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JOSÉ CARLOS BARBIERI

CONCEITOS, MODELOS E INSTRUMENTOS


José Carlos Barbieri é doutor er
nístração pela Escola de Administr;
Empresas de São Paulo da Fundação
Vargas (FGV-EAESP)
É professor do Departamento de Adr
ção da Produção e Operações e do pi
de pós-graduação em gestão socioar
e da saúde da FGV-EAESP. Lecionoi
.......

nômadas instituições de ensino e p


como a Pontifícia Universidade Cat
São Paulo (PUC-SP) e a Universidac
ral de Mato Grosso do Sul (UFMS)
JOSÉ CARLOS BARBIERI

GESTÃO AMBIENTAL
EMPRESARIAL
CONCEITOS, MODELOS E INSTRUMENTOS

3 â Edição
A T U A L I Z A D A E AMPLIADA

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P Saraiva
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Saraiva
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Gestão ambiental empresarial : conceitos, modelos e instru-
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empresas - Aspectos ambientais. 4. Responsabilidade social da em-
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A Marilena, Natália, Carolina Luisa, Marta, Francisca e Julia,
companheiras das minhas jornadas e
à memória de Hugo Barbieri.
SOBRE O AUTOR

José Carlos B a r b i e r i é professor do Departamento de Administração da Produção


e Operações da Escola de Administração de Empresas de São Paulo da Fundação Ge-
tulio Vargas (EAESP) desde 1992. É doutor em administração pela F G V / E A E S P . Le-
cionou em renomadas Instituições de Ensino e Pesquisa, c o m o a P U C de São Paulo e
a Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, sendo que nesta última foi coordena-
dor do curso de Administração, membro do Conselho de Ensino, Pesquisa e Exten-
são, Coordenador do Planejamento Administrativo e desenvolveu diversas atividades
de extensão universitária. Atuou como pesquisador do Instituto de Pesquisas Tecnoló-
gicas do Estado de São Paulo (IPT) nas áreas de Propriedade Industrial e Transferência
de Tecnologia. E membro do Fórum de Inovação da EAESP. E professor da pós-gradua-
ção stricto sensu da EAESP, da linha de pesquisa em gestão socioambiental e da saúde.
Participou da comissão do I N M E T R O para criação de normas para certificação de
sistemas de responsabilidade social. Coordena e atua em diversos projetos de pesquisa
nas áreas de gestão do meio ambiente, da responsabilidade social empresarial e da
inovação. Participa de comitês científicos de diversas revistas e congressos científicos
nacionais e internacionais, bem como de várias agências de fomento para as áreas
científicas e tecnológicas. Autor de livros, capítulos de livros e artigos sobre gestão
ambiental e inovação publicados no Brasil e em diversos outros países.

contato com o autor: barbieri@editorasaraiva.com.br


INTRODUÇÃO

A preocupação com o estado do meio ambiente não é recente, mas foi nas últimas
três décadas do século X X que ela entrou definitivamente na agenda do governo de
muitos países e de diversos segmentos da sociedade civil organizada. No âmbito empre-
sarial, essa preocupação é ainda mais recente, embora nunca tenham faltado empresas
e entidades empresariais que buscassem práticas ambientalmente saudáveis, mesmo
quando o assunto apenas começava a despertar interesse fora dos círculos restritos de
especialistas e das comunidades afetadas diretamente pelos problemas ambientais. Na
atualidade, o meio ambiente é um tema que ganhou as ruas, os auditórios, a imprensa
e faz parte do vocabulário de políticos, empresários, administradores, líderes sindicais,
dirigentes de O N G s e cidadãos de modo geral. Porém, para a maioria das empresas,
essa preocupação ainda não se transformou em práticas administrativas e operacionais
efetivas, pois, se isso já estivesse ocorrendo, o acúmulo de problemas ambientais que
coloca em risco todos os seres vivos certamente não seria visto com tanta intensidade.
A globalização dos problemas ambientais é um fato incontestável e as empresas estão,
desde a sua origem, no centro desse processo.
Todos os temas deste livro são desenvolvidos mediante o confronto de opiniões,
com o objetivo de apresentar alternativas para as ações de gestão e mostrar as dificul-
dades de tratar assuntos tão polêmicos como são os decorrentes da relação empresa-
-meio ambiente. Da diversidade de opiniões e propostas concernentes a cada tema
tratado, essa obra procura apresentar as mais importantes do ponto de vista da gestão
ambiental empresarial. A gravidade dos problemas ambientais requer uma gestão aber-
ta às inúmeras influências e propostas para se chegar às que melhor se aplicam a cada
caso concreto.
O primeiro capítulo discute os problemas ambientais e apresenta o conceito de
gestão ambiental e suas diferentes dimensões. Como se verá, os problemas ambientais,
por mais variados que sejam, decorrem do uso do meio ambiente como recurso para a
produção da subsistência humana e como recipiente de resíduos da produção e consu-
mo, problemas que são agravados pelo modo como o ser humano concebe a sua rela-
ção com a natureza. Qualquer solução efetiva para os problemas ambientais terá
necessariamente que envolver as empresas, pois são elas que produzem e comerciali-
zam a maioria dos bens e serviços colocados à disposição da sociedade em praticamen-
te todos os cantos do planeta.
O Capítulo 2 apresenta iniciativas de gestão ambiental global. Três problemas glo-
bais foram selecionados para exemplificar a gestão nesse nível de abrangência: aqueci-
mento global, destruição da camada de ozônio e proteção à biodiversidade. A globalização
dos problemas ambientais tem sido uma das principais forças indutoras das práticas de
gestão ambiental nos níveis de abrangência regional, nacional e local. A maioria dos ór-
gãos ambientais governamentais começou a ser criada após a Conferência das Nações
Unidas sobre o Meio Ambiente Humano, realizada em Estocolmo, em 1972, que pode
ser considerada o marco mais importante na percepção da globalização dos problemas
ambientais. A legislação ambiental começa a crescer vigorosamente a partir desse evento,
cuja maior contribuição foi a de vincular as questões ambientais às do desenvolvimento.
A percepção da globalização desses problemas se deu muito antes de a palavra glo-
balização se tornar amplamente conhecida e associada à expansão e integração das
economias sob a égide do mercado, um fenômeno econômico, social, político e cultu-
ral que, embora não seja em essência novo, foi aprofundado nas duas últimas décadas
do século passado. As iniciativas de gestão ambiental no nível regional estão represen-
tadas pelas experiências da União Européia, Mercosul e Nafta. A importância das or-
ganizações da sociedade civil é ressaltada neste e nos demais capítulos, sendo que
vários modelos e instrumentos de gestão ambiental discutidos neste livro foram pro-
postos por essas organizações.

As pressões exercidas pela opinião pública e pelos setores organizados da sociedade


civil em relação aos problemas ambientais têm levado os governos de praticamente
todos os países a incorporarem de modo crescente as dimensões ambientais em suas
políticas públicas. O objetivo do Capítulo 3 é mostrar os principais instrumentos ex-
plícitos de política pública ambiental e as polêmicas que giram em torno deles, seja
quanto a sua eficácia na resolução dos problemas para os quais foram criados,
seja quanto aos seus efeitos sobre a competitividade das empresas. Depois disso, são
apresentadas considerações importantes sobre a Política Nacional do Meio Ambiente.
Permeia este livro a idéia de que as soluções para os problemas ambientais, no estado
em que eles se encontram na atualidade, exigem novas posturas empresariais, que por
sua vez dependem da condução de políticas públicas ambientais apropriadas. Longe de
propor a redução da intervenção estatal nesse campo, defende-se a idéia de que uma
política pública adequada deve contemplar uma cesta equilibrada de instrumentos de
gestão ambiental de diferentes tipos.
A gestão ambiental empresarial propriamente dita começa no Capítulo 4. E de
pouca valia falar desse assunto sem antes apresentar o contexto dos problemas ambien-
tais, da regulamentação pública e das iniciativas globais e regionais. Por isso a demora
em chegar ao assunto que dá título ao livro. Mas o leitor é recompensado, pois as dife-
renças de abordagens e de modelos de ação empresarial estão relacionadas em muitos
aspectos com as posturas adotadas pelas empresas diante dos problemas ambientais
gerados por elas, com a legislação à qual estão sujeitas e com as suas respostas referen-
tes a essas iniciativas. Nesse ponto são discutidas as abordagens dos problemas ambien-
tais e os diversos modelos de gestão propostos, como o da Gestão da Qualidade
Ambiental Total, Produção Mais Limpa, Ecoeficiência, Ecologia Industrial, Simbiose
Industrial, entre outros. Esses modelos são aqui considerados espécies de acordos vo-
luntários estabelecidos entre as empresas e a sociedade, pois eles trazem componentes
pró-ativos no tratamento das questões ambientais pertinentes. Ir além do que a legisla-
ção exige é uma característica marcante desses modelos e cada um procura cumprir
esse objetivo sob diferentes abordagens e enfoques. Na apresentação e discussão dos
modelos foram ressaltadas as diferenças e as semelhanças entre eles, com o intuito de
facilitar a sua combinação e estimular a criação de outros que atendam melhor às pe-
culiaridades de uma empresa específica.

Os demais capítulos são dedicados a importantes instrumentos específicos de


gestão ambiental empresarial. Também não faz sentido falar de instrumentos de ges-
tão sem falar nas diferentes abordagens aos problemas ambientais, nos modelos de
gestão e na regulamentação pública. Apesar da existência de um verdadeiro arsenal
de instrumentos para solucionar ou minimizar os problemas ambientais existentes,
bem como para evitar que novos problemas ocorram, o fato é que eles ainda são pouco
compreendidos no próprio ambiente empresarial. Os instrumentos de gestão também
suscitam polêmicas infindáveis, sendo que as mais relevantes foram discutidas, como
a obrigatoriedade ou não de alguns desses instrumentos.
Há inúmeros instrumentos à disposição das empresas e o texto faz referências a di-
versos deles, embora dedique atenção aos seguintes: sistemas de gestão ambiental, audi-
torias ambientais, avaliação do ciclo de vida do produto, relatórios e comunicações
ambientais externos e estudos de impactos ambientais. Cada instrumento é apresenta-
do segundo diferentes propostas em termos de concepção e procedimentos, além de
uma discussão mais ampla sobre o contexto em que eles se aplicam.
O s modelos de gestão e instrumentos aqui apresentados devem ser vistos como
meios para alcançar o desenvolvimento sustentável, assunto tratado no Capítulo 2. A
vinculação entre meio ambiente e desenvolvimento está presente ao longo do texto.
Desenvolvimento é entendido como um processo que objetiva a melhoria qualitativa
das condições de vida da população de um país, de uma região ou de um local especí-
fico qualquer. Assim, onde se lê gestão ambiental, entenda-se gestão socioambiental, pois
o objetivo último das práticas aqui tratadas é melhorar a qualidade de vida de todos,
tanto os atuais quanto os futuros habitantes do planeta.

O papel das empresas na promoção de um desenvolvimento que respeite o meio


ambiente não resulta apenas da necessidade de resolver os problemas ambientais acu-
mulados ao longo dos anos em decorrência das suas atividades. Resulta também da
ampliação da sua influência em todas as esferas da atividade humana. As empresas se
tornaram as principais forças condutoras da sociedade em todos os níveis de abrangên-
cia, do global ao interior dos lares, dos acordos multilaterais comerciais às decisões
corriqueiras do dia a dia de bilhões de pessoas em todas as partes do mundo. Daí a
emergência de uma nova concepção de responsabilidade social empresarial que rejeite
a velha fórmula que se resumia em produzir bens e serviços dentro da lei. A gestão
ambiental deve fazer parte dessa nova responsabilidade social e, como tal, deve refletir
o poder ampliado das empresas de modo que elas possam de fato se tornar parceiras
do desenvolvimento sustentável.

Nesta terceira edição do livro foram atualizados dados e informações sobre os assun-
tos tratados que sofreram modificações após a publicação da segunda edição, em 2 0 0 4 .
Alguns instrumentos de gestão ambiental contemplados no livro passaram por revisões
durante esse período e elas foram incorporadas. Além das atualizações, esta terceira edi-
ção traz muitas inovações em relação à edição anterior; a mais importante foi a inclusão
de um capítulo exclusivo sobre avaliação do ciclo de vida, um instrumento de gestão
ambiental que nas edições anteriores foi posto apenas como informação introdutória.
Esse novo capítulo mantém a mesma sistemática dos demais, ou seja, apresenta a origem
do instrumento, seu contexto de aplicação, métodos e pontos polêmicos. U m glossário
revisto e ampliado encontra-se no site do livro junto a outros materiais de apoio. Grande
parte das mudanças de uma edição para outra resultaram do contato direto ou por e-
-mail com diversos leitores que apresentaram suas dúvidas, críticas e sugestões. A estes os
meus sinceros agradecimentos e espero poder contar novamente com a colaboração.
SIGLAS

AAE Avaliação Ambiental Estratégica


ABNT Associação Brasileira de Normas Técnicas

ACV Avaliação do Ciclo de Vida


BAT Best Available Tecnology (Melhor Tecnologia Disponível)

Batneec Best Available Tecnology Not Entailing Excessive Cost (Melhor Tecnologia
Disponível que Não Acarreta Custo Excessivo)
Cebds Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável
Ceres Investors and Environmentalists for Sustainable Prosperity
Cetesb Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental
Cites Convenção sobre o Comércio Internacional das Espécies da Fauna e da
Flora Selvagens em Perigo de Extinção
Cnumad Conferência das Nações Unidas para o Meio Ambiente e Desenvolvi-
mento (Rio de Janeiro, 1992)
Conama Conselho Nacional do Meio Ambiente

COP Conferência das Partes de um uma convenção intergovernamental

DfE Design for Environment (Projeto para o meio ambiente)

ELA Estudo de Impacto Ambiental


Emas Sistema Comunitário de Ecogestão e Auditoria (Eco Management and Au-
di t Scheme)
FAO Organização para a Alimentação e a Agricultura (Food and Agriculture
Organization)
Feema Fundação Estadual de Engenharia do Meio Ambiente
Gatt Acordo Geral de Comércio e Tarifas

Gemi Global Environmental Management Initiative

GRI Global Reporting Initiative


Ibama Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais

ICC International Chamber of Commerce


Inmetro Instituto Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial

ISO International Organization for Standardization


Iucn International Union for Conservation of Nature
MDL Mecanismo de Desenvolvimento Limpo

Nimby Não no meu quintal

OCDE Organização para a Cooperação e Desenvolvimento


OIT Organização Internacional do Trabalho
OMC Organização Mundial do Comércio
ONG Organização Não Governamental

ONU Organização das Nações Unidas

Onudi Organização das Nações Unidas para o Desenvolvimento Industrial (veja


Unido)
P&D Pesquisa e Desenvolvimento Experimental

P+L Produção mais Limpa

PDCA Ciclo PDCA = Planejar (Pían), Fazer (Do), Verificar (Check) e Agir (Act)

Peri Public Environmental Reporting lnitiative

Pnud Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento

Pnuma Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente

RAP Relatório Ambiental Preliminar

REED Redução de Emissões de Desmatamento e Degradação Florestal

Rima Relatório de Impacto Ambiental

SGA Sistema de Gestão Ambiental

Sinmetro Sistema Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial

Sisnama Sistema Nacional do Meio Ambiente


T C 207 Comitê Técnico da ISO 207, responsável pela elaboração da série de
normas ISO 14000

TQEM Total Quality Environmental Management (Administração da Qualidade


Ambiental Total)

TQM Total Quality Management (Administração da Qualidade Total)

Unep Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente

Unesco Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura


Unido Organização das Nações Unidas para o Desenvolvimento Industrial
Unctad Conferência das Nações Unidas para o Comércio e Desenvolvimento
Usepa United State Environment Protection Agency

WBCSD World Business Council for Sustainable Development (Conselho Empresarial


Mundial para o Desenvolvimento Sustentável)

WWE World Wide Fund for Nature


SUMÁRIO

Capítulo 1 Meio ambiente e gestão ambiental 1


Problemas ambientais 4
O meio ambiente como fonte de recursos 5
Recursos e nível de produção 10
O meio ambiente como recipiente de resíduos 15
Gestão ambiental 19
Dimensões da gestão ambiental 21
Termos e conceitos importantes 24
Questões para revisão 24
Referências 25

Capítulo 2 Gestão ambiental global e regional 27


Aquecimento global 31
Convenção sobre Mudança do Clima 35
Destruição da camada de ozônio 40
Proteção da biodiversidade 43
Convenção da Biodiversidade 45
Comércio de espécies em perigo e em extinção 48
Iniciativas da sociedade civil 50
Gestão ambiental regional 51
União europeia 53
Mercosul 55
Nafta 56
Globais comuns 57
Gestão ambiental nacional e local 59
Termos e conceitos importantes 60
Questões para revisão 60
Referências 61
Capítulo 3 Políticas públicas ambientais 65
Instrumentos de comando e controle 66
Instrumentos fiscais 69
Princípio do poluidor-pagador 71
Instrumentos públicos de mercado 74
Eficácia dos instrumentos 77
O papel das inovações tecnológicas 80
A educação ambiental 82
Acordos voluntários 84
Acordos voluntários públicos 84
Acordos voluntários de iniciativas empresariais 86
Política pública ambiental brasileira 90
A Política Nacional do Meio Ambiente 92
Constituição da República Federativa do Brasil de 1988 93
Instrumentos de política pública 95
Termos e conceitos importantes 99
Questões para revisão 99
Referências 100

Capítulo 4 Gestão ambiental empresarial 103


Abordagens para a gestão ambiental empresarial 106
Controle da poluição 107
Prevenção da poluição 110
Abordagem estratégica 113
Comparação com a gestão da qualidade 117
Modelos de gestão ambiental 119
Administração da Qualidade Ambiental Total ( T Q E M ) 119
Produção Mais Limpa 124
Ecoeficiência 128
Projeto para o meio ambiente 130
Combinando modelos 134
Modelos inspirados na natureza 136
Instrumentos de gestão 141
Termos e conceitos importantes 142
Questões para revisão 142
Referências 143

Capítulo 5 Sistemas de gestão ambiental 147


O sistema proposto pela Câmara de Comércio Internacional 148
O sistema comunitário de ecogestão e auditoria (EMAS) 149
Normas internacionais sobre gestão ambiental 151
A família de normas ISO 14000 152
As normas I S O 14000 sobre sistema de gestão ambiental 156
Requisitos gerais do Sistema de Gestão Ambiental 156
Política ambiental 159
Aspectos ambientais 161
Requisitos legais e outros 166
Objetivos, metas e programas 167
Recursos, funções, responsabilidades e autoridades 170
Competência, treinamento e conscientização 171
Comunicação 174
Documentação 175
Controle de documentos 178
Controle operacional 178
Preparação e resposta a emergências 179
Monitoramento e medição 181
Avaliação do atendimento a requisitos legais e outros 183
Não conformidade, ação corretiva e ação preventiva 183
Controle de registros 185
Auditoria interna 185
Análise pela Administração 186
Interações com outros sistemas de gestão 187
Certificação do Sistema de Gestão Ambiental 192
Organismo de Certificação Credenciado ( O C C ) 193
Benefícios e objeções 194
Termos e conceitos importantes 197
Questões para revisão 197
Referências 199

Capítulo 6 Auditorias ambientais 203


Tipos de auditorias ambientais 204
Classificação das auditorias 208
A contribuição da Câmara de Comércio Internacional (ICC) 210
Processo de auditoria 212
Auditoria ambiental conforme o EMAS 215
Processo de auditoria 216
Auditoria ambiental conforme a ISO 19011 218
Princípios de auditoria 219
Programas de auditoria 219
Auditores e certificação de auditores 222
Elementos de análise 225
Ativos e passivos ambientais 226
Auditorias obrigatórias 230
Divulgação dos resultados 234
Termos e conceitos importantes 235
Questões para revisão 235
Referências 237

Capítulo 7 Avaliação do ciclo de vida do produto 239


Cadeia de suprimento 240
Gestão do ciclo de vida 242
Origens d a A C V 243
As normas I S O sobre A C V 246
Fases da A C V 247
Avaliação de impacto do ciclo de vida 249
Interpretação 251
Métodos simplificados 255
O método M E C O 259
Termos e conceitos importantes 262
Questões para revisão 263
Referências 264

Capítulo 8 Comunicação e relatórios ambientais 267


Para quem divulgar? 269
Identificação dos usuários 273
O que divulgar? 275
C o m o divulgar? 279
Balanço social 279
Modelos e diretrizes de relatórios ambientais 281
Obrigatoriedade ou ato voluntário? 286
As diretrizes da norma I S O 14063 287
Rótulos e declarações ambientais 290
Termos e conceitos importantes 295
Questões para revisão 295
Referências 296

Capítulo 9 Estudo de impacto ambiental 299


Ciclo do projeto 302
Impacto ambiental 307
O ELA como instrumento de política pública 308
Licenciamento ambiental 309
O ELA na legislação brasileira 313
Obrigatoriedade do ELA 314
Conteúdo do EIA 317
Responsável pela elaboração do EIA 318
Relatório de impacto ambiental (Rima) 319
Publicidade do EIA/Rima 320
Estudos auxiliares, substitutos e assemelhados 323
Alguns métodos de avaliação de impacto 326
Limitações e possibilidades 332
Termos e conceitos importantes 335
Questões para revisão 335
Referências 337
Anexo 1 Principais acordos multilaterais sobre questões
ambientais e correlatas 343

Anexo 2 Declaração do Rio de Janeiro sobre meio ambiente


e desenvolvimento 346
Anexo 3 Algumas leis federais importantes 350
Anexo 4 Carta empresarial para o desenvolvimento sustentável
da Câmara de Comércio Internacional (ICC) 353

índice remissivo 356


MEIO AMBIENTE E GESTÃO AMBIENTAL

Meio ambiente é tudo o que envolve ou cerca os seres vivos. A palavra ambiente
vem do latim e o prefixo ambi denota "ao redor de algo" ou "ambos os lados". O verbo
latino ambio, ambire significa "andar em volta ou em torno de alguma coisa". C a b e
notar que as palavras meio e ambiente trazem per se a idéia de entorno e envoltório, de
modo que a expressão meio ambiente encerra uma redundância. Essa é a expressão con-
sagrada n o Brasil, na Espanha e nos demais países que falam o castelhano (médio am-
biente); em Portugal utiliza-se apenas a palavra ambiente, da mesma forma que n o
italiano. N o idioma francês e no inglês utilizam-se as palavras environnement e environ-
ment, respectivamente, ambas originadas do francês antigo environer que significa cir-
cunscrever, cercar e rodear. O que envolve os seres vivos e as coisas, ou o que está ao
seu redor, é o planeta Terra com todos os seus elementos, tantos os naturais quanto os
alterados e construídos pelos seres humanos. Assim, por meio ambiente se entende o
ambiente natural e o artificial, isto é, o ambiente físico e biológico originais, e o que
foi alterado, destruído e construído pelos humanos, como as áreas urbanas, industriais
e rurais. Esses elementos condicionam a existência dos seres vivos, podendo-se dizer,
portanto, que o meio ambiente não é apenas o espaço onde os seres vivos existem ou
podem existir, mas a própria condição para a existência de vida na Terra.

O d u m e Sarmiento distinguem três tipos de ambientes: (1) o fabricado ou desen-


volvido pelos humanos, constituído pelas cidades, parques industriais e corredores de
transportes como rodovias, ferrovias e portos; (2) o ambiente domesticado, que envol-
ve áreas agrícolas, florestas plantadas, açudes, lagos artificiais etc.; e (3) o ambiente
natural c o m o as matas virgens e outras regiões autossustentadas, pois são acionadas
apenas pela luz solar e outras forças da natureza, como precipitação, ventos, água e não
dependem de qualquer fluxo de energia controlado diretamente pelos humanos,
como ocorre nos dois outros tipos de ambiente. O ambiente de suporte à vida é, se-
gundo esses autores, aquela parte da Terra que satisfaz as necessidades fisiológicas vi-
tais, provendo alimentos e outras formas de energia, nutrientes minerais, ar e água1.
A vida ocorre apenas na biosfera, uma estreita faixa do planeta constituída pela
interação de três ambientes físicos: o ambiente terrestre ou litosfera, o aquático ou
hidrosfera, e o atmosférico, que envolve os outros dois ambientes. A parte terrestre da
biosfera é apenas a camada sólida superficial da litosfera; a parte da atmosfera é a ca-
mada rente à crosta terrestre denominada troposfera e que alcança cerca de 11 km de
altitude nos polos e 16 km no Equador; a da hidrosfera compreende os ambientes
aquáticos, como rios, lagos, oceanos, as águas subterrâneas, as geleiras e calotas pola-
res. O meio ambiente, como condição de existência da vida, envolve a biosfera e esten-
de-se muito além dos limites em que a vida é possível. Por exemplo, os seres vivos estão
condicionados a certa exposição às radiações ultravioleta, e dependem da camada de
ozônio existente na estratosfera, região da atmosfera que vai até cerca de 35 km de al-
titude e onde não há vida.

Organismos da mesma espécie vivendo juntos formam as populações, e as popula-


ções de várias espécies vivendo numa mesma área constituem uma comunidade bioló-
gica. Os organismos e os elementos físicos e químicos do meio em que vivem formam
um ecossistema ou sistema ecológico. Segundo Odum, ecossistema é uma unidade
funcional básica da Ecologia, pois inclui os organismos e o ambiente abiótico, sendo
que cada um desses fatores influencia as propriedades do outro e ambos são necessá-
rios para a manutenção da vida na Terra 2 . C o m o qualquer sistema, o ecossistema é um
conjunto de partes ou subsistemas em interações formadas pelos organismos ou seres
vivos de diversas espécies, inclusive os seres humanos, e pelos elementos do ambiente
físico ou abiótico, tais como, ar, água, solo, relevo, luz, temperatura, pressão atmosfé-
rica etc. (Quadro 1.1). Os organismos e o ambiente físico são interdependentes e,
portanto, se influenciam mutuamente e funcionam como uma totalidade, ou seja, o
que ocorre com uma de suas partes acaba influenciando as demais.

Um ecossistema pode ser parte de outro; no limite, todos fazem parte da biosfera e
o ser humano é um de seus componentes. Os ambientes artificiais ou domesticados pe-
los seres humanos formam ecossistemas específicos, como as regiões agrícolas e agroin-
dustriais e até mesmo as cidades e os distritos industriais, embora estes últimos casos
sejam concessões ao termo ecossistema. Odum e Sarmiento denominam estes últimos
de tecnoecossistemas urbano-industriais, que se caracterizam por serem parasitas dos

O D U M , E. P; S A R M I E N T O , F., 1997. p. 9-15.


O D U M , E. P„ 1988. p. 9.
O Q u a d r o 1.1 Ecologia e o u t r o s t e r m o s relacionados.

A palavra ecologia é formada pelos vocábulos gregos oíkos (casa) e logya (tratado, discurso, estudo). Para Odum, Ecologia é "o
estudo do ambiente da casa, incluindo todos os organismos que ela contém e os processos funcionais que a tornam habitável" 3 .
É uma disciplina científica que permanece firmemente radicada na Biologia, embora tenha se tornado uma disciplina integradora
que une os processos físicos e biológicos e serve de ponte entre as ciências naturais e sociais. Por isso, a Ecologia constitui um
vasto campo de conhecimentos que inclui tanto as ciências biológicas e físicas quanto as humanas e sociais. A Ecologia é uma
ciência que enfoca os níveis de organização à direita do espectro biológico apresentado na figura abaixo, ou seja, dos organismos
aos ecossistemas, pois os componentes anteriores a estes não possuem vida autônoma. A Ecologia, assim como outras
disciplinas científicas, também apresenta diversos ramos de estudo, como Ecologia de comunidades, Ecologia de paisagem.
Ecologia humana e outras.

Espectros dos níveis de organização

Genes Células Órgãos Organismos Populações Comunidades

Componentes
bióticos
+

Componentes
abióticos

Biossistemas

Sistemas Sistemas Sistemas Sistemas Sistemas


genéticos celulares orgânicos organísmicos populacionais

Fonte: ODUM, 1988, p. 2.

A palavra ecologia aparece pela primeira vez em 1866, em um livro de Ernst Haeckel substituindo o termo biologia. Haeckel define
ecologia como "a totalidade da ciência das relações do organismo com o meio ambiente"4. Em 1895, essa palavra aparece pela
primeira vez no título do livro de Eugen Warning, botânico dinamarquês considerado o criador da Ecologia como disciplina científica5.
Porém, somente no início do século XX que a Ecologia seria reconhecida como campo científico distinto6. Em linguagem corrente é
comum o uso do termo ecologia como sinônimo de meio ambiente e de ecológico como sinônimo de ambiental.
A palavra economia é formada pelos étimos gregos oíkose nomia, que significa manejo ou gerenciamento. Literalmente, significa
"manejo da casa" 7 . Economia é a "ciência que estuda a atividade produtiva" e seu foco são os problemas concernentes ao uso
mais eficiente dos recursos escassos para a produção de bens8. A palavra economia é muito mais antiga que ecologia. Aristóteles
(384-322 a.C.), por exemplo, já a empregava em sua obra A Política. No entanto, a partícula eco tornou-se prefixo de palavras
associadas à ecologia e às questões ambientais, como: ecoeficiência, ecoenergia, ecoindústria, ecodesign, ecoinovação,
ecoturismo, ecoutopia e muitas outras. As palavras que levam esse prefixo são em geral portadoras de significados positivos, o
que reflete a preocupação com o meio ambiente por grande parte da população mundial.

3 O D U M , 1988, p. 1-2.
4 ACOT, P., 1990. p. 27.
5 ACOT, 1990, p. 34.
6 O D U M , 1988, p. 2.
7 Ibid., p. 1.
8 SANDRONI, P., 2006.
ambientes naturais e domesticados, pois não produzem os alimentos de que sua popula-
ção necessita, não limpam o ar e reciclam muito pouco as águas que utilizam9. Enfim,
esses ambientes não possuem capacidade de regeneração, uma característica importante
dos ambientes naturais e até mesmo dos domesticados.

P R O B L E M A S AMBIENTAIS

Os problemas ambientais provocados pelos humanos decorrem do uso do meio


ambiente para obter os recursos necessários para produzir os bens e serviços de que
necessitam e dos despejos de materiais e energia não aproveitados. Mas isso nem
sempre gerou degradação ambiental, em razão da escala reduzida de produção e con-
sumo e da maneira pela qual os seres humanos entendiam sua relação com a natureza
e interagiam com ela. O aumento da escala de produção tem sido um importante fa-
tor que estimula a exploração dos recursos naturais e eleva a quantidade de resíduos.
Há quem sustente que os povos que se sentem parte da natureza apresentam um
comportamento mais prudente em relação ao meio ambiente e utilizam seus recursos
com parcimônia. A concepção de um ser humano separado dos outros elementos da
natureza talvez tenha sido o fato de maior relevância para o aumento dos problemas
ambientais. A crença de que a natureza existe para servir ao ser humano contribuiu
para o estado de degradação ambiental que hoje se observa. Mas certamente foi o
aumento da escala de produção e do consumo que iria culminar nos problemas am-
bientais que hoje conhecemos.
E comum apontar a Revolução Industrial como um marco importante na intensi-
ficação dos problemas ambientais. A maior parcela de emissões ácidas, de gases de es-
tufa e de substâncias tóxicas resulta das atividades industriais em todo o mundo. O
lixo gerado pela população está cada vez mais composto de restos de embalagens e de
produtos industriais. O uso de inseticidas, herbicidas, fertilizantes, implementos e ou-
tros produtos industrializados fizeram com que a agricultura se tornasse uma atividade
intensiva em degradação ambiental. O mesmo pode-se dizer da pesca, dos transportes
e inclusive das atividades comerciais e de serviço. Grande parte dos problemas ambien-
tais produzidos por agências bancárias, escritórios, consultórios, lojas, escolas, reparti-
ções públicas, hotéis, hospitais, aeroportos e outros estabelecimentos de serviço se
deve aos materiais industrializados que dão suporte às suas atividades. Não que antes
da Revolução Industrial não houvesse tais problemas, basta lembrar das florestas de-
vastadas em todos os continentes para os mais diversos fins, dos rios assoreados e da

O D U M ; S A R M I E N T O , 1997, p. 295.
perda de fertilidade de muitas áreas em épocas anteriores. Entretanto, a possibilidade
de encontrar novas áreas para obter recursos escondia a gravidade desses problemas.
Se a degradação do ambiente fosse considerada um sério risco pelas sociedades do
seu tempo, Dante certamente teria atribuído um círculo no inferno aos degradadores
do meio ambiente. A poluição gerada pelas atividades humanas ficava concentrada em
áreas específicas e era absorvida com mais facilidade, pois era basicamente de origem
orgânica. A partir da Revolução Industrial surge uma diversidade de substâncias e
materiais que não existiam na natureza. Milhões de substâncias químicas foram sinte-
tizadas e esse número não para de crescer. A era industrial alterou a maneira de produ-
zir degradação ambiental, pois ela trouxe técnicas produtivas intensivas em material e
energia para atender mercados de grandes dimensões, de modo que a escala de explo-
ração de recursos e das descargas de resíduos cresceu a ponto de ameaçar a possibilida-
de de subsistência de muitos povos, da atualidade e das gerações futuras.

A maneira como a produção e o consumo ocorrem desde então exigem recursos


e geram resíduos, ambos em quantidades vultosas, que já ameaçam a capacidade de
suporte do próprio planeta, que é a quantidade de seres vivos que ela pode suportar
sem se degradar. Considerando que a capacidade de suporte de um ecossistema espe-
cífico não é algo fácil de estimar, o que não dizer então da capacidade do planeta? No
entanto, há diversos sinais de que a Terra já está nos limites de sua capacidade para
suportar as espécies vivas. Entre esses sinais estão os diversos problemas ambientais
provocados pelas atividades humanas que vêm se agravando ao longo do tempo, sen-
do que alguns já adquiriram dimensões globais ou planetárias, como a perda de bio-
diversidade, a redução da camada de ozônio, a contaminação das águas, as mudanças
climáticas decorrentes da intensificação das emissões de gases de efeito estufa e ou-
tros. O resultado desse quadro caracterizado pela escalada dos problemas ambientais
de toda ordem é o comprometimento do próprio futuro da Terra e de todos os seres
vivos, e não apenas os humanos.

O MEIO AMBIENTE COMO FONTE DE RECURSOS

A produção de bens e serviços que atendam às necessidades e aos desejos humanos


requer recursos ou fatores de produção, dos quais o trabalho e os recursos naturais
sempre estiveram presentes em todas as épocas. O capital, entendido como meio de
produção criado pelo trabalho humano para produzir outros bens e serviços, aparece
tardiamente na história da Humanidade. Os recursos naturais são bens e serviços origi-
nais ou primários dos quais todos os outros dependem. Assim, pode-se dizer que produ-
zir é converter ou transformar bens e serviços naturais para satisfazer as necessidades e
desejos humanos. Os recursos naturais envolvem elementos ou partes do meio ambien-
te físico e biológico, como solo, plantas, animais, minerais e tudo que possa ser útil e
acessível à produção da subsistência humana. Esse é o conceito tradicional de recurso
natural que deriva de uma concepção instrumental do meio ambiente físico e biológi-
co, pois desse ponto de vista nem tudo o que existe na natureza constitui recurso, mas
apenas aquilo que de alguma forma pode ser do interesse humano. Porém, pelo fato de
o meio ambiente ser condição da existência de vida, todos os seus elementos devem ser
considerados recursos naturais.

Os recursos naturais são tradicionalmente classificados em renováveis (energia so-


lar, ar, água, plantas, animais, beleza cênica etc.) e não renováveis, como areia, argila,
minérios, carvão mineral, petróleo etc. Recursos renováveis são aqueles que podem ser
obtidos indefinidamente de uma mesma fonte, enquanto o não renovável possui
quantidade finita, que em algum momento irá se esgotar se for continuamente explo-
rado. Essa classificação, embora bastante utilizada, deve ser vista com reserva. A noção
de esgotamento ou renovação de recursos envolve a dimensão de tempo, e nossa pers-
pectiva de tempo nem sempre é a mesma daquela que seria necessária para a renovação
de certo recurso. A perspectiva humana de tempo e o modo de usar os recursos são as
condições que os tornam renováveis ou não, como ilustra a Figura 1.1.
Os combustíveis fósseis são consumidos no ato da sua utilização e os estoques dos
recursos naturais usados para produzi-los (petróleo, gás natural, carvão mineral) não se
renovam. Já os metais e outros produtos minerais, como areia, argila, granito, embora
seus estoques também não se renovem, eles podem ser reutilizados e reciclados. Porém,
quando se diz que o ferro, cobre, alumínio, zinco, chumbo e outros metais contidos em
produtos são 1 0 0 % recicláveis, como se vê em muita propaganda, estamos diante de uma
meia verdade. E não apenas porque sempre ocorrem perdas nos processos de reciclagem
e a energia usada para produzi-los não pode ser reciclada, mas porque esses produtos se
tornaram possíveis graças ao fato de que os recursos minerais de onde foram extraídas
suas matérias-primas encontravam-se acumulados em grandes depósitos, tornando técni-
ca e economicamente viáveis a sua exploração. O uso dos produtos dissipa os seus mate-
riais pelo atrito, oxidação, quebras e outras formas de perda, disseminando-os pelo meio
ambiente de modo atomizado, o que impede a sua recuperação de forma econômica.
Esses metais não são recuperáveis para efeito de reciclagem por estarem espalhados em
porções muito diminutas por todo planeta. Assim, com o uso continuado desses mate-
riais algum dia esse recurso irá acabar, mesmo que seja daqui a milhares de anos.
Excetuando a energia solar que incide diretamente sobre o planeta, os demais
recursos renováveis podem se exaurir dependendo de como eles são usados ou como
<£» F i g u r a 1.1 Recursos naturais - t i p o s e e x e m p l o s .

Esgotam-se c o m o uso
N ã o se a l t e r a m c o m o u s o
Qualidade ambiental: (combustíveis f ó s s e i s e
(energia solar direta e
esgotam-se, mantêm-se energia nuclear)
indireta c o m o ventos
ou aumentam
e marés)
(ar, água, beleza cênica,
espaço, controle natural
de pragas, navegabilidade Esgotáveis, mas p o d e m
A l t e r a m - s e c o m o uso: de rios, lagos e mares, ser r e u t i l i z a d o s
esgotam-se, mantêm-se ciclos dos nutrientes, e reciclados
ou aumentam polinização, regulação d o (a maioria dos metais)
(energia solar indireta: clima, assimilação de
c a r d u m e s , solo, poluentes, biodiversidade
colheita anual, árvores, e outros serviços
animais e outros ambientais)
recursos biológicos)

Fonte: Adaptado de TIVY, J.; 0'HARE, G. Human impact on the ecosystem. Edimburgo: Oliver & Boyd, 1991. p. 171.

a natureza é afetada pelas transformações naturais e humanas. As plantas são consi-


deradas recursos renováveis, mas uma árvore que leva mais de 2 0 0 anos para fornecer
determinado tipo de madeira é na realidade um recurso não renovável na escala hu-
mana. As espécies vivas deixam de ser recursos renováveis se sua exploração compro-
meter sua capacidade de reprodução, o que pressupõe que apenas certa quantidade
anual poderia ser extraída para uso humano. Essa quantidade controlada denomina-
-se rendimento sustentável de um dado recurso renovável numa dada área, e a quan-
tidade máxima de exploração que equilibra a capacidade de regeneração com a
quantidade coletada é o rendimento máximo sustentável. A beleza de uma paisagem
é um recurso renovável para as atividades de turismo desde que suas características
não se degradem pelo excesso de visitantes. O solo agrícola é um recurso renovável,
pois os ciclos biogeoquímicos do nitrogênio, fósforo, potássio e de outros elementos
restabelecem sua fertilidade, mas práticas agrícolas e pastoris inadequadas podem
comprometer a realização desses ciclos e tornar o solo estéril, cuja regeneração pode
levar séculos, o que é impensável para o padrão humano de tempo. As ações humanas
podem, no entanto, produzir alterações positivas, por exemplo, impedindo um pro-
cesso natural de erosão, controlando inundações ou adaptando as espécies ao uso e
às condições do ambiente domesticado.
Os ciclos biogeoquímicos são exemplos de serviços ou funções que o meio ambiente
proporciona às atividades de produção e consumo, devendo ser, portanto, considerados
recursos para as atividades produtivas. A biosfera depende desses ciclos para fornecer aos
seres vivos continuamente elementos químicos que se encontram em quantidades finitas
no meio ambiente. Por exemplo, as plantas absorvem nutrientes minerais do solo, mas
após sua morte os minerais retornam ao solo por meio de processos de decomposição e
lixiviação, ficando novamente disponíveis para outros seres vivos. Além desses ciclos, há
outros serviços que o meio ambiente presta às atividades humanas, tais como a poliniza-
ção, a assimilação de poluentes, o controle natural de predadores, a regulação do clima, a
diversidade de espécies e outros, sem os quais não seria possível a continuação da vida na
Terra. Portanto, sob a denominação genérica de recursos naturais deve-se entender tanto
os componentes do meio ambiente que já são tradicionalmente considerados como tais
(solo, água, minérios, madeira, animais, espaço, paisagem etc.), quanto os serviços ou as
funções ambientais, como mostra o Quadro 1.2. Certos recursos naturais podem ser apro-
priados em diferentes quantidades por pessoas, grupos, empresas e países e transformados
em mercadorias, enquanto os serviços prestados pelo meio ambiente não são passíveis de
apropriação, estando, portanto, disponíveis para todos indistintamente. A circulação do
ar, permitindo a dispersão dos poluentes, beneficia todas as pessoas de certa região. A
mesma coisa não ocorre com um cardume, uma jazida ou uma parcela do solo, cujo uso
ou consumo por parte de uns exclui outros de usarem ou consumirem.

Os recursos naturais não podem ser considerados entidades independentes, pois


o que ocorre com um influencia o outro. O uso perdulário ou inadequado de um re-
curso natural em larga escala pode comprometer as funções ambientais, que por sua
vez acaba afetando sua utilização nos períodos seguintes. A argila e o húmus arrastados
do solo devido a uma prática agrícola inadequada prejudicam a capacidade de reten-
ção da água e se esse processo for mantido, o solo, antes fértil, transforma-se num de-
serto. Ao longo do tempo muitas terras férteis foram se degradando pelo uso intensivo
e pelas práticas impróprias às condições do solo, do relevo e do clima. O Conselho
Econômico e Social da O N U estima que atualmente cerca de 2 bilhões de hectares de
terra estejam degradados pondo em perigo a subsistência de mais de 1 bilhão de pes-
soas, e que cerca de 6 5 % de todas as terras cultiváveis já teriam perdido algumas fun-
ções físicas e biológicas 10 . Embora o ser humano também saiba transformar terras

O N U , 2001.
Q Q u a d r o 1.2 Bens e serviços ambientais: entendimentos e classificações.

Há diversos entendimentos sobre bens e serviços ambientais. Um deles refere-se aos produtos da atividade humana focados
em proteger o meio ambiente. 0 conjunto dos produtores desses bens e serviços forma a indústria ambiental, composta de
diversos segmentos econômicos, de acordo com a natureza do produto. Para a Environmental Business International são três
os segmentos dessa indústria: (1) equipamentos, instalações, instrumentos e outros materiais para controle e prevenção da
poluição e recuperação do meio ambiente; (2) recursos ambientais, como distribuição de água, venda de materiais recuperados
e geração de energia de fontes solar, eólica e outras consideradas ambientalmente limpas: e (3) serviços como análises
laboratoriais, gestão de resíduos, descontaminação de sítios, engenharia e consultoria ambiental, implantação de sistemas de
gestão ambiental em empresas, programas de educação ambiental". Esse tipo de classificação segue uma sistemática
semelhante à das classificações de setores econômicos para efeito fiscal. Seu foco são as atividades geradoras de bens e
serviços para gerenciar, controlar, prevenir e remediar problemas ambientais, como poluição, ruídos, desperdícios de recursos
e danos aos ecossistemas. A Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OECD) apresenta um entendimento
semelhante a esse' 2 .
A Conferência das Nações Unidas para o Comércio e Desenvolvimento (UNCTAD) também considera como bem ambiental os
produtos ecologicamente preferíveis, tais como os produtos orgânicos, os produzidos com conhecimento dos povos tradicionais e os
que utilizam energia renovável". Produtos preferíveis também são os que causam menos danos ao meio ambiente do que seus
similares. Exemplos: um equipamento de uso doméstico que consome menos energia é preferível a um similar que consome mais;
entre os produtos que cumprem a mesma função, são preferíveis os isentos de substâncias tóxicas. Um entendimento mais completo
deveria considerar o processo de produção na comparação, pois o que importa ao meio ambiente é a soma total de impactos
causados ao longo do ciclo de vida do produto, desde a extração das matérias-primas no meio ambiente até a disposição final após
o fim da sua vida útil. As condições de trabalho também devem ser levadas em conta na caracterização desses bens e serviços. Eles
deixam de ser ambientalmente preferíveis se forem produzidos com trabalho forçado, trabalho infantil, em ambientes insalubres,
com remunerações aviltadas e outras condições que desrespeitem o ser humano.
Os entendimentos apresentados consideram apenas os bens e serviços produzidos pelas atividades humanas para resolver
problemas ambientais ou impedir que eles aconteçam e os que são ecologicamente preferíveis por gerar impactos ambientais
adversos significativamente menores do que os similares. Também são bens ambientais os materiais extraídos diretamente da
natureza, como lenha, minérios, água doce, peixes, fibras vegetais, frutos e petróleo. São serviços ambientais as funções
realizadas pelos componentes dos ecossistemas Como a reciclagem de materiais que restitui a fertilidade do solo, a produção de
oxigênio pelas plantas, a dispersão dos poluentes pela circulação do ar e a preservação de mananciais e rios pelas matas
ciliares. Todos os ciclos biogeoqufmicos são exemplos de serviços ambientais. A continuidade da vida e o provimento da
subsistência humana não seriam possíveis sem a manutenção desses serviços ambientais, que por sua vez dependem do modo
como os humanos intervém no meio ambiente.

estéreis em campos férteis, o fato é que os processos de desertificaçao avançam em


praticamente todo o mundo, principalmente nos países mais pobres.
A água pode ser um recurso renovável ou não renovável, dependendo do uso
que se faça dela. Assim como o solo, a água também dá sinais inequívocos de dete-
rioração em quase todos os cantos da Terra. Os prognósticos sobre a qualidade e
quantidade desse recurso são verdadeiramente alarmantes e já se tornou lugar-co-
mum afirmar que a água será o recurso mais escasso do século X X I , e que provavel-
mente será a causa de muito mais guerras do que as que já causou. Os processos de
desflorestamentos e de desertificação e o uso intenso de água para os mais variados

11 EB1, 2006. Obs. Organização privada sediada em San Diego, Califórnia.


12 KENNETT, M. ; STEENBLIK, R., 2005 e O C D E , 1996 e 2001.
" UNCTAD, 2003a, p. 5-7 e UNCTAD, 2003b, p. 11-12.
fins c o m p r o m e t e m sua capacidade de renovação. De acordo c o m a Agenda 21, cada
pessoa deveria ter acesso a pelo menos 4 0 litros de água potável por dia para desfru-
tar de uma vida digna e saudável 14 . Considerando que a população global passa de
seis bilhões de pessoas, seriam necessários mais de 2 4 0 bilhões de litros de água tra-
tada diariamente. Para se ter uma idéia do t a m a n h o do problema, some a essa quan-
tidade, cuja magnitude já é expressiva, as necessidades de água para as demais
espécies e para outros usos humanos (irrigação, navegação, processos industriais,
limpeza pública, geração de energia etc.). No início do século X X I cerca de 1,2 bi-
lhões de h u m a n o s c o n t i n u a m vivendo na pobreza e sem acesso à água potável e
quase 2,5 bilhões ainda carecem de saneamento adequado 1 5 . A falta de acesso à água
potável é um problema gravíssimo e de difícil solução. Tanto que, entre os objetivos
de desenvolvimento do milênio, assumidos em 2 0 0 0 por 191 países-membros da
O N U , considerados ambiciosos e até inexequíveis, uma das metas a ser alcançada
até 2 0 1 5 é reduzir pela metade a população sem acesso permanente e sustentável a
água potável 16 . C o m o a oferta desse recurso é bastante desigual entre os países e re-
giões, tem-se aí um p o m o de discórdia explosivo.

Recursos e nível de produção


O nível de produção que o meio ambiente pode sustentar tem gerado polêmicas
acirradas há muito tempo. Os posicionamentos e as propostas relativas a essa questão
variam dentro de um continuum que se estende do otimismo ao pessimismo extrema-
dos. A escassez de recursos naturais sempre foi uma das maiores preocupações huma-
nas, mas foi a partir da Revolução Industrial que essa questão gerou uma das visões
mais pessimistas, principalmente depois obra de Malthus, Ensaio sobre a população,
publicada em 1798. Partindo da premissa de que a paixão entre os sexos é necessária e
não deve se alterar, o autor concluiu que a população, quando não controlada, tende
a aumentar numa progressão geométrica, enquanto os meios de subsistência cresce-
riam em proporção aritmética, o que acabaria resultando em escassez de alimentos. O
equilíbrio entre oferta e demanda de alimentos seria restabelecido pelas guerras, doen-
ças, pestes e outros freios positivos, segundo as palavras de Maíthus, uma vez que ele
não acreditava na capacidade dos seres humanos, principalmente dos mais pobres, de
refrear preventivamente seus impulsos por meio de restrições morais e controle da
natalidade. Por isso, condenava as políticas públicas em defesa dos pobres, como as
Leis dos Pobres (Poor Laws) que começaram a ser introduzidas na Inglaterra desde o

14
C O N F E R Ê N C I A DAS N A Ç Õ E S UNIDAS PARA O M E I O A M B I E N T E E D E S E N V O L V I M E N T O , 1992.
15
C O N F E R Ê N C I A I N T E R N A C I O N A L S O B R E ÁGUA D O C E , 2001.
P R O G R A M A DAS N A Ç Õ E S U N I D A S PARA O D E S E N V O L V I M E N T O , 2010.
início do século X V I I , pois elas incentivariam os pobres a aumentar ainda mais sua
prole, ampliando o descompasso entre a população e os meios de subsistência. Mal-
thus também condenava os sindicatos, pois, n o seu entender, conceder melhores salá-
rios aos trabalhadores estimularia o crescimento populacional.

Malthus fez escola e o adjetivo malthusiano é utilizado para indicar pessoas pessi-
mistas quanto ao futuro devido ao descompasso entre recursos e necessidades e à difi-
culdade de conter o crescimento populacional, principalmente das populações pobres.
Achar que a pobreza decorre da falta de controle da natalidade e que os pobres são os
maiores responsáveis pela degradação da natureza são alguns argumentos inspirados
na obra desse autor. O s vaticínios pessimistas sobre a escassez de recursos não se con-
firmaram a não ser em situações localizadas. C o m as crises do petróleo a partir da dé-
cada de 1960, começa uma nova fase de debates sobre os recursos naturais. Despido
dos exageros de Malthus em relação aos métodos para reequilibrar o nível de popula-
ção à oferta de alimentos e outros recursos, o neomalthusianismo continua pessimista
quanto ao futuro da Humanidade, prega a necessidade de controle da população e
acha que os pobres são os responsáveis pela degradação ambiental. Segundo seus argu-
mentos, altas taxas de natalidade geram populações muito jovens e como estes conso-
mem mais do que produzem, o resultado final é o aumento da pobreza.

Hardin, um autor neomalthusiano, em seu artigo amplamente citado, The tragedy


of the commons, publicado em 1968 na prestigiada revista Science, afirma que há certos
tipos de problemas para os quais não há solução técnica, dentre estes, as questões rela-
tivas à população, pois uma Terra finita pode suportar apenas uma população finita e
não é isso o que se observa face à liberdade de ter filhos. Por isso, esse autor considera
intolerável essa liberdade e se opõe ao direito das famílias de decidirem sobre essa
questão. Segundo Hardin, como não há solução técnica capaz de salvar a Humanidade
da miséria resultante da superpopulação, a liberdade de procriar arruinará a todos 17 ,
uma tese que faz um imenso sucesso nas hostes neomalthusianas e fornece justificati-
vas para os programas autoritários de esterilização em massa. Nesse mesmo ano de
1968, o casal Paul e A n n e Ehrlich tornaria famosa a expressão bomba populacional, títu-
lo de uma de suas obras, nas quais as teses neomalthusianas foram largamente divulga-
das, entre elas previsões sombrias sobre períodos de fome generalizada nas próximas
décadas 18 . Esses autores voltaram a insistir nesse tema nas décadas seguintes, como
mostra o livro The population explosion19.

17 HARDIN, G „ 1968.
18 E H R L I C H , P. R. ; E H R L I C H , A. H„ 1968.
" E H R L I C H , P. R. ; E H R L I C H , A.H., 1990.
O s relatórios do Clube de Roma são expressões típicas da visão neomalthusiana
que tiveram destaques tanto n o meio acadêmico quanto na grande imprensa e contri-
buíram para divulgar o pessimismo sobre as possibilidades de a Terra sustentar o cresci-
mento econômico. N o mais famoso desses relatórios, denominado Limites do crescimento,
publicado em plena crise do petróleo do início dos anos 1970, esse pessimismo foi
sustentado por simulações realizadas num modelo computacional de sistema mundial.
O relatório afirma que caso não haja mudanças significativas nas relações físicas, econô-
micas e sociais observadas até então, a produção industrial e a população vão crescer
rapidamente para decrescer depois no decorrer do próximo século; a produção decres-
cerá devido à diminuição de recursos, e a população, pela elevação da taxa de mortali-
dade devido à diminuição dos alimentos e dos serviços médicos. M e s m o a duplicação
dos recursos naturais não impediria o colapso da população, porque o elevado cresci-
mento industrial sustentado pela maior oferta de recursos elevaria o nível de poluição
para além da capacidade de assimilação do meio ambiente, o que aumentaria a taxa de
mortalidade e reduziria a produção de alimentos. Se a única mudança for a possibilida-
de de dispor de recursos ilimitados, ainda assim ocorreria esse colapso por conta do
aumento de poluição. Em todas as simulações apresentadas sempre haverá crise de
abastecimento decorrente do crescimento econômico, mesmo na hipótese de reservas
ilimitadas de recursos obtidas com progresso técnico, controle de poluição e de natali-
dade 20 . C o m o resultado dessa análise pessimista, esses autores defendem um estado de
crescimento zero para a sociedade humana 2 1 , uma proposta que só poderia interessar
aos países desenvolvidos, daí porque o Relatório de 1972 do Clube de R o m a e os que
vieram depois foram duramente criticados nos demais países. Passados 3 0 anos do pri-
meiro relatório, os seus autores tornaram-se ainda mais pessimistas quanto ao futuro
global. Eles realizaram novas simulações e reafirmaram as conclusões anteriores de um
modo ainda mais drástico, pois verificaram que a humanidade passou a esbanjar recur-
sos de um modo ainda mais intenso do que em 1972 2 2 .
N o outro extremo estão os que demonstram um otimismo exagerado em relação
aos recursos necessários à vida humana. Estes se baseiam na crença de que qualquer
problema de escassez no presente ou n o futuro próximo será solucionado mais adian-
te, de modo que sempre haverá a possibilidade de substituição de insumos e processos
produtivos. A medida que o mercado visualiza a possibilidade de esgotamento de certo
recurso natural, seu preço de mercado aumentaria e isso estimularia as atividades de

20 M E A D O W S , H. D. ; R A N D E R S , J. ; M E A D O W S , D. L„ 2006. p. 120-138.
21 M E A D O W S , H. D. ; R A N D E R S , J., 2006, p. 168-177.
22 Ibid., p. 167-179.
pesquisa e desenvolvimento científico e tecnológico para melhor aproveitar esse recur-
so escasso e para encontrar alternativas para substituí-lo. Essa visão otimista quanto às
soluções tecnológicas, considera, na prática, todos os recursos infindáveis, pois diante
da iminente escassez de um dado recurso sempre será encontrado algum substituto.
Essa postura em relação ao meio ambiente é denominada cornucopiana em referencia à
cornucópia, uma figura da mitologia grega que simboliza a fortuna e a abundância eter-
nas, representadas por um vaso na forma de chifre que verte continuamente frutas,
flores e cereais.

Pode-se encontrar tal postura na obra de Adam Smith, A riqueza das nações, quando
diz que, independentemente do solo, clima ou extensão territorial de determinada na-
ção, a abundância ou escassez cie bens que esta irá dispor dependerá de duas circunstân-
cias: (1) da habilidade, destreza e bom senso com que o trabalho é executado e (2) da
proporção entre os que executam o trabalho útil e os que não executam trabalho útil,
sendo que a primeira parece ser mais importante que a segunda 23 . Segundo Adam Smith,
sempre haverá demanda por alimentos, pois assim como os animais, os humanos se
multiplicam proporcionalmente aos meios de subsistência. Assim, o autor conclui que
os alimentos sempre irão demandar trabalho e sempre haverá alguém disposto a produ-
zi-los, de modo que a terra irá sempre produzir uma quantidade de alimentos mais que
suficiente para remunerar o trabalho e repor o capital 24 . Talvez seja em decorrência
desse tipo de argumento que o fator terra tem sido omitido em muitos textos econômi-
cos nos quais apenas o trabalho e o capital foram considerados fatores de produção.

Julian S i m o n , economista da Universicy of Maryland, foi um dos autores que mais


se destacou dentro da corrente cornucopiana em todos os tempos, tendo empreendi-
do uma verdadeira cruzada contra as visões neomalthusianas até o final de sua vida,
em 1998. Esse autor afirmava que os seres humanos sempre souberam resolver seus
problemas, prova disso é a melhor qualidade de vida que a Humanidade dispõe hoje
em comparação ao passado. E quanto mais pessoas, maior a capacidade para resolver
problemas. S i m o n afirma que o crescimento da população ao elevar os preços consti-
tui uma oportunidade para os empreendedores procurarem novos meios para resol-
ver os problemas de escassez, desde que haja uma e c o n o m i a livre. Para esse autor, o
resultado final é surpreendente, pois as condições finais seriam melhores do que se a
escassez nunca tivesse ocorrido 2 5 . C o m o se vê, o otimismo desse autor é comparável
ao de Pangloss, para quem tudo se encaminha necessariamente para o melhor fim. O s

23
S M I T H , A., 1983. p. 35.
24
S M I T H , 1983, p. 153.
S I M O N , J. L., maio 1990.
cornucopianos continuam com a idéia exposta por Adam S m i t h de que cada indiví-
duo, buscando o melhor para si, acabaria gerando o melhor para todos 2 6 . Na realida-
de, para esse autor o autointeresse nem sempre produziria efeitos benéficos 2 7 , mas
muitos dos que se dizem seus seguidores transformaram o autointeresse n o único
princípio para alcançar a riqueza, dando-lhe status de virtude e usando-o ad nauseam
para justificar toda sorte de ações em proveito próprio, independentemente dos pre-
juízos para os demais e para o meio ambiente.

Essas duas posturas estão equivocadas, embora tragam contribuições importantes


para o debate a respeito dos recursos naturais. A obra de Malthus e de seus seguidores
contribuíram para o desenvolvimento da dinâmica populacional e continuam forne-
cendo uma base conceituai para muitos modelos que buscam relacionar o crescimento
das populações de qualquer espécie com os seus fatores limitantes, dentre eles a oferta
de recursos. As idéias relativas à capacidade de suporte e rendimento sustentável estão
entre as muitas contribuições dessa corrente de pensamento. O grande problema é
quando esses modelos explicativos são transformados em modelos normativos para
serem aplicados aos seres humanos, tais como os programas de esterilização em massa
de populações pobres. As pessoas que afirmam que há gente em excesso n o planeta
não costumam se incluir entre os que estão sobrando, de modo que suas propostas
sempre se voltam contra os outros, os que não podem se defender. A questão da popu-
lação mundial é preocupante mais pelos desníveis entre os diversos grupos sociais do
que pelo seu t a m a n h o absoluto. Os 5,8 bilhões de humanos em 1996 dispunham em
média de 1 5 % a mais de alimentos dos que os 4 bilhões de 2 0 anos antes 2 8 , porém,
mais de um bilhão de pessoas em todo o mundo em 2 0 0 9 , mas principalmente nos
países em desenvolvimento, não dispunham de alimentos suficientes para atender
suas necessidades nutricionais básicas 29 .

Há suficientes indícios de que o crescimento explosivo da população em certas


áreas está associado à miséria, uma vez que várias sociedades ricas chegam a apresen-
tar taxas negativas de crescimento. A melhor forma para desarmar a b o m b a popula-
cional é a erradicação da pobreza, o que certamente não irá ocorrer apenas pelos
mecanismos de livre mercado, como defendem os liberais de todos os tempos, a exem-
plo de Julian S i m o n . Mas apenas eliminar a pobreza não basta, embora este deva ser
um objetivo prioritário. São justamente os países desenvolvidos os que mais

S M I T H , 1983, p. 24.
Ibid., p. 66.
FAO, 2001.
FAO, 2 0 0 9 .
degradam o meio ambiente, quer pela utilização intensiva de recursos para manter o
alto padrão de consumo das suas populações afluentes, quer pela quantidade de po-
luentes que resultam dos processos de produção e consumo que ultrapassam a capa-
cidade de assimilação do meio ambiente. Os problemas ambientais não podem ser
resolvidos sem considerar o estado de conhecimento e os padrões de desenvolvimen-
to dos diferentes países e dentro destes, dos diferentes grupos sociais. Muitos países
que ostentam um padrão de vida elevado para seu povo dependem de recursos obti-
dos em outros países. Por isso, trata-se de um problema socioambiental, pois decorre
mais do modo c o m o os diferentes grupos sociais obtêm sua subsistência e menos da
disponibilidade de recursos.

O MEIO AMBIENTE COMO RECIPIENTE DE RESÍDUOS

C o m o qualquer ser vivo, o ser humano retira recursos do meio ambiente para pro-
ver sua subsistência e devolve as sobras. No ambiente natural, as sobras de um organis-
mo, ao se decomporem, devolvem ao meio ambiente matérias que serão absorvidas por
outros seres vivos, de modo que nada se perde. O mesmo não acontece com as sobras
das atividades humanas, denominadas aqui genericamente de poluição. A poluição é
um dos aspectos mais visíveis dos problemas ambientais e a percepção dos seus proble-
mas se deu de forma gradativa ao longo do tempo. Primeiro, no nível local, nas proxi-
midades das unidades geradoras de poluição, depois descobriu-se que ela não respeita
fronteiras entre países e regiões, e finalmente, verificou-se que certos problemas atin-
gem proporções planetárias. A percepção dos danos causados pela poluição se deu tam-
bém de forma fragmentada quanto a seu meio receptor, resultando daí uma repartição
do meio ambiente em ar, água e solo, ou atmosfera, hidrosfera e litosfera, respectiva-
mente. As legislações nacionais criadas para combater ou controlar a poluição geral-
mente seguem essa divisão, estabelecendo disposições relativas à poluição do ar, da água
e do solo, como faz, por exemplo, a legislação brasileira e de muitos outros países.

Poluir é sujar, corromper, contaminar, degradar, manchar; poluição é o ato ou efei-


to de poluir; e poluente é o que polui. Neste trabalho as palavras poluir e contaminar,
poluição e contaminação, poluente e contaminante serão usadas como sinônimas.
Poluentes são materiais ou energia que produzem algum tipo de problema indesejável
devido às suas propriedades físico-químicas, às quantidades despejadas e à capacidade
de assimilação n o meio ambiente. O u seja, poluente é qualquer forma de material ou
energia que produz impactos adversos ao meio ambiente físico, biológico e social.
Poluição é a presença de poluentes no meio ambiente e, consequentemente, uma
causa de sua degradação. A poluição é um fenômeno que pode ser visto sob vários
aspectos e ser classificado segundo diversos critérios, c o m o mostra de modo resumido
a Figura 1.2.

O s poluentes podem ser gerados por fontes naturais, c o m o a fumaça liberada em


queimadas espontâneas, as cinzas vulcânicas e as tempestades marítimas carregadas de
sais. Porém, são os poluentes gerados por/ontes antropogênicas os que causam os maio-
res problemas ambientais. Muitos poluentes podem ser produzidos por essas duas
fontes, c o m o o sulfeto de hidrogênio (H 2 S), que é gerado naturalmente em vulcões, em
decomposição de material orgânico presente no solo, em corpos d'água por bactérias
anaeróbias e também em refinarias de petróleo, fábricas de celulose e outros processos
industriais. As fontes antropogênicas podem ser identificadas pelos setores da ativida-
de humana, tais c o m o agropecuária, mineração, transportes, indústria, serviços de

O F i g u r a 1.2 Poluição - alguns critérios de classificação.

Fonte de poluição Meio receptor Impacto sobre o meio ambiente

Origem: Imediato: Alcance:


í-» natural ar ~ local
<-> antropogênica r» água <•* regional
r+ solo <-» global
Fonte:
r+ móvel Final: Danos:
r* fixa ou estacionária i-» organismos <-* aos seres humanos:
i— materiais r* toxicidade aguda e crônica
Emissão: ecossistemas r* alterações genéticas
r» pontual ** redução da capacidade física
" difusa f * invalidez, morte
r* à flora, à fauna e aos solos
Poluente: r* aos materiais, construções,
r* físico-químico, equipamentos, instalações,
biológico, sonoro, m o n u m e n t o s , sítios históricos
radioativo etc. e arqueológicos etc.

Atividades humanas: Tipos de impactos:


f Agricultura i-» eutrofização
Geração de energia ** acidificação
Mineração destruição da camada de ozônio
Transporte !•* perda da biodiversidade
r* Construção civil »* aquecimento global
<-> Indústria de transformação ~ redução da fertilidade do solo
r* Serviços de saúde r* e s g o t a m e n t o de recursos
<-» Serviços educacionais r+ etc.
<-* etc.
saúde etc., pois cada um deles produz certos tipos de poluentes específicos em decor-
rência dos seus insumos e processos típicos, conforme exemplificado n o Quadro 1.3.

Ainda sobre as fontes, estas podem ser pontuais ou difusas. As pontuais são fábri-
cas, hospitais, depósitos, portos, domicílios, veículos e outras fontes fixas ou móveis
identificáveis. A sujeira deixada numa praia depois do fim de semana, o lixo que se es-
palha pelas ruas e beiras de estradas, as partículas de fertilizantes agrícolas carregadas
pelas chuvas e as milhares de substâncias desprendidas de produtos de uso cotidiano
são exemplos de poluição por fontes difusas. Os poluentes são chamados de primários
quando emitidos diretamente por uma fonte geradora ou atingem o meio imediato da
forma como foram emitidos. Os poluentes secundários são substâncias nocivas ao meio
ambiente que resultam da reação ou combinação de poluentes primários ou destes com
as substâncias constituintes do meio receptor. Exemplo: o oxido nítrico ( N O ) é um
poluente primário gerado na queima de combustíveis fósseis, que diante da luz solar
reage com o oxigênio do ar ( 0 2 ) formando o dióxido de nitrogênio ( N 0 2 ) , um poluente
altamente nocivo ao meio ambiente. O N O z , que também é gerado pela queima de
combustíveis fósseis e em diversas atividades industriais, na presença da luz do Sol reage
com o oxigênio para formar o ozônio ( 0 3 ) , uma substância tóxica para os seres vivos
quando concentrada nas camadas baixas da atmosfera. Conforme os tipos de poluen-
tes, a poluição pode ser biológica, físico-química, radiativa, sonora, entre outras.

V J Q u a d r o 1.3 Exemplos de poluentes típicos de setores selecionados.

SETOR POLUENTES

metano (CHJ, dióxido de carbono (C02), Compostos Orgânicos Voláteis (COV), metais pesados,
Agropecuária
embalagens de agrotóxicos, fertilizantes não aproveitados, materiais particulados

C0 2 , monóxido de carbono (CO), óxidos de nitrogênio (NOJ, óxidos de enxofre (SOJ, metais pesados,
Mineração
águas residuais, resíduos sólidos, ruídos, vibração

Siderurgia materiais particulados, S0 2 , N0 2 , CO, COV, DBO, escórias e Iodos de tratamento de efluentes, ruídos

Metais não metálicos S0 2 , CO, materiais particulados, DBO, Iodos de tratamento de efluentes, ruído

Usinas termoelétricas CO, C0 Z , CH,,, N0 x , S0 2 , materiais particulados. Iodos

Têxtil Materiais particulados, S0 2 , HC, DBO, ruídos

Refinaria de petróleo S0 2 , N0 2 , CO, COV, DBO, DCO, materiais particulados, derramamentos

CO, C0 Z , NO,, S0 2 , hidrocarbonetos, materiais particulados, derramamentos de óleos e combustíveis,


Transportes
ruídos
A permanência de um poluente no meio ambiente depende de suas características
físico-químicas (volatilidade, solubilidade, reatividade etc.), bem como das característi-
cas do meio ambiente, tais como umidade, luminosidade, grau de acidez etc. Diferen-
tes combinações dessas características geram diferentes trajetórias dos poluentes desde
o seu lançamento no meio ambiente imediato até a sua eliminação por algum processo
natural, como a degradação microbiana e a dissociação fotoquímica, ou sua acumula-
ção em organismos ou elemento do meio físico. Uma embalagem de aço jogada ao
solo reage com o oxigênio e em alguns anos transforma-se em óxido de ferro, uma
substância inofensiva ao meio ambiente; os plásticos por serem inertes podem perma-
necer no solo por algumas dezenas de anos e até mesmo séculos. Dioxinas, DDT, Al-
drin, heptaclorobenzeno (BHC) e outros poluentes orgânicos persistentes (POPs),
independentemente do meio em que são lançados (ar, água ou solo), por serem alta-
mente solúveis em lipídios, são facilmente absorvidos pelas células gordurosas dos or-
ganismos vivos e transmitidos a outros através da cadeia alimentar, causando danos de
altíssima gravidade, como câncer e alterações genéricas. Os POPs são muito resistentes
aos processos químicos, fotoquímicos ou biológicos, o que dificulta a dissolução de
seus elementos constitutivos. Além disso, são pouco voláteis e de baixa solubilidade
em água e mantêm-se estáveis por longo tempo no ar, na água e no solo, contaminan-
do áreas muito distantes dos locais em quem foram lançados. Hoje já não há mais área
do planeta que não esteja contaminada por esses poluentes. Se nenhum grama de POP
for lançado a partir de agora, eles ainda continuarão causando danos durante décadas
em todo o mundo.

O meio receptor imediato é o que recebe o poluente diretamente da sua fonte, mas
os danos podem se estender para outros meios. O solo é o meio receptor imediato do
lixo doméstico depositado de maneira inadequada em terrenos baldios e lixões, mas os
metais pesados e outras substâncias tóxicas presentes no lixo podem contaminar os
mananciais e aqüíferos, e podem se acumular nos organismos e afetar a cadeia alimen-
tar. Alguns problemas decorrentes da poluição afetam elementos específicos do meio
ambiente, como os efeitos sobre a saúde humana ou das plantas pela exposição a certo
poluente lançado em algum local, não necessariamente próximo à fonte emissora.
Outros poluentes ultrapassam os limites do local de emissão e acabam se tornando
problemas de dimensão regional ou planetária, como a chuva ácida, a destruição da
camada de ozônio ou o aquecimento global.

Os danos provocados pela poluição também afetam os recursos naturais e artificiais.


A chuva ácida, por exemplo, afeta a cadeia alimentar, provocando danos generalizados
nos ecossistemas. Suas principais causas antrópicas são as emissões de S 0 2 e NO z , que
reagem com outros componentes do ar formando ácido sulfúrico ( H 2 S 0 4 ) , ácido nítrico
( H N 0 3 ) e ácido nitroso ( H N 0 2 ) . No solo, a água da chuva com uma acidez além do
normal dificulta a absorção cie nutrientes pelas plantas e exige mais insumos agrícolas
para corrigir os solos, tornando as atividades agrícolas mais caras, além de exigir uma
exploração adicional sobre os recursos naturais. As precipitações ácidas também aumen-
tam a taxa de corrosão de materiais, equipamentos, instalações, monumentos históricos
e arqueológicos, aumentando a necessidade de mais recursos para sua manutenção e
substituição precoce de novos materiais, caso isso seja possível.
Diversos processos foram e continuam sendo desenvolvidos para capturar, tratar e
dispor os poluentes, bem como para usar recursos de modo mais eficiente, podendo-se
dizer que o esforço para compreender e dominar os problemas ambientais constitui um
dos capítulos mais importantes da história da ciência e tecnologia. Sem esses processos
a capacidade da Terra de sustentar a vida certamente já teria entrado em colapso, dada
a grande variedade de poluentes gerados pelas atividades humanas, as quantidades lan-
çadas ao longo do tempo e as quantidades de recursos utilizados. A contribuição da
ciência e da tecnologia tem sido significativa e não seria exagero afirmar que a maioria
dos problemas ambientais já teria sido resolvida se as soluções já conhecidas fossem
aplicadas. Porém, questões de ordem política, econômica, social e cultural que estão nas
raízes dos problemas ambientais retardam ou inviabilizam a adoção de soluções. Todas
essas questões devem ser consideradas quando se pretende enfrentar os problemas am-
bientais e isso é o que grosso modo se denomina gestão ambiental.

G E S T Ã O AMBIENTAL

Administração ou gestão do meio ambiente, ou simplesmente gestão ambiental,


será aqui entendida c o m o as diretrizes e as atividades administrativas e operacionais,
tais como planejamento, direção, controle, alocação de recursos e outras realizadas
com o objetivo de obter efeitos positivos sobre o meio ambiente, tanto reduzindo, eli-
minando ou compensando os danos ou problemas causados pelas ações humanas,
quanto evitando que eles surjam. De acordo com Acot, as atividades que de um m o d o
geral visam proteger o meio ambiente das conseqüências das próprias ações humanas
podem ser observadas em tempos mais remotos, como as medidas que proibiam serras
hidráulicas na Inglaterra n o século X I V e as leis para proteger as florestas e as águas em
meados do século X V I I na França, a fim de resolver as questões da escassez de madeira.
As primeiras manifestações de gestão ambiental foram estimuladas pelo esgotamento
de recursos, c o m o a escassez de madeira para construção de moradias, fortificações,
móveis, instrumentos e combustível, cuja exploração havia se tornado intensa desde a
era medieval. Muitas florestas foram destruídas para produzir ferro, pois segundo nos
informa o mesmo autor, para obter 5 0 kg de ferro era necessário queimar 25m 3 de le-
nha 30 . Acot denomina esses primeiros atos de defesa da natureza como proteção dos
gerentes, pois não eram resultantes de uma preocupação com a natureza por ela mes-
ma, mas do interesse em preservar os recursos do país tendo em vista sua utilização 31 .

As ações para combater a poluição só foram efetivamente iniciadas a partir da


Revolução Industrial, embora desde a Antigüidade diversas experiências haviam sido
tentadas para remover o lixo urbano que infestava as ruas das cidades prejudicando a
saúde de seus habitantes. Na segunda metade do século X I X começa também um in-
tenso debate entre membros da comunidade científica e artística para delimitar áreas
do ambiente natural a serem protegidas das ações humanas para criar santuários onde
a vida selvagem pudesse ser preservada. Destaca-se, nesse aspecto, a criação do Parque
Nacional de Yellowstone nos Estados Unidos, em 1872, considerado o primeiro no
mundo. O crescimento da consciência ambiental por amplos setores da sociedade é
outro fato indutor da emergência da gestão ambiental. No pós-guerra começa efetiva-
mente o crescimento dos movimentos ambientalistas apoiados numa crescente cons-
cientização de parcelas cada vez maior da população. Entende-se por ambientalismo as
diferentes correntes de pensamento de um movimento social que tem como principal
preocupação a defesa do meio ambiente.
Essa preocupação com o meio ambiente, antes restrita a pequenos grupos de artistas,
cientistas e alguns políticos, extravasou para amplos setores da população de praticamen-
te todo o mundo, dado o elevado grau de degradação observado em todas as partes do
planeta. Contribuíram para isso as catástrofes ambientais de grande proporção, como as
de Seveso, Minamata, Three Miles Island, Bophal, Exxon Valdez, Cubatão, Chernobil,
Baía de Guanabara e muitas outras. As informações sobre as conseqüências das contami-
nações, tornadas possíveis pelas pesquisas e divulgadas pela grande imprensa, têm sido
uma constante nas últimas décadas, de modo que dificilmente alguém minimamente
letrado desconhece a existência de problemas ambientais, principalmente os decorrentes
da poluição, pois estes são os que afetam mais diretamente as pessoas.

As últimas décadas do século X X foram particularmente ricas em denúncias e de-


bates sobre problemas ambientais detectados por pesquisadores dos mais variados
campos do conhecimento, tal como a luta contra o DDT, que até então era considera-
do um grande benfeitor da Humanidade pelo combate às pragas agrícolas e aos vetores

A C O T , 1990, p. 132-133.
Ibid-, p. 132.
da malária e de outras doenças. U m marco importante dessa luta foi a obra de Rachel
Carson, Silent spring, de 1962, que se tornou um grande best-seller por muitos anos. As
obras neomalthusianas, como as do Clube de R o m a e do casal Ehrlich, contribuíram
para aumentar as preocupações com o meio ambiente, principalmente alertando para
a escassez de recursos e os problemas decorrentes da superpopulação. O contingente
de pessoas preocupadas com o meio ambiente, que já é significativo, tende a crescer
ainda mais à medida que as populações se dão conta que os problemas ambientais não
só afetam a qualidade de vida atual, mas comprometem a sobrevivência da própria
Humanidade.

Dimensões da gestão ambiental


A expressão gestão ambiental aplica-se a uma grande variedade de iniciativas relativas
a qualquer tipo de problema ambiental. Na sua origem estão as ações governamentais
para enfrentar a escassez de recursos, como mostrado anteriormente. C o m o tempo,
outras questões ambientais foram sendo consideradas por outros agentes e com alcances
diferentes. Qualquer proposta de gestão ambiental inclui n o mínimo três dimensões, a
saber: (1) a dimensão espacial que concerne área na qual espera-se que as ações de gestão
tenham eficácia; (2) a dimensão temática que delimita as questões ambientais às quais as
ações se destinam; e (3) a dimensão institucional relativa aos agentes que tomam as ini-
ciativas de gestão. Essas três dimensões estão representadas na Figura 1.3, em que cada
eixo representa uma dessas dimensões. Uma mesma questão ambiental pode ser tratada
por meio de iniciativas diferentes, cada qual visando alcançar efeito sobre determinada
área de abrangência. Por exemplo, o aquecimento global é uma questão de natureza
planetária que suscita gestões em todos os níveis de abrangência, desde o global, como as
iniciativas da O N U que serão apresentadas no próximo capítulo, aos níveis regionais,
nacionais, subnacionais, locais, empresariais e até mesmo individuais.

A essas dimensões pode-se acrescentar a dimensão filosófica que trata da visão de


m u n d o e da relação entre o ser humano e a natureza, questões que sempre estiveram
entre as principais preocupações humanas como mostram as incontáveis obras artísti-
cas, filosóficas e científicas de todos os tempos. E as respostas às indagações sobre essas
questões foram, e continuam sendo, as mais variadas, gerando diferentes posiciona-
mentos e propostas que refletem a diversidade de entendimentos sobre o Universo, o
ser humano, os demais seres vivos e os elementos não vivos da natureza. Apesar da
variedade de posicionamentos, pode-se pensar em duas grandes vertentes situadas em
polos extremos de uma linha contínua que abriga situações intermediárias em diferen-
tes gradações.
F i g u r a 1.3 D i m e n s õ e s da gestão ambiental.

Abrangência Espacial

Global

Regional

Nacional

Iniciativa
Subnacional
^ ^ etc.

Local
^ ^ Instituição multilateral

Setorial ^ ^ Instituição de ensino e pesquisa

Sindicato
Empresarial
^ ^ ONG

^ ^ Governo
etc.
Empresa

Água ^ —
Solo ^ ^ ^ ^
Fauna e flora ^ ^ ^ ^

Recursos minerais ^ ^ ^ ^

A q u e c i m e n t o global
etc. •*•

Questões Ambientais

Em uma ponta dessa linha encontram-se as posições antropocêntricas extremadas,


nas quais a natureza só tem valor enquanto instrumento dos seres humanos e estes
possuem direitos absolutos sobre ela. A preocupação com o meio ambiente se dá na
medida em que este traz problemas para os humanos. Subjacente a essa postura está a
concepção de um ser humano separado da natureza; e essa dualidade lhe daria o direi-
to de ser o senhor da natureza e de utilizá-la em seu benefício. Em termos gerais, os
antropocêntricos mais extremados não se preocupam com a quantidade e a natureza
da produção e do consumo, pois o importante é satisfazer as necessidades humanas,
sejam elas essenciais ou não. A gestão ambiental, de acordo com essa visão, caso exista,
se restringe a seguir as legislações ambientais. A crença na capacidade da ciência e
tecnologia de resolver os problemas ambientais legitima o uso abusivo do meio am-
biente. O s cornucopianos, já citados, fazem parte deste polo. O movimento ambienta-
lista, apesar das diferenças pronunciadas entre as suas várias correntes, representa uma
contestação a esse modo de pensar e agir.

Na outra ponta estão as posições ecocêntricas extremadas que atribuem aos ele-
mentos da natureza um valor intrínseco e independente de qualquer apreciação huma-
na; e os humanos, sendo apenas um desses elementos, não possuem n e n h u m direito
a mais que os outros seres. A equidade biológica, uma das ideias-chave das posições
extremadas desse polo, decorre de uma concepção unitária da natureza, na qual todos
os organismos, inclusive os seres humanos, fazem parte da natureza em igualdade de
condições. O s que defendem essa tese se baseiam na idéia de que todos os seres vivos
de um ecossistema são interdependentes e por isso nenhuma espécie pode ser superior
às demais, nem mesmo os humanos. Suas propostas procuram levar em conta o fato
de que a Terra é finita, ou seja, possui capacidade de carga e de absorção de poluentes
limitadas, de modo que o crescimento econômico também deve ter um limite. N ã o
creem que a ciência e a tecnologia dominantes possam dar conta dos problemas am-
bientais, pois elas são parte desses problemas, uma vez que foram desenvolvidas para
serem instrumentos de domínio sobre a natureza. Essa visão de m u n d o sugere o uso
mínimo de recursos para não afetar a capacidade de regeneração do meio ambiente,
algo que só seria possível modificando significativamente os hábitos de consumo para
restringi-los às necessidades básicas dos humanos.

Esse tipo de pensamento não raro gera propostas idílicas e escapistas, como o re-
torno à vida campestre ou em comunidades fechadas, bem como propostas ecofascis-
tas que pregam o amor aos bosques e animais, ao mesmo tempo em que desprezam as
massas de pessoas pobres. Também geram propostas malthusianas, com suas conheci-
das queixas sobre a bomba-relógio da explosão populacional e suas previsões pessimistas
sobre a iminente era de escassez de recursos que nenhum ajuste ou avanço tecnológico
poderá deter.
Entre esses extremos encontram-se as abordagens socioambientais que reconhecem
o valor intrínseco da natureza, mas admitem que ela deve ser usada para atender às
necessidades humanas presentes e futuras e, por isso, buscam sistemas de produção e
consumo sustentáveis, entendidos como aqueles que procuram atender às necessidades
humanas, respeitando as limitações do meio ambiente, limitações que não são estáticas
e que o ser humano pode e deve ampliá-las para poder atender a todos. Este livro adota
essa perspectiva, o que significa manter-se distante das posturas extremas comentadas
anteriormente. As propostas de gestão ambiental empresarial decorrentes dessa visão
apoiam-se em três critérios de desempenho, a saber: eficiência econômica, equidade
social e respeito ao meio ambiente, critérios que devem ser considerados simultanea-
mente. Espera-se que a adoção dessas propostas contribua para que as empresas gerem
renda e riqueza, que são seus objetivos declarados, ao mesmo tempo em que cuidem do
meio ambiente e promovam benefícios sociais para tornar a sociedade mais justa.

I Termos e conceitos importantes

Ambientalismo Malthusianismo
Bens ambientais Meio ambiente
Capacidade de suporte Neomalthusianismo
Cornucopianismo Poluentes
Ecologia Poluição
Ecossistema Problemas ambientais
Funções ambientais Rendimento sustentável
Gestão ambiental Recursos naturais
Indústria ambiental Serviços ambientais

Questões para revisão

1. Faça uma pesquisa em jornais e outros veículos de comunicação de massa e relacione as


notícias referentes a problemas ambientais. Depois, classifique esses problemas confor-
me apresentados neste capítulo.

2. Vivemos num lugar onde a quantidade de água existente excede muito a demanda de
água pelos seus habitantes. Assim, não se prevê nenhum problema de escassez por
muitos anos. Nessas circunstâncias, que argumentos você usaria para sustentar uma
campanha contra o desperdício de água?

3. No Quadro 1.3 estão relacionados os poluentes típicos de setores selecionados. Acres-


cente novas linhas nesse quadro, relacionando os poluentes típicos de atividade ou setor
econômico importante para o local onde você vive.

4. Ainda em relação ao Quadro 1.3, acrescente novas linhas relativas a hospitais, shopping
centers, escolas, aeroportos, rodoviárias, estádio de futebol, parques de diversão e ou-
tros estabelecimentos de serviço.
5. Neste capítulo foram apresentadas duas concepções diametralmente opostas sobre a
capacidade da Terra de prover os recursos necessários para a subsistência da Humanida-
de. Discuta cada uma delas e apresente as possíveis práticas de gestão ambiental que
podem ser a elas associadas.

6. Enumere diversas fontes de energia classificadas em renováveis e não renováveis. De-


pois, faça uma pesquisa sobre cada uma delas, apresentando as disponibilidades e as
expectativas para os próximos anos. Indique o grau de importância que essas fontes re-
presentam hoje e deverão representar no futuro.

7. Por que a distinção entre recursos renováveis e não renováveis deve ser vista com reser-
vas? Apresente exemplos.

8. Explique por que a visão de mundo dos gestores deve ser entendida como uma das di-
mensões da gestão ambiental. Apresente exemplos.

9. Certas pessoas reconhecem que os problemas ambientais existem, mas que serão
resolvidos com o avanço da ciência e da tecnologia. Outras não professam a mesma
confiança ou até duvidam de que esses fatores podem trazer soluções aos problemas
ambientais. Há, ainda, os que entendem que a maioria dos problemas ambientais foi
criada pela ciência e pela tecnologia, e que não se pode esperar que elas tragam solu-
ções. Discuta essas opiniões com um grupo de colegas e identifique práticas de gestão
ambiental coerentes com cada uma delas.

10. Relacione as diferenças entre uma proposta de gestão socioambiental e outras propos-
tas relacionadas com as posições situadas nos polos extremos, conforme mostrado
neste capítulo.

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GESTÃO AMBIENTAL GLOBAL E REGIONAL

Problemas ambientais globais exigem respostas globais. As iniciativas para enfren-


tá-los propiciaram ao longo do tempo o surgimento de diversos acordos multilaterais,
bem como de órgãos intergovernamentais, para administrá-los, e mecanismos de ação
internacional. O Anexo 1 (p. 359) apresenta uma relação dos principais acordos mul-
tilaterais envolvendo questões ambientais e correlatas. Atualmente, pode-se falar numa
verdadeira Ordem Ambiental Internacional, como mostra Ribeiro 1 numa brilhante
análise sobre a evolução dos acordos multilaterais concernentes aos mais diversos te-
mas ambientais. O autor distingue três fases dessa evolução: a primeira começa no
início do século XX, quando surgem os primeiros acordos multilaterais com o objetivo
de regular a ação dos colonos das metrópoles imperialistas no continente africano que
destruíam a base natural das terras conquistadas. Esses acordos não alcançaram seus
objetivos e a devastação não foi contida.

Na segunda fase, que começa com a Guerra Fria, surgem iniciativas bem-sucedi-
das, como o Tratado Antártico e a emergência da temática ambiental no âmbito da
O N U e de suas entidades como a Unesco, a FAO e o PNUMA. A terceira fase corres-
ponde ao período pós-Guerra Fria, no qual se destaca a realização da Conferência das
Nações Unidas para o Meio Ambiente e Desenvolvimento ( C N U M A D ) no Rio de Ja-
neiro, em 1992 2 . A partir de então as questões centrais dos acordos multilaterais privi-
legiam os conceitos de segurança ambiental global e desenvolvimento sustentável.
Apoiado numa análise minuciosa dos termos acordados pelos países, Ribeiro constata
que essa Ordem Ambiental Internacional foi construída com base no realismo políti-
co, pois os países não abdicaram dos conceitos de soberania e interesse nacional.

1 R I B E I R O , W. C., 2001. p. 53.


2 Ibid., p. 107.
Diversos congressos científicos internacionais antecederam as iniciativas de gestão
ambiental de caráter global. A idéia de realizar um encontro internacional sobre pro-
teção da natureza segue paralelamente à criação de parques nacionais nos Estados
Unidos, iniciada com o Parque de Yellowstone, em 1872. O primeiro acordo interna-
cional foi assinado em Paris, em 1883, e seu objetivo era proteger as focas n o mar de
Behring. Esta cidade também foi sede da Convenção para a Proteção dos Pássaros
Úteis à Agricultura realizada em 1895 e do Congresso Internacional para a Proteção
da Paisagem. O I Congresso Internacional para a Proteção da Natureza, realizado em
Paris, em 1923, é considerado o início de um novo período na história da gestão am-
biental global, quer por ter apresentado uma abordagem bastante completa sobre os
problemas ambientais, quer pela luta para criar uma instituição internacional perma-
nente para a proteção da natureza. Porém, os problemas ambientais seriam apresenta-
dos na sua forma moderna somente no final da década de 1960 na O N U 3 . Por forma
moderna entende-se um tratamento global e integrado e não fragmentado c o m o ocor-
rera até então. Soares expressa opinião semelhante, pois acredita que seria inútil bus-
car manifestações do fenômeno da regulamentação internacional ambiental global
antes da segunda metade do século X X . Até então, as convenções internacionais am-
bientais se moviam em função de interesses do comércio e da preservação de certas
espécies para fins econômicos 4 .
Neste livro, c o m o a ênfase é a gestão ambiental, será considerada outra periodiza-
ção. Na fase inicial, que vai do início do século X X até 1972, prevalece um tratamento
pontual das questões ambientais (acordos para a proteção de pássaros, peixes, mamífe-
ros marítimos, animais selvagens etc.) e desvinculado de qualquer preocupação com os
processos de desenvolvimento econômico e social. A palavra desenvolvimento será
aqui utilizada para indicar os processos de promoção da melhoria das condições de
vida da população de um país, de uma região ou de um local específico. O s processos
de desenvolvimento envolvem a transformação das estruturas produtivas para torná-las
mais eficientes e, dessa forma, mais apropriadas à geração de renda e bem-estar para as
populações. Daí porque esse processo tem sido associado a progresso técnico, cresci-
mento econômico, industrialização, modernização e outras expressões correlatas. Mais
ainda, em muitos casos essas expressões têm sido utilizadas de modo intercambiável,
c o m o se fossem sinônimas. Isso se deve em grande parte às experiências de desenvolvi-
mento vividas em diversos países, nas quais o crescimento e c o n ô m i c o e a incorporação
do progresso técnico tornaram-se a própria essência dos planos governamentais de

3 A C O T , P., 1990. p. 162, 164, 167.


4 S O A R E S , G . F. da S „ 2001. p. 42.
desenvolvimento em detrimento de outras questões, tais como a erradicação da pobre-
za e dos desequilíbrios regionais. E fato conhecido que muitos planos de desenvolvi-
mento implementados em vários países conseguiram modernizar suas estruturas
produtivas, mas isso nem sempre levou a uma melhoria do padrão de vida da maioria
da população. O Brasil talvez seja um dos exemplos mais eloqüentes de que crescimen-
to econômico, industrialização e modernização podem conviver por longo tempo com
profundas desigualdades sociais e regionais.

Com a Conferência das Nações Unidas para o Meio Ambiente Humano, realizada
em Estocolmo em 1972, inicia-se a segunda fase que se estende até 1992 e se caracteriza
pela busca de uma nova relação entre meio ambiente e desenvolvimento. Essa Confe-
rência foi marcada pelo antagonismo entre dois blocos: os países desenvolvidos, preo-
cupados com a poluição e o esgotamento de recursos naturais estratégicos, como
petróleo, e os demais países, que defendiam o direito de usarem seus recursos para
crescer e assim terem acesso aos padrões de bem-estar alcançados pelas populações dos
países ricos. Apesar dessas divergências, a Conferência conseguiu avanços positivos,
dentre eles, a aprovação da Declaração sobre o Meio Ambiente Humano, um plano de
ação constituído de 110 recomendações e o início de um envolvimento mais intenso
da O N U nas questões ambientais de caráter global.

A Declaração sobre o Meio Ambiente Humano contém 26 princípios que servem


de orientação para as legislações internas dos países e para as relações internacionais.
O princípio nQ 21, por exemplo, garante aos países o direito soberano de explorar os
seus recursos de acordo com a sua política ambiental desde que as atividades realizadas
dentro de suas jurisdições não prejudiquem o meio ambiente de outros países ou de
zonas situadas fora dos limites de suas jurisdições nacionais 5 . A aprovação desse prin-
cípio foi uma vitória dos países não desenvolvidos que reivindicavam uma garantia
contra propostas de cunho neomalthusiano, como a do crescimento zero defendida
pelo Club de Roma, comentada no capítulo anterior.
Com a implementação do plano de ação, começou de fato a construção de uma
infraestrutura internacional para a gestão ambiental global, na qual se destacam os se-
guintes eventos: criação de observatórios para monitorar e avaliar o estado do meio
ambiente; maior envolvimento dos bancos multilaterais e regionais de desenvolvimento
(Banco Mundial, Banco Interamericano de Desenvolvimento etc.) e a criação do Pro-
grama das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA), que passaria a centralizar
grande parte das ações da O N U em relação às questões ambientais.

5 UNEP, 1972.
A Conferência de Estocolmo de 1972 deu uma contribuição significativa para ge-
rar um novo entendimento sobre os problemas ambientais e o modo c o m o a socieda-
de provê sua subsistência. Todos os acordos ambientais multilaterais que vieram depois
procuraram incluir esse novo entendimento a respeito das relações entre meio ambien-
te e desenvolvimento. Talvez uma das suas principais contribuições tenha sido a de
colocar em pauta a relação entre meio ambiente e formas de desenvolvimento, de
modo que, desde então, não é mais possível falar seriamente em desenvolvimento sem
considerar o meio ambiente e vice-versa. Da vinculação entre desenvolvimento e meio
ambiente é que surge um novo conceito denominado desenvolvimento sustentável.
O uso indiscriminado e pouco criterioso da expressão desenvolvimento sustentável,
que está em voga n o m o m e n t o , tem contribuído para dificultar seu entendimento. A
Comissão Mundial para o Meio Ambiente e Desenvolvimento ( C M M A D ) , criada
pela O N U , em 1983, ao concluir seus trabalhos em 1987 elaborou o relatório deno-
minado Nosso futuro comum, n o qual apresenta uma definição que já correu os quatro
cantos do m u n d o e que pode ser um b o m ponto de partida para a compreensão do
que vem a ser esse novo m o d o de pensar o desenvolvimento vinculado ao meio am-
biente. É a seguinte: "desenvolvimento sustentável é aquele que atende às necessida-
des do presente sem comprometer a possibilidade das gerações futuras de atenderem
às suas próprias necessidades" 6 .
Ainda conforme a C M M A D , os principais objetivos de políticas ambientais e de-
senvolvimentistas derivados desse conceito de desenvolvimento são os seguintes:

1. retomar o crescimento como condição necessária para erradicar a pobreza;


2. mudar a qualidade do crescimento para torná-lo mais justo, equitativo e me-
nos intensivo em matérias-primas e energia;
3. atender às necessidades humanas essenciais de emprego, alimentação, energia,
água e saneamento;
4. manter um nível populacional sustentável;
5. conservar e melhorar a base de recursos;
6. reorientar a tecnologia e administrar os riscos; e
7. incluir o meio ambiente e a economia no processo decisório 7 .

Segundo o entendimento dado pela C M M A D , o desenvolvimento sustentável resul-


taria de dois pactos geracionais, um pacto intergeracional, que se traduz na preocupação

6 C O M I S S Ã O M U N D I A L S O B R E M E I O A M B I E N T E E D E S E N V O L V I M E N T O , 1991. p. 46.
7 Ibid., p. 53.
constante com o gerenciamento e a preservação dos recursos para as gerações futuras, e
um pacto intrageracional, que se expressa nas preocupações quanto ao atendimento às
necessidades básicas de todas as pessoas. As gestões socioambientais, esboçadas no final
do capítulo anterior, são abordagens coerentes com as idéias relativas ao desenvolvimen-
to sustentável.
A terceira fase da gestão ambiental global (fase atual) tem início com a realização
da C N U M A D , realizada em 1992 no Rio de Janeiro e que contou com a participação
de 178 países. Nessa Conferência foram aprovados documentos importantes relativos
aos problemas socioambientais globais, dentre eles a Declaração do Rio de Janeiro
sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento (ver Anexo 2, p. 363), a Convenção so-
bre Mudanças Climáticas, a Convenção da Biodiversidade e a Agenda 21.

A Agenda 21, uma das principais contribuições dessa fase, apresenta recomenda-
ções específicas para os diferentes níveis de atuação, do internacional ao organizacio-
nal (sindicatos, empresas, O N G s instituições de ensino e pesquisa etc.) sobre
assentamentos humanos, erradicação da pobreza, desertificação, água doce, oceanos,
atmosfera, poluição e outras questões socioambientais constantes em diversos relató-
rios, tratados, protocolos e outros documentos elaborados durante décadas pela O N U
e outras entidades globais e regionais. Na sua essência, a Agenda 21 é uma consolida-
ção das resoluções já tomadas por essas entidades e estruturadas a fim de facilitar sua
implementação nos diversos níveis de abrangência. A fase atual da gestão ambiental
global se caracteriza pela implementação e aprofundamento desses acordos multilate-
rais, o que implica colocar em prática as suas disposições e recomendações pelos esta-
dos nacionais, governos locais, empresas e outros agentes. O s exemplos a seguir
mostram o modus operandi típico das gestões ambientais globais multilaterais.

A Q U E C I M E N T O GLOBAL

A radiação solar é o fator determinante do clima. São as condições térmicas da


atmosfera e da superfície do solo que determinam as temperaturas médias e extre-
mas de uma região, as precipitações, os ventos e outros f e n ô m e n o s climáticos. Alte-
rações climáticas por motivos antrópicos têm sido uma constante em todos os
tempos. A derrubada de matas para a obtenção de madeira, lenha, espaço para agri-
cultura, indústrias e assentamentos humanos, sempre provocam alterações n o clima
local. Quase sempre, essas mudanças são pequenas e pouco perceptíveis a curto
prazo, mas com o passar do tempo elas podem se ampliar a p o n t o de inviabilizar as
atividades humanas n o local ou região. Por exemplo, a alteração do clima, que levou
ao colapso a civilização do norte da Mesopotâmia n o terceiro milênio antes de
Cristo, teve entre suas causas uma exploração agrícola intensa 8 . Apesar de ser um
problema antigo, a novidade em termos de mudanças climáticas é a constatação da
sua dimensão planetária.

Dióxido de carbono ( C 0 2 ) , ozônio ( 0 3 ) , metano (CH 4 ), óxido nitroso (N z O) e


outros gases de efeito estufa {greenhouse gases) deixam passar as radiações solares de
ondas curtas e retardam as radiações infravermelhas de ondas longas refletidas pela
superfície terrestre, mantendo a atmosfera aquecida. Sem esse f e n ô m e n o natural a
Terra seria mais fria. O aquecimento global é um fenômeno associado ao aumento das
emissões de gases de efeito estufa gerado pelas atividades humanas, que aumenta ainda
mais a retenção das radiações infravermelhas e, consequentemente, eleva a temperatu-
ra média global do planeta. De acordo com o Painel Intergovernamental de Mudança
Climática (IPCC), a temperatura da superfície da Terra durante o século X X foi a mais
alta de todos os períodos que se tem registros, subindo de 0 , 4 2 C a 0 , 8 Ü C nos últimos
cem anos. A concentração de seis gases de efeito estufa na atmosfera aumentou signi-
ficativamente desde 1750, considerado o ano de início da Revolução Industrial, como
mostra a Tabela 2.1 9 .

A queima de combustíveis fósseis está entre as principais fontes geradoras de C 0 2 ,


bem c o m o as queimadas de florestas e de resíduos. C o m o o C 0 2 pode ficar por décadas

T a b e l a 2.1 C o n c e n t r a ç ã o de alguns gases de estufa na a t m o s f e r a .

Concentração Taxa anual de


G Á S DE Concentração Tempo de vida
pré-industrial mudança da
ESTUFA em 1998 na atmosfera
(1750) concentração
Dióxido de carbono
280 ppm 365 ppm 1,5 ppm/ano 5 a 200 anos
(C0 2 )

Metano (CH4) 700 ppb 1.745 ppb 7 ppb/ano 12 anos


Óxido nitroso (N 2 0) 270 ppb 314 ppb 0,8 ppb/ano 114 anos

CFC-11 zero 268 ppt - 1 , 4 ppt 45 anos

HFC-23 zero 14 ppt 0,5 ppt/ano 260 anos


Perfluorometano (CF ( ) 40 ppt 80 ppt 1 ppt/ano >50.000 anos

Fonte: IPCC. Climate Change 2001. Obs.: ppm = partes por milhão; ppb = partes por bilhão e ppt = partes por trilhão.

W E I S S , H. et al„ 1993. p. 995-1.004.


IPCC, 2001. Veja nesse endereço os demais relatórios do IPCC. O IPCC (do inglês: Intergovemmental Panei on
Climate Change) foi criado em 1989 pela Organização Mundial de Meteorologia e pelo PNUMA com o objetivo
de prover informações científicas, técnicas e socioeconômicas concernentes à mudança do clima. O I P C C não
realiza pesquisas e tampouco faz monitoramentos do clima. Mais informações em: <http://www.ipcc.org.ch>.
na atmosfera, seus efeitos se prolongam por muito tempo após a sua emissão. As con-
centrações de metano e de óxido nitroso, que também cresceram em decorrência das
atividades antrópicas, geram danos maiores do que quantidades equivalentes de C O r
Porém, em razão das grandes quantidades de desse poluente lançadas ao longo do tem-
po por uma diversidade de fontes ligadas aos mais variados setores da atividade huma-
na, ele acabou sendo usado como base para medir o grau de aquecimento global.
Baseando-se no tempo médio de permanência dos gases de efeito estufa na atmosfera,
foi criada uma medida de potencial de aquecimento global, tendo o C 0 2 c o m o unidade
de referência. Por exemplo, o C H 4 possui um potencial de aquecimento 21 vezes maior
que o C 0 2 , e o N 2 0 , um potencial 310 vezes maior que o C O r

Usando modelos matemáticos de clima global, o I P C C chegou a prever que a tem-


peratura se elevaria entre 1,5° C a 4,5° C, caso o nível de concentração desses gases do-
brasse. Por isso, a associação entre aumento da concentração dos gases de efeito estufa
e o aumento da temperatura média tornou-se uma espécie de quase consenso na comu-
nidade científica 10 . As vozes discordantes geralmente argumentam que o clima envolve
uma grande diversidade de variáveis e que os modelos usados para simular mudanças
climáticas dificilmente seriam capazes de abranger sua totalidade. Argumentam tam-
bém que há inúmeras causas naturais que provocam mudanças climáticas, por exemplo,
os movimentos da Terra e as atividades solares, de modo que seria prematuro associar a
elevação da temperatura superficial da Terra ao aumento da concentração de gases de
efeito estufa. O s que discordam tem sido denominados céticos, palavra usada comu-
mente para referir-se às pessoas que mostram dúvidas sobre alguma coisa. A palavra vem
do grego clássico (sketpkós) que deu nome a uma importante corrente filosófica denomi-
nada ceticismo, cuja tese central é a de ser impossível afirmar sobre a verdade ou falsidade
de qualquer coisa". U m a importante organização de céticos do aquecimento global por
causas humanas é o Nongovemmental International Panei on Clima te Change ( N I P C C ) , do
qual participam centenas de cientistas, como pode-se ver em seu relatório de 2009 1 2 .

Entre os problemas decorrentes do aumento da temperatura estão as mudanças


nos regimes de chuvas e de circulação de ar, bem c o m o o a u m e n t o da freqüência de

10 IPCC, Climate Change, 2001.


1' A B A G N A N O , N., 2007. p. 151.
12 NIPCC, 2009. Report of N I P C C . Disponível em: <http://www.nipccreport.org>. Acesso em: 15 abr. 2010. Bjorn
Lomborg e Freeman Dyson são alguns céticos a respeito do aquecimento global (veja referências ao final do capítu-
lo). No Brasil, um dos maiores céticos a esse respeito foi o físico José Carlos de Almeida Azevedo, que exerceu o
cargo de Reitor da Universidade de Brasília. Michael Crichton, romancista norte-americano que ficou famoso com
o livro Jurassic Parle, também um cético, escreveu O estado do medo, um thriller no qual o herói da história luta deses-
peradamente contra um grupo de ecoterroristas que para provar que o aquecimento global é real tentam provocar
desastres ambientais de grandes proporções que apareçam como conseqüências desse fenômeno.
turbulências climáticas c o m o furacões e maremotos. A intensificação das chuvas em
certos locais e das secas em outros é uma das conseqüências previstas nos modelos
de clima global. O s registros meteorológicos mostram que de fato ocorreram, nas
últimas décadas, um a u m e n t o das precipitações pluviais em certas regiões tempera-
das do Hemisfério Norte e uma diminuição nas zonas tropicais n o Hemisfério Sul.
O u t r a conseqüência prevista é a elevação do nível dos oceanos pelo derretimento
das geleiras e pela expansão do volume das águas decorrentes do aumento da tempe-
ratura. As regiões litorâneas seriam afetadas diretamente e, por extensão, todo o
planeta, pois uma quantidade significativa de pessoas vive atualmente em áreas lito-
râneas. A redução de espaços para moradias, de áreas agricultáveis e de outros recur-
sos das zonas litorâneas provocaria gigantescas ondas de migrações humanas em
direção às terras firmes, gerando incontáveis conflitos sociais pela posse de recursos
que estariam ficando cada vez mais escassos. As mudanças de temperatura, pressão e
luminosidade provocadas pelo aumento do nível das águas produziriam alterações
profundas nos ecossistemas marinhos com conseqüências danosas para os organis-
mos que aí vivem.

