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Editora CRV - versão para revisão do autor - Proibida a impressão

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CINZA
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Editora CRV - versão para revisão do autor - Proibida a impressão
Claudia Cleomar Ximenes
Danúbia Zanotelli Soares
Paulo César Barros Pereira
Maria Liziane Souza Silva
Willimis Alves Pereira
(Organizadores)

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são
CONQUISTA DO ESPAÇO NA
AMAZÔNIA: apropriações da
i

natureza e representações sociais


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Editora CRV
Curitiba – Brasil
2019
Copyright © da Editora CRV Ltda.
Editor-chefe: Railson Moura
Diagramação e Capa: Editora CRV
Revisão: Os Autores

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DADOS INTERNACIONAIS DE CATALOGAÇÃO NA PUBLICAÇÃO (CIP)

uto
CATALOGAÇÃO NA FONTE

C743

R
Conquista do espaço na Amazônia: apropriações da natureza e representações sociais /

a
Claudia Cleomar Ximenes, Danúbia Zanotelli Soares, Paulo César Barros Pereira, Maria Liziane
Souza Silva, Willimis Alves Pereira (organizadores) – Curitiba : CRV, 2019.
244 p.

do
Bibliografia
aC
ISBN 978-85-444-3175-7
DOI 10.24824/978854443175.7

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são
1. Geografia 2. Geografia do Brasil 3. Geo-história 4. Apropriações da natureza I. Ximenes,
Claudia Cleomar. org. II. Soares, Danúbia Zanotelli. org. III. Pereira, Paulo César Barros. org.
IV. Silva, Maria Liziane Souza. org. V. Pereira, Willimis Alves. org. VI. Título VII. Série.
i
CDU 908(811.3) CDD 918.3
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Índice para catálogo sistemático


1. Geografia: Amazônia 918.3
or
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CONHEÇA E BAIXE NOSSO APLICATIVO!
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E

2019
Foi feito o depósito legal conf. Lei 10.994 de 14/12/2004
Proibida a reprodução parcial ou total desta obra sem autorização da Editora CRV
Todos os direitos desta edição reservados pela: Editora CRV
Tel.: (41) 3039-6418 - E-mail: sac@editoracrv.com.br
Conheça os nossos lançamentos: www.editoracrv.com.br
Conselho Editorial: Comitê Científico:
Aldira Guimarães Duarte Domínguez (UNB) Adriane Piovezan (Faculdades Integradas Espírita)
Andréia da Silva Quintanilha Sousa (UNIR/UFRN) Alexandre Pierezan (UFMS)
Antônio Pereira Gaio Júnior (UFRRJ) Andre Eduardo Ribeiro da Silva (IFSP)
Carlos Alberto Vilar Estêvão (UMINHO/PT) Antonio Jose Teixeira Guerra (UFRJ)
Carlos Federico Dominguez Avila (Unieuro) Antonio Nivaldo Hespanhol (UNESP)
Carmen Tereza Velanga (UNIR) Carlos de Castro Neves Neto (UNESP)

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V
Celso Conti (UFSCar) Edilson Soares de Souza (FABAPAR)
Cesar Gerónimo Tello (Univer. Nacional Eduardo Pimentel Menezes (UERJ)

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Três de Febrero/Argentina) Euripedes Falcao Vieira (IHGRRGS)
Eduardo Fernandes Barbosa (UFMG) Fabio Eduardo Cressoni (UNILAB)
Elione Maria Nogueira Diogenes (UFAL) Gilmara Yoshihara Franco (UNIR)
Élsio José Corá (UFFS) Jussara Fraga Portugal (UNEB)
R
a
Elizeu Clementino (UNEB) Karla Rosário Brumes (UNICENTRO)
Fernando Antônio Gonçalves Alcoforado (IPB) Luciana Rosar Fornazari Klanovicz (UNICENTRO)
Francisco Carlos Duarte (PUC/PR) Luiz Guilherme de Oliveira (UnB)

do
Gloria Fariñas León (Universidade
de La Havana/Cuba)
Marcel Mendes (Mackenzie)
Marcio Jose Ornat (UEPG)
aC
Guillermo Arias Beatón (Universidade Marcio Luiz Carreri (UENP)
de La Havana/Cuba) Maurilio Rompatto (UNESPAR)
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são
Jailson Alves dos Santos (UFRJ) Mauro Henrique de Barros Amoroso (FEBF/UERJ)
João Adalberto Campato Junior (UNESP) Michel Kobelinski (UNESPAR)
Josania Portela (UFPI) Rosangela Aparecida de Medeiros Hespanhol (UNESP)
Leonel Severo Rocha (UNISINOS) Sergio Murilo Santos de Araújo (UFCG)
Lídia de Oliveira Xavier (UNIEURO) Simone Rocha (UnC)
i

Lourdes Helena da Silva (UFV)


rev

Maria de Lourdes Pinto de Almeida (UNOESC)


Maria Lília Imbiriba Sousa Colares (UFOPA)
or

Maria Cristina dos Santos Bezerra (UFSCar)


Paulo Romualdo Hernandes (UNIFAL/MG)
Rodrigo Pratte-Santos (UFES)
ara

Sérgio Nunes de Jesus (IFRO)


Simone Rodrigues Pinto (UNB)
Solange Helena Ximenes-Rocha (UFOPA)
ver dit

Sydione Santos (UEPG)


Tadeu Oliver Gonçalves (UFPA)
op

Tania Suely Azevedo Brasileiro (UFOPA)


E

Este livro foi avaliado e aprovado por pareceristas ad hoc.


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SUMÁRIO

APRESENTAÇÃO
CONVITE PARA AS VEREDAS DA
CONQUISTA DO ESPAÇO NA AMAZÔNIA......................................................11
Claudia Cleomar Ximenes

r
V
Danúbia Zanotelli Soares
Paulo César Barros Pereira

uto
Maria Liziane Souza Silva
Willimis Alves Pereira

PREFÁCIO
R
a
A AMAZÔNIA BRASILEIRA ............................................................................13
Maria de Jesus Morais

CAPÍTULO I do
aC
OCUPAÇÃO E DESENVOLVIMENTO TERRITORIAL NA
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PAN-AMAZÔNICA: assentamentos rurais no estado de Rondônia.................15


são
Danúbia Zanotelli Soares

CAPÍTULO II
FORMAÇÃO DE ASSENTAMENTOS RURAIS NA AMAZÔNIA:
i

análise crítica na execução de projetos de colonização em


rev

Rondônia – Brasil.............................................................................................33
Tânia Olinda Lima
or

Rogério Nogueira de Mesquita


Denes Luís Reis Pedrosa
ara

CAPÍTULO III
QUESTÃO AGRÁRIA E COLONIZAÇÃO NA PAN-AMAZÔNIA: Rondônia.....47
ver dit

Dério Garcia Bresciani


op

CAPÍTULO IV
SISTEMAS AGROFLORESTAIS NA PAN AMAZÔNIA: a floresta
plantada como alternativa de desenvolvimento sustentável............................61
Willimis Alves Pereira
E

Juander Antonio de Oliveira Souza


Mauro José Ferreira Cury

CAPÍTULO V
SISTEMAS AGROFLORESTAIS NA PAN-AMAZÔNIA: um estudo
de caso no “Projeto Casulo” em Pimenta Bueno, Rondônia, Brasil.................71
Claudia Cleomar Ximenes
CAPÍTULO VI
UNIDADES DE CONSERVAÇÃO NA AMAZÔNIA LEGAL:
olhar geo-historiográfico sobre o estado de Rondônia, Brasil.........................89
Laise Santos Azevedo

CAPÍTULO VII
APROPRIAÇÃO DAS MARGENS DO RIO BARÃO DO MELGAÇO:
um estudo de caso em Pimenta Bueno – Rondônia – Brasil.........................105

r
V
Benedito de Matos Souza Junior

uto
Claudia Cleomar Ximenes
Carla Silveira de Arruda
Núbia Caramello

R
CAPÍTULO VIII

a
RECURSOS HÍDRICOS URBANOS NA PAN-AMAZÔNIA:
um estudo de caso do município de Rio Branco – AC...................................117

do
Ednilson Gomes da Silva
Caio Ismael de Jesus Lasmar
aC
Jaqueline Souza de Araújo
Joselânio Ferreira de Morais

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Ráica Esteves Xavier Meante

CAPÍTULO IX
são
ICTIOFAUNA DE PRAIAS DA AMAZÔNIA ORIENTAL, PARÁ, BRASIL.......131
Wesley Souza Brasil
i
Tiago Magalhães da Silva Freitas
rev

CAPÍTULO X
or

O ESPAÇO COLETIVO:
as sombras da paisagem nos parques e praças portovelhense....................143
Sônia Maria Teixeira Machado
ara

Danúbia Zanotelli Soares


Adriana Correia de Oliveira
ver dit

Rogério Nogueira de Mesquita


Maria das Graças Silva Nascimento da Silva
op

CAPÍTULO XI
EU CHOREI, NUNCA TINHA CHORADO NA MINHA VIDA:
relatos de um seringueiro cearense no Acre.................................................155
E

Maria Liziane Souza Silva


CAPÍTULO XII
CULTURA, NATUREZA E GÊNERO NA AMAZÔNIA:
um estudo na festa do Çairé, Alter-do-Chão, Santarém, Pará.......................169
Moisés Daniel de Sousa dos Santos
CAPÍTULO XIII
UMA GESTÃO PAITER SURUI / PAITEREY KARAH
ESTABELECENDO O BEM VIVER................................................................181
Paulo César Barros Pereira
Agna Maria de Souza Coelho
José Luiz Gondim dos Santos
Bárbara Elis Nascimento Silva
Gasodá Suruí

r
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CAPÍTULO XIV

uto
PRESERVAÇÃO DOS TERRITÓRIOS INDÍGENAS NA AMAZÔNIA:
o enfrentamento contra as ameaças das tradições do povo Paiter
suruí em Cacoal Rondônia ...........................................................................195
Paulo César Barros Pereira
R
a
CAPÍTULO XV

do
AS TRANSFORMAÇÕES GEOGRÁFICAS NO ESPAÇO E NO TEMPO:
apropriação da natureza e as representações sociais...................................207
aC
Charlot Jn Charles
Sônia Maria Teixeira Machado
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são
Neusa Maria Lazzaretti dos Santos
Francisco Ribeiro Nogueira
Josué da Costa Silva

CAPÍTULO XVI
i

A CULTURA DA SUSTENTABILIDADE NA AMAZÔNIA ..............................219


rev

Willimis Alves Pereira


or

SOBRE OS AUTORES...................................................................................234
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APRESENTAÇÃO

CONVITE PARA AS VEREDAS DA


CONQUISTA DO ESPAÇO NA AMAZÔNIA
Claudia Cleomar Ximenes

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Danúbia Zanotelli Soares

uto
Paulo César Barros Pereira
Maria Liziane Souza Silva
Willimis Alves Pereira

R
a
Na contemporaneidade a geografia brasileira tem trazido à luz das

do
ciências contribuições significativas de interdisciplinaridades além de
novos olhares científicos para o mundo globalizado. Consequentemente
aC
para a Amazônia, essas peculiaridades ajudam a pensar melhor um país tão
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grande como o Brasil. As discussões aqui trazidas são feitas de pelo amor à
são
pesquisa, da vontade de descobrir a ciência, e do agir do ser humano, essa
obra presenteia os amazônicos, os brasileiros, e toda a humanidade estes que
produzem histórias fascinantes, ultrapassam fronteiras do conhecimento.
i

A “Conquista do Espaço na Amazônia: Apropriações da Natureza


rev

e Representações Sociais” poderia ser mais uma tradicional obra de co-


or

letânea de artigos científicos com rígidas normas que engessam o autor de


expor seu conhecimento. Que há revisão de teoria. Sim! Há, mas não é na
paranoia e nem excêntrica conferência doutrinária da “obrigatoriedade”
ara

de falar pelos outros. De plágio consentido. Apoderamento daquilo que


pertence à outra pessoa, uma cocha de retalhos, desprovido de sutileza e
ver dit

de graciosidade.
Então, parabéns aos pesquisadores que inovaram e trouxeram à luz
op

da ciência suas pesquisas e abrilhantaram esta obra com capítulos que tem
como objetivo apresentar ao mundo a conquista do espaço na Amazônia
através da apropriação da Natureza e as Representações Sociais. Pessoas
E

que com termos menos técnico, mais prazeroso de ler, menos rígido presen-
teiam o leitor com a geo-historiografia do norte brasileiro que favorecem
o firmamento da história e da geografia, assim como estudos de casos com
ricas informações locais.
Quando resolvemos nos juntar para organizarmos um livro e convidar
os colegas do Programa de Pós-Graduação em Geografia da Fundação
12

Universidade Federal de Rondônia (PPGG-UNIR), ainda estávamos nos


conhecendo. Mas, tínhamos um sonho, disseminar nossas pesquisas. Não
deixar parado em arquivos de computador, menos ainda, esquecidos,
depois que tivéssemos terminado de cumprir os créditos de as nossas das
disciplinas, ou mesmo de alguma atividade para qual tivéssemos feito.
Assim, buscamos por parceiros, e a tecnologia nos ajudou. Whatsapp
para lá, Whatsapp para cá. E os e-mails com as ideias e artigos começaram a

r
V
surgir. Revisões, idas e voltas durante 6 (seis) meses, até que o produto final

uto
tivesse concluído com a chegada e inclusão de mais dois parceiros vindos
com estudo realizado na Universidade Federal do Pará – UFPA é a única
pesquisa feita sem ter nenhum membro da PPGG-UNIR, e estamos felizes

R
a
com esta parceria e com a grandiosidade do estudo que nos presenteiam.
Por todo o vínculo que temos a Instituições de Ensino Superior, aos

do
Grupos de Pesquisa, aos professores que nos auxiliam na busca de com-
preender os fenômenos da natureza, compreendemos que a parceria dos 15
aC
mestrandos, 12 mestres (destes 05 (cinco) estão doutorandos), 02 (dois)

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doutores e 01 (um) bacharel. Conseguimos apresentar ao leitor um rico
são
material de leitura e estudos, contribuindo ainda para o fortalecimento da
ciência, com a construção de saberes-fazer
Vale destacar que a técnica é o estudo consecutivo, é a busca constante
i
por ler e reler, de encontrar novos saberes em leituras já exploradas, é a
rev

apresentação teórica do que pesquisamos em campo, é revisar a literatura.


or

É ser uma pessoa diferente e ao mesmo tempo “normal”, que sente fome,
medo, frio e calor... medo! Ah! Como sentimos medo! E se não acertar-
mos!!!!!????? Se o artigo não for aceito pela revista “X”? Será que meu
ara

orientador ou orientadora já leu? Ai! Está demorando tanto para dar retorno!
São tantas as dúvidas que temos! Ora temos medo, ora coragem. Mas
ver dit

não deixamos de ter perseverança e continuar a escrever, compartilhar.


Somos Guerreiros Amazônicos. Como diz a guerreira Marília Locatelli:
op

respeitar mesmo que não sejamos.


Quantas vezes que a solidão nos pega desprevenidos... é um caminho
solitário. Às vezes os apetrechos de trabalho são os únicos companheiros
E

e as linhas do rascunho é o único caminho que conseguimos traçar, que


conseguimos seguir. Mas, daí... Pegamos aversão à dissertação, a tese,
aquele projeto, aquele artigo não sai do papel e tudo parece ser estranho.
Então, tudo parece tão distante e quem vem dizer que está tudo bem, parece
que nem é deste mundo. “O cara é louco!” Só pode ser!
PREFÁCIO

A AMAZÔNIA BRASILEIRA
Maria de Jesus Morais1

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V
O livro Conquista do Espaço na Amazônia: apropriações da natureza

uto
e representações sociais é uma coletânea de capítulos que versam sobre a
produção espacial da Amazônia, principalmente dos estados do Pará, Acre
e Rondônia. Todos os capítulos têm como marco temporal do processo
R
a
que desencadeia os assuntos a partir da segunda metade do século XX.
A Amazônia brasileira a partir dos anos de 1960 foi alvo das políticas

do
públicas dos governos militares, bem como das iniciativas de grandes
grupos econômicos que viam nesta região um dos maiores celeiros de
aC
possibilidades de exploração econômica.
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são
O modelo desenvolvimentista implantado a partir da década de 1960
pelo governo dos militares (1964-1985) é caracterizado pela implantação
de uma malha técnica composta de rodovias, redes de telecomunicações,
subsídios ao fluxo de capital via incentivos fiscais e crédito a juros baixos
i

para quem quisesse investir na Amazônia.


rev

As agências federais, criadas pelos militares, especialmente a SUDAM,


or

a SUDHEVEA, o Banco da Amazônia-BASA e o Banco do Brasil-BB,


ofereciam recursos e facilidades creditícias para que os grupos econômicos
investissem na Amazônia. Com esses incentivos, aliados aos baixos preços
ara

das terras, vários seringais nativos foram adquiridos por empresários do


ver dit

Centro-Sul, para a implantação de fazendas de gado e seringais de cultivo.


A propaganda oficial dos anos de 1970 era “transferir os homens
op

sem-terra do Nordeste para as terras sem homens na Amazônia”. Os ho-


mens sem-terra do Nordeste eram o resultado da concentração de terras
e, as terras sem homens da Amazônia estavam ocupadas secularmente
por diferentes povos indígenas e a quase cem anos por camponeses e/ou
E

seringueiros. O que gerou uma série de conflitos por terra e, a emergência


dos movimentos dos trabalhadores rurais.
Além dos incentivos fiscais foram implantados programas de governo
como o Plano de Integração Nacional/PIN. Este, dotou a região das redes

1 Professora do Programa de Pós-Graduação do Mestrado Letras: Linguagem e Identidade e, do Curso de


Geografia da UFAC.
14

técnicas, como a infraestrutura rodoviária, elétrica, de telecomunicações.


E atuou no direcionamento da direção dos fluxos migratórios dos peque-
nos proprietários de terras e pelo levantamento dos recursos naturais da
região, para posterior exploração econômica.
As principais rodovias construídas foram: a BR 230 (Transamazônica),
a BR 169 (Cuiabá/Santarém), BR 364 Cuiabá/Acre. Os fluxos migratórios
direcionados para a Amazônia, sob a responsabilidade do INCRA deveriam

r
V
ser assentados ao longo das rodovias.

uto
Já no final dos anos de 1990 é introduzido o “vetor tecno-ecológico”,
ou questões referentes ao “desenvolvimento sustentável” na Amazônia.
Esse como resultado de quatro processos: da resistência das comunidades

R
a
tradicionais à expropriação de seus territórios; do esgotamento do nacional-
-desenvolvimentismo e da retração econômica do Estado brasileiro; da

do
pressão ambientalista nacional e internacional, contra o uso predatório
da natureza e por um novo padrão de desenvolvimento; e da resposta do
aC
governo brasileiro a essas pressões por meio da aceitação de projetos e

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programas em parceria com instituições internacionais na adoção de uma
política ambiental. são
Este é o contexto, enquanto processo, que norteia os 14 capítulos deste
livro que temos em mãos, que nos leva a discutir a situação na Amazônia
i
no século XXI.
rev

A questão da colonização oficial é discutida em três capítulos. Des-


or

taque para o processo iniciado na década de 1970. Com ressalva para o


fluxo migratório e as dificuldades de acomodação dos chegantes. No rol do
termo do desenvolvimento sustentável temos dois capítulos que tratam dos
ara

sistemas agroflorestais como sistema alternativo de produção camponesa e


outro capítulo com a necessidade da criação de Unidades de Conservação.
ver dit

A questão ambiental no que diz respeito ao uso e ocupação do solo


em três, trazendo a discussão dos problemas socioambientais decorren-
op

tes das enchentes. A concepção humana da paisagem do espaço coletivo


num capítulo. As manifestações de festas populares em um capítulo, onde
temos a discussão de gênero. O drama do migrante, principalmente de
E

nordestinos para o estado do Acre é tema de outro capítulo. E, um capí-


tulo sobre as estratégias de vida de povos indígenas. Um capítulo sobre
as transformações geográficas no espaço e no tempo. Os autores estão
de parabéns e o público também, pois tem em mãos um excelente livro
escrito a várias mãos.
CAPÍTULO I

OCUPAÇÃO E DESENVOLVIMENTO
TERRITORIAL NA PAN-AMAZÔNICA:
assentamentos rurais no estado de Rondônia

r
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Danúbia Zanotelli Soares

uto
Introdução
R
a
A construção territorial de vários estados e cidades do Brasil foram ba-
seadas em demarcações e transformação do espaço natural pelo ser humano,
do
a fim de introduzir a agricultura e/ou pecuária como atividades econômicas.
aC
Situações como essa, ocorrem no Brasil desde o período colonial, quando os
portugueses, no século XVI, realizaram as primeiras atividades econômicas
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são
em solo brasileiro baseado no extrativismo a partir da extração do pau Brasil
e na agropecuária com o plantio de lavouras de cana de açúcar e pecuária
bovina. A territorialidade era marcada pela transformação do espaço natural,
bem como pelo sentimento de posse que as pessoas tinham ao se sentirem
i

donas das terras que tomavam para si.


rev

Nesse contexto, o presente artigo tem como objetivos resgatar os acon-


tecimentos históricos que permitiram a ocupação do espaço rondoniense e
or

analisar os projetos de colonização implantados no estado, devido à quantidade


de migrantes que estas áreas receberam e o progresso resultante dessa política
ara

ocupacional. Todos os projetos de Colonização implantados no estado de


Rondônia foram referenciados, o que possibilita analisar o município ao qual
ver dit

cada Projeto de Assentamento pertence, código do Projeto de Assentamento


(PA) registrado no Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária
op

(INCRA) e data de criação dos mesmos.


A partir da implantação desses projetos de colonização a ocupação do
espaço rondoniense ocorreu de forma rápida, resultando não somente na
transformação espacial do então território Federal de Rondônia, mas concreti-
E

zando uma verdadeira corrida de pessoas em busca de terras para desenvolver


atividades extrativistas, agropecuárias e de comércio. Além disso, no decorrer
desse processo, os núcleos urbanos iam se formando e aos poucos se trans-
formaram em cidades, que ainda sem infraestrutura necessária para receber
a população, foram aos poucos se expandindo, contribuindo para a situação
contemporânea no qual o estado vivencia, sendo a terceira maior economia
da região norte do Brasil.
16

Resgate histórico da ocupação do território rondoniense

O estado de Rondônia localiza-se na região norte do Brasil e de acordo


com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE) possui uma
área territorial de 237.765,293 km² e população de 1.562.409, faz fronteiras
com o estado do Amazonas ao norte e nordeste, com o Mato Grosso a leste
e sudeste, a oeste com a Bolívia e noroeste com o estado do Acre. As terras

r
V
que pertencem ao estado de Rondônia são conhecidas pelos portugueses

uto
desde o século XVII, quando ainda pertenciam ao domínio espanhol, nessa
época, os bandeirantes que estavam à procura de riquezas, como as drogas
do sertão e metais preciosos, passaram pelo local, entretanto não houve

R
a
interesse de imediato em efetivar a colonização do espaço, o que veio a
acontecer somente três séculos mais tarde (RIOTERRA, 2018).

do
A economia em Rondônia enquanto unidade federada esteve sempre
ligada a importantes ciclos econômicos, tanto quando este se denominava
aC
Território Federal do Guaporé, instituído pela lei n° 5.812 de 13 de setembro

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de 1943 a 17 de fevereiro de 1956, quando o mesmo passa a ser denomi-
são
nado Território Federal de Rondônia, através da lei 2.731. Sua elevação
à categoria de estado de Rondônia ocorre somente em 22 de dezembro
de 1981, pela lei de nº 041, instalada em 04 de janeiro de 1982. Um dos
i
empecilhos para sua efetiva colonização foi à falta de infraestrutura e as
rev

doenças tropicais que assolavam a região.


or

A construção da BR-029 atualmente conhecida como 364 iniciada


no final da década de 1940, viabilizou, aos poucos a ocupação da área.
Obviamente, esse não foi um processo rápido, mesmo porque as condições
ara

de tráfego na rodovia em determinados períodos do ano eram difíceis. De


acordo com a Rioterra (2018, p. 1) “[...] o trecho final foi concluído na
ver dit

década de 1960, permitindo a trafegabilidade regular em 1968, viabilizando


a ocupação da região noroeste do país e a reconfiguração socioeconômica
op

de Rondônia”. No entanto, a pavimentação da mesma foi concluída so-


mente em 1984.
As rodovias foram essenciais à integração da região amazônica a
E

outros estados do Brasil principalmente centros comerciais, facilitando a


ocupação da área de forma mais rápida e menos sofrida. Além disso, ao
longo de seu eixo, as rodovias estimularam o surgimento de vários muni-
cípios. Com a abertura da BR-364 o Governo Federal passou a estimular
a ocupação das terras amazônicas, para tanto produziu símbolos e passou
a investir em propagandas que classificava a região como um lugar onde
CONQUISTA DO ESPAÇO NA AMAZÔNIA:
Apropriações da Natureza e Representações Sociais 17

os migrantes tinham a oportunidade de conquistar seu pedaço de terra


para sustentar a si e as suas famílias. Diante de tantas potencialidades
econômicas a região amazônica foi classificada como um novo “Eldorado”
necessitando ser ocupado.
Em solo rondoniense, esses migrantes alimentavam a esperança de
encontrar condições necessárias à mudança de vida por ser um estado
relativamente jovem em comparação a outros estados brasileiros. Á me-

r
V
dida que esses migrantes adentravam no espaço rondoniense, iam fixando

uto
moradia às margens da BR-34, e aos poucos foram surgindo às vilas que
anos mais tarde transformaram-se em cidades, a exemplo Ariquemes,
Ji-Paraná, Cacoal e Vilhena, que na contemporaneidade constituem im-
R
a
portantes cidades do estado de Rondônia, bem como são áreas de apoio a
população residente em municípios vizinhos, que procuram por serviços

do
não encontrados em seu local de residência.
A dinâmica adotada pelos Governos Militares com o lema “integrar
aC
para não entregar” e a “ocupação dos vazios demográficos”, levou a cons-
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trução da BR 364 e implantação de projetos de colonização, ambas as ações


são
da Política de Integração Nacional – PIN. A abertura de rodovias daria
suportes aos demais projetos, em Rondônia, por exemplo, foram criadas
a BR-364, BR-421, BR-425 e BR-429. A política adotada para Rondônia
i

consistia na abertura de rodovias, incentivo à migração com distribuição


rev

de terras através da colonização dirigida e dos assentamentos do Instituto


or

Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA).


A criação do INCRA, através do Decreto-Lei nº 1.110/1970 e do PIN
pelo também Decreto-Lei Nº 1.106/1970, tinham como objetivo promover
ara

obras de infraestrutura e consequentemente possibilitar a expansão da fron-


teira econômica e ocupação de áreas ociosas. O INCRA é uma autarquia
ver dit

federal com a missão prioritária de executar a reforma agrária e realizar


o ordenamento fundiário brasileiro, ou seja, responsável pela infraestru-
op

tura, seleção de colonos e a titulação das terras. Tem também a função


de elaborar e implantar projetos de colonização em estados brasileiros,
inicialmente cujas características assemelhavam-se ao desenvolvimento
E

que Rondônia estava recebendo.


Alguns desses projetos destinados à área que hoje constitui o estado
de Rondônia foram realizados no período em que o mesmo era considerado
Território Federal de Rondônia (1956-1981). Neste contexto, Teixeira
(2015, p. 30) consorcia que “[...] os projetos de colonização agrícola foram
implantados em Rondônia, entre 1970 e 1984, uma ação geopolítica do
18

Governo Militar de estimular o uso mais produtivo da terra e o redirecio-


namento de trabalhadores sem terra para a área considerada vazia”. Por
conseguinte, surge uma corrida por “limpar” as áreas ocupadas a fim de
realizar plantios e criar algumas espécies de animais para consumo próprio.
Tais ações viabilizaram não só a ocupação das terras e desenvolvi-
mento espacial em Rondônia, como em outros estados amazônicos, mas
constituiu uma medida de diminuir os conflitos agrários existentes em

r
V
outras regiões do país. Até a década de 1970 a ocupação territorial de

uto
Rondônia ocorreu através das migrações inter-regional e intra-regional
motivados pela procura de recursos naturais, sendo mais numerosos os
migrantes seringueiros, mineradores ou trabalhadores da construção da

R
a
BR-364, a partir daí, os fluxos migratórios passaram a ocorrer devido à
procura por terras.

do
Para atrair pessoas para o Estado de Rondônia o marketing que o Go-
verno realizava era a facilidade em adquirir áreas de terras muito maiores
aC
do que as que eram ofertadas em outros estados brasileiros. Outro fator

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que chamava atenção era que havia um dito popular de que tudo que se
são
plantava em Rondônia produzia. Ambas peculiaridades de certa forma
compensava os percalços enfrentados pelos migrantes para chegar a Ron-
dônia, que de acordo com Cunha e Moser (2010) eram transportados em
i
coletivos denominados Pau de Arara, que conduziram cerca de 3.150 (três
rev

mil cento e cinquenta) famílias no período de 1975 a 1977”.


or

Esta corrente migratória tornou-se cada vez maior originando uma


verdadeira explosão demográfica. Entre 1970 e 1974 seis Projetos de
Colonização foram implantados, divido entre PIC e PAD, possuindo
ara

características diferentes, bem como público alvo. O aumento sucessivo


de migrantes levou o INCRA a promover a criação de outros projetos de
ver dit

colonização, além dos que já existiam nesse período. Tal atitude foi ne-
cessária, levando em consideração os conflitos que poderiam surgir devido
op

à falta de acesso a terra e também para ordenar a ocupação do espaço da


melhor maneira possível, levando em consideração e a necessidade de uso
da terra da preservação dos recursos naturais locais.
E

Nesse contexto, além dos PICs e PADs foram criados os Projetos de


Desenvolvimento Sustentável (PDS), Projeto Casulo de Assentamento (PCA)
e Reserva Extrativista (RESEX). Na figura 01 encontram-se os cinco pri-
meiros Projetos Integrados de Colonização – PICs e o primeiro Projeto de
Assentamento Dirigido – PAD existentes entre 1970 a 1974, concomitante
aos munícipios onde foram implantados e data de criação.
CONQUISTA DO ESPAÇO NA AMAZÔNIA:
Apropriações da Natureza e Representações Sociais 19

Figura 1 – Principais Projetos de Colonização Implantados entre 1970-1974

Principais Projetos de Colonização


Implantados entre 1970 e 1974
elho
orto V
P

Ariquemes

r
V
N

uto
O L


S

ara
Guajará-Mirim Cacoal

Ji-P
LEGENDA
R
a
PIC – Ouro Preto – 1970

a
PIC – Sidney Girão – 1971

hen
do
PIC – Gy-Paraná – 1972

Vil
PIC – Paulo de Assis Ribeiro – 1973
aC
PIC – Burareiro/PAD Marechal Dutra – 1974
PIC – Padre Adolpho Rhol – 1975
Editora CRV - versão para revisão do autor - Proibida a impressão

são
Fonte: Oliveira, 2005, p. 66.

Estes Projetos de Assentamentos tinham objetivos semelhantes que


i

era de assentar o maior número possível de Famílias, de forma que os


rev

Estados, como o Paraná, por exemplo, que apresentavam problemas com


a alta demanda e a pouca oferta de parcelas de terra resolvessem os seus
or

problemas. Os problemas foram transferidos de um ente federativo para


outro. Por conseguinte, o estado de Rondônia era povoado por pessoas de
ara

diversas regiões brasileiras, mas, com problemas graves de expropriação


da população que já viviam nestas áreas.
ver dit

Os assentamentos rurais em Rondônia


op

Os assentamentos rurais em Rondônia foram organizados em cinco


modalidades, cada qual com uma especificidade, tanto quanto apresentam
E

nomenclatura própria. Neste contexto, necessário se faz compreender as carac-


terísticas das áreas criadas e reconhecidas pelo INCRA, por modalidade, bem
como o significado de suas siglas. Nos quadros 01 ao 08, é possível observar
todos os projetos de assentamentos implantados no estado de Rondônia até dia
31/12/2017 com seus respectivos nomes, bem como sua classificação (PIC,
PAD, PA, PDC. PCA, RESEX), o código da área no IBGE, o município onde
o projeto localiza-se ou de origem, e por fim data de criação.
20

Neste estudo, se optou por não referenciar o número de famílias as-


sentadas separadamente por área por ter sido encontrado informações
desencontradas em alguns assentamentos, devido o sistema do INCRA ser
considerado novo, e projetos antigos não terem sido revertidos ao mesmo.
Assim sendo, os assentamentos estão agrupados nos quadros de acordo com
a microrregião ao qual cada município pertence da seguinte forma: Microrre-
gião de Cacoal, Porto Velho, Ariquemes, Ji-Paraná, Vilhena, Guajará-Mirim,

r
Colorado D’Oeste e Alvorada D’Oeste.

V
A microrregião de Alvorada D’Oeste conta com oito projetos de assenta-

uto
mentos e um número total aproximado de 504 famílias assentadas. O primeiro
projeto implantado no local ocorreu em 1987, e o mais recente data de 2016.
Nessa microrregião, existem apenas 08 projetos de assentamento distribuídos

R
entre dois municípios. Percebe-se que os assentamentos ocorridos oficialmente

a
na microrregião de Alvorada D’Oeste começaram em 1987, no período do
Programa de Desenvolvimento Integrado para o Noroeste do Brasil (Polono-

do
roeste). Onze anos depois, no período do Planafloro, ocorreram o segundo e
aC
o terceiro projetos de assentamento, estendendo ao século XXI.

Editora CRV - versão para revisão do autor - Proibida a impressão


são
Quadro 1 – Projetos de Assentamento na Microrregião Alvorada D’Oeste

Nome do Projeto de
Código PA Data/Criação Município
Assentamento
i
RO0022000 PA Zerefiro 19/01/1987
rev

RO0074000 PA Oziel Dos Carajás 05/05/1998


or

RO0111000 PA Nelson Alves 25/05/2000


Nova Brasilândia D'Oeste
RO0134000 PA Bela Vista 07/08/2001
ara

RO0161000 PA Paulo Freire 17/02/2006

RO0189000 PA Rio Muqui 18/12/2009


ver dit

RO0193000 PA Paulo Freire II 02/06/2010 Cacoal


op

RO0243000 PA Riacho Doce I 31/03/2016 Seringueiras

Fonte: Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária – INCRA (2018).

Na microrregião de Ji-Paraná, foram implantados 28 projetos de assen-


E

tamentos, (quadro 2) sendo que a maior parte destes são classificados como
PA, com exceção ao município de Ouro Preto do Oeste, em que há um PCA
e um PIC. O projeto mais antigo foi implantado em 1970 e o mais recente no
ano de 2011. O total de famílias assentadas aproxima a 6.705. Notório que
há usuários destas terras que não constam no censo oficial, mas que ocupam
áreas que foram repassadas por parentes, ou mesmo adquiridas por compra.
CONQUISTA DO ESPAÇO NA AMAZÔNIA:
Apropriações da Natureza e Representações Sociais 21

Quadro 2 – Projetos de Assentamento na Microrregião Ji-Paraná

Código PA Nome do Projeto de Assentamento Data/Criação Município

RO0036000 PA Nova Floresta 06/08/1990 Gov. Jorge


RO0037000 PA Colina Verde 06/08/1990 Teixeira

RO0007000 PIC Pe. Adolpho Rohl 20/11/1975


Jaru

r
RO0020000 PA Djaru Uaru 28/08/1986

V
RO0023000 PA Pyrineos 19/01/1987

uto
Ji-Paraná
RO0025000 PA Itapirema 09/07/1987
RO0127000 PA Padre Ezequiel 09/04/2001 Mirante da Serra
RO0061000 PA Palmares 09/12/1996
R Nova União

a
RO0067000 PA Margarida Alves 28/11/1997
RO0006000 PIC Ouro Preto 30/12/1970
RO0064000
RO0215000 do PA Zumbi
PCA Luzinei Barreto
06/11/1996
07/11/2011
Ouro Preto
D’Oeste
aC
RO0065000 PA Chico Mendes 30/05/1997
Editora CRV - versão para revisão do autor - Proibida a impressão

são
RO0068000 PA Chico Mendes II 09/12/1997 Presidente Médici
RO0080000 PA Chico Mendes III 03/07/1998
RO0050000 PA Santa Catarina 26/12/1995
RO0051000 PA Rio Branco 26/12/1995
i

RO0059000 PA Lagoa Nova 09/10/1996


rev

RO0062000 PA Sta. Catarina Expansão I 09/10/1996 Theobroma


or

RO0066000 PA Primavera 18/09/1997


RO0162000 PA Antonio Conselheiro 12/06/2006
RO0171000 PA Lamarca 04/10/2007
ara

RO0013000 PA Urupá 06/07/1981


ver dit

RO0024000 PA Tancredo Neves 25/02/1987 Urupá


RO0139000 PA Martim Pescador 27/03/2002
op

RO0030000 PA Tarumã 26/05/1989


Vale do Paraíso
RO0103000 PA Antonio Pereira Neri 02/12/1998
Fonte: Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária – INCRA.
E

Os municípios, da microrregião de Colorado D’oeste receberam 10


Projetos de Assentamentos (PA), 01 (um) Projeto Integrado de Colonização
(PIC) de 1973 a 2013, sendo responsáveis por assentar aproximadamente
1.111 famílias (quadro 3). Com o passar do tempo, estas famílias se mul-
tiplicaram e os pais por conta própria, dividiram suas terras e distribuíram
entre os novos casais, além de consolidar outros tipos de negócios.
22

Quadro 3 – Projetos de Assentamento de Colorado D’Oeste


Nome do Projeto de
Código PA Data/Criação Município
Assentamento
RO0035000 PA Várzea Alegre 11/07/1990 Cabixi
RO0011000 PIC Paulo Assis Ribeiro 04/10/1973 Colorado do Oeste
RO0018000 PA Vitória Da União 26/06/1986
RO0042000 PA Adriana 30/12/1993
RO0056000 PA Guarajus 29/12/1995

r
V
RO0106000 PA Roncauto 21/07/1999
Corumbiara

uto
RO0226000 PA Renato Natan 26/10/2012
RO0232000 PA Alberico Carvalho 23/10/2013
RO0233000 PA Maranata II 23/10/2013
RO0234000 PA Alzira A. Monteiro 23/10/2013

R
Fonte: Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária – INCRA.

a
Os municípios que fazem parte da microrregião de Vilhena possuem 19

do
projetos de assentamentos, realizados entre 1986 e 2013 (quadro 4). Dentre
aC
os quais, apenas um PCA e dezoito PA. Tais áreas dividem-se entre seis
municípios, onde o número de famílias assentadas gira em torno de 2,498,

Editora CRV - versão para revisão do autor - Proibida a impressão


conforme registros. são
Quadro 4 – Projetos de Assentamento na Microrregião Vilhena
Nome do Projeto de
i
Código PA Data/Criação Município
Assentamento
rev

RO0031000 PA Nova Conquista 12/09/1989


Vilhena
RO0225000 PA Águas Claras 26/10/2012
or

RO0083000 PA Ceara 06/07/1998


RO0165000 PA Boa Esperança 21/12/2006
Parecis
RO0166000 PA Rio São Pedro 21/12/2006
ara

RO0182000 PA União I 22/12/2008


RO0028000 PA Verde Seringal 25/04/1988
ver dit

RO0216000 PA Maranata 26/12/2011 Chupinguaia


RO0217000 PA Zé Bentão 26/12/2011
op

RO0027000 PA Marcos Freire 25/04/1988


Pimenta Bueno
RO0032000 PA Ribeirão Grande 26/06/1990
RO0044000 PA Pirajuí 22/09/1995
RO0045000 PA Canaã 29/09/1995
E

RO0046000 PA Eli Moreira 18/10/1995 Pimenta Bueno


RO0105000 PCA Formiguinha 27/07/1999


RO0183000 PA Caladinho 22/12/2008
RO0073000 PA Manoel Souza Cardoso 18/05/1998
Primavera de Rondônia
RO0229000 PA Primavera De Rondônia 27/06/2013
RO0017000 PA São Felipe 21/05/1986 São Felipe D’Oeste
Fonte: Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária – INCRA (2018).
CONQUISTA DO ESPAÇO NA AMAZÔNIA:
Apropriações da Natureza e Representações Sociais 23

Na microrregião do município de Cacoal o primeiro projeto de as-


sentamento implantado foi o Pic Gy Paraná em 1972, e o mais recente em
dezembro 2012. Nessa microrregião, somam-se ao todo treze projetos de
assentamentos, sendo um PDS, um PCA, um PIC e dez PA (quadro 5).
Tais projetos foram responsáveis por assentar um número aproximado
6.242 famílias.

r
V
Quadro 5 – Projetos de Assentamento na Microrregião de Cacoal

uto
Nome do Projeto de
Código PA Data/Criação Município
Assentamento

RO0096000
R PA Filadelfia 30/09/1998

a
RO0098000 PA Aguinel Divino 30/09/1998

RO0108000
do
PA Rio Consuelo 01/09/1999 Alta Floresta D’este
aC
RO0164000 PDS Rolim De M. Do Guaporé 21/12/2006
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são
RO0188000 PA Santa Bárbara 18/12/2009

RO0097000 PA Santa Vitória 30/09/1998 Alto Alegre Dos Parecis


i

RO0010000 PIC Gy Paraná 16/06/1972 Cacoal


rev

RO0154000 PCA Zona Da Mata 20/12/2002 Castanheiras


or

RO0010000 PA Cachoeira 26/06/1990


ara

RO0033000 PA Emburana 26/06/1990 Espigão D'Oeste


ver dit

RO0126000 PA Edmilson Pastor 08/03/2011

RO0215000 PA Lacerda e Almeida II 07/11/2011


op

Novo Horizonte D’oeste


RO0220000 PA Lacerda e Almeida I 26/12/2011

Fonte: Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária – INCRA.


E

O quadro 6 lista os projetos de assentamento na microrregião de Gua-


jará-Mirim, as 1.812 famílias estão distribuídas em 20 assentamentos.
A maioria enquadra-se em PA, entretanto há cinco RESEX e um PDS. Os
20 assentamentos dividem-se entre três municípios, sendo 1998 o primeiro
a ser implantado e 2013 o último.
24

Quadro 6 – Projetos de Assentamento de Guajará-Mirim

Nome do Projeto de
Código PA Data/Criação Município
Assentamento

RO0077000 PA Conceição 26/06/1998

RO0135000 PA Serra Grande 14/08/2001

r
RO0191000 PA Bom Jesus 02/06/2010

V
uto
RO0199000 Resex Rio Cautário Estado 04/11/2010

RO0218000 PA Nova Esperança 26/12/2011


Costa Marques

R
RO0219000 PA Santa Izabel 26/12/2011

a
RO0221000 PA Rio Azul 14/08/2012

do
RO0222000 PA Rio Azul II 14/08/2012
aC
RO0223000 PA Rio Azul III 14/08/2012

Editora CRV - versão para revisão do autor - Proibida a impressão


RO0228000 PA Macaco Preto 12/08/2013

RO0144000
são
Resex Barreiro Das Antas 04/11/2002

RO0155000 Resex Rio Ouro Preto 05/09/2003


i
RO0160000 Resex Rio Cautário 06/07/2005 Guajará-Mirim
rev

RO0168000 PDS Dom Xavier Rey 31/05/2007


or

RO0198000 Resex PAcaas Novos 04/11/2010

RO0136000 PA São Francisco Do Guaporé 14/08/2001


ara

RO0140000 PA Gogó Da Onça 30/08/2002


ver dit

São Francisco
RO0141000 PA Cautarinho 30/08/2002
do Guaporé
op

RO0142000 PA Sagrada Família 30/08/2002

RO0177000 PA Porto Murtinho 07/10/2008

Fonte: Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária – INCRA (2018).


E

Na microrregião de Porto Velho o número de Projetos de Assentamen-


tos é grande composto por 67 projetos, grande parte na modalidade PA,
entretanto há PCA, RESEX. Ao todo foram assentadas aproximadamente
11,925 em 06 municípios. O primeiro projeto implantado ocorreu em 1971
e o último em 2015 como pode ser acompanhado no quadro 7.
CONQUISTA DO ESPAÇO NA AMAZÔNIA:
Apropriações da Natureza e Representações Sociais 25

Quadro 7 – Projetos de Assentamento na Microrregião de Porto Velho


Nome do Projeto de
Código PA Data/Criação Município
Assentamento
RO0029000 PA Buriti 18/05/1988
RO0072000 PA Menezes Filho 10/12/1997
RO0081000 PA Pedra do Abismo 02/09/1999
RO0086000 PA São Domingos 02/09/1999

r
V
RO0087000 PA São Pedro 19/10/1999

uto
RO0088000 PA Reviver 19/11/1999
RO0109000 PA Santa Helena 16/09/1999
Buritis
RO0121000 PA São José Do Buritis 27/10/2000
R
a
RO0122000 PA São Paulo 27/10/2000
RO0125000 PA Oriente 20/11/2000
RO0131000
RO0176000
do PA Jatobá
PA Norte Sul I
22/06/2001
23/06/2008
aC
RO0180000 PA Rabo do Tamanduá 22/12/2008
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RO0240000 PA Castanheira 11/12/2015


são
RO0043000 PA Rio Alto 25/03/1994
RO0071000 PA Prozolina 04/02/1998
RO0082000 PA Lagoa Azul 19/10/1999
i

RO0120000 PA Nova Vida 14/09/2000


rev

Campo Novo
RO0124000 PA São Carlos 20/11/2000
De Rondônia
RO0158000 PA Altamira 27/04/2004
or

RO0159000 PA Santa Elisa 27/04/2004


RO0175000 PA Norte Sul 23/06/2008
ara

RO0179000 PA Campo Novo 22/12/2008


RO0019000 PA Vale do Jamari 14/08/1986
ver dit

RO0021000 PA Rio Preto Do Candeias 11/12/1986


RO0101000 PA Cachoeira De Samuel 02/12/1998
op

RO0129000 PA PARAÍSO Das Acácias 30/05/2001


RO0138000 PCA Comum. Alternativa 23/11/2001 Candeias do
RO0163000 PAf Jequitibá 18/07/2007 Jamari
E

RO0172000 PA Flor do Amazonas 1 06/06/2008


RO0173000 PA Flor do Amazonas 2 06/06/2008
RO0174000 PA Flor do Amazonas 3 06/06/2008
RO0178000 PA Flor do Amazonas 4 13/11/2008

continua...
26
continuação
Nome do Projeto de
Código PA Data/Criação Município
Assentamento
RO0016000 PA Cujubim 03/07/1984
RO0047000 PA Cujubim II 11/12/1995
RO0049000 PA Américo Ventura 26/12/1995
Cujubim
RO0078000 PA Renascer 17/08/1999
RO0079000 PA Agostinho Becker 17/08/1999

r
V
RO0231000 PA Dois De Julho 20/08/2013

uto
RO0009000 Pic Sidney Girão 13/08/1971
RO0116000 PA Francisco João 31/07/2000
RO0117000 PA Floriano Magno 31/07/2000

R
RO0118000 PA Esmosina Pinho 24/08/2000

a
Nova Mamoré
RO0119000 PA Ivo Inácio 31/07/2000
RO0147000 PA Marechal Rondon 05/12/2002

do
RO0148000 PA Igarapé Azul 05/12/2002
RO0149000 PA Rosana Lecy 28/11/2001
aC
RO0048000 PA São Francisco 06/12/1995

Editora CRV - versão para revisão do autor - Proibida a impressão


RO0099000
RO0100000
RO0113000
PA Rio Madeira
PA Aliança
PA Joana D Arc I
são 28/09/1998
28/09/1998
09/06/2000
RO0114000 PA Joana D Arc II 09/06/2000
i
RO0115000 PA Joana D Arc III 09/06/2000
rev

RO0115001 PA Joana D Arc III Parte II 19/06/2009


or

RO0123000 PA Nilson Campos 27/10/2000


RO0143000 PDS Nazaré e Boa Vitória 16/07/2002 Porto Velho
RO0145000 Resex do Lago do Cuniã 04/11/2002
ara

RO0146000 PA Igarapé das Araras 05/12/2002


RO0151000 PA Igarapé Taquara 05/12/2002
ver dit

RO0152000 PA Pau Darco 05/12/2002


RO0156000 Pds Porto Seguro 05/12/2003
op

RO0190000 PA União da Vitória 29/12/2009


RO0197000 Resex Rio Jaci-Paraná 04/11/2010
RO0214000 Flona De Jacunda 07/11/2011
E

Fonte: Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária – INCRA (2018).

A Microrregião de Ariquemes (quadro 08) conta com 55 projetos de co-


lonização distribuídos em 06 municípios, os quais se enquadram em 1 PCA,
2 PAD, 14 RESEX (todos localizados em Machadinho D’Oeste) e 38 PA. Os
referidos projetos foram responsáveis pelo assentamento de aproximadamente
14.000 Famílias. De 1974 a 2015.
CONQUISTA DO ESPAÇO NA AMAZÔNIA:
Apropriações da Natureza e Representações Sociais 27

Quadro 8 – Projetos de Assentamento na Microrregião de Ariquemes


Nome do Projeto de
Código PA Data/Criação Município
Assentamento
RO0132000 PCA Novo Alvorecer 03/07/2001
Alto Paraíso
RO0235000 PA Entre Rios 06/11/2013

RO0008000 PAD Marechal Dutra 30/12/1978

r
V
RO0012000 PAD Burareiro 21/01/1974

uto
RO0026000 PA Jatuarana 26/02/1988

RO0038000 PA Massangana 17/10/1990

RO0052000 PA Santa Cruz 29/12/1995


R
a
RO0069000 PA 14 De Agosto 01/12/1997

RO0070000 PA Maria José Rique 06/04/1998

RO0094000
do PA Joséodon 27/07/1998
aC
RO0112000 PA Jandaira 31/07/2000
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são
RO0157000 PA Migrantes 18/04/2004 Ariquemes

RO0169000 PA Madre Cristina 04/10/2007

RO0170000 PA Novo Progresso 04/10/2007


i

RO0181000 PA 13 De Outubro 22/12/2008


rev

RO0184000 PA 14 De Agosto Fase Ii 18/08/2009


or

RO0185000 PA São João 16/09/2009

RO0196000 PA 14 De Agosto Fase Ii 23/08/2010


ara

RO0224000 PA Capitao Silvio 14/08/2012

RO0238000 PA Terra Prometida 08/07/2015


ver dit

RO0236000 PA Cristo Rey 12/08/2013

RO0014000 PA Machadinho 15/02/1982


op

RO0053000 PA Santa Maria 29/12/1995

RO0054000 PA Tabajara 29/12/1995


E

RO0055000 PA Pedra Redonda 29/12/1995


Machadinho D’oeste
RO0057000 PA União 12/08/1996

RO0058000 PA Lajes 09/10/1996

RO0060000 PA Tabajara Ii 09/10/1996

RO0063000 PA Santa Maria Ii 09/10/1996


continua...
28
continuação
Nome do Projeto de
Código PA Data/Criação Município
Assentamento
RO0102000 PA Cedro Jequitibá 23/12/1998

RO0104000 PA Amigos Do Campo 18/01/1999

RO0107000 PA Asa Do Avião 28/07/1999

RO0130000 PDS Cernambi 05/09/2003

r
V
RO0200000 Resex Jatoba 05/11/2010

uto
RO0201000 Resex Massaranduba 05/11/2010

RO0202000 Resex Sucupira 05/11/2010

R
RO0203000 Resex Angelim 05/11/2010

a
RO0204000 Resex Freijo 05/11/2010

RO0205000 Resex Mogno 05/11/2010 Machadinho D’oeste

do
RO0206000 Resex Castanheira 05/11/2010
aC
RO0207000 Resex Maracatiara 05/11/2010

Editora CRV - versão para revisão do autor - Proibida a impressão


RO0208000

RO0209000
Resex Itauba

Resex Aquariquara
são 05/11/2010

05/11/2010

RO0210000 Resex Roxinho 05/11/2010


i
RO0211000 Resex Garrote 05/11/2010
rev

RO0212000 Resex Piquia 05/11/2010


or

RO0213000 Resex Rio Preto Jacunda 05/11/2010

RO0227000 PA Belo Horizonte 26/10/2012


ara

RO0095000 PA Zenon 27/07/1998 Monte Negro

RO0110000 PA Maria Mendes 17/04/2000


ver dit

RO0167000 PA Lamarquinha 16/04/2007 Rio Crespo


op

RO0194000 PA Vila Batista 02/06/2010

RO0075000 PA PAlma Arruda 05/05/1998


Vale Do Anari
RO0076000 PA José Carlos 05/05/1998
E

Fonte: Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária – INCRA (2018).

De acordo com Oliveira (2005, p. 65), “[...] o primeiro projeto oficial


de colonização no Território Federal de Rondônia, foi criado em 19 de junho
de 1970, e foi implantado na região de Ouro Preto do Oeste. Denominado
Projeto Integrado de Colonização Ouro Preto (PIC-Ouro Preto) assentou
CONQUISTA DO ESPAÇO NA AMAZÔNIA:
Apropriações da Natureza e Representações Sociais 29

5.164 famílias”. A partir daí o espaço natural foi dando lugar à implantação
de outros projetos de colonização.
Os assentamentos foram uma tentativa de resolver conflitos agrários
decorrentes da ocupação das terras, bem como regularizar as áreas ocupadas
e propiciar aos assentados segurança em relação à posse da terra. Ao longo
dessas quatro décadas o número de assentamentos a que se teve acesso no
site oficial do INCRA foram de 184 que proporcionaram a aproximadamente

r
42,139 famílias o acesso a terra.

V
É difícil analisar o número de habitantes, bem como a porcentagem que

uto
tais projetos representam em relação à população total do estado e até por
município, devido o fato de que nem todos os assentados estão devidamente
cadastrados no site do órgão federal, mas sabe-se da importância dos mesmos
R
que possibilitaram a construção do espaço geográfico e desenvolvimento eco-

a
nômico do estado de Rondônia. Na tabela 1 é possível analisar o crescimento
em número de habitantes após a implantação de tais projetos de assentamento
no estado de Rondônia.
do
aC
Tabela 1 – Evolução do crescimento populacional de Rondônia 1950 -2000
Editora CRV - versão para revisão do autor - Proibida a impressão

são
EVOLUÇÃO DO CRESCIMENTO POPULACIONAL DE RONDÔNIA
DISTRIBUIÇÃO E DENSIDADE DEMOGRÁFICA – 1950 / 2000

População População
Densidade
i

demográfica
rev

Ano Total % Urbana % Rural %


or

1950 36.935 100 13.816 37,4 23.119 62,6 0,15

1960 69.792 100 30.186 43,2 39.606 56,8 0,29

1970 111.064 100 59.564 53,6 51.500 46,4 0,46


ara

1980 491.069 100 228.539 46,4 262.530 53,6 2,02


ver dit

1991 1.132.692 100 659.327 58,2 473.365 41,8 4,75

2000 1.379.787 100 884.523 64,1 495.264 35,9 5,80


op

Fonte: Oliveira (2005, p. 78).

As Políticas Públicas de ocupação na Amazônia entre 1970 e 2002, pro-


E

piciava o uso e ocupação do solo de forma insustentável. Ximenes e Locatelli


(2017) pontuam que Programas Dirigidos deixaram uma vacância quanto
aos povos tradicionais e indígenas. A fim de ocupar o solo amazônico levou
ao uso predatório de tudo o que existia sob o solo. As entradas iniciadas no
século XVII no norte brasileiro iniciaram por conta das riquezas naturais e o
término das políticas migratórias se deu com o fim do Projeto Agropecuário
e Florestal de Rondônia (Planafloro) em 2002.
30

Considerações finais

No estado de Rondônia, os vários ciclos econômicos e principalmente


a implantação dos Projetos de Colonização, realizados pelo Governo Federal
através do Programa Nacional de Integração (PIN) e do Instituto Nacional
de Colonização e reforma Agrária (INCRA) foram peças fundamentais
que proporcionaram a estruturação e ocupação do estado, contribuindo

r
V
ainda para a criação de vários municípios, a exemplo de, Ariquemes,

uto
Ji-paraná e Vilhena, entre outros. Sendo ainda área de referência para
municípios adjacentes.
É imprescindível citar os esforços dos bravos migrantes, que mesmo

R
sem condições de infraestrutura adequada, enfrentando dias de sol, chuva

a
e muita poeira para chegar às terras rondonienses através de uma rodovia
sem pavimentação não desistiram, desafiando a floresta fechada, as doenças

do
endêmicas e seus próprios limites. De longe, percebe-se que o controle
aC
sobre a ocupação dessas terras fugiu do poder dos órgãos governamentais,

Editora CRV - versão para revisão do autor - Proibida a impressão


que na contemporaneidade é razão de conflitos agrários, desmatamento,
são
queimadas etc., entretanto, acredita-se que esses problemas foram surpre-
endentes para os órgãos idealizadores dos projetos de integração nacional,
tanto que posteriormente novos caminhos foram traçados.
Apesar dos projetos de colonização houve a fase da colonização
i
rev

espontânea em que as pessoas se deslocavam para o estado pelo espírito


aventureiro. Entretanto, há também, há quem diga que era rota de fuga
or

de foragidos na Justiça, tanto brasileira quanto dos Países circunvizinhos.


Entretanto os projetos implantados no estado colaboraram não só para a
ara

construção do espaço rural, bem como do desenvolvimento do espaço ur-


bano. Ademais, a área considerada um vazio demográfico por tanto tempo,
ver dit

passou a ganhar novas formas através do trabalho humano.


op
E

CONQUISTA DO ESPAÇO NA AMAZÔNIA:
Apropriações da Natureza e Representações Sociais 31

REFERÊNCIAS

BRASIL. Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária – INCRA.


O Incra. Disponível em: <http://www.incra.gov.br/institucional_abertura>.
Acesso em: 16 fev. 2018.

r
V
CUNHA, Eliaquim Timotéo da; MOSER, Lilian Maria. Os projetos de colo-

uto
nização em Rondônia. Revista Labirinto, Ano X, n. 14, dez. 2010.

MENEZES, Sthefanie Freitas Maia. Sistemas agroflorestais e fertilidade dos


R
solos: uma análise da microrregião de Ariquemes, Rondônia. Universidade

a
Federal de Rondonia. Tese de mestrado. Porto Velho, 2008.

do
OLIVEIRA, Ovídio Amélio de. Geografia de Rondônia: espaço e produ-
aC
ção. 3. ed. Porto Velho, 2005.
Editora CRV - versão para revisão do autor - Proibida a impressão

são
RIOTERRA. Contexto prévio: Rondônia. Disponível em: <http://rioterra.
org.br/pt/wp-content/uploads/2011/07/analise_socioeconomica_do_entorno_
da_area_de_concessao_publica_parte_ii.pdf>. Acesso em: 21 fev. 2018.
i

TEIXEIRA, Lucineide da Silva. Dinâmicas territoriais em Rondônia: con-


rev

flitos fundiários entorno do projeto integrado de colonização Sidney Girão


or

(1970 – 2004). Porto Alegre, 2015.

XIMENES, Claudia Cleomar; LOCATELLI, Marília. Reflexão Geo-histo-


ara

riográfica: políticas Públicas de Ocupação na Amazônia Ocidental – 1970 a


2002. In: Transformação espacial: estudos geo-historiográficos na Amazônia
ver dit

Ocidental. Curitiba: CRV, 2017. p. 35-44. 208 p.


op
E

E
ver dit
sã or op
ara aC
rev
i são R V
do
a uto
r
Editora CRV - versão para revisão do autor - Proibida a impressão
CAPÍTULO II

FORMAÇÃO DE ASSENTAMENTOS
RURAIS NA AMAZÔNIA: análise
crítica na execução de projetos de

r
colonização em Rondônia – Brasil

V
uto
Tânia Olinda Lima
Rogério Nogueira de Mesquita
Denes Luís Reis Pedrosa
R
a
Introdução
do
aC
Ao adentrarmos a história, não é difícil perceber que todos os países con-
Editora CRV - versão para revisão do autor - Proibida a impressão

siderados desenvolvidos nos dias atuais, realizaram em algum momento de sua


são
história, uma configuração em sua estrutura fundiária. Os reflexos de tais alte-
rações tem sido a resolução de situações de distorções fundiárias semelhante às
existentes no Brasil. Em território nacional, por intermédio das pressões sociais,
vem-se realizando de modo aleatório a distribuição de assentamentos.
i
rev

A região Amazônica desde a década de 1960 sofreu intensas transformações


na paisagem pelo homem, para apropriação tanto de seus recursos naturais, quanto
or

do solo. A implantação dos projetos de integração a partir da década de 1970 foi


responsável pela rápida ocupação da área, mas também, de grandes alterações
e conflitos pela posse da terra que se perpetuam até a contemporaneidade. Essa
ara

manobra tem recebido o nome de “Reforma Agrária” até o presente. E por que
não chamá-la categoricamente de reforma agrária? Ao analisarmos o cenário,
ver dit

podemos facilmente perceber que, o que existe de fato não é um plano estrutu-
rado e consciente que compreenda que essa atitude diminuiria as desigualdades
op

fundiárias, conflitos e mortes no campo, mas que se trata de uma ação que existe
por motivo de lutas inclusa na pauta de reivindicação dos movimentos sociais.
Para Junior (2011, p. 6) “[...] são as ações de reivindicação e luta pela terra,
E

organizadas pelos já populares sem-terra, que produzem ações institucionais de


desapropriação de fazendas e áreas rurais que não cumprem função social exigida
pela Constituição Federal de 1988”. Nesse contexto, os estudos de assentamentos
rurais provenientes de “Reforma Agrária” são muito recentes na história nacional.
No entanto, nos últimos tempos tem sido um tópico muito presente na agenda
dos encontros, simpósios, colóquios, seminários e Programas de Pós-Graduação
Stricto Sensu em diferentes escalas.
34

Nesse cenário, adentramos nossas considerações salientando que durante


todo o período de colonização de Rondônia até os dias atuais verificou-se a frag-
mentação de lotes, simultaneamente a um processo de reconcentração fundiária.
Amaral (2004, p. 58) coloca que “[...] a minifundização ocorreu para que os filhos
ou parentes dos parceleiros tivessem acesso a terra, ou ainda quando venderam
parte do lote para saldar dívidas”.
Ocorreram, na prática, a concentração de terra e o empobrecimento das

r
massas camponesas. Este fato agravou o processo de marginalização daqueles que

V
ocupavam o espaço rural rondoniense. A agricultura foi inicialmente praticada nas

uto
pequenas propriedades rurais, porém foi substituída pela agropecuária implantada
nas grandes fazendas que se formaram com a venda das parcelas dos colonos.
Porém, os que realmente se beneficiaram dos projetos de colonização foram

R
os fazendeiros e as empresas do agronegócio, o que resultou na desigualdade

a
social, aceleração da urbanização e o agravamento de conflitos agrários. Desta
forma, constata-se que a política de colonização agrícola não garantiu a estabi-

do
lidade econômica dos camponeses, pois são meros executores da derrubada da
aC
floresta. Estes sem acesso aos meios de produção não conseguiam rentabilidade
econômica, o que favoreceu a venda das parcelas que já estavam valorizadas

Editora CRV - versão para revisão do autor - Proibida a impressão


com a benfeitoria. são
Neste sentido, há contradição na trajetória da colonização agrícola que possi-
bilita a explicação do termo ‘expropriação’: esta é a raiz de vários conflitos sociais.
As promessas que fizeram aos camponeses não foram cumpridas, prevalecendo à
i
ausência de políticas públicas que promovessem a colonização e oportunizassem
rev

melhorias aos mesmos. Esta fase, segundo Becker (2004), foi ainda marcada por
intensos conflitos sociais e impactos negativos: conflitos de terra entre fazendeiros,
or

posseiros, seringueiros e indígenas, desflorestamento desenfreado pela abertura


de estradas, exploração da madeira seguida da expansão agropecuária e intensa
ara

mobilidade espacial da população.


O resultado da colonização agrícola via assentamentos rurais, demonstra
ver dit

o fracasso do governo em resolver graves problemas da distribuição de terra no


Brasil. A forte migração incessante rumo a Rondônia e a capacidade limitada dos
op

projetos de colonização, resultou no desequilíbrio entre a demanda e a oferta de


terras públicas. A incapacidade do Estado de encontrar respostas adequadas aos
fluxos migratórios rumo a Rondônia, pode ser inserido no âmbito da política de
desenvolvimento da região amazônica, onde se priorizava o apoio aos grandes
E

empreendimentos e, desse modo, negligenciava o problema do campesinato.


As terras públicas disponíveis foram insuficientes, o que gerou diversos
problemas, como nos Projetos Integrados de Colonização (PIC) PIC Ouro Preto
onde houve uma ocupação formigueira. Por isso, este estudo discute as políticas
de implantação de assentamento rurais no Estado de Rondônia no período de
1994-2016, analisando os resultados alcançados pelo Governo, e ainda os conflitos
gerados durante essas décadas.
CONQUISTA DO ESPAÇO NA AMAZÔNIA:
Apropriações da Natureza e Representações Sociais 35

Política fundiária amazônica: formação e estrutura agrária


de Rondônia

Na Amazônia Brasileira principalmente no Pará e Rondônia e, mais re-


centemente, em Roraima e Amazonas os conflitos de terra são constantes em
virtude de fatores como: sobreposição de territórios, a falta de política fundi-
ária, que beneficie indígenas, pequenos agricultores, garantindo sua produção

r
V
agrícola e a prática do extrativismo, os quais asseguram sua sobrevivência; os

uto
avanços da pecuária, inclusive em áreas têm surgido no sentido de concretizar
uma Política Fundiária para a Amazônia. Porém, nota-se que estes surgem
mais em decorrência de pressões institucionais em níveis internacionais, na-
R
cionais e regionais para que os governos pensem em políticas públicas que

a
possibilitem o desenvolvimento com equilíbrio da Região.
Todavia, tais governos comentem equívocos neste sentido, em virtude

do
do desconhecimento das realidades geográficas locais, aliado ao fato das
ações nesta direção serem pensadas por técnicos que além de desconhecerem
aC
estas realidades, desconsideram a complexidade da dinâmica do Sistema
Editora CRV - versão para revisão do autor - Proibida a impressão

Amazônico. Da mesma forma, o fator cultural do homem amazônico e seu


são
conhecimento de causa sobre a dinâmica do meio natural o qual se encontra
inserido, deveriam necessariamente ser considerados no momento em que
são pensadas ações desenvolvimentistas para a Região.
i

Para descrever as razões das frentes de colonização trazemos para este


rev

estudo a escrita da década de 80, do século XX, para melhor compreender


o que ocorrer com precisão no período. Assim, Coy (1989) descreve que a,
or

[...] localização da região na continuidade da direção do movimento das


frentes pioneiras do Centro-Oeste (Mato Grosso do Sul, Mato Grosso)
ara

rumo ao Norte; a existência da estrada Cuiabá-Porto Velho mantendo esta


extensão da frente pioneira; a situação jurídica das terras de Rondônia
ver dit

facilitando a colonização oficial pela existência de uma porcentagem


elevada de terras públicas; a existência de terras mais férteis do que dentro
op

da média da região amazônica (sobretudo no centro de Rondônia onde


está localizado o primeiro núcleo de colonização, o PIC Ouro Preto, em
1970) (COY, 1989, p. 174).
E

Contudo, a colonização agrícola no Estado se deu a princípio devido ao


programa de regularização fundiária das terras que foram desmembradas dos
estados do Amazonas e Mato Grosso, constituindo o Território Federal do
Guaporé, modificado para Território Federal de Rondônia em 1956. A execução
de projetos de colonização iniciou em 1970, proporcionando em pouco mais
de uma década as condições necessárias para que o Território fosse transfor-
mado na 23º Unidade Federada Brasileira, em 1981.
36

Este aumento demográfico está relacionado diretamente à execução de –


PIC e do Projeto de Assentamento Dirigido – PAD, estrategicamente concebidos
com o objetivo, entre outros, de ocupação dessa porção ocidental da Amazônia.
Estes programas contribuíram para alimentar a imagem simbólica do ‘Eldorado’
brasileiro na região, esse era o plano do governo na época, tornando-se válvula
de escape para solucionar os problemas do campesinato de outras regiões do
país, gerando ao mesmo tempo a migração de indivíduos ou grupos populacio-

r
nais de diferentes culturas substanciando o acesso ao novo e ao desconhecido.

