Você está na página 1de 107

'(. ~ .

\( .~ ,. .
. .
~. . .~
ViUa ·
~· · GR1SE .DE '
J
I ."

> ' .

\fTEGRIDADE '!' ..warrenWWiersbe · I


. _------------------~---~
=========================~=
- - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - -'" .-

Uma igreja maculada em luta com a


responsabilidade, a moralidade e o estilo de
vida dos seus líderes e pessoal leigo.
POR QUE DEVE AIGREJA SER OUVIDA?
• Que evangelho está a igreja
A CRISE
proclamando? o evangelho do sucesso?
• O evangelho da prosperidade? ·
• Que é o sucesso? Como a igreja mede o
I I DE
sucesso.de seus líderes?
• Quem está fazendo o quê - e para a
glória .de quem? o
.rN TEGRIDADE·.·
• De que maneira o estilo de vida' da
liderança está afetando a igreja?
• Pode a popularidade ser a garantia de um
bom caráter? . .
• Quem está mudando? Quem é
responsável por quem? Quem está
controlando a direção da igreja?
• Que pode você fazer, individualmente,
como cristão?
Warren W. Wiersbe mostra o caminho
para uma igreja renovada, uma igreja que
uma vez mais terá o direito de'ser ouvida.
I

ISBN-8297·1643-2
f
"Y
;. FW'- Q( JC A#

A CRISE
DE
INTEGRID
V\árrenWWiersbe
~ "

, ., ri
, ~
, t

Traduzido por
f ."
J• .
Emma Anders de Souza Lima
}-

i
ISBN 0·8291·1643·2
I

Categoria:Etlcacristã

Traduzido do original em inglês:


The Integri~ Crisis

Copyrlght ©1988by WarrenW.Wiersbe


Copyright ©1989by EditoraVida

Todos os dkeitos reservados nalínguaportuguesapor


EditoraVida, Miami, Florida 33161· R.U.A.
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1

Dedicado àmemóriade 1
1
1
1

Theadore H. Epp (1907.1985) 1


1
1
1
1
1

FuROOdor eprofessor do programa radiofônko 1\

"De volta àBllili4't \


1
1

UDl homerrulo Palavra 1


11 1

Um homem de integridade \ 1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
"iornamo.no~ oo~r~~rioao~no~~o~vitin~o~, of~tdrniO fatOm~M\a
ao~ ~U~no~roà~iaml
N~rf~Oran tontra nO~ (U ini~iiooaf~ af no~~o~~ah; ~rfmm·~~ ao
no~~o tntontro ~ ti mimk~raim, tI

M~l~t~.no~, oDfU~ f ~mvaaorno!~OI~~la~Mria ao t~unom~; livra·


.no~, f~uaoo·no~ O! ~~ooao~,~or amor ~t~u nomf,\1
~a\mo1~:~J~
I

INDICE

Prefácio ..... ·...................., .................... 7


1. Opr6brio ·...., , , , ., , ......, ., ......, , , ......, ..... 9
2. Regressão ....., .., , , ., ....., , , , , ......., , , ........13
3. Retelião .,.......,,......,,................,,.,,,..19
4. Revisão ........., ............, ., ., ............., ..29
5. Responsabilidade ., ................., ., , , .... ......37 ~

6. Censura .., ...., ., , , ..., .. ..........., ...........47 ..


7. Reconstrução ....................,...........',' ..... 55
8, Alívio .....................,....................... 65
9. ARealidade ......................, ...., ............73
10. Riquezas ·...................., ....................81
11. Recuperação ......, ., , ......, .., ...................91
12. Reavivamento • • • • • • • • • • 99 I I I I I I • • , • • I • • • • • • • • • • • • • • , •

Notas • • • • , • I • , , • • • • I • • • , 107
, , • I • • • • • • • • • • , I I • I • • • • • • • • •
,
PREFACIO

Foi difícil escrever este livro, pois tive de criticar algumas coisas
que me são muito caras. Isso dói.
Fui pastor de três igrejas e dói-me ter de salientar os pontos em que
a igreja tem falhado. Se alguma pessoa não crente ler este livro com o
intuito de atacar a igreja, quero deixar bem claro que prefiroser um
cristão em luta com os problemas de uma igreja imperfeita a ser um
perfeito pecador fora dela. Um dos pais da igreja disse que ela é algo
parecido com a arca deNoé: se não fosse pelo julgamento de Deus
contra os que estão de fora, seria impossível agüentar o cheiro lá de
dentro.
Como autor, editor e pregador da Palavra de Deus pelo rádio, tenho
investido muito tempo, dinheiro e energia no ministério através dos
meios de comunicação, e vejo com simpatia os problemas dos editores
e produtores. Mas isso não me toma insensível ao fato de que os
ministérios dos meios de comunicação estão em dificuldade e que
precisamos encarar a situação honestamente. Espero que nenhwn dos
meus amigos de rádio, televisão e publicações pense que os estou
provocando. Acreditem-me, estou usando o pronome nós e não eles.
Quero escrever como testemunha e não como promotor. Encontramo-
-nos todos no mesmo barco.
Não há dúvida de que este livro incomodará a algumas pessoas.
Tentei escrevê-lo com cuidado e compaixão; mas, sendo a natureza
humana como é, fatalmente alguém me entenderá mal. Você não
atingirá a finalidade deste trabalho se aplicar estas páginas a detenni-
nada organização ou a determinado pregador. Este livro refere-se a
todos nós e à crise que atravessamos. Não é uma aut6psia do cadáver
de alguém. Atinge a todos nós que confiamos em Cristo e o servimos.
Bem, se me entenderem , mal, paciência. O Senhor conhece o meu
coração, e é ele o Juiz. "E tão ruim ser entendido mal? Pitágoras o foi,
e o mesmo aconteceu a Sócrates, Jesus, Lutero, Copérnico, Gali1eu e
Newton", disse Emerson.' Embora eu não faça parte de tão ilustre
plêiade, é gratificante saber que estarei em boa companhia.
Agradeço a Deus o privilégio de viver neste estimulante período da
história da sua igreja. Melhor época do que a atual, só a vitoriana na
Inglaterra; mas não me foi dada a escolha. Agradeço a Deus o me haver
permitido fazer uma pequena parte do seu trabalho durante esses anos
8 ACrise de Integridade

e o estar associado a alguns gigantes de hoje. Eles têm sido muito


bondosos para comigo e eu deveria mostrar-lhes a minha gratidão
colocando aqui os seus nomes. Não ofarei, porém. Se assim procedesse,
alguns ficariam surpresos ao descobrir que são gigantes!
Há coisas neste livro que queria dizer há muito; eu as teria dito
mesmo semos escândalos que têmocorrido nos meios de comunicação.
"Pearlygate" não éoassunto deste livro; é apenas oacontecimento que
impulsionou a idéia. No culto matutino da Convenção dos Livreiros
Cristãos de 1987 preguei uma mensagem tirada de Neemias: "Recons-
trução nwn Dia de Opróbrio"; emeugrande amigo,, oDr. Victor Oliver,
insistiu em que eu aexpandisse em forma livro. E difícil recusar algo
a Victor; por isso acabei concordando. Caso soubesse quão dolorosa
haveria de ser aexperiência, teria provavelmente argumentado com ele

um pouco mais,
Estes são dias difíceis para aigreja, eotempo urge. Bem sei que os
pregadores têm dito o mesmo desde a época de Paulo, mas ainda é
verdade. Deus nos deu uma oportunidade sem igual para atingir o
mundo com o evangelho, mas essa tarefa não pode ser realizada de
maneira adequada sem integridade pessoal eorganizacional.
Não espero que o leitor concorde com tudo o que escrevi. Espero
que ele incline acabeça epergunte: "Senhor, sou eu?"
Éaí que começa averdadeira integridade.
WARRENW. WIERSBE
1

OPRÓBRIO
Bscãnâalo: vicio desfrutado
de modo vicário.

Elbert Hubbard

Se eu lhe pedisse que descrevesseem uma só palavra a situação atual


da igreja, que palavra você escolheria?
Reavivamento? Duvido, mas seria ótimo se fosse verdade! Vemos
muita evangelização por toda a parte, e isso nos alegra; mas o vento do
Espírito parece muito suave, e o ar um tanto abafado.
Renovação't Talvez em algunsministérios; na maioria, porém, é ''um
negócio como qualquer outro". Para renovar a igreja é preciso haver
algo mais do que alguns cartazes ou mudança na ordem do culto.
Reavaliaçao? Sim, há muitos estudos a respeito, e esperamos que
sejam úteis. Temo, entretanto, que estejamos fazendo wna autópsia.
Mas' o que a igreJa precisa mesmo é de ressurreição.
Rulna? Não, pois Deus está no trono e há pessoas dispostas a ouvir
e obedecer! Não importa quão sombria seja a hora, as estrelas ainda
brilham; mas temos de levantar os olhos para vê-las. Sou realista, mas
não pessimista.
Depois de muito pensar, cheguei à conclusão de que a palavra que
melhordescreve a situação atualda igrejaevangéUcaé opr6brio e tenho
a impressão de que muitas pessoas concordam comigo. Na realidade,
10 A Crise de Integridade

opróbrio parece descrever outros setores da sociedade além da igreja:


esportes, embaixadas, ensino superior, a Casa Branca, o Pentágono,
finanças, o Congresso Norte-americano, e até mesmo as creches. O
escândalo parece ser a ordem do dia. Tivemos "Watergate, Koreagate"
e "Irãgate"; e agora o último escândalo refere-se à igreja. Não é de
admirar que a revista "Time", na reportagem de capa da edição de 25
de maio de 1987 tenha feito a seguinte pergunta: "O que aconteceu à
ética?""
O que realmente aconteceu à ética? Talvez nada. Talvez a sociedade
ainda seja um tanto ética, e essas situações desagradáveis não sejam
realmente escândalos, mas apenas o resultado de uma boa reportagem
e wna cobertura mais ampla do noticiário. Afinal, sempre houve escân-
dalos no governo, nos altos negócios, nos esportes e até mesmo na
igreja. Por que, então, nos agitarmos tanto? A igreja tem tido a sua
porção de hipócritas e mercenários quase desde. o começo, e o joio e o
trigo crescerão juntos até a volta do Senhor. Por que tanta excitação?
Isso também vai passar.
A explicação não é assim tão simples. Se fosse, tudo o que teríamos
de fazer seria esperar até que um novo escândalo chegasse às manchetes
dos jornais e o público não mais se interessasse pela roupa suja da igreja.
Mas o problema não é assim tão simples, nem é fácil a solução. Por
quê? Porque a crise que a igreja enfrenta hoje atinge o âmago da sua
autoridade e ministério.
Nosso problema não é o público haver descoberto, de repente e para
o constrangimento dos cristãos, pecadores na igreja. Não, há muito
tempo o público sabe que há pecado na igreja; e, seja como for, ela tem
sobrevivido. Os cristãos evangélicos não são um grupo de pequenos
colegiais que coram quando pegos em flagrante infringindo regras.
Mais parecemos um exército derrotado, despidos perante nossos inimi-
gos e incapazes de revidar por haverem eles feito uma alarmante
descoberta: a igreja está desprovida de integridade.
Se a descoberta fosse apenas de que a igreja está corrompida por
hipócritas, bastaria que retirássemos as máscaras, pedíssemos descul-
pas e começássemos a ser honestos novamente. Mas a questão é muito
mais profunda do que a grande maioria de nós queremos admitir, pois
a integridade envolvea própria essência da igreja no mundo. O diag-
nóstico é aflitivo e o remédio dispendioso, mas a igreja deve ter a
coragem de enfrentá-los honestamente e fazer o que é preciso.
Defrontamo-nos com uma crise de integridade. Não somente a
conduta da igreja está em debate, mas também o seu próprio caráter.
Oprôbrio 11

o mundo está perguntando: - Pode-se confiar na igreja? - e como


respondemos é tão importante quanto o q~respondemos.
Durante dezenove séculos a igreja vem dizendo ao mundo que
reconheça os seus pecados, arrependa-se e creia no evangelho. Hoje,
no crepúsculo do século vinte, o mundo diz à igreja que enfrente seus
pecados, arrependa-se e comece a ser a verdadeira igreja desse evan-
gelho. Nós, os cristãos, gabamo-nos de não nos envergonharmos do
evangelho de Cristo, mas talvez esse evangelho se envergonhe de nós.
Por algwna razão, nosso ministério não combina com a nossa mensa-
gem. Algo está errado, quanto à integridade da igreja.
A igreja acostumou-se a ouvir pessoas contestarem a mensagem do
evangelho, porque essa mensagem é loucura para os perdidos. Mas hoje
a situação está embaraçosamente invertida, pois o mensageiro passou
a ser suspeito. Tanto o ministério quanto a mensagem perderam a
credibilidade perante wn mundo atento, queparece estar-se divertindo
com o espetáculo. "Por que deveríamos escutar a igreja?" pergunta o
mundo crítico. "Com que autoridade vocês, cristãos, pregam para nós
sobre pecado e salvação? Ponham ordem na própria casa; depois talvez
queiramos escutá-los."
Nós, é claro, estamos prontos para o contra-ataque: "Por que vocês
não põem ordem na sua casa?" perguntamos. "Os escândalos no futebol
não fizeram com que vocês se afastassem dos estãdios ou desligassem
seus televisores nos fins de semana. Os escândalos financeiros não os
revoltaram a ponto de tirarem o seu dinheiro do banco ou dos investi-
mentos. Vocês deixam de votar porque mais de cem funcionários
administrativos foram acusados de atividades duvidosas e alguns tive-
ram de pedir demissão? Não! Então, por que rejeitar a igreja pelo fato
de algumas pessoas não terem praticado o que pregavam?"
Essa defesa parece lógica, mas acontece que se fundamenta em dois
perigosos equívocos quanto à verdadeira natureza da crise que a igreja
atualmente. enfrenta.
Para começar, a crise de integridade envolve mais do que algumas
pessoas acusadas de impropriedades morais e :fmanceiras. A crise de
integridade envolve toda a igreja.
Não estou dizendoque as pessoas não pecaram, nem estou pregando
sobre "culpa coletiva", o que quer que isso seja. Quero somente enfa-
tizar que, no corpo de Cristo, pertencemos uns aos outros, influencia-
mos uns aos outros, e não podemos livrar-nos W1S dos outros. Não foi
a imprensa que criou a crise, foi a igreja. E é a igreja que tem de
resolvê-la. "Se wn membro sofre, todos sofrem com ele", escreveu
t 2 A Crise de Integridade

