, sua lavratura será motivo jurídico bastante
« 11. CPC, art. 645, parágrafo único, com a redação que lhe deu a Lei n. 8.953194.
452— CAPÍTULO 28
3. O arquivamento e a decadência ^
Desde a instauração ate o encerramento do inquérito civil, obsta-se
à decadência do direito que tem o consumidor de redamar dos vícios'apa
rentes ligados aò fornecimento de serviço ou produto.12 C;
O termo a quo do óbice à decadência está na publicação da portaria '
ou do ato de instauração do inquérito civil; o termo ad quem está, igual
mente, na publicação do ato final de arquivamento. ; :
Mas o que se entende por encerramento do inquérito civiP. Não é a .
decisão do membro do Ministério Público que arquive o inquérito, .pois..-:
essa decisão está sujeita à homologação do Conselho Superior da institui-*
ção. O encerramento do inquérito civil só se dá efetivamente no dia da pu
blicação da homologação final do arquivamento pelo Conselho Supcnor.y: ■
Assim, até- o dia da publicação da homologação, inclusive, estará òbstado o
curso da decadência.13 Se a confirmação do arquivamento não se deu, po- :
rém, em sessão pública, o óbice ao curso da decadência continuará ate a . .
data da efetiva publicação do resultado do julgamento do Conselho Supe-, í
rior do Ministério Público, o que costuma ocorrer no diário oficial. :
O CDC estabeleceu uma condição que obsta o curso do p r a
decadência; o prazo decadencial voltará a correr depois de findo o obsta™
lo criado pela instauração do inquérito civil (seu arquivamento).1^ Assim, ^
não temos interrupção e sim suspensão do curso da decadência: o tcinp0
que já tinha corrido antes da suspensão não é desconsiderado quando o
prazo volta a correr.
r .
IM PED IM ENTO
■•V
E SUSPEIÇÃO
■•v.
Distinções
a ) Generalidades
?:> '
"''" Diversas causas podem incompatibiíizar o membro do Ministério
^nlipo para instaurar um inquérito civil, ou nele oficiar, ou para propor ou
a[entèsmo intervir numa ação civil pública oü coletiva, Isso não é, sequer,
Particularidade do Ministério Público; também o magistrado está sujeito a
'^Uções legais, pois é defeso ao juiz oficiar em certos casos, e, se o fizer,
Pwjerá ser recusado pelas partes.
7 !
14 Cf- CPC, art. 138, I, c.c. o art. 135, V. Cremos ter agora melhor distinguido S s . ^
póteses de suspeição e impedimento do que o fizéramos na 12a ed. e nas edições antrriofts
15- Cf. art. 138, I, do Código de Processo Civil, -„sw
16. Comentários ao Código de Processo Civil, v. I, notas ao art. 138, 2a ed., p-
Revista dos Tribunais.
17. Cf. art. 138, I, c.c. o art. 135, V, do CPC.
IMPEDIMENTO E SUSPEIÇÃO— 459
c ) Conversão em diligência
Uma última questão: em vista de novas provas, colhidas em decor
rência da conversão do julgamento em diligência determinada pelo Conse
lho Superior do Ministério Público, pode a ação civil pública ser proposta
pelo mesmo membro da instituição que antes tinha lançado manifestação
favorável ao arquivamento do inquérito civil?
O problema foi corretamente enfrentado pelo Conselho Superior
paulista, em sua Súm. n. 16: “o membro do Ministério Público que promo
veu o arquivamento de inquérito civil ou de peças de informação não está
impedido de propor a ação civil pública, se surgirem novas provas em de
corrência da conversão do julgamento em diligência” .18 Assim, consoante a
n. 17, “convertido o julgamento em diligência, reabre-se ao promotor
de Justiça que tinha promovido o arquivamento do inquérito civil ou das
peças de informação a oportunidade de reapreciar o caso, podendo manter
sua posição favorável ao arquivamento ou propor a ação civil pública, como
'jhe pareça mais adequado. Neste último caso, desnecessária a remessa dos
autos ao Conselho Superior, bastando comunicar q ajuizamento da ação
ror ofício” .1
E óbvio, porém, que, para os fins de aplicação da Súm. n. 17 do
ÇSMP-SP, a oportunidade de reapreciar o caso só advém depois de realizada
2 diligência determinada pelo Conselho Superior. Não teria sentido pudes
se o promotor de Justiça insistir no arquivamento antes sequer de cumpri-
M a determinação do colegiado. Somente em face das novas provas surgi
das com a conversão do julgamento em diligência, é que o Conselho Supe-
l0r lhe reconhece a possibilidade de reexaminar sua posição.
As Súm. ns. ló e 17 do CSMP-SP aplicam-se apenas aos casos de
,^ver.sa° do julgamento em diligência quando o membro do Ministério
publico tenha propugnado pelo arquivamento do inquérito civil por não
Vlslurribrar base fãtica suficiente para a ação civil pública. Mas se ele promo-
v511° arquivamento por entender que, independentemente da prova mate-
i ‘al de sua ocorrência, o fato apurado no inquérito civil não constitui nem
460— CAPÍTULO 29 :í
, I n c o m p a t i b i li d a d e d e a c u m u la r funções c o n f li t a n t e s c
mesmo em tese violação a qualquer interesse que lhe incumba defender; a deve (
eventual conversão do julgamento em diligência, determinada pelo Conse
Como regra geral, no do MiSstério Público-, con-
lho Superior do Ministério Público, ensejará diligências que haverão de ser ("
cumpridas por outro membro do. Ministério Público, e não pelo primeiro, «r a t e do e x e r c id o de fcnções in c o .
Seria incompatível que este fosse obrigado a fazer diligências investigatórias f
para apurar um fato que ele entende que, sequer em tese, constitui infração ; bilidade de oficiar no f e i t o um só deles. manÍfcS“
, _____ ... ‘ m- C
a qualquer interesse que lhe incumba defender. : bilidade de oficiar n o teito ^ neSte Capítulo, in-
Assim, alem das dem ai ! exeilipIo em funcionar o m esm o m em - c
compatibilidade ain da hf er^ ^ " e s m o tem po, com o ó rgão interveniente
3. Argüição do impedimento ou da suspeição . " bto ministerial c o m o a u tor e, resges de m e n o res situados n o p o lo pas (
Em caso de suspeição ou impedimento, o membro do Ministério emrazão, digam os, d o is não teria o m esm o m em bro d o M m isten
Público, assim como o juiz, deve espontaneamente declinar de oficiar no stvo da relaçao processual, P . interesses colidentes.
Público com o suplem entar a defesa de xntetess s í
feito, sob pena de poder ser recusado pela parte interessada,20
Os motivos de impedimento ou suspeição, em regra, deverão ser :('
indicados nos autos, excetò quanto aos de foro íntimo.21 Invocando motivo
íntimo, o juiz ou o membro do Ministério Público passarão os autos ao res :C
pectivo substituto legal, e nos autos só lançarão o fundamento legal que
lhes permitiu afastar-se de suas funções; ao respectivo órgão disciplinar é
que indicarão pormenorizadamente as razões de sua suspeição. A Improce
dência dos motivos invocados poderá ensejar providências disciplinares,:
mas não se ;obrigarã o juiz ou o membro do Ministério Público a oficiar no ■
caso.22 v í'
. Se a ação civil pública ou coletiva estiver sendo movida pelo própno £
Ministério Público, certamente não será o réu que irá recusar o promotor ií;
de Justiça ou o procurador da República suspeitos de manter interesse m
Improcedência do pedido; o juiz não declarará de ofício a suspeição do .
w
.«&■
membro do Ministério Público, porque a suspeição precisa ser objetada, T ~
pelo interessado por meio de exceção (o juiz só pode reconhecer de ofício,
o impedimento, não a suspeição); o próprio suspeito estará no pólo ativo ',<i;
Como fazer? Nesse caso, quando caiba, a exceção de suspeição do membro
do Ministério Público poderá ser argüida por um dos íitisconsortes ativos
ou assistentes litisconsorciais.23 ,
if*
Cabe ao Poder Judiciário reconhecer ou afastar as alegações de sus
peição ou impedimento dos membros do Ministério Público quando formu
ladas em processos judiciais, porque se trata de matéria processual;2 con"
tudo, não lhe cabe determinar qual órgão do Ministério Público oficiara eflL
substituição ao membro suspeito ou impedido, pois isso é matéria afctíl
organização interna do Ministério Público.
(
(
í
c.
('
c.
CAPÍTULO 30
CRIME C O N T R A A
A D M INISTR AÇÃ O P Ú B LIC A 1
-•itas-.v.-v,..
9 Cf. art. 18, parágrafo único, do CP. Cf. R H C n. 11.367-PE, 5a T. STJ, j. 02-04-02,
^ >«-1 Min. Edson Vádigal, DJU, 29-04-02, p. 259.
10. Nessa linha, o § 3° do art. 8° da LC n. 75193 assegura que “a falta injustificada e
j/s^daniento indevido do cumprimento das requisições do Ministério Público implicarão a
•■vnsabilida.de de quem lhe der causá".
11. V. Cap. 25.
CRIME CO NTRA A AD M INISTRAÇÃO PÚBLICA— 467
466— CAPÍTULO 30
cado em conformidade com o disposto no art. 49 do Código Penal; entré- ção para propor a ação civil pública, o fato será atípico; c) a existência de
tanto, como a Lei n. 7.347/85 lhe é posterior, não pode prevalecer o sistema justa causa para a requisição é elemento normativo implícito, pois que, p.
instituído pela primeira. Na matéria ora em exame, prevalece a lex specialis, ex., se quem requisitou não tinha atribuições para tanto, inexiste infração
que é a LACP. 12 T penal.
Por sua vez, a lei que dispõe sobre a proteção de pessoas portadoras
2. Crítica aos institutos de deficiência erige a crime punível com reclusão e multa “recusar, retardar
ou omitir dados técnicos indispensáveis à propositura da ação civil objeto
As figuras penais que vimos comentando ficaram aquém da idéia desta Lei, quando requisitados pelo Ministério Público”. 17 Mutatis mutan-
que as inspirou, pois que, por sua tipicidade, não constituirá o crime do art. dis, aplicam-se a este tipo penal as considerações que acima expendemos
10 da Lei n. 7.347/85 ou do art. 8 o, VÍ, da Lei n. 7-853/89, a recusa, o retar- . sobre a infração do art. 10 da LACP.
damento ou a omissão de fornecimento de dados técnicos que, por mais •V Q u an d o não se trate de hipótese prevista como crime quer na LACP
importantes que sejam, não cheguem a configurar-se indispensáveis para a ' Iqúer na Lei a..7-853/89, nos demais casos (requisições que não versem ma
propositura da ação civil pública pelo Ministério Público. téria-de interesses transindividuais ou àtinentes a interesses de pessoas
. E o que é indispensável? O absolutamente necessário, não apenas portadoras de deficiência), o desatendimento à requisição ministerial pode
útil. Se, mesmo com a falta da informação, a ação civil pública puder ser rá configurar, conforme o caso, prevaricação (se funcionário público o au
adequadamente proposta, não se poderá afirmar a indispensabilidade do ; tor do desatendimento) ou desobediência (se o desatendimento à requisi
dado sonegado. Nesse'caso, e argumentando em tese, a sonegação de da-.; ção tiver partidò dê um particular) . 18 A jurisprudência tem entendido que o
dos apenas úteis à atuação do Ministério Público poderá configurar crime ; desatendimento por parte de um funcionário público nao poderá configu
de prevaricação ou de desobediência, como veremos adiante. rar crime de desobediência, pois a objetividade jurídica desta norma desti
Quando cabia processar o autor do crime do art. 10 da LACP, devera . na-se a reprimir os crimes praticados p o r particular contra a Administração
a denúncia especificar quais foram os dados técnicos recusados, retardados emgeral.1?
ou omitidos e expor por que seriam eles indispensáveis à propositura ài Se a ação cometida visar a impedir ou embaraçar a ação de repre
ação civil pública.13 sentante do Ministério Público no exercício de função prevista no ECA,
E se, em virtude da recusa, retardamento ou omissão da informa poderá configurar-se o crime previsto no art. 236 deste estatuto.20
ção, a ação civil pública puder ser proposta, e até o seja, mas de forma in
completa ou imperfeita? Em edições anteriores, tínhamos concluído faltar >-
tipicidade à infração, mas posteriormente reconsideramos nosso entendi ^
mento.14 Se, em razão da falta dos dados requisitados, f o i possível ajuizara ,
ação, mas apenas de maneira imprópria, incompleta ou imperfeita,' iss0isí
significa que a informação faltante era indispensável; assim, terá ocorrido o
crime. 15
Não haverá, porém, tal crime: a) se a ação for apenas culposa, b) se •'
os dados omitidos, ainda que úteis, não forem indispensáveis à propositu^ 131?
da ação; c) se houver Justa causa para o desatendimento. E isso porque <*
a) o crime do art. 10 da LACP é figura dolosa; não se pune a título de çulpJ >
em sentido estrito;16 b) como faz parte do elemento do tipo a indispensau ^
~*£
lidade da informação requisitada, em caso de ser desnecessária a iniorf11
16. CP, art. 18, parágrafo único. . 20. O crime do art. 236 do ECA é punido com detenção.
CAPÍTULO 31
LIMINARES E RECURSOS
fr
•yQFí
t 1 9. Nesse sentido, aplicam-se, também, à tutela antecipada, as regras da execução
PmvisQna (je qUe cu[Cia D jy-L 4/5-0 do CPC, introduzido pela Lei n. 11.232/05 (CPC, art, 273,
>cotn a redação que lhe deu a Lei n, 10.444/02).
/ 10. CPC, arts. 273, § 3o, e 475-0, 1, este último introduzido pela Lei n,11.232/05-
11. CDC, art. 84, § 3o.
iKt 12 c p q arts. 273, § 3o, e 461, §§ 5o e 6o, todos com a redação que lhes deu a Lei n.
“í
« 444/02 -
13. CDC, art. 84, §§ 3° e 4o. Cf. arts. 273 e 461, § 3o, do CPC.
14. CPC, art. 273, § 7o, acrescentado pela Lei n. 10.444/02.
., 15. Cf. Arruda Alvim et al., Código do Consumidor comentado, cit., notas ao art. 84,
^ ' ‘fesse estatuto.
3 l, 16. CPC, art. 330.
472— CAPÍTULO 31
2. O mandado liminar
Assim estabelecidas essas distinções, passemos à análise que ma»
diretamente ora nos interessa. ,
Não apenas nos processos de natureza cautelar, mas sim em qual- ,
quer ação civ il pública ou coletiva, em tese será sempre; possível a conces
são de mandado liminar.17 Assim, graças ao sistema peculiar do processos
coletivo, não é mister ajuizamento de ação cautelar para pedir-se uma limi
nar; em qualquer ação de índole coletiva, pode o juiz conceder liminar, se
lhe for requerida. Desde que presentes os pressupostos gerais de cautela, o
juiz poderá conceder mandado liminar em ação civil pública ou coletiva,
com ou sem justificação prévia. Tanto a decisão que defira como a què ne
gue a liminar estará sujeita a agravo. 18
E quais são os pressupostos gerais de cautela? São o futnus boni iu-
ris e o periculum in mora. O primeiro pressuposto consiste na plausibüi-
dade do direito invocado como fundamento do pedido; o segundo, na difi
culdade ou até impossibilidade de reparação do dano, diante da demora ]
normal para obter a solução definitiva do processo. j
Nas ações civis públicas ou coletivas, o juiz depende de pedido do
autor tanto para conceder liminar como para adiantar a tutela; mas não
dependerá de pedido do autor para impor multa liminar que vise a asse
gurar o cumprimento de sua decisão.19 E este o sistema: d) o juiz somente j
pode expedir liminar ou adiantar a tutela de mérito a pedido da parte,
b) mas pode impor multa diária em caso de descumprimento d e liminar
ou do adiantamento de tutela,20 independentemente de pedido do au
tor .21 Em síntese, tútela antecipada ou lim ina r de ofício, não; multa *
diária de ofício para assegurar o cumprimento de decisão, sim.
Nas ações civis públicas ou coletivas, admite-se a concessão de me
dida liminar initio litis tanto nas ações principais,22 como nas cautelares
(nas ações propriamente cautelares, que são as preparatórias ou incidentes,
ou nas chamadas cautelares satisfativas) .23 -,'
35. REsp n. 420.954-SC, 6“ T. STJ, j- 22-10-02, v.u., rel. Min. Fernando Gonçalves,
U -ll-0 2 , p. 306; REsp n. 409.172-RS,5a T. STJ, j. 04-04-02, v.u., rel. Min. Felix Fischer,
29.04-02, p. 320; REsp n. 396.8.15-RS,1* T. STJ, j, 12-03-02, v.u., rel. Min. Garcia Vieira,
W 15-04-02, p. 184; REsp n. 200.686-PR,5a T., j. 28-03^02, v.u., rel Min. Gilson Dipp, P.S7J,
336 484. •
, 36. ADInMC n. 975-3-DF, STF Pleno, j. 09-12-93, m.v., rel. Min. Carlos Velloso, DJV,
, ^ ^ 06-97, p . 28.467.
37. Código de Processo Civil, cit., notas ao art. 1° da Lei n. 8.437/92.
.j.-E r 38. Isso, aliás, foi o que jã reconheceu o Plenário d o STF, em hipótese parelha, noti-
—cQada na nota de rodapé n. 36, neste Cap.
476-—CAPÍTULO 31
39- Aspectos da antecipação da tutela, Kevista Ajuris, 73:7, Porto Alegre, 199s -
40. LACP, art. 12; cf. CPC, art. 522, com a redação da Lei n. 11.187/05, nornW eSta
aplicável por força do art. 19 da LACP.
41. Cf. arts. 522, 524 e 529 do CPC, com a redação da Lei n. 9.139/95.
42. CPC, art. 188; Lei n. 1.060/50, art. 5o, § 5o, cf. Lei n. 7.871/89.
43. Lei n. 9.469/97. Nesse sentido, REsp n. 411.536-RS, 5a T. STJ, j. 06-Q8-02, ^
Min. Arnaldo da Fonseca,DJU, 02-09-02, p. 229. !
LIMINARES E RECURSOS— 477
. 44. Em contrário, v. Tlieotonio Negrão ( Código de Processo Civil cit., nota à LACP,
2rt 12, § i° ; RFÍ-JÍ, 10:43), que invoca o princípio da lex specialis. Entretanto, a própria lei
jspççial manda aplicar subsidiariamente o CPC (LACP, art. 19, e CDC, art. 90).
t 45. LACP, art. 14.
46. Nesse sentido, Nelson e Rosa Nery, Comentários ao Código de Processo Civil,
notas ao art. 527 do CPC. Cf., tb., o art. 558 do CPC.
' 41. CPC, arts. 527, III (com a redação da Lei n. 10.352/01), e 558. O juiz pode re-
sua decisão (CPC, art. 523, § 2o).
' 48. RESp n. 11.973-RJ, I a T. STJ, j. 02-03-94, m.v., rel. Min. Demócrico Reinaldo,
SV> £2:210, RF, 328:173 e lexSTJ, 61-. 130.
. is ' 49. ROMS n. 7.057-SP, 2* T. STJ, j. 18-03-97, m.v., rel. Min. Peçanha Martins, DJU,
« 6-10:97, p , 49.926; ROMS n. 7.750-SP, 2a T. STJ, i. 23-10-01, v.u., rel. Min. Laurita Vaz, DJU,
02-02, p. 318. '
50. Nesse sentido, Neison e Rosa Nery, Comentários ao Código de Processo Civil,
01 >notas ao art. 12 da LACP.
51. Nesse sentido, ROMS n. 7.980-DF, I a T. STJ, j. 08-05-97, v.u., rel. Min. Demócrito
^■naldo, DJU, ltí-06-97, p. 27.317.
. 52. Cí.JSTF, 152:124, RTJ, 114:44%, 119:469, 141:719, 153:5ò- V. Lei n. 8.038190, art.
>, '■L ainda, Nelson e Rosa Nery, Código de Processo Civil cit., nota ao art. 13 da LMS. .
478— CAPÍTULO 31
i liminares em ações civis públicas ou coletivas, não raro não obtêm pelas
: viasrecursais regulares o efeito suspensivo desejado. Assim, o que lhes resta
fcer?
; ;; Não se podem valer do mandado de segurança para conferir efeito
suspensivo a agravo por elas interposto còntra decisão concessiva de limi
nar em ação civil pública, pois que, no seu caso, o remédio processual cabí
vel é o pedido de suspensão da lim inar, formulado na forma do art. 1 2 ,
§1°, da LACP. Assim, “não cabe mandado de segurança, requerido por en
tidade de Direito Público ou ente a ela equiparado, para obter a suspensão
de liminar concedida em ação civil pública. Com efeito, o remédio adequa
do é a suspensão de liminar, a ser requerida ao presidente do tribunal a
que competir o conhecimento do respectivo recurso (Lei n. 7.347/95, art.
12, § ,1o) ” .59 A jurisprudência tem entendido que esse benefício da Fazenda
Pública se estende às suas autarquias e também às fundações públicas, que
são tidas como espécies do gênero autarquia.60
Qual o procedimento para que as pessoas jurídicas de Direito Públi
co e o Ministério Público consigam pedir a suspensão da execução da me
dida liminar?
Nas ações civis públicas ou coletivas, há regras próprias para buscar
i suspensão dos efeitos da decisão recorrida, estabelecidas especialmente
ei.nproveito da Fazenda Pública (a maioria delas estipuladas por meio do
uso abusivo de medidas provisórias pelo chefe do Poder Executivo).
Como sabemos, nas ações civis públicas ou coletivas, o juiz poderá
^conceder liminar, com ou sem justificação prévia, em decisão sujeita a agra-
^Jd 61
^ 59. RMS n. 2.852-5-PR, 2a T.- STF, rel. Min. Antônio de Pádua Ribeiro, v.u., j. 25-08-
5 ’ v-u- {RSTJ, 54-A27). N o mesmo sentido, RTJ, 124:406, RTJ, 119:474 (STF); ROMS n. 3.685-
la 1 STJ> >• l l - 04'94, v.u., rel. Min. Demócrito Reinaldo, DJU, 16-05-94, p. 11.707;y577,
:-rVil05
50, REsp n. 206.646-DF, 6a T. STJ, v.u., j. 16-12-99, rel. Min. Fernando Gonçalves,
rím 2 l‘ü2'°0. P- 203; REsp n. 231-789-RN, 6a T. STJ, v.u., j. 14-12-99, rel. Min. Vicente Leal,
tl-09-00, p. 298; REsp n. 259-505-PB, 5a T. STJ, v.u., j. 21-11-00, rel. Min, Arnaldo da
"nseca, DJU, 19-02-01, p. 207; RESp n. 310.282-PB, 5*T. STJ, v.u., j. 08-05-01, rel. Min. Felix
04-06-01, p. 241.
^ 6i. LACP, art. 12.
§ i' , 62. Lei n. 10.910104, art. 17.
480— CAPÍTULO 31
63. REsp n. 208.728-PR, 2J T. STJ, j. 03-02-04, v.u., rel. Min. Franciulli Neto, DJU, 05
04-04, p. 219.
64. Cf. LACP, art. 12, § I o-, Lei n. 4.348/64, art. 4o-, Lei.n. 8.437191, art. 4°. O STF can ,
celou sua Súm. n. 506, que dizia-, "O agravo a que se refere o art. 4° da Lei n. 4.348, de 26-u0- s
64, cabe, somente, do despacho do presidente do STF que defere a suspensão da liminar, (
mandado de segurança, não do que a denega” (Informativo STF, 295 e 299) ■
65. Lei n. 8.437192, art. 4o, §§ 2o e 3o, introduzidos pela Med. Prov, n. 2.180-35/01 j
66. Lei n. 8.437/92, art. 4o, § 3o, com a redação dada pela Mêd. Prov. n. 2 .l8 Q -^ ^ ;
LACP, art. 12, § I o, in fine. Inicialmente, o STJ sumulara o entendimento de que não çaP
agravo contra o indeferimento de pedido de suspensão de liminar (Súm. n. 217); PostT ° [t
mente, cancelou sua súmula (Aglíg na SS n. 1.204-AM, j. 23-10-03, pela CEsp), adniitip“° ,
agravo regimental (AgRg na SL n. 21-SP, CEsp STJ, v.u., j. 25-09-03, 'DJU, 20-10-03, p-
67. REsp n. 172.700-PR, 1* T. STJ, v.u., rel. Min. Demócriro Reinaldo, RSJJ, -
68. Lei n. 8.437/92, art. 4°, g 4o, acrescentado pela Med. Prov. n. 2.180-35/01-
se que o STF não suspendeu o § 4o do art. 4o da Lei n. 8.437/92, introduzido pela Med.
n. 1.984-19 e medidas posteriores (ADIn n. 2.251-DF, rel. Min. Sidney Sanches, Plenário
08-20; AgRgPet n. 2.066-9-SP, Informativo STF, 299).
' LIMINARES E RECUBSOS— Í81
„ 69. Lei n. 8.437/92, art. 4o,55o, acrescentado pela Med. Prov.n. 2.180-35/01.
. 70. Lei n. 8.437/92, art. 4o,§6o, acrescentado peía Med. Prov.n. 2.180-35/01.
71. Lei n. 8.437/92, art. 4a, § 7o, acrescentado pela Med. Prov. n. 2.180-35/01-
72. Lei n. 8.437/92, art.'4o, § 8o, acrescentado peía Med. Prov. n. 2.180-35/01-
73. Lei n, 8.437/92, art. 4o, § 9o, acrescentado pela Med. Prov. u. 2,180-35/01.
-, 74. AgligPet n. 2.227-RS, STF Pleno, v.u., j. 03-04-02, rel. Min. Marco Aurélio, DJU,
2í 0> 0 2 , p .54.
75. Cf. art. 4° da Lei n. 8.437/92, c.c. o art. I o da Lei n. 9.494/97.
tis is 76. Nesse sentido, AgRgRec) n. 858-PE, Corte Especial S77, v.u., j. 29-11-00, rel. Min.
wiando Gonçalves, DJU, 12-02-01, p. 90; informativo STJ, ISS).
482— CAPÍTULO 31
ação civil pública, objeto de agravo de instrumento ainda não julgado pelo ■
respectivo tribunal local;77 - .í í
13a) A suspensão da liminar, salvo determinação em contrário da
decisão que a deferir, vigorará até o trânsito em julgado da decisão definiti
va de concessão da segurança ou, havendo recurso, até a sua manutenção
pelo Supremo Tribunal Federal, desde que o objeto da liminar deferida
coincida, total ou parcialmente, com o da impetração.78
77. AgRgMC n. 1.623-SP, 3a T. STJ, j. 16-03-99, v.u., rel. Min. Menezes Direito, Dp, -
03-05-99, p- 140.
78. Ésta regra decorre da Súm. n. 626 do STF, que se refere, expressamente, a sUS"
pensão de liminar em mandado de segurança; entretanto, para a suspensão de liminar e® ^
ação civil pública, a sistemática é a mesma. ...
79. Em sentido contrário, v. Hely Lopes Meírelles, M andado de segurança,- aÇ00 ^
popular e ação civil pública^ cit., p. 50; RT, 567:93 e 611:220. Em conformidade com otcXt°>
apontando a natureza interlocutória da decisão que denega a liminar, v. Nelson e Rosa
Código de Fracasso Civil cit., nota ao art. 523 do CPC; Galeno Lacerda, Comentários ao Co
go de Processo Civil, v. VIII, l ° ed., p. 355, Forense; KF, 305-342. \
fi dc'
80. A regra decorre, analogicamente, da Súm. n. 622 do STF. A propósito, v. n o »
rodapé n. 56, neste mesmo Cap.
81. LACP, art 14.
82. CPC, art. 527, III, com a redação da Lei n. 10.352101.
83. Redação dada pela Lei n. 10.352101.
84. Nesse sentido, Nelson e Rosa Nerv, Código de processo Civil c o m e n ta d o , c 1
notas ao art. 527.
LIMINARES E RECURSOS— 483
5. A reconsideração da liminar
Em ação civil pública ou coletiva, ainda que o juiz tenha negado a
concessão da lim ina r, poderá -reexaminar a qualquer momento sua deci
são, enquanto não proferir a prestação jurisdicional definitiva. Da mesma
forma, antes de dar a sentença, poderá o juiz a qualquer tempo revogar a
liminar que concedeu, desde que se convença de terem cessado ou de não
terem ocorrido os motivos que levaram à sua concessão.
, A doutrina e a jurisprudência admitem que a liminar possa ser revo
gada pelo próprio órgão que a concedeu, seja em matéria de processos
cautelares,®6 seja em sede de mandado de segurança,87 cujo sistema de
concessão de liminares se aplica ao das ações civis públicas e coletivas.
Interposto agravo contra a concessão ou denegação da liminar, po
derá o juiz reformar sua decisão.88 Com mais razão, se julgar improcedente
0 pedido, deverá tornar sem efeito a liminar concedida,89 embora nada
obste a que condicione a revogação da liminar ao trânsito em julgado da
sentença, para evitar danos irreparáveis.
v " Em hipótese de procedência, porém, o mais lógico é que o juiz
mantenha a liminar acaso expedida em ação civil pública ou coletiva. Afinal,
sc em juízo de cognição incompleta da lide o juiz concedeu a liminar, deve
rá, com maior razão, mantê-ía quando da prestação jurisdicional definitiva,
que venha a acolher o pedido.
Mantida a liminar quando da prolação da sentença, a lei admite que,
1requerimento do Ministério Público ou de pessoa jurídica de Direito Pú
blico interessada, o presidente do tribunal ao qual couber o conhecimento
. do.recurso, possa deferir a suspensão da execução da sentença enquanto
,Pendente o apelo (o que corresponde hoje à fase de cumprimento da sen-
te?ça, nos termos da Lei n. 11.232/05).90
85. Nesse sentido, cf. RJTfSP, 71:240; ROMS n. 342-0-SP, I a T. STJ, j. 09-12-92, v.u.,
Icl Mm. Gomes de Barros, DJU, l°-03-93, p. 2487; RSTJ, 26:204 e 22:169.
86. CPC, art. 807.
^ 87. RT, 55*5:104, RTJ, X27:9; Recí. n. 760-PE, decisão monocrática do Min. Celso de
eiI°. do STF, de 03-07-98. DJU, 10-08-98, p. 129.
88. Cf. arts. 523, § 2°, e 529 do CPC, com a redação dada pela Lei n. 9.139/95.
89. É a mesma solução do mandado de segurança (Súm. n. 405 do STF).
90. Lei n. 8.437192, art. 4°, § I o; CPC, art. 558, parágrafo único.
484— CAPÍTULO 31
108. AgRg n. 311.505-SP, 1“ T.STJ, v.u., j. l°-04-03, rel. Min. Francisco lalcao,
16-06-03, p. 262.
M
109. Q O em MC na Pet n. 1.863-RS, I a T. STF, v.u., j. 07-12-99, rel. Min. Morei'-1
ves, DJU, 14-04-00, p. 32. Nesse sentido, v. Súm. ns. 634 e 635 do STF.
110. Redação dada pela Lei n. 10.352/01.
111. Cf. Lei n. 9-469197.
112. CPC, art. 585, Vtl, com a redação a Lei n. 11.382106. i.
115. CPC, art. 475-H, com a redação da Lei n. 10.252101.
113. CPC, art. 475, § 2°, com a redação dada pela Lei n, 10.352101. -
116. CPC, art. 527, II, com a redação da Lei n. 10.252101.
114. CPC, art. 475, § 3o, com a redação dada pela Lei n. 10.352101.^
CAPITULO 32
MULTAS
1. As multas còminatórias
Nas ações civis públicas ou coletivas, tanto em decisão liminar (in i
tio litis), como em tutela antecipada ou até mesmo na sentença, o juiz pode
impor multa diária, de caráter cominatório, independentemente de reque-
nmento do autor.1
' Embora todas as multas còminatórias constituam poderoso instru
mento de influenciação na vontade da parte, cada qual delas tem seus pres
supostos e finalidades:
a) A^nulta imposta liminarmente (no início da lide) será devida
desdt: o descumprimento da ordem liminar; entretanto, só será exigível
di pois que transite em julgado a sentença favorável ao autor.2 Isso significa
a .exigibilidade da multa liminar não dependerá de ter o juiz dado, ou
nao, efeito suspensivo a eventual agravo interposto contra sua concessão
(UCR, art. 14), e sim, mais precisamente, dependerá apenas do trânsito em
JVllfcado da eventual sentença de procedência;
' ■ b) A multa imposta em decorrência da concessão de tutela anteci
pada é exigível a partir do momento fixado pelo juiz;3 ■
c) A multa imposta na sentença é devida em razão do atraso no
^rnprimeriio do preceito contido na sentença. Destina-se especificamente
_ , 1. LACP, arts. 11 e 12, § 2o; CPC, arts. 273, 5 3o, e 461, §§ 5o e 6o, todos com a reda-
Çue lhes deu a Lei n. 10.444/02.
