Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
VALORIZAÇÃO PROFISSIONAL
compromisso com você
www.crmvmg.org.br
Editorial
Caros colegas,
A Escola de Veterinária e o Conselho Regional de
Medicina Veterinária de Minas Gerais têm a satisfação
de encaminhar à comunidade veterinária e zootécnica
mineira um volume dos Cadernos Técnicos com a te-
mática “Introdução à Medicina Veterinária do Coletivo:
Aspectos do manejo populacional de cães e gatos”.
A sociedade humana está intimamente associada a di-
versas espécies de animais domésticos, sendo as de com-
panhia mais importantes o cão e o gato. Especialmente no
ambiente urbano, faz-se necessário conhecer aspectos de
manejo populacional para ambas as espécies, com forma
de manter as condições ideais de saúde para animais e hu-
manos, um papel para o profissional em saúde animal.
Desde o alvorecer da sociedade humana, os registros
documentam a convivência com o cão e o gato. Os estu-
dos sugerem que os humanos não domesticaram o cão, a
aproximação ocorreu de iniciativa destes, algo semelhan-
te ao que aconteceu depois com os gatos. Os humanos
eram excelentes caçadores e eliminaram todos os carní-
voros competidores, incluindo o tigre-de-dente-de-sabre
e hienas gigantes. Na evolução da relação entre humanos
e cães, os estudos sugerem que a sobrevivência do cão à
ferocidade humana pode estar ligada ao cão mais amigá-
vel (friendliest) em vez do mais apto (fittest), uma vez que
Universidade Federal este não foi necessariamente fundamental na caça para
de Minas Gerais
os humanos primitivos. Em relação ao gato, a associação
Escola de Veterinária ocorreu pelo interesse felino na caça às pragas que consu-
Fundação de Estudo e Pesquisa em
Medicina Veterinária e Zootecnia miam os depósitos de grãos alimentares para os humanos.
- FEPMVZ Editora Consolida-se a parceria e o compromisso entre as
Conselho Regional de duas instituições com relação à Educação Continuada da
Medicina Veterinária do
Estado de Minas Gerais comunidade dos médicos veterinários e zootecnistas de
- CRMV-MG Minas Gerais.
www.vet.ufmg.br/editora
Correspondência: Prof. Nelson Rodrigo da Silva Martins - CRMV-MG 4809
Editor dos Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia
FEPMVZ Editora
Caixa Postal 567 Prof. Renato de Lima Santos - CRMV-MG 4577
30161-970 - Belo Horizonte - MG Diretor da Escola de Veterinária da UFMG
Telefone: (31) 3409-2042 Prof. Antônio de Pinho Marques Júnior - CRMV-MG 0918
Editor-Chefe do Arquivo Brasileiro de Medicina Veterinária e Zootecnia (ABMVZ)
E-mail:
editora.vet.ufmg@gmail.com Prof. Nivaldo da Silva - CRMV-MG 0747
Presidente do CRMV-MG
Conselho Regional de Medicina Veterinária do Estado de Minas Gerais
- CRMV-MG
Presidente:
Prof. Nivaldo da Silva
E-mail: crmvmg@crmvmg.org.br
CADERNOS TÉCNICOS DE
VETERINÁRIA E ZOOTECNIA
Edição da FEPMVZ Editora em convênio com o CRMV-MG
Fundação de Estudo e Pesquisa em Medicina Veterinária e
Zootecnia - FEPMVZ
Editor da FEPMVZ Editora:
Prof. Antônio de Pinho Marques Junior
Editor do Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia:
Prof. Nelson Rodrigo da Silva Martins
Editores convidados para esta edição:
Danielle Ferreira de Magalhães Soares
Revisora autônoma:
Giovanna Spotorno
Tiragem desta edição:
1.000 exemplares
Layout e editoração:
Soluções Criativas em Comunicação Ldta.
Impressão:
Imprensa Universitária da UFMG
3. Comportamento canino............................................................................30
Elen Monteiro da Silveira, Laiza Bonela Gomes, Sara Clemente Paulino Ferreira e Silva, Néstor Alberto
Calderón Maldonado
6. Acumuladores de animais.........................................................................60
Glendalesse Nunes Rocha de Faria Teixeira, Joana Angélica Macêdo Costa Silva, Danielle Ferreira de
Magalhães Soares
bigstockphoto.com
A historia humana e relação com os mais não têm inteligência, que agem
animais é longa e complexa. O antropo- apenas por instinto, toda e qualquer
centrismo ainda está muito presente na relação com os animais esteve sempre
sociedade atual em decorrência de resí- vinculada a “commodities” para valores e
duos culturais que remontam o século necessidades humanas.
IV, quando o homem era tido como ser Há que se buscar o equilíbrio entre
excelso e as ações eram voltadas apenas a saúde humana, animal e equilíbrio do
para seu bem-estar. Também no século meio ambiente, portanto, abandonar
XVII, a concepção do Universo e dos a visão antropocêntrica em busca de
seres vivos como máquinas, contribuiu mudanças para paradigmas biocêntrico
com a visão reducionista de que os ani- ou ecocêntrico, tem sido cada vez mais
1. Controle populacional de cães e gatos 9
discutido em toda parte necessidade da criação e
A sociedade deve
como uma necessidade inclusão de políticas de
reconhecer e incluir em
premente de manuten- controle das populações
programas de políticas
ção da vida. Deve-se de animais de estimação
públicas ações que
abandonar a instrumen- como cães e gatos se faz
viabilizem a segurança
talização dos animais, cada vez mais urgente
e o bem estar dos
em benefício das necessi- para todo gestor seja ele
animais, incluindo
dades humanas. A socie- estadual ou municipal,
os seres humanos e o
dade deve reconhecer e uma vez que segundo
ambiente natural.