Paulo, "e, se um deles é honrado, com ele todos se regozijam" (1


Coríntios t 2:26). Gostemos ou não, estamos todos na mesma conjun-
tura.
A tese deste livro é que o escândalo referente à igreja é o sintoma de
problemas cruciais no mundo evangélico, problemas tão profundos e
sérios que não serão resolvidos por medidas rápidas. Pregar sobre
integridade, nomear novos lideres e estabelecer padrões mais rígidos
de responsabilidade fmanceira podem ajudar, mas só irão atingir a
superfície. A igreja não precisa de maquiagem, e, sim, de cirurgia.
Há uma segunda razão de essa defesa ser falha: foi a fraqueza da
igreja que ajudou a provocar esses escândalos. A igreja é o sal da terra,
mas parece que não está suficientemente salgada para impedir a cor-
rupção no governo, nos altos negócios, nos esportes ou até mesmo no
ministério religioso. A igreja é a luz do mundo, mas parece que sua luz
está fraca demais para exercer influência nos agitadores dos dias de
hoje.
,
E estranho que esses escândalos ocorram numa época em que muitos
cristãos se vangloriam da força e da popularidade do cristianismo
conservador! Pois temos igrejas cheias, ministérios pelo rádio e televi-
são, grandes convenções, escritores e músicos cristãos respeitados,
livrarias cristãs, classes bíblicas e serviços religiosos em escolas, uni-
versidades, repartições públicas e escritórios e até mesmo em vestiários.
Alguns dos importantes líderes da igreja são entrevistados pela rede de
rádio e televisão e entre eles há os que exercem influência no cenário
político. Mas, apesar dessas e outras conquistas, os escândalos aconte-
ceram. Algo deve estar errado.
Não critico as pessoas e organizações que promovem esses ministé-
rios; na realidade, também participo de alguns deles e agradeço a Deus
o testemunho do seu povo em todos esses lugares. Mas preciso salientar
que alguma coisa está radicalmente errada quando o ministério evan-
gélico é tão popular e ao mesmo tempo tão fraco. Talvez a sua popu-
laridade seja a causa da sua fraqueza; afinal, reputação e caráter são
coisas bem diferentes. Parece que nossa mão direita não sabe o que faz
a esquerda e, como resultado, nossa mensagem e nosso ministério estão
divididos.
,
E wna questão de integridade, portanto comecemos aqui.
2
~~~
i\l REGRESSÃO

Deus criou números inteiros,


tudo o mais i obra humana.

Leopold Kronecker

Para compreender a integridade, precisamos primeiro entender que


há duas forças operando no mundo: (1) Deus está unindo as coisas, e
(2) o pecado as está separando. Deus deseja unidade; Satanás quer
divisão. O propósito de Deus é "fazer convergir nele (Cristo)... todas
as coisas" (Efésios 1:10), e Cristo não pode aceitar neutralidade. "Quem
não é por mim, é contra mim; e quem comigo não ajunta, espalha"
(Lucas 11:23). O programa de Deus, afinal, será bem-sucedido, e um
dia o seu Universo se tomará uma gloriosa unidade. Mas, até que isso
aconteça, você e eu precisamos viver num mundo dividido e sofrer os
problemas decorrentes dessa divisão.
A igreja é o principal instrumento que Deus tem neste mundo para
unir as coisas; e, a fim de bem executar o seu trabalho, ela própria
precisa possuir inteireza. Se háum lugar onde opovo golpeado de nossa
sociedade fratm"ada deve procurar' integridade, é na igreja local. Afinal
n6s, os cristãos, estamos reconciliados com Deus e unidos uns aos
/ outros; portanto, as pessoas têm todo o direito de esperar ver integridade
na igreja.
14 A Crise de Integridade

o que é integridade? Segundo o Dicionário da Língua Portuguesa,


de Laudelino Freire, a palavra vem do latim integritar e quer dizer
"inteireza físíca", "inteireza moral", "retidão", A raiz da palavra é
integer, que significa "inteiro", "completo", "perfeito", A integridade
está para o caráter do indivíduo ou da empresa como a saúde está para
o corpo ou como a visão perfeita está para os olhos. Uma pessoa íntegra
não
, é dividida (o que é duplicidade) nem fingida (o que é hipocrisia).
E "inteira"; a vida é harmoniosa e todas as coisas operam em harmonia.
Pessoas de integridade nada têm a esconder e nada temem. Suas vidas
são livros abertos. São inteiras.
Eis como Jesus descreveu integridade:

"Não ajunteis tesouros na terra, onde a traça e a ferrugem


destroem e onde os ladrões arrombam e roubam.' Mas ajuntai
tesouros no céu, onde nem a traça nem a ferrugem destroem
e onde os ladrões não arrombam nem roubam. Porque onde
estiver o vosso tesouro, aí estará também o vosso coração. A
lâmpada do corpo são os olhos. Se os teus olhos forem bons,
todo o teu corpo terá luz. Se, porém, os teus olhos forem
maus, todo o teu corpo estará em trevas. Portanto, se a luz
que em ti há são trevas, quão grandes são essas trevas!
Ninguém pode servir a dois senhores; porque ou há de odiar
a um e amar o outro, ou se devotará a um e desprezará o outro.
Não podeis servir a Deus e às riquezas" (Mateus 6: 19-24).

Jesus tornou claro que a integridade envolve toda a pessoa interior:


o coração, a mente e a vontade. A pessoa íntegra possui um coração
honesto. Não tenta amar a, Deus e ao mundo ao mesmo tempo. Seu
coração está no céu, pois é lá que se encontra o seu tesouro. "Não ameis
o mundo nem as coisas que há no mundo. Se alguém amar o mundo, o
amor do Pai não está nele'" (1 João 2: 15). Uma pessoa íntegra leva a
sério a seguinte ordem: "Amarás o Senhor teu Deus de todo o teu
coração" (Mateus 22: 37).
A pessoa íntegra também possui urna mente honesta, um ponto de
vista honesto ("olhos") que leva a vida para a direção certa. Afinal, o
ponto de vista ajuda a determinar o resultado; "homem de. ânimo dobre
(é) inconstante em todos os seus caminhos" (Tiago 1:8). L6 foi um
homemde ânimo dobre, o que ajuda a explicar a razão de ter ele
escolhido wna casa em Sodoma em vez de uma tenda no acampamento
santo de Abraão (Gênesis 13:6-13). O que ajudou Abraão a se manter
no caminho certo foi o seu ponto de vista honesto. Ele era estrangeiro
Regressão 15

e peregrino na terra, tendo os olhos da fé fixos em Deus e na cidade


celestial (Hebreus 11: 13-16).
Jesus também disse que a pessoa íntegra possui uma WNUGde}lOus-
ta;, serve apenas a um senhot. Peter T. Forsythe tinha razão, ao dizer:
"O primeiro dever da alma é procurar não a sua liberdade, mas o seu
Senhor."! Achando ao SenhorJesus Cristo, você encontrará a liberdade.
"Se, pois, o Filho vos libertar, verdadeiramente sereis livres" (João
8:36). Ninguém pode servir bem a dois senhores. Tentar tal coisa é
tomar-se uma pessoa dividida, e uma pessoa dividida não pode ter
integridade, pois seu coração, mente e vontade estão divididos.
De todos os renomados servos de Deus com quem tive o privilégio
de trabalhar, nenhum exemplificou melhor a integridade do que Theo-
dore H. Epp, o fundador do programa "De Volta à Bíblia". Com
freqüência ele lembrava à equipe e ao conselho que Deus não chamara,
nem a ele nem à organização, para tentar fazer tudo. "Uma coisa faço!"
era o seu princípio. Com bondade ele rejeitou algumas das minhas
"melhores sugestões" porque percebeu que elas nos levariam a desvios.
Tinha receio não somente de desvios, mas também de tomar-se um
"pregador popular" que agradasse a todo o mundo.
Durante certo período do seu ministério, chegou à conclusão de que
havia algo de errado porque não recebia correspondência com críticas.
(A maioria dos pregadores eletrônicos ficaria satisfeita.) Fez um breve
retiro espiritual, sondou o coração e voltou com esboços de uma série
r de mensagens que iriam desafiar os ouvintes. Ele não estava procurando
\ dissabores; apenas não queria ser um covarde tentando evitá-los.
El~disse: "TcmIw re~io de. ao ~1g a todos. não estar a~do. C
( a..Deus; e o impottante é agradar a Deus::' I
Jesus explicou que a "visão honesta" deixa entrar a luz, ao passo que
a "visão dupla" - dois pontos de vista e dois senhores na vida-aia
trevas. Preveniu então que a pes, em inte·(j ,., 'mente p~"
queas trevas s a stolo João descreve esse processo a armante
de degeneraçao moral e espiritual:

"E esta é a mensagem que dele ouvimos, e vos anunciamos:


que Deus é luz, e nele não há treva nenhuma. Se dissermos
que temos comunhão com ele, e andarmos nas trevas, men-
timos, e não praticamos a verdade" (1 João 1:5-6).
,
E.e_o. 2...rimeiro",passo na direção das trevas: !UPoc!isia..melltir !!:S.S
OJl.!r0s 80brea 00II8 co1iiiiliiõ com o Senhqr. "';~itas""iraaqe
faz.!!"·tiI" coisa:· presar o q,ue ·010 praticamos, orar poreoisas.q. . ~
t 6 A Crise de Integridade

queremos, fingir que fazemos alguma coisa. Mas fmgimento é apenas


o começo, pois o problema toma-se pior. João continua a dizer:

"Se dissermos que não temos pecado nenhum, enganamo-nos


a nós mesmos, e não há verdade em nós" (1 João 1:8).

Certamente a situação toma-se mais séria, pois agora estamos men-


tindo não somente aos outros, mas também a nõs mesmos e acreditamos
nessa mentira! A hipocrisia agora passou a duplicidade. Não mais
apenas fingimos; a mentira agora é nosso modo de viver, e nada vemos
de errado nele. A hipocrisia deu lugar à duplicidade.
Para onde nos leva esse estado de coisas?
"Se dissermos que não pecamos, fazemo-lo mentiroso, e a
sua palavra não está em nós" (1 João 1:10).

Estamos, agora, mentindo não somente aos outros e a nós mesmos,


mas estamos tentando mentir a Deus e, desse modo, fazendo-o menti-
roso! Podemos até mesmo ler a Palavra de Deus e não sentir convicção
de pecado. Por quê? Porque a decadência moral de nosso interior
transformou a luz em trevas. A hipocrisia tomou-se duplicídade, e a
duplicidade produziu a apostasia. Tudo começou com um coração
dobre que encorajou uma mente dobre e uma vontade dividida.
A única maneira de evitar essa tragédia é "caminhar na luz' e
conservar a vida interior honesta e pura perante Deus (1 João 1:7, 9).
Devemos tornar-nos pessoas "objetivas": "uma coisa faço" (Filipenses
3:13); "uma coisa peço"" (Salmos 27:4); "uma só coisa (é necessária)"
(Lucas 10:42). Precisamos seguir o conselho de Paulo: "Portanto, se
fostes ressuscitados juntamente com Cristo, buscai as coisas lá do alto,
onde Cristo vive, assentado à direita de Deus. Pensai nas coisas lá do
alto, não nas que são aqui da terra" (Colossenses 3:1·2).
O que João tem para dizer sobre o crente aplica-se também às igrejas
e aos ministérios em geral, pois estes são formados por crentes, e todos
são membros do corpo de Cristo. Se pertencemos uns aos outros,
precisamos uns dos outros, influenciamos uns aos outros e não podemos
fugir uns dos outros.
Portanto, quando a hipocrisia (mentir a outros) e a duplicidade
(mentir a nós mesmos) começam a assumir a direção, a integridade
desgasta-se gradualmente até ser destruída. O resultado é sempre apos-
tasia (fazer de Deus mentiroso), e aos poucos a luz transforma-se em
trevas. E tudo isso acontece enquanto apessoa ouo ministério aparenta
um relacionamento fiel com Deus. Quando a explosão chega, o povo
Regress40 17

fica swpreendido e chocado. Na realidade, os próprios pecadores se


surpreendem e chegam até a defender-se de seus acusadores. A luz
tomou-se trevas, daí por que não mais conseguem discernir o certo do
errado.
Integridade significa que a luz está brilhando no interior porque a
pessoa (ou o grupo) possui um coração honesto, uma mente honesta e
uma vontade honesta. Hipocrisia significa que houve divisões e as
trevas penetraram. Duplicidade significa que a luz tomou-se
, trevas, o
errado tomou-se certo e opecado tornou-se aceitável. E esse o tipo de
pessoa que Jesus tinha em mente, ao dizer:
"Nem todo o que me diz: Senhor, Senhor! entrará no reino
dos céus, mas aquele que faz avontade de meu Pai, que está
nos céus. Muitos me dirão naquele dia: Senhor, Senhor, não
profetizamos nós em teu nome? e em teu nome não expulsa-
mos demônios? e em teu nome não fizemos muitos milagres?
Então lhes direi abertamente: Nunca vos conheci. Apartai-
-vos de mim, vós que praticais a iniqüidade!" (Mateus 7:21-
23).
Di1M as palavras certas, ter as credenciais certas, pregar sermões de
textos certos, ajudar pessoas com problemas, e até mesmo fazer mila-
gres, jamais pode tomar o lugar de fazer avontade de Deus. Atragédia
de hoje, porém, é que muitos não conhecem adiferença entre arealidade
e o fmgimento; o que a maioria chama de "bênção" pode ser de fato
julgamento de Deus!
Talvez a melhor ilustração dessa tragédia seja a nação de Israel.
Voltemos, pois, ao passado e nos encontremos com dois homens de
coragem e integridade: Neemias e Jeremias. Eles nos podem ensinar
muito sobre o que está acontecendo à igreja hoje e o que você e eu
devemos fazer a respeito.
3

REBELIÃO

A prova máxima do pecador


l ele não conhecer o seu
próprio pecado.

Martinho Lutero

A crise enfrentada pela igreja nos dias de hoje é semelhante àquela


que Jeremias e o seu povo enfrentaram nos dias anteriores ao cativeiro
,;

da Babilônia. E também semelhante àquela enfrentada por Neemias


quando ele arriscou a sua vida para reconstruir o que o inimigo tinha
destruído. Jeremias levou quarenta anos tentando evitar a crise. Nee-
mias apareceu um século mais tarde e tentou apagar a vergonha que a
crise havia deixado. Ambos viveram em dias de opróbrio. ,
"Deitemo-nos em nossa vergonha", escreveu Jeremias, "E cubra-nos
a nossa ignomínia" (3:25). Deus disse à nação através do seu profeta:
"Porei sobre vós perpétuo opróbrio e eterna vergonha, que jamais será
esquecida" (23:40). Jeremias, depois de ter visto a cidade e o templo
serem destruídos, orou: "Lembra-te, Senhor, do que nos tem sucedido;
considera e olha para o nosso oprõbrio" (Lamentações 5: 1).
A situação foi a mesma na época de Neemias. "Os restantes, que não
foram levados para o exílio e se acham lá na província, estão em grande
miséria e desprezo; os muros de Jerusalém estão derribados, e as suas
20 A Crise de Integridade

portas queimadas a fogo" (Neemias 1:3). Jerusalém não mais era "Seu
santo monte, belo e sobranceiro... a alegria de toda a terra... a cidade
do grande Rei" (Salmo 48:2).
Eis o que Neemias relatou depois de, ele próprio, investigar a
situação: "Estais vendo a miséria em que estamos, Jerusalém assolada,
e as suas portas queimadas a fogo; vinde, pois, reedifiquemos os muros
de Jerusalém e deixemos de ser oprõbrío" (Neemias 2:17).
O salmista Asafe escreveu:
.
"O Deus, as nações invadiram a tua herança, profanaram o
teu santo templo, reduziram Jerusalém a um montão de
ruínas... tornamo-nos o opróbrio dos nossos vizinhos, o
escárnio e a zombaria dos que nos rodeiam" (Salmo 79:1,4).

o que aconteceu
.. para que a cidade de alegria se tomasse uma cidade
de opróbrio? E preciso responder a essa pergunta honestamente porque
hoje a igreja está em perigo semelhante e o julgamento de Deus é
ameaçador. Para encontrar a resposta, escutemos o profeta Jeremias,
Ele viu chegar a destruição a Jerusalém, sobreviveu e pôde explicar
melhor do que qualquer outra pessoa por que e como isso aconteceu.
Então voltaremos a Neemias e aprenderemos como Deus quer que
reconstruamos num dia de opróbrio.
No décimo oitavo ano de Josias, o último rei justo de Judá, o sumo
sacerdote Hilquias encontrou um exemplar do Livro da Lei (provavel-
mente Deuteronômio) quando o templo estava sendo restaurado. Safã
leu o livro perante o rei; e quando Josias ouviu a Palavra de Deus,
humilhou-se e conclamou a nação ao arrependimento. Levou o povo a
retirar a idolatria da terra e restaurar o culto a Jeová, ao menos na
aparência. Esse acontecimento está relatado no segundo livro dos Reis,
capítulos 22 e 23 e é gerabnente chamado "o grande reavivamento
durante o reinado de Josias", A mudança realizou algumas coisas boas,
mas duvido de que aquele acontecimento pudesse, na realidade, ser
chamado um "reavivamento", Jeremias, pelo menos, não pensou assim.
Quando a reforma religiosa de Josias começou, Jeremias, que tinha
estado profetizando por aproximadamente cinco anos, cooperou com
ela. Mas, então, começou a ver que, em essência, nada se modificava
na vida espiritual da nação, Por decreto, Josias pôde eliminar
. os ídolos
da terra, mas não pôde eliminá-los do coração do povo. E verdade que
havia um punhado de adoradores sinceros, mas, para a maioria, o
reavivamento foi superficial e temporário. A religião antiga era de
bom-tom, e todos queriam estar na moda.
Rebelillo 21

Sabemos que o reavivamento foi apenas um movimento popular


temporário em virtude do que aconteceu quando o rei Josias morreu e
o seu filho Jeoacaz assumiu o trono. O novo rei levou o povo de volta
ao pecado anterior, e o povo seguiu o rei alegremente. Vejam só: O
próprio filho de Josias nem mesmo dobrara o joelho a Jeová! "Assim
que acabou a influência da corte, viu-se que o povo não tinha passado
pelo processo de convicção espirítual", escreveu Joseph Parker.!
Podemos, então, entender melhor por que Jeremias foi maltratado
durante tantos anos e por que a sua mensagem foi rejeitada: efecom-
preendeu a falsa religião dos seus dias e ousou proclamar a verdade,
apesar de isso significar solidão, perseguição e martírio. Para os profe-
tas e sacerdotes, ele era herege; para os políticos e o povo, traidor. A
maioria do povo de Judá aderiu à corrente religiosa, mas Jeremias
seguiu
, outra direção.
E provável que Jeremias tenha ficado em silêncio durante os anos
da reforma de Josias; mas, quando Jeoacaz foi coroado, o profeta falou.
Pregou um sermão corajoso à porta do templo, que está relatado em
Jeremias 7:1-8:3, e insisto em que você o leia. Imagine a reação dos
membros de uma igreja evangélica se no pr6ximo domingo ouvissem
wn sermão desses.

"Emendai os vossos caminhos e as vossas obras, e eu vos


farei habitar neste lugar. Não confieis em palavras falsas,
dizendo: Templo do Senhor, templo do Senhor, templo do
Senhor é este.

"Eis que vós confiais em palavras falsas, que para nada vos aprovei-
tam. Que é isso'fFurtais e matais, cometeis adultério e jurais falsamente,
queimais incenso a Baal e andais após outros deuses que não conheceis,
e depois vindese vos pondes diante de mim nesta casa, que se chama
pelo meu nome, e dizeis: Estamos salvos; sim, s6 para continuardes a
praticar estas abominações! Será esta casa, que se chama pelo meu
nome, um covil de salteadores aos vossos olhos?" (Jeremias 7:3-4,
8-11).
O comentador bíblico G. Campbell Morgan lembra-nos que um
"covil de salteadores" é o lugar onde os ladrões se escondem logo após i

terem cometido crimes. Um dos me1horesmeios de encobrir nossos


pecados é assistir aum culto religioso e passar pela rotina de .adêraçIo
a Deus"evitando'cuidadosamente o arrependimento. "Este povo hon-
ra-me com os lábios, mas o seu coração está longe de mim" (Mateus
15:8, citando Isaías 29: 13).
22 A Crise de Integridade

A religião ortodoxa da época de Jeremias era incrivelmente parecida


com o cristianismo ortodoxo dos nossos dias. Em primeiro lugar, o que
o povo dizia acreditar fazia pouca ou nenhwna diferença quanto ao
modo de viver. Tinham uma forma popular de piedade (reputação), mas
nessa piedade não havia poder moral ou espiritual (caráter). A religião
prosperava enquanto o pecado da nação se intensificava e o julgamento
de Deus amadurecia. Desde que o povo apoiasse o ministério do templo
e aparentasse ter a fé dos seus pais, nada mais lhe era requerido; porém
Jeremias exigiu algo mais profundo.
O gerente de uma emissora cristã telefonou-me para se queixar de
algo que eu tinha afirmado em uma mensagem pelo rádio. - Se eu o
entendi bem - disse ele, - o senhor asseverou que, se as pessoas são
salvas, há mudança em suas vidas e poder-se-á ver a evidência da
salvação.
- Sim - respondi, - é o que ensino - . Citei então 2 Coríntios
5: 17: "E assim, se alguém está em Cristo, é nova criatura; as coisas
antigas já passaram; eis que se fizeram novas."
- Bem, se o senhor continuar nessa linha, teremos de cancelar o
seu programa!
- Por quê? - perguntei. - Os senhores não acreditam que o povo
de Deus deve ser diferente da multidão não-salva?
- Mas um cristão pode ser carnal - foi o argumento, - e um
cristão carnal parece e age da mesma maneira que uma pessoa não-sal-
va. Que me diz de L6? E que me diz da "madeira, feno, palha" de 1
Coríntios 3:12?
Tentei explicar-lhe que os cristãos que desobedecem a Deus delibe-
radamente podem ser disciplinados pelo Senhor, e que 1 João ensina
que pessoas salvas não continuam praticando pecado. Foi, porém, uma
causa perdida. Desliguei o telefone sentindo-me decepcionado pelo fato
de haver alguém que se opõe a mensagens que exortam os crentes a ter
uma vida cristã piedosa e diferente.
..... Havner descreyey a igreja de maneira exata: "Nos dias de
Vance
hoje somos desafiados, mas não transfonnados; convencidos, mas ~ão
convertidos. Ouvimos, mas não praticamos; e, desse modo, enganamos
a õõs mesmos. ,,2
ç ~

Há outro paralelo entre os dias atuais e os de Jeremias: naquela época


a religião era um "grande negócio" e o ministério do templo estava
prosperando. Os sacerdotes e falsos profetas comercializavam a popu-
laridade da religião que dava às pessoas experiência suficiente para
tomá-las felizes, mas não a verdade capaz de tomá-las consagradas.
Rebelillo 23

Podiam adorar a Baal num dia e depois, no dia seguinte, adorar a Jeová;
ninguém estava inclinado a criticar tais pessoas, apesar de os adorado-
res de Baal terem pennissão para assassinar os próprios filhos. Se isso
lhe parece prática pagã, lembre-se de que nos Estados Unidos um
milhão e meio de bebês são massacrados anualmente no útero, fato
aprovado por muita gente religiosa.
O que pensava Deus de tudo isso? Jeremias clamou:

"Coisa espantosa e horrenda se anda fazendo na terra; os


profetas profetizam falsamente e os sacerdotes dominam de
mãos dadas com eles; e é o que desejao meu povo" (5:30-31).

A nação foi destruída "por causa dos pecados dos seus profetas, das
maldades dos seus sacerdotes" (Lamentações 4:13). Jeremias relatou-
-nos os nomes de alguns dos "líderes espírítuaís" da sua época. O chefe
era Pasur (Jeremias 20: 1-6), um sacerdote que dirigia o templo e fez
tudo o que podia para silenciar Jeremias. Um dia, Pasur feriu Jeremias
e o colocou no tronco. Outro líder foi Hananias, que disse ao povo
serem mentiras todos os sermões de Jeremias (Jeremias 28). Ainda
outro líder, Semaías, escreveu cartas difamatórias contra Jeremias
(Jeremias 29:24-32). Acabe e Zedequias, dois profetas exilados na
Babilônia, pregaram aos judeus cativos uma mensagem de falsa espe-
rança (29:21 lo
~
-
Esses cinco homens, e muitos outros profetas falsos e sacerdotes
hipócritas, eram pc>pulares entre o povo. Por quê? .~3J.'
apenas com coisas superficiais e jamais ousavam aprofundar-se at6 a .
raiz do problema: a séria necessidade de ~imento."

"Curam.sllp.rlCialmentea ferida do meu povo, dizendo: ~


paz; quando não há paz" (Jeremias 6:14).

Seodiagnóstico está errado, como pode o remédio estar certo?


Concordo com Eugene Peterson: "A tarefa do profeta nãô6'~1r
paliativos, mas p6r as coisas em on:lem. n3
Não pensem que aqueles ministros do templo condenavam a fé
abertamente. Não. Usavam a linguagem apropriada e faziam súplicas
ao Senhor. Mas era tudo dissimulação. O Senhor disse: "Tenho ouvido
o que dizem aqueles profetas, proclamando mentiras em meu nome,
dizendo: Sonhei, sonhei. Até quando sucederá isso no coração dos
profetas que proclamam mentiras, que proclamam só o engano do
próprio coração?" (23:25-26). As mensagens não vinham doSenl!<>r.
24 A Crise de Integridade

Mas, mesmo assim, eles asseveravam que os seus sonhos e visões eram
autênticos, e o povo acreditava neles.
Depois da queda de Jerusalém, Jeremias escreveu:

"Os teus profetas te anunciaram visões falsas e absurdas, e


não manifestaram a tua maldade, para restaurarem a tua sorte;
mas te anunciaram visões de sentenças falsas, que te levaram
para o cativeiro" (Lamentações 2: 14).

Aqueles homens pensavam estar cheios do Espírito, mas foram


enganados pelos espíritos. Em sua duplicidade, transformaram a luz em
trevas.
Usaram a linguagem familiar teológica, o que tomou as mensagens
ainda mais perigosas. Asseguraram que o julgamento jamais viria a
Judá porque Deus estava ao lado do povo. Em primeiro lugar, lá estava
o templo do Senhor, e Deus não permitiria que a sua casa fosse destruída
pelos gentios ateus! Além do mais, a nação tinha a Lei de Deus, o rito
da circuncisão e a garantia da santa aliança; essas coisas faziam-nos
preciosos a Jeová. Os sacerdotes devidamente ordenados estavam
diligentes no templo, oferecendo todos os dias sacrifícios designados
e orações. A arca da aliança estava encerrada com segurança no Santo
dos Santos. Os adoradores traziam dízimos e ofertas, e as despesas eram
cobertas. De que mais poderia uma nação precisar? ~;.
De uma coisa só: arrependimento. Mas essa palavra não estava no'.
vQC.Jõmãrio dos pregadores QQPulares. Sua palayra-chave era paz, e a
-
sua mensagem era que Jeová estava à disposição do seu povo escolhido.
Ci ene Peterson novamente: "R""ê1i iâo era socorro sobrenatural
para fazer ~er coisa que se eseiasse: fazer dinheIrO, garantir boa
c0ll!eita, sentir-se bem, assassinar a J2.essoa odiada, 'eassar a perna' no
vizinho.'94 Isso não lhe parece familiar?
Acontece hoje como na época de Jeremias. As pessoas desejam ser
levadas para o mau caminho, bem como ,apoiar e defender . justamente
aqueles que as enganam e destroem. "E o que deseja o meu povo"
(Jeremias 5:31). Por quê? Porque a natureza humana deseja o caminho
mais fácil para não ter de, ouvir a Palavra de Deus, arrepender-se e
obedecer à sua vontade. E esse o motivo de a multidão ter seguido a
Pasur e não a Jeremias, escolhido a Barrabás e não a Jesus, apedrejado
os profetas verdadeiros e açoitado os servos de Deus. 1\ multidão
prefere o caminho largo; é mais fácil, é mais rápido e há muito mais
companhia.
RebelilIo 25

Joseph Parker disse: "Não apreciam o ensinamento das Escrituras.


Querem ouvir algo original, irreverente, picante, surpreendente. Não
analisam, com a Bfblia na mão, as palavras do pregador. E ganham o