2. LACP, art. 12, caput, e § 2o; CDC, art. 84, §§ 3o e 4o.
‘ ■-V; r.- ■ _
3. Isso ocorre para assegurar a exeqüibilidade da própria antecipação da tutela.
490— CAPÍTULO. 32
MULTAS— 491
É exigfvel em caso de^xecu ção^ d " da obriSaÇão im posta n o decisum relevante o fundamento da demanda e justificado o receio de ineficácia do
q u a n d o deva in c id irí ° Í T eSP ecifica- a data a p a S provimento final.11
real exigibilidade d ep en d erá d o eÍeim ^ H rf gra d° art 14 da LACP SUa i A concessão de tutela liminar depende de pedido do autor,12 mas o
Este tipo de multa tam bém é con h ecido c o ^ a s f r r t n t e f ***# > ■ " juiz pode impor até mesmo de ofício uma multa diária, para garantir o
cumprimento da tutela antecipada. 13 .
caráter c o n s e n s u a l “ T ' mÍSS° de ^'ustamento de conduta tem
estabelecem com o f Z L é o Z ^ s S ^na T ^ PÜblÍCOS 4. Multa imposta na sentença
para o caso de estes desc:urnnr rem a lntercsscs transindmdu.w
ta as exigências legais. 6 O m om enS a “ ! ? r° misso de ajustar sua condi,.' ■. Em ação civil pública ou coletiva que vise ao cumprimento de obri
- proP, o ajuste, que ‘ * * gação de fazer ou não fazer, o juiz pode impor multa diária de caráter co
. tninatório, não só em decisão liminar (in itio litis), como também na sen
tença. Visando ao cumprimento ou à execução específica de obrigação de
postas com b a s e " n o S a ^ 0 í r e & e n ? mukas COminatónas, im
■fazer, tem o juiz ampla margem de liberdade, seja para influenciar a von-
duais indivisíveis, integrará o fundo de rennr^ i ainteresses transindivi
tadé do devedor (meios de coação), seja para substituí-la (meios de sub-
dos.7 Naturalmente, se os interesses aue « r ? Ç interesses difusos lesa-
a mui,a deverá acrescer às ü m . S . T S ' . 5” ^ <i'v,s„e„ rogação).14 “Para lograr a execução específica” — di-lo Calmon de Passos
indenizações individuais.8 — “socorre-se o direito de meios que exercem influência sobre a vontade
2. do obrigado, constrangendo-o a submeter-se ao pactuado — são os chama
M u lt a lim in a r dos meios de coação. Ao lado deles, outros, mediante os quais os órgãos
lurisdicionais tendem, por sua conta, a conseguir para o credor o bem a
Z S * ? ™ de im,kas Üminares de ,qüe tem direito, independentemente da participação e, portanto, da vonta
ciente meio de pressão psicolóeica carater cominatório constitui eli
de do obrigado — os denominados meios de sub-rogação”.15
de obter de imediato a cessação de cveni,fa,C*P e ci al mc-11Le com o fito:
so posteriormente sejam exigíveis essas mnlra ' - C nociva’ Poís>embora, í Embora hoje a lei contemple mais meios de coação para cumpri-
dia do descumprimento da orderrí judicial p ,a Sa° comPutadas desde o ■mento de decisões judiciais,16 na verdade a satisfação do decisum, nas obri
demão, desde o descumprimento h a multa limi” ‘u a) f - gações de fazer depende antes de um ato de vontade do devedor. Segundo
julgado da sentença. ’ exigtvel so depois do trânsito cm® Liebman, “as obrigações de fazer ou não fazer são, pois, em maior ou me
nor, extensão, inexeqüíveis. Daí o esforço para encontrar meios para induzir
Cap. 31.Sobre a coucessão de Umi„ „ e s era ação civU pübüca ou cotova, „ \ 'í o devedor a cumpri-las voluntariamente, sob a ameaça de pesadas sanções.
' E o que faz a jurisprudência francesa com o sistema das astreintes. Chama
-se. asireinte a condenação pecuniária proferida em razão de tanto por dia
3.
Multa imposta em tutela antecipada = atraso (ou por qualquer unidade de tempo, conforme as circunstâncias),
destinada à^obter do devedor o cumprimento de obrigação de fazer pela
^ atneaça de uma pena suscetível de aumentar indefinidamente. Caracteriza-
efeitos £ " S T a r S q S e íta e S ^ d o a ü t o r ^ g l a ^ ‘ Se á asireinte, pelo exagero da quantia em que se fez a condenação, que não
uiur. usta tutela sera cabivc l se
Çprresponde ao prejuízo real causado ao credor pelo inadimplemento, mas
• '
%
depende da existência de tal prejuízo. É antes uma pena imposta com cará- V
ter cominatório para o caso em que o obrigado não cumpra a obrigação no
prazo fixado pelo juiz”.17 1
Destarte, as multas impostas na sentença tornaram-se conhecidas
em doutrina e .jurisprudência como astreintes. Astreinte é palavra francesa j
que significa penalidade especial infligida ao devedor de uma obrigação,
com o propósito de incitado ao seu cumprimento espontâneo, e cujo mon
tante se eleva proporcional ou progressivamente em razão do atraso no :
cumprimento da obrigação. .
No Direito francês, a expressão astreinte pode ser entendida de
dois modos: a ) em sentido estrito, o art. 33 da Lei n. 91*650, de 09-07-91
(que reformou o processo civil de execução na França), dispõe que todo
juiz pode, mesmo de ofício, impor uma astreinte para assegurar o cumpri- ■
mento de sua décisão; b) em sentido lato, consiste na obrigação imposta ao '
devedor de pagar uma soma determinada por dia de atraso (nesse sentido, /
também compreende as garantias de cumprimento de obrigações de fazer,
inclusive contratuais).
Entre nós, poderá o juiz impor na sentença o cumprimento da
prestação ou da atividade devida ou a cessação da atividade nociva, sob
pena de execução específica ou de multa diária, se suficiente ou compatí
vel, independentemente de pedido do autor.18 Para a efetivação da tutela
específica ou a obtenção do resultado prático equivalente, poderá ainda o
juiz, de ofício ou a requerimento do interessado, determinar as medidas
necessárias, entre as quais a imposição de multa por tempo de atraso, o
desfazimento de obras e o impedimento de atividade nociva, se necessário. ,
com requisição de força policial.19 Se o juiz entender que a multa se tor-M.
nou insuficiente ou excessiva, poderá, até mesmo de ofício, m o d ificar seu,
valor ou sua periodicidade.20
O sistema processual civil considera dever da parte c u m p r i r ;tom
exatidão os provimentos mandamentais e não criar embaraços à efètiy3$?„$
de provimentos judiciais de natureza antecipatória ou final. A violação a
essa regra constitui ato atentatório à dignidade da Justiça, sujeítando-se;,9. <
responsável á sofrer imposição de multa, a ser contada a partir do trânsito
em julgado da decisão finaj da causa.21
Nos termos dos arts. 11 da LACP e 84, § 4o, do CDC, para a s s e g u n i ç . ;
o cumprimento de obrigação de fazer, a sentença pode impor multa diária
ainda que sem pedido do autor — o que constitui derrogação ao princípio •
dispositivo ou da demanda. Por força da integração entre LACP e CDC, M>s
regras não valem apenas para a defesa do consumidor, mas sim para a defc . .
22. LACP, art. 21, introduzido pela Lei n. 8.078/90, e art. 90 do CDC.
Í3. REsp n. 784.188-RS, Xa T. STJ, j. 25-10-05, v.u., rel. Min. Teorí Zavascki, DJU, 14-
l l0 5,p 230.
"■ 24. Execução por terceiro: cf. art. 634 do CPC, com a redação da Lei n, 11.382/06;
, Peo5as e danos: cf. arts. 633, in fine, 638, e 643, parágrafo único, d o CPC; art. 84, § I o, do
Ç0c
CAPITULO 33
FU ND O PARA
RECONSTITUIR O BEM LESADO
*'f
1
^1- A reparação de interesses difusos lesados
.. ■ .
*43?' Uma das mais peculiares características da tutela coletiva de interes
s e s transindividuais consiste, justamente, na dificuldade de dar destino
_£*jdequido ao produto de eventual condenação. •
jÜpP Tratando-se de ação civil pública ou coletiva que verse interesses
'"jndrvi cíveis (como os difusos ou coletivos), como repartir o produto da
mdemzaçãí) entre pessoas indetermináveis ou que compartilhem lesões
, indivisíveis? Assim, por exemplo, como indenizar os moradores variáveis de
*uma região pelos danos ambientais lá havidos? Como indenizar milhares ou
1 milhões de consumidores lesados por uma propaganda enganosa, divulga
' da na televisão? .
Mesmo no caso de ações civis públicas ou coletivas que versem á de-
-■p/e®a de interesses divisíveis (como os individuais homogêneos), como apu-
,*• tar o produto de uma condenação, ainda que divisível, e efetivamente re
.. parti-!o entre milhares ou milhões de lesados que sequer compareceram ao
' _Processo coletivo nem nele estão devidamente representados?
Esse problema da destinação do produto da condenação foi, por
^Uito tempo, um dos três maiores obstáculos ao surgimento do processo
colttivo (os outros foram a questão da substituição dos lesados no pólo
5 lvo e a questão da coisa julgada com imutabilidade erga omnes')..
No campo dos interesses transindividuais, há bens lesados que são
1
t ^recuperáveis, impossíveis de serem reconstituídos: uma obra de arte to-
^ fcilnii nte destruída; uma maravilha da natureza, como Sete Quedas ou
rt! ■ ■ ■
496— CAPÍTULO 33
, ' 5. Execução judicial em matéria ambiental, p. 309-10, Revista dos Tribunais, 1998.
aa propósito dessa diferença de concepção, v. Ada Pellegrini Grinover, Código brasileiro
. efesa do consumidor, 7a ed., cit., notas aos arts. 91 e s., especialmente p. 793-
498— CAPÍTULO 33
3- Os fundos semelhantes
O Fundo de Defesa de Direitos Difusos distingue-se de outros fun
dos semelhantes: a) os valores arrecadados em pagamento de multas por:f.
infração ambiental serão revertidos ao Fundo Nacional do Meio Ambiente,7
Fundo Naval,8 fundos estaduais ou municipais de meio ambiente, ou corre-
latos, conforme dispuser o órgão arrecadador;9 b) os valores das multas
impostas com base no ECA, excetuadas as decorrentes de sanção criminal; ;
que têm destino próprio,10 reverterão para fundos dos direitos da criança e
do adolescente (haverá um fundo gerido pelo Conselho dos Direitos da; í
Criança e do Adolescente do respectivo município).11 .
7. As finalidades do fundo
O objetivo inicial do fundo criado na LACP consistia em gerir recur
sos para reconstituição dos bens lesados.20
Graiíiativamente, por força de alterações legislativas, sua destinado
veio sendo ampliada-, pode hoje ser usado para recuperação de be ns, pro
moção de eventos educativos e científicos, edição de material informativ_o,
relacionado com a lesão, bem como modernização administrativa dos ór
gãos públicos responsáveis pela execução da política relacionada com 3 r.
defesa do interesse envolvido.21
A destinação do produto arrecadado na ação civil pública ou cole-,,
tiva dependerá da origem da condenação que o gerou e da natuie?a
interesse transindividual lesado:
a) Na lesão a interesses indivisíveis (interesses difusos ou coletivos
aqui considerados em seu sentido estrito), o produto arrecadado irá pafJ0
fundo de que cuida o art. 1 3 da LACPj e seu destino será d e c i d i d o . p P 0 ,
18. É o que dispõe, em matéria análoga, o art. 1°, § 2°, II, da Lei n. 9.008/9
rindo-se às multas impostas com base na Lei n. 7 . 8 5 3 / 8 9 . A propósito das multas,
Cap. 32, n. 1, retro.
19- Lei n. 9.008195, art. I o, § 2o.
20. LACP, art. 13.
21. Lei n. 9.008/95, art. 1°, § 3o.
FUNDO PARA RECONSTITUIR O BEM LESADO— 501
vigente, tanto a lei federal que dispõe sobre o fundo nacional para repara
ção de interesses difusos, como a lei estadual paulista- que dispõe sobre ó
fundo estadual respectivo — ambas não prevêem a possibilidade de usar os
recursos do fundo em perícias, vistorias ou despesas processuais para con
dução das ações civis públicas ou coletivas.
No Direito vigente, pois, não se pode usar o produto do fundo, em
contrariedade com sua destinação legal, como para custear perícias.28
28. A legi.slação vigente ainda não admíie tenha essa destinação o fondo. A
pósito, v., tb., o Cap. 37, n. 1. ---j;
29- A propósito da preferência das indenizações individuais, v. Cap. 34, n. 9
30. Sobre as peculiaridades da prescrição em matéria de interesses transin
v. Caps. 9, n. 9, e 39, a. 4.
F U N D O PARA RECONSTITUIR O BEM LESADO— 503
■ ocorrer que o juiz conceda uma medida liminar, uma medida cautelar ou
■ até uma antecipação de tutela, e, em qualquer dessas hipóteses, imponha
multá pelo eventual descumprimento da cominação. Nesse caso, ainda que
; aação verse interesses coletivos em sentido estrito (e, por definição, indivi
síveis), o produto da multa destina-se a acrescer as indenizações individuais,
podendo ser repartido-entre os integrantes do grupo determinável de lesa-
; dos. Isso porque nessa ação estarão efetivamente presentes dois tipos de
; interesses de grupos: os coletivos, indivisíveis, e os individuais homogê-
neos, divisíveis. Tomemos um exemplo: a nulidade de uma cláusula em
■ contrato de adesão é um benefício que não pode ser repartido ou quantifi-
■■:eado entre os integrantes do grupo lesado (esse é o interesse coletivo, obje-
to do pedido formulado na ação civil pública), mas a multa cominatória
; imposta ao causador do dano, por conta de não ter cumprido a deliberação
| judicial, essa, sim, é perfeitamente divisível (insere-se na categoria dos inte
resses individuais homogêneos); nesse caso, da mesma forma, a eventual
' condenação por danos morais é perfeitamente divisível (interesses indivi
duais homogêneos);
- d) Na ação civil pública ou coletiva que verse a tutela de interesses
mdivtduáis homogêneos, seu objeto não consistirá em receber o cúmulo
daí indenizações individuais variáveis e diferenciadas, e sim uma indeniza
çãoglobal pelo dano causado, naquilo que tenha de uniforme para todos os
lesados (no caso da soma de interesses individuais homogêneos, que são
divisíveis).32
Suponhamos uma sentença que tenha condenado o produtor ou o
çoniçrciante porque tenham colocado no mercado milhares de latas de
altaiento, cada qual com alguns gramas a menos do que o indicado na em-
Wagem. Admitamos ter havido ação coletiva, cumprimento da sentença e
^wlhimento do produto da condenação em conta, do fundo. Como inde-
P^ar p e s s o a s impossíveis de serem identificadas uma a uma? Nesse caso,
^ebuão sua^cota, em proporção, somente aqueles que se apresentarem e
’ c°niprovarem terem sofrido danos a interesses individuais homogêneos.
" Decorrido o prazo de um ano sem habilitação de lesados,53 ao me-
Bos em quantidade suficiente para absorver toda a indenização a eles desti-
nacto, pode ocorrer que haja um saldo residual. Nesse caso, e somente nes-
. S(;caso, as indenizações provenientes de lesão a interesses individuais ho-
" j^ogêneos serão recolhidas ao fundo de reparação de interesses difusos
^ados.34 Assim, em matéria de danos a interesses individuais homogêneos,
Hasc de cumprimento da sentença poderá ser coletiva,35 mas, decorrido
t U t!1ano sem que se habilitem interessados em número compatível com a
Beldade do dano, os codegitimados para a ação coletiva poderão promo-
* 32. V. Cap. 8.
f o 33. CDC, art. 100, caput, e parágrafo único.
- ‘ 34. N o mesmo sentido, Ada Peilegrini Grinover, Código brasileiro de defesa do con-
i „ cit., notas ao art. 100.
35. CDC, art. 98. V. tb. Cap. 34, n. 2. .
504— CAPÍTULO 33
FUND O PARA RECONSTITUIR O BEM LESADO— 505
fondo.3^mPrÍment0 ^ SÊntCnÇa’ revcrtendo ° Pr°duto da indenização a0 ficarão depositadas em conta remunerada, à disposição do juízo, até que o
investidor, convocado mediante edital, habilite-se ao recebimento da parce
laque lhe couber. § 2o Decairá do direito à habilitação o investidor que não
qexercer no prazo de dois anos, contado da data da publicação do edital a
que alude o parágrafo anterior, devendo a quantia correspondente ser reco
*?
vera ser recolhida ao r sdo art. 13 da LACP.37
fundo ^ ae‘ lhida ao Fundo a que se refere o art. 13 da Lei n. 7-347, de 24 de julho de
Como sé conta esse prazo de dois anos para os investidores n „ ,, 1985”-39
/is Essas regras, previstas no art. 2o da Lei n. 7.913/89, aplicam-se ana-
viduaíshomogér^os?^30 * * k * * l“ em matéria de W- logicamente, no que couber, às demais hipóteses de interesses individuais
art- oc ? COIltin^a regra que disciplinava em parte a matéria- era «mi liomogêneos, integrando-se às demais regras que disciplinam a matéria.40
Essa aplicação se faz apenas no que couber, pois, como a LACP e o CDC não
S C « Z ? P° ré" ' f° ‘ Veada « “ O” « n & t a impuseram decadência para os lesados que não se habilitem, não há razão
para impor, nesse passo, a caducidade de que cuida a Lei n. 7.913/89-
Ocorrendo, pois, lesões individuais homogêneas (divisíveis), se al
zo <a remissão correta deveria ter sido ao art. 94). :
is gum lesado se habilitar a tempo no quando da fase de cumprimento da
sentença coletiva, e demonstrar ter direito a uma parte do produto da con
continuícoVÍeí^dlvem 6^ 0 deK[remissf ° s ° Princípio vetado estava e ainda denação, a ele deverá ser destinada a parcela do valor da condenação que
condenatória ohserroHíic ICiar e s Para c°nhecimento da sentença I lhe deva caber em proporção.
a, observadas as cautelas previstas no art. 94 dô CDC. ' ■'
O que ocorrerá com os lesados que perderem o prazo para se habi
se conta ^.ues^ p 3ue nos propusemos acima, o prazo litar na fase do cumprimento da sentença coletiva?
tarem-se oara a feí PubIlcaÇao düs editais convocando os credores a habili
tarem se para a fase do cumprimento da sentença.38 Para os investidores no mercado de valores mobiliários, o prazo de
■dois anos para habilitação na fase de cumprimento da sentença coletiva é,
por interef^s \'nHit’vT &de£ ue as ‘raPortâncias decorrentes de condenação: •expressamente, de decadência; decadência do direito de se habilitar no
lesados imlivirh^ J homogeneos devem reverter em proveito (los
,processo coletivo.41
deverão feai^denrvTr1!? pr° porÇão de seus prejuízos. Essas importâncias Aí ‘
irão o L rX Cm “ T 5 rerauneradas, à disposição do juízo (só fí£ • No caso dos demais lesados em questões que digam respeito a inte-
de habilitação J™ i &S “ ldenizaçot:s individuais e decorrido o prazo /esses individuais homogêneos, a lei não estabeleceu prazo decadencial.42
lesados se h a b iíS -5 ° S’ * h° UVer saIdo>- Convocados por edital, os Assim , os lesados que não se habilitarem a tempo só por ação direta indivi-
se habilitado ! ™ recebimenl() da P ^ que lhes caiba. Não -jjyal poderão discutir seus prejuízos.43
do de que cuida o ^ . ° l3 d a E Ê ? .’ * COrresPonder* e ^ Para ° fil1 Contra quem esses lesados individuais ajuizarão ações diretas? De
. '■uao mover a ação contra o causador do dano, se objetivarem indenização
blica de r e s S n S i í S Í Í 0, a n' 7'913/89 ~ 9ue cuida da ação civil pú- j por lesões individuais diferenciadas (até porqüe este tipo de lesão não é
mobiliários — asím í ? P>°r ,n° S aos investidores no mercado de valores 3 °bjéto das ações civis públicas ou coletivas). Mas, quanto à fração que lhes
ção na acão A , estlPuIoU: As importâncias decorrentes da condena- na indenização por interesses individuais homogêneos, não poderão
proporcão de seii nrr--f ^verterão aos investidores lesados, itf . Posteriormente formular pedido algum contra o causador do dano, que já
P prejuízo. § 1 As importâncias a que se refere este artigo °t executado e pagou tudo o que devia na ação coletiva; assim, poderão
íJUizar ação contra a pessoa jurídica a que pertença o ente gestor do fundo,
J i q u a l recebeu um dinheiro que era do indivíduo. Com base no princípio
38. E solução analógica à do art. 2o SS I o e 2o da lei n 7 nta/cn c „„cirSo«cüfcrs 40. Cf. arts. 95, 97, 99 e 100 do CDC, e art. 13 da LACP.
41. Cf. arr. 2o, § 2o, da Lei n. 7.913/89, com a redação da Lei n. 9.00819.5.
, s^ * ™ « n d o que o prazo se conta a partir do trânsito em ju ra d o d, cofid? 42. CDC, art. 100. N o mesmo sentido, Arruda Alvim et al., Código do Consumidor
Drimeim f* r v , n l et a l > c6cligo do Consumidor comentado, cit p 4 4 9 M a i s c o r r e t o 0 Atentado, cit., notas ao art. 100.
co„„ c » * *« « — “ P - » « ' h . b n , , „ . m> » » P“ " ' t ■ 43.. Tratando-se, p. ex., de indenização por fato do produto ou do serviço, o prazo
--í6?1qüinqüenal (CDC, arts. 27 e 100, parágrafo único). ■
506—C APÍTU LO 33
LIQ U ID A Ç Ã O ,
CUM PR IM ENTO D A SENTENÇA
E EXECUÇÃO
A liquidação da sentença
-,'i . Se a sentença proferida em ação civil pública ou coletiva não deter-
o valor devido, é preciso proceder à sua liquidação1
>{'r A LACP nada dispõe sobre a liquidação da sentença, enquanto o
® C íó o faz no tocante à defesa de interesses individuais homogêneos.2
Uevem, pois, ser aplicadas à liquidação da sentença, nas ações civis públicas
ou coletivas, as regras do CDC, e, supletivamente, as do CPC. Isto significa
*ll,e a liquidação no processo coletivo passa agora a obedecer às alterações
^ id a s ao CPC pela Lei n. 11.232/05 e legislação subseqüente. Com efeito,
a[Hes da reforma processual de que cuida essa lei, a liquidação consistia
numa ação incidental; agora, passa a ser simplesmente um procedimento
'ncidental subseqüente ao processo de conhecimento. Assim, do requeri
mento de liquidação de sentença, não mais será citada a parte; esta seiá
apenas intimada na pessoa de seu advogado.3
Vejamos as principais regras.para a liquidação no processo coletivo:
a) em caso de procedência do pedido, a condenação será genérica
devendo fixar a responsabilidade do réu pelos danos■causados (a lei assim
dispõe de forma expressa no tocante à defesa de interesses individuais ho
mogêneos; essa mesma regra é de aplicação analógica para a proteção de
interesses difusos e coletivos);4
b) quando a determinação do valor da condenação depender ape
nas de;.cálculo aritmético, o credor requererá o cumprimento da sentença,
na forma do art. 475-j do CPC, instruindo o pedido com memória discrimi
nada e atualizada do cálculo;5
c) caberá liquidação por arbitramento quando isso tenha sido de
terminado pela sentença ou convencionado pelas partes, ou ainda, quando
o exigir a natureza do objeto da liquidação (como em caso dé danos mo
rais);6
d) a liquidação será por artigos quando, para determinar o valor d»
condenação, houver necessidade de alegar e provar fato novo.7 Na liquida-'
ção por artigos, tanto a extensão como as conseqüências do dano serão .,
apuradas, o que significa, pois, perquirir a existência do dano, sua extensão,
o nexo de causalidade e o quantum colimado.8
Com a procedência da ação civil pública ou coletiva, o título judicial
obtido favorecerá todo o grupo, classe ou categoria de indivíduos lesados
Assim, tendo em vista a legitimidade concorrente e disjuntiva para a
tutela coletiva, se for o caso, qualquer co-legítimado pode e o Ministério
Público deve promover a liquidação coletiva da sentença, perante o meinio
juízo do processo de conhecimento, observadas as seguintes peculiari
dades:
a) Em se tratando de condenação por danos a interesses in
duais homogêneos, também a vítima e seus sucessores podem promover a
liquidação da sentença na parte que lhes toque-, apenas se não o fizerem, e ‘
que os co-legitimados à ação civil pública ou coletiva poderão fazê-lo cm
benefício de todo o grupo;9 1
' . a ) Generalidades
Antes da Lei n. 11.232/05 (que alterou o processo de execução no
•iJttUana proqgssual civil), normalmente a prestação jurisdicional não se es
gotava no processo de conhecimento (então essencialmente declaratório) ;
muitas vezes era necessário fazer com que a sentença condenatória fosse
efciivamente cumprida no inundo fático, o que então era feito por meio de
'mia nova ação — o processo de execução (essencialmente satisfativo),
*lUe era o mesmo para os títulos executivos judiciais e os títulos executivos
cxtrijudiciais.
Já naquela época, porém, a separação entre processo de conheci
mento e de execução não era, porém, absoluta, pois cada vez mais convi
dam na fase de conhecimento providências satisfativas, como a antecipação
ua tutela e a adoção de providências aptas a garantir o resultado prático da
10. A respeito dos limites entre as ações civis públicas e as ações populares, v. Caps.
'í e i õ . n. 1.
11'. CPC, art. 475-E, introduzido pela Lei n. 11.232105.
12. CPC, art. 475-H, introduzido pela Lei n. 11.232105.
13. CPC, art. 475-A, § 2o, introduzido pela Lei n, 11.232105.
510—-CAPÍTULO 34 LIQUID AÇÃO , CUM PRIM ENTO DA SENTENÇA E EXECUÇÃO— 511
atividade jurisdicional; da mesma forma, no processo de execução também ; No tocante ao cumprimento da sentença proferida em processo co
havia cogniçao. Alem disso, em matéria de tutela de interesses transindi. letivo, as regras são análogas à da liquidação:
viduais, nem toda sentença condenatória exigia um processo de execucãn a) Em matéria de interesses individuais homogêneos e até de inte
Nas açoês sincréticas, à medida que o juiz ia conhecendo, também ia execu resses coletivos em sentido estrito, o lesado ou seus sucessores poderão
tando suas decisões, de maneira que nelas não havia um subseqüente oro- promover o cumprimento na parte-que lhes diga respeito;20 se não o fize
cesso de execução (v.g., tutela antecipada, tutela mandamental) 15 Em co rem, qualquer co-legitimado ativo pode e o Ministério Público deve promo
mentano que se aplicava não só à tutela coletiva do consumidor, mas a vê-lo em benefício do grupo lesado. Quanto ao Ministério Público, sua legi
todos os interesses transindividuais, já tinha anotado Luiz Guilherme timidade para tanto existirá quer nos casos em que tenha sido autor do
Marmoni que ‘no Título III do CDC foi instituída regra (art. 84) que possui processo de conhecimento, quer naqueles em que tenjtia sido mero inter-
praticamente a mesma redação da insculpida no art. 4 6 l do CPC, permitin veniente (em ação coletiva proposta por associação civil ou qualquer outro
do que o juiz imponha um fazer ou um não-fazer mediante ordem sob pena co-legitimado que não tenha promovido o cumprimento do julgado oppor-
de multa ou por meio de medidas executivas — as chamadas medidas ne- iuno temporé) ;
cessarias — , em decisão interlocutória (tutela antecipatória) ou na sentença ^
(tutela final), sem a necessidade de ação de execução”.16 • . : b) No tocante aOs interesses difusos, a sentença de procedência cria
rá um título executivo em favor de todos os co-legitimados ativos para o
^ Ora, essa sistemática mudou a partir da Lei n. 11.232/05. Em decof- ' processo coletivo, pois beneficiará de forma indivisível os titulares do inte
rencia desta alteração legislativa, passou a ser bem distinto o tratamento resse material, transindividualmente considerados. Na defesa coletiva de
processual dado aos títulos executivos judiciais e aos extrajudiciais. Os grupos, classes ou categorias de pessoas, é natural que qual,quer co-legiti
primeiros, obtidos ao final do processo de conhecimento, ,passaram a não mado à ação coletiva de conhecimento possa, conseqüentemente, promo
mais necessitar de um processo autônomo de execução, uma vez que o vera liquidação ou mesmo o cumprimento da sentença contra o devedor. O
cumprimento da sentença se tornou mera fase do processo de con h ecim en C'dadão, porém, só poderá promover o cumprimento da sentença proferida
to. Apenas os segundos — os títulos extrajudiciais — supõem aeora um emação civil pública que verse a defesa de interesses difusos, se o objeto da
processo autônomo de execução. , condenação disser respeito à proteção a um interesse que, como cidadão,
ele também poderia defender (p.ex., o meio ambiente, o patrimônio públi-
b ) R e g ra s p a r a e fe tu a r o c u m p rim e n to d a sen ten ça coitc),
c) A execução contra a Fazenda, por quantia certa, será feita por
Em face da Lei n. 11.232/05, para o cumprimento da sentença, asis
rouQ da expedição de precatório,21 após o trânsito em julgado.22 Benefi-
tematica atual passa, portanto, a ser de uma destas três formas.-
t
A r i ciam-sc desta mesma regra as empresas públicas e fundações que não exer-
I a) Tratando-se de obrigação de fazer ou não fazer, o juiz concederá y\ £im atividade econômica e prestem serviço público da competência do
a tutela específica da obrigação ou determinará providências que assegurem1"*.; Estado e seja por ele mantido.23 Não serão devidos honorários advocatícios
o resultado prático equivalente ao adimpíemento.17 Para execução e*ipecifi- pela razendajViblíca nas execuções não embargadas.24 Nas demais execu-
ca de obrigação de fazer ou não fazer, existem os meios de coação ou *>ub- . -vs-' A'.
rogaçao que já estudamos em outra passagem desta obra;18 ’%x
2a) Na ação que tenha por objeto a entrega de coisa, o juiz, ao con-', 20. REsp n. 651.037-PR, 3a T. STJ, j. 05-08-04, v.u., rel. Min. Nancy Andrighi, Infor-
ceder a tutela específica, fixará o prazo para o cumprimento da obrigação,1*' : "xtwo STJ, 216.
3a) Cuidando-se de obrigação por quantia certa, o cumprimento da ’ 1 21. CR, art. 100-, CPC, arts. 730-731.
sentença será feito na forma dos arts. 475-1 e s. do CPC, introduzidos 22. A exigência do trânsito em julgado decorre da EC n, 30100, que deu nova reda-
Lei n. 11.232/05. . § l u do art. 100 da CR. Nesse sentido, v. REsp n. 464.332.SP, 2a T. STJ, j. 14-09-04, v.u.,
* ; fe .Min. F.liana Calmou, DJU, 06-12-04 p. 250.
23. RE n. 220.906-DF, STF Pleno, 16-11-00, m.v., rel. Min. Maurício Corrêa, DJU,
H-02, p 15.
14. Nesse sentido, v. Carios Alberto de Suites, Execução judicial, cit., p. 239-24° ^ 2<j, Lei n. 9-494197, art. 1°-D, acrescentado pela Med. Prov. n. 2.180-35101. N o jul-
15. Joet Dias Figueira Júnior, Comentários â novíssima reforma do Código & í>f0' ~ v&inento do RE n. 420.816-PR, em 29-09-04, por maioria, o Plenário do STF declarou inciden-
Civil: Lei 10.444, de 0 7 de maio de 2002, Forense, 2002. .... *ívP.ente a constitucionalidade da medida provisória, com interpretação de modo a reduzir-
16. Técnica processual e tutela dos direitos, p. 102, Revista dos Tribunais, 2004 • e a aplicação à hipótese de execução por quantia certa contra a Fazenda Pública (CPC, art.
)■ excluídos os casos de pagamentos de obrigações definidas em lei como de pequeno
17. CPC, arts. 475-1 e 461. .
i-...' ?ri previstos no § 3o do art, 100 da CR (Informativo STF, 363)- N o sentido da não
18. Cap. 32, n. 4. V., tb., arts. 14, V, e parágrafo único, e 461 do CPC. - habilidade desse dispositivo às ações civis públicas, v. AgRgREsp n. 658.155-SC, 5a T. STJ,
19- CPC, arts. 475-1 e 461-A. ^15-Oy 05, v.u., rel. Min. Laurita Vaz, DJU, 10-10-05-
•U
512— CAPÍTULO 34
ções contra a Fazenda, que não por quantia certa, as regras sao as do siste- ^
ma comum;25 -
d) Quanto às empresas públicas, sociedades de economia mi
suas subsidiárias que explorem atividade econômica de produção ou co
mercialização de bens ou de prestação de serviços, estarão sujeitas ao sis
tema comum, pois se submetem ao regime jurídico próprio das empresas
privadas, inclusive quanto aos direitos e obrigações civis, comerciais, traba
lhistas e tributários.26 .
