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março - 2022
EDITORIAL
EXPEDIENTE:
DIRETORIA
Cristiano Nicomedes - Presidente Maria Elvira de Almeida - Presidente do Conselho Fiscal Patrocinador oficial:
Priscila Malta Jácome - Vice-presidente Carlos Gabriel Dias - 1° Conselheiro Fiscal
Paula Cristina Magnani - Primeiro Secretário Rochana Fett - 2° Conselheiro Fiscal
Fabiana Lima - Tesoureiro Fernanda Barony - Suplente Fiscal
Marcelo Zanutto - Diretor Científico Myrian Iser - Presidente Conselho Científico
Heloísa Justen - Diretor Social Mariana Jardim - 1° Conselheiro Científico
Romeika Herminia - Diretor de Comunicação Reginaldo Pereira - 2° Conselheiro Científico
Carla Santos - Diretor de Relações Internacionais Monytchely Vieira - Suplente Científico
abfelinos
ESPOROTRICOSE FELINA
PROFª MSC MV CARLA SANTOS
Médica Veterinária graduada pela UFF; Pós-graduada em cirurgia de Pequenos Animais pela
Universidade Castelo Branco; Mestre em Medicina Veterinária pela UFRRJ; Doutoranda em
Medicina Veterinária pela UFRRJ; Professora de Semiologia e Clínica Médica de Pequenos Animais
da UNIVERITAS RJ; Professora de pós-graduação em Medicina Felina; Membro da diretoria da ABFeL.
Médica Veterinária graduada pela Universidade Federal de Santa Maria; Membro da Academia Brasileira de
Clínicos de Felinos (ABFel); Membro Associação Americana de Clínicos de Felinos (AAFP), sendo certificada
por esta como "Cat Friendly Veterinarian"; Atualmente, atua como Residente em Clínica Médica dos Gatos
Domésticos na Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro.
Introdução
A esporotricose felina consiste em uma Entre as principais características dessa
micose subcutânea zoonótica causada por fungos espécie fúngica, cabe ressaltar a sua
do gênero Sporothrix spp. O Brasil é o país que impressionante adaptação ao parasitismo,
concentra o maior número de casos da doença, capacidade de causar doença clínica grave no gato
tanto em felinos como em seres humanos. Dados e no homem, resistência aos antifúngicos azólicos
publicados em literatura científica e em órgãos de ( p r i n c i p a l e s co l h a p a ra o t rat a m e n to d a
vigilância epidemiológica relatam casos em todas enfermidade) e pela tendência em causar
as macrorregiões brasileiras, com regiões epizootias/epidemias (Gremião et al., 2021; Nakasu
epidêmicas (sul do Rio Grande do Sul, região et al., 2021; Gremião et al., 2017). Assim, esse
metropolitana de São Paulo e Bahia) ou agente tornou-se um verdadeiro desafio para os
hiperendêmicas (estado do Rio de Janeiro) clínicos do país, que atuam não apenas no manejo
(Gremião et al., 2021). Estudos filogenéticos clínico do paciente acometido, mas também no
identificaram que a espécie responsável por mais controle da disseminação dessa enfermidade de
de 90% dos casos no país é o S. brasiliensis, grande importância para a saúde pública. A
diferentemente do que se pensava antes, quando compreensão de aspectos gerais sobre o agente
os casos eram atribuídos à espécie S. schenckii da esporotricose e sua transmissão, os aspectos
(Marimon et al., 2007). Desde então, uma extensa clínicos, os métodos para o diagnóstico e as
literatura foi publicada a fim de caracterizar esse possibilidades terapêuticas é essencial para o
grande inimigo dos gatos e da saúde pública. médico-veterinário que atende felinos.
Aspectos gerais sobre
o agente e sua transmissão
O Sporothrix sp. é um fungo dimórfico e sua ferida preexistente (ex.:
morfologia varia de acordo com a temperatura e o feridas cirúrgicas) (Figura 2)
ambiente. Em sua forma parasítica ou em meios de ou da inoculação traumática do
cultura entre 35 C e 37 C, apresenta-se na forma fungo presente no solo e plantas
de leveduras, enquanto na forma saprofítica (meio (ex.: arranhões em cascas de árvores
ambiente) ou em meios de cultura a 25 C, ou no chão e perfurações por espinhos)
apresenta-se na forma micelial (Figura 1) (Gremião (Gremião et al., 2017, 2014).
et al., 2017).