que querem.'Desejam refugo e isso conseguem.t'ê
Jeremias escreveu sobre o coração pelo menos sessenta e seis vezes
na sua profecia. "Enganoso é o coração mais do que todas as coisas, e
desesperadamente corrupto, quem o conhecerá?" (17:9). Para um povo
de religião de aparências, Deus anunciou através do profeta: "Buscar-
-me-eis, e me achareis, quando me buscardes de todo o vosso coração':/"
(29: 13). Pelo menos nove vezes, Jeremias escreveu sobre a imaginaçió
do coração perverso do homem. Pasur e o seu grupo jamais pregaram
sermões radicais como esses. Prometeram paz, proteção, prosperidade,
e as multidões os aplaudiram e apoiaram.
Atento ao povo que se desviava, Jeová disse:
"Porque dois males cometeu o meu povo: a mim me deixa-
ram, o manancial de águas vivas. E cavaram cisternas, cis-
ternas rotas, que não retêm as águas" (Jeremias 2:13).

Não foi uma mensagem muito popular, e fez com que Jeremias
ficasse em apuros perante a instituição religiosa. Mas Jeremias era um
pastor, não um mercenário; não desistiu, apesar de o povo rejeitar seu
ministério.
Um último paralelismo entre a nossa época e a de Jeremias: os falsos
profetasenun homens gananciosos que usavam a religião para aobten-
çio de lucros pessoais. Jactavam-se de sua prosperidade e da prospe-
ridade do templo e da nação. Afinal, não eram eles o povo escolhido
de, Deus, e a sua riqueza não era prova de sua fidelidade e bênção divina?
(E interessante notar que o nome Pasur significa "rodeado por prospe-
ridade".)
Jeremias ousou pregar sobre o décimo mandamento:

"Porque desde o menor deles até ao maior, cada um se dá à


ganância, e tanto o profeta como o sacerdote usam de falsi-
dade" (6:13 e-H: 10).

"Mas os teus olhos e o teu coração não atentam senão para a


tua ganância" (2'2: 17).

Quando uma pessoa é gananciosa, corre o perigo de infrinlir ltNIo.r


os mandatneritos: "Porque o amor do dinheiro é a raiz de todos os
males" (1-,1ünOteO 6:10). Quando alguém começa a cobiçar, pode
26 A Crise de Integridade

condescender em mentir, roubar, até mesmo assassinar, para conseguir


o que deseja.
Dinheiro e ministério têm estado em conflito na igreja desde quando
Ananias e Safira mentiram quanto à venda de sua propriedade (Atos 5)
e Simão tentou comprar de Pedro o poder de conceder a dádiva do
Espírito Santo (Atos' 8rt.....24). "Não avarento" é uma condição para os
presbíteros e diáconos da ip-eja (1 Timóteo 3:3. 8; Tito 1:7). Despedin-
do-se dos presbíteros de Éfeso, Paulo fez com que se lembrassem de
que ele, Paulo, tinha trabalhado arduamente para pagar suas próprias
contas e não tinha cobiçado riqueza de-pessoa alguma (Atos 20:33-35).
De todos os escritores do Novo Testamento, Pedro e Judas foram os
que denunciaram mais energicamente os mercenários que usavam a
religião para interesses próprios: "Movidos por avareza, farão comércio
de vós, com palavras fictícias... tendo coração exercitado na avareza,
filhos malditos" (2 Pedro 2:3, 14). Pedro comparou-os a Balaão, "que
amou o prêmio da injustiça" (2: 15), e Judas também advertiu: "E,
movidos de ganância, se precipitaram no erro de Balaão" (v. 11). Judas
também acrescentou que "a sua boca vive propalando grandes arrogân-
cias; são aduladores dos outros, por motivos Interesseiros" (v. 16).
Nos últimos meses, o público tem visto várias organizações procu-
rando convencê-lo de que têm integridade financeira. Claro que nada
há de errado com as agências legais de crédito (o ministério que dirijo
até ajudou a fundar uma delas). Mas a integridade fínanceira é mais do
que uma boa auditoria. Os métodos e motivos do levantamento de
fundos são .ímportantes. Alguns sistemas de apoio ao evangelho são
indignos do evangelho. Paulo afirma; "A verdade é que nunca usamos
de linguagem de bajulação, como sabeis, nem de intuitos gananciosos.
Deus disto é testemunha" (1 Tessalonicenses 2:5).
~us é testemunha tanto para a desonestidade quanto..l!.ara a hones-
tidade; 9!!.ando a encontra, ele a jul$a.
Se os dias atuais são parecidos com os de Jeremias (e eu acredito
que sim), estamos em dias de QEróbrio. Vlvemos numa éeex:a em Q!le
Deus está ªRonto de julKat o seu povo. "Porque a ocasiã<? de começar
o juízo..,Rela casa de Deus é che~n (1 Pedro 4:17). E uma grave
ve}dade que Deus prefere destruir o seu templo e encorajar a sua
C!dade Santa a permitir que os seus lfderes eromovam duplicidade
religiosa e o seu povo a ae. Ele ficou na espera durante décadas
antes de mandar o seu julgamento, e repetidamente mandou os seus
mensageiros prevenirem o seu povo; mas o seu povo não lhe deu
otividos. Na 'profecia de Jeremias, pelO menos onze vezes o Senhor
Rebelit%o 27

disse à nação: "Eu vos falei, começando de madrugada" (7: 13; 7:25;
11:7; 25:3; 25:4; 26:5; 20: 19; 32:33: 35:14: 35:15; 44:4). Deus buscou-
-os persistentemente. Mas o seu povo preferiu cisternas rotas ao ma-
nancial de águas vivas.
A mortificante influência dos falsos profetas espalhou-se por toda a
terra até que quase todos fossem afetados. Eis novamente as palavras
de Deus através de Jeremias:
"Mas nos profetas de Jerusalém vejo coisa horrenda: Come-
tem adultérios, andam com falsidade, e fortalecem as mãos
dos malfeitores,
para que não se convertam cada wn da sua maldade; todos
eles se tomaram para mim como Sodoma, e os moradores de
Jerusalém como Gomorra... porque dos profetas de Jerusa-
lém se derramou a impiedade sobre toda a terra" (Jeremias
23: 14-15).
Não é de admirar que haja tantos escândalos em nossa época, pois a
terra está cheia de impiedade!
Em seu sermão "O Sistema da Graça" sobre Jeremias 6: 14 (Curam
Superficialmente a ferida do meu povo, dizendo: Paz, paz, quando não
há paz), George Whitefield disse:
r
"Do mesmo modo que Deus não pode concedermaior bênção
a uma nação ou a um povo do que dar-lhe ministros fiéis,
sinceros e retos, a maior maldição que Deus poderia mandar
para um povo seria dar-lhe guias cegos, impenitentes, car-
nais, momos e incapazes. Todavia, em todas as épocas, tem
havido muitos lobos em vestes de carneiros... que profeti-
zaram palavras mais suaves do que as permitidas por Deus. ,~
Infelizmente, é isso o que o seu povo deseja.
4

REVISÃO

o primeiro sinal da decadência


de uma igreja i o abandono
do alto conceito de Deus.

A. W. Tozer

Rafael pintava os famosos afrescos do Vaticano quando alguns


cardeais pararam por perto a fim de observar e julgar o trabalho.
"O rosto do apóstolo Paulo está vermelho demais", disse um deles.
Rafael respondeu: "Ele cora ao ver nas mãos de quem está a igre·a."
Jeremias se identificaria com essa resposta. "Serão envergonhados
porquecometemabominação sem sentirpor issovergonha; nem sabem
que coisa é envergonhar-se" (6: 15 e 8:12).
Qual foi a razão de o povo de JOOá, sem se envergonhar, haver
aceitado e apoiado um sistema religioso que destronou o verdadeiro
Deus que os tinha engrandecido? Jeremias explicou: "Enganoso é o
coração, mais do que todas as coisas, e desesperadamente corrupto;
quem o conhecerá?" (17:9). §m outras e..alavras, o âma&.o do proble":la
é•.o coraçãoi e você e eu possuímos o mesmo tiQQ de coração. Qcenário
e o textoj)odem ser diferentes desde a éRoca de Jeremias, mas os atores
r mudaram.
nao -----
30 A Crise de Integridade

o povo de Judá seguiu os desígnios do seu coração e mergulhou


numa falsa religião que lhes prometia o que desejavam. Os líderes
seguiam seus próprios corações e se entregavam aos anseios que
habitam em todos nós, anseios de poder, riqueza e popularidade. Talvez
os líderes não se julgassem falsos profetas, mas eram justamente isso;
talvez tivessem sido sinceros ao compartilhar seus sonhos e anunciar
suas visões, mas estavam levando o povo para o caminho errado. Por
certo que, ao perseguirem a Jeremais, pensavam estar prestando um
serviço a Deus.
Vendo que os seus corações se inclinavam para o mal, Deus mandou
"a operação do erro, para darem crédito à mentira" (2 Tessalonicenses
2: 11), porque a penalidade de rejeitar a verdade é aceitar a mentira:.Q
~ior jul&amentu...aue Deus~e enviar ao seu povo é deixá-lo seguir o
seu próprio caminho: "C~>.1.lcedeu-lheso q,uepediram, mas fez def"mhar-
-lhes . O sucesso da reforma de Josias deixou
... a alma" (Salmo 106: 15).
~

o ambiente propício Rara o fennento da hipocrisia, o qual levedou-se


~idamepte.
A.credito que a atual crise de intelUidade da i~ seja em parte
resultado do falso sucesso do movimento evangélico dos últimos an<!os.
Sei que essa é uma afirmação radical, mas acho que é válida. Nwn livro
que é agora mais relevante do que em 1980, quando foi publicado, Jon
Johnson diz: "A popularidade evangélica atual apresenta pressões po-
derosas para transigir com valores bíblicos devido à aceitação social.
Nossa condescendência chegou a proporções epidêmicas. nl
Q..9!!e algumaS pessoas da igreja consideram "sucesso~~é Eara outras
j'!!gamento de Deu,}. Ele nos deixa seguir nosso próprio caminho, e
estamos começando a descobrir que nossos créditos são na realidade
débitos. George MacDonald disse: "O homem falhará desgraçadamente
em qualquer coisa que faça sem Deus, ou, mais desgraçadamente ainda
terã.sucesso." Pense nessa afirmação e considere o que o Senhor disse
por intermédio de Malaquias aos líderes religiosos da época:

"Agora, 6 sacerdotes, para vós outros é este mandamento. Se


o não ouvirdes, e se não propuserdes no vosso coração dar
honra ao meu nome, diz o Senhor dos exércitos, enviarei
sobre vós a maldição, e amaldiçoarei as vossas bênçãos; já
as tenho amaldiçoado, porque vós não propondes isso no
coração" (Malaquias 2: 1-2).

Retirar bênçãos já seria julgamento suficiente; mas transformar as


bênçãos em maldiçães é um julgamento terrível. Imagine as pessoas
Revisãa 31

serem tão cegas à vontade de Deus que cheguem a regozijar-se com


coisas que um dia as destruirão! Mas. Q!JandQ o ~Deull deixa de
glorificá-lo, é ~çiso que elejulgue esse j>Ccado. orque para com
Deus não há acepção de pessoas" (Romanos 2:11). uO~nhor julgará
o seu povo': (Hebreus 10:30). Quando as pessoas valorizam a dádiva
mais do ~e o Doador, ela se traiiSfonna em ídolo, e passam a adorar
e a servir "a criatura, emJugar do Criador" (BamaDos) :25).
A
Idolatria significa viver de substitutos, e o Deus cujo nome é Zeloso
(Exodo 34:14) simplesmente não os tolera. Consideremos alguns dos
"substitutos evangélicos" que têm roubado a integridade da igreja.
Quero, porém, preveni-lo: algwnas das coisas que vou mencionar
fazem parte da vida cristã moderna de modo que você pode ficar
chocado e até mesmo ofendido. Peço que seja paciente; faz parte do
tratamento.
O J,lti!JWiro jtem é o .,desejo de.. que a iKreja receba a aprovação qo
II!!:!!1do em geral e de "pessoas importantes':', erp particular. e de QJle
PQr elas seja aceita.«
Nos últimos anos, temos procurado o aplauso dos
homens e não a aprovação de Deus, e muitos ministérios têm dependido
de "celebridades cristãs" para conseguir a atenção e o apoio do povo
de Deus. Antigamente as três coisas mais importantes para o sucesso
das reuniões eram que as pessoas fossem cheias do Espírito, sentissem
responsabilidade pelas almas e estivessem prontas a conceder a gl6ria
a Deus. Mas, então, tomou-se necessário que houvesse pessoas famosas
no programa, como astros de Hollywood, preeminentes atletas e conhe-
cidos animadores de programa. Esperava-se que todos eles dissessem
".

uma boa palavra para o Senhor. E duvidoso que todas essas pessoas
famosas fossem reahnente salvas. Provavelmente apenas usavam nos-
sas organizações para se promoverem. Podemos agora olhar para trás
e contar as baixas.
A. W. Tozer chamou isso de "Tratamento Comerciar' do evangelis-
mo: como você faz certas coisas porque os outros assim procedem, você
também deve ser cristão porque outros o são. Esse tratamento é ideal
para uma sociedade, como a nossa, que adora o sucesso e confia nos
testemunhos. Entretanto, quando a ênfase é na fama do "testemu-
nhador", e não na sua fé em Cristo, algo está fadado a fracassar; e foi
o que aconteceu. Descobrimos que essas pessoas não passavam de
celebridades a ser admiradas, não heróis a ser seguidos, e que muitas
vezes o seu modo de vida não condizia com o que transmitiam.
Resultado: ficamos perplexos e somente nós somos os culpados.
32 A Crise de Integridade

Basicamente, foi um problema de integridade: a reputação foi mais


importante do que o caráter e a popularidade e a capacidade de atrair
multidões mais importantes do que uma vida cristã estável. Esse trata-
.mento pecou pela base. Foi uma forma sutil de pragmatismo religioso:
CO)lYl está prodqzindo resultados. Deus deve estar abençoando o traba-

llho. Contanto que se pegue o peixe, gue diferença faz o tiEo de anzol
.
.....oUlsca"j
Durante algum tempo, astros de Hollywood e atletas foram a atração,
e depois chegou a vez dos políticos. Como a igreja vibrou quando
pregadores célebres eram convidados para falar na Casa Branca! Como
era emocionante saber que pessoas de altos cargos citavam a Bíblia ou
revelavam à imprensa que tinham nascido de novo! O testemunho de
alguns era verdadeiro e agradecemos a Deus isso. Para muitos, entre-
tanto, era apenas outra maneira de chamar a atenção do público cristão
e conseguir mais votos. O "Direito Religioso" era uma força que os
políticos tinham de levar em conta; "se você não pode derrotá-los,
junte-se a eles", parecia ter-se tomado uma diretriz política e um
lugar-comum.
Quando a televisão entrou em cena, o "Tratamento Comerciar"
ganhou novo fôlego. Televisão é basicamente um meio de entreteni-
mento e o tratamento comercial é justamente isso. O líder religioso com
o tipo certo de carisma estava feito, porque os espectadores estavam
preparados para aplaudi-lo. O público cristão ficou tão acostumado com
entretenimento religioso, celebridades e evangelho "popular", que a
transição foi fácil. Tínhamos criado um monstro poderoso com apetite
voraz, e era preciso alimentá-lo. A igreja tinha o seu próprio culto de
personalidades que rivalizava com qualquer coisa que HoUywood
pudesse oferecer. Milhões de pessoas estavam prontas a apoiá-lo e
chamavam-no de "bênção de Deus",
Parece que Deus transformou a bênção em maldição.
Se o seu obje.\iyo é "conseguir resultados"". os erros são inúmeros;
eJ . acredite-me, nós os cQwe:.temos. Em primeiro lugar, a pessoa preo-
cu.ga:se com os ~~eros... Deeois começa a sub~tituir a rea~idade
eSDltltualpor estatlst)CaS, o que é semelhante a alguem ler a receIta em
v~alimentar-se.Quantas pessoas estiveram presentes? Quantas se

decidiram? Quantas se tomaram membros? De quanto foi a oferta?
Todas essas coisas eram mais importantes do ue se estávamos ou não
glorifican
"..
o a Deus durante a reunião. Não demorou muito para que a
~

igreja deixasse de ser considerada pessoas em assembléia: tornou-se


nomes e números num arquivo e, mais tarde, num computador. As
Revisaa 33

pessoas já não eram uma finalidade em si mesmas; tomaram-se meios


para um fim - conseguir multidões maiores e mais resultados.
Apresso-me a dizer que possuir registros exatos não é falta de
espiritualidade. Spurgeon asseverava que os que criticam estatísticas
geralmente nada têm a registrar. e acho que ele está certo. Certa vez,
quando numa reunião de pastores eu criticava estatísticas eclesiásticas,
o Dr, Walter L. Wilson me disse: - Jovem, há na Bíblia um livro
chamado Números! - Ele tinha razão, mas seria o primeiro a concordar
comigo em que há grande diferença entre saber o número das ovelhas
e conhecer o estado do rebanho. O bom pastor preocupa-se até mesmo
por uma ovelha perdida.
A~ênfase na estatística criou logo um ambiente de competição no

-
munOo CYiD12glico. Quem tioba a ilUCja roaipr? Qumn tinha il maior
Es.çola Dominical1.1Dfc)izmente. iA competição levou-nos algumas ve-
zes a fraudes. até Que a con1l.Qyérsia terminou.
Editores aderiam ao movimento e ofereciam livros ensinando que
qualquer pastor podia aumentar a assistência aos cultos e à Escola
Dominical se fizessem o que faziam as autoridades nas mega-igrejas
(Foi preciso inventar essa palavra para expressar o sucesso). Podíamos
também ouvir essas autoridades pessoalmente se fôssemos às suas
escolas ou seminários.
Nada há contra aprender algo com alguém. Afinal, quem reinventou
a roda? Mas sou contra a filosofia que tlansfonna o ministério em
mecânica e me apresenta um liyro de fórmulas como garantia ...de
sucesso. Tan;tbém sou contra editores que contratam "homens famosos"
para escrever livros sem e.rimeiro averiguar se os seus métodos infalí-
veis estão baseados na sã teologia. Se a profissão médica seguisse essa
nõrma, todos estaríamos mortos.
-
Chego, às vezes. a sentir náusea quando folheio uma publicação
cristã e vejo as notícias e a propaganda. O evangellio tomou-se wn alto
n~6cio, e toda ª sorte ~os pá.~sams eSão emPQleirados t.!..0s
~us rarnq.s. O culto da personalidade tomou-se um círculo vicioso, e
estamos agora promovendo ministérios e mercadorias do mesmo modo
que o mundo promove pasta de dentes e carros usados. A única coisa
mais nauseante do que ler essas revistas é visitar a exposição das
habituais convenções cristãs, ver pessoas e mercadorias em cores
vívidas e observar como competem entre si.
Onde erramos? Novamente, foi uma questão de integridade; substl-

l
tutmos a produção de frutos para a glõria de Deus por "resultados
obtidos", Quase todos podem produzir resultados, mas o fruto tem de
34 A Crise de Integridade

fluir da vida. "Sem mim nada podeis fazer .... (João 15:5). Substituímos
um número inteiro por uma fração ao separarmos o ministério da
verdadeira Força do seu poder - o Todo-poderoso Deus. Fazer "su-
cesso" na obra cristã tomou-se fácil tarefa, contanto que as pessoas
possuíssem talento e pudessem atrair uma multidão. Não era importante
ser consagrado. Era importante ter boa cobertura da imprensa.
Robert Murray McCheyne disse: "Deus abençoa muito mais a grande
semelhança com Jesus do que os grandes talentos.,,2 Gostaria de ter
sabido disso antes. Agora que sei, preciso prestar mais atenção.
Houve uma mudança sutil; muitas igrejas quase deixaram de ser
congregações reunidas com a finalidade de adorar a Deus para toma-
rem-se audiências agrupadas em tomo de homens. Crentes que costu-
mavam participar da liturgia sagrada tomaram-se espectadoresdê um
desempenho religioso. "Santuários" dedicados à adoração de Deus
tomaram-se "auditórios" onde os cabritos riem e as ovelhas definham.
Começamos a adorar o que A. W. Tozer chamou de ··0 Grande Entre-
tenimento
, Divino".
E claro que esse tratamento somente reforçou a fraqueza que já
tínhamos criado; culto da personalidade, ânsia por estatísticas e mer-
cadologia da fé. Com o advento da televisão, os animadores de progra-
mas religiosos encontraram o meio ideal para difundir o evangelho dos
bons sentimentos. Isso não é uma insinuação de que todos os que
usaram ou estão usando a televisão para o ministério sejam impostores
ou fracassados. Alguns dos meus melhores amigos trabalham na tele-
visão, mas não posso dizer que nesse meio de comunicação todos
tenham escapado do "Grande Entretenimento Divino"'. Explicarei o
motivo num dos próximos capítulos.
Estou convicto de que tudo o que se espera da igreja é produto
derivado do culto espiritual, e isso inclui evangelização, missões,
contribuição, caridade, educação, consagração pessoal e serviço. Pri-
meiro Deus nos chama para adorá-lo, depois manda-nos testemunhar
e fazer a obra. Deus deseja gue a adoração venha em primeiro lupe,
-
pois somente então teremos o seu der e lorificaremos ao seu nome.
A a oração coloca Deus ood,e ele merece estar e conserva o homem no
lugar em que deve ficC}I. Na adoração do "Grande Entretenimento
Dh1ino"z..~rém, o homem i&ebe a glória e Deus é posto de lado.-
Se essa análise for correta, é claro que a igreja vem perdendo a
integridade há muito tempo. Estamos vivendo de sucedâneos sem o
sabermos, ou talvez nem queiramos admitir tal coisa. Separamos o
ministério da adoração, o testemunho do caráter e o dever da doutrina.
Revisão 35

Tudo fizemos para conquistar popularidade e conseguir resultados em


vez de produzir frutos para a glória de Deus. Os escândalos dos meios
de comunicação por certo causaram problemas; mas, mais do que isso,
revelaram problemas, problemas esses que há anos propagavam-se na
igreja como urna infecção mortífera. Agora a infecção explodiu e todos
podem vê-la.
Muito antes dos escândalos, outros sintomas demonstravam que algo
estava errado. A igreja estava EQPular demaisjunto ao mundo e come.:.
çavaade n r mais da influência lítica a re a ãoeora ão.
ão mais enfrentávamos o mundo da maneira que Moisés enfrentou
Faraõ, ou João Batista enfrentou Herodes. Deixamos de ser sobretudo
embaixadores, tomamo-nos apenas diplomatas, e vangloriávamo-nos
PQr ser aceitos"pelas ~ssoas célebres,
O awnento do movimento financeiro e da multidão parece ter feito
pouca diferença na sociedade em geral ou nos lares cristãos. O índice
de divórcios aumentou e até invadiu a igreja e o ministério. Cristãos /
populares envolveram-se em confusões conjugais sem demonstrar arre-
pendimento e ainda houve quem os aplaudisse e comprasse seus livros ~
e discos. Mesmo com todas as nossas magníficas estatísticas, não
chegamos a dar um passo sequer para ajudar a sociedade com os seus
problemas de abuso de narcóticos, crime, questões familiares e imora-
lidade sexual.
Este capítulo tem sido negativo, portanto gostaria de esclarecer que
não considero que a era da igreja de pós-Segunda Guerra Mundial tenha
sido de derrota e fracasso. Muito pelo contrário, foi uma época de
agitação e expansão, e agradeço a Deus o ter-me permitido viver e
ministrar nesses importantes anos. Que quadro sensacional os futuros
historiadores nos darão quando reunirem todo o material e contarem o
que realmente aconteceu!
Acontecia tanta coisa que não percebemos a evolução dos proble-
mas, e estamos agora pagando por isso. Em resposta às novas idéias e
desafios, muitos ministérios desenvolveram-se tão rapidamente que
não tivemos tempo para examinar a situação com cuidado. "(odas as_
vezes ue o Espírito Santo lanta a semente verdadeira o inimi
a falsa. Só matS tar e é que notamos ,3 diferença.
Também não estou a insinuar que nós, os que ministramos neste
período, devamos ser responsabilizados pelos escândalos que têm
envergonhado a igreja. Sinto, entretanto, que muitos de nós provavel-
mente tenhamos ajudado a criar o ambiente propício aos escândalos.
Talvez o tenhamos feito inocentemente por não conhecermos nada
36 ACrise de Integridade

melhor ou, no caso de conhecennos, não nos preocupannos em remar


contra amaré. Era demasiado fácil acompanhar as pessoas que acredi-
tavam na "nova filosofia" do ministério, pessoas que nos conduziam a
I

vitória após vitória. Everdade que de vezemquandoouvíamos aolonge


vozes admoestando-nos; mas quem presta atenção asirenas quandonão
há cheiro de fumaça? Seja como for, depois que acontecem, as coisas
tomam-se claras.
Agora, depois do fato consumado, talvez devêssemos enfrentar a
situação honestamente epedir aDeus que nos perdoe.
"A ordem mais importante do nosso Senhor psn aigreja não é a
Grande Comissão", disse Vance Havner. "A Grande Comissão é, na
verdade, nosso programa até ofim dos tempos, mas amaior ordem do
nosso Senhor àigreja é 'Arrependei-vos,.,,3
Devemos envergonhar-nos
Devemos arrepender..nos.
Talvez aoração de Esdras nos ajude acomeçar:
"Meu Deus! Estou confuso eenvergonhado, para levantar a
ti aminha face, meu Deus; porque as nossas iniqüidades se
multiplicaram sobre anossa cabeça, eanossa culpa cresceu
até aos céus" (Esdras 9:6).
5

RESPONSABILIDADE

Para o homem natural nada


hâ de atraente no evangelho:
sõ o homem convicto do pecado
acha o evangelho atraente.

Oswald Chambers

Os meios de comunicação tiveram muito que dizer sobre pregadores


e dinheiro e sobre pregadores e moral; mas pouco se falou sobre o
problema real: os pregadores e a mensagem. A única pessoa que ouvi
falar a respeito desse assunto foi Chuck Colson numa palestra da
Convenção. de Livreiros Cristãos em 1987. Em seu livro Reinos de
Conflito ele fez uma afirmação parecida:
t "Os efeitos da pregação de uma falsa teologia podem ser
desastrosos. Muitos atribuem a queda de Jim e Tanuny Bale..
ker à ganância,
, à imprudência sexual ou à corrupção do
poder. E claro que esses fatores contribuíram e muito. Mas
a causa fundamental foi que, durante anos, os Bakkers pre-
garam um falso evangelho de promoção material. .. Tragi..
camente, os Bakkers iludiram..se acreditando em sua própria
mensagem falsa,"!
38 A Crise de Integridade

Enquanto Chuck falava naquela noite, abri a Bíblia em 1 Tessaloni-


censes 2:3-5, e li:

"Pois a nossa exortação não procede de engano, nem de


impureza, nem se baseia em dolo; pelo contrário, visto que
fomos aprovados por Deus a ponto de nos confiar ele o
evangelho, assim falamos, não para que agrademos a ho-
mens, e, sim, a Deus que prova os nossos corações. A verdade
é que nunca usamos de linguagem de bajulação, como sabeis,
nem de intuitos gananciosos. Deus disto é testemunha."
·.1...
~ Os servos de Deus são despenseiros divinamente ordenados que são
~ "encarregados do evangelho". É esse um grande privilégio, mas tam-
~ ~ bém solene responsabilidade. "Além disso o que se requer dos despen-
~~ seiros é que cada um deles seja encontrado fiel" (1 Coríntios 4:2). Essa
'" & fidelidade contém pelo menos três elementos que precisam ser corretos:
S·~~ '8 mensagem (Unossa exortação não procede de engano"), o motivo
~ ("nem de impureza"), e o método ("nem se baseia em dolo"). Conside-
'Ü ~$ remos esses três elementos e vejamos como se relacionam com a crise
e integridade.
A mensagem precisa ser correta. A mensagem correta é o evangelho
de Jesus Cristo, o evangelho da graça de Deus. Há apenas um evange-
lho, que se centraliza na morte, sepultamento e ressurreição de Jesus
Cristo. O evangelho (as boas-novas) é "que Cristo morreu pelos nossos
pecados, segundo as Escrituras, e que foi sepultado, e ressuscitou ao
