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de competências organizacionais.
ESTRATÉGIA DE NEGÓCIOS
Em alguns momentos, o leitor percebe o rigor técnico utilizado pelo autor,
mas na maior parte do tempo o livro revela, por meio de exemplos, uma ex-
periência rica na busca de soluções práticas para as questões de estratégia
dos negócios.
Aplicação
Este livro pode ser utilizado nas seguintes disciplinas: Estratégia, Gestão
Estratégica, Gestão Empresarial e Planejamento Estratégico.
9 788502 090026
www.saraivauni.com.br
Estratégia de Negócios
Esta edição comemora os vinte anos de atividade da Corrêa da Costa
e Associados, consultoria especializada na formulação
e execução de estratégias de negócios.
Aos colaboradores que contribuíram com sua persistência e dedicação para as análises, a
identificação de soluções e a tarefa sempre desafiante de colocá-las em prática.
Aos parceiros com os quais dividimos tarefas e responsabilidades.
Um agradecimento especial aos clientes que tornaram possíveis os aprendizados e expe-
riências aqui relatados. Foram muitos os nomes de amigos nos últimos vinte anos; sendo assim citá-los
individualmente comprometeria a confidencialidade e poderia levar a injustiças.
Estratégias existem em função do tempo. As incertezas com relação ao futuro são a própria
razão de ser da estratégia, e sua existência introduz os conceitos de risco, oportunidade e ameaça.
O tempo sempre será fator essencial: quase sempre, uma boa parte do sucesso está no ti-
ming e no sequenciamento eficientes das iniciativas estratégicas.
Desde o início, a construção da estratégia lida com o passado, o presente e o futuro.
O passado ensina sobre a dinâmica do mercado e da competição e identifica os fatores que
determinaram o comportamento da demanda, a evolução da competitividade da empresa e de
seus concorrentes.
O presente mostra pontos fortes e fracos, recursos disponíveis, aspirações e a reputação da
empresa. Também torna conhecidas as questões urgentes, a eficiência das decisões sobre objeti-
vos, prioridades, alocação de recursos e correção de rumos, e indica as ofertas vencedoras e as
demandas insatisfeitas de consumidores.
Entretanto, o foco da estratégia está no futuro, uma realidade que ainda não existe, e da
qual o passado e o presente fornecem somente pontos de partida e algumas tendências.
Para lidar com o futuro, não basta conhecer o passado e o presente. É preciso estimar a
trajetória das tendências conhecidas, ao longo dos próximos anos. Mais difícil, é preciso perceber
sinais, ainda que fracos, de mudanças nessas tendências que possam vir a alterar a dinâmica atual
do mercado e da competição. Finalmente, é preciso levar em conta a possibilidade de ocorrerem
rupturas ou descontinuidades mais radicais, a serem deflagradas por forças que estão atuando
sobre o mercado. Ou que possam ser provocadas pela estratégia em estudo.
Cabe ainda saber o que não é estratégia.
Receitas de como operar hoje, intenções e objetivos, previsões e orçamentos de curto e
longo prazos não são estratégia. Até mesmo declarações de valores, missão ou visão só têm valor
estratégico se estiverem intimamente alinhadas com a estratégia. Isoladamente, esses elementos
são formas de comunicar a estratégia ou de colocá-la em prática.
A estratégia é uma visão estruturada da posição competitiva da empresa, seus objetivos e
formas de alcançá-los.
Não é um plano, porque isso não seria suficiente, dado que a realidade muda continua-
mente. Resulta do entendimento das realidades do mercado e dos pontos fortes e fracos, recursos
e competências da empresa. É a base sobre a qual são feitos planos, prioridades são estabelecidas
e modificadas, a comunicação externa e interna é estruturada, riscos são gerenciados e a trajetória
da empresa é alterada, em resposta a novos fatos.
Em muitas empresas, essa estruturação é feita por um empreendedor ou um pequeno
grupo. Quando o processo decisório é bem desenvolvido, surge de uma visão compartilhada en-
tre os dirigentes, sobre as formas de lidar com as circunstâncias da empresa e do mercado.
Não existem soluções prontas para fazer isto com sucesso, inclusive porque há uma estra-
tégia única para cada empresa: tem-se ao mesmo tempo de superar deficiências que vêm do
passado, responder aos desafios do presente e atender a aspirações de prazo mais longo.
Essa unicidade torna recomendável alguma cautela na escolha das metodologias. Como se
sabe, teorias sobre estratégia são desenvolvidas para lidar com problemas novos, e quase sempre
se aplicam de imediato apenas a umas poucas empresas que estão situadas nos setores mais dinâ-
micos da economia internacional. Portanto, as soluções pregadas pelos gurus do momento po-
dem não ter nenhuma relevância para a sua empresa hoje.
Na prática, a melhor estratégia usa soluções bem testadas para problemas já conhecidos,
ao mesmo tempo que adota soluções novas para lidar com fatos realmente novos, como a globa-
lização dos mercados, o impacto de tecnologias emergentes, mudanças em atitudes e comporta-
mentos de consumidores e da sociedade.
Ela precisa ter raízes na realidade, para assegurar uma execução viável e bem-sucedida.
Isso se garante avaliando riscos, identificando novas competências que precisarão ser adquiridas,
e definindo uma rota segura, para se avançar rapidamente ou permitir recuo com o mínimo de
perdas, se isso se tornar necessário.
Este livro mostra, em quatro partes, como isso é feito.
A Parte 1 começa com um breve resumo da evolução do pensamento estratégico moder-
no, pois é saudável manter referências históricas (no mínimo, para não ser levado a reinventar a
roda). Em seguida, discute-se o que é estratégia e a eficiência e aplicabilidade de novas formas de
competir que têm surgido recentemente.
Na Parte 2 aborda a construção de alternativas de estratégia. Aqui, o foco está nos concei-
tos, e não nas ferramentas. Entre estas, são apresentadas a cadeia de valor e as curvas de escala,
que são simples de usar, têm aplicação ampla, ajudam a entender a situação como um todo e fa-
vorecem uma discussão abrangente de alternativas de estratégia. São mencionadas também algu-
mas ferramentas de uso específico, cujo valor está em trazer objetividade a discussões em áreas
em que frequentemente elas se tornam subjetivas ou genéricas demais: curvas de elasticidade-
-preço e elasticidade-renda, e a segmentação de clientes com base em modelos estatísticos.
A Parte 3 trata da escolha da estratégia, entre as alternativas desenvolvidas na etapa anterior.
A ênfase aqui é na preparação de decisões de boa qualidade, com ambiente e dados adequados, le-
vando em conta os aspectos relevantes do ambiente externo e as respostas potenciais de concorren-
tes às iniciativas da empresa. Nesse caso, é proposta a estruturação de decisões estratégicas com
base em conceitos da teoria dos jogos, que lida com a interdependência de atores que operam no
mesmo ambiente.
Finalmente, a Parte 4 discute os impactos de uma nova estratégia na cultura e na organi-
zação, e os requisitos para uma execução bem-sucedida.
Em todos os exemplos apresentados os dados são composições de números reais. Portan-
to, não refletem a situação de nenhuma empresa em particular, mas trazem razoável realismo
para as discussões.
Minha experiência pessoal está colocada sob a forma de comentários e exemplos, que es-
tão impressos em corpo menor, ao longo do texto. Desta forma, o leitor poderá distingui-la dos
conceitos gerais, que constituem a maior parte do texto.
Ao leitor iniciante no assunto resta dizer que o trabalho consiste, na maior parte do tem-
po, em buscar dados e validá-los, estabelecer relações entre eles, testar hipóteses e alternativas. É
preciso ser persistente, pois nem sempre a realidade ou novas ideias aparecem claras e bem defi-
nidas nos primeiros esforços. Também é essencial ouvir as percepções de todos os envolvidos,
mesmo os que parecem equivocados, e ter disposição para desaprender soluções que ficaram ul-
trapassadas e partir para buscar novas.
É um trabalho que traz grande satisfação quando encontra novos caminhos, identifica
oportunidades, evita desperdícios e resgata sonhos.
PARTE 1
Elementos da Estratégia
PARTE 2
Construindo a Estratégia
PARTE 3
A Escolha da Estratégia
PARTE 4
Estratégia e a Organização
Capítulo 13 – Processos.................................................................................................................... 111
13.1 Interfaces .......................................................................................................................... 112
13.2 Regras de decisão ............................................................................................................. 112
1 O Pensamento Estratégico
Moderno1
Esses conceitos (referidos de forma genérica como EVA, Economic Value Added, ou valor
econômico adicionado) têm a intenção de orientar a gestão financeira para a maximização do
valor do negócio para os acionistas.
Na área comportamental, Edgar H. Schein publicou em 1985 o livro Organizational cultu-
re and leadership, que descrevia de forma precisa e abrangente o que é a cultura organizacional, e
discutia de forma inovadora como realizar mudanças culturais. Elliot Jaques desenvolveu um
sistema abrangente para o desenvolvimento de organizações, cujo maior mérito foi associar a
complexidade do trabalho à complexidade do raciocínio envolvido na realização das tarefas
(1989)5. Isso permitiu associar o perfil de pessoas às necessidades dos cargos, e sistematizar a
aquisição, a retenção e o desenvolvimento de talentos. Peter Senge teve o mérito de introduzir o
conceito de learning organization (1990)6, que trata das formas para se atingir a excelência por
meio de aprendizados e do compartilhamento de conhecimentos e visões.
Aproveitando a prosperidade prolongada do pós-guerra, grandes grupos econômicos
cresciam e se diversificavam rapidamente. O aumento da competição fez que alguns se tornassem
uma mistura pouco lógica de negócios rentáveis com outros que geravam custos excessivos e
perdas.
Para lidar com esses problemas, surgiu, em 1970, o conceito de unidade estratégica de
negócios (UN), ou SBU – Strategic Business Unit – em inglês.
Esse conceito foi introduzido pela McKinsey na GE10, um conglomerado industrial que
produzia de lâmpadas a locomotivas. Cada unidade de negócios simulava uma empresa autôno-
ma, com os recursos necessários para definir e executar uma estratégia para o mercado em que
atuava. Esses mercados eram definidos por um conjunto distinto de consumidores, produtos,
concorrentes e fornecedores, para o qual cabia definir uma estratégia específica.
A inovação permitiu à GE atuar de forma mais eficiente em cada mercado, e é usada até
hoje por empresas com mais de um negócio, com variações (hoje é comum centralizar certas
funções em unidades compartilhadas por vários negócios, para ganho de escala). Na época, essa
forma de organizar deu grande impulso à prática de planejamento estratégico, pois reconhecia a
necessidade de uma estratégia para cada negócio.
Uma inovação tecnológica foi o desenvolvimento dos primeiros ERP (1972), sistemas in-
tegrados de informação que possibilitariam, a partir da década seguinte, a centralização de con-
troles financeiros e das decisões em empresas multinacionais. Essa ferramenta consolidou a no-
ção de que os sistemas de informação de uma empresa têm de estar conectados entre si e usar
uma base íntegra e única de dados, para se tornarem instrumentos efetivos de gestão. Por vezes,
parece rígida demais, mas é fato que parte significativa dos problemas em sua operação decorre
de deficiências nas definições dos processos das empresas, que quando são imprecisas ou não
alinhadas com objetivos estratégicos, trazem resultados necessariamente insatisfatórios. Concei-
tos mais recentes de estruturação das informações vêm trazendo flexibilidade crescente para as
soluções de TI, o que é útil para apoiar mudanças rápidas nas formas de trabalhar, decorrentes de
processos de aprendizado e de mudanças de circunstâncias localizadas.
Em 1993, quando a globalização dos mercados dava seus primeiros passos, surgiu a reen-
genharia de processos, proposta por Michael Hammer7. Apesar de excessos e equívocos em sua
aplicação, a reengenharia foi um passo importante no sentido de criar condições para a atuação
eficiente em mercados globalizados e preparar as empresas para o aumento do nível de competi-
ção que ocorreria nos anos seguintes.
A reengenharia recomendava o enxugamento radical de estruturas, níveis hierárquicos e
custos. Foi viabilizada pelo desenvolvimento das comunicações e dos sistemas integrados de in-
formação referidos antes. Para se ter uma ideia da amplitude dessa mudança, deve-se lembrar de
que na década de 1970 as subsidiárias de empresas multinacionais mal conseguiam publicar re-
sultados mensais antes do final do mês seguinte, ou seja, os resultados de janeiro, por exemplo,
raramente eram conhecidos antes da segunda metade de fevereiro. Nessas circunstâncias, as em-
presas multinacionais necessitavam de uma administração local robusta e com poder de decisão,
para atuarem com agilidade em cada mercado local. Hoje, muitos resultados são conhecidos ins-
tantaneamente, e relatórios contábeis e analíticos tornam-se sabidos no encerramento do mês ou
logo depois. Ficou aberto o caminho para a centralização de decisões e a construção e execução
de estratégias globais.
A competição em mercados globais requer competências e formas de atuar muito diferen-
tes das que prevaleciam há apenas três décadas.
Estratégias globais buscam diferenciações competitivas que só podem ser obtidas em es-
cala global, pois são baseadas em ganhos de escala e escopo que inexistem ou são muito difíceis
de obter em operações locais.
A realização de ganhos de escala pressupõe volumes maiores, mas também muitas vezes
tecnologias diferentes para lidar com eles. Por exemplo, a logística global tem configuração fun-
damentalmente diferente de uma logística organizada por empresas exportadoras que fabricam
em um só país. Ela trata de suprir regiões, como Europa Ocidental ou Oriente Médio, e não clien-
tes ou distribuidores individualmente.
Os ganhos de escopo surgem do acesso a recursos, materiais, conhecimentos e tecnologia,
difíceis de obter por empresas não globais, como é o caso do acesso aos mercados financeiros nos
países em que a empresa opera, das matérias-primas com custo competitivo internacionalmente
e do convívio próximo com fornecedores que produzem inovações tecnológicas.
E, para que esses ganhos se realizem, são precisos investimentos e competências específi-
cas, e é essencial que sejam coordenados de forma centralizada, o que leva a novas formas de or-
ganização, novos processos operacionais e decisórios, e a perfis diferentes de pessoas, em especial
nos cargos que fazem a interface entre culturas diferentes.
Essa centralização se torna excessiva quando simplifica a realidade, ao deixar de conside-
rar a variedade e complexidade dos mercados regionais e a especificidade das necessidades dos
clientes.
Isso pode ocorrer por duas razões: na maior parte das vezes, porque a empresa define
uma organização-padrão, orientada para objetivos globais, que na prática não deixa tempo,
recursos nem espaço nas agendas para lidar com negócios puramente locais, ainda que lucrati-
vos e significativos.
informaçã provo-
Outras vezes, deficiências dos processos decisórios e dos sistemas de informação
cam uma certa miopia na avaliação dos mercados regionais, e incapacidade de aproveitar opor-
tunidades fora do escopo definido.
Mesmo empresas bem gerenciadas sucumbem por vezes às tentações dessas simplifica-
ções, e são exceções dignas de nota as multinacionais que sempre valorizaram o entendimento
dos mercados locais, como a Unilever, e algumas empresas que iniciam o processo de internacio-
nalização (e ainda não perderam contato com a importância da realidade local).
Em alguns casos, a essa simplificação da realidade se soma o foco excessivo no curto prazo,
dando origem a práticas de gestão questionáveis.
Enfim, não chegamos ao fim da história das teorias de gerenciamento. Existem questões
importantes a serem resolvidas e soluções que precisam ser aperfeiçoadas. A própria crise finan-
ceira global iniciada em setembro de 2008 deve trazer mais atenção aos mercados regionais, à
medida que o crescimento da economia mundial tende cada vez mais à multipolaridade.
Da mesma forma, as estratégias das empresas têm mudado, como será visto adiante.
Crianças-problema Estrelas
(%)
Participação de mercado
(%)
Essa matriz classifica os negócios da empresa em quatro grupos, em função das caracterís-
ticas do mercado e da sua posição competitiva nele, produzindo uma visão interessante da atra-
tividade de cada negócio:
• “Estrelas” (Stars) são os negócios com rápido crescimento e elevada participação de
mercado. Promissores, demandam recursos para investir na expansão.
• “Vacas leiteiras” (Cash cows) têm boa posição no mercado, mas o baixo crescimento
permite gerar caixa, presumivelmente para aplicação nas Stars.
• “Crianças-problema” (Problem childs) são negócios que crescem rápido, mas em que a
posição da empresa não é robusta, o que obriga a definir uma rota de maior investimen-
to (para fortalecer a presença no mercado) ou de abandono.
• “Cães” (Dogs) são negócios em que o mercado cresce pouco e a posição da empresa nele
é igualmente fraca.
que a empresa opera. A visão das interações entre essas variáveis, dos seus impactos na situação
atual e de possíveis mudanças no seu comportamento permite desenhar cenários plausíveis e
entender o que provocaria a sua ocorrência.
Os cenários servem para testar alternativas de estratégia, e avaliar sua robustez e sustenta-
bilidade contra cada um deles. São responsáveis, também, por nos preparar para conviver com
incertezas, pois definem antecipadamente formas de assegurar a sobrevivência em cenários des-
favoráveis, aproveitar oportunidades nos favoráveis e responder a descontinuidades no mercado,
ações de concorrentes e mudanças tecnológicas.
A empresa pode usar a construção de cenários e a discussão sobre eles para ir além, e de-
senvolver modelos mentais compartilhados entre seus dirigentes sobre a posição competitiva
atual da empresa, os futuros possíveis e a melhor forma de a empresa lidar com cada um deles. A
Shell foi uma das primeiras empresas a avançar nessa direção.
Naquela década de tantas incertezas e crescimento econômico menor, era claro que perse-
guir um crescimento acelerado era uma solução de difícil realização e simples demais para lidar
com imprevistos. Era preciso buscar formas mais sofisticadas de competição. A resposta a essa
questão veio em 1980, quando Michael Porter11 publicou seu primeiro livro sobre estratégia. Os
conceitos que ele usou haviam sido desenvolvidos na década de 1930 pelo economista Edward
Mason e complementados por Joseph Bain na década de 1950. Resultaram no modelo de análise
SCP (Structure, Conduct, Performance), usado pelas autoridades norte-americanas antitruste
para avaliar o grau de competição nas indústrias, com o objetivo de mantê-lo elevado. Agora,
Porter usava os mesmos conceitos para ensinar as empresas a aumentar sua competitividade, ou
seja, a reduzir o nível efetivo de competição no seu mercado...
Porter inovou ao mostrar que as empresas não têm apenas o crescimento como estratégia
potencialmente bem-sucedida, e sim três possibilidades de estratégias genéricas: ser o líder em
custo, gerar diferenciação competitiva sustentável, ou focar em um nicho de mercado no qual
tem boas condições de competir.