V
Todavia, por trás da decisão de migrar se esconde sempre, um conjunto de

uto
condições concretas de vida que tornam tal opção uma consequência inevitável
(BECKER, 1982). Muitos camponeses tiveram acesso a terra através dos projetos
e programas de colonização, outros optaram para ir colonizar as áreas urbanas

R
que estava se constituindo. No entanto, estas vilas não tinham capacidade para

a
absorver todos os trabalhadores, gerando o aumento da pobreza e desemprego,
para aqueles que optaram em permanecer nos assentamentos rurais, também

do
encontraram dificuldades, principalmente, de adaptação pelas condições do
aC
solo ou clima de Rondônia.
Muitos acostumados com a agricultura desenvolvida no Sul e Sudeste do

Editora CRV - versão para revisão do autor - Proibida a impressão


são
país, com suas variações de estações, encontraram em Rondônia outra confi-
guração nos regimes pluviométricos e de temperatura, o que exigiu dos novos
moradores modificar a maneira de manejar a terra e os cultivos. Este gargalo
impediu o sucesso destes camponeses, e terminaram descapitalizados buscando
i
novas alternativas de sobrevivência. A crescente mobilidade de colonos criou
rev

outras formas de distribuição das terras. A especulação fundiária contribuiu para


a constituição latifundiária do estado de Rondônia.
or

Os assentamentos são, com frequência, instalados em áreas-chave para a


progressão das atividades agropecuárias e eles, de certa forma, preparam o cami-
ara

nho ou fornecem a mão de obra necessária para outros empreendimentos. Nessa


mesma linha, Heredia et al. (2003) apontam que o rebanho dos assentamentos
ver dit

analisados por eles no Pará corresponde a 25% do total regional, levando a pensar
que os assentamentos têm um papel importante na manutenção e na expansão
op

da pecuária bovina. O mesmo estudo mostra que os assentados obtêm mais de


um terço da sua renda com a venda da sua força de trabalho, confirmando a
constatação de que os assentamentos representam reservatórios de mão de obra
para as fazendas vizinhas. Vale ressaltar, ao mesmo tempo, a influência política
E

na criação dos assentamentos na Amazônia, este podendo representar currais


eleitorais importantes em municípios pouco povoados.
A ausência de uma concreta reforma fundiária ao longo da história bra-
sileira possibilitou entre outros, a organização e o fortalecimento político do
latifúndio – a bancada ruralista, como ficou conhecia no Congresso Nacional.
Essa com voz e vez nos governos tanto federal, como estadual e municipal,
consegue defender seus interesses, inclusive manter o latifúndio improdutivo,
CONQUISTA DO ESPAÇO NA AMAZÔNIA:
Apropriações da Natureza e Representações Sociais 37

causador de muitos conflitos no campo. Questão que se tornou mais contun-


dente a partir da década de 1980 com a propagação do sindicalismo no campo
e o surgimento do Movimento de Trabalhadores Rurais Sem Terra – MST, os
quais têm em comum, forçar a reforma fundiária. Uma reforma que beneficie
o camponês, não somente com os assentamentos, mas, com assistência técnica
e infraestrutura social para os mesmos.

r
A contemporaneidade dos projetos de assentamento rural

V
em Rondônia

uto
Segundo o Incra, foram criados 9.374 assentamentos no Brasil que são
áreas já desapropriadas e destinadas oficialmente para a reforma agrária. Ainda
R
a
assim há uma grande quantidade de acampamentos, ou seja, áreas ocupadas,
mas que não são de posse dos camponeses. Segundo o Incra, em 2017 não

do
foram assentadas famílias, foram criados apenas 25 novos projetos de assen-
tamentos “com área total de 41.088 hectares e capacidade de assentamento
aC
de 1.608 famílias”.
Editora CRV - versão para revisão do autor - Proibida a impressão

Para o Incra assentamento rural é um conjunto de unidades agrícolas


são
independentes entre si, instaladas onde originalmente existia um imóvel rural
que pertencia a um único proprietário. Cada uma dessas unidades, chamadas
de parcelas, lotes ou glebas são entregue pelo Incra a uma família sem con-
dições econômicas para adquirir e manter um imóvel rural por outras vias.
i

A quantidade de glebas num assentamento depende da capacidade da terra


rev

de comportar e sustentar as famílias assentadas, o tamanho e a localização de


or

cada lote, determinado pela geografia do terreno e pelas condições produtivas


que o local oferece.
Os trabalhadores rurais que recebem o lote comprometem-se a morar na
ara

parcela e a explorá-la para seu sustento, utilizando exclusivamente a mão de


obra familiar. Eles contam com créditos, assistência técnica, infraestrutura
ver dit

e outros benefícios de apoio ao desenvolvimento das famílias assentadas.


Até que possuam a escritura do lote, os assentados e a terra recebida estarão
op

vinculados ao Incra, portanto, sem portar a escritura do lote em seu nome,


os beneficiados não poderão vender, alugar, doar, arrendar ou emprestar sua
terra a terceiros. Os assentados pagam pela terra que receberam do Incra e
pelos créditos contratados.
E

A fim de acelerar o processo de arrecadação de terras para a União, o Incra


criou os Projetos Fundiários, subordinados às Coordenadorias Regionais, com
a finalidade, dentre outras, de executar os desmembramentos ou parcelamen-
tos das áreas devolutas desocupadas. Desta maneira iniciou os processos de
estruturação fundiária em Rondônia, de modo que efetuou o assentamento de
camponeses sem-terra nas áreas remanescentes das regularizações fundiárias
recuperadas para a União.
38

Este feito foi conseguido devido a Lei nº 6.383/76, que veio substituir
a de nº 9.760/46, até então em vigor, possibilitando, através de uma ação
conjugada dos Projetos Fundiários em Rondônia, acelerar o processo de
discriminação de terras e arrecadando para a União, em 1977, um total de
5. 630. 700 ha, em todo o Território. Esse resultado só pôde ser obtido por-
que a nova Lei, através do seu artigo 28, permite reduzir muito os custos do
processo discriminatório, e ao mesmo tempo estabelece procedimentos que

r
lhe imprimem maior rapidez.

V
As populações beneficiárias destas terras foram assentadas por meio dos

uto
Projetos de Assentamento do Incra, esses eram camponeses sem-terra prove-
nientes, em sua maioria, do fluxo migratório que demandava Rondônia, além
de fazerem parte de uma faixa social que se fazia necessário maiores oportu-

R
nidades de emprego, pois este contingente contava apenas com um recurso:

a
sua força de trabalho. Ademais estes dispunham de experiência agrícola e
inicia a produção de novas culturas em determinadas áreas, como foi o caso

do
do café, com camponeses provenientes sobretudo do Paraná e Espírito Santo.
aC
A ação do Incra em Rondônia, no sentido de proceder a uma ordenação
do espaço e da ocupação, vem comprovando a existência de terras públicas

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são
federais, sem qualquer título de domínio, inclusive na faixa de fronteiras. Em
1967, pela Portaria nº 492, o Instituto Brasileiro de Reforma Agrária – IBRA
criou o Distrito de Terras de Rondônia e Acre, com sede em Porto Velho e
jurisdição sobre o Território de Rondônia e parte do Estado do Acre, formado
i
pela “porção de terras devolutas indispensáveis à defesa nacional ou essencial
rev

ao desenvolvimento do País”. Entre outras atribuições, cabia ao Distrito de


Terras promover a regularização e a ocupação de terras devolutas através do
or

povoamento, além da preservação dos recursos naturais.


Essas áreas, devido em parte ao seu potencial madeireiro e à fertilidade
ara

dos solos, sobretudo na faixa da BR-364, tornaram-se objeto de especulação


imobiliária, estimulando desse modo ocupações desordenadas e arbitrárias,
ver dit

distúrbios sociais e depredação do patrimônio público. Frente a tal situação e


à necessidade de não só controlar a ocupação, como colaborar para absorver
op

o fluxo migratório crescente e espontâneo que chega ao Território, através da


BR-364, optou o Incra pela implantação de Projetos de Colonização ao longo
daquela rodovia, ou em áreas adjacentes.
As novas alternativas de ordenação territorial surgiram com as proprie-
E

dades familiares nos Projetos de Colonização; as médias e grandes empresas


rurais, nas áreas licitadas pelo Incra; os núcleos urbanos criados para sede e
suporte dos projetos, como a Vila Colorado do Oeste no PIC Paulo de Assis
Ribeiro; Ouro Preto, no Projeto do mesmo nome; Jaru no PIC Padre Adolpho
Rohl; originada de uma fazenda próxima ao Ji-Paraná, onde migrantes se lo-
calizavam provisoriamente, a partir de 1972, enquanto esperavam a liberação
de parcelas naquele e nos demais Projetos ao longo da BR-364 (Figura 1).
CONQUISTA DO ESPAÇO NA AMAZÔNIA:
Apropriações da Natureza e Representações Sociais 39

Figura 1 – Primeiros projetos de assentamentos em Rondônia, Brasil

r
V
uto
R
a
do
aC
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são i
rev
or
ara
ver dit
op
E

Fonte: SEDAM: Gleba, 2010.


40

Além desses núcleos, criados com a intervenção do órgão, há também aqueles


que já existiam desde a época da implantação da linha telegráfica pelo Marechal
Rondon, alguns dos quais saíram do isolamento inicial com a abertura da BR-364,
e ganharam novo dinamismo a partir da intervenção do Incra na região.
Nesse caso encontram-se: Vilhena, que serve de suporte ao PIC Paulo de
Assis Ribeiro e criou novo impulso desde que este foi implantado; Presidente
Médici, próximo ao setor Leitão, do Projeto Ouro Preto; Pimenta Bueno; Nova

r
Ariquemes, criada para substituir a “Velha Ariquemes”; os Projetos Marechal

V
Dutra e Burareiro; Vila Rondônia, cujo crescimento apresenta ritmo acelerado,

uto
embora também desordenado, desde a implantação do Projeto Ouro Preto, em
1970, situado 40 km ao sul. De acordo com Cunha e Moser (2010, p. 128),
“apenas nos coletivos denominados Pau de Arara, entraram no território cerca

R
de 3.150 (três mil cento e cinquenta) famílias no período de 1975 a 1977. Esta

a
corrente migratória tornou-se cada vez mais crescente originando uma verdadeira
explosão demográfica”.

do
A procura cada vez maior por terras fez com que o INCRA desenvolvesse
aC
novos tipos de Projetos de Assentamento, tendo agora o principal objetivo de
assentar as famílias que dia após dia adentravam o espaço territorial rondoniense.

Editora CRV - versão para revisão do autor - Proibida a impressão


são
Nesse sentido, foram criados os PDS – Projetos de Desenvolvimento Sustentável,
PCA – Projeto Casulo de Assentamento e RESEX – Reserva Extrativista. Tais
modalidades de assentado criados e/ou reconhecidos pelo INCRA podem ser
analisados no quadro 1.
i
rev

Quadro 1 – Modalidades de áreas criadas e reconhecidas pelo INCRA


or

MODALIDADE SIGLA CARACTERÍSTICAS


ara

Obtenção da terra, criação do Projeto e seleção dos bene-


ficiários é de responsabilidade da União através do INCRA;
Aporte de recursos de crédito Apoio a Instalação e de crédito
ver dit

Projeto de
de produção de responsabilidade da União;
Assentamento Federal PA
Infraestrutura básica (estradas de acesso, água e energia
elétrica) de responsabilidade da União; Titulação (Concessão
op

de Uso/Titulo de Propriedade) de responsabilidade da União.

Projetos de Assentamento estabelecidos para o desenvol-


vimento de atividades ambientalmente diferenciadas e diri-
gido para populações tradicionais (ribeirinhos, comunidades
E

extrativistas,etc.); Obtenção da terra, criação do Projeto e sele-


Projeto de ção dos beneficiários é de responsabilidade da União através
Desenvolvimento do INCRA; Aporte de recursos de crédito Apoio a Instalação e
PDS
Sustentável de crédito de produção (PRONAF A e C) de responsabilidade
do Governo Federal; Infraestrutura básica (estradas de acesso,
água e energia elétrica) de responsabilidade da União; Não
há a individualização de parcelas (Titulação coletiva – fração
ideal) e a titulação de responsabilidade da União.

continua...
CONQUISTA DO ESPAÇO NA AMAZÔNIA:
Apropriações da Natureza e Representações Sociais 41

continuação

MODALIDADE SIGLA CARACTERÍSTICAS

Projeto de Assentamento criado pelo município ou pela União;


A União pode participar com os recursos para a obtenção de
Projeto de recursos fundiários, mas a terra pode ser do município ou da
Assentamento Casulo União; Aporte de recursos de Crédito Apoio a Instalação e de
(Modalidade revogada crédito de produção (PRONAF A e C) de responsabilidade do
pela Portaria Incra nº PCA Governo Federal;

r
V
414, de 11/07/2017, Infraestrutura básica (estradas de acesso, água e energia

uto
publicada no Diário elétrica) de responsabilidade do Governo Federal e Municipal;
Oficial da União). Diferencia-se pela proximidade à centros urbanos e pelas
atividades agrícolas geralmente intensivas e tecnificadas;
Titulação de responsabilidade do município.

R
a
Reconhecimento pelo INCRA de áreas de Reservas Extrati-
vistas – RESEX como Projetos de Assentamento viabilizando

Reservas Extrativistas
doRESEX
o acesso das comunidades que ali vivem aos direitos básicos
estabelecidos para o Programa de Reforma Agrária; A obtenção
de terras não é feita pelo INCRA, mas pelos órgãos ambiental
aC
federal ou estadual quando da criação das RESEX.
Editora CRV - versão para revisão do autor - Proibida a impressão

são
De competência do IBAMA; São unidades de conservação de
uso sustentável reconhecidas o pelo INCRA como beneficiárias
do Programa Nacional de Reforma Agrária – PNRA, viabilizando
Reserva de
RDS o acesso das comunidades que ali vivem aos direitos básicos
Desenvolvimento
i

como créditos de implantação e produção (PRONAF); O re-


Sustentável
rev

conhecimento de RDS como beneficiária do PNRA, feito por


analogia, à portaria de reconhecimento das Resex.
or

Observação: Além das modalidades acima, o Incra já criou e tem cadastrado em seu
Sistema de Informações de Projetos da Reforma Agrária (SIPRA) os Projetos de Coloni-
ara

zação (PC), os Projetos Integrados de Colonização (PIC), os Projetos de Assentamento


Rápido (PAR), Projetos de Colonização Particular (PAP), Projetos de Assentamento
Dirigido (PAD) e Projetos de Assentamento Conjunto (PAC). Todas essas modalida-
ver dit

des deixaram de ser criadas a partir da década de 1990, quando entraram em desuso.
Eram previstas ainda outras modalidades que, no entanto, nunca foram criadas.
op

Fonte: Zanotelli, Ximenes e Locatelli (2018).

O ordenamento atual da estrutura fundiária em Rondônia segue ainda


E

sob a coordenação do Incra, em relação ao tamanho dos imóveis rurais segue


a política dos módulos fiscais instituída pela Lei nº 8.629/93, que no seu
art. 4º, II dá os parâmetros para a classificação fundiária do imóvel rural
quanto a sua dimensão: Minifúndio – é o imóvel rural com área inferior a 1
(um) módulo fiscal; Pequena Propriedade – entre 1 (um) e 4 (quatro) módulos
fiscais; Média Propriedade – superior a 4 (quatro) e até 15 (quinze) módulos
fiscais; Grande Propriedade – superior a 15 (quinze) módulos fiscais.
42

Este conceito de módulo fiscal foi introduzido pela Lei nº 6.746/1979,


que altera o Estatuto da Terra, lei instituída em 1964 (Lei nº 4.504), desta
maneira a unidade de medida da área que é expressa em hectares, é fixada
de maneiras diferentes para cada município, levando em consideração pe-
culiaridades locais que estão descritas na lei. Rondônia entre o período de
1994 a 2016 implantou diversos projetos incorporando áreas ao Programa
de Reforma Agrária, num total de 224 projetos em 6.227, 101 hectares.

r
V
Ao entrar no contexto geopolítico da estrutura fundiária em Rondônia,

uto
é verificado até os dias atuais conflitos no campo que gerou diversas mortes
e poucas prisões por parte dos assassinos. A Comissão Pastoral da Terra
desde 1985 realiza uma pesquisa em âmbito nacional sobre os conflitos e

R
violência no campo, em sua última edição (2016) aponta que Rondônia foi

a
responsável 34,4% das mortes por conflitos agrários no Brasil, portanto o
problema de terras em Rondônia é grave e antigo.

do
Segundo o Incra (2016), Rondônia tem 106 áreas em situação de dis-
aC
puta, em 23 municípios, ao todo são 8.759 famílias acampadas, sendo 25%

Editora CRV - versão para revisão do autor - Proibida a impressão


enquadradas em “alto grau de risco de conflitos graves”, pois 80% desses
são
acampamentos estão em fazendas que não têm o título definitivo, do total
de imóveis ocupados, 75% dependem de ação direta do programa Terra
Legal para futura destinação à reforma agrária, e 25% demandam atuação
do Incra (LIMA; LOCATELLI, 2017).
i
rev

O Incra assentou entre 1970 e 2016 um total de 46.564 trabalhadores


rurais, no entanto, o Estado de Rondônia possui um total de 16.369.615
or

hectares de terras públicas divididas em 92 glebas públicas, tendo assim


64% de terras destináveis e 36% de áreas não destinadas (5.923.892 ha).
Segundo dados do Relatório de Desempenho do Programa Terra Legal
ara

2009-2014 (BRASIL, MDA, 2014), Rondônia é um dos estados que menos


ver dit

avançou no processo de georreferenciamento das glebas públicas federais


e das parcelas de terras.
op

O Sistema Nacional de Cadastro Rural – SNCR disponibiliza informa-


ções a respeito dos imóveis rurais cadastrados, de modo que Rondônia possui
234 imóveis numa área de 17.606.084,20 hectares de titularidade pública
E

e 107.333 no total de 12.286.961,31 hectares de titularidade particular.


Vinculado ao Programa Nacional de Reforma Agrária – PNRA atualmente


em Rondônia estão 224 projetos de assentamento com um total de 38.947
famílias assentadas, numa área de 6.202.021,394, todavia, a capacidade é
para 66.121 famílias.
A distribuição desses assentamentos se encontra disperso pelo Estado
de Rondônia, seu planejamento espacial e a organização das moradias nos
CONQUISTA DO ESPAÇO NA AMAZÔNIA:
Apropriações da Natureza e Representações Sociais 43

assentamentos são diferenciados, todavia, sempre são levados em conside-


ração aspectos produtivos e o uso de recursos naturais presentes no local
no momento de definição das formas e modelos de parcelamento dos lotes.
Entretanto, o Movimento dos Trabalhadores Rurais – MST busca em seus
assentamentos um mecanismo sistêmico de pensar o espaço, ou seja, a vida no
centro do projeto. Esta maneira estratégica empregada influencia e estimula
o convívio e participação social, contribuindo para se pensar novas formas

r
V
de relacionar produção e aproveitamento de recursos naturais.

uto
Diferentemente da propriedade fundiária capitalista, Wanderley (2009)
traz em seu livro “O mundo Rural um espaço de vida” uma reflexão sobre a
propriedade da terra na agricultura familiar e na ruralidade, destacando que
R
a propriedade fundiária capitalista explora, até o esgotamento, a fertilidade

a
natural do solo, geralmente em grandes extensões de terras sob a forma de
equipamentos e insumos agrícolas, portanto, a propriedade fundiária nestes
do
moldes é, assim, o elemento central, através do qual se efetua a dominação
aC
indireta do capital na agricultura. No caso da agricultura familiar estas
Editora CRV - versão para revisão do autor - Proibida a impressão

podem se organizar para explorar individual ou coletivamente, através de


são
cooperativas ou grupos avançados de autogestão. Neste sentido, Veiga (1986,
p. 34) explica que “muitas combinações são possíveis entre os diversos tipos
de propriedades e os diversos tipos de exploração”.
A experiência de movimentos sociais como o MST inclui para o parce-
i
rev

lamento das unidades produtivas tanto a forma individual, quanto a coletiva


e um modelo híbrido que são os núcleos de moradia, neste sentido podem
or

citar o Coletivo 14 de Agosto, no município de Ariquemes, com 10 famílias


assentadas numa área de 135,2743 hectares, onde é desenvolvido trabalhos
em comunidade, ou seja, a roça, cozinha e outros a fazeres são realizados
ara

por todos, independentemente de gênero ou geração. Portanto, a área dessas


ver dit

fazendas passa por nova dinâmica de ocupação espacial, com características


econômicas e sociais distintas das antigas propriedades.
op

Desta maneira a estrutura fundiária do Estado de Rondônia se molda, os


projetos de Reforma Agrária tiveram um importante papel na sua formação,
mesmo havendo a sua implantação Rondônia ainda dispõe de grandes áreas
E

concentradas nas mãos de fazendeiros, contribuindo desta maneira para


pressões socioterritorial, e crescimento do agronegócio que se coloca como


modelo produtivo único e centralizado nas médias e grandes propriedades.
Portanto, o agricultor familiar em suas pequenas propriedades fica à mercê
de ameaças e má qualidade de vida, pela ausência e precariedade de polí-
ticas públicas essenciais para manter sua segurança e soberania alimentar.
44

Considerações finais

Mediante a explanação sobre a temática, não se pode negar que a


Reforma Agrária em seu sentido mais original é uma via de acesso que
pode oferecer ao camponês a oportunidade de obtenção de terra para que
possa garantir o sustento de sua família em plena segurança, além de
contribui para a diminuição da pobreza, das desigualdades regionais e

r
V
principalmente para a diminuição do êxodo rural.

uto
No entanto, torna-se difícil acreditar em um discurso de Reforma
Agrária consciente e planejada, quando o próprio governo foi o principal
responsável por estimular as grandes ocupações de terra, sem levar em

R
consideração os moradores que já existiam na localidade. Esta fase foi e

a
ainda continua sendo marcada por intensos conflitos sociais e impactos
entre fazendeiros, posseiros, seringueiros e indígenas, desflorestamento

do
desenfreado pela abertura de estradas, exploração da madeira seguida da
aC
expansão agropecuária e intensa mobilidade espacial da população.

Editora CRV - versão para revisão do autor - Proibida a impressão


Observa-se que não diferente do que ocorreu no restante da Amazônia
são
brasileira, no estado de Rondônia o que ocorreu se tratou de mais uma
porção do espaço a ser estrategicamente ocupado para atender aos interes-
ses do capital, que tem como objetivo se apropriar de grandes extensões
de terra para explorar a seu favor. Além disso, constitui uma forma de
i
rev

atender aos caprichos do governo brasileiro, que insiste em incentivar a


ocupação da região e torná-la produtiva, mesmo que isso custe o sossego
or

dos habitantes da região.


Passamos a evidenciar tais incentivos à medida que não é apresentada
ara

por parte do poder público uma política agrária efetiva que vise combater a
sobreposição de territórios, a precariedade de política fundiária, que bene-
ver dit

ficie indígenas, camponeses, garantindo sua produção agrícola e a prática


do extrativismo para a sobrevivência dessas comunidades. Mediante a tais
op

elementos, a história do Estado de Rondônia, assim como a do restante


do Brasil, vem sendo esculpida por intermédio de muitas lutas e pressões
sociais que visam combater a expansão desenfreada das injustiças sociais
E

presentes no campo.

CONQUISTA DO ESPAÇO NA AMAZÔNIA:
Apropriações da Natureza e Representações Sociais 45

REFERÊNCIAS

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Terceira Margem, 2004. 127 p.
BECKER, Bertha Koifmann. Geopolítica na Amazônia: a nova fronteira de

r
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V
uto
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sobre o planejamento espacial e a organização da moradia dos assentamentos de
reforma agrária no DF e entorno. Rev. Libertas, Juiz de Fora, edição especial,
p. 202-226, fev. 2007. R
a
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do
Zuchi da. A necessidade de uma nova política de comercialização agrícola. In:
Anais... Congresso da SOBER, 47. Porto Alegre, 26 a 30 de julho de 2009.
aC
Porto Alegre: [s.n.], 2009.
Editora CRV - versão para revisão do autor - Proibida a impressão

são
COY, Martin. Desenvolvimento Regional na Periferia Amazônica: Organi-
zação do espaço, conflitos de interesses e programas de planejamento dentro de
uma região de “ponteira”. O caso de Rondônia. 1989. 175 f. Tese (Doutorado em
Geografia). Universidade Federal do Pará. Belém.
i
rev

CUNHA, Eliaquim Timotéo da; MOSER, Lilian Maria. Os projetos de colonização


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or

HEREDIA, Beatriz M. Alasia de et al. Os impactos regionais da reforma agrá-


ria: um estudo sobre áreas selecionadas. Lusotopie, Bordeau, n. 1, p. 59-90, 2003.
ara

JUNIOR, Marco Antonio Mitidiero. Reforma Agrária no Brasil: algumas consi-


ver dit

derações sobre a materialização dos assentamentos rurais. Agrária, São Paulo. 2011.
LIMA, Tânia Olinda; LOCATELLI, Marília. O sangue que escorre nas mãos da
op

cúpula capitalista: conflitos agrários no estado de Rondônia. In: Simpósio Inter-


nacional de Geografia Agrária, 8, 2017, Curitiba. Anais... Curitiba, 2017. p. 1-15.
SOARES, Danubia Zanotelli; XIMENES, Claudia Cleomar; LOCATELLI,
E

Marília. Transformação e construção territorial do estado de Rondônia a partir


de 1970: estudo de caso no município de Ariquemes. In: Anais do X Seminário
Temático da Rede Internacional CASLA-CEPIAL. Porto Velho: Even3, 2018.
v. 1. p. 1-26.
WANDERLEY, Maria de Nazaré Baudel. O mundo rural como um espaço
de vida: reflexões sobre a propriedade da terra, agricultura familiar e ruralidade.
Porto Alegre: Editora da UFRGS, 2009. 330 p.
E
ver dit
sã or op
ara aC
rev
i são R V
do
a uto
r
Editora CRV - versão para revisão do autor - Proibida a impressão
CAPÍTULO III

QUESTÃO AGRÁRIA E COLONIZAÇÃO


NA PAN-AMAZÔNIA: Rondônia
Dério Garcia Bresciani

r
V
uto
Introdução

R
Consideramos importante tratar como as ações estatais na tentativa de

a
resolver a questão agrária, foram fundamentais para o processo que ficou
conhecido como “ocupação da Amazônia”, gerou a produção do espaço de
do
Rondônia em especial com a participação camponesa. A construção e dis-
seminação desse discurso foram bastante utilizadas como justificativa para
aC
integração desta nova fronteira ao restante do país.
Editora CRV - versão para revisão do autor - Proibida a impressão

são
Neste processo, é dada maior ênfase a colonização de Rondônia, área de
interesse deste estudo. Buscamos neste recorte histórico demonstrar como o
processo migratório, incentivado pela forte propaganda estatal, levou a uma
elevada atração, entre outros, de camponeses para o “Eldorado”, justificando
i

assim a presença destes atores sociais e a construção dos espaços destes em


rev

Rondônia.
or

Este estudo é uma parte adaptada da dissertação de mestrado apresentada


ao Programa de Pós-Graduação em Geografia a Fundação Universidade Fe-
deral de Rondônia em 2018 (BRESCIANI, 2018). O capítulo tem o objetivo
ara

de apresentar uma breve discussão literária da questão agrária e colonização


na Pan-Amazônia, especificamente, no Estado de Rondônia.
ver dit

Considerando que as discussões agrárias apresentam-se tímidas em Ron-


dônia, quando buscamos por estudos relacionados. Entretanto, não podemos
op

negar que há grupos de estudos que buscam por desenvolver pesquisas na área,
como o Grupo de Pesquisa em Gestão do Território e Geografia Agrária da
Amazônia (GTGA/UNIR), coordenado pelo professor geógrafo Dr. Ricardo
E

Gilson da Costa Silva.


No entanto, necessário se faz que outras áreas da Ciência se somem a
Geografia que torne compreendida, conhecida e reconhecida a questão agrária
em Rondônia. Sua história, geografia. O levantamento da geo-historiografia
agrária é necessário para que seus conflitos não tenham sido em vão, para que os
seus mártires não sejam esquecidos e que suas famílias não sejam abandonadas.
48

Formação da questão agrária em Rondônia

A posição do território que hoje constitui o estado de Rondônia e sua


localização no domínio amazônico sempre lhe atribui algumas inferências
que permeiam o imaginário social. A mentalidade de que Rondônia é um
estado selvagem, em condição de atraso ainda pode ser encontrada a depender
da parte do país em que se fale de Rondônia. Em algum momento algum

r
V
morador do estado, estando em outra parte do país, ao citar ser de Rondônia,

uto
recebeu olhares de estranhamento, por não ser indígena, se for o caso. Desta
informação, normalmente muitos questionamentos surgiram, quando em um
diálogo com alguém que nunca visitou esta unidade federativa.

R
Numa capa da revista “Veja” do ano de 1982, retrata uma família traba-

a
lhando numa plantação. O sorriso nos rostos certamente procura demonstrar a
felicidade daqueles que vieram para o Eldorado e conseguiram a tão sonhada

do
terra que permitia a sobrevivência da família por meio da agricultura. Esta
aC
edição foi divulgada já nos últimos anos do regime militar, mas representa

Editora CRV - versão para revisão do autor - Proibida a impressão


bem o processo desencadeado especialmente neste período da história do
são
país que resultou na colonização da Amazônia e de Rondônia como parte
daquilo que pelos governos tratava-se de reforma agrária.
Este tipo de situação refere-se a uma construção ideológica sobre a
Amazônia e seus estados constituintes. Tal informação nos remete as di-
i
rev

versas justificativas que foram usadas, em especial, pelos Governos Mili-


tares para justificar a necessidade estratégica de ocupação destas áreas do
or

território nacional. a palavra “ocupação”, que poderia ser substituída por


outras, aparece nos registros históricos que tratam das políticas territoriais
ara

implantadas entre 1964-1985.


O que fundamenta as políticas do Estado no período militar é o grande
ver dit

“vazio demográfico”, pois se acreditava que havia uma baixa densidade


demográfica, segundo Amaral (2004, p. 64) “[...] É dessa maneira que o
op

Estado instituiu um “vazio social” em um território ocupado milenarmente


por nações indígenas secularmente por caboclos originários da época do
extrativismo da borracha, e modernamente por posseiros”.
E

A ideia de vazio demográfico é falsa à medida que indica classes so-


ciais que já povoavam a região antes mesmo das políticas que viriam a ser
implantadas pelo Estado. Mesmo assim, o termo “ocupação”, era fortemente
utilizado a partir dos anos de 1960, relacionado à ideia da Amazônia como
grande vazio demográfico. Tal processo foi analisado por Amaral (2004)
que expõe o,
CONQUISTA DO ESPAÇO NA AMAZÔNIA:
Apropriações da Natureza e Representações Sociais 49

Mito do vazio demográfico, que produziu a crença de uma região virgem,


um imenso espaço vazio, ou a última fronteira da humanidade. Por este
enfoque, a Amazônia é uma terra sem homens para onde os homens sem-
-terra devem migrar, aliviando os problemas da pressão populacional
nas áreas periféricas, ao mesmo tempo em que são ignorados os direitos
seculares das populações que habitam a região (AMARAL, 2004, p. 10)
(Grifo nosso).

r
V
Desta citação queremos evidenciar a parte grifada que nos faz ques-

uto
tionar, quem eram esses homens sem-terra que deveriam migrar? Uma
primeira resposta a essa pergunta seria que tais homens, em grande parte,
eram familiares que já sofriam com os efeitos da forte inserção do Capital
R
no espaço agrário e a formação dos complexos agroindustriais que já es-

a
tavam amplamente disseminados no sudeste e sul do país, levando a uma
intensa concentração das terras e dispensando a mão de obra de várias
famílias camponesas.
do
aC
Esse contexto também é descrito por Costa Silva (2017) que destaca
que o Governo Militar (1964-1985) redesenhou uma nova geografia regional,
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são
ao buscar por resolver os problemas que estava aflorando por todo o país:
“os conflitos agrários” que por conta da expansão das fronteiras internas
entre outras políticas de colonização. Todo este movimento já era uma con-
sequência da tecnologia chegando ao campo, levando milhares de famílias
i
rev

migrarem do campo para as cidades.


O plano militar era resolver três problemas latentes daquele momento.
or

Um deles era a “desocupação” do território estratégico amazônico que gerava


suposta instabilidade na segurança nacional; outro era a crise socioeconômica
do pós-guerra causada pela redução das exportações de alguns itens; e, tam-
ara

bém pela expropriação camponesa em especial no centro-sul, resultado do


ver dit

processo de industrialização que marcava o fim dos monopólios das grandes


fazendas, principalmente, de café o que acentuou a questão agrária do país.
op

O Governo Militar não poderia resolver a questão agrária sem pensar nos
interesses dos investidores das grandes empresas internacionais, a expansão
da agropecuária, por exemplo. “O governo procurou ajustar o problema da
terra aos objetivos do desenvolvimento econômico e, ao mesmo tempo,
E

aos objetivos da segurança nacional, o que significa impedir ou dificultar o


desdobramento político da luta pela terra” (MARTINS, 1984, p. 33).
As inúmeras ações do governo buscavam dar conta dos diferentes
problemas sociais e econômicos da época, dentre eles estava à questão
agrária. Para ele a combinação de diversas medidas o governo militar ao
seu modo procurou realizar uma reforma agrária, talvez não aquela que os
50

expropriados do campo gostariam, mas uma subordinada aos interesses


estatais que visavam atender a reprodução ampliada do capital. Percebe-se
que as ações dos governos militares sempre foram bastante ambíguas quanto
aos efeitos produzidos.
As iniciativas de fortalecimento, desenvolvimento e ocupação da
Amazônia são anteriores a ditadura militar, mas com certeza tiveram grande
influência nas políticas governamentais que seriam estabelecidas durante

r
V
esse período. Um primeiro passo foi a Lei de 1.806, de 6 de janeiro de

uto
1953 que normatizou o Plano de Valorização da Amazônia já era previsto
na constituição de 1946 criada no mandato de Eurico Gaspar Dutra. Esta
lei estabeleceu os interesses nacionais para a Amazônia.

R
Seus objetivos foram: a) Assegurar a ocupação da Amazônia em um

a
sentido brasileiro; b) Constituir na Amazônia uma sociedade economica-

do
mente estável e progressista, capaz de, com seus próprios recursos, prover
a execução de suas tarefas sociais; c) Desenvolver a Amazônia num sentido
aC
paralelo e complementar ao da economia brasileira. Tais objetivos ficaram

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sob incumbência da Superintendência do Plano de Valorização Econômica
da Amazônia – SPVEA. são
Anterior a atuação da SPVEA a Amazônia vinha se recuperando de uma
crise gerada pela queda nas vendas da borracha, que havia sido o último
i
grande ciclo econômico da região, incentivado em especial pelos Estados
rev

Unidos da América, no período entre a primeira e segunda Guerra Mun-


dial, tendo sido findado devido a baixa competitividade com os preços da
or

concorrência internacional em especial por fatores relacionados a logística


de transporte e escoamento do produto. Nesse sentido, uma das principais
ara

missões desta Superintendência era fortalecer a migração e formação de um


novo ciclo econômico em terras amazônicas.
ver dit

A agricultura foi a principal estratégia pensada como forma de atração e


fixação da população. Mais uma vez, a logística de acesso e transporte neste
op

espaço era um desafio para efetivação e sucesso destes planos. A oligarquia


local ainda procurava reafirmar sua força e influência, mesmo naquele cenário
de crise. Esta se opunha fortemente a SPVEA quanto a pensar superação
E

total do extrativismo da borracha, que também ia contra os interesses dos


homens que já haviam se instalado na região, principalmente oriundos da
região nordeste.
Uma das alegações para o golpe civil-militar em 1964, estava na
justificativa de combater possíveis avanços do “Socialismo” para o país,
visto como vestígio a possibilidade de realização da reforma agrária pelo
Governo João Goulart. Devemos lembrar que em nível mundial o contexto
CONQUISTA DO ESPAÇO NA AMAZÔNIA:
Apropriações da Natureza e Representações Sociais 51

histórico foi marcado pela Guerra Fria, em que a disputa ideológica entre
Socialismo de Capitalismo polarizava o mundo entre os que se aliavam ou a
União Soviética ou aos Estados Unidos da América. Nesse período o Brasil
representado pelos militares manteve alianças com os EUA, de modo que
esses tiveram grande influência nas ações políticas e econômicas brasileiras.
O cenário na época era marcado por uma forte inserção do Capital na
indústria, e por consequência na agricultura, ao passo que se consolidavam

r
V
com maior força as lutas dos movimentos sociais e agrários no campo, com

uto
o surgimento de organizações e ligas camponesas, apoiadas pelos Sindicatos
Rurais e Instituições como a Igreja Católica por intermédio da Comissão
Pastoral da Terra – CPT.
R
Para acalmar os ânimos dessa época turbulenta da história do país, ainda

a
no primeiro ano Castelo Branco, primeiro presidente do Regime Militar,

do
promulgou Lei nº 4.504, de 30 de novembro de 1964, que dispõe sobre o
Estatuto da Terra. A propriedade privada das terras do país já havia sido
aC
garantida pela Lei de Terras 1850. O Estatuto da Terra vem no ensejo de
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disciplinar o as relações fundiárias no Brasil, principalmente o uso e ocu-


são
pação das terras (MARTINS, 1981). Seu conteúdo traz conceitos novos que
foram fundamentais para nortear a política agrária no país, podemos citar
como exemplo, a Reforma Agrária, e noções de estrutura fundiária com a
i

ideia de Módulo Rural, Minifúndio e Latifúndio.


rev

Com o Estatuto da Terra (já verificada ineficiência dos trabalhos da


SPVEA), Lei nº 5.173, de 27 de outubro de 1966, extingue a Superinten-
or

dência do Plano de Valorização Econômica da Amazônia – SPVEA, cria a


Superintendência do Desenvolvimento da Amazônia – SUDAM. É criada
ara

com a finalidade de planejar, coordenar, promover a execução e controlar a


ação federal na Amazônia Legal, tendo em vista o desenvolvimento regional.
ver dit

Esta nova Superintendência é criada com um caráter mais operacional,


como se podem perceber no texto da Lei que já previa dentre algumas ações,
op

as fontes dos recursos que seriam destinados para realização dos projetos.
As ações era parte das estratégias Geopolíticas do Governo Militar para
manter a soberania sobre as terras, especificamente as terras devolutas, ou
E

sob poder estatal, que não estavam devidamente asseguradas e integradas


ao território nacional.
Costa (2001) expões que os marcos da ocupação no final do século XX,

[...] foram às transformações da SPVEA em SUDAM (Superintendência


de Desenvolvimento da Amazônia) e do BCA (Banco da Amazônia S/A),
além de um incremento considerável nos mecanismos de incentivos fis-
52

cais, regulamentados em lei de 1968. Por esses mecanismos, empresas


privadas interessadas em investir na região, poderiam obter isenção de
até 100% do imposto de renda, por 15 anos, além de outros benefícios
fiscais específicos. Com isso a estratégia do governo era de canalizar
investimentos preferencialmente a projetos agrícolas, pecuários e indus-
triais na região (COSTA, 2001, p. 68).

Com esta estratégia o Governo Federal conseguiu atrair os interesses

r
V
e capital da inciativa privada para a região. Tais recursos foram implemen-

uto
tados também por contrapartida pública intermediada pelo BCA que foi
fundamental. Segundo Becker (1991, p. 27), entre 1966 e 1985, 590 projetos
agropecuários foram aprovados pela SUDAM, para implantação em 134

R
a
municípios. Assim, este processo leva a apropriação de terras por grandes
fazendeiros e expulsão dos posseiros.

do
Outra importante política se deu no Governo de Emílio Médici, em 1970,
ao lançar o Programa de Integração Nacional – PIN instituído pelo Decreto-
aC
-Lei nº 1.106, de 16 de junho de 1970. Tal programa tem uma direta ligação

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com o slogan nacionalista fortemente difundido pelos governos militares:
são
Integrar para não entregar. A integração deveria acontecer especialmente
por meio de obras de infraestrutura para atender as demandas econômicas
e sociais nas regiões Norte e também Nordeste (IANNI, 1979).
i
Dentre as muitas necessidades em termos de infraestrutura, uma das
rev

mais latentes para região norte estava ligadas ao acesso rodoviário. Ou


or

seja, estabelecer redes de transportes tanto para o trânsito de pessoas, como


chegada e escoamento de produtos. Para tal, a primeira etapa do PIN previa
uma ação coordenada junto ao Ministério dos Transportes para construção
ara

imediata de rodovias e embarcadouros fluviais. A construção das rodovias


era condição sine qua non para garantir a realização de qualquer projeto
ver dit

pensado para a fronteira Amazônica. Estas foram essenciais para garantir


o fluxo de mercadorias e pessoas, possibilitando também a formação de
op

pequenas cidades nos seus entornos.


Costa Silva (2010) definiu-as como materialidade técnica do território
nacional, exatamente porque elas vão delinear as primeiras áreas de ocu-
E

pação, e vão de certa forma definir o traçado das áreas que serão ocupadas
em primeiro e segundo plano, o que está diretamente ligado à forma como
o território foi sendo povoado por diferentes grupos sociais. Este último
autor nos oferece uma classificação baseada na tipologia, direção e principais
eixos que foram constituídos na época.
CONQUISTA DO ESPAÇO NA AMAZÔNIA:
Apropriações da Natureza e Representações Sociais 53

Quadro 1 – Organização e tipologia da rede rodoviária federal

Tipologia
Das Direção Principais eixos
Rodovias

BR – 010 (Brasília- Belém)


Parte do Anel Rodoviário de Brasília
Radiais
em direção aos extremos do país.
BR – 040 (Brasília – Rio de Janeiro)

r
V
uto
BR – 174 (Cáceres – Boa Vista)
Longitu-
Direção Norte-Sul
dinais
BR – 101 (Sul – Nordeste)

Transversais
R
Rodovias disposta na direção leste- oeste BR – 230 (Transamazônica)

a
BR – 364 (São
Rodovias disposta na direção noroeste- Paulo-Rondônia-Acre)
Diagonais

do
sudeste e nordeste – sudoeste
BR – 319 (Porto Velho – Manaus)
aC
BR – 421 (Ariquemes,
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Apresentam-se em qualquer direção. Em Nova Mamoré, Guajará-


são
geral ligam rodovias federais, ou pelo Mirim em Ro,ndônia)
De ligação menos uma rodovia federal a cidades ou BR – 429 (Ji-Paraná – Costa
pontos importantes ou ainda as nossas Marques em Rondônia)
fronteiras internacionais. BR – 425 (Guajará-Mirim até
BR – 364 em Rondônia)
i

Fonte: Costa Silva (2010) extraído originalmente do Ministério dos Transportes, 2008.
rev
or

No Quadro 1, entre as previstas para Rondônia, a BR-364 teve maior


importância, primeiramente por interligar o estado de um extremo ao outro.
Becker (1991) nos aponta que a consolidação desta rodovia permitiu canalizar
ara

o fluxo de camponeses expropriados pela modernização agrícola no Sul no


país. Segundo Costa Silva (2010) esta se constitui num sistema rodoviário que
ver dit

alicerça a interiorização do território, o desenvolvimento de novas atividades


agropecuárias e a expansão da presença humana nos recônditos do espaço
op

regional. Tal rodovia é base para o esboço de muitos projetos de instalação


de cidades e linhas rurais.
O PIN mobilizou também o Ministério da Agricultura, que seria respon-
E

sável por executar a parte relativa à colonização e reforma agrária. A esse


respeito Costa Silva (2017, p. 73) afirma que, “Na geopolítica pensada para
a Amazônia, a colonização agrícola se tornou uma política territorial estra-
tégica, compondo a lógica de intervenção que alimentou as transformações
espaciais que se projetara à região”. Em resposta a essas metas, vinculado ao
Ministério da Agricultura é criado pelo Decreto Lei nº 1.110, de 9 de julho de
1970 o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária – INCRA. Esta
54

entidade teve como foco principal a implantação de projetos de colonização


voltados para o Norte do Brasil.
Com a criação e atuação do INCRA, se evidenciou que o objetivo não era
de fazer reforma agrária ou resolver a questão agrária, mas sim, conter a todo
custo às pressões sociais em torno da estrutura fundiária nas áreas já inseridas
na lógica capitalista. Apenas em casos extremos haveria em último caso desa-
propriação de terras. Mas, desapropriar demandava um procedimento repleto

r
V
de entraves, o que incluía, inclusive, audiência com o Ministro da Agricultura,

uto
porém por diversas estratégias típicas dos militares jamais viria a acontecer.
Direto do auge da implantação dos Projetos de Assentamentos rurais
Martins (1984) discursa que,

R
a
A reforma agrária ficou, portanto, circunscrita aos casos de tensão social
grave, em áreas prioritárias, quando então pode haver a desapropriação

do
por interesse social, e aos casos de reassentamento de mini fundiários, ou
vítimas de conflitos, em outras regiões. As regiões de reassentamento e
aC
colonização seriam as regiões pioneiras, o que já naquele momento queria
dizer fundamentalmente o que viria a ser em pouco a Amazônia Legal.

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É a partir dessa concepção da questão agrária, portanto, que a Amazônia é
são
incorporada à situação social e à estrutura de relações sociais, econômicas
e de poder que constituem base contemporânea de lutas camponesas pela
terra no Brasil (MARTINS, 1984, p. 33).
i
Assim, percebemos o porquê a colonização agrícola foi tida como a
rev

melhor estratégia para garantir a vinda de migrantes para Amazônia. Outro


or

elemento importante foi de colocar em prática parte do previsto no Estatuto


da Terra. Diga-se parte, porque de fato o que se concretizou foram apenas
ações voltadas a “ocupação” do território, tendo em vista como já apontado
ara

anteriormente tal espaço era considerado um vazio humano. Sobre a atração


de pessoas, ao Estado ficou a responsabilidade de investir em infraestrutura
ver dit

como em transporte, energia, saúde, educação, entre outros, dando condições


para que fosse efetivada a ocupação proposta.
op

Em relação ao modelo adotado pelo INCRA, ou seja, a colonização


Dirigida, esta era apontada como procedimento ideal de ocupação das novas
frentes de terra. O principal diferencial deste modelo está na participação do
Estado no controle dos projetos, como forma de prevenção para qualquer
E

levante popular, uma vez que as terras na verdade estavam primeiramente


voltadas à grandes projetos agropecuários.
Esses projetos dependiam de mão de obra camponesa, o que de certo
modo, gerava uma contradição em relação aos diferentes grupos cooptados.
Para Oliveira (2001) os governos militares procuraram “administrar” esta
contradição; e, ao mesmo tempo, aprofundaram-na. Reprimiram os movimen-
tos populares e deram todo apoio aos investimentos incentivados no campo.
CONQUISTA DO ESPAÇO NA AMAZÔNIA:
Apropriações da Natureza e Representações Sociais 55

A política de Colonização Dirigida surgiu, assim, como alternativa para


justificar e legitimar a intervenção do Estado na Manutenção da Estrutura de
Apropriação e dominação vigente. E ela não foi mais do que uma forma de
evitar transformações na estrutura agrária, como válvula de escape para evitar
pressões demográficas e sociais em áreas carentes de reforma agrária. Numa
palavra, a política de Colonização Dirigida foi apenas um meio de impedir a
realização de uma autentica reforma agrária no Brasil.

r
Temos então, um modelo que não deu solução ao problema dos que es-

V
tavam sem terras, mas apenas a sua conveniente transferência para a fronteira

uto
Amazônica. A intenção de o Governo Militar como fica evidente no texto de
Perdigão e Bassegio (1992) é de escamotear as pressões em torno da reforma
agrária. Muitos aceitaram as propostas governamentais, outros preferiram
R
permanecer lutando no mesmo local em várias partes do país.

a
Essa oportunidade não foi dada igualmente a qualquer interessado, al-
guns chegavam a passar por um processo seletivo, por meio de entrevistas
do
realizadas pelo INCRA, que iria qualificar se os migrantes tinham ou não o
aC
perfil desejado para receberem a terra e os incentivos governamentais. Neste
processo, muitos foram mais uma vez espoliados da oportunidade do acesso
Editora CRV - versão para revisão do autor - Proibida a impressão

são
a terra, em especial os que não detinham capital de contrapartida.
Perdigão e Bassegio (1992) pontuam que não houve uma reforma agrária,
o que de fato ocorreu foi colonização e regularização fundiária. Trouxemos Per-
digão e Bassegio justamente por terem pontuado esta questão nos idos dos anos
i

90 quando ainda estava ocorrendo às distribuições de terra em Rondônia. Esta


rev

reforma seria em Estados que estavam com problemas como o Paraná e outros
que os agricultores não tinham onde trabalhar. Mas com as falsas promessas o
or

Governo criou o “Eldorado Rondônia” que para muitos acabou sendo a perdição.
Tal realidade só viria a ser constatada mais tarde, em alguns casos, quando
ara

na chegada ao novo território. O que ocorreu foi que por muito tempo os
migrantes foram iludidos por todas aquelas propagandas. Além da busca da
ver dit

terra, outro fator que com certeza contribuiu muito para motivar a vinda de
muitos eram as condições de desemprego no Sul e Sudeste, gerado pela crise
op

econômica, pela industrialização, pelo constante êxodo rural, pela concentra-


ção de terras, entre outros fatores que já geravam grandes vulnerabilidades
sociais e um grande número de expropriados. Esse fator leva os trabalhadores
a acreditarem nas promessas do “Eldorado”, ou então eram empurrados por
E

um puro sentimento de “não há nada a perder”.


O processo de ocupação permitiu também a atração de camponeses. Não
por acaso, estes eram essenciais como mão de obra para os projetos agroin-
dustriais que seriam implantados a partir do modelo de colonização agrícola.
Com essa característica fica evidente a contradição posta pela lógica capita-
lista, pois havendo a concretização haveria a necessidade de grande volume
de pessoas para trabalharem nas atividades econômicas em especial agrícolas.
56

Para Oliveira (2007) juntava-se a “fome com a vontade de comer”, o


autor aponta que era preciso de mão de obra para que fosse possível implantar
a “Operação Amazônia”, pois os projetos de agrominerais e agropecuários
só iriam vingar se tivessem força de trabalho “[...] A alternativa foi à mesma
empregada de há muito em território brasileiro para suprir a falta de trabalha-
dores: lançar mão de programas de colonização” (Ibid., p. 122). Assim sendo,
os projetos de colonização oficiais foram alocados em diversas partes para

r
V
melhor distribuir os migrantes que viriam a ser assentados.

uto
Efetivação da colonização

R
A ideia da colonização dirigida se efetivou em Rondônia, mediante os

a
Projetos Integrados de Colonização – PIC, Projetos de Assentamentos Diri-
gidos – PAD, Projetos de Assentamentos – PA e Projetos de Assentamento

do
Rápido – PAR. Foram aplicados em diferentes espaços e épocas no Estado.
Previa uma ampla e distribuída estrutura prevendo também de como se daria
aC
a organização social, tendo como fator central um ordenamento no qual o

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são
elemento central era o espaço rural.
Os PIC’s, principal ação colonizadora, eram executados em 5 etapas, em
tese foram os mais estruturados, haja vista a assessoria oferecida pelo INCRA
quanto demarcação dos lotes, linhas de acesso e estradas. Nesse modelo
i
procurou-se assegurar também aos assentados algumas condições quanto à
rev

saúde, educação, assistência técnica e, posterior comércio do que viria a ser


or

produzido. Becker (1991) descreve que,

Os PIC que tiveram extraordinário efeito demonstração: um pequeno


ara

número de parceleiros foi assentado com toda assistência do Estado,


atraindo grande massa de população que “espontaneamente” se assenta
ver dit

com suas próprias mãos de acordo com o modelo oficial, tendo depois sua
situação regularizada. Mas em contrapartida, o fluxo populacional excedeu
em muito a capacidade de controle do INCRA – a população cresceu de
op

36 935 habitantes em 1950 para 888 430 em 1984, obrigando o Estado a


se adaptar, recorrendo a novas formas de assentamentos, cada vez com
menores lotes (50 e mesmo 20 ha, em vez de 100), menor investimento do
Estado, e, crescente, a reboque do povoamento (BECKER, 1991, p. 36).
E

O crescente fluxo de migrantes que chegavam a proporções além do


previsto, fez com que o INCRA tivesse que rever sua linha de atuação. A de-
manda de pessoas a serem assentadas crescia tão rapidamente que as áreas
destinadas não eram suficientes. Havia filas de espera para obter os lotes,
algumas destas famílias enquanto aguardavam se submetiam ao trabalho
assalariado para obter condições de sustento.
CONQUISTA DO ESPAÇO NA AMAZÔNIA:
Apropriações da Natureza e Representações Sociais 57

Num segundo momento, o INCRA adotou como estratégia os PADs,


neste modelo o Estado apenas se comprometia a abrir algumas estradas de
acesso. O público precisaria ser mais especializado do que um trabalhador
rural, ou seja, deveria ter um mínimo de conhecimento agrícola, melhores
condições econômicas e experiência com relação à obtenção de crédito ban-
cário (AMARAL, 2004).
Mais tarde, devido aos resultados dos projetos de colonização, mesmo

r
V
num momento Político de desestímulo à migração, numa reportagem da Re-

uto
vista Veja de 27 de agosto de 1980 os termos das notícias sofrem drásticas
mudanças em relação às referências anteriores, o “Eldorado” passa a ser
tratado de “Faroeste Brasileiro”. A realidade enfrentada por muitos daqueles
R
que vieram passa a ser noticiada como forma de conter o aumento do fluxo

a
de colonos que sempre se manteve crescente apesar das dificuldades.
Tendo em vista as dificuldades encontradas pelo próprio INCRA em
do
acompanhar e assentar todos os colonos migrantes que chegavam sem parar
aC
em grande volume. Neste contexto, a partir de 1980 o INCRA passa a executar
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os Projetos de Assentamento Rápido (PARs). As diferenças principais neste


são
novo molde estavam no tamanho dos lotes que passaram a ser de no máximo
50 ha, e a infraestrutura oferecida era quase nenhuma, pois sequer contemplava
as estradas de acesso, eram oferecidas apenas picadas. As estradas somente
viriam a serem abertas ou pelos próprios assentados ou em momento posterior
i
rev

quando houvesse produção. Este modelo contemplou especialmente famílias


de pequenos produtores.
or

Já na década de 1980, com a concretização da pavimentação da BR-


364, são criados os Núcleos Urbanos de Apoio Rural (NUAR). Tais núcleos
já foram planejados no âmbito da política local sendo partes do Programa de
ara

Desenvolvimento Integrado de Rondônia. Estes núcleos foram implementados


ver dit

a partir dos Projetos de Assentamentos – PA, previstos para áreas mais afasta-
das dos projetos anteriores, e representam um modelo de descentralização da
op

ocupação no estado de Rondônia para além do traçado da rodovia principal.


Um fator importante é que esses projetos foram marcados muitas vezes
por ação direta do Governo, demonstrando os interesses estatais nesse pro-
E

cesso de “ocupação”. Representam à materialização dos interesses estatais


na expansão da fronteira agrícola, essencial para atender os interesses capi-


talistas da época, que tem a Amazônia como propensa região geradora de
riquezas. Tais riquezas dentre elas a terra, e geradora de conflitos, que de certo
modo sempre foram ignorados pelos governantes que muitas vezes apenas
o desconcentram de um local para o outro, como ocorre neste caso gerando
contradições. Para Becker (1991),
58

Identificados, os conflitos passaram a ser reconhecidos como questão re-


levante para intervenção governamental na segunda metade da década de
1970. Até então, fora total e deliberada omissão do governo face a violência,
não apenas dos laços entre burocratas e donos de terra, mas também de
uma visão do mundo em que a ocupação da Amazônia é vista como parte
de um processo dinâmico de expansão capitalista e de modernização, no
qual a expropriação da maior parte do campesinato é entendida como

r
V
inevitável (BECKER, 1991, p. 40-42).

uto
Verificamos que a esses conflitos não foi prestada a devida atenção,
nem tão pouco, o deslocamento dos envolvidos para a fronteira Amazô-
nica foi capaz de resolver a questão agrária. Afinal, a realidade encontrada

R
a
nas novas terras, apenas repetia o que já era vivenciado na origem. Como
resultado, destaca Martins (1982, p. 86) “[...] a Amazônia tornou-se uma

do
das regiões mais tensas do país, exatamente porque nela estão acumuladas
tensões geradas em outras áreas o que faz dela uma região de desespero”.
aC
Assim, por vezes, a frustração e revolta era ainda maior atenuando as rein-

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são
vindicações com o encontro entre camponeses que já se encontravam em
diferentes partes do Brasil.
No começo da década de 90 do século XX, a professora, pesquisadora,
geógrafa e historiadora Dra. Bertha Becker (1991) já chamava atenção sobre
i
o cadastro de 11.000 famílias realizadas pelo INCRA em nome da política
rev

fundiária em 1982 e que não receberam terra. Além destas famílias haviam
or

as não cadastradas que, segundo a pesquisadora, estima-se que chegam a


30.000 famílias.
Evidente que as políticas publicas de assentamento foi incapaz de aten-
ara

der a demanda r o fluxo constante de famílias que atendiam o chamado do


próprio Governo através do marketing incessante, segundo Bercker (1991,
ver dit

p. 37), “[...] resultou na intensificação da ocupação de locais não deseja-


dos – “invasões” – em uma explosão de violentos conflitos no Estado de
op

Rondônia, onde os pequenos produtores participam e influem no processo


de produção do novo espaço”.
Evidenciamos que este processo migratório é que leva à formação do
E

espaço do campesinato em Rondônia causando a presença expressiva de


camponeses neste local. A chegada destes, em diferentes épocas, conse-
quentemente, tem uma relação direta com a situação que estes vivenciam
atualmente, à medida que nem todos conseguiram de fato obter a terra e
estabelecer a organização do seu espaço de vida, como era almejado em
pequenas propriedades.
CONQUISTA DO ESPAÇO NA AMAZÔNIA:
Apropriações da Natureza e Representações Sociais 59

Considerações complementares

Devemos observar que como resultado do processo de colonização,


que não foi conduzido como idealizado desde e o início, tendo sofrido
diversas alterações como já evidenciamos neste texto. Fato este que ge-
rou um saldo bastante elevado de 30.000 famílias que migraram e não
receberam terras, número este que diz respeito apenas as que foram de

r
V
fato cadastradas. Outras tantas nem sequer chegaram a ser somadas à

uto
estatística e iam por conta própria, procurando alguma propriedade para
oferecer sua força de trabalho.
Até 1985 houve aumento da quantidade e extensão das grandes pro-
R
priedades rurais do estado. Esse fato deve-se a redução das políticas de

a
incentivos voltadas à pequena produção, o que nos leva a perceber como
os camponeses são deixados de lado em relação às ações de apoio a sua
do
produção, ou seja, vemos assim a influência do paradigma do capitalismo
aC
agrário diretamente nas ações governamentais e repercutindo diretamente
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nos espaços camponeses.


são
A terra ainda é elemento essencial para vida. Neste aspecto, pode-
mos ainda perceber em Rondônia uma estrutura fundiária em processo de
transformação que tende a sua concentração, considerando a ampliação dos
empreendimentos do agronegócio no estado. Contudo, apesar da atuação
i
rev

desigual deste modelo econômico rural, ainda podemos afirmar, a luz dos
dados levantados, que a presença da pequena propriedade ainda é predo-
or

minante. Por outro lado, caso não sejam criados mecanismos políticos e
sociais que atendam ao modo de vida no campo, observaremos nos próxi-
ara

mos anos a intensificação dos conflitos no campo pela forte resistência ao


processo de expropriação e desconstrução da lógica camponesa imposta
ver dit

pelo capitalismo agrário que vem se configurando.


A colonização do Estado de Rondônia é recente. Pode ser considerada
op

jovem e, ainda está em formação. É evidente e urgente à necessidade de


políticas governamentais voltadas ao campo cujo objetivo seja de reverter à
situação periclitante dos camponeses. As poucas políticas existentes ainda
E

não dão conta de sanar os principais problemas vivenciados por esta parcela

significativa da sociedade, sejam estes ligados a saúde, acesso, educação,


moradia, produção, entre outros. O processo de colonização se iniciou
nos anos de 1970, há quase 50 anos, mas os conflitos continuam atuais.
60

REFERÊNCIAS

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Terceira Margem, 2004. 127 p.
BECKER, Koifmann Bertha. Amazônia. São Paulo: Ática, 1991.

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V
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Rondônia. 2018. 157 f. Orientador: Dr. Ricardo Gilson da Costa Silva. Disser-
tação (Mestrado em Geografia) – Fundação Universidade Federal de Rondônia,
Departamento de Geografia, Porto Velho, Rondônia, 2018.

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teses/disponiveis/8/8136/tde-14092011-131342/en.php>. Acesso em: 15 dez. 2017.
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São Paulo: Contexto. 2001


IANNI, Otávio. Colonização e contra-reforma agrária. Vozes, Petrópolis, 1979.
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MARTINS, José de Souza. Os camponeses e a política no Brasil. Petrópolis,


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Vozes, 1981.
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blema da Terra na Crise Política). Petrópolis: Vozes, 1984.
______. Expropriação e violência: a questão política no campo. São Paulo:
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Hucitec, 1982.
PERDIGÃO, Francinete; BASSÉGIO, Luiz. Migrantes Amazônicos: Rondônia
a Trajetória da Ilusão. São Paulo, Loyola, 1992.
OLIVEIRA, Ariovaldo Umbelino. Modo de Produção Capitalista, Agricultura
e Reforma Agrária. São Paulo: Labur Edições, 2007.
CAPÍTULO IV

SISTEMAS AGROFLORESTAIS NA PAN


AMAZÔNIA: a floresta plantada como
alternativa de desenvolvimento sustentável

r
V
Willimis Alves Pereira

uto
Juander Antonio de Oliveira Souza
Mauro José Ferreira Cury

R
a
Introdução

do
Este capítulo tem como objetivo analisar algumas das transformações
aC
recentes que vem acontecendo nas propriedades brasileiras, principalmente
Editora CRV - versão para revisão do autor - Proibida a impressão

na região Amazônica, que têm correspondência com desenvolvimento sus-


são
tentável e políticas públicas e sociais. Essa transformação no campo prioriza
a abordagem sobre a agricultura familiar, sob o princípio de constituição de
uma organização de unidade de produção com trabalhadores não assalariados,
ou seja, sua renda advém do trabalho, na terra, sem vínculo empregatício.
i
rev

A busca é por estratégias de melhor qualidade de vida e de eficácia na


comercialização do produto final, com o uso do solo, do espaço e de novas
or

tecnologias de forma eficientes que contribua com a estabelecer sociedades


locais integradas e estruturadas por valores de cidadania.
Mostrar que políticas públicas quando elaboradas com objetivos efi-
ara

cientes dispensam políticas sociais compensatórias, para o meio rural, há


ver dit

evidências que confirmam esta convicção. No entanto, o que se tem acom-


panhado nas redes de informações é de que há diferenças nos benefícios
op

entre as pessoas, pois, os que detêm poder de decisão sobre as condições


necessárias para aproveitar as oportunidades, sobressaem aos demais. Os
projetos de interesse social devem beneficiar todos os que possuem neces-
sidades diferenciadas, no sentido de propiciar condições de superação de
E

desigualdades no meio rural.


Por muito tempo se tem discutido a necessidade de preservação da
natureza, contudo, os debates nas décadas de 1970, 1980 e 1990, ficaram
presos no discurso. Já no Século XXI, o cenário apresenta-se diferente.
Pessoas têm procurado se agrupar para que juntos façam a diferença, res-
gatem na natureza aquilo que desordenadamente o ser humano destruiu.
62

O reflorestamento tem sido uma das soluções para que a flora e a fauna
sejam preservadas, pois o uso dos bens naturais mostra-se em processo de
degradação e a sustentabilidade é o que realmente poderá salvar o Planeta
Terra de uma situação irreversível, o que poderá levar ao extermínio da vida
neste planeta. Uma das causas do desmatamento é a expansão das áreas para
o plantio de pasto para a criação de gado, ou monocultura.
Considerando que o Estado de Rondônia possui uma grande área des-

r
V
matada e possui quatro municípios (Machadinho do Oeste, Rolim de Moura,

uto
Porto Velho e Nova Mamoré) apontados nas Operações Arco de Fogo e
Arco Verde, ou seja, Rondônia está no Arco de Fogo da Amazônia Legal.
O constante desmatamento passa a ser preocupação não só do Governo

R
como de toda a sociedade organizada. Assim, a contabilidade, socialmente

a
responsável, passa a ter papel predominante na estruturação dos custos do
desmatamento e restituição da natureza.

do
O desmatamento no Brasil é assunto notório e de constantes discussões.
aC
Impõem-se leis que obrigam pequenas e grandes propriedades a preservar

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parte de suas terras e, aquelas que não atem uma reservam devem reflorestar.
são
Todavia, pouco se discute sobre os custos destas ações, principalmente do
reflorestamento.
Preocupados com as questões ambientais se procurou compreender a
política ambiental no Brasil, mais especificamente o que tange o estado de
i
rev

Rondônia, assim, por meio de leituras complementares, identificou-se que a


ocupação no estado de Rondônia foi realizada sem planejamento, além de ser
or

predatório e extrativista, assim como foi em todo o resto do país, causando


grandes prejuízos a fauna e fauna. Neste início de século XXI, com uma
grande área desmatada, com a emissão de CO2 no ar, fala-se, intensamente,
ara

em reflorestamento. Fala-se também em custos do reflorestamento, mas


ver dit

pouco se fala na contabilização real destes custos. Ou mesmo de alternativas


de sobrevivência daqueles que optam pelo reflorestamento.
op

Os sistemas agroflorestais

No estado de Rondônia é inegável que a criação de gado bovino de corte


E

e leiteiro ocupem destaque no cenário econômico, inclusive com lobby do


capital de “estado natural da pecuária”. Segundo o último censo agropecuário
do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) haviam no estado,
até o ano de 2006, cerca de 8.542.726 bovinos. No período mais recente,
estimativas do IBGE dão conta de cerca de 12.329.971 cabeças, o sétimo
maior rebanho do país e o segundo maior da região amazônica (IBGE, 2015).
CONQUISTA DO ESPAÇO NA AMAZÔNIA:
Apropriações da Natureza e Representações Sociais 63

Neste sentido Amazônia brasileira e em especial o estado de Rondônia


sofreu um processo violento de ocupação de suas terras. Os governos mili-
tares tinham grande preocupação com a ocupação dos vazios demográficos
da Amazônia, deveras a cobiça sobre o território. Neste contexto, a região
amazônica representava para o estado brasileiro uma saída estratégica para o
estabelecimento de famílias com baixo poder aquisitivo oriundo principalmente
da região sul e sudeste, de forma a constituir núcleos de desenvolvimento rural,

r
V
que viesse a demarcar território numa região geograficamente pouco habitada.

uto
Com o surgimento de novas técnicas de conservação da natureza aliadas
ao aumento da produção do campo surgiu os Sistemas agroflorestais SAF’s,
que nada mais é o uso do solo, onde são associados plantio de árvores com
R
cultivos agrícolas e/ou pastagens com animais, onde a produção do campo é

a
otimizada ao mesmo no tempo e no mesmo espaço. Esse modelo de plantio
vem alterando o espaço rural de maneira muito positiva, pois fortalece a
do
agricultura familiar na Amazônia gerando renda e melhorando a qualidade
ambiental. Nos últimos anos estudos têm sido feito para caracterizar e propor
aC
novos arranjos de sistemas agroflorestais, boa parte tem sido feita no modelo
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são
agroecológico, já que os pequenos agricultores familiares na maioria não
possuem recursos econômicos para investir em insumos de alto custo.
Os SAF’s são considerados como alternativa apropriada para os trópicos
úmidos por se assemelharem à floresta primária, aliado a presença de grande
i

biodiversidade e, esta posição já era defendida na década de 90, do século


rev

XX, por Smith et al. (1996). São reconhecidos como mais sustentáveis e
or

ambientalmente menos danosos do que a pastagem, qual tem predominado


no uso da terra em áreas desmatadas na Amazônia.
A combinação do uso da terra entre a produção agrícola ou de animais,
ara

ou mista e culturas arbóreas com ou sem plantas florestais (independente de


fins comercial ou ecológica), simultâneo ou sequencial numa única área, é
ver dit

considerado um tipo de Sistema Agroflorestal. O objetivo, no geral, é a pro-


dução de múltiplos produtos ao mesmo tempo em que o produtor contribui
op

com a recuperação de áreas desmatadas e dá “fôlego” a Natureza.