incluir em programas de dados do IBGE de 2013,
políticas públicas ações o número de animais de
que viabilizem a segurança e o bem es- estimação nos lares brasileiros já che-
tar dos animais, incluindo os seres hu- ga 74,3 milhões, sendo 52,2 milhões
manos e o ambiente natural (American de cães 22,1 milhões de gatos (IBGE,
Veterinary Medical Association, 2016). 2013), sendo a maioria (56,7%) com
Com a urbanização crescente em guardiões com ensino médio e supe-
todo mundo e em especial no Brasil, a rior (Figura 1). A existência de leis es-
Figura 1 - Moradores em domicílios particulares permanentes com pelo menos um cão e/ou gato, por
nível de ensino. Area do Grande Méier - out. 2007
Fonte: IBGE, Escola Nacional de Ciências Estatísticas, Coordenação de Treinamento e Aperfeiçoamento, Curso de Desenvolvimento
de Habilidades em Pesquisa, 20, Pesquisa Domiciliar sobre cães e gatos: humanização e padrões de consumo 2007.
mento apontam que, uma grande con- 5. 5. SÃO PAULO (Estado). Secretaria de Estado
da Saúde de São Paulo. Manual: Programa de
tribuição para populações de animais Controle Populacional de cães e gatos. São Paulo;
sem controle, são as crias indesejadas e SMSP, 2006. 157p. Disponível em: ftp://ftp.cve.
saude.sp.gov.br/doc_tec/outros/suple5_cao.pdf.
abandonadas. Acesso em 20 de novembro de 2016.
Os programas de adoção precisam 6. 6. WHO.WSPA.World Health Organization;
seguir normativas do CFMV fazendo World Society for the Protection of Animals.
Guidelines for dog population management.
com que qualquer adoção ocorra, de Geneva, 1990. 116p.
fato, com os cuidados básicos de contro-
le sanitário, os esclarecimentos etológi-
cos, o registro e a vinculação do animal
ao seu adotante, bem como o controle
reprodutivo garantidos.
Desta forma ações específicas e vol-
tadas de forma objetiva ética e eficiente
a cada pilar do controle populacional
podem a curto e médio prazo trazerem
resultados transformadores para so-
ciedade dentro das políticas de Saúde
Única.
1
Discente do curso de Graduação em Medicina Veterinária – UFMG
2
Discente do Programa de Pós-graduação e Medicina Veterinária Preventiva – UFMG
3
Docente do Programa de Pós-graduação e Medicina Veterinária Preventiva – UFMG
4
Docente do Programa de Pós-graduação e Medicina Veterinária Preventiva – UFMG
5
Diretora técnica do Fórum Nacional de Proteção e Defesa Animal, Coordenadora de Medicina Veterinária do
Coletivo do ITEC, presidente da Comissão de Médicos Veterinários de ONGs do CRMV-SP
2. Proteção, identificação e controle populacional de cães e gatos, uma abordagem sobre as legislações para animais de companhia 17
da Raiva no estado de São Paulo edita sia, comportamento e mobilidade
uma serie de manuais técnicos com 7 animal.( Reichmann, e colaborado-
volumes , sendo que entre eles encon- res , 1999 e 2000).
tramos o volume dois “Orientação para Em 2005, a OMS publica outro
Projetos de Centros de Controle de documento em que considera a res-
Zoonoses (CCZ)" em 1998 (Fig. 1), que trição de movimento, controle de ha-
é a primeira publicação nacional sobre o bitat e controle de reprodução como
tema que busca trazer uma ferramenta principais medidas para manejo e
estruturada que auxiliasse os municí- controle da população de cães, ain-
pios do estado a entender como ações da com foco na prevenção da raiva.
de controle de zoonoses e de controle Neste documento a OMS cita a im-
animal deveriam ser implantadas bus- portância e os resultados encoraja-
cando maior segurança dores do Animal Birth
sanitária aos animais, Em 2005, a OMS Control (ABC) no con-
trabalhadores locais, e publica outro trole populacional de
atenção mais equilibrada documento em que cães de rua. Destaca
as necessidades de cada considera a restrição que ainda a simples
tamanho populacional de movimento, controle captura de cães erran-
de animais domésticos de habitat e controle tes sem alteração no
daquele estado. de reprodução como habitat e na disponi-
Os volumes 5“ principais medidas bilidade de recursos
Educação e Promoção para manejo e controle mostrava-se sem suces-
da Saúde no Programa da população de cães, so no controle popula-
de Controle da Raiva” ainda com foco na cional destes animais
e 6 “Controle das prevenção da raiva. (WHO, 2005).
Populações de Animais Em 2006 o Estado
de Estimação”, ambos de 2000, ini- de São Paulo lança o Programa de
ciam a introdução dos pilares do Controle de Populações de Cães e
Controle Populacional de cães e ga- Gatos (Figura 2), sendo este o pri-
tos, nas politicas publicas de con- meiro programa no âmbito estadual
trole animal, abordando temas como no país. Destacava como principais
educação para posse responsável, pontos a ser adotados, a educação
controle reprodutivo de cães e gatos, para promoção da saúde, o registro e
controle da saúde e bem estar animal, identificação de cães e gatos, o con-
principais doenças espécie especifi- trole da reprodução , eutanásia, e a
cas de cães e gatos, caracterização de legislação e políticas públicas rela-
cães e gatos na comunidade, eutaná- cionadas (SÃO PAULO, 2006). Em
2. Proteção, identificação e controle populacional de cães e gatos, uma abordagem sobre as legislações para animais de companhia 19
Incorre nas mesmas
penas quem realiza experi-
ência dolorosa ou cruel em
animal vivo, ainda que para
fins didáticos ou científicos,
quando existirem recursos
alternativos.
Esta lei já mostra uma
grande evolução no país no
que diz respeito ao direito
dos animais e ao conceito
de sensciência animal, ou
seja, de que os animais são
capazes de sentir emoções
e estímulos dolorosos, que
posteriormente seria relata-
do na literatura (Molento,
2005; Luna, 2008).