Na fase do cumprimento da sentença, não cabe utilizar o instituto .•
do chamamento ao processo, pois este constitui ação de conhecimento e o
credor já tem o título executivo. Se o executado pagar a dívida, sub-rogar-
se-á nos direitos do credor e, então, poderá agir contra os demais co-
devedoresl27 '
Se a associação civil autora não promover o cumprimento da sen-'
tença em sessenta dias após o trânsito em julgado, deverá fazê-lo o Ministé
rio Público, facultada igual iniciativa aos demais legitimados.28 Essa regra
diz respeito, naturalmente, a interesses difusos e coletivos, e não a interes
ses individuais homogêneos, pois, quanto a estes, a execução será indm-:
dual, salvo se os lesados não sehabilitarem no prazolegal.29
A possibilidade dé que qualquer co-legitimadoativo requeira o 1
cumprimento da sentença proferida em processo coletivo decorre da cir
cunstância! de que, neste tipo do processo, a sentença cria um título execu-‘
tivo que favorece todo o grupo lesado. Desta forma, não é só o autor da
ação de cOnhecimento que pode fazêdo: admite-se que o título formado
pela sentéííça condenatória seja liquidado ou cobrado por qualquer substi- J
tuto processual do grupo lesado. >
Não foi feliz a lei ao disciplinar o abandono da execução apenas pe- -
la associação, O abandono também pode ocorrer de fato em outras hipóte
ses, como por parte de sociedade de economia mista ou fundação. A regra,
porém, deverá ser sempre a mesma: se houver abandono ou a desistência
por qualquer legitimado, qualquer outro deles poderá assumir a exectiça0
no processo coletivo; só o.Ministério Público deverá fazê-lo, como demons-
traremos adiante, ainda neste Capítulo. A razão pela qual qualquer c0‘
legitimado pode executar, como já o vimos, consiste em que, nas ações civis
públicas ou coletivas, a sentença não cria um título excutivO apenas para c)
autor, que é mero substituto processual, e sim cria título em favor de tod° 0
25. CPC, arts. 644 e 461. Nesse sentido, cf. Nelson e Rosa Nery, Código de Pràces50
Civil comentado, cit., notas ao art. 730.
26. CR, art. 173, § I o, II. • .
27. Nelson e Rosa Nery, Código de Processo Civil cit.,nota ao art. 77 do CPÇ- A P^" "
pósito da legitimação passiva, v. o Cap. 18; sobre o chamamento ao processo dos deveo
solidários, v. Cap. 18, n. 4. ‘
28. LACP, art. L5; Ijcí n. 10.741103, art. 87.
29. CDC, art. 100, c.c. o art. 98.
LIQUIDAÇÃO, CUM PRIM ENTO D A SENTENÇAE EXECUÇÃO— 513
c ) A execução provisória
Cabe execução provisória no processo coletivo, obedecidas as re-
■Bras gerais do CPC. Considerá-se definitiva a execução da sentença transi-
i tada em julgado e provisória quando se tratar de sentença impugnada me
diante recurso ao qual não foi atribuído efeito suspensivo.34
' Deve-se atentar para o seguinte-, a ) o adiantamento da tutela é exe
cução provisória, que corre por iniciativa, conta e responsabilidade do exe-
Çucnte, que se obriga, se a sentença for reformada, a reparar os danos que a
PArte contrária haja sofrido;35 b) não cabe execução provisória contra a
fyzenda Públfca, sendo necessário o trânsito em julgado.36
Quanto à antecipação de tutela contra a Fazenda, v. Cap. 11, n. 4.
30. CPC, art. 475-L, I e IV. N o sistema anterior, essas matérias eram conhecidas co~
objeções de pré-executividade. Para uma crítica à expressão pré-executividade, v. Nelson
Clyjimior, Princípios do processo civil, cit., p. 144.
31. CPC, art. 475-L, II e VI. N o sistema anterior, essas matérias eram referidas como
de pré-executividade.
F 32. CPC,. art. 475-L, III e V.
33. A propósito destas ações, v. Sérgio' Shimura, Título executivo, p. 69 e s., cit.
34. CPC, art. 475-1, § 1°, introduzido pela Lei n. 11.232/05.
35. CPC, arts. 273, § 3a, e 475-0, I, este último dispositivo introduzido pela Lei n.
11232/05.
^ 36. CR, art. 100, § I o, com a redação que Lhe deu a EC n. 30/00; Pet. n.2.390-SP,
>decisão de 29-06-01 da Min. Elien Gracie, 0 /(J } 16-08-01, p. 115-
514— CAPÍTULO 54
^ , 0 5 02-07, p. 200.
516— CAPÍTULO 34
47. CDC, arts. 97 e 100, aplicáveis a qualquer ação civil pública (LACl1, art. 21) <■
48. A propósito do foro para as ações individuais, v., tb., Cap. 15, n. 12.
49. CDC, art. 98, § 2o, 1. ■
50. Nesse sentido, AC n. 2000.70.01.0050I3-0-PR, 2a T. TRF da 4a Reg., ]■ 22
v.u., rel. Des. Alcides Vettorazzi, RT, 755:432. j
51. Nesse entendimento, cf. Ada Pellegrini Grinover, Código brasileiro de defeS^
consumidor, cit., notas aos arts. 97 e 98, p. 818-9; Nelson e Rosa Nery, Código Civttan0 ^ j
cit., notas aos art. 97 do "CDC. , jj j
LIQ UIDAÇÃO, CUMPRIMENTO D A SENTENÇA E EXECUÇÃO— 517
, Poderia hoje ser objetado que', nos termos da reforma trazida pela
Lei n. 11.232/05, o cumprimento da sentença .deve ser efetuado perante o
foro de conhecimento (CPC, art. 475-P). Entretanto, essa é a regra geral,
que não prevalece ante o sistema especial do processo coletivo, que permi
te dissociar a fase de conhecimento da de liquidação ou execução, quando
isso concorra para melhor defesa dos indivíduos lesados.
|V
52. CDC, arts. 91 e 95.
Hf 53. CDC, art. 97.
54 P ° r aplicação analógica ao art. 101,1, do CDC.
55. CDC, art. 98, § 2°.
518— CAPÍTULO i- í
56. Cf. Arruda Alvim et ai., Código d o Consumidor comentado, cit., notas ao art. 97;
, Fctlcgrini Grinover, Código brasileiro de defesa do consumidor, cit-, notas ao art. 97-
_íí 57. Ainda que se trate de interesses individuais homogêneos, e, por definição, iguais
j^ra ° grupo lesado, mesmo assim há necessidade de identificar o quantum debeatur. Desta
•rina. p. ex., há lesados que compraram um único produto com defeito, enquanto outros
mPi'aniin vários deles da mesma série defeituosa.
58' Ae RS 2000.04.01.009609-7-HS, TRF da 4a Reg., rel. Des. Teori Albino Zavascki,
' 1^-05-00, p. 166; AC n. 2000.70.01.005013-0-PR, 2a T. TRF da 4a Reg., j. 22-02-01, v.u.,
Des Alcides Vettoraílíi, RT, 796A32.
59. A propósito, v. Cap. 15, n. 12.
520— CAPÍTULO 34
) ■
" 62. RMS n. 23.566-D1-, I a T. STF, v.u.f j. 19-02-02, rel. Min. Moreira Alves, j. 19-02-02,
AM , 12-04-02, p. 67 e Informativo STF, 258-, MS n. Ó.318-DF, 3a Seç. STJ, j. 25-08-99, v.u., rel.
<n Fernando Gonçalves, DJU, 13-09-99, p- 40 (julgamento originário); MS n. 6.318-DF, 3a
v.u j, 13-11-02, rel. Min. Fernando Gonçalves, DJU, 02-12-02, p. 218 (julgamento
■
uma das condições da ação, ou se o caso não envolver interesse social rele-
vante, que justifique a atuação ministerial.72
Se o Ministério Público quiser insurgir-se contra o título, deve bus :
car descònstituí-lo. Assim, caso se trate de prestação jurisdicional transitada
em julgado, que proponha, se cabível, a ação rescisória ou a própria qúere-
la nullitatisÇ3 se faltou citação no processo de conhecimento, ou se a sen
tença foi proferida ultra petita, cabe ação de nulidade e não rescisória.7^ is
Excepcionalmente se admite até o mandado de segurança para combater
sentença nula ou inexistente, ainda que transitada em julgado.75
Não sendo um dos casos acima exemplificados, e não se tratando
também de hipótese que não comporte a atuação ministerial, o Ministério
Público não terá como deixar de promover a liquidação oua execução que
versem, interesses transindividuais. 4
É, pois, o Minislério Público verdadeiramente obrigado a assumir a
promoção da. liquidação ou da execução na ação civil pública ou coletiva
objeto de abandono por qualquer co-legitimado ativo, salvo: a) se faltar um
pressuposto processual; b) se faltar uma das condições da ação; c) se, era
matéria de defesa de interesses individuais homogêneos ou coletivos, o
caso concreto não envolver suficiente expressão ou relevância social, à gui
sa do que dispõe a Súm. n. 7 do CSMP-SP. Mas, por razões óbvias, essa deci- •
são de recüsa de agir há de ser tomada com extrema parcimônia e cautela, is
para não deixar interesses transindividuais, não raro de expressão social—
sem efetive) acesso à jurisdição.
Da/mesma forma, o Ministério Público não pode desistir da liqui
dação nem da execução, nem abandoná-las, quando seja ele próprio o
promovente. Por que isso, se nós já admitimos, em tese, a p o s s ib ilid a d e de
desistência da ação civil pelo Ministério Público?76 É que a desistência da -
liquidação ou da execução seria uma afronta ao título judicial, mediánte o
qual já se identificou o reconhecimento d o direito. Naturalmente, se houver
qualquer fato que impeça juridicamente a liquidação ou execução, somente
então não as deverá promover. ‘J
4. Lei n. 4.717/65; art. 18, LACP, art. 16; Lei n. 7-853/89, art. 4°; CDC, art. 103.
5. LACP, art. 16, com a redação da Lei n. 9-494/97.
6. N o mesmo sentido, v. diversos autores, cir. na nota de rodapé n. 52, na p. 265. O
- STJ, porém, já entenderam que a eficácia erga onities da' sentença proferida em ação
publica circunscreve-se aos limites da jurisdição do tribunal competente para julgar o
ordinário (ADIn n. 1.576-DF, STF Pleno, rn.v., j. 16-04-97, s.d.p.; REsp n. 293-407-SP,
1 r <’I'J, m.v., j. 22-10-02, rel. Min. Rosado de Aguiar, DJU , 07-04-03, p. 290).
7. LACP, art. 2o. K Cap. 15, onde a questão da suposta competência territoria l do
JUtte tratada em maior profundidade-
528— CAPÍTULO 35
S. REsp n. 651.037-PR, 3a T. STJ, j. 05-08-04, v.u., rel. Min. Nancy Andríghi, In jo rf1'
tivo STJ, 216. ,
9. CDC, art. 93, II. 7
torial do juiz prolator”, enquanto numa ação popular, com a mesma causa
de pedir e pedido, se poderia chegar a uma sentença condenatória imutável
emtodo o País...12
Enfim, não é a imutabilidade erga omnes da coisa julgada que será
nacional, regional ou local.13 A imutabilidade da coisa julgada, quando ob
tida em ação civil pública ou coletiva, sempre alcançará todo o território
nacional enquanto decisão de soberania tío Estado-, o que poderá ter maior
ou menor extensão é o dano, que, este sim, poderá ser nacional, regional
ou apenas local.
í A respeito da impossibilidade de usar a ação civil pública para con
trole concentrado de constitucionalidade ergajomries, v. Cap. 6, n. 8.
12. José dos Santos Carvalho Filho aponta o paradoxo em A nova limitação do efeito
omnes na ação civil pública, D o u trin a , 5:133-140, em http:lAvww.femperj.org.br/
S^'8°s/intdif!ai06.htm, acesso em 11-12-03.
13. Em sentido contrário, v. EREsp n. 305.150-DF, I a Seç. STJ, j. 11-05-05, v.u., rel.
n Eliana Calmon, DJU, 30-05-05, p. 201.
14. LACP, art. 21: CDC, arts. 103-104.
;; ’ ’
tfe f 15. CDC, art. 103,1, e § I o. A hipótese é idêntica à da LACP e da LAP.
530— CAPITULO 35
lõ . CDC, art. 104. A propósito do erro de remissão contido no art. 104, v. Caps
n. 4, e ltí, n. 7.
17. CDC, art. 103, II-
18. CDC/arts. 103, § 1", e 104.
19. CDC, art. 103, III.
20. CDC, art. 104.
21. CDC, art. 103, § 2a.
22. Cap. 31, n. 2.
COISA JULGADA— 531
significa, por exemplo, que numa ação civil pública ambiental movida pelo
^Ministério Público ou por uma associação, a coisa julgada que mande fechar
uma fabrica que polui um rio interestadual, beneficiará indistintamente até
mesmo pessoas que não morem na comarca do juiz que proferiu a senten
ça, já a sentença definitiva que decrete a nulidade de uma cláusula abusiva
em contrato de adesão, poderá beneficiar um grupo maior ou menor de
lesados, pois isso dependerá: a ) de quem tenha feito o pedido; b) de qual
tenha sido a extensão do acolhimento do pedido na sentença. Assim, se o
Ministério Público pediu e obteve a nulidade de uma cláusula abusiva em
relação a todos os beneficiários de planos de saúde no País, a coisa julgada
beneficiará todos os segurados que se encontrem nessa condição; mas se
;umáassociação autora, dentrò de seus fins estatutários, obteve a procedên
cia da ação coletiva em proveito apenas de seus associados^ o decisum só
beneficiará aqueles que eram seus associados no momento da propositura
da ação.23
28. CDC, art.103, Iir, c.c. o art. 81, parágrafo único, III.
29. A propósito da distinção entre os interesses transindividuais, v. Cap. 1. n-
30. CDC, art. 104. Pode, porém, haver Iitispendência ou coisa juigada entre
vil pública e ação popular (v. Cap. 14).
COISA JULGADA— 533
<■ 31. Sobre a participação do lesado na ação civil pública ou coletiva, v. Cap. 17.
32. V. Cap. 6, n. 4.
33. CDC, art. 103, 55 3o e 4o.
34. LACP, art. 16; CDC, art. 103.
534— CAPÍTULO 35
45. CDC, art. 104, primeira parte, a contrario sensu. Já anotamos, no item n. 5 deste
jCap , qUe essa assei-{jva deve ser recebida em termos, pois, além de os pedidos da ação coletiva
eda àção individual não serem exatamente os mesmos em termos de abrangência, é óbvio que
.. ^aiuizamento da ação coletiva não obsta ao ajuizamento de ação individual. Desta forma, a
_tegr^ ora questionacla só tem proveito para fins de aplicação do art. 104 do CDC, última parte,
*■ seja, para que a coisa julgada alcance só os lesados ou sucessores que tenham requerido a
^pensão de suas ações individuais. Assim, entre as ações coletivas.e individuais em andamen-
!°i leieinos no máximo conexão ou continência, não Iitispendência.
46. CDC, art. 103, III.
47. CDC, art. 103, III, a con tra rio sensu, e CR, art. 5o, XXXV.
48. CDC, art. 103, § 2", a con tra rio sensu.
\ h 49. CDC, an. 104, segunda parte,
i Y' 50. CDC, arts. 103, 01, e 104, segunda parte. . ‘
536— CAPÍTULO 35
COISA JULGADA— 537
Sem eficácia
Difusos Por falta d e provas
ações civis públfcaT oúCcoletivas‘dere^ser^afi^ido ^ < *«* « \ erga omnes
a ç ã o (s e c u n d u rn e ven tu s l i t í s ) ^ V e SCf a f e n d o seS u n d o o resultado da ' Sentença d e
im procedência
- C om eficácia
Par outro m otivo
erga omnes
Sem eficácia
Coletivos Por falta d e provas
ultra partes
Sentença d e
tar de interesses colJh,™ ™ ? seu Processo individual. Se se tra-
im procedência
C om eficácia
ta d o s a r í u X c “ e S r ^ ° l ? ' ” S * » * > limi-; Por outro m otivo
ultra partes
ação e Í ° m X b i £ l a d e T qUadrosI sinÓLÍCOS> considerando o resultado àT-s j Por falta de provas N ã o prejudica os lesados
^ JUl§ada Cm reIaeâo -o grupo atingido nr»
■Sentença de
^Improcedência Prejudica os lesados, exceto em
em juízo-. primeir° ^ a d r o considera a natureza, d o interesse co n tro vertid o ':'
matéria d e interesses individuais hom o
Por outro motivo
gêneos, observado o art. 94 d o C D C
, - 54. Em favor da, ineficácia da alteração, v, diversos autores, cit. na nota de rodapé n.
,5a. n ap 265.
* 55- Sobre os limites para o pedido declaratório‘incidenral em ação civil pública ou
’ Eletiva v. Caps. 4, n. 16, e 18, n. 1.
....
540— CAPÍTULO 35
V 56. Sobre a ação rescisória, v, CPC, art. 485. Em caso de ter sido nula a intimação da
Sentença, a faisa coisa julgada pode ser atacada por meio de mandado de segurança (ROMS n.
‘J-B-SP, r T. STJ, v.u., j. 17-02-02, rel. Min. Gomes de Barros, DJU, 10-03-03, p. 89).
ti
,J- 57. N ão se aplica o prazo de 4 anos da Med. Prov. 1.798-3199, e sim de 2 (M C rta
- ^DJn n. 1.910-1, STF Pleno, j. 22-04-04, v.u., rel. Min. Scpúlvcda Pertence, DJU, 27-02-04, p.
*9, ainda sem decisão final a ADIn).
58. CPC, art. 4 7 1 ,1.
59. CR, art. 5o, XXXVI.
60. Cf. RE n. I30.704-DF, 2a T. STF, j. 02-10-01, m.v., rel. Min. Maurício Correa, DJU,
15 02-02, p. 16; RE n. 115.024-SP, rel.'Min. Djncj Falcão; CJ n. Ó.575-SP, STF Pleno, j. 12-03-
_ 86, v.u., rel. Min. Francisco Rezek, DJU, 18-04-86, p. 49; RE n. 100.44-SP, 2a T. STF, j. 07-06-
v.u., rel. Min. Moreira Alves, RTJ, 10p-.ll.75.
61. Cf. Moacyr Amaral Santos, Comentários ao Código cie Processo Civil, v. IV, notas
a° art. 471, Forense, 197; Weliington Moreira Pimentèl, Comentários ao Código de Processo
/ Ctvil, v. 111, notas d o art. 471, Revista dos Tribunais, 1979.
542— CAPÍTULO 35
COISA JULGADA— 543
Suponl ■• "—— |-
vo de procedência, p ^ a e no1s^rm osCd il | ^ ^ iCa rece^*a íuiSarnento definiti- -fcoletivas e ações populares, e até legitima o Ministério Público, alguns entes e
a colocar----determinado
. 1 . i. filtro“ em“sua cah aeinvisente.
íin fT 'h m n íicn ^ ,,™-----
COndenar Uma empresa Ijigumas entidades para a defesa de interesses difusos e coletivos, como é o
1caso dos interesses de grupos, classes ou categorias de pessoas; assim, é evi-
" « “ O depois do cumprimento dà S „ te„ca f C -fS ” T " ' T * ™
para tornar mais rieorosa oi,er n,ro 7 Ça, a let se,a alterada, qUer : dente que a própria Lei Maior está a querer que a decisão da lide aproveite a
referido filtro. Terá havido mudança no e s m d o ^ S ^ j f C ,COÍOCaÇã° * - todo o grupo lesado, uma vez que essa extensão é a própria razão de ser das
mitir a revisão do decisum. estado de fato ou de direito, a per- ações dé índole coletiva.64 De sua parte, procurando dar eficácia ao manda
mento constitucional, a lei ordinária estendeu a imutabilidade dos efeitos da
11 . coisa julgada a todo o grupo de lesados, mas apenas in utilibus, ou seja, a
A necessidade de mitigar a coisa julgada extensão da coisa julgada somente ocorrerá quando em benefício de vítimas
ou sucessores, mas nunca em prejuízo de lesados individuais que não te-
nüam intervindo no processo coletivo. Quanto ao lesado individual, a lei
se trata, ordinária ao menos assegura a possibilidade de sua participação nas ações
a rescisão do deti- coletivas, caso ele requeira a suspensão-de seu processo individual; uma vez
I suspenso o processo individual, abre-se ao lesado a opção de habilitar-se ou
ÍS K e £ S " — “
dccadenciai, nas ações Donulare,8, nL( ^ 495)Í b) sem esse laPs° . |-nãó no™ processo coletivo, mas, habilitando-se, ele se sujeitará ao que vier a
r____________
julgadas improcedentes nm- falta df> aÇ°es civis públicas ou coletivas j serdecidido neste feito.tí5
CDC, art. 103)- c) sím n S u e r ti > P- VaS (LAP’ art- 18í art. 16; 1
| A segunda das peculiaridades da coisa julgada coletiva consiste na
criminal (CPP art 622? vt^L mitaÇa° temporal, em matéria de revisão í própria natureza dos interesses transindividuais, alguns dos quais se inse-
entendido r e li£ « &sa julgada
= 2 “* ^ . iU™P™dê„ c , 1 tem na categoria dos direitos fundamentais da humanidade, como é o caso
pessoa, como em matéria de do meio ambiente.
doutrina tem s u r g id a t e n d ê n S T p a t e r n i d a d e Também na
Justamente em razão dessas peculiaridades na defesa dos interesses
sólido endosso de”ã n < ^ õ n^ ^ D ü S ,m5 S ! « ar “ COm 0 transindividuais, já vimos que o próprio legislador atenuou o rigor da coisa
julgada, ao admitir que a imutabilidade do decisum não cobre as improce-
_ , a lei não ;dências por falta de provas. Entretanto, a nosso ver, a par dessa exceção
cmdoi, d 8^ 5 especiais P ^ d i s d p H m d aa i escisão da°U Coletivas’
coisa julgada: a lei só
legal expressa, em alguns outros casos que envolvam direitos fundamentais
e 103 do °CDQ1 n11' A coletiva por meio dos arts. 16 da LACP ;.da pessoa ou da humanidade, também nos parece imperioso que a juris
a rescisão da c o .s T iç ü g a X ^ SC é verdade Que, em regra prudência mitigue ainda mais a coisa julgada formada quer em processos
ao prazo decadcncial comum
uidividuais, quer em processos coletivos.
nos verdade não é que a coisa
cc
dem ser desconsiderad;as. coletivas tem peculiaridades que não po- > : Alguns exemplos esclarecerão melhor nossa idéia.
Suponhamos seja julgado procedente o pedido feito em ação civil
tá, naturalmente, na extensão d* C° 1Sa coIetiva> a primeira delas es- Pública ou coletiva, com efeitos erga omnes, e, ao mesmo tempo, seja jul-
partes formais do processo Tal Imutabllldade do decisum para além das ,gado improcedente o pedido formulado em ação individual, com a mesma
cionalidade da c o iL julgada fn <lu‘sesse questionar a própria ronsiitu- '■^usa de pedir. Assim, por exemplo, é possível que, na ação de índole cole
viduais, sem que os timLrr-cH^ ,. .rma em materta de interesses transiodi-, tiva, a coisa julgada tenha reconhecido um direito extensivo a todos os scr
edores públicos, enquanto, ao mesmo tempo, em ação individual, o servi-
processo. Essa objeção porém n a o n S f participem diretamente do .,
Constituição que adnnte ncír eVor, ., parec5na Pertinente, se é a própria ..dorX viu formar-se coisa julgada a negar-lhe esse mesmo direito. Em nosso
P expresso a existencia das ações civis públicas, Atendimento, mesmo esse servidor X deve ser beneficiado pela coisa jul-
pda coletiva. Não teria sentido que o Estado fosse obrigado a pagar um
['eriefício a todos os seus funcionários, menos a um único que o acionou
62. N o sentido do texto, v. REsp n 310 17 ? ut An -r ct-y . Xndividualmente, sem êxito. Além da negação ao princípio isonômico, seria
Salvio de Figueiredo, RSTf, 138:409- REsn n 1 J' Vu : '■ '3-12-01, re1 m •a existência de coisas julgadas contraditórias, uma, aliás, de maior abran-
Sãlvio de Figueiredo RSTf 154-4Cí^ -r 4 T. STJ, v.u., }. 28-06-01, rei M*0 pneia que a outra. Essa proposta, entretanto, se é mais eqüitativa, colide
v.u., j. 07-05-98, rel. Min. Menezes ***** 107'248-G° ’ 3“ T ^ ; Irontalmente com a solução do legislador (CDC, art. 104), que supõe que a
e Juliana Cordeiro de Faria ^Acoisa^uL *,) 2?ü’ Ma,heiros> 20°3; Humbcrro Theodoro Júnior
p a ra seu controle, Juris Síntese 36 01 Fm lncons*ltu cion a l e os instrumentos processuais
Coisa julgada relativa?, RevistaJurídica 3/6 7 ^ contrano’ 0 ' ^ i o A. Baptista da-SilW.-, 64. CR, arts. 5°, XXI e LXX, 8o, III, 129, III, e 232.
65. Cf. CDC, art. 94. V. tb. Caps. 16 e 17.
COISA JULGADA— 545
544— CAPÍTULO 35
. 66. Conclusão favorável ao que aqui vimos defendendo foi aprovada pelo VI Co|? .
gresso Nacional do Ministério Público, à unanimidade, quando da apresentação de nossa tcs
eíaborada com Antônio Augusto de Camargo Ferraz e-Édis Milaré, O Ministério Público e
questão am biental na Constituição, RT, 6ll-.\4,Juslitial 1J1-A-.45 e UF, 294.155, São Pau 0| . - j v 7 n ?01-2, Saraiva, 1988.
1985. Esta foi a conclusão: “Não se invocará direito adquirido para se escusar de obrigaÇ?6*
68. Comentários à Constituição o > ■ ■ n 5^4 Coimbra Ed.,
impostas p or normas de ordem pública com o escopo de proteger o meio ambiente”. : . 69- Cf. Jorge Miranda, M anual de d ireito c o ^ t u c o ^ l , t. II, P- 5 ,
■isíis
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31
CAPÍTULO 36
AS CUSTAS E OS DEMAIS
ENCARGOS D A S U C U M B Ê N C IA
T. As custas processuais
^ Afastando-se da regra do art. 33 do CPC, a LACP dispõe que, nas
.ações nela objetivadas, não haverá adiantamento de custas, emolumentos,
honorários periciais e quaisquer outras despesas, nem condenação da asso-
itwção autora, salvo comprovada má-fé, em honorários de advogado, custas
'e despesas processuais.1
Levan^Jo-se em conta o espírito que norteou a edição da LACP, a
vtens legis consiste em que não haverá adiantamento de custas e despesas
Processuais por parte do autor; o réu, porém, será obrigado a adiantar cus-
isÇk e despesas atinentes a atos de seu interesse.2 Tendo havido inversão do
°nus da prova, o réu não será obrigado a custear sua realização, mas sofrerá
°s ônus de não o fazer.3
^ Não obstante a dicção da lei, em algumas decisões, o Superior Tri-
d^rial de Justiça tem entendido que a Fazenda Pública, suas autarquias e o
1. LACP, art. 18, com a redação que lhc deu o art. 116 do CDC.
2. REsp n. 479-S30-GO, I a T. STJ, j. 03-08-04, v.u., rel. Min. Teori Zavascki, DJU , 23-
• p. 122; REsp n. 551.418-PR, I a T. STJ, j. 25-11-03, v.u., rel. Min. Francisco Falcão, DJU,
^ 22 03-04.
3-AgRgEDREsp n. 725-894-PR, 3a T. STJ, j. 13-09-05, v.u., rel. Min. Nancy Andrighí,
4 ^ . 03-10-05, p. 249; REsp n. 443.208-RJ, 3a T. STJ, j. 11-02-03, v.u., rel. Min. Nancy Andrighí,
yty, 171-.7.74.
548— CAPÍTULO 36
AS CUSTAS E OS DEMAIS ENCARGOS DA SUCUMBÊNCIA— 549
m í S ? ? Pí blÍC° e fã o sujeitos ao prévio depósito de honorários de Perito - c) Se não haverá adiantamento de custas e outras despesas proces
judicial, ainda quando ajam como autores.^
suais pelos co-legitimados ativos à ação civil pública ou coletiva, isso não
impede que estes sejam condenados a pagá-las, ao final, ém caso de su
2.
Conseqüências processuais da sucumbência cumbência,9 ressalvada a situação da associação autora ,e do Ministério Pú
blico, de que cuidaremos a seguir;
, ' Çomo vimos, em ação civil pública ou coletiva, diz a lei que não W
vera adiantamento de custas, emolumentos, honorários nericiais r n?,í d) Se a vencida for a associação civil autora, ela só arcará com os en
quer outras despesas, estendendo-se este princípio a favor de todos ns clv cargos da sucumbência em caso de comprovada má-fé;
a « r !,ma- ° S atI.YOS- Diz ílilKÍa que. nessas ações, não caberá condenação da is. ej Se o vencido for o Ministério Público, não tendo este personali
associaçao civd autora em honorários de advogado, custas e despesas nro dade jurídica, a responsabilidade pela sucumbência será do Estado-membro
cessuais, salvo comprovada má-fé.5 aespesas pro- oü da União, conforme o caso;
.Ém conseqüência, tendo a associação autora aeido de boa-fé e «tis 'f ) Quanto aos réus de ação civil pública ou coletiva, se forem venci
cumbido os onus da sucumbência acabarão serido suportados pelo Estadcv dos,-arcarão normalmente com os encargos da sucumbência;
n ? o n ? T n°A ten~° agÍd° de má‘fé- eIa c os di^ e s responsávS PeS g) A regra do art. 18 da LACP, bem intencionada mas muito teórica,
SitíSos eUIo décunloSdaTrSí ÍdarÍaínente COndt;nados em honorários advo- não resolve o problema prático de nao se poder exigir, por exemplo, que
dls e danos <5 ’ SCm ^ uízo da responsabilidade por per- peritos particulares custeiem ou financiem, de seus próprios bolsos, as pe
rícias que poderão ser necessárias...10 Naturalmente, nos casos em que o
clusões D° CXame da n° rma d° arL 18 da Í ACI>’ Podem-se extrair estas con- juiz imponha a inversão do ônus da prova, caberá ao réu antecipar as des
pesas do processo.11
pelos a u t S e ? ^ 7 r t íá {T ^ m ° de custas e outras despesas processuais í: ; Há entendimento diverso daquele a que chegamos na letra c acima.
aplica T o f í í l d n . n . y/ PubIlca> quaisquer que sejam. Essa regra nao st Pára alguns, em ação civil pública, “a regra é a isenção de honorários de
que bas^adís nn t % T movendo suas ações individuais, ainda .advogado, custas e despesas processuais, ressalvada apenas a hipótese de
que baseadas no titulo constituído no processo coletivo;7 má-fé processual da associação autora” .12 Entretanto, não nos parece que a
lei tenha disposto àssim. Em momento algum a lei disse que na ação civil
oadamenf^as ripcm urario sensu, os réus serão obrigados a custear anien-
'pública não há condenação dos autores nos encargos da sucumbência, sal
ac õ e T c S s S h lfc ? P™cessuais a que eles próprios derem causa nas vo' quanto à associação civil que tenha agido de má-fé. O que fez a lei, ape-
nornue fói S í n t ! ° U, CoIetj vat Essa diferença de tratamento explica se .•nas. foi isentar dos encargos da sucumbência a associação civil, salvo se ela
L n lin d-.ilv
msrtnc id 4S iíe “ rorm
-í,™ i S a‘”que
e^ form fí«“ i a sof ”atende
tal disposição “°i '“ T
• V ' *os* Iegiti- ' , tiyer litigado de má-fé. Assim, se a associação civil litigou de má-fé, ela sofre
os encargos da sucumbência; se não litigou de má-fé, deles está isenta;
S b id o oue S n° ^ 5° d& LACP OU no arL 82 d° CDC. É des- t‘ quanto aos co-légítímados ativos, eles sofrerão os encargos normais da su-
q u e S n ? beneficiar i 1SHCaS’ ° S réUS Cm ação cM l pública coíetlva’ diiiibência, t^n nada sendo alcançados pela regra do art. 18 da LACP.
pública mik f b r T d° estimulo que o legislador, por meio da ação civd is.'":r’; "
.."Wis Façamos, então, um sumário da questão da sucumbência nas ações
av“ pará defesa d° ■=* J cm* públicas ou coletivas:
Se na ação civil pública ou coletiva o juiz reconhecer que a associa-
civil autora litigou de má-fé, deve, portanto, condená-la em honorários
,de advogados, custas e despesas processuais.13 A contrario sensu, não ten-
to
to, *«. REsn
REsp /n. 508.478-PR,
™ d?i» Íi T ^ d-a ^
. S1J,,. atéda' v.u.,
08-10-03, ° Crel.
sp- Min.
37' nTeori
- L Em Sentído s.d.p.
