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Complexidade em
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ambientes de ensino
aC
e de aprendizagem de
Editora CRV - versão para revisão do autor - Proibida a impressão
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línguas adicionais
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rev
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Editora CRV - versão para revisão do autor - Proibida a impressão
Walkyria Magno e Silva
Elaine Ferreira do Vale Borges
(Organizadoras)
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Editora CRV - versão para revisão do autor - Proibida a impressão
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COMPLEXIDADE EM AMBIENTES
DE ENSINO E DE APRENDIZAGEM
a re
DE LÍNGUAS ADICIONAIS
itor
par
Ed
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EDITORA CRV
Curitiba - Brasil
2016
Copyright © da Editora CRV Ltda.
Editor-chefe: Railson Moura
Diagramação e Capa: Editora CRV
Revisão: Os Autores
Conselho Editorial:
Profª. Drª. Andréia da Silva Quintanilha Sousa (UNIR) Prof. Dr. João Adalberto Campato Junior (FAP - SP)
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Prof. Dr. Antônio Pereira Gaio Júnior (UFRRJ) Prof. Dr. Jailson Alves dos Santos (UFRJ)
Prof. Dr. Carlos Alberto Vilar Estêvâo Prof. Dr. Leonel Severo Rocha (UNISINOS)
uto
- (Universidade do Minho, UMINHO, Portugal) Profª. Drª. Lourdes Helena da Silva (UFV)
Prof. Dr. Carlos Federico Dominguez Avila (UNIEURO - DF) Profª. Drª. Josania Portela (UFPI)
Profª. Drª. Carmen Tereza Velanga (UNIR) Profª. Drª. Maria de Lourdes Pinto de Almeida (UNICAMP)
Profª. Drª. Maria Lília Imbiriba Sousa Colares (UFOPA)
R
Prof. Dr. Celso Conti (UFSCar)
Prof. Dr. Paulo Romualdo Hernandes (UNIFAL - MG)
a
Prof. Dr. Cesar Gerónimo Tello
Prof. Dr. Rodrigo Pratte-Santos (UFES)
- (Universidad Nacional de Três de Febrero - Argentina)
Profª. Drª. Maria Cristina dos Santos Bezerra (UFSCar)
Profª. Drª. Elione Maria Nogueira Diogenes (UFAL) Prof. Dr. Sérgio Nunes de Jesus (IFRO)
do
Prof. Dr. Élsio José Corá (Universidade Federal da Fronteira Sul, UFFS) Profª. Drª. Solange Helena Ximenes-Rocha (UFOPA)
Profª. Drª. Gloria Fariñas León (Universidade de La Havana – Cuba) Profª. Drª. Sydione Santos (UEPG PR)
aC
Prof. Dr. Francisco Carlos Duarte (PUC-PR) Prof. Dr. Tadeu Oliver Gonçalves (UFPA)
C728
Bibliografia
ISBN: 978-85-444-1014-1
t
Série.
op
d
CDD 407
2016
Foi feito o depósito legal conf. Lei 10.994 de 14/12/2004
Proibida a reprodução parcial ou total desta obra sem autorização da Editora CRV
Todos os direitos desta edição reservados pela:
Editora CRV
Tel.: (41) 3039-6418
www.editoracrv.com.br
E-mail: sac@editoracrv.com.br
SUMÁRIO
PREFÁCIO
PREFACIANDO UM EFEITO BORBOLETA DA
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COMPLEXIDADE NA LINGUÍSTICA APLICADA BRASILEIRA............... 9
Vera Lúcia Menezes de Oliveira e Paiva (UFMG/CNPq)
uto
APRESENTAÇÃO
AS CONDIÇÕES INICIAIS NA CONSTRUÇÃO
R
DE UMA REDE DE IDEIAS E REFLEXÕES............................................. 15
oa
Walkyria Magno e Silva (UFPA)
Elaine Ferreira do Vale Borges (UEPG)
INTRODUÇÃO
aC
ENTRELAÇAMENTO DE TEMAS NA COMPREENSÃO
DE SISTEMAS CAÓTICOS ....................................................................... 19
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CAPÍTULO 1
COMPETÊNCIA COMUNICATIVA E COMPETÊNCIA SIMBÓLICA:
um olhar sobre a complexidade no desenvolvimento linguístico.................. 33
Rafael Vetromille-Castro (UFPEL)
par
CAPÍTULO 2
GRUPO COMO SISTEMA ADAPTATIVO COMPLEXO:
um estudo das práticas de ensino e aprendizagem
Ed
no contexto do Facebook.............................................................................. 49
são
CAPÍTULO 3
AFFORDANCES NO DESENVOLVIMENTO DA PRODUÇÃO
ORAL EM LÍNGUA INGLESA: considerações a partir
ver
da abordagem ecológica............................................................................... 69
Kelly Cristina M. Gaignoux (UFPa/Bragança)
Michell Gadelha Moutinho (Escola de Aplicação/UFPa)
PARTE II
LIVROS DIDÁTICOS COM FOCO NA TEORIA DA COMPLEXIDADE
CAPÍTULO 4
POTENCIALIDADES DA ABORDAGEM COMPLEXA NO USO DA
COLEÇÃO “ALIVE! INGLÊS” – Ensino Fundamental................................. 93
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Leonardo dos Santos Pereira (CEBRAC)
uto
Elaine Ferreira do Vale Borges (UEPG)
CAPÍTULO 5
TRANSDISCIPLINARIDADE NO ENSINO DO ESPANHOL:
R
uma análise do livro didático Enlaces – Ensino Médio................................. 115
a
Kelly Cristinna Frigo Nakayama (IFPR)
Elaine Ferreira do Vale Borges (UEPG)
do
aC
PARTE III
CAPÍTULO 6
O EFEITO DO ACONSELHAMENTO LINGUAGEIRO
i
NA TRAJETÓRIA DE APRENDIZAGEM DE UMA
rev
CAPÍTULO 7
ara
CAPÍTULO 8
ESTADOS ATRATORES EM TRAJETÓRIAS DE
ACONSELHAMENTO LINGUAGEIRO NA
E
sã
CAPÍTULO 9
CONSELHEIROS LINGUAGEIROS COMO POTENCIAIS
PERTURBADORES DE SUAS PRÓPRIAS TRAJETÓRIAS
NO SISTEMA DE APRENDIZAGEM ......................................................... 199
Walkyria Magno e Silva (UFPA)
PARTE IV
CONSIDERAÇÕES TEÓRICAS COMPLEXAS
CAPÍTULO 10
COMPLEXIDADE BIOLÓGICA NO ENSINO/APRENDIZAGEM
DE LÍNGUAS ADICIONAIS......................................................................... 223
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Rodrigo Camargo Aragão (UESC)
uto
CAPÍTULO 11
INTERFACES ENTRE A ABORDAGEM COMPLEXA E O
R
BILINGUISMO MULTIDIMENSIONAL NA EDUCAÇÃO DE SURDOS......241
oa
Elaine Ferreira do Vale Borges (UEPG)
Eliziane Manosso Streiechen (UNICENTRO)
À GUISA DE CONCLUSÃO
aC
AO FINAL DE UMA ROTA, BIFURCANDO PARA
NOVAS CONDIÇÕES INICIAIS ................................................................. 261
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PREFACIANDO UM EFEITO
BORBOLETA DA COMPLEXIDADE NA
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LINGUÍSTICA APLICADA BRASILEIRA
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Vera Lúcia Menezes de Oliveira e Paiva (UFMG/CNPq)
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oa
A primeira vez que li o artigo de Larsen-Freeman (1997), intitulado
Chaos/complexity science and second language acquisition foi por sugestão
do colega Hilário Bohn que percebeu uma visão epistemológica promissora
aC
naquele texto. Li e reli várias vezes, pois senti dificuldades para entender
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de que uma pequena alteração nas condições iniciais pode ocasionar efeitos
desproporcionais no sistema. Segundo Ghys (2002), o termo apareceu pela
primeira vez, na palestra de Lorenz intitulada “Does the flap of a butterfly’s
wings in Brazil set off a tornado in Texas?”, na 130ª reunião da American
Association for the Advancement of Science.
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A própria Larsen-Freeman não acreditava no efeito que seu artigo cau-
uto
saria na Linguística Aplicada. Ela mesma explica que o artigo era uma versão
revisada de uma apresentação feita, em 1994, no Second Language Research
Forum, em Montreal, e que ela só tornou a publicar sobre o tema em 2002
R
(LARSEN-FREEMAN, 2007), ou seja 8 anos depois de lançada a primeira
a
semente da complexidade na Linguística Aplicada. O texto ao qual ela se
refere é um capítulo no livro de Kramsch (2002), onde Larsen-Freeman re-
do
visita a controvérsia nas teorias de aquisição alimentada pelas perspectivas
psicolinguísticas e sociolinguísticas e conclui que uma perspectiva caótica/
aC
complexa “apoia claramente a visão da participação social de aquisição de
samos de parceiros de conversa” para fazer ciência. A segunda razão, diz ela,
“as ideias precisavam de tempo para amadurecer”.
or
of Development.
Em 2007, foi a vez de Bilingualism: Language and Cognition editado
E
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pensar sobre pesquisa em educação.
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No segundo periódico, conforme informa De Bot (2008), foram re-
unidos artigos derivados de apresentações no congresso anual das asso-
ciações americana e canadense de Linguística Aplicada (AAAL and CAAL),
R
em 2006. Dentre os artigos, destaco o de Larsen-Freeman e Cameron (2008a)
oa
que discutem princípios metodológicos gerais para a pesquisa sobre o desen-
volvimento da língua na perspectiva dos sistemas complexos. O artigo é uma
pequena amostra do conteúdo do livro de ambas (LARSEN-FREEMAN;
aC
CAMERON, 2008b), ainda no prelo na ocasião da publicação do artigo,
mas que foi publicado no mesmo ano desse número especial do The Modern
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Language Journal.
Em 2009, Language Learning publicou um suplemento, editado por
visã
Ellis e Larsen-Freeman (2009a), celebrando o 60º aniversário do periódico.
O suplemento foi intitulado Language as a complex adaptive system. Os
organizadores publicaram um position paper, que já havia circulado na
Internet, de autoria do Five Graces Group, intitulado Language is a complex
a re
itor
adaptive system.
Na introdução, os editores explicam que os trabalhos reunidos naquele
número especial foram submetidos ao periódico e avaliados à luz das dis-
cussões ocorridas no evento e que passaram pelo processo padrão de ava-
par
O texto do grupo The Five Graces Group2 (BECKNER et al., 2009) foi
produzido por 10 autores e apresenta conceitos básicos sobre a lingua(gem)
como um sistema adaptativo complexo e sobre aquisição de primeira e se-
gunda língua.
Em 2013, foi a vez do Brasil. A Revista Brasileira de Linguística
V
r
Aplicada, organizou um número especial com chamada pública e os textos
uto
aprovados foram publicados no número 2, do volume 13, em 2013. O
número incluiu autores brasileiros e estrangeiros e foi prefaciado por Larsen-
Freeman que conclui que
R
a
a contribuição fundamental de perspectivas da complexidade reside
no seu potencial para oferecer formas alternativas de pensar e abrir
do
nossos olhos para diferentes maneiras de ver nossas salas de aula. Elas
me fizeram questionar e examinar, criticamente, minhas suposições
aC
sobre aspectos de aprendizagem e ensino que foram, inadvertida-
crita deste texto, com chamada aberta. Trata-se da Revista Virtual de Estudos
or
Fico feliz de ter sido de alguma forma, o elo entre elas e outros pesquisa-
dores, que adotam o caos e a complexidade como uma nova forma de pensar
e que marcam presença neste livro.
Mas como o sistema está sempre em desenvolvimento, é uma alegria
ver que as duas, ao desenvolverem seus próprios grupos de pesquisa, criam
od V
r
novos elos na rede, se associaram e ofereceram a oportunidade para seus
uto
orientandos, jovens pesquisadores, apresentarem suas pesquisas.
“Complexidade em ambientes de ensino e de aprendizagem de línguas
adicionais” apresenta algumas respostas para a pergunta de Lemke e Sabelli
R
(2008): “Como poderíamos, de forma útil, utilizar e conceitos e procedi-
oa
mentos derivados do estudo de outros sistemas dinâmicos complexos para
analisar a mudança sistêmica na educação?” Além das relevantes reflexões
teóricas, o leitor encontrará bons exemplos do uso dos conceitos advindos
aC
dos sistemas dinâmicos complexos na análise de práticas de linguagem, evi-
dências de desenvolvimento de competências em línguas adicionais, análise
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Walkyria Magno e Silva (UFPA)
Elaine Ferreira do Vale Borges (UEPG)
R
No encontro das organizadoras deste livro, proponentes do simpósio
oa
sobre complexidade e aprendizagem de línguas ocorrido no IX Congresso da
Associação Brasileira de Linguística (ABRALIN) em Belém do Pará, surgiu
a ideia de transformar as comunicações apresentadas em um livro que as reu-
nisse, acompanhadas do trabalho desenvolvido por membros dos grupos de
aC
pesquisa coordenados por ambas. A intenção, acalentada ao sabor do tucupi
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linguagem e aquisição de segunda língua como sistema adaptativo com-
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plexo; a natureza do ensino/aprendizagem de língua como multifacetado,
orientado pela dinâmica reconstrutiva desse processo como postulado em
diferentes reflexões sobre a construção do conhecimento e pelo processo
R
dialético evolutivo do desenvolvimento da linguagem; o professor como
a
um dos elementos que dá dinamicidade ao processo de ensino e aprendi-
zagem; o desempenho na língua sendo adquirida (e não mais na compe-
do
tência), entendendo-o como individual e auto-organizável: modelo dinâmico
de desempenho; as práticas sociais da linguagem como elementos essenciais
aC
no processo de aquisição de língua; as múltiplas identidades, entendendo-as
od V
r
contrar nestas páginas um rico material para reflexão. A partir do diálogo
uto
consigo próprios suscitado por este volume poderão talvez compreender
melhor os acontecimentos do cotidiano em suas salas de aula entendidas
como sistemas adaptativos complexos, com inúmeros subsistemas aninhados
R
que as compõem.
oa
Resolvemos dividir o volume em quatro partes: a primeira, intitulada
Práticas de linguagem na perspectiva da complexidade apresenta textos
sobre o desenvolvimento de competências em línguas adicionais, com a
aC
emergência de significados na compreensão escrita, produção oral e no uso
de redes sociais; a segunda, Livros didáticos com foco na teoria da comple-
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xidade, aborda como a visão abraçada pelo volume já se faz presente neste
recurso de aprendizagem na sala de aula do Ensino Fundamental e Médio;
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a terceira, Aconselhamento linguageiro como sistema adaptativo complexo,
traz à discussão o elemento do conselheiro na sua relação com o aconse-
lhado no sistema de aprendizagem; e, finalmente, a quarta, Considerações
teóricas complexas, comporta dois capítulos que prescindem de dados para
a re
itor
meira parte com o capítulo três, Kelly Gaignoux e Michell Gadelha utilizam
a abordagem ecológica para descrever os propiciamentos (affordances) uti-
lizados por alunos de um campus do interior do Pará para aprender inglês.
No capítulo quatro, Leonardo Pereira e Elaine Borges analisam o po-
tencial da abordagem complexa de ensino de língua em atividades propostas
em um livro didático de inglês fundamentado na perspectiva da complexidade.
18
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r
perspectiva de outros agentes de seu sistema de aprendizagem. Segue-se o
uto
sétimo capítulo de Larissa Dantas Borges e Jhonatan Rabelo que trata da
emergência de comportamentos autônomos de aconselhados. A seguir, Maria
Clara Matos e Sádie Morhy exploram os estados atratores na trajetória de
R
aconselhados no capítulo oito; e, encerrando a terceira parte, capítulo nove,
a
o texto de Walkyria Magno e Silva estuda o papel do conselheiro como um
agente no sistema de aprendizagem e seus impactos desse aconselhamento
do
na sua própria trajetória.
Na continuação, o capítulo dez é escrito por Rodrigo Aragão que ex-
aC
plora as conexões entre a complexidade e a Biologia do Conhecer. O outro
nível micro até o nível macro, possam se desenvolver em uma trajetória fa-
vorável, seguindo uma agenda positiva de compreensão e crescimento cons-
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ENTRELAÇAMENTO DE
TEMAS NA COMPREENSÃO
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DE SISTEMAS CAÓTICOS
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Elaine Ferreira do Vale Borges (UEPG)
R
Walkyria Magno e Silva (UFPA)
oa
Desde o artigo seminal de Diane Larsen-Freeman, Chaos/Complexity
Science and Second Language Acquisition (1997), muitas e novas inquie-
tações surgiram no campo de estudos da linguagem na perspectiva dos sis-
aC
temas dinâmicos caóticos. O livro da mesma autora, em parceria com Lynne
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complexidade e linguagem.
Nesta introdução, visamos discutir brevemente e de maneira inter-
-relacionada os principais conceitos e temas que emergem nos capítulos
apresentados neste livro. Para tanto, lançamos mão de algumas referências
Ed
V
r
complexidade, emergência, sistema, sistema fechado, sistema aberto,
uto
sistema complexo, sistema não linear, sistema dinâmico, sistema dinâmico
não linear, sistema caótico, sistema adaptativo complexo, linearidade, não li-
nearidade, (co)adaptação, auto-organização, caos, caos determinístico, caos
R
não-determinístico, entropia, condição inicial, variável de estado, dimensio-
a
nalidade, espaço de fases, atrator, bacia atratora, atrator de ponto fixo, atrator
periódico, atrator caótico, fractal, bifurcação e transdisciplinaridade.
do
Feito esse breve preâmbulo, passamos ao detalhamento dos termos
acima apresentados. Para iniciar, gostaríamos de citar uma passagem do
aC
texto de Davis e Sumara (2006, p. 17, itálico e aspas dos autores) que nos
od V
r
bernética de John von Neumann e Norbert Wiener (1940), a teoria
uto
da catástrofe de René Thom (1960) e a geometria fractal de Benoît
Mandelbrot (1975);
2. Física Quântica: o modelo atômico de Niels Bohr (1913) e o prin-
R
cípio da incerteza de Werner Heisenberg (1927);
oa
3. Biologia: a embriologia genética de Conrad Waddington (1940), a
teoria geral dos sistemas de von Bertalanffy (1950) e a teoria da
autopoiese de Humberto Maturana e Francisco Varela (1970);
aC
4. Meteorologia: a teoria do caos de Edward Lorenz (1960);
5. Química: a teoria das estruturas dissipativas (com foco na auto-
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acima citadas – mas indo além delas, ao conciliar distintas teorias – que
podemos entender o comportamento emergente (resultado de múltiplas e
são
2 Larsen-Freeman; Cameron (2008), no entanto, não citam todas as teorias enfatizadas aqui, como o modelo atômico de
Bohr, o princípio da incerteza de Heisenberg, a geometria fractal de Mandelbrot, a transdisciplinaridade de Nicolescu e a
complexidade de Morin. Entendemos que as teorias acrescentadas são igualmente importantes na contextualização da
emergência do/a paradigma/teoria da complexidade.
3 O termo transdisciplinaridade foi cunhado e primeiramente citado pelo psicólogo Jean Piaget em 1970.
22
V
r
“pode ser definido e desenvolvido de diferentes formas como requerido
uto
pelos objetivos da pesquisa, e como refletindo diferentes aspectos da noção
central”. De forma geral, porém, um sistema é um conjunto de componentes
cuja interação configura-se em algo maior que seus componentes tomados
R
isoladamente; ou, em outras palavras, é um fenômeno dinâmico que emerge
a
da interação “de muitos subcomponentes ou agentes, cujas ações são, por sua
vez, ativadas e compelidas por contextos similarmente dinâmicos” (DAVIS;
do
SUMARA, 2006, p. x).
No contexto da teoria geral dos sistemas (BERTALANFFY,
aC
2009[1968]), sistemas fechados são sistemas isolados de seu ambiente e,
sidia esse tipo de sistema ao expor que, por exemplo, em um circuito linear
i
cada gerador em um ramo do circuito é igual à corrente total que flui no cir-
d
cidas. Esse tipo de sistema se distingue pela sua não linearidade e, do ponto
de vista da física moderna, um sistema não linear é definido como aquele
4 Em álgebra – ramo da matemática que estuda operações matemáticas – uma função (tipo particular de relações) linear,
cujo resultado é uma reta, apresenta a noção de proporcionalidade em qualquer ponto ao longo da reta. Esse conceito
não é verdadeiro em funções não lineares pois estas sempre produzem como resposta comportamentos curvos,
ondulatórios, ou outras estruturas mais complexas.
COMPLEXIDADE EM AMBIENTES DE ENSINO
E DE APRENDIZAGEM DE LÍNGUAS ADICIONAIS 23
od V
r
subcategoria de sistema dinâmico não linear, são aqueles altamente sensíveis
uto
às condições iniciais.
O uso do termo sistema adaptativo complexo (SAC), por sua vez, é
mais comum nas ciências biológicas, sociais e da linguagem para salientar
R
uma das principais características dos sistemas vivos, que “aprendem” nas in-
oa
terações com seus elementos internos e externos: a (co)adaptação. Um SAC
é um sistema aberto, complexo, dinâmico, não linear e caótico – que muda ao
longo do tempo – em trocas constantes de energia com o seu ambiente micro
aC
e macro, possibilitando-lhe contínuas (co)adaptações e auto-organizações
culminantes em emergências de padrões peculiares de comportamento (atra-
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nificados, existe uma diferença básica, pontuada pelas ciências exatas, entre
cada conceito que está diretamente relacionado às características do sistema
que se quer tratar. A Figura 1 (de nossa inteira responsabilidade) é uma ten-
Ed
V
Complexo NÂO-LINEAR
r
Característica Constitutiva
altamente sensíveis
CAÓTICO às condições iniciais
uto
Fonte: Produção das autoras
R
a
(questões que não vamos aprofundar aqui), sendo esse o motivo pelo qual
optamos pelo uso do termo “sistemas caóticos” no título desta introdução
do
– tendo em vista que englobam a não linearidade e a complexidade, sendo,
ainda, adaptáveis já que altamente sensíveis às condições iniciais. Nos di-
aC
ferentes capítulos que compõem este livro, todavia, poder-se-á aparecer
od V
r
iniciais) pelo próprio ambiente conforme o sistema se desenvolve, e em con-
uto
sequência desse desenvolvimento.