Em 2001, o município
de São Paulo publicou a lei
13.131/01 que define, entre Figura 2. Programa de Controle de Populações de Cães e Gatos do Estado de São
outros, o registro, posse e Paulo, 2009.
guarda de cães e gatos.Ainda Fonte. Disponível em<ftp://ftp.cve.saude.sp.gov.br/doc_tec/outros/suple5_cao.
pdf> Acesso em 20 de novembro de 2016.
no estado de São Paulo, em
de gatos e à promoção de medidas pro-
2008, foi promulgada a Lei
12.916/08 que dispõesobre a forma tetivas, por meio de identificação, re-
como deverão ser elaborados os progra- gistro, esterilização cirúrgica, ado-
mas de controle populacional de cães e ção, e de campanhas educacionais
gatos no Estado.Em seu para a conscientização
Artigo 1º a lei estabelece Incorre nas mesmas pública da relevância de
que: penas quem realiza tais atividades
O Poder Executivo experiência dolorosa ou E em seu Artigo 2º
incentivará a viabili- cruel em animal vivo, que:
zação e o desenvolvi- ainda que para fins Fica vedada a elimi-
mento de programas didáticos ou científicos, nação da vida de cães
que visem ao controle quando existirem e de gatos pelos órgãos
reprodutivo de cães e recursos alternativos. de controle de zoonoses,
20 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 83 - dezembro de 2016
12.916/08 de SP
é a obrigação de
recolhimento e
o transporte de
forma proteti-
va (Figura 3), ou
seja, de forma a
causar o mínimo
ou nenhum trans-
torno ao animal,
chamado também
de manejo ético.
Pensando neste
ponto, iniciou-se
Figura 3. Abordagem e manejo ético de cães errantes. em 2005 a capaci-
Fonte: Disponível em <http://www.ufpr.br/portalufpr/blog/noticias/departamento-de- tação dos agentes
-medicina-veterinaria-promove-curso-de-manejo-de-caes-e-gatos-de-rua-nos-centros-
-urbanos/> Acesso em 20 de novembro de 2016. de controle popu-
lacional do estado,
canis públicos e estabelecimentos
substituindo os
oficiais congêneres, exceção feita à laçadores da antiga carrocinha pelos
eutanásia, permitida nos casos de Oficiais de Controle Animal (Garcia,
males, doenças graves ou enfermi- 2009).Neste curso denominado
dades infecto-contagiosas incurá- Curso de Formação de Oficiais de
veis que coloquem em risco a saúde Controle Animal, que é desenvolvido
de pessoas ou de outros animais. pelo Instituto Técnico de Educação
Considerou, portanto, a impor- e Controle animal, conteúdos sobre
tância de programas éticos para comportamento de cães e gatos, zo-
manejo destas populações sem a onoses, manejo etológico, Educação
utilização da eutanásia em animais Humanitária, bem-estar animal, saú-
saudáveis como metodologia princi- de do trabalhador, eutanásia, entre
pal. A lei também estabelece como outros, compõe um conteúdo amplo
deveriam ser os procedimentos com que através de teoria, pratica e vi-
animais agressivos; processos de vencias coletivas busca promover a
adoção; recolhimento de cães comu- transformação do olhar e das atitudes
nitários (SÃO PAULO, 2006; Garcia, destes profissionais que lidam com o
2009). controle animal no pais.(www.ITEC.
Outro ponto importante da Lei org.br).
2. Proteção, identificação e controle populacional de cães e gatos, uma abordagem sobre as legislações para animais de companhia 21
Em 2008 é insti- HORIZONTE, 2008) e
O Centro de Controle
tuída no município de estaduais (SÃO PAULO,
de Zoonoses de Belo
Belo Horizonte-MG a 2008; RIO GRANDE
Horizonte efetuará
Portaria 020/2008 pela DO SUL, 2009) e as
a eutanásia somente
Secretaria Municipal em cães e gatos publicações interna-
de Saúde (SMS-BH) que apresentem cionais (WHO, 1984,
que, assim como a lei males, doenças WSPA, 1990; WHO,
12.916/06 do Estado incuráveis, prova 2005), em 15 de janeiro
de São Paulo (SÃO sorológica positiva de 2016 foi sanciona-
PAULO, 2008), dispõe para Leishmaniose da a Lei 21.970/16 que
as diretrizes para euta- Visceral esta, no dispõe sobre a proteção,
násia e controle popu- caso de cães, além de identificação e contro-
lacional de cães e gatos outras enfermidades le populacional de cães
de forma ética (BELO infecto-contagiosas que e gatos no Estado de
HORIZONTE, 2008). coloquem em risco a Minas Gerais (MINAS
Esta lei define em seu saúde da população ou GERAIS, 2016).A legis-
Artigo 1º que: dos animais. lação estabelece como
O Centro de Controle principais pontos os
de Zoonoses de Belo Artigos 1 e 2:
Horizonte efetuará a eutanásia so- Artigo 1º: A proteção, a identificação e
mente em cães e gatos que apresentem o controle populacional de cães e gatos
males, doenças incuráveis, prova so- no Estado serão realizados em confor-
rológica positiva para Leishmaniose midade com o disposto nesta Lei, com
Visceral esta, no caso de cães, além de vistas à garantia do bem-estar animal
outras enfermidades infecto-contagio- e à prevenção de zoonoses.”
sas que coloquem em risco a saúde da Artigo 2º: “Fica vedado, no âmbito do
população ou dos animais. Estado, o extermínio de cães e gatos
Em se artigo 2º define: para fins de controle populacional
Os animais referidos no caput des- A eutanásia é definida como “um
te artigo, quando não reclamados junto procedimento necessário, empregado
ao Centro de Controle de Zoonoses no de forma científica e tecnicamente re-
prazo previsto...serão disponibilizados gulamentada, e que deve seguir precei-
para adoção ou convívio público, após tos éticos específicos” (CFMV, 2012).
identificação com microchip, vacinação Apesar disto, considera-se que a mesma
anti-rábica e esterilização cirúrgica não é um método ético e eficaz de con-
Tendo como base estas leis mu- trole populacional. Outras atribuições
nicipais (SÃO PAULO, 2001; BELO relevantes na Lei 21.970/16de MG são:
22 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 83 - dezembro de 2016
Artigo 3º: Compete já prevista na Lei de
ao município, com o
Artigo 3º: Compete ao Crimes Ambientais (Lei
apoio do Estado:
município, com o apoio 9.605/98). Posterior a
do Estado:
I – implementar Lei21.970/16 foi publi-
I – implementar ações
ações que promovam: cada em 20 de julho de
que promovam:
a) a proteção, a pre- 2016 a Lei 22.231, que
a) a proteção, a
venção e a punição dispõe sobre a definição
prevenção e a punição
de maus-tratos e de de maus-tratos contra
de maus-tratos e de
abandono de cães e animais no estado de
abandono de cães e
gatos; gatos; Minas Gerais e dá ou-
b) a identificação e o b) a identificação e o tras providências, cor-
controle populacional controle populacional roborando com as duas
de cães e gatos; de cães e gatos; anteriores.
