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RECOMENDAÇÃO Nº 07/2019
Inquérito Civil nº 1.26.000.000671/2019-27

O MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL, representado pela Procuradora da


República signatária, vem, no exercício de suas atribuições constitucionais e legais, em especial a
consubstanciada no artigo 129 da Constituição Federal, e nos artigos 5º e 6º da Lei Complementar
nº 75/93; apresentar as seguintes considerações para, ao final, expedir recomendação.

CONSIDERANDO que o Ministério Público é instituição permanente, essencial


à função jurisdicional do Estado, incumbindo-lhe a defesa da ordem jurídica, do regime
democrático e dos interesses sociais e individuais indisponíveis (CF/88, art. 127);

CONSIDERANDO, também, ser função institucional do Ministério Público,


dentre outras, zelar pelo efetivo respeito dos Poderes Públicos e dos serviços de relevância
pública aos direitos assegurados na Constituição, promovendo as medidas necessárias a sua
garantia (CF/88, art. 129, II e III);

CONSIDERANDO que, como defensor da ordem jurídica e dos interesses

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sociais, cabe ao Ministério Público atuar em resguardo dos princípios constitucionais da
Administração Pública, previstos no art. 37, caput, da Constituição Federal, dentre os quais, o da
legalidade, da publicidade, da eficiência e, ainda, da probidade administrativa;

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CONSIDERANDO que a Empresa Brasileira de Hemoderivados e Biotecnologia
– HEMOBRÁS é empresa pública federal, vinculada ao Ministério da Saúde, criada pela Lei nº
10.972/2004 sob a forma de sociedade limitada e regida por estatuto aprovado pelo Decreto nº
5.402/2005, com a finalidade de explorar atividade econômica, nos termos do art. 173 da
Constituição Federal;

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CONSIDERANDO que a HEMOBRÁS é uma estatal independente, dotada de
personalidade jurídica de direito privado e que trabalha para reduzir a dependência externa do
Brasil no setor de derivados do sangue e biofármacos, ampliando o acesso da população a
medicamentos essenciais à vida de milhares de pessoas com hemofilia, além de pacientes de
imunodeficiências genéticas, cirrose, câncer, AIDS, queimaduras, entre outras doenças;

CONSIDERANDO que a HEMOBRÁS tem por função social, ainda, garantir aos
pacientes do Sistema Único de Saúde – SUS o fornecimento de medicamentos produzidos por
biotecnologia, e para a realização das finalidades previstas em sua lei de criação (Lei Federal n.
10.972/2004 e, dentre outras atividades, está incumbida de: desenvolver programas de pesquisa e
desenvolvimento e fabricar produtos por biotecnologia na área de hemoterapia (Fator VIII
recombinante – utilizado no tratamento profilático dos brasileiros portadores de hemofilia); e
produzir, em escala industrial, hemoderivados e medicamentos destinados prioritariamente para
tratamento de pacientes do SUS a partir do fracionamento de plasma obtido no Brasil e da
biotecnologia na engenharia genética;

CONSIDERANDO que a HEMOBRÁS se sujeita ao Estatuto das Estatais – Lei


nº 13.303/2016, que veio a regulamentar o art. 173, §1º, I a V, da Constituição Federal de 1988,
bem como, no que couber, sujeita-se às disposições da Lei de Sociedades por Ações – Lei nº

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6.404/76;

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CONSIDERANDO que a Lei º 13.303/2016 dispõe sobre o estatuto jurídico das
empresas públicas, sociedades de economia mista e subsidiárias, no âmbito da União, dos
Estados, do Distrito Federal e dos Municípios e foi uma resposta do legislador pátrio aos
resultados danosos ao patrimônio e interesse público das estatais percebidos em episódios de
corrupção envolvendo a Petrobrás, sendo que, dentre seus objetivos, consta: conferir governança e
alguma autonomia administrativa a fim de possibilitar que as empresas estatais possam atingir sua
finalidade e função social;

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CONSIDERANDO que a Lei de criação da HEMOBRÁS (Lei nº 10.972/2004)
constituiu como órgãos da administração a Diretoria, composta por três integrantes, detentores de
mandato, destituíveis somente por justa causa, bem como o Conselho de Administração,
composto por onze integrantes, igualmente detentores de mandato;

CONSIDERANDO que, à luz da Lei da HEMOBRÁS e do Estatuto das Estatais,


a atribuição de responsabilidades ao dirigente da HEMOBRÁS se dá em prol de interesse público
relevante, nomeadamente, a boa gestão do plasma nacional, matéria prima nobre, cujo monopólio
estatal estabelecido nos termos do art. 199, §4º, da Constituição Federal, se converte
obrigatoriamente na destinação de medicamentos ao SUS para o tratamento da hemofilia;

CONSIDERANDO que os interesses dos mandatários de empresas estatais ou do


próprio ente criador não podem ser entraves à boa gestão, tampouco empecilho para que sejam
atingidas a função social e finalidade que justificaram sua criação pelo Estado brasileiro. Por isso
mesmo, a legislação de regência preserva, como regra, o mandato e gestão de administradores de
empresas estatais, de sorte que seus ocupantes possam desempenhar seu múnus com a devida
autonomia e independência, pondo-os a salvo de ingerências;

CONSIDERANDO que a própria Constituição da República, em seu art. 173, §1º,

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aduz que a lei estabelecerá o estatuto jurídico da empresa pública, da sociedade de economia
mista e de suas subsidiárias que explorem atividade econômica de produção ou comercialização
de bens ou de prestação de serviços, dispondo sobre: (a) sua função social e formas de

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fiscalização pelo Estado e pela sociedade; (b) a sujeição ao regime jurídico próprio das empresas
privadas, inclusive quanto aos direitos e obrigações civis, comerciais, trabalhistas e tributários; (c)
licitação e contratação de obras, serviços, compras e alienações, observados os princípios da
administração pública; (d) a constituição e o funcionamento dos conselhos de administração e
fiscal, com a participação de acionistas minoritários; e (e) os mandatos, a avaliação de
desempenho e a responsabilidade dos administradores;

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CONSIDERANDO que a Lei n.º 10.972/2004 – Lei de criação da Hemobrás – é
assertiva em seus artigos 9º e 12, ao estabelecer que a Diretoria Executiva dispõe de um mandato
de 04 (quatro) anos, em conformidade ao art. 173, §1º, V, da Constituição Federal, sendo que as
hipóteses taxativas de dispensa de qualquer diretor no curso de seu mandato são o
descumprimento de diretrizes do Conselho de Administração ou do Ministério da Saúde; a
insuficiência de desempenho no cargo de diretor; a justa causa para rescisão do contrato de
trabalho pelo empregador na constatação da prática de atos de improbidade, incontinência de
conduta ou mau procedimento, condenação criminal, desídia, dentre outras; e na violação de leis
ou princípios da Administração Pública, quando do exercício da função; in verbis:

Lei n.º 10.972/2004 – Lei de criação da Hemobrás

Art. 9o A HEMOBRÁS será dirigida por uma Diretoria Executiva, composta


de 3 (três) membros.

§1o Os diretores são responsáveis pelos atos praticados em desconformidade


com a lei, com o estatuto da empresa e com as diretrizes institucionais
emanadas do Conselho de Administração.
§2o 2 (dois) membros da Diretoria Executiva serão indicados pela União e 1
(um) pelos sócios minoritários.

§3o Os diretores da HEMOBRÁS serão nomeados pelo Presidente da


República para mandato de 4 (quatro) anos, permitida 1 (uma) única
recondução. (…)

Art. 12. São hipóteses de perda de mandato de diretor ou de membro do

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Conselho de Administração ou do Conselho Fiscal:

I – descumprimento das diretrizes institucionais do Conselho de


Administração ou das metas de desempenho operacional, gerencial e

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financeiro definidas pelo Ministério da Saúde;

II – insuficiência de desempenho; e

III – enquadrar-se em qualquer das hipóteses do art. 482 da Consolidação


das Leis do Trabalho, bem como violar, no exercício de suas funções, as leis
vigentes ou os princípios da administração pública.

Parágrafo único. Portaria do Ministro de Estado da Saúde definirá as regras


para avaliação de desempenho dos diretores.

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CONSIDERANDO que, caso se decida pela dispensa do dirigente da empresa
estatal, é dever do órgão incumbido pela lei para a destituição elencar a necessária justificativa e
motivação do ato. É nesse sentido que a Lei das Estatais, de um modo geral, e a Lei de criação da
HEMOBRÁS, mais especificamente, dispõem de dispositivos que de um lado garantem
autonomia e independência aos seus diretores, como regra a ser seguida pelo Ministério da Saúde,
em sua relação com a administração desta estatal;

CONSIDERANDO que, no caso, a Lei n.º 10.972/2004 que criou a HEMOBRÁS


é o parâmetro a ser seguido em relação às hipóteses taxativas de perda de mandado de qualquer
de seus diretores, nos termos do art. 12, incisos I a III. Ou seja, quis o legislador que a
HEMOBRÁS fosse dotada de estabilidade na composição de sua diretoria, de sorte a salvaguardá-
la de interferências e pressões indevidas de qualquer natureza, inclusive do próprio Ministério da
Saúde, não se afigurando possível, à luz da Lei de criação da estatal, a troca imotivada de
diretores ao arbítrio do Ministério da Saúde;

CONSIDERANDO que, antes do advento do término da gestão da diretoria


exercente do seu múnus, no curso do prazo que lhe fora conferido, não há margem legal para que
qualquer alteração se proceda, senão nas hipóteses de justa causa do art. 12, I a III, da Lei n.º
10.972/2004, já transcritas;

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CONSIDERANDO que, se assim não fosse, haveria o risco da perpetuidade da
prática nefasta vista e vivida ao longo de vários anos no País, de utilização de entidades estatais,
sobretudo as empresas estatais, para o atingimento de fins e interesses não republicanos,

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exaustivamente divorciados do interesse público e da finalidade que justificaram sua criação;

CONSIDERANDO que a Lei das Estatais – Lei n.º 13.303/2016, que em seu art.
18, inciso IV, estabelece como competência do Conselho de Administração, dentre outras, avaliar
os diretores da empresa pública, nos termos do inciso III do art. 13, cujos critérios para avaliação
dos diretores da HEMOBRÁS são os quesitos mínimos de (a) exposição dos atos de gestão

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praticados, quanto à licitude e à eficácia da ação administrativa; (b) contribuição para o resultado
do exercício; e (c) consecução dos objetivos estabelecidos no plano de negócios e atendimento à
estratégia de longo prazo;

CONSIDERANDO que o legislador estabeleceu critérios objetivos de análise de


desempenho dos diretores das empresas estatais, assegurando que a permanência no curso do
prazo de gestão se dê em prol de resultados entregues a favor da Administração Pública e sua
eventual dispensa antecipada seja calcada única e exclusivamente por sólidos critérios objetivos,
tudo isso em observância ao preceito da moralidade administrativa;

CONSIDERANDO que a jurisprudência do Supremo Tribunal Federal, nos


termos do MS n. 34205 MS/DF, assentou que a destituição de diretor de empresa pública somente
pode ocorrer nas hipóteses previstas em Lei, sendo impossível a dispensa imotivada dos
dirigentes:

[…] Observo da leitura dos dispositivos – expressos quanto à existência de


mandato ao Diretor-Presidente pelo período de quatro anos e expresso
também quanto às hipóteses de destituição do cargo (dentre as quais não se
insere a livre decisão da Presidência da República) – que há nítido intuito
legislativo de assegurar autonomia à gestão da Diretoria Executiva da EBC,
inclusive ao seu Diretor-Presidente. Em análise precária, portanto, me
parece que seria esvaziar o cerne normativo dos dispositivos interpretá-los –
tal qual propõe a autoridade impetrada – no sentido da existência de

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mandato apenas na expressão, mas não em seu conteúdo.
Se é certo que a autonomia de gestão é um imperativo às agências
reguladoras, não menos certo é que não lhe é atributo exclusivo. De igual

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modo, se é certo que as empresas públicas, como entidades de direito
privado da Administração Indireta, são em regra constituídas por Diretoria
demissível ad nutum, não menos exato é que a Administração Pública não
possui engessamento normativo que lhe impeça de atribuir, por lei, certas
características típicas de entes de direito público a entes de direito privado,
quando condições particulares assim o justifiquem.
Observo que esta Corte, em diversos precedentes, tem aplicado regramento
próprio de entidades de direito público da Administração Indireta às
entidades privadas (empresas públicas e sociedades de economia mista),
sempre que a natureza da atividade por elas exercida justifique a

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aproximação dos regramentos. […]
No caso dos autos, parece-me que a intenção do legislador foi exatamente a
de garantir certa autonomia ao corpo diretivo da EBC, o que se apresenta,
em meu juízo precário, consentâneo com a posição da Empresa Brasileira de
Comunicação, que tem por finalidade a prestação de serviços de
radiodifusão pública, sob determinados princípios, dos quais destaco
“autonomia em relação ao Governo Federal para definir produção,
programação e distribuição de conteúdo no sistema público de radiodifusão”
(art. 2º, VIII, da Lei nº 11.652/08 e art. 2º, VIII, do Decreto nº 6.689/08).
[…]
Pelo exposto, concedo a liminar requerida, para suspender o ato impugnado,
até decisão final do presente mandado de segurança, garantindo-se ao
Impetrante o exercício do mandato no cargo de Diretor-Presidente da EBC.
[…] (STF. MS 34205/DF, Rel. Min. Dias Toffoli, Data de julgamento:
18/05/2016).

CONSIDERANDO que, no caso da HEMOBRÁS, cabe ao seu Conselho de


Administração a incumbência de eleger e destituir os membros da Diretoria Executiva, fixando-
lhes suas atribuições, nos termos do art. 64, II, do Estatuto da empresa pública, senão vejamos:
“Compete ao Conselho de Administração: eleger e destituir os membros da Diretoria Executiva
da empresa, fixando-lhes as atribuições”;

CONSIDERANDO que a atribuição do Conselho de Administração da


HEMOBRÁS decorre do art. 30, caput, do mesmo Estatuto da HEMOBRÁS, que prevê a
possibilidade da perda de cargo para administradores, unicamente nos casos previstos em lei,
verbis:

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Da Perda do Cargo para Administradores, Conselho Fiscal e Comitê de
Auditoria

Art. 30. Além dos casos previstos em lei, dar-se-á vacância do cargo

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quando:

I – o membro do Conselho de Administração ou Fiscal ou do Comitê de


Auditoria que deixar de comparecer a duas reuniões consecutivas ou três
intercaladas, nas últimas doze reuniões, sem justificativa;

II – o membro da Diretoria Executiva se afastar do exercício do cargo por


mais de 30 dias consecutivos, salvo em caso de licença, inclusive férias, ou
nos casos autorizados pelo Conselho de Administração.

