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Aula 8

Dielétrico e Capacitores

Dielétrico (ou material isolante): Nesse tipo de material não há carga livre que possa ser
transportada em seu interior para produzir corrente elétrica.

• Um campo elétrico aplicado tem o efeito de deslocar cargas ligeiramente levando à


formação de um conjunto de dipolos elétricos;
• O princípio do deslocamento das cargas constitui-se em um mecanismo de
armazenamento de energia que se tona útil na construção de capacitores.

Todo material dielétrico possui uma permissividade elétrica absoluta, 𝜖, dada por

𝜖 = 𝜖0 𝜖𝑟
Sendo,

𝜖𝑟 : a permissividade relativa

𝜖0 : a permissividade elétrica do vácuo cujo valor é

𝜖0 = 8,854. 10−12 𝐹/𝑚

A Figura 1 (a), (b) e (c) mostra o processo de polarização dos dielétricos.

Figura 1: (a) Não polarizado. (b) Ação do campo elétrico. (c) Dielétrico polarizado.

Capacitor

Um capacitor é um dispositivo que armazena energia em seu campo elétrico. Essa


energia armazenada pode ser associada a uma carga acumulada quando os terminais do
capacitor são submetidos a uma diferença de potencial.

A Figura 1 mostra três tipos de capacitores: (a) capacitor eletrolítico, (b) capacitor cerâmico e
(c) capacitor de poliester
Figura 1: (a) capacitor eletrolítico; (b) capacitor cerâmico; (c) capacitor de poliéster

Em resumo:

• Capacitor eletrolítico: Usado em circuitos de corrente contínua, o capacitor


eletrolítico é polarizado, ou seja, há um terminal específico para o positivo e outro
para o negativo dentro do circuito. Nesse tipo de capacitor, as informações mais
importantes estão impressas na capa plástica que envolve o dispositivo. Valores usuais
variam entre 1uF e 4700uF;
• Capacitor cerâmico: possui baixa capacitância, da ordem de nF e são usados em
circuitos de alta frequência;
• Capacitor de poliéster: O capacitor de poliéster é formado por várias camadas de
poliéster e alumínio, o que o torna bastante compacto. Este capacitor tem uma
capacidade de autorregeneração, no caso de dano entre as camadas (por pulsos de
tensão acima do especificado, por exemplo), o material metálico que está sobre a
folha de poliéster evapora, por ser muito fino, evitando um curto circuito. Esse
capacitor possui capacitâncias da ordem de 1nF até 10uF.
A todo capacitor está associada sua capacitância. A capacitância mede a
capacidade de armazenamento de energia nos terminais do capacitor, definido em
maiores detalhes a seguir.

Definição de capacitância

Considere dois condutores imersos em um dielétrico (Figura 2). O condutor M2


está carregado com uma carga positiva total Q, e M1 está carregado com uma carga
igual negativa.

Figura 2: Dois condutores com cargas opostas M1 e M2 imersos em um dielétrico.


A capacitância dessa estrutura é a razão entre o valor absoluto da carga total
em um dos condutores e o valor absoluto da diferença de potencial entre os
condutores,

𝑄
𝐶=
𝑉
Unidade: faraday, F

Cálculo da capacitância

Para o cálculo da capacitância de alguns capacitores vamos utilizar:

✓ A lei de Gauss: 𝑄 = ∭𝑠 𝜖𝐸⃗ . 𝑑𝑠

✓ O potencial: 𝑣 = − ∫ 𝐸⃗ 𝑑𝐿⃗

𝑄
✓ A relação: 𝐶 = 𝑉

Vamos determinar a capacitância de alguns capacitores simples.

1. Capacitor de placas planas paralelas.

A Figura 3 mostra um capacitor de placas planas paralelas. As placas possuem área A,


distância de separação d e um dielétrico entre elas.

Figura 3: Capacitor de placas planas paralelas.