Em seguida, Porter definiu as forças que determinam a rentabilidade de uma indústria: a
rivalidade entre os concorrentes e o poder de barganha dos consumidores, fornecedores, concor-
rentes entrantes e potenciais substitutos (dos produtos da indústria). O livro foi seguido por
outro que detalhava como operar esses conceitos, e de mais um, excelente12, que estendia os con-
ceitos dos anteriores a determinadas nações e regiões, mostrando como algumas delas consegui-
ram diferenciação competitiva em cadeias de valor de produtos específicos.
Porter deu um grande impulso ao pensamento estratégico. Seu mérito era sua visão
abrangente de como tornar uma empresa competitiva e uma poderosa metodologia para o
posicionamento com relação aos concorrentes, à escolha de mercados preferenciais e da forma
de competir.
Porter também propôs que a análise da competitividade da empresa fosse centrada na
cadeia de valor de seus produtos e dos produtos concorrentes. Esta é, até hoje, a abordagem cen-
tral da maior parte dos exercícios de estratégia, e será vista em detalhes adiante.
Novos
entrantes
Ameaça de
novos
Rivalidade na
Fornecedores Compradores
Poder de indústria Poder de
barganha de barganha de
fornecedores compradores
Ameaça de
novos
Produtos
substitutos
O tempo mostrou que ambos estavam certos: a abordagem de Porter permanece uma
ferramenta analítica robusta para analisar mercados existentes, mas Competing for the future
trouxe uma inovação preciosa, que foi o conceito de desenvolver capacidade preditiva com rela-
ção ao comportamento de mercados e consumidores, e assim lidar com mercados do futuro e
com mudanças radicais em mercados.
Em um seminário de dois dias nos anos 1990, Prahalad apresentou dois casos práticos que
ilustram bem a sua abordagem. Neles, o fator fundamental de sucesso foi a capacidade de prever
demandas futuras a partir de tendências atuais e descontinuidades potenciais.
No primeiro, um estudo da Motorola identificou que mudanças nos estilos de vida e de
trabalho das pessoas geravam uma demanda promissora, que era a necessidade simultânea de
mobilidade e conectividade. Essa demanda só poderia ser atendida por um novo produto, cujo
desenvolvimento iria requerer algumas inovações tecnológicas. Começava o desenvolvimento
dos telefones celulares.
No segundo, uma empresa de commodities agrícolas previu, em meados da década de
1970, que o crescimento acelerado da economia chinesa seria o ponto de partida para o grande
crescimento da demanda por proteínas pela população local. Ao mesmo tempo, as deficiências da
infraestrutura de transporte e armazenagem e a disponibilidade de terra e água na China não
permitiriam suprir essa demanda internamente. Somente dois países no mundo poderiam ter
papel relevante no atendimento a essa demanda: os EUA – com o qual a China teria alguma relu-
tância em estabelecer vínculos de dependência – e o Brasil – se realizasse melhorias tecnológicas
e de infraestrutura. Parece que assistimos à realização dessa previsão, como mostram os últimos
resultados do agronegócio brasileiro.
Mais recentemente, Prahalad vem orientando o seu trabalho para a construção de cadeias
de valor capazes de atender a necessidades individuais, usando intensamente novas tecnologias,
em grande escala global14. Também é importante o seu trabalho orientado para populações de
baixo poder aquisitivo em países emergentes15.
Depois de Prahalad, surgiram poucas inovações conceituais no pensamento estratégico.
O que se vê hoje de mais promissor e inovador são soluções para a execução de estratégias
que tentam conviver com as incertezas dos mercados, em vez de tentar reduzi-las. Essas soluções,
muitas delas preconizadas por Prahalad, usam ferramentas oferecidas por novas tecnologias e
aproveitam oportunidades surgidas de novos comportamentos de consumidores e demandas da
sociedade (ver discussão sobre esse assunto no Capítulo 3 – Novas formas de competir).
Existe ainda um espaço enorme para a inovação. Afinal, algumas das novas formas de
competir não estão plenamente desenvolvidas, e a dinâmica da globalização abre novas oportu-
nidades, inclusive para empresas de países emergentes.
Um ponto a observar é que a ênfase dos estrategistas e teóricos da administração estive-
ram na maior parte do tempo na estruturação da oferta (desde a organização do trabalho com
Taylor até as curvas de experiência do BCG) e na competição entre empresas (desde a teoria dos
jogos até Porter).
A preocupação com os consumidores teve menor relevância, apesar de ter aparecido cedo,
com Alfred Sloan, que criou divisões na GM para fazer produtos diferenciados por tipo de con-
sumidor. E foi retomada recentemente e com vigor por Prahalad, que propõe criar novos negó-
cios a partir da identificação das necessidades emergentes dos consumidores e dos modelos de
negócio que reconciliam grandes volumes e ganhos de escala com o atendimento a necessidades
individuais.
Contudo, o foco no cliente ainda não tem importância estratégica reconhecida na prática
por um grande número de empresas. As razões disso e o potencial de soluções baseadas no enten-
dimento das necessidades dos clientes são discutidos adiante no item 3.3 – Foco no cliente.
2
O que é Estratégia
A estratégia é a base sobre a qual são feitos planos, prioridades são estabelecidas e modifi-
cadas, a comunicação externa e interna é estruturada, os riscos são gerenciados e a trajetória da
empresa é alterada, em resposta a fatos novos.
Na ausência de uma estratégia, resta atuar apenas nos níveis tático e operacional. Enquan-
to ações estratégicas são interligadas entre si, as táticas lidam com oportunidades e ameaças
pontuais, que requerem soluções específicas e se esgotam em si mesmas. No nível operacional,
atua-se realizando transações continuamente.
Atuar sem uma estratégia tende a dispersar esforços até que, no limite, a empresa tenha
pouco ou nenhum controle sobre sua trajetória ao longo do tempo.
Organizada dessa forma, a análise das assimetrias entre concorrentes permite avaliar o
tipo de estratégia competitiva que cada concorrente é capaz de executar com sucesso e quais são
suas prováveis escolhas para o futuro, se as circunstâncias mudarem.
Porém, o futuro sempre nos reserva surpresas. Além das assimetrias, é preciso identificar
tendências e descontinuidades potenciais.
Tendências têm chances diferentes de se manterem ao longo do tempo. Elas podem ser
baseadas em fatos estruturais e consistentes (que se supõe terem uma boa probabilidade de per-
manecer), ou em fatos que estão em mudança ou que já não têm a mesma força do passado. Para
cada tendência, deve-se mapear possíveis alterações para o futuro.
Uma descontinuidade pode ter (e em geral tem) impactos diferentes em cada con concorrente,
em razão das formas de competir, das competências e dos recursos de cada um. Como no caso da
Shell que, nas crises de petróleo da década de 1970, se viu sem óleo cru suficiente para suas refi-
narias e o disponível no mercado era comprado a preços elevados, enquanto seus concorrentes,
que com mais óleo do que a própria capacidade de refino, realizavam lucros astronômicos.
Descontinuidades podem ter impactos rápidos quando são provocadas por mudanças de
expectativa, pois esta pode alterar o comportamento de grande número de consumidores ao
mesmo tempo, e de forma quase instantânea.
3
Novas Formas de Competir
Essas novas forças aumentam a incerteza quanto à trajetória dos mercados. Aliá
Aliás, a pró-
pria globalização vem passando por mutações cujos desdobramentos são difíceis de prever.
No início, a globalização foi impulsionada por inovações nas tecnologias de informação e
comunicação e pelo fim da Guerra Fria. Sua maior inspiração vinha dos Estados Unidos, cujas
universidades norte-americanas geraram as teorias e as ferramentas que prepararam as empresas
para operar de modo global. O mundo parecia pronto para a expansão sem limites da globalização
dos mercados, liderado pelas grandes empresas norte-americanas, e estas sendo seguidas de perto
pelas empresas europeias e japonesas.
Hoje, menos de trinta anos depois, não se pode dizer que a globalização é um fenômeno
tão simples: às primeiras mudanças se somaram outras que aumentara sua complexidade.
Primeiro foi o crescimento de países emergentes que começaram a se beneficiar da globa-
lização. Apenas 30% do crescimento do PIB mundial acontecia nas economias desenvolvidas,
mesmo antes da crise financeira global de setembro de 2008. A grande mudança é a importância
da China e da Índia na economia internacional, e o ineditismo de suas formas de competir, que
parecem não ter rivais. Como se sabe, mais da metade das grandes plantas industriais, que eram
projetadas ou estavam em construção em 2008, situa-se na Ásia, e a China tornou-se, neste mes-
mo ano, o segundo maior produtor de veículos do mundo, logo depois do Japão.
A prosperidade asiática vem aumentando a demanda por alimentos e commodities indus-
triais básicas, o que traz oportunidades novas (e inesperadas) para países produtores como o
Brasil, ao mesmo tempo em que levanta questões importantes sobre a viabilidade de atender a
essa demanda adicional de recursos naturais, e sobre a própria sustentabilidade desse modelo.
Surgem gargalos potenciais por escassez de insumos e aumentam os riscos ambientais.
Sabe-se também que esse processo está apenas no começo, pois chineses têm algo como
800 milhões de habitantes que aguardam para ingressar no mercado de consumo; os indianos
têm perto de 500 milhões; e os demais países emergentes, inclusive o Brasil, algumas outras cen-
tenas de milhões.
Outro movimento recente e rápido é a expansão da União Europeia, que já soma 27 países
e atrai para sua zona de influência inúmeros outros, com economias complementares às do bloco
europeu original, por terem uma população educada e salários baixos.
Europeus e chineses ocupam rapidamente os espaços abertos pelo encolhimento do anti-
go império soviético, no Leste Europeu e na Ásia Central, e esse movimento ocorre quase sem a
presença dos norte-americanos, que estão presos às suas iniciativas militares não concluídas no
Afeganistão e no Iraque.
Finalmente, os sinais de problemas com a economia norte-americana, expostos pelos défi-
cits governamentais e do setor externo, que se tornam insustentáveis em um mundo em que a
distribuição de poder tende à multipolaridade. O mundo aguarda as respostas dos Estados Unidos,
ao que parecem ser sinais de declínio de sua influência econômica, política e cultural no mundo.
Em especial, após a crise financeira de setembro de 2008, que aumentou as incertezas com relação
à trajetória da globalização e a quais serão os perdedores e vencedores nos próximos anos.
Em meio a essas mudanças, surgem recentes formas de competir, elaboradas para aprovei-
tar as novas oportunidades ou para conviver de forma mais segura com as incertezas e a elevada
competição.
Essas novas formas de competir combinam decisões sobre a abrangência da estratégia, que
pode ser local ou global, com maneiras inéditas de diferenciação competitiva.
A seguir, são discutidos esses dois pontos, em torno dos quais é possível gerar transforma-
ções radicais na estratégia e nas formas de trabalhar das empresas.
Muitos mercados permanecem locais. Alguns pelas razões corretas, outros não. Com C fre-
quência, isso ocorre porque é difícil existir neles operações suficientemente grandes e atrativas: a
oferta é fragmentada, a rentabilidade é baixa e está constantemente sob a pressão em função de
guerras frequentes de preços e dos preços praticados por concorrentes informais. Essas situações
são instáveis, pois esses mercados estão potencialmente sujeitos a um processo de concentração
que pode ser disparado por descontinuidades, como mudanças tecnológicas ou na regulamenta-
ção, aceleração da demanda, crises agudas de rentabilidade ou iniciativas de concorrentes ousa-
dos e com grandes bolsos.
No entanto, existem mercados em que os negócios locais são perfeitamente sustentáveis e
saudáveis. Entre eles, estão os mercados protegidos por barreiras naturais (geralmente geográficas),
como é o caso de usinas geradoras de energia, empresas de telefonia, fabricantes de cimento etc.
A Figura 3.1 a seguir mostra situações típicas de negócios, com relação às características
caracterí do
mercado em que atua (local ou global) e da forma de gerir empregada (também local e global).
No quadrante 1 estão negócios locais que são geridos como tal: os concorrentes são locais,
as diferenciações competitivas são desenvolvidas para competição com esses concorrentes e os
processos operacionais são adequados à escala local de operação.
Global 2 4
Mercado
Local
1 3
Local Global
Orientação/Gestão de Negócio
Essa situação é estável, se a empresa está protegida por barreiras naturais. Mas se é iniciado um
processo de concentração da oferta, ou se o mercado começa a se globalizar, inevitavelmente ocorrerá
aumento da competição e da instabilidade, e as empresas no quadrante 1 tornam-se vulneráveis, pois
passam a competir com empresas globais (que pertencem ao quadrante 4, ou estão migrando para lá).
A defesa natural é migrar esses negócios para o quadrante 4, tornando-os igualmente globais.
Algumas empresas não têm estímulo, competências ou recursos suficientes para gerir o
seu negócio como global, e tentam sobreviver como concorrente local em um mercado global (ou
seja, migram para o quadrante 2), o que pode ser feito de duas formas. Uma é atrelando-se à ca-
deia de valor de uma empresa global (comprando ou distribuindo seus produtos, por exemplo);
contudo, ao fazer isso, a empresa abdica do controle de sua cadeia de valor e do acesso a mercados
mais amplos.
A outra forma é permanecer independente no quadrante 2. Na maior parte das vezes, isso
requer operar em nichos, nos quais é mais fácil fazer valer as vantagens de presença local e conheci-
mento do mercado. Essa situação é geralmente instável, pois, ao optar por nichos, a empresa perde
escala, ao mesmo tempo que abre espaço para que os concorrentes tomem parte dos seus volumes
de venda e ampliem seus ganhos de escala. Em algum momento, esses ganhos poderão financiar a
entrada de concorrentes nos nichos em que a empresa atua. Uma alternativa mais saudável para
essas empresas é a venda ou a fusão com quem possa competir com os concorrentes globais.
As empresas no quadrante 3 gerem negócios locais como se fossem globais. É o caso, por
exemplo, de multinacionais que não abrem mão de padrões que usam na operação global. Outras
empresas atuam nesse quadrante porque sua estratégia global não leva em conta condicionantes
locais que afetam sua eficácia. É o caso, por exemplo, das empresas globais que insistem na venda
de produtos globais de fraca aceitação local.
2 4
?
Global
2
Mercado
1 3
Local
Local Global
Gestão de negócio
No quadrante 1 estão quatro unidades de negócios pequenas, que são negócios locais e
assim devem continuar.
O foco dos investimentos da empresa está no quadrante 2, no qual estão dois negócios
cujos mercados vêm se tornando globais nos últimos anos, mas ainda são geridos como locais. É
preciso passar a geri-los como globais, mas existem dúvidas sobre a viabilidade de migrar do
negócio representado pelo círculo azul para o quadrante 4, em função das competências que têm
de ser adquiridas, do tempo requerido para tal, do custo e dos riscos envolvidos. O negócio repre-
sentado pelo círculo verde é, sem dúvida, a estrela do portfólio, pois tem boas chances de vir a
participar do mercado global de forma competitiva.
Muitas vezes existem obstáculos importantes à migração para o quadrante 4. No entanto,
algumas dessas dificuldades podem ser solucionadas com formas flexíveis de competir, como será
visto a seguir.
Essas formas de organizar o trabalho não reduzem incertezas, mas podem tor
tornar mais
fácil e seguro conviver com elas.
Algumas cadeias flexíveis se caracterizam por usar apenas parte de seus recursos quando
atendem a um consumidor, mas sua configuração permite atender a uma variedade muito maior
de consumidores (e necessidades) de forma individualizada. Diz-se que essas são cadeias que
operam em rede, na qual cada elo é acionado de acordo com as necessidades de cada cliente. Em
uma palestra recente17, Prahalad citou dois casos desse tipo.
Prahalad propõe também uma forma de cadeia flexível que ele chama “cocriação de
d valor”.
Nesta, parte do valor é criada pelo próprio consumidor, o que aumenta o valor percebido da ca-
deia a custos atraentes.
Algumas cadeias são orientadas para gerar valor com base na excelência no aten
atendimento
ao consumidor. Outras vão além, e diferenciam propostas de valor a partir do entendimento das
diferentes necessidades dos consumidores, de suas atitudes com relação aos produtos da empresa
e à própria empresa.
Cadeias flexíveis exigem competências diferentes daquelas requeridas por cadeias de valor
convencionais. Entre elas, a coordenação de todos os participantes na cadeia e agilidade nas deci-
sões sobre o uso dos recursos.
Um risco a considerar é que essas formas de diferenciação não estão a salvo dos concor-
rentes que geram vantagens estruturais competitivas e significativas. Assim, as empresas que ado-
tam essa abordagem ainda têm de tratar de outras considerações estratégicas, como identificar
tendências, descontinuidades potenciais, oportunidades e ameaças, e gerenciar com cuidado a
competitividade e os custos de sua cadeia de valor.
Algumas cadeias flexíveis são construídas para o desenvolvimento contínuo de novos con-
ceitos de produtos e negócios, a partir da sistematização dos conhecimentos gerados por grupos
e pessoas. Elas são de difícil replicação, e podem ser muito bem-sucedidas (ver Capítulo 7 – Com-
petências organizacionais).
sobre produtos e serviços. A partir desses elementos, é possível estruturar processos de atendimen-
to, definir políticas de comunicação e especificar produtos, orientados pela voz do consumidor.
A outra forma – o relacionamento individualizado com clientes – foi viabilizada pelos
avanços na tecnologia de informação e pelos progressos da própria estatística, que vem desenvol-
vendo recentemente técnicas para lidar com grandes volumes de dados. Ela é baseada não em
pesquisas junto a amostras de clientes, mas sim na modelagem estatística de dados transacionais
e pessoais de cada cliente, para conhecer e prever suas atitudes e seus comportamentos com rela-
ção aos produtos e serviços da empresa e à própria empresa.
Esta segunda abordagem é apropriada onde a competição se baseia na excelência do aten-
dimento ao cliente e estão disponíveis dados sobre as compras individuais dos clientes. É aplicável
em serviços contínuos (instituições financeiras, seguradoras, telefonia, provedores de internet),
empresas em que as vendas são periódicas (assinaturas de jornais, revistas e programações de
entretenimento) ou a intervalos razoavelmente frequentes (agências de viagem, empresas de avia-
ção, redes de varejo).
Como se sabe, muitas empresas que atuam nas atividades citadas apa-
recem com assiduidade nas listas de reclamações das agências de defe-
sa do consumidor. E isso ocorre porque essas empresas definem estra-
tégias que não visam à diferenciação no atendimento ao consumidor.
Algumas, como as empresas de telefonia, usam o status de oligopo-
listas, enquanto em setores que sofrem crises sucessivas, como o da
aviação comercial, as empresas parecem não conseguir se desvenci-
lhar de estratégias baseadas essencialmente em custos e eficiência, o
que torna suas ofertas muito semelhantes às dos concorrentes. E o
consumidor percebe isso.