Zavascki, COntrárÍO " ' ^
5. LACP, art. 18; CDC, art. 87, caput. Sobre a litigáncia de má-fé, v. art 17 do CPC. -
dos arts. 19 e 2f J Í L v ® " C1>C* ^ 18' aplÍCÍV£ÍS à matéria nOS ^ 9- Nesse sentido, REsp n. 358.828-RS, 6a T. STJ, j. 26-02-02, v.u., rel. Min. Hamilton
Carvalhjdo, DJU, 15-04-02, p. 271; REsp n. 479.830-G0, I a T. STJ, j. 03-08-04, v.u., rel. Min.
DJU 15 04 02ESn 27135Rr828‘IiS^ i' T ' STJ' '■ 26-02' 02’ v-u -’ «1 - Min. Hamilton C^alhido, Zavascki, DJU, 23-08-04, p. 122. ' '
DJU, í - 1 2 03 pP'290 P “ ■ 573'555-PR' 11 T‘ ST-f> »• «-lO -O S , v.u., rel. Min. José D ^ * >
10. V. Cap. 37, n. 1.
S. Nesse sentido 11. CDC, art. 6o, VIII. Sobre o ônus da prova, v. Cap. S, n. 7.
. . in. José Pelfc3ll,v:
DJU, 06-12-99, p. 148; A g R ^ g í l^ S .g S ^ P R .^ ^ V s T J ^ v .u '. , 19' 1‘" ’ ^ rel.
1^
j. 16-08-01, M Min. José D^lga 12. REsp n. 47.242-RS, STJ, DJU, 17-10-94, p. 27.865, e RJTJKS, J6S-.28-, REsp n.
do, DJU, 22-04-02, p. 171; REsp n. 479.830-G0 1 ' '
P. STJ, j. 03-08-04, v.u., rel. le4 462-SP, STJ, RT, 756-, 198.
Zaváscki, DJU, 23-08-04, p. 122. ’
13. É o sistema da LAP, art. 13; CR, art. 5o, LXX1I1. .
550— CAPÍTULO 36
do a associação autora agido com comprovada má-fé, não poderá ser con
denada em honorários de advogado, custas e despesas processuais, nem
mesmo em caso de improcedência da ação por ela movida.14 Naturalmente,
essa indenidade atinge apenas a associação e não eventuais litisconsortes
ativos que com ela promoveram a ação.15
Qual é a situação dos demais co-legitimados, em face dos encargos
da sucumbencia?
Os legitimados desprovidos de personalidade jurídica (como o Mi
nistério Público è órgãos estatais de defesã de interesses transindividuais,
sem personalidade jurídica própria) responsabilizam a entidade a que per
tencem; os demais legitimados, (pessoas jurídicas de direito público, autar
quias, empresas públicas, fundações e sociedades de economia mista), ar
cam com os encargos da sucumbência,16 ressalva fèita à situação especial
das associações civis, já examinada acima. De sua parte, os sindicatos e as
corporações semelhantes, analogicamente ao que dispõe a lei sobre as as
sociações civis, merecem o mesmo tratamento que estas.
Em última análise, na ação civil pública ou coletiva, o próprio ven
cido pagará as custas do processo, exceto: a) se vencida associação autora’
que não tenha agido com comprovada má-fé-, b ) se vencido órgão ou enti-
dade estatal desprovido de personalidade jurídica; nesses casos, a Fazenda
Pública é que arcará com os ônus da sucumbência.
A LACP e o CDC apenas dispensam o autor do adiantamento de
custas, emolumentos, honorários periciais e quaisquer outras despesas: co-
legitimado algum tem de provê-las antecipadamente. Ao fim do processo,
porém, o vencido pagará honorários, custas e despesas processuais; a asso
ciação autora só os pagará se tiver agido com comprovada má-fé; não o
tendo feito, o ônus será do Estado.
Em vista de alterações trazidas pelo CDC, inicialmente chegou a fi
car truncada e sem o menor sentido a redação do art. 17 da LACP. O caput
original do dispositivo, constante da LACP, dizia o seguinte: “O juiz conde
nará a associação autora a pagar ao réu os honorários advocatícios arbitras
dos na conformidade do § 4o do art: 20 da Lei n. 5.869, de 11 de janejro de
1973 — Código de Processo Civil, quando reconhecer que a pretensão e
manifestamente infundada”. Seu parágrafo único dizia: “Em caso de Iitigan.'
cia de má-fé, a associação autora e os diretores responsáveis pela propo^tu-
ra da ação serão solidariamente condenados ao décuplo das custas,
prejuízo da responsabilidade por perdas e danos".
j ; Ocorre que o caput original do art. 17 foi suprimido pelo art. 115
? do CDC, e o parágrafo único original passou a ser o caput, mas com nova
. redação, fornecida pelo mesmo art. 115: “Em caso de litigância de má-fé, a
danos.” Isso mesmo, redação truncada. Mas, em que pese essa falha legisla-
; tiva, não houve maior problema, pois os arts. IS da LACP e 87 do CDC dis
ciplinavam suficientemente a matéria, é já eram de aplicação integrada ao
sistema do processo coletivo (LACP, art. 21, e CDC, art. 90).
Mais de 17 anos após ter sido cometido esse erro na promulgação
do CDC (cf. art. 115 da Lei n. 8.078/90), o Poder Legislativo publicou a cor-
resnondente errata. O texto, já corrigido, ficou sendo este: “Em caso de
I litigância de má-fé, a associação autora e os diretores responsáveis pela
.propositura da ação serão solidariamente condenados em honorários advo-
caacios e ao décuplo das custas, sem prejuízo da responsabilidade por per-
; das e danos”.17
A associação civil só se sujeita à sanção do décuplo das custas e à
responsabilidade por perdas e danos, se agir com comprovada má-fé, na
condição de autora, seja isoladamente, seja em litisconsórcio.18 Entretanto,
se a associação civil proceder com má-fé, não na qualidade de autora, mas
tom como assistente litisconsorcial, receberá as sanções correspondentes a
stia atuação reprovável, mas agora não com fundamento no art. 87, parágra-
• fo único, do CDC, e sim com base nos arts. 16-18 do CPC. Em outras pala-
: iMas, a associação civil e os demais legitimados ativos ou passivos, podem
/ofrer sanção processual por litigância de má-fé, também na qualidade de
' ^rçus, assistentes ou intervenientes.19
Se, durante seu curso, a ação civil pública ou coletiva acabou per
dendo o objeto, em razão de providências espontaneamente tomadas pelo
' ,’ réu, terá este responsabilidade pelas custas processuais, por ter dado causa
Jl demanda.20
: 'J;1' Pode, também, ocorrer que o processo coletivo seja extinto, sem re-
polução de níérito, em razão de fato superveniente para o qual o autor não
tenha concorrido. Se, por ocasião da propositura da ação civil pública ou
: ,,Lolütiva, o pedido não era desarrazoado ou juridicamente infundado, não
justificará condenar-se o autor nos ônus da sucumbência. Nesse caso,
^ão havendo vencido nem vencedor, a jurisprudência já admitiu que cada
- Parte deve arcar com as despesas que realizou, bem como com os honorá-
í^nos advocatícios de seu patrono, se for o caso.21
sj .
V.r
",' ' *
Pf
22. REsp n. 546.270-PR, 2“ T. STJ, j. 09-03-04, v.u., rel. Min. Franciulli Neto, DP
06-04, p. 202. N o mesmo sentido, ainda do STJ, v. AgRgAgI n. 514.096-RJ, REsp n. 488.15
REsp n. 4S8.024-RJ, REsp n. 222.228-SC etc.
23- Dispositivo introduzido pela Med. Prov. ri, 2.180-35/01. Sobre sua consLituci0Paj
lidade, v. nota derodapé n. 24, na p. 511.
24. REsp n. 639-811-RS, 5a T. STJ, j, 23-06-04, v.u., rel. Min. Felix Fisher, DJU,
04, p. 289; REsp n. 465-573-PR, 2a T. STJ, J. 09-03-05, m.v., rel. Min. Etiana Calmon,
08-05, p. 124; EREsp n. 475.566-PR, 1» Seç. STJ, j. 25-08-04, v.u., rel. Min. Teori Z a v a s c k i , M.;.;
13-09-04, p. 168.
25 . RE n. 420.816-PR, STF Pleno, j. 29-09-04, m.v., rel. Min. Sepúlveda
DJU, 10-12-06, p. 50. ‘ ' -s
| AS CUSTAS E OS DEMAIS ENCARGOS DA SUCUMBÊNCIA— 553
. .1'
.5 --------- —--------------------------------------■ *— ■ ----------------- 1 ------------------- ------ — ---------- -- — -----------------
í procuradores, pois estes não propuseram a ação e assim não haveria título
' jurídico que justificasse a condenação honorária sem que tivesse havido
atividade de advocacia na promoção da ação; enfim, porque o custo social
- da atuação do Ministério Público em defesa dos interesses da coletividade
não é pago pelas custas do processo, e sim pelos impostos gerais suporta-
■ dos pela população.
^ Pode o Ministério Público ser condenado, enquanto instituição,
como litigante de má-fé? A discussão do problema já foi desenvolvida em
■outra passagem desta obra, à qual ora nos remetemos.37
' í.O'»-.
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Sr.’. ■,: .-i '
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CAPÍTULO 37
AVALIAÇÃO D O S D A N O S
1. CPC, arts. 19 e s.
2. Para exemplificar, a ação civil pública que o Ministério Público de São Paulo move
^ntra as indústrias de Cubatão (SP) para responsabilizá-las pela grave poluição ambiental, embo-
.f1 ajuizada em 1986, quinze anos depois não tinha conseguido vencer sequer a fase pericial
folha de S. Paulo, 14 out. 2001, p. C -2)...
3. LACP, art. 18.
4. A esse propósito, v. tb. Caps. 33 e 36.
5 58— CAPÍTULO 37
que lhe tenham sido carreadas pelo juiz mediante o eventual uso dó institur
to da inversão do ônus da prova.
2. O papel da perícia
Nas ações civis públicas ou coletivas, tendo sempre presente que o
escopo é a preservação ou a restauração dos bens jurídicos lesados, o valor
pecuniário da condenação em regra deverá corresponder ao custo concreto
e efetivo da conservação ou recomposição dos bens lesados.
Os danos indenizáveis não são apenas os materiais. A Constituição
admite indenização por danos morais, bem como a defesa da moralidade
administrativa;12 o CDC cuidou da efetiva prevenção e reparação de danos
morais;13 a LACP permite a propositura de ações civis públicas por danos
morais.14 Cuidando dos atos jurídicos ilícitos, o Código Civil aduz que a
responsabilidade ocorrerá ainda que o dano seja exclusivamente moral.15
Assim, por exemplo, na lesão ao patrimônio cultural, não se pode
afastar em tese o cabimento de indenização também como satisfação à cole
tividade pelo sentimento jurídico violado. Â destruição de uma paisagerii
talvez possa não gerar danos econômicos se o local não for pólo turístico;
nem por isso estaria o causador da lesão forrado do dever de repará-la ou
suportar responsabilidade indenizatória. tenteis
Mesmo quando impossível restaurar diretamente o bem ou o valor ;
atingido, será cabível condenação em pecúnia, e o produto reverterá para o
fundo de que cuida a LACP. Sua adequada aplicação permitirá a conserva
ção ou restauração de outros bens e valores compatíveis.16
Não há critérios le g a is prévios para avaliar os danos; d e v e r e m o s tén- j
tar avaliados sempre com vistas à reparação in natura, ou seja, b u scan d o ais
restitutio in integrum, se possível, ou, em caso contrário, buscando com
posição de um fundo que possa ser usado na defesa de outros bens com pa
tíveis com aquele que efetivamente foi lesado.17
O art. 942 do CC de 2002 determina a solidariedade'na respo
lidade extracontratual. Ora, não havendo definição sobre a proporção com
que cada um contribuiu para o dano, torna-se imprescindível a prova tecm
ca, que servirá também para esclarecer o nexo causai entre a ação do reu c
os danos, assim como a real extensão dos prejuízos.18
; 5- Cf. Cap. 39- N o mesmo sentido, cf. Camargo Ferraz et a i, A ação c iv il p ú b lica ,
a t , p. 75-6; Paulo Aífonso L. Machado, D ire ito am biental brasileiro, cit., p. 93-
" 6. A esse propósito, v. tb. o Cap. 18, n. 3.
* 7. CR, art. 37, § 6o. A respeito da responsabilidade do membro do Ministério Públi-
/o, u Cap. 40.
8. RE n. 160.401-SP, 2*.T. STF, j.'20-04-99, v.u., rei. Min. Carlos Velloso, DJU, 04-06-
99> P; 17; RE n. 176.564-SP, 2a T. STF, j. 14-12-88, v.u., rel. Min. Marco Aurélio, DJU, 20-08-
^9, p. 44.
9. CR, art. 37, § 6o.
‘ 10. Ainda sobre a questão da responsabilidade regressiva, agora mais especificamen-
tc n<> tocante ao membro do Ministério Público, v. Cap. 40.
564— CAPÍTULO 38
4
ir‘ ’ .. •
412.
1. Lei n. 6.938/81, art, 14, § 1°. , 8. josé de Aguiar Dias, Da r e s p o n s a b i li d a d e c i v i l , Forense, 1983, v. 2, P
2. Exclusão da responsabilidade
■t Quando a lei imponha responsabilidade objetiva para a reparação
Jos danos, como poderá o réu defender-se na ação civil pública ou coletiva?
f a ) Em matéria ambiental sustentou Hely Lopes Meirelles que, em
defesa, o réu poderia objetar a inexistência do fato, a inocorrência de auto-
;,Ç3 ou a legitimidade da conduta diante do ato administrativo que a licen
ciou, permitiu ou autorizou.22 A nosso ver, a lição comporta ressalvas: pri-
ffleno. porque o ato administrativo não é um b ill de indenidade em favor do
Poluidor e contra a comunidade, nem pode levar apenas à responsabilida
d e estatal; depois, porque em algumas atividades de risco, basta o nexo
causai.23
Eorça/maior e caso fortuito excluem a responsabilidade?
*- Na questão ambiental, tem-se dito que o caso fortuito não exonera a
Responsabilidade e sim a força maior.24 Para aceitar esse posicionamento,
Sena preciso fosse segura a distinção entre eles, mas não o é. Alguns susten-
•,d(n que o caso fortuito é imprevisível e nem sempre o é a força maior; para
(H»ros, o primeiro é acidente produzido por força ininteligente, enquanto a
ultima é fato de terceiro, embora também invencível. Para evitar essas con
trovérsias acadêmicas, a legislação civil equiparou seus efeitos.25 Para nós,
amhos são inevitáveis e justificam o descumprimento de obrigação; caso
570— CAPITULO 39
fo rtu ito é fato humano (guerra ou greve, v.g.~) e força m aiór é fato da natu ^ usiva
reza (inundação, p. ex.). is
^ S o d i t o s e serviços, vedada sua ^ ^ ^ n s i d ^ r a ç ã o dapersona-
Assim, em regra, tanto o caso fortuito como a força maior podem F O CDC também consagrou ateoria dQ consUmidor, tiver
excluir a responsabilidade, fundada ou não na culpa, até porque podem
\Uadeju ríd ica da SOa ^ « ^ quan(l _ infração da lei, fato ou ato ilícito
eliminar o nexo causai entre a ação ou omissão de quem se pretende res
E o abuso de diretto, ^uando> p0r má admmistra-
ponsabilizar e o resultado lesivo independente. Afigure-se, p. ex., um raio,
que provoque um incêndio em floresta: como responsabilizar o proprietá « S ‘ de Solvência, enc— o o. e
rio do imóvel?
Entretanto, certas atividades de risco supõem responsabilidade de
quem as explore, mesmo sob força maior ou caso fortuito. Com acerto,
Nelson Nery Júnior demonstra que, ainda que a indústria tenha tomado
todas as precauções para evitar acidentes danosos ao meio ambiente, se
mesmo assim o dano ocorre por caso fortuito ou força maior, “pelo simples
fato de existir a atividade há o dever de indenizar” .20 is j, O nexo causai
Se um raio incendeia uma floresta, não há responsabilidade indeni- S ■ Mesmo quando a d Í quem se
zatória do proprietário da fazenda, mas se faz explodir uma usina nuclear e. graé necessário que haja nexo cau. 34 Mèsmo* nas meras atividades
assim provoca danos ao meio ambiente, surgirá o dever de indenizar (teoria pretende responsabilizar e o f ^ xerCÍCio da atividade. Como ,a ano-
do risco da atividade).
c ^ a Ib é r ia obrigações ^p en
Sem prejuízo da responsabilidade das pessoas físicas, autoras, co-
autoras ou partícipes do fato, será promovida a responsabilidade das pes dentemente de dano ou nexo caus . iljdade objetiva ou não, é pre-
soas jurídicas, sempre que a infração ambiental tiver sido c o m e t i d a por % Em regra g e r a l para ou omiSSão devem, de forma
decisão de seu representante legal ou contratual, ou de seu órgão colegia- ciso que haja relaçap de ca.usa^ f ^ a4 e n te atribuídas a quem se pretende
do, no interesse ou benefício da entidade.27 Pode-se desconsiderar a pessoa direta o u in d ir e t a , ser causai e responsabilidade objetiva, torna-se
jurídica se sua personalidade for obstáculo ao ressarcimento de prejuízos S r S ^ i r n t o ^ o q u e inform ou a açao o u a
causados à qualidade do meio ambiente.28 ,
; S o O r r e le v ^ n te , pois, a discussão da culpa). ^ ^
O CC de 2002 ampliou as hipóteses de desconsideração de penso nais
lidade jurídica, sempre qué houver abuso caracterizado por desvio dé fina f ; Em valioso estudo sobre a gSSe requisito como preen-
lidade ou confusão patrimonial (art. 50);29 “relativamente ao nexo causai, P ^ J atividade do poluidor, indepen
b) Em se tratando de relações de consumo, vejamos quais os casos. chido,, basta*^ue o dano tenha advtndo da * m d ■ ^ ^ ambiente.
de exclusão de responsabilidade. - * dentemente de culpa ou nuerK:ao de causar p ,
Em virtude da responsabilidade pelo fato do produto ou do serviço, Jrescinde-se, aqui, da Iicitude a ^ d u iu a r e s p o n s a b iU d a d e civil
o fabricante, o construtor, o produtor ou importador só não serão respon te. D en tro dessa concepção, , c o n s a g r a n d o a r é s p o n s a b ilt-
sabilizados se provarem que: a) não colocaram o produto no m e rc a d o ; b) ° - •quando esteja ausente o n exo causai. E m bora cons g
defeito inexiste; c) houve culpa exclusiva do consumidor ou de te rc e iro
O fornecedor de serviços só se isenta de responsabilidade quan^0 S- :
prove que: a) tendo prestado o serviço, inexiste o defeito; b) houve culp c- ‘ 31 .C D C , art. 14, §3 °.
■I
é‘f
£ cdc ! r * ^ "■
n. 1 , e.
26. V. artigo Responsabilidade civil por dano ecológico, cit., Justitia,
. M. I 4 M Í ' ' " r a ' f f , l8 ‘ e ó f Í u i L o devedor
mesmo sentido, Paulo Àífonso Leme Machado, Ação c iv il pública, cit., p. 47. .•• ■ ■< \ 35. As Obrigações prop ier rem sao aquelas a q ^^ ^ c (; de 2002). A ptopósito,
27. Lei n. 9.605198, art. 3o. . | ‘ ‘epor ser titular do direito sobre a coisa (p- e -, • •
28. Lei n. 9-605198, art. 4o. ! „ L * Cap 7, n. 1 . ncabilidade civil por dano ecológico e a ação civil pú-
\í' 36. Nelson Nery Júnior, c
R e s p o n s a b ilid a d e i ^
29- A respeito da desconsideração da pessoa jurídica, v. Cap. 18, n. 1, e.
L blica, em Justitia , 1-20: 168.
30. CDC, art. 12, § 3°.
572— CAPÍTULO 39
. 1
37. CDC, art. 12, § 3o.
38. Neste Cap., v. tópico n. 2, bem como a nota de rodapé n. 25.
RESPONSABILIDADE E CULPA— 573
,Í b ) O^neío am biente
Em questões transindividuais que envolvam direitos fundamentais
tia coletividade, é impróprio invocar as regras de prescrição próprias do
Diit ito Privado. O direito de todos a um meio ambiente sadio não é patri-
jnonial, muito embora seja passível de valoração, para efeito indenizatório;
valor da eventual indenização hão reverte para o patrimônio dos lesados
nem, do Estado: será destinado ao fundo de que cuida o art. 13 da LACP,
Para ser utilizado na reparação direta do dano. Tratando-se de direito fun
damental, indisponível, comum a toda a humanidade, não se submete à
PUiscrição, pois uma geração não pode impor às seguintes o eterno ônus de
Aportara prática de comportamentos que podem destruir o próprio habi
tei do ser humano.
Também a atividade degradadora contínua não se sujeita a prescri Í,políticos andam bem preocupados em
ção: a permanência da causação do dano também elide a prescrição, pois o
dano da véspera é acrescido diuturnamente. :
provisória em questão; nao ha outra.
Em matéria ambiental, de ordem pública, por um lado, pode o legis
lador dar novo tratamento jurídico a efeitos que ainda não se produziram;
de outro lado, o Poder Judiciário pode coibir as violações a qualquer tem
po. A consciência jurídica indica que não existe o direito adquirido de de
gradar a natureza. 1 É imprescritível a pretensão reparatória de caráter cole
tivo, em matéria ambiental. Afinal, não se pode formar direito adquirido de
poluir, já que é o meio ambiente patrimônio não só das gerações atuais
como futuras.42 Como poderia a geração atual assegurar o seu direito.de
poluir em detrimento de gerações que ainda nem nasceram?! Não se pode
dar à reparação da natureza o regime de prescrição patrimonial do direito é ° ,rinsl,° om lulBado da s“ ‘
privado. .. M e n ç a penal condenatória. __ rmhlira.
A luta por um meio ambiente hígido é um metadireito, suposto que
antecede à própria ordem constitucional. O direito ao meio ambiente hígi
do é indisponível e imprescritível, embora seja patrimonialmente aferível
para fim de indenização.43 ’. | gunda .50 .
te*’
í 3. RE n. 22S.977-SP, 2a T. STF, j. 02-03-02, v.u., rel. Min. Néri da Silveira., DJU, 12-04-
| Inform ativo STF, 259-
j 4. Quanto à questão dos encargos da sucumbência e o Ministério Público, v. Cap.
36 ri. 2; quanto à da litigância de má-fé da instituição, v. Cap. 4, n. 18.
■___ 5. Nesse sentido, v. Hely Lopes Meirelles, D ireito adm inistrativo brasileiro , 19" ed.,
P ^2-4, Malheiros. V. tb. nosso Regime ju ríd ic o do M inistério Público, cit., Cap. 5.
6. CR, art. 85, II.
580— CAPÍTULO 40
d ) não esteja agindo para satisfazer sentimento pessoal; e) não esteja sendo
movido por razões estranhas à função.
Em virtude de gozarem de regime jurídico próprio, os membros do
Ministério Público, assim como os juizes e outros agentes políticos, não são
funcionários públicos comuns. Como agentès políticos, na esfera civil res
pondem tão-somente em caso de dolo oú fraude. Quando tenham atuado
no exercício regular das funções, não responsabilizam civilmente a si mes
mos nem à instituição a que pertencem, mas apenas ao Estado. E quando se
identifica o exercício regular das funções? Quando agem ná qualidade de
membros do Ministério Público, dentro das atribuições que a lei lhes confe
re, sem ilegalidade, desvio ou abuso de poder ou de finalidade. Eventual
responsabilidade, quando seja o caso, caberá, pois, ao Estado (União ou
Estados-membros),7 nunca ao próprio Ministério Público enquanto institui
ção, pois este não tem personalidade jurídica. Em decorrência da relação de
organicidade, eventual responsabilidade será da respectiva pessoa jurídica
de direito público interno a que esteja vinculada a instituição ministerial.8
Nesse sentido, como bem ficou apontado por Yussef Said Cahali,
“no contexto da atividade não jurisdicional dos órgãos vinculados ao Poder
Judiciário, insere-se ;t atividade do Ministério Público, cujos membros, flo
desempenho dos misteres que lhes são cometidos, podem no exercício da
função provocar danos a terceiros, determinantes de responsabilidade in-
denizatória^do Estado”.9
N o ; exercício de suas atividades, o Ministério Público sempre res->
ponsabilizáy portanto, a pessoa jurídica de direito público interno a que
pertence. A responsabilidade do Estado pelos atos dos membros do Ministé
rio Público^é objetiva e funda-se na teoria do risco administrativo-, não se
trata, porém, de risco integral, uma vez que, para eximir-se de responsabili
dade na ação que lhe seja movida, o Estado pode demonstrar a culpa ou o.
dolo do lesadof10
Devemos concluir que, em suma, a inviolabilidade do membro do
Ministério Público elide sua responsabilidade civil desde que os danos pro
vocados a.terceiros se tenham originado de manifestação coberta pela inde
pendência funcional, expedida sem dolo ou fraude, estritamente no exerci-
í 11. LONMP, arts. 26, § 2o, 41, V; LC n. 75/93, art. 8o, § 1°.
| 12. CP, art. 325, e Lei n. 8.429192, art. 11, III.
I _ 13. V. RT, 6V2:2-Í8srr, JS1F, 55:19; AgRgAgI n. 102.251-STF, DJU,20-09-85, p.
j,15997 y ^ajndaj artigo de Lafayette A. Pondé, D a responsabilidade civildo JEsrado pelos atos
do Ministério Público, RF, IS2-A7. Sobre o papel dos pareceres jurídicos em geral, v. MS n,
2í 073-DF, STF Pleno, j. 06-11-02, rel. Min. Carlos Vetloso, DJU, 31-10-03, p. 15, Inform a tivo
' 296 c 290.
582— CAPÍTULO 40
14. D ire ito adm inistrativo , 19a ed., cit., p. 67 e 72-4, Malheiros, 1994. No mésiWJ:
sentido, sustentando a responsabilidade do membro do Ministério Público por culpa, Vv;
Pedro Decomain, Comentários à Lei Orgânica N acional do M inistério Pú blico , cit., p- 220-2-
15. Cf. nosso Regime ju ríd ico do M inistério Público, 3a ed., cit., 1996. te.Y-yi;
16. Guidetínes on tbe.RoIe o f Prosecutors, adotadas pelo VIII Congresso da ONU-fi?;:-
ra prevenção do crime e tratamento dos delinqüentes (Havana, Cuba, 1990). c ..te
17. V. nosso O inquérito civil, cit., Cap. 35; Regime jurídico do Minislério Públic0!.'-.
5a ed., cit., Cap. 6, n. 14, 2001. 'is
18. CPC, arts. 85 e 133, I; v., ainda, Justitia, 123-.218, 86:159 e 8 3 :ò 5 iJ S T F ,& ^
Registre-se que a norma do art. 133 do CPC vigente proveio do art. 121 do CPC de 1939- ••
19. Parece-nos tratar-se de referência ao salto de Leucádia, penhasco grego de
na Antigüidade eram os acusados obrigados a saltar, para submissão ao suposto julgM** is:
divino. . ■ te
20. Essa passagem de Pontes de Miranda corresponde a outras, em edições rnai® r
centes das obras do mesmo autor. Comentários ao Código de Processo C ivil de 1939. v- ■ ’
251, Forense, 1958; Comentários ao Código de Processo Civil de 1973, v. II, p. 395, Fo^°...
1973. is4 4 4
.]
RESPONSABILIDADE DOS AGENTES PÚBLICOS— 583
f _i - ~ ----- - .......... - ■— .—- . _ .— _ ... _
f.
I.ta. ‘Se se provar que o juiz, ao praticar qualquer ato funcional, a sentença
|inclusive, agiu com má-fé, incorrendo em dolo ou fraude, já não seria justo
J imunizá-lo da responsabilidade civil, quando a própria lei penal o capitula
|como criminoso’ (Batista 'Martins, Comentários ao Código de Processo Ci-
],w/,v. I,n . 96, p. 3 06)"21
!.. Nessa linha, bem observou Hélio Tornaghi não ser possível expor os
j membros do Ministério Público ‘‘ao risco de ter de ressarcir os danos pro-
| venientes de erro, ainda que grosseiro, mas praticado de boa-fé, sem lhes
f tolher a ação".22 Esse também é o pensamento de Vicente Greco Filho, para
1 quem a responsabilidade pessoal do membro do Ministério Público só
ocorre quando proceda “com má-fé, consciente e com vontade de provocar
prejuízo a terceiro”, pois “é indispensável que o órgão público tenha uma
relativa imunidade para exercer corretamente suas f u n ç õ e s " . N a mesma
linha se situa o pensamento de Celso Agrícola Barbi: “se a atuação for de
corrente de culpa, a sanção será apenas de natureza disciplinar, que deve
■ser prevista na legislação especial sobre o Ministério Público da União, dos
Territórios e dos Estados” .24 Como arrematou Antônio Cláudio da Costa
.'Machado, “a se considerar a culpa como geradora dé responsabilidade,
ücariam os membros do Ministério Público psicologicamente tolhidos em
sua função ante a insegurança representada pelo não poder errar, sob pena
«de serem chamados à indenização por perdas e danos. Em outros termos, a
^çulpa é excluída para que não se comprometam a liberdade e a indepen
dência funcionais do. órgão do parquet pela intimidação nele encarnada,
; homenageando-se, assim, a magnitude do interesse que a instituição defen-
mIc no processo”.25 '
lr A razão, portanto, de não estar o membro do Ministério Público su-
'ifiío ao sistema de responsabilidade comum do agente público, nos atos da
Lauvidade-fini ministerial, consiste em que, intimidado, por exemplo, pela
possibilidade de responsabilização pessoal em caso de ser recusada justa
• ciusa para m n i acusação penal, ou para sua iniciativa na defesa de interes-
' ''Es transindividuais, ou para outra atuação equivalente, poderia ceder à
fraqueza de não cumprir o dever, deixando de exercitar a ação civil pública
até mesmo a ação penal pública. Nesses casos, sua omissão poderia não
ser suprida, com grave dano ao interesse público. Aliás, essa solução não é,
evidentemente, exclusiva para os membros do Ministério Público, e sim se
(Estende a todos os agentes políticos.
Para evitar esse risco concreto de intimidação do membro do Minis-
Júío Público, risco de todo indesejável, tem sido tendência geral nos países
21. RE n. 15.755-BA, 2n T. STF, j. 27-06-50, m.v., rel. Min. Orosimbo Nonato, DJU,
02 04-52, sem indicação de p. no site do STF na Internet.
. 22. Comentários ao Código de Processo Civil, p. 286-7, 2a ed-, Revista dos Tribu
nais
26. Segundo as Guidelines on the Role o f Prosecutors Adopted by the Eigbtb United
Nations Congress on the Prevention o f Crime and the 'Treatment o f Offenders, “States sfrai*
ensure diat prosecutors are able to perform their professional functions without mtiniidati°í>j
hindrance, Jiarassment, improper interference or unjusrified exposure to civil, penal or otlier
liability” (Havana, Cuba, 27 de agosto a 7 de setembro de 1990).
27. A propósito da distinção entre atos da atividade-fim e da atividade-meio do M*
nistério Público, v. nosso Regime ju ríd ico do M inistério Público, cit.
RESPONSABILIDADE DOS AGENTES PÚBLICOS— 585
culpa ou dolo, para lhe correr o direito ao ressarcimento dos danos sofri-
4 dos. A doutrina do risco administrativo isenta-o do ônus de tal prova, basta
J comprove o dano e que este tenha sido causado por agente da entidade
is imputada” .28
te Entende parte da doutrina que o princípio da responsabilização do
'j Estado, com ação regressiva contra o agente público, seria apenas uma fa-
;i culdade da vítima, pois a teoria do risco administrativo visa somente a bencis
.• fici-ar o lesado.29 E, de fato, sob esse aspecto, a ação contra o Estado fúndar-
I sc-á apenas na responsabilidade objetiva deste, o que efetivamente é vanta-
f joso para a vítima, que não precisará demonstrar ocorrência de culpa ou
1 dolo do agente público. Mas, se isso é verdade, também deve ser dito que,
í ao acionar o Estado, depois a vítima terá a séria desvantagem de, na execu-
j ção, depender do trânsito em julgado da condenação, bem como ter de
i enfrentar as longas e demoradas filas dos precatórios judiciais, que a Fazen-
1 ds só paga se e quando quiser, sem reações mais sérias dos tribunais...30
í Assim, se a regra do art. 37, § 6o, da Constituição, for interpretada apenas e
| tão-somente como opção destinada a beneficiar o lesado, deverá ser reco-
í. nbecida ao lesado a faculdade de acionar diretamente o agente causador do
1 dano.