C o m o os efeitos previstos são catastróficos, mesmo que não haja consenso sobre
o aquecimento global, a melhor atitude é adotar o princípio da precaução, c o m o
propõe a Declaração do R i o de Janeiro sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento,
comentada na seção anterior. Segundo esse princípio, "quando houver ameaça de
danos sérios ou irreversíveis, a ausência de absoluta certeza científica não deve ser
utilizada c o m o razão para postergar medidas eficazes e e c o n o m i c a m e n t e viáveis para
prevenir a degradação ambiental" 1 3 . O princípio da precaução foi adotado pela C o n -
venção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, ou simplesmente
Convenção sobre o Clima, e pelo Protocolo de Kyoto.

Precaução difere de prevenção. Prevenir (do latim prxvenio) significa antecipar so-
luções diante de algo que sabe-se que poderá ocorrer segundo alguma estimativa. Para
isso é necessário ter algum conhecimento sobre o que se pretende prevenir, seus efeitos
e modos de ocorrência. Por exemplo, sabendo-se que o processamento de determinada
matéria-prima produz poluentes tóxicos, uma medida de prevenção seria a sua substi-
tuição ou, caso não seja possível substituí-la, a captura e tratamento dos poluentes ge-
rados antes que sejam lançados ao meio ambiente. Precaução significa antecipar a
cautela (do latim prxcautio) diante da incerteza, de algo que não se conhece ou cujo
c o n h e c i m e n t o é insuficiente para estabelecer medidas de prevenção.

" Declaração do Rio de Janeiro sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento, ver Anexo 2.
U m a medida de precaução seria, por exemplo, adiar a introdução de um novo pro-
duto n o mercado cujos efeitos sobre o meio ambiente são desconhecidos, antes mesmo
de conseguir provas definitivas da sua periculosidade. O produto poderá ser introduzido
se estudos posteriores provarem que ele não gera danos irreversíveis ao meio ambiente
ou se foram adquiridos conhecimentos suficientes para estabelecer medidas de preven-
ção, mas antes que isso ocorra o seu adiamento é a medida correta diante da incerteza a
respeito dos seus efeitos. Tanto na medicina quanto em relação à ecologia, afirma o co-
nhecido biólogo Edward Wilson, um diagnóstico errado pode causar muito mais sofri-
mento se negativo do que positivo. O u seja, como é sempre possível cometer erros diante
de situações incertas, é preferível que o erro seja um falso positivo do que um falso nega-
tivo14. Usando outra linguagem, o custo de rejeitar a hipótese do aquecimento global, se
ela for certa, é muito maior que o custo de aceitar a hipótese se ela resultar falsa 15 .

Convenção sobre Mudança do Clima


A Convenção sobre Mudança do Clima, assinada durante a realização da C N U -
M A D n o Rio de Janeiro, em 1992, e que entrou em vigor em 1994, tem por objetivo
controlar as emissões de gases de estufa, exceto os C F C s que são objetos de outro acor-
do por causarem efeitos mais danosos sobre a camada de ozônio. As partes dessa Con-
venção possuem obrigações comuns, porém diferenciadas, entre elas: elaborar, atualizar
e publicar inventários nacionais sobre as emissões desses gases; formular programas
nacionais e regionais para controlar as emissões antrópicas e mitigar os seus efeitos;
promover processos de gerenciamento sustentável de elementos da natureza que contri-
buem para remover ou fixar esses gases; promover a educação e a conscientização públi-
ca e estimular a participação de todos para alcançar os objetivos desta Convenção 1 6 .

A Convenção tem como órgão supremo a Conferência das Partes ( C O P - Conferen-


ce ofthe Parties) que se reúne periodicamente para avaliar resultados, estabelecer metas,
dirimir controvérsias e criar mecanismos de gestão 17 . O aprofundamento dos conceitos
referentes ao vínculo entre desenvolvimento e meio ambiente, que caracteriza a fase
atual da gestão global do meio ambiente, se deve em muito às medidas adotadas nas
Conferências das Partes dos acordos multilaterais globais. Outra característica dessa
fase é a centralização de sua gestão n o nível global nas entidades da O N U , sendo que

14 W I L S O N , Edward, 2 0 0 2 . p. 88.
15 C O N S T A N Z A , R. et al., 1999. p. 11.
16 UNEP, art. 4°.
17 Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima, art. 7 a .
n o caso dessa Convenção, seu secretariado funciona no P N U M A , criado em 1972
com o objetivo de coordenar as ações da O N U referentes ao meio ambiente.
A Convenção sobre Mudança do Clima tem encontrado grande dificuldade para
chegar a resultados concretos pela resistência de países cujas economias dependem de
combustíveis fósseis. Em 1995 foi realizada a primeira Conferência das Partes (COP-1)
com resultados pífios, devido à resistência dos Estados Unidos, do Japão e dos países
árabes exportadores de petróleo. Isso confirma a constatação de Ribeiro 1 8 a respeito da
prevalência dos interesses nacionais nesses acordos ambientais globais. Em dezembro
de 1997, durante a COP-3, foi aprovado o Protocolo de Kyoto, pelo qual os países in-
cluídos no Anexo I da Convenção sobre Mudança do Clima, individual ou conjunta-
mente, devem assegurar uma redução agregada das emissões antrópicas de gases de
efeito estufa em pelo menos 5 % abaixo dos níveis de 1990, no período compreendido
entre 2 0 0 8 e 2012 1 9 . Esse compromisso só se aplica aos países relacionados n o Anexo I
da Convenção sobre Mudança do Clima (Tabela 2.2) e em relação aos gases de efeito
estufa listados n o Anexo A do Protocolo de Kyoto (ver Quadro 2.1).

Para que o Protocolo de Kyoto entrasse em vigor seria necessário que pelo menos
5 5 países signatários da Convenção - englobando os do A n e x o I que contabilizaram
n o total pelo menos 5 5 % das suas emissões totais de C 0 2 em 1 9 9 0 - , tivessem depo-
sitado seus instrumentos de ratificação ou adesão 20 , perante o Secretario Geral da
O N U , que é o depositário desse Protocolo 2 1 . C o m a ratificação feita pela Rússia em
16 de fevereiro de 2 0 0 5 , o Protocolo finalmente entrou em vigor, oito anos após a
sua aprovação.

O Protocolo de Kyoto representou um grande avanço em termos de gestão ambien-


tal, pois fixou metas e criou três importantes mecanismos para implementá-las, conhe-
cidos como mecanismos de flexibilização, a saber: Implementação Conjunta, Comércio
de Emissões e Mecanismo de Desenvolvimento Limpo. Esses mecanismos estimulam a
redução de carbono via estímulo econômico por meio da implantação de projetos para
criar sumidouros de carbono, para aumentar a eficiência energética de plantas indus-
triais existentes, usar fontes de energia renovável, entre outras possibilidades.
Pelo mecanismo de Implementação C o n j u n t a Uoint Implementation), os países do
Anexo I podem transferir ou adquirir entre eles unidades de redução de emissões por

R I B E I R O , 2001.
Protocolo de Kyoto à Convenção sobre Mudança do Clima, art. 3". Disponível em: <http://www.unep.org>.
Acesso em: 14 dez. 2010.
Protocolo de Kyoto à Convenção sobre Mudança do Clima, art. 25.
Ibid., art. 23.
T a b e l a 2.2 Protocolo de Kyoto - Países do A n e x o I e total d e e m i s s õ e s d e C 0 2 e m 1990".

PAÍS EMISSÕES (Gg) % PAÍS EMISSÕES (Gg) %


Alemanha 1.012.443 7,4 Itália 428.941 3,1

Austrália 288.965 2,1 Japão 1.173.360 8,5

Áustria 59.200 0,4 Letônia 22.976 0,2

Bélgica 113.405 0,8 Liechtenstein 208 0,0

Bulgária 82.990 0,6 Luxemburgo 11.343 0,1

Canadá 457.441 3,3 Mônaco 71 0,0

Dinamarca 52.100 0,4 Noruega 35.533 0,3

Eslováquia 58.278 0,4 Nova Zelândia 25.530 0,2

Espanha 260.654 1,9 Países Baixos 167.600 1,2

Estados Unidos 4.957.022 36,1 Polônia 414.930 3,0

Estônia 37.797 0,3 Portugal 42.148 0.3

Federação Russa 2.388.720 17,4 Reino Unido 584.078 4,3

Finlândia 53.900 0,4 República Tcheca 169.514 1,2

França 366.536 2,7 Romênia 171.103 1,2

Grécia 82.100 0,6 Suécia 61.256 0,4

Hungria 71.673 0,5 Suíça 43.600 0,3

Irlanda 30.719 0,2


TOTAL 13.728.306 100,00
Islândia 2.172 0,0

Fonte: Protocolo de Kyoto à Convenção sobre Mudança do Clima, 1997. Disponível em: <http://www.unep.org>.
* Obs.: Não estão incluídos Belarus, Lituânia e Turquia, que são partes do Anexo I da Convenção sobre o Clima.

fonte ou de aumento de remoções antrópicas por sumidouros, ambas resultantes de


projetos que tenham sido aprovados pelos países envolvidos e promovam reduções
adicionais às que ocorreriam na ausência dos projetos 22 . O s países do Anexo I podem
participar do Comércio de Emissões (Emission Trade) com o objetivo de cumprir seus
compromissos de redução 2 3 .
O Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (Clean Development Mechanism) permite
aos países não incluídos no Anexo I se beneficiarem de projetos que resultem em

22 Ibid., art. 6 a .
23 Ibid, art. 17.
O Ü u a d r o 2.1 Protocolo de Kyoto - A n e x o A: Gases de e f e i t o estufa e f o n t e s d e e m i s s ã o .

Gases de efeito Dióxido de carbono (C02), metano (CH4), óxido nitroso (N 2 0), hidrofluorcarbonos (HFCs), perfluorcarbonos
estufa (PFCs) e hexafluoreto de enxofre (SF6)

1. Queima de combustível: setor energético, indústria de construção e de transforma-


Energia ção, transportes e outros setores.
2. Emissões fugitivas de combustíveis sólidos, petróleo, gás natural e outros.
Setores e
tipos de fonte Processos Produtos minerais, indústria química, produção de metais, produção e consumo de
de emissão industriais halocarbonos e hexafluoreto de enxofre e outros.
de gases de
efeito estufa 1. Agricultura: fermentação entérica, tratamento de dejetos, cultivo de arroz, solos
Uso de solventes agrícolas, queimadas prescritas em regiões de savanas, queima de resíduos
e outros produtos agrícolas.
2. Resíduos: disposição no solo, tratamento de esgoto, incineração e outros.

Fonte: Protocolo de Kyoto à Convenção sobre Mudança do Clima, Anexo A, 1997. Disponível em: <http://www.unes.org>.

reduções certificadas de emissões, e aos incluídos no Anexo I, de utilizar essas reduções


para contribuir com o cumprimento de parte dos seus compromissos de redução 24 .
Enquanto os dois primeiros mecanismos de flexibilização só se aplicam a países do
Anexo I, o Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL) permite que estes países
contabilizem como suas as reduções certificadas decorrentes de projetos realizados nos
países não incluídos nesse Anexo, uma vez que estes não estão obrigados a cumprir
metas de redução.

Para administrar o M D L foi criada uma complexa estrutura constituída por diver-
sos órgãos intergovernamentais e nacionais. Um conselho executivo supervisiona sua
implementação sob orientação e autoridade das COPs da Convenção e do Protocolo
de Kyoto (MOP) 2 5 . O Órgão Subsidiário de Assessoramento Científico e Tecnológico
assessora as C O P s em matérias científicas e tecnológicas, realiza estudos sobre os temas
da Convenção e do Protocolo, e presta informações qualificadas para outras entidades
envolvidas. O Órgão Subsidiário de Implementação avalia e supervisiona a implemen-
tação do M D L . A validação dos projetos e a certificação das reduções das emissões de
gases de efeito estufa são realizadas por Entidades Operacionais Designadas credencia-
das pelo Conselho Consultivo. Os governos dos países signatários da Convenção de-
vem criar uma Autoridade Nacional Designada, para analisar os projetos de M D L
propostos e estabelecer critérios de elegibilidade em consonância com os interesses do

24 Ibid., art. 12.


25 Mais sobre a operacionalização do MDL, acesse: <http://cdm.unfccc.int>.
país. N o Brasil, essa autoridade é exercida pela Comissão Interministerial de Mudança
do Clima, vinculada ao Ministério da Ciência e Tecnologia 2 6 .
O M D L foi uma contribuição brasileira nas C O P s dessa Convenção. A idéia que
justifica esse mecanismo é bastante engenhosa: tratando-se de um problema ambiental
global, não importa onde os gases de efeito estufa estejam sendo retidos ou evitados, o
resultado será benéfico para todos. Há posicionamentos contrários, como os que argu-
mentam ser o M D L uma espécie de anistia a contribuição histórica dos países do Anexo
I para o aquecimento global, permitindo a estes cumprir suas metas de redução de emis-
sões sem ter que reduzi-las em seus próprios territórios onde os custos são elevados.

As oportunidades de obter vantagens econômicas no mercado de carbono desen-


cadearam inúmeras iniciativas envolvendo empresas emissoras de gases de efeito estu-
fa, empresas de consultorias, instituições de ensino e pesquisa, órgãos governamentais,
O N G s , órgãos de normalização, organismos certificadores, operadores financeiros,
bolsas de valores e muitas outras entidades, criando o que se poderia denominar in-
dústria do crédito de carbono. Apesar de todo esse esforço e do sucesso de muitos
projetos realizados em diversos países, o resultado global ainda está muito aquém das
metas de redução do Protocolo de Kyoto. As avaliações sobre os resultados obtidos
mostram que poucos países que se comprometeram com esse Protocolo conseguiram
reduzir suas emissões, enquanto outros até aumentaram 2 7 . Para conter o avanço da
concentração de gases de efeito estufa é necessário ampliar os compromissos de redu-
ção para todos os países com emissões significativas de gases de efeito estufa e incluir
outras fontes de emissões além daquelas que constam do Quadro 2.1, c o m o as decor-
rentes de processos de desflorestamento.

U m avanço nesse sentido foi a implementação do Plano de Ação de Bali, elaborado


durante a COP-13, em 2 0 0 7 , no qual recomendou a adoção de políticas e incentivos
para a redução de emissões provenientes de desmatamentos e da degradação de flores-
tas em países em desenvolvimento 28 . A partir de 2 0 0 8 foi lançado, no âmbito das Na-
ções Unidas, o Programa R E D D (Reducing Emission from Deforestation and forest
Degradation). A idéia central desse programa é a de prover valor econômico para o car-
b o n o contido nas florestas por meio de incentivos para reduzir o desmatamento e pro-
mover ações para impedir a degradação de florestas nos países em desenvolvimento.
Assim, espera-se que as florestas mantidas em pé passem a ter valor econômico que
compense o seu desmatamento como forma de exploração. Em 2 0 1 0 teve início o

26
Mais sobre a Comissão Ministerial, ver <www.mct.gov.br>.
2? UNEP, 2 0 0 5 .
28
Bali Action Plan; decisão 1, letra b, inciso III.
Programa R E D D plus (REES+), que além dos incentivos para conter o desmatamento e
a degradação florestal nesses países, incentiva também a conservação e manejo susten-
tável das florestas com o objetivo de aumentar o estoque de carbono florestal 29 .

As C O P s 15 e 16, realizadas em Copenhague e em C a n c u n em 2 0 0 9 e 2010, respec-


tivamente, não conseguiram chegar a um acordo para o período pós-Protocolo de Kyo-
to, cujo período de compromisso de redução de gases de efeito estufa encerra em 2012.
Este fato lançou nuvens sombrias sobre a possibilidade de a Convenção sobre o Clima
cumprir com seus objetivos. Porém, as ações desencadeadas pela Convenção criaram
instituições e instrumentos de gestão global, como os mecanismos de flexibilização co-
mentados acima, e influenciaram incontáveis iniciativas em todas as áreas de abrangên-
cia. E longa a lista de governos nacionais, subnacionais e locais que criaram políticas
públicas para reduzir a emissão desses gases30. São inúmeras as iniciativas empresariais
nesse sentido, c o m o substituição de combustíveis fósseis por combustíveis de fontes
renováveis, eliminação de emissões fugidias de gases, aproveitamento de gases de aterro
e práticas de neutralização de carbono. C o m a intensificação dessas iniciativas espera-se
que resultem uma economia de baixo carbono.

D E S T R U I Ç Ã O DA CAMADA DE OZÔNIO

O ozônio ( 0 3 ) é uma substância que apresenta efeitos distintos conforme a camada


da atmosfera em que se situa. E um dos principais poluentes encontrados na baixa
atmosfera nos grandes centros urbanos, pois entre seus formadores estão os gases emi-
tidos pelos veículos automotores que se transformam em ozônio por meio de processos
fotoquímicos. O ozônio é um gás tóxico para as plantas e animais, sendo que uma ex-
posição prolongada pode causar lesões pulmonares graves. Nas plantas, ele reduz a
capacidade de transpiração e respiração, afetando, portanto, a capacidade de realizar a
fotossíntese. N o entanto, na estratosfera, numa faixa entre 15 e 5 0 km da superfície
terrestre, o ozônio gera um efeito benéfico aos seres vivos, por isso é c o m u m dizer que
este é o ozônio bom, enquanto na troposfera ele seria um ozônio mau.

O ozônio estratosférico, produzido naturalmente pela ação dos raios solares sobre
as moléculas de oxigênio ( 0 2 ) , forma uma camada, daí expressão camada de ozônio, que
envolve a Terra e a protege das radiações ultravioleta do Sol. O s raios ultravioleta
(UV), com comprimento de onda de 2 8 0 a 3 2 0 nanômetros, denominados de UV-B,

U N - R E D D Program. Disponível em: <http://www.un-redd.org>.


Veja, por exemplo, no Brasil, a Lei 12.187 de 29/12/2009; no Estado de São Paulo, a Lei 13.798 de 0 9 / 1 1 / 2 0 0 8
e no Estado do Paraná, a Lei 16.019 de 19/12/2008.
são prejudiciais aos seres vivos, pois estes não desenvolveram defesas naturais contra
essas radiações devido a sua ausência durante milhões de anos, graças à função de fil-
tro desempenhada pela camada de ozônio. Nos humanos, mesmo quantidades peque-
nas de UV-B provocam queimaduras, afetam o sistema imunológico, causam câncer de
pele, doenças oculares e outros males. O UV-B também produz efeitos adversos nas
plantas e animais. Nos ecossistemas marinhos ele afeta a reprodução de fitoplânctons
e de outros organismos, reduzindo os recursos pesqueiros.

No início, as preocupações com o ozônio estratosférico referiam-se aos efeitos do


tráfego aéreo por aviões supersônicos. Depois observou-se que a diminuição desse
ozônio estava relacionada com a presença de substâncias que alteram seu ciclo natural
de formação e dissociação, dentre elas as emissões de clorofluorcarbonos (CFCs), hi-
drobromofluorcarbonos (CHFBr), hidroclorofluorcarbonos (CHFC1), óxido nitroso
( N 2 0 ) , entre outros. Muitas dessas substâncias não existiam na natureza, como é o
caso dos C F C s que começaram a ser produzidos comercialmente por volta de 1930
pela DuPont com o nome comercial de Freon. Por serem gases inertes na baixa atmos-
fera, não corrosivos, não tóxicos e não inflamáveis, os C F C s passaram a ser usados
para muitas finalidades, por exemplo, como fluidos para transferência de calor em
equipamentos de refrigeração e ar-condicionado, solventes na indústria eletroeletrôni-
ca, agentes de expansão para produzir espumas plásticas, propelentes em aerossóis etc.
Os C F C s foram saudados pela comunidade científica, tecnológica e empresarial como
uma substância altamente benéfica, pois não era corrosivo, inflamável ou tóxico, po-
dendo substituir com vantagens o gás de amônia na refrigeração, um gás considerado
muito perigoso. Levou quase 40 anos para se verificar que eles causavam danos signifi-
cativos ao meio ambiente. No final da década de 1970 foi descoberto o buraco na ca-
mada de ozônio correspondente à região da Antártica. Esse é um exemplo importante
a respeito das incertezas que cercam a criação de novos produtos quanto aos seus im-
pactos ambientais negativos.

Com o reconhecimento da gravidade desse problema de natureza planetária, em


1985 foi assinada a Convenção de Viena para a Proteção da Camada de Ozônio. C o m
o Protocolo de Montreal de 1987 a essa Convenção, deu-se o início efetivo de uma
gestão internacional para eliminar as substâncias destruidoras do ozônio estratosféri-
co. Inicialmente foram estabelecidas metas para redução da produção e consumo de
apenas oito substâncias dentre as mais usadas, sendo cinco C F C s e três halons, subs-
tâncias que contêm bromo. Mais substâncias controladas foram acrescentadas em ou-
tras Conferências das Partes do Protocolo de Montreal, como mostra o Quadro 2.2.
Essas substâncias possuem graus variados de potencial de destruição da camada de
Q u a d r o 2.2 Protocolo d e M o n t r e a l e suas e m e n d a s - s u b s t â n c i a s c o n t r o l a d a s .

D O C U M E N T O (ano) SUBSTÂNCIAS CONTROLADAS

Anexo A: CFC-11 (CFCI3), CFC-12 (CF2CI2). CFC-113, CFC-114, CFC-115. CF 2 BrCI, CF3Br e
Protocolo de Montreal (1987)
VA.

Anexo B: Tetracloreto de Carbono (CCI4), metilclorofórmio (1,1,1 tricloroetano: C 2 H 3 CI 3 ) e


mais 10 tipos de CFCs.
Emenda de Londres (1990)
Anexo C: 38 tipos de hidroclorofluorcarbonos (HCFCI) são incluídos como substâncias de
transição.

Anexo C: os 38 CHFCI considerados de transição pela Emenda de Londres passam a ser


Emenda de Copenhague (1992) substâncias controladas e são acrescentadas mais 34 tipos de CHFBr.
Anexo E: brometo de metila (CH3Br).

Proibição de importação e exportação de brometo de metila (Anexo E) de qualquer Estado


Emenda de Montreal (1997) que não seja Parte do Protocolo. Estabelece um sistema de concessão de licenças para a
importação e exportação para as substâncias controladas dos anexos A, B e C.

Anexo C: introduz medidas para o controle da produção de hidroclorofluorcarbonos (HCFC)


Emenda de Pequim (1999) e inclusão do bromoclorometano (CH2BrCI). Acelera o tempo de redução de substâncias
do Anexo C. Esta emenda entrou em vigor em fevereiro de 2005.

Fonte: Documentos oficiais citados na primeira coluna. UNEP, Ozone Secretariat. Disponíveis em: <http://ozone.unep.org/
Treaties_and_Ratification/montreal_protocol>. Acesso em: 15 jul. 2006.

ozônio estabelecidos em relação ao CFC-11. Por exemplo, o C F 3 B r tem um potencial


de destruição igual a 10, ou seja, uma unidade de massa desse halon eqüivale a 10
unidades de CFC-11. Nem todas as substâncias que presumivelmente possuem poten-
cial de modificar as propriedades físico-químicas da camada de ozônio relacionadas na
Convenção de Viena foram consideradas no Protocolo de Montreal, tais como o óxido
de nitrogênio ( N O x ) e o óxido nitroso (N z O).
O país que adere à Convenção de Viena e ao Protocolo de Montreal deve realizar
pesquisas e avaliações científicas, cooperar com outros em matéria de transferência de
tecnologia e estabelecer medidas de controle da produção e consumo das substâncias
controladas, com o objetivo de eliminá-las gradualmente de acordo com cronogramas
acordados entre as partes. Essas medidas de controle são estabelecidas em termos de
níveis calculados de produção e consumo para cada grupo de substância controlada
(CFCs, H C F C s etc.), considerando, no consumo, a produção interna somada às im-
portações e excluindo as exportações. Com isso procura-se evitar o aumento das expor-
tações decorrentes da desativação do consumo interno. Além disso, devem proibir as
importações dessas substâncias de qualquer outro país que não fizer parte do Protocolo
de Montreal.
Para apoiar as medidas de redução da produção e do consumo das substâncias contro-
ladas nos países em desenvolvimento, foi criado, em 1990, um Fundo Multilateral consti-
tuído por contribuições dos países desenvolvidos, tendo como órgãos de apoio o P N U M A ,
P N U D , U N I D O e o Banco Mundial. O fundo aprovou a aplicação de cerca de U S $ 2,3
bilhões em mais de 6 . 0 0 0 projetos e programas em 148 países para reduzir as substâncias
relacionadas no Protocolo de Montreal 31 . Muitas oportunidades de negócios surgiram em
decorrência da implementação das medidas estabelecidas nesse Protocolo e suas emendas,
desencadeando uma verdadeira corrida tecnológica para encontrar substitutos para as subs-
tâncias controladas, como o hidrofluoreter (HFE) desenvolvido pela 3 M . Os hidrofluorcar-
bonos (HFC) têm sido usados no lugar dos CFCs, mas deverão ser substituídos futuramente
por serem também gases de efeito estufa. Os halons usados em extintores de incêndio estão
sendo substituídos por C 0 2 , água e outras substâncias inertes à camada de ozônio.

C o m a implementação do Protocolo de Montreal e suas emendas já é possível dar


boas notícias nesse front, embora haja muito ainda a ser feito. O consumo de C F C caiu
de 1,1 milhão de toneladas em 1986 para 156 mil em 1998 3 2 . O uso dos C F C s em es-
pumas foi reduzido em mais de 9 0 % , considerando o valor máximo observado em
1988. O uso dos H C F C s também registra redução em relação ao ano 2 0 0 0 quando se
observou a sua máxima utilização. Também é significativa a redução do brometo de
metila e de muitas outras substâncias controladas 33 . A taxa anual negativa de Mudança
da Concentração de CFC-11, mostrada na Tabela 2.1, é resultado desse esforço de
gestão ambiental de abrangência global conduzido por um acordo multilateral. Dife-
rente do que ocorre com o aquecimento global, esse é um exemplo razoavelmente
bem-sucedido de gestão ambiental global.

P R O T E Ç Ã O DA BIODIVERSIDADE

Diversidade biológica ou biodiversidade é outra forma de dizer vida, pois se refere a


todos os seres vivos e seus elementos. A diversidade da vida apresenta-se como diversida-
de genética, diversidade de espécies, de indivíduos dentro de uma mesma espécie e diver-
sidade de ecossistemas. A quantidade total de espécies ainda é uma incógnita, existem
apenas estimativas. Somente uma pequena parcela da variedade existente é conhecida,
no sentido de ter sido identificada e classificada em termos de gêneros e espécies. A

31 U N I T E D N A T I O N S E N V I R O N M E N T P R O G R A M M E ( U N E P ) . O z o n e Secretariat. Disponível em:


<http://ozone.unep.org/Treaties_and_Ratification>.
32 ONU, 2001.
33 U N E P , 2006.
Tabela 2.3 mostra as estimativas do número de espécies por reino, a mais alta divisão
taxonômica dos organismos. São dados incompletos e sujeitos a permanentes revisões e
contestações. Há quem estime o total de espécies em mais de 20, 30 ou 4 0 milhões. O
que se sabe é que ainda há muito a ser descoberto sobre a dimensão da biodiversidade.
A diversidade de ecossistemas resulta da variedade das espécies que vivem em uma
área, de seus hábitats e dos componentes abióticos. Ela pode se apresentar como diversi-
dade em número de espécies, tamanho das populações, densidade, distribuição espacial,
formas de interações entre e intraespécies e outras mais. A biodiversidade sempre foi, e
continua sendo, um dos recursos naturais mais importantes para todas as atividades hu-
manas. Genes, células, órgãos, organismos, populações e comunidades, enfim, todos os
componentes bióticos da Terra são recursos biológicos, mesmo quando não são utilizados
de modo específico ou quando não se vislumbram qualquer uso potencial. Além de for-
necer bens tangíveis de importância crucial para a Humanidade (alimentos, madeira, le-
nha, fibras, princípios ativos de medicamentos etc.), a biodiversidade realiza serviços
ambientais importantes, como reciclagem de nutrientes, estabilidade climática, regulação
hídrica e muitos outros. A perda de biodiversidade reduz a resiliência de um ecossistema,
isto é, sua capacidade de retornar ao estado anterior após sofrer algum impacto. Além
disso, qualquer componente biológico possui valor intrínseco pelo simples fato de existir,
independentemente de servir para algum propósito humano atual ou futuro.

A redução da diversidade por fatores humanos é um dos mais graves problemas


ambientais. O desaparecimento de espécies sempre ocorreu na natureza, basta lembrar
os dinossauros que tanto atiçam o imaginário humano, mas o alto número de perdas de
espécies pelas ações humanas tornou insignificante todas as perdas naturais. A Lista

*•«? T a b e l a 2 . 3 Variedade de e s p é c i e s c o n h e c i d a s e e s t i m a d a s .

REINO ESPÉCIES DESCRITAS TOTAL ESTIMADO

Moneras (Bactérias e cianófitas] 4.000 1.000.000

Protista (protozoários, algas etc.) 80.000 600.000

Animais 1.320.000 10.600.000

Fungi 70.000 1.500.000

Plantas 270.000 300.000

Total 1.744.000 14.000.000

Fonte: UNEP; W C M C (2002). Status and trends of global diversity. Tabela 1.1. In: Global biodiverisity outlook. Disponível em:
<http://www.unep.org>. Acesso em: 13 mar. 2002.
Vermelha de Espécies Ameaçadas, elaborada pela I U N C em 2000, mostra que 816 espé-
cies foram extintas nos últimos 5 0 0 anos devido às atividades humanas, uma taxa milha-
res de vezes superior à taxa natural 34 . Em 2002 eram 11.167 espécies ameaçadas com
elevado risco de serem extintas em um futuro próximo 35 . Nas listas vermelhas de 2 0 0 4 e
2 0 0 6 esse número salta para 15.589 e 16.119, respectivamente 36 . Na lista vermelha de
2 0 0 8 esse número sobe para 17.29137. Mesmo que espécies ameaçadas possam ser prote-
gidas evitando sua extinção, ainda assim muita diversidade dentro da espécie ficará per-
dida para sempre, pois os novos indivíduos serão geneticamente mais homogêneos em
comparação aos que os antecederam.

Convenção da Biodiversidade
A Convenção da Biodiversidade foi aprovada na C N U M A D em 1992; em janeiro
de 2011, contava com a adesão de 193 países, dentre eles o Brasil 38 . Seu objetivo é a
conservação da diversidade biológica, o uso sustentável dos seus componentes e a justa
e equitativa distribuição dos benefícios obtidos da utilização dos recursos genéticos,
incluindo o acesso apropriado a esses recursos e a apropriada transferência de tecnolo-
gia. Ela adota como princípio básico o direito dos países de explorar de modo sobera-
no os seus próprios recursos conforme suas políticas de desenvolvimento, com a
responsabilidade de garantir que as atividades dentro de sua jurisdição ou controle
não causem danos aos demais 39 . Os estados signatários reconhecem que a conservação
da biodiversidade diz respeito a toda a Humanidade, que os estados são responsáveis
pela conservação de seus próprios recursos biológicos e que o desenvolvimento socio-
econômico e a erradicação da pobreza constituem a primeira e inadiável prioridade
dos países em desenvolvimento. E determina a conservação e o uso sustentável da di-
versidade biológica para o benefício das gerações presentes e futuras.

A diversidade biológica tem sido uma fonte permanente de conflitos entre os paí-
ses que possuem recursos biológicos e os que detêm conhecimentos para usá-los, ou
seja, os que dominam a biotecnologia moderna. Biotecnologia é qualquer tecnologia
que utilize componentes bióticos (genes, células, enzimas etc.) para produzir bens e

IUCN, 2000.
15 IUCN, 2002.
,6 IUCN, 2 0 0 6 .
37 IUCN, 2 0 0 8 .
18 U N I T E D NATIONS E N V I R O N M E N T PROGRAMME ( U N E P ) . List ofParties to the Convention on Biological Diversi-
ty. Disponível em: <www.cbd.int/convention>.
59 C O N V E N T I O N O N B I O L O G I C A L D I V E R S I T Y (Convenção da Biodiversidade), 1992, art. 3".
serviços. Ela envolve uma ampla gama de produtos e processos, alguns conhecidos há
milênios, como a fermentação usada para fazer pão, queijo, vinho e cerveja. A biotec-
nologia moderna é um conjunto de técnicas baseadas na biologia molecular e na ma-
nipulação de material genético de qualquer organismo, com o objetivo de criar
produtos e processos apropriados a fins específicos. Suas aplicações se estendem a
praticamente todos os setores da atividade humana: saúde, agricultura, geração de
energia, recuperação de minerais, descontaminação ambiental, bioeletrônica e muitos
outros. Por isso, ela tem sido considerada uma das áreas mais promissoras da nova
economia, daí o aumento acelerado dos investimentos em Pesquisa e Desenvolvimen-
to Experimental (P&D), principalmente nos países mais ricos.

O conhecimento científico e tecnológico relativo a essa área tem se concentrado


nos países desenvolvidos, muitos deles de baixa biodiversidade, enquanto muitos paí-
ses megadiversos em vias de desenvolvimento não dispõem desses conhecimentos e
nem de condições para obtê-los, dada a intensidade de P & D que essa área requer. Pe-
los termos da Convenção, o acesso aos recursos biológicos, inclusive para efeito de
pesquisa científica, fica condicionado à autorização dos governos dos países detento-
res, devendo as partes contratantes encontrar mecanismos para facilitar o acesso ao
uso ambientalmente sadio dos recursos pelos outros países em termos mutuamente
pactuados. Os benefícios do uso desses recursos devem ser compartilhados com os
países de onde eles se originam.
As diferenças entre esses dois grupos de países, os que apenas possuem recur-
sos biológicos em seus territórios e os que detêm os conhecimentos que permitem
a sua exploração nessa moderna e intensiva indústria de conhecimentos, acirraram
as polêmicas em torno dos direitos de propriedade intelectual (patente de inven-
ção, informações confidenciais ou outra forma de proteção de conhecimentos)
resultantes das atividades de P & D e da transferência de tecnologia para os países
em desenvolvimento detentores dos recursos biológicos. A Convenção da Biodi-
versidade estabelece que os países-membros devem estabelecer medidas para que
os resultados da P & D e os benefícios derivados de sua utilização comercial sejam
compartilhados de forma justa e equitativa com a parte provedora dos recursos
genéticos 4 0 . Durante a COP-IO da Conferência da Biodiversidade, realizada em
outubro de 2010 em Nagoya, Japão, foi aprovado um plano estratégico para a bio-
diversidade no qual consta a decisão de implementar esse dispositivo, surgindo daí

40 C O N V E N T I O N O N B I O L O G I C A L D I V E R S 1 T Y (Convenção da Biodiversidade), 1992, art 15.


o P r o t o c o l o de Nagoya 41 . Esse Protocolo estabelece que os b e n e f í c i o s derivados da
utilização dos recursos genéticos, b e m c o m o as aplicações e comercializações sub-
sequentes, sejam compartilhados de um modo justo e equitativo c o m o d e t e n t o r
de tais recursos 4 2 .

A Convenção da Biodiversidade enfatiza a necessidade de encontrar mecanismos


para facilitar o acesso e a transferência de tecnologia para estes últimos, providenciando
a adequada e efetiva proteção para as tecnologias amparadas por qualquer forma de di-
reitos de propriedade intelectual 43 . Também ficou estabelecida a necessidade de coope-
ração entre os países para que as leis nacionais sobre propriedade intelectual não
contrariem os objetivos da Convenção da Biodiversidade.

A apropriação indevida de recursos biológicos, a biopirataria, anda solta e conta


muitas vezes com a conivência dos governos dos países desenvolvidos. Por exemplo,
empresas do Japão e dos Estados Unidos obtiveram dezenas de patentes a partir da
Azarichdita indica, uma árvore da índia conhecida como nim (neem, em inglês) e utili-
zada pela população local por mais de 2 0 0 0 anos para produzir medicamentos e pesti-
cidas naturais. E m todos os recantos da índia muita gente inicia o dia usando essa
planta para proteger seus dentes graças às suas propriedades antibacterianas. As comu-
nidades indianas que respeitaram, protegeram e ampliaram os conhecimentos sobre o
neem durante séculos, agora se deparam com pesticidas, pastas de dente, sabonetes,
shampoos e outros produtos com base nessa planta, patenteados ou produzidos por
processos patenteados em outros países 44 . A Banisteriopsis caapi, nativa da Amazônia e
conhecida como auhasca, foi objeto de uma patente dos Estados Unidos concedida a
um cidadão norte-americano em 1986. Essa planta, que possui propriedades analgési-
cas e alucinógenas, é considerada sagrada por muitos povos amazônicos e utilizada em
rituais religiosos. O órgão de patente norte-americano cancelou a patente em 1999,
tendo concorrido, para isso, a intervenção de muitas organizações ambientalistas de
várias partes do mundo.

Esses exemplos também mostram as dificuldades de proteger de modo eficaz tanto


os recursos biológicos quanto os conhecimentos das comunidades tradicionais (indíge-
nas, quilombolas, ribeirinhos, caiçaras, seringueiros etc.) sobre animais, plantas e pro-
cessos biológicos, conforme previsto na Convenção da Biodiversidade. Essa questão é
objeto do Princípio n. 22 da Declaração do Rio de Janeiro sobre o Meio Ambiente e

41 COP-IO C B D , Decision X/10. Disponível em: <www.cdb.int/decision/cop/?m=coplO>.


42 NAGOYA P R O T O C O L . Disponível em: <http://treaties.un.org/doc/Treaties/>.
43 NAGOYA P R O T O C O L , art. 16.
44 SH1VA, V., 1998. p. 73-75.
Desenvolvimento (veja Anexo 2). A Convenção da Biodiversidade incorpora esse prin-
cipio ao estabelecer que cada país deve,

[...] na medida do possível e em conformidade com a sua legislação nacional, respei-


tar e manter o conhecimento, inovações e práticas das comunidades locais e populações
indígenas com estilo de vida tradicionais relevantes à conservação e utilização sustentá-
vel da diversidade45.

A Convenção estabelece a necessidade de prover a essas comunidades a repartição equi-


tativa dos benefícios oriundos da utilização desses conhecimentos, inovações e práticas.
A apropriação privada de conhecimentos científicos e tecnológicos relacionados
com micro-organismos e outros organismos geneticamente modificados tem suscitado
diversas questões éticas, econômicas e ambientais. Para muitos, a manipulação genética
altera a ordem da natureza e os seres humanos não teriam esse direito. Outros temem
que os produtos contendo esses organismos possam causar problemas à saúde dos con-
sumidores. Outro tipo de preocupação refere-se ao fato de que os organismos genetica-
mente modificados são espécies exóticas e por isso podem ameaçar as espécies nativas e
os ecossistemas, pois estes não desenvolveram mecanismos de defesas para conviver
com os organismos geneticamente modificados. Existem riscos econômicos decorrentes
do aumento da dependência dos agricultores em relação às empresas produtoras de se-
mentes desses organismos e dos insumos apropriados a eles, aumentando o domínio
dessas empresas sobre a cadeia produtiva. O caso da semente de soja Roundup Ready
desenvolvida pela Monsanto exemplifica essa questão. Essa soja foi modificada para ser
resistente ao Roundup, um herbicida também produzido pela Monsanto, de modo que
o agricultor que usar as sementes dessa soja também terá de adquirir esse herbicida, o
que confere a essa empresa um poder de barganha muito alto frente aos agricultores.
A Conferência das Partes da Convenção aprovou o Protocolo de Cartagena sobre
Biossegurança, na qual estabelece a obrigatoriedade de aplicar o princípio da precau-
ção em relação aos organismos geneticamente modificados e o mecanismo do consen-
timento prévio fundamentado que assegure o fornecimento de informações sobre
esses organismos, para que os governos tomem decisões relativas a sua importação 4 6 .

Comércio de espécies em perigo e em extinção


A Convenção sobre o Comércio Internacional das Espécies da Fauna e da Flora
Selvagens em Perigo de Extinção (Cites), criada em 1973, tem por objetivo controlar e
limitar o comércio das espécies ameaçadas de extinção listadas em seus três anexos. No
Anexo I estão as espécies da fauna e da flora ameaçadas de extinção e sujeitas ao controle

C O N V E N T I O N O N B I O L O G I C A L D1VERSITY (Convenção da Biodiversidade), 1992, art. 8 a , letra j.


C A R T A G E N A P R O T O C O L O F BIOSAFETY. Disponível era: <http://bch.cbd.mt/protocoI>.
rigoroso de seu comércio. Para essas espécies, o comércio entre dois países integrantes da
Cites só poderá ocorrer mediante um processo de concessão e apresentação de licenças
prévias de exportação e de importação, as quais somente serão concedidas após atende-
rem a diversos requisitos que são verificados por autoridades científicas e administrativas
do país exportador e importador 47 . Uma autoridade científica do país exportador deve
emitir parecer de que a exportação do espécime não irá prejudicar a sobrevivência da
espécie; e uma autoridade administrativa deverá verificar se o espécime foi extraído de
acordo com a legislação ambiental do país. No caso de espécimes vivos, essa autoridade
deverá verificar se o transporte será feito adequadamente. O país importador também
deverá conceder licença prévia de importação amparada em parecer de uma autoridade
científica, mostrando que a importação não ameaça a espécie e que os exemplares impor-
tados não serão usados com objetivos comerciais.

O Anexo II da Cites inclui as espécies que ainda não estão ameaçadas, mas pode-
rão ser n o futuro, caso seu comércio não seja regulado com rigor. T a m b é m se exige li-
cença prévia de importação e de exportação à semelhança das espécies do Anexo I. N o
Anexo III estão as espécies cujo comércio pode ser declarado regulamentado para fins
de proteção, a qualquer momento, por qualquer país que faça parte da Cites. Essa re-
gulamentação só tem validade n o território do país declarante, por isso, é necessária a
colaboração dos demais países da Cites para que o comércio dessa espécie possa ser
controlado. Q u a n d o uma espécie é incluída no Anexo III, sua exportação passa a re-
querer licença prévia instruída com parecer de uma autoridade atestando a legalidade
de sua obtenção, e, no caso de espécime vivo, que este será acondicionado e transpor-
tado de maneira a reduzir ao mínimo o risco de ferimentos, danos à saúde ou trata-
mento cruel. D o lado da importação, é necessária a apresentação prévia de um
certificado de origem e, caso o espécime provenha de um país que incluiu a sua espécie
n o Anexo III, é necessária a apresentação de uma licença de exportação.

Para incluir uma espécie no Anexo III, basta uma notificação unilateral do país
que quiser protegê-la em seu território. A inclusão de novas espécies n o Anexo I e II
exige aprovação de 2/3 das partes da Cites e requer a apreciação de critérios biológi-
cos, como tamanho da população, áreas de distribuição e potencial reprodutivo 48 . O
exemplo a seguir mostra o processo de inclusão de espécies nos anexos da Cites: o
mogno (Swietenía macrophylla) fornece uma madeira que alcança preços elevados no
mercado internacional. Por ter sido explorada intensamente, a população dessa espé-
cie foi reduzida de maneira drástica, tornando-se uma espécie ameaçada de extinção.

47
No Brasil, a Autoridade Cientifica e a Autoridade Administrativa são exercidas pelo IBAMA (Decreto 3.607 de
21 de setembro de 2 0 0 0 , arts. 3 a e 5C).
48
Resolução 9.24 da Cites, aprovada na 9 a C O P do Cites realizada em Fort Lauderdale, em 1994.
Em 1995 a Costa Rica incluiu suas populações de mogno n o Anexo III da Cites. Bra-
sil, Bolívia, México Peru e Colômbia também incluíram as suas posteriormente. Na
10 a Convenção das Partes da Cites ( C O P ) , realizada em 1997 em Harare, Zimbábue,
uma proposta para incluí-lo no Anexo II foi rejeitada, pois obteve 67 votos a favor e 4 5
contra, ou seja, não alcançou 2/3 de aprovação. Na 12 a C O P , realizada em Santiago,
n o Chile, em 2 0 0 2 , o mogno finalmente foi incluído no Anexo II.
E m janeiro de 2011 faziam parte do Cites 175 países e em seus anexos constavam
cerca de 5 mil espécies de animais e 2 8 mil plantas sujeitas às restrições comerciais 4 9 .
Além da Convenção da Biodiversidade e da Cites há outros instrumentos multilaterais
para proteger a biodiversidade, como a Convenção Ramsar sobre zonas úmidas de in-
teresse internacional, a Convenção para Proteção de Espécies Migratórias de Animais
Selvagens etc. A o longo dos anos foi sendo montada uma infraestrutura de abrangên-
cia global para gerir os acordos sobre a biodiversidade e torná-los efetivos, tais c o m o o
C e n t r o Mundial de Conservação e Monitoramento ( W C M C ) e o Sistema de Observa-
ção Global Terrestre ( G T O S ) .
Desertificação, transporte transfronteiriço de resíduos perigosos, poluição atmosféri-
ca de longo alcance, contaminação dos mares e oceanos e outros problemas globais
também estão sendo tratados por meio de acordos multilaterais. Apesar dos avanços ve-
rificados, ainda falta muito a fazer com respeito a todos esses problemas. U m dos mais
graves obstáculos na condução dos acordos multilaterais ambientais é a pouca interação
entre eles. Cada acordo multilateral possui secretariado e modus operandi próprio, o que
não poderia ser diferente diante da especificidade das questões ambientais, mas isso
acaba dificultando a interação dos acordos entre si. A fase atual da gestão ambiental
global avançou bastante na identificação de problemas e das soluções que devem ser
adotadas e na criação de uma infraestrutura de gestão de abrangência global, mas falta
ainda encontrar melhores meios para tornar efetivas as suas recomendações e decisões.

INICIATIVAS DA SOCIEDADE CIVIL


O s problemas ambientais globais também estão sendo tratados por organizações
da sociedade civil com atuação internacional. Estas se manifestam por meio de propos-
tas de caráter voluntário, nas quais a adesão dos agentes econômicos depende da cons-
ciência dos tomadores de decisão, das pressões da sociedade e das possibilidades de
auferir ganhos. São exemplos dessas iniciativas os modelos de gestão ambiental apre-
sentados nos próximos capítulos.

Textos oficiais da Cites e documentos de suas COPs. Disponível em: <http://www.cites.org>.


A criação dessas organizações não é um fato recente. Podemos encontrar suas ori-
gens entre as sociedades científicas que começaram a ser fundadas durante a Revolu-
ção Científica do século XVII, principalmente as dedicadas à botânica, zoologia e
geografia. N o final do século X I X começam a surgir organizações ambientalistas como
hoje conhecemos, que se caracterizam por serem ativas na defesa do meio ambiente,
por envolverem pessoas de diferentes segmentos da sociedade e não somente membros
da comunidade científica e artística. U m a das primeiras com tais características foi o
Sierra C l u b criado em 1892 nos Estados Unidos, que conta atualmente com cerca de
7 0 0 mil associados. Porém, é após a Segunda Guerra Mundial que efetivamente irá
ocorrer a emergência dessas organizações, aqui denominadas genericamente de Orga-
nizações Não Governamentais ( O N G s ) ambientalistas.
Muitas O N G s ambientalistas alcançaram uma dimensão internacional, como
I U C N , World Wild Fund for Nature ( W W F ) , World Business Council for Sustainable Devel-
opment ( W B C S D ) , World Resource International (WRI), Friend of the Earth, Greenpeace,
International Conservation, entre outras. Algumas delas chegam a contar com milhões
de associados. Muitas O N G s com atuações restritas aos países de origem acabam ten-
do um envolvimento internacional. Formar redes para potencializar seus recursos é
um modo de ação típico dessas organizações.
Muitas delas mantêm programas de cooperação internacional e aplicam recursos,
próprios ou intermediados por elas, em programas que contemplem soluções para os
problemas globais em diferentes países. C o m a emergência desses atores, a O r d e m
Ambiental Internacional já não se restringe apenas aos governos e instituições intergo-
vernamentais. Dela fazem parte uma variedade de atores não governamentais com
grande capacidade de mobilização de pessoas e recursos financeiros, bem c o m o de ar-
ticulação com empresas, governos e instituições de ensino e pesquisa, resultando daí
uma diversidade de iniciativas mistas de gestão em todos os níveis de abrangência es-
pacial, envolvendo todo tipo de questão ambiental. O crescimento do número de
O N G s e de sua importância para o desenvolvimento não deve, n o entanto, servir de
argumento para fortalecer as propostas neoliberais que defendem a redução das ativi-
dades estatais n o campo do desenvolvimento e da defesa do meio ambiente.

G E S T Ã O AMBIENTAL REGIONAL
Podem-se distinguir três tipos de gestão ambiental intergovernamental no nível re-
gional. U m deles decorre do tratamento regional dado aos problemas ambientais glo-
bais comuns, c o m o as gestões para disciplinar a pesca de atum n o oceano Índico de
1986 e a pesca em geral no nordeste do Atlântico de 1963, ambas conduzidas pela FAO
e dentro de acordos globais relativos aos mares e oceanos. Alguns acordos ambientais
da fase inicial, conforme comentado no início desse capítulo, embora manifestassem
uma intenção global, eram de fato de alcance regional, uma vez que suas motivações e
preocupações eram as regiões sob administração colonial.
U m segundo tipo de gestão regional são as iniciativas que procuram alcançar efei-
tos em dois ou mais países, geralmente limítrofes, para resolver problemas específicos,
como a gestão de uma bacia hidrográfica comum e o combate à chuva ácida. A Con-
venção para a Proteção da Flora, Fauna e Belezas Naturais dos Países Americanos, o
Tratado da Bacia do Rio da Prata, o Tratado Amazônico e os acordos para a conserva-
ção da fauna aquática nos cursos dos rios fronteiriços celebrados entre o Brasil e seus
vizinhos são exemplos desse tipo de acordo regional sobre questões ambientais 50 . De
modo geral, esses acordos procuram estabelecer ações comuns e facilitar a responsabi-
lização por danos ambientais em determinado país decorrentes de atividades realizadas
em outro.

O terceiro tipo de gestão ambiental regional faz parte do conjunto de medidas de


um bloco econômico como União Européia (UE), Nafta e Mercosul. Nesse caso a
gestão envolve uma pluralidade de questões ambientais. Uma preocupação típica desse
último tipo de gestão ambiental regional é a harmonização das leis ambientais nacio-
nais com vistas a reduzir as assimetrias no tratamento das questões ambientais e corre-
latas, para não prejudicar a livre circulação de mercadorias e serviços. O tratamento
desigual pode gerar diversos problemas comerciais. De um lado, exigências ambientais
muito rigorosas estabelecidas pela legislação de um país, em comparação aos demais,
podem funcionar como barreiras ao comércio entre eles. De outro, uma legislação
muito frouxa num país pode aumentar a competitividade dos seus produtores frente
aos produtores de produtos similares de países com legislações rigorosas.

Os impactos ambientais causados por uma empresa podem ser classificados em


impactos internos e externos ao país onde a empresa se situa, embora os limites entre
eles nem sempre sejam facilmente estabelecidos. A degradação ambiental que não ul-
trapassa o território de um país seria apenas um problema de ordem interna. Porém,
como as questões concernentes à competitividade das empresas ocorrem em um espa-
ço internacionalizado, esse problema também adquire uma dimensão internacional.
Se a degradação ambiental, mesmo quando restrita aos limites de um país, não for
considerada um custo para a empresa que a causou devido a uma regulação frouxa ou
ausente, esta poderá apresentar produtos com preços mais competitivos diante das
empresas que arcam com elevados custos ambientais por conta de uma legislação mais

Veja os acordos celebrados entre os governos do Brasil e do Paraguai (Decreto Legislativo 138/1995) e entre Brasil
e Uruguai (Decreto Legislativo 74/1995).
rigorosa. Os produtores que não incluem os custos ambientais n o custo total de pro-
dução para definir os preços dos seus produtos, devido a uma regulação frouxa ou
ausente, praticam dumping ambiental comparativamente às empresas que operam sob
legislações ambientais rigorosas. Daí a importância que a harmonização de normas
ambientais adquire nos blocos econômicos.

União Européia
A questão ambiental não estava contemplada inicialmente no Tratado de R o m a
de 1957, que instituiu a Comunidade Econômica Européia ( C E E ) . E isso é plenamen-
te justificável, basta ver a data, pois nessa época a principal preocupação era recons-
truir uma economia devastada pela Segunda Guerra Mundial. Foi sob a influência da
Conferência de Estocolmo de 1972 que o Conselho da C E E criou o primeiro Progra-
ma de Meio Ambiente para vigorar de 1973 a 1979. Só em 1987, n o início do quarto
programa, que a questão ambiental passou a ser incorporada definitivamente no Tra-
tado de R o m a por meio do Ato Ú n i c o Europeu 51 . Esse Ato introduziu disposições es-
pecíficas sobre meio ambiente e determinou que os processos de harmonização das
legislações nacionais sobre saúde, segurança, meio ambiente e defesa do consumidor
se baseiem num nível de proteção elevado. A partir de então, o Tratado de R o m a esta-
belece que a ação da C E E em matéria ambiental terá por objetivo preservar, proteger
e melhorar a qualidade do meio ambiente; contribuir para a proteção da saúde das
pessoas; e assegurar uma utilização prudente e racional dos recursos naturais. Para al-
cançar esses objetivos as ações devem se fundamentar no princípio da ação preventiva,
da reparação dos danos na fonte e do poluidor-pagador. As ações a serem empreendi-
das devem ser deliberadas por unanimidade no Conselho da Comunidade. As medi-
das adotadas em c o m u m não impedem que cada Estado adote outras mais rigorosas,
desde que compatíveis com as demais disposições do Tratado de Roma.

O quinto Programa de Meio Ambiente que vigorou de 1993 a 2 0 0 0 foi profunda-


mente influenciado pelos conceitos relativos ao desenvolvimento sustentável discutidos
na C N U M A D e dedicou especial atenção aos problemas ambientais globais que resulta-
ram nos acordos multilaterais ambientais comentados na seção anterior. O Tratado de
Maastricht, de 1992, que funda a União Européia, acrescenta entre os objetivos do bloco
o crescimento sustentável e não inflacionário que respeite o meio ambiente. A gestão ambiental
é implementada mediante instrumentos de regulação pública que seguem a sistemática
estabelecida para regular qualquer matéria no âmbito da União Européia. São eles:

51 C O M U N I D A D E E C O N Ô M I C A EUROPEIA, Tratado de Roma de 1957. 1986, art. 130-R, S e T.


1. os regulamentos, obrigatórios para todos os países em todos os seus elementos
que adquirem eficácia direta sem a necessidade de serem transformados em
leis nacionais;
2. as decisões, idênticas aos regulamentos, porém restritas aos países indicados
ou até mesmo organizações específicas;

3. as diretivas, que só entram em vigor em determinado país após serem conver-


tidas em leis segundo seu processo legislativo, deixando às instâncias nacionais
decidir quanto às formas e meios; e
4. recomendações e pareceres de caráter não obrigatório.

As diretivas têm sido os instrumentos mais utilizados para as questões ambien-


tais e não poderia ser diferente, pois não só o meio ambiente difere de um país a
outro, mas t a m b é m as condições econômicas, sociais, políticas e culturais. O exem-
plo a seguir mostra c o m o uma diretiva foi adotada. A Diretiva 9 4 / 6 2 C E visa harmo-
nizar as legislações dos países-membros sobre gestão de embalagens e seus resíduos
para prevenir e reduzir o impacto ambiental, tendo c o m o princípios fundamentais a
reutilização, a reciclagem e outras formas de valorização de resíduos e, desse modo,
a redução da disposição final 5 2 . Esses países adequaram suas legislações criando sis-
temas próprios de gestão de embalagens e seus resíduos ou modificando os já exis-
tentes, c o m o na Alemanha, onde havia uma empresa sem fins lucrativos, a Duales
System Deutschland, criada em 1991 para gerir a coleta e reciclagem mediante o paga-
m e n t o de taxas cobradas às empresas usuárias de embalagens e seus fabricantes 5 3 .
E m Portugal foi criada a Sociedade Ponto Verde, em 1996, tendo c o m o acionistas
empresas embaladoras, importadoras, distribuidoras e fabricantes de embalagens e
materiais de embalagem para gerir um sistema integrado de gestão de resíduos de
embalagens.

Além da regulamentação pública, a União Européia conta com outros instrumen-


tos de gestão ambiental, tais como o apoio a pesquisa e desenvolvimento em áreas de
interesse ambiental, os mecanismos de informação ao público, os programas de educa-
ção ambiental, a cooperação entre países e as linhas de financiamento de projetos de
c u n h o ambiental administradas pelo Fundo Europeu de Desenvolvimento Regional e
pelo B a n c o Europeu de Investimento.

P A R L A M E N T O E U R O P E U E C O N S E L H O DA U N I Ã O E U R O P E I A , Diretiva 94/62 de 2 0 de dezembro de


1994, relativa a embalagens e resíduos de embalagem, n. L 365/11 de 31 dez. 1994.
Sobre a Duales System, ver <www.gruener-punkt.de>. Sobre Sociedade Ponto Verde, ver <www.pontoverde.pt>.
Mercosul
O Mercosul, criado pelo Tratado de Assunção, de 1991, é um bloco que visa esta-
belecer uma zona de livre comércio e uma união aduaneira entre Argentina, Brasil,
Paraguai e Uruguai. Nesse Tratado, o meio ambiente foi citado apenas no preâmbulo
e nada mais. As questões ambientais só começaram a ser debatidas após a criação da
Reunião Especializada em Meio Ambiente (Rema) em 1992, que se transformou, em
1996, no Subgrupo de Trabalho N 2 6, subordinado ao Grupo do Mercado C o m u m
(GMC), o órgão executivo do Mercosul. Os estudos e as propostas sobre questões
ambientais devem ser aprovadas pelo G M C para serem transformados em resoluções.
Por exemplo, a Recomendação 01/94 resultante da III Rema transformou-se na Reso-
lução 10/94 do G M C que estabelece diretrizes básicas em matéria de política ambien-
tal, como harmonizar as legislações ambientais, internalizar os custos ambientais para
apuração do custo total de produção, tornar obrigatório o licenciamento ambiental
para atividades com alto potencial de degradação ambiental e assegurar o menor grau
de deterioração ambiental nos processos produtivos e nos produtos de intercâmbio.

As resoluções do G M C necessitam de aprovação pelos legislativos dos países-


-membros quando envolvem disposições legislativas; não são, portanto, aplicáveis di-
retamente como os regulamentos da União Européia. Apenas as resoluções sobre
matérias administrativas são aplicadas diretamente mediante portarias expedidas pe-
los ministérios envolvidos. A gestão ambiental regional no Mercosul ainda é muito
tímida e não é para menos, pois sequer pode-se considerá-lo um bloco econômico
consolidado, dadas as constantes crises pelas quais passam os países da região.
U m Acordo-Quadro sobre meio ambiente foi assinado pelos países do Mercosul em
2001, tendo como objetivo o desenvolvimento sustentável e a proteção ao meio ambien-
te mediante a articulação entre as dimensões econômica, social e ambiental, para uma
melhor qualidade tanto do meio ambiente quanto de vida das populações. Para alcan-
çar os objetivos do Acordo-Quadro foram enunciados os seguintes princípios:

a) promoção da proteção do meio ambiente e aproveitamento mais eficaz dos


recursos disponíveis mediante a coordenação de políticas setoriais, com base
nos princípios de gradualidade, flexibilidade e equilíbrio;
b) incorporação da componente ambiental nas políticas setoriais e inclusão das
considerações ambientais nas tomadas de decisões adotadas no âmbito do
Mercosul para fortalecimento da integração;
c) promoção do desenvolvimento sustentável por meio do apoio recíproco entre
os setores ambientais e econômicos, evitando a adoção de medidas que restrin-
jam ou distorçam de maneira arbitrária ou injustificável a livre circulação de
bens e serviços no âmbito do Mercosul;
d) tratamento prioritário e integral às causas e fontes dos problemas ambientais;

e) promoção da efetiva participação da sociedade civil n o tratamento das ques-


tões ambientais; e
f) fomento à internalização dos custos ambientais por meio do uso de instrumen-
tos econômicos e regulatórios de gestão 54 .

O Acordo-Quadro estabelece quatro áreas temáticas ou questões ambientais que


deverão ser desenvolvidas em consonância com a agenda de trabalho ambiental do
Mercosul. O Quadro 2.3 apresenta essas áreas e suas subáreas, formando uma lista
exemplificativa de questões ambientais, que é uma das ciimensões da gestão ambiental
consideradas n o esquema da Figura 1.3. Em 2 0 0 4 foi aprovado um protocolo adicio-
nal para incrementar a cooperação entre os países em termos de assistência perante
emergências ambientais 5 5 , uma questão pertinente à terceira área temática referente
aos instrumentos de política ambiental, como pode se ver n o Q u a d r o 2.3.

Nafta
O Nafta ÇNorth American Free Trade Agreement), uma zona de livre comércio entre
Estados Unidos, Canadá e México, contempla o tratamento das questões ambientais
desde sua criação, em 1992 5 6 . C o m o é típico dos blocos econômicos, a harmonização
das leis ambientais se torna uma das questões centrais, pelos motivos já expostos. As
entidades ambientalistas dos Estados Unidos e do Canadá manifestaram o temor de
que ocorresse uma fuga de empresas de seus países para o México para se beneficiarem
de uma regulamentação ambiental menos exigente; também tinham receio de que a
harmonização se fizesse rebaixando os padrões de exigências que haviam se elevado à
custa de muito esforço.
Dentre os instrumentos de gestão desse bloco regional merece destaque um plano
para a fronteira entre os Estados Unidos e o México (lntegrated Environmental Plan for the
Mexican-US Border Area), com o objetivo de aumentar as ações das agências ambientais
desses dois países nessa área, ampliar os investimentos em soluções ambientais por
parte dos agentes econômicos e desenvolver programas conjuntos de formação de pes-
soal e de educação ambiental em larga escala. A preocupação ambiental n o Nafta está
subordinada à necessidade de reduzir as diferenças nas legislações nacionais e, conse-
quentemente, os desníveis de competitividade entre as empresas dos países da zona de

M E R C O S U L / C O N S E L H O D O M E R C A D O C U M U M , 2001.
Ibid.; CMC/Decisão n. 14/2004.
NAFTA, 1992.
V Q u a d r o 2.3 A c o r d o - Q u a d r o s o b r e m e i o a m b i e n t e do M e r c o s u l : áreas t e m á t i c a s .

1. G e s t ã o s u s t e n t á v e l d o s r e c u r s o s n a t u r a i s 2. Q u a l i d a d e d e v i d a e p l a n e j a m e n t o
ambiental
Fauna e flora
i-* Florestas r * Saneamento básico e água potável
Áreas protegidas <-> Resíduos urbanos e industriais
1+ Diversidade biológica »•» Resíduos perigosos
Biossegurança ** Substâncias e produtos perigosos
- » Recursos hídricos Proteção da atmosfera e qualidade do ar
i"* Recursos ictícolas e aquícolas Planejamento do uso do solo
~ Conservação do solo Transporte urbano
i-» Fontes renováveis e/ou alternativas de energia

3. I n s t r u m e n t o s d e p o l í t i c a a m b i e n t a l 4. A t i v i d a d e s p r o d u t i v a s a m b i e n t a l m e n t e
sustentáveis
Legislação ambiental
f* Instrumentos econômicos <-* Ecoturismo
<-* Educação, informação e comunicação ambiental Agropecuária sustentável
Instrumentos de controle ambiental ~ Gestão ambiental empresarial
-» Avaliação de impacto ambiental Manejo florestal sustentável
Contabilidade ambiental ** Pesca sustentável
^ Gerenciamento ambiental de empresas
f* Tecnologias ambientais (pesquisa, processos e
produtos)
r* Sistemas de informação
f Emergências ambientais
i•* Valoração de produtos e serviços ambientais

Fonte: MERCOSUL/Conselho do Mercado Comum, 2001, Anexo.

livre comércio, pois o tratamento ambiental distinto pode resultar em diferencial de


custo e, portanto, de competitividade, em favor dos produtores situados nos países
com leis ambientais menos exigentes.

G L O B A I S COMUNS

Apesar de tratar de questões tão diferentes como aquecimento global, poluição


dos oceanos, destruição do ozônio da estratosfera, poluição transfronteiriça e outros,
os acordos ambientais intergovernamentais globais e regionais, bem como as gestões
desencadeadas por eles nos demais níveis de abrangência apresentam um traço co-
mum. Todos procuram transformar oceanos, atmosfera, espécies nativas e outros re-
cursos de livre acesso em recursos de propriedade comum, no caso, propriedade de
todas as nações ou de uma comunidade de nações. Essa transformação é essencial
para a solução dos problemas que concernem aos recursos disponíveis a todos ou
para uma dada coletividade. Recursos de livre acesso e de propriedade c o m u m nao
raro são confundidos.
Hardin 5 7 popularizou a expressão tragédia dos comuns para referir-se às conseqüên-
cias negativas do uso de recursos comuns ou coletivos. Ele reproduz uma parábola em
que vários pastores utilizam uma mesma área para alimentar seu rebanho. O s pastores
poderiam chegar a um acordo sobre a quantidade máxima de animais que cada um
poderia ter para usar essa área indefinidamente. Porém, procurando maximizar seus
ganhos, certo pastor se pergunta o que ele ganhará adicionando mais um animal ao
seu rebanho. U m a conseqüência positiva é que ele receberá integralmente os benefí-
cios da venda desse animal e as conseqüências negativas decorrentes de um animal a
mais para pastar serão repartidas entre todos os pastores. Assim, esse pastor concluirá
que para ele o melhor é aumentar seu rebanho. Se cada pastor pensar e agir assim, o
resultado será a superlotação da área de pastagem comum levando à ruína de todos, à
tragédia dos comuns.
A poluição também leva à tragédia dos comuns, pois lançar os resíduos n o meio
ambiente custa menos do que purificá-los. C o n f o r m e Hardin, a tragédia dos comuns
pode ser evitada pela propriedade privada ou algo semelhante, c o m o a aplicação de leis
coercitivas ou taxas que tornem mais barato para o poluidor tratar seus poluentes do
que descarregá-los no meio ambiente 5 8 . Esses argumentos ganharam uma grande popu-
laridade entre os neomalthusianos, pois Hardin arremata dizendo que o problema da
poluição é uma conseqüência da população e a partir daí começa a destilar sua catili-
nária contra a liberdade de procriar, conforme comentado n o Capítulo 1.

O s argumentos de Hardin baseiam-se numa grande confusão entre recursos de li-


vre acesso e recursos de propriedade comum, como bem observou Pearce. Ambos são
recursos de uso comum, mas os recursos de livre acesso não são propriedades de nin-
guém, enquanto os de propriedade comum possuem proprietários que podem ser uma
comunidade local ou uma comunidade de nações. A propriedade comum é passível de
ser administrada, a de livre acesso não. Por isso, os recursos de livre acesso tendem a
ser usados de m o d o abusivo. Pearce mostra que tal distinção é crucial. O s recursos de
propriedade comum, apesar de correrem o risco de superexploração, freqüentemente
podem ser administrados de forma viável e sustentável, pois os proprietários comuns
podem realizar um acordo entre eles para limitar ou regulamentar seu uso. O s regimes
de propriedade c o m u m tendem a definir grupos gestores para cuidar dos recursos,

H A R D I N , G., 1968. (Obs.: a parábola da tragédia dos comuns foi apresentada pela primeira vez por Willian
Forster Lloyd, em 1833).
H A R D I N , G., 1968.
algo que não ocorre se eles forem de livre acesso. Por isso, esse autor conclui que a
tragédia dos comuns de Hardin é na verdade a tragédia do livre acesso 59 , pois se os
pastores podiam adicionar animais à vontade, então o pasto da parábola é um recurso
de livre acesso e não um recurso de propriedade comum.

O s globais comuns, como a atmosfera e os oceanos fora das águas territoriais, inicial-
mente constituem recursos de livre acesso em escala global, disponíveis para todos.
Porém, quando as nações estabelecem acordos para limitar seu uso e evitar abusos, elas
estão efetivamente transformando recursos globais de livre acesso em recursos globais
de propriedade c o m u m . É isso que procuram fazer os acordos intergovernamentais
sobre meio ambiente, c o m o os comentados anteriormente. C o m o os globais comuns
são bens de todas as nações, nenhuma se sentirá na obrigação cie cuidar deles sozinha,
uma vez que os custos de uma ação isolada serão somente seus, mas os resultados irão
beneficiar a todos. M e s m o assim, o realismo político não impede que signatários do
acordo se beneficiem do esforço coletivo sem dar sua contribuição, basta protelar a
implementação das ações acordadas nos níveis nacionais e locais, aprovar leis que não
serão cumpridas e outras semelhantes. No entanto, todos se beneficiam quando deter-
minado país resolve implementá-las de modo rigoroso, pois a proteção ambiental sem-
pre gera externai idades positivas. Tanto um país não signatário de um acordo
concernente aos globais comuns, bem como aquele que assina o acordo, mas não o
executa de modo adequado, serão favorecidos pelas melhorias alcançadas sem pagar
por elas, isto é, estarão pegando uma carona dos que estão se esforçando para cumprir
o acordo.

G E S T Ã O AMBIENTAL NACIONAL E LOCAL

Pouco adianta as iniciativas de gestão nos níveis globais e regionais se não forem
acompanhadas de iniciativas nacionais e locais. É no interior dos Estados nacionais,
de suas subdivisões, localidades, comunidades e organizações que ocorrem efetivamen-
te as ações de gestão ambiental. As disposições dos acordos globais e regionais devem
ser incorporadas nas legislações nacionais e locais para gerar efeitos sobre os agentes
econômicos, produtores e consumidores. O realismo político de que fala Ribeiro 6 0 faz
com que cada país faça tal incorporação segundo seus interesses e limitações, daí a
grande assimetria que se observa entre eles em termos de implementação. Além disso,

59 PEARCE, D. 1998. p. 4 9 9 .
60 R I B E I R O , 2001.
cada país e suas divisões internas possuem condições específicas, c o m o as característi-
cas de seus ambientes físicos, biológicos e sociais, que exigem soluções específicas.

A gestão ambiental local não pode perder de vista os problemas globais, isto é, ela
deve ser formulada também com o objetivo de contribuir para a solução ou redução
desses problemas em seu nível de atuação espacial. Esse é o sentido da expressão pen-
sar globalmente e agir localmente, que se tornou uma espécie de lema do desenvolvimen-
to sustentável. U m requisito que se depreende desse conceito é a necessidade de
ampliar a participação da população nos processos decisórios. Isso significa conside-
rar a participação efetiva de uma multiplicidade de atores que compõem determinada
sociedade na elaboração das políticas públicas ambientais nacionais e locais, que
constituem as bases da gestão ambiental n o âmbito de um país e de suas subdivisões.
A gestão ambiental nos níveis nacionais e locais se efetiva por meio da implementa-
ção de diversos instrumentos de políticas ambientais públicas e privadas, c o m o será
mostrado a seguir.

I Termos e conceitos importantes

Acordos ambientais Globais comuns


Aquecimento global Mecanismo de Desenvolvimento
Biodiversidade Limpo

Biotecnologia Mercado de carbono

Camada de ozônio Organizações Não Governamentais

Desenvolvimento sustentável Princípio da precaução

Dumping ambiental Princípio da prevenção

Economia de baixo carbono Realismo político

Espécies ameaçadas Recurso de livre acesso

Gases de efeito estufa Tragédia dos comuns

Gestão ambiental global União Aduaneira

Gestão ambiental regional e local Zona de Livre Comércio

Questões para revisão

1. Para muitos a expressão desenvolvimento sustentável é formada por duas palavras con-
traditórias, pois o desenvolvimento nunca será sustentável. Forme dois grupos para dis-
cutir essa questão, um defendendo os conceitos e objetivos do desenvolvimento
sustentável e outro, seus críticos. Ao final do debate, elabore uma lista de requisitos ne-
cessários para se alcançar padrões de desenvolvimento sustentável.

2. O uso de certo tipo de recurso não renovável pela geração atual implica em menos des-
tes recursos para as futuras gerações. Deveria, então, a atual geração deixar de usar esse
recurso sob pena de infringir o pacto geracional concernente ao conceito de desenvolvi-
mento sustentável? Discuta essa questão.

3. Excesso de consumo nos países do Norte ou de população nos do Sul? Discuta essa ques-
tão em termos do pacto geracional presente no conceito de desenvolvimento sustentável.

4. Cite pelo menos cinco problemas ambientais globais. Comente cada um, apresentando
suas causas prováveis, os possíveis efeitos e as iniciativas de gestão nesse nível de
abrangência espacial.

5. O que se entende por realismo político e como este se relaciona com as iniciativas de
gestão ambiental nos níveis de abrangência global e regional?

6. Faça uma pesquisa em fontes bibliográficas e selecione os argumentos prós e contra o aque-
cimento global e os instrumentos gerados pela Convenção do Clima e do Protocolo de Kyoto.
Antes de discutir em grupo os resultados da sua pesquisa, faça uma classificação desses
argumentos, por exemplo, argumentos econômicos, sociais, tecnológicos e políticos.

7. Vá até o web site do PNUMA (www.unep.org) e abra a página relativa às Convenções


Ambientais. Verifique os países que fazem parte de cada uma das convenções citadas
neste capítulo.

8. Já que você está em contato com o PNUMA, aproveite para conhecer a Agenda 21. Faça um
resumo das recomendações da Agenda 21 em relação à proteção da atmosfera (Capítulo 9)
e da conservação da diversidade biológica (Capítulo 15). Caso prefira, o texto da Agenda 21
pode ser obtido no web site do Ministério do Meio Ambiente (www.mma.gov.br).

9. Este capítulo apresenta certos problemas ambientais de dimensão global e as iniciativas


de gestão relacionadas. Faça um resumo do modus operandida gestão ambiental relativo
a essa dimensão. Não se esqueça de relacionar os elementos comuns observados nos
exemplos descritos neste capítulo.

10. Apresente diferenças entre o princípio da precaução e da prevenção no contexto da ges-


tão ambiental e dê exemplos.

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POLÍTICAS PÚBLICAS AMBIENTAIS

A gestão ambiental começou efetivamente pelos governos dos Estados nacionais e


desenvolveu-se à medida que os problemas surgiam. As primeiras manifestações de
gestão ambiental procuravam solucionar problemas de escassez de recursos, mas só
após a Revolução Industrial os problemas que concernem à poluição começaram a ser
tratados de modo sistemático. Por um longo período, as iniciativas dos governos eram
quase exclusivamente de caráter corretivo, isto é, os governos só enfrentavam os pro-
blemas ambientais depois que eles já haviam ocorrido, embora isso ainda aconteça.
Esse modo de agir produz ações fragmentadas apoiadas em medidas pontuais, pouco
integradas e de baixa eficácia. A partir cia década de 1970 começaram a surgir em vá-
rios países políticas governamentais que procuravam tratar as questões ambientais de
modo articulado e introduzir uma abordagem preventiva. Contribuíram para essa mu-
dança os debates sobre a relação entre meio ambiente e desenvolvimento e os acordos
ambientais multilaterais após a Conferência de Estocolmo de 1972, comentados n o
capítulo anterior.

Gestão ambiental pública é a ação do Poder Público conduzida de acordo com


uma política pública ambiental. Entende-se por política pública ambiental o c o n j u n t o de
objetivos, diretrizes e instrumentos de ação que o Poder Público dispõe para produzir
efeitos desejáveis no meio ambiente. O envolvimento cada vez mais intenso dos Esta-
dos nacionais em questões ambientais e a diversidade dessas questões fizeram surgir
uma variedade de instrumentos de políticas públicas ambientais de que o Poder Públi-
co pode se valer para evitar novos problemas ambientais, bem como para eliminar ou
minimizar os existentes. Esses instrumentos podem ser explícitos ou implícitos.

O s instrumentos explícitos são criados para alcançar efeitos ambientais benéficos


específicos, enquanto os implícitos alcançam tais efeitos pela via indireta, pois não
foram criados para isso. Por exemplo, uma lei para ordenar o trânsito de veículos em
uma grande cidade e evitar congestionamentos também contribui para melhorar a
qualidade do ar, reduzir o nível de ruído e o consumo de combustíveis, pois os veículos
podem trafegar com marchas mais leves. Investimentos em educação tornam a popula-
ção mais conscieiite dos problemas ambientais, aumentando assim o contingente de
pessoas cobrando melhor desempenho das empresas e dos órgãos ambientais governa-
mentais. Os exemplos envolvem as mais variadas situações, e não poderia ser diferente,
pois qualquer ação humana afeta o meio ambiente. Por isso, quando se fala em instru-
mento de política pública ambiental, geralmente se quer indicar aquele que visa dire-
tamente às questões ambientais, ou seja, os instrumentos explícitos, que por sua vez
podem ser classificados em três grandes grupos, conforme mostra o Quadro 3.1 (p. 67).

INSTRUMENTOS DE COMANDO E CONTROLE

Também denominados instrumentos de regulação direta, os instrumentos de co-


mando e controle objetivam alcançar as ações que degradam o meio ambiente, limi-
tando ou condicionando o uso de bens, a realização de atividades e o exercício de
liberdades individuais em benefício da sociedade como um todo. Trata-se, portanto,
do exercício do poder de polícia dos entes estatais, e como tal se manifesta por meio
de proibições, restrições e obrigações impostas aos indivíduos e organizações, sempre
autorizadas por normas legais1. Os instrumentos de comando e controle mais conhe-
cidos são aqueles que estabelecem padrões ou níveis de concentração máximos aceitá-
veis de poluentes. Esses padrões podem ser de três tipos: padrões de qualidade
ambiental, padrões de emissão e padrões ou estágio tecnológico.

Os padrões de qualidade ambiental referem-se aos níveis máximos admitidos para


os poluentes constantes no meio ambiente, geralmente segmentado em ar, água e solo.
Tais níveis são estabelecidos, via de regra, como médias aritméticas ou geométricas de
concentração diária ou anual, permitindo, com isso, incorporar as variações climáticas
que afetam a dispersão e a concentração dos poluentes. Exemplo: 8 0 pg/m3 (oitenta
microgramas por metro cúbico) como o nível máximo de materiais particulados em
suspensão na atmosfera. Entende-se, portanto, que a qualidade do ar estará normal em

Poder de policia é a atividade da Administração Pública que, limitando ou disciplinando direito, interesse 011 li-
berdade, regula a prática de atos ou abstenção de fato, em razão de interesse público concernente à segurança, à
higiene, à ordem, aos costumes, à disciplina da produção e do mercado, ao exercício de atividades econômicas
dependentes de concessão ou autorização do Poder Público, á tranqüilidade pública ou ao respeito á propriedade
e aos direitos individuais e coletivos (BRASIL. Lei 5.172, de 25 de outubro de 1966. Dispõe sobre o Sistema Tri-
butário Nacional e institui normas gerais de direito tributário aplicáveis à União, Estados e Municípios. Brasília:
D O U de 27/10/1966, art. 78).
O Q u a d r o 3.1 I n s t r u m e n t o s de política pública a m b i e n t a l - classificação e e x e m p l o s .

GÊNERO ESPÉCIES

- Padrão de qualidade
- Padrão de emissão
- Padrão de desempenho
- Padrões tecnológicos
COMANDOE
- Proibições e restrições sobre produção, comercialização e uso de produtos e processos
CONTROLE
- Licenciamento ambiental
- Zoneamento ambiental
- Estudo prévio de impacto ambiental
- Restrições ao uso do solo

- Tributação sobre poluição


- Tributação sobre uso de recursos naturais
- Incentivos fiscais para reduzir emissões e conservar recursos
- Remuneração pela conservação de serviços ambientais
ECONÔMICO - Financiamentos em condições especiais
- Criação e sustentação de mercados de produtos ambientalmente saudáveis
- Permissões negociáveis
- Sistema de depósito-retomo
- Poder de compra do Estado

- Apoio ao desenvolvimento científico e tecnológico


- Educação ambiental
OUTROS
- Unidades de conservação
- Informações ao público

relação a esse poluente se sua concentração, medida segundo uma metodologia especi-
ficada em normas legais, estiver igual ou abaixo desse nível. Porém, como se trata de
uma média, em certos períodos a qualidade do ar poderá ser considerada normal
mesmo quando o nível de concentração desse poluente estiver acima desse padrão.
Enquanto os padrões de qualidade ambiental referem-se a certo entorno ou seg-
mento do meio ambiente, os padrões de emissão referem-se aos lançamentos de po-
luentes individualizados por fonte de emissão, seja uma fonte fixa ou estacionária,
como fábricas, hospitais, armazéns e lojas, ou fontes móveis, como automóveis, ca-
minhões, embarcações e outros veículos. Os padrões de emissão estabelecem uma
quantidade máxima aceitável de cada tipo de poluente por fonte poluidora (exem-
plo: 0,5mg/l de chumbo) ou uma quantidade máxima por unidade de tempo (p. ex.:
tonelada de C O z por dia, mês ou ano). U m tipo especial de padrão de emissão é o
que estabelece exigências de desempenho de máquinas, equipamentos e operações
com o objetivo de reduzir a emissão de poluentes específicos a um nível aceitável. Os
padrões de qualidade ambiental estão condicionados pelas quantidades e caracterís-
ticas das emissões das fontes individualizadas, porém a relação entre essas duas espé-
cies de padrão não é simples, muito menos linear, pois as características geográficas
do meio ambiente (relevo, clima, direção dos ventos, velocidade dos rios etc.) podem
favorecer ou dificultar a assimilação e a dispersão dos poluentes.
O controle da poluição pode ser estabelecido de acordo com padrões tecnológi-
cos a serem adotados pelas fontes de poluição. O termo tecnologia abrange tanto
máquinas, instalações, ferramentas, materiais e outros elementos físicos de um esta-
belecimento ou uma unidade produtiva, quanto as práticas administrativas e opera-
cionais, por exemplo, especificação e seleção de materiais, avaliação de fornecedores,
métodos de inspeção, roteiro de produção, planejamento da manutenção e treina-
mento. Há semelhança entre o padrão de emissão, já citado, e o padrão baseado em
tecnologia, pois ambos referem-se às fontes de poluição individualizadas. Mas há dife-
renças substanciais: o primeiro estabelece níveis máximos de poluição para as fontes
sem especificar c o m o eles devem ser alcançados, de m o d o que seus responsáveis po-
derão escolher as opções tecnológicas que estiverem ao seu alcance. Q u a n d o o padrão
é estabelecido com base em tecnologia, o Poder Público restringe as opções e direcio-
na a escolha de equipamentos, instalações e práticas operacionais e administrativas,
promovendo certa uniformização entre os agentes produtivos que atuam em um mes-
m o segmento.

A definição do padrão tecnológico não é tarefa fácil, seja porque as tecnologias


estão em constante evolução, seja porque elas constituem ativos apropriados privativa-
mente pelos que as desenvolvem, de modo que a melhor tecnologia para determinada
finalidade nem sempre está disponível para todos os agentes produtivos. Por isso, o
padrão a ser adotado deve considerar a disponibilidade da tecnologia. Geralmente esse
tipo de padrão é estabelecido após consultas com especialistas, fornecedores de tecno-
logia e os responsáveis pelas unidades produtivas, a fim de verificar o estado-da-arte de
determinada atividade e verificar quais tecnologias estão disponíveis. O objetivo final
das consultas é alcançar um consenso entre as partes quanto ao melhor padrão tecno-
lógico disponível a ser adotado e elaborar os critérios técnicos a serem observados.

U m desses critérios baseia-se no conceito de Melhor Tecnologia Disponível (do in-


glês BAT: Best Available Technology) ou de Melhor Tecnologia Disponível que Não Acarre-
ta Custo Excessivo (do inglês B A T N E E C : Best Available Technology Not Entailing Excessive
Cost). Este último procura evitar que se adote como padrão uma tecnologia que apresen-
te um resultado adicional muito pequeno em relação às outras, porém com um custo
proporcionalmente bem mais elevado. Tenta também evitar que o custo adicional da
implementação da melhor tecnologia disponível não inviabilize os empreendimentos do
ponto de vista econômico. O critério BATNEEC é muito utilizado nos Estados Unidos,
no Reino Unido e em outros países da Europa para fixar limites máximos de emissões
de poluentes. A prática brasileira mais usual é a definição de padrões de qualidade e de
emissão; critérios baseados na melhor tecnologia disponível (BAT) são usados apenas na
ausência de padrões de emissão fixados em normas legais2.

Outros instrumentos de comando e controle são as proibições ou banimentos da


produção, comercialização e uso de produtos e o estabelecimento de cotas de produ-
ção, comercialização ou utilização de materiais ou recursos. Por exemplo, os países que
aderiram ao Protocolo de Montreal à Convenção de Viena para a proteção da camada
de ozônio elevem restringir a produção e o consumo das substâncias controladas em
sua área de jurisdição, como mostrado no capítulo anterior. O licenciamento ambien-
tal para atividades ou obras potencialmente poluidoras e o zoneamento ambiental são
outros instrumentos desse tipo. Este último restringe o direito de propriedade na me-
dida em que estabelece categorias de zonas destinadas à instalação de unidades produ-
tivas. Nesse gênero de instrumentos estão as normas sobre parcelamento do uso do
solo, pois elas representam uma limitação ao direito dos proprietários de dispor livre-
mente sobre seus imóveis.

INSTRUMENTOS FISCAIS

Os instrumentos econômicos procuram influenciar o comportamento das pessoas


e das organizações em relação ao meio ambiente, utilizando medidas que representem
benefícios ou custos adicionais para elas. Esses instrumentos podem ser de dois tipos:
fiscais e de mercado. Os fiscais, que se realizam mediante transferências de recursos
entre os agentes privados e o setor público, podem ser tributos ou subsídios. Por sub-
sídio se entende qualquer tipo de renúncia ou transferência de receita dos entes esta-
tais em benefício dos agentes privados para que estes promovam ações ambientais
desejadas. Os subsídios podem se dar por meio de isenções, reduções, diferimento de
impostos e financiamentos em condições especiais com o objetivo de estimular práti-
cas ambientais específicas e auxiliar a implementação de projetos de controle e preven-
ção da poluição ou substituição de recursos produtivos. A depreciação acelerada para
equipamentos e instalações para proteção ambiental é um exemplo de subsídio, pois

Veja, por exemplo, o Decreto 8.468/1976 que regulamenta a Lei 997/1976 do Estado de São Paulo: as fontes de
poluição, para as quais não foram estabelecidos padrões de emissão, adotarão sistemas de controle do ar baseados
na melhor tecnologia prática disponível para cada caso (Art. 41).
alivia o caixa da empresa n o ano de sua aquisição ao reduzir a base de lucro tributável.
Outras formas de subsídio são as compensações financeiras pela restrição do uso da
propriedade com o objetivo de proteger o meio ambiente.

O s tributos ambientais transferem recursos dos agentes privados para o setor pú-
blico em decorrência de alguma questão ambiental. Eles são denominados impostos e
encargos ambientais (environmental taxes and charges) pela Organização para a Coopera-
ção e o Desenvolvimento ( O C D E ) , organização que congrega os países mais ricos de
economia de mercado e uma das entidades que mais defendem esse tipo de instrumen-
to. N o âmbito da U n i ã o Européia esses tributos são denominados ecotaxas. Há diversas
espécies desses tributos, sendo as mais conhecidas as seguintes:

a) tributação sobre emissões (emission taxes and charges) que são encargos cobrados
sobre a descarga de poluentes geralmente calculados com base nas característi-
cas dos poluentes e nas quantidades emitidas por uma unidade produtiva.
Exemplos: taxas cobradas por tonelada de C 0 2 , S 0 2 , N z O , H S e outros po-
luentes lançados na atmosfera;
b) tributação sobre a utilização de serviços públicos de coleta e tratamento de
efluentes (wser taxes and charges);
c) tributação incidente sobre os preços de produtos que geram poluição ao serem
utilizados em processos produtivos ou pelo consumidor final, c o m o as taxas
cobradas sobre derivados de petróleo, carvão, energia elétrica, baterias, pneus,
produtos que contêm enxofre e C F C s (product taxes and charges);

d} tributação que incide sobre produtos supérfluos (excise taxes and charges); e

e) tributação baseada em alíquotas diferenciadas (taxes differentiation) sobre pro-


dutos, gravando-os de acordo com o seu grau de impacto ambiental, com o
objetivo de induzir a produção e o consumo dos produtos mais benéficos ao
meio ambiente 3 .

Vale aqui fazer as seguintes considerações: a palavra inglesa taxes refere-se a impos-
tos, taxas e outras contribuições compulsórias e não retribuíveis pagas pelas pessoas
físicas e jurídicas aos entes estatais, e a palavra charge, entre outros significados, indica
encargos, cobrança, obrigação e responsabilidade. De acordo com a O C D E , taxes são
pagamentos compulsórios e não retribuíveis pagos ao governo, sendo que, em geral,
os benefícios aos pagadores não são proporcionais aos seus pagamentos; charges são

As informações sobre tributos ambientais foram extraídas das publicações da O C D E . Veja as referências no final
deste capitulo.
pagamentos compulsórios e retribuiveis, ou seja, o serviço prestado pelo agente públi-
co é proporcional ao pagamento, por exemplo, a cobrança pela coleta de esgotos ur-
banos (sewerage charges)4.

C o n f o r m e a legislação brasileira, imposto é uma contribuição pecuniária compul-


sória que tem c o m o fato gerador uma situação independente de qualquer atividade
estatal específica referente ao contribuinte. As taxas são tributos que têm c o m o fato
gerador o exercício regular do poder de polícia ou a utilização, efetiva ou potencial, de
serviço público específico e divisível prestado ao contribuinte ou posto à sua disposi-
ção. C o m o os tributos citados n o item (a) e (b) são divisíveis ou decorrem do exercício
do poder de polícia, taxa é a melhor tradução para essas espécies de instrumento eco-
nômico. Já os tributos citados nos itens (c), (d) e (e) podem ser impostos ou taxas, de-
pendendo de como são estabelecidos pelo Poder Público.

As multas pelo não cumprimento de medidas de c o m a n d o e controle (non-com-


pliance charges), por exemplo, por emitir poluentes acima do nível máximo admitido
em lei, também são consideradas instrumentos econômicos do tipo tributo nos docu-
mentos da O C D E . Esse posicionamento baseia-se no fato de que tais multas represen-
tam receitas fiscais, porém, melhor seria incluí-las como complemento das medidas de
comando e controle.

Princípio do poluidor-pagador
Nas economias de mercado as decisões sobre o que, como, quanto e onde produzir
são tomadas considerando os preços dos bens que serão produzidos e seus custos inter-
nos de produção e distribuição, como força de trabalho, matérias-primas, energia e
depreciação dos equipamentos. Para o empresário, os custos incorridos pela empresa
devem ser o mínimo possível para que ele possa maximizar os lucros. Além desses
custos de produção e distribuição, as atividades produtivas também geram outros cus-
tos que se não forem pagos pela empresa recaem sobre a sociedade, por isso são deno-
minados custos externos ou sociais. U m desses custos refere-se à perda da qualidade do
meio ambiente, seja decorrente do uso de recursos naturais, seja da poluição resultan-
te de processos de produção, distribuição e utilização dos bens produzidos pela empre-
sa. A poluição de um rio causada por um processo produtivo representa custos reais
desse processo, porém, é a sociedade que paga por eles, constituindo-se, dessa forma,
em custos externos à empresa poluidora. O s custos totais da produção dos bens e
serviços são, portanto, constituídos pelos custos internos e custos externos: os custos

4 O C D E , 1997. p. 18.
internos são aqueles que a empresa paga para poder produzir e comercializar; os exter-
nos são pagos por todas as pessoas desta e das futuras gerações.
As idéias sobre tributos ambientais têm suas origens na obra do economista inglês
Arthur Cecil Pigou sobre externalidades do início do século XX 5 . A externalidade é um
fenômeno externo ao mercado e que não afeta seu funcionamento. Ela ocorre quando
as ações realizadas por agentes econômicos que transacionam no mercado provocam
impactos sobre o bem-estar de outras pessoas que não participaram das transações.
Uma externalidade negativa ocorre quando as ações desses agentes produzem perdas a
outras pessoas não envolvidas nas transações, e essas perdas não são compensadas pelo
sistema de preço. A poluição gerada por uma empresa é um exemplo disso; constitui
um efeito adverso que recai sobre pessoas que não participaram dos processos de pro-
dução e consumo, representando, portanto, um custo social. Uma ação de política pú-
blica coerente é forçar a internalização dos custos sociais decorrentes da poluição por
parte do poluidor, de modo que este seja estimulado a reduzir esses custos, o que signi-
fica melhorar o seu desempenho ambiental. A cobrança de um imposto ao poluidor é
um modo de internalizar os custos sociais no sistema de preço do poluidor, afetando
desse modo a demanda pelos seus produtos e a realização de lucros.

A Figura 3.1 ilustra de modo simplificado essa questão. Para a produção de certo
produto, os custos marginais internos ou privados e os custos externos ou sociais esta-
rão representados pelas curvas C M P e CMS, respectivamente. Trata-se de uma simpli-
ficação, pois admite-se que o dano ao meio ambiente é constante por unidade de
produto, o que nem sempre ocorre na realidade, por seus efeitos cumulativos. Além
disso, considera a tecnologia de produção imutável para diferentes níveis de produção
e de poluição. A curva dos custos totais (CMT) para diferentes níveis de produção é a
soma desses dois custos. O nível de produção eficiente ocorre quando os benefícios
marginais são iguais aos custos marginais. Dada a curva da demanda D, o nível de
produção eficiente será Q a um preço P se o produtor não incorporar os custos exter-
nos ou sociais. Nesse caso, o tamanho da degradação ambiental será igual a O B Q . In-
cluindo os custos externos, o nível ótimo de produção será então Q * ao preço P*. C o m
um nível menor de produção, a degradação ambiental agora será igual a OAQ*, ou
seja, A B Q Q * menor que a degradação anterior.

A cobrança de um imposto que aumente o preço do produto é uma forma de


internalizar os custos externos de produção. Cabe mencionar que o nível de degrada-
ção ambiental sempre será maior que zero, desde que haja atividade econômica. A

P I G O U , A. C , 1932.
F i g u r a 3.1 Custos internos e externos e produção eficiente.

cobrança de um imposto associado à externalidade negativa é o que se denomina


imposto pigouviano (pigouvian tax). Esse tipo de imposto não é fácil de ser estabeleci-
do na prática, a começar pelas dificuldades para determinar os custos externos.
O s impostos ambientais tiveram um amplo desenvolvimento em termos teóri-
cos e práticos. H o j e há uma diversidade de impostos, taxas e contribuições compul-
sórias sendo aplicadas em muitos países, inclusive n o Brasil. E m princípio é o
poluidor quem deve pagar, embora isso nem sempre ocorra, pois depende de c o m o
os produtores e consumidores estão estruturados. C o n f o r m e a elasticidade da de-
manda em relação aos preços os consumidores t a m b é m poderão pagar uma parte
desse imposto. E m situações de oligopólio ou m o n o p ó l i o as empresas c e r t a m e n t e
repassarão essa taxa aos consumidores. Nem sempre o uso desse i n s t r u m e n t o irá
contribuir para reduzir a degradação ambiental, entendida em seu sentido amplo,
envolvendo n ã o só a poluição resultante dos processos produtivos, mas t a m b é m o
uso de recursos.
O princípio do poluidor-pagador impõe ao Estado o dever de estabelecer um tri-
b u t o ao agente poluidor, usuário ou não de algum serviço público destinado a tratar
a poluição. Este é o Princípio n e 16 da Declaração do R i o de Janeiro sobre o M e i o
A m b i e n t e e Desenvolvimento (veja Anexo 2). São dois os objetivos esperados da apli-
cação desse princípio. O primeiro é de natureza fiscal relacionado à necessidade de
arrecadar receita para custear os serviços públicos ambientais, evitando que os preju-
ízos causados pelos poluidores privados recaiam sobre a sociedade. O outro objetivo
é de natureza extrafiscal, isto é, ele cumpre melhor seu papel à medida que induz um
c o m p o r t a m e n t o ambiental preventivo por parte dos agentes privados. U m a extensão
do princípio poluidor-pagador é o do usuário-pagador, um princípio voltado para re-
duzir a exploração e o uso de certo recurso, como as taxas cobradas pelo uso da água,
dos derivados de petróleo e de outros recursos naturais considerados escassos pelo
Poder Público.

INSTRUMENTOS PÚBLICOS DE MERCADO

E m b o r a criados e administrados no âmbito governamental, esses instrumentos se


efetuam por meio de transações entre agentes privados em mercados regulados pelo
governo. E o caso das permissões de emissões transferíveis (tradable emission permit). Há
diversas formas de mercado de permissões e todas foram criadas a partir da fixação de
níveis aceitáveis de poluição em diferentes períodos e da colocação de certificados de
permissões transferíveis de determinado poluente à venda em um mercado de títulos.
O s detentores desses títulos terão o direito de poluir até a soma das quantidades dos
seus títulos e poderão vendê-los segundo os valores cotados pelo mercado. O governo
pode estabelecer um nível fixo de poluição para determinada região ou país, de m o d o
que novos produtores poluidores só serão admitidos se comprarem títulos de poluição
de quem já conseguiu reduzir seu nível de emissão. Da mesma forma, o produtor esta-
belecido que quiser aumentar suas emissões também deverá adquirir títulos. Esse tipo
de instrumento de mercado, chamado offset ou nivelamento, objetiva manter um nível
de poluição estável, mesmo com o crescimento das atividades geradoras do poluente
objeto dos títulos de permissão.
O governo pode estabelecer reduções progressivas n o nível geral de poluição, o
que a u m e n t a o valor dos títulos e torna mais atrativas as iniciativas de redução da
poluição, pois quem reduzir poderá vender o excedente aos que necessitam. Há
outras formas de mercado de permissões, c o m o o que permite c o m p e n s a ç ã o entre
estabelecimentos de uma mesma empresa. Esse tipo de instrumento de política
pública surgiu nos Estados U n i d o s n o final da década de 1 9 7 0 para controlar certos
poluentes atmosféricos. Qualquer que seja a forma do mercado de permissões ne-
gociáveis, sempre haverá necessidade da fixação de padrões de emissão e de uma
atuação eficaz do órgão governamental ambiental para medir a poluição emitida
pelas fontes e estabelecer metas de redução.

Outra espécie de instrumento econômico são os sistemas de depósito-retorno (de-


posit-refund systems). Os valores depositados na aquisição de certos produtos serão de-
volvidos quando retornarem aos pontos de armazenagem, tratamento ou reciclagem.
E m vários países europeus há esquemas que garantem o fluxo de vasilhames de vidro
e de plástico de cervejas, refrigerantes, vinhos e outras bebidas. O u t r o exemplo é o
sistema tradicional de depósito entre o usuário e o supermercado ou mercearia, no
qual o consumidor recebe um vale sobre os vasilhames e depois o desconta na hora de
pagar as compras. Vários países criaram sistemas de depósitos para a compra de auto-
móveis novos que serão devolvidos ao final de sua vida útil, desde que os veículos se-
jam entregues em locais predeterminados para prosseguir ao desmanche e recuperar os
materiais. Esse tipo de instrumento pode ser incentivado por leis que estabeleçam a
corresponsabilidade do produtor e do comerciante sobre os produtos, mesmo depois
da venda, entrega e transferência da propriedade.

A sustentação de mercado pelo Poder Público para os produtos com materiais re-
ciclados ou de baixo impacto ambiental, outra espécie de instrumento econômico,
pode ser implementada por meios diversos, como pela redução de impostos incidentes
sobre os produtos finais e sobre as matérias-primas recicladas. Essa política pode ser
impulsionada pela adoção, por parte dos governos, cia Responsabilidade Estendida do
Produtor ( E P R - Extended Producer ResponsibiliCy), uma abordagem de política pública
ambiental na qual a responsabilidade dos produtores pelos produtos que fabricam é
estendida aos estágios de pós-consumo do seu ciclo de vida. A função primária do E P R
é transferir a responsabilidade física e financeira da gestão dos resíduos das autorida-
des governamentais locais e dos pagadores de imposto para os fabricantes e comercian-
tes. Espera-se, dessa forma, que os produtores passem a considerar as questões
ambientais concernentes aos seus produtos desde o m o m e n t o em que estes são desen-
volvidos até a sua disposição final 6 .

U m a das atribuições dos governos nacionais seria a eliminação de disposições legais


inconsistentes com os objetivos do E P R e estabelecer o conceito de corresponsabilidade
dos membros da cadeia de suprimento. Os governos locais desempenham papel crucial,
por exemplo, estimulando a criação de mercados para os materiais recicláveis, auxiliando

6 O C D E , 2001. p. 16.
década de 2 0 0 0 , uma política pública comunitária com vistas a usar o poder de contra-
tação dos entes governamentais para alcançar objetivos ambientais 9 . T a m b é m n o Bra-
sil se observam experiências nesse sentido como a do Estado de São Paulo 10 .

N o mínimo, os governos deveriam abster-se de negociar com empresas autuadas


pelos órgãos ambientais por infringirem a legislação ambiental. O poder de compra
dos governos deve proporcionar oportunidades de cooperação com o setor produtivo
e as instituições de ensino e pesquisa, para buscar alternativas viáveis segundo os três
eixos que sustentam as abordagens de desenvolvimento sustentável: eficiência econô-
mica, equidade social e proteção do meio ambiente.

EFICÁCIA DOS INSTRUMENTOS

Cada tipo de instrumento tem suas vantagens e desvantagens, seus defensores e


detratores. O s econômicos têm sido apontados por defensores de posições neoliberais
como mais aptos para induzir um comportamento mais dinâmico por parte dos agentes
privados, em comparação aos de comando e controle. É comum ouvir sobre estes últi-
mos que eles tendem a gerar uma atitude acomodada na medida em que as exigências
do Poder Público são atendidas. Os instrumentos de comando e controle também são
criticados pelo peso que representam para o Estado, uma vez que sua eficácia depende
de um aparato institucional dispendioso. Outras críticas a esse tipo de instrumento
decorrem das propostas de desregulamentação e enxugamento do Estado.

Para os ultraliberais tudo o que vem do Estado é considerado um mal, daí a neces-
sidade de mantê-lo em um tamanho mínimo, sendo que as questões ambientais esta-
riam entre os assuntos que ele deve deixar para o mercado. Argumentos como esses têm
sido defendidos por entidades empresarias ambientais, como o World Business Council
for Sustainable Development ( W B C S D ) . Stephan Schmidheiny, que presidiu essa entida-
de, afirma que os instrumentos econômicos são mais apropriados aos mercados compe-
titivos e estes mais apropriados para promoverem o desenvolvimento sustentável, pois
nesses mercados os preços refletem os custos dos recursos ambientais. Esse autor afirma
que "[...] a competição, inerente aos mercados abertos, é a força propulsora para a cria-
ção de uma nova tecnologia, necessária para se usar os recursos com mais eficiência e,
consequentemente, reduzir a poluição". Ainda segundo Schmidheiny, os instrumentos
de comando e controle, na medida em que implicam adesão às exigências específicas do

9 P A R L A M E N T O E U R O P E U E C O N S E L H O DA C O M U N I D A D E E U R O P E I A . Diretiva 2 0 0 4 / 1 8 C F de
30/03/2004. Disponível em: <http://europa.eu.int/comm/environment/gpp>.
10 Programa de compras ambientais do Estado de São Paulo. Disponível em: <www.ambiente.sp.gov.br>.
Poder Público, tendem a perpetuar uma dada situação em vez de induzir a sua melhoria
constante 11 . Note a semelhança desses posicionamentos com os argumentos cornuco-
pianos comentados no Capítulo 1.
De acordo com um documento da Comissão Econômica para a América Latina
(Cepal), os incentivos econômicos seriam mais eficientes que os instrumentos de co-
mando e controle para se alcançar objetivos ambientais, pois geram custos menores do
que estes para as empresas. Mais ainda, os instrumentos econômicos proporcionam
estímulos permanentes para que as empresas deixem de gerar poluição, ao passo que
os de comando e controle, uma vez que tenham alcançado os níveis estipulados pelas
normas regulamentadoras, as empresas relaxariam seus esforços para reduzir a polui-
ção continuamente. Assim, os instrumentos econômicos contribuiriam também para
estimular as atividades de P & D , pois induziriam as empresas a persistir em seu empe-
nho de minimizar a geração de poluição por meio de novas tecnologias 12 . Outras van-
tagens associadas a esses instrumentos são a flexibilidade e a seletividade. Quanto aos
tributos ambientais, sua grande vantagem é a de trazer receita para os governos inves-
tirem no meio ambiente, evitando, com isso, que os gastos decorrentes da degradação
ambiental produzida por indivíduos e organizações sejam socializados.
Na prática essas vantagens nem sempre são observadas. Não é fácil estabelecer tri-
butos que se transformem em incentivos para mudar o comportamento de empresá-
rios e consumidores; se eles forem elevados, podem inviabilizar os negócios, se forem
baixos, não provocam as mudanças esperadas. Além disso, para que os tributos sejam
justos e eficazes, eles devem ser estabelecidos de acordo com as características específi-
cas de cada setor econômico. Desse modo, sua aplicação não seria tão simples e barata
como alegam seus defensores. No caso de tributos sobre produtos, nem sempre o adi-
cional de preço reduz sua demanda se esta for inelástica, como os derivados de petró-
leo em um país dependente de transporte rodoviário ou com sérias deficiências nos
sistemas de transportes coletivos. Outra crítica a esse instrumento vem do fato de que
eles acabam tendo uma função muito mais arrecadadora do que estimuladora de com-
portamentos ambientais desejáveis. Quanto aos subsídios, eles são criticados pelo fato
de serem inconsistentes com o princípio do poluidor-pagador, pois representam a con-
cessão de prêmios aos poluidores.