Locatelli et al. (2013) defendem que os Sistemas Agroflorestais, nas
suas variações e formas, cooperam para a ciclagem de nutrientes. Por isto
E

proporciona entre as diferentes espécies, usadas nos SAF’s, uma boa relação
de matéria orgânica, assim como ajuda na fixação de nitrogênio, assim como
na conservação/preservação do solo. Ou seja, trazem inúmeras melhorias nos
sistemas produtivos das pequenas propriedades. Onde as áreas produtivas são
otimizadas, o solo apresenta melhoras significativas quanto à quantidade de
matéria orgânica visível, principalmente quando confrontado a forma anterior
à implantação do sistema.
64

Nas áreas de pastagens integradas, nos sistemas Silvipastoril (SSP) e


Agrossilvipastoril (SAS), apresentam maior proteção dos efeitos causados pelo
sol e o vento evitando a erosão e melhorando a capitação de água, promovendo
o bem-estar dos animais. Além disso, os sistemas agroflorestais estão propor-
cionando renda diversificada aos produtores rurais, pois são mais eficientes
em comparação ao monocultivo empregado na maioria das propriedades.
Os SAF’s podem ser definidos de várias formas para descrever e quali-

r
V
ficá-los, entretanto a de uso mais difundido é a apresentada por Daniel et al.

uto
(1999), em que envolvem tanto a retenção, quanto a introdução de árvores
frutíferas ou lenhosas junto a produção agrícola ou de animal, com o objetivo
de se ter benefícios econômicos, ecológicos e sociais, simultaneamente. Por

R
conta da interação e econômica entre as variações de componentes, os SAF’s

a
são classificados como sistema estrutural, eficiente e eficaz, com funções mais
complexas do que as monoculturas.

do
Desta forma, os SAF’s constituem-se em modalidade viável de uso da
aC
terra, sob o princípio do rendimento sustentado, que permite aumentar a

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produção total ou de forma gradual. Deve ser feito por meio da inserção de
são
árvores de grande porte com culturas agrícolas/animais, podendo ser para fins
ecológicos ou para a prática de manejo. Esta prática de produção deve levar
em conta os padrões culturais da população local.
Conhecimento do século XX se traz a este estudo o de Montoya e Mazu-
i
rev

chowski (1994), Castro et al. (1996), Smith et al. (1996) e Daniel et al. (1999),
aqui copiladas consideradas como atuais, apresentam diversos fatores que
or

dificultam a propagação dos SAF’s. Em síntese, com acréscimos necessários


segue um conjunto de fatores que dificultam a implantação de SAF:
ara

a) Falta de tradição agroflorestal;


ver dit

b) Falta de paciência, ou seja, imediatismo;


c) Falta de conscientização por parte do produtor;
op

d) Falta de conhecimento dos benefícios do SAF;


e) Desconhecimento das tecnologias adequadas a agricultura e a cria-
ção de animais;
f) Legislação ambiental que esmorece o interesse de implantação de
E

SAF em unidades produtivas, por não permitir cortes e/ou raleios


da vegetação nativa para este fim;
g) Falta de pesquisas em SAF que o qualifique e o quantifique;
h) Carência de recursos humanos, ainda mais treinados;
i) Falta de conhecimento sobre ecofisiologia das espécies florestais.
CONQUISTA DO ESPAÇO NA AMAZÔNIA:
Apropriações da Natureza e Representações Sociais 65

Esses aspectos merecem atenção especial de pesquisadores e instituições


de pesquisa de forma que sejam resolvidos os problemas e estimular a prática
de cultivo em SAF, principalmente em pequenas e médias propriedades rurais,
de uma forma geral, e em especial na recuperação de áreas degradadas e no
manejo de fragmentos florestais.
Considerando a data em que os pesquisadores apresentaram suas posições
a cerca da utilização dos Sistemas Agroflorestais, há mais de 18 anos, a evo-

r
lução quanto à maturidade da percepção da importância e uso dos sistemas,

V
pouco se tem diferenciado na região norte brasileira. Contudo, percebe-se um

uto
crescente estudo sobre a temática, a exemplo de estudos da pesquisadora da
Embrapa Marília Locatelli com centenas de pesquisas realizadas e publicadas
ao longo de sua vida profissional.
R
a
Agropastoril e o reflorestamento

do
O agropastoril apresenta-se como uma alternativa, contudo, o desmata-
aC
mento para esta atividade continua sendo a forma mais utilizada nas empresas
rurais, sendo o reflorestamento, uma ideia normalmente deixada para segundo
Editora CRV - versão para revisão do autor - Proibida a impressão

são
plano, sem que haja um estudo adequado nesta área. Neste sentido, Oliveira,
Scolforo e Silveira (2000, p. 16), desenvolveram estudo que mostra a viabilidade
econômica de implantação de sistemas de Agrossilvipastoris com o eucalipto
em região de cerrado, “[...] desde que, pelo menos, 5% da madeira produzida
i

sejam usadas para serraria e a madeira restante seja usada para energia ou para
rev

outro fim que alcance valor igual ou mais alto no mercado”, assim todo o pro-
or

cesso de reflorestamento contribui com a sustentabilidade dos recursos naturais.


Por conseguinte, necessário se faz compreender que o reflorestamento vai
além das atividades pastoris, chega às hidrelétricas, que desmatam através do
ara

alagamento, com os desvios dos leitos dos rios. O reflorestamento contribui


como ação mitigadora para emissão de carbono, principal problema encontrado
ver dit

pelo desmatamento em todo o Planeta. O que também é apontado por Caramello


et al. (2016) como responsável por catástrofes ocorridas em todo o Planeta no
op

início do século XXI.


Também, a realização do reflorestamento, além da ação mitigadora para
as emissões de Carbono (GEE2) proporcionaria benefícios socioambientais a
custo zero, uma vez que o reflorestamento seria realizado com o objetivo de
E

sequestrar o Carbono emitido. Esta questão está sendo defendida há anos. Em


que se pesem os interesses do Capital. Mas, a Floresta Plantada é uma realidade
que está tomando espaço e forma, ao mesmo tempo em que atende os interesses
econômicos, também atende a sociedade civil atende as necessidades ambientais.

2 GEE – Gazes de Efeito de Estufa.


66

Neste contexto, “[...] uma das formas conhecidas mais eficientes, atual-
mente, para sequestrar este excesso CO2 é o desenvolvimento de plantações
florestais de crescimento rápido” (FBDS, 2017, p. 4), que funcionem de forma
eficiente e alcance resultados eficazes. Este posicionamento vai de encontro às
necessidades do produtor, mas contribui ainda mais com toda a sociedade. Por
outro lado, é necessário compreender que a humanidade precisa do ar tanto
quanto do alimento produzido no campo.

r
O cenário do início do século XXI relacionado ao reflorestamento leva

V
Tedine (2007, p. 1) a chamar atenção para que o reflorestamento não seja ape-

uto
nas o “[...] reflorestamento do capital financeiro”, onde as pessoas pensem no
quanto irão aumentar suas contas bancárias, sem darem-se conta de que estão
salvando vidas, e permitindo a continuidade da raça humana neste Planeta. Esta

R
preocupação de Tedine, leva a reflexão de que tudo em excesso pode ser perigoso.

a
Sistemas Silvipastoris e Agrossilvipastoris

do
aC
Importante destacar que foi na segunda metade do século XX que surge
os conceitos relativos a sistemas produção que envolve árvores ou arbustos

Editora CRV - versão para revisão do autor - Proibida a impressão


são
com outros tipos de cultivos ou mesmo com a criação de animais para comer-
cialização. Os anos de 1970 se iniciam uma verdadeira mudança na forma
das pessoas pensarem a vida. A concepção do sentido da natureza para de sua
representatividade para o ser humano passa a ser considerada e as árvores e
i
os animais passam a ser observados e os ambientalistas começam a ter vozes.
rev

Para compreender esta questão histórica, os estudos de Engel (1999) dão


or

o suporte necessário para explicar que,


A agrossilvicultura como ciência desenvolveu-se a partir da década de 1970,
quando as principais hipóteses do papel das árvores sobre os solos tropicais
ara

foram desenvolvidas, e principalmente com a criação de instituições interna-


cionais voltadas à pesquisa agroflorestal, como o International Council for
ver dit

Research in Agroforestry (ICRAF). Baseia-se na silvicultura, agricultura,


zootecnia, no manejo de solos e em outras disciplinas ligadas ao uso da terra.
op

Entretanto, adota uma abordagem interdisciplinar com relação ao estudo dos


sistemas de uso da terra. Implica em ter-se uma consciência das interações
e retroalimentação entre homem e o ambiente, demanda de recursos e sua
existência em uma determinada área, o que significa, em determinadas cir-
E

cunstâncias, otimizar o uso sustentável dos recursos, além de simplesmente


buscar o aumento permanente da produção [...] (ENGEL, 1999, p. 3).

Entende-se por meio ambiente todo o conjunto “físico natural”: o ar, a


água, a terra, a flora, a fauna e os recursos não renováveis, como os combustíveis
fósseis e os minerais, ou seja, tudo que esteja no Planeta Terra. A preocupa-
ção com o meio ambiente se iniciou no século XIX e vem apresentando uma
CONQUISTA DO ESPAÇO NA AMAZÔNIA:
Apropriações da Natureza e Representações Sociais 67

tendência de crescimento, tornando-se presente em todos os campos da socie-


dade mundial, proporcionalmente à diversidade de interesses de seus agentes.
Os Sistemas Silvipastoris (SSP) são caracterizados por árvores lenhosas
ou frutiferas, arbustos, pastagens e à criação de animais, seja ele gado, suíno
ou outros tipos de animais, como, por exemplo, o bufalo. Podendo, como
variante, também, ser um sistema agrosilvipastoril, ou seja, pode ser mesclado
com cultivos agrícolas, num esquema sequencial. Este tipo de sistema é res-

r
ponsável por minimizar os passivos ambientais e, em alguns casos restaurar

V
a fauna e flora local, o que contribui com o bioma da região.

uto
Quanto ao Sistema Silvipastoris é a combinação de árvores de grande
porte com animais e pastos, simultâneos ou escalonados na mesma área. Assim
como são sistemas nos quais forrageiras e/ou animais e árvores são cultivados,
R
simultânea ou sequencialmente, na mesma unidade de área. Semelhante aos

a
SAF’s com a diferença que os animais neste sistema são de grande porte e
não há plantio de hortaliças e de leguminosas.
do
Por conseguinte, o uso de Sistema Silvipastoris, contribui para a melho-
aC
ria da qualidade de vida do próprio produtor rural. Com a diversificação de
outras culturas, que podem ser perenes, semiperenes e permanentes. O que
Editora CRV - versão para revisão do autor - Proibida a impressão

são
irá diferenciar é a criação de gados (para corte ou leiteiro) meio ao cultivo e
árvores lenhosas de grande porte. Outro fator que é importante destacar é que
o plantio destas árvores poderá contribuir com uma futura renda ao produtor.
Os Sistemas Silvapastoril diminuem os impactos ambientais negativos
i

decorrentes dos sistemas tradicionais de criação de gados como visto em


rev

Rondônia com a entrada do agronegócio a partir da década de 1980. Com


a restauração ecológica de pastagens degradadas com o Silvapastoril passa
or

a se ter diversificação na produção da propriedade rural, além da pecuária.


Entre os benefícios que este tipo de produção leva ao meio ambiente, está a
ara

redução da dependência externa de insumos.


Se a criação de gado é considerada como vilã na natureza, o Sistema
ver dit

Silvapastoril tem o papel de reorganizar o caos que se instala no espaço em


que o proprietário opta em derrubar a vegetação para o plantio de pastagem.
op

Árvores são ativos ambientais que devem ser preservadas, conservadas. Pois,
na situação ambiental atual, quem planta árvore, planta oxigênio, planta água.
Árvores podem ser comercializadas, desde que trabalhadas em forma de rodízio.
Por conseguinte, vale considerar o posicionamento da professora Dra.
E

Marília Locatelli numa de suas consultorias junto a Willimis Alves Pereira —


enquanto sua orientadora do Mestrado da Fundação Universidade Federal de
Rondônia (UNIR). Para a pesquisadora da Embrapa, os SAF’s são adequados
para a recuperação de áreas que sofreram danos ambientais, mas o que nós
precisamos fazer é apresentar soluções para que o ser humano e a Natureza
vivam em harmonia.
68

Considerações finais

As questões voltadas ao meio ambiente é responsabilidade de toda a


sociedade, pois, o impacto de seus fenômenos atinge as mais diferentes
formas o futuro e existência humana e de suas relações. No ambiente coor-
porativo, por exemplo, impacta as relações econômicas entre organizações e
sociedade, aqui composta por fornecedores, clientes, governo, investidores

r
V
e comunidade em geral, em longo prazo, afetando assim a continuidade da

uto
vida. Os impactos ambientais conduzem a efeitos degradáveis que têm suas
soluções e benefícios sensíveis em longo prazo.
As transformações ambientais recentes remetem à reflexão: Até quando

R
o planeta suportará as intensas degradações antrópicas, em busca da cons-

a
trução de um império? Até quando a Legislação Ambiental vai se calar
diante do desrespeito explícito do homem pelas leis e com o compromisso

do
de preservar as gerações futuras, os bens que usufruem hoje?
aC
São perguntas que não se calam, que não encontram respostas satisfa-

Editora CRV - versão para revisão do autor - Proibida a impressão


tórias, estas procedem da indignação pela construção de uma história am-
são
biental no Brasil totalmente egoísta, representada pelo sistema capitalista,
onde em nome do progresso “tudo vale à pena”, que se sentindo ferido pelo
risco de extinção dos recursos naturais que os mantêm “progressista”, hoje
levantam a bandeira do Desenvolvimento Sustentável.
i
rev

Desde o período colonial, os “brasileiros” vêm construindo um país de


enormes riquezas, a custa de um desgaste ambiental, em que várias áreas
or

férteis transformaram-se em desertos, florestas devastadas, plantas e animais


ameaçados de extinção, rio, lagos e mares poluídos, substâncias tóxicas
ara

no ar em que a humanidade respira, contribuem para um alerta. O Planeta


Terra está cansado, a natureza sozinha não está dando conta de reverter às
ver dit

constantes agressões do homem ao meio.


O Estado, enquanto uma estrutura permanente, até que a sociedade
op

ache necessária, sempre estará presente nas políticas relacionada ao uso e


ocupação dos espaços naturais quer sejam eles florestal, mineral ou rural,
agindo de maneira negativa, e de maneira positiva. Porém no que se refere
E

ao Estado na função de governo, sua atuação é quase sempre permeável às


demandas originárias dos diversos grupos que compõem a sociedade. Cabe,


então, ao Estado governar, mas, a todos somos responsáveis pela Natureza.
CONQUISTA DO ESPAÇO NA AMAZÔNIA:
Apropriações da Natureza e Representações Sociais 69

REFERÊNCIAS

DANIEL, Omar; COUTO, Laércio; VITORINO, Antonio Carlos Tadeu. Siste-


mas agroflorestais como alternativas sustentáveis à recuperação de pastagens
degradadas. In: Anais... Simpósio – Sustentabilidade da Pecuária de Leite no
Brasil. 1., 1999, Goiânia. Juiz de Fora: Embrapa-CNPGL, 1999. p. 151-170.

r
V
uto
ENGEL, Vera Lex. Introdução aos Sistemas Agroflorestais. Botucatu:
FEPAF, 1999.

R
FBDS. O sequestro de CO2 e o custo de reflorestamento com Eucalyptus

a
Spp e Pinus Spp no Brasil. (Artigo). Disponível em: <http://www.fbds.org.
br/IMG/doc-11.rtf>. Acesso em: 07 jan. 2019.
do
aC
LOCATELLI, Marilia et al. Sistemas agroflorestais agroecológicos em Rondô-
nia – classes de solos e crescimento de espécies florestais. In: Anais... I Sim-
Editora CRV - versão para revisão do autor - Proibida a impressão

são
pósio de Ciência do Solo da Amazônia Ocidental, 11 a 15 de junho de 2013.

OLIVEIRA, Antônio Donizette de; SCOLFORO, José Roberto Soares; SIL-


VEIRA, Vicente de Paula (Artigo). Ciência Florestal, Santa Maria, v. 10, n. 1,
i

p. 1-19, 2000. Disponível em: <http://www.ufsm.br/cienciaflorestal/artigos/


rev

v10n1/art1v10n1.pdf>. Acesso em: 07 jan. 2019.


or

SMITH, Nigel J. H. et al. Agroforestry trajectories among smallholders in


the Brazilian Amazon: innovation and resiliency in pioneer and older settled
ara

areas. Ecological Economics 18: 1996, p. 15-27. Disponível em: <https://


ver dit

www.sciencedirect.com/science/article/pii/0921800995000577>. Acesso em:


07 jan. 2019.
op

TEDINE, Vânia. O reflorestamento do capital financeiro. (Artigo). Dispo-


nível em: <http://www.sementescaicara.com.br/Sementes/Euca/reflor.pdf> e
<http://www.anovademocracia.com.br/12/11.htm>. Acesso em: 07 jan. 2019.
E

E
ver dit
sã or op
ara aC
rev
i são R V
do
a uto
r
Editora CRV - versão para revisão do autor - Proibida a impressão
CAPÍTULO V

SISTEMAS AGROFLORESTAIS NA
PAN-AMAZÔNIA: um estudo de
caso no “Projeto Casulo” em Pimenta

r
Bueno, Rondônia, Brasil

V
uto
Claudia Cleomar Ximenes

R
a
Introdução

do
A busca por maximizar a produção em áreas de pequeno porte é estu-
dada desde meado do século XX3 e os Sistemas Agroflorestais (SAF’s) são
aC
apontados como alternativas para este fim, bem como para a recuperação de
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são
áreas degradadas. Nesta perspectiva o objetivo deste capítulo é apresentar a
pesquisa de campo realizado durante o mestrado4 e apresentado ao Programa
de Pós-Graduação em Geografia Stricto Senso da Fundação Universidade
Federal de Rondônia, sob a orientação da Dra. Marília Locatelli.
i

O estudo foi realizado no Projeto Casulo de Assentamento (PCA)


rev

Formiguinha, localizado no município de Pimenta Bueno, no Estado de


or

Rondônia, Brasil. O Implemento do mesmo foi no ano de 2000, foram


assentadas 73 famílias. Houve o desmatamento total da área por meio de
derrubada e queimada, deixando um rastro desolador, sendo que aos poucos
ara

foi tomado por árvores não lenhosas e frutíferas em plantio isolado, tendo
muito mais áreas abertas.
ver dit

Sob o prisma da necessidade de encontrar soluções para a reposição


da floresta, ao mesmo tempo funcional sob a perspectiva econômica, este
op

estudo buscou por espacializar e compreender os indicadores financeiros e


viabilidade econômica dos Sistemas Agroflorestais existentes na Chácara
Bela Vista, no PCA Formiguinha. Desta forma, contribui para que se mos-
E

tre a viabilidade de implantação de SAF’s em propriedades agrícolas de


pequeno porte.
A preocupação com o espaço é própria de quem possui pequenas áreas
a sua disposição. Com o endurecimento da legislação brasileira em relação

3 Como aponta o estudo de Pereira, Souza e Cury no capítulo IV, desta obra.
4 Cerqueira (2018). Nome completo da autora: Claudia Cleomar Araujo Ximenes Cerqueira.
72

ao desmatamento e as reservas legais, os proprietários de pequenas parcelas


de terra são obrigados a buscar por soluções que minimize os problemas
gerados pela falta de espaço e muitas vezes pela falta de água.
O uso sustentável da terra envolve, além da extração de sementes,
frutas e outros produtos que a própria natureza expele, o modelo de cultivo
conhecido como SAF’s. Além da promoção da preservação ambiental,
melhora a qualidade de vida das comunidades rurais. Segurança alimentar,

r
V
gera trabalho e renda o ano todo. Também, considera-se que a agricultura

uto
neste modelo consiste em uma estrutura mais adequada a recuperação de
áreas que sofreram agressões com queimadas.

R
SAF’s e propriedade de pequeno porte

a
Os Sistemas Agroflorestais (SAF’s) são consórcios que combinam

do
espécies arbóreas (frutíferas e/ou madeireiras) com o cultivo agrícolas e/
aC
ou de criação de animais, ou mesmo ambos, ou sequencial temporal o que
promove benefícios econômicos e ecológicos. A maturidade deste tipo de

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são
trabalhar contribui com a diminuição do desmatamento e queimadas nas
propriedades rurais.
Também conhecidos como agroflorestas, os SAF’s têm como vantagem
sobre a agricultura convencional a fácil recuperação da fertilidade do solo,
i
rev

aperfeiçoa a produção, contribui com o fornecimento de adubos verdes, o


controle de ervas daninhas, pode ser utilizado par restaurar florestas e recu-
or

perar áreas degradadas ou com perturbações (leves e moderadas). No início


da implantação dos SAF’s pode ser trabalhada com culturas que produzem
em curto tempo.
ara

Também, entre outras coisas, tem a produção de animais com receitas


ver dit

diárias como o leite, ovos, semestrais com o frango-caipira ou o carpirão,


anuais com cria e recria. Isto amortiza o fluxo de caixa, com elevado impacto
op

positivo nos resultados econômicos e financeiros. Com o tempo as árvores


passam a produzir e delas podem ser colhidas frutas, extrair essências (exem-
plo do eucalipto), plantas medicinais, sementes, madeira e outros produtos.
Nas pequenas propriedades, há a preocupação com o sustento da fa-
E

mília, principalmente, no que se refere aos assentamentos agrícolas. Na


modalidade casulo, em que se trata de até 2 hectares, ainda, há as divisões
realizadas pelos proprietários que fragmentam, ainda mais estes terrenos.
O que torna as propriedades ainda menores, como se fossem terrenos na
cidade, ou seja, os proprietários necessitam maximizar as áreas de plantio
e de uso para criação de animais.
CONQUISTA DO ESPAÇO NA AMAZÔNIA:
Apropriações da Natureza e Representações Sociais 73

As florestas plantadas podem ser realizadas no formato de Sistemas


Agroflorestais, ou seja, o plantio de árvores lenhosas de grande porte com o
cultivo de plantas frutíferas, leguminosas e outros. O que chama atenção a
este tipo de cultivo é que as árvores lenhosas podem ser trabalhadas com fins
econômicos, onde serão comercializadas de acordo com o tempo de crescimento
para corte de cada espécie. Entretanto, pode ser cultiva de forma permanente,
sendo comercializado somente o que for produzido entre estas árvores.

r
V
Locatelli et al. (2010, 2013, 2015) apresentam estudos que mostram a

uto
viabilidade do implemento de Sistemas Agroflorestais (SAF’s), pois é com-
provado o índice de retorno econômico aos empreendedores, mesmo aqueles
com crescimento reduzido. Além da viabilidade financeiro-econômica, os
SAF’s, têm a função de revitalizar as áreas degradadas, bem como evitam
R
a
o avanço da queimada na limpeza de áreas para cultivo.
Uma das preocupações com a produção agrícola é com o espaço em

do
que o pequeno agricultor tem destinado para este fim, pois, a legislação
vigente orienta e determina que seja destinada uma parte para unidades de
aC
conservação. Mas, o que chama atenção é o que de fato sobra para se plantar
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ou mesmo para criação de animais de pequeno porte? Esta inquietação é


são
que leva a busca por estudos de viabilidade de SAF’s em pequenos espaços
em que envolva, entre outras situações a família do proprietária da terra.
A primeira fase deste estudo se deu em 2014 e 2015, em 2016, ocorre a
i

segunda fase fechando o mestrado da autora, com a contribuição do coautor,


rev

estendendo-se a 2018, período que buscam por compreender as transfor-


mações espaciais ocorridas na chácara Bela Vista. Percebeu-se que foram
or

poucas as mudanças, sendo necessário à revitalização do solo, por conta da


falta de água e devido à ocorrência de eutrofização cultural5 ou acelerada.
ara

Além de contribuir com a questão ambiental e econômica há a social


em que contribui com a permanência dos membros da família na zona rural,
ver dit

sem necessidade de migrarem para a cidade atrás de emprego. O que tem


ocorrido muito nos últimos 15 anos. O mesmo fenômeno que ocorreu após a
op

II Guerra Mundial com a mecanização da agricultura e o desemprego rural.

Procedimentos metodológicos do Estudo


E

Enquanto indicadores financeiros do estudo dos Sistemas Agroflores-


tais (SAF’s), no percurso dos estudos no PCA Formiguinha, utilizou-se do
estudo de caso na chácara Bela Vista, como indicativo de viabilidade eco-
nômica deste investimento. O que oportuniza a verificação da rentabilidade
e viabilidade da proposta.

5 Trata da influência humana, também conhecida como antrópica.


74

Para cálculo do volume de madeira das árvores se utilizou avaliações


de altura e DAP (Diâmetro a Altura do Peito – a 1,30 m do solo) que são
parte de fórmulas encontradas em FINGER (1992, p. 78), como segue:

Volume
v=g*h*f
g = área basal em m²

r
V
h = altura em m

uto
f = fator de forma (sem unidade)

Área basal

R
g = π.d²
ou g = c²

a
4 4.π

do
Onde:
g = área de secção transversal em m²;
aC
d = diâmetro ao nível do DAP em metro;

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são
c = circunferência da altura do peito em metro.

O valor presente líquido (VPL) refere-se aos valores líquidos atualizados


no instante de sua origem, a partir de um fluxo de caixa formado por receitas e
i
custos. Arco-Verde (2011, p. 12) destaca que “Quando o resultado é um valor
rev

superior zero, diz-se que o projeto apresenta viabilidade econômica [...]”.


O cálculo do VPL pode ser realizado pela seguinte fórmula:
or

Onde:
Rj = receitas no período j
ara

n Cj = custos no período j
Σ Rj - Cj i = taxa de desconto (juros)
ver dit

VPL =
j=1 -I n = duração do projeto (em anos), ou em
(1 + i)j
números de períodos de tempo
op

I = investimento inicial

A relação benefício custo (RB/C), segundo Arco-Verde (2011, p. 12)


E

“[...] indica o quanto os benefícios superam ou não os custos t critério para


a condição de viabilidade do projeto, [...] é que o valor obtido seja maior ou
igual à unidade”. O estudo de viabilidade de um empreendimento é um dos
requisitos fundamentais para a boa gestão de projetos ambientais, assim como
a observância da legislação vigente no ato da execução do mesmo.
A fórmula para o cálculo da RB/C é:
CONQUISTA DO ESPAÇO NA AMAZÔNIA:
Apropriações da Natureza e Representações Sociais 75

Rj (1 + i)-1 Onde:
RB / C = Rj = receitas no período j
Rj (1 + i)-1 Cj = custos no período j
i = taxa de desconto (juros)
j = período de ocorrência de Rje Cj
n = duração do projeto, em anos, ou
em números de períodos de tempo

r
V
uto
Embora existam outros indicadores financeiros os utilizados foram os
apresentados. Tendo, inclusive, planilhas de cálculos a partir de softwares.
R
A elaboração dos mesmos pode ser realizada por softwares simples, tanto

a
quanto por outros mais complexos. Para fins deste estudo se utilizou de
cálculos simplificados e manuais voltados para a gestão financeira dos re-
do
cursos naturais e, sob os pilares da sustentabilidade, amplamente discutida
aC
e defendida desde meados do Século XX.
Editora CRV - versão para revisão do autor - Proibida a impressão

são
Caracterização da Chácara Bela Vista

A chácara Bela Vista está localizada em área rural, do município de


Pimenta Bueno, Rondônia, Brasil, específico no Projeto Casulo de Assen-
i
rev

tamento Formiguinha (PCA Formiguinha), conhecido popularmente como


Projeto Casulo, esta situado no setor Abaitará, lote 47, medindo 12.44250
or

metros, sendo 60,60m de fundo, com uma lateral de 241m e, outra lateral
213m e, à frente medindo 50m, perímetro 856,60m. Possui uma casa de
madeira coberta com eternit, medindo 10x6, um barracão medindo 8x2.
ara

Possui água corrente e duas represas — porém, sem peixe em cativeiro.


ver dit

Há, também, um SAF de madeira nobre com cafeicultura, bem como um


quintal agroflorestal.
op

O primeiro proprietário e sua família foram beneficiados pelo programa


PCA Formiguinha no ano de 2000, ocupando o lote 47, o equivalente a
4,00 hectares (Figura 1). Este efetuou a venda do imóvel em 2005. O novo
proprietário passa em 2006 a parcelar o lote em quatro áreas desiguais. Por
E

isto a metragem atribuída à chácara. No INCRA, a proprietária recebeu o


beneficio como assentada, sendo lhe destinada o direito de posse conforme
indicado no Sistema de Informações de Projetos de Reforma Agrária –
SIPRA, desde 07 de agosto de 2008, conforme processo Administrativo/
INCRA/n° 54300.001660/2008-18.
76

Figura 1 – Croqui do Lote 47, ano de 2000

r
V
uto
R
a
do
Fonte: SEMAGRI (2014).
aC
Em 19 de junho de 2015, é revendida a parcela do lote 47 em que é

Editora CRV - versão para revisão do autor - Proibida a impressão


são
denominada de Chácara Bela Vista. Este estudo se iniciou com a legalmente
intitulada proprietária dos 2 hec. (de 2008 a 2015) em 2014 e, em 2015 é
revendido, sendo então que os atuais proprietários (2018) concederam per-
missão para continuação da mesma, assim como aceitaram participar desta
i
pesquisa. Toda a analise realizada está no que se é concernente aos Sistemas
rev

Agroflorestais (SAF’s) e aquilo que é conveniente a esta investigação científica.


or

Diagnóstico ambiental da Chácara Bela Vista


ara

O levantamento das características do local de estudo é feito por meio


do diagnóstico ambiental. Esta fase do estudo é de grande importância devido
ver dit

a análise da propriedade e de como ela se encontra no período da pesquisa.


Bem como o levantamento espaço-temporal contribui para entender as razões
op

que levaram a paisagem atual do espaço estudado.


Dentre os lotes do PCA Formiguinha, a chácara Bela Vista foi escolhida
para o estudo de caso devido à presença de Sistema Agroflorestal (SAF),
E

ou seja, há no lote o plantio de árvores de grande porte, como a cerejeira, o


jatobá, a bandarra, o mogno e o ipê amarelo (Tabela 1) e, entre os mesmos,
o de café e coloral (urucum), distribuídos em uma área de 96m2. Nesta e nas
demais propriedades foram encontradas quintais agroflorestais e em uma das
propriedades 25 pés de Teca, no entanto, não há outras espécies plantadas
juntas, por isso não se encaixa como SAF.
CONQUISTA DO ESPAÇO NA AMAZÔNIA:
Apropriações da Natureza e Representações Sociais 77

Tabela 1 – Espécies madeireiras encontradas na Chácara Bela Vista

Nome científico

Nº exempla-res
Nome comum*

Altura total(m)

árvore(m3)
comercial/
Altura (m)
comercial

comercial
total (m3)
Volume

Volume
DAP
(cm)

r
V
Amburana

uto
Cerejeira cearensis 1 6 2,5 13,36 0,0246 0,0246
(Allemão) A.C.Sm.

Hymenaea
Jatobá 2 17,75 7 33,74 0,4381 0,8762
R
courbaril

a
Schizolobium
parahyba var.
Bandarra
do
amazonicum
(Huber ex Ducke)
1 16 3,2 75,75 1,0097 1,0097
aC
Barneby
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Swietenia
são
Mogno 36 14 4,5 24,35 0,1467 5,2812
macrophylla

Tabebuia
Ipê
chrysotricha (Mart. 3 12 5 31,2 0,2675 0,8025
Amarelo
i

Ex DC.) Standl
rev

TOTAL DE MADEIRA 43 65,75 — — — —


or
ara

COMERCIAL — — 22,2 — 1,8866 7,9942


ver dit

* Todas as espécies foram plantadas no ano de 2002 e as medidas foram realizadas em janeiro de 2016.
Fonte: Cerqueira, 2016.
op

O lote já se encontra com o seu terceiro proprietário. O beneficiário


assentado em 2000 vendeu sua propriedade em 2002, ano em que foi rea-
lizado o plantio das espécies madeireiras e o café, simultaneamente, já o
E

coloral (urucum) foi plantado no ano de 2006. Visto que o espaçamento


de uma árvore para a outra vária entre 2 a 3 metros, no que se refere aos
mognos. No geral totaliza 215m2 de SAF (figura 2). Pelo exposto se deduz
que houve a preocupação com a distância entre uma e outra, para que não
houvesse competição entre o indivíduo adaptado à área e o que se encontrava
em fase de adaptação.
78

Figura 2 – SAF’s na Chácara Bela Vista, jan./2016

r
V
uto
R
a
do
aC

Editora CRV - versão para revisão do autor - Proibida a impressão


são
Fonte: Cerqueira, 2016.
i
rev

A área fora submetida ao corte raso de sua vegetação natural em oca-


or

sião em que houve o implemento do PCA em 2000, com uso posterior de


queimada para limpeza do local, o que comprometeu o banco de sementes.
Devido ao exposto houve o interesse de realizar o plantio adensado (método
ara

sucessional) de indivíduos arbóreos típicos da região e alocação de atratores


de fauna, principalmente a dispersora de sementes. No entanto, não logrou
ver dit

êxito por isto, o plantio do mogno entre outras, por meio de mudas.
Não houve de imediato, o isolamento da área. Contudo, o terceiro
op

proprietário, em 2005, providenciou uma cerca construída com 4 (quatro)


fios de arame liso e espaçamento entre estacas de 4 metros. As quais estão
sendo mantidas e, o que buscam é realizar a manutenção das mesmas. Ou-
E

tra preocupação dos proprietários é manter afastados os animais silvestres


oriundos da reserva legal. Nesta reserva é perceptível a presença de maca-
cos, iguanas, gambá, gavião, anta, capivara, porco do mato, cobras e etc. os
quais, acabam entrando nos lotes e se alimentando dos animais domésticos
e das plantações.
CONQUISTA DO ESPAÇO NA AMAZÔNIA:
Apropriações da Natureza e Representações Sociais 79

Devido à ausência de espécies arbóreas na área foi realizado o plantio


de forma mista, parte manual, parte com roçadeira mecanizada. Durante
um longo período o combate a formigas e outras espécies invasoras foram
realizadas com inseticidas, sendo que esta prática foi abandonada em 2013.
Na visita in loco, em 2016 e em 2018, constatou-se que na propriedade há
um grande número de formigueiros de diversas espécies, inclusive as co-
nhecidas “cortadeiras”. Também, aproximadamente, 35% das plantas estão

r
V
tomadas por cupim (figura A – 3) e formigueiros espalhados por toda a área

uto
estudada, bem como casas de cupim (figura B – 3).

Figura 3 – Cupim no SAF (A – Cupim no mogno; B – Casa de cupim no SAF)


R
a
do
aC
Editora CRV - versão para revisão do autor - Proibida a impressão

são i
rev
or
ara
ver dit

Fonte: Cerqueira, 2016.


op

O elencado contribui com a percepção da importância de se mensurar


os ativos e passivos ambientais, de tal forma, que seja possível intensificar
a produção e, ao mesmo tempo, reduzir custos. A avaliação econômica, por
E

meio de métodos de valoração ambiental, contribuirá com a implantação da


proposta apresentada neste estudo, o que poderá vir a se tornar um Arranjo
Produtivo Local Agroflorestal. Ao retornar na chácara o cumpizeiro da figura
3 já não se encontra mais, nem na figura A, nem na B, o proprietário nos
informou que precisou usar agrotóxico para combater.
80

Avaliação econômica dos SAF’s da Chácara Bela Vista

Com base nos dados obtidos na pesquisa de campo e no estudo de caso


na chácara Bela Vista, pode-se elencar o valor econômico da propriedade.
Também, possibilitou a análise da viabilidade de implantação de Sistemas
Agroflorestais (SAF’s) com culturas variadas em outros lotes do PCA For-
miguinha. Estes lotes são pesquisados desde 2014.

r
V
Na chácara, além do SAF com espécies madeireiras nobres de valor

uto
econômico alto, há um robusto quintal agroflorestal (Figura 4), o qual
abastece a família com frutas e com criação de galinha em pequena escala
para consumo doméstico (Dados referentes a janeiro de 2016 e permanece

R
em 2018). Além do uso dos que residem na chácara, distribuem para os

a
familiares que frequentam esporadicamente o local.

do
Figura 4 – Quintal Agroflorestal (A – entrada; B – lateral)
aC

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são i
rev
or

Fonte: Cerqueira, 2016.


ara

No quintal agroflorestal da chácara Bela Vista, o qual possui 1.250m2,


ver dit

encontram-se diversas espécies de plantas: frutíferas, flores, palmeiras e gra-


míneas. Dentre elas coco, manga, cupuaçu, cajá-manga, entre outras (Tabela
op

2) as quais contribuem com a renda familiar e o sustento da família. Numa


contabilização quantitativa/qualitativa e ocorrendo o processo de mensuração
da produção e entrada de caixa é possível a visualização de quanto é a renda
E

bruta familiar, bem como levantar os custos de produção. Este trabalho de


contabilização deve ser realizado por um profissional contábil, no que se
refere a especialização da área intitulada Contabilidade Rural.
CONQUISTA DO ESPAÇO NA AMAZÔNIA:
Apropriações da Natureza e Representações Sociais 81

Tabela 2 – Espécies Frutíferas no Quintal Agroflorestal da Chácara Bela Vista

Valor Valor total


Produção
Nome Espécies Nº unitário média
média
comum Frutíferas exemplares média Anual
anual (R$)* (R$)

Açaí Euterpe oleracea 2 30k 2,68 80,40


Amora 1 1,5k 6,00 9,00

r
Morus sp.

V
uto
Biriba Rollinia deliciosa 4 30k 3,78 113,40
Cajá-Manga Spondias dulcis 1 1k 4,00 4,00

Caju Amarelo Anacardium 2 6k 1,87 11,22


occidentale
R
a
Caju Anacardium 15 22,5k 1,87 42,07
Vermelho occidentale
Averrhoa
Carambola

Coco
carambola
do
Cocos nucifera
4

12
60k

216un
2,00

1,00
120,00

216,00
aC
Theobroma
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Cupuaçu 6 72k 2,80 201,60


grandiflorum
são
Fruta do Annona 1 1,5k 3,78 5,67
conde squamosa
Goiaba Psidium guajava 1 1k 1,85 1,85
Branca
i

Goiaba Psidium guajava 2 1,5k 1,85 2,77


rev

Vermelha
Ingá Inga edulis 6 4k 1,50 6,00
or

Jabuticaba Plinia cauliflora 4 2,5k 5,00 12,50


Fortunella
Kinkan 1 5k 15,00 75,00
margarita
ara

Laranja Citrus sinensis 6 240k 1,50 360,00


ver dit

Citrus bigaradia
Limão Rosa 5 400k 1,00 400,00
Loisel.
Mamão Carica papaya 3 15k 0,80 12,00
op

Manga Mangifera indica 6 380k 1,00 380,00


Maracujá Passiflora edulis 2 3k 2,50 7,50
E

Ponkan Citrus reticulata 8 260k 8,00 2.080,00


TOTAL (R$) MÉDIO 4.140,98
Média mensal Bruta 345,08
*O preço dos produtos foi estimado conforme comercializado na feira livre de Pimenta Bueno, RO
Fonte: Cerqueira, 2016.
82

A partir dos dados levantados na EMATER, comparados com a produção


por indivíduo de cada espécie elencado na tabela 5, percebe-se que a produ-
ção esta aquém do possível a ser. O fato é que as frutíferas foram plantadas
e não receberam adubo. A informação dada pela ex proprietária é que uma
vez por ano era colocado ureia6. Ao observar o campo ficou perceptível as
queimadas realizadas em alguns locais dos SAF’s. Era realizada o rastela-
mento e queimada para manter limpo, exposto ao tempo, sem utilização do

r
V
mesmo como nutrientes para as árvores.

uto
O quantitativo da tabela 5 proporciona o equivalente a uma renda extra
bruta de R$ 345,08 (trezentos e quarenta e cinco reais e oito centavos) ao
mês e, o custo existente nesta produção é a diária de R$ 50,00 (cinquenta

R
reais) para a limpeza, ficando ao total anual de R$ 300,00 (trezentos reais)

a
de custos, com a mão de obra. O que retornaria aos proprietários, sobrando
para os mesmos R$ 3.840,98 (três mil e oitocentos e quarenta reais e no-

do
venta e oito centavos) de renda anual líquida conforme observável no DRE
aC
(Tabela 3). Isso, relacionado ao quintal agroflorestal.

Editora CRV - versão para revisão do autor - Proibida a impressão


são
Tabela 3 – DRE – Demonstração do resultado do Exercício – Chácara Bela Vista

Receita Bruta 4.140,98


i
rev

(-) Deduções e abatimentos 0


or

(=) Receita Líquida 4.140,98


ara

(-) CPV (Custo de produtos vendidos) ou CMV


300,00
(Custos de mercadorias vendidas)
ver dit

(=) Lucro Bruto 3.840,98


op

(=) Resultado Antes IRPJ CSLL 3.840,98


E

(-) Provisões IRPJ E CSLL 0

(=) Resultado Líquido 3.840,98

Fonte: a partir da pesquisa de campo, 2016.

6 Usada sozinha, a ureia é fertilizante e, sua principal função é o fornecimento de Nitrogênio.


CONQUISTA DO ESPAÇO NA AMAZÔNIA:
Apropriações da Natureza e Representações Sociais 83

Na chácara Bela Vista, no espaço do SAF com o plantio de café, se en-


contram cinco espécies arbóreas madeireiras com valor econômico: Cerejeira,
Jatobá, Bandarra, Mogno e Ipê Amarelo. Estas árvores estão distribuídas em
uma porção do lote em que há água em abundância — também, encontrou
uma mina de água em que está desprotegida, o que é considerado risco.
Importante destacar que os mesmos são contemplados na tabela 4, a qual

r
V
demonstra o valor atribuído a cada uma delas, para venda conforme média

uto
da tabela da SEFIN (2016) e preço de venda nas madeireiras, conforme
pesquisa realizada no comércio local.

R
Tabela 4 – Média do valor total de venda in natura da madeira Chácara Bela Vista

a
Volume comer-
N° de Valor de venda Valor total
Nome
comum
Nome
científico
do Indiví-
duos
cial total (m3)
(Chácara
Bela Vista)
in natura (tora)
M³ (R$)
venda
(R$)
aC
Amburana
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Cerejeira cearensis) 1 0,0246 95,00 2,34


são
A.C.Sm.
Hymenaea
Jatobá 2 0,8762 95,00 83,24
courbaril
Schizolobium
Bandarra
i

parahyba var. 1 1,0097 66,00 66,64


rev

amazonicum
Swietenia
or

Mogno 36 5,2812 148,00 781,62


macrophylla
Ipê Tabebuia
3 0,8025 148,00 118,77
amarelo chrysotricha
ara

TOTAL 1.052,60
ver dit

Fonte: a partir da pesquisa de campo, 2016.


op

O valor atribuído refere-se à pauta de preços da Secretaria de Estados


de Finança (SEFIN)7, disponível no site oficial da mesma. Teve como base
de calculo a média do valor de venda da madeira já beneficiada (Tabela 5).
E

Em percentual, o aumento é de 14.940% do valor total de venda da madeira


presente no SAF da chácara Bela Vista, tendo como base os valores atribuídos
em janeiro de 2016. Ressalta-se aqui que em pesquisa a madeireiras da local
e da região, o valor no comércio é maior do que apresentado pela SEFIN.
Segundo os madeireiros não dá para trabalhar com o valor sugerido no site.

7 Pode ser localizado no site oficial da SEFIN: <http://www.sefin.ro.gov.br/>.


84

Tabela 5 – Valor da madeira beneficiada


Valor de
Volume
Nome N° de In- venda bene- Valor total
Nome científico comercial
comum divíduos ficiada (me- venda (R$)
total (m3) dia) m³ (R$)
Amburana
Cerejeira 1 0,0246 1.290,00 31,73
cearensis.
Hymenaea
Jatobá 2 0,8762 1.229,50 1.077,29
courbaril

r
V
Schizolobium

uto
Bandarra parahyba var. 1 1,0097 920,00 928,92
amazonicum
Swietenia
Mogno 36 5,2812 2.250,00 11.882,70
macrophylla

R
Ipê Tabebuia 3 0,8025 2.250,00 1.805,63

a
amarelo chrysotricha
TOTAL 15.726,27

do
Fonte: a partir da pesquisa de campo, 2016.
aC
As atividades agrícolas podem ser divididas em dois grandes grupos: as

Editora CRV - versão para revisão do autor - Proibida a impressão


culturas hortícolas e forrageiras e as arbóreas, assim como em culturas: anuais;
são
semi-perenes; perenes; espécies florestais e espécies adubadoras. Confrontando
com as praticadas na Chácara Bela Vista, identifica-se que a mesma é potencia-
lizada por dois tipos de SAF’s, a de quintais agroflorestais e a de florestamento
intercalado com outras espécies, com predominância da cafeicultura (Tabela 6).
i
rev

Tabela 6 – Espécies Frutíferas localizadas no SAF da Chácara Bela Vista


or

Valor uni- Valor total


Espécies Nº Produção média
Nome comum tário média
Frutíferas exemplares média anual Anual
(R$)
ara

(R$)
Cofeea
Café Conilon 112 240k 6,22 1.492,08
ver dit

canephora
Ingá Ingá Edulis 8 4k 1,50 6,00
op

Morinda
Noni 15 150k 3,00 450,00
citrifolia
Eugenia
Pitanga 2 3k 5,00 15,00
uniflora
E

Citrus
Ponkan 8 260k 8,00 2.080,00
reticulata
Urucum Bixa orellana 22 22k 8,50 187,00

TOTAL (R$) MÉDIO 4.230,08


Média mensal Bruta 352,50
Fonte: a partir da pesquisa de campo, 2016.
CONQUISTA DO ESPAÇO NA AMAZÔNIA:
Apropriações da Natureza e Representações Sociais 85

O sistema agroflorestal analisado possui fluxo de caixa irregular, mesmo


com resultado positivo. Pois, não há dados seguros de entrada e saída de di-
videndos. Os valores apresentados são oriundos de pesquisa na feira livre de
Pimenta Bueno, pois, segundo 100% dos entrevistados afirmaram não ter tabela
de preço. O que fazem é ter uma base pelo o que vendem os supermercados.
Buscando por comparar a concepção dos feirantes em 2016 e a concep-
ção de 25% dos mesmos entrevistados em 2018 não houve evolução na forma

r
V
de pensarem o mercado a forma de comercializar. Mesmo que na ocasião da

uto
pesquisa em 2016, foram orientados a buscar por ajuda no SEBRAE, para que
tivessem orinetações quanto a trabalhar com a comercialização de seus produtos.
As espécies madeireiras apresentam desenvolvimento em altura e DAP
R
(diâmetro da altura do peito – 1,30 m de altura do solo). O diâmetro da altura do

a
peito (DAP) identificado no SAF é condizente com o que se espera pela idade.
Pondera-se que, com exceção da cerejeira as demais ficaram acima do apresen-
do
tado por Souza et al. (2003), Barbosa; Marmontel e Nunes (2010) e Locatelli et
al. (2010) em suas pesquisas nos anos 2003 e 2010, a ser observada na tabela 7.
aC
Editora CRV - versão para revisão do autor - Proibida a impressão

são
Tabela 7 – Comparativo do DAP do SAF da chácara Bela
Vista a média de outros SAF’s com 14 anos

SAF — Chácara Estudos


Bela Vista
i

Nome comum
rev

DAP das espécies


DAP – SAF conforme Fontes
(cm)
or

literatura (cm)

Bandarra 75,75 53,5 SOUZA et al. (2003)


ara

BARBOSA, Marmontel
Mogno 24,35 20 e Nunes (2010)
ver dit

LOCATELLI et
Ipê 31,2 23,4 al. (2010)
LOCATELLI et
Cerejeira 13,36 23,4
op

al. (2010)
Fonte: Cerqueira, 2016.

O diâmetro da altura do peito (DAP) dos exemplares madeireiros pre-


E

sente no SAF da chácara Bela Vista, apresentou uma média em seu diâmetro
superior a outros SAF’s. Das espécies informadas na tabela 10, madeireiras
comparadas apenas à cerejeira ficou 42,9% abaixo da média dos dados consi-
derados. A bandarra se destacou por constar o melhor resultado das espécies
presente com 41,59% acima da comparada. O mogno obteve um crescimento
de 21.75% a mais, já o ipê conseguiu 33,33%.
86

Considerações finais

Para alcançar o objetivo foi realizado o cálculo do diâmetro e a altura


do peito de 100% das árvores do Sistema Agroflorestal, também, foi feito o
cálculo pelo Valor Presente Líquido, a partir do fluxo de caixa, bem como a
relação benefício Custo, além do diagnóstico ambiental da chácara. O prin-
cipal resultado foi de que os Sistemas Agroflorestais (SAF’s), em estudo,

r
V
são sustentáveis e viáveis, consequentemente, importante instrumento de

uto
revitalização de áreas degradadas que sofrem perturbações antrópicas. Por
conseguinte, a possibilidade de implantação de SAF’s em outras propriedades
do PCA Formiguinha, numa extensão, provável a Arranjos Produtivos, para

R
melhor desenvolvimento econômico local.

a
O PCA Formiguinha tem potencial para desenvolver agricultura fami-
liar em forma de Arranjos Produtivos Locais (APL’s) com a implantação de

do
SAF’s. Este estudo foi apresentado em forma de dissertação e posteriormente
aC
em reunião na gestão da prefeita Juliana Roque, na Prefeitura de Pimenta

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Bueno, porém com problemas internos de cassação de mandato do Poder
são
Executivo em 2018, não houve andamento a novas reuniões a adesão à
adequação e estudo de possibilidade orçamentária de execução do projeto.
Percebe-se que há estudos diversos de viabilidade econômica dis-
poníveis nas mais variadas Faculdades, Universidades, Anais de eventos
i
rev

Científicos, Revistas com Qualis de Extrato A e B, como outras. Entretanto,


há falta de adesão do Poder Público para que estes projetos sejam, de fato,
or

efetivados, executados. Pois, executáveis eles são, o que precisamos é de


Gestão Pública Ambiental competente para que saia dos laboratórios e dos
ara

papéis. As acadêmicas estão fazendo a sua função de estudar e disseminar


suas descobertas. E o Pode Público, o que esta fazendo?
ver dit

Agradecimentos – eu produzo porque tive uma excelente


op

amiga-orientadora!

A minha eterna orientadora MARILIA LOCATELLI, quanta falta a


E

senhora me faz! Quanta saudade deixou no meu coração! Mas, agradeço


a DEUS por sentir saudade de ti. Pois, FELIZ é aquele que tem por quem
sentir saudade, é sinal que foi abençoado.
CONQUISTA DO ESPAÇO NA AMAZÔNIA:
Apropriações da Natureza e Representações Sociais 87

REFERÊNCIAS

ARCO-VERDE, Marcelo Francia; AMARO, George. Cálculo de Indicadores


Financeiros para Sistemas Agroflorestais. Boa Vista, RR: Embrapa Roraima,
2011. 48 p. (Documentos / Embrapa Roraima, 44). [on-line].

r
V
CERQUEIRA, Claudia Cleomar Araújo Ximenes. Uso e ocupação do solo

uto
no PCA formiguinha, Pimenta Bueno, Rondônia: análise e proposta de
arranjos produtivos. 2016. 124 f. il. Orientadora: PhD. Marília Locatelli.
Dissertação (Mestrado em Geografia) – Fundação Universidade Federal de
R
Rondônia, Departamento de Geografia, Porto Velho, Rondônia, 2016.

a
FINGER, César Augusto Guimarães. Biometria florestal. Universidade
do
Federal de Santa Maria. [2006]. [on-line]. 314 p.
aC
LOCATELLI, Marilia et al. Avaliação do Crescimento da Castanha-Do-Brasil
Editora CRV - versão para revisão do autor - Proibida a impressão

são
(Bertholletia excelsa Bonpl.) em um Plantio no Município de Machadinho do
Oeste – Rondônia. In: Enciclopédia Biosfera. De 1 de dezembro de 2015.
DOI: http://dx.doi.org/10.18677/Enciclopedia_Biosfera_2015_099. [on-line].
i

LOCATELLI, Marília et al. Sistemas agroflorestais agroecológicos em Rondô-


rev

nia – classes de solos e crescimento de espécies florestais. In: I Simpósio de


or

Ciência do Solo da Amazônia Ocidental 11 a 15 de Junho de 2013. [on-line].

LOCATELLI, Marilia et al. Caracterização Biofísica de Sistemas Agroflorestais


ara

em Vale do Anari, Rondônia, Brasil. In: Anais... XVIII Reunião Brasileira de


ver dit

Manejo e Conservação do Solo e da Água: Novos Caminhos para Agricultura


Conservacionista no Brasil. Agosto de 2010.
op
E

E
ver dit
sã or op
ara aC
rev
i são R V
do
a uto
r
Editora CRV - versão para revisão do autor - Proibida a impressão
CAPÍTULO VI

UNIDADES DE CONSERVAÇÃO
NA AMAZÔNIA LEGAL:
olhar geo-historiográfico sobre o

r
estado de Rondônia, Brasil

V
uto
Laise Santos Azevedo

R
a
Introdução

do
Uma das preocupações herdadas do século XX é a questão da conser-
vação da Natureza. Logo que ouve uma grande demanda para a região norte,
aC
devido ao marketing realizado pelo Governo Federal, através do Instituto
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são
Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA) – Autarquia Federal
criada pelo Decreto nº 1.110, de 9 de julho de 1970 –, com as colonizações
dirigidas. Devido ao aumento populacional e ser uma das condições de
permanecer nas áreas cedidas pelo Estado, era torná-la produtiva, e para
i

isto precisava desmatar e plantar.


rev

O impacto do desmatamento em curto prazo não permitiu que a natureza


or

se recuperasse, por mais que tenha resiliência. Desta forma, um passo que
vem sendo adotado por países com porções de seus territórios cobertos pela
floresta amazônica tem sido a separação de áreas que não sofram a ação
ara

de estratégias destrutivas de uso terra, sob a forma de parques, reservas


ecológicas, reservas extrativistas, entre outros processos.
ver dit

Entretanto, em meio ao processo de formação do territorial brasileiro,


na busca pelo controle de terras cujo objetivo era manter domínio sobre as
op

terras apropriadas, os europeus passaram a escravizar os índios. Partindo


dessa premissa e tomando como base a história de colonização do Brasil, a
região amazônica foi pensada a priori como área de exploração de riquezas
E

que, posteriormente, intensificou-se com os processos do monopólio agrícola


e capitalismo comercial.
Na primeira fase do processo de crescimento nacional, que se estendeu
até o início do século XX, o Brasil, como toda a América Latina, constituía
grande fronteira de recursos, fornecedora de matérias-primas valorizadas
para o “centro” europeu. É importante salientar que nesta fase de expansões
90

fronteiriças, a estrutura regional se caracterizava pela presença de grandes


regiões produtoras, voltadas a metrópole.
Um dos objetivos da expansão da fronteira agrícola nacional durante o
governo de Juscelino Kubitschek foi à construção de estradas que ligassem
o centro-sul do país à Amazônia, dando início a um processo de expansão
territorial que posteriormente trouxeram problemas ambientais e de desen-
volvimento econômico a região norte do país.

r
V
A estrutura econômica erigida com o Plano de Metas alcançou grande

uto
consistência e integração. Desde então, as estruturas de financiamento, de
investimentos e de distribuição amadureceram seus instrumentos, tornando-
-se, a um só tempo, mais ágeis e mais consistentes. Em poucos anos, a co-

R
a
lonização dirigida pôde ser impulsionada e o que se viu foi a proliferação
das experiências de colonização por toda a área da Amazônia Legal.

do
Com o avanço da colonização, novos conceitos nas relações entre os
moradores da região – índios, seringueiros, colonos não inseridos social-
aC
mente pelos primeiros ocupantes associados, passam a existir e a noção

Editora CRV - versão para revisão do autor - Proibida a impressão


de propriedade privada culminou em graves e constantes conflitos sociais.
são
Após receber milhares de imigrantes em menos de uma década, reflexos
desta ocupação puderam rapidamente ser percebidos. Os reflexos no meio
ambiente principalmente foram bem perceptíveis na medida em que o
i
crescente processo de ocupação avançava ao longo do Estado. Foi o marco
rev

da política desenvolvimentista que possibilitaria segundo as aspirações do


or

governo, resolver os problemas então instalados nas diversas regiões do


território nacional, complementando com a expectativa de exploração dos
recursos naturais, abundantes na região Norte.
ara

Neste contexto, este capítulo tem como objetivo trazer ao leitor uma
parcela da pesquisa bibliográfica da dissertação de mestrado apresentada
ver dit

ao Programa de Pós Graduação em Geografia (PPGG) da Fundação Uni-


versidade Federal de Rondônia (UNIR) em 2018 (AZEVEDO, 2018) em
op

que se busca compreender como se deu a geo-historiografia das Unidades


de Conservação para chegar ao ponto principal que é o Parque Estadual de
Corumbiara, no Estado de Rondônia, Brasil8.
E

Do ponto de vista formal, o estabelecimento de unidades de conserva-


ção não é um fato recente na Amazônia brasileira. As primeiras unidades de
conservação foram criadas pelo governo brasileiro no período entre 1959
e 1961 como uma resposta aos potenciais danos que seriam trazidos pela

8 Deixo aqui o meu convite para ler na integra a dissertação disponível no site oficial do PPGG/UNIR, assim
como outras pesquisas relevantes, disponíveis em: <http://www.posgeografia.unir.br/pagina/exibir/817>.
CONQUISTA DO ESPAÇO NA AMAZÔNIA:
Apropriações da Natureza e Representações Sociais 91

rápida chegada de contingentes populacionais à região. Com o propósito


de incentivar o desenvolvimento da região amazônica, o Governo Federal
em parceria com alguns órgãos multilaterais, a exemplo do Banco Mun-
dial, iniciou seu envolvimento no processo de desenvolvimento do estado
de Rondônia no final dos anos de 1970. Durante as negociações entre o
governo brasileiro e o Banco Mundial, uma série de especialistas do Banco
expressou sérias preocupações sobre os impactos da pavimentação de uma

r
V
rodovia federal em Rondônia.

uto
Com a aprovação do empréstimo solicitado pelo Governo Federal para
pavimentação da BR-364, que objetivava interligar as cidades de Cuiabá
e Porto Velho, foi implementado o programa de desenvolvimento regional
R
a
chamado Programa Integrado de Desenvolvimento do Noroeste do Brasil
(POLONOROESTE). Este programa foi apontado como um dos que mais

do
provocou destruição ambiental.
Ainda que a maior parte dos recursos deste programa estivesse desti-
aC
nada à construção de estradas, o programa também incluía recursos para a
Editora CRV - versão para revisão do autor - Proibida a impressão

instalação de novos assentamentos teoricamente voltados para uma ocupação


são
menos predatória da região rondoniense. Além disso, o POLONOROESTE
também incluiu uma fração minoritária de recursos para a conservação
ambiental e a proteção de comunidades indígenas, que seriam então salva-
i

guardas contra possíveis efeitos negativos do programa.


rev

Quando a BR-364 foi inaugurada, os efeitos da ocupação descontrolada


or

da terra já estavam bastante visíveis. A competição pela rápida ocupação do


território provocou uma corrida pela terra sem igual na história de Brasil.
Como resultado desta corrida, a população de Rondônia cresceu de 111.064
ara

em 1970 para 593.094 em 1980, alcançando 1.130.400 em 1990 (PERDI-


GÃO, BASSÉGIO, 1992). Os Eixos de Desenvolvimento, especificamente,
ver dit

estão preocupados em promover o desenvolvimento da agropecuária e da


agroindústria em todo o “Arco do Desmatamento”.
op

Os problemas ambientais vêm crescendo gradativamente, resultante da


interferência humana na natureza. Impulsionados pela necessidade crescente
de uma sociedade cada vez mais dependente dos recursos naturais, resultando
E

em desequilíbrios ambientais e diminuição da qualidade de vida. Para se


ter ideia, na Amazônia o desmatamento configura-se como um problema
ambiental de extremo risco para o ecossistema global e tem impactos diretos
no clima com a emissão de gases de efeito-estufa, no ciclo da água e na
conservação da biodiversidade.
92

Caracterização das UCs na Amazônia legal

Unidades de Cincervação (UCs) são áreas estabelecidas e adminis-


tradas pelo poder público sejam eles, federal, estadual ou municipal. De
acordo com o Sistema Nacional de Unidades de Conservação (SNUC
– Lei nº 9.985/2000), podem ser definidas como “espaços territoriais e
seus recursos ambientais, incluindo as águas jurisdicionais, com carac-

r
V
terísticas naturais relevantes, legalmente instituídos pelo Poder Público,

uto
com objetivos de conservação e limites definidos, sob regime especial
de administração, ao qual se aplicam garantias adequadas de proteção”.
As UCs são classificadas em dois grupos: de Proteção Integral e de

R
a
Uso Sustentável, e reclassificadas em diferentes categorias, de acordo com
o grau e o tipo de restrição de uso: Área de Proteção Ambiental, Área de

do
Relevante Interesse Ecológico, Estações Ecológicas, Florestas Nacionais,
Monumentos Naturais, Parques Nacionais, Reserva de Desenvolvimento
aC
Sustentável, Reserva de Fauna, Refúgio de Vida Silvestre, Reserva Ex-

Editora CRV - versão para revisão do autor - Proibida a impressão


trativista, Reserva Particular do Patrimônio Natural – RPPN, Reservas
Biológicas e Reservas Ecológica.são
Dados do Ministério do Meio Ambiente (2010) apontam para a re-
gulamentação institucional de Parque Nacionais Brasileiros, estabelecida
i
em 1968, através de portaria em 1979 pelo Decreto de nº 84.017, seguido
rev

do Código Florestal, Lei nº 4.771 de 1965 e a Lei de Proteção à Fauna,


or

Lei 5.197 de 1967.


Estes foram os marcos legais que conceituamos aqui como importantes
instrumentos jurídicos que embasaram os processos de criação das uni-
ara

dades de conservação conferindo-lhes qualidade na construção tanto dos


planos de manejo para as referidas áreas, quanto como no planejamento
ver dit

sistemático das unidades de conservação, tendo estes pontos verificados


a partir da publicação da I Etapa do Plano do Sistema de Unidades de
op

Conservação do Brasil.
Este Plano, desenvolvido pelo Instituto Brasileiro de Desenvolvimento
Florestal (IBDF) e publicado em 1979, como uma II Etapa publicada em
E

1982 (IBDF/FBCN, 1979; 1982), incluía disposições e recomendações,


embasadas em critérios técnicos e científicos, para a organização das
unidades de conservação brasileiras (MMA, 2010).
As definições de cada categoria de UC podem ser observadas no qua-
dro 1 quanto à caracterização e a categoria em que cada uma se adequar.
CONQUISTA DO ESPAÇO NA AMAZÔNIA:
Apropriações da Natureza e Representações Sociais 93

Quadro 1 – Unidades de Conservação da Natureza de Proteção integral


Unidades de Unidades de Caracterização Legislação
Proteção Integral Conservação

Art. 10 da Lei
Áreas representativas dos ecossiste- 6.902/81;
CATEGORIA I Estação mas naturais, destinadas à realização Art. 28 do
RESERVA Ecológica de pesquisas básicas ou aplicadas à Decreto Federal
CIENTÍFICA (ESEC) proteção do ambiente natural e ao de- 88.351/83 e Art.
senvolvimento da educação ambiental.
9º do SNUC

r
V
uto
Áreas que compreendem extensão va-
riável e apresentam ecossistemas ou Art. 5º da Lei
comunidades frágeis de importância 771/65
biológica, em terras de domínio público, (Código Florestal);
Reserva fechadas à visitação pública. Têm a Art. 5º da Lei
R
Biológica finalidade de resguardar atributos ex- 5.197/67

a
(REBIO) cepcionais da natureza, conciliando (Proteção à Fauna
a proteção integral da flora, da fauna Silvestre) e Art.
e das belezas naturais, com sua uti-
CATEGORIA I 10º do SNUC
lização para objetivos educacionais,
RESERVA
CIENTÍFICA
do recreativos e científicos.
aC
Áreas que apresentam florestas e de-
mais formas de vegetação natural de Art. 2º da Lei
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Reserva preservações permanentes, situadas 4.771/65;


são
Ecológica ao longo dos rios ou de outro qualquer Art. 18 da
(RESEC) curso d’água, em faixa marginal, cuja Lei 6.938/81 e
largura mínima deverá ser de cinco (5) Decreto 89.336/84.
metros para os rios.
i

O manejo dessa categoria se dirige à


rev

proteção de áreas naturais e cênicas, de


significado nacional ou internacional, para Art. 5º da Lei
uso científico, educacional e recreacional. 4.771/65;
or

Parques Art. 1º do
CATEGORIA II Tais áreas deverão perpetuar, em um
Nacional / Decreto
PARQUE estado natural, mostras representativas 84.017/79
Estadual E Art.
de regiões fisiográficas, comunidades 11º do SNUC
bióticas, recursos genéticos e espécies
ara

em perigo de extinção, para prover uma


estabilidade e diversidade ecológica.
ver dit

Área ou monumento natural, cuja con-


servação é de interesse público, seja por
CATEGORIA III Área seu valor histórico, ambiental, arqueo- Art. 1º do Decreto-
op

MONUMENTO Tombada Ou lógico, etnográfico, geológico, turístico, Lei 25/37 e Art. 24


NATURAL Tombamento paisagístico, bibliográfico ou artístico, da Lei 3.924/61.
escritos de forma separada ou agrupa-
dos em um dos quatro Livros de Tombo.
E

Não se podem constituir em objeto de


exploração econômica ou de qualquer
forma de ocupação humana, mesmo
que situadas dentro de unidades de
CATEGORIA III Área de conservação que permitam tais ativi-
MONUMENTO Preservação dades. Estabeleceu-se pelo Código Lei 4.771/65
NATURAL Permanente Florestal em função de suas carac-
terísticas fisiográficas, identificadas
por margens de rios, topos de morros,
restingas e mangues.
continua...
94

continuação
Unidades de Unidades de Caracterização Legislação
Proteção Integral Conservação
Áreas que devem ser preservadas e va-
lorizadas no sentido cultural, para reali-
zação de projetos de desenvolvimento
turístico. Essas áreas apresentam bens
de valor cultural e natural, em especial
os bens de valor histórico, artístico, ar-
Área Especial queológico ou pré-histórico; as
De Interesse Art. 1º e 2º da Lei
reservas e estações ecológicas; as áreas 6.513/77; Decreto
Turístico E

r
destinadas à proteção dos recursos na-

V
Local de turais renováveis; as manifestações cul- 86.176/81.
Interesse

uto
turais ou etnológicas e os locais onde
ocorram paisagens notáveis; as localida-
des dos acidentes naturais adequados,
as fontes hidrominerais aproveitáveis e
as localidades em condições climáticas
especiais.

R
a
Cavidade natural subterrânea em qual-
quer espaço subterrâneo penetrável
pelo homem, com ou sem abertura
identificável, incluindo seu ambiente,

do
conteúdo mineral hídrico, a fauna e a
flora ali encontradas e o corpo rochoso
onde os mesmos se inserem, desde Art. 10 do Decreto
aC
Caverna que a sua formação haja ocorrido por 99.556/90.
processos naturais, independentemente

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de suas dimensões ou do tipo da ro-
CATEGORIA IV
REFÚGIO DE
VIDA SILVESTRE
são
cha. Nessa designação estão inclu-
ídos todos os termos regionais, tais
como: gruta, lapa, tocas, abismo, furna
e buraco.
São imóveis de domínio privado, desti-
i
nados por seus proprietários, em cará-
rev

ter perpétuo, no todo ou em parte, onde


Reserva tenham sido identificadas condições na- Art. 10 do Decreto
Particular do turais, semi-primitivas, recuperadas ou 98.914/90 e Art
or

Patrimônio cujas características justifiquem ações 21º do SNUC


Natural (RPPN) de recuperação pelo seu aspecto pai-
sagístico, ou para preservação do ciclo
biológico de espécies da fauna ou da
flora nativas do Brasil.
ara

São áreas de propriedade pública e pri-


ver dit

vada, que, após estudos, poderão pas-


sar para outra forma de classificação
de unidades de conservação federais, Art. 70 do Decreto
Área de estaduais ou municipais. Apresentam 88.351/83 e Art.
op

Relevante características naturais extraordinárias


Interesse 20 do Decreto
ou abrigam exemplares raros da biota 89.336/84
Ecológico e Art.
natural, exigindo cuidados especiais de 16º § 1º do SNUC
(ARIE) proteção por parte do poder público.
Sua extensão é inferior a 5.000ha, ha-
E

vendo pequena ou nenhuma ocupação


humana por ocasião do ato declaratório.

Representa a primeira medida de proteção de áreas ou bens, que, após estu-


dos mais aprofundados, poderão alcançar status de Unidade de Conservação
Área Sob ampliada. Criada através de resolução federal, estadual ou municipal, em
Proteção áreas de domínio público ou privado. NÃO É LEGALMENTE CONSTITUÍDA,
Especial (ASPE) recebendo essa denominação com a finalidade de evidenciar áreas em estado
de alerta, já contempladas por outros instrumentos legais.