Entretanto, ao cuidar da responsabilidade civil decorrente de ato de
agente público, a Constituição recusou a solidariedade e adotou a teoria do
j nsco administrativo, prevendo a ação de regresso do Estado contra o agen
te ^ssim, instituiu uma responsabilidade, a do Estado em face do lesado; e
; J assegurou um direito de regresso, o do Estado em face do agente público.
i / Destarte, ainda que, sob o aspecto pragmático o lesado pudesse preferir
acionar o agente público e não o Estado, a questão da eventual responsabi-
• lidade do agente é questão entre este e a pessoa jurídica a que pertença,
sendo alheia ao lesado. Nesse sentido, decidiu o Supremo Tribunal Federal
isque, “se qualquer preposto do Estado causa dano a outrem, o Estado deve
“ indenizar ÇCF, art. 37, § 6o). O que é preciso é que as Procuradorias dos
- órgãos públicos se compenetrem de que devem aforar a competente ação
‘ regressiva contra o agente público que agiu com dolo ou culpa (CF, art, 37,
§ 6o) ”.31 Em outro precedente, mais recente, apreciando a situação de um
magistrado em face da regra do art. 37, § 6°, da Constituição, a mesma Cor
te afirmou: “em consonância com o comando constitucional, o postulante
[da ação de responsabilidade] deveria ter ajuizado a ação em face da Fazen
da Estadual — responsável pelos eventuais danos causados pela autoridade
6. A denunciação da lide
Caberá denunciação da lide em ação de responsabilidade movida
pelo lesado contra o Estado, fundada em dano causado por ato de agente
público?
Quando a ação de caráter indenizatório estiver fundada em respon
sabilidade objetiva, não caberá denunciação da lide do agente público, pítra
não introduzir fundamento jurídico novo na ação (discussão da eventual
culpa do agente público). A discussão da responsabilidade pessoal do agen-,
te deverá ser feita em ação própria de regresso. Se coubesse tal discussão
nos próprios autos da ação reparatória movida pelo lesado, este seria pm-
judicado com a ampliação da causa de pedir, que incluiria questão para ele
alheia, qual seja, a existência ou não de responsabilidade pessoal ou sub)e' ;
tiva do agente em relação ao Estado.^ 1'
32. RE n. 228.977-SP, 2a T. STF, j. 02-03-02, v.ú., rei. Min. Néri da Silveira, DJU,
04-02, Inform ativo STF, 259; SE n. 327.904-SP, I a T. STF, j. 15-08-06, v.u., rel. Min. CilW
Britto, DJU, 08-09-06, p. 43.
33. Admitindo, porém, a denunciação da lide na própria ação indenizatóría
contra a Fazenda, v. AgRgAgI n. 167.659-PR, 2a T. STF, v.u., ). 18-06-96, DJU, l4 -ll-9 “> P
44.482. r '
RESPONSABILIDADE DOS AGENTES PÚBLICOS— 587
8. Conclusões
De quanto se expôs, podemos concluir que, em caso de abusos, er-
t^s, omissões ou fraudes, o membro do Ministério Público está sujeito à
590— C A P IT U L O 40
A DEFESA
DE OUTROS INTERESSES
DIFUSOS E COLETIVOS
CAPÍTULO 41
DEFESA DAS PESSOAS
PO RTADO RAS DE DEFIC IÊNCIA
1. O princípio da igualdade
' Embora não seja nova a preocupação com as pessoas portadoras de
deficiência, é relativamente recente a melhor conscientização sobre suas
sncccssidades especiais.1
Pode-se dizer que essa conscientização teve incremento diferencia
do a partir da atenção cjue ao problema passou a ser emprestado pela Or-
>. gamzação d^s Nações Unidas — ONU, embora, a bem da verdade, o motivo
" micial estivesse mais proximamente ligado à reabilitação de pessoas que a
..última Grande Guerra tornara deficientes ■— não só os militares como as
vítimas civis. Assim, em 1946, a Assembléia Geral dà ONU “adotou uma
resolução que estabelecia o primeiro passo para um programa de consulto
ria em diversas áreas do bem-estar social, nele incluindo a reabilitação das
1pessoas deficientes” , com a criação de um Bureau o f Social Affairs, que
- incluía a reabilitação dessas pessoas.2 Bem mais tarde, já em 1971, a Assem
b lé ia Geral da Organização das Nações Unidas aprovou a Declaração dos
Direitos das Pessoas com Retardo Mental. A seguir, em 1975, a Assembléia
1. Sobre a matéria, v., tb., nossa conferência O Ministério Público e a pessoa porta
dora de deficiência, proferida no I Seminário Internacional Pessoa Portadora de Deficiência
trabalhador Eficiente, RT, 79.7:115.
2. Otto Marques da Silva, A epopéia ignorada — a pessoa deficiente na história do
nHtndo de ontem e de hoje, p, 312, Siio Paulo, Centro São Camilo de Desenvolvimento em
.Administração da Saúde, CEDAS, 1987.
594— CAPÍTULO 41
DEFESA DAS PESSOAS PORTADORAS DE DEFICIÊNCIA— 595
Geral da ONU editou a Res. n. 30/3447, chamada de Declaração dos Direitos ( jje marginalização e, conseqüentemente, empreender a luta para assegurar
das Pessoas Deficientes. Posteriormente, pela Res. n. 3 1 /1 2 3 , proclamou í os direitos e a dignidade da pessoa portadora de deficiência.
1981 como o Ano Internacional das Pessoas Portadoras de Deficiência
(International Year f o r Disabled Persons). Foi a partir daqui que se desen Como a conceituação da deficiência tem sido tratada entre nós?
volveu, de forma efetiva, a maior conscientização a respeito do grave pro O Dec. n. 3-298/99, que regulamentou a Lei n. 7.853189, considerou
blema que, só no campo da deficiência física, se estima atinja mais de meio deficiência toda perda ou anormalidade de uma estrutura ou função psico-
bilhão de pessoas, em todo o mundo.3 .. | lógica, fisiológica ou anatômica que gere incapacidade para o desempenho
A seguir, em I o de junho de 1983, a Organização Internacional do * de atividade>dentro do padrão considerado normal para o ser humano.6
Trabalho OIT proclamou sua Convenção 159, por meio da qual estabelc- ! ■ De forma ainda mais abrangente, a Lei n. 10.098/00 considera que
ceu, como finalidade da. reabilitação profissional, que a pessoa deficiente ■i as pessoas portadoras d e deficiência compreendem quem, de forma per-
obtènha e conserve um emprego adequado e possa nele progredir, alcan manente òu até mesmo temporária, tenha limitada sua capacidade de rela
çando-se sua integração ou reintegração na sociedade. . cionar-se com o meio. e utilizá-lo.7
O conceito de pessoa portadora de deficiência é .muito abrangente e Na verdádé, constituem um contingente muito expressivo da socie- -
tem evoluído bastante com o passar do tempo. Inicialmente, afirmou-se que dade as pessoas que ostentam alguma forma de limitação, congênita ou
“o termo deficiência significa uma restrição física, mental ou sensorial, de adquirida.8 A subnutrição, o subdesenvolvimento social e econômico, os
natureza permanente ou transitória, que limita a capacidade de exercer uma acidentes ecológicos, de trânsito ou do trabalho, o uso indevido de drogas e
ou mais atividades essenciais à vida diária, causada ou agravada pelo am a falta de uma política pré-natal, sanitária ou previdenciária adequada —
biente econômico e social”.4 : .'tudo isso contribui para o surgimento de deficiências intelectuais, motoras,
Por causa dessa abrangência e imprecisão, surgiram controvérsias sensoriais, funcionais, orgânicas, comportamentais, sociais ou de personali
no seio das Nações Unidas, mas, enfim, em 13 de dezembro de 2006, aAs dade. São inúmeras as condições marginalvzantes, e, entre estas, incluem-
sembléia Geral da ONU adotou por consenso a primeira Convenção Relativa ie até mesmo sexo, raça, religião, proveniência regional ou nacional e ou-
aos Direitos das Pessoas com Deficiência, cujo objeto consiste em “promo itras condições derivadas de preconceitos (como determinadas doenças,
ver, proteger e assegurar o pleno e igual gozo de todos os direitos doho- idade, estatura, comportamentos sexuais minoritários ou até a própria apa
mem e de todas as liberdades fundamentais pelas pessoas deficientes” (£«■ rência física — cómo as pessoas feias ou as obesas). Entretanto, em nada
n. 61/106 ). O art. 2 o da Convenção dispõe: “entende-se por discriminafo qualquer dessas condições diminui a dignidade do ser humano.
futidada na deficiência toda distinção, exclusão ou restrição fundada $ í i Além das condições físicas ou mentais marginalizantes, existem,
deficiência, que tenha por objeto ou por efeito comprometer ou anulai» ' pois, as condições sociais. Apesar de negados por muitos, no Brasil há pre
reconhecimento, o gozo ou o exercício, em base de igualdade com os &■ conceitos de toda a espécie, óra de forma clara, ora dissimulada. Preconcei
mais, de todos os direitos do homem e de todas as liberdades fundamenta tos contra raças (consideradas não em seu sentido puramente científico,
nos domínios político, econômico, social, cultural, civil, entre outros’’ 5^ iJtias como jdado sócio-cultural), origem nacional ou regional, religiões, ou
importância do conceito é que inclui todas as formas de discriminação. comportamentos sexuais minoritários sobrevivem no inconsciente coletivo,
Verifica-se, pois, que especialmente a partir das últimas décadas £ 0 que é demonstrado, no mínimo, por piadas depreciativas e ditos morda
acentuou em todo o mundo a preocupação em combater todas as forfflS zes. Mas o maior de todos é o preconceito social. No Brasil, a ascensão so-
■>-L.ul geralmente faz desaparecer todos os outros motivos de discriminação:
cor da pele, religião ou antecedentes criminais, por exemplo, aí são abstraí
dos, Pessoas endinheiradas, de sucesso ou apenas bem vestidas geralmente
3. Dados da Organização Mundial da Saúde - OMS, em http:lAvww.who.iriL. O são recebidas em qualquer ambiente, enquanto pessoas miserávéis são des
so brasileiro de 2000, mudando sua metodologia e ampliando os critérios conceituais dC consideradas desde as repartições públicas até os recintos particulares.
deficiência, apontou que cerca de 24,5 milhões de pessoas (14,5% da população do País)
algum tipo de incapacidade para ver, ouvir, mover-se, ou alguma deficiência física ou
(O Estado de S. Paulo, 09 maio 2002, p. C-9). .
■ 4. Cf. resolução da Convenção Interamericana para Eliminação de todas as 6. Dec. n. 3.298199, art. 3o, I.
de Discriminação contra as Pessoas Portadoras dé deficiências, aprovada em 26-05-99, ^
7. Lei n. 10,098100, art. 2o, III. '
Guatemala, quando da Assembléia Geral da Organização dos Estados Americanos - Ofí-
(apud Maríno Pazzaglini Filho, Princípios constitucionais reguladores da a d m in is t r a ^ 1 • 8. Em dezembro de 2000, a Organização Mundial da Saúde — OMS estimou que de
pública, p. 70, Atlas, 2000). ' T& 10% da população mundial sofrem de alguma forma de deficiência. A vasta maioria delas,
.■í® torno de 80%, vive em países em desenvolvimento, e somente de 1 a 2% têm acesso aos
5. Cf. http:llwww.un.orglfrenchldisabilitieslconvemionlconvention_full-shtml, -.'Beios
ace& < necessários de reabilitação (http:lA'rww.’who.int/inf-pr-2000/enlnote2000-l6.html, aces
em 09-04-06, nossa a. tradução. ' ’
so em 05-05-07). .
596— CAPÍTULO 41
9. Cabe à União responder pela concessão e manutenção desse benefício de Pr^*£-3 isis
ção continuada (Lei n. 8.742193, art. 12, I). sis
10. Essa lei está regulamentada pelo Dec. n. 3 298, de 20-12-99. . r!
DEFESA DAS PESSOAS PORTADORAS DE DEFICIÊNCIA— 597
í ' --------------------------------
* 11. Lei n. 8.112/90, art. 5o, § 2o; LC paulista n. 683192, art. I o, com as alterações da
l paulista n. 932/02.
y
K 12. O art. 93 da JLei n. 8.213/91 foi regulamentado pelo arr. 36 do Dec. n. 3-298/99-
J 13- Lei n . 8.666/93, art- 24, XX, com a redação da Lei n . 8.883/94.
I 14. O Dec. n. 5.904/06 regulamentou a Lei n. 11.126/05.
598—-CAPÍTULO 41
18. N o Ministério Público paulista, esse estudo pioneiro sobre a defesa da pessoa
t P°itadora de deficiência foi por nós formalizado no Pt. n. 4.773/88-PGJ, de 17-02-88. V., tb.,
>i- 3/88-PGJ-SP; e nosso artigo O deficiente e o Ministério Público, publicado em O Estado
' * S Paulo "(13 mar. 1988, p. 55)\ JTACSP, 108:6 (março/abril 1988); RT, 629:64 (março
sJ988)-Justitia, 141:55 ( I o trimestre 1988).
“S-i ■■
’ 19- Essa "coprdenadoria", sob a legislação da época, corresponderia hoje a um Cen-
^tro de Apoio Operacional das Promotorias de Justiça de Proteção às Pessoas Portadoras de
Eficiência.
600— CAPÍTULO 41
DEFESA DAS PESSOAS PORTADORAS DE DEF1CIENCIA— 601
*S T c paridade para os fins do Código Civil, desde que o objeto dessa ação esteja
relacionado com dita deficiência.2-^ .
■ A ressalva final é importante, porque dá a medida da intervenção
de julho de 1985, conferiu ao Ministério Público legitimidade nara nm :ministerial. Assim, por exemplo, o Ministério Público não oficiará em qual
açao civil publica na defesa de alguns interesses difusos. Ora dentro^a quer ação proposta por pessoa portadora de deficiência ou contra ela, se
interpretaçao mais larga que temos preconizado (v. nosso' A defesa dn* nao estiver em discussão problema relacionado com essa sua especial con
interesses difusos em ju ízo, 1 » ed. Revista dos Tribunais, 19 8 8 , p 26 es f é dição.25 Tomemos alguns exemplos: em ação indenizatória promovida por
sejavel ( ) alcançar hipóteses como a de iniciativa de ações visando à pessoa que sofra de acentuada deficiência e cujo objeto seja a reparação
defesa dos d,reitos dos deficientes físicos na aplicação das leis que dTsnõem decorrente do acidente que lhe causou a limitação, deverá estar ela assistida
sobre lugares especiais em ônibus e trólebus, aquisição de veículos adanta pelo Ministério Público; com mais razão estará o Ministério Público presen-
dos, acesso ao ensino etc.” 20 vlu,uius aciapta- ;te nas ações civis públicas ou coletivas que versem a defesa de interesses
difusos, coletivos ou individuais homogêneos, relacionados com a deficiên
H ^ara,viabi,‘z:lr essas propostas de atuação funcional, sugerimos en- cia das pessoas.26 - .
a ci-iacãorde nm í r t0 a Mi™stéri° PúbIfco do ^ ta d o de São Paulo, não só is Nessa atuação, é protetivo o ofício ministerial.27
a criaçao de uma Coordenadona das Promotorias de Proteção às Pessoas
Entendeu o Tribunal de justiça paulista, de.forma acertada, que, no
S p ? 4 ° ? n a n e c o ™ ^ C? (q U C h ° í C r r e s p ° n d " ia ‘ c í n S o d e A ?SÔ
operacional), como ainda e principalmente, agora para preservar o nrinrí- caso dos deficientes físicos, a só qualidade da parte não é suficiente para
p.o do promotor natural,2! a criação de uma Pmmo^oria d e l u S esnec.í ensejar a intervenção do Ministério Público no processo em que haja inte
lizada na Proteção à Pessoa Portadora de Deficiência. Ç P resse de uma pessoa portadora de deficiência. Assim, por exemplo, uma
pessoa portadora de limitação física, que esteja cobrando uma cambial, não
n i s t é r i o feverei ro de ^SS, desencadearam, então, no Mi-
necessita, em tese, dessa intervenção; contudo, quando essa mesma pessoa
(It f^ ^ ^la Oessoa^norradri°S Í T T ? ™ paSS° S para a atuaCâo ™ ™ terial em ie ponha a litigar sobre matéria que diga respeito a sua própria condição, e,
dada rom S fm w- , defiaencia. Essa atuação veio a ser consoli-
mais ainda, que interesse a toda a categoria dos deficientes — como a eli
1988 S w f r “ que à matéría deu a C o n s titu iç ã o d e o u tu b ro de minação das barreiras arquitetônicas para seu acesso ao transporte público
sua f n t e S f f ! ’ * Const'^ Ç a° trouxe normas protetivas e garantias dc
sua integração, como na acessibilidade a edifícios e transportes.22 VT- existirá interesse público evidenciado pela qualidade da parte e pela
■.natureza da lide, a ensejar a intervenção ministerial, até porque a solução
d as n e s s o a s n o m ín ó ° ,ciisclP Jinar a p r o t e ç ã o e a in te g r a ç ã o social daquela ação normalmente não dirá respeito apenas ao interesse de um
s a m J n te í - ' d e fl? e n c ia - P e Ia p r im e ir a v e z , a le i a lu d iu expres único indivíduo, mas de toda uma coletividade. “Afinal, a proteção das for
r S n l ‘ h, Ça° ° M im s t e r io P ú b lic ° n e s s a á rea . C o n fe r iu ainda, ao cas acentuadas de hipossuficiência interessa a toda a coletividade. À socie
d e i n t S i s s e s d lf n , n ça ° T ? S c ° - |e8 i‘jin^ d o s a tiv o s , a in c u m b ê n c ia d a defesa dade convém intensamente que menores, incapazes, acidentados e defi
ra d o m s d p r ie ft e S c o le t iv o s e in d iv id u a is h o m o g ê n e o s d as p e s s o a s por- cientes físice^s sejam defendidos, mesmo porque todos nós poderemos um
p ú b l i c a 23 nCia’ sa essa a s e r e m p r e e n d id a p o r m e io d a a çã o .civil.. dia encontrar-nos nessas situações” .28
Deve ainda o Ministério Público zelar para que os Poderes Públicos
sem °J Vlln!St^no Público não atua apenas em ações que ver-, ■
e-05 serviços de relevância pública observem os direitos e princípios consti
com T n l-n i/ rL n Ums homog eneos> coletivos ou difusos relacion ad os tucionais de proteção às pessoas portadoras de deficiência, como o acesso a
pessoas portadoras de deficiência. Seu papel intervenü- Çditícios públicos e a edifícios privados destinados a uso público, ou o pre-
c õ e s a u T L €t f J ^ f qv e r a Ç a ° r m <l u e « i a p a r te u m a p e s s o a n essas condi-
ç o e s , q u e se tra te d e lim ita ç a o fís ic a o u m e n ta l, p o s t o n ã o s e v e r ifiq u e inca-
4. A acessibilidade em geral
A Lei n. 10.098/00 estabeleceu normas gerais e critérios básicos para
a promoção da acessibilidade das pessOas portadoras de deficiência ou cora
mobilidade reduzida. Para esses fins, considerou acessibilidade a possibili
dade e a condição de alcance para utilização, com segurança e autonomia,
dos espaços, mobiliários e equipamentos urbanos, das edificações, dos
transportes e dos sistemas e meios de comunicação, por pessoa portadora
de deficiência ou com mobilidade reduzida.36
Cuidou ainda a Lei n. 10.098/00 da superação de barreiras, conside
rando-as quaisquer entraves ou obstáculos que limitem ou impeçam o aces
so, a liberdade de movimento e a circulação com segurança das pessoas,
classificando-as em: d) barreiras arquitetônicas urbanísticas-, as existentes
nas vias públicas e nos espaços de uso público; b) barreiras arquitetônicas
na edificação-, as existentes no interior dos edifícios públicos e privados;
c) barreiras arquitetônicas nos transportes: as existentes nos meios de
transportes; d) barreiras nas comunicações-, qualquer entrave ou obstáculo
que dificulte ou impossibilite a expressão oú o recebimento.de mensagens
por intermédio dos meios Ou sistemas de comunicação, sejam ou não de
massa.37
A Lei n. 10.098/00 estabeleceu algumas regras que, pela sua impor
tância e parii melhor conhecimento e implantação, aqui vêm resumidas:
a) Q, planejamento e a Urbanização das vias públicas, dos parques e
dos demais espaços de uso público deverão ser concebidos e executados de
forma a tornados acessíveis às pessoas portadoras de deficiência ou com s
mobiliciade-redu^ida:38
b) As vias públicas, os parques e os demais espaços de uso público
existentes, assim como as respectivas instalações de serviços e mobíliáiio.s
urbanos, deverão ser adaptados, obedecendo-se ordem de p r io r id a d e que
vise à maior eficiência das modificações, no sentido de promover mais an1'
pia acessibilidade às pessoas portadoras de deficiência ou com mobilidade
reduzida;39
c) O projeto e o traçado dos elementos de urbanização públicos e
privados de uso comunitário, nestes compreendidos os itinerários e as pas-
sagens de pedestres, os percursos de entrada e de saída de veículos, as es
cadas e rampas, deverão observar os parâmetros estabelecidos pelas normas
técnicas de acessibilidade da Associação Brasileira de Normas Técnicas —
ABNT ;40 ... ■
5. O mercado de trabalho50
Questão que tem causado muitas controvérsias diz respeito às nor
mas constitucionais e legais que dispõem sobre o acesso das pessoas porta
doras de deficiência ao mercadò de trabalho.51
Como vimos, nas últimas décadas, houve sensível evolução do tra
tamento jurídico dado às pessoas portadoras de deficiência. A Constituição
de 1988 trouxe normas protetivas e garantias de sua integração, como na.
acessibilidade a edifícios e transportes. E a Lei n. 7.853/89 disciplinou sua
proteção e integração social. <■:
Quanto ao acesso ao mercado de trabalho, a Constituição vedou
qualquer forma de discriminação nos salários e critérios de admissão dov
trabalhadores portadores d e deficiência, bem como exigiu lhes fosse reser
vado percentual dos cargos e empregos públicos.52 O Estatuto dos Funcio
nários Públicos Civis da União assegurou-lhes o percentual de até 20% ^
No Estado de São Paulo, o percentual para reserva de vagas no serviço pu-,
blico às pessoas portadoras de deficiência é de até 5 %; mesmo que o per‘
centual não atinja esse número, quando o concurso indicar a ex istên cia . de
cinco a dez vagas, uma delas deverá ser preenchida obrigatoriamente por
pessoa portadora de deficiência.54
Assim, os editais de concursos públicos devem consignar a reserva
de cargos para as pessoas portadoras de deficiência; no requerimento de
inscrição, os candidatos devem indicar a natureza e o grau da incapacidade,
bem como as condições especiais necessárias para que participem das pro
vas. Eles concorrerão em igualdade de condições com os demais, no que
diz respeito ao conteúdo e à avaliação das provas. Após o julgamento das
provas, haverá duas listas: a geral, com a relação de todos os candidatos
|aprovados, e a especial, com a relação dos portadores de deficiência apro-
; vados, fazendo-se as nomeações alternadas, até que se alcance o percentual
s exigido pela lei .55 .Em outras palavras, a reserva de percentual não afasta a
5 necessidade de aprovação no concurso,56 devendo ser compatíveis com a
! deficiência as atribuições a serem desempenhadas.57 Com efeito, “a reserva
de percentual de cargo para as pessoas portadoras de deficiência física, nos
I termos do art. 37, VIII, da CF, não afasta a exigência de aprovação em etápa
f do concurso público em que se avalia a capacitação física do candidato,
indispensável para o desempenho do cargo” .58 Naturalmente, pór exemplo,
«m candidato a motorista de ambulância de uma prefeitura não pode ser
ctg°.
i jg?£. Ainda há, porém, resistências indevidas. Um acórdão do Supremo
| .Tribunal Federal afirmou, por exemplo, inexistir discriminação quando se
' ' eliminou do concurso um candidato com cegueira bilateral, porque isso
. geraria impossibilidade de desempenho pleno da função de juiz federal.59
, .0 acórdão por certo não seria proferido se os juizes tivessem considerado
\ é muito diferente a situação de quem conseguiu tornar-se habilitado
pára exercer os ofícios do Direito já quando portador da deficiência, e a
: caquele que, tendo visão normal, supervenientemente, se torna cego bílate-
i ral. Enquanto este último será aposentado por invalidez, já o primeiro fez
| seü curso jurídico iluminado pela luz interna de sua força e sua vontade,
| que, não raífc, são o bastante para ver muito além dos limites estreitos de
| quem não lhe reconhece aptidão para levar vida operosa e produtiva na
sociedade.
lei civil diz que estão sujeitos à curatela, entre outros: a) aqueles que, por
enfermidade ou deficiência mental, não tiverem o necessário discernimento
para os atos da vida civil; b) aqueles que, por outra causa duradoura, não
puderem exprimir a sua vontade; c) os deficientes mentais, os ébrios habí-
; tuais e os viciados em tóxicos; d) os excepcionais sem completo desenvol-
•Tifflento mental.
Admitiu o novo estatuto civil a imposição de curatela em relação
àqueles que, por enfermidade ou deficiência mental, não tiverem o necessá
rio discernimento para os atos da vida civil (art. 1.767, I), bem como em
relação aos deficientes mentais, aos ébrios habituais e aos viciados em tóxi
cos (art. 1.767, II); e, ainda, em relação às pessoas excepcionais, sem com
pleto desenvolvimento mental (art. 1.767, III).
A interdição poderá ser promovida pelos pais ou tutores, pelo côn
juge ou qualquer parente, ou, nos casos da lei, pelo Ministério Público
(arts. 1.768-1.769)- A nova lei civil admitiu, agora em regra sem correspon
dência no Código anterior, que o próprio enfermo ou o próprio portador
de deficiência física também requeira diretamente a nomeação de curador
í para cuidar de todos ou apenas de alguns de seus negócios ou bens (art.
1780).
Os limites da curatela serão, naturalmente, fixados caso a caso (art.
1772). O Código Civil anterior só previa por expresso que o juiz fixasse os
v;limites da curatela na interdição do surdo-mudo e do pródigo (arts. 451 e
I 459). Agora, de maneira mais correta e ampla, o art. 1.772 do novo Código
* dsspõe que, pronunciada a interdição das pessoas a que se referem os inci
sos III e IV do art. 1.767 (pessoas que, por causa duradoura, não puderem
^exprimir sua vontade, os deficientes mentais, os ébrios habituais, os vicia-
Çdos em tóxicos e os excepcionais sem completo desenvolvimento mental),
juiz assinará, segundo o estado ou o desenvolvimento mental do interdi
to, os limites da curatela, que poderão circunscrever-se às restrições cons
tantes do 1.782 (interdição do pródigo). Confortando essa regra, o art.
780 admite que, a requerimento do interessado, pode-se-lhe dar curador
para cuidar de todos ou alguns de seus negócios ou bens.
iff' ■ Por fim, o Código Civil de 2002 ainda se refere à pessoa portadora
,de deficiência quando cuida da deserdação, e o fez em duas hipóteses.-
I a) na deserdação de descendente por ascendente, admite-se como causa o
^ 'desamparo do ascendente em alienação mental ou grave enfermidade”
-^fart. 1.962, IV); b) na deserdação de ascendente por descendente, admite-se
como causa o “ desamparo do filho ou neto com deficiência m ental ou gra-
? enfermidade” . Note-se que a nova lei quebrou o paralelismo ao definir
r essas hipóteses de deserdação, falando ora em "alienação mental” , ora em
^deficiência mental” .
^T-
=3, Para o sistema do Código Civil vigente, os atos praticados por pes
soa absolutamente incapaz serão nulos; se praticados por pessoa relativa-
. frente incapaz, serão anuláveis (arts. 166, I, e 171,1). Entretanto, o próprio
Hicapaz, não obstante sua condição, responderá pelos prejuízos que causar,
. SÇas pessoas por ele responsáveis não tiverem obrigação de fàzê-lo ou não
t dispuserem de meios suficientes (art. 928 ).
CAPÍTULO 42
DEFESA D O S INVESTIDORES
N O M E R CA D O DE VALORES M O BILIÁR IO S
^ "" 1. Sobre o assunto, v, artigos de Paulo Fernando Campos Sallcs de Toledo, A Lei
'■7-913, de 7 de dezembro de 1989, RT, 667:70 e Rodolfo de Camargo Mancuso, Ação civil
"Publica para tutela dos interesses dos titulares de valores mobiliários e investidores, RT,
1.
. 2. Apesar do veto ao art. 4° da Lei n. 11.10110-5, a atuação do Ministério Público legi-
‘ üina-se pelo art. 82, III, do CPC.
3. Lei n. 6.024/74, arts. 34, 45-6; CPC, art. 82, JII; LC paulista n, 734/93, art. 295, r.
: 4. CPC, art. 82, III.
~ 5. CPC, art. 82, III. N o mesmo sentido, v.Nelson e RosaNery,Código de Processo
ST
-
C'V«, cit., notas ao art. 82.
;=
;. 6. Lei n. 7.913/89, art. 1°.
.
614— CAPÍTULO 42
!
-■ perfeitamente exigíveis; sua iniciativa por meio da ação civil pública evita a
dispersão de milhares de ações individuais, que gerariam inevitáveis julga-
I mentos contraditórios, com grande custo processual e social, sem falar que
| grande parte dos lesados ficaria sem efetivo acesso à jurisdição.
j Negar a iniciativa dos co-legitimados para a ação civil pública ou co-
| letiva em defesa de investidores lesados seria o mesmo que olvidar os pres-
| supostos e objetivos da legitimação extraordinária em defesa de interesses
| transindividuais.17
'
&
tn rvi,„(,DeVf Sf ’ ? ° ÍS> reco1nhecer clue a dispersão de lesados justifica o tra I.
to coletivo da lesao causada a investidores. Como exemplo afirma-se a !*>«■
tmudade do Ministério Público para ajuizar ação civil pública na tutela de
interesses individuais homogêneos dos aplicadores de títulos de capitaliza
dò f i n a n c e ^ s ÍrreguIar de Sociedade de capitalização no merca-
CAPITULO 43
DEFESA D A CRIANÇA
E D O ADOLESCENTE
sua tutela judicial. Desta forma, para a tutela dos interesses ligados à prote
ção da criança, não é o Ministério Público o único legitimado ativo, nem o
rol de interesses transindividuais é taxativo.
Diz a Constituição ser "dever da família, da sociedade e do Estado
assegurar à criança e ao adolescente, com absoluta prioridade, o direito à
vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à
cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e co
munitária, além de colocados a salvo de toda forma de negligência, discri
minação, exploração, violência, crueldade e opressão” 5
A análise do Estatuto da Criança e do Adolescente (Lei n. 8.069/90),
como um todo, reforça a referida norma constitucional, seja quando cuida
dos seus direitos fundamentais (direito à vida e à saúde; à liberdade, ao
respeito e à dignidade; à convivência familiar e comunitária; à educação, ao
esporte e ao lazer; à profissionalização e à proteção no trabalho) ,6 seja
quando cuida de seus direitos individuais ou transindividuais.7
As ações civis públicas e as ações mandamentais de iniciativa do. Mi
nistério Público, previstas na Lei n. 8.069/90, destinam-se à defesa não ape
nas dos interesses relacionados com a proteção à infância e â adolescência
como um todo; os interesses a serem defendidos por esse meio poderão ser
não só difusos e coletivos, como também até mesmo interesses individuais
de criança ou adolescente determinado (pois não raro estaremos diante de
interesses que, embora individuais, serão indisponíveis, sèja diante da inca
pacidade dos titulares, seja em vista da natureza do próprio interesse).8 As
ações de caráter coletivo previstas no ECA destinam-se, ainda, à proteção da
criança e do adolescente seja como destinatários de um meio ambiente
sadio e equilibrado, seja ainda, agora como obreiros, enquanto destinatá
rios de adequadas condições ambientais do trabalho, seja, enfim, até mes
mo enquanto consumidores efetivos ou potenciais.
Tratando-se de interesses indisponíveis de crianças o u adolescentes,
(ainda que individuais), e mesmo de interesses coletivos ou difusos relacio
nados com a ijifância e a juventude —■sua defesa sempre convirá à coletivi
dade como um todo.
Confere a Lei n, 8.069/90 iniciativa ao Ministério Público para a ação
civil pública, na área da infância e da juventude, até mesmo no tocante »
defesa de interesses individuais, dado seu caráter de indisponibilidade.
Assim, o Ministério Público poderá ingressar com ação civil pública para
4 assegurar vaga em escola tanto para uma única criança, 10 como para deze-
i nas, centenas ou milhares delas; tanto para se dar escolarização ou profis-
is síonalização a um, como a diversos adolescentes privados de liberdade. Da
;! mesma forma, poderá ajuizar ações civis públicas na defesa quaisquer intc-
ú resses individuais homogêneos, coletivos ou difusos de crianças ou adoles-
j centes.
i; ' Ao cuidar da tutela de interesses transindividuais ligados à infância e
; à juventude, o ECA só se referiu, expressamente, aos interesses difusos e
4 coletivos.11 Entretanto, o fato de o ECA não se ter referido a interesses “in-
j dividuais homogêneos” — terminologia que só viria a ser consagrada pouco
depois, no CDC — , não impede que esses interesses transindividuais (que,
is lato sensu, são interesses coletivos) sejam defendidos pelos co4egitimados
• ativos à ação civil pública, em vista da aplicação harmônica e integrada do
| ECA, da LACP e do CDC. Com efeito, não seria exigível que a Lei n. 8.069/90
I: se referisse à terminologia de “interesses individuais homogêneos” , se essa
| expressão só veio a ser consagrada em lei posterior, o CDC (Lei n.
| Í .078/90)isAssim, a interpretação adequada a respeito é a de que, ao referir-
■ se a interesses difusos e coletivos, o ECA quis alcançar, lato sensu, quais
quer interesses transindividuais.