Vamos considerar que as dimensões da placa são muito maiores do que d. O campo
elétrico e a distribuição de cargas são então quase uniformes em todos os pontos não
adjacentes às bordas.
Se envolvermos a placa superior por uma superfície gaussiana temos

𝑄 = ∮ 𝑫. 𝑑𝒔 = ∮ 𝜖0 𝑬. 𝑑𝒔

𝑄 = 𝜖0 𝐸. 𝐴
O potencial num ponto qualquer é dado por
𝑓
⃗ d𝐋
v = −∫ 𝐄
𝑖
0
v = − ∫ 𝑬. 𝑑𝑳
d
𝑑
v = ∫ 𝐸. 𝑑𝐿
0
v = E. d

Substituindo na expressão do capacitor temos

𝑄 𝜖0 𝐸. 𝐴
𝐶= =
𝑉 E. d

𝜖0 . 𝐴
𝐶=
d

A expressão mostra que a capacitância depende apenas da geometria da placa


e da característica do meio (dielétrico).

2. Capacitor cilíndrico (cabo coaxial)

A Figura 4 mostra um capacitor cilíndrico. O comprimento L é muito maior que b.

Figura 4: Capacitor cilíndrico.


Fonte: https://sites.ifi.unicamp.br/f328/files/2014/09/Aula-05-F328-1S-2014.pdf

A carga elétrica no interior da superfície gaussiana é dada por

𝑄 = ∮ 𝑫. 𝑑𝒔 = ∮ 𝜖0 𝑬. 𝑑𝒔

A integração de dS resulta na área do cilindro dada por

𝐴 = 2𝜋𝑟𝐿
Daí

𝑄 = 𝜖0 𝐸2𝜋𝑟𝐿
De onde tiramos o campo elétrico,
𝑄
𝐸 =
2𝜋𝜖0 𝑟𝐿

O potencial é dado por


𝑓
⃗ d𝐋
v = −∫ 𝐄
𝑖

𝑓
𝑄
𝑉 = −∫ 𝑑𝑟
𝑖 2𝜋𝜖0 𝑟𝐿

𝑎
𝑄 1
𝑉 =− ∫ 𝑑𝑟
2𝜋𝜖0 𝐿 𝑏 𝑟
𝑄
𝑉 = − [𝑙𝑛(𝑎) − 𝑙𝑛(𝑏)]
2𝜋𝜖0 𝐿

𝑄
𝑉 = [− 𝑙𝑛(𝑎) + 𝑙𝑛(𝑏)]
2𝜋𝜖0 𝐿

𝑄
𝑉 = 𝑙𝑛(𝑏/𝑎)
2𝜋𝜖0 𝐿

Pela definição de capacitância

𝑄
𝐶=
𝑉

Rearranjando a expressão de V temos

2𝜋𝜖0 𝐿
𝐶 =
𝑙𝑛(𝑏/𝑎)

Novamente, a capacitância depende das características geométricas e da característica


do dielétrico.

3. Capacitor esférico

A Figura 5 mostra um capacitor esférico formado por duas cascas condutoras


concêntricas de raios a e b, b>a. A expressão para o campo elétrico foi obtida anteriormente
pela lei de Gauss.
𝑄
𝐸𝑟 =
4𝜋𝜖𝑟 2
Figura 5: Capacitor esférico

Fonte: Fonte: https://sites.ifi.unicamp.br/f328/files/2014/09/Aula-05-F328-1S-2014.pdf

O potencial numa esfera de raio r entre a e b é dado por


𝑎
⃗ d𝐋
v = −∫ 𝐄
𝑏
𝑎
𝑄
v = −∫ d𝐋
𝑏 4𝜋𝜖𝑟 2

𝑏
𝑄
v = ∫ d𝐋
𝑎 4𝜋𝜖𝑟 2

𝑄 𝑏1
𝑉 = ∫ 𝑑𝐿
4𝜋𝜖 𝑎 𝑟 2

𝑄 𝑏−𝑎
𝑉 = ( )
4𝜋𝜖 𝑎𝑏

Rearranjando os termos da equação anterior encontramos a capacitância,


4𝜋𝜖𝑎𝑏
𝐶 =
𝑏−𝑎
Novamente, a capacitância depende das características geométricas e da característica
do dielétrico.

Se o raio da esfera externa for infinitamente grande, obteremos a capacitância de um


condutor esférico isolado. Para verificar isso, vamos dividir o numerador e denominador por b
4𝜋𝜖𝑎𝑏/𝑏
𝐶 =
𝑏/𝑏 − 𝑎/𝑏
No limite,

𝐶 = 4𝜋𝜖𝑎
Associação de capacitores

a. Capacitores em paralelo

Considere n capacitores em paralelo alimentado por uma tensão V, conforme indicado


na Figura 6.