c) a conscientização c) a conscientização Assim como no
da sociedade sobre da sociedade sobre Estado de São Paulo, a le-
a importância da a importância gislação mineira em seu
proteção, da identi- da proteção, da Artigo 7º aborda o mane-
ficação e do controle identificação e do jo etológico dos animais
populacional de cães controle populacional como ponto obrigatório
e gatos; de cães e gatos; para a manutenção do
II – disponibilizar II – disponibilizar bem-estar, causando o
processo de identifi- processo de identificação menor ou nenhum des-
cação de cães e gatos de cães e gatos por meio conforto aos cães e gatos.
por meio de dispositi- de dispositivo eletrônico Para que isto ocorra de
vo eletrônico subcutâ- subcutâneo capaz de forma satisfatória é pre-
neo capaz de identi- identificá-los, relacioná- ciso que o Estado faça a
ficá-los, relacioná-los los com seu responsável capacitação de seus agen-
com seu responsável e armazenar dados tes para que estes possam
e armazenar dados relevantes sobre a sua trabalhar de forma mais
relevantes sobre a sua saúde segura, proporcionando
saúde. o maior grau de bem-
Partindo-se da pre- -estar possível para os
missa de que os cães e gatos são ani- animais.
mais senscientes, ou seja, capazes de Artigo 7º: No procedimento de este-
ter emoções e sentirem dor (LUNA, rilização de cães e gatos, serão utili-
2008), estabeleceu-se na alínea a, tam- zados meios e técnicas que causem o
bém a criminalização dos maus tratos, menor sofrimento aos animais, de ma-
2. Proteção, identificação e controle populacional de cães e gatos, uma abordagem sobre as legislações para animais de companhia 23
neira ética, com insensibilização, de le populacional de cães e gatos, que
modo que não se exponha o animal a abordem:
estresse e a atos de crueldade, abuso ou I – a importância da esterilização ci-
maus-tratos, nos termos da legislação rúrgica para a saúde e o controle re-
vigente. produtivo de cães e gatos;
Este artigo segue a recomendação II – a necessidade de vacinação e des-
da Resolução nº 962/2010 do CFMV, verminação de cães e gatos para a pre-
que estabelece que os procedimentos venção de zoonoses;
de esterilização do programa devem ser III – a importância da guarda respon-
seguros, eficientes e ofereçam bem-es- sável de cães e gatos, levando em consi-
tar aos animais. Também envolve a Lei deração as necessidades físicas, bioló-
9.605/98 que estabelece as penas para gicas e ambientais desses animais, bem
abuso, crueldade ou maus tratos. como a manutenção da saúde pública
Ressalta-se no Artigo 8º, a impor- e do equilíbrio ambiental;
tância da educação em saúde, desta- IV – os benefícios da adoção de cães
candoos pontos principais que devem e gatos
ser abordados com o tutor pelo poder
público nos programas de controle po- 3. Identificação animal
pulacional de cães e gatos. Este proces- e uso de microchip
so educativo deve contar com a parti- intradérmico
cipação da comunidade, junto com os Conforme Organização Mundial
profissionais da saúde (Garcia, 2009), para Saúde Animal (OIE) (2010), o re-
e também develevar em consideração gistro e identificação dos animais e mo-
os fatores afetivos e culturais daquela nitoração do tamanho populacional faz
população (Zetun, 2009), obtendo-se, parte de um .programa de manejo popu-
desta forma, resultados mais efetivos e lacional. A identificação dos animais au-
duradouros, principal- xilia no monitoramento
mente no que diz respei- Ressalta-se no Artigo de animais nas vias urba-
to ao combate ao aban- 8º, a importância da nas, manejo ambiental,
dono de cães e gatos. educação em saúde, visualização da taxa de
Artigo 8º: O poder destacando os pontos sobrevivência e identi-
público promoverá principais que devem ficação dos guardiões,
campanhas educati- ser abordados com o já que fornece indica-
vas de conscientiza- tutor pelo poder público dores para o gerencia-
ção da necessidade nos programas de mento das informações
da proteção, da iden- controle populacional (Garcia, Calderón e
tificação e do contro- de cães e gatos. Ferreira, 2012). Fica es-
24 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 83 - dezembro de 2016
tabelecida na Lei 21.970/16 a atribui- Paulo 2009). Sua dimensão é de 2mm
ção do Estado para disponibilização do de diâmetro por 12mm de comprimen-
banco de dados: to (Figura 4). O aplicador para micro-
Parágrafo 2º: “Compete ao Estado chip é agulhado, tem uma rosca bastante
disponibilizar sistema de banco de robusta e uma mola interna que retorna
dados padronizado e acessível que ar- o êmbolo automaticamente, facilitando
mazene as informações de que trata o a sua utilização (Figura 5). Os custos
inciso II do caput deste artigo atuais (dezembro de 2016) dos micro-
Embora a Lei 21.970/16 de MG es- chips variam no mercado, dependendo
tabeleça a criação de um banco de dados da marca e suas características. É fun-
para armazenagem de informações dos damental que todos que participam de
animais em cada município, há necessi- um programa de registro e identificação
dade para um controle correto de comu- possuam um leitor universal que garan-
nicação entre as três esferas de governo ta a possibilidade de reconhecimento
(municipal, estadual e federal), para que do animal portador do microchip em
possa ser criado um sistemaúnico para diferentes momentos, como no resgate
coleta e armazenamento de informa- de animais abandonados ou perdidos,
ções individualizadas dos animais e seus acidentes nas vias públicas, programas
tutores, facilitando o re- de controle reprodutivo e de zoonoses,
entre outros. Outro pon-
gistro, a interpretação A identificação dos to fundamental a consi-
dos dados e desta forma animais auxilia derar e que os animais
possibilitando maior efi- no monitoramento devemportar uma iden-
ciência no manejo popu- de animais nas tificação externa que fa-
lacional de cães e gatos. vias urbanas, cilite o reconhecimento
A aplicação do mi- manejo ambiental, mesmo a distancia da-
crochip no animal no visualização da taxa quele animal como já
animal embora simples- de sobrevivência, tendo sido alvo de uma
deve seguir orientações e identificação dos ação de controle animal
técnicas que garantam guardiões, já que como por exemplo a es-
segurança e evitem ris- fornece indicadores para terilização cirúrgica para
cos aos animais. (São o gerenciamento das controle populacional.