Para a defesa de crianças e adolescentes, cabe, portanto, o ajuiza-
' nunto de quaisquer ações, inclusive ação mandamental contra eventuais
atos ilegais ou abusivos de autoridade pública ou agente de pessoa jurídica
■ no exercício de atribuições do Poder Público, quando tais atos lesem direito
„ liquido e certo previsto no ECA. Essa ação reger-se-á pelas normas do man-
■telado de segurança.12
Ijt Ações cíveis individuais para cobranças de créditos de incapazes de-
, vem ser propostas pelos seus representantes legais nas varas cíveis comuns,
i assegurada a intervenção do Ministério Público no processo .13 Havendo
■. falha ou omissão desses representantes, o Ministério Público poderá e deve
rá tomar qtfcfdquer providência judicial que lhe pareça reclamada pela segu-
= rança dos haveres do menor ,14 inclusive promovendo, se for o caso, a res
ponsabilização de quem de direito pela omissão prejudicial ao incapaz, ou
requerendo a nomeação de curador especial para este último .15
16. Cf. ECA, art. 214. A Lei n. 8.242/91 instituiu o Fundo Nacional para a Criança e,°:
Adolescente. O fundo estadual dos direitos da criança e do adolescente, criado pelo art. 2 .
Lei paulista n. 8.074/92, é regulamentado pelo Dec. estadual n. 39.104/94. A propósito, v., rt’:?.
o Cap. 33.
17. V. tb. Cap. 15.
18. ECA, art. 148, IV. ^
DEFESA DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE— 621
1 resultado que não pode vir a fixar a competência do Juízo, eis que indevido
raciocínio. E, assim sendo, não compete à Justiça do Trabalho a apreciação
í de casos que tais, da forma que fundamentado, mas sim às Varas especiali
zadas e privativas da Infância e da Juventude” .19
De qualquer forma, ainda que instauradas com base no ECA e pro-
postas perante Varas especializadas da Infância e Juventude, as ações civis
. públicas tramitarão segundo o rito e os prazos do Código de Processo Ci-
. vil.20
te Se forem nacionais ou regionais as lesões a interesses transindivi-
duais relacionados com a proteção da infância e juventude, deve-se aplicar
subsidiária e analogicamente o art. 93 do CDC, promovendo*se a ação na
íj Capital do Estado ou na Capital do Distrito Federal.21
; ' Por outro lado, segundo a Súm. n. 209 do STJ, a existência de vara
privativa, instituída por lei estadual, não altera a competência territorial
: resultante das leis de processo. Daí, não interfere com as normas de compe
li tência do ECA o fato .de que em algumas comarcas haja, v.g., varas privativas
■ da Fazenda Pública.
\ ------------------------------------------------
b ' ----- ■
| 19. Agi n. 3l.072-0/0-Matão, Câm. Especial TJS1’, v.u .,;. 23-05-96, rel. Des. Prado de
í fofedci.
I 20, Nesse sentido, entendendo que o prazo para apelação é o do CPC enão do ECA
Tapara as ações civis públicas instauradas perante Vara da Infância e Juventude, v. REsp n.
( 128 081-RS, T. STJ, v.u., j. 17-04-98, rel. Min. Garcia Vieira, DJU, 08-06-98, p. 21, JtSTJ,
í *LT6i. A propósito, v., ainda, Cap. 31, n. 6.
i 21. A propósito, v. Cap. 15, n. 7-
j 22. CR, art. 129, IV.
í 23. CR, arts. 102, 1, a, e 103, cf. EC n. 3/93 e 45/04.
] 24. CR. art. 5o. LXXI.
6 22— CAPÍTULO 43
Í nistério
* Antes de propor as ações civis públicas ou coletivas relacionadas
Com a proteção de crianças e adolescentes, poderá valer-se o órgão do Mi
Público do inquérito civil, o qual está sujeito aos conhecidos con-
] *troles de arquivamento.41 Por outro lado, agora cóncorrentemente com os
| demais órgãos públicos legitimados à ação civil pública, o Ministério Públi-
j Jco tem ainda a possibilidade de tomar compromissos de ajustamento de
; conduta. E, atuando nas funções de ombudsman, pode o Ministério Público
I expedir refcomendações, nas áreas de suas atribuições funcionais.42
Ííp
------------------------------------------------ ,
f • ' ■
J.„ ■
#sL Generalidades
Regem-se também pela Lei n. 7-347185 as ações civis públicas de
responsabilidade por danos morais e patrimoniais causados p o r infração
* .du ordem econômica e da econom ia popular.
itj Quando da vigência da Med. Prov. n. 1.820/99, chegara-se a incluir,
no âmbito da ação civil pública da Lei n. 7-347/85, também a menção à de-
í fesa da livre concorrência, mas esta expressão deixou de constar nas reedi-
|, ções das medidas provisórias subseqüentes. 1 Entretanto, com a redação que
j' ao art. I o <% LACP deu a Lei n. 11.448/07, agora ficou expresso que, entre as
J finalidades da ação civil pública, inclui-se a proteção à ordem econômica e
à livre concoirência.2 Com efeito, no conceito de prevenção e repressão às
^ infrações contra a ordem econômica, está compreendida a defesa da liber-
v dade de iniciativa, da livre concorrência, da função social da propriedade,
I assim como a defesa dos consumidores e a repressão ao abuso do poder
í econômico.3
i-v Desde que se identifiquem lesões a interesses transindividuais, de
í qualquer natureza, ainda que ligados à defesa da livre concorrência, o ca
bimento da ação civil pública será inelutável, também por força da norma
residual ou de extensão contida no inc. IV do art. I o da LACP, e ainda por
1. LACP, arts. I o, V, e 5o, II, numa das redações que o dispositivo recebeu (Lei n.
i 8 884/94 e Med. Prov. n. 2.1S0-35/01).
I2. LACP, art. 5o, V, b, cora a redação da Lei n. 11.448/07.
j 3- Lei n. 8.884/94, art. I o.
'W DA ECONOMIA POPULAR 627
j' DEFESA DA ORDEM ECONÔMICA E
■;
6 2 6 — CAPÍTULO 44 \' ■
seus competidores.9 A posição
nfidência de agente ecc.noim cocm reaç quando uma empresa ou
força da remissão expressa a esses interesses na letra b do inc. V do art. 5° ---- - , i OCOrre: a) ae iu iu w -x—•• .
" LACP, com a redação que lhe deu a Lei n. 11.448/07, como já o tinha
da 1 dominante, e punível,
dominante, e puni ’ ocorre: f f e 7 u^ tancial
. narcela substancial de mercado de mercado relevante co
. . „ ^j ___ ide
-i{ grupo \p pmnresas
empresas conuuw
controla p ireme ou __c financiador
„ „ nf.!oHnr dede um produto
feito o art. 88 da Lei n. 8.884/94. : mo fornecedor, «teim ed iar q ^ fo r m a p r e s u m id a quando a
Segundo a Lei n. 8.884/94, que considera a coletividade como titular ■ * Ç v í ç õ ou tecnologia a ele relativa;
B“ ‘- ---------- m n r r n la 2 0 % (v in t e p o r c e n t o ) d ê m e r c a d o
dòs bens jurídicos protegidos por essa mesma lei, o combate às infrações à de empresas c o m r°^ 2 0 J o ^ Conselho Adnnmstra-
ordem econômica orienta-se pelos ditames constitucionais de liberdade de i í S ^ P < S c f e s t e P ^ ^ ^ p ^ X e ^ - s V s p e d f i c o s da economia.
iniciativa, livre concorrência, função social da propriedade, defesa dos con itivo de Defesa Econômica — r- „ lirna das hipóteses previstas
sumidores e repressão ao abuso do poder econômico .4
■ . Ao dispor sobre as infrações à ordem econômica, a Lei n. 8.884/94 DeSdC ^ n . ^ .88*4194* ficará caracterizada infração
no art. 20 da Lei
estabeleceu as seguintes regras de responsabilidade: ~ mica se o agente.12 concorrente, sob qualquer for
a) Sujeitam-se ao sistema dessa lei tanto as pessoas físicas como as:
?' : « t o ™dicPõ T d “ v'n d â d e bens ou deprestação de sem ços^
jurídicas, de direito público ou privado, bem como quaisquer associações
de entidades ou pessoas, constituídas de fato ou de direito, ainda que tem ^ o b ^ r o T ^ u e n c i a r a adoção de — comercia,
porariamente, com ou sem personalidade jurídica, mesmo que exerçam
OU concertada entre concorrentes; ,Y1, nvodutos a c a b a d o s ou semi-
atividade sob regime de monopólio legal;5
de matérias-primas ou produtos
b) As diversas formas de infração à ordem econômica importam a
responsabilidade da empresa, bem como levam à responsabilidade indivi
dual e solidária de seus dirigentes ou administradores;0 m term eton os^ ^ impedir acesgcte “ ™ sn“ nP ~ S 4 ” envó“ fminro
c) São solidariamente responsáveis as empresas ou entidades inte
grantes de grupo econômico, de fato ou de direito, que pratiquem infração r í m p r S f e S o r ^ r r d í fornecedor, adquirente ou financiador de
da ordem econômica;7
bens ou serviços; ■ , He insumo, matérias-
d) Aplica-se o princípio da desconsideração da p e r s o n a l i d a d e ju r í
d i c a em caso de abuso de direito, excesso de poder, infração da lei, fato ou
"primas, equipamentos divulgação de publicidade
ato ilícito ou violação dos estatutos ou contrato social, ou ainda quando conceder exclusividade para
houver falência, estado de insolvência, encerramento ou inatividade da ■ f) exigir ou
pessoa jurídica, desde que tenham sido provocados por má administração.... nos meios de comunicação de massa; na concorren-
0 combinar previamente preços ou aprstar vantagens
O art. 20 da Lei n. 8.884/94 considera infração administrativa contra
a ordem econômica, independentemente de c u lp a , os atos sob qualquer
forma manifestados, que tenham por objeto o u possam produzir os seguirv i • 4 PÜb1^ : " r sLnosos para provocar a oscilação de preços de
tes efeitos, ainda que não sejam alcançados: a) limitar, falsear ou de qual
quer forma prejudicar a livre concorrência ou a livre iniciativa; b ) dominar
terCC1 i) regular mercados de bens ° u a pro-
mercado relevante de bens ou serviços; c) aumentar arbitrariamente os lu_ ra limitar ou controlar a pesquisa e o des i r. ,— :„ „ , tlimPnios
cros; d ) exercer de forma abusiva posição dominante. Para esses fins, acres ’ dução de bens ou prestação de jendços ou para d t f i ^ eStimCnt° S
centa a lei que não caracteriza dominação punível de mercado a simples
1 destinados à produção de bens ou semços distribuidores, va-
conquista de mercado, resultante dé processo natural fundado na maior.
j ) impuser, no c o n u S ^ o de ^ns ™ 5 ^ cond,çõcs de pa
™ lucto ou qua,s'
4. Lei n. 8.884/94, art. I o, caput, e parágrafo único. ...
5. Lei n. 8.884194, art. 15. . ’
6. Lei n. 8.884/94, art. 16. • 9. Lei n. 8.884194, art. 20, § I o.
7. Lei n. 8.884/94, art. 17. , 10. Lei n. 8.884194, art. 20, § 2°. 9.069195-
8. Lei n. 8.884194, art. 18. Sobre a matéria, registre-se ainda que-o CC de 2002 an> U . Lei n. 8.884194, art. 20, § 3». com a redaçao dada pela Le, ,
plia as hipóteses de desconsideração de personalidade jurídica, sempre que houvei ibu'»0 _ 12 Lei n. 8.884194, art. 21. .
caracterizado por desvio de finalidade ou confusão patrimonial (art. 50). . 1 "-
628— CAPÍTULO 44
DEFESA DA ORDEM ECONÔMICA E DA ECONOMIA POPULAR— 629
S S iS T “ nd‘5Ô!:S ^ , negócios d « tts < « , ’ ' c) qual o preço de produtos e serviços similares, ou sua evolução, em mer
c a d o s competitivos comparáveis; d ) se houve a existência de ajuste ou
acordo, sob qualquer forma, que tenha resultado em majoração do preço
meio d a ^ fb ^ ã ^ c U fc re n tía d a ^ e ^ e ç o s^ o ^ d e ^ o n d ic ^ 115 ° “ serviços Por i de bem ou serviço ou dos respectivos custos. .
venda ou prestação de serviços; condiçoes operacionais de
;■ As infrações administrativas à ordem econômica serão apuradas por
tro das S n S S e f -3 de serviÇ°s> embora den- meio de processo administrativo julgado pelo Conselho Administrativo de
mes comerciais- Paeame™ ° conslderadas normais pelos usos e costu- ; Defesa Econômica — CADE. 13 Pode o CADE impor penalidades de natureza
| administrativa: a ) multas; b ) publicação de extrato da decisão condenatória
às expensas do infrator; c ) proibição de contratar com instituições financei-
■ ções °U ^ reia-
, ras oficiais; d ) proibição de participar de licitação para aquisições, aliena-
e m submeter-se a cláusulas e condições comeróaS ^ ° utra psrte
rias a livre concorrência; comerciais injustificáveis ou contrá- J; ções, realização de obras e .serviços, concessão de serviços públicos, junto à
; [ administração direta ou indireta; e ) inscrição do infrator no Cadastro Na-
■ donal de Defesa do Consumidor; j ) expedição de recomendações punitivas
produtos i„. . a órgãos públicos competentes, desde que ligadas à atividade econômica do
operaçao de equipamentos destinarlnc es^ uir. inutilizar ou dificultar a ; infrator; g ) a cisão de sociedade, transferência de controle societário, venda
portá-los; a produzi-los, distribuí-los ou traris- i de ativos, cessação parcial de atividade, ou qualquer outro ato ou providên
cia necessários à eliminação dos efeitos nocivos à ordem econômica.1'*
industrial oiT/nt(dectual ou* d e m o l o ^ i a ° ^ direitos de propriedade j ;; A prescrição das infrações à ordem econômica dá-se num qüinqüê
nio. Com efeito, segundo o art. I o da Lei n. 9-873/99, “prescreve em cinco
sem justo causa comproTOdafband° nar ° U destruir Iav()uras ou plantações, | anos a ação punitiva da Administração Pública Federal, direta e indireta, no
;is exercício do poder de polícia, objetivando apurar infração à legislação em
r) vender injustificadamente mercadoria abaixo do preço de custo;! L.'vigor, contados da data da prática do ato ou, no caso de infração permanen-
• te ou continuada, do dia em que tiver cessado” .15
xyi- •
não seja sighatírio ^ o s ^ ó d L o s ^ w / 1
! ^ 0 ^!° CUSto.no Pafs exportador, que
Agreetnent Wn Tarijfs and Trade GA T T - 8 ^ subsídi0s do General
? ' ■
causa comprovada;Per ° U reduZir em grande escala a produção, sem justa
j|2. Hipóteses de ações civis públicas
%
f-1; Caberá ao Ministério Público Federal propor ação civil pública para:
causa com provada ;arCiaI ° U lotaImente as atividades da empresa sem justa a) executar os julgados do CADE, se houver condenação por infração à
t ordem econômica ;16 b ) executar compromisso de cessação de atividade,
tomado peite CADE;17 c ) defender, na área de suas atribuições, qualquer
cobertura dos cústos de%roduçlí>° ° U dC COnsumo’ excefo P^a garantir a
" interesse difuso, coletivo ou individual homogêneo, relacionado com a
1 defesa da ordem econômica e financeira, como o respeito à livre iniciativa, à
ção de u m st ? S T u aSubÔM-de bem à a^ âo de outro ou à ut.liza- livre concorrência, aos consumidores, à função social da propriedade, o
outro ou à aqu is^ o de um bem '" * preStaçã° de um ^rviço à utilização de 'Jcombate ao abuso do poder econômico . 18
t-y ■ . ■
bem ou fe ^ iç o .r * * * * * eXCessivos>ou aumentar sem justa causa o preçn de ' •• 13- Lei n. 8.884194, nrts. 3o, 20-1 e 32-51. O CADE tem natureza jurídica de autar-
jV (l'ii? federal, vinculada ao Ministério da Justiça (Lei n. 8.884/94, art. 3o).
14. Cf. arts. 23 a 25 da Lei n. 8.884194.
cessivos^oiTl^omove^^n^ntxTinju^ifícado ^ ^ ^ ' 116 ^ ,ÍmP° r PreÇ° S ^
cunstâncias econômicas e m ercadnl^ i PreÇ°s, alem de outras cir- 15. O art. 8o da Lei n. 9-873199 revogou o art. 28 da Lei n, 8.884/94, que anterior-
art. 21 da Lei n. 8.884/94 manda nne rclevanJ:es’ ° parágrafo único do j\. menti, dispunha sobre a prescrição das infrações à ordem econômica.
produto ou serviço ou sía eleva?5 n consid^ : a) se o preço do j , 16. Lei n. 8.884/94, art. 12, parágrafo único. ■
\
mento do custo dos resnertivnc - 030 estao /ustificados pelo comporta- i 17. Lei n. 8.884194, arts. 12, parágrafo único, e 53.
de qualidade % q ^ r e ^ p r e c o X 0' ’ °H ^ introdu^ ° 18. CR, art. 109, I; LC n. 75193, art. 6o, XIV, b. N o sentido da amplitude da atuação
quando se tratar P Ç Produto anteriormente produzido,
q o se tratar de sucedâneo resultante de alterações não s u b s t a n c i a i s , v.; do Ministério Público em defesa da ordem econômica, v. Nelson e Rosa Nery, Comentários
j.„ «o Código de Processo Civil, cit., nota à LACP; Marcelo Scioritli, A ordem econômica e o
j^■■.Ml'nistério Público, p, 127, Juarez de Oliveira, 2004.
630— CAPITULO 4 4
|onsave* ^ p rQ b le m a s b a n ís tic o s ,
í ° ”
ide seus habitantes.2 ^ autodenominada de Estatuto da Ci-
|í Por força da Lei n. , dispositivos constitucionais alusi-
y dade — , vieram a ser regulamentados o p eerais 3 Assim, o Esta-
S T d °o do equilíbrio ambiental.
‘èbs ■
. ■
- 19- Lei n. 8.884194, art. 12, parágrafo único. .
20. Lei n. 8.884/94, art. 3o. í' t. p. » . « o <>« » °
: üe J o sé C r f o s d e F r e i. .. , e m Tm na, d., d , M o » r v . 3, l>
21. Lei n. 8.884/94, art. I o, parágrafo único. . ■■
*" fo do Estado de São Paulo, 2001. .
22. Quanto às limitações do Ministério Público em defesa de interesses indi''11'031
homogêneos, v. Cap. 8, especialmente tópico n. 4, e Súm. n. 7 do CSMP-SP (p. 691 e s ) ’ 2. CR, art. 182.
3. CR, arts. 182 e. 183. .
23. V, Süm. n. 7 do CSMP-SP. ,
632— CAPÍTULO 45
De acordo com seu art. 2o, a política urbana tem por objetivo orde
nar o pleno desenvolvimento das funções sociais da cidade e da proprieda
de urbana, mediante as seguintes diretrizes gerais:
a) garantia do direito a cidades sustentáveis, garantia que compre
ende o direito à terra urbana, à moradia, ao saneamento ambiental, à infra-
estrutura'urbana, ao transporte e aos serviços públicos, ao trabalho e ao
lazer, para as presentes e futuras gerações;
b) gestão democrática por meio da participação da população e de
associações representativas dos vários segmentos da comunidade na formu
lação, execução e acompanhamento de planos, programas e projetos de
desenvolvimento urbano;
c) cooperação entre os governos, a iniciativa privada e os demais se
tores da sociedade no processo de urbanização, em atendimento ao interes
se social;
d) planejamento do desenvolvimento das cidades, da distribuição
espacial da população e das atividades econômicas do Município e do terri
tório sob sua área de influência, de modo a evitar e corrigir as distorções do
crescimento urbano e seus efeitos negativos sobre o meio ambiente;
e) oferta de equipamentos urbanos e comunitários, transporte ;e
serviços públicos adequados aos interesses e necessidades da população é
às características locais;
f ) ordenação e controle do uso do solo, de forma a evitar: utilização
inadequada1 dos imóveis urbanos; proximidade de usos incompatíveis ou
inconveniehtes; parcelamento do solo, edificação ou uso excessivos ou
inadequados em relação à infra-estrutura urbana; instalação de empreendi
mentos ou atividades que possam funcionar como póios geradores de trá
fego, sem a previsão da infra-estrutura correspondente; retenção especula
tiva de imóvel urbano, que resulte na sua subutilização ou não utilização;
deterioração das áreas urbanizadas; poluição e degradação ambiental; ;: ; .
g ) integração e complementaridade entre as atividades urbanas e ni'
- rais, tendo em vista o desenvolvimento socioeconômico do Município e do
território sob sua área de influência; ;
h) adoção de padrões de produção e consumo de bens e serviços e
de expansão urbana compatíveis com os limites da sustentabilidade ám-
biental, social e econômica do Município e do território sob sua áreá de
influência; ri'te
i) justa distribuição dos benefícios e ônus decorrentes do p r o c e s s o
de urbanização;
j ) adequação dos instrumentos de .política econômica, tributária e
financeira e dos gastos públicos, aos objetivos do desenvolvimento’ urban°>
de modo a privilegiar os investimentos geradores de bem-estar geral e a
fruição dos bens pelos diferentes segmentos sociais; - ,te
l) recuperação dos investimentos do Poder Público de que tenha1ref
sultado a valorização de imóveis urbanos;
DEFESA DA ORDEM URBANÍSTICA— 633
oS engenha-
2. A defesa dos interesses transindividuais ligados ao | vesse de
mento, e atnda deixasse oe p íliríHicas aue estivessem ocupando, ou
urbanismo rejn h ecid os como
Os arts. 53 e 54 da Lei n. 10.257/01 alteraram a redação dos arts, Io
í de uso comum do povo .9 . .. T
e 4o da LACP, para incluir, no âmbito da ação civil pública, a defesa judicial
de interesses transindividuais ligados à ordem urbanística, inclusive no
campo cautelar.4 "
Referindo-se à legitimidade do Ministério Público para a propositura
M S S S S s ?
de ação civil pública por dano urbanístico — hoje reconhecida pelo art. Io,
VI, da LACP, João Francisco Moreira Viegas anotou que, “constituindo 0
loteamento meio de urbanização, a sua correta execução não interessa ape •; Estatuto da C id a d e ”.10
nas aos adquirentes dos lotes, mas a toda coletividade em vista dos padrões
de desenvolvimento urbano do município, uma vez que tais interesses sé
caracterizam como difusos. É o patrimônio de uma coletividade que está
sendo agredido de maneira ilegal” .5
A jurisprudência já reconheceu acertadamente que, quando o inte ,:L í
. .
iíte
' isteis
:44 te
■"Í4:;
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M
■'444':
' v. is;- te-is
'■'tete
-t e te ^
'•!V;v;
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teistete
istetete
CAPÍTULO 4 6
1-
■ís
SUMÁRIO: 1. Generalidades. 2. A política nacional do idoso.
f ■ 3. O Estatuto do Idoso. 4. O Ministério Público e as pessoas
idosas.
i ;
f ■ ' ■
1. Generalidades
;
j Entre as condições, marginalizantes , 1 estão aquelas relativas à idade
. avaftçada. Além dos problemas naturais decorrentes das limitações físicas e
i ate mentais que a idade avançada pode trazer, as pessoas idosas ainda costu-
1 màtn sofrer discriminações e preconceitos. Não são raros os casos em que são
•.abandonadas pela própria família ou esquecidas em asilos ou clínicas; o pla-
Í
. nejamento econômico e social dificilmente leva na devida conta suas necessi-
.dades peculiares; o mercado de trabalho as recusa. Em alguns casos, podem
.estar efetivamente compreendidas em situação deficitária que atinge boa
2 parte da população: “o termo pessoas deficientes refere-se a qualquer pessoa
1 incapaz de assegurar por si mesma, total ou parcialmente, as necessidades de
Lurrià vida individual ou social normal, em decorrência de uma deficiência,
s|;congênita ou não, em suas capacidades físicas ou mentais” .2
O fundamento para a proteção aos idosos é o princípio da ígualda-
| dc i lei deve procurar compensar juridicamente quem sofre maiores limi-
’i Uçoes, para reequilibrar suas oportunidades. Entretanto, essa proteção tem
| di* fundar-se em critérios razoáveis, ou seja, deve procurar compensar a
- pessoa na área onde a limitação cause o discrímen. Tomemos alguns exem-
5 Pios para aclarar as idéias. Sem dúvida, o verdadeiro princípio de isonomia
^consistiria, entre outras coisas, em poupar pessoas idosas de longas filas,
., e*n abreviar a solução judicial ou administrativa de seus litígios, em dar-lhes
| ftatamento e atendimento preferenciais nos serviços públicos e nos serviços
i Prtvidos. Ao revés, porém, antes da Constituição de 1988, de constituciona-
i 1'dade duvidosa, para dizer ò mínimo, nos pareceram dispositivos legais
1. V. Cap. 41.
2. Cf. Res. n. 33/3447, de 1975, da ONU.
638— CAPÍTULO 46
DEFESA DAS PESSOAS IDOSAS— 639
•i
soas, para quem tenha idade igual ou superior a 65 anos, nas repartições
publicas, empresas concessionárias de serviços públicos, instituições finan
ceiras;29 r) alimentos devidos pelos descendentes.30
É assegurado ao idoso o direito de dispor de seus bens, proventos,
pcmsões e benefícios, salvo nos casos de incapacidade judicialmente com
provada.51 Não tendo havido interdição judicial, o idoso conserva a livre
administração de sua pessoa e seus bens.
Registre-se que a política de atendimento ao idoso veio a ser amplia
da por força dos arts. 46 e s. da Lei n. 10.741/03.
3- O Estatuto do Idoso
A Lei n. 10.741/03 instituiu o Estatuto do Idoso, destinado a regular
os direitos das pessoas com idade igual ou superior a 60 anos.32
O Estatuto estabeleceu o sistema de proteção integral, segundo o
qual o idoso goza de todos os direitos fundamentais inerentes à pessoa
humana, devendo ser-íhe asseguradas todas as oportunidades e facilidades,
para preservação de sua saúde física e mental e seu aperfeiçoamento moral,
intelectual, espiritual e social, em condições de liberdade e dignidade.33
A garantia de prioridade, estabelecida em favor do idoso, compre
ende: a) atendimento preferencial imediato e individualizado junto aos
órgãos públicos e privados prestadores de serviços à população; b) pre-
fuência na formulação e na execução de políticas sociais públicas específi
cas; c) destinação privilegiada de recursos públicos nas áreas relacionadas
com a proteção ao idoso; d ) viabilização de formas alternativas de participa-
çao, ocupação e convívio do idoso com as demais gerações; e) priorização
do atendimento do idoso por sua própria família, em detrimento do aten
dimento asilar, exceto dos que não a possuam ou careçam de condições de
manutenção da própria sobrevivência; f ) capacitação e reciclagem dos re
cursos humanos nas áreas de geriatria e gerontologia e na prestação de ser
viços aos idosos; g) estabelecimento de mecanismos que favoreçam a divul
gação de informações de caráter educativo sobre os aspectos biopsicos-
sociais de envelhecimento; h) garantia de acesso à rede de serviços de saú
de e de assistência social locais.34
A Lei n. 10.741/03 dispõe, ainda, sobre: a) os direitos fundamentais
du idoso (à vida, à liberdade, ao respeito, à dignidade, aos alimentos, à
saúde, à educação, à cultura, ao esporte, ao lazer, à profissionalização, ao
trabalho, à previdência social, à assistência social, à habitação e ao transpor
j 77. REsp n. 158.618-SC, j. 02-06-98, v.u., 5a T. STJ, rel. Min. José Dantas, DJU, 29-06-
» | s 98, p 276.
78. Lei n. 10.741/03, arts. 43 e 74, IV.
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CAPÍTULO 47
DEFESA D E G R U PO S ÉTNICOS
E DAS M INO R IAS
I
J A democracia legítima não pode ser despótica, pois mesmo a maio-
^ na não pode escravizar a minoria. Vem a propósito lembrar o dito que, com
humor, assim define democracia direta-, dois lobos e uma ovelha, votando
em quem vai ser o jantar; e democracia representativa-, as ovelhas elegem
Vquais serão os lobos que vão escolher quem será ô jantar. . . 1
| Também o contrário é verdadeiro: uma minoria elitista também não
pode subjugar a maioria, para afirmar ou manter os próprios privilégios.
* ’ Tinha, pois, razão Manoel Gonçalves Ferreira Filho quando observou
que todos dizem que praticam democracia, mas em lugar algum o povo go-
1. "Democracy must be something more tlian two wolves and a sheep voting on
"ilat ro have for dinner" (James Bovard, Lost Rights: The Destruction o f American Liberty, St.
MartiiVs Press, 1994).
650— CAPÍTULO 47
!!
ção; quem julga não é quem a faz nem a aplica administrativamente); b) o
controle da separação do poder (não basta a Constituição dizer que o po
der é repartido; é necessário que existam mecanismos de freios e contrape
sos, e que estes mecanismos funcionem efetivamente, e que não possam
ser suprimidos pelo poder constituinte revisor ou de emenda); c) o respeito
ao direito das minorias e o reconhecimento e a aceitação de que estas se
podem torr&r maiorias; d) o reconhecimento de direitos e garantias indivi-
* duais e coletivos; e) o respeito à liberdade e à igualdade das pessoas, bem
jfcom o à dignidade da pessoa humana; f ) a existência de decisões tomadas
Indireta ou indiretamente pela maioria, respeitados sempre os direitos da
F minoria; g ) a total liberdade na tomada de decisões pelo povo (decisões
-f tomadas em "seu entender livre”, como dizia Ataliba Nogueira,6 e não dcx.i-
i s õ e s conduzidas pelos governantes, nem fruto de manifestação de uma
opinião pública forjada pelos meios de comunicação); b) um sistema eleito-
jteal livre e apto para recolher a vontade expressa pelos cidadãos; i) o efetivo
J, acesso a alimentação, saúde, educação, trabalho, Justiça e demais condições
básicas de vida por parte de todos.
• 3. A chamada d is c r i m i n a ç ã o p o s it iv a
■' Como já temos dito, inúmeras circunstâncias marginalizam acabam
' marginalizando, no campo fático, ãs pessoas: condições etárias, sociais,
.: físicas ou mentais não raro criam limitações para as pessoas, que a lei pró
p a r t i d a r W sim, ^ is cura compensar, na conhecida fórmula de tratar diferentemente os desi-
4 guais, para assegurar sua efetiva igualdade.
is Assim, por exemplo, nada mais natural que a lei procure compensar
eS S ? ? rí4 StÍmÍr'Se a POSSÍbílÍcÍade ; uma criança (que não tem capacidade de exercício de direitos), dando-lhe
. maior proteção jurídica (representação legal, assistência do Ministério Pú-
4 blico, fiscalização do juiz).
2. O respeito aos grupos étnicos e às minorias
|is Seria possível aplicar esse mesmo raciocínio protetivo e compensa
is, tórioen i relação a,todas as formas de discriminação, como o preconceito
is dito racial?