Fonte: Adaptado de CPRM/2000.


CONQUISTA DO ESPAÇO NA AMAZÔNIA:
Apropriações da Natureza e Representações Sociais 95

As Unidades de Proteção Integral são aquelas destinadas à preservação


da biodiversidade, sendo permitida somente a pesquisa científica e, em alguns
casos, o turismo e atividades de educação ambiental, desde que haja prévia
autorização do órgão responsável. Não envolve consumo, coleta, extração
de produtos madeireiros ou minerais e não é permitida a permanência de
populações – tradicionais ou não – em seu interior, com exceção dos Mo-
numentos Naturais e Refúgios da Vida Silvestre. Na definição do SNUC,

r
V
proteção integral é a manutenção dos ecossistemas livres de alterações

uto
causadas por interferência humana, admitido apenas o uso indireto dos seus
atributos naturais (BRASIL, 2000).
Subdividido também em categorias, estas Unidades de Conservações
R
(UCs) são classificadas em: Estação Ecológica (Esec), Reserva Biológica

a
(Rebio), Parque Nacional/Estadual (PARNA/PES), Monumento Natural
(Monat) e Refúgio de Vida Silvestre (RVS).
do
Até 2010, só as Unidades de Conservação federais na Amazônia Le-
aC
gal somavam 610.510 km², enquanto as estaduais ocupavam 563.748 km².
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Com relação às Unidades de Conservação de Uso Sustentável – onde são


são
permitidas atividades econômicas sob regime de manejo e comunidades
residentes – até dezembro de 2014 correspondiam a 62,2% das áreas ocu-
padas por UCs (federais mais estaduais), enquanto as de Proteção Integral
totalizavam 37,8% (MMA, 2011).
i
rev

Apesar dos avanços no tocante a criação de Áreas Protegidas, os desafios


ainda são persistentes para que se possa garantir de fato as consolidações
or

necessárias a uma proteção socioambiental efetiva. No caso das Unidades


de Conservação, na Amazônia Legal metade não possui plano de manejo
aprovado e grande parte não conta com conselho gestor, além disso, o número
ara

de funcionários alocados nessas Unidades é sempre reduzido.


ver dit

Até o ano de 2010, o Imazon/ISA publicou uma pesquisa onde afirma


que na Amazônia Legal haviam cerca de 307 Unidades de Conservação,
op

totalizando 1.174.258 km², o que corresponde a 23,5%5 desse território.


Desse total, 196 unidades eram de Uso Sustentável e 111 de Proteção Inte-
gral, administradas tanto pelo Governo Federal (132) como pelos governos
E

estaduais (175).

As Unidades Federais contabilizavam 610.510 km², sendo 314.036 km²


de Proteção Integral e 296.474 km² de Uso Sustentável. As Unidades Esta-
duais somavam 563.748 km²: 129.952 km² de Proteção Integral e 433.796
km² de Uso Sustentável, observe a tabela 1.
96
Tabela 1 – Unidades de Conservação por UF na Amazônia Legal

UC de UC de
Área da % sobre % sobre Terra % sobre Área da UF % sobre
UF proteção uso
UF a UF a UF indígena a UF sob TI/UC a UF
integral sustentável

Acre 16.491.871 1.589.678 9,64% 3.564.027 21,61% 2.459.834 14,92% 7.613.539 46,17%

Amapá 14.78.700 4.772.531 32,29% 4.184.181 28,31% 1.191.343 8,06% 10.148.055 68,65%
E
Amazonas 158.478.203 11.222.149 7,08% 23.766.772 15% 45.232.159 28,54% 80.221.080 50,62%

Maranhão** 26.468.894 1.307.289 4,94% 112.035 0,42% 2.285.329 8,63% 3.704.653 14%
ver dit
Mato Grosso 90.677.065 1.948.575 2,15% 130.312 0,14% 15.022.842 16,57% 17.101.728 18,86%
sã or op
Pará 125.328.651 12.711.116
ara 10,14% 18.821.871 15,02% 28.687.362 22,89% 60.220.349 48,05%

Rondônia 23.855.693 2.160.768 9,06% 2.726.646 11,43% 5.022.789 21,05% 9.910.203 41,54%
aC
rev
Roraima 22.445.068 1.052.459 4,69% i428.873 1,91% 10.370.676 46,20% 11.852.088 52,80%

Tocantins 27.842.280 1.038.034 3,73% 9.164


são R
0,03%
V 2.597.580 9,33% 3.644.778 13,09%
do
Total 506.369.425 37.802.598 7,47% 53.743.880 10,61%
a 112.869.914 22,29% 204.416.393 40,37%

Fonte: Instituto Socioambiental/Programa Monitoramento de Áreas Protegidas – SisArp (Sistema de Áreas Protegidas) – 18/10/2016. De acordo com a
base cartográfica de Unidades de Conservação produzida pelo ISA e base de unidades da federação do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
uto
(IBGE) – Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão (Escala 1:5.000.000)
r
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CONQUISTA DO ESPAÇO NA AMAZÔNIA:
Apropriações da Natureza e Representações Sociais 97

Analisando por grupo de proteção ou uso sustentável na Amazônia,


obtemos os seguintes dados: são um total de 339 UCs ocupando uma área de
1.196,778 km² (28,5%) destas, 86 são unidades de conservação de proteção
integral ocupando uma área de 430.190 km² (10,2%) do território que abrange
o bioma amazônico e 253 unidades de uso sustentável, ocupando uma área
de 776.589 km² (18,3%) do mesmo território (CNUC/MMA, 2018). Observe
os dados referentes a Rondônia na tabela 2.

r
V
uto
Tabela 2 – Unidades de Conservação Estaduais por UF
na Amazônia Legal por grau de proteção
Qtd UCs Total Área Uso Qtd UCs
Total Área Proteção
UF Uso
R Sustentável Proteção

a
Integral (ha)
Sustentável (ha) Integral
Acre 5 558.383 1 695.303
Amapá
do
2 3.175.584 1 111
aC
Amazonas 28 13.784.965 8 3.482.637
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Maranhão 0 0 4 547.992
são
Mato Grosso 1 164.224 29 1.671.323
Pará 8 7.935.448 9 5.503.469
Rondônia 33 2.308.075 8 866.760
i
rev

Roraima 0 0 0 0
Tocantins
or

0 0 4 290.986
Fonte: Instituto Socioambiental/Programa Monitoramento de Áreas Protegidas – SisArp (Sistema de
Áreas Protegidas) – 18/10/2016. De acordo com a base cartográfica de Unidades de Conservação
ara

produzida pelo ISA e base de unidades da federação do Instituto Brasileiro de Geografia e


Estatística (IBGE) – Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão (Escala 1:5.000.000).
ver dit

Dentre as UCs estaduais no Estado de Rondônia, identificou-se que oito


pertencem ao grupo de proteção integral (três estações ecológicas (EE), três
op

parques estaduais (PE) e duas reservas biológicas (RB), e 33 pertencem ao


grupo de Uso Sustentável (uma área de proteção ambiental (APA), 11 flores-
tas estaduais de rendimento sustentável (FERS) e 21 reservas extrativistas
E

(Resex). As unidades de conservação federais são compostas por cinco de


proteção integral (uma estação ecológica, duas reservas biológicas e dois
parques nacionais (PN)) e sete de uso sustentável (três florestas nacionais
(FN) e quatro reservas extrativistas (RONDÔNIA, 2010). Um dos maiores
desafios para a manutenção da diversidade nestas áreas de proteção ambiental
no estado de Rondônia é a caça ilegal e o desmatamento, provocado em sua
98

grande maioria por queimadas e retirada ilegal de madeira. Este fato não é
tratado como prioridade apenas nos dias atuais.
Mesmo sendo de grande importância para o estado, as unidades de proteção
integral, como é o caso do Parque Estadual de Corumbiara, estão cada vez mais
ameaçadas, principalmente após as reduções territoriais das UCs estaduais, que
foram concedidos atendendo a interesses de posseiros, grileiros e fazendeiros,
que se aproveitando do respaldo político obtido junto aos representantes dos

r
V
poderes executivos e legislativos, passaram a desmatar áreas muito extensas

uto
para usá-las na pecuária extensiva, presente até hoje no entorno do parque.
Segundo dados do Projeto de Monitoramento do Desflorestamento da
Amazônia Legal (PRODES) que realiza o monitoramento por satélite do

R
desmatamento na região amazônica ligado ao Instituto Nacional de Pesquisas

a
Espaciais (INPE), em 2006 aproximadamente 9% da extensão territorial do
estado de Rondônia foi desmatado, sendo este o ano com maior índice de

do
desmatamento já registrado e em 2007 cerca de 11,5 mil km² da Amazônia
Legal brasileira. No período de agosto de 2014 a julho de 2015, a taxa de
aC
desmatamento na região rondoniense apresentou uma variação de 1.030 km²/

Editora CRV - versão para revisão do autor - Proibida a impressão


são
ano sofrendo um aumento de 346 km²/ano se comparado ao biênio anterior.
Rondônia há pouco mais de dez anos, esteve presente no ranking dos estados
que mais desmataram como pode ser percebido na tabela 2.
Atualmente a taxa consolidada gerada pelo Projeto de Monitoramento
i
do Desmatamento na Amazônia Legal por Satélite (PRODES), do Instituto
rev

Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), apontou o resultado de 6.947 km2


or

de corte raso no período de agosto de 2016 a julho de 2017. Os dados deste


ano indicam uma diminuição de 12% em relação a 2016, ano em que foram
apurados 7.893 km2 e também representa uma redução de 75% em relação
ara

à registrada em 2004, ano em que o Governo Federal lançou o Plano para


Prevenção e Controle do Desmatamento na Amazônia (PPCDAm), atualmente
ver dit

coordenado pelo Ministério do Meio Ambiente (MMA).


op

O zoneamento socioeconômico-ecológico de Rondônia

Em 1986, o Governo do Estado de Rondônia desencadeou um processo


E

de ordenamento territorial, numa ótica de sustentabilidade a longo prazo,


surgindo o PLANAFLORO (Plano Agropecuário e Florestal de Rondônia)
que, dentre outros programas, determinava a realização do zoneamento
socioeconômico-ecológico da região, passando assim a possui o primeiro zo-
neamento socioeconômico – ecológico do País e da América do Sul, realizado
em base técnica e científica e transformado em lei estadual. O Zoneamento
tem por objetivo orientar a implementação de medidas e elevação do padrão
CONQUISTA DO ESPAÇO NA AMAZÔNIA:
Apropriações da Natureza e Representações Sociais 99

socioeconômico das populações, por meio de ações que levem em conta


as potencialidades, as restrições de uso e a proteção dos recursos naturais,
permitindo que se realize o pleno desenvolvimento das funções sociais e do
bem-estar de todos, de forma sustentável.
Rondônia passou a ser um dos poucos estados brasileiros a contar com um
completo zoneamento socioeconômico e ecológico de seu espaço físico. O rela-
tório final da 2ª versão do ZSEE, concluído após dez audiências públicas e doze

r
V
oficinas de discussão foi aprovado pela Comissão Estadual do Zoneamento,

uto
apresentado à apreciação da Assembleia Legislativa do estado e transformado
na Lei Complementar n° 233 de 06 de julho de 2000. Esta segunda aproximação
corrige deficiências e falhas da 1ª, realizada doze anos antes. Além do Zoneamento
R
ecológico econômico, Rondônia ainda participa de outros programas que promo-

a
vem o desenvolvimento sustentável através da gestão sócio ambiental visando a
melhoria da qualidade de vida e a minimização dos impactos ambientais.
do
O ZSEE-RO apoia-se no reconhecimento da ocupação territorial, na
identificação da alteração da cobertura florestal e na evidência dos condicio-
aC
namentos geofitoecológicos e edafoclimáticos dos “Sistemas Ambientais” de
Editora CRV - versão para revisão do autor - Proibida a impressão

são
ocupação (SEDAM, 2009). Segundo o Zoneamento sócioecológico-econômico
do estado (ZSEE/RO) as áreas de abrangência das unidades de conservação
e terras indígenas integram a zona 3 ou como também é conhecida Zona de
área institucional, constituídas pelas áreas de uso restrito e controlado.
i

As outras duas zonas, Zona 1 e Zona 2, compreendem áreas com potencial


rev

para consolidação, expansão e recuperação de atividades econômicas (Zona 1), em


or

geral com níveis médios a elevados de ocupação antrópica, ou áreas de conservação


dos recursos naturais passíveis de uso sob manejo sustentável (Zona 2), em geral
com baixos níveis de ocupação e elevada biodiversidade (SEDAM, 2010). Cada
ara

uma das zonas estabelecidas no ZSEE subdivide-se em outras, de acordo com


os níveis de ocupação do solo, de pressões exercidas e/ou de potencialidades de
ver dit

uso. A Zona 3, em especial, subdivide-se em três subzonas, que são:


op

a) Subzona 3.1 – áreas formadas pelas unidades de conservação de


uso direto, tais como: florestas estaduais de rendimento sustentado,
florestas nacionais, reservas extrativistas, etc., estabelecidas no
E

Sistema Nacional de Unidades de Conservação (SNUC);


b) Subzona 3.2 – áreas formadas pelas UCs de uso indireto, tais como:
estações ecológicas, parques e reservas biológicas, patrimônio es-
peleológico, reservas particulares do patrimônio natural e outras,
como estabelecido no SNUC;
c) Subzona 3.3 – áreas formadas pelas terras indígenas, parte do ter-
ritório nacional de uso limitado por lei.
100

No ano de 2000, o ZSEE de Rondônia indicava que cerca de 8.336.790ha


(ou cerca de 34,95% do território estadual) compreendiam unidades de con-
servação e terras indígenas. Atualmente, estas categorias de áreas protegidas
somam mais de 10 milhões de hectares e perfazem cerca de 45% do território
de Rondônia (RIBEIRO; VERÍSSIMO; PEREIRA, 2005; ISA, 2007).
Contudo, apesar dos avanços significativos na criação de áreas protegidas,
a gestão das UCs estaduais em Rondônia – assim como em todo o país – é

r
V
ainda muito comprometida porque muitas unidades não são respeitadas pelas

uto
comunidades que as permeiam. A falta de instrumentos de planejamento, e
carência de infraestrutura básica e a pequena disponibilidade de recursos
humanos constituem as principais deficiências na gestão de tais.

R
a
Considerações parciais: importância da gestão ambiental em UCs

do
A conservação da natureza é gestão racional dos recursos naturais. Visa
assegurar a produção contínua dos recursos renováveis (fauna e flora) e um
aC
rendimento otimizado dos não renováveis (minerais). Abrange a preservação,

Editora CRV - versão para revisão do autor - Proibida a impressão


são
a utilização sustentada e a regeneração dos ambientes degradados. Na gestão
ambiental todas as variáveis de um processo de gestão, tais como o estabele-
cimento de políticas, planejamento, um plano de ação, alocação de recursos,
determinação de responsabilidades, decisão, coordenação, controle, entre
i
outros, são levadas em consideração visando principalmente ao desenvolvi-
rev

mento sustentável. Uma decisão ambiental, em seus diversos níveis, envolve


or

variáveis complexas e alternativas de ação nem sempre de fácil aceitação.


Para o planejamento, gestão e consolidação das UCs, torna-se fundamental
o conhecimento e a aplicabilidade de metodologias de avaliação integradas
ara

da paisagem, bem como para a determinação das fragilidades ambientais nas


UCs, por meio da utilização das geotecnologias que, de acordo com Fitz (2008)
ver dit

podem ser entendidas como sendo as novas tecnologias ligadas às geociências


e áreas correlatas, as quais trazem avanços significativos no desenvolvimento
op

de pesquisas, em ações de planejamento, em processo de gestão, manejo e em


tantos outros aspectos relacionados à estrutura do espaço geográfico.
Os princípios de Gestão são de administrar segundo normas, diretrizes,
E

estruturações de sistemas gerenciais e tomadas de decisões. Dentro disto,


Machado (2002) destaca que a Gestão Ambiental tem como “[...] objetivo
final promover, de forma coordenada o uso, proteção, conservação e monito-
ramento dos recursos naturais e socioeconômicos em um determinado espaço
geográfico, com vistas ao desenvolvimento sustentável”.
Aliada aos SIGs (Sistemas de Informações Geográficas) o trabalho em con-
junto integrará os elementos, estruturando-os de forma que possam relacionar-se
CONQUISTA DO ESPAÇO NA AMAZÔNIA:
Apropriações da Natureza e Representações Sociais 101

para a execução de determinada função, trabalhando um número infinito de infor-


mações de cunho geográfico através de recursos computacionais possibilitando
a análise, a gestão e a representação dos espaços e dos fenômenos que ocorrem
ao longo do tempo, funcionando como uma base de dados com informações ge-
ográficas que associado a objetos gráficos (mapas digitais) fornecerá informações
precisas da localização dos elementos no espaço (FITZ, 2008).
Para que o estudo das fragilidades ambientais se torne um fator contributivo

r
V
para a conservação da biodiversidade e fator determinante para a delimitação de

uto
áreas a serem manejadas, é importante considerar as mudanças das características
naturais de cada ambiente quanto as suas fragilidades. Concordamos com Santos
(1998) para o qual à medida que se adquire mais informações, mais depressa,
R
que a economia ou que a sociedade, sem dúvida, tudo se informatiza, mas no

a
território esses fenômenos são ainda mais marcantes na medida em que o trato
do território supõe o uso da informação, que está presente também nos objetos
do
O processo de ocupação da Amazônia Legal tem sido marcado pelo des-
matamento, pela degradação dos recursos naturais e por conflitos sociais. Em
aC
pouco mais de três décadas de ocupação, o desmatamento atingiu cerca de
Editora CRV - versão para revisão do autor - Proibida a impressão

são
18% do território (IBGE, 2010). Além disso, extensas áreas de florestas ainda
sofrem degradação devido a extração madeireira e incêndios florestais e como
qualquer ecossistema, a Amazônia tem um ponto limite além do qual não será
possível recuperá-la.
i

É importante salientar que para que haja gestão ambiental efetiva em unidades
rev

de conservação é necessário que alguns planos sejam cumpridos quanto ao uso


or

da biodiversidade visando a criação e ampliação de novas áreas priorizando a


quantidade e qualidade da manutenção e sustentação dos ecossistemas existentes
com base nos princípios de conservação dos recursos naturais.
ara

A etapa inicial no processo de planejamento ambiental envolve a caracte-


rização e análise ambiental da unidade em estudo. Essa etapa demanda tempo
ver dit

e recursos para conhecer e identificar as características dos diversos compar-


timentos ambientais, além de classificá-los de acordo com a capacidade com
op

que absorve os diferentes usos, considerando os riscos resultantes inerentes às


atividades desenvolvimentistas.
Para que haja gestão ambiental é necessário entender sua real funcionalidade
E

e quais as necessidades de sua aplicabilidade principalmente em unidades de


conservação. Os princípios de Gestão foram fundamentados, a partir da criação,
em 1987, da Comissão Mundial do Ambiente e Desenvolvimento (Comissão
Brundtland), com a publicação do relatório denominado “Nosso Futuro Co-
mum”, o qual destaca a importância da proteção do ambiente na realização do
desenvolvimento sustentável.
102

Uma decisão ambiental, em seus diversos níveis, envolve variáveis


complexas e alternativas de ação nem sempre de fácil aceitação. Embora seja
esse um objetivo a ser alcançado, num mundo que se depara com questões tão
primordiais como a fome, a educação, a saúde, enfim, condições mínimas de
sobrevivência do homem que a humanidade ainda não conseguiu resolver, de-
cidir em favor de ações que preservem o meio ambiente, tornam-se mais difícil.
Na busca pela minimização dos conflitos sociais, a aplicação da gestão

r
V
ambiental vem sendo definida como uma atividade voltada para a formulação

uto
de princípios e diretrizes, estruturação de sistemas gerenciais e tomada de
decisões. O objetivo final é promover, de forma coordenada, o uso, proteção,
conservação e monitoramento dos recursos naturais e socioeconômicos em um

R
determinado espaço geográfico, com vistas ao desenvolvimento sustentável.

a
Em busca do aprimoramento da gestão ambiental nas unidades de con-
servação do estado, programas de incentivo ao desenvolvimento e proteção

do
ambiental foram implantados. Rondônia foi um dos primeiros estados do Brasil
a apresentar o zoneamento socioeconômico-ecológico, este transformado em
aC
lei estadual realizado através de base técnica e científica.

Editora CRV - versão para revisão do autor - Proibida a impressão


são
Além do Zoneamento ecológico econômico, Rondônia ainda participa
de outros programas que promovem o desenvolvimento sustentável através
da gestão sócio ambiental visando à melhoria da qualidade de vida e a mi-
nimização dos impactos ambientais. Um dele foi é o programa ARPA, ainda
i
em vigor no país e responsável pelo financiamento da construção do plano
rev

de manejo da unidade de conservação em estudo. Criado em 2002, tem o


or

objetivo de expandir, consolidar e manter uma parte do Sistema Nacional de


Unidades de Conservação no Bioma Amazônia.
Em Rondônia também foi implantado o ICMS Ecológico que é um ins-
ara

trumento de apoio à gestão ambiental, capaz de orientar o uso dos recursos


naturais de forma que sejam observados os princípios da sustentabilidade
ver dit

ambiental. É um benefício financeiro destinado aos municípios que tomem


atitudes protetivas em relação ao meio ambiente. Visa o desenvolvimento
op

ambiental e a qualidade de vida da população.


O Estado criou o ICMS Ecológico em 1996, através da Lei no 147/96.
O modelo está calcado no critério ligado às Unidades de Conservação e
E

terras indígenas. A lei do Estado de Rondônia estabelece a possibilidade da


redução do ICMS Ecológico aos municípios cujas unidades de conservação
sofram invasões ou outros tipos de agressões. Rondônia não adota o critério
qualitativo para o cálculo dos índices que os municípios têm direito a receber,
podendo perder, assim, uma oportunidade de utilizar mais efetivamente o
ICMS Ecológico em benefício da consolidação das unidades de conservação.
CONQUISTA DO ESPAÇO NA AMAZÔNIA:
Apropriações da Natureza e Representações Sociais 103

REFERÊNCIAS

AZEVEDO, Laise Santos. Áreas Legalmente Protegidas na Amazônia: uma


análise da gestão ambiental do parque estadual de Corumbiara. 2018. Mestrado
em Geografia) – Fundação Universidade Federal de Rondônia. Porto Velho, 2018.

r
BRASIL. Grupo Permanente de Trabalho Interministerial. Plano de Ação para a

V
Prevenção e o Controle do Desmatamento na Amazônia Legal (PPCDAM).

uto
Brasília: Casa Civil, 2004/2009.
BRASIL. Ministério do Meio Ambiente. Cadastro Nacional de Unidades de
R
Conservação, Brasília, DF. 2018. Disponível em: <http://www.mma.gov.br/

a
areas-protegidas/cadastro-nacional-de-ucs> Acessado em 16/04/

do
FITZ, Paulo Roberto. Geoprocessamento sem complicação. São Paulo: Oficina
de Textos. 2008. 160 p.
aC
ISA, Instituto Socioambiental. Caracterização Socioambiental das Unidades
Editora CRV - versão para revisão do autor - Proibida a impressão

são
de Conservação. Rondônia, 2007.
INPE, Instituto Nacional De Pesquisas Espaciais. Monitoramento da Floresta,
São José dos Campos 2004.
i

MACHADO, Jeanne Marques et al. O impacto ambiental como instrumento


rev

orientador na educação e na política ambiental. In: XXII Encontro Nacional


or

de Engenharia de Produção Curitiba – PR, 23 a 25 de outubro de 2002.


PERDIGÃO, Francinete; BASSÉGIO, Luiz. Migrantes Amazônicos: Rondônia
a Trajetória da Ilusão. São Paulo, Loyola, 1992.
ara

RONDÔNIA, Governo do Estado de. Plano de Manejo do Parque Estadual


ver dit

de Corumbiara. Curitiba/PR. 2009.


op

RONDÔNIA, Secretaria de Estado do Meio Ambiente (SEDAM). Zonea-


mento Socioeconômico- Ecológico do Estado de Rondônia. Porto Velho:
SEDAM, 2010.
E

SANTOS, Milton. Técnica, Espaço, Tempo: globalização e meio técnico-


-científico informacional. 4. ed. São Paulo: Hucitec, 1998.
SNUC – Sistema Nacional de Unidades de Conservação. Lei 9.985 de 18 de
julho de 2000; Ministério do Meio Ambiente.
VERÍSSIMO, Adalberto et. Áreas Protegidas na Amazônia brasileira: avanços
e desafios. São Paulo: IMAZON – Instituto Socioambiental, 2011.
E
ver dit
sã or op
ara aC
rev
i são R V
do
a uto
r
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CAPÍTULO VII

APROPRIAÇÃO DAS MARGENS DO


RIO BARÃO DO MELGAÇO: um estudo de
caso em Pimenta Bueno – Rondônia – Brasil

r
V
Benedito de Matos Souza Junior

uto
Claudia Cleomar Ximenes
Carla Silveira de Arruda
Núbia Caramello
R
a
Introdução
do
aC
O século XXI apresenta desafios ambientais com a ocupação predató-
ria das margens dos rios na zona urbana das cidades brasileiras. Na região
Editora CRV - versão para revisão do autor - Proibida a impressão

são
Amazônica os desafios e perspectivas são imensos. No município de Pimenta
Bueno o rio Barão do Melgaço encontra-se grande extensão desmatada, com
trechos degradados e ocupados por casebres. O Rio Barão do Melgaço serve
de sustento de muitas famílias que moram as suas margens, pois o peixe
i
rev

faz parte da dieta alimentar diária, alguns chegam a ter em suas refeições
apenas o que retira do rio.
or

Com o crescimento populacional as matas ciliares foram tombadas e em


seu lugar surgiram frágeis edificações colocando a natureza e o ser humano
em risco. Problemas como alagação foi intensificada, temporada após tempo-
ara

rada de chuva. Sob o objetivo de identificar o quanto os passivos ambientais


ver dit

atingem a população residente as margens do Rio Barão do Melgaço na sua


extensão urbana no município de Pimenta Bueno, Rondônia, Brasil, pelas
op

ações antrópicas, considerando as inundações ocorridas entre 2010 e 2015.


Com o uso e ocupação predatória do solo ocorrem grandes mudanças
climáticas em todo globo terrestre como, a exemplo, o constante desmata-
mento por meio de derrubadas e queimadas, ocasionando modificações na
E

natureza. Como exemplo, as variações de grandes enchentes em um ano


á secas severas em outros. Estas variações provocam instabilidade social,
econômica e ambiental. Levanta uma série de problemas socioambientais e
econômicos, assim como, leva aos gestores públicos, também preocupação,
pois, além do social, há também o elevado volume de atendimentos, como
observado na rede municipal de saúde e de assistência social.
106

O município de Pimenta Bueno, cortado por dois grandes rios, o rio


Barão do Melgaço e o rio Pimenta Bueno, possui em suas Áreas de Pre-
servações Permanentes (APPs), no perímetro urbanos, moradores que ali
residem há décadas. Como solução para os problemas ocasionados pelas
constantes enchentes, em anos anteriores a 2015 o município com parceria
com o Governo Federal fomentou a construção de casas populares para as
famílias que sofrem de forma direta com os constantes alagamentos, con-

r
V
siderados como moradores de áreas de riscos.

uto
A paisagem mundial, diante de acontecimentos e desastres que causam
desequilíbrio do meio ambiente, representa O uso desordenado e sem pla-
nejamento do meio ambiente e seus elementos naturais pelo ser humano.

R
Destaca-se que os recursos hídricos que se pontua neste estudo é a água

a
utilizável, ou seja, aquela que de alguma forma é útil para o ambiente e os
seres que o habitam, conhecida como “água doce”. O fomento do adequado

do
uso dos recursos naturais, parte do princípio de que as pessoas precisam
aC
usar a água com ponderação, pois além de ter valor econômico, é esgotável.

Editora CRV - versão para revisão do autor - Proibida a impressão


Neste contexto, o objetivo de identificar o quanto às enchentes atingem
são
a população residente as margens do Rio Barão do Melgaço na sua extensão
urbana no município de Pimenta Bueno, Rondônia, Brasil, pelas ações an-
trópicas, considerando as inundações ocorridas entre 2010 e 2015. Estudo
semelhante foi realizado que mostra o quanto que as inundações afetam a
i
rev

vida das pessoas que moram as margens do rio, bem como daqueles que
dependem do mesmo para sobreviver.
or

Métodos e técnicas – caracterização do espaço


ara

O estudo de caso apoiou-se no método dedutivo-hipotético, com base


ver dit

nos estudos quantitativos e qualitativos de pesquisas de campo, documen-


tais, literárias e entrevistas com moradores das áreas que alagam. Com a
op

perda das matas ciliares a precipitação das chuvas aumentou de tal forma
que as enchentes tornaram-se constantes e, a proliferação de doenças com
a alagação, principalmente, por conta dos despejos de esgoto doméstico
no período de chuva intensa necessita de políticas públicas adequadas a
E

situações como esta.


O município de Pimenta Bueno, pertence ao estado Rondônia, locali-
zado na região norte, conhecida como Região Amazônica. Os municípios
circunvizinhos são: Espigão D’Oeste; Primavera de Rondônia e Cacoal.
Situado a 185 metros de altitude, Pimenta Bueno tem as seguintes coorde-
nadas geográficas: Latitude: 11° 40’ 29’’ Sul, Longitude: 61° 11’ 28’’ Oeste.
CONQUISTA DO ESPAÇO NA AMAZÔNIA:
Apropriações da Natureza e Representações Sociais 107

O crescimento demográfico do município e a falta de planejamento


são as principais causas dos problemas ambientais. A expansão do território
rondoniense foi marcada por interesses político e econômico, daí o uso e
ocupação descomedida do capital. O apoderamento das margens dos rios
pela humanidade ocorre por se buscarem acomodações em lugares que tenha
água. Importante destacar que o município de Pimenta Bueno teve o seu
crescimento acelerado a partir dos anos 80 do século XX se destacando com

r
V
o polo cerâmico, noveleiro, pscigranjas, água mineral envasada, fábrica de

uto
bicicleta e outras indústrias em ramos diversos.
Utilizando-se de fontes taxonômicas localizada em literaturas técnicas
e científicas, está investigação tem como norteador o método hipotético-
R
-dedutivo, pelas hipóteses levantadas e consentindo num estudo aberto e

a
coeso dos passivos ambientais. Segundo Sposito (2004, p. 31) “[...] esse
método foi consagrado pela filosofia e pela ciência ocidental e cristalizou-se
do
na prática cotidiana de uma infinidade de pessoas que se dedicam à produção
e à análise do conhecimento científico”.
aC
O discurso provê da experiência dos pesquisadores, bem como o co-
Editora CRV - versão para revisão do autor - Proibida a impressão

são
nhecimento da área abordada: margens do rio Barão do Melgaço no perí-
metro urbano do município de Pimenta Bueno, com foco na região em que
há construções de moradias, bem como é utilizado para associações, estas
últimas por fazerem parte da cidade no contexto urbano. Portanto, a análise
i

da pesquisa apresenta a necessidade de busca por explicações ao fenômeno


rev

das enchentes.
or

A técnica utilizada foi de observação in loco, registro fotográfico e


entrevistas com 15 pessoas que vivenciam as inundações decorrentes do
grande volume de chuvas, pois, buscou-se por pesquisar desde 2010 o
ara

movimento das águas às margens dos rios Pimenta Bueno e o do Barão do


Melgaço, chamando a nossa atenção no segundo por conter um maior nú-
ver dit

mero de pessoas em sua extensão, bem como pela BR 364 cortá-lo, sendo
possível à locomoção por meio de uma ponte de concreto que aponta uma
op

extensão de aproximadamente 150 metros de largura.


Os dados in loco foram coletados durante janeiro e março do ano
de 2015, período em que houve uma grande perda ambiental, econômica
E

e social em grande número de municípios do estado de Rondônia, tanto


quanto, houve enchente em quase todos os estados brasileiros, com grandes
repercussões devido ao nível que atingiu. Também, em 11 de dezembro de
2018, foram recolhidos 05 (cinco) depoimentos entre os 15 colaboradores
entrevistados em 2015. Foram utilizadas amostras acidentais e os critérios
de exclusão foi o de pessoas que não moravam no local atingido e que os
mesmos tivessem acima dos 18 anos de idade.
108

Resultados e discussões

O estado de Rondônia possui uma área de 238.512,80 km2, possui 52


municípios e é situado entre as coordenadas 07° 58’ e 13° 43’, de latitude
Sul, e 66° 48’, de longitude a Oeste de Greenwich. Possui clima Equatorial
quente e úmido e, somente uma pequena faixa ao sul do estado possui o

r
V
clima tropical. Eventos climáticos extremos foram identificados no período

uto
de 2007 a 2010.
Estudo realizado pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC),
relativo aos Desastres naturais, em 2011, aponta Pimenta Bueno, com um

R
registro de inundação considerado como catástrofe no ano de 2010. No ano

a
de 2010, houve o primeiro desastre estudado, o que não pode ser descartado
de anos anteriores, devido a se ter testemunhas.

do
Ponderar sobre os eventos que ocasionaram inundações ao longo do
tempo não é a intencionalidade desta pesquisa, no entanto, é necessário
aC
destacar que tal estudo, por parte de profissionais competentes na área, é

Editora CRV - versão para revisão do autor - Proibida a impressão


são
relevante e de suma importância para compreender alguns fatores que levam
há novos eventos. Podendo, em algumas ocasiões planejar ações gover-
namentais e de ações sociais e ambientais que visam prevenir fenômenos
naturais que coloquem a vida humana em risco.
i
Em casos como estes o reflorestamento é uma das soluções para que
rev

sejam recuperadas e preservadas as matas ciliares. O diferencial está, jus-


or

tamente, no custo benefício deste tipo de empreendimento, o alto custo de


implantação de projetos ambientais é menor do que os benéficos dos mes-
mos. As pesquisas realizadas pelo Centro Universitário de Estudos sobre
ara

desastres da UFSC (2013) destacam que,


ver dit

[...] O acompanhamento da evolução diária das condições meteorológi-


cas, assim como o monitoramento do nível dos rios permitem antecipar
op

a possibilidade das ocorrências de inundações e, consequentemente, a


minimização dos danos, tanto humanos, quanto materiais.
No entanto, essa previsibilidade não faz parte de um processo de ges-
tão do risco que, como consequência, não reduz a vulnerabilidade das
E

comunidades ribeirinhas, bem como do perímetro urbano, aos desastres


ocasionados por enchentes e inundações (UFSC, 2013, p. 45).

A constante monitoração do nível dos rios possibilita a previsão de


aumento do nível da água do rio, contribuindo para a tomada de decisões
como a retirada antecipada das famílias que ocupam áreas com incidên-
cias de alagações. No caso de Pimenta Bueno, Cerqueira et al. (2015),
CONQUISTA DO ESPAÇO NA AMAZÔNIA:
Apropriações da Natureza e Representações Sociais 109

apontam para a necessidade de implantação de Planos de Recuperação de


Áreas Degradadas (PRAD), as margens dos rios. Pois, desta forma é que
se conseguirá resolver a maior parte dos problemas. Contudo, importante
destacar que há, em andamento, um projeto de reflorestamento da área de
risco, onde deverá ocorrer a demolição de casas desabitadas a recuperação
da área.
As inundações levam para a população os dejetos lançados à deriva,

r
V
como lixos deixados nos quintais, fezes de fossas, entre outros causam danos

uto
à saúde. Doenças como, por exemplo: leptospirose, hepatite A, hepatite E,
doenças diarreicas, febre tifoide e cólera, também podem ocorrer quando
há contato direto das pessoas com a água e a lama das enchentes no caso
R
leptospirose. Uma série de problemas pode ocorrer com as pessoas que se

a
encontra em áreas de risco, chegando ao óbito.
Visível a importância em se desenvolver políticas públicas mais
do
arrojadas, com estudos de viabilidade social e econômica pelo município,
aC
uma vez que o Governo Federal tem feito sua parte quanto ao desenvolvimento
Editora CRV - versão para revisão do autor - Proibida a impressão

destas políticas voltadas ao meio ambiente — mesmo com suas deficiências


são
estruturais e, principalmente, de fiscalização. O Governo Federal apresen-
tou junto Ministério do Meio Ambiente (MMA) a operação Arco de Fogo
com o objetivo de coibir o desmatamento na Amazônia Legal e o município
de Pimenta Bueno foi apontada como um dos quatro municípios do
i
rev

estado de Rondônia como prioritário no combate ao desmatamento por


derrubadas e queimadas.
or

Neste sentido a questão que surge é: O que está sendo feito para se
mudar a situação em que encontra o meio ambiente? Em que ponto as polí-
ticas públicas ambientais desenvolvidas pelo município de Pimenta Bueno
ara

estão? Nesta reflexão, se busca por informações que contribuíssem na busca


ver dit

de respostas e o que se encontra foi com ações realizadas junto a órgãos do


Governo Estadual e Federal, com iniciativas dos dois entes federativos, os
op

quais estão fazendo a parte que lhes cabe, os municípios faz a parte rela-
cionada à sua contribuição a estas ações.
Casas populares, construídas com recursos compartilhados e distribuídas
E

a estas famílias é, em parte, solução. Sim, solução no sentido de retirá-las


dos espaços com risco de alagação, no entanto, a parte relativa ao meio


ambiente continua sem que haja propostas que coíba o avanço da água, esta
que já alcança de forma gradativa ano pós ano de enchente, chegando, há
mais de 500 metros de distância das margens do Rio Barão do Melgaço.
Isso sem deixar de destacar que o Rio Pimenta Bueno também transborda
neste período de cheia e, o município é rodeado por ambos os rios.
110

Necessário deixar claro que esta pesquisa está voltada para a zona
urbana e que o PRAD deve ser bem orientado especificando os atos a se-
rem realizados “[...] que devem ser planejadas de forma a recuperar a mata
destruída restituindo o uso original ou favorecer novas alternativas de uso,
medida esta que proporciona melhoria ao bioma e conserva a fauna e flora
local” (CERQUEIRA et al., 2015).
Nestes termos, importante destacar que a proposta realizada por Cer-

r
V
queira et al. (2015) de implementação de PRAD, que contemple as áreas

uto
ciliares no município de Pimenta Bueno é viável desde que seja realizado
um estudo atualizado de zoneamento e análise social e econômico, pois,
com os fenômenos ocorridos após os estudos citados a paisagem mudou e

R
novos espaços geográficos se formaram, bem como, frisa-se que,

a
do
Torna-se elemento chave essencial que o processo de capacitação da se-
cretaria de Meio Ambiente e Agricultura, juntamente com representantes
aC
da sociedade civil organizada, seja implantado, para que os conhecimentos
empíricos juntamente com o conhecimento cientificam possibilite novas

Editora CRV - versão para revisão do autor - Proibida a impressão


são
percepções de desenvolvimento. Porque qualquer ação governamental
desvinculado do acesso à informação pelos demais setores pode se
tornar onerosas e sem alcançar em longo prazo os objetivos propostos
(CERQUEIRA et al., 2015, p. 136).
i
rev

Interessante saber que o rio faz parte da capitação e distribuição de


or

água para os munícipes. Cerqueira et al. (2014, p. 49) expõem que “[...] os
problemas causados pelo mau uso dos recursos naturais e, no que tange aos
recursos hídricos proclama-se que as reservas naturais estão extinguindo-
ara

-se”. Independente de ser ou não tratada a água que vai para as residências,
é salutar destacar a importância com o cuidado com o que descartamos
ver dit

na natureza.
Segundo Araújo et al. (2014, p. 75) “O ciclo hidrológico é de funda-
op

mental importância para o processo erosivo, pois descreve a sequência da


transferência de água proveniente da precipitação para as águas superficiais
e subterrâneas, para o armazenamento e escamento superficial [...]”, ou
E

seja, as matas ciliares protegem os espaços ciliares. Os fenômenos naturais


exigem que se (re) pense as ações antrópicas, considerando que as margens
desmatadas são propícias a desmoronamento e precipitação da água que a
cada chuva chega com mais força.
CONQUISTA DO ESPAÇO NA AMAZÔNIA:
Apropriações da Natureza e Representações Sociais 111

Reflexões – observação in loco na enchente de 2015

A metamorfose ocorrida na natureza e as catástrofes ocorridas em todos


os continentes levam as pessoas a sentirem medo, de uma forma densa, sem
foco, sem luz. No espaço estudado 58% das pessoas entrevistadas em 2015 já
moravam no local há aproximados 15 anos e já haviam sofrido com grandes
enchentes em: 2009/2010, 2012/2013, 2014/2015. Mesmo que não se tem

r
V
dados oficiais, não se podem ignorar as informações daqueles que vivenciaram

uto
as crises socioambientais e econômicos.
Um dos desastres ambientais que mais assustou os brasileiros foi do Rio
Doce, localizado no distrito de Bento Rodrigues, no município de Mariana,
R
Minas Gerais. Em 5 de novembro de 2015 os moradores da região foram

a
surpreendidos por toneladas de lama e rejeitos de minério, inundando as
propriedades e tirando vidas, destruindo o ambiente e sonhos.

do
Caramello et al. (2016) realizou estudo sobre os desastres ambientais
ocorridos em rios de vários pontos do Globo Terrestre, principalmente sobre o
aC
Rio Doce no Brasil, segundo os pesquisadores, era uma tragédia já anunciada
Editora CRV - versão para revisão do autor - Proibida a impressão

e que deveria ter tido maior fiscalização, nas demandas econômicas.


são
Estas questões levam, neste estudo, às profundas reflexões espaciais,
sociais e históricas. “Forças ocultas” levam pessoas a agirem de maneira
estranha e, faz com que aconteçam coisas ainda mais esquisitas. Sob o ápice
i

da dor, da fome, do medo e a ganância tornam-se fontes de reflexão. Isto


rev

leva o seguinte questionamento: o medo tem luz? Ousa-se a responder o que


a professora questionou tantas vezes: — esperança é a luz do medo. Mas, o
or

que se vê nos olhos e percebemos nas lágrimas a escorrerem pelas faces de


homens e mulheres é a descrença.
ara

Mais uma vez depara-se com a onda de medo de uma barragem a se des-
fazer, a ser aberta, a ser rompida e a burocracia, bem como a má distribuição
ver dit

de renda os forçam a permanecerem onde estão e continuam a aprisionar as


pessoas as margens da sociedade contemporânea. Para solucionar os proble-
op

mas das pessoas que estavam às margens dos rios foram construídas casas
e distribuídas para 100 famílias, beneficiadas com o Programa que atendeu
moradores de áreas de riscos. O Conjunto Residencial Bela Vista, é um pro-
grama do Governo Federal, através do Ministério das Cidades, com parceria
E

da Prefeitura Municipal de Pimenta Bueno.


Em 2015, in loco, observaram-se crianças, brincando nas águas sujas,
misturadas as fossas rompidas. Riem, gargalham sem se importarem com
as cobras que disputam espaço, com o solo já contaminado pelo caramujo
e outros animais, que também lutam pela sua sobrevivência. Leva a refletir
e buscar por observar 2018, como está à margem dos rios. As casas foram
112

tombadas, como previsto no projeto de desocupação? A resposta é simples


e possível de ser averiguado: – Não! Continuam servindo de abrigo aqueles
que não possuem lugar para viverem.
Na última grande inundação em Pimenta Bueno e região, ao acompanhar
os procedimentos de resgate, se escutam: “Estamos acompanhando... estamos
monitorando”. Acompanhar, de dentro dos carros, distante da lama que se
fazem presente e se mostram a cada descida d’água, para quem está de forma:

r
V
magnífico. Entrar na água e ajudar é uma maneira de vivenciar a dor do outro.

uto
Um senhor relatou que no domingo, por mais que tentasse entender que
não eram a eles direcionados, os fogos do dia 15 de fevereiro de 2015, pare-
ciam ser pelo infortúnio que estavam passando. Que não viu nenhuma faixa,
ou placa de manifestação, pedindo agilidade, fiscalização na construção das

R
a
casas populares, ou de outras ações públicas que os tirassem da miséria, do
espaço de risco. O que só foi ocorrer dois anos após, em 2017, na troca de

do
Governo Municipal.
Absorvidos em observar a miséria humana, de repente se sai da melan-
aC
cólica nostálgica dos anos de 1978 – quando as pessoas chegavam aos montes

Editora CRV - versão para revisão do autor - Proibida a impressão


em cima de “pau de arara” – ao escutar: “Vamos todos morrer na miséria,
são
ninguém liga pra gente não” – gritou de longe uma mulher de dentro de uma
canoa. Que miséria! Com a imensidão de água, sentem fome, sentem sede.
Água potável não tinha. Comida, as migalhas, à custa do bem querer de outros.
i
Percebe-se no local: carros e motos de pessoas distantes, físico e espi-
rev

ritualmente. – “Me sinto como se tivesse a venda numa loja que as pessoas
passam, ficam olhando e ninguém quer comprar”, conta dona “Maria”. Outra
or

senhorinha diz: “Ah vizinha! Pelo menos a rua fica mais animada, vem gente
de todos os lugares, pelo menos nesta época do ano, pra vê a nossa situação.
ara

Só assim somos lembrados”. Observa-se que a sátira presente no diálogo com


as vizinhas, da dor, do medo, reporta a busca por soluções. Vemos em todo
ver dit

o Brasil a natureza se manifestar mediante ao movimento frenético do ser


humano, com ações que beiram a selvageria.
op

No Nordeste a falta d’água e no restante do país, alagações que lavam


avenidas, ruas, calçadas e destroem lares, estabelecimentos comerciais e de
recreação. Ratos, baratas e outros animais peçonhentos disputam espaço meio
a humanidade, se alastra pelo meio urbano. Frentes de trabalho são organiza-
E

dos neste período do ano, contudo, é insuficiente, momentaneamente eficaz,


mas nada efetivo.

As enchentes, por trazerem prejuízos de impactos econômicos imediato,


são os fatores mais questionados pela população urbana, que acabam
ocupando as margens dos rios e se tornam vítimas ao mesmo tempo em
que vitimam os rios que margeiam. Ignora-se um conhecimento científico
CONQUISTA DO ESPAÇO NA AMAZÔNIA:
Apropriações da Natureza e Representações Sociais 113

sobre a dinâmica de transformação natural do canal de um rio, pois a


cada dois anos eles podem transbordar dependendo das características
geológicas e geográficas e sua dinâmica hidrológica, o período de re-
corrência varia de um rio para o outro [...] (ARRUDA; CARAMELLO;
SILVA, 2018, p. 109).

Importante que haja o desenvolvimento de políticas públicas que levem


em conta o espaço, com todas as suas variações, sociais e econômicas. Cate-

r
V
goria de análise que não existiria sem o Homem. A vida alheia não pode ser

uto
considerada ao acaso. A miséria não é consequência da existência humana,
mas de suas ações. Entretanto, são eleitas pessoas para cargos de extrema
importância, para elaborarem leis, executá-las e fiscalizar o seu implemento.
R
a
Reflexões – fortes chuvas em janeiro de 20199
do
aC
Foram poucos dias em janeiro de 2019, três dias para ser mais exato,
Editora CRV - versão para revisão do autor - Proibida a impressão

mas a água tomou conta de várias casas que visitamos em janeiro de 2015.
são
Vimos pessoas carregando nos braços, crianças pequenas, colchões, berços,
panelas, pacote de arroz, entre outros pertences. De posse de uma prancheta.
A mesma de 2015. Caminhei entre as pessoas que estavam nas margens da
BR 364 em busca de um rosto conhecido e me deparei com uma senhora
i
rev

com o olhar que de início não consegui compreender, mas, ao perguntar se


ela se lembrava de mim a ouvi dizer: “Lembro sim, é o aluno da professora
or

(ficou pensativa)... lembrei! Claudia Ximenes lá da FAP”. Concordei com


a cabeça e expliquei que já tinha concluído.
ara

Ela me contou que não estava passando por aquele problema de novo
porque estava nas casas doadas pela prefeitura, mas que tinha pessoas da
ver dit

família que perdeu tudo de novo. Além de amigos que não se preveniram.
Ela coloca a culpa no município que não cumpriu com o que prometeu.
op

Disse que iria tirar todos do lugar e derrubar as casas e reflorestar o local
e desde 2015, deram as casas no Bairro Bela Vista, mas não derrubou casa
alguma e menos ainda reflorestaram.
E

Percebemos que muitos Governantes apontam a burocracia como fator


principal para que as coisas não aconteçam, mas percebemos pelos notici-
ários que o que realmente impede o progresso é a desonestidade do agente
público de uma grande parcela da população Brasileira.

9 Esta parte da entrevista foi realizada somente pelo pesquisador e também autor deste capítulo Benedito
de Matos Souza Junior e revisada pelas demais pesquisadoras.
114

Considerações parciais

Com o novo cenário ambiental, onde se extingue a ideia de que o meio


ambiente era infinito e que tudo duraria para sempre surge à necessidade
de adotar medidas preventivas, ou seja, visionar os obstáculos que virão e
o que se pode fazer para amenizar os prejuízos ambientais. E, como uma
dessas medidas pode destacar a Contabilidade Ambiental, que está aí para

r
V
calcular prejuízos, monitorar e controlar o patrimônio ambiental gerando

uto
informações para a melhor avaliação dos recursos naturais.
Os recursos hídricos são essenciais para a vida do planeta, estando
em destaque à sobrevivência do homem, pois a disponibilidade da água

R
está cada vez mais escassa e com o aumento humanidade, o uso exces-

a
sivo de agrotóxicos e adubos muitas vezes desnecessários, aumentaram a
poluição deixando assim ainda mais custoso o fornecimento da mesma.

do
A água é indispensável para a vida dos seres vivos, no entanto a maioria
aC
da população não tem dado o devido valor, há uma falta de cuidado com

Editora CRV - versão para revisão do autor - Proibida a impressão


o meio ambiente, uso sem consciência que se resulta em grande transtorno
e preocupação. são
Devido à falta de educação ambiental os Governantes foram obrigados
a tomar medidas que regulamentam maior eficiência no uso da água, ainda
assim a preocupação não é de todos, é difícil se envolver em um problema
i
rev

que ainda não atingiu a alguns, se houvesse uma visão futura com o uso
consciente poderia prevenir situações críticas como a que ocorreu na cidade
or

de São Paulo no primeiro semestre de 2015.


É previsível a escassez de água potável se este desenvolvimento não
ara

for compromisso não só dos Governos mais sim de todos, um agindo com
desenvolvimentos renováveis e a população com mais economia e respeito.
ver dit

Vale ressaltar que por causa do uso indevido desse bem, está colocando em
risco uma cadeia de benefícios primordiais, como agricultura, transporte,
op

resfriamento e higiene pessoal. Se não houver unidade, ou seja, todos


com um mesmo foco não haverá eficácia na resolução desse problema
que atinge o mundo inteiro.
E

Parte da água tratada que é fornecida aos consumidores é desperdi-


çada, sem consideração a falta dela, e o que isso pode causar há milhares
de pessoas. Em algumas regiões já é possível notar a falta da água potável
e a dificuldade para a distribuição da mesma. A conscientização é um dos
meios que está sendo usado para que esse número venha a diminuir, mas
é um processo muitas vezes sem muitos resultados.
CONQUISTA DO ESPAÇO NA AMAZÔNIA:
Apropriações da Natureza e Representações Sociais 115

Com o crescimento populacional, todos os recursos estão tendo que


acompanhar essa propagação, comprometendo recursos naturais que não
estão sendo reposto. Por esse motivo são cobrados valores acima da média
para a sua obtenção. A água contaminada pode conter bactérias, vírus, que
pode provocar doenças se consumida pela população, com o uso desenfre-
ado das pessoas, sem o cuidado necessário, gerar maiores custos ao bolso
público, repassando os valores para os seus consumidores.

r
V
Os reflexos dos passivos ambientais no rio Barão do Melgaço no perí-

uto
metro urbano do município de Pimenta Bueno/RO, se mostra com a perda
das matas ciliares a qual ocorreu com a ação antrópica, contribui para a
expansão da precipitação das chuvas, alagando residências e comércios.
R
Outro fator importante a ser destacado é a proliferação de doenças por

a
conta do despejo de esgoto doméstico na mesma é outro passivo que ne-
cessita de atenção redobrada da Gestão Pública. As consequências atingem
do
a econômica do município em um todo, contudo, destaca-se aqui que os
aC
custos do descaso são maiores do que o investimento em infraestrutura
Editora CRV - versão para revisão do autor - Proibida a impressão

e moradia.
são i
rev
or
ara
ver dit
op
E

116

REFERÊNCIAS

ARAUJO, Gustavo Henrique de Souza; ALMEIDA, Josimar Ribeiro de;


GUERRA, Antônio José Teixeira. Gestão ambiental de áreas degradadas.
Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2014. 322 p.

r
V
ARRUDA, Carla Silveira de; CARAMELLO, Núbia; SILVA, Tatiana Regina

uto
Araujo Ximenes da. Desafios na gestão de recursos hídricos: Diálogo teórico
no Âmbito do Espaço Urbano, na Amazônia Brasileira. In: CERQUEIRA,
Claudia Cleomar Ximenes et al. (Orgs.). Transformação Espacial: apropriação

R
dos recursos naturais. Curitiba: CRV, 2018. 154 p. p. 107-115.

a
CARAMELLO, Núbia et al. Lecciones ambientales de los ríos Miramichi.

do
Rhin y Doce: del contexto del impacto ambiental industrial a la parcipación
de la opinión publica. In: CERQUEIRA, Claudia Cleomar Ximenes; Locatelli;
aC
Marília (Orgs.). Transformação Espacial: uma leitura integrada. Curitiba:

Editora CRV - versão para revisão do autor - Proibida a impressão


CRV, 2016. 180 p. p. 151-170.
são
CERQUEIRA, Claudia Cleomar Araujo Ximenes et al. Proposta para recu-
peração de área degradada na Bacia do Rio Palmeira: estudo de caso Chácara
i
Bela Vista – RO. In: CARAMELLO, Núbia; STACHIW, Rosalvo; PENHA,
rev

Miguel (Orgs.). Amazônia: Desafios e perspectivas para gestão das águas.


Curitiba, CRV, 2015b.
or

CERQUEIRA, Claudia Cleomar Araújo Ximenes et al. Proposta de recuperação


de áreas degradadas no município de Pimenta Bueno/RO: operação arco de
ara

fogo e arco verde. In: SEABRA, Giovanni de Farias (Org.). Terra – Saúde
ver dit

ambiental e soberania alimentar. E-Book Volume III. Ituiutaba: Barlavento,


2015a. 1525 p. p. 126-139.
op

SPOSITO, Eliseu Savério. Geografia e filosofia: contribuição para o ensino


do pensamento geográfico. 4ª reimpressão. São Paulo: UNESP, 2004. 219 p.
E

UFSC – Universidade Federal de Santa Catarina. Centro Universitário de


Estudos e Pesquisas sobre Desastres. Atlas brasileiro de desastres naturais
1991 a 2010: volume Rondônia / Centro Universitário de Estudos e Pesquisas
sobre Desastres. Florianópolis: CEPED UFSC, 2011. 45 p.

______. Atlas brasileiro de desastres naturais 1991 a 2012. 2. ed. rev. ampl.
Florianópolis: CEPED UFSC, 2013. 77 p.
CAPÍTULO VIII

RECURSOS HÍDRICOS URBANOS


NA PAN-AMAZÔNIA: um estudo de
caso do município de Rio Branco – AC

r
V
Ednilson Gomes da Silva

uto
Caio Ismael de Jesus Lasmar
Jaqueline Souza de Araújo
Joselânio Ferreira de Morais
R Ráica Esteves Xavier Meante

a
Introdução
do
aC
Na contemporaneidade a escassez hídrica em algumas partes do hemis-
Editora CRV - versão para revisão do autor - Proibida a impressão

são
fério terrestre concomitante aos casos de uso irracional desse importante
recurso natural no meio urbano das cidades brasileiras vem a anos sendo
objeto de estudo. Na história das civilizações, de modo geral, os cursos d’água
eram tidos como marcos ou referências territoriais, quer seja por razões
i

funcionais, estratégicas, culturais ou patrimoniais. O Brasil é possuidor de


rev

uma das mais extensas e ricas redes de rios perenes do mundo devido suas
or

condições geológicas, climáticas e sua grande extensão territorial, além de


estar geograficamente na faixa mais úmida da Terra, possui a Amazônia
como um patrimônio.
ara

Quando pensamos em água na Amazônia logo nos vem à cabeça a


imagem de abundância. Entretanto, foi a partir dos anos 80 do século XX
ver dit

que a sociedade começou a despertar para o futuro problema acarretado de-


vido à cultura do desperdício, a falta de gerenciamento eficaz dos Recursos
op

Hídricos e diante da ideia de ser a água um bem infindável. Hoje vivemos


o “futuro” previsto na década de 1980. Em todo o Planeta terra tem-se a
ideia de preservar este bem tão necessário a qualquer ser vivente. Por isso
E

os esforços são muitos para alcançar melhores resultados.


No caso de Rio Branco, situado no sul da Amazônia, também não é
diferente. Diversas são as políticas públicas tomadas para com a problemá-
tica. Apesar dos esforços, rios e igarapés sofrem com a falta de consciência
das pessoas que transforma esses espaços em verdadeiros lixões urbanos.
E além do lixo doméstico, esgotos também são despejados sem nenhum tipo
118

de tratamento por parte do poder público e, somando-se a tudo isso ainda


temos a ocupação de áreas que deveriam ser preservadas.
É diante este cenário que traçaremos aqui um breve estudo sobre a real
situação destes igarapés, destacando o processo de urbanização que, por
sua vez, favorece os mecanismos de degradação e, dessa forma, promover
teoricamente a conscientização de sua adequada utilização. Para concretiza-
ção desta pesquisa alguns materiais foram essenciais no processo de coleta

r
V
de dados: Máquina fotográfica; prancheta; caneta esferográfica; notebook;

uto
Google Earth; materiais bibliográficos.

Recursos hídricos no Brasil e no município de Rio Branco

R
a
A natureza tem reagido de forma negativa às ações antrópicas e cada

do
vez mais as catástrofes tem ocorrido com frequência menores. Conhecido
como Planeta Azul, a Terra, tem um potencial aquífero encantador que até
aC
poucas décadas era considerado renovável e inesgotável. Entretanto os

Editora CRV - versão para revisão do autor - Proibida a impressão


são
recursos hídricos potáveis estão se esvaindo como a própria percepção de
perigo do homem. Explica Caramello et al. (2016) que,

La historia ambiental de los impactos ambientales industriales ocasiona-


i
dos alos ríos no debe ser considerada en el momento que sucede un gran
rev

caos ambiental, sinoen todo su contexto histórico anterior. En ese sentido


es de gran importancia aprender algunas lecciones con el protagonista
or

-el Sr. Río – de cada cuenca hidrográfica. En noviembre de 2015 Brasil


anunció,a través de diversos medios de comunicación, la muerte del Río
Doce después de una tragedia [...]. Éstos un ejemplo de contaminación
ara

industrial cuyo origen está lejos de ser contemporáneoy que tampoco es


algo típico y exclusivo de la región brasileña, como se puede percibir a
ver dit

través de la historia de los ríos Miramichi en Canadá (redactada por la


investigadora Rachel Carson) y el Rhin en Europa (CARAMELLO et
op

al., 2016, p. 153-154).

Falar no desastre ocorrido em Mariana (MG) como foi salientado pela


geógrafa Caramello, junto aos demais pesquisadores brasileiros (Tainá
E

Figueiredo Cardoso; Rosalvo Stachiw) e ser feito as ressalvas tanto pelos


brasileiros envolvidos na pesquisa quanto pelo espanhol Sauri, não como-
veu nossos políticos. Pois, Brumadinho, também em Minas Gerais, recente,
25 de janeiro de 2019, passam pelo maior desastre já visto em nosso país.
Desastre humano. A natureza é atingida. A água potável diminui, mas a vida
CONQUISTA DO ESPAÇO NA AMAZÔNIA:
Apropriações da Natureza e Representações Sociais 119

de dezenas de pessoas, de trabalhadores, é ceifada por mais uma barragem


rompida. A academia pesquisa, mostra... quem lê e ouve? Quem executa?
A Agência Nacional da Água – ANA (2010, p. 9) respalda que “a sus-
tentabilidade e a segurança hídricas são condicionantes ao desenvolvimento
econômico e social do País”. Nesse sentido encarar os problemas relativos
ao abastecimento de água que influenciam diretamente sobre parcelas de
populações mais pobres ou de baixa renda residentes em áreas periféricas

r
V
de pequenas, médias e grandes cidades é de suma importância, visando

uto
não somente a melhoria da qualidade de vida da população, mas também
buscando atingir desenvolvimento sustentável. Dados apontam que tanto
em países desenvolvidos, subdesenvolvidos e emergentes é uma realidade
R
que deve ser transformada (ANA, 2017).

a
A preocupação como os recursos hídricos está diretamente relacionada
a disposição desse bem insubstituível a vida humana. Apesar de o planeta
do
terra ser assim denominado, a maior parte é constituída por água. Entretanto
aC
a maior parte desse recurso natural encontra-se nos mares e oceanos e nas
Editora CRV - versão para revisão do autor - Proibida a impressão

geleiras. Isso significa que, não está disponível para uso. O Ministério do
são
Meio Ambiente (2018) afirma que a água ocupa aproximadamente 70% da
superfície do nosso planeta, porém,

[...] 97,5% da água do planeta é salgada. Da parcela de água doce, 68,9%


i

encontra-se nas geleiras, calotas polares ou em regiões montanhosas,


rev

29,9% em águas subterrâneas, 0,9% compõe a umidade do solo e dos


pântanos e apenas 0,3% constitui a porção superficial de água doce
or

presente em rios e lagos (BRASIL/MMA, 2018, p. 27).

Cabe ainda mencionar que a água doce disponível para uso não esta
ara

distribuída de maneira uniforme, por exemplo, “[...] na América do Sul


ver dit

encontra-se 26% do total de água doce disponível no planeta e apenas 6%


da população mundial, enquanto o continente asiático possui 36% do total
op

de água e abriga 60% da população mundial” (MMA/BRASIL, 2018, p. 28).


É possível afirmar que o Brasil é um país privilegiado no que concerne
ao volume de recursos hídricos “[...], pois abriga 13,7% da água doce do
mundo. Porém, a disponibilidade desses recursos não é uniforme. Como
E

demonstrado no quadro abaixo, mais de 73 % da água doce disponível no


país encontra-se na bacia Amazônica” (MMA/BRASIL, 2018, p. 28). O qua-
dro 1 nos permite analisar as bacias hidrográficas do Brasil e constatar a
área abrangida por cada bacia, população dependente, capacidade hídrica,
entre outros.
Quadro 1 – Quadro demonstrativo – Informações básicas sobre as bacias hidrográficas brasileiras
120

Bacia Área População Densidade Vazão Disponibilidade Hídrica Disponibilidade


N° % %
Hidrográfica 103km2 Hab. Hab./km M3/S km2/Ano ** % M3/hab.ano

1 Amazônia 3.900 45,8 6.687.983 4,3 1,7 133.380 4.206 73,2 628.940

2 Tocantins 757 8,9 3.503.365 2,2 4,6 11.800 372 6,5 106.220

3 EAtlântico N/NE 1.029 12,1 31.253.068 19,9 30,4 9.050 285 5,0 9.130

4 São Francisco 634 7,4 11.734.966 7,5 18,5 2.850 90 1,6 7.660

5 Atlântico Leste 545 6,4 35.880.413 22,8 65,8 4.350 137 2,4 3.820
ver dit

6A Paraguai** 368 4,3 1.820.569 1,2 4,9 1.290 41 0,7 22.340
or op
6B Paraná 877 10,3 49.924.540 31,8 56,9 11.000 347 6,0 6.950
ara aC
7 Uruguai** 178 2,1 3.837.972 2,4 21,6 4.150 131 2,3 34.100
rev
i R
Atlântico
8 224 2,6 12.427.377 7,9 55,5 4.300 136 2,4 10.910
são
Sudeste

BRASIL 8.512 100 157.070.163 18,5


do
18,5a
V 182.170 5.745 100 36.580

Fonte: BRASIL/MMA (2018, p. 28).


uto
r
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CONQUISTA DO ESPAÇO NA AMAZÔNIA:
Apropriações da Natureza e Representações Sociais 121

Os dados históricos que conseguimos do Rio Acre é fornecido pela A


CPRM10 em que explica que em 2012 o Estado do Acre vivenciou a maior
cheia registrada desde 1997, envolvendo a bacia do Rio Acre e a cidade
mais atingindo foi a capital do Estado. Com 17m63cm de altura acima
da sua a sua capacidade, em fevereiro de 2012 provocou deslizamentos
em suas margens desabrigando centenas de familias e no município de
Brasiléia, or exemplo, 90% da cidade ficou submersa.

r
V
Em 2013 novamente o nível do Rio Acre assusta e por duas vezes

uto
superou a cota de transbordamento na capital Rio Branco, novamente cau-
sando muitos prejuízos e transtornos para a população. Com as ameaças
constante de inundação o Estado vizinho, Porto Velho envia uma equipe
R
técnica da Residência para desenvolveu a metodologia para ser empregada

a
na realização de previsão de níveis nos municípios de Rio Branco, Xapuri,
Brasiléia/Epitaciolândia e Assis Brasil.
do
Em dezembro de 2014 o Sistema de Alerta Hidrológico da Bacia do
aC
Rio Acre (SAH Rio Acre) iniciou sua operação pela primeira vez. E, em
Editora CRV - versão para revisão do autor - Proibida a impressão

pleno funcionamento o rio Acre vivenciou nos meses de fevereiro e março


são
no ano de 2015 a maior enchente já registrada em sua história, até aqui
registrada, provocando a inundação de todos os municípios localizados
às suas margens. “Em Rio Branco, o rio Acre atingiu a marca histórica
de 18,40m e seu nível chegou a estar mais de 4 metros acima da cota de
i
rev

inundação do município” (CPRM, 2019, p. 1).


O Estado do Acre, localizado a extremo oeste brasileiro e ao sul da
or

Amazônia brasileira, tem a cidade de Rio Branco como capital. Localizado


na região norte do país, entre as longitudes de 66º38’ WGr e 74º00’ WGr e
latitudes 7º07’ S e 11º08’ S, o Acre faz limites internacionais com o Peru
ara

e a Bolívia e divisas estaduais com Rondônia e o Amazonas (Figura 1).


ver dit

Com uma área de 164.123,737 km², representando 1,92% do território


nacional e 4,26% da região norte é o 15º Estado brasileiro em extensão
op

territorial. (ACRE, 2008).


Em 15 de junho de 1962, através da Lei 4.070, foi elevado da con-
dição de Território Federal para a categoria de Estado, portanto, pode ser
E

considerado um estado novo, recém criado. Atualmente, 71% da população


concentram-se nas áreas urbanas, predominando na capital, Rio Branco


58% desta população urbana, observe a figura 2 (ACRE, 2009).

10 Disponível em: <https://www.cprm.gov.br/sace/acre_historico.php>. Acesso em: 12 jan. 2019.


122

Figura 2 – Estado Acre com destaque para a área em estudo

Legenda Regional
Alto Acre
Baixo Acre
Juruá
Purus
Tarauacá-Enrira

r
V
uto
R
a
do
aC
Fonte: SEPLAN/Acre (2017, p. 18).

Editora CRV - versão para revisão do autor - Proibida a impressão


são
Acre, na língua nativa dos índios Apurinãs, primeiros habitantes do
estado, significa “Aquiri” – “rio dos jacarés”. Porém quando os explora-
dores da região ao chegarem, após 1877, arregimentados por seringalistas
i
para trabalhar na extração do látex, devido aos altos preços da borracha no
rev

mercado internacional, transcreveram o nome do dialeto indígena, dando


origem ao nome Acre. O território, antes pertencente à Bolívia e Peru,
or

foi ao longo das décadas sendo ocupado por brasileiros (ACRE, 2017).
O Acre apresenta dois grandes polos econômicos: o vale do rio Juruá,
ara

que tem a cidade de Cruzeiro do Sul como principal núcleo urbano; e o


vale do rio Acre, que além de abrigar a capital Rio Branco, é mais indus-
ver dit

trializado, possui maior grau de mecanização e modernização no campo,


e maior potencial nas atividades agrícolas. (ACRE, 2008). Mas apesar
op

disso, o Estado contribuiu apenas com 0,2% para o Produto Interno Bruto
(PIB) brasileiro, e mesmo tido um crescimento de 4,4% em 2014, ainda
continua entre os menores PIBs do país, ao lado de Roraima e Amapá.
E

A composição do PIB estadual está composta entre: serviços, com 68,1%;


indústria com 14,7% e agricultura com 17,2% (VIDAL; ALVES, 2017).
Segundo Censo do IBGE em 2010 hoje possui demográfico é de
4,47 hab/km², e a estimativa populacional para 2016 do Estado era de
816.687. Atualmente este Estado possui 22 municípios e tem como capital
a cidade de Rio Branco (BRASIL, 2010). A hidrografia do Acre compõe
CONQUISTA DO ESPAÇO NA AMAZÔNIA:
Apropriações da Natureza e Representações Sociais 123

a grande bacia hidrográfica amazônica e os principais cursos d’água do


Estado correm na direção nordeste e são afluentes da margem direita do
rio Solimões, que, a partir de Manaus, recebe o nome de Amazonas. Estes
rios são meandrantes, uma forma típica dos rios de planície, como pode
ser observado na Figura 3 (MAIA, 2005).