Em matemática, a teoria da bifurcação conceitua a bifurcação como “a
ramificação de soluções estáveis (ou periódicas) em mudanças suaves dos pa-
R
râmetros que caracterizam as influências externas” (BUSHEV, 1994, p. 12);
oa
tendo sido Henri Poincaré, in 1885, o precursor no uso dessa terminologia no
contexto da dinâmica não linear de sistemas, mostrando que esse fenômeno
ocorre quando da mudança na topologia no espaço de fases de um sistema
aC
dinâmico alterando sua estrutura que, por sua vez, é instável (MONTEIRO,
2006, p. 313). Ainda, a bifurcação (cruzamento devido à falha em avançar ao
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não à falta dela, em uma dada relação em que a ordem é primária (permeia o
mundo) e o caos secundário (superficial); ou seja, caos, na ciência clássica,
é a ausência de um tipo específico de ordem, um desvio das regularidades
previstas no que podemos denominar caos determinístico. Na física mo-
derna o critério quantitativo de caos é fornecido pela entropia (grandeza
termodinâmica) – o caos não determinístico – em que a relação causa e
consequência é de natureza estocástica. Nesse último caso, pelos menos em
26
V
r
de um corpo menos trabalho ele é capaz de fazer” – o estado máximo de
uto
entropia é a morte do sistema (BUSHEV, 1994, p. 122). A entropia fornece o
estado atual do sistema, sua evolução (ordem e caos) e estrutura (quantidade
de informação), dentre outras informações.
R
A compreensão do que vem a ser determinístico ou não-determinístico
a
no caos leva-nos também ao que Gleick (1991[1987], p. 19, itálico do autor)
pontua como sendo “a ordem mascarada de aleatoriedade” em sistemas
do
caóticos ou a aparente desordem do caos, sendo necessário voltarmos um
pouco na história da física clássica e moderna. A concepção determinística
aC
dos acontecimentos no mundo e o modelo mecânico do universo, subsi-
terceira órbita nos estudos de corpos celestes com condições iniciais ligeira-
mente diferentes não seria mais possível determinar seus comportamentos a
ara
5 Fundamentada pelo modelo heliocêntrico e das três leis do movimento planetário de Johannes Kepler.
6 Desencadeada pelos estudos de Max Planck, seguidos pelos de Niels Bohr e Werner Heisenberg.
7 Irrompida pelas pesquisas sobre os três corpos celestes de Henri Poincaré.
COMPLEXIDADE EM AMBIENTES DE ENSINO
E DE APRENDIZAGEM DE LÍNGUAS ADICIONAIS 27
od V
r
variáveis de estado que o representa, ou seja, o sistema é dito unidimensional
uto
se apresenta uma única variável de estado e n-dimensional se apresenta n
variáveis de estado. Normalmente, cada variável de estado pode assumir
um valor diferente dentro de uma faixa determinada de valores (a faixa de
R
valores é definida de tal forma a produzir resultados fisicamente realizáveis
oa
para o sistema). Assim, qualquer combinação única de valores destas
variáveis resulta em um estado do sistema. Com isso, podemos mapear
todos os estados possíveis do sistema em uma única representação gráfica
aC
em função de suas variáveis de estado. Essa representação (ou mapeamento)
é denominada espaço de fases ou, muitas vezes, espaço de estados – neste
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livro, usaremos os termos como sinônimos entre si. Assim e de forma geral,
o espaço de fases “proporciona uma maneira de transformar números em
visã
imagens, extraindo todas as informações essenciais de um sistema de partes
móveis, mecânicas ou fluídas, e traçando um flexível mapa rodoviário de
todas as suas possibilidades” (GLEICK, 1991[1987], p. 135).
Com base no exposto acima, um atrator pode ser definido como sendo
a re
itor
ódico e caótico/ estranho (GLEICK, 1991 [1987]) – sendo esse último o que
nos interessa nas discussões neste livro. Os atratores de ponto fixo e perió-
são
V
r
naturais (inteiros) que restringem a descrição de formas mais complexas
uto
encontradas na natureza como, por exemplo, litorais, montanhas e nuvens
(VOSS, 1988). A geometria fractal de Benoît Mandelbrot surge como um
modelo matemático capaz de delinear dimensões fracionadas, fractalizadas,
R
intermediárias àquelas definidas pela geometria clássica, podendo descrever
a
superfícies e formas na natureza em “escalas infinitesimalmente pequenas”
(escalas atômicas), sendo que uma “figura com essa característica é chamada
do
de fractal” (MONTEIRO, 2006, p. 420, itálico do autor). Assim, segundo
Gleick (1991, p. 90),
aC
estado crítico na beira do caos, como o monte de areia pouco antes de entrar
em colapso” (LARSEN-FREEMAN; CAMERON, 2008b, p. 63). Ao final,
i
op
od V
r
p. 35, itálico do autor). A transdisciplinaridade, ainda, objetiva ultrapassar a
uto
concepção da divisão do conhecimento em disciplinas (fragmentação, para-
digma da simplicidade), indo além da interdisciplinaridade (integralização
de conteúdos disciplinares), enxergando o conhecimento como uma rede de
R
interconexões que atravessa e contempla todo o saber já constituído ou em
oa
iminência de formalização.
Com base no que foi exposto acima, esta introdução, como já salientado,
buscou apresentar e discutir os principais conceitos que emergirão na leitura
aC
dos capítulos que compõem este livro, sem, no entanto, ambicionar o esgo-
tamento da compreensão subjacente a cada termo enfatizado. Ainda, poderá
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8 Agradecemos as profícuas discussões com o Prof. Dr. Ben-Hur Viana Borges do Departamento de Engenharia Elétrica e
Computação da Universidade de São Paulo.
30
V
r
xidade? Entendemos que a resposta é não, considerando a ênfase, dada pelas
uto
próprias autoras, ao ponto levantado por Lakoff e Johnson (2001, p. 124) de
que metáforas se constituem em um domínio conceitual que governa nossos
pensamentos, sendo que “o que fazemos todos os dias é uma questão de
R
metáfora”. Aqui voltamos a Wittgenstein (1986[1953]) para salientar que os
a
linguistas aplicados (e estudiosos da área de humanas em geral) certamente
utilizam-se da terminologia dos sistemas caóticos como mais do que metá-
do
foras porque a nova nomenclatura passa a fazer parte do jogo de linguagem da
LA (ou da ciência que o pesquisador faz parte). Larsen-Freeman e Cameron
aC
(2008b, p. 15) colocam, ainda, que “a teoria da complexidade servirá ao
volvimento desta introdução que se converte nessa ponte para a leitura dos
capítulos que seguem, principalmente para os leitores menos aclimatados
or
com a complexidade.
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PARTE I
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PRÁTICAS SOCIAIS DE LINGUAGEM
NA PERSPECTIVA DA COMPLEXIDADE
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CAPÍTULO 1
COMPETÊNCIA COMUNICATIVA E
COMPETÊNCIA SIMBÓLICA:
od V
r
um olhar sobre a complexidade no
uto
desenvolvimento linguístico
R
oa
Rafael Vetromille-Castro (UFPEL)
1 Introdução
aC
Conforme é apresentado na introdução da presente obra, desde a publi-
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atuar em seus “buracos negros”. Em minha ótica, uma das “zonas de sombra”
do paradigma clássico é a tendência de competição, de sobreposição ou de
descarte de conceitos anteriormente desenvolvidos frente a novas propo-
Ed
V
r
aproximações complexas
uto
Quando Kramsch apresentou, em 2006, o conceito de competência sim-
bólica, no artigo From Communicative Competence to Symbolic Competence,
R
ele veio como resposta à suposta insuficiência do conceito de competência
a
comunicativa para lidar com situações que vão além da mera comunicação,
mas que envolviam, entre outras habilidades, a capacidade de o usuário de
do
dada língua em mover-se nos jogos de poder estabelecidos pela linguagem.
aC
Um dos argumentos que sustentava a proposta era o de que a competência
comunicativa havia sido reduzida à modalidade falada e tal redução estaria
1 Opto por usar a sigla do termo em inglês Communicative Language Teaching por ser amplamente conhecido na área de
Linguística Aplicada.
2 Os três componentes da primeira versão de Competência Simbólica: Produção de Complexidade, Tolerância a
Ambiguidade e Forma como Significado.
3 Trecho original: “These three components of a symbolic competence should lead teachers to view language and culture,
that is, grammar and style, vocabulary and its cultural connotations, texts and their points of view, as inseparable. In turn,
language learners should slowly understand that communicative competence does not derive from information alone, but
from the symbolic power that comes with the interpretation of signs and their multiple relations to other signs. Essa e todas
as demais traduções são de responsabilidade do autor.
COMPLEXIDADE EM AMBIENTES DE ENSINO
E DE APRENDIZAGEM DE LÍNGUAS ADICIONAIS 35
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r
de dar forma ao jogo multilíngue no qual se investe – a habilidade de
manipular as categorias convencionais e normas sociais de veracidade,
uto
legitimidade, seriedade, originalidade – e reenquadrar o pensamento e a
ação humanos”5. (KRAMSCH; WHITESIDE, 2008, p. 667)
R
Três anos mais tarde, em 2011, Kramsch coloca a competência sim-
oa
bólica como a habilidade de manipular as três dimensões do discurso como
um sistema simbólico: a representação simbólica, a ação simbólica e o poder
simbólico. No mesmo artigo, a autora declara que a competência simbólica
aC
extrapola a competência semiótica (VAN LIER, 2004 apud KRAMSCH,
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aprendizagem consegue ser nada além de uma simulação, de um ensaio, de
uto
mise-en-scène, para aquilo que, de fato, pode acontecer em contextos reais
de comunicação. No mesmo sentido, vários linguistas aplicados (PAIVA,
2010; VAN LIER, 2004) veem o desenvolvimento linguístico7 como um
R
fenômeno decorrente de affordances (as quais podem estar dentro ou fora
a
da sala de aula). As affordances, “naturais ou culturais, diretas ou indiretas,
são relações de possibilidade entre usuários da língua. Elas podem ser postas
do
em prática para tornar outra ação linguística possível”8 (VAN LIER, 2004,
p. 95). Em sendo possíveis, com o perdão pela obviedade, poderão ou não
aC
receber a materialidade da expressão ou compreensão na língua. Nessa ótica,
texto de 2004:
t
7 Ao longo do texto, dou preferência para o uso do termo desenvolvimento linguístico em vez de aprendizagem de línguas
por compartilhar com Larsen-Freeman e Cameron (2008, p.115) o entendimento de que a competência em línguas (L1
ou L2) é um processo em constante modificação, não havendo um constructo definido, estanque e perene que permita
declarar que o indivíduo aprendeu ou não dado idioma de forma definitiva.
8 Trecho original: “[...] language affordances, whether natural or cultural, direct or indirect, are relations of possibility
between language users. They can be acted upon to make further linguistic action possible”.
9 Grifo meu.
10 Trecho original: “They are relationships of possibility, the result of perceiving an object while co-perceiving oneself. In other
words, what I perceive is perceived as it is relevant to me. In this view, perception, action and interpretation are part of one
dynamic process”.
COMPLEXIDADE EM AMBIENTES DE ENSINO
E DE APRENDIZAGEM DE LÍNGUAS ADICIONAIS 37
od V
r
visível e de constante mutação. Portanto, a competência simbólica, como
uto
realização de dadas affordances, é um processo dinâmico, uma emergência
possível, sistêmica, contextual e imprevisível.
A seguir, me dedico ao argumento central do capítulo, a saber, como
R
compreendo que a competência comunicativa e seus elementos constituintes
oa
são condições para a emergência da competência simbólica. Para tal fim,
pretendo abordar características dos SAC e alguns exemplos de uma sala
de aula baseada em princípios do CLT, além de, obrigatoriamente, tratar de
aC
outros aspectos do jogo de poder simbólico que inexoravelmente faz parte
do uso social da linguagem.
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11 O evento da Universidade da Califórnia/Berkeley, realizado em 20 de novembro de 2015, pode ser acessado em: <http://
blc.berkeley.edu/2015/08/19/lectures-by-c-kramsch-a-whiteside-november-20-2015/>. Há a íntegra do evento, bem como
materiais relacionados.
38
V
r
por ela sob a perspectiva complexa outrora ainda os descreve de modo sa-
uto
tisfatório. Isso quer dizer que poderá ser feita menção a características como
não linearidade, sensibilidade a condições iniciais, abertura, sensibilidade
a feedback, auto-organização, além da imprevisibilidade, da qual já tratamos
R
anteriormente. Meu propósito aqui, ressalto, não é associar todos traços de
a
um SAC e um objeto e descrevê-lo peremptoriamente como um sistema
– seja a interlíngua, a sala de aula ou mesmo a competência simbólica.
do
Primeiro, porque isso já foi feito quando se fala de interlíngua (NUNES,
2014) e sala de aula (VETROMILLE-CASTRO, 2008; MARTINS, 2009).
aC
Segundo, porque já parto do pressuposto – demonstrado pelas considerações
os sistemas são regidos por regras de baixo nível. Tais regras, de natureza
pouco maleável, seriam responsáveis por estabelecer limites que propi-
or
od V
r
rência desse processo, leva o sistema a desenvolver-se. Ou seja, os sistemas
uto
complexos necessitam do poder agregador da redundância, mas demandam
igualmente de diversidade interna para serem levados ao limite do caos e
atingirem novos estados de desenvolvimento.
R
Buscando demonstrar que a competência simbólica é uma emergência
oa
da competência comunicativa, será preciso estabelecer relações principal-
mente entre a última, seus constituintes e os diversos elementos ligados à
Complexidade. Entretanto, é essencial declarar qual competência comu-
aC
nicativa usaremos como referência na argumentação, uma vez que desde
os anos 70 o termo tem recebido inúmeras releituras (HYMES, 1972;
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his army on the road to peace: The Saudi businessman who recruited mu-
jahedin now uses them for large-scale building projects in Sudan. Robert
Fisk met him in Almatig12”. Em resumo, a publicação mostra a história de
um empresário saudita que recrutara e treinara árabes para confronto com
12 “Guerreiro anti-soviético coloca seu exército na estrada para a paz: empresário saudita que recrutou mujahedin agora os
utiliza para projetos de construção de larga escala no Sudão. Robert Fisk o encontrou em Almatig”.
40
V
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partir de letras maiúsculas. De forma associada, poderá vir a associação com
uto
adjetivos pátrios (Soviet, Saudi). Ainda em se tratando de estratégias, há a
exploração da palavra mujahedin14, a qual provavelmente demandaria a adi-
vinhação de palavras pelo contexto ou uma pergunta para ser respondida
R
com a leitura da matéria completa.
a
O título ainda dá espaço para a exploração do nome do jornalista.
Dependendo do grupo de alunos, seus interesses e conhecimento prévio,
do
pode ser interessante e relevante explorar quem é Robert Fisk – um jornalista
inglês renomado, ganhador de inúmeros prêmios pelo seu trabalho como
aC
correspondente no Oriente Médio e que mora há mais de 25 anos em Beirute.
textual, uma vez que, em associação com outras competências, e ela que
permitirá em maior ou menor grau que o aprendiz-leitor perceba a estrutura
or
derar que a discussão sobre o uso do presente para tratar de fato passado
i
13 O texto completo em sua versão eletrônica pode ser acessado em: <http://www.independent.co.uk/news/world/anti-soviet-
warrior-puts-his-army-on-the-road-to-peace-the-saudi-businessman-who-recruited-mujahedin-1465715.html>.
14 Mujahedin é o termo plural traduzido do árabe como combatente, alguém que se empenha na luta, podendo ter conotação
religiosa ou não.
COMPLEXIDADE EM AMBIENTES DE ENSINO
E DE APRENDIZAGEM DE LÍNGUAS ADICIONAIS 41
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conflito que está implícito na notícia – a Guerra do Afeganistão (1979-1989).
uto
A influência que a competência sociocultural pode ter fica ainda mais evidente
quando o leitor é capaz de trazer para o seu processo de compreensão o histórico
do principal personagem da reportagem, principalmente se lhe for dado acesso à
R
versão impressa da notícia (o que ajudaria muito aqueles que porventura tenham
oa
pouca memória para nomes), cuja imagem15 reproduzo:
visã
a re
itor
par
Ed
são
Fonte: acesso livre via Google a partir de pesquisa com o título da matéria.
15 A versão impressa apresenta uma foto do “guerreiro anti-soviético” ilustrando o texto, o que não acontece na versão online.
42
V
r
Entretanto, ao considerar que é preciso permitir ao aluno o engajamento
uto
no jogo de poder simbólico que a linguagem estabelece, ao ponto de ser capaz
de “confrontar significados estabelecidos e redefinir o real” (KRAMSCH,
2011), entendo como fundamental explorar os mecanismos por meio dos
R
quais tal jogo acontece nesse texto. Tal exploração poderia acontecer como
a
produção oral ou escrita, mas consideraria especialmente importante que se
abordasse o fato de o jornalista ter utilizado, em 1993, palavras como anti-
do
-Soviet warrior (termo quase épico!), businessman, construction engineer,
agriculturalist e Saudi entrepeneur. O que isso significa? Por que não foram
aC
usadas palavras como terrorrist, rebel, mercenary ou mesmo uma menos es-
Reino Unido era, à época, alinhado com os Estados Unidos na Guerra Fria e
apoiador do Afeganistão na guerra contra União Soviética permite (embora
E
sã
não garanta) que o leitor perceba que a escolha de termos não negativos (e
até épicos, como “warrior”) para referir a Bin Laden em 1993 não é gratuita,
tampouco isenta. Isenção não existe quando se fala em uso da linguagem,
ver
16 Original retirado da Wikipedia: “The Independent is regarded as coming from the centre-left, on culture and politics, but
tends to take a more pro-market stance on economic issues” (https://en.wikipedia.org/wiki/The_Independent).
17 Uma das questões postas por Bourdieu e que tem ligação direta com o conceito de competência simbólica é aquela que
vê a manifestação por meio da linguagem como uma prática moldada e gerada pelo habitus – um conjunto de disposições
COMPLEXIDADE EM AMBIENTES DE ENSINO
E DE APRENDIZAGEM DE LÍNGUAS ADICIONAIS 43
Não resta dúvida quanto ao fato de que haveria muitos outros aspectos
a explorar no que tange à competência simbólica, assim como em relação
à competência comunicativa na hipotética atividade apresentada: a profun-
didade da discussão, o nível de proficiência do grupo, tempo de aula, dentre
tantos mais. Entretanto, esse não é o propósito aqui. Em primeiro lugar, há a
od V
r
intenção de demonstrar que a competência simbólica que pode emergir das
uto
reflexões propostas acima é uma ação linguística. A compreensão, pelo aluno-
-leitor, de parte ou da totalidade das implicações decorrentes das escolhas do
jornalista (e do editor, talvez), acontece porque/quando os indivíduos con-
R
seguem materializá-la por meio da linguagem. Porém, para além disso está
oa
o próprio posicionamento crítico que o indivíduo venha a assumir a partir da
compreensão que construiu, o qual poderá ser expressado – pela linguagem
– no seu grupo de amigos, na mesa de bar, na rede social, na própria sala de
aC
aula ou quando assistir o jornal na TV. Em suma, a compreensão e o posi-
cionamento crítico a que refiro aqui denotam competência simbólica e são
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como as regras de baixo nível, vistas como menos maleáveis e mais perenes
do que condições iniciais. Parece-me a metáfora da maleabilidade bastante
propícia ao tratar das regras da língua – é sabido que mudanças (sintáticas,
ver
inculcadas durante um longo processo de experiência do indivíduo em dado contexto social. Mais sobre habitus pode ser
encontrado na seção Editor’s Introduction de Language and Symbolic Power (BOURDIEU, 1991, p. 12-13).
18 Em português, um exemplo comum é o desenvolvimento do pronome de tratamento vossa mercê, utilizado no século XV,
44
V
r
líbrio, o empurra para o limite do caos, condição essencial para as modifi-
uto
cações sistêmicas.
Ao mesmo tempo em que condições iniciais podem ser identificadas
no suposto plano de aula e suas instruções e restrições possibilitadoras na
R
própria estrutura da língua que limita aquilo que é escrito, lido e dito, cada
a
indivíduo gerará desdobramentos únicos, regidos pela sua própria condição
e historicidade, demonstrando o quanto o poder da aprendizagem é, de fato,
do
descentralizado. Não falo aqui do poder simbólico exercido pelo professor,
pela instituição, pelos diferentes status que orbitam em um grupo social.
aC
Aqui trata-se de um poder que se pode apenas provocar, mas não controlar,
breve reflexão sobre o que se entende (ou deveria ser entendido) por compe-
tência sociocultural. É lugar comum o discurso entre profissionais do ensino
t
Entretanto, em um mundo cada vez mais conectado e que tem idiomas, como
d
escopo da competência sociocultural para além dos grupos que usam a língua
alvo como língua materna, incluindo aqueles que a utilizam como língua
adicional ou são por ela retratados. Nesse cenário, portanto, pode ser insu-
ver
para o pronome você (ou até mesmo cê, comum na produção oral em certos contextos informais).
