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DADOS INTERNACIONAIS DE CATALOGAÇÃO NA PUBLICAÇÃO (CIP)


SISTEMA INTEGRADO DE BIBLIOTECAS UNINTER

Amadori, Augusto
Emergência em traumatologia [recurso eletrônico] /
Augusto Amadori. – Curitiba: Contentus, 2020.
81 p. : il. color.

ISBN 978-65-5745-330-8

1. Traumatologia veterinária. 2. Traumatismo.


3. Emergências médicas. I. Título.

CDD 636.08932

Catalogação na fonte: Norma Lúcia Leal – CRB9/1047

Instituto Ethos Educação Digital Ltda – CNPJ 39.279.631/0001-27


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SUMÁRIO
CAPÍTULO 1 - O ATENDIMENTO EMERGENCIAL .............................................................................. 8
TÍTULO ......................................................................................................................................... 9
SUBTÍTULO ............................................................................................................................... 9
CONVERSA INICIAL ....................................................................................................................... 9
O QUE É TRAUMATOLOGIA E QUAL É A SUA FUNÇÃO ................................................................ 9
HISTÓRIA .................................................................................................................................. 9
ABC DO TRAUMA – SUPORTE BÁSICO À VIDA ........................................................................... 10
AIRWAY – PASSAGEM DE AR LIVRE PELAS VIAS AÉREAS ....................................................... 11
BREATHING – CHECAGEM E RESPIRAÇÃO ............................................................................. 11
CIRCULATION – AVALIAÇÃO DE CIRCULAÇÃO ....................................................................... 11
ABC DO TRAUMA – SUPORTE AVANÇADO À VIDA .................................................................... 13
VASOPRESSORES E ANTICOLINÉRGICOS ................................................................................ 13
VIAS DE ACESSO ..................................................................................................................... 14
MONITORAMENTO PÓS-PARADA .......................................................................................... 15
MATERIAIS BÁSICOS E DISPOSIÇÃO ........................................................................................... 16
FATORES AMBIENTAIS ........................................................................................................... 16
TREINAMENTO DA EQUIPE ........................................................................................................ 19
INÍCIO DO ATENDIMENTO ..................................................................................................... 19
TREINAMENTO PARA AUXÍLIO NO CONSULTÓRIO ................................................................ 20
TREINAMENTO DA EQUIPE PARA AS TÉCNICAS DE SUPORTE BÁSICO À VIDA ...................... 20
REFERÊNCIAS ............................................................................................................................. 21
CAPÍTULO 2 - EMERGÊNCIA OU URGÊNCIA ................................................................................... 22
CONVERSA INICIAL ..................................................................................................................... 23
EXAME FÍSICO E EXAMES LABORATORIAIS ................................................................................ 23
EXAME FÍSICO ........................................................................................................................ 23
EXAMES COMPLEMENTARES ................................................................................................. 24
DIAGNÓSTICO POR IMAGEM EM URGÊNCIA E EMERGÊNCIA ................................................... 25
ULTRASSONOGRAFIA ............................................................................................................. 25
RADIOGRAFIA......................................................................................................................... 26
TÉCNICA CIRÚRGICA (1) ............................................................................................................. 26
PROFILAXIA DA INFECÇÃO ..................................................................................................... 27
TEMPOS DA TÉCNICA CIRÚRGICA .......................................................................................... 27
BIOMATÉRIAS E SUTURAS.......................................................................................................... 29

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FIO DE SUTURA ...................................................................................................................... 29


CLASSIFICAÇÃO DOS FIOS DE SUTURA................................................................................... 30
SUTURA .................................................................................................................................. 30
PÓS-OPERATÓRIO CIRÚRGICO ................................................................................................... 32
CUIDADO PÓS-OPERATÓRIO.................................................................................................. 32
CUIDADO PARA CASA............................................................................................................. 32
COMPLICAÇÕES DAS FERIDAS CIRÚRGICAS ........................................................................... 33
REFERÊNCIAS ............................................................................................................................. 34
CAPÍTULO 3 - CLASSIFICAÇÃO DAS FERIDAS .................................................................................. 35
CONVERSA INICIAL ..................................................................................................................... 36
CLASSIFICAÇÃO DE FERIDAS ...................................................................................................... 36
CAUSAS .................................................................................................................................. 36
CONTAMINAÇÃO ................................................................................................................... 37
TIPO DE CICATRIZAÇÃO.......................................................................................................... 37
TEMPO DE DURAÇÃO DA FERIDA .......................................................................................... 37
GRAU DE ABERTURA .............................................................................................................. 37
APARÊNCIA............................................................................................................................. 38
CICATRIZAÇÃO TECIDUAL .......................................................................................................... 38
INFLAMATÓRIA ...................................................................................................................... 38
PROLIFERATIVA ...................................................................................................................... 38
REMODELAMENTO ................................................................................................................ 39
FATORES QUE AFETAM A CICATRIZAÇÃO .............................................................................. 39
TRATAMENTO DE FERIDAS ........................................................................................................ 39
MANEJO INICIAL..................................................................................................................... 40
DESBRIDAMENTO .................................................................................................................. 40
COBERTURA ........................................................................................................................... 40
FERIDAS AGUDAS E CRÔNICAS .............................................................................................. 41
PRINCÍPIOS DA CIRURGIA RECONSTRUTIVA E PLÁSTICA ........................................................... 42
LINHAS DE TENSÃO E ALÍVIO DE TENSÃO .............................................................................. 42
PADRÕES DE SUTURA ............................................................................................................ 42
PREVENÇÃO DAS “ORELHAS DE CÃO” ................................................................................... 43
INCISÃO DE RELAXAMENTO ................................................................................................... 43
MANEJO DE FRATURAS EXPOSTAS ............................................................................................ 43
MANEJO INICIAL..................................................................................................................... 44
DIAGNÓSTICO ........................................................................................................................ 44
CLASSIFICAÇÃO ...................................................................................................................... 44
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TRATAMENTO ........................................................................................................................ 45
REFERÊNCIAS ............................................................................................................................. 46
CAPÍTULO 4 - DIAGNÓSTICOS ........................................................................................................ 47
CONVERSA INICIAL ..................................................................................................................... 48
DIAGNÓSTICO DO HEMOABDÔMEN ......................................................................................... 48
ATENDIMENTO INICIAL, SINAIS CLÍNICOS E EXAME FÍSICO ................................................... 48
ANÁLISES LABORATORIAIS ..................................................................................................... 49
EXAMES DE IMAGEM ............................................................................................................. 49
CARACTERÍSTICAS DO LÍQUIDO ABDOMINAL ........................................................................ 50
TERAPIAS PARA HEMOABDÔMEN ............................................................................................. 50
COMPRESSÃO ABDOMINAL EXTERNA ................................................................................... 50
CIRURGIA ............................................................................................................................... 50
DIAGNÓSTICO PARA UROABDÔMEN ......................................................................................... 52
ATENDIMENTO INICIAL .......................................................................................................... 52
EXAMES DE IMAGEM ............................................................................................................. 52
EXAMES LABORATORIAIS ....................................................................................................... 53
TERAPIAS PARA UROABDÔMEN ................................................................................................ 54
RUPTURA DE URETRA ............................................................................................................ 54
RUPTURA DE BEXIGA ............................................................................................................. 54
RUPTURA DE URETER............................................................................................................. 55
PERITONITE SÉPTICA DEVIDO A TRAUMA ABDOMINAL ............................................................ 55
SINAIS CLÍNICOS ..................................................................................................................... 56
DIAGNÓSTICO ........................................................................................................................ 56
TRATAMENTO ........................................................................................................................ 56
REFERÊNCIAS ............................................................................................................................. 58
CAPÍTULO 5 - TRAUMAS NO SISTEMA NERVOSO .......................................................................... 59
CONVERSA INICIAL ..................................................................................................................... 60
TRAUMA CRANIOENCEFÁLICO ................................................................................................... 60
FISIOPATOLOGIA DO TRAUMA CRANIANO ............................................................................ 60
APRESENTAÇÃO CLÍNICA ....................................................................................................... 61
ESCALA DE GLASGOW PEDIÁTRICA MODIFICADA PARA CÃES .............................................. 61
DIAGNÓSTICO POR IMAGEM ................................................................................................. 62
TERAPIAS PARA O TRAUMA CRANIOENCEFÁLICO ..................................................................... 62
CONDUTA MÉDICA................................................................................................................. 62
TRATAMENTO CIRÚRGICO ..................................................................................................... 63
TRAUMA MEDULAR E VERTEBRAL ............................................................................................. 64
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ANATOMIA DA COLUNA E VERTEBRAS .................................................................................. 64


ATENDIMENTO INICIAL .......................................................................................................... 65
LOCALIZAÇÃO DA LESÃO ........................................................................................................ 65
PROGNÓSTICO ....................................................................................................................... 65
TRATAMENTO PARA TRAUMAS MEDULARES ............................................................................ 66
CONDUTA MÉDICA................................................................................................................. 66
TRATAMENTO CIRÚRGICO ..................................................................................................... 67
DOENÇA DO DISCO INTERVERTEBRAL ....................................................................................... 68
FATORES RELEVANTES ........................................................................................................... 68
CLASSIFICAÇÃO ...................................................................................................................... 69
TRATAMENTO ........................................................................................................................ 69
PROGNÓSTICO ....................................................................................................................... 69
REFERÊNCIAS ............................................................................................................................. 70
CAPÍTULO 6 - LESÕES TRAUMÁTICAS EM TÓRAX .......................................................................... 71
CONVERSA INICIAL ..................................................................................................................... 72
ASPECTOS GERAIS DO TRAUMA DA PAREDE TORÁCICA ........................................................... 72
CONSIDERAÇÕES GERAIS ....................................................................................................... 72
EXAME FÍSICO ........................................................................................................................ 73
DIAGNÓSTICO POR IMAGEM ................................................................................................. 73
TRATAMENTO MÉDICO.......................................................................................................... 73
TRATAMENTO CIRÚRGICO ..................................................................................................... 73
TORACOCENTESE E TORACOSTOMIA ........................................................................................ 74
INDICAÇÕES PARA TORACOCENTESE..................................................................................... 74
TÉCNICA CIRÚRGICA DA TORACOCENTESE ............................................................................ 74
TORACOSTOMIA .................................................................................................................... 75
PNEUMOTÓRAX E HEMOTÓRAX................................................................................................ 76
PNEUMOTÓRAX ..................................................................................................................... 76
HEMOTÓRAX .......................................................................................................................... 76
PROGNÓSTICO ....................................................................................................................... 77
LESÕES PULMONARES ............................................................................................................... 77
CONSIDERAÇÕES GERAIS ....................................................................................................... 77
DIAGNÓSTICO POR IMAGEM ................................................................................................. 78
TRATAMENTO MÉDICO.......................................................................................................... 78
TRATAMENTO CIRÚRGICO ..................................................................................................... 78
HÉRNIA DIAFRAGMÁTICA .......................................................................................................... 79
CONSIDERAÇÕES GERAIS ....................................................................................................... 79
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DIAGNÓSTICO ........................................................................................................................ 79
CONDUTA MÉDICA................................................................................................................. 80
CONDUTA CIRÚRGICA ............................................................................................................ 80
REFERÊNCIAS ............................................................................................................................. 81

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CAPÍTULO 1 - O ATENDIMENTO EMERGENCIAL

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TÍTULO

Subtítulo

Subtítulo 2

Parágrafo

CONVERSA INICIAL
Os atendimentos clínicos veterinários, em especial dos pequenos animais,
estão se atualizando a cada dia por meio de diagnósticos e tratamentos modernos
de qualidade, porém a prontidão do médico veterinário no atendimento interfere
diretamente no prognóstico do paciente.
Para prevenir danos ao paciente, seguir as diretrizes de atendimento, a
organização dos equipamentos, o conhecimento acerca das medicações e o
treinamento da equipe é primordial. Com base nisso, esta aula tem por objetivo
explicar a finalidade de um atendimento emergencial em traumatologia e sugerir
equipamentos, produtos e medicações utilizados na rotina clínica e treinamento
para a equipe, a qual será diretamente responsável pela agilidade no atendimento
e melhor qualidade de seu exercício profissional.

O QUE É TRAUMATOLOGIA E QUAL É A SUA FUNÇÃO


Traumatologia é um termo utilizado para o estudo das lesões relacionados
ao aparelho locomotor, envolvendo estruturas musculoesqueléticas e tendíneas,
junto também com as consequências e prevenções que essas alterações geram
no organismo.
Apesar de esse termo remeter às complicações geradas por traumas de
impacto mecânico, a traumatologia tem como finalidade identificar, prevenir e
tratar quaisquer alterações no aparelho locomotor.

História

Há relatos históricos relatos de que Hipócrates (460 a.C. – 370 a.C.)


realizava imobilizações externas à procura da cicatrização óssea. Com a evolução
tecnológica da medicina, há hoje a utilização das radiografias para diagnóstico e
planejamento. Com o progresso da clínica cirúrgica, dos implantes ortopédicos e
da reabilitação, a traumatologia vem evoluindo diariamente.

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Em 1943, em um hospital humano em Winterthur – Suíça, foi documentada


a primeira cirurgia ortopédica em um cão, na qual foi realizada a osteossíntese de
fêmur e acompanhamento até sua consolidação.
AOVET

Concomitante com a medicina humana, a medicina veterinária vem


evoluindo quanto ao desenvolvimento tecnológico, à pesquisa e ao
estabelecimento de diretrizes e princípios.
Nos primeiros anos, os veterinários trabalhavam em conjunto com médicos
da AO (Arbeitsgemeinschaft Osteosynthesefrangen). A AOVET foi fundada em
1969, apenas dez anos após o início da Fundação AO, quando se decidiu que os
animais também deveriam se beneficiar dos avanços no tratamento de fraturas.
Os colaboradores logo desenvolveram conceitos para as aplicações
veterinárias dos implantes e começaram a aplicar os princípios AO para animais
pequenos e grandes.
Em 1975, o Centro AOVET foi estabelecido em Waldenburg – Suíça, sob a
direção de Dieter Prieur, um especialista alemão em pequenos animais. Ao longo
dos anos, a organização aumentou.
Em 1983, Maurice e Müller desenvolveram o sistema definitivo de
classificação de fraturas para fraturas de ossos longos. Em 1984, a AO estava sob
a orientação de vários órgãos diretivos interconectados: a Assembleia de
Curadores, o Conselho Acadêmico e o Conselho de Diretores.
Em 2007, o AOVET foi reconhecido como uma das quatro especialidades
da Fundação AO, um grupo específico e reconhecido para a atualização,
discussão e pesquisa sobre ortopedia veterinária.

ABC DO TRAUMA – SUPORTE BÁSICO À VIDA


O ABC do trauma é uma sequência de atividades realizadas na intervenção
do paciente traumatizado. Esse mnemônico é utilizado para estabelecer
prioridades das avaliações específicas.
Com o auxílio dessa técnica, é possível agilizar o atendimento primário e
cuidados do suporte à vida do paciente, aumentando assim as chances de salvá-
lo ou diminuir-lhe os danos.

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Airway – Passagem de ar livre pelas vias aéreas


Primeiramente, avaliam-se obstruções na cavidade oral e aparelho
respiratório superior (traqueia, glote, laringe).
As obstruções podem ser geradas por objetos estranhos, presença de
saliva, muco, sangue ou por edema de laringe ou glote. A remoção do objeto
auxilia nesse primeiro momento o fluxo de ar para a realização das trocas
gasosas.
Caso ocorra a suspeita do início de um choque anafilático, deve-se
observar no paciente a presença do edema de face e pescoço. Se confirmado,
inicia-se a conduta terapêutica, necessitando, em algumas situações, de sedação
e sondagem orotraqueal.

Breathing – Checagem e respiração


Nessa fase, temos como objetivo avaliar a presença ou ausência dos
movimentos respiratórios. Em um primeiro momento, ocorre a avaliação visual da
movimentação torácica do paciente. Em casos de dúvida, a auscultação auxilia
como método semiotécnico indireto.
Em casos de apneia (ausência de respiração), o paciente deve ser
entubado, fazendo o uso do traqueotubo, com numeração adequada ao tamanho
do paciente.
A técnica consiste em manter o crânio alinhado à coluna cervical e com
abertura da cavidade oral. O uso do laringoscópio auxilia o profissional a realizar
a exposição da glote e da laringe.
O cuff deve ser inflado e inicia-se o processo de respiração manual com o
uso do Ambu, recomendando-se uma movimentação a cada 4 segundos. Em
locais que se beneficiam da utilização da ventilação mecânica, a pressão
inspiratória deve ser de 10 – 12 mmHg, em oxigenação de 10ml/Kg.
Em casos de laceração de traqueia, edema de glote ou lesões que não
permitam a intubação, o paciente pode se beneficiar da utilização da técnica de
traqueostomia temporária, que consiste na sondagem por uma abertura em
traqueia, a qual permite entrada e saída de gases.