Sabe-se
abe-se que a aplicação de procedimentos estatísticos adequados aumenta muito a capa-
cidade de aprender sobre clientes.
A busca por novos clientes é essencial na maior parte dos negócios em que a ven
venda é feita
a clientes individuais, porque as taxas de renovação da compra tendem a ficar entre 70% e 80%,
na maior parte dos casos bem-sucedidos (em alguns poucos, chega a 90%). Isso significa que o
conjunto de clientes que comprou em um ano tende a decrescer rapidamente ao longo do tempo,
se não lhe for vendido outros produtos (cross selling), ou se não houver novos clientes que subs-
tituam aqueles que deixarão de comprar.
Essa dinâmica tem de ser bem entendida e gerenciada, para evitar dificuldades crônicas
para crescer de forma sustentável.
Um bom exemplo de relacionamento eficiente com clientes é o de uma empresa que pos-
sui um grupo seleto de clientes responsável pela maior parte de seu lucro e com o qual tem um
intenso e eficiente relacionamento. Para explorar melhor o potencial de ganho com esses clientes,
a empresa decidiu segmentá-los com base no valor de cada um para a empresa, e nos seus com-
portamentos com relação aos produtos da empresa. O valor de cada cliente foi dado pela soma de
suas compras em um determinado período, menos o custo médio unitário de servir os clientes de
cada segmento. Os diversos comportamentos foram identificados por modelagem estatística.
Partindo
Pa de uma base de 45 segmentos estatisticamente diferentes
entre
en si, os clientes foram agrupados em cinco grupos distintos, para
fins
n de definição das políticas de vendas e de relacionamento. Esses
cinco grupos são mostrados no quadro a seguir.
cin
O grupo 1 é o prioritário, pois agrega mais valor (representa 18% do
número de clientes, e 48% de seu valor total). Os clientes nele incluí-
nú
dos têm o melhor desempenho: apresentam o menor tempo de ma-
do
turação (definido como o tempo entre a data de aquisição do cliente
tu
e o momento em que ele passa a comprar serviços de maior valor e
com uso mais intenso) e o maior percentual de renovação de contra-
co
tos no último ano (92%).
% no = 16,07 % no = 5,25
Platina % valor – 46,11 % valor – 13,44
Maturação = até 16 meses Maturação = 17 a 21 meses
% no = 25,80
Prata % valor – 25,88
Grupo 4 – Aproximar
Maturação = 19 a 22 meses
% no = 17,91
Renovação = 70%
% valor – 6,98
Grupo 5 – Aumentar valor e reduzir custo
Maturação = 25 a 29 meses
% no = 34,95
Renovação = 47%
Bronze % valor – 7,61
Maturação = 43 a 50 meses
Renovação = 12%
Alto grau Médio grau Baixo grau
A Tabela 3.1 mostra que se a empresa conseguir aumentar sua taxa de retenção de 75%
para 80% (e os outros fatores permanecerem constantes), seu faturamento crescerá 18,5% em
cinco anos.
Se, além disso, ela aumentar cinco pontos percentuais na taxa de sucesso na aquisição de
novos clientes (passando de 35% para 40%), seu faturamento crescerá 29%.
Ou seja, com melhorias relativamente modestas nas taxas de sucesso e renovação, ocorre
crescimento de quase 30% no faturamento; isso, sem chamar a atenção dos concorrentes, e quase
sempre com baixo investimento e custo adicional.
O impacto desse tipo de melhoria na rentabilidade tende a ser expressivo, porque, tipica-
mente, essa abordagem não leva a custos crescentes, uma vez que é desenhada para obter excelên-
cia no relacionamento ao longo do tempo, com melhorias pequenas, frequentes e incrementais. E
sabe-se que operações muito eficientes não têm custos significativamente maiores do que uma
operação de desempenho mediano ou fraco.
Entretanto, é importante observar que, da mesma forma que as cadeias de valor flexíveis, as
abordagens descritas anteriormente não podem substituir uma visão estratégica mais abrangente.
Afinal, mudanças radicais em produtos (ou em seus custos), em tecnologias, ou no grau
de concentração da indústria, podem anular esses ganhos rapidamente. Assim, as empresas que
adotam essa abordagem continuam ainda precisando tratar de outras considerações estratégicas,
como qualquer outra empresa, além de gerenciar cuidadosamente a competitividade e os custos
de sua cadeia de valor.
Sua imensa poupança interna é usada para a expansão acelerada da infraestrutura: ener-
gia, estradas, portos etc. Com isso, aumenta-se o poder de barganha do governo na atração de
investimentos estrangeiros, que são direcionados para o aumento da capacidade de produção
industrial, principalmente em indústrias que se beneficiam diretamente da infraestrutura física
de boa qualidade e nas quais a competitividade vem de ganhos de escala e do baixo custo da mão
de obra. Essas empresas não pressionam os mercados locais, pois trazem capital, tecnologia e
pessoal qualificado consigo.
As companhias chinesas não têm essas facilidades: elas sofrem as limitações de um merca-
do de capitais e de um sistema bancário ineficientes, e também com uma burocracia que decide
quem recebe recursos e pode ter acesso ao mercado de ações.
Entretanto, vivem em um ambiente de altíssima competição entre si, com multinacionais
e estatais (estas pertencem a províncias e competem entre si), e beneficiam-se da enxurrada de
inovações e competências trazidas ao país pelas multinacionais.
Impulsionadas pelo crescimento do país, têm integrado as economias asiáticas, por meio
de cadeias de suprimento que usam matérias-primas, componentes, mão de obra e tecnologia
de toda a Ásia. Esse processo é facilitado pelas importantes comunidades empresariais chinesas
que vivem em Taiwan, Hong Kong e Cingapura (onde a população é predominantemente chi-
nesa) e nas Filipinas, Tailândia, no Vietnã e Malásia, onde os chineses formam importantes e
ativas minorias.
Ao competirem no exterior, as empresas chinesas usam as vantagens competitivas decor-
rentes desse modelo. Inicialmente, eram ganhos de escala por meio de altíssimos volumes, mão
de obra barata e tecnologias intensivas de trabalho. À medida que o modelo evolui, surgem van-
tagens competitivas na produção de commodities industriais (plásticos, por exemplo) e de produ-
tos cujos baixos custos resultam de intensa integração regional de componentes (produtos de
consumo).
A escala de produção de empresas chinesas pode ser impressionante. No início, as notícias
eram de gigantescas fábricas têxteis e de calçados, muitas vezes maiores do que as fábricas conhe-
cidas no Ocidente. As notícias mais recentes são da proliferação de fábricas de tecnologia média,
como em papel e petroquímica, que são enormes e em número impressionante. Se levarmos em
conta que as empresas multinacionais atuam com alta tecnologia, completa-se o modelo.
As empresas chinesas não atuam mais somente como fabricantes para empresas norte-
-americanas e europeias, e muitas já entram em novos mercados externos por conta própria.
Inicialmente, evitam investir em distribuição, atividade em que ganhos de escala não ocorrem tão
depressa: preferem usar parceiros locais e vender poucos itens, padronizados e de alto volume, a
preços muito baixos.
Essa forma de penetrar mercados deve ser vista como uma etapa intermediária na evolu-
ção dessas empresas, mas ainda é a forma predominante de atuação.
A experiência mostra que o crescimento das importações chinesas vem em grande parte
das respostas competitivas inadequadas das empresas locais, que são provocadas por não enten-
derem suficientemente como funcionam as estratégias baseadas em ganhos de escala.
Encontrei empresas assustadas com a concorrência chinesa, que tinham processos produ-
tivos deficientes (com perdas e retrabalhos elevados), operando com apenas 70% e até 50% da
capacidade ocupada, e elevados custos administrativos. De saída, essas empresas perdem de 30%
a 40% só em custos, por não ocuparem a capacidade de produção, não terem boas práticas de
manufatura e integração eficiente entre vendas e fabricação. Sem dúvida, essas empresas não têm
a menor chance de sucesso.
Outras empresas recuavam para nichos, em que vendiam produtos de maior valor agrega-
do e com variedade de itens. Em pouco tempo a perda de volumes e os altos estoques enfraque-
ciam ainda mais a sua posição de custo, criando um círculo vicioso de perdas de volume e au-
mento de custos.
É possível desenvolver respostas mais eficientes do que estas.
Em primeiro lugar, é preciso estabilizar a produção no maior nível possível, eliminar per-
das e retrabalhos. Usando estoques reguladores, vendas em outros mercados e políticas agressivas
de pricing para compensar flutuações da demanda e sazonalidades. E, em muitos casos, desenvol-
ver produtos de baixo preço para gerar volumes.
Além de manter os ganhos de escala nos processos produtivos, é essencial reduzir os custos
fixos aos menores níveis possíveis, sem nenhum traço de complacência. Afinal, custos de fabrica-
ção geralmente não chegam a 20% do custo total, e a redução dos custos dos demais processos
internos depende em grande parte das decisões da empresa. No médio prazo, é preciso atualizar
tecnologias produtivas, não hesitar em desmobilizar ativos obsoletos e baixar custos de produtos
continuamente.
É claro que as empresas brasileiras têm problemas com insumos, transportes, impostos e
altos gastos com mão de obra qualificada, que constituem o cerne do custo Brasil. Em parte, essas
desvantagens podem ser compensadas pelas melhorias já referidas, e com o aumento de eficiência
onde é mais difícil para os importadores. Tratemos de explorar essas vantagens.
No final, a experiência mostra que é possível encontrar uma luz no fim do túnel, mas não se
devem esperar tempos fáceis, quando se começa a competir com concorrentes tão formidáveis.
que se intitulavam defensores das castas mais baixas. Dados os costumes políticos estabelecidos,
esses partidos não buscam realmente eliminar as limitações impostas às castas: na verdade, de
alguma forma lutam pela preservação do statu quo, desde que obtenham benesses e transferências
de renda do Estado para seus eleitores...
Essas fragilidades fazem que a Índia, apesar do excelente desempenho econômico nas úl-
timas duas décadas, alcance crescimento menor do que o chinês, tenha menor potencial de cres-
cimento no longo prazo (são notáveis a precariedade de sua infraestrutura econômica e a insufi-
ciência dos investimentos nela), e não consiga tirar da pobreza um grande número de pessoas a
cada ano. No entanto, a Índia consegue disponibilizar para suas empresas importantes trunfos
competitivos.
Em primeiro lugar, existe uma classe média com cerca de 200 milhões de pessoas, fluentes
em inglês e muito bem educadas: um dos pontos fortes das políticas desenvolvimentistas india-
nas foi a criação de universidades de excelente nível e o incentivo para estudantes indianos cursa-
rem universidades inglesas e norte-americanas. Essas pessoas trabalham nos setores em que a
combinação de uma boa formação educacional com o conhecimento da língua inglesa faz dife-
rença: a prestação de serviços a distância, a produção de softwares e a biotecnologia. Essa base vem
aumentando: hoje a Índia forma 1 milhão de engenheiros (de bom nível) por ano, contra 100 mil
nos EUA.
O crescimento econômico tem se encarregado de levar a prosperidade a outros setores,
como o têxtil (de alto valor agregado, para fugir da concorrência chinesa) e o automobilístico.
Nesses setores as regulamentações governamentais foram eliminadas, e vem surgindo empresas
com cultura e competência globais, livres dos maus hábitos das empresas nascidas em economias
fechadas e dependentes das benesses do poder público.
As empresas indianas podem ser competidores formidáveis nos setores em que mão de
obra técnica de bom nível e grandes volumes de produção são fatores competitivos decisivos. Ao
mesmo tempo, elas têm custos de mão de obra especializada inferiores aos brasileiros, ao menos
nos nossos estados de maior poder aquisitivo.
Competir com elas requer competências globais em toda a cadeia de valor, o que é necessário
para competir com as japonesas, norte-americanas e europeias. E muita atenção aos custos.
4
Planejamento Estratégico
Empresas executam, com maior ou menor grau de formalidade, três tipos de planejamen-
to: operacional, tático e estratégico.
Cada um deles tem finalidades próprias, precisam ser executados em ambientes adequa-
dos, com ferramentas específicas e suficientes e interagem entre si, produzindo mais ou menos
eficiência na empresa como um todo.
O planejamento operacional orienta o dia a dia da empresa, porém não é necessariamen-
te o mais simples de realizar: muitas empresas têm deficiências importantes nesta área. Consiste
essencialmente em decidir o que produzir a cada momento, e saber quais inputs e recursos das
atividades de apoio serão necessários. Mesmo quando é realizado de forma sistemática e adequa-
da, as dificuldades estão sempre em estimar, com antecedência e precisão razoáveis, os volumes
de cada produto (ou serviço) que serão vendidos no mês ou na semana seguintes. E, em seguida,
programar o atendimento a essas necessidades, usando a capacidade de produção disponível,
comprando e recebendo os insumos necessários e mobilizando os recursos necessários para o
nível de produção planejado e a entrega a clientes.
Sempre existem incertezas nesse processo, em função de flutuações da demanda, mas em
geral elas são ampliadas por deficiências no relacionamento com clientes e fornecedores. Para li-
dar com essas dificuldades usam-se sistemas de planejamento da demanda e da produção.
Sistemas sofisticados de planejamento da demanda são amplamente disponíveis e conse-
guem aprimorar a exatidão das previsões de venda, por meio do acúmulo gradual de experiência.
Contudo, melhorias substantivas na previsibilidade das vendas só ocorrerão se a empresa desen-
volver conhecimento suficiente das necessidades dos clientes e de seu comportamento nas deci-
sões de compra. E se tiver relacionamentos eficientes com canais de venda e clientes finais.
O planejamento da produção realiza os trade-offs necessários entre manutenção da capa-
cidade disponível e flexibilidade de um lado, e custos competitivos do outro. Esses exercícios
criam a base para uma execução eficiente das tarefas de programação e controle da produção que
ocorrem no dia a dia. No entanto, a efetiva realização dos planos requer fornecedores alinhados
com as formas de trabalhar da empresa, para que ocorram entregas de insumos e componentes
no tempo determinado e nas quantidades e qualidades predefinidas.
Como se pode ver, não basta ter ferramentas sofisticadas (apesar delas terem valor inesti-
mável em muitos casos); é decisivo o gerenciamento competente de toda a cadeia de atendimen-
to, mantendo parcerias eficientes com fornecedores de insumos e tecnologias, e com distribuido-
res dos produtos. E não menos importante é uma boa qualidade dos planos táticos, para orientar
o planejamento operacional e dar visibilidade ao que vem pela frente.
Planejamentos táticos visam lidar com problemas e desafios específicos, como um plano
de vendas para aumentar a participação de mercado ou um programa de desenvolvimento de
produtos que aumente a participação de produtos novos na receita em 15% em três anos.
Finalmente, o planejamento estratégico. Algumas empresas revisam sua estratégia ao
longo do ciclo anual de orçamento. Essa prática consome muito tempo gerencial, e os resultados
raramente são satisfatórios, pois é uma tentativa de unir duas atividades diferentes que têm obje-
tivos distintos.
O orçamento é um exercício de alocação de recursos. Imprescindível na maior parte das
empresas, envolve um grande número de pessoas, tem um cronograma em geral apertado e defi-
ne objetivos de curto prazo que influenciam a remuneração das pessoas.
Estratégias precisam ser construídas com um olhar para o médio e o longo prazos e de
forma impessoal.
Essas diferenças de perspectiva recomendam separar a preparação do orçamento dos exer-
cícios de estratégia. Outra razão é que o primeiro tem periodicidade fixa (em geral anual), mas
alguns negócios não requerem revisões tão frequentes de estratégia, e outros podem precisar de
revisões quase contínuas, principalmente quando ocorrem mudanças rápidas na dinâmica da
competição em seus mercados. Um calendário flexível para exercícios de estratégia permite res-
postas rápidas a fatos novos (como ações inesperadas de concorrentes), e evita exercícios repeti-
tivos e sem valor.
A separação entre estratégia e orçamento não só aumenta a qualidade de ambos os exercí-
cios, como pode reduzir o tempo total gasto em planejamento, na medida em que a estratégia
define as principais decisões e os trade-offs mais frequentes, simplificando a preparação do orça-
mento e eliminando os meses que se perdem todos os anos com sua elaboração.
Estratégias são mais bem construídas em exercícios desenhados especificamente para essa
finalidade, com dados relevantes e espaço para discussões substantivas, e, ao final, definição de
objetivos claros e um plano realista de execução.
Um elemento essencial nesse processo é assegurar que os conhecimentos relevantes para a
formulação da estratégia estejam presentes no grupo que irá construí-la, seja diretamente, por
meio de seus integrantes, seja pela agregação de conhecimentos de especialistas. Não basta que
esse grupo domine os aspectos importantes do negócio como ele é hoje; é preciso também que seja
capaz de identificar descontinuidades potenciais, com origem na indústria ou fora dela, que possam
vir a ter impacto na dinâmica do mercado e da competição, mesmo que no momento existam
apenas sinais fracos dessas possibilidades.
Não existem regras fixas quanto à coordenação e formalização desse processo. O formato ideal
é aquele que estimula o pensamento estratégico de boa qualidade e torna a estratégia suficientemente
clara para ser compreendida e aceita pelas pessoas que estarão envolvidas em sua execução. Quan-
do as incertezas não são grandes e o conhecimento está concentrado no topo da organização, as
decisões podem em princípio ser centralizadas. Porém, mesmo nesses casos, em geral é necessário
incluir especialistas nas discussões sobre questões complexas. À medida que aumentam as incer-
tezas, mais inputs externos e internos são requeridos.
Na prática, um grupo relativamente restrito no início dos trabalhos vai sendo ampliado à
medida que surgem questões que requerem a contribuição de especialistas. A escolha da estraté-
gia é feita por poucas pessoas, e o grupo volta a crescer rapidamente na fase de execução, quando
todas as áreas da empresa têm de ser envolvidas.
Algumas empresas adotam o mecanismo oposto, desenvolvendo o pensamento estratégi-
co de baixo para cima. Essas iniciativas são úteis em empresas em que a distância entre níveis
hierárquicos é muito grande, ou os sistemas de informação não permitem ao formulador da es-
tratégia enxergar o que está realmente acontecendo em cada área. É o caso típico da aquisição e
fusão de empresas, quando os sistemas de informação ainda não estão integrados, as pessoas não
se conhecem e pouco sabem sobre os mercados e as formas de competir da(s) outra(s) empresa(s).
Nessas circunstâncias, começar com uma troca geral de informações é saudável e ajuda a criar
pontes de colaboração.
No entanto, lidar com um grupo grande durante todo o processo de análise de fatos e
formulação de estratégia requer esforço para manter o foco em assuntos estratégicos e assegurar
contribuições relevantes para a reflexão estratégica e, por isso, tende a prolongar os tempos de
execução e a desperdiçar o uso de tempo gerencial.