19 Aqui, seleciono livremente três termos usados no texto que podem ter relação estabelecida para fins de leitura da matéria,
mas que não possuem ligação direta ou especial com minha argumentação no capítulo.
COMPLEXIDADE EM AMBIENTES DE ENSINO
E DE APRENDIZAGEM DE LÍNGUAS ADICIONAIS 45
od V
r
também a eventual competência simbólica.
uto
4 Competência simbólica: dos rudimentos à obra prima de cada dia
R
Um dos pontos a favor do qual procurei argumentar e que merece ser
oa
retomado é o fato de a competência simbólica ser um construto que se cons-
titui de modo complexo e, portanto, emerge a partir das interações entre
diversos elementos e outras affordances que o contexto oferece. Dentre esses
aC
elementos, estão as ações (planejadas pelo professor ou não) em torno das
diversas competências constituintes da competência comunicativa as quais
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fita para gravação foi utilizado e “tocado” pelo produtor na gravação original
como se fosse um cow bell21.
são
20 O programa completo, com duração de 20 minutos, pode ser acessado em: http://www.bbc.co.uk/programmes/
p03g18sx?ns_mchannel=social&ns_campaign=bbc_arts&ns_source=twitter&ns_linkname=scotland
21 Instrumento de percussão que produz som semelhante aos sinos que costumavam colocar nos pescoços das vacas.
46
e de discurso são básicas e por isso primordiais para que o indivíduo possa
engajar-se no jogo de poder simbólico que a linguagem estabelece, ao ponto
de ser capaz de “confrontar significados estabelecidos e redefinir o real”
(KRAMSCH, 2011). Entretanto, a obra prima de cada aula só pode surgir,
aos olhos de professor e alunos, quando o uso da linguagem transcende o
V
r
que é palpável em cada elemento da competência comunicativa e se organiza
uto
como um caleidoscópio, de maneira única, em capacidade de pensamento
crítico, de confronto ao que está estabelecido pela linguagem, de redefinição
do real. Nesse aspecto, a competência simbólica que emerge encontra eco na
R
frase aristotélica que recorrentemente define organizações complexas – “o
a
todo é maior do que a simples soma das suas partes”. Ou seja, não é apenas
a pronúncia, as quatro habilidades comunicativas, o conhecimento sociocul-
do
tural, mas a forma como tudo isso se amarra individual e contextualmente a
partir das affordances que o meio provê e da historicidade de cada indivíduo.
aC
Quando se percebe a competência simbólica como uma possibilidade de
como aquilo que Park (2015, p. 11) sugere como ação do professor de línguas:
i
jogos de poder simbólico nos quais está imbricado, mas deixo essa discussão
para outro momento. Em suma, parar naquilo que chamo aqui de rudimentos
é limitar o acesso dos aprendizes e dos professores a affordances, ignorar
aquilo em que eles podem se constituir – cidadãos mais independentes para
contextos globais – e deixar a obra-prima que se pretende ter ao final de cada
od V
r
aula incompleta.
uto
Agradecimento
R
O presente capítulo é resultado de pesquisa desenvolvida em estágio
oa
pós-doutoral na Universidade da Califórnia, em Berkeley, sob a supervisão
da Dra. Claire Kramsch e com bolsa da Coordenação de Aperfeiçoamento
de Pessoal de Nível Superior (CAPES), processo n. 99999.000774/2015-04.
aC
Presto meu agradecimento à pesquisadora pela riqueza da interlocução e à
agência de fomento pelos recursos financeiros essenciais para a realização
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da pesquisa.
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CAPÍTULO 2
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um estudo das práticas de ensino e
uto
aprendizagem no contexto do Facebook
R
oa
Valdir Silva (UNEMAT)
Considerações iniciais
aC
As profundas e significativas transformações sociais, econômicas, polí-
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Para o autor, ser “conectado está no cerne da nossa democracia e nossa eco-
nomia. Quanto maior e melhor forem essas conexões, mais fortes serão nossos
governos, negócios, ciência, cultura e educação” (p. 1).1
Estar conectado significa estar em rede, ou seja, interligado por nós
par
Hawking, quando diz que o século XXI é o século dos estudos da comple-
xidade. Podemos dizer, a partir desse entendimento, que o físico defende,
então, que se produzam pesquisas amparadas por modelos teóricos e me-
todológicos que não negligenciem – apaguem – a natureza complexa dos
ver
1 Esta e todas as demais traduções de citações neste texto são de minha responsabilidade.
50
V
r
Como se pode verificar, trata-se de uma proposição que se aplica
uto
também aos estudos dos processos de interações sociais efetivados em todos
os contextos sociais. No caso deste trabalho, o foco está nas trocas ocorridas
no contexto de um grupo constituído no Facebook (doravante FB), voltado
R
a
para as práticas de ensino e aprendizagem sobre linguagem e tecnologia em
um curso de licenciatura em Letras.
do
Para Sued (2010, p. 60), o FB é “um espaço emergente da convergência
de meios de comunicação preexistentes, culturas colaborativas e audiências
aC
participativas”. Nessa direção, Santaella (2014, p. 38) diz que, em sua arqui-
textos presenciais. Em linhas gerais, uma rede social é uma construção social
constituída de pessoas ou organizações conectadas por um ou vários tipos de
t
(2006, p. 26) reforça esse entendimento quando diz que “[...] uma rede social
op
cipais propriedades de uma rede social. Logo, são as conexões que precisam
ser tomadas como foco para estudos, pois são as variações das conexões que
ver
od V
r
que se apresenta aberto, contínuo, em fluxo, não linear, que se organiza de
uto
acordo com os objetivos ou contextos decorrentes das posições que os su-
jeitos ocupam ou querem ocupar dentro dele, através de ações linguageiras,
como, por exemplo, postagem de mensagens, ideogramas, imagens, vídeos,
R
links e ações como visualizações, cutucadas e compartilhamentos.
oa
Sobre isso, é pertinente a ponderação de Paiva (2016, p. 68), quando diz
que se trata de um sistema que “[...] está em constante processo de mudança
e de adaptação. O sistema é sensível a feedback. Os participantes aprendem
aC
uns com os outros e reagem a retornos. Assim, o sistema aprende, muda
evolui e se adapta [...]”. Um exemplo desse processo de adaptação ocorreu
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V
r
mais robusto ele é. Ou seja, a ambiguidade, o paradoxo e a contradição
uto
configuram-se em forças que criam novas possibilidades para a evolução do
sistema. Por seu turno, a redundância, refere-se à capacidade dos sujeitos,
enquanto agentes do sistema, substituírem funcionalmente o outro em si-
R
tuação de desestabilização do sistema. Conforme Silva (2008), trata-se de
a
uma assunção espontânea e, portanto, imprevisível como mecanismo de ma-
nutenção da estabilidade do sistema. Nesta direção, os SAC abrigam uma
do
inteligência distribuída, que na definição de Lévy (1998, p. 28), configura-se
em “uma inteligência distribuída por toda parte do sistema, incessantemente
aC
valorizada, coordenada em tempo real, que resulta em uma mobilização
que “a ação do todo é maior do que a soma das partes”. Nos termos de Morin
(1977, p. 137), a emergência “configura-se como sendo as qualidades ou as
or
entre agentes e interação local, como é o caso do FB, diz que nestas redes:
i
op
od V
r
sistema dependente das tramas tecidas pelos sujeitos que nele se inscrevem
uto
por meio da linguagem. Um perfil criado no FB para práticas de ensino e
aprendizagem pode ter o mesmo funcionamento ecológico de uma sala de
aula de uma instituição educacional. Tudo vai depender do projeto de curso
R
concebido pelo professor e legitimado pelos alunos.
oa
Nessa direção, Sartori e Roesler (2014, p. 126) dizem que o FB:
V
r
para a dinâmica e complexidade do grande grupo Linguagem e Tecnologia.
uto
Toda a análise será conduzida com base: a) nas respostas dadas pelos alunos
no questionário aplicado no final da disciplina; b) nas mensagens postadas no
Grupo Linguagem e Tecnologia pelos alunos/grupos ao longo da disciplina; c)
R
nos dados quantificados das ações realizadas pelos alunos em cada um dos semi-
a
nários e; d) nos relatos dos alunos realizados nos encontros presenciais.
Tendo em vista que toda discussão aqui proposta terá como foco a
do
dinâmica complexa e adaptativa dos pequenos grupos constituídos para a
disciplina Linguagem e Tecnologia, torna-se pertinente, então, a pergunta: o
aC
que é um grupo?
que qualquer mudança em uma das subpartes do grupo irá modificar o estado
de todas as suas outras partes. Com base nesses entendimentos, um grupo pode
ver
od V
r
síveis, somando as características dos componentes individuais, exis-
tindo processos de grupo que podem ser descritos e que não dependem
uto
simplesmente das características individuais dos membros do grupo.
R
oa
de atuação dos grupos, nas seções que seguem apresento uma descrição do
funcionamento da disciplina Linguagem e Tecnologia, para, na sequência,
produzir uma série de análises para mostrar os diferentes níveis de funciona-
mento sobre a dinâmica, adaptabilidade e complexidade dos grupos.
aC
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lhada do Plano de Trabalho previsto para o semestre (60 horas), tais como:
a) a adoção da modalidade semipresencial; b) o uso do FB como espaço
de práticas de ensino e aprendizagem; c) o trabalho com grupos para os
seminários on-line e presenciais; d) os temas definidos para os seminários;
e) o cronograma para a realização dos seminários e para as aulas simuladas;
3 <www.facebook.com/groups/1478272225764624>.
56
V
r
Esse rigor no planejamento da disciplina pode parecer contraditório no
uto
âmbito dos Sistemas Adaptativos Complexos, porém, trata-se de uma esta-
bilidade importante para a organização sistêmica do trabalho. O que não se
pode perder de vista é o fato de estar lidando com um sistema que pode se
R
desestabilizar em virtude da diversidade e dinâmica das partes e do todo que
a
conformam um sistema complexo. Ou seja, trata-se de um sistema sujeito
aos efeitos das contradições, ambiguidades e paradoxos que configuram as
do
forças que criam novas possibilidades para a emergência de novos estados
de reorganização. Nessa direção, pensar em restrições possibilitadoras,
aC
como sugerem Davis e Sumara (2006), torna-se uma perspectiva bastante
A pergunta, marcada por uma negação, foi proposital, visto que eu queria
i
orientar uma resposta afirmativa, ou seja, uma resposta que, do meu ponto
op
de vista, seria previsível por acreditar que todos os alunos tinham perfis no
d
FB. Porém, minha expectativa foi angustiosamente perturbada, uma vez que
três alunos responderam de forma negativa, alegando que simplesmente não
E
sã
gostavam de se expor na internet. Era uma posição que eu tinha que res-
peitar. Como se tratava de três alunos extremamente sensíveis e abertos para
o diálogo, expliquei a eles que trabalharíamos em um grupo fechado e que
ver
eles podiam criar um perfil provisório, que apenas nós conheceríamos e que,
depois de concluído o trabalho, eles podiam deletá-lo. Com esse encami-
nhamento e graças à postura resiliente dos três alunos, foi possível, então,
instaurar e dar continuidade ao planejamento proposto.
COMPLEXIDADE EM AMBIENTES DE ENSINO
E DE APRENDIZAGEM DE LÍNGUAS ADICIONAIS 57
od V
r
nários on-line e presenciais e nas aulas simuladas, bem como, a ordem das
uto
apresentações dos grupos, conforme mostrado na Tabela 1:
R
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aC
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visã
Fonte: O autor.
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participação e contribuições dos demais grupos no debate e convocava o
uto
grupo para o seminário seguinte. Concluídos os dois seminários on-line, os
dois grupos se organizavam para os seus respectivos seminários presenciais.
O seminário presencial tinha que ser referenciado nas discussões pro-
R
duzidas no contexto on-line, a partir do tema debatido. Ao final do seminário
a
presencial, os integrantes dos grupos eram convocados para avaliarem suas
participações e contribuições para a produção dos seminários online e pre-
do
sencial. Na sequência, os dois seminários de cada grupo eram avaliados pelo
coletivo da sala e por mim.
aC
propiciar aos alunos, por meio de seus grupos, as condições para que eles pu-
or
propósito de predição, uma vez que, conforme observa Elgood (1988, p. 53),
a simulação procura modelar uma situação específica e com considerável
t
od V
r
grupos (gêneros discursivos digitais, internetês, redes sociais, vídeo, mapas,
uto
fanficton, jogos eletrônicos, memes, aplicativos de Língua Inglesa e apli-
cativos de Língua Portuguesa) para serem tomados como referência pelos
futuros professores em seus trabalhos nas escolas. A disciplina Linguagem e
R
Tecnologia encerrou com o envio, pelos grupos, do formulário de avaliação
oa
geral sobre o trabalho desenvolvido, tais como: pertinência da proposta
metodológica, conteúdo (temas) proposto, validade do FB para as práticas
de ensino e aprendizagem, trabalho com pequenos grupos, facilidades e di-
aC
ficuldades encontradas, papel dos colegas e do professor, importância da
disciplina para a formação profissional, pertinência na modalidade semipre-
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V
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uto
R
a
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aC
od V
r
f) Atividade 6: relaciona-se ao número de comentários produzidos
uto
pelos participantes. Era na seção comentários que as discussões sus-
citadas pelas mensagens dos Posts se desenrolavam, ou seja, era o
espaço onde o debate e as mediações de fato acontenciam. Além
R
de poderem curtir o comentário, muitos alunos também respondiam
oa
aos comentários dos colegas, dinamizando ainda mais o debate.
g) Atividade 7 e 8: as curtidas e visualizações dos participantes foram sig-
nificativas para a dinâmica do grupo, pois elas apontavam quem havia
aC
visualizado e ou curtido as mensagens postadas e isso era um indicativo
de que os alunos tinham ciência dos acontecimentos do grupo.
Editora CRV - versão para revisão do autor - Proibida a impressão
esse motivo, não cabe aqui fazer nenhuma análise comparativa entre os grupos,
uma vez que cada um teve um papel decisivo e fundamental para a dinâmica
são
V
r
uto
Excerto #01
Por existir uma boa ligação entre nós, tivemos muita facilidade na
organização dos seminários. As nossas reuniões se davam na univer-
sidade, nas aulas vagas, intervalos e às vezes aos sábados. Por via tec-
R
a
nológica, decidíamos muitas coisas pelo grupo criado no Whatsapp,
denominado “Memes”. Esse grupo nos uniu ainda mais, pois cada ma-
terial interessante que encontrávamos na web era compartilhado nesse
do
espaço. Cada semana, uma de nós era responsável pela postagem dos
aC
comentários on-line em nome do grupo, mas antes de ser postado na
Excerto #02
i
Foi uma organização bem harmoniosa e tranquila, todos os integrantes
rev
Excerto #03
Para organização do nosso trabalho, elaboramos um plano de aula com
t
integrante do grupo iria fazer, como por exemplo, pensar nos textos,
nas questões aplicadas, nos vídeos, etc. Em relação às discussões rea-
lizadas nos seminários online, combinávamos que cada dia uma inte-
E
sã
Excerto #04
A organização e desenvolvimento do nosso seminário, bem como a
forma de participação nos demais seminários, foram feitas a partir de
um grupo criado no chat do próprio Facebook, de forma que todas as
integrantes pudessem acompanhar, ao mesmo tempo, tudo que uma
ou outra planejava em fazer, mediante um assunto proposto. Também
COMPLEXIDADE EM AMBIENTES DE ENSINO
E DE APRENDIZAGEM DE LÍNGUAS ADICIONAIS 63
od V
r
Como é possível verificar nos excertos, os alunos tiveram um intenso
uto
processo de interação no contexto de seus grupos em razão da necessidade
de discutirem e organizarem seus seminários e negociarem formas de partici-
R
pação de seus integrantes nos outros seminários. Foi possível verificar que o
oa
processo de colaboração foi um dos principais mecanismos para a dinamização
do sistema em seu todo. Essa atitude colaborativa dos alunos, como efeito dos
diferentes níveis de demandas impostas pelo próprio trabalho e de outras va-
riáveis que emergiram dentro de cada grupo, transformou o processo colabo-
aC
rativo em verdadeiros dinamizadores para a complexificação dos grupos. Essa
Editora CRV - versão para revisão do autor - Proibida a impressão
refere-se aos objetos cujas partes se relacionam de alguma forma com o todo
itor
V
r
realidade mista (HANSEN, 2006), cada vez mais complexa e dinâmica”.
uto
Esse entendimento pode ser verificar nos excertos abaixo:
Excerto #05
R
A estratégia de utilizar o Facebook foi muito interessante, pois está-
a
vamos falando de tecnologia na tecnologia. Essa rede social é utilizada
por quase todo mundo para interagir e compartilhar vários assuntos e
do
agora vimos que também que é possível ter aulas através do Facebook
(Grupo Internetês).
aC
Excerto #07
ara
fazer muitas coisas: postar links, vídeos, imagens e tudo muito rápido.
op
Língua Portuguesa).
sã
od V
r
Excerto #08
uto
Sabemos que precisamos estar sempre atentos às novas praticas edu-
cacionais, já sabíamos que a internet é um grande aliado que facilita
e ajuda a pensar novas formas de conduzir nossas aulas, porém, essa
R
disciplina [Linguagem e Tecnologia] nos mostrou muitas ferramentas
oa
que não tínhamos conhecimento e, principalmente, como saber ex-
plorá-las em sala de aula (Grupo Jogos Eletrônicos).
Excerto #09
aC
Eu nunca imaginei que tivesse tanta coisa na internet que pudesse
ser trabalhada com os alunos nas aulas de Língua Portuguesa e até
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nós, uma matéria da área da Geografia. Foi muito legal saber dessas
itor
Excerto #11
são
V
r
uto
Ao aproximar o excerto acima com os outros excertos e analisá-los na
perspectiva dos Sistemas Adaptativos Complexos, tona-se possível verificar
o funcionamento contraditório no contexto do Curso de Letras. Essa contra-
R
dição ganha uma nuance interessante, pois, se por um lado tivemos alunos
a
adaptados a uma proposta de ensino e aprendizagem no contexto digital da
rede social FB e institucionalmente assegurada pela Portaria do MEC Nº.
do
4.059/2004 e no Projeto Político Pedagógico, por outro, temos as posições
aC
contrárias de vários professores que não aceitam essas proposições de tra-
Considerações finais
ara
t
não para fazermos previsões futuras. Para a autora, os SAC estão ao nosso
d
od V
r
para a importância de se considerar os processos de interação dos grupos,
uto
para além daquilo que eles apresentam como resultado final. Ou seja, inde-
pendentemente da atividade proposta pelo professor para ser desenvolvida
em grupo, torna-se pertinente que o professor conheça as dinâmicas ado-
R
tadas pelos integrantes do grupo; pois, o que ganha visibilidade no seminário
oa
online e presencial, por exemplo, é efeito resultante do que os alunos fizeram
antes em seus encontros de trabalho realizados anteriormente no interior do
grupo, tais como, pesquisas, leituras, trocas de opinião, escolhas, dúvidas,
aC
problemas, autoridades, responsabilidades, negociação de sentidos, interpre-
tações, resolução de problemas, trocas de experiências, informações, cria-
Editora CRV - versão para revisão do autor - Proibida a impressão
propício e fecundo para tais práticas, como, aliás, têm mostrado várias pes-
quisas (muitas destacadas aqui). Primeiro porque se trata de uma rede social
bastante familiar para muitas pessoas e acessível nos mais diferentes tipos
de dispositivos digitais e, segundo, porque congrega uma diversidade de fer-
ramentas voltadas para a interação social e que, por esse motivo, assegura o
desenvolvimento de práticas de construção formal de conhecimento. Nesse
68
V
r
curricular fundamental para a formação de professores da área de Letras
uto
e Linguística. É preciso que reconheçamos que o conhecimento sobre
Linguagem e Tecnologia configura-se em um agenciamento que não pode
ser negligenciado pelas instituições e professores que têm como compro-
R
misso social a formação de professores alinhada com as demandas impostas
a
pela sociedade contemporânea para as práticas de ensino e aprendizagem.
Trata-se de um entendimento que precisa ser assegurado no âmbito das ins-
do
tituições formadoras para que seus desdobramentos possam, de fato, rever-
berar dentro das salas de aula das escolas da Educação Básica, através do
aC
trabalho dos futuros professores da área da Linguagem.
AFFORDANCES NO
DESENVOLVIMENTO DA PRODUÇÃO
od V
r
ORAL EM LÍNGUA INGLESA:
uto
considerações a partir da abordagem ecológica
R
oa
Kelly Cristina M. Gaignoux (UFPa/Bragança)
Michell Gadelha Moutinho (Escola de Aplicação/UFPa)
1 Introdução
aC
Editora CRV - versão para revisão do autor - Proibida a impressão
V
r
facilitar a compreensão deste processo. Kramsch (2008) aponta que foi a
uto
partir de uma visão mais integradora que a noção de ensinar uma LE mudou,
pois, ao considerar o ensino e aprendizagem de línguas como um sistema
complexo, entende-se que ambos não ocorrem de forma linear como pre-
R
vistos no currículo e livro didático. Ambos caracterizam-se por apresentar
a
propriedades emergentes imprevisíveis em razão das conexões feitas pelos
aprendentes a partir daquilo que já sabem e o que experimentam na interação
do
com e no contexto. Estes aspectos também estão entre os nove princípios da
abordagem complexa, proposta por Borges e Paiva (2011).
aC
No caso da produção oral, Kramsch (2008) destaca que forma como
disso, autores como Van Lier (2004) e Kramsch (2008), baseados nas ideias
de Gibson (1986), entre outros, passaram a ter como foco de observação o
aprendente e como este interage com os diversos elementos com os quais
ver
tem contato tanto dentro da sala de aula como fora desta, ou seja, a maneira
como se percebe e age quanto às affordances disponíveis. A abordagem eco-
lógica permite que se possa entender a aprendizagem e seus fenômenos a
partir de um olhar mais amplo, como um sistema adaptativo complexo, no
qual as relações são não lineares, imprevisíveis, auto-organizáveis e abertas
a forças externas.