4 Sem dúvida, uma das mais sérias discriminações sociais é aquela
s m r a m w m procedente de razões étnicas. Ora, a ciência moderna recusa a distinção
tados os direitos da minoria. am ai ~ desde 4ue resP<* te racial entre os seres humanos: todos integram a mesma especie; inexistem
raças” humanas. Não obstante, principalmente por razões culturais, sociais,
a existência d ^ r e l í i õ ^ í r '=?t qU<tenem mesmo a maioria do povo proibisse . econômicas e religiosas, os seres humanos costumam se hostilizar e se se
políticas ou vedasse m l í ° S’ SUnguisse etnias, culturas ou tendências gregar, gerando diversas formas de intolerâncias e preconceitos, reprimidos
não a dlW rL^naSo d ? Z lentOS P ° r nenhum outro Andamento se- pelo Direito .9
ríamos aiante
riamos d L X nnao
ã o de
dP uma™ democracia,
w ° na C° ntrae asimmin° ria- Não
diante fosse assim> e esta'
do despotismo. |í~ Sem dúvida discriminaçõe$ como essas têm de ser coibidas pela lei,
mas nem sempre o remédio será fazer uma discriminação às inversas. Para
de podereSed£Ldmfr e°L bnáSÍCOS da-\minorias, «itá o de poderem existir, o corrigir essas inaceitáveis deformações, não raro se procura impingir uma
nas decisões aue interf <=cp ^Ua dlssensao>° de verem-se representadas política racista às avessas, sob o fundamento da soi-disant “discriminação
maneira efetiva a m a io ria ^ a ! ° a SOciedade, o direito de fiscalizarem de 'positiva” , ou de uma “ação afirmativa” . Assim, procuram alguns combater a
ria Enfim é o d í S n H ° dC’ evenmalm«>te, um dia tornarem-se maio- discriminação racial e as desigualdades que atingem, especialmente, os afro-
brasileiros,.determinando que as políticas públicas desenvolvidas pelo Esta
S ^ d ^ ^ S ^ ° p S S 0d??n,l,Sd“-É?uiprovel,os<’
eundo a nual por Ricardo Tadeu Marques da Fonseca, se- do devam ser pautadas pela dimensão racial, através da reparação, compen
cernentes à orieem à r a r ^ SItuaçoes Pessoais notoriamente marcadas, con- sação e inclusão de suas vítimas, os afro-brasileiros, bem como pela valori
€
escolhas ou condutas ®ener.°’ e a outr°s, e protegem-se, outrossim, v zação da diversidade racial.
sexual e outras".8 5 “ " b a t iz a d a s , como religião, orientaçáo r Ora, toda discriminação racial é odiosa, ainda que feita em nome do
combate à própria discriminação. E é sempre odiosa, pouco importa se
mesma é porém , uma viá de dois sentidos: da í- aproveita à maioria ou à minoria, o que é irrelevante, tamanha a miscigena
n o rin a m b é m o - mite a discri">i™Ção da maioria contra a mi- ção étnica no mundo, e que é ainda mais intensa principalmente em nossp
“ nofobto rnanto o í M a d e i r o . Assim, p. ex., tanto é reprovável » país. Como o conceito de “raças humanas” já foi recusado pela ciência, con
-xenoioDia, quanto o auto-enquistamento do estraneeiro n w n i n nueira vém lembrar, com o sociólogo Demétrio Magno li que “a ancestralidade
d t maioria d e í m í o o 4 S,OCi?dade onde vive; é reprovável o racismo genética não encontra expressão nos fenótipos raciais. (...) Existem ‘bran
cos’ que descendem de escravos e seus antepassados podem ter sido ‘açoi
minoritário em reíaçãc? a c í d e rn a i^ T L m ’ C° m° ° radSm° d° tados' por ‘negros’ descendentes de proprietários de escravos. No pensa
criminação social implícita e estigm aian S “ “ ^ n° Utr° ’ mento moderno, as pessoas se definem por suas potencialidades, (...) não
9, Afirmou o STF que "a divisão dos seres humanos em raças resulta de um processo
c J „ « r ,:L T 2 'ep“ f “ ■* ■ » * « » '■ /• <*— < »- * de conteúdo meramente político-social. Desse pressuposto origina-se o racismo que, p or sua
vez, gera a discriminação e o preconceito segregacionista” (H C n. 82.424-RS, STF Pleno, m.v.,
8. O trabalho da pessoa com deficiência, cit., p. 183.
J- 17-09-03, rel. Min. Maurício Correa, Informativo STF, 340).
65 <í— CAPÍTULO 4 7
cas oferecidas pelo direito posto. Num primeiro momento, esse uso demo
crático do direito significaria: a) fazer cumprir as leis que já existem e não
têm eficácia social, pois tutelam interesses dos grupos sociais marginaliza
dos; b) encontrar nos princípios constitucionais os critérios das opções
interpretativas, uma vez que temos uma Constituição democrática que con
vive com uma legislação infraconstitucional arcaica; e, c) explorar as con
tradições e as ambigüidades do direito positivo”.18
É certo que esse tipo de atuação do Ministério Público tem caráter
p o lític o ; não caráter p olítico-pa rtid â rio, pois isto seria vedado à própria
instituição e a seus a g e n t e s . D e fato, a atuaçãó do Ministério Público,
embora tenha natureza p olítica — pois diz respeito à interferência no
modo dè conduzir os assuntos dè interesse do Estado e dos cidadãos,
não pode adquirir contornos de defesa de linhas ou ações deste ou daque
le partido político. A atuação política do Ministério Público faz-se por
meio do uso do processo como instrumento político de participação. Nes
se sentido, anotou Calmon de Passos: “a democratização do Estado alçou
o processo à condição de garantia constitucional; a democratização da
sociedade fá-lo-á instrumento de atuação política. Não se cuida de retirar
do processo sua feição de garantia constitucional, sim fazê-lo ultrapassar
os limites da tutela dos direitos individuais, como hoje conceituados.
Cumpre proteger-se o indivíduo e as coletividades não só do agir contra
legem do Estado e dos particulares, mas de atribuir a ambos o poder de
provocar o agir do Estado e dos particulares no sentido de se efetivarem
os objetivos, politicamente definidos pela comunidade. Despe-se o proces
so de sua..',Condição de meio para realização de direitos já formulados e
transforma-se ele em instrumento de formulação e realização dos direitos.
Misto de atividade criadora e aplicadora do direito, ao mesmo tempo”.20.
A propósito, observaram Antônio Augusto Camargo Ferraz e João
Lopes Guimarães Júnior que o Ministério Público alcança sua atuação polí
tica por meio da propositura das ações civis e penais a seu cargo, de forma
que, “se ao processo, genericamente considerado, se atribui inegável cará
ter político, é fácil constatar que o poder de ajuizar essas ações faz do
Ministério Público uma instituição sensivelmente dotada áe. função políti
ca. O exercício dessa função será mais profundo à medida que in te r fe r ir
mais efetiva e intensamente na realidade brasileira. E, embora na defesa da
sociedade a instituição atue em áreas dé interesse da população em geral,
parece claro que sua ação deva atingir, sobretudo, os interesses das parce
las excluídas do acesso à Justiça, em causas que propiciem m e lh o r ia na
qualidade de vida desse contingente mais desassistido. A assunção dessa
função social impõe a responsabilidade de provocar a aplicação da lei na
18. Cf. Marcelo P. Goulart, invocando lições de Luigi Ferrajoli e José Reinajdo de
Linia Lopes, Ministério Público e democracia, em Revista do Ministério Público, 70, Lisboa.
19. Cf. art. 128, § 5o, II, e, da CR.
20. J. J. Calmon de Passos, artigo Processo e democracia, em Participação eproces-
so, org. por Ada Peilegrini Grinover, Revista dos Tribunais, 1988.
DEFESA DAS MINORIAS— 657
21. Cf. seu artigo A necessária elaboração de uma nova doutrina de Ministério Públi
co, compatível com seu atual perfil constiruciona.1, em Ministério Público instituição e p ro
cesso, cit., p. 23.
f
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CAPÍTULO 48
Generalidades
A força física foi uma das condições de sobrevivência do ser huma-
jt^no. Em razão disso, desde as sociedades primitivas, os homens usaram a
Lforça não apenas para se defender, para caçar os grandes animais e para
! ' construir, mas a usaram também para se imporem seja individualmente,
S
i seja enquanto grupos sociais. O chefe^ o cacique, o rei nem sempre eram os
filais sábios, mas freqüentemente OíTmais fortes. E, de uma forma geral, essa
ismesma força física também foi usada pelos homens para se imporem em
1 ',relação às mulheres.
Esss^processo de milênios criou uma profunda deformação cultural
Í
tfijue só recentemente tem sido enfrentada e vencida: a de que os homens
.poderiam controlar a função reprodutora das mulheres, como se elas fos-
^Vsem sua propriedade. Assim, até hoje, enquanto homem de várias amantes
T é por muitos admirado e considerado um galante conquistador, uma mu-
]. lher que tenha o mesmo comportamento é tida como uma desclassificada.
I^Bxphcações históricas para isso não faltam. Veja-se que, enquanto o concu-
í^binato do homem casado era tolerado, o adultério da mulher era tratado
í r com extremo rigor;1 o homem era o chefe da sociedade conjugal e a mulher
i ’rCra juridicamente incapaz e lhe devia obediência -,2 quanto aos direitos polí-
K -------------------------------------
•g.jm .. , ,
j> 1. Nas Ordenações Filipinas, a mulher adúltera era punida com a morte; o homem
| , só recebia essa pena se mantivesse reiaçqes sexuais com mulher casada; não se ele próprio
fosse o adúltero... E se o marido surpreendesse a mulher em adultério, ele a poderia matar
| impunemente (Liv. V, Tít. XXV é XXXVIII)... Hoje, o adultério nem mesmo é crime (a Lei
11.106/05 revogou o art. 240 do CF).
p -í 2. CC de 1916, art. 240, na sua redação original, alterada peta Lei n. 4.121/62.
660— CAPÍTULO 48
2, O princípio da igualdade
No Séc. XIX, com a industrialização e a urbanização, e depois, no
Séc. XX, em decorrência das enormes perdas humanas devidas às duas
grandes guerras, as mulheres começaram a assumir um papel mais inde
pendente e dinâmico no trabalho e na vida social. Uma grande quantidade
delas passou a sustentar a família, a assumir novas responsabilidades e a
enfrentar novos desafios. As reivindicações pela emancipação da mulher
começaram a se tornar mais gerais e mais intensas. :
Como fruto dessa mudança social, nos últimos anos intensificou-se
a tendência mundial de assegurar a igualdade dos seres humanos, sem pre
juízo de se proteger mais intensamente a mulher em todos os pontos em
que ela seja naturalmente mais fraca.
NoSSà Constituição inclui entre os objetivos fundamentais de nossa
República “promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça,
sexo, cor, idãde e quaisquer outras formas de discriminação” ,5 assegu ran d o
que “os honfèns e mulheres são iguais em direitos e obrigações, nos termos .;
da Constituição” .6
Naturalmente, essa igualdade não é nem podé ser absoluta, porquê,
naqueles pontos em que homens e mulheres são naturalmente diferentes, á
lei tem de levar em conta as diferenças (como os aspectos decorrentes da
maternidade). Para nos valermos das palavras de Valter Foleto Santin, ‘ em .
termos de política pública, é óbvio que podem ser criadas medidas espe
ciais e diferenciadas para cada um dos gêneros humanos, como na área de
Saúde a realização de exames e terapias para a maternidade ou câncei de
útero e afins, em relação às mulheres, ou de outra parte, em relação à ma
nutenção e terapia de doenças do aparelho reprodutivo masculino. O even-
3. Foi o Código Eleitoral de 1932, sob o Governo Provisório de Getúlio Vargas, 4ue
reconheceu o direito de voto às mulheres; a França, país da Declaração dos Direitos do U°"
raem e do Cidadão (1789), não concedeu às mulheres o direito de votar senão em 19‘í'í---'
4. Foi somente em 2000 que a primeira mulher foi nomeada ministra do STF; ho)e.
entre 1 1 ministros, são apenas duas as mulheres. Nunca tivemos, nem mesmo i n t e r í n a m c n t e '
uma mulher na Presidência da República. Ainda é mínima a quantidade de mulheres no Pudçr
Legislativo ou no Poder Executivo, assim como na direção das empresas.
5. CR, art. 3o, IV.
<S. CR, art. 5o, I. ‘
DEFESA DAS MULHERES— 661
f 1. Generalidades1
Ij Já antes observamos que, a partir da vigência da LACP, a legislação
1 gradativamente foi alargando a abrangência da defesa judicial de interesses
| transindividuais (v. Cap. 6 ). Primeiro, a própria Constituição cometeu ao
\ Ministério Público a defesa “do meio ambiente e de outros interesses difu-
j sos e coletivos” (art. 129, III) A seguir, o CDC passou a inserir uma norma
| de extensão no art. I o, IV, da LACP, por meio da qual os legitimados à ação
] civil pública, vieram a tornar-se autorizados a defender em juízo qualquer
j, interesse difuso ou coletivo.2 Diversas outras leis passaram a conter normas
i .de proteção a interesses difusos e coletivos, como aqueles ligados à pessoa
j portadora de deficiência, aos investidores no mercado de valores mobiliá-
\ nos, à criança e ao adolescente, à defesa da ordem econômica e da econo- •
* mia popular, à defesa da ordem urbanística,3 ou ligados à defesa do correto
| emprego de verbas públicas no ensino fundamental,4
5. RE n. 195.056-PR, STF Pleno, j. 09 12-99, m.v., rel. Min. Carlos Velloso, D J U ,}k ,}>
11-03, p. 18. . is.'is
6. LACP, art. I o, IV, com a redação que lhe deram a Lei n. 10.257101 e as Med. Prov
ns. 2.180-35101 e s . ./s is-'
7. REsp n.. 175.222-SP, 2a T. STJ, j. 19-03-02, v.u., rel. Min. Franciulii Neto, D J U ,# '
06-02, p. 230. "is ' .'
8. RE n. 163 231-SP, STF Pleno, j. 26-02-97, v.u., rel. Min. Maurício Correa, DJU, 2?'
06-01, p. 55. ' '
9- REsp n. 286.732-RJ, 3a T. STJ, j. 09-10-01, v.ú., rel. Min. Nancy Andrighi, :
11-01, p. 152; REsp n. 177.965-PR, 4* T. STJ, j. 18-05-99, v.u., rel. Min. Ruy Aguiar, »
123:317.
10. EREsp n. 141.491-SC, Corte Especial STJ, j. 17-11-99, v,u., rel. Min. Valdt-niar
Zvciter, RSTJ, 135.22. is ; : ;
11. REsp n. 296.905-PB, 6“ T. STJ, j. 22-10-02, v.u., rel. Min. Fernando G o n ç a lv e s . .
DJU, 11-11-02, p. 300.
12. REsp n. 554.960-RS, 2a T. STJ, j. 02-06-05, v.u., rel. Min. Castro Meira, D jfr& iiJ.
08-05, p. 242; REsp n. 224.677-MT, 2a T. STJ, j. 07-06-05, v.u., rel. Min. Otávio de Noronhn, j
DJU, 1°-08-05, p. 372.
DEFESA. DE QUALQUER INTERESSE TRANSINDIVIDUAL— 667
si “não será cabível ação civil pública para veicular pretensões que envolvam
f tributos, contribuições previdenciárias, o Fundo de Garantia do Tempo de
Serviço - FGTS ou outros fundos de natureza institucional cujos beneficiá-
s nos podem ser individualmente determinados” .13
:* Flagrante é a inconstitucionalidade de medida provisória que tenta
impedir o acesso coletivo à jurisdição. Tanto é garantia constitucional o
; acesso individual como o acesso coletivo à jurisdição. Ou seja, é o mesmo
que, tendo a Constituição garantido o acesso à jurisdição não só sob o as
pecto individual como coletivo (Tít. II, Cap. I, e art. 5o, XXI, XXXV e LXX.),
\ir o administrador a legislar e a dizer que, nos casos em que ele não o de-
j seja, não cabe acesso coletivo à ju risdiçã o... Ora, a lei infraconstitucional
não pode proibir nem o acesso individual.nem o acesso coletivo à jurisdi-
' ção. ■‘ ,
>Poderia ser-.nos objetado que, embora o parágrafo único do art. I o
* da LACP vede hoje o acesso coletivo à jurisdição, continua assegurado em
v sua plenitude o acesso individual. Entretanto, essa objeção não serve de
rscusa, pois tanto é garantia constitucional o acesso individual como o
. acesso coletivo à jurisdição. Não pode a lei infraconstitucional impedir nem
. um nem o outro.
| A Constituição, longe, aliás, de ter cuidado de restringir o objeto da
\ ação civil pública, acabou sim, ampliando-o, como se vê, exemplificativa-
i mente, dos arts. 5o, XXI e LXX, 8 o, III, 129, III, 232, que permitem com lar-
| gueza a tutela coletiva por iniciativa de éntidades de classe, associações
| civis, sindicatos, Ministério Público, comunidades indígenas. Com o alarga-
I ’ mento de objeto da ação civil pública, trazido pela Lei Maior, e, ultrapas-
;F sando-se os limites da defesa de interesses transindividuais, chegamos a
I ' alcançar por meio da ação civil pública, em alguns casos, até mesmo a defe-
fl, sa do interesse público primário, como é o caso da defesa do patrimônio
j público e social.14
■X
vJL
*
A defesa de interesses difusos ou coletivos
‘ J52 Com a devida vênia, equivoca-se a jurisprudência restritiva, que pre-
. ^ tende que, em matéria de interesses individuais homogêneos, a ação civil
; pública só poderia ser ajuizada em defesa de consumidores.15
uí. j-
WV
■h
:
..
i- *— --------------------------------:---
; jí-* 13. Med. Prov. ns. 2.102-26/00,'2.180-35101 e s., que introduziram um parágrafo
\ Pinico ao art. 2a da LACP. As alterações antecederam a EC n. 32/01, que, entre outros pontos,
1 , vedou o uso de medidas provisórias em matéria cie processo civil (CR, art. 62 § I o, b).
*iV 14. CR, art. 129, III; Lei n.' 8.625/93, art. 25, IV; LC n. 75193, art. 6o, VII; Lei n.
8429/92, art. 17.
15. AgRgRE n. 248.191-SP, 2o T- STF, j. l°-10-02, v.u., rel. Min. Carlos Velloso/D/Cl,
: j ^5-10-02, p. 64; AgREsp n. 404.656-RS, 5a T. STJ, j. 17-12-02, v.u., rel. Min. Gilson Dipp, DJU,
" ^-OZ-OS, p- 225.
668— CAPÍTULO 49
por meio da tutela coletiva, tanto pelo Ministério Público como pelos de-
4 mais co-legitimados do art. 5o da LACP e art. 82 do CDC.21
:: Para exemplificar, nessa linha de entendimento, o Suprçmo Tribu-
=nàl Federai tem admitido a defesa de interesses individuais homogêneos até
4 mesmo fora da estrita relação de consumo, como em matéria de direitos
: trabalhistas.22 Aliás, em matéria de aumentos indevidos de mensalidades
í escolares, essa mesma Corte entendeu, corretamente, estar o Ministério
; Público legitimado a promover em juízo a defesa de qualquer interesse
4 coletivo, lato sensu, por meip da ação civil pública, incluindo-se aqueles
i individuais homogêneos.23
4 Quanto às limitações de objeto para a ação civil pública, trazidas pe-
!o parágrafo único dô art. I o da LA.CP; reportamo-nos ao que ficou dito no
T n. 1 do Cap. 6.
" —----------------------------------
i 21. Cf. CR, arr. 129, III, e § I o, e LACP, art. I o, IV. •
1 22. AgRgRE n. 394.180-CE, 2* T. STF, j. 23-11-04, v.u., rel.Min. Ellen Gracie, DJU,
iO 12-04, p. 47.
J 23. RE n. 163.231-3, STF Pleno, j. 26-02-97, rel. Min.MaurícioCorrea, Informativo
62.
L
Título V
CONCLUSÕES
-"i i
■iste
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istei
44te
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CAPITULO 50
SÍNTESE D O S PRINCIPAIS
P O N T O S D O TRABALHO
3:..
ANEXOS
Legislação
Modelos
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(
(
! LEGISLAÇÃO
VI — à ordem urbanística.4
Parágrafo único. Não será cabível ação civil pública para veicular
pretensões que envolvam tributos, contribuições previdenciárias, o Fundo
de Garantia do Tempo de Serviço — FGTS ou outros fundos de natureza
institucional cujos-benefíciários podem ser individualmente determinados.5
Art. 2o As ações previstas nesta Lei serão propostas no foro do local
onde ocorrer o dano, cujo juízo terá competência funcional para processar
e julgar a causa.
Parágrafo único. A propositura da ação prevenirá a jurisdição do juí
zo para todas as ações posteriormente intentadas que possuam a mesma
causa de pedir ou o mesmo objeto.6
Art. 3o A ação civil poderá ter por objeto a condenação em dinheiro
ou o cumprimento de obrigação de fazer ou não fazer.
Art. 4o Poderá ser ajuizada ação cautelar para os fins desta Lei, obje
tivando, inclusive, evitar o dano ao meio ambiente, ao consumidor, à ordem
urbanística ou aos bens e direitos de valor artístico, estético, histórico, turís
tico e paisagístico (VETADO) . 7
Art. 5o Têm legitimidade para propor a ação principal e a ação cau
telar:8
I — o Ministério Público;
II — a Defensoria Pública;
III — a União, os Estados, o Distrito Federal e osMunicípios-,
IV — a autarquia, empresa pública, fundaçãoou sociedade de
economia mista;
V — a associação que, concomitantemente:
a) esteja constituída há pelo menos 1 (um) ano nos termos da lei
civil;
b) inclua, entre suas finalidades institucionais, a proteção ao meio
ambiente, ao consumidor, à ordem econômica, à livre concorrência ou ao
patrimônio artístico, estético, histórico, turístico e paisagístico.
4, Este inciso foi acrescentado pelo art. 53 da Lei n. 10.257/01, como inc. III do art.
I o da LACP, renumerando-se os demais; depois, por força do art. 6” da Med. Prov. n. 2.180-
35/01, passou a constar do rol do art. 1° da LACP como inciso VI, mantidos os demais; outros-
sini, o art. 21. da mesma medida provisória revogou o art. 53 da Lei n. 10.251/01. A propósito,
v. nota de rodapé n. 2, na p, 665.
5- Parágrafo acrescentado pelo art, 6o da Med. Prov. n, 2.180-35/01.
6. Parágra/o acrescentado peio art. 6° da Med. Prov, n. 2.180-35/01.
7. Redação dada pelo art. 54 da Lei n. 10.257/01. Sobre o veto parcial à parte finíú
do art. 4° da LACP, admissível em face da ordem constitucional precedente, v. Cap. 11, n. 3-
8. A-redação do caput e dos incisos é a que lhes deu a Lei n. 11.448/07.
LEGISLAÇÃO— 681
Títu lo III
Capítulo I
DISPOSIÇÕES GERAIS
Art. 81. A defesa dos interesses e direitos dos consumidores e das ví
timas poderá ser exercida em juízo individualmente, ou a título coletivo.
Parágrafo único. A defesa coletiva será exercida quando se tratar de:
I •— interesses ou direitos difusos, assim entendidos, para efei
tos deste Código, os transindividuais, de natureza indivisível, de que sejam
titulares pessoas indeterminadas e ligadas por circunstâncias de fato;
II — interesses ou direitos coletivos, assim entendidos, para efe
tos deste Código, os transindividuais de natureza indivisível de que seja
titular grupo, categoria ou classe de pessoas ligadas entre si ou com a parte
contrária por uma relação jurídica base;
III — interesses ou direitos individuais homogêneos, assim en
tendidos os decorrentes de origem comum.
Art. 82. Para os fins do art. 81, parágrafo único, são legitimados con-
correntemente:21
I — o Ministério Público;
II — a União, os Estados, os Municípios e o Distrito Federai;
III — as entidades e órgãos da administração pública, direta ou
indireta, ainda que sem personalidade jurídica, especificamente destinados
à defesa dós interesses e direitos protegidos por este Código;
IV — as associações legalmente constituídas há pelo menos um
ano e que incluam entre seus fins institucionais a defesa dos interesses e
direitos protegidos por este Código, dispensada a autorização assemblear.
21. A redação do caput desre artigo foi dada pela Lei n. 9-008195.
LEGISLAÇÃO— 685
CAPÍTULO II
CAPÍTULO I II
í- CAPÍTULO IV
Da Coisa Julgada
Art. 103..Nas ações coletivas de que trata este Código, a sentença fa
rá coisa julgada:
I — erga omnes, exceto se o pedido for julgado im p ro c
por insuficiência de provas, hipótese em que qualquer legitimado poderá
intentar outra ação, com idêntico fundamento, valendo-se d e n o v a prova,
na hipótese do inciso I do parágrafo único d o art. 81;
II — ultra partes, mas limitadamente ao grupo, categor
classe, salvo improcedência por insuficiência de provas, nos termos do inci
so anterior, quando se tratar da hipótese prevista no inciso II do parágrafo
único do art. 81;
III — erga omnes, apenas no caso de procedência do pedido
ra beneficiar todas as vítimas e seus sucessores, na hipótese do inciso III do
parágrafo único do art. 81.
§ I o Os efeitos da coisa julgada previstos nos incisos I e II não pre-
judicarão interesses e direitos individuais dos integrantes da coletividade,
do grupo, categoria ou classe.
§ 2o Na hipótese prevista no inciso III, em caso de i m p r o c e d ê n c i a
do pedido, os interessados que não tiverem intervindo no processo com»
litisconsortes poderão propor ação de indenização a título individual.
§ 3o Os efeitos da coisa julgada de que cuida o art. 16, com binado-
com o art. 13 da Lei n. 7.347, de 24 de julho de 1985, n ão prejudicarão as
LEGISLAÇÃO— 689
C-
r
r
(.
SÚMULAS
DO CONSELHO SUPERIOR
DO MINISTÉRIO PÚBLICO
pa, mas não se prescinde do nexo causai entre o dano havido e a ação ou
omissão de quem cãuse o dano. Se o nexo não é estabelecido, é caso de
arquivamento do inquérito civil ou das peças de informação.
Fundamento-. Embora em matéria de dano ambiental a Lei
h. 6.938/81 estabeleça a responsabilidade objetiva, com isto se eli
mina a investigação e a discussão da culpa do causador do dano,
mas não se prescinde seja estabelecido o nexo causai entre o fato
ocorrido e a ação ou omissão daquele a quem se pretenda respon
sabilizar pelo dano ocorrido (art. 14, § I o, da Lei n, 6.938/81; Pt, ns.
35.752/93 e 649/94).
19. Não há necessidade de homologação pelo Conselho Superio
promoção de arquivamento de todos os procedimentos administrativos
instaurados com base no art. 201, VI, do Estatuto da Criança e do Adoles
cente, mas. somente daqueles que contenham matéria a qual, em tese, po
deria ser objeto de ação civil pública.
Fundamento-. A expressão “procedimentos administrativos”
representa gênero, do qual o inquérito civil, peças de informação,
procedimentos preparatórios, sindicância etc. são espécies. O pro
cedimento administrativo eqüivale a inquérito civil ou peças de in
formação, sujeito a homologação do Conselho Superior, quando
tratar de lesões de interesses difusos, coletivos ou mesmo indivi
duais indisponíveis relativos à proteção de crianças e adolescentes,
na forma do art. 223 do EÇA (Pt. ns. 7.151/94 e 8.312/94). '
20-^Quando o compromisso de ajustamento tiver a característica de
ajuste prelijiiinar, que não dispense o prosseguimento de diligências para
uma soluçaò definitiva, salientado pelo órgão do Ministério Público que o
celebrou, o Conselho Superior homologará somente o compromisso, auto
rizando o prosseguimento das investigações.
Fundamento: O parágrafo único do art. 112 da Lei Com
plementar estadual n. 734/93 condiciona a eficácia do compromisso
ao prévio arquivamento do inquérito civil, sem co rresp o n d ên cia
■ com a Lei federal n. 7.347/85. Entretanto, pode acontecer que, não
obstante ter sido formalizado compromisso de ajustamento, haja
necessidade de providências complementares, reconhecidas pelo
interessado e pelo órgão ministerial, a ser tomadas no curso do in
quérito civil ou dos autos de peças de informação, em busca de uma
solução mais completa para o problema. Nesta hipótese excepcio
nal, é possível, ante o interesse público, a homologação do ajuste
preliminar sem o arquivamento das investigações (Pt. ns. 9.245/94 e
7.272/94).
21. Homologada pelo Conselho Superior a promoção de arqui
mento de inquérito civil ou das peças de informação, em decorrência de
compromisso de ajustamento, incumbirá ao órgão do Ministério Público
que o celebrou fiscalizar o efetivo cumprimento do compromisso, do que
lançará certidão nos autos.
SUMULAS— 697
16. A Súm. n. 32 do CSMP-SP foi publicada cf. Aviso n. 5102-CSMP (DOE, seç. I, 11-
01-02, p. 27).
704— SÚMULAS
de que tais Faltas, por ação ou omissão, foram meios para a prática de ato
que encontre adequação na Lei n. 8.429/92,17
Fundamento'. O Ministério Público vem recebendo inúme
ras representações e peças de informação dando conta de irregula
ridades na Administração Pública, onde vige, dentre outros, o prin
cípio da legalidade. É certo que as formalidades são estabelecidas
pela lei para salvaguarda de interesse maior, qual seja, o da probi
dade administrativa. Muitas vezes, todavia, é constatado que a forma
• não foi cumprida por desatenção, desconhecimento ou despreparo
do agente público, constituindo-se em irregularidade meramente
formal, que não se traduz em hipótese em que é necessária a inter
venção do Ministério Público.
Na linha do direcionamento dos trabalhos do Ministério Pú
blico na área dos interesses difusos, urge sejam reservados esforços
para a investigação de fatos que possam dar suporte ao ajuizamento
de ação civil pública, possibilitando-se o arquivamento de procedi-
mento em que os fatos noticiados sejam aqueles constantes da sú-
, mula. Ressalve-se que a vocação dos membros da Instituição será su
ficiente para analisar se as irregularidades noticiadas constituem
meio para a prática de outras condutas que infrinjam o dever de
probidade administrativa e que, bem por isto, demandarão acurada
investigação.
^ A proposta tem esta finalidade, buscando-se maior eficácia
náfàtividade
»s:-. ministerial.
3.4»' O Conselho Superior homologará arquivamento de inquéritos
civis ou assemelhados que tenham por objeto, apenas, dano ao erário
quando, cumulativamente (1) não constituir ato de improbidade adminis
trativa e (2) o prejuízo não alcançar expressão econômica relevante, assim
entendido aquele que não seja superior a cinco saíários-mínimos. Neste
caso, caberá ao Ministério Público apenas verificar se o co-legitimado tomou
as providências necessárias para o ressarcimento, evitando-se omissões do
losas.18 -
Fundamento-. É conhecida a sobrecarga do Ministério Públi
co na área dos interesses difusos, conceito no qual se insere o de
patrimônio público. O ideal seria que nossa estrutura permitisse a
apuração de todo e qualquer ato do qual resultasse dano ao erário.
Contudo, não mais é dado desconhecer que no momento atuai a
realidade demonstra que isto não é possível. Urgente a racionaliza
ção do serviço, sendo imperioso que sejam traçados os caminhos
prioritários na área.
17- A Súm. n. 33 do CSMP-SP foi publicada cf. Aviso n. 5/02-CSMP (DOE, seç- í>
01-02, p. 27).
18. A Súm. n. 34 do CSMP-SP foi publicada cf. Aviso n. 5/02-CSMP (D O E , seç- I.
01-02, p. 27).
SÚMULAS— 705
19. A Súm. n. 35 do CSMP-SP foi publicada cf. Aviso n. 192102-CSMP (DOE, seç. I, 08-
11-02, p. 35).
706— SÚMULAS
24. A Súm. n. 38 do CSMP-SP foi publicada cf. Aviso n. 75/04-CSMP (D OE, seç. I, 02-
04-04, p. 114).
25. A Súm. n. 39 do CSMP-SP foi publicada cf, Aviso n. 152/04-CSMP (DOE, seç. I, 21-
07-04, p. 43), mas a redação acima é aquela que lhe deu a reunião de 30-01-07 do CSMP-SP,
conforme texto publicado no site do MP-SP (httpi/Avww.mp.sp.goVibr, acesso em 11-04-07).
708— SÚMULAS
34. A Súm. n. 45 do CSMP-SP foi publicada cf. Aviso n. nSO/05-CSMP (DOE, seç. I, 16-
09-05, p. 31).
ai
NORMAS REGIMENTAIS
DO CONSELHO SUPERIOR
DO MINISTÉRIO PÚBLICO
(-)
TÍTULO XXII
CAPÍTULO I
Das disposições gerais
CAPÍTULO II
D a instauração
CAPÍTULO III
D o prazo para a conclusão
CAPÍTULO IV
D o arquivamento
Seção I
D as disposições gerais
Seção II
D as providências prévias
Seção III
Dos Im pedim entos
0-;i.
Art. 215. Estará impedido:
a) de proferir voto o membro do Conselho que tenha lançado nos
autos do inquérito ou do expediente qualquer manifestação de mérito so
bre o caso em julgamento, exceto se o tiver feito já na qualidade de Conse
lheiro;
b) de presidir o julgamento do caso e proferir voto o Procurador-
Geral, se for sua a promoção de arquivamento ou o ato que deva ser revisto
pelo Conselho, ou se tiver previamente oficiado como Conselheiro na ho
mologação de arquivamento do caso, ou se o arquivamento provier de
quem exerça atribuições por ele delegadas em casos de suas atribuições
originárias.
Art. 216. O membro do Ministério Público que promoveu o arqui
vamento de inquérito civil ou de peças de informação não está impedido de
propor a ação civil pública, se surgirem novas provas em decorrência da
conversão do julgamento em diligência (Súm. n, 16/CSMP).
Seção IV
D a Sessão Pública de Julgamento
Seção V
Da deliberação
11. Redação dada pelo Ato n. 2195-CSMP (DOE, seç. I, de 02-11-95, p. 27).
12. Redação dada pelo Ato n. 2/95-CSMP (DOE, seç. I, de 02-11-95, p. 27).
13. Redação dada pelo Ato n. 2/95-CSMP (DOE, seç. I, de 02-11-95. p. 27).
14. Redação dada pelo Ato n. 2/95-CSMP (DOE, seç. I, de 02-11-95, p. 27).
NOSMAS REGIMENTAIS D O CSMP-SP— 719
CAPÍTULO V
Das recom endações
CAPÍTULO VI
D a revisão do arquivamento
CAPÍTULO VII
D a transação
Art. 234- Nos inquéritos civis, o Ministério Público poderá tomar dos
interessados compromisso de ajustamento de sua conduta às exigências
legais (v. art. 5o, § 6o, da Lei n. 7.347/85, alt. pela Lei n. 8.078/90).