Paulo 2009). O micro- informações. Os dados deste sistema
chip deve ser esteriliza- precisam também ser in-
do, possuir uma prote- cluídos no sistema local de registro em
ção especifica que impeça sua migração cadalocalidade. (São Paulo-2009).
pelo corpo do animal de acordo com O uso da técnica de implantação de
normas especificas da ABNT e (São
2. Proteção, identificação e controle populacional de cães e gatos, uma abordagem sobre as legislações para animais de companhia 25
Figura 4. Microchip para cães em tamanho comparativo a um grão de arroz. http://www.appcessories.
co.uk/gps-chip-for-dogs/
2. Proteção, identificação e controle populacional de cães e gatos, uma abordagem sobre as legislações para animais de companhia 27
de 2007 a 2011. 2013. 143f. Tese (Doutorado gov.br/consulte/legislacao/completa/comple-
em Epidemiologia) – Escola de Veterinária, ta.html?tipo=LEI&num=22231&comp=&a
Universidade Federal de Minas Gerais, UFMG, no=2016>. Acessoem: 13 set. 2016b.
Belo Horizonte: 2013.
11. MCCONNELL, A. R., Brown, C. M., Shoda, T.
2. BELO HORIZONTE. Portaria SMSA/SUS-BH M., Stayton, L. E., & Martin, C. E. Friends with
nº 020/2008. Diário Oficial do Município de benefits: On the positive consequences of pet
Belo Horizonte, 25 de outubro de 2008, ano 14, ownership. Journal of Personality and Social
Ed. 3207. Psychology, n.101, p.1239-1252, 2011.
3. BRASIL. Lei nº 9.605/98. Brasília, 1998. 12. MOLENTO, C. F. M. .Senciência Animal.
Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ Revista do Conselho Regional de Medicina
ccivil_03/leis/L9605.htm. Acesso em 20 de no- Veterinária, Curitiba, v. 16, p. 18-18, 2005.
vembro de 2016. Disponível em: http://www.labea.ufpr.br/
4. CONSELHO FEDERAL DE MEDICINA P U B L I C A C O E S / A r q u i v o s / Pg i n a s % 2 0
VETERINÁRIA. Resolução nº 1000, 11 de Iniciais%202%20Senciencia.pdf. Acesso em 20
maio de 2012. Diário Oficial da União, Brasília, de novembrode 2016.
DF, 17 de maio de 2012, seção 1, p.124-125.
13. LUNA, S.P.L. Dor, senciência e bem-estar em
5. CONSELHO FEDERAL DE MEDICINA animais: sensiência e dor. Ciênc. vet. tróp.,
VETERINÁRIA. Resolução nº 962, 27 de agos- Recife-PE, v. 11, suplemento 1, p. 17-21 - abril,
to de 2010. Diario Oficial da União, Brasília, 2008. Disponível em: http://rcvt.org.br/suple-
DF, 02 de setembro de 2010, seção 1, p.118. mento11/17-21.pdf>Acesso em 20 de novem-
bro de 2016.
6. GARCIA, R. C. M. Estudo da dinâmica popula-
cional canina e felina e avaliação de ações para 14. SÃO PAULO (Cidade). Lei do Município
o equilíbrio dessas populações em área da ci- de São Paulo nº 13.131/01. Diário Oficial
dade de São Paulo, SP, Brasil.2009. 265f. Tese do Município de São Paulo, 20 set 2001,
(Doutorado em Epidemiologia Experimental e p. 81. Disponível em: http://www.fao.org/
Aplicada em Zoonoses). Faculdade de Medicina f i l ead m i n / u ser _ u pl oad / an i ma l wel f are /
Veterinária e Zootecnia, Universidade de São LeiMunicipal_2001_13131_1253562346.pdf.
Paulo. USP, São Paulo, 2009. Acesso em 20 de novembro de 2016.
9. MINAS GERAIS. Lei n° 21.970, 15 de janeiro 17. SÃO PAULO (Estado). Secretaria de Estado
de 2016. Dispõe sobre a proteção, a identifi- da Saúde de São Paulo. Manual: Programa de
cação e o controle populacional de cães e ga- Controle Populacional de cães e gatos. São
tos. Disponível em <http://www.almg.gov.br/ Paulo; SMSP, 2006. 157p. Disponível em: ftp://
consulte/legislacao/completa/completa.html ftp.cve.saude.sp.gov.br/doc_tec/outros/su-
?tipo=LEI&num=21970&comp&ano=2016>. ple5_cao.pdf. Acesso em 20 de novembro de
Acesso em 20 de novembro de 2016. 2016.
10. MINAS GERAIS. Lei 22.231,20 de julho de 18. OIE - World Organization for Animal Health.
2016. Dispõe sobre a definição de maus-tratos One World, one health.Bernanrd -Vallad.
contra animais no Estado e dá outras provi- Disponível em: <http://www.oie.int/en/
dências. Disponível em: <https://www.almg. for-the-media/editorials/detail/article/one-
2. Proteção, identificação e controle populacional de cães e gatos, uma abordagem sobre as legislações para animais de companhia 29
3. Comportamento
canino
pixabay.com
de vida do cão, está relacionado com a vida ocorra, para que o filhote seja me-
vida junto à ninhada (irmãos) e aos cui- nos afetado por situações de estresse.
dados da mãe. Nesse período o filhote O período de transição (Fig. 2), que
apresenta imaturidade de sistemas fisio- se inicia no 13° e se estende até o 21°
lógicos básicos, órgãos sensoriais, e as dias de idade, é caracterizado por desen-
limitações motoras e perceptivas, e seus volvimento de órgãos sensórios, como
comportamentos são, normalmente, re- abertura dos olhos e do canal auricular.