COMPLEXIDADE EM AMBIENTES DE ENSINO
E DE APRENDIZAGEM DE LÍNGUAS ADICIONAIS 71
od V
r
pontos principais da abordagem ecológica no ensino e aprendizagem de
uto
línguas, detalhando dois conceitos fundamentais: affordances e emergência.
Em seguida, descreveremos a metodologia e exporemos os resultados da
análise das narrativas a fim de verificar quais fatores influenciaram no desen-
R
volvimento da produção oral e como esta influência ocorreu.
oa
2 Abordagem ecológica e aprendizagem de língua
aC
A abordagem ecológica busca integrar as noções de linguagem do ponto
de vista físico, cognitivo e social. Devido à multiplicidade de relações que se
Editora CRV - versão para revisão do autor - Proibida a impressão
V
r
Uma vez que a visão de aprendizagem de língua mudou, Mercer (2013)
uto
destaca que o contexto também pode ser considerado como um sistema com-
plexo e que este passa a integrar outros sistemas, diferentemente de como
a ciência o compreendia, como algo que não fazia parte e, portanto, servia
R
como “pano de fundo” para a compreensão dos fenômenos.
a
Na sala de aula de línguas, por exemplo, os contextos são supostamente
desenvolvidos para propiciar oportunidades de aprendizagem e os aprendentes
do
podem ser mais ou menos bem sucedidos nessa interação. Mercer (2013)
aponta que abordagens deste tipo dão ênfase à necessidade de reconhecer a
aC
diversidade presente na situação, as interações entre os indivíduos e os fa-
língua (p. 7)”. Além disso, Paiva (2013a) ressalta que aprender a língua em
op
de input e interação.
No que diz respeito à produção oral, input e interação são essenciais
E
sã
od V
r
em sala significam para os alunos, professores e outros que de alguma forma
uto
possam influenciar o que acontece nesse ambiente. Todas as oportunidades
de aprendizagem são valiosas, no entanto, professores e aprendentes pre-
cisam ter consciência de quando elas são ou não úteis (VAN LIER, 2004).
R
Logo, os processos de aprendizagem são processos semióticos, pois, ao
oa
agir em um contexto de aprendizagem, o aprendente tem recursos disponíveis
e prontos a serem usados para o seu desenvolvimento (VAN LIER, 2004). A
esses recursos chamamos de affordances, o qual será discutido a seguir.
aC
2.1 O que são Affordances
Editora CRV - versão para revisão do autor - Proibida a impressão
significa dizer que a forma com que se percebe o que o ambiente tem para
nos oferecer é o que determina nosso comportamento em relação às affor-
dances, pois segundo Gibson (1986), há diferentes layouts que proporcionam
diferentes comportamentos para diferentes animais.
Chemero (2003) discute o conceito de affordance e esclarece o pen-
V
r
samento de Gibson a partir das interpretações feitas depois de seu trabalho
uto
seminal. Para Chemero, affordances são mais que uma propriedade do am-
biente que o animal percebe e mais que a percepção do animal de alguma
propriedade do ambiente; elas estariam na relação entre as habilidades que
R
o animal possui e algum aspecto do ambiente em uma determinada situação.
a
O autor exemplifica com a imagem de água que estava em um copo e foi
derramada: para um ser humano, para o qual a habilidade de beber e engolir
do
não pode ser utilizada nesta situação, a affordance não poderia existir.
Van Lier (2004) expandiu o significado de affordances em termos
aC
linguísticos. Para o autor, affordance apresenta três aspectos relevantes na
inter-relação que ocorre entre todos estes elementos, os alunos estariam mais
aptos a perceber estas affordances e a se beneficiar de seu uso.
E
sã
Entretanto, vale ressaltar que, assim como esta relação pode ser be-
néfica, ela pode trazer prejuízos, isto é, pode contribuir positiva ou nega-
tivamente. Gibson (1986) é contundente ao afirmar que uma affordance é
ver
aquilo que o ambiente oferece ao animal, seja para seu bem ou seu mal, e,
uma vez que a relação entre o indivíduo e o contexto é única, as affordances
positivas ou negativas são propriedades tomadas como referência para o ob-
servador e não como experiência vivida por ele. Chemero (2003) reforça
este entendimento, pois condiciona as affordances às situações em que os
indivíduos se encontram para percebê-las, o que significa que nem todos os
COMPLEXIDADE EM AMBIENTES DE ENSINO
E DE APRENDIZAGEM DE LÍNGUAS ADICIONAIS 75
od V
r
dizagem de línguas, é preciso ressaltar que nem tudo será utilizado para o
uto
benefício de todos os aprendentes, ou seja, o que pode beneficiar alguns
alunos, pode não ser de grande auxílio, ou até pode ser um empecilho para
os demais. Na próxima subseção, esta questão será explorada.
R
oa
2.2 A Emergência na abordagem ecológica
V
r
Ao considerarmos a aprendizagem como um sistema complexo, também
uto
podemos interpretá-la a partir da abordagem ecológica, traçando paralelos
com a mudança de fase gerada por meio da emergência de novos compor-
tamentos. Os “flocos de neve” que provocarão no aluno uma “avalanche”
R
podem ser tanto fatores contextuais como as affordances e estes elementos
a
podem causar mudanças no comportamento dos alunos, o que tem grande
relevância para os professores. Estes podem observar os processos envol-
do
vidos no ensino e aprendizagem de línguas a partir de uma perspectiva não
reducionista, o que possibilitaria a eles tornarem-se agentes neste processo.
aC
Para assumirem responsabilidades por suas aprendizagens, os alunos
afirma que aquilo que o aluno aprende não vem de um programa linear, mas
emerge das conexões que o aluno faz com suas vivências (cf. LARSEN-
t
3 Metodologia
od V
r
Esta pesquisa é de caráter qualitativo e, para a coleta de dados, utili-
uto
zamos narrativas de aprendizagem como instrumentos, coletadas em dois
momentos distintos: antes do acesso ao ensino superior e depois como
alunas do curso de graduação. Para preservar a identidade das participantes,
R
atribuímos números às aprendentes, classificadas de 1 a 8, e às narrativas,
oa
consideramos 1 (antes do acesso à universidade) e 2 (como estudantes uni-
versitários), e, para cada excerto extraído de cada narrativa, atribuímos se-
quencialmente uma letra do alfabeto, estando, assim, codificados:
aC
Ex.: [8.1.a] - sendo 8 o número dado à aluna, 1 à narrativa antes da
universidade e “a” ao primeiro excerto da narrativa em questão.
Editora CRV - versão para revisão do autor - Proibida a impressão
V
r
uto
[1.1.a]2 já havia muita carência de professor na área e isso fez com
que a minha experiência com o Inglês na escola não fosse um dos
melhores, nessa idade o que me fez almejar para o aprendizado da
língua foi – o que muitos podem achar patéticos- a paixão pelos livros
R
a
e filmes de Herry Potter, [...] a paixão pela língua através dos filmes
aumento com maior frequência a cada filme que lançava, e a ca-
rência de aprender a língua na escola também3,
do
aC
Nos excertos de [1.1.a], observamos um grande interesse pessoal em
od V
r
reforça a ideia de a affordance ser negativa, uma vez que seu estudo acontece
uto
de forma obrigatória, para cumprir uma exigência curricular, como podemos
observar no excerto a seguir:
R
[3.1.a] a princípio foi um grande susto por não entender absolu-
oa
tamente nada que meu teacher falava [...] Então estudei de 5ª a 8ª
seria nos períodos de (2005 a 2008), mas não sair do básico o mais
simples, apesar de um fundamental que deixou a desejar foi onde eu
encontrei com a tão “estranha” língua inglesa, mas foi com esse
aC
primeiro ponto de vista que passei a gostar mais [...]
Editora CRV - versão para revisão do autor - Proibida a impressão
[3.1.b] [...] em 2009 comecei o Ensino Médio, [...] foi nesse momento
par
[4.1.b] Meu primeiro contato com língua inglesa foi a nove anos
V
r
atrás quando entrei na 5ª série do ensino fundamental. A princípio
não me vi muito motivada a estudar o idioma já que não via inte-
uto
resse nem mesmo por parte do professor na hora de ensinar. Na
época também não entendi exatamente o porquê que eu deveria estar
estudando um outro idioma e me perguntava sempre que o professor
R
entrava na sala, se estudar inglês realmente era necessário pra mim.
a
No entanto, para a aprendente, a música parece ter sido o elemento im-
do
pulsionador para a aprendizagem da língua apesar de não percebê-la como
aC
uma affordance, conforme mostra o excerto a seguir:
cativo para ela. Isso referenda, segundo aponta Kramsch (2008), que o aluno
aprende de forma não linear, proporcionando a emergência de conexões com
t
od V
r
a falar a língua não é atendida, esses aprendentes tendem a se retrair e não
uto
buscar formas de vencer as dificuldades. Nas narrativas analisadas, ob-
servamos que a percepção das aprendentes sobre o desenvolvimento da
produção oral após o ingresso a universidade sofreu mudanças, conforme
R
veremos nos excertos a seguir:
oa
[2.2.a] [...] porém eu não sabia de fato me comunicar em inglês,o
desespero aumentou quando certo dia um professor ministrou a aula
aC
toda em inglês, porém me senti atraída e desafiada a entender o que
ele falava. [...] As aulas de língua inglesa I, II, III, IV, V e VI me aju-
Editora CRV - versão para revisão do autor - Proibida a impressão
V
r
dependendo de suas necessidades. Mas, de acordo com Gibson (1986), a
uto
affordance, por ser invariante, está em estado latente, dependendo da per-
cepção, interpretação e ação do observador.
Sobre isso, Chemero (2003) esclarece a questão acima ressaltando que
R
uma affordance não é somente uma propriedade do ambiente nem está di-
a
retamente relacionada com a percepção do animal, mas se constitui a partir
das relações entre os dois em um contexto. O autor explica que quando ob-
do
servamos os objetos presentes no ambiente não os discriminamos em termos
da qualidade, mas os percebemos ou não como affordances. Neste caso, po-
aC
demos afirmar que o ato de perceber ou não as affordances nesse ambiente
cados a seguir:
ara
od V
r
usa-las de várias maneiras diferentes.
uto
Nos trechos destacados dos excertos [5.2.a] e [8.2.a], observamos que
os três elementos (percepção, interpretação e ação) necessários e que definem
R
affordance na visão de Van Lier (2004) estão presentes. Em seus contextos,
oa
as aprendentes perceberam que as condições iniciais de aprendizagem (di-
ficuldade com a produção oral) poderiam mudar caso elas agissem em be-
nefício próprio, o que as levaram a desenvolver estratégias para facilitar a
aprendizagem da língua. O desenvolvimento de estratégias de aprendizagem
aC
pode ser uma das condições para o comportamento autônomo. Paiva (2010)
Editora CRV - versão para revisão do autor - Proibida a impressão
explica que a relação que se tem com a língua define nosso comportamento
em relação a ela. No caso das aprendentes, por se tratar de uma língua estran-
visã
geira, elas se apoiaram na própria motivação e autonomia para se desenvol-
verem linguisticamente, procurando novas formas de aprendizagem (como o
uso de estratégias e recursos audiovisuais). Conforme Paiva (2010) sugere, a
motivação e a autonomia podem ser consideradas tipos de affordances.
a re
V
r
[2.2.a] [...] eu não sabia de fato me comunicar em inglês, o desespero
uto
aumentou quando certo dia um professor ministrou a aula toda em
inglês, porém me senti atraída e desafiada a entender o que ele
falava. [...] As aulas de língua inglesa I, II , III, IV, V e VI me aju-
R
daram muito, e as outras disciplinas que os professores ministravam
a
em inglês também ajudaram, pois pude ter um contato maior com a
língua inglesa.
do
[6.2.a] A faculdade e meu curso extra foram fundamentais para
aC
meu aprendizado, já que ambas trabalham em cima das quatro habi-
speaking [...]
op
d
[7.2.a] [...] O impacto foi grande, aí veio a reflexão mais óbvia, tinha
que buscar um outro meio para tentar minimizar as dificuldades que
estava sentindo, um curso.
E
sã
od V
r
[7.2.b] [...] As primeiras aulas foram empolgantes, eu gostei, mas
uto
depois de quatro meses de curso comecei a perceber que ele não
estava acrescentando tanto para meu aprendizado e rendimento
dentro da sala de aula e me ajudando pouco no desenvolvimento da
R
fala que era meu maior objetivo.
oa
Este comportamento pode emergir pela influência de diversas variáveis
presentes no contexto em que as alunas estão inseridas e, a partir dos estudos
da complexidade, é preciso considerar as mais diversas variáveis que podem
aC
vir a influenciar na trajetória de aprendizagem delas.
Editora CRV - versão para revisão do autor - Proibida a impressão
MAGNO e SILVA, 2014). Sobre esta ameaça, Kramsch (2008) explica que
muitas vezes os aprendentes criam expectativas a respeito do que os outros
dirão sobre eles ou o que a situação exigirá deles, ou mesmo passam a se
identificar com os outros ou mostram-se conforme gostariam de ser vistos
par
[7.2.a] [...] O impacto foi grande, aí veio a reflexão mais óbvia, tinha
que buscar um outro meio para tentar minimizar as dificuldades que
estava sentindo, um curso.
86
[8.2.a] [...] Com o passar o tempo fui descobrindo que existem vários
tipos de estratégias para desenvolver e acelerar a aprendizagem de
uma língua estrangeira e cada aluno tem um determinado estilo de
aprendizagem que se sobressai aos outros. [...]
V
r
oral, funciona para as aprendentes como affordances. Por meio das ativi-
uto
dades realizadas em sala, essas affordances foram percebidas e interpretadas
como algo negativo em um primeiro momento, o que gerou uma ação que
não permitiria uma atitude ativa. Contudo, esta mesma affordance possibi-
R
a
litou uma ação para ajudar a alterar aquele comportamento de inibição.
A expectativa de aprender a falar a língua inglesa durante as aulas de
do
língua oferecidas pelo curso de graduação ou por um curso livre acaba con-
tribuindo para o aumento da ansiedade ao longo do processo de aprendi-
aC
zagem da língua. McNeil (2014), ao tratar da ansiedade na aprendizagem de
siedade na aprendizagem.
Ao perceber a affordance como uma possibilidade de mudança, uma
t
produção oral:
d
falta de pratica, fez com que eu não progredisse muito nessa parte, então
minha maior preocupação sempre foi o listening e speaking,
od V
r
de errar, conforme excerto [5.2.c] a seguir:
uto
[5.2.c] Na faculdade observei um grande desenvolvimento em minha
vida acadêmica, o meu nível de língua aumentou, aprendi a utilizar
R
as estratégias de conversação, as estruturas da língua, regras gra-
oa
maticais, o writing também ajuda bastante na hora da conversação,
minha participação em sala de aula aumentou, e eu não tenho mais
tanto medo de errar me expondo, [...]
aC
Nos trechos destacados em [5.2.d], observamos que ao ser exposta a
Editora CRV - versão para revisão do autor - Proibida a impressão
V
r
falta de tempo em pratica-las.
uto
No excerto de [5.2.e] acima fica evidente que apesar da dedicação e es-
forço em superar as dificuldades com as habilidades de listening e speaking,
R
a aprendente encontra algumas barreiras ainda não superadas. Uma dessas
a
barreiras refere-se às demais disciplinas do curso que acabam tomando muito
mais seu tempo, o que a faz não praticar a língua oralmente como deveria, pois
do
ela reconhece que nas aulas de língua teria mais oportunidades de prática.
aC
Observamos aqui que o currículo do curso de Letras, composto tanto por
5 Considerações Finais
od V
r
ação empreendida por eles em seu próprio benefício. Quaisquer influências
uto
externas que possam ajudar no desenvolvimento das competências serão tão
mais efetivas quanto o valor conferido a elas pelo aluno no contexto em que
está inserido.
R
As affordances, dessa forma, só gerarão saltos qualitativos se o aluno
oa
conseguir agir depois de considerar sua utilidade. Muitos alunos são capazes
de agir com mais autonomia e reconhecer em seus contextos as affordances
que os ajudarão dentro e fora de sala, mas também haverá aqueles que pre-
aC
cisarão de auxílio para que obtenham sucesso no processo de percebê-las.
É neste momento que o professor precisa intervir para tornar mais claras as
Editora CRV - versão para revisão do autor - Proibida a impressão
cada aluno. Chemero (2003) afirma que as affordances estão na relação entre
as habilidades do animal e alguns aspectos presentes no contexto situacional
em que se encontram, podendo haver mudanças tanto em um quanto em
outro. Estas mudanças foram percebidas nos relatos das alunas, que inter-
par
V
r
proponha a desenvolver não apenas memorização de conteúdo, mas também
uto
comportamentos que os tornem aprendentes para toda a vida.
R
a
do
aC
ver
Ed
são
itor
par aC
PARTE II
a re
visã R
od V
oa
uto
r
LIVROS DIDÁTICOS COM FOCO
NA TEORIA DA COMPLEXIDADE
E d
ver
sã
i t or op
ara aC
rev
i são R V
do
a uto
r
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CAPÍTULO 4
POTENCIALIDADES DA ABORDAGEM
COMPLEXA NO USO DA COLEÇÃO
od V
r
“ALIVE! INGLÊS” – Ensino Fundamental1
uto
Leonardo dos Santos Pereira (CEBRAC)
R
Elaine Ferreira do Vale Borges (UEPG)
oa
1 Introdução
1 Uma versão modificada e ampliada deste trabalho, com a inclusão da análise de outras atividades do livro do 6º/7º ano/
EF e 1º ano/EM, foi publicada no livro Current Issues in Second/Foreign Language Teaching and Teacher Development:
Research and Practice, da Cambridge Scholars Publishing, em 2015. Produção proveniente da apresentação e discussão
da abordagem complexa (BORGES; PAIVA, 2011), por um dos autores, no 17th AILA World Congress, de 10 a 15 de
agosto de 2014, em Brisbane/Austrália.
2 Essa e as demais traduções neste artigo são de nossa responsabilidade.
94
V
r
dagens de ensino de língua e/ou pedagogia dos teorizadores.
uto
Apoiadas na visão da importância da teorização sobre o ensino e a
aprendizagem de línguas para mediar ações diversas e conscientes no con-
texto de sala de aula, Borges e Paiva (2011) desenvolveram a nomeada abor-
R
dagem complexa de ensino de línguas (doravante abordagem complexa),
a
alicerçada nos princípios da teoria da complexidade/caos. A abordagem
complexa visa uma pedagogia de ensino de língua que é articulada por di-
do
ferentes teorias sobre a natureza da linguagem e do ensino/aprendizagem
de diferentes áreas do conhecimento, objetivando, essencialmente, “acolher
aC
a pedagogia intuitiva do professor e/ou sua metodologia, servindo não so-
A série Alive traz uma proposta de ensino de inglês para o ensino funda-
ver
mental (EF) e médio (EM) menos restrito ao contexto de sala de aula e mais
ligado às práticas sociais. Os livros do EF foram lançados em 2012, pela
Editora Anzol Ltda., tendo como autores/as professores/as da Universidade
Federal de Minas Gerais e da Universidade Federal do Rio de Janeiro. A
série foi aprovada pelo Ministério da Educação para ser distribuída nas es-
colas públicas brasileiras por meio do Programa Nacional do Livro Didático
de 2014, 2015 e 2016.
A coleção para o EF – de interesse deste estudo – é divida em quatro
livros (6º ao 9º ano) (Fig. 1). Cada livro, possui “oito unidades, organizadas
od V
r
em 4 blocos de 2 unidades, que constituem as 4 partes do livro” (MENEZES
uto
et al. 2012a, Manual do Professor, p. 11), mais duas unidades, ao final, deno-
minadas atividades extras. Ainda, cada um dos blocos possui uma abertura
(Learning plan) e um fechamento (Learning strategies e Let´s reflect on le-
R
arning!). Ao final, disponibiliza-se um Glossary (inglês-português) e uma
oa
seção denominada Language reference (aspectos linguísticos). Cada livro
possui também um CD de áudio, para ser utilizado na seção Let´s listen!
presente nas unidades.
aC
Fig. 1 - Imagem da Coleção Alive do Ensino Fundamental
Editora CRV - versão para revisão do autor - Proibida a impressão
visã
a re
itor
Let´s read and write! – entre outras sugestões. A análise linguística fica em
são
V
r
da negociação de sentido; (5) no papel dos contextos neurais; (6) na
uto
relevância da construção da identidade; (7) na necessidade da mediação
social; (8) na aprendizagem situada em comunidades de prática; e tantas
outras propostas que tentam explicar como se aprende uma língua”
R
(MENEZES et al.. 2012a; 2012b, Manual do Professor, p. 3-4).
a
Em vista disso, a coleção fundamenta-se em uma concepção contempo-
do
rânea de linguagem como “um sistema semiótico complexo que compreende
aC
processos biocognitivos, sócio-históricos e políticos-culturais e que [...] per-
tence ao domínio individual e ao domínio social”; ainda sinaliza a língua
Alive significa “vivo(a)”, que é a ideia que o livro tem sobre a linguagem
como um sistema vivo, adaptativo, não linear, um sistema complexo; ou
ara
seja, como enfatizam os autores da série, “a obra busca oferecer aos profes-
sores e aos seus alunos um retrato da língua inglesa em uso, em ação, com
t
od V
r
cionam oportunidades para que alunos se engajem em práticas sociais
por meio de gêneros orais e escritos.” (PAIVA, 2013b, p. 8).
uto
A coleção ainda se diferencia de outros livros didáticos na atualidade
R
em vários pontos. Por exemplo, ela traz gêneros textuais “não encontrados
oa
em outras obras, como, por exemplo, listas de materiais escolares, regras de
uso de brinquedos em parques de diversão, dentre outros” (PAIVA 2013b,
p. 8). O uso desses gêneros aproxima o inglês à realidade dos alunos, já
que são “formas de vida, modos de ser [...] frames para a ação social”
aC
(BAZERMAN, 2006 apud MENEZES et al. 2012a, Manual do Professor,
Editora CRV - versão para revisão do autor - Proibida a impressão
Paiva (2011) pontuam, ainda, que a sala de aula também se constitui como
um SAC, pois esse ambiente vive – uma vez em ação com seus interagentes
– em constante evolução e mudança; sendo que cada aluno e o professor (e
outros agentes internos e externos à escola: coordenação pedagógica, di-
reção, corpo docente, comunidade, estado etc) também se constituem como
V
r
SAC, ampliando a capacidade de mudança e a adaptabilidade da sala de aula
uto
e, por consequência, sua complexidade.