A construção da estratégia não deve seguir roteiros preestabelecidos, e sim ser feita em
uma sequência que facilite a evolução das discussões e a qualidade das decisões. Em alguns casos,
pode ser necessário começar por questões que criam grandes desconfortos, e em seguida expan-
dir o trabalho para as demais. Ou tratar de necessidades urgentes, e evoluir para uma abordagem
mais abrangente em seguida.
Cabe um parêntese sobre Visão, Valores e Missão.
Em exercícios formais de planejamento estratégico é comum definir esses elementos. A
Visão reflete as aspirações da empresa, ao descrever o ideal a ser atingido e como espera ser vista
e reconhecida no futuro. Em geral, incorpora a definição dos Valores que devem orientar suas
atitudes e seus comportamentos (mas estes podem ser definidos em separado). Alguns Valores
orientam ações e decisões sobre o negócio (como a Satisfação de Clientes, Qualidade de Produtos,
Dominância de Mercado, o Menor Custo etc.), enquanto outros definem as formas de relaciona-
mento interno e com os diversos públicos-chave da empresa: clientes, fornecedores, parceiros,
comunidades próximas, a sociedade em geral e acionistas. A Missão descreve o foco da atuação
da empresa: os produtos, mercados e segmentos em que esta atuará no futuro próximo, e de que
forma irá competir (muitas vezes, estabelece também com que nível de excelência).
A prática vem demonstrando que o próprio exercício de planejar a estratégia modifica
percepções e crenças, e que é mais proveitoso e realista finalizar essas definições quando os desa-
fios diante da empresa já são bem conhecidos, as alternativas de solução já estão delineadas e as
aspirações já passaram por testes de realismo e viabilidade. A Missão, por exemplo, reflete a decisão
sobre se um negócio será global ou local, e precisa estar alinhada com o modelo de negócio definido
para apoiar a estratégia escolhida. Portanto, é recomendado que essas definições ocorram ao mes-
mo tempo que a estratégia é escolhida, e não no início dos trabalhos de formulação da estratégia.
Adiante têm-se as análises iniciais, que correspondem à maior parte do trabalho na for-
mulação de uma estratégia. Tipicamente, elas compreendem:
Ambiente externo
Dinâmica do mercado e da competição
Análise da competitividade atual
Competências
Riscos e incertezas
Recursos
A prática mostra que é mais eficiente realizar essas análises simultaneamente, apr
aproveitan-
do os findings em cada uma delas para enriquecer as demais, e convergindo ao final para um en-
tendimento abrangente da situação.
5
O Ambiente Externo
Nas duas décadas após a Segunda Guerra Mundial a incerteza com relação aos sistemas
políticos e econômicos era relativamente pequena. A partir da década de 1970 começaram a ocor-
rer descontinuidades rápidas e significativas, que aumentaram o nível de incerteza nos mercados
e na economia em geral.
Essas incertezas vêm crescendo nas últimas décadas, com mudanças significativas na polí-
tica, na economia e na sociedade, além de mudanças estruturais nos mercados que se globalizam
e do surgimento de novas formas de competir.
5.1 CENÁRIOS
Os cenários constituem uma ferramenta para lidar com essas incertezas de forma sistemá-
tica. São descrições do futuro para o ambiente em que o negócio opera, que abrangem o espectro
de possibilidades para os quais é preciso se preparar, sejam elas favoráveis ou não.
Essas possibilidades são agrupadas em um número finito de cenários, geralmente dois ou
quatro, cada um deles construído para ter uma lógica interna convincente e realista, que repre-
sente um futuro plausível (a boa prática recomenda não construir número ímpar de cenários,
pois as pessoas tendem a eleger o intermediário como o mais provável).
Seu uso imediato é testar a robustez de alternativas de estratégia e preparar respostas a
descontinuidades potenciais no ambiente externo, o que se faz avaliando o impacto das grandes
tendências da indústria sobre cada alternativa de estratégia, as probabilidades de ocorrência de
descontinuidades nestas tendências, e, também, lidando com questões específicas, que afetem de
forma significativa a competitividade da empresa.
Por
Po exemplo, empresas dependentes de subsídios e/ou de proteção
alfandegária
alf devem se perguntar: o que aconteceria se houvesse
completa
co eliminação de subsídios e proteções alfandegárias aos seus
produtos?
pr Quais ações poderiam ser adotadas hoje para reduzir a
vulnerabilidade
vu da empresa a esse evento? Quais dessas ações são
positivas
po em qualquer circunstância?
* Modelos mentais são premissas e crenças, muitas vezes não inteiramente conscientes, sobre como o mundo
funciona (o que inclui a indústria, o mercado, as pessoas etc.). São o pano de fundo sobre o qual as pessoas
formam opiniões. São estes modelos que afetam as visões de como a empresa é e qual deve ser o seu caminho.
desempenho de produtos e de canais. E também fazer exaustivos cruzamentos de dados, até que
os fatos mais relevantes da dinâmica do mercado e da competição comecem a emergir. Tipica-
mente, esses fatos são irregularidades no comportamento da demanda e de segmentos específicos
de clientes, grau de dependência dos resultados em alguns produtos, desempenhos de canais de
venda, formas preferenciais de atuação de cada concorrente etc.
Os cenários da indústria podem ser suficientes quando movimentos mais amplos da eco-
nomia e da sociedade não parecem capazes de provocar mudanças no mercado e na dinâmica da
competição.
No entanto, em algumas indústrias, as direções da economia, da política e da sociedade
(inclusive, os movimentos demográficos) são muito relevantes para a estratégia. É o caso da in-
dústria do petróleo, onde surgiu essa ferramenta, e das indústrias ligadas à infraestrutura econô-
mica e bens de consumo de alto volume.
Nesses casos, os cenários precisam incorporar o entendimento dos futuros plausíveis e
relevantes para o negócio, tanto na economia, na política como na sociedade e integrá-los aos
cenários da indústria para formar “futuros plausíveis” completos.
Muitas vezes, o futuro segue uma trajetória entre dois cenários extremos, por força de
vetores conflitantes entre si. Ele pode por um tempo pender mais para um deles, e mais adiante
se aproximar do outro. E o fato de ter esses cenários definidos permite visualizar com clareza esses
movimentos e preparar a resposta para eles.
Em muitos casos, os elementos que irão determinar o futuro da indústria e das empresas
concorrentes não ficam claros logo após a ocorrência de uma descontinuidade significativa, pois
uma descontinuidade pode provocar reações que levam tempo para se concretizar e que têm
origens inesperadas.
Cenários podem ser a ferramenta adequada para lidar com essas incertezas, porque abrem
espaço para formular situações totalmente novas, que configurem descontinuidades de segunda
ordem, ou seja, decorrentes da descontinuidade inicial.
Como se vê, cenários podem ser produzidos também para países e regiões (o livro de Por-
ter The competitive advantage of nations – lançado no Brasil como A vantagem competitiva das
nações – foi inovador nessa questão).
É preciso mencionar que alguns consultores acreditam que cenários só se aplicam a indús-
trias com níveis médios e baixos de incerteza. Quando os níveis de incerteza são muito elevados,
deve-se definir um posicionamento estratégico básico e construir formas de execução flexíveis
que se ajustem a quaisquer circunstâncias externas.
Esta pode ser uma solução em casos extremos. No entanto, na prática, muitas empresas
monitoram o ambiente externo de forma insuficiente, e a construção de cenários eleva o enten-
dimento do que está ocorrendo “lá fora” e seus possíveis impactos nos negócios. Quando a incer-
teza for tão elevada que seja intratável com o uso de cenários, ao construí-los essa situação será
percebida.
Ao contrário, a importância dos cenários como ferramenta para a estratégia cresce com a
crise financeira de 2008, não tanto para se saber quando o mercado financeiro norte-americano
irá se desvencilhar de seus problemas, mas sim para entender os impactos da crise sobre a ordem
econômica e a globalização dos mercados.
Vários novos ingredientes entram nessa nova visão.
Uma nova dinâmica deve se desenvolver no comércio internacional. De um lado, os EUA
deverão ter reduzido o papel de propulsor da economia mundial, que têm exercido com a geração
de enormes déficits comerciais. As dificuldades crescentes com o financiamento desses déficits, a
Essa crise foi combatida pelos asiáticos com políticas de austeridade fiscal de extremo
conservadorismo. Em poucos anos, esses países se recuperaram e voltaram a crescer, com ênfase
ainda maior nas exportações e no acúmulo de reservas em moeda forte.
O Brasil, ainda cambaleante das crises anteriores, voltou a sofrer perda acentuada em sua
capacidade de crescimento. Porém, adotou, por influência de organismos internacionais, as mes-
mas medidas de austeridade adotadas pelos asiáticos. Em poucos anos, conseguiu dominar a in-
flação e restabelecer um mínimo de confiança dos investidores na economia.
O acontecimento fortuito nessa história é que, sem que tivéssemos feito muito para isso, o
crescimento continuado dos asiáticos e a prosperidade do comércio internacional na última dé-
cada provocaram aumento da demanda e dos preços das commodities produzidas pelo Brasil.
Tendo eliminado a inflação e estabelecido reformas institucionais, o país estava pronto
para se beneficiar de uma nova fase de prosperidade induzida pela demanda por nossas commo-
dities. O país tornou-se mais um acumulador de reservas em moeda forte, e passou a surfar essa
onda como importante exportador.
A economia hoje está mais resistente a crises externas, como mostra a crise financeira
global iniciada em setembro de 2008. No entanto, ainda estamos condenados a crescimentos
menores do que os países emergentes mais bem-sucedidos (China e Índia, para citar os mais vi-
síveis), e muitas indústrias têm condições desfavoráveis para competir globalmente, em função
de custos elevados de matérias-primas e bens de capital, deficiências de infraestrutura e bases de
produção subdimensionadas. São limitados os planos no sentido de erradicar essas deficiências:
a tendência é de conviver com elas, realizando ganhos incrementais nos pontos mais críticos. No
livro A história do futuro do Brasil (São Paulo, Saraiva, 2007) trato dessas ambiguidades, que su-
gerem a necessidade de considerar dois cenários, ou “futuros plausíveis”, para a sociedade e a
economia brasileiras18, e também traçar estratégias para conviver com eles.
6
Análise da Competitividade Atual
Os cenários da indústria identificam uma boa parte das questões estratégicas a serem es-
tudadas, em especial aquelas relacionadas com a dinâmica do mercado e da competição.
Porém, as questões estratégicas não se esgotam nas relações com o ambiente externo: exis-
tem também as que são relacionadas com a eficiência interna da empresa, e as interações dela
com fornecedores, distribuidores e parceiros tecnológicos, na produção de ofertas competitivas.
Uma forma inicial de lidar com esses elementos é organizá-los a partir de uma matriz
SWOT, como já foi discutido. Pode ser muito útil também pesquisar as percepções de clientes,
fornecedores, distribuidores e parceiros tecnológicos sobre o desempenho da empresa. No entan-
to, existem limites de precisão para esses instrumentos, e a principal razão disto é que não basta
conhecer pontos fortes e fracos, pois é o conjunto deles que definirá o sucesso ou o insucesso da
empresa. E também não basta conhecer oportunidades e ameaças, se não ficar claro com quais
recursos se conta para lidar com elas.
A análise ampla e suficiente da competitividade faz-se, usualmente, com a cadeia de valor.
Esta é a forma mais simples de avaliar a competitividade das ofertas que a empresa coloca no
mercado, compará-la com a das ofertas de seus concorrentes, e visualizar oportunidades de re-
configuração para obter maior competitividade.
É uma ferramenta quantitativa, voltada para a reflexão estratégica e o desenho de novas
possibilidades e novos caminhos. Não substitui as análises financeiras para a avaliação final de
investimentos, mas deve antecedê-las, para que sejam criadas as alternativas de ação que em se-
guida terão de ser validadas (aí, sim, levando em conta elementos financeiros como o capital
empregado, os tempos envolvidos e a rentabilidade potencial). Também não substitui informa-
ções gerenciais usadas para a operação no dia a dia nem deve ser confundida com elas.
participam dela a empresa produtora, seus fornecedores e distribuidores. O seu valor total em um
determinado período é o valor dos produtos vendidos a preços pagos pelo consumidor final.
Uma cadeia de valor tem um grande número de elos, cada um relativo a uma atividade.
Para facilitar sua análise, é recomendado organizá-los em categorias – como no Quadro 6.1 a
seguir –, que permitem entender rapidamente as principais características de uma cadeia e facili-
tam identificar áreas de oportunidade para aumentar sua competitividade.
* Ao calcular os valores da cadeia, alguns cuidados metodológicos são importantes, para simplicidade e
realismo. Rateios devem ser evitados, mas, quando inevitáveis, devem ser feitos com base no uso de recur-
sos. Transferências de produtos entre negócios da mesma empresa são feitas a custo, para visualizar as
sinergias porventura existentes entre os negócios da empresa. São excluídos valores referentes a decisões
do passado, como depreciação e amortização, e ajustes contábeis da rentabilidade relativos a fatos do
passado, inclusive a criação ou reversão de reservas.
See o preço dos materiais está em linha com o mercado, e mesmo assim é muito eelevada a
proporção entre os custos de materiais e o valor total da cadeia, isso significa que a empresa não
consegue agregar valor suficiente aos materiais que processa.
A relação entre o valor dos insumos e o valor total da cadeia pode ser relativamente eleva-
da em commodities, pois se sabe que estas agregam pouco valor unitário aos insumos (os ganhos
geralmente estão nos grandes volumes). No entanto, em cadeias de valor de produtos de consu-
mo, custos altos de materiais são inaceitáveis, pois restringem a disponibilidade de recursos para
gastos em branding, propaganda e promoções, que são essenciais ao sucesso. Em cadeias de valor
de serviços, as proporções tendem a ser específicas de cada atividade.
Como mostra o Quadro 6.1, a captura de valor pela empresa equivale à soma dos custos
de seus processos, da rentabilidade que retém e dos impostos que paga.
Os processos internos da empresa precisam ser avaliados quanto à relevância para a estra-
tégia e a intensidade de gastos necessária para atingir objetivos estratégicos. De fato, ter custos
baixos não é positivo quando limita a geração das competências necessárias à competitividade.
Estabelecida a relevância de cada processo, é preciso que seus custos e eficiência sejam
comparáveis às melhores práticas. Muitas vezes, um processo só alcança competitividade de cus-
to quando consegue realizar ganhos efetivos de escala e escopo.
Ganhos de escopo decorrem diretamente da abrangência dos negócios e dos mercados em
que a empresa atua.
esc
Em processos administrativos pode ser difícil medir diretamente os ganhos de escala. Nes-
ses casos, a análise restringe-se ao formato dos processos em si (como a sua capacidade de evitar
trabalho e atrasos) e à comparação com “melhores práticas”. Estas geralmente definem
erros, retrabalhos
os aceitáv
intervalos aceitáveis para a proporção entre o custo dessas atividades e a receita da empresa. Se
alguma dessas prproporções indicar problemas, tem-se de aprofundar a análise para localizá-los.
Ainda com relação ao valor capturado pela empresa, é preciso estar atento à part
participação
dos impostos na cadeia, o que pode ser um fator importante, em especial na complexa estrutura
tributária brasileira.
O valor capturado pelos distribuidores resulta, principalmente, do seu poder de barganha,
que, por sua vez, decorre da dinâmica do mercado e do elevado grau de concentração na ativida-
de de distribuição – que se trata de um fenômeno bem conhecido e que atinge um grande núme-
ro de indústrias. Em algumas indústrias, o valor capturado pela distribuição é excessivo, porque
a dinâmica do mercado cria condições para isso: quando novos pontos de venda são poucos, a
renovação de produtos e o crescimento da demanda são limitados, a tendência é que os distribui-
dores tradicionais desenvolvam uma forte presença e um alto poder de barganha. Em mercados
dinâmicos, em que novos distribuidores e pontos de venda são atraídos continuamente, e novos
produtos são lançados com frequência, existem mais alternativas para a distribuição, o que faci-
lita aos fabricantes manter poder de barganha e um controle suficiente sobre a distribuição.
Quando o poder de barganha dos distribuidores é elevado, ou o conjunto de canais não
oferece distribuição suficiente e alinhada com os objetivos estratégicos, é preciso considerar o
desenvolvimento de canais alternativos, de menor custo ou que aumentem o controle sobre a
colocação dos produtos no ponto de venda.
Para lidar com custos excessivos de canais, algumas empresas reduzem a diferença entre os
preços de venda a varejistas pequenos (bem situados e com boa qualidade de atendimento), e os
preços de venda a grandes varejistas. Dessa forma, estimulam o crescimento dos primeiros e re-
duzem a concentração das vendas nestes últimos.
Um caminho que é trilhado com frequência para obter mais fidelidade de canais é a sua
qualificação e a criação de vínculos exclusivos com distribuidores e prestadores de assistência
técnica que trabalham com os produtos da empresa.
Em alguns casos, o custo de distribuição cresce porque a empresa tenta transferir para os
canais de distribuição parte de suas ineficiências (como rigidez em processos produtivos, má
qualidade das vendas e deficiências em logística), o que abre espaço para relacionamentos onero-
sos com sua rede de distribuição. Nessas circunstâncias, é muito comum que os canais de venda
tentem compensar os custos que lhes são transferidos com compras e estoques especulativos. É
preciso evitar essas práticas, que reduzem a colaboração na cadeia de valor, e com frequência le-
vam o fabricante a perder o controle sobre os processos de distribuição.
Com base nessas verificações, o analista da cadeia tem uma primeira visão de sua compe-
titividade atual e das áreas em que há potencial de melhoria. Da mesma forma, ele pode visualizar
que perdas se teria, caso alguns elementos, que hoje são favoráveis, desaparecessem.
Alguns tipos de complexidade podem ser minimizados pela forma como se organ
organizam os
processos e as decisões.
Bancos, por exemplo, distribuem as operações com clientes entre as áreas de atendimento,
produto e crédito, tesouraria e corretoras. Com isso, fragmentam as tarefas (tornando-as mais
simples) e as decisões (tornando-as mais controláveis), o que permite operar esse complexo rela-
cionamento com custos e riscos baixos.
De forma semelhante, empresas de consumo de massa distribuem entre muitas áreas es-
pecializadas as tarefas de identificar as necessidades dos clientes, desenvolver produtos para aten-
der a essas necessidades, disponibilizá-los para venda e assegurar a satisfação dos consumidores.
Em algumas atividades, é possível manter a complexidade das operações limitada a um nú-
mero restrito de pessoas. Laboratórios de pesquisa, por exemplo, criam processos de controle e su-
pervisão, mas entregam grande parte dos resultados nas mãos de relativamente poucos pesquisado-
res. Agências de propaganda e consultorias tendem a gerar resultados por meio de um número
limitado de pessoas que vendem os seus serviços e se relacionam com clientes importantes, enquan-
to a maior parte da organização trabalha para entregar as promessas e os produtos vendidos.