Opiniões a favor dos instrumentos de comando e controle também não faltam. A


ausência de estímulo para melhorar o desempenho ambiental após atender aos padrões

11 S C H M I D H E I N Y , S „ 1992. p. 14-15 e 20.


12 CEPAL, 1995. p. 37.
de controle é um argumento válido apenas nos casos em que esses parâmetros perma-
neçam inalterados por longos períodos. Segundo Porter e Linde, regulamentações am-
bientais adequadas podem estimular o surgimento de inovações que reduzem os custos
ambientais e permitem o uso mais eficiente de recursos, contrariando a visão predomi-
nante que proclama a existência de um antagonismo irreconciliável entre economia
versus ecologia. O problema não é a regulamentação em si, mas o modo como ela é
formulada. Para esses autores, a regulamentação é necessária porque:

a) cria pressões que motivam a realização de inovações pelas empresas;


b) melhora a qualidade ambiental quando a inovação não compensa o custo total
da conformidade;

c) educa e alerta a empresa a respeito de ineficiências prováveis e de áreas poten-


ciais para melhorias;
d) aumenta a probabilidade de as inovações de produtos e processos serem mais
amigáveis ao meio ambiente;

e) cria demanda pelo aprimoramento ambiental, até que as empresas e os clien-


tes sejam capazes de perceber e mensurar a ineficiência dos recursos c o m o
fonte de poluição; e

f) ajuda a nivelar o campo do jogo durante o período de transição, assegurando


que n e n h u m a empresa será capaz de ganhar posição por não efetuar os inves-
timentos ambientais 1 3 .

Porter colocou lenha na fogueira do debate sobre a eficácia dos instrumentos de gestão
ambiental ao defender a idéia de que uma regulamentação ambiental pública rigorosa
pode se tomar uma vantagem competitiva para a empresa e para o país. Foi uma espécie de
voz dissonante em um cenário político e empresarial marcado pelo triunfalismo que veio
com o fim do muro de Berlim e da União Soviética, quando tudo o que vinha do Estado
era visto como menos eficiente do que os instrumentos de mercado. Na opinião de Porter,
uma regulamentação pública ambiental rigorosa estimula as empresas a adotarem posturas
inovadoras ofensivas, fato que contribui para gerar um mercado internacional para as suas
tecnologias. E m outras palavras, a proteção ambiental, via instrumento de comando e con-
trole, pode ser um importante fator de competitividade das empresas e dos países14.

A explicação para esse fato já estava presente em outra obra de Porter sobre a compe-
titividade das nações. Entre os fatores que condicionam a competitividade de uma nação

" P O R T E R , M. E. ; L I N D E , C . Van Der., 1999. p. 384-385.


14 P O R T E R , M. E „ v. 264, n. 4, abr. 1991.
estão as condições da demanda interna que podem contribuir para determinar as ten-
dências e as características das inovações tecnológicas a serem realizadas pelas empresas
ali instaladas. As empresas adquirem vantagens competitivas internacionais se os seus
compradores internos forem mais exigentes e sofisticados que os dos demais países e se
essas exigências se tornarem precursoras das necessidades destes últimos. Exigências e
sofisticações que não se universalizam, ao contrário, enfraquecem a competitividade. No
raciocínio de Porter, uma legislação ambiental rigorosa cumpriria essa condição de de-
manda interna favorável à competitividade em termos mundiais, pois as questões am-
bientais são de natureza planetária 15 .

Na realidade não há como prescindir desses dois tipos de instrumentos. Uma política
ambiental consistente deve se valer de todos os instrumentos possíveis e estar atenta aos
efeitos sobre a competitividade das empresas. Deve ser eficiente para prevenir danos am-
bientais sem, no entanto, prejudicar a competitividade das empresas, principalmente
quando elas atuam em mercados externos. E necessário impedir a degradação ambiental
emergente por meio de instrumentos de comando e controle, incluindo medidas adminis-
trativas e judiciais. Sem esses instrumentos a Terra provavelmente já estaria inabitável. Os
mecanismos econômicos, ao atuar sobre a estrutura de custo e benefício das empresas,
incentivam a adoção contínua de soluções que atentem para as causas dos problemas
ambientais. No longo prazo, a educação ambiental e o desenvolvimento científico e tecno-
lógico deverão dar as melhores contribuições para a melhoria das práticas empresariais.

O papel das inovações tecnológicas


Inovação é a implementação de idéias e soluções nos ambientes produtivos e so-
ciais que se materializam em produtos, processos e métodos de gestão, novos ou modi-
ficados. Nas inovações ambientais esses produtos, processos e métodos de gestão são
concebidos com o objetivo de reparar, reduzir ou evitar a degradação ambiental. São
exemplos os equipamentos para captar e tratar poluentes ao final de um processo pro-
dutivo; os produtos e métodos para recuperar solos degradados e corpos d'água conta-
minados; os processos para reciclar materiais utilizados; os processos que reduzem o
consumo de energia; os processos de gestão de resíduos e os bens e serviços ambientaí-
mente preferíveis, citados no Quadro 1.2.
São os avanços no campo da ciência e tecnologia que irão possibilitar o surgimen-
to de novos produtos, processos e métodos de gestão que aumentem constantemente
a eficiência dos recursos produtivos e reduzam os níveis de emissão. No entanto, é

P O R T E R , M. E., 1990. p. 68.


preciso considerar que as alternativas tecnológicas são limitadas aos padrões do setor
de atuação da empresa, de modo que as escolhas dos empresários também são restritas.
U m processo de inovação, considerado de maneira concreta, depende das característi-
cas do setor, das oportunidades tecnológicas existentes e percebidas, da acumulação
anterior de conhecimentos e de muitos outros fatores internos e externos à empresa.
Dosi estudou essa questão usando o conceito de paradigma científico de Kuhn,
segundo o qual um paradigma científico define os problemas relevantes, o modelo e o
padrão de solução de problemas 16 . Para ele, um paradigma tecnológico é um modelo e
um padrão de solução de problemas tecnológicos selecionados, baseados em princí-
pios selecionados derivados das ciências naturais e das tecnologias materiais 17 . Assim
como na obra de Kuhn o conceito de ciência normal decorre das escolhas dentro do
paradigma científico, o conceito de trajetória tecnológica é definido como o padrão de
atividades para a solução de problemas normais definidos pelo paradigma tecnológico.
Esse autor define trajetória tecnológica como a atividade de progresso técnico ao longo
das escolhas (trade-offs) econômicas e tecnológicas definidas pelo paradigma 18 .
O surgimento de um novo paradigma traz novas oportunidades técnicas que po-
dem ser exploradas por diferentes trajetórias, porém quando um paradigma já se con-
solidou, as trajetórias são limitadas, tanto pela diminuição de oportunidades técnicas,
quanto pela acumulação de conhecimentos e ativos resultantes das escolhas feitas no
passado. Assim, o que uma empresa poderá fazer no futuro está fortemente condicio-
nado pelo que ela foi capaz de fazer no passado. Daí porque diferentes empresas, bem
como diferentes setores apresentam diversas possibilidades de trajetória 19 . Por isso, é
questionável o papel dos tributos como elemento para induzir a escolha de melhores
tecnologias em curto prazo. Os mecanismos de comando e controle podem dar melho-
res resultados, principalmente se levarem em conta as diferenças setoriais, pois setores
diferentes possuem paradigmas e trajetórias tecnológicas diferentes.

Os instrumentos de políticas públicas para o desenvolvimento da ciência e tecno-


logia são importantes instrumentos implícitos de política ambiental. Essas duas políti-
cas se relacionam de maneira recíproca, embora as relações entre elas não sejam nem
diretas nem automáticas. Incentivar a realização de projetos para o desenvolvimento
de tecnologias ambientalmente saudáveis é fundamental, mas é necessário criar
instrumentos que incentivem a adoção das soluções encontradas. U m a nova solução

K U H N , T. S , 1994. p. 60.
D O S I , G , 1982. p. 152.
D O S I , G , 1988. p. 224-225.
Ibid., p. 225.
pode não estar disponível para as demais empresas, caso ela forneça diferenciais com-
petitivos muito importantes para a empresa que a desenvolveu. Mas mesmo que esti-
vesse disponível, nem todas as empresas possuem os recursos necessários para adotar
essa nova solução. Vistos sob este ângulo, os subsídios podem cumprir um papel im-
portante para promover a difusão das melhores tecnologias.

A educação ambiental
U m a política pública ambiental deve contemplar a educação ambiental c o m o um
de seus instrumentos. A Conferência das Nações Unidas sobre o M e i o A m b i e n t e Hu-
m a n o realizada em Estocolmo, em 1972, comentada n o Capítulo 2, atribuiu atenção
especial a esse instrumento de política pública, com o objetivo de preparar o ser huma-
n o para viver em harmonia com o meio ambiente. A partir de então a educação am-
biental passou a ser considerada em praticamente todos os fóruns relacionados à
temática do desenvolvimento e meio ambiente. Em um desses fóruns foi aprovada a
Carta de Belgrado, que contém metas, objetivos e diretrizes para estruturar um progra-
ma de educação ambiental em diferentes níveis, nacional, regional ou local, em conso-
nância com uma proposta socioambiental. A meta da educação ambiental é desenvolver
uma população mundial consciente e preocupada com o meio ambiente para atuar
individual e coletivamente na busca de soluções para os problemas atuais e para a
prevenção de novos problemas. Seus objetivos são os seguintes:

a) tornar os indivíduos e grupos conscientes e sensíveis em relação ao meio am-


biente e aos problemas ambientais;
b) proporcionar conhecimentos sobre o meio ambiente, principalmente quanto
às influências do ser humano e de suas atividades;

c) promover valores e sentimentos que motivem as pessoas e grupos a se torna-


rem participantes ativos na defesa do meio ambiente e na busca de soluções
para os problemas ambientais;
d) proporcionar as habilidades que uma participação ativa requer;

e) proporcionar condições para avaliar as medidas tomadas em relação ao meio


ambiente e aos programas de educação ambiental;
f) promover o senso de responsabilidade e de urgência com respeito às questões
ambientais que estimulem as ações voltadas para resolvê-las 20 .

20 U N E S C O ; P N U M A . Carta de Belgrado. Seminário Internacional sobre Educação Ambiental de 1975. Disponível


em: <http://www.mec.gov.br>.
De acordo com o Tratado de Educação Ambiental para Sociedades Sustentáveis e
Responsabilidade Global, a educação ambiental é entendida c o m o um processo de
aprendizado permanente, baseado no respeito a todas as formas de vida, que contribua
para a formação de uma sociedade justa e ecologicamente equilibrada 21 . A educação
ambiental deve estimular as pessoas a serem portadoras de soluções e não apenas de
denúncias, embora estas devam ser as primeiras atitudes diante dos desmandos socio-
ambientais. Deve também produzir mudanças nas suas próprias condutas, modifican-
do, por exemplo, seus hábitos de consumo.

C o m o os problemas socioambientais apresentam uma dimensão planetária, a educa-


ção ambiental deve assentar-se em uma nova ética universal. O relatório denominado
Nossa diversidade criadora, elaborado pela Comissão Mundial de Cultura e Desenvolvi-
mento, criada pela Unesco, em 1991, sugere que essa ética tenha como núcleo central as
seguintes preocupações morais: direitos humanos, democracia, proteção das minorias,
compromisso com a solução pacífica das controvérsias, equidade em cada geração e entre
gerações e um compromisso com o pluralismo cultural 22 . Dado que as questões sociais,
econômicas, políticas e culturais se entrelaçam com as ambientais, como várias vezes
mencionado neste livro, deveria se falar, na realidade, em educação socioambiental.

A eficácia dos instrumentos explícitos de política pública ambiental depende dos


instrumentos de outras políticas públicas. Se estes contribuírem favoravelmente para a
consecução dos objetivos dos instrumentos ambientais, podem ser considerados ins-
trumentos implícitos da política ambiental. Porém, com freqüência ocorre o contrário,
ou seja, a convivência conflituosa entre diversas políticas públicas. Por exemplo: uma
política agrícola voltada para a produtividade pode induzir o uso abusivo de água,
fertilizantes e agrotóxicos; a falta de uma política de transporte coletivo em grandes
centros urbanos neutraliza as políticas ambientais de controle da qualidade do ar;
subsidiar combustíveis fósseis para ampliar a oferta de energia elétrica pode inviabili-
zar a utilização de fontes renováveis de energia; uma política monetária baseada em
altas taxas de juros, ao penalizar o setor produtivo reduzindo suas margens e, portanto,
os fundos para investimentos, contribui negativamente para a atualização tecnológica
das empresas, obrigando-as a operarem com equipamentos e instalações obsoletos. A
falta de coerência e de interação entre os diversos instrumentos de políticas públicas
acaba se tornando um incentivo às práticas ambientais insustentáveis por parte de
muitos agentes privados.

21 O texto integral desse Tratado está disponível em diversas páginas da web, como em <http://www.preac.unicamp.br>.
22 U N E S C O / C O M I S S Ã O M U N D I A L DA C U L T U R A E D E S E N V O L V I M E N T O , 1997. p. 43-67.
A C O R D O S VOLUNTÁRIOS

Por meio de acordos voluntários as organizações privadas se comprometem a realizar


algum tipo de ação para melhorar seu desempenho ambiental. A O C D E os considera
uma ampla categoria de instrumentos de política ambiental, que podem ser de quatro
tipos: programas públicos de adesão voluntária, acordos negociados, acordos privados
que estabelecem comprometimentos bilaterais e iniciativas unilaterais 23 . Apenas os dois
primeiros podem ser entendidos como instrumentos de política pública e mesmo assim
não devem ser vistos como espécies diferentes de instrumentos, mas sim formas diferen-
tes de criar e implementar instrumentos de política ambiental explícita. O s acordos vo-
luntários, públicos ou privados, resultam do aperfeiçoamento das relações entre órgãos
públicos e agentes privados em relação às questões ambientais. O Quadro 3.2 apresenta
um resumo esquemático dos diversos tipos de acordos voluntários.

Acordos voluntários públicos


Os acordos voluntários públicos são contratos firmados entre um agente ambiental
governamental, representante do poder público nacional ou local, e uma empresa, grupo
de empresas ou entidade empresarial, com o objetivo de resolver problemas ambientais
específicos de modo colaborativo. O objeto do acordo pode referir-se ao modo de imple-
mentar medidas de comando e controle ou a algum tipo de auxílio do órgão governa-
mental, como o fornecimento de informações técnicas, treinamentos, vistorias e análises
técnicas gratuitas. Os acordos voluntários públicos podem ser de dois tipos: acordos de
adesão e acordos negociados. No primeiro caso, um órgão governamental cria um pro-
grama ambiental de adesão voluntária e a empresa que quiser aderir deve aceitar os ter-
mos do programa, que são válidos para todas as organizações de maneira indistinta.

U m exemplo de acordo de adesão é o programa Energy star, criado pelo governo


federal dos Estados Unidos, em 1991, por meio de sua agência ambiental (USEPA),
com o objetivo de promover o uso eficiente de energia elétrica e que confere um selo
para identificar e promover produtos que apresentem eficiência n o uso de energia,
segundo os critérios estabelecidos pelo programa 24 . Outro exemplo é o Eco Manage-
ment and Audit Scheme (Emas), um instrumento de participação voluntária estabelecido
pelo C o n s e l h o da Comunidade Econômica Européia com o objetivo de promover a
melhoria contínua no comportamento ambiental das empresas pela implementação
de um sistema de gestão ambiental e uma auditoria ambiental periódica. A empresa

23 O C D E , 1999. p. 15-16.
24 USEPA, 2 0 0 2 .
%.S Q u a d r o 3 . 2 A c o r d o s voluntários - t i p o s e e x e m p l o s .


3 o adesão
Públicos

Negociados
Acordos
voluntários"^

Comprometimentos
Iniciativas r
Privados -< bilaterais
individuais P r o m o v i d a s por g r u p o s d e
Iniciativas unilaterais -< e m p r e s a s ou e n t i d a d e s
empresariais
Iniciativas
coletivas

P r o m o v i d a s por e n t i d a d e s
independentes

Fonte: Adaptado e ampliado a partir de dados da OCDE, 1999.

que aderir a esse instrumento deve criar, gerir e auditar seu sistema de gestão ambien-
tal de acordo com os requisitos estabelecidos pela regulamentação comunitária.
Nos acordos voluntários negociados os comprometimentos são estabelecidos caso
a caso, conforme a empresa e sua situação em termos ambientais e econômicos. No
processo de negociação há barganhas de ambos os lados. A agência governamental
pode, por exemplo, suspender a cobrança de uma taxa ou aceitar um prazo maior para
a empresa que se ajustar a novos padrões. Acordos voluntários negociados têm sido
utilizados em diversos países para a redução de C 0 2 , S 0 2 , NO x , C F C s , POPs e outros
poluentes. Japão, Países Baixos, Alemanha, Estados Unidos, França, Itália e Dinamar-
ca estão entre os países onde a prática desses acordos está mais avançada, quer pelo
número de acordos realizados, quer pelo sucesso das iniciativas. O exemplo a seguir
mostra o funcionamento de um acordo desse tipo.

Os acordos públicos negociados são usados largamente nos Países Baixos como
meio para atingir objetivos estabelecidos em seu plano nacional de política ambiental.
Esse plano prevê a realização de acordos voluntários formais (covenants) entre o gover-
no e as empresas, com o objetivo de atingir metas de redução ou eliminação de cente-
nas de poluentes. Isso é feito em dois momentos. Primeiro, o governo firma um acordo
com uma entidade ou associação representativa de um setor, com o objetivo de estabe-
lecer um quadro de referência para enfrentar o problema de acordo com as caracterís-
ticas setoriais. Esse acordo não tem valor legal, é uma carta de princípios e de intenções
que resulta de um processo de consultas e debates públicos. N o segundo momento, o
governo e as empresas desse setor, individualmente consideradas, firmam um contrato
estabelecendo obrigações a serem cumpridas por ambas as partes e que tem valor legal
sob as leis civis do país. Esse contrato define com detalhes os objetivos de redução de
emissões que a empresa deve alcançar, conforme sua capacidade, os quais serão moni-
torados por um comitê público local 25 .
U m acordo voluntário público negociado é uma forma de implementar instru-
mentos econômicos e de comando e controle de modo flexível e que leve em conta as
características específicas de cada setor. A forma tradicional de estabelecer padrões de
emissões não faz distinção entre as empresas, todas são tratadas do mesmo modo inde-
pendentemente das diferenças entre elas. Os acordos voluntários negociados podem
estabelecer objetivos diferenciados em razão do tamanho da empresa, de sua situação
financeira, da idade dos equipamentos e do tipo de tecnologia adotado. Eles permitem
estabelecer o desempenho ambiental desejável por parte das empresas levando em
conta as limitações e oportunidades decorrentes dos paradigmas e trajetórias tecnoló-
gicas, conforme mostrado anteriormente.

Acordos voluntários de iniciativas empresariais


Nas últimas décadas surgiram diversas iniciativas empresariais de autorregulamen-
tação que podem ser encaradas como acordos voluntários entre as empresas e a socie-
dade. Esses acordos podem ser de dois tipos: iniciativas unilaterais e comprometimentos
bilaterais. Estes últimos são contratos firmados entre uma empresa ou um grupo de
empresas e os que sofrem algum prejuízo ou dano decorrente de suas emissões, como
trabalhadores e habitantes do local onde a fonte poluidora está situada, ou com seus
representantes, sindicatos e associações de moradores 26 . U m contrato coletivo de tra-
balho que inclua cláusulas ambientais é um acordo desse tipo. Acordos para encerrar
ações judiciais não são incluídos nessa categoria. A idéia é que a empresa se antecipe
ao problema mediante um acordo voluntário antes de chegar às barras dos tribunais.
As iniciativas privadas de caráter unilateral podem ser individuais ou coletivas. A
primeira se dá por meio de uma ação isolada de uma empresa que procura esponta-
neamente tratar dos problemas ambientais de modo mais rigoroso que o previsto pela
legislação à qual está sujeita. Qualquer medida empreendida voluntariamente por
uma empresa que faça mais do que o exigido pela legislação é uma iniciativa de autor-
regulamentação de caráter unilateral individual.

25 O C D E , 1999, p. 55-56.
26 I b i d , p. 16.
As iniciativas unilaterais privadas coletivas podem ser de dois tipos. U m deles é
constituído pelos acordos criados por um grupo de empresas, uma associação de em-
presas ou uma entidade que as representem. A definição dos objetivos e dos meios
para alcançá-los são determinados por elas mesmas, daí o caráter unilateral do acordo.
As empresas podem eventualmente delegar o monitoramento e a resolução de confli-
tos a uma terceira parte com o objetivo de reforçar a credibilidade do programa e a
efetividade de seu compromisso 2 7 . U m exemplo de iniciativa coletiva é o Responsible
care, um programa criado pela Canadian Chemical Manufacturers Association, em 1988,
adotado por mais de 5 0 países. A Associação Brasileira da Indústria Q u í m i c a (Abi-
quim) é a responsável pela implementação desse programa n o Brasil, onde é denomi-
nado Atuação responsável28.

O u t r o tipo de acordo unilateral coletivo é constituído pelas iniciativas de entida-


des independentes, c o m o a Câmara de Comércio Internacional ( I C C ) e a Internatio-
nal Organization for Standardization (ISO). Enquanto as iniciativas voluntárias
unilaterais do primeiro tipo envolvem questões específicas do setor ou do grupo de
empresas, esta última aborda questões de caráter geral que podem ser adotadas por
empresas de qualquer setor, tamanho e local. U m exemplo são as normas de gestão
ambiental criadas pela I S O . Outro exemplo é a iniciativa criada pela Society of Environ-
mental Toxicology and Chemistry (SETAC) e pelo P N U M A para estimular e difundir
conceitos e ferramentas para avaliar oportunidades, riscos e compensações ambientais
associadas a produtos e serviços ao longo das etapas do ciclo de vida 29 . Outros exem-
plos estão listados n o Quadro 3.3, na página seguinte. As iniciativas coletivas apresen-
tam-se c o m o programas ambientais, modelos de gestão ambiental, normas ambientais
de caráter voluntário, princípios de gestão e códigos de conduta. O Quadro 3 . 4 mostra
um exemplo de princípios de gestão de uma iniciativa privada coletiva.

Pelo menos n o nível da intenção, as iniciativas empresariais de autorregulamenta-


ção são apresentadas por seus promotores como instrumentos para alcançar a lideran-
ça na solução de questões ambientais mediante uma relação do tipo ganha-ganha entre
empresa e meio ambiente. Porém, essas iniciativas despertam a desconfiança de mui-
tos ambientalistas. Há quem sustente que elas buscam adiantar-se às normas legais
apenas para indicar os rumos que estas deverão tomar n o futuro e, com isso, neutrali-
zar as propostas mais rigorosas ou que contrariem os interesses empresariais. Muitos
veem nelas uma escalada das propostas neoliberais que postulam uma diminuição da

27
O C D E , 1999. p. 16.
28
A B I Q U I M , 2010.
29
UNEP, 2007.
O Q u a d r o 3.3 Iniciativas voluntárias unilaterais coletivas - exemplos.

ENTIDADE SEDE PRÁTICAS RECOMENDADAS

Associação Brasileira da Indústria


São Paulo Programa Atuação Responsável
Química (Abiquim)

Associação Japonesa da Indústria


Tóquio Plano de Ação Ambiental Voluntário
Química (JCIA)

Câmara de Comércio Internacional Carta de Princípios, Auditoria Ambiental e Código de


Paris
(ICC) Publicidade Ambiental

Ceres Boston Princípios Ceres (ex-Princípios Valdez)

Compromisso Empresarial para a Apoio a programas de coleta seletiva, reciclagem e


São Paulo
Reciclagem (Cempre) valorização de material reciclado e avaliação do ciclo de vida

Conselho Europeu da Indústria


Bruxelas Programa Voluntário de Eficiência Energética
Química (CEFIC)

Global Reporting Initiative(GRI) Amsterdã Relatórios de sustentabilidade

Greenpeace Amsterdã Produção Limpa (Clean Production)

International Organization for


Genebra Normas da Série ISO 14000 e Norma ISO 26000
Standardization (ISO)

ONUDI/UNIDO Viena Produção mais limpa

International Hotels Environment Initiative.


Programa das Nações Unidas para o
Nairobi Insurance Industry Initiative for the Environment
Meio Ambiente (PNUMA)
Princípios para investimentos responsáveis

Society of Environmental Toxicology


Bruxelas Life Cicle Initiative
and Chemistry (Setac) e PNUMA

The Global Environmental


Washington Total Quality Environmental Management (TQEM)
Management Initiative (Gemi)

The Natural Step Foundation Estocolmo Sistemas de condições para sustentabilidade

WBCSD Genebra Promoção da Ecoeficiência

Zero Emissions Research and Initiative


Genebra Emissões zero
(Zeri)

intervenção estatal na ordem econômica e social. Outros entendem que essas iniciati-
vas constituem mais um lance de publicidade do que um compromisso efetivo com o
meio ambiente. Também tem havido queixas de empresários alegando que esses pro-
gramas foram desenhados apenas para grandes empresas. A adesão a programas de
autorregulamentação de empresas responsáveis por acidentes ambientais de grandes
O Q u a d r o 3.4 Princípios Ceres (ex-Princípios Valdez).
Os Princípios Ceres denominavam-se inicialmente Princípios Valdez devido ao acidente ambiental de grande proporção na Baía
de Valdez, no Alasca, produzido pela Exxon, em 1989. Sua formulação e administração devem-se à Coalition for Environmentally
Responsible Economies, hoje denominada Investors and Environmentalists for Sustainable Prosperity, uma organização sediada
em Boston e formada por bancos, fundos de pensão, sindicatos, como a central sindical AFL-CIO, grupos religiosos como a Igreja
Batista Americana e entidades ambientalistas como o Sierra Club. Qualquer empresa, independentemente de seu porte, pode
adotar os Princípios Ceres, um código de conduta para lidar com as questões ambientais a partir de uma dimensão planetária
envolvendo a proteção à biosfera e o uso sustentável dos recursos. Os Princípios Ceres são os seguintes:

1. Proteção da biosfera.
2. Uso sustentável dos recursos naturais.
3. Redução dos resíduos e, sempre que possível, eliminação direta na fonte e reciclagem. Adoção de métodos seguros para
o despejo de resíduos.
4. Conservação e uso prudente da energia.
5. Redução ao mínimo dos riscos à saúde e ao meio ambiente para nossos empregados e para a comunidade.
6. Produção e comercialização de produtos seguros.
7. Compensação por danos causados ao meio ambiente e esforços para recuperar o meio ambiente afetado.
8. Informação aos empregados e ao público sobre operações e produtos que afetem o meio ambiente ou constituam riscos.
9. Compromisso da administração.
10. Auditoria e relatórios. Realização de uma autoavaliação anual sobre a aplicação desses princípios. Realização de
auditorias ambientais.

Esses princípios estabelecem uma ética ambiental com critérios pelos quais investidores e outros possam avaliar o
desempenho ambiental das empresas. As empresas que endossam esses princípios se comprometem a ir além das exigências
legais voluntariamente. Esses princípios não têm por objetivo criar novas responsabilidades legais, ampliar os direitos ou
obrigações existentes, renunciar à defesa de direitos ou da situação legal de qualquer empresa signatária e tampouco devem
ser usados contra outra empresa signatária em qualquer procedimento legal, para qualquer propósito.
Os Princípios Ceres foram adotados por muitas empresas, dentre elas a American Airlines, Body Shop, Coca-Cola, Ford, GM e
Nike. A Ceres prove auxílio às empresas que se comprometem com os seus princípios e estas devem realizar auditorias e
elaborar relatórios de acordo com modelos padronizados.

Fonte: CERES. Disponível em: <http://www.ceres.org>. Acesso em: 23 jun. 2010.

proporções ou produtoras de bens causadores de dependências tem sido apontada por


muitos grupos ambientalistas como indício de falta de seriedade dessas iniciativas.
Outra crítica decorre do fato de que muitas empresas que aderiram a esses progra-
mas possuem dois pesos e duas medidas, isto é, seus estabelecimentos ou filiais apresen-
tam diferentes desempenhos ambientais conforme as características da regulamentação
pública dos países onde se situam. O u seja, certas empresas adotam um comportamen-
to ambiental exemplar apenas onde a legislação e a sociedade são exigentes e empurram
as atividades sujas ou degradadoras para outros locais onde são toleradas, configurando
uma política do tipo Não em meu quintal, conhecida pela sigla Nimby (do inglês: Not In
My Backyard). Para muitos, é a regulamentação pública que de fato importa, pois é ela
que fornece os limites de atuação da empresa. Em suma, as iniciativas de autorregula-
mentação ensejam diversas questões polêmicas quanto às suas intenções e à eficácia na
solução dos problemas ambientais. Apesar do mau uso que muitas empresas podem
fazer das suas próprias iniciativas, elas constituem uma fonte importante de propostas
para a gestão ambiental empresarial, como exposto no capítulo seguinte.

P O L Í T I C A PÚBLICA AMBIENTAL BRASILEIRA

O Poder Público n o Brasil começa a se preocupar com o meio ambiente na déca-


da de 1930. Não que antes não houvesse nada a esse respeito, mas as poucas iniciati-
vas que existiam até então, além de pouco significativas em termos práticos, se
alcançavam algum efeito sobre o meio ambiente era pela via indireta, quase sempre
subalterna a outros interesses. Por exemplo: as ordenações portuguesas que proibiram
o corte do pau-brasil não podem ser vistas como leis ambientais, pois seu objetivo era
assegurar o m o n o p ó l i o das madeiras de tinturaria estabelecido pela C o r o a Portugue-
sa em 1 5 0 2 , propósito que perdurou até depois da Independência do Brasil. 3 0 Essas
ordenações diferiram muito das medidas criadas na Europa nos séculos X V I I para
proteger os remanescentes de florestas nativas e promover seu replantio, consideradas
o início dos processos de gestão ambiental 3 1 . A criação do Jardim B o t â n i c o n o R i o de
Janeiro, em 1810, também não pode ser considerada uma iniciativa ambiental. O s
jardins botânicos criados a partir do século X V I decorrem de uma preocupação dos
biólogos viajantes com a pura proteção das espécies aclimatadas32. O que ocorreu por
aqui não foi muito diferente, pois o objetivo inicial de D . João V I foi utilizar o Jardim
B o t â n i c o para o cultivo de especiarias das índias Orientais e da Ásia para suprir o
mercado português 3 3 .

Até o início do século X X , o campo político e institucional brasileiro não se sensi-


bilizava c o m os problemas ambientais, embora não faltassem problemas e n e m vozes
que os apontassem. A abundância de terras férteis e de outros recursos naturais, enal-
tecida desde a carta de C a m i n h a ao rei de Portugal, tornou-se uma espécie de dogma
que impedia enxergar a destruição que vinha ocorrendo desde os primeiros anos da
colonização. A degradação de uma área não era considerada um problema ambiental
pela classe política, pois sempre havia outras a ocupar com o trabalho escravo. As de-
núncias sobre o mau uso dos recursos naturais não encontravam ecos na esfera política
dessa época, embora muitos denunciantes fossem políticos ilustres, c o m o José Bonifá-
cio, Joaquim Nabuco e André Rebouças. Nenhuma legislação explicitamente ambien-
tal teve origem nas muitas denúncias desses políticos, que podem ser considerados os

S I M O N S E N , R. C., 1969. p. 63.


A C O T , P., 1990. p. 132-3.
Ibid., 1990, p. 133.
C A S T R O , P. E , 1988. p. 109-110.
precursores dos movimentos ambientalistas nacionais, e que já nas suas origens apre-
sentavam uma tônica socioambiental dada pela luta contra a escravatura, a monocul-
tura e o latifúndio.

Somente quando o Brasil começa a dar passos firmes em direção à industrialização


inicia-se o esboço de uma política ambiental. A adesão do Brasil aos acordos ambien-
tais multilaterais das primeiras décadas do século X X , citados n o Anexo 1, praticamen-
te não gerou n e n h u m a repercussão digna de nota na ordem interna do país. T o m a n d o
como critério a eficácia da ação pública e não apenas a geração de leis, pode-se apontar
a década de 1930 c o m o o início de uma política ambiental efetiva.

U m a data de referência é o ano de 1934, quando foram promulgados os seguintes


documentos relativos à gestão de recursos naturais: Código de Caça e Pesca 34 , Código
Florestal 35 , Código de Minas 36 e Código de Águas37. Outras iniciativas governamentais
importantes desse período foram: a criação do Parque Nacional de Itatiaia, o primeiro do
Brasil 38 e a organização do patrimônio histórico e artístico nacional 39 . As políticas públi-
cas dessa primeira fase procuram alcançar efeitos sobre os recursos naturais por meio de
gestões setoriais (água, florestas, mineração etc.), para as quais foram criados órgãos espe-
cíficos, como o Departamento Nacional de Recursos Minerais, Departamento Nacional
de Água e Energia Elétrica, entre outros. Os problemas relativos à poluição só seriam
sentidos em meados da década de 1960, quando o processo de industrialização já havia
se consolidado. Até meados da década de 1970 a poluição industrial ainda era vista como
sinal de progresso e por isso muito bem-vinda para muitos políticos e cidadãos.

A segunda fase da política pública ambiental tem início com a Conferência de Esto-
colmo de 1972, quando as preocupações ambientais se tornam mais intensas, embora
nessa ocasião o governo militar brasileiro não tenha reconhecido a gravidade dos proble-
mas ambientais e defendeu sua idéia de desenvolvimento econômico, na verdade um mal
desenvolvimento em razão da ausência de preocupações com o meio ambiente e a distribui-
ção de renda. Porém, os estragos ambientais mais do que evidentes e a colocação dos

BRASIL. Decreto 23.672, de 02 de janeiro de 1934. Aprova o Código de Caça e Pesca. Rio de Janeiro: D O U de
15/01/1934.
B R A S I L . Decreto 2 3 . 7 9 3 , de 23 de janeiro de 1934. Aprova o Código Florestal que com este baixa. Rio de Janei-
ro, D O U de 11/02/1934.
BRASIL. Decreto 24.642, de 10 de junho de 1934. Decreta o Código de Minas. Rio de Janeiro: D O U de
24/09/1934.
B R A S I L . Decreto 24.643, de 10 de julho de 1934. Decreta o Código de Águas. Rio de Janeiro: D O U de
20/07/1934.
BRASIL. Decreto 1.713 de 14 de julho de 1937. Cria o Parque Nacional de Itatiaia. Rio de Janeiro: D O U de
18/07/1937.
BRASIL. Decreto-Lei 25, de 30 de novembro de 1937. Organiza a proteção do patrimônio histórico e artístico
nacional. Rio de Janeiro: D O U de 06/12/1937.
problemas ambientais em dimensões planetárias exigiram do Poder Público uma nova
postura. E m 1973, o Executivo Federal cria a Secretaria Especial do Meio Ambiente e
diversos estados criam suas agências ambientais especializadas, como a Cetesb, n o estado
de São Paulo, em 1973, e a Feema, em 1975, no Estado do Rio de Janeiro.

A legislação federal sobre matéria ambiental nessa segunda fase procurava atender
problemas específicos, dentro de uma abordagem segmentada do meio ambiente. O s
problemas ambientais eram percebidos e tratados de modo isolado e localizado, repar-
tindo o meio ambiente em solo, ar e água, e mantendo a divisão dos recursos naturais:
água, florestas, recursos minerais e outros. Só no início da década de 1 9 8 0 é que pas-
sariam a ser considerados problemas generalizados e interdependentes que deveriam
ser tratados mediante políticas integradas.

A Política Nacional do Meio Ambiente


A Lei 6 . 9 3 8 de 31 de agosto de 1981, que estabeleceu a Política N a c i o n a l do
M e i o A m b i e n t e , dá início à terceira fase. Ela representa uma m u d a n ç a importante
n o t r a t a m e n t o das questões ambientais, na medida em que procura integrar as
ações governamentais dentro de uma abordagem sistêmica. Essa lei tem por objeti-
vo a preservação, melhoria e recuperação da qualidade ambiental propícia à vida,
visando assegurar condições de desenvolvimento s o c i o e c o n ô m i c o , os interesses da
segurança n a c i o n a l e a proteção da dignidade humana 4 0 . O meio a m b i e n t e é consi-
derado u m p a t r i m ô n i o público e deve ser protegido tendo em vista o uso coletivo.
C o m isso, retira-se do meio ambiente a característica de um recurso de livre acesso,
que é a origem da tragédia dos comuns, comentada n o capítulo anterior.

C o m a Lei 6 . 9 3 8 de 1981 foi instituído o Sistema N a c i o n a l do M e i o A m b i e n t e


(Sisnama), responsável pela proteção e melhoria do meio a m b i e n t e e constituído
por órgãos e entidades da U n i ã o , dos Estados, do Distrito Federal e dos municí-
pios, c o m o mostra o Q u a d r o 3 . 5 . Espelhando-se n o Sisnama, os estados criaram os
seus Sistemas Estaduais do M e i o A m b i e n t e para integrar as ações ambientais de
diferentes entidades públicas nesse âmbito de abrangência. O u t r a inovação impor-
tante foi o c o n c e i t o de responsabilidade objetiva do poluidor. Este fica obrigado,
independente de existência de culpa, a indenizar ou reparar os danos causados ao
meio ambiente e a terceiros afetados por suas atividades 41 . E m b o r a aprovada e m

40 BRASIL. Lei 6.938, de 31 de agosto de 1981. Dispõe sobre a Política Nacional do Meio
Ambiente, seus fins e mecanismos de formulação e aplicação e dá outras providências.
Brasília: D O U de 02/09/1981. art. 2a.
41 BRASIL. Lei 6.938, art. 14, § I o .
O Q u a d r o 3.5 S i s t e m a Nacional do Meio Ambiente (Sisnama) - componentes.

ÓRGÃO SUPERIOR

r-> Conselho de Governo que auxilia o presidente da República na formulação de políticas públicas.

ÓRGÃO CONSULTIVO E DELIBERATIVO


~ Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama), presidido pelo Ministro do Meio Ambiente; esse órgão analisa,
delibera e propõe diretrizes e normas sobre política ambiental.
ÓRGÃO CENTRAL
Ministério do Meio Ambiente, dos Recursos Hídricos e da Amazônia Legal (MMA); órgão responsável pelo
planejamento, coordenação, supervisão e controle da Política Nacional do Meio Ambiente.

ÓRGÃOS EXECUTORES
r + Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais (Ibama) e Instituto Chico Mendes de Conservação da
Biodiversidade. Autarquias vinculadas ao Ministério do Meio Ambiente que executam e fiscalizam a política ambiental
no âmbito federal.

ÓRGÃOS SECCIONAIS
** Órgãos ou entidades estaduais responsáveis pela execução de programas e projetos, e pelo controle e fiscalização de
atividades capazes de provocara degradação ambiental.

ÓRGÃOS LOCAIS
Órgãos ou entidades municipais responsáveis pelo controle e fiscalização dessas atividades, em suas respectivas
jurisdições.

Fonte: B R A S I L Lei 6.938/1981, art. 6 a e Decreto 99.274/1990, art. 3».

1981, sua implementação só deslanchou efetivamente ao final dessa década, princi-


palmente a partir da promulgação da Constituição da República Federativa do
Brasil de 1988.

Constituição da República Federativa do Brasil de 1988


A Constituição de 1988, doravante denominada Constituição Federal de 1988,
representou um avanço considerável em matéria ambiental. Ela estabeleceu a defesa
do meio ambiente como um dos princípios a serem observados para as atividades
econômicas em geral 42 e incorporou o conceito de desenvolvimento sustentável no
Capítulo VI, dedicado ao meio ambiente. Note que esse é um dos capítulos dedica-
dos à ordem social; como mostra o Quadro 3.6. De acordo com a Constituição,
"todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso co-
mum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e
à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras

42 BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil, 1988, art. 170, VI.


£j> Quadro 3.6 Constituição Federal de 1988 e Meio Ambiente.
Título VIII - Da Ordem Social
Capítulo VI - Do Meio Ambiente
Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia
qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e
futuras gerações.
§ 1-° Para assegurar a efetividade desse direito, incumbe ao Poder Público:

i. preservar e restaurar os processos ecológicos essenciais e prover o manejo ecológico das espécies e ecossistemas;
ii. preservar a diversidade e a integração do patrimônio genético do País e fiscalizar as entidades dedicadas à pesquisa
e manipulação de material genético;
iii. definir, em todas as unidades da Federação, espaços territoriais e seus componentes a serem especialmente
protegidos, sendo a alteração e a supressão permitidas somente através de lei, vedada qualquer utilização que
comprometa a integridade dos atributos que justifiquem sua proteção;
iv. exigir, na forma de lei, para a instalação de obra ou atividade potencialmente causadora de significativa degradação
do meio ambiente, estudo prévio de impacto ambiental, a que se dará publicidade;
v. controlar a produção, a comercialização e o emprego de técnicas, métodos e substâncias que comportem risco para a
vida, a qualidade de vida e o meio ambiente;
vi. promover a educação ambiental em todos os níveis de ensino e a conscientização pública para a preservação do meio
ambiente;
vii. proteger a fauna e a flora, vedadas, na forma da lei, as práticas que coloquem em risco sua função ecológica,
provoquem a extinção de espécies ou submetam os animais à crueldade.

§ 2 a - A q u e l e que explorar recursos minerais fica obrigado a recuperar o meio ambiente degradado, de acordo com solução
técnica exigida pelo órgão público competente, na forma da lei.
§ 3 a - A s condutas e atividades consideradas lesivas ao meio ambiente sujeitarão os infratores, pessoas físicas ou jurídicas,
a sanções penais e administrativas, independentemente da obrigação de reparar os danos causados.
§ 4 a - A floresta amazônica brasileira, a Mata Atlântica, a Serra do Mar, o Pantanal mato-grossense e a Zona Costeira são
patrimônio nacional, e sua utilização far-se-á, na forma da lei, dentro de condições que assegurem a preservação do
meio ambiente, inclusive quanto ao uso dos recursos naturais.
§ 5 a - São indisponíveis as terras devolutas ou arrecadadas pelos estados, por ações discriminatórias, necessárias à proteção
dos ecossistemas naturais.
§ 6 a - A s usinas que operem com reator nuclear deverão ter sua localização definida em lei federal, sem o que não poderão
ser instaladas.

Fonte: BRASIL, Lei 6.938/1981, art. 6 a e Decreto 99.274/1990, art. 3".

gerações" 4 3 . A redação desse artigo foi profundamente influenciada pelo relatório da


C M M A D , Nosso futuro comum44, divulgado em 1987, período em que o Congresso
Nacional elaborava a Constituição Federal de 1988. Por isso, pode-se afirmar que se
trata de uma constituição socioambiental.

Além de um capítulo específico para o meio ambiente, a atual Constituição Federal


ampliou os mecanismos de defesa, conferindo a qualquer cidadão o direito de propor
ação popular para proteger o meio ambiente e o patrimônio histórico e cultural 45 , e a

43
BRASIL. Constituição Federal, 1988, art. 225, caput.
44
C M M A D , 1991.
45
B R A S I L . Constituição Federal, 1988, art. 5 o , LXXIII.
autonomia do Ministério Público na defesa de questões socioambientais 46 . Muitos tex-
tos legais anteriores à Constituição de 1988 foram recepcionados por ela, entre eles a
citada Lei 6.938/1981 e a Lei 7.347 de 24/07/1985, o que conferiu maior eficácia à
proteção do meio ambiente e a outros direitos difusos mediante ação civil pública de
responsabilidade por danos causados ao meio ambiente, ao consumidor, a bens e direi-
tos de valor artísticos, estéticos, históricos e paisagísticos. Outras inovações importan-
tes: estabeleceu uma distribuição melhor da competência para legislar sobre matéria
ambiental entre os entes da federação brasileira; estabeleceu o respeito ao meio ambien-
te e o aproveitamento racional dos recursos como um dos requisitos para caracterizar a
função social da propriedade rural; incluiu os sítios ecológicos como elementos do pa-
trimônio cultural; e estabeleceu disposições em defesa de grupos vulneráveis, como
povos indígenas, crianças, idosos e deficientes físicos.

Instrumentos de política pública


De acordo com a Lei 6.938/1981, são instrumentos da Política Nacional do Meio
Ambiente:

I. o estabelecimento de padrões de qualidade ambiental;


II. o zoneamento ambiental;
III. a avaliação de impactos ambientais;
IV. o licenciamento e a revisão de atividades efetivas ou potencialmente poluidoras;
V. os incentivos à produção e instalação de equipamentos e a criação ou absor-
ção de tecnologia, voltados para a melhoria da qualidade ambiental;
VI. a criação de espaços territoriais especialmente protegidos pelo Poder Público
federal, estadual e municipal;
VII. o sistema nacional de informações sobre o meio ambiente;
VIII. o Cadastro Técnico Federal de Atividades e instrumentos de defesa ambiental;
IX. as penalidades disciplinares ou compensatórias ao não cumprimento das me-
didas necessárias à preservação ou correção da degradação ambiental;
X. a instituição do Relatório de Qualidade do Meio Ambiente a ser divulgado
anualmente pelo Ibama;
XI. a garantia da prestação de informações relativas ao meio ambiente, obrigando-
-se o poder público a produzi-las, quando inexistentes;

16 BRASIL. Constituição Federal, 1988, art. 129.


XII. o Cadastro Técnico Federal de atividades potencialmente poluidoras e/ou
utilizadoras de recursos ambientais;
XIII. instrumentos econômicos, como concessão florestal, servidão ambiental, se-
guro ambiental e outros 47 .

Segundo a tipologia de instrumento de política ambiental apresentada no início


deste capítulo, os instrumentos I, II, III, IV, VI e IX são tipicamente de comando e
controle; os instrumentos VII, VIII, X, XI e XII são de caráter administrativo ligados
às atividades dos próprios agentes públicos; o V e XIII são instrumentos econômicos
que podem se efetivar nas formas de incentivos fiscais, financiamentos subsidiados e
outros benefícios transferidos aos particulares. O u seja, os instrumentos de política
pública mais contemplados pela Lei 6.938/1981 são os de comando e controle e os
administrativos ligados às atividades dos agentes públicos.
Embora os tributos ambientais não estejam expressamente citados na Lei
6.938/1981, nem na Constituição Federal de 1988, há várias modalidades desses ins-
trumentos, como mostram os seguintes exemplos:

cobrança de tarifa pelo lançamento de despejo industrial baseado nas caracte-


rísticas dos poluentes em diversos estados 48 ;
^ exclusão da cobrança do Imposto Territorial Rural (ITR) das áreas de matas
nativas, retirando-lhes o caráter de propriedade rural improdutiva;
* Taxa de Controle e Fiscalização Ambiental (TCFA), cujo fato gerador é o exer-
cício do poder de polícia conferido ao Ibama para controle e fiscalização das
atividades potencialmente poluidoras e utilizadoras de recursos naturais 49 ;
~ cobrança pelo uso de recursos hídricos, conforme estabelece a Lei 9.433/1997,
que instituiu a Política Nacional de Recursos Hídricos.

Os instrumentos econômicos comentados no início deste capítulo representam


transferências de recursos do setor público para o privado e vice-versa. Porém, consi-
deram-se exemplos especiais desse tipo de instrumento as transferências entre entes
federados. É o caso das compensações financeiras feitas pelos estados aos municípios
que possuem espaços territoriais especialmente protegidos, pois estes teriam suas re-
ceitas fiscais diminuídas em razão das limitações impostas às atividades econômicas
nesses espaços. O Estado do Paraná, pioneiro nesse tipo de instrumento, atribui 5 %

47 BRASIL. Lei 6.938/1981, art. 9».


48 Veja, por exemplo: E S T A D O D O R I O D E J A N E I R O . Decreto 8.975 de 1986. Aprova o regulamento dos serviços
de controle, coleta e destinação final dos despejos industriais. Rio de Janeiro, 1986.
49 B R A S I L . Lei 10.165/2000.
do Imposto de Circulação de Mercadoria e Serviços (ICMS) para os municípios que
abriguem em seus territórios mananciais de abastecimento público e unidades de
conservação 50 . Da parcela do I C M S dos municípios paulistas, 0 , 5 % é destinado aos
que possuem tais espaços em seus limites territoriais, por exemplo, um parque estadu-
al ou qualquer outro tipo de unidade de conservação. A essa parcela dá-se o nome de
I C M S Verde ou Ecológico 51 . O Estado de Minas Gerais vai mais além da simples
compensação aos municípios que possuem unidades de conservação, pois estabelece
uma distribuição de recursos que leva em conta a existência de sistemas de tratamen-
to de lixo ou de esgoto sanitário licenciado pelo órgão ambiental estadual 52 . Pernam-
buco, Rio Grande do Sul, Tocantins e Espírito Santo são outros estados que também
utilizam desse instrumento para compensar os municípios pela proteção ambiental.
Esse tipo de incentivo é uma forma de recompensa pela conservação de funções ou
serviços ambientais.

Merece destaque a Lei de Crimes Ambientais (Lei 9 . 6 0 5 de 1998), que estabe-


lece sanções administrativas e penais derivadas de condutas e atividades lesivas ao
meio ambiente. Essa lei amplia a tipificação dos crimes ambientais e consolida ou-
tros crimes que eram objetos de outras leis, como os códigos de caça, pesca e flores-
tal. U m a de suas maiores novidades, a responsabilidade penal das empresas, é a
regulamentação de um ditame constitucional, no caso, o § 3 a do art. 2 2 5 , como
pode ser visto no Quadro 3 . 6 (p. 99). Apesar das polêmicas acirradas entre os juris-
tas sobre a pessoa jurídica poder ou não praticar crimes, o fato é que os congressis-
tas constituintes de 1988 entenderam que ela pode delinquir, e se cometer delitos
estará sujeita às penas a estes cominadas, além de outras sanções no âmbito civil e
administrativo 5 3 .

A responsabilidade da pessoa jurídica não exclui a das pessoas físicas, autoras,


coautoras e partícipes do mesmo fato 54 . Além de multas, as pessoas jurídicas estão
sujeitas às penas restritivas de direitos e prestação de serviços à comunidade, que
podem ser aplicadas de maneira isolada, cumulativa ou alternada 55 . As penas

50 E S T A D O D O PARANÁ. Lei complementar 59, de 1° de outubro de 1991. Dispõe sobre a repartição de 5 % do


ICMS, a que alude o art. 2'-' da Lei 9.491/90, aos municípios com mananciais de abastecimento e unidades de
conservação ambiental. Curitiba, l ü de outubro de 1991.
51 E S T A D O D E S Ã O PAULO. Lei n» 8.510, de 29 de dezembro de 1993. Altera a Lei 3.201, de 23/12/1981, que
dispõe sobre a parcela pertencente aos municípios do produto da arrecadação do I C M S . São Paulo, 29/12/1993.
52 E S T A D O DE MINAS G E R A I S . Lei 12.040, de 28 de dezembro de 1995. Dispõe sobre a distribuição da parcela de
receita do produto da arrecadação do I C M S pertencentes aos municípios. Belo Horizonte, D O E de 29/12/1995.
53 B R A S I L . Lei 9 . 6 0 5 , de 12 de fevereiro de 1998. Dispõe sobre sanções penais e administrativas derivadas de con-
dutas e atividades lesivas ao meio ambiente e dá outras providências. Brasília: D O U de 13/02/1998.
51 B R A S I L . Lei 9 . 6 0 5 , art. 3U, parágrafo único.
55 BRASIL, Lei 9 . 6 0 5 , art. 21.
restritivas de direitos podem ser: suspensão parcial ou total de atividades; interdição
temporária de estabelecimento, obra ou atividade; e proibição de contratar cox-n o
Poder Público por um período de três anos, bem como dele obter subsídios, subven-
ções ou doações 5 6 .
Todos os incisos e parágrafos do artigo 225 da Constituição Federal estão regula-
dos por leis, algumas anteriores a ela, mas que foram por ela recepcionadas por não
colidirem com suas disposições e princípios. O Anexo 3 apresenta uma relação das
principais leis ordinárias sobre matéria ambiental. Freqüentemente, ouve-se dizer que
a legislação ambiental brasileira é muito boa, completa e avançada, o que falta é apli-
cação e fiscalização eficazes por parte dos órgãos governamentais encarregados de
executá-las. Afirmações como essas merecem reparos. De fato, o Brasil apresenta uma
legislação ambiental bastante extensa atualmente, mas centrada de modo enfático
sobre instrumentos de comando e controle. C o m o foi mostrado, a Política Nacional
do Meio Ambiente não apresenta um conjunto equilibrado de instrumentos públi-
cos. O peso excessivo nos instrumentos de comando e controle, comparativamente
aos econômicos, pode agir de modo contrário a um dos objetivos específicos dessa
política, a saber: o desenvolvimento de pesquisas e de tecnologias nacionais orienta-
das para o uso racional dos recursos naturais e a difusão de tecnologias de manejo do
meio ambiente 57 .

Os instrumentos de comando e controle são fundamentais, pois obrigam as em-


presas a adotarem providências para controlar a poluição, mas tendem a induzir um
comportamento acomodado após o cumprimento das exigências legais, caso estas
não sejam atualizadas com freqüência. Além disso, uma política centrada em instru-
mentos de regulamentação direta gera sobrecarga de trabalhos sobre os órgãos de
controle, que, mesmo quando bem aparelhados para cumprir suas funções, sempre
estarão aquém das necessidades de fiscalização. C o m o nenhum desses órgãos possui
o dom da ubiquidade, essa sobrecarga acaba estimulando soluções precárias e o des-
cumprimento das normas legais por parte das empresas menos comprometidas com
as questões ambientais. O fato de que muitas empresas relutem em incorporar as
melhores tecnologias ambientais pode ter origem nessa característica da política am-
biental brasileira, que aposta quase todas as suas fichas nos instrumentos de comando
e controle.

56 BRASIL, Lei 9.605, art. 22 e 72, § 8".


57 BRASIL, Lei 6.938/1981, art. 4 o ; IV e V.
Termos e conceitos importantes

<*> Acordos voluntários privados Padrões de qualidade ambiental


Acordos voluntários públicos Política Nacional do Meio Ambiente
~ Comando e controle Política pública ambiental
— Crimes ambientais Princípio do poluidor-pagador
r* Educação ambiental Responsabilidade expandida do produtor
Imposto pigouviano ~ Responsabilidade objetiva
Inovação tecnológica ambiental * Responsabilidade penal das empresas
~ Instrumentos econômicos Sistema Nacional do Meio Ambiente
Melhor tecnologia disponível (Sisnama)

Padrão de emissão ** Tributos ambientais

Ç i p Questões para revisão

1. Aponte dois exemplos de instrumentos de políticas ambientais públicas explícitas e dois


de política ambiental implícitas. Apresente também exemplos de políticas públicas em
diversas áreas, política monetária, agrícola, de energia, de transporte e outras conflitan-
tes com a política ambiental.

2. Apresente as diferentes formas de instrumentos de política pública ambiental baseada


em padrões. Cite exemplos de cada um deles.

3. Se um tributo ambiental não provocar mudança no comportamento do contribuinte, não


poderá ser considerado um tributo ambiental. Se o tributo só tem por objetivo arrecadar
recursos para o Estado não é um tributo ambiental. Discuta estas assertivas e apresente
sua opinião apoiada em argumentos convincentes.

4. A aplicação do princípio do poluidor-pagador nem sempre consegue produzir o efeito de-


sejado. Que efeitos são esses e em que situações esse princípio deixa a desejar?

5. Discuta as opiniões apresentadas neste capítulo sobre as vantagens e desvantagens dos


instrumentos de comando e controle e dos instrumentos econômicos.

6. Um dos grandes problemas da atualidade refere-se aos resíduos sólidos resultantes da


produção e consumo dos produtos industrializados. Afirma-se com freqüência que esse
problema, que hoje já é encarado como um problema de dimensão planetária, dificilmen-
te terá solução apenas com a adoção de instrumentos de comando e controle. Você
concorda com essa afirmação? Por quê? Que outros instrumentos de política pública
poderiam ser instituídos para enfrentar esse problema?
7. Quais os tipos de acordos voluntários que podem ser considerados instrumentos de po-
lítica pública ambiental? Cite exemplos.

8. Alguns autores consideram a legislação portuguesa para a proteção do pau-brasil ou a


criação do Jardim Botânico por D. João VI marcos iniciais da gestão ambiental pública no
Brasil. Neste livro não se concorda com isso. Qual foi o argumento usado para considerar
outro período como início da gestão ambiental pública e quais os objetivos dos primeiros
instrumentos de gestão?

9. Que argumentos são usados neste capítulo para sustentar a afirmação de que a atual
Constituição Federal adota uma postura socioambiental? Para ajudar na resposta desta
questão, consulte a própria Constituição.

10. A responsabilidade civil objetiva por danos ambientais e a responsabilidade penal das
pessoas jurídicas constam da atual legislação brasileira. Disserte sobre essas duas for-
mas de responsabilidade e indique que implicações elas geram para as empresas e
seus administradores.

Referências

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<www.energystar.gov>. Acesso em: 30 out. 2 0 0 2 .
GESTÃO AMBIENTAL EMPRESARIAL

A solução dos problemas ambientais, ou sua minimização, exige uma nova atitude
dos empresários e administradores, que devem passar a considerar o meio ambiente
em suas decisões e adotar concepções administrativas e tecnológicas que contribuam
para ampliar a capacidade de suporte do planeta. Em outras palavras, espera-se que as
empresas deixem de ser problemas e façam parte das soluções. A experiência mostra
que essa atitude dificilmente surge de maneira espontanea. C o m o mostra a Figura 4.1,
as preocupações ambientais dos empresários são influenciadas por três grandes con-
juntos de forças que interagem entre si: o governo, a sociedade e o mercado. Se não
houvesse pressões da sociedade e medidas governamentais não se observariam o cres-
cente envolvimento das empresas em matéria ambiental. As legislações ambientais re-
sultam da percepção de problemas ambientais por parte de segmentos da sociedade e
que pressionam os agentes estatais para vê-los solucionados.

O F i g u r a 4.1 Gestão ambiental empresarial - influências.


A freqüência com que se observa a aprovação de leis ambientais na atualidade
mostra que o tema entrou definitivamente na agenda dos políticos. As organizações da
sociedade civil que atuam nas áreas ambientais e sociais têm se tornado uma influên-
cia poderosa que se manifesta por meio de denúncias, da formação de opiniões peran-
te o grande público, de pressões políticas nas instâncias legislativas e executivas e de
cooperação com as empresas. O crescente envolvimento dessas organizações nas ques-
tões ambientais globais tem sido uma garantia de que as resoluções e recomendações
dos acordos ambientais não acabem esquecidas nas gavetas dos governantes. Muitas
iniciativas voluntárias privadas comentadas no capítulo anterior foram criadas e são
administradas por organizações da sociedade civil. Muitas delas desenvolveram mode-
los de gestão ambiental para as empresas e auxiliam sua implementação.

E m b o r a o mercado seja uma instituição da sociedade, suas influências são tantas


e tão específicas que merecem de ser consideradas à parte. As questões ambientais
passaram a ter impactos importantes sobre a competitividade dos países e de suas em-
presas. O dilema "economia ou meio ambiente" está relacionado a esse fato. As preo-
cupações com as harmonizações das legislações ambientais, comentadas n o Capítulo
2, devem-se aos profundos impactos das leis ambientais sobre a competitividade das
empresas 110 comércio internacional. A intensificação dos processos de abertura co-
mercial, expondo produtores com diferenças pronunciadas de custos ambientais e so-
ciais a uma competição mais acirrada e de âmbito mundial, tem sido uma poderosa
força indutora de regulamentação e autorregulamentação socioambientais. O s produ-
tores com custos sociais e ambientais baixos, devido a uma regulação frouxa ou ausen-
te, estariam praticando dumping social e ambiental, comparativamente aos que operam
sob legislações ambientais rigorosas.

O surgimento de iniciativas voluntárias de autorregulamentação se deve em gran-


de parte às dificuldades de proteção de mercados nacionais por meio de barreiras co-
merciais após o Tratado de Marrakesh, de 1994, que encerrou a Rodada Uruguai de
negociações comerciais multilaterais no âmbito do G A T T e criou a Organização Mun-
dial do Comércio ( O M C ) . U m a das conseqüências esperadas da adoção generalizada
dessas iniciativas é o nivelamento dos custos de produção entre empresas produtoras
de bens similares situadas em países diferentes, com exigências legais distintas referen-
tes às questões socioambientais.

Outro tipo de pressão vem dos investidores que procuram minimizar os riscos de
seus investimentos. A geração de passivos ambientais pelo não cumprimento da legis-
lação pode comprometer a rentabilidade futura de uma empresa, pois eles poderão ser
cobrados em alguma data futura, seja por acordos bilaterais voluntários, seja por meio
de ações judiciais. Essa possibilidade, por ser tão decisiva para os investimentos, levou
à criação de diversas iniciativas para informar aos investidores a situação da empresa
em relação a essas questões, como o Dow Jones Sustainability Indexes1. N o Brasil, a Bolsa
de Valores de São Paulo (Bovespa) lançou, em 2 0 0 5 , o índice de Sustentabilidade
Empresarial (ISE), com base em metodologia desenvolvida pela Fundação Getulio Var-
gas, que procura refletir o retorno de uma carteira composta por ações de empresas
com os melhores desempenhos em termos econômicos, sociais e ambientais, bem
como em governança corporativa 2 . Essas e outras iniciativas semelhantes têm por ob-
jetivo criar referências para os produtos financeiros baseados n o conceito de empresa
sustentável e medir seu desempenho.

Considerando o conceito de desenvolvimento sustentável apresentado n o Capítu-


lo 2, uma empresa sustentável é aquela que cria valor de longo prazo aos acionistas ou
proprietários e contribui para a solução dos problemas ambientais e sociais. Mais espe-
cificamente, os negócios ou empresas sustentáveis são as que:

satisfazem as necessidades atuais usando recursos de modo sustentável;


-> mantêm um equilíbrio em relação ao meio ambiente natural, com base em
tecnologias limpas, reúso, reciclagem ou renovação de recursos;
r* restauram qualquer dano por eles causado;
contribuem para solucionar problemas sociais em vez de exacerbá-los; e
-* geram renda suficiente para se sustentar 3 .

Existem diversas iniciativas voluntárias do setor financeiro que estabelecem crité-


rios ambientais para os tomadores de créditos, como a Iniciativa das Instituições Fi-
nanceiras promovida pelo P N U M A , que conta com a adesão de mais de uma centena
de bancos e seguradoras, muitas com atuação global. Para aderir à iniciativa, o banco
deve se comprometer com a aplicação do princípio da precaução, respeitar a legislação
ambiental nacional e local, bem como as resoluções dos acordos ambientais multilate-
rais que se aplicam às suas operações e serviços financeiros, independentemente do
fato de terem sido ratificadas ou não pelo governo do país onde atua 4 .

O setor de seguro tem exercido pressão para que as empresas melhorem seus desem-
penhos ambientais, uma vez que os sinistros ambientais podem atingir proporções

1 D O W J O N E S S U S T A I N A B I L I T Y INDEXES. Disponível em: <http://www.sustainabilitY-index.com/>.


2 B M F & BOVESPA. índice de Sustentabilidade Empresarial. Disponível em: <http://www.bmfbovespa.com.br>.
3 C R O S B I E , L.| K N I G H T , K., 1997. p. 250.
1 U N I T E D N A T I O N S E N V I R O N M E N T P R O G R A M (UNEP). Financial services initiatives. Disponível em:
<http://www.unepfi.org/>.
vultosas. As instituições signatárias da iniciativa voluntária promovida pelo P N U M A se
comprometem a fortalecer a atenção prestada aos riscos ambientais em suas atividades
básicas, que compreendem a gestão de risco, prevenção de perdas, projeto de produtos,
tramitação das reclamações e gestão de ativos. Comprometem-se também a auxiliar seus
clientes, sócios e fornecedores a cumprirem a legislação ambiental e a adotarem melho-
res práticas administrativas e operacionais. A O N U lançou, em 2005, os Princípios para
o Investimento Responsável, baseados nas melhores práticas de investimentos que levem
em conta as questões ambientais, sociais e de governança corporativa 5 . Essas iniciativas
do setor financeiro têm como pressuposto o fato de os investidores também serem res-
ponsáveis pelos impactos adversos causados pelos empreendimentos apoiados por eles.

Outra fonte de pressão sobre as empresas advém do aumento da consciência da


população em geral e, sobretudo, dos consumidores que procuram cada vez mais utili-
zar produtos e serviços ambientalmente saudáveis. U m aspecto visível desse novo tipo
de consumidor é a prática de diferenciar produtos e serviços pelo desempenho am-
biental. O surgimento de rótulos ou selos verdes em muitos países, desde as últimas
décadas do século XX, é um indicador da importância do desempenho ambiental
como critério definidor das escolhas por parte dos consumidores na hora de realizar
suas compras. A medida que diferenciam produtos e serviços em função dos seus im-
pactos ambientais, os rótulos e as declarações ambientais podem se tornar instrumen-
tos da estratégia de marketing da empresa.
Enfim, não faltam pressões para que as empresas adotem medidas de proteção ao
meio ambiente, tampouco pressões das empresas para impor as práticas ambientais
que julgam ser as mais apropriadas. As setas mais finas da Figura 4.1 indicam que as
empresas também exercem influências sobre os governos, a sociedade e o mercado. As
iniciativas empresariais voluntárias, individuais ou coletivas, comentadas no capítulo
anterior, na medida em que pretendem ir além da legislação, acabam indicando os
caminhos para as futuras leis.

A B O R D A G E N S PARA A GESTÃO AMBIENTAL EMPRESARIAL

Dependendo de como a empresa atua em relação aos problemas ambientais de-


correntes das suas atividades ela pode desenvolver três diferentes abordagens, aqui
denominadas controle da poluição, prevenção da poluição e estratégica. Essas abor-
dagens também podem ser vistas como fases de um processo de implementação gra-
dual de práticas de gestão ambiental em uma empresa. O Quadro 4.1 apresenta um

United Nations/Secretariat. Principies for Responsible Investiment. Disponível em: <http://www.unpri.org/>.


resumo dessas três formas de abordar os problemas ambientais, embora os limites
entre elas não sejam rígidos e nem sempre nítidos.

Controle da poluição
Esta abordagem se caracteriza pelo estabelecimento de práticas para impedir os
efeitos da poluição gerada por determinado processo produtivo. Esse controle pode ser
realizado por meio de ações localizadas e pouco articuladas entre si. As ações ambien-
tais resultam de uma postura reativa da empresa na qual ela centra suas atenções sobre
os efeitos negativos de seus produtos e processos produtivos mediante soluções pontu-
ais. Via de regra, o controle da poluição tem por objetivo atender às exigências estabe-
lecidas nos instrumentos de comando e controle, às quais a empresa está sujeita, e às
pressões da comunidade.
As soluções tecnológicas típicas dessa abordagem procuram controlar a poluição sem
alterar de modo significativo os processos e os produtos que as produziram, podendo ser
de dois tipos: tecnologia de remediação e tecnologia de controle no final do processo

O Quadro 4.1 Gestão ambiental na empresa - abordagens.

ABORDAGENS
CARACTERÍSTICAS C O N T R O L E DA P R E V E N Ç Ã O DA
ESTRATÉGICA
POLUIÇÃO POLUIÇÃO
Preocupação básica Cumprimento da Uso eficiente dos insumos Competitividade
legislação e respostas às
pressões da comunidade

Postura típica Reativa Reativa e proativa Reativa e proativa

Ações típicas Corretivas Corretivas e preventivas Corretivas, preventivas e


'-» Uso de tecnologias de Conservação e antecipatórias
remediação e de substituição de insumos ** Antecipação de problemas e
controle no final do ~ Uso de tecnologias captura de oportunidades
processo (end-of-pipe) utilizando soluções de médio e
limpas
- * Aplicação de normas longo prazo
de segurança Uso de tecnologias limpas

Percepção dos Custo adicional Redução de custo e Vantagens competitivas


empresários e aumento da produtividade
administradores

Envolvimento da alta Esporádico Periódico Permanente e sistemático


administração

Áreas envolvidas Ações ambientais Crescente envolvimento Atividades ambientais


confinadas nas áreas de outras áreas como disseminadas pela organização
geradoras de poluição produção, compras, «"* Ampliação das ações
desenvolvimento de ambientais para a cadeia de
produto e marketing
suprimento
(end-of-pipe control). A primeira procura resolver um problema ambiental que já ocorreu,
como as tecnologias desenvolvidas para descontaminar o solo degradado por algum tipo
de poluente ou recuperar o petróleo derramado no mar e limpar as praias. As tecnologias
end-of-pipe objetivam capturar e tratar a poluição resultante de um processo de produção
antes que seja lançada ao meio ambiente. Para isso, são adicionados novos equipamentos
e instalações nos pontos de descarga dos poluentes. Exemplos: estações de tratamento de
efluentes, ciclones, precipitadores eletrostáticos, filtros e incineradores.

C o n f o r m e o tipo e a quantidade de poluentes, as soluções end-of-pipe tornam-se


complexas e custosas. N ã o raro envolvem mais de um tipo de tecnologia; por exem-
plo, um incinerador de resíduos sólidos perigosos gera gases que precisam ser lavados
e as cinzas resultantes devem ser acondicionadas e dispostas em aterros industriais,
instalações construídas especialmente para receber resíduos desse tipo. N o caso da
incineração de resíduos líquidos e pastosos, é necessário captar e tratar os efluentes
líquidos e transformar o lodo resultante desse processo em material seco para dar-lhe
um destino seguro.

As soluções tecnológicas end-of-pipe nem sempre eliminam os problemas de m o d o


definitivo. Desde que exista regulamentação governamental eficaz, essas tecnologias
agregam custos adicionais durante toda a vida útil da planta industrial em decorrência
das operações necessárias ao controle da poluição e das providências para solucionar
os problemas gerados pelos poluentes capturados. O que ocorre muitas vezes é a per-
manência dos poluentes sob novas formas. A cinza e o lodo resultantes do tratamento
da poluição n o final de um processo industrial são exemplos típicos de transformação
de gases e líquidos poluentes em resíduos sólidos. Se esses resíduos contiverem subs-
tâncias perigosas, a sua disposição final em condições seguras irá requerer autorização
ao órgão ambiental. O local de destino dos resíduos precisa ser licenciado pelo órgão
ambiental conforme normas específicas e está sujeito a realização de inspeções perió-
dicas, manutenção dos sistemas de drenagem de águas pluviais e de gases, coleta de
líquidos percolados, notificações ao órgão ambiental e outras atividades administrati-
vas e operacionais, c o m o mostra o Quadro 4.2.

D o ponto de vista empresarial, essa abordagem significa elevação dos custos de


produção que não agregam valor ao produto, custos que tendem a aumentar à medida
que as exigências se tornam mais rigorosas. Se os custos forem repassados aos preços
dos produtos, esse tipo de solução também não é interessante para os consumidores.
Entender a preocupação ambiental como um custo adicional para a empresa e o con-
sumidor é um dos paradigmas empresariais mais arraigados e que dificulta o envolvi-
mento mais ativo das empresas na solução desses problemas. Esse é um dos motivos
Q u a d r o 4.2 Destinação final de resíduos sólidos perigosos.

Resíduos são substâncias ou objetos que seus geradores pretendem, ou são obrigados, a descartar. São sobras de algum
processo ou atividade, podendo se apresentar nos estados sólido, líquido ou gasoso. As prefeituras municipais são
responsáveis pela coleta e destinação dos resíduos sólidos domiciliares (lixo doméstico) e de pequenos estabelecimentos
comerciais. A responsabilidade pelos resíduos sólidos industriais, hospitalares, portuários, aeroviários e do grande comércio
é dos estabelecimentos geradores. A norma NBR 10.004:2004 classifica os resíduos sólidos conforme os riscos potenciais ao
meio ambiente e à saúde pública em duas classes:

Resíduos Classe I - Perigosos: apresentam periculosidade ou uma das seguintes características: inflamabilidade,
corrosividade, reatividade, toxicidade e patogenidade. Exemplos: óleos lubrificantes usados, resíduos de laboratórios,
borras de tintas e de solventes, lodo de estações de tratamento de águas residuárias, pós e fibras de amianto, aparas
de couro curtidos ao cromo e baterias elétricas usadas a base de chumbo:
** Resíduos Classe II - Não perigosos, apresentam duas subclasses:
Resíduos Classe ll-A - Não inertes: não se enquadram como resíduos classe I ou classe ll-B. Podem ter propriedades
como biodegradabilidade, combustibilidade ou solubilidade em água; e
<-* Resíduos Classe ll-B - Inertes: quando submetidos a um contato dinâmico e estático com a água destilada ou
desionizada, à temperatura ambiente, não apresentam constituintes solubilizados a concentrações superiores aos
padrões de potabilidade de água, excetuando-se aspecto, cor, turbidez, dureza e sabor. Exemplos: rochas, tijolos,
vidros, certos plásticos e borrachas6.

0 armazenamento de resíduos Classe I deve ser feito sem alterar sua quantidade e qualidade e após uma análise prévia de
suas propriedades físicas e químicas, pois disso depende sua caracterização. 0 local de armazenamento deve ser tal que o
perigo de contaminação ambiental seja mínimo, que seja aceito pela população e esteja de acordo com o zoneamento da
região. Deve manter distâncias de mananciais, redes viárias, núcleos habitacionais e logradouros públicas. 0 local deve
possuir sistema de isolamento para impedir o acesso de pessoas estranhas, além de conter sinalizações de segurança. Há
necessidade de um plano de emergência e de um funcionário designado para coordenar todas as medidas de controle
necessárias em caso de emergência. Inspeções semanais devem ser realizadas e registros devem ser mantidos durante toda
a vida útil da instalação de armazenamento 7 . As condições de armazenagem dos resíduos Classe II são menos severas, mas
exigem cuidados especiais para a escolha do local, o acondicionamento dos resíduos e as operações no local de
armazenagem 8 .
As normas e regulamentos sobre resíduos sólidos exigem atividades operacionais e administrativas específicas na unidade
geradora, dentre elas, captação, segregação, transporte em condições especiais, elaboração de inventários dos resíduos,
inspeções, registro das operações e emissão de relatórios periódicos. A produção de resíduos gera custos para os seus
geradores e movimenta uma indústria altamente especializada que provê bens e serviços, tais como análises laboratoriais,
laudos periciais, estudos de impacto ambiental, licenciamento ambiental, sistemas de controles, coleta, transporte,
destinação final em aterros industriais, incineração, projeto e construção de aterros, projeto e produção de equipamentos
para captar, tratar, transportar e dispor os resíduos, embalagens especiais, entre outros.

pelos quais muitos empresários e seus administradores relutam em considerar as ques-


tões ambientais de modo sistemático, sendo que, em muitos casos, quando essa preo-
cupação existe, ela decorre da necessidade de atender a legislação ambiental.
Do ponto de vista ambiental, as soluções voltadas exclusivamente para o controle
da poluição são fundamentais, mas insuficientes. Sem esse controle a humanidade e a
maioria dos outros seres vivos teriam perecido, pois se os poluentes captados e tratados

6 ABNT. NBR 10004, 2004.


7 ABNT. NBR 12235, 1992.
tivessem sido lançados n o meio ambiente pelas fontes geradoras, a capacidade de assi-
milação da Terra teria sido ultrapassada em muito, dada a quantidade e a toxicidade
desses poluentes. Insuficientes porque são voltados apenas para um lado do problema:
o da poluição. Suas contribuições para economizar recursos são indiretas, por exem-
plo, o controle das emissões ácidas de uma fonte geradora faz com que esta deixe de
contribuir para a formação de precipitações ácidas que, entre outras conseqüências
negativas, aceleram a corrosão de materiais, empobrecem o solo e prejudicam a repro-
dução de plantas e peixes.

Prevenção da poluição
Esta é a abordagem pela qual a empresa procura atuar sobre os produtos e proces-
sos produtivos para evitar, reduzir ou modificar a geração de poluição, empreendendo
ações com vistas a uma produção mais eficiente e, portanto, poupadora de materiais e
energia em diferentes fases do processo de produção e comercialização. A prevenção da
poluição requer mudanças em processos e produtos a fim de reduzir ou eliminar os
rejeitos na fonte, isto é, antes que eles sejam produzidos e lançados ao meio ambiente.
O s rejeitos que ainda sobram, e sempre sobrarão, pois não existe n e n h u m processo
1 0 0 % eficiente, são captados, tratados e dispostos por meio de tecnologias de controle
da poluição do tipo end-of-pipe.
A prevenção da poluição aumenta a produtividade da empresa, pois a redução de
poluentes na fonte significa recursos poupados, o que permite produzir mais bens e
serviços com menos insumos. O s resultados esperados de um programa de prevenção
da poluição são os mesmos de qualquer programa de redução de custo ou melhoria da
produtividade, por exemplo, redução dos custos com materiais e energia, economia na
disposição final dos resíduos, redução dos passivos ambientais, melhora geral das con-
dições de trabalho e da imagem da empresa.
A prevenção da poluição combina duas preocupações ambientais básicas: o uso
sustentável dos recursos e controle da poluição. As práticas concernentes ao uso sus-
tentável dos recursos envolvem as seguintes atividades: redução da poluição na fonte,
reutilização, reciclagem e recuperação energética, com essa ordem de prioridade, como
ilustra a Figura 4.2. Reduzir na fonte é sempre a primeira opção, independentemente
das quantidades e características dos poluentes. Reduzir significa diminuir o peso ou
o volume dos resíduos gerados, bem como modificar suas características. Para isso,
pode ser necessário reprojetar os produtos para adequar suas dimensões e característi-
cas físico-químicas a fim de produzir o mínimo de resíduos, assim c o m o para substituir
matérias-primas para reduzir o grau de periculosidade dos resíduos. Substituir
Figura 4.2 Prevenção da poluição - prioridades.

1
\ /
\ Redução na fonte /

k Uso sustentável
\ Reúso e reciclagem / ' dos recursos

\ Recuperação energética /

\ Tratamento /

\ Disposição / >- Controle da poluição


\ final /

equipamentos e materiais, conservar energia, realizar manutenção preventiva, rever a


gestão de estoques estão entre as práticas administrativas e operacionais de prevenção
da poluição. Fazer certo a coisa certa da primeira vez, um dos lemas do movimento da
qualidade, é uma prática de redução de poluição na fonte, pois evita a geração de refu-
gos e o retrabalho de peças e produtos fora de especificação.
Reusar internamente significa usar os resíduos da mesma forma em que foram
produzidos no próprio estabelecimento que os gerou, c o m o reaproveitar os restos de
matérias-primas, utilizar o calor antes dissipado no ambiente de trabalho para preaque-
cimento, usar a água servida para esfriar algum equipamento antes de tratá-la, usar
tambores e outras embalagens usadas para estocar resíduos não perigosos, espichar a
vida útil de pallets, tambores e outras embalagens de transportes desde que não preju-
dique a qualidade dos produtos que serão transportados. U m tipo especial de reutili-
zação é a remanufatura de peças e componentes usados para serem empregados
novamente nos mesmos equipamentos.
A reciclagem interna é o tratamento dos resíduos para torná-los novamente aprovei-
táveis na própria fonte produtora, como o tratamento da água residuária antes de utili-
zá-la novamente. Pela reciclagem externa os resíduos de uma unidade produtiva são
utilizados em outras. Embora benéfica ao meio ambiente à medida que reduz as neces-
sidades de matérias-primas originais, a reciclagem também gera problemas ambientais
se não for realizada de modo adequado. Os processos de reciclagem requerem energia e
outros materiais originais que podem gerar poluentes como a produção de qualquer
outro produto, inclusive tóxicos, como os resíduos da despigmentação de papel e as
borras ácidas resultantes dos processos de reciclagem de óleos lubrificantes usados.
A empresa geradora de resíduos de produção geralmente não os recicla, pois se
trata de uma atividade especializada que requer outra planta produtiva, cuja viabilida-
de econômica e operacional exige, via de regra, uma capacidade muito além das quan-
tidades de resíduos geradas por ela. Para que a reciclagem seja feita externamente, os
resíduos gerados precisam ser acondicionados e estocados em locais adequados até
juntar uma quantidade que compense seu transporte até o estabelecimento do recicla-
dor. N o caso de resíduos perigosos, a área de estocagem deve conter dispositivos de
segurança, sinalizações e outros elementos estabelecidos em documentos normativos
para serem aprovados pelos órgãos ambientais, como exemplificado no Quadro 4 . 2 . O
transporte até o reciclador exige providências semelhantes por parte do gerador e do
transportador. Dada a necessidade de atender tais requisitos, os resíduos produzidos
internamente geram custos para a empresa que, em geral, não são compensados com
sua venda. Por isso a prioridade deve ser a minimização dos resíduos.

C o m o nem todo resíduo pode ser reusado ou reciclado, interna ou externamente,


uma terceira alternativa é o reaproveitamento do seu poder calorífico para geração de
energia, caso seja possível. Plásticos, papel e papelão contaminados e degradados, pallets e
engradados de madeira inservíveis, resíduos de processamento de matérias-primas orgâni-
cas podem ser recuperados como fonte de energia primária. Por fim, espera-se que os resí-
duos sem possibilidades de aproveitamento sejam mínimos, como indica a Figura 4.2, e
que sua disposição final seja feita com segurança e, sempre que possível, segregando-os
pelos seus elementos constitutivos. Quem sabe algum dia o desenvolvimento tecnológico
torne a recuperação desses elementos economicamente viável. A prevenção da poluição
não elimina completamente a abordagem de controle, mas reduz sua necessidade.
A prática da prevenção pode ser iniciada em uma parte do processo produtivo que
não exija investimentos elevados e gere muitos desperdícios. Algumas práticas podem
ser realizadas com relativa facilidade e baixo custo, por exemplo, usando boas práticas
de housekeeping (organização do local de trabalho, limpeza, arrumação sistemática e pa-
dronização), redesenho dos produtos, revisão do layout do chão da fábrica, manutenção
preventiva, gestão de estoques e outras práticas conhecidas de administração da produ-
ção e operações. Conforme o processo produtivo ou o tipo de produto, um programa
de prevenção da poluição pode exigir novas tecnologias que representem investimentos
elevados e recuperáveis a longo prazo. Por isso, mesmo com tantas vantagens da preven-
ção, comparativamente ao controle da poluição, nem todas as empresas têm condições
econômicas e financeiras para adotarem novas tecnologias e avançarem em seus progra-
mas de prevenção. Apoios governamentais nas formas de financiamentos a taxas privi-
legiadas, depreciação acelerada e outras modalidades de incentivos econômicos podem
ser necessários para a difusão dessas novas tecnologias de modo mais abrangente.

Abordagem estratégica
Nessa abordagem, os problemas ambientais são tratados c o m o uma das questões
estratégicas da empresa e, portanto, relacionadas à busca de uma situação vantajosa n o
seu negócio atual ou futuro. Além das práticas de controle e prevenção da poluição, a
empresa procura aproveitar oportunidades mercadológicas e neutralizar ameaças de-
correntes de questões ambientais existentes ou que possam ocorrer no futuro. O envol-
vimento das empresas com os problemas ambientais adquire importância estratégica à
medida que aumenta o interesse da opinião pública sobre as questões ambientais, bem
como dos grupos interessados, como trabalhadores, consumidores, investidores e gru-
pos ambientalistas. Muitos investidores já consideram as questões ambientais em suas
decisões, pois sabem que os passivos ambientais estão entre os principais fatores que
podem corroer a rentabilidade e a substância patrimonial das empresas. O crescimen-
to do contingente de consumidores que preferem comprar produtos e serviços que
respeitem a natureza é outro fator que impulsiona o tratamento estratégico das ques-
tões ambientais. O u seja, os estímulos para uma abordagem estratégica são muitos e
variados. A gestão ambiental pode proporcionar os seguintes benefícios estratégicos:

a) melhoria da imagem institucional;


b) renovação do portfólio de produtos;
c) produtividade aumentada;
d) maior comprometimento dos funcionários e melhores relações de trabalho;
e) criatividade e abertura para novos desafios;
f) melhores relações com autoridades públicas, comunidade e grupos ambienta-
listas ativistas;
g) acesso assegurado aos mercados externos; e
h) maior facilidade para cumprir os padrões ambientais 9 .

O foco central da estratégia empresarial é o ambiente de negócios da empresa. Na


literatura convencional sobre Administração de Empresas, a palavra ambiente tem
sido usada para indicar os fatores externos que influenciam e são influenciados pela
empresa. Entre os fatores externos estão a estrutura da indústria, a situação macroe-
c o n ô m i c a do país, o perfil demográfico da população, o sistema financeiro, a regula-
mentação pública, a situação política, a demanda agregada, o grau de organização dos
trabalhadores e da sociedade civil, o desenvolvimento científico e tecnológico, os va-
lores da sociedade e outros fora do controle da empresa ou parcialmente controlados,
mas que influenciam seus objetivos e resultados. Em termos mais restritos, esse am-
biente envolve clientes, concorrentes, fornecedores, investidores, agentes governa-
mentais, formadores de opinião e outros grupos que afetam positiva ou negativamente
o desempenho da empresa. Assim, a expressão ambiente de negócio será usada nesse
contexto para que não haja confusão com meio ambiente físico, biológico e social.

Por estratégia pode-se entender o estabelecimento de objetivos e ações que alcancem


efeitos no ambiente de negócio em que a empresa atua ou pretende atuar, com o objetivo
de colocá-la numa posição de vantagem. As ações de uma empresa para atender a uma
nova legislação do tipo comando e controle não são estratégicas, pois não trazem vantagens
competitivas específicas para a empresa no seu ambiente de negócio, uma vez que as empre-
sas concorrentes estarão igualmente obrigadas a atender a mesma legislação. Seguindo esse
raciocínio, a redução de custo proporcionada pela prevenção da poluição só irá gerar van-
tagens competitivas para a empresa se os consumidores forem sensíveis aos preços e esse
fato contribuir para melhorar sua capacidade de atrair investidores. Essa questão ficará
mais clara com a distinção entre eficácia operacional e esttatégia, ambas essenciais para al-
cançar um desempenho superior, que é o objetivo primordial de toda empresa.

Eficácia operacional significa ter melhor desempenho em suas atividades em rela-


ção às empresas concorrentes e diz respeito a qualquer prática pela qual a empresa
utiliza melhor os insumos, por exemplo, reduzindo os defeitos nos produtos ou desen-
volvendo produtos superiores com mais rapidez 10 . O u c o m o as práticas de prevenção
da poluição comentadas há pouco. Posicionamento estratégico significa "desempe-
nhar atividades diferentes dos rivais ou desempenhar as mesmas atividades de modo
diferente" 1 1 . Competir com base na eficácia operacional não é suficiente para manter
um desempenho superior prolongado devido à rápida difusão das melhores práticas
entre os concorrentes e à convergência competitiva decorrente da prática de competir
baseando-se no benchmarking e na terceirização. Estratégia competitiva é a busca de di-
ferenças que proporcionem um mix único de valores aos clientes 1 2 . Esse é o entendi-
mento da abordagem estratégica que será usado neste trabalho. Abordagem ambiental

P O R T E R , M. E., 1999. p. 4 7 4 8 .
IbicL, p. 48.
estratégica significa tratar sistematicamente as questões ambientais para proporcionar
valores reconhecidos pelos componentes do ambiente de negócio da empresa que os
diferenciem dos seus concorrentes e contribuam para dotá-la de vantagens competiti-
vas sustentáveis.
A competitividade de uma empresa não é obra só dela, depende de outros agentes
com que se relaciona para produzir e entregar bens e serviços aos seus clientes. Esse fato
leva a expansão das ações estratégicas para a cadeia de suprimento, ou seja, para os está-
gios de produção, distribuição e utilização desses bens e serviços, realizados por fornece-
dores, empreiteiros, transportadores, varejistas, prestadores de serviços de assistência
técnica pós-venda, usuários ou consumidores, entre outros. A estratégia ambiental pro-
cura alcançar efeito sobre os participantes da cadeia de suprimento, como indicado no
Quadro 4.1, para minimizar os problemas ambientais gerados nos diferentes estágios de
produção, distribuição e uso. Do ponto de vista ambiental, esses estágios correspondem
ao ciclo de vida físico do produto, que é a seqüência de transformações de materiais e
energia que inclui a extração de matérias-primas, beneficiamento, fabricação, distribui-
ção, utilização, recuperação e reciclagem dos materiais constituintes do produto 13 .

O ciclo de vida do produto completo vai da retirada da matéria-prima do meio


ambiente natural, passa pelos processos de produção, comercialização e uso, e termina
com a disposição final do que resta no meio ambiente, após o fim da sua vida útil. É
comum o uso da expressão do berço ao túmulo (from cradle to grave) para indicar o trajeto
completo que os materiais percorrem ao longo de seu ciclo, desde a origem dos recur-
sos produtivos n o meio ambiente natural (berço) até o descarte final do restante do
produto após seu uso no meio ambiente (túmulo). Também é c o m u m o uso da expres-
são do berço ao berço (cradle to cradle), pois espera-se que esse resto seja mínimo e retorne
ao meio ambiente de um modo que possa ser assimilado sem causar dano 14 .

Resíduos e perdas de energia ocorrem em todos os estágios da cadeia de supri-


mento, c o m o ilustra a Figura 4-3, assim como oportunidades de recuperação para
reúso, reciclagem e recuperação energética exemplificadas pelas linhas intermiten-
tes; vale lembrar que nem todos os resíduos recuperados são utilizados na mesma
cadeia de suprimento, c o m o c o m e n t a d o na seção anterior. Q u a n t o maior a quanti-
dade de retornos de materiais usados, menor será a quantidade de resíduos lançados
ao meio ambiente ao longo do ciclo do produto. A abordagem estratégica ambiental
procura integrar e coordenar ações com os participantes da cadeia de suprimento,
visando minimizar os impactos ambientais negativos ao longo desse ciclo e reduzin-
do o c o n s u m o de materiais e energia e a emissão de poluentes de qualquer tipo.

13 FIKSEL, J., 1997. p. 73.


A empresa que se antecipa no atendimento das novas demandas ambientais por
meio de ações legítimas e verdadeiras acaba criando um importante diferencial estra-
tégico. Vale ressaltar as palavras legítimas e verdadeiras, pois são freqüentes os casos de
empresas que usam o prestígio que as questões ambientais adquiriram nas últimas
décadas perante as populações de muitos países para obterem benefícios sem dar
uma contribuição efetiva na redução dos problemas ambientais. As expressões lava-
gem verde e maquiagem verde referem-se às práticas das empresas que se apropriam in-
devidamente do discurso ambiental. Exemplos: o uso de padrões diferenciados de
atuação ambiental, conforme a execrável política do Not in My Back Yard (Nimby);
subscrever iniciativas voluntárias coletivas e depois financiar políticos predadores do
meio ambiente ou sabotadores de acordos multilaterais ambientais; mascarar as
ações que degradam o meio ambiente com programas ambientais de fachada e peças
publicitárias.

Constitui lavagem verde qualquer prática deliberada para esconder os impactos


ambientais adversos mediante ações paliativas que geram uma imagem falsa da empresa
quanto ao seu real envolvimento com as questões ambientais. Não deve ser confundida
com a prática de abordar os problemas ambientais por aproximações sucessivas, seguin-
do um plano ou padrão de decisão baseado no conceito de melhoria contínua. O que
caracteriza a lavagem verde é a intenção deliberada de cuidar mais da imagem da empre-
sa que do meio ambiente.

%,» F i g u r a 4 . 3 Cadeia de suprimento e ciclo de vida do produto.

Meio ambiente
Recursos naturais

energia materiais

energia materiais/objetos
Nem todas as empresas têm necessidade de implementar uma abordagem estraté-
gica ambiental, pois esta só faz sentido se houver ameaças ou oportunidades significa-
tivas. Se não houver, as abordagens de controle e de prevenção da poluição em
conjunto são suficientes para tratar adequadamente os problemas ambientais. A iden-
tificação das ameaças e oportunidades pode ser realizada mediante avaliações das de-
mandas da sociedade manifestadas ou latentes, previsões tecnológicas, projetos de leis
e de normas nacionais e internacionais, debates e propostas apresentadas nas Confe-
rências das Partes dos acordos ambientais multilaterais, bem c o m o da avaliação dos
produtos, processos, materiais e outros elementos internos.

Em organizações complexas é possível verificar as três abordagens simultaneamen-


te, em diferentes aspectos das suas áreas de atuação. È o caso de uma empresa que
realiza melhorias continuamente em seus processos e produtos para minimizar a gera-
ção de poluição, conforme a abordagem prevencionista. A poluição em quantidades
cada vez menores é captada e tratada em equipamentos do tipo end-of-pipe. A redução
do consumo de matérias-primas por unidade de produção, assim c o m o do custo de
controle da poluição, aumenta a produtividade da empresa e permite que ela pratique
preços mais competitivos, caso seus clientes sejam sensíveis aos preços. Se a redução
dos custos de produção gera um diferencial competitivo, as práticas de prevenção da
poluição passam a adquirir uma dimensão estratégica para a empresa.

As práticas de controle e de prevenção podem se tornar elementos de diferencia-


ção se os clientes estiverem dispostos a selecionar produtos ambientalmente saudáveis
ou produzidos por meio de processos mais limpos. A proliferação de selos ou rótulos
ambientais e de empresas que se autodeclaram amigas do meio ambiente são sinais
inequívocos da existência de contingentes significativos de consumidores ambiental-
mente responsáveis e que tendem a aumentar à medida que as pessoas se dão conta da
gravidade dos problemas ambientais.

Comparação com a gestão da qualidade


A evolução do tratamento das questões ambientais nas empresas seguiu em muitos
sentidos uma trajetória análoga à que ocorreu com o conceito de qualidade. O concei-
to de qualidade, "antes um reino exclusivo dos departamentos de produção e opera-
ções, abarca funções diversificadas como compras, engenharia, pesquisa cie marketing,
recebendo a atenção de diretores executivos"' 5 . A evolução desse conceito passou ini-
cialmente por uma abordagem inspecionista, na qual a qualidade é vista como um
problema a ser resolvido por meio de inspeções de qualidade nos produtos já elabora-
dos, o que, vale dizer, se trata de uma abordagem de caráter corretivo e reativo que não
questiona os processos de produção, nem o projeto do produto. Essa fase evoluiu para
uma abordagem de controle estatístico de qualidade de caráter prevencionista, porém
com impacto basicamente confinado no chão de fábrica e a qualidade ainda entendida
como um problema a ser resolvido pela área de produção.
A terceira fase trouxe o conceito de garantia da qualidade, uma abordagem preven-
cionista ampliada, na qual a qualidade é entendida como um problema a ser resolvido
proativamente. A qualidade passa a ser vista como algo que deve ser construído me-
diante ações em todas as etapas produtivas, do projeto do produto ao atendimento
pós-venda, e que, portanto, só poderia ser implementado com a participação de todos
os segmentos da empresa 16 . A garantia da qualidade passou a ser entendida como a
parte da gestão da qualidade focada em prover confiança de que os requisitos da qua-
lidade serão atendidos 17 . Finalmente, na última fase, a qualidade passa a ser entendida
por suas dimensões estratégicas, a partir das suas contribuições para a competitividade
da empresa.

De modo análogo à evolução da gestão da qualidade, a fase inicial cia gestão am-
biental empresarial também é de caráter corretivo. As exigências estabelecidas pela le-
gislação ambiental são vistas como problemas a serem resolvidos pelos órgãos técnicos
e operacionais da empresa sem autonomia decisória, e esse trabalho é visto como um
custo interno adicional. Do ponto de vista ambiental, as práticas de controle da polui-
ção apresentam-se como soluções pobres por estarem focadas nos efeitos e não nas
causas da poluição.

Na fase seguinte, as soluções para os problemas ambientais são vistas como meios
para aumentar a produtividade da empresa, sendo para isso necessário rever os produ-
tos e processos para reduzir a poluição na fonte, reutilizar e reciclar o máximo de resí-
duos. Essa abordagem permite reduzir a poluição e o consumo de recursos para a
mesma quantidade de bens e serviços produzida. Por fim, na etapa mais avançada da
gestão ambiental empresarial, as questões ambientais passam a ser consideradas estra-
tégicas, possibilitando vantagens competitivas sustentáveis para a empresa, seja mini-
mizando os problemas que podem comprometer a sua competitividade, seja capturando
oportunidades mercadológicas.

GARV1N, 1992, p. 13-4.


As abordagens descritas acima são modos diferentes de tratar os problemas am-
bientais. A palavra abordar tem, entre outros significados, o de investir contra ou
atacar alguma coisa, n o caso, atacar os problemas ambientais controlando seus efei-
tos, prevenindo o seu surgimento ou transformando-os em oportunidades de negó-
cio. Para implementar qualquer abordagem de maneira eficiente, a empresa deve
realizar diversas atividades administrativas e operacionais orientadas por concepções
mentais, explícitas ou não, configurando um modelo de gestão ambiental específico.
Esses modelos são construções conceituais que orientam as atividades administrativas
e operacionais para alcançar objetivos definidos. A adoção de um modelo de gestão
ambiental faz com que haja coerência na realização de atividades desenvolvidas por
diferentes pessoas, em diversos momentos e locais e sob diferentes modos de ver as
mesmas questões.
Embora representem uma simplificação da realidade empresarial, esses modelos
permitem orientar as decisões sobre como, quando, onde e com quem abordar os
problemas ambientais e como essas decisões se relacionam com as demais questões
empresariais. As empresas podem criar seus próprios modelos de gestão ambiental ou
se valer dos diversos modelos genéricos ou específicos para empresas de um dado setor
que começaram a ser criados a partir da década de 1980. O Programa Atuação Respon-
sável, resumido no Quadro 4.3, é um exemplo de modelo de gestão específico para as
empresas químicas. Os modelos genéricos apresentados a seguir foram concebidos
para implementar a gestão ambiental em empresas de qualquer setor e c o m b i n a m os
elementos das três abordagens descritas.

Administração da Qualidade AmbientalTotal (TQEM)


Atribui-se a criação desse modelo de gestão ambiental ao Global Environmental Ma-
nagement Initiative (Gemi), uma organização criada em 1990 por 21 grandes empresas
multinacionais, como I B M , Kodak, A T & T e Coca-Cola 1 8 . O Total Quality Environmen-
tal Management ( T Q E M ) é uma ampliação do modelo de Administração da Qualidade
Total ( T Q M : do inglês Total Quality Management). O T Q M pode ser entendido c o m o
uma concepção de administração que envolve todos os integrantes da organização e
seus fornecedores em um esforço contínuo para produzir e comercializar bens e servi-
ços que atendam às expectativas de seus clientes ou usuários. A idéia central da
"3 Q u a d r o 4.3 Atuação Responsável - resumo.

Programa criado pela Canadian Chemical Producers Association em resposta à perda de confiança do público em relação a
esta indústria e às ameaças de uma regulamentação mais rigorosa. Criado em 1985, o programa é adotado em mais de 50
países e coordenado pelo International Council of Chemical Associations. A Associação Brasileira da Indústria Química
(Abiquim) é a responsável pela implementação desse programa no Brasil, denominado Atuação Responsável. Esse programa
é um exemplo de acordo voluntário privado unilateral coletivo discutido no capítulo anterior.
A gestão ambiental baseada nesse programa utiliza os seguintes componentes: princípios diretivos, códigos e práticas
gerenciais, comissões de lideranças empresariais, conselhos comunitários consultivos, avaliação de progresso e difusão na
cadeia produtiva. Os princípios diretivos formam um código de conduta que orienta as ações da empresa nas áreas de saúde,
segurança e meio ambiente, recomendando uma abordagem de prevenção da poluição. São eles:

1. Respeitar as pessoas, trabalhando e convivendo em um ambiente de diálogo, participação, honestidade, justiça e


integridade.
2. Desenvolver adequadamente suas atividades, gerando valor para todas as partes interessadas.
3. Gerenciar os riscos inerentes às suas atividades e produtos, adotando as melhores práticas disponíveis, com o objetivo
de eliminar acidentes e controlar os aspectos que possam impactar negativamente a sociedade e o meio ambiente.
4. Solucionar os impactos negativos ao meio ambiente e à saúde humana decorrentes da produção e do uso do produto,
do lançamento de emissões e efluentes e do descarte de resíduos.
5. Fornecer produtos e serviços seguros, social e ambientalmente corretos.
6. Buscar sistematicamente o aprendizado como base para o aprimoramento das pessoas e da inovação dos processos,
produtos e serviços.
7. Melhorar continuamente o desempenho de toda a cadeia de valor por meio da cooperação entre as empresas do setor
químico e do estabelecimento de parcerias.
8. Dialogar com todas as partes interessadas de forma permanente e transparente.
9. Cumprir a legislação brasileira e os compromissos assumidos voluntariamente pelo setor químico.
10. Trabalhar com as comunidades que mantenham relações de interesse recíproco, atuando como cidadãs em prol do bem
comum.
11. Utilizar mecanismos de verificação externa como meio de comprovação de seus compromissos e da transparência de
seus propósitos.
12. Disseminar e divulgar o Programa Atuação Responsável para a indústria química, sua cadeia de valor e a sociedade.

Fonte: ABIQUIM, 2010. Disponível em: <http://www.abiquim.org.br>. Acesso em: 24 jun. 2010.

iniciativa do Gemi é proporcionar um meio pelo qual uma empresa, que já pratica
uma administração baseada nos conceitos e práticas do T Q M , possa transitar facil-
mente para o T Q E M , pois ambos apresentam os mesmos elementos básicos, a saber:
foco no cliente, qualidade como dimensão estratégica, processos como unidade de
análise, participação de todos, trabalho em equipe, parcerias com os clientes e fornece-
dores, e melhoria continua 19 .

Em outras palavras, o T Q E M é o conhecido T Q M preocupado com as questões


ambientais, como ilustra a Figura 4.4. Ambos, portanto, consideram que o atendi-
mento das expectativas dos clientes é a base do sucesso empresarial. Se a qualidade
no T Q M é definida como a produção de bens e serviços que atendam ou superem
as expectativas dos clientes, a qualidade ambiental 110 T Q E M é a superação das
O F i g u r a 4.4 T Q M e T Q E M - similaridades

Administração da Qualidade Total Administração da Qualidade


(TQM) Ambiental Total (TOEM)
Qualidade c o m o dimensão estratégica M e i o ambiente c o m o d i m e n s ã o
estratégica

Liderança da alta administração Liderança da alta administração

Foco no cliente Foco no cliente

A b o r d a g e m por processo A b o r d a g e m por processo

Participação de todos os níveis Participação de todos os níveis

Melhoria contínua Melhoria contínua

M e t a : defeito zero Meta: resíduos zero

expectativas dos clientes internos e externos em termos ambientais. Se defeito zero é


uma meta do T Q M , poluição zero é uma meta do T Q E M . A eliminação de desperdí-
cios é um c o n c e i t o central do T Q M e do T Q E M , mas este amplia o e n t e n d i m e n t o
de desperdício para incluir tudo que possa causar problemas ambientais. U m a ação
típica do T Q E M é a eliminação das causas dos problemas ambientais ocultos nas
atividades de rotina, c o m o as perdas de materiais decorrentes da variabilidade dos
processos, a geração de resíduos devido ao desenho da peça, o c o n s u m o adicional
de energia para o transporte de materiais em função da disposição dos equipamen-
tos e instalações.
Essas duas concepções administrativas enfatizam a realização de melhorias contí-
nuas em todas as instâncias da empresa, mediante a participação de todos os seus inte-
grantes e colaboradores, incluindo fornecedores e clientes, para resolver problemas
ambientais e atender às demandas por qualidade, preço e variedade de produtos com
a rapidez e a confiabilidade das entregas que o atual padrão de competitividade exige.
Por melhoria se entende tanto as inovações incrementais de pequena monta em pro-
dutos e processos administrativos e operacionais existentes, quanto a introdução de
novos produtos e processos.

Melhorias em produtos e processos surgem do aprendizado n o trato c o m mate-


riais, equipamentos, informações, rotinas e relacionamentos interpessoais, poden-
do ocorrer de m o d o e s p o n t â n e o ou planejado. Atividades específicas para realizar
melhorias sempre existiram e sempre foram praticadas, porém n o T Q M e T Q E M
elas devem ser realizadas c o n t i n u a m e n t e em todas as atividades da empresa, pois
esses modelos rejeitam a idéia de objetivos e níveis de qualidade fixos, tais c o m o
níveis aceitáveis de defeitos, de reclamação, de poluição e de outros indicadores de
desempenho.

Para alcançar um desempenho ambiental cada vez mais elevado, o T Q E M se vale


de ferramentas típicas da qualidade, c o m o o benchmarking, listas de verificação, dia-
gramas de causa e efeito, gráfico de Pareto, gráficos de controle de processos, diagra-
mas de fluxos de processos e o ciclo P D C A . O ciclo P D C A ( d o inglês, Plan-Do-Check-Act),
desenvolvido por Shewhart na década de 1 9 3 0 e popularizado por Deming, um dos
maiores gurus do movimento da qualidade, permite elaborar planos de trabalhos
para qualquer área-problema de m o d o contínuo, tornando-se, desse modo, uma me-
todologia básica para alcançar, de maneira permanente, novos padrões de desempe-
n h o (Figura 4.5). Assim que certo padrão é alcançado ele já se torna o b j e t o de novos
estudos, ou seja, o ciclo se repete, inicialmente para sustentar o padrão alcançado,
depois, para superá-lo.

A i d e n t i f i c a ç ã o dos custos da qualidade é uma p r e o c u p a ç ã o c o n s t a n t e do


T Q M , assim c o m o a identificação dos custos a m b i e n t a i s é do T Q E M . D e s d e a
ob ra de A r m a n d F e i g e n b a u m , um dos autores mais i m p o r t a n t e s do m o v i m e n t o
da qualidade, os custos da qualidade são classificados e m quatro categorias: cus-
tos de prevenção, custos de avaliação, custos de falhas internas e custos de falhas
externas; os dois primeiros, relacionados com as atividades para evitar p r o b l e m a s
de qualidade e os dois últimos, c o m os problemas causados pela ausência de qua-

Figura 4.5 Ciclo PDCA genérico.

