Você está na página 1de 9

Aula 5

Conceito de Divergente

Considere a superfície fechada da Figura 1 com n superfícies


distribuídas ao longo dessa superfície.

Figura 01: Superfície gaussiana

∮ 𝑫. 𝑑𝒔 = ∮ 𝑫. 𝑑𝒔𝟏 + ∮ 𝑫. 𝑑𝒔𝟐 + . . . + ∮ 𝑫. 𝑑𝒔𝒏


𝑠 𝑠1 𝑠2 𝑠𝑛

∮𝑆 𝑫. 𝑑𝑺
lim = 𝑑𝑖𝑣 𝑫 = 𝜌𝑣
∆𝑣→0 ∆𝑣
Sendo,
div D: o divergente de D
𝜌𝑣 : a densidade volumétrica de cargas

A lei de Gauss pode ser escrita na forma

∮ 𝑫. 𝑑𝒔 = 𝑄 = ∮ 𝜌𝑣 . 𝑑𝑣 = ∮ 𝑑𝑖𝑣 𝑫. 𝑑𝑣
𝑠 𝑣 𝑣

Cálculo do divergente para o sistema de coordenadas cartesianas

Considere um ponto P qualquer, mostrado na Figura 2, posicionado em


um sistema de coordenadas cartesianas. O valore de D no ponto P pode ser
expresso em componentes cartesianos como 𝑫0 = 𝐷𝑥0 𝒂𝑥0 + 𝐷𝑦0 𝒂𝑦0 + 𝐷𝑧0 𝒂𝑧0 .
Figura 02: A superfície gaussiana de tamanho diferencial em volta do ponto P é utilizada para investigar a taxa de
variação de D na vizinhança de P.

Escolhemos nossa superfície fechada um pequeno cubo centrado em P


que tem os lados ∆𝑥, ∆𝑦 𝑒 ∆𝑧 , aplicamos a lei de Gauss.

∮ 𝑫. 𝑑𝒔 = 𝑄
𝑠

Devemos calcular a integral nas 6 superfícies do cubo.

∮ 𝑫. 𝑑𝒔 = ∫ ∫ ∫ ∫ ∫ ∫
𝑠 𝑓𝑟𝑒𝑛𝑡𝑒 𝑎𝑡𝑟á𝑠 𝑒𝑠𝑞𝑢𝑒𝑟𝑑𝑎 𝑑𝑖𝑟𝑒𝑖𝑡𝑎 𝑡𝑜𝑝𝑜 𝑏𝑎𝑠𝑒

Vamos calcular a integral na “frente” do cubo.

∫ = 𝑫𝑓𝑟𝑒𝑛𝑡𝑒 . ∆𝒔𝑓𝑟𝑒𝑛𝑡𝑒 = 𝐷𝑓𝑟𝑒𝑛𝑡𝑒 . ∆𝑦∆𝑧𝒂𝑥


𝑓𝑟𝑒𝑛𝑡𝑒

∫ = 𝐷𝑥,𝑓𝑟𝑒𝑛𝑡𝑒 . ∆𝑦∆𝑧
𝑓𝑟𝑒𝑛𝑡𝑒

A superfície fechada é suficientemente pequena para que D seja quase


constante dentro da superfície. Uma pequena mudança em D pode ser
adequadamente representada por uma expansão de D em série de Taylor
utilizando apenas os dois primeiros termos.
Série de Taylor:

A representação de Dx,frente na forma de expansão em série de Taylor resulta

∆𝑥 𝜕𝐷𝑥
𝐷𝑥,𝑓𝑟𝑒𝑛𝑡𝑒 = 𝐷𝑥0 +
2 𝜕𝑥

Observe que a face da frente está a uma distância de ∆𝑥/2 do ponto P


Substituindo na integral da frente resulta

∆𝑥 𝜕𝐷𝑥
∫ = (𝐷𝑥0 + ). ∆𝑦∆𝑧
𝑓𝑟𝑒𝑛𝑡𝑒 2 𝜕𝑥

Integrando na parte de trás temos

∫ = 𝐷𝑎𝑡𝑟á𝑠 . ∆𝑠𝑎𝑡𝑟á𝑠 = 𝐷𝑎𝑡𝑟á𝑠 . (−∆𝑦∆𝑧)𝑎𝑥


𝑎𝑡𝑟á𝑠

∫ = − 𝐷𝑥,𝑎𝑡𝑟á𝑠 . ∆𝑦∆𝑧
𝑎𝑡𝑟á𝑠

A representação de Dx,atrás na forma de expansão em série de Taylor resulta

∆𝑥 𝜕𝐷𝑥
𝐷𝑥,𝑎𝑡𝑟á𝑠 = 𝐷𝑥0 −
2 𝜕𝑥
Substituindo na integral da parte de trás resulta

∆𝑥 𝜕𝐷𝑥
∫ = (− 𝐷𝑥0 + ). ∆𝑦∆𝑧
𝑎𝑡𝑟á𝑠 2 𝜕𝑥

Se somarmos essas duas integrais temos


𝜕𝐷𝑥
∫ +∫ = Δ𝑥Δ𝑦Δ𝑧
𝑓𝑟𝑒𝑛𝑡𝑒 𝑎𝑡𝑟á𝑠 𝜕𝑥

Realizando o mesmo procedimento nas outras faces temos

𝜕𝐷𝑦
∫ +∫ = Δ𝑥Δ𝑦Δ𝑧
𝑑𝑖𝑟𝑒𝑖𝑡𝑎 𝑒𝑠𝑞𝑢𝑒𝑟𝑑𝑎 𝜕𝑦

𝜕𝐷𝑧
∫ +∫ = Δ𝑥Δ𝑦Δ𝑧
𝑡𝑜𝑝𝑜 𝑏𝑎𝑠𝑒 𝜕𝑧

Reunindo os 3 resultados temos

𝜕𝐷𝑥 𝜕𝐷𝑦 𝜕𝐷𝑧


∮ 𝑫. 𝑑𝒔 = ( + + ) Δ𝑥Δ𝑦Δ𝑧
𝑠 𝜕𝑥 𝜕𝑦 𝜕𝑧

𝜕𝐷𝑥 𝜕𝐷𝑦 𝜕𝐷𝑧


∮ 𝑫. 𝑑𝒔 = 𝑄 = ( + + ) ΔV
𝑠 𝜕𝑥 𝜕𝑦 𝜕𝑧

Divergência

Reagrupando a equação acima temos

𝜕𝐷𝑥 𝜕𝐷𝑦 𝜕𝐷𝑧 𝑄 ∮ 𝑫𝑑𝑺


( + + )= = 𝑠
𝜕𝑥 𝜕𝑦 𝜕𝑧 ΔV ΔV

Ou no limite

𝜕𝐷𝑥 𝜕𝐷𝑦 𝜕𝐷𝑧 ∮ 𝑫𝑑𝒔 𝑄


( + + ) = lim 𝑠 = lim
𝜕𝑥 𝜕𝑦 𝜕𝑧 ΔV→0 ΔV ΔV→0 ΔV

O último termo é a densidade volumétrica de cargas, 𝜌𝑉 . Daí,


𝜕𝐷𝑥 𝜕𝐷𝑦 𝜕𝐷𝑧 ∮ 𝑫𝑑𝒔
( + + ) = lim 𝑠 = 𝜌𝑉
𝜕𝑥 𝜕𝑦 𝜕𝑧 ΔV→0 ΔV

A equação acima recebeu o nome de divergência e pode ser aplicada a


qualquer grandeza vetorial.

Def: A divergência do vetor densidade de Fluxo D é o fluxo que deixa uma


pequena superfície fechada, por unidade de volume, quando o volume tende a
zero.

• Divergência em coordenadas cartesianas:

𝜕𝐷𝑥 𝜕𝐷𝑦 𝜕𝐷𝑧


𝑑𝑖𝑣 𝑫 = ( + + )
𝜕𝑥 𝜕𝑦 𝜕𝑧

• Divergência em coordenadas cilíndricas:

1 𝜕 1 𝜕𝐷𝜑 𝜕𝐷𝑧
𝑑𝑖𝑣 𝑫 = (𝜌𝐷𝜌 ) + +
𝜌 𝜕𝜌 𝜌 𝜕𝜑 𝜕𝑧

• Divergência em coordenadas esféricas:

1 𝜕 2 1 𝜕(𝑠𝑒𝑛 𝜃 𝐷𝜃 ) 𝜕𝐷𝜑
𝑑𝑖𝑣 𝑫 = 2
(𝑟 𝐷𝑟 ) + +
𝑟 𝜕𝑟 𝑟 𝑠𝑒𝑛𝜃 𝜕𝜃 𝑟 𝑠𝑒𝑛 𝜃 𝜕𝜑

Importante observar que a divergência é uma operação realizada em um


vetor que resulta em um escalar.

Exemplo: Calcule div D na origem se 𝑫 = 𝑒 −𝑥 𝑠𝑒𝑛 𝑦 𝑎𝑥 − 𝑒 −𝑥 𝑐𝑜𝑠 𝑦 𝑎𝑦 +


2𝑧 𝑎𝑧 .
Sol:
𝜕𝑫𝑥 𝜕𝑫𝑦 𝜕𝑫𝑧
𝑑𝑖𝑣 𝑫 = ( + + ) = − 𝑒 −𝑥 𝑠𝑒𝑛 𝑦 + 𝑒 −𝑥 𝑠𝑒𝑛 𝑦 + 2
𝜕𝑥 𝜕𝑦 𝜕𝑧
𝑑𝑖𝑣 𝑫 = 2 𝐶/𝑚3
o resultado é constante e independe da posição.