A complexidade pode ser uma necessidade imperiosa da atividade ou da estratégia: na
indústria farmacêutica, a complexidade dos processos de P&D (Pesquisa e Desenvolvimento) é
inevitável, mas os demais podem ser padronizados e simplificados.
Finalmente, os riscos. A análise da cadeia de valor identifica riscos estruturais, ou seja, riscos
relacionados com deficiências ou fragilidades da configuração da cadeia: por exemplo, a falta de
competitividade na compra de insumos, dependência excessiva em fornecedores ou distribuidores,
baixa eficiência em processos, ou incapacidade de gerar valor suficiente para remunerar o capital
empregado. Também podem ser identificados riscos associados a descontinuidades potenciais.
Analisar a eficiência desse tipo de cadeia é difícil, pois esses processos especializados não
são facilmente comparáveis aos processos de outras empresas. Portanto, são avaliados somente
pelos próprios méritos: a quantidade de erros, atrasos e retrabalhos que ocorrem, a capacidade de
gerar ganhos de escala e a produtividade na execução de determinadas tarefas.
Ainda que preliminarmente, a análise da cadeia de valor dessa empresa indicou diversas
oportunidades de melhoria.
Os processos de inovação parecem à primeira vista ter proporção adequada, mas uma
verificação detalhada mostrou que os gastos com propaganda estão acima das práticas de merca-
do, enquanto o gasto com desenvolvimento de produtos parece insuficiente para manter os pro-
dutos competitivos no médio prazo.
Os custos da cadeia de atendimento são altos demais, em função da baixa automação e de
constantes perdas de controle dos principais processos, que geram erros, retrabalhos e atrasos
significativos. Essas características fazem que esses processos não gerem escala. Ao contrário, des-
troem ganhos de escala à medida que as operações crescem e se tornam mais complexas. A con-
sequência é que os custos unitários crescem juntamente com o volume de produção, o que fun-
ciona como um limitador do crescimento.
Os custos de coordenação interna são muito elevados, porque os retrabalhos que ocorrem
na cadeia de atendimento sobrecarregam áreas corporativas como cobrança, análise de crédito,
TI e jurídico, cujos custos são elevados com relação às melhores práticas.
A rentabilidade declina ano a ano, pressionada pelos aumentos de custo já referidos.
À primeira vista, pode-se dizer que é necessária uma revisão completa da cadeia de aten-
dimento e dos processos de coordenação interna, para reduzir custos e tornar os processos prin-
cipais geradores de escala. E é provável que os custos de inovação tenham de aumentar e alinhar-se
aos objetivos estratégicos.
Resolvidas essas questões, resta ainda saber se a geração de valor dessa cadeia será satisfa-
tória. Não mais pelo lado dos custos, mas pelo lado das vendas: é preciso avaliar se os produtos
da empresa atingem volumes e preços suficientes para pagar os custos de produção, os custos
mais elevados de inovação e ainda remunerar o capital empregado. Essa questão é retomada
adiante, ainda nesta seção.
A Empresa B vende seus produtos para empresas que os transformam antes de vendê-los
a consumidores finais. Ela é líder de mercado, mas vem perdendo vendas para competidores glo-
bais. No momento, estes se concentram nos itens de maior volume e baixa variabilidade, e prefe-
rem vendê-los por meio de distribuidores já estabelecidos no mercado local. A empresa procura
defender a rentabilidade focando em produtos de nicho e margens unitárias maiores, porém com
menor volume.
Essa estratégia não vem sendo bem-sucedida, pois os custos unitários da cadeia de atendi-
mento têm crescido, dada a perda de escala (e de alguns pecadilhos na gestão das vendas e da
produção, que resultam em custos desnecessários). Hoje, os custos estão acima da média pratica-
da nesse mercado.
A cadeia mostra também que são muito elevados os valores capturados por fornecedores
e distribuidores. Os primeiros, porque a empresa abandonou a fabricação de alguns materiais
intermediários e passou a importá-los (não para aumentar sua rentabilidade, e sim porque evi-
tou, dessa forma, investimentos na modernização de alguns equipamentos). Já os distribuidores
têm grande poder de barganha, em função de um conjunto de circunstâncias: as redes de distri-
buição são antigas, específicas para o tipo de produtos que a empresa fabrica, são poucos os
clientes e distribuidores novos, e não existem canais alternativos com capacidade de distribuição
comparável.
Salta à vista a baixa rentabilidade. Em parte, porque a empresa deixa muito valor com
fornecedores e distribuidores, em parte porque a perda contínua de escala agravou as vulnerabi-
lidades decorrentes de processos internos ineficientes.
A solução para essa empresa envolve revisão completa do modelo de negócio, para que
ela consiga capturar valor suficiente para sua sobrevivência. Os desafios são grandes, pois é ne-
cessário reduzir os custos dos processos internos (o que pode envolver a retomada de parte da
produção que hoje é terceirizada) e aumentar a efetividade dos canais de venda a custos compe-
titivos. Sem dúvida, são muitas as decisões e negociações difíceis, antes de se chegar a uma solu-
ção aceitável.
A Empresa C produz bens de consumo vendidos a varejistas por uma equipe de vendas
própria e alguns distribuidores. O mercado é local, em função de restrições à importação. Os
custos dos materiais são elevados para esse tipo de atividade; e os custos da cadeia de atendimen-
to estão próximos às melhores práticas de mercado.
O valor capturado por distribuidores é elevado, pois a empresa busca o máximo de pulve-
rização da distribuição, e para tal usa vários canais de distribuição, alguns de custo elevado. Exis-
te pouca área de manobra para reduzir esses custos.
Uma importante qualidade dessa cadeia de valor é o baixo custo de coordenação interna,
que garante espaço para manter rentabilidade razoável mesmo em tempos de vacas magras.
Porém, os resultados estão abaixo da média do mercado, em função do custo dos mate-
riais. Além de deprimir o resultado, isso limita os recursos disponíveis para investir nos processos
de inovação (I), em especial o desenvolvimento de produtos e a gestão de marcas.
A solução mais adequada passa pelo acesso a insumos mais competitivos, ou pela utiliza-
ção de tecnologias novas, que reduzam a intensidade de uso de insumos.
***
Uma vez resolvidos esses problemas, ela tem possibilidade de explorar oportunidades que re-
querem o desenvolvimento de propostas de valor diferenciadas por tipo de cliente, e de produ-
tos novos, para atender bem a essa diversidade.
Como lhe faltam recursos para investir nessas soluções, a empresa pode adotar uma solu-
ção não estrutural, por meio de uma cadeia de valor flexível – com a empresa no centro e uma rede
de parcerias especializadas em torno dela, que ofertariam novos produtos para sua base de clientes.
Esses parceiros seriam acionados a cada demanda de cliente, dentro de sua especialidade.
Dessa forma, a empresa aumentaria a geração de valor de sua base de clientes, defenden-
do-a de ataques da concorrência e compartilhando esses ganhos adicionais com parceiros capazes
de ajudá-la a atender às demandas insatisfeitas.
7
Competências Organizacionais
Diz-se que uma empresa internalizou uma determinada competência quando ela a tornou
parte de seus processos internos e consegue praticá-la a todo momento, em diversos lugares, sem
depender do talento de pessoas ou grupos específicos.
com as qualificações necessárias) e utilizados em larga escala. Nessa categoria está a maior parte
dos conhecimentos necessários à implantação e à operação de processos operacionais, tanto os
simples quanto os avançados.
Já os conhecimentos tácitos resultam de experiência e compreensão superiores de uma
área de conhecimento e incorporam conhecimentos não necessariamente relacionados entre si,
que o detentor do conhecimento aprendeu a usar, por meio de raciocínios associativos e deduti-
vos. Esses raciocínios muitas vezes não são totalmente conscientes e sequer podem ser totalmen-
te comunicados com palavras e números.
Conhecimentos tácitos estão na essência dos insights que conduzem a inovações, pois de-
correm do acúmulo de experiência na observação de um mercado, de um produto ou da dinâmi-
ca de concorrência em torno destes. Quase sempre usam analogias com outras situações para
chegar a soluções inovadoras ou simplesmente mais adequadas à situação.
Enquanto conhecimentos específicos podem ser facilmente adquiridos, os conhecimentos
tácitos estão em pessoas. São, por definição, os conhecimentos com mais potencial para se torna-
rem diferenciações competitivas, pois, mesmo competências adquiridas no mercado, de terceiros,
podem se tornar diferenciadoras, à medida que incorporem conhecimentos tácitos que tornem
essas competências únicas e difíceis de imitar.
Frustrações
Fr são comuns na implantação de caríssimos sistemas de
logística,
log distribuição e atendimento a clientes que fazem tudo certo,
menos
me criar diferenciação competitiva. E isso ocorre porque esses
sistemas,
sis quando genéricos, tratam todos os clientes da mesma forma,
Em alguns negócios, as competências organizacionais são muito diferentes entre si, o que
tem impacto no tipo de organização necessária.
Finalmente, a prática mostra que nenhum negócio consegue desenvolver e sustentar muitas
competências organizacionais ao mesmo tempo. Se parecer que são muitas as competências essenciais
para o sucesso do negócio, é porque ele está mal definido, ou a forma de operá-lo é inadequada.
Elas partem do princípio de que quanto mais uma empresa fabrica um produto, mais
aprende coisas (como formas de operação, melhoria de equipamentos, diferenças de desempe-
nho de materiais etc.), que fazem declinar o custo direto desse produto.
12
10
8
Custo unitário
y = 8,884e-5E-0x
6
0
0 100.000 200.000 300.000 400.000 500.000 600.000
Essas curvas são usadas de duas formas. Inicialmente, para identificar diferenças de custos
entre processos (em geral, entre a empresa e seus concorrentes) que decorrem das tecnologias
destes e das práticas de manufatura empregadas. Essas diferenças estão refletidas no nível e na
inclinação das curvas.
Porém, mesmo se as curvas de experiência de empresas concorrentes forem iguais ou se-
melhantes, a empresa com maior volume acumulado terá custos menores.
Claramente, o ideal é que uma empresa consiga construir uma curva de experiência mais
eficiente do que a das demais, pela combinação de tecnologia, práticas de manufatura superiores
e produção acumulada maior.
Curvas de experiência requerem longas séries de dados e conhecimentos específicos sobre
as tecnologias usadas ao longo do tempo, para serem interpretadas corretamente.
Para a maior parte das questões práticas, é suficiente usar curvas de escala que tratam de
processos específicos, usam dados correntes de produção e custo direto (em geral disponíveis
mais facilmente), e têm as funções semelhantes às das curvas de experiência: explicitar o compor-
tamento dos custos diretos, provocar discussões sobre a competitividade dos processos da empre-
sa e definir a eventual necessidade de melhorá-los ou reestruturá-los.
Ganhos de escala ocorrem em processos em que convivem custos fixos e variáveis, cujas
participações no custo total se modificam a cada nível de produção. Esse é o caso da maior parte
dos processos produtivos de produtos e serviços (nestes processos a observação dos ganhos de
escala é facilitada pelo fato que a produção pode ser medida em quantidades por unidade de
tempo, como toneladas por hora, ou vendas por dia, por exemplo).
Como nas curvas de experiência, os ganhos de escala são mais ou menos intensos em
função da tecnologia usada e da qualidade da gestão do processo. São maiores em processos au-
tomatizados e naqueles desenhados para operação eficiente (sem esperas, etapas e controles des-
necessários). Mesmo os processos automatizados só realizam ganhos elevados se forem bem ope-
rados (sem perdas de controle, atrasos e retrabalhos).
As ferramentas clássicas para a análise desses fenômenos são as curvas de escala. Adiante,
é mostrado seu uso em três situações.
O primeiro exemplo é de uma empresa de serviços, cujo processo central tem fragilidades
importantes. Esse processo gera deseconomias de escala, ou seja, os custos unitários aumentam,
à medida que aumenta a quantidade produzida!
É interessante observar que a empresa não percebia esse comportamento de seus custos.
Havia um esforço contínuo de tentar colocar os processos sob controle, por meio da adição de
controles a cada ano. E essas adições levavam a aumentos de custos mais rápidos do que a veloci-
dade de crescimento das vendas. Infelizmente, as causas fundamentais de descontrole dos proces-
sos não eram atacadas e os processos continuavam a exigir novas tentativas de solução.
Processo A
Custo unitário
Quantidade produzida
No exemplo seguinte, a curva de escala é saudável, pois apresenta forte inclinação, de-
monstrando existirem ganhos de escala significativos a serem realizados, se a quantidade produ-
zida aumentar.
Custo/quantidade
R$ / m2
Custo unitário
Quantidade produzida
Associado a essa curva está o Gráfico 7.3 que mostra as quantidades produzidas e os custos
unitários de produção. Observe-se a elevação rápida dos custos em consequência das perdas de
volume na segunda parte do período analisado, que demonstra a força dos efeitos de escala tanto
para reduzir quanto para aumentar custos.
Custo/quantidade
Quantidade produzida
Custo unitário
Meses
Note-se ainda, nas duas curvas de escala acima, a elevada dispersão dos custos em torno
das linhas de tendência. Essa dispersão excessiva indica que esses processos produtivos estão
fora de controle, ou seja, erros, retrabalhos e desperdícios de tempo e/ou material ocorrem com
frequência.
Este já não é o caso do exemplo a seguir, em que os custos aderem, de forma quase perfeita,
à curva de tendência exponencial, que é típica de determinados processos industriais contínuos.
Exponencial
Produção/custo y = 873,11 e -0,0024x
R2 = 0,9894
R$ / Tonelada
Toneladas
em favor da manutenção de resultados no curto prazo, ou a mudar com frequência ênfases estra-
tégicas em mercados ou produtos.
Uma pré-condição relevante para a estabilidade (ainda que relativa) dos níveis de pro-
dução é a visibilidade das demandas dos clientes, como ponto de partida para o alinhamento
das práticas de venda, produção e suprimentos. Essa estabilidade não pode ser obtida com ar-
tificialismos para atingir metas mensais, como empurrar vendas em clientes que não precisam
comprar de imediato, ou alterar bruscamente níveis de produção, a ponto de gerar repercus-
sões negativas na cadeia de valor, pois essas ações acabam por gerar custos internos adicionais,
afetam a eficiência dos relacionamentos com fornecedores e, em geral, estimulam a especula-
ção contra a empresa por distribuidores que estocam mais do que o necessário para suas neces-
sidades operacionais.
Observe-se que alguns processos não geram ganhos de escala, sem que haja nada de erra-
do com ele: simplesmente não é esperado que estes ganhos ocorram.
% Variação
1. Socialização
Ocorre por troca ou compartilhamento de conhecimentos tácitos (percepções, modelos
mentais ou know-how obtidos pela prática prolongada de um ofício ou habilidade) entre pessoas
e (pequenos) grupos.
A socialização depende da disposição dos indivíduos em querer realizá-la. Assim, a utili-
dade das trocas pode ser limitada e até anulada se os conhecimentos das pessoas não forem vo-
luntariamente postos a serviço da organização.
Quando há um ambiente de alto nível de confiança, duas ou mais pessoas permitem-se
compartilhar conhecimentos e aprender umas com as outras. Esse é, frequentemente, o ponto de
partida para inovações. No entanto, normalmente, os conhecimentos gerados nessa situação pre-
cisam evoluir para se tornarem utilizáveis em larga escala pela organização.
Ao promover oportunidades de socialização, é essencial assegurar inputs externos para a
renovação de ideias e conceitos. Entretanto, dados obtidos no ambiente externo em geral não
estão “prontos” para serem usados de imediato: podem parecer ambíguos ou conflitantes, pois,
com frequência, chegam associados a um alto nível de ruído (ou seja, misturados a dados que não
interessam). Para serem úteis, têm de ser transformados em informações.
Essa transformação-mudança é realizada pela sistematização dos dados em categorias
bem definidas e colocando-os no contexto da organização, ou seja, relacionando-os a fatos já
conhecidos (outros dados internos e externos), avaliando sua importância e seu sentido. Como
ilustra o Quadro 7.1 a seguir.
Observe-se que informações externas são usadas não apenas para socialização, mas tam-
bém para os processos de conceituação e sistematização descritos adiante.
2. Conceituação
Enquanto a socialização produz predominantemente conhecimentos tácitos, a conceitua-
ção transforma estes conhecimentos em explícitos. A explicitação de conhecimentos tácitos per-
mite codificá-los (ou seja, transformá-los em conceitos), para depois usá-los e difundir o seu uso
por toda a organização.
Usualmente, essa conceituação surge por meio de analogias, análises, conceitos e modelos,
produzidas pelo grupo que está estudando o assunto.
Enquanto a socialização, por natureza, ocorre de forma pouco estruturada, esta etapa é
mais estruturada do que a anterior, pois tem a intenção de sistematizar o conhecimento e é feita
em torno de assuntos concretos e específicos, como uma nova tecnologia ou um novo fenômeno
surgido no ambiente externo.
Disfunções culturais podem limitar a capacidade de gerar conceituação, quando geram
atitudes defensivas (nos passos seguintes, as limitações impostas por disfunções culturais são
crescentes).
As empresas podem estimular a conceituação de várias formas: encontros entre especialis-
tas, fóruns e chats eletrônicos que facilitem o contato e as trocas; reconfiguração de dados existen-
tes, para encontrar novas relações entre variáveis; e análises de dados operacionais, organizados
sob formas que permitam a especialistas funcionais estabelecerem padrões e melhores práticas.
3. Sistematização
Ocorre pela combinação de conceitos e conhecimentos explícitos de diversas origens e
naturezas, formando um sistema de conhecimento. Geralmente, requer a reconfiguração das in-
formações existentes em novas categorias e formas de ver a realidade.
Enquanto a conceituação é um processo de geração de conhecimento por grupos de espe-
cialistas da mesma disciplina (ou de disciplinas próximas), a sistematização é um processo mul-
tifuncional que requer equipes multidisciplinares.
A prática da sistematização pressupõe o reconhecimento da complementaridade de com-
petências entre os participantes do processo. Caso isso não ocorra, o exercício torna-se artificial,
defensivo e incapaz de gerar coesão, consenso e aprendizado. Todos nós sabemos que esse é o caso
do orçamento anual em algumas empresas, que permanece como um exercício longo e trabalho-
so que pouco serve para melhorar a forma de trabalhar da organização.
Para estimular a sistematização de conhecimentos, é essencial prover instrumentação cui-
dadosa, baseada em informações completas e estruturadas desde o início dos trabalhos, pois são
estas informações que irão criar as pontes entre pessoas que têm conhecimentos diferentes, ao
longo do processo de sistematização.