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CONSIDERANDO que, quando se estabelece que a perda do cargo para
administradores se dá nos casos previstos em Lei, afasta-se a ideia de um poder ilimitado do
Conselho de Administração para afastar e destituir diretores, de modo que diretor da Hemobrás,
no curso da gestão, somente poderá ser afastado pelo Conselho de Administração ante a
constatação da ocorrência dos fatos hipotéticos objetivos constantes no rol taxativo de situações
estabelecidas pelo art. 12, I a III, da Lei n.º 10.972/2014, ou do art. 18, IV, da Lei n.º 13.303/2016;

CONSIDERANDO que, na forma da legislação vigente, a destituição de diretores


da HEMOBRÁS pelo Conselho de Administração requer previamente o preenchimento dos
requisitos de (1) motivação da decisão e (2) demonstração de justificativa plausível, coadunada ao
que dispõe a Lei, para então se falar numa substituição calcada em aspectos eminentemente
técnicos, promovida no interesse da empresa pública, e sob o aspecto mediato, em prol do
interesse público. O mesmo ocorre com a destituição de membros do Conselho de Administração
da HEMOBRÁS pelo sócio-controlador, no que se refere à necessidade de (1) motivação da
decisão e (2) demonstração de justificativa plausível, para então se falar numa substituição
calcada em aspectos eminentemente técnicos, promovida no interesse desta empresa pública;

CONSIDERANDO que, no caso trazido à baila, há intenção do Ministério da


Saúde em substituir administradores da HEMOBRÁS, porquanto, no dia 23 de abril de 2019
foram endereçadas ao Comitê de Elegibilidade da empresa pública indicações de três nomes para

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comporem o Conselho de Administração da Hemobrás, e uma para o Conselho Fiscal, sendo que
para tanto seria necessária a destituição de Membros atuais;

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CONSIDERANDO que essa destituição seria competência da Assembleia Geral
Ordinária da Hemobrás, designada para o dia 26 de abril de 2019, às 10h30min, no escritório do
Recife/PE, onde funciona a sede administrativa desta estatal;

CONSIDERANDO que a União, sócia-controladora da HEMOBRÁS, nas

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Assembleias Gerais Ordinárias e Assembleias Gerais Extraordinárias de estatais é representada
por integrante da Procuradoria da Fazenda Nacional, sendo que no evento societário da
HEMOBRÁS a se realizado em 26 de abril de 2019 sua representação ficará a cargo do
Procurador Júlio César Gonçalves Corrêa;

CONSIDERANDO que a Pauta da Assembleia Geral Ordinária de 26 de abril de


2019 compreende tão somente (i) aprovar as contas da administração relativas ao exercício fiscal
de 2018 – demonstrações financeiras e relatório de administração, (ii) aprovar a remuneração
global dos administradores, (iii) fixar a remuneração mensal dos membros do Comitê de
Auditoria, órgão estatutário que entrou em funcionamento do ano de 2019, e (iv) aprovar o
aumento do capital social da Hemobrás em R$ 9,6 milhões;

CONSIDERANDO que exclusivamente sobre tais temas foram emitidos Nota


Técnica da Secretaria de Coordenação e Governança das Empresas Estatais 1 e Parecer2 da
Secretaria do Tesouro Nacional, a cargo da Coordenação Geral de Participações Societárias;

CONSIDERANDO que causa espécie o teor da autorização de voto 3 da PGFN ao

1Nota Técnica SEI nº 26/2019/CGGOV/DEGOV/SEST/SEDD-ME.


2PARECER SEI Nº 27/2019/GESET/COPAR/SUPEF/STN/FAZENDA-ME.
3Processo nº 10951.100199/2019-06.
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Procurador Júlio César Gonçalves Corrêa, que em seu item IV o autoriza a votar “pela eleição,
como membros do Conselho de Administração das pessoas que vierem a ser indicadas nos termos
do art. 57, do Estatuto Social da HEMOBRÁS, desde que aprovadas pela Casa Civil da

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Presidência da República e pelo Comitê de Elegibilidade, conforme determina o Decreto nº
8.945, de 2016”, sendo que tal tema fora introduzido de forma indevida na Pauta da Assembleia
Geral Ordinária da HEMOBRÁS;

CONSIDERANDO que a referida autorização de voto concedida pela União ao

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seu representante é ilegal, porquanto a eleição de membros para o Conselho de Administração,
cujos nomes foram encaminhados ao Comitê de Elegibilidade no dia 23 de abril de 2019, requer a
concomitante destituição de membros atuais, inexistindo justificativa plausível ou qualquer
motivação para destituição dos membros dos Conselho de Administração e Fiscal;

CONSIDERANDO que a destituição repentina de 03 (três), dos 11 (onze)


membros do Conselho de Administração da HEMOBRÁS, que foram eleitos em Assembleia
Geral Ordinária de 2018 para um período de 2 (dois) anos, sem que haja a apresentação de
motivação e justificativa, para em seguida eleger 3 (três) novos integrantes indicados, três dias
antes pelo Ministério da Saúde, acarreta abuso de poder de controle, ao tomar decisão que não
tenha por fim o interesse da Hemobrás e com isso tem o condão de causar prejuízo aos que
trabalham na empresa, orientando-a para fim lesivo ao interesse nacional, nos termos do art. 117,
§1º, ‘a’ e ‘c’, da Lei das S.A;

CONSIDERANDO que decisões desta gravidade – destituição de membros da


administração – devem ser medidas pautadas por razões relevantes, quando não excepcionais, sob
pena de se malversar o interesse público relevante que envolve as atividades e finalidades
desempenhadas pela empresa;

CONSIDERANDO que os currículos dos profissionais indicados para os


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Conselhos da HEMOBRÁS e enviados para o Comitê de Elegibilidade (em anexo) evidenciam
que as formações detidas e anteriormente desempenhadas pelos profissionais não guardam
NENHUMA relação, direta ou indireta, com o objeto social da HEMOBRÁS. Enquanto a estatal

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federal se dedica à produção de medicamentos hemoderivados e biotecnológicos, as indicações
feitas pelo Ministério da Saúde são de profissionais provenientes dos setores de comunicação e
tecnologia voltada para a segurança pública, respectivamente;

CONSIDERANDO que, acaso se confirme a hipótese da dispensa imotivada,

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tendo por fundamento tão somente o fato de diretor ter sido eleito no curso de governo sucedido,
restará configurada a ilegalidade do ato, sem prejuízo de eventual responsabilização pessoal do
membro do Conselho de Administração que concorrer para tanto. Nessa toada, a Lei das
Sociedades por Ações – Lei n.º 6.404/76 – em seu art. 158, II, bem como §2º, estabelece que o
administrador – conselheiro ou diretor – responde pelos prejuízos que causar, quando proceder
com violação da lei ou do estatuto, havendo responsabilidade solidária entre aqueles, em virtude
do não cumprimento de deveres impostos por lei para assegurar o funcionamento normal da
companhia;

CONSIDERANDO que, na hipótese da destituição imotivada de diretores e


eleição de profissionais com formação discrepante do objeto social da HEMOBRÁS, o Conselho
de Administração se assim proceder, a um só tempo comete ilegalidade por infração aos arts. 17,
II, 18, IV e 13, III, do Estatuto das Estatais, art. 12, I a III, bem como parágrafo único da Lei de
criação da Hemobrás, e ainda viola o art. 117, §1º, d, da Lei das S.A. Este último estabelece a
responsabilidade pelo fato de se haver a eleição de administrador que sabe inapto tecnicamente
para a função a ser desempenhada.

CONSIDERANDO que a dispensa imotivada e indevida de membros do


Conselho de Administração da HEMOBRÁS viola os princípios constitucionais da
impessoalidade e da moralidade administrativa, configurando, por conseguinte, a prática de ato de

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improbidade administrativa previsto no art. 11 da Lei nº 8.429/92;

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CONSIDERANDO que as sanções decorrentes da prática dos respectivos atos
ímprobos podem implicar na perda da função pública, suspensão dos direitos políticos de 03 (três)
a 05 (cinco) anos, direta ou indiretamente, ainda que por intermédio de pessoa jurídica da qual
seja sócio majoritário, pelo prazo de 03 (três) anos (art. 12, inciso II, da Lei nº 8.429/92);

CONSIDERANDO que, em caso de não acatamento da presente recomendação,

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o Parquet federal informa, desde logo, que atuará no resguardo do interesse público e na defesa
dos valores e princípios constitucionais e legais, procedendo ao ajuizamento das competentes
ações civis públicas de obrigação de fazer e por atos de improbidade administrativa;

CONSIDERANDO que este órgão ministerial expediu, no exercício de 2017, a


Recomendação n. 08/2017, ao Ministério da Saúde a fim de que fosse devidamente justificada
eventual vantajosidade da transferência de tecnologia para processamento de plasma e
hemoderivados para empresas outras que não as já incluídas no processo, a saber: a Shire/Baxter
e a HEMOBRÁS, mediante a elaboração de estudos técnicos, legais e científicos, considerando
que já foi iniciada a construção do parque fabril da HEMOBRÁS em Goiana/PE, situando-se em
estado consideravelmente avançado, e que fosse especificada a destinação e inclusão da fábrica
neste processo;

CONSIDERANDO que, no mesmo instrumento (Recomendação nº 08/2017),


este MPF recomendou ao Ministério da Saúde e ao Ministério da Casa Civil que não fossem
nomeadas para cargos de gestão da HEMOBRÁS pessoas que possuíssem vínculos ou interesses
diretos ou indiretos na transferência da tecnologia mencionada no item 1, notadamente que já
tenham, atuado junto a empresas farmacêuticas;

CONSIDERANDO que há notório histórico de tentativas de esvaziamento das

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atribuições institucionais da HEMOBRÁS por parte da antiga gestão do Ministério da Saúde,
especialmente com a finalidade de redirecioná-las para outras empresas privadas, atendendo-se a
interesses não republicanos;

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CONSIDERANDO que o Ministério Público Federal ajuizou a ação civil pública
de obrigação de fazer n. 0815539-30.2017.4.05.8300, que tramitou na 3ª Vara Federal da Justiça
Federal em Pernambuco, por meio da qual o Poder Judiciário, reconhecendo a função social da
HEMOBRÁS inserta no diploma legal de sua criação (Lei Federal n. 10.972/2004), bem como
considerando as graves violações praticadas pelo ex-Ministro da Saúde Ricardo José Magalhães

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Barros, julgou procedente o pedido contido na exordial para condenar a União à obrigação de
fazer consistente na prorrogação da PDP do Fator VIII Recombinante junto à farmacêutica
Shire/Baxter (Takeda), sentença, inclusive, mantida pelo egrégio TRF da 5ª Região;

CONSIDERANDO que, nos autos da ação civil pública de obrigação de fazer n.


0815539-30.2017.4.05.8300, tendo em conta: (a) a omissão do Ministério da Saúde que, diga-se,
impediu dolosamente o prosseguimento da PDP do Fator VIII Recombinante pela HEMOBRÁS;
(b) o retardamento da aquisição de produtos junto à PDP; (c) as tentativas de aquisição do
fármaco junto a empresas privadas; (e) a desobediência de decisões judiciais e administrativas do
TCU; este MPF pugnou pelo afastamento do ex-Ministro de Estado da Saúde Ricardo José
Magalhães Barros;

CONSIDERANDO que o MPTCU, nos autos do processo TC n. 020.378/2017-3,


em trâmite no Tribunal de Contas da União, na defesa da ordem jurídica e administrativa, bem
como no dever de obstar novos danos econômicos irreparáveis que a permanência do ex-Ministro
Ricardo Barros no cargo pudesse causar, além de prevenir a nefasta consequência que a
continuidade daquelas atitudes pudessem ocasionar à saúde dos portadores de coagulopatias –
requereu, preliminarmente, com fulcro no art. 273 do Regimento Interno/TCU c/c art. 44 da Lei
8.443/92, medida cautelar incidental visando ao afastamento temporário de Ricardo José
Magalhães Barros do cargo de Ministro da Saúde, bem como que lhe fossem aplicadas,
oportunamente, as sanções de multa e de inabilitação para o exercício de cargo em comissão e
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função de confiança;

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CONSIDERANDO o princípio da eficiência da administração pública, a qual não
cabe apenas realizar o serviço, mas fazê-lo de modo a conseguir o melhor resultado possível. E
este melhor resultado, com cumprimento da legislação de regência, não está sendo assegurado
pela União, especialmente em razão das ingerências na HEMOBRÁS;

CONSIDERANDO que o controle social é princípio fundamental para as


atividades de saúde pública no Brasil, nos termos da Lei nº 8.142/90;

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E CONSIDERANDO, por fim, a prerrogativa conferida ao MINISTÉRIO
PÚBLICO para expedir RECOMENDAÇÕES, no exercício da defesa dos valores, interesses e
direitos da coletividade, visando à melhoria dos serviços públicos e de relevância pública, bem
como ao respeito e aos interesses, direitos e bens cuja defesa lhe cabe promover, fixando prazo
para a adoção das providências cabíveis (artigo 6º, inciso XX, da Lei Complementar nº 75/1993),

RESOLVE RECOMENDAR ao Ministro de Estado da Saúde Luiz Henrique


Mandetta, nos termos do art. 6º, inciso XX, da Lei Complementar nº 75/93, que, imediatamente:

1) revogue a autorização de voto conferida ao representante legal e


Procurador da Fazenda Nacional Júlio César Gonçalves Corrêa para fins de eleição de
novos membros dos Conselhos de Administração e Fiscal da HEMOBRÁS e da Diretoria da
estatal antes do término do mandato destes e sem qualquer fundamento legal;

2) se abstenha de indicar novos membros para os Conselhos de Administração


e Fiscal da HEMOBRÁS, bem como para a Diretoria da estatal antes do término do
mandato dos membros atualmente exercentes de cargo, porquanto eventuais indicações, sem
a destituição dos exercentes com fundamento no art. 12, incisos I a III, da Lei de criação da
HEMOBRÁS (Lei n. 10.972/2004) ou do art. 18, IV, da Lei n.º 13.303/2016, evidenciam

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abuso de poder de controle, violação à legislação vigente e a prática de atos de improbidade
administrativa;

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3) somente haverá afastamento ou destituição de membros dos Conselhos de
Administração ou Fiscal e da Diretoria da estatal caso reste evidenciada a prática de atos
ilícitos/indevidos objetivos constantes no rol taxativo de situações estabelecidas pelo art. 12,
I a III, da Lei n.º 10.972/2014, ou do art. 18, IV, da Lei n.º 13.303/2016, devendo o Conselho
de Administração da HEMOBRÁS atentar para os requisitos de motivação da decisão; e
demonstração de justificativa plausível, coadunada ao que dispõe a Lei;

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4) com fulcro no art. 17, II, da Lei das Estatais, se abstenha de efetuar ou
torne sem efeito (acaso já realizado) indicações ou nomeações no âmbito da HEMOBRÁS
em desrespeito à Lei das Estatais, notadamente em relação à formação técnica incompatível
com o objeto social da HEMOBRÁS;

5) se abstenha de praticar atos de gestão que comprometam, sem justificativa


plausível e ao alvedrio da legislação constitucional e infraconstitucional aplicada à espécie, a
estabilidade da HEMOBRÁS e de seus dirigentes.

O MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL adverte que a presente Recomendação


dá ciência e constitui em mora o destinatário quanto às providências solicitadas, podendo a
omissão na adoção das medidas recomendadas implicar o manejo de todas as medidas
administrativas e ações judiciais cabíveis contra os que se mantiverem inertes.

Nesse passo, com fundamento no art. 8º, II, da Lei Complementar nº 75/93,
REQUISITA-SE, desde logo, que a União informe, em até 24 (vinte e quatro) horas, se acatará
ou não esta recomendação, apresentando, em qualquer hipótese de negativa, os respectivos
fundamentos. Em caso de acatamento desta recomendação, deverá o Ministério da Saúde, no
mesmo prazo, informar quais medidas serão adotadas para solucionar as irregularidades.