Executar ações Estabelecer objetivos


para promover a e metas e programar
melhoria contínua as ações

Monitorar e medir Organizar pessoas,


os resultados alcançado; treinar e implementar
corrigir ações e auditar as ações propostas
lidade 20 . De forma análoga, no T Q E M os custos ambientais também são classifi-
cados desse modo.
Os custos de prevenção estão associados às ações para evitar problemas ambientais
futuros e os custos de avaliação ou de verificação da conformidade ambiental, às ações
para verificar a situação da organização quanto ao cumprimento das normas legais e
dos requisitos subscritos voluntariamente, bem como das metas e dos objetivos estabe-
lecidos pela administração da empresa. Os custos de falhas internas relacionam-se com
as ações para controlar e reparar os impactos ambientais adversos que ocorrem no
ambiente interno da empresa; os custos de falhas externas, com as ações para contro-
lar, reparar e mitigar impactos produzidos fora dela.

O Quadro 4 . 4 apresenta exemplos dessas diferentes categorias de custos am-


bientais. Certos custos de falhas decorrem da responsabilidade objetiva da empresa
conforme estabelece a legislação, como custos para reparar os cianos causados pela
empresa aos trabalhadores, às comunidades afetadas por acidente no transporte de
produtos perigosos e ao meio ambiente 21 . O atendimento a normas legais de coman-
do e controle que estabelecem padrões de emissão geram custos de falhas ou de
responsabilidades internas, como os custos incorridos pela estação de tratamento
de efluentes. As multas sofridas pelo fato de a estação não estar conforme os pa-
drões legais são custos de falhas ou de responsabilidades externas. As atividades
para identificar as causas de não conformidade da estação geram custos de preven-
ção, enquanto as inspeções e auditorias para verificar o cumprimento das normas a
que a estação está sujeita geram custos de avaliação.

Os custos de prevenção e de avaliação estão associados ao planejamento, organiza-


ção e controle das atividades para produzir um desempenho ambiental superior e, com
isso, reduzir ao mínimo os custos de falhas internas e externas, como mostra de forma
esquemática a Figura 4.6-A. Espera-se que as ações de prevenção e avaliação realizadas
cie modo sistemático reduzam os custos totais associados ao desempenho ambiental da
empresa ao longo do tempo, como ilustra a Figura 4.6-B. O u seja, espera-se que as prá-
ticas de gestão que geram custos de prevenção e avaliação também sejam reduzidas pela
prática da melhoria contínua e o envolvimento de todos os integrantes da organização.
A identificação dos custos é apenas um passo; o importante nesses dois modelos de
gestão é a eliminação ou minimização das causas geradoras de problemas e, portanto,
dos custos de falhas internas e externas, por meio de práticas de prevenção e avaliação.

20 F E I G E N B A U M , A.V., 1987. p. 110-112. Veja também: GARVIN, 1992, p. 94-96; C H A S E , R. B. ; J A C O B S , F. R. ;


A Q U I L A N O , n. J „ 2 0 0 6 . p. 193-4; M A R T I N S , P. G. ; LAUGENI, F. P„ 2 0 0 5 . p. 4 9 9 .
21 BRASIL. Lei 6.938, de 31 de agosto de 1981. Dispõe sobre a Política Nacional do Meio Ambiente, seus fins e
mecanismos de formulação e aplicação e dá outras providências. Brasília: D O U de 02/09/1981, art. 14, § 1°.
Q u a d r o 4.4 Custos da qualidade e custos ambientais.

Custo Custos da qualidade Custos ambientais

Custos relacionados a atividades para reduzir futuros


Custos relacionados a atividades para evitar defei-
impactos ambientais adversos. Exemplos: custo para
tos. Exemplos: custo para identificar as causas dos
identificar as causas dos problemas ambientais, trei-
de prevenção defeitos, treinar pessoal, instruir fornecedores,
nar pessoal, instruir fornecedores, adquirir novos equi-
reprojetar os produto, adquirir novos equipamen-
pamentos, substituir materiais tóxicos, realizar
tos e realizar manutenção preventiva.
manutenção preventiva.

Custos incorridos para assegurar que os produtos Custos incorridos para assegurar que a empresa aten-
atendam os requisitos da qualidade. Exemplos: de às normas legais e a sua política ambiental. Exem-
de avaliação
custo para realizar inspeções, testes, auditorias, plos: custo para realizar inspeções, testes, auditorias e
certificações. certificações.

Custos decorrentes de problemas ambientais localiza-


dos dentro da empresa. Exemplos: custo do desperdí-
cio de materiais e energia, da coleta, tratamento e
Custos por problemas de qualidade localizados no segregação de resíduos sólidos, tratamento de águas
das falhas
interior da unidade produtiva. Exemplos: custo dos residuais, captação e tratamento de emissões atmos-
internas
refugos, retrabalho, consertos emergenciais. féricas, recuperação de áreas degradadas da própria
empresa, ações corretivas após vazamentos e desas-
tres internos, atendimento médico e indenizações aos
trabalhadores afetados por problemas ambientais.

Custos decorrentes de problemas ambientais fora da


Custos por problemas de qualidade após a entrega empresa. Exemplos: custo do ressarcimento de danos
do bem ou serviço ao cliente e dentro do prazo de ambientais a terceiros, recuperação de áreas degrada-
das falhas garantia. Exemplos: custo para atender reclama- das de terceiros, taxas e impostos ambientais, multas
externas ções, realizar consertos e substituições de peças, e penalidades pelo não cumprimento de normas legais
indenizar, informar clientes sobre produtos com ambientais, programas ambientais compensatórios
defeitos detectados após a venda. realizados em comunidades afetadas por problemas
ambientais gerados pela empresa.

Produção Mais Limpa


Produção Mais Limpa (Cleaner Production) é um modelo baseado na abordagem
preventiva aplicada a processos, produtos e serviços para minimizar os impactos sobre
o meio ambiente. Esse modelo de gestão foi desenvolvido pelo P N U M A e pela Orga-
nização das Nações Unidas para o Desenvolvimento Industrial ( O N U D I / U N I D O , do
inglês United Nations Industrial Development Organization) dentro do esforço para instru-
mentalizar os conceitos e objetivos do desenvolvimento sustentável. E m suas origens
encontram-se propostas correlatas estimuladas pela Conferência de Estocolmo de
1972, c o m o o conceito de tecnologia limpa (clean tecnology), que deveria alcançar três
propósitos distintos, porém complementares: lançar menos poluição ao meio ambien-
te, gerar menos resíduos e consumir menos recursos naturais, principalmente os não
renováveis. Proposto pela Comissão da Comunidade E c o n ô m i c a Européia em meados
O F i g u r a 4.6 C u s t o s da qualidade a m b i e n t a l .

Custo Custo

CP + CA CFI + CFE

D e s e m p e n h o ambiental Desempenho ambiental

Legenda: CP = C u s t o de p r e v e n ç ã o CFI = C u s t o de Falhas Internas


CA = C u s t o de avaliação CFE = C u s t o de Falhas Externas

da década de 1970, esse conceito referia-se a qualquer tecnologia que pudesse reduzir
a poluição e economizar recursos.

Posteriormente, a O N U D I formulou o seguinte conceito de Desenvolvimento In-


dustrial Ecologicamente Sustentável (DIES): "modalidades de industrialização que
promovem as vantagens econômicas e sociais das gerações presentes e futuras sem
comprometer os processos ecológicos básicos" 22 . Esse conceito atendeu às recomenda-
ções que constam no relatório "Nosso Futuro Comum", o qual dispõe a definição e
os objetivos de desenvolvimento sustentável, comentados no Capítulo 2. Coerente
com esse entendimento de desenvolvimento, o DIES foi concebido como um novo
padrão ou modelo de industrialização que amplia as contribuições econômicas e so-
ciais da indústria para as presentes e futuras gerações, sem degradar os processos eco-
lógicos básicos. Para promover o desenvolvimento esse novo modelo deve atender aos
seguintes critérios: usar com eficiência os recursos não renováveis, conservar os reno-
váveis e não ultrapassar a capacidade do meio ambiente de assimilação de resíduos 23 .

Produção Mais Limpa (P+L) foi definida, em um seminário realizado pelo PNU-
MA, em 1990, como uma abordagem de proteção ambiental ampla que considera

22 ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS PARA O DESENVOLVIMENTO INDUSTRIAL/UNITED NA-


T I O N S INDUSTRIAL DEVELOPMENT ORGANIZATION (ONUDI/UNIDO). Proceedings of the conference on
ecologically sustainable industrial development. Copenhague, Dinamarca, 14-18 ont., 1991. Viena: U N I D O , 1991.
todas as fases do processo de manufatura ou ciclo de vida do produto, com o objetivo
de prevenir e minimizar os riscos para os seres humanos e o meio ambiente a curto e
a longo prazos. Essa abordagem requer ações para minimizar o consumo de energia e
matéria-prima e a geração de resíduos e emissões. A P+L envolve produtos e processos
e estabelece uma hierarquia de prioridades de acordo com a seguinte seqüência: pre-
venção, redução, reúso e reciclagem, tratamento com recuperação de materiais e ener-
gia e disposição final 24 . É uma abordagem compreensiva e preventiva para a proteção
ambiental que requer a criatividade das pessoas para investigar as fases dos processos
de manufatura e o ciclo de vida dos produtos, inclusive os usados nos escritórios e nos
lares. Essa abordagem requer ações para conservar energia e matéria-prima, eliminar
substâncias tóxicas e reduzir os desperdícios e a poluição resultante dos produtos e dos
processos produtivos 25 .
O P N U M A adverte sobre a existência de expressões similares a P+L, como tecnolo-
gia limpa, redução de desperdícios, ecoeficiência, prevenção da poluição, para as quais
não há consenso universal sobre elas 26 . Sobre as propostas similares, a Declaração Inter-
nacional sobre Produção Mais Limpa, elaborada pelo P N U M A , diz o seguinte: "reco-
nhecemos que a P+L e outras estratégias preventivas, como ecoeficiência, produtividade
ambiental e prevenção da poluição são opções preferíveis". Pela Declaração, a P+L deve
ser entendida como a aplicação contínua de uma estratégia preventiva integrada, envol-
vendo processos, produtos e serviços a fim de alcançar benefícios econômicos, sociais,
para a saúde humana e o meio ambiente. As organizações signatárias dessa declaração
se comprometem a usar sua influência para encorajar a adoção de práticas de produção
e consumo sustentáveis em suas relações com as partes interessadas (stakeholders) 27 . Ao
fazer isso, essas organizações estariam participando de uma espécie de acordo voluntá-
rio privado unilateral coletivo, conforme mostrado no capítulo anterior.
A P+L é estimulada e difundida pelo P N U M A e pela O N U D I , agência executiva
que coordena os Centros Nacionais de Produção Mais Limpa que funcionam em cerca
de 5 0 países, entre eles o Brasil. Esses centros difundem as práticas de P+L auxiliando
as empresas a realizar projetos de prevenção da poluição, capacitando pessoal, difun-
dindo informações e estabelecendo mecanismos de cooperação. N o Brasil é coordena-
da pelo Centro Nacional de Tecnologias Limpas do S E N A I do Rio Grande do Sul
( C N T L ) . Para o C N T L ,

24 O N U D I / U N I D O , 1991. p. 47-49.
25 U N E P / P N U M A , 1993. p. 1.
26 Ibid., 1993. p. 1.
27 Texto integral da declaração disponível em: <www.unep.org/ourplanet>.
Produção Mais Limpa significa a aplicação contínua de uma estratégia econômica,
ambiental e tecnológica integrada aos processos e produtos, a fim de aumentar a eficiên-
cia no uso de matérias-primas, água e energia, através da não geração, minimização ou
reciclagem de resíduos gerados28.

A Figura 4.7 apresenta os diferentes níveis de Produção Mais Limpa. As alternati-


vas do nível 1, que constituem a prioridade máxima, envolvem modificações em pro-
dutos e processos com o objetivo de reduzir emissões e resíduos na fonte, bem c o m o
para eliminar ou reduzir a sua toxicidade. As modificações em produtos se realizam
pela revisão de suas especificações com vistas a reduzir a geração de resíduos durante o
uso e descarte e melhorar a sua manufaturabilidade para reduzir a geração de resíduos
n o processo produtivo. As mudanças nos processos objetivam reduzir todo tipo de
perda nas fases de produção, e se realizam por meio de:

<-• boas práticas operacionais: procedimentos administrativos e operacionais usuais,


c o m o planejamento e programação da produção, gestão de estoques, organiza-
ção do local de trabalho, limpeza, manutenção de equipamentos, providências
para evitar acidentes nos deslocamentos de materiais, coleta e separação de
resíduos, padronização de atividades, elaboração e atualização de manuais e
fichas técnicas, treinamento de pessoal, entre outras;
<-> substituição de materiais: avaliação e seleção de materiais para reduzir ou eliminar
materiais perigosos nos processos produtivos ou a geração de resíduos perigosos,
por exemplo, substituir solventes químicos por solventes á base de água, selecio-
nar matérias-primas e materiais auxiliares que gerem menos resíduos;
-» mudanças na tecnologia: inovações nos processos produtivos com vistas a reduzir
emissões e perdas, podendo ser inovações de pequena monta, c o m o mudanças
nas especificações do processo, ou novos equipamento e instalações, layout e
outros componentes do processo.

As emissões e os resíduos que continuam sendo gerados devem ser reutilizados in-
ternamente, que é o segundo nível de prioridade. O nível 3 ocorre quando a emissão
ou o resíduo produzido não tem como ser aproveitado pela própria unidade produtiva
que o gerou. Nesse caso, a alternativa é a reciclagem externa, isto é, vendendo ou doan-
do os resíduos para quem possa utilizá-los. Caso isso ainda não seja possível, eles devem
ser tratados para serem assimilados ao meio ambiente por meio de ciclos biogênicos,
c o m o é o caso da compostagem, ou para a sua disposição final em lugar seguro. Note
O Figura 4.7 Produção m a i s L i m p a - níveis d e i n t e r v e n ç ã o .

Fonte: CNTL/SENAI-RS, 1999, p. 62. Disponível também em: <http://srvprod.sistemafiergs.org.br>.

que essa seqüência de prioridades é a mesma da Figura 4.2, referente à abordagem de


prevenção da poluição.

Ecoeficiência
Ecoeficiência é um modelo de gestão ambiental empresarial introduzido em
1 9 9 2 pelo Business Council for Sustainable Development, atualmente World Business
Council for Sustainable Development ( W B C S D ) . E m 1 9 9 6 os ministros do M e i o Am-
b i e n t e dos países que integram a O C D E identificaram a ecoeficiência c o m o uma
proposta promissora para as empresas, governos e famílias reduzirem a poluição e o
uso de recursos em suas atividades e passaram a recomendá-la 2 9 . A O C D E e a
W B C S D são os promotores mais atuantes dessa proposta de gestão ambiental. Para
essas entidades, a ecoeficiência se alcança pela entrega de produtos e serviços com
preços competitivos que satisfaçam as necessidades humanas e melhorem a qualida-
de de vida, enquanto reduzem progressivamente os impactos ecológicos e a intensi-
dade dos recursos ao longo de seu ciclo de vida para, no mínimo, manter a capacidade
de carga estimada do planeta. Uma empresa se tornaria ecoeficiente por meio de
práticas focadas em:

a) minimizar a intensidade de materiais nos produtos e serviços;


b) minimizar a intensidade de energia nos produtos e serviços;
c) minimizar a dispersão de qualquer tipo de material tóxico pela empresa;
d) aumentar a reciclabilidade de seus materiais;
e) maximizar o uso sustentável dos recursos renováveis;
f) aumentar a durabilidade dos produtos da empresa; e
g) aumentar a intensidade dos serviços em seus produtos e serviços 10 .

A ecoeficiência baseia-se na idéia de que a redução de materiais e energia por uni-


dade de produto ou serviço aumenta a competitividade da empresa, ao mesmo tempo
em que reduz as pressões sobre o meio ambiente, seja como fonte de recurso, seja
como depósito de resíduos. E um modelo de produção e consumo sustentável, na
medida em que ressalta a produção de bens e serviços necessários e que contribuam
para melhorar a qualidade de vida. O modelo pressupõe que a empresa promova uma
nova relação com os consumidores para reduzir os impactos ambientais negativos do
consumo, assumindo, por exemplo, a responsabilidade estendida do produtor, comen-
tada no capítulo anterior.

A reciclagem interna e externa é muito valorizada pela ecoeficiência, diferente-


mente cia P+L, na qual essa é opção de segundo e terceiro níveis. A preocupação com
os produtos na P+L visa reduzir a poluição no processo de produção e no uso e descar-
te de produtos, enquanto a ecoeficiência vai mais além sobre este aspecto quando se
refere a produtos que atendam às necessidades básicas e faz recomendações a respeito
da sua durabilidade. Mesmo com diferenças pontuais, esses dois modelos de gestão
possuem muitas semelhanças entre si. C o m o visto na seção anterior, a ecoeficiência é
uma proposta similar à P+L e aceita como opção preferível pela Declaração Internacio-
nal sobre Produção Mais Limpa.
O progresso na implantação das práticas recomendadas pelo modelo da ecoeficiên-
cia é medido pelo valor do produto ou serviço por unidade de influência ambiental ou
de recursos consumidos, ou seja, pela seguinte relação:

Valor do produto ou serviço


Eficiência ambiental = —1—
Influência ambiental

na qual o valor do produto ou serviço pode ser expresso em (1) termos monetários,
c o m o receita líquida de vendas, margem líquida ou outro dessa natureza, ou (2)
quantidades físicas de produtos e serviços vendidos, c o m o unidades ou toneladas
vendidas.
As influências podem ser medidas em quantidade total de energia ou de mate-
riais usados para produzir e entregar os produtos ou serviços. Essa medida pode ser
desagregada para mensurar a eficiência em questões ambientais específicas, c o m o a
redução das emissões de gases de efeito estufa, de materiais descartados, de água de
processo, entre outras. A idéia é simples: quanto maior essa relação, maior é a efici-
ência d o sistema produtivo em transformar recursos produtivos em produtos e servi-
ços vendidos.
A eficiência ambiental pode ser expressa como um fator que mostra quanto o valor
do produto aumenta com a eficiência produtiva. Por exemplo: se uma empresa produziu
a mesma quantidade de produtos com metade dos insumos que usava antes, ela obteve
um fator 2 de eficiência. O fator de eficiência pode ser usado para medir o desempenho
ambiental da empresa, ou de unidades da empresa, em diferentes períodos e para estabe-
lecer metas a serem alcançadas em horizontes de planejamento definidos, como aumen-
tar a eficiência na redução das emissões ácidas em um fator 3 até o final do ano.

Projeto para o meio ambiente


Projeto para o Meio Ambiente (do inglês DfE: Design for Environment) é um modelo
cie gestão centrado na fase de concepção dos produtos e de seus respectivos processos
de produção, distribuição e utilização. Também é denominado ecodesign. Segundo Fik-
sel, esse modelo surge em 1992, em resposta às preocupações de algumas empresas da
indústria eletrônica em incorporar as questões ambientais em seus produtos, tendo à
frente um grupo de trabalho formado pela American Electronics Association. O D f E repre-
senta a convergência das preocupações com o desenvolvimento sustentável e com a in-
tegração empresarial. Esse modelo procura integrar um c o n j u n t o de atividades e
disciplinas que historicamente eram tratadas separadamente, tanto em termos opera-
cionais quanto estratégicos, como saúde e segurança dos trabalhadores e consumidores,
consetvaçao de recursos, prevenção de acidentes e gestão de resíduos. A integração
dessas funções é fundamental para desenvolver produtos ambientalmente melhores 31 .
Para Fiksel, a prevenção da poluição tende (1) a enfatizar mais o aperfeiçoamento
contínuo dos processos de produção existentes do que reestruturar sua tecnologia; (2)
a centrar mais a atenção sobre medidas de melhorias unidimensionais, por exemplo a
redução do volume de resíduos, em vez de adotar um enfoque global sobre o rendi-
mento ambiental; (3) a melhorar processos que não foram otimizados para torná-los
eficientes, cujos benefícios não podem ser repetidos; e (4) a realizar as prevenções para
cada caso particular, em vez de integrá-las à estratégia empresarial. Esta última limita-
ção pode ser eliminada caso a empresa adote a prática da prevenção c o m o uma dimen-
são estratégica, assunto tratado anteriormente. Mesmo constituindo um avanço
considerável em relação à abordagem end-ofpipe, pois acaba com o conflito tradicional
entre rentabilidade e meio ambiente, a prevenção da poluição apresenta limitações
quando aplicada a bens de capital já instalados e aos parâmetros básicos dos processos
já estabelecidos. Se a preocupação com a prevenção estiver presente durante a fase de
projeto, portanto, antes de especificar produtos e processos, os benefícios para o meio
ambiente serão muito maiores' 2 . O s projetos individualmente considerados são orien-
tados pela abordagem da prevenção da poluição, mas seu c o n j u n t o adquire uma di-
mensão estratégica para a empresa e, desse modo, passa a ser um componente da sua
competitividade.

O D f E baseia-se em inovaçoes de produtos e processos que reduzam a poluição em


todas as fases do ciclo de vida do produto. Inovações desse tipo exigem a participação
de todos os segmentos da empresa, bem como de fornecedores e outros membros do
canal de distribuição. Por isso, pode-se considerá-lo um modelo de gestão, pois não se
trata da realização de atividades isoladas e nem episódicas. C o m o m o d e l o de ges-
tão, o D f E exige novos arranjos organizacionais para reduzir ou solucionar conflitos
entre os diferentes segmentos da organização envolvidos com a inovação, c o m o pesqui-
sa, produção, compras, marketing e finanças. A idéia básica desse modelo é atacar os
problemas ambientais na fase de projeto, pois as dificuldades e, consequentemente, os
custos para efetuar modificações crescem à medida que as etapas do processo de inova-
ção se consolidam.

O DfE, como modelo de gestão, prepara a organização para realizar inovações de


modo sistemático, procurando sempre eliminar os problemas ambientais antes que eles
surjam. Enquanto projeto específico, o DfE se desdobra em diferentes possibilidades

FIKSEL, 1997. p. 3.
Ibid., p. 54-
conforme os objetivos ambientais a serem alcançados, tais como: aumentar a quantida-
de de material reciclado no produto, reduzir o consumo de energia para o cliente, faci-
litar a manutenção, favorecer a separação de materiais pós-uso. Deriva daí o conceito de
Design for X (DfX), em que o X pode ser substituído por outras letras referentes ao que
se quer obter em termos ambientais, por exemplo:

DfA (A de assembly) - refere-se a um projeto para facilitar a montagem do produto;


>~ D f M (M de manufacturability) - projeto para facilitar o processo de fabricação;
— DfS (S de serviceability) - projeto para facilitar os serviços de instalação inicial
do produto e sua manutenção 3 3 .

Cada tipo de projeto D f X atende um critério ambiental específico, c o m o facilitar


a desmontagem, aumentar o teor de material reciclável, reduzir o consumo de energia
e outros, mostrados n o Quadro 4.5. Este é um ponto fraco da adoção isolada de pro-
jetos DfX, pois qualquer produto ou processo de produção envolve uma variedade de
questões ambientais que devem ser consideradas de maneira simultânea e que se soma
a questões mercadológicas, financeiras, operacionais, legais e tecnológicas.
O relatório técnico I S O / T R 14062 relativo à integração de aspectos ambientais n o
projeto e desenvolvimento do produto, recomenda a combinação de diversas aborda-
gens de projetos com vistas a alcançar objetivos estratégicos relacionados aos produtos,
dos quais se destacam: (1) conservação dos recursos, reciclagem e recuperação energé-
tica; e (2) prevenção da poluição, de resíduos e de outros impactos ambientais. Algu-
mas possíveis abordagens são as seguintes:

melhoria da eficiência do material: verificar se os impactos ambientais podem ser


reduzidos, por exemplo, com menos materiais ou com o uso de materiais de
baixo impacto, uso de materiais de fontes renováveis e reutilização de materiais;
— melhoria da eficiência energética: considerar a energia total utilizada ao longo do
ciclo de vida do produto e verificar se o impacto ambiental pode ser reduzido
pelo uso de energia de baixo impacto ou de fontes renováveis;
"* uso criterioso do solo: verificar se o produto ao longo do seu ciclo requer o uso de
infraestrutura ou materiais locais;
— projeto para uso e produção mais limpa: usar técnicas de produção mais limpa,
evitar o uso de materiais perigosos e adotar uma perspectiva global para evitar
decisões baseadas em um único critério ambiental;
*.S Q u a d r o 4.5 Projeto para o Meio Ambiente - exemplos.

Projeto para Objetivos e práticas


Assegurar que os produtos possam ser desmontados para recuperar os materiais e componen-
tes com custo e esforço mínimos. Para isso, recomenda-se simplificar as conexões entre peças,
Desmontagem do produto
evitar peças incrustadas, minimizar o uso de soldas e adesivos, reduzir o número de peças dife-
rentes, projetar peças multifuncionais e utilizar peças comuns a diferentes produtos.

Assegurar um elevado conteúdo de materiais recicláveis que gerem um nível mínimo de resídu-
Reciclagem
os ao final da vida útil do produto.

Assegurar que todos os materiais e componentes não recicláveis possam ser descartados de
Facilitar o descarte
modo seguro e eficiente.

Reutilizar componentes Assegurar que alguns componentes do produto possam ser recuperados, renovados e reutilizados.

Redução do consumo Projetar produtos que reduzam o consumo de energia em todas as etapas do processo de produ-
de energia ção, distribuição, utilização, reciclagem e disposição final.

Projetar processos mais limpos, evitar especificar substâncias perigosas para a saúde, substituir
Reduzir riscos crônicos substâncias nocivas à camada de ozônio, utilizar solventes à base de água, assegurar a biode-
gradação do produto e a sua disposição final em condições seguras.

Fonte: FIKSEL.1997. p. 91-111.

f* projeto para durabilidade: considerar a longevidade do produto, a facilidade de


reparação e manutenção, considerando as melhorias ambientais que emergem
das novas tecnologias;

projeto para otimização da funcionalidade: considerar as oportunidades para fun-


ções múltiplas, modularidade, otimização e controles automatizados, e compa-
rar o desempenho ambiental desses produtos com o de produtos com funções
específicas;

~ projeto para reutilização, recuperação e reciclagem: considerar as oportunidades


para facilitar a desmontagem e o uso de materiais recicláveis, de subconjuntos,
componentes e materiais nos produtos futuros;
*•» evitar materiais e substâncias potencialmente perigosos no produto: verificar os aspectos
ambientais, de saúde e segurança, e menor impacto de matérias e transporte 34 .

O uso de múltipos critérios ambientais no projeto do produto permite aplicar vá-


rias abordagens ao mesmo tempo. Por exemplo: reduzir o volume ou a massa dos ma-
teriais para melhorar sua eficiência pode contribuir para reduzir o consumo de
combustíveis nos transportes e o uso de espaços para armazenagem, ou seja, contribui
também para a melhoria da eficiência energética e uso criterioso do solo. Múltiplos
critérios também favorecem as trocas compensatórias:

entre diferentes aspectos ambientais, por exemplo, a redução de massa pode


conflitar com o objetivo de ampliar a reciclabilidade;
entre benefícios ambientais, sociais e econômicos, por exemplo, projetar pro-
dutos robustos que aumentam a sua via útil melhora o meio ambiente, pois
diminui a necessidade de extrair materiais e diminui o descarte, mas pode
aumentar o custo inicial, gerando problemas econômicos e sociais; e
entre aspectos ambientais, técnicos ou de qualidade, por exemplo, usar mate-
riais reutilizados pode impactar negativamente a confiabilidade do produto 35 .

O uso de várias abordagens ambientais é um antídoto à prática usual de avaliação


de projeto de inovação que envolva novidades significativas em produtos e processos,
e, portanto, incertezas quanto aos seus resultados. Em geral, os projetos são avaliados
por múltiplos critérios consagrados no campo das inovações, como exigências dos
clientes, custo, qualidade, segurança e funcionalidade, que devem se traduzir em lucra-
tividade, crescimento, diversificação, entre outros resultados para a empresa. Se em
alguma fase do projeto verifica-se que um desses critérios não será atendido ou com-
promete os resultados esperados, o projeto será abandonado ou redirecionado.
Acrescentar um critério ambiental específico a esses comumente utilizados é um
modo limitado de incluí-los nos projetos de inovação de produtos e processos, pois será
mais um entre muitos outros a serem considerados e não há garantias que terão a mesma
importância que os outros. Se, para obter um produto com elevado teor de material reci-
clado for necessário sacrificar a funcionalidade ou a qualidade, certamente o projeto será
interrompido. O uso de múltiplas abordagens de projeto e a prática de trocas compensa-
tórias reduz a incidência desse tipo de problema, pois sempre alguma abordagem poderá
ser incluída sem comprometer os resultados econômicos esperados pela empresa.

Combinando modelos
Os modelos de gestão ambiental comentados incorporam a idéia de prevenção da
poluição e encaram os problemas ambientais a partir de uma visão mais ampla que
pode ser alinhada à estratégia da empresa. Excetuando o Programa Atuação Respon-
sável, que é exclusivo para as empresas químicas, os outros modelos podem ser adota-
dos por empresas de qualquer setor e de qualquer porte. Embora cada modelo possua
características diferenciadoras marcantes, conforme resumidas no Quadro 4.6, eles
podem ser combinados para adequar-se às peculiaridades da empresa, uma vez que
eles não são mutuamente exclusivos.

O T Q E M tem foco no melhoramento contínuo e no combate a todo tipo de des-


perdício. A Produção Mais Limpa e a Ecoeficiência procuram, por meios diferentes,
levar à prevenção da poluição além das fronteiras da empresa; a primeira, enfatizando
a eficiência dos processos produtivos e a segunda salientando as características do pro-
duto ou serviço. O projeto para o meio ambiente (DfE) procura fazer o mesmo atuan-
do nas fases iniciais dos processos de inovação de produto e processo.

Esses modelos ou suas variações permitem implementações isoladas, ou seja, uma


empresa pode adotar um desses modelos com seu próprio esforço, embora sempre have-
rá a necessidade de articulação com fornecedores, transportadores, recicladores, entida-
des apoiadoras e outros agentes. Os modelos que serão mostrados a seguir exigem mais
do que isso: eles só podem ser implementados por um conjunto de empresas.

O Quadro 4.6 Modelos de gestão ambiental selecionados - resumo.

Características
Modelo Pontos Fortes Pontos Fracos
básicas

Extensão dos princípios e


Mobilização da organização, Depende de um esforço con-
Gestão da qualidade práticas da gestão da quali-
de seus clientes e parceiros tínuo para manter a motiva-
ambiental total (TQEM) dade total às questões am-
para as questões ambientais. ção inicial.
bientais.

Estratégia ambiental preven-


Atenção concentrada sobre a Dependente de desenvolvi-
tiva aplicada de acordo com
eficiência operacional, a mento tecnológico e de
Produção Mais Limpa uma seqüência de priorida-
substituição de materiais pe- investimentos para a conti-
[Cleaner Production) des, iniciando pela redução
rigosos e a minimização de nuidade do programa no
de resíduos e emissões na
resíduos. longo prazo.
fonte.

Ênfase na redução da inten- Dependente de desenvolvi-


Eficiência com que os recur- sidade de materiais mento tecnológico, de políti-
Ecoeficiência sos ambientais são usados e energia em produtos e ser- cas públicas apropriadas e
[Eco-efficiencyl para atender às necessida- viços, no uso de recursos re- de contingentes significati-
des básicas humanas. nováveis e no alongamento vos de consumidores am-
da vida útil dos produtos. bientalmente responsáveis.

Os produtos concorrem com


outros similares que podem
Projeto para o meio Projetar produtos e proces- Inclusão das preocupações
ser mais atrativos em termos
ambiente sos considerando os impac- ambientais desde a concep-
de preço, condições de paga-
(Design for Environment) tos sobre o meio ambiente. ção do produto ou processo.
mento e outras considera-
ções não ambientais.
M O D E L O S INSPIRADOS NA NATUREZA

Diversos modelos de gestão foram criados a partir de conceitos extraídos da ecolo-


gia. Assim c o m o os modelos apresentados na seção anterior apresentam variações mui-
to próximas com denominações diferentes, o mesmo também ocorre com esta família
de modelos. Metabolismo industrial, ecologia industrial e simbiose industrial são al-
guns modelos de gestão ambiental que têm em comum a tentativa de aproximar os
sistemas de produção humanos ao que ocorre com os organismos em um ecossistema.
A alimentação é o elemento de ligação entre os organismos que formam uma comuni-
dade biológica. O s organismos extraem alimentos do seu meio e devolvem os restos
que são alimentos de outros organismos. U m conjunto de empresas poderia formar
uma comunidade empresarial na qual os resíduos de produção de certas empresas se-
riam insumos para outras. C o m o dizem Graedel e Allenby, o conceito mais importan-
te da ecologia industrial (industrial ecology) é que, igual a um sistema natural, esse
modelo rejeita o conceito de resíduo 36 . O objetivo básico dessas propostas é a criação
de sistemas de produção inspirados nos fluxos de materiais e energia entre os organis-
mos e seu meio físico, nos quais as perdas sejam mínimas.

A palavra metabolismo, empregada na Biologia, refere-se ao c o n j u n t o de processos


físico-químicos que transforma os compostos orgânicos em energia para as atividades
biológicas dos organismos. De modo análogo, metabolismo industrial (industrial meta-
bolism) é um c o n j u n t o de transformações físico-químicas que converte matérias-primas
(biomassa, combustíveis minerais, metais etc.) em produtos manufaturados, estruturas
produtivas e resíduos. A Figura 4 . 8 apresenta dois modelos de quatro blocos que des-
crevem dois fluxos de materiais: o da esquerda representa o fluxo da natureza que se
caracteriza por ser um ciclo fechado, pois não há resto que não desempenhe uma
função. O modelo da direita representa um sistema industrial em ciclo aberto e, por-
tanto, insustentável, pois os recursos extraídos do ambiente natural, que são os nutrien-
tes desse sistema, retornam para o ambiente como resíduos que não são completamente
reciclados. Há apenas dois destinos para os resíduos materiais n o longo prazo: a maior
quantidade é reciclada ou reusada, mas uma parte menor será dissipada no meio am-
biente, representando perdas que devem ser repostas por fontes de materiais virgens.
C o m o sempre ocorrem perdas nos sistemas industriais, sempre haverá a necessidade
de extrações adicionais de recursos para manter o nível de produção 37 .

G R A E D E L ; ALLENBY, 1995, p. 10.


O F i g u r a 4.8 Ciclos b i o g e o q u í m i c o s e ciclos de materiais industriais.

Fonte: AYRES; UD0.1994, p. 7-8.

O balanço de materiais é a preocupação básica do metabolismo industrial. Para


Graedel e Allenby, o modelo de ecologia industrial (industrial ecology) inclui essa
preocupação, mas vai além, pois as interações entre os sistemas industriais e o meio
ambiente requerem c o n h e c i m e n t o s das ciências ambientais, c o m o ilustra a Figura
4 . 9 . As formas irregulares dessa figura denotam os reservatórios de materiais, e as
setas cheias, os fluxos entre eles; as setas com linhas interrompidas sugerem a troca
de informações e conceitos entre o metabolismo industrial e o ambiental. Para esses
autores, a ecologia industrial é uma abordagem para projetar produtos e processos
industriais que levem em conta tanto a competitividade dos produtos q u a n t o suas
interações c o m o meio ambiente, enquanto o metabolismo industrial constitui um
dos seus elementos. Para Ayres e outros autores, o metabolismo industrial seria um
modelo em si próprio.

A implementação de modelos inspirados na natureza requer a reestruturação dos


sistemas produtivos de um conjunto de empresas em intensa articulação para que os
resíduos de uma unidade produtiva sejam usados por outras, imitando tanto quanto
possível os ciclos biogeoquímicos de um ecossistema em que todos os resíduos acabam
sendo absorvidos de alguma forma. A idéia central é formar uma comunidade de em-
presas integradas em termos ambientais, à semelhança de uma comunidade biológica.
O s resíduos e excedentes de uma unidade produtiva convertem-se em insumos para
O Figura 4.9 Elementos da ecologia industrial.

/ ^
\
r

M e t a b o l i s m o industrial Interação entre a M e t a b o l i s m o ambiental


(objeto de estudo dos indústria e o meio (objeto de estudo dos
engenheiros industriais) ambiente cientistas ambientais)

Fonte: GRAEDEL; ALLENBY, 1995, p. 11

outras. E c o n o m i a de recursos naturais e melhoria da qualidade ambiental são os resul-


tados desse modelo cuja implementação não seria possível sem a integração entre as
empresas.
O parque industrial de Kalundborg na Dinamarca é um dos exemplos mais citados
para demonstrar que tais modelos não são utopias. Nesse parque, esquematizado na
Figura 4.10, encontram-se diversas empresas integradas, como a Statoil, maior refinaria
de petróleo da Dinamarca, com capacidade para processar 5,2 milhões de toneladas de
petróleo, e a maior geradora de energia elétrica, a ASTUGS Power Station, que produz, por
ano, cerca de 170 mil toneladas de cinzas resultantes da queima de carvão, usadas
como insumos pela fábrica de cimento Aalborg Portlancl e para pavimentos em estradas.
Cerca de 2 0 0 mil toneladas anuais de gesso resultante do processo de remoção do S 0 2 ,
um dos principais poluentes atmosféricos, são usados pela Gyproc na fabricação de
painéis para a indústria de construção civil. A energia excedente é transferida para a
rede local de aquecimento. A Novo Nordisk produz insulina e enzimas industriais e gera
resíduos ricos em fósforo e nitrogênio, que são transformados em fertilizantes.
A experiência de Kalundborg também tem sido denominada simbiose industrial
(industrial symbiosis). Simbiose, outra expressão extraída da biologia, simplificadamen-
te, significa qualquer relacionamento ou associação entre organismos de diferentes
espécies, inclusive o parasitismo. N o caso da simbiose industrial espera-se construir
O Figura 4.10 Parque Industrial de Kalundborg (Dinamarca).

Fonte: Fiksel, 1997, p. 457.

um relacionamento permanente e harmônico entre empresas de diferentes segmentos


do processo produtivo situados em um parque ou região industrial. O exemplo de
Kalundborg é muito significativo para os promotores de modelos baseados no meio
natural pelo fato de que a integração dos fluxos de materiais e energia entre as unida-
des desse parque foi sendo formada ao longo de décadas de modo espontâneo.
Em um parque industrial existente é possível alcançar um alto grau de simbiose
por meio de uma sucessão de integrações parciais do tipo dois a dois, ou seja, por meio
de projetos que integrem empresas de dois segmentos diferentes de cada vez. Por exem-
plo: uma empresa do polo petroquímico do Rio Grande do Sul gastava cerca de U S $
5 0 , 0 0 por tonelada para descartar a sulfocáustica, um rejeito químico perigoso. Essa
empresa identificou a possibilidade cie usar esse resíduo como insumo para uma em-
presa vizinha da indústria de papel e investiu em uma pequena planta para adequá-lo
às necessidades desse usuário. Com isso, a empresa resolveu um problema ambiental
transformando-o em oportunidade de negócio 58 . Exemplos como esse são alentadores,

58 N O B R E FILHO, W; GUARAGNA, E.V. da C„ 2004. p. 145-146.


mas nem sempre se consegue aproveitar os resíduos em um local próximo. As bolsas
de resíduos podem ser uma opção para a falta de oportunidade de uso dos resíduos
próximo do local onde foram gerados.
É verdadeiramente auspiciosa a possibilidade de criar parques ou distritos indus-
triais à semelhança de um ecossistema, em que as sobras de uma unidade produtiva são
aproveitadas por outras. Tratar a questão ambiental em conjunto, e não de forma isola-
da, promete ser mais vantajoso em termos de sustentabilidade ambiental, embora isso
nem sempre seja viável economicamente. Esses modelos dependem da concentração de
unidades produtivas de setores diferentes para que os resíduos de uma sirvam para ou-
tras. A possibilidade do uso de resíduos é menor em distritos relacionados a um tipo de
produto, como os distritos calçadistas, moveleiros, cerâmicos, têxteis e metalúrgicos. As
economias decorrentes da especialização estimulam a criação de distritos que produzem
bens próximos entre si e que geram também resíduos do mesmo tipo. Atrair para esses
distritos empresas de outros setores para aproveitar tais resíduos pode ser econômica e
ambientalmente menos vantajoso, caso essas empresas necessitem de outros insumos
em grande quantidade que precisam ser transportados por longas distâncias, ou o pro-
duto final tenha de ser transportado até mercados consumidores distantes. Nesse caso,
modelos como P+L, T Q E M e outros aplicáveis às empresas isoladamente podem dar
uma contribuição melhor, pelo menos até surgirem soluções adequadas que possam ser
aplicadas coletivamente. Os projetos para o meio ambiente (DfE e DfX) e as abordagens
de projetos recomendadas pelo relatório técnico ISO/TR 14062 podem ser úteis para
projetar sistemas produtivos integrados, desde o início da implantação de um parque
industrial, ou para reestruturar os existentes.

As duas famílias de modelos de gestão ambiental apresentadas neste capítulo não


devem ser vistas como antagônicas, apesar das enormes diferenças entre elas. A primei-
ra diferença é que uma família é composta por modelos que podem ser adotados por
uma empresa de modo isolado, enquanto a outra é composta por modelos aplicáveis a
um conjunto de empresas, formando uma comunidade empresarial inspirada na comu-
nidade biológica. Nos modelos de adoção individual os resíduos são encarados como
problemas, enquanto que nos modelos baseados na natureza podem ser o início da so-
lução, pois é por meio deles que se processam as articulações entre as diferentes unida-
des produtivas de um parque ou região. Para a ecologia industrial, a simbiose industrial
e outros modelos assemelhados, os resíduos serão eliminados muito mais pela sua cir-
culação nos sistemas produtivos, de modo análogo aos ciclos dos nutrientes no ambien-
te natural, do que pelas práticas de prevenção da poluição e controle no fim do processo.
Daí a grande importância que esses modelos atribuem à reciclagem e ao reúso externos
às fontes geradoras, para os quais dedicam especial atenção no sentido de ampliar os
conhecimentos a respeito das suas prováveis utilizações. A gravidade dos problemas
ambientais não recomenda a exclusão de qualquer possibilidade de solução.

INSTRUMENTOS DE GESTÃO

A adoção de qualquer modelo de gestão requer o uso de instrumentos, aqui en-


tendidos c o m o meios ou ferramentas para alcançar objetivos específicos em matéria
ambiental. Auditoria ambiental, avaliação do ciclo de vida, estudos de impactos
ambientais, sistemas de gestão ambiental, relatórios ambientais, rotulagem ambien-
tal, gerenciamento de riscos ambientais e educação ambiental empresarial são alguns
entre muitos instrumentos de que as empresas podem se valer para alcançar objeti-
vos ambientais. Muitos também são instrumentos de política pública, c o m o , em
certos casos, o estudo de impactos ambientais e a auditoria ambiental. Alguns são
específicos de um dado modelo, por exemplo, os códigos e as práticas gerenciais do
programa Atuação Responsável. Outros são de caráter horizontal, isto é, são instru-
mentos que podem ser aplicados em qualquer empresa i n d e p e n d e n t e m e n t e de seu
porte e setor de atuação, c o m o os sistemas de gestão ambiental. Alguns instrumen-
tos se aplicam diretamente aos produtos, como a rotulagem ambiental e a avaliação
do ciclo de vida; outros, na empresa como um todo ou em parte dela, c o m o o siste-
ma de gestão, a auditoria e a avaliação do desempenho ambiental. Há instrumentos,
c o m o estes últimos, que são aplicados em situações, operações ou ativos existentes
para a melhoria do desempenho ambiental e há os que visam encontrar soluções
antes que os problemas apareçam, c o m o o estudo prévio de impacto ambiental e os
projetos para o meio ambiente.

A lista de instrumentos de gestão ambiental pode ser ampliada c o m a inclusão


dos instrumentos convencionais utilizados nas empresas para fins de qualidade e
produtividade, c o m o análise do valor, listas de verificação, cartas de controle, diagra-
mas de dispersão, diagrama de causa-efeito, ciclo P D C A , análise de falhas, seis sig-
ma, manutenção preventiva, gestão eficiente de materiais e práticas correntes de
housekeeping. T a m b é m podem ser incluídos os instrumentos voltados para a melho-
ria do ambiente de trabalho de um modo geral. A medida que a empresa c a m i n h a
no sentido da abordagem de controle da poluição para a abordagem estratégica,
c o m o discutido no início deste capítulo, maior será a variedade de instrumentos que
ela deverá utilizar para a consecução dos objetivos que se propôs a alcançar. Os pró-
ximos capítulos deste livro serão dedicados a apresentar alguns dos principais instru-
mentos de gestão ambiental.
Termos e conceitos importantes

Abordagens de gestão ambiental Estratégia ambiental

Cadeia de suprimento f Gestão ambiental empresarial


Ciclo de vida do produto r» Lavagem verde
Ciclo PDCA ~ Metabolismo industrial
Controle da poluição — Modelos de gestão
I-» Custos ambientais ~ Prevenção da poluição

Design for environment -» Produção Mais Limpa

>"* Ecoeficiência ** Reciclagem

«-» Ecologia industrial r* Reúso

Eficiência operacional <•* Simbiose industrial

Í-» Empresa sustentável <•+ Uso sustentável

Q§p Questões para revisão

1. Cite as principais diferenças entre as abordagens de gestão ambiental apresentadas nes-


te capítulo.

2. Quais são as diferenças entre reúso e reciclagem e entre reciclagem interna e externa?
Apresente exemplos.

3. Discuta as diferenças entre eficácia operacional e posicionamento estratégico e apresen-


te exemplos. Mostre como essas questões devem ser consideradas para uma empresa
que pretende adotar uma abordagem estratégica em termos ambientais.

4. Comente a seguinte afirmação constante neste capítulo: "se a redução dos custos de
produção gera um diferencial competitivo, as práticas de prevenção da poluição passam
a adquirir uma dimensão estratégica para a empresa"

5. Este capítulo apresenta uma distinção entre abordagem ambiental e modelo de gestão.
Discuta os significados que foram dados a cada um desses termos.

6. Apresente as diferenças e semelhanças mais significativas entre os seguintes modelos:


TQEM, Produção Mais Limpa, Ecoeficiência e Projeto para o Meio Ambiente.

7. Faça o mesmo em relação aos modelos denominados simbiose industrial, metabolismo


industrial e ecologia industrial.

8. Identifique cada um dos elementos de custo abaixo, segundo a classificação dos custos
ambientais apresentadas neste capítulo, a saber: custo de prevenção (CP), custo de ava-
liação (Cl), custo de falha interna (CFI) e de falha externa (CFE).
Elementos de custo Classificação
Operação dos equipamentos de controle da poluição

Aluguel de aterros industriais

Perdas de materiais estocados

Inspeção de rotina no depósito de resíduos tóxicos

Manutenção de equipamentos da estação de tratamento de efluentes

Testes para classificar resíduos tóxicos

Projeto para facilitar a desmontagem e reciclagem

Revisão do plano de emergência

Indenização e tratamento médico aos moradores da vizinhança

Auditoria no estabelecimento de um fornecedor para certificação

Manutenção da documentação sobre o desempenho de máquinas e equipamentos

Auditoria do sistema de gestão ambiental

Indenização e tratamento médico aos moradores da vizinhança

9. Que argumentos você apresentaria para contestar quem afirmasse que os modelos de
gestão inspirados na natureza são utópicos para países como o nosso e que o exemplo
da Dinamarca não vale?

10. Além dos modelos apresentados neste capítulo, há muitos outros propostos por empre-
sas, entidades empresariais e ONGs. Greenpeace, Natural Step Foundation e Zero Emis-
sion Research and Initiative são exemplos de ONGs que criaram concepções de gestão
ambiental. O mesmo fizeram várias empresas, como a 3M com o Programa Pollution
Prevention Pays Plus. Faça uma pesquisa e obtenha informações sobre as propostas
dessas e de outras organizações e compare com as que foram apresentadas neste capí-
tulo. Depois, faça uma lista de elementos comuns a todas elas.

Referências

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SISTEMAS DE GESTÃO AMBIENTAL

Entende-se por gestão ambiental empresarial as diferentes atividades administrati-


vas e operacionais realizadas pela empresa para abordar problemas ambientais decor-
rentes da sua atuação ou para evitar que eles ocorram no futuro. Sistema é um conjunto
de partes inter-relacionadas, e sistema de gestão ambiental é um conjunto de ativida-
des administrativas e operacionais inter-relacionadas para abordar os problemas am-
bientais atuais ou para evitar o seu surgimento. A realização de ações ambientais
pontuais, episódicas ou isoladas, não configura um sistema de gestão ambiental pro-
priamente dito, mesmo quando elas exigem recursos vultosos, por exemplo, a instala-
ção e manutenção de equipamentos para controlar emissões hídricas e atmosféricas.
U m sistema de gestão ambiental (SGA) requer a formulação de diretrizes, definição de
objetivos, coordenação de atividades e avaliação de resultados. Também é necessário o
envolvimento de diferentes segmentos da empresa para tratar das questões ambientais
de modo integrado com as demais atividades empresariais. U m dos benefícios da cria-
ção de um S G A é a possibilidade de obter melhores resultados com menos recursos
em decorrência de ações planejadas e coordenadas.

Qualquer S G A é constituído por um conjunto de elementos que independem da es-


trutura organizacional, do tamanho e do setor de atuação da empresa. Em primeiro lugar
está o comprometimento com a efetivação desse sistema por parte da alta direção ou dos
proprietários se estes forem os dirigentes. Um alto grau de envolvimento facilita a integra-
ção cias áreas da empresa e permite a disseminação das preocupações ambientais entre
funcionários, fornecedores, prestadores de serviços e clientes. Um bom sistema é aquele
que consegue integrar o maior número de partes interessadas para tratar as questões am-
bientais. Alguns elementos essenciais são a política ambiental, a avaliação dos impactos
ambientais, os objetivos, metas e planos de ação, os instrumentos para acompanhar e ava-
liar as ações planejadas e o desempenho ambiental da organização e cio próprio SGA.
A empresa pode criar o seu próprio S G A ou adotar um modelo genérico proposto
por outra entidade, alguns dos quais estão descritos mais adiante. Manter um S G A em
operação pode ser considerado uma espécie de acordo voluntário privado unilateral,
conforme mostrado n o Capítulo 3, desde que a empresa se comprometa a alcançar um
desempenho superior ao exigido pela legislação ambiental a que está sujeita. O S G A
deve contribuir para que a empresa atue conforme a legislação e promova melhorias
que a levem gradualmente a superar as exigências legais.

O SISTEMA PROPOSTO PELA CÂMARA DE COMÉRCIO INTERNACIONAL

A International Chamber of Commerce (ICC), uma entidade não governamental


dedicada ao comércio internacional, propôs um modelo de S G A e de auditoria am-
biental de adesão voluntária em resposta às preocupações c o m o efeito das questões
ambientais sobre a competitividade das empresas no mercado internacional. O S G A
proposto pela I C C é uma estrutura ou método para alcançar um desempenho susten-
tável em relação aos objetivos estabelecidos e atender às constantes mudanças na re-
gulamentação, nos riscos ambientais e nas pressões sociais, financeiras, econômicas e
competitivas. O S G A objetiva (1) assegurar a conformidade com as leis locais, regio-
nais, nacionais e internacionais; (2) estabelecer políticas internas e procedimentos
para que a organização alcance os objetivos ambientais propostos; (3) identificar e
administrar os riscos empresariais resultantes dos riscos ambientais; e (4) identificar
o nível de recursos e de pessoal apropriado aos riscos e aos objetivos ambientais, ga-
rantindo sua disponibilidade quando e onde forem necessários 1 .

C o m o se pode ver pela Figura 5.1, o S G A proposto pela I C C é constituído por


um c o n j u n t o articulado de processos administrativos (planejamento, organização,
implementação e controle) integrado à gestão empresarial global mediante uma
política a m b i e n t a l formulada pela própria empresa e coerente c o m sua política
global. Os ciclos de retroalimentação estabelecidos a partir de mensurações, diag-
nósticos e auditorias trazem implicitamente uma proposta de melhoria c o n t í n u a . É
a política ambiental que dará sentido às incontáveis ações que serão realizadas na
empresa. A palavra sentido significa aqui razão de ser e direção; o primeiro significa-
do indicando o c o m p r o m e t i m e n t o da organização diante dos problemas ambien-
tais e o segundo a p o n t a n d o o rumo, a orientação e os princípios de ação decorrentes
desse c o m p r o m e t i m e n t o .
O F i g u r a 5.1 E l e m e n t o s de u m S i s t e m a d e Gestão A m b i e n t a l .

Fonte: Adaptado de INTERNATIONAL CHAMBER OF COMMERCE (ICC), 1991, p. 6-7.

N o âmbito das organizações, as políticas são diretrizes ou orientações para a toma-


da de decisão, que se expressam por enunciados escritos ou padrões de decisão estabe-
lecidos informalmente. Nem todas as políticas ambientais escritas se transformam em
orientações efetivas para as decisões. As empresas que praticam a maquiagem ou lava-
gem verde, conforme comentado no Capítulo 4, apresentam práticas ambientais dife-
rentes de suas políticas explícitas. Obviamente estas não são políticas e práticas que
interessam a um S G A com os objetivos listados acima. A política ambiental deve ser
explicitada em documentos e referir-se a propostas positivas que orientem as decisões
sempre n o sentido de melhorar o desempenho ambiental da empresa e de acatar todas
as disposições legais a que estiver sujeita.

O S I S T E M A C O M U N I T Á R I O D E E C O G E S T Ã O E A U D I T O R I A (EMAS)

Outra proposta de S G A foi estabelecida pelo Conselho da C o m u n i d a d e Econômi-


ca Européia, em 1993, como parte do Sistema Comunitário de Ecogestão e Auditoria,
conhecido pela sigla Emas (Eco Management and Audit Scheme)1. No início, o Emas era
um programa aberto à participação voluntária apenas de empresas industriais, e a

2 C O N S E L H O S DAS C O M U N I D A D E S EUROPEIAS. Regulamento (CCE) n. 1.836 de 29/07/1993, que insti-


tui a participação voluntária das empresas industriais num sistema comunitário de ecogestão e auditorias (EMAS)
- Eco-management and audit scheme). Jornal Oficial das Comunidades Européias, n. L.168/1, p. 1-18, 10 jul. 1993.
partir de 2001 tornou-se acessível a qualquer organização interessada em melhorar seu
comportamento ambiental, entendido como o resultado da gestão de seus aspectos
ambientais 3 . Aspecto ambiental é um elemento das atividades, dos produtos ou dos
serviços da organização que possa interagir com o meio ambiente. O objetivo do Emas
é a promoção da melhoria contínua do comportamento ambiental de uma organiza-
ção por meio de:

a) concepção e implementação de um S G A conforme os requisitos estabelecidos


pela regulamentação comunitária;
b) avaliação sistemática, objetiva e periódica do desempenho desse SGA;
c) fornecimento de informação sobre o comportamento ambiental e do diálogo
aberto com o público e outras partes interessadas; e
d) participação ativa do pessoal da organização, bem como da formação e aperfei-
çoamento de profissionais adequados às tarefas requeridas pelo SGA 4 .

O S G A é um componente do sistema global de gestão da organização, que inclui


a estrutura funcional, as atividades de planejamento, as responsabilidades, as práticas,
os processos, os procedimentos e os recursos para definir, aplicar, consolidar, rever e
manter a política ambiental. Esta última envolve os objetivos e princípios globais de
ação da organização em matéria ambiental, incluindo a observância de todas as dispo-
sições legais pertinentes e o empenho na melhoria contínua do comportamento am-
biental 5 . A administração de nível mais elevado deve estabelecer uma política ambiental
e garantir que ela:

a) seja adequada à natureza, à escala e aos impactos ambientais de suas ativida-


des, seus produtos e serviços;
b) inclua o compromisso de melhoria contínua e de prevenção da poluição;
c) esteja comprometida com o cumprimento das legislações e regulamentos;
d) proporcione o enquadramento para a definição e revisão de objetivos e metas;
e) seja documentada, implementada, mantida e comunicada a todos os empre-
gados; e
f) esteja disponível ao público 6 .

3 C C E , Regulamento n° 761 de 19/03/2001.


4 C C E , 2001. Art. I o .
5 C C E , 2001. Art. 2°.
Enquanto o sistema proposto pela I C C não define a abordagem para os problemas
ambientais, o Emas claramente se volta para a prevenção da poluição, como mostra a
exigência constante no item (b) anterior. Quanto aos requisitos do SGA, além da polí-
tica ambiental, eles devem atender às disposições estabelecidas em regulamentos que
são as mesmas da norma ISO 14001, comentadas mais adiante. Os requisitos dessa
norma foram reconhecidos como correspondentes aos do Emas em 1997 7 e reafirma-
dos em 2006 8 .
O S G A do Emas também pode ser visto como um ciclo P D C A conforme mostra-
do anteriormente. A melhoria contínua é uma preocupação explicitada em diversos
regulamentos. U m aspecto importante desse S G A é a gestão, implementação e análise
de um programa sistemático e periódico de auditoria para verificar se a gestão ambien-
tal está conforme a política e os planos estabelecidos, e se ela está sendo implementada
de modo eficiente. O Emas criou um sistema para o credenciamento de verificadores
ambientais independentes nos países da União Européia. Em cada país do bloco foi
criado ou designado um organismo para proceder ao registro das organizações no
Emas. Só as organizações registradas nesses organismos podem usar o logotipo do
Emas, de acordo com certas regras, por exemplo, podem usar na publicidade de pro-
dutos, serviços e atividades, mas não no próprio produto ou em sua embalagem.

N O R M A S INTERNACIONAIS SOBRE GESTÃO AMBIENTAL

Dentre as iniciativas de autorregulamentação estão as normas voluntárias sobre


S G A que começaram a ser elaboradas de modo mais intenso a partir de meados da
década de 1990. O surgimento dessas normas se deve aos seguintes fatores: cresci-
mento vigoroso da legislação ambiental, influência das O N G s que atuam nas áreas
do meio ambiente e correlatas; aumento do contingente de consumidores responsá-
veis, ou consumidores verdes, que procuram cada vez mais utilizar produtos ambien-
talmente saudáveis; intensificação dos processos de abertura comercial, expondo
produtores com diferenças pronunciadas de custos ambientais e sociais a uma compe-
tição mais acirrada e internacional; e restrições à criação de barreiras técnicas para
proteger mercados dentro da lógica da globalização. Essas restrições foram ampliadas
com a aprovação do Tratado de Marrakesh de 1994, que encerrou a Rodada Uruguai
de negociações comerciais multilaterais no âmbito do G A 1 1 e criou a Organização
Mundial do Comércio (OMC).

7 C C E . Decisão n. 2 6 5 de 16/04/1997.
A primeira norma sobre S G A foi a B S 7750, criada pelo British Standards Institution
(BSI), em 1992. Essa norma define S G A como estrutura organizacional, responsabilida-
des, práticas, procedimentos, processos e recursos para implementar o gerenciamento
ambiental. Gerenciamento ambiental são os aspectos da função de gerenciamento glo-
bal, incluindo o planejamento, que determinam e implementam a política ambiental.
Política ambiental é uma declaração pública sobre as intenções e os princípios de ação
da organização a respeito de suas questões ambientais. A administração deve assegurar
que essa política: (a) seja relevante para suas atividades, seus produtos, serviços e impac-
tos ambientais; (b) seja conhecida, implementada e mantida em todos os níveis da orga-
nização; (c) torne-se disponível publicamente; (d) inclua um comprometimento com a
melhoria contínua do desempenho ambiental; (e) proporcione o estabelecimento e a
publicação de objetivos ambientais. O seu modelo de S G A , baseado n o ciclo P D C A ,
c o m o mostra a Figura 5.2, serviu de exemplo e inspiração para diversas normas voluntá-
rias sobre S G A criadas em outros países e para a International Organization for Standardi-
zation (ISO). Essa norma foi cancelada pela BSI em 1997, após a publicação das normas
sobre S G A pela I S O .

A família de normas ISO 14000


A I S O é uma instituição formada por órgãos nacionais de normalização criada em
1947, com o objetivo de desenvolver a normalização e atividades relacionadas para fa-
cilitar as trocas de bens e serviços no mercado internacional e a cooperação entre os
países nas esferas científicas, tecnológicas e produtivas. A elaboração da n o r m a
B S 7 7 5 0 estimulou a produção de outras normas sobre S G A por órgãos de normaliza-
ção de vários países. Antecipando os problemas decorrentes da proliferação de normas
sobre S G A que poderiam funcionar como obstáculos ao comércio internacional, a
I S O criou, em 1991, um grupo de assessoria denominado Strategic Advisory Group on the
Environment (Sage) para estudar os impactos dessas normas ambientais sobre o comér-
cio internacional. Ao final de 1992, o Sage recomendou a criação de um comitê espe-
cífico para a elaboração de normas sobre gestão ambiental.

As normas que integram a família I S O 1 4 0 0 0 começaram a ser elaboradas em


1993 pelo C o m i t ê T é c n i c o 207 ( T C 207), seus subcomitês ( S C ) e grupos de trabalhos
( W G ) . Cada subcomitê é independente e administrado por uma entidade nacional
de normalização, m e m b r o da I S O . Para desenvolverem suas atividades, o T C 207 e
seus subcomitês interagem com os outros comitês técnicos da I S O que realizam tra-
balhos de normalização sobre sistemas de qualidade ( T C 176), poluição d o ar ( T C
146), da água ( T C 147), do solo ( T C 190), entre outros. O desenvolvimento de uma
n o r m a internacional pela I S O é feito mediante estágios sucessivos, começando por
Figura 5.2 BS 7750 - Sistema de Gestão Ambiental.

Fonte: BRITISH S T A N D A R D S INSTITUTION (BSI). 1992.

um item de trabalho preliminar e terminando com a sua publicação, c o m o mostra o


Quadro 5.1. C a d a avanço de estágio representa uma evolução na busca de consenso
, sobre o tema tratado. C o n s e n s o na I S O não é aprovação por maioria de votos e nem
por unanimidade, mas a ausência de oposição sustentada n o debate sobre a matéria
em pauta 9 . Pelo fato de serem normas construídas com elevado consenso internacio-
nal, elas não representam barreiras técnicas ao comércio. Isso explica o grande suces-
so das normas de gestão I S O , cuja primeira experiência foi n o campo da qualidade
com as normas I S O 9 0 0 0 .
G u a d r o 5.1 E s t á g i o s d o d e s e n v o l v i m e n t o d e u m a n o r m a i n t e r n a c i o n a l pela ISO.

N o m e do produto ou documento resultante do estágio Sigla em


Estágio
(product name) inglês
Preliminar Item de trabalho preliminar - projeto (Preliminary Work Item-projectj PWI

Proposta Proposta de novo item de trabalho (New Proposal for a workitem) NP

Preparatório Rascunho de Trabalho (Working Draftl WD

Comitê Rascunho de Comitê (Committee Draftl CD

Consulta Rascunho de Norma Internacional (Draft International Standardj DIS

Aprovação Rascunho Final de Norma Internacional (Final Draft International Standard) FDIS

Publicação Norma Internacional (International Standard! IS

Fonte: ISO Central Secretariat. My ISO job: Quiáance fordelegates and experts. Genebra: ISO, 2005, p. 11.

O Quadro 5.2 apresenta os subcomitês do T C 207 com suas respectivas áreas temá-
ticas e algumas normas produzidas. No início eram cinco subcomitês concernentes às
seguintes áreas temáticas: sistemas de gestão ambiental, auditoria ambiental, avaliação
do desempenho ambiental, rotulagem ambiental e avaliação do ciclo de vida do produ-
to. As normas relativas às três primeiras áreas são aplicáveis às organizações, enquanto
as demais, aos produtos e processos. Diversos grupos de trabalhos vinculados à coorde-
nação do T C 207 ficaram encarregados de outros temas, como vocabulário e termos,
aspectos ambientais em projetos de produtos e gestão de gases de efeito estufa. Dada a
importância deste último tema, esse grupo de trabalho tornou-se um subcomitê. As
normas produzidas pelos subcomitês e grupos de trabalho do T C 207, embora tenham
sido concebidas de acordo com o ciclo P D C A (como mostra a Figura 5.3), são indepen-
dentes e podem, portanto, ser aplicadas em qualquer organização de forma isolada.

O F i g u r a 5.3 N o r m a s ISO 1 4 0 0 0 s e l e c i o n a d a s e o Ciclo P D C A .

Comunicação ambiental Sistema de gestão ambiental


- ISO 14063:2006 / \ - ISO 14001:2004
Rotulagem Ambiental / \ - ISO 14004:2004
- ISO 14020:2000 / AGIR
PLANEJARX
- I S O 14021:1999 / ,
- ISO 14024:1999 / (Plan) \

Auditoria ambiental l J Avaliação do ciclo de vida


- i s o 19011 \ CHECAR FAZER / - ISO 14040:2006
Avaliaçao do desempenho ambiental \ (Check) (Do) / "* l s o 14044:2006
- ISO 14031:1999 \
Avaliação ambiental de locais e organizações N.
- ISO 14015:2001

Fonte: Elaborado com informações de ISO, 2009, p. 9.


Q Quadro 5.2 0 ISO/TEC 207 e normas ISO 14000 selecionadas.

C O M I T Ê T É C N I C O 207
Coordenação e Secretaria: Canadian Standards Association (Canadá)
Área Temática NORMAS PUBLICADAS
Subcomitê (País do Órgão de Normalização que Exemplos
exerce a função de Secretaria)

Sistemas de Gestão Ambiental (SGA) ISO 14001:2004 - Sistemas de gestão ambiental - requisi-
(Reino Unido) tos com orientações para uso.
ISO 14004:2004 - Sistema de gestão ambiental - diretrizes
SC 1
gerais sobre princípios, sistemas e técnicas de apoio.
** ISO 14063:2006 - Gestão ambiental - comunicação ambien-
tal - diretrizes e exemplos.

Auditoria Ambiental e <•* ISO 19011:2002 - Diretrizes para auditorias de sistema de


Investigações Relacionadas gestão da qualidade e/ou ambiental.
SC 2
(Países Baixos) ISO 14015:2001 - Gestão ambiental - avaliação ambiental
de locais e Organizações (AAL0).

Rotulagem Ambiental «-» ISO 14020:2000 - Rótulos e declarações ambientais - princí-


(Austrália) pios gerais.
r» ISO 14021:1999 - Rótulos e declarações ambientais -reivin-
SC 3 dicações de autodeclarações ambientais - rotulagem am-
biental tipo II.
<-* ISO 14024:1999 - Rótulos e declarações ambientais - rotu-
lagem ambiental tipo I - princípios e procedimentos.

Avaliação do Desempenho Ambiental r* ISO 14031:1999 - Gestão ambiental - avaliação do desem-


SC 4
(Estados Unidos) penho ambiental - diretrizes.

Avaliação do Ciclo de Vida ~ ISO 14040:2006 - Gestão ambiental - Avaliação do ciclo de


(França) vida - princípios e estruturas.
SC 5
r» ISO 14044:2006 - Gestão ambiental - Avaliação do ciclo de
vida - requisitos e guia.

Gestão de gás de efeito estufa *-> ISO 14064-1:2006 - Gases de efeito estufa - parte 1: espe-
(Canadá) cificações com guia para quantificar e relatar as emissões e
remoções de gases de efeito estufa no nível da organização.
<•+ ISO 14064-2:2006 - Gases de efeito estufa - parte 2: espe-
cificações com guia para quantificar, monitorar e relatar as
SC 7
emissões e remoções de gases de efeito estufa no nível do
projeto.
"» ISO 14064-3:2006 - Gases de efeito estufa - parte 3: espe-
cificações com guia para validação e verificação de afirma-
ções sobre gases de efeito estufa.

Fonte: Elaborado com informações da TC/IS0 207. Disponível em: <http://www.iso.ch>. Acesso em: 15jul. 2010.
A S NORMAS ISO 14000 SOBRE SISTEMA DE GESTÃO AMBIENTAL
As normas relativas aos sistemas de gestão ambiental genérico são: I S O 14001 e I S O
14004. Elas foram publicadas em 1996 e passaram por um processo de revisão iniciado
em 1999 e concluído em 2004. Foram traduzidas pela Associação Brasileira de Normas
Técnicas (ABNT) e integram o conjunto de normas dessa instituição. São elas:

N B R I S O 14001:2004 - Sistemas de Gestão Ambiental: requisitos com orien-


tações para uso; e
i-» N B R I S O 14004:2005 - Sistemas de Gestão Ambiental - diretrizes gerais so-
bre princípios, sistemas e técnicas de apoio 10 .

Essas duas normas podem ser aplicadas em qualquer organização, pública ou pri-
vada, independentemente de seu porte ou do setor de atuação. A N B R I S O 14001 é
uma norma que contém os requisitos que podem ser objetivamente auditados para
fins de certificação, registro ou autodeclaração e a N B R I S O 14004 fornece diretrizes,
recomendações e exemplos para a empresa criar e aperfeiçoar seu S G A .
A Figura 5.4 apresenta o modelo de S G A da família I S O 14000, que também se
baseia no ciclo PDCA, tendo como ponto de partida o comprometimento da alta
administração e a formulação de uma política ambiental. Conforme a I S O 14001, o
S G A é a parte de um sistema de gestão de uma organização utilizada para desenvolver
e implementar sua política ambiental e para gerenciar seus aspectos ambientais. E um
conjunto de elementos inter-relacionados utilizados para estabelecer a política am-
biental e os objetivos e para atingir esses objetivos. U m S G A inclui a estrutura organi-
zacional, atividades de planejamento, responsabilidades, práticas, procedimentos,
processos e recursos 11 .

Requisitos gerais do Sistema de Gestão Ambiental


Para efeito de certificação, registro ou autodeclaração, a organização deve estabe-
lecer, documentar, implementar, manter e continuamente melhorar um S G A em
conformidade com os requisitos descritos na seção 4 da norma I S O 14001, cujos títu-
los estão listados no Quadro 5.3. Por ser uma norma horizontal não há requisitos
absolutos para o desempenho ambiental, com exceção (1) do comprometimento, ex-
presso na política ambiental, de estar em conformidade com os requisitos ambientais

10 Para efeito de simplificação, as normas A B N T NBR ISO 14001:2004. Sistemas de gestão ambiental: requisitos
com orientações para uso. Rio de Janeiro: ABNT, 2004, e NBR ISO 14004:2005. Sistemas de gestão ambiental:
diretrizes gerais sobre princípios, sistemas e técnicas de apoio. Rio de Janeiro: ABNT, 2 0 0 5 , serão citadas apenas
como I S O 14001 e ISO 14004, respectivamente. A data desta última refere-se à data da publicação pela ABNT.
O Figura 5.4 ISO 14001:2004: Sistema de Gestão A m b i e n t a l .

legais e outros por ela subscritos, (2) com a prevenção da poluição e (3) com a melho-
ria contínua. Por isso, organizações com atividades similares e desempenho ambiental
diferentes podem atender aos requisitos dessa norma. Espera-se que um S G A criado
e mantido conforme esta norma promova o aperfeiçoamento contínuo do desempe-
nho ambiental global da organização.
A norma I S O 14001 tem como premissa que a organização irá periodicamente
avaliar o seu S G A para identificar oportunidades de melhorias e que irá implemen-
tá-las, segundo a velocidade, extensão e tempo determinados por ela e conforme suas
circunstâncias econômicas 1 2 . Esse fato muitas vezes é mal interpretado e não faltam
pessoas que veem uma autorização para a organização continuar do mesmo jeito.
Não é essa a intenção, pois a norma exige a conformidade legal e preconiza a realiza-
ção de melhorias contínuas no desempenho ambiental global da organização, de
acordo com sua própria política. Melhoria contínua é definida pela norma como um
processo recorrente de se avançar com o S G A com o propósito de atingir o aprimo-
ramento do desempenho ambiental geral, coerente com a política ambiental da
organização 13 .

12 ABNT. N B R ISO 14001:2004, 2004. Anexo 1, A.l.


O Q u a d r o 5.3 Requisitos do SGA conforme a norma NBR ISO 14001:2004.

4.1. REQUISITOS GERAIS

4.2. POLÍTICA AMBIENTAL

4.3. PLANEJAMENTO
4.3.1 Aspectos ambientais
4.3.2 Requisitos legais e outros
4.3.3 Objetivos, metas e programas

4.4. IMPLEMENTAÇÃO E OPERAÇÃO


4.4.1 Recursos, funções, responsabilidades e autoridades
4.4.2 Competência, treinamento e conscientização
4.4.3 Comunicação
4.4.4 Documentação
4.4.5 Controle de documentos
4.4.6 Controle operacional
4.4.7 Preparação e resposta à emergências

4.5. VERIFICAÇÃO
4.5.1 Monitoramento e medição
4.5.2 Avaliação do atendimento a requisitos legais e outros
4.5.3 Não conformidade, ação corretiva e ação preventiva
4.5.4 Controle de registros
4.5.5 Auditoria interna

4.6. ANÁLISE PELA ADMINISTRAÇÃO

Fonte: NBR. ISO 14001:2004, seção 4.

A organização deve definir e documentar o escopo do seu SGA, a fim de esclarecer


os limites dentro dos quais todas as atividades, produtos e serviços serão considerados
pelo SGA. A empresa tem liberdade e flexibilidade para implementar o S G A para toda
a organização ou para unidades operacionais ou atividades específicas. Embora seja
esta uma norma aplicável a qualquer tipo de organização, o nível de detalhamento e
complexidade do SGA, a amplitude da documentação e a quantidade de recursos
alocados dependem do porte e da natureza da atividade da organização. Essa flexibili-
dade derruba um argumento muito freqüente de que a norma só é viável para as gran-
des empresas devido ao elevado grau de formalismo exigido. U m SGA, de acordo com
esta norma, requer que a organização:

a) estabeleça uma política ambiental apropriada;


b) identifique os aspectos ambientais decorrentes de suas atividades, produtos e
serviços, passados, existentes ou planejados, para determinar os impactos am-
bientais significativos;
c) identifique os requisitos legais aplicáveis e outros subscritos;
d) identifique prioridades e estabeleça objetivos e metas ambientais apropriadas;
e) estabeleça uma estrutura e programas para implementar a política e atingir
objetivos e metas;
f) facilite as atividades de planejamento, controle, monitoramento, ação preven-
tiva e corretiva, auditoria e análise, para assegurar que a política seja obedecida
e que o S G A permaneça apropriado; e
g) seja capaz de adaptar-se às mudanças de circunstâncias 14 .

É recomendado que a organização que ainda não tem um S G A faça um diagnósti-


co inicial para levantar a situação presente em relação ao meio ambiente dentro dos
limites estabelecidos pelo escopo, cobrindo, no mínimo, as seguintes áreas: (1) identi-
ficação dos aspectos ambientais, considerando as condições normais e anormais de
operação e incluindo partidas e paradas e situações de emergência e de acidentes; (2)
identificação dos requisitos legais aplicáveis e os subscritos voluntariamente pela orga-
nização; (3) exame das práticas e procedimentos ambientais existentes, inclusive as as-
sociadas a aquisição e contratação de serviços; e (4) avaliação das situações de
emergência e acidentes ocorridos anteriormente 15 .

Política ambiental
A política ambiental é uma declaração da organização expondo suas intenções e
princípios gerais em relação a seu desempenho ambiental, que provê uma estrutura
para ação e definição de seus objetivos e metas ambientais 16 . A alta administração deve
definir a política ambiental da organização e assegurar que, dentro do escopo definido
de seu SGA, ela:

a) seja apropriada à natureza, à escala e aos impactos ambientais de suas ativida-


des, produtos e serviços;
b) inclua um comprometimento com a melhoria contínua e com a prevenção da
poluição;
c) inclua um comprometimento com o atendimento ao requisitos legais aplicá-
veis e outros subscritos que se relacionem com seus aspectos ambientais;
d) forneça uma estrutura para o estabelecimento e a análise dos objetivos e metas
ambientais;

" ABNT, N B R I S O 14001:2004, Anexo A, seção A l .


" ABNT, N B R I S O 14001:2004. Anexo A, seção A . l .
e) seja documentada, implementada e mantida;
f) seja comunicada a todos que trabalhem na organização ou que atuem em seu
nome; e
g) esteja disponível para o público 17 .

A política ambiental estabelece o nível de responsabilidade e desempenho ambien-


tal requerido pela organização pelos quais todas as ações subsequentes serão julgadas.
Os debates sobre a definição da política devem ser antecedidos por uma avaliação
ambiental inicial, para assegurar que ela seja estabelecida com base no reconhecimen-
to dos impactos ambientais que a empresa produz. As políticas devem se expressar
mediante declarações escritas que reafirmem o compromisso da alta administração
com certo desempenho ambiental. A ISO 14004 recomenda que uma política ambien-
tal considere os seguintes elementos:

a) missão, visão, valores essenciais e crenças da organização;


b) coordenação com outras políticas da organização, por exemplo, política de
qualidade;
c) requisitos das partes interessadas e comunicação com elas;
d) princípios orientadores;
e) condições locais ou regionais específicas;
f) compromissos com a prevenção da poluição e a melhoria contínua; e
g) compromissos com o atendimento aos requisitos legais e outros subscritos pela
organização 18 .

Parte interessada é qualquer indivíduo ou grupo de interessado ou afetado pelo


desempenho ambiental de uma organização 19 . A versão de 1996 da I S O 14004 apre-
sentava como exemplos de princípios orientadores a Declaração do Rio de Janeiro
sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (ver Anexo 2) e a Carta Empresarial da I C C
(ver Anexo 4), ambas transcritas na íntegra 20 . Na versão atual não há qualquer exempli-
ficação, apenas a recomendação constante no item (d) acima. Outros exemplos de
princípios que podem orientar o desenvolvimento da política ambiental são os Princí-
pios Ceres (ver Quadro 3.4), os princípios diretivos do Programa Atuação Responsável
(ver Quadro 4.3), a Declaração Internacional sobre Produção mais Limpa e as práticas

17 ABNT, N B R ISO 14001:2004, requisito 4.2.


18 ABNT, N B R I S O 14004:2005, seção 4.2.
19 ABNT, N B R I S O 1 4 0 0 4 : 2 0 0 5 2004, definição 3.13.
de minimização de resíduos, mencionadas no capítulo anterior. Praticamente todas as
iniciativas voluntárias unilaterais coletivas, como as citadas n o Quadro 3.3, apresen-
tam princípios que podem servir para orientar a organização na definição de sua polí-
tica ambiental.

A prevenção da poluição é definida como uso de processos, práticas, técnicas,


materiais, produtos, serviços ou energia para evitar, reduzir ou controlar, de forma se-
parada ou combinada, a geração, emissão ou descarga de qualquer tipo de poluente ou
rejeito, para reduzir os impactos ambientais adversos 21 . A norma I S O 14004 recomen-
da uma abordagem hierárquica para definir o compromisso com a prevenção da polui-
ção na política ambiental. Isso pode ser feito conforme mencionado n o capítulo
anterior, por exemplo, comprometendo-se com a minimização de resíduos e emissões
na fonte como prioridade máxima e com o desenvolvimento de produtos e serviços,
avaliando os impactos ambientais ao longo do ciclo de vida 22 .

A política ambiental da empresa deve se apresentar na forma de uma declaração


não muito longa para facilitar sua divulgação em diferentes meios de comunicação,
pois ela deve se tornar conhecida, compreendida e lembrada pelos membros da orga-
nização e de partes interessadas, como clientes, fornecedores, agentes financeiros, au-
toridades locais e comunidade vizinha. A política não deve ser redigida de modo a
transmitir uma mensagem genérica a ponto de valer para qualquer tipo de organiza-
ção. Lembrando o que foi dito acima, a política ambiental deve ser apropriada à natu-
reza, à escala e aos impactos ambientais das atividades, produtos e serviços da
organização. Deve-se também evitar o uso de palavras que podem ser interpretadas
como evasivas ou que indiquem um comprometimento pro forma, apenas para dar uma
satisfação às partes interessadas. A organização que concebe uma política desse modo
está na verdade praticando a maquiagem verde.

Aspectos ambientais
Aspecto ambiental é definido como elemento das atividades, produtos ou serviços
de uma organização que pode interagir com o meio ambiente 2 3 . O s aspectos ambien-
tais referem-se ao uso de água, matérias-primas, energia, espaço e outros recursos pro-
dutivos e do uso do meio ambiente como receptáculo de resíduos dos processos de
produção e consumo, assunto discutido no primeiro capítulo. O aspecto ambiental é

21
ABNT, N B R I S O 14001:2004, definição 3.18.
22
ABNT, N B R I S O 1 4 0 0 4 : 2 0 0 5 , seção 4.2.
23
a causa e o impacto ambiental, o efeito. Entende-se por impacto ambiental qualquer
modificação do meio ambiente, adversa ou benéfica, que resulte, no todo ou em parte,
dos aspectos ambientais da organização 24 . U m aspecto ambiental pode interagir com o
meio ambiente de diferentes modos, gerando diferentes tipos de impactos. Exemplo:
o uso de combustível fóssil para gerar energia é um aspecto ambiental de uma ativida-
de e seus impactos ambientais são, entre outros, a redução das reservas de um recurso
natural não renovável e a emissão de C O z , S 0 2 , N O x e outros gases poluentes, sendo
que alguns contribuem para o aquecimento global. O Quadro 5.4 apresenta outros
exemplos de aspectos e seus respectivos impactos. Note que esse quadro apresenta
exemplos de impactos positivos associados aos aspectos ambientais da organização.

Q u a d r o 5.4 Exemplos de aspectos e impactos ambientais.

Exemplo de: Aspecto ambiental Impacto ambiental


Esgotamento de recurso natural não
Consumo de óleo de aquecimento
renovável.

Poluição do ar.
Impactos respiratórios sobre os residentes
Operação de Emissão de dióxido de enxofre (S0 2 ), dióxi-
Atividade: locais.
caldeira do de carbono (C0 2 ) e óxido nitroso (N 2 0)
Impacto de chuva ácida em água superficial.
Aquecimento global e mudança climática.

Mudança na qualidade da água, por exem-


Lançamento de água aquecida
plo, temperatura.

Cartucho de
tinta de
Uso de matérias-primas Conservação de recurso.
impressora
reutilizável
Produto:
Geração de resíduos sólidos Uso do solo.

Vida finai
Recuperação e reutilização de componentes Conservação de recursos naturais.

Cumprimento dos objetivos da qualidade


Emissão de óxidos de nitrogênio (N0 x )
Manutenção do ar.
Serviço:
de frota
Geração de resíduos de óleo Poluição do solo.

Fonte: ABNT, NBR ISO 14004:2005, Informativo A.


A organização deve estabelecer, implementar e manter procedimentos para
identificar os aspectos ambientais de suas atividades, produtos e serviços, dentro do
escopo de seu S G A , para que ela possa controlá-los ou influenciá-los. A empresa
deve determinar os aspectos significativos, isto é, os que tenham ou possam ter
impactos ambientais significativos, assegurando que eles serão considerados no es-
tabelecimento, implementação e manutenção do seu SGA 2 5 . Note que a norma re-
comenda considerar apenas os aspectos significativos para efeito desse requisito.
Para identificar tais aspectos, a norma I S O 14001 recomenda considerar as entra-
das e saídas, intencionais ou não, associadas às suas atividades, produtos ou servi-
ços relevantes, presentes, passados ou planejados, em condições de operações
normais e anormais, incluindo a posta em marcha de novas atividades, manutenção
e situações de emergência 2 6 .

A norma recomenda selecionar categorias de atividades, produtos ou serviços e


considerar, entre outras questões a elas relacionadas, as emissões atmosféricas, os lan-
çamentos em corpos d'água e no solo, o uso de matérias-primas, energia e recursos
naturais, a energia emitida na forma de calor, radiação ou vibração, os resíduos e sub-
produtos. Recomenda também levar em conta: projeto e desenvolvimento; processo
de fabricação; embalagem e transporte; desempenho ambiental e práticas dos presta-
dores de serviços e fornecedores; gerenciamento de resíduos; distribuição, uso e fim de
vida de produtos, e vida selvagem e biodiversidade 27 .

O Emas, embora baseie-se na I S O 14001, é muito mais específico com relação à


identificação dos aspectos ambientais, podendo servir de guia para qualquer SGA. Ele
estabelece que a organização deve ponderar os aspectos ambientais diretos e indiretos
de suas atividades, seus produtos e serviços. Os aspectos diretos são os associados às
atividades, produtos e serviços da organização sobre os quais ela detém o controle da
sua gestão, como as gestões relacionadas a suas emissões atmosféricas, descargas em
corpos d'água, utilização de recursos naturais, entre outros. Os aspectos indiretos são
os que a organização pode não possuir controle integral da sua gestão, por exemplo,
comportamento ambiental de empreiteiros, subempreiteiros e fornecedores; investi-
mentos de capital, concessão de empréstimos e serviços de seguros; concepção e desen-
volvimento de embalagem pelo fornecedor 28 .

25 ABNT, N B R ISO 14001:2004, requisito 4.3.1.


26 ABNT, N B R ISO 14001:2004. Anexo A.
27 ABNT, N B R ISO 14004:2005, seção 4.3.1.3.
28 C O N S E L H O S DAS C O M U N I D A D E S E U R O P E I A S , Resolução C E 761/2001, Anexo VI, item 6.2.
A I S O 14004 recomenda que a abordagem escolhida para identificar os impactos
ambientais seja capaz de reconhecer:

os impactos positivos e negativos;


f* os impactos potenciais e reais;
>-* as partes do meio ambiente que podem ser afetadas (ar, água, solo, fauna, flora
e patrimônio cultural);
<•* as características da localização que podem afetar o impacto, como condições
meteorológicas local, altura do lençol freático e tipo de solo;
a natureza das alterações ambientais, tais como questões locais ou globais, pe-
ríodo de tempo em que o impacto ocorre, potencial de acúmulo de intensida-
de do impacto ao longo do tempo 29 .

O Quadro 5.5 apresenta uma relação de fontes de informação para identificar


os aspectos e impactos ambientais. Identificados os aspectos ambientais, a organiza-
ção deve avaliar os impactos associados a cada um deles, não sem antes estabelecer
critérios para determinar aqueles que serão considerados significativos. A norma
fala em aspectos significativos que são os que apresentam impactos significativos.
Isso impede que a organização selecione aspectos associados com impactos insigni-
ficantes só para mostrar que está fazendo alguma coisa, o que caracterizaria uma
prática de lavagem verde. U m S G A conforme a norma em questão não combina
com esse tipo de prática.

Nem todos os aspectos identificados devem ser considerados no ciclo de planeja-


mento do S G A . A norma não define o que é um aspecto ou impacto significativo e
nem indica métodos e/ou critérios específicos para avaliá-los, o que é correto, uma vez
que cada atividade, produto ou serviço apresenta aspectos e impactos específicos para
cada organização e seu entorno. Para determinar a significância do aspecto identifica-
do, os seguintes critérios gerais são recomendados:

critérios ambientais, como escala, severidade e duração do impacto, ou tipo,


tamanho e freqüência de um aspecto ambiental;
<•* requisitos legais aplicáveis, como os limites de emissão e lançamento em auto-
rizações e regulamentos; e
f* preocupações das partes interessadas, internas e externas, como as relacionadas aos
valores da organização, sua imagem pública, ruído, odor e degradação visual30.

ABNT, N B R ISO 14004:2005, seção 4.3.1.4.


Q u a d r o 5.5 Fontes de i n f o r m a ç a o sobre a s p e c t o s e i m p a c t o s a m b i e n t a i s - e x e m p l o s .

<-> Documentos de informações gerais, como catálogos e relatórios anuais.


Manuais de operação, fluxogramas de processos ou planos de qualidade.
~ Relatórios de auditorias, avaliações ou análises ambientais prévias, ou avaliação do ciclo de vida.
<-» Informações de outros sistemas de gestão, como o de qualidade e o de saúde e segurança ocupacional.
Í-» Dados de relatórios técnicos, análises ou estudos publicados, listas de substâncias tóxicas.
Requisitos legais aplicáveis e outros subscritos pela organização.
** Códigos de práticas, políticas nacionais e internacionais, diretrizes e programas.
Dados de compra.
f* Especificações de produtos, dados de desenvolvimento de produtos, Fichas de Dados de Segurança de Materiais e
Produtos Químicos (FISPQ) ou dados de balanço de energia e material.
Inventário de resíduos.
>-» Dados de monitoramento.
<-• Pedidos de autorização e licença ambientais.
!-* Visões, solicitações ou acordos com as partes interessadas.
>— Relatórios de situações emergenciais e acidentais.

Fonte: ABNT, NBR ISO 14004:2005, seção 4.3.1.5-ajuda prática.

Em geral, os critérios a serem considerados na avaliação do aspecto ou do impacto


são os seguintes: (1) abrangência, isto é, se eles geram conseqüências no local, na re-
gião, no país ou se trata de um problema global; (2) severidade, que indica o grau de
intensidade dos danos ao meio ambiente; (3) probabilidade de ocorrência; (4) tempo
de reversibilidade dos efeitos sobre o meio ambiente; e (5) probabilidade de detectar
antecipadamente a eminência do aspecto ou impacto. Esses critérios podem ser aplica-
dos aos aspectos ambientais, aos impactos associados ou a ambos - na maioria das ve-
zes aplicam-se aos impactos. A avaliação deve ser feita de modo combinado, por
exemplo, um impacto de elevada severidade com freqüência de ocorrência desprezível
é menos significativo do que um com severidade média e freqüência elevada.
A norma recomenda a determinação de níveis ou valores de significância para
cada critério com base em uma combinação de probabilidade de uma ocorrência e
suas conseqüências, como severidade e intensidade 31 . As escalas de mensuração po-
dem ser qualitativas, como: baixa, média ou alta probabilidade de ocorrência do aspec-
to ou de um dos seus impactos. Ou escalas quantitativas com notas associadas a sua
gradação, por exemplo, valores de 1 a 5, no qual 1 indica uma probabilidade muito
baixa e 5, muito alta. O resultado da avaliação pode ser expresso por meio de adjetivos
do tipo desprezível, moderado, elevado e crítico, conforme a soma das notas obtidas,
O F i g u r a 5.5 Avaliação de impactos: exemplo de combinação de critérios.

Freqüência
de ocorrência

Impacto desprezível Impacto elevado

Impacto moderado Impacto crítico

como mostra a Figura 5.5; por exemplo: soma igual a 2 ou 3, impacto desprezível; 4 e
5, moderado; 6 e 7, elevado; 8, 9 e 10, crítico.
O uso de filtros ajuda a estabelecer o grau de significância, tais como: o aspecto ou
o impacto ser objeto de legislação ambiental específica; ser uma preocupação manifes-
tada pelos trabalhadores, vizinhos ou outras partes interessadas; ter saído do controle
da organização no passado e causado acidentes; estar relacionado a um dos graves
problemas globais, como a acumulação de gases de efeito estufa e a perda de biodiver-
sidade. Os aspectos ou impactos ambientais que se enquadram em situações como es-
sas são potencialmente significativos.

Requisitos legais e outros


A organização deve estabelecer, implementar e manter procedimentos para identi-
ficar e ter acesso a requisitos legais aplicáveis e a outros subscritos por ela, relacionados
aos seus aspectos ambientais, e para determinar que eles se aplicam a estes aspectos 32 .
Deve assegurar que esses requisitos sejam considerados no estabelecimento, implanta-
ção e manutenção do SGA. Para atender a esse requisito é necessário identificar e
analisar a legislação aplicável dos três entes da Federação brasileira (União, Estados ou
Distrito Federal e Municípios), nos quais a organização desenvolve atividades. Cabe
lembrar que a Constituição de 1988 ampliou a competência dos estados e municípios
para legislar em matéria ambiental, o que torna essa fase mais complexa e trabalhosa.
Tal complexidade também decorre do fato de que as questões ambientais são regula-
mentadas em praticamente todos os ramos do Direito (Direito Constitucional, Civil,
Penal, Tributário, Trabalhista, Administrativo etc.). Esse requisito é de importância
crucial, pois se refere ao atendimento da conformidade legal da organização, um com-
prometimento de política ambiental imprescindível. Por isso, um S G A requer a cria-
ção e atualização permanente de um banco de dados relativos às normas legais
aplicáveis em todos os locais onde a empresa atua.
Requisitos subscritos são, por exemplo, os códigos de conduta e diretrizes de acor-
dos voluntários feitos pela organização, públicos ou privados, conforme discutido no
Capítulo 3. Além dos requisitos de origem externa, impostos por força de lei ou ado-
tados como acordo voluntário, a organização também pode estabelecer seus próprios
critérios de desempenho ambiental. Os critérios internos de desempenho devem ser
desenvolvidos e implementados quando não existem normas externas ou quando a
organização pretende ir além das exigências legais. Eles podem se referir à gestão dos
produtos da organização, prevenção e controle da poluição, gerenciamento de mate-
riais perigosos, gerenciamento de resíduos, rotulagem ambiental, educação ambiental,
compromissos com a comunidade e outras atividades da ação ambiental. São esses
critérios que definem o quanto a organização é proativa em relação às questões am-
bientais. Os critérios internos e os requisitos externos, legais ou subscritos, são elemen-
tos importantes para a definição dos objetivos e metas ambientais da organização.

Objetivos, metas e programas


Estabelecer, implementar e manter objetivos e metas ambientais documentados,
nas funções e níveis relevantes da organização é um requisito do SGA. Os objetivos e
metas devem ser coerentes com a política ambiental, incluindo o comprometimento
com a prevenção da poluição, o atendimento aos requisitos legais e subscritos e a me-
lhoria contínua 33 . A norma define objetivo ambiental como o propósito ambiental
geral, decorrente da política ambiental, que uma organização se propõe a atingir. Meta
ambiental é um requisito de desempenho detalhado, aplicável à organização ou a parte
dela, resultante dos objetivos ambientais, que necessita ser estabelecido e atendido
para que os objetivos sejam alcançados 34 . Essa é a distinção convencional entre objeti-
vos e metas, sendo que um objetivo pode se desdobrar em várias metas e estas, em
etapas a serem cumpridas para alcançar um objetivo.

33 ABNT, N B R I S O 14004:2005, seção 4.3.1.5.


O s objetivos ambientais devem ser coerentes com os comprometimentos constan-
tes na política ambiental. A norma I S O 14004 recomenda que os objetivos ambientais
sejam considerados objetivos gerais da organização para reforçar a interação do S G A
com os demais componentes. U m objetivo pode ser expresso c o m o um nível específico
de desempenho ambiental, por exemplo, reduzir em 4 0 % o consumo de água por to-
nelada de produtos produzidos nos próximos cinco anos. O u pode ser expresso de
modo genérico, (exemplo: reduzir a geração de gases de efeito estufa) e complementar
por uma ou mais metas (exemplo: reduzir o uso de combustível fóssil nas atividades de
transporte em 2 0 % comparado ao ano anterior). Recomenda-se que as metas sejam
mensuráveis por níveis de desempenho a serem atingidos para cumprir os objetivos
relacionados 3 5 .
Ao estabelecer e revisar seus objetivos, a organização deve considerar os requisitos
legais e outros requisitos, seus aspectos ambientais significativos, suas opções tecnoló-
gicas, seus requisitos financeiros, operacionais e comerciais, bem como a visão das
partes interessadas. Ao avaliar as opções tecnológicas, a empresa deve considerar a
melhor tecnologia disponível, quando economicamente viável, rentável e apropria-
da 36 . Não é imprescindível que a empresa adote a tecnologia mais avançada ou a me-
lhor tecnologia disponível, mas ela pode partir do status atual e perseguir melhorias ao
longo do tempo, continuamente. Essa recomendação se aproxima do conceito de Best
Available Tecnology Not Entailing Excessive Cost ( B A T N E E C ) , ou seja, a melhor tecnolo-
gia disponível cujo custo de implantação e operação não seja excessivo em relação aos
resultados ambientais, conforme comentado no Capítulo 3.

Para acompanhar o alcance dos objetivos e metas, recomenda-se que a organização


estabeleça indicadores mensuráveis, adequados às suas atividades, produtos e serviços
e consistentes com a política ambiental. O Quadro 5 . 6 apresenta uma lista exemplifi-
cativa de indicadores de desempenho ambiental. Sua criação para acompanhar o cum-
primento de objetivos e metas é parte integrante da implementação de um S G A .
Para atingir os objetivos e as metas definidas, a organização deve estabelecer, imple-
mentar e manter programas, incluindo: (a) a atribuição de responsabilidade em cada
função e nível pertinente e (b) os meios e o prazo dentro do qual eles devem ser atin-
gidos 37 . Recomenda-se que cada projeto descreva como os objetivos e metas serão atin-
gidos, incluindo cronograma, recursos e pessoal responsável. A Figura 5.6 mostra o
esquema para a fase de planejamento extraído da norma I S O 14001. Os programas

35
ABNT, N B R ISO 14004:2005, seção 4.3.3.1.
36
ABNT, N B R ISO 14001:2004, requisito 4.3.3.
Q u a d r o 5.6 Indicadores de d e s e m p e n h o a m b i e n t a l — e x e m p l o s .

<-* Quantidade de matéria-prima ou energia utilizada.


Quantidade de emissões.
Resíduos produzidos por quantidade de produto acabado.
Eficiência no uso de material e energia.
** Número de incidentes ambientais (ex.: desvios acima do limite).
Número de acidentes ambientais (ex.: lançamentos de poluentes não planejados).
** Porcentual de resíduos reciclados.
^ Porcentual de material reciclado usado em produtos.
i"* Número de quilômetros rodados pelos veículos de serviço, por unidade de produção.
** Quantidade de poluentes específicos emitidos (ex.: NO^, S0 Z , CO, COVs, Pb, CFCs etc.),
i-* Investimento em proteção ambiental.
r* Número de ações judiciais.

Área de terreno reservada para habitat de vida selvagem.

Fonte: ABNT, NBR ISO 14004:2004, seção 4.3.3.3 - Ajuda prática.

devem ser revisados regularmente para incorporar as modificações em objetivos e me-


tas. Esse é o sentido das setas de dupla direção desta figura.
Uma das vantagens que um SGA pode proporcionar é a possibilidade de integrar a
gestão ambiental à gestão global da organização, tornando mais eficazes as ações em to-
das as áreas e níveis de decisões, pois evitam esforços duplicados ou conflitantes. Por

F i g u r a 5.6 Fase de p l a n e j a m e n t o do SGA - requisitos e suas interações.

Fonte: Elaborado a partir de NBR ISO 14001:2004. Obs.: Os números entre parênteses referem-se aos requisitos da seção 4
dessa norma, vide Quadro 5.3.
exemplo: um programa para reduzir os resíduos de produção pode atender, ao mesmo
tempo, objetivos ligados ao cumprimento da legislação ambiental, ao aumento da produ-
tividade, à redução de custo pela diminuição da quantidade de resíduos que requerem
tratamento especial, entre outros. Supondo que um dos objetivos gerais da organização
seja aumentar sua produtividade, o SGA pode contribuir com programas para reduzir os
custos dos resíduos, que podem se desdobrar em diversos projetos específicos, tais como:
melhorar o processo de produção do produto A, desenvolver aplicações para os rejeitos
com o objetivo de comercializá-los e revisar o projeto do produto B para substituir maté-
rias-primas geradoras de resíduos Classe I. O SGA deve contribuir para que a preocupa-
ção ambiental seja incorporada em todas as atividades da organização.

Recursos, funções, responsabilidades e autoridades


A norma I S O 14001 estabelece que a administração deve assegurar a disponibili-
dade de recursos essenciais para estabelecer, implementar, manter e melhorar o SGA,
como recursos humanos, habilidades específicas, infraestrutura organizacional, tecno-
logia, recursos financeiros, entre outros. As funções, responsabilidades e autoridades
devem ser definidas, documentadas e comunicadas. A alta administração deve indicar
representantes específicos que, independentemente de outras atribuições, devem ter
funções, responsabilidades e autoridade definidas para: (a) assegurar que o S G A seja
estabelecido, implementado e mantido de acordo com a norma; e (b) relatar à alta
administração o desempenho do SGA para análise, incluindo recomendações para
aprimorá-lo 38 .
Recomenda-se que o comprometimento com o S G A comece pelos níveis mais
elevados da organização. E a alta administração que deve formular a política e assegu-
rar que o S G A seja implantado. A designação de representantes específicos com res-
ponsabilidade e autoridade explícitas para implantar e manter o S G A faz parte desse
compromisso. Estes são os administradores do SGA, ou seja, os responsáveis pelo
cumprimento dos requisitos estabelecidos pela norma 39 . No caso de pequenas e mé-
dias empresas, essa responsabilidade pode ser assumida por uma só pessoa, que pode
ser o proprietário; nas grandes e complexas, é necessário designar mais de uma pessoa,
como exemplificado no Quadro 5.7.

As responsabilidades ambientais não devem se restringir às funções de gestão


ambiental. Essa recomendação reflete o entendimento de que as questões ambientais

ABNT, N B R ISO 14001:2004, requisito 4.4.1.


Quadro 5.7 Responsabilidades ambientais - exemplos.

Responsabilidades ambientais Responsáveis típicos


Estabelecera orientação geral Presidente, executivo principal, diretoria

Desenvolver a política ambiental Presidente, executivo principal e outros

Desenvolver objetivos, metas e programas ambientais Gerentes pertinentes

Monitorar o desempenho geral do SGA Gerente do meio ambiente

Garantir o atendimento a requisitos legais e outros Todos os gerentes

Promovera melhoria contínua Todos os gerentes

Identificar as expectativas dos clientes Equipe de vendas e marketing

Identificar requisitos para fornecedores Compradores

Desenvolver e manter procedimentos contábeis Gerentes financeiros e contábeis

Promover conformidade com os requisitos do SGA Todos os que trabalham ou agem em nome da organização

Analisar a operação do SGA Alta administração

Fonte: ABNT. NBR ISO 14004:2005, seção 4.4.1 - Ajuda prática.

interessam a todas as áreas da organização, embora algumas possam ter um envolvi-


mento mais intenso do que outras. Embora espere-se que todos os funcionários da
organização se comprometam com a gestão ambiental, apenas aqueles que possuem
funções ambientais específicas devem ter suas atribuições definidas e comunicadas
aos que trabalhem na organização ou atuem em seu nome. Conforme o caso, um
organograma de responsabilidades, um instrumento típico para identificar as atribui-
ções de cargos ou funções, pode ser apropriado para especificar as responsabilidades
dos representantes designados, pois estas podem se apresentar de diversas formas,
como decisões, consultas, prestação de informações e outras, referentes às suas diver-
sas atribuições e interações na organização.

Competência, treinamento e conscientização


Este requisito estabelece que a organização deve assegurar a qualquer pessoa que rea-
lize tarefas, para ela ou em seu nome, com potencial de causar impactos ambientais sig-
nificativos, seja competen te com base em formação apropriada, treinamento e experiência,
devendo manter os registros associados. As necessidades cie treinamento associado aos
aspectos ambientais e ao SGA devem ser identificadas e providas pela organização. A
organização deve estabelecer, implementar e manter procedimentos para que as pessoas
que trabalham para ela ou atuem em seu nome estejam conscientes:
a) da importância de estar em conformidade com a política ambiental e com os
requisitos do SGA;
b) dos aspectos ambientais significativos e seus respectivos impactos reais ou po-
tenciais, associados a seu trabalho e aos benefícios provenientes da melhoria
de seu desempenho pessoal;
c) de suas funções e responsabilidades de atingir a conformidade com os requisi-
tos do SGA; e
d) das potenciais conseqüências da inobservância de procedimentos especificados40.

As atividades que possam causar impactos ambientais significativos devem ser exe-
cutadas por pessoal competente para atender os requisitos do SGA. Recomenda-se que
o nível de experiência, competência e treinamento seja determinado de modo a asse-
gurar a capacitação dos funcionários, especialmente daqueles que desempenham ativi-
dades especializadas de gestão ambiental 41 . Cabe à administração decidir sobre o nível
de detalhamento dos programas de treinamento e conscientização. Quanto a essa
questão, a norma recomenda que esses programas tenham os seguintes elementos:

a) identificação das necessidades de treinamento dos empregados;


b) desenvolvimento de um plano de treinamento que atenda às necessidades
definidas;
c) verificação da conformidade do programa com os requisitos legais ou
organizacionais;
d) treinamento de grupos específicos de empregados;
e) documentação e monitoramento do treinamento recebido; e
f) avaliação do treinamento recebido frente às necessidades e aos requisitos de
treinamento definidos 42 .

Essa norma recomenda que o nível de competência, experiência e treinamento


seja determinado pela administração, especialmente para aqueles que exercem fun-
ções especializadas em gestão ambiental. Recomenda também que os prestadores
de serviços que trabalham na organização demonstrem que o seu pessoal possua o
requisito de competência ou treinamento apropriado 43 . Os treinamentos necessá-
rios para cumprir esse requisito podem ter diferentes objetivos: alguns procuram

ABNT, N B R I S O 14001:2004, requisito 4.4.2.