flexos (Faraco e Soares, Os comportamentos da
2013). De acordo com O período de transição fase neonatal desapare-
Gazzano et al. (2008) e (Fig. 2), que se inicia cem, inicia-se um com-
Battaglia (2009), é es- no 13° e se estende até portamento explorató-
sencial que nessa fase o o 21° dias de idade, rio, ainda que tímido, e
filhote mantenha conta- é caracterizado por habilidades motoras co-
to com a mãe e o restan- desenvolvimento de meçam a se desenvolver,
te da ninhada, e que uma órgãos sensórios, como como caminhar (Faraco
manipulação delicada a abertura dos olhos e do e Soares, 2013).
partir do terceiro dia de canal auricular. O período de socia-
3. Comportamento canino 31
lização (Fig. 3) primá- para a capacidade de
O período de
rio acontece da terceira adaptação e interação
socialização (Fig. 3)
semana ao terceiro mês desse cão (Faraco e
primário acontece
de vida. Esse período é Soares, 2013). O siste-
da terceira semana
crucial na vida dos cães, ma nervoso sensorial
ao terceiro mês de
pois experiências ocor- do animal está sensível
vida. Esse período é
ridas nesta fase irão e, portanto, é o perío-
crucial na vida dos
determinar padrões do em que ele aprende
cães, pois experiências
de comportamento a ser sociável com os
ocorridas nesta fase irão
na vida adulta. Nesta animais de sua espécie,
determinar padrões de
fase o filhote aprende e de outras espécies
comportamento na vida
a diferenciar estímulos também, como o ser
adulta
ambientais benignos e humano. (Calderon et
ameaçadores, adquire al., 2008). Neste perí-
habilidades comunicativas e de or- odo o animal passa ainda por proces-
ganização social, que são essenciais sos de identificação, reconhecimento,
Figura 2. Período de transição. Fonte: Dog Guide, a Fun Times Guide site. Fonte: https://dogs.the-
funtimesguide.com/indestructible_dog_toys/#at_pco=smlrebh-1.0&at_si=58487c53b3b238a5&at_
ab=per-2&at_pos=4&at_tot=5. Photo by basykes on Flickr. Acessado em 07/12/2016.
Figura 3. Período de socialização. Fonte: PUPPY 1 (Socialization and Basic Obedience). Fonte: http://
www.dogslife.biz/classes_puppy.html.
3. Comportamento canino 33
orgânica: dor, alteração neurosenso- cães apresenta familiaridades com
rial, doença endócrina e metabólica seus ancestrais e com animais silves-
(Calderon et al., 2008). tres da mesma família, como os lobos.
O período juvenil (Fig. 4) acontece Apresentam grande flexibilidade ali-
da décima segunda semana até a puber- mentar, de acordo com o que tem dis-
dade, quando ocorre a maturação sexu- ponível para sua alimentação. Assim
al. É um período caracterizado prin- como os lobos, ingerem grande quan-
cipalmente pelo amadurecimento das tidade de alimento de uma vez só, mo-
capacidades motoras, e pelo processo tivo este que leva o cão a ingerir mui-
de inserção social. Nesta fase, é desejá- ta ração quando esta é oferecida em
vel que se ofereça a esse animal um am- excesso. Outro fator que influencia na
biente enriquecido, para que ele possa alimentação é a hierarquia do grupo
desenvolver melhor sua capacidade de cães: cães com posições superio-
cognitiva (Faraco e Soares, 2013). res se alimentam primeiro e em maior
O comportamento alimentar dos quantidade do que cães de posições in-
Figura 4. Cão juvenil. Fonte: Dog Training and Pet Care Services. Fonte: http://www.fetchstayandtrain.
com/dog-training.
Figura 5: Posturas caninas. Da esquerda para direita: posição neutra de relaxamento; Alerta;
Submissão passiva; Submissão ativa; Convite para brincar; Postura de saudação; Correção materna;
Comportamento de cumprimento/reconhecimento; Agressividade defensiva/medo; Agressividade
desafiante/provocadora.
Fonte: http://www.scanimalshelter.org/sites/default/files/Canine_Body_Language_ASPCA.pdf (Adaptado).
3. Comportamento canino 37
Figura 5: Posturas caninas. Da esquerda para Dogs - Useful Construct or Bad Habit? J. Vet.
Behav., n. 4, p. 135-144, 2009.
direita: posição neutra de relaxamento; Alerta;
Submissão passiva; Submissão ativa; Convite 5. CALDERON, N. A. M.; CHIOZZOTTO, E.N.;
GOMES, L. H.; ALMEIDA, M.; GARCIA, R. C.
para brincar; Postura de saudação; Correção M. Guia Prático Curso de Formação de Oficiais
materna; Comportamento de cumprimento/ de Controle Animal (FOCA). 2.ed. Instituto
Técnico de Educação e Controle Animal. 2008.
reconhecimento; Agressividade defensiva/
medo; Agressividade desafiante/provocadora. 6. CASE, L. Perspectives on Domestication: The
History of Our Relationship with Man’s Best
Fonte: http://www.scanimalshelter.org/si- Friend. J Anim Sci., v.86, p. 3245–3251, 2008.
tes/default/files/Canine_Body_Language_ 7. EATON, B. Dominace in Dogs - Fact or Fiction?.
ASPCA.pdf (Adaptado). Wenatchee: Dogwise Publishing, 2011. 88p.
Em situação de Coletivo e para ga- 8. FARACO C. B.; SOARES G. M. Fundamentos do
rantir o grau de bem-estar destes ani- comportamento canino e felino. São Paulo: Editora
MedVet, 2013. 242p.
mais é necessário aplicar ao manejo
9. FRASER, A. F.; BROOM, D. M. Comportamento
estes conceitos etológicos, além de uti- e bem-estar de animais domésticos. 4ed. Barueri:
lizar o comportamento animal como Manole, 2010. 438p.
ferramenta para avaliar o estado emo- 10. GAZZANO A.; MARITI C.; NOTARI L. et al.
cional do coletivo e individualmente Effects of early gentling and early environment
on emotional development of puppies. Appl.
reconhecer as interações com humanos Anim. Behav. Sci., v. 110, n. 3, p. 294-304, 2008.
e outros animais, assim como identificar 11. VILANOVA, X. M.. Etología clínica veterinaria
as anomalias comportamentais ou com- del perro y del gato. Barcelona: Multimédica,
portamentos indesejáveis. (Barnard et 2003. 261p.