Por fim, em caso de não acatamento da presente recomendação, o Parquet federal

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informa, desde logo, que atuará no resguardo do interesse público e na defesa dos valores e
princípios constitucionais e legais: encaminhando, aos órgãos competentes, representação pela
prática de crime de responsabilidade; e procedendo ao ajuizamento das competentes ações civis

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públicas de obrigação de fazer e por atos de improbidade administrativa.

Recife/PE, data de assinatura eletrônica.

ASSINADO ELETRONICAMENTE
SILVIA REGINA PONTES LOPES
Procuradora da República

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RECOMENDAÇÃO Nº 08/2019
Inquérito Civil nº 1.26.000.000671/2019-27

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O MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL, representado pela Procuradora da
República signatária, vem, no exercício de suas atribuições constitucionais e legais, em especial a
consubstanciada no artigo 129 da Constituição Federal, e nos artigos 5º e 6º da Lei Complementar
nº 75/93; apresentar as seguintes considerações para, ao final, expedir recomendação.

CONSIDERANDO que o Ministério Público é instituição permanente, essencial


à função jurisdicional do Estado, incumbindo-lhe a defesa da ordem jurídica, do regime
democrático e dos interesses sociais e individuais indisponíveis (CF/88, art. 127);

CONSIDERANDO, também, ser função institucional do Ministério Público,


dentre outras, zelar pelo efetivo respeito dos Poderes Públicos e dos serviços de relevância
pública aos direitos assegurados na Constituição, promovendo as medidas necessárias a sua
garantia (CF/88, art. 129, II e III);

CONSIDERANDO que, como defensor da ordem jurídica e dos interesses


sociais, cabe ao Ministério Público atuar em resguardo dos princípios constitucionais da
Administração Pública, previstos no art. 37, caput, da Constituição Federal, dentre os quais, o da
legalidade, da publicidade, da eficiência e, ainda, da probidade administrativa;

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CONSIDERANDO que a Empresa Brasileira de Hemoderivados e Biotecnologia
– HEMOBRÁS é empresa pública federal, vinculada ao Ministério da Saúde, criada pela Lei nº
10.972/2004 sob a forma de sociedade limitada e regida por estatuto aprovado pelo Decreto nº

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5.402/2005, com a finalidade de explorar atividade econômica, nos termos do art. 173 da
Constituição Federal;

CONSIDERANDO que a HEMOBRÁS é uma estatal independente, dotada de


personalidade jurídica de direito privado e que trabalha para reduzir a dependência externa do
Brasil no setor de derivados do sangue e biofármacos, ampliando o acesso da população a

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medicamentos essenciais à vida de milhares de pessoas com hemofilia, além de pacientes de
imunodeficiências genéticas, cirrose, câncer, AIDS, queimaduras, entre outras doenças;

CONSIDERANDO que a HEMOBRÁS tem por função social, ainda, garantir aos
pacientes do Sistema Único de Saúde – SUS o fornecimento de medicamentos produzidos por
biotecnologia, e para a realização das finalidades previstas em sua lei de criação (Lei Federal n.
10.972/2004 e, dentre outras atividades, está incumbida de: desenvolver programas de pesquisa e
desenvolvimento e fabricar produtos por biotecnologia na área de hemoterapia (Fator VIII
recombinante – utilizado no tratamento profilático dos brasileiros portadores de hemofilia); e
produzir, em escala industrial, hemoderivados e medicamentos destinados prioritariamente para
tratamento de pacientes do SUS a partir do fracionamento de plasma obtido no Brasil e da
biotecnologia na engenharia genética;

CONSIDERANDO que a HEMOBRÁS se sujeita ao Estatuto das Estatais – Lei


nº 13.303/2016, que veio a regulamentar o art. 173, §1º, I a V, da Constituição Federal de 1988,
bem como, no que couber, sujeita-se às disposições da Lei de Sociedades por Ações – Lei nº
6.404/76;

CONSIDERANDO que a Lei º 13.303/2016 dispõe sobre o estatuto jurídico das


empresas públicas, sociedades de economia mista e subsidiárias, no âmbito da União, dos

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Estados, do Distrito Federal e dos Municípios e foi uma resposta do legislador pátrio aos
resultados danosos ao patrimônio e interesse público das estatais percebidos em episódios de
corrupção envolvendo a Petrobrás, sendo que, dentre seus objetivos, constam, dentre outros,

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conferir governança e alguma autonomia administrativa a fim de possibilitar que as empresas
estatais possam atingir sua finalidade e função social;

CONSIDERANDO que a Lei de criação da HEMOBRÁS (Lei nº 10.972/2004)


constituiu como órgãos da administração a Diretoria, composta por três integrantes, detentores de
mandato, destituíveis somente por justa causa, bem como o Conselho de Administração,

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composto por onze integrantes, igualmente detentores de mandato;

CONSIDERANDO que, à luz da Lei da HEMOBRÁS e do Estatuto das Estatais,


a atribuição de responsabilidades ao dirigente da HEMOBRÁS se dá em prol de interesse público
relevante, nomeadamente, a boa gestão do plasma nacional, matéria prima nobre, cujo monopólio
estatal estabelecido nos termos do art. 199, §4º, da Constituição Federal, se converte
obrigatoriamente na destinação de medicamentos ao SUS para o tratamento da hemofilia;

CONSIDERANDO que os interesses dos mandatários de empresas estatais ou do


próprio ente criador não podem ser entraves à boa gestão, tampouco empecilho para que sejam
atingidas a função social e finalidade que justificaram sua criação pelo Estado brasileiro. Por isso
mesmo, a legislação de regência preserva, como regra, o mandato e gestão de administradores de
empresas estatais, de sorte que seus ocupantes possam desempenhar seu múnus com a devida
autonomia e independência, pondo-os a salvo de ingerências;

CONSIDERANDO que a própria Constituição da República, em seu art. 173, §1º,


aduz que a lei estabelecerá o estatuto jurídico da empresa pública, da sociedade de economia
mista e de suas subsidiárias que explorem atividade econômica de produção ou comercialização
de bens ou de prestação de serviços, dispondo sobre: (a) sua função social e formas de
fiscalização pelo Estado e pela sociedade; (b) a sujeição ao regime jurídico próprio das empresas

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privadas, inclusive quanto aos direitos e obrigações civis, comerciais, trabalhistas e tributários; (c)
licitação e contratação de obras, serviços, compras e alienações, observados os princípios da
administração pública; (d) a constituição e o funcionamento dos conselhos de administração e

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fiscal, com a participação de acionistas minoritários; e (e) os mandatos, a avaliação de
desempenho e a responsabilidade dos administradores;

CONSIDERANDO que a Lei n.º 10.972/2004 – Lei de criação da Hemobrás – é


assertiva em seus artigos 9º e 12, ao estabelecer que a Diretoria Executiva dispõe de um mandato
de 04 (quatro) anos, em conformidade ao art. 173, §1º, V, da Constituição Federal, sendo que as

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hipóteses taxativas de dispensa de qualquer diretor no curso de seu mandato são o
descumprimento de diretrizes do Conselho de Administração ou do Ministério da Saúde; a
insuficiência de desempenho no cargo de diretor; a justa causa para rescisão do contrato de
trabalho pelo empregador na constatação da prática de atos de improbidade, incontinência de
conduta ou mau procedimento, condenação criminal, desídia, dentre outras; e na violação de leis
ou princípios da Administração Pública, quando do exercício da função; in verbis:

Lei n.º 10.972/2004 – Lei de criação da Hemobrás

Art. 9o A HEMOBRÁS será dirigida por uma Diretoria Executiva, composta


de 3 (três) membros.

§1o Os diretores são responsáveis pelos atos praticados em desconformidade


com a lei, com o estatuto da empresa e com as diretrizes institucionais
emanadas do Conselho de Administração.
§2o 2 (dois) membros da Diretoria Executiva serão indicados pela União e 1
(um) pelos sócios minoritários.

§3o Os diretores da HEMOBRÁS serão nomeados pelo Presidente da


República para mandato de 4 (quatro) anos, permitida 1 (uma) única
recondução. (…)

Art. 12. São hipóteses de perda de mandato de diretor ou de membro do


Conselho de Administração ou do Conselho Fiscal:

I – descumprimento das diretrizes institucionais do Conselho de


Administração ou das metas de desempenho operacional, gerencial e
financeiro definidas pelo Ministério da Saúde;

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II – insuficiência de desempenho; e

III – enquadrar-se em qualquer das hipóteses do art. 482 da Consolidação


das Leis do Trabalho, bem como violar, no exercício de suas funções, as leis

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vigentes ou os princípios da administração pública.

Parágrafo único. Portaria do Ministro de Estado da Saúde definirá as regras


para avaliação de desempenho dos diretores.

CONSIDERANDO que, caso se decida pela dispensa do dirigente da empresa


estatal, é dever do órgão incumbido pela lei para a destituição elencar a necessária justificativa e
motivação do ato. É nesse sentido que a Lei das Estatais, de um modo geral, e a Lei de criação da

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HEMOBRÁS, mais especificamente, dispõem de dispositivos que de um lado garantem
autonomia e independência aos seus diretores, como regra a ser seguida pelo Ministério da Saúde,
em sua relação com a administração desta estatal;

CONSIDERANDO que, no caso, a Lei n.º 10.972/2004 que criou a HEMOBRÁS


é o parâmetro a ser seguido em relação às hipóteses taxativas de perda de mandado de qualquer
de seus diretores, nos termos do art. 12, incisos I a III. Ou seja, quis o legislador que a
HEMOBRÁS fosse dotada de estabilidade na composição de sua diretoria, de sorte a salvaguardá-
la de interferências e pressões indevidas de qualquer natureza, inclusive do próprio Ministério da
Saúde, não se afigurando possível, à luz da Lei de criação da estatal, a troca imotivada de
diretores ao arbítrio do Ministério da Saúde;

CONSIDERANDO que, antes do advento do término da gestão da diretoria


exercente do seu múnus, no curso do prazo que lhe fora conferido, não há margem legal para que
qualquer alteração se proceda, senão nas hipóteses de justa causa do art. 12, I a III, da Lei n.º
10.972/2004, já transcritas;

CONSIDERANDO que, se assim não fosse, haveria o risco da perpetuidade da


prática nefasta vista e vivida ao longo de vários anos no País, de utilização de entidades estatais,
sobretudo as empresas estatais, para o atingimento de fins e interesses não republicanos,
exaustivamente divorciados do interesse público e da finalidade que justificaram sua criação;
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CONSIDERANDO que a Lei das Estatais – Lei n.º 13.303/2016, que em seu art.
18, inciso IV, estabelece como competência do Conselho de Administração, dentre outras, avaliar
os diretores da empresa pública, nos termos do inciso III do art. 13, cujos critérios para avaliação

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dos diretores da HEMOBRÁS são os quesitos mínimos de (a) exposição dos atos de gestão
praticados, quanto à licitude e à eficácia da ação administrativa; (b) contribuição para o resultado
do exercício; e (c) consecução dos objetivos estabelecidos no plano de negócios e atendimento à
estratégia de longo prazo;

CONSIDERANDO que o legislador estabeleceu critérios objetivos de análise de

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desempenho dos diretores das empresas estatais, assegurando que a permanência no curso do
prazo de gestão se dê em prol de resultados entregues a favor da Administração Pública e sua
eventual dispensa antecipada seja calcada única e exclusivamente por sólidos critérios objetivos,
tudo isso em observância ao preceito da moralidade administrativa;

CONSIDERANDO que a jurisprudência do Supremo Tribunal Federal, nos


termos do MS n. 34205 MS/DF, assentou que a destituição de diretor de empresa pública somente
pode ocorrer nas hipóteses previstas em Lei, sendo impossível a dispensa imotivada dos
dirigentes:

[…] Observo da leitura dos dispositivos – expressos quanto à existência de


mandato ao Diretor-Presidente pelo período de quatro anos e expresso
também quanto às hipóteses de destituição do cargo (dentre as quais não se
insere a livre decisão da Presidência da República) – que há nítido intuito
legislativo de assegurar autonomia à gestão da Diretoria Executiva da EBC,
inclusive ao seu Diretor-Presidente. Em análise precária, portanto, me
parece que seria esvaziar o cerne normativo dos dispositivos interpretá-los –
tal qual propõe a autoridade impetrada – no sentido da existência de
mandato apenas na expressão, mas não em seu conteúdo.
Se é certo que a autonomia de gestão é um imperativo às agências
reguladoras, não menos certo é que não lhe é atributo exclusivo. De igual
modo, se é certo que as empresas públicas, como entidades de direito
privado da Administração Indireta, são em regra constituídas por Diretoria
demissível ad nutum, não menos exato é que a Administração Pública não
possui engessamento normativo que lhe impeça de atribuir, por lei, certas
características típicas de entes de direito público a entes de direito privado,
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quando condições particulares assim o justifiquem.
Observo que esta Corte, em diversos precedentes, tem aplicado regramento
próprio de entidades de direito público da Administração Indireta às

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entidades privadas (empresas públicas e sociedades de economia mista),
sempre que a natureza da atividade por elas exercida justifique a
aproximação dos regramentos. […]
No caso dos autos, parece-me que a intenção do legislador foi exatamente a
de garantir certa autonomia ao corpo diretivo da EBC, o que se apresenta,
em meu juízo precário, consentâneo com a posição da Empresa Brasileira de
Comunicação, que tem por finalidade a prestação de serviços de
radiodifusão pública, sob determinados princípios, dos quais destaco
“autonomia em relação ao Governo Federal para definir produção,
programação e distribuição de conteúdo no sistema público de radiodifusão”

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(art. 2º, VIII, da Lei nº 11.652/08 e art. 2º, VIII, do Decreto nº 6.689/08).
[…]
Pelo exposto, concedo a liminar requerida, para suspender o ato impugnado,
até decisão final do presente mandado de segurança, garantindo-se ao
Impetrante o exercício do mandato no cargo de Diretor-Presidente da EBC.
[…] (STF. MS 34205/DF, Rel. Min. Dias Toffoli, Data de julgamento:
18/05/2016).

CONSIDERANDO que, no caso da HEMOBRÁS, cabe ao seu Conselho de


Administração a incumbência de eleger e destituir os membros da Diretoria Executiva, fixando-
lhes suas atribuições, nos termos do art. 64, II, do Estatuto da empresa pública, senão vejamos:
“Compete ao Conselho de Administração: eleger e destituir os membros da Diretoria Executiva
da empresa, fixando-lhes as atribuições”;

CONSIDERANDO que a atribuição do Conselho de Administração da


HEMOBRÁS decorre do art. 30, caput, do mesmo Estatuto da HEMOBRÁS, que prevê a
possibilidade da perda de cargo para administradores, unicamente nos casos previstos em lei,
verbis:

Da Perda do Cargo para Administradores, Conselho Fiscal e Comitê de


Auditoria

Art. 30. Além dos casos previstos em lei, dar-se-á vacância do cargo
quando:

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I – o membro do Conselho de Administração ou Fiscal ou do Comitê de
Auditoria que deixar de comparecer a duas reuniões consecutivas ou três
intercaladas, nas últimas doze reuniões, sem justificativa;

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II – o membro da Diretoria Executiva se afastar do exercício do cargo por
mais de 30 dias consecutivos, salvo em caso de licença, inclusive férias, ou
nos casos autorizados pelo Conselho de Administração.