ABNT, N B R I S O 14001:2004. Anexo A, A.4.2.
ABNT, N B R I S O 14004:2005, seção 4.4.2.
aumentar a conscientização do pessoal administrativo e operacional com a política
ambiental da empresa; outros, melhorar os conhecimentos e habilidades do pessoal
que exerce funções ambientais específicas ou que, de alguma forma, podem afetar
o cumprimento dos requisitos do S G A .
Os programas de treinamento e conscientização devem avançar no sentido de am-
pliar o entendimento sobre o meio ambiente para incluir a sua dimensão social e
promover mudanças de atitudes diante das questões socioambientais mais amplas que
as relacionadas com as atividades, produtos e serviços da empresa. Os treinamentos
devem ser oportunidades para a prática da educação ambiental, ao mesmo tempo em
que devem estar focados em questões ambientais específicas, por exemplo, treinar pes-
soas para aplicar um método de amostragem para classificação de resíduos ou para
operar um novo equipamento para reúso de água. A educação ambiental deve ser in-
serida nos programas de treinamento, pois trata-se de um requisito legal como se de-
preende da legislação pertinente.
De fato, a Lei 9 . 7 9 5 de 1999 tornou a educação ambiental parte de um processo
educativo mais amplo, devendo estar presente em todos os níveis e modalidades de
ensino, formal e não formal 44 . A legislação brasileira entende por educação ambien-
tal os processos por meio dos quais o indivíduo e a coletividade constroem valores
sociais, conhecimentos, habilidades, atitudes e competências voltadas para a conser-
vação do meio ambiente, bem de uso comum do povo, essencial à sadia qualidade
de vida e sua sustentabilidade 45 . A regulamentação dessa lei estabelece que devem
ser criados, mantidos e implementados programas de educação ambiental integra-
dos aos processos de capacitação de profissionais realizadas por empresas, entidades
de classes, instituições públicas e privadas 46 . O u seja, a educação ambiental deve es-
tar presente nos programas de treinamento e capacitação de qualquer organização
independentemente do assunto que trata; com mais razão ainda deve estar nos pro-
gramas que tratam de questões próprias de gestão ambiental. A inclusão da educa-
ção ambiental nos processos de treinamento e capacitação proporcionaria aos
participantes a oportunidade de se conscientizarem a respeito dos problemas am-
bientais amplamente considerados e sob novos olhares, sem se restringir apenas às
questões ambientais concernentes às atividades que exercem.

44 BRASIL. Lei n. 9.795, de 27 de abril de 1999. Institui a Política Nacional de Educação Ambiental. Diário Oficial
da União. Brasília, DF, 29 abr. 1999. art. 2'.
45 BRASIL. Lei n. 9.795, art I o , 1999.
46 BRASIL. Decreto n. 4.281, de 25 de junho de 2002. Regulamenta a Lei n. 9.795, de 27 de abril de 1999, que
institui a Política Nacional de Educação Ambiental, e dá outras providências. Diário Oficial da União. Brasília, DF,
26 jun. 2002, art. 6 o , IV.
Comunicação
Esse requisito estabelece que a organização, com relação aos seus aspectos ambien-
tais e ao seu SGA, deve implementar e manter procedimentos para: (a) comunicação
interna entre vários níveis e funções da organização e (b) recebimento, documentação
e resposta a comunicações pertinentes oriundas de partes interessadas externas. Deve
ainda decidir se realizará comunicação externa sobre seus aspectos ambientais signifi-
cativos e registrar sua decisão. Caso decida comunicar, deverá estabelecer e implemen-
tar métodos para efetuar essa comunicação 47 . A comunicação interna pode ser feita
por meio de reuniões regulares de grupos de trabalho, boletins, quadros de aviso e in-
tranet. Caso a organização decida efetuar a comunicação externa, recomenda-se levar
em conta os pontos de vista e considerações de todas as partes interessadas. A comu-
nicação externa pode-se dar mediante relatórios anuais, boletins informativos, páginas
na internet e reuniões na comunidade 48 . Outras questões pertinentes à elaboração de
relatórios ambientais externos são tratadas no Capítulo 8.

A comunicação interna deve ser vista como mais um instrumento para ampliar a
conscientização dos funcionários, complementando o requisito já comentado. O
quanto a organização irá comunicar é uma prerrogativa da administração, como se
depreende das normas em pauta. A ISO 14004 recomenda que a organização, ao esta-
belecer um programa de comunicação, leve em consideração sua natureza e porte, seus
aspectos ambientais significativos e a natureza e necessidades das partes interessadas 49 .
Os trabalhadores e seus sindicatos, a comunidade, os clientes, os investidores, os repre-
sentantes do poder público local, estadual e federal, as O N G s e outras partes interes-
sadas podem ter determinadas preocupações sobre as operações da organização e
desejar informações específicas e detalhadas. A atenção a essas preocupações contribui
para legitimar os esforços da organização para melhorar o seu desempenho ambiental
perante seus públicos interno e externo.

Essa norma recomenda que os resultados das atividades de monitoramento, audi-


toria e análise do S G A pela administração, três requisitos que serão apresentados opor-
tunamente, sejam comunicados às pessoas apropriadas dentro da organização. Quanto
aos processos de comunicação, as seguintes etapas são recomendadas:

a) obter informações, ou fazer pesquisas, inclusive das partes interessadas;


b) determinar os públicos-alvos e as necessidades de diálogo;

47
ABNT, N B R ISO 14001:2004, requisito 4.4.3.
ABNT, N B R I S O 14001:2004, 2 0 0 4 . Anexo A, item A.4.3.
c) selecionar informações relevantes ao interesse desses públicos;
d) escolher as informações a serem comunicadas;
e) determinar os métodos apropriados para a comunicação; e
f) avaliar e determinar periodicamente a eficácia do processo de comunicação 5 0 .

Recomenda-se que a organização, no mínimo, estabeleça, implemente e mantenha


procedimentos para recepção, documentação e resposta em relação às comunicações
relevantes das partes interessadas externas 5 '. A ISO 14063 fornece diretrizes sobre
princípios gerais, políticas, estratégias e atividades para realizar comunicações ambien-
tais internas e externas, independentemente do tamanho, do setor da economia e de
ter ou não um S G A conforme a norma ISO 14001. Essa norma será comentada no
Capítulo 8, que trata de relatórios ambientais 52 .

Documentação
A documentação é um requisito importante em qualquer sistema de gestão, e não
seria diferente com o de gestão ambiental. A documentação do S G A deve incluir os
seguintes elementos:

a) política, objetivos e metas ambientais;


b) descrição do escopo do SGA;
c) descrição dos principais elementos do SGA, suas interações e referências aos
documentos associados;
d) documentos requeridos pela norma;
e) documentos determinados pela organização como necessários para assegurar o
planejamento, operação e controle eficazes dos processos associados aos seus
aspectos ambientais significativos 53 .

Entre os documentos expressamente requeridos pela norma estão, entre outros,


os registros relativos à conformidade com os requisitos legais e outros subscritos, a
decisão de se comunicar com os públicos externos e os registros das análises do S G A
pela administração. Há certos requisitos que não podem ser atendidos sem uma
documentação adequada. Cabe perguntar, por exemplo, como é possível manter
informações atualizadas sobre os requisitos legais e os aspectos ambientais sem

™ ABNT, N B R ISO 14004:2005, seção 4.4.3.3.


51 ABNT, N B R ISO 14004:2005, seção 4.4.3.2.
52 ABNT, N B R I S O 14063, 2 0 0 9 .
documentá-los. A norma recomenda que a decisão de documentar procedimentos
leve em conta: as conseqüências de não fazê-la, inclusive em relação ao meio ambien-
te; a necessidade de demonstrar o atendimento aos requisitos legais e outros subscri-
tos pela organização; a necessidade de assegurar que a atividade seja realizada de
forma constante, e os requisitos da norma. Documentos criados originariamente
para outros fins podem ser usados como parte integrante do S G A , desde que sejam
referenciados para esse fim.
O nível de detalhamento dos documentos é decidido pela organização, mas deve
ser suficiente para descrever os principais elementos do S G A e suas interações, forne-
cendo orientação sobre fontes de informações mais detalhadas de suas partes específi-
cas. A documentação pode ser integrada com a de outros sistemas implantados pela
organização e não precisa estar na forma de um único manual 54 . A propósito, essa é
uma diferença fundamental em relação aos requisitos de um sistema de gestão da qua-
lidade, conforme a ISO 9001:2008, pois para esse sistema o manual de qualidade é um
requisito essencial 55 . Seguindo o exemplo do sistema de gestão da qualidade, a docu-
mentação do S G A pode conter os seguintes elementos:

Í-* declaração documentada da política ambiental da organização;


manual de gestão ambiental;
~ documentos relativos aos procedimentos requeridos pela norma I S O 14001,
como instruções de trabalho e outros, necessários para tornar efetiva a implan-
tação e manutenção dos procedimentos; e
os registros requeridos pela norma, que são objetos de um requisito específico,
conforme será mostrado mais adiante.

A organização dos documentos gerados pelo S G A pode seguir a hierarquia ilus-


trada na Figura 5.7, que tem como base as diretrizes para documentação de um siste-
ma de gestão da qualidade, estabelecidas pela norma A B N T I S O / T R 10013:2002 5 6 .
O manual do S G A constitui o primeiro nível da hierarquia de documentos. Embora
não seja um requisito da norma, um manual facilita a gestão dos documentos funda-
mentais para operar e auditar o SGA. O manual pode adquirir diferentes formas. A
mais simples é um índice com referências sobre esses documentos, indicando sua lo-
calização. Também pode ser feito na forma de pasta, em papel ou meio eletrônico,
contendo, entre outros, a política ambiental, os objetivos e metas, as interações do

54
ABNT, N B R ISO 14001:2004, requisito 4.4.4. Anexo A, item A.4.4.
ABNT, N B R ISO 9 0 0 1 : 2 0 0 8 , requisito 4.2.1.
ABNT, I S O / T R 10013:2002. ABNT, 2002.
" O Figura 5.7 Hierarquia da d o c u m e n t a ç ã o de u m s i s t e m a de g e s t ã o da qualidade.

Conteúdo dos d o c u m e n t o s

D e s c r e v e o SGA de acordo c o m a política, o s o b j e t i v o s e


m e t a s estabelecidos.

Descreve os p r o c e s s o s inter-relacionados e as atividades


necessárias para i m p l e m e n t a r o SGA.

D o c u m e n t o s de trabalho d e t a l h a d o s .

D o c u m e n t o s s o b r e resultados,
c o m u n i c a ç õ e s f e i t a s e recebidas e
atividades realizadas no â m b i t o d o SGA

Fonte: Adaptado de ABNT ISO/TR 10013:2002, Anexo A.

S G A com outros sistemas e as definições de responsabilidades. Nesse caso, seu núcleo


central é composto de diversos capítulos concernentes aos requisitos da norma, com
referências que remetem aos procedimentos correspondentes. No segundo nível estão
os documentos relativos aos procedimentos, envolvendo métodos, critérios e referên-
cias para aplicar os requisitos do SGA. Os procedimentos específicos, as instruções
técnicas e outros documentos de trabalho detalhados fazem parte do terceiro nível.
No quarto nível estão os registros relacionados aos resultados e às ações empreendi-
das pela organização para manter e operar o SGA. A gestão dos registros faz parte de
um requisito específico do S G A que será apresentado mais adiante.

Uma crítica que tem sido feita com certa freqüência a respeito da norma I S O
14001 refere-se ao fato de que o atendimento ao requisito de documentação levaria a
organização a praticar um excesso de formalismo que reduziria sua mobilidade e capa-
cidade de resposta às mudanças, esses sim, requisitos fundamentais para poder atuar
em ambientes de negócio competitivos. Essa crítica não procede, pois a norma exige
apenas a documentação de alguns elementos do S G A e não de todos. Além dos ele-
mentos cuja documentação é expressamente exigida na norma, os dirigentes da orga-
nização podem determinar quais outros também devem ser documentados. Vale
mencionar que a documentação é um elemento fundamental para reduzir as variabili-
dades desnecessárias, bem como para reter e transmitir o aprendizado.
Controle de documentos
A organização deve controlar todos os documentos requeridos pelo SGA. Os regis-
tros são um tipo especial de documento e devem ser controlados conforme os requisi-
tos estabelecidos na cláusula 4.5.4, que serão comentados oportunamente. A
organização deve estabelecer, implantar e manter procedimentos para:

a) aprovar documentos quanto à sua adequação antes de seu uso;


b) analisar, atualizar e, se for o caso, reaproveitar documentos;
c) assegurar que as alterações e a situação atual da revisão sejam identificadas;
d) assegurar que as versões relevantes de documentos aplicáveis estejam disponí-
veis em seu ponto de uso;
e) assegurar que os documentos permaneçam legíveis e prontamente identificáveis;
f) assegurar que os documentos de origem externa entendidos como necessários
ao planejamento e operação do SGA sejam identificados e que sua distribui-
ção seja controlada; e
g) prevenir a utilização não intencional de documentos obsoletos e utilizar iden-
tificação adequada, caso sejam retidos para qualquer finalidade 57 .

Os documentos do S G A devem ser legíveis, datados, incluindo datas das revisões


facilmente identificáveis. Esse requisito é melhor atendido com a prática de padroni-
zação de documentos, que inclua para todos uma única forma, título, numeração, data
da aprovação, data da última revisão e autoridade revisora. Se a organização já mantém
um sistema de gestão da qualidade conforme a norma ISO 9 0 0 1 : 2 0 0 8 , ela pode man-
ter um sistema de controle da documentação baseado nessa norma, que é mais rigoro-
sa que a ISO 14001 quanto a esse requisito. O foco principal deve ser a efetiva
implementação do S G A e não a criação de um complexo sistema de documentação 5 8 .
Esse é mais um indício de que a norma não pretende engessar a organização com um
formalismo desnecessário.

Controle operacional
Este requisito estabelece que a organização deve identificar e planejar as operações
associadas aos aspectos ambientais significativos identificados de acordo com sua polí-
tica, objetivos e metas para assegurar que elas sejam realizadas sob condições especifi-
cadas por meio:

57 ABNT, N B R ISO 14001:2004, requisito 4.4.5.


a) do estabelecimento, implementação e manutenção de procedimentos docu-
mentados, para controlar situações onde sua ausência possa acarretar desvios
em relação à política ambiental e aos objetivos e metas;

b) da determinação de critérios operacionais nos procedimentos; e

c) do estabelecimento, implementação e manutenção de procedimentos associa-


dos aos aspectos ambientais significativos identificados em produtos e serviços
utilizados pela organização e da comunicação de procedimentos e requisitos
pertinentes a fornecedores e prestadores de serviços 59 .

O controle operacional, por ser a parte do S G A que fornece orientações sobre


c o m o levar os demais requisitos para as operações do dia a dia da organização, requer
o uso de procedimentos documentados para controlar situações nas quais a sua ausên-
cia pode gerar desvios em relação à política, aos objetivos e metas. Para a identificação
das necessidades de controle operacional, recomenda-se que a organização considere
todas as suas operações, inclusive as relacionadas às funções gerenciais, c o m o vendas,
marketing, a t e n d i m e n t o aos clientes, pesquisa e desenvolvimento, engenharia, manu-
tenção, armazenamento e manuseio de materiais, laboratórios, transporte, aquisições,
construção ou modificação da propriedade e instalações 6 0 .

O s controles operacionais devem se estender também aos prestadores de serviços e


fornecedores. Vale mencionar que os processos de aquisição são requisitos essenciais
nos sistemas de gestão de qualidade, conforme a I S O 9 0 0 1 : 2 0 0 8 6 1 . De m o d o análogo ao
que estabelece essa norma, n o caso do S G A , o tipo e a extensão do controle operacional
aplicado aos fornecedores e aos produtos adquiridos dependem dos efeitos associados
a aspectos ambientais significativos identificados. O controle sobre esses agentes exter-
nos pode se dar a partir do estabelecimento cie critérios ambientais para selecionar e
avaliar produtos e serviços, bem como o desempenho ambiental dos fornecedores e
prestadores de serviço, em relação aos aspectos significativos identificados.

Preparação e resposta a emergências


A organização deve estabelecer, implementar e manter procedimentos para identifi-
car potenciais situações cie emergência e de acidentes que possam ter impactos sobre o
meio ambiente. Ela deve responder às situações reais de emergência e aos acidentes,

59
ABNT, N B R I S O 14001:2004, requisito 4-4.6.
60
ABNT, N B R I S O 14004:2005, seção 4.4.6.1.
í>l
prevenindo ou mitigando os impactos adversos produzidos62. A organização deve perio-
dicamente analisar e revisar, quando necessário, seus procedimentos de preparação e
atendimento à emergência, em particular após a ocorrência de acidentes ou situações de
emergência. Sempre que possível esses procedimentos devem ser testados, por exemplo,
por simulações de emergências e de acidentes, que podem ser inclusive consideradas
parte dos programas de treinamento.
C o m o dito anteriormente, essa norma adota uma abordagem de prevenção da
poluição, o que significa, quanto ao requisito em pauta, preparar-se para realizar ações
necessárias diante da ocorrência: (1) de acidentes ambientais (explosões, incêndios,
emissões e derrames acidentais, desastres durante o transporte de produtos perigosos
e outros); e (2) de situações de emergência que podem produzir tais acidentes, por
exemplo, panes e incidentes em equipamentos que se não forem consertados a tempo
e com procedimentos adequados podem provocar acidentes graves.
A norma recomenda que a organização estabeleça procedimentos de preparação e
resposta a emergências que atendam suas necessidades específicas e levem em conta,
entre outros, os seguintes elementos:

a natureza do perigo e medidas que devem ser tomadas;


<•+ o tipo e a escala mais provável de uma situação de emergência ou acidente;
-» métodos apropriados para responder a essa situação;
f* planos de comunicação interna e externa;
ações para minimizar o impacto e ações de mitigação e resposta a serem toma-
das em diferentes tipos de acidentes e emergências;
lista de pessoas-chave e de órgãos de atendimento, incluindo informações para
contato;
rotas de evacuação e pontos de encontro;
<-» treinamento do pessoal de resposta a emergências; e
** possibilidades de assistências mútuas entre organizações vizinhas 63 .

Acidentes e emergências sempre podem acontecer, mesmo quando a organização se


cerca de todos os cuidados. Quando isso ocorre, a organização deve estar preparada
para as ações de mitigação. Mitigar significa abrandar ou aliviar os impactos produzidos
por tais acidentes, ou seja, atuar sobre as conseqüências por meio de medidas

62
ABNT, N B R ISO 14001:2004, requisito 4.4.7.
63
para corrigir e reparar os danos provocados. É importante ressaltar que a extensão da
mitigação está relacionada com os requisitos legais e voluntários subscritos. A legislação
brasileira estabelece que o poluidor é obrigado, independentemente de existência de
culpa, a indenizar ou reparar os danos causados ao meio ambiente e a terceiros afetados
por suas atividades64. Se a organização subscreveu os Princípios Ceres, por exemplo, ela
deve não só compensar os atingidos pelos danos causados ao meio ambiente, mas se
esforçar para recuperar inteiramente o meio ambiente afetado (ver Quadro 3.4, no
Capítulo 3). Veja também o que diz a carta empresarial para o desenvolvimento susten-
tável da I C C no Anexo 4, item 12, com respeito aos planos de emergência.

Monitoramento e medição
Esse requisito faz parte do processo de controle, que corresponde ao C (de checar,
verificar) de um ciclo PDCA. Monitorar significa acompanhar uma atividade com base
em informações coletadas ou observações a respeito dessa atividade, a fim de verificar
o alcance de objetivos e metas. Por exemplo, acompanhar diariamente o consumo de
água para verificar se a meta de redução de consumo está sendo alcançada. Esta fase
encerra um ciclo de atividades do SGA, que se inicia com a identificação dos aspectos
ambientais significativos, como ilustra o Quadro 5.8, sendo a base para as atividades
de correção e ajustes de acordo com a idéia de melhoria contínua.

A organização deve estabelecer, implementar e manter procedimentos para moni-


torar e medir regularmente as características principais de suas operações que possam
ter impacto significativo sobre o meio ambiente. Por característica principal se enten-
de aquela que precisa ser considerada para determinar se a organização está geren-
ciando seus aspectos ambientais significativos, atingindo os objetivos e metas e
melhorando o seu desempenho ambiental. Esses procedimentos devem ser documen-
tados, incluindo os controles operacionais pertinentes e a conformidade com os ob-
jetivos e metas ambientais da organização. A idéia básica é verificar se o S G A está
funcionando como planejado e, caso contrário, quais medidas corretivas e preventi-
vas deverão ser tomadas 65 .
A organização deve assegurar que os equipamentos de monitoramento e medição,
calibrados ou verificados, sejam utilizados e mantidos, devendo-se manter os registros
associados a esses processos, conforme procedimentos definidos pela organização.
Para assegurar a validade dos resultados do monitoramento e medição, recomenda-se

BRASIL. Lei 6 . 9 3 8 , de 31 de agosto de 1981. Dispõe sobre a Política Nacional do Meio Ambiente, seus fins e
mecanismos de formulação e aplicação e dá outras providências. Brasília: D O U de 02/09/1981, art. 14, § I
ABNT, N B R I S O 14001:2004, requisito 4.5.1.
O Q u a d r o 5.8 E n c a d e a m e n t o de requisitos de p l a n e j a m e n t o , i m p l e m e n t a ç ã o e c o n t r o l e - e x e m p l o s .

C o n s u m o de óleo de
Aspecto ambiental E m i s s ã o de óxidos de nitrogênio (NO x ).
aquecimento
Aumentar o impacto positivo sobre a qualidade do
Reduzir o consumo de um recurso não
Objetivos ar, por meio da melhoria da eficiência da manuten-
renovável.
ção de frota.

Redução do consumo em 20%, dentro


Atingir 25% de redução de emissões de NO, nos
Metas de um ano, com base no consumo do
próximos três anos.
ano corrente.

Identificar parâmetros-chave de manutenção para a


Instalação de queimadores de combus- redução de N0 ( .
Programa
tíveis mais eficientes. Revisar o programa de manutenção para incorporar
tarefas-chave para redução de NO,.

Marcos do plano de projeto.


% de manutenção dentro do prazo.
Indicadores Consumo de óleo por hora de trabalho
Emissão de NO/km.
da caldeira.

Procedimentos para instalação dos


queimadores modificados. Procedimentos de manutenção.
Controle operacional
Procedimentos para documentação e Treinamento dos técnicos de manutenção.
registro do consumo de óleo.

Acompanhamento da freqüência versus calendário


Avaliação trimestral do andamento do
de manutenção.
plano do projeto.
Monitoramento e medição Monitoramento da eficiência de consumo de com-
Acompanhamento mensal da taxa de
bustível dos veículos.
consumo de óleo.
Testes trimestrais das emissões veiculares de NO,.

Fonte: Adaptado de ABNT, NBR ISO 14004:2005, Anexo A.

que a calibragem ou verificação desses instrumentos seja feita em intervalos especifica-


dos, ou antes do uso, com base em padrões nacionais ou internacionais. O uso de uma
abordagem sistemática facilita o atendimento desse requisito, o que significa monito-
rar e medir regularmente o seu desempenho ambiental 66 .
A medição, monitoramento e identificação de indicadores de desempenho am-
biental devem ser atividades contínuas, assim como deve ser contínua a identificação
dos aspectos e impactos ambientais, conforme comentado. Os indicadores ambientais
devem ser objetivos, verificáveis, reproduzíveis e coerentes com a política da organiza-
ção. Devem ser também práticos, econômicos e tecnologicamente exeqüíveis. Vale
lembrar que uma das idéias centrais das normas ISO sobre gestão ambiental é a de
equilibrar as questões econômicas com a proteção ambiental.
Avaliação do atendimento a requisitos legais e outros
Esta avaliação fazia parte do requisito "Monitoramento e medição" na versão de
1996 da I S O 14001. Uma das críticas mais freqüentes a essa norma durante o seu pro-
cesso de revisão, concluído em 2004, referia-se ao fato de não enfatizar o atendimento
legal como um requisito normativo. Para dar ênfase a esse atendimento como patamar
mínimo de um SGA, a nova versão da ISO 14001 inovou ao destacar a sua avaliação,
separando-a da cláusula 4-5.1, comentada acima 67 .
Conforme esse requisito, a organização deve estabelecer, implementar e manter
procedimentos para avaliar periodicamente o atendimento aos requisitos legais aplicá-
veis e manter os registros dos resultados dessa avaliação como parte de seu comprome-
timento com a conformidade legal. O mesmo deve ser feito quanto ao atendimento
dos outros requisitos subscritos pela organização, que pode ser realizado de modo
combinado com os requisitos legais ou separadamente 68 .
Vale ressaltar que o atendimento às normas legais aplicáveis à organização e aos
demais requisitos subscritos por ela constituem o patamar mínimo que se espera em
termos de desempenho ambiental. Com a abordagem de prevenção da poluição con-
duzida por meio da prática da melhoria contínua dos requisitos do SGA, espera-se um
crescente aperfeiçoamento desse desempenho. Dentre os requisitos subscritos estão os
acordos voluntários privados, como mostrado no Capítulo 3. Se a organização assume
um compromisso com eles, deverá atendê-los como se fosse uma norma legal, daí a
importância em avaliar periodicamente o seu atendimento. É importante lembrar que
a organização melhora sua inserção na sociedade ao realizar esses acordos voluntários,
pois eles denotam uma postura proativa em termos de cuidado com o meio ambiente.
Porém, esse compromisso pode ficar só na intenção e, com isso, a empresa desfrutará
uma reputação que não merece e praticará a lavagem ou maquiagem verde. Por isso,
faz sentido enfatizar o atendimento dos requisitos subscritos voluntariamente como se
fossem normas legais, cuja conformidade é obrigatória.

Não conformidade, ação corretiva e ação preventiva


Não conformidade é o não atendimento de um requisito. É qualquer falha ou
desvio que prejudique o funcionamento do SGA ou comprometa o desempenho am-
biental da organização. Ou seja, pode referir-se tanto ao próprio SGA, uma situação na
qual uma ou mais de suas partes não estão funcionado adequadamente, quanto ao
desempenho ambiental da organização. As falhas na identificação de necessidade de

67 CAJAZEIRA, J. E. R; B A R B I E R I , ]. C., 2005.


treinamento, na comunicação interna e no controle dos documentos são exemplos de
não conformidade associadas ao SGA. Não alcançar uma meta ambiental estabelecida
ou os limites máximos de emissão estabelecidos em normas legais são exemplos de não
conformidade do desempenho ambiental da organização.
A organização deve estabelecer, implementar e manter procedimentos para tratar
as não conformidades, reais ou potenciais, e para executar ações corretivas e preventi-
vas. Esses procedimentos devem definir requisitos para:

a) identificar e corrigir não conformidades e executar ações para mitigar seus


impactos ambientais;
b) investigar as causas das não conformidades e executar ações para evitar a sua
repetição;
c) avaliar a necessidade de ações para preveni-las e implementar ações apropria-
das para evitar a sua ocorrência;
d) registrar os resultados das ações corretivas e preventivas executadas; e
e) analisar a eficácia dessas ações 69 .

As ações devem ser adequadas à magnitude dos problemas e aos impactos ambientais.
Elas podem ser ações corretivas ou preventivas. A ação corretiva visa eliminar a causa de
uma não conformidade identificada ou uma situação indesejável. A ação preventiva visa
eliminar a causa de uma potencial não conformidade ou outra situação potencialmente
indesejável70, ou seja, uma situação que se não for resolvida fará com que um ou mais re-
quisitos deixem de ser atendidos. Enquanto a ação corretiva impede a repetição de uma
ocorrência indesejável, a ação preventiva impede o seu surgimento. Esses entendimentos
são os mesmos da ISO 9001:2008, o que mostra mais uma vez a grande interação entre o
T C 207 e o T C 176, responsáveis pela elaboração e revisão das normas de gestão ambien-
tal e de gestão da qualidade, respectivamente.
O atendimento a esse requisito pode ser efetuado rapidamente e com um mínimo
de planejamento formal ou exigir um conjunto de atividades complexas e de longo
prazo. Independentemente do tipo e da gravidade da não conformidade, a organização
deve atribuir responsabilidade e autoridade a alguém ou a algum departamento para
investigar e planejar a realização das ações pertinentes. A administração deve assegurar
a execução das ações corretivas e preventivas e que elas sejam acompanhadas para ava-
liar a sua eficácia.

69 ABNT, N B R I S O 14001:2004, requisito 4.5.3.


Controle de registros
Registro é um documento que apresenta os resultados obtidos ou fornece as evidências
de atividade realizada71. Há uma diversidade de tipos de registros associados a um SGA,
pois toda ação que traga alguma evidência sobre o cumprimento ou não de um requisito
deve gerar algum tipo de registro, por exemplo, registro de não conformidade, de reclama-
ções da comunidade, das inspeções e testes, da calibração de instrumentos de medição, dos
treinamentos realizados e pessoas treinadas e dos resultados de auditoria. Como os regis-
tros referem-se a fatos observados para efeito de controle, não estão sujeitos a revisões,
como os documentos concernentes às fases de planejamento e implementação.
Para atender a esse requisito, a organização deve estabelecer e manter registros,
conforme necessário, para demonstrar conformidade com os requisitos do seu S G A e
da norma ISO 14001, bem como os resultados obtidos. Deve também estabelecer,
implementar e manter procedimentos para a identificação, armazenagem, proteção,
recuperação, retenção e descarte de registros. Esses registros devem ser legíveis e iden-
tificáveis, permitindo rastrear a atividade, o produto ou serviço envolvido 72 . É conve-
niente estabelecer o período de retenção de cada tipo de registro.
Ao desenvolver cada elemento do SGA, que constará como um capítulo do seu manu-
al, deve-se incluir o tipo de registro apropriado para prover a evidência do cumprimento
do que foi estabelecido. Por isso, é comum encontrar os registros fazendo parte de um
quarto nível na hierarquia de documentos, um nível abaixo das instruções e outros docu-
mentos de trabalho, como mostra a Figura 5.7. Não é demais enfatizar a importância dos
registros, pois são eles que fornecem as evidências demonstráveis de que o S G A foi implan-
tado e está operando, ou seja, eles permitem verificar o cumprimento de um ciclo de ativi-
dades, pelo qual a organização diz o que pretende fazer, faz o que disse e mostra o que fez.

Auditoria interna
A auditoria interna é a última etapa da fase de verificação ou controle. Por esse
requisito, a organização deve assegurar que as auditorias internas do S G A sejam con-
duzidas em intervalos planejados para:

a) determinar se o S G A (1) está em conformidade com os arranjos planejados


para a gestão ambiental, incluindo os requisitos da norma ISO 14001, e (2) foi
adequadamente implementado e é mantido; e
b) fornecer à administração informações sobre os resultados das auditorias 73 .

71
ABNT, N B R ISO 14001:2004, definição 3.20.
72
ABNT, N B R ISO 14001:2004, requisito 4.5.4.
O programa de auditoria, inclusive o cronograma, deve basear-se na importância
ambiental da atividade envolvida e nos resultados das auditorias anteriores. Dada a
importância das auditorias ambientais como instrumentos de gestão ambiental de um
modo geral, e em particular as auditorias dos SGAs, esse instrumento de gestão am-
biental será tratado no próximo capítulo com mais detalhes.
A auditoria ambiental e a avaliação do desempenho ambiental são instrumentos
de gestão ambiental associados à fase de checar ou verificar do ciclo P D C A (ver Figu-
ra 5.3). A m b o s permitem à administração avaliar o status da atuação ambiental da
organização e identificar as áreas ou funções que necessitam de melhorias. A audito-
ria ambiental de que trata a norma I S O 14001 é uma avaliação periódica para verifi-
car o f u n c i o n a m e n t o do S G A . A avaliação do desempenho ambiental é um processo
permanente de coleta e análise de dados e informações para verificar a situação atual
das questões ambientais pertinentes à organização e prever as tendências futuras com
base em indicadores previamente estabelecidos.

Análise pela Administração


A Análise pela Administração constitui a última etapa do S G A , segundo os requisi-
tos da norma I S O 14001, que, por sua vez, é a primeira de um novo ciclo do tipo P D C A
com vistas a melhorar continuamente o S G A e o desempenho ambiental da empresa.
Esse requisito estabelece que a alta administração, em intervalos planejados, deve ana-
lisar o S G A , para assegurar sua continuada adequação, pertinência e eficácia. A análise
deve avaliar as oportunidades de melhoria e as necessidades de alteração do S G A em
qualquer dos seus elementos constitutivos. A análise deve abranger todo o S G A e docu-
mentar registros que devem ser controlados conforme já comentado.

As entradas do processo de análise incluem informações sobre resultados de audi-


torias internas, comunicações das partes interessadas, situação das ações corretivas e
preventivas, lições aprendidas nas situações de emergência e acidentes, avanços cientí-
ficos e tecnológicos, mudanças nos requisitos legais, recomendações de melhorias,
entre outras. As saídas desse processo são decisões a respeito da condução do S G A ,
por exemplo, mudanças na política ambiental, nos objetivos e metas e em qualquer
elemento do S G A , consistente com o comprometimento com a melhoria contínua 7 4 .
A análise deve cobrir o escopo do S G A e não precisa ser feita de uma só vez, podendo
se estender por um período de tempo.
O que se pretende com essa análise é verificar a eficácia do S G A como instrumen-
to para melhorar o desempenho ambiental da organização em determinado período,
visando o futuro. Para isso, deve-se confirmar se a política ambiental e o S G A estão
adequados á organização ou se é necessário realizar mudanças para ajustá-los às novas
circunstâncias. O objetivo da análise é a melhoria do S G A e, por via das conseqüên-
cias, a melhoria do desempenho ambiental da organização. Deve-se ressaltar que a
responsabilidade por essa análise é da alta administração, sendo esta, portanto, quem
deve conduzi-la, e não os administradores de outros níveis hierárquicos mediante dele-
gação. Esses administradores, no entanto, devem participar da análise desde que te-
nham recebido responsabilidades definidas no SGA, como estabelece um dos seus
requisitos, comentado anteriormente.

INTERAÇÕES COM OUTROS SISTEMAS DE GESTÃO

Uma organização pode ter ou vir a ter outros sistemas de gestão estruturados além
do SGA. Por isso, os elementos constituintes desses sistemas devem ser concebidos e
revisados de modo que sejam compatíveis e possam ser geridos de forma integrada.
Para facilitar a integração entre o SGA e o sistema de gestão da qualidade, as normas
ISO 14001 e I S O 9001 apresentam uma tabela de correspondências técnicas entre si
com o objetivo de indicar que os dois sistemas podem ser utilizados conjuntamente
por uma organização. As correspondências diretas entre as subseções das duas normas
podem ser estabelecidas quando os requisitos de ambas forem amplamente coinciden-
tes em seus requisitos 75 . A integração dessas normas é objeto de norma específica pro-
duzida por um grupo de trabalho conjunto dos comitês técnicos 176 e 207 da ISO,
relativos à gestão da qualidade e do meio ambiente, respectivamente 76 .
A organização que já possui um sistema de gestão da qualidade terá mais facilidade
para implantar um SGA. As seguintes alternativas são possíveis: uma, manter um S G A
totalmente independente, de modo que os dois sistemas funcionem em separado. Nesse
caso, pode ocorrer duplicação de esforços e conflitos entre os dois sistemas; no outro
extremo está um único sistema envolvendo a qualidade e o meio ambiente, o meio-termo
é um S G A independente capaz de aproveitar os elementos do sistema de gestão da qua-
lidade que apresentem uma elevada correspondência com os elementos ambientais, que
é o que preconizam as normas ISO 9001 e 14001. A integração dos sistemas de gestão da
qualidade e do meio ambiente gera muitas vantagens, tais como planejamento e

75 ABNT, N B R I S O 14001:2004, Anexo B e N B R ISO 9 0 0 1 : 2 0 0 8 , Anexo A.


coordenação unificados e o uso de procedimentos comuns para certas questões, como os
controles operacionais e a gestão da documentação pertinente. C o m isso, evita-se a dis-
persão de recursos humanos e materiais, tornando sua utilização mais eficiente. O resul-
tado esperado é a obtenção de sinergia no tratamento das questões pertinentes à
qualidade e ao meio ambiente, conforme definidos pela organização.
O s sistemas de gestão integrados são criados a partir de comprometimentos e polí-
ticas comuns n o nível estratégico, que se desagregam a partir de requisitos específicos
(requisitos legais e outros subscritos, objetivos e metas, programas, controles operacio-
nais, comunicações e outros), mas sempre mantendo em c o m u m o que tiver alta cor-
respondência, inclusive no nível operacional, em que as questões de cada sistema
apresentam elevada especificidade, como treinamentos, documentação, controle de
documentos, registros e outros.
Além desses dois sistemas de gestão, observa-se um número crescente de organizações
com sistemas de gestão da saúde e segurança cio trabalho, criados e mantidos com base em
normas voluntárias. U m exemplo é a família de normas O H S A S (Occupacional Health and
Safety Assessment) criada por diversas entidades nacionais de normalização e organismos de
certificações 77 . A norma O H S A S 18001 especifica os requisitos de um sistema de gestão
da saúde e segurança do trabalho e a O H S A S 18002 é um guia para auxiliar sua concep-
ção e implementação 78 . A semelhança estrutural com as normas I S O 14001 e 14004 foi
produzida intencionalmente com o objetivo de facilitar a integração entre elas.
Outros sistemas foram criados para gerir a responsabilidade social, c o m o a S A
8 0 0 0 , criada em 1997 pela Social Accountability International, uma norma voluntária
que especifica requisitos de responsabilidade social auditáveis, de m o d o que a organi-
zação possa implementá-los e demonstrá-los a terceiros. As questões centrais dessa nor-
ma são as relações de trabalho, tais como trabalho infantil, liberdade de sindicalização,
remuneração, discriminação etc. Entre os requisitos dessa norma está o atendimento
a diversas convenções da Organização Internacional. A norma brasileira N B R 16001
estabelece requisitos para a criação e operação de um sistema de gestão de responsabi-
lidade social. O s sistemas baseados nessas normas devem se articular com o S G A , pois
qualquer que seja o entendimento de responsabilidade social, a questão ambiental
deverá ser considerada, ainda que na sua forma mais restrita, a conformidade legal. A
N B R 16001 também foi elaborada com o intuito de favorecer a integração do sistema
de gestão da responsabilidade social com os sistemas de gestão ambiental, da qualida-
de e da saúde e segurança do trabalho.

Bureau Veritas Quality International, Det Norske Veritas, Lloyds Register Quality Assurance, British Standards
Institution, Asociación Espanola de Normalización y Certificación, entre outros.
Normas O H S A S . Disponível em: <http://www.ohsas.org>. Acesso em: 8 dez. 2010.
O s exemplos de sistemas de gestão baseados em normas voluntárias não param
por aí. U m elemento facilitador é que as normas voluntárias sobre sistemas de gestão
baseiam-se no ciclo P D C A e possuem estrutura de requisitos propositadamente seme-
lhantes para facilitar a integração entre elas. O esforço das entidades criadoras das
normas em proporcionar compatibilidades entre sistemas de gestão está amparado
por diversos documentos normativos elaborados pela I S O . U m dos mais importantes
é o Guia I S O 72, que apresenta princípios e diretrizes para justificar e desenvolver
normas de sistemas de gestão. Assim, as normas sobre sistema de gestão criadas com
base nesse guia, independentemente dos assuntos que tratam, apresentam elementos
estruturais c o m u n s que facilitam a integração, a saber: política, planejamento, im-
plantação e operação, avaliação do desempenho, melhoria e revisão pela direção.
Outra iniciativa veio do British Standards Institution (BSI), com a criação do PAS 9 9
(Publicly Available Specification - Especificação Disponível Publicamente), uma norma
que especifica os requisitos comuns aos sistemas de gestão para facilitar a sua integração,
tendo como base a estrutura do I S O Guia 72, comentada antes (Figura 5.8). A estrutura
do PAS 99, que também segue o ciclo P D C A , é composta pelas seguintes fases: política,
planejamento, implementação e operação, avaliação do desempenho, melhoria e revisão
pela administração 79 . O Quadro 5.9 resume a estrutura e os requisitos do PAS 99, inspi-
rada em grande parte na I S O 14001, como pode-se ver no Quadro 5.3. O Quadro 5.10
apresenta exemplos de requisitos das normas de sistemas de gestão citadas nesta seção.
As estruturas compatibilizadas facilitam a criação de sistemas de gestão integrados.

£ » F i g u r a 5.8 PAS 9 9 - Requisitos c o m u n s de vários s i s t e m a s d e g e s t ã o .

Requisitos Requisitos Requisitos Requisitos


específicos específicos específicos específicos
do s i s t e m a do sistema da s a ú d e e de outros
de g e s t ã o de g e s t ã o segurança sistemas
ambiental da qualidade d o trabalho de gestão

(A) (Q) (S) (O)

Requisitos Requisitos Requisitos Requisitos


comuns comuns comuns comuns

Fonte: British Standards Institution, 2006.


Q u a d r o 5.9 Estrutura de requisitos do PAS 99.

4.1. Requisitos gerais


4.2. Política do sistema de gestão
4.3. Planejamento
4.3.1. Identificação e avaliação de aspectos, impactos e riscos
4.3.2. Identificação dos requisitos legais e outros
4.3.3. Plano de contingência
4.3.4. Objetivos
4.3.5. Estrutura organizacional, funções, responsabilidades e autoridade
4.4. Implementação e operação
4.4.1. Controle operacional
4.4.2. Gestão de recursos
4.4.3. Documentação
4.4.4. Comunicação
4.5. Avaliação do desempenho
4.5.1. Monitoramento e medição
4.5.2. Avaliação do atendimento a requisitos legais
4.5.3. Auditoria interna
4.5.4. Análise das não conformidades
4.6. Melhoria
4.6.1. Geral
4.6.2. Ação corretiva e preventiva
4.7. Análise pela administração
4.7.1. Geral
4.7.2. Entradas
4.7.2. Saídas

Fonte: PAS 99 sumary. Disponível em: <http://www.bsi-global.com>. Acesso em: 10 maio 2010.

Q u a d r o 5.10 E x e m p l o s d e requisitos e m n o r m a s d e s i s t e m a s de g e s t ã o selecionadas.

PAS 99 I S O 9000 ISO 14000 O H S A S 18001 N B R 16001

4.2. Política de 3.2. Política da


5.3. Política da 4.2. Política da
4.1. Política Segurança e Saúde responsabilidade
qualidade qualidade
Ocupacional social

5.2. Foco no cliente


4.3.2. Identificação 7.2.1. Determinação
4.3.2. Requisitos 4.3.2. Requisitos 3.3.2. Requisitos
dos requisitos legais e de requisitos
legais e outros legais e outros legais e outros
outros relacionados a
produtos

4.4.5. Controle de 4.2.3. Controle de 4.4.5. Controle de 4.4.5. Controle de 3.5.3. Controle de
documentos documentos documentos documentos documentos

4.5.3. Auditoria 8.2.2. Auditoria 4.5.5. Auditoria 4.5.5. Auditoria 3.6.4. Auditoria
interna interna interna interna interna

Fonte: PAS 99 sumary, ABNT ISO 9000 e 14000, 0 H S A S 18001 e ABNT 16001.
O Projeto Sigma (Sustainability - Integrated Guidelines for Management) é uma proposta
de integração mais ampla com vistas ao alinhamento da organização com os objetivos do
desenvolvimento sustentável sintetizado na ampliação e manutenção dos cinco tipos de
capital: o natural que refere-se ao meio ambiente; o social, relativo às estruturas e relacio-
namentos sociais; o humano, que são as pessoas com suas habilidades, conhecimentos e
atitudes; o manufaturado, que é o capital constituído pelos ativos permanentes da orga-
nização; e o capital financeiro, envolvendo lucro, prejuízos, vendas, entre outros 80 .

O Projeto Sigma não trata apenas de integrar sistemas de gestão, mas de qualquer
instrumento de promoção da responsabilidade social cia organização c o m o as normas e
práticas para engajamento das partes interessadas, metas do milênio, global compact,
entre muitas outras. A integração é construída com base na visão, valores, princípios e
missão definidos em diálogos com as partes interessadas e na disseminação dos concei-
tos de desenvolvimento sustentável com vistas a gerar mudanças culturais na organiza-
ção. Essas definições e determinações válidas para a organização inteira orientam as
atividades de planejamento, entrega, monitoramento, análise crítica e relato das ativida-
des, esta última iniciando e fechando um ciclo P D C A , como mostra a Figura 5.9.

t Figura 5.9 Projeto Sigma: estrutura.

Fonte: Adaptado de The Sigma Guidelines. Disponível em: <www.projectsigma.co.uk>. Acesso em: 12 jun. 2010.
C E R T I F I C A Ç Ã O DO S I S T E M A DE G E S T Ã O AMBIENTAL

O S G A pode ser criado e implementado para alcançar diversos objetivos. A norma


I S O 14001 aplica-se a qualquer organização que deseje (a) estabelecer, implementar,
manter e aprimorar um SGA; (b) assegurar-se da conformidade com sua política am-
biental definida; e (c) demonstrar conformidade com esta norma ao:

1. fazer uma autoavaliação ou autodeclaração; ou


2. buscar confirmação da sua conformidade por partes interessadas na organiza-
ção, como os clientes e acionistas;

3. buscar confirmação de sua autodeclaração por meio de uma organização


externa; ou

4. buscar certificação ou registro do seu SGA por uma organização externa 81 .

A autodeclaração de conformidade se realiza por meio de avaliações conduzidas


pela própria organização que criou o SGA ou por uma organização externa. Certifica-
ção é o procedimento pelo qual uma terceira parte dá garantia escrita de que um pro-
duto, processo ou serviço está em conformidade com os requisitos especificados.
Terceira parte é uma pessoa ou organismo reconhecido como independente das partes
envolvidas no que se refere a determinado assunto. Registro é o procedimento pelo
qual um organismo indica as características pertinentes de um produto, processo ou
serviço, ou características particulares de um organismo ou pessoa, em lista apropriada
e disponível ao público 82 .
O S G A pode ser certificado por organizações que se relacionam com ele no seu
ambiente de negócio, por exemplo, as empresas clientes ou quem as representem. E
possível que clientes avaliem o SGA da organização fornecedora, porém, na prática, o
que se observa é a preferência pelas organizações externas acreditadas para tal no país
onde o S G A opera, pois isso evita o inconveniente de ter diversas organizações interes-
sadas realizando visitas, medindo e conferindo dados, entrevistando o pessoal e outros
procedimentos para verificar a conformidade do SGA aos requisitos da norma. C o m
o uso de organizações de terceira parte credenciadas, os custos de transações entre as
empresas interessadas se reduzem, o que explica a grande procura por certificação rea-
lizada por organizações independentes, denominadas de Organismos de Certificação
Credenciados.

ABNT, 2004, seção 1, objetivo.


ABNT. N B R I S O / I E C Guia 2, definições, 1998.
Organismo de Certificação Credenciado (OCC)
U m organismo de certificação para ser credenciado pelo órgão governamental
competente precisa atender critérios previamente estabelecidos em documentos nor-
mativos. Cada país possui esquemas próprios para acreditar e controlar as atividades
dos organismos de certificação, embora haja um amplo esforço internacional para
harmonizar critérios e procedimentos tendo à frente a I S O e o International Accredita-
tion Fórum (IAF). Várias normas internacionais foram criadas com esse propósito,
como a norma guia I S O / I E C 66, que estabelece requisitos gerais para os organismos
de certificação e registros de SGAs, e o guia do IAF para aplicação desse guia 83 .

No Brasil, esses requisitos são definidos pelo Sistema Nacional de Metrologia,


Normalização e Qualidade Industrial (Sinmetro), estabelecido pela Lei 5 . 9 6 6 de 1973,
cuja estrutura pode ser vista no Quadro 5.11. As questões concernentes ao credencia-
mento de organismos de certificação são tratadas pelo C o m i t ê Brasileiro de Avaliação
da Conformidade ( C B A C ) que tem como atribuição assessorar o C o n m e t r o na estru-
turação de um sistema de avaliação da conformidade harmonizado internacionalmen-
te e na proposição de princípios e políticas a serem adotadas.

A certificação de conformidade, que pode ser compulsória ou voluntária, é o ato


pelo qual um organismo de certificação atesta que um sistema, processo, produto ou
serviço atende os requisitos especificados pelas normas pertinentes. N o caso do S G A ,
trata-se de certificação voluntária. Organismo de Certificação Credenciado ( O C C ) é
uma organização de terceira parte credenciada pelo Instituto Nacional de Metrologia,
Normalização e Qualidade Industrial (Inmetro), órgão executivo central do Sinmetro
e gestor do C B A C . Credenciamento é o modo pelo qual um órgão autorizado reconhe-
ce formalmente que uma entidade, pessoa ou organização é competente para realizar
tarefas específicas, segundo os princípios e requisitos estabelecidos pela legislação do
país. U m desses requisitos é a independência dos organismos de certificação para im-
pedir que eles sejam contratados para auxiliar a organização em relação ao funciona-
mento do seu S G A com vistas a facilitar a certificação.

Todos os O C C s devem passar por um processo de credenciamento segundo os


critérios estabelecidos pela legislação brasileira para poderem emitir certificados de
conformidade válidos no Brasil. Isso pode ser insuficiente quando o que está em jogo
é o comércio internacional. Por isso, os O C C s têm como prática se credenciarem em
vários países para que os certificados emitidos por eles tenham uma aceitação mais
ampla. A quantidade de credenciamentos estrangeiros e a credibilidade do sistema de
credenciamento atuam como elementos de promoção do O C C , quando da escolha
por parte da organização interessada em certificar seu SGA. U m O C C credenciado
apenas pelo Inmetro terá menos apelo promocional do que outro que ostente em seu
portfólio credenciamentos pelo RAB norte-americano, D A R alemão, JAB do Japão e
outros órgãos credenciadores de importância reconhecida mundialmente 84 .

Q u a d r o 5.11 S i n m e t r o : objetivo e c o m p o n e n t e s .

Objetivo
Formular e executar a política nacional de metrologia, normalização industrial e certificação de qualidade de produtos industriais.
Componentes
Integram o Sinmetro todas as entidades públicas e privadas que exerçam atividades relacionadas com os objetivos acima.
i— Órgão Normativo: Conselho Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial (Conmetro).

** Órgão Executivo Central: Instituto Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial (Inmetro). Autarquia
criada vinculada ao Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC). Coordena, no âmbito do
SINMETRO, a certificação compulsória e voluntária de produtos, de processos, de serviços e a certificação voluntária de
pessoal. É o órgão acreditador de organismos de certificação terceira parte.
<-» Comitês do Conmetro:
CBM - Comitê Brasileiro de Metrologia.
CMN - Comitê Brasileiro de Normalização.
CBAC - Comitê Brasileiro de Avaliação da Conformidade.
CCAC - Comitê Codex Alimentarius do Brasil.
CCBT - Comitê Brasileiro de Barreiras Técnicas ao Comércio.

Fonte: Lei 5.966 de 11/12/1973 e outros textos legais decorrentes.

BENEFÍCIOS E OBJEÇÕES

A norma I S O 14001 apresenta requisitos processuais que podem ser utilizados


por organizações de qualquer porte, setor de atividade, localização, entre outras

RAB = Registrar Accreditation Board /National Accreditation Program; DAR = Deittscher AkkreditierungsRat; JAB » Ja-
pan Accreditation Board for Conformity Assessment. Outros órgãos credenciadores importantes: RvA = Raad Voor
Acreditatie (Países Baixos); Enac = Entidad Nacional de Acreditación (Espanha); UKAS = United Kingdom Accredita-
tion Service (Reino Unido); Confrac = Comitê Français dAccréditacion (França); Sincert = Sistema Nazionale per
UAccreditamento degli Organsimi di Certificazione (Itália).
circunstâncias. Porém, o que a organização irá estabelecer em termos de objetivos,
metas, programas, métodos de mensuração e outros elementos do S G A depende des-
sas circunstâncias. A mesma quantidade de um poluente lançado em diversos locais
gera impactos diferentes devido às características físicas, biológicas e sociais do meio
ambiente receptor. Depende também do modelo de gestão adotado, pois modelos
diferentes conferem olhares diferentes sobre as mesmas questões ou fatos. Por exem-
plo, se a empresa adota o modelo da Produção mais Limpa, comentado no capítulo
anterior, as prioridades de gestão são as atividades para reduzir ou eliminar poluentes
na fonte, centrando a atenção sobre os insumos, os processos produtivos e os produ-
tos; reúso e reciclagem terão baixa prioridade. Porém, estes terão alta prioridade em
um modelo de gestão inspirado na natureza. Em outras palavras, o S G A é um instru-
mento de gestão que incorpora as diretrizes e práticas do modelo de gestão adotado.
Um S G A requer a formulação de diretrizes e o envolvimento de todos os segmen-
tos da empresa para tratar das questões ambientais de modo integrado com as demais
atividades da empresa. Segundo a norma ISO 14001, uma organização que possua um
S G A poderá equilibrar e integrar interesses econômicos e ambientais e alcançar vanta-
gens competitivas significativas. Um dos objetivos explícitos das normas ISO é, em
geral, contribuir para eliminar as barreiras técnicas injustificadas de acordo com as
novas regras de comércio internacional pós Rodada Uruguai. Tem sido voz corrente
afirmar que a certificação do S G A constitui um pedágio que a empresa deve pagar para
poder participar desse mercado.

A normalização, de modo geral, desempenha um papel fundamental nos proces-


sos de produção e distribuição, podendo facilitar ou criar obstáculos ao comércio in-
ternacional. A existência de várias normas de âmbito nacional sobre uma mesma
matéria constitui uma barreira ao comércio, pois aumenta os custos do exportador
que pretende atender a mais de um mercado. Uma norma internacional gera econo-
mia de recursos para o produtor e maior segurança para o consumidor e torna mais
ágil o comércio entre nações, pois permite simplificar e uniformizar procedimentos
administrativos e operacionais.
Porém, há certa desconfiança nos países em desenvolvimento de que as normas
sobre S G A elaboradas pela ISO possam se tornar barreiras técnicas para proteger em-
presas dos países desenvolvidos que operam com custos mais elevados decorrentes de
legislações mais rigorosas. Essa preocupação não é totalmente desprovida de sentido,
porquanto se sabe que as questões ambientais têm sido usadas como pretexto para
práticas protecionistas, e a normalização ambiental no âmbito da I S O é conduzida sob
a regência de órgãos de normalização de países desenvolvidos, nos quais a prática do
protecionismo comercial baseado em critérios técnicos é amplamente praticada. Essa
crítica é alimentada pelo fato de que nenhum país em desenvolvimento tinha norma
sobre S G A quando o T C 207 da ISO começou a trabalhar. De fato, a necessidade de
normalizar a gestão ambiental surge inicialmente nos países ricos, um fato que se evi-
dencia também pela participação expressiva desses países na coordenação e secretariado
do T C 207 8 5 , como se pode ver no Quadro 5.2.

Não faltam críticas aos SGAs pelo fato de que eles podem ser certificados mesmo não
estando totalmente conforme a legislação ambiental. Notícias na imprensa sobre proble-
mas ambientais em organizações com SGAs certificados alimentam o ceticismo em rela-
ção a esse instrumento de gestão ambiental empresarial. Não faz sentido exigir que uma
organização esteja totalmente conforme a legislação para só então criar um SGA. Esse
sistema permite que se identifique onde e de que modo a organização não está atendendo
à legislação com vistas a encontrar meios para superar as não conformidades. Mesmo
quando a organização esteja cumprindo plenamente os requisitos legais em um momen-
to, dada a natureza evolutiva das legislações, no momento seguinte ela poderá deixar de
atendê-los, necessitando novos procedimentos para ajustar-se às novas exigências legais.
Outra crítica refere-se à dificuldade de implementar um SGA conforme os requisitos
da norma ISO 14001 em micro, pequenas ou médias empresas devido à complexidade do
S G A e o elevado custo que representa para elas, apesar de a norma afirmar que se aplica
a qualquer tipo de organização86. Essa crítica não procede. A complexidade de um SGA
reflete a complexidade da empresa, isto é, ela não ficará mais complexa pelo fato de im-
plantar um SGA, porém, se implantar, o tratamento das questões ambientais ficará mais
fácil e menos oneroso. Os custos para implantar e manter um S G A dependem da situação
da empresa em relação às questões ambientais pertinentes a ela, isto é, são proporcionais
às necessidades de adequação do seu sistema produtivo para enfrentar essas questões.
Não raro os maiores custos são devidos à obtenção de conformidade legal, exigin-
do renovação de licenças ambientais, novos métodos produtivos, aquisição de equipa-
mentos, reformas em prédios e instalações, treinamentos, entre outras providências.
Ou seja, são custos decorrentes do atendimento da legislação, condição que vale para
qualquer empresa com ou sem um SGA. A implantação do S G A revela as não confor-
midades legais de forma sistemática e exige ações corretivas e preventivas, por isso
pode parecer que gera maiores custos. Os custos do processo de certificação por um
organismo de terceira parte credenciado é uma fração pequena dos custos totais e
proporcional ao porte da empresa 87 . Os valores cobrados por esses organismos pelo

85
CAJAZEIRA; B A R B I E R I , 2 0 0 5 .
86
ABNT, N B R I S O 14001:2004, introdução.
87
trabalho de certificação são estabelecidos pelos órgãos de credenciamento do país em
questão, o Inmetro n o caso do Brasil.
U m S G A de acordo com os requisitos da I S O 14001 facilita o acompanhamento
da legislação e a busca de conformidade legal. Mas um S G A não gira apenas em torno
da legislação. A melhoria contínua é um requisito essencial do S G A , de modo que a
sua implementação deve produzir, ao longo do tempo, uma melhora geral n o desem-
penho ambiental da organização que ultrapasse as exigências legais. Se críticas como as
apontadas não condizem com os objetivos e alcances de um S G A criado e mantido
conforme mostrado neste capítulo, esse instrumento de gestão também não deve ser
visto como uma panaceia para todos os problemas ambientais gerados pela empresa.
O S G A deve ser entendido como um entre muitos instrumentos para abordar tais
problemas, que se for bem implantado e operado fará com que a empresa melhore
continuamente o seu desempenho ambiental.

I Termos e conceitos importantes

Aspecto ambiental Normas ISO 14000

Avaliação da conformidade Objetivos e metas ambientais

Avaliação do desempenho ambiental Organismo de Certificação

Certificação Credenciado

Conceito de sistema Política Ambiental

Credenciamento Requisitos de um SGA

Emas Sinmetro

Impacto ambiental Sistema de gestão ambiental

Melhoria contínua Sistemas de gestão

Normas Internacionais de Gestão integrados

Questões para revisão

1. Faça uma visita ao site da ISO (www.iso.ch) e obtenha mais informações sobre ela, seus
objetivos, seus comitês e, em especial, o ComitêTécnico 207. Veja como são criadas suas
normas. Aproveite para verificar a fase de desenvolvimento das normas a cargo desse
Comitê. Atualize o Quadro 5.2, pois sendo oTC 207 bastante ativo muitas normas publi-
cadas são revisadas, outras são canceladas e novos itens de trabalhos estão sempre
sendo propostos.
2. O Sistema Comunitário de Ecogestão e Auditoria (Emas), e a norma ISO 14000 apresen-
tam muitas correspondências. Mas há também diferenças marcantes. Apresente e co-
mente algumas dessas diferenças.

3. Muitos princípios da Declaração do Rio de Janeiro sobre Meio Ambiente e Desenvolvi-


mento (Anexo 2) são endereçados aos governos e as relações entre países. Identifique
quais dos 27 princípios da Declaração mais se aplicam a uma empresa industrial e que
poderiam ser utilizados como princípios diretivos para auxiliar a empresa a formular sua
política ambiental.

4. A Carta Empresarial para o Desenvolvimento Sustentável (Anexo 4) é outro exemplo de


princípios orientadores para auxiliar uma organização a estabelecer sua política ambien-
tal. Verifique em uma organização que você conhece ou trabalha como esses princípios
podem ser usados para formular a política ambiental. Faça o mesmo em relação aos
Princípios Ceres (ver Quadro 3.4).

5. As expressões abaixo têm sido utilizadas para estabelecer a política ambiental de empre-
sas. Atribua um número de 1 a 5 a cada uma segundo o grau de disposição da empresa
em resolver o problema dos resíduos (1 para a expressão que indica a menor disposição
e 5, a maior). Justifique sua ordenação.

f a nossa empresa almeja minimizar a geração de resíduos sólidos(...)

>*> a nossa empresa minimizará a geração de resíduos sólidos!...)

a nossa empresa pretende minimizar a geração de resíduos sólidos(...)

^ a nossa empresa assume o compromisso de minimizar a geração de resíduos sólidos(...)

6. Analise a política transcrita abaixo confrontando com os requisitos da ISO 14001 concer-
nente à política ambiental. Caso ache insuficiente, reescreva a declaração acrescentando
as alterações que você julgar necessário para que ela atenda tais requisitos. Justifique as
mudanças com base no requisito da norma ISO 14001.

NOSSA POLÍTICA AMBIENTAL


Reconhecemos nossa responsabilidade como fabricantes de eletrodomésticos e nos
propomos a melhorar nossos produtos para reduzir os impactos ambientais adversos ao
meio ambiente durante o seu processo de fabricação e utilização.
Assumimos o compromisso de desenvolver nossas atividades respeitando o meio
ambiente e melhorando continuamente nossas práticas ambientais.
Nossa empresa se esforçará para:

• melhorar a eficiência energética e a reciclabilidade dos nossos produtos;


• incorporar o conceito de prevenção em todos os seus processos e atividades;
implantar e manter processos de gerenciamento de resíduos sólidos;
cooperar com nossos fornecedores, transportadores e empreiteiros para que
eles também consigam melhorar o seu desempenho ambiental;
• promover o desenvolvimento profissional e social dos nossos funcionários e
a consciência ambiental;
• manter nossos clientes informados sobre o nosso desempenho ambiental;
implantar e executar a presente política com a participação de todos os
funcionários, acionistas e dirigentes.

Nossa empresa utilizará princípios e práticas de gestão ambiental coerentes com


esses compromissos e com os objetivos e metas ambientais estabelecidos e revistos
anualmente.Todos os interessados poderão obter informações sobre nossos objetivos
e práticas ambientais, bem como de nosso desempenho ambiental em nosso website:
<www.produtosqueduramuitomais.com.br>. Anualmente publicaremos um relatório
ambiental que estará disponível nesse site e aceitaremos com satisfação as críticas
construtivas que nos enviarem.

7. A identificação de aspectos ambientais é um requisito da norma ISO 14001:2004. 0 Qua-


dro 5.4, extraído da ISO 14004, apresenta exemplos de aspectos e seus respectivos im-
pactos ambientais. Amplie esse quadro com exemplos de outros aspectos relacionados
a atividades, produtos e serviços de uma organização que você conhece.

8. Após a identificação dos aspectos ambientais, avalie a importância de cada um deles,


levando em conta as sugestões mostradas na seção "Aspectos Ambientais" Depois, in-
terprete os resultados com o objetivo de selecionar os mais significativos.

9. Faça uma pesquisa sobre os tipos de certificação e de Organismos de Certificação Cre-


denciados (OCC). Obtenha a lista dos Organismos de Certificação de Sistemas de Ges-
tão Ambiental (OCA) e procure obter informações sobre alguns deles, como país de
origem, vinculações internacionais e clientes.

10. Apresente uma lista de vantagens que um SGA pode proporcionar a uma empresa e uma
lista de objeções. Antes, faça uma pesquisa e veja o que dizem as empresas com SGA
certificados. Verifique se entre elas estão empresas que apresentam problemas ambien-
tais noticiados pela imprensa.

Referências

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Genebra: UNEP, 2007.


AUDITORIAS AMBIENTAIS

A auditoria ambiental é um instrumento de múltiplos propósitos e um dos mais


antigos que se conhece. Auditoria entendida como exame, conferência ou apuração de
fatos já era empregada há muito tempo e existem relatos de seu uso na Antigüidade,
como atestam diversos textos sobre auditoria contábil. Há relatos mostrando que as
autoridades do antigo Egito, da Grécia e de Roma usavam verificações independentes
sobre registros de cobranças de impostos e pagamentos autorizados 1 . C o m o desenvol-
vimento do comércio e da contabilidade, a partir do século XV, essa atividade de
conferência se desenvolve, recebe o nome auditoria contábil e surgem pessoas encarre-
gadas de executá-la, os auditores, uma palavra de origem latina, auditore, que significa
ouvinte ou aquele que ouve, indicando que ouvir as pessoas era um dos principais meios
para realizar as conferências, revisões e apurações dos registros contábeis.

As conferências e registros sobre a segurança de navios e cargas para efeito de seguro


tornaram-se habituais a partir dos séculos X V I I e XVIII. As auditorias de qualidade só
começaram a ser praticadas nas primeiras décadas do século X X , impulsionadas pelos
programas de fornecimento de material bélico. As auditorias ambientais são mais recen-
tes, elas começam a aparecer em meados do século X X como parte dos trabalhos de
avaliação de desastres de grandes proporções, envolvendo explosões e vazamentos segui-
dos de contaminações em fábricas, refinarias, gasodutos, terminais portuários e outros.
Porém, é a partir da década de 1970 que elas se tornam um instrumento autônomo de
gestão ambiental, inicialmente com o objetivo de averiguar o cumprimento das leis
ambientais que estavam se tornando cada vez mais rigorosas, principalmente sob a in-
fluência da Conferência das Nações Unidas de Estocolmo em 1972.

1 B O Y N T O N , W. c . ; KELL, W. G., 1992. p. 8.


N o início, as auditorias ambientais buscavam basicamente assegurar a adequação
das empresas às leis ambientais dentro de uma postura defensiva, ou seja, procuravam
identificar possíveis problemas relacionados a multas, indenizações e outras penalida-
des ou restrições contidas nas diversas leis federais, estaduais e locais. Muitas organiza-
ções começaram a realizar auditorias voluntárias e os órgãos governamentais passaram
a estimular tal prática. Ao final da década de 1980 já existia uma razoável experiência
internacional sobre esse instrumento, que em grande parte se beneficiou dos avanços
em outros tipos de auditoria, como a contábil e a de qualidade. A preocupação legalista
predominava nessas auditorias, denominadas auditorias de conformidade ou de cum-
primento legal. C o m o tempo, outras considerações foram acrescentadas e, com isso, a
expressão auditoria ambiental tornou-se bastante elástica, podendo significar uma diver-
sidade de atividades de caráter analítico voltadas para identificar, averiguar e apurar fa-
tos e problemas ambientais de qualquer magnitude e com diferentes objetivos.

Praticamente todas as iniciativas voluntárias, algumas já mencionadas, recomen-


dam a realização de auditorias ambientais de modo regular e sistemático. A Carta
Empresarial para o Desenvolvimento Sustentável da I C C estabelece no seu 16- princí-
pio que a empresa deve medir o desempenho ambiental, realizar regularmente audito-
rias ambientais, obedecer às normas legais e divulgar informações apropriadas ao
conselho de diretores, aos empregados, aos acionistas, às autoridades e ao público em
geral (ver Anexo 4). As auditorias anuais e a divulgação dos seus resultados constam do
10 a princípio Ceres (ver Quadro 3.4). A realização de auditorias de modo regular e
diversificado faz parte dos estágios mais avançados de preocupação ambiental, c o m o
são as abordagens de prevenção da poluição e estratégica, mostradas no Capítulo 4.

T I P O S DE AUDITORIAS AMBIENTAIS

As auditorias ambientais podem ser aplicadas em organizações, locais, produtos,


processos e sistemas de gestão. O Quadro 6.1 resume os principais tipos de auditoria
ambiental quanto a seus objetivos, indicando, para cada um, os seus principais instru-
mentos de referências para efeito de averiguação e análise. A auditoria de conformidade
legal tem por objetivo verificar o cumprimento da legislação ambiental e correlata apli-
cável à organização. Envolve as seguintes questões:

a) atendimento à legislação nacional, estadual e local aplicável ao setor em que a


organização ou suas unidades se situam;
b) autuações dos órgãos ambientais governamentais;
c) situação das licenças concedidas, e em tramitações, nos órgãos ambientais e
correlatos;
d) termos de compromisso firmados com o órgão ambiental e outras autoridades;
e) situação das ações movidas contra a organização, por exemplo, para reparação
de danos ambientais;
f) reclamações de trabalhadores, sindicatos, vizinhos, imprensa, O N G s e outros
quanto ao n ã o atendimento de medidas legais.

E m sua origem, a auditoria de conformidade teve um caráter reativo, uma vez que
as primeiras normas legais quase sempre eram do tipo c o m a n d o e controle. C o m o
surgimento de instrumentos econômicos de política pública ambiental, as auditorias
de conformidade também podem apresentar um caráter proativo, na medida em que
revelem oportunidades relacionadas a tributos, subsídios, compras governamentais e
outras espécies desse gênero de instrumentos, tratados n o Capítulo 3. U m a extensão
desse tipo de auditoria é a de desempenho ambiental, que tem o propósito de identificar
o grau de atendimento a certos parâmetros de planejamento e controle, c o m o redução
das quantidades de emissões lançadas ao meio ambiente por tipo de poluente, previs-
tos ou não pela legislação.

A due diligence (literalmente: devido cuidado) é um tipo de auditoria de escopo amplo


voltada para identificar questões que afetam, ou poderão afetar, o patrimônio da empre-
sa. Ela avalia a responsabilidade da empresa perante acionistas, governos, empregados,
clientes, bancos, fornecedores, representantes comerciais e outras partes interessadas
com o objetivo de avaliar a situação legal (civil, comercial, trabalhista, tributária, ambien-
tal etc.) e conhecer o verdadeiro valor da empresa, identificando os passivos ocultos e as
contingências não provisionadas no balanço patrimonial. Além das questões ambientais
anteriormente mencionadas, outras tratadas na due diligence são as seguintes:

a) questões societárias: contrato social, acordos com acionistas, emissões de ações,


distribuição de dividendos, participação em outros grupos econômicos;
b) questões fiscais: planejamento tributário, incentivos fiscais, créditos fiscais,
processos administrativos e judiciais, passivos fiscais e contingências;
c) questões trabalhistas: política de recursos humanos, contratos de trabalho,
acordos com sindicatos, acidentes de trabalho, atendimento às normas regula-
mentadoras do Ministério do Trabalho, processos administrativos e judiciais,
passivos trabalhistas e contingências;
d) questões financeiras e contratuais: empréstimos, contratos c o m fornecedores,
empreiteiros, clientes, garantias, provisões para devedores duvidosos;
e) questões patrimoniais: escrituras e certidões negativas, compromissos de com-
pra e venda de bens móveis e imóveis, impostos, taxas e multas, valor dos ativos
e critérios de depreciação, valor das marcas (brand equity), patentes e outros ati-
vos intangíveis.
A due diligence tem sido utilizada nos processos de avaliação de empresas para efeito
de cisão, aquisição e fusão, bem como em aplicações de recursos em participação so-
cietária em empresas sob a modalidade de private equity. A identificação de passivos
ocultos permite que os investidores paguem o preço mais próximo da realidade, pois,
do contrário, poderão estar pagando duas vezes, uma nas transações e outra depois
que os passivos ocultos começarem a ser exigidos. Para o comprador, as informações

O Q u a d r o 6.1 Alguns tipos de auditorias ambientais.

Tipo Obj etivos Principais instrumentos de referência


^ Legislação ambiental.
Auditoria de Verificar o grau de conformidade com a
~ Licenças e processos de licenciamentos.
conformidade legislação ambiental.
r* Temos de ajustamento.

Avaliar o desempenho de unidades produtivas Legislação ambiental,


Auditoria de
em relação à geração de poluentes e ao i"* Acordos voluntários subscritos.
desempenho
consumo de energia e materiais, bem como <-* Normas técnicas.
ambiental
aos objetivos definidos pela organização. f * Normas da própria organização.

r* Legislação ambiental, trabalhista, societária,


Verificação das responsabilidades de uma
tributária, civil, comercial etc.
empresa perante acionistas, credores,
Due diligence Contrato social, acordos com acionistas e
fornecedores, clientes, governos e outras
empréstimos.
partes interessadas.
Títulos de propriedade e certidões negativas.

Avaliar os desperdícios e seus impactos ^ Legislação ambiental.


Auditoria de
ambientais e econômicos com vistas às i-* Normas técnicas,
desperdícios e de
melhorias em processos ou equipamentos i"* Fluxogramas e rotinas operacionais.
emissões
específicos. f* Códigos e práticas do setor.

Legislação ambiental e trabalhista.


Acordos voluntários subscritos.
Auditoria Verificar as causas do acidente, identificar as <-» Normas técnicas.
pós-acidente responsabilidades e avaliar os danos. f * Plano de emergência.
Normas da organização e programas de
treinamento.

i- Legislação ambiental.
f* Acordos voluntários subscritos.
Avaliar o desempenho de fornecedores atuais
Auditoria de ** Normas técnicas.
e selecionar novos. Selecionar fornecedores
fornecedor Normas da própria empresa.
para projetos conjuntos.
Demonstrativos contábeis dos fornecedores.
Licenças, certificações e premiações.

*+ Normas que especificam os requisitos do S G A


Auditoria de Avaliar o Sistema de Gestão Ambiental, seu
(ISO 14001, Emas etc.).
sistema de grau de conformidade com os requisitos da
r * Documentos e registros do SGA.
gestão ambiental norma utilizada e com a política da empresa.
<•* Critérios de auditoria do SGA.
obtidas por este tipo auditoria permitem conhecer o valor das obrigações futuras (cus-
to para descontaminar uma área, indenizações por danos etc.) para descontar do preço
a ser pago na transação, bem como para elaborar medidas para administrar a transição
do controle societário, uma fase geralmente turbulenta e que pode comprometer os
objetivos do novo controlador.

A auditoria de fornecedor é empregada nos processos de seleção e avaliação de produ-


tos e fornecedores, com objetivos vários, como selecionar produtos ambientalmente
preferíveis, selecionar fornecedores que tenham uma atuação ambiental compatível
com a política e as práticas ambientais, identificar problemas ambientais dos fornece-
dores que podem ser transmitidos à jusante da cadeia, entre outros. O exame desses
critérios pode exigir, além da análise do produto em si, ou dos materiais que suportam
os serviços, uma verificação do processo de produção e de seus impactos ambientais a
montante da cadeia de suprimento.

Auditorias ambientais localizadas ou isoladas são realizadas com o objetivo especí-


fico de detectar problemas ou oportunidades em áreas ou atividades, tais como:

a) fontes de poluição e medidas de controle e prevenção;

b) uso de energia e água e medidas de economia;

c) processos de produção e distribuição;

d) pesquisas e desenvolvimento de produtos;

e) uso, armazenagem, manuseio e transporte de produtos controlados;

f) subprodutos e desperdícios;

g) estações de tratamento de águas residuárias;

h) sítios contaminados;

i) reformas e manutenções de prédios e instalações;

j) panes, acidentes e medidas de emergência e mitigação; e

k) saúde ocupacional e segurança do trabalho.

U m exemplo de auditoria localizada é a de desperdício (waste audit). Esse tipo de


auditoria é o primeiro passo de um programa permanente para otimizar o uso dos re-
cursos e aperfeiçoar o desempenho ambiental de uma organização. Ela permite conhe-
cer os fluxos de materiais e identificar os pontos que merecem atenção para reduzir
desperdícios e custos decorrentes. Essa auditoria procura identificar os pontos cie per-
das ou desperdícios de materiais e energia nos processos produtivos, examinando equi-
pamentos, rotinas e procedimentos produtivos de modo sistemático a fim de eliminar
ou reduzir emissões e resíduos, ao mesmo tempo em que aumenta a eficiência do
processo produtivo e melhora as condições de trabalho 2 .
A Auditoria do Sistema de Gestão Ambientai (SGA) tem por objetivo verificar se o S G A
implantado atende aos requisitos especificados na norma adotada e se é adequado para
a consecução da política ambiental definida pela organização. Em outras palavras, pro-
cura avaliar se o S G A atende às expectativas. Todos os modelos de S G A apresentados
n o capítulo anterior concebem a auditoria como parte do próprio sistema, mais especi-
ficamente, como um elemento da fase de checar ou verificar do ciclo P D C A . Esse tipo
de auditoria será apresentado adiante, com mais detalhes.

Classificação das auditorias


A norma I S O 9 0 0 0 , que trata dos fundamentos e do vocabulário concernentes aos
sistemas de gestão da qualidade, classifica as auditorias em internas e externas 3 , como
resumido no Quadro 6.2. Esse esquema também pode ser aplicado às auditorias am-
bientais de um modo geral. A auditoria interna (auditoria de primeira parte) é realiza-
da pelo próprio pessoal da organização ou por profissionais contratados. A auditoria
de segunda parte ocorre quando uma organização, ou alguém em n o m e dela, audita
com seus próprios critérios outra organização; um exemplo é a auditoria de fornece-
dor, comentada na seção anterior. A auditoria de terceira parte é conduzida por uma
entidade externa independente, por exemplo, um Organismo de Certificação Creden-
ciado ( O C C ) , conforme mostrado no final do capítulo anterior. Pode ser também por
um órgão de governo, no caso de auditorias compulsórias.

Esse esquema aplica-se às auditorias do S G A . A auditoria interna do S G A é reali-


zada pelo pessoal da própria organização, por pessoal contratado, ou uma combinação
destes dois, com vistas ao aperfeiçoamento do S G A e, por extensão, do desempenho
ambiental da organização. Seus resultados dependem dos seus objetivos específicos,
por exemplo, embasar a análise crítica pela administração, emitir uma autodeclaração
de conformidade com os requisitos da norma, recomendar ações para prevenir não
conformidades críticas ou revisar objetivos e metas. O auditor interno não deve ser o
mesmo que responde pelas áreas ou processos auditados. Essa é a auditoria que a
norma I S O 14001 estabelece como requisito do S G A .
U m a auditoria de segunda parte é a de fornecedor. Ela pode ser necessária para em-
presas que mantêm um S G A cie acordo com as normas I S O 14001 e o Emas, comentados

PNUMA; U N I D O , 1991.
Q u a d r o 6.2 Auditorias de S i s t e m a s d e Gestão A m b i e n t a l .

1. I n t e r n a : t a m b é m chamada de auditoria de primeira parte, é conduzida


pela própria organização, o u e m s e u n o m e , para p r o p ó s i t o s
i n t e r n o s e p o d e f o r m a r a base para a a u t o d e c l a r a ç ã o de
c o n f o r m i d a d e c o m os requisitos do s i s t e m a .
Auditoria do SGA

2.1. auditoria de segunda parte: conduzida pelas partes q u e


t ê m interesse pela organização, tais c o m o clientes o u
por outras pessoas e m s e u n o m e .

2. E x t e r n a < 2.2. auditoria de terceira parte: conduzida por organizações


externas i n d e p e n d e n t e s . Tais o r g a n i z a ç õ e s f o r n e c e m
certificados ou registros de c o n f o r m i d a d e c o m
requisitos c o n s t a n t e s e m d o c u m e n t o s n o r m a t i v o s ,
c o m o os das n o r m a s NBR ISO 9001 e NBR ISO 14001.

Fonte: Adaptado de ABNT. NBR ISO 9000:2005, Subseção 3.9.1.

no capítulo anterior. Como os produtos e serviços adquiridos pela organização interagem


com o meio ambiente, eles devem ser considerados aspectos ambientais e avaliados, de
modo que os que geram impactos significativos devem ser considerados ao definir objeti-
vos e metas do SGA. Sendo esses produtos e serviços aspectos ambientais de controle in-
direto da empresa, é importante incluir critérios ambientais nos processos de seleção de
produtos e serviços e de seus fornecedores e prestadores de serviço.

A auditoria de certificação é de terceira parte, e seu objetivo é verificar a conformi-


dade do S G A para efeito de registro ou certificação. E realizada por Organismo de
Certificação Credenciado para tal pelo Inmetro, assunto mencionado no capítulo an-
terior. Esses organismos apresentam muita homogeneidade em função do atendimen-
to aos regulamentos do órgão acreditador 4 e às normas sobre boas práticas de
certificação estabelecicias pela ISO e IAF 5 . Apesar disso, cada organismo tem seus
próprios critérios e métodos de trabalho. C o m o parte do processo de certificação,
pode-se realizar auditoria de pré-certificação para confirmar a conformidade dos com-
ponentes do S G A com os requisitos da norma e providenciar ajustes antes da realiza-
ção da auditoria de certificacão.

Por exemplo, a norma INSTITUTO NACIONAL DE METROLOGIA, NORMALIZAÇÃO E QUALIDADE IN-


DUSTRIAL (Inmetro). Norma N/T-DÍCOR 008. Critérios de acreditação para organismos de certificação de sistemas
de gestão. Rio de Janeiro: INMETRO, 2010.
Por exemplo, as normas A S S O C I A Ç Ã O BRASILEIRA DE NORMAS T É C N I C A S (ABNT). ABNT ISO/IEC
Guia 66:2001. Requisitos gerais para organismos que atuam na avaliação, certificação e registro de sistemas de
gestão ambiental. Rio de Janeiro: ABNT, 2001 e INTERNATIONAL À C C R E D I T A T I O N F Ó R U M (IAF). IAF
guidance on the application of ISO/IEC guide 66. IAF, 2003.
A CONTRIBUIÇÃO DA CÂMARA DE COMÉRCIO INTERNACIONAL ( I C C )
C o n t r a a proliferação de modalidades de auditorias, da confusão decorrente do
amplo espectro de objetivos e, consequentemente, de procedimentos, algumas entida-
des públicas e privadas procuraram clarificar o seu entendimento e orientar a sua
prática. Essa preocupação ocorre de modo mais intenso ao final da década de 1980.
Nos Estados Unidos, a Environmental Protection Agency (Usepa) estabeleceu, em 1986,
uma política de auditoria ambiental, procurando valorizar esse instrumento e retomar
seu caráter inicial associado ao cumprimento de requisitos legais. Porém, foi a Interna-
tional Chamber of Commerce ( I C C ) que empreendeu uma verdadeira cruzada para valo-
rizar a auditoria ambiental e estabelecer orientações para a sua elaboração. Muito do
que hoje se entende e se pratica em relação a esse instrumento de gestão ambiental
empresarial deve-se, sem dúvida, à I C C .
Para a I C C , a auditoria ambiental é um instrumento gerencial que compreende uma
avaliação sistemática, periódica, documentada e objetiva do desempenho da organiza-
ção, da administração e dos equipamentos na salvaguarda do meio ambiente, visando
facilitar o controle das práticas ambientais e avaliar a adequação das políticas ambientais
da empresa com as normas legais6. Conforme a I C C , as empresas empregam diferentes
termos para descrever os princípios de um programa de auditoria ambiental, tais como
revisão, supervisão e valoração, sendo que algumas não usam cleliberadamente a palavra
auditoria, enquanto outras usam-na para dar credibilidade a seus programas. A I C C ad-
verte para o fato de que a expressão "auditoria ambiental" é freqüentemente usada como
parente da auditoria contábil. As semelhanças entre elas incluem, por exemplo, o uso de
metodologias padronizadas e a ênfase na verificação da conformidade aos padrões 7 . Al-
gumas das principais diferenças entre elas estão relacionadas no Quadro 6.3.

Algumas correções com respeito ao Quadro 6.3: a auditoria contábil também pode
ser exercida por pessoal interno, neste caso denominada auditoria interna. A auditoria
interna compreende os exames, análises, avaliações, levantamentos e comprovações, me-
todologicamente estruturados para a avaliação da integridade, adequação, eficácia, efici-
ência e economicidade dos processos, dos sistemas de informações e de controles internos
integrados ao ambiente e de gerenciamento de riscos, com vistas a assistir à administração
da entidade no cumprimento de seus objetivos 8 . Outra correção: as auditorias contábeis
podem ter uma periodicidade diferente, por exemplo, semestral ou trimestral.

ICC, 1991. p. 3.
Ibid., 1991. p. 4.
BRASIL. C O N S E L H O F E D E R A L DE C O N A B I L I D A D E (CFC). Resolução n. 9 8 6 de 28/11/2003. Aprova a
Norma Brasileira de Contabilidade NBC-T-12 de auditoria independente. Brasília, 2 0 0 3 .
O Q u a d r o 6.3 Auditoria contábil e auditoria a m b i e n t a l - principais diferenças.

Auditoria contábil" Auditoria ambiental


Exigência legal Ação voluntária

Evento anual Sem periodicidade fixa

Status da conformidade com as expectativas da


Certificação de uma declaração
administração

Função externa exercida por pessoal externo Função interna exercida por pessoal interno ou externo

Conduzida de acordo com práticas e padrões geralmente


Diversidade considerável de abordagens
aceitos

Foco em contabilidade Foco nas questões ambientais

Fonte: ICC, 1991, p. 5.


Obs.: no original Financial Auditing; no Brasil é usada a expressão auditoria contábil.

U m a questão amplamente enfatizada pela I C C é o caráter voluntário da auditoria


ambiental. Porém, como se verá adiante, há quem defenda sua obrigatoriedade, sendo
que diversas normas legais já foram aprovadas em diversos países, inclusive no Brasil,
tornando-a uma obrigação legal. O Quadro 6.4 resume os objetivos e os benefícios da
auditoria ambiental segundo a I C C . Entre os principais objetivos estão a identificação e
a documentação do status da conformidade da empresa e o aperfeiçoamento dos siste-
mas de gestão. Conforme os programas de auditoria amadurecem, seus critérios vão
evoluindo, como mostra a Figura 6.1. A evolução caminha no sentido da identificação
de problemas ambientais para a verificação do status do cumprimento das normas legais

Q u a d r o 6.4 Objetivos e benefícios da auditoria ambiental.

Objetivos Benefícios
Identificar e documentar o status da conformidade am- Provê segurança aos administradores de que os riscos
biental. estão sendo geridos adequadamente.
f» Prover confiança ao administrador sênior. Melhora a reputação da empresa na comunidade e entre
Auxiliar os administradores a melhorar o desempenho as autoridades ambientais.
ambiental da empresa. Mostra aos empregados que a administração dedica
i-* Acelerar o desenvolvimento dos sistemas de gestão am- alta prioridade para a proteção ambiental.
biental. P* Assegura à administração da planta que os riscos serão
Aperfeiçoar o sistema de gestão de riscos ambientais. adequadamente controlados.

Proteger a empresa de responsabilidades ambientais. Identifica as deficiências nos sistemas de controle e as


necessidades de ações corretivas.
i-» Desenvolver uma base para a utilização dos recursos
ambientais.

Fonte: Adaptado de ICC, 1991, p. 9 e 11.


F i g u r a 6.1 Evolução natural d o s p r o g r a m a s de auditoria a m b i e n t a l .

Grau de
sofisticação

Fonte: ICC, 1991, p. 9.

e das políticas internas, e daí segue para a confirmação da ausência de problemas, à me-
dida que eles são resolvidos ou controlados de modo seguro. As linhas interrompidas
dessa figura indicam que sempre haverá a necessidade de identificar problemas e verifi-
car o status do cumprimento das normas e das políticas da empresa. C o m o uma ativida-
de típica do processo de controle, a auditoria compara resultados com políticas, objetivos
e metas, com vistas a detectar o grau de seu alcance e, com isso, realimentar o processo
de planejamento.

Processo de auditoria
As auditorias são realizadas por pessoal qualificado, mediante análise de documen-
tos, registros e informações obtidas por meio de entrevistas, observações in loco, reuniões
de trabalho, medições, ensaios e testes. A I C C recomenda que as auditorias sejam rea-
lizadas em três etapas básicas, previamente planejadas, a saber: (1) atividades de pré-
-auditoria, (2) atividades na unidade ou local específico e (3) atividades de pós-auditoria.
A Figura 6 . 2 apresenta esse processo baseado nessas três fases, sendo a primeira uma
preparação para a auditoria propriamente dita. Esse processo em três fases foi popula-
rizado pela I C C e hoje é amplamente usado em auditorias dos mais diversos tipos. O
esquema da Figura 6.2, que será resumido a seguir, é o indicado pela I C C para a
F i g u r a 6.2 Etapas básicas d e u m p r o c e s s o d e auditoria.

Fonte: Adaptado de ICC, 1989, p. 10-14 e 1991, p. 26.

realização de uma auditoria do S G A . Este esquema também pode ser adaptado para
outros tipos de auditoria ambiental.
A pré-auditoria (Fase 1) envolve a seleção da unidade ou dos recursos que serão
auditados, o planejamento da auditoria, incluindo os objetivos, a abrangência, as prio-
ridades e a definição da equipe. A definição do escopo é uma das áreas-chave para
conduzir um programa de auditoria. E nessa fase que se definem os limites da atuação
dos auditores, os quais podem ser estabelecidos em termos:

a) geográficos - que delimitam a área (país, estado, município ou bairro) que será
coberta pelo programa de auditoria. E mais fácil começar a auditoria em terri-
tórios mais familiares e depois expandir para outros locais. Línguas e culturas
diferentes dificultam as auditorias e exigem mais tempo para planejá-las;
b) temáticos - que definem as questões que serão objeto da auditoria, por exem-
plo, saúde, segurança e meio ambiente. Em auditorias com objetivo restrito,
c o m o auditoria de fornecedor, o seu escopo temático pode se referir a um ou
mais aspectos ambientais do fornecedor atual ou potencial, c o m o controle da
poluição ou eficiência energética;
c) de unidades de negócio - que definem quais operações ou unidades da organiza-
ção serão auditadas;
d) de tempo - que delimitam o período que será considerado para efeito de coleta
de informações e análise. Não se confunde com o período da auditoria, ou
seja, o tempo para realizá-la. Exemplo: se uma organização realiza auditoria em
uma de suas unidades a cada dois anos, esse é o período a ser considerado,
tendo como início o final da auditoria anterior, e as atividades de auditorias
poderão levar duas semanas.

Protocolo é um guia ou uma lista de verificação que estabelece procedimentos a


fim de obter evidências de auditoria. Esse documento é preparado pelo auditor-líder e
varia caso a caso, conforme os objetivos e o escopo da auditoria. O seu grau de deta-
lhamento também depende de cada caso, podendo variar de um guia genérico até uma
lista com perguntas específicas 9 . O importante é que ele facilite o trabalho dos audito-
res e permita que haja uniformidade no tratamento de questões similares. U m proto-
colo detalhado e sequenciado passo a passo facilita as etapas posteriores, pois permite
que sejam feitas anotações sobre questões específicas, de modo que ele se torna tam-
bém um documento de trabalho de campo.
A auditoria propriamente dita (Fase 2: atividades no local) se desenvolve em cinco
passos, começando pelas atividades voltadas para a compreensão do sistema de gestão e
dos processos e controles administrativos e operacionais. Nessa fase o plano inicial pode
ser revisto para incluir aspectos não considerados na pré-auditoria. N o segundo passo
avaliam-se os pontos fortes e fracos dos controles internos e dos riscos associados a eles.
N o terceiro, são reunidas evidências por meio de perguntas, observação in loco e realiza-
ção de testes. O passo seguinte é a avaliação das evidências e a elaboração de uma lista
completa dos resultados. Essa fase se completa com a elaboração de um relatório prelimi-
nar apresentando as evidências e as conclusões das avaliações, e submetendo-o a discus-
sões para eliminar ambigüidades e identificar possíveis ações a serem empreendidas.

As atividades de pós-auditoria envolvem a preparação de um esboço de relatório


final, incorporando as considerações pertinentes feitas durante essas discussões, tais
c o m o recomendações sobre medidas urgentes ou inadiáveis, progressos alcançados e
sugestões de melhoria para a elaboração de um plano de ação 10 . U m a questão sempre
problemática nos processos de auditoria é a distribuição do relatório. É c o m u m a pre-
paração de relatórios distintos para profissionais diferentes. Por exemplo: o relatório
para a diretoria geralmente apresenta os dados de modo sintético, enfatizando os resul-
tados mais significativos; o relatório para o gerente da fábrica deve ser detalhado, pois
deve conter questões operacionais pertinentes à fábrica. C o m base nos elementos for-
necidos pela auditoria, preparam-se planos de ação que podem já ter sido esboçados
durante as fases finais da auditoria.
U m a das principais contribuições da I C C foi sem dúvida a de promover a audito-
ria ambiental c o m o um componente da gestão ambiental e enfatizar que ela não deve
se restringir aos aspectos meramente legalistas, embora a verificação da conformidade
legal constitua um aspecto central desse instrumento de gestão. Na realidade, esse
instrumento será mais ou menos legalista, conforme o estágio da empresa em matéria
ambiental. Q u a n d o a empresa adota uma abordagem de controle da poluição, como
mostrado n o Capítulo 4, as auditorias ambientais se voltam preferentemente para
avaliar a conformidade da empresa às normas legais a que está sujeita. Q u a n d o as
questões ambientais são abordadas preventivamente ou c o m o uma dimensão estratégi-
ca do seu negócio, as auditorias ambientais tornam-se auditorias de negócio sem dei-
xar de contemplar as disposições legais vigentes e as tendências de alterações futuras.

A U D I T O R I A AMBIENTAL CONFORME O E M A S

C o m o mostrado no capítulo anterior, na U n i ã o Européia vigora um sistema co-


munitário de gestão ambiental de caráter voluntário, d e n o m i n a d o Eco Management
and Audit Scheme (Emas). Esse sistema estabelece requisitos para a concepção e a imple-
mentação de um S G A , dentre eles a realização de auditorias ambientais periódicas.
Para o Emas, a auditoria ambiental é um instrumento de gestão que compreende uma
avaliação sistemática, documentada, periódica e objetiva do comportamento da orga-
nização, do seu sistema de gestão e dos processos, com vistas à proteção do meio am-
biente e com o objetivo de: (a) facilitar o controle de práticas com eventuais impactos
ambientais e (b) avaliar a conformidade com as políticas ambientais, incluindo os ob-
jetivos e metas ambientais da organização 11 .

10 ICC, 1991, p. 25-33.


" C O N S E L H O S DAS C O M U N I D A D E S E U R O P E I A S . Regulamento n. 761 de 19 mar. 2001, que institui a parti-
cipação voluntária das empresas industriais num sistema comunitário de ecogestão e auditorias (revoga o regula-
mento n. 1836/1993). Jornal Oficial das Comunidades Européias, n. L.l 14, p. 01-29, 24 abr. 2001. Art. 2'\ definição 1.
A auditoria interna objetiva garantir que as atividades da organização se desenvol-
vam de acordo com os procedimentos estabelecidos. Todas as atividades da organiza-
ção serão sujeitas à auditoria ao final de algum período, determinado pelo ciclo de
auditoria, que não poderá exceder três anos. Ciclo de auditoria é o período de tempo
em que todas as atividades de determinada organização são sujeitas à auditoria, ou
seja, é a dimensão temporal do escopo da auditoria. A freqüência da realização das
auditorias de cada uma das atividades dependerá:

a) da natureza, dimensão e complexidade das atividades;


b) dos impactos ambientais associados a elas;
c) da importância e premência dos problemas detectados em auditorias anteriores; e
d) do histórico dos problemas ambientais.

O programa de auditoria ambiental da organização deve definir por escrito os ob-


jetivos de cada auditoria ou ciclo de auditoria, incluindo a respectiva freqüência de
cada uma das atividades. Esses objetivos devem incluir, expressamente, a avaliação do
S G A existente e a determinação da sua conformidade com a política e o programa da
organização, bem como o cumprimento das disposições regulamentares relevantes em
matéria ambiental. Deve, ainda, definir e identificar de maneira clara, para cada fase
do ciclo, as áreas temáticas abrangidas, as atividades que serão objetos do programa de
auditoria, os critérios ambientais considerados e o período abrangido.

O auditor pode ser uma pessoa ou uma equipe, pertencente ou não aos qua-
dros da organização, que age em nome do órgão superior de administração da or-
ganização e que dispõe, individual ou coletivamente, das seguintes competências:
c o n h e c i m e n t o adequado dos setores e áreas a serem auditadas, incluindo conheci-
mentos e experiências sobre as questões referentes aos aspectos ambientais, técni-
cos, regulamentares e de gestão; formação e competência específicas para a
realização de auditorias, necessárias para atingir os objetivos fixados; e suficiente
independência em relação às atividades, objeto da auditoria, para a emissão de
pareceres objetivos e isentos 12 .

Processo de auditoria
A auditoria deve ser preparada e planejada de modo que cada pessoa envolvida no
processo, incluindo auditores, administradores e funcionários da organização auditada,

C C E , 2001, Anexo II, seções 2.1 a 2.4.


compreenda bem soas funções e responsabilidades. A preparação deve incluir a familia-
rização com as atividades da organização e com o seu SGA, bem como a análise dos
resultados e das conclusões de auditorias anteriores.
As atividades de auditoria incluirão entrevistas com o pessoal, inspeção das condi-
ções de funcionamento e dos equipamentos e análise dos registros, dos procedimentos
escritos e de outra documentação relevante, para avaliar o comportamento ambiental
da atividade objeto da auditoria a fim cie verificar o cumprimento das normas e regu-
lamentos aplicáveis e dos objetivos fixados, bem como da eficácia e adequação do
SGA. O processo de auditoria compreenderá as seguintes fases:

a) compreensão dos sistemas de gestão;


b) determinação dos pontos fortes e fracos dos sistemas;
c) levantamento de informações sobre elementos importantes;
d) avaliação dos resultados da auditoria;
e) elaboração das conclusões cia auditoria; e
f) comunicação dos resultados e conclusões da auditoria 13 .

O regulamento do Emas não detalha o processo de auditoria em fases, mas ape-


nas os pontos essenciais que devem ser considerados. Pode-se usar o esquema reco-
mendo pela I C C , pois não há conflito entre esses dois processos. Os resultados e as
conclusões da auditoria devem ser formalmente comunicados ao órgão superior de
administração da organização. O cliente da auditoria é esse órgão e isso faz com que
as conclusões e os resultados sejam encaminhados a ele. Ao final de cada auditoria
ou ciclo de auditoria, os auditores devem elaborar um relatório escrito, cuja apresen-
tação e conteúdo assegurem uma comunicação exaustiva e formal dos resultados e
conclusões.
Entre os objetivos desse relatório estão: comunicar à administração o grau de cum-
primento da política ambiental e os progressos ambientais da organização; fornecer
informações sobre a eficácia e a confiabilidade das medidas adotadas para monitorar
os impactos ambientais produzidos pela organização; e demonstrar a necessidade cie
medidas corretivas, sempre que justificadas. Se for o caso, o processo de auditoria deve
culminar na elaboração e aplicação de um plano de medidas corretivas pertinentes.
Devem ser criados mecanismos que assegurem que a organização dará seguimento aos
resultados e às conclusões da auditoria.

C C E , Anexo II, seções 2.5 e 2.6.


A U D I T O R I A AMBIENTAL CONFORME A ISO 19011

As normas I S O 14000 sobre auditoria ambiental e as investigações relacionadas


foram elaboradas inicialmente pelo Subcomitê 02 do T C 207 da ISO, sob a presidên-
cia do Instituto de Normalização dos Países Baixos. As três normas específicas sobre
auditoria de SGA, produzidas por esse Subcomitê, foram substituídas pela I S O
19011:2002 1 4 . Também foram substituídas as normas sobre auditoria de sistemas de
gestão da qualidade relacionadas com as normas da série I S O 9 0 0 0 . A partir de então,
os dois sistemas de gestão passam a ter suas auditorias orientadas pela mesma norma.
A norma ISO 19011:2002 apresenta orientações sobre princípios de auditoria, gestão
de programas de auditoria, realização de auditorias de sistemas de gestão da qualidade e
gestão ambiental, bem como sobre a competência, educação e avaliação dos auditores 15 . E
uma norma abrangente quanto aos temas tratados, embora não estabeleça requisitos,
como fazia a norma ISO 14010:1996 que foi substituída. Mas, como diz a norma ISO
19011, embora só forneça orientações, os usuários podem aplicá-la no desenvolvimento
de seus próprios requisitos relativos a auditoria. Essa norma vale para todos os tipos de
auditorias consideradas no Quadro 6.2, ou seja, auditorias internas e externas, ou ainda,
de primeira, segunda e terceira parte. Ela define auditoria ambiental como um processo
sistemático, documentado e independente para obter evidências de auditoria e avaliá-las
objetivamente para determinar a extensão na qual os critérios de auditoria são atendi-
dos16. Percebe-se claramente a influência da I C C nessa definição de auditoria.
U m aspecto presente em todas as definições de auditoria é a idéia de atividade
sistemática, documentada e baseada em critérios objetivos. Evidências de auditoria são
registros, apresentação de fatos ou outras informações, pertinentes aos critérios de
auditoria. As evidências são verificáveis e normalmente baseiam-se em entrevistas, exa-
mes de documentos, observações das atividades, resultados de medições e ensaios ou
outros meios de coleta de informação. Critérios de auditoria são políticas, procedi-
mentos ou requisitos usados como referência contra a qual as evidências coletadas são
comparadas. Cliente é a organização (ou pessoas) que solicitou(aram) uma auditoria.
Constatações de auditoria são os resultados das evidências da auditoria coletadas e

As normas substituídas pela NBR ISO 19011:2002. Diretrizes para a auditoria de sistemas de gestão da qualidade
e/ou ambiental. Rio de Janeiro: ABNT, novembro de 2 0 0 2 , são as seguintes: NBR ISO 14010:1996. Diretrizes
para auditoria ambiental: princípios gerais. Rio de Janeiro: ABNT, 1996b, NBR ISO 14011:1996. Diretrizes para
auditoria ambiental: procedimentos de auditoria de sistemas de gestão ambiental. Rio de Janeiro, 1996c e NBR
ISO 14012:1996. Diretrizes para auditoria: critérios de qualificação de auditores ambientais. Rio de Janeiro:
ABNT, 1996d. Veja referência ao final do capítulo.
ABNT, N B R ISO 19011:2002. Para efeito de simplificação, essa norma será citada como I S O 19011.
ABNT, N B R I S O 19011:2002, definição 3.1.
comparadas com os critérios de auditoria acordados. Escopo, como apresentado ante-
riormente, descreve a extensão da auditoria e demarca os seus limites como localiza-
ções físicas, unidades da organização, atividades e processos a serem auditados, bem
como o período a ser considerado 17 .

Princípios de auditoria
Os princípios de auditoria da norma ISO 19011 constituem um pré-requisito para
fornecer conclusões de auditoria relevantes e suficientes. Eles objetivam gerar confian-
ça ao trabalho dos auditores e permitem que, mesmo quando trabalham de modo in-
dependente, cheguem a conclusões semelhantes se as circunstâncias forem semelhantes.
Essa norma subdivide os princípios em dois conjuntos: um relacionado à auditoria e
outro, aos auditores. Este último contém os seguintes princípios:

a) conduta ética, na qual se fundamenta o profissionalismo do auditor e se ma-


nifesta pela confiança, integridade, confidencialidade e discrição como atribu-
tos essenciais para auditar;
b) apresentação justa, que é a obrigação de reportar com veracidade e exatidão as
constatações, conclusões e relatórios de auditoria, refletindo verdadeiramente
e com precisão as atividades de auditoria;
c) devido cuidado profissional, considerando a importância da tarefa confiada
aos auditores depositada pelos clientes e outras partes interessadas.
Os princípios de auditoria são a independência e a abordagem baseada em evidên-
cias. O primeiro princípio é a base para a imparcialidade da auditoria e objetividade
das suas conclusões. Os auditores devem ser independentes das atividades a serem
auditadas e livres de tendências e conflitos de interesses. O segundo princípio refere-se
ao método racional para alcançar conclusões de auditoria confiáveis e reproduzíveis
em um processo sistemático de auditoria. As evidências devem ser verificáveis, e po-
dem se basear em amostras das informações disponíveis, uma vez que a auditoria se
realiza em períodos de tempo finitos e com recursos também finitos 18 .

Programas de auditoria
Programa de auditoria é um conjunto de auditorias planejado para um período de
tempo específico e direcionado a um propósito específico. Pode referir-se a uma ou mais
auditorias e inclui todas as atividades necessárias para o seu planejamento, organização e

ABNT, N B R ISO 19011:2002, definições constantes da seção 3 - termos e definições.


execução. Pode ocorrer a necessidade de mais de um programa de auditoria, dependendo da
complexidade, tamanho e natureza da organização. Exemplos de programas de auditoria:

a) uma série de auditorias internas que cobrem o sistema de gestão ambiental de


uma organização durante o ano em curso;
b) auditorias de segunda parte do sistema de gestão de fornecedores potenciais de
produtos críticos a serem realizados em um período de seis meses;
c) auditorias de certificação e de acompanhamento realizadas por uma organiza-
ção de terceira parte em um SGA dentro de um período de tempo acordado
contratualmente entre esta organização e o cliente 19 .

Caso a organização a ser auditada opere sistemas de gestão da qualidade e de ges-


tão ambiental, o programa de auditoria pode incluir auditorias conjuntas, desde que
leve em consideração as competências da equipe de auditoria. Duas ou mais organiza-
ções podem cooperar entre si para realizar auditorias conjuntas, caso em que se reco-
menda prestar atenção especial à divisão de responsabilidade, à competência da
equipe, à provisão de recursos adicionais e aos procedimentos adequados 20 .
A norma I S O 19011 recomenda que a organização conceda autoridade a um ou mais
indivíduos para gerenciar o programa de auditoria, e quem for designado para isso deve
estabelecer, implementar, monitorar, analisar criticamente e melhorar o programa, bem
como identificar os recursos necessários ao programa e assegurar que eles sejam provi-
dos. As atividades de um programa de auditorias obedecem à metodologia do PDCA,
conforme ilustra a Figura 6.3. O Quadro 6.5 apresenta um resumo das atividades típicas
de auditoria recomendadas por essa norma. Note mais uma vez a semelhança dessas ati-
vidades com as da Figura 6.2, referente ao processo de auditoria proposto pela I C C .
Os objetivos do programa podem basear-se em: prioridades da direção; intenções
comerciais; requisitos do sistema de gestão da qualidade ou ambiental; requisitos esta-
tutários, regulamentares e contratuais; necessidades de avaliação de fornecedor; requi-
sitos do cliente; necessidades de outras partes interessadas; e riscos para a organização.
Exemplos: verificar a conformidade com requisitos contratuais, obter confiança na
capacidade de um fornecedor e contribuir para a melhoria do sistema de gestão. A
abrangência do programa é influenciada pelo tamanho, natureza e complexidade da
organização auditada e pelas seguintes questões:

a) escopo, objetivo e duração de cada auditoria;


b) freqüência das auditorias;

ABNT, N B R I S O 19011:2002, item 5 - Ajuda prática.