Circulation – Avaliação de circulação


Essa etapa tem por finalidade identificar quadros de disfunção volêmica,
situações que podem levar o paciente a lesões orgânicas. A circulação tem por

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finalidade carrear nutrientes, realizar troca de gases, eliminar radicais livres


celulares e auxiliar no controle da temperatura corpórea.
As medidas vão identificar e prevenir manifestações que possam gerar
lesões em tecidos vitais como encéfalo, rins e pulmões.
O exame físico inicial deve ter a finalidade de diagnosticar a presença ou a
ausência do batimento cardíaco. Deve haver a análise direta pela palpação da
ponta de choque cardíaca, palpação de pulso em grandes vasos, como artérias
femorais e artérias braquiais, ou com a utilização de um método indireto, como a
auscultação com o estetoscópio.
Outras observações importantes nessa etapa se referem à presença de
hemorragias. Em situações de hemorragias externas, na maioria dos casos, a
compressão do foco estanca o sangramento, podendo inclusive ser utilizado um
torniquete. Na procura por hemorragias internas, alguns parâmetros do exame
físico devem ser acompanhados, tais como:

• Coloração de mucosa;
• Temperatura retal;
• Frequência cardíaca;
• Pressão arterial.

Exames adicionais podem auxiliar o veterinário nas decisões clínicas, como


as punções abdominais e torácicas, ou métodos não invasivos como os exames
de ultrassonografia e radiografia.
A parada cardíaca é um evento ocasionado por um desequilíbrio
hidroeletrolítico, como a hipercapnia celular, hipóxia celular, desequilíbrio ácido
básico e liberação de mediadores inflamatórios. Essas alterações podem ser
geradas por doenças infecciosas sistêmicas, reações de hipersensibilidade a
agentes anestésicos e traumas.
A identificação da parada e início das manobras de suporte a vida são
cruciais para o prognóstico do paciente, no intuito do prevenir lesões cerebrais,
careando oxigenação e retirada de radicais livres. A compressão torácica deve
ser iniciada o quanto antes, instituindo a conduta de 100 a 120 compressões por
minuto. Essa movimentação para uma perfusão satisfatória deve ser feita com 1/3
a 1/2 do tamanho do tórax.
Essas manobras apresentadas pelo ABC do trauma estão didaticamente
separadas por etapas, entretanto em situações reais devem ser operadas

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concomitantemente para o suporte básico de vida. Além disso, a preparação dos


equipamentos e treinamento da equipe são fatores cruciais para a diminuição da
taxa de óbito.

ABC DO TRAUMA – SUPORTE AVANÇADO À VIDA


O suporte avançado à vida compreende as técnicas após o reconhecimento
da parada cérebro-cardiopulmonar, até que se obtenha o retorno espontâneo da
circulação.
Inclui as terapias com vasopressores, anticolinérgicos, correção de
distúrbios ácido-base e desfibrilação.
O suporte avançado à vida se inicia após as manobras iniciais de suporte
básico à vida, até o momento em que o sistema cardiovascular e respiratório não
necessite de auxílio motriz ou de drogas de apoio.
Nessa etapa, o uso de drogas emergenciais é instituída para retorno da
função orgânica e manutenção de condições fisiológicas. As principais atividades
são as seguintes: uso de vasopressores, anticolinérgicos e correção de distúrbios
ácido-básicos.

Vasopressores e anticolinérgicos

Os vasopressores são recomendados, independendo do processo de


parada cardíaca, e têm como objetivo aumentar a resistência vascular periférica.
O fármaco de escolha é a epinefrina (adrenalina), que, por estímulo de receptores
alfa-1 e alfa-2, resultam em vasoconstrição por aumento da resistência dos vasos
arteriais e capacitância dos vasos venosos.

• Dose 0,01mg/kg;
• Repetida a cada ciclo de 3 – 5 minutos de suporte básico a vida.

A função do vasopressor no sistema cardiovascular é aumentar a


resistência vascular e retorno da função cardíaca. Selecionada com primeira
escolha, a epinefrina (adrenalina) atua em receptores alfa-1 e alfa 2, formando
resistência vascular central e periférica de vasos. É preconizada em cães e gatos
a dose de 0,01mg/kg, sendo repetida a cada ciclo de suporte básico à vida (3-5
minutos).
A vasopressina, também denominada de hormônio antidiurético, melhora a
perfusão cerebral por produzir dilatação dos vasos cerebrais e promover menor

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vasoconstrição coronária e renal, proporcionando aumento do fluxo sanguíneo


nos vasos centrais.
Hormônio endógeno estocado na glândula pituitária anterior e liberado em
resposta ao aumento da osmolaridade plasmática, hipotensão, dor, náusea e
hipóxia.

• Dose de 0,8 U/kg (IV) como um substituto ou concomitante com a


epinefrina;
• Repetir a cada dois ciclos 3 – 5 minutos de suporte básico à vida.

O hormônio antidiurético (ADH) ou vasopressina é um hormônio


armazenado na glândula pituitária e liberado pela ativação do sistema nervoso
simpático, atuando para aumento da pressão arterial e regulação da osmolaridade
plasmática. Em resposta a esses efeitos, aumenta o fluxo sanguíneo nos vasos
centrais, melhorando a perfusão cerebral e renal.
A dose estipulada para cães e gatos é de 0,8U/kg. É preferível o uso
concomitante com a epinefrina, a cada ciclo de suporte básico à vida de 3 a 5
minutos, podendo ser utilizado como substituto em situações em que não haja a
epinefrina.
A atropina, agente anticolinérgicos, antagonista de receptores
muscarínicos, induz a taquicardia em pacientes em início de depressão cardíaca.
Estudos demonstram que a atropina não possui efeitos deletérios e sugere
possíveis melhoras.

• Dose de 0,04mg/kg;
• Dose única ao início do ciclo; ou
• Repetir a cada ciclo de 3 - 5 minutos.

Vias de acesso

A administração de fármacos durante a parada cérebro-cardiorespiratória


é uma atividade de atenção secundária. A prioridade é para o protocolo de suporte
básico à vida (massagem cardíaca, intubação endotraqueal com movimentos
respiratórios), procedimento que deve ser realizado sem que ocorra a interrupção.
O acesso pelas vias intravenosa e intraóssea é o que apresenta maior
absorção e disponibilidade para o organismo. São vias de escolha para pacientes
que já apresentam esses acessos presentes durante a parada.

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Em situações em que o paciente apresente a parada cardíaca sem a


existência de acesso venoso, o fármaco pode ser administrado via intratraqueal,
como a atropina, vasopressina ou adrenalina. O medicamento deve ser calculado
em uma dose dez vezes maior que a usual e diluído em 5ml de solução salina ou
água estéril. Por meio de uma sonda, introduzida dentro do traqueotubo,
administrar próximo à carina da traqueia.

Monitoramento pós-parada

A taxa de óbito em pacientes que passam por parada cérebro-


cardiorespiratória é alta. Em torno de 35% a 45% dos pacientes retornam com a
circulação espontânea. E destes, os pacientes que recebem alta hospitalar é de
2% a 10% para cães e gatos, respectivamente.
Os pacientes que sofreram a parada cérebro-cardiorrespiratória revertidas
passam por uma síndrome de baixa perfusão tecidual. O tecido cerebral mais
nobre do corpo pode sofrer com sequelas irreversíveis.
As estratégias que envolvem o retorno da função hemodinâmica e
tratamento das condições clínicas do paciente, em conjunto com
acompanhamento após a ressuscitação, dão uma maior chance de sobrevida ao
paciente.
Suporte cardiovascular

A avaliação básica da hemodinâmica envolve a monitoração da pressão


arterial, saturação de oxigênio e eletrocardiograma. Essas funções, em
parâmetros fisiológicos, vão proporcionar a chegada do sangue na célula da
microcirculação com a oxigenação necessária.
Como discutido anteriormente, o uso de vasopressores auxilia na tensão
vascular. Em pacientes que permanecem com a pressão arterial sistólica abaixo
de 80 mmHg, há a necessidade de drogas para auxílio. Os inotrópicos positivos
atuam para a melhoria da vasotensão. O efeito pode ter origem em receptores
adrenérgicos no sistema nervoso simpático ou por atuação no tônus vagal. As
duas principais drogas são:

Dopamina:

• Dose de 2 - 5 ug/kg/min - vasodilatação e diurese.


• Dose de 5 - 10ug/kg/min - vasoativo, aumento da pressão arterial.

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Norepinefrina:

• Dose de 2 - 4ug/kg/min - aumento da pressão arterial e tônus vagal.

Oxigenação e suporte de ventilação

Um suporte de oxigênio ideal é muito importante em quadros de pacientes


pós-parada, juntamente com a manutenção da quantidade de CO2 circulante, pois
o controle desse gás influencia o fluxo sanguíneo cerebral.

• SpO2 = Parcial de oxigenação da hemoglobina;


• O objetivo é manter uma normóxia (94% a 98%);
• Forma de mensuração = Oxímetro de pulso;
• EtCO2 = Parcial de dióxido de carbono expirado;
• O objetivo é de 32 a 43mmHg para cães e 26 a 36 mmHg para gatos;
• Forma de mensuração = Capnógrafo.

A ventilação mecânica em pressão positiva pode resultar em aumento da


pressão intratorácica, diminuindo assim o retorno venoso cerebral. Apesar de não
haver estudos para a veterinária, ainda se preconiza uma ventilação protetora
para prevenção de atelectasias e lesões pulmonares.

MATERIAIS BÁSICOS E DISPOSIÇÃO


Os fatores que influenciam o sucesso de atendimento emergencial podem
ser divididos em fatores do paciente e fatores humanos. Quanto aos fatores do
paciente, temos a doença primária, comorbidades, nutrição, idade, entre outros
fatores que alteram o prognóstico do paciente, sendo que muito pouco desses o
médico veterinário pode modificar.
Já nos fatores humanos, em que o clínico e o local de trabalho influenciam
no prognóstico, podemos separá-los em fatores ambientais e fatores pessoais.

Fatores ambientais

Os fatores ambientais são um conjunto de medidas que auxiliam no


acesso fácil de materiais, presença de um local adequado para esses insumos de
emergência, que, da mesma forma, precisam ser revisados para um
funcionamento adequado, visando evitar falhas comuns nesses momentos
críticos.
Acesso fácil aos materiais

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O acesso rápido e fácil ao material deve iniciar pela observação do local de


trabalho e possíveis medidas que podem proporcionar isso. Clínicas que
apresentam um ambulatório único se beneficiam da proximidade com os insumos.
Clínicas e hospitais com mais de um ambulatório, centro cirúrgico,
internamento, podem disponibilizar uma caixa de emergência (mala, caixa de
transporte, caixa de ferramentas, carrinho de emergência), permitindo seu
transporte ágil e confortável entre os ambientes.
Identificação e checklist de materiais

Tendo como finalidade a reposição de materiais de consumo e teste nos


produtos, a atividade de reposição dos materiais da caixa de emergência deve ser
feita após sua utilização, e os testes dos materiais precisam seguir uma cronologia
semanal, ajudando em sua conservação.
A identificação deve ser realizada para uma melhor distribuição dos
produtos e para manter a reposição ordenada e numerada, evitando, assim, a
chance de erros, como falta de materiais, vencimento e utilização de medicações
erradas.
A marcação com etiquetas em gavetas, na caixa de fármacos, bem como
na farmácia, sala de cirurgia e internamento auxilia o trabalho do veterinário e
equipe a fazer o seu uso e reposição.
Caixa de emergência

Fármacos de emergência

• Adrenalina;
• Atropina;
• Amiodarona;
• Aminofilina;
• Diazepam;
• Lidocaína;
• Dopamina;
• Norepinefrina;
• Vasopressina;
• Dexametasona;
• Prometasina.

Insumos

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• Cateter;
• Scalp;
• Equipo macro e micro;
• Solução fisiológica;
• Ringuer com laclato;
• Traqueotubo n2 ao n10;
• Torneira de 3 vias.

Materiais duráveis

• Laringoscópio;
• Ambu;
• Lanterna;
• Termômetro.

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TREINAMENTO DA EQUIPE
Os fatores pessoais são aqueles que a equipe faz no exercício do
reconhecimento e atividades do suporte básico à vida, que podem ser melhorados
com treinamento e estudo, seguindo bases do treinamento de equipe,
padronização das funções e existência de lideranças.
Sendo assim, essas técnicas, quando otimizadas, aumentam as taxas de
sucesso.

Início do atendimento

Em casos de pacientes que chagam à clínica ou em casos de serviços de


emergência, o atendimento inicia-se pela entrada do paciente na recepção e a
observação do estado geral. Os funcionários responsáveis devem saber
interpretar caso o paciente esteja em condições que apresentem risco à vida,
como:

• Diminuição de cognição, estupor, coma;


• Dispneia;
• Convulsões.

Sabendo identificar estados de anormalidade que precisem de atendimento


preferencial, ou qualquer dúvida que necessite a avaliação de um médico
veterinário, o funcionário deve sinalizar, informando a existência de um paciente
em risco precisando de um atendimento de triagem.
Atendimentos via celular podem ser uma dificuldade para funcionários da
recepção, atendentes e médicos veterinários especializados. Então um protocolo
deve ser instituído para se preparar para a chegada desse paciente e também
para verificar do quão urgente se trata esse paciente:

• O que está acontecendo?


• Quando iniciou?
• Melhorou ou piorou desde o início?
• Fez uso de alguma medicação?

É importante enfatizar que o atendimento por um médico veterinário é o


melhor para o paciente.

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Treinamento para auxílio no consultório

Do mesmo modo que a organização de materiais auxilia a logística do


atendimento, um profissional para auxiliar o médico veterinário facilita o
atendimento inicial do paciente como:

• Preparo de fluidoterapia;
• Contenção física;
• Preparo do local que o paciente permanecerá;
• Higienização;
• Observação do paciente.

Treinamento da equipe para as técnicas de suporte básico à vida

As técnicas de suporte básico à vida devem ser realizadas


concomitantemente, então o ideal é que uma equipe de atendimento seja
composta por cinco profissionais, para que cada um mantenha-se em sua
atividade possibilitando trocas.

• Massagem cardíaca;
• Ventilação com uso do AMBU;
• Profissional que prepara e aplica as drogas emergenciais;
• Líder para coordenar e corrigir atividades.

Caso o número de funcionários não atinja o ideal, as atividades têm como


prioridade a ordem citada acima.

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REFERÊNCIAS
AIRES, C. M. S. B. Cuidados de enfermagem especializados perante
múltiplas vítimas em situação crítica. Tese (Doutorado) – Escola Superior de
Enfermagem de Lisboa, Lisboa, 2015.

AOVET FOUNDATION. Disponível em: <https://aovet.aofoundation.org/#o=News


%20Date%20Facet,Descending>. Acesso em: 24 fev. 2019.

AQUINO FILHO, R. C. D. Ressuscitação cérebro-cardiopulmonar em cães e


gatos. Monografia (Conclusão do curso de Medicina Veterinária) – Universidade
de Brasília, Brasília DF, 2014.

BISTER S. I. Avaliação do paciente e exames dos sistemas orgânicos. In: FORD,


R.; MAZZAFERRO, E. M. Manual de procedimentos veterinários e tratamento
emergencial. 7. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2002.

GUIMARÃES, H. P. Uma breve história da ressuscitação cardiopulmonar. Revista


Brasileira de Clínica Médica, v. 7, n. 3, 2009.

NUNES, N. Monitoração da anestesia. In: FANTONI, D. T.; CORTOPASSI, S. R.


G. Anestesia em cães e gatos. São Paulo: Roca, 2002.

ROZA, M. R. Sala de urgência, equipamentos e animais. In: RABELO, R.


Emergências de pequenos animais – condutas clínicas e cirúrgicas no paciente
grave. Rio de Janeiro: Elsevier, 2012.