CONSIDERANDO que, quando se estabelece que a perda do cargo para


administradores se dá nos casos previstos em Lei, afasta-se a ideia de um poder ilimitado do
Conselho de Administração para afastar e destituir diretores, de modo que diretor da Hemobrás,
no curso da gestão, somente poderá ser afastado pelo Conselho de Administração ante a

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constatação da ocorrência dos fatos hipotéticos objetivos constantes no rol taxativo de situações
estabelecidas pelo art. 12, I a III, da Lei n.º 10.972/2014, ou do art. 18, IV, da Lei n.º 13.303/2016;

CONSIDERANDO que, na forma da legislação vigente, a destituição de diretores


da HEMOBRÁS pelo Conselho de Administração requer previamente o preenchimento dos
requisitos de (1) motivação da decisão e (2) demonstração de justificativa plausível, coadunada ao
que dispõe a Lei, para então se falar numa substituição calcada em aspectos eminentemente
técnicos, promovida no interesse da empresa pública, e sob o aspecto mediato, em prol do
interesse público. O mesmo ocorre com a destituição de membros do Conselho de Administração
da HEMOBRÁS pelo sócio-controlador, no que se refere à necessidade de (1) motivação da
decisão e (2) demonstração de justificativa plausível, para então se falar numa substituição
calcada em aspectos eminentemente técnicos, promovida no interesse desta empresa pública;

CONSIDERANDO que, no caso trazido à baila, há intenção do Ministério da


Saúde em substituir administradores da HEMOBRÁS, porquanto, no dia 23 de abril de 2019
foram endereçadas ao Comitê de Elegibilidade da empresa pública indicações de três nomes para
comporem o Conselho de Administração da Hemobrás, e uma para o Conselho Fiscal, sendo que
para tanto seria necessária a destituição de Membros atuais;

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CONSIDERANDO que essa destituição seria competência da Assembleia Geral
Ordinária da Hemobrás, designada para o dia 26 de abril de 2019, às 10h30min, no escritório do
Recife/PE, onde funciona a sede administrativa desta estatal;

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CONSIDERANDO que a União, sócia-controladora da HEMOBRÁS, nas
Assembleias Gerais Ordinárias e Assembleias Gerais Extraordinárias de estatais é representada
por integrante da Procuradoria da Fazenda Nacional, sendo que no evento societário da
HEMOBRÁS a se realizado em 26 de abril de 2019 sua representação ficará a cargo do

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Procurador Júlio César Gonçalves Corrêa;

CONSIDERANDO que a Pauta da Assembleia Geral Ordinária de 26 de abril de


2019 compreende tão somente (i) aprovar as contas da administração relativas ao exercício fiscal
de 2018 – demonstrações financeiras e relatório de administração, (ii) aprovar a remuneração
global dos administradores, (iii) fixar a remuneração mensal dos membros do Comitê de
Auditoria, órgão estatutário que entrou em funcionamento do ano de 2019, e (iv) aprovar o
aumento do capital social da Hemobrás em R$ 9,6 milhões;

CONSIDERANDO que exclusivamente sobre tais temas foram emitidos Nota


Técnica da Secretaria de Coordenação e Governança das Empresas Estatais 1 e Parecer2 da
Secretaria do Tesouro Nacional, a cargo da Coordenação Geral de Participações Societárias;

CONSIDERANDO que causa espécie o teor da autorização de voto 3 da PGFN ao


Procurador Júlio César Gonçalves Corrêa, que em seu item IV o autoriza a votar “pela eleição,
como membros do Conselho de Administração das pessoas que vierem a ser indicadas nos termos
do art. 57, do Estatuto Social da HEMOBRÁS, desde que aprovadas pela Casa Civil da
Presidência da República e pelo Comitê de Elegibilidade, conforme determina o Decreto nº
1Nota Técnica SEI nº 26/2019/CGGOV/DEGOV/SEST/SEDD-ME.
2PARECER SEI Nº 27/2019/GESET/COPAR/SUPEF/STN/FAZENDA-ME.
3Processo nº 10951.100199/2019-06.
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8.945, de 2016”, sendo que tal tema fora introduzido de forma indevida na Pauta da Assembleia
Geral Ordinária da HEMOBRÁS;

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CONSIDERANDO que a referida autorização de voto concedida pela União ao
seu representante é ilegal, porquanto a eleição de membros para o Conselho de Administração,
cujos nomes foram encaminhados ao Comitê de Elegibilidade no dia 23 de abril de 2019, requer a
concomitante destituição de membros atuais, inexistindo justificativa plausível ou qualquer
motivação para destituição dos membros dos Conselho de Administração e Fiscal;

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CONSIDERANDO que a destituição repentina de 03 (três), dos 11 (onze)
membros do Conselho de Administração da HEMOBRÁS, que foram eleitos em Assembleia
Geral Ordinária de 2018 para um período de 2 (dois) anos, sem que haja a apresentação de
motivação e justificativa, para em seguida eleger 3 (três) novos integrantes indicados, três dias
antes pelo Ministério da Saúde, acarreta abuso de poder de controle, ao tomar decisão que não
tenha por fim o interesse da Hemobrás e com isso tem o condão de causar prejuízo aos que
trabalham na empresa, orientando-a para fim lesivo ao interesse nacional, nos termos do art. 117,
§1º, ‘a’ e ‘c’, da Lei das S.A;

CONSIDERANDO que decisões desta gravidade – destituição de membros da


administração – devem ser medidas pautadas por razões relevantes, quando não excepcionais, sob
pena de se malversar o interesse público relevante que envolve as atividades e finalidades
desempenhadas pela empresa;

CONSIDERANDO que os currículos dos profissionais indicados para os


Conselhos da HEMOBRÁS e enviados para o Comitê de Elegibilidade (em anexo) evidenciam
que as formações detidas e anteriormente desempenhadas pelos profissionais não guardam
NENHUMA relação, direta ou indireta, com o objeto social da HEMOBRÁS. Enquanto a estatal
federal se dedica à produção de medicamentos hemoderivados e biotecnológicos, as indicações
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feitas pelo Ministério da Saúde são de profissionais provenientes dos setores de comunicação e
tecnologia voltada para a segurança pública, respectivamente;

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CONSIDERANDO que, acaso se confirme a hipótese da dispensa imotivada,
tendo por fundamento tão somente o fato de diretor ter sido eleito no curso de governo sucedido,
restará configurada a ilegalidade do ato, sem prejuízo de eventual responsabilização pessoal do
membro do Conselho de Administração que concorrer para tanto. Nessa toada, a Lei das
Sociedades por Ações – Lei n.º 6.404/76 – em seu art. 158, II, bem como §2º, estabelece que o

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administrador – conselheiro ou diretor – responde pelos prejuízos que causar, quando proceder
com violação da lei ou do estatuto, havendo responsabilidade solidária entre aqueles, em virtude
do não cumprimento de deveres impostos por lei para assegurar o funcionamento normal da
companhia;

CONSIDERANDO que, na hipótese da destituição imotivada de diretores e


eleição de profissionais com formação discrepante do objeto social da HEMOBRÁS, o Conselho
de Administração se assim proceder, a um só tempo comete ilegalidade por infração aos arts. 17,
II, 18, IV e 13, III, do Estatuto das Estatais, art. 12, I a III, bem como parágrafo único da Lei de
criação da Hemobrás, e ainda viola o art. 117, §1º, d, da Lei das S.A. Este último estabelece a
responsabilidade pelo fato de se haver a eleição de administrador que sabe inapto tecnicamente
para a função a ser desempenhada.

CONSIDERANDO que a dispensa imotivada e indevida de membros do


Conselho de Administração da HEMOBRÁS viola os princípios constitucionais da
impessoalidade e da moralidade administrativa, configurando, por conseguinte, a prática de ato de
improbidade administrativa previsto no art. 11 da Lei nº 8.429/92;

CONSIDERANDO que as sanções decorrentes da prática dos respectivos atos


ímprobos podem implicar na perda da função pública, suspensão dos direitos políticos de 03 (três)
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a 05 (cinco) anos, direta ou indiretamente, ainda que por intermédio de pessoa jurídica da qual
seja sócio majoritário, pelo prazo de 03 (três) anos (art. 12, inciso II, da Lei nº 8.429/92);

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CONSIDERANDO que, em caso de não acatamento da presente recomendação,
o Parquet federal informa, desde logo, que atuará no resguardo do interesse público e na defesa
dos valores e princípios constitucionais e legais, procedendo ao ajuizamento das competentes
ações civis públicas de obrigação de fazer e por atos de improbidade administrativa;

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CONSIDERANDO que este órgão ministerial expediu, no exercício de 2017, a
Recomendação n. 08/2017, ao Ministério da Saúde a fim de que fosse devidamente justificada
eventual vantajosidade da transferência de tecnologia para processamento de plasma e
hemoderivados para empresas outras que não as já incluídas no processo, a saber: a Shire/Baxter
e a HEMOBRÁS, mediante a elaboração de estudos técnicos, legais e científicos, considerando
que já foi iniciada a construção do parque fabril da HEMOBRÁS em Goiana/PE, situando-se em
estado consideravelmente avançado, e que fosse especificada a destinação e inclusão da fábrica
neste processo;

CONSIDERANDO que, no mesmo instrumento (Recomendação nº 08/2017),


este MPF recomendou ao Ministério da Saúde e ao Ministério da Casa Civil que não fossem
nomeadas para cargos de gestão da HEMOBRÁS pessoas que possuíssem vínculos ou interesses
diretos ou indiretos na transferência da tecnologia mencionada no item 1, notadamente que já
tenham, atuado junto a empresas farmacêuticas;

CONSIDERANDO que há notório histórico de tentativas de esvaziamento das


atribuições institucionais da HEMOBRÁS por parte da antiga gestão do Ministério da Saúde,
especialmente com a finalidade de redirecioná-las para outras empresas privadas, atendendo-se a
interesses não republicanos;

CONSIDERANDO que o Ministério Público Federal ajuizou a ação civil pública


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de obrigação de fazer n. 0815539-30.2017.4.05.8300, que tramitou na 3ª Vara Federal da Justiça
Federal em Pernambuco, por meio da qual o Poder Judiciário, reconhecendo a função social da
HEMOBRÁS inserta no diploma legal de sua criação (Lei Federal n. 10.972/2004), bem como

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considerando as graves violações praticadas pelo ex-Ministro da Saúde Ricardo José Magalhães
Barros, julgou procedente o pedido contido na exordial para condenar a União à obrigação de
fazer consistente na prorrogação da PDP do Fator VIII Recombinante junto à farmacêutica
Shire/Baxter (Takeda), sentença, inclusive, mantida pelo egrégio TRF da 5ª Região;

CONSIDERANDO que, nos autos da ação civil pública de obrigação de fazer n.

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0815539-30.2017.4.05.8300, tendo em conta: (a) a omissão do Ministério da Saúde que, diga-se,
impediu dolosamente o prosseguimento da PDP do Fator VIII Recombinante pela HEMOBRÁS;
(b) o retardamento da aquisição de produtos junto à PDP; (c) as tentativas de aquisição do
fármaco junto a empresas privadas; (e) a desobediência de decisões judiciais e administrativas do
TCU; este MPF pugnou pelo afastamento do ex-Ministro de Estado da Saúde Ricardo José
Magalhães Barros;

CONSIDERANDO que o MPTCU, nos autos do processo TC n. 020.378/2017-3,


em trâmite no Tribunal de Contas da União, na defesa da ordem jurídica e administrativa, bem
como no dever de obstar novos danos econômicos irreparáveis que a permanência do ex-Ministro
Ricardo Barros no cargo pudesse causar, além de prevenir a nefasta consequência que a
continuidade daquelas atitudes pudessem ocasionar à saúde dos portadores de coagulopatias –
requereu, preliminarmente, com fulcro no art. 273 do Regimento Interno/TCU c/c art. 44 da Lei
8.443/92, medida cautelar incidental visando ao afastamento temporário de Ricardo José
Magalhães Barros do cargo de Ministro da Saúde, bem como que lhe fossem aplicadas,
oportunamente, as sanções de multa e de inabilitação para o exercício de cargo em comissão e
função de confiança;

CONSIDERANDO o princípio da eficiência da administração pública, a qual não


cabe apenas realizar o serviço, mas fazê-lo de modo a conseguir o melhor resultado possível. E
este melhor resultado, com cumprimento da legislação de regência, não está sendo assegurado
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pela União, especialmente em razão das ingerências na HEMOBRÁS;

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CONSIDERANDO que o controle social é princípio fundamental para as
atividades de saúde pública no Brasil, nos termos da Lei nº 8.142/90;

E CONSIDERANDO, por fim, a prerrogativa conferida ao MINISTÉRIO


PÚBLICO para expedir RECOMENDAÇÕES, no exercício da defesa dos valores, interesses e
direitos da coletividade, visando à melhoria dos serviços públicos e de relevância pública, bem
como ao respeito e aos interesses, direitos e bens cuja defesa lhe cabe promover, fixando prazo

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para a adoção das providências cabíveis (artigo 6º, inciso XX, da Lei Complementar nº 75/1993),

RESOLVE RECOMENDAR ao Procurador da Fazenda Nacional Júlio César


Gonçalves Corrêa, nos termos do art. 6º, inciso XX, da Lei Complementar nº 75/93, que,
imediatamente:

1) se abstenha de praticar quaisquer atos com vistas a eleger ou indicar novos


membros para o Conselho de Administração, Conselho Fiscal e Diretoria da HEMOBRÁS
antes do término do mandato dos membros atualmente exercentes de cargo, porquanto
eventual indicação ou eleição, sem a destituição dos exercentes com fundamento no art. 12,
incisos I a III, da Lei de criação da HEMOBRÁS (Lei n. 10.972/2004) ou do art. 18, IV, da
Lei n.º 13.303/2016, evidenciam abuso de poder de controle, violação à legislação vigente e a
prática de atos de improbidade administrativa;

2) somente haverá afastamento ou destituição de membros dos Conselhos de


Administração ou Fiscal e da Diretoria da estatal caso reste evidenciada a prática de atos
ilícitos/indevidos objetivos constantes no rol taxativo de situações estabelecidas pelo art. 12,
I a III, da Lei n.º 10.972/2014, ou do art. 18, IV, da Lei n.º 13.303/2016, devendo o Conselho
de Administração da HEMOBRÁS atentar para os requisitos de motivação da decisão; e
demonstração de justificativa plausível, coadunada ao que dispõe a Lei;

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3) com fulcro no art. 17, II, da Lei das Estatais, se abstenha de efetuar ou
torne sem efeito (acaso já realizado) indicações ou nomeações no âmbito da HEMOBRÁS
em desrespeito à Lei das Estatais, notadamente em relação à formação técnica incompatível

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com o objeto social da HEMOBRÁS;

O MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL adverte que a presente Recomendação


dá ciência e constitui em mora o destinatário quanto às providências solicitadas, podendo a
omissão na adoção das medidas recomendadas implicar o manejo de todas as medidas
administrativas e ações judiciais cabíveis contra os que se mantiverem inertes.

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Nesse passo, com fundamento no art. 8º, II, da Lei Complementar nº 75/93,
REQUISITA-SE, desde logo, que Vossa Senhoria informe, em até 24 (vinte quatro) horas, se
acatará ou não esta recomendação, apresentando, em qualquer hipótese de negativa, os
respectivos fundamentos. Em caso de acatamento desta recomendação, deverá o Procurador da
Fazenda Nacional, no mesmo prazo, informar quais medidas serão adotadas para solucionar as
irregularidades.

Por fim, em caso de não acatamento da presente recomendação, o Parquet federal


informa, desde logo, que atuará no resguardo do interesse público e na defesa dos valores e
princípios constitucionais e legais: encaminhando, aos órgãos competentes, representação pela
prática de crime de responsabilidade; e procedendo ao ajuizamento das competentes ações civis
públicas de obrigação de fazer e por atos de improbidade administrativa.