ABNT, NBR ISO 19011:2002, item 5.1 - Gerenciando programas de auditoria - generalidades.
Q u a d r o 6.5 Atividades típicas de u m programa de auditoria: resumo.

designando o líder da equipe da auditoria;


definindo objetivos, escopo e critérios de auditoria;
Iniciando a auditoria (6.2) ~ determinando a viabilidade da auditoria;
selecionando a equipe da auditoria;
** estabelecendo contato inicial com o auditado.

Realizando análise crítica de * analisando criticamente documentos pertinentes ao sistema de gestão, incluindo
documentos (6.3) registros e determinando sua adequação com respeito ao critério de auditoria.

i"* preparando o plano de auditoria;


Preparando as atividades da
designando trabalho para a equipe de auditoria;
auditoria no local (6.4)
preparando documentos de trabalho.

conduzindo a reunião de abertura;


comunicação durante a auditoria;
funções e responsabilidades de guias e observadores;
Conduzindo atividades de auditoria
i-* coletando e verificando informações;
no local (6.5)
f* gerando constatações de auditoria;
r* preparando conclusões de auditoria;
conduzindo reuniões de encerramento.

Preparando, aprovando e distribuindo preparando o relatório da auditoria;


o relatório de auditoria (6.6) "* aprovando o relatório.

a auditoria estará concluída quando todas as atividades descritas no plano forem


Concluindo a auditoria (6.7)
realizadas e o relatório for aprovado e distribuído.

i"» as conclusões de auditoria podem indicar a necessidade de ações corretivas,


preventivas ou de melhoria. Essas ações são normalmente empreendidas pelo
Conduzindo ações de
auditado, dentro de um prazo acordado, e não são consideradas partes da audi-
acompanhamento de auditoria (6.8)
toria. Convém que a execução e eficácia dessas ações sejam verificadas, sendo
que a verificação pode ser parte de outra auditoria subsequente.

Fonte: Resumido de ABNT. NBR ISO 19011:2002, seção 6.


Obs.: os números entre parênteses referem-se às subseções desta norma.

c) número, importância, semelhança e localização das atividades a serem auditadas;


d) requisitos normativos, estatutários, regulamentares, contratuais e outros crité-
rios de auditoria;

e) necessidades para credenciamento, registro ou certificação;


f) conclusões de auditorias ou de análises críticas anteriores;
g) questões culturais, sociais ou de idiomas;
h) preocupações das partes interessadas; e
i) mudanças significativas para uma organização ou suas operações 21 .

ABNT, NBR ISO 19011:2002, item 5.2 - objetivos e abrangência do programa de auditoria.
O F i g u r a 6.3 Ilustração d o f l u x o d e p r o c e s s o de g e s t ã o de u m p r o g r a m a d e auditoria.

Fonte: ABNT. NBR ISO 19011:2002.


Obs.: os números entre parênteses referem-se às subseções dessa norma.

A U D I T O R E S E CERTIFICAÇÃO DE AUDITORES
A norma I S O 19011 estabelece critérios de qualificação de auditor, definindo-o
c o m o uma pessoa com competência para realizar uma auditoria 22 . Ela não diferen-
cia o auditor interno do externo em termos de competência, c o m o fazia a norma
I S O 14012, cancelada. A competência se baseia em atributos pessoais que permitam
atuar conforme os princípios enunciados anteriormente. Segundo a norma, con-
vém que o auditor seja ético, tenha mente aberta ou disposição para considerar
idéias ou pontos de vista alternativos, seja diplomático, observador, perceptivo,
versátil, tenaz, decidido e autoconfiante. Sobre esses atributos se assentariam os
conhecimentos e habilidades genéricas e específicas. As primeiras referem-se às se-
guintes áreas: princípios, procedimentos e técnicas de auditorias; sistema de gestão
e os documentos de referência; situações organizacionais que permitam ao auditor
compreender o seu contexto, incluindo questões como tamanho da organização,
estrutura, funções, processos de negócios e terminologias; leis, regulamentos e ou-
tros requisitos aplicáveis.
Os conhecimentos e habilidades específicos se relacionam com os temas tratados
pelos sistemas de gestão ambiental; dentre eles estão:

a) métodos e técnicas de gestão ambiental, como terminologia ambiental, princí-


pios e ferramentas de gestão;
b) ciência e tecnologia ambiental que permita ao auditor compreender as rela-
ções fundamentais entre as atividades humanas e o meio ambiente, incluindo
métodos gerais de proteção ambiental, gestão de recursos naturais, impactos
das atividades humanas; e
c) aspectos técnicos e ambientais de operações que permitam compreender as
interações das atividades, produtos, serviços e operações da organização audi-
tada com o meio ambiente, incluindo, por exemplo, aspectos e impactos am-
bientais, técnicas de monitoramento e medição e tecnologias para a prevenção
da poluição 23 .
Para efeito de certificação de sistemas de gestão ambiental, conforme os requisitos
da norma I S O 14001:2004, comentado no capítulo anterior, as auditorias devem ser
conduzidas por auditores que atendam aos critérios estabelecidos em normas do
Inmetro, órgão acreditador do Sinmetro (ver Quadro 5.11). O auditor de SGA, um
profissional com certificação e registro para realizar auditorias desse segmento, deve
possuir os seguintes atributos e habilidades pessoais:

a) competência para expressar claramente conceitos e idéias, verbalmente e por


escrito;
b) habilidades interpessoais que permitam o desempenho efetivo e eficiente da
auditoria, tais como diplomacia, tato e habilidade para ouvir;
c) manter a independência e objetividade suficientes para permitir a realização
das responsabilidades do auditor;
d) organização pessoal necessária para o desempenho efetivo e eficiente da auditoria;

23 ABNT, N B R I S O 19011:2002, seção 7 - competência e avaliação de auditores.


e) fazer julgamento adequado baseado em evidências objetivas;
f) reagir com sensibilidade às convenções e cultura do país ou região em que a
auditoria for realizada;
g) capacidade analítica e tenacidade;
h) reagir de forma sensata em situações de tensão 24 .

Uma parte significativa da norma ISO 19011 é dedicada às recomendações sobre


educação, treinamento, experiência e avaliação do auditor. Os candidatos a auditor-lí-
der, além dos atributos e habilidades mencionados acima, devem demonstrar outros
que garantam o gerenciamento e a liderança efetiva e eficiente do processo de audito-
ria, demonstrados durante as auditorias e atestados pelo auditor verificador. Apenas
auditorias independentes podem ser usadas para comprovar a experiência em audito-
rias, que podem ser, por exemplo, o escritório central auditando uma unidade ou di-
visão de uma mesma empresa, uma divisão auditando outra da mesma empresa, uma
organização compradora auditando seu fornecedor, auditoria de terceira parte ou um
consultor contratado para executar uma auditoria independente 25 . O Quadro 6.6
apresenta o código de ética para auditores. Uma questão central do ponto de vista
ético é a capacidade do auditor de se manter independente do cliente para poder emi-
tir julgamentos imparciais.

Cs Q u a d r o 6.6 Código de ética de auditores.

1. Agir profissionalmente, de maneira precisa e livre de tendências.


2. Empenhar-se para o aumento da competência e do prestígio da profissão de auditor.
3. Apoiar colegas de trabalho ou que estiverem sob sua supervisão no desenvolvimento de habilidades em gestão, meio
ambiente e auditorias.
4. Não representar interesses conflitantes, bem como declarar para seus clientes ou empregadores quaisquer
relacionamentos que possam influenciar os seus julgamentos.
5. Não divulgar qualquer informação relativa à auditoria, a menos que autorizado por escrito pelo auditado e pela
organização auditora.
6. Não aceitar qualquer incentivo, comissão, presente ou outro benefício das organizações auditadas, de seus
empregados ou de quaisquer grupos de interesse ou permitir que colegas os aceitem.
7. Não comunicar intencionalmente informação falsa ou enganosa que possa comprometer a integridade de qualquer
auditoria ou do processo de certificação de auditores.
8. Não agir de maneira que possa vir a prejudicar a reputação do organismo de certificação de auditores ou do processo
de certificação de auditores.
9. Prestar total cooperação com investigações, na eventualidade de alguma quebra de sigilo desse código.

Fonte: INMETRO, 2002, Anexo A, seção A.5.

INMETRO, 2002, Anexo A, seção 1.5.


E L E M E N T O S DE ANÁLISE

As auditorias ambientais exigem equipes interdisciplinares, pois devem analisar a


situação legal; bens, serviços e processos produtivos; processos administrativos e pro-
cessos e registros contábeis. Esses elementos não devem ser encarados de modo estan-
que e depois justapostos, mas sim vistos com suas múltiplas interações. A avaliação da
situação legal envolve o levantamento e a análise da legislação aplicável nas esferas
municipais, estaduais e federais referentes aos diferentes aspectos e impactos ambien-
tais da organização, o estado das licenças ambientais, o andamento dos processos ad-
ministrativos e judiciais. Em uma visão prospectiva, pode envolver os projetos de leis
em andamento nas casas legislativas e as tendências mundiais, principalmente em re-
lação aos problemas planetários, tais como perda da biodiversidade, aquecimento glo-
bal, banimento de produtos tóxicos e destruição cia camada de ozônio.
As análises críticas de normas, instruções e registros em confronto com requisitos e
critérios de auditoria exigem conhecimentos variados como os citados na seção anterior,
pois referem-se à geração, classificação e quantificação de poluentes; balanço de energia
e massa dos processos produtivos; propriedades físico-químicas dos insumos e produtos;
identificação de sítios contaminados ou degradados, estado de conservação dos equipa-
mentos, métodos de trabalho e de controle operacional, entre muitos outros.
Conhecimentos técnicos e científicos sobre produtos e processos constituem a
base da auditoria de fornecedor e de desperdício. A Figura 6.4 ilustra os componentes
de um balanço de material, que é a identificação e quantificação precisa de todas as
entradas e saídas de uma planta produtiva, processo ou unidade operacional, para re-
alizar uma auditoria de emissões e desperdícios 26 . Esse tipo de auditoria pode ser em-
pregado para definir prioridades dentro de um plano de ação para redução de
desperdícios, de acordo com a abordagem da prevenção da poluição, tendo como base
uma auditoria ambiental esquematizada na Figura 6.5.
Quanto aos elementos administrativos, a auditoria analisa documentos relativos à
declaração de princípios e comprometimentos, a organização interna, a estrutura de
delegação de autoridade e responsabilidade, a definição de objetivos e metas, a alocação
de recursos, treinamento de pessoal, os processos de aquisição de bens e serviços, a co-
municação às diferentes partes interessadas, como acionistas, trabalhadores, clientes,
fornecedores, transportadores, empreiteiros, agentes públicos e organizações ambienta-
listas. Analisa documentos e registros sobre planejamento, arranjo organizacional, ins-
trumentos gerenciais, pessoas responsáveis e outros aspectos administrativos contra os
critérios de auditoria.
O F i g u r a 6.4 Balanço de material - c o m p o n e n t e s típicos.

Emissões gasosas

Matérias-primas Produtos

Catalisadores
Planta, processo Subprodutos,
ou unidade de inclusive resíduos
Á g u a e ar operação para recuperação

Energia Á g u a residuária

Reciclagem Resíduos líquidos para


e s t o c a r e / o u dispor
fora d o local

Resíduos reutilizáveis Resíduos sólidos para


e m outras operações estocar e / o u dispor
fora do local

Fonte: UNIDO: PNUMA, 1991, p. 15.

A auditoria pode ter a necessidade de analisar documentos contábeis, como o


plano de contas para a contabilização dos dados referentes às questões ambientais.
Pode ser útil saber se os registros contábeis estão refletindo os diferentes esforços da
empresa na condução das questões ambientais conforme os objetivos, metas e progra-
mas de ações estabelecidos. A análise pode envolver a identificação de custos e despe-
sas decorrentes dos procedimentos ambientais, como controle da poluição, recuperação
de danos, compensações às vítimas, contratação de seguros, taxas, multas, impostos
incorridos na aquisição de equipamentos e serviços ambientais, despesas decorrentes
da disposição final de resíduos sólidos, entre outros.

Ativos e passivos ambientais


Os ativos ambientais representam as aplicações de recursos em atividades relacio-
nadas com qualquer abordagem de gestão ambiental apresentada no Capítulo 4: con-
trole da poluição, prevenção da poluição e tratamento estratégico das questões
ambientais. Esses ativos são bens e direitos em diferentes prazos de realização represen-
tados geralmente por:
F i g u r a 6.5 Esquema para a realização de auditoria de desperdícios.

v. J

Fonte: UNIDO; PNUMA, 1991, p. 5.

a) estoques: são os materiais disponíveis imediatamente com aplicações específi-


cas nos processos ambientais, como insumos de uma estação de tratamento de
águas;
b) imobilizado: bens e direitos relacionados aos aspectos ambientais associados às
atividades finais da organização cuja permanência ultrapasse um exercício social.
Exemplos: equipamentos para controle e prevenção da poluição; instrumentos
de análise laboratorial; terrenos, construções civis e equipamentos para transpor-
tar e estocar resíduos e peças de reposição.

Outra questão objeto de análises são as previsões orçamentárias para investimen-


tos futuros em ativos ambientais voltados para melhorar seu desempenho ambiental.
Em certos casos pode ser necessário reavaliar os ativos com vistas a adequá-los aos va-
lores de mercado. A capacidade da organização de gerar lucros futuros em cenários de
elevada restrição ambiental pode gerar valores diferenciados a favor da empresa, os
quais não são captados pelos procedimentos contábeis rotineiros. A identificação des-
se diferencial (fundo de comércio ou goodwill) pode ser útil em processos de fusão,
venda ou redefinição societária.

A identificação dos passivos ambientais é fundamental para estimar o real valor de


uma organização. É um dos aspectos importantes da due diligence, comentada no início
deste capítulo. O s passivos são obrigações para com terceiros cuja realização requer a
saída de recursos da organização. São obrigações perante terceiros decorrentes de ações
e problemas ambientais ocorridos no passado e reconhecidos como tal, segundo algum
critério. Esse reconhecimento pode se dar em decorrência: (1) de uma obrigação legal,
como a reparação de danos ambientais; (2) de um acerto feito com terceiros afetados
pelos aspectos ambientais da organização, gerando a necessidade de indenizá-los em
períodos definidos, ou (3) de serviços contratados e aquisições de ativos para executar
atividades ambientais, tais como honorários de consultores para auxiliar a implantação
de práticas ambientais, materiais e equipamentos adquiridos para as ações ambientais e
que geram como contrapartida aqueles ativos ambientais comentados há pouco.

Este último caso refere-se às despesas que devem constar do passivo circulante, se
for uma obrigação para o período subsequente ao cia data do balanço patrimonial, ou
do exigível de longo prazo, se for após o término desse período. U m a obrigação pode-
-se dar também pelo não cumprimento de requisitos de acordos voluntários privados
subscritos, como mostrado no Capítulo 3. Embora sejam voluntários, uma vez que a
organização divulga a sua adesão ao acordo, ela deve responder pelo não cumprimen-
to, caso contrário ficaria caracterizado um embuste deliberado, uma maquiagem ver-
de, pois com certeza ela se beneficia deste acordo na medida em que a adesão amplia
sua legitimidade perante clientes, comunidades vizinhas, agentes governamentais e
outros públicos.

O reconhecimento da obrigação nem sempre é tarefa fácil, pois há diversas situa-


ções que geram controvérsias quanto à sua existência e aos valores envolvidos nas
obrigações, caso existam. Isso ocorre quando:
a) os aspectos ambientais da organização geram efeitos adversos difusos;
b) os efeitos só se manifestam muito tempo depois do fato gerador;
c) os efeitos resultam de uma diversidade de aspectos ambientais produzidos por
várias organizações localizadas em uma mesma área de influência;
d) há dúvidas sobre as relações entre os efeitos e os fatos geradores;
e) existem tecnologias de remediação disponíveis; e
f) há dúvidas quanto à legislação aplicável.

A identificação dos danos e dos valores relativos aos passivos ambientais requer
estudos técnicos complexos, para os quais são necessários especialistas em diferentes
áreas, como engenharia, arquitetura, geologia, geografia, biologia, medicina, econo-
mia, direito, administração, entre outras. Suponha um sítio contaminado pelas ativi-
dades de uma empresa ou os problemas de saúde dos trabalhadores e membros da
comunidade vizinha atribuídos à exposição prolongada de poluentes tóxicos lançados
pela empresa. Suponha que não há dúvidas em relação a quem é o poluidor. Os pro-
blemas para determinar os valores começam com a extensão da área afetada e do con-
tingente de pessoas com a saúde prejudicada. E continuam com a escolha dos diversos
métodos de levantamento de dados e investigação técnica, caso não haja indicações em
textos legais. As partes prejudicadas podem contestar o valor das indenizações e outras
providências propostas pela empresa poluidora, sendo que esta pode contestar os lau-
dos periciais.

Assim, no momento do encerramento do balanço patrimonial podem ocorrer


incertezas quanto às obrigações decorrentes de eventos passados e quanto ao montan-
te de recursos envolvidos. Os passivos ambientais contingentes referem-se às situações
passadas que podem ou não gerar uma obrigação, pois dependem de outros eventos
futuros. Uma ação de indenização na Justiça é uma dessas situações, pois a obrigação
de pagar só ocorrerá se houver uma sentença condenatória e isso pode levar anos.
Uma obrigação reconhecida que represente uma saída provável de recurso, cujo valor
é facilmente determinado, deverá ser provisionada no passivo. Se a obrigação pode
ocorrer, mas ainda não foi reconhecida e a probabilidade de saída de recursos é pe-
quena, apenas informações devem ser feitas sobre essa possibilidade por ocasião da
divulgação do balanço patrimonial em notas explicativas. Essas considerações tam-
bém valem para o reconhecimento de ativos contingentes. Por exemplo, o direito de
uma organização de ser indenizada por um empreiteiro pelo dano ambiental causado
pelo não cumprimento de uma obrigação contratual, cujo valor está sendo contesta-
do na Justiça.
A U D I T O R I A S OBRIGATÓRIAS

As auditorias já se firmaram como um dos principais instrumentos de gestão am-


biental. Seu uso tem sido estimulado por diversas entidades públicas e privadas, c o m o
a I C C , Usepa e Ceres, e foram incluídas em normas de gestão ambientais. Igual aos
demais instrumentos de gestão ambiental, as auditorias também apresentam pontos
polêmicos para os quais não há pacificação à vista. U m dos mais importantes refere-se
ao debate entre os que entendem ser este um instrumento voluntário e os que defen-
dem a sua obrigatoriedade em casos específicos.
I C C , Ceres e I S O defendem a auditoria ambiental como instrumento voluntário
e, por isso, como um elemento de diferenciação entre as empresas. E m defesa de seu
uso voluntário, argumenta-se que a obrigatoriedade levaria à sua banalização, criando
uma indústria da auditoria e um cartório da auditoria na burocracia estatal. A própria
Agenda 21 tem sido usada para reforçar os argumentos dos que defendem essa posi-
ção. Em seu Capítulo 30, que trata do fortalecimento do papel do comércio e da in-
dústria, há uma referência aos dirigentes empresariais esclarecidos que já estariam
implementando auditorias ambientais como iniciativas voluntárias 27 . C a b e dizer, n o
entanto, que a Agenda 21 apenas exemplifica um tipo de postura desejável, realizar
auditorias ambientais, mas não toma nenhuma posição nesse debate, pois não há, em
todos os seus 4 0 capítulos, nenhuma afirmação contra a auditoria compulsória.
O s defensores da obrigatoriedade da auditoria em casos específicos são muitos e já
ganharam muitas batalhas. No Estado do Rio de Janeiro, a obrigatoriedade da audito-
ria ambiental para empresas a partir de certo porte foi estabelecida pela Lei 1.898, de
2 6 de novembro de 1991, de autoria do ambientalista Carlos Mink, na época Deputa-
do Estadual. C o n f o r m e essa lei, denomina-se auditoria ambiental a realização de ava-
liações e estudos destinados a determinar:

a) os níveis efetivos ou potenciais de poluição ou degradação provocados por


atividades de pessoas físicas ou jurídicas;
b) as condições de operação e de manutenção dos equipamentos e sistemas de
controle de poluição;
c) as medidas a serem tomadas para restaurar o meio ambiente e proteger a saúde
humana;
d) a capacitação dos responsáveis pelas atividades de operação e manutenção de
sistemas, rotinas, instalações e equipamentos de proteção ao meio ambiente e
à saúde dos trabalhadores 28 .

C O N F E R Ê N C I A DAS N A Ç Õ E S UNIDAS S O B R E M E I O A M B I E N T E E D E S E N V O L V I M E N T O , 1992.


E S T A D O D O R I O DE J A N E I R O . Lei n. 1.898, de 26 de novembro de 1991. Dispõe sobre auditoria ambiental.
Rio de Janeiro: D O E de 27/11/1991. Art. I o .
A lei fluminense estabelece que as auditorias sejam realizadas às expensas dos res-
ponsáveis pela poluição ou degradação ambiental 29 . Essas auditorias podem ser feitas
por equipes internas, mas os órgãos governamentais, sempre que julgarem conveniente
para assegurar a idoneidade das auditorias, poderão determinar que elas sejam condu-
zidas por equipes independentes 30 . A auditoria não é imposta a todas as organizações,
porém deverão, obrigatoriamente, realizar auditorias ambientais periódicas anuais as
empresas ou atividades de elevado potencial poluidor, entre as quais:

>-> as refinarias, oleodutos e terminais de petróleo e seus derivados;


~ as instalações portuárias;
instalações aeroviárias (aeroportos, aeródromos, aeroclubes);
<~ as instalações destinadas à estocagem de substâncias tóxicas e perigosas;
<-> as instalações de processamento e de disposição final de resíduos tóxicos ou
perigosos;
as unidades de geração de energia elétrica a partir de fontes térmicas e radioativas;
** as instalações de tratamento e os sistemas de disposição final de esgotos
domésticos;
as indústrias petroquímicas e siderúrgicas;
~ as indústrias químicas e metalúrgicas 3 '.

Ao ser constatada qualquer infração nas empresas ou atividades sujeitas à audito-


ria, deverão ser realizadas auditorias trimestrais até a correção das irregularidades, in-
dependentemente da aplicação de penalidades administrativas. As diretrizes para
realizar as auditorias poderão incluir: impactos ambientais decorrentes de ativiciades
de rotina; avaliação de riscos de acidentes e planos de contingência para evacuação e
proteção de trabalhadores e da população situada na área de influência; atendimento
aos regulamentos e às normas técnicas em vigor relacionadas aos itens anteriores; alter-
nativas tecnológicas inclusive de processo industrial e sistemas de monitoramento con-
tínuo disponíveis no Brasil e em outros países para redução dos níveis de emissão de
poluentes; saúde dos trabalhadores e da população vizinha.
Vale lembrar que em 1999 o relatório de auditoria da refinaria Duque de Caxias
da Petrobras, envolvida em um dos maiores desastres ambientais no país, não foi aceito

29 E S T A D O D O R I O D E J A N E I R O , art. 3».
10 E S T A D O D O R I O D E J A N E I R O , art. 3" e 4".
" E S T A D O D O R I O D E J A N E I R O , art. 5U.
pelo órgão estadual responsável pela implementação dessa lei 32 . Esse desastre colocou
munições nas armas de quem defende a obrigatoriedade da auditoria ambiental. Tal-
vez não tivesse havido o desastre ambiental de Vila Carioca se a Shell fosse obrigada a
realizar auditorias ambientais, conforme disposições semelhantes à da Lei 1898/1991
do Estado do Rio de Janeiro. O exemplo desse Estado foi seguido por outras unidades
da Federação, como Paraná (Lei 13.448/2002), Minas Gerais (Lei 10.627/1992) e Es-
pírito Santo (Lei 4.802/1993). Este último tornou a auditoria ambiental obrigatória
para indústrias de celulose, papel, mineração, resíduos hospitalares e todas aquelas
atividades relacionadas na lei fluminense.
O Estado do Paraná instituiu a Auditoria Ambiental Compulsória, com uma
periodicidade de quatro anos, para as atividades com elevado potencial poluidor ou
de degradação ambiental. Além de empreendimentos de setores como os já citados,
também tornou obrigatória a auditoria para os do setor madeireiro, de cimento,
processamento, recuperação e destinação de lixo urbano e hospitalar, e de atividades
agrícolas intensivas em uso de agrotóxicos. A auditoria compulsória objetiva verifi-
car a conformidade legal, os níveis efetivos de poluição e degradação ambiental, as
condições de operação e de manutenção de equipamentos e sistemas de controle da
poluição, a capacitação dos responsáveis por essas operações e manutenções, as me-
didas necessárias para assegurar a proteção do meio ambiente, e da saúde humana,
e para minimizar impactos negativos e os fatores de risco decorrentes dessas
atividades 33 .
Na esfera da União, a Lei 9 . 9 6 6 de 28 de abril de 2000, que dispõe sobre a preven-
ção, o controle e a fiscalização da poluição causada por lançamento de óleo ou outras
substâncias nocivas ou perigosas em águas sob jurisdição nacional, estabelece que as
entidades exploradoras de portos organizados e os proprietários ou operadores de pla-
taformas e suas instalações de apoio deverão realizar auditorias ambientais bianuais
independentes, com o objetivo de avaliar o sistema de gestão e controle ambiental em
suas unidades 34 . Essa lei faz parte das providências para implementar o Plano Nacional
de Gerenciamento Costeiro, instituído pela Lei 7.661/1988 3 5 , e três acordos ambien-

3i FEEMA, 1999.
" E S T A D O D O PARANÁ. Lei n. 13.448 de 11 de janeiro de 2002. Dispõe sobre a Auditoria Ambiental Compul-
sória e adota outras providencias. Curitiba, Palácio do Governo. Disponível em: <http://www.pr.gov.br>. Acesso
em: 22 dez. 2010.
H BRASIL. Lei 9 . 9 6 6 de 28 de abril de 2 0 0 0 . Dispõe sobre a prevenção, o controle e a fiscalização da poluição
causada por lançamento de óleo ou outras substâncias nocivas ou perigosas em águas sob jurisdição nacional e dá
outras providências. Brasília: D O U de 29/04/2000, art. 9'-.
'5 BRASIL. Lei 7.661 de 16 de maio de 1988. Institui o Plano Nacional de Gerenciamento Costeiro e dá outras
providências. Brasília: D O U de 18/05/1988.
tais multilaterais, a saber: Convenção Internacional para a Prevenção da Poluição Cau-
sada por Navios (Marpol), Convenção Internacional sobre Responsabilidade Civil por
Danos Causados por Poluição por Óleo e Convenção Internacional sobre Preparo,
Resposta e Cooperação em Caso de Poluição por Óleo (ver Anexo 1). O não cumpri-
mento dessa obrigação acarreta infração punida com multa sem prejuízo de outras
sanções administrativas e penais previstas na Lei 9.605/1998 e em outras normas es-
pecíficas que tratem dessa matéria, nem da responsabilidade civil pelas perdas e danos
causados ao meio ambiente e ao patrimônio público e privado 36 .

Os requisitos mínimos, critérios e termos de referência para a realização das audito-


rias ambientais, conforme a Lei 9.996/2000, foram estabelecidos pela Resolução C O -
N A M A 3 0 6 de 5 de julho de 2002 37 . Essa resolução estabelece um processo de auditoria
com passos muito parecidos com os da ICC, mostrados no início deste capítulo. O re-
latório de auditoria e o plano de ação devem ser apresentados a cada dois anos ao órgão
ambiental competente, para incorporação ao processo de licenciamento ambiental da
instalação auditada. O relatório de auditoria deverá conter, no mínimo:

a) composição da equipe auditora e respectivas atribuições;


b) identificação da organização e da instalação auditada;
c) descrição das atividades da organização;
d) objetivos, escopo e plano de auditoria estabelecidos;
e) período coberto pela auditoria;
f) sumário e metodologia do processo de auditoria;
g) lista de documentos legais, normas e regulamentos de referência;
h) lista de documentos analisados e unidades auditadas;
i) lista das pessoas contatadas durante a auditoria e respectivas atribuições;
j) constatações de auditoria; e
k) conclusões da auditoria, incluindo as constatações de conformidade e não con-
formidade em relação aos critérios estabelecidos e avaliação da capacidade da
organização em assegurar a contínua adequação aos critérios estabelecidos 38 .

,6 BRASIL. Lei 9 . 6 0 5 de 12 de fevereiro de 1998. Dispõe sobre sanções penais e administrativas derivadas de con-
dutas e atividades lesivas ao meio ambiente e dá outras providências. Brasília, D O U de 13/02/1998. § 3D.
" B R A S I L / C O N A M A . Resolução n. 3 0 6 de 05/07/2002. Estabelece requisitos mínimos e o termo de referência
para a realização de auditorias ambientais. Brasília: D O U de 19/07/2002.
i8 B R A S I L / C O N A M A . Resolução n. 381 de 14/12/2006. Altera dispositivos da Resolução 3 0 6 de 0 5 / 0 7 / 2 0 0 2 e
o Anexo II, que dispõe sobre os requisitos mínimos para a realização de auditoria ambiental. Brasília: D O U de
O plano de ação deverá conter no mínimo os seguintes elementos: (1) ações corre-
tivas e preventivas associadas às não conformidades e deficiências identificadas na audi-
toria; (2) cronograma físico para implementar essas ações; (3) indicação da área da
organização responsável pelo cumprimento do cronograma; e (4) cronograma físico das
avaliações do cumprimento das ações do plano e seus respectivos relatórios 39 . Por tratar-
-se de auditoria independente, a organização responsável pelas instalações auditadas
não pode interferir nas atividades da equipe de auditoria contratada por ela. E a equipe
não pode ter entre seus membros funcionários da organização ou pessoas com algum
outro tipo de vínculo que não seja especificamente para efeito da auditoria.

D I V U L G A Ç Ã O DOS RESULTADOS

A publicidade dos resultados da auditoria é outro ponto controverso que corre


paralelo ao debate sobre o caráter obrigatório versus voluntário. Na verdade, esses de-
bates são c o m o a cara e a coroa da mesma moeda. O s que defendem o caráter não
mandatário da auditoria também defendem a confidencialidade de seus resultados.
Esse é o entendimento da I S O quando trata dos procedimentos de auditoria. A I S O
19011 recomenda que os documentos pertencentes à auditoria sejam retidos ou des-
truídos conforme acordo entre as partes e em conformidade com os procedimentos do
programa e requisitos estatutários, regulamentares e contratuais. A equipe não deve
revelar o conteúdo desses documentos, ou quaisquer outras informações obtidas du-
rante o processo de auditoria, para qualquer outra parte sem a aprovação explícita do
cliente 4 0 . Vale lembrar que essa é a conduta prescrita n o código de ética de auditores,
mostrado no Quadro 6.6, e que a confidencialidade é um dos princípios relacionados
a auditores 41 , conforme mostrado anteriormente.

Q u e m defende a obrigatoriedade da auditoria também o faz em virtude de tornar


público os seus resultados e evidências. Por exemplo, a Lei 1.898/1992 do Estado do
Rio de Janeiro estabelece que todos os documentos relacionados às auditorias ambien-
tais, incluindo as diretrizes específicas e o currículo dos técnicos responsáveis por sua
realização, devem ser acessíveis à consulta pública 42 . Essa exigência também foi incluída
nas leis estaduais citadas. Os resultados das auditorias de que trata a citada Lei
9 . 9 6 6 / 2 0 0 0 devem ser do conhecimento das autoridades marítimas e dos órgãos

B R A S I L / C O N A M A . Resolução 381 de 14/12/2006, Anexo 11, seção 4.


ABNT. N B R ISO 19011:2002, seção 6.7.
A B N T . N B R ISO 19011:2002, seção 4, item a.
E S T A D O D O R I O DE JANEIRO. Lei 1898/1991; art. 8".
federais, estaduais e municipais responsáveis pelo cumprimento dessa lei. A polêmica
não termina por aqui: subjacente a esses debates está a seguinte questão: para quem
trabalham os auditores? Para o cliente, dirão os defensores da auditoria voluntária, ca-
bendo exclusivamente a ele decidir sobre a divulgação dos resultados. O s que defendem
a obrigatoriedade da auditoria entendem que os auditores trabalham para a sociedade,
pois as questões ambientais interessam a todos, principalmente quando há riscos am-
pliados envolvidos, daí a necessidade de se tornar públicos os resultados da auditoria.

'Termos e conceitos importantes

Ativos e passivos ambientais Ciclo de auditoria


Auditoria Cliente da auditoria
Auditoria ambiental Código de ética de auditores
Auditoria do Sistema de Gestão Due diligence
Ambiental Escopo de auditoria
Auditoria interna e externa Fases de uma auditoria
Auditoria de primeira, segunda e ter- Princípios de auditoria
ceira parte Protocolo de auditoria
Auditorias voluntárias e obrigatórias Relatórios de auditoria

Questões para revisão

1. Discorra sobre os principais tipos de auditoria ambiental, destacando suas características


e objetivos.

2. Cite pelo menos cinco diferenças entre a auditoria contábil e a auditoria ambiental, sele-
cione três que você entende ser as mais significativas e faça uma comparação mais
detalhada.

3. Discorra sobre as propostas da International Chamber of Commerce (ICC) sobre auditoria


ambiental e sistema de gestão ambiental, tema tratado também no Capítulo 5.

4. Defina com suas próprias palavras: escopo, critérios de auditoria, evidências de auditoria
e constatações de auditoria.

5. Para cada situação descrita abaixo, indique qual é a classe de auditoria ambiental, confor-
me a classificação feita no Quadro 6.2. Indique em cada caso quem é o cliente, o audita-
do e o auditor:
f* Empresa realizando auditoria ambiental de rotina com o seu próprio pessoal.

^ Empresa que contrata uma empresa de consultoria para realizar uma auditoria se-
gundo a norma ISO 14001 comentada no Capítulo 5.

~ Empresa realizando auditoria ambiental com seu próprio pessoal no estabelecimento


de um provável fornecedor.

~ Empresa que contrata uma organização para realizar auditoria ambiental no estabele-
cimento de um fornecedor.

i* Empresa que contrata um Organismo de Certificação Credenciado para realizar uma


auditoria de certificação.

6. A ISO 14001:2004 estabelece como requisito do SGA a realização de auditoria ambiental.


Compare essa auditoria com outros tipos de auditoria descritos neste capítulo.

7. Um Organismo de Certificação Credenciado (OCC) pode realizar atividades de consulto-


rias em uma empresa com a finalidade de implantar ou melhorar o SGA e depois realizar
auditoria para efeito de certificação do SGA? Justifique sua resposta.

8. Compare os princípios relacionados a auditores constantes na norma ISO 19011:2002


com o código de ética apresentado no Quadro 6.6.

9. Discuta a obrigatoriedade da realização de auditorias ambientais, apresentado argumen-


tos prós e contra, bem como a sua opinião. Não importa o que você pensa sobre assunto,
mas sim como defende a sua opinião.

10. Faça uma pesquisa no Legislativo da União, do seu Estado ou Distrito Federal e do Muni-
cípio em que vive e verifique se há projetos de leis introduzindo a obrigatoriedade da re-
alização de auditorias ambientais. Caso houver, faça uma análise desses projetos e
escreva sua opinião sobre eles.

11. Faça uma busca nos balanços patrimoniais de empresas, publicados na imprensa escrita
durante determinado mês, e verifique se eles apresentam obrigações provisionadas no
balanço patrimonial ou notas explicativas a respeito de passivos ambientais relacionados
com suas atividades. Não se esqueça de incluir nessa coleta os balanços das empresas
que atuam em setores potencialmente causadores de significativa degradação ambien-
tal, bem como as que freqüentam com certa assiduidade os noticiários por conta de
problemas ambientais.

12. Procure na imprensa e nos sites de busca notícias sobre o andamento de ações na Jus-
tiça a respeito de indenizações por conta de danos causados por empresas em pessoas
e áreas por motivos ambientais, como por contaminação de substâncias tóxicas. Analise
os argumentos das partes e veja se há alguma informação nos demonstrativos contábeis
das empresas, caso tenham sido publicados.
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AVALIAÇÃO DO CICLO DEVIDA DO PRODUTO

O ciclo de vida de um bem ou serviço que interessa à gestão ambiental refere-se ao


ciclo físico formado pelos sucessivos estágios do processo de produção e comercializa-
ção, desde a origem dos recursos produtivos no meio ambiente até a disposição final
após o uso ou consumo, passando pelos estágios intermediários, como beneficiamen-
to, transportes, estocagens e outros, incluindo os reaproveitamentos na forma de reú-
so, reciclagem, revalorização energética. Esse ciclo também é conhecido pela expressão
do berço ao túmulo (cradle to grave) ou berço ao berço (cradle to cradle), como comenta-
do no Capítulo 4. Recordando, na primeira expressão, o meio ambiente é a origem
dos recursos usados n o produto (berço) e o depósito final dos seus restos inaproveitá-
veis (túmulo). Na segunda, espera-se que os restos, além de mínimos, não causem da-
nos ao meio ambiente e possam ser plenamente assimilados. Espera-se, portanto, que
os sistemas produtivos evoluam tornando-se cada vez mais próximos dos sistemas na-
turais, porque nestes não há restos inaproveitáveis. Este ciclo não se confunde com o
ciclo mercadológico, pelo qual um dado produto, à semelhança de um ser vivo, segue
por diferentes estágios desde a sua introdução (nascimento) até a sua retirada do mer-
cado (morte), passando por crescimento da demanda, maturidade e declínio.

Q u a n d o aplicado a bens ou serviços concretamente definidos, o ciclo ambiental


corresponde a um c o n j u n t o de atividades realizadas por agentes econômicos específi-
cos, como empresas dos mais variados tipos, tamanhos e setores, configurando uma
cadeia de suprimento. U m a cadeia de suprimento é formada pelos agentes que contri-
buem direta ou indiretamente para a produção e comercialização de um bem ou servi-
ço, como mineradores, fabricantes, transportadores, armazenadores, varejistas e os
consumidores finais 1 .

C H O P R A ; M E I N D L , 200.3, p. 3.
C A D E I A DE SUPRIMENTO

A Figura 7.1 ilustra uma cadeia de suprimento genérica e simplificada, pois vale
para qualquer bem manufaturado e não inclui todas as partes envolvidas, como os
transportadores e certificadores, nem os retornos de materiais e produtos. O objetivo
da gestão de uma cadeia de suprimento é maximizar o seu valor geral, que é a diferença
entre o valor do produto final para o cliente final e o esforço realizado pela cadeia para
atendê-lo 2 . A representação da cadeia apenas com fluxos direcionados no sentido for-
necedores-clientes é típica das abordagens convencionais de gestão da cadeia de supri-
mento. Logística, atendimento do pedido, desenvolvimento de produtos, compras,
operações de manufatura, venda, expedição, assistência técnica são exemplos de ativi-
dades relacionadas com a cadeia de suprimento de uma empresa.

A aplicação de práticas de gestão ambiental na cadeia de suprimento implica consi-


derar o ciclo de vida do produto, o que, vale dizer, implica considerar a gestão do ciclo
de vida. A gestão da cadeia de suprimento em geral não alcança a totalidade da cadeia,
principalmente em cadeias longas ou com muitos fornecedores e pontos de vendas
disseminados em muitos locais, regiões ou países, ou ainda com relações entre os mem-
bros baseadas em contratos caso a caso. Da mesma forma, o ciclo de vida ambiental

F i g u r a 7.1 Representação de uma cadeia de suprimento genérica.

CHOPRA; MEINDL, 2003, p. 4.


pode não ser efetivamente alcançado pela gestão de uma empresa, por exemplo, se da
extração de materiais até o estabelecimento do fabricante ou do distribuidor, partici-
pam centenas de empresas dispersas no planeta com atividades realizadas em períodos
de tempo variados.
Tomando o exemplo da Figura 7.1, a capacidade do fabricante de ter controle sobre
o ciclo de vida do seu produto tende a diminuir à medida que os agentes envolvidos
encontram-se mais distantes dele. Os fornecedores imediatos podem ser selecionados
com base em critérios ambientais, mas essa possibilidade vai se esvaindo conforme os
estágios se afastam a montante da cadeia, ou seja, em direção à extração de recursos
naturais. O mesmo ocorre em relação aos membros cio canal de distribuição, a capaci-
dade do fabricante de estabelecer controle ou influência vai diminuindo à medida que
produto avança a jusante da cadeia, ou seja, em direção ao cliente final.
Essa dificuldade é reconhecida pela norma ISO 14001, que estabelece requisitos
para implantar e manter um sistema de gestão ambiental (SGA), assunto tratado no
Capítulo 5. O controle e a influência sobre os aspectos ambientais dos produtos forne-
cidos à organização podem variar dependendo da situação do mercado e dos fornecedo-
res. Se ela é a responsável pelo projeto, pode influenciar alterando as especificações dos
materiais de entrada. Mas poderá ter pouca escolha se a organização necessita fornecê-
-los de acordo com as especificações dadas pela empresa cliente. Esta pode estabelecer
controle mediante a imposição de critérios ambientais para selecionar fornecedores e
insumos 3 . Para isso, necessita de informações dos fornecedores potências sobre proces-
sos produtivos, práticas trabalhistas, geração de resíduos, situação das licenças ambien-
tais, comprometimentos com iniciativas voluntárias e outras que permitem avaliar suas
práticas ambientais. Empresas de grande porte podem realizar auditorias em fornecedo-
res de insumos que representem aspectos ambientais significativos. Muitas dessas provi-
dências requerem um poder de compra considerável, o que restringe apenas às grandes
empresas que podem arcar com os custos das auditorias e impor condições aos fornece-
dores. Como é amplamente conhecido, somente grandes compradores conseguem esta-
belecer condições do seu interesse.
A redução da carga total de impactos ambientais adversos do berço ao túmulo não
pode depender apenas das empresas de grande porte. A rigor, qualquer empresa pode-
ria dar sua contribuição agindo na sua esfera de influência por meio de práticas decor-
rentes dos modelos de gestão mencionados no capítulo 4, independentemente do
estágio do ciclo de vida do produto a que ela esteja envolvida. C o m o visto, esses mode-
los adotam a prevenção da poluição sob diferentes enfoques, uma postura essencial
pata a redução dos impactos ambientais negativos em um estágio específico do ciclo de
vida do produto. Eles objetivam resolver os problemas ambientais que causam, e não se
livrar deles remetendo-os aos fornecedores ou clientes. Assim, muitas práticas de gestão
ambiental internas acabam gerando efeitos positivos sobre o ciclo de vida.

G E S T Ã O DO CICLO DEVIDA

O P N U M A e S E T A C defendem uma proposta de gestão do ciclo de vida (life cycle


management) c o m o meio para implementar o pensamento de ciclo de vida (life cycle
thinking), uma filosofia de gestão que expande o conceito de produção mais limpa para
incluir todo o ciclo de vida e sua sustentabilidade. A base para a redução de perdas e
de poluição ao longo do ciclo é a filosofia conhecida por 6Rs, a saber:

1. Repensar os produtos e suas funções: por exemplo, para que possam ser usados
de modo mais eficiente do ponto de vista ambiental.
2. Reparar: projetar produtos para facilitar a sua manutenção e reparo.
3. Reusar: projetar produtos para facilitar o desmanche e a reutilização de suas
partes e peças.
4. Reduzir o consumo de energia, de materiais e de impactos socioeconômicos ao
longo do ciclo de vida.
5. Reciclar: selecionar materiais que podem ser reciclados.
6. Substituir (Replace) substâncias perigosas por alternativas seguras 4 .

A Figura 7.2 apresenta uma representação de um ciclo de vida genérico e simplifi-


cado com as possibilidades de gestão baseadas na filosofia dos 6Rs; genérico porque
vale para qualquer bem ou serviço; simplificado, porque não inclui transporte, arma-
zenamento, testes e outras atividades que costumam ocorrer no trajeto entre o berço e
o túmulo. Note que o meio ambiente é o berço ou a fonte de recursos e depois torna-se
o repositório do que sobra após esgotadas todas as possibilidades de retornos e recupe-
rações de materiais.
A gestão do ciclo de vida envolve todos os segmentos da organização a partir do
nível estratégico da empresa, como ilustra a Figura 7.3. Todos os departamentos da
empresa teriam funções a desempenhar, o que aumenta as possibilidades de ações para
reduzir a carga ambiental negativa do produto ao longo do seu ciclo. As dificuldades
de controle sobre estágios distantes dos que são realizados pela empresa ficam minimi-
zados com as providências combinadas e articuladas envolvendo desenvolvimento do

SETAC; UNEP, 2007. p. 12.


O F i g u r a 7.2 Ciclo de vida de u m p r o d u t o c o n t e m p l a n d o atividades d e reúso, reparo e r e c i c l a g e m .

Meio ambiente
Recurso natural
Extração de
••matéria-prima

Incineração Recuperação
e aterro

Disposição Projeto e
4 produção

Reúso

\ \ Empacotamento
Uso e reparo e distribuição

Fonte: SETAC; UNEP, 2007.

produto, compras, produção, armazenagem, transporte e expedição, venda e assistên-


cia ao cliente e outras, controladas pela empresa.
Para a condução das atividades de gestão do ciclo de vida, há vários instrumentos
e práticas disponíveis como logística reversa, avaliação e seleção de fornecedores, audi-
toria de fornecedor, códigos de condutas para fornecedores, empreiteiros, prestadores
de serviços e representantes comerciais, auditoria cie ciesperdícios, análise de fluxos de
massa, avaliação do ciclo de vida, rótulos ambientais e muitos outros. A seguir será
apresentado um instrumento para a gestão do ciclo de vida do produto, a Avaliação do
Ciclo de Vida, para o qual foram elaboradas normas internacionais de gestão ambien-
tal, dada sua enorme importância para a redução da carga ambiental negativa ao longo
do ciclo cie vida do produto ou serviço.

ORIGENS DAACV

A Avaliação do Ciclo de Vida (ACV) é um instrumento para compilar e avaliar


impactos ambientais de um produto ou serviço ao longo do seu ciclo de vida. Ela co-
meçou a ser usada na década de 1960 por algumas empresas, porém sua sistematização
viria mais tarde com a participação de diversas organizações de ensino e pesquisa e de
F i g u r a 7.3 G e s t ã o do ciclo d e vida: contribuição d e d i f e r e n t e s s e g m e n t o s da e m p r e s a .

governos de vários países. Sua origem suscita dúvidas, pois há vários instrumentos
parecidos e há disputa pela primazia por parte de autores e empresas. Há quem susten-
te que sua origem é a análise de energia líquida usada para identificar as necessidades
cumulativas de energia de alguns produtos da indústria química, cujo primeiro traba-
lho conhecido data de 1969. Outro instrumento precursor foi um método de análise
denominado material-processo-produto, criado no início da década de 1970, que
quantificava as entradas e saídas dos processos produtivos 5 .

AYRES, U. R„ 1995. p. 200.


A primeira A C V teria sido um estudo encomendado pela Coca-Cola ao Midwest
Research Institute, no final da década de 1960, que comparou diferentes tipos de vasi-
lhames para selecionar o que requeria menor quantidade de recursos e menor libera-
ção de poluentes. A metodologia de análise foi refinada nos anos seguintes pelo Usepa
dando origem a uma abordagem denominada Análise de Recursos e Perfil Ambiental
(REPA, do inglês, Resource and Environmental Profile Analysis), estudo baseado no levan-
tamento quantificado dos recursos usados e da poluição gerada nas diferentes fases do
ciclo de vida de um produto 6 .

Desde meados da década de 1 9 8 0 que a A C V se tornou um instrumento para au-


xiliar a regulamentação pública ambiental no âmbito da C o m u n i d a d e Européia. Vá-
rias grandes empresas europeias criaram, em 1992, a Sociedade para a Promoção do
Desenvolvimento da A C V (SPOLD), que entre outras contribuições produziu vários
guias para orientar as empresas quanto a este instrumento até a sua dissolução em
2001. A Societ;y of Environmental Toxicology and Chemistry ( S E T A C ) deu contribuições
significativas desenvolvendo métodos para aperfeiçoar a A C V e difundir o seu uso 7 . A
S E T A C e o P N U M A criaram uma iniciativa voluntária para estimular os estudos a
respeito da A C V e a sua prática por parte de empresas e órgãos governamentais 8 . Di-
versos órgãos ambientais e instituições de ensino e pesquisas de várias partes do mun-
do vem dando importantes contribuições à ACV, como é caso do C e n t r o de Tecnologia
de Embalagem ( C E T E A ) n o Brasil 9 .

A variedade de conceitos e métodos adotados por entidades e governos sobre a


A C V gerava conseqüências negativas para as organizações que pretendiam atuar em
mais de um mercado. Avaliações feitas segundo critérios diferentes chegam a conclu-
sões diferentes sobre os impactos ambientais de um mesmo produto, confundindo o
público e lançando desconfianças quanto a esse instrumento de gestão ambiental. Pior
que isso, uma empresa ou uma associação de empresas pode encomendar uma A C V
de cartas marcadas para valorizar o seu produto em detrimento de outros para ganhar
mercado. Por isso a preocupação da I S O em estabelecer conceitos, diretrizes e requisi-
tos sobre a ACV, para que seu uso tenha credibilidade e não seja discriminatório no
comércio internacional.

6 NPPC, 1995. p. 1.
7 S E T A C . Disponível em: <www.setae.org>. Acesso em: 22 dez. 2010.
8 Life Cycle Initiative. Disponível em: <www.unep.org>, <www.uneptie.org> ou <www.setac.org>. Acesso em: 22
dez. 2010.
' C E T E A . Disponível em: <www.cetea.ital.org.br>. Acesso em: 22 dez. 2010.
A S NORMAS ISO S O B R E ACV

N o âmbito do C o m i t ê T é c n i c o 207 da I S O ( I S O / T C 2 0 7 ) esse instrumento é tra-


tado pelo subcomitê S C 5, como se pode ver no Quadro 5.2. Das normas produzidas
sobre esse tema, duas são particularmente importantes e foram traduzidas pela A B N T :

N B R I S O 1 4 0 4 0 : 2 0 0 9 - Gestão ambiental - Avaliação do ciclo de vida - prin-


cípios e estruturas; e
~ N B R I S O 1 4 0 4 4 : 2 0 0 9 - Gestão ambiental - Avaliação do ciclo devida -requi-
sitos e guia.

A n o r m a I S O 14040 define ciclo de vida como os estágios consecutivos e interliga-


dos de um sistema de produto, desde a aquisição da matéria-prima ou de sua geração
a partir de recursos naturais até a disposição final. Sistema de produto é o c o n j u n t o de
processos elementares, com fluxos elementares e de produto, desempenhando uma ou
mais funções definidas, que modelam o ciclo de vida do produto. A A C V é a compila-
ção e avaliação das entradas e saídas e dos impactos ambientais potenciais de um siste-
ma de produto ao longo do seu ciclo de vida 10 . Seu foco são os aspectos e impactos
ambientais potenciais ao longo do ciclo de vida de um produto (bem ou serviço), de
acordo com a abordagem do berço ao túmulo, c o m o ilustra a Figura 7.2.

A A C V fornece informações para usos variados, por exemplo, para melhorar o


processo produtivo de um produto, revisar o projeto de um produto com vistas a re-
duzir seu impacto ambiental, comparar produtos similares de um m e s m o fabricante
ou de fabricantes diferentes, concessão de rótulos ambientais, entre outros 1 1 . As nor-
mas citadas apresentam recomendações, princípios, estrutura metodológica e requisi-
tos para elaborar uma A C V com credibilidade e que gere resultados relevantes para
os gestores.

A norma postula os seguintes princípios gerais para orientar as decisões relativas


ao planejamento e à condução da A C V :

1. Perspectiva do ciclo de vida: a A C V considera todo o ciclo de vida desde a extra-


ção da matéria-prima, através da produção de energia e materiais, manufatura
e uso, tratamento de fim de vida até a disposição final. A atenção a esse prin-
cípio permite identificar as transferências de cargas entre os estágios do ciclo
ou entre processos individuais.

ABNT. NBR ISO 14040:2009, 2 0 0 9 . Termos e definições.


ABNT. 14040: 2 0 0 9 . Introdução.
2. Foco ambiental: a A C V trata apenas dos aspectos e impactos ambientais, outras
considerações, como as econômicas e sociais, não fazem parte do escopo desse
instrumento.

3. Abordagem relativa e unidade funcional: a A C V é uma abordagem relativa, estru-


turada em torno de uma unidade funcional, o parâmetro que define o que está
sendo estudado. Todas as análises subsequentes são relativas à unidade
funcional.

4. Abordagem interativa: as fases individuais da A C V utilizam os resultados das


outras fases.

5. Transparência: para assegurar uma interpretação adequada dos resultados, esse


princípio procura garantir que os resultados da A C V não serão usados para
outras finalidades que não as expressamente definidas n o seu escopo. A falta
de transparência foi em grande parte responsável pela perda de credibilidade
da A C V n o passado.

6. Completeza: a A C V considera todos os atributos ou aspectos do ambiente natu-


ral, da saúde humana e dos recursos. Esse princípio é o que traduz a idéia de
ciclo dentro da abordagem do berço ao túmulo.
7. Prioridade da abordagem científica: as decisões da A C V são embasadas preferen-
temente nas ciências naturais. Caso esta não seja possível, outras abordagens
científicas podem ser usadas, como as derivadas das ciências econômicas e so-
ciais. Na ausência de ambas ou de convenções internacionais, as decisões po-
dem basear-se em escolhas de valores 12 .

Fases da A C V
U m estudo de A C V envolve quatros fases, como esquematizado na Figura 7.4. A
primeira fase refere-se à definição do objetivo e do escopo do estudo. O objetivo deve
apresentar as aplicações pretendidas com o estudo, as razões para a sua elaboração, o
público-alvo a quem seus resultados serão comunicados, e se os resultados serão usa-
dos em afirmações comparativas divulgadas publicamente. São exemplos de objetivos:
fornecer embasamento técnico para emitir uma autodeclaração ambiental do produto
objeto do estudo; comparar dois ou mais produtos que atendem à mesma finalidade
para efeito de marketing; comparar os impactos ambientais de embalagens alternativas
para substituir a embalagem atual. As razões e o público-alvo, a quem os resultados da
A C V serão apresentados, também precisam ser declarados.
O escopo da A C V refere-se à abrangência, profundidade e detalhamento da ACV,
devendo ser compatível com o objetivo declarado. A definição do escopo inclui, entre
outros, os seguintes elementos: sistema de produto estudado; funções do sistema (ou
dos sistemas no caso de estudos comparativos); unidade funcional; fronteira do siste-
ma; procedimentos de alocação; categorias de impactos selecionados e metodologia de
avaliação; requisitos de dados, pressupostos, limitações, tipo e formato do relatório.
A função do sistema de produto é uma característica de desempenho desse siste-
ma, isto é, a utilidade ou benefício que proporciona ao usuário ou cliente. A avaliação
do impacto se faz com base na função ou funções do sistema de produto, cuja seleção
depende do objetivo do estudo. A unidade funcional é uma medida da função do sis-
tema, que deve ser definida em função do objetivo do estudo e que fornece uma refe-
rência para os dados de entrada e saída do sistema. Em estudo comparativo do impacto
ambiental da produção de revestimentos cerâmicos com gás natural e com energia hi-
droelétrica, a unidade funcional poderia ser o m2 de piso, pois essa é uma medida típi-
ca da função que o revestimento desempenha para o usuário. Se fosse produção de
tijolos, o milheiro de tijolos seria uma unidade funcional adequada. Para comparar
sistemas de produtos diferentes que realizam a mesma função, a unidade funcional
deve valer para os dois, por exemplo, máquina de lavar roupa a seco e à água, a unida-
de funcional poderia ser 100 kg de roupas lavadas.

O F i g u r a 7.4 Fases de u m a ACV.

Estrutura da A C V

Aplicações diretas:
Desenvolvimento e
aperfeiçoamento de
produtos e serviços.
r» Planejamento estratégico.
r+ Formulação de políticas
públicas.
r* Marketing.
r* Outras.

Fonte: ABNT. NBR ISO 14040:2009, seção 4.2.3.


A fronteira do sistema é um conjunto de critérios que especificam os processos
elementares que farão parte do sistema de produto, como exemplifica a Figura 7.5. Por
exemplo: o estudo pode desconsiderar as operações em condições anormais ou emer-
genciais. Por isso, a lista de inclusões e exclusões é fundamental para definir a fronteira
do sistema, devendo ser justificadas com base em argumentos consistentes. A exclusão
cie estágios do ciclo de vida é permitida apenas se não provocar mudanças significativas
nas conclusões gerais do estudo, ou seja, é preciso mostrar que não se trata de escolhas
por mera conveniência. Os elementos a serem incluídos dentro da fronteira, são, entre
outros, os seguintes:

aquisição de materiais;
entradas e saícias dos processos de produção, distribuição e transportes;
<-* produção e uso de energia (combustíveis, eletricidade e calor);
t* uso e manutenção dos produtos;
~ reúso, reciclagem e recuperação energética;
<-* iluminação e aquecimento;
^ tratamento e disposição final, entre outros.

A segunda fase é a análise de inventário na qual é feita a coleta cie dados e os cál-
culos para quantificar as entradas e saídas de um sistema de produto conforme o obje-
tivo e o escopo definidos. Para cada processo elementar dentro da fronteira cio sistema
coletam-se dados sobre as entradas de materiais e energia, produtos, coprodutos e resí-
duos, lançamento de poluentes no ar, água ou solo e outros, considerados nas defini-
ções anteriores. Novas definições podem ocorrer à medida que o estudo avança, pois
o processo é interativo, como indicam as setas de duplo sentido da Figura 7.4- C o m o
mostrado há pouco, um dos princípios da A C V é a interatividade, e não poderia ser
diferente, pois a equipe responsável pela sua realização passa a ter mais conhecimentos
sobre o ciclo de vida do produto conforme o estudo avança.

Avaliação de impacto do ciclo de vida


A avaliação de impacto do ciclo de vida, terceira fase da ACV, objetiva entender e
avaliar a magnitude e a significância dos impactos potenciais do sistema de produto
definido ao longo do ciclo de vida do produto. Utiliza, para isso, os resultados do in-
ventário obtidos na fase anterior. A avaliação dos impactos deve incluir os seguintes
elementos, obrigatoriamente: seleção das categorias de impactos, indicadores de cate-
goria e modelos de caracterização; correlação dos resultados cio inventário às categorias
selecionadas; e cálculo dos resultados dos indicadores de categoria.
F i g u r a 7.5 E x e m p l o de s i s t e m a de produto.

Meio ambiente do sistema

Fonte: ABNT. NBR ISO 14040:2009, seção 4.4.

As categorias referem-se aos problemas ambientais relevantes associados à análise


do inventário, ou seja, os problemas ambientais gerados durante o ciclo de vida. O
Quadro 7.1 apresenta as categorias mais comuns relacionadas com as entradas e saí-
das do sistema de produto. Outras categorias podem ser consideradas, como particu-
lados, metais pesados, uso do solo, ruídos e odores. A seleção das categorias depende
da definição das fronteiras do sistema e deve ser justificada e descrita 13 .
O modelo de caracterização reflete o mecanismo ambiental, ou seja, o sistema de
processos físicos, químicos e biológicos de determinada categoria de impacto, que vin-
cula os resultados da análise do inventário do ciclo de vida aos indicadores de catego-
ria e aos pontos finais da categoria. O modelo descreve a relação entre os resultados do
inventário, os indicadores da categoria e os pontos finais da categoria, que é o atributo

ISO. ISO/TR 14047:2003 (E), seção 5.2.2.4.


& Quadro 7.1 Categorias de impactos mais comuns.

Categorias relacionadas com as entradas Categorias relacionadas com as saídas

Depleção de recursos abióticos (combustíveis fósseis, Mudança do clima


minerais etc.) Depleção do ozônio estratosférico
Depleção de recursos bióticos (madeira, peixes etc.) Formação de oxidantes fotoquímicos
Acidificação
Eutrofização
f* Toxicidade humana
f* Ecotoxicidade

Fonte: ISO. ISO/TR 14047:2003(E), seção 5.2.2.4.

ou aspecto do meio ambiente natural, saúde humana ou recurso que identifica a ques-
tão ambiental que merece atenção.
A Figura 7.6 ilustra esse procedimento de análise de impacto. C 0 2 e C H 4 s ã o gases
de efeito estufa relacionados ao aquecimento global (categoria de impacto); os resulta-
dos do inventário são as emissões computadas desses gases; o modelo de caracterização
é o do Painel Internacional de Mudança Climática (IPCC), que define os potenciais
de aquecimento dos diferentes gases; o indicador de categoria é o aumento da radiação
infravermelha medida em W/m 2 (Watt por metro quadrado); os pontos finais são os
recifes de coral, florestas e plantações' 4 . Essas emissões devem ser colocadas em uma
mesma unidade de medida para serem computadas. As emissões de C H 4 por unidade
funcional são convertidas em quilogramas de C O z equivalentes (kg C 0 2 equivalente),
com base nas relações dadas pelo modelo do IPCC, no qual uma molécula de C H 4
eqüivale a 21 de C 0 2 em potencial de aquecimento 15 . Exemplo: 3 kg de C O , e 2 kg de
C H 4 emitidos por unidade funcional são transformados em 3 kg x 1 + 2 kg x 21 = 4 5
kg de C O , equivalentes.

Interpretação
A última fase é a interpretação das informações geradas nas fases anteriores que,
por sua vez, inclui (1) identificação das questões significativas; (2) avaliação do estudo
em termos de completeza, sensibilidade, consistência e outros elementos de avaliação;

14 ABNT. N B R ISO 14044:2009, seção 4.4.


15 ABNT. N B R ISO/TR 14947, seção 5.2.2.
F i g u r a 7.6 Indicadores de categoria de i m p a c t o .

Exemplos

Fonte: ABNT. NBR ISO 14044:2009, seção 4.4.2.2.2.

(3) conclusões, limitações e recomendações 16 . A verificação da completeza visa assegu-


rar que os dados e informações relevantes para interpretar os resultados estejam dispo-
níveis e completos. Se houver informação relevante ausente ou incompleta, o método
preconizado pelas normas ISO recomenda revisar as fases anteriores ou redefinir o
objetivo e o escopo cio estudo. A verificação da sensibilidade visa assegurar a confiabi-
lidade dos resultados finais e das conclusões, determinando de que forma eles são
afetados pelas incertezas dos dados e pelos métodos empregados. Procura-se verificar
as alterações nos resultados em decorrência das variações nos dados e pressupostos
utilizados, podendo ser expressa como uma faixa cie variação do tipo ± 2 5 % .
A verificação da consistência procura determinar se os pressupostos, métodos e
ciados são consistentes ao longo do ciclo de vida do produto ou entre diversas opções.
Exemplos de inconsistências: em estudo comparativo, utiliza-se dados primários para
um produto e secundários para o outro; dados do último ano para um e de cinco ou
mais anos para o outro; os dados de um produto estão baseados em tecnologia existen-
te de longa data, o do outro, em tecnologia experimental.
Os resultados e conclusões devem ser comunicados ao público-alvo. Na fase de
definição do escopo já se estabelece o tipo e formato do relatório. Este deve conter o
objetivo, o escopo, as inclusões e exclusões do estudo e suas justificativas, descrição de
métodos e pressupostos, dados, resultados, explanação das limitações, com um nível
de detalhamento apropriado à compreensão das pessoas que integram o público-alvo.
Além desses, no relatório convém incluir: mudanças do escopo inicial e justificativas,
caso ocorreram; fronteira do sistema, indicando as entradas e saídas e os critérios de
decisão; descrição dos processos elementares, escolha das categorias de impacto e indi-
cadores de categoria.

A rigor, a A C V é um estudo que contempla o ciclo de vida do produto cio berço


ao túmulo. Porém, é possível usar parte das recomendações e requisitos constantes nas
normas ISO, mediante justificativa adequada, para estudos do berço ao portão da
empresa, de portão-a-portão ou de partes específicas do ciclo de vida, como gerencia-
mento de resíduos ou os componentes de um produto 17 . A Figura 7.7 exemplifica um
ciclo de vida do produto com quatro estágios e três fronteiras do sistema, possibilitan-
do realizar três estudos diferentes. Um estudo do tipo portão-a-portão usa uma frontei-
ra limitada a um estágio, no caso, o da manufatura do produto (fronteira A). A
fronteira B considera todos os estágios, incluindo no nascedouro, os minérios e recur-
sos naturais extraídos do meio ambiente, e, ao final da vida, as conseqüências da dis-
posição final do produto.
Na fronteira C os limites se alargam para incluir os fluxos de materiais e energia para
produzir os equipamentos usados na extração de minérios e outros recursos, nas operações
para produzir os materiais, na manufatura, transporte, uso e disposição. Esse alargamento
da fronteira amplia a complexidade do estudo sem a correspondente melhoria dos resulta-
dos, pois os estágios mais recuados também fornecem para outras cadeias de suprimento;
de modo que os seus impactos ambientais ficam diluídos entre elas, o que torna pequena
a fração dos recursos e das emissões diretamente vinculadas ao sistema de produto estuda-
do. Um meio prático de resolver essa questão em um estudo do berço ao túmulo é incluir
apenas o fluxo primário diretamente relacionado aos estágios de produção de materiais,
manufatura, uso e disposição final, ou seja, a fronteira do sistema B 18 .

17 ABNT, N B R I S O 14040:2009, anexo A.


18 ASHBY; M. F„ 2009. p. 4 2 4 4 .
Como visto, a A C V é um instrumento que processa uma quantidade enorme de da-
dos e realiza cálculos que dificilmente seriam possíveis sem o uso de softwares apropria-
dos. A importância desse instrumento desencadeou a criação de softwares específicos por
empresas de consultoria, universidades, instituições de pesquisas e ONGs, tornando a
escolha um problema nada trivial19. Facilidade de uso, interface gráfica, elaboração de
diagramas de fluxos e análise de sensibilidade são alguns critérios para orientar a esco-
lha 20 . Outro critério importante é a facilidade de aplicar as recomendações e requisitos
mandatórios das normas ISO sobre ACV, como as comentadas nessa seção.

^ Figura 7.7 Fronteiras de uma ACV.

Recursos naturais E m i s s õ e s , resíduos Fronteira do

Fronteira do
sistema C

Emissões, resíduos

Fonte: ASHBY, 2009, p. 43.

Exemplos: GaBi, software desenvolvido pela empresa PE /nternational e Universidade de Stuttgart (www.pe-inter-
national.com); Umberto, desenvolvido pela empresa de informática alemã tfu Hamburg GmbH (www.ifu.com/
en/company); SimaPro, pela empresa holandesa a Pré Consultants (www.pre.ne); TEAM, da Ecobilan da Pricewa-
terhouseCoopers (www.ecobilan.com.uk); LCAiT da Chalmers Industriteknik Ekologik, empresa sueca.
RIZO, S. C.; NAVARRO, T. G„ 2004. p. 127-8.
Uma questão importante para a realização de A C V é a disponibilidade de bases
de dados apropriadas, principalmente bases públicas. Muitos softwares possuem ba-
ses de dados residentes, mas nem sempre é possível utilizá-los sem comprometer a
consistência, conforme comentado ainda há pouco, caso se refiram a regiões e am-
bientes diferentes de onde o produto ou seus insumos são gerados.
Sob muitos aspectos a A C V completa e detalhada como recomendam as normas
I S O deixa muito a desejar. C o m o disse Ashby, a complexidade torna a A C V imprati-
cável para muitos propósitos. A percepção desse fato tem estimulado duas linhas de
desenvolvimento: (1) as ferramentas baseadas em softwares para facilitar a realização
da ACV, como mencionado; e (2) os métodos simplificados que focalizam a atenção
sobre os aspectos ambientais mais importantes, deixando de lado os que são percebi-
dos como secundários 21 .

M É T O D O S SIMPLIFICADOS

A realização cie uma ACV, conforme as normas ISO, requer equipe de trabalho muti-
disciplinar, leva tempo, podendo chegar a mais de um ano conforme a complexidade do
ciclo de vida do produto, da disponibilidade de dados, e, consequentemente, tem custo
elevado, razão por que esse instrumento tem sido mais utilizado por grandes empresas.
Mesmo essas que dispõem de recursos, realizam ACVs simplificadas na maioria das vezes.
Pequenas e médias empresas dificilmente conseguiriam realizar uma A C V completa com
recursos próprios. Ademais, a A C V da forma concebida pelas normas ISO aplica-se a bens
e serviços existentes, quando na maioria das vezes o que se deseja é realizar uma A C V
simplificada para orientar os processos de inovação de produtos e processos.
Um estudo de A C V simplificado pode basear-se nas normas I S O citadas reduzin-
do e excluindo elementos. Exemplos: o ciclo do produto é reduzido ao estágio em que
a empresa participa diretamente, os critérios de impactos referem-se apenas aos que a
empresa irá focar nos seus processos de melhoria, as entradas e saídas cio processo se
restringem a algumas categorias selecionadas. Mesmo assim, as exclusões somente se-
rão permitidas se não causarem mudanças significativas nas conclusões gerais da ACV,
uma exigência que não poderá ser atendida sem realizar estudos que permitam justifi-
car tais exclusões.
Diversos métodos foram desenvolvidos especificamente para realizar estudos de
A C V simplificados. Em geral são métodos baseados em matrizes, como o desenvolvido
por Graedel e Allemby para produtos eletroeletrõnicos e como parte de um processo
de desenvolvimento de projeto para meio ambiente (DfE), comentado no Capítulo 4.

21 ASHBY, 2 0 0 9 , p. 48.
U m a A C V simplificada pode ser realizada por meio do método conhecido por Avalia-
ção de Produto Ambientalmente Responsável (ERPA, do inglês: Environmentally Res-
ponsible Product Assessment), que consiste em uma matriz 5x5, c o m o indicado na
Figura 7.8, na qual o eixo vertical apresenta os estágios do ciclo e o horizontal, as pre-
ocupações ambientais a serem consideradas em cada estágio.
As preocupações ambientais devem ser estabelecidas antecipadamente para cada
célula da matriz, como ilustra a Figura 7.9. Elas são estabelecidas para cada produto ou
projeto de inovação como base na política ambiental e nos objetivos e metas decorren-
tes. Se reduzir as emissões de gases de efeito estufa é um objetivo da empresa, cada cé-
lula da matriz será preenchida com preocupações pertinentes a esse objetivo. Se o
objetivo da revisão do projeto de um produto é aumentar o conteúdo de materiais re-
ciclados, as preocupações devem refletir esse objetivo. Enfim, as preocupações ambien-
tais sempre decorrem dos objetivos do estudo.
A avaliação de cada célula corresponde à fase de análise de inventário do ciclo de
vida. Na formulação original do método, as células da matriz são preenchidas com
valores inteiros entre 0 e 4, nos quais 0 representa um impacto ambiental significativo
e 4, impacto n e n h u m ou desprezível. Exemplo: atribui-se o valor 0 à célula 2,4 para
quantidades significativas de substâncias tóxicas na manufatura do produto; e 4 para
quantidades irrisórias. Os valores intermediários representam gradações que depen-
dem de avaliações feitas para cada célula. A gradação pode ser orientada pelo valor 2,
que representa uma responsabilidade média; assim, 1 e 3 indicam gradações superio-
res e inferiores à média, respectivamente. Sendo uma matriz 5x5, há 2 5 células, de
modo que o valor total da matriz ficará no intervalo de 0 a 100, e a responsabilidade
ambiental total do produto (R AP ) é dada pela expressão:

K AP
„ = Y- y. v c i,j.
na qual, V C é o valor atribuído à célula i,j da matriz.
A Figura 7.10 é um exemplo de uma matriz com os valores preenchidos com os
resultados da avaliação feita pela equipe do projeto. O produto objeto do estudo tem
uma responsabilidade ambiental total de 41, o que significa uma elevada carga de im-
pactos ao longo do ciclo de vida. Os totais parciais das linhas e colunas permitem
identificar e localizar os diferenciais de impactos. N o caso desse produto, a manufatu-
ra, com um subtotal igual a 6, é o estágio do ciclo com maior impacto adverso; a maior
preocupação ambiental concerne aos resíduos líquidos com um subtotal igual a 5. O s
valores de cada célula permitem estabelecer a ordem de prioridades para as ações a
serem desencadeadas, n o caso, a geração de resíduos líquidos n o estágio de manufatu-
ra seria a prioridade máxima (célula 2,4).
. • j F i g u r a 7.8 M a t r i z ERPA básica.

Preocupações ambientais

Estágio do Escolha dos Uso de energia Resíduos sólidos Resíduos líquidos Resíduos gasosos
Ciclo de Vida materiais (1) (2) (3) (4) (5)

Extração de 1,1 1,2 1,3 1,4 1,5


materiais (1)

Manufatura do 2,1 2,2 2,3 2,4 2,5


produto (2)

Embalagem e 3,1 3,2 3,3 3,4 3,5


expedição (3)

4,1 4,2 4,3 4,4 4,5


Uso do produto (4)

Reciclagem e 5,1 5,2 5,3 5,4 5,5


disposição final (5)

Fonte: Graedel; Allemby, 1995. p. 129.

F i g u r a 7.9 M a t r i z ERPA - e x e m p l o de p r e o c u p a ç õ e s a m b i e n t a i s .

Preocupações ambientais

Estágio do Escolha dos Uso de energia Resíduos sólidos Resíduos líquidos Resíduos gasosos
ciclo de vida materiais (1) (2) (3) (4) (5)

Extração de 1,1 Use materiais 1,2 Extração de 1,3 Produção de 1,4 Drenagem de 1,5 Emissão de
materiais (1) virgens somente minérios escória mina S 0 2 na fundição

1 Uso de 2,2 Motores 2,3 Retalhos e 2,4 Substâncias 2,5 Uso de CFC
Manufatura do
materiais virgens ineficientes sucatas tóxicas
produto (2)
somente

3,1 Uso de tinta 3,2 Energia 3,3 Embalagem 3,4 Uso de tinta 3,5 Emissões de
Embalagem e de impressão combustão
de impressão perdida na de poliestireno
expedição (3) tóxica
tóxica distribuição

4,1 Dissipação 4,2 Energia 4,3 Sólidos 4,4 Líquidos 4,5 Emissões de
Uso do produto (4) consumidos consumidos combustão
de metais perdida no uso

5,1 Uso de 5,2 Energia 5,3 Sólidos não 5,4 Líquidos não 5,5 Emissão de
Reciclagem e recicláveis HCI na
materiais perdida na recicláveis
disposição final (5) incineração
orgânicos tóxicos reciclagem

Fonte: Graedel; Allemby, 1995, p. 130.


i.g F i g u r a 7.10 Matriz ERPA: resultados do inventário do p r o d u t o .

Preocupações ambientais

Estágio do Escolha dos Uso de energia Resíduos Resíduos Resíduos


Ciclo de Vida Total
materiais (1) (2) sólidos (3) líquidos (4) gasosos(5)

Extração de 1,1 1,2 1,3 1,4 1,5


materiais (1) 1 1 3 2 10
3

Manufatura do 2,1 2,2 2,3 2,4 2,5


2 2 1 6
produto(2) 0 1

Embalagem e 3,1 3,2 3,3 3,4 3,5


3 2 2 1 9
expedição (3) 1

4,1 4,2 4,3 4,4 4,5


Uso do produto (4) 9
2 4 1 1 1

Reciclagem e 5,1 5,2 5,3 5,4 5,5


2 1 7
disposição final (5) 2 1 1

Total 10 10 9 5 7 41

Fonte: Baseado em Graedel e Allemby, 1995, p. 130.

A atribuição de valores pode ser diferente da formulação original. Há quem prefira


usar uma escala inversa, na qual zero indica ausência de impacto ou impacto desprezí-
vel e 4, impacto severo 22 . Os valores podem variar dentro de uma escala menor ou
maior, por exemplo, de 1 a 3 ou de 1 a 10, dependendo do grau de detalhamento de-
sejado 23 . Pode-se ainda usar adjetivos como baixo, médio e alto para qualificar os im-
pactos. O método apresentado considera todos os valores com o mesmo peso, o que
nem sempre é satisfatório. Posteriormente, os seus autores incluíram pesos determina-
dos pelos membros da equipe por consenso entre eles. A atribuição de pesos também
pode ser feita por meio de métodos estruturados, como o Delphi e o Processo Analíti-
co Hierárquico.
O método Delphi procura captar e tratar as opiniões de especialistas em um deter-
minado assunto ou de uma gama de assuntos relacionados a um problema. Os especia-
listas selecionados não se comunicam entre si para não se influenciarem, por isso não
devem saber quais foram selecionados. Os resultados das opiniões coletadas por meio
de questionários são consolidados e devolvidos aos especialistas para que possam

HUR, T; LEE, ].; RYU, J. ; KWON, E., 2005. p. 231.


LILI, Y. ; SHAOJIE, Z.; GE, G „ dez. 2006. p. 61.
revisar suas opiniões ou confirmá-las. C o m o há diversas fases e esperas entre elas, o
método é demorado, pois depende do tempo de retorno das respostas dos especialis-
tas 24 . O Processo Analítico Hierárquico, conhecido pela sigla A H P (de Analytic Hierar-
chy Process), é um método para auxiliar a tomada de decisão com base em múltiplos
critérios sobre problemas complexos. O método desagrega um problema complexo por
meio de uma hierarquia de objetivos em níveis diferenciados, desde o principal aos
mais elementares. Todos os elementos da hierarquia são analisados visando atribuir a
importância relativa de cada um para a solução do problema 2 5 .

Outra alternativa é realizar uma reunião com um grupo de pessoas experientes n o


tema específico do estudo para discuti-lo sob a orientação de um moderador, à seme-
lhança de um grupo de foco usado com muita freqüência na área de marketing. A es-
colha dos participantes é a etapa crucial, considerando que o moderador tenha
experiência na condução do debate. O s grupos de foco de uma pesquisa de marketing
devem ser homogêneos para reproduzirem as características do mercado-alvo. O s pro-
fissionais selecionados para definir a relevância dos elementos da matriz de responsa-
bilidade ambiental devem ter conhecimentos relacionados com as preocupações
ambientais associadas aos estágios do ciclo cie vida, que são várias e diversificadas, o
que leva a formar grupos heterogêneos.

O Método MECO
A matriz E R P A pode ser ampliada para incluir mais estágios (ou segmentá-los em
atividades dos estágios) e outras preocupações ambientais, por exemplo, preocupação
com a fauna e flora, os trabalhadores, a comunidade, o uso de recursos não renováveis,
a disponibilidade de água e o aquecimento global. Ela inspirou outros modelos como
o M E C O (acróstico de Material, Energy, Chemicals, Others), desenvolvido pelo Instituto
Dinamarquês de Desenvolvimento de Produtos. A matriz M E C O é formada por qua-
tro categorias de impacto e cinco estágios do ciclo de vida, como mostra a Figura 7.11.
No método ERPA, o transporte é considerado um componente de cada estágio, o que
gera a necessidade de definir critérios para alocar os impactos do transporte entre es-
tágios; esse problema não ocorre com o M E C O , pois o transporte é considerado um
estágio do ciclo.
A matriz M E C O trabalha com quatro categorias de impacto. A categoria Material in-
clui todos os materiais necessários para produzir, usar, manter e reparar o produto. Energia

Método desenvolvido pela Rand Corporation na década de 1960.


Método desenvolvido por Thomaz L. Saaty na década de 1980. Veja referências ao final do capítulo.
,> F i g u r a 7.11 Matriz MECO.

Ciclo de vida do p r o d u t o

Extração de
Manufatura Uso Disposição Transporte
materiais

1. Materiais
a) quantidade
b) fonte

2. Energia
a) primária
b)fonte

3. Substâncias químicas
a) tipo 1
b) tipo 2
c) tipo 3

4. Outros

Fonte: HOCHSCHORNER; FINNVEDEN, 2003, p. 121.

envolve toda a que é usada nos estágios do ciclo de vida, subdividida em energia primária
e uso das reservas de combustíveis fósseis. Substâncias químicas são todas as utilizadas como
insumos produtivos e geradas no ciclo de vida do produto como poluentes ou subprodu-
tos, classificadas conforme o grau de periculosidade em substâncias muito problemáticas
(tipo 1); problemáticas (tipo 2) e pouco problemáticas (tipo 3). A categoria Outros inclui
todos os impactos ambientais que não se enquadram em nenhuma dessas três.

Para orientar o enquadramento das substâncias químicas identificadas nos estágios do


ciclo de vida na tipologia do método M E C O pode-se considerar os seguintes critérios:

Substâncias tipo 1: substâncias controladas ou proibidas pelo Poder Público 2 6 ;


as constantes nas listagens de produtos perigosos da O N U e de outras institui-
ções especializadas no assunto; as consideradas mutagênicas e carcinogênicas;
os gases de efeito estufa mencionados na Convenção do Clima e no Protocolo
de Kyoto, as substâncias que destroem a camada de ozônio, mencionadas n o
Protocolo de Montreal 2 7 . Enquadram-se, nesse tipo, as substâncias que confe-
rem periculosidade aos resíduos e os resíduos sólidos da classe I, elencados na
norma N B R 1 4 0 0 4 : 2 0 0 4 2 8 .

26
Veja, por exemplo, a lista de produtos perigosos da Portaria n. 101 do Inmetro de 09/04/2009.
27
Veja essas substâncias no Capítulo 2 desse livro.
28
Sobre resíduos sólidos e essa norma, veja Capítulo 4.
<-» Substâncias tipo 2: substâncias menos problemáticas que as do tipo 1 e mais do
que as do tipo 3. Podem incluir as inflamáveis, corrosivas, alérgicas e as de
baixa toxicidade para os humanos e outros seres vivos. O s resíduos sólidos da
classe II B — não inertes, conforme a N B R 1 4 0 0 4 : 2 0 0 4 .

i-* Substâncias tipo 3: produtos, emissões e resíduos inertes ou não tóxicos para
qualquer ser vivo; substâncias que, embora tenham características de periculo-
sidade, são encontradas em quantidades tão pequenas que não causam proble-
mas. O s resíduos sólidos da classe II B — inertes, conforme a N B R 1 4 0 0 4 : 2 0 0 4 .

Essa matriz também comporta variações para atender objetivos específicos de uma
ACV. Pode-se acrescentar outras linhas na matriz para incluir outros tipos de impactos
ambientais, c o m o exemplifica a Figura 7-12. A possibilidade de introduzir variações
decididas caso a caso é uma das vantagens dos métodos baseados em matrizes. No en-
tanto, essa flexibilidade, somada à simplificação do ciclo de vida, faz com que este
método não seja indicado para realizar estudos com vistas a declarações ambientais
sobre produtos e serviços.

O s métodos simplificados apresentam vantagens em comparação aos completos e


detalhados como recomendam as normas I S O comentadas, por exemplo: requerem me-
nos tempo e esforços, e consequentemente, custam menos; podem ser realizados pelo
pessoal da própria empresa; são apropriados para os estágios iniciais dos projetos de ino-
vação de produtos e processos, quando oportunidades para mudanças são maiores, mas
as informações quantitativas são escassas. Desse modo, podem ser utilizados rotineira-
mente e aplicados a uma grande variedade de produtos e atividades industriais. Porém,
apresentam desvantagens ou limitações, entre elas, pouca ou nenhuma capacidade para
acompanhar o fluxo global de materiais de acordo com a perspectiva do berço ao túmulo,

€s F i g u r a 7.12 E x e m p l o de Matriz para elaboração de ACV simplificada.

Material Manufatura Uso Transporte Disposição Total

Recursos materiais

Uso de energia

Aquecimento global

Saúde humana

Biosfera

Total

Fonte: Ashby, 2009, p. 49.


bem como as melhorias ao longo do tempo de forma confiável, no sentido de determinar
se um produto é ambientalmente superior ao seu antecessor 29 . Essas limitações decorrem
da atenção sobre poucos aspectos ambientais considerados relevantes para o estudo, des-
considerando os demais.

A A C V simplificada não é substituta ou sucessora da A C V baseada nas normas


I S O . Ambas são importantes instrumentos de gestão ambiental, cada qual com seu
campo específico de aplicação. A A C V simplificada permite que um número maior cie
empresas possa usar esse instrumento de gestão ambiental e usar com mais freqüência.
É acessível às empresas de pequeno e médio porte. Pode se tornar uma etapa permanen-
te dos processos de inovação de produtos e processos, contribuindo para incorporar
melhores soluções do ponto de vista ambiental na fase de projeto, quando mudanças
são mais fáceis de serem realizadas e custam menos. Porém, não deve ser usada para
fazer comparações com produtos dos concorrentes para efeito de comunicação ao pú-
blico. Sob este aspecto as recomendações das normas I S O comentadas nesse capítulo
são válidas e devem ser seguidas. Seu uso é preferencialmente interno, endereçado aos
desenvolvedores de produtos e gestores envolvidos nos processos de inovação de produ-
to e processo e na gestão do ciclo de vida. A A C V baseada nas normas I S O é apropriada
a estudos de maior envergadura e que requerem maior segurança e confiabilidade quan-
to aos resultados obtidos, como nos estudos para comparar produtos semelhantes com
vistas a divulgar os resultados, ou para elaborar declarações ambientais e conceder licen-
ça para uso cie rótulos ambientais baseados em programas de terceira parte, assuntos
que serão tratados n o próximo capítulo.

Termos e conceitos importantes

Abordagem do berço ao túmulo r* Inventário do ciclo de vida


^ Avaliação do ciclo de vida <-• Mecanismo ambiental
^ Cadeia de suprimento ~ Métodos baseados em matrizes
** Categoria de impacto ~ Normas ISO sobre ACV
~ Ciclo de vida do produto r* Princípios da ACV
~ Fases da ACV - 6 Rs
** Fronteira do sistema Sistema de produto
** Gestão do ciclo de vida <-• Unidade funcional

29
G R A E D E L , T.E., 1998. p. 97.
Questões para revisão

1. Apresente exemplos de práticas administrativas e operacionais baseadas na filosofia de


gestão do ciclo de vida conhecidas por 6Rs.

2. Escolha 3 ou 4 produtos de uso corrente no ambiente onde você mora, estuda ou


trabalha e procure identificar os estágios do ciclo de vida de cada um deles, do berço
ao túmulo. Depois, procure identificar as principais questões ambientais de cada
estágio.

3. Visite o site da iniciativa voluntária criada pelo PNUMA e SETAC para difundir a idéia de
gestão do ciclo de vida (http://initiative.unep), veja quem apoia essa iniciativa e como se
faz para participar dela.

4. Diversas entidades e pesquisadores criaram instrumentos de gestão ambiental que hoje são
considerados precursores da ACV. Comente sobre os que foram mencionados neste capítulo.

5. Acesse o site das organizações que promovem a ACV, como SETAC (www.setac.org),
PNUMA (www.unep.org) e CETEA (www.cetea.ital.org.br) e veja os documentos que
produziram e o que eles têm feito a respeito do tema recentemente.

6. Quais as razões que levaram a International Organization for Standardization (ISO) a criar
normas sobre ACV?

7. Veja no site do TC 2007 da ISO (www.tc207.org) o programa de atividade do Subcomitê


05, responsável pela elaboração de normas sobre a ACV. Veja as organizações envolvidas
com esse Subcomitê e as normas publicadas.

8. Quais são as fases da ACV de acordo com as normas ISO 14040 e 14044? Por que é tão
importante a definição do objetivo e do escopo de um estudo de ACV?

9. Além das aplicações diretas de um estudo de ACV mencionadas neste capítulo, o que
mais pode ser acrescentado?

10. Para a maioria das empresas, um estudo de ACV completo conforme os princípios, reco-
mendações e requisitos das normas ISO 14000 é praticamente impossível. Você concor-
da ou discorda desta afirmação? Justifique sua resposta.

11. A figura a seguir apresenta os resultados do inventário de impactos ambientais de dois


produtos: os resultados do produto A situam-se na parte superior esquerda da célula e os
de produto B, na parte inferior direita. Foi usado o mesmo esquema de atribuição de valor
indicado neste capítulo. Analise esses resultados, indicando qual deles é melhor do pon-
to de vista ambiental e quais etapas do ciclo e quais preocupações ambientais são mais
significativas para cada um desses produtos.
Preocupações ambientais

Estágio do Escolha dos


Uso de energia Resíduos sólidos Resíduos líquidos Resíduos gasosos
cicto de vida materiais

Extração de 4 ^ ^ 4 ^ ^ 2 ^ ^ 3 ^ ^
materiais ^ ^ 3 ^ ^ 3 ^ ^ 2 ^ ^ 2

Manufatura do 2 ^ ^
produto ^ ^ 4

Embalagem e 3 ^ ^ 2 ^ ^
expedição ^ ^ 2 ^ ^ 3

Uso do produto

Reciclagem e 2 ^ ^
disposição final ^ ^ 2

12. Escolha um dos produtos da Questão 2 cujo ciclo de vida você identificou. Preencha uma
matriz com o inventário de preocupações ambientais relacionadas com redução das
emissões de gases de efeito estufa.

Referências

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A S S O C I A Ç Ã O BRASILEIRA DE NORMAS T É C N I C A S (ABNT). NBR ISO 14044:2009. Gestão ambiental -


Avaliação do ciclo de vida - requisitos e orientações. Rio de Janeiro: ABNT, 2009.

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ambiental: requisitos com orientação para uso. Rio de Janeiro: ABNT, 2004.

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658, jul. 1980.
COMUNICAÇÃO E RELATÓRIOS AMBIENTAIS

Denominam-se relatórios ambientais as comunicações veiculadas por qualquer


meio, impresso ou eletrônico, para divulgar os aspectos ambientais da organização,
seus impactos e o que ela faz, e pretende fazer, em relação a eles. N o Quadro 8.1 encon-
tra-se um resumo esquemático das principais questões a respeito dos relatórios am-
bientais como instrumentos específicos de gestão ambiental. A primeira delas refere-se
à origem da demanda desses relatórios, isto é, se eles decorrem de obrigações legais às
quais as empresas estão sujeitas ou de atos voluntários. Entre os exemplos do primeiro
caso estão os relatórios das auditorias ambientais obrigatórias, como as estabelecidas
pela Lei 9 . 9 6 6 / 2 0 0 0 , comentada no Capítulo 6'. As leis estaduais que estabeleceram
a auditoria obrigatória determinam que todos os documentos das auditorias ambien-
tais sejam acessíveis à consulta pública.
A Constituição Federal estabelece que todos têm o direito de receber dos órgãos
públicos informações de seu interesse particular ou de interesse coletivo 2 . A publicida-
de dos atos, programas, obras, serviços e campanhas é um dos princípios da adminis-
tração pública direta e indireta de qualquer esfera e ente público 3 . U m dos instrumentos
de política pública ambiental instituídos pela Lei 6 . 9 3 8 de 1981, como mostrado no
segundo capítulo, é a garantia da prestação de informações relativas ao meio ambiente
por parte das entidades do Poder Público, cabendo a estes produzir tais informações

BRASIL. Lei 9.966 de 28 de abril de 2000. Dispõe sobre a prevenção, o controle e a fiscali-
zação da poluição causada por lançamento de óleo ou outras substâncias nocivas ou peri-
gosas em águas sob jurisdição nacional e dá outras providências. Brasília: DOU de
29/04/2000.
BRASIL, Constituição Federal de 1988, Art. 5a, inciso XXXIII.
BRASIL, art. 37, inciso XXI e § I a .
»*? Q u a d r o 8.1 Relatórios ambientais - Resumo.

obrigação legal
Origem da demanda J
ato voluntário

grupos de usuários específicos


Destinatários J
usuários indiferenciados, público e m geral
Comunicação e
relatórios ambientais r-
exclusivamente ambientais
Questões relatadas <
ambientais, sociais, econômicas e outras

próprio
Modelos de relatórios <
padronizado

caso sejam inexistentes 4 . Todos os órgãos pertencentes ao S I S N A M A (Quadro 3.5) fi-


cam obrigados a permitir o acesso público aos documentos, expedientes e processos
administrativos que tratem de matéria ambiental e a fornecer todas as informações
ambientais que estejam sob sua guarda, especialmente sobre:

— qualidade do meio ambiente;


políticas, planos e programas potencialmente causadores de impacto ambiental;
resultados de monitoramento e auditoria nos sistemas de controle de poluição
e de atividades potencialmente poluidoras, bem como de planos e ações de
recuperação de áreas degradadas;
Í-» acidentes, situações de risco ou de emergência ambientais;
~ emissões de efluentes líquidos e gasosos, e produção de resíduos sólidos;
<-• substâncias tóxicas e perigosas;
f* diversidade biológica;
^ organismos geneticamente modificados 5 .

4 BRASIL, Lei 6.938 de 31 de agosto de 1981. Dispõe sobre a Política Nacional do Meio Am-
biente, seus fins e mecanismos de formulação e aplicação e dá outras providências. Brasília:
D O U de 02/09/1981, art. 9Q, inciso IX.
5 BRASIL. Lei 10.650, de 16 de abril de 2003. Dispõe sobre o acesso público aos dados e in-
formações existentes nos órgãos e entidades integrantes do Sisnama. Brasília: DOU de
17/4/2003, art 2".
Outros relatórios ambientais resultam de atos voluntários determinados por uma
postura proativa da empresa em relação ao meio ambiente, constituindo-se, desse modo,
em instrumentos de prestação de contas dos acordos voluntários privados, unilateral ou
bilateral, conforme tratado no Capítulo 3. Exemplos: a divulgação de informações cons-
ta do 16u Princípio da Carta da Câmara de Comércio Internacional (Anexo 4) e do IO2
Princípio Ceres (Quadro 3.4). No Capítulo 30 da Agenda 21, que trata do papel do
comércio e da indústria para a promoção do desenvolvimento sustentável, considera-se
que as empresas, inclusive as transnacionais, devem ser estimuladas a informar anual-
mente seus resultados ambientais, bem como o uso de energia e recursos naturais 6 . A
norma I S O 1 4 0 0 1 : 2 0 0 4 sobre sistema de gestão ambiental estabelece que a organização
deve decidir a respeito da comunicação externa sobre seus aspectos ambientais signifi-
cativos e documentar essa decisão como um dos documentos do S G A . O u seja, para
cumprir o requisito da comunicação externa de caráter voluntário, a norma apenas
exige que a organização considere essa possibilidade e documente a sua decisão. Porém,
a organização deve implementar e manter procedimentos para responder formalmente
as informações solicitadas de partes interessadas externas sobre assuntos relacionados a
seus aspectos ambientais e a condução da sua gestão ambiental 7 .

Os relatórios ambientais tratados a seguir decorrem de compromissos assumidos vo-


luntariamente, ou seja, são comunicações sobre as condições e o desempenho ambiental
da empresa sem demandas legais explícitas. Os relatórios de auditoria, espécies de relató-
rios ambientais, não serão aqtii considerados, pois são peças resultantes de outros instru-
mentos específicos, as auditorias ambientais, conforme mostrado no Capítulo 6.

P A R A QUEM DIVULGAR?

A divulgação voluntária do desempenho ambiental de uma empresa depende de


como seus dirigentes entendem por responsabilidade social empresarial. Quando se
entende que a responsabilidade social da empresa se resume a gerar lucros dentro da lei,
como defendido por Milton Friedman 8 , os relatórios ambientais destinam-se basica-
mente aos acionistas ou proprietários e objetivam dar a estes informações relativas às
questões ambientais que podem afetar positiva ou negativamente os resultados da em-
presa no presente e em diferentes períodos futuros. Essa concepção de responsabilidade
social baseada no atendimento exclusivo dos interesses dos proprietários ou acionistas

6 CNUMAD, Agenda 21, Capitulo 30, 1992, seção 30.10.


7 ABNT. NBR ISO 14001 -.2004, 2004.
8 FRIEDMAN, ML, 1982.
da empresa, embora ainda amplamente praticada, é incompatível com as expectativas
da sociedade de um modo geral e injustificada perante os graves problemas sociais,
ambientais e econômicos do planeta 9 .
A responsabilidade social empresarial deve-se ao fato de que a sociedade tem
certas expectativas quanto ao c o m p o r t a m e n t o empresarial e aos resultados de suas
atividades. Essas expectativas recaem sobre (1) os negócios pelo papel que eles de-
s e m p e n h a m e n q u a n t o instituições econômicas, (2) as empresas pelo que são e fa-
zem e (3) os administradores c o m o agentes morais das empresas. Desses três níveis
de expectativas da sociedade decorrem os princípios de responsabilidade social em-
presarial, a saber: princípio da legitimidade, da responsabilidade pública e da dis-
crição ou do discernimento dos administradores, c o m o mostra de m o d o resumido
o Quadro 8.2.

Q u a d r o 8.2 Princípios de responsabilidade social empresarial.

Princípios

Arbítrio ou discricionariedade
Legitimidade Responsabilidade pública
administrativa

Enunciado A sociedade concede legitimida- As empresas são responsáveis Administradores são atores morais.
de e poder às empresas. Aquela pelos resultados relacionados Em qualquer domínio da responsa-
que não usar esse poder de um com as áreas primárias e secun- bilidade social empresarial, eles
modo considerado responsável dárias de envolvimento com a são obrigados a exercer com discer-
pela sociedade tende a perdê-lo. sociedade. nimento as atividades que forem
exeqüíveis para alcançar resulta-
dos socialmente responsáveis.

Nível de Nível institucional. Baseado em Nível organizacional. Baseado Nível individual. Os administra-
aplicação obrigações genéricas das em- nas circunstâncias específicas dores enquanto atores morais
presas enquanto organizações da empresa e em seu relaciona- dentro das organizações.
de negócio. mento com o ambiente.

Foco Obrigações e sanções. Parâmetros de comportamento Escolhas, oportunidades e res-


organizacional. ponsabilidades pessoais.

Valor Define o relacionamento entre o Limita as responsabilidades da Define as responsabilidades dos


negócio e a sociedade e especi- empresa aos problemas relacio- administradores para serem ato-
fica o que se espera de qualquer nados com suas atividades e in- res morais e para perceberem e
negócio. teresses. praticarem escolhas a serviço da
responsabilidade social.

Fonte: Elaborado a partir de W 0 0 D , 1991. p. 696.

9 Sobre esse assunto, veja BARBIERI; CAJAZEIRA, 2009, Capítulo 1.


O princípio da legitimidade estabelece que a sociedade concede legitimidade e po-
der às empresas desde que usados de modo responsável. O princípio da responsabilidade
pública refere-se ao fato de que as empresas são responsáveis pelos resultados relaciona-
dos com as áreas primárias e secundárias de envolvimento com a sociedade. O terceiro
princípio define as responsabilidades dos administradores para serem atores morais e
para perceberem e praticarem escolhas a serviço da responsabilidade social. Este último
princípio estabelece que os administradores devem exercer com discernimento as ativi-
dades que forem exeqüíveis em qualquer domínio da responsabilidade social empresarial
para alcançar resultados socialmente responsáveis10. Entre as expectativas da sociedade
quanto ao comportamento das empresas e aos resultados das suas atividades estão as
concernentes às soluções para os problemas ambientais que já alcançaram dimensões
gigantescas as quais comprometem o próprio futuro da humanidade.

Responsabilidade implica uma obrigação com alguém ou algo. N o campo da mo-


ral, entendida como a conduta de indivíduos e grupos orientada por normas, princí-
pios e valores, a responsabilidade é a capacidade de assumir compromissos e decidir
sobre questões que afetam outras pessoas e assumir as conseqüências dessas decisões 11 .
Inscreve-se, portanto, em um ambiente de liberdade para decidir e de conhecimento
sobre os efeitos da decisão. U m dos elementos do ato moral é a consciência de um fim
e a decisão cie realizá-la12. S ó tem responsabilidade quem tem liberdade para decidir
sobre questões que afetam positiva ou negativamente indivíduos, grupos, países e o
meio ambiente. A liberdade é um elemento essencial da responsabilidade para o qual
muitas tintas foram gastas e muitas ainda serão, a começar pelo seu próprio entendi-
mento, podendo significar a possibilidade de decidir entre possíveis alternativas con-
formadas por uma dada situação. Assim, a responsabilidade social empresarial também
decorre da liberdade entendida como possibilidade de decidir livremente sobre ações
que afetam outras pessoas e seres.

Excetuando os casos no qual a empresa é obrigada por lei a divulgar o seu desem-
penho ambiental, como os citados anteriormente, há um amplo espectro de questões
cuja divulgação depende de decisão da alta administração. A comunicação externa
voluntária representa uma prestação de contas à sociedade com respeito às atividades
da empresa. A ampliação da divulgação para outros atores sociais, e não apenas os
acionistas ou proprietários, faz parte de uma nova concepção de responsabilidade so-
cial empresarial.

10 WOOD, D.J., 1991.


11 BUCHHOLZ, R. A. ; ROSENTHAL, S. B., 1999. p. 369.
12 VÁSQUES, A. S„ 1999, p. 77.
A responsabilidade social empresarial é um conceito fundamentalmente ético e
que pressupõe um novo modo de pensar o bem-estar h u m a n o e um compromisso com
a melhoria da qualidade de vida 13 . Porém, não se tem efetivamente um novo pensar
sobre o bem-estar e a qualidade de vida humana sem levar em conta as condições de
vida proporcionadas pelo meio ambiente físico, biológico e social. A inclusão de preo-
cupações com o meio ambiente é que de fato conduz a um novo entendimento sobre
responsabilidade social. Para a Comissão da Comunidade Européia, a responsabilida-
de social empresarial é um conceito por meio do qual as empresas integram preocupa-
ções sociais e ambientais às operações dos seus negócios e nas interações com outras
partes interessadas 14 . Essa inclusão torna a responsabilidade social um meio para alcan-
çar os objetivos do desenvolvimento sustentável. Espera-se, portanto, que as empresas
apresentem resultados positivos em termos econômicos, sociais e ambientais, o que
significa que elas devem não só gerar renda e ricjueza, o objetivo primário para o qual
foram criadas, mas serem capazes de minimizar seus impactos ambientais adversos,
maximizar os benéficos e contribuir para tornar a sociedade mais justa.

C o m efeito, a norma brasileira N B R 1 6 0 0 1 : 2 0 0 4 define responsabilidade social


como urna relação ética e transparente da organização com todas as suas partes interes-
sadas, visando o desenvolvimento sustentável 15 . Segundo a I S O , a maioria dos enten-
dimentos atuais sobre responsabilidade social da organização considera os aspectos e
impactos econômicos, ambientais e sociais das suas atividades, o que leva à associação
com o conceito de desenvolvimento sustentável 16 . A norma N B R I S O 2 6 0 0 0 de res-
ponsabilidade social considera as questões ambientais como tema central do conceito
e da prática de responsabilidade social, juntamente com direitos humanos, práticas de
trabalho, práticas leais de operação, governança organizacional, desenvolvimento so-
cial e questões relativas aos consumidores 17 .

Esse modo de entender a responsabilidade social exige que a administração leve


em conta outras partes interessadas além dos acionistas ou proprietários. E impõe, de
início, uma dificuldade de ordem prática, qual seja, saber identificar o usuário da in-
formação diante da pluralidade de interesses em escala planetária e de percepções in-
fluenciadas por diferentes culturas, bem como das incertezas que acompanham as
ações empresariais, principalmente quanto às tecnologias de produtos e de processos
de produção.

13 BUCHHOLZ; ROSENTHAL, 1999, p. 367.


14 COMMISSION OF THE EUROPEAN COMMUNITIES, 2002, p. 5.
15 ABNT, NBR 16001:2004, definição 2.13.
16 ISO, 2004.
17 ABNT, NBR ISO 26000, 2010.
Identificação dos usuários
Identificar os diferentes atores sociais com interesse no desempenho ambiental da
empresa é uma questão importante a ser resolvida para a elaboração de relatórios am-
bientais voluntários. Qualquer indivíduo ou grupo interessado ou afetado pelo desem-
penho ambiental da empresa é uma parte interessada 18 . São pessoas ou grupos que têm
ou reivindicam propriedades, direitos ou interesses em uma empresa e nas suas ativi-
dades presentes, passadas e futuras. Partes interessadas (stakeholders) com os mesmos
interesses, direitos e reivindicações podem ser classificadas em um mesmo grupo, por
exemplo, empregados, acionistas, clientes e concorrentes. Esses grupos podem ser de
dois tipos: os grupos primários, cuja participação continuada é vital para a sobrevivên-
cia da empresa; e os secundários, que influenciam ou afetam a empresa, bem como os
que são influenciados ou afetados por ela, mas que não estão engajados em transações
com a empresa e não são essenciais para a sua sobrevivência. Investidores, clientes,
funcionários e fornecedores são exemplos de grupos primários; os meios cie comunica-
ção e uma grande variedade de organizações que têm capacidade de mobilizar a opi-
nião pública contra ou a favor da empresa são exemplos de grupos secundários. É o
caso das organizações ambientalistas, pois elas mobilizam a sociedade e os órgãos do
governo e constituem uma importante fonte de conscientização das populações em
relação aos problemas ambientais 19 .

A prática de uma responsabilidade social empresarial ampliada exige uma nova


postura em matéria de comunicação com os diferentes grupos de stakeholders. De acor-
do com o Gemi, que desenvolveu e popularizou o conceito de T Q E M (veja Capítulo 4),
são os seguintes os grupos-chave que a empresa deve considerar para efeito de comuni-
cação externa: empregados, acionistas, instituições financeiras, clientes e consumido-
res, comunidade local, grupos ambientalistas e de cidadãos, meios de comunicação,
público em geral e agências reguladoras 20 . Se a empresa adota o modelo de gestão am-
biental do T Q E M , esses grupos devem ser necessariamente considerados para efeito de
relatórios ambientais, embora outros também possam ser contemplados para atender
as especificidades da empresa.
O s relatórios ambientais inicialmente objetivavam demonstrar o comprometimen-
to da empresa em relação às questões ambientais, mas o debate atual sobre esse assunto
ampliou a gama de objetivos, de modo que eles podem variar de uma simples

18 ABNT 2004, norma NBR ISO 14001:2004, definição 3.13; ou NBR ISO 14031:2004, de-
finição 2.13.
19 CLARKSON, M. B. E., 1995.
20 GEMI., 1994. p. 15.
declaração pública até uma análise em profundidade do desempenho ambiental da
empresa 21 . Qualquer relatório ambiental, independentemente de seu objetivo ou do
público a que se destina, deve apresentar quatro atributos: ser um documento relevan-
te, confiável, compreensivo e comparável. Para produzir um documento claro e efetivo
para comunicação externa, deve-se:

a) identificar quais são os stakeholders da empresa;


b) verificar quais deles necessitam de um relatório ambiental;
c) compreender por que eles necessitam de um relatório ambiental; e
d) como essa necessidade pode contribuir para a empresa 22 .