SOUZA, R. P.; VIANA, R. A. P. P. Gerenciamento de pessoal e burnout. In:


RABELO, R. Emergências de pequenos animais – condutas clínicas e
cirúrgicas no paciente grave. 1 ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2012.

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CAPÍTULO 2 - EMERGÊNCIA OU URGÊNCIA

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CONVERSA INICIAL
O paciente, após o atendimento inicial, é observado pelo veterinário, que
verifica as manifestações clínicas que levam ao risco de vida e ao diagnóstico da
enfermidade que o acomete. Aqui surge uma questão: quando a equipe deve
intervir: Depende da patologia em questão. Alguns pacientes se beneficiam de
uma estabilização pré-operatória (fluidoterapia, tratamento medicamentoso,
transfusão sanguínea) e outros necessitam de uma intervenção imediata
(hemorragia ativa, obstrução traqueal).
Aqui entram dois termos importantes: emergência ou urgência. O termo
emergência significa que o paciente tem risco iminente de morte. Já o termo
urgência significa que a intervenção deve ser feita e, caso não for, corre sérios
riscos de piora do quadro, podendo se beneficiar da estabilização.

EXAME FÍSICO E EXAMES LABORATORIAIS


Os métodos semiológicos podem ser divididos em diretos e indiretos. O
médico veterinário no exame físico inicial avalia alterações em seu paciente,
direcionando um exame complementar para diagnóstico definitivo.

Exame físico

O exame físico geral inicia-se pela observação e avaliação das alterações


cutâneas, do turgor cutâneo, da interação com o ambiente, das claudicações, das
alterações de simetria e da coloração de mucosa.
Em segundo momento, ocorre a palpação de linfonodos e a compressão
de mucosa para aferição do tempo de preenchimento capilar, palpação abdominal
e baloteamento, seguindo para os métodos semiológicos indiretos, como a
temperatura retal, auscultação pulmonar e auscultação cardíaca.
Em casos em que é avaliada a dor em alguma articulação ou desvio de
ângulo na inspeção visual, o exame físico completo deve ser feito antes de focar
no exame físico específico como o ortopédico e o neurológico.
Parâmetros fisiológicos em pequenos animais

• Temperatura retal = 37,5 ºC-39,5 ºC para cães e gatos;


• Frequência respiratória = 10-40 mpm para cães e gatos;
• Frequência cardíaca = 80-120 Bpm para cães;
• Frequência cardíaca = 120-160 Bpm para gatos.

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Mucosa

• Normal = rósea;
• Tempo de preenchimento capilar normal = 1’ – 2’.
Hidratação

• Normal até 5% (não aparente) = TPC 2’, turgor cutâneo de 2 segundos,


alerta, posição quadrupedal;
• Entre 6% e 8% (leve) = turgor cutâneo (2-4’’) retração do globo ocular
(enoftalmia) discreta;
• Entre 8% e 10% = TPC>2’’, enoftalmia evidente, decúbito esternal, turgor
entre 5’ e 10’’, apático;
• Entre 10% e 12% = estupor, TPC>2’’ turgor cutâneo >10’’, mucosas
ressecadas, temperatura diminuída.

Exames complementares

Os exames complementares têm por finalidade o diagnóstico de


enfermidades, comorbidades ou outras doenças concomitantes. Após um exame
físico completo, podemos direcionar os exames necessários para um diagnóstico
preciso.
Exames hematológicos

As análises hematológicas são uma ferramenta importante para o clínico.


O eritrograma é a avalição dos eritrócitos ou glóbulos vermelhos e sua quantidade,
morfometria e morfologia.
A diminuição dessa celularidade pode ser decorrente de hemorragias,
infecções graves, hemoparasitas ou aplasias medulares. Já o aumento pode ser
decorrente de uma desidratação grave, ou doenças cardíacas (sempre utilizar
outros exames para diagnóstico dessas doenças).
Leucograma é a mensuração dos leucócitos ou células brancas, que são
células de defesa e cujo aumento ou diminuição pode ser devido a infecção,
inflamação ou neoplasias e deve ser avaliado de forma concomitante com outros
exames para um diagnóstico de doenças.
Os exames bioquímicos são a mensuração de componentes eletrolíticos
do sangue como cálcio, fósforo, sódio, potássio etc.; os componentes não
eletrolíticos, como ureia, creatinina, glicose, ácido úrico; e as enzimas, como a
fosfatase alcalina, amilase, lipase, etc.

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Algumas provas bioquímicas direcionam lesões para órgãos específicos


como ureia e creatinina para o rim, amilase e lipase para o pâncreas,
transaminases (ALT e AST) para o fígado, o que demonstra ao clínico
modificações orgânicas decorrentes de doenças de base, auxiliando no
tratamento.

DIAGNÓSTICO POR IMAGEM EM URGÊNCIA E EMERGÊNCIA


A imaginologia veterinária é uma especialidade que faz uso de tecnologias
de aparatos de imagem para a realização do diagnóstico de enfermidades e
acompanhamento do estado de saúde de pacientes internados.
Com a evolução tecnológica a favor da medicina, os aparelhos, além de
mostrarem estruturas orgânicas, podem avaliar a função deste. Ex.:
ultrassonografia com doppler vascular. Neste tema, vamos abordar os principais
recursos de imagem encontrados em clínicas veterinárias, ultrassonografia e
radiografia.

Ultrassonografia

A ultrassonografia é um método de imagem não invasiva, gerado por ecos


de ondas ultrassônicas, demonstrando em tempo real a funcionalidade do órgão,
de rápida execução.
A imagem ultrassonográfica é formada pelo contato da onda no tecido e
seu eco ao transdutor. Dependendo da composição desse tecido, a onda sofre
refração de uma parte do eco e outra retorna ao transdutor.
Estruturas como lúmen da bexiga, repleta de urina (líquido), têm uma
aparência escura (hipoecoico) e imagens fáscias musculares (menos quantidade
de líquido) têm a aparência mais clara (hiperecoico).
O uso do ultrassom auxilia nas observações de estruturas abdominais. Em
pacientes traumatizados, deve-se sempre ter atenção a lesões como hemorragias
abdominais e ruptura da vesícula urinária. Uma técnica utilizada para a pesquisa
e acompanhamento do paciente pós-trauma é o FAST (focused assessment with
sonography for trauma).
Método de ultrassonografia dividida em quatro pontos:

• Espaço retrovesical;
• Espaço hepatorrenal;
• Espaço esplenorrenal;

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• Janela pericárdica.

Outra doença comum na clínica de pequenos animais é a piometra,


doença que acomete cadelas idosas, não castradas, apresentando sinais de
infecção nos exames hematológicos. A confirmação diagnóstica por meio da
ultrassonografia abdominal evidencia cornos uterinos e útero repleto por líquido
(conteúdo hipoecoico).

Radiografia

A radiografia é um exame de imagem que utiliza do raio-x, produzido por


um gerador, sobre o tecido orgânico e um filme ou uma placa digital de captura.
Dependendo do tecido exposto, este sofre a absorção de uma parte dos raios, e
os raios excedentes incidem no filme, formando uma imagem em duas dimensões.
A nomenclatura utilizada para os tons da imagem radiográfica são: radiopaco para
tons brancos (osso), radiolucente para tons escuros (ar).
Na ortopedia, a radiografia é utilizada para diagnosticar fraturas ósseas,
doenças articulares e tumores ósseos. Nas enfermidades torácicas relacionadas
à traumatologia, é usada, na primeira escolha como recurso diagnóstico, a
sobreposição do ar com as estruturas anatômicas, que demarcam e evidenciam
a presença de;

• Líquido pleural;
• Fraturas de costelas;
• Contusões pulmonares;
• Pneumotórax;
• Ruptura de diafragma, entre outras enfermidades.

As radiografias abdominais são habitualmente recomendadas para as


suspeitas de corpo estranho, como a mensuração do trânsito intestinal, fazendo o
uso de substâncias contrastadas (iodo, bário), sempre conciliando com o uso da
ultrassonografia para um diagnóstico preciso.

TÉCNICA CIRÚRGICA (1)


Após um exame físico e diagnóstico estabelecido, em que a causa da
doença do paciente necessite de uma intervenção cirúrgica para tratamento, as
diretrizes cirúrgicas entram como forma de padronização e prevenção de
complicações.

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A técnica cirúrgica é o estudo dentro da cirurgia que ensina a forma de


manipular corretamente os materiais, aplicar corretamente os conceitos de
diérese, hemostasia e síntese, higiene e preparação de paciente, seguindo
preceitos de antissepsia e assepsia para cada caso.

Profilaxia da infecção

O rompimento da barreira da pele, que acontece nas cirurgias, gera a


translocação dos microrganismos saprófitas (que vivem naturalmente na pele)
para a ferida cirúrgica e campo operatório. Para diminuir a chance dessa
contaminação, existem técnicas de higiene do paciente, do cirurgião, dos
instrumentais cirúrgicos e da sala cirúrgica.
Antissepsia é o conjunto de procedimentos que visa diminuir a carga de
contaminação de uma superfície animada (vivo). Ex.: com o uso de antissépticos
na pele do paciente e na higiene das mãos do cirurgião. Já a assepsia é a forma
de manter o material (inanimado) livre de contaminação. Ex.: fazendo o uso da
esterilização em instrumentais, aventais compressas e campos operatórios.
A equipe cirúrgica deve estar com a vestimenta adequada para o centro
cirúrgico. Os cirurgiões, auxiliares e instrumentadores devem submeter-se a
paramentação colocando vestimenta (avental cirúrgico) estéril.
O ambiente cirúrgico deve ser dividido em área limpa, contaminada e mista,
as portas e janelas devem ser fechadas o tempo todo. Os tecidos sujos devem
ser destinados ao lixo específico.
A área de acesso cirúrgico deve ser preparada pela tricotomia (remoção do
pelo) com uma margem ampla, no pré-operatório (área contaminada). Após a
entrada na área limpa e indução anestésica, deve-se iniciar a antissepsia da área
cirúrgica, comumente utilizado na veterinária o uso do clorexidine 2%, iodo 1% e
álcool 70%.

Tempos da técnica cirúrgica

Diérese

Manobra com o uso de instrumentais ou com métodos manuais que visa


separar um tecido para acesso de outra cavidade ou remoção tecidual. Pela
manobra manual temos a divulsão, descolamento, remoção de aderências e a
remoção de algumas estruturas.

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Entre as manobras instrumentais com tesoura ou bisturi, há o uso da


técnica de incisão, debridamento, exérese e curetagem. A incisão tecidual deve
seguir os seguintes princípios:

• Evitar cortes biselados


• Evitar incisões fora do planejamento
• Incisional em um só tempo (único e magistral)

Hemostasia

Técnicas manuais e instrumentais realizadas para parar, prevenir a


hemorragia ou interromper por um determinado momento. Sua finalidade é;

• Limpeza do sitio cirúrgico, para melhorar a visualização.


• Evitar hemorragia que levem ao choque hipovolêmico.
• Evitar coágulos na ferida, estes servem como meio de cultura para
bactérias, retardando a cicatrização.

Técnicas manuais e instrumentais realizadas para estancar ou interromper


por um determinado momento, prevenindo hemorragias. A finalidade da
hemostasia é manter com sítio cirúrgico limpo para, facilitando a visualização,
evitar grandes quadros hemorrágicos que levem ao choque hipovolêmico e evitar
coágulos na ferida cirúrgica, os quais atrasam a cicatrização.
As hemostasias preventivas podem ser realizadas por torniquetes, garrotes
ou compressão digital. Deve-se ter cuidado com os garrotes prolongados, pois
podem gerar lesões isquêmicas após muito tempo de uso.
As hemostasias temporárias são o método utilizado para fechar o local de
sangramento até a hemostasia definitiva, podendo ser realizadas pela
compressão manual, compressão por gazes ou pinçamento,
A hemostasia definitiva geralmente é realizada com a utilização de fios de
sutura, ligaduras de transfixação ou laçada, torção de vaso, eletrocoagulação ou
termocauterização.
Síntese

A hemostasia tem por função restabelecer a condição funcional dos tecidos


por meio do uso de fios de sutura, cola cirúrgica ou grampos cirúrgicos. Para que
a síntese auxilie na cicatrização tecidual, alguns cuidados nos momentos de sua
confecção devem ser tomados: remoção das cavidades ou espaço morto,

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aposição de bordas, cuidado para não realizar isquemia de vasos, escolha correta
do material de sutura e remoção de tecido desvitalizado no local de síntese.

BIOMATÉRIAS E SUTURAS
Fios de sutura são estruturas sintéticas ou orgânicas, utilizadas por
manuseio de instrumentais ou manobras manuais para manter as bordas da ferida
aproximada até a cicatrização

Fio de sutura

Na escolha do fio de sutura, buscamos alguns objetivos:

• Segurança no nó;
• Resistência tênsil;
• Fácil manuseio;
• Baixa reação tecidual;
• Não provocar infecções;
• Manter as bordas da ferida aproximadas até a cicatrização;
• Calibre ideal.

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Classificação dos fios de sutura

Comportamento no tecido

O fio pode ser classificado quanto à sua atividade no organismo:

• Os fios absorvíveis: após sua implantação, começa a diminuição de sua


força de tensão e acabam desaparecendo por meio de catálise e hidrólise;
• Os fios não absorvíveis são aqueles que ficam permanentemente no
organismo. São envolvidos por agentes de defesa do organismo depois
uma cápsula fibrosa.

Origem

• Orgânico. Ex.: seda;


• Sintético. Ex.: nylon;
• Metálico. Ex.: grampos.

Filamentos

Os fios de sutura também podem ser divididos quanto ao número de


filamentos em sua estrutura. Os monofilamentares são feitos de apenas um fio em
sua extensão, têm menos resistência que os multifilamentares, mas apresentam
a qualidade de não armazenar bactérias em seu interstício. Já os
multifilamentares são um conjunto de vários fios torcidos ou trançados, mais
maleáveis e flexíveis, e correm o risco de armazenar microrganismo entre seus
filamentos.

Sutura

A sutura é utilizada para reconstruir diferentes estruturas orgânicas que


tenham passado por diérese ou tecidos orgânicos dilacerados e traumatizados. O
objetivo principal da sutura é a aproximação das bordas, com intuito de realizar
uma cicatrização em menor tempo sem defeitos funcionais ou estéticos.

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Materiais

O porta-agulhas é utilizado para prender a agulha, colaborando para a


inserção desta no tecido. Os modelos utilizados na veterinária são Mayo-hegar e
Mathieu.
O fio pode vir agulhado (atraumáticas) ou as agulhas separadas para serem
acopladas (traumáticas). A agulha é dividida em fundo, parte onde fica o orifício
por onde passa o fio ou onde ele já está fixado. O corpo situado entre a ponta e o
fundo pode ser cilíndrico, achatado, em forma de trapézio ou triangular. E as
pontas têm características de penetração nos tecidos a serem suturados, divididas
em cônicas, triangulares ou lancetadas.
Sequência de pontos

Pontos interrompidos, corresponde a um nó a cada passagem pelas duas


bordas, sem continuidade, são de uma lenta elaboração, caso ocorra a soltura de
um ponto, não ocorre a saída de todos os pontos, sendo recomendado para
suturas de pele, musculatura aproximação de subcutâneo, entre outros casos.
Os pontos isolados são aqueles que em um plano de sutura cruzam
transversalmente a incisão, unindo as bordas por apenas um nó, seu benefício é
quando ocorrer a soltura de um ponto não se comprometendo a sutura em sua
totalidade, sendo recomendado em planos como a pele ou trato gastrointestinal.
Os pontos contínuos são aqueles que fecham a incisão por selamento da
sutura, composto por um nó em cada extremidade. A complicação desse padrão
é a soltura precoce antes da cicatrização, podendo levar à abertura total da sutura.
É uma sutura recomendada para vesícula urinária, tecido cardiovascular, entre
outros.
Sequência de pontos

A sutura pode ser classificada pela aparência da borda

• Aposição: as bordas se encostam no mesmo plano. Ex.: recomendado para


pele sem tensão
• Eversão: as bordas ficam voltadas para o plano superior, proporcionando
um maior contados entre elas. Ex.: pele que sofre maior tensão na sutura.
• Inversão: as bordas ficam voltadas para o inferior (invaginação). Ex.: trato
gastrointestinal.
• Sobreposição: uma borda fica sobre a outra, Ex.: sutura de capsula
articular.
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PÓS-OPERATÓRIO CIRÚRGICO
Após o procedimento cirúrgico, os cuidados com a ferida envolvem a
limpeza e proteção, tendo como objetivo principal evitar a ocorrência de
complicações, permitindo a cicatrização rápida da ferida.