Recife/PE, data de assinatura eletrônica.

ASSINADO ELETRONICAMENTE
SILVIA REGINA PONTES LOPES
Procuradora da República

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RECOMENDAÇÃO Nº 09/2019
Inquérito Civil nº 1.26.000.000671/2019-27

O MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL, representado pela Procuradora da


República signatária, vem, no exercício de suas atribuições constitucionais e legais, em especial a
consubstanciada no artigo 129 da Constituição Federal, e nos artigos 5º e 6º da Lei Complementar
nº 75/93; apresentar as seguintes considerações para, ao final, expedir recomendação.

CONSIDERANDO que o Ministério Público é instituição permanente, essencial


à função jurisdicional do Estado, incumbindo-lhe a defesa da ordem jurídica, do regime
democrático e dos interesses sociais e individuais indisponíveis (CF/88, art. 127);

CONSIDERANDO, também, ser função institucional do Ministério Público,


dentre outras, zelar pelo efetivo respeito dos Poderes Públicos e dos serviços de relevância
pública aos direitos assegurados na Constituição, promovendo as medidas necessárias a sua
garantia (CF/88, art. 129, II e III);

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CONSIDERANDO que, como defensor da ordem jurídica e dos interesses
sociais, cabe ao Ministério Público atuar em resguardo dos princípios constitucionais da
Administração Pública, previstos no art. 37, caput, da Constituição Federal, dentre os quais, o da

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legalidade, da publicidade, da eficiência e, ainda, da probidade administrativa;

CONSIDERANDO que a Empresa Brasileira de Hemoderivados e Biotecnologia


– HEMOBRÁS é empresa pública federal, vinculada ao Ministério da Saúde, criada pela Lei nº
10.972/2004 sob a forma de sociedade limitada e regida por estatuto aprovado pelo Decreto nº
5.402/2005, com a finalidade de explorar atividade econômica, nos termos do art. 173 da

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Constituição Federal;

CONSIDERANDO que a HEMOBRÁS é uma estatal independente, dotada de


personalidade jurídica de direito privado e que trabalha para reduzir a dependência externa do
Brasil no setor de derivados do sangue e biofármacos, ampliando o acesso da população a
medicamentos essenciais à vida de milhares de pessoas com hemofilia, além de pacientes de
imunodeficiências genéticas, cirrose, câncer, AIDS, queimaduras, entre outras doenças;

CONSIDERANDO que a HEMOBRÁS tem por função social, ainda, garantir aos
pacientes do Sistema Único de Saúde – SUS o fornecimento de medicamentos produzidos por
biotecnologia, e para a realização das finalidades previstas em sua lei de criação (Lei Federal n.
10.972/2004 e, dentre outras atividades, está incumbida de: desenvolver programas de pesquisa e
desenvolvimento e fabricar produtos por biotecnologia na área de hemoterapia (Fator VIII
recombinante – utilizado no tratamento profilático dos brasileiros portadores de hemofilia); e
produzir, em escala industrial, hemoderivados e medicamentos destinados prioritariamente para
tratamento de pacientes do SUS a partir do fracionamento de plasma obtido no Brasil e da
biotecnologia na engenharia genética;

CONSIDERANDO que a HEMOBRÁS se sujeita ao Estatuto das Estatais – Lei


nº 13.303/2016, que veio a regulamentar o art. 173, §1º, I a V, da Constituição Federal de 1988,

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bem como, no que couber, sujeita-se às disposições da Lei de Sociedades por Ações – Lei nº
6.404/76;

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CONSIDERANDO que a Lei º 13.303/2016 dispõe sobre o estatuto jurídico das
empresas públicas, sociedades de economia mista e subsidiárias, no âmbito da União, dos
Estados, do Distrito Federal e dos Municípios e foi uma resposta do legislador pátrio aos
resultados danosos ao patrimônio e interesse público das estatais percebidos em episódios de
corrupção envolvendo a Petrobrás, sendo que, dentre seus objetivos, constam, dentre outros,
conferir governança e alguma autonomia administrativa a fim de possibilitar que as empresas

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estatais possam atingir sua finalidade e função social;

CONSIDERANDO que a Lei de criação da HEMOBRÁS (Lei nº 10.972/2004)


constituiu como órgãos da administração a Diretoria, composta por três integrantes, detentores de
mandato, destituíveis somente por justa causa, bem como o Conselho de Administração,
composto por onze integrantes, igualmente detentores de mandato;

CONSIDERANDO que, à luz da Lei da HEMOBRÁS e do Estatuto das Estatais,


a atribuição de responsabilidades ao dirigente da HEMOBRÁS se dá em prol de interesse público
relevante, nomeadamente, a boa gestão do plasma nacional, matéria prima nobre, cujo monopólio
estatal estabelecido nos termos do art. 199, §4º, da Constituição Federal, se converte
obrigatoriamente na destinação de medicamentos ao SUS para o tratamento da hemofilia;

CONSIDERANDO que os interesses dos mandatários de empresas estatais ou do


próprio ente criador não podem ser entraves à boa gestão, tampouco empecilho para que sejam
atingidas a função social e finalidade que justificaram sua criação pelo Estado brasileiro. Por isso
mesmo, a legislação de regência preserva, como regra, o mandato e gestão de administradores de
empresas estatais, de sorte que seus ocupantes possam desempenhar seu múnus com a devida
autonomia e independência, pondo-os a salvo de ingerências;

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CONSIDERANDO que a própria Constituição da República, em seu art. 173, §1º,
aduz que a lei estabelecerá o estatuto jurídico da empresa pública, da sociedade de economia
mista e de suas subsidiárias que explorem atividade econômica de produção ou comercialização

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de bens ou de prestação de serviços, dispondo sobre: (a) sua função social e formas de
fiscalização pelo Estado e pela sociedade; (b) a sujeição ao regime jurídico próprio das empresas
privadas, inclusive quanto aos direitos e obrigações civis, comerciais, trabalhistas e tributários; (c)
licitação e contratação de obras, serviços, compras e alienações, observados os princípios da
administração pública; (d) a constituição e o funcionamento dos conselhos de administração e
fiscal, com a participação de acionistas minoritários; e (e) os mandatos, a avaliação de

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desempenho e a responsabilidade dos administradores;

CONSIDERANDO que a Lei n.º 10.972/2004 – Lei de criação da Hemobrás – é


assertiva em seus artigos 9º e 12, ao estabelecer que a Diretoria Executiva dispõe de um mandato
de 04 (quatro) anos, em conformidade ao art. 173, §1º, V, da Constituição Federal, sendo que as
hipóteses taxativas de dispensa de qualquer diretor no curso de seu mandato são o
descumprimento de diretrizes do Conselho de Administração ou do Ministério da Saúde; a
insuficiência de desempenho no cargo de diretor; a justa causa para rescisão do contrato de
trabalho pelo empregador na constatação da prática de atos de improbidade, incontinência de
conduta ou mau procedimento, condenação criminal, desídia, dentre outras; e na violação de leis
ou princípios da Administração Pública, quando do exercício da função; in verbis:

Lei n.º 10.972/2004 – Lei de criação da Hemobrás

Art. 9o A HEMOBRÁS será dirigida por uma Diretoria Executiva, composta


de 3 (três) membros.

§1o Os diretores são responsáveis pelos atos praticados em desconformidade


com a lei, com o estatuto da empresa e com as diretrizes institucionais
emanadas do Conselho de Administração.
§2o 2 (dois) membros da Diretoria Executiva serão indicados pela União e 1
(um) pelos sócios minoritários.

§3o Os diretores da HEMOBRÁS serão nomeados pelo Presidente da


República para mandato de 4 (quatro) anos, permitida 1 (uma) única
recondução. (…)

4
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Art. 12. São hipóteses de perda de mandato de diretor ou de membro do
Conselho de Administração ou do Conselho Fiscal:

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I – descumprimento das diretrizes institucionais do Conselho de
Administração ou das metas de desempenho operacional, gerencial e
financeiro definidas pelo Ministério da Saúde;

II – insuficiência de desempenho; e

III – enquadrar-se em qualquer das hipóteses do art. 482 da Consolidação


das Leis do Trabalho, bem como violar, no exercício de suas funções, as leis
vigentes ou os princípios da administração pública.

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Parágrafo único. Portaria do Ministro de Estado da Saúde definirá as regras
para avaliação de desempenho dos diretores.

CONSIDERANDO que, caso se decida pela dispensa do dirigente da empresa


estatal, é dever do órgão incumbido pela lei para a destituição elencar a necessária justificativa e
motivação do ato. É nesse sentido que a Lei das Estatais, de um modo geral, e a Lei de criação da
HEMOBRÁS, mais especificamente, dispõem de dispositivos que de um lado garantem
autonomia e independência aos seus diretores, como regra a ser seguida pelo Ministério da Saúde,
em sua relação com a administração desta estatal;

CONSIDERANDO que, no caso, a Lei n.º 10.972/2004 que criou a HEMOBRÁS


é o parâmetro a ser seguido em relação às hipóteses taxativas de perda de mandado de qualquer
de seus diretores, nos termos do art. 12, incisos I a III. Ou seja, quis o legislador que a
HEMOBRÁS fosse dotada de estabilidade na composição de sua diretoria, de sorte a salvaguardá-
la de interferências e pressões indevidas de qualquer natureza, inclusive do próprio Ministério da
Saúde, não se afigurando possível, à luz da Lei de criação da estatal, a troca imotivada de
diretores ao arbítrio do Ministério da Saúde;

CONSIDERANDO que, antes do advento do término da gestão da diretoria


exercente do seu múnus, no curso do prazo que lhe fora conferido, não há margem legal para que
qualquer alteração se proceda, senão nas hipóteses de justa causa do art. 12, I a III, da Lei n.º
10.972/2004, já transcritas;

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CONSIDERANDO que, se assim não fosse, haveria o risco da perpetuidade da
prática nefasta vista e vivida ao longo de vários anos no País, de utilização de entidades estatais,
sobretudo as empresas estatais, para o atingimento de fins e interesses não republicanos,

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exaustivamente divorciados do interesse público e da finalidade que justificaram sua criação;

CONSIDERANDO que a Lei das Estatais – Lei n.º 13.303/2016, que em seu art.
18, inciso IV, estabelece como competência do Conselho de Administração, dentre outras, avaliar
os diretores da empresa pública, nos termos do inciso III do art. 13, cujos critérios para avaliação
dos diretores da HEMOBRÁS são os quesitos mínimos de (a) exposição dos atos de gestão

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praticados, quanto à licitude e à eficácia da ação administrativa; (b) contribuição para o resultado
do exercício; e (c) consecução dos objetivos estabelecidos no plano de negócios e atendimento à
estratégia de longo prazo;

CONSIDERANDO que o legislador estabeleceu critérios objetivos de análise de


desempenho dos diretores das empresas estatais, assegurando que a permanência no curso do
prazo de gestão se dê em prol de resultados entregues a favor da Administração Pública e sua
eventual dispensa antecipada seja calcada única e exclusivamente por sólidos critérios objetivos,
tudo isso em observância ao preceito da moralidade administrativa;

CONSIDERANDO que a jurisprudência do Supremo Tribunal Federal, nos


termos do MS n. 34205 MS/DF, assentou que a destituição de diretor de empresa pública somente
pode ocorrer nas hipóteses previstas em Lei, sendo impossível a dispensa imotivada dos
dirigentes:

[…] Observo da leitura dos dispositivos – expressos quanto à existência de


mandato ao Diretor-Presidente pelo período de quatro anos e expresso
também quanto às hipóteses de destituição do cargo (dentre as quais não se
insere a livre decisão da Presidência da República) – que há nítido intuito
legislativo de assegurar autonomia à gestão da Diretoria Executiva da EBC,
inclusive ao seu Diretor-Presidente. Em análise precária, portanto, me
parece que seria esvaziar o cerne normativo dos dispositivos interpretá-los –
tal qual propõe a autoridade impetrada – no sentido da existência de

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mandato apenas na expressão, mas não em seu conteúdo.
Se é certo que a autonomia de gestão é um imperativo às agências
reguladoras, não menos certo é que não lhe é atributo exclusivo. De igual

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modo, se é certo que as empresas públicas, como entidades de direito
privado da Administração Indireta, são em regra constituídas por Diretoria
demissível ad nutum, não menos exato é que a Administração Pública não
possui engessamento normativo que lhe impeça de atribuir, por lei, certas
características típicas de entes de direito público a entes de direito privado,
quando condições particulares assim o justifiquem.
Observo que esta Corte, em diversos precedentes, tem aplicado regramento
próprio de entidades de direito público da Administração Indireta às
entidades privadas (empresas públicas e sociedades de economia mista),
sempre que a natureza da atividade por elas exercida justifique a

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aproximação dos regramentos. […]
No caso dos autos, parece-me que a intenção do legislador foi exatamente a
de garantir certa autonomia ao corpo diretivo da EBC, o que se apresenta,
em meu juízo precário, consentâneo com a posição da Empresa Brasileira de
Comunicação, que tem por finalidade a prestação de serviços de
radiodifusão pública, sob determinados princípios, dos quais destaco
“autonomia em relação ao Governo Federal para definir produção,
programação e distribuição de conteúdo no sistema público de radiodifusão”
(art. 2º, VIII, da Lei nº 11.652/08 e art. 2º, VIII, do Decreto nº 6.689/08).
[…]
Pelo exposto, concedo a liminar requerida, para suspender o ato impugnado,
até decisão final do presente mandado de segurança, garantindo-se ao
Impetrante o exercício do mandato no cargo de Diretor-Presidente da EBC.
[…] (STF. MS 34205/DF, Rel. Min. Dias Toffoli, Data de julgamento:
18/05/2016).

CONSIDERANDO que, no caso da HEMOBRÁS, cabe ao seu Conselho de


Administração a incumbência de eleger e destituir os membros da Diretoria Executiva, fixando-
lhes suas atribuições, nos termos do art. 64, II, do Estatuto da empresa pública, senão vejamos:
“Compete ao Conselho de Administração: eleger e destituir os membros da Diretoria Executiva
da empresa, fixando-lhes as atribuições”;

CONSIDERANDO que a atribuição do Conselho de Administração da


HEMOBRÁS decorre do art. 30, caput, do mesmo Estatuto da HEMOBRÁS, que prevê a
possibilidade da perda de cargo para administradores, unicamente nos casos previstos em lei,
verbis:

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Da Perda do Cargo para Administradores, Conselho Fiscal e Comitê de
Auditoria

Art. 30. Além dos casos previstos em lei, dar-se-á vacância do cargo

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quando:

I – o membro do Conselho de Administração ou Fiscal ou do Comitê de


Auditoria que deixar de comparecer a duas reuniões consecutivas ou três
intercaladas, nas últimas doze reuniões, sem justificativa;

II – o membro da Diretoria Executiva se afastar do exercício do cargo por


mais de 30 dias consecutivos, salvo em caso de licença, inclusive férias, ou
nos casos autorizados pelo Conselho de Administração.