Figura 3 – Mapa de localização da cidade de Rio Branco, Acre

r
V
uto
R
a
do
aC
Editora CRV - versão para revisão do autor - Proibida a impressão

são

Fonte: Bonfanti (2017).


i
rev

A área da Bacia de drenagem do Rio Acre em sua totalidade é de


aproximadamente 609,15 km² dos quais 287 km² estão no município de Rio
or

Branco. Em geral os rios e igarapés desse município são bastante sinuosos,


com suas águas de cor branca, e grande concentração de material sólido
ara

em suspensão, oriundos dos processos hidro erosivos da corrente sobre as


margens. A figura 1 mostra a localização da cidade de Rio Branco, no estado
ver dit

do Acre, Brasil.
No entorno de Rio Branco, desenvolve-se uma rede hidrográfica expres-
op

siva e densificada, comportando cursos d’água de porte médio como o Rio


Acre, principal rio da região. Este possui importante micro bacias como é o
caso dos igarapés Judia, e São Francisco, onde nos delimitaremos, pelo fato
E

de serem importantes afluentes do Rio Acre um na margem direita e o outro


na margem esquerda, respectivamente e estarem situados na rede urbana de


Rio Branco, conforme mostra mapa abaixo. Na figura 4, é apresentado o
mapa da rede hidrográfica da área do estudo proposto neste capítulo, com
destaque ao Rio Acre e os Igarapés São Francisco e Judia.
124

Figura 4 – Mapa da Rede hidrográfica da área de estudo

r
V
uto
R
Hidrografia Principal

a
Hidrografia
Bairros ao entorno da hidrografia
Bairros

do
aC

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são
Fonte: Bonfanti (2017).
i
rev

Observa-se no mapa acima que a rede hidrográfica do Rio Acre se


situa bem na área urbana da cidade. Isto revela uma preocupação crescente
or

uma vez que a ocupação destas áreas que deveriam ser preservadas gera
problemas de poluição de suas águas.
A preocupação com os recursos hídricos é uma constante em toda e
ara

qualquer sociedade da contemporaneidade, isso porque como todos nós


ver dit

sabemos este é um elemento vital a vida. Aliás, “[...] é o principal com-


ponente do corpo humano, que contém cerca de 70% desta substância
op

química em sua composição” (OLIVEIRA; MOLICA, 2017, p. 5). Desse


modo, faremos uma breve caracterização dos principais afluentes de Rio
Branco que se situam na área central do município.
E

Características físicas dos principais afluentes urbanos de Rio Branco

O Rio Acre possui uma dinâmica geomorfológica muito comum – o


deslizamento das suas margens, relacionado às variações de regime flu-
vial de cheias e vazantes, ocorrida comumente no período das enchentes.
CONQUISTA DO ESPAÇO NA AMAZÔNIA:
Apropriações da Natureza e Representações Sociais 125

Quando as águas começam a baixar, a pressão hidrostática diminui e a água


anteriormente retida nas margens é liberada, ocasionando deslizamentos.
Outro fator importante são as construções nestes locais que, além de con-
tribuir para estes casos ainda ficam a mercê das enchentes anuais (PMRB/
UFAC, 2000). O despejo de esgotos in natura também é muito comum.
Segundo PMRB/UFAC (2000), a bacia hidrográfica do Igarapé São
Francisco tem cerca de 56% de sua área desmatada ou muito alterada, sendo

r
V
as principais fontes geradoras desses impactos ambientais, o desmatamento,

uto
as queimadas e o despejos de elementos poluentes no solo ou nas águas
da bacia. O Igarapé que possui um percurso de 115,6 km2 e densidade
de drenagem de 1,37 km2 é de grande importância por ser, a exceção do
R
a
Rio Acre, o principal coletor da bacia hidrográfica do sítio urbano de Rio
Branco. Encontra-se bastante degradado devido à ocupação indevida às

do
suas margens, o assoreamento de seu leito e a poluição de suas águas por
estar servindo de depósito de lixo e esgoto a céu aberto.
aC
De acordo com o PMRB/UFAC (2000), o Igarapé Judia possui um
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percurso de 26 km, com escoamento de drenagem do tipo dentrítica. Ele


são
abrange os municípios de Senador Guiomard e Rio Branco e é um dos
igarapés mais importantes para a manutenção hídrica e perenidade do
rio Acre. Entretanto, hoje se vê grandes problemas urbanos e nas regiões
i

ruarais. O impacto sofrido ao longo dos anos com a inexistência de geren-


rev

ciamento de resíduos sólidos ocasionou a poluição do igarapé, bem como


or

de outros recursos hídricos pela característica de atraírem aglomerações


humanas onde se constituem as cidades.
Atualmente são esses afluentes mais atingidos pela poluição domés-
ara

tica e/ou pública no município de Rio Branco – AC. Colabora ainda para
essas tristes realidades a falta de preparação de políticas eficazes e uma
ver dit

utilização incorreta faz adoecer estes recursos gerando preocupações de


um futuro incerto. Diante disso, apontaremos os principais contribuintes
op

negativos que atinge esses recursos no município em estudo.


O primeiro entre os principais problemas que colaboram para as situ-
ações de poluição dos recursos hídricos no município de Rio Branco está
E

o processo de urbanização. De acordo com Moraes (2008), a população


urbana do Acre cresceu absurdamente entre 1940 a 1996. Rio Branco,
em 1996 possuía 201.347 habitantes urbanos contra 27.510 rural. Sem
suporte para receber tanta gente, estas vão instalar-se em áreas irregu-
lares as margens de rios ou nas invasões de terras, sem nenhum tipo de
126

infraestrutura. Este é o primeiro passo para o inicio dos transtornos em


relação à qualidade da água.
Posteriormente o uso desordenado as margens dos afluentes consti-
tuem uma barreira a ser vencida, uma vez que na atualidade Rio Branco já
apresenta grandes problemas devido ao processo de urbanização irregular
das margens de seus afluentes. Apesar das ações governamentais, seja para
a conscientização ambiental ou pela retirada dessas pessoas, por parte dos

r
V
programas habitacionais, muitos ainda voltam para o mesmo local, au-

uto
mentando a distância existente entre o problema e sua respectiva solução.
Corroborando, Raquel Rolnik (1997), em sua obra “A Cidade e a
Lei”, destaca que o difícil acesso da população de baixa renda às áreas

R
a
mais centrais das cidades, implica na invasão de áreas de proteção de
mananciais, com a aquiescência do poder público. Essa dinâmica coloca

do
em situação de risco os mananciais, pela eliminação das matas ciliares, e
pela contribuição dos esgotos in natura.
aC
A ocupação dos mananciais faz com que grandes quantidades de

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esgoto in natura e o lixo doméstico, sejam dois vilões da poluição das
são
águas. Importante levar em consideração que os rios ao redor das cidades
em sua maioria são utilizados para o abastecimento da população, para a
efetivação das atividades diárias. Tanto quanto para abastecer os currais e
i
outros reservatórios para o cuidado com animais para alimentação humana
rev

que podem causar problemas sérios na saúde.


or

Apesar disso, é comum vermos ao redor das margens e dentro das


águas muitas garrafas pet, sacolas de lixo, roupas velhas, pneus, restos de
material de construção civil, animais mortos e até utensílios domésticos.
ara

Cabem então vários questionamentos: a população é ciente das ações que


praticam contra os recursos naturais que atingem diretamente sua quali-
ver dit

dade de vida? As políticas públicas estão sendo satisfatórias, no tocante


a Educação Ambiental?
op

Para melhor ilustrar, as fotos A, B e C, da figura 5, demonstram algumas


das demandas irregulares no tocante ao uso inadequado destes recursos
que poderiam ser utilizados em benefício da população, mas encontra-se
E

em situação de descaso. Outro fator importante são as construções nas


margens dos rios que além de contribuir para a poluição destes rios sofrem
com os riscos de deslizamentos e ficam a mercê das enchentes anuais.
CONQUISTA DO ESPAÇO NA AMAZÔNIA:
Apropriações da Natureza e Representações Sociais 127

Figura 5 (A; B; C) – Problemas Ambientais

r
V
uto
R
a
do Fonte: Estado do Acre, 2011.
aC
Importante trazer para debate as considerações de Oliveira e Molica
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são
(2017, p. 12) “A poluição das águas, devido, principalmente, a insufici-
ência de coleta e tratamento de esgotos sanitários, associada à falta de
ações para proteção dos mananciais, contribui para a diminuição da oferta
de água para abastecimento público”. Estes são os que aqui priorizamos
i
rev

serem os principais causadores da desordem ambiental nestes três rios.


Outros fatores, como a ação eficaz do poder público, ajudam a somar para
or

esse processo.
Partindo desse entendimento as imagens seguintes retratam um pouco
daquilo mencionado. Observa-se que a ocupação e densificação da bacia
ara

são criadoras de condição para a produção de lixo gerando ainda situação


ver dit

de riscos para os moradores desta área. A retirada das matas ciliares dos
rios, poluição das águas por esgotos e lixo, crescimento urbano desorga-
op

nizado, entre outros, são alguns dos males que afetam.


Com relação às Leis ambientais vigentes no Acre, em âmbito esta-
dual, a gestão e administração das Unidades de Conservação Proteção
Integral são de responsabilidades do Instituto de Meio Ambiente do Acre
E

– IMAC, ligado à Secretaria de Estado e Meio Ambiente e Recursos Na-


turais – SEMA (ACRE, 2010). Em 15 de julho de 2003 foi criada a Lei
nº. 1.500/2003, que Institui a Política Estadual de Recursos Hídricos, e
cria o Sistema Estadual de Gerenciamento de Recursos Hídricos do Estado
do Acre. A Seção XI da Educação Ambiental Art. 42 dispõe que “O Poder
Público estadual deverá empreender campanhas de orientação pública à
128

sociedade em geral, [...] para a correta utilização do patrimônio hídrico


do Estado” (ACRE, 2003, p. 70).
No Art. 55 dispõe que “[...] a ação fiscalizadora do Poder Público
Estadual objetivará, principalmente, a educação e orientação dos usuários
de recursos hídricos e a prevenção de condutas violadoras da legislação
aplicável”. (ACRE, 2003, p. 74). Já no Art. 57 inciso II dispõe que consti-
tui infração: “[...] iniciar a implantação de empreendimento que implique

r
V
alterações no regime, quantidade ou qualidade dos de recursos hídricos

uto
sem autorização dos órgãos competentes” (ACRE, 2003, p. 74).
Segundo a ANA (2017, p. 16) “Os mananciais que atualmente abaste-
cem Rio Branco, em especial o Rio Acre, possuem disponibilidade hídrica

R
suficiente para o atendimento das demandas futuras”. Os impactos causados

a
a um ambiente natural não se limitam à área de ocorrência. Ainda mais se
tal recurso for essencial à vida e a saúde humana, como no caso dos recur-

do
sos hídricos. O esgoto despejado em um manancial que percorre grandes
aC
extensões dentro do município atinge diretamente grande quantidade de

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pessoas, seja pela falta do recurso hídrico de qualidade, bem como na
são
transmissão de doenças a essa população. Além disso, a vida existente no
lugar, ou seja, os microornismos, peixes, são diretamente afetados.
Supondo que toda a água do Planeta coubesse numa garrafa de refri-
gerante de 2 litros, a água doce para consumo humano seria a que coubesse
i
rev

em metade da tampinha dessa garrafa. Esse dado só nos alerta aquilo que
já sabemos: a relação existente entre a quantidade de água disponível no
or

planeta e a considerada própria para o consumo humano é desigual e escassa.


A Agência Nacional de Água – ANA (2010, p. 9) salienta que “Ex-
periências bem-sucedidas no País vêm indicando caminhos. Para vencer
ara

esses desafios, é preciso empenho dos governos no planejamento das ações,


ver dit

na regulação da prestação dos serviços públicos e nas políticas de finan-


ciamento necessárias”. Contudo, nota-se que mesmo apesar da aprovação
op

destas leis, medidas de prevenção, fiscalização e educação, ainda assim,


na prática não se tem as metas desejadas.
Num estudo mais aprofundado é bem capaz de mostrar as grandes
E

brechas em setores como o da construção, inclusive nos governamentais,


em áreas impróprias, que trazem risco aos nossos recursos hídricos e que
não tem uma verdadeira fiscalização. Mas não cabe a nós está análise
agora, pois limitamo-nos apenas neste breve estudo da parte central de Rio
Branco acerca de seus recursos hídricos. Entretanto servem para evidenciar
as preocupações com tal recurso ao longo do estudo.
CONQUISTA DO ESPAÇO NA AMAZÔNIA:
Apropriações da Natureza e Representações Sociais 129

Considerações finais

As mudanças que acontecem no solo e nas águas são consequências


da intervenção do homem sem ação adequada de políticas públicas de
manejo dos recursos naturais. Rio Branco padece dos males da falta de
um rigoroso planejamento urbano no tocante aos nossos recursos hídricos,
da carência dos serviços essenciais de saneamento e da incompetência

r
V
gerencial, apresentando muitos problemas socioambientais. À medida que

uto
a bacia é urbanizada e a densificação é consolidada, a produção de lixo
cria condições ambientais ainda piores. Desmatamento dos leitos dos rios,
poluição das águas por esgotos e lixo, crescimento urbano desorganizado,
R
a
ocupação ilegal de áreas de preservação permanente entre outros, são
alguns dos contribuintes.

do
Apesar da realização de campanhas educacionais e ações de limpeza
por parte do poder público, para inibir esse tipo de comportamento, ainda
aC
assim, é preciso que denúncias sejam feitas e documentadas pela popula-
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ção, pois aí está a dificuldade em punir quem comete esse tipo de crime.
são
É fundamental para a saúde de toda cidade a captação de esgoto, pois é
nela que reside à prevenção às doenças, com a diminuição dos índices de
contaminação através do contato com essa água ou da ingestão de níveis
i

acima do normal de coliformes fecais e bactérias.


rev

Assim, torna-se essencial, medidas mais concretas efetivas e eficazes


que contribuam com a preservação da microbacia desses igarapés, apon-
or

tando estratégias de controle e monitoramento e programas de educação,


que proporcionem melhor o manuseio destes de modo a garantir a sus-
ara

tentabilidade ambiental. Para tanto, é essencial a formação de Comitês


de Bacias Hidrográficas enquanto locus da gestão, por darem conta de
ver dit

diversos processos urbanos e periurbanos. A contribuição da população


também deve andar paralela a estas questões.
op

Ao buscar por dados em relação às enchentes do Rio Acre, perce-


bemos que é escassa. Uma oportunidade para que a academia invista em
estudos que contribua com o Governo na construção de banco de dados que
E

favoreça o implemento de Políticas Públicas. Não podemos ser levianos


em ignorar que há iniciativas na busca de soluções para os problemas de
enchente no Acre, entretanto, ainda são tímidas e há necessidade de mais
arrojo por parte do Estado.
130

REFERÊNCIAS

ACRE, Governo do Estado. Acre em números. Rio Branco: SEPLAN, 2009.


______. Atlas do Estado do Acre. Rio Branco: FUNTAC, 2008.
______. História e Geografia do Estado do Acre. 2017. Disponível em: <http://

r
V
minas-cidades.blogspot.com.br/2014/09/acre-historia-e-geografia-do-estado-do.

uto
html>. Acesso em: maio 2018.
______. Programa Estadual de Zoneamento Ecológico-Econômico do
Estado do Acre. Zoneamento ecológico-econômico: recursos naturais e meio

R
a
ambiente – documento final. Rio Branco: SECTMA, 2000. v. 1
______. Sistema Estadual de Gerenciamento de Recursos Hídricos do Estado

do
do Acre. Lei 1.500 de 15 de junho de 2003. Rio Branco, 2003.
aC
______. Zoneamento Ecológico-Econômico do Estado do Acre. Fase II (Escala

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1:250.000) – Documento Síntese. 2. ed. Rio Branco: SEMA, 2010. 356 p.
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Rhin y Doce: del contexto del impacto ambiental industrial a la parcipación de
la opinión publica. In: CERQUEIRA, Claudia Cleomar Ximenes; Locatelli;
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Marília (Orgs.). Transformação Espacial: uma leitura integrada. Curitiba:
rev

CRV, 2016. 180 p. p. 151-170.


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água: resultados por estado. Engecorps/Cobrape. — Brasília, 2010.
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MAIA, Maria S. Oliveira. O Acre no Planeta em Movimento. In: SILVA, Silvio


Simione da (Org.). Acre: uma visão temática de sua geografia. Rio Branco,
ver dit

2005. p. 34-61.
op

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OLIVEIRA, Eduardo José Alécio de; MOLICA, José Reis. A poluição das
E

águas e as cianobactérias. Recife: IFPE, 2017.


ROLNIK, Raquel. A Cidade e a Lei: Legislação Política Urbana e Território
na cidade de São Paulo. São Paulo: Studio Nobel, 1997.
VIDAL, Antônio Ricardo de Norões; ALVES, Francisca Crisia Diniz. Análise
das Contas Regionais 2010-2014. Caderno Setorial ETENE. Ano 0, n. 4,
abr. 2017.
CAPÍTULO IX

ICTIOFAUNA DE PRAIAS DA AMAZÔNIA


ORIENTAL, PARÁ, BRASIL
Wesley Souza Brasil

r
V
Tiago Magalhães da Silva Freitas

uto
Introdução
R
a
A Bacia Amazônica é o sistema hídrico mais rico em número de espé-
cies de peixes do mundo, sendo contabilizadas mais de 2.000 espécies de

do
peixes para a região, como apresentaram em seus estudos Schaffer (1998),
Lowe-Mcconnell (1999) e Reis et al. (2003), entretanto, ainda há muito a
aC
ser catalogado. Devido à extensão territorial da Amazônia, poucas áreas
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são
dessa região já foram investigadas e inventariadas com coletas intensivas.
Esses inventários utilizam diversos métodos de pesca experimental, na
qual geram listas de espécies que proporcionam uma ideia do potencial bioló-
gico da diversidade local, conforme estudos realizados por de Cox-Fernandes
i

(1995); Santos e Ferreira (1999). Ainda, de acordo com Malabarba e Reis


rev

(1987), a carência de estudos taxonômico desta fauna é responsável pelo


or

fato de 30 a 40% das espécies estarem sem descrição, o que torna obscuro
o valor real da biodiversidade para esse grupo.
A diversidade de peixes, nos diferentes ambientes e microhabitats nas
ara

drenagens amazônicas, segundo Rapp Py-Daniel et al. (2007) estão longe


de estar satisfatoriamente conhecida. Um desses ambientes, as praias, repre-
ver dit

sentam, aproximadamente, metade das margens dos grandes rios da planície


amazônica e suas águas abriga uma biota aquática muito diversificada, sendo
op

peixes os vertebrados mais diversos e abundantes. Goulding (1997), no fim


do século XX, já destacava a necessidade de estudos mais contundentes sobre
esta região e Stewarte et al. (2002) vieram a confirmar que estes ambientes
E

possuem uma diversidade muito grande ainda desconhecida.


Goulding (1997) já havia constatado que em muitos casos, as praias
são formadas ou expostas apenas no período de seca, e se tornam habitats
extremamente importantes para peixes pequenos e 13 anos após, Duarte
et al. (2010) confirma e acrescenta que suas águas rasas podem oferecer
refúgio contra predadores de grande porte presentes no canal dos rios. Nas
praias, por exemplo, é possível verificar a presença de peixes adaptados ao
132

ambiente arenoso (ex: pouca pigmentação) e espécies transeuntes, aquelas


que utilizam o habitat para alimentação ou como rota de migração.
As espécies de peixes mais comumente encontradas em ambiente de
praia são os acarás (Geophagus spp., Satanoperca spp.), algumas oranas
(Bivibranchia spp.), e vários pequenos caracídeos. Diversos autores como:
Ibarra e Stewart (1989), Jepsen (1997) e Stewart et al. (2002) observaram
que Characiformes é o grupo dominante neste ambiente, principalmente

r
V
espécies de pequeno porte. Goulding (1997), Lowe-Mcconnell (1999) e

uto
Silvano et al. (2000). Em seus estudos, explicam que este ambiente também
serve de rota de passagem para várias espécies quando em migração, como
os bagres da família Pimelodidae, que geralmente realizam migrações rio

R
acima para se alimentarem durante o período de seca nos rios da Amazônia.

a
Goulding et al. (1988), Ibarra e Stewart (1989), Jepsen (1997) e Ste-
wart et al. (2002) desenvolveram estudos que evienciaram que as praias dos

do
grandes rios amazônicos são ambientes efêmeros que abrigam uma biota
aquática muito diversificada, representada principalmente por espécies de
aC
peixes de pequeno porte. Entretanto, Jepsen (1997) destaca que até 1997

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são
tinham poucos trabalhos realizados na área e Stewart (2002) 05 (cinco)
repete. E aqui estamos dizendo que há poucos trabalhos realizados quanto
ao levantamento da ictiofauna de praias, sendo a rede de cerco o principal
apetrecho utilizado nesses estudos.
i
Na região da Amazônia Oriental, destacam-se os trabalhos de Montag
rev

et al. (2008; 2009), que realizaram inventários ictiofaunístico da região dos


or

campos alagados da Ilha do Marajó e da porção inferior da Bacia do Rio


Anapú, respectivamente. Entretanto, esses trabalhos não abrangeram áreas
de praias, e desta forma, conhecer as espécies existentes nesses habitats
ara

elucidará um melhor entendimento das relações ecológicas entre espécies


e ambientes.
ver dit

Portanto, o presente estudo tem como objetivo inventariar a ictiofauna


que ocorrem em praias arenosas da Amazônia Oriental, município de Portel
op

(Estado do Pará, Brasil), estimando a riqueza de espécies de peixes para o


ambiente e região. Grande parte dos municípios da região Amazônica tem
sua economia voltada para pesca industrial ou artesanal, no entanto existem
E

poucos trabalhos voltados para a ictiofauna desses locais.


As áreas de praias que servem como berçários naturais para diversas
espécies da ictiofauna típica e também como área de refúgio de predadores
para espécies juvenis são pouco citadas em trabalhos acadêmicos ou artigos.
Sendo assim esse trabalho vem reforça a importância da pesquisa sobre o
assunto para um melhor entendimento da ictiofauna das praias da região.
CONQUISTA DO ESPAÇO NA AMAZÔNIA:
Apropriações da Natureza e Representações Sociais 133

Material e métodos

Área de estudos

A área de estudo está situada na porção inferior da Bacia do Rio Anapú,


entre os rios Tocantins e Xingu, e limitada ao norte/nordeste pelo arquipélago
do Marajó, na Amazônia Oriental, município de Portel (Estado do Pará, Brasil;

r
V
Figura 1). A região apresenta rios de águas pretas e clima tropical úmido,

uto
categoria AM, segundo a classificação de Köppen (PEEL et al., 2007). Os
locais de coleta, as praias, são predominantemente arenosos e com pouca
matéria orgânica, como folhas e galhos, depositados no substrato.
R
De acordo com Costa et al. (2002), essa região apresenta alta hetero-

a
geneidade ambiental em decorrência dos inúmeros processos geológicos
ocorrido no passado, como erosões e regressões marinhas, que ocasionaram
do
um “afogamento” dos grandes sistemas hídricos locais. Desta forma, os
principais rios da região desenvolveram-se em barragens naturais subaquá-
aC
tica, transformando-se em “lagos”. Apesar de a região sofrer influência de
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são
marés e da oscilação sazonal do Rio Anapú, Hida et al. (1999) afirma que
estas apresentam intensidades bastante reduzidas, de modo que a oscilação
anual do nível de água se encontra em torno de apenas um metro.
i

Coleta da ictiofauna e análise dos dados


rev
or

As coletas foram realizadas bimestralmente (período diurnos e notur-


nos), entre os meses de Outubro de 2014 e Julho de 2015, em seis praias
da Amazônia Oriental, município de Portel (Figura 1; Tabela 1), Estado do
ara

Pará, Brasil. Para a captura dos peixes foi utilizada uma rede de arrasto de 6
(seis) metros de comprimento, 1,5 metros de altura e malha de 3 milímetros.
ver dit

Os arrastos foram realizados por dois coletores (um em cada extremidade


da rede) posicionados à uma distância de 4 metros entre si, com a rede
op

posicionada perpendicularmente à faixa de areia, e sendo percorrido uma


distância de, aproximadamente, 20 metros.
Cada amostragem ou unidade amostral foi representada pela totalidade
E

dos peixes coligidos em 12 arrastos seguidos em uma mesma praia. Para


fins de não enviesar a amostragem, em um período de coleta, a praia que
era investigada durante o dia não era visitada durante a noite. Os espécimes
coletados foram imediatamente fixados em formol 10% e, após 72 horas,
foram conservados em álcool 70%. As identificações dos peixes foram ba-
seadas em bibliografia especializada e apoio de especialistas. Os indivíduos
134

serão tombados na coleção ictiológica do Museu Paraense Emílio Goeldi


(Pará/Brasil).
Na figura 1 os pontos preenchidos representam as praias em que os
peixes foram coletados e o símbolo estrela representa a sede do município
de Portel, Estado do Pará, Brasil.

Figura 1 – Localização da área de estudo

r
V
uto
R
a
do
aC

Editora CRV - versão para revisão do autor - Proibida a impressão


são i
rev
or
ara

A eficiência do inventário da ictiofauna de praias foi avaliada por


ver dit

meio da estimativa de riqueza Jackknife de 1ª ordem (COLWELL; CO-


DDINGTON, 1994) pelo programa Estimates® 9.1. (Colwell, 2013). Este
op

se baseou a na proporção de espécies raras (coletadas apenas uma única


vez) para estimar a riqueza total de espécies e o desvio padrão.
Na Tabela 1 se encontra a amostragens da ictiofauna em praias da
E

Amazônia Oriental, município de Portel, no Estado do Pará, no período


de outubro de 2014 e Agosto de 2015.


CONQUISTA DO ESPAÇO NA AMAZÔNIA:
Apropriações da Natureza e Representações Sociais 135

Tabela 1 – Amostragens da ictiofauna em praias da Amazônia Oriental, município


de Portel (Estado do Pará), no período de Outubro de 2014 e Agosto de 2015

Amostragem Mês/Ano Praia Latitude (S) Longitude (O)


A1 out/14 Arucará (P1) 1°56’0,17” 50°48’55,6”
A2 out/14 Tucano (P2) 1°55’43,9” 50°49’27,6”
Ponta dos
A3 dez/14 1°55’15,6” 50°51’2,41”

r
Guerras (P3)

V
uto
A4 dez/14 Tucano (P2) 1°55’43,9” 50°49’27,6”
A5 dez/14 ABED (P4) 1°59’1,89” 50°48’57,7”
A6 dez/14 Arucará (P1) 1°56’0,17” 50°48’55,6”
A7 R
dez/14 Ajuruzal (P5) 2°1’33,86” 50°49’6,85”

a
A8 fev/15 Prainha (P6) 1°56’16,6” 50°48’3,82”
A9
A10 do
fev/15
fev/15
Arucará (P1)
Tucano (P2)
1°56’0,17”
1°55’43,9”
50°48’55,6”
50°49’27,6”
aC
A11 abr/15 Arucará (P1) 1°56’0,17” 50°48’55,6”
Editora CRV - versão para revisão do autor - Proibida a impressão

são
A12 abr/15 Tucano (P2) 1°55’43,9” 50°49’27,6”
A13 jul/15 Arucará (P1) 1°56’0,17” 50°48’55,6”
A14 jul/15 Tucano (P2) 1°55’43,9” 50°49’27,6”
i
rev

Resultados
or

Ao longo de cinco campanhas e 14 amostragens, foram coletados


2.954 indivíduos em praias de água doce do município de Portel (Amazônia
Oriental), pertencentes a dez ordens, 23 famílias e 46 espécies (Tabela 2).
ara

As ordens que apresentaram o maior número de indivíduos coletados foram


ver dit

Clupeiformes e Characiformes, com um total de 1.284 indivíduos, o que


compreende 43,5 % do total de indivíduos capturadas, e 1.158 (39,2 %),
op

respectivamente (Figura 2). As demais Ordens representaram aproximada-


mente 17% da abundância de exemplares coligidos.
A Ordem Clupeiformes, foi amplamente representada pela espécie An-
choviella aff. jamesi (Jordan & Seale, 1926), com 1.212 indivíduos, o que
E

representou 41% de todos os indivíduos coletados. Na Ordem Characiformes,


as espécies mais abundantes foram Rhinopetitia aff. myersi Géry, 1964 (611
indivíduos), Moenkhausia cf. loweae Géry, 1992 (162 indivíudos), Jupiaba
cf. essequibensis (Eigenmann, 1909) (146 indivíduos), todos da Família
Chacaridae, e Bryconops aff. caudomaculatus (Günther, 1864), da Família
Iguanodectidae, 115 exemplares capturados. Observe a Tabela 2.
136

Tabela 2 – Lista de espécies de peixes capturados em praias


da Amazônia Oriental, município de Portel (Estado do Pará),
no período de Setembro de 2014 e Julho de 2015

ORDEM Família/Espécie N
Belonidae
BELONIFORMES Belonion apodion Collette, 1966 1
Pseudotylosurus microps (Günther, 1866) 8

r
V
Anostomidae

uto
Leporinus parae Eigenmann, 1907 1
Characidae
Astyanax bimaculatus (Linnaeus, 1758) 4

R
Hemigrammus cf. geisleri Zarske & Géry, 2007 45

a
Hemigrammus levis Durbin, 1908 3
Hemigrammus rhodostomus Ahl, 1924 1

do
Hemigrammus rodwayi Durbin, 1909 1
aC
Jupiaba cf. essequibensis (Eigenmann, 1909) 146
Moenkhausia cf. loweae Géry, 1992 162

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CHARACIFORMES

são
Moenkhausia mikia Marinho & Langeani, 2010
Rhinopetitia aff. myersi Géry, 1964
Curimatidae
35
611

Cyphocharax plumbeus (Eigenmann & 1


Eigenmann, 1889)
i
Hemiodontidae
rev

Hemiodus unimaculatus (Bloch, 1794) 1


or

Iguanodectidae
Bryconops aff. caudomaculatus (Günther, 1864) 115
Serrasalmidae
ara

Serrasalmidae
Metynnis cf. hypsauchen (Müller & Troschel, 1844) 1
ver dit

CHARACIFORMES Myloplus sp. 2


Triportheidae
op

Triportheus albus (Cope 1872) 29


Engraulididae
Amazonsprattus scintilla Roberts, 1984 10
E

CLUPEIFORMES Anchovia surinamensis (Bleeker, 1865) 1


Anchoviella aff. jamesi (Jordan & Seale, 1926) 1212
Lycengraulis batesii (Günther, 1868) 61
Poeciliidae
Tomeurus gracilis Eigenmann, 1909 4
CYPRINODONTIFORMES
Rivulidae
Rivulus sp. 2
continua...
CONQUISTA DO ESPAÇO NA AMAZÔNIA:
Apropriações da Natureza e Representações Sociais 137

continuação
ORDEM Família/Espécie N

Hypopomidae
Hypopygus lepturus Hoedeman, 1962 1
Sternopygidae
GYMNOTIFORMES Eigenmannia muirapinima Peixoto, Dutra & 1
Wosiacki, 2015
Eigenmannia sp. 1

r
V
Rhabdolichops troscheli (Kaup, 1856) 3

uto
Potamotrygonidae
MYLIOBATIFORMES
Potamotrygon orbignyi (Castelnau, 1855) 1
Cichlidae
R
a
Acarichthys heckelii (Müller & Troschel, 1849) 1
Acaronia nasa (Heckel, 1840) 1

PERCIFORMES do Geophagus cf. surinamensis 27


aC
Hypselecara sp. 1
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Pterophyllum scalare (Lichtenstein, 1823) 1


são
Eleotridae
Dormitator maculatus (Bloch, 1792) 1
Gobiidae
i

Awaous flavus (Valenciennes, 1837) 4


rev

PERCIFORMES Sciaenidae
or

Pachypops fourcroi (Lacepède, 1802) 34


Plagioscion squamosissimus (Heckel, 1840) 19
Achiridae
ara

PLEURONECTIFORMES
Hypoclinemus mentalis (Günther, 1862) 12
ver dit

Auchenipteridae
Ageneiosus dentatus Kner, 1858 5
op

Centromochlus heckelii (De Filippi, 1853) 150


Tatia sp. 2
SILURIFORMESfc hcm Loricariidae
E

Limatulichthys griseus (Eigenmann, 1909) 8


Loricaria sp. 1
Trichomycteridae
Vandellia sp. 11
Tetraodontidae
TETRAODONTIFORMES
Colomesus asellus (Müller & Troschel, 1849) 212
138

No que se refere à riqueza de espécies, a Ordem mais representativa foi


Characiformes, com 16 espécies, totalizando 35% das espécies coligidas, seguindo
por Perciformes (nove espécies; 19%) e Siluriformes (seis espécies; 13%; Figura
2). As ordens Gymnotiformes e Clupeiformes, aparecem com quatro espécies
cada (9% cada). As demais cinco Ordens (Beloniformes, Cyprinodontiformes
Myliobatiformes, Pleuronectiformes e Tetraodontiformes) totalizaram sete es-
pécies. As Famílias com maior riqueza foram Characidae (Characiformes; n = 9

r
espécies), Cichlidae (Perciformes; n = 5) e Engraulididae (Clupeiformes; n = 4).

V
uto
Figura 2 – Distribuição da riqueza (A) e abundância (B) das
espécies de peixes espécies de peixes capturados em praias
arenosas da Amazônia Oriental, município de Portel (Estado do

R
Pará), no período de Setembro de 2014 e Julho de 2015

a
Outras Ordens
15%

do
Characiformes
aC
Gymnotiformes 35%

Editora CRV - versão para revisão do autor - Proibida a impressão


9%
são
Clupeiformes
9%
i
rev
or

Siluriformes
13%
Perciformes A
ara

19%
Perciformes Outras Ordens
Siluriformes
ver dit

3% 1%
6%
Tetraodontiformes
op

7%

Clupeiformes
44%
E

Characiformes B
39%
CONQUISTA DO ESPAÇO NA AMAZÔNIA:
Apropriações da Natureza e Representações Sociais 139

A riqueza de espécies baseada no estimador Jackkinfe 1 foi de, apro-


ximadamente, 65 (±4,86) espécies (Figura 3). Comparando com a riqueza
observada, essa estimativa significa que 41% espécies de peixes das praias
da região ainda estão por serem coligidas e catalogadas.

Figura 3 – Curva de cumulação de espécies de peixes (estimativa de riqueza


Jackknife 1) para as praias da Amazônia Oriental, município de Portel

r
(Estado do Pará). As linhas indicam o intervalo de confiança de 95%

V
uto
R
a
do
aC
Editora CRV - versão para revisão do autor - Proibida a impressão

são i
rev
or
ara
ver dit

Considerações finais — discussão


op

Os ambientes de praias na Amazônia podem ser considerados muito


ricos em variedades de espécies quando comparado a outros ambientes
(GOULDING, 1997; RAPP PY-DANIEL et al., 2007). Para a Amazônia
E

Oriental, inventários ictiofaunístico específicos para ambientes de praias


são inexistentes, mas para a mesma região podemos destacar os trabalhos
de Montag et al. (2008 e 2009). O primeiro foi realizado nos rios e igarapés
da Bacia do Rio Anapú, na Floresta Nacional de Caxiuanã, e o segundo nos
campos alagados da Ilha do Marajó.
Comparando as listas de espécies desses trabalhos com os obtidos
nessa pesquisa, observamos a ocorrência de 19 espécies não registradas
140

anteriormente, a saber: Beloniformes: Belonion apodion e Pseudotylosu-


rus microps; Characiformes: Leporinus parae, Hemigrammus cf. geisleri,
Hemigrammus rodwayi, Jupiaba cf. esequibensis, Moenkhausia cf. loweae,
M. mikia, Rhinopetitia aff. myersi e Cyphocharax plumbeus; Clupeiformes:
Amazonsprattus scintila e Anchoviella aff. jamesi; Cyprinodontiformes: To-
meurus gracilis; Gymnotiformes: Eigenmannia muirapinima; Perciformes:
Dormitator maculatus; Siluriformes: Ageneiosus dentatus, Limatulichthys

r
V
griseus e Vandellia sp.

uto
Na presente pesquisa também registramos a maior riqueza de espécies
para a Ordem Characiformes, como registrado em outros inventários em
praias na Amazônia (STEWART et al., 2002; DUARTE et al., 2010, 2013).

R
A riqueza dessa Ordem, seguido por Siluriformes, é observada por Lowe-

a
-McConnell (1999) como um padrão para a Bacia Amazônica. Acreditamos
que caso haja um maior esforço de coleta, considerando diferentes apetrechos

do
de pesca e outras áreas de praia da região, o número de espécies encon-
aC
tradas nesses ambientes possa se aproximar do esperado, uma vez que o

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nosso estudo registou 18 espécies que foram representadas com apenas um
são
indivíduo, e 26 espécies registradas com menos de cinco indivíduos. Esses
números influenciam as estimativas de riqueza, que normalmente levam em
consideração as espécies “raras”, aquelas cuja abundância foi muito baixa.
Uma das primeiras listas de espécies de peixes para a região, mais
i
rev

especificamente para o Marajó (área de influência do presente estudo),


foi elaborada por Boulenger (1897). Somente mais de cem anos depois os
or

trabalho de Montag et al. (2008 e 2009) fizeram uma nova compilação,


com dados primários e secundários.Desta forma, ressaltamos a importância
desse inventário realizado em praias de água doce da região da Amazônia
ara

Oriental, sugerindo que a produção de novos trabalhos possa ocorrer a fim


ver dit

de incrementar o conhecimento a cerca da biodiversidade amazônica, em


todas as suas particularidades ambientais.
op

Por fim, Montag et al. (2009) observa que novos estudos poderão tra-
zer inferências acerca da delimitação de áreas de endemismo e distribuição
geográfica das espécies. Não apenas criando condições para medidas con-
E

servacionistas, mas também as tornando mais conhecidas através da criação


de mecanismos de apoio a inventários e estudos de taxonomia e sistemática.


CONQUISTA DO ESPAÇO NA AMAZÔNIA:
Apropriações da Natureza e Representações Sociais 141

REFERÊNCIAS

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r
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Editora CRV - versão para revisão do autor - Proibida a impressão

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rev

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ver dit

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Civil Mamirauá/CNPq/Rainforest Alliance, 1997, 208 p.
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r
V
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R
a
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do
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aC
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tropical river. Neotropical Ichthyology, v. 5, 2007. p. 399-404.
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(Brazilian Amazon). Environmental Biology of Fishes, v. 57, 2000. 25-35.
STEWART, J. D.; IBARRA, M.; BARRIGA-SALAZAR, R. Comparison of
deep-river and adjacent sandy-beach fish assemblages in the Napo river basin,
eastern Ecuador. Copeia, v. 2, 2002. p. 333-343.
CAPÍTULO X

O ESPAÇO COLETIVO: as sombras da


paisagem nos parques e praças portovelhense
Sônia Maria Teixeira Machado

r
V
Danúbia Zanotelli Soares

uto
Adriana Correia de Oliveira
Rogério Nogueira de Mesquita
Maria das Graças Silva Nascimento da Silva

R
a
Introdução

do
Os sentidos são norteadores para a percepção de lugar, de espaço, de
aC
paisagem. As representações são caracterizadas pela representação simbólica
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do ser humano e, na geografia é uma das formas de leitura do mundo, físico e


são
humano. A contemporaneidade leva a compreensão do hoje, daquilo que repre-
senta ao ser humano na atualidade. Como objetivo nessa análise, despertar para
a realidade sobre significados e representações da paisagem de acordo com o
nosso tempo, analisar e interpretar os sentimentos topofílicos e topofóbicos dos
i
rev

portovelhenses para com a paisagem de parques e praças da cidade.


Isso também nos oportunizará uma revisão dos conceitos de alguns ge-
or

ógrafos, relacionando com essa questão considerando as relações entre os


sujeitos e o espaço, estruturado nas questões culturais apresentadas com suas
particularidades de acordo com as situações e épocas. Para se alcançar o obje-
ara

tivo desta investigação foi utilizado a entrevista com questões que norteiam e
ver dit

levam a alcançar a meta. Apresentamos uma revisão dos conceitos de alguns


geógrafos, relacionando com a questão da percepção da paisagem. Registramos
as opiniões e revelações de seu significado para população, além da tão ampla-
op

mente debatida na modernidade, preservação da natureza.


Busca-se visualizar os elementos subjetivos que envolvem o homem e sua
relação com a paisagem. O conteúdo é amplo quando se trata dos significados
E

e representações dessa temática. Portanto, o estudo traz apenas um recorte do


significado da paisagem para os portovelhenses, explícito na frequentação do
parque circuito da cidade. Na busca de perceber o caráter subjetivo presente
nas paisagens dos parques portovelhenses, constatamos os significados e re-
presentação do parque circuito de Porto Velho.
A paisagem em qualquer lugar do mundo ganhou maior importância,
com alto volume de produções com esta temática, demonstrando diversos
144

panoramas, diversos conceitos. A questão dos significados e representações se


transforma na atualidade de forma visível e bem marcada, quando se refere às
paisagens urbanas. Por ser tal questão ampla, o artigo traz apenas um recorte
do significado da paisagem para os portovelhenses, explícito na frequentação
dos parques e praças da cidade.
A importância desse estudo se firma a partir da vivência no espaço onde
ocorre a transformação, na constatação dos fenômenos, no experienciar os fatos,

r
V
enfatizando a revelação da subjetividade, como podemos verificar no que expõe

uto
Harvey (2004) em sua obra “Espaços de Esperança”. A pesquisa se insere na
geografia humanista envolvendo o trabalho de campo. A geografia é uma ciên-
cia que vai além do que é visto de forma concreta, fazendo leituras a partir do
trabalho de campo considerando a subjetividade das transformações do espaço.

R
a
Sendo assim, a pesquisa enquadra-se numa abordagem humanista do saber
geográfico, que considera os aspectos subjetivos e as vivências, atribuindo-lês

do
valor como elementos de sua análise. Importante frisar que este estudo não tem
a intenção de esgotar o tema, até mesmo porque o assunto é amplo e merece
aC
uma salva de imagens que não foi imposta aqui, mas, pelo fato de ser resultados

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parciais de projeto de pesquisa de extensão universitária.

Métodos e técnicas
são i
Como metodologia de investigação foi utilizada a coleta de dados quanti-
rev

-qualitativos através de observação in loco dos hábitos e costumes mani-


festados no espaço em foco assim como entrevistas. Sugerida por Whyte
or

(1977) e igualmente utilizada por Sartori (2000) utiliza-se uma metodologia


que consiste na tríade observar, perguntar e ouvir e registrar, onde dois dos
três itens propostos pelos autores: observando e o perguntando estão mais
ara

relacionados a essa pesquisa, na qual os procedimentos foram adaptados de


ver dit

acordo com os objetivos.


Pudemos contar com a colaboração de 50 indivíduos de ambos os sexos
op

com mais de 15 anos de idade, com residência em Porto Velho que frequen-
tam as praças e parques da cidade. Os entrevistados foram aleatoriamente
convidados a apresentar suas percepções individuais sobre a paisagem que
frequentam, através de um formulário de entrevista (questionário) com per-
E

guntas abertas e fechadas. Esta pesquisa ocorreu no segundo semestre de


2015, onde o questionamento norteador foi:

a) Identificação das pessoas que são da Cidade de Porto Velho e a por-


centagem de pessoas de outras localidades que frequentam o parque;
b) A idade dos frequentadores;
CONQUISTA DO ESPAÇO NA AMAZÔNIA:
Apropriações da Natureza e Representações Sociais 145

c) As práticas dos frequentadores da praça: Foram considerados os


vários tipos de esporte, brincadeiras, passeios etc.;
d) O que representa e o que significa frequentar o parque: Foram consi-
derados os sentimentos gerados pelo local, a sensação de liberdade, o
contato com a natureza e o refúgio da agitação dos dia a dia, o medo;
e) O significado e representação da sombra, qualidade do ar e beleza
com questões abertas: Considerando a capacidade do homem de

r
construir diferentes espaços, a busca de atender suas necessidade, a

V
poesia necessária dentro da cidade, um espaço que oferece perigos;

uto
f) Contribuição do parque Circuito para a cidade de Porto Velho:
questão aberta.

R
a
Tais questões foram desenvolvidas e demonstradas através de gráficos
que representam o resultado da e pesquisa de campo realizado pelas autoras

do
entre os meses de agosto e novembro de 2015.
aC
Representação e significado
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são
O estudo busca analisar representação e significado das praças e par-
ques em Porto Velho que implica em ir além do entendimento do fenômeno
natural da construção da paisagem, permitindo momentaneamente associar
ao conceito da paisagem representação e significado com a poética e valores
i

culturais do lugar.
rev

Compreendendo a paisagem, vinculamo-nos aos termos de Lefebvre


or

(2006), onde esse fenômeno deve ser visto em sua especificidade espaço-
-temporal. Isso leva em conta os fatores de dimensão sensíveis e simbólicos,
como confirma Serrão (2011, p. 186) “A paisagem enquanto “dimensão sen-
ara

sível e simbólica do meio” depende sempre de uma subjectividade coletiva


e não existe independentemente de uma cultura”.
ver dit

Dessa forma demonstra o autor todo encontro e inter-relação da natu-


reza e do ser humano e suas experiências nas quais, esses elementos juntos,
op

interagindo entre si, revelam a presença e expressão do homem no mundo no


momento em que a natureza dá a sua permissão para ser colocada como fruto
da experiência humana partindo de uma mesma realidade.
Assim, no que se refere ao termo “mundo e ambiente”, concebe-os ele-
E

mentos em vista da possibilidade das relações entre os mesmos e a integração


entre os indivíduos e os objetos numa mesma realidade. Para Serrão (2011,
p. 194) “Pode assim colocar-se a hipótese de que nesse mundo opera uma
particular lógica de escala que alia a medida objetiva das coisas em si mesmas
à medida subjetiva dessas mesmas coisas para o Homem que as perceba [...]”.
Observando as práticas espaciais, estas trazem em si ações repletas de
subjetividades que estando presentes num determinado espaço, atua de forma
146

real e transformadora. Essa dinâmica incorpora importância fundamental


na definição e afirmação da forma de existência das realidades nas quais se
encontra presente em um tempo e espaço determinado.

Pode-se supor que a prática espacial, as representações do espaço e os


espaços de representação intervêm diferentemente na produção do espaço:
segundo suas qualidades e propriedades, segundo as sociedades (modo
de produção), segundo as épocas. As relações entre esses três momentos

r
V
– o percebido, o concebido, o vivido – nunca são simples, nem estáveis,

uto
tampouco são, mais “positivas”, no sentido em que esse termo opor-se-ia
ao “negativo”, ao indecifrável, ao não-dito, ao interdito, ao inconsciente
(LEFEBRE, 2006, p. 76).

R
a
Estas paisagens como esclarece o autor vai alem do campo visível, mas
transcende para o imaterial se estendendo ao campo da representação e sig-

do
nificação onde a constatação e decodificação do seu sentido são reservadas a
experimentação e produção do espaço vivido, espaço percebido e concebido.
aC
Estes envolvem os elementos pesquisados pela geografia cultural possibili-

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tando seus registros e constatação de conflitos, sucessos e fracassos ocorridos
são
e vivenciados pelo homem em sua história social através dos tempos. Na
atualidade podemos perceber o espaço em foco nesse estudo, cheio de senti-
dos que são permitidos ser reconhecido na paisagem, uma vez que esta traz
i
as marcas impostas pelas transformações de hábitos e valores individuais e
rev

sociais vinculados a esse tempo na cidade de Porto Velho.


or

Porto Velho e seu tempo


ara

Porto Velho é a capital do Estado, localizada ao norte do estado de


Rondônia, as margens do Rio Madeira e têm uma população aproximada de
ver dit

494 mil habitantes segundo dados do IBGE (2010). Em sua maioria as pes-
soas são oriundas de outros estados, principalmente no sul e sudeste do país.
op

É uma cidade portuária onde o seu maior rio é o “Madeira” e possui mais
de 60 bairros. Segundo os dados do IBGE, o município de Porto Velho tem
aproximadamente 34 mil km² de área, com 12 distritos: Porto Velho, Abunã,
E

Calama, Demarcação, Extrema, Fortaleza do Abunã, Jaci-Paraná, Mutum


Paraná, Nazaré, Nova Califórnia, São Carlos e Vista Alegre do Abunã e Ex-
trema declarada mais recentemente.
Tendo em vista melhores condições urbanas e melhor qualidade de vida
da população, o Parque Circuito de Porto Velho foi fundado em 1967 numa
antiga plantação de seringueira às margens da Estrada dos Tanques, atual Av.
CONQUISTA DO ESPAÇO NA AMAZÔNIA:
Apropriações da Natureza e Representações Sociais 147

Lauro Sodré, com o objetivo de criar para a comunidade uma área de lazer
para a prática de atividades físicas e passeios familiares.
Passou a se chamar Parque Circuito, possivelmente pelo fato de que até
pouco tempo, Porto Velho não possuir muitos espaços destinados para caminhada
e trilhas. A pista do Parque Circuito tem aproximadamente um quilômetro (1
km) de extensão em meio a uma área bem arborizada, e está localizado na Zona
Norte de Porto Velho. O espaço total do parque é de 390 hectares com diversas

r
V
atrações, entre elas, três trilhas na mata para crianças e adultos, um museu do

uto
acervo biológico, sala de educação ambiental para cursos e oficinas, playground,
mesas para piquenique, academia ao ar livre e viveiro.
Em visita ao local, observamos que este inicialmente era um lugar lindo,
R
cercado por árvores, todo gramado, com trilhas para caminhada. Ótimo espaço

a
para finalizar as tardes com passeios e contato coma natureza, a calmaria, o
sossego e a prática de esportes. Um pouco afastado do centro da cidade e
do
com iluminação deficiente transmitia um ar de abandono, de descaso com a
diversidade ambiental que ali se encontrava. Entretanto, permanecia uma luz
aC
interna, própria da natureza.
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são
Após uma reforma o espaço voltou a ser frequentado por famílias, jovens,
crianças e idosos. Observamos em trabalho de campo, as comemorações de
aniversário estilo piquenique, e as pessoas se sentiam muito bem ao esticar
suas toalhas na grama e aproveitaram pra valer o espaço. O local possui
i

estacionamento próprio e no seu trânsito, é proibido trafegar com motos nas


rev

dependências do parque como cuidado da administração. Observamos que


or

havia várias lixeiras, e apresentava o cuidado com a preservação e manuten-


ção do ambiente.
Parque Circuito, em 2018, apresenta outras condições consideradas por
ara

nós como favoráveis. Um número de pessoas distintas o escolhe como destino


para passeios ou então para prática de exercícios físicos. Apesar de seu ar de
ver dit

abandono, é gritante a falta de manutenção e segurança onde se encontra mato


alto onde deveria ser grama, iluminação precária, prédios sem condições de
op

uso falta de segurança.


No entanto, ainda é um espaço que exige nossa atenção como uma
grande área para a cidade de Porto Velho, que foi formada pelas mãos hu-
E

manas e influencia na dinâmica da cidade e no cotidiano de seus habitantes.


Uma questão a respeito de nosso tempo que merece atenção nessa pesquisa
reporta-se a transformação da paisagem e seu universo de interpretação e
suas subjetividades, percebidos e pela população local. Os espaços geográ-
ficos, mormente são povoados de sonhos, que em realidade, podem dar a
sensação de realização pessoal, ou frustração coletiva.
148

Percepção da população

Para essa análise com a população do município de Porto Velho, foi


aplicado um questionário com questões fechadas e abertas a uma amostra de
50 pessoas que frequentam o parque circuito em Porto Velho, selecionadas
de forma aleatória, no momento que escolheram estar no parque. No ques-
tionário sobre o tempo de moradia houve uma diversificação de respostas

r
destacando que desse grupo de entrevistados 90% dos indivíduos nasceram

V
e morou em Porto Velho toda sua vida. Também nos chamou atenção é um

uto
número elevado de pessoas que vivem entre 15 e 20 anos no município.
Um total de 90% dos sujeitos que responderam ao questionário tem
idade entre 15 e 20 anos, demonstrando que naquele momento o parque era

R
a
frequentado por pessoas mais jovens. Por questões dedutivas, tínhamos a
hipótese de que encontraríamos pessoas com mais idade, mas, a hipótese
foi refugada.

do
Na busca da percepção da população a respeito da paisagem do parque
aC
colocamos o questionamento sobre o que significa frequentar esse parque. Os
entrevistados praticavam esporte no momento que foram abordados, entre-

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são
tanto a importância da prática de esportes no parque em escala se encontra
como último item de importância verificado nas respostas do questionário.
Foi considerada a sensação de liberdade, o contato com a natureza e
o refúgio da agitação do dia a dia como itens mais significantes enquanto
i
frequentam este espaço. A Figura 01 demonstra o significado de frequentar
rev

o parque.
or

Figura 1 – Significado de frequentar o parque


ara
ver dit
op
E

Fonte: Pesquisa de campo, 2015.


CONQUISTA DO ESPAÇO NA AMAZÔNIA:
Apropriações da Natureza e Representações Sociais 149

O segundo questionamento se refere ao significado, e o que representa


a sombra, qualidade do ar e beleza do parque. O significado e representação
identificados com importância maior foi à busca para atender as necessidades
do homem que são supridas pelo contato com a natureza seguidos do reco-
nhecimento do parque como poesia necessária dentro da cidade. O medo está
presente antes mesmo da importância da reconhecida capacidade do homem
em construir diferentes espaços na cidade para sua melhor qualidade de vida.

r
V
Esta questão do medo é interessante, pois, o que isto representa a cada

uto
pessoa é um tema a parte desta pesquisa, mas que tem importância geográ-
fica, pois o mapeamento deste tema traz a percepção de representatividade
de cada paisagem, de cada espaço. Um dos pontos que nos chamou atenção
R
foi à possibilidade de mapearmos este medo e identificar os seus “porquês”.

a
A Figura 2 demonstra significado e representação da sombra, qualidade
do ar e beleza do parque.
do
Figura 2 – Significado e representação da sombra, qualidade do ar e beleza
aC
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são i
rev
or
ara
ver dit
op

Fonte: Pesquisa de campo, 2015.

Foram constatados também em ordem de importância os sentimentos


E

vivenciados nesse lugar. A liberdade tão desejada pelo ser humano em todos
os tempos se apresenta em primeiro lugar, numa porcentagem bem próxima
ao encantamento com a natureza. Caracterizando os tempos atuais o medo de
assalto aprece como o terceiro sentimento vivido nesse espaço, antes mesmo
da à indignação com a forma com que é tratado e mantido esse espaço. A Fi-
gura 3 demonstra os sentimentos vivenciados nesse espaço. Em última análise
questionamos a contribuição desse Espaço para Porto Velho.
150

Figura 3 – Sentimentos vivenciados pelas pessoas

liberdade
medo de assalto
encantamento com
a paisagem

r
V
indignação com a forma com
que é tratado esse espaço

uto
necessidade de distanciamento
do cotidiano
cumprimento com os
cuidados com a saúde

R
a
do
Fonte: Pesquisa de campo, 2015.
aC
Reconhecidamente a saúde e laser para a população foram colocados

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são
em primeiro plano. Veio seguida da melhora do clima e embelezamento da
cidade. O olhar como utilidade para esporte exclusivamente vem na sequência
seguido do desenvolvimento das relações humanas. A Figura 4 demonstra
a contribuição do parque para a cidade de Porto Velho, de acordo com as
i
respostas do questionário.
rev
or

Figura 4 – Contribuição do parque Circuito para a cidade de Porto Velho, RO


ara
ver dit
op
E

Fonte: Pesquisa de campo, 2015.

Na questão aberta que se refere ao que mais encanta e desencanta naquele


espaço, foram citados como encantamento tudo que foi planejado, o convívio
de pessoas, amigos e familiares, a beleza da natureza, o lago e os animais, a
CONQUISTA DO ESPAÇO NA AMAZÔNIA:
Apropriações da Natureza e Representações Sociais 151

liberdade, além da pratica de exercício físico sempre acrescentando na hora


de responder a observação: “apesar dos problemas vistos”. Um lugar para se
proteger da correria e do caos de Porto Velho.
Como desencanto foi citado a falta cuidada com belezas naturais, e a
falta de valorização por parte dos habitantes e políticos da cidade. O descuido
de muitos e descaso de outros na manutenção e preservação. A utilização do
espaço muitas vezes para fins citados como fúteis. A falta de segurança e

r
V
manutenção do local, com a esperança e o lamento de que ainda há muito que

uto
construir, reconstruir e cuidar, neste e em outros espaços da cidade.

Considerações finais
R
a
Na busca de perceber o caráter subjetivo presente nas paisagens dos
parques portovelhenses, constatamos os significados e representação do
do
parque circuito de Porto Velho. Demonstrado nesse espaço o significado de
frequentar, o significado e representação da sombra, qualidade do ar e beleza,
aC
os sentimentos vivenciados nesse espaço, e o reconhecimento da contribuição
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são
do parque para a cidade de Porto Velho, houve respostas diversificadas, mas
demonstram que na atualidade a busca pela liberdade é o fator mais valorizado.
O contato com a natureza traz esta ideia de conquista da tão sonhada
liberdade e o a sensação de estar suprindo muitas das inúmeras necessidades
i

humanas, trazendo uma interligação com a sobrevivência de significado pri-


rev

mordial na existência humana.


or

Seguidamente observamos que é visto contendo o significado de uma


poesia necessária à vida humana assim como representa uma “poesia neces-
sária” na cidade, trazendo em sua subjetividade a possível interpretação de
ara

que a poética da paisagem está também ligada as necessidades de humanas


não enquanto complemento mas como parte de sua sobrevivência uma vez
ver dit

considerando o homem parte integrante da natureza. Assim nem mesmo os


tempos de globalização e alta tecnologia desfazem ou excluem ou torna menor
op

tais necessidades naturais.


O tempo que parece ter se reduzido, traz a ansiedade de reviver a in-
timidade com a natureza. O significado e representação identificados com
E

importância maior foi a busca para atender tais necessidades do homem que
são supridas pelo contato com a natureza seguidos do reconhecimento do
parque como poesia necessária dentro da cidade.
O medo presente entre os sentimentos se relaciona ao cotidiano na contem-
poraneidade que tem suas raízes no medo das relações humanas degeneradas
na atualidade e nas possíveis armadilhas geradas num processo em que estão
presentes seres corruptíveis vistos no cotidiano desse instante histórico. A este
152

medo é dada grande importância antes mesmo de outros sentimentos, como a


capacidade humana, podendo distanciar muitos do contato e da valorização
do referido espaço.
A pesquisa traz o reconhecimento da população quanto a contribuição
do mesmo primeiramente para a saúde e laser para a população colocadas em
primeiro plano veio seguida da melhora do clima e embelezamento da cidade.
Observamos que a maior atividade no local era o esporte e ainda assim de

r
V
acordo com os dados estar naquele lugar, está cercado de outros significados

uto
como liberdade e a necessidade de estar na sua condição de ser integrante
da natureza.
Diante das informações levantadas, observa-se que a população tem a

R
percepção da importância no que se refere ao parque, a paisagem urbana, e

a
seus aspectos benéficos. No entanto, percebemos com esta pesquisa que ainda
falta uma política de planejamento e viabilização de ações a serem implantadas

do
a curto, médio e longo prazo e que visem melhorar as condições do parque
para que haja, de fato, a melhoria na qualidade de vida da população advinda
aC
do parque na cidade de Porto Velho.

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são
Esta pesquisa enfim, nos permite afirmar que falta iniciativa por parte das
pessoas em contribuir para uma cidade mais comprometida com as questões
urbanas e preservação do meio ambiente, demonstrando sua influência sobre
o espaço e ao mesmo tempo sendo influenciadas pelo mesmo e, além disso,
i
vimos que o sentido e significado da paisagem nos tempos atuais estão regu-
rev

lados com as necessidades humanos que são supridas através da natureza, em


or

evidencia ainda maior em nossos tempos; apesar do estilo de vida e decisões


tomadas para priorizar a inter-relação homem natureza não permanecer em
primeiro plano das ações humanas.
ara
ver dit
op
E

CONQUISTA DO ESPAÇO NA AMAZÔNIA:
Apropriações da Natureza e Representações Sociais 153

REFERÊNCIAS

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trad. Vicente Felix de Queiroz. São Paulo: Editora Mestre Jou, 1977.
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Werther Holzer. São Paulo: Perspectiva, 2011.
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çalves. São Paulo: Loyola, 2004.
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LEFEBVRE, Henri. A produção do espaço. trad. Doralice Barros Pereira e


Sérgio Martins (do original: La production de l’espace. 4. ed. Paris: Éditions
ver dit

Anthropos, 2000). Primeira versão: início – fev. 2006.


op

SERRÃO, Adriana Veríssimo. Filosofia da Paisagem: uma antologia. Lisboa:


Centro de Filosofia da Universidade de Lisboa, 2011. p. 185-199.
E

E
ver dit
sã or op
ara aC
rev
i são R V
do
a uto
r
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CAPÍTULO XI

EU CHOREI, NUNCA TINHA


CHORADO NA MINHA VIDA:
relatos de um seringueiro cearense no Acre

r
V
Maria Liziane Souza Silva

uto
Introdução
R
a
A ocupação da Amazônia por cearenses foi marcada por movimentos

do
migratórios a partir do final do século XIX com o advento da expansão
extrativa da borracha, feitos por levas de pessoas vindas principalmente do
aC
Nordeste brasileiro. Neste primeiro momento, as condições internacionais
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são
advinda da Segunda Revolução Industrial fizeram com que a economia
mercantil da borracha ficasse em alta tornando-se atrativo para milhares
de pessoas que vieram em busca da garantia da moradia, do trabalho e
do tão sonhado “El Dourado”. Mas é durante a década de 1940 que essa
i

economia novamente é reacendida, durante a “Batalha da Borracha”, em


rev

período da Segunda Guerra Mundial.


or

Agora se têm um novo cenário, com novas perspectivas de reacender


uma economia que um dia viveu se esplendor, que já fora uma das princi-
pais do país, a economia da borracha. E é neste cenário que acontece outra
ara

migração para a Amazônia, em sua maioria, feita por cearenses. Outra vez
ver dit

foram milhares que viram neste espaço a oportunidade de fazer fortuna.


Além das melhores expectativas sobre este espaço, colocado pela
op

imprensa da época, também tinha o fato daqueles convocados para a


guerra quais poderiam optar entre servir na guerra ou servir nos seringais
amazônicos. Muitos destes optaram por servir nos seringais acreanos em
vez da guerra, – como foi o caso do Sr. Murilo, cearense convocado para
E

servir em 1944, hoje com 98 anos, por entenderem que aqui teriam maior
probabilidade de sobrevivência.
Assim, iniciava-se a Batalha da Borracha, nome dado em função do
momento de guerra, apesar de não ser uma disputa armada, estes foram
intitulados como soldados da borracha, uma vez que estavam a servir a
pátria no corte da seringa. O Estado do Acre foi um dos Estados amazônicos
156

que recebeu estas pessoas. Neste conjunto de detalhes entra a importância


do tema escolhido, ponto de partida para a compreensão desta migração.
O objetivo aqui é entender, através dos relatos deste nordestino; de que
forma era feito à convocatória; quais as promessas feitas pelos órgãos go-
vernamentais; como eram transportados desde o Ceara até a chegada aos
seringais amazônicos; o relacionamento com os demais durante a viaje;
sua vivencia e experiências como novo soldado em território acreano, e

r
V
o resultado de tudo isso.

uto
Sabe-se que ao migrarem, milhares destas pessoas deixaram para
trás suas famílias, seus ententes queridos, perdendo-se muitas vezes para
sempre nos confins da selva amazônica sem nunca mais ter notícias de

R
seus parentes. Ao chegarem no novo espaço deparavam-se com condições

a
das mais adversas. Benchimol (1977) relata que o trajeto da viagem até a

do
chegada nos seringais era bem complicado. E depois da chegada também
era comum não haver suprimentos disponíveis e apodrecerem os gêneros
aC
alimentícios em Belém e Manaus quando os altos rios estavam secos, re-

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sultando em um ano de privações sem nenhuma produção. Forneciam-se
são
os homens como “coisas”, relata o autor, sem saber se os seringais estavam
preparados para recebê-los e como ia alimentá-los. Estima-se que mais
de 30 mil morreram na Amazônia até o fim da guerra, além das centenas
i
que não resistiram à longa viagem de caminhão e barco.
rev

Nem tudo foi realizado de acordo com as propagandas do Governo


Federal, nem todas as promessas foram cumpridas, nem todos conseguiram
or

voltar aos seus, tampouco conseguiram fazer fortuna, mas uma coisa foi
certa para o entrevistado deste capítulo, ele foi combatente. Recrutado jovem
ara

para a Região Amazônica, junto a outros tantos para servir a Pátria como
já dizia Geraldo Vandré: “... De morrer pela pátria. E viver sem razão...”11.
ver dit

Para este estudo optamos pela abordagem fenomenológica, um método


que contempla as percepções, subjetividades, emoções e afetividades do
op

indivíduo. Em verdade, foi uma aposta na consciência doadora imaginária


que se caracteriza como suprema fonte de todas as afirmações racionais.
A técnica adotada foi a da fonte oral, que tem se mostrado, através dos
E

séculos, a maior fonte humana de conservação e difusão do saber, como


a maior fonte de dados para a ciência em geral.