Cuidado pós-operatório

O pós-operatório se inicia ao término da anestesia, quando o paciente se


encontra consciente em posição esternal ou quadrupedal. Os cuidados iniciais são
para conforto ao retorno, analgesia, alimentação e controle térmico. A avaliação
da dor e o resgate farmacológico são imprescindíveis para uma boa cicatrização,
retorno precoce à alimentação e diminuição do estresse.
Medidas iniciais:

• Aquecer o paciente (cobertores, bolsas de água quente);


• O analgésico deve ser avaliado, caso haja a necessidade fazer o resgate
(opioides são a melhor escolha para controle da dor);
• Oferecer água e comida (exceto em cirurgias do trato gastrointestinal);
• Utilização de anti-inflamatórios no trans ou pós-operatório (pré ou trans-
operatório auxilia como analgesia preemptiva)

Os cuidados pós-operatórios dependem do caso clínico do paciente, e


essas medidas são cuidados gerais. Pacientes críticos, prognóstico reservado ou
cirurgias de alta complexidade devem ter um acompanhamento especial.

Cuidado para casa

• Evitar com que o paciente contamine a ferida cirúrgica, fazendo o uso de


proteção para a ferida cirúrgica (colar elizabetano, curativo, faixa, roupa
cirúrgica);
• Higiene da ferida cirúrgica diariamente com antissépticos, e remoção
mecânica com a gaze auxiliam na remoção de células mortas evitando
proliferação bacteriana (Clorexidine, iodo);
• Prescrição medicamentosa em receituário de fácil compreensão;
• Recomendar ao proprietário a observação das atividades do paciente. Em
casos de vômito, diarreia, apatia, anorexia, entrar em contato.

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Complicações das feridas cirúrgicas

Fatores que podem culminar em falha da sutura

• Laceração por lambedura;


• Tutor não fazer uso das proteções (colar, curativo);
• Tutor não administrar a medicação prescrita;
• Tutor não realizar a restrição de atividade;
• Tutor não fazer a higiene e troca dos curativos.

Sinais de infecções locais

• Edema;
• Eritema;
• Sensibilidade dolorosa;
• Drenagem de secreções (serosa, serosanguinolenta ou purulenta);
• Seroma.

Falha dos planos de sutura

• Deiscência é quando a sutura não permaneceu o tempo ideal para realizar


a união das bordas;
• Eventração é quando ocorre a falha da sutura do plano inferior em uma
incisão abdominal, fazendo com que as estruturas orgânicas saiam do seu
lugar anatômico para outro compartimento, gerando, assim, uma hérnia;
• Evisceração é o rompimento de todos os planos e total exposição dos
órgãos para a atmosfera.

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REFERÊNCIAS
BISTNER, S. I. Avaliação do paciente e exames dos sistemas orgânicos. In:
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CAPÍTULO 3 - CLASSIFICAÇÃO DAS FERIDAS

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CONVERSA INICIAL
A pele é o órgão que tem a função de proteger contra entrada de patógenos
e agentes causadores de danos, impedir a perda excessiva de líquido, fazer o
controle térmico e a síntese de vitamina D, além de atuar como órgão sensitivo.
A descontinuidade da pele pode ser causada por fatores intrínsecos,
gerados doenças endócrinas ou infecções, e fatores extrínsecos, como traumas
ou feridas cirúrgicas. Na avaliação da ferida, o clínico deve estar preparado para
identificar alterações que podem modificar o tempo de cicatrização e manejar
terapias apropriadas.
Em conjunto, serão abordados os conceitos iniciais sobre os manejos de
fraturas abertas, com a escolha do método que gere proteção do tecido
musculoesquelético e evite complicações.

CLASSIFICAÇÃO DE FERIDAS
As feridas são classificadas para o melhor entendimento dos fatores que
afetam a cicatrização e também para estipular um prognóstico. Assim, são
divididas por causa, contaminação, tipo de cicatrização, tamanho da abertura e o
tempo desde a injúria.

Causas

Uma forma de divisão é feita quanto aos eventos que causaram a solução
de continuidade da pele e quanto a sua função. Em situações de feridas
acidentais, também se leva em consideração o método do trauma.

• Feridas cirúrgicas:
 Incisão: quando o ato cirúrgico não remove tecido completo; bordas são
regulares e podem ou não ser fechadas por suturas (por exemplo:
incisão abdominal ou incisão sobre abcesso);
 Excisão: durante o procedimento, ocorre a remoção de todo o tecido em
questão, com ou sem sutura da falha (por exemplo: região doadora de
um enxerto, biópsia excisional);
 Punção: procedimento terapêutico diagnóstico com uso de agulha. Faz
a retirada de material de um compartimento e/ou tecido (por exemplo:
cistocentese, biopsia aspirativa por agulha fina);
• Feridas traumáticas:
 Mecânico: atropelamento, corte com objetos, feridas por mordedura;
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 Químico: ácido sulfúrico;


 Físico: frio, calor.

Contaminação

• Limpa: feridas sem contaminação, ausência de micro-organismos.


• Limpa contaminada: o tempo decorrente do trauma é de menos que 6
horas, contendo baixa contaminação.
• Contaminada: ferida atendida após 6 horas do trauma, mantendo
contaminação significante.
• Infectada: ferida com reação inflamatória, presença de exudação,
destruição de tecido, agentes infecciosos no local.

Tipo de cicatrização

• Cicatrização por primeira intenção: a ferida é fechada cirurgicamente por


meio de sutura, bordas regulares, o tecido é preparado em condições ideais
de antissepsia.
• Cicatrização por segunda intenção: ferida com características de bordas
afastadas, irregulares, contaminação presente, cicatrização lenta.
• Cicatrização por terceira intenção: após tratamento da ferida e
apresentação de tecido de granulação, a ferida passa por correção
cirúrgica, com objetivo de uma cicatrização em menor tempo, melhor
resultado funcional e estético.

Tempo de duração da ferida

• Aguda: feridas recentes.


• Crônicas: feridas com tempo de cicatrização maior do que o esperado. Não
apresenta o tempo de regeneração esperado, retardando a cicatrização.

Grau de abertura

• Aberta: causa a comunicação do ambiente externo com o interno por meio


de lesões no tecido cutâneo.
• Fechada: são lesões obtidas sem corte cutâneo (fratura, torções,
hemorragias abdominais).

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Aparência

• Necrótico: tecido enegrecido (placa necrótica), temperatura baixa, região


endurecida.
• Infectada: supuração exudativa.
• Crostas: células mortas, exudação seca sobre a ferida.
• Granulada: angiogênese, tecido vermelho vivo.
• Epitelização: formação de células epitelizadas nas bordas e na superfície
da lesão.

CICATRIZAÇÃO TECIDUAL
A cicatrização tecidual nunca se apresenta da mesma maneira e exibe
diversos resultados. As feridas dependem dos fatores extrínsecos e intrínsecos:
idade do paciente, nutrição, doenças crônicas, tratamentos utilizados na ferida.
A divisão da cicatrização da ferida pode ser classificada em três etapas
com características distintas.

Inflamatória

Característica básica desta fase é a presença de células inflamatórias no


tecido cicatricial. A cobertura primária composta por deposição de fibrina para
estabelecer a homeostase fornece ambiente para que as plaquetas secretem os
fatores de crescimento, mediadores, os quais recrutam macrófagos, neutrófilos.
Os macrófagos atuam na fagocitose de bactérias, debris celulares e corpos
estranho e como célula são apresentadoras de antígenos. Também liberam e
sintetizam proteases para remoção do coágulo e expressam vários fatores
mitogênicos e citocinas.

Proliferativa

É a fase de reparação do tecido conjuntivo e epitélio, em que ocorre a


formação do tecido de granulação, com formação de tecido de granulação e
fibroblastos. A atividade dos fibroblastos na síntese de colágeno, na região
superficial da ferida, é denominada de fibroplasia. Inicia a secreção e a síntese de
fibras de colágeno, matriz extracelular, glicosaminoglicanos e angiogênese.
A contração da ferida inicia-se das margens da lesão para o centro, pela
atividade dos fibroblastos que se diferenciam em miofibroblastos. Os

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miofibroblastos aproximam as margens da ferida, forçando as fibras de colágeno


a se sobreporem e se entrelaçarem, ação responsável pelo fechamento da lesão.

Remodelamento

Esta é a última fase da cicatrização, responsável pelo aumento da força


tênsil da cicatriz. Ocorre a diminuição do número de vasos sanguíneos e do
conteúdo aquoso da matriz. Há aumento da deposição de colágeno tipo 1, e as
fibras que antes eram dispostas em várias direções agora são reorganizadas e
dispostas em direção a tensão da cicatriz.
A coloração do tecido passa por mudanças, passando do vermelho vivo,
ao rosa-claro e, por fim, ao bege, em um processo de reparo que pode durar
meses, até a formação do tecido cicatricial.

Fatores que afetam a cicatrização

Existem diversos condições que podem prejudicar a cicatrização das


feridas cutâneas, fatores sistêmicos e locais.
Os principais fatores sistêmicos são:

• Idade;
• Movimentação;
• Nutrição;
• Doenças associadas;
• Drogas imunossupressoras;

Os fatores locais são:

• Localização anatômica;
• Presença de infecção;
• Tecido necrosado;
• Corpos estranhos;
• Linhas de tensão.

TRATAMENTO DE FERIDAS
O objetivo principal do tratamento das feridas é proporcionar um ambiente
favorável para uma cicatrização rápida ou manter a ferida em condições para
correção cirúrgica.

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Vamos abordar os fundamentos do tratamento as feridas, técnicas iniciais


e manejos que auxiliam a terapia.

Manejo inicial

• Cobertura da ferida para evitar contaminação adicional;


• Avaliação geral do paciente traumatizado, caso seja necessário estabilizar.

Desbridamento

O desbridamento é o ato de remoção do debris celular, corpos estranhos,


com objetivo de deixar a ferida em condições adequadas para a cicatrização.

• Desbridamento autolítico: atuação dos próprios leucócitos; manté,-se


ambiente húmido.
• Desbridamento enzimático ou químico: uso de enzimas proteolíticas que
estimulam a degradação do tecido; é necessário manter o ambiente
húmido.
• Desbridamento mecânico: por fricção com gaze ou esponja para remoção
do tecido desvitalizado.
• Desbridamento cirúrgico: uso de instrumentais, como lâmina de bisturi ou
tesoura; recomenda-se a realização em centro cirúrgico com o paciente
anestesiado.

Cobertura

Em conjunto com as técnicas de desbridamento (remoção da cobertura


anterior e limpeza), é feita escolha da cobertura que melhor se adapte ao caso
clínico, para manter um ambiente propício para reparação tissular.
Em geral, os cuidados são:

• Manutenção da umidade;
• Remoção de excesso de exsudato;
• Troca gasosa;
• Isolamento térmico;
• Proteção.

O meio úmido previne a morte celular por ressecamento, acelera a


angiogênese, favorece o desbridamento autolítico, a liberação de fatores de
crescimento e o estimulo de proliferação.

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As coberturas podem ser divididas em primária e secundária: as primárias


são as coberturas que ficam em contato íntimo com a ferida, já as secundárias
ficam sobre a cobertura inicial.
As pomadas com antimicrobianos ajudam na diminuição da proliferação
das colônias bacterianas e mantêm a ferida hidratada, mas há o risco de
colonização de bactérias anaeróbicas abaixo do produto. Em geral, as pomadas
(aloe vera, antibióticas ou estimulantes da cicatrização) atuam como ótimas
coberturas primárias e mantêm o ambiente hidratado.
A gaze como cobertura secundária fornece absorção de exsudato e
proteção para a ferida. Realizar a dispersão da camada primária sobre a gaze
auxilia a manter toda a ferida em contato com o produto e reduzir a lesão no atrito
direto da gaze.
Os filmes transparentes com poliuretano e hidrocoloide trabalham como
cobertura primária e secundária, auxiliando na umidificação da região, e não são
recomendados em feridas infectadas.

Feridas agudas e crônicas

Os ferimentos com 6 a 8 horas pós-trauma, com baixa contaminação,


podem ser lavados, desbridados e suturados por primeira intensão. Lesões
perfurante dever ser bem exploradas.
Para ferimentos que passaram de 6 a 8 horas ou que apresentam infecção,
recomenda-se tratamento como ferida aberta, para realizar o desbridamento e o
controle da infecção. Após controlado, o ferimento pode ser reduzido
cirurgicamente por terceira intenção ou mantendo os cuidados com a ferida para
cicatrização por retração (segunda intenção).

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PRINCÍPIOS DA CIRURGIA RECONSTRUTIVA E PLÁSTICA


As cirurgias reconstrutivas são utilizadas para fechamento de defeitos
causados por traumas, remoção de tumores e melhoria em defeitos congênitos.
Defeitos extensos no tronco podem se beneficiar do fechamento de incisões de
relaxamento ou técnicas de plastia.
Os grandes defeitos e aqueles em extremidades podem ser fechados por
retalhos ou enxertos. A característica do leito receptor influencia a técnica de
escolha.

Linhas de tensão e alívio de tensão

As linhas de tensões são formadas por forças das linhas do tecido fibroso
da pele, e a tensão formada faz com que as linhas fiquem alongadas no sentido
da fibra. Incisões de pele são indicadas no sentido da linha de tensão.
As bordas de lesão devem ser manipuladas antes do fechamento para
determinar o planejamento cirúrgico e a técnica a ser escolhida, evitando tensão
excessiva e minimizando a criação de bordas elevadas ou pregas.
Usando uma tesoura romba, tomando cuidado com a vascularização, a
pele e anexos subcutâneos são separados do músculo do panículo e de tecidos
adjacentes, uma técnica de fácil execução para proporcionar maior alivio da
tensão entre bordos.

Padrões de sutura

As suturas subcutâneas fornecem aproximação das bordas, diminuem a


tensão da sutura de pele, auxiliam na diminuição da cicatriz e na redução do
espaço morto. São confeccionados suturas simples ou contínuas de fios
absorvíveis (polidiaxanona, poliglactina 910, poliglecraprone).
As suturas de movimentação fazem com que a pele se movimente sobre o
defeito, utilizando suturas isoladas nos espaços profundos da ferida e fáscia
subcutânea para aproximação da ferida. É preciso tomar cuidado, pois o excesso
de pontos de aproximação pode levar à formação de túneis subdérmicos e
isquemia da irrigação de bordas.
Colocar as suturas com uma distância maior entre a borda auxilia a
dispersão da tensão, conciliado com pontos específicos, como o colchoeiro
vertical, wolf ou suturas de polias, como o “longe-perto-perto-longe” ou “longe-
longe-perto-perto”.

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Prevenção das “orelhas de cão”

As orelhas de cão são excesso de pele das extremidades da ferida, que


podem gerar espaço morto, ausência de aposição de bordas e falta de uma boa
estética da cicatriz. Podem ser corrigidas por incisão em triângulo, se somente
uma borda tiver excesso de pele, incisão em um plano de 90º sobre o excesso e
remoção do triangulo. A elipse pode ser realizada quando o efeito é bilateral,
margeando o tecido excedente, finalizando com a sutura.

Incisão de relaxamento

As incisões de relaxamento são feitas próximo de feridas para permitir


aposição das bordas, movimentação de pele ou fechamento da região que fica
sobre estruturas importantes.
Incisões de relaxamento simples são realizadas após o alívio de tensão da
ferida e sutura, lateral à ferida e sobre a região divulcionada. Uma incisão única é
realizada na direção da ferida e após, coberta por curativo. Incisões múltiplas e
puntiformes também podem ser realizadas nas margens com tensão após a
divulsão.
A plastia em V-Y proporciona um flap de avanço. O V é posicionado na
linha de tensão lateral, voltado com a região central do para a ferida, e no
momento da sutura as extremidades são suturadas inicialmente dando o formato
de Y.
A plastia em Z pode ser feita adjacente à ferida, onde as bordas internas
do Z são trocadas de lugares, dando maior relaxamento na face superior. Outra
opção é incorporar o Z na ferida, mantendo a linha central sobre o defeito,
suturando as bordas internas no centro do defeito.