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CONSIDERANDO que, quando se estabelece que a perda do cargo para
administradores se dá nos casos previstos em Lei, afasta-se a ideia de um poder ilimitado do
Conselho de Administração para afastar e destituir diretores, de modo que diretor da Hemobrás,
no curso da gestão, somente poderá ser afastado pelo Conselho de Administração ante a
constatação da ocorrência dos fatos hipotéticos objetivos constantes no rol taxativo de situações
estabelecidas pelo art. 12, I a III, da Lei n.º 10.972/2014, ou do art. 18, IV, da Lei n.º 13.303/2016;

CONSIDERANDO que, na forma da legislação vigente, a destituição de diretores


da HEMOBRÁS pelo Conselho de Administração requer previamente o preenchimento dos
requisitos de (1) motivação da decisão e (2) demonstração de justificativa plausível, coadunada ao
que dispõe a Lei, para então se falar numa substituição calcada em aspectos eminentemente
técnicos, promovida no interesse da empresa pública, e sob o aspecto mediato, em prol do
interesse público. O mesmo ocorre com a destituição de membros do Conselho de Administração
da HEMOBRÁS pelo sócio-controlador, no que se refere à necessidade de (1) motivação da
decisão e (2) demonstração de justificativa plausível, para então se falar numa substituição
calcada em aspectos eminentemente técnicos, promovida no interesse desta empresa pública;

CONSIDERANDO que, no caso trazido à baila, há intenção do Ministério da


Saúde em substituir administradores da HEMOBRÁS, porquanto, no dia 23 de abril de 2019
foram endereçadas ao Comitê de Elegibilidade da empresa pública indicações de três nomes para

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comporem o Conselho de Administração da Hemobrás, e uma para o Conselho Fiscal, sendo que
para tanto seria necessária a destituição de Membros atuais;

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CONSIDERANDO que essa destituição seria competência da Assembleia Geral
Ordinária da Hemobrás, designada para o dia 26 de abril de 2019, às 10h30min, no escritório do
Recife/PE, onde funciona a sede administrativa desta estatal;

CONSIDERANDO que a União, sócia-controladora da HEMOBRÁS, nas

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Assembleias Gerais Ordinárias e Assembleias Gerais Extraordinárias de estatais é representada
por integrante da Procuradoria da Fazenda Nacional, sendo que no evento societário da
HEMOBRÁS a se realizado em 26 de abril de 2019 sua representação ficará a cargo do
Procurador Júlio César Gonçalves Corrêa;

CONSIDERANDO que a Pauta da Assembleia Geral Ordinária de 26 de abril de


2019 compreende tão somente (i) aprovar as contas da administração relativas ao exercício fiscal
de 2018 – demonstrações financeiras e relatório de administração, (ii) aprovar a remuneração
global dos administradores, (iii) fixar a remuneração mensal dos membros do Comitê de
Auditoria, órgão estatutário que entrou em funcionamento do ano de 2019, e (iv) aprovar o
aumento do capital social da Hemobrás em R$ 9,6 milhões;

CONSIDERANDO que exclusivamente sobre tais temas foram emitidos Nota


Técnica da Secretaria de Coordenação e Governança das Empresas Estatais 1 e Parecer2 da
Secretaria do Tesouro Nacional, a cargo da Coordenação Geral de Participações Societárias;

CONSIDERANDO que causa espécie o teor da autorização de voto 3 da PGFN ao

1Nota Técnica SEI nº 26/2019/CGGOV/DEGOV/SEST/SEDD-ME.


2PARECER SEI Nº 27/2019/GESET/COPAR/SUPEF/STN/FAZENDA-ME.
3Processo nº 10951.100199/2019-06.
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Procurador Júlio César Gonçalves Corrêa, que em seu item IV o autoriza a votar “pela eleição,
como membros do Conselho de Administração das pessoas que vierem a ser indicadas nos termos
do art. 57, do Estatuto Social da HEMOBRÁS, desde que aprovadas pela Casa Civil da

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Presidência da República e pelo Comitê de Elegibilidade, conforme determina o Decreto nº
8.945, de 2016”, sendo que tal tema fora introduzido de forma indevida na Pauta da Assembleia
Geral Ordinária da HEMOBRÁS;

CONSIDERANDO que a referida autorização de voto concedida pela União ao

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seu representante é ilegal, porquanto a eleição de membros para o Conselho de Administração,
cujos nomes foram encaminhados ao Comitê de Elegibilidade no dia 23 de abril de 2019, requer a
concomitante destituição de membros atuais, inexistindo justificativa plausível ou qualquer
motivação para destituição dos membros dos Conselho de Administração e Fiscal;

CONSIDERANDO que a destituição repentina de 03 (três), dos 11 (onze)


membros do Conselho de Administração da HEMOBRÁS, que foram eleitos em Assembleia
Geral Ordinária de 2018 para um período de 2 (dois) anos, sem que haja a apresentação de
motivação e justificativa, para em seguida eleger 3 (três) novos integrantes indicados, três dias
antes pelo Ministério da Saúde, acarreta abuso de poder de controle, ao tomar decisão que não
tenha por fim o interesse da Hemobrás e com isso tem o condão de causar prejuízo aos que
trabalham na empresa, orientando-a para fim lesivo ao interesse nacional, nos termos do art. 117,
§1º, ‘a’ e ‘c’, da Lei das S.A;

CONSIDERANDO que decisões desta gravidade – destituição de membros da


administração – devem ser medidas pautadas por razões relevantes, quando não excepcionais, sob
pena de se malversar o interesse público relevante que envolve as atividades e finalidades
desempenhadas pela empresa;

CONSIDERANDO que os currículos dos profissionais indicados para os


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Conselhos da HEMOBRÁS e enviados para o Comitê de Elegibilidade (em anexo) evidenciam
que as formações detidas e anteriormente desempenhadas pelos profissionais não guardam
NENHUMA relação, direta ou indireta, com o objeto social da HEMOBRÁS. Enquanto a estatal

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federal se dedica à produção de medicamentos hemoderivados e biotecnológicos, as indicações
feitas pelo Ministério da Saúde são de profissionais provenientes dos setores de comunicação e
tecnologia voltada para a segurança pública, respectivamente;

CONSIDERANDO que, acaso se confirme a hipótese da dispensa imotivada,

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tendo por fundamento tão somente o fato de diretor ter sido eleito no curso de governo sucedido,
restará configurada a ilegalidade do ato, sem prejuízo de eventual responsabilização pessoal do
membro do Conselho de Administração que concorrer para tanto. Nessa toada, a Lei das
Sociedades por Ações – Lei n.º 6.404/76 – em seu art. 158, II, bem como §2º, estabelece que o
administrador – conselheiro ou diretor – responde pelos prejuízos que causar, quando proceder
com violação da lei ou do estatuto, havendo responsabilidade solidária entre aqueles, em virtude
do não cumprimento de deveres impostos por lei para assegurar o funcionamento normal da
companhia;

CONSIDERANDO que, na hipótese da destituição imotivada de diretores e


eleição de profissionais com formação discrepante do objeto social da HEMOBRÁS, o Conselho
de Administração se assim proceder, a um só tempo comete ilegalidade por infração aos arts. 17,
II, 18, IV e 13, III, do Estatuto das Estatais, art. 12, I a III, bem como parágrafo único da Lei de
criação da Hemobrás, e ainda viola o art. 117, §1º, d, da Lei das S.A. Este último estabelece a
responsabilidade pelo fato de se haver a eleição de administrador que sabe inapto tecnicamente
para a função a ser desempenhada.

CONSIDERANDO que a dispensa imotivada e indevida de membros do


Conselho de Administração da HEMOBRÁS viola os princípios constitucionais da
impessoalidade e da moralidade administrativa, configurando, por conseguinte, a prática de ato de

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improbidade administrativa previsto no art. 11 da Lei nº 8.429/92;

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CONSIDERANDO que as sanções decorrentes da prática dos respectivos atos
ímprobos podem implicar na perda da função pública, suspensão dos direitos políticos de 03 (três)
a 05 (cinco) anos, direta ou indiretamente, ainda que por intermédio de pessoa jurídica da qual
seja sócio majoritário, pelo prazo de 03 (três) anos (art. 12, inciso II, da Lei nº 8.429/92);

CONSIDERANDO que, em caso de não acatamento da presente recomendação,

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o Parquet federal informa, desde logo, que atuará no resguardo do interesse público e na defesa
dos valores e princípios constitucionais e legais, procedendo ao ajuizamento das competentes
ações civis públicas de obrigação de fazer e por atos de improbidade administrativa;

CONSIDERANDO que este órgão ministerial expediu, no exercício de 2017, a


Recomendação n. 08/2017, ao Ministério da Saúde a fim de que fosse devidamente justificada
eventual vantajosidade da transferência de tecnologia para processamento de plasma e
hemoderivados para empresas outras que não as já incluídas no processo, a saber: a Shire/Baxter
e a HEMOBRÁS, mediante a elaboração de estudos técnicos, legais e científicos, considerando
que já foi iniciada a construção do parque fabril da HEMOBRÁS em Goiana/PE, situando-se em
estado consideravelmente avançado, e que fosse especificada a destinação e inclusão da fábrica
neste processo;

CONSIDERANDO que, no mesmo instrumento (Recomendação nº 08/2017),


este MPF recomendou ao Ministério da Saúde e ao Ministério da Casa Civil que não fossem
nomeadas para cargos de gestão da HEMOBRÁS pessoas que possuíssem vínculos ou interesses
diretos ou indiretos na transferência da tecnologia mencionada no item 1, notadamente que já
tenham, atuado junto a empresas farmacêuticas;

CONSIDERANDO que há notório histórico de tentativas de esvaziamento das

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atribuições institucionais da HEMOBRÁS por parte da antiga gestão do Ministério da Saúde,
especialmente com a finalidade de redirecioná-las para outras empresas privadas, atendendo-se a
interesses não republicanos;

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CONSIDERANDO que o Ministério Público Federal ajuizou a ação civil pública
de obrigação de fazer n. 0815539-30.2017.4.05.8300, que tramitou na 3ª Vara Federal da Justiça
Federal em Pernambuco, por meio da qual o Poder Judiciário, reconhecendo a função social da
HEMOBRÁS inserta no diploma legal de sua criação (Lei Federal n. 10.972/2004), bem como
considerando as graves violações praticadas pelo ex-Ministro da Saúde Ricardo José Magalhães

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Barros, julgou procedente o pedido contido na exordial para condenar a União à obrigação de
fazer consistente na prorrogação da PDP do Fator VIII Recombinante junto à farmacêutica
Shire/Baxter (Takeda), sentença, inclusive, mantida pelo egrégio TRF da 5ª Região;

CONSIDERANDO que, nos autos da ação civil pública de obrigação de fazer n.


0815539-30.2017.4.05.8300, tendo em conta: (a) a omissão do Ministério da Saúde que, diga-se,
impediu dolosamente o prosseguimento da PDP do Fator VIII Recombinante pela HEMOBRÁS;
(b) o retardamento da aquisição de produtos junto à PDP; (c) as tentativas de aquisição do
fármaco junto a empresas privadas; (e) a desobediência de decisões judiciais e administrativas do
TCU; este MPF pugnou pelo afastamento do ex-Ministro de Estado da Saúde Ricardo José
Magalhães Barros;

CONSIDERANDO que o MPTCU, nos autos do processo TC n. 020.378/2017-3,


em trâmite no Tribunal de Contas da União, na defesa da ordem jurídica e administrativa, bem
como no dever de obstar novos danos econômicos irreparáveis que a permanência do ex-Ministro
Ricardo Barros no cargo pudesse causar, além de prevenir a nefasta consequência que a
continuidade daquelas atitudes pudessem ocasionar à saúde dos portadores de coagulopatias –
requereu, preliminarmente, com fulcro no art. 273 do Regimento Interno/TCU c/c art. 44 da Lei
8.443/92, medida cautelar incidental visando ao afastamento temporário de Ricardo José
Magalhães Barros do cargo de Ministro da Saúde, bem como que lhe fossem aplicadas,
oportunamente, as sanções de multa e de inabilitação para o exercício de cargo em comissão e
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função de confiança;

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CONSIDERANDO o princípio da eficiência da administração pública, a qual não
cabe apenas realizar o serviço, mas fazê-lo de modo a conseguir o melhor resultado possível. E
este melhor resultado, com cumprimento da legislação de regência, não está sendo assegurado
pela União, especialmente em razão das ingerências na HEMOBRÁS;

CONSIDERANDO que o controle social é princípio fundamental para as


atividades de saúde pública no Brasil, nos termos da Lei nº 8.142/90;

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E CONSIDERANDO, por fim, a prerrogativa conferida ao MINISTÉRIO
PÚBLICO para expedir RECOMENDAÇÕES, no exercício da defesa dos valores, interesses e
direitos da coletividade, visando à melhoria dos serviços públicos e de relevância pública, bem
como ao respeito e aos interesses, direitos e bens cuja defesa lhe cabe promover, fixando prazo
para a adoção das providências cabíveis (artigo 6º, inciso XX, da Lei Complementar nº 75/1993),

RESOLVE RECOMENDAR aos Conselheiros da HEMOBRÁS Oswaldo


Cordeiro de Paschoal Castilho, André Guimarães Resende Martins do Valle, Frederico
Nicolas Antônio de Souza, Elton da Silva Chaves, Adeilson Loureiro Cavalcante, Neilton
Araújo de Oliveira, Luiz Alberto de Almeida Palmeira, Lenir dos Santos, Flávia Filippi
Giannetti, Jean Keiji Uema, Antônio Carlos Rosa de Oliveira Júnior e Luiz Alberto
Marques Vieira Filho, nos termos do art. 6º, inciso XX, da Lei Complementar nº 75/93, que,
imediatamente:

1) se abstenham de praticar quaisquer atos com vistas a eleger novos


membros para o Conselho de Administração, Conselho Fiscal e Diretoria da HEMOBRÁS
antes do término do mandato dos membros atualmente exercentes de cargo, porquanto
eventual eleição, sem a destituição dos exercentes com fundamento no art. 12, incisos I a III,
da Lei de criação da HEMOBRÁS (Lei n. 10.972/2004) ou do art. 18, IV, da Lei n.º

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13.303/2016, evidencia abuso de poder de controle, violação à legislação vigente e a prática
de atos de improbidade administrativa;

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2) somente realizem o afastamento ou a destituição de membros dos
Conselhos de Administração ou Fiscal e da Diretoria da estatal caso reste evidenciada a
prática de atos ilícitos/indevidos objetivos constantes no rol taxativo de situações
estabelecidas pelo art. 12, I a III, da Lei n.º 10.972/2014, ou do art. 18, IV, da Lei n.º
13.303/2016, devendo este Conselho de Administração atentar para os requisitos de
motivação da decisão; e demonstração de justificativa plausível, coadunada ao que dispõe a
Lei;

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3) não reconheçam eventual autorização de voto por parte da União para
destituição e eleição de membros da diretoria ou dos Conselhos de Administração e
Conselho Fiscal da HEMOBRÁS, uma vez que inexiste justa causa apurada em processo
administrativo para destituição de membros da diretoria e dos Conselhos.

O MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL adverte que a presente Recomendação


dá ciência e constitui em mora o destinatário quanto às providências solicitadas, podendo a
omissão na adoção das medidas recomendadas implicar o manejo de todas as medidas
administrativas e ações judiciais cabíveis contra os que se mantiverem inertes.

Nesse passo, com fundamento no art. 8º, II, da Lei Complementar nº 75/93,
REQUISITA-SE, desde logo, que o Ministério da Saúde informe, em até 24 (vinte e quatro)
horas, se acatará ou não esta recomendação, apresentando, em qualquer hipótese de negativa, os
respectivos fundamentos. Em caso de acatamento desta recomendação, deverá o Ministério da
Saúde, no mesmo prazo, informar quais medidas serão adotadas para solucionar as
irregularidades.