De acordo com Demo (2008 apud BORGES; PAIVA, 2011), a comple-
xidade de um sistema baseia-se em sete características: dinamicidade, não line-
R
aridade, reconstrução, irreversibilidade, ocorrência em um processo dialético
a
evolutivo, intensidade e ambiguidade/ambivalência. Um sistema é dinâmico,
pois sempre se modifica. Essas modificações são, em suma, irreversíveis, pois
do
acontecem de maneira não linear. Com isso, o sistema sempre se reconstrói.
Como o sentido do todo está em cada parte do sistema, ele se caracteriza em
aC
um processo dialético evolutivo. As mudanças podem ter intensidades dife-
od V
r
3. O professor como um dos elementos que torna o sistema de ensino/
uto
aprendizagem dinâmico. A metodologia do professor deve abrigar
mudanças, interagindo com os alunos (de maneira não linear), con-
cebendo a sala de aula e a escola como um SAC;
R
4. O desempenho é individual que, como um SAC, se auto-organiza
oa
durante o processo de aprendizagem. A sala de aula é heterogênea,
portanto, o desempenho individual de cada aluno deve ser levado
em consideração;
aC
5. A linguagem se materializa nas práticas sociais: língua falada e
escrita, gêneros discursivos, identidades etc., elementos essen-
Editora CRV - versão para revisão do autor - Proibida a impressão
V
r
própria aprendizagem, sendo um sujeito ativo e autônomo nesse processo.
uto
A aquisição, ao invés de linear e rígida, deve evoluir constantemente. Nesse
contexto, segundo as autoras, não seria mais adequado o uso do conceito de
“língua-alvo”, uma vez que para o ensino e para a aprendizagem não se trata
R
tanto de uma questão de objetivos e pontos de chegada, mas de desenvolvi-
a
mento, dinamicidade, não linearidade, auto-organização já que um sistema
complexo nunca se encontra em total repouso.
do
4 Potencialidades da abordagem de complexa no uso da coleção
aC
“Alive! inglês”
seleção, análise e discussão das atividades aqui demonstradas foram sete dos
nove componentes fundadores da abordagem complexa, a saber: 1) linguagem
e aquisição de língua como SACs; 2) natureza do ensino/aprendizagem como
ara
od V
r
linguagem como prática social, mostrando ao aluno que ela varia no tempo
uto
e lugar; ou seja, “Grammar is not dead – it is alive. It changes and it varies
from place to place” (MENEZES et al. 2012b: 94, negrito nosso). Dessa
forma, a seção do livro Learning strategies (Fig. 2) traz o uso da gramática
R
como algo dinâmico, não linear e que produz sentido ao invés de apenas
oa
caracterizar-se como um amontoado de regras da língua. Reconhecer que a
gramática é viva e que se apresenta de formas diferentes em diferentes con-
textos de uso (variação linguística) subentende o reconhecimento da língua
aC
como um SAC. A atividade ilustrada na Fig. 2, por exemplo, busca fazer
com que professor e alunos reflitam criticamente a respeito do papel ativo da
Editora CRV - versão para revisão do autor - Proibida a impressão
4 Encorajamento visto nas explicações em letras azuis ao longo dos livros do professor.
102
V
r
plexo. Com essa visão de linguagem, o livro apresenta diferentes signifi-
uto
cados do termo alive, deslocando a gramática de suas formas tradicionais de
apresentação como desarticulada do uso da linguagem.
Em outro exemplo (Fig. 4), na seção Let´s write and listen!, há uma
R
atividade que visa a compreensão do uso da expressão used to pelo aluno.
a
Para tanto, o livro utiliza exemplos de retextualização de gêneros discursivos
(DELL’ISOLA, 2007) ao longo da história, como carta e email, mostrando
do
a dinaminicidade da produção das formas de ação social materializada pelos
gêneros textuais no uso da linguagem.
aC
od V
r
compreende o “erro” como parte do processo dinâmico de produção e, con-
uto
sequentemente, aquisição da linguagem. Na atividade de speaking, na Fig. 5,
a dica é que o aluno não deve ter medo dos “erros”, como a hesitação, decor-
rentes das tentativas de produção da linguagem oral, pois essas manifestações
R
fazem parte do processo. Segundo o livro “Hesitation in not a mistake, but a
oa
characteristic of oral interaction” (MENEZES et al. 2012a, p. 130).
ensino de língua durante uma mesma aula, tendo em vista também que a
abordagem complexa é multifacetada na sua concepção de ensino/aprendi-
zagem e de linguagem. Os livros da série Alive proporcionam ao professor
essa liberdade.
par
Ed
são
ver
104
V
r
uto
R
a
do
aC
od V
r
explica como esse gênero se estrutura no quadro “Did you know?” e na
uto
sequência sugere ao professor que faça uma atividade em que uma receita
de fácil preparação possa ser desenvolvida como atividade de sala de aula.
A refação de gêneros textuais no ensino de língua é um das características
R
da abordagem baseada em gêneros, defendida pelas Diretrizes Curriculares
oa
da Educação Básica – Língua Estrangeira Moderna (PARANÁ, 2008), por
exemplo, que se fundamenta na visão de linguagem como ato social e na
construção sociointeracional do conhecimento.
aC
4.3 Componente 3 – professor como elemento que dá dinamicidade à
Editora CRV - versão para revisão do autor - Proibida a impressão
sala de aula:
visã
Os livros da coleção Alive têm várias recomendações de atividades
extras. Quando Borges e Paiva (2011) pontuam que um professor – que visa
fazer emergir a abordagem complexa em sala de aula – deve ser o elemento
que dá dinamicidade ao sistema (ao invés de um mero repetidor de métodos
a re
itor
V
r
uto
R
a
do
aC
od V
r
atividade dentro do seu contexto imediato de ensino, imprimindo a ela a
uto
dinamicidade necessária para a sua execução.
R
oa
Na série Alive cada unidade temática tem seu encerramento com a seção
“Reflect on learning” (Fig. 10 e 11), que funciona como uma revisão do con-
teúdo visto. Porém, o que chama a atenção neste caso é a forma como essa
aC
revisão é organizada no livro. Conforme o próprio nome implica, a seção tem
como objetivo que o aluno reflita sobre suas ações e sua aprendizagem em sala de
Editora CRV - versão para revisão do autor - Proibida a impressão
aula. Com essa autoavaliação, o aluno pode focar em seu próprio desempenho.
Outro ponto interessante nessas seções são suas subseções “I am au-
visã
tonomous” (Fig. 10), “My opinion” (Fig. 11) e “Now I know” (Fig. 10 e
11) em que os alunos são estimulados a refletir sobre o que aprenderam.
A defesa da autonomia do aluno na coleção também pode ser vista como
parte do componente da abordagem complexa, visto que a autonomia está
a re
itor
V
r
uto
R
a
do
aC
vidade, o exercício proposto não serve apenas para ensinar formas positivas,
d
od V
r
uto
R
oa
aC
Editora CRV - versão para revisão do autor - Proibida a impressão
visã
(MENEZES et al. 2012a, p. 122).
V
r
produza um microtexto sobre seus planos para o fim de semana, contendo
uto
140 caracteres, a fim de ser publicado no Twitter. Aliar o ensino formal à
modernidade das redes sociais é uma ideia interessante de prática social da
linguagem proposta pela coleção.
R
a
4.6 Componente 6 – acolhimento das múltiplas identidades:
do
De acordo com Borges e Paiva (2011), a identidade do sujeito complexo,
no contexto sócio-histórico-cultural, é multifacetada, ou seja, “são diversas,
aC
dinâmicas e mudam ao longo do tempo” (NORTON, 2000 apud BORGES;
“Who am I?”. Nessa atividade, o livro sugere ao professor que utilize a aula
i
para que os alunos possam se apresentar uns aos outros, comentando sobre
op
eles mesmos, sobre seus amigos e família. Ainda, são oferecidas algumas
d
Já na Fig. 15, o livro traz uma atividade em que os alunos podem criar
uma identidade digital, um avatar, que pode representar uma das facetas
da própria identidade do aluno ou uma identidade alternativa que talvez
ver
od V
r
uto
R
oa
aC
Editora CRV - versão para revisão do autor - Proibida a impressão
visã
(MENEZES et al. 2012a, p. 10) (MENEZES et al. 2012a, p. 145)
V
r
Fig. 16 – Atividade extraída Fig. 17 – Atividade extraída
uto
do livro “Alive! inglês” do livro “Alive! inglês”
R
a
do
aC
momentos de sua vida permeados ou não pelo uso da língua inglesa e possi-
bilitar a percepção do uso de recursos muitos próximos a si como materiais
potenciais para a aprendizagem da língua inglesa.
Na atividade da Fig. 17, temos um exemplo de uma atividade deno-
minada “Art corner” ou (em uma tradução literal) o “Cantinho da arte”, em
que os alunos podem construir artefatos sugeridos no livro com material
COMPLEXIDADE EM AMBIENTES DE ENSINO
E DE APRENDIZAGEM DE LÍNGUAS ADICIONAIS 113
od V
r
uto
Considerações finais
R
2012 com uma proposta inovadora de ensino de língua inglesa baseada nos
oa
princípios da teoria da complexidade/caos. As concepções de linguagem e de
aquisição de segunda língua como sistemas adaptativos complexos (SACs)
da série estão fundamentadas em um paradigma contemporâneo de ensino
aC
de língua e a coleção é pioneira em lançar livros didáticos para o ensino
fundamental e médio baseados nessa visão.
Editora CRV - versão para revisão do autor - Proibida a impressão
V
r
dos alunos, previstas ao final de cada unidade dos livros, nas seções “Learning
uto
strategies” e “Let´s reflect on learning!”, são um indício de que a coleção está
preocupada em focar o desempenho individual de cada aluno e não apenas o
desenvolvimento da competência linguístico-comunicativa, como acontece
R
nos encaminhamentos do uso das abordagens de ensino de língua (outras que
a
não a abordagem complexa). Um grande número de atividades propostas na
coleção está focado nas práticas sociais da linguagem, aproximando a língua
do
inglesa da realidade do aluno e proporcionando uma reflexão na produção
de sentidos nessa língua em diferentes contextos reais de uso, inclusive com
aC
ênfase no letramento digital. Para tanto, o uso de textos autênticos é uma
todavia, somente pode ser realizado em contexto real de sala de aula, com o
i
sistema em ação; porém, pudemos constatar com esta análise que as atividades
op
TRANSDISCIPLINARIDADE
NO ENSINO DO ESPANHOL:
od V
r
uma análise do livro didático
uto
Enlaces – Ensino Médio
R
oa
Kelly Cristinna Frigo Nakayama (IFPR)
Elaine Ferreira do Vale Borges (UEPG)
Introdução
aC
Editora CRV - versão para revisão do autor - Proibida a impressão
influência dos LDs, tendo em vista que muitos professores e alunos têm
esse instrumento como único recurso na sala de aula. Em virtude disso, es-
pecialmente a partir dos anos oitenta, linguistas aplicados se debruçaram
Ed
dos objetivos dos autores dos MDs e da aprendizagem; e por permitirem ob-
servar as visões de linguagem e ensino/aprendizagem implícitas no material.
Sendo as duas últimas questões, principalmente, fatores que viabilizam a
compreensão e a coerência teórico-metodológica de um LD. Na década de
1 Nesse capítulo não fazemos distinção entre LE e segunda língua (L2).
2 A Lei 11.161/05 (BRASIL, 2005), por exemplo, traz a prerrogativa da inclusão facultativa do ensino do espanhol nos
currículos plenos do Ensino Fundamental e da oferta obrigatória no Ensino Médio.
116
V
r
LEs estão surgindo. Nesse panorama, emerge a coleção de livros Enlaces:
uto
español para jóvenes brasileños (OSMAN et al., 2013) para o Ensino
Médio (doravante Enlaces), fundamentada na transdisciplinaridade. Em
sua essência, a transdiciplinaridade é um princípio do pensamento com-
R
plexo (SANTOS; SOMMERMAN, 2009). No que concerne aos estudos
a
da complexidade na Linguística Aplicada, a concepção de linguagem e de
aquisição de segunda língua é entendida como sistema adaptativo complexo
do
(LARSEN-FREEMAN, 1997; LARSEN-FREEMAN; CAMERON, 2008b;
BECKNER et al., 2009; MENEZES, 2013) e a abordagem de ensino de
aC
línguas que surge desse contexto é a abordagem complexa (BORGES;
1 Transdisciplinaridade e complexidade
ver
od V
r
tanto a transdisciplinaridade como a complexidade estão em processo de
uto
construção e ainda não podem ser consideradas como teorias pedagógicas.
Trata-se de uma problematização emergente, tendo em vista as mudanças
socioeconômicas e culturais na atualidade. No panorama contemporâneo,
R
Libâneo (2005) inclui a teoria da complexidade como uma modalidade
oa
das correntes holísticas ao lado da teoria naturalista do conhecimento, da
ecopedagogia e do conhecimento em rede. Os princípios da transdiscipli-
naridade e da complexidade se articulam, pois apresentam pressupostos
aC
similares, ou seja, se os saberes disciplinares se conectam, transcendendo
fronteiras, a aprendizagem ganha sentido, o que gera a compreensão sig-
Editora CRV - versão para revisão do autor - Proibida a impressão
mático, que apresenta as conexões entre as partes e o todo. Para Morin, esse
princípio afirma que a parte está contida do todo, e que o todo está contido
são
nas partes. O autor destaca, ainda, que na era moderna há uma relação de
interdependência entre termos, antes vistos como antagônicos ou opostos,
como a unidade e a diversidade ou o local e o global. Compartimentalizar
ver
V
r
dantes, sendo o professor um dos principais agentes desta ação. Para tanto,
uto
é preciso entender o conceito de transdisciplinaridade, o qual muitas vezes
se confunde com o da interdisciplinaridade. Morin (2013, p. 53) compara a
interdisciplinaridade à Organização das Nações Unidas (ONU): a primeira
R
controla as disciplinas da mesma forma que a segunda controla as nações.
a
As duas se esforçam para que haja o reconhecimento da soberania territorial
entre nações e disciplinas e se empenham para mantê-las “em vez de des-
do
moroná-las, mesmo que algumas trocas incipientes se efetivem”. Há, assim,
uma tentativa para encontrar pontos em comum entre as diferentes nações e
aC
disciplinas, porém se constroem pontes entre elas para se atingir objetivos.
tanto nas ciências humanas, exatas como naturais (SANTOS, 2009). Santos
alerta que o professor precisa considerar que todos os saberes são igual-
ver
od V
r
enfoque em temas transversais permite uma visão mais significativa do co-
uto
nhecimento e da vida (SANTOS, 2009), além de possibilitar relações entre
diferentes conhecimentos.
R
2 A coleção de livros didáticos Enlaces
oa
A coleção de LDs Enlaces: español para jóvenes brasileños (Fig.1),
elaborada para o ensino e a aprendizagem de espanhol para estudantes brasi-
aC
leiros do Ensino Médio regular, fundamenta-se nos Parâmetros Curriculares
Nacionais para o Ensino Médio (BRASIL,2000); PCN + Ensino Médio;
Editora CRV - versão para revisão do autor - Proibida a impressão
V
r
contém a resolução dos exercícios propostos. Há um guia didático no fim
uto
do manual que contempla a fundamentação teórica da coleção, orientações
e sugestões práticas para cada unidade, transcrições dos textos gravados e
sugestões de leitura ao professor, como as dispostas no item Más apoyo.
R
Além de interagir com documentos oficiais que norteiam a educação
a
no Brasil, a coleção propõe a articulação do ensino de espanhol como LE
com as outras disciplinas integrantes do Ensino Médio por meio de unidades
do
temáticas. Dessa forma, o estudante poderá desenvolver competências e ha-
bilidades para “conhecer e respeitar o pluralismo cultural e linguístico his-
aC
pânico” (OSMAN et al., 2013, p. 211) e “estabelecer relações e reconhecer
od V
r
postas de produção escrita.
uto
Todavia, tendo uma proposta transdisciplinar, o que chama a atenção é
o fato dos autores explicitarem o item “interdisciplinaridade” como tópico na
apresentação das unidades de estudo, sendo que a transdisciplinaridade supera
R
este termo no sentido de não estabelecer fronteiras e limites entre os saberes.
oa
Na sua concepção de aprendizagem, a coleção propõe “[a] transdisciplina-
ridade como caminho para articular o ensino de espanhol com os mais dife-
rentes saberes” (OSMAN et al., 2013, p. 215). Apesar da incoerência inicial,
aC
a referência ao termo interdisciplinar é mais bem entendida a partir do es-
quema apresentado no guia didático, como exposto no item 2.2 do volume 1
Editora CRV - versão para revisão do autor - Proibida a impressão
do manual do professor (p. 215) (Fig. 2), por exemplo, em que as disciplinas se
perpassam e se transcendem, apesar de serem citadas explicitamente.
visã
Outro destaque é o tratamento aos gêneros discursivos e aos processos
de produção de texto. A coleção, então, concebe a linguagem como interação
social, construída nas interações, de forma dinâmica – evidenciando as prá-
ticas sociais da linguagem como fundamentais no processo de aquisição/
a re
itor
sala de aula, consiga desenvolver habilidades para que possa ser um usuário
competente da língua. Nesse sentido, a coleção atua como um recurso muito
útil que, dentre outros fatores, evidencia sua concepção pedagógica a partir
Ed
V
r
presença de preconceitos ou estereótipos.
uto
Quanto à concepção de aprendizagem, a coleção baseia-se na pers-
pectiva socioconstrutivista de Vygotsky, que parte do princípio de que
“ensinar pressupõe descobrir e atuar nas relações reais do processo de de-
R
senvolvimento e a capacidade de aprendizagem dos alunos” (VYGOTSKY,
a
1998apud OSMAN et al., 2013, p. 214). Os autores sugerem que o professor
precisa partir do desenvolvimento real dos alunos, que se refere aos conhe-
do
cimentos prévios, para instigar a zona de desenvolvimento proximal (ZDP),
referentes às funções que estão em processo de amadurecimento. Assim, o
aC
professor precisa conhecer o que o aluno é capaz de fazer para desenvolver
os autores citam Leffa (2006, p. 43), que entende que se trata de compre-
op
od V
r
uto
R
oa
Fonte: Osman et al. (2013, p.215)
culturais e ideologias.
Observa-se também no guia didático a preocupação com a
contextualização dos conhecimentos abordados, com o letramento e
ver
V
r
diante referenciado apenas como LD ou Enlaces. Este título caracteriza-se
uto
como tema gerador para inúmeras discussões e atividades transdisciplinares
que o LD propõe. Os autores apresentam na primeira página dessa Unidade
os objetivos para o estudo, que são: “descrever ações habituais, falar sobre o
R
meio ambiente, expressar frequência, elaborar um folheto de campanha co-
a
munitária” (p. 79). A análise será feita considerando os objetivos elencados
e com a finalidade de identificar pressupostos da perspectiva transdisciplinar
do
inserida na concepção teórico-metodológica do LD. Os exercícios discutidos
aqui são os que seguem:
aC
consciência ecológica;
i
od V
r
coleção considerar a transdisciplinaridade como caminho para articular o
uto
ensino de espanhol em sua concepção de aprendizagem, como já discutido
em outro momento neste capítulo. Isso pode ser constatado, por exemplo,
nas seguintes passagens: “Se for possível, antes da aula organize um trabalho
R
interdisciplinar com o professor de Ciências ou Biologia (OSMAN et al.,
oa
2013, p.244). “Se for possível organize com o professor de História trabalhos
e leituras sobre a Revolução Industrial (OSMAN et al., 2013, p.241). Nesse
panorama, pensamos ser de suma importância que os professores tenham
aC
uma compreensão clara de que, embora os saberes disciplinares ainda estejam
organizados separadamente nas escolas, esses saberes, em uma prática que
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V
r
Entre 9 y 45- ¡Muy bien! Ayudas a mejorar el planeta, aunque podrías hacer
uto
un poco más5. Esta atividade possibilita o trabalho transdisciplinar, tendo
em vista a abrangência de conexões possíveis. Ao tratar do tema da proteção
do meio ambiente e práticas cotidianas para que isso aconteça, há implícitas
R
relações com os saberes e conhecimentos da área de Ciências e Biologia. O
a
objetivo da atividade é que os alunos analisem criticamente as implicações
socioeconômicas e ambientais do uso dos recursos naturais, materiais ou
do
energéticos (OSMAN et al., 2013, p. 240). Tanto professor como aluno
podem sugerir intervenções para a redução e controle dos efeitos da poluição
aC
e, para fazê-lo, precisarão dispor de saberes prévios diversos e relacioná-los
4 2- Ao tomar banho, você demora mais de cinco minutos no chuveiro? 3- Você separa as pilhas para a reciclagem?, 6-
Você dorme com a luz acesa?