MANEJO DE FRATURAS EXPOSTAS


As fraturas expostas são aquelas que apresentam comunicação com o
meio externo por meio de uma lesão nos tecidos moles ou cavidades
contaminadas, como boca, tubo digestivo e vias aéreas.
São consideradas emergências ortopédicas, e o objetivo do seu tratamento
é a prevenção da infecção para ocorrência da consolidação da fratura. A
realização de manejo inicial adequado, classificação e utilização de tratamento e
terapias apropriadas é fundamental para o sucesso do procedimento.

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Manejo inicial

As fraturas expostas geralmente estão associadas a traumas de maior e


energia ou lesões por mordeduras. Os ossos mais acometidos são rádio, ulna,
tíbia e fíbula. O motivo principal é decorrente a baixa cobertura de tecidos moles
nesses ossos, facilitando a exposição destes.
A preocupação inicial é com o estado geral do paciente, mas, para evitar
lesões adicionais de tecidos moles e diminuir a contaminação no local da fratura,
a cobertura da lesão com curativo estéril ou tala de conforto auxiliam o prognóstico
da lesão.
O uso de antibiótico sistêmico é preconizado nas exposições ósseas, junto
com uma cobertura úmida na ferida; as pomadas antibióticas podem ser utilizadas
para diminuir contaminação e umedecer o local.

Diagnóstico

A fratura exposta pode ser de fácil diagnóstico, apenas pela visualização


do osso fraturado. Em pacientes que sofreram traumas por mordedura, a suspeita
de exposição óssea deve ser levada em consideração, e a contaminação da
cavidade oral pode levar microrganismos para o tecido ósseo.
Nos pacientes com fraturas de pelve, o médico veterinário deve pedir ao
tutor durante a anamnese se ele observou sangue nas fezes, informação que,
junto com a realização da palpação retal, permite saber se ocorreu uma
perfuração do trato gastrointestinal.
Fraturas de mandíbula e maxila podem proporcionar a exposição para a
cavidade oral do paciente. O indicado, quando houver a suspeita de lesão oral, é
a sedação do paciente e a realização de exame físico da cavidade oral.
A fratura de costela pode levar ao trauma pulmonar pela perfuração da
pleura parietal entrada na cavidade pleural e perfuração pulmonar, sendo assim
os pacientes com contusão pulmonar, pneumotórax e hemotórax têm como
diferencial a fratura exposta de costela.

Classificação

A classificação da fratura é capaz de nos dar um prognóstico baseado na


gravidade da lesão e o melhor tratamento a se escolher. A classificação seguida
por Gustilo e Anderson (1976) se baseia em grau de lesão de tecidos moles, grau
de lesão óssea, energia do trauma e contaminação.

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• Tipo I = lesão em tecido mole menor que 1 cm com mínima, baixa


contaminação, geralmente lesão de baixo impacto.
• Tipo II = lesão de tecido mole maior que 1 cm com moderada lesão de
tecido mole, contaminação moderada.
• Tipo III = lesão de alto impacto, alta contaminação e lesão óssea complexa,
diferenciada em três subdivisões.
• Tipo IIIA = grave lesão de tecido mole com possibilidade de cobertura
cutânea, lesão óssea complexa, cobertura adequada do osso.
• Tipo IIIB = grave lesão de tecido mole, cobertura cutânea deficiente.
• Tipo IIIC = lesão vascular e nervosa, grave lesão de tecido mole, cobertura
cutânea deficiente.

Tratamento

O uso do antibiótico é recomendado devido a contaminação, lesão tecidual


e estado imunológico deprimido devido ao trauma. É importante realizar a cultura
e antibiograma da lesão e realizar o tratamento antes do resultado. Os antibióticos
recomendados para tecido ósseo são: aminoglicosídeos, cefalosporinas e
fluoroquinolonas.
As estabilizações para fraturas expostas dependem do tipo de fratura e da
classificação da fratura exposta, e geralmente fraturas de grau I e II podem se
beneficiar do uso de placa, pino intramedular, hastes bloqueadas ou fixadores
externos. Entretanto, placas, hastes bloqueadas ou pinos intramedulares podem
ter riscos quando utilizados em fraturas expostas, devido à possibilidade de se
manter um biofilme bacteriano no aparato, podendo levar a dificuldade do controle
da infecção ou até agravar o quadro infeccioso.
Em casos que a fratura seja classificada como grau III, deve ser restrito o
uso de alguns aparatos. A seleção do fixador externo é recomendada nesses
casos, pois auxilia para que possa ser controlada a infecção, não havendo contato
com o foco de fratura ou exposição, e após a cicatrização, é realizada a retirada
do aparato.

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CAPÍTULO 4 - DIAGNÓSTICOS

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CONVERSA INICIAL
Os traumas abdominais são geralmente ocasionados por acidentes
automobilísticos, com prevalência em cães jovens, machos e não castrados. A
lesão é encontrada geralmente em bexiga, baço, fígado e rim, apesar de poder
acontecer em qualquer órgão.
As principais alterações encontradas são lesões hemorrágicas ou traumas
em vesícula urinária. Há trauma em órgãos parenquimatosos ou grades vasos,
levando a ruptura e hemoabdômen (acúmulo de sangue na cavidade abdominal).
Já o trauma que leva ao extravasamento de urina para a cavidade abdominal é
denominado uroabdômen.

DIAGNÓSTICO DO HEMOABDÔMEN
O hemoabômen é definido por extravasamento sanguíneo dentro da
cavidade abdominal. As causas principais são: neoplásicas, traumas e
intoxicações. O foco desta aula é relatar os sinais clínicos, o diagnóstico e
tratamento do hemoabdômen traumático, junto com seu prognóstico.

Atendimento inicial, sinais clínicos e exame físico

Iniciando por uma boa anamnese, dando atenção para os principais relatos
do tutor, como trauma automobilístico, alterações que vieram progredindo, tais
como apatia e dificuldade respiratória.
Durante o exame físico, os sinais de alterações no sistema cardiovascular
são observados em um quadro sistêmico. As alterações condizentes com o
quadro que geralmente são observados:

• Aumento no tempo de preenchimento vascular;


• Diminuição da pressão;
• Hipotermia;
• Diminuição do estado de consciência;
• Mucosas pálidas;
• Taquicardia ou bradicardia;
• Pulso fraco;
• Taquipeneia.

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O teste de baloteamento pode ser positivo; alterações quanto ao tamanho


abdominal aumentado e coloração externa da cavidade abdominal de tonalidade
rubra podem ser indicativos de derramamento sanguíneo na cavidade.

Análises laboratoriais

Os testes laboratoriais são de grande valia para sugerir a perda de sangue


intravascular; o hemograma junto com a mensuração da proteína total pode
avaliar a gravidade da alteração. No paciente com hemorragia aguda, o
hematócrito pode se encontrar dentro dos valores normais e a proteína total pode
estar baixa, isso devido a contração esplênica e liberação de hemácias.

Exames de Imagem

Os achados radiográficos dos pacientes com derramamento sanguíneo


na cavidade abdominal são similares aos encontrados em outras efusões
cavitárias. A perda da definição das estruturas abdominais é realçada pela serosa
de cada estrutura; sendo assim, o exame radiográfico é pouco útil para detectar a
origem do sangramento.
A ultrassonografia abdominal é um exame sensível para a detecção de
liquido livre na cavidade, pela fácil execução e por se tratar de um exame não
invasivo, podendo ser realizado como acompanhamento no leito. Caso o paciente
venha a aumentar o volume de líquido abdominal, junto com a piora dos sinais
clínicos, é indicativo de que necessite de intervenção cirúrgica.
A característica da imagem é o padrão anecoico entre os órgãos; em
casos mais graves, observa-se deslocamento de alças intestinais. Em casos mais
brandos ou no início do acúmulo de líquido, observa-se conteúdo anecoico na
base da bexiga, diafragma ou nos polos caudais dos rins.
Abdominocentese

A cateterização abdominal consiste na técnica de inserção de um cateter,


escalpe ou agulha para punção abdominal. O seu aspecto negativo é que, para
obter um resultado positivo, o derramamento pleural deve ser de no mínimo 5
ml/kg, não sendo específico para pacientes com lesão aguda ou baixo
sangramento.
A técnica baseia-se em colocação do paciente em decúbito lateral, e
inserção do cateter no tecido muscular, abaixo da cicatriz umbilical. Em casos de
um acúmulo acentuado, o sangue sai passivamente; em situações em que pouco

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sangue se encontra na cavidade, a pressão negativa com o uso de uma seringa


auxilia na coleta do material.

Características do líquido abdominal

A efusão abdominal hemorrágica tem características especificas de


celularidade, como os níveis séricos de proteína total maior que 3.0g/dl. A
mensuração das células vermelhas é de grande importância; valores menores que
5% são característicos de uma hemorragia branda, e valores acima de 10%
revelam a existência de uma grave hemorragia. É preciso sempre avaliar o
hematócrito do paciente para manter um parâmetro sanguíneo de comparação.

TERAPIAS PARA HEMOABDÔMEN


O tratamento dos derramamentos sanguíneos na cavidade abdominal é
realizado após o diagnóstico da afecção, e descarte de outras complicações. A
compressão externa é uma técnica que pode ser utilizada como terapia adicional,
ou avaliada com critério caso for utilizada como terapia principal. Já as cirurgias
exploratórias têm o benefício de localizar o local de sangramento e comprovar o
real estancamento da hemorragia durante o procedimento.

Compressão abdominal externa

A técnica de compressão abdominal externa consiste na aplicação de


pressão por meio de faixas ou ataduras. Estendendo-se do xifóide ao púbis, a
faixa deve ser bem apertada, mas possibilitando a passagem do dígito. Por meio
da diminuição do espaço abdominal, levando ao aumento da pressão, os
sangramentos leves podem cessar, e os sangramentos ativos com graves lesões
podem diminuir o derramamento na cavidade.

Cirurgia

A laparotomia exploratória no paciente com hemoabdômen é um


procedimento cirúrgico investigativo, que visa encontrar o ponto hemorrágico e
interromper o vazamento. Os órgãos com maior prevalência para a ocorrência de
lesões são, baço, fígado e rim. Esses órgãos têm uma característica em comum:
são órgãos parenquimatosos de consistência friável.

Cirurgias esplênicas

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As lesões em baço originadas por trauma podem gerar alterações leves a


graves, devido à vascularização intensa do órgão. As lesões superficiais em
parênquima podem se beneficiar da sutura peritônio parietal junto ao parênquima,
utilizando uma sutura contínua em plano de aposição.
Durante a laparotomia, o cirurgião pode-se deparar com situações nas
quais a sutura do parênquima não estanca o sangramento, ou quando defeitos
maiores estão presentes no órgão. Sendo assim, duas condutas podem ser
levadas em consideração: a remoção parcial do órgão ou a remoção total.
A remoção parcial é a técnica de escolha caso o órgão esteja parcialmente
viável e sem a presença de neoplasias; o objetivo é manter a função esplênica.
Para a esplenectomia parcial, o pinçamento: abaixo do tecido desvitalizado
que será removido, duas pinças hemostáticas são colocadas. Deve-se ligar os
vasos esplênicos o mais perto do hilo esplênico, realizar a incisão entre as pinças,
e suturar a área incisada com suturas em padrão contínuo, em aposição, com fios
absorvíveis sintéticos.
A técnica de esplenectomia total é realizada em casos em que o paciente
apresenta lesões difusas em parênquima, lesões de grandes vasos que afetem a
circulação do órgão, e em casos em que já havia neoplasias, e devido à lesão
traumática ocorreu a ruptura de vasos ou da massa.
Deve-se exteriorizar o baço, isolar com compressas, ligar os vasos
próximos ao hilo esplênico, com fio absorvível, certificar que a hemostasia foi
realizada com segurança. Evitar a ligadura dos ramos gástricos, pois podem levar
à necrose no fundo do estômago.

Cirurgias hepáticas

As lesões em fígado também podem ser classificadas, devido à sua


extensão no órgão, como leves e graves. As lesões superficiais na cápsula
hepática podem ser corrigidas com padrão de sutara contínua, de fio absorvível.
A lobectomia parcial é recomendada em casos de lesões maiores, nas
quais é possível remover a porção lesionada e manter o restante do tecido viável.
A compressão temporária com o dígito auxilia a diminuir as lesões no órgão e a
cessar a hemorragia. Depois, é realizada a incisão da cápsula hepática, divulsão
do parênquima com os dígitos, evidenciando vasos esplênicos, e enfim ligá-los;
deve-se utilizar fio absorvível, finalizando com a sutura do parênquima.

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Outra técnica é pela utilização de uma ligadura em massa no lobo ou várias


ligaduras circulares, o que também é chamado de guilhotina, que separa a área
lesionada da região saudável.
Os lobos esquerdo e médio, lobos da lateral esquerda do fígado,
apresentam uma boa separação, permitindo assim a remoção por ligadura em
massa na base do lobo. O lobo caudado e o direito são lobos pelos quais passam
estruturas importantes, como a veia cava caudal e a ramificações da veia porta,
sendo necessária dissecação cuidadosa e ligaduras com segurança.

DIAGNÓSTICO PARA UROABDÔMEN


Uroabdômen é um extravasamento de urina na cavidade abdominal. A
urina pode ter origem de lesões nos rins, ureteres, bexiga ou uretra. As causas
podem ser decorrentes de obstruções uretrais, tumores, cistites graves, além de
causas iatrogênicas e traumas.
O órgão que comumente está associado às lesões traumáticas é a bexiga;
todo paciente com histórico de trauma automobilístico deve ser avaliado quanto à
possível afecção.

Atendimento inicial

Deve-se ter redobrada atenção à investigação inicial do paciente que sofreu


trauma automobilístico e fratura de pelve. Questiona-se o tutor se o paciente
urinou após o trauma, se teve a presença de hematúria ou sangramento pela via
urinária.
Os sinais do uroabômen podem ser mascarados por outras manifestações
clínicas do trauma. Devido à uremia causada pela absorção dos produtos
nitrogenados e eletrólitos, geralmente os sinais estão associados a vômito, dor
abdominal, letargia e anorexia.
Alguns pacientes podem ter fluxo urinário sem sangue, ou fluxo urinário
normal. Esses falsos negativos ocorrem quando a lesão é em apenas um ureter,
ou quando é necessário que a bexiga fique estendida para proporcionar o
extravasamento.

Exames de imagem

A ultrassonografia abdominal evidencia líquido livre. O ponto de


observação do líquido focal é a base da bexiga; em acúmulos maiores, são os
compartimentos abdominais, com o polo caudal dos rins e região entre diafragma
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e fígado. Conhecido como FAST, essa técnica de detecção de alterações


abdominais é de grande valia, podendo ser repetida no leito hospitalar para
acompanhamento do paciente
A radiografia simples evidencia a presença de efusão peritoneal em
grandes acúmulos, perdendo a definição da serosa dos órgãos; outra observação
é a ausência de imagem circular da bexiga.
A cistografia retrógrada é um método radiográfico contrastado que confirma
a suspeita de ruptura vesical. A técnica consiste na inserção de uma sonda uretral,
pela qual é instilado iodo aquoso orgânico 2,2ml/kg, diluído em solução estéril em
uma proporção 1/3. O diagnóstico é confirmado pela observação radiopaca do
contraste, disperso pela cavidade.
Na ausência de imagens de extravasamento do contraste, a urografia
retrógrada pode ser realizada pela compressão vesical. A imagem observada será
de extravasamento do contraste na região retroperitoneal, anterior à uretra
peniana.

Exames laboratoriais

A realização de exame de hemograma completo, perfil bioquímico sérico e


eletrólitos é essencial para a avaliação do estado geral do paciente. Os achados
que podem estar presentes e podem ser compatíveis com a afecção são:
hipercalemia, acidose e azotemia.
A análise do liquido livre é fundamental para a confirmação diagnóstica. A
creatinina não passa do peritônio para a circulação devido ao tamanho molecular;
então, para diagnóstico do uroabdômen, a concentração de creatinina na
cavidade abdominal deve ser o dobro da contração plasmática.
O lavado peritoneal pode ser feito caso o volume de líquido na cavidade
abdominal não seja o suficiente para coleta, sendo que geralmente é necessário
cerca de 5-10 ml/kg de líquido livre, para que a coleta seja possível.
A técnica de lavagem peritoneal consiste em antissepsia da região
abdominal, punção com cateter venoso (20G ou 18G), inserção de 22ml/kg de
solução fisiológica, morna (28 oC), e se possível levar o paciente para caminhar
ou rodar em seu eixo, para homogeneização da solução. É muito difícil que haja
a coleta de todo o líquido inserido na cavidade; deve-se dar especial atenção às
alterações laboratoriais, devido à diluição da solução.