Para elaborar os relatórios pode-se valer de uma abordagem que se inicia com iden-
tificação dos stakeholders para elaborar uma lista de diferentes grupos usuários (target
group) de relatórios ambientais. Essa lista pode ser refinada, pois nem todos os stakehol-
ders são usuários de relatórios ambientais, como os consumidores, o público em geral
e os meios de comunicação. Embora sejam grupos de stakeholders identificados, eles
não fariam parte da lista por não ser prático atendê-los com relatórios ambientais ou
porque eles não expressaram necessidades específicas que justifiquem o recebimento
de informações regulares e consistentes sobre o desempenho ambiental da empresa.
O s consumidores, nesse caso, por estarem dispersos, tornam inviável a elaboração e
distribuição de um relatório específico 23 . O mesmo raciocínio não vale quando os
consumidores são empresas. Mesmo os consumidores finais, pessoas físicas, poderiam
receber algum tipo de informação gravada no produto, na embalagem ou nos docu-
mentos que o acompanha, como bulas, manuais e certificados de garantias.
A norma I S O 14031:2004, que traz diretrizes sobre avaliação de desempenho am-
biental, explica que diferentes partes interessadas apresentam diferenças consideráveis
em suas relações com a organização, suas contribuições potenciais para o planejamento
e como elas expressam ou comunicam seus interesses. C o m o exemplos de partes interes-
sadas em uma organização genericamente considerada, esta norma cita as seguintes:

~ representantes da administração;
empregados;
~ investidores atuais e potenciais;

21 AZZONE G. BROPHY, M. ; NOCI, G. ; WELFORD, R ; YOUNG, W„ 1997, p. 699.


22 Ibid., p. 700.
23 Ibid., p. 701.
prestadores de serviço;
<-» instituições financeiras e seguradoras;
~ entidades legislativas e regulamentadoras;
comunidades regionais e circunvizinhança;
f* meios de comunicação;

r+ instituições de negócio, administrativas, acadêmicas e de pesquisa;


* grupos ambientalistas, de defesa do consumidor e outras O N G s ;
público em geral 24 .

Para identificar a visão das partes interessadas e suas necessidades de comunicação,


a referida norma cita, entre outros, os seguintes métodos: pesquisas e questionários; su-
gestões de empregados; reuniões e seminários; audiências públicas; pesquisas de merca-
do; rastreamento das regulamentações e suas tendências; diretrizes e normas voluntárias;
comunicação direta com vizinhos, clientes, fornecedores e órgãos públicos e informações
da mídia. Para efeito de seleção e uso desses métodos, a norma recomenda que a organi-
zação considere as circunstâncias e características das suas partes interessadas 25 .

Quaisquer que sejam os métodos adotados, a comunicação ambiental deve resultar


de um diálogo constante da empresa com as suas partes interessadas. Porém, há certos
grupos que ainda não existem, como as gerações futuras, mas que são partes interessa-
das fundamentais, como se depreende do conceito de desenvolvimento sustentável
mencionado no Capítulo 2. Há grupos que dependem de outros para se fazerem ouvir,
como os povos indígenas e as crianças. O diálogo com os consumidores também não é
tarefa fácil, seja por se encontrarem dispersos em vastos territórios, seja pela dificuldade
que têm para avaliar os impactos ambientais dos produtores e comerciantes dos produ-
tos e serviços que adquirem. Por isso, o diálogo deve incluir os que falam em n o m e dos
que não possuem vozes, como os agentes públicos, as organizações ambientalistas, e de
ajuda humanitária, e as entidades de defesa do consumidor.

O QUE DIVULGAR?

Decidir o que divulgar para cada grupo de stakeholders identificado como usuário
de relatórios ambientais é outra questão importante a ser considerada pelos dirigentes
da organização. Divulgar informações ambientais relacionadas com a empresa não é

24 ABNT. NBR ISO 14031., 2004. Anexo A, seção A.2.1.


" ABNT. NBR ISO 14.031, 2004, Anexo A, seção A.2.2.
algo fácil, tanto pela complexidade das questões envolvidas, quanto pela necessidade
de dar informações que atendam as exigências ou interesses de usuários específicos,
c o m o mostrado há pouco.

A elaboração de relatórios para grupos de usuários específicos deve levar em conta


objetivos, conteúdos e formatos específicos, como os exemplos apresentados n o Qua-
dro 8.3. Por exemplo, os empregados desejam conhecer as conseqüências ambientais
das operações cia empresa sobre o ambiente interno de trabalho, enquanto as O N G s
ambientalistas, os esforços da empresa com respeito ao conceito de sustentabilidade e
a capacidade cie suporte da Terra. O s objetivos a serem alcançados pela empresa tam-
bém diferem conforme o usuário do relatório. Em relação aos empregados, os relató-
rios objetivam ampliar a comunicação e criar um clima favorável à implementação da
política ambiental; em relação às O N G s , objetivam demonstrar responsabilidade so-
cial e a contribuição da empresa para reduzir os problemas ambientais. As informações
relevantes para os empregados podem referir-se à sua participação nas decisões, aos
programas de educação e treinamento, à conformidade com as normas legais de saúde
e segurança, e à avaliação dos riscos; as O N G s estariam interessadas em informações
que mostrem em detalhes as tendências do desempenho ambiental da empresa e ques-
tões relativas ao ciclo de vida dos produtos 26 .

Outros usuários podem ser acrescentados, como os clientes, fornecedores e agen-


tes públicos. Nesse esquema proposto, o importante é definir para cada usuário iden-
tificado quais os objetivos do relatório e quais as informações que eles devem trazer. As
informações devem ser verificáveis, compreensíveis e apresentadas com a formatação
adequada aos usuários. Por exemplo, os empregados estão interessados em conhecer
cie modo detalhado os programas de formação e treinamento, os acionistas e a comu-
nidade financeira podem estar interessados apenas em dados agregados sobre a quan-
tidade de pessoas atendidas por esse programa e o montante de recursos aplicados.

Caso a organização pretenda relatar seu desempenho ambiental para um público


indiferenciado, ela deve elaborar uma lista de questões ambientais que serão tratadas
de uma única forma. O Sistema Comunitário de Ecogestão e Auditoria (Emas), em
relação à comunicação externa, estabelece que a organização deve disponibilizar ao
público e partes interessadas, no mínimo, os seguintes elementos:

a) descrição clara e inequívoca da organização e um resumo de suas atividades,


seus produtos e serviços, bem como das relações com outras organizações, caso
existam;

26 AZZONE et ai, 1997, p. 701-705.


Q u a d r o 8.3 O b j e t i v o s e c o n t e ú d o s dos relatórios para usuários s e l e c i o n a d o s .

Usuário Objetivos do usuário Objetivos da empresa Conteúdo

Academia Monitorar tendências, esta- Demonstrar voluntariamente <-» Política ambiental atual e futura.
belecer e publicar as melho- uma disposição de ser trans- ** Normas da empresa.
res práticas. parente nas suas decisões ~ Detalhes do SGA.
relativas ao meio ambiente.
<-» Desempenho relativo aos objetivos
e metas específicos definidos pela
empresa.

Empregados Conhecer as conseqüências Ampliar a comunicação <-» Participação nas decisões.


ambientais das operações da entre os empregados e a 1-* Educação e programas de trei namento.
empresa. administração.
>"• Responsabilidade e conformidade
Criar clima interno favorá-
com os regulamentos.
vel à participação de todos
nos programas e projetos r+ Avaliação dos riscos.
ambientais.

ONGs Saber dos esforços da em- Demonstrar responsabilida- Demonstração do cumprimento da


presa relacionados com o de social informando como a legislação ambiental.
conceito de sustentabilidade empresa está contribuindo f* Detalhes das tendências de desem-
e capacidade de suporte da para reduzir os problemas penho ambiental.
Terra. ambientais globais.
Informações sobre o ciclo de vida
dos produtos.

Comunidade Saber a posição da empresa Demonstrar segurança quan- Í-» Demonstração do cumprimento da
financeira e quanto à legislação e conhe- to aos riscos que podem ele- legislação ambiental.
acionistas cer os padrões ambientais var os passivos da empresa e Custos relacionados com as ativi-
atuais e iminentes que afetam prejudicar a realização de lu- dades ambientais.
os resultados da empresa. cros futuros.
Considerações sobre as metodolo-
gias de avaliação.
Passivos ambientais, contingências
e litígios.
Investimentos futuros.

Fonte: Elaborado a partir de A Z Z O N E e t a l , 1997.

b) a política ambiental e uma descrição sumária do seu SGA;


c) uma descrição de todos os aspectos ambientais diretos e indiretos que resul-
tam em impactos significativos e uma explicação da relação entre a natureza
desses impactos e aqueles aspectos;
d) uma descrição dos objetivos e metas ambientais relacionados com seus impac-
tos ambientais significativos;
e) um resumo dos dados disponíveis sobre o comportamento da organização re-
lativo aos seus objetivos e metas, incluindo dados sobre as emissões de
poluentes, produção de resíduos, consumo de materiais, energia e água, nível
de ruído, entre outros, de modo que permita fazer comparações anuais e acom-
panhar a evolução do comportamento ambiental da organização;
f) outros fatores relacionados com esse comportamento, inclusive perante a legis-
lação relacionada com os impactos significativos;
g) o n o m e e o número da certificação do verificador ambiental e a data de
validade 27 .

Esses elementos mínimos do Emas são exemplos a serem considerados em um re-


latório externo enxuto para as organizações que pretendem efetuar comunicações vo-
luntárias para o público geral. A comunicação externa é um requisito facultativo do
S G A , conforme a norma I S O 1 4 0 0 1 : 2 0 0 4 . O u seja, a organização decide se pretende
comunicar e para quem. Esta norma não estabelece o conteúdo m í n i m o a ser comuni-
cado, c o m o faz o Emas. Porém, a norma I S O 1 4 0 0 4 : 2 0 0 5 , a título de ajuda prática,
apresenta a seguinte relação de itens que podem ser incluídos na comunicação interna
e externa:

a) informações gerais sobre a organização;


b) declaração da administração;
c) política, objetivos e metas ambientais;
d) processos de gestão ambiental, incluindo o envolvimento dos empregados e
das partes interessadas;

e) compromisso da organização com a melhoria contínua;


f) informações sobre os aspectos ambientais dos produtos e serviços fornecidos;
g) informações sobre o desempenho ambiental da organização, incluindo ten-
dências, tais como redução de resíduos e gerenciamento de produtos;
h) conformidade com os requisitos legais e outros subscritos, bem como as ações cor-
retivas e preventivas em respostas aos casos de não cumprimento identificados;

i) informações suplementares, tais como glossários;


j) informações financeiras, tais como reduções de custo e investimentos em pro-
jetos ambientais;

k) estratégias potenciais para aprimorar o desempenho ambiental;

27 CONSELHOS DAS COMUNIDADES EUROPEIAS. Regulamento n. 761 de 19 mar.


2001 , que institui a participaçao voluntária das empresas industriais em um sistema comu-
nitário de ecogestão e auditorias (revoga o Regulamento n. 1.836/1993). Jornal Oficial das
Comunidades Européias, n. L.114, p. 1-29, 24 abr. 2001.
I) informações sobre acidentes ambientais;
m ) fontes de informações adicionais, tais como pessoas para contato ou website 28 .

Há outras listas de questões ambientais que a empresa pode usar para selecionar
aqueles que pretende comunicar para um público indiferenciado. Entre elas estão as
listas de modelos de relatórios padronizados, comentados a seguir.

C O M O DIVULGAR?

A empresa pode optar por modelos de relatórios próprios ou adotar modelos ou


diretrizes padronizadas dentre as centenas que existem, ou ainda utilizar uma combi-
nação dos dois. As considerações feitas na seção anterior servem de orientação para
elaborar relatórios com formatos próprios para usuários selecionados ou para o públi-
co indiferenciado. O Quadro 8.4 apresenta uma lista não exaustiva com propostas de
relatórios ambientais criadas por entidades públicas e privadas que podem ser usados
para usuários indiferenciados.

U m a tendência atual das iniciativas voluntárias em termos de c o m u n i c a ç ã o ex-


terna é a de propor relatórios que incluam questões ambientais, sociais, econômicas
e outras relacionadas, c o m o o balanço social do Ibase e o modelo do G R I . O s rela-
tórios das empresas que procuram se colocar como instrumentos cio desenvolvimen-
to sustentável devem conter informações sobre as dimensões nas quais essa proposta
de desenvolvimento se apoia, a saber: eficiência econômica, equidade social e respei-
to ao meio ambiente. Tratam-se, portanto, de relatórios de sustentabilidade, nos
quais as questões ambientais constituem um dos seus componentes.

O conteúdo desses relatórios inclui informações sobre as práticas e os resultados


alcançados nas áreas de meio ambiente, geração de empregos, arrecadação de impos-
tos, eliminação da discriminação do trabalho, apoio à educação, combate ao trabalho
forçado e infantil, saúde e segurança do trabalho e outras questões relacionadas. O
esforço para relatar o desempenho nessas dimensões permite que a empresa enxergue
a sua contribuição atual em relação aos objetivos do desenvolvimento sustentável e
estabeleça objetivos e metas para o futuro.

Balanço social
O balanço social é um instrumento para tornar transparente a responsabilidade
social da empresa. Tornou-se mundialmente conhecido a partir da experiência

28 ABNT. NBR ISO 14004:2005, 2005. cláusula 4.3.3.


Q u a d r o 8.4 Lista parcial d e m o d e l o s e diretrizes para relatórios a m b i e n t a i s .

ABRANGÊNCIA
Area em
RELATÓRIO que se
(Entidade Promotora) Am- Econô- Saúde e Quali-
Sociali1 aplica
biental mica segurança dade

Ceres Reporting (Ceres) X X Todas

Company Environmental Reporting (Unep/


X Todas
Pnuma)

Corporate Environmental Report Scorecard


X X X X Todas
(Deloitte Touche Tohmatsu)

Environmental Reporting for the European


X X Química
Chemical Industry (Cefic)

Gemi Stakeholder Communication X X X Todas

Global Reporting Initiative (GRI) X X X X Todas

Instituto Brasileiro de Análises Sociais e


X X X X Todas
Econômicas (Ibase)

OECD Guide for Multinational Enterprise X X X X X Todas

Public Environmental Reporting Initiative


X Todas
(Peri)

Report Hazardous Substance Releases and


X Todas
oil spill (Usepa)

Responsible Care Report (ICCA) X X Química

francesa, mais especificamente a partir da Lei 77.769, de 1977, que tornou obrigatório
o balanço social (bilan social) para as empresas e organizações c o m mais de 3 0 0 funcio-
nários, incorporando-o ao Código de Trabalho 2 9 . Segundo essa lei, o balanço social
resume em um documento único os principais dados que permitam avaliar a situação
da empresa n o domínio social, registrar as realizações efetuadas e as medidas imple-
mentadas n o ano em curso e nos dois anos anteriores. O balanço comporta informa-
ções sobre nível de emprego, remunerações, condições de higiene e segurança,
formação e treinamento, relações profissionais e outras condições de vida dos funcio-
nários e seus familiares. As questões ambientais não foram contempladas n o modelo
de balanço social da lei francesa, que também não prevê qualquer controle sobre as
informações contidas n o balanço social e a única pena prevista refere-se à não apresen-
tação do balanço ao comitê da empresa.

29 REPUBLIQUE FRANÇAISE. Loi 77-769, du 12 juillet 1977, relative au bilan social de


L entreprise. Paris, 1977.
Outros modelos de balanço social foram criados em outros países por outras en-
tidades públicas e privadas, mas sempre mantendo o mesmo objetivo: divulgar a atua-
ção da empresa n o campo social durante o ano para um público indiferenciado. O
modelo de balanço social do Ibase, uma O N G criada pelo sociólogo Herbert de Sou-
za, o Betinho, tem por objetivo principal dar c o n h e c i m e n t o à sociedade de um modo
geral sobre os resultados das ações da organização que traduzam sua concepção de
responsabilidade social ampliada. Esse balanço é constituído de indicadores sociais
(internos e externos), ambientais, do corpo funcional e informações quanto ao exer-
cício da cidadania empresarial. Trata-se de um modelo bastante simples e sintético
para facilitar a sua divulgação no meio, impresso ou eletrônico, inclusive para acom-
panhar a publicação de demonstrativos contábeis 3 0 . O objetivo é esse mesmo: prover
um c o n j u n t o de informações relacionadas com a responsabilidade social da organiza-
ção que seja fácil de ser entendido e acompanhado por qualquer parte interessada.
O balanço social pode adquirir muitas formas, mas um formato padronização per-
mite comparar o desempenho de diferentes empresas em termos de responsabilidade
social, bem como a evolução do desempenho de uma empresa ao longo do tempo. A
padronização evita que a empresa divulgue apenas os indicadores que apresentam b o m
desempenho, passando, desse modo, uma falsa imagem perante o público que teve
acesso ao balanço social. O Ibase estimula o uso do seu modelo padronizado conferin-
do à empresa que o utilize um selo Balanço Social Ibase/Betinho. Para receber o selo,
a organização deve preencher o modelo de balanço social do Ibase na sua totalidade,
não sendo admitido o uso de expressões vagas, como informações não disponíveis ou
itens que não se aplicam. Todos os funcionários devem receber o modelo de forma in-
dividualizada e nominal em material, não sendo admitido o envio exclusivamente por
meio da internet ou intranet. Além disso, o Ibase realiza uma consulta pública para
receber opiniões sobre a organização que pretende obter o selo. Desse modo, pode-se
dizer que o balanço social para efeito da concessão do selo é referendado pela socieda-
de e pelos próprios funcionários da organização.

Modelos e diretrizes de relatórios ambientais


C o m a possibilidade de divulgar relatórios via internet para um público não espe-
cificado, recomenda-se que os relatórios sejam redigidos com o m í n i m o de terminolo-
gia científica e técnica, mas isso não pode ser motivo para deixar de relatar todos os
aspectos relevantes dos impactos da empresa e dos meios de que ela está se valendo

Veja modelo do balanço social em <www.balancosocial.org.br>. Acesso em: 22 dez. 2010.


para solucioná-los. Esse tipo de cuidado em grande parte se resolve como o uso de
modelos de relatórios com estruturas ou diretrizes padronizadas como os indicados no
Quadro 8.4.
O Quadro 8.5 mostra as informações sobre questões ambientais sugeridas pelo mo-
delo de relatório ambiental do Public Environmental Reporting Initiative (Peri), um dos mais
antigos, criado no início da década de 1990 por diversas corporações multinacionais,
como IBM, DuPont e Dow Química, com a colaboração de iniciativas voluntárias como
Gemi e Ceres. O Ceres já havia criado, no final década de 1980, seu modelo de relatório,
Ceres reporting, para dar suporte a um de seus princípios (ver Quadro 3.4). Esses são exem-
plos de modelos de relatório padronizados para um público indiferenciado e que podem
ser usados em relatórios ambientais de empresas de qualquer tamanho ou setor. O mo-
delo de relatório dos que tratam apenas de uma questão, como é caso do Peri, tendem a
ser substituídos por modelos que contemplem questões econômicas, sociais e ambien-
tais, denominados relatórios de sustentabilidade, dos quais o G R I é um dos mais impor-
tantes e influentes da atualidade.

A Global Reporting Initiative (GRI) é uma iniciativa voluntária multi-stakeholder que


teve sua origem ligada ao Ceres e ao P N U M A no final do século passado, tornando-se
uma organização independente em 2002, com sede em Amsterdã. Tem por objetivo
promover e disseminar nas organizações a prática de medir o seu desempenho em
termos ambientais, sociais e econômicos, e divulgar os resultados como forma de pres-
tação de conta à sociedade. Ela desenvolve e atualiza periodicamente um conjunto
formado por estrutura, diretrizes e protocolos técnicos para elaborar relatórios de sus-
tentabilidade com base no diálogo com múltiplos stakeholders. Esse conjunto é revisto
periodicamente por meio de consultas públicas.

A estrutura refere-se ao conteúdo básico do relatório que se aplica a organizações


de qualquer tipo ou tamanho. As diretrizes são formadas por duas classes de princí-
pios: uma voltada para orientar a definição do conteúdo do relatório e a outra, para
assegurar a qualidade das informações relatadas, como mostra o Quadro 8.6. A
transparência é um valor e ao mesmo tempo um objetivo, sendo a base na qual se
assenta todo o relatório, como mostram as diretrizes do G R I . A transparência é de-
finida como a divulgação completa e equilibrada de informações sobre os temas e
indicadores necessários para refletir impactos e possibilitar a tomada de decisões
pelas partes interessadas, bem como sobre os processos, procedimentos e hipóteses
usados para preparar o relatório. A ênfase na transparência de todo o processo de
comunicação é o ponto central de um novo entendimento sobre responsabilidade
social afinada com o movimento do desenvolvimento sustentável.
Q u a d r o 8.5 M o d e l o da Public Environmenta! Reporting Initiative (Peri).

•— Tamanho da organização.
Número de estabelecimentos.
Perfil da organização ** Países onde opera.
<-* Principais linhas de atividades.
^ A natureza dos impactos ambientais decorrentes das operações da organização.

<•» Informações sobre a política ambiental da organização, escopo, aplicabilidade, objetivos e


Política ambiental
metas, datas da sua introdução e das revisões, se forem relevantes.

Informações sobre os níveis organizacionais responsáveis pelas políticas e programas am-


bientais, bem como sobre a estrutura de gestão.
Gestão ambiental Informações sobre como as políticas são implementadas, ressaltando os objetivos e metas,
o comprometimento da alta direção, a responsabilidade de unidades específicas, a estrutura
do seu SGA, os programas, recursos, treinamentos etc.

Emissões atmosféricas, hídricas e resíduos sólidos.


<-* Objetivos, metas e programas relacionados com essas emissões.
Liberações ambientais
Informações sobre o grau de utilização de práticas voluntárias recomendadas por outras or-
ganizações, tais como a ICC, ISO etc.

<"* Conservação de materiais, tais como as práticas de reúso, reciclagem, compra de produtos
contendo materiais reciclados, redução, minimização e reúso de embalagens etc.
Conservação de energia, redução do consumo, uso de energia renovável, programas para
Conservação de recursos aumentar a eficiência energética e redução das emissões relacionadas com o uso da energia.
~ Conservação de água, indicando os esforços para reduzir e/ou reciclar água utilizada.
Florestas, terra e conservação da natureza, descrevendo as ações da organização para con-
servar ou reduzir seus impactos sobre os recursos naturais.

** Programas de auditorias ambientais e suas freqüências.


^ Programas de remediação implantados ou em fase de planejamento.
Administração dos riscos ~ Programas de emergência, incluindo treinamentos, métodos de comunicação, envolvimento
ambientais da comunidade local etc.
r* Informações sobre os locais onde são depositados resíduos perigosos, indicando as provi-
dências para minimizar os riscos para a saúde e a segurança.
Informações sobre os últimos três anos sobre as ocorrências, as não conformidades, as pe-
Atendimento às normas
nalidades aplicadas pelos órgãos governamentais, a magnitude dos impactos decorrentes
legais
das não conformidades e os programas para corrigir tais situações.

~ Programas, objetivos e métodos para reduzir os impactos dos produtos da organização.



Informações sobre as atividades voltadas para lançar novos produtos, reprojetar os existen-
tes ou descontinuar produtos por motivos ambientais.
Informações sobre os programas de redução da poluição relacionadas com produtos, proces-
sos e serviços da organização, inclusive reciclagem, reúso e outras práticas de conservação
Produtos
de recursos.
f* Informações sobre os esforços para tornar os produtos mais eficientes em consumo de energia.
Informações sobre a gestão de materiais pós-consumo.
Informações sobre os programas de suprimento e os procedimentos para envolver os forne-
cedores nos esforços para reduzir impactos ambientais dos produtos e serviços.

Informações sobre programas e práticas para treinar e motivar os empregados para se enga-
Empregados
jarem em boas práticas ambientais.

** Informações sobre os esforços para envolvê-los nas iniciativas ambientais da organização.


~ Informações sobre os trabalhos significativos sobre tecnologias ambientais empreendidos
Outros stakeholders
com instituições de ensino, ONGs, entidades empresariais etc.
<•* Informações sobre como a organização se comunica com as comunidades onde se localiza ou opera.

Fonte: Elaborado a partir de informações constantes em PERI Guideline & Answers, 2001
Q u a d r o 8.6 Princípios da Global Reporting Initiative (GRI).

Princípios para assegurar a


Princípios para definir o conteúdo do relatório qualidade da informação

Materialidade: as informações em um relatório devem co- Equilíbrio: o relatório deverá refletir os aspectos positivos e
brir temas e indicadores que refletem os impactos econômi- negativos do desempenho da organização relatora para per-
cos, sociais e ambientais significativos da organização ou que mitir uma avaliação fundamentada do desempenho global.
possam influenciar substancialmente as avaliações e deci-
sões das partes interessadas.

I n c l u s ã o das partes interessadas: a organização relatora Comparabilidade: as questões e informações deverão ser
deve identificar suas partes interessadas e explicar no relató- selecionadas, compiladas e relatadas de forma consistente.
rio as medidas que foram tomadas em resposta aos seus in- As informações relatadas deverão ser apresentadas de modo
teresses e expectativas. que as partes interessadas possam analisar as mudanças no
desempenho da organização ao longo do tempo e subsidiar
análises sobre outras organizações.

Contexto da sustentabilidade: o relatório deve apresentar Exatidão: as informações relatadas deverão ser suficiente-
o desempenho da organização no contexto mais amplo da mente precisas e detalhadas para que as partes interessadas
sustentabilidade. avaliem o desempenho da organização relatada.

A b r a n g ê n c i a : a cobertura dos temas e indicadores relevan- Periodicidade: o relatório é publicado regularmente e as


tes e a definição do limite do relatório deverão ser suficientes informações são disponibilizadas a tempo para que as partes
para refletir os impactos econômicos, ambientais e sociais interessadas tomem decisões fundamentadas.
significativos, e permitir que as partes interessadas avaliem o
Clareza: as informações deverão estar disponíveis de forma
desempenho da organização no período relatado.
compreensível e acessível às partes interessadas que fazem
uso do relatório.

Confiabilidade: as informações e processos usados na pre-


paração do relatório deverão ser coletados, registrados,
compilados, analisados e divulgados de forma que permita
sua revisão e estabeleça a qualidade e materialidade das
informações.

Fonte: GRI. Diretrizes para relatório de sustentabilidade. Disponível em: <www.globalreporting.org>. Acesso em: 10 dez. 2010.

As diretrizes da G R I apresentam indicadores de sustentabilidade econômica, am-


biental e social. Para cada indicador há um protocolo técnico que estabelece definições
e orientações para tratar os dados que serão relatados. O Quadro 8.7 apresenta a lista
de indicadores de desempenho ambientais divididos em indicadores essenciais e adi-
cionais: os primeiros são indicadores relevantes para a maioria das empresas e suas
partes interessadas; os adicionais, também são importantes, especialmente para a em-
presa que relata, mas são usados em poucas empresas,
Além das questões ambientais, o relatório com base nas diretrizes da G R I apresen-
ta indicadores sobre o desempenho econômico e social da empresa. Quanto aos indi-
cadores econômicos, o relatório contempla o valor econômico gerado e distribuído, a
O Q u a d r o 8.7 Indicadores de d e s e m p e n h o a m b i e n t a l da Global Reporting Initiative (GRI).

Aspectos Indicadores essenciais Indicadores adicionais


Materiais Peso ou volume por materiais usados.
Porcentagem dos usados reciclados.

Energia Consumo direto de energia por fonte de energia primária. Energia economizada devido às melhorias na
Consumo indireto de energia por fonte de energia conservação e eficiência.
primária. Iniciativas para prover eficiência energética ou
produtos e serviços baseados em energia reno-
vável e as reduções da necessidade de energia
resultantes dessas iniciativas.
Iniciativas para reduzir o consumo indireto de
energia e as reduções obtidas.

Água Total de água retirada por fonte. Fontes de água significativamente afetadas pela
retirada de água.
Porcentagem e volume total de água reciclada e
reutilizada.

Biodiversidade Localização e tamanho das terras próprias, arrendadas Hábitats protegidos ou restaurados.
ou gerenciadas com áreas protegidas, ou adjacentes a Estratégias, ações atuais e planos futuros para
elas, e áreas com elevado valor em biodiversidade fora gerir impactos sobre a diversidade.
das áreas protegidas. Número de espécies da lista vermelha da IUCN e
Descrição dos impactos significativos das atividades, de espécies de listas nacionais com hábitats em
produtos e serviços sobre a biodiversidade nas áreas áreas afetadas pelas operações por nível de ris-
protegidas e com elevado valor em biodiversidade fora co de extinção.
delas.

Emissões, Total de emissões diretas e indiretas de gases de efeito Iniciativas para reduzir os gases de efeito estufa
efluentes e estufa por peso. e as reduções obtidas.
resíduos Outras emissões indiretas relativas aos gases de efeito Peso dos resíduos perigosos transportados,
estufa por peso. importados ou exportados conforme os ter-
Emissões de substâncias nocivas à camada de ozônio mos da Convenção de Basiléia, anexos I, II, III
por peso. e IV, e porcentagem de resíduos transporta-
NO^, SO^ e outras emissões significativas por tipo e peso. dos internacionalmente.
Total de descargas de água por qualidade e destino. Identificação, tamanho, tipo de proteção legal e
Peso total dos resíduos por tipo e método de disposição. valor da biodiversidade dos corpos d'água e há-
Número total e volume de derramamentos significativos. bitats relacionados afetados significativamente
pela descarga e escoamento de água.

Produtos e Iniciativas para mitigar os impactos ambientais de pro-


serviços dutos e serviços e alcance da mitigação do impacto.
Porcentagem de produtos vendidos e seus materiais de
embalagem reaproveitados por categoria de produtos.

Conformidade Valor monetário das multas e número total das sanções


legal não monetárias pelo não cumprimento das leis ambien-
tais aplicáveis.

Impactos ambientais significativos do transporte


Transporte de produtos e outros materiais usados nas ope-
rações da organização.

Total dos gastos e investimentos para proteção


Geral
ambiental por tipo.

Fonte: GRI. Diretrizes para relatório de sustentabilidade. Disponível em: <www.globalreporting.org.>. Acesso em: 10 dez. 2010.
ajuda financeira dos governos, a proporção de gastos com fornecedores locais, os inves-
timentos em infraestrutura, entre outros. Os indicadores de desempenho social tratam
das relações de trabalho, segurança e saúde no trabalho, treinamento e educação, di-
versidade e igualdade de oportunidade.

Obrigatoriedade ou ato voluntário?


A divulgação do desempenho da empresas em relação às três dimensões da susten-
tabilidade é um meio importante para promover a educação ambiental que é, sem
dúvida, um dos instrumentos mais importantes para a formação de grupos sociais
ambientalmente responsáveis. Já se firmou entre diversos grupos formadores de opi-
nião uma expectativa positiva sobre esse tipo de divulgação, de modo que muitos diri-
gentes empresariais acabam aceitando esse fato, mesmo a contragosto. U m dos graves
problemas que pode ocorrer é o uso indevido da comunicação externa na medida em
que ela venha a ser entendida por parte dos dirigentes como uma espécie de obrigação
para atender a essa expectativa. A divulgação voluntária se tornaria compulsória, pro-
piciando todo tipo de escamoteação, uma vez que ela deixa de ser feita a partir de uma
convicção interna dos dirigentes. A comunicação ambiental deve ser entendida como
um importante instrumento de responsabilidade social da empresa relacionado à ne-
cessidade de dar transparência às suas atividades, como um meio para proporcionar
um diálogo permanente com suas partes interessadas e como um processo para levan-
tar e analisar a sua contribuição para o desenvolvimento sustentável.
Tornar os relatórios ambientais públicos por força de lei é uma questão polêmica,
semelhante à da obrigatoriedade de realizar auditorias ambientais, conforme mostrado
no final do Capítulo 6. Quanto às auditorias, há casos em que a obrigatoriedade pro-
cede em razão da natureza do empreendimento ou atividade e de seus impactos sobre
o meio ambiente. São exemplos as refinarias de petróleo, as usinas siderúrgicas, as
instalações de processamento e disposição de lixos tóxicos e outros relacionados pela
Lei 1.898/1991 do Estado do Rio de Janeiro; ou das plataformas e instalações portuá-
rias, como estabelece no âmbito da União a Lei 9 . 9 6 6 / 2 0 0 0 . Quanto aos relatórios
ambientais e de sustentabilidade, a obrigatoriedade pode causar sérios prejuízos a esse
importante instrumento de gestão ambiental.
A obrigatoriedade generalizada tende a banalizar esse instrumento, na medida em
que todas as empresas, compromissadas ou não com o meio ambiente, inclusive as que
não atendem sequer a legislação, estarão providenciando seus relatórios para cumprir
uma exigência que dificilmente será fiscalizada, até pela enorme quantidade de relató-
rios que irá se acumular ao longo do tempo nos depósitos de repartições públicas.
Elaborar o relatório será a preocupação cie muitos dirigentes empresariais e não reali-
zar práticas que melhorem o desempenho ambiental de suas empresas. U m relatório
produzido sem compromisso efetivo com a realização de melhorias é um campo fértil
para as práticas de maquiagem ou lavagem verde.

O s relatórios ambientais devem resultar de atos voluntários, a não ser em casos es-
pecíficos estabelecidos em normas legais. Primeiro vem o fazer, depois o relato do que
foi feito e os resultados alcançados. A empresa compromissada proativamente com o
meio ambiente tem o que mostrar às partes interessadas ou ao público geral, de modo
que seu relatório ambiental passa a ser um elemento de diferenciação que será tanto
mais importante para ela quanto mais a sociedade se preocupa com o meio ambiente.

A s DIRETRIZES DA NORMA ISO 14063

Esta norma de gestão internacional faz parte da família de normas I S O 14000 e


destina-se a auxiliar as organizações a realizar comunicações ambientais internas e ex-
ternas por meio de um conjunto de princípios, política, diretrizes estratégicas, ativida-
des relacionadas e exemplos. Não é uma norma para efeito de certificação. Ela pode
ser usada por organizações de qualquer tamanho e setor de atividade, tendo ou não
um sistema de gestão ambiental implantado e mantido.

A norma I S O 14063 define comunicação ambiental como um processo que uma


organização conduz para fornecer informações, e para estabelecer um diálogo com
partes interessadas internas e externas, a fim de encorajar um entendimento compar-
tilhado sobre questões, aspectos e desempenho ambiental. E um processo de partilha-
mento de informações para construir confiança, credibilidade e parcerias, para ampliar
a consciência e para usar na tomada de decisão. Seu escopo vai mais além da elabora-
ção de relatórios ambientais externos e pode tomar muitas formas, podendo ser comu-
nicações ad hoc, quando, por exemplo, a administração atende uma solicitação da
comunidade, ou comunicações planejadas. Essas comunicações podem ser:

1. unilateral, quando a organização distribui informações ou relata questões am-


bientais que não foram objetos de discussão;
2. bilateral, quando há uma troca de informações e idéias entre a organização e
outras partes interessadas; e
3. processos decisórios participativos nos quais a organização colabora com par-
tes interessadas 31 .

31 ABNT. NBR ISO 14063:2009, 2009. Introdução.


U m a idéia central dessa n o r m a é que a comunicação ambiental pode proporcio-
nar às organizações oportunidades para obter o c o m p r o m e t i m e n t o de diferentes
partes interessadas para os propósitos de melhoria ambiental que ela pretende im-
plementar. O u t r a idéia básica é que um processo de c o m u n i c a ç ã o eficiente envolve
o c o n t a t o c o n t í n u o da organização com as partes interessadas, internas e externas,
c o m o parte de uma estratégia geral de comunicação. A Figura 8.1 apresenta as inter-
-relações e os fluxos de um sistema de comunicação ambiental, c o n f o r m e a I S O
1 4 0 6 3 . C o m o é característico das normas de gestão da I S O , esse esquema t a m b é m
foi concebido de acordo c o m o um ciclo P D C A . A semelhança de um sistema de
gestão ambiental (SGA), um sistema para comunicação ambiental t a m b é m tem seu
ponto inicial na política ambiental, valendo para esse sistema as mesmas considera-
ções feitas para o S G A n o Capítulo 5. A política de c o m u n i c a ç ã o ambiental pode
fazer parte de outras políticas da organização ou ser uma política específica, mas de
qualquer forma deve ser formalmente expressa pela alta administração 3 2 .
A política de c o m u n i c a ç ã o ambiental deve ser coerente c o m a política ambien-
tal e consistente com os princípios mencionados na n o r m a I S O 1 4 0 6 3 . Esses prin-
cípios visam assegurar (1) a transparência do processo de comunicação; (2) o
provimento de informações que sejam pertinentes para as partes interessadas; (3) a
credibilidade da c o m u n i c a ç ã o por meio de uma condução honesta e o fornecimen-
to de informações verdadeiras, confiáveis, exatas e substantivas para as partes inte-
ressadas; (4) o a t e n d i m e n t o das questões e dúvidas das partes interessadas de m o d o
integral e n o m o m e n t o devido; e (5) um relato claro c o m formato, linguagem e
m e i o de divulgação adequados às partes interessadas, de m o d o a minimizar as am-
bigüidades 3 3 . A política de comunicação deve enunciar c o m clareza as seguintes
questões:

>"* o compromisso de envolver-se em diálogo com as partes interessadas;


o compromisso de divulgar as informações sobre o desempenho ambiental da
organização;

** a importância da comunicação ambiental interna e externa para a organização;


^ o compromisso de implementar a política e de prover os recursos que forem
necessários;
r* o compromisso de endereçar a comunicação para as questões ambientais chave34.

32 ABNT, NBR ISO 14063:2009, definição 2.2 e seção 4.1.


33 ABNT, NBR ISO 14063:2009, seção 3.
34 ABNT, NBR ISO 14.063:2009, seção 4.1.
O exame e a revisão da comunicação por parte da alta administração fecha um ciclo
de planejamento e dá início a outro, levando em conta as oportunidades cie melhorias
e necessidades de mudanças conforme a idéia de melhoria contínua que preside todas
as normas I S O de gestão. Decidindo realizar ou não mudanças na política, estratégia ou
em qualquer atividade de comunicação, a organização deve considerar como as partes
interessadas irão percebê-las e como comunicar a elas as razões dessa decisão 33 . Tocias as
recomendações da norma estão claramente voltadas para que a comunicação ambiental

F i g u r a 8.1 Inter-relaçoes e fluxos da c o m u n i c a ç ã o ambiental: ISO 1 4 0 6 3 : 2 0 0 6 .

Fonte: ABNT. NBR ISO 14063:2009.

35 ABNT. NBR ISO 14.063:2009, seção 6.5.


faça sentido para as partes interessadas e contribua para a melhoria do desempenho
ambiental da organização, evitando que seja apenas o cumprimento pro forma de uma
expectativa da sociedade.

R Ó T U L O S E DECLARAÇÕES AMBIENTAIS

Os rótulos ambientais e as declarações ambientais, popularmente denominados


selos verdes, indicam atributos ambientais em produtos e serviços, que podem tomar
a forma de afirmações, símbolos aplicados nos produtos ou nas suas embalagens, in-
formações em bulas e manuais, expressões de propaganda, anúncios publicitários e
outras formas de comunicação direta com os consumidores 3 6 . À medida que a popula-
ção se informa a respeito dos graves problemas ambientais que afetam o planeta, mais
e mais pessoas passam a considerar o cuidado ambiental dos produtores e distribuido-
res nas suas decisões de compra. Isso estimula o uso de selos verdes por empresas, co-
operativas e outras organizações que oferecem bens e serviços com características
ambientais diferenciadas dos seus similares ou próximos substitutos.
Diversos programas foram criados por governos, associações de classe e organiza-
ções não governamentais para conceder selos aos bens e serviços que atendam seus
critérios ambientais, como o exemplo do Quadro 8.8. Porém, quantidades crescentes
de selos com diferentes critérios, propósitos e métodos trazem dúvidas e confusões aos
compradores potenciais e criam um terreno fértil para a lavagem verde. Por esse moti-
vo, a I S O se interessou em gerar normas de gestão específicas para que esse instrumen-
to de gestão ambiental tenha credibilidade e possa distinguir os bens e serviços com
características ambientais preferíveis.

As normas I S O 14000 estabelecem três tipos de rótulos. Os do tipo I são criados por
entidades independentes ou de terceira parte aplicáveis aos produtos que apresentem
certos padrões ambientais preferíveis na sua categoria. O selo A n j o Azul se enquadraria
nesse tipo de rótulo. A norma I S O 14024 estabelece regras para a criação de programas
voluntários de terceira parte baseadas em múltiplos critérios, e que concedem licença para
o uso de rótulos em produtos que atendam a esses critérios dentro de sua categoria. Esses
rótulos devem basear-se na abordagem do ciclo de vida do produto para que os impactos
ambientais sejam considerados em todas as etapas do seu processo de produção, assunto
do capítulo anterior. Essa abordagem evita a visão míope que enxerga os produtos como
ambientalmente saudáveis olhando apenas um estágio da cadeia de suprimento.

36 ABNT. NBR ISO 14020:2002, definição 2.1.


Quadro 8.8 Um exemplo de programa de rotulagem ambiental.

0 rótulo ambiental mais antigo é o Anjo Azul (Umweltzei- Depois, o produto é avaliado pelo Instituto Alemão para Qua-
chen), criado em 1978 pelo órgão ambiental do governo fede- lidade Assegurada e Certificação, segundo os critérios defini-
ral da Alemanha em parceria com outras entidades dos pelo comitê de rotulagem. Por exemplo, para a fabricação
independentes. É um instrumento de política ambiental ende- de papel, é proibido o uso de agentes branqueadores clora-
reçado ao mercado para distinguir bens e serviços com carac- dos.
terísticas ambientais positivas. Com o tempo, outros selos ou Se o produto for aprovado, a empresa poderá usar o logotipo
rótulos foram criados em diversos países e hoje há centenas do Anjo Azul no produto por dois anos, desde que pague os
deles. direitos a seu titular, o Ministério do Meio Ambiente, Conser-
0 rótulo Anjo Azul é conferido aos produtos que geram menos vação da Natureza e Segurança Nuclear da Alemanha. Em
impactos ambientais que seus similares, por exemplo, produ- 2010, cerca de 11.500 bens e serviços usavam esse logotipo
tos que não contêm metais pesados, que utilizam materiais (figura abaixo).
reciclados, fabricados com processos poupadores de água e
energia e outras considerações ambientais relacionadas aos
produtos e seus processos de fabricação. <^eUZe/c%
A verificação envolve diversas etapas. Inicialmente o produto
passa pela avaliação de um comitê de rotulagem independen-
te (Environmental Label Jurfi, composto por membros do se-
tor produtivo, sindicatos, instituições de ensino e pesquisa,
entidades de defesa do meio ambiente e do consumidor, im-
r o o "/•> ^
prensa, igrejas e estados federados. Esse comitê define os
critérios pelos quais o produto deve ser avaliado.

Fonte: The Blue Angel. Disponível em: <http://www.blauer-engel.de>. Acesso em: 9 ago. 2010.

O objetivo do rótulo tipo I é estimular a demanda e suprimento de bens e serviços


que causem menos impactos ao meio ambiente e, com isso, estimular a realização de
melhorias contínuas ditadas pelo mercado por meio do provimento de informações
precisas e verificáveis, que não possam ser mal interpretadas sobre aspectos ambientais
destes produtos e serviços. C o m o o objetivo é reduzir o impacto, a observância dos
conceitos relativos ao ciclo de vida do produto é essencial, caso contrário o programa
de rotulagem estaria estimulando a transferência de impactos negativos entre os mem-
bros da cadeia de suprimento. A norma recomenda a abordagem do berço ao túmulo,
mas caso o programa exclua um ou mais estágios do ciclo, a ação deverá ser justificada.
Os critérios ambientais devem ser estabelecidos para diferenciar produtos ambiental-
mente preferíveis de outros na sua categoria 37 .
O rótulo tipo II, objeto da norma I S O 14021, refere-se às autodeclarações ambien-
tais, sem certificação independente ou com uma certificação feita por produtores, co-
merciantes, distribuidores ou por quem dela se beneficie, para informar aos
consumidores as qualidades ambientais de produtos ou serviços. A autodeclaração é
uma afirmação da qualidade ambiental do produto ou serviço, por exemplo, um texto

37 ABNT. NBR ISO 14024: 2004, diversas seções.


ou símbolo informando que o produto foi elaborado com certo percentual de material
reciclado, que o equipamento economiza energia, que o atum foi pescado com dispo-
sitivos que salvam os golfinhos e que a geladeira não usa substâncias nocivas ao ozônio
estratosférico. U m a das autodeclarações mais comuns são os símbolos que indicam
materiais passíveis de serem reciclados estampados em produtos e embalagens, conhe-
cidos c o m o ciclo de Mòbius (Figura 8.2).

Qual a garantia que o consumidor tem de que as autodeclarações trazem informa-


ções verdadeiras? A resposta é nenhuma, caso elas não forem feitas segundo critérios
objetivos, ambientalmente significativos, mensuráveis e verificáveis. Além disso, certas
autodeclarações nada têm a ver com o produto em si, como a empresa que se diz amiga
do meio ambiente ou que patrocina projetos ambientais em escolas. Outras vezes, a
autodeclaração ressalta apenas os aspectos positivos e esconde os negativos. Por exem-
plo, o produto é biodegradável, mas seu processo produtivo gera poluentes tóxicos que
são lançados n o meio ambiente.
De acordo com a norma I S O 14021, as autodeclarações ambientais devem ser veri-
ficáveis, referir-se a aspectos relevantes do produto ou serviço, ser específicas e claras em
relação às qualidades ambientais que pretendem reivindicar e prover informações rele-
vantes para as decisões dos consumidores. Deve-se evitar expressões como produto ver-
de, ecológico, amigo da Terra, da natureza, da Mata Atlântica, das tartarugas, da arara
azul e de outros bichos. Além de verdadeiras e verificáveis, deve-se cuidar para que as
autodeclarações não gerem interpretações equivocadas por parte dos consumidores.
Declarações sobre sustentabilidade também não devem ser feitas, pois os conceitos
concernentes a essa questão são altamente complexos e não existem métodos confiáveis
para medir a sustentabilidade da empresa ou confirmar o seu comprimento 3 8 .

Figura 8.2 Exemplos de símbolos de materiais passíveis de reciclagem.

38 ABNT. NBR ISO 14021: 2004, 2004, seção 5.5.


A norma I S O 14025 trata do rótulo do tipo III, que se refere á declaração ambien-
tal do produto (environmental product declaration). Essa declaração deve trazer informa-
ções sobre dados ambientais de produtos, quantificados de acordo com um c o n j u n t o
de parâmetros previamente selecionados e baseados na avaliação do ciclo de vida. São
rótulos concedidos e licenciados por entidades de terceira parte. A sua concessão não
está baseada no alcance ou superação de parâmetros previamente selecionados c o m o
os rótulos tipo I, mas os atributos ambientais do produto ou serviço concernentes a
esses parâmetros devem ser comunicados de forma tal que facilitem a comparação
com outros produtos similares 39 . Diferentemente dos rótulos tipo I e II que são ende-
reçados aos consumidores finais, o rótulo tipo III está voltado primariamente para as
relações entre empresas (business-to-business), ou seja, para as comunicações entre em-
presas compradoras e fornecedoras. Desse modo, são destinados aos insumos produ-
tivos, e os rótulos tipo I e II, aos produtos finais. A empresa que escolhe um produto
levando em conta a declaração ambiental fica ciente da carga ambiental acumulada
nos estágios produtivos anteriores a ela, o que facilita os seus esforços para tornar a
sua cadeia de suprimento melhor do ponto de vista ambiental.

A declaração ambiental de produto apresenta a situação ambiental de um produ-


to quantificada de acordo com parâmetros ambientais previamente definidos, avalia-
dos ao longo do seu ciclo de vida. Os parâmetros referem-se aos impactos do produto,
por exemplo, geração de gases de efeito estufa, consumo de água, consumo de recur-
sos não renováveis, resíduos perigosos, toxicidade humana etc. A declaração deve
conter, entre outros, informações sobre: a empresa (endereço, contatos, responsáveis
etc.); a especificação do produto; os parâmetros ambientais quantificados consideran-
do o ciclo de vida (por exemplo: emissão de C 0 2 equivalente em cada etapa do ciclo:
aquisição de materiais, manufatura, distribuição, uso, descarte, reciclagem etc.); o
organismo certificador, data da certificação e prazo de validade. O Quadro 8.9 apre-
senta um resumo desses três tipos de rótulos ambientais e declarações ambientais.

O s princípios gerais para todos os tipos de rótulos e declarações encontram-se na


I S O 14020 4 0 . O primeiro deles diz que os rótulos devem ser acurados, verificáveis, re-
levantes, e não enganadores. O segundo, que eles não devem ser criados ou adotados
com objetivo de criar obstáculos desnecessários ao comércio internacional. Outros
princípios dizem o seguinte:

r» os rótulos e declarações ambientais devem basear-se em metodologia científi-


ca, de modo a dar suporte às afirmações;

39 ISO, ISO 14025:2006.


40 ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS (ABNT). NBR ÍSO 1402 0:2 002.
Rótulos e declarações ambientais - princípios gerais. Rio de Janeiro: ABNT, 2002.
Í J Quadro 8.9 Tipos de rótulos ambientais conforme as normas ISO 14000.

Tipo I Tipo II Tipo III

Autodeclaração feita por fabricantes, Declaração com informações quantifica-


Rótulo baseado em programa de tercei-
importadores, comerciantes e outros que das sobre parâmetros ambientais em pro-
ra parte de adesão voluntária.
possam se beneficiar da autodeclaração. dutos e serviços previamente definidos.

Baseado em múltiplos critérios, previa- Um ou mais critérios definidos pelo in-


mente definidos pelo programa e váli- teressado. Exemplos: autodeclaração Critérios múltiplos previamente defini-
dos para classes ou categorias de do fabricante sobre o teor de material dos para categorias de produtos.
produtos e serviços. reciclado contido no produto.

E n d e r e ç a d o s a o s c o n s u m i d o r e s finais Endereçado às empresas

Considera o ciclo de vida do produto. Não considera o ciclo de vida do produto. Considera o ciclo de vida do produto.

Exige certificação de terceira parte. Não exige certificação Exige certificação de terceira parte.

Apresenta-se como texto e como sím- Apresenta-se como texto e como sím- Apresenta-se como texto contendo dados
bolo do programa impresso em produ- bolo impresso em produtos e suas em- da empresa, do produto, dos impactos
tos e suas embalagens. balagens. ambientais quantificados, do organismo
Exemplo: símbolo do Anjo Azul. Exemplo: ciclo de Mõbius. de certificação etc.

Fonte: elaborado com informaçoes das normas ISO sobre rótulos e declarações ambientais.

todos os critérios usados, as informações relevantes e a metodologia devem


estar disponíveis e fornecidas a todas as partes interessadas que as solicitem;
f* devem considerar todos os aspectos relevantes do ciclo de vida do produto;
não devem inibir as inovações que mantenham ou tenham o potencial de
melhorar o desempenho ambiental;
r* todas as organizações, independentemente do seu porte, devem ter igual opor-
tunidade de usar rótulos e declarações ambientais;
<—• convém incluir consulta participatória e aberta às partes interessadas no pro-
cesso de desenvolvimento de rótulos e declarações; e
"-> as informações sobre os aspectos ambientais relevantes devem ser disponibili-
zadas aos compradores atuais e potenciais.
Termos e conceitos importantes

Autodeclaração ambiental Política de comunicação

Balanço social Princípios de comunicação

Comunicação externa ambiental

Declarações ambientais e m Relatórios ambientais obrigatórios

produtos Relatórios ambientais voluntários

Indicadores ambientais Relatórios de sustentabilidade

Modelos de relatórios ambientais Responsabilidade social empresarial

Partes interessadas Rótulo ou selo ambiental

Q u e s t õ e s para r e v i s ã o

1. Apresente as diferenças entre um relatório de auditoria do SGA ou de outra auditoria am-


biental, conforme tratado no Capítulo 6, e os relatórios externos tratados neste capítulo.

2. O que se entende por comunicação enquanto um requisito do SGA conforme a ISO


14001 e o que diz essa norma quanto à comunicação externa?

3. Tome c o m o base o Quadro 8.3 e defina os usuários dos relatórios ambientais externos
da organização e m que você trabalha e, para cada um, relacione os objetivos do usuário
e da organização, bem c o m o o conteúdo desses relatórios.

4. Os consumidores são importantes stakeholders de uma empresa e, no entanto, há quem


entenda que eles devem ser retirados da lista de usuários de relatórios ambientais. Qual
o argumento usado para isso e como é possível contornar as dificuldades apontadas?

5. Há q u e m recomende retirar da lista de usuários o público e m geral e os meios de comu-


nicação. Apresente sugestões para manter esses grupos na lista de usuários e defina os
objetivos e conteúdo dos relatórios.

6. Discuta a obrigatoriedade de realizar o balanço social, apresentando argumentos prós e


contra, bem c o m o a sua opinião. Mas antes, procure conhecer as leis já aprovadas sobre
essa matéria e os projetos de leis nas casas legislativas do Brasil. U m bom início para isso
é uma visita ao w e b site do Ibase: <www.balancosocial.org.br>.

7. Compare os itens ou elementos relativos à questão ambiental do Public Environmental


Reporting Initiative (Peri) e da Global Reporting Initiative (GRI). Verifique os itens que um
t e m e que o outro não tem. Depois, faça um quadro com os elementos comuns desses
exemplos de iniciativas voluntárias sobre relatórios externos.
8. Neste capítulo foram apresentados apenas alguns modelos e diretrizes de relatórios exter-
nos. Faça uma pesquisa para encontrar outros modelos e diretrizes e compare-os com os que
foram aqui apresentados. Verifique quais empresas adotam quais modelos ou diretrizes.

9. Como os relatórios ambientais externos podem servir para maquiagem ou lavagem verde
e que recomendações você faria para evitar que isso ocorra?

10. Faça uma pesquisa sobre os rótulos ambientais, como Environmental Choice, EcoMark,
EU Ecolabing, Green Seal, Cerflor, Energy Star, Dolphin Free, Cradle to Cradle etc. Uma
lista de rótulos pode ser vista no site: <http://ecolabelling.org>. Veja t a m b é m o programa
brasileiro de rotulagem ambiental. Observe os critérios, as instituições participantes e
gestoras, as categorias de produtos e a quantidade de produtos que obtiveram a conces-
são dos rótulos. Após levantar esses dados, faça uma lista de critérios recorrentes.

11. Colete diversos produtos e embalagens com símbolos de reciclagem e observe as infor-
mações e números que os acompanham. Veja o que eles significam.

1 2 . Entre e m contato c o m empresas que fabricam produtos e embalagens c o m autodeclara-


ções ambientais (rótulos tipo II) e verifique se elas disponibilizam informações, critérios e
metodologias usadas para elaborar os rótulos e declarações ambientais, conforme esta-
belece u m dos princípios gerais sobre rótulos e declarações ambientais constantes nas
normas citadas nesse capítulo sobre esse tema.

A S S O C I A Ç Ã O B R A S I L E I R A D E N O R M A S T É C N I C A S (ABNT). NBR ISO 26000. Diretrizes sobre


responsabilidade social. Rio de Janeiro: ABNT, 2010.

A S S O C I A Ç Ã O BRASILEIRA DE N O R M A S T É C N I C A S (ABNT). NCR ISO 14063:2009. Gestão ambiental -


comunicação ambiental - diretrizes e exemplos. Rio de Janeiro: ABNT, 2009.

A S S O C I A Ç Ã O B R A S I L E I R A D E N O R M A S T É C N I C A S (ABNT). NBR ISO 14004:2005. Sistema de gestão


ambiental - diretrizes gerais sobre princípios, sistemas e técnicas de apoio. Rio de Janeiro: ABNT, 2 0 0 5 .

A S S O C I A Ç Ã O BRASILEIRA DE N O R M A S T É C N I C A S (ABNT). NBR ISO 14001:2004. Sistemas de gestão


ambiental: requisitos com orientação para uso. Rio de Janeiro: ABNT, 2004.

A S S O C I A Ç Ã O B R A S I L E I R A D E N O R M A S T É C N I C A S (ABNT). NBR 16001:2004. Responsabilidade social


- sistema de gestão - requisitos. Rio de Janeiro: ABNT, 2 0 0 4 .

A S S O C I A Ç Ã O B R A S I L E I R A DE N O R M A S T É C N I C A S (ABNT). NBR ISO 14031. Gestão ambiental -


desempenho ambiental - diretrizes. Rio de Janeiro: ABNT, 2004-

A S S O C I A Ç Ã O B R A S I L E I R A D E N O R M A S T É C N I C A S (ABNT). NBR ISO 14020:2002. Rótulos e declarações


ambientais - princípios gerais. Rio de Janeiro: ABNT, 2002.

A S S O C I A Ç Ã O B R A S I L E I R A DE N O R M A S T É C N I C A S (ABNT). NBR ISO 14021:2004. Rótulos e declarações


ambientais - autodcclarações ambientais (Rotulagem tipo II). Rio de Janeiro: ABNT, 2004-

A S S O C I A Ç Ã O B R A S I L E I R A D E N O R M A S T É C N I C A S (ABNT). NBR ISO 14024: 2004. Rótulos e declarações


ambientais - Rotulagem ambiental tipo I - princípios e procedimentos. Rio de Janeiro: ABNT, 2 0 0 4 .
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órgãos e entidades integrantes do Sisnama. Brasília: D O U de 17/4/2003.

BRASIL. Lei 9.966 de 28 de abril de 2 0 0 0 . Dispõe sobre a prevenção, o controle e a fiscalização da poluição causada
por lançamento de óleo ou outras substâncias nocivas ou perigosas em águas sob jurisdição nacional e dá outras
providências. Brasília: D O U de 29/04/2000.

BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Brasília, 05/10/1988.

BRASIL. Lei 6.938 de 31 de agosto de 1981. Dispõe sobre a Política Nacional do Meio Ambiente, seus fins e
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W O O D , D. J. Corporate social performance revisited. Academy of Management Review. 16(4), p. 691-718, 1991.
ESTUDO DE IMPACTO AMBIENTAL

Para agir sobre os impactos ambientais é necessário conhecê-los, daí a necessidade


de estudá-los, tanto os que resultam das atividades humanas em curso, quanto os que
podem vir a ocorrer no futuro em decorrência de novos produtos, serviços e ativida-
des. Em qualquer caso, o estudo dos impactos constitui um instrumento de gestão
ambiental sem o qual não seria possível promover a melhoria dos sistemas produtivos
em matéria ambiental. Qualquer abordagem de gestão ambiental de uma organiza-
ção, seja corretiva, preventiva ou estratégica, requer a identificação e análise de impac-
tos ambientais para estabelecer medidas para agir em conformidade com a legislação
ou com a sua política ambiental. Estudos de impacto ambiental podem ser efetuados
a qualquer momento, antes e depois de realizar ações, ou seja, para produtos, ativida-
des e empreendimentos existentes e propostos.

Um exemplo do primeiro caso já foi comentado no Capítulo 5. Recordando,


para atender os requisitos do S G A de acordo com a ISO 14001, uma organização
deve estabelecer, implementar e manter procedimentos para identificar os aspectos
ambientais de suas atividades, produtos e serviços que possam ser controlados por
ela e os aspectos que possam ser influenciados, para determinar aqueles que te-
nham ou possam ter impactos significativos sobre o meio ambiente. A identificação
dos aspectos ambientais deve ser feita mediante um processo contínuo que determi-
ne os impactos, positivos ou negativos, passados, presentes e potenciais das ativida-
des da organização sobre o meio ambiente 1 . Assim, o estudo dos impactos ambientais
faz parte do processo de implantação e operação de um S G A e das auditorias am-
bientais pertinentes.
Adiante será apresentado o estudo de impacto ambiental para empreendimen-
tos e atividades em fase de proposta. É importante salientar que há diversos instru-
mentos de gestão ambiental baseados em estudos de impacto, tais como a avaliação
do ciclo de vida (ACV), avaliação de riscos, auditorias ambientais, rótulos ambien-
tais, avaliação de desempenho ambiental, entre outros. Alguns desses instrumentos
estão descritos no Quadro 9.1 de modo resumido. Neste capítulo, por Estudo de
Impacto Ambiental (EIA) entende-se o estudo prévio de impacto ambiental, um instru-
mento de planejamento de ações futuras com elevado potencial de degradação
ambiental.
Antes de prosseguir são necessários alguns esclarecimentos sobre a denominação
desse instrumento. Na França, usa-se a expressão "étude d'impact sur 1'environnement"
para denominar o instrumento de gestão que será tratado a seguir. É comum usar o
termo "avaliação de impacto" em vez de "estudo de impacto", por exemplo, "valutazio-
ne d'impatto ambientale" na Itália e "evaluación de impacto ambiental" nos países
hispânicos. Nos países de língua inglesa, é usada a expressão "environmental impact
assessment", na qual a palavra assessment apresenta um significado mais amplo do que
avaliação. Assessment origina-se do verbo latino assidere, que significa sentar ao lado de
alguém ou assistir alguém e que é a raiz da palavra assesse do francês antigo, da qual deri-
va-se, entre outras, as palavras assess, assessment e assessor2.
No Brasil, a Lei 6 . 9 3 8 de 1981, que instituiu a Política Nacional do Meio Ambien-
te, incluiu a avaliação de impacto ambiental entre os instrumentos de política pública,
como mostrado no Capítulo 3. A Constituição Federal de 1988 usa a expressão estudo
prévio de impacto ambiental, como se pode ver no art. 225; § l u , IV (ver Quadro 3.6).
Não se trata de um mero circunlóquio vernacular a discussão a respeito desses dois
termos, estudo e avaliação. A avaliação de impacto é uma parte do estudo que procura
identificar os impactos e estimar suas conseqüências. C o m o se verá adiante, o estudo
de impacto compreende, além da avaliação dos impactos, a identificação de soluções
alternativas, o desenvolvimento de medidas para prevenir impactos, para controlar e
compensar os impactos inevitáveis, entre outras atividades. Por isso, aqui será usada
a expressão Estudo de Impacto Ambiental (EIA), por apresentar um significado mais
abrangente do que avaliação e por estar mais afinada com o dispositivo constitucional
brasileiro.

W E B S T E R ' S Third new international dictionary, 1993.


O Quadro 9.1 Instrumentos de gestão baseados em Estudos de Impactos Ambientais - exemplos.

Instrumento Objetivo Foco


Avaliar os impactos ambientais de um produto ou serviço ao longo de
seu ciclo de vida. A norma ISO 14040:2009 define ciclo de vida como
Produto, serviços e seus
os estágios sucessivos e encadeados de um sistema de produto, des-
Avaliação do Ciclo de processos de produção,
de a aquisição da matéria-prima ou de sua geração a partir de recur-
Vida (ACV) distribuição, consumo e
sos naturais até a disposição final. Define a ACV como compilação e
disposição final
avaliação das entradas, saídas e dos impactos ambientais potenciais
de um sistema de produto ao longo do seu ciclo de vida.

Os rótulos ambientais objetivam diferenciar produtos e serviços que


gerem menores impactos ambientais, comparativamente a outros si-
milares, mediante informações verificáveis e precisas sobre seus as-
pectos ambientais para encorajar a demanda daqueles que causem
Rótulos e declarações
menos pressão sobre o meio ambiente, estimulando, desse modo, o Produtos e serviços
ambientais
potencial de melhorias contínuas orientadas para o mercado. Essas
informações são obtidas mediante estudos de impactos ambientais
do produto ou serviço, seus insumos e processos de produção, consu-
mo e descarte pós-uso.

A identificação e avaliação de aspectos e impactos ambientais são


requisitos essenciais de um SGA, que é a parte de um sistema de
Sistema de Gestão Organizações e suas
gestão de uma organização utilizada para desenvolver e implementar
Ambiental (SGA) unidades
sua política ambiental e para gerenciar seus aspectos ambientais
(NBR ISO 14001:2004).
Processo sistemático de verificação aplicável a diferentes propósitos,
como verificar o cumprimento da legislação ambiental, avaliar o pas- Organizações, SGA,
Auditoria ambiental
sivo ambiental, avaliar o SGA e o programa de redução de desperdí- sítios degradados etc.
cios.
Identificar tipos de acidentes, probabilidades de ocorrências e suas
Análise de riscos Equipamentos e plantas
conseqüências e estabelecer medidas administrativas e operacionais
ambientais industriais
apropriadas.
Avaliar o desempenho ambiental das organizações e identificar áreas
que necessitam melhorias. Esse instrumento se caracteriza por ser um
Avaliação do Organizações e suas
processo contínuo que envolve seleção de indicadores, coleta e análi-
desempenho ambiental unidades produtivas
se de dados e outros estudos para avaliar o desempenho corrente da
organização e as tendências de longo prazo (NBR ISO 14031:2004).

Processo para identificar objetivamente os aspectos ambientais para


Avaliação ambiental de identificar questões ambientais e para determinar as conseqüências
Locais e organizações
locais e organizações nos negócios em locais e organizações, como resultado de atividades
passadas, presentes e de expectativas futuras (NBR ISO 14015:2003).

Processo formalizado e sistemático para avaliar os impactos ambien-


Avaliação ambiental tais de políticas, planos ou programas de desenvolvimento de um Planos, programas e
estratégica país, região, local ou setor econômico, considerando os níveis de de- políticas públicas
cisão mais elevados.
Identificar e avaliar os prováveis impactos de uma atividade ou em-
Estudo prévio de Projetos de empreendi-
preendimento com elevado potencial de degradação ambiental duran-
impacto ambiental mentos e atividades
te a fase de projeto, isto é, antes de ser implantado.
C I C L O DO PROJETO

O EIA, que será tratado a seguir, é um instrumento de gestão ambiental aplicável a


projetos de empreendimentos e atividades, para identificar e avaliar previamente os im-
pactos e antecipar soluções antes de implantá-los. Projeto é uma palavra de ampla utiliza-
ção nos ambientes de negócio, podendo significar qualquer conjunto de atividades com
objetivos específicos. Por projeto se entende tanto o conjunto de informações articuladas
para auxiliar a tomada de decisões sobre investimentos, quanto as atividades resultantes
dessa decisão. No primeiro caso, o projeto é um plano e, no segundo, um empreendi-
mento que se caracteriza por ter um objeto específico, um tempo finito e um montante
de recursos destinados à sua realização. A essas características acrescentam-se, conforme
o caso, objeto único (produto, serviço ou atividade específica), atividades únicas ou pou-
co repetitivas, incertezas quanto aos resultados e gerenciamento complexo.
Os projetos são compostos de diversas fases ou ciclos de desenvolvimento que de-
pendem do próprio objeto, sua duração, complexidade, processos de decisão e outras
questões administrativas e operacionais. O Manual de Preparação de Estudos de Via-
bilidade Industrial da Unido 3 distingue três fases de um ciclo de projeto:
1. Fase de pré-investimento:
*» Identificação de oportunidades de investimento (idéias de projetos);
>-» Estágio de seleção preliminar (estudo de pré-viabilidade);
r* Estágio de formulação do projeto (estudo de viabilidade técnico-econômica);
Estágio de decisão e avaliação (relatório de avaliação).
2. Fase de investimento:
~ Estágio de negociação e contratação;
^ Estágio de concepção do projeto;
Estágio de construção;
Estágio de colocação em marcha.
3. Fase operacional.

Há outras maneiras de pensar o projeto como um ciclo de atividades desenvolvidas


durante um tempo determinado por equipes com diferentes habilidades e atribuições
específicas. U m projeto pode ser segmentado em grandes fases, tais como: (1) concep-
ção do projeto, quando são definidos os objetivos, realizados os estudos de viabilidade
técnica e econômica e avaliadas as alternativas; (2) detalhamento da alternativa
escolhida; (3) implementação dessa alternativa; (4) posta em marcha e início das ope-
rações em condições normais, quando se dá por concluído o projeto.
A Figura 9.1 mostra a incorporação de custos ao longo do tempo e à medida que
as fases do projeto vão avançando desde sua concepção até o início de operação do
empreendimento ou atividade. Quanto mais etapas do projeto vão sendo concluídas,
mais difícil fica realizar modificações para atender necessidades não especificadas n o
projeto original. C o n f o r m e se avança na implementação do projeto, aumentam os
custos para efetuar alterações, o que reduz as oportunidades para realizá-las. Por isso,
quanto mais cedo o E I A for realizado, mais fácil será a introdução de modificações que
reduzam ou eliminem os impactos ambientais negativos previamente estudados. Desse
modo, o E I A é um instrumento para prever e avaliar os impactos de um projeto sobre
o meio ambiente físico, biótico e social e identificar alternativas para evitar os impac-
tos negativos antes de implementar o projeto.
O EIA pode ser realizado em qualquer momento do ciclo de vida de um projeto,
conforme ilustra a Figura 9.2. A Figura 9.2(a) mostra uma situação na qual não se reali-
zou nenhum EIA em qualquer fase da elaboração do projeto, mas, se vier a ser feito, será
realizado após a implementação do projeto. Nesse caso, as medidas decorrentes desse
estudo ficam limitadas às decisões já tomadas e executadas, de modo que a localização, a
escolha dos equipamentos, a capacidade de produção e outras questões pertinentes ao

O Figura 9.1 Projeto - custos incorporados e facilidade para efetuar mudanças.


empreendimento ou atividade passam a ser consideradas fatos consumados. As ações
para minimizar ou eliminar os impactos indesejáveis podem levar tempo e consumir
muitos recursos, pois as opções possíveis se restringem àquelas que podem ser aplicadas
aos componentes da alternativa escolhida e implantada. Grosso modo, tais ações se rea-
lizam conforme as abordagens de controle (tecnologia de remediação ou de controle no
fim do processo - end-of-pipe) ou de prevenção, mostradas no Capítulo 4. Na Figura
9.2(b), o E I A foi realizado após a elaboração do projeto detalhado do empreendimento
ou atividade, mas antes da sua implementação. Nesse caso, pode ser necessário rever o
projeto para incluir as contribuições desse estudo. O esforço para incluir melhores solu-
ções do ponto de vista ambiental é muito menor do que n o primeiro caso. O ideal, po-
rém, é a situação mostrada na Figura 9.2(c), pois o EIA passa a ser uma etapa do processo
de desenvolvimento do projeto desde o início, participando dos demais estudos técnicos
e econômicos.

Note que o E I A também aparece n o final do ciclo do projeto em todos os casos da


Figura 9 . 2 . Sempre haverá a necessidade de estudar os impactos ambientais, mesmo
quando o empreendimento ou a atividade já realizou um EIA na sua fase de projeto,
pois seus componentes e seu entorno se alteram; com o passar do tempo equipamen-
tos envelhecem, matérias-primas e fornecedores são substituídos, novos produtos são
acrescentados, enfim, qualquer empreendimento ou atividade sempre muda com o
tempo, assim como a sua circunvizinhança ou a área de influência. E os conhecimen-
tos sobre os impactos e o meio ambiente também se alteram ao longo do tempo com
o desenvolvimento científico e tecnológico.

d Figura 9.2 O EIA e o ciclo do projeto - momentos da sua elaboração.

Idéia Desenvolvimento do projeto decisão Implementação operação EIA

Idéia Desenvolvimento alteração


decisão EIA implantação -*- operação EIA
do projeto

Idéia Desenvolvimento do projeto decisão implantação decisão operação

EIA
A Figura 9.3 apresenta exemplos de como e quando o EIA pode contribuir para o
desenvolvimento de uma atividade ou empreendimento ao longo do ciclo do projeto.
A rigor ele deve ser um processo contínuo ao longo do ciclo do projeto. O E I A asso-
ciado a um projeto é um trabalho complexo, constituído de várias fases, cada qual com
diversas atividades envolvendo recursos específicos e a participação de grupos de pes-
soas com interesses diversos. O u seja, não é uma tarefa fácil. A gestão do E I A também
é complexa e requer uma gestão adequada. O Quadro 9.2 apresenta os princípios ela-
borados pelo P N U M A para planejar e conduzir as atividades de um EIA, para que ele
alcance seus objetivos de modo apropriado.

Resumindo, o EIA pode ser aplicado em empreendimentos e atividades existentes


e nas diversas fases de um projeto para implantá-los. Esse instrumento dá a sua melhor
contribuição quando aperfeiçoa o projeto do ponto de vista ambiental, à medida que
permite realizar escolhas que eliminem ou minimizem as fontes de impactos ambientais

% - Figura 9.3 0 EIA e o ciclo do projeto - exemplos de contribuições.

Avaliação detalhada de
impactos significativos,
identificação de medidas
preventivas e considerações
para análise custo-benefício

Seleção do local,
sondagem Pré-viabilidade Projeto detalhado
Viabilidade
das medidas de
controle

significativos Projeto e Aspectos


do projeto
de Engenharia

\
Monitoramento Implementação
Estratégia ambiental
e implementação
e avaliação das medidas de
controle

Monitoramento e
pós-auditoria para
projetos futuros

Fonte: PNUMA, 1988, p. 84.


O Quadro 9.2 Princípios do EIA.

Princípio Comentários
Princípio 1 Não tentar cobrir demasiados tópicos com detalhes excessivos. Em qualquer fase do
Focalizar as questões principais. projeto, o escopo do EIA deve-se limitar aos mais prováveis e mais sérios impactos
ambientais.

Princípio 2 Geralmente são necessários três tipos de participantes:


r* Envolver as pessoas e grupos
1. os que vão administrar e executar o EIA;
pertinentes.
2. os que podem contribuir com idéias, fatos, pontos de vistas ou preocupações com
o projeto, por exemplo, cientistas, engenheiros, administradores, políticos e repre-
sentantes de grupos de interesse ou de grupos que serão afetados pelo empreen-
dimento ou atividade; e
3. os que podem autorizar, controlar ou alterar o projeto, isto é, os responsáveis pelas
decisões, tais como: projetistas, agentes financeiros, investidores, autoridades
competentes, legisladores e políticos.

Princípio 3 0 EIA deve ser organizado de tal modo que possa apoiar as diversas decisões tomadas
" Relacionar as informações do durante o projeto. Ele deve começar cedo para prover informações que permitam aper-
EIA com as decisões do projeto. feiçoar o projeto básico.

Princípio 4 Para auxiliar os tomadores de decisão, o EIA deve apresentar alternativas claras e
~ Apresentar opções claras para deixar evidentes os prováveis resultados de cada uma. Por exemplo, para possibilitar a
mitigar os impactos e para uma compatibilização ambiental do projeto, o EIA pode sugerir várias alternativas de locais,
adequada gestão ambiental. mudanças nos parâmetros do projeto, limitação do tamanho inicial ou do seu cresci-
mento, identificação de programas separados que possam contribuir de modo positivo
para incrementar os recursos ou a qualidade ambiental local.

Princípio 5 0 objetivo de um EIA é assegurar que os problemas ambientais foram previstos e comu-
Apresentar informações de nicados aos tomadores de decisão. Para alcançar esse objetivo, os tomadores de deci-
forma útil aos tomadores de são devem entender completamente as conclusões do EIA, que devem ser apresentadas
decisão. em termos e formatos compreensíveis.

Fonte: PNUMA, 1988. p. 85-86.

antes da sua implementação. Para isso, o EIA deve levar em conta as características do
empreendimento, ou atividade, e da sua área de influência para:

a) identificar e avaliar previamente os impactos sobre o meio ambiente físico,


biológico e social;
b) estudar alternativas para os diferentes componentes do empreendimento ou
atividade;

c) desenvolver medidas para agir sobre as fontes dos impactos ambientais e sobre
os próprios impactos;
d) desenvolver medidas para monitorar as operações, caso o projeto seja implantado; e
e) desenvolver planos para compensar e mitigar os impactos ambientais adversos.
IMPACTO AMBIENTAL

Para efeito do EIA, entende-se por impacto ambiental qualquer mudança no am-
biente natural e social decorrente de uma atividade ou de um empreendimento pro-
posto. Mesmo considerando que mudanças podem ocorrer por causas naturais, as que
interessam aqui são as resultantes de ações humanas. A palavra impacto refere-se, por-
tanto, às alterações no meio ambiente físico, biótico e social decorrentes de atividades
humanas em andamento ou propostas. Ou seja, o impacto pode ser real ou potencial,
neste caso, se a atividade vier a ser implementada no futuro. Quando se fala em impac-
tos ambientais decorrentes de ações humanas, há uma tendência em associá-los apenas
aos efeitos negativos sobre os elementos do ambiente natural e social, pois a degrada-
ção ambiental que nos rodeia são basicamente resultados indesejáveis dessas ações.
Porém, não se deve esquecer os impactos positivos, que em última instância são os que
conferem sustentabilidade econômica, social e ambiental ao empreendimento ou
atividade.

A Resolução n a 1 de 1986 do Conama, que estabeleceu os critérios básicos e dire-


trizes para uso e implementação do EIA, considera impacto ambiental qualquer alte-
ração das propriedades físicas, químicas e biológicas do meio ambiente, causada por
qualquer forma de matéria ou energia resultante das atividades humanas que, direta
ou indiretamente, afetam:

1. a saúde, a segurança e o bem-estar da população;


2. as atividades sociais e econômicas;
3. a biota;
4. as condições estéticas e sanitárias do meio ambiente; e
5. a qualidade dos recursos ambientais 4 .

Segundo essa definição, apenas os impactos negativos são considerados. Esse en-
tendimento a respeito do impacto ambiental corresponde ao de poluição. De fato,
conforme a Lei 6.938/1981, poluição é a degradação da qualidade ambiental resultan-
te de atividades que direta ou indiretamente:

1. prejudiquem a saúde, a segurança e o bem-estar da população;


2. criem condições adversas às atividades sociais e econômicas;

4 BRASIL. C O N S E L H O NACIONAL D O M E I O A M B I E N T E (CONAMA). Resolução Conama n. 01 de 23 de janeiro


de 1986. Estabelece as definições, as responsabilidades, os critérios básicos e as diretrizes gerais para uso e implemen-
tação da Avaliação de Impacto Ambiental como um dos instrumentos da Política Nacional do Meio Ambiente.
Brasília: D O U de 17/02/1986.
3. afetem desfavoravelmente a biota;
4. afetem as condições estéticas ou sanitárias do meio ambiente;
5. lancem no meio ambiente matérias ou energia em desacordo com os padrões
ambientais estabelecidos 5 .

Impacto ambiental está definido na norma ISO 14001 como qualquer modifica-
ção do meio ambiente, adversa ou benéfica, que resulte, no todo ou em parte, dos
aspectos ambientais da organização. Já quanto ao meio ambiente, esta norma apre-
senta um conceito restrito: circunvizinhança em que uma organização opera, incluin-
do ar, água, solo, recursos naturais, flora, fauna, seres humanos e suas interações 6 .
C o m o foi dito mais de uma vez aqui, os impactos ambientais não se restringem a um
local específico, à circunvizança, pois podem adquirir em certos casos uma dimensão
regional ou planetária. A definição da Lei 6.938/1981 sobre meio ambiente também
deixa a desejar: conjunto de condições, leis, influências e interações de ordem física,
química e biológica, que permite, abriga e rege a vida em todas as suas formas 7 . A esse
conjunto de condições, leis e interações, devem ser incluídas também as de ordem
socioeconômica.

O E I A COMO INSTRUMENTO DE POLÍTICA PÚBLICA

Considera-se a National Environmental Policy Act (Nepa), uma lei norte-americana de


1969, como a primeira do mundo a estabelecer a obrigatoriedade do EIA enquanto
instrumento de política pública. Essa lei tornou obrigatória a realização de estudos sobre
os impactos ambientais associados à implementação de projetos, programas e atividades
de todos os órgãos federais dos Estados Unidos. Ela passou a exigir que toda proposta
legislativa ou qualquer ação federal importante que possa afetar a qualidade do meio
ambiente inclua uma declaração de impacto ambiental (environmental impact statement),
informando, entre outros aspectos, os impactos ambientais da ação proposta, as alterna-
tivas às ações propostas e os prejuízos ambientais irreversíveis e irrecuperáveis que pode-
rão ocorrer se a ação proposta for implementada.

O Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA), criado após a
Conferência de Estocolmo (ver Capítulo 2), desempenhou um papel importante na
disseminação dessa prática, principalmente entre os países em desenvolvimento.

BRASIL. Lei 6.938 de 31 de agosto de 1981. Dispõe sobre a Política Nacional do Meio Ambiente, seus fins e meca-
nismos de formulação e aplicação, e dá outras providências. Brasília: D O U de 02/09/1981.
ABNT, N B R I S O 14001:2004, definições 3.5 e 3.7.
B I R D , B I D e outros bancos de desenvolvimento multilaterais e regionais passaram a
exigir o EIA para a concessão de empréstimos para a construção de portos, estradas,
hidroelétricas e outras grandes obras de infraestrutura. A importância desse instru-
mento de política ambiental foi reconhecida na Conferência das Nações Unidas para
o Desenvolvimento e Meio Ambiente, realizada no Rio de Janeiro, em 1992, e passou
a constar da Declaração do Rio de Janeiro sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento
(ver Anexo 2, princípio n. 17). A obrigatoriedade do EIA também está expressa no
princípio n. 5 da Carta da I C C , como se pode ver no Anexo 4.

O EIA deve ser um processo formal, tanto para quem o faz, o empreendedor,
quanto para o Poder Público que o exige e toma decisões baseadas em seus resultados.
C o m o instrumento de gestão ambiental, o EIA é importante não só para o país, a re-
gião e o município, mas também para o próprio proponente do projeto, que pode ser
inclusive uma entidade do Poder Público. Seu objetivo é tomar ciência antecipada-
mente das possíveis agressões ao meio ambiente físico, biótico e social decorrentes da
implantação de empreendimentos e atividades com potencial elevado de causar degra-
dação ambiental.
Para o órgão governamental ambiental, o EIA orienta suas decisões quanto à apro-
vação ou não do projeto em questão; para o proponente, permite que o projeto seja
aperfeiçoado, o que aumenta sua segurança e possibilita a elaboração de medidas de
mitigação e de programas de monitoramento dos impactos negativos identificados nos
estudos de avaliação prévia. Dessa forma, ele deve ser entendido como uma etapa inte-
grante do próprio projeto de obra ou de atividade potencialmente causadora de degra-
dações significativas no meio ambiente. O uso do EIA varia de país para país. Em
alguns países, a aprovação do EIA pelo órgão governamental competente é condição
necessária para a continuidade do processo de licenciamento do empreendimento ou
atividade proposta. Esse é o caso do Brasil, como se verá a seguir.

LICENCIAMENTO AMBIENTAL

A Lei 6.938/1981, que dispõe sobre a Política Nacional do Meio Ambiente, estabe-
leceu, entre os instrumentos de política pública, o licenciamento e a revisão de atividades
efetiva ou potencialmente poluidoras 8 . Nesses termos, entende-se que o licenciamento
ambiental, enquanto urna autorização conferida pelo Poder Público às atividades de que
trata a lei supracitada, deve ter caráter temporário, ou seja, seu prazo de validade não
pode se estender indefinidamente.

8 BRASIL. Lei 6.938/1981, art. 9", inciso IV.


A Resolução Conama 237 de 1997 define licenciamento ambiental como um pro-
cedimento administrativo pelo qual o órgão ambiental competente licencia a localiza-
ção, instalação, ampliação e a operação de empreendimentos e atividades utilizadoras
de recursos ambientais, consideradas efetivas ou potencialmente poluidoras, ou daque-
las que, sob qualquer forma, possam causar degradação ambiental, considerando as
disposições legais e regulamentares e as normas técnicas aplicáveis ao caso. Licença
ambiental é definida, nesse texto legal, como ato administrativo pelo qual o órgão am-
biental competente estabelece as condições, restrições e medidas de controle ambiental
que deverão ser obedecidas pelo empreendedor, pessoa física ou jurídica, para localizar,
instalar, ampliar e operar empreendimentos com as características apontadas acima. E
estudos ambientais são todos e quaisquer estudos relativos aos aspectos ambientais rela-
cionados à localização, instalação, operação e ampliação de uma atividade ou empreen-
dimento, apresentados como subsídios para a análise da licença requerida 9 . Trata-se,
portanto, de um entendimento restrito, pois os estudos ambientais podem ser usados
para diferentes propósitos, como em um SGA, conforme já comentado.

C o m o Decreto 88.351/1983, que regulamentava a Lei 6.938/1981 até junho de


1990, o EIA tornou-se parte integrante do processo de licenciamento de atividades e
empreendimentos efetiva ou potencialmente poluidores ou causadores de degradação
ambiental 10 . A nova regulamentação estabelecida pelo Decreto 99.274/1990 manteve
essa exigência, determinando que o Poder Público, no exercício de sua competência de
controle, expedirá as seguintes modalidades de licença ambiental:

a) licença prévia, para a fase preliminar de planejamento da atividade, contendo


requisitos básicos a serem atendidos nas fases de localização, instalação e ope-
ração, observados os planos municipais, estaduais e federais de uso do solo;
b) licença de instalação, autorizando o início da implantação, de acordo com as
especificações constantes do projeto executivo aprovado; e
c) licença de operação, autorizando, após as verificações necessárias, o início da
atividade licenciada e o funcionamento de seus equipamentos de controle da
poluição, de acordo com o previsto na licença prévia e de instalação 11 .

A Resolução Conama 237/1997 apresenta outras disposições sobre o licenciamen-


to ambiental como instrumento de política pública ambiental. A licença prévia é

9 BRASIL. C O N S E L H O N A C I O N A L D O M E I O A M B I E N T E (CONAMA). Resolução Conama n. 237 de 19 dezem-


bro de 1997. Regulamenta os procedimentos e critérios de licenciamento ambiental como instrumento de gestão
ambiental instituído pela Política Nacional do Meio Ambiente. Brasília: D O U de 22/12/1997.
10 BRASIL. Decreto 88.351 de 5/07/1983, art. 18.
concedida na fase preliminar do planejamento do empreendimento ou atividade,
aprovando a sua localização e concepção, atestando a viabilidade ambiental e estabele-
cendo requisitos básicos e condicionantes a serem atendidos nas próximas fases do
projeto. Essa licença é condição para a continuidade do processo de licenciamento,
podendo ser entendida como um sinal verde para o empreendedor prosseguir com seu
projeto. O início da instalação do empreendimento ou atividade só deve ocorrer após
a expedição da licença de instalação, na qual se verificam as especificações constantes
nos planos, programas e projetos aprovados, bem como as medidas de controle am-
biental, de compensação e outras consideradas importantes na fase anterior. A licença
de operação é a que finalmente autoriza o início das operações do empreendimento ou
atividade objeto do projeto, cuja expedição depende da verificação do cumprimento
das questões estabelecidas nas etapas anteriores' 2 .

Nem toda atividade ou empreendimento está sujeito ao licenciamento ambiental.


A Resolução Conama 237/1997 apresenta uma relação dos que estão sujeitos ao licen-
ciamento ambiental, mas trata-se de uma lista não exaustiva, pois cabe ao órgão am-
biental competente definir os critérios de exigibilidade, o detalhamento e a
complementação dessa relação, considerando as especificidades, os riscos ambientais,
o porte e outras características do empreendimento ou atividade 13 . O u seja, os órgãos
ambientais competentes podem considerar outros tipos de empreendimentos e ativi-
dades sujeitos ao licenciamento ambiental, além dos que estão expressamente citados
na Resolução 237/1997. Quanto ao procedimento de licenciamento, as seguintes eta-
pas devem ser consideradas:

1. definição pelo órgão ambiental competente, integrante do Sisnama (ver Capí-


tulo 3), com a participação do empreendedor, dos documentos, projetos e es-
tudos ambientais, necessários ao início do processo de licenciamento
correspondente à licença requerida;

2. requerimento da licença ambiental pelo empreendedor, acompanhado dos docu-


mentos, projetos e estudos ambientais pertinentes, dando-se a devida publicidade;
3. análise pelo órgão ambiental competente dos documentos, projetos e estudos
ambientais apresentados e a realização de vistorias técnicas, quando necessárias;
4. solicitação de esclarecimentos e complementações pelo órgão ambiental, uma
única vez, quando couber, podendo haver a reiteração da mesma solicitação
caso os esclarecimentos e complementações não tenham sido satisfatórios;

B R A S I L . Resolução C o n a m a n. 2.37/1997, art. 2", § 8".


B R A S I L . Resolução Conama, n. 237/1997, Anexo 1.
5. audiência pública, quando couber, de acordo com a regulamentação pertinente;
6. solicitação de esclarecimentos e complementações pelo órgão ambiental com-
petente, decorrente de audiências públicas, quando couber, podendo haver a
reiteração da mesma solicitação caso os esclarecimentos e complementações
não tenham sido satisfatórios;
7. emissão de parecer técnico conclusivo e, se for necessário, de parecer jurídico;
8. deferimento ou indeferimento do pedido de licença, dando a devida publicidade' 4 .

A Resolução C o n a m a 237/97 estabelece licenças especiais em função da natureza,


características e peculiaridades do empreendimento ou atividade. E abre a possibilida-
de de realizar procedimentos simplificados para empreendimentos e atividades de pe-
queno potencial de impacto ambiental, bem como para os de pequeno porte e aqueles
vizinhos ou integrantes de planos de desenvolvimento já aprovados pelo órgão am-
biental 1 5 . O órgão ambiental poderá estabelecer prazos diferenciados para a análise de
cada uma das três modalidades de licença, bem como para a formulação de exigências
complementares, desde que não ultrapasse seis meses contados a partir do ato de pro-
tocolar o requerimento até seu deferimento ou indeferimento. Esse prazo máximo
sobe para 12 meses nos casos em que for exigido o ELA ou audiência pública 16 . O Co-
nama agiu bem ao estabelecer prazo máximo para o órgão ambiental realizar sua parte
no processo de licenciamento, pois a demora por parte desses órgãos tem sido uma das
queixas freqüentes dos empreendedores.
Todas as licenças ambientais são válidas por tempo determinado. Para cada tipo de
licença há um prazo de validade mínimo e um máximo, como mostra o Quadro 9.3. O
prazo de prorrogação não pode ultrapassar o prazo máximo estabelecido para a modali-
dade de licença. No caso da licença de operação, o órgão ambiental, após avaliação do
desempenho ambiental da atividade ou do empreendimento, poderá aumentar ou di-
minuir o prazo de validade da licença, respeitando os prazos mínimos e máximos dessa
modalidade. A prorrogação da licença de operação deve ser requerida com antecedên-
cia mínima de 120 dias do término do seu prazo de validade, ficando esta automatica-
mente prorrogada até manifestação definitiva do órgão ambiental 17 .
O órgão ambiental que expediu uma licença, mediante decisão motivada, poderá
modificar suas condições e medidas de controle, suspender ou cancelar uma licença

B R A S I L . Resolução Conama n. 237/1997, art. 10.


B R A S I L . Resolução C o n a m a n. 237/1997, art. 9" e 12.
B R A S I L . Resolução C o n a m a n. 237/1997, art. 14.
BRASIL. Resolução Conama n. 237/1997, art. 18.
<S5 Quadro 9.3 Licenças ambientais - prazos de validade.

Tipo de Prazos
licença Máximo Mínimo
Licença Prévia 5 aros
Prazo estabelecido pelo cronograma dos planos, programas e projetos relativos
à atividade ou ao empreendimento. Esse prazo poderá ser prorrogado desde que
Licença de
6 anos não ultrapasse o prazo máximo da respectiva licença.
Instalação

Mínimo de quatro anos ou o prazo considerado nos planos de controle ambien-


Licença de
10 anos tal. Prazos específicos para empreendimentos ou atividades sujeitos a encerra-
Operação
mentos ou modificações em prazos inferiores.

Fonte: BRASIL/Resolução Conama n. 237/1997, art. 18.

em vigor diante das seguintes situações: (a) violação ou inadequação de quaisquer


condicionantes ou normas legais; (b) omissão ou falsa descrição de informações rele-
vantes que subsidiaram a expedição da licença; e (c) superveniência de graves riscos
ambientais e de saúde 18 . A temporalidade e a possibilidade de suspensão ou cancela-
m e n t o da licença atuam n o sentido de desestimular o relaxamento das condições esta-
belecidas na fase de licenciamento, após a expedição da licença.

O EIA NA L E G I S L A Ç Ã O BRASILEIRA

A primeira experiência de E I A n o Brasil se deu antes da existência de uma legis-


lação que o tornasse obrigatório e definisse critérios e procedimentos básicos para a
sua realização. E m 1972, no projeto da hidroelétrica de S o b r a d i n h o , o B a n c o Mun-
dial exigiu a realização de um E I A para aprovar seu f i n a n c i a m e n t o . A partir das reu-
niões diplomáticas e técnicas promovidas pela O N U n o final da década de 1960, que
serviram para preparar a Conferência das Nações Unidas para o M e i o A m b i e n t e
H u m a n o , de 1972, em Estocolmo, as principais agências de f o m e n t o e desenvolvi-
mento internacionais, c o m o B I D , B I R D , U n i d o e P N U D , começaram a exigir o E I A
c o m o condição para aprovar empréstimos e outras formas de auxílio para projetos de
grande porte. Esses primeiros EIAs pouco fizeram para impedir a degradação ambien-
tal dos respectivos projetos, quer pela ausência de uma legislação específica sobre este
instrumento nos países solicitantes dos empréstimos, quer pela ausência de liberdade
de expressão em certos países, o Brasil por exemplo, que permitisse a manifestação da
opinião pública.
C o m a Lei 6 . 8 0 3 / 1 9 8 0 , que dispõe sobre o zoneamento industrial, o ELA aparece
pela primeira vez em uma legislação federal, porém, sem definições e critérios 19 . A Lei
6 . 9 3 8 / 1 9 8 1 , que dispõe sobre a Política Nacional do Meio Ambiente (PNMA), rela-
ciona o E I A como um dos instrumentos dessa política, conforme já mencionado 2 0 . O
mesmo faz a Constituição Federal de 1988 no capítulo dedicado ao meio ambiente
(ver Quadro 3.6). A Constituição Federal estabelece a competência concorrente entre
a União e os estados para legislar em matéria ambiental 21 . No âmbito da legislação
concorrente, as normas federais devem limitar-se aos preceitos de ordem geral 22 . As
normas gerais para a realização do EIA estão dispostas em diversos atos do C o n s e l h o
Nacional do Meio Ambiente (Conama). Os estados e o Distrito Federal podem acres-
centar outras normas específicas, segundo suas conveniências para atender suas pecu-
liaridades, desde que não colidam com as normas gerais federais.
Os municípios não possuem competência para legislar sobre o ELA, mas podem,
por exemplo, exigir dos estados a realização de EIA com respeito às obras geradoras de
impactos ambientais significativos em seus territórios, bem como estabelecer exigên-
cias adicionais que atendam às especificidades locais. Compete ao Município elaborar
normas específicas que atendam ao interesse local e suplementem a legislação federal
e estadual no que for aplicável 23 . C o m a Lei 10.257 de 10 de julho de 2001, que esta-
belece diretrizes gerais de política urbana, o EIA e o estudo prévio de impacto de vizi-
nhança (EIV) foram considerados instrumentos dessa política 24 .

Obrigatoriedade do EIA
O Conama estabeleceu critérios básicos e diretrizes para o uso e implementação de
EIA, como instrumento da Política Nacional do Meio Ambiente, de acordo com a Lei
6.938/1981. Conforme a Resolução n. 1 de 1986 do Conama, dependerá de elabora-
ção de EIA e respectivo Relatório de Impacto Ambiental (Rima), a serem submetidos
à aprovação do órgão estadual competente e do Ibama em caráter supletivo, o licencia-
mento de atividades modificadoras do meio ambiente, tais como:

1. estradas de rodagem com duas ou mais faixas de rolamento;


2. ferrovias;

B R A S I L . Lei 6 . 8 0 3 de 02/07/1980, art. 10», § 3 o .


B R A S I L , Lei 6.938/1981, art. 9"; III.
B R A S I L , Constituição Federal, art. 24, VI, VII e VIII.
B R A S I L , Constituição Federal, art. 24, § I a .
B R A S I L , Constituição Federal, art. 30.
B R A S I L , Lei 10.257 de 10 de julho de 2001; art. 4», VI.
3. portos e terminais de minério, petróleo e produtos químicos;
4. aeroportos;
5. oleodutos, gasodutos, minerodutos, troncos coletores e emissários de esgotos
sanitários;
6. linhas de transmissão de energia elétrica, acima de 2 3 0 kW;
7. obras hidráulicas para exploração de recursos hídricos, tais como: barragens para
quaisquer fins hidroelétricos, acima de 10 mW, de saneamento ou de irrigação,
abertura de canais para navegação, drenagem e irrigação, retificação de cursos de
água, abertura de barras e embocaduras, transposição de bacias e diques;
8. extração de combustível fóssil (petróleo, xisto e carvão);
9. extração de minério, inclusive os da classe II, definidos no Código de Mineração;
10. aterros sanitários, processamento e destino final de resíduos tóxicos ou perigosos;
11. usinas de geração de eletricidade, qualquer que seja a fonte de energia primá-
ria, acima de 10 mW;
12. complexos e unidades industriais e agroindustriais (petroquímicos, siderúrgi-
cos, cloroquímicos, destilarias de álcool, hulha, extração e cultivo de recursos
hídricos);
13. distritos industriais e zonas estritamente industriais (ZEI);
14. exploração econômica de madeira ou de lenha, em áreas acima de 100 ha (cem
hectares) ou menores, quando atingir áreas significativas em termos de percen-
tuais ou de importância do ponto de vista ambiental;
15. projeto urbanístico, acima de 100 ha ou em áreas consideradas de relevante
interesse ambiental a critério do Ibama e dos órgãos municipais e estaduais
competentes;
16. qualquer atividade que utilize carvão vegetal, derivados ou produtos similares,
em quantidade superior a dez toneladas por dia;
17. projetos agropecuários que completem áreas acima de mil ha ou menores, neste
caso quando se tratar de áreas significativas em termos percentuais ou de impor-
tância do ponto de vista ambiental, inclusive nas áreas de proteção ambiental;
18. empreendimentos potencialmente lesivos ao patrimônio espeleológico nacional 25 .

Além das atividades acima relacionadas, depende de ELA a ser submetido ao Iba-
ma, o licenciamento de atividades que, por lei, sejam de competência privativa da

25 B R A S I L . Resolução C o n a m a n. 1 de 18/03/1986, Art. 2". Com alterações feitas pelas Resoluçoes n. 11/1986 e
5/1987.
União, como instalações nucleares, portos marítimos e infraestrutura aeroportuária.
O ELA também é necessário para o licenciamento de outros empreendimentos e ativi-
dades, por exemplo:

a) parcelamento e remembramento do solo, bem como da construção, instala-


ção, ampliação e funcionamento de atividades que alteram as características
naturais das zonas costeiras 26 ;
b) obras de saneamento para as quais seja possível identificar modificações am-
bientais significativas 27 ;
c) atividades e empreendimentos com organismos geneticamente modificados 28 .
d) empreendimentos destinados ao recebimento de embalagens vazias de agrotóxicos29.

A Resolução n. 1/1986 do Conama usa a exemplificação (tais como) para indicar os


tipos de atividades ou empreendimentos modificadores do ambiente que dependem da
aprovação de EIA e de seu respectivo Relatório de Impacto Ambiental (Rima) por órgão
estadual competente, ou federal em caráter supletivo. Sendo de caráter exemplificativo,
esses órgãos podem exigir a realização de EIA para outros tipos de empreendimentos não
explicitamente citados nesse artigo. E não poderia ser de outro modo, pois a Constitui-
ção Federal refere-se a qualquer instalação de obra ou atividade potencialmente causado-
ra de significativa degradação do meio ambiente 30 . Esse artigo da Resolução n. 1/86 do
Conama tem sido objeto de inúmeras críticas por parte de empreendedores, sob o argu-
mento de que a sua redação permite aos órgãos governamentais exigir a realização de
EIA para qualquer empreendimento ou atividade. Se isso vier a ocorrer esse importante
instrumento de política ambiental corre o risco de ser banalizado. Mas não é isso que as
normas legais pertinentes estabelecem.

O ELA deve ser utilizado apenas para projetos que, pelo seu vulto e pela incerteza
quanto aos seus possíveis impactos, exigem estudos especiais, mais detalhados e, conse-
quentemente, mais demorados. Para os empreendimentos menores, bem como para os
que possuem impactos amplamente conhecidos devido a sua freqüência, ele pode ser
substituído por outros tipos de estudos de impactos ambientais. Em outras palavras, o
EIA/Rima só deve ser usado para projetos de empreendimentos e atividades considera-
das efetiva ou potencialmente causadoras de significativa degradação ambiental. Para os

26 B R A S I L , Lei 7.661 de 16/05/1988, art. 6".


27 B R A S I L , Resolução C o n a m a n. 5 de 15/06/1988.
28 B R A S I L , Resolução C o n a m a n. 3 0 5 de 12/06/2002.
29 B R A S I L , Resolução C o n a m a n. 3 3 4 de 3 / 0 4 / 2 0 0 3 .
que não apresentam essa característica, o órgão ambiental deverá estabelecer o tipo de
estudo de impacto ambiental compatível com o seu processo de licenciamento 31 .

Conteúdo do EIA
Cabe ao proponente do projeto realizar o ELA segundo as normas estabelecidas
pelo órgão ambiental competente. Para a finalidade de licenciamento ambiental, o
EIA deverá conter, entre outros, os seguintes itens:

1. diagnóstico ambiental da área de influência do projeto, completa descrição e


análise dos recursos ambientais e suas interações, tal como existem, de modo
a caracterizar a situação ambiental da área antes da implementação do projeto,
considerando:

a) o meio físico - o subsolo, as águas, o ar e o clima, destacando os recursos


minerais, a topografia, os tipos e aptidões do solo, os corpos d'água, o re-
gime hidrológico, as correntes marinhas e atmosféricas;
b) o meio biológico e os ecossistemas naturais - a fauna e a flora, destacando
as espécies indicadoras de qualidade ambiental, de valor científico e econô-
mico, raras e ameaçadas de extinção e as áreas de preservação permanentes;
c) o meio socioeconômico - o uso e a ocupação do solo, os usos da água e a
socioeconomia, destacando os sítios e monumentos arqueológicos, histó-
ricos e culturais da comunidade, as relações de dependência entre a socie-
dade local, os recursos ambientais e sua potencial utilização futura;

2. análise dos impactos ambientais do projeto e suas alternativas, por meio da iden-
tificação, previsão da magnitude e interpretação da importância dos prováveis
impactos relevantes, discriminando: os impactos positivos e negativos, diretos e
indiretos, imediatos e a médio e longo prazos, temporários e permanentes; seu
grau de reversibilidade, suas propriedades cumulativas e sinérgicas; a distribui-
ção de ônus e benefícios sociais;
3. definição das medidas mitigadoras dos impactos negativos, entre elas os equi-
pamentos de controle e sistemas de tratamento de despejos, avaliando a
eficiência de cada uma delas;
4. elaboração do programa de acompanhamento e monitoramento dos impactos
positivos e negativos, indicando fatores e parâmetros a serem considerados 32 .

B R A S I L , Resolução C o n a m a n. 237/1997, Art. 3U, caput e parágrafo único.


U m a das diretrizes para a elaboração do EIA é a delimitação da área de influência
do projeto, que é a área geográfica que será direta ou indiretamente afetada pelos
impactos, considerando, em todos os casos, a bacia hidrográfica na qual se localiza 33 .
Assim tem-se uma área de influência direta e uma de influência indireta. Se a área de
influência direta do projeto ultrapassar os limites estaduais, no todo ou em parte,
tem-se o que se denomina de impacto ambiental regional, cabendo, nesse caso, ao
Ibama o licenciamento ambiental 3 4 .

Delimitar a área de influência não é tarefa fácil devido às inúmeras e complexas


interações entre os aspectos ambientais do projeto e os componentes do meio físico,
biológico e socioeconômico. A natureza da atividade ou empreendimento pode impor
dificuldades adicionais a essa tarefa. Por exemplo, o projeto de um empreendimento
em que parte da produção será exportada para diversos países irá gerar algum tipo de
impacto quando os produtos chegarem a eles, bem como xiaqueles de onde serão ex-
traídos seus insumos. Os produtos e suas embalagens podem liberar poluentes tóxicos
nos locais de uso ou consumo. A extração, processamento e transporte dos materiais a
serem importados produzem impactos ambientais em diferentes locais. Incluir os pos-
síveis impactos nos países importadores dos produtos e exportadores de insumos pro-
dutivos na área de influência do projeto, além de aumentar o tempo de realização do
EIA, pode acabar inviabilizando o projeto. Nesses casos, a avaliação do ciclo de vida é
o instrumento de gestão ambiental mais apropriado (ver Capítulo 7). U m dos princí-
pios do EIA recomenda focalizar a atenção nas questões ambientais mais significativas
e não tentar cobrir todos os tópicos, como mostrado no Quadro 9.2. A área de influ-
ência do projeto deve compreender apenas a região que poderá sofrer uma degradação
significativa, tendo como limite mínimo a bacia hidrográfica, considerando os elemen-
tos físicos, biológicos e sociais.

Responsável pela elaboração do EIA


Todos os dispêndios referentes à realização do EIA e do respectivo Rima devem
correr por conta exclusiva do proponente do projeto 35 . Até o advento da Resolução
237/1997, o EIA e o Rima correspondente deviam ser elaborados por uma equipe
multidisciplinar habilitada e não dependente direta ou indiretamente do proponente
do projeto 36 . A legislação pretendia resguardar o interesse público desse instrumento

" B R A S I L , Resolução C o n a m a n. 1/1986, art. 5 o .