terceiro dia, segundo as Escrituras" (1 Coríntios 15:3-4). Os pecadores
que se arrependem e confiam emJesus Cristo são perdoados e recebem
de Deus a dádiva da vida eterna (1 João 5: 10-13).
Deus é de tal forma zeloso dessa mensagem que declara "anátema"
todo aquele que pregar outro "evangelho" (Gálatas 1:6-9). Aqueles que
mudarem essa mensagem, adicionando ou subtraindo algo, ou detur-
pando-a, são mestres falsos, infiéis ao Senhor e correm o risco de sofrer
o seu julgamento. A mensagem destes procede "do engano".
O moderno "evangelho do êxito" ajusta-se bem a uma sociedade
como a nossa que cultua a saúde, a riqueza e a felicidade. As pessoas
que pregam esse evangelho mergulham vez por outra no Antigo Tes-
tamento para conseguir textos de prova, mas voluntariosamente rejei-
tam "todo o desígnio de Deus" (Atos 20:27). O evangelho do êxito é
uma mensagem barata destinada às pessoas que procuram uma "solução
rápida" para as suas vidas, mas não mudança permanente no seu caráter.
A. W. Tozer expressou melhor essa idéia: "Parece que muitos cristãos
Responsabilidade 39

desejam desfrutar a sensação de sentir-se justos, mas não estão dispos-


tos a agüentar a inconveniência de ser corretos.992

Por que estará Deus tão interessado em que preguemos a mensagem


correta? Porque acredita na integridade, e um evangelho falso destrói
a integridade. Para começar, a mensagem do evangelho está vitalmente
relacionada à própria natureza divina. Jesus não apenas salva; ele to
Salvador. Quando mudamos a mensagem de Deus, mudamos o Deus"
di' mensa~--:cn;eü-silosy regãêloresdo "êxiton não é o da Bíblia ~u .
<la igrejª-primitfva.'I!<Udf'deusmanufaturado, U!!! ídolo. Lembra-nos A.
W~Tozer: "A essência da idolatria é a consideração de pensamentos ã -
re~ito de Deus que são indignos dele. n3
. Q evangelho popular do êxito tenta levar-nos a crer que o maior
interesse divino é tomar-nos felizes, não fazer-nos santos, e que ele está
mais preocupado com a parte física e material do CJ!1e com a !,!!oral e
e.iiritua~ 0_ "deus do êxito"" é um menino de recados celestiaf cuja
íjnica responsabilidade é atender a todos os nossos pedidos e assegurar
que... estamos desfrutando a vida.
A medida que ouço esses pregadores, algwnas perguntas vêm-me à
mente: Onde, na sua teologia, está o Deus de Abraão, que recebeu a
ordem de sacrificar o seu único filho? Onde está o Deus de Isaque, que
concordou em ser colocado no altar? Onde está o Deus de Jacõ, cujos
filhos lhe trouxeram pesar e vergonha? Onde está o Deus de Moisés,
que ficou fora da Terra Prometida porque despojou a Deus de sua
glória? Onde está o Deus dos apóstolos, que foram presos, chicoteados
e finalmente mortos por não se calarem a respeito de Jesus? Onde está
o Deus de nosso Senhor Jesus Cristo, que sofreu como ninguém havia
sofrido, "ferido de Deus, e oprimido'" (Isaías 53:4)?
Não encontro esse Deus na pregação desses homens. Por quê? Porque
ele não se encaixa na mensagem deles. Eles têm um evangelho sem
integridade, uma mensagem truncada, afastada do próprio Deus que
dizem representar. Um evangelho parcial não é evangelho em absoluto,
pois não pode haver boas-novas quando Deus é deixado de fora.
Theodore H. Epp assistiu a wna convenção na qual um bem-sucedido
e popular pregador era um dos oradores. O Sr. Epp tinha vontade de
ouvir tão famoso orador. Portanto, de Bíblia na mão, foi à reunião.
Imagine a sua surpresa quando ouviu o orador afirmar (e aqui faço
uma paráfrase): "Os Senhores devem notar que não tenho uma Bíblia.
Parei de usar a Bíblia no púlpito. As pessoas não querem sermões;
querem ouvir o que Deus representa para nós em nossas vidas."
40 A Crise de Integridade

Tão desgostoso ficou o Sr. Epp que deixou o salão, foi para o seu
quarto, caiu de joelhos e pediu a Deus que o perdoasse o ter ido àquela
reunião, e até mesmo o ter comparecido à convenção! Fez suas malas,
pagou o hotel e voltou para casa.
"Nossa tarefa não é dar às pessoas o que elas desejamU,costumava
ele me dizer "nossa tarefa é dar-lhes o de que precisam mãS tentar
--"' /4ZI·las querer. tal caisa". Para ele, ensinar a "palavra da verefade n era
-- a..f!>lsa mais importante. ----...;.----~--------
O evangelho do êxito não somente apresenta uma visão distorcida
de Deus, mas também deturpa a doutrina bíblica da Pessoa e obra de
Jesus Cristo. D~!!! tem todo o direito de julgar aqueles que ~t:C;gap1-J1l1l
'fa,lso evangelho, porque a mensagem do e,:q.n8.!Iho custou-lhe o seu
F!!ho! Je~~ou o seu sangue para cumprir a santa lei -divina a
t:1!!!.00" que os pecadores perdidos pudessem ser 'perdoados e recon~~-:-
liados com Dêus. Jesus não morreu para tomar-nos saudáveis, ricos e
feuzes."""'E1ê" morreu 'para fazer-nos santos. Transformar o-C~lvárlo-em
~ cartã~e crédito santificado que nos dê o privilégio de uma orgia de
compras hedonista é depreciar a coisa de mais alto preço que Deus já
fez.
--> Já notamos que o objetivo último de Deus é "fazer convergir nele
(Cristo) todas as coisas" (Efésios 1:10). Somente então os nossos
corpos serão completamente redimidos e libertos dos fardos da vida. O
objetivo de Deus para cada um de nós, para cada indivíduo, é que
sejamos "conformes à imagem de seu Filho"" (Romanos 8:29). Ele
deseja tornar-nos semelhantes a Jesus e dá início a esse processo no
instante em que nascemos em sua família. A " medida que crescemos na
vida cristã, "somos transformados de glória em glória, na sua própria
imagem, como pelo Senhor, o Espírito"" (2 Coríntios 3: 18).
Mas os pregadores do êxito não vêem na semelhança de Cristo o
objetivo da vida cristã. Certamente devem ficar perturbados quando
têm de enfrentar o fato de que, de acordo com sua própria mensagem,
Jesus não foi um êxito. Ele não foi rico, e passou a vida entre os pobres
e os desprezados. Foi um "homem de dores e que sabe o que é padecer""
(Isaías 53:3), e não uma celebridade com uma vida extravagante. Posso
estar enganado, mas acredito que, se Jesus estivesse hoje na Terra, ele
condenaria a vida exagerada e ostensiva dos pregadores do êxito e seus
discípulos. Em sua vida e ministério, em seus ensinamentos e especial-
mente em sua morte, Jesus Cristo repudia o evangelho do êxito.
Os pregadores do êxito dão-nos uma visão deturpada de Deus, do
Salvador, da vida cristã e da igreja. Segundo eles, a igreja de Jesus
Responsabilidade 41

Cristo é um ajuntamento de pessoas felizes que desfrutam a vida.


Segundo a Bíblia, a igreja é um ajuntamento de pessoas sofridas que
procuram tomar-se
, santas na presença de Deus e úteis em um mundo
necessitado. E claro que deve haver louvor e regozijo quando a igreja
se reúne para o culto; mas também deve haver partilhamento de fardos,
lenitivo para as ofensas e cura de corações partidos. Mas, de confonni-
dade com o evangelho do êxito, os cristãos não deviam estar sofrendo
de modo nenhum!
Ajgreja é uma famflia , que se reúne para encorajamento, nutrição
espiritual e disciplina. E um exército que se agrupa a ,fim de se preparar
para a batalha e a fim de ouvir as ordens de Deus. E um rebanho que
procura a proteção de Deus em um mundo perigoso, uma noiva que
expressa devoção ao noivo celestial, um grupo de servos que procuram
conhecer a vontade do seu Mestre. Reunimo-nos não para fugir da vida,
mas para nos equipar e estimular , mutuamente a fim de voltarmos à vida
com seus fardos e batalhas. E verdade que temos nossas horas de
felicidade, mas não é esse o nosso alvo principal. Nossos objetivos são
a santidade e a prestação de serviço; a felicidade é apenas um subpro-
duto.
Quando a igreja prega a mensagem errada, provoca divisão e o
ministério perde a integridade. Não podemos separar a mensagem
daquilo que Deus é, do que Deus fez no Calvário, do que Deus está
fazendo no mundo hoje e fará no futuro. Quando a pessoa fabrica o seu
próprio evangelho, logo passa a praticá-lo, e então começa a perder a
integridade.
Lembre-se do processo descrito em 1 João 1:5-10. Em primeiro
lugar, a pessoa mente para os outros e pára de praticar a verdade (v. 6).
Depois mente para si mesma e perde a verdade (v. 8). Finalmente,
começa a mentir para Deus e fazê-lo mentiroso; e o resultado é que a
pessoa perde a Palavra divina (v. 10). João deixou claro que o ministério
exige integridade e que não se deve separar o mensageiro da mensagem.
Quando tal coisa acontece, tanto o mensageiro quanto a mensagem
perdem a integridade.
.2.. Não é suficiente pregar a mensagem correta; p~cisamos pre&!!"
com os motivos certos. "Pois a nossa exortação não procede de...
imPureza"" (1 Tessalonicenses 2:3). Certa versão da Bíblia diz "de
motivos impuros", Paulo não se fez perito em agradar homens a fim de
se tomar um pregador popular, nem explorou o povo a fim de se tomar
um pregador rico. O motivo básico do seu ministério era agradar a Deus,
42 A Crise de Integridade

e foi isso que lhe deu forças. Ele sabia que Deus testava o seu coração
constantemente para ver se os seus motivos eram puros.
Henry David Thoreau escreveu: "Não há wn cheiro tão mau quanto
o que exala da virtude corrompida.:" E poucas coisas corrompem a
nossa virtude como a ganância, o desejo de ser popular e o sentimento
que toma conta do nosso ser ao exercermos poder sobre pessoas que
nos oferecem a sua adoração idólatra. Quando nossos motivos são
errados, nosso ministério é errado; e as conseqüências são trágicas para
nós, para aqueles que nos seguem e para a igreja toda.
Talvez seja impossível alguém sobre a terra ministrar com motivos
absolutamente puros mas, pela graça de Deus, podemos tentar. Quando
percebemos que estamos resistindo às críticas e cultivando os elogios,
sabemos que algo está errado. Quando começamos a acreditar em todas
as coisas agradáveis que dizem a nosso respeito, estamos em perigo.
Se o nosso coração está reto perante Deus, o elogio deve tomar-nos
humildes e não vaidosos.
Nos últimos anos, a igreja tem tido celebridades demais e servos de
menos, um número demasiado grande de pessoas com muitas medalhas
mas sem cicatrizes. Observando as suas vidas e ouvindo as suas
mensagens, jamais saberíamos que o evangelho se refere a um humilde
judeu que foi pobre, rejeitado e crucificado; nem tampoucosuspeita-
ríamos que ele disse: "Bem-aventurados vós os pobres, porque vosso
é o reino de Deus" (Lucas 6:20), ou "Mas ai de vós, os ricos! porque
tendes a vossa consolação" (Lucas 6:24). A celebridade religiosa fabri-
ca a mensagem que mais realce a sua popularidade e talvez aumente a
sua renda. O servo verdadeiro se preocupa tanto com a sua integridade
quanto com a da mensagem.
Em capítulo posterior, direi algo mais sobre os perigos do dinheiro
e do poder no ministério. Focalizemos agora o terceiro interesse de
? .Paulo: noS!Q~_IDétodos devem ser:.:0rretos.
Não há lugar para a "fraude' no ministério do evangelho. A fraude
não tem lugar na promoção do evangelho. A fraude e a fé não andam
de mãos dadas. Tenho ouvido cristãos sinceros dizer: "Não me preo-
cupo com os métodos, contanto que a mensagem seja correta!" Essas
pessoas deviam considerar o fato fundamental de que a mensagem
ajuda a determinar o método. Alguns métodos do ministério evangélico
silo indignos do evangelho. No seu relacionamento com as pessoas,
Paulo era franco e honesto. Não tentava seduzi-las com o evangelho.
Responsabilidade 43

Um amigo meu fez parte da equipe de wna igreja pastoreada por um


popular pregador do êxito. Perguntei-lhe por que aquele pastor não
pregava sobre pecado, arrependimento ou julgamento.
"Porque sabe que a maioria das pessoas não dá ouvidos a esse tipo
de pregação", respondeu meu amigo. "Ele as seduz com os seus
sermões sobre o êxito, e depois a equipe faz o trabalho pessoal atrás
dos bastidores para que o povo entenda o evangelho."
Não encontro esse tipo de evangelização em lugar algum no , minis-
tério de Jesus, no dos seus discípulos ou no da igreja primitiva. As vezes
Jesus usava paralelos interessantes para conseguir a atenção dos seus
ouvintes, mas depois fazia com que enfrentassem seus pecados. Obteve
a atenção da mulher junto ao poço falando sobre a "água viva", mas
depois ela teve de encarar os seus pecados: "Vai, chama teu marido e
vem cã" (João 4: 16). Jesus estava longe de ser um pregador do êxito.
Na realidade, algumas das suas mensagens foram tão condenadoras que
os ouvintes desejaram matá-lo!
Sermões que adulam os pecadores jamais os salvam. Ouvi certa vez
um evangelista congratular-se com as pessoas que desciam os corredo-
res a fim de se encontrar com os conselheiros; com essa atitude ele
contradisse o evangelho que tinha pregado. A pregação do evangelho
verdadeiro exalta a Deus e condena o pecador; não estimula o orgulho
do pecador. O ego pecaminoso do homem precisa ser esmagado perante
um Deus santo; e é isso o que a mensagem do evangelho faz. Antes de
podermos aceitar as boas-novas a respeito de Jesus, precisamos aceitar
as más novas sobre nós mesmos.
A adulação tem sido definida como "manipulação, não comuni-
cação", Quando começamos a manipular as pessoas em vez de ministrar
a elas, deixamos de ser fiéis despenseiros do evangelho e despojamos
as pessoas da oportunidade de tomarem uma decisão por Jesus Cristo.
Jesus e Paulo persuadiram as pessoas; não as seduziram, nem as
coagiram, nem tampouco as exploraram. O evangelho desfaz a capaci-
dade de o pecador salvar a si próprio, mas jamais retira a responsabili-
dade do pecador de obedecer aos mandamentos de Deus.
A adulação é apenas um dos expedientes usados pelos pregadores
com o fim de seduzir o pecador incauto. Outro artifício é oferecer
respostas simples a problemas complexos. O pregador que brada "Jesus
é a resposta!" está fazendo uma afirmação válida. Mas está benefician-
do as pessoas tanto quanto o médico , que grita aos pacientes na sala de
espera: "Cirurgia é a resposta!" E pura demagogia, mesmo tendo o
apoio de um versículo bíblico.
44 A Crise de Integridade

Alguém disse que enquanto a verdade calça as botas a mentira dá


uma volta ao mundo, e tinha razão. A natureza humana decaída deseja
crer em mentiras, especialmente nas "mentiras religiosas••, o que facilita
o êxito dos demagogos, James Fenimore Cooper definiu demagogo
como "o indivíduo que promove seus próprios interesses simulando
uma dedicação profunda aos interesses dos outros.·,,5 De todos os
demagogos, os religiosos são os mais desprezíveis. Eles sabem como
seduzir.
Certa vez, minha esposa e eu tínhamos acabado de preencher a ficha
do hotel na Florida, quando fomos interpelados por uma amável jovem
senhora que nos ofereceu transporte gratuito para o "Dísney World" e
o "Epcot Center". Meu radar imediatamente entrou em funcionamento,
e perguntei: "E o que teremos de fazer em troca desse favor?" Então a
verdade surgiu. Tudo o que tínhamos de fazer era perder algumas horas
das nossas férias para ver um filme e depois visitar uma exposição
imobiliária. Aqueles promotores de venda também sabiam como sedu-
zir, mas pelo menos eram honestos. Não se pode dizer o mesmo de
alguns
, pregadores.
E uma pena que muitos cristãos, quando expostos a um ministério,
não saibam pensar teologicamente e fazer as perguntas corretas. Fal-
tam-lhes discernimento espiritual e confiança nas pessoas que o pos-
suem. O pastor fiel que adverte seu rebanho contra um ministro de
comunicação em massa que seja suspeito pode ouvir o seguinte comen-
tário: "Ele está com ciúme do outro! Tem receio de que lhe enviemos
dinheiro! "
Nas primeiras semanas de ministério como pastor principal da Igreja
Moody, de Chicago, surpreendi-me com a pergunta de um membro
antigo:
- Quando o senhor convidará para falar a esta igreja? - E
deu o nome de um muito conhecido pregador eletrônico, cuja teologia
e ética eu considerava deplorável.
- Nunca - respondi. - Não quero que o povo pense que esta
igreja apóia a mensagem dele ou o seu estilo de vida.
- Ele atrairá uma multidão!
- Não nos interessa ter aqui uma multidão - respondi. - Nosso
propósito é edificar uma igreja. E ele não pode nos ajudar.
Nos anos seguintes não vi aquele membro da igreja muitas vezes.
Quão trágica foi a sua deficiência em detectar uma fraude religiosa,
apesar de ter tido o privilégio de ouvir os melhores pregadores e os
Responsabilidade 4;

melhores professores bfulicos do mundo. Ele não estava disposto a


aceitar aopinião do seu pastor. Felizmente, ele era uma exceção,
Agimosdeconformidadecomoque cremos,enossocomportamento
efé determinam oque viremos aser, Se crennos na verdade, ela nos
santificará (João 17:17) enos lioortará (João ~:31· 32), Se crennos em
mentiras, aos poucos nos tornaremos uma mentira àmedida, que per·
demos aintegridade ecomeçamos apraticaraduplicidade, Eprincípio
fundamental que nos tomaremos semelhantes ao deus que adoramos,
Se odeus éfalso, seremos falsos. 'iomem·se semelliantes aeles
(deuses falsos) os que os fazem, equantos neles confiam" (Salmo
115:~),
"Filhinhos, guardai·vos dos ídolos" (l João 5:21),
6

CENSURA

A pregação é indispensável ao Cristianismo.


Sem a pregação, perde-se parte necessária
de sua autenticidade. Pois o Cristianismo t,
em sua essência, uma religião da Palavra de Deus.

John R. W. Stott·

Minha conclusão é que o tipo errado de pregadores, compelido por


motivos errados, criou o tipo errado de cristãos mediante a pregação
da mensagem errada. E esse o diagnóstico. E eis o remédio. f?e
,;

que:
tipg de pregadores e líderes precisamos hoje na i~?
Comecemos com os pregadores. A igreja de hoje precisa de prega-
dores como Jeremias e João Batista..
~
...
E interessante notar o quanto esses dois homens têm em comum e o
quanto podemos aprender com eles. Nascidos pata ser sacerdojes,
ambos foram chamados para ser {[ofetas. Se dependesse de mim,
preferiria ser sacerdote a profeta. Afmal, o trãbalho do sacerdote judaico
era rotina. Tinha apenas de estudar os livros de Moisés e seguir os
regulamentos e programas ordenados por Deus. Havia poucas ocorrên-
cias inesperadas no altar e não muita possibilidade de entrar em atrito
com o povo. Apenas fazia o que já estava determinado e guiava-se pelos
livros.
48 A Crise de Integridade

Mas não era assim com o pmfd.a! Ele nunca sabia qual seria o .seu
min.istério de um dia.J!ara out;ro. Não somente tinha de entender.!
PaláVra de Deus, como também tinha de entender o povo e a época em
qu~ vivi~. Precisava saber como aWicar a blavra imutájêt a iêÔtpos
mutáveis. O sacerdote podia cumprir sua tarefa sem jamais prestar
atenção às notícias do dia, mas não o profeta. Este tinha de saber o que
estava acontecendo! O sacerdote possuía segurança; o profeta era
vulnerável. O sacerdote podia calar-se; o profeta tinha de entregar a
mensagem
, de Deus, quisesse o povo ouvi-la ou não.
E ...ereciso corai:em....2ara ser 'profeta. Tanto Jeremias como João
Batista, ao declararem a verdade de Deus, enfrentaram com ousadia
homens poderosos e congregações hostis; e ambos foram mortos por
terem sido fiéis a essa verdade. Do ponto de vista humano, foram um
fracasso.
O ministério dos sacerdotes não era primariamente um ministério da
Palavra, apesar de terem a obrigação de ensinar ao povo as leis de Deus.
Os sacerdotes conduziam um ministério de "preceitos". Tinham apenas
de Sêguir os regulamentos escritos nos livros e tomãr cuidado eara 9!1e
a cerimônIa não se transformasse em ritual. Infelizmente, isso acontecia
com demasiada freqüênci~! ...
Os sacerdotes do Antigo Testamento lidavam principalmente com a
parte extrfnseca da religião: os sacrifícios, as purificações, as dietas e
os dias especiais. Mas os profetas tinham de lidar com a parte intrtnseca.
Tinham de tentar mudar o coração humano pecaminoso, o que não é
fácil. Havia muita religião popular nos dias de Jeremias e João Batista,
mas ela não alcançava o coração do povo.
a profeta tinha de ser radical e atingir a raiz dos problemas. Foi por
.isso que João Batista clamou: 6'Já está posto o machado à raiz das
árvores" (Mateus 3:10); e foi por isso que Jeremias denunciou os falsos
profetas que aplicavam bálsamo quando deveriam ter realizado a cirur-
gia (Jeremias 6:13-14). Se Jeremias e João Batista tivessem sido sacer-
dotes e não profetas, é possível que os líderes os tivessem aceitado;
más, sendo os seus ministérios proféticos, os líderes se lhes opuseram
e depois os eliminaram. .
O_ipa) dever do sacerdote era"preservar o passado e proteger a
''. ... 00 do momento· Mas o dever do roleta era interpretar o resente
f
.---, ';'lJ!!t cIonpanado e então dar uma orientação que !Íu asse garantir o
~ . ~o. João Batista e Jeremias desafiaram a situação do momento.
Ousaram anunciar que Deus estava produzindo abalos e preparava-se
Censura 49

para fazer mudanças! As pessoas que desejam uma religião confortável


não reagem de bom grado a esse tipo de mensagem
Como Jeremias era um profeta do coração, ele olhava além das
formalidades da religião judaica e via as verdades espirituais mais
profundas. Os judeus tinham grande respeito pelo templo, mas logo
este seria destruído (7:4-11). No futuro Deus construiria um novo
templo que não pudesse ser destruído. Os judeus gloriavam-se da Lei
e da aliança, mas Deus faria uma nova aliança que pudesse ser escrita
nos corações e não em pedras (31:31-34). Viria um dia em que a
preciosa arca da aliança seria levada e dela nem sentiriam falta (3: 16-
17), porque Deus estaria morando em seu povo de maneira nova e
vivificante. Até mesmo a circuncisão (4: 4) e os sacrifícios (7:21 e
seguintes) seriam substituídos por algo espiritual, eterno e mais mara-
vilhoso.
Sem dúvida, todas essas coisas tinham sido bênçãos para a nação;
mas estavam tomando o lugar da fé em Deus. Jeremias viu o g,ue 2s
fal~rofetas não queriam ver: as bênçãos tinham-se tomado malgi-
ções e os levariam ao cativeiro. "Eis ue vós confiais em s,
n
q~a na a vos aproveitam (7:8).
Se você quiser descobrir quão difícil é para algumas pessoas desistir
dos "acesséríos" da fé e dar lugar a algo novo, é só participar de um
programa de construção, ou tentar mudar a classe de adultos da Escola
Dominical para outra sala.
Em nosso primeiro pastorado, o Senhor levou-nos a demolir o prédio
da igreja e construir um edifício novo. Sendo jovem e entusiasta, pensei
que o povo iria regozijar-se. Nem todos, porém, ficaram felizes. O fato
de o prédio ser feito de chapas corrugadas e completamente inadequado,
e estar condenado pelas autoridades competentes, não influenciou a
minoria. Até o dia da demolição, eu os ouvi orando: "Agradecemos-te,
Senhor, o nosso pequenino templo!"
Compreendo que muitos momentos preciosos estavam ligados àque-
la pequena construção - casamentos, funerais, pessoas salvas - mas
eu gostaria que a minoria tivesse olhado para frente em vez de para
trás. Essa experiência apresentou-me à diferença entre o sacerdote e o
profeta.
Há alguns anos, ao ler a profecia de Jeremias do princípio ao fim,
fiz uma lista de algumas imagens do seu ministério, que me ajudaram
a melhor compreender o tipo de ministério de que a igreja precisa mas
nem sempre deseja. Eis o que era Jeremias:
50 A Crise de Integridade

Um destruidor, um construtor e um plantador


"Olha que hoje te constituo sobre as nações e sobreos reinos,
para arrancares e derribares, para destruíres e arruinares, e
também para edificares e para plantares" (1:10).
Uma cidade, uma coluna e um muro
"Eis que hoje te ponho por cidade fortificada, por coluna de
ferro, e por muros de bronze" (1: 18).
Um acrisolador de metal e uma fortaleza
"Qual acrisolador te estabeleci entre o meu povo, qual forta-
leza, para que venhas a conhecer o seu caminho, e o exami-
nes" (6:27).
Um médico
"Estou quebrantado pela ferida da filha do meu povo; estou
de luto; o espanto se apoderou de mim. Acaso não há bálsamo
em Gileade? Ou não há lá médico? Por quê, pois, não se
realizou a cura da filha do meu povo?" (8:21-22).
Um sacriftcio
"Eu era como manso cordeiro, que é levado ao matadouro"
(11: 19).
Um corredor
"Se te fadigas correndo com homens que vão a pé, como
poderás competir com os que vão a cavalo?" (12:5)
Um pastor

"Mas, se isto não ouvirdes, a minha alma chorará em segredo,


por causa da vossa soberba; chorarão os meus olhos amarga-
mente, e se desfarão em lágrimas, porquanto o rebanho do
Senhor foi levado cativo" (13: 17)
Um agitador

"Ai de mim, minha mãe! Pois me deste à luz homem de fixa


e homem de contendas para toda a terra!" (15: 10)
Censura 51

A última imagem perturba-me: um agitadqr. Quem quer ser um


agitador? Quando me tomei pastor principal da Igreja Moody, descobri
que preeminentes púlpitos fazem com que os seus pregadores sejam
bons alvos. Em todo o meu ministério, eu estava acostumado a ter bom
relacionamento com a imprensa e com os irmãos, mas então as coisas
mudaram.
Lembro-me de ter lido um artigo sobre a minha pessoa e o meu
ministério numa revista religiosa e exclamado em alta voz: "De onde
tiraram isso? Nada disso é verdade!"
Telefonei a um amigo que conhecia algo acerca de batalhas com os
irmãos e ele disse: "Não se preocupe com isso. Não permita Deus que
eles aprovem o seu ministério! Eu ficaria preocupado se eles o apro-
vassem! Isso é novidade para você, mas espere um pouco. Dentro de
alguns anos, você terá a minha experiência, e essas coisas já não doerão
tanto. Eles estarão lançando bombas em velhos alvos!"
Foi uma lição difícil de ser aprendida: mesmo quando somos fiéis
ao nosso ministério, alguns dos colegas podem não concordar conosco.
Mas, meu amigo tinha razão. Eles estão agora lançando bombas em
velhos alvos, e eu mal percebo.
João Batista podia dizer um forte "Amém!" a cada imagem de
Jeremias, mas será que eu posso? Imagino quantos ministros da Palavra
podem honestamente dizer que têm tido esse tipo de ministério? Se
essas imagens descrevem um ministério profético verdadeiro, não há
muitos profetas hoje. Realmente a igreja é uma organização sem
profetas.
.... - 4

A maioria das pessoas não g,uer um profeta I2Q!.PCrto porque el€Úaz


c01!!....9!!e se sintam desconfortávei~. O ;;rofeta chora quando outrPs
riem, e usa um jugo que atrapa!bB Q cáTííiob.Q.. :"Õos outros e derruba.