De forma semelhante, humanos
A forma saprofítica do Sporothrix sp. pode podem adquirir a doença quando são
ser encontrada no solo, plantas, cascas de árvores e mordidos ou arranhados por um gato doente
matéria orgânica em decomposição. Sabe-se que ou ainda pelo contato da pele lesionada com
algumas espécies de Sporothrix sp. possuem secreções drenadas das feridas abertas, visto que
particular afinidade pela forma saprofítica, como o as lesões em gatos possuem elevado número de
S. schenckii e o S. globosa. Essas espécies possuem leveduras e, portanto, poder infectante (Grisolia et
menor patogenicidade comparadas àquelas com al., 2021). Embora até o momento não existam
afinidade pela forma de levedura, como o S. evidências a respeito, alguns autores aventaram a
brasiliensis, (Sanchotene et al., 2015), que tem o seu possibilidade da contaminação mediante a
principal reservatório nos felinos domésticos. No inalação de conídios do fungo. Essa teoria surgiu
entanto, ambientes em que transitam gatos após a observação de que muitos felinos
doentes também são uma importante fonte de apresentam lesões isoladas na mucosa nasal com
infecção para esse agente. sinais respiratórios, sem envolvimento da pele e
subcutâneo. No entanto, mais estudos precisam
ser feitos para que essa via de infecção seja de fato
confirmada (Gremião et al., 2021).
Aspectos clínicos
As manifestações clínicas relacionadas à
esporotricose felina são variadas. As lesões
cutâneas podem ser isoladas, disseminadas,
sistêmicas e até fatais. No entanto, a forma clínica
comumente evidenciada na espécie consiste em
Figura 1: Dimorfismo do Sporothrix sp. de acordo com o ambiente e temperatura. múltiplas lesões na pele, tipicamente nodulares
Adaptado de Rodrigues et al. (2020). e /o u u l c e r a d a s , f r e q u e n t e m e n t e c o m
e n vo l v i m e n t o d a m u c o s a n a s a l e s i n a i s
respiratórios associados, como espirros, estertor
A infecção dos felinos domésticos ocorre nasal e secreções (Figura 3) (Gremião et al., 2021).
por meio do contato direto com um indivíduo
doente ou com um ambiente contaminado pelo O aspecto crostoso ou simulando
fungo. Para que se estabeleça a infecção, é preciso tumorações não é incomum. As lesões ulceradas
haver o contato do agente com o tecido drenam uma secreção serossanguinolenta, que
s u b c u t â n e o. Po r e ss a ra z ã o, a d o e n ç a é contém grande quantidade de leveduras, e/ou
frequentemente adquirida durante brigas entre secreção purulenta pela contaminação bacteriana
felinos, em que mordidas e arranhões de animais secundária. O aparecimento de miíase é uma
doentes agem inoculando o agente. Diante disso, complicação de lesões ulcerativas em gatos com
fica fácil entender porque a esporotricose é esporotricose. Apresentações menos comuns
comum entre gatos machos, inteiros, errantes ou incluem conjuntivite e lesões em mucosas genitais
com acesso a ambientes externos, visto o e oral. As regiões da cabeça e membros anteriores
comportamento territorialista desses indivíduos. parecem ser mais acometidas, visto a maior
Há ainda a possibilidade de contaminação de uma suscetibilidade durante as brigas.
Linfadenomegalia regional é transporte Stuart, e se não remetidas
um achado comum, no entanto, imediatamente ao laboratório, as amostras
diferentemente dos humanos, a deverão permanecer sob temperatura de
linfangite é considerada rara na refrigeração (entre 4°C e 8 C) por no máximo 10
esporotricose felina (Maschio-Lima et horas (Gremião et al., 2021).
al., 2021).
A cultura é o exame padrão ouro para o
Apesar das lesões disseminadas ou diagnóstico da esporotricose, mas o resultado leva
ex t e n s a s a p re s e n t a re m u m a s p e c t o até 30 dias. Outras ferramentas de diagnóstico
visualmente chocante, a maioria dos gatos denotam grande importância na rotina clínica,
apresenta boa condição geral e alcança a cura visando à adoção do tratamento precoce.