Por fim, em caso de não acatamento da presente recomendação, o Parquet federal


informa, desde logo, que atuará no resguardo do interesse público e na defesa dos valores e
princípios constitucionais e legais: encaminhando, aos órgãos competentes, representação pela

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prática de crime de responsabilidade; e procedendo ao ajuizamento das competentes ações civis
públicas de obrigação de fazer e por atos de improbidade administrativa.

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Recife/PE, data de assinatura eletrônica.

ASSINADO ELETRONICAMENTE
SILVIA REGINA PONTES LOPES
Procuradora da República

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RECOMENDAÇÃO Nº 10/2019
Inquérito Civil nº 1.26.000.000671/2019-27

O MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL, representado pela Procuradora da


República signatária, vem, no exercício de suas atribuições constitucionais e legais, em especial a
consubstanciada no artigo 129 da Constituição Federal, e nos artigos 5º e 6º da Lei Complementar
nº 75/93; apresentar as seguintes considerações para, ao final, expedir recomendação.

CONSIDERANDO que o Ministério Público é instituição permanente, essencial


à função jurisdicional do Estado, incumbindo-lhe a defesa da ordem jurídica, do regime
democrático e dos interesses sociais e individuais indisponíveis (CF/88, art. 127);

CONSIDERANDO, também, ser função institucional do Ministério Público,


dentre outras, zelar pelo efetivo respeito dos Poderes Públicos e dos serviços de relevância
pública aos direitos assegurados na Constituição, promovendo as medidas necessárias a sua
garantia (CF/88, art. 129, II e III);

CONSIDERANDO que, como defensor da ordem jurídica e dos interesses

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sociais, cabe ao Ministério Público atuar em resguardo dos princípios constitucionais da
Administração Pública, previstos no art. 37, caput, da Constituição Federal, dentre os quais, o da
legalidade, da publicidade, da eficiência e, ainda, da probidade administrativa;

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CONSIDERANDO que a Empresa Brasileira de Hemoderivados e Biotecnologia
– HEMOBRÁS é empresa pública federal, vinculada ao Ministério da Saúde, criada pela Lei nº
10.972/2004 sob a forma de sociedade limitada e regida por estatuto aprovado pelo Decreto nº
5.402/2005, com a finalidade de explorar atividade econômica, nos termos do art. 173 da
Constituição Federal;

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CONSIDERANDO que a HEMOBRÁS é uma estatal independente, dotada de
personalidade jurídica de direito privado e que trabalha para reduzir a dependência externa do
Brasil no setor de derivados do sangue e biofármacos, ampliando o acesso da população a
medicamentos essenciais à vida de milhares de pessoas com hemofilia, além de pacientes de
imunodeficiências genéticas, cirrose, câncer, AIDS, queimaduras, entre outras doenças;

CONSIDERANDO que a HEMOBRÁS tem por função social, ainda, garantir aos
pacientes do Sistema Único de Saúde – SUS o fornecimento de medicamentos produzidos por
biotecnologia, e para a realização das finalidades previstas em sua lei de criação (Lei Federal n.
10.972/2004 e, dentre outras atividades, está incumbida de: desenvolver programas de pesquisa e
desenvolvimento e fabricar produtos por biotecnologia na área de hemoterapia (Fator VIII
recombinante – utilizado no tratamento profilático dos brasileiros portadores de hemofilia); e
produzir, em escala industrial, hemoderivados e medicamentos destinados prioritariamente para
tratamento de pacientes do SUS a partir do fracionamento de plasma obtido no Brasil e da
biotecnologia na engenharia genética;

CONSIDERANDO que a HEMOBRÁS se sujeita ao Estatuto das Estatais – Lei


nº 13.303/2016, que veio a regulamentar o art. 173, §1º, I a V, da Constituição Federal de 1988,
bem como, no que couber, sujeita-se às disposições da Lei de Sociedades por Ações – Lei nº

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6.404/76;

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CONSIDERANDO que a Lei º 13.303/2016 dispõe sobre o estatuto jurídico das
empresas públicas, sociedades de economia mista e subsidiárias, no âmbito da União, dos
Estados, do Distrito Federal e dos Municípios e foi uma resposta do legislador pátrio aos
resultados danosos ao patrimônio e interesse público das estatais percebidos em episódios de
corrupção envolvendo a Petrobrás, sendo que, dentre seus objetivos, constam, dentre outros,
conferir governança e alguma autonomia administrativa a fim de possibilitar que as empresas
estatais possam atingir sua finalidade e função social;

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CONSIDERANDO que a Lei de criação da HEMOBRÁS (Lei nº 10.972/2004)
constituiu como órgãos da administração a Diretoria, composta por três integrantes, detentores de
mandato, destituíveis somente por justa causa, bem como o Conselho de Administração,
composto por onze integrantes, igualmente detentores de mandato;

CONSIDERANDO que, à luz da Lei da HEMOBRÁS e do Estatuto das Estatais,


a atribuição de responsabilidades ao dirigente da HEMOBRÁS se dá em prol de interesse público
relevante, nomeadamente, a boa gestão do plasma nacional, matéria prima nobre, cujo monopólio
estatal estabelecido nos termos do art. 199, §4º, da Constituição Federal, se converte
obrigatoriamente na destinação de medicamentos ao SUS para o tratamento da hemofilia;

CONSIDERANDO que os interesses dos mandatários de empresas estatais ou do


próprio ente criador não podem ser entraves à boa gestão, tampouco empecilho para que sejam
atingidas a função social e finalidade que justificaram sua criação pelo Estado brasileiro. Por isso
mesmo, a legislação de regência preserva, como regra, o mandato e gestão de administradores de
empresas estatais, de sorte que seus ocupantes possam desempenhar seu múnus com a devida
autonomia e independência, pondo-os a salvo de ingerências;

CONSIDERANDO que a própria Constituição da República, em seu art. 173, §1º,

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aduz que a lei estabelecerá o estatuto jurídico da empresa pública, da sociedade de economia
mista e de suas subsidiárias que explorem atividade econômica de produção ou comercialização
de bens ou de prestação de serviços, dispondo sobre: (a) sua função social e formas de

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fiscalização pelo Estado e pela sociedade; (b) a sujeição ao regime jurídico próprio das empresas
privadas, inclusive quanto aos direitos e obrigações civis, comerciais, trabalhistas e tributários; (c)
licitação e contratação de obras, serviços, compras e alienações, observados os princípios da
administração pública; (d) a constituição e o funcionamento dos conselhos de administração e
fiscal, com a participação de acionistas minoritários; e (e) os mandatos, a avaliação de
desempenho e a responsabilidade dos administradores;

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CONSIDERANDO que a Lei n.º 10.972/2004 – Lei de criação da Hemobrás – é
assertiva em seus artigos 9º e 12, ao estabelecer que a Diretoria Executiva dispõe de um mandato
de 04 (quatro) anos, em conformidade ao art. 173, §1º, V, da Constituição Federal, sendo que as
hipóteses taxativas de dispensa de qualquer diretor no curso de seu mandato são o
descumprimento de diretrizes do Conselho de Administração ou do Ministério da Saúde; a
insuficiência de desempenho no cargo de diretor; a justa causa para rescisão do contrato de
trabalho pelo empregador na constatação da prática de atos de improbidade, incontinência de
conduta ou mau procedimento, condenação criminal, desídia, dentre outras; e na violação de leis
ou princípios da Administração Pública, quando do exercício da função; in verbis:

Lei n.º 10.972/2004 – Lei de criação da Hemobrás

Art. 9o A HEMOBRÁS será dirigida por uma Diretoria Executiva, composta


de 3 (três) membros.

§1o Os diretores são responsáveis pelos atos praticados em desconformidade


com a lei, com o estatuto da empresa e com as diretrizes institucionais
emanadas do Conselho de Administração.
§2o 2 (dois) membros da Diretoria Executiva serão indicados pela União e 1
(um) pelos sócios minoritários.

§3o Os diretores da HEMOBRÁS serão nomeados pelo Presidente da


República para mandato de 4 (quatro) anos, permitida 1 (uma) única
recondução. (…)

Art. 12. São hipóteses de perda de mandato de diretor ou de membro do

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Conselho de Administração ou do Conselho Fiscal:

I – descumprimento das diretrizes institucionais do Conselho de


Administração ou das metas de desempenho operacional, gerencial e

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financeiro definidas pelo Ministério da Saúde;

II – insuficiência de desempenho; e

III – enquadrar-se em qualquer das hipóteses do art. 482 da Consolidação


das Leis do Trabalho, bem como violar, no exercício de suas funções, as leis
vigentes ou os princípios da administração pública.

Parágrafo único. Portaria do Ministro de Estado da Saúde definirá as regras


para avaliação de desempenho dos diretores.

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CONSIDERANDO que, caso se decida pela dispensa do dirigente da empresa
estatal, é dever do órgão incumbido pela lei para a destituição elencar a necessária justificativa e
motivação do ato. É nesse sentido que a Lei das Estatais, de um modo geral, e a Lei de criação da
HEMOBRÁS, mais especificamente, dispõem de dispositivos que de um lado garantem
autonomia e independência aos seus diretores, como regra a ser seguida pelo Ministério da Saúde,
em sua relação com a administração desta estatal;

CONSIDERANDO que, no caso, a Lei n.º 10.972/2004 que criou a HEMOBRÁS


é o parâmetro a ser seguido em relação às hipóteses taxativas de perda de mandado de qualquer
de seus diretores, nos termos do art. 12, incisos I a III. Ou seja, quis o legislador que a
HEMOBRÁS fosse dotada de estabilidade na composição de sua diretoria, de sorte a salvaguardá-
la de interferências e pressões indevidas de qualquer natureza, inclusive do próprio Ministério da
Saúde, não se afigurando possível, à luz da Lei de criação da estatal, a troca imotivada de
diretores ao arbítrio do Ministério da Saúde;

CONSIDERANDO que, antes do advento do término da gestão da diretoria


exercente do seu múnus, no curso do prazo que lhe fora conferido, não há margem legal para que
qualquer alteração se proceda, senão nas hipóteses de justa causa do art. 12, I a III, da Lei n.º
10.972/2004, já transcritas;

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CONSIDERANDO que, se assim não fosse, haveria o risco da perpetuidade da
prática nefasta vista e vivida ao longo de vários anos no País, de utilização de entidades estatais,
sobretudo as empresas estatais, para o atingimento de fins e interesses não republicanos,

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exaustivamente divorciados do interesse público e da finalidade que justificaram sua criação;

CONSIDERANDO que a Lei das Estatais – Lei n.º 13.303/2016, que em seu art.
18, inciso IV, estabelece como competência do Conselho de Administração, dentre outras, avaliar
os diretores da empresa pública, nos termos do inciso III do art. 13, cujos critérios para avaliação
dos diretores da HEMOBRÁS são os quesitos mínimos de (a) exposição dos atos de gestão

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praticados, quanto à licitude e à eficácia da ação administrativa; (b) contribuição para o resultado
do exercício; e (c) consecução dos objetivos estabelecidos no plano de negócios e atendimento à
estratégia de longo prazo;

CONSIDERANDO que o legislador estabeleceu critérios objetivos de análise de


desempenho dos diretores das empresas estatais, assegurando que a permanência no curso do
prazo de gestão se dê em prol de resultados entregues a favor da Administração Pública e sua
eventual dispensa antecipada seja calcada única e exclusivamente por sólidos critérios objetivos,
tudo isso em observância ao preceito da moralidade administrativa;

CONSIDERANDO que a jurisprudência do Supremo Tribunal Federal, nos


termos do MS n. 34205 MS/DF, assentou que a destituição de diretor de empresa pública somente
pode ocorrer nas hipóteses previstas em Lei, sendo impossível a dispensa imotivada dos
dirigentes:

[…] Observo da leitura dos dispositivos – expressos quanto à existência de


mandato ao Diretor-Presidente pelo período de quatro anos e expresso
também quanto às hipóteses de destituição do cargo (dentre as quais não se
insere a livre decisão da Presidência da República) – que há nítido intuito
legislativo de assegurar autonomia à gestão da Diretoria Executiva da EBC,
inclusive ao seu Diretor-Presidente. Em análise precária, portanto, me
parece que seria esvaziar o cerne normativo dos dispositivos interpretá-los –
tal qual propõe a autoridade impetrada – no sentido da existência de

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mandato apenas na expressão, mas não em seu conteúdo.
Se é certo que a autonomia de gestão é um imperativo às agências
reguladoras, não menos certo é que não lhe é atributo exclusivo. De igual

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modo, se é certo que as empresas públicas, como entidades de direito
privado da Administração Indireta, são em regra constituídas por Diretoria
demissível ad nutum, não menos exato é que a Administração Pública não
possui engessamento normativo que lhe impeça de atribuir, por lei, certas
características típicas de entes de direito público a entes de direito privado,
quando condições particulares assim o justifiquem.
Observo que esta Corte, em diversos precedentes, tem aplicado regramento
próprio de entidades de direito público da Administração Indireta às
entidades privadas (empresas públicas e sociedades de economia mista),
sempre que a natureza da atividade por elas exercida justifique a

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aproximação dos regramentos. […]
No caso dos autos, parece-me que a intenção do legislador foi exatamente a
de garantir certa autonomia ao corpo diretivo da EBC, o que se apresenta,
em meu juízo precário, consentâneo com a posição da Empresa Brasileira de
Comunicação, que tem por finalidade a prestação de serviços de
radiodifusão pública, sob determinados princípios, dos quais destaco
“autonomia em relação ao Governo Federal para definir produção,
programação e distribuição de conteúdo no sistema público de radiodifusão”
(art. 2º, VIII, da Lei nº 11.652/08 e art. 2º, VIII, do Decreto nº 6.689/08).
[…]
Pelo exposto, concedo a liminar requerida, para suspender o ato impugnado,
até decisão final do presente mandado de segurança, garantindo-se ao
Impetrante o exercício do mandato no cargo de Diretor-Presidente da EBC.
[…] (STF. MS 34205/DF, Rel. Min. Dias Toffoli, Data de julgamento:
18/05/2016).

CONSIDERANDO que, no caso da HEMOBRÁS, cabe ao seu Conselho de


Administração a incumbência de eleger e destituir os membros da Diretoria Executiva, fixando-
lhes suas atribuições, nos termos do art. 64, II, do Estatuto da empresa pública, senão vejamos:
“Compete ao Conselho de Administração: eleger e destituir os membros da Diretoria Executiva
da empresa, fixando-lhes as atribuições”;

CONSIDERANDO que a atribuição do Conselho de Administração da


HEMOBRÁS decorre do art. 30, caput, do mesmo Estatuto da HEMOBRÁS, que prevê a
possibilidade da perda de cargo para administradores, unicamente nos casos previstos em lei,
verbis:

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Da Perda do Cargo para Administradores, Conselho Fiscal e Comitê de
Auditoria

Art. 30. Além dos casos previstos em lei, dar-se-á vacância do cargo

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quando:

I – o membro do Conselho de Administração ou Fiscal ou do Comitê de


Auditoria que deixar de comparecer a duas reuniões consecutivas ou três
intercaladas, nas últimas doze reuniões, sem justificativa;

II – o membro da Diretoria Executiva se afastar do exercício do cargo por


mais de 30 dias consecutivos, salvo em caso de licença, inclusive férias, ou
nos casos autorizados pelo Conselho de Administração.