eltfeites caros das prateleira~. E~guanto os q,ue estão satisfeitos com a
situação controlam o confonnismo religioso, o Rrofeta arrasa para
IJ:gder construir, desarraiga para eoder plan~. Enquanto os líderes
populares se dobram como vento, o profeta permanece firme como um
muro, de modo que possa levar a nação para a frente.
O falso profeta trabalha com uma liga de metal inferior, mas o profeta
é um acrisolador que liga o calor de maneira que apure o metal e retire
a escória. Ele é um médico que expõe as chagas repulsivas antes de
- ~ .
aplicar o remédio. E, em swna, moa pessoa que cria problemas r~-
..
lando problemas a fim de resolver"problemªs.
Mas, en uanto ministra é tão vulnerável quanto o pequenino c r-
deíro, fati8a-se tanto 9.!!.anto o corredor e onga- lstancia, e seu c~-
52 A Crise de Integridade

ção se parte como o do pastor amoroso que vê o rebanho disperso e


explorado. Ele chora para que possamos ter alegria; ele usa o jugo para
que possamos ser libertos.
João Batista conhecia o que era ficar desanimado no ministério.
Quando estava na prisão, de Herodes, mandou alguns dos seus discípu-
los perguntar a Jesus: "Es tu aquele que estava para vir, ou havemos de
esperar por outro?" (Mateus 11:3). Jesus mandou a João Batista wna
palavra de estímulo e, quando os discípulos enviados não mais estavam
ao alcance da voz, ele comentou a respeito de João Batista:

"Que saístes a ver no deserto? Um caniço agitado pelo vento?


Sim, que saístes a ver? Um homem vestido de roupas finas?
Ora, os que vestem roupas finas assistem nos palácios reais.
Mas, para que saístes? Para ver um profeta? Sim, eu vos digo,
e muito mais que profeta" (Mateus 11:7-9).
João Batista não fazia concessões, não era um "caniço agitado pelo
vento". Como Jeremias, ele era um muro de bronze e uma coluna de
ferro. Ele não permitia que os ataques dos homens o perturbassem, nem
que seus aplausos o influenciassem. Tivesse João Batista compactuado
com a religião oficial, talvez os líderes tivessem convencido Herodes
a libertá-lo; mas João Batista era prisioneiro da consciência, e a liber-
dade nessas condições significaria o fim do seu ministério.
Quando a religião é popular, a popularidade é a parte mais importante
da religião e, a fim de mantê-la, a pessoa terá de fazer concessões. Jesus
tinha essa verdade em mente, ao dizer:
,
"Mas, a quem hei de comparar esta geração? E semelhante a
meninos que, sentados nas praças, gritam aos companheiros:
Nós vos tocamos flauta, e não dançastes; entoamos lamenta-
ções, e não pranteastes. Pois veio João; que não comia nem
bebia, e dizem: Tem demônio. Veio o Filho do homem; que
come e bebe, e dizem: Eis aí um glutão e bebedor de vinho,
amigo de publicanos e pecadores!" (Mateus 11:16-19).
João não fazia concessões, nem era wna celebridade desfrutando
suntuosas roupas ou divertindo-se em palácios de reis. Uma das lra=.
quezas da i8!!:.ia nos últimos anos tem sido a abundância de celebridades
e a ausência de sengs. A maneira pela qual alguns pregadores dos meios
de comunicação têm ostentado abertamente um estilo de vida extrava-
gante é uma desgraça para si mesmos e para a igreja. Entretanto, poucos
líderes religiosos ousam criticá-los ou cortar sua amizade. Afinal,
Censura 53

quando assistem às mesmas convenções, compartilham a mesma pu-


blicidade e pertencem às mesmas comissões influentes, é fácil ignorar
o pecado e chamar a covardia de "tolerância".
A~a não vai solucionar a crise de integridade até que os seus
mirustros e membros comecem a viver a mensagem do evang:elho tanto
quanto eregd-!a. Os pregadores do sucesso asseveram que uma vida de
opulência é a confirmação do evangelho, mas eu acho que é uma
contradição do evangelho. Não é que Deus queira que o seu povo viva
em pobreza, pois ele "tudo nos proporciona ricamente para nosso
aprazimento" (1 Timóteo 6: 17). Mas, levando em consideração o nas-
cimento, a vida e a morte de Cristo, e levando em consideração o
sofrimento e a necessidade do mundo nos dias de hoje, como pode a
igreja justificar apoio a homens e movimentos que desperdiçam recur-
sos?
Acho que algumas celebridades cristãs têm problemas fínanceíros e /)
morais por começarem a acreditar no que se dizia a seu respeito. Deve
ser difícil para a celebridade chegar a casa depois de uma esplêndida
reunião ou concerto e ter de trocar as fraldas do nenê ou levar o lixo
para fora!
João Batista não fazia concessões, não era uma celebridade, nem
procurava agradar à multidão. OJaJso profeta ~rgunta: "A.minha
mitnsagem é PQPular?" enquanto o profeta de Deus indaga: "A mjjiliã
l1}ensagem é verdadeir,\T' Não se ~e agradar às multidões, então e?r
qlle tent~? Um dia pensam de wn jeito, no outro dia pensam de outro!
U!.Da semana queixam-se õe que o pregadõrtica muito no seu gabinete,
na ~mana seguinte censuram-no J!2r fazer visitas demais! O e!'egador
q~rocura ªlU"adar à multidão eSQ!!eceu-se das palavras de Thomas.J
K~mpis: "A gl6ria de homens dignos está em sua consciência e nãoJla
boca de homen§."f
Nos dias de hoje muitos ministérios são governados pela populari-
dade e não pela integridade, pelas estatísticas e não pelas Escrituras.
Depois do alvoroço inicial, é duvidoso que o ministério de João Batista
tivesse conservado o interesse da moderna audiência religiosa. Ele era
muito pessoal, não procurava a cobertura da imprensa nem o resultado
de IBOPE. Sua única preocupação era: "Convém que ele (Cristo) cresça
e que
, eu diminua" (João 3:30).
E provável que o cristão médio não compreenda a importância que
a popularidade tem para o ministério nos dias de hoje. Quando me tomei
o pastor principal da Igreja Moody, editores e diretores de concílios
começaram a me importunar e a me "cortejar" querendo que eu escre-
54 A Crise de Integridade

vesse livros ou falasse em suas reuniões. Não me deixei enganar por


toda essa atenção. Sabia que o meu nome e a minha capacidade eram
de somenos importância; o fato de eu estar na Igreja Moody eraa coisa
mais importante. O nome da igreja ajudaria a atrair multidões e vender
livros.
Certo pastor telefonou convidando-me para dar, na sua igreja, wna
série de mensagens sobre a adoração. Não me foi possível aceitar o
convite porque minha agenda estava cheia, mas dei-lhe o nome de um
talentoso amigo que dirigia um maravilhoso seminário sobre adoração
e lhe seria de grande auxílio.
- Nunca ouvi falar nele! - disse o pastor.
- E dai? - respondi. - Até estanoite eu não tinha ouvido falar no
senhor! Procura um orador ou uma celebridade?
Meu amigo jamais recebeu o convite e, com franqueza, nem se
importou. Seja como for, é um paradoxo umpastor querer alguém com
um "nome importante" para ensinar o povo a adorar a Deus.
Nossas igrejas precisam de pastores como Jeremias e João Batista,
servos do Senhor que defendiam a verdade com coragem e não se
deixavam intimidar pela multidão. Precisamos do tipo de pregadores
descritos por João Wesley:
"Dê-me cem pregadores que nada temam a não ser o pecado
e que nada desejem a não ser Deus, sejam eles clérigos ou
leigos; eles, sozinhos, abalarão as portas do inferno e estabe-
lecerão o Reino de Deus na terra.,,2
Nossas igrejas também precisamdelíderes corajosos como Neemías,
que estejam dispostos a atacar a árdua tarefa de remover os destroços,
reconstruir osmuros e retirar o opróbrio dopovo de Deus. Para resolver
essa crise de integridade, pregadores e leigos precisam trabalhar em
conjunto.
Portanto, voltemos a Neemias e consideremo-lo como nosso exem-
plo de integridade na liderança.
7
. ,..,
RECON·STRUÇAO

Antes de seguir a qualquer homem,


é necessário que procuremos pela unção
em sua testa. Não temos obrigação
espiritual de ajudar homem algum em atividade
alguma que não possua as marcas da cruz.

A. W. Tozer

°
Tudo se levanta ou cai com a liderança, inclusive que chamamos
de a "obra do Senhor". Ao lermos a Bíblia, encontramos homens e
mulheres que foram chamados para ser líderes em horas de crise.
Alguns tiveram êxito brilhante para a glória de Deus. Outros fracassa-
ram miseravelmente e ainda agravaram a crise.
A história mostra-nos que a crise e..0de.e.roduzir.pelo menosJEês ~
di~rentes de líderes, e a atual crise de integridade não é excec'o. .
Geralmente, o primeiro tiJ?o de líder a aparecer· é o otimista Ql.IC....ttata
da situação de modo suave e superfictal. Ocupa-se apenas das falhas
aparentes e logo convence o público de que as coisas não são tão ruins,
afinal de contas. "Não é que o problema seja tão sério", afirma o líder,
com um sorriso, "é que a imprensa está cobrindo melhor as notícias.
Se dermos tempo ao tempo, tudo se resolverá e será logo esquecido."
56 A Crise de Integridade

Você deve lembrar-se de que Jeremias teve de enfrentar esse tipo de


líderes. "Curam superficialmente, a ferida do meu povo, dizendo: Paz,
paz, quando não há paz" (8: 11). E claro que algwnas pessoas desejam
esse tipo de líder porque ele as conserva felizes e não exige delas
sacrifício. Maquiavel, em O Prtncipe, escreveu: "Os homens são tão
simples e tão inclinados a obedecer às necessidades imediatas que um
enganador jamais terá falta de vítimas para suas fraudes."!
O segundo tipo de líder é mais realista - admite haver I!roblemas
sérios e promete tomar Erovidêpcias para resolver a situação. Se lhe
derem cobertura ímanceira e autoridade, ele criará novas oqtanizaçQ,es,
es!3belecerá novos alvos, contratará novo pessoal e reforçará novos
padrões. Embora não haja dúvida de que essas soluções a curto prazo
sejam melhores do que a inércia otímista, ainda não passam de substi-
tutivos das mudanças drásticas realmente necessárias. Contratar nova
tripulação e planejar nova rota não impede que o navio danificado vá
a pique. O perigo é que os passageiros e a tripulação podem ficar tão
entusiasmados com o novo sistema a bordo que se esqueçam de que o
navio precisa ser salvo.
Quando o escândalo do P'IL começou a ameaçar o apoio público
aos ministérios eletrônicos, certo líder disse: "O problema sério da
difusão eletrônica religiosa não é o que aconteceu} mas o que deve ser
feito a respeito." Sugeriu, em seguida, uma nova organização com o
fím de aplicar padrões mais elevados de responsabilidade fiscal. Nin-
guém pode negar , que a responsabilidade é importante, mas não é a
única resposta. E imprudente fazer um diagn6stico e dar uma receita
sem primeiro examinar cuidadosamente o paciente. Tenho mais receio
de evangelho falso do que de auditoria falsa. O terceiro til!2 de líder é
o de 900 realmente precisamos. Descarta o tratamento cosmético I!Q!
saber que é superficial, e a "providência rápida" por saber que é
--
te~rária. Tem coragem para enfrentar os 12roblemas com honestida-

-
de, sabedoria para entendê-los, força Rara realizar o que é preciso e fé
p!1"a confiar em 9!le Deus fará o restan!e. Não teme perder amigos nem
f~r inimigos. Não se deixa intimidar P2r ameaças nem é com~o
por subornos. E um homem de Deus e não está à venda.

Neemias foi um Iíder desse tipo, um homem que nos mostra como
reconstruir em época de oprõbrio.
Neemias foi uma pessoa deslocada, um judeu que vivia no palácio
de Artaxerxes I, rei da Pérsia. Como copeiro do rei, usufruía prestígio
e abundância, autoridade e conforto. Não havia motivo para ele se
preocupar com os seus compatriotas em Jerusalém, mas se preocupou.
Reconstrução 57

Tão preocupado ficou que procurou saber o que acontecia na Cidade


Santa. Essa atitude me parece importante: ele queria enfrentar os fatos
honestamente; não tinha medo da verdade.
Um dos problemas atuais é que muitos cristãos na realidade não
querem enfrentar os f,jtos. Vivem num mundo devocional de sonhos, "
cegos para a verdade e com os ouvidos abertos somente para mensagens
que lhes assegurem que tudo vai bem. O fato de alguns "vigias das
torres" terem adormecido não somente não perturba muita gente reli-
giosa, mas também na realidade as tranqüiliza. Quando não há notícias,
tudo vai bem.
N~m tudo vai bem na igreja, não obstaDte nossas palestras e estatís-

-
ticas. Precisamos de mais pessoas comO Neemias, que se interessem o
bastante
...
~
para indagar, mesmo sabendo gue as notícias não serão a~-
s;u:eiras: "Os restantes, que não foram levados para o exflio e se acham
lá nap_covíncia, estão em grande miséria e desprezo; os muros de
Jerusalém estão derribados, e as suas portas queimadas a fogo" (Nee-
mias 1:3).
Por que deveria Neemias, o braço-direito do rei, preocupar-se com
a situação angustiosa de cinqüenta mil judeus que viviam a uma
distânciade mais de mil e seiscentos quilômetros? E se eles estivessem
. .--~~-

em angústia e opróbrio? Havia inúmeras razões ou desculpas para que


Neemias não se envolvesse.
Para começar, o que podia um único homem fazer numa situação
difIcil dessas? Além do mais, era sua a culpa de a cidade ter sido
destruída século e meio atrás? Não. Seus antepassados é que tinham
pecado e provocado o julgamento de Deus sobre Jerusalém. Foram eles
que rejeitaram as mensagens de Jeremias e outros profetas e persistiram
na idolatria. Foram eles que pecaram, e não Neemias e sua geração.
Como teria sido fácil Neemias escapar.
Vimos essa atitude "escapísta" expressa por inúmeros cristãos quan-
do da eclosão do escândalo do PIL. Eles e deles eram as palavras mais
usadas na ocasião, apesar de Jesus ter-nos ensinado que devemos usar
nós e nosso. Não digo que todos nós deveríamos ser responsabilizados
pelo que aconteceu; mas afirmo que não podemos negar a nossa unidade
no corpo de Cristo e nossas responsabilidades mútuas. Não importa
quão culpados outros possam ter sido, parece insensibilidade manter-
-nos à parte e apontar o dedo.
Neemias preocupou-se o suficiente para indagar e também para se
identificar com o seu povo. Assentou-se e chorou!
58 A Crise de Integridade

Will Rogers era conhecido por seu riso, mas também sabia chorar.
Certa vez, deu um espetáculo num hospital especializado na reabilita-
ção de vítimas da poliomielite, problemas de coluna e outras sérias
deficiências físicas. Todos davam gostosas gargalhadas, até mesmo
pacientes em péssima condição de saúde. Repentinamente, porém,
Rogers deixou o palco e se dirigiu ao banheiro.'Alguém o seguiu para
lhe dar uma toalha e. ao abrir a porta. deparou com Will Rogers
encostado na parede. soluçando como uma criança. Dentro de poucos
minutos. porém. Rogers voltou ao palco, tão jovial quanto antes.ê
Para saber como alguém realmente é. basta fazer três perguntas: O
que o faz rir? O que o toma zangado? O que o faz chorar? Esse teste
de caráter é bastante apropriado para os líderes cristãos. Ouço dizer:
"Precisamos de lideres irados!" ou "E'" hora do cristianismo militante!"
Talvez, mas "a ira do homem não produz a justiça de Deus" (Tiago
1:20).
O de que precisamos atualmente não é de ira mas de angústia, o tipo
de angústia que Moisés sentiu quando quebrou as tábuas da lei e depois
subiu ao monte para interceder pelo seu povo, ou a que Jesus sentiu
quando purificou o templo e quando chorou pela cidade. A diferença
entre ira e angústia é um coração partido. E'" fácil ficar irado, especial-
mente com os pecados de outras pessoas; mas não é fácil considerar o
pecado, inclusive o nosso, e chorar por ele.
Por que Neemias chorou? Não porque a cidade dos seus pais estava
em ruínas, mas porque o Deus dos seus pais servia de opróbrio perante
o inimigo. A preocupação de Neemias era pela glória do Senhor. não
apenas pelo bem-estar do povo. Lamentou-se e chorou; jejuou e orou.
A sua identificação com o estado trágico de Jerusalém foi tão intensa
que a tristeza estampou-se em seu rosto, e o rei a percebeu.
Imagino quantos de nós nos assentamos e choramos quando sabemos
que um líder cristão pecou ou um ministério fracassou? Imagino quan-
tos de nós nos lamentamos quando vemos a mídia exultar às custas da
igreja? Quando alguém fracassa, muitos de nós em posição de liderança
apressamo-nos a proteger nosso nome e ministério e nos esquecemos
de que é o nome de Deus que tem de ser glorificado. Em vez de nos
identificarmos com a situação aflitiva, na maioria das vezes afastamo-
-nos dela.
Neemias identificou-se não somente com a vergonha e com o sofri-
mento, mas também com o pecado dos seus antecessores. "Faço con-
fissão pelos pecados... que temos cometido contra ti", disse ao Senhor.
"Temos procedido de todo corruptamente contra ti" (Neemias 1:6-7).
Reconstrução 59

Note o pronome: nâs e não eles. Embora certamente não aprovemos o


que alguns líderes do YIL têm sido acusados de praticar, tampouco
endossamos a atitude farisaica de muitos crentes, ao ouvirem as más
notícias. Existe alguma igreja ou ministério paraeclesiástico sem man-
cha? Mesmo que os nossos ministérios sejam perfeitos para a glória de
Deus, devemos nós endurecer o coração de tal modo que não possamos
assentar-nos e chorar com os que choram?
Neemias preocupou-se a ponto de indagar, identificar-se e interce-
der. Depois de assentar-se e chorar, ajoelhou-se e orou. Geralmente
pensamos em Neemias como um executivo exemplar, um homem de
ação; mas ele era também um homem de oração. Seu livro traz pelo
menos onze incidentes de orações. O líder que sabe orar conhecerá a
vontade de Deus a seu respeito.
Neemias 1:5-11 é o registro de uma oração realmente importante, o
tipo da oração de que podemos apropriar-nos pois atinge as nossas
necessidades básicas. Ela contém a intercessão com base no caráter de
Deus ("Ah! Senhor, Deus dos céus, Deus grande e temível!") e na sua
aliança ("que guardas a aliança e a miserícõrdia"), Firmado no caráter
e na aliança de Deus, Neemias confessou os seus pecados e os do povo
e clamou pelo perdão de Deus.
Se houver um escândalo evangélico novamente, imagino o que
aconteceria se nõs, os líderes da evangelização eletrônica, nos ajoe-
lhássemos juntos em oração, não apenas pelo nosso ministério amea-
çado, mas por todo o povo de Deus? Será que poderíamos convocar
uma grande reunião de oração e convidar outros ministérios, pastores
e igrejas a que se unissem
, conosco na confissão de pecados e na procura
da face de Deus? E certo que muitos de n6s temos orado em particular
e ainda estamos orando; mas talvez o impacto tivesse sido maior se,
em conjunto, tivéssemos orado e confessado os nossos pecados.
A oração de Neemias foi mais do que confissão; foi também uma
oração de consagração, pois ele se pôs à disposição do Senhor para o
que fosse necessário. N6s realmente não estamos orando pela fé, a
menos que estejamos dispostos a ser parte da resposta. "Ora, àquele
que é poderoso para fazer Infmitamente mais do que tudo quanto
pedimos, ou pensamos, conforme o seu poder que opera em MS"
(Efésios 3:20). Não era o caso de: "Eis-me aqui - envia o meu irmão!""
Era: "Eis-me aqui, Senhor, envia-me a mim!"
Essa atitude de consagração leva-nos à etapa final da experiência de
Neemias: ele preocupou-se a ponto de participar. Indagou e inquiriu,
assentou-se e chorou, ajoelhou-se e orou; depois levantou-se e traba-
60 A Crise de Integridade

lhou. Era um homem de coração partido, um homem de oração de fé,


um homem de mãos ocupadas; justamente o que é precisopara recons-
truir num dia de opróbrio.
Esquecemo-nos às vezes de que Neemias pagou um altissimo preço
pela sua participação. Trocou o luxo e a segurança do palácio pelas
ruínas e perigos de Jerusalém. Sacrificou a honra e a tranqüilidade pelo
ridículo e labor. Em cinqüenta e dois dias, removeu os escombros,
reconstruiu os muros e restaurou as portas de Jerusalém, tarefas que o
inimigo julgara impossíveis. Alexander Whyte descreveu com perfei-
ção o tipo de líder que é Neemias: "Não começa sem ter avaliado o
custo. E depois não pára sem ter terminado a obra. n3 Poderíamos
acrescentar que ele faz tudo para a glória de Deus.
O que há de mais admirável em Neemias é a sua integridade: uma
dedicação exclusiva à tarefa e um coração sincero na sua devoção ao
Senhor. Trabalhador, ele absolutamente não era uma celebridade ten-
tando estabelecer um reinado para si. Quando ridicularizado, orou.
Quando ameaçado, orou, tomou da espada em uma das mãos e de uma
ferramenta na outra e continuou a trabalhar. Quando convidado para
um acordo, respondeu: "Estou fazendo grande obra, de modo que não
poderei descer" (Neemias 6:3). Ele viu a grandeza do seu Deus e a
grandeza da obra, e não quis afastar-se.
Neemias era muito cuidadoso a respeito de finanças. Quando o povo
começou a explorar uns aos outros, ele os repreendeu e citou o seu
próprio estilo disciplinado de vida (Neemias 5). Como governador,
Neemias poderia ter usufruído muitos privilégios financeiros; mas de
bom grado deixou-os de lado para o bem da obra. Pagou as suas próprias
contas e ainda repartiu generosamente o quanto tinha com 150 hóspedes
que assentavam à sua mesa. "Nem por isso exigi o pão devido ao
governador, porquanto a servidão deste povo era grande" (5: 18).
Sabia como harmonizar as responsabilidades e os privilégios do seu
cargo. As responsabilidades não lhe esmagavam o espírito, e os privi-
légios não lhe exaltavam o ego. Como todos os bons líderes, carregava
o fardo mais do que precisava e usava menos privilégio do que era
natural. Para ele, a obra não era uma profissão, mas um ministério; por
-, isso, ele sabia que teria de fazer sacrifícios. "Privilégio jamais confere
segurança", disse John Henry Jowett. "Antes, proporciona as condições
da luta mais selvagem..,.,4
Neemias sabia como lidar com as pessoas e sabia também como
fazê-las trabalhar para o Senhor. O líder verdadeiro gera outros líderes.
Neemias (mais jovem) trabalhava em harmonia com Esdras (mais
9

A REALIDADE

A televisão i uma droga supremamente poderosa.


Acabo vivendo minha existéncia diante
da própria coisa que me elimina.

Jacques Ellul

Durante esta crise de integridade, o foco de atenção tem sido sobre


moral, dinheiro e mensagem, nessa ordem; mas não se tem dito muita
coisa acerca do meio de comunicação envolvido, isto é, a televisão.
Posso estar errado, mas acho que a televisão ajudoua criar o escândalo.
Se as pessoas envolvidas estivessem usando outro meio de comuni-
cação, algumas coisas poderiam ter sido diferentes. Não estou descul-
pando, apenas explicando. Precisamos entendero papel da televisão na
crise de integridade, porque a televisão continua a exercer esse mesmo
tipo de inftuência na igreja hoje.
Permita..me começar com algumas lembranças da comunicação em
massa.
Tive o privilégio de crescer nos grandes dias do rádio. Lembro-me
também dos primeiros anos de programação evangélica pelo rádio.
Nessa época, o rádio era uma parte vital de nossa vida. Trazia-nos
música e a palavra falada de todas as partes do mundo.
74 A Crise de Integridade

Quando apareceram os filmes cristãos, ficamos entusiasmados. Já


tínhamos visto "filmes de missões" mas o tipo de filme que começava
a aparecer era novidade. Alguns fihnes anteriores não passavam de
lições objetivas ou sermões de ação postos em filme, ou talvez um
sermão entregue por um pregador famoso. Travou-se uma batalha na
imprensa cristã quanto à possibilidade ou não de Deus abençoar os
filmes evangélicos, visto que as pessoas que neles apareciam estavam
desempenhando um papel. A. W. Tozer fez forte oposição a esses
filmes, mas eles continuaram. Agora são aceitos como parte da vida da
igreja.
Chegou depois a televisão com novo elenco. Foram reprisados
antigos filmes contra os quais nos haviam alertado nossos professores
de Escola Dominical. Muitos artistas de rádio passaram para a televisão
e descobriram que era um tipo de comunicação inteiramente novo, com
um poder peculiar, um poder que tinha de ser obedecido ou o programa
não teria êxito. O analista de comunicação, Marshall Mcl.uhan, tentou
explicar o novo fenômeno em seus livros, especialmente em "Compre-
endendo os Meios de Comunicação: As Extensões do Homem", Era,
porém, mais fácil ver televisão do que ler livros sobre ela. Nem todos
concordaram com McLuhan, mas depois de todos estes anos ele nos
convenceu de que o meio é a mensagem.
O primeiro programa religioso de televisão que me lembro de ter
visto foi "Juventude em Marcha", de Percy Crawford. Era uma adap-
tação de "A Igreja dos Jovens do Ar"', popular programa de rádio das
tardes de domingo. Lembro-me também de ter visto Charles Fuller em
1950. De todos os pregadores de televisão dessa época, talvez Fulton
J. Sheen tivesse sido quem melhor compreendeu como usar o novo
meio de comunicação. Eu não concordava com toda a sua teologia, mas
ele certamente sabia como transmitir a mensagem. Com paramentos,
falas dramáticas, quadros-negros e giz, parecia entender como a TV
funcionava.
Eram dias tranqüilos e sonhávamos com grandes coisas porvir. Não
havia tantos pregadores eletrônicos competindo pelo nosso tempo e
dinheiro e muitos cristãos estavam convencidos de que esse novo meio
de comunicação era uma dádiva de Deus pata a igreja alcançar o mundo
com o evangelho. Se tão-somente tivéssemos tempo e dinheiro sufi-
cientes, poderíamos realizar a obra.. Aproximávamo-nos do milênio da
comunicação.
A Realidade 75

Agora, mais de quarenta anos depois, quando reflito sobre tudo isso,
atrevo-me a tirar as seguintes conclusões, que são pessoais e não
possuem base estatística:
O rádio evangélico deu importante contribuição tanto para as igrejas
locais como para as missões mundiais e deve continuar a contribuir.
Quanto aos filmes, eles têm sido um instrumento útil; acho, porém, que
serão substituídos pelo videoteipe. A respeito da televisão evangélica,
acho que falhamos porque não tomamos tempo para compreender o
meio de comunicação e seu funcionamento. Do mesmo modo que
malogrados comediantes tentaram reproduzir na TV o que faziam no
rádio, tentamos colocar a "Igreja" na TV, mas sem grande êxito.
Descobrimos agora dois fatos sobre a televisão que, por algum
motivo, passaram-nos despercebidos durante anos. O primeiro é que a
televisão é um meio de entretenimento, portanto qualquer coisa que
comunique se transforma em diversão. O segundo é que a televisão é