Pode-se gerar sistematização criando fórum especializado para debater assuntos aos quais
a multifuncionalidade adiciona valor. Um exemplo é a constituição de fóruns especializados em
suprimentos; eles produzem melhorias importantes no poder de barganha da organização, por
meio do trabalho de equipes multidisciplinares para a racionalização de especificações de mate-
riais, a absorção de know-how de fornecedores e o entendimento da estrutura da oferta desses
materiais no mercado. Com relação a clientes e consumidores, o trabalho de sistematização do
conhecimento inicia-se quando são identificados segmentos estatisticamente significantes, que
apresentam comportamentos distintos que podem ser previstos com certeza razoável. E a empre-
sa começa a praticar o relacionamento sistemático com esses clientes ou consumidores, e a apren-
der continuamente sobre suas necessidades, atitudes e comportamentos. Esse aprendizado é uti-
lizado em diversas áreas, da venda de produtos a processos de retenção de clientes, programas de
desenvolvimento de produtos e estruturação dos serviços de pós-venda.
4. Internalização
Finalmente, vem a internalização, que transforma conhecimentos explícitos em tácitos.
Ela incorpora as novas habilidades desenvolvidas nas etapas anteriores em atitudes, comporta-
mentos e formas de trabalhar das pessoas e da organização.
Enquanto a conceituação gera valor pela transformação de conhecimentos tácitos em ex-
plícitos, a internalização torna os conhecimentos recém-conceituados ou sistematizados em no-
vos hábitos da organização, de uso amplo, contínuo ou frequente.
A internalização pode ser feita por meio do estímulo à participação e colaboração das pes-
soas com relação às novas práticas. Isso se faz por convencimento e treinamento, compartilha-
mento de informações, aproximação de áreas e grupos distantes e coordenação intensa de proces-
sos multifuncionais (ver item 16.7 – Gestão de mudanças, no Capítulo 16 Execução da estratégia).
***
Objetivos
Objetivos de inovação devem ser traçados da direita para a esquerda: ou seja, definem-se
os objetivos e, a partir daí, se especificam os desafios a serem ultrapassados para chegar lá, passo
a passo.
Esses objetivos devem sempre representar uma alteração relevante da posição competitiva
da empresa, pois fixar objetivos menores não motiva suficientemente e pode resultar em desper-
dício de tempo e recursos.
Organização
Inovações podem começar com uma grande ideia, mas, até que ela se converta em uma
inovação bem-sucedida, é provável que muito trabalho ainda seja necessário.
Mesmo atividades operacionais, que tradicionalmente geram poucos conhecimentos no-
vos, passam a gerar vantagens competitivas por meio da socialização, ou seja, pela troca de conhe-
cimentos tácitos entre os participantes de um mesmo grupo de trabalho (vide o caso já mencio-
nado da Toyota).
Grupos, cujo trabalho é intensivo em conhecimentos, como planejamento estratégico e
desenvolvimento de produtos, têm de se valer de conhecimentos tácitos sobre tecnologias, con-
sumidores e mercados. E precisarão buscá-los dentro e fora da empresa. As empresas mais bem-
sucedidas em processos de inovação buscam parceiros com conhecimentos relevantes e adotam
formas colaborativas nessas parcerias, com intensa troca de experiências e conhecimentos.
Para lidar com essas formas de atuar, é preciso repensar a organização do trabalho. Como
foi dito antes, isso só será possível a partir de uma base mínima de ambiente de trabalho saudável
e livre de tensões desnecessárias, porque os resultados só irão surgir se as pessoas forem conven-
cidas e motivadas a participar.
A tendência é de formar grupos organizados por projeto, e apoiá-los com soluções de
tecnologia para o desenvolvimento colaborativo de projetos (para registro, difusão e reutilização
de conhecimentos).
Esses grupos devem ser preferencialmente pequenos e flexíveis: quando organizados por
projeto, se desfazem ao final dele. Ao longo do projeto podem aumentar ou diminuir de tamanho,
as empresas de coaching e recrutamento treinam seus candidatos para que demonstrem essas
mesmas qualidades em processos de recrutamento.
Mais importante do que demonstrar essas características, é que as pessoas tenham quali-
dades intrínsecas que garantam alto potencial de contribuição no curto, médio ou longo prazo.
A prática recomenda seguir os ensinamentos de Elliot5 na gestão de talentos. Elliot definiu
trabalho como o exercício de distinguir fatos, exercer julgamentos e tomar decisões, ao executar
tarefas, dentro de limites preestabelecidos. A complexidade do trabalho é função de três variáveis:
a complexidade do processamento mental de dados, a necessidade de reconhecer padrões e de
organizar esses elementos para operar com eficiência, dentro das circunstâncias dadas, ou seja, os
trabalhos que produzem mais valor são aqueles com maior complexidade de raciocínio.
Assim, as pessoas mais capazes de contribuições são as que, ao analisar uma tarefa a rea-
lizar, conseguem ao mesmo tempo ver o todo e também os principais fatores que determinam
cada situação. Processam dados e informações de forma realista, mas sem bloquear a própria
criatividade ou de outras pessoas, demonstrando equilíbrio entre criatividade e objetividade. Fi-
nalmente, pensam com boa lógica e têm honestidade intelectual. Algumas, as mais excepcionais,
também gostam de pessoas e têm coragem suficiente para lidar com situações adversas e decisões
difíceis.
Características como estas independem da formação educacional, de raça e classe social, mas
precisam ser estimuladas para amadurecerem ao longo do tempo: as pessoas nascem potencialmen-
te com elas, mas só as desenvolvem por meio de experiências no trabalho e na vida em geral.
A experiência mostra que pessoas com essas qualificações podem ser carismáticos e capa-
zes de encantar os recrutadores, mas alguns deles (felizmente, uma minoria) são antissociais.
Alguns são chatos e repetitivos, outros inseguros ou não respeitam muito as normas. Alguns não
estão muito dispostos a trabalhar 12 horas por dia, mal sabem o nome da empresa em que estão
e jamais se comprometerão com uma organização.
Para oferecer oportunidades razoáveis para todos e usar os talentos disponíveis, é preciso
construir ambientes de trabalho que tornem altamente produtivas as pessoas com potencial de
contribuição elevado, mesmo que não pareçam atraentes e promissoras, dentro dos padrões de
referência de gestores e recrutadores. E isso tem a ver com o ambiente de trabalho e com os crité-
rios de avaliação das pessoas. O critério mais justo é sempre a avaliação dos resultados, por meio
de medição quantitativa, sem desvios ou preconceitos (ou meritocracia).
Entretanto, com relação aos jovens, é preciso ir além e identificar aqueles com qualidades
intrínsecas como as descritas, e criar oportunidades para desenvolver seu potencial, pois apostas
devem ser feitas em cérebros e personalidades contributivas, não em comportamentos padroni-
zados: afinal, qualquer um pode ser treinado para trabalhar longas horas, parecer dinâmico e
bom de trabalho em equipe.
O desenvolvimento de competências por meio de pessoas precisa estar ancorado em am-
bientes de trabalho que facilitem a inovação e colaboração, como foi discutido em “Competências
em inovação”, e em estrutura que crie oportunidades para desenvolver talentos: com meritocra-
cia, cargos de treinamento, identificação precoce de talentos e aperfeiçoamento contínuo de com-
portamentos e estilos pessoais dos executivos com níveis hierárquicos e cargos.
8
Riscos e Incerteza
Uma boa estratégia quase sempre elimina ou coloca sob controle riscos relevantes. No en-
tanto, alguns riscos não podem ser reduzidos, ou mesmo evitados, e outros só se tornam aceitáveis
quando compartilhados com parceiros ou distribuídos pelo conjunto de negócios da empresa.
Antes de escolher a estratégia, é importante assegurar que o conjunto total de riscos asso-
ciados a cada alternativa de estratégia é aceitável. Para eliminar alternativas de risco elevado e
facilitar as negociações necessárias à obtenção da colaboração de parceiros na cadeia de valor, de
investidores e financiadores.
Em toda estratégia existem dois tipos de risco: estruturais e de execução, que são distintos
da incerteza, tratada em seguida.
Outros riscos estruturais têm origens mais distantes: riscos soberanos (dos países em que
a empresa opera ou pretende operar) e riscos sistêmicos como informalidade, regulamentação e
dependência de decisões políticas.
Alguns riscos podem ser reduzidos por ações estratégicas. Por exemplo, desenvolvendo
produtos de baixo custo para combater a informalidade, escolhendo uma localização industrial
para obter acesso preferencial a determinados mercados, ou a insumos competitivos, e apostando
em mais de uma tecnologia, ou ainda usando mecanismos específicos de redução de riscos, como
contratos de venda e de suprimento, parcerias, aquisições e desinvestimentos.
Especialmente importantes são os riscos com as respostas dos concorrentes às iniciativas da
empresa, que não podem ser controladas. Visam obter informações sobre os concorrentes e usá-las
no planejamento cuidadoso da execução da estratégia, definindo o melhor timing e sequencia-
mento das iniciativas estratégicas (ver mais a respeito no Capítulo 11 – Decisões estratégicas).
Caso não seja possível evitar riscos estruturais elevados, tem-se de diluí-los entre outros
negócios, compartilhá-los com parceiros ou torná-los aceitáveis. Se nada disso for viável, é preci-
so recomendar a venda ou o fechamento do negócio.
Para lidar com o conjunto de riscos estruturais e de execução, é necessário classificá-los se-
gundo a intensidade. Riscos que possam vir a comprometer a estratégia ou a sobrevivência da
empresa são inaceitáveis (make or break) e precisam ser eliminados ou transformados em aceitáveis
antes que a estratégia seja aceita. Outros riscos menos “sérios”, mas que possam vir a reduzir a ren-
tabilidade da empresa ou o sucesso da estratégia, precisam ser igualmente avaliados e contidos.
A gestão de riscos precisa avaliar também até que ponto é possível reverter a estratégia, se
as premissas em que ela se baseia não se verificarem na prática, o ambiente externo sofrer mudan-
ças desfavoráveis ou ocorrerem eventos desfavoráveis relevantes.
Em alguns casos, em especial quando é necessário avaliar o valor de um negócio, é impor-
tante levar em conta as diferenças de percepção com relação ao risco total da empresa e de sua
estratégia.
No Gráfico 8.1 foram construídas três distribuições de frequência de resultados, cada uma
considerando a forma de encarar os riscos por três investidores diferentes. Cada distribuição
mostra o intervalo em que se situa o valor presente do negócio, dada uma variação aleatória dos
fatores que determinam os seus fluxos financeiros (receitas e custos).
O empresário especulativo, em busca de rentabilidade máxima, desconta os fluxos finan-
ceiros do negócio a taxas mais elevadas. Portanto, chega aos menores valores para o negócio (que
estão representados pelo histograma preto).
O investidor típico do mercado financeiro também busca rentabilidade elevada, mas um
pouco menor do que o especulador puro descrito anteriormente. Geralmente, porque está bem
informado sobre o setor de atividade em questão. A distribuição dos valores do negócio para este
investidor está representada pelo histograma cinza-escuro.
,064
,042
,021
,000
30,0 37,5 45,0 52,5 60,0
Finalmente, o investidor que atua no setor de atividade da empresa analisada, ou está in-
teressado em participar dele, tem uma avaliação mais precisa do que os demais investidores sobre
os ganhos que pode obter pela aquisição, o que permite atribuir os maiores valores ao negócio
(representados pelo histograma cinza-claro).
8.3 INCERTEZA
Além de riscos, que são eventos futuros possíveis aos quais se pode atribuir uma probabi-
lidade de ocorrência, deve ser levado em conta o grau de incerteza associado à estratégia. Este é
dado pelo conjunto de riscos difusos, e não adequadamente quantificáveis, que podem estar con-
tidos em uma estratégia. A robustez de uma estratégia é, no final, função de sua resistência esti-
mada a incertezas.
Por exemplo, uma empresa com custos fixos menores do que a concorrência resiste me-
lhor a flutuações da demanda.
Uma estratégia é mais robusta, se explora uma tendência do comportamento de consumi-
dores que se verifica há algum tempo; e menos, se explora uma demanda súbita que pode ser
pontual. Ou se é baseada na expectativa de crescimento econômico de longo prazo, e não no
aproveitamento de uma bolha ocasional de consumo (ou de investimento), que pode se extinguir
no curto prazo.
não apenas
A robustez é maior, se baseada em diferenciações competitivas sustentáveis, e nã
em desempenho operacional superior ao dos concorrentes. Ou se é apoiada em pontos fortes da
empresa, e não na correção de pontos fracos. Também é maior se o crescimento esperado vier do
crescimento do mercado, e não da captura de participação de mercado de concorrentes.
Ao final, cabe aos decisores resolver se conseguem conviver com o grau de incerteza asso-
ciado à estratégia.
9
O Ambiente de Decisão
A discussão sobre cenários mostrou que um dos principais objetivos na aplicação daquela
ferramenta é gerar uma visão compartilhada entre os dirigentes da empresa sobre as possíveis
evoluções do ambiente externo, e as oportunidades e ameaças para a empresa em cada uma delas.
Aqui é discutido como decidir pela melhor estratégia, evitando soluções menores ou insu-
ficientes.
Como se sabe, toda organização desenvolve ao longo do tempo um repertório de soluções
usuais, baseado nas soluções que deram certo e em seus traços culturais. E esse repertório tende
a ser usado repetidamente ao longo do tempo, já que contém soluções conhecidas e preferidas.
Muitas vezes, uma nova estratégia precisa buscar soluções fora do repertório usual. O que,
compreensivelmente, gera reações, desde uma certa apreensão até a resistência declarada. Essas
dificuldades precisam ser administradas, para assegurar que a empresa opte pela estratégia mais
eficiente e não desenvolva obstáculos internos à sua execução.
No entanto, não é só a cultura que influencia as decisões. Executivos e grupos de executi-
vos têm estilos próprios de decidir que precisam ser levados em conta.
São geralmente de três tipos: adaptativo, quando as decisões favorecem o curto prazo,
buscando continuamente novas oportunidades e defendendo-se de ameaças; inovador, quando a
preferência é por “inventar” novos mercados ou revolucionar o existente e as formas de competir
nele; e flexível, quando os decisores agem apenas para afastar ameaças ou aproveitar oportunida-
des maduras, em momentos escolhidos por eles. Esses estilos, naturalmente, levam a resultados
muito diferentes na escolha da estratégia e na forma de implementá-la, e o predominante no
momento pode não ser o mais adequado.
Sabe-se também que as pessoas em geral tendem a produzir desvios (com relação à racio-
nalidade), mesmo quando pensam estar sendo racionais. Os dois desvios mais comuns são o
otimismo exagerado em relação às chances de sucesso de um projeto e a aversão excessiva a per-
das. Esses desvios são de difícil controle e podem levar a decisões que ignoram riscos relevantes
ou a perdas de oportunidades com boa probabilidade de sucesso.
Outros desvios têm causas diretas tangíveis, como os incentivos (muitas vezes não explíci-
tos) para que gestores tenham comportamentos não alinhados com os interesses da empresa, ou
corram riscos excessivos na busca de resultados. Líderes, por vezes, vendem em demasia seu pon-
to de vista, fazendo que outras pessoas deixem de colocar alternativas e objeções cabíveis. E exis-
tem os interesses pessoais, de prestígio e avanço na carreira. E ainda os obstáculos decorrentes de
personalidades e convicções pessoais: afinal, pode ser difícil ouvir recomendações ou aceitar mu-
danças que contradizem crenças antigas ou mudam nossas formas de trabalhar.
Tendo em vista todas essas restrições, como assegurar que o ambiente de decisão conduza
a decisões estratégicas de boa qualidade?
A estratégia em si pode ser, e muitas vezes é, suficiente para gerar consenso sobre direções.
Entretanto, se existem dúvidas sobre a capacidade de o processo decisório assegurar decisões estra-
tégicas de boa qualidade, é recomendado tomar medidas que facilitem decisões bem estruturadas.
Essa tarefa pode ser difícil, e em casos extremos pode requerer o apoio de especialistas em
aprendizado de grupos ou em resolução de conflitos, mas a prática mostra que, na maior parte das
vezes, um consenso satisfatório pode ser obtido por meio de mecanismos relativamente simples.
O primeiro passo é avaliar as decisões da empresa no passado recente.
Sabe-se que uma decisão estratégica é de boa qualidade quando há clareza sobre como foi
tomada, se as premissas estavam suficientemente claras e eram coerentes entre si, e se não ocor-
reram na fase de execução surpresas que poderiam ter sido evitadas. Para descobrir se uma deci-
são foi boa ou não, cabem perguntas como:
As análises e informações que servem de base às decisões são precisas e razoavelmente li-
vres de distorções e interpretações subjetivas?
O personalismo ou o interesse de grupos está presente em decisões estratégicas?
Previsões de vendas e rentabilidade tendem a ser otimistas ou pessimistas? Chegam a ser
irrealistas ou se mantêm em intervalos plausíveis?
A estratégia vem mudando de um ano para o outro, ou se mantém razoavelmente ao lon-
go do tempo?
A estratégia adotada tem coerência interna, ou parece um conjunto de projetos com pou-
ca conexão entre si?
Foram alcançados nos últimos anos objetivos qualitativos importantes para a realização
de objetivos estratégicos? E os objetivos quantitativos?
Ocorreram nos últimos anos aprendizados importantes sobre o mercado e a dinâmica da
concorrência?
Ocorrem surpresas com frequência?
Ocorreram conflitos inesperados com concorrentes ou parceiros na cadeia de valor?
As respostas a essas perguntas identificam as principais deficiências no processo decisório.
Elas se estendem de personalismos e otimismo ou pessimismo extremados a descuidos em méto-
do de análises e formas diversas de evitar conflitos.
Para lidar com essas deficiências, muitas vezes é suficiente expor o grupo decisor a fatos da
indústria, do mercado, da economia internacional e do país, que embasaram as alternativas da
estratégia, e que precisam ser considerados. Estamos falando não apenas de cenários amplos e
bem estruturados, mas de ir um pouco além e colocar os decisores em contato com pessoas reno-
madas com visões consistentes sobre as realidades (e descontinuidades potenciais) no mercado
em que a empresa atua, no mercado financeiro e nas instituições reguladoras. Pode-se também
recorrer a estudos específicos e opiniões independentes de especialistas sobre áreas críticas.
Para lidar com conflitos de prioridades e interesses, pode-se criar processos de revisão
independentes de projetos para avaliar sua relevância e seu alinhamento com a estratégia, antes
da decisão final.
Outra providência eficiente pode ser agrupar em um só projeto ações que visam atingir
um objetivo que é questionado. Obtém-se assim uma melhor visualização do que tem de ser feito
e das ligações entre as partes do problema. Finalmente, deve ser valorizado o consenso obtido no
cenário sobre futuros plausíveis e a posição da empresa em cada um deles (ou os progressos nes-
sa direção obtidos na ocasião), como ponto de partida para ampliar essa visão compartilhada,
agora em torno das trajetórias possíveis e desejáveis para a empresa ao longo do tempo.