Primeira Equação de Maxwell

Das expressões estudadas anteriormente temos

∮𝑠 𝑫𝑑𝒔
𝑑𝑖𝑣 𝑫 = lim
ΔV→0 ΔV

𝜕𝑫𝑥 𝜕𝑫𝑦 𝜕𝑫𝑧


𝑑𝑖𝑣 𝑫 = ( + + )
𝜕𝑥 𝜕𝑦 𝜕𝑧

𝑑𝑖𝑣 𝑫 = 𝜌𝒗
A primeira equação é a definição da divergência, a segunda é o
resultado da aplicação da definição a um elemento diferencial de volume em
coordenadas cartesianas A última equação é a primeira das quatro equações
de Maxwell aplicadas à eletrostática.

O operador vetorial Nabla e o teorema da divergência

O operador Nabla 𝛻 é um operador vetorial dado por


𝜕 𝜕 𝜕
𝜵 = 𝒂𝑥 + 𝒂𝑦 + 𝒂
𝜕𝑥 𝜕𝑦 𝜕𝑧 𝑧

Se fizermos o produto escalar desse operador com D temos

𝜕 𝜕 𝜕
𝛻. 𝑫 = ( 𝒂𝑥 + 𝒂𝑦 + 𝒂 ). (𝑫𝑥 𝒂𝑥 + 𝑫𝑦 𝒂𝑦 + 𝑫𝑧 𝒂𝑧 )
𝜕𝑥 𝜕𝑦 𝜕𝑧 𝑧

𝜕𝑫𝑥 𝜕𝑫𝑦 𝜕𝑫𝑧


𝛻. 𝑫 = + +
𝜕𝑥 𝜕𝑦 𝜕𝑧
Que é o divergente de D. Então,

𝜕𝑫𝑥 𝜕𝑫𝑦 𝜕𝑫𝑧


𝑑𝑖𝑣 𝑫 = 𝛻. 𝑫 = + +
𝜕𝑥 𝜕𝑦 𝜕𝑧

Observe que o produto escalar entre o operador vetorial nabla e o vetor


densidade fluxo elétrico D resultou num escalar, de acordo com o resultado da
definição de produto escalar.
Vamos retomar a lei de Gauss

∮ 𝑫. 𝑑𝒔 = 𝑄
𝑠

E fazendo

𝑄 = ∫ 𝜌𝑉 𝑑𝑣
𝑣𝑜𝑙

E substituindo 𝜌𝑉 𝑝𝑒𝑙𝑎 𝑖𝑔𝑢𝑎𝑙𝑑𝑎𝑑𝑒


𝛻. 𝑫 = 𝜌𝑉
Temos

∮ 𝑫. 𝑑𝒔 = ∫ 𝛻. 𝑫𝒅𝒗
𝑠

Essa expressão é conhecida como teorema da divergência.

Exemplo: Calcule a carga no interior de um paralelepípedo definido por

0≤𝑥≤2
0≤𝑦≤1
0≤𝑧≤1
Utilizando o teorema da divergência sabendo que 𝑫 = 10𝑥 2 𝑦 𝒂𝑥 .
Sol:
∮ 𝑫. 𝑑𝒔 = ∫ 𝛻. 𝑫𝒅𝒗
𝑠

Diferencial de área: ds = dxdy az +dydz ax + dz.dx ay


Como D só possui direção ax, utilizamos apenas essa direção em ds.
O diferencial de volume é dado por dv = dxdydz
O divergente de D é
𝜕𝑫𝑥 𝜕10𝑥 2 𝑦
𝛻. 𝑫 = =
𝜕𝑥 𝜕𝑥
𝛻. 𝑫 = 𝟐𝟎𝒙𝒚

Montando a integral com essas informações temos

1 1 2 1 1
2
∫ ∫ (10𝑥 𝑦 𝒂𝑥 )(dydz 𝐚x ) = ∫ ∫ ∫ 𝟐𝟎𝒙𝒚 𝑑𝑥𝑑𝑦𝑑𝑧
0 0 0 0 0

Lado esquerdo:
1 1
2
𝑦2 2
∫ ∫ (10𝑥 𝑦 𝒂𝑥 )(dydz 𝐚x ) = 10. 𝑥 . .𝑧
0 0 2
Na integral, x é constante e vale 2 no plano yz, que aponta para ax.
12 − 02
2
𝑄 = 10. 2 . ( )(1 − 0)
2

𝑄 = 20𝐶
Lado direito:

2 1 1
𝑥2 𝑦2
𝑄 = ∫ ∫ ∫ 20𝑥𝑦 𝑑𝑥𝑑𝑦𝑑𝑧 = 20 . .𝑧
0 0 0 2 2

(22 − 02 ) (12 − 02 )
𝑄 = 20 . . (1 − 0)
2 2
𝑄 = 20𝐶
Exercícios proposto: Dado 𝑫 = 10 𝑥 2 𝑎𝑥, C/m2 , determine a carga contida num
cubo definido por

0≤𝑥≤2
0≤𝑦≤2
0≤𝑧≤2

R: 160C

Você também pode gostar