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TERAPIAS PARA UROABDÔMEN


As condutas para correção do uroabômen têm por finalidade identificar a
gravidade da lesão, cessar o extravasamento de urina, e acompanhar a evolução
do paciente.
A conduta médica tem como benefício evitar os riscos cirúrgicos e as
possíveis complicações; em contrapartida, o paciente pode não ter sucesso
terapêutico, o que acarretaria maiores lesões sistêmicas e locais.
A aula tem por finalidade demostras as causas mais comuns de ruptura e
as condutas apropriadas para cada situação.

Ruptura de uretra

A ruptura de uretra pode ocorrer em pacientes que sofreram lesões por


laceração em pênis e fraturas de pelve, o que é comumente relacionado a traumas
automobilísticos, com uma maior incidência em machos não castrados.
Após a confirmação com a uretrografia retrógrada, pode-se dividir em dois
tipos de lesão as lesões parciais de uretra e as rupturas totais. Em casos de
rupturas parciais, o tratamento clínico pode ser instituído; esse método de
tratamento consiste em manter o paciente sondado até a cicatrização da lesão.
Para as lesões totais de uretra, é indicada a anastomose, técnica que
consiste na sutura uretral com fio absorvível. Os pacientes com lesões que não
alcançam a reconstituição uretral podem-se beneficiar de técnicas de sutura direta
da uretra para o meio externo, denominadas de ureterostomias.
A ureterostomia viabiliza a comunicação da uretra para o meio externo,
devido à diferença anatômica do trato urinário de cães e gatos. Vejamos a divisão
das ureterostomias:

• Ureterostomia pré-púbica;
• Ureterostomia pélvica;
• Uretrostomia perineal (canina);
• Uretrostomia perineal (felina);
• Uretrostomia escrotal (canino);
• Uretostomia pré-escrotal (canino).

Ruptura de bexiga

A ruptura de bexiga é a afecção mais comum no diagnóstico de


uroabdômen, quando pequenas perfurações podem cicatrizar, mantendo a bexiga
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sem se distender por meio de sondagem uretral ou cistostomia. Mesmo assim, é


recomendada inspeção cirúrgica para explorar lesões adicionais.
Os critérios para a avaliação do tecido vesical se referem à sua integridade;
as necroses devem ser retiradas para sutura das bordas saudáveis. A rafia vesical
é feita em dois planos: no primeiro plano é realizado uma sutura englobando
mucosa e submucosa, padrão contínuo de aposição, seguindo pela rafia da
musculatura, junto com a serosa em padrão contínuo invaginante. Os dois planos
devem ser realizados com fio de sutura absorvível.
A bexiga pode estar friável na inspeção; a cistostomia auxilia a cicatrização,
evitando acúmulo de urina, e assim aliviando as tensões sobre ela.
A cistostomia é uma técnica temporária de desvio urinário para o ambiente
externo, sem que passe pela uretra. Inicia-se com incisão pré-púbica, cistostomia
para explorar e bexiga, e depois entrada do cateter de Foley em uma incisão
lateral da cavidade abdominal. A entrada do cateter pela bexiga é realizada no
corpo pela região lateral; é feita cistopexia na entrada do cateter pela parede
abdominal, e proporciona-se fixação externa com bolsa de tabaco e sutura de
fixação de sonda (sandália romana).

Ruptura de ureter

A ruptura ureteral ocorre em menor prevalência dentre as lesões


traumáticas em trato urinário que geram uroabdômen. A dificuldade de
manipulação do tecido, em cães e gatos de pequeno porte, traz risco de estenose
e infecções; muitas vezes, a conduta realizada é a nefrectomia.
A sutura de ureter é realizada com fio absorvível, em padrão isolado,
geralmente utilizando fios 5-0 a 7-0. Em rupturas ureterais próximas à bexiga,
pode ser utilizada técnica de ureteroplastia, suturando o ureter, diretamente na
mucosa da bexiga.

PERITONITE SÉPTICA DEVIDO A TRAUMA ABDOMINAL


O peritônio é uma camada serosa que recobre a cavidade e os órgãos
abdominais. Já a peritonite é uma reação inflamatório do peritônio. Nos casos de
trauma abdominal, quando há derramamento de conteúdo fecal por rompimento
de alça, perfuração da cavidade por objetos ou exteriorização das vísceras, e
assim, a entrada de bactérias na cavidade, o paciente vem a desenvolver uma
peritonite séptica por infecções secundárias.

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Sinais clínicos

Os sinais clínicos do paciente que apresenta peritonite séptica em casos


nos quais não ocorre a perfuração da parede abdominal são bem inespecíficos,
podendo ser confundidos com outras alterações do trauma abdominal. As
principais alterações observadas são: dor na palpação, hiperemia, leucocitose e
ascite.

Diagnóstico

Os diagnósticos nas peritonites de abdômen aberto são realizados por meio


da visualização trajeto de perfuração ou evisceração, junto com os sinais clínicos.
Nos pacientes que fizeram uma laceração do trato gastrointestinal, e que
mantêm o abdômen fechado, a ultrassonografia abdominal vai apresentar
imagens de efusão peritoneal, além de disseminação de fibrina e material das
alças pela cavidade.
Outra forma de diagnóstico de peritonite séptica em pacientes que mantêm
o abdômen fechado é o lavado peritoneal. As características do lavado podem
ser: presença de fibras alimentares, aparência turva, odores fecais, leucócitos e
sangue.

Tratamento

Os pacientes que apresentam exposição visceral, trajetos perfurantes e


presença de corpo estranho inserido na cavidade abdominal (ainda não removido)
devem ser enviados para a cirurgia de laparotomia exploratória. O procedimento
tem por objetivo inspecionar a cavidade à procura de lesão, realizar lavagem da
cavidade para diminuição bacteriana, e corrigir a ferida.
A conduta médica associada à cirúrgica tem como objetivo:
restabelecimento da normalidade hídrica, reposição de eletrólitos, normalidade
glicêmica, antibioticoterapia, e normalização dos parâmetros fisiológicos.

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Evisceração

Quando ocorre a ruptura da parede abdominal e do tecido cutâneo, e assim


há exposição visceral, os cuidados terapêuticos devem iniciar antes do
procedimento cirúrgico de correção.
As vísceras não devem ser recolocadas na cavidade; com a utilização de
bandagens úmidas, é feita a proteção do tecido eviscerado, evitando também
aumento da contaminação, após triagem inicial e exame físico completo, sendo
descartadas outras doenças concomitantes. A correção cirúrgica é o
procedimento de escolha.
Após estabilização anestésica, inicia-se o preparo cirúrgico isolando o
tecido eviscerado, realizando tricotomia e higiene do campo operatório, além de
lavagem abundante das vísceras ainda na região exterior, com o uso de solução
fisiológico morna.
A lesão visceral deve ser avaliada; o sistema com maior prevalência de
exposição é o trato gastrointestinal. A inviabilidade do órgão pode ser mensurada
pela ausência de motilidade, coloração enegrecida ou pálida, lacerações extensas
ou totais, temperatura diminuída e aderências e estreitamento do lúmen. Esses
sinais são requisitos para a realização de um procedimento corretivo em alça.
A técnica de enterorrafia pode ser realizada em pacientes com lesões
pequenas, viáveis, e que não acarretem diminuição do lúmen após a sutura. A
técnica que sempre deve ser considerada é a remoção total do tecido
desvitalizado, chamada de enterectomia. A sutura do tecido gastrointestinal que
apresenta menores taxas de complicações é realizada com pontos isolados e fio
não absorvível, em um único plano de sutura.
A lavagem da cavidade abdominal é uma técnica controversa, mas a sua
utilização em derramamento de conteúdo na cavidade é comum para remoção de
macropartículas e diminuição bacteriana. A utilização de iodo e antibiótico diluído
na solução de lavagem da cavidade não obteve resultados significativos em
pesquisas realizadas; em alguns casos, pode levar a uma peritonite química.
O manejo do abdômen aberto é uma técnica que traz melhoras nos casos
associados a peritonites generalizadas. A utilização de pontos de sutura que
permitam a drenagem, ou a colocação de drenos abdominais, diminui a taxa de
aderências e a formação de abcessos abdominais.

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REFERÊNCIAS
ANDRADE, J. I. de. A síndrome de compartimento do abdome. Medicina, v. 31,
n. 4, p. 563-567, 1998.

FOSSUM, T. W. Cirurgias da cavidade abdominal. In: FOSSUM, T. W. Cirurgia


de pequenos animais. 4. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2015.

MACPHAIL C. M. Cirurgias da bexiga e da uretra. In: FOSSUM, T. W. Cirurgia de


pequenos animais. 4. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2015.

SARDINHA, M. R. R. et al. Estudo retrospectivo de hemoabdômen em cães.


Dissertação (Mestrado) – 2015.

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CAPÍTULO 5 - TRAUMAS NO SISTEMA NERVOSO

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CONVERSA INICIAL
A neurologia é o estudo das enfermidades neurológicas, que compreendem
sistema nervoso central e periférico. Seu objetivo principal é o diagnóstico e o
tratamento de enfermidades.
Os traumas no sistema nervoso podem ser divididos em traumas
cranioencefálico e traumas medulares. São doenças geralmente relacionadas a
traumas automobilístico, lesões por mordedura, quedas ou lesões por projéteis. O
prognóstico depende da gravidade da lesão, do tempo até a terapia, e dos
cuidados do proprietário. As lesões neurológicas graves resultam em uma taxa
elevada de pacientes que acabam submetidos a eutanásia.

TRAUMA CRANIOENCEFÁLICO
O sistema nervoso central é dividido em cérebro, cerebelo e tronco
encefálico, até a medula. Lesões externas que atingem essas regiões de tecido
mole junto com a calota craniana são denominadas trauma cranioencefálico,
mesmo com a ausência de fraturas na calota craniana.
As lesões em tecidos moles podem gerar edema, hemorragia e processos
inflamatórios secundários.

Fisiopatologia do trauma craniano

As lesões cerebrais podem ser divididas em lesões primárias, aquelas que


iniciam logo após o trauma, com alterações no parênquima cerebral, como
contusões, lacerações e lesões axonais. Fraturas cranianas com fragmentos
móveis podem gerar maiores danos ao tecido nervoso. Por sua vez, essas
alterações levam a diversos processos bioquímicos, desencadeando as lesões
secundárias do trauma.
O processo de aceleração e desaceleração do paciente no momento do
acidente leva à injúria celular, desencadeando processos no nível celular de
liberação de mediadores inflamatórios e radicais livre, levando a edema citotóxico,
despolarização e danos oxidativos.
A calota craniana é composta pela fusão de diversos ossos, que formam
uma câmara. O conjunto de lesões primárias e secundárias de regulação do
volume hídrico intracelular, extracelular e concentrações de íons, forma a
síndrome compatimental, contribuindo para o aumento da pressão intracraniana.
Entretanto, as lesões secundárias podem ser diminuídas por meio de terapias

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adjuvantes, diferente das alterações primárias, fator que o médico não pode
mudar.

Apresentação clínica

Não existe predisposição racial, por idade ou hereditária. Os pacientes que


sofrem desta afecção têm em comum o acesso à rua ou o convívio com outros
animais. O histórico descrito pelo tutor é: observar o trauma; paciente foge do local
de moradia; acesso à rua; quedas; acesso a locais altos; brigas ou outros
acidentes.
Após a estabilização geral do paciente, exame físico completo e exclusão
de outras lesões relacionadas ao trauma, inicia-se o exame neurológico completo.
As manifestações clinicas podem variar de alterações leves, moderadas a graves.
Seguimos estes quesitos:
• nível de consciência
• alteração de pupilar
• reações posturais
• teste de pares de nervos cranianos
• reflexos espinhais periféricos
• reflexo de dor profunda

De suma importância manter o monitoramento completo do paciente, pois


lesões neurológicas podem levar a alterações respiratórias, temperatura corpórea
e pressão sistêmica.

Escala de Glasgow pediátrica modificada para cães

A escala de Glasgow é uma mensuração escalonada para os sinais clínicos


que o paciente apresenta, estipulando um nível de gravidade e escore de
prognóstico. Deve ser avaliada na chegada do paciente e no decorrer do
tratamento.

• Abertura ocular = espontânea: 4, estímulo verbal ou comando: 3, estimulo


doloroso: 2, sem abertura: 1.
• Melhor resposta à vocalização = latindo/rosnando: 5, choramingando
irritado: 4, choramingando à dor: 2, sem resposta:1.
• Melhor resposta motora = Movimento espontâneo e normal: 6, reação ao
toque: 5, reação a dor: 4, flexão anormal – Descorticação: 3, extensão
anormal – descerebração: 2, Nenhum: 1.
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O escore pode ser interpretado por lesões graves (3-8), lesões moderadas
(9-12), lesões leves (13-14), normal 15.

Diagnóstico por imagem

O exame radiográfico evidencia deformidades na calota craniana, não


sendo o exame de escolha para alterações encefálicas. A tomografia
computadorizada é o exame de escolha para lesões cerebrais; hemorragias
agudas e lesões ósseas são vistas com melhor definição, em comparação com a
ressonância magnética.
A ressonância magnética é outro instrumento de imagem que pode ser
utilizado, mas apresenta ainda a desvantagem de demora para a confecção da
imagem e interferência nos equipamentos de monitoração devido ao campo
magnético.

TERAPIAS PARA O TRAUMA CRANIOENCEFÁLICO


As terapias utilizadas para tratamento da elevação da pressão
intracraniana são divididas em condutas médicas e condutas cirúrgicas. A terapia
clínica é utilizada em todos os pacientes, por meio de cuidados intensivos,
monitoramento, regulação hídrica e uso de medicamentos. Tem como objetivo a
diminuição das lesões secundárias e a manutenção da homeostase.
As condutas cirúrgicas ainda são muito controversas entre os cirurgiões,
mas com o aumento do número de tomografias computadorizadas, realizando-se
um diagnóstico preciso, aumenta também o número de pacientes com indicação
cirúrgica. As técnicas têm por finalidade a remoção de fragmentos ósseos que
tragam maiores lesões ao tecido nervoso e a descompressão da calota craniana.

Conduta médica

A terapia médica tem como objetivo manter a pressão intracraniana dentro


dos parâmetros normais. Devido aos reflexos do tônus vascular cerebral, a
autorregulação da pressão intracraniana pode levar a alterações da pressão
arterial média. Há uma resposta de diminuição da pressão arterial média,
evitando, assim, lesões. A monitoração e o controle da pressão sistêmica são
importantes nos pacientes com traumas cranianos.
O manitol é o fármaco de escolha para a redução da pressão intracraniana.
Sua atuação como diurético osmótico faz com que ocorra translocação do líquido
extracelular para o meio intracelular. Contraindicado para pacientes desidratados,
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com insuficiência cardíaca congestiva, edema pulmonar, insuficiência renal e


anúria. Deve-se fazer a utilização em 10 – 20 minutos; o uso de altas quantidades
em tempo menor que 10 minutos pode ocasionar efeito contrário de vasodilatação
sistêmica, e aumento do volume sanguíneo cerebral. A ação é de 6 horas, sendo
recomendada avaliação da hidratação do paciente e de sinais clínicos sistêmicos
antes de nova aplicação. A dose preconizada é de 0,5 – 10 g/kg, intravenoso.
A hiperventilação é uma terapia adjuvante que proporciona a diminuição da
saturação de CO2 (hipocapnia), levando à vasocontrição cerebral. A monitoração
é primordial; quando a saturação diminui de 25mmHg, o efeito sistêmico
provocado é de vasoconstrição intensa e isquemia cerebral.
As convulsões são quadros ocasionados pela despolarização neuronal,
podendo levar a quadros refratários. A terapia com anticonvulsivantes inicial utiliza
diazepam 0,2 - 0,5mg/kg, intravenoso. Se o efeito sedativo não for atingido, pode
ser utilizado o fenobarbital 2-4mg/kg, intravenoso.
A utilização de corticoides é muito controversa. Estudos demonstram que
não há melhora comprovada com o seu uso, e além disso há riscos de
imunossupressão, hiperglicemia e alterações metabólicas. Alguns pacientes, que
apresentam lacerações de pele e fraturas de crânio, podem se beneficiar do uso
de anti-inflamatórios não esteroidais.