5 Muito bem! Você ajuda a melhorar o planeta, mas poderia fazer um pouco mais.
COMPLEXIDADE EM AMBIENTES DE ENSINO
E DE APRENDIZAGEM DE LÍNGUAS ADICIONAIS 127
od V
r
para melhorar o planeta e a frequência com que as realizam. A partir dessa
uto
atividade, os alunos são instigados a refletir sobre suas próprias atitudes.
Como proposta de análise da linguagem, há marcas discursivas para serem
relacionadas às suas respectivas funções no contexto como ¿Cachai?
R
(expressão usada no Chile para chamar a atenção do entrevistado para o
oa
que afirma). O guia didático, apresentado no fim do manual do professor,
propõe que se destaque com os alunos a atividade de compreensão auditiva,
comentando que nenhuma variante é melhor que a outra, apenas diferente.
aC
Para a realização dessa atividade, são necessários conhecimentos
geográficos e socioculturais, além da leitura de imagens. Se esses
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V
r
o espanhol como objeto de estudo é permeado por diferentes conhecimentos
uto
e saberes, não vislumbrados de forma justaposta, mas interconectada.
R
a
do
aC
od V
r
estimular também a produção escrita na língua espanhola. Por outro lado, a
uto
leitura de gráficos se enlaça com conhecimentos da matemática, tendo em
vista a identificação do período de descontrole da emissão do gás metano,
e da química, no momento em que o aluno identifica as características das
R
principais fontes de emissão. No entanto, essas “disciplinas” não precisam
oa
ser mencionadas, sendo que o objeto de estudo é o espanhol.
Para aguçar os debates, que favorecem práticas orais em LE, há ex-
posição de artigos de opinião e científicos (Fig. 7 e 8) no LD. O artigo de
aC
opinião, página 84 do LD (Fig.7), discute a consciência ecológica, o pro-
tocolo de Kioto e a culpa individual de cada um diante de algumas ações
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de sua extinção, entre outros, o que se conecta com diferentes saberes das
ciências naturais. Por outro lado, trata-se de uma atividade em que os alunos
são orientados a identificar e sublinhar no texto verbos no presente do indi-
cativo e seus usos como a referência a situações habituais, futuro próximo,
propriedades ou características de algo ou alguém. Nota-se a preocupação
dos autores em destacar o presente do indicativo de uma forma menos estru-
tural. No entanto, na sequência didática dessa atividade, há uma tabela com
130
V
r
(demostrar) conciencia ecológica evitando usar mucho plástico?6. Os exer-
uto
cícios propostos enfatizam o uso “adequado” das conjugações verbais, em
que o foco do aluno deve ser a forma e a justaposição de conteúdos, porém o
texto no formato de entrevista é apresentado com mais coerência em relação
R
aos princípios da transdisciplinaridade que os exercícios, pois evidenciam e
a
permitem mais relações com diferentes saberes.
do
Figura 7 – Artigo Figura 8 – Texto científico
aC
od V
r
Ainda na Unidade 5, o LD também propõe atividades de análise (ideia
uto
central, objetivo, forma de tratamento) do gênero panfleto de campanha co-
munitária (Fig. 9). Os alunos são convidados a elaborar um calendário se-
manal para uma campanha comunitária de incentivo e cuidado com o meio
R
ambiente em seu bairro, bem como a criação de um folheto.
oa
Figura 9 – Comunidade Figura 10 – Expressão artística
aC
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visã
a re
itor
par
Ed
são
Fonte: Osman et al. (2013, p. 91) Fonte: Osman et al. (2013, p. 93)
V
r
sucessivamente (OSMAN et al., 2013, p. 243). Trata-se de curiosidades e
uto
conhecimentos interseccionando-se no interior da atividade proposta. Outro
aspecto relevante (e transdisciplinar) é que essa modalidade de atividade
acaba promovendo o contato com os problemas da comunidade, o que pode
R
gerar iniciativas de conscientização por parte de alunos e escola, integrando
a
esses ambientes, conectados em rede.
Como tentativa de abordagem transcultural e de expressão artística, o LD
do
apresenta, na página 93 (Fig. 10), algumas imagens de obras de arte produ-
zidas a partir do lixo reciclável e informações sobre seus respectivos artistas
aC
(Vik Muniz, Luis de Dios, João Parrinha, Xandi Kreuzeder- Skeleton Sea).
zação do indivíduo.
Com a análise, reflexão e discussão das atividades da Unidade 5 do
E
sã
od V
r
humanas como geografia, história, química, matemática, artes, informática,
uto
ciências, biologia, entre outros. A aprendizagem do objeto de estudo, no caso
a língua espanhola, ocorre permeada de múltiplas e variadas informações
que se conectam, dependendo do viés do professor.
R
No entanto, a perspectiva de uma visão transdisciplinar, que parte do
oa
todo e transcende as barreiras disciplinares, não é tarefa fácil, tendo em vista
que professores formados pelo pensamento cartesiano, muitas vezes, não
se sentem confortáveis com as mudanças emergentes na atualidade. Esse
aC
desconforto, possivelmente, deve-se em parte pela formação fragmentada
e em parte pela insegurança em correr riscos. Nesse panorama, para fazer
Editora CRV - versão para revisão do autor - Proibida a impressão
Considerações Finais
V
r
6 ¿Qué hay detrás de la etiqueta? (OSMAN et. al. 2013, p.95), que retoma
uto
discussões sobre a industrialização e o consumismo, também responsáveis
por boa parte dos problemas ambientais destacados na Unidade 5. Essa es-
tratégia nos remete à tentativa de evitar a fragmentação e as fronteiras entre
R
os saberes, havendo, assim, a promoção do diálogo entre as ciências ao não
a
serem tratadas de forma dissociada.
Contudo, entendemos que o LD, em seu guia didático, acaba por en-
do
fatizar, em alguns momentos, mais a interdisciplinaridade do que a própria
transdisciplinaridade, o que pode facilitar uma prática apenas interdisciplinar
aC
pelo professor, sendo esse um aspecto menos favorável da coleção. Esse fato
concebendo uma nova visão de mundo, a prática docente não é tarefa fácil
para docentes que tiveram toda sua formação associada ao controle de tarefa,
à linearidade, à previsibilidade e ao imediatismo – princípios da concepção
cartesiana e mecanicista da construção do conhecimento.
Concluímos que a metodologia do LD analisado e a forma como aborda
od V
r
o ensino da língua é uma tentativa de fazer emergir a transdisciplinaridade e
uto
de superar o caráter fragmentado do ensino. Salientamos, porém, que o LD
poderia ter tido um enfoque maior na orientação do professor sobre como
“fazer” emergir a transdisciplinaridade a cada atividade, dando mais suporte
R
à prática e permitindo a ele enlaçar os conhecimentos, sem deixar-se con-
oa
fundir pela interdisciplinaridade. Entretanto, sem citar nomenclaturas, há
sugestões presentes no guia didático que explicam como é possível trabalhar
cada atividade para que ela se aproxime da concepção transdisciplinar, dando
aC
mecanismos para a diversidade no trabalho. Esse fato demonstra a preocu-
pação dos autores em atingir o objetivo da proposta teórico-metodológica do
Editora CRV - versão para revisão do autor - Proibida a impressão
ver
Ed
são
itor
par aC
a re
PARTE III
visã R
od V
ACONSELHAMENTO
oa
ADAPTATIVO COMPLEXO
uto
LINGUAGEIRO COMO SISTEMA r
E d
ver
sã
i t or op
ara aC
rev
i são R V
do
a uto
r
Editora CRV - versão para revisão do autor - Proibida a impressão
CAPÍTULO 6
O EFEITO DO ACONSELHAMENTO
LINGUAGEIRO NA TRAJETÓRIA
od V
r
DE APRENDIZAGEM DE UMA
uto
ESTUDANTE DE INGLÊS1
R
oa
Eduardo Castro dos Santos Junior (UFPA)
Walkyria Magno e Silva (UFPA)
1 Introdução
aC
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1 Este trabalho é um recorte da pesquisa de Iniciação Científica conduzida em 2014-2015. Agradecemos o apoio da UFPA
no financiamento da bolsa de PIBIC. Este estudo recebeu o prêmio de destaque científico na área de Ciências Humanas
no XXVI Seminário de Iniciação Científica da UFPA.
140
V
r
participante; identificar como os agentes interagem nesse processo; e, por fim,
uto
verificar de que modo tais agentes influenciam sua trajetória. Os dados são
provenientes de narrativa, observação em espaços de aprendizagem, atas de
reuniões, relatórios de participação em oficinas e entrevistas.
R
Iniciaremos este capítulo expondo brevemente algumas características
a
dos SDC. Em seguida, discorremos brevemente sobre os atuais estudos de
motivação na aprendizagem de línguas. Depois, apresentamos a metodologia
do
de coleta e análise dos dados utilizados. A partir daí, mostramos, analisamos
e discutimos os dados coletados à luz da teoria da complexidade e dos as-
aC
pectos motivacionais. Finalmente, traçamos as considerações finais.
diferentes que interagem entre si de modo que podem – ou não – fazer emergir
novos comportamentos, sendo caracterizados como sendo dinâmicos, com-
or
nados momentos, estágios de estabilidade. Isto não significa que ele esteja
estático, mas, na verdade, o que se tem é uma mudança contínua e pouco per-
ceptível, como bem argumentam Larsen-Freeman e Cameron (ibid.). Além
disso, não se separa o contexto do sistema porque os fatores contextuais
influenciam a sua trajetória da mesma forma que são influenciados por ele.
COMPLEXIDADE EM AMBIENTES DE ENSINO
E DE APRENDIZAGEM DE LÍNGUAS ADICIONAIS 141
od V
r
todos os estados ou fases do sistema ocorrerem em uma área chamada de “pai-
uto
sagem de possibilidades”, onde há pontos altos e baixos. Nessa trajetória, há
determinados estados, modos ou padrões de comportamento recorrentes no
sistema, chamados de atratores ou estados atratores (LARSEN-FREEMAN;
R
CAMERON, 2008b). Nessa mesma linha de pensamento, Hiver (2015) res-
oa
salta que o termo atrator não exerce uma força de atração, como o nome pode
sugerir, mas representa os comportamentos que se movem em direção a novos
padrões na medida em que se afastam de outros padrões.
aC
Larsen-Freeman e Cameron (2008b) asseveram que os possíveis estados
ou comportamentos que um sistema pode assumir são regidos por alguns
Editora CRV - versão para revisão do autor - Proibida a impressão
2 SEALEY, A.; CARTER, B. Applied Linguistics as Social Sciences. London: Continuum, 2004.
142
V
r
tudante de graduação, membro de uma comunidade religiosa, filho, jogador
uto
de futebol, entre outras, que influenciam o seu processo motivacional.
Além de dinâmica e emergente, a motivação para apender uma LE en-
volve também uma reconfiguração na autoimagem do indivíduo (DÖRNYEI,
R
2005, 2009). Williams (1994)3, citada em Dörnyei (2005, p. 68), afirma que
a
aprender uma língua é muito mais do que adquirir um conjunto de voca-
bulário ou um instrumento de comunicação. Pelo contrário, envolve uma
do
“modificação na autoimagem, a adoção de novos comportamentos sociais e
culturais e modos de ser”. Diante disso, Dörnyei (2005) associa tal construto
aC
às visões que o aprendente projeta de si em um estado futuro. Essas visões
para o fato de que essa identidade é virtual e metafórica porque que não há
uma comunidade geograficamente definida de falantes da língua inglesa, prin-
t
temporaneidade. Nesse sentido, o autor lança mão da teoria dos eus possíveis4
op
3 WILLIAMS, M. Motivation in foreign and second language learning: an interactive perspective. Educational and Child
Psychology, v. 11, n. 2, 1994.
4 Possible Selves Theory.
COMPLEXIDADE EM AMBIENTES DE ENSINO
E DE APRENDIZAGEM DE LÍNGUAS ADICIONAIS 143
od V
r
entre o “eu” atual e o “eu” futuro; b) eu que deve ser em LE, que se refere às
uto
características que uma pessoa acredita que a outra deva ter. Este aspecto en-
volve a pressão social (família, por exemplo), obrigações e responsabilidades;
por fim, c) experiências na aprendizagem em LE, que se refere ao ambiente de
R
aprendizagem imediato no qual o indivíduo está situado.
oa
Embora a dimensão futura das possibilidades do “eu” seja um fator mo-
tivador importante na trajetória de aprendizagem de LE, é no estado presente
que o aluno enfrenta as mais diversas influências que mantém seu desejo de
aC
aprender LE ativo. Essas interferências podem movê-lo para mais próximo
do seu “eu” ideal ou não. É com base na interferência de múltiplos fatores
Editora CRV - versão para revisão do autor - Proibida a impressão
vação a partir da perspectiva dos SDC, entre eles Pawlak (2012) e Waninge,
de Bot e Dörnyei (2014).
são
5 Trata-se de uma escala de 1 a 7 em que os alunos marcam seu nível de interesse em determinada aula e/ou atividade.
144
V
r
o aconselhamento linguageiro vem se estabelecendo como um suporte para
uto
os estudantes, sobretudo, no ensino superior.
Essa prática objetiva oferecer apoio individual para os aprendentes de
LE acerca de sua própria aprendizagem para que desenvolvam comporta-
R
mentos mais autônomos (CARSON; MYNARD, 2012). Nesse contexto,
a
a pessoa responsável em dar esse apoio é o conselheiro linguageiro. Na
relação que se estabelece entre eles, o aconselhado estabelece objetivos,
do
elabora planos de ação e verifica, por meio do diálogo e da reflexão, quais
as melhores formas de alcançar os objetivos propostos. No aconselhamento,
aC
ele é observado de forma holística já que na interação com o seu conselheiro,
6 Metodologia
or
od V
r
identidade, conforme acordado em termo de consentimento livre e escla-
uto
recido, a participante é identificada como AC1CL67. Além da informante,
participaram também dois de seus professores e dois de seus colegas de sala.
Eles foram entrevistados com o intuito de verificar se os comportamentos
R
apresentados nas sessões de aconselhamento repercutiam naqueles demons-
oa
trados em sala de aula e nos demais contextos de aprendizagem, como ofi-
cinas, congressos, entre outros. O critério para seleção dos professores foi
que eles ministrassem a disciplina em inglês em uma das turmas frequen-
aC
tadas por AC1CL6. Por outro lado, o critério para seleção dos seus colegas
de sala foi a afinidade que ela possui com eles, percebida pelo primeiro autor.
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6 Este projeto oferece aconselhamento linguageiro para estudantes de Letras com dificuldades em acompanhar suas
turmas nas habilidades linguageiras.
7 Código de identificação utilizado no projeto supracitado.
146
V
r
percorrida pelo sistema em questão. Neste trabalho, buscou-se conhecer as
uto
primeiras experiências de aprendizagem de inglês da participante por meio
de sua narrativa.
Utilizamos as atas de reuniões do grupo de pesquisa e relatórios de
R
AC1CL6 provenientes de sua participação em oficinas. Lüdke e André
a
(2013, p. 45) argumentam que documentos como esses são de grande valia
para a abordagem qualitativa porque “não são apenas uma fonte de infor-
do
mação contextualizada, mas surgem num determinado contexto e fornecem
informações sobre esse mesmo contexto”. A observação foi realizada sem
aC
interferência direta com a aluna, embora reconheçamos que a presença do
sessões de aconselhamento.
Para observar a aluna, encaminhamo-nos para os espaços de aprendi-
E
sã
od V
r
a sua conselheira já havia pedido tal instrumento. No decorrer da coleta de
uto
dados, a informante participou de oficinas oferecidas pela universidade e,
ao concluí-las, os seus ministrantes solicitaram relatórios, que nos foram
disponibilizados por ela. Por fim, AC1CL6, dois professores e dois colegas
R
foram entrevistados. As entrevistas ocorreram entre abril e maio de 2015
oa
em horário previamente agendado em ambiente apropriado. Cada entrevista,
com duração aproximada de 20 minutos, foi gravada em áudio e posterior-
mente transcrita.
aC
Começamos a análise dos dados verificando as primeiras experiências
de AC1CL6 com a língua inglesa por meio de sua narrativa de aprendizagem,
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V
r
uto
Iniciamos esta seção apresentando as condições iniciais do sistema de
aprendizagem de AC1CL6. Em seguida, discutimos os comportamentos
provavelmente catalisados pelas sessões de aconselhamento em outros am-
R
bientes de aprendizagem. Depois, mostramos aqueles comportamentos que
a
atestam a conscientização de aprender. Por fim, descrevemos a trajetória
motivacional da informante durante sua participação no projeto em questão.
do
7.1 Condições iniciais
aC
para estudar essa língua durante o seu primeiro ano no Ensino Médio quando
exclama “Que legal, vou aprender inglês!”. No entanto, diversas influências
or
atuaram para que essa experiência não fosse positiva, conforme mostra o
trecho abaixo.
ara
[1] infelizmente fui decepcionada, era preciso algo mais, algo que
t
ensino da língua “se resumia a repetições”. Tal relato evidencia que a meto-
dologia utilizada pelo professor era recorrente e afetou diretamente a postura
da aluna na sala de aula nos anos seguintes. Observamos, pois, um atrator
nesse sistema de aprendizagem: a prática pedagógica que era ineficiente para
a aluna, já que não oferecia sentido para ela (“era preciso algo mais, algo
COMPLEXIDADE EM AMBIENTES DE ENSINO
E DE APRENDIZAGEM DE LÍNGUAS ADICIONAIS 149
od V
r
teração que ocorre no seu estado anterior. Percebemos, no excerto [1], que a
uto
experiência na sala de aula durante o primeiro ano criou condições para que
o segundo e terceiro anos de estudos da língua resultassem em uma aluna
pouco participativa nas aulas. Ou seja, as práticas pedagógicas ineficientes,
R
somando agora um estado de saúde da aluna e a falta de professor à época,
oa
afetaram diretamente AC1CL6 de modo que ela concluiu o Ensino Médio
com conhecimento precário do idioma.
No excerto [2] abaixo, percebemos claramente a imprevisibilidade do
aC
sistema, uma vez que a aluna decidiu “ironicamente” continuar estudando inglês.
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mudança de fase na trajetória do sistema, ou seja, o sistema passa por uma fase,
itor
V
r
no idioma reconheço que minha aprendizagem apresentou avanço, en-
tretanto ainda há muito trabalho e estou disposta a fazê-lo (Narrativa,
uto
abril/2014).
R
a
AC1CL6 mostra-se muito persistente nos estudos do idioma. Esses indícios
permitem caracterizar esta estudante como motivada intrinsicamente, uma
do
vez que ela se engaja em atividades que lhe causam certa satisfação e prazer
em aprender algo novo (RYAN; DECI, 2000). Assim, as condições iniciais
aC
deste sistema de aprendizagem configuram-se como um conjunto de eventos
mento era por precisar desenvolver melhores formas de gerenciar sua apren-
d
[4] principalmente no começo, ela tinha muito... eu acho que ela era
pior do que eu assim na parte de falar, ela tinha muito medo de falar.
Lembro que eu não falava nada, mas não tinha tanto medo e ela tinha
muito muito medo assim. E ela ficava muito desmotivada no começo
e agora a AC1CL6 é a faladora lá da sala. Eu acho que, além disso,
od V
r
ela também corre atrás, ela se expõe muito principalmente na língua
inglesa mesmo tu vê assim ela falando devagar, mas ela tem essa co-
uto
ragem. E também de correr atrás dos objetivos dela, não só na parte
da graduação, mas na parte da língua inglesa e outras coisas... Tipo
oficinas, apresentar trabalhos, essas coisas... tudo que a universidade
R
oferece ela participa. Ela corre atrás dessas coisas... (Entrevista com
oa
colega A, abril/2015).
fazer a prova oral e que seus textos escritos estão mais longos e com menos
erros. Na graduação, professores A e B relatam em entrevista que a tomada
visã
de decisão e a participação em sala de aula são características marcantes de
AC1CL6, conforme podemos perceber nos excertos [5] e [6] abaixo:
este ano. Ela tem se mostrado mais segura na fala dela [...]. Ela é
muito questionadora. (Entrevista com professor B, maio/2015).
Ed
Os excertos [4], [5] e [6] mostram que a adoção desse novo comporta-
são
V
r
na oficina de escrita acadêmica, mas se estende também para outros con-
textos. Seus colegas mencionam que ela está tentando empregar a LE com
uto
eles em todos os lugares, inclusive em redes sociais, tais como o Facebook.