Nessas difíceis decisões de escolha da estratégia e da forma de executá-la, pode ser útil
estruturar as discussões a partir de conceitos da teoria dos jogos o que ajuda a colocar as discus-
sões em um bom patamar de racionalidade, que encoraja o aprimoramento das reflexões e dos
pontos de vista, facilitando o abandono de posições frágeis e facilitando o consenso. O uso desse
instrumento será introduzido no Capítulo 11 – Decisões estratégicas.
Resta observar que a responsabilidade pelo sucesso na preparação de ambiente propício
para decisões de boa qualidade é, em última instância, da liderança da empresa, que tem de reco-
nhecer as dificuldades em seus processos decisórios e na dinâmica das discussões, e aceitar ajuda
para superá-las.
10
A Preparação das Decisões
Onde competir
Mercados, produtos, segmentos de clientes e objetivos de participação de mercado.
Como competir
Duas definições são necessárias.
Em primeiro lugar, as diferenciações competitivas que serão a base da estratégia e como
elas serão obtidas, aplicadas, mantidas ao longo do tempo e defendidas em caso de ameaça. Essas
especificações devem ser o mais possível quantitativas, estabelecendo, por exemplo, diferenciais
de preço ou de custo a serem obtidos ou mantidos, o nível de qualidade do serviço, o tempo no
desenvolvimento dos produtos etc.
Em seguida, tem-se de definir o modelo operacional que será usado para realizar os obje-
tivos anteriores. Esse modelo compreende o conjunto de processos operacionais e decisórios, e,
para cada um deles, os níveis de desempenho necessários. Com frequência é preciso também es-
pecificar o seu formato, para assegurar o desempenho esperado.
É preciso deixar claras as funções dos processos na execução da estratégia, que podem ser,
por exemplo, assegurar baixos custos, gerar foco em clientes, assegurar excelência em atendimen-
to a clientes, coordenar áreas distintas que atuam isoladamente ou desenvolver os produtos que
são a essência da estratégia.
Não menos importante é especificar processos decisórios, para assegurar que sejam sufi-
cientemente ágeis para coordenar processos internos, alocar recursos e monitorar o ambiente
externo com eficiência, para gerar inteligência a ser usada em respostas suficientes a fatos novos.
E também para, continuamente, reconciliar interesses e realizar trade-offs sem perder de vista os
objetivos estratégicos estabelecidos. Ao especificar processos decisórios, define-se boa parte do
modelo de gestão: os aspectos do ambiente externo e os desempenhos internos a monitorar, os
indicadores de desempenho e as formas de medir resultados, as competências requeridas para
algumas decisões e a velocidade necessária de resposta.
Competências organizacionais
São definidas as competências necessárias e os parâmetros para o desempenho esperado
em cada uma delas (muitas vezes com base em “melhores práticas”). E como será feita a aquisição
dessas competências: de fontes externas, por meio do desenvolvimento interno, ou por uma com-
binação de ambos.
11
Decisões Estratégicas
Até agora foram discutidas formas de construir alternativas de estratégia e o que é neces-
sário para colocá-las em prática. Aqui, é tratada a escolha da melhor alternativa.
Nesse momento, o grau de liberdade torna-se menor, porque se lida com as reações dos
concorrentes e outros stakeholders às iniciativas estratégicas propostas. E também com possíveis
objeções internas à estratégia, ao volume de recursos a serem usados em sua execução, ou aos
riscos decorrentes dela.
É preciso entender cada um desses elementos e estar preparado para trade-offs que viabi-
lizem a escolha da estratégia certa: priorizando objetivos, distribuindo no tempo alguns deles, e
até abandonando ou adiando outros, mas buscando que a estratégia e a forma de execução esco-
lhidas formem um conjunto viável e suficientemente competitivo. Algumas vezes, é necessário
modificar a forma de execução e não a estratégia em si, acelerando as iniciativas estratégicas, ou,
ao contrário, adotando a conquista progressiva de posições e o fortalecimento gradativo da posi-
ção competitiva, no lugar de iniciativas diretas, com mais impacto e risco, ou ainda mantendo por
mais tempo opções para recuar.
Do lado do ambiente externo, foi visto que os cenários constituem uma ferramenta eficaz
para lidar com incertezas de forma abrangente, e são muito úteis na definição de alternativas de
estratégia.
No entanto, podem ser insuficientes para a escolha final da estratégia, porque nesse mo-
mento entram em jogo elementos menos conhecidos e riscos relevantes, que são as potenciais
reações à nova estratégia dos concorrentes e parceiros na cadeia de valor. É aí que deve estar o
foco das discussões.
A escolha da estratégia torna-se mais complexa quando se confunde com a escolha na
forma de implantá-la. Isso acontece quando a nova estratégia promove reconfiguração significa-
tiva da forma de competir (e por consequência, da cadeia de valor), o ambiente é de alta compe-
tição, ou as incertezas são grandes. Porque nesses casos, o sucesso de cada alternativa depende não
apenas de seus méritos, mas também do sucesso na execução, e este, por sua vez, das respostas dos
concorrentes e parceiros na cadeia de valor às iniciativas estratégicas da empresa.
O equilíbrio competitivo pode ser rompido por fatos independentes da vontade das em-
presas que atuam no mercado, quando resulta de descontinuidades como inovações tecnológicas
ou mudanças no perfil da demanda. Como se sabe, essas descontinuidades podem ter efeitos
muito diferentes em cada concorrente. Portanto, é preciso saber com clareza quem perde e quem
ganha com cada descontinuidade potencial, como ponto de partida para definir a resposta da
empresa.
Levando em conta todos os elementos mencionados, pode ser vantajoso manter o equilí-
brio atual. Não se trata de tentar adiar problemas: a manutenção do equilíbrio precisa ter uma
vantagem clara e bem definida, como ganhar tempo para fortalecer a empresa neste ou naquele
aspecto, ganhar pequenas vantagens parciais em alguns mercados ou produtos, aguardar o mo-
mento ideal para uma investida etc.
Romper o equilíbrio pode também ser vantajoso, e isto em geral acontece quando um ou
mais concorrentes se sentem suficientemente fortes e com disposição para tal. Pode ser equiva-
lente a gerar uma descontinuidade no mercado, e portanto, é recomendável estudar cuidadosa-
mente o melhor timing e sequenciamento para fazê-lo.
Pode-se preparar a ruptura em sigilo pelo maior tempo possível, para não alertar concor-
rentes, ou anunciá-la por antecipação. Uma tática mais paciente é acumular pequenos ganhos ou
conquistar posições que pareçam não estar relacionadas entre si, até que se esteja forte o suficien-
te para agir. Em outras palavras, a escolha da melhor forma para romper o equilíbrio deve ser
tomada considerando os modos de competir no tempo.
mais players começam a comprar concorrentes menores. Aqui é óbvia a conveniência de escolher
bem os primeiros alvos, e deixar os demais para os concorrentes.
Observe-se que, como qualquer ação estratégica, os movimentos anteriormente descritos
não se esgotam em si mesmos e precisam de providências complementares para reduzir os riscos
de retaliação ou tornar menos efetivas as respostas prováveis dos concorrentes. Aumentar a capa-
cidade de distribuição de produtos novos, ou criar barreiras à entrada (ou re-entrada) de concor-
rentes novatos ou recém-comprados no mercado são exemplos dessas providências.
Podem ser realizadas manobras para forçar o concorrente a sair do conforto dos
do movi-
mentos alternados, ou abrir o jogo de quem está escondido na competição simultânea. Mas é
importante medir bem as consequências que estas escaramuças podem trazer.
De fato, controlar adequadamente a velocidade das ações pode representar a diferença
entre o sucesso e o fracasso, seja em movimentos simultâneos, seja em alternados. Às vezes, será
necessário acelerar ritmos lentos (precipitando os acontecimentos) ou resistir à tentação de agir
rápido demais, por mera impaciência. Existe um timing adequado para cada movimento; e, em
alguns casos, torna-se difícil descobri-lo, mas é importante não estar muito distante do ideal – e
não é impossível sentir quando isso está acontecendo.
Adiante, é discutida a natureza desses movimentos.
De forma oposta, uma ação não prevista pode revelar a intenção de construir um
uma repu-
tação. Um bom exemplo disso deu a China, quando levou à perfeição a organização dos Jogos
Olímpicos de 2008.
rápid ou es-
Em mercados muito competitivos, que passam por inovações tecnológicas rápidas
tão em processo de globalização, as diversas formas de coordenação e cooperação com parceiros
na cadeia de valor podem ser ferramentas essenciais para o sucesso. Raramente, inovações signi-
ficativas serão desenvolvidas sem o apoio de fornecedores-chave e parceiros tecnológicos, e difi-
cilmente formas aperfeiçoadas de atingir segmentos estratégicos, ou de diferenciar o atendimen-
to a eles, serão viabilizadas sem o apoio de distribuidores, provedores de assistência técnica, ou
atacadistas que entendam quais são as necessidades e se ajustem a elas.
Observe-se, ainda, que as cadeias de valor flexíveis referidas anteriormente se baseiam em
competência na coordenação dos participantes na cadeia de valor.
***
A sistematização das discussões para a escolha da estratégia nos moldes descritos ajuda na
exploração dos melhores caminhos para o sucesso e no desenho de percursos que minimizem
riscos e reduzam a incerteza.
Cabe agora a decisão final, que pode ainda conter elementos subjetivos, como a intuição
de quem tem a responsabilidade pela decisão final.
Tomada a decisão, a empresa tem em mãos uma descrição precisa da estratégia escolhida
e das razões para esta escolha, do modelo de negócio que irá executá-la e do sequenciamento e
timing mais adequados.
12
Portfólio de Negócios
A gestão do portfólio de negócios tem três momentos distintos: a gestão dos resultados, a
otimização do portfólio e as decisões sobre novos negócios e aquisições.
O resultado do negócio é dado pelas receitas menos os custos de servir clientes (que cor-
respondem aos custos de produzir os bens ou serviços e efetuar sua entrega aos clientes). Repre-
senta a essência do que um negócio precisa realizar, e reflete diretamente a capacidade de vender
e gerar lucros, ou seja, mede a eficiência da “máquina” operacional, independentemente de fatos
do passado e das políticas da empresa controladora do negócio.
O resultado do negócio é uma boa base para agilizar o processo decisório de curto prazo,
na medida em que permite comparações instantâneas entre operações semelhantes, torna mais
fácil decidir sobre a alocação de recursos de curto prazo entre negócios (como investimentos em
promoções e propaganda), e é uma referência adequada para remuneração variável. Como qual-
quer sistema de monitoria de resultados, este também precisa refletir o modelo de gestão. Assim,
a premissa adotada é de que alocações corporativas e gastos realizados por áreas de apoio irão se
situar abaixo da linha “resultado do negócio” sempre que o gestor do negócio não tiver controle
sobre esses valores. No entanto, se o gestor demandar gastos dessas áreas para beneficiar o negó-
cio sob sua responsabilidade, estes farão parte do custo de servir. Entretanto, se no custo de servir
estiverem gastos sobre os quais o gestor não tem controle (por exemplo, tarifas pagas a uma uni-
dade corporativa de logística para transportar seus produtos), estes têm de ser considerados a
preços de mercado.
O lucro operacional resulta do resultado do negócio menos três elementos importantes:
os efeitos do passado sobre os resultados, as alocações corporativas e os gastos decorrentes de
políticas funcionais. O primeiro elemento isola as perdas com origem no passado dos resultados
correntes. Os demais permitem avaliar se os custos corporativos e as políticas funcionais podem
ser sustentados pelo conjunto de negócios do portfólio.
Em seguida, vem a avaliação financeira dos resultados, que lida com os fluxos de caixa, o
financiamento do capital empregado e os resultados para os acionistas.
Nessa avaliação, um conceito muito difundido é o Ebitda. Esse indicador mede a geração
bruta de caixa dos negócios, ou seja, a capacidade de cada negócio gerar recursos para os acionis-
tas, antes dos elementos que são otimizados no nível da corporação (como alguns impostos e os
custos do financiamento das operações). É amplamente usado para indicar a ordem de grandeza
dos recursos de caixa que um negócio gera e, muitas vezes, é usado para medir seu próprio valor:
muitos negócios têm o seu valor expresso em múltiplos do valor anual do Ebitda.
Embora útil, o Ebitda é uma medida parcial, que não mede determinados elementos que
devem ser considerados, como a qualidade e sustentabilidade dos ganhos, a adequação das provi-
sões e reservas técnicas, e a relação entre a geração de caixa e os investimentos em giro e ativos
fixos que são necessários para manter o negócio em andamento.
De fato, ganhos instáveis tornam medições de rentabilidade irrelevantes; provisões e re-
servas técnicas insuficientes escondem prejuízos, e necessidades de capital de giro crescentes ou
fora de controle comprometem fluxos de caixa, por vezes de forma significativa.
Para produzir medições financeiras mais precisas surgiu o EVA (Economic Value Added, ou,
em português, valor adicionado econômico), que corresponde ao lucro líquido após os impostos,
menos o custo de oportunidade do valor investido no negócio. Ele mede a capacidade do negócio
gerar rentabilidade superior à oferecida pelo mercado financeiro aos acionistas, que é o ponto de
partida para avaliações precisas da rentabilidade das operações e dos resultados para os acionistas.
Um perigo a ser evitado na avaliação dos resultados é a exacerbação do viés financeiro, que
ocorre quando o entendimento de cada negócio e a necessidade de construir sustentabilidade e
competitividade ao longo do tempo são deixados de lado e substituídos por valorização da gera-
ção de caixa e de resultados imediatos.
A avaliação dos resultados com base nessas três dimensões facilita chegar a decisões
decisõ realis-
tas e equilibradas sobre a vitalidade de cada negócio, os efeitos das políticas da empresa e das deci-
sões do passado sobre eles e a capacidade de financiar as operações e remunerar os acionistas.
Outro ponto importante é a escolha do modelo operacional que será adotado pela empre-
sa resultante de fusões, pois é ele que irá determinar boa parte dos resultados no day after (o dia
que se segue à aquisição). É boa prática examinar os processos operacionais das empresas envol-
vidas, com o objetivo de aproveitar as oportunidades decorrentes das competências adquiridas,
da nova escala e dos novos produtos e canais. Sabe-se que pode ser difícil convencer uma admi-
nistração, da conveniência de avaliar as competências de uma empresa adquirida, para uso pela
nova empresa, embora isso com frequência traga resultados positivos.
É preciso também lidar com obstáculos de ordem cultural à fusão de empresas, como
co será
visto no Capítulo 15 – Cultura organizacional.
13
Processos
Processos devem ser vistos como um conjunto de mecanismos para a execução de ativida-
des produtivas, que têm por objetivo realizar os objetivos estratégicos do negócio. Para que fun-
cionem de forma harmônica e eficiente, têm de estar interligados por interfaces e regras de deci-
são alinhadas com a estratégia e bem conhecidas.
De fato, grande parte da eficiência dos processos não está na operação propriamente dita,
e sim na eficiência das interfaces e regras de decisão que os regulam. Por exemplo, empresas que
com um bom controle sobre a entrada de pedidos de seus clientes conseguem mais facilmente
otimizar a produção e a logística, o que por sua vez gera ganhos significativos em custos opera-
cionais e na eficiência dos recursos investidos em ativos fixos e giro.
13.1 INTERFACES
Elas têm duas funções principais: informar mudanças (nos ambientes interno e externo) e
fazer essa informação chegar a um “ponto de decisão”, em que a relevância do fato será avaliada e
eventuais respostas decididas. Não podem ser deixadas ao acaso, ou à discrição dos responsáveis de
cada processo, porque seu funcionamento determina a eficiência do conjunto de processos. Precisam,
portanto, ser especificadas para atender o nível de exigência necessário à execução da estratégia.
A monitoria da satisfação de clientes pode requerer diversos mecanismos de obtenção de
dados, operados por áreas distintas, para se obter um mapa suficientemente completo da situação.
Competitividade elevada da cadeia de valor requer preocupação constante com a qualida-
de dos relacionamentos com parceiros. Por exemplo, manter confiança mútua, eliminar proble-
mas e custos desnecessários para fornecedores, como pré-condição para processos competitivos
de inovação. Ou identificar se atacadistas e distribuidores adotam práticas especulativas contra a
empresa, e se varejistas têm motivos para não serem leais.
Concorrentes têm de ter seu desempenho mapeado, e novamente é necessário recolher
dados de várias naturezas e estimar aqueles que não puderem ser conhecidos diretamente: ven-
das, investimentos, balanços e resultados financeiros, custos, produtos etc.
Em sociedades anônimas, é preciso ter uma área de Relações com Investidores. Esse tipo de
atividade tem tarefas padronizadas e bem conhecidas. No entanto, pode se tornar uma área estraté-
gica se manter investidores e analistas financeiros bem informados e confiantes na empresa for um
fator importante para minimizar os riscos da estratégia. Esse é o caso de empresas cujos investimen-
tos requerem um longo prazo de maturação ou que operam em mercados turbulentos.
14
Estrutura Organizacional
Fábricas um pouco maiores e grupos semelhantes (um escritório central, uma unidade de
prestação de serviços) geralmente precisam de um nível a mais, porque entre o supervisor e os
operadores é necessário ter pessoas que coordenem grupos de operadores que realizam tarefas do
mesmo tipo (coordenadores). Estes trabalham em um grau de complexidade maior do que os
operadores, pois, provavelmente com base em experiência, sabem identificar problemas e opor-
tunidades que escapam ao operador. Assim, temos o supervisor, coordenadores responsáveis por
tarefas semelhantes entre si e operadores. Fábricas muito grandes podem precisar ainda de líderes
de operadores, que exercem parte das tarefas dos supervisores.
Com o aumento da complexidade da coordenação, mais níveis são necessários. Por exem-
plo, a fábrica com três níveis hierárquicos pode responder a um presidente (que seria o quarto
nível), ou a um vice-presidente de fabricação, que coordene várias fábricas. E assim por diante.
Uma estrutura com o número ideal de níveis melhora a qualidade da coordenação entre
funções e as condições para o desenvolvimento das pessoas, porque torna mais claros papéis e
responsabilidades e evita a fragmentação de tarefas. Aumenta a agilidade da organização e o sen-
timento de pertencer a um conjunto, o que dificilmente ocorre em ambientes em que responsa-
bilidades são indefinidas ou apresentam ambiguidades. Empilhar níveis dentro do mesmo nível
de complexidade dilui responsabilidades, provoca conflitos, aumenta a politização dos relaciona-
mentos e gera custos adicionais.
Em geral, os níveis excessivos são os intermediários, pois os operacionais e o nível mais
alto estão sempre presentes.