Figura 6: n capacitores em paralelo.

Queremos encontrar uma capacitância equivalente Ceqv de modo que possamos escrever

𝑄𝑇 = 𝐶𝑒𝑞𝑣 𝑉

Sendo QT a soma das cargas dos capacitores.

A carga de cada capacitor é vale

𝑄1 = 𝐶1 𝑉
𝑄2 = 𝐶2 𝑉
𝑄3 = 𝐶3 𝑉

𝑄𝑛 = 𝐶𝑛 𝑉

Daí,

𝑄𝑇 = 𝑄1 + 𝑄2 + 𝑄3 +...+Qn

𝑄𝑇 = 𝐶1 𝑉 + 𝐶2 𝑉 + 𝐶3 𝑉 +...+ 𝐶𝑛 𝑉

𝑄𝑇 = (𝐶1 + 𝐶2 + 𝐶3 +. . . +𝐶𝑛 )𝑉
Comparando as equações

𝑄𝑇 = 𝐶𝑒𝑞𝑣 𝑉

𝑄𝑇 = (𝐶1 + 𝐶2 + 𝐶3 +. . . +𝐶𝑛 )𝑉
Temos que

𝐶𝑒𝑞𝑣 = (𝐶1 + 𝐶2 + 𝐶3 + . . . +𝐶𝑛 )

A capacitância de n capacitores em paralelo é a soma deles.


b. Capacitores em série

Considere n capacitores em série alimentado por uma tensão V, conforme indicado na


Figura 7.

Figura 7: Capacitores em série.

Queremos encontrar uma capacitância equivalente Ceqv de modo que possamos escrever

𝑄𝑇 = 𝐶𝑒𝑞𝑣 𝑉

Devido a tensão V, todos os capacitores estão carregados com a mesma carga Q e com
diferentes tensões. Então temos,

𝑄 = 𝐶1 𝑉1
𝑄 = 𝐶2 𝑉2
𝑄 = 𝐶3 𝑉3

𝑄 = 𝐶𝑛 𝑉𝑛
Pela LKT,

𝑉 = 𝑉1 + 𝑉2 + 𝑉3 +. . . +𝑉𝑛
Onde V1, V2, V3,...,Vn é a tensão sobre cada capacitor.
𝑄 𝑄 𝑄 𝑄
𝑉 = + + +. . . +
𝐶1 𝐶2 𝐶3 𝐶𝑛
1 1 1 1
𝑽 = 𝑸( + + +. . . + )
𝐶1 𝐶2 𝐶3 𝐶𝑛

Mas

𝑄 = 𝐶𝑒𝑞𝑣 𝑉
1. 𝑸
𝑽 =
𝐶𝑒𝑞𝑣
Comparando as equações notamos que
1 1 1 1 1
= + + +. . . +
𝐶𝑒𝑞𝑣 𝐶1 𝐶2 𝐶3 𝐶𝑛

Para o caso de 2 capacitores em série


𝐶1 𝐶2
𝐶𝑒𝑞𝑣 =
𝐶1 + 𝐶2
Observem que a regra da associação dos capacitores é o inverso da regra de
associação dos resistores.

Energia armazenada no capacitor

Vamos considerar um infinitesimal de carga positiva dQ se deslocando por uma


distância d dentro de um campo elétrico. O trabalho da força elétrica ao movimentar o
infinitesimal de carga é dado por

𝑑𝑤 = dFel . 𝑑
Mas 𝑑𝑭el = 𝑬. 𝑑𝑄

𝑑𝑤 = 𝐸. 𝑑𝑄. 𝑑
O potencial elétrico vale V = E. d. Então,

𝑑𝑤 = 𝑉𝑑𝑄
Mas,
𝑄
𝑄 = 𝐶. 𝑉 ⟹ 𝑉 =
𝐶
Substituindo em dw temos,
𝑄
𝑑𝑤 = 𝑑𝑄
𝐶
integrando

1 𝑄2
𝑤 =
2 𝐶
substituindo Q temos,

1 (𝐶𝑉)2
𝑤 =
2 𝐶
1 2
𝑤 = 𝐶𝑉
2

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