Ambos mencionam na entrevista que a conversa entre eles com AC1CL6
R
ocorre em inglês quando ela inicia a interação em tal língua, como podemos
a
perceber na fala a seguir:
do
[8] inclusive a gente até de vez em quando conversa em inglês, fala
em inglês entre nós. Ela na verdade hoje em dia começa a falar em
aC
inglês normalmente na fila do RU e a gente vai praticando também e
servar que ela mantém uma interação mais constante com um colega em
i
Esse colega foi um dos entrevistados neste trabalho. Ele relata que tanto a
falta de conhecimento da língua inglesa bem como a participação de ambos
no aconselhamento linguageiro contribuíram para o aumento de afinidade
E
sã
entre eles.
ver
od V
r
novas informações para conseguirem enfrentar a pressão que o contexto uni-
uto
versitário exerce, sobretudo naqueles que entram na faculdade com pouco
conhecimento do idioma. Deste modo, o aconselhamento influencia não so-
mente nos múltiplos espaços de aprendizagem de inserção da aconselhada,
R
mas também na relação que ocorre entre ela com seus pares.
oa
Conforme asseveram Larsen-Freeman e Cameron (2008b), o sistema
está em constante mudança, o que é chamado pelas autoras de estabilidade di-
nâmica, que é o que ocorre com o estado da aprendizagem da aluna em questão
aC
até o momento. Contudo, sua professora relata em entrevista que AC1CL6 já
não está tão participativa na sala de aula e vem também faltando algumas
Editora CRV - versão para revisão do autor - Proibida a impressão
Desta vez, ele exibe um comportamento inesperado para uma aluna como
ela, como mostra o excerto [10]. Devido ao grande número de elementos
e agentes que compõem os SDC, vai além da capacidade dos instrumentos
Ed
adotados nesta pesquisa apontar o que levou tal sistema a seguir esse com-
são
V
r
unânimes ao afirmar que ela ficou mais confiante e participativa nesses am-
uto
bientes. Nas sessões de aconselhamento, as atitudes da aconselhada são for-
temente discutidas para que ela se torne mais consciente das suas ações. Por
meio dessa reflexão, a aluna pode pensar nos seus pontos fortes e nos pontos
R
a melhorar. AC1CL6 relata abaixo sua experiência com o aconselhamento.
a
[11] Antes do aconselhamento com inglês, eu tava meio que sendo
do
levada. Mas depois do aconselhamento eu tava levando, entendeu? Eu
já entendia como fazer as coisas certinho, então era basicamente isso.
aC
Antes eu ia sendo levada, não refletia, principalmente, com o que eu
Tal só foi possível depois dessa sua participação. AC1CL6 relata que se
tornou mais responsável quando começou a conduzir seu próprio processo
com base nos seus pontos fortes e nos pontos a melhorar. Podemos notar
ara
poderia chegar”).
i
de AC1CL6. Ela menciona que se sentia com medo ao encarar um novo de-
safio, como ler algum texto em LE, e, por causa deste sentimento, ela não
avançava na sua aprendizagem. Com o aconselhamento, por outro lado, ela
E
sã
relata que começou a persistir nesses desafios afim de superar o medo que
sentia. O excerto [12] abaixo explicita isso:
ver
od V
r
Quando ela estava no segundo semestre, as atividades solicitadas pelo
uto
seu professor iam além daquilo que ela poderia fazer com seu nível de língua.
Na época, sua conselheira relata que ela se desestabilizou emocionalmente
por não saber lidar com a pressão que o contexto exercia. AC1CL6 decidiu,
R
então, baixar o nível de expectativas com a disciplina ao tentar somente
oa
passar nela independente do resultado. Assim, conforme podemos perceber
no excerto [12], é por meio da reflexão sobre a aprendizagem durante o AAL
que AC1CL6 começa a superar as dificuldades. Além da estratégia de baixar
as expectativas, sua conselheira sugeriu também que ela planejasse as etapas
aC
que deveriam ser traçadas para alcançar seus objetivos, como podemos ver
Editora CRV - versão para revisão do autor - Proibida a impressão
no excerto a seguir.
visã
[13] principalmente no sentido de pensar que eu vou conseguir. Tipo
assim, às vezes a coisa parecia muito grande e, era sempre o que a
minha conselheira falava, a gente tinha que dividir em partes menores
e ver os caminhos para chegar até lá. Então, foi uma coisa que eu
aprendi muito com isso. E aí pensar em apresentar um trabalho em
a re
itor
vezes a gente quer dar um salto e não é assim, é por partes (Entrevista
com AC1CL6, abril/2015).
Podemos perceber nos excertos [12] e [13] que a conselheira atua como
Ed
auxilia a aconselhada a melhor lidar com o seu sistema afetivo, que é funda-
mental para o sucesso na aprendizagem. Esses excertos corroboram os resul-
tados empíricos de Yamashita (2015) sobre a importância da afetividade no
desenvolvimento da conscientização sobre a aprendizagem durante o AAL.
ver
V
r
contribuem para o seu desenvolvimento”. Assim, as primeiras experiências
uto
bem-sucedidas de uso da língua no contexto universitário contribuíram para
o aumento do interesse de AC1CL6 em praticá-la mesmo quando ela se
sentia nervosa, como mostra o excerto [14]. Outras oportunidades que sur-
R
giram nesse mesmo contexto foram também bem aproveitadas por ela, como
a
a oficina de escrita acadêmica e o próprio aconselhamento.
do
[14] eu sempre me expus, XXX falou que é uma coisa que eu faço
muito, às vezes meu coração pode tá saindo pela boca, mas eu sei que
aC
é bom (Entrevista com AC1CL6, abril/2015).
reduzir o número de idas à igreja para que conseguir lidar com a rede de
espaços (e identidades) que frequenta.
t
od V
r
ao máximo as oportunidades”. Ela decidiu, por exemplo, apresentar outro
uto
trabalho junto com o seu colega (colega A) em um congresso internacional,
conforme ela menciona no excerto [13]. As apresentações de trabalho e o
envolvimento com a prática docente refletem seu desejo de se tornar pro-
R
fessora, diminuindo a diferença entre o seu “eu atual” e o “eu futuro”.
oa
8 Conclusão
aC
Este estudo de caso teve por objetivo evidenciar o aproveitamento do
aconselhamento em outros espaços de aprendizagem, lançando mão de múl-
Editora CRV - versão para revisão do autor - Proibida a impressão
a melhor lidar com o seu sistema afetivo e a utilizar estratégias para manter
a motivação ativa.
são
V
r
uto
R
a
do
aC
A EMERGÊNCIA DE
COMPORTAMENTOS AUTÔNOMOS NO
od V
r
ACONSELHAMENTO LINGUAGEIRO:
uto
um estudo segundo a teoria da complexidade
R
oa
Larissa Dantas Rodrigues Borges (UFPA)
Jhonatan Allan de Andrade Rabelo (UFPA)
Introdução
aC
Editora CRV - versão para revisão do autor - Proibida a impressão
V
r
explicam, de maneira sintética, como se dá esse processo:
uto
Um SAC [sistema adaptativo complexo] é composto de agentes que
interagem dinamicamente e adaptam-se uns aos outros e ao ambiente,
R
pois são sensíveis ao feedback e procuram acomodação mútua para
a
obter a otimização dos benefícios que garantirão a sua sobrevivência.
Essas interações e adaptações possibilitam que os agentes de um
do
sistema se auto-organizem, criando novos padrões e comportamentos.
aC
Os autores trazem à tona dois conceitos fundamentais por trás da
1 “Self-organization and emergence are alternative ways of talking about the source of phase shift in the behavior of
complex systems”.
2 “Internal self-organizing changes alter the structure of a system, while response to energy and matter coming from
outside, leads to adaptive change that maintains order or stability”.
COMPLEXIDADE EM AMBIENTES DE ENSINO
E DE APRENDIZAGEM DE LÍNGUAS ADICIONAIS 161
od V
r
recorrentes que, quando associados a eventos de interesse, são denominados
uto
propriedades emergentes.
Como exemplo, pensemos em um aprendente estudando um novo
idioma. A cada nova aula, o sistema de aprendizagem de língua deste aluno
R
recebe uma injeção de energia de seu contexto. Os conteúdos praticados são
oa
a energia contextual que é inserida no sistema e que pode levá-lo a uma mu-
dança de fase, saindo de um atrator para outro. Desse novo padrão interativo
podem emergir novos comportamentos, como a capacidade de se apresentar
aC
em inglês, de escrever um pequeno perfil para um site de relacionamento,
entre outros. Desta forma, a aprendizagem de línguas sob a ótica da com-
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3 “the appearance in a complex system of a new state ate a level of organization higher than the previous one. The
emergent behavior or phenomenon has some recognizable ‘wholeness’”.
4 “a complex model does not posit an initial and an end state. Instead, it sees learning as creating its own conditions
of development in open interaction with its environment, and always susceptible to change. Rather than an engine of
development situated outside the learner, in the form of input or a given social environment”.
162
Aconselhamento linguageiro
V
r
mais efetivos e mais autônomos”5. Os autores acrescentam que o ideal de
uto
aprendente autônomo, assim como o tipo de assistência provida, pode variar
de contexto para contexto.
O aconselhamento linguageiro já é praticado há alguns anos em centros
R
de autoacesso em diversas partes do mundo (MOZZON-McPHERSON,
a
2000, 2007; REINDERS, 2008), e muitos modelos que norteiam essa prática
já foram propostos. No contexto deste trabalho, a fundamentação de nossas
do
ações baseou-se em Mynard (2012), que propôs o modelo do diálogo, instru-
mentos e contexto, ilustrado na figura 1 a seguir:
aC
5 “advising in language learning involvers the process and practice of helping students to direct their own paths so as to
become more effective and more autonomous language learners”.
COMPLEXIDADE EM AMBIENTES DE ENSINO
E DE APRENDIZAGEM DE LÍNGUAS ADICIONAIS 163
importante, por ser o meio pelo qual as interações são mediadas. O conteúdo
dos diálogos internos é compartilhado, representados pela atitude ativa do
aconselhado na imagem, falando e gesticulando, enquanto que o conselheiro
escuta atentamente. Isso reflete a importância de garantir ao aconselhado
maiores chances de se expressar e dizer o que pensa, para que o conselheiro
od V
r
possa entender suas reais necessidades e buscar em seu arcabouço as estra-
uto
tégias mais apropriadas. Finalmente, apresentamos as ferramentas previstas
no aconselhamento, que são divididas em três categorias: cognitivas, que
são itens que estimulam os processos cognitivos e metacognitivos, como
R
diários de aprendizagem, ficha de metas, ficha de autoavaliação, etc; teó-
oa
ricas, que são os conhecimentos teóricos que embasam as atitudes do con-
selheiro, como os estudos sobre motivação, autonomia e complexidade; e
práticas, que facilitam a organização do processo de aconselhamento, como
aC
gravações das sessões e cadernos de notas dos conselheiros.
Acreditamos que, dentre os modelos de aconselhamento linguageiro
Editora CRV - versão para revisão do autor - Proibida a impressão
V
r
frequentes, e “viraram moda” entre os estudos em Linguística Aplicada, to-
uto
mando as palavras de Little (1995). Muitos trabalhos sobre o tema foram de-
senvolvidos e retomaremos alguns deles neste capítulo. Littlewood (1996),
por exemplo, preocupa-se em estabelecer uma taxonomia, na qual autonomia
R
estaria relacionada à capacidade e a disposição do aprendente. Segundo ele,
a
a capacidade seria composta pelos conhecimentos das alternativas possíveis
e de sua habilidade em executá-las. A disposição, por sua vez, depende da
do
motivação e da confiança do aprendente em assumir responsabilidade sobre
as escolhas que devem ser feitas. Com base neste conceito, criamos a figura
aC
2 abaixo, na qual destacamos os elementos componentes da autonomia,
od V
r
zagem em três níveis: os processos cognitivos, o gerenciamento e os con-
uto
teúdos de aprendizagem (BENSON, 2001). No aconselhamento linguageiro,
uma das maneiras de possibilitar que o aconselhado assuma o controle sobre
esses aspectos é por meio da negociação, ou seja, acordos referentes ao esta-
R
belecimento de metas, seleção dos conteúdos, definição de critérios avalia-
oa
tivos, dentre outros. O valor da negociação no processo de autonomização é
destacado por Voller (1997) ao afirmar que sem a negociação, a autonomia
pode se tornar um fracasso.
aC
Com base no que apresentamos, podemos entrever o caráter imprevi-
sível e caótico do processo de autonomização e, de posse disso, entendemos
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2000, p. 9). Magno e Silva et al. (2013, p. 58, grifos das autoras) apresentam
estas etapas, relacionando-as às práticas do aconselhamento linguageiro:
7 “Multidimensional capacity that will take different forms for different individuals, and even for the same individual in
different contexts or at different times”.
166
V
r
que a transferência de papéis pode variar em diferentes planos de ação, isto é,
uto
o aprendente pode atuar de maneira independente nas escolhas concernentes
ao trabalho com a produção escrita, mas mostrar-se fortemente dependente
do conselheiro no desenvolvimento da produção oral. Essas observações re-
R
fletem o caráter dinâmico, caótico, não linear e imprevisível do processo de
a
autonomização mediado pelo aconselhamento linguageiro.
Com base no apresentado nesta discussão teórica, procuramos evi-
do
denciar o caráter complexo do processo de autonomização. No âmbito dessa
perspectiva, os comportamentos autônomos emergem do processo de auto-
aC
-organização do sistema de aprendizagem dos aprendentes. Após uma mu-
Metodologia
ara
Teixeira (2010), esse tipo de pesquisa é caracterizada pela busca de uma pro-
op
od V
r
pública, passou a sentir dificuldades na aprendizagem da língua alvo na uni-
uto
versidade, sobretudo porque muitos de seus colegas de classe já tinham certa
fluência no idioma. Diante dessas dificuldades, a aluna procurou voluntaria-
mente o projeto com o intuito de ser aconselhada quando estava no segundo
R
semestre do curso.
oa
Ambos os autores desse capítulo atuam como conselheiros linguageiros
no projeto mencionado. Porém, somente um deles foi conselheiro nessa in-
vestigação. A conselheira em questão é também professora da graduação
aC
de inglês no curso de Letras na Universidade Federal do Pará. Por esse
motivo, teve contato com a aconselhada tanto como professora na disciplina
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Discussão
ver
V
r
uto
R
a
do
aC
od V
r
Em nossa pesquisa, notamos que três dos subsistemas da aconselhada
uto
sofreram mudanças que deram origem a novos comportamentos, foram eles:
os subsistemas aprendente de línguas, acadêmica de Letras e profissional
em formação. Consideramos alguns destes comportamentos evidências de
R
autonomia, uma vez que eles refletem o controle da aprendente sobre o seu
oa
processo de aprendizagem. Além disso, pensamos que o próprio aconselha-
mento linguageiro pode ter funcionado como um dos agentes perturbadores
que levaram o sistema a mudanças de fase. Nas seções que seguem, descre-
aC
veremos detalhadamente como se deram esses processos.
Editora CRV - versão para revisão do autor - Proibida a impressão
sando instrumentalizar os alunos com recursos para que possam exercer sua
autonomia ao aprender desde o início do curso. Observamos que a disciplina
são
V
r
uma rotina desorganizada e não dispunha de tempo suficiente para dedicar
uto
aos estudos do inglês. A CL pediu para que a aconselhada descrevesse sua
rotina em uma agenda, um dos instrumentos cognitivos do aconselhamento
(MYNARD, 2012). Essa proposta tinha como objetivo verificar quais os
R
momentos mais propícios para estudar a língua. Acreditamos que, dessa
a
perturbação estabelecida pelo aconselhamento, uma nova mudança de fase
ocorreu e novos comportamentos emergiram. Um dos exemplos foi o fato da
do
aluna ter se desvencilhado de algumas atividades em prol dos estudos, pas-
sando também a dedicar um pouco mais de seu tempo livre para este fim. Tal
aC
atitude ilustra o domínio sobre o gerenciamento da aprendizagem por parte
Outra decisão importante que tomou por iniciativa própria foi o trancamento
op
dos cursos livres de inglês, por perceber que os conteúdos eram muito seme-
d
lhantes aos que estudava no curso de Letras, devido o uso do mesmo livro
didático. A aconselhada avaliou que poderia utilizar o horário das aulas do
E
sã
estudante de língua, no que se refere aos diferentes níveis de controle que ela
assumiu sobre sua aprendizagem (BENSON, 2001).
COMPLEXIDADE EM AMBIENTES DE ENSINO
E DE APRENDIZAGEM DE LÍNGUAS ADICIONAIS 171
Auto-organização
Aprendente - Controle sobre a aprendizagem
do subsistema
od V
r
• Iniciativa de participar do AL
uto
Comportamentos • Planejamento dos estudos com
emergentes o suporte da agenda.
(Evidências de autonomia) • Estabelecimento de metas para as férias.
• Trancamento dos cursos livres
R
oa
Fonte: Elaborado pelos autores
sentir dificuldade com a compreensão oral, pois sua participação prévia nas
oficinas dos ETAs8 havia ajudado a aconselhada a desenvolver essa habi-
lidade. Por esse motivo, a compreensão oral não foi selecionada como foco
par
nas aulas de inglês, o que ainda era agravado pelo fato de muitos de seus colegas
já serem fluentes na língua. Para sanar essa dificuldade, a CL sugeriu que a acon-
selhada estudasse os conteúdos das novas unidades do livro didático antes das
8 English Teaching Assistants: Falantes nativos de Inglês participantes de um Programa da Fulbright/CAPES que
trabalhavam no período da pesquisa na faculdade, como assistentes de ensino de Inglês, promovendo oficinas e outras
atividade de ensino e extensão para os graduandos de Letras com habilitação em Inglês.
172
V
r
de aula, ela relatou se esforçar em se comunicar em inglês com os próprios
uto
colegas do curso.
Outro fato que pode ter contribuído para os avanços na produção oral
da aconselhada foi sua participação assídua nas oficinas dos ETAs, como
R
mencionado acima, dentre as quais destacamos o clube de conversação9.
a
Além disso, sua participação em um dos projetos de extensão conduzidos
pelos ETAs, no qual ministravam aulas de inglês junto com alunos volun-
do
tários da graduação para crianças e adolescentes da comunidade no entorno
da universidade, também parece ter garantido grandes benefícios. Essa foi a
aC
primeira experiência da aconselhada ministrando aulas. Tal iniciativa parece
Auto-organização
i
do subsistema
d
palavras desconhecidas;
3. Prática por meio de vídeos em inglês.
ver
9 Laboratório organizado pelos ETAs que visava desenvolver nos alunos as suas competências em produção e
compreensão oral. As atividades envolviam conversações livres sobre temas de interesse dos alunos.
COMPLEXIDADE EM AMBIENTES DE ENSINO
E DE APRENDIZAGEM DE LÍNGUAS ADICIONAIS 173
continuação
Auto-organização
Estudante - Produção e compreensão oral
do subsistema
Prática da produção oral
1. Estudo prévio do livro didático
para acompanhar com mais
facilidade as aulas de língua;
od V
r
Comportamentos emergentes
2. Uso da língua nas sessões de AL e
(Evidências de autonomia)
uto
fora de sala de aula com os colegas;
3. Participação nas oficinas dos ETAs;
4. Participação em um projeto de
extensão da universidade.
R
oa
Fonte: Elaborado pelos autores
Tom Sawyer. Além da leitura por prazer, observamos que a aluna realmente se
utilizou deste novo agente como fonte de oportunidades para aprender inglês,
pois ela mostrou para a CL as anotações feitas ao longo da leitura, que incluíam
uma lista de vocabulário novo cujos termos vinham agrupados em diferentes
par
Acreditamos que o livro tenha sido um novo agente do contexto que surgiu
e com o qual ela passou a interagir dinamicamente, adaptando-se a nova lin-
guagem em busca de acomodação mútua que garantisse a sua sobrevivência,
ou seja, a aquisição do vocabulário novo (MARTINS; BRAGA, 2007).
ver
V
r
a perturbar o seu sistema, pois ela passou a trazer um texto baseado em dife-
rentes gêneros de sua escolha em cada sessão de aconselhamento, sem que a
uto
CL precisasse cobrar isso dela. Dentre suas produções, ela escreveu uma carta
a uma amiga, uma oração e uma narrativa de final de semestre. Nos encontros,
ao fazer a revisão colaborativa dos textos, a aconselhada geralmente marcava os
R
a
pontos que precisava melhorar para que não voltasse a cometer os mesmos erros
em produções futuras. A aconselhada refletia sobre o que precisava melhorar,
do
pois dificilmente os mesmos erros voltaram a ocorrer em outras redações. Isso
demonstrou que a aconselhada tinha consciência da importância dessas tarefas
aC
para a sua aprendizagem. Em geral, ao final da revisão dos textos, ela gravava a
Auto-organização
op
10 Os estudos de Dörnyei (2005) discutem o valor do estabelecimento de um “eu-futuro” para a proteção e manutenção da
motivação dos aprendentes.
COMPLEXIDADE EM AMBIENTES DE ENSINO
E DE APRENDIZAGEM DE LÍNGUAS ADICIONAIS 175
od V
r
novos comportamentos na acadêmica do curso de Letras.
uto
Subsistema acadêmica de Letras
R
A participação no projeto de aconselhamento linguageiro, na disci-
oa
plina Aprender a Aprender LE e nas demais disciplinas cursadas no período
também podem ter atuado como agentes perturbadores que influenciaram o
subsistema acadêmico da aluna. Ela passou a apresentar novas evidências de
aC
autonomia ao buscar investir em seu currículo. Isso pode ter sido resultado
de uma das tarefas da disciplina Aprender a Aprender LE que consistia na
Editora CRV - versão para revisão do autor - Proibida a impressão
V
r
para si mesma (SCHARLE; SZABÓ, 2000).
uto
Os fatores que levam o sistema a continuar mudando têm suas raízes
em suas experiências prévias, mais especificamente, nos compromissos que
assumiu na disciplina que cursou, o que nos leva a crer que o trabalho desen-
R
volvido em Aprender a Aprender LE, e possivelmente em outras disciplinas
a
do curso, pode ter levado o seu sistema a mudar internamente, garantindo a
auto-organização do sistema em um novo padrão, mais complexo que o an-
do
terior (LARSEN-FREEMAN; CAMERON, 2008b), como tentamos mostrar
na tabela a seguir:
aC
Auto-organização
Acadêmica – Participação em congressos
do subsistema
i
rev
Comportamentos
• Participação como ouvinte no BRAZ TESOL.
emergentes
• Aprovação para apresentação
(Evidências de autonomia)
de um pôster no ABRALIN.
ara
od V
r
ela própria escreveu o projeto que foi aprovado como atividade de extensão,
uto
sempre com o suporte da CL.