uma indústria e todo comércio envolve dinheiro. Mesmo o conhecido
executivo Fred Friendly admite essa realidade. Disse ele: "Visto que a
televisão pode ganhar tanto dinheiro fazendo o que tem de pior, com
freqüência não pode dar-se ao luxo de fazer o que tem de melhor. 991
Você pode estar indagando em que direção este assunto nos está
levando, mas, por favor, tente acompanhar-me. Anos atrás não pensa-
mos nestas coisas, e agora estamos em dificuldade. Não podemos
mudar o passado. Talvez possamos melhorar o futuro.
Pela sua própria natureza, a televisão é um meio de entretenimento.
Não quer dizer isso que não possamos aprender nada vendo televisão,
porque podemos. Alguns aprendem até coisas que não deviam. Entre-
tanto, o que aprendermos pela televisão aprendemos através dos olhos
e não dos ouvidos. Essa diferença é importante, porque a ênfase bíblica
é no ouvir e não no ver. "De sorte que a fé é pelo ouvir, e o ouvir pela
palavra de Deus" (Romanos 10: 17). A televisão ajudou a criar uma
sociedade de observadores, e não de ouvintes; pessoas fascinadas pelas
imagens e não educadas pelas palavras.
O primeiro passo para a queda do homem foi Eva substituíro que
ouviu de Deus ("não comeras" - Gênesis 2: 17) pelo que viu (a árvore
era "agradável à vista" - Gênesis 2:9). Depois da queda, ao ouvirem
a voz de Deus, Adão e Eva apressaram-se a esconder-se. Em vez de
comunicar, a Palavra estava excomungando; mas a falha era do homem
e não de Deus, Desde essa ocasião, Deus tem falado com bondade e
clareza à humanidade pecadora, tentando transpor a trágica lacuna da
comunicação; a maioria das pessoas, entretanto, não deseja ouvir.2
76 A Crise de Integridade

Quando o Filho de Deus esteve na terra, o seu ministério mais


importante foi proclamar a Palavra de Deus e não realizar milagres. "Se
alguém tem ouvidos para ouvir, ouça" (Marcos 7:16). Na realidade, os
seus milagres foram importantes como evidência de sua obra messiâ-
nica e prova da sua grande compaixão pelos necessitados; mas sua
prioridade foi declarar a Palavra. Infelizmente, as multidões queriam
ver; não queriam ouvir. Um dos maiores temas do Evangelho de João
é o conflito entre a fé e a vista. Multidões s6 "acredítavam" em Jesus
porque tinham visto os seus milagres; mas Jesus não acreditava neles
, 2:23-25). Ele incentivou o ouvir e não o ver.
(João
E importante notar que João Batista, grande profeta de Deus, veio
como uma "voz" e não como realizador de milagres (João 1:23; 10:40-
42). Sua ênfase estava na pregação da Palavra de Deus. Ao apresentar
Jesus Cristo ao povo, João Batista falou de modo que este entendesse
o que viam: "Eis o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo!"
(João 1:29). Deus ordenou que aquilo que vemos seja entendido por
aquilo que ouvimos. "A conexão entre Palavra e Verdade é de tal
natureza" disse o filósofo Jacques Ellul, "que nadada verdade pode ser
conhecido sem a linguagem. n3
Na maioria das vezes, a televisão divorcia o ouvir do ver e cria um
mundo sedutor e irreal que parece ser real. Ellul chama a isso de
"realidade substitutiva'Y' Se desligarmos a imagem e ouvirmos apenas
o som, não saberemos realmente o que está acontecendo. Isso não seria
verdade com respeito a programas que focalizam as palavras. A não ser
pelas expressões e gestos do pregador, nada perderíamos do conteúdo
essencial dos programas religiosos comuns da TV se tivéssemos os
olhos vendados. De fato, estarmos de olhos vendados, e sem possibili-
dade de distrações, podia melhorar o nosso aproveitamento do progra-
ma!
Chegamos agora ao âmago da questão. Se a obra mais importante
da igreja é a pregação da Palavra, e a maior necessidade do mundo
perdido é ouvir a Palavra, por que deveríamos nós glorificar um meio
de comunicação como a televisão que enfatiza mais o ver do que o
ouvir? O que adiciona a TV ao ministério? Afirmo que não adiciona
coisa alguma, mas muito pode tirar dele. A TV põe o povo de Deus e
a sua Palavra num contexto que pode despojar a realidade da mensagem.
Neil Postman, teorista de comunicação, explica que "não é que a
televisão seja divertida mas que ela faz do entretenimento o formato
natural para a representação de toda experiência. n5 O que quer que
vejamos na televisão, inclusive cultos religiosos, percebemos no con-
) A Realidade 77

texto do entretenimento. Não importa o programa, pode até mesmo ser


um documentário devastador, não o levamos demasiadamente a sério.
Por quê? Porque o mundo da televisão não é "real",
Malcolm Muggeridge, ex-diretor da BBe de Londres, diz que "esse
meio de comunicação, pela sua natureza, não se presta a fmalidades
construtivas.t'f Os educadores estão descobrindo que o vídeo não é o
instrumento de ensino mágico que antes pensavam ser. Postman diz:
"Sabemos agora que Vila Sesamo incentiva as crianças a amarem a
escola somente se a escola for semelhante à Vila stsamo".'
Começamos então a entender por que a televisão é uma ameaça ao
ministério cristão: o ministério não deve ser entretenimento, nem se
espera que o pregador seja um artista. O ministério verdadeiro suben-
tende participação: estamos adorando na santa presença de Deus, e
temos a obrigação de ouvir a Palavra de Deus e obedecer a ela. Quando
colocamos religião na TV, uma força sutil entra em ação que a tudo
transforma. O telespectador não assiste ao mesmo culto que as pessoas
que estão na igreja ou no estúdio da 1V. As pessoas da congregação
podem ser participantes; o observador em casa não passa de espectador.
A congregação é uma comunidade unida ativa, em adoração; o teles-
pectador é um observador solitário, mesmo que não esteja , sozinho.
Religião da TV não é a mesma coisa que religião em pessoa. E um tipo
totalmente novo de religião.
Mas isso não é tudo. Quando eu preparava este capítulo, recebi o
último número do "Relatório Reid", Fiquei feliz por descobrir que Russ
Reid, meu amigo de longa data, concorda comigo. Em seu artigo de
fundo ("O Caso Bakker - Que Pode Ele Nos Ensinar?"), Russ explica
de modo sucinto por que a televisão não é o melhor meio de comuni-
cação para o nosso tipo de ministério cristão.
Acredito que muitas das pessoas que participam da igreja eletrônica
são honestas e fazem a obra com um profundo sentido de dedicação.
Acredito também que estão erradas em quatro pontos:
1. A igreja eletrônica t um mau uso dos meios de comunicação.
Como um todo, os meios de comunicação em massa não são um meio
. muito eficiente para levar as pessoas a se decidir pela igreja ou por
qualquer outro tipo de compromisso pessoal. ..
2. A igreja eletrônica , uma distorção da igreja. A mensagem da
igreja eletrônica é extremamente sedutora. As pessoas que ali aparecem
são mais bonitas. Os seus programas mais potentes. Suas possibilidades
mais persuasivas. Parece estar dizendo: "Eu lhe mostrarei wn modo
mais fácil, onde tudo é música, dança e milagre..."
78 A Crise de Integridade

3. A igreja eletrônica é publicidade que conduz a erro. Devido à


natureza da comunicação, o pregador eletrônico é forçado a reduzir a
mensagem a um "slogan", uma simplificação exagerada da verdade que
promete demais e transmite de menos...
4. A igreja eletrônica é má evangelização, Os pregadores de televi-
são justificam o levantamento de fundos na base de estarem alcançando
pessoas fora da igreja. Entretanto os fatos não apóiam essa afirmação.
Num estudo feito pelo Conselho Nacional de Igrejas e pelos Radiodi-
fusores Nacionais Religiosos em 1984, calcula-se que 13 milhões de
pessoas vêem os pregadores de televisão pelo menos uma vez por
semana. Dessa audiência, somente um milhão não pertence a uma
igreja. Contudo, a igreja eletrônica gasta pelo menos um bithao de
dólares para alcançar esse milhão de pessoas sem igreja. 8
Outro fator é a perigosa tendência da televisão de fabricar celebri-
dades. "O ponto mais forte da televisão", aI1I11la Postman, "é introduzir
as personalidades ao nosso coração, e não abstrações à nossa mente."?
O que se desenvolve então é uma "mentalidade de fãs" em pessoas que
se tornam tão leais à causa que se recusam a enfrentar a verdade sobre
os seus ídolos.
Se o pregador de televisão quiser, pode construir para si um reino à
custa de outros: a integridade do conselho e a honestidade e a genero-
sidade dos seguidores. A natureza humana anseia por heróis e viceja
com o sucesso vicário. Os apóstolos lutaram contra esse pecado desde
o começo. Quando Comélio caiu aos pés de Pedro, o apóstolo disse:
"Ergue-te, que eu também sou homem" (Atos 10:26). Paulo e Barnabé
recusaram ser tratados como deuses (Atos 14:8-18). Quando o rei
Herodes aceitou a adoração de homens, Deus o matou (Atos t 2:20-23).
A Bíblia não incentiva o culto da celebridade. "Percebemos que a
Escritura é parcimoniosa na informação sobre as pessoas, porém pró-
diga no que nos fala sobre Deus", escreve Eugene Peterson. "Ela se
recusa a alimentar nosso desejo de cultuar um herói. Não se mostra
complacente para com o desejo próprio da adolescência de unir-se a
um clube de fãs. Penso que a razão seja evidente. Clubes de fãs
estimulam um viver de segunda mão. "10 .
Quando combinamos o viver de segunda mão do clube de fãs com
a falta de realidade dos programas de televisão, acabamos com um
modelo de cristianismo horrível de se contemplar; entretanto é essa a
ünica "religião" que alguns professam! Vivem de substitutos e não o
sabem. Defrontados com o Cristianismo genuíno, não o reconheceriam
nem estariam dispostos a pagar o preço para adquiri-lo.
A Realidade 79

"Mas não há pessoas salvas pelo ministério da televisão?" alguém


pode perguntar. Sim, talvez, mas os fins não justificam os meios. "Eu
não apoiaria uma ficção para impedir que o mundo todo vá para o
ínferno", escreveu George MacDonald. "O inferno, do qual o homem
seria afastado pela mentira" sem dúvida é o melhor lugar para esse
homem. É a verdade... que salva o mundo."}}
Quando as pessoas me perguntam por que não tenho um programa
na televisão, geralmente sorrio e respondo: "Porque tenho um rosto
perfeito para o rádio. n Mas acabo de explicar o verdadeiro motivo: Não
acho que a televisão e o ministério bíblico sejam compatíveis. Não digo
que não possamos ensinar" ou pregar, ou cantar a verdade pela televisão,
pois podemos. AIgwnas pessoas têm excelentes programa de televisão
hoje em dia e algwnas são minhas amigas, e oro por elas. Todavia" fico
a pensar se não produziriam mais frutos se a quantia que despendem
na televisão fosse empregada em outros ministérios.
O estudo mencionado por Russ Reid divulgou alguns fatos interes-
santes sobre o mundo da televisão religiosa. Por exemplo, não é tão
grande quanto alguns querem que pensemos. Os pregadores eletrônicos
que afirmam ter dez ou vinte milhões de telespectadores estão asso-
biando no escuro.
A TV religiosa vem reforçar o que as pessoas já acreditam, mas
fracassa quando se trata de mudar ou aprofundar as crenças. A maioria
das pessoas que vêem regularmente programas religiosos já são mem-
bros ou freqüentadores de igreja, sendo que quase a metade assiste pelo
menos a um culto por semana. Somente 6% de todos os telespectadores
mandam contribuição regular para os pregadores eletrônicos, numa
média de trinta e cinco dólares por contribuição. Somente 7% disse que
assistir aos programas religiosos eletrônicos ampliou sua participação
na igreja, ao passo que 3% afirmou que a sua participação na igreja
decaiu.
Os pesquisadores concluíram que a maioria das pessoas vê os pro-
gramas religiosos de televisão por duas razões principais: (1) para
fortalecer e apoiar aquilo em que já acreditam; (2) para protestar contra
as coisas malignas apresentadas pela televisão comercial (homossexua-
Iidade, aborto, pornografia etc). Nas áreas de adoração, evangelização
e educação, a TV religiosa não é um sucesso.
Há uma área, entretanto, em que a TV religiosa parece ser um
sucesso: a manufatura de celebridades religiosas. Nenhum outro meio
de comunicação oferece maiores oportunidades para os mercenários
80 ACrise de Integridade

religiosos cujo interesse principal éalgo mais do que ministrar. O


cristianismo da indústria do entretenimento sempre terá seguidores.
Mike Yaconelli disse-o com muita eloqüência:
"A igreja tem sido hipnotizada pelo poder. Reverenciamos a
rainha da beleza, ojogador profissional, opróspero homem
de neg6cios~e estamos dispostos apagar milhões para qusl-
querpessoaque tome onosso dinheiroenos prove que somos
amaioria; que somos respeitáveis; que somos os vencedores.
De muito bom grado pennitimos que esses personagens do
poder viajem nos seus próprios aviões ajato com uma conl-
tiva leal de assistentes executivos esecretários de imprensa.
De muito bom grado damos os nossos bens para serem
compartilhados de modo vicário enquanto eles festejam com
presidentes, correm de um estúdio de televisão para outro,
entram em aeroportos edeles saem em grandes lirnusines
negras. Essas personalidades do poder têm·se tomado nossos
gigolôs evangélicos, De bom grado prostituímos nosso di..
nheiro, tempo, etudo oque temos, afun de poder ostentá..los
perante aqueles que não acreditam sermos n6s, de fato,
vencedores. Eaculpa não édeles. Énossa.,,12
10

RIQUEZAS

Aquele que não é influenciado pelo


dinheiro é o mais admirado entre todos os homens.

Cícero

"Deus e Dinheiro!" estampava a capa da revista Time de 3 de agosto


de 1987. Começando na página 48, anunciava o que o público há muito
suspeitava: nem todos os que dizem "Senhor, Senhor" são dignos de
confiança quanto à aquisição honesta de dinheiro e à maneira sábia de
empregá-lo. A reação do povo foi rápida, e logo muitas organizações
religiosas sentiram dramática redução nas contribuições. Até ministé-
rios de nome exemplar sofreram com a repercussão. O público havia
perdido a confiança: era uma crise de integridade.
Não foi a primeira vez que um império religioso desabou, nem será
a última. Mas deve ter sido a primeira vez que uma queda envolveu
tanto dinheiro e tanta gente, e foi alvo de tanta atenção da imprensa por
tanto tempo. Dinheiro e princípios sempre interessam ao público, de
modo que a imprensa tirou proveito da situação. Não podemos culpá-la;
a imprensa também tem de ganhar dinheiro.
No seminário me diziam que orgulho, dinheiro e sexo são as armas
principais que o inimigo usa para arruinar um ministério, e que com
freqüência operarnjuntos. O líder religioso ganha prosperidade, adquire
fama, torna-se orgulhoso, e então passa a ser a lei para si próprio e faz
82 A Crise de Integridade

o que bem entender. Afinal de contas, os bem-sucedidos servos de Deus


não têm o direito de viver acima da lei divina? Visto que nosso Senhor
foi humilde, pobre e puro, esperaríamos que seus discípulos lhe seguis-
sem o exemplo. Mas nem sempre é esse o caso.
A seqüência é familiar. Primeiro um homem, ou uma mulher, sente-se
chamado para o núnistério e, com sinceridade, quer servir na causa do
evangelho, Mas o ministério requer dinheiro. Até mesmo Jesus tinha
amigos que o ajudavam a pagar as contas (Lucas 8:3), e Paulo aceitou
o apoio tanto de igrejas (Filipenses 4:15-16) como de pessoas (2
Timóteo 1:15-18). O ministério requer dinheiro, mas precisamos tomar
cuidado para que o dinheiro não comece a requerer o mtnistério.
Quando isso acontece, o núnistério pára e a organização se transforma
em negócio religioso. O dinheiro passa a ser um fim e não um meio
para atingir esse fim.
A televisão é um meio de comunicação caro, portanto não devíamos
nos' surpreender pelo fato de os pregadores eletrônicos se preocuparem
com dinheiro, principalmente se levam uma vida de extravagância a
qual alguém tem de sustentar. Mas até os mais modestos pregadores
eletrônicos, na tentativa sincera de servir ao Senhor, deparam-se com
grandes orçamentos, e orçamentos demandam dinheiro. Como o con-
seguem e o que fazem com ele depende da integridade de cada um.
Sobre dinheiro elligião há pelo menos três mitos que precisamos
enterrar. O primeiro o de que dinheiro não é bom nem ruim; é neutro
e tudo depende do uso. Se isso fosse verdade, então por que Jesus
chamou as riquezas de "as riquezas da injustiça" (Lucas 16:9)? E por
que ele alertou quanto à "sedução das riquezas" (Mateus 13:22)1 Ele
parece estar dizendo que a riqueza é corruptora e ilusória em si mesma,
e que somente Deus pode santificá-la para usos dignos.
Concordo com Richard Foster, que disse: "Por trás do dinheiro há
forças espirituais invisíveis, forças que são sedutoras e enganosas,
forças que exigem total devoção."! A riqueza é perigosa, e até mesmo
o cristão mais dedicado pode cair na armadilha de adorá-la sem nem
mesmo perceber tal coisa.
Em algumas traduções da Bíblia lemos em Lucas 16: 13: "Não podeis
servir a Deus e a Mamom."" Mamom é a palavra aramaica para riqueza
de toda a espécie. Significa "aquilo em que alguém confia" ou "aquilo
que é entregue aos cuidados de alguém", Isso sugere que a riqueza é
algo que Deus entregou aos nossos cuidados, algo em que Deus não
quer que confiemos. Ele deseja que confiemos nele. Quando os judeus
usavam a palavra, era quase sempre em sentido negativo, e foi assim
Riquezas 83

que Jesus a empregou. Ele disse: "Ninguém pode servir a dois senhores;
porque ou há de odiar a um e amar o outro, ou se devotará a um e
desprezará o outro. Não podeis servir a Deus e às riquezas" (Mateus
6:24).
Mamom é a riqueza personificada, e Jesus nos alerta para que não
nos relacionemos com Mamom do mesmo modo como nos relacio-
namos com Deus. Não devemos tentar colocá-los no mesmo nível em
nossa vida. Se não formos cuidadosos, o dinheiro pode controlar nossa
atenção e afeto. Foster ressalta que "o dinheiro possui muitas das
características da divindade. Dá segurança, pode induzir a sentimentos
de culpa, dá liberdade, dá poder e parece onipresente. A característica
mais sinistra de todas, entretanto, é ser ele uma oferta para a onipotên-
cia.,,2
O dinheiro reivindica a lealdade e o amor que pertencem somente a
Deus, e tem o poder de aprisionar-nos se não tomarmos cuidado. O
dinheiro é um servo maravilhoso mas um patrão terrível, e somente
uma devoção disciplinada para com Deus pode capacitar-nos a conser-
var as riquezas no seu devido lugar. O mundo atual mede o sucesso
pelo dinheiro e pelas posses, e torna-se fácil para os cristãos defenderem
esses padrões falsos se não forem cautelosos. Jesus disse: "Acautelai-
-vos e guardai-vos da avareza; porque a vida de wn homem não consiste
na abundância dos bens que ele possui" (Lucas 12:15). "Porque, o que
entre
, os homens é elevado, perante Deus é abominação" (Lucas 16: 15).
E possível ser próspero e não ser mundano. Tanto a Bíblia como a
história cristã falam sobre pessoas ricas que andaram com Deus e que,
através das suas riquezas, foram bênçãos para outros. Mas tenho notado
que os lideres nas Escrituras tiveram cuidado em manter as mãos limpas
em relação ao dinheiro, e não usaram sua posição ou autoridade para
explorar a ninguém.
Ouça o que disse Abraão, que recusou os despojos de Sodoma:
"Levantei a minha mão ao Senhor, o Deus Altíssimo, o Criador dos
céus e da terra, jurando que não tomarei coisa alguma de tudo o que é
teu, nem um fio, nem uma correia de sapato, para que não digas: Eu
enriqueci' a Abrão" (Gênesis 14:22-23).
Ouça o profeta Samuel: "Eis-me aqui, testificai contra mim perante
o Senhor, e perante o seu ungido: De quem tomei o boi? de quem tomei
o jumento? a quem defraudei? a quem oprimi? e das mãos de quem
recebi suborno para encobrir com ele os meus olhos?" , (1 Samue112:3).
Ouça Paulo quando se dirigia aos pastores de Efeso: "De ninguém
cobicei prata, nem ouro, nem vestes. V6s mesmos sabeis que estas mãos
84 A Crise de Integridade

proveram o que me era necessário a mim, e aos que estão comigo.


Tenho-vos mostrado em tudo que, trabalhando assim, é necessário
socorrer os enfermos, recordando as palavras do próprio Senhor Jesus:
Mais bem-aventurada coisa é dar do que receber." (Atos 20:33-35).
"Nem cobiçoso de torpe ganância" (Tito 1:7) é uma das qualificações
para o ministério. Portanto, o povo de Deus tem direito de saber se os
seus ministros lidam com as finanças honestamente ou não. Acho que
isso aplica-se a qualquer pessoa que viva do apoio voluntário de outros,
inclusive ministros eletrônicos, missionários, evangelistas e pastores
locais. Os servos de Deus devem receber apoio adequado porque "digno
é o obreiro do seu salário" (Lucas 10:7), mas devem usar o dinheiro
sabiamente e estar prontos a prestar contas.
O ministro ganancioso tomar-se-á ou um comerciante ou um mer-
cenário. O comerciante troca os seus dons por dinheiro e usa a Bíblia
e a congregação do mesmo modo que o ator usa o roteiro e os especta-
dores do teatro; pede demissão quando aparece um trabalho melhor. O
mercenário trabalha pelo salário e faz apenas o que se espera dele-
nada mais. Para ele os dias mais importantes da semana são o do
pagamento e o de folga. Pede demissão quando aparece um trabalho
mais fácil ou quando algum perigo ameaça o rebanho (João 10: 12-13).
"Porque o amor do dinheiro é raiz de todos os males" advertiu Paulo
a Timóteo (1 Timóteo 6:10), e ordenou-lhe que passasse a mensagem
para os ricos da congregação. Tiago alertou os inttodutores da igreja a
serem cuidadosos no modo de mostrarem os lugares aos ricos e aos
pobres (Tiago 2:1-13), e também repreendeu os homens de negócio
ricos que exploravam os trabalhadores pobres (Tiago 5:1-8). Tenho a
impressão de que Tiago se dirigia a cristãos professos e não a pessoas
não-convertidas. ,
O dinheiro não é neutro. E essencialmente maligno e precisamos
estar cônscios da sua força sedutora. Os líderes eclesíãstícos em parti-
cular precisam evitar o amor ao dinheiro: "Apascentai o rebanho de
Deus, que está entre vós, tendo cuidado dele, não por força, mas
voluntariamente; nem por torpe ganância, mas de boa vontade" (1
Pedro 5:2).
O segundo mito que devemos enterrar é o de que o dinheiro não
satisfaz. Quantas vezes, no princípio do meu ministério declarei: "O
dinheiro não traz felicidade! Ele não satisfaz!" Ai de mim, eu era zeloso
e sincero, mas estava completamente errado. Milhões de pessoas neste
mundo estão felizes e satisfeitas em virtude do que o dinheiro pode
-~~--~---- -~-------".

Riquezas 85

fazer. Não são ricos, mas levam uma vida confortável e a desfrutam.
O problema é que não a desfrutam plenamente.
Alguns não sabem que a idéia de "gozar as coisas" se encontra na
Bíblia; mas Paulo apresentou-a em 1 Timóteo 6:17: "Manda aos ricos
deste mundo que não sejam altivos, nem ponham a esperança na
incerteza das riquezas, mas em Deus, que abundantemente nos dá todas
as coisas para delas gozarmos." A doutrina aqui é clara. Deus fez as
coisas, e elas são boas (Gênesis 1:31). Deus sabe que precisamos de
coisas (Mateus 6:32), portanto ele no-las dá e quer que tenhamos prazer
nelas. Todavia, cabe aqui uma advertência: precisamos usufruir as
dádivas de Deus humildemente, porque são dádivas, e cuidadosamente,
porque a riqueza é incerta e pode ser retirada a qualquer momento.
Além disso, é preciso que não deixemos que as dádivas divinas tomem
o lugar de Deus.
"Paulo está alertando não contra o desejo de ganhar dinheiro para
satisfazer às nossas necessidades e às necessidades de outros", escreve
JoOO Piper. "Ele está alertando contra o desejo de ter mais e mais
dinheiro, e contra a exaltação do ego e o luxo material que o dinheiro
pode proporcionar.t'ê Foi por isso que Paulo escreveu: "Mas os que
querem ficar ricos caem em tentação e em laço" (1 Timóteo 6:9).
O problema não é que o dinheiro não satisfaça, mas que realmente
satisfaz. Todavia, satisfaz apenas às pessoas desejosas de viver num
plano inferior onde o dinheiro representa a maior felicidade. Era o que
Jesus tinha em mente quando disse: "Mas ai de vós, os ricos! porque
já tendes a vossa consolação" (Lucas 6:24). Ele fez uma afirmação
semelhante sobre os fariseus, excessivamente devotos e ricos: "Em
verdade vos digo que já receberam o seu galardão" (Mateus 6:2).
H. H. Fanner escreveu que "para Jesus, o que há de terrível em
possuir valores errados na vida e em buscar objetivos errados não é que
a pessoa esteja fadada a um amargo desapontamento, mas justamente
o contrário; não é que a pessoa não consiga o que deseja, mas é que
ela o conseguer"
As perguntas a serem respondidas são: O que realmente me satisfaz?
Estou satisfeito em ter alimento,
, roupa e teto? Ou desejo algo mais do
que o conforto pessoal? E bom possuir as coisas que o dinheiro pode
comprar, contanto que não percamos aquelas que o dinheiro não pode
comprar. As pessoas que "já receberam a recompensa" escolheram a
segunda opção.
Podemos agora entender melhor por que o evangelho do sucesso e
a vida de extravagância de alguns pregadores eletrônicos e suas esposas
86 A Crise de Integridade
..
atraem a admiração e o apoio de tantos telespectadores. E o nível de
vida que eles desejam, e Deus pode permitir que isso lhes aconteça.
Mas isso será tudo o que conseguirão; já terão recebido a sua recom-
pensa. Quando a vida terminar, não receberão outras recompensas. Suas
oportunidades acabaram.
A Bíblia não enaltece nem o luxo nem a pobreza; apenas nos diz que
sejamos satisfeitos com as necessidades básicas da vida. Muitos de nós
temos muito mais do que as nossas necessidades, e teremos de respon-
der por isso. "Seja a vossa vida sem avareza, contentando-vos com o
que tendes" (Hebreus 13:5). "Tendo, porém, sustento e com que nos
vestir, estejamos contentes" (1 Timóteo 6:8). Precisamos determinar as
nossas necessidades reais e viver nesse nível. Podemos usar qualquer
riqueza extra que Deus nos mande para ajudar a preencher as necessi-
dades de outros. O fato de termos uma renda maior não nos obriga a
viver mais dispendiosamente, mas significa que podemos compartilhar
muito mais.
O terceiro mito que precisa ser enterrado é o de que nossa respon-
sabilidade termina quando contribuímos. Aqueles que asswnem essa
atitude acabam desperdiçando o que sobra e pennitindo que as organi-