NORMAS REGIMENTAIS D O CSMP-SP— 721
CAPÍTULO VIII
Dos recursos
, ____ ______________
-glp
15. Redação dada p e lo A to n. 2/95-CSMP (DOE, seç. 1, de 02-11-95, p. 27)-
M O D ELO S
PORTARIA
*
COMPROMISSO DE AJUSTAMENTO
Inq. Civil n.
Interessados:
Objeto:
Compromitente
r
c
MODELOS— 729
'------------- --------------- — ------------------ --------------------------------- —— - c
(
3. Prom oção de arquivam ento de inquérito civil
PROMOÇÃO DE ARQUIVAMENTO C
Inq. civil n. ^
1. Pela Portaria de fls. 2, o órgão local do Ministério Público instau- (
rou o presente inquérito civil, nos termos do art. 8o, § I o, da Lei n. 7.347, ,■
de 24-07-85,' visando a apurar a notícia que lhe chegou pela imprensa?da
cidade (fls. ...), no sentido de que, em dias do mês d e ..... de ..... , houve (
por várias vezes despejo de resíduos industriais tóxicos, de alto teor de
alcalinidade, nas águas do Rio Lambari, no trecho compreendido entre o F
Bairro do Tijuco Preto e a Vila Esperança. .(
2. Ouvidos os jornalistas responsáveis pela notícia que deu ensejo à
iniciativa ministerial, informaram eles que tinham colhido a informação por ^
meio de comentários na vizinhança, no sentido de que a Indústria M oreira .i
S.A teria efetuado nos últimos meses despejo reiterado de substâncias pos-
sivelmente tóxicas às margens do rio. v
Entretanto, tais informações, assaz imprecisas, não foram confirma- (
das sequer pela prova testemunhai. Ouvidos inúmeros moradores dos bair
ros em questão, afirmaram desconhecer os fatos narrados na reportagem '
(fls. Os responsáveis pela empresa indicada também foram ouvidos, • (
afirmando que da sua produção de conservas alimentícias, não resultam
dejetos tóxicos, nem são lançados resíduos, sem o devido tratamento, nas L
águas do Rio, ao contrário do noticiado na reportagem.
Determinada a realização de prova pericial, os técnicos subscritores
dos laudos de fls. ... afirmaram categoricamente que nem a Indústria M o- 1
reira S.A. nem qualquer, outra que esteja a montante do local onde se noti- ■■
ciou o suposto dano ambiental, nenhuma delas descarta dejetos tóxicos das
suas linhas de produção, e, o que é mais importante, demonstraram que o (
Rio Lambari mantém sua situação natural, sem o menor prejuízo à fauna
aquática ou à população ribeirinha (fls. ...). 'te.
3. Assim sendo, não tendo sido confirmada, nem mesmo indiciaria-
mente, a existência de lesão ao meio ambiente nem a qualquer outro inte
resse difuso, não vejo viabilidade em propor a ação civil pública de que f
cuida a Lei n. 7.347/85, razão pela qual prom ovo o arquivamento do pre-
sente inquérito civil. Reserva-se esta Promotoria de Justiça, porém, a possi
bilidade de reabrir as investigações, caso de outras provas tenha notícia. 1.
f
730— MODELOS
d e ............. de
4.
ii-
M ODELOS— 731
6. Quanto ao rito, será o sumário, nos casos do art. 275, I, do CPC, ou ordinário,
nos demais (CPC, art. 272). Se sumário, na inicial deverão ser indicadas as provas a produzir e
oferecido o rol de testemunhas (CPC, art. 276).
732— MODELOS
d e ............. de
7. As ações civis movidas pelo Ministério Publico, mesmo quando fundadas no CDC,
sob o aspecto doutrinário, são sempre ações civis públicas; quanto aos outros legitimados
para a defesa de direitos transindividuais pelo CDC, Sua ação se chama coletiva (v, Cap. 3)-
Quanto ao rito, v. nota de rodapé n. 6, retro, na p. 714.
734— MODELOS
d e ..............de
QUESITOS
.
pelos autores do anteprojeto. Rio de Janeiro, 7. ed. Forense Universitária,
2001
BEZNOS, Clóvis. Ação popular e ação civil pública. São Paulo, Re
vista dos Tribunais, 1989-
_________. A ação popular e a ação civil pública em face da Constitui
ção Federal de 1988. RPGE-SP, dez. 1988.
BURIN, Rui Luiz. A Lei n. 7-347/85 e a ação civil pública. RMPERS,
19:257.
BURLE FILHO, José Emmanuel e GAMA, Antonio Carlos Augusto.
Ação civil pública promovida pelo Ministério Público e ônus da sucumbên-
cia. Justitia, 174, 1996.
CABRAL, Armando H. Dias. Proteção ambiental. RDP, 47-48-.17. São
Paulo, Revista dos Tribunais, 1978.
CALAMANDREI, Piero. Istituzioni di diritto processuale civtle,
secondo i l nuovo codice, 2. ed. Pádua, CEDAM, 1943.
CAPPELLETTI, Mauro. Formazioni sociali e interessi di gruppo da-
vanti alia giustizia civile. Rivista d i D iritto Processuale, 30, 1975-
_________. La protection des intérêts collectifs et de groupe dans le
procès civil. Revue Internationale de D roit Compare, 3, 1975.
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gre, Sérgio Antonio Fabris, 1988.
CARNEIRO, Paulo Cézar Pinheiro. “Da tutela preventiva dos interes
ses difusos pelo Ministério Público”, Anais do VI Congresso N acional do
Ministério Público, São Paulo, 1985, Justitia, 131:279', Temas atuais de
D ireito, Rio, Liber Juris, 1986.
BIBLIOGRAFIA ESPECÍFICA— 739
L
746— BIBLIOGRAFIA ESPECÍFICA
— A— e A D I n — 133
execução — 674
juízo universal — 284
ab s o lv iç ã o d e in stância — 365 leis em tese — 134
ação litispendência — 225, 230
afirmativa — 653 não-propositura — 89
am biental — legitimação — 154 n o E C A — 617, 621
carência — 352 objeto — 673
cautelar — 217, 221 obrigatoriedade — 84
instrumental — 221 p edido — 134
^atisfativa — 217, 221, 222, 470, p ó lo passivo — ; 674
472 recursos — 484
civil renúncia — 674
ex delicto — 464 rito processual — 220
prejudicialídade — 230 coletiva —j v. ação civil p ú blica
pública condenatória — 217
aditamento — 674 constitutiva— 217, 237
assistência litisconsorcial — d e im probidade — 194, 195
67 4 d e nulidade — 524
autoridade coatora — 345 d e regresso — 563
conceito — 69, 116 declaratória — 217, 237
consum idor — 673 incidental— 335, 526, 539
desistência — 363, 674 extinção — 365
distinção da ação p o p u la r — individual — 224
144 coisa julgada — 532
distinção d o m andado de litispendência — 225
segurança coletivo — 144 suspensão — 225, 226, 317
e ação penal — 1230
748— ÍND ICE AI.FABÉTICO-REMISSIVO
art. 81, parágrafo único, I — 50 art. 95 — 128, 501, 505, 507, 508,
art. 81, parágrafo único, 11 — 52 517,519
art. 81, parágrafo único, III — 66, art. 96 — 504
124, (518, 668 arts. 96-100 — 501
arts. 81 e s . — 70 art. 97 — 5Ò5, 507, 508, 514, 515,
arts. 81-91 -— 76 516, 517, 519
arts. 81-104 — 224 art. 97, parágrafo único — 516
art. 82 — 76, 89, 90, 101, 116, 122, art. 9 8 — 116, 501, 503, 512, 514,
169, 236, 287, 306, 312, 314, 516, 517
321, 322, 341, 342, 382, 403, art. 98, § 2 ° — 517
447, 515, 523, 548, 600, 668, 669 art. 98, § 2 ° , 1 — 516, 518
art. 82, § I o — 209, 292, 305 art! 98, § 2o, II — 51.6
art. 82, § 2o — 122, 326, 327, 328 art. 99 — 224, 501, 505, 521
art. 82, § 3o — 122, 378, 379, 380, art. 99, parágrafo único — 496, 521
381 art. 100 — 501, 504, 505,.508, 512,
art, 82, 1 — 292 5 1 4 ,5 1 5 ,5 1 6 ,5 1 7 ,5 1 8 ,5 2 2
art. 82, II — 292 art. 100, parágrafo único — 496,
art. 82, III — 288, 292 500, 501, 503, 505, 522
art. 82, rV — 291, 292, 293, 297, art. 101 — 267, 268, 285
298, 305 art. 101, 1 — 253, 268, 516, 517
art. 83 — 124, 218, 237, 238, 239 art. 102 — 131, 535
art. 84 — 510 art. 103 — 66, 227, 264, 344, 520,
art. 84, § I o — 493 527, 528, 529, 533, 536, 542
art. 84, § 2o 471 art. 1 0 3 ,1 — 304, 529, 531, 532, 534
art. 84, § 3o — 223, 224, 471, 472, art. 103, II — 227, 530, 531, 532,
489, 491 534, 535
art. 84, § 4o — 471, 472, 489, 490, art. 103, III — 227, 300, 304, 530,
491,492 531, 532, 535
art. 84, § 5o — 491 art. 103, § I o — 342, 530, 534, 535
art. 87 — 52, 66, 442, 548, 551 art. 103, § 2o — 304, 317, 530, 535,
art. 87, parágrafo único -^-'548, 551 536
art. 90 — 76, 101, 120, 122, 124, art. 103, § 3o — 243, 249, 533, 534
137, 171, 177, 178, 239, 252, art. 103, § 4o — 533
261, 265, 266, 287, 288, 306, art. 104 — 225, 226, 227, 243, 245,
421, 436, 477, 493, 527, 528, 249, 304, 316, 317, 321, 331,
551, 668 333, 509, 514, 529, 530, 532,
art. 91 — 116, 241, 517, 519 534, 535, 543
arts. 91-100 — 224 art. 110— 117, 123, 127, 239, 679
art. 92 — 358, 378, 379 arts. 110-117— 120
art. 93 — * 252, 261, 264, 265, 266, art. 112 — 364, 366, 681
267, 268, 270, 272, 273, 285, art. 113 — 121, 122, 237, 326, 327,
504, 528, 621 378, 379, 381, 662, 681
art. 93, 1 — 252, 264, 285 art. 114 — 683
art. 93, II — 253, 263, 264, 266, 269, art. 115 — 551, 683
270, 285, 520, 521, 527, 528, 538 art. 116 — 547, 683
art. 94 — 225, 226, 243, 250, 304, art. 11 7 — 124, 239, 683
316, 317, 318, 322, 331, 332,
333, 504, 514, 518, 535, 543 art. 74, IV — 424
ÍNDICE ALFABÉTICO-REMISSIVO— 753
ÍN D IC E ALFABÉTICO-REMISSIVO— 757
'(
art. 730 — 224, 389, 511, 552 art. 39, § 5 ° — 423
art. 731 — 511 art. 42 — 364, 366, 369, 403
arts. 736 e s . — 514 art. 46, § I o — 423
art. 741 — 224, 389 art. 64, parágrafo único — 233
art. 745 — . 388 art. 65 — 232
art. 760 — 343 art. 66 — 231
art. 761 — 343 art. 67,1 — 232
art. 796 — 72 art. 67,11 — 232
art. 800, parágrafo único — 222 art. 67, III — 231
art. S04 — 470 art. 68 — 73, 80
art. 807 — 483 ■ art. 84 — .203, 280, 281, 282
art. 8 1 3 ,1 — 470 art. 84, § I o — 281
art. 870,1 — 343 art. 84, § 2o — 281
art. 870, II — 343 art. 88 — 120 0
art. 888, V I — 469 art. 92 — 73, 230
art. 908, I — 343 art. 92, parágrafo únicò — 73 c
art. 914,1 — 72 art. 93 — 230 (
art. 928 -— 469 art. 112 — 460
art. 942, II — 342 ' art. 125 — 73 (
art. 944 — 88, 105 art. 127 — 73
art. 988, VIII — 73
c
art. 134 — 73
art. 1.046 ^ 334 art. 136 — 73 <
arts. 1.046 e s . — 342 art. 137 — 73
art. 1.103 — 72 art. 1 4 2 7 3 (
art. 1.104 — 72, 74, 75 art. 144 — 73
art. 220 — 406
í
art. 1.105 — 87
art. 1.144,1 — 94, 98 art. 2 2 1 — 406
art. 1.177, I I I — 72, 600 art. 252 — 454, 455
art. 1.178 — 72, 600 art. 254 — 454, 455
art. 1.189 — 72 art. 258 — 454
,art. 1.194 — 72 art. 514 — 194
a k 1.197 — 72 art. 576 — 366, 369, 403 f
art. 1.198 — 72 art. 622 — 542
art. 1.204 — 71 C R
F
art. 1.211-A — 640 art. I o, TV— 208 (
art. 1.218, V II — 72 art. 3o, I V — 638, 660
C P C d e 1939 art. 5o — 140 F.
art. 670 — 72 art. 5o, caput — 104 i,
CPP art. 5o, I — 660
art. 4o — 423 art. 5o, I V — 423 V
art. 5o, II — 407, 414 art. 5o, L IX — 234, 235
art. 12 — 423 art. 5o, LX — 409
art. 13, II — 407, 414 art. 5o, L X IX — 104, 145, 218, 219 F
art. 18 — 434, 448, 449 art. 5o, L X X — 104, 119, 138, 145,
art. 20 — 410, 428 219, 289, 315, 543, 667
art. 5o, DOt, a — 219, 301
art. 28 — 85, 89, 108, 360, 361, 362, (..
367, 373, 397, 429, 432, 435, 438 art. 5o, LXX, b — 218, 219, 289, 298,
302 I..
art. 29 — 235, 236
758— ÍND ICE ALFABÉTICO-REMISSTVO
fo rn e c e d o r g r u p o s étnicos r— 652
conceito — 163 G u id e lin e s o n th e R o le o f
de serviços -— 568 P ro se cu to rs — 584
(
f.:
IND ICE ALFABETJCO-REMISSIVO—- 765
privado — J —
conceito — 4 5
p rocessual — 349, 350
p ú b lico — 350 ju iz — im p e d im e n to — 456
abrangência — 96 ju iz a d o e s p e c ia l — 220, 254
conceito — 45
ju íz o
organizações — 298
de prelibação — 194
prim ário — 47
universal — 284, 519
secundário — 47
ju lg a m e n to a n te c ip a d o d a lid e
social — 182, 209, 350
vinculação — 92 223, 471
in teresse s Justiça
co letivos—-5 2 d o Trabalho ■— 254
conceito — 52, 673 Federal — 274, 277, 352
norm a residual — 127, 239, 665 ju stificação p ré v ia — 471 .
difusos — 50, 673
ação p enal —- 229 ;
conceito — 50
— L—
norm a residu al— 127, 239, 665
proteção penal — 59
individuais LACP
hom ogên eos ações cabíveis —-2 3 7
conceito — 53, 673 alterações subseqüentes — 119
e Ministério Público — 83, art. 1D — 76, 116, 123, 126, 135,
173 151, 171, 197, 199, 237,463, .
n orm a residual — 239 574, 575, 634
legitimação — 316 art. I o, c a p u t — 143, 205, 246, 316,
metaindividuais — 50 . 560
quadro sinótico — 55 art.. I o, I — 148, 196
questão terminológica — 50 art. I o, II — 124, 171
transindividuais — 48, 50 art. I o, III — 182, 183, 184, 196
in terv en ção art. I o, r v — 62, 125, 127, 300, 436,
624, 625, 646, 665, 666, 669
de terceiros — 330, 339
art. I o, V — 625, 665
extrajudicial — 613
art. I o, V I — 634
in tim a ç ã o '— 405 art. I o, parágrafo único — 124, 127,
do M inistério Público — 81 139, 140, 667, 668, 669
pessoal — 81 art. 2o — 249, 251, 252, 260, 262,
in tim ação n u la — 541 263, 266, 267, 268, 271, 273,
274, 275, 285, 312, 527, 538, 620
in v ersão d o ô n u s d a p ro v a — 164,
art. 2o, parágrafo único — 284, 519
165, 175, 559
art. 3o — 124, 129, 131, 218, 237
in v estid o res — 613 art. 4o — 124, 221, 237, 472, 634
in vestigação — v. in q u érito civil art. 5o — 76, 86, 89, 116, 148, 183,
objeto — 187 221, 224, 236, 290, 293, 298,
prévia — 422 306, 312, 314, 321, 322, 341,
342, 382, 401, 403, 447, 523,
ius p u n ie n d i — 229, 463
548, 606, 669
ÍNDICE AT.FABÉTICO-RJGMISSIVO— 767
art. 5°, 1 — 291, 297 art. 18 — 442, 547, 548, 549, 550,
art. 5o, II — 28S, 297, 625 551, 552, 553, 554, 557
art. 5o, IV — 305, 306, 630 art. 19 — 222, 476, 477, 490, 548,
art. 5o, V — 300 551
art. 5°, V,í> — 625,626 art. 20 — 496
art. 5o, § I o — 90, 358 art. 2 1 — 76, 101, 122, 124, 137,
art. 5o, § 2o — 319, 320 171, 177, 178, 218, 222, 223,
art. 5o, § 3o — 89. 297, 363, 364, 224, 237, 239, 261, 264, 265,
365, 366, 367, 370, 398 287, 288, 304, 306, 316, 463,
art. 5o, § 4o — 292, 662 478, 485, 490, 491, 493, 516,
art. 5o, § 5o — 94, 121, 258, 266, 520, 527, 528, 529, 548, 550,
326 551, 600, 614, 618, 668
art. 5o, § 6o — 121, 379, 390, 451, cam po de in cid ên cia— 123
514 história— 115
art, 6o — 408 objeto — 123
art. 7o — 409 origens — 115
art. 8o — 415, 425, 437 texto integral — 679
art. 8o, § I o — 407, 408, 421, 464, LC n. 35179 — art. 33, I — 406
559 L C n. 40/81 — 74, 75
art. 8o, § 2o — 411, 415
art. 22, XIII — 74, 75, 80
art. 9o — 85, 89, 366, 372, 373, 397,
LC n. 64190
432, 441, 623
art. 9o e §§ — 367, 404 art. 3o — 76
art. 9o, § I o — 108, 396, 422, 432, art. 22 — 76
433, 436, 441, 442, 447 L C n. 73/93 — 71'
art. 9o, § 2o — 357, 429, 433, 442, LC n. 75/93 — 71
443 art. 5o, H, a — 142
art. 9°, § 3o — 433, 443, 444 art. 6o — 184
a r t . 90 § 40 _ 435; 457
art. 6o, § I o — 499
art. 10 — 414, 463, 464, 465, 466, art. 6o, § 2o — 499
» 467 art. 6°, VII — 197, 667
art. 11 — 129, 489, 492, 500 art. 6o, v n , b — 184, 196, 199
art. 12 — 222, 472, 473, 476, 478, art. 6o, VII, c — 76
479, 485 art. 6o, VII, d — 101, 169
art. 12, caput — 472
art. 6°, X I I — 101,668
art. 12, § I o — 477, 479, 480 art. 6o, X IV — 199
art. 12, § 2o — 489 art. 6o, XIV, b — 76, 629
art. 13 — 178, 490, 496, 497, 499, art. 6o, XTV , f — 199
500, 501, .502, 504, 505, 506, art. 6C, XDt, b — 199
521, 522, 559, 615, 620, 624 art. 6o, X V — .107
art. 14 — 476, 477, 478, 482, 484,
art. 6o, XVII, a — 11
485, 489, 490 art. 7° — 422
art. 15 — 76, 86,'237, 512, 523 art. 7o, I — 427
art. 16 — 247, 260, 261, 262, 263,
art. 7o, II — 414
265, 271, 272, 285, 304, 342, art. 7o, III — 407
402, 403, 527, 528, 533, 536, 542 art. 8° — 41 2,422, 427
art. 17 — 550
768— ÍNDICE ALFABÉTICO-REMISSIVO
art. 7o — 75 L ei n. 9-985/00
Lei n. 9-469/97 — 476, 485, 486 art. 2o, III — 151
Lei n. 9.494/97 — 260, 527, 538, 683 Lei n. 10.048/00 — 597, 641
art. I o — 474, 481 L ei n. 10.098/00 — 597, 604
art. l°-C — 574 art. 2o, I — 604
art. 1°-D — 511, 552 art. 2o, n — 604
art. 2o — 120, 527, 528 art. 2o, III — 595
art. 2°-A — 268, 294, 295, 297, 303, art. 3o — 604
304, 305, 520, 521 art. 4 o — 604
art. 2°-A, parágrafo único — 295 art. 5o -— 604
crítica — 262, 263, 264 ■art. 6o — 605
ineficácia — 265 art. 7o — 605
paradoxos — 261 art. 1 1 — 605
art. 17 — 605
art. 3o, parágrafo único — 155
art. 26 — 606
art. 4o — 155, 337,570
art. 19 — 425 L ei n. 10.167/00 — 173, 622
art. 27 — 381, 399 Lei n . 10.173/01 — 640
art. 62 — 213
L ei a. 10.216/01 — 597
art. 63 — 213
L ei n . 10.226/01 — 597
art. 65 — 215
art. 72 — 493 L ei n. 10.252/01 — 487
art. 73 — 493, 498 L ei n . 10.257/01 — 633, 665
art. 79-A— 381 art. 2o — 632
Lei n. 9.610/98 art. 5 3 — 120, 123, 634, 680
art. 7o — 213 art. 54 — 634, 680
art. 9° — 213 L ei n. 10.259/01
art. 24, § 2o — 183, 213 art. 3°, I — 220, 254
art, 29, VIII, J — 213
L ei n. 10.352/01— 48 2, 485, 486
art. 77 — 213
■ art. 78 — 213 L ei n. 10.436/02 — 597
art. 97 — 183 L ei n. 10.444/02 — 220, 471, 472,
art. 98 — 183 489, 492
L ei n. 09-637/98 — 77, 298 L e in . 10.628/02 — 120, 281
Lei n. 9-649/98 — 499 L ei n. 10.650/03 — 410
L ei n. 9.656/98 — 167 Lei n. 10.671/03 — 168
Lei n. 09.790/99 — 77, 298 L ei n. 10.702/03 — 173
L ei n. 9-873/99 — 629 L ei n. 10.741/03
L e in . 9-882/99 — 71 art. I o — 641
Lei n. 9.958/00 — 380 art. 2o — 641
art. 3o, parágrafo único — 641
L ei n. 9-966/00
art. 4o — 642.
art. 27, § I o — 122, 326
arts. 8o e s. — 642
Lei n. 9-983/00 — 417 art. 9o — 642
ÍNDICE ALFABÉTICO-REM ISSIVa— 773
litig io s id a d e con tid a — 50 124, 127, 135, 139, 574, 667, 668,
680
litisc o n só rc io — 266, 319, 675
M ed. P ro v . n. 2.163-41/01 — 381
indivíduo — 320
lesado — 317 M ed . P ro v . n. 2.171-42/01 — 194
M inistério Público — 325, 362 M ed . P ro v . n. 2.180-35/01 — 121,
ulterior — 319, 323
123, 124, 127, 135, 139, 179, 249,
U nião — 274
268, 269, 294, 297, 304, 305, 473,
litisco n sortes 480, 481, 515, 520, 521r 552, 574,
núm ero excessivo •— 332, 347 625, 667, 668, 679, 680
litis p e n d è n c ia — 225, 230, 241, 244,
M ed . P ro v . n. 2.216*37/01 — 499
248, 316, 317, 532, 674
M e d . P ro v . n. 2.225-45/01 — 194,
ação penal pública ■— 248
204
prevenção — 284
liv re c o n c o rrê n c ia — 625 M ed. P ro v .n . 2.180-35/01 — 552
liv ro d o to m b o — 211 m e d id a
cautelar — 470
lo c a l d o d a n o — co m p etên cia — 251
no tribunal — 222
lo te a m e n to — 634 pressupostos — 472
ÍNDICE ALFABÉTICO-REMÍSSIVO— 775
satisfativa — 217, 221, 222, 470, m é rito a d m in is tra tiv o — 130, 133
472
m é to d o s c o m e rc ia is co ercitivo s —
lim inar — 469
164
agravo — 472
cabim ento -— 472 m in a s — 86
cassação — 476, 483 M in isté rio P ú b lic o
concessão — 222, 472
ações d e sua iniciativa — 70
contra o Poder Público — 222,
aditamento — 324
. 473
agente — 82
d e ofício — 472
atendim ento ao público — 173
d e n e g a ç ã o — 482
atividade opinativa — 581
descabim ento -— 473
atividade-fim —- 584
Fazenda — 473
im pugnações — 476 atividade-meio — 584
objeto — 473 atuação
oitiva da Fazenda — 474 limites — 93
pressuposros — 472 processo civil —- 79
proibição de concessão — 473 vinculada — 86, 93 ■
reconsideração — 483 atuação política — 125
recursos — 476 aum ento de impostos — 137
revogação — 483 ausência — 109
suspensão — 480 autonom ia funcional — 356
vedação — 222 autor — 80, 324
m e d id a s c o m p e n sa tó ria s — 388 causa da atuação — 83
cobrança d e taxas — 142
m e io a m b ie n te — 147
culpa — 590
ação pioneira — 147
custas — 554
artificial — 151,569
defesa de interesses — 100
conceito — 151
desistência — 369
consciência social — 153
q u an d o cabe — 371
culpa — 147
dever de agir — 84
cultural — 151
d o lo ou fraude — 590
*&o trab aih o — 151, 155, 256
e a p essoa idosa — 644
com petência — 255, 256
e a pessoa portadora de deficiência
e consum idor -— 161
— 598
form as d e proteção ■
—-213
e atuação político-partidária — 656
' legitimação ~~ 154
e política — 656
Ministério Público estadual — 272
e urbanism o — 634
M inistério Público federal — 272
europeu — 308
multas — 493
execução — 522
natural — 151
falência — 613
polu ição p o r óleo — 147
falta de intervenção — 106
prescrição •— 150, 573, 574
Federal — 276
responsabilidade — 565
fiscal d a lei — 79, 324, 358
solidariedade — 566
hierarquia — 356
transação — 381
hipóteses d e intervenção protetiva
m e io s — 97
de coação — 491, 510 honorários — 553
de sub-rogação — 491, 510 identificação d o interesse — 84
m e r c a d o d e capitais — 613 Im procedência — 553
776— ÍN D IC E ALFABÉTICO-REMISSIVO
n o t if ic a ç ã o — ; 4 0 5 ---P ----
p elo correio — 405
n u lid a d e — 238
p a rc e la m e n to d o s o lo — 634
ausência d o Ministério Público —
p a re c e r ■*— 581
109
d e acordo coletivo — 53 p a rtid o •— 293
d e cláusula de contrato — 53, 238 p a rtid o p o lític o — 301
de convenção coletiva — 53 legitimação —- 297, 301
p a trim ô n io
artístico — 183
cu ltural— 151, 182
-— .o —
conceito — 181, 182
estético — 183
o b je ç ã o d e p ré -e x e c u tiv id a d e — 513 púbfico — 183
conceito — 181
o b je to — 239 d ano — 189
o b rig a ç ã o . defesa ^ 130, 183
d e fazer — 491 e Ministério Público -— 196
d e meio — 568 prejuízo — 205
prescrição — 574
d e resultado — 568
quem defende — 183
prop ter rem — 149, 156, 571
social — 208, 209
o b rig a to r ie d a d e
conceito — 182
d e assumir a ação — 89
p eças d e in fo rm a ç ã o — co n ce ito —
princípio -— 366
422
o itiv a d a F a z e n d a — 474
p e d id o — 127, 134, 239
O N G — 154, 297
cum ulativo— 129, 218
ô n u s d a p ro v a — 164, 165, 175, 547, genérico — 127
549, 559 natureza — 127
o r^ e m e c o n ô m ic a — 625, 627 p e d r a líg ia — 582
ação civil pública — 629 p e re m p ç ã o — 365
penalidades — 629
p e ríc ia
prescrição — 629
custeio >
— 502
o r d e m u rb a n ístic a — 631, 634 custos — 549
o rg a n is m o estatal ■ p a p e l— 560
participação — 499 quesitos — 735
o rg a n iz a ç õ e s p e ric u lo s id a d e de p ro d u to s — 175
de interesse público — 77 p e ric u lu m in m o ra — 221, 222, 472
interesse público — 298
p erito s — d e s ig n a ç ã o — 735
não governam entais — 154, 297
p e rs o n a lid a d e
sociais — 77, 298
judiciária — 339
ó rg ã o s
jurídica
da administração indireta — 315
desconsideração — 155, 337,
públicos legitimados — 382
570, 626
778— ÍND ICE ALFABÉTICO-REMISSIVO
p e r t in ê n c ia te m á tic a — 2 9 0 p r e fe r ê n c ia d a in d e n iz a ç ã o
p e s q u is a m in e r a l — 8 6 in d iv id u a l — 521
p e s s o a id o s a — 6 3 7 p r e ju d ic ia l id a d e — 2 3 0
c o n c e ito — 639 p r e ju íz o — p a t r im ô n io p ú b lic o —
p e s s o a p o r t a d o r a d e d e fic iê n c ia — 205
593 p r e lib a ç ã o — 194
acessibilidade — 604
p r e r r o g a t iv a d c fu n ç ã o .— 2 7 8
ap osen tad oria — 596
barreiras — 604 p r e s c r iç ã o •:— 5 0 2 , 5 0 6, 573
p r in c íp io s — Q —
da Administração — 191
d o Ministério Público — 355
q u a lid a d e d a p a rte — 90 , 601
p rio r id a d e s legais - ^ 3 5 7
natureza da intervenção — 94
p r o b id a d e ad m in istra tiva
q u e im a d a ■— 697
defesa — 130
q u e r e la n u lü tatis — 524
p ro c e d im e n to — 239
q u e s ito s - m o d e lo — 735
investigatório criminal — 427
ordinário — 220 q u e s tã o d e alta in d a g a ç ã o — 145
preparatório — 422, 425, 426
sumário — 220
P r o c o n — 288 — R—
P r o c o n s — 383
com prom issos d e ajustamento —
ra ç a — 653
383
legitimidade •— 383 ra c io n a liz a ç ã o d e se rv iç o s — 87
natureza jurídica ■— 383 ra c is m o — 653
p ro d u to r e a ç ã o im p o s itiv a — 131, 154
conceito — 162 r c c a ll — 652
defeituoso — 567
re ceitas d o fu n d o — 499
nocividade — 175
p ericu lo sidade— 175 re c o n v e n ç ã o — 121, 34 1, 342
Sú m . n . 21 -C S M P -S P — 3 9 5, 3 9 7, Sú m . n. 329-STJ ~~ 202
398, 451 Sú m . a. 3 6 5 -S T F — 323
S ú m . n . 22-CS M P -S P — 6 9 7 Sú m . n. 3 9 4 -S T F — 2 7 8 , 2 7 9, 2 8 0,
S ú m . n. 23 -C S M P -S P — 49 3 282
S ú m . n. 2 4 -C S M P -S P — 4 3 6 Sú m . n. 4 0 5 -S T F — 48 3
Sú m . n. 2 5 -C S M P -S P — 39 8 Sú m . n. 4 7 3 -S T F — 4 4 9
Sú m . n. 2 6 -C S M P -S P — 69 8 Sú m . n. 5 0 6-S T F — 4 8 0
Sú m . n. 2 7 -C S M P -S P — 6 9 9 Sú m . n . 5 2 4-S T F — 2 3 4 , 2 3 5, 4 3 4 ,
Sú m . n . 2 8 -C S M P -S P — 2 0 4 , 69 9 44 9
S ú m . n . 3 9 -C S M P -S P — 70 7 s u s p e iç ã o — 4 5 3 , 4 6 0 , 67 4
conceito — 454
Sú m . ii. 4 0 -C S M P -S P — 7 0 8
juiz — 456
S ú m . n. 4 1 -C S M P -S P ~ 70 8 p rom otor — 456
Sú m . n . 42 -C S M P -S P — 7 0 9 su spen são
Sú m . n . 4 3 -C S M P -S P — 7 1 0 da ação — 225
Sú m . n. 4 5 -C S M P -S P — 711 da liminar — 480
da sentença — 483
S ú m . a. 130-STJ — 163
S ú m . n. 183-STJ — 273, 274
can celam en to — 273, 275 — T —-
Súm . n. 206-STJ — 621
Súm . n. 2 1 7 -S T F — 480
TAC — 387
Sú m . n . 227-STJ — 143
tax as — 142
Sú m . n. 232-STJ — 558
te o r ia
Sú m . n . 254-STJ — 2 7 7 -
do risco administrativo — 563, 564,
Sú m . n. 279-STJ — 386, 5 1 4 . 580, 585
Sú m . n. 297-STJ — 163 do risco criado — 572
Sú m . n . 302-STJ — 167 do risco da atividade — 565, 566,
570, 571
S ú m . n . 3 1 0 -T S T — 303, 3 0 4
ÍNDICE ALFABÉTICO-REMISSIVO— 783