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CONSIDERANDO que, quando se estabelece que a perda do cargo para
administradores se dá nos casos previstos em Lei, afasta-se a ideia de um poder ilimitado do
Conselho de Administração para afastar e destituir diretores, de modo que diretor da Hemobrás,
no curso da gestão, somente poderá ser afastado pelo Conselho de Administração ante a
constatação da ocorrência dos fatos hipotéticos objetivos constantes no rol taxativo de situações
estabelecidas pelo art. 12, I a III, da Lei n.º 10.972/2014, ou do art. 18, IV, da Lei n.º 13.303/2016;

CONSIDERANDO que, na forma da legislação vigente, a destituição de diretores


da HEMOBRÁS pelo Conselho de Administração requer previamente o preenchimento dos
requisitos de (1) motivação da decisão e (2) demonstração de justificativa plausível, coadunada ao
que dispõe a Lei, para então se falar numa substituição calcada em aspectos eminentemente
técnicos, promovida no interesse da empresa pública, e sob o aspecto mediato, em prol do
interesse público. O mesmo ocorre com a destituição de membros do Conselho de Administração
da HEMOBRÁS pelo sócio-controlador, no que se refere à necessidade de (1) motivação da
decisão e (2) demonstração de justificativa plausível, para então se falar numa substituição
calcada em aspectos eminentemente técnicos, promovida no interesse desta empresa pública;

CONSIDERANDO que, no caso trazido à baila, há intenção do Ministério da


Saúde em substituir administradores da HEMOBRÁS, porquanto, no dia 23 de abril de 2019
foram endereçadas ao Comitê de Elegibilidade da empresa pública indicações de três nomes para

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comporem o Conselho de Administração da Hemobrás, e uma para o Conselho Fiscal, sendo que
para tanto seria necessária a destituição de Membros atuais;

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CONSIDERANDO que essa destituição seria competência da Assembleia Geral
Ordinária da Hemobrás, designada para o dia 26 de abril de 2019, às 10h30min, no escritório do
Recife/PE, onde funciona a sede administrativa desta estatal;

CONSIDERANDO que a União, sócia-controladora da HEMOBRÁS, nas

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Assembleias Gerais Ordinárias e Assembleias Gerais Extraordinárias de estatais é representada
por integrante da Procuradoria da Fazenda Nacional, sendo que no evento societário da
HEMOBRÁS a se realizado em 26 de abril de 2019 sua representação ficará a cargo do
Procurador Júlio César Gonçalves Corrêa;

CONSIDERANDO que a Pauta da Assembleia Geral Ordinária de 26 de abril de


2019 compreende tão somente (i) aprovar as contas da administração relativas ao exercício fiscal
de 2018 – demonstrações financeiras e relatório de administração, (ii) aprovar a remuneração
global dos administradores, (iii) fixar a remuneração mensal dos membros do Comitê de
Auditoria, órgão estatutário que entrou em funcionamento do ano de 2019, e (iv) aprovar o
aumento do capital social da Hemobrás em R$ 9,6 milhões;

CONSIDERANDO que exclusivamente sobre tais temas foram emitidos Nota


Técnica da Secretaria de Coordenação e Governança das Empresas Estatais 1 e Parecer2 da
Secretaria do Tesouro Nacional, a cargo da Coordenação Geral de Participações Societárias;

CONSIDERANDO que causa espécie o teor da autorização de voto 3 da PGFN ao

1Nota Técnica SEI nº 26/2019/CGGOV/DEGOV/SEST/SEDD-ME.


2PARECER SEI Nº 27/2019/GESET/COPAR/SUPEF/STN/FAZENDA-ME.
3Processo nº 10951.100199/2019-06.
9
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Procurador Júlio César Gonçalves Corrêa, que em seu item IV o autoriza a votar “pela eleição,
como membros do Conselho de Administração das pessoas que vierem a ser indicadas nos termos
do art. 57, do Estatuto Social da HEMOBRÁS, desde que aprovadas pela Casa Civil da

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Presidência da República e pelo Comitê de Elegibilidade, conforme determina o Decreto nº
8.945, de 2016”, sendo que tal tema fora introduzido de forma indevida na Pauta da Assembleia
Geral Ordinária da HEMOBRÁS;

CONSIDERANDO que a referida autorização de voto concedida pela União ao

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seu representante é ilegal, porquanto a eleição de membros para o Conselho de Administração,
cujos nomes foram encaminhados ao Comitê de Elegibilidade no dia 23 de abril de 2019, requer a
concomitante destituição de membros atuais, inexistindo justificativa plausível ou qualquer
motivação para destituição dos membros dos Conselho de Administração e Fiscal;

CONSIDERANDO que a destituição repentina de 03 (três), dos 11 (onze)


membros do Conselho de Administração da HEMOBRÁS, que foram eleitos em Assembleia
Geral Ordinária de 2018 para um período de 2 (dois) anos, sem que haja a apresentação de
motivação e justificativa, para em seguida eleger 3 (três) novos integrantes indicados, três dias
antes pelo Ministério da Saúde, acarreta abuso de poder de controle, ao tomar decisão que não
tenha por fim o interesse da Hemobrás e com isso tem o condão de causar prejuízo aos que
trabalham na empresa, orientando-a para fim lesivo ao interesse nacional, nos termos do art. 117,
§1º, ‘a’ e ‘c’, da Lei das S.A;

CONSIDERANDO que decisões desta gravidade – destituição de membros da


administração – devem ser medidas pautadas por razões relevantes, quando não excepcionais, sob
pena de se malversar o interesse público relevante que envolve as atividades e finalidades
desempenhadas pela empresa;

CONSIDERANDO que os currículos dos profissionais indicados para os


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Conselhos da HEMOBRÁS e enviados para o Comitê de Elegibilidade (em anexo) evidenciam
que as formações detidas e anteriormente desempenhadas pelos profissionais não guardam
NENHUMA relação, direta ou indireta, com o objeto social da HEMOBRÁS. Enquanto a estatal

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federal se dedica à produção de medicamentos hemoderivados e biotecnológicos, as indicações
feitas pelo Ministério da Saúde são de profissionais provenientes dos setores de comunicação e
tecnologia voltada para a segurança pública, respectivamente;

CONSIDERANDO que, acaso se confirme a hipótese da dispensa imotivada,

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tendo por fundamento tão somente o fato de diretor ter sido eleito no curso de governo sucedido,
restará configurada a ilegalidade do ato, sem prejuízo de eventual responsabilização pessoal do
membro do Conselho de Administração que concorrer para tanto. Nessa toada, a Lei das
Sociedades por Ações – Lei n.º 6.404/76 – em seu art. 158, II, bem como §2º, estabelece que o
administrador – conselheiro ou diretor – responde pelos prejuízos que causar, quando proceder
com violação da lei ou do estatuto, havendo responsabilidade solidária entre aqueles, em virtude
do não cumprimento de deveres impostos por lei para assegurar o funcionamento normal da
companhia;

CONSIDERANDO que, na hipótese da destituição imotivada de diretores e


eleição de profissionais com formação discrepante do objeto social da HEMOBRÁS, o Conselho
de Administração se assim proceder, a um só tempo comete ilegalidade por infração aos arts. 17,
II, 18, IV e 13, III, do Estatuto das Estatais, art. 12, I a III, bem como parágrafo único da Lei de
criação da Hemobrás, e ainda viola o art. 117, §1º, d, da Lei das S.A. Este último estabelece a
responsabilidade pelo fato de se haver a eleição de administrador que sabe inapto tecnicamente
para a função a ser desempenhada.

CONSIDERANDO que a dispensa imotivada e indevida de membros do


Conselho de Administração da HEMOBRÁS viola os princípios constitucionais da
impessoalidade e da moralidade administrativa, configurando, por conseguinte, a prática de ato de

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improbidade administrativa previsto no art. 11 da Lei nº 8.429/92;

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CONSIDERANDO que as sanções decorrentes da prática dos respectivos atos
ímprobos podem implicar na perda da função pública, suspensão dos direitos políticos de 03 (três)
a 05 (cinco) anos, direta ou indiretamente, ainda que por intermédio de pessoa jurídica da qual
seja sócio majoritário, pelo prazo de 03 (três) anos (art. 12, inciso II, da Lei nº 8.429/92);

CONSIDERANDO que, em caso de não acatamento da presente recomendação,

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o Parquet federal informa, desde logo, que atuará no resguardo do interesse público e na defesa
dos valores e princípios constitucionais e legais, procedendo ao ajuizamento das competentes
ações civis públicas de obrigação de fazer e por atos de improbidade administrativa;

CONSIDERANDO que este órgão ministerial expediu, no exercício de 2017, a


Recomendação n. 08/2017, ao Ministério da Saúde a fim de que fosse devidamente justificada
eventual vantajosidade da transferência de tecnologia para processamento de plasma e
hemoderivados para empresas outras que não as já incluídas no processo, a saber: a Shire/Baxter
e a HEMOBRÁS, mediante a elaboração de estudos técnicos, legais e científicos, considerando
que já foi iniciada a construção do parque fabril da HEMOBRÁS em Goiana/PE, situando-se em
estado consideravelmente avançado, e que fosse especificada a destinação e inclusão da fábrica
neste processo;

CONSIDERANDO que, no mesmo instrumento (Recomendação nº 08/2017),


este MPF recomendou ao Ministério da Saúde e ao Ministério da Casa Civil que não fossem
nomeadas para cargos de gestão da HEMOBRÁS pessoas que possuíssem vínculos ou interesses
diretos ou indiretos na transferência da tecnologia mencionada no item 1, notadamente que já
tenham, atuado junto a empresas farmacêuticas;

CONSIDERANDO que há notório histórico de tentativas de esvaziamento das

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atribuições institucionais da HEMOBRÁS por parte da antiga gestão do Ministério da Saúde,
especialmente com a finalidade de redirecioná-las para outras empresas privadas, atendendo-se a
interesses não republicanos;

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CONSIDERANDO que o Ministério Público Federal ajuizou a ação civil pública
de obrigação de fazer n. 0815539-30.2017.4.05.8300, que tramitou na 3ª Vara Federal da Justiça
Federal em Pernambuco, por meio da qual o Poder Judiciário, reconhecendo a função social da
HEMOBRÁS inserta no diploma legal de sua criação (Lei Federal n. 10.972/2004), bem como
considerando as graves violações praticadas pelo ex-Ministro da Saúde Ricardo José Magalhães

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Barros, julgou procedente o pedido contido na exordial para condenar a União à obrigação de
fazer consistente na prorrogação da PDP do Fator VIII Recombinante junto à farmacêutica
Shire/Baxter (Takeda), sentença, inclusive, mantida pelo egrégio TRF da 5ª Região;

CONSIDERANDO que, nos autos da ação civil pública de obrigação de fazer n.


0815539-30.2017.4.05.8300, tendo em conta: (a) a omissão do Ministério da Saúde que, diga-se,
impediu dolosamente o prosseguimento da PDP do Fator VIII Recombinante pela HEMOBRÁS;
(b) o retardamento da aquisição de produtos junto à PDP; (c) as tentativas de aquisição do
fármaco junto a empresas privadas; (e) a desobediência de decisões judiciais e administrativas do
TCU; este MPF pugnou pelo afastamento do ex-Ministro de Estado da Saúde Ricardo José
Magalhães Barros;

CONSIDERANDO que o MPTCU, nos autos do processo TC n. 020.378/2017-3,


em trâmite no Tribunal de Contas da União, na defesa da ordem jurídica e administrativa, bem
como no dever de obstar novos danos econômicos irreparáveis que a permanência do ex-Ministro
Ricardo Barros no cargo pudesse causar, além de prevenir a nefasta consequência que a
continuidade daquelas atitudes pudessem ocasionar à saúde dos portadores de coagulopatias –
requereu, preliminarmente, com fulcro no art. 273 do Regimento Interno/TCU c/c art. 44 da Lei
8.443/92, medida cautelar incidental visando ao afastamento temporário de Ricardo José
Magalhães Barros do cargo de Ministro da Saúde, bem como que lhe fossem aplicadas,
oportunamente, as sanções de multa e de inabilitação para o exercício de cargo em comissão e
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função de confiança;

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CONSIDERANDO o princípio da eficiência da administração pública, a qual não
cabe apenas realizar o serviço, mas fazê-lo de modo a conseguir o melhor resultado possível. E
este melhor resultado, com cumprimento da legislação de regência, não está sendo assegurado
pela União, especialmente em razão das ingerências na HEMOBRÁS;

CONSIDERANDO que o controle social é princípio fundamental para as


atividades de saúde pública no Brasil, nos termos da Lei nº 8.142/90;

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E CONSIDERANDO, por fim, a prerrogativa conferida ao MINISTÉRIO
PÚBLICO para expedir RECOMENDAÇÕES, no exercício da defesa dos valores, interesses e
direitos da coletividade, visando à melhoria dos serviços públicos e de relevância pública, bem
como ao respeito e aos interesses, direitos e bens cuja defesa lhe cabe promover, fixando prazo
para a adoção das providências cabíveis (artigo 6º, inciso XX, da Lei Complementar nº 75/1993),

RESOLVE RECOMENDAR ao Secretário Especial da Fazenda Waldery


Rodrigues Júnior, nos termos do art. 6º, inciso XX, da Lei Complementar nº 75/93, que,
imediatamente:

1) revogue a autorização de voto conferida ao representante legal e


Procurador da Fazenda Nacional Júlio César Gonçalves Corrêa para fins de eleição de
novos membros dos Conselhos de Administração e Fiscal da HEMOBRÁS e da Diretoria da
estatal antes do término do mandato destes e sem qualquer fundamento legal;

2) se abstenha de praticar quaisquer atos com vistas a eleger ou indicar novos


membros para o Conselho de Administração, Conselho Fiscal e Diretoria da HEMOBRÁS
antes do término do mandato dos membros atualmente exercentes de cargo, porquanto
eventual indicação ou eleição, sem a destituição dos exercentes com fundamento no art. 12,
incisos I a III, da Lei de criação da HEMOBRÁS (Lei n. 10.972/2004) ou do art. 18, IV, da

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Lei n.º 13.303/2016, evidenciam abuso de poder de controle, violação à legislação vigente e a
prática de atos de improbidade administrativa.

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O MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL adverte que a presente Recomendação
dá ciência e constitui em mora o destinatário quanto às providências solicitadas, podendo a
omissão na adoção das medidas recomendadas implicar o manejo de todas as medidas
administrativas e ações judiciais cabíveis contra os que se mantiverem inertes.

Nesse passo, com fundamento no art. 8º, II, da Lei Complementar nº 75/93,
REQUISITA-SE, desde logo, que o Ministério da Saúde informe, em até 24 (vinte e quatro)

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horas, se acatará ou não esta recomendação, apresentando, em qualquer hipótese de negativa, os
respectivos fundamentos. Em caso de acatamento desta recomendação, deverá o Ministério da
Saúde, no mesmo prazo, informar quais medidas serão adotadas para solucionar as
irregularidades.

Por fim, em caso de não acatamento da presente recomendação, o Parquet federal


informa, desde logo, que atuará no resguardo do interesse público e na defesa dos valores e
princípios constitucionais e legais: encaminhando, aos órgãos competentes, representação pela
prática de crime de responsabilidade; e procedendo ao ajuizamento das competentes ações civis
públicas de obrigação de fazer e por atos de improbidade administrativa.

Recife/PE, data de assinatura eletrônica.

ASSINADO ELETRONICAMENTE
SILVIA REGINA PONTES LOPES
Procuradora da República

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