clínica. Todavia, pacientes com formas graves Atualmente, a citologia é o exame mais utilizado
e/ou envolvimento sistêmico podem desenvolver para o diagnóstico presuntivo da doença. Isso
apatia, anorexia, perda de peso, febre, emaciação e ocorre pela alta carga fúngica encontrada nas
até irem a óbito em decorrência da progressão da lesões, boa sensibilidade da técnica, baixo custo e
doença. Os felinos positivos para o Vírus da rapidez na obtenção do resultado. A facilidade e
Imunodeficiência Felina ou Vírus da Leucemia simplicidade de execução do exame citológico é
Felina não parecem ser mais acometidos em outro ponto positivo. O clínico veterinário pode
relação aos animais negativos, além de não realizar no próprio consultório e efetuar a
s o f re re m i n fl u ê n c i a a p a re n te n a re s p o st a observação microscópica sob objetiva de 40-100x
terapêutica. No entanto, estudos recentes de lâminas confeccionadas com imprints,
apontaram para uma maior suscetibilidade ao aspirados ou swabs das lesões e coradas com
desenvolvimento de lesões mais graves nesses corantes rápidos, como Romanovsky. O agente é
pacientes, principalmente devido ao perfil alterado visto na forma de levedura, caracterizado como
de citocinas e à baixa relação de linfócitos uma estrutura azulada, com um halo não corado ao
CD4+/CD8+ (Souza et al., 2018; Miranda et al., seu redor, em formato ovalado, arredondado ou de
2018). charuto, medindo entre 3 e 5 μm de diâmetro e 5 e
9 μm de comprimento. As leveduras são
visualizadas no meio extracelular ou no meio
intracelular dentro de macrófagos (Pereira et al.,
2011). Além disso, é possível identificar um padrão
inflamatório piogranulomatoso característico que
é composto predominantemente de neutrófilos e
macrófagos, associado à presença das leveduras
(Figura 4).
Diagnóstico
O diagnóstico definitivo da esporotricose
requer o isolamento e a identificação morfológica Figura 4- Imagem citopatológica de lesão cutânea em um felino com esporotricose,
demonstrando inflamação piogranulomantosa com diversos neutrófilos íntegros e
do agente a partir das lesões em meios de cultura. degenerados, macrófagos e inúmeras leveduras azuladas com halo claro ao redor,
redondas a ovaladas, localizadas no meio extra (seta longa) e intracelular (cabeça
As amostras enviadas com esse propósito incluem da seta) (40x, corante Wright-Giemsa).
swabs, aspirados de lesões, aspirados de
linfonodos, lavados nasais e fragmentos de biópsia
ou de órgãos coletados durante necropsia.
Amostras enviadas para cultura devem ser
acondicionadas em salina estéril ou em meio de
recomenda-se que as amostras sejam colhidas das invasiva de diagnóstico. Além disso, pode ser útil
bordas das lesões após antissepsia local com álcool também no acompanhamento da resposta
70%. As amostras podem ser colhidas por incisão terapêutica, pois existe uma aparente correlação
com bisturi ou um punch cirúrgico e logo depois entre a queda na titulação dos pacientes e a
acondicionadas em solução de formalina a 10%. resposta clínica observada. Os desenvolvedores
Uma desvantagem do uso do exame do teste determinaram um cutoff de 1:400 para
histopatológico é a necessidade de anestesia geral distinção entre pacientes doentes e sadios. No
ou sedação. Na microscopia, colorações de rotina entanto, alguns pacientes aparentam manter
co m o H e m atox i l i n a e Eo s i n a p e r m i te m a títulos residuais por alguns meses após a cura
v i s u a l i z a ç ã o d a s a l te ra ç õ e s i n fl a m at ó r i a s clínica. A exposição contínua ao agente também
associadas à infecção, porém não permitem boa pode justificar essa observação (Baptista et al.,
visualização das leveduras. Para isso, colorações 2021).
especiais como PAS e Grocott devem ser
solicitadas no envio da amostra, uma vez que De maneira geral, a amostra e o teste
destacam o fungo e permitem melhor distinção do utilizado para o diagnóstico da esporotricose em
meio circunjacente (Figura 5). g a to s s e g u e u m a l i n h a c l í n i c a q u a n to a
apresentação das lesões (Figura 6).
Baptista, V. S., Mothé, G. B., Santos, G. M. P., Maschio-Lima, T., Marques, M. D. R., Lemes, T. H., Brizzotti-
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Visão
Promover a Medicina Felina no Brasil de forma sólida, ética e sustentável,
visando a excelência da especialidade, bem como a prosperidade de seus
associados e da Medicina Felina.
Missão
- Promover a Medicina Felina através de ações éticas, pautadas em
responsabilidade acadêmica, científica, social e sustentabilidade;
- Congregar Médicos Veterinários, estudantes de Medicina Veterinária
e simpatizantes;
- Realizar educação continuada;
- Difundir a Medicina Felina para a classe veterinária e sociedade
Valores
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