11 “Pra não dizer que não falei das flores” (também conhecida como “Caminhando”) é uma canção escrita
e interpretada por Geraldo Vandré. Teve sua execução proibida durante anos, após tornar-se um hino de
resistência do movimento civil e estudantil que fazia oposição à ditadura militar brasileira, e ser censurada.
CONQUISTA DO ESPAÇO NA AMAZÔNIA:
Apropriações da Natureza e Representações Sociais 157

A Batalha da Borracha: incentivos e propagandas

Embora na Alemanha existam registros de pedaços de borracha do


período Eoceno (58,8 até 33,7 milhões de anos a.C.), a história da mesma
está diretamente relacionada à descoberta do Continente Americano. Isto,
porque sao poucos os registros que evidenciam este marco. No entanto,
enquanto pesquisadores é necessário que tenhamos o cuidado em buscar

r
V
por respostas aos questionamentos. Neste sentido, vale concentrar esforços

uto
aos estudos já existentes sobre o tema.
Fernandes destaca que (2018, p. 1) “A presença de árvores seringueiras
no México, na América Central e particularmente na bacia Amazônica levou
R
à utilização do líquido leitoso pelas civilizações indígenas americanas”.

a
Apesar da borracha se fazer presente em outros continentes, sua qualidade
nem de longe se assemelhava à encontrada na árvore de nome científico
do
Hevea na região amazônica, segundo estudos realizados ao longo dos tempos.
aC
Nesse contexto, Fernandes (2018, p. 2) afirma que “Nativa da região
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amazônica, essa árvore era não só a mais resistente, sustentando três pe-
são
ríodos de extração por ano, como também a que oferecia a borracha de
melhor qualidade”. As árvores seguiam os cursos de água, principalmente
ao longo do rio Amazonas, se espalhando a vários tributários desse rio,
sendo encontradas espalhadas em meio às demais espécies de árvores da
i
rev

floresta amazônica.
or

Comparada a outras árvores, a Hevea podia, com técnica apropriada,


passar por anos de extração sem perder muita produtividade. A Hevea era
à base do poder de mercado brasileiro no mercado de borracha: graças
ara

a uma combinação de qualidade e quantidade, a Amazônia brasileira


assumiu uma posição de liderança no mercado mundial de borracha.
ver dit

Comparada a outras árvores, a Hevea podia, com técnica apropriada,


passar por anos de extração sem perder muita produtividade. A Hevea era
op

à base do poder de mercado brasileiro no mercado de borracha: graças


a uma combinação de qualidade e quantidade, a Amazônia brasileira
assumiu uma posição de liderança no mercado mundial de borracha
(FERNANDES, 2018, p. 3).
E

Entre o final do século XIX ano de 1870 a primeira década do século


XX, 1910 o Brasil exportou aproximadamente “[...] 7.600.995 quilogramas
de borracha crua ao ano para o Reino Unido, e 9.095.951 quilogramas ao
ano para os Estados Unidos, sendo assim responsável por 45,5% de toda a
importação de borracha crua pelo Reino Unido e por 55,1% da importação
pelos Estados Unidos” (FERNANDES, 2018, p. 3).
158

[...] em 1824, Charles Goodyear descobriu a fórmula que tornava a borracha


resistente a grandes variações ambientais de temperaturas sem se tornar
quebradiças com o frio e pegajosas com o calor, e após terem descobertos
o processo de vulcanização em seguida a invenção da bicicleta [...], gran-
des massas de migrantes vindo de todas as regiões do mundo subiram os
cursos d’água ocupando as nascentes dos rios amazônicos em busca do
“ouro branco” (SOUZA FILHO, 2001, p. 38).

r
V
Os períodos da borracha foram determinantes para o processo econômico

uto
e para a ocupação da região Amazônica. Como destaca Weistein (1993) o
período entre 1850-1920 foi o primeiro ciclo da borrracha. No segundo ciclo
teve uma característica marcante, segundo Teixeira (2001, p. 11): “[...] a

R
presença dos cearenses e peruanos como seringueiros”.

a
Entretanto esse extrativismo vegetal de maneira extensiva aos poucos
atinge declínio, devido à plantação de mudas da seringueira em enormes

do
campos em países asiáticos, pois, como explica Lima (2013, p. 27) “[...] na
Ásia, sobretudo na Malásia e Sri Lanka, a produção acabou por superar a da
aC
Amazônia. Em consequência disso teria se iniciado o esgotamento do ciclo da

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são
borracha, com um gradual esvaziamento econômico e populacional da região”.
Mas esse quadro viria a mudar justamente porque seu principal concor-
rente, a Ásia, tivera suas plantações arrasadas pela Segunda Guerra Mundial, na
década de 1940. Martinello (2004) explica que este foi um momento, mesmo
i
que curto e simbólico em relação à outrora, de reavivamento da exportação da
rev

borracha no Brasil. A partir de 1942 o Brasil novamente se destacaria como


or

fornecedor da borracha, ressuscitando e reativando a maioria dos seringais.


Era o segundo surto da borracha na Amazônia.
Acordos internacionais foram feitos e incentivos governamentais brasi-
ara

leiros começam, entre eles, cartazes otimistas e slogan como: “borracha para
a vitória”, mobilizando novamente extratores de diversos estados, inclusive
ver dit

os veteranos nordestinos. Coincidentemente, destaca Martinello (2004) ser o


primeiro ciclo da borracha, passavam novamente por mais uma seca, agora no
op

ano de 1941-1942, reunindo cerca de 20 a 30 mil flagelados para se alistarem


a trabalhar nos seringais da Amazônia.
Para isso, foi necessária a contratação de especialista que ajudasse na
E

persuasão destas pessoas para migrarem à Amazônia, entre eles o pintor suíço
Pierre Chabloz. Segundo Moraes (2010), o artista plástico chegou a Fortaleza
em 1943 como responsável pela propaganda da “Campanha da Borracha”,
teve atuação significativa. Por exemplo, a Figura 1 trata de duas propagandas
(Marketing) do Departamento de Propaganda e Imprensa – DIP do governo
Getúlio Vargas, feita pelo pintor suíço Pierre Chabloz que ajudou a persuadir
os nordestinos a se deslocarem para a Amazônia.
CONQUISTA DO ESPAÇO NA AMAZÔNIA:
Apropriações da Natureza e Representações Sociais 159

Figura 1 (A e B): Marketing do Departamento de Propaganda e Imprensa – DIP

r
V
uto
R
a
do
aC
Fonte: Santana (2012).
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são
Era um discurso, que como consta em Santana (2012), precisava entrar
em cada lar, persuadir, iludir, conquistar famílias inteiras a migrarem para
um “novo mundo” que oferecesse “conforto e dignidade”. Propagandas
i

oficiais invadiam o Nordeste e o sonho de “riqueza e vida próspera”, do


rev

“paraíso perdido”, parecia estar mais perto do que se poderia imaginar. Os


problemas oriundos da vida na caatinga seriam superados através de um
or

toque de mágica. Com estes discursos, estava assim, dada a largada para a
grande “marcha para o Oeste”.
ara

O nordestino precisaria ser valente e leal, se alistar e mostrar todo seu


amor ao país. Estes cartazes extremamente sedutores tinham a importante
ver dit

missão de cumprir e fortalecer as determinações do Estado Novo, através


do Departamento de Imprensa e Propaganda. Tornaram-se elementos da
op

vida cotidiana, o que para Martinello (2004).


Aquele homem da caatinga precisava estar convicto de que se torna-
ria o mais novo herói nacional e que certamente estaria prestes a conviver
E

num ambiente que iria lhe oferecer fartura, conforto e prosperidade. Sob
esse sistema de “incentivos” e situações que ocorre novamente outra mi-
gração nordestina para a Amazônia. O Acre será um dos receptores destes
extratores. É neste momento que se inicia uma nova história na vida do Sr.
Murilo, nordestino convocado para servir a guerra e que optou por servir
nos seringais amazônicos. O Estado do Acre foi seu destino.
160

Relato de um “Soldado” recrutado para a batalha na Amazônia/Acre

Soldado da Borracha era o nome dados aos imigrantes, principalmente


nordestinos que, recrutados a região amazônica, tinham como missão a extração
do látex, para envio aos Estados Unidos da América, como matéria prima à
fabricação de seus produtos, visto a falta do produto a nível mundial, devido à
segunda guerra. Depois de alistados, os mesmos passavam por perícia médica

r
V
para obter termo de aptidão a prestação do serviço na Amazônia.

uto
Junto ao documento, recebiam suas vestimentas a serem utilizadas e
a promessa de que posteriormente, seria recrutada novamente a sua terra
natal, algo que para muitos não se concretizou, porque as doenças tropicais,

R
principalmente a malária levou inúmeros soldados a morte. Felizmente esse

a
não foi o fim do Sr. Murilo de Lima12 (Figura 2), peça principal para entender
tais questões neste estudo.

do
No dia 22 de fevereiro do ano de 2017, durantes viagem realizada ao
aC
município de Mâncio Lima Acre, extremo oeste do Estado, foi realizado
entrevista com o Sr. Murilo de Lima, 97 anos na época, cearense vindo de

Editora CRV - versão para revisão do autor - Proibida a impressão


são
Sobral em 1944, direto para cortar seringa. A conversa iniciou-se de forma
descontraída com belas gargalhadas mostrando um ser de humor incrível.
Antecipadamente, já havia sido pré-selecionado um roteiro de pergun-
tas, que ia anexando-as durante a nossa conversa, de forma que as colocarei
i
na sequência a mim respondida. Mas a conversa fora conduzida de forma
rev

assistemática para deixar a entrevista o mais confortável possível em suas


or

respostas. Até mesmo porque o casal apresentava uma cordialidade envol-


vente e o ambiente em que se deu a entrevista era favorável à temática, o que
para a geografia é favorável num estudo de campo a qual devemos observar
ara

os mínimos detalhes.
A primeira indagação foi sobre os motivos que o levaram a migrar para
ver dit

o Estado do Acre. Assim como foi a trajetória, o percurso desta viagem até
chegar ao destino final.
op

Resposta 1 – Ou vinha pra cá ou ia pra lá!


E

Sai de Sobral com 24 anos, tinha servido. Fui primeiro pra PM, depois
passei pro exército. Quando eu fui receber a farda, foi quando eu recebi
a notícia que tinha sorteado pra guerra né. Ai fizeram o negócio pra
mim servir aqui. Eu tirei a carteira como segundo reserva, soldado da
reserva ne. Ai ficou lá no Banco do amazonas, em Manaus, ficou uma lá

12 Seu Murilo de Lima nasceu em 31 de outubro de 1920 e faleceu em 16 de outubro de 2018, com 98 anos
de idade.
CONQUISTA DO ESPAÇO NA AMAZÔNIA:
Apropriações da Natureza e Representações Sociais 161

e eu trôxe uma pro seringal, mas meu patrão oi!, deram fim. Porque se
eles não desse fim, eles iam ter que pagar todos os bens, ordenado meu,
mais disseram que foi o rato que carregou rapaz. Oia, naquele tempo
era cento e vinte o que eu recebia ne, lá em Manaus eu tirei 900, quando
eu vinha pra cá... eles disseram.. égua lá vamos pagar esse ordenado ne
(riso), pagaram não! Vim por causa da guerra. Eu era uma fera! Tudo
tinha medo de mim. Aqui eu tô uma peça boa. Eu fui respeitado por todo
mundo. Eu as vez, eu fico pensando, como e que uma pessoa vence uma

r
V
batalha como essa, e chega essa idade ne? Ai, quando foi pra eu sair pra

uto
cá, faltava oito dias pra eu pegar a farda ne. Ai eles perguntaram o que
era que eu escolhia, se era vim pra cá ou servir lá, ir pra guerra ne. Ou
vinha pra cá ou ia pra lá. Eu tava surtiado. Ai eu disse assim: rapaz, eu
prifiro ir pro amazonas, que eu chegando lá eu garanto que tenha vida,
R
e na guerra eu não garanto. (risos). Fizeram a transferência ne, me

a
mandaram pra cá. Ai eu passei logo 15 dias preso lá. Era pra ninguém
da noticia pra ninguém. Fugir ne. Porque muitos fugia. Mas eu dizia. Eu

do
não vô fugir porque se fosse pra fugir eu não tinha vindo pra fazer esse
troco. Eu vô é pro amazonas. Pra mim eu uma beleza pra chegar aqui
aC
oh. Mas meu amigo pra chegar aqui você passa primeiro pelo inferno
Editora CRV - versão para revisão do autor - Proibida a impressão

ne. Preso dentro de navi. Quando eu entrei era nove horas da noite, eu
são
vim conhecer a proa do navio com quatro dias de viagem..com uma sede
danada, ai eu miorei mais. Dormindo no convés do navio, só botava a
rede no chão, só era óleo queimado ne, pior imundície. Oito dia eu não
almocei nem jantei, nenhuma. Nem bebia nem comia, e o pessoal num
i

acredita, minha nossa senhora! Você só sente fome no primeiro dia, aí


rev

vai passando a dor. Se você tivesse sustança, cuma nem eu tinha, ela
se acaba todinha, nos oito dia, ela já se acabo. Eu dizia, tô morto, sem
or

jeito. Aí quando eu cheguei em Belém, tinha uma mesona deste tamanho


assim, de 6 metros assim, ora, pra três mil e quinhentas pessoas ne, aí
eu comi duas pratadas. Chegamos em Manaus era do mesmo jeito, a fila
ara

medonha assim... Pois é ne, antes de eu chegar aqui eu já tinha patrão,


lá em Manaus, o coronel Francisco Lepoldo de Meneses, até chegar o dia
ver dit

que a ambarção dele subiu os rios e eu vim mais os fii dele ne. Rapaz, foi
a viagem mais doida que eu já fiz. Aqui tem um homem que eu cansei de
op

puxar ele pelas pernas, ele dentro das caixas, com medo de briga (risos),
eu era o cabeça, eu entrava, tinha uns baianos, aqueles negão, costumado
jogar chute ne. Nós saía dez, doze, invadia a cozinha, quebrava o cama-
rote, fazia o diabo, batia a mão na faca. Esse cara era de Fortaleza, ele
E

tinha 17 anos, mas o pobre era medroso, nunca tinha visto briga, aí ele
escapava dentro das caixas, lá no camarote, escondido ne. Eu quando
vejo ele aqui, eu digo, rapaz tu é um cabra frôxo (risos). Ele diz, rapaz
tu é doido, tu é o homem mais doido do mundo. Eu digo, eu era doido
porque o pessoal me obrigava a ficar doido ne, passando fome do jeito
que eu tava ne. O capitão do navio dizia: calma pessoal, calma se não
vô mandar jogar agua quente em vocês. Eles tinha essa arrumação ne.
162

Abria as torneiras e... água quente pra acaba a briga. Poxa vida! Olha
capitão: nem que caia só os ossos aqui, mas o navio vai ficar com o casco
pra cima, nós vamos alagar! (risos). Aí ele dizia, pois olhe: daqui a meia
hora tem comida pra todo mundo, pode calmar! Aí era que calmava. Aí
eu vi quando mataram um boi, eu fui olhar, num tinha mais cabelo, era só
o couro preto, parecia que ele era... tu só via osso, num tinha mais carne.
Aí!!!...., essa comida é pra cachorro comer, não pra homem, bandido sem
vergoim! Aí BLUMM!, arrancava a cancela de ferro, BLAAR!.., jogava

r
V
o cozinheiro, ai o pau distindia ne, (risos) quem era que ia ser besta de

uto
se meter no mei ne. Aí era assim. Mas o cabeça era eu. Tinha essa sorte
(entrevista concedida em fevereiro de 2017) (transcrita da forma que o
entrevistado falou).

R
a
A fala do Sr. Murilo revela que ele foi um dos “soldados” selecionados
durante a Segunda Guerra Mundial. Sorteado, não havia maiores opções a

do
não ser de encarar uma guerra ou se aventurar, também “como um soldado”
(como pregava as propagandas do governo) nas densas matas amazônicas.
aC
Ele viu a possibilidade de maior sobrevivência, trabalhando numa floresta

Editora CRV - versão para revisão do autor - Proibida a impressão


cortando seringa, do que participar de uma guerra. Uma viagem penosa, cheia
são
de grandes obstáculos e limitações. Sua fala revela um descaso das empresas
governamentais desta época, um despreparo desumano para com estes mi-
grantes diante das situações de brigas dentro dos navios por causa de comida.
i
A segunda pergunta foi relativa à sua situação dentro dos seringais em
rev

que trabalhou, como sobreviviam, como era a vida, nestes lugares. Qual era
o sentido de viver.
or

Resposta 2 – Era Soldado né!


ara

Quarenta anos eu morei num seringal, todo tempo, cortando seringa.


ver dit

Eu só queria saber de trabalhar, de tá na mata. Se eu vim pra servir o


governo lá, cortando seringa ne! Ai, tinha que cumprir minha obrigação.
Era soldado né! Rapaz, ainda hoje tem besta lá que não sabe o que é uma
op

seringa né. A seringa é encantada ne, toda seringa é encantada. Quem


desencanta ela é o mateiro. Eu com doze latas não aguentava mais. Era
muito peso e eu só chegava de noite. Eu tinha sorte com estrada ne. Só
E

pegava estrada boa. Eu já sabia das experiencias que me ensinavam ne


(entrevista concedida em fevereiro de 2017).

Incrível é ver como estas propagandas realmente firmaram uma certeza


nestes “soldados” que se propaga até hoje em sua fala “Se eu vim pra servir
o governo lá, cortando seringa ne! Ai, tinha que cumprir minha obrigação.
Era soldado ne!” Isso também confirma aquilo que Homi Bhabha, (1998)
CONQUISTA DO ESPAÇO NA AMAZÔNIA:
Apropriações da Natureza e Representações Sociais 163

em “O local da cultura” como um ser narrado. A mímica constitui-se em


uma das estratégias mais ardilosas e eficazes do poder e do saber colonial,
pois se mostra ao Outro, como fonte de inspiração para a imitação, a cópia
e consequentemente para a relativização da cultura subalterna. Isso nos
remete a pensar toda propaganda atrativa de Vargas para o convencimento
destes como “um soldado que serve a Pátria” motivo de orgulho.
O terceiro questionamento foi se havia perigo de ataque nos seringais

r
V
e no caso de doenças como fazia para curar.

uto
Resposta 3 – Eu era um homem muito forte

Onça, vigiii, matei bem umas quatro oh, mas sempre eu quem matava ela,
R
a
ela nunca me matou. (risos). Só atirava na sangria. Agora eu tive uma,
vô contar, num vô dizer que não. Olhe, eu entrei na mata rastreando um

do
viado, quando começou a agua ficou toldada, bem aqui perto, rapaz, a
pragata era desse tamanho assim oh, na minha frente, já em cima do viado
aC
também ne, no lugar de eu rastrear o viado já rastreava era a onça. Aí
quando eu cheguei assim, tinha uma samaúma grande assim, tinha uma
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são
caída grande assim, e ela foi entrou mais o viado debaixo, deu quase
dezesseis quilos. Quando eu entrei na moita, que olhei assim, olha mais
dois, tava lambendo o sangue do viado, ela tinha matado e tava bebendo
o sangue ne, e eu, aí passei a mão, peguei a garroncha e num disparo, ai
sai correndo, com medo de a onça correr atrás de mim. Nunca mais vô
i
rev

rastrejar onça (risos).


Eu era uma homem muito forte. Olhe, eu trabalhei, trabalhei, eu adoeci
or

do figo, meu figo acasbôsse, meu fico acabôsse, tem mais não. Aquela
vassôrinha era o que tinha muita ne. Aí eu tirei o sumo dela, aí butei
no sereno da noite, cinco horas da manhã, me levantei, saí no rumo do
ara

garapé, sai bebendo o remédio, quanado eu terminei, já tava quase em-


briagado, tumei baim, tumei baim, vim me bora pra casa. Quando deu
ver dit

umas horas já tava com vontade de cumer. Oia, cum cinco dias eu tava
novim, zerado ne, te hoje, cabo. Doença mesmo, tinha alguma, tinha a
cesao. Pra curar era umas piulinhas assim. O farmacêutico levava pro
op

barracão. Usava remédio caseiro tambem. Quando ganhava neném no


seringal era o marido, era as mães, era sozim. Cortei imbigo de dois fii
meu (entrevista concedida em fevereiro de 2017).
E

A fala do Sr. Murilo demonstra que era um tempo muito perigoso, de-
vido à existência da quantidade de animais silvestres, onça principalmente,
que colocava em risco a vida destes seringueiros. Quando se deparam com
as doenças na maioria das vezes era o remédio caseiro, através de plantas
medicinais, o socorro presente.
164

No quarto interrogatório, partimos para as questões familiares e finan-


ceiras, como a questão do contato com a família do Nordeste depois que veio
ao Acre e se chegou a ganhar muito dinheiro.

Resposta 4 – Tava com sessenta e tantos anos que eu não andava la né.

Só homem eram dez comigo, e quatro irmã. Tava com sessenta e tantos

r
anos que eu não andava la ne. Consegui ir la. consegui ir la já. Umas

V
quatro vez. Eu fui ter comunicação com alguém perto dos sessenta anos

uto
ne, nuntinha comunicação com ninguém, nem pra ca nem pra la. Chegou
um sargento aqui em Cruzeiro, era meu subri, aí ele soube onde eu morava
e vei bater aqui em casa. Mas olha.., é coisa mais triste do mundo tu num

R
saber da família ne. Papai morreu, eu sonhei de noite que ele tava cego e

a
separado da mamãe. Ai, eu dizia pro pessoal: papai morreu, a mae não,
quando ela morreu num deu pra saber não. (silencio..) num deu, porque

do
num deu mermo.
Rapaz, eu ganhei uma porção de dinheiro, mais eu estraviava, dava tudo,
aC
os derradeiro dinheiro que eu tinha, já tinha família, viajava pra qui, pra
cola, ai ia acabando. Quando num tinha mais ai ia ganhar dinovo ne

Editora CRV - versão para revisão do autor - Proibida a impressão


são
(entrevista concedida em fevereiro de 2017).

O Senhor Murilo conseguiu rever os seus parentes deixados no Nor-


deste, porque diferente de muitos, ele foi agraciado com muitos anos de
i
vida. Porém não conseguiu ganhar os tubos de dinheiro que demonstrava as
rev

propagandas da época, o que para ele foi também motivo de decepção, tristeza
or

e arrependimento. Percebe em seu olhar, em momentos da entrevista, fica


calado olhando fixo no horizonte, como se recordasse da juventudo no Ceára.
Essas considerações por parte do Sr. Murilo levam a entender o que
ara

Fernandes (2013, p. 18) explica de que “[...] o migrar foi, para uns, uma
forma de resistência, o não aceitar passivamente as condições que lhes
ver dit

foram impostas em seus locais de origem, enquanto para outros foi o fruto
de dramas familiares, ou ainda o resultado da falta de perspectivas sociais”.
op

Esta percepção do que é a migração para cada indivíduo se deu uma


forma e que os sentimentos também foram sentidos de maneira diferente.
A percepção da paisagem amazônica para alguns foi exuberante, magnífico
E

no sentido de bom, para outros já foi assustador. Os sentidos proporcionam


ao indivíduo a motivação intriseca que revelam a concepção do que o local
era e do que passou a ser para ele/ela.
Assim, na quinta e derradeira pergunta buscamos por saber a sua con-
cepção do ontem e do hoje, ou seja, comparando antes com o agora.
CONQUISTA DO ESPAÇO NA AMAZÔNIA:
Apropriações da Natureza e Representações Sociais 165

Resposta 5 — Eu chorei, nunca tinha chorado na minha vida.

Eu achei ruim no começo né, mas depois me acostumei né... (pausa, silen-
cio) Me arrependi, vigii Maria. Eu chorei, nunca tinha chorado na minha
vida. Muitas vez, eu na estrada eu chorei minha fia, passava era horas,
de coca, imaginando. Um arrependimento doido né! Olha, eu perdi tudo
quanto era meu lá, fico tudo perdido né. Cheguei (na volta ao Ceara), num
encontrei mais nada. De herança dos meus pais, nada! Mais minha irmã,

r
V
cadê minhas heranças, minhas irmãs? Ah meu fii, fulano ficou com tudo ne.
Ele enganou fulano, enganou cicrano, e belano e tal e tal, eu digo, mais eu

uto
não vô nem falar disso, eu num vim aqui atrás de nada disso, quero não!
Se tiver bem, se num tiver também num vô tá sendo besta. Esse homem,
sabe se ajoelhou nos meus pés, era meu irmão, ele era mais novo que eu.
R
Se ajoelhou aqui, pediu perdão do que ele tinha dito pro Juiz que tinham

a
me matado lá Acre, não era mais vivo. Por isso foi que eu perdi a herança
ne. Ficou com tudo, vendeu a fazenda, trocaram numa casa, e a outra eles

do
pegaram e venderam, tudo. Eu voltei pro Acre porque tinha minha família,
mas se eu num tivesse nunca tinha mais voltado pra cá não. Olha, lá tem
aC
fartura de tudo. Morava la em Sobral, em Fortaleza. Mas olha, é quatro
horas de viagem (entrevista concedida em fevereiro de 2017).
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são
Este relato revela o profundo arrependimento de um sujeito que, sorteado
fez a opção em vir para a guerra na Amazônia, pelo cumprimento à convo-
catória de servir sua pátria e por achar que seriam maiores as possibilidades
i

de sobrevivência. Apesar de ter se “acostumado” com a nova situação, nunca


rev

perdeu o desejo de um dia retornar para sua terra, para os seus. Ele nunca
or

perdeu a vontade de voltar morar no Nordeste. Nesse sentido cabem ainda as


considerações de Lima (2013),
ara

[...] é possível pensar que os trabalhadores que migraram para a Amazônia


no período do Estado Novo experimentaram ao fim da Segunda Grande
ver dit

Guerra, outros tantos momentos de fechamento político, de desqualificação


e de desrespeito a lhes impor a estratégia do silêncio como alternativa,
alimentando, todavia, essa “memória subterrânea” no seio familiar e nos
op

restritos círculos de convivência e amizade, à espera de dias melhores


(LIMA, 2013, p. 17).
E

As histórias de vida acerca de determinado fenômeno contadas por aque-


les que viveram os acontecimentos no dia a dia nos trazem uma bagagem de
valores, sentimentos e conteúdos que devem ser alvo de estudo e valorização.
Falar com eles e não sobre eles, dá a oportunidade de externar as experiên-
cias e memórias nos permitem o conhecimento da história como ela foi e ao
mesmo tempo, contados por aquele que constroem a história com é o caso
dos soldados da borracha, em especial Sr. Murilo.
166

Considerações finais

A Batalha da Borracha, durante a Segunda Guerra Mundial foi uma


forma de reavivar aquilo que um dia fora considerado principal economia
do país, a extração do látex na região amazônica, durante o primeiro surto
da borracha em finais do século XIX e início do século XX. Uma tentativa
de reverter uma economia que há décadas vinha amargando um fracasso.

r
V
Uma batalha feita através de acordos firmados entre Brasil e Estados Uni-

uto
dos quando o governo brasileiro viu nessa situação a chance de reerguer
outra vez a produção da borracha, contando com estratégias armadas nos
altos escalões ministeriais dos dois governos, que fixaram sua política e

R
ação mediante a montagem de um dispositivo logístico-institucional de

a
grande envergadura para a época.
Neste momento, o Nordeste brasileiro e que, ironicamente como no

do
primeiro surto migratório sofria novamente outra grande seca, foi alvo de
aC
pesadas propagandas do Governo Federal de incentivo à migração para

Editora CRV - versão para revisão do autor - Proibida a impressão


a Amazônia. Métodos publicitários com discurso persuasivo destacando
são
uma Amazônia como terra da fartura, terra da vitória, terra do ouro branco.
Propagandas com grande poder de influência ideológica, mas sem nenhuma
conexão com a realidade que esperava estes trabalhadores. Tudo pensado,
planejado, articulado pelo governo.
i
rev

Milhares destes vieram em busca deste novo paraíso ou, vieram para
“servir a Pátria”, como foi o caso do Sr. Murilo. Neste segundo surto da
or

borracha, não diferente como no primeiro, houve descaso do governo


brasileiro visto que os relatos das precárias situações de transporte e ali-
ara

mentação, nem tampouco deu condições de acesso de volta à sua terra, no


final da guerra. Além de todos os tipos de adversidades vividas por este
ver dit

seringueiro dentro dos seringais.


O sonho de fazer fortuna e de voltar para sua terra com vida melho-
op

rada virou utopia, era ilusão pois o sistema que os aprisionavam era de
um trabalho penoso, árduo, solitário e por vezes perigoso. A estrutura de
trabalho era precária, era exaustiva. Dessa forma, era quase impossível
E

sair daquela situação devido às dívidas feitas no seringal. Era o seringueiro


aparentemente livre, mas na verdade era um preso do rígido sistema im-


posto por patrões ditadores dentro dos seringais. Para muitos, este foi um
caminho sem volta, pois, nunca mais viriam seus entes queridos deixados
no Nordeste. Milhares morreram abandonados na Amazônia nos mais va-
riados e negligentes tipos de situação. Raros são aqueles que conseguiram
CONQUISTA DO ESPAÇO NA AMAZÔNIA:
Apropriações da Natureza e Representações Sociais 167

rever os seus novamente. Mais raros são aqueles que ainda sobrevivem
para nos contar a verdadeira história. Raros!
Revela-se aí uma total insensibilidade das autoridades constituídas
para com os migrantes aqui esquecidos e abandonados, uma incapacidade
empresarial dos que atuavam no sentido de desenvolver economicamente
a região, um imenso descompromisso e falta de visão dos políticos e da
classe dominante. Percebem-se as ideias dominantes como uma forma

r
V
de sedução simbólica que serve para ocultar algo, revelando somente

uto
aquilo que ele quer que objetiva. Todavia, é nos relatos nestes sujeitos
que encontramos as contradições que derrubam os discursos das ordens
hegemônicas impostas.
R
Analisar estes processos, os motivos que impulsionaram uma dada

a
migração em um determinado local, através do relato de alguém que vi-
venciou esse processo, dando voz, promovendo sua análise, é poder fazer
do
um momento passado se tornar presente, ou seja, é compreender a forma
aC
como o passado chega até o presente. É o resultado de um todo, já vivido.
Editora CRV - versão para revisão do autor - Proibida a impressão

E é graças a estas memórias, que este tempo vivido não está perdido e que
são
podemos fazer outras descobertas do passado, através da valorização des-
tes outros pontos de vistas, não se preocupando em explicar tudo, porém,
suscitando novas indagações.
O senhor Murilo dedicou toda sua energia à batalha da borracha na
i
rev

Amazônia, sem temor, sem temer. Essa Amazônia dos seringueiros, dos
nordestinos, da borracha, dos rios, das florestas, das experiências e das
or

vivencias, foi palco de grandes momentos que reconfigurou este espaço


resultando um novo modo de viver através dos “heróis da seringa”. Apesar
de seu nome não está estampado em nenhuma lista de reconhecimento
ara

ou honra, foi ele um dos grandes e verdadeiros heróis na conquista desta


ver dit

batalha. Muitos deram sua vida neste projeto político.


Foram precursores deste processo acrescentando a esta região nova
op

história, novos valores culturais. Como resultado de tudo isso, estes fizeram
emergir um novo lugar, mostrado pelo trabalho, modo de vida, das vivên-
cias, das experiências, do sofrimento e esperanças que nunca acabaram. Foi
E

mais que vitoriosos e ricos, não de espécie em dinheiro, como prometerem,


mas, de outros valores, experiências que dinheiro algum pode comprar.


168

REFERÊNCIAS

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cpdoc.fgv.br/sites/default/files/verbetes/primeira-republica/BORRACHA.pdf>.

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V
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ppgh.ufam.edu.br/attachments/article/195/Frederico%20Alexandre%20de%20

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TEIXEIRA, Marco Antônio Domingues. História Regional Rondônia. 2. ed.


Porto Velho-RO: Rondoniana, 2001.

WEISTEIN, Bárbara. A Borracha na Amazônia: expansão e decadência 1850-


1920. São Paulo, Hucitec/Edusp, 1993.
CAPÍTULO XII

CULTURA, NATUREZA E GÊNERO


NA AMAZÔNIA: um estudo na festa do
Çairé, Alter-do-Chão, Santarém, Pará

r
V
Moisés Daniel de Sousa dos Santos

uto
Introdução
R
a
As discussões em torno do espaço e cultural tem ganhado cada vez mais

do
destaque no campo geográfico, pois tem adentrado em ambientes antes estig-
matizados pelo pouco ou nenhum conhecimento de sua relação com espaço
aC
em que acontecem. Nesse contexto, as manifestações culturais por meio da
Editora CRV - versão para revisão do autor - Proibida a impressão

Geografia Cultural buscam dar evidência da ligação dos indivíduos com o


são
lugar, por meio dessas manifestações podendo assim idealizar as festas e
festejos populares como a celebração de sua identidade com o espaço e onde
também está explícita sua percepção de sociedade.
i

Na Amazônia, a festa do Çairé, distrito de Alter-do-Chão, Santarém-PA,


rev

apresenta algumas singularidades no que se refere às relações de gênero, con-


cebida em geografia como o tratamento das relações no espaço entre homens
or

e mulheres. Assim, pretende-se analisar como sucede essa relação na Festa do


Çairé. Além disso, os recursos naturais e a cultura amazônica são elementos
ara

essenciais que possibilitam o festejo, pode-se ainda dizer, que a natureza é


celebrada por meio das possiblidades de vida que dá ao homem.
ver dit

Com base na análise, percebe-se que a Festa do Çairé apresenta sua


singularidade de gênero por enfatizar a apresentação das personagens da
op

procissão em que homens e mulheres desempenham os mesmos papeis


dentro da festa. Essa percepção é explicita ao apresentar os pares de perso-
nagens: mordomo e mordoma; juiz e juíza; menina da fita e alferes; Capitão
e Saraipora, como também na tarefa de decoração, no levante e derrubada
E

dos mastros dos homens e das mulheres em que cada grupo é responsável
por essa execução.
Ao observarmos a história da origem da sociedade brasileira, a mulher
aparece como auxiliar ao homem nas mudanças sociais e no trabalho cotidiano.
Essa concepção durante muito tempo perdurou como “normal”, porém esse
fato mudou a partir dos movimentos feministas de 1960 e 1970, onde passou
170

a ser discutidas as questões de gênero e as mulheres passaram a lutar para ter


vez e voz para mostrar suas insatisfações e anseios vividos.
Nesse sentido, tendo a intenção de adentrar nesta discussão no contexto
do campo da geografia abarca uma problemática que ainda está em tomada de
marcas resultantes de um senso construído culturalmente por uma sociedade
baseada na submissão da mulher desde o período patriarcal. Onde a geografia
feminista faz emergir um olhar para essas questões, traçando assim caminhos

r
V
que se faz entender por meio dos movimentos, lutas e estratégias, contra os

uto
modelos de cultura excludentes, a relevância do gênero feminino, em vários
segmentos da vida social que expressam das mais diversas formas.
Nesta perspectiva, procurou-se refletir e analisar sobre como acontece

R
essa relação de gênero dentro da Festa do Çairé. Assim, para obtenção dos

a
dados recorreu-se por meio de pesquisa participante em que foi possível vi-
venciar e observar os indivíduos, espaços e paisagens a Festa do Çairé e suas

do
relações, como método adotou-se o fenomenológico para embasar as análises
e discussões teóricas, pois teve como foco centrar no indivíduo e relações
aC
com o lugar, assim a pesquisa caracteriza-se como uma pesquisa qualitativa,

Editora CRV - versão para revisão do autor - Proibida a impressão


são
valorizando o indivíduo por meio de suas experiências vividas, ou seja, a
relação do ser humano com o meio em que está inserido.

Geografia cultural, gênero e festejo popular


i
rev

A Geografia Cultural no Brasil durante um longo período esteve a mar-


or

gem dos estudos dentro da academia, porém nos últimos tempos viu-se uma
mudança nessa concepção e interesse em relação a relevância dos estudos
culturais e sua afinidade com o espaço, pois com esforço de diversos grupos
ara

de estudiosos e de pesquisa viu-se a riqueza e inúmeras contribuições dos


estudos da cultura para a Geografia e compreensão do indivíduo no/com o
ver dit

espaço em que vive.


Nesse contexto, vários temas antes marginalizados e abarcados pela
op

Geografia Cultural não recebiam o prestigio de outros, assim pode-se citar


as festas e festejos populares, pois em vários contextos referem-se às mani-
festações culturais em que ficam explícitas a relação dos indivíduos com o
E

lugar onde acontecem, pois no período em que ocorrem essas manifestações


as pessoas desses locais param suas atividades cotidianas e focam em ações
coletivas em prol da concretização das ações da festa ou festejo.
Ou seja, por meio das festas ou festejos os indivíduos além de procurar
manter, também foca em reafirmar como parte, isso é algo nítido na organiza-
ção dos cenários, paisagens, enfeites etc., sempre enfatizando elementos que
remetem aos aspectos da cultura e paisagem. Assim, todos os anos acontecem
CONQUISTA DO ESPAÇO NA AMAZÔNIA:
Apropriações da Natureza e Representações Sociais 171

no mês de setembro, período em que ocorre a baixa do nível, do Rio Tapajós


que banha o distrito, e, assim surge uma ilha que atrai turistas e visitantes,
atualmente, muitos pesquisadores de diversas áreas de conhecimento.
No aspecto de gênero, na Festa de Çairé percebe-se a presença da singu-
laridade no que se refere às relações no espaço entre homens e mulheres, pois
em variados contextos os indivíduos são tratados de acordo com seu gênero,
onde homens recebem papeis de destaque e liderança, já as mulheres funções

r
V
secundárias e geralmente invisibilizadas, escondidas nos “bastidores”.

uto
Há 22 anos Lavinas (1997) discutia a questão de gênero e expões que o
caráter das relações referia-se a dominação e opressão e que fazia com que
as diferenças biológicas entre os sexos em fatores decisivos para pontuar a
R
desigualdade social ou exclusão. “Isto significa que todo o indivíduo é sexuado

a
e que é nessa condição irredutível que virá a situar-se no mundo, ter opor-
tunidades, escolhas, trajetórias, vivências, lugares, interesses” (Ibid., p. 16).
do
O conceito de lugar é uma categoria que ganha destaque no tratamento
dos festejos populares, pois abrange um espaço onde são arquitetadas as
aC
identidades, lembranças e interações sociais que são determinadas pelo grupo
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são
coletivo que habita esse espaço ou mantem algum tipo de relação. Dessa
forma, a representação e alegorias se fazem presente no espaço como assi-
nala Diegues (1993, p. 84), “A íntima relação do homem com seu meio, sua
dependência maior em relação ao mundo natural, comparada ao do homem
i

urbano – industrial faz com que os ciclos da natureza sejam associados a


rev

explicações míticas ou religiosas”.


or

O lugar possui características mais específicas, ele é dotado de significa-


ções para quem o vivencia. Portanto, para que o lugar possa ter significado é
preciso que haja condições para que ele possa ser percebido. Conforme Tuan
ara

(1983, p. 40), “[...] o espaço transforma-se em lugar à medida que adquire


definição e significado”. Os indivíduos na sua vivência e onde interagem
ver dit

com seus semelhantes estabelecem laços com o espaço onde estão inseridas.
Nesses espaços próximos aos rios, às pessoas desenvolvem suas ativida-
op

des de subsistência em decorrência do comportamento desses recursos, nesses


casos a prática da pesca e outras surgem como principal fonte de alimento e
renda, porém em determinadas épocas do ano, o nível dos rios oscila e em
E

decorrência disso as pessoas se deslocam para área mais alta.


É dali que provem à fertilidade da imaginação que busca explicar fatos
e fenômenos por meio de um esclarecimento que se vale do “fantástico” ou
representação simbólica. Isso é bastante presente nas comunidades ribeirinhas,
conforme Cassirer (1994), essa ação é resultado da limitação da linguagem
para dar conta de demonstrar e explicar esses fenômenos e recorre-se aos
símbolos e sua representação para completar essa lacuna.
172

Os caminhos da pesquisa

Na atualidade, vê-se que as relações de gênero e festejos populares no


campo de estudos da ciência geográfica vêm ganhando espaço devido às
discussões no campo científico e como forma de valorizar a contribuição de
diversos grupos tradicionais que durante muito tempo foram vistos de forma
invisibilizada pela sociedade. Neste sentido, nosso local de pesquisa é o distrito

r
V
de Alter-do-Chão, localizado no município de Santarém, estado do Pará. Pará

uto
é o segundo maior estado da região norte do Brasil em extensão territorial,
dividido em aproximadamente 144 municípios (Figura 1 – próxima página).
Os limites territoriais do estado são com o Suriname e Amapá ao norte,

R
ao nordeste com oceano Atlântico, com o Maranhão a leste, ao sudeste com

a
Tocantins, ao sul com o estado do Mato Grosso, Amazonas a oeste e Roraima
e Guiana a noroeste. Importante mencionar que o grande número de estados

do
e países com o qual faz fronteira, está diretamente ligado ao tamanho de seu
aC
território de 1.248.042, 515 km².
Cabe ainda mencionar que o Estado possui um quantitativo populacional

Editora CRV - versão para revisão do autor - Proibida a impressão


são
em torno de 07 milhões e 300 mil habitantes, sendo o município mais popu-
loso Belém com pouco mais de 02 milhões de habitantes, e também capital
do estado. O estado possui rede hidrográfica densa e caudalosa, destacando
os rios Amazonas, Tapajós, Tocantins, Xingu, Jari e Pará.
i
rev

Figura 1 – Mapa do Estado do Pará dividido por Microrregiões


or
ara
ver dit
op
E

Fonte: Luz et al. (2013, p. 19).


CONQUISTA DO ESPAÇO NA AMAZÔNIA:
Apropriações da Natureza e Representações Sociais 173

O Distrito de Alter Chão está a 35 km de distância da área urbana do


município de Santarém ligado através da Rodovia Everaldo Martins (PA 457)
e inserido na região denominada de Eixo Forte. Nos últimos tempos, tem
atraído um quantitativo cada vez maior de visitante e até moradores que se
encantam com suas belezas naturais, composta não somente pela paisagem
amazônica, mas por praias de água cristalina e areia clara. Esse número de
habitantes e visitantes é mesclado entre moradores nativos e estrangeiros, o

r
V
que nos permite dizer que sua economia gira em torno do turismo.

uto
Para obtenção de dados além do cunho fenomenológico e a pesquisa
bibliográfica, foi feito pesquisa de campo por meio da participação na Festa
do Çairé, onde foram obtidas informações e destas extraiu-se as percepções
R
vividas na pesquisa no trabalho cotidiano de Alter-do-Chão no período fes-

a
tivo. “A festa do Çairé é uma das mais antigas celebrações conhecidas na
Amazônia e contabiliza pelo menos três séculos de existência. Há registros
do
de comemorações do Çairé em diversos locais no Norte do Brasil, embora a
aC
festa só perdure em Alter do Chão” (CARVALHO, 2016, p. 235).
Editora CRV - versão para revisão do autor - Proibida a impressão

A pesquisa participante também foi adotado neste estudo, uma vez que se
são
apresenta como um instrumento metodológico eficaz para a coleta e a análise
dos dados e, tendo como objetivo final, o entendimento das relações sociais e
culturais estabelecidas coletivamente entre os indivíduos na Festa do Çairé e
as relações de gênero. Na perspectiva da geografia, conforme Lencioni (2003,
i
rev

p. 149) “[...] a fenomenologia prioriza a percepção e entende que qualquer


ideia prévia que se tem sobre a natureza dos objetos deve ser abolida”. Para
or

essa corrente, o comportamento de todas as pessoas não está fundamentado


no conhecimento objetivo do mundo real, mas sim na base das imagens sub-
jetivas deste mundo.
ara
ver dit

Uma análise sobre as relações de gênero no festejo do Çairé


op

A Festa do Çairé foi inserida no contexto amazônico no decorrer das


chamadas “missões evangelizadoras” de padres jesuítas no final do século
XVII. De acordo com Carvalho (2016, p. 238) “As festas de santo são cele-
brações tradicionais e populares ainda hoje usuais na Amazônia, e o Çairé
E

é uma delas”. É uma festa possuidora de muito simbolismo e aspectos que


despontam a influência recebida no período de colonização, como é o caso do
símbolo maior da festa, o arco do Çairé, que remete ao escudo dos soldados
portugueses e que louva ao Divino Espírito Santo.
É realizada a noite por meio de ladainhas e rezas, e posteriormente
a parte religiosa, ocorre os shows e apresentação de danças com comidas
174

típicas, contando ainda com a presença dos botos Tucuxi e Boto Cor de Rosa,
principal momento da comemoração. Brechas na história do Çairé fragilizam
até o presente momento, uma data concisa de quando apareceu o Çairé, mas é
certo que o evento foi criado pelos missionários jesuítas, durante suas missões
no processo de colonização da região amazônica. O festejo foi uma tática de
dominação e aculturação, uma forma de cativar os índios de forma que eles
assimilassem valores da cultura europeia e elementos da religião católica.

r
V
Carvalho (2016) menciona ainda,

uto
[...] essas festas atualizam um modelo festivo que valoriza, além dos
ritos de natureza religiosa propriamente ditos, dimensões lúdicas do ato

R
de celebrar em práticas de comensalidade, na entoação de ladainhas, em

a
cortejos animados por folias (músicas em louvor aos santos, entoadas ao
som do toque de caixas e outros instrumentos de percussão), em jogos e

do
disputas festivas (CARVALHO, 2016, p. 238).
aC
Anteriormente, a festa era realizada no mês de junho, porém devido a

Editora CRV - versão para revisão do autor - Proibida a impressão


acordos políticos no âmbito municipal, a mesma teve seu período alterado
são
para o mês de setembro. Em decorrência do nível do Rio Tapajós, pois assim
possibilita o surgimento das praias e a conhecida “Ilha do Amor”, como também
é um período mais agradável para mergulhos e passeios nas proximidades.
i
De acordo com Carvalho (2016),
rev

Hoje, a festa do Çairé de Alter do Chão realiza-se em setembro, apresen-


or

tando-se como uma celebração do Divino Espírito Santo que associa e


articula, em múltiplos planos, ritos do catolicismo popular com formas
tradicionais de expressão oral, musical e coreográfica, frequentemente
ara

designadas como folclóricas, mas também inspiradas em espetáculos de


massa. Organizada em torno de dois espaços principais – o barracão e o
ver dit

Lago dos Botos – a festa é capaz de congregar públicos tão diferentes


quanto modos distintos de celebrar (CARVALHO, 2016, p. 239).
op

A Festa do Çairé tem um “pré-início” no sábado que antecede a abertura


oficial. Neste dia, dois mastros são transportados em barcos ao som da “Banda
Espanta Cão” e bastante tarubá e acompanhados por pequenas embarcações
E

em forma de procissão marítima (figura 2). Esses mastros são levados do


Lago Verde pelos mordomos e pelas mordomas que se encarregam de buscar
e conduzi-lo até a Praia do Cajueiro, localizada nas proximidades da frente
de Alter-do-Chão.
CONQUISTA DO ESPAÇO NA AMAZÔNIA:
Apropriações da Natureza e Representações Sociais 175

Figura 2 – Transporte dos Mastros de Çairé

r
V
uto
R
a
do
aC
Editora CRV - versão para revisão do autor - Proibida a impressão

são
Fonte: Carvalho (2016, p. 240).

Chegando próximo à margem do Rio Tapajós no caminho de retorno,


i

mordomos, mordomas e visitantes auxiliam no transporte dos mastros, porém


rev

mordomos e homens cuidam de um mastro e mordomas e outras mulheres


cuidam de outro mastro. É um momento de competição regado a muita alegria
or

de todos ali presentes, sem rivalidade entre os grupos. Neste dia, os mastros
são deixados na Praia do Cajueiro.
ara

Na quinta seguinte, ocorre abertura oficial da festa do Çairé com toda


atenção que merece um evento tão esperando do ano no município de Santa-
ver dit

rém. Assim, moradores, visitantes e autoridades em geral se aglomeram no


Barracão do Çairé para ouvir a fala de algumas autoridades e a benção do
op

Padre, que surge como elemento da igreja católica.


Em seguida, os personagens do Çairé em forma de procissão (Figura 3),
se direcionam a Praia do Cajueiro acompanhada por pessoas interessadas em
E

participar do festejo. Ao chegar à praia, os grupos dos mordomos e alguns


homens se posicionam próximos ao seu mastro e o mesmo fazem as mordomas
e algumas mulheres. Assim, todo (a)s posicionado (a)s respectivamente aos
seus mastros, iniciam seu transporte até a área destinada aos mastros.
O espaço destinado aos mastros está localizado nas proximidades do
Barracão do Çairé. Chegando lá, os grupos citados acima dão início à decora-
ção dos mastros que contem frutas típicas da região e plantas. Representado a
176

vegetação e a fartura própria da amazônica. Terminada essa fase de decoração,


ocorre o levantamento dos mastros por conta de cada grupo. Após levantamento
com todas as frutas e plantas, os mastros ganham um papel relevante nos ritos
religiosos que ocorrem a noite durante o período do festejo.
Até essa etapa, se vê que os grupos apesar da disputa acirrada, buscam
desempenhar sua atividade sem prejudicar o grupo adversário. Porém em
nenhum momento homens e mulheres se auxiliam. Assim, contrariando a es-

r
V
trutura e tratamento entre homens e mulheres vista em outras festas e festejos.

uto
Importante destacar que no Çairé ocorre esse diferencial em dar equidade
a ambos independentemente do gênero, onde homens e mulheres recebem
dentro do espaço da Festa do Çairé e da procissão certa igualdade algo ainda

R
pouco vista em outras manifestações culturais.

a
Figura 3 – Estrutura da Procissão do Çairé

do
Mastro Mastro
aC

Editora CRV - versão para revisão do autor - Proibida a impressão


são i
rev
or

Rufadores

Mordomos Mordomas
ara
ver dit
op

Juiz Moça Moça Troneira Juíza


da Fita Saraipora da Fita
E

Alferes Alferes

Capitão

Fonte: globo.com (2018).


CONQUISTA DO ESPAÇO NA AMAZÔNIA:
Apropriações da Natureza e Representações Sociais 177

Ao final do festejo, na festa de encerramento do Çairé, tem o momento


chamado “Derrubada dos Mastros”. Neste dia, semelhante ao dia da abertura,
os grupos de mordomos e mordomas e demais participantes se auxiliando na
derrubada dos mastros levantados no primeiro dia. Entre relação aos perso-
nagens da procissão do Çairé, os mesmos possuem uma analogia e podem
ser associados em pares, conforme o quadro 1.

r
V
Quadro 1 – Função e Descrição as atividades desenvolvidas na Festa de Çairé

uto
Função dos
Descrição da atividade a ser realizada na Festa de Çairé
Participantes

Tem a função de comandar a procissão do Çairé, como se comandasse


R
a
a Arca de Noé. Em associação, tem-se a Saraipora: é a mulher res-
Capitão
ponsável por conduzir o símbolo do Çairé e durante os momentos das
procissões pelas ruas da vila de Alter do Chão e nos ritos religiosos.

do
Tem a função de carregar a bandeira vermelha do juiz e o outro alferes
aC
transporta a bandeira branca da juíza. As bandeiras do representam
Alferes
o Divino Espírito Santo. Em associação, têm-se Moças das fitas:
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possuem a função de auxiliar a Saraipora na direção do Çairé.


são
Tem o papel de organizar a festa do Çairé. Cada um adota a encargo
Juiz e Juíza por um dos mastros erguidos durante o festejo. A juíza também leva
consigo a coroa do Divino Espírito Santo.
i
rev

Procurador e
Essas pessoas são suplentes próximos do juiz e da juíza.
procuradora
or

Tem como função ajudar no transporte dos mastros e também levar


Mordomos e mordomas varinhas ornamentadas com fitas nos ritos religiosos e ladainhas em
latim e movimentação em torno do mastro.
ara

Fonte: globo.com (2018).


ver dit

Nessa atividade, cada membro do grupo dá uma machada no mastro e


op

vence quem derrubar primeiro e tem-se superstição que pegar um fruto do


mastro atrai boa sorte, por esse motivo. As pessoas se aglomeram no intuito
de conseguir tão objetivo. Com base nas análises empreendidas, percebe-se
que a Festa Çairé apresenta sua singularidade na manifestação de gênero en-
E

fática na apresentação das personagens da procissão do Çairé em que homens


e mulheres despenham os mesmos papeis dentro da festa.
Assim, a questão de gênero aborda discussões no âmbito das Ciências
Sociais por meio do feminismo que foi um movimento que “procurou articu-
lar modos de resistência ao questionamento de “verdades” estabelecidas que
permeiam a produção e a reprodução das relações entre homens e mulheres,
178

de forma hierárquica e desigual” (MEYER, 1996, p. 41). A proposta desse


movimento surgiu como um “grito” para perceber o reconhecimento merecido
pelas mulheres, mas que devido à centralidade no patriarcado era esquecido.
Conforme Silva (2016), a geografia compreendida como ciência de
cunho social estuda o espaço geográfico, ou seja, estuda-se um ambiente em
constante transformação. Em se tratando de geografia, as discussões de gênero
surgiram quando geógrafos, em sua maioria mulheres, perceberam a relevância

r
V
e necessidade de nela incorporar a geografia o componente gênero, sob uma

uto
ótica de destacar a organização social e do espaço relacionado às diferenças
entre homens e mulheres no âmbito social.
Para este tipo de abordagem é necessário um olhar mais minucioso ao dia

R
a dia, ao micro social e aos grupos sociais deixados à margem do poder, pois

a
era tematicamente definido como de menor relevância na análise do espaço
geográfico (SILVA, 2009) e que na atualidade ganham relevância acadêmica

do
para discussão. Dessa forma, gênero faz referência a todas as diferenças entre
homem e mulher que foram alicerçadas de social e cultural e que consequen-
aC
temente propiciam uma relação de dominação/subordinação.

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Considerações finais
são
Os festejos de sairé demonstram respeito pela natureza e o mesmo tempo
i
nos faz perceber as formas como o ser humano ao longo dos anos foi desen-
rev

volvimento até mesmo em atividades cotidianas e culturais dependência em


or

torno do meio ambiente e de seus elementos.


No presente estudo essa afirmação é possível quando observamos que os
rituais realizados durante a festa de Çairé, que a natureza se faz tão presente
ara

na vida do homem quanto o homem dependente dela. A religiosidade, a fé e


a cultura de povos, principalmente amazônicos, são carregadas de símbolos
ver dit

e transbordam significados.
A mulher durante a festa de Çairé tem grande importância não somente
op

durante o festejo. Suas atividades começam bem antes, a partir da ornamen-


tação do espaço, confecção das roupas, a preparação das comidas típicas etc.
Nesse sentido, importante destacar a presença feminina nessa festa de grande
E

expressão a cultura popular desse país e principalmente, a cultura amazônica.


No aspecto de gênero, na Festa de Çairé percebe-se a presença da singu-
laridade no que se refere às relações no espaço entre homens e mulheres, pois
em variados contextos os indivíduos são tratados de acordo com seu gênero,
onde homens recebem papeis de destaque e liderança, já as mulheres funções
secundárias e geralmente invisibilizadas, escondidas nos “bastidores”.
CONQUISTA DO ESPAÇO NA AMAZÔNIA:
Apropriações da Natureza e Representações Sociais 179

REFERÊNCIAS

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ções: o Çairé em múltiplas versões. sociol. antropol. Rio de Janeiro, v. 6,
n. 1, p. 237-259, abr. 2016. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/sant/
v6n1/2236-7527-sant-06-01-0237.pdf>. Acesso em: 11 set. 2018.

r
V
uto
CASSIRER, Ernest. Ensaio Sobre o Homem: Introdução a uma Filosofia da
Cultura Humana. Trad. Tomás Rosa Bueno. São Paulo: Martins Fontes, 1994.

DIEGUES, Antonio Carlos Sant’Ana. O Mito Moderno da Natureza Into-


R
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cada. São Paulo. NUPAUB/USP, 1993.

do
LAVINAS, Lena. Gênero, Cidadania e Adolescência. In: MADEIRA, Felícia
Reicher (Org.). Quem Mandou Nascer Mulher? Rio de Janeiro: Record/
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Rosa dos Tempos, 1997. p. 11-43.
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LENCIONI, Sandra. Região e Geografia. São Paulo; EDUSP, 2003.

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Pará. 1. ed. Belém: GAPTA/UFPA, 2013.
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MEYER, Dagmar Estermann. Do Poder ao Gênero: uma articulação teórico-


-analítica. In.: LOPES, Marta L.; MEYER, Dagmar E.; WALDOW, Vera
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(Orgs.). Gênero e Saúde. Porto Alegre: Artes Médicas, 1996.

SARAIVA, Adriano Lopes. Festejos e Religiosidade Popular: O Festejar


ara

em Comunidades Ribeirinhas de Porto Velho-RO. Porto Velho, Rondônia.


ver dit

Dissertação (Mestrado em Desenvolvimento Regional e Meio Ambiente),


Universidade Federal de Rondônia – UNIR, 2007.
op

SILVA, Joseli Maria. Geografias Subversivas: Discursos sobre Espaço,


Gênero e Sexualidades. Ponta Grossa, PR: TODAPALAVRA, 2009.
E

SILVA, Susana Maria Veleda da. Geografia e Gênero/Geografia Feminista:


O que é Isto? Disponível em: <http://seer.ufrgs.br/index.php/bgg/article/
view/38385/25688>. Acesso em: 20 jun. 2016.

TUAN, Yi-fu. Espaço e Lugar: A Perspectiva da Experiência. Tradução:


Lívia de Oliveira. São Paulo, DIFEL, 1983.
E
ver dit
sã or op
ara aC
rev
i são R V
do
a uto
r
Editora CRV - versão para revisão do autor - Proibida a impressão
CAPÍTULO XIII

UMA GESTÃO PAITER


SURUI / PAITEREY KARAH
ESTABELECENDO O BEM VIVER

r
V
Paulo César Barros Pereira

uto
Agna Maria de Souza Coelho
José Luiz Gondim dos Santos
Bárbara Elis Nascimento Silva
R Gasodá Suruí

a
Introdução
do
aC
Quando adentramos ao mundo indígena, nos deparamos com os imensos
Editora CRV - versão para revisão do autor - Proibida a impressão

são
conflitos existentes nas terras indígenas em todo o Brasil. Muitos povos têm
se levantado em buscar de soluções para seus problemas, seja no âmbito de
degradação ambiental ou cultural. Neste sentido, este estudo tem por objetivo
fazer uma breve discussão do modelo de governança territorial do povo Paiter
i

Suruí, através de seu Plano de Gestão Etnoambiental da Terra Indígena Sete


rev

de Setembro com projeção para 50 anos, que visa entre outros, o combate da
degradação de suas riquezas naturais e culturais numa reação coletiva.
or

Esta foi uma forma inovadora que os Paiterey encontraram para minimizar
os conflitos em seu território, estabelecendo perspectivas para o futuro, diante
a estratégia de preservação dos valores culturais, garantia de seus territórios
ara

e implementação de novos conhecimentos através de uma gestão participa-


ver dit

tiva, na qual a qualificação e capacitação de sua população para atuar frente


às questões que envolvem seu povo e seu território, se tornou um modelo
organizacional de fortalecimento identitário, visando o progresso, sem des-
op

valorizar o que já foi construído ao longo de sua história e preservando assim


todos seus valores étnicos culturais.
Para este estudo entendemos a fenomenologia como melhor Método a ser
E

aplicado, uma vez que ela não se interessa imediatamente pelos objetos ou pelos
fatos, mas pelos sentidos que neles podem ser percebidos, de valorar as essências
ou sentidos dos objetos. Para a concretização deste estudo aplicamos entrevistas
semiestruturadas na Associação Metareilá. Recorremos à análise documental do
Plano de Gestão dos Paiter e apoiamo-nos numa revisão bibliográfica de cunho
geográfico. Também colhemos depoimentos de moradores locais e entrevistas
com elaboradores do Plano de Gestão, encontrados nesta Terra Indígena (TI).
182

As Terras Indígenas no Brasil

Em nações colonizadas no período das grandes navegações a presença


dos povos nativos foi em sua maioria ignorada. A ocupação pelo homem
branco impôs costumes e língua europeia. Os nativos travaram lutas por
anos na tentativa de defender seu espaço, sua etnia, sua história e sua
língua. No Brasil, os povos nativos caracterizados como índios foram

r
V
resistentes à colonização forçada, baseada na imposição e apropriação da

uto
terra pelos portugueses. Dados da Fundação Nacional do Índio – FUNAI
apontam que desde 1500 a 1970 a população indígena presente em solo
brasileiro passou por decréscimo e extinção completa de étnicas indígenas.

R
“O desaparecimento dos povos indígenas passou a ser visto como uma

a
contingência histórica, algo a ser lamentado, porém inevitável” (BRASIL/
FUNAI, 2018, p. 1).

do
O contato com o homem europeu trouxe a essas populações muitas
aC
doenças, o que dizimou ao ponto de algumas etnias desaparecerem. Além

Editora CRV - versão para revisão do autor - Proibida a impressão


disso, o trabalho forçado concomitante a fraca alimentação os conduzia a
são
exaustão, o que refletia nos quadros clínicos de saúde. A Figura 1, da Funai
possibilita analisar o decréscimo da população indígena de 1500 a 2010.

Figura 1 – Demografia da população indígena do Brasil 1500 a 2010


i
rev
or
ara
ver dit
op
E

Fonte: Brasil/Funai (2018).

As histórias de luta da população indígena aos poucos ganham delineares


diferentes, com a demarcação de terras por eles ocupada e a preservação de
suas entidades e população. A Lei N° 6001 de 1973 estabelece o Estatuto do
Índio e defende que a essas populações “se estende a proteção das leis do
CONQUISTA DO ESPAÇO NA AMAZÔNIA:
Apropriações da Natureza e Representações Sociais 183

País, nos mesmos termos em que se aplicam aos demais brasileiros, resguar-
dados os usos, costumes e tradições indígenas” (BRASIL, 1973). Para tanto
a demarcação de terras indígenas foi de suma importância, regulamentada
através do Decreto n.º 1775 de 08 de Janeiro de 1996, com a demarcação
de terras classificadas nas seguintes modalidades:

Quadro 1 – Modalidade e Característica das Terras Indígenas Segundo a Funai

r
V
uto
Terras Indígenas São as terras indígenas de que trata o art. 231 da Constituição Fe-
Tradicionalmente deral de 1988, direito originário dos povos indígenas, cujo processo
Ocupadas de demarcação é disciplinado pelo Decreto n.º 1775/96.

R
a
São terras doadas por terceiros, adquiridas ou desapropriadas pela
União, que se destinam à posse permanente dos povos indígenas.

Reservas Indígenas
do
São terras que também pertencem ao patrimônio da União, mas
não se confundem com as terras de ocupação tradicional. Existem
terras indígenas, no entanto, que foram reservadas pelos estados-
aC
-membros, principalmente durante a primeira metade do século XX,
Editora CRV - versão para revisão do autor - Proibida a impressão

que são reconhecidas como de ocupação tradicional.


são
São as terras de propriedade das comunidades indígenas, havidas,
Terras Dominicais por qualquer das formas de aquisição do domínio, nos termos da
legislação civil.
i
rev

São áreas interditadas pela Funai para proteção dos povos e grupos
or

indígenas isolados, com o estabelecimento de restrição de ingresso


Interditadas e trânsito de terceiros na área. A interdição da área pode ser reali-
zada concomitantemente ou não com o processo de demarcação,
ara

disciplinado pelo Decreto n.º 1775/96.


ver dit

Fonte: Brasil/Funai (2018).

Cabe ainda mencionar que em qualquer tempo e espaço territorial no


op

Brasil a União pode estabelecer áreas destinadas à posse e ocupação indí-


gena “[...] onde possam viver e obter meios de subsistência, com direito ao
usufruto e utilização das riquezas naturais, garantindo-se as condições de
E

sua reprodução física e cultural” (FUNAI, 2018). No Brasil 896.917 pessoas


são classificadas e/ou se autodeclaram indígenas, estando dentro ou fora de
terras demarcadas pela união. A região com maior número de populações
indígenas, bem como, áreas destinadas a essa população é a região norte
do Brasil, seguida pela região nordeste. Tais dados podem ser observados
no Quadro 2.
184

Quadro 2 – População Indígena no Brasil: Regiões Norte e Nordeste

População indígena
Grandes
regiões e Localização do domicílio Percentual
unidades da
Total das terras
federação Terras Fora de terras
indígenas (%)
indígenas indígenas

Brasil 896.917 517.383 379.534 57,7

r
V
Norte 342.836 251.891 90.945 73,5

uto
Rondônia 13.076 9.217 3.859 70,5

Acre 17.578 13.308 4.270 75,7

R
a
Amazonas 183.514 129.529 53.985 70,6

Roraima 55.922 46.505 9.417 83,2

do
Pará 51.217 35.816 15.401 69,9
aC
Amapá 7.411 5.956 1.455 80,4

Editora CRV - versão para revisão do autor - Proibida a impressão


Tocantins

Nordeste
14.118

232.739
são11.560

106.142
2.558

126.597
81,9

45,6

Maranhão 38.831 29.621 9.210 76,3


i
Piauí 2.944 – 2.944 –
rev

Ceará 20.697 2.988 17.709 14,4


or

Rio Grande
2.597 – 2.597 –
do Norte

Paraíba 25.043 18.296 6.747 73,1


ara

Pernambuco 60.995 31.836 29.159 52,2


ver dit

Alagoas 16.291 6.268 10.023 38,5


op

Sergipe 5.221 316 4.905 6,1

Bahia 60.120 16.817 43.303 28

Fonte: Brasil/Funai (2018).


E

As regiões Centro-Oeste, Sudeste e Sul (Quadro 3) respectivamente, pos-


suem números bem inferiores quanto comparadas principalmente à região norte
do Brasil, tanto em relação a área destinada a ocupação, quanto a população
indígena. Nas regiões sudeste e sul esses dados afirmam, ao mesmo tempo
em que faz compreender como o processo de urbanização e industrialização
age sobre o espaço natural.
CONQUISTA DO ESPAÇO NA AMAZÔNIA:
Apropriações da Natureza e Representações Sociais 185

Quadro 3 – População Indígena no Brasil: Regiões Centro-Oeste, Sudeste e Sul

População indígena
Grandes
regiões e
Localização do domicílio Percentual
unidades da
federação Total das terras
Terras Fora de terras indígenas (%)
indígenas indígenas

r
V
Sudeste 99.137 15.904 83.233 16

uto
Minas Gerais 31.677 9.682 21.995 30,6

Espírito Santo 9.585 3.005 6.580 31,4

R
a
Rio de Janeiro 15.894 450 15.444 2,8

São Paulo

do
41.981 2.767 39.214 6,6
aC
Sul 78.773 39.427 39.346 50,1
Editora CRV - versão para revisão do autor - Proibida a impressão

Paraná 26.559 11.934 14.625 44,9


são
Santa Catarina 18.213 9.227 8.986 50,7

Rio Grande
31.001 18.266 15.735 53,7
i

do Sul
rev

Centro-oeste 143.432 104.019 39.413 72,5


or

Mato Grosso 77.025 61.158 15.867 79,4

Mato Grosso
51.696 42.525 9.171 82,3
ara

do Sul

Goiás 8.583 336 8.247 3,9


ver dit

Distrito
6.128 – 6.128 –
Federal
op

Fonte: Brasil/Funai (2018)

Levando em consideração a Região Norte que em meio às outras uni-


E

dades federativas é a que apresenta o maior número de população indígena


do país. O local escolhido para estudo é afunilado ainda mais, no estado de
Rondônia, terra Paiter Surui. O estado mencionado está entre os três melho-
res no que tange a economia, e o avanço da cadeia produtiva sobre áreas de
floresta é preocupante, principalmente os conflitos resultantes desse processo
envolvendo indígenas e não indígenas.
186

O plano de ação

Ao discutir o plano de ação dos Suruí é necessário antecipadamente com-


preender a relação e concepção que eles têm com seu território. Percebe-se que
este universo é ontológico, ou seja, eles precisam desta relação para ser quem
são e para a permanecia de uma identidade cultural construída a centenas de
anos. Sobre este vínculo de pertencimento Almeida Silva (2010) considera:

r
V
uto
[...] a territorialidade e a espacialidade configuram-se como expressões
que estão imbricadas da ideia de pertencimento cultural, sendo parte in-
separável dessa interpretação, porque carrega a compreensão de relação
espacial. Pelo vínculo de pertencimento, essa conexão com o espaço é

R
traduzida pelos sentimentos e a valoração que se opera sobre esse, de

a
modo que é possível pensar o espaço de ação como um dos elementos que
contribuem diretamente na construção cultural, identidade, pertencimento

do
e enraizamento de um determinado coletivo. No caso dos indígenas, esse
constructo está diretamente conectado às experiências de ancestralidade e
aC
de cosmogonialidade, nas quais depositam a confiança nos espíritos e na

Editora CRV - versão para revisão do autor - Proibida a impressão


relação intrínseca com o meio, pois os divíduos se corporificam, presen-
são
tificam, representam e são formas que possibilitam a operacionalização
desse constructo (ALMEIDA SILVA, 2010, p. 83-84).

Diante dessa narrativa, notamos o enraizamento que este povo tem com
i
seu território. Neste contesto a expressão cultural é ponto intenso e inseparável.
rev

Contribuindo sobre a ligação de pertencimento do homem com a terra, Dardel


(2011, p. 48) analisa que, “[...] a ligação do homem com a terra recebeu, na
or

atmosfera espaço-temporal do mundo mágico-mítico, um sentido essencial-


mente qualitativo [...]. Da terra vêm às forças que atacam ou protegem o
ara

homem, que determinam sua existência social e seu próprio comportamento,


que se misturam com sua vida orgânica e psíquica [...]”.
ver dit

É inseparável a ligação do homem com seu espaço, imbricados numa


relação de pertencimento. Por isso, quando foi pensado o plano de ação para
op

valorizar a cultura Suruí, os avanços só foram alcançados devido ao uso de


uma metodologia educativa capaz de promover a cultura da paz entre indígenas
e não indígenas. Pode-se observar nos trechos da entrevista que o Presidente
da Associação Metareilá, Almir Suruí concedeu a Ederson Lauri Leandro, em
E

10 de setembro de 2010:

[...] A replicação da metodologia é um ponto muito positivo porque for-


talece o que a gente acredita – povo Paiter Suruí/PAITEREY KARAH
– isso fortalece muito porque também os Paiter-Surui querem no futuro
que essa gestão do território indígenas seja reconhecida pelo Governo, e
se serão reconhecidos pelo governo nós queremos que as políticas públicas
CONQUISTA DO ESPAÇO NA AMAZÔNIA:
Apropriações da Natureza e Representações Sociais 187

sustentem essa gestão. Em outras palavras, daqui a 20/30 anos ou agora


mesmo, nós queremos que o governo financie esses planos dentro das
terras indígenas, para fazer esses projetos para que os povos indígenas
tenham qualidade de vida. É muito bom que essas experiências sejam le-
vadas para outros lugares, tendo essa metodologia que nós criamos junto
com a Kanindé, em várias terras indígenas nós teremos várias pessoas que
vão estar lutando e falando do mesmo jeito[...] (ALMIR SURUÍ, 2010).

r
V
Em suma, este Plano de Gestão tem como objetivo principal implementar

uto
o Programa Paiterey Karah, para a gestão ambiental com o estabelecimento de
procedimentos e diretrizes para o encaminhamento das demandas sociocultu-
rais, de forma a permitir condições para o uso responsável dos recursos naturais
R
com a finalidade de gerar os benefícios necessários, a valorização da cultura e

a
a conservação do meio ambiente, conforme outro trecho da entrevista citada:

do
[...] Se o Plano/diagnóstico foi construído com as nossas ideias, com a
nossa participação, então, ela tem que ser um resultado do nosso trabalho.
aC
E nós temos que ter protagonismo em relação a isso. Já tem uns 10 anos
Editora CRV - versão para revisão do autor - Proibida a impressão

que estamos construindo esse plano de 50 anos dos Paiter-Surui. Ele foi
são
importante para a conquista de alguns momentos da luta dos Paiter-Surui,
uma dessas lutas é o Paiter-Suruí sair fora dos madeireiros ilegais e hoje
também temos alguns parceiros potencias que estão consolidados ao grupo
de parceiros dos Paiter Suruí, como USAID, GOOGLE, KANINDÉ, ACT,
i

IDESAN, FLOREST TREND, FUNBIO. Então, o plano pós diagnóstico,


rev

orientou para que pudesse construir essa relação, de diferentes parceiros


(Governos e ONGs) que têm diferentes ideias, isso é uma conquista (AL-
or

MIR SURUÍ, 2010).