M B R A S I L , Resolução C o n a m a n. 237/1997, art. I a , inciso IV e art. 4°, inciso III.
" B R A S I L . Resolução C o n a m a n. 1/1986, art. 8 o .
M B R A S I L . Resolução C o n a m a n. 1/1997, art 7°, revogado pela Resolução 237/1997.
de política ambiental, retirando-o da esfera das equipes internas, subordinadas ao pro-
ponente do projeto em análise. Em outras palavras, o EIA deveria resultar de uma
equipe independente para assegurar sua isenção e seu caráter público. Esse artigo foi
expressamente revogado pela Resolução Conama 237/1997 3 7 . Assim, fica apenas a
menção de que os estudos necessários ao processo de licenciamento deverão ser reali-
zados por profissionais legalmente habilitados, às expensas do empreendedor. Não há
menção à independência da equipe, apenas exige que seja capacitada e que seus inte-
grantes serão responsáveis pelas informações apresentadas, sujeitando-se às sanções
administrativas, civis e penais 38 . Caracteriza-se como crime ambiental quem elaborar
ou apresentar estudo, laudo ou relatório ambiental, total ou parcialmente falso ou
enganoso, inclusive por omissão 39 .

Em geral, o EIA/Rima é dispendioso e leva tempo para ser feito, pois necessita de
equipes multidisciplinares especializadas para realizar levantamentos de informações deta-
lhadas e análises complexas sobre os múltiplos aspectos do meio ambiente e do empreen-
dimento ou atividade. Os custos para realizá-lo variam conforme a complexidade do
empreendimento ou atividade, situando-se em uma faixa de 0,5 a 2 % do custo total do
projeto 40 . Esses custos não incluem as revisões do projeto se tal for necessário em decorrên-
cia do processo de análise dos impactos ambientais. Lembrando o que foi dito anterior-
mente, os custos do projeto aumentam na medida em que suas fases avançam, de modo
que o custo de um EIA/Rima bem elaborado pode ser compensado ao evitar a necessidade
de proceder a ajustes no projeto em fases mais avançadas da sua implementação.

RELATÓRIO DE IMPACTO AMBIENTAL (RIMA)

A legislação pátria diferencia o EIA do Rima, conforme tradição já consagrada no


mundo todo. O EIA é o estudo mais amplo, envolvendo identificação e classificação
de impactos, predição de efeitos, pesquisas de campo, análises laboratoriais, valoração
monetária dos recursos ambientais, avaliação de alternativas, entre outros trabalhos. O
Rima deve expressar todos esses trabalhos de modo conclusivo, trazendo uma avalia-
ção valorativa que identifique se o projeto é ou não nocivo ao meio ambiente e em que
grau. Deve incluir também medidas mitigadoras dos impactos negativos, programas de
acompanhamento e monitoramento dos impactos e recomendações quanto às

" BRASIL. Resolução Conama n. 237/1997, art. 21.


!S BRASIL. Resolução Conama n. 237/1997, art. 11, parágrafo único.
39 BRASIL. Lei 9 . 6 0 5 / 1 9 8 8 , art. 69-A. Artigo acrescentado pela Lei 11.284/2006.
alternativas mais favoráveis. A Resolução Conama n. 1 de 1986 apresenta uma lista de
tópicos que o Rima deverá conter, sem o qual não será aceito pelo órgão competente.
São elas:

i. os objetivos e as justificativas do projeto, sua relação e compatibilidade com as


políticas setoriais, planos e programas governamentais;
ii. a descrição do projeto e suas alternativas tecnológicas e locacionais, especifican-
do para cada um deles, nas fases de construção e operação da área de influên-
cia, as matérias-primas, mão de obra, fontes de energia, os processos e técnicas
operacionais, os prováveis efluentes, emissões, resíduos e perdas de energia e os
empregos diretos e indiretos a serem gerados;
iii. a síntese dos resultados dos estudos de diagnóstico ambiental da área de
influência do projeto;
iv. a descrição dos prováveis impactos ambientais decorrentes da implantação e
operação da atividade, considerando o projeto, suas alternativas, os horizontes
de tempo de incidência dos impactos e indicando métodos, técnicas e critérios
adotados para sua identificação, quantificação e interpretação;
v. a caracterização da qualidade ambiental futura da área de influência, compa-
rando as diferentes situações de adoção do projeto e suas alternativas, bem
como a hipótese de sua não realização;
vi. a descrição do efeito esperado das medidas mitigadoras previstas em relação aos
impactos negativos, mencionando aqueles que puderem ser evitados e o grau
de alteração esperado;
vii. o programa de acompanhamento e monitoramento dos impactos;
viii. recomendações quanto à alternativa mais favorável41.

Publicidade do EIA/Rima
Uma característica fundamental do EIA e seu Rima é a sua publicidade, conforme
estabelece a Constituição Federal de 1988 (ver Quadro 3.6). A publicidade é a base
para a participação de diferentes públicos no processo de avaliação do projeto. C o m o
diz um dos princípios da Declaração do Rio de Janeiro sobre Meio Ambiente e Desen-
volvimento, assegurar a participação no nível apropriado de todos os cidadãos interes-
sados é a melhor maneira de tratar as questões ambientais (ver Anexo 2, princípio 10).
O princípio da publicidade plena admite restrição para os casos que contenham sigilo
industrial, cabendo ao proponente do projeto ou empreendedor demonstrar a neces-
sidade de resguardar tal sigilo. Trata-se de uma providência necessária para impedir
que o proponente sonegue informações importantes para o ELA/Rima sob a alegação
de sigilo industrial. A possibilidade de restringir o acesso público aos segredos indus-
triais também é uma tradição na legislação mundial. Fora essa limitação, os procedi-
mentos para tornar público o EIA e seu Rima envolvem:

a) acesso às cópias do Rima;


b) divulgação da existência desse material;
c) estabelecimento de uma fase de comentários a serem feitos por órgãos públi-
cos e demais interessados; e
d) realização de audiências públicas para discussão do Rima.

Cópias do Rima devem permanecer à disposição dos interessados na biblioteca


ou centro de documentação do órgão ambiental competente. Os outros órgãos públi-
cos interessados ou que tenham relação direta com o projeto, por exemplo, a Secreta-
ria de Transportes no caso de projetos de uma rodovia, devem receber cópias do Rima
para conhecimento e manifestação 42 . Para assegurar a publicidade não basta apenas
tornar acessível a documentação resultante dos estudos realizados. Agiu corretamente
o Conama ao determinar que o Rima deve ser apresentado de forma objetiva e ade-
quada à sua compreensão. As informações devem ser traduzidas em linguagem acessí-
vel, ilustrada por mapas, quadros, cartas, gráficos e demais técnicas de comunicação
visual, que permitam entender as vantagens e desvantagens do projeto, bem como
todas as conseqüências ambientais de sua implementação 43 . Veja sobre esse aspecto o
quinto princípio do EIA apresentado no Quadro 9.2.

Os comentários podem ser feitos por qualquer pessoa física ou jurídica interessa-
da, como órgãos de classe, sindicatos, instituições de ensino e pesquisa, órgãos gover-
namentais, empresas, pessoas individualmente consideradas ou em grupos. O próprio
empreendedor pode comentar o Rima, acrescentando aspectos não considerados nos
estudos. Os comentários devem ser sempre escritos e, dessa forma, anexados ao proces-
so. O órgão ambiental competente determinará o prazo para recebimento de comen-
tários. C o m o a legislação não define nenhum prazo, entende-se que cabe ao órgão
ambiental competente defini-lo, tomando o cuidado de que seja suficiente para o exa-
me do Rima por parte dos interessados. Um prazo mínimo de 3 0 dias seria razoável,

42 BRASIL. Resolução C o n a m a n. 1/1986, art. 10 e 11.


41 BRASIL. Resolução Conama n. 1/1986, art. 9°, parágrafo único.
menos do que isso pode ensejar contestação por algumas das partes interessadas. Pode
ocorrer que para comentar o Rima seja necessário realizar estudos detalhados e isso
pode levar tempo. A abertura da fase de comentários deve ser precedida pela comuni-
cação em veículo de publicação oficial, como o Diário Oficial da União ou do Estado,
bem como em periódicos de grande circulação na área de abrangência do projeto.
O órgão ambiental, se julgar necessário, poderá promover a realização de audiên-
cias públicas para informar sobre o projeto e seus impactos. A Resolução n. 9/1987 do
Conama disciplina as audiências públicas previstas na Resolução n. 1/1986. A audiên-
cia também pode ser solicitada por entidades da sociedade civil, pelo Ministério Públi-
co ou por 5 0 ou mais cidadãos 44 . Seu objetivo é expor aos interessados o conteúdo do
EIA e do Rima correspondente, para dirimir dúvidas e colher críticas e sugestões, res-
salvado o sigilo industrial, quando houver. O local da audiência pública deve ser aces-
sível às partes interessadas. Pode ocorrer mais de uma audiência pública, caso se
constate a existência de vícios no Rima, por exemplo, linguagem não adequada, ou nos
procedimentos para torná-lo público, como defeitos no edital de convocação. As atas
das audiências, seus anexos e o próprio Rima servem de base para a análise e o parecer
final do órgão ambiental, quanto à aprovação ou não do projeto 45 . As informações
obtidas durante o processo de estudos e a participação do público, quer diretamente,
quer através de representantes ou de órgãos públicos, complementam os estudos da
equipe responsável pelo EIA/Rima. A licença prévia concedida será nula se a audiên-
cia pública foi solicitada e o órgão ambiental não a promoveu 46 .

Há de se registrar que a fase de consulta pública pode servir também para fins polí-
ticos e econômicos ilegítimos. Por exemplo, um concorrente do empreendedor pode
solicitar mais informações e fazer comentários ao Rima com o objetivo de retardar o
início da implantação do projeto ou até mesmo inviabilizá-lo. Representantes de parti-
dos políticos podem utilizar procedimentos procrastinatórios para impedir ou retardar
a conclusão de uma obra que possa beneficiar seus adversários na próxima eleição. O
empreendedor pode manipular grupos para defender seu projeto sob argumento da
geração de empregos e negócios para a cidade ou região onde pretende implementar seu
projeto. Não obstante a possibilidade das audiências e consultas serem usadas indevida-
mente, deve-se ressaltar que a publicidade e a participação de outros agentes interessa-
dos são meios para aperfeiçoar o projeto sob ângulos diferentes.

BRASIL. Resolução Conama n. 237/1997. Dispõe sobre audiências públicas referidas na Resolução Conama n.
1/1986, art. 2 a .
BRASIL. Resolução Conama, n. 9/1987, art 5 a .
BRASIL. Resolução Conama, art. 2 o , § 2".
E S T U D O S AUXILIARES, SUBSTITUTOS E ASSEMELHADOS

Os procedimentos mostrados acima não são os únicos constantes na legislação


brasileira para efetuar um EIA de projetos de empreendimentos ou atividades com
elevado potencial de degradação ambiental significativa. O Rima também não é o
único documento resultante de um EIA.
No Estado de São Paulo adota-se o Relatório Ambiental Preliminar (RAP) que
deve anteceder a elaboração do EIA/Rima, nos casos em que este se aplica 47 . No caso
de empreendimento ou atividade sujeita ao EIA/Rima, o proponente deverá requerer
a licença ambiental instruída com um RAP, conforme roteiro de orientação estabeleci-
do pela Secretaria Estadual do Meio Ambiente (SMA). Esta analisará o RAP e as ma-
nifestações escritas podendo: indeferir o pedido de licença em razão de impedimentos
legais ou técnicos, exigir a apresentação de EIA/Rima, ou dispensá-lo. Caso a decisão
desse órgão seja pela dispensa do EIA/Rima, o empreendimento receberá uma licença
prévia. Se a decisão for pela exigência de ELA/Rima, o interessado deverá submeter à
S M A um Plano de Trabalho para a sua elaboração, explicitando a metodologia e o
conteúdo dos estudos, levando em consideração as manifestações escritas durante a
apreciação do RAP e as que forem feitas durante a audiência pública, se houver. C o m
base nesse Plano de Trabalho, no RAP, nas manifestações escritas e em outras informa-
ções, a S M A definirá o Termo de Referência, que é um roteiro ou conjunto mínimo
de quesitos que deverá ser considerado na elaboração do ELA/Rima e fixará o prazo
para sua realização. A Figura 9.4 mostra o procedimento adotado no Estado de São
Paulo, que tem por objetivo tornar mais flexível o licenciamento ambiental, evitando
que o EIA seja exigido para atividades e empreendimentos que não representem um
potencial de degradação ambiental significativo. Outros Estados da Federação tam-
bém estabeleceram procedimentos semelhantes a esse.

No âmbito da legislação federal, o EIA/Rima pode ser dispensado, a critério do


órgão ambiental competente, para os empreendimentos voltados para a extração de
minerais de emprego imediato ria construção civil, tais como areia, cascalho e saibro,
em função de sua natureza, porte, localização e demais peculiaridades 48 . Na hipótese
de dispensa do EIA/Rima, o empreendedor deverá apresentar um Relatório de Con-
trole Ambiental (RCA), elaborado de acordo com diretrizes estabelecidas pelo órgão
ambiental competente, como condição para a expedição da licença prévia. Já a solici-
tação da licença de instalação deverá ser instruída com um Plano de Controle

47 E S T A D O D E S Ã O P A U L O / S E C R E T A R I A D O M E I O A M B I E N T E . Resolução SMA 42 de 29/12/1994. Aprova


procedimentos para análise do EIA/Rima no âmbito da SMA. São Paulo, Secretaria do Meio Ambiente.
« BRASIL. Resolução Conama n. 10/1990.
££ Figura 9.4 EIA/Rima na Legislação do Estado de São Paulo.

Fonte: Adaptado de SMA; CPRN; DAIA. 1998, p. 33.

Ambiental (PCA), que conterá os projetos executivos de minimizaçao dos impactos


ambientais identificados na fase de licença prévia.
Os empreendimentos destinados à exploração de recursos minerais deverão,
quando da apresentação do EIA e respectivo Rima, submeter à aprovação do órgão
ambiental competente um Plano de Recuperação de Áreas Degradadas (PRAD), indi-
cando as ações que serão implementadas quando a exploração mineral chegar ao
fim 4 9 . A recuperação deverá ter por objetivo o retorno do sítio degradado a uma for-
ma de utilização, de acordo com um plano preestabelecido para o uso do solo, visan-
do à obtenção de uma estabilidade do meio ambiente. Essa é uma exigência
estabelecida na Constituição Federal, art. 225, § 2 a , cujo enunciado pode ser visto n o
Quadro 3.6. Para a elaboração do P R A D , na ausência de roteiros ou termos

BRASIL Decreto 97.632 de 10 de abril de 1989. Dispõe sobre a regulamentação do art. 2", inciso VIII da Lei 6.938
de 31/08/81 e dá outras providências. Brasília: DOU de 12/04/1989.
de referências preparados pelo órgão ambiental, o empreendedor pode seguir as
orientações da norma N B R 13030 de 1999, que fixa diretrizes e estabelece recomen-
dações e condicionantes para a elaboração e apresentação de projeto de reabilitação
de áreas degradadas pela mineração.

O Estudo Prévio de Impacto de Vizinhança (EIV) é um instrumento de política


urbana instituído pela Lei 10.257/2001, conhecida como Estatuto da Cidade. Leis
municipais definirão quais empreendimentos e atividades, privados ou públicos, fica-
rão sujeitos à realização de E I V para obter licenças ou autorizações de construção,
ampliação ou funcionamento. Esse estudo deve contemplar os efeitos positivos e nega-
tivos do empreendimento ou atividade quanto à qualidade de vida da população resi-
dente na área e suas proximidades, incluindo na análise, no mínimo, as seguintes
questões:

a) adensamento populacional;
b) equipamentos urbanos e comunitários;
c) uso e ocupação do solo;
d ) valorização imobiliária;
e) geração de tráfego e demanda por transportes públicos;
f) ventilação e iluminação;
g) paisagem urbana e patrimônio natural e cultural 50 .

A publicidade também é um requisito essencial do EIV e seus documentos devem es-


tar disponíveis, no órgão municipal competente, para a consulta de qualquer interessado.
O EIV não substitui a elaboração de EIA, caso este seja exigido pela legislação ambiental.
C o m o objetivo de estabelecer procedimentos simplificados para o licenciamento
ambiental para empreendimentos de pequeno porte para ampliar a oferta de energia
elétrica, foi criado o Relatório Ambiental Simplificado (RAS), tendo como conteúdo
mínimo:

a) descrição do projeto e suas alternativas tecnológicas e locacionais, consideran-


do a hipótese de não realização, especificando área de influência;
b) diagnóstico e prognóstico ambiental com uma descrição dos prováveis impac-
tos ambientais e socioeconômicos, indicando métodos, técnicas e critérios
para a sua identificação, quantificação e interpretação; e

50 BRASIL. Lei 10.257 de 10 de julho de 2001. Regulamenta os artigos 182 e 183 da Constituição Federal, estabelece
diretrizes gerais de política urbana e dá outras providências. Brasília: D O U de 11/07/2001.
c) medidas mitigadoras e compensatórias, identificando os impactos que não
possam ser evitados.

O RAS também deve indicar o programa de acompanhamento, monitoramento e


controle. O processo de licenciamento não pode exceder o prazo máximo de 6 0 dias
de tramitação 51 . Essa pressa foi ditada pela necessidade de agilizar a implantação de
empreendimentos geradores de energia elétrica e evitar os blackouts, vulgo apagões, que
se tornaram freqüentes no país a partir dos últimos anos do século passado.

A L G U N S MÉTODOS DE AVALIAÇÃO DE IMPACTO

A avaliação dos impactos ambientais é o ponto central de um EIA, para a qual


diversos métodos foram e continuam sendo desenvolvidos. U m dos métodos mais
simples consiste no uso de listas de verificação ou de controle (check list) para avaliar e
interpretar os impactos que poderão ocorrer caso o projeto seja efetivamente implan-
tado. A elaboração da lista requer a identificação de características ou indicadores de
qualidade ambiental que podem ser impactados pelas ações previstas no projeto, por
exemplo, uso de recursos naturais e da infraestrutura existente, alteração da paisagem,
alteração do regime hídrico, erosão, assoreamento, poluição atmosférica e hídrica, ge-
ração de resíduos sólidos, ruídos, vibrações, intensificação do tráfego de veículos na
área de influência, valorização ou desvalorização imobiliária, modificações no estilo de
vida da população local e nas suas fontes de renda.

Dos métodos baseados em listas, os mais simples apenas relacionam itens de


verificação sobre a qualidade ambiental da área de influência do projeto. Algumas
listas apresentam, além dos itens de verificação, orientações sobre como obter da-
dos, selecionar amostras, bem como medir e interpretar os resultados. Cada item de
verificação será então analisado pelos membros da equipe contratada para efetuar o
EIA/Rima, segundo as instruções contidas na lista. A facilidade operacional é a
principal vantagem desse método. Para projetos de atividades e empreendimentos de
caráter repetitivo, podem ser elaboradas listas padronizadas que facilitam ainda mais
a sua aplicação. Sua principal desvantagem é a de fornecer uma visão segmentada
dos impactos, já que os itens de verificação da lista são avaliados isoladamente, difi-
cultando a identificação e a interpretação das interações entre os impactos decorren-
tes das ações previstas.

BRASIL. C O N S E L H O N A C I O N A L D O M E I O A M B I E N T E (CONAMA). Resolução Conama n. 279 de 27 de


junho de 2001. Estabelece procedimentos para o licenciamento ambiental simplificado de empreendimentos elé-
tricos com pequeno potencial de impacto ambiental. Brasília: D O U de 29/07/2001.
Há métodos baseados em listas de verificação mais elaboradas, corno o desenvolvi-
do pelo Battelle-Columbus Institute, no qual a lista se estrutura em uma árvore com qua-
tro fatores ambientais, 78 parâmetros e um sistema de ponderação, como mostra a
Figura 9.5. Primeiro, para cada parâmetro atribui-se um valor correspondente ao seu
impacto ambiental com o projeto e sem o projeto, de acordo com a unidade de medida
típica do parâmetro em análise, por exemplo, D B O medida em miligramas por litro;
material particulado, em microgramas por metro cúbico; ruído, em decibéis. A Figura
9.6 ilustra esse passo do método — note que ele permite acrescentar informações adicio-
nais como sinais de alerta individualizados para cada fator. Segundo, transforma-se esse
valor em um número adimensional em uma escala de 0 a 1, como ilustrado na Figu-
ra 9.7. Terceiro, multiplica-se esse número pelo coeficiente de ponderação (peso) corres-
pondente ao parâmetro, que é o número indicado entre parênteses na Figura 9.5. O
impacto ambiental total do projeto será dado pela diferença entre a soma cios valores
ponderados dos parâmetros com o projeto e a soma ponderada sem o projeto. Essa dife-
rença é o impacto ambiental líquido resultante do projeto caso ele seja implementado.

O método Battelle-Columbus foi desenvolvido inicialmente para avaliar impactos de


projetos relacionados com recursos hídricos nos Estados Unidos, daí a ênfase nos aspec-
tos relacionados com a água, como mostram os números da Figura 9.5. Posteriormente
esse método foi adaptado para outros tipos de projetos, envolvendo outros parâmetros
e outros sistemas de ponderação. Os coeficientes de ponderação podem ser substituí-
dos se os profissionais envolvidos na avaliação (administradores públicos, realizadores
do EIA/Rima, representantes da comunidade, por exemplo) considerarem outros mais
adequados. Os fatores ambientais também podem ser modificados para atender as es-
pecificidades do projeto e do meio ambiente receptor. As vantagens desse método são
as mesmas de qualquer lista de verificação, acrescida da quantificação dos impactos lis-
tados, apesar do subjetivismo que pode estar associado ao sistema de ponderação utili-
zado. Porém, deixa a desejar no que concerne às interações entre os impactos, pois esse
método apresenta as mesmas limitações das listas de verificação.
Os métodos baseados em matrizes de interação têm sua origem na conhecida matriz
de Leopold, concebida para avaliar os impactos ambientais da mineração no início da
década de 1970. A matriz original é uma tabela de dupla entrada, na qual as colunas
relacionam 100 ações causadoras de impactos decorrentes do projeto e as linhas, 88 fa-
tores ambientais da área de influência do projeto que podem ser afetados pelas ações,
formando 8.800 células, cada uma representando o cruzamento entre uma ação e um
fator ou característica ambiental. A matriz de Leopold é formada por duas listas de ve-
rificação: uma contendo os fatores ambientais dispostos em linha, e outra, as ações
causadoras de impacto dispostas em colunas. Os fatores são os componentes ou as ca-
racterísticas do meio ambiente, tais como qualidade do ar, da água, temperatura, pro-
dução hídrica, fauna, flora, paisagens, áreas agrícolas e urbanas, monumentos, áreas
•*"* Figura 9.5 Método de avaliação Battelle-Columbus - árvore de fatores.

Fatores ambientais

Ecologia (240) Poluição (402) Estética (153) Valores humanos (205)

Espécies e populações: Poluição hídrica: Solo: Educacionais e científicos:


(20) perda hídrica na bacia (06) material geológico (13) arqueológico
** Terrestres:
(25) DBO superficial (13) ecológico
(14) pastagens (32) oxigênio dissolvido (16) relevo e topografia (11) geológico
(14) colheitas (18) coliformes fecais (10) extensão e (11) hidrológico
(14) vegetação (22) carbono inorgânico alinhamento 48
natural (25) nitrogênio inorgânico 32
(14) espécies (28) fosfato inorgânico Históricos:
daninhas (16) pesticidas Ar: (11) estilo e arquitetura
(14) aves terrestres (14) substâncias técnicas (03) odor e visibilidade (11) acontecimentos
(28) variações na vazão (02) sons (11) personagens
** Aquáticas:
(28) temperatura (11) religiosos e culturais
(14) pesca comercial
(25) sólidos dissolvidos (11) pioneirismo
(14) vegetação (20) turbidez Água:
natural 55
(18) pH (10) presença de água
(14) espécies
(16) interface terra-água Culturas:
daninhas 318 (06) odor e materiais (14) povos indígenas
(14) pesca esportiva flutuantes (07) grupos religiosos
(14) aves aquáticas Poluição do ar:
(10) margens arborizadas (07) grupos étnicos
(05) monóxido de carbono
(10) superfície da água 28
140 (05) hidrocarbonetos
(10) óxidos de nitrogênio
52 Sensações:
Hábitats e comunidades: (12) particulados
(05) oxidantes fotoquímicos ( 1 1 ) admiração
Biota: (11) isolamento e solidão
i"* Terrestres: (10) óxido de enxofre
(05) animais domésticos (11) integração com a
(12) cadeias (05) outros
(05) animais selvagens natureza
alimentares 52 (09) diversidade de
(12) uso do solo (04) mistério
espécies vegetais 37
(12) espécies raras e Poluição do solo:
(05) diversidade
ameaçadas (14) uso do solo
intraespécie Estilo de vida/padrões
(14) biodiversidade (14) erosão
24 culturais:
28
<~» Aquáticas: (13) oportunidades de
(12) cadeias Poluição sonora: Objetos artesanais: emprego
alimentares (10) objetos (11) interações sociais
(04) ruídos 4
(12) espécies raras e 10 (13) moradias
ameaçadas 37
Composição:
(12) uso do solo
(15) efeito de composição
(13) biodiversidade
(15) elementos singulares
30
100

Ecossistema
(apenas descritivo)

Fonte: 0REA, 1999, p. 438.


•mS Figura 9.6 Quantificação dos impactos ambientais com e sem a implantação do projeto.

Fatores Valor do impacto ambiental


Sinais de alerta
ambientais COM o projeto SEM o projeto Alteração líquida

Perda hídrica

Oxigênio dissolvido

Coliformes fecais

Carbono inorgânico

Fosfato inorgânico

Pesticidas

Fonte: OREA, 1999, p. 440.

Figura 9.7 Transformando unidades de medidas em números adimensionais - exemplos.

Colheita Oxidantes fotoquímicos

6 0 70 8 0 100% 0,20 ppm


Soma das áreas plantadas de cada tipo de Média horária em partes por milhão.
cultura, ponderadas por índices de Exemplo: 0,1 5 ppm = 0,2
produtividade, expresso em % da área
totaí cultivada. Exemplo: 70% = 0,7

Fonte: OREA, 1999, p. 454.

protegidas etc. As ações causadoras de impactos decorrem do projeto, por exemplo,


destruição de hábitats, drenagem, terraplanagem, emissão de gases, geração de resíduos,
abertura de estradas, fluxos migratórios, alteração da composição fundiária.
O s procedimentos para avaliar os impactos são os expostos a seguir. C o n s t r u í d a
a matriz, inicialmente, percorre-se cada célula da tabela e quando se identifica algu-
ma interação entre uma ação prevista (coluna) c o m algum fator ambiental (linha),
traça-se uma diagonal nessa célula, c o m o mostra a Figura 9 . 8 . Depois, em cada célula
marcada com uma diagonal, anota-se a magnitude do impacto, usando uma escala
de 1 a 10, na metade superior da célula: 10 significando magnitude máxima e 1, a
mínima. Na parte inferior, anota-se a importância do impacto, t a m b é m em escala de
1 a 10. A magnitude do impacto, que corresponde ao efeito causado por uma ação,
pode ser benéfica ou adversa, daí a necessidade de usar os sinais + e - para a natureza
do efeito identificado, respectivamente. O sinal ± é usado para efeitos indefinidos
ou desconhecidos. A importância do impacto refere-se à intensidade do impacto que
pode referir-se (1) ao grau de alteração do meio físico, biótico ou antrópico; (2) a sua
dimensão temporal, por exemplo, curto, médio ou longo prazo; e (3) a sua extensão
espacial (local, regional, global). A matriz deve ser repetida para cada proposta
alternativa.

A atribuição de valores para compor a matriz exige reflexão e busca de consenso


entre os membros da equipe responsável pelo EIA/Rima, o que não exclui uma boa
dose de subjetividade. Para cada impacto ambiental significativo é feita uma descrição,
apontando suas características (por exemplo: permanente, irreversível ou cumulativo),
incluindo, sempre que possível, propostas de ações alternativas. Essa é a parte mais
importante do método, a matriz é só um ponto de partida e funciona como uma lista
de verificação bidimensional.

O s componentes da matriz original criada por Leopold e colaboradores enfatizam


as ações e os impactos das atividades de mineração. As entradas da matriz (linhas e
colunas) têm sido modificadas por diferentes profissionais especializados em E I A para
adaptar esse método a outros tipos de atividades e empreendimentos. A lista das ações

r... Figura 9.8 Matriz de Leopold - exemplos de células marcadas.

Fatores Ações impactantes


ambientais a b c d e f g
A 3
5
B 5 ^ ^ 7 ^ ^
^ ^ 4 ^ ^ 2
3 8
C
^ ^ 2 5
D 8 7 3 ^ ^
^ ^ 9 ^ ^ 7 2
E 2 ^ ^
5
impactantes pode ser a própria relação de atividades do projeto, dispostas nas linhas
conforme o cronograma previsto. Esse método inspirou inúmeras variações, sendo
que hoje as matrizes de interação estão entre os métodos mais usados n o mundo, pois
apresentam a facilidade operacional das listas de verificação com a vantagem de permi-
tir uma avaliação geral dos impactos associados às ações previstas n o projeto. Permite
também avaliar cada elemento de entrada da matriz, pois a soma dos valores de uma
linha mostra o grau de alteração previsto sobre certo fator ambiental e a soma de uma
coluna, o impacto decorrente de uma ação prevista n o projeto.
Entre as principais desvantagens desse método merecem destaques: o subjetivismo
na mensuração da magnitude e da importância cios impactos identificados, a dificul-
dade para tratar os impactos indiretos e a interação entre impactos. Apesar de suas
inúmeras variações, a matriz de Leopold continua limitada quando se pretende avaliar
as interações além da primeira ordem de impactos ambientais.
O s métocios baseados em redes de interação procuram alcançar os impactos dire-
tos e indiretos, imediatos e mediatos. Eles se baseiam na elaboração de diagramas de
fluxo, ou gráficos de causa e efeito, que representam cadeias de impactos associados a

O Figura 9.9 Rede de interações - exemplo.

Fonte: Adaptado de Rau; Wooten, 1980, p. 8-25.


partir das ações previstas, como exemplificado pela Figura 9.9. Além dos citados, há
uma grande diversidade de métodos envolvendo diferentes abordagens para avaliar
impactos, como os métodos baseados em cartografia, em modelagem matemática de
ecossistemas e em valoração econômica do meio ambiente.

Novos métodos e variações de métodos conhecidos estão sendo permanentemente


desenvolvidos e aplicados, o que atesta a importância desse instrumento de gestão
ambiental, bem como a grande dificuldade de realizar avaliação de impacto de modo
satisfatório. A participação de representantes da comunidade da área de influência do
projeto, de O N G s e outros interessados no empreendimento ou atividade, além dos
empreendedores e dos agentes públicos encarregados cio processo de avaliação e licen-
ciamento, constitui uma oportunidade para corrigir falhas, omissões e erros resultan-
tes da aplicação de qualquer método de avaliação.

LIMITAÇÕES E POSSIBILIDADES

O EIA apresenta diversas deficiências, algumas delas decorrentes dos métodos de


avaliação, conforme comentado. Uma deficiência é a dificuldade de avaliar os impac-
tos considerando as diversas interações que podem ocorrer entre eles. Outro problema
típico é a dificuldade de delimitar corretamente a área de influência dos impactos,
sendo este um dos motivos freqüentes de contestações por parte dos agentes públicos
envolvidos no processo de avaliação. Nem sempre é possível avaliar corretamente os
impactos globais, principalmente devido à dificuldade de considerar as interações, os
efeitos retardados e acumulativos. Outro problema decorre do fato de que o uso deste
instrumento se dá de modo fragmentado, projeto a projeto, cada um sendo elaborado
sem considerar os demais. C o m o se sabe, a soma de bons projetos do ponto de vista
ambiental não garante que a área ou a região de destino estará resguardada de proble-
mas ambientais à medida que os projetos sejam implantados.

Esses problemas podem ser atenuados ou sanados por meio de um instrumento


de avaliação que vá além de projetos individuais, como é o caso da Avaliação Ambien-
tal Estratégica (AAE), que tem como foco as políticas, planos e programas públicos
coerentes com as propostas de desenvolvimento sustentáveis, considerando-os desde
a sua formulação e seus processos de decisão. Esse instrumento pode gerar parâme-
tros para os projetos individuais uma vez que ele se dá em níveis de decisão mais ele-
vados e seu escopo é mais abrangente. A relação com o EIA pode ser de várias formas.
A Figura 9.10(a) ilustra uma situação na qual a AAE contribui para sanar as deficiên-
cias do EIA de um projeto individual pelas avaliações realizadas anteriormente
e desde um nível de decisão mais elevado, o que vale dizer, estratégico para o país,
região ou local; a Figura 9.10(b) representa uma interação plena entre estes dois ins-
trumentos, na qual as avaliações de alto nível levam em conta as limitações e oportu-
nidades que o meio ambiente pode proporcionar às opções de desenvolvimento
sustentável 52 . Importante considerar que a A A E não substitui a EIA, são estudos com
focos e métodos diferentes.
A A A E é um instrumento de gestão ambiental bem mais recente do que a EIA,
embora já tenha um bom caminho andado. U m a das experiências mais ricas encon-
tra-se em diversos países da Europa, tendo como marco importante a C o n v e n ç ã o da
Comissão E c o n ô m i c a das Nações Unidas para a Europa de 1991 sobre a avaliação de
impactos ambientais em um contexto transfronteiriço, conhecida c o m o C o n v e n ç ã o
de Espoo. N o texto da Convenção, a avaliação de impactos ambientais é entendida
c o m o um procedimento nacional destinado a avaliar os prováveis impactos que uma
atividade proposta terá sobre o meio ambiente, assegurando a realização de consultas
transfronteiriças". Em 2001 foi adotada a Diretiva 2 0 0 1 / 4 2 / C E do Parlamento Eu-
ropeu e do C o n s e l h o da U n i ã o Européia, com o objetivo de integrar as considerações

-: j Figura 9.10 Interação entre a AEA e o EIA de um projeto individual.

a AAE de b
Meio ambiente:
opção Biofísico
estratégica Social
Econômico
Nível de
concretização
EIA AAE

EIA de um
projeto individual
Desenvolvimento
>
tempo

EIA = Avaliação de Impacto Ambiental AAE = Avaliação Ambiental Estratégica

Fonte: ONATE et al.. 2002, p. 31.

,2 ONATE, J; et al., 2 0 0 2 . p. 27-33.


" Convenção de Espoo, 2001, art. 1, letra vi.
ambientais na elaboração de planos e programas com vistas a promover o desenvolvi-
mento sustentável 54 .
O objetivo dessa diretiva é estabelecer um nível elevado de proteção ao meio am-
biente e contribuir para a integração das considerações ambientais na preparação e
aprovação de planos e programas, com vistas a promover o desenvolvimento sustentá-
vel. Visa garantir que os planos e programas suscetíveis de causarem impactos am-
bientais significativos sejam sujeitos à avaliação ambiental 55 . Essa diretiva estabelece
que a avaliação ambiental deve ser realizada durante a preparação do plano ou pro-
grama e antes de serem aprovados pelas instâncias competentes 56 . A avaliação ambien-
tal é definida como a elaboração de um relatório ambiental, a realização de consultas,
a tomada de consideração do relatório e dos resultados das consultas na tomada de
decisão, além do fornecimento de informação sobre a decisão 57 . A Convenção de
Espoo e a Diretiva não usam nenhuma vez a palavra estratégica para qualificar a avalia-
ção ambiental de que tratam, mas sim expressões como nível elevado de proteção e pro-
cedimento nacional que remetem ao caráter estratégico da avaliação. Vários países
como Canadá e Austrália já legislaram sobre esse instrumento. No Brasil há diversas
iniciativas isoladas, mas ainda não há uma legislação federal estabelecendo normas
gerais sobre este instrumento.
A criação de instrumentos de natureza preventiva, como os estudos prévios de
impacto ambiental, representou um avanço considerável na ação governamental sobre
o meio ambiente. Seu objetivo básico é agir na fase de planejamento do projeto de um
empreendimento para evitar danos ao ambiente físico, biológico e social, constituin-
do-se, dessa forma, em oportunidades para melhorar o projeto, tanto do ponto de vista
do Poder Público responsável pelo licenciamento ambiental, quanto do empreende-
dor. A avaliação prévia evita problemas futuros, tal como a acumulação de passivos
ambientais que poderão com o tempo reduzir a eficiência econômica do empreendi-
mento ou até mesmo inviabilizá-lo. Modificações durante os estágios iniciais do proje-
to são mais fáceis de serem realizadas e custam menos, comparativamente às mudanças
efetuadas após sua implantação.
O ElA/Rima não deve ser utilizado para qualquer tipo de empreendimento. Em vir-
tude de sua natureza complexa do ponto de vista processual, da qual as audiências públi-
cas constituem fases importantes, esse instrumento deveria ficar reservado apenas para

P A R L A M E N T O E U R O P E U E C O N S E L H O DA U N I Ã O E U R O P E I A . Diretiva 2001/42/CE de 27 de junho de


2001, relativa à avaliação dos efeitos de determinados planos e programas no ambiente. Jornal Oficial da Comunidade
Européia, L 197/30, de 21/07/2001. Diretiva 2001/42/CE, art. 4".
P A R L A M E N T O E U R O P E U E C O N S E L H O DA U N I Ã O E U R O P E I A , Diretiva 2001/42/CE, art. 1".
P A R L A M E N T O E U R O P E U E C O N S E L H O DA U N I Ã O E U R O P E I A , Diretiva 2001/42/CE, art. 4».
P A R L A M E N T O E U R O P E U E C O N S E L H O DA U N I Ã O E U R O P E I A , Diretiva 2001/42/CE, art. 2".
atividades e e m p r e e n d i m e n t o s de grande porte, públicos e privados, b e m c o m o para os
q u e envolvem tecnologias pioneiras q u e gerem dúvidas sobre os seus impactos, c o m o n o
caso dos organismos g e n e t i c a m e n t e modificados. S e m p r e q u e o tipo de e m p r e e n d i m e n t o
ou atividade requerer a aplicação d o principio da precaução, o E I A deve ser exigido. O s
e m p r e e n d i m e n t o s de p e q u e n o e m é d i o porte q u e o p e r a m tecnologias c o n h e c i d a s o u ma-
duras p o d e m ser licenciados c o m base em estudos de impactos simplificados e nas provi-
dências incluídas n o s projetos, relativas às práticas de c o n t r o l e e prevenção da p o l u i ç ã o .

© Termos e conceitos importantes

Avaliação Ambiental Estratégica Licença Prévia

Avaliação de impacto Matriz de interação

Audiência Pública Métodos de Avaliação de Impacto

Ciclo de projeto Princípios do EIA

Estudo de Impacto Ambiental (EIA) Relatório Ambiental Preliminar (RAP)


Estudo de Impacto de Vizinhança Relatório de Impacto Ambiental
(EIV) (Rima)

Impacto ambiental Relatório de Controle Ambiental

Licenciamento ambiental (RCA)

Licença de Instalação Relatório Ambiental Simplificado

Licença de Operação (RAS)

Q u e s t õ e s para revisão

1. Reveja as diversas definições de impacto ambiental e de meio ambiente apresentadas


neste livro e, e m particular, neste capítulo. Comente as diferenças entre elas. Se você
precisar escolher uma delas, qual será? Justifique sua escolha.

2. "Todos os instrumentos de gestão ambiental tratam de impactos ambientais" C o m e n t e


esta assertiva.

3. A l é m dos instrumentos de gestão ambiental considerados no Quadro 9.1, que outros


t a m b é m são baseados e m estudos de impactos ambientais? Para cada u m desses ins-
trumentos, identifique seus objetivos e foco de ação.

4. Quais são os entes da Federação que podem legislar sobre EIA e quais podem conceder
licença ambiental?
5. Discorra sobre as modalidades de licença ambiental, relacionando-as com as fases de im-
plantação de um empreendimento ou atividade e com os requisitos exigidos pela legislação.

6. Conforme estabelece a Constituição Federal de 1988, incumbe ao Poder Público exigir, na


forma da lei, para a instalação de obra ou atividade potencialmente causadora de signifi-
cativa degradação do meio ambiente, estudo prévio de impacto ambiental, a que se dará
publicidade (art. 225, § 1a, IV). Quais os instrumentos previstos na legislação brasileira
para tornar público esse estudo e como eles são regulamentados?

7. Assim que recebe o Rima, o órgão ambiental competente fixará em edital e anunciará na
imprensa local a abertura do prazo para solicitar a audiência pública. Faça uma busca na
imprensa local nos últimos três meses e verifique pelos editais publicados os tipos de
empreendimentos ou atividades objeto dos estudos de impacto e os seus proponentes.

8. Abaixo há uma relação de diversos instrumentos de política pública ambiental relacionados


com licenciamento e estudos de impacto ambiental e uma tabela com suas células vazias.
Reveja o capítulo e coloque cada um desses instrumentos na célula pertinente dessa tabe-
la. Por exemplo: licença prévia deve ser colocada na célula que corresponde à interseção
entre a linha relativa à fase de planejamento e a coluna "órgão ambiental competente'.'

f ~ Comentários escritos
Denúncias
EIA/Rima
Licença de instalação
J Licença de operação
Instrumentos ( Licença prévia
Medidas de mitigação
Plano de Recuperação de Áreas Degradadas
Programa de Acompanhamento e monitoramento de impacto
Relatório Ambiental Prévio
V _ Relatório de Controle Ambiental

Agente Órgão ambiental Outras partes


Empreendedor
Fases do projeto"~~--— competente interessadas

Planejamento da atividade ou
empreendimento

Início da implantação da
atividade ou do
empreendimento

Início da atividade ou do
funcionamento do
empreendimento
9. Comente cada u m dos modelos de avaliação apresentados neste capítulo, expondo suas
vantagens e desvantagens.

10. Nas bibliotecas ou centros de documentação dos órgãos ambientais estaduais ou do


Ibama você encontrará cópias de Rimas, conforme estabelece a legislação comentada no
capítulo. Vá até esses locais e verifique as metodologias de avaliação de impactos dos
Rimas que você consultar.

11. Que providências foram tomadas pelo Poder Público para evitar a banalização do EIA/
Rima? Você concorda com elas? Por quê? Apresente sugestões para tomar o EIA/Rima
mais efetivo do ponto de vista das três dimensões da sustentabilidade: respeito ao meio
ambiente, eficiência econômica e equidade social.

1 2 . Qual as diferenças entre a Avaliação Ambiental Estratégica (AAE) e a EIA. Como a AAE
pode corrigir eventuais limitações do EIA. Que limitações são estas?

Referências

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ambiental: requisitos com orientações para uso. Rio de Janeiro: ABNT, 2004.

A S S O C I A Ç Ã O B R A S I L E I R A DE N O R M A S T É C N I C A S (ABNT). NBR ISO 14015:2003. Avaliação ambiental de


locais e organizações. Rio de Janeiro: ABNT, 2 0 0 3 .

A S S O C I A Ç Ã O B R A S I L E I R A D E N O R M A S T É C N I C A S (ABNT). NBR ISO 14020:2002. Rótulos e declarações


ambientais - princípios gerais. Rio de Janeiro: ABNT, 2002.

A S S O C I A Ç Ã O B R A S I L E I R A DE N O R M A S T É C N I C A S (ABNT). NBR ISO 14040:2001. Gestão ambiental -


Avaliação do ciclo de vida - princípios e estruturas. Rio de Janeiro: ABNT, 2001.

A S S O C I A Ç Ã O B R A S I L E I R A D E N O R M A S T É C N I C A S (ABNT). NBR 13030:1999. Elaboração e apresentação de


projeto de reabilitação de áreas degradadas pela mineração. Rio de Janeiro: ABNT, 1999.

BRASIL. C O N S E L H O N A C I O N A L DO M E I O A M B I E N T E (CONAMA). Resolução Conama n. 334 de 03 de abril de


2003. Dispõe sobre procedimentos para licenciamento de estabelecimentos destinados ao recebimento de
embalagem vazia de agrotóxicos. Brasília: D O U de 04/04/2003.

BRASIL. C O N S E L H O N A C I O N A L D O M E I O A M B I E N T E (CONAMA). Resolução Conama n. 3 0 5 de 12 de junho


de 2002. Dispõe sobre Licenciamento Ambiental, Estudo de Impacto Ambiental e Relatório de Impacto no Meio
Ambiente de atividades e empreendimentos com Organismos Geneticamente Modificados e seus derivados. Brasília:
D O U de 04/07/2002.

BRASIL. C O N S E L H O N A C I O N A L DO M E I O A M B I E N T E (CONAMA). Resolução Conama n. 279 de 27 de junho


de 2001. Estabelece procedimentos para o licenciamento ambiental simplificado de empreendimentos elétricos com
pequeno potencial de impacto ambiental. Brasília: D O U de 29/07/2001.

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de 1997• Regulamenta os procedimentos e critérios de licenciamento ambiental como instrumento de gestão
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<http://www.mma.gov.br>. Acesso em: 13 dez. 2010.

BRASIL. C O N S E L H O N A C I O N A L D O M E I O A M B I E N T E (CONAMA). Resolução Conama n. 05 de 15 de junho de


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de 1986. Estabelece as definições, as responsabilidades, os critérios básicos e as diretrizes gerais para uso e
implementação da Avaliação de Impacto Ambiental como um dos instrumentos da Política Nacional do Meio
Ambiente. Brasília: D O U de 17/02/1986. Disponível em: <http://www.mma.gov.br>. Acesso em: 13 dez. 2010.

B R A S I L . Lei 10.257 de 10 de julho de 2001. Regulamenta os artigos 182 e 183 da Constituição Federal, estabelece
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BRASIL. Lei 9.605 de 12 de fevereiro de 1998. Dispõe sobre sanções penais e administrativas derivadas de condutas e
atividades lesivas ao meio ambiente e dá outras providências. Brasília: D O U de 13/02/1998.

BRASIL. Decreto 99.274 de 6 de junho de 1990. Regulamenta a Lei 6.902/81 e a Lei 6.938/81. Brasília: D O U de
07/06/1990.

BRASIL. Decreto 97.632 de 10 de abril de 1989. Dispõe sobre a regulamentação do art. 2", inciso VIII da Lei 6 . 9 3 8 de
31/08/81 e dá outras providências. Brasília: D O U de 12/04/1989.

BRASIL. Lei 7.661 de 16 de maio de 1988. Institui o Plano Nacional de Gerenciamento Costeiro e dá outras
providências. Brasília: D O U de 18/05/1988.

B R A S I L . Decreto 88.351 de 01 de junho de 1983. Regulamenta as leis 6.938/81 e 6.902/81. Brasília: D O U de


05/07/1983.

B R A S I L . Lei 6.938 de 31 de agosto de 1981. Dispõe sobre a Política Nacional do Meio Ambiente, seus fins e
mecanismos de formulação e aplicação, e dá outras providências. Brasília: D O U de 02/09/1981.

BRASIL. Lei 6.803 de 02 de julho de 1980. Dispõe sobre as diretrizes básicas para o zoneamento industrial nas áreas
críticas de poluição e dá outras providências. Brasília: D O U de 06/07/1980.

E S T A D O D E S Ã O PAULO/SECRETARIA D O M E I O A M B I E N T E / C O O R D E N A D O R I A D E L I C E N C I A M E N T O
A M B I E N T A L E D E P R O T E Ç Ã O DE R E C U R S O S NATURAIS; DEPARTAMENTO DE AVALIAÇÃO
A M B I E N T A L (SMA/CPRN/DAIA). Relatório Ambiental Preliminar - RAP: roteiros básicos. São Paulo, mar. 1998.

E S T A D O D E S Ã O P A U L O / S E C R E T A R I A D O M E I O A M B I E N T E . Resolução SM A 42 de 29/12/1994. Aprova


procedimentos para análise do EIA/Rima no âmbito da SMA. São Paulo, Secretaria do Meio Ambiente.

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P A R L A M E N T O E U R O P E U E C O N S E L H O DA U N I Ã O E U R O P E I A . Diretiva 2001/42/CE de 27 de junho de 2001,


relativa à avaliação dos efeitos de determinados planos e programas no ambiente. Jornal Oficial da Comunidade Européia, L
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W E B S T E R ' S Third new international dictionary. USA: Merriam-Webster Inc., 1993.


À GUISA DE CONCLUSÃO

A gestão ambiental empresarial teve e continuará tendo nas iniciativas ambientais


públicas globais, regionais, nacionais e locais as suas principais fontes de desenvolvi-
mento. Neste texto tomou-se a Conferência das Nações Unidas para o Meio Ambiente
Humano, realizada em Estocolmo em 1972, como um marco importante para o desen-
volvimento da gestão ambiental em todas essas dimensões, de acordo com uma pro-
posta socioambiental. Os ciclos de conferências que vieram depois, com destaque
cspccial para a do Rio de Janeiro em 1992, trouxeram uma diversidade de medidas de
gestão socioambiental consubstanciadas em acordos multilaterais ambientais e em
programas de ação envolvendo governos, instituições multilaterais, empresas, organiza-
ções não governamentais e instituições de ensino e pesquisa.
O Brasil acompanhou esse movimento global que passou a ser identificado pela
expressão desenvolvimento sustentável. O crescimento das ações empresariais ambientais
tem sido impulsionado pela escalada da legislação ambiental federal, estadual e muni-
cipal desde as últimas três décadas do século X X e que tomou um impulso considerável
com a regulamentação de diversos dispositivos constantes na Constituição Federal de
1988 e a incorporação de vários acordos multilaterais ambientais, alguns deles trata-
dos no Capítulo 2. Ao longo desse tempo, o próprio papel do Poder Público passou
por transformações profundas. De uma atuação inicialmente centrada no exercício do
poder de polícia, passou a contar com uma diversidade de instrumentos de política
pública, tais como, os incentivos fiscais e as medidas baseadas no princípio do polui-
dor pagador. Novas formas de relacionamento entre os governos e as empresas tam-
bém foram aperfeiçoadas em diversos países e locais. Os governos deixam de atuar
exclusivamente de acordo com o binômio regulamentar e fiscalizar e passam a desenvol-
ver diversas formas de cooperação com as empresas, como os acordos voluntários pú-
blicos de adesão ou negociados, explicados no Capítulo 3.
Mas não é só do lado governamental que surgem motivos para a inclusão das preo-
cupações ambientais nas empresas. Muitas empresas que atuam no mercado exterior, ou
que pretendem atuar, estão cada vez mais atentas às questões ambientais, pois estas são
usadas freqüentemente como barreiras técnicas ao comércio internacional. Dentre as dez
exceções gerais permitidas pelo GATT para estabelecer restrições ao comércio estão as
medidas para proteger a saúde e a vida das pessoas e dos animais, para preservar os vege-
tais e para conservar os recursos naturais esgotáveis, desde que sejam aplicadas juntamen-
te com as restrições à produção ou ao consumo nacionais'. O Acordo sobre Barreiras
Técnicas ao Comércio, outro acordo multilateral de comércio administrado pela Organi-
zação Mundial do Comércio (OMC), permite qtie os governos estabeleçam restrições às
importações de produtos que possam causar danos à saúde ou ao meio ambiente, desde
que não se trate de uma prática discriminatória. Estas e outras questões concernentes às
questões ambientais relacionadas com o comércio internacional têm colocado para as
empresas a necessidade de demonstrarem que são ambientalmente responsáveis.
A busca de certificação para os Sistemas de Gestão Ambiental com base na norma
ISO 14001, assunto tratado no Capítulo 5, tem sido estimulada em grande parte pelas
possibilidades de restrições permitidas pelas regras do comércio multilateral no âmbito
da O M C . Presume-se que a empresa que possua um Sistema de Gestão Ambiental de
acordo com os requisitos dessa norma e certificado por um Organismo de Certificação
Credenciado seja ambientalmente correta em âmbitos nacional e internacional. Vale
lembrar que as normas de gestão internacionais produzidas com elevado consenso,
como são as normas ISO, não são consideradas barreiras ao comércio nos acordos rela-
tivos ao comércio multilateral administrados pela O M C . E importante considerar que
a implantação de um Sistema de Gestão Ambiental, certificado ou não por um organis-
mo de terceira parte, constitui apenas uma etapa importante, na qual a empresa conse-
guiu introduzir com êxito a preocupação ambiental de modo integrado à gestão global
da organização. Sua continuidade e aperfeiçoamento requerem a superação de desafios
constantes que levam-nas à necessidade de se valerem de uma variedade de instrumen-
tos de gestão, dos quais alguns dos mais importantes foram tratados neste livro.
As organizações ambientalistas têm exercido um papel fundamental e diversificado,
por exemplo, denunciando e mobilizando a população para boicotar empresas e produ-
tos ambientalmente incorretos; cooperando com empresas, governos e comunidades; e
criando oportunidades de negócios sustentáveis, ou seja, negócios que atendam simulta-
neamente aos seguintes requisitos: são economicamente viáveis, socialmente inclusivos e
ambientalmente corretos. São incontáveis os trabalhos que elas realizam em parcerias
com empresas com respeito aos mais variados temas ambientais. Muitas delas foram
criadas especificamente para dar suporte à gestão ambiental segundo concepções pró-
prias, como Gemi, Ceres, Cempre, GRI, entre outras, algumas citadas ao longo deste li-
vro. Diversos bancos, agências de financiamentos e seguradoras deram-se conta da
importância das questões ambientais, pois elas podem prejudicar os negócios. Por isso,
muitas instituições financeiras já estão avaliando o cuidado ambiental como um dos
critérios para habilitar as empresas como tomadoras de empréstimos. O crescente núme-
ro de selos ou rótulos verdes criados por organizações independentes e governos em di-
versos países, regiões e locais reflete o aumento da conscientização popular em relação
aos problemas ambientais e ao mesmo tempo contribui para o desenvolvimento de no-
vos padrões de produção e consumo.
Se não há dúvidas a respeito da necessidade da gestão ambiental nas empresas, o
mesmo não se pode dizer quanto aos seus aspectos organizacionais. Implementar a
gestão ambiental é uma questão em aberto e cada empresa deve encontrar o seu pró-
prio caminho, pois a diversidade das empresas e das suas circunvizinhanças não reco-
menda qualquer sugestão universal. Nas grandes empresas cabe a criação de
departamentos específicos e até mesmo de divisões dedicadas à gestão ambiental. Nas
médias, pequenas e microempresas, as atividades ambientais podem ser conduzidas
em conjunto com outras questões empresariais, principalmente com áreas correlatas,
como segurança e saúde ocupacional. Mais do que o tamanho da empresa é a natureza
das suas atividades que deve ser considerada para efeito de implementar a gestão am-
biental. Empresas com atividades geradoras ou potencialmente geradoras de elevado
impacto ambiental adverso deveriam conduzir sua gestão ambiental a partir de um
órgão ambiental específico, o mais perto possível do centro de poder da empresa.
Um departamento ou órgão ambiental específico não alcança a totalidade das ques-
tões ambientais, pois elas estão presentes em todas as atividades da empresa: no chão de
fábrica, no armazém, no almoxarifado, na movimentação e no manuseio de mercado-
rias, nos escritórios, no desenvolvimento de produtos e processos, na seleção de mate-
riais e de fornecedores, nas atividades de venda e pós-venda, em qualquer lugar onde
insumos produtivos são adquiridos, processados e utilizados. A política ambiental explí-
cita e a criação e operação de um Sistema de Gestão Ambiental, conforme mostrado no
Capítulo 5, são modos de orientar esse esforço coletivo. A preocupação com a qualida-
de ambiental deve ser disseminada em todos os níveis hierárquicos e funções, o que
significa que ela deve ser tratada de modo transversal, ainda que em certos casos seja
necessário criar e manter órgãos ambientais específicos. Em todos os locais e atividades
de uma empresa sempre haverá a possibilidade de gerar problemas ambientais.
Quanto mais a preocupação ambiental estiver interiorizada em todos os funcioná-
rios, independentemente dos cargos que ocupam ou funções que exerçam, mais eficaz
será a gestão ambiental. O ideal é alcançar um nível de comprometimento que as pre-
ocupações com o meio ambiente sejam consideradas em todas as decisões, tanto as
estratégicas quanto as operacionais que ocorrem no dia a dia e em todos os setores da
empresa. O u seja, as preocupações ambientais devem permear todas as atividades e
funções desenvolvidas pela empresa. Reorientar a tecnologia, administrar os riscos e
incluir o meio ambiente em todas as decisões são objetivos do desenvolvimento susten-
tável que se aplicam perfeitamente às empresas e suas entidades de classe.

Qualquer lista de instrumentos de gestão ambiental nunca será exaustiva. As téc-


nicas para melhorar a produtividade podem ser entendidas como instrumentos implí-
citos de gestão ambiental, uma vez que uma das classes de problemas ambientais
refere-se ao uso dos recursos naturais. Eliminar o vazamento de óleo lubrificante de
uma máquina, reduzir o consumo desnecessário de energia, reaproveitar materiais usa-
dos, realizar manutenção preventiva, fazer certo da primeira vez para que o trabalho
não precise ser refeito e evitar perdas de materiais e energia são exemplos de incontá-
veis práticas empresariais positivas ao meio ambiente. Produzir mais com menos é uma
preocupação permanente de qualquer empresário ou administrador. Mas só esses ins-
trumentos não bastam, pois seu alcance é limitado e a motivação para implementá-los
nem sempre coincide com as necessidades de proteger o meio ambiente. Além disso,
o que uma mão pode fazer a favor do meio ambiente, a outra pode fazer contra, de
modo que não se deve esperar grandes melhorias ambientais pela via espontânea, dei-
xada ao sabor das iniciativas voltadas para a busca de melhor eficiência, como o au-
mento de produtividade ou a melhoria da qualidade. A degradação do meio ambiente
ultrapassou os limites da capacidade de suporte da Terra e medidas como as citadas
demoram a mostrar seus resultados do ponto de vista ambiental.

É preciso ter pressa para com os problemas ambientais antes que seja tarde demais.
No âmbito das empresas, isso significa implementar a gestão ambiental integrada à sua
gestão global e adotar instrumentos de gestão específicos que incorporem o princípio
da precaução, da prevenção e da responsabilidade socioambiental, a exemplo dos que
foram apresentados neste livro. Se hoje tais providências servirem para reverter a de-
gradação ambiental em curso, no futuro elas serão indispensáveis para manter a quali-
dade ambiental do planeta, impedindo o retorno do estado lamentável que se presencia
atualmente. Em outras palavras, a gestão ambiental empresarial veio para ficar: neste
momento, como um imperativo diante do agravamento dos problemas ambientais;
depois, na medida da resolução desses problemas, para sustentar as melhorias alcança-
das e evitar o surgimento de novos problemas ambientais.
ANEXO 1

PRINCIPAIS ACORDOS MULTILATERAIS SOBRE


Q U E S T Õ E S AMBIENTAIS E CORRELATAS

ACORDO LOCAL DATA

Acordo para a Proteção das Focas do Mar de Behring Paris 1883

Convenção para a Proteção das Aves Úteis à Agricultura Paris 1911

Congresso Internacional para a Proteção da Natureza Paris 1923

Convenção para Regulamentação da Pesca da Baleia Washington 1931

Convenção de Londres para a Preservação da Flora e Fauna em Estado Natural Londres 1933

Convenção para a Proteção da Flora, da Fauna e das Belezas Cênicas Naturais dos Washington 1940
Países da América

Convenção Internacional para Regulamentação da Pesca da Baleia Washington 1946

Convenção para a Proteção das Aves Paris 1950

Convenção Internacional para a Proteção dos Vegetais Roma 1951

Convenção de Haia para a Proteção de Bens Culturais em Caso de Conflitos Bélicos Haia 1954

Convenção Internacional para a Prevenção da Poluição do Mar por Óleo Londres 1954

Convenção sobre Pesca e Conservação dos Recursos Vivos do Mar Genebra 1958

Convenção sobre o Alto Mar Genebra 1958

Convenção sobre a Plataforma Internacional Genebra 1958

Tratado Antártico Washington 1959

Convenção sobre a Proteção dos Trabalhadores contra Radiações lonizantes Genebra 1960

Convenção Internacional para a Proteção de Novas Variedades Vegetais Roma 1961

Convenção de Viena sobre Responsabilidade Civil por Danos Nucleares Viena 1963
ACORDO LOCAL DATA

Tratado de Proscrição de Testes Nucleares na Atmosfera, no Fundo do Mar e Cosmo Moscou 1963

Convenção sobre Conservação do Atum no Oceano Atlântico Rio de Janeiro 1966


Tratado sobre Princípios Reguladores das Atividades dos Estados na Exploração e Londres, Moscou e
1967
Uso do Espaço Cósmico, inclusive a Lua e demais corpos celestes Washington

Tratado para a Proscrição de Armas Nucleares na América Latina (Tratado de


Tlatelolco)
México 1967

Convenção Internacional sobre Intervenção em Alto Mar em caso de poluição por


Óleo
Bruxelas 1969

Convenção Internacional sobre Responsabilidade Civil por Poluição por Óleo Bruxelas 1969
Tratado da Bacia do Prata Brasília 1969
Convenção sobre Medidas para Proibir a Importação, Exportação e Transferência de
Propriedade Ilícita de Bens Culturais
Paris 1970

Convenção Sobre Zonas Úmidas de Importância Internacional (Ramsar) Ramsar (Irã) 1971
Convenção sobre a Proteção do Patrimônio Mundial, Cultural e Natural Paris 1972
Convenção sobre a Conservação das Focas Antárticas Londres 1972
Convenção sobre a Proibição do Desenvolvimento, Produção e Armazenamento de
Armas Bacteriológicas Londres 1972

Convenção para a Prevenção da Poluição Marinha por Resíduos de Navios e


Aeronaves Oslo 1972

Convenção para a Prevenção da Poluição Marinha por Alijamento de Resíduos e Londres, México,
Outras Matérias 1972
Moscou

Convenção sobre o Comércio Internacional de Espécies de Flora e Fauna Selvagens


Ameaçadas de Extinção (Cites) Washington 1973

Convenção Internacional para a Prevenção da Poluição Causada por Navios (Marpol) Londres 1973
Convenção para a Proteção do Trabalhador contra Riscos Profissionais Decorrentes de
Contaminação do Ar, Ruído e Vibração no Locai de Trabalho Genebra 1977

Convenção sobre Poluição Atmosférica Transfronteiriça de Longo Alcance Genebra 1979


Conservação sobre a Conservação de Recursos Marinhos Antárticos Ca m berra 1980
Convenção sobre os Direitos do Mar Montego Bay 1982
Convenção sobre Espécies Migratórias de Animais Silvestres Bonn 1983
Acordo Internacional sobre Madeiras Tropicais Genebra 1983
Convenção de Viena para a Proteção da Camada de Ozônio Viena 1985
Convenção sobre Pronta Notificação de Acidentes Nucleares Viena 1986
Convenção sobre Assistência em Casos de Acidentes Nucleares Viena 1986
Protocolo de Montreal à Convenção de Viena sobre Substâncias que Destroem a
Camada de Ozônio Montreal 1987
Anexo 1 Principais acordos multilaterais sobre questões ambientais e correlatas 345

ACORDO LOCAL DATA

Convenção de Basiléia sobre Controle de Movimentos de Resíduos Perigosos e seu


Basiléia 1989
Depósito

Convenção Internacional sobre Preparo, Resposta e Cooperação em Caso de Poluição


Londres 1990
por Óleo

Convenção das Nações Unidas sobre Avaliação de Impacto Ambiental em Contexto


Espoo (Finlândia) 1991
Transfronteiriço

Protocolo de Madri ao Tratado Antártico sobre Proteção ao Meio Ambiente Madri 1991

Convenção Africana sobre Banimento da Importação e Controle do Movimento e


Bamako 1991
Gerenciamento de Resíduos Perigosos Transfronteiriços

Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas Rio de Janeiro 1992

Convenção da Biodiversidade (CDB) Rio de Janeiro 1992

Convenção sobre a Proibição do Desenvolvimento, Produção e Armazenamento de


Paris 1993
Armas Químicas e sobre Destruição de Armas Químicas

Convenção sobre Banimento de Despejo de Resíduos de Baixo índice de Radiação


Londres 1993
nos Oceanos

Convenção das Nações Unidas para o Combate à Desertificação em Países Afetados Nova York
1994
por Desertificação e/ou Seca

Acordo para Implementação das Disposições da Convenção das Nações Unidas sobre
o Direito do Mar sobre Estoques de Peixes Transzonais e de Peixes Altamente Nova York 1995
Migratórios

Tratado de Proibição Completa dos Testes Nucleares Nova York 1996

Convenção Internacional sobre Responsabilidade e Compensação por Danos Conexos


Londres 1996
com o Transporte de Substâncias Nocivas e Perigosas por Mar (HNS)

Protocolo de Kyoto à Convenção das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas Kyoto 1997

Convenção de Roterdã sobre Procedimento para o Consentimento Prévio para o


Roterdã 1998
Comércio Internacional de certos Químicose Pesticidas Perigosos

Convenção de Estocolmo sobre Poluentes Orgânicos Persistentes Estocolmo 2001

Fontes

ACOT, P. História da ecologia. 2. ed. Rio de Janeiro: Campus, 1990.

Ministério das Relações Exteriores do Brasil. Disponível em: <www.mre.gov.br>.

PNUMA/UNEP. Disponível em: <http://www.unep.org>. Acesso em: 22 dez. 2010. Ver página sobre convenções
ambientais.

RIBEIRO, W. C. A ordem ambiental internacional. São Paulo: Contexto, 2001.

SOARES, G. F. S. Direito internacional do meio ambiente: emergência, obrigações e responsabilidade. São Paulo: Atlas,
2001.
ANEXO 2

D E C L A R A Ç Ã O DO R I O DE J A N E I R O SOBRE
MEIO AMBIENTE E DESENVOLVIMENTO

A Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento,


tendo se reunido no Rio de Janeiro, de 3 a 14 de junho de 1992, reafirmando a Declaração
da Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Humano, aprovada em Estocolmo
em 16 de julho de 1972, e baseando-se nela com o objetivo de estabelecer uma aliança
mundial nova e equitativa por meio da criação de novos níveis de cooperação entre os
Estados, os setores-chave da sociedade e as pessoas, procurando alcançar acordos interna-
cionais em que se respeitem os interesses de todos e proteja a integridade do sistema
ambiental e de desenvolvimento mundial, reconhecendo a natureza integral e interde-
pendente da Terra, nosso lar, proclama que:

P R I N C Í P I O N ü 1 - Os seres humanos estão no centro das preocupações com o


desenvolvimento sustentável. Têm direito a uma vida saudável e produtiva, em harmo-
nia com o meio ambiente.
PRINCÍPIO Nu 2 - Os Estados, em conformidade com a Carta das Nações Unidas e
os princípios do Direito Internacional, têm o direito soberano de explorar os seus próprios
recursos, segundo suas próprias políticas de meio ambiente e desenvolvimento, e a respon-
sabilidade de assegurar que atividades sob sua jurisdição ou controle não causem danos ao
meio ambiente de outros Estados ou de áreas além dos limites de jurisdição nacional.
PRINCIPIO N" 3 - O direito ao desenvolvimento deve ser exercido de modo a permi-
tir que sejam atendidas equitativamente as necessidades de gerações presentes e futuras.
P R I N C Í P I O NQ 4 - Para alcançar o desenvolvimento sustentável, a proteção am-
biental deve constituir parte integrante do processo de desenvolvimento, e não pode
ser considerada isoladamente deste.
P R I N C Í P I O Nfi 5 - Todos os Estados e todos os indivíduos, como um requisito
indispensável para o desenvolvimento sustentável, devem cooperar na tarefa essencial
de erradicar a pobreza, cie forma a reduzir as disparidades nos padrões de vida e me-
lhor atender às necessidades da maioria da população do mundo.
P R I N C I P I O N 2 6 - A situação e necessidades especiais cios países em desenvolvi-
mento, em particular dos países de menor desenvolvimento relativo e daqueles am-
bientalmente mais vulneráveis, devem receber prioridade especial. Ações internacionais
no campo do meio ambiente e do desenvolvimento devem também atender os interes-
ses e as necessidades de todos os países.
P R I N C I P I O N a 7 - Os Estados devem cooperar, em um espírito de parceria global
para a conservação, proteção e restauração da saúde e da integridade do ecossistema
terrestre. Considerando as distintas contribuições para a degradação ambiental global,
os Estados têm responsabilidades comuns, porém diferenciadas.
Os países desenvolvidos reconhecem a responsabilidade que têm ria busca internacio-
nal do desenvolvimento sustentável, em vista das pressões exercidas por suas sociedades
sobre o meio ambiente global e das tecnologias e recursos financeiros que controlam.
P R I N C Í P I O N ü 8 - Para atingir o desenvolvimento sustentável e mais alta qualida-
de de vida para todos, os Estados devem reduzir e eliminar padrões insustentáveis de
produção e consumo e promover políticas demográficas adequadas.
P R I N C Í P I O N 2 9 - Os Estados devem cooperar com vistas ao fortalecimento da
capacitação endógena para o desenvolvimento sustentável, pelo aprimoramento da
compreensão científica por meio do intercâmbio de conhecimento científico e tecno-
lógico, e pela intensificação do desenvolvimento, adaptação, difusão e transferência de
tecnologias, inclusive de novas e inovadoras.
P R I N C Í P I O N a 10 - A melhor maneira de tratar questões ambientais é assegurar
a participação, no nível apropriado, de todos os cidadãos interessados. No nível nacio-
nal, cada indivíduo deve ter acesso adequado a informações relativas ao meio ambien-
te de que disponham autoridades públicas, inclusive informações sobre materiais e
atividades perigosas em suas comunidades, bem como a oportunidade de participar
em processos de tomada de decisões. Os Estados devem facilitar e estimular a cons-
cientização e a participação pública, colocando a informação à disposição de todos.
Deve ser propiciado acesso efetivo a mecanismos judiciais e administrativos, inclusive
no que diz respeito à compensação e reparação de danos.
P R I N C Í P I O N a 11 - Os Estados devem adotar legislação ambiental eficaz. Padrões
ambientais e objetivos e prioridades em matéria de ordenação do meio ambiente de-
vem refletir o contexto ambiental e de desenvolvimento a que se aplicam. Padrões
utilizados por alguns países podem resultar inadequadamente para outros, em especial
países em desenvolvimento, acarretando custos sociais e econômicos injustificados.
PRINCÍPIO N" 12 - Os Estados devem cooperar para o estabelecimento de um sistema
econômico internacional aberto e favorável, propício ao crescimento econômico e ao desen-
volvimento sustentável em todos os países, de modo a possibilitar o tratamento mais ade-
quado dos problemas da degradação ambiental. Medidas de política comercial para
propósitos ambientais não devem constituir-se em meios para a imposição de discrimina-
ções arbitrárias ou justificáveis ou em bandeiras disfarçadas ao comércio internacional. De-
vem ser evitadas ações unilaterais para o tratamento de questões ambientais fora da jurisdição
do país importador. Medidas destinadas a ttatar de problemas ambientais transfronteiriços
ou globais devem, na medida do possível, basear-se em um consenso internacional.
P R I N C Í P I O N a 13 - Os Estados devem desenvolver legislação nacional relativa à
responsabilidade de indenização das vítimas de poluição e outros danos ambientais.
Os Estados devem ainda cooperar de forma expedita e determinada para o desenvolvi-
mento de normas de direito internacional ambiental relativas à responsabilidade e
indenização por efeitos adversos de danos ambientais causados, em áreas fora de sua
jurisdição, por atividades dentro de sua jurisdição ou sob seu controle.
PRINCÍPIO N s 14 - Os Estados devem cooperar de modo efetivo para desestimular ou
prevenir a realocação ou transferência para outros Estados de quaisquer atividades ou subs-
tâncias que causem degradação ambiental grave ou que sejam prejudiciais à saúde humana.
P R I N C I P I O N a 15 - De modo a proteger o meio ambiente, o princípio da precau-
ção deve ser amplamente observado pelos Estados, de acordo com suas capacidades.
Quando houver ameaça de danos sérios ou irreversíveis, a ausência de absoluta certeza
científica não deve ser utilizada como razão para postergar medidas eficazes e economi-
camente viáveis para prevenir a degradação ambiental.
PRINCÍPIO N- 16 - Tendo em vista que o poluidor deve, em princípio, arcar com o
custo decorrente da poluição, as autoridades nacionais devem procurar promover a inter-
nalização dos custos ambientais e o uso de instrumentos econômicos, levando na devida
conta o interesse público, sem distorcer o comércio e os investimentos internacionais.
P R I N C Í P I O N u 17 - A avaliação do impacto ambiental, como instrumento nacio-
nal, deve ser empreendida para atividades planejadas que possam vir a ter impacto
negativo considerável sobre o meio ambiente, e que dependam de uma decisão de
autoridade nacional competente.
P R I N C Í P I O N a 18 - Os Estados devem notificar imediatamente outros Estados,
de quaisquer desastres naturais ou outras emergências que possam gerar efeitos noci-
vos súbitos sobre o meio ambiente destes últimos. Todos os esforços devem ser empre-
endidos pela comunidade internacional para auxiliar os Estados afetados.
P R I N C Í P I O N a 19 - Os Estados devem prover, oportunamente, a Estados que
possam ser afetados, notificação prévia e informações relevantes sobre atividades po-
tencialmente causadoras de considerável impacto transfronteiriço negativo sobre o
meio ambiente, e devem consultar-se com estes tão logo quanto possível e de boa fé.
P R I N C Í P I O N u 20 - As mulheres desempenham papel fundamental na gestão do
meio ambiente e no desenvolvimento. Sua participação plena é, portanto, essencial
para a promoção do desenvolvimento sustentável.
P R I N C Í P I O N a 21 - A criatividade, os ideais e a coragem dos jovens do mundo
devem ser mobilizados para forjar uma parceria global com vistas a alcançar o desen-
volvimento sustentável e assegurar um futuro melhor para todos.
PRINCÍPIO N" 22 - As populações indígenas e suas comunidades, bem como outras
comunidades locais, têm papel fundamental na gestão do meio ambiente e no desenvolvi-
mento, em virtude de seus conhecimentos e práticas tradicionais. Os Estados devem reco-
nhecer a identidade, cultura e interesses dessas populações e comunidades, bem como
habilitá-las a participar efetivamente da promoção do desenvolvimento sustentável.
P R I N C Í P I O NQ 2.3 - O meio ambiente e os recursos naturais dos povos submeti-
dos à opressão, dominação e ocupação devem ser protegidos.
P R I N C Í P I O N u 24 - A guerra é, por definição, contrária ao desenvolvimento sus-
tentável. Os Estados devem, por conseguinte, respeitar o direito internacional aplicá-
vel à proteção do meio ambiente em tempos de conflito armado, e cooperar para seu
desenvolvimento progressivo, quando necessário.
P R I N C Í P I O N ü 25 - A paz, o desenvolvimento e a proteção ambiental são inter-
dependentes e indivisíveis.
P R I N C Í P I O N 2 26 - Os Estados devem solucionar todas as suas controvérsias
ambientais de forma pacífica, utilizando-se dos meios apropriados, em conformidade
com a Carta das Nações Unidas.
P R I N C Í P I O N u 27 - Os Estados e os povos devem cooperar de boa-fé e imbuídos
de um espírito de parceria para a realização dos princípios consubstanciados nesta
Declaração e para o desenvolvimento progressivo do direito internacional no campo
do desenvolvimento sustentável.

Fonte
Documento aprovado na Conferência das Nações Unidas para o Meio e Ambiente e Desenvolvimento, realizada no
Rio de Janeiro em 1992. (Tradução elaborada pelo Ministério das Relações Exteriores). Disponível em: <http://www.
interlegis.gov.br>. e <www.unep.org>. Acesso em: 22 dez. 2010.
ANEXO 3

A L G U M A S LEIS FEDERAIS IMPORTANTES

Decreto 24.643 de 10/07/1934 - Código das Águas.


Decreto-Lei 25 de 30/11/1937 - Organiza a proteção do Patrimônio Histórico e Artís-
tico Nacional.
Lei 4.771 de 15/09/1965 - Institui o novo Código Florestal.
Lei 4-717 de 29/07/1965 - Regula a ação popular.
Lei 5.197 de 03/01/1967 - Dispõe sobre a proteção da fauna e dá outras providências.
Decreto-Lei 221 de 28/02/1967 - Dispõe sobre a proteção e estímulo à pesca e dá
outras providências.
Decreto-Lei 227 de 28/02/1967 - Código de Minas.
Decreto-Lei 1.413 de 14/08/1975 - Dispõe sobre controle da poluição do meio am-
biente provocada por atividades industriais.
Lei 6 . 4 5 3 de 17/10/1977 - Dispõe sobre a responsabilidade civil por danos nucleares
e responsabilidade criminal por atos relacionados com atividades nucleares.
Lei 6.567 de 24/09/1978 - Dispõe sobre regime especial para a exploração e o apro-
veitamento das substâncias minerais que especifica (areias, cascalhos, saibros, argilas
para cerâmica vermelha, rochas para uso imediato na construção civil etc.).
Lei 6.766 de 19/12/1979 - Dispõe sobre o parcelamento do solo urbano.
Lei 6 . 8 0 3 de 02/06/1980 - Dispõe sobre diretrizes básicas para o zoneamento indus-
trial nas áreas críticas de poluição.
Lei 6 . 9 3 8 de 31/08/1981 - Dispõe sobre a Política Nacional do Meio Ambiente, seus
fins e mecanismos de formulação e aplicação (Regulamentado pelo Decreto 99.274 de
06/06/1990).
Lei 7.347 de 24/07/1985 - Disciplina a ação civil pública de responsabilidade por
danos causados ao meio ambiente, ao consumidor, a bens e direitos de valor artísticos,
estéticos, históricos, paisagísticos (Lei dos Direitos Difusos).
Lei 7.661 de 16/05/1988 - Institui o Plano Nacional de Gerenciamento Costeiro.
Lei 7.754 de 14/04/1989 - Estabelece medidas para proteção das florestas existentes
nas nascentes de rios.
Lei 7.797 de 10/07/1989 - Cria o Fundo Nacional de Meio Ambiente.
Lei 7.805 de 18/07/1989 - Altera o Decreto-Lei 277 de 28/02/1967, cria o regime de
permissão de lavra garimpeira, extingue o regime de matrícula.
Lei 7.802 de 11/07/1989 - Dispõe sobre a pesquisa, a experimentação, a produção, a
embalagem e rotulagem, o transporte e o armazenamento, a comercialização, a propa-
ganda comercial, a importação, a exportação, o destino final dos resíduos e embala-
gens, o registro, a classificação, o controle, a inspeção e a fiscalização de agrotóxicos,
seus componentes e fins (conhecida como Lei dos agrotóxicos).
Lei 8.171 de 17/01/1991 - Dispõe sobre a política agrícola.

Lei 8 . 7 2 3 de 28/10/1993 - Dispõe sobre a redução de emissões de poluentes por veí-


culos automotores.
Lei 9 . 4 3 3 de 08/01/1997 - Institui a Política Nacional de Recursos Hídricos, cria o
Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos, regulamenta o inciso X I X
do Art. 21 da Constituição Federal.
Lei 9 . 6 0 5 de 12/02/1998 - Dispõe sobre sanções penais e administrativas derivadas
de condutas e atividades lesivas ao meio ambiente (Lei dos Crimes Ambientais).
Lei 9 . 7 9 5 de 27/04/1999 - Dispõe sobre a Educação Ambiental, institui a Política
Nacional de Educação Ambiental.
Lei 9 . 9 6 0 de 28/01/2000 - Institui a Taxa de Serviços Administrativos - TSA, em fa-
vor da Superintendência da Zona Franca de Manaus - Suframa; estabelece preços a
serem cobrados pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais
Renováveis - Ibama; cria a Taxa cie Fiscalização Ambiental - TFA.
Lei 9 . 9 6 6 de 2 8 / 0 4 / 2 0 0 0 - Dispõe sobre a preservação, o controle e a fiscalização da
poluição causada por lançamento de óleo e outras substâncias nocivas ou perigosas em
água sobre jurisdição nacional.
Lei 9 . 9 8 4 de 17/07/2000 - Dispõe sobre a criação da Agência Nacional da Água
(ANA), entidade federal de implementação da Política Nacional de Recursos Hídricos
e Coordenação do Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos.
Lei 9 . 9 8 5 de 18/07/2000 - Regulamenta os incisos I, II, III e IV do § l 2 do Art. 225
da Constituição Federal, institui o Sistema Nacional de Unidades de Conservação da
Natureza ( S N U C ) e dá outras providências.
Lei 10.165 de 27/12/2000 - Taxa de Controle e Fiscalização Ambiental - Altera a Lei
6 . 9 3 8 , de 31 de agosto de 1981, que dispõe sobre a Política Nacional do Meio Ambien-
te, seus fins e mecanismos de formulação e aplicação.
Lei 10.257 de 10/07/2001 - Regulamenta os artigos 182 e 183 da Constituição Fede-
ral, estabelece diretrizes gerais de política urbana (Estatuto das Cidades).
Lei 10.308 de 20/11/2001 - Estabelece normas para o destino final de rejeitos radiativos.
Lei 10.410 de 11/01/2002 - Cria a disciplina e carreira de Especialista em Meio Ambiente.
Lei 10.650, de 16 de abril de 2 0 0 3 - Dispõe sobre o acesso público aos dados e infor-
mações existentes nos órgãos e entidades integrantes do Sisnama.
Lei 11.105 de 24/03/2005 - Regulamenta os incisos II, IV e V do § l o do art. 225 da
Constituição Federal, estabelece normas de segurança e mecanismos de fiscalização de
atividades que envolvam organismos geneticamente modificados - O G M .
Lei 11.284 de 02/03/2006 - Dispõe sobre a gestão de florestas públicas para a produ-
ção sustentável; institui, na estrutura do Ministério do Meio Ambiente, o Serviço Flo-
restal Brasileiro - SFB; cria o Fundo Nacional de Desenvolvimento Florestal - FNDF.
Lei 11.428 de 22/12/2006 - Dispõe sobre a utilização e proteção da vegetação nativa
do bioma Mata Atlântica.

Lei 11.445 de 05/01/2007 - Estabelece diretrizes para o saneamento básico.


Lei 11.460 de 21/03/2007 - Dispõe sobre o plantio de organismos geneticamente
modificados em unidades de conservação.
Lei 11.515 de 28/08/2007 - Dispõe sobre a criação do Instituto Chico Mendes de
Conservação da Biodiversidade.
Lei 11.762 de 0 1 / 0 8 / 2 0 0 8 - Fixa limites máximos de chumbo permitido na fabricação
de tintas imobiliárias e de uso infantil e escolar, vernizes e materiais similares.
Lei 11.9.36 de 14/05/2009 - Proíbe a fabricação, importação, exportação e manuten-
ção em estoque, comercialização e uso do diclorodifeniltricloretano (DDT).
Lei 11.959 de 29/06/2009 - Dispõe sobre a Política Nacional de Desenvolvimento
Sustentável da Aquacultura e Pesca.

Lei 12.114 de 09/12/2009 - Cria o Fundo Nacional sobre Mudanças Climáticas.


Lei 12.187 de 29/12/2009 - Institui a Política Nacional sobre Mudanças Climáticas.
Lei 12.305 de 02/08/2010 - Institui a Política Nacional de Resíduos Sólidos.
ANEXO 4

C A R T A EMPRESARIAL PARA O DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL DA C Â M A R A


DE COMÉRCIO INTERNACIONAL ( I C C )

1. Considerar a gestão ambiental como uma prioridade na empresa


Reconhecer a gestão ambiental como uma das principais prioridades na empresa
e como fator de desenvolvimento sustentável; estabelecer políticas, programas e proce-
dimentos para conduzir as atividades de modo ambientalmente seguro.

2. Gerenciamento integrado
Integrar plenamente, em cada empresa, essas políticas, programas e procedimen-
tos, como elemento essencial de gestão, em todos os seus domínios.

3. Processo de aperfeiçoamento
Aperfeiçoar continuamente a política, os programas e o desempenho ambiental
das empresas, levando em conta os desenvolvimentos técnicos, o conhecimento cien-
tífico, os registros dos consumidores e as expectativas da comunidade, tendo como
ponto de partida a regulamentação em vigor, e aplicar os mesmos critérios ambientais
no plano internacional.

4. Formação do pessoal
Formar, treinar e motivar o pessoal para desempenhar suas atividades de maneira
responsável, face ao ambiente.
5. Avaliação prévia
Avaliar os impactos antes de iniciar nova atividade ou projeto e antes de desativar
uma instalação ou abandonar um local.

6. Produtos e serviços
Desenvolver e fornecer produtos e serviços que não produzam impacto indevido
sobre o ambiente e sejam seguros em sua utilização prevista, que apresentem o melhor
rendimento em termos de consumo de energia e de recursos naturais, que possam ser
reciclados, reutilizados ou cuja disposição final não seja perigosa.

7. Conselho de consumidores
Aconselhar é, em casos relevantes, propiciar a necessária informação aos consumi-
dores, aos distribuidores e ao público, quanto aos aspectos de segurança a considerar
na utilização, transporte, armazenagem e disposição dos produtos fornecidos; e aplicar
considerações análogas à prestação de serviços.

8. Instalações e atividades
Desenvolver, projetar e operar instalações levando em conta a eficiência no consu-
mo de materiais e energia, a utilização sustentável cios recursos renováveis, a minimiza-
ção de impactos ambientais adversos e da produção de i-esíduos e o tratamento ou
disposição final desses resíduos de forma segura e responsável.

9. Pesquisas
Realizar ou patrocinar pesquisas sobre os impactos ambientais das matérias-pri-
mas, dos produtos, dos processos, das emissões e dos resíduos associados às atividades
da empresa e sobre os meios de minimizar tais impactos adversos.

10. Medidas preventivas


Adequar a fabricação, a comercialização, a utilização de produtos ou serviços, ou a
condução de atividades em harmonia com os conhecimentos científicos e técnicos,
para evitar a degradação grave ou irreversível do meio ambiente.

11. Empreiteiros e fornecedores


Promover a adoção destes princípios pelos empreiteiros contratados pela empresa,
encorajando e, em casos apropriados, exigindo a melhoria dos seus procedimentos de
Anexo 4 Carta empresarial para o desenvolvimento sustentável da câmara de comércio. 355

modo compatível com aqueles em vigor na empresa; e encorajar a mais ampla adoçao
destes princípios pelos fornecedores.

12. Planos de emergência


Desenvolver e manter, nos casos em que exista risco significativo, planos de ação
para situações de emergência, em coordenação com os serviços especializados, as prin-
cipais autoridades e a comunidade local, tendo em conta os possíveis impactos
transfronteiriços.

13.Transferência de tecnologias e métodos de gestão


Contribuir para a transferência de tecnologia e métodos de gestão que respeitem
o meio ambiente, tanto nos setores industriais como nos de administração pública.

14. Contribuição para o esforço comum


Contribuir para o desenvolvimento de políticas públicas, de programas empresa-
riais governamentais e intergovernamentais, e de iniciativas educacionais que valori-
zem a consciência e a proteção ambiental.

15. Abertura ao diálogo


Promover a abertura ao diálogo com o pessoal da empresa e com o público, em
antecipação e na resposta às respectivas preocupações quanto aos riscos e impactos
potenciais das atividades, produtos, resíduos e serviços, incluindo aqueles de significa-
do transfronteiriço ou global.

16. Cumprimento de regulamentos e informação


Aferir o desempenho das ações sobre o meio ambiente, procedei" regularmente a
auditorias ambientais e avaliar o cumprimento das exigências internas da empresa, dos
requisitos legais e destes princípios; e periodicamente fornecer as informações perti-
nentes ao C o n s e l h o de Administração, aos acionistas, ao pessoal, às autoridades e ao
público.

Fonte

A S S O C I A Ç Ã O BRASILEIRA DE N O R M A S T É C N I C A S . N B R ISO 14004:1996: Sistemas de gestão ambiental:


diretrizes gerais sobre princípios, sistemas e técnicas de apoio. Rio de Janeiro: ABNT, 1996. Anexo A. Disponível em:
<http://www.iccwbo.org/ policy/ environment>.
ÍNDICE REMISSIVO

A código de ética, 224, 2 3 4 - 6 destruição da, 4 0 , 57, 2 2 5


A B N T , 156, 176, 2 4 6 tipos, 2 0 4 , 185, 204-9 ozônio b o m e ozônio mau, 4 0
Acidificação, 16, 251 Avaliação ambiental estratégica, Protocolo de Montreal, 41-3,
Acordos ambientais 3 0 1 , ' 3 3 2 - 3 , 337 69, 260, 3 4 4
intergovernamentais: Avaliação do ciclo de vida, 141,
substâncias que destroem a,
bilaterais, 104, 2 6 9 154, 2 3 9 - 6 2 , 3 0 0
40-2, 2 6 0
regionais, 5 2
Capacidade de suporte, 5, 14,
multilaterais, 27, 5 0 , 5 3 , 6 5 , B
Balanço social, 279-81 103, 276-7, 3 4 2
105, 116
A c o r d o s voluntários: Barreiras técnicas ao comércio, Categoria de impacto, 2 5 0 - 2
conceito, 8 4 153, 194, 3 4 0 Ceres, 88-9, 160, 181, 198, 2 0 4 ,
espécies, 8 8 , 3 4 3 - 5 BAT, 6 8 - 9 2 3 0 , 2 6 9 , 2 8 0 , 2 8 2 , 341
iniciativas empresariais, 8 6 B A T N E E C , 6 9 , 168 Certificação:
Agenda 21, 10, 31, 61, 2 3 0 , 2 6 9 B e n s ambientais, 9
finalidades, 192-3
Ambientalismo, 20 Biodiversidade:
d o Sistema de G e s t ã o
Análise de inventário, 2 4 8 - 5 2 , 2 5 6 biopirataria, 47
A m b i e n t a l , 156, 192-7, 2 2 3 ,
A n t r o p o c e n t r i s m o , 22 biotecnologia, 45-6
340
A q u e c i m e n t o global: conceito de, 43-5
c o n h e c i m e n t o s tradicionais, C h u v a ácida, ver: acidificação, 18,
C o n v e n ç ã o Q u a d r o das Nações
Unidas Sobre Mudança do 44-6 5 2 , 162

Clima, 34, 345 C o n v e n ç ã o da Biodiversidade, C i c l o P D C A , 122, 141-2, 151-2,


gases de efeito estufa, 32-3, 31, 45-8, 3 4 5 154, 156, 181, 186, 189, 191,
3 6 - 4 3 , 155, 251 C o n v e n ç ã o Ramsar, 5 0 , 3 4 4 208, 220, 288
I P C C , 32-3, 2 5 1 organismo geneticamente Ciclos biogeoquímicos, 7-9, 137
m e c a n i s m o de desenvolvimento modificado, 4 8 , 268, 316, 3 3 5 C l u b e de R o m a , 12, 21, 2 9
limpo, 36-8 perda de, 4 4 , 166
Comunicação:
mercado de c a r b o n o , 3 9 Biosfera, 2, 8, 8 9
interna, 174, 180, 184, 2 7 8
Protocolo de Kioto, 3 4 , 3 6 - 4 0 , B S 7 7 5 0 , 152-3
externa, 174, 180, 2 6 9 , 271,
260, 345
Aspecto ambiental, 150, 161-4, 182 C 27.3-4, 276, 278-9, 2 8 6
Ativo ambiental, 2 2 6 - 9 Cadeia de suprimento, 115-6, política de, 2 8 8 - 9
Atuação responsável, 87-8, 119-20, 2 0 7 , 240-1, 291 C o n f e r ê n c i a das Nações Unidas
134, 141, 160 C a m a d a de ozônio: para o M e i o A m b i e n t e e
Auditoria ambiental C o n v e n ç ã o de V i e n a para a Desenvolvimento (Rio de
auditores, 2 0 3 , 2 2 2 - 4 Proteção da C a m a d a de Janeiro, 1992), 27, 31, 3 5 , 4 5 ,
ciclo de auditoria, 186, 212 O z ô n i o , 41-2, 6 9 , 3 4 3 53, 309
C o n f e r ê n c i a das N a ç õ e s U n i d a s eficiência operacional x
para o M e i o A m b i e n t e p o s i c i o n a m e n t o estratégico, I b a m a , 9 3 , 9 5 - 6 , 314-5, 3 1 8
H u m a n o (Estocolmo, 1972), 114, 135 Ibase, 279-81
29, 313, 3 3 9 E s t u d o de I m p a c t o A m b i e n t a l Impactos ambientais:
Consumidores, 48, 53, 5 9 , 70, 73, (EIA): categoria de i m p a c t o , 2 4 8 - 5 3
75-6, 9 5 , 106, 113-7, 151, 2 3 9 , área de abrangência, 3 2 2 definições de impacto
273-5, 290-4, 353-4 ciclo d o projeto, 3 0 2 - 5 a m b i e n t a l , ver: E s t u d o de
C o n t r o l e da poluição: c o n t e ú d o , 317 I m p a c t o A m b i e n t a l , 109,
a b o r d a g e m de gestão, 2 2 6 , 2 9 9 definições, 2 9 9 - 3 0 0 162, 2 9 9
i n s t r u m e n t o d e política i n s t r u m e n t o s de gestão Indústria a m b i e n t a l , 9
pública, 6 6 , 74, 8 2 , 9 6 , baseados e m , 141, 3 0 0 - 1 I n m e t r o , 193-4, 197, 2 0 9 , 2 2 3
308-10 Matriz de Leopold, 327, 330-1 Inovação tecnológica, 80-1, 92,
prática de, 111 m é t o d o s baseados em listas de 131, 134, 2 5 6
C o r n u c o p i a n o , 13-4, 2 3 , 7 8 verificação, 3 2 6 - 7 , 331 International Cítamber of Comnierce
C u s t o s a m b i e n t a i s , 5 2 - 6 , 7 9 , 104, método Battelle-Columbus, (ICC), 87-8, 148-9, 151, 160-1, 2 0 4 ,
1 2 2 4 , 151, 3 4 8 327-8 210-5, 217, 2 2 0 , 2 3 0 , 2 3 3 , 3 0 9
obrigatoriedade, 314 International Organization for
D princípios, 3 0 5 - 6 , 318, 3 2 0 Standardization (ISO):
E s t u d o de I m p a c t o de V i z i n h a n ç a C o m i t ê T é c n i c o 2 0 7 , 1 5 2 , 155,
D e c l a r a ç ã o a m b i e n t a l : ver r ó t u l o
( E I V ) , 314, 3 2 5 246
ambiental, 2 9 3
Desenvolvi me n t o suste n tável: p r o c e s s o de e l a b o r a ç ã o de
F
c o n c e i t o , 2 7 , 3 0 , 5 3 , 7 7 , 105, n o r m a s , 152
F o r n e c e d o r e s , 6 8 , 76, 106, 114-6,
125 Investidores verdes, 113
119-21, 124, 131, 135, 147, 161,
Desenvolvimento Industrial I P C C , 32-3, 251
163, 171, 179, 2 0 5 - 9 , 214, 2 2 0 ,
E c o l o g i c a m e n t e Sustentável,
240-3, 354-5
125 L
F u n ç õ e s a m b i e n t a i s : ver serviços
dimensões, 279, 2 8 6 Lavagem verde, 116, 149, 164,
a m b i e n t a i s , 8 , 171, 173
D i r e i t o à i n f o r m a ç ã o , 150, 164-5, 287, 290, 2 9 6
334, 355 Licença ambiental:
Due diligence, 205-6, 2 2 8 prazos, 196, 3 1 2 - 3
G a s e s de efeito estufa, 4-5, 3 2 - 3 ,
Dumping ambiental, 53, 104 p r o c e d i m e n t o s , 4 9 , 311, 3 2 3 - 5
3 5 - 4 3 , 130, 154-5, 166, 168,
tipos d e licença, 3 1 0
251-2, 2 5 6 , 2 6 0 , 2 6 4 , 2 8 5 , 2 9 3
E
G A T T , 104, 151, 3 4 0
Ecocentrismo, 23 M
G E M I , 8 8 , 119-20, 2 7 3 , 2 8 0 , 2 8 2 ,
Eco Management and Audit Scfieme M a l t h u s i a n i s m o , 10-4, 2 3
341
( E M A S ) , 8 4 , 149, 2 1 5 M a q u i a g e m verde; ver lavagem
Gestão ambiental:
Ecologia, 2-3, 3 5 , 7 9 , 1 36-8, 140, verde, 116, 149, 161, 183, 2 2 8 ,
abordagens, 2 3 , 2 8 , 31, 106-8,
328 287, 296
113-4, 117
Ecologia industrial, 136-8, 1 4 0 Meio ambiente:
c o n c e i t o de, 19
E c o n o m i a de b a i x o c a r b o n o , 4 0 d e f i n i ç õ e s , 1-4
d i m e n s õ e s , 21-2
Ecossistema, 2-3, 16, 18, 2 3 , 4 3 - 4 , fontes de recursos, 5-14
empresarial, 103
4 8 , 136-8, 140, 317, 3 3 8 , 3 4 7 m e i o receptor, 15-8
global, 27
Educação ambiental, 54, 56, 80, M e t a b o l i s m o industrial, 136-8
local, 5 9 , 8 2 , 105
8 2 - 3 , 9 4 , 141, 167, 173, 2 8 6 M e t a i s pesados, 17-8, 2 5 0 , 2 9 1
m o d e l o de gestão, 119, 1 36
E m p r e s a sustentável, 1 0 5 nacional, 59, 105
End-of-Pipe: ver c o n t r o l e da pública, 6 5 N
p o l u i ç ã o , 107-8, 110, 117, 131, regional, 2 7 , 8 2 N B R 1 6 0 0 1 , 188, 190, 2 7 2
304 Globcd Compact, 191 N o r m a s de gestão v o l u n t á r i a , 5 0 ,
Espécies a m e a ç a d a s : Global Reporting Initiative (GRI), 87-8, 151-2, 183, 188-9, 2 7 5
Convenção Cites, 48-50, 3 4 4 88, 280, 282, 284-5, 295 Normas I S O 14000:
lista v e r m e l h a , 4 5 , 2 8 5 família, 152, 1 5 6 , 2 8 7
Estratégia a m b i e n t a l : H processo de e l a b o r a ç ã o , 152
c o n c e i t o , 115 Housekeeping, 112, 128, 141 Norma I S O 2 6 0 0 0 , 272
Neomalthusianismo, 11-3,21, Sisnama, 92-3, 2 6 8 , 311, 3 5 2 Responsabilidade S o c i a l
29, 5 8 Responsabilidade objetiva, 9 2 , Empresarial, 2 4 4 , 2 6 9 - 7 3 , 2 7 6
Not ín M } Backyard (Nimby), 89, 116 123 Resíduos:
Política pública ambiental: sólidos, 17, 108, 124, 198, 2 2 6 ,
c o m a n d o e controle, 6 6 257-8, 2 6 0 - 1 , 2 6 8 , 3 2 6
O H S A S 18001, 188, 190 conceito, 6 5 perigosos, 5 0 , 57, 108-9, 112,
O r g a n i s m o de C e r t i f i c a ç ã o impostos e taxas, 6 9 , 167 127, 2 8 3 , 2 8 5 , 2 9 3 , 3 4 5
C r e d e n c i a d o ( O C C ) , 193-4, instrumentos de, 57 Revolução Industrial, 4-5, 10, 2 0 ,
208, 236 padrões de emissão, 6 6 - 9 32, 6 5
Organização M u n d i a l do padrões de qualidade Reúso, 105, 111, 115, 126, 128,
C o m é r c i o ( O M C ) , 104, 151, ambiental, 57, 66-9, 9 5 140, 173, 195, 2 2 7 , 2 3 9 , 2 4 3 ,
340 padrões tecnológicos, 67-8 249, 283

Organizações n ã o governamentais permissão de emissões R ó t u l o ambiental, 2 9 1

( O N G ) , 51, 2 9 0 , 3 3 9 transferíveis, 74
poder de compra do Estado, S
6 7 , 76-7 S A 8 0 0 0 , 188
P
responsabilidade estendida d o S e l o verde: ver R ó t u l o ambiental,
PAS 9 9 , 189-90
produtor, 75, 129 106, 2 9 0 , 341
Passivo ambiental, 104, 110, 113,
sistema depósito-retorno, 7 5 Serviços ambientais, 9 , 4 4 , 8 0 , 9 7 ,
2 2 6 - 9 , 2 3 6 , 2 7 7 , 301, 3 3 4
Princípio: 106, 226
Partes interessadas,120, 126, 147,
da precaução, 34, 4 8 , 105, 3 3 5 , S i m b i o s e industrial, 136, 138, 140
150, 160-1, 164-6, 168-9, 174-5,
342, 3 4 8 S i n m e t r o , 193-4, 2 2 3
186, 191-2, 2 0 5 - 6 , 219-21, 2 6 9 ,
do poluidor-pagador, 71, 74, Sistema de G e s t ã o A m b i e n t a l
272-8, 2 8 4 - 9 0 , 3 2 2
78, 3 3 9 (SGA):
Planos de C o n t r o l e A m b i e n t a l
Produção e c o n s u m o sustentáveis, certificação, 192
(PAC), 313
2 3 , 126, 129 c o n c e i t o de sistema, 147
P l a n o de R e c u p e r a ç ã o de Áreas
Produção mais limpa, 76, 8 8 , c o n c e i t o de S G A , 84-5, 147,
Degradadas ( P R A D ) , 3 2 4 , 3 3 6
124-9, 132, 135, 160, 195, 2 4 2 156
Poluentes:
Produtos a m b i e n t a l m e n t e e l e m e n t o s de um S G A , 149
definição, 15-9
preferíveis, 67, 117, 131, 151, Sistema de G e s t ã o da Q u a l i d a d e :
poluentes orgânicos
2 0 7 , 291 auditoria do, 143, 2 0 8
persistentes, 18, 3 4 5
Projeto para o meio a m b i e n t e I S O 9 0 0 0 : 2 0 0 0 , 153-5, 190,
por fontes antropogênicas, 16
(Design for Environment), 130, 208
por fontes naturais, 16
133, 135, 142 Sistemas de gestão integrados,
primários e secundários, 17
Projeto Sigma, 191 188-9
Poluição:
Stakeholder: ver partes interessadas,
controle da, 9, 12, 68-9, 9 8 ,
Q 126, 273-5, 2 8 0 , 2 8 2 - 3
106-10
definições, 15-7 Qualidade, 117 T
prevenção da, 9, 68-9, 110-3
Tecnologia de remediação, 107,
Política a m b i e n t a l empresarial: R 304
definições, 103 Realismo político, 27, 5 9 Tecnologia limpa, 124, 126
princípios diretivos, 120, 160, Reciclagem, 6, 54, 75, 111-2, 126-9, Total Quality Management (TQM),
198 132-3, 137, 140 119-22
Política N a c i o n a l do M e i o Recuperação energética, 110-1, Total Quality Environment
Ambiente: 115, 132, 2 4 9 Management (TQEM), 88,
C o n a m a , 9 3 , 2 3 3 , 3 0 7 , 310-22 Recursos naturais, 4-8, 10-2, 14, 119-23, 135, 140, 2 7 3
Constituição Federal, 93-8, 267, 18-9 Tragédia dos c o m u n s , 58-9, 9 2
300, 314, 316, 320, 324, 3 3 9 Relatórios ambientais: Transparência, 120, 2 8 2 , 2 8 6 ,
i n s t r u m e n t o s da, 9 5 Relatório A m b i e n t a l 288
Lei 6 . 9 3 8 / 8 1 , 92-6, 2 6 7 , 3 0 0 , Preliminar (RAP), 3 2 3 ,
3 0 7 - 1 0 , 314, 3 5 0 , 3 5 2 335-6 U
Lei de C r i m e s A m b i e n t a i s , 9 7 , Relatório de Impacto U n i d a d e de conservação, 97
2 3 3 , 351 A m b i e n t a l ( R I M A ) , 314-6, U s o sustentável, 4 5 , 8 9 , 110-1, 129
318-27, 3 3 4
' ^ — 1

í LIVRO com

íi# 1 | MATERIAL
1 1
DE
APOIO
M

Q material de apoio
consiste em conteúdo extra,
que a Editora Saraiva
disponibiliza no site
www. sarai vau n i. co m. b r.

Voltado para professores


e estudantes, ete é
composto por itens que
complementam o conteúdo
do livro e servem de
apoio didático para uso
em sala de aula.

Essa é mais uma forma de


demonstrar a preocupação
da Saraiva em criar
subsídios que facilitem
a aprendizagem e
que possam colaborar
com a evolução do
conhecimento no Brasil.
mfm
MH
Esta 3a edição do livro- "Gestão ambiental empresarial" traz à to^a a : s-
cussão dos graves problemas ambientais enfrentados pelo mundo -- >
demo, mostrando como as empresas contribuíram para este estado am -
pliado de crise ambiental e como elas podem se tornar parte das soluções
para vencer essa crise.

Longe de apresentar tons apocalípticos, como acontece com frequê-: a


esta obra apresenta uma mensagem otimista, com os pés no chão e de-
fende a necessidade de mudanças na gestão empresarial para incorporar
as preocupações com o meio ambiente em todas as suas decisões

Longe também dos textos triunfalistas que trazem receitas prontas, são
discutidos os temas ambientais a partir dos seus fundamentos. Com ri-
gor conceituai, o livro mostra pontos polêmicos para que a divergência
de opiniões relevantes estimule a crítica e favoreça o desenvolvimento
de práticas de gestão ambiental apropriadas às particularidades de caca
caso concreto.

Por isso, a obra foi escrita com muita preocupação didática, que se expressa
pela sistematização dos assuntos e sua exposição. Os estreantes no tema
encontrarão conceitos e exemplos claros e precisos; os que já percorreram
um longo caminho em gestão ambiental encontrarão uma sistematização
articulada e atualizada de temas oriundos de diferentes disciplinas
compõem a gestão ambiental.

C o n h e ç a o s i t e do l i v r o e as d e m a s
Papel produzido a partir novidades do nosso catálogo no ende-ecc
de fontes responsáveis

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