Níveis hierárquicos são distintos de níveis de cargos, pois enquanto os primeiros são defi-
nidos para atender às necessidades de coordenação, os demais são definidos em função da com-
plexidade dos diversos trabalhos a serem realizados, conforme definido por Elliot Jaques.
Assim, em uma Unidade de Negócio de tamanho médio a estrutura pode ter atividades
organizadas em dois, três ou até quatro níveis, mas pode existir algo como sete níveis de cargos,
entre o primeiro executivo e o operador mais inexperiente. Cargos no mesmo nível podem rece-
ber denominações distintas, em função de conveniências diversas, da mesma forma que dois ou
mais níveis podem compartilhar a mesma denominação.
Em resumo, ao definir a estrutura para a execução de uma nova estratégia, deve ser esta-
belecida a melhor combinação possível de processos e estrutura no momento, e apontadas as
direções em que ela deve se desenvolver, em termos de orientação (para produtos, clientes, ou
uma combinação customizada), grau de descentralização das decisões, níveis hierárquicos e de
cargos.
Em seguida, é necessário um intenso trabalho de realizar as ações estruturantes que resul-
tarão na solução mais adequada, ao mesmo tempo que se usam processos eficientes para atrair,
reter e desenvolver pessoas para preencher os cargos-chave, e criar ambiente de trabalho que
efetivamente facilite obter resultados e o desenvolvimento de pessoas e grupos.
Para completar essa tarefa, é preciso ainda tratar da cultura organizacional e dos processos
de gestão de mudanças.
15
Cultura Organizacional20
A cultura de uma organização é formada por elementos adquiridos ao longo de sua exis-
tência. Estes são incorporados em momentos diferentes e de forma independente, o que significa
que nem sempre são inteiramente compatíveis entre si nem adequados para produzir respostas
eficientes em todas as circunstâncias. Ao contrário, podem conter paradoxos, refletir conflitos de
orientação, ou simplesmente ter dificuldade para lidar com algumas questões.
sempre o crescimento, e outras, que passaram por crises de liquidez graves, podem se tornar con-
servadoras e até excessivamente avessas a riscos.
Essas influências se combinam sob a forma de premissas que a organização adota sobre
objetivos que são desejáveis, formas de trabalhar que dão certo e sobre o ambiente externo (con-
sumidores, fornecedores, concorrentes, pessoas em geral, a comunidade em que atua).
Lidar diretamente com essas premissas é pouco prático, porque elas são de difícil identifi-
cação e, na maioria das vezes, sequer chegam a ser inteiramente conscientes, além de interagirem
entre si de formas difíceis de detectar.
Premissas sobre pessoas, por exemplo, são de difícil discussão, e é difícil medir diretamen-
te como elas afetam a eficiência da empresa e a sua reputação (apesar de se saber que as premissas
sobre pessoas, e como elas devem ser tratadas, determinam uma parte importante dos relaciona-
mentos internos em uma organização).
A experiência mostra que é mais prático trabalhar com as manifestações dessas premissas,
que são os traços culturais da organização. Esses traços podem ser identificados e ter sua influên-
cia quantificada com razoável precisão, em cada área e atividade da empresa, e modificados.
Relacionamentos
Re ineficientes com parceiros na cadeia de valor po-
dem
de passar despercebidos, mesmo gerando prejuízos significativos à
competitividade.
co
Atacadistas
At e distribuidores especulam contra a empresa fabricante
de produtos, quando as políticas comerciais desta são oportunistas
ou erráticas, mas algumas empresas mal se dão conta disso.
Em um cliente, mais de 80% dos gerentes e supervisores tinham restri-
ções
çõ significativas quanto à forma como a empresa se relacionava com
seus
seu clientes. A situação não era nada animadora, porque o único gru-
po satisfeito com esses relacionamentos era o topo da organização.
objetivos, e os tipos de relacionamentos desejáveis (internos e com públicos externos). São essas
diferenças que resultam em maior ou menor colaboração entre pessoas e grupos, maior ou me-
nor envolvimento com objetivos e formas de trabalhar da organização, mais ou menos incentivo
à troca de conhecimentos e experiências.
Pesquisas realizadas pela minha consultoria nos últimos quinze anos, medem traços cul-
turais e as diferenças de percepção referidas acima, e mostram que empresas bem-sucedidas pra-
ticam com intensidade pelo menos um valor essencial à realização de sua estratégia. E em empre-
sas menos competitivas, não se encontram valores fortes.
Valores são fortes quando efetivamente influenciam políticas, processos e respostas da
empresa a desafios externos.
mecanismos
A ausência de valores fortes e alinhados com os objetivos da organização gera mec
compensatórios, cuja “função” é criar a sensação de identidade que todo grupo deseja ter. Na
maior parte das vezes, surgem sob a forma de metas desejáveis, mas tão genéricas que se torna
difícil instrumentar sua prática. “Nós nos preocupamos em ser competitivos”, por exemplo, ou
em “ter espírito empresarial”, ou “trabalhar e nos esforçar muito”, ou “ter dinamismo pessoal” e
assim por diante. Esses mecanismos de fato nada acrescentam em termos de direcionamento, e
muitas vezes justificam personalismos e voluntarismos que prejudicam a capacidade de mobili-
zar a organização para ações coordenadas.
Esses são os elementos estruturais da cultura organizacional, ou seja, que têm caráter de
permanência e requerem esforço significativo para serem alterados. Deve, entretanto, ser obser-
vado que comportamentos e atitudes podem ser modificados por fatores circunstanciais (como
crises ou resultados muito favoráveis, mudanças em condições de trabalho e em políticas de re-
conhecimento), que afetem o que se convencionou chamar de clima da organização.
Embora tipicamente o clima se altere facilmente, por meio da modificação de expectati-
vas, condições de trabalho ou de sistemas de reconhecimento, em alguns casos ele pode se tornar
negativo por períodos prolongados, ao favorecer fatores motivacionais não alinhados com as
necessidades do negócio.
Com esses dados, é possível avaliar com razoável precisão os traços culturais que
qu contri-
buem para a execução da estratégia e aqueles que representam obstáculos. Também são visualiza-
das as áreas e os níveis hierárquicos que estão mais e menos predispostos a aceitar mudanças
(com relação a cada aspecto pesquisado), e onde faltam valores para orientar atividades que pa-
recem ter desempenho insatisfatório ou ausência de direção clara.
dem níveis
Não é incomum que dirigentes tenham percepções muito diferentes das dos demais
da organização, porque eles têm acesso a informações que não estão disponíveis para os demais
grupos ou que pessoas do nível operacional tenham percepções mais parecidas com os discursos
do que com a realidade, simplesmente porque eles não sabem o que realmente acontece. No en-
tanto, é recomendável verificar as causas de diferenças de percepção de pequenos grupos especia-
lizados ou que trabalham relativamente isolados, pois essas diferenças podem ter impacto sobre
o comprometimento desses grupos com os objetivos da empresa.
A correção de situações indesejáveis pode ser feita discutindo essas diferenças, modifican-
do as condições de trabalho para o grupo em questão, e estabelecendo práticas adequadas de
aquisição, retenção e desenvolvimento de pessoas. Lembrando que nos negócios em que talento,
e não capital, é o recurso mais escasso, a gestão de pequenos grupos pode ser importante no de-
senvolvimento de competências importantes para a competitividade.
Adiante será visto, no item 16.7 – Gestão de mudanças, como integrar as ações anteriores
descritas com as demais mudanças relacionadas com a nova estratégia.
16
Execução da Estratégia
A execução de uma nova estratégia começa sempre com algum grau de incerteza.
Afinal, compreende atividades muito diferentes entre si, algumas que sabemos executar,
outras que requerem competências que ainda precisam ser adquiridas, objetivos fáceis de al-
cançar, outros mais difíceis, e alguns que não se sabe se serão alcançados. Também é nesse
momento que as premissas que nortearam a estratégia são testadas na prática, e que se tornam
conhecidas as reações à nova estratégia por parte de concorrentes, parceiros na cadeia de valor
e demais stakeholders (bancos, investidores, agências de regulamentação, comunidades próxi-
mas etc.).
Definidos os processos, cabe desenhar a estrutura que irá apoiá-los. Como foi visto, estru-
turas podem requerer um processo evolutivo até que atinjam o formato mais adequado. Princi-
palmente quando são necessárias mudanças como eliminar níveis hierárquicos excessivos, ou
focar a estrutura em clientes, por exemplo. Nesses casos, em geral, é necessário qualificar/treinar
um grande número de pessoas para assumirem novos papéis e responsabilidades, e rever o sistema
de informações, para assegurar dados, controles e informações suficientes nos pontos corretos.
Finalmente, é necessário assegurar que os sistemas de informação produzam informações
de apoio à eficácia dos processos, e de controle das operações, em conformidade com as regras de
decisão previamente definidas.
A configuração dos sistemas de informação tem importância estratégica, que merece foco
específico. É preciso saber quais sistemas podem ser adquiridos de terceiros, e quais devem ser
proprietários, para assegurar diferenciação competitiva ou alcançar desempenho superior. Sem
prejuízo da necessidade de assegurar integridade de dados e agilidade no acesso à informação.
Cada vez mais é preciso optar por sistemas abertos, que permitam interligar e operar soluções
diferentes para problemas diferentes, e que incorporem conhecimentos novos à medida que eles
ocorram.
Sem
em um processo eficiente
eficiente de change management,t a adaptação à nova estratégia pode ser
difícil, levar mais tempo do que o necessário e correr o risco de perdas significativas (ao menos
temporárias) de produtividade.
O objetivo é preparar as pessoas em todos os níveis para essas novas experiências, como
forma de obter sua adesão, e em sinal de respeito pelas suas preocupações com os novos tempos,
que não podem ser evitadas. Esses processos são baseados em duas premissas principais.
Isso se faz ao colocar as pessoas em contato com novos conceitos e formas de trabalhar
relevantes para a prática da estratégia, antes que elas tenham de utilizar esses elementos em seu
trabalho. Diversos mecanismos podem ser usados para essa finalidade.
Um passo importante é disponibilizar rapidamente os indicadores de desempenho que
reflitam a essência da estratégia. Estes são chamados, em geral, de fatores críticos de sucesso, e sem
dúvida são os primeiros que têm de começar a ser internalizados e praticados.
Outras ações importantes são: construir pontes entre grupos que precisarão estabelecer
comunicação intensa no futuro, instalar processos de aprendizado e de aquisição de competên-
cias, recrutar pessoas para cargos-chave, promover discussões sobre áreas críticas com as pessoas
que estarão envolvidas em seu gerenciamento. E comunicar com frequência os ganhos que vão
sendo obtidos.
Essas iniciativas mantêm presente para todos na organização que uma grande mudança
está ocorrendo, e cria oportunidades para que as pessoas se familiarizem com os novos conceitos,
antes de ter de usá-los para valer.
Finalmente, vale apontar alguns erros comuns na execução de estratégias.
Um deles é desmembrar a implantação em um número grande de projetos. Essa solução
corre riscos decorrentes da fragmentação de esforços e de fragilidades na coordenação: surgem
diferenças indesejáveis de exigência com relação a desempenhos, velocidades diferentes de execu-
ção e descasamento de atividades que deveriam ser realizadas simultaneamente. Iniciativas difí-
ceis de realizar correm o risco de se perder (pois quase todas são de natureza multifuncional, e
como tal requerem coordenação intensa).
Outra solução inadequada é “congelar” o modelo de gestão antes que ocorram oos apren-
dizados necessários à execução bem-sucedida da estratégia, e as premissas que deram base à es-
tratégia estejam suficientemente validadas.
Isso pode dar a sensação de dever cumprido, mas, na prática, cria rigidez nos processos de
aprendizado e de aquisição de competências. De fato, os aprendizados dos primeiros momentos
da execução da estratégia podem alterar o formato das informações, a complexidade e os tipos de
decisão a serem tomados nas operações, e até os perfis das pessoas necessárias.
ou dificultar a execução, em função de sua disposição de investir junto com a empresa, correr
riscos com ela ou tolerar pequenas inconveniências.
A iniciativa mais importante que a direção pode tomar nos momentos iniciais d da execu-
ção de uma nova estratégia é manter constantes contatos com os grupos envolvidos nas ações
estruturantes e nas iniciativas estratégicas mais importantes, compartilhando dados e percepções
e trabalhando no sentido de garantir o comprometimento com os objetivos e as novas formas de
trabalhar.
Para fazer isso de forma estruturada com relação a públicos como acionistas, investidores
e instituições financeiras, precisará desenvolver governança corporativa compatível com as de-
mandas de informações, transparência, equidade de tratamento e responsabilização (accountabi-
lity) desses públicos.
Desta forma, a direção consolidará o modelo de gestão e o processo decisório, de forma
natural, e à medida que a empresa se torna apta a operar a nova estratégia.
Finalmente, a persistência. A execução de uma nova estratégia compete com o dia a dia, no
qual muitas pessoas podem estar mais confortáveis. É muito fácil perder o foco, distrair-se com novas
crises, oportunidades e ameaças pontuais, que surgem a toda hora. A direção precisa evitar essas
distrações para cumprir sua função essencial, que é assegurar a realização das ações estruturantes que
irão apoiar a execução da nova estratégia, e monitorar a execução das iniciativas estratégicas.
tentando se antecipar ao mercado e a ações dos concorrentes, e agirá rapidamente para aprovei-
tar oportunidades e enfrentar ameaças. Saberá onde concentrar esforços no dia a dia para obter
resultados.
Estará preparada, enfim, para a eventual necessidade de refazer planos, se as suas premissas
sobre o mercado e a competição se provarem imprecisas ou incorretas, ou se fatos totalmente novos
vierem a ocorrer. Ao cometer erros, terá um caminho para recuar com o mínimo de perdas.
1
Este capítulo foi em parte inspirado em meu livro A empresa no controle do próprio destino,
São Paulo, Cultura Editores Associados, 2001.
2
SLOAN, Alfred P. Jr. My years with General Motors. New York: Doubleday, 1996.
3
Marketing management: analysis, planning, implementation and control, publicado pela
primeira vez em 1967. (Administração de marketing: planejamento, implementação e con-
trole, São Paulo, Atlas, 1994.)
4
The balanced scorecard: measures that drive performance, with David P. Norton. Cambridge,
Harvard Business Review, jan.-feb., 1992.
5
JAQUES, Elliot, Requisite organization – A total system for effective managerial organization
and managerial leadership for the 21st century. 1. ed., Falls Church, VA, Cason Hall & Co.
Publishing, 1989.
6
The fifth discipline – The art & practice of the learning organization. New York: Doubleday, 1990.
7
HAMMER, Michael e CHAMPY, James, Reengineering the corporation, Nova York, Harper
Business, 1993.
8
O livro chama-se Theory of games and economic behavior. Von Neumann foi um matemáti-
co que realizou trabalhos importantes em teoria dos conjuntos e nos estudos que levaram
ao desenvolvimento de bombas atômicas e computadores.
9
Quality control handbook, Nova York, McGraw-Hill International Editions: Industrial Engi-
neering Series, 1951.
10
HAX, Arnoldo C. e MAJLUF, Nicolas S., Strategic management – an integrative perspective,
New Jersey, Prentice Hall, 1984.
11
PORTER, Michael E., Competitive strategy – Techniques for analyzing industries and compe-
titors, Nova York, The Free Press, Macmillan Publishing, 1980. (Estratégia competitiva, São
Paulo, Campus, 2005.)
12
Ibid., The competitive advantage of nations, Nova York, The Free Press, Macmillan Pu-
blishing, 1990. (A vantagem competitiva das nações, Rio de Janeiro, Elsevier, 1992.)
13
HAMEL, Gary e PRAHALAD, C. K., Competing for the future, Cambridge, Harvard Business
School Press, 1994. (Competindo pelo futuro, São Paulo, Campus.)
14
The future of competition: co-creating unique value with customers, Cambridge, Harvard
Business School Press, 2004; e The new age of innovation: driving co-created value through
global networks, Nova York, McGraw-Hill, 2008.
15
The fortune at the bottom of the pyramid: eradicating poverty through profits, Wharton
School Publishing Paperbacks, 2006.
16
SWOT vem das iniciais em inglês para Pontos Fortes (Strengths), Pontos Fracos (Weaknes-
ses), Oportunidades (Opportunities) e Ameaças (Threats).
17
Fórum Mundial de Estratégia, HSM, São Paulo, 5 e 6 de agosto de 2008.
18
A história do futuro do Brasil, Clovis Corrêa da Costa, São Paulo, Saraiva, 2007. O livro su-
gere que, com o tempo, a sociedade brasileira desenvolveu um repertório de soluções, que
são únicas, no sentido em que surgiram a partir dos elementos constitutivos mais essenciais
da sociedade: a economia, as instituições, os valores, a população e a identidade cultural.
Em seguida, propõe dois cenários para o Brasil: um que seria a manutenção desse repertó-
rio de soluções, ou seja, mera continuidade de nosso jeito de identificar oportunidades e
ameaças, e dar respostas a elas. O outro cenário seria um em que o país decide empreender
uma adaptação bem-sucedida às oportunidades e ameaças trazidas pela globalização, à se-
melhança de outros países que são bem-sucedidos nessa empreitada, como China e Índia.
Esses cenários têm alguma superposição, que são os fatos aparentemente “imutáveis”, mas
na essência muito diferentes entre si, e suficientemente distintos para representarem dois
extremos razoavelmente plausíveis, ou seja, que podem se concretizar. O primeiro, por ser
uma mera continuidade de nossas formas de atuar sobre problemas, sem dúvida tem alta
probabilidade de ocorrência. O segundo reflete possibilidades que vêm sendo bem explora-
das por outros países emergentes, e que, de várias formas, influenciam o pensamento das
lideranças políticas. Na prática, não se espera que o futuro se comporte como em um ou
outro cenário, mas que seja algo entre os dois, absorvendo partes de cada um, em função da
dinâmica da economia e dos debates políticos. O país deverá oscilar entre essas duas ten-
dências nos próximos anos, e talvez não se decida tão cedo por um caminho ou outro.
Empresas, principalmente aquelas com intenção de participar em mercados globais, devem
observar essas tendências, e levá-las em conta em suas decisões estratégicas.
19
Esse parágrafo foi em grande parte inspirado e adaptado de meu livro O verdadeiro valor do
cliente (São Paulo, Elsevier, 2004).
20
Esta seção foi inspirada em meu livro A empresa no controle do próprio destino (São Paulo,
Cultura, 2001).
21
O Balanced Scorecard fornece um formato geralmente aceito para apoiar a execução de es-
tratégias. As vertentes do plano de execução propostas por Kaplan (ou perspectivas, como
ele chama) são semelhantes às descritas neste livro: ele as organiza como Financeiras (orien-
tadas para resultados), de Clientes, Processos Internos, Aprendizado e Crescimento (envol-
ve pessoas, naturalmente).