Entretanto, sabe-se que ainda existem indígenas que cedem às pressões


ara

de determinados grupos que comprometem os planejamentos desta causa para


que essas conquistas sejam efetivadas. Importante entender como essa situação
ver dit

ocorre nas comunidades indígenas. Entretanto é necessário mencionar como


algumas étnicas indígenas estão usando produtos do chamado “desenvolvimento
op

tecnológico” para proteger suas áreas e ajudar órgãos governamentais no com-


bate às praticas predatórias sobre a floresta, como é o caso da etnia Paiter Suruí.
O cenário do momento das populações indígenas aponta os Paiter Suruí
como um dos primeiros a estabelecerem um processo de etnodesenvolvimento
E

sustentável, através da criação do Plano de Gestão de 50 anos, despertando


interesse de outros povos indígenas, de comunidades tradicionais no Brasil
e de outros países da América Latina. Nessa perspectiva ocorreram muitas
articulações e parcerias, onde foi elaborado um Diagnóstico Agroambiental
Participativo de forma autônoma e sustentável. Esse feito concedeu a eles um
modelo a ser seguido por outros povos.
188

Elaborado a partir de 2000 pela Associação Metareilá do Povo Indígena


Suruí em parceria com a Kanindé Associação de Defesa Etnoambiental, o
Plano de Gestão Etnoambiental da TISS/TIPG, ou mais conhecido como
Plano de 50 anos Paiter Suruí tem provocado uma série de mudanças de
estabilidade econômica, para que sejam ambientalmente sustentáveis (Ka-
nindé & Metareilá, 2009: 25), ou seja, “a gestão do território Paiter Suruí
é realizada de forma participativa e os projetos sustentáveis são exemplos

r
V
a ser seguido” [...]. Por essa conjectura entende-se que é possível elaborar
plano de desenvolvimento econômico conscientemente e sustentavelmente

uto
em um determinado território indígena (CARDOZO, 2010, p. 8).

Como modelo que são por sua gestão, os Suruí, autodenominados Paiter

R
(Povo Verdadeiro), população de aproximadamente 1,2 mil pessoas, do tronco

a
linguístico Tupi Mondé, vivem na Terra Indígena 7 de Setembro, território
fronteiriço de aproximadamente 248 mil 147 hectares, sudeste de Rondônia

do
e noroeste de Mato Grosso. Sociedade organizada em clãs: Kaban, Gãmeb,
Gabir, Makor, que pela união e coletividade geram indicadores positivos ao
aC
fazer valer a lei brasileira.

Editora CRV - versão para revisão do autor - Proibida a impressão


são
Eles elaboraram ações que minimizaram seus índices negativos com o
escopo de promover o bem viver e o uso consciente do meio ambiente, numa
perspectiva da utilização dos recursos naturais renováveis. A preocupação
com o uso sustentável dos recursos naturais é evidente, tanto pelo dialogo
i
travado com seus representante e pesquisadores da etnia Paiter Suruí, como
rev

pelos relatos de outros pesquisadores que divulgam suas pesquisas.


Por conseguinte, o Plano de gestão, tem proporcionado um controle
or

modelo sobre as Terras Indígenas (TIs), e a preservação do modus vivendi de


seu povo, com paradigmas inovadores, capazes de estimular a sustentabili-
dade socioambiental e promover a qualidade de vida perdida, valorizando e
ara

resgatando o conhecimento tradicional de seu povo (SURUÍ, 2013).


ver dit

Também existe a preocupação sobre a demarcação da Terra Indígena.


O fato é que é necessário evitar que antigas questões retornem, como a invasão
de terras indígenas por parte do homem não indígena. Também, há questões
op

internas que precisam ser bem trabalhadas. Para isso, os indígenas realizam
reuniões periódicas com seu povo para discutir e averiguar ocorrências de
ações que podem fragilizar o esperado. Mas, 2019 inícia com invazam de
E

terras indiginas no Estado de Rondônia não Suruí.


As ações são reguladas, contínuas, monitoradas e subdivididas em: cate-
gorias, atividade e indicadores (Quadro 4), articuladas em 03 etapas: Reuniões
internas com os Paiter Suruí; entre lideranças outras instituições e trabalho de
campo, visitas e reuniões comunitárias nas aldeias Paiter-Suruí. No quadro
abaixo podemos ver as ações distribuídas, e como regulam cada categoria.
CONQUISTA DO ESPAÇO NA AMAZÔNIA:
Apropriações da Natureza e Representações Sociais 189

Quadro 4 – Planejamento dos Paiter-Suruí para os próximos 50 anos

Categorias Atividade Indicadores

• Melhoria na taxa de nascimento;


• Melhoria dos indicadores mortalidade;
Sócio Planejamento
• Interferência no cenário atual de migração para a
demográfico Familiar
cidade, com a criação de condições de desenvol-
vimento sociocultural na TI.

r
V
• Número de aposentadorias e benefícios sociais
concedidos após o início do projeto;

uto
Formar indígenas • Melhoria na qualidade do ensino indígena e das
na área de saúde escolas de ensino fundamental ofertado para os
em todos os níveis Paiter-Surui;
Etnocidadania educacionais/ • Escolas que oferecem ensino médio e superior
Aposentar idosos/ dentro da TI;
R
a
Fortalecer medicina • Postos de saúde comunitárias funcionando;
tradicional. • Nº de casas com banheiro básico completo e com
acesso à água tratada;

do
• Nº de aldeias com coleta de lixo.

Proteger limites TI/


aC
Manejar os recursos • Reavivar marcos dos limites da TI Sete de Setembro;
naturais e dos roça- • Realizar expedições de fiscalização dos recursos
Editora CRV - versão para revisão do autor - Proibida a impressão

dos/Formar Agentes naturais da TI;


são
Ambientais Indígena/ • Contratar indígenas para trabalho de Fiscalização
Formar indígenas nas ambiental da TI;
Conservação áreas ambientais no • Programa Conservação Etnoambiental da TI;
e Proteção da curso superior/ Re- • Criar Novas aldeias e áreas de reflorestamento;
florestar área desma-
biodiversidade tada/ Obter roçados • Diminuir a exploração ilegal de madeira;
da TI • Adotar medidas de uso sustentável dos recursos
i

sustentáveis/ Implan-
tar Sistema agroflo- naturais da TI;
rev

restais/ Recuperar • Preparar estruturas para o turismo;


sementes indígenas/ • Aumentar número de turistas na terra indígena;
or

Desenvolver ecotu- • Implementar Projeto de carbono;


rismo/Implementar • Manejar recursos hídricos.
Serviços Ambientais

• Tomada de decisões através de representantes de


ara

clãs a partir da demanda da comunidade;


• Realizar reuniões periódicas entre os Diretores de
ver dit

Associações Indígenas e os chefes dos clãs para


Fortalecer Sistema
discutir, avaliar e monitorar o andamento do projeto;
Governança de Governança
• Criar espaço para reclamações;
Tradicional
op

• Realizar reuniões gerais para disseminação de in-


formações e resultados;
• Realizar reuniões quando solicitado entre indígenas
e entre parceiros quando necessário.
E

• Realizar de festas e ritos tradicionais nas 110 aldeias;


• Construir casas tradicionais nas aldeias;
• Valorizar a produção de produtos locais para co-
mércio (agrícolas, artesanatos, etc.);
Aspectos
Valorizar cultura • Realizar pesquisas etnográficas realizadas para a
Culturais
documentar a cultura e história do povo Paiter-Surui;
• Realizar e divulgar exposições sobre a cultura;
• Valorizar as práticas tradicionais de cura e promo-
ção à saúde.

Fonte: Metareilá, 2010.


190

Acrescente-se ainda que um dos diferenciais deste Plano de Gestão


esta pautado no Protocolo de Kyoto, um tratado internacional criado no
Japão/97, que dispõe sobre a redução da emissão de gases que provocam o
efeito estufa, um dos impactos causados pelo aquecimento global. O Pro-
jeto de Carbono Florestal Suruí (PCFS) é o primeiro projeto de Redução
de emissões decorrentes do desmatamento e da degradação de florestas
(REDD+) proposto em Terras Indígenas no Brasil e inserido na economia

r
V
verde. Mais de 85% desta população tem sido alcançada pelos projetos

uto
ofertados no Plano conforme mostra o Gráfico 1.

Gráfico 1 – Indígenas alcançados pelos projetos

R
a
Indígenas ainda não
alcançados nos projetos

do
aC

Editora CRV - versão para revisão do autor - Proibida a impressão


são i Indígenas alcançados
nos projetos

Fonte: Agna, 2018.


rev

As ações do Plano vão além e visa também combater o envolvimento


or

de indígenas em práticas ilegais. A grande pressão no entorno de seu terri-


tório gera a exaustão dos recursos naturais e acelerada degradação do meio
ara

ambiente além do contato inter étnico que coloca em risco hábitos antigos de
sobrevivência e a escassez de recursos humanos desvalorizando o material
ver dit

e o imaterial do povo conforme vemos na fala de Almeida Silva (2012):


op

Mesmo as TIs demarcadas e homologadas recebem pressões de toda ordem,


tais como: invasão de posseiros, madeireiros, garimpeiros, fazendeiros,
sitiantes, caçadores, pescadores; impactos diretos e indiretos de usinas de
pequeno, médio e grande porte produtoras de energia, estradas; poluição e
E

contaminação dos cursos d’água; cidades e vilas construídas próximas às


TIs, entre outros, de modo que inúmeros problemas ecoam internamente
– drogas, álcool, delitos e outras questões que promovem substanciais
transformações no modo de vida (ALMEIDA SILVA, 2012, p. 11).

Diante dos fatos foi realizado entrevistas através de aplicação de ques-


tionário a um total de 100 entrevistados sobre a questão citada anteriormente.
CONQUISTA DO ESPAÇO NA AMAZÔNIA:
Apropriações da Natureza e Representações Sociais 191

Os indicadores apontam que 30% da população está envolvida em práticas


ilegais e é equivalente àqueles que tem resistência na execução do Plano
de gestão (Gráfico 2), devido ao uso controlado, organizado e planejado
do Território. Diante do gráfico revela-se que dos que estão envolvidos em
práticas ilegais e que resistente ao Plano de Gestão, 70% são envolvidos
com madeireiros e 30 % com garimpeiros (Gráfico 3).

r
V
Gráfico 2 – Práticas ilegais e resistentes ao Plano de Gestão

uto
Envolvidos com
práticas ilegais
e resistentes
ao Plano
R
a
do
Não envolvidos
aC
com práticas ilegais
Editora CRV - versão para revisão do autor - Proibida a impressão

são
Fonte: Agna, 2018.

Gráfico 3 – Envolvidos com ilegalidade


i
rev
or

Envolvidos com
garimpeiros
ara

Envolvidos
com madeireiros
ver dit
op

Fonte: Agna, 2018.


E

Essas práticas acarretam perigo e preocupação e mostra o poder de con-


tribuição do Plano para beneficiar problemáticas como estas. Ademais cabe
ainda salientar a importância do uso de modernas tecnologias pelos indígenas,
o que colabora para a quebra de paradigmas impostas a essas populações pelos
não indígenas, que defendem o menor uso possível de objetos tecnológicos
dentro das aldeias. Nesse contexto cabe ainda uma reflexão: os indígenas foram
192

apresentados a esses instrumentos através do contato com outros grupos ou


tais meios já existiam dentro das comunidades?
Nesse contexto, é fato que as populações tradicionais como um todo
podem e devem ser inseridos no processo de globalização, se assim quiserem.
Não cabe a comunidade cientifica ou a sociedade não indígena, por exemplo,
questionar o uso de tais instrumentos. Ademais, diante do contexto, apresen-
tado torna evidentes os pontos positivos e, portanto, passível ao manuseio.

r
V
uto
Considerações finais

O Plano de gestão de 50 anos é um modelo a ser seguido, representado

R
a união e a coletividade de um povo. Para garantir a implementação e o

a
êxito do Plano é necessário, o diálogo na comunidade, seguir promovendo
oficinas, levar capacitação para o real entendimento daqueles que cedem

do
às pressões externas, manter as visitas que precisam ser realizadas junto
aC
ao povo Paiterey Karah periodicamente, pois tem que haver uma proteção
da Terra Indígena Sete de Setembro constante, pois a mesma encontra-se

Editora CRV - versão para revisão do autor - Proibida a impressão


são
em constante ameaças de invasões, o desmatamento e a extração ilegal
da madeira.
Os Paiter Suruí conseguiram parcerias significativas, entre elas: a
Associação de Defesa Etnoambiental Kanindé; o Forest Trends e o Fundo
i
rev

Brasileiro para a Biodiversidade (Funbio). Portanto, conclui-se que os


Paiter Suruí mediante a sua forma de governança decidiram vender cré-
or

ditos de carbono, mas enfrentam uma divisão interna dos indígenas que
não acreditam no projeto. Uma questão cultural? Uma questão de teimo-
sia? Religiosidade?
ara

No que se referem aos não indígenas, estes podem contribuir através


ver dit

do apoio e das parcerias, respeitando a cultura e o modo de vida do indí-


gena Paiter Suruí, não interferindo e a não realizar tentativas de influenciar
op

o modo de vida indígena de forma que venha desvalorizar sua história,


através de preconceito.
Importante, compreender que o território indígena tem representa-
tividade singular para este povo, bem como reconhecer que os projetos
E

desenvolvidos nas terras indígenas são para sua sobrevivência, resgate de


seus costumes e de sua cultura. É através dele que os indígenas conseguem
gerar fonte de renda trazendo melhoria na qualidade de vida para os Pai-
terey Karah e consequentemente promover a paz para as futuras gerações
do povo Paiter Suruí/Paiterey Karah.
CONQUISTA DO ESPAÇO NA AMAZÔNIA:
Apropriações da Natureza e Representações Sociais 193

REFERÊNCIAS

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Amazônia, a especificidade de Rondônia: algumas considerações. In: AMA-
RAL, José Januário de Oliveira; LEANDRO, Éderson L. (Orgs.). Amazônia
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r
V
uto
ALMEIDA SILVA, Adnilson. A questão indígena em Rondônia e os projetos de
desenvolvimento na Amazônia Ocidental. Ciência Geográfica, v. XVI, p. 8-14,
Bauru, 2012. Disponível em: <http://www.agbbauru.org.br/publicacoes/revista/ano-
R
XVI_1/agb_xvi1_versao_internet/AGB_abr2012_02.pdf>. Acesso em: maio 2017.

a
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do
em: <http://www.funai.gov.br/index.php/indios-no-brasil/terras-indigenas>.
Acesso em: 11 set. 2018.
aC
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______. Lei nº 6.001, de 19 de Dezembro de 1973. Dispõe sobre o estatuto


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do índio. Disponível em: <http://www2.camara.leg.br/legin/fed/lei/1970-1979/
lei-6001-19-dezembro-1973-376325-publicacaooriginal-1-pl.html>.

CARDOZO, Ivasnete Bandeira. Metodologia de diagnóstico etnoambien-


i

tal participativo e etnozoneamento em terras indígenas. Brasília: ACT


rev

Brasil, 2010.
or

DARDEL, Eric. O Homem e a Terra: natureza da realidade geográfica. São


Paulo: Perspectiva, 2011.
ara

GUIMARÃES, Aquiles Côrtes. Para uma eidética do Direito. Cadernos EMAF,


ver dit

Fenomenologia e Direito, Rio de Janeiro, v. 1, n. 1, p. 15-31, abr./set. 2008.


op

LEANDRO, Ederson Lauri. Ecoturismo indígena e gestão territorial,


contribuições participativas da terra indígena Paiterey Karah (Sete de
Setembro), Dissertação de Mestrado em Geografia, PPGG/UNIR, Porto Ve-
lho. 2011. 134 p.
E

SURUÍ, Chicoepab. Reflorestamento da Terra Indígena Sete de Setembro:


uma mudança da percepção e da conduta do povo Paiter Suruí de Rondônia.
Brasília. Dissertação de Mestrado (Mestrado Profissional) – Programa de
Mestrado Profissional de Desenvolvimento Sustentável, Universidade de
Brasília. 2013.
E
ver dit
sã or op
ara aC
rev
i são R V
do
a uto
r
Editora CRV - versão para revisão do autor - Proibida a impressão
CAPÍTULO XIV

PRESERVAÇÃO DOS TERRITÓRIOS


INDÍGENAS NA AMAZÔNIA:
o enfrentamento contra as ameaças das tradições

r
do povo Paiter suruí em Cacoal Rondônia

V
uto
Paulo César Barros Pereira

R
a
Introdução

do
O universo indígena brasileiro é cheio de imensos conflitos sociais. Desde
o contato com o não indígena, muitos povos tiveram perdas incalculáveis. Mas
aC
nos últimos anos alguns destes povos têm buscado novas formas de melhorar seu
Editora CRV - versão para revisão do autor - Proibida a impressão

bem viver, defender seu território e preservar sua herança cultural. A exemplo
são
disso está o povo Paiter Suruí, residente na terra Sete de Setembro no município
de Cacoal, em Rondônia, fazendo divisa com o Estado do Mato Grosso.
Esse povo criou um Plano de Gestão Etnoambiental de seu território como
forma de monitorar as ameaças às florestas e divulgar suas riquezas naturais e
i
rev

culturais. Nesta perspectiva, entra os novos aparatos tecnológicos como ferra-


menta poderosa para o auxílio desses objetivos. Uma forma inovadora que os
or

Paiter encontraram para minimizar os conflitos em seu território, estabelecendo


perspectivas para o futuro, diante de um plano de gestão ambiental.
Esses modernos aparatos surgem como oportunidade não somente de res-
ara

significação ancestral e histórica, mas, de autonomia indígena, em um cenário


multifacetado e complexo. Esse plano se tornou um modelo de fortalecimento
ver dit

identitário, não só para eles, mas, para outros povos que os vêem como referência
quanto a gestão territorial, valorizando assim todos seus valores étnicos culturais.
op

O objetivo deste estudo é traçar uma breve abordagem sobre o modelo


de governança territorial do povo Paiter Suruí, através de seu Plano de Gestão
Etnoambiental da Terra Indígena Sete de Setembro, tendo como ferramenta
E

poderosa o uso das novas tecnologias.


Como ainda não é comum análises sobre essa temática, trazer esta discussão
representa uma oportunidade de avaliar quais os resultados gerados dentro de
um povo indígena que adota este modelo como estratégia de divulgação de sua
causa no sentido de sua perpetuação cultural. Para a concretização deste estudo
recorremos à análise documental do Plano de Gestão dos Paiter e apoiamo-nos
numa revisão bibliográfica de cunho geográfico.
196

O território e suas relações

Quando pensamos em território pode vir à cabeça a ideia de uma área


delimitada sob um monopólio, seja de um animal, pessoa, grupo, organização,
de uma instituição, enfim, um local onde ocorrem relações de poder. Essa ideia
nos remete à Geografia que, tradicionalmente usa esse conceito para estudar as
relações entre espaço e poder desenvolvidas pelos Estados.

r
Assim, ao nos debruçarmos sobre a concepção de território, nos deparamos

V
com vários conceitos. Em se tratando de território indígena, torna-se tarefa com-

uto
plexa, pois, conforme aborda Almeida Silva (2015, p. 30), “[...] tais temáticas
envolvem não apenas os aspectos físicos, mas, sobretudo, devido aos aspectos
simbólicos e psíquicos composto pelos valores, sentimentos, tramas, apego às

R
a
tradições e as relações intrínsecas de cada povo com seu habitat”.
Isto porque, segundo o autor, até momento do contato com o não indígena,
o sentido de terra e território podia ser explicado através da cultura, através de

do
uma composição sensorial e psíquica através da compreensão da subjetividade
aC
humana, expressada através da crença, no mito, na cosmologia, nos valores do
grupo, nas materialização das ações humanas das formas culturais e artísticas,

Editora CRV - versão para revisão do autor - Proibida a impressão


são
pelo cotidiano vivenciado e também pelo arranjo político exercido por seus
membros.
Contudo hoje esse conceito teve uma evolução adquirindo novos sentidos
em que as representações cosmológicas referente à cultura indígena, passa, a
i
Terra ter valor de troca. Partindo deste princípio, neste estudo optamos por en-
rev

tender o território como o resultado de processos concomitantes de dominação


e controle (jurídico-econômico-social) ou apropriação (cultural-simbólica) do
or

espaço físico por agentes não-estatais.


Também corrobora com esse conceito Haesbaert e Machado (2005, p. 12),
ara

quando atesta que esses processos ocorrem tanto de “[...] cima para baixo, a
partir da ação intencional do Estado ou das grandes empresas” quanto de “baixo
ver dit

para cima, através das práticas e da significação do espaço efetivamente vivido


e representado pelas comunidades”, e que sempre são coincidentes em seus
op

limites e propósitos.
Isso nos lembra o conceito de Raffestin (1993), que concebe o Território
como cena do poder e lugar de todas as relações. Já Davim (2005, p. 7) concebe
um território apreendido e transformado pela cultura humana pois segundo ele,
E

seria através desta compreensão espacial que o homem estabeleceria sua iden-
tidade, atividades, relações, estratégias de sobrevivência, ação de dominação
e exercício de poder.
Neste sentido, temos em Santos (1978), o homem como um ser produtor
que cria técnicas de sua própria sobrevivência, e o capital agiria aí difundindo seu
poder de dominação e disseminando suas ideologias. Para, além disso, o Estado
teria papel de dominação neste espaço, no qual estão ligadas ao desenvolvimento
CONQUISTA DO ESPAÇO NA AMAZÔNIA:
Apropriações da Natureza e Representações Sociais 197

tecnológico que, é atualmente substituído pela ação das empresas ou firmas


mundiais, segundo o próprio autor.
Esses conceitos nos levam a apreender a mudança sobre o conceito de
território, incorporado pelos indígenas, utilizado a princípio como instrumento
de reivindicação de autonomia ou, estratégia de usufruto de uma serie de di-
reitos negligenciados por parte do conjunto da sociedade nacional que produz
uma crença de que os indígenas seriam incapazes de serem cidadãos dentro do

r
modo de produção capitalista.

V
Deste modo, temos uma mudança clara do sentido de território apreendido

uto
pelo povo indígena com o passar do tempo que, em busca de assegurar seus
territórios, costumes e tradições vêm buscando se adequar ao modelo imposto
pelo sistema que nos rege, neste caso o capitalista com maior peso.
R
Sobre essa temática, Sauer e Almeida (2011) já debatem sobre o processo

a
histórico de expropriação das populações tradicionais nas terras da Amazônia
brasileira, a exemplo da grilagem de terras públicas, a invasão de terras indíge-
do
nas, o avanço ilegal sobre áreas de florestas e parques, entre outros, tendo como
aC
pano de fundo sujeitos políticos que contribuem para a construção de projetos
de ‘desenvolvimentos econômicos’, social e ambiental da região.
Editora CRV - versão para revisão do autor - Proibida a impressão

são
Tais conflitos seriam estabelecidos numa relação entre identidade coletiva,
afirmação e manutenção de seu território, diferente daquela noção restritiva
de imóvel rural. Estes são processos sociais que possibilitariam releituras
e desapropriações.
i

Os autores ainda pontuam que o Estado, ao lidar com as comunidades


rev

tradicionais, concebem estes espaços como “terra” enquanto as comunidades


as concebem como “territórios”. Isso nos leva a refletir sobre a dicotomia exis-
or

tente entre as concepções do Estado e as populações tradicionais, que acarretam


disputas ferrenhas e desiguais em um cenário multifacetado e complexo. Em
ara

verdade seria este novo posicionamento indígena, uma forma de luta contra a
ameaça e invasões de poderosos grupos econômicos.
ver dit

Partindo da ideia de que território reflete o exercício do poder, a íntima


relação entre a formação cultural e territorial se expressa de forma distinta com
op

características singulares como valores, costumes, mitos, ou seja, para os povos


indígenas, o território possui caráter do acontecer o etnodesenvolvimento com
um significado distinto daqueles verificado em outras culturas, apreendido
como um todo complexo e composto por elementos espirituais, cosmogônicos
E

e materiais. É aí que se encontra a identidade, e lugar das subjetividades, re-


presentações simbólicas, é palco das ações humanas.
Neste sentido que entendemos o questionamento de Faria (2003) quando
afirma que o Estado brasileiro, através da nossa Constituição Federal, cometeu
equívoco ao não considerar esses significados socioculturais dos povos indí-
genas. Para ele isso não é nada mais que um jogo de poder, uma estratégia que
atende somente aos interesses do próprio Estado, induzindo-os a acreditar em
198

um conceito que não reflete o verdadeiro sentido de território. Esta estratégia


seria a maneira que o Estado teria para atender aos interesses do capital, neutra-
lizando e invisibilizando a presença indígena para a espoliação de suas terras.
Dessa forma, não há como refletir sobre um dado povo indígena sem
analisar tais questões. Não há como ter um olhar singular, pequeno sobre esse
universo tão amplo, complexo e distinto que é dos povos tradicionais da Ama-
zônia brasileira. É necessário, portanto, superar as narrativas coloniais postas a

r
nós. Para os povos Paiter Suruí que residem no município de Cacoal, Rondônia,

V
a concepção de terra vai muito além daqueles concebidos pelo Estado, pois

uto
atuam principalmente no entendimento de preservar seus costumes e tradições,
assunto discutido no próximo tópico.

R
Quem são os Paiter Suruí em Rondônia?

a
A Amazônia brasileira, rica por sua biodiversidade de fauna e flora também

do
é lugar rico em cultura, vez que ainda abriga diversos povos indígenas. Povos
aC
que já possuíam este território antes mesmo da colonização européia. Atual-
mente, dos diversos povos que existem, os Suruí têm se destacado na última

Editora CRV - versão para revisão do autor - Proibida a impressão


são
década devido as estratégias pensadas traçadas, através de seus líderes, para a
manutenção, preservação e perpetuação de seu território.
Os Suruí vivem na Terra Indígena Sete de Setembro localizada em uma
região fronteiriça, ao norte do município de Cacoal – Rondônia até o município
i
de Aripuanã – Mato Grosso. Situados nos Estados de Rondônia e Mato Grosso,
rev

se auto denominam Paiter, que quer dizer "gente de verdade, nós mesmos", da
língua Paiter-Suruí, pertencem à família linguista mondé e ao grupo linguístico
or

tupi. Em teoria, eles teriam emigrado da região de Cuiabá para Rondônia, ainda
no século XIX, escapando da perseguição de brancos. (SURUÍ, 2017).
ara

Quando acontece o que conhecemos por “economia da borracha” na região


amazônica, em momentos finais do século XIX até a década de 20 do século
ver dit

seguinte, e com ela construções como a estrada de ferro Madeira-Mamoré e a


instalação das linhas telegráficas por Rondon, gera outro grande fluxo migrató-
op

rio para Rondônia tendo efeitos fortes sobre a população indígena na região e,
acarretando muitas lutas e mortes. Após um período de inércia dessa economia,
acontece novamente a segunda economia da borracha, agora na década de 1940.
Nesse momento, o crescimento populacional dos não indígenas nessa
E

região, fez com que novamente os Suruís abandonassem suas aldeias em busca
de novos territórios. Mas quando entre 1977 e 1983, o número de migrantes
que chegavam de várias as regiões, principalmente do Nordeste brasileiro, já
calculavam cerca de 271.000. Esse quadro acarretou no aumento das desigual-
dades sociais gerando conflitos fundiários e pressão sobre as áreas indígenas,
aumentando o confronto entre índios, fazendeiros, agricultores, seringueiros e
outros extrativistas (SURUÍ, 2017).
CONQUISTA DO ESPAÇO NA AMAZÔNIA:
Apropriações da Natureza e Representações Sociais 199

Contudo, foi ainda no ano de 1969 que os Paiter Suruí foram oficialmente
contatados pela Funai, por meio dos sertanistas Francisco Meirelles e Apoena
Meirelles, no então acampamento da Funai, Sete de Setembro, em visita ao
acampamento. Com o tempo os Suruí passaram a morar de forma permanente
no posto, a partir de 1973, quando vieram buscar assistência médica em razão
de uma epidemia de sarampo que matou cerca de 300 pessoas. Nessa época,
cerca de um terço da população continuou a morar fora da área indígena, perto

r
da vila de Espigão do Oeste.

V
E após 1977, mudaram para outro posto da Funai criando então, a linha

uto
14. A demarcação dessa Terra Indígena se deu ainda em 1976, e a posse per-
manente foi declarada pela portaria 1561 de 29 de setembro de 1983 pelo então
presidente da Funai Octavio Ferreira Lima, momento em que recebeu o nome
R
oficial de "Área Indígena Sete de Setembro".

a
Mas, o que parecia quietação tornou-se problema maior. Entre 1982 a 1987,
eles sentiram intensamente os impactos do contato com a sociedade não indígena,
do
com a migração de milhares de pessoas para a região provocada pelo Programa
aC
Polonoroeste’ (Programa Integrado de Desenvolvimento do Noroeste do Bra-
sil), cujo núcleo era o asfaltamento da Rodovia Cuiabá-Porto Velho. Foi nesse
Editora CRV - versão para revisão do autor - Proibida a impressão

são
momento que perderam metade de seu território para projetos de colonização
e empresas, que desconsideravam a homologação legal das terras. Além disso,
ainda tiveram suas terras invadidas por pequenos agricultores, comprimidos
pelas empresas extratoras e empurrados para o interior das terras indígenas.
i

Essas invasões acarretaram em sérios desdobramentos na saúde dos Paiter,


rev

particularmente nas crianças. É neste contexto que surge a consciência de como


se constitui a sociedade brasileira e a necessidade de lutar pela defesa de seu
or

território e de sua vitalidade cultural. Pensando nisso, os Suruí viajaram até Bra-
sília para acompanhar passos da administração da Funai e fazer reivindicações.
ara

Diante essa preocupação que os líderes deste povo se posicionam para


frear as mazelas recebidas como herança do contato com o não indígena. Foi
ver dit

preciso traçar uma estratégia que resgatasse as tradições costumes e, principal-


mente assegurasse o direito de auto-gestão de seu território. O contato com o
op

não indígena trouxera profundas transformações em seus valores e era preciso


pensar numa estratégia de redirecionar essas questões. Mas assunto será pauta
do nosso próximo tópico.
E

Estratégias pela sobrevivência territorial e cultural


A estratégia pela sobrevivência territorial e cultural ocorre através do Plano
de Gestão Ambiental. Atualmente, os Suruí, possuem uma população de pouco
mais de 1375, em uma área de 248 mil hectares e se organizam por grupos exo-
gâmicos patrineares: Gamep, Gamir, Makor e Kaban, Russô. Eles sobrevivem
da caça, pesca, coleta de produtos da floresta e agricultura. (SURUÍ, 2017).
200

Depois de ter quase toda sua população ter sido dizimada, após o contato, a
partir da década de 1970, nas últimas décadas os Suruí começaram um processo
de recuperação e valorização de sua cultura. Esse feito deu resultado mostrado no
aumento significativo, nos últimos anos dessa população. Revela uma conquista
em quantidade populacional. Entre 1992 até o ano de 2014 esse povo cresceu
mais que o dobro em uma escala sempre crescente contínua.
Um dos fatores que contribuíram para esse ganho foi o novo modo de

r
viver dos Paiter. Apesar das pressões que sofreram e ainda sofrem por parte

V
dos não índios, eles têm conseguido resgatar muito das suas tradições através

uto
do novo plano de gestão de seu território. E o ecoturismo e a produção e venda
de carbono é ponto chave neste processo.
Foi pensado em um plano de ação que visasse valorizar a cultura Suruí.

R
objetivo principal foi implementar o Programa Paiterey Karah, para a gestão

a
ambiental com o estabelecimento de procedimentos e diretrizes para o enca-
minhamento das demandas socioculturais, uma de forma permitir o uso res-

do
ponsável dos recursos naturais e gerar benefícios, valorização e conservação
aC
do meio ambiente.
Esse feito fez com que os Paiter se destacassem no cenário das populações

Editora CRV - versão para revisão do autor - Proibida a impressão


são
indígenas como um dos primeiros a estabelecerem um processo de etnode-
senvolvimento sustentável, através da criação do Plano de Gestão de 50 anos,
despertando interesse de outros povos indígenas, de comunidades tradicionais
no Brasil e de outros países da América Latina. Esse plano concedeu um modelo
i
a ser seguido por outros povos como se vê:
rev

Elaborado a partir de 2000 pela Associação Metareilá do Povo Indígena


or

Suruí em parceria com a Kanindé Associação de Defesa Etnoambiental, o


Plano de Gestão Etnoambiental da TISS/TIPG, ou mais conhecido como
Plano de 50 anos Paiter Suruí tem provocado uma série de mudanças de
ara

estabilidade econômica, para que sejam ambientalmente sustentáveis [...], ou


seja, “a gestão do território Paiter Suruí é realizada de forma participativa e
ver dit

os projetos sustentáveis são exemplo a ser seguido” [...]. Por essa conjectura
entende-se que é possível elaborar plano de desenvolvimento econômico
conscientemente e sustentavelmente em um determinado território indígena
op

(CARDOZO, 2010, p. 8).

Estes avanços, como se verifica na fala citada, só foram alcançados devido


E

a esta nova metodologia educativa, que impõe uma nova forma de gestar seu
território, promovendo consequentemente, a cultura da preservação de suas
tradições. O plano, elaborado nos anos 2000 com permanência até 2050, está
dividido em: categorias, atividade e indicadores como podemos ver no (qua-
dro 01).
CONQUISTA DO ESPAÇO NA AMAZÔNIA:
Apropriações da Natureza e Representações Sociais 201

Quadro 01 – Planejamento dos Paiter Suruí para os próximos 50 anos


Categorias Atividade Indicadores
• Melhoria na taxa de
nascimento;
• Melhoria dos indicadores
mortalidade;
• Interferência no cenário
Sócio demográfico Planejamento Familiar atual de migração
para a cidade, com a

r
V
criação de condições
de desenvolvimento

uto
sociocultural na TI.

• Número de aposentadorias
e benefícios sociais

R concedidos após o início

a
do projeto;
• Melhoria na qualidade
do ensino indígena e

do Formar indígenas na área


de saúde em todos os níveis
das escolas de ensino
fundamental ofertado para
os Paiter-Surui;
aC
educacionais/ • Escolas que oferecem
Etnocidadania
ensino médio e superior
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Aposentar idosos/ Fortalecer


são
dentro da TI;
medicina tradicional. • Postos de saúde
comunitárias funcionando;
• Nº de casas com banheiro
básico completo e com
acesso à água tratada;
i

• Nº de aldeias com coleta


rev

de lixo.

• Reavivar marcos dos


or

limites da TI Sete de
Setembro;
• Realizar expedições de
fiscalização dos recursos
ara

Proteger limites TI/ Manejar naturais da TI;


os recursos naturais e dos • Contratar indígenas para
ver dit

roçados/Formar Agentes trabalho de Fiscalização


Ambientais Indígena/ ambiental da TI;
• Programa Conservação
Formar indígenas nas áreas
Etnoambiental da TI;
op

ambientais no curso superior/


• Criar Novas aldeias e
Conservação e Proteção da Reflorestar área desmatada/ áreas de reflorestamento;
biodiversidade da TI Obter roçados sustentáveis/ • Diminuir a exploração
Implantar Sistema ilegal de madeira;
agroflorestais/ Recuperar • Adotar medidas de uso
E

sementes indígenas/ sustentável dos recursos


Desenvolver ecoturismo/ naturais da TI;
Implementar Serviços • Preparar estruturas para o
Ambientais turismo;
• Aumentar número de
turistas na terra indígena;
• Implementar Projeto de
carbono;
• Manejar recursos hídricos.

continua...
202

continuação
Categorias Atividade Indicadores
• Tomada de decisões
através de representantes
de clãs a partir da demanda
da comunidade;
• Realizar reuniões periódicas
entre os Diretores de
Associações Indígenas e
os chefes dos clãs para

r
V
discutir, avaliar e monitorar o
Fortalecer Sistema de
Governança andamento do projeto;

uto
Governança Tradicional
• Criar espaço para
reclamações;
• Realizar reuniões gerais
para disseminação de

R
informações e resultados;

a
• Realizar reuniões quando
solicitado entre indígenas

do
e entre parceiros quando
necessário.
aC
• Realizar de festas e ritos
tradicionais nas 110 aldeias;

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• Construir casas tradicionais
são nas aldeias;
• Valorizar a produção
de produtos locais para
comércio (agrícolas,
artesanatos, etc.);
i
Aspectos Culturais Valorizar cultura • Realizar pesquisas
rev

etnográficas realizadas para a


documentar a cultura e história
or

do povo Paiter-Surui;
• Realizar e divulgar
exposições sobre a cultura;
• Valorizar as práticas
ara

tradicionais de cura e
promoção à saúde.
ver dit

Fonte: Metareilá, 2010.


op

Como se vê, esse plano de ação promove sobretudo o bem viver, mini-
mizando os índices negativos existente no território além de os conscientizar
para o uso conscientizado do meio ambiente, numa perspectiva da utilização
dos recursos naturais renováveis. É um modelo inovador de controle sobre
E

suas terras e estimulando a sustentabilidade ambiental, além de valorizar e


resgatar o conhecimento tradicional de seu povo.
Acrescente-se ainda que um dos diferenciais deste Plano de Gestão é
sobre a redução da emissão de gases que provocam o efeito estufa, um dos
impactos causados pelo aquecimento global. O Projeto de Carbono Florestal
Suruí (PCFS) é o primeiro projeto de Redução de emissões decorrentes do
CONQUISTA DO ESPAÇO NA AMAZÔNIA:
Apropriações da Natureza e Representações Sociais 203

desmatamento e da degradação de florestas (REDD+) proposto em Terras


Indígenas no Brasil e inserido na economia verde. Outro ponto importante
do Plano está no combate ao envolvimento de indígenas em práticas ilegais,
uma vez que a grande pressão no entorno de seu território gera dentre ou-
tros fatores, o contato inter étnico, que coloca em risco hábitos antigos de
sobrevivência e a escassez de recursos humanos desvalorizando o material
e o imaterial do povo conforme vemos na fala de Almeida Silva (2012),

r
V
uto
Mesmo as TIs demarcadas e homologadas recebem pressões de toda ordem,
tais como: invasão de posseiros, madeireiros, garimpeiros, fazendeiros,
sitiantes, caçadores, pescadores; impactos diretos e indiretos de usinas de
pequeno, médio e grande porte produtoras de energia, estradas; poluição e
R
contaminação dos cursos d’água; cidades e vilas construídas próximas às

a
TIs, entre outros, de modo que inúmeros problemas ecoam internamente
– drogas, álcool, delitos e outras questões que promovem substanciais

do
transformações no modo de vida. (ALMEIDA SILVA, 2012, p. 11).
aC
Diante disso, as propostas do Plano adquirem importância vital, de
Editora CRV - versão para revisão do autor - Proibida a impressão

modo a resgatar os costumes esquecidos de um povo recentemente contac-


são
tados. TODAVIA, Para além deste projeto, também existe as tecnólogas
da informação que contribuem para o fortalecimento desse projeto, ponto
que será discutido no próximo tópico.
i
rev

As tecnologias da informação como ferramentas poderosas para


a consolidação do projeto ambiental
or

Os Suruí vêm se aliando às novas tecnologias buscando meios para


ara

beneficiar seus povos, fortalecerem-se, revalorizar-se culturalmente. Como


remonta Pinto, (2009), as tecnologias da informação tornaram-se objeto de
ver dit

luta, ferramenta para competir com os meios de comunicação, para unir


povos de vários lugares do Brasil e do mundo.
op

Esta ação como se vê, torna-se, estratégia de sobrevivência, encontrado


por estes povos em meio a mudanças tecnológicas, principalmente para os
Suruí, que viu ao longo do tempo, seu modo de vida e cultura ser ameaça-
E

dos pela modernidade. Milhares destes índios foram abatidos aos poucos

por doenças, invasões de madeireiros, avanço desordenado do agronegócio


sobre a floresta, o alcoolismo e o êxodo de nativos à procura de melhores
condições de vida, conta o cacique Almir Narayamoga Suruí, um dos mais
ativos defensores do povo Paiter Suruí, líder da comunidade pelo Parlamento
Indígena. Foi dele a ideia de combater os males da modernidade com as
ferramentas mais modernas do planeta.
204

Em 2007, Almir Suruí pediu a executivos da Google que ajudassem


sua tribo a monitorar a floresta. No ano seguinte, o Google Earth Outreach
fornecia celulares e laptops equipados com programas de dados capazes de
abastecer a tribo com informações sobre a floresta. Uma equipe composta
por 30 índios foi treinada para monitorar os limites das terras Suruí com o
auxílio de celulares e laptops. Eles aprenderam a filmar e a postar vídeos no
YouTube, e a usar as ferramentas do Google Earth na fiscalização da mata

r
V
(SCOFIELD JR., 2012). Almir Suruí relata sua preocupação e o porquê do

uto
pedido de ajuda à Google:

Nós decidimos usar a tecnologia para melhorar a comunicação, monitorar


as ameaças à floresta e divulgar nosso plano de gestão das riquezas da

R
a
mata e preservação da cultura Suruí. Mais de 400 caminhões com madeira
extraída ilegalmente saíam do nosso território todos os dias. Precisávamos
parar com aquilo (SCOFIELD JR., 2012, p. 1).

do
Com esta parceria, os Suruí desenvolveram um plano de ecoturismo
aC
para a região onde os visitantes ficam hospedados em moradias típicas e

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são
acompanham o dia a dia do povo Suruí, sua culinária e sua cultura (SCO-
FIELD JR., 2012). Todas essas atividades são divulgadas através das redes
sociais, blogs e portais que o povo possui um movimento social em prol
destas comunidades.
i
Longe de ser mero hobbie, estes recursos causam impactos, que poderia
rev

considerar-se positivos agregando valor e trazendo visibilidade a esse povo.


or

Os Suruí ao que parece, aprenderam com o passado amargo. Agora, em vez


do “arco e flecha”, a luta deles é através do “laptop”. "Não é que a gente
deixou totalmente de usar o arco e flecha. Cada um tem o seu arco e flecha
ara

guardados em casa", diz Almir Suruí (SCOFIELD JR., 2012).


ver dit

A mídia nos remete como um conjunto de conhecimentos necessários


para conceber, produzir e distribuir bens e serviços de forma competitiva. De
uma forma geral, cria as condições de nascimento, circulação e penetração
op

das representações sociais com uma linguagem própria. Dentro da Terra


Indígena Sete de Setembro é fácil encontrar no dia-dia essas tecnologias
sendo usadas para benefício do povo.
E

Assim, os Suruí aproveitam estas tecnologias para se fazer conhecer


perante o mundo e, ao mesmo tempo, utilizar essas tecnologias em favor dos
seus objetivos políticos e preservação da Amazônia. Na atual conjuntura, as
mídias modernas exercem influência sobre a vida deste povo revelando-se
fonte de poder.
CONQUISTA DO ESPAÇO NA AMAZÔNIA:
Apropriações da Natureza e Representações Sociais 205

Considerações finais

O Plano de gestão dos Suruí foi uma forma de preservar um território


que havia sido quase devastado depois do contato com o não indígena. Foi
uma forma de enfrentamento às ameaças de extinção das tradições culturais
deste povo. Ademais, já é um modelo a ser seguido, destacando este povo
como pioneiro quanto a gestão de um território. Através dele, os indígenas

r
V
conseguem gerar fonte de renda trazendo melhoria na qualidade de vida.

uto
Após as imensas dificuldades em finais do século XX, o novo século
surge como sinal de esperança ao utilizar de estratégias para mudar o
cenário insalubre. É na esperança de revalorizar, resgatar aquilo que fora
R
perdido tão rápido. Foi na evolução das ferramentas tecnológicas que

a
eles enxergaram uma luz no fim do túnel. Eles tiveram que adequar-se
ao mundo moderno forma de defesa territorial e cultural. As mídias dão
do
suporte tecnológico e recriam outra lógica de mundo, alcançando outras
aC
relações sociais e criando novas formas de sociabilidade. Eles entende-
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ram o mundo moderno ao passarem a usar essas novas tecnologias como


são
vitrine para propagar sua cultura e para monitorar os males que rodeiam
suas florestas.
Assim, há de se reconhecer que os projetos desenvolvidos por este
povo possuem caráter de sobrevivência dos costumes e de sua cultura.
i
rev

Este povo hoje, passou de mero expectador para protagonistas de sua


própria história.
or
ara
ver dit
op
E

206

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Amazônia Revista eletrônica “O Globo”. Brasil. São Paulo, 03/03/2012
21:05. Disponível em: <http://oglobo.globo.com/brasil/indio-paiter-surui-usa-
-tecnologia-para-preservar-amazonia-4174905>. Acesso em: nov. 2018.
CAPÍTULO XV

AS TRANSFORMAÇÕES
GEOGRÁFICAS NO ESPAÇO E
NO TEMPO: apropriação da natureza

r
e as representações sociais

V
uto
Charlot Jn Charles
Sônia Maria Teixeira Machado
Neusa Maria Lazzaretti dos Santos
R
a
Rogério Nogueira de Mesquita
Francisco Ribeiro Nogueira

do
aC
Introdução
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são
A transformação dos locais permeados pelos seres humanos sempre
esteve presente na história da humanidade. Desde tempos pretéritos, grupos
humanos já tinham suas técnicas de sobrevivência, que conseguiam atendem
as suas necessidades imediatas ao tempo que afirmavam sua dependência
i
rev

do espaço geográfico ao qual estavam inseridos. O contato entre diferentes


grupos propiciou a troca desses “saberes” e com o tempo foram se aprimo-
or

rando, sempre na tentativa de domínio sobre os recursos naturais contidos no


espaço. Os objetos e as técnicas não são apenas elementos de transformação
do espaço, mas também participam ativamente da construção ou mudança
ara

histórica do local.
ver dit

Os elementos contidos em um determinado lugar, e a paisagem geográ-


fica construída contam sobre as antigas populações, seu modo de vida, as
atividades que praticavam e assim por diante. De acordo com Santos (2006,
op

p. 29) “[...] a técnica é tempo congelado e revela uma história”. As mudanças


na maneira de produção foram se aprofundando concomitante à exploração
dos recursos naturais. A natureza deixa de ser o corpo inorgânico do homem
E

da qual ele retira os meios de sua reprodução.


As pressões sobre o meio natural tornam-se cada dia maior (direta e in-
diretamente). As inovações tecnológicas proporcionam a cura de doenças que
levavam a morte de muitas pessoas mundo a fora, mas também pode trazer
transtorno devido seu mau uso. A relação de necessidade passa a ser o tempo
dos objetos, características das sociedades capitalistas. É a intencionalidade
de fazer algo diferente, de modificar, de aprimorar, substituir, etc. o ponto
208

inicial para a criação do objeto, bem como sua modificação. Diante disso o
espaço geográfico torna-se o resultado da junção entre os objetos e as ações, o
que segundo Santos (2006, p. 65) “[...] permite transitar do passado ao futuro,
mediante a consideração do presente”. O mundo se renova, e moldam-se as
características humanas que o cerca. Obviamente essa transformação ocorre
em elementos disponíveis ao ser humano e sobre os quais os mesmos tem
algum poder de transformação.

r
V
uto
O tempo e a transformação espacial

Assim como o tempo que segundo Bollnow pode ser abstrato se estiver

R
se referindo aquele que se controla pelo relógio e não vivenciado pelo homem,

a
o espaço pode também ser descrito de maneiras distintas por aquele que nele
vive. Tanto o tempo quanto o espaço são indissociáveis à vida humana! Não

do
se pode viver em um sem estar no outro. Em todos os lugares que estamos,
estamos em um espaço. E o tempo? Bom, o tempo é o que permite que a
aC
vida aconteça. Em relação ao espaço, ele pode sair de números matemáticos

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e adentrar o campo da vivência humana.
são
Entretanto de acordo com Bollnow (2008) o espaço concreto onde a vida
acontece não está relacionado com este espaço abstrato. O espaço vivenciado
é marcado por extensão infinita e o palco onde a vida acontece. As relações
i
humanas, os encontros, desencontros, as transformações sejam elas espaciais
rev

ou propriamente humanas ocorrem em lugares onde não há coordenadas, não


há delimitações. O espaço vivenciado pode até ser fechado, mas pela pouca
or

ou inexistência do contato humano, caso contrário ele assim é se aqueles que


compartilham de um mesmo lugar quiserem.
ara

A rapidez com que as transações espaciais são realizadas nesse período


técnico-científico-informacional demonstra a integração de redes geográficas
ver dit

que se transformaram ao longo dos anos. As relações estabelecidas em primeiro


momento por pequenas comunidades, baseada nas poucas trocas evoluíram
op

para além dos oceanos, mas limitavam-se aos mercados coloniais, e por fim a
evolução da civilização material impõe a expansão das para além dos territórios.
Bollnow (2008, p. 18) explica que “[...] o espaço não somente é diverso para
os diversos homens, mas varia para o próprio individuo de acordo com sua
E

constituição e humor circunstanciais, cada modificação no homem condiciona


uma mudança em seu espaço vivido”. E nesse contexto mesmo estando todos
em um mesmo espaço, este não será o mesmo para todos!
Uma questão a respeito dos tempos atuais que merece atenção nessa
pesquisa reporta-se a relação do homem com a paisagem e no espaço e sua
consequente transformação advinda do todo processo das ações humanas
CONQUISTA DO ESPAÇO NA AMAZÔNIA:
Apropriações da Natureza e Representações Sociais 209

através de sua história. Na contemporaneidade a globalização para Harvey


(2004, p. 79) “[...] se tornou uma palavra chave para organização de nossos
pensamentos no que respeita a organização do mundo” Uma nova forma de
organização com uma enorme bagagem e implicações próprias de seu tempo
e condição da existência do homem, direcionadas pelas circunstâncias e a via
escolhida pelo homem, o geógrafo considera que,

r
V
Antes de tudo o trabalho é um processo de que participam o homem e
a natureza, processo em que o ser humano com sua própria ação inicia,

uto
regula e controla seu intercambio material coma natureza. Assim agindo
sobre a natureza externa e modificando-a, ele ao mesmo tempo modifica
sua própria natureza. Desenvolve as potencialidades nela adormecidas e as
R
submete ao seu domínio. Pressupomos o trabalho sob a forma que assinala

a
como exclusivamente humano (HARVEY, 2004, p. 270).

do
Esclarece ainda que “[...] aspectos como as atividades de produção, dis-
tribuição e consumo, exercem forças distintas sobre a paisagem geográfica,
aC
assim como a desregulamentação financeira, as profundas mudanças tecnoló-
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gicas e melhoria de produtos” (HARVERY, 2004, p. 79-91). Nesse processo


são
compreendem igualmente como forças exercidas sobre a paisagem, o sistema
de mídia e comunicações, contando com os custos, o tempo de transportes e
deslocamento nos espaços com suas interligações. Estes fatores também con-
i

tribuem verdadeiramente para uma reorganização geográfica. Entre as questões


rev

contemporâneas e todas as suas contradições, e a subjetividades humanas, sua


relação com a natureza, seus saberes e fazeres são elementos fundamentais
or

na construção do espaço social, assim como suas transformações, político e


cultural de acordo com seu contexto.
ara

Bollnow (2008) destaca a relação dupla entre o homem e o espaço. De


acordo com o autor por um lado o espaço se expande ao redor do homem
ver dit

e pertence a sua constituição transcendental, por outro lado, o homem não


carrega consigo o “seu” espaço por aonde vai, a exemplo da lesma que leva
op

consigo o caracol. O espaço permanecerá fixo, e o homem se movimenta nele.


O homem em um emaranhado de formas, conceitos, ações, subjetivações
engendradas na contemporaneidade se depara com um estilo de vida que de
Marcel (1944), comenta em seu livro “Prolégomènes a une métaphysique
E

de l’esperance13”, a como tendo fundamento na competitividade e no con-


sumo, movido pela máquina da acumulação e o lucro. Estes demonstram
um movimento que circula em torno de si mesmo onde não se importa com
coisas ou indivíduos que a rodeia em marcha contínua com direção marcada
em si mesmo. Nesse sentido, os caminhos são tomados firmados em novos

13 Prolegômena a uma metafísica da esperança (tradução livre da língua francesa).


210

valores que impõe uma forma de relação do homem com a paisagem e em


seu espaço construído.
Para Gomes (2008, p. 3) que muito contribui para essa análise, “[...] o
homem se encontra apartado de seu poder de crescimento, da consciência do
seu ser social, de seu universo de interações, de sua história e seu lugar, seus
valores e cultura e de sua cidadania”. Tudo isso ocorre em nossos tempos em
consequência desse novo posicionamento diante das propostas fundamentadas

r
V
em conceitos próprios para sustentar a dita ‘máquina de acumulação e lucro.

uto
Nesse sentido acrescenta o autor em uma análise da sociedade vista como
abrigo para esse ser, mas, segundo Gomes (2008, p. 4) que também o trans-
forma em “[...] homem reduzido, sem as reais dimensões de sua humanidade
e, por isso, ela própria, sociedade, tende a se degenerar nas armadilhas dos

R
a
modelos corruptíveis”. Essas armadilhas são citadas como menor esforço, a
falta de o compromisso, o maior proveito material e da renovação que não

do
se revela, mas se travesti de convencionalismo, acompanhada de uma ação
inconvenientemente dirigida etc.
aC
No convívio com um volume nunca visto antes de ofertas em que a re-

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ferência de valores anteriores é subestimada, o homem se rende colaborando
são
com a construção de um novo espaço e um novo destino. O que torna evidente,
nessa trajetória da humanidade, é a situação do risco à autodestruição, advinda
das escolhas assumidas ao trilhar esses caminhos colocando em suas ações
i
evidências de uma contradição quanto às dinâmicas da vida.
rev

A paisagem nesse momento histórico se revela de forma distinta de ou-


tras épocas com significados e representações próprios da sua relação com o
or

homem. Essa contradição da atualidade traz consigo um redimensionamento


das questões, humanas e geográficas, onde os homens a propósito da sua
ara

vinculação com a vida na terra se encontram numa ação impulsiva. Cons-


ciente ou inconscientemente dirige sua perspectiva desejando o controle da
ver dit

natureza. Nesse contexto, o termo espaço é interpretado de diversas formas na


ciência. Na Geografia, segundo Lencioni (2003), a interpretação da corrente
op

fenomenológica define-o como:

O espaço é vivido e percebido de maneira diferente pelos indivíduos, uma


das questões decisivas da análise geográfica que se coloca diz respeito às
E

representações que os indivíduos fazem do espaço. Essa Geografia pro-


curou demonstrar que para o estudo geográfico é importante conhecer a
mente dos homens para saber o modo como se comportam em relação ao
espaço (LENCIONI, 2003, p. 152).

Nesse momento da trajetória da humanidade, o espaço se apresenta como


resultado das ações e comportamentos, da percepção, significados e repre-
sentações dadas pelo ser humano ao espaço. Estas experiências espaciais são
CONQUISTA DO ESPAÇO NA AMAZÔNIA:
Apropriações da Natureza e Representações Sociais 211

organizadas e influenciadas por uma diversidade de fatores externos. O res-


gate de si mesmo frente a opção entre inúmeros caminhos a serem tomados,
colocando a mostra fatores decisivos para sobrevivência dados pela natureza,
as decisões e ações pela vida.
Esses são apontamentos que perpassam pelas necessidades especialmente
de nossos tempos. Tempos que expõe a mudança de hábitos e valores que
alteram a relação e observância da natureza e a natureza das próprias ações

r
V
humanas; aonde o ir e vir com velocidade nunca antes vista determina uma

uto
redução das relações naturais. Será que também das representações sociais?

Paisagem e geografia
R
a
De acordo com Milton Santos (2006, p. 86) “A diversificação da natureza
é processo e resultado”. Ainda, “Em cada lugar, os sistemas sucessivos do

do
acontecer social distinguem períodos diferentes, permitindo falar de hoje e de
ontem” (SANTOS, 2006, p. 104). No panorama recente, o espaço é caracteri-
aC
zado pelo processo de globalização, com destaque para as redes geográficas,
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as quais estreitam os liames entre locais distintos, interferindo em diversos


são
fenômenos, como a divisão do trabalho, o processo produtivo, entre outros.
Para além, os sistemas de ações e de objetos, os quais compõem o espaço.
Na busca da reflexão proposta, em vista das exigências na análise da re-
i

lação do homem com a paisagem, a geografia humanista e cultural tem como


rev

base filosófica a fenomenologia. Esta toma como base para sua análise os
sentimentos e percepção espaciais e seus significados como confirma Spósito
or

(2004, p. 100-101) a geografia humanista envolve a “[...] subjetividade, na


intuição, nos sentimentos, na experiência, no simbolismo e na contingência,
ara

privilegiando o singular e não o particular ou o universal e ao invés da expli-


cação tem na compreensão a base da inteligibilidade do mundo”.
ver dit

Nessa compreensão, esses elementos que vão além do material, não são
importantes apenas na elaboração de análise científicas. Sua relevância está na
op

possibilidade de expansão e aprofundamento dos conceitos de análise geográ-


ficos, de observação e compreensão do que se trata as concepções, conceitos
e posicionamentos do que é a representatividade no individual e no coletivo.
Partindo da concepção de espaço por Henri Lefebre (1976),
E

[...] não se pode dizer que seja um produto como qualquer outro, um
objeto ou uma soma de objetos, uma coisa ou uma coleção de coisas,
uma mercadoria ou um conjunto de mercadorias. Não se pode se pode
dizer que seja simplesmente um instrumento, o mais importante de todos
os instrumentos, o pressuposto de toda produção e de todo intercâmbio.
Estaria essencialmente vinculado com a produção das relações (sociais)
de produção (LEFEBRE, 1976, p. 34).
212

O autor revela a complexidade da formação do espaço que conta com


elementos materiais e imateriais na sua formação. Para Correa (2006, p. 30) o
lugar se torna o mais relevante conceito na geografia enquanto o espaço para
muitos passa a ter o sentido de espaço vivido e a paisagem passa a ser um
conceito valorizado. Dessa forma muitos autores desenvolveram o conceito
de paisagem que para Alexander Von Humboldt que fazia contato com a na-
tureza através de suas viagens num exercício de observação e percepção da

r
V
relação dos elementos da natureza que em seu conjunto formam a paisagem.

uto
Humboldt (1950, p. 7) no início da segunda metade do século XX as
descrevia como formas visíveis, estéticas, que possuem uma fisionomia
demonstrando que “[...] em todas as zonas a natureza apresenta o fenômeno

R
destas planícies sem fim; mas, em cada região, têm elas caráter particular e

a
fisionomia própria”. Nesse contato com a natureza, de acordo com sua per-
cepção o pesquisador constata as mais diferentes formas a serem descritas.

do
Através de seu caráter revela dois tipos de correntes a serem descritas:
“[...] a paisagem, transcrição exata da imagem visualizada no contato direto
aC
junto à natureza, e a paisagem que, embora programada pelo cálculo exato

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são
e pontual, vai ser manipulada e reconstruída a fim de atingir uma paisagem
ideal” (HUMBOLDT 1950, p. 335). A paisagem se revela para o observado
com toda sua grandeza tendo o observador a intenção de sua descrição direta
ou manipulação e reconstrução da mesma.
i
Para Dardel (2011, p. 30) “A paisagem é a geografia compreendida como
rev

o que está em torno do homem, como ambiente terrestre”. Esse ambiente se


or

compõe da diversidade da natureza e da presença do homem na qual revela


suas ligações com a terra visto por Dardel (2011, p. 31) “[...] a terra como
lugar base e meio de realização”. Assim, a geograficidade, a relações do ho-
ara

mem com o ambiente e seus elementos originais, traz com a sua presença os
desdobramentos e as relações diversas na existência humana.
ver dit

Segundo Claval (1999, p. 23), “[...] uma paisagem é tanto modelada


pelas forças da natureza e pela vida, quanto pela ação dos homens”. Nessa
op

ação humana transcendendo ao material, conta com a diversidade de per-


cepção e interpretações que formam a cultura humana. Para essa análise,
trabalhamos o conceito de paisagem oferecida pelo ramo da ciência geográ-
E

fica, visto como nova geografia cultural que traz uma abordagem a partir da
experiência cultural humana. Procura a compreensão de como esta constrói
o meio-ambiente, juntamente com as relações sociais no espaço, como diz
Claval (2001, p. 41) “[...] ao papel complexo das paisagens, ao mesmo
tempo suporte e matrizes das culturas”.
CONQUISTA DO ESPAÇO NA AMAZÔNIA:
Apropriações da Natureza e Representações Sociais 213

A contribuição dos estudos culturais em geografia

De acordo com Claval (2002, p. 10) traz duas concepções em seus estudos.
Na primeira concepção funcional é vista como reflexo do funcionamento social,
cultural e econômico da sociedade. A segunda concepção arqueológica reflete
os aspectos do passado, ficando em segundo plano a estética da paisagem com
exceção na análise da harmonia. Atualmente alguns autores também atribuem

r
V
importância ao estudo estético da paisagem rurais e urbanas. Contudo, Claval

uto
(1999, p. 420) afirma que “[...] não há compreensão possível das formas de
organização do espaço contemporâneo e das tensões que lhes afetam sem
levar em consideração os dinamismos culturais.”. Considera dessa forma,
R
os valores de preservação ambiental e conservação da paisagem assim como

a
as lembranças do passado manifestado na cultura o que envolve o tempo e o
lugar. O lugar que o homem ocupa é tanto modificado por ele, como também é
do
descrito dentro dos conhecimentos adquiridos no contato com o meio, dentro
aC
de sua linguagem própria, seus costumes e suas crenças. Uma ideia que vai
de encontro com o pensamento de Sauer.
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são
O geógrafo norte-americano Carl Sauer (1998, p. 42), da geografia
cultural clássica, em sua análise afirma que “Não podemos formar uma idéia
de paisagem a não ser em termos de suas relações associadas ao tempo, bem
como suas relações vinculadas ao espaço”. O autor considera a paisagem em
i

formação constante onde ocorre um processo de desenvolvimento ou disso-


rev

lução e substituição, que “no sentido cronológico” é de grande importância


or

as alterações de uma área ocorridas através das ações humanas e ainda, sua
apropriação para o seu uso são de importância fundamental.
A área, anterior à atividade humana, é representada por um conjunto de
ara

fatos morfológicos. Sauer, (1998, p. 42) afirma que “As formas que o homem
introduziu, são um outro conjunto”. Trazendo a definição de paisagem e sua
ver dit

identidade, Sauer revela limites e relações generalizadas considerando outras


paisagens em um sistema constituído de forma geral. Para o autor “[...] a
op

paisagem é vista por tanto, em um certo sentido, como tendo uma qualidade
orgânica” (Ibid., 1998, p. 23).
Esta compreensão se fundamenta na percepção a partir de observações
E

onde o sujeito e paisagem tem a mesma importância e nas suas inter-relações


se complementam. Indo além Sauer (1998, p. 22) considera que os “[...] objetos
que existem juntos na paisagem existem em inter-relação”. Portanto a paisagem
com toda sua complexidade de leitura revelada ao pesquisador, tornam essa
inter-relação uma forma clara de afirmação da sua existência. Assim torna o
observador parte de um processo de aprofundamento para compreensão das
transformações geográficas.
214

Para a leitura da paisagem de acordo com Besse (2000, p. 64) “[...] a


paisagem é um signo, ou um conjunto de signos, que se trata então de apren-
der a decifrar, a decriptar, num esforço de interpretação que é um esforço
de conhecimento, e que vai, portanto, além da fruição e da emoção”. Com
isso podemos observar que as circunstâncias, o tempo, os valores do lugar,
as condições e evolução históricas como os demais elementos que possam
influenciar essa leitura, demonstram uma evolução a respeito do pensar sobre

r
V
paisagem geográfica. De acordo com Claval (2011), a geografia é definida

uto
através da visão do observador sobre a paisagem.
Nesse sentido, surge a questão relacionada à fisionomia da paisagem já
comentada por Humboldt, (1950) agora apresentada por Besse (2000, p. 72)

R
onde a paisagem, “[...] possui uma fisionomia, é preciso compreendê-la como

a
uma totalidade expressiva, animada por um espírito interno”. Contando com
a sua fisionomia e expressão, o sentido atribuído advém de um conjunto de

do
elementos. Estes são próprios do “espírito do lugar” como complementa o
autor. “Tudo se passa como se houvesse um “espírito do lugar” do qual a
aC
aparência exterior do território seria a expressão [...]” (Ibid., p. 72).

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são
Entende-se então que a paisagem é um elemento que diz muito a respeito
das populações que habitam determinado local, bem como da sua cultura, e
respectivamente a ação desses na constituição da paisagem; é uma vida de mão
dupla. Entretanto, ressalta que: “a paisagem só fala para aquele que aprendeu
i
a ler. Para ver as realidades sociais, o olhar deve estar formado” (CLAVAL,
rev

2011, p. 69). Demonstra-se dessa forma a multiplicidade de interpretações e


or

análises possíveis partindo dos elementos relacionados e suas variáveis e a per-


cepção e interpretação do observador, de acordo com o tempo e a cultura local.
ara

[...] paisagem uma dimensão do visível, esta paisagem é o resultado, o


efeito, ainda que indireto e complexo, de uma produção. A paisagem é um
ver dit

produto objetivo, do qual a percepção humana só capta, de início, o aspecto


exterior. Há como que um “interior” da paisagem, uma substância, um
op

ser da paisagem que só deixa ver seu exterior. É aliás, isto que dará, aos
olhos de certos geógrafos, o limite da abordagem paisagística. Ao mesmo
tempo, a intenção e a esperança científicas do geógrafo consistem tentar
ultrapassar esta superfície, esta exterioridade, para captar a “verdade” da
E

paisagem (BESSE, 2000, p. 64).