zações a que apóiam desperdicem o que lhes é enviado. Ambas as coisas
são pecado.
Tudo o que temos vem de Deus e precisa ser usado do modo que ele
ordena: "Antes te lembrarás de que o Senhor teu Deus é que te dá força
para adquirires riquezas'" (Deuteronômio 8: 18). Deus é o dono; nós, os
mordomos. Não importa a proporção da nossa renda que lhe entregue-
mos, o que resta também está sob a sua autoridade. Dar 10% ou até
mesmo 50% não nos compra o privilégio de desperdiçar o resto.
Visto que um dia precisaremos prestar contas da nossa mordomia,
precisamos ter cuidado quanto ao lugar em que colocamos a riqueza de
Deus. Uma senhora minha amiga que contribuiu para uma organização
indigna disse-me: "Bem, ainda terei a minha recompensa. Dei a impor-
tância para o Senhor, e ele conhece o meu coração." Talvez, mas se ela
de fato quisesse dar a importância ao Senhor e agradar-lhe, teria
investigado a maneira de a organização aplicar os fundos e o que estava
sendo realizado. Você se sentiria honrado se alguém fizesse uma doação
em seu nome para a Sociedade de Recuperação de Tampas de Garrafas
Velhas? Ou para a Comissão de Resgate de Minhocas Extraviadas? A
mordomia bíblica manda que entreguemos uma doação digna, de
maneira digna, a uma organização digna ou a uma pessoa que a use
para um ministério digno.
Riquezas 87

Os capítulo 8 e 9 da segunda epístola aos Coríntios esboça a doutrina


cristã da contribuição. Paulo enfatizou que a oferta dos cristãos deve
ser motivada pela graça e não pela culpa. A palavra grega cha!is (graça)
é usada muitas vezes nesses capítulos. Dar pela graça quer dizer dar
apesar das circunstâncias (8: 1-2), dar com entusiasmo e alegria (8:3-4)
e em resposta às dádivas recebidas de Deus (8:7). A oferta da graça
jorra do interior de wn coração agradecido; não é arrancada à força.
Deus se interessa pela boa vontade (8:10-12), capacidade (8:13-14)
e a fé do crente (8:15). Quando contribuímos, Deus vê a proporção e
não a porção; e ele vê o coração como também a mão. Ele sabe que não
podemos dar o que não temos, mas quer que sejamos generosos com o
que possuúnos. Dar pela graça exige uma atitude de fé no Deus vivo,
o mesmo tipo de fé que o fazendeiro demonstra ao fazer a semeadura
9:6-11).
Mas Paulo não falou apenas a respeito de dar; ele também teve uma
palavra sobre receber (8: 16-9:5). Uma comissão, escolhida pelas igrejas
gentias, foi com Tito receber a oferta de amor e levá-la aos crentes
judeus pobres da Judéia. Por que o próprio Paulo não levou a oferta
sozinho? Por que envolver todos aqueles homens? Em primeiro lugar,
obviamente era perigoso demais um homem levar sozinho todo aquele
dinheiro. Além disso, Paulo queria que a oferta promovesse a unidade
cristã e, assim, várias igrejas foram representadas na missão.
Mas havia um terceiro motivo: "pois zelamos o que é honesto, não
só diante do Senhor, mas também diante dos homens" (2 Coríntios
8:21). Paulo não queria dar motivo a que alguém duvidasse da sua
administração do dinheiro. Por isso, organizou uma comissão repre-
sentativa. Não era suficiente Paulo dizer às igrejas: "O Senhor sabe o
que estou fazendo com o dinheiro." Ele era franco e honesto com as
finanças e queria que as igrejas soubessem o que ele fazia. Seus
ininúgos teriam ficado felizes em poder acusá-lo de desonestidade.
A praxe de Paulo sugere que as organizações religiosas devem tomar
providências para que toda a renda seja administrada honestamente.
Isso quer dizer que as ofertas devem ser usadas para as finalidades a
que foram dadas. E os fundos de reserva também devem continuar como
fundos de reserva, e que todos sejam distribuídos de acordo com um
orçamento aprovado. Uma praxe fiscal sadia exige relatório ao conse-
lho com regularidade, bem como wna auditoria anual. O conselho deve
certificar-se de que nenhum membro da organização esteja obtendo
lucros pessoais com o ministério e que as informações fiscais estejam
ao alcance de todos.
88 A Crise de Integridade

Como a maioria dos cristãos, minha esposa e eu também recebemos


muitas .cartas de organizações pedindo apoio. Isso não nos aborrece
pois gostamos de saber o que está acontecendo no mundo evangélico.
Aprendemos que o Senhor não espera que apoiemos a todas as pessoas,
mas deseja que estejamos informados. Parte dessa correspondência
jogamos fora imediatamente porque não confiamos nas organizações
que a enviam. Lemos o restante e fazemos as devidas considerações.
No decorrer dos anos, o Senhor tem-nos levado a contribuir para certos
ministérios que sabemos serem sérios e dignos de confiança; não nos
sentimos culpados se não pudermos dar aos outros. Se for da vontade
de Deus, ele nos orientará e tornará a oferta possível.
O ministério onde estou atualmente, "De Volta à Bíblia", ajudou a
fundar o Conselho Evangélico de Responsabilidade Financeira, uma
agência independente que vigia os seus membros a ÍIm de assegurar
que mantenham altos padrões de integridade organizacional e fiscal.
Também pertencemos à Associação de Missões Estrangeiras Interde-
nominacionais, que também mantém um alto padrão para os seus
membros. A mais nova agência "cão de guarda" é a Comissão de
'"
Integridade Financeira e Etica da Difusão Religiosa Nacional.
Francamente, eu pensaria duas vezes antes de contribuir para qual-
quer ministério que não pertencesse a uma agência auditora de confi-
ança. Quando digo de confiança refiro-me a uma agência que tenha
altos padrões e não receie disciplinar os seus membros, aconteça o que
acontecer. É preciso mais do que uma lista de padrões para fazer que
a disciplina funcione; exige coragem, principalmente quando o minis-
tério a ser disciplinado é popular.
Já que estou emitindo alertas, permita-me acrescentar algo mais
acerca dos ministérios que têm um grande número
, de parentes do diretor
no conselho e/ou na folha de pagamento. E bom examiná-los cuidado-
samente.
Quero alertar sobre organizações que usam técnicas suspeitas de
levantamento de fundos, como inventar uma ou duas crises anuais ou
oferecer mercadoria de valor maior do que a importância da oferta. E,
embora nem todos concordem conosco, minha esposa e eu não gosta-
mos de receber um dilúvio de correspondência - recebemos às vezes
até três cartas da mesma organização por semana pedindo ofertas - e
tampouco apreciamos pedidos por telefone. Certa vez cheguei até a
ameaçar em conseguir um número telefônico que não constasse da lista,
não pelo fato de comerciantes locais nos estarem querendo vender-nos
Riquezas 89

alguma coisa, mas em virtude de ministérios cristãos estarem suplican-


do ofertas. Antes que chamem, já respondi: "NÃO r'
Ouvi dizer que certo homem, ao chegar a casa, depois de uma
viagem, recebeu um aviso de carta registrada. Julgando ser algo impor-
tante, apressou-se ao Correio. Mas a carta - registrada, veja bem -
era de um evangelista pedindo wna oferta para o seu ministério que
passava pela crise mais recente. O homem sabia que não conseguiria
tirar seu nome daquela lista de endereços, de modo que tomou duas
decisões: jamais ler qualquer correspondência desse ministério e nunca
tomar a ver o seu programa.
Um ouvinte de rádio telefonou-me para partilhar comigo um proble-
ma, e no decurso da nossa conversa contou-me esta história:
"O número do meu telefone não está na lista. Certa noite, recebi um
telefonema de (deu o nome de um ministério eletrônico)
pedindo-me um donativo bem grande. Fiquei surpreso, e perguntei
como tinham conseguido o número do meu telefone. A garota saiu-se
com evasivas: 'Oh, há muitas maneiras de se conseguir um número.'
Por que deve um ministério chamado cristão violar a vida privada de
uma pessoa e ainda mentir?"
"A menos que você nos ajude hoje, nosso ministério tenninará no
fim da semana! Já viu isso em alguma carta ou ouviu algo semelhante
9't

no rádio ou na TV? Espero que não acredite nesse apelo. Que tal este:
"Se o nosso ministério afundar, afetará toda a obra do evangelho no
mundo todo"? Quem realizava "a obra do evangelho" antes de ele entrar
em cena? Esse tipo de exagero de alta potência simplesmente não faz
parte do ministério cristão.
Talvez esses casos sejam extremos, mas exemplificam o que me
preocupa: métodos não éticos de levantamento de fundos. Na igreja
primitiva, os servos de Deus pagavam as contas trabalhando, aceitando
apoio de indivíduos ou recebendo ofertas de igrejas locais. Paulo não
se envergonhava de falar de suas necessidades e pedir que o auxiliassem
com oração. Não há dúvida de que alguns amigos faziam mais do que
orar; mandavam-lhe ofertas para ajudar no seu trabalho. Não veja nada
de errado em escrever carta aos amigos que querem saber do nosso
trabalho, dando-lhes informações exatas que podem orientá-los quanto
às orações e ofertas. Comunicação é uma coisa, manipulação é outra
muito diferente.
A conexão entre a responsabilidade fiscal e a fidelidade no ministério
é muito clara. As pessoas que não são confiáveis quanto à riqueza de
Deus, também não são confiáveis quanto à sua verdade. Nosso Senhor
90 ACrise de Integridade

disse: "Quem éfiel no mínimo (dinheiro), também éfiel no muito;


quem éin~sto no mínimo, também éinjusto no muito. Pois, se nas
riquezas injustas não fostes fiéis, quem vos confiará as verdadeiras?"
(Lucas 16:10-11).
Amaior riqueza do mundo é seu reino easua ~stiça" (Mateus
I
110

6:33).Eisso que precisamospôremprimeirolugar. Se assimfizermos.


Deus providenciará orestante.
Penso quemuitos ministérios cristãos,incluindo igrejas locais, atra·
vessarão provações diffceis nos próximos meses. Deus está abalando
coisas "para que as inabaláveis permaneçam" (Hebreus 12:27; leia
também vv. 25·29), Será uma época de dolorosa autocrítica, mas isso
jamais prejudicou nenhuma organização. Será também um tempo de
sacrifício esubmissão, talvez até meslOO de perseguição; mas essas
tribulações nos devem levar para mais perto de Deus,
"Porque já étempo que comece ojulgamento pelacasade Deus" (l
Pedro 4:17).
11

RECUPERAÇÃO
Que i, então, o Reino de Deus?
' . .
E Jesus Cristo e, através da Igreja,
a unificação de todas as coisas nele.

Howard A. Snyder

A crise de integridade não será resolvida pelos Radiodifusores Na-


cionais Religiosos, pela Comissão Federal de Comunicações ou por
qualquer outra autoridade governamental ou religiosa. Essas organi-
zações podem providenciar certa proteção, mas jamais garantirão au-
sência de erros. A crise só será resolvida por pessoas crentes das igrejas
locais, pois lâ i que os ministérios dos meios de comunicaçõo, bonsou
ruins, encontram apoio. Durante meu ministério pastoral eu me sur-
preendi com o número de cristãos fundamentalistas viciados em pro-
gramas eletrônicos religiosos suspeitos; e nada do que eu pudesse dizer
mudaria o seu ponto de vista. Milhares de pessoas que deviam ter
melhor discernimento apoiavam e promoviam o PlL. Até hoje, algumas
pessoas ainda se recusam a enfrentar os fatos.
A responsabilidade de mudanças nos meios de comunicação religio-
sos deve ser dos líderes e membros das igrejas locais; mas - e aqui
está o problema - muitas igrejas não serão capazes de modificar coisa
alguma antes de elas mesmas se modificarem.. A televisão religiosa
92 A Crise de Integridade

consegue sucesso porque conta com o apoio dos crentes que gostam do
cristianismo apresentado como entretenimento. Receio que a igreja
local tenha a sua própria crise de integridade.
Sempre que algo falso tem êxito, em geral é porque algo verdadeiro
falhou. Um casal feliz não precisa procurar emoções fora do casamento;
estão mutuamente satisfeitos. Com freqüência tem-se dito que as here-
sias na igreja muitas vezes indicam uma falha dentro dela: Perdemos o
equilíbrio em algum ponto. Creio que isto se aplica especialmente à
crise atual.
O que tem faltado em nossas igrejas locais? Por que pessoas boas se
sentem compelidas a procurar substitutos em outros lugares?
Comecemos observando uma falta de autoridade espiritual nas
igrejas. Com isso me refiro à ausência do senhorio de Jesus Cristo sobre
os seus ministros e suas congregações. Dois dias depois do falecimento
de A. W. Tozer, "O Testemunho da Aliança" publicou seu artigo "A
Decrescente Autoridade de Cristo nas Igrejas", no qual ele afirmava
que "hoje Jesus Cristo quase não tem autoridade sobre os grupos que
se chamam pelo seu nome." Ele citou duas causas como responsáveis
pela situação: a influência de tradições e costumes, e o "reavivamento
do intelectualismo entre os evangélicos."} Recomendo este artigo ao
leitor e à junta de sua igreja.
Talvez o principal sintoma da erosão desta autoridade seja a obsessão
das igrejas locais pela "independência". As igrejas e os seus membros
fazem o que lhes parece certo. O membro de igreja que não gosta do
seu p~tor simplesmente reúne um grupo de dissidentes e dá início a
uma nova igreja ou invade outra e tenta assumir a direção. Alguém
examinou as Escrituras para saber o que o Espírito poderia querer dizer
às igrejas? Alguém convocou uma reunião de oração? Alguém pergun-
tou sob que autoridade estão dando início a uma nova igreja? Alguém
pediu a outras igrejas que orassem e os aconselhassem? Não, é mais
fácil seguir um líder com carisma e ser independentes.
Se entendo bem 1 Coríntios 12, não há igrejas "independentes". As
igrejas podem ser autônomas e não denominacionais; mas não inde-
pendentes. "Somos membros uns dos outros" (Efésios 4:25). Nossas
igrejas locais podem ter diferentes formas de governo e liturgias dife-
rentes, mas estamos todos sob a chefia do mesmo Senhor Jesus Cristo.
Pode não parecer, mas Cristo ainda é o "cabeça" sobre todas as coisas
(Efésios 1:22).
O espírito de independência gera problemas sérios dentro das igrejas
e entre elas. Paulo alertou-nos: "Porque sei que depois da minha partida
Recuperaçllo 93

entrarão no meio de vós lobos cruéis que não pouparão o rebanho. E


que dentre vós mesmos se levantarão homens que falarão coisas per-
versas para atrair os discípulos após si" (Atos 20:29-30). Se as ovelhas
estiverem sob a autoridade do seu grande Pastor, reconhecerão os
pastores falsos quando os virem, e não os seguirão (João 10:4-5).
Nas igrejas do Novo Testamento a liderança tinha como base a
consagração, o caráter e a conduta. Era preciso satisfazer aos requisitos
bíblicos defínidos para que a igreja ordenasse alguém e se submetesse
à sua liderança. Na igreja de hoje, a liderança é na maioria das vezes
baseada em carisma pessoal: a pessoa "talentosa", não a píedosa,
consegue seguidores e estabelece para si um reino religioso. Com muita
freqüência, o importante é a personalidade e não a espiritualidade.
Muitas vezes as igrejas locais parecem ter dificuldade em trabalhar
em conjunto e apresentar um testemunho unânime e amoroso diante da
comunidade. Em muitas ocasiões os pastores suspeitam uns dos outros
e competem uns com os outros, embora preguem o mesmo evangelho,
orem ao mesmo Senhor, e afirmem obedecer à mesma Palavra. Em
quase todas as cidades de qualquer tamanho, há pelo menos uma igreja
que faz o que lhe apraz e dá pouca atenção às outras, exceto quando
algumas de suas ovelhas se desviam para outros rebanhos.
Não sei qual seja a solução para esse problema. Há ocasiões em que
chego a desejar que cada comunidade tivesse um bispo que unisse as
ovelhas em um só rebanho e ajudasse os pastores a trabalhar em
conjunto. Mas tivéssemos tal organização, suponho que alguns pastores
começariam a competir para se tomarem bispos! Uma resposta, é claro,
é o batismo de amor e humildade que resultaria em obediência a
Filipenses 2:1-18 e Romanos 14-15. A resposta é um reavivamento.
Falaremos sobre isso mais tarde.
Outra coisa que falta nas igrejas locais é a adoração espiritual. A
adoração bíblica verdadeira satisfaz a nossa personalidade integral de
tal modo que não precisamos procurar substitutos fabricados pelo
homem. William Temple deixou isto perfeitamente claro em sua defi-
nição de adoração:

Pois
, adoração é a submissão de toda a nossa natureza a Deus.
E o despertar da consciência ante a sua santidade, a nutrição
da mente com a sua verdade, a purificação da imaginação
com a sua beleza, 8 abertura do coração ao seu amor, a entrega
da vontade a seus propósitos - e tudo isso elevado em
louvor, a emoção menos egoísta de que nossa natureza é
94 A Crise de Integridade

capaz, e, portanto, o principal remédio para o egocentrismo


que é o nosso pecado original e a fonte de todo pecado real. 2
À luz dessa definição, em que plano fica a maioria dos programas
religiosos de televisão? Em que plano fica a maioria das igrejas locais?
"No culto regular da igreja", escreveu A. W. Tozer, "a coisa mais real
é a irrealidade sombria de tudo. "3 Infelizmente, é verdade!
Mesmo com a irrealidade sombria, o culto matutino de domingo é
tão previsível que não precisamos consultar o boletim para saber o que
vem em seguida, e é tão enfadonho que o que vem não faz nenhuma
diferença. Satanás sabe que a adoração verdadeira é emocionante e que
santos emocionados lhe causam transtorno, portanto ele trabalha horas
extras a fim de não usarmos todas as nossas aptidões dadas por Deus
na adoração ao Senhor. Leia a definição de William Temple novamente
e pergunte a si mesmo: "São todas essas áreas da minha personalidade
consagradas a Deus quando adoro? Tenho ~ oportunidade de me dar
totalmente a Deus durante os cultos?"
Alguns de nossos evangelistas e de nossos te6logos têm-nos alertado
tanto a respeito de "sentimentos" que temos empurrado nossas emoções
para fora da igreja e para dentro dos campos de esporte. Quase a única
oportunidade de expressar nossas emoções honestamente é nos casa-
mentos e, assim mesmo, temos de tomar cuidado. As igrejas evangélicas
são fortes em "cerebração" e fracas em celebração. Com demasiada
freqüência vamos para casa depois de um sermão com um novo esboço
na mente e o mesmo frio sentimento no coração.
Não estou advogando fanatismo nem emocionalismo. Estou apenas
pleiteando um tipo de adoração que satisfaça à essência total do ser
humano, criado à imagem de Deus. Se os filhos de Deus não se
entregarem a ele em genuína adoração, atrofíar-se-ão emocionalmente
ou expressarão esse sentimento de modo ilícito. Continuarão a procurar
substitutos, e aos poucos se satisfarão com aquilo que não é pão.
Podemos criticar os ministérios eletrônicos tanto quanto quisermos,
mas nossa crítica não trará o rebanho faminto de volta ao redil.
Uma terceira deficiência é um paralelo do que acabamos de comen-
tar: a emoção e o desenvolvimento no ministério. Quão trágico é quando
as pessoas precisam sair do programa da igreja local a fim de se
identificar com um ministério que os emocione e lhes desafie! Com-
preendo que Deus chama alguns dos seus para trabalhar em organi-
zações paraeclesiãstícas, como "De Volta à Bíblia"" no meu caso. Mas,
quando uma organização paraeclesiástica passa a tomar o lugar da
comunhão da igreja local, algo está errado. Quando as igrejas resistem
Recuperação 95

a mudanças e tudo se toma rotina, estão convidando os membros a


procurar oportunidades em outras partes.
Isto nos leva ao delicado assunto dos ministérios paraeclesiásticos.
Jerry White de:fme o ministério paraeclesiástico como "qualquer
ministério espiritual cuja organização não esteja sob o controle ou a
autoridade de wna congregação local. n4 Estariam aí incluídos os mi-
nistérios eletrônicos. Muitos pastores não concordam em que os mem-
bros de suas igrejas contribuam para o sustento de nenhum tipo de
organização fora do campo de ação da igreja local, inclusive os minis-
térios bons. Jamais foi essa a minha posição, mesmo quando pastoreava
uma igreja local, e fui pastor de três.
Aqueles que dizem que não havia ministério paraeclesiástico na
época do Novo Testamento estão tecnicamente certos, mas tampouco
existiam escolas dominicais ou seminários. Não conheço nenhum prin-
cípio do Novo Testamento que proíba crentes e igrejas de trabalharem
em conjunto para realizar a obra de Deus. Na realidade, um ministério
paraeclesiástico em que muitos crentes de muitas igrejas trabalham
juntos, pode estar mais perto do tipo de unidade pelo qual Jesus orou
(João 17:20-23) do que igrejas marcadas pela dissensão e divisão.
A "comissão de beneficência" de Paulo, nomeada pelas igrejas
gentias, é provavelmente a coisa mais próxima de um ministério parae-
clesiástico mencionada em Atos. Mas é bom lembrar que Paulo, apesar
de ter apresentado relatório à igreja-mãe ao voltar de uma viagem, levou
avante um ministério bastante independente. Não podia estar em con-
tato com a igreja que o mandara do modo que os missionários o fazem
hoje; na verdade, Paulo e sua "equipe" tinham certa semelhança com
um ministério paraeclesiástico. .
Ao longo de toda a minha vida cristã, sempre estive associado de
um modo ou outro a ministérios paraeclesiãsticos, embora no coração
eu seja basicamente um pastor. Converti-me numa enorme concentra-
ção promovida pela Mocidade para Cristo e, ainda adolescente, come-
cei a trabalhar nesse ministério. Quando pedi demissão da minha
primeira igreja pala me unir à equipe da Mocidade para Cristo Interna-
cional, um pastor amigo disse: "Tenho pena de que esteja deixando o
ministério." Essa expressão me perturbou. Estaria ele sugerindo que eu
estava pecando por deixar o pastorado a fim de colaborar com um
ministério paraeclesiástico?
Durante quase quarenta anos de ministério, tive inúmeras oportu-
nidades de observar as atividades de organizações paraeclesiãsticas,
Colaborei com dois desses ministérios (Mocidade para Cristo e De
96 A Crise de Integridade

Volta à Bíblia), fui membro de diversos conselhos, escrevi para diver-


sos editores e publicações, falei em muitos encontros paraeclesiásticos
e tive o privilégio de conhecer pessoabnente a muitos dos seus líderes.
Creio que posso falar tanto com autoridade como com simpatia quando
se trata de ministérios paraeclesiásticos e seu relacionamento com as
igrejas locais.
Para começar, não gosto da palavra paraeclesiâstico. Significa "ao
lado da igreja" o que não é uma descrição exata de nenhum ministério
paraeclesiástico que eu conheça. Ao lado de qual igreja? Na sua
comunidade, qual congregação é a "igreja verdadeira"? Se existir tal
congregação, todas as outras igrejas serão ministérios paraeclesiásti-
cos!, Isso faz sentido?
E interessante saber que na Grã Bretanha, a palavra paraeclesiâstico
referia-se originalmente a "urna congregaçãon que existia junto com a
igreja institucional. Era a "igreja alternativa", a "igreja
, do futuro", e
não uma organização religiosa diferente da igreja. E claro que não é
esse o significado de paraeclesiâstico nos dias de hoje.
Gostaria que tivéssemos uma palavra nova, porque todas as vezes
que usamos a antiga, perpetuamos confusão e divisão. Talvez co-ecle-
siâstica ("com a igreja") fosse uma possibilidade. No que me diz
respeito, os ministérios paraeclesiásticos verdadeiramente bíblicos
operam com a igreja e a servem. Não fazem a sua própria obra "ao lado
da igreja" nem competem com ela.
Se isso não for verdade, estou em má situação. Durante a semana,
preparo estudos bíblicos e produzo de oito a dez programas de "De
Volta à Bíblia", uma organização paraeclesiástica. Em alguns fins de
semana, minha esposa e eu viajamos a uma igreja onde prego duas ou
três vezes. Pertenço mais à igreja de Deus nos fins de semana ou nos
dias úteis? Quando assisto a uma reunião de conselho de missões ou
faço uma palestra numa escola, estou abandonando a igreja ou servindo
a ela? De algum modo misterioso, estou movendo-me "dentro da Igreja"
e depois "junto à igreja n quando procuro usar meus dons espirituais?
Quanto mais penso nisso, tanto mais ridículo se torna.
Um pastor amigo acha que Deus não abençoa ministérios fora da
igreja local. Entretanto, na última vez que estive em seu gabinete. vi
dois diplomas de escolas paraeclesiásticas, uma grande coleção de
livros e revistas impressos por editores paraeclesiãstícos, correspon-
dência de uma agência paraeclesiástica que dirige o seu programa de
rádio, fitas cassete produzidas por um estúdio paraeclesiástico de
gravação. Parece que não lhe é fácil ser coerente nesse assunto. Tenho
Recuperação 97

a impressão de que ele considera os ministérios paraeclesiásticos uma


ameaça tanto para a sua própria influência como para as finanças da
igreja. Em ambos os pontos ele está errado.
Se eu fosse condensar algumas conversas recentes, principalmente
com pastores, o resultado seria mais ou menos o seguinte:
- Bem, o P1L é um ministério paraeclesiástico - diz um amigo.
- Não presta contas a ninguém! Mas, urna boa coisa pode advir disso:
é uma obra a menos a pedir ofertas! Existem grupos paraec1esiásticos
demais.
- Não há escândalos nas igrejas locais? - pergunto.
Relutantemente ele responde: - Sim _ .. Pode ser que ele tenha lido
1 Coríntios.
- São todas as igrejas locais responsáveis a alguma autoridade fora
da igreja? Todas elas possuem auditoria?
Com maior relutância: - Não.
- Você acha que há igrejas locais em demasia na sua cidade?
- Sim, acho. A cada passo, vê-se alguém dando início a uma nova
igreja. Não precisamos de mais nem urna!
- Então as acusações que você faz aos ministérios paraeclesiásticos
também se aplicam às igrejas locais?
- Acho que sim - . E assim termina a conversa.
Os ministérios paraeclesiásticos
.. quase sempre começam por um
destes três modos. As vezes o Espírito de Deus une homens e igrejas,
dando-lhes um fardo e uma visão comuns, e dão início a uma nova
organização para realizar essa obra. Foi assim que tiveram início
algumas das primeiras sociedades bíblicas e agências missionárias.
Um segundo modo é que às vezes um homem, ou um grupo de
homens, recebe uma bênção especial de Deus de maneira extraordiná-
ria, mas a igreja não tem espaço para ela. Se o ministério permanecer
dentro de uma única igreja, tanto a igreja como o ministério podem ser
destruídos. O vinho novo precisa ser colocado em odres novos para que
a bênção seja preservada e partilhada. A separação é amigável, a igreja