Tratamento cirúrgico

A localização da lesão e o acompanhamento da progressão pela tomografia


computadorizada ou ressonância magnética é a melhor forma de diagnóstico e
indicação cirúrgica. Contudo, devido ao baixo número de aparelhos encontrados
no país, e ao custo do exame de imagem, os sinais clínicos do paciente e a
localização da lesão pelo exame neurológico são formas de conduzir o
planejamento cirúrgico da melhor forma.
A escolha do procedimento cirúrgico depende de certos fatores, como a
condição neurológica do paciente. Na avaliação, quando o grau de déficit for
grave, seja ela com ou sem fratura, recomenda-se intervenção. Quanto à remoção
de hematomas: se forem subaracnóides e extra-axiais, devido à sua localização,
hematomas intra-parênquimatosos, não são removidos, por conta dos riscos de
lesões adicionais. As hemorragias ativas devem ser controladas por hemostasia,
e quando necessário recomenda-se a realização de transfusão sanguínea.

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As fraturas cranianas podem ser divididas em cominutivas, lineares ou


compressivas; quanto à contaminação da ferida, podem ser divididas em abertas
e fechadas. A cirurgia é indicada para remoção dos fragmentos que possam levar
a lesões adicionais, não sendo indicada a colocação de fragmentos na posição
anatômica ou a estabilização com aparatos cirúrgicos.

• Craniotomia rostrotemporal (lateral);


• Craniotomia transfrontal;
• Craniotomia subocciptal.

TRAUMA MEDULAR E VERTEBRAL


Os traumas na coluna vertebral são muito comuns em pequenos animais.
O paciente pode apresentar leves fissuras no corpo vertebral, e também luxações.
Não apresentando comprometimento da função, o prognóstico é bom.
Em casos mais graves, de fraturas cominutivas de vertebra e luxações
graves, que levam a desvios no eixo vertebral, junto com as manifestações
clínicas do paciente, como a ausência de dor profunda, o prognóstico é reservado
a ruim.

Anatomia da coluna e vertebras

A coluna vertebral dos cães e gatos é dividida em região cervical (C1-C7),


torácica (T1 – T13), lombar (L1 – L7), sacral (S1 – S3) e coccígeas (vertebras
dependentes da raça).
A medula espinhal é composta por substância cinzenta, internamente, e
substância branca, externamente. As raízes nervosas emergem do forame
intervertebral caudal à vertebra. Em duas regiões, a medula apresenta dilatação
para a saída dos neurônios motores inferiores dos respectivos membros:
intumescência cervical (C6-T2) e intumescência pélvica (L4-S2).
Denominada de cauda equina, a região lombosacra de (L5 – S3) apresenta
apenas neurônios motores inferiores, com o término da coluna vertebral na região
da vertebral de L5.
A fisiopatogenia da lesão medular assemelha-se com as lesões cerebrais
pelos processos primários, aqueles desencadeados no momento do trauma, e
processos secundários, que são os processos inflamatórios que ocorrem no local
da lesão.

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Atendimento inicial

Quando há suspeita de trauma ou luxação da coluna vertebral, o paciente


deve receber analgesia e ficar em restrição total de movimento – colocado em
uma maca, e se necessário amarrado.
O exame radiográfico é utilizado por ser específico para lesões ósseas,
sendo observado desvio do eixo axial, estreitamento do canal e linhas de fraturas.
A tomografia computadorizada, ou a ressonância magnética, são opções que
permitem definições melhores, e ajudam na tomada de decisões.

Localização da lesão

As manifestações dependem do comprometimento da compressão da


medula e do local da lesão. Lesões em região cervical podem vir acompanhadas
de dor, tetraplegia ou tetraparalisia, reflexos normais ou aumentados. Quando a
lesão se encontra em (C1 – C5) o paciente desenvolve alterações similares nos
membros anteriores e posteriores.
Já quando a lesão envolve intumescência cervical (C6 – T2), o paciente
pode manifestar lesões de neurônio motor inferior em membros torácicos
(paralisia flácida, diminuição da propriocepção, diminuição da dor profunda ou
paralisia), mantendo a função normal dos membros pélvicos.
As vertebras T3 a T13, quando expostas a fraturas, podem vir a
desenvolver graves compressões. Paralisia espástica em membros torácicos, e
paralisia de membros pélvicos, denominada de schiff-sherrington, devido a uma
inervação moduladora da extensão, que emerge da vertebras posteriores à
intumescência cervical: a interrupção da comunicação leva a essa sintomatologia.
Quando não ocorre lesão completa da medula ou traumas agressivos, as
alterações ocorrem em membro pélvico, como paraplegia ou reflexos
aumentados.
Na inervação de L4 a S3, o paciente desenvolve alterações em neurônio
motor inferior de membros pélvicos, com sinais clínicos de paraplegia ou paralisia,
ausência ou diminuição do bater de cauda.

Prognóstico

A dor profunda é um dos parâmetros de prognóstico que deve ser avaliado.


Pacientes com ausência apresentam um prognóstico desfavorável quanto ao
retorno da função do membro, devido à interrupção da passagem das sinapses

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nervosas. Pacientes que apresentam alinhamento do canal medular e ausência


de dor profunda têm entorno de 25% de chances de ver retornada a função do
membro; quando ocorre deslocamento vertebral e ausência de dor profunda, as
chances diminuem para 5%. Outro fator de prognóstico é nas lesões de vertebras
torácicas, com comprometimento da coluna vertebral; o sinal de schiff-sherrington,
ocorre em lesões graves.
Sinais que apresentam alterações quando o paciente não está com
paralisia: utiliza-se o teste do sinal de Babinsk. Por estímulo na região plantar,
deve ocorrer uma flexão do dígito; nos pacientes com alteração em neurônio motor
superior, o paciente apresenta extensão, sendo um prognóstico reservado a bom.
O teste de reflexo flexor é a estimulação dolorosa no dígito com o paciente
em decúbito lateral, apresentando alterações em flexão do membro contraleral,
indicando lesões em neurônio motor superior e prognóstico reservado a bom.

TRATAMENTO PARA TRAUMAS MEDULARES


As condutas terapêuticas, para lesões medulares e traumas de coluna, são
divididas em condutas clínicas e cirúrgicas. Devido aos processos fisiológicos das
reações inflamatórias secundárias ao trauma, o manejo clínico é importante,
mesmo que o paciente realize a correção cirúrgica.
Semelhante ao trauma cranioencefálico, o tecido nervoso, após ser
traumatizado, sofre um aumento de tamanho, devido a processos inflamatórios.
Destaca-se ainda o fato de o canal medular ser um compartimento que não
permite a expansão, o que gera uma síndrome compartimentar.
O objetivo do tratamento cirúrgico é a estabilização para a diminuição de
danos; e em certos casos a descompressão é uma forma de melhorar a
sintomatologia do paciente.

Conduta médica

Os manejos iniciais para fraturas ou luxações vertebrais são analgesia e


imobilização do paciente. A indicação da conduta médica é feita quando o
paciente apresenta deambulação, fraturas de traços incompletos ou traços
simples e baixo desvio do ângulo axial.
O confinamento em gaiola e a restrição total de movimento são primordiais
para o tratamento. Em casos de lesões cervicais, o colar cervical ajuda na
restrição; em traumas torácicos, o colete torácico; já em lesões lombares, há

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dificuldade na confecção de talas, mas a confecção de um colete torácico com


extensão até as vertebras lombares pode ajudar na terapia.
Utiliza-se terapia clínica, baseada em medicações analgésicas. O uso de
glicocorticoides não apresenta melhoras significativas, segundo estudos recentes;
em alguns casos, pode levar a complicações. A administração de anti-
inflamatórios não esteroidais ajuda no controle da dor e na diminuição da liberação
de mediadores inflamatórios na região traumatizada.

Tratamento cirúrgico

A correção cirúrgica de coluna tem como objetivo a estabilização, enquanto


a descompressão auxilia no tratamento, ainda que normalmente não seja
recomendada em pacientes com fraturas ou luxações, devido aos riscos de lesão
medular. A escolha depende do caso e da habilidade do cirurgião. A anatomia
vertebral é um fator decisivo no planejamento cirúrgico.
As fraturas na região cervical, que compreendem as vertebras C1 à C7, se
beneficiam de estabilizações pelo acesso ventral; a região de corpo vertebral
proporciona fixação com maior segurança, por conta da espessura do canal
vertebral.
Os métodos comumente utilizados são: estabilizações com o uso de
placas; e fixação com pinos de Stainmann ou parafusos esponjosos junto com
polimetilmetacrilato. No momento da inserção do parafuso, deve-se tomar cuidado
para que não ocorra lesão em região medular. O pino ou parafuso deve ser
inserido em um ângulo de no mínimo 25º. A prévia mensuração por radiografia
direciona a conduta cirúrgica e deve ser avaliada.
O acesso para estabilizações da região toracolombar é realizado pela
região dorsal. As técnicas geralmente utilizadas são os métodos de placas
vertebrais na região lateral do corpo da vertebra, uso de pinos em corpo vertebral,
conciliado ao polivinilmetacrilato, e método segmentar (grampeamento espinhal).
Já as fraturas e luxações da região lombosacra podem ser corrigidas pela
estabilização do método segmentar modificado, e pelo uso de pinos de Stainmann
com fixação em íleo junto com vertebras lombares. Esses pinos são estabilizados
com cerclagem no processo articular e espinhoso, ou é feita a colocação de pinos
no corpo das vertebras lombares com íleo conciliados com o polimetilmetacrilato.

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DOENÇA DO DISCO INTERVERTEBRAL


A nomenclatura doença do disco intervertebral é utilizada para alterações
de degeneração condroide do núcleo pulposo (Hansen tipo I) ou degeneração
fibróide do anel fibroso (Hansen tipo II). As duas doenças têm uma apresentação
clínica diferenciada.
A degeneração fibroide, ou Hansen tipo I, é a afecção abordada nesta aula,
devido à apresentação aguda e a fatores traumáticos da doença que são
relevantes ao clínico, junto com sua conduta medicamentosa e cirúrgica.

Fatores relevantes

Na doença do disco Hansen tipo I, o núcleo pulposo perde a capacidade


de ligação com a água, e há diminuição das ligações com os glicosaminoglicanos,
se tornando muitas vezes calcificado. Junto com o enfraquecimento do anel
fibroso dorsal, fica facilitada a extrusão discal e a compressão da medula.
A gravidade da lesão neurológica é relacionada com a quantidade de
material extrusado no canal, fatores que podem ser dependentes de eventos
traumáticos (forças de impactos que geram a lesão).
As lesões extrusivas podem ocorrer em todas as divisões vertebrais. A
coluna cervical apresenta uma baixa frequência de casos, sendo o mais comum
o espaço intervertebral C2-C3, pois geralmente a extrusão ocorre lateral ou ventral
ao disco vertebral. A coluna vertebral, na porção torácica, tem a menor casuística;
essa estrutura anatômica é beneficiada pelo ligamento intercapital entre as
costelas e pelo ligamento longitudinal dorsal, que termina nas vertebra T11.
Uma maior frequência da doença é observada na porção toracolombar
(T11-L3), região com maior movimentação e ausência da sustentação pelo
ligamento longitudinal dorsal.
Raças condrodistróficas são mais acometidas. A faixa etária dos pacientes
é acima de quatro anos. O histórico do paciente é de dor aguda na região
extrusada, paraplegia ou paralisia.
O exame diagnóstico de escolha é a tomografia computadorizada, podendo
ser realizada a mielografia. O problema da técnica é que em alguns casos não se
localiza o lado da lesão, além dos riscos de intolerância ao contraste.

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Classificação

A classificação da DDIV pode ser feita com cinco divisões distintas:

• Grau I = Dor;
• Grau II = Ataxia proprioceptiva, com diminuição;
• Grau III = Paraparesia;
• Grau IV = Paraplegia com presença da dor profunda;
• Grau V = Paraplegia sem dor profunda.

Tratamento

O tratamento deve ser iniciado o quanto antes. Pacientes com graus (I, II e
III) se beneficiam do tratamento clínico com analgésicos, anti-inflamatórios não
esteroidais e restrição total do movimento. Já pacientes com lesões graves têm
maiores chances de retorno à função com tratamento cirúrgico conciliado com
tratamento médico.
O tratamento cirúrgico tem o objetivo de descomprimir o canal medular e
retirar o disco extrusado; as técnicas utilizadas nesses pacientes são: fenda
ventral, laminectomia dorsal e hemilaminectomia.

Prognóstico

O prognóstico do paciente é relacionado com o grau de lesão e o tempo


até o tratamento. As lesões leves têm um bom prognóstico relacionado ao retorno
da função; é obrigatória a restrição de movimento nesses casos, para que
aconteça a fibrose do disco extrusado, podendo ocorrer recidiva e agravamento
da lesão.
As lesões de grau IV e V têm um prognóstico reservado. O tratamento
cirúrgico responde com retorno da função em 50% a 75% em pacientes
submetidos a cirurgia 48 horas após a lesão.

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REFERÊNCIAS
CHRISMAN, C. Neurologia para o clínico de pequenos animais. São Paulo:
Roca, 2005.

DEWEY, C. W. Cirurgia da coluna toracolombar. In: FOSSUM, T. W. Cirurgia de


pequenos animais. 4. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2015.

_____. Cirurgia da coluna cervical. In: FOSSUM, T. W. Cirurgia de pequenos


animais. 4. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2015.

_____. Cirurgia de cérebro. In: FOSSUM, T. W. Cirurgia de pequenos animais.


4. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2015.

FERNÁNDEZ, V. L. Neurologia em cães e gatos. São Paulo: MedVet, 2010.

MENDES, D. S. Traumatismo da medula espinhal em cães e gatos: estudo


prospectivo de 57 casos. Pesquisa Veterinária Brasileira, v. 32, n. 12, p. 1304-
1312, 2012.

SANTOS, R. P. Recuperação funcional em cães com doença do disco


intervertebral toracolombar sem percepção à dor profunda. Pesquisa Veterinária
Brasileira, v. 31, n. 4, p. 345-349, 2011.

VIANNA, C. G. Estudo prospectivo de traumatismo cranioencefálico em 32


cães. Brazilian Journal of Veterinary Medicine, v. 35, n. 1, p. 93-99, 2013.

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CAPÍTULO 6 - LESÕES TRAUMÁTICAS EM TÓRAX

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CONVERSA INICIAL
As lesões traumáticas em tórax são muito comuns em acidentes
automobilísticos. Relatos apresentam uma frequência de 72% dos pacientes com
algum grau de lesão, seja ele leve ou grave.
Esta aula tem por finalidade explanar sobre as manifestações clínicas
observadas nos pacientes que chegam ao atendimento, os diagnósticos por meio
de exames de imagem, o diagnóstico terapêutico como a toracocentese, quando
utilizar terapias clínicas ou houver necessidade da intervenção cirúrgica.
Os temas abordados foram divididos assim: princípios das lesões torácicas
e alterações da parede torácica (pleurais e costelas), pulmões e diafragma.

ASPECTOS GERAIS DO TRAUMA DA PAREDE TORÁCICA


O objetivo principal deste tema é o entendimento das manifestações
clínicas que o paciente com lesões da parede torácica vem a desenvolver, exames
diagnósticos e a metodologia de sua aplicação.
Como abordagem inicial, as fraturas de costelas, quando fraturadas ou
instáveis, podem gerar lesões adicionais como perfuração da pleural parietal,
pneumotórax aberto e lesão no tecido pulmonar.

Considerações gerais

Quando o trauma torácico ocorre e dois segmentos do corpo da costela são


fraturados gerando instabilidade do gradil costal, as denominações são tórax
instável ou instabilidade torácica. São observadas elevação e aproximação (perda
da continuidade com o restante do tórax) das costelas fraturadas quando o
paciente respira, geralmente visualizadas em trauma de duas ou mais costelas.
Associados geralmente a pacientes atropelados ou batidas como coices,
chutes ou pauladas e em alguns casos associados a efisema de subcutâneo ou
exposição de costelas, podem ser os únicos sinais externos encontrados na
inspeção visual. Essas alterações se dão pelos fragmentos da costela perfurarem
a pleura parietal da cavidade torácica, subcutâneo e pele.
Perfurações no parênquima pulmonar, pulmão ou vasos importantes são
lesões de alta gravidade e prognóstico reservado. O paciente perde a pressão
negativa intratorácica e ocorre diminuição da expansão pulmonar, devido ao
pneumotórax ou derramamento sanguíneo na cavidade.