2. BARNARD, S.; PEDERNERA, C.; VELARDE, 14. O’HEARE, J. Dominance Theory and Dogs. 2 ed.
A.; DALLA VILLA, P. Shelter Quality. Welfare Wenatchee: Dogwise Publishing, 2008. 77p.
Assessment Protocol for Shelter Dogs. Instituto
Zooprofilattico Sperimentale dellA`bruzzo e del 15. VAN KERKHOVE, W. A Fresh Look at the Wolf-
Molise “G. Carporale”, Italy, 2014. Pack Theory of Companion-Animal Dog Social
Behavior. J. Appl. Anim. Welf. Sci., v. 7, n. 4, p.
3. BATTAGLIA, C. L. Periods of Early 279-285, 2004.
Development and the Effects of Stimulation and
Social Experiences in the Canine. J. Vet. Behav., v. 16. YIN, S. “Chapter 2. Dominance vs. Unruly
4, n. 5, p. 203–210, 2009. Behavior.” In Low Stress Handling, Restraint
and Behavior Modification of Dogs & Cats,
4. BRADSHAW, J. W. S., BLACKWELL, E. 55–75. CattleDog Publishing, 2009. www.lows-
J., CASEY R. A. Dominance in Domestic tresshandling.com.
1
Mestranda em Ciência Animal na UFMG
2
Diretora técnica do Fórum Nacional de Proteção e Defesa Animal, Coordenadora de Medicina Veterinária do
Coletivo do ITEC, presidente da Comissão de Médicos Veterinários de ONGs do CRMV-SP
3
Médico Veterinário (ULS) Colômbia - Dipl. (UNAM), Cert.(CEI), Esp. e MSc. (U.El Bosque)
Figura 2: Comportamento felino - Prof Nestor Calderon Maldonado Cursos FOCA-ITEC- SP.
Figura 2a e 2b. Gatos com intenções amigáveis na posição “tail-up”. Fonte: Paloma Carla Fonte Boa
Carvalho
12. KARSH, E.B. (1983) The effects of early han- 23. SOUTO, A.Etologia: princípios e reflexões. 3 ed.
dling on the development of social bonds between Recife: EDUFRE, 2005. 346p.
cats and people. In KATCHER, A.H.; BECK,
A.M. (ed.). New Perspectives on our Lives with
Companion Animals, Philadelphia: University of
Pennsylvania Press, 1983, p. 22-28.
13. LEY, J. (2016) Normal Social Behavior. In
RODAN, I.; HEATH, S. (ed). Feline Behavioral
Health and Welfare, China, Elsevier, 2016.p.34-40
14. LIBERG, O.; SANDELL, M. Spatial organiza-
tion and reproductive tactics in the domestic cat and
other felids. In TURNER, D.C.; BATESON, P.
(ed.). The Domestic Cat: the biology of its beha-
viour, 1 ed., Cambridge: Cambridge University
Press, 1988, p. 83-98. (1988)
15. LIBERG, O., SANDELL, M., PONTIER, D.et
al. Density, spatial organization and reproduc-
tive tactics in the domestic cat and other felids.
In TURNER, D.C.; BATESON, P. (ed.). The
1
Mestranda Escola de Veterinária da UFMG
2
Residente em Saúde Pública UFMG
3
Docente Escola de Veterinária da UFMG
4
Docente Escola de Veterinária da UFMG
1
Residente em Saúde Pública UFMG
2
Residente em Saúde Pública UFMG
3
Docente Escola de Veterinária da UFMG
6. Acumuladores de animais 63
mas de proteção animal no Brasil, em Ações públicas e dos
1934 (Dias, 2008 e World Animal profissionais de saúde
Protection), foi o Decreto 24.645, que
garantia a tutela de todos os animais A questão dos acumuladores de ani-
mais tornou-se um desafio para a gestão
pelo Estado (Brasil, 1934).
pública e para os profissionais da saúde.
Em 1978 a UNESCO (Organização
Esse tema, ainda pouco abordado no
das Nações Unidas para a Educação, a
Brasil, mas bem discutido em diver-
Ciência e a Cultura) lavrou a Declaração
sos países, vem tendo destaque dentro
Universal dos Direitos dos Animais, em da Medicina Veterinária do Coletivo
Bruxelas, na Bélgica, documento que (Secretaria Especial
destaca que os animais de Direitos Animais –
têm direitos que devem No início de 2016 SEDA, 2016).
ser garantidos pelos o estado de Minas Em 1997, foi cria-
homens (Schnaider e Gerais publicou a Lei do nos Estados Unidos
Souza, 2003). n° 21.970, reforçando o HARC (Hoarding
O crime de maus- a importância da of Animals Research
-tratos é legitimado pela
guarda responsável de Consortium), um grupo
cães e gatos e o caráter de estudo interdiscipli-
Constituição Federal
criminoso do abuso nar para abordar essa
Brasileira de 1988 e tam-
ou maus-tratos contra questão. Esse grupo foi
bém pelo Art.32, da Lei
os animais (Minas formado com o intuito
Federal nº 9.605 de 1998 Gerais, 2016a). E
(Brasil, 1998). de analisar, esclarecer as
mais recentemente foi origens e propor solu-
No início de 2016 o aprovado no estado
estado de Minas Gerais ções para o problema da
a Lei n° 22.231 que acumulação de animais,
publicou a Lei n° 21.970, passa a punir com aumentar a conscienti-
reforçando a importân- multa de até R$ 3 mil zação entre saúde men-
cia da guarda responsá- quem comete maus- tal, processo ambiental
vel de cães e gatos e o ca- tratos contra os animais e bem-estar animal e
ráter criminoso do abuso (Minas Gerais, 2016b). humano (Filho, 2013;
ou maus-tratos contra os Trindade, 2014).