A geografia torna-se cientifica a partir do momento em que faz as con-


dições do ambiente uma das causas possíveis da diversidade dos homens,
de seus modos de vida, de suas instituições e de suas culturas (CLAVAL,
2011, p. 114). Não basta somente a análise das características físicas. Esta
interpretação vai além, transcende em busca da essência viva da paisagem
CONQUISTA DO ESPAÇO NA AMAZÔNIA:
Apropriações da Natureza e Representações Sociais 215

o que clama por uma convivência e percepção aguçada do pesquisador, que


através da visão de Gilles Sautter (1979), Claval (2002, p. 10) afirma que
“[...] a ideia fundamental é de que os geógrafos devem conceber o estudo da
paisagem como uma exploração da convivência que se desenvolve entre ela
e os homens”.
É nessa inter-relação que podemos observar a ocorrência das atividades
humanas. Uma afirmação que parte do pressuposto de que para o estudo

r
V
dessa inter-relação “existe uma definição da natureza ou essência do homem

uto
que só pode ser concebida como funcional, não como substancial”. Cassirer
(1977, p. 116) “Sua natureza está no trabalho, na ação. Entre suas inumeráveis
ações, o trabalho é uma ação de sobrevivência transformadora do espaço e
R
da paisagem envolvendo tempo, valores, conceitos e interpretações que nas

a
suas interligações colaboram com a formação cultural”.
Dando ênfase a paisagem cultural com todo seu caráter físico e imaterial
do
se torna presente como representação das ações humanas onde Claval (1999,
p. 31) considera que “[...] seus métodos para a geografia cultural exigiam
aC
uma sólida formação naturalista, que se preocupa com a fauna, agricultura,
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são
incêndios, colheita, migrações, pastagens, florestas, caça, etc.”. A geografia
moderna tem como anseio compreender o mundo, bem como os homens que
nele vivem. Realizar a geografia na atualidade é analisar e entender os desafios
impostas a humanidade, é compreender as mudanças de atitudes frente a esses
i

problemas como meio de sobrevivência ao mesmo tempo que se analisa os


rev

fatores que o causaram.


or

Na reunião e complexidade de todos esses elementos considerados na


geografia humana e cultural, em que a paisagem em seus termos passa a
ser vista como uma realidade construída, confirma Sauer (1998, p. 29) que
ara

a geografia baseia-se, “[...] na realidade, na união dos elementos físicos e


culturais da paisagem. O conteúdo da paisagem é encontrado, portanto, nas
ver dit

qualidades físicas da área que são importantes para o homem e nas formas do
uso da área”. Dessa forma podemos compreender que os “[...] fatos de base
op

física e fatos da cultura humana” integrados em uma inter-relação resultam


em transformações que imprime sua marca intimamente ligada à cultura e
a paisagem. Dessa forma a “[...] paisagem não se apresenta tão-somente
E

como um reflexo do funcionamento passado ou presente da sociedade”


(SAUER, 1998, p. 29).
Na atualidade podemos observar esse processo de “funcionamento”
de forma acelerada no desvendar da sobrevivência do homem no mundo
da globalização. Tudo isso envolve o fator tempo que traz em si, valores
renovados concepções diversas dando sentido inovador as interpretações de
cultura e paisagem nesse momento da história da humanidade. No espaço,
216

os caminhos a serem percorridos pelo homem são antecipadamente prede-


finidos tanto pelos elementos naturais, quanto pelo próprio homem. Como
o próprio autor pontua: “O caminho explora o espaço” (BOLLNOW, 2008,
p. 106). Esse caminho é usado verdadeiramente em seu sentido próprio dentro
da frase e não de maneira figurada. O homem por sua vez cria mecanismos
que possibilitam a exploração desse espaço, quando as barreiras naturais o
impedem de prosseguir ou ainda quando acredita ser o caminho mais cômodo

r
V
para chegar onde se pretende.

uto
Para essa análise consideramos o pensamento de Claval (2002, p. 26)
que desenvolvendo esse pensar na paisagem, considera toda complexidade
das relações humanas e culturais, “[...] onde se instalam as relações senso-

R
riais, as relações emocionais entre a paisagem e o observador”. Analisadas

a
como elementos de igual importância afirma que “[...] o papel da paisagem
nas estratégias de poder e de dominação é explorado. A significação da pai-

do
sagem na construção ou na preservação das identidades é ressaltada” (Ibid.,
2002, p. 26) Nesse conjunto complexo podemos perceber seu significado e
aC
representação no lugar.

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Considerações finais
são
Como próprio Milton Santos bem observou “Vivemos o mundo da ação
i
em tempo real”. As informações, produtos, deixam de ser local-local e atinge
rev

nível local-global. É o progresso, agravamento das disparidades econômicas,


or

exploração em massa dos recursos naturais e do espaço geográfico. São mu-


danças no campo e na cidade, maior volume de fluxos e fixos, estreitamento
nas relações entre as nações e aumento das transações. Todos esses fatores
ara

são características do espaço construído pelo ser humano, espaço geográfico


atual. As relações locais atingiram nível global, da mesma forma que tudo o
ver dit

que compõem a esfera terrestre. Entretanto em algumas localidades isso ainda


não se faz presente, aprofundando as diferenças econômicas e sociais dentro
op

do próprio país e com nações desenvolvidas.


E

CONQUISTA DO ESPAÇO NA AMAZÔNIA:
Apropriações da Natureza e Representações Sociais 217

REFERÊNCIAS

BOLLNOW, Otto Friedrich. O homem e o espaço. Curitiba. Editora da


UFPR, 2008.

CLAVAL, Paul. Epistemologia da Geografia. Editora UFSC. Florianópo-

r
V
lis, 2011.

uto
HARVEY, David. Espaços de Esperança. São Paulo: Loyola, 2004.

R
SANTOS, Milton. A Natureza do Espaço: Técnica e Tempo. Razão e Emo-

a
ção. EDUSP. São Paulo, 2006.

do
aC
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são i
rev
or
ara
ver dit
op
E

E
ver dit
sã or op
ara aC
rev
i são R V
do
a uto
r
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CAPÍTULO XVI

A CULTURA DA SUSTENTABILIDADE NA
AMAZÔNIA
Willimis Alves Pereira

r
V
uto
Introdução

R
A região Amazônica sempre foi motivo de debates em relação ao

a
desmatamento e as possibilidades de reflorestamento das áreas devastadas. Por
fazer parte do estado de Rondônia é um dos que mais se percebe a necessidade de
do
mudanças no cenário, haja vistas ter passado por um processo de colonização nos
anos 1970 e 1980, o que causou um desenfreado desmatamento que objetivava
aC
a produção agrícola e pecuária, principalmente no estado de Rondônia, mas que
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são
muito comprometeu a fauna e flora existente e ainda causou prejuízos como o
acelerado processo de degradação do solo e das nascentes de várias regiões.
Nessa urgência que as políticas públicas da época que surgiram movimentos
para acomodar os imigrantes que se desencadearam queimadas e as derrubadas
i

desordenadas, primeiro pela necessidade de criar espaços para os novos


rev

municípios e Núcleos Urbanos se desenvolver e para assentar as famílias, e em


segundo lugar para que as famílias assentadas pudessem apropriar-se das terras e
or

torná-las produtivas, e ainda para isso foi preciso construir casa, estradas, pontes
e outras instalações que de modo geral combinaram com a necessidade de abrir
áreas consideráveis, o que ajudava a diminuir as doenças tropicais, típicas das
ara

matas fechadas e das regiões de floresta fechada.


ver dit

Teve início com os programas do Instituto Nacional de Colonização e


Reforma Agrária (INCRA) nos anos 1970, com a abertura dos povoados ao
longo da BR 364, que originaram os municípios no eixo de deslocamento entre
op

Mato Grosso e a Capital do Estado de Rondônia, após vieram os programas


voltados à colonização como o Programa de Desenvolvimento Integrado para o
Noroeste do Brasil (POLONOROESTE), e o Projeto Agropecuário e Florestal
E

de Rondônia (PLANAFLORO), como forma de solucionar os problemas


ambientais existentes, programas estes que visavam assentar mais famílias e
apropriar-se das terras para o cultivo na região.
Já nos anos 1990, começou a perceber-se que era preciso criar políticas
públicas que controlassem o desmatamento e a retirada de madeira do estado.
Contudo, com um estado já formado e com a urbanização acelerada, veio a
necessidade de melhorar as condições das diferentes regiões adequando a região
a novos investimentos como a construção de hidroelétricas como a de Jirau, que
220

mais vem a contribuir com a alteração da geografia e principalmente com as


relações com a natureza.
No final de 1998, surgiu um novo olhar para o estado de Rondônia e para
a forma como vem a ser considerada a relação entre o humano e a floresta.
Surgiram os projetos que buscavam o equilíbrio entre essas duas forças, a
partir de uma onda de um equilíbrio e da sustentabilidade que se propagou
mundialmente em diferentes situações. O que desperta o olhar sobre cultura da

r
sustentabilidade na Amazônia.

V
Na contemporaneidade com uma população bem distribuída entre os

uto
diversos espaços observa-se o domínio do homem sobre a natureza e na maioria
dos casos a sua ação muda a geografia e retrata as inferências de suas ações e das
consequências que estas geram. O aumento de bem-estar, proporcionado pelo

R
vigoroso crescimento econômico mundial ocorrido no século XX, é ameaçado

a
por alterações ambientais ocorridas, em grande parte, pelas externalidades das
próprias ações humanas.

do
O momento exige imediata atenção, pois são vigorosas as transformações
aC
a enfrentarem-se neste século. Neste contexto, temos o objetivo, a guisa de
considerações finais, trazer ao derradeiro capítulo a cultura da sustentabilidade

Editora CRV - versão para revisão do autor - Proibida a impressão


são
na Amazônia Brasileira, concentrado na conquista do espaço, bem posto nos
capítulos desta obra. Mas, sobretudo, num olhar esperançoso de que o Brasil se
torne, de fato, um país sustentável,
A priori, deixamos os rigores acadêmicos de tudo teremos que referenciar
i
de atribuir ao outro as nossas palavras — certo que nós aprendemos com o outro,
rev

com a leitura do que outro pesquisou e leu — mas é uma nova construção do
conhecimento. Será que nada é do conhecimento primário do aluno? Mas este
or

não é o caso. Aqui ouso me posicionar como investigador que ao longo dos anos,
com as leituras e orientações de ditosos doutores me proporcionaram importantes
ara

momentos de conferências que me levaram a compreender um pouco da ciência,


bem como vários colegas de caminhada acadêmica que me fizeram perceber que
ver dit

ainda tenho uma longa caminhada a seguir.


Por conseguinte, pode-se entender que a noção de sustentabilidade
op

tem duas origens. A primeira, na biologia, por meio da ecologia. Trata-se


da capacidade de recuperação e reprodução dos ecossistemas (resiliência)
em detrimento de agressões antrópicas (uso abusivo dos recursos naturais,
desflorestamento, fogo etc.) ou naturais (terremoto, tsunami, fogo etc.) e que
E

alteram os sistemas anteriores.


A primeira trata das questões biológicas e a segunda está pautada na
economia, como adjetivo peculiar do desenvolvimento, em face da percepção
crescente ao longo do século XX de que o padrão de produção e consumo em
expansão no mundo, principalmente em relação às três últimas décadas do
século passado e quase a duas vividas nesse século, porém o termo não tem
possibilidade de perdurar. Ergue-se, assim, a noção de sustentabilidade sobre a
percepção finita dos recursos naturais e sua gradativa e perigosa depleção.
CONQUISTA DO ESPAÇO NA AMAZÔNIA:
Apropriações da Natureza e Representações Sociais 221

Noções de sustentabilidade e a Amazônia brasileira

Muitos são os estudos e conferências a respeito do assunto e que levam a


urgência de propostas que viabilizem ações que venham frear a degradação e
a ação danosa do homem sobre a natureza. Na Amazônia Brasileira este termo
seguiu a tendência internacional. Dentre os principais embates destacam-se
os ocorridos nas reuniões de Estocolmo (1972) e Rio (1992), onde nasce a

r
noção de que o desenvolvimento tem, além de um cerceamento ambiental,

V
uma dimensão social.

uto
Nessa compreensão, se fundamenta a ideia de que a pobreza é provocadora
de agressões ambientais e, por isso, a sustentabilidade deve contemplar a
equidade social e a qualidade de vida dessa geração e das próximas. Faz-se
R
a
necessária a solidariedade com as próximas gerações, o que aqui introduz,
de forma transversal, a dimensão ética. A partir do relatório Brundtland
(1987) é que se iniciou um vasto debate na academia sobre o significado de
do
desenvolvimento sustentável. Hoje, há uma vastidão de literatura que aborda o
aC
tema das maneiras mais diversas.
O Desenvolvimento Sustentável se tornou um campo de disputa, com
Editora CRV - versão para revisão do autor - Proibida a impressão

são
múltiplos discursos que ora se opõem, ora se complementam. O domínio da
polissemia é a expressão maior desse campo de forças, que passa a condicionar
posições e medidas de governos, empresários, políticos, movimentos sociais e
organismos multilaterais. Logo nos idos do século XX a Amazônia brasileira
i

foi tomada pelo poder Estatal comandada pela nova burguesia mundial, em
rev

que pese novos ricos.


A ideia de sustentabilidade só passa a ser defendida a partir da metade do
or

século XX. E, ganha corpo e expressão política, sendo amplamente conhecida


com a apropriação do termo desenvolvimento, consequência da percepção
ara

de uma crise ambiental global. Surge então uma enorme corrida em prol da
emergência do desenvolvimento sustentável e que passa a ser tratado como
ver dit

projeto político e social da humanidade, promovendo a orientação de esforços


no sentido de encontrar caminhos para sociedades sustentáveis.
op

Essa percepção se estabeleceu a partir de um longo caminho até o atual


ordenamento, sendo que ao assunto foi dedicada grande quantidade de literatura,
que muitas vezes o levaram a uma amplitude maior que o necessário fugindo
da real definição de foco. Nota-se, contudo, que a sustentabilidade possui suas
E

origens plantadas na década de 1950, quando pela primeira vez a humanidade


percebe a existência de um risco ambiental global: a poluição nuclear.
Os seus indícios alertaram os seres humanos de que estamos em uma
“nave” comum, e que problemas ambientais não estão restritos a territórios
limitados. A ocorrência de chuvas radiativas a milhares de quilômetros
dos locais de realização dos testes acendeu um caloroso debate no seio da
comunidade científica. Começa a correr notícias pelo Planeta que a Amazônia
é o “pulmão” do Mundo, que sem a floresta amazônica a humanidade esta
222

fadada ao extermínio. Começa a busca por práxis sustentáveis e o Estado passa


a exigir dos povos tradicionais, o que nem mesmo o Poder Público tinha noção
era da grandeza do povo brasileiro.
O fato é que a concepção era de que a Amazônia era vazia, não
valorizavam as pessoas que nela habitavam. Então buscaram por lotearem
as terras e distribuírem para os brasileiros de outras regiões que estivessem
dispostos a virem para o norte. Rondônia e Acre, por exemplo, sofreram

r
de forma absurda com estas decisões. Contudo, não criticamos as decisões

V
tomadas, o que fazemos aqui, é pontuar que a forma que fizeram deveria ter

uto
sido realizada com um planejamento mais adequado e com respeito às pessoas
que já moravam na região.
Mas, voltando à questão da sustentabilidade a busca por este fator ocorreu,

R
principalmente, devido as grandes consequências vividas mundialmente

a
pelos períodos pós-guerras mundiais sendo que entre 1945 e 1962, os países
detentores do poder atômico realizaram 423 detonações atômicas. Outro

do
momento dessa trajetória da percepção da crise ambiental se deu em torno
aC
do uso de pesticidas e inseticidas químicos, denunciado pela bióloga Rachel
Carson. Seu livro Silent spring vendeu mais de meio milhão de cópias, e em

Editora CRV - versão para revisão do autor - Proibida a impressão


são
1963 já estava traduzido em 15 países.
Muitos foram os eventos que influenciaram a mídia e os governos,
mas foi o movimento ambientalista o que obteve maior destaque. Segundo
McCormick (1992), as chuvas ácidas sobre os países nórdicos levaram
i
a Suécia, em 1968, a propor ao Conselho Econômico e Social das Nações
rev

Unidas (Ecosoc) a realização de uma conferência mundial que possibilitasse


um acordo internacional para reduzir a emissão de gases responsáveis pelas
or

chuvas ácidas.
De lá para cá tem sido crescente o interesse sobre sustentabilidade (ou
ara

DS) e na atualidade existe um gama de programas ligados ao uso consciente


dos recursos naturais e renováveis a parir de diferentes abordagens referentes
ver dit

a estratégias, enfocando aspectos como produção mais limpa, controle da


poluição, ecoeficiência, gestão ambiental, responsabilidade social, ecologia
op

industrial, investimentos éticos, economia verde, eco design, reuso, consumo


sustentável, resíduos zero entre inúmeros outros termos, tão comum e
comumente utilizados em diversos setores administrativos e econômicos do
mundo inteiro.
E

Problemas ambientais existem a muitos anos ao longo das civilizações, é


evidente que assumem maiores proporções quando são realizadas atividades
em detrimento de um fator que rompe com padrões normais e que alteram
o ciclo natural do desenvolvimento. O fato também vai se tornando mais
evidente a partir do momento em que a população vai crescendo e onde os
espaços ocupados por poucos passam a receber um número bem maior de
habitantes, tendo um novo registro demográfico.
CONQUISTA DO ESPAÇO NA AMAZÔNIA:
Apropriações da Natureza e Representações Sociais 223

Em relação aos problemas ambientais, muitos são os fatores que levam a


sua existência, e estão evidentes em diferentes situações vividas no planeta, mas
foi apenas recentemente que a análise econômica tomou suficiente consciência
deles e de suas implicações. No entanto, somente a partir da década de 70 do
século passado, surgiu uma grande quantidade de estudos e avanços sobre a
sustentabilidade.
A sustentabilidade pode ser compreendida também como o equilíbrio

r
entre os três pilares: ambiental, econômico e social. Também, podemos dizer

V
que é um conceito normativo sobre a maneira como os seres humanos devem

uto
agir em relação à natureza, e como eles são responsáveis para com o outro
e as futuras gerações. Neste contexto, observa-se que a sustentabilidade é
condizente ao crescimento econômico baseado na justiça social e eficiência no
R
uso de recursos naturais.

a
A grande expansão do termo tem, entretanto, tomada diferentes rumos
sendo que existe uma expectativa de que as empresas devem contribuir de
do
forma progressiva com a sustentabilidade reconhecendo-a como primordial
aC
para o sucesso e para que os negócios se tornem estáveis, e que devem possuir
habilidades tecnológicas, financeiras e de gerenciamento necessário para
Editora CRV - versão para revisão do autor - Proibida a impressão

são
possibilitar a transição rumo ao desenvolvimento sustentável.
Tem-se, portanto, uma segunda visão, diferente da primeira: o
Desenvolvimento Sustentável é objetivo a ser alcançado e a sustentabilidade
é o processo para atingir o Desenvolvimento Sustentável, ou seja, sem
i

sustentabilidade no âmbito geral, não há como se pensar em sucesso e em


rev

futuros promissores. Assim os novos estudos construíram duas Ciências


– “Economia Ambiental” e “Economia dos Recursos Naturais”, que são
or

vertentes que passaram a estar presente em todos os projetos políticos. Quer


seja em relação a novas ações ou a situações atuais.
ara

O termo sustentabilidade que é amplamente utilizado, geralmente é


pouco explicado ou entendido. Por vezes mal compreendido, para alguns se
ver dit

trata de um acessório de moda ou mesmo um senso comum. Há inconsistente


interpretação e aplicação, alto grau de ambiguidade do conceito, incluindo
op

uma percepção incompleta dos problemas de pobreza, degradação ambiental e


o papel do crescimento econômico, num todo.
Surgido na década de 1980, o termo DS originou-se da relação entre
preservação do planeta e atendimento das necessidades humanas. O Relatório
E

Brundtland representa termo a partir de explicação de forma simplificada


tratando-o como desenvolvimento que “satisfaz as necessidades do presente
sem comprometer a capacidade das gerações futuras satisfazerem as suas
próprias necessidades”. Esta definição é duradoura porque é flexível podendo
existir interpretações (NASCIMENTO, 2012).
Há duas origens para o conceito de sustentabilidade, de acordo com
Nascimento (2012), a primeira, na ecologia, se refere à capacidade de os
ecossistemas se recuperarem e se reproduzirem frente às agressões resultantes
224

das atividades humanas, tais como o abuso na utilização de recursos naturais,


desmatamento, queimadas, etc. Ou de eventos naturais, tais como terremotos,
maremotos, incêndios, etc. A segunda relacionada à economia, como fator
associado ao desenvolvimento, sob a ótica de que o contínuo aumento dos
padrões para produção e consumo no mundo todo, não conseguirá se perpetuar.
Em essência, pode-se afirmar que o Desenvolvimento Sustentável
é multidimensional, incorpora diferentes aspectos da sociedade, buscando a

r
proteção ambiental e manutenção do capital natural para alcançar a prosperidade

V
econômica e a equidade para as gerações atuais e futuras. Com relação ao

uto
debate da sustentabilidade como alternativa de racionalizar o desenvolvimento
do capitalismo mundial, afirma Vargas (2002, p. 219) que, “Vê-se, pois, por
essa via, que o termo se beneficia de uma conotação claramente positiva, de

R
pré-julgamento favorável. Assim, desenvolver-se é se dirigir na direção do

a
mais e melhor”.
Alguns pesquisadores, entendem que o Desenvolvimento Sustentável

do
é entendido como:
aC
a) a manutenção dos processos ecológicos essenciais, a

Editora CRV - versão para revisão do autor - Proibida a impressão


são
preservação da diversidade genética e a utilização sustentável
das espécies e ecossistemas;
b) a igualdade de oportunidades para as gerações futuras;
c) um processo de mudança em que a exploração dos recursos, a
i
direção dos investimentos, a orientação tecnológica e mudança
rev

institucional são feitas de acordo com o futuro, considerando


as necessidades presentes.
or

d) é a capacidade de um sistema humano, natural ou misto para


resistir ou se adaptar à mudança endógena ou exógena por
ara

tempo indeterminado,
e) representada como uma meta ou um ponto final.
ver dit

f) para alcançar a sustentabilidade requer-se o desenvolvimento


sustentável.
op

Esta comparação possui uma característica universal, uma vez que


esse “desenvolvimento” ultrapassa todas as divergências de regime e cultura.
É possível haver uma nova concepção de desenvolvimento com os pilares na
E

economia, política, cultura, meio ambiente, mais sustentáveis, uma vez que
o aumento cada vez mais claro da escassez dos recursos naturais e a elevação
contínua do padrão desenvolvimentista industrial, subsidiam a elaboração
de um novo modelo com base nos conceitos e padrões da sustentabilidade.
O Desenvolvimento Sustentável tem evoluído como um conceito
integrador, uma ampla possibilidade sob as quais há um conjunto de
questões inter-relacionadas podem ser organizadas de forma única referindo-
CONQUISTA DO ESPAÇO NA AMAZÔNIA:
Apropriações da Natureza e Representações Sociais 225

se a um processo variável de mudança que busca como objetivo final, a


sustentabilidade em si.
O relacionamento entre os conceitos de um julgamento social justo e
desenvolvimento sustentável é apresentado pelos seus defensores como um
meio, e para outros autores como um fim em si mesmo. No primeiro grupo,
reina o consenso de que o desenvolvimento sustentável deve gerar condições
de alcance de uma sociedade menos injusta e no segundo grupo, de que será

r
o fim desejado, ou seja, alcançará o seu auge quando conseguir produzir sem

V
destruir os recursos naturais.

uto
Na questão urbana, a sustentabilidade faz uso de instrumentos legais e,
principalmente, de planejamento e envolve diferentes áreas do conhecimento
como Geografia Urbana, Planejamento Urbano, Gestão Socioambiental do
R
Espaço Urbano, Sociologia, Antropologia, História e Urbanismo. Os impactos

a
ambientais são as influências negativas que o homem gera no meio ambiente e
que podem causar muitos tipos de degradação ambiental tanto no solo, quanto
na água e no ar.
do
aC
Os conceitos de sustentabilidade apresentados na literatura também
variam bastante gerando uma vastidão de interpretações e de conceitos
Editora CRV - versão para revisão do autor - Proibida a impressão

são
que elevam a sustentabilidade ambiental a uma gama de atividades sociais,
econômicas, físicas e sanitárias que contribuem para a preservação e para
melhoria do que a natureza oferece. Num contexto, sem precedência, mas
consensual os Governos de todo o Planeta estão sendo levados a compreender
i

que é necessário preservar a natureza em detrimento do mal maior que é a


rev

miséria se alastrar ainda mais.


Nesse sentido, a sustentabilidade está intimamente relacionada com a
or

habilidade do sistema em manter sua estrutura (organização) e função (vigor),


com o passar do tempo, em face de stress externo (resiliência). Compreender
ara

que a biota não fornece somente benefícios diretos à humanidade, se torna


imprescindível, pois funciona como o suprimento de alimentos e combustíveis,
ver dit

e ainda promotora dos processos essenciais à vida no planeta. Dessa maneira


é preciso delegar especial atenção quanto à perda de biodiversidade, sendo
op

que é importante questionar esta postura pois nem todas as espécies possuem
a mesma importância para a manutenção dos processos-chave para o
funcionamento desses sistemas.
Contudo, é importante ainda ressaltar a carência de conhecimentos
E

acerca dos complexos processos que envolvem a sustentabilidade dos


ecossistemas. Apesar que cada espécie é única e intrinsecamente valiosa,
assim é a grande necessidade de se aliar a posição teórica e prática a partir da
construção dos modelos sistêmicos e de desenvolvimento sustentável com o
objetivo de sustentação para os demais componentes dos ecossistemas. Bem
como as políticas públicas voltada a proteção a Natureza no Brasil devem ser
bem trabalhadas e, de certa forma revistas.
226

Por falar em sustentabilidade... falemos de Políticas Públicas...

Desafiador estudar as Políticas Públicas florestais no Brasil. Relacioná-


las as ao sistema político democrático de direito nos alerta ao fato de que o
mesmo deveria estar à disposição dos interesses do povo e manter a soberania
da nação. Contudo, com as tragédias ocorridas nos últimos três anos (Mariana
e Brumadinho em Minas Gerais) se vê os interesses individuais sobressair ao

r
invés do coletivo.

V
No entanto, o nosso objetivo neste capítulo não é tecer críticas ao

uto
Governo, mas, sim apresentar de forma dialética as políticas florestais e
desenvolvimentistas ocorridas no Brasil República, de forma que possamos
alcançar o nosso objetivo neste capítulo que é de identificar as políticas

R
a
florestais e as florestas plantas no Brasil.
Faz-se necessário que antes de se iniciar a discussão acerca de Política
Florestal e de Política de Preservação ambiental trazer à tona um conceito

do
que caminha para o conceito das Políticas Públicas. Para fins deste estudo
aC
entendem-se políticas como um conjunto de ações capitaneadas pelo Estado
com objetivo de atender as demandas da sociedade em um assunto específico.

Editora CRV - versão para revisão do autor - Proibida a impressão


são
Assim como, para tratarmos de Política, necessário se faz trazer um aparte de
Aristóteles (s/d) que explica a origem do termo que é estabelecido da Polis
Grega e refere-se à busca do bem comum.
As políticas públicas são sempre importantes referenciais para os
i
processos de desenvolvimento regional. Com relação às Políticas Florestais e
rev

de Proteção Ambiental nota-se que tem ocorrido um grande esforço por parte
do Estado para gerir e regulamentar essas políticas (uso sustentável do solo, da
or

água, das florestas e etc.) ainda que a eficiência, e a eficácia das ações estatais
nem sempre sejam alcançadas.
ara

A Política Nacional de Desenvolvimento Regional (PNDR), do


Ministério da Integração Nacional (MI) (BRASIL, 2005), evidencia uma
ver dit

proposta de reformulação para atendimento a situações de emergência e


verdadeira luta contra as desigualdades regionais, a qual surgiu a partir da I
op

Conferência Nacional de Desenvolvimento Regional se tornando forte sinal


da urgência de projetos e planos que possam atender aos imperativos locais.
Dentro dessa ótica se percebe a existência de indivíduos com
racionalidade limitada e que adotam um sistema de crenças e atitudes como
E

naturais para simplificar, selecionar e filtrar informações estabelecendo


limitações nas suas decisões, criando vieses e distorções nas negociações
relativas às políticas públicas e outras compreensões da percepção sobre a
importância geral do seu agir e existir em parcimônia com a natureza.
Com sua ação sobre a natureza o ser humano passa a se apropriar dos
bens produzidos a partir da natureza os quis são dotados de uma intencionalidade
que faz com que estes se transformem não somente em objetos, mas reflitam
CONQUISTA DO ESPAÇO NA AMAZÔNIA:
Apropriações da Natureza e Representações Sociais 227

a própria personalidade humana, porém é preciso ressaltar que historicamente


ocorreram diversos conflitos na relação homem natureza. Principalmente
porque a racionalidade do capital operou no sentido dessacralização da
natureza, fato que nos tempos atuais tem se transformado em esgotamento de
muitos recursos naturais.
Além da preocupação com o reflorestamento, o Estado passa a ter que
buscar por corrigir os erros dos Governos anteriores, os quais incentivavam

r
o desmatamento em nome do “Progresso” da Amazônia. Com o alto índice

V
de desmatamento e queimadas na região amazônica, o Governo Federal,

uto
através Ministério do Meio Ambiente (MMA), intensificou a política de
combate às ações que levam a diminuição e/ou ao extermínio da flora e fauna
brasileira. Na Amazônia, duas operações foram implantadas: Arco de Fogo, de
R
responsabilidade da Polícia Federal e, Arco Verde do MMA, voltada ao auxílio

a
dos municípios na estruturação de suas políticas ambientais.
O Decreto n.º 6.321, de dezembro de 2007 passa a ser a força motora
do
legal, para que outras providências institucionais fossem implantadas, a fim de
aC
coibir o avanço da destruição da flora e fauna da Floresta Amazônica brasileira.
Foram tentativas que provocaram reações, algumas positivas outras negativas,
Editora CRV - versão para revisão do autor - Proibida a impressão

são
nos municípios situados no arco do desmatamento e citados como prioritários
as políticas de fomento ao reflorestamento entre outros.
A reorganização da proposta de gestão territorial do Estado, sob
o ápice das normas ambientais e a necessidade do desenvolvimento local é
i

de suma importância para o cumprimento das exigências do Ministério do


rev

Meio Ambiente para que os municípios apontados no arco de fogo, saia da


lista negativa destas ações. Também, a educação ambiental informal deve
or

ser contemplada pelo Poder Público para que possa fazer parte das políticas
públicas fomentando a sustentabilidade.
ara

Não só os quatro municípios rondonienses apontados que são


prejudicados, pois, no contexto, a Natureza é um complexo que o ecossistema
ver dit

necessita do conjunto para sobreviver. As sanções podem ser locais, mas, as


dependências ambientais são dependentes entre si. Lemos e Silva (2011)
op

identificaram que 39,45% da floresta amazônica existente no Estado foi destruída


por garimpeiros, pecuaristas e grileiros, ou seja, representa um total de 92.957
km2. Os autores consideram que no Estado, da mata original, apenas um terço
se mantém inalterada. A concentração do desmatamento, esta no período que se
E

deu o PLANAFLORO, se estendendo até 2004. Deste ano para frente, começa a
política reversa do Governo Federal. Fortalece-se a política da economia verde.
O território brasileiro é caracterizado pela presença de diferentes
ecossistemas, sendo os principais a Amazônia, a Caatinga, a Mata Atlântica,
o Cerrado, o Pantanal e os Campos Sulinos. Nestes espaços há uma grande
diversidade espécies vegetais, animais e minerais que são estudados e
explorados pelo ser humanos a séculos.
228

As mudanças geradas a partir da população

A urbanização na região Amazônica brasileira tem passado por


mudanças consideráveis nas últimas décadas, bem como ocorreu em outras
regiões, quando emergiram situações de colonização e povoamento acelerado
levando em consideração principalmente sob a ótica dos desdobramentos
dos processos de integração da Amazônia. Ao surgirem os núcleos urbanos,

r
como centros de comando político/administrativo/econômico, produziram-

V
se um espaço de expansão da recente modernização brasileira que se

uto
contrapõe e subverte o antigo modo tradicional/extrativista dominante na
região, deixando o espaço geográfico com outra conotação.
Rondônia, por exemplo, portanto, constituiu-se numa nova

R
a
espacialidade agrícola, trocando sua cobertura de floresta por lavouras e,
principalmente, por pastos, a exemplo das áreas de cerrado do Centro-Oeste,
que cederam sua ecologia para a cultura da soja e da pecuária. Porém o

do
estado, agora ensaia vigorosamente, um novo desenho cultural e econômico
aC
impulsionado por projetos que atendem à necessidade energética do país,
uma nova onda urbanizatória retratando um novo cenário. Sendo assim, a

Editora CRV - versão para revisão do autor - Proibida a impressão


são
análise do processo de ocupação e urbanização do estado necessita levar
em consideração os desdobramentos do crescimento econômico brasileiro e
seus reflexos na Amazônia.
O aumento populacional nas cidades, em ritmo superior ao necessário
i
para o planejamento, gerou um crescimento desproporcional e uma
rev

ocupação desordenada do espaço urbano, que acabou por causar inúmeros


problemas como a falta de infraestrutura, insuficiência de serviços públicos
or

básicos como saúde e educação, além das deficiências mais diretamente


relacionadas à agressão ao meio ambiente como o tratamento adequado do
ara

lixo e saneamento básico. Dessa forma o cenário natural foi se extinguindo,


surgindo daí à necessidade de intervenções de sustentabilidade urbana como
ver dit

tentativa de redução dos impactos socioambientais urbanos e melhoria na


qualidade de vida.
op

A sustentabilidade urbana faz uso de instrumentos legais


e, principalmente, de planejamento e envolvem diferentes áreas do
conhecimento como Geografia Urbana, Planejamento Urbano, Gestão
Socioambiental do Espaço Urbano, Sociologia, Antropologia, História e
E

Urbanismo. De acordo com a resolução normativa do Conselho Nacional do


Meio Ambiente (CONAMA) 001/86,

Considera-se impacto ambiental qualquer alteração das


propriedades físicas, químicas e biológicas do meio
ambiente, causada por qualquer forma de matéria ou
energia resultante das atividades humanas que, direta
ou indiretamente, afetam: I. a saúde, a segurança e o
CONQUISTA DO ESPAÇO NA AMAZÔNIA:
Apropriações da Natureza e Representações Sociais 229

bem-estar da população; II. As atividades sociais e


econômicas; III. A biota; IV. As condições estéticas e
sanitárias do meio ambiente; V. a qualidade dos recursos
ambientais (CONAMA 001/86).

Os impactos ambientais são as influências negativas que o homem


gera no meio ambiente e que podem causar muitos tipos mudança no
espaço geográfico e na formação de novas possibilidades agrícolas, ou de

r
V
manutenção da natureza e que na maioria das vezes causa um desequilíbrio

uto
na fauna e na flora.
A floresta plantada pode ter objetivos ambientais, ser destinada à
recuperação de uma área degradada com espécies nativas ou comerciais
R
com plantios homogêneos com espécies exóticas para produção de produtos

a
madeireiros e não madeireiros. Em vista disso, a obtenção de grande volume
de madeira e as condições que mantenham qualidade uniforme para atender

do
às demandas da população mundial em crescimento, sem exaurir os recursos
naturais, tornou-se uma alternativa.
aC
Não há dúvida que a atividade florestal está no centro de um futuro
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sustentável, em boa parte por ajudar a expandir o crescimento econômico, mas


são
também por aumentar a dependência por recursos renováveis. Os produtos e
serviços advindos da floresta tornam o setor de importância expressiva nos
indicadores econômicos, sociais e ambientais no Brasil, por contribuir na
geração de renda, de empregos e em tributos. Aliar os objetivos econômicos
i
rev

e ecológicos ao manejo é fundamental para a organização florestal moderna


e profissional.
or

Materialização do território – (in) sustentável


ara

Até a década de 1960, Rondônia era um estado pouco colonizado


e ainda se caracterizava por extensas áreas de matas nativas. Porém com a
ver dit

implantação do projeto de integração e colonização, dez anos depois (1970)


se transformaria numa região de produção agropecuária consolidada na
op

pequena propriedade. Esse modelo se rompe, à medida que a agropecuária


passa a ser produzida em escala comercial, dando origem a latifúndios de
produção extensiva.
E

Seguindo essa lógica, a região se tornou foco de investimentos


de capital nacional e estrangeiro alicerçado na oferta de recursos naturais


disponíveis em seu território: condições climáticas, terra e água que, em
conjunto com as técnicas e as tecnologias produziram mudanças significativas
no sistema de produção de commodities (mercadoria) no Estado.
Mas final de que território está falando quando nos referimos a
“desterritorialização”? Se a desterritorialização existe é porque está associada
230

a uma concepção de território. Assim, a para alguns a territorialização


está ligada à fragilidade evidenciada nas fronteiras, principalmente as
fronteiras estatais, que está ligada, sobretudo ao território político. Para
outros a desterritorialização está ligada à hibridação cultural que impede o
reconhecimento de identidades claramente definidas, aqui o território é visto
como território simbólico, ou seja, um espaço de referência para a construção
de identidade. Deste modo, dependendo da concepção de território será

r
nossa definição de desterritorialização.

V
Enquanto o geógrafo tende a enfatizar a materialidade do território, a

uto
Ciência Política enfatiza sua construção a partir de relações de poder que em
sua maioria está relacionada a concepção de Estado; a economia, que prefere
a noção de espaço à de território, percebe-o muitas vezes como um fator

R
locacional ou como uma das bases da produção, enquanto força produtiva

a
(HAESBAERT, 2004).
No bojo das efervescências políticas intelectuais desse período,

do
surgem argumentações renovadas que tentam elucidar a atuação do Estado,
aC
as contradições sociais, os conflitos, a degradação ambiental, o crescimento
acelerado de muitas cidades, dentre outros apontamentos. Tal problemática

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são
exigiu o repensar do método de análise ou o reconhecimento da atuação de
forças sociais ligadas à produção do espaço geográfico e à dominação social,
isto é, numa perspectiva de construir uma compreensão mais lógica do mundo.
Deste modo, compreendemos o território como produto de relações
i
sociais da forma que é apresentado por Saquet (2011, p. 39) “[...] organizadas
rev

tanto política como espacialmente e, ao mesmo tempo, como um importante


conceito que poderia orientar a organização política e a conquista de melhores
or

condições de vida, ou seja, a transformação social”. Assim, o território


passa a ser produzido, ou seja, as relações sociais da vida cotidiana no qual
ara

encontram e desencontram as alegrias e tristezas, dominações e resistências


há uma relação de unidade, que resultam de um longo processo histórico
ver dit

resultante da relação dos homens em si.

O manejo florestal sugestão para sustentabilidade


op

A definição de manejo florestal sustentável é a administração da


floresta para obtenção de benefícios econômicos e sociais, respeitando-se
E

os mecanismos de sustentação do ecossistema. Essa atividade, que pode


ser realizada em florestas nativas e não-homogêneas, contempla a execução
de uma exploração planejada, com a aplicação à floresta de tratamentos
silviculturais e extraindo apenas as espécies selecionadas antecipadamente.
As experiências de manejo sustentável têm mostrado ser possível
o aumento da produtividade da extração de madeira, com a proporcional
redução do ciclo de corte e a área necessária; a preservação da biodiversidade,
CONQUISTA DO ESPAÇO NA AMAZÔNIA:
Apropriações da Natureza e Representações Sociais 231

com a manutenção da qualidade da água e do ar; e a geração de benefícios


socioeconômicos. Uma das principais atividades do manejo de florestas
nativas é a implementação do inventário florestal, que fará a identificação
das espécies que apresentam valor econômico presentes na área a ser
explorada, como também a avaliação da sua importância relativa para a
preservação do ecossistema.
O inventário também identificará as condições sociais das

r
V
comunidades existentes na floresta, possibilitando ao plano de exploração

uto
não causar prejuízos de seu bem-estar. Com base no inventário, um plano
de exploração é desenhado de forma a considerar uma subdivisão da área a
ser explorada em lotes (talhões), que serão explorados de forma sequencial.
Quando o ciclo de exploração se completa, a extração de madeira
R
a
deverá ocorrer novamente no primeiro lote explorado, o qual deverá ter
sido parcialmente regenerado. O conceito de manejo florestal é um conjunto

do
de técnicas empregadas para colher cuidadosamente parte das árvores
grandes de tal maneira que os menores, a serem colhidas futuramente, sejam
aC
protegidos. O manejo florestal pode vir acompanhado de um processo de
Editora CRV - versão para revisão do autor - Proibida a impressão

enriquecimento da floresta. Isso significa que podem ser plantadas espécies


são
desejadas. Em linhas gerais, os planos de manejo de florestas nativas que
estão sendo executados no Brasil envolvem ciclos de exploração de 30 anos.
As técnicas de exploração e condução da floresta, sensorialmente
remoto, tecnologia de produtos florestais e capacidade de armazenamento
i
rev

e processamento de informações, possibilitaram a consolidação do manejo


florestal em florestas tropicais. O manejo de bacias hidrográficas, o lazer, a
or

educação ambiental e a conservação da fauna (silvestre) e da flora (madeireiro


e não madeireiro) passaram a ser parte do Manejo Florestal, assim ampliando
o conceito de uso múltiplo.
ara

Com a adoção do manejo, a produção de madeira pode ser contínua


ao longo dos anos. O manejo das florestas envolve produção, segurança
ver dit

no trabalho, respeito a legislação, logística de mercado, rentabilidade e


conservação florestal, além de serviços ambientais (equilíbrio do clima
op

regional e global, especialmente pela manutenção do ciclo hidrológico


e retenção de carbono). O manejo florestal sustentável é a administração
da floresta para a obtenção de benéficos econômicos, sociais e ambientais,
E

respeitando-se os mecanismos de sustentação do ecossistema, considerando


a utilização de múltiplas espécies madeiráveis e não madeiráveis bem como
bens e serviços de natureza florestal.
As decisões na célula social devem ser tomadas visando a harmonia
entre o patrimônio e o entorno ecológico. O desenvolvimento social e
econômico do país é um dos grandes desafios, ao promover o crescimento
sem destruir o seu capital natural. Para isto faz-se necessária a busca pelo
232

desenvolvimento sustentável, preservando os recursos naturais, realizando o


crescimento econômico e gerando qualidade de vida para a população.
O Brasil é um dos países com a maior cobertura florestal (madeiras)
nativas e plantada no mundo, com aproximadamente 516 milhões de
hectares 60,7% do seu território que representa a segunda maior área de
cobertura florestal, ficando atrás da Rússia. O Brasil vem obtendo destaque
na produtividade florestal tanto de coníferas como de folhosas, neste

r
contexto a teca.

V
O setor de florestas plantadas tem contribuído com o aumento de

uto
algumas espécies nativas como o pinho cuiabano para o repovoamento
de áreas com desflorestamento, formando áreas em conformidade com as
leis e evitando novas áreas de desmatamento. Além dos fatores ambientais

R
favoráveis para a silvicultura, e as novas tecnologias utilizadas para aumentar

a
a produtividade, tais como melhoramento genético de sementes e clonagem de
espécies floreais.

do
Considerações parciais
aC

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são
A Terra está, comprovadamente, agonizando e chegamos a um ponto
no qual já não conseguimos reverter o prejuízo causado, restando apenas a
tentativa de tentar frear o agravamento da situação. A população mundial
cresceu, o que demandou uma necessidade de maior ocupação dos espaços, de
i
forma desordenada, gerando muitos problemas ambientais.
rev

O crescimento das cidades, com o consequente aumento das


construções de diferentes tipos, que despejam no ambiente resíduos muito
or

agressivos, é um dos impactos mais severos. Entretanto, não podemos deixar


de registrar que o desmatamento, principalmente nas nascentes proporcionou
ara

outros tantos problemas a Natureza.


Aliado a esse, geraram graves interferências da destinação do lixo,
ver dit

que contamina o solo e os lençóis freáticos, o asfaltamento das cidades que


impede a contaminação da água, e comprometimento com os lençóis freáticos,
op

a própria contaminação da água, pelos detritos jogados pelas indústrias sem


qualquer tratamento, a falta de saneamento básico, o que gera o derramamento
de esgotos não tratados nos rios, causando a proliferação de doenças, o
aumento de gases poluentes na atmosfera, gerado tanto pelas indústrias quanto
E

pelos veículos que são cada vez mais presentes no nosso cotidiano.
Esses são apenas alguns exemplos dos danos que temos, da
interferência humana no meio ambiente ao longo de nossa história, sem
qualquer preocupação com o futuro. Desta forma, buscou neste estudo, mostrar
a cultura da sustentabilidade na Amazônia Brasileira, concentrado na conquista
do espaço, consequentemente elencou-se a importância de se reestruturar um
espaço tão rico.
CONQUISTA DO ESPAÇO NA AMAZÔNIA:
Apropriações da Natureza e Representações Sociais 233

REFERÊNCIAS

CONAMA Conselho Nacional do Meio Ambiente 001/86.

HAESBAERT, Rogério. Territórios alternativos. São Paulo: Contexto,


2002.

r
V
uto
LEMOS, André Luiz Ferreira; SILVA, José de Arimatea. Desmatamento
na Amazônia Legal: Evolução, Causas, Monitoramento e Possibilidades de
Mitigação Através do Fundo Amazônia. Floresta e Ambiente, v. 18, n. 1,
R
p. 98-108, 2011. DOI 10.4322/floram.2011.027, ISSN 2179-8087 [online].

a
MCCORMICK, John. Rumo ao paraíso: a história do movimento
do
ambientalista. Rio de Janeiro: Relume Dumará, 1992.
aC
Editora CRV - versão para revisão do autor - Proibida a impressão

NASCIMENTO, Elimar Pinheiro do. Trajetória da sustentabilidade: do


são
ambiental ao social, do social ao econômico. Rev. Estudos Avançados, v.
26, n. 74, São Paulo, 2012.

VARGAS, Paulo Rogério. O insustentável discurso da sustentabilidade.


i
rev

In: BECKER; Dinizar Fermiano (Org.). Desenvolvimento Sustentável:


necessidade e/ou possibilidade? Santa Cruz do Sul-RS: EDUNISC, 2002.
or

p. 211-241.
ara
ver dit
op
E

E
ver dit
sã or op
ara aC
rev
i são R V
do
a uto
r
Editora CRV - versão para revisão do autor - Proibida a impressão
SOBRE OS AUTORES

Pesquisamos, estudamos, logo produzimos...

Para falar da Amazônia não basta querer, tem que ter conhecimento, ter
sentimento, saber-fazer, mostrar respeito pela Natureza, pelas Representações

r
V
Sociais. É sair do “laboratório” do “escritório” é escrever no rascunho, na

uto
palma da mão, é deixar o suor manchar a folha branca. Isto é o que temos
aqui, pesquisadores da terra amazônica, do solo explorado, mas, sobrevivente!

R
Organizadores: XIMENES; Claudia Cleomar; SOARES; Danúbia Zanotelli;

a
PEREIRA, Paulo César Barros; SILVA, Maria Liziane Souza; PEREIRA,
Willimis Alves.
do
aC
Legenda: Siglas mais frequentes
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PPGG: Programa de Pós-Graduação Mestrado e Doutorado em Geografia.


são
UNIR: Fundação Universidade Federal de Rondônia.
UFAC: Universidade Federal do Acre.

Adriana Correia de Oliveira


i
rev

Mestre, Bacharela e Licenciada em Geografia pela Universidade Federal de


Rondônia, Especialista em Gestão, Supervisão e Orientação. Professora de
or

Geografia da Prefeitura Municipal de Nova Mamoré/RO. Membro do Grupo


Independente de Estudos e Pesquisas Ambientais – GEIPAm. Membro do GE-
PGÊNERO/UNIR e da APECs-Brasil. Desenvolve pesquisa sobre a Geografia
ara

e Gênero, com ênfase Desenvolvimento Econômico, Mercado de Trabalho e


ver dit

Educação Ambiental. Vinculada à linha de pesquisa TRPD – Território, Re-


presentações e Políticas de Desenvolvimento do Programa de Pós Graduação
op

em Geografia da UNIR.

Agna Maria de Souza Coelho


Mestre em Geografia pelo PPGG/UNIR (2018). Possui graduação em Letras
E

– Português e Espanhol e suas Respectivas Literaturas pela Universidade do


Tocantins (2010). Especialista em metodologia do Ensino Superior em EaD/
FAEL. Professora de Língua Espanhola do Ensino Básico Técnico e Tecno-
lógico do Instituto Federal de Rondônia (IFRO).
236

Bárbara Elis Nascimento Silva


Mestranda em Geografia pelo PPGG-UNIR. Engenheira Ambiental pela
Universidade Federal da Paraíba – UFPB. Especialização em Projetos Sus-
tentáveis, Mudanças Climáticas e Mercado de Carbono; e MBA em Gestão
Educação Ambiental, também pela Universidade Federal do Paraná – UFPR.

Benedito de Matos Souza Junior

r
Bacharel em Ciências Contábeis pela Faculdade de Pimenta Bueno (FAP);

V
Membro do Grupo de Pesquisa Experimental Diálogos Hídrico Multidisci-

uto
plinar. Membro do Grupo de Estudos GeoContábeis. Membro Fundador da
Associação de Pesquisadores e Educadores em Início de Carreira Sobre o
Mar e os Polos no Brasil (APECs-Brasil).

R
a
Caio Ismael de Jesus Lasmar
Mestre em Geografia PPGG/UNIR. Graduação em Arquitetura e Urbanismo

do
pelo Centro Universitário do Norte (2006). Especialista em Gestão de Re-
aC
cursos Naturais e Meio Ambiente pelo Centro Universitário do Norte (2011).
Docente do curso de Arquitetura e Urbanismo na Faculdade Interamericana

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de Porto Velho – UNIRON. são
Carla Silveira de Arruda
Mestre em Geografia, na Fundação Universidade Federal de Rondônia –
i
UNIR (02/2015 – 01/2018). Especialista em Auditoria e Perícia Ambiental
rev

pela Faculdade Rolim de Moura - FAROL (2012). Graduada em Tecnologia


em Gestão Ambiental pela Faculdade de Ciências Biomédicas de Cacoal
or

(2010). Integrante do Laboratório de Geografia e Planejamento Ambiental


(LABOGEOPA/UNIR). Vice-coordenadora do Grupo Experimental de Pes-
ara

quisa Diálogo Hídrico Multidisciplinar. Membro Fundador da Associação de


Pesquisadores e Educadores em Início de Carreira Sobre o Mar e os Polos
ver dit

(APECS-Brasil). Colaboradora da Sociedade Civil na mobilização para im-


plementação do Comitê de Bacia Hidrográfica dos Rios Branco e Colorado ,
op

em Rondônia (CBH-RBC-RO). Experiência em articulação para a Gestão de


Recursos Hídricos junto aos membros representativos da Bacia Hidrográfica
dos Rios Branco e Colorado/RO. Docente do Ensino Superior.
E

Charlot Jn Charles
Mestrando em Geografia PPGG/UNIR (2018). Possui graduação em Filosofia
pela Faculdade Católica de Rondônia (2015). Atualmente ministra aulas particu-
lares de francês e espanhol. Membro do Grupo de Estudos e Pesquisas Modos de
Vidas e Culturas Amazônicas – GEPCULTURA. Professor voluntário da Língua
Portuguesa para grupo de imigrantes haitianos na Cidade de Porto Velho-RO.
CONQUISTA DO ESPAÇO NA AMAZÔNIA:
Apropriações da Natureza e Representações Sociais 237

Claudia Cleomar Araujo Ximenes Cerqueira


Doutoranda (2018-2021) e Mestre (2014-2016) em Geografia pelo PPGG/
UNIR; Especialista em Administração Pública (2007); em Gestão Financeira
(2007); em Docência do Ensino Superior (2007) e em História Regional (2017)
pela Faculdade de Pimenta Bueno (FAP). Bacharel em Ciências Contábeis pela
UNIR (2006). Membro do Grupo de Pesquisa Experimental Diálogos Hídrico
Multidisciplinar. Membro Fundador da Associação de Pesquisadores e Educa-

r
V
dores em Início de Carreira Sobre o Mar e os Polos no Brasil (APECS-Brasil).

uto
Membro do Grupo de Estudos GeoContábeis. Membro do Núcleo Docente
Estruturante (NDE) e Professora do curso de Ciências Contábeis da Faculdade
de Ciências Biomédicas – FACIMED.
R
a
Danúbia Zanotelli Soares
Mestranda em Geografia pelo PPGG/UNIR, graduada em Geografia pela Facul-

do
dades Integradas de Ariquemes (2009); Especialização em Gestão Ambiental
pela Faculdades Integradas de Jacarepaguá (2010). Desenvolve pesquisa sobre
aC
a Geografia e Gênero, com ênfase Desenvolvimento Econômico, Mercado de
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Trabalho e Educação Ambiental. Membro do GEPGÊNERO/UNIR. Membro


são
do Grupo de Pesquisa Experimental Diálogos Hídrico Multidisciplinar.

Denes Luís Reis Pedrosa


i

Mestrado em Geografia pelo PPGG/UNIR. Bracharel em Geografia pela UNIR


rev

(2011). Especialização em Geoprocessamento pela ULBRA-RO (2013), curso


de aperfeiçoamento em Georreferenciamento de Imóveis Rurais pela PUC-
or

-GOIÁS (2015).
ara

Dério Garcia Bresciani


Mestre em Geografia pelo PPGG/UNIR (2018). Especialista em Psicopeda-
ver dit

gogia pelo Instituto Superior de Educação do Vale do Juruena (2010-2013).


Licenciatura Plena em Geografia pelo Instituto Superior de Educação do Vale
op

do Juruena (2009), Licenciado em História pela Universidade Federal de Mato


Grosso – UFMT (2014). Docente do Ensino Superior. Atualmente, trabalha na
UNIR – Campus Rolim de Moura.
E

Ednilson Gomes da Silva


Mestrando em Geografia pelo PPGG/UNIR. Pesquisador do Laboratório de
Gestão de Território e Geografia Agrária da Amazônia (LAGET); Especialista
em Gestão Escolar pelo Centro Universitário Barão de Mauá (2013). Licenciatura
em Geografia pela UFAC (2009). Bacharel em Engenharia Elétrica pela UFAC.
Técnico em assuntos educacionais do Instituto Federal do Acre.
238

Francisco Ribeiro Nogueira


Mestrando em Geografia pelo PPGG/UNIR (2018-). Especialista em Fi-
nanças Corporativas pela PUC-Rio (1999). Graduado em Economia pela
Universidade Católica de Brasília (1998). Pesquisador no Grupo de Estudos e
Pesquisas Modos de Vidas e Culturas Amazônicas – GEPCULTURA/UNIR.

Gasodá Suruí

r
V
Mestre em Geografia pelo PPGG/UNIR (2018). Paiter Surui de Rondônia,

uto
do grupo Clã Gãmeb. Graduado em Turismo pelo Centro Universitário São
Lucas de Porto Velho, Rondônia (2009). Atualmente e Coordenador do Centro
Cultural Indígena Paiter Wagôh Pakob. Pesquisador no Grupo de Estudos

R
e Pesquisas Modos de Vidas e Culturas Amazônicas – GEPCULTURA, da

a
UNIR. Linha de Pesquisa Etnias e Populações Amazônicas.

do
Jaqueline Souza de Araújo
aC
Mestre em Geografia pelo PPGG/UNIR (2016-2018). Pesquisadora no

Editora CRV - versão para revisão do autor - Proibida a impressão


Grupo de Estudos e Pesquisas Modos de Vidas e Culturas Amazônicas –
são
GEPCULTURA/UNIR, na linha de pesquisa de Geografia Cultural: Espaços
e Representações. Acadêmica em Letras-Inglês (2016) e Especialização em
Administração e Gestão (2003) e Licenciada em História pela Universidade
Federal do Acre – UFAC (2001) pela UFAC; Bacharel Administração pela
i
rev

Universidade de Brasília – UnB (2011).


or

José Luiz Gondim dos Santos


Doutorando em Ciências da Saúde da FMABC – Santo André – SP. Mestre
em Ciências da Saúde pela Faculdade de Medicina do ABC (FMABC, 2018).
ara

Especialista em Direito Constitucional pela Universidade do Sul de Santa


ver dit

Catarina (UNISUL, 2012). Gestor de Políticas Públicas do Estado do Acre


(2006). Atualmente está como Assessor Jurídico da Fundação de Amparo à
op

Pesquisa do Estado do Acre (FAPAC).

Joselânio Ferreira de Morais


Mestrando em Geografia pelo PPGG/UNIR. Possui graduação em geografia
E

bacharelado pela Universidade Federal do Acre (2014) e especialização em


Geoprocessamento aplicado à análise ambiental pela Faculdade Barão do
Rio Branco (2015). Tem experiência na área de Geociências, com ênfase
em Geodésia.
CONQUISTA DO ESPAÇO NA AMAZÔNIA:
Apropriações da Natureza e Representações Sociais 239

Josué da Costa Silva


Pós Doutor pela Universidade Estadual de Londrina (2016), Doutorado em
Geografia (Geografia Humana) pela Universidade de São Paulo (2000), em
Geografia (Geografia Humana) pela Universidade de São Paulo (1994), e
Graduação em Geografia pela Universidade Federal de Rondônia (1989),
Mestrado Atualmente é professor associado IV da Universidade Federal
de Rondônia (UNIR). Tem experiência com graduação e pós-graduação,

r
V
tendo coordenado o Programa de Mestrado em Desenvolvimento Regional e

uto
Meio Ambiente (2004-2005) e o Programa de Pós Graduação em Geografia
(2006-2010), ambos da Universidade Federal de Rondônia. Coordenador
do Grupo de Estudos e Pesquisas Modos de Vidas e Culturas Amazônicas
(GepCultura) que tem como ênfase os seguintes temas: Geografia Cultural,
R
a
Desenvolvimento Regional, Cultura Amazônica, Amazônia, Populações
Ribeirinhas, Populações Tradicionais.

do
Juander Antonio de Oliveira Souza
aC
Doutorando e Mestre em Geografia pelo PPGG/UNIR. Especialista em
Editora CRV - versão para revisão do autor - Proibida a impressão

Engenharia de Segurança do Trabalho. Bacharel em Engenharia de Produ-


são
ção Agroindustrial pela Universidade do Estado de Mato Grosso (2008).
Docente do Departamento de Engenharia de Produção da UNIR, Campus
de Cacoal. Tem experiência na área de Engenharia de Produção, com ênfase
i

em “agroindústria”.
rev

Maria de Jesus Morais


or

Doutora em Geografia pela Universidade Federal Fluminense (2008). Mes-


trado em Geografia pela Universidade Federal de Santa Catarina (2000).
ara

Graduada em Geografia licenciatura/bacharelado pela Universidade Federal


do Ceará, (1993/1994). Docente da UFAC. Tutora do Grupo PET Geografia
ver dit

da Universidade Federal do Acre, do período de 2010 a 2011. É tutora do


PET Conexões de Saberes – comunidades indígenas. É professora do Pro-
op

grama de Mestrado Letras: linguagem e Identidade –UFAC.

Maria Liziane Souza Silva


Mestre em Geografia pelo PPGG/UNIR; Especialista em Perícia Audito-
E

ria e Gestão Ambiental pela União Educacional do Norte – UNINORTE


Acre; Bacharel em Geografia e Discente de Licenciatura em Geografia pela
UFAC; Pesquisadora do Grupo de Pesquisa em Geografia, Mulher e Rela-
ções Sociais de Gênero-GEPGÊNERO – UNIR; Experiência em estudos
migratórios amazônicos.
240

Maria das Graças Silva Nascimento Silva


Doutora em Ciências Sócio Ambiental e Desenvolvimento Sustentável, pelo
Núcleo de Altos Estudos da Amazônia – NAEA da Universidade Federal do
Pará (2004), Pós-Doutorado em Geografia Humana, na Universidade Estadual
de Ponta Grossa – UEPG -PR. Mestra em Geografia (Geografia Humana) pela
Universidade de São Paulo (1996), Graduada em Geografia pela UNIR (1988).
Professora Associada do Departamento de Geografia da UNIR. Pesquisa principal

r
V
na área de Geografia e Gênero, com ênfase em Políticas Públicas para mulheres

uto
do campo, da floresta e das águas. Coordena o Grupo de Estudos e Pesquisas em
Geografia, Mulher e Relações Sociais de Gênero – GEPGENERO. Participa das
seguintes Redes de Pesquisas: Rede Latino Americana de Geografia e Gênero
– RLAGG, Rede Espaço e Diferença RED e da Rede de Estudos de Geografia,

R
a
Gênero e Sexualidades Ibero Latino-Americana – REGGILA.

do
Mauro José Ferreira Cury
Pós-Doutorado em Geografia pela Universidade Federal do Paraná (2013), e
aC
Pós Doutorado em Turismo e Patrimônio Cultural pela Universitat de Barcelona

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(2015). Doutorado em Geografia pela Universidade Federal do Paraná (2010).
são
Professor da Universidade Estadual do Oeste do Paraná – UNIOESTE. Mes-
trado em Ciências da Comunicação pela Universidade de São Paulo (2003).
Docente dos Programas de Mestrado em Geografia UNIOESTE – Campus de
i
Marechal Cândido Rondon, Mestrado e Doutorado em Sociedade, Cultura e
rev

Fronteiras – UNIOESTE. Licenciatura em Geografia – Faculdades Integradas


de Uberaba (1985), Licenciatura em Estudos Sociais – Faculdades Integradas
or

de Uberaba (1985). Professor do PPGG/UNIR. Professor Visitante da Univer-


sidad Nacional de Colômbia – Sedes Bogotá e Caribe. Líder dos Grupos de
ara

Pesquisa: a) Turismo, Hospitalidade e Territorialidades Transfronteiriças; e b)


Olhares discursivos acerca do envelhecimento humano CNPq.
ver dit

Moisés Daniel de Sousa dos Santos


op

Mestre em Geografia PPGG/UNIR (2017). Licenciado Pleno em Letras com


Habilitação em Língua Portuguesa, pela Universidade Federal do Pará (UFPA-
2011), Aperfeiçoado em Educação Linguística, pela Faculdade de Tecnologia,
Ciências e Educação (FATECE-2016).
E

Neusa Maria Lazzaretti dos Santos


Mestranda em Ciências da Educação pela Universidade Del Sol – UNADES
(Paraguai); (Pós-Graduação em Ciências da Educação (Iaperon) (2018); Pós-
-Graduação em Educação Ambiental (Iaperon) (2018); Pós-Graduação em Gestão
Escolar (Unir) (2003); Pós-Graduação em Geografia no Contexto Amazônico
(Unir) (1998); Graduação em Geografia (Fafijan) (1983).
CONQUISTA DO ESPAÇO NA AMAZÔNIA:
Apropriações da Natureza e Representações Sociais 241

Núbia Débora Araujo Caramello


Doutora Pleno em Geografia na Universidade Autonoma de Barcelona UAB
– Cataluña / Espanha (2014-2017). Mestra em Geografia (2010) e Graduada
em Geografia (2004) e em Pedagogia (2006), pela Universidade Federal de
Rondônia – UNIR. Especialista em Processamento das Informações Geográ-
ficas na Gestão Ambiental (2006) pela Faculdade de Rolim de Moura FAROL
– RO. Investigadora convidada do Laboratório de Geografia e Planejamento

r
Ambiental (LABOGEOPA/UNIR). Integrante do Grupo de Pesquisa Água,

V
Território e Sustentabilidade – (UAB/Espanha). Pesquisadora de instrumentos

uto
tecnológicos e metodológicos que viabilizem Plano de Bacia Hidrográfica e
mecanismo de Gestão de Bacia Hidrográfica Integrada ao interesse dos atores
locais. Docente em todos os Níveis do Ensino Superior. Coordenadora e idea-
R
lizadora do Grupo Experimental de Pesquisa Diálogo Hídrico Multidisciplinar,

a
Membro do Conselho da Associação de Pesquisadores Polares e dos Mares em
Inicio de Carreira – APECS-Brasil. Colaboradora regional da Sociedade Civil
do
nos Comitês de Bacia Hidrografia.
aC
Laise Santos Azevedo
Editora CRV - versão para revisão do autor - Proibida a impressão

são
Mestra em Geografia pelo PPGG/UNIR (2018). Graduada em Ciências Bioló-
gicas pelo Instituto Federal de Educação Ciência e Tecnologia de Rondônia –
IFRO (2013). Pesquisadora do Grupo de Pesquisa do Laboratório de Geografia
e Planejamento Ambiental-LABOGEOPA e do Grupo de Estudo e Pesquisa em
i

Biologia Experimental – GEPBIOExp.


rev

Paulo César Barros Pereira


or

Mestrando em Geografia PPGG/UNIR (2018-2020). CNPq/CAPES Pesquisador


do grupo de pesquisa Grupo de Estudos e Pesquisas Modos de Vidas e Culturas
Amazônicas GEPCULTURA, CNPq/CAPES/2018 – 2020. Bacharel em Siste-
ara

mas de Informação – FAMETA-ACREe/2012-2015. Especialista em Fusão de


Fibra Ótica; – Projetos de Redes e Suporte Técnico em Redes de Computadores
ver dit

e Manutenção em Computadores. Servidor efetivo da Fundação de Tecnologia


do Estado do Acre desde 1994. Tem experiência na área de Sistemas de Infor-
op

mação e Ciência da Computação, com ênfase em Metodologia e Técnicas da


Computação; – Suporte e Consultoria na Instalação de Servidores AD Server
2008, Banco de Dados e Redes de Computadores
E

Raica Esteves Xavier Meante


Doutoranda em Agronomia pela UNESP (2016). Mestrado em Desenvolvimento
Regional e Meio Ambiente pela Universidade Federal de Rondônia (2013).
Especialização em Piscicultura pela Universidade Federal de Lavras (2009).
Graduação em Engenharia de Pesca pela Universidade Federal do Amazonas
(2005). Professora do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de
Rondônia – IFRO.
242

Rogério Nogueira de Mesquita


Mestrando em Geografia PPGG/UNIR, Pós-graduado em Educação Espe-
cial e Inclusiva, pela Faculdade Educacional da Lapa – FAEL. Graduado
em Licenciatura Plena em Geografia, pela Universidade Federal do Acre –
UFAC. Integrante do Grupo de Estudos e Pesquisas em Geografia, Mulher
e Relações Sociais de Gênero – GEPGÊNERO.

r
V
Sônia Maria Teixeira Machado

uto
Mestra em Geografia pelo PPGG/UNIR (2016) e especialização em Meto-
dologia do Ensino Superior pela UNIR (2005). Possui graduação em Artes
Plásticas pela Universidade Federal de Uberlândia (1998). Docente do

R
Ensino Superior. Professora do Ensino Básico, Técnico e Tecnológico do

a
Instituto Federal de Educação Ciência e Tecnologia de Rondônia (IFRO).
Vinculada à linha de pesquisa TRPD – Território, Representações e Políticas

do
de Desenvolvimento do Programa de Pós-Graduação em Geografia da UNIR.
aC

Editora CRV - versão para revisão do autor - Proibida a impressão


Tânia Olinda Lima
são
Mestranda em Geografia pelo PPGG/UNIR Graduação em Engenharia de
Pesca pela Universidade Federal de Rondônia (UNIR/2014), Campus de
Presidente Médici – Rondônia. Especialização em Gestão Ambiental e De-
senvolvimento Sustentável. Área de concentração: Ambiente e Território
i
rev

na Pan-Amazônia.
or

Tiago Magalhães da Silva Freitas


Doutorando pelo Programa de Pós-graduação em Ecologia, pela Universi-
dade Federal do Pará (UFPA) e EMBRAPA Amazônia Oriental. Mestre em
ara

Zoologia pela UFPA/Museu Paraense Emílio Goeldi. Professor Assistente


ver dit

da Faculdade de Ciências Naturais, do Campus Universitário do Marajó


(UFPA), município de Breves, Ilha do Marajó, Pará.
op

Wesley Souza Brasil


Mestrando pela Universidad Del Sol – UNADES, Licenciado em Ciências
Naturais pela Universidade Federal do Pará – UFPA, Especialista em Meto-
E

dologia do Ensino de Ciências e Biologia pela Faculdade Integrada de Goiás


– FIG, Especialista em Ciências da Educação pela faculdade MIRINIENSE
e Licenciando em Pedagogia pela Faculdade de Educação e Tecnologia da
Amazônia – FAM.
CONQUISTA DO ESPAÇO NA AMAZÔNIA:
Apropriações da Natureza e Representações Sociais 243

Willimis Alves Pereira


Mestrando em Geografia PPGG/UNIR (2016-2018). Graduação em Tec-
nólogo em Gestão Ambiental pela Universidade Norte do Paraná (2014).
Possui Pós-Graduação em Piscicultura na Amazônia Brasileira (2015). Pós-
-Graduação em Educação, Gestão, Perícia e Auditoria Ambiental (2017),
ambas pela Faculdade Santo André (FASA). Pós-Graduação em Metodologia
de Ensino de Geografia pelo Centro Universitário Leonardo da Vinci (2018).

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Pós-Graduação em Políticas Públicas e Socioeducação pela Universidade

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Federal de Brasília (2018). Pesquisador dos Grupos de Estudos Geografia
Socioambiental (Unir). Políticas Públicas e Gestão Territorial na Amazônia
(Unir) ambos ligados as grandes áreas da Geografia.
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Editora CRV - versão para revisão do autor - Proibida a impressão

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Editora CRV - versão para revisão do autor - Proibida a impressão


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SOBRE O LIVRO
Tiragem: 1000
Formato: 16 × 23 cm
Mancha: 12,3 × 19,3 cm
Tipografia: Times New Roman 10,5 | 11,5 | 12 | 16 | 18 pt
Arial 7,5 | 8 | 9 | 10 pt
Papel: Pólen 80 g/m² (miolo)
Royal Supremo 250 g/m² (capa)

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