aceita o novo ministério, e todos trabalham em conjunto. Nessa cate-
goria parecem-se enquadrar organizações como "Mocidade para Cris-
to", "A Aliança Pró-Evangelização de Crianças" e a "Associação de
Homens de Negócios do Evangelho Pleno".
Um terceiro modo pelo qual têm início os ministérios paraeclesiás-
ticos é através de deternúnados esforços de pessoas que simplesmente
querem fazer o seu próprio trabalho, gostem os outros ou não. Um
missionário é impedido de voltar ao seu campo; então ele organiza o
98 A Crise de Integridade

seu pr6prio conselho e volta de qualquer maneira. Uma florista conver-


te-se e decide começar uma nova organização para testemunhar espe-
cialmente para floristas. (No lugar de floristas podemos colocar
caminhoneiros, agentes funerários, divorciados, suecos, ou o que seja.)
Nem todos os ministérios paraeclesiásticos
, começam desse jeito, mas
infelizmente é o caso da maioria. E por isso que são em tão grande
número.
Disseram-me que isso não aconteceria se as igrejas locais parassem
de "restringir" e "sufocar" os cristãos talentosos. Afinal, se um crente
sente o chamado para certo ministério mas a igreja não coopera, por
que não deve ele começar sua própria organização1 Houve uma época
em que eu teria apoiado uma pessoa como essa, mas já não o faço.
Quanto mais vivo, mais vejo a morte de ministérios que afirmam ter
sido estabelecidos por Deus; mas que, aparentemente, ninguém conse-
guiu mantê-los com vida.
"Sinto que devo começar um ministério no rádio" escreveu-me
alguém. "Que sugestões poderia dar-me?"
Minha resposta: "Sugiro que comece a servir na igreja local a que
pertence. Se Deus achar que você é fiel e deve alcançar mais pessoas,
ele abrirá as portas. Por favor, não dê início a um novo ministério pelo
rádio antes que Deus tenha aberto as portas; já temos mais do que
precisamos."
Quando Neemias e os seus amigos reconstruíram os muros de
Jerusalém, algumas das pessoas trabalharam na frente de suas próprias
casas (3: 10,23,28-30). E urn bom lugar para qualquer pessoa começar.
Setodos nós, nas igrejas locais, seguíssemos esse exemplo, poderíamos
começar a solucionar a crise de integridade. Sou grato às organizações
nacionais que promovem altos padrões para os ministérios eletrônicos;
mas, enquanto os membros das igrejas locais continuarem apoiando a
charlatães e assalariados, não vamos resolver o problema.
Levamos anos para nos metermos nessa confusão e não sairemos
dela imediatamente.
Amenos que - e escrevo isto com temor e tremor - a menos que
Deus, na sua grande bondade, nos envie wn reavivamento.
12

REAVIVAMENTO

Não tornarâs a vivificar-nos,


para que o teu povo se alegre em ti?

Salmo 85:6

Tem o leitor uma pintura predileta? Suponho que wn bom psiquiatra


poderia deduzir muita coisa a nosso respeito apenas estudando os
quadros de que mais gostamos. Talvez não devêssemos revelar quais
são.
Bem, vou correr o risco. Uma das minhas pinturas favoritas é O
Profeta Jeremias Contemplando a Destruição de Jerusalém, de Rem-
brandt. Quando visitei o museu Rijks, em Amsterdã, comprei uma
reprodução da pintura, emoldurei-a, e a coloquei no meu gabinete. Está
agora na minha frente.
Gosto do quadro porque Jeremias é o meu profeta preferido, pois o
seu ministério me incentiva
...
a continuar mesmo quando parece que
estou fracassando. As vezes olho para o quadro e digo: "Bem, meu
velho, você parece um fracassado, mas foi um sucesso! Obrigado por
ter sido fieI. Obrigado por incentivar-me hoje."
Jeremias foi um grande homem. Tempos difíceis produzem gigantes
e anões. "Quando homens pequenos projetam longas sombras, é sinal
de que o sol está entrando." Li que Walter Savage Landor escreveu isso
há mais de cem anos. Vale a pena repetir: "Quando homens pequenos
100 A Crise de Integridade

projetam longas sombras, é sinal de que o sol está entrando." Fico a


pensar quais seriam as nossas medidas e as de nossas sombras aos olhos
de Jeremias.
.-
E difícil e perigoso ser um indivíduo que segue um caminho diferente
dos outros. Henrik Ibsen disse: "Deus primeiro individualiza o homem
que ele quer abater na luta da vida."! Poderíamos parafrasear: "O cristão
que Deus quer abençoar e usar na crise atual precisa ter a coragem de
ser diferente e a convicção de continuar na direção certa, aconteça o
que acontecer."
A conclusão é que nada mudamos ao ler livros e concordar uns com
os outros. Mudamos as situações tomando-nos disponíveis a Deus e
obedecendo-lhe a fim de que ele possa fazer a obra por nosso intermé-
dio.
De que tipo de pessoas a igreja precisa?
A igreja precisa de pessoas com discernimento, que reconheçam que
a vergonha de um ministério não exige a condenação de todos os outros.
O inimigo quer que os santos comecem a desacreditar uns nos outros
e a sufocar a obra de Deus perante um mundo cheio de espírito crítico.
Satanás, e não Deus, é o autor da confusão.
Leia estes trechos de algumas cartas que me chegaram às mãos logo
depois do escândalo do PlL. São típicas das muitas recebidas pelos
meus companheiros.

"Meu marido, que ainda não se entregou ao Senhor, está mais


intransigente do que nunca quanto ao apoio a qualquer orga-
nização cristã... Esse... escândalo causou danos profundos
no trabalho do Senhor e não é fácil ser cristão atualmente. A
vida está difícil aqui em casa."

"Por favor, tire o meu nome da sua lista de endereços.


Agradeça a Jim e Tammy Bakker."

"Em vista de recentes e lamentáveis acontecimentos, a con-


gregação instruiu nossa Comissão de Missões que obtivesse
declarações financeiras de todas as organizações para as
quais contribuímos." [Tivemos o prazer de atendê-los. Não
temos segredos.]

"Que desgraça todo esse escândalo pela TV! Peço a Deus que
abra os olhos de mais pessoas para a verdade,"
Reavivamento 101

"Sirvo a um Deus, louvado seja o seu nome, que não me diz


para enviar-lhe dinheiro... Ele não abençoará nenhwna pes-
soa da turma do PIL - inclusive vocês. Que ele tenha
misericórdia de você!"

Fiquei surpreso ao descobrir que "De Volta à Bíblia" fazia parte da


"turma do PIL". Mas essa carta vem provar o meu argwnento: os
cristãos têm enorme necessidade de discernimento. Se não formos
cuidadosos, cairemos nas mãos do inimigo, enfraqueceremos a causa
de Cristo e destruiremos a obra de Deus. Posso afirmar que esse tipo
de suspeita e reação exagerada terá conseqüências trágicas para a obra
de Deus em toda a parte, inclusive nas igrejas locais e, por intennédio
das missões, no mundo todo.
Como nunca antes, o povo de Deus precisa lutar contra o inimigo
certo no espírito certo, sem negligenciar a obra que Deus nos entregou.
Do mesmo modo que os trabalhadores de Neemias, precisamos com-
bater e construir, com a espada numa mão e a ferramenta na outra. O
discernimento espiritual vem para aqueles que conhecem a Palavra de
Deus, obedecem a ela e dependem do Espírito do Senhor.
A igreja também precisa de pessoas devotadas a Jesus Cristo. Sei
que isso parece um chavão; mas haverá maneira melhor de expressar
a idéia? A pergunta que dirigiu a Pedro, Jesus no-la faz hoje: "Amas-me
mais do que estes?'" (João 21: 15). A coisa mais relevante sobre o povo
de Deus não é que amemos as almas perdidas ou mesmo a nossos irmãos
no Senhor. O mais importante é que amemos a Jesus Cristo. Somente
então é que estamos aptos a alimentar as suas ovelhas, cuidar do seu
rebanho e combater os lobos.
"Reavivamento é a renovação do amor da igreja por Jesus Cristo",
escreveu Vance Havner. "Amamos a nós mesmos, amamos a nossa
turma e pode ser que amemos o nosso fundamentalismo, mas não
amamos ao Senhor..,.,2
As pessoas ficam chocadas quando lhes digo que não vou à igreja
com a finalidade de ouvir um sermão ou ter comunhão com o povo de
Deus, apesar de muito apreciar ambas as coisas. Vou à igreja no dia do
Senhor para dar testemunho de que Jesus Cristo vive e para adorá-lo.
De fato, começo o dia, bem cedo pela manhã, adorando-o. Se ele possuir
o meu coração, ele pode confiar-me qualquer coisa que me queira dar.
Tenho grande receio de deterioração espiritual, de estar aparente-
mente vivo quando na realidade esteja morto. O fato de participar de
um ministério não é proteção. Mesmo os ministérios podem criar oportu-
102 A Crise de Integridade

nidades para a obra do inimigo. As cautelosas palavras de George


MacDonald me cativam: "Um homem pode afundar-se tão vagarosa-
mente que, muito depois de ter-se tomado um demônio, pode ainda
continuar a ser bom clérigo ou bom dissidente e considerar-se bom
cristão. "3
A crise atual não será resolvida por cristãos cujo alimento e armas
sejam de segunda mão. Será resolvida por pessoas que andam com
Deus, que se alimentam da sua Palavra, que têm força para a batalha e
que sabem usar a espada do Espírito. Precisamos voltar às velhas
disciplinas espirituais praticadas pelos nossos pais, disciplinas que a
nossa geração liberada gosta de chamar de "legalismo". Precisamos
cavar de novo os velhos poços e chamá-los pelos mesmos antigos
nomes (Gênesis 26:18).
A igreja precisa de pessoas praticantes da Palavra e não apenas
ouvintes, porque a crise não será resolvida por espectadores e generais
de reserva. Que Deus tenha pena de nós! Pregamos unidade e continua-
mos a fazer as coisas"ao nosso modo" mesmo que prejudique o trabalho
de outros. Pregamos separação do mundo e fazemos concessões. Pre-
gamos amor e regozijamo-nos secretamente com a queda de um irmão.
Somos tão tolerantes para com o pecado em nossa própria vida e na
vida dos outros que não ousamos falar de um modo muito concreto em
nossa pregação.
Precisamos de reavivamento.
Outra vez o chavão, mas não posso deixar de usá..lo. Precisamos de
reavivamento, Nova vida. Nova purificação. Novo amor. Nova unida-
de. Novo poder. E como precisamos de tudo isso! Como eu preciso!
Não porque bilhões de pessoas neste mundo condenado precisem ouvir
o evangelho. Não porque a igreja precisa de uma boa limpeza. Não
porque estamos confusos e envergonhados e queremos parecer dignos
de novo. Não porque perdemos a integridade e o mundo não mais confia
emn6s.
Precisamos de reavivamento porque não temos honrado nem glori-
ficado a Deus como ele merece. Quando Deus não é glorificado, tudo
o mais vai mal. O reavivamento lida com as causas, não com os
sintomas. O reavivamento é radical: desce às raízes.
Considere as palavras de Richard Owen Roberts, uma das maiores
autoridades em reavivamento:
"Não tenho dúvida alguma de que um povo reavivado glori-
ficará a Deus de um modo que não lhe seria possível se
estivesse dele afastado. Quando homens e mulheres apren-
Reavivamento 103

dem a glorificar a Deus podem realmente começar a desfrutar


a sua companhia. A satisfação não será periódica, mas eterna.
Quando Deus é glorificado e sua companhia desfrutada, a
busca de prazeres transitórios é abandonada com entusiasmo
e ações de graças. O que era antes uma incrível labuta e
restrição ao espírito livre do homem toma-se agora pura
liberdade e prazer. O que antes era absoluto prazer toma-se
agora asqueroso e conduta depravada mais digna dos despre-
zíveis habitantes do inferno do que dos nobres cidadãos da
terra criados à imagem de Deus.'~
Sejamos práticos. O que devemos fazer para incentivar a vinda do
reavivamento de que tão desesperadamente precisamos?
Arrependimento. Isto significa sermos honestos a respeito dos peca-
dos, tanto pessoais como organizacionais. Significa desprezarmos nos-
sos pecados, confessá-los, abandoná-los, fazer as devidas reparações e
tomar providências a fim de que não os repitamos.
Nós, os que dirigimos ministérios paraeclesiásticos, precisamos estar
certos de que somos honestos com os nossos pares e usamos de amor
cristão para com os líderes de outros ministérios. Precisamos confessar
um espírito crítico e competitivo, talvez até mesmo um espírito de
ciúme. Talvez precisemos fazer uma reunião de cúpula, não de promo-
ção mas de oração. Precisamos vir de coração partido e não de cabeça
erguida, confessando
, nossos pecados em vez de gloriando-nos nas
estatísticas. E preciso que confessemos nossas diferenças pessoais e
organizacionais e tomemos providências para que trabalhemos juntos
em amor,
O que acabo de dizer sobre os líderes paraeclesiásticos aplica-se
também a pastores, oficiais de igreja, missionários, líderes denomina-
cionais, a todos os que procuram servir ao Senhor.
Estas palavras no papel parecem tão fracas! A Palavra de Deus pode
expressá-lo muito melhor!

"Se o meu povo, que se chama pelo meu nome se humilhar,


orar e me buscar, e se converter dos seus maus caminhos,
então eu ouvirei dos céus, perdoarei os seus pecados e sararei
a sua terra" (2 Crônicas 7: 14).

Retorno. Talvez os nossos ministérios tenham-se afastado aos pou-


cos dos objetivos que deram origem à sua existência. Nesse caso,
voltemos aos alvos elevados e santos e livremo-nos de tudo o que os
104 A Crise de Integridade

atrapalha, não importa o quanto isso nos possa custar. Diminuamos


nossas equipes, cortemos orçamentos e trabalhemos mais e melhor para
esticar os nossos recursos. Vamos descobrir o que Paulo quis dizer
quando escreveu: "Pobres, mas enriquecendo a muhos" (2 Coríntios
6: 10).
Voltemos aos princípios fundamentais da Palavra de Deus, as ver-
dades conhecidas mas nem sempre praticadas. Sejamos primeiramente
cristãos e depois executivos em nossa pregação, no levantamento de
fundos, na promoção e administração. Façamos mais reuniões de ora-
ção e menos reuniões executivas, gastemos mais tempo na Palavra e
mostremos mais interesse uns pelos outros. Descubramos o que agrada
ao Senhor, e não o que agrada ao público cristão.
Lamento se o que estou dizendo parece um "sermão", mas lembre-se
de que estou pregando para mim também. Dentro de pouco tempo
alguns de nós deixarão o palco e darão lugar à nova geração de líderes
cristãos, e quero que os meus últimos anos de serviço façam uma
diferença na sua igreja. Não desejo passar os anos restantes na rotina
fazendo programas de rádio, escrevendo livros e artigos e pregando
sermões, Quero experimentar um toque novo de Deus de modo que o
meu ministério ajude o povo de Deus em toda a parte a ter um novo
domínio de sua vida e serviço em Cristo.
Arrependimento.
Retorno.
Regozijo. "Não tomarás a vivificar-nos, para que o teu povo se alegre
em ti?99 (Salmos 85:6).
Durante tempo demasiado temo-nos regozijado por coisas erradas:
finanças, edifícios, estatísticas, experiências emocionais, popularidade,
aceitação universitária, influência.
.. . . tudo, exceto Deus. Os nossos
valores estão confusos. E por isso que os movimentos religiosos dos
últimos cinqüenta anos não têm gerado um reavivamento. Acreditáva-
mos que nossas multidões e os convertidos eram prova de que Deus
estava restaurando uma igreja doente; mas estávamos errados. Os
nossos esforços não restauraram a paciente; apenas agitaram-na um
pouco e deram-lhe força suficiente para virar-se e voltar a dormir,
Repito: nossos valores estão confusos. E estamos tão confortáveis
nessa armadilha preparada por nós mesmos que na realidade não
queremos sair dela! O interesse criado no mundo evangélico é enorme,
e um reavivamento podia trazer-nos prejuízo financeiro. Para qualquer
pastor ou líder paraeclesiástico que, como o rei Amazias, está preocu-
Reavivamento 105

pado com a perda de dinheiro, permita-me dizer: "Muito mais do que


isso pode dar-te o Senhor" (2 Crônicas 25:9).
Comecemos a orar pelo reavívamento, e incluamos nele as pessoas
com as quais não concordamos. Bob Cook costumava lembrar-nos, na
"Mocidade para Cristo", que Deus abençoa as pessoas de quem discor-
damos. A oração fervorosa não requer que fundemos uma nova orga-
nização ou estabeleçamos uma relação de endereços para corres-
pondência. Se todos nós nas igrejas loc~s e nos vários ministérios
começarmos a orar pedindo um reavivamento, e continuarmos orando
por ele, Deus iniciará a obra. Eis o que disse o Dr, D. Martyn Lloyd-
-Jones:

"Não vejo esperança, a menos que cada membro de igreja


ore pelo reavivamento, talvez reunindo-se em diferentes
lares, em grupos de amigos, reunindo-se em igrejas ou em
qualquer outro lugar, e orando com insistência e concentra-
ção por um derramamento do poder de Deus... Não há
esperança a menos que façamos isso."5

Declaremos uma moratória na competição cristã. Não importa quem


é o maior pregador, cantor ou autor ou quem possui a maior escola
dominical ou orçamento missionário. Deus sabe e ele dá as recom-
pensas. Enquanto isso, há trabalho a ser feito.
Amemo-nos uns aos outros e comprovemos esse amor falando a
verdade em amor (Efésios 4:15). Em vez de procurarmos a imprensa,
oremos e estejamos certos de estar obedecendo a Filipenses 2:3: "Nada
façaís por contenda ou por vanglória, mas por humildade, cada um
considere os outros superiores a si mesmo".
Tenhamos solicitude sincera pelo ministério dos outros a fim de
encorajar-nos uns aos outros e orar uns pelos outros. Muitos líderes
cristãos estão feridos e precisam do nosso auxílio. Quem é o pastor do
pastor? Quem incentiva o ministro eletrônico, o autor, o cantor, o
missionário?
Não nos esqueçamos de que Jesus deixou-nos aqui para sermos suas
testemunhas e dizer ao povo como ser salvo. Jesus não está edificando
uma Sociedade de Admiração Mútua. Ele está construindo a sua igreja.
Este livro tratou da crise de integridade que você e eu precisamos
ajudar a resolver. As notícias sobre a crise podem mudar, mas isso não
significa que a situação esteja melhor ou que o problema tenha sido
resolvido. Se o problema não for resolvido, o testemunho da igreja será
prejudicado nos anos por vi. É preciso resolvê-lo.
106 ACrise de Integridade

Dis~ram·me que osinal chitis para crise éuma combinação de


caracteres que signifICam "perigo" e"oportunidade", Essa éuma des·
crição perleita da situação atual da igrej~ mas omaior perigo tque
podemos desperdiçar aoportunidade. Se as pessoas dos meios de
comunicação religiosos em massa continuarem com se nada tivesse
acontecido, os perigos aumentarãoepossivelmentedestruirão as opor·
tunidades.
Tems wna tarefu árdua. EstaJms roconstruiIxIo em dia de oplÓllio,
Com agra~ de IRus, este ma JXXIe tomar·se em reavivmnto; evocf e
eupxlelOOs ajOOar para q~ essa ~a ~
"Fazeitudo quanto ele vos disser" (João 2:5),
Notas

Prefácio
1. Ralph Waldo Emerson, Self-Reliance (Nova York: Peter Pauper
Press, 1967), p. 22.
Capítulo 1
A epígrafe foi extraída do Dictionary ofQuotable Definitions, ed.
Eugene E. Brussel1 (Englewood Cliffs, N.J.: Prentice-Hall, 1970).
Capítulo 2
A epígrafe foi extraída de Familiar Quotations, de JoOO Bartlett, ed.
Emily Morison Beck, 15! 00. (Boston: Little Brown, 1980), p. 592.
1. Peter Forsythe, Positive Preaching and lhe Modern Mind (Lon-
dres: Independent Press, 1953), p. 28.
Capítulo 3
A epígrafe foi tirada de The New Book of Christian Quotations,
compilador Tony Castle (Nova York: Crossroads, 1984), p. 226.
1. Joseph Parker, The People's Bible, voI. 15 (Londres: Hodder e
Stoughton, 1900), p. 282.
2. Dennis J. Hester, The Vance Havner Quote Book (Grand Rapids:
Baker Book House, 1986), p. 63.
3. Eugene Peterson, Run With the Horses (Downer's Grove, IlJinois:
Inter-Varsity Press, 1983), p. 88. Este é um dos melhores estudos que
já encontrei acerca do ministério e da mensagem de Jeremias aplicado
à situação atual.
4. Ibid., p. 62.
5. Parker, op. cit., p. 289.
6. Jerry Falwell, 25 of lhe Greatest Sermons Ever Preached (Grand
Rapids: Baker Book House, 1983), p. 18.
Capítulo 4
A epígrafe é tirada de The Knowledge of the Hoty (Nova York:
Harper and Row, 1961), p. 12.
1. Jon Johnston, Will Evangelicalism Survive lu Own Popularity?
(Grand Rapids: Zondervan, 1980), pp. 2, 13.
108 A Crise de Integridade

2. Andrew A. Bonar, Robert Murray McCheyne. Memoir and Re-


mains (Londres: Banner of Truth Trust, 1966), p. 282.
3. Hester, op. cít., p. 186.
Capítulo 5

A epígrafe é extraída de Oswald Chambers, The Best From Ali His


Books, compilador Harry Verploegh (Nashville: Oliver-Nelson, 1987),
p, 141.
1. Charles Colson, Kingdoms in Conflict (Grand Rapids: William
Morrow!Zondervan, 1987), pp. 244-45. Usado com permissão.
2. A. W. Tozer, The Root of'the Righteous (Harrisburg, Pa.: Christian
Publications, 1955), pp. 52.53.
3. Tozer, Knowledge of the Holy, p. 11.
4. Henry David Thoreau, Walden (Princeton: Princeton University
Press, 1971), p. 74.
5. Brussell, op. cit., p. 53.
Capítulo 6
A epígrafe é extraída de Between two Worlds de John R. W. Stott
(Grand Rapids: Eerdmans, 1982), p. 15.
1. Castle, op. cit., p. 45.
2. Ibid., p. 193.
Capítulo 7
A epígrafe é extraída de The Root of the Righteous de A. W. Tozer,
p, 19. (Esta fonte já foi citada.)
1. Niccolo Machiavelli, The Prince (Nova York: Bantam, 1966), p.
63.
2. Rupert Hughes, "When Will Rogers Wept", em Folks Songs of
Will Rogers, compiladores: William H. Payne e Jake Lyons (Nova
York: G. P. Putnam's Sons, 1936), pp. 152-53.
3. Alexander Whyte, Bible Characters, Ahithophel to Nehemiah
(Londres: Oliphant, Anderson e Ferrier, s.d.), p. 236.
4. John Henry Jowett, The Preacher, His Life anã lVork (Nova York:
Harper, 1912), p. 44.
5. Charles H. Spurgeon, 20 de agosto, em Morning and Evening, ed.
reimp. (Grand Rapids: Zondervan, 1980).
6. Hester, op. cít., p, 209.
7. Bartlett, op. cit., p. 742.
Notas 109

Capítulo 8
A epígrafe é extraída de My Utmost for His Highest (Nova York:
Dodd, Mead & Co., 1965), p. 328.
1. Bonar, Opa cit., p. 93.
2. Castle, Opa cit., p. 191.
3. Ibid., p. 192.

Capítulo 9

A epígrafe é extraída de The Humiliation of the Word de Iacques


Ellul (Grand Rapids: Eerdmans, 1985), p. 120.
1. Citado em Christ anã the Media (Grand Rapids: Eerdmans, 1977),
de Malcolm Muggeridge. Um homem com grande experiência nos
meios de comunicação em massa, Muggeridge guarda sentimentos
muito negativos com relação à televisão, e até mesmo se desfez do seu
televisor. Todos aqueles que participam da mídia religiosa devem ler
com cuidado estas três conferências e os relatos dos debates que se
seguiram.
2. Os conceitos aqui incluídos foram extraídos de Bllul, Opa cít., pp.
97-98. The Humiliation ofthe Word é um texto básico sobre o relacio-
namento entre as palavras e as imagens. Não é necessário que concor-
demos com Ellul a fim de nos beneficiarmos de seu profundo
conhecimento.
3. Ellul, ibid., p. 42.
4. Ibid., p. 141.
I
5. Neil Postman, Amusing oursetves to Death (Nova York: Viking,
1985), p. 87. Este é um estudo profundo da influência da televisão sobre
diversas áreas da cultura norte-americana. Um excelente estudo da
situação da televisão britânica é o livro de John Fiske e John Hartley
intitulado Reading Televtsion (Londres: Methuen, 1978).
6. Muggeridge, Opa cit., p. 81.
7. Postman, op. cit., p. 143.
8. Russ Reid, "The Bakker Affair - What Can It Teach Us?" no
número 135, de outubro de 1987 do reid report (Russ Reid Company,
2 North Lake Ave., Pasadena, CA 91101). Usado compennissão.
9. Postman, Opa cit., p. 123.
10. Peterson, Opa cit., p. 12.
11. C. S. Lewis, ed., George MacDonald, An Anthology(Nova York:
Macmillan, 1947), p. 102.
110 A Crise de Integridade

12. Mike Yaconelli, "Evangelical Gigolo", no número de junho-ju-


lho de 1980 de The Wittenberg Door (1224 Greenfleld Dr., EI Cajon,
CA 92021).
Capítulo 10

A epígrafe é extraída de De ojJiciis 2.11. Descobri-a no Dictionary


ofQuotatíons, compilador Bergen Evans (Nova York: Delacorte Press,
1968), p. 461.
1. Richard Foster, Money, Sex & Power (San Francisco: Harper and
Row, 1985), p. 29.
2. Ibid., p. 28.
3. John Piper, Desiring God: Meâitations of a Christian Hedonist
(portland, Oregon: Multnomah Press, 1986), p. 155. Recomendo este
livro como uma análise de um tema negligenciado, apresentado de
forma prática e reforçado com verdades teológicas sólidas. A perspec-
tiva de Piper evita o legalismo, o antinomianismo e o misticismo.
4. H. H. Fanner, Things Not Seen (Londres: Nisbet and Co., 1938),
p. 96. Gostaria que Fanner fosse mais conhecido hoje. Em algumas
áreas, parece que ele se antecipou a C. S. Lewis.
Capítulo 11

A epígrafe é extraída de The Community O/lhe King de Howard A.


Snyder, (Downers Grove, Illinois: Inter-Varsity Press, 1978), p. 16.
1. "The Waning Authority of Christ in lhe Churches", de A. W.
Tozer, foi publicado originalmente na The Alliance witness de 15 de
maio de 1963. Encontra-se também nos livros God Tells lhe Man Who
Cares (Harrisburg, Pa.: ChristianPublications, 1970), pp. 163-72; e The
Best ofA. W. Tozer,ed. Warren W. Wiersbe (GrandRapids: Baker Book
House, 1978), pp. 87-94.
2. William Temple, Readings In SI. John's Gospel, 1º ser. (Londres:
Macmillan, 1939), p. 68. Para um discussão mais ampla da importância
da adoração, veja o meu livro: Real Worship: 11 Will Transform Your
Life (Nashville: Oliver-Nelson, 1986). A bibliografia será de grande
utilidade para o estudioso sério.
3. A. W. Tozer, The Divine Conquest (Harrisburg, Pa.: Christian
Publications, s. d.), p. 90.
4. Jerry White, The Church & The Parachurch: An Uneasy Marriage
(portland,Oregon: Multnomah Press, 1983), p. 19. O tratamento de
White é justo, e suas conclusões equilibradas.
... ........ ""I" .- -1f": ,"""",,"···~W --.-.--.,., - . "'''I''. ~ • ......,.,.:""'.. ,. '. .,........

Notar 111

\
é
Capítulo 12
)
1. Rhoda T. Tripp, compiladora, The Internatianal Thesaurus af
Quotalians (Nova York: Crowell, 1970), p. 310.
2, Hester, op. cit, p. 192,
3. Lewis, op. cit, p. 97,
4. Richard OwenRoOOrís, Revival (Westchester, nlino~: Crossway,
1987), p, 20. Este éum dos melliores livros sobre reavivamento, ea
bibliografia éexcepcional. Gostaria que cada pastor pudesse ~·Io e
tomá·lo asério.
5, D, Martyn LloyMones, Reavivamento (Westchester, TIlinois:
Crossway, 1987), p. 20. Oprofundo interesse do Or. Lloyd-Jones pelo
reavivamento na igreja toma·se evidente nestas vinte equatro mensa-
gens que são solidmrente baseadas na Escritura, Este volume éo
companheiro perfeito para olivro de Rkhard Owen Roberts citado

aCIma.

Você também pode gostar