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Associado a um nível alto de dor, o paciente apresenta uma respiração


curta e abdominal, diminuição da complacência respiratória, levando a alterações
de hipóxia e insuficiência respiratória.

Exame físico

A observação inicial da dispneia, solução de continuidade, tórax instável e


cianose direcionam o diagnóstico para lesões em tórax. Alguns pacientes podem
não apresentar sinais iniciais ao traumatismo. A auscultação de abafamento
cardíaco e pulmonar ou irradiação são manifestações de perda da pressão
negativa intratorácica, sugerindo pneumotórax ou hemotórax.

Diagnóstico por imagem

A radiografia é o exame de imagem escolhido para avaliação de tórax.


Deve-se dar atenção, além de fraturas em costelas, para as alterações como
pneumotórax, derramamento pleural, hérnia diafragmática e contusões
pulmonares. As radiografias devem ser repetidas para avaliação da progressão
da lesão.

Tratamento médico

O tratamento médico é recomendado nos casos em que as costelas


tenham apenas uma linha de fratura, sem lesões adicionais que precisem de
cirurgia para correção.
O tratamento com analgésicos, anti-inflamatório não esteroidal e repouso
ajuda a evitar lesões adicionais, controlando o processo doloroso da instabilidade.
Coletes compressivos podem prejudicar a expansão torácica, em casos de
pneumotórax e derramamento pleural leve e agudo, pois apresentam correção
após algumas horas e, sem a necessidade de correção cirúrgica, podem ser
levados para o tratamento clínico.

Tratamento cirúrgico

Diante da instabilidade de duas ou mais costelas, o médico veterinário deve


levar em consideração o tratamento cirúrgico. Caso ocorram lesões
concomitantes, como pneumotórax, derramamento pleural devido a graves
lacerações, hérnia diafragmática, fraturas expostas de costela, a recomendação
é cirúrgica.
A estabilização de costelas é relatada pelas técnicas de:

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• Sutura entre costela adjacente;


• Pino intramedular;
• Placa;
• Tala plástica externa.

TORACOCENTESE E TORACOSTOMIA
A técnica de toracocentese é um método diagnóstico terapêutico de punção
da cavidade torácica, utilizado em pacientes com suspeita ou diagnóstico
confirmado de pneumotórax ou efusões torácicas.
Já a toracostomia é uma comunicação direta do espaço interpleural e o
ambiente externo. O benefício dessa técnica é a sucção contínua, sem novas
punções que gerem incômodo ao paciente.

Indicações para toracocentese

Durante o exame físico do paciente com alterações no espaço interpleural,


é notória a dificuldade na auscultação com abafamento das bulhas cardíacas e
ausência da auscultação do fluxo respiratório, indicando assim a suspeita de
pneumotórax e efusão torácica.
Nesse caso, a recomendação é oxigenar e realizar a toracocentese antes
da realização dos exames radiográficos, pois muitas vezes o stress da contenção
física e do posicionamento ventrodorsal piora o quadro do paciente.

Técnica cirúrgica da toracocentese

Inicialmente deve haver a tricotomia ampla da região com posterior


antissepsia do local para prevenir entrada de microrganismos. O tórax do paciente
deve ser dividido em três porções, a dorsal medial e ventral. Geralmente a
inserção é realizada na região medial. Caso a suspeita for de pneumotórax, a
drenagem deve ser realizada na porção dorsal e devido à gravidade das punções
na região ventral, devem ser feitas nas suspeitas de efusões torácicas. O
mediastino de cães e gatos é permeável a fluidos. A aspiração de um lado do
tórax é suficiente para a drenagem do tórax contralateral, tirando os casos de
dificuldade respiratória intensa.
Os locais adequados para realizar a toracocentese são os espaços
intercostais da 6ª, 7ª e 8ª costela. Pode ser realizado no local da punção um
bloqueio local para evitar dor e incômodo no momento da perfuração. Os materiais

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necessários para a drenagem são equipo ou escalpe, torneira de três vias,


extensor de equipo e seringa.
No momento da inserção, deve-se realizar a entrada do escalpe junto à
face cranial da costela em ângulo de 45 graus. O escalpe pode levar a lesões
iatrogênicas de pulmão e grandes vasos. Alguns autores recomendam o uso de
cateteres, conectando-os ao extensor de equipo ou diretamente na torneira de
três vias e drenando com a seringa. O fluido coletado deve ser levado para a
análise em tubo com e sem EDTA.

Toracostomia

A manobra de toracostomia forma uma via de acesso do espaço


interpleural e o ambiente externo por meio de um tubo. O objetivo dessa técnica
é manter uma conexão contínua de drenagem. Pacientes que precisem de três ou
mais toracocenteses a cada vinte quatro horas são candidatos para a colocação
do tubo de drenagem. Outra recomendação para sua utilização é o pós-operatório
de toracotomias. As aberturas torácicas geram o acúmulo de líquido, mas a
técnica mantém a pressão negativa pulmonar.
Existe comercialmente um tubo próprio para realização de drenos
torácicos, sendo possível também utilizar uma sonda com a adição de perfurações
laterais, conectada a um circuito fechado de sucção ou torneira de três vias.
Deve-se preparar a região de forma asséptica. O local de inserção do tubo
é a região medial torácica em 6º, 7º a 8º espaço intercostal. O orifício de entrada
do tubo é feito em dois espaços intercostais caudais à entrada seguindo por um
túnel no subcutâneo.
A colocação deve ocorrer com pinça em estocada ou trocater, mantendo
uma distância de dois centímetros na região intercostal para não ocorrerem lesões
iatrogênicas em pulmão. Realizar uma bolsa de tabaco com fio sintético, não
absorvível e prender o tubo com pontos de sapatinha romana.
Após atingir a pressão negativa por doze a vinte quatro horas, a sonda já
tem recomendação de ser retirada. O local deve ser higienizado e mantido com
curativo compressivo nas primeiras horas para evitar complicações. Em pacientes
com extravasamento de ar no subcutâneo ou retorno do pneumotórax, a
intervenção para sutura da parede abdominal deve ser realizada.

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PNEUMOTÓRAX E HEMOTÓRAX
O pneumotórax é definido como a perda da pressão negativa torácica, com
a ocupação de ar entre a pleura parietal e visceral. O pneumotórax pode ser
classificado em aberto, quando ocorre uma comunicação com o meio externo por
fraturas de costelas ou laceração da musculatura intercostal, e fechado, em que
a origem do acúmulo é de pulmões, brônquios e traqueia.
A lesão de grandes vasos ou lesões pulmonares graves são as principais
causas do hemotórax, enfermidade que corresponde ao acúmulo de sangue do
espaço interpleural.

Pneumotórax

O pneumotórax é uma lesão com grande casuística nos traumas torácicos,


devido ao colapso dos alvéolos e diminuição da complacência pulmonar. O
paciente apresenta alterações nas trocas gasosas, compensando com aumento
da frequência respiratória, podendo a respiração ser superficial e abdominal. No
exame físico, é observado o abafamento ou a ausência da auscultação cardíaca
e respiratória; na percussão, o som timpânico é característico.
Diagnóstico

O diagnóstico do pneumotórax é realizado pelo exame físico e sinais


clínicos, entretanto a confirmação diagnóstica precisa poder ser realizada por
meio da toracocentese, que se torna um exame diagnóstico terapêutico e deve
ser realizado antes da radiografia torácica para diminuir a chance de stress da
contenção.
A radiografia é um exame de fácil realização. As imagens confirmam a
enfermidade, pois mostram a formação de um grande espaço com ar na cavidade.
Nas radiografias laterais, é possível identificar a elevação do coração com relação
ao externo, radiopacidade do lobo pulmonar afetado, a projeção ventrodorsal e a
perda da definição da vascularização pulmonar nos lobos caudais.

Hemotórax

O hemotórax é relevante quando ocorrem grandes acúmulos de sangue,


cujo volume é expresso pelo valor de 20 ml/kg do volume total de sangue do
paciente. Em pacientes com sangramentos contínuos, o acompanhamento e a
mensuração contínua é fundamental, sendo que 3 a 4 punções em curto espaço

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de tempo sem diminuição do volume mostram com um indicativo de realização da


toracotomia exploratória.
Similar aos sinais clínicos do paciente com pneumotórax, a dificuldade
respiratória é observada e está relacionada à perda sanguínea. O paciente vai
apresentar sinais de hemorragia, como as mucosas pálidas, hipotermia,
hipotensão e taquicardia.
Diagnóstico

A toracocentese é o exame realizado após a suspeita de solução entre as


pleuras parietal e visceral, sendo o tratamento diagnóstico. A radiografia evidencia
radiopacidade entre as costelas e pulmão, com visualização das fissuras
interlobares e perda da nitidez das bordas pulmonares. O material coletado deve
ser enviado para a análise laboratorial quando apresentar similaridade com a
celularidade sanguínea, como hematócrito e albumina.

Prognóstico

As lesões leves podem ser corrigidas com drenagens e acompanhamento


do paciente até restabelecer a pressão negativa novamente. Pacientes
encaminhados para a cirurgia dependem das lesões associadas e quadro geral,
sendo a insuficiência respiratória e lesões perfurantes estão associadas a um
prognóstico ruim ou reservado.

LESÕES PULMONARES
As contusões pulmonares são denominadas quando o trauma gera lesões
do parênquima pulmonar e hemorragia intersticial. Ocorrem em torno de 50% dos
traumas torácicos, podendo ser focal ou difusa. O manejo clínico responde muito
bem em lesões leves.
Traumas perfurantes ao lobo pulmonar podem gerar complicações graves
que apresentam derramamento sanguíneo na cavidade, junto com contusões
pulmonares. As lacerações no parênquima podem ser corrigidas cirurgicamente
com técnicas de rafia, lobectomia parcial e lobectomia total.

Considerações gerais

A reação inflamatória gerada pela contusão produz edema endotelial e


hemorragia no local contundido, levando a uma deficiência das trocas gasosas a
nível alveolar.

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As alterações respiratórias dependem do grau de contusão: alterações


leves podem não ser percebidas no exame físico, mas lesões extensas podem vir
acompanhadas de manifestações clínicas como cianose, dispneia, hemoptise,
epistaxe e respiração abdominal.
As contusões pulmonares devem ser acompanhadas com cuidados
intensivos em suas primeiras 12 a 48 horas, tempo em que as manifestações
clínicas podem agravar e o paciente necessitar de intervenção.

Diagnóstico por imagem

A radiografia torácica é o exame acurado que apresenta alterações que


sugerem a lesão de contusão pulmonar. O padrão apresentado é alveolar. As
imagens após o trauma podem não demonstrar alterações. Em radiografias
seriadas com 48 até 72 horas, existe a chance de evolução do caso, como difusão
das áreas contundidas, entretanto deve-se tomar atenção aos sinais sugestivos
de lesões concomitantes.

Tratamento médico

A maioria dos pacientes podem ser tratados de modo conservativo. É


aconselhado o uso de antibióticos na terapia e anti-inflamatórios. Em pacientes
com dispneia deve ser realizada a suplementação com oxigênio.
Nas lacerações leves, em que o paciente apresente derramamento pleural
ou pneumotórax, deve ser realizada a toracocentese e a avaliação da evolução
clínica do paciente. Caso ocorra a diminuição progressiva das soluções
intratorácicas, os exames radiográficos devem ser repetidos e, se necessário,
deve-se realizar a toracocentese. A coagulação no local da lesão faz com que não
haja a necessidade de realização da cirurgia torácica.

Tratamento cirúrgico

Os traumatismos graves, como perfurações pulmonares por projéteis,


objetos pontiagudos, lacerações difusas, derramamento pleural ininterrupto e
grades lesões na parede torácica, é indicada a intervenção cirúrgica.
Dependendo do local da lesão pulmonar, as formas mais comuns de
acesso à cavidade torácica são a esternotomia mediana e a toracotomia
intercostal.
Lesões com cerca da metade ou dois terços do lobo pulmonar, em que o
restante permaneça viável, beneficiam-se da lobectomia parcial. Deve-se iniciar
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com a localização da lesão e colocação das pinças próximas à lesão, iniciando a


sutura no tecido viável em plano contínuo sobreposto, repetindo a sutura 4 a 6
mm de distância da outra sutura. Em seguida, deve-se incisar o lobo 3 a 4 mm da
sutura, realizar uma sutura simples interrompida na extremidade pulmonar, utilizar
fio absorvível 2-0 ou 3-0.
As lacerações totais ou falha na sutura da lobectomia parcial são
indicações para realiza a lobectomia total. O acesso pela toracotomia intercostal
facilita a chegada ao hilo pulmonar. Deve ser realizada a ligadura da artéria e veia
separadamente, isolando o brônquio e prendendo-o com pinças. Deve-se realizar
duas linhas de sutura contínuas sobrepostas antes da pinça, após incisar o
brônquio e suturar o coto em um plano contínuo simples.

HÉRNIA DIAFRAGMÁTICA
A hérnia diafragmática é causada pela lesão na musculatura ou na região
tendínea, possibilitando a passagem das vísceras abdominais para a cavidade
torácica. Geralmente está relacionada com pacientes atropelados, quando se
exerce uma pressão do abdômen sobre o diafragma em situações de abertura de
glote (inspiração e expiração).

Considerações gerais

As rupturas diafragmáticas ocorrem em locais mais frágeis, geralmente em


nas porções musculares. A apresentação clínica das hérnias agudas é compatível
com alterações respiratórias, como dispneia, taquipneia, cianose, entre outros. Os
pacientes com hérnia diafragmática crônica podem desenvolver sintomatologia
variada de quadros respiratórios compatíveis com intolerância ao exercício,
dispneia, cianose, tosse e alterações gastrointestinais, como vômito, anorexia ou
mesmo ser imperceptível.

Diagnóstico

O exame clínico do paciente com hérnia diafragmática é representado


geralmente pela dificuldade das trocas gasosas, apresentando dispneia, mucosas
pálidas ou cianóticas. Na auscultação, ocorre o abafamento na auscultação
respiratória e cardíaca, podendo apresentar sons gastrointestinais na cavidade
torácica, dependendo os órgãos que estão herniados na cavidade.

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A radiografia torácica apresenta perda da linha diafragmática,


deslocamento da câmara cardíaca e pulmões, observação dos órgãos
abdominais, vísceras na cavidade torácica com presença de gazes.

Conduta médica

O paciente deve receber oxigenação via máscara, sonda nasal ou câmara


de oxigenação. Devem-se manter os parâmetros de saturação de oxigênio e
dióxido de carbono. Nas situações em que o paciente entre em angústia
respiratória ou tiver respiração agônica, a intubação orotraqueal mantém o fluxo
de oxigênio ideal.

Conduta cirúrgica

A terapia cirúrgica é recomendada em todos os pacientes que apresentam


hérnia diafragmática e está relacionado a um prognóstico bom a excelente. As
hérnias crônicas têm uma maior taxa de mortalidade que as agudas.
A incisão da medial da cavidade abdominal do externo à cicatriz umbilical
deve remover o conteúdo da cavidade torácica e avaliar a integridade. Deve-se
sempre estar preparado para possíveis complicações, como lesão por isquemia
em alça intestinal, lobos hepáticos e estômago.
As bordas do diafragma devem ser reavivadas nas hérnias crônicas. No
caso de falhas na região da musculatura ou tendínea central, a sutura contínua
ser realizada com fio absorvível ou não absorvível sintético. Nas situações em que
a falha não consiga ser reduzida, pode ser realizada a sutura de uma tela sintética
como enxerto.
Avaliar a pressão negativa da cavidade torácica após o procedimento. Em
alguns casos, a toracostomia é necessária para a drenagem do seroma e a
manutenção da pressão negativa pós-operatória.
O prognóstico depende das complicações associadas: as hérnias agudas
têm um melhor prognóstico em relação às crônicas, que estão relacionadas entre
10% a 20% de óbito.

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In: FOSSUM, T. W. Cirurgia de pequenos animais. 4. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2015.

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In: FOSSUM, T. W. Cirurgia de pequenos animais. 4. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2015.

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relato de caso. Revista Científica Eletrônica de Medicina Veterinária, XI, n. 20,
2013.

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caso. Revista de Ciências Agroveterinárias (Journal of Agroveterinary
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(Graduação) – Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Faculdade de
Veterinária, Comissão de Estágio, Porto Alegre, 2009.

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