animais (Minas Gerais, 2016a). E mais Após anos de acompanhamento de
recentemente foi aprovado no estado casos, o HARC concluiu que devido
a Lei n° 22.231 que passa a punir com à complexidade do assunto e indivi-
multa de até R$ 3 mil quem comete dualidade de cada caso, a abordagem
maus-tratos contra os animais (Minas multidisciplinar é essencial para o tra-
Gerais, 2016b). tamento, o que inclui a participação dos
64 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 83 - dezembro de 2016
Médicos Veterinários, da educação em saúde
Em Porto Alegre-RS
assim como dos órgãos atuando também na
foram registrados 75
de proteção e de contro- prevenção e controle de
casos graves em 2015,
le animal, para elabora- riscos ambientais pro-
com denúncias no
ção de planos de inter- Ministério Público vocados pelo homem
venção (HARC, 2016). (MP). (Conselho Federal de
Nesta tendência de Medicina Veterinária,
envolvimento multipro- 2013).
fissional, é necessário definir competên- Em Porto Alegre-RS foram regis-
cias para cada órgão relacionado, como trados 75 casos graves de acumulado-
o Poder Público, as Secretarias de Saúde res de animais em 2015, com denúncias
e de Assistência Social. Trata-se de um no Ministério Público (MP). Um es-
problema de saúde pública e animal que tudo realizado pelo Programa de Pós-
na maioria das vezes ocorre devido a Graduação da Faculdade de Psicologia
distúrbios psicológicos. As residências da Pontifícia Universidade Católica
dos acumuladores de animais geral- do Rio Grande do Sul (PUCRS),
mente são focos potenciais de zoonoses pelo Grupo de Pesquisa, Avaliação,
e endemias transmitidas por vetores, Reabilitação e Interação Humano-
além de servir de abrigo para roedores Animal (Ariha), pretende caracterizar
e animais peçonhentos, o que refle- o perfil psicopatológico, cognitivo e
te em problemas para a comunidade. comportamental desses 75 indivíduos.
Nesse contexto os profissionais da área Esses recebem visitas pelos profis-
da saúde, principalmente os Médicos sionais de psicologia para realização
Veterinários, exercem um papel relevan- desse diagnóstico, acompanhados de
te, respaldado por conhecimentos técni- atendimento por Médicos Veterinários
cos com amparo legal e social (SEDA, da SEDA de Porto Alegre (Figura 2).
2016). Atualmente não existem conhecimen-
De acordo com a Portaria nº 2.488, tos aprofundados sobre prevenção e
de 21 de outubro de 2011, que aprova tratamento, além de falta de solução
a Política Nacional de Atenção Básica para o destino dos animais vítimas de
e confere a participação do Médico maus-tratos. Esse estudo viabilizará
Veterinário nos Núcleos de Apoio à intervenções futuras pela Prefeitura e
Saúde da Família (NASF), uma das Ministério Público, podendo auxiliar
ações da profissão nos territórios aten- as pessoas por meio de tratamentos
didos pelo NASF é a de prevenção, adequados, além de resguardar a vida
controle e diagnóstico de riscos de do- dos animais com segurança e respaldo
enças transmissíveis por animais, além técnico e legal (Mello, 2015).
6. Acumuladores de animais 65
Figura 2. Acumuladores de cães. Fonte: Foto de Luciano Pandolfo Cardoso/Seda. Pesquisa inédita
mapeia acumuladores de animais em Porto Alegre. Por: Bianca Garrido. http://www.pucrs.br/blog/
pesquisa-inedita-mapeia-acumuladores-de-animais-em-porto-alegre/.
22. MINAS GERAIS. Lei n° 21.970, 15 de janeiro 30. Secretaria Especial de Direitos Animais
de 2016. Dispõe sobre a proteção, a identifica- da Prefeitura de Porto Alegre (SEDA).
ção e o controle populacional de cães e gatos. Acumuladores de animais: uma questão de saúde
Disponível em: <http://www.almg.gov.br/con- pública. Notícias. 2016. Disponível em: <http://
sulte/legislacao/completa/completa.htmltipo www2.portoalegre.rs.gov.br/seda/default.
=LEI&num=21970&comp&ano=201>. Acesso php?reg=630 &p_secao=32>. Acesso em: 13 set.
em: 14 mar. 2016a. 31. Steketee, G.; Gibson, A.; Frost, R. O., et al.
23. Mullen, S. Animal collectors, unlimited. Advocate Characteristics and antecedents of people who
(USA), 1991. hoard animals: an exploratory comparative in-
terview study. Rev Gen Psychol, v.15, p.114-124,
24. Patronek, G. J.; Loar, L.; Nathanson, J. N. Animal 2011.
Hoarding: Strategies for Interdisciplinary
Interventions to Help People, Animals, and 32. Trindade, G.G. Animais como Pessoas – A
Communities at Risk. Boston, MA: Hoarding of abordagem abolicionista de Gary L. Francione.
Animals Research Consortium, 2006. Jundiaí, Paco Editorial: 2014.
25. Patronek, G.J. Hoarding of animals: an under re- 33. World Animal Protection-WAP. São Paulo.
cognized public health problem in a difficult to Disponível em: <http://www.world animalpro-
study population. Public Health Reports, 114, p. tection.org.br/>. Acesso em: 13 set.
82–87, 1999. 34. Worth, D.; Beck, A. M. Multiple animal owner-
26. Rocha, S.M.; Cunha, G.R.; Martins, C.M. et al. ship in New York City. Transactions e Studies of
Frequência de casos de acumuladores de animais the College of Physicians of Philadelphia, v.3, n.4,
e correlações com indicadores socioeconômicos p.280-300, 1981.
em Curitiba-PR. In: VI Conferência Internacional
de Medicina Veterinária do Coletivo. Revista de
Educação Continuada em Medicina Veterinária e
Zootecnia, v.13, n.3, p.76, 2015.
6. Acumuladores de animais 69
7. Saúde única e atuação
do médico veterinário do
Núcleo de
Apoio a
Saúde da
Família
(NASF)
pixabay.com
7. Saúde única e atuação do médico veterinário do Núcleo de Apoio a Saúde da Família (NASF) 77