A CL também sugeriu a aconselhada que escrevesse um diário sobre sua
experiência de ensino na comunidade após cada aula ministrada, visando um
R
artigo a ser escrito no futuro. O desafio de escrever um artigo a entusiasmou
oa
bastante, pois ela tinha grande interesse em enriquecer seu currículo com
uma publicação desse tipo. A aconselhada conduziu o planejamento e as ati-
vidades de ensino na comunidade de forma bastante autônoma, solicitando a
aC
ajuda da CL poucas vezes nas sessões de aconselhamento. A emergência de
comportamentos autônomos na aconselhada como profissional de Letras foi
Editora CRV - versão para revisão do autor - Proibida a impressão
Auto-organização
itor
2011) nas quais o autor afirma que os sistemas complexos estão em um fluxo
são
13 O PROPAZ é um programa que nasceu no governo do Pará no intuito de dar assistência à crianças, adolescentes e
jovens em situação de vulnerabilidade social. A Falem desenvolve um projeto de extensão no qual os graduandos em
Letras ensinam inglês para os alunos inscritos nesse programa.
178
notar o controle que ela exercia sobre sua aprendizagem em seus diversos
níveis, especialmente após perceber a grande quantidade de atitudes autô-
nomas, a aconselhada foi liberada do projeto.
Na seção seguinte, tecemos algumas conclusões a que chegamos sobre
a trajetória aqui descrita.
V
r
uto
Conclusão
R
mização da aconselhada destacando os comportamentos emergentes nos
a
diferentes subsistemas: aprendente de línguas, acadêmica de Letras e pro-
fissional em formação. Ao analisar as condições iniciais do sistema aprendi-
do
zagem, notamos a grande disposição da aconselhada, mas pouca capacidade
aC
de gerenciar o processo de aprendizagem (LITTLEWOOD, 1996). O acon-
selhamento linguageiro e as práticas metacognitivas propostas podem ter
longo do texto uma série de agentes que injetaram energia no sistema e in-
op
ESTADOS ATRATORES EM
TRAJETÓRIAS DE ACONSELHAMENTO
od V
r
LINGUAGEIRO NA APRENDIZAGEM
uto
DE LÍNGUAS ESTRANGEIRAS
R
oa
Maria Clara Vianna Sá e Matos (UFPA)
Sádie Saady Morhy (UFPA)
1 Introdução
aC
Editora CRV - versão para revisão do autor - Proibida a impressão
V
r
de auto acesso ou área externa do instituto em que a FALEM se encontra.
uto
Uma sessão inicial dura de 20 a 30 minutos. Quando necessário, conselheiro
e aconselhado podem ter uma sessão via telefone ou por redes sociais. Não
há um prazo estabelecido para que um aluno mantenha seu aconselhamento.
R
Sua necessidade geralmente determina o tempo em que será aconselhado.
a
Conforme o grupo de pesquisa foi avançando no estudo sobre como
abordar a complexidade dos fenômenos que estudamos, passamos a considerar
do
esses processos também interligados às múltiplas identidades e aos múltiplos
contextos na trajetória de aprendizagem dos alunos aconselhados que acom-
aC
panhamos. Para tanto, nos tornamos atentas à emergência das particularidades
que são aconselhados. Desse modo, pensamos que não faz sentido ignorá-
-los, pois eles influenciam o desenvolvimento da aprendizagem pretendida.
or
2 Aconselhamento linguageiro
od V
r
uto
Nesse tópico definimos AL, seu propósito e funcionamento alinhados
ao estudo que realizamos.
Embora utilizado em outras áreas que envolvem as relações humanas, o
R
termo aconselhamento ainda requer mais definições no campo da Linguística
oa
Aplicada. Isso porque, segundo Magno e Silva (2012), esse ramo é relativa-
mente novo na área de ensino e aprendizagem de línguas e, portanto, carece
de investigações e estudos. O que se tem observado é a influência do aconse-
aC
lhamento linguageiro no aluno de línguas, que o tem utilizado como aliado
de sua aprendizagem.
Editora CRV - versão para revisão do autor - Proibida a impressão
nomos, uma vez que os estimula a refletir sobre sua aprendizagem e a buscar
meios que facilitem esse processo (KELLY, 1996; CARSON; MYNARD,
2012; CANDLIN, 2012).
Ed
entre pessoas com histórias, ao longo do tempo e espaço. Ele acredita que há
fortes componentes motivacionais relevantes, entrelaçados no processo, como
a forma que os construtos são interpretados, a avaliação das relações entre os
ver
participantes e os valores que ambos trazem consigo. O mesmo autor ainda de-
fende que aconselhamento e autonomia são comprometidos um com o outro.
Ou seja, se a autonomia é um objetivo, o aconselhamento é um meio para
que se chegue até ela. Da mesma forma, se o aconselhamento é um processo
pedagógico desejado, deve ser direcionado e focado.
182
V
r
lacionar e concluir as atividades com os alunos, conforme o preconizado por
uto
Kelly (1996).
Um conselheiro experiente sabe que algumas atitudes são fundamentais
durante o aconselhamento, como: buscar harmonia e empatia no relaciona-
R
mento com o aconselhado; pensar positivamente e abster-se de julgamentos;
a
mostrar disponibilidade para ajudar; saber controlar uma conversa; saber
formular perguntas; saber ouvir; ter habilidade de observação e de interpre-
do
tação; saber sugerir alternativas; e saber explicar algumas das causas dos
problemas de aprendizagem (AOKI, 2012).
aC
Se o AL for compreendido como um sistema adaptativo complexo, as
3 Atratores
t
od V
r
uto
Sistemas dinâmicos se encaixam no sentido de que cada sistema é
sempre parte de outro sistema [...] Como eles se desenvolvem com
o tempo, subsistemas dinâmicos parecem se acomodar em estados
R
específicos, chamados de ESTADOS ATRATORES, que são pre-
oa
feridos, mas não necessariamente previsíveis3 (DE BOT; LOWIE;
VERSPOOR, 2007, p. 8).
e fora da sala de aula, todos eles de natureza contextual, não linear e com
itor
3 Dynamic systems are nested in the sense that every system is always part of another system, going from submolecular
particles to the universe, with the same dynamic principles operating at all levels. As they develop over time, dynamic
sub-systems appear to settle in specific states, so-called ATTRACTOR STATES, which are preferred but not necessarily
predictable. Esta e as demais traduções são de responsabilidade dos autores.
4 [...] are not necessarily perceived as pleasant or desirable states [...]
184
V
r
bem profundo – aquele em que o sistema se coloca no modo fixo, com
uto
comportamento em equilíbrio, e precisa de uma forte injeção de energia
para poder se deslocar, e; de estado crítico – que necessita de um pequeno
estímulo para fazer o sistema mover-se na trajetória, configurando um com-
R
portamento muito instável.
a
A figura 1 demonstra o modo como o sistema aluno pode se organizar
em estados atratores, em seus espaços de fases, em trajetórias. Em a) o
do
sistema está em estado não profundo, ou aleatório; em b) encontra-se em
estado bem profundo, ou em “uma bacia atratora profunda”, como nós con-
aC
selheiros costumamos dizer, e em c) está em estado crítico.
od V
r
aprendizagem pode ou não ocorrer. Nesse sentido, o aconselhamento lingua-
uto
geiro pode representar uma oportunidade para identificar possíveis estados
atratores dos alunos e, quando diagnosticados, tentar movê-los das zonas em
que se encontram, instigando a aprendizagem do idioma.
R
Compreendemos que o conjunto de noções discutidas acerca de atratores
oa
é relevante para que um conselheiro linguageiro possa desenvolver também,
além das funções já enfatizadas sobre o seu papel, uma sensibilidade para
perceber atratores em trajetórias de aprendizagem de seus aconselhados; e
aC
viabilizando, assim, reflexões sobre maneiras para lidar com eles.
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4 Estudos de caso
visã
Apresentamos a seguir dois estudos de caso que exemplificam como
diagnosticamos estados atratores emergindo em trajetórias de aconselha-
mento linguageiro. Mostramos, também, as estratégias que adotamos para
mitigá-los, buscando favorecer metas de aconselhamento. Os dados aqui
a re
itor
apresentados foram coletados entre 2011 e 2015, sendo que o caso #1 refere-
-se à trajetória do aconselhado AC1CL3 e o caso #2 àquela de AC2CL1.
Como cada conselheira irá descrever o seu estudo de caso, os mesmos serão
narrados em primeira pessoa.
par
(TCC), que deveria ser iniciado por volta do sétimo semestre. Até então,
AC1CL3 só estudava, vinha de ônibus para a faculdade e tinha uma vida
simples em casa. Em relação à sua identidade de estudante, ele era reco-
nhecido como um bom aluno, já proficiente no inglês do dia-a-dia. Por meio
de seus relatos, também me informei a respeito das suas outras identidades,
aninhadas a de aluno de Letras. Soube que ele é filho único de pais já idosos;
que tinha que ajudar em casa; que era muito querido entre colegas, amigos,
familiares e namorado e que gostava de dar atenção a todos ao seu redor.
Como estratégias para ajudá-lo a alcançar sua meta, eu procurei co-
nhecer como AC1CL3 se imaginava no futuro enquanto licenciado em
V
r
língua inglesa6. Para isso, como sua conselheira, quis saber sua opinião
uto
sobre como um TCC bem sucedido poderia contribuir para isso; sondar a
respeito de quais habilidades seriam esperadas para desenvolver um bom
TCC e quais atitudes deveriam ser assumidas para alcançar tais objetivos.
R
Nas suas respostas, ficou claro o desejo de ser um profissional bem sucedido,
a
pós-graduado, com um emprego em uma universidade pública, com aparta-
mento próprio na cidade e com possibilidades de realizar viagens nacionais e
do
internacionais nas férias. Ele acreditava que uma excelente monografia seria
importante para abrir portas para a sua pós-graduação e que sem continuar
aC
os estudos, dificilmente ele teria o emprego dos sonhos. E ainda, ele entendia
entre diferentes autores e dar desfecho a ideias. Além disso, AC1CL3 propôs
destacar as partes do texto em que o autor expressa a sua voz e, também,
t
que logo depois se transformou em tarefa para cada quinze dias. E, mesmo
que tenham sido negociadas pelo próprio aconselhado, essas atividades
custaram a ser finalizadas. Baseando-me nos estudos de Larsen-Freeman e
6 Aqui foi explorada a teoria do Sistema Motivacional Autoidentitário para a Aprendizagem de Língua Estrangeira
(DÖRNYEI; USHIODA, 2011).
COMPLEXIDADE EM AMBIENTES DE ENSINO
E DE APRENDIZAGEM DE LÍNGUAS ADICIONAIS 187
od V
r
selhamento linguageiro, uma vez que outros professores que dele fazem
uto
parte eram também professores de AC1CL3. Consultei, também, alguns de
seus colegas de sala da graduação, os quais já foram meus alunos e que eu
sabia que se importavam com ele. De modo geral, todos me informaram que
R
AC1CL3 chegava atrasando em sala e faltava repetidamente, sendo esses
oa
alguns dos motivos prováveis de seus compromissos não estarem em dia.
Nos encontros de aconselhamento que se seguiram, também quis
saber a respeito do cotidiano da vida pessoal de AC1CL3. Assim, sugiram
aC
as seguintes variáveis: sua avó, uma pessoa muito querida sua, esteve mal
de saúde e acabou falecendo próximo do aniversário dele; uma colega de
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sala estava com câncer; ele próprio desconfiava que estivesse com alguma
doença grave, e seu namorado com convites constantes para sair. Como con-
visã
sequência, ele estava dedicando bastante do seu tempo para essas pessoas.
Havia ainda o envolvimento com o centro acadêmico e com alguns pro-
jetos da faculdade. Além do trânsito pesado no seu percurso diário às aulas.
Registradas essas informações, tentei vê-las integradas à atividade do AL e
a re
itor
V
r
uto
R
a
do
aC
sua situação, permaneceu calado por algum tempo, mas depois falou: “Eu
quero sair do buraco”. Com esse desejo, sugeriu que apresentássemos um
t
mente na FALEM. Porém, dias depois, comecei a notar que o feedback po-
sitivo não estava resultando em mudança significativa de comportamento
ver
od V
r
previstas, mas logo se acomodava em outra bacia. Partindo dessas obser-
uto
vações, tentei adotar estratégias diferentes para fomentar mudança de rumo
na sua trajetória de aconselhamento. Por exemplo: ao conhecer melhor a
rotina de AC1CL3, negociamos uma agenda de trabalho que contemplasse
R
uma perspectiva holística, ou seja, que envolvesse a rotina em família, com-
oa
promissos com outras disciplinas e os momentos de lazer. Isso porque, por
meio da percepção da constituição de estados anteriores, ficou evidente
que seria preciso organizar melhor o tempo para que as atividades das suas
aC
agendas acadêmica e social pudessem coexistir.
Essas ações visavam ajudá-lo a perceber que deveria aprender a de-
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vir. Desse ponto de vista, ele estaria em uma vitrine e as atitudes tomadas
naquele momento poderiam ser lembradas posteriormente, talvez influen-
são
V
r
lhado na disciplina obrigatória de metodologia de pesquisa como apoio para
uto
desenvolver o projeto de TCC. Foi a partir desse fato que AC1CL3 resolveu
ser mais produtivo em relação às primeiras atividades propostas no aconse-
lhamento para melhorar a sua escrita acadêmica.
R
Considerando-se os estados atratores aqui apresentados, cheguei às se-
a
guintes considerações:
A estratégia adotada para provocar mudança de comportamento na
do
bacia atratora da figura 2 teve efeito de curta duração, permitindo que ela se
transformasse em outras, menos profundas, por motivos aleatórios, algumas
aC
vezes lembrando aqueles da figura em questão, mas com configurações dife-
Ela trouxe consigo algumas crenças que podem ter influenciado sua traje-
tória de aprendizagem. Por exemplo, a aluna acreditava que não conseguiria
aprender inglês na universidade; e que seus colegas de classe, que já sabiam
o idioma, teriam melhor desempenho. As primeiras aulas ministradas no
idioma estrangeiro foram muito difíceis; e ela possuía pouca ou nenhuma
od V
r
ideia de como tornar-se autônoma em seus estudos. Além disso, precisou
uto
aprender a conviver com pessoas mais jovens, com comportamentos que
não a agradavam. Por ser tímida, isso exigiu dela um esforço maior para se
adaptar à nova realidade. Ainda foi possível notar que a aluna carecia de uma
R
certa dose de motivação.
oa
AC2CL1 possuía várias identidades aninhadas àquela de estudante uni-
versitária. De família de classe média; não trabalhava; utilizava transporte
coletivo; mãe de uma filha de 11 anos; católica; fazia parte do Grupo de
aC
Oração dos Estudantes Católicos Universitários; era aluna de inglês em um
curso de idiomas particular em Belém; morava com os pais; era solteira e
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tinha 32 anos.
As primeiras metas que AC2CL1 traçou para as férias de julho de 2012,
visã
logo no começo de seu aconselhamento, foram bem gerais, como ler um
livro e escutar músicas; mas essa atitude é comum nesta etapa inicial. O
estabelecimento de metas é uma fase importante do aconselhamento lingua-
geiro porque é a partir dessa identificação que o aluno traça planos e tenta
a re
itor
tioná-la sobre como pretendia executar suas metas; e solicitei que fosse mais
específica, como mostram na figura 3.
Ed
são
ver
192
V
r
uto
R
a
do
aC
o seguinte:
t
[...] o que não consegui fazer corretamente foi ler o livro como lhe
i
falei não gostei da história e parei de ler; mas acredito conseguir falar
op
tender e cantar mas não consegui gravar toda a letra escutei e aprendi
duas músicas. Só falta lhe apresentar o que fiz (Trecho de e-mail en-
E
que sabia falar do que se tratava, isso, de fato, não aconteceu quando eu a
questionei; ela não soube me contar a história que leu – nem em inglês, nem
em português. Conversamos sobre suas justificativas e tentei mostrar-lhe que
é necessário um esforço de sua parte para conseguir alcançar os objetivos.
Procurei, também, incentivá-la para prosseguir com as metas futuras.
od V
r
Nas férias seguintes, em janeiro de 2013, AC2CL1 traçou metas idênticas
uto
as das férias do ano anterior; e apresentou resultados igualmente similares. A
aluna trouxe as atividades, no mês de março de 2013, quando as aulas do ano
letivo iniciaram. Ela se esforçou para me contar, em inglês, a história do livro
R
que leu, mas não se saiu muito bem. Mostrou-me a letra da música que havia
oa
escutado e estudado, com uma lista de sinônimos das palavras que não sabia.
Quanto aos parágrafos que se comprometeu a escrever a cada domingo, não
escreveu nenhum. Questionei se por acaso essa atitude não foi consequência
aC
de alguma dificuldade que sentira; mas, segundo a aluna, foi por esquecimento
mesmo. Senti que houve pouco esforço de sua parte na realização das tarefas,
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e que o resultado apresentado poderia ter sido melhor. Faltou organização; seu
trabalho foi entregue em pedaços de papel, rabiscados e soltos. Apesar disso,
visã
elogiei o produto final e pedi que ela se autoavaliasse.
Nas duas ocasiões, ainda que tenha realizado algumas das metas que se
comprometera fazer, é possível perceber certa acomodação ou falta de em-
penho na realização das tarefas. Como conselheiros, não deveríamos julgar
a re
itor
férias, que estudei; dessa forma, fico bem no aconselhamento e com minha
conselheira...”. Esse tipo de comportamento, que me pareceu implícito em
seus procedimentos, foi, igualmente e de forma inversa, assumido por mim
Ed
V
r
uto
Fonte: MORHY, (2015, p. 75).
R
a
A figura 4 demonstra um possível estado atrator aleatório em que a
aluna se encontrava em 2012 e 2013, tendo em vista a projeção das metas
do
estabelecidas. Partimos da compreensão que seu comportamento provavel-
mente se moveu de uma meta para outra, o que poderia explicar a falta de um
aC
progresso concreto em cada uma delas. Ao comprometer-se em realizar algo
Por outro lado, eu, como sua conselheira, também demonstrei acomo-
dação diante do comportamento de AC2CL1 e não apresentei reação de modo
que a fizesse perceber o que estava acontecendo; não tomei nenhuma atitude
ara
não teve “tempo” para fazer tarefas simples. Porém, prossegui sem esses
d
Está tudo bem, mas não estou conseguindo aplicar as mesmas metas
nos novos tempos verbais que já aprendi... com excelência, preciso
de sua ajuda para montar as atividades no passado, no futuro, mas
estou tentando depois lhe mostro (Trecho de e-mail, em 27/jan/2013;
MORHY, 2015, p. 76).
COMPLEXIDADE EM AMBIENTES DE ENSINO
E DE APRENDIZAGEM DE LÍNGUAS ADICIONAIS 195
od V
r
condicionada ao meu sistema e incapacitada para realizar atividades sozinha,
uto
como mostra seu e-mail abaixo.
R
dessa vez pra colar na parede e visualizar todo dia o que tenho que
oa
fazer, pra não esquecer e me organizar melhor: 1) Listening: Escolher
uma música, entender o que a música expressa: procurar o significado
das frases, palavras, verbos, etc. ou ver um trecho de um filme e veri-
ficar estruturas e expressões; 2) Reading: escolher 1 livrinho para ler
aC
no mês de Abril. Fazer um pequeno parágrafo e tentar ler no encontro
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bacia atratora; e não podia continuar assim. Meu sistema também deveria ser
retirado desse estado. Nesse caso ambas careciam de energia para se mover.
Eu encontrei ajuda no grupo de pesquisa, que percebeu minha coadaptação e
me auxiliou a sair de minha bacia. Com isso, retomei o papel que deveria ter
tido anteriormente, que era o de investigar a fundo o porquê da aluna não re-
alizar as tarefas ou realizá-las parcialmente. Iniciei por solicitar que AC2CL1
196
V
r
nectores e pontuação adequados, de modo que transmitissem uma ideia.
uto
As redações em inglês deveriam seguir o mesmo formato daquelas em sua
língua materna, o português. Seria conveniente, inclusive, que sua redação
tivesse um título. Na ocasião percebi que ela não escrevia por não ter ideia de
R
como fazê-lo. Tentamos organizar o que AC2CL1 escreveu, mas ela preferiu
a
abandonar o que havia feito e escolher um novo tema. A partir desse mo-
mento, mostrei-lhe um exemplo de redação em língua inglesa e solicitei que
do
ela fizesse uma parecida, substituindo alguns dados por informações que lhe
diziam respeito. Esse exercício passou por três reescritas até que ela mesma
aC
julgasse que estava bom. Deste ponto em diante AC2CL1 passou a escrever
essa tarefa. Além disso, reduzimos prazos – de metas mensais para metas
semanais. AC2CL1 escolheu fazer atividades diferentes das que costumava
or
tendo assim sua estabilidade dinâmica. No entanto, esse estado pode ser
op
Considerações finais
od V
r
amigos e o próprio conselheiro, compondo uma rede que colabora direta-
uto
mente para a formação e funcionamento de bacias atratoras. Essas bacias
surgem em algum momento e podem desestimular o curso necessário para
que a aprendizagem possa se desenvolver.
R
Por meio das estratégias que adotamos e dos efeitos que observamos,
oa
vemos que o aconselhamento linguageiro, como um sistema complexo
capaz de interferir no sistema aluno, tem viabilizado um apoio significativo
ao processo de aprendizagem do discente de Letras. Porém, pela própria
aC
complexidade dos sistemas dinâmicos, não há como garantir ou prever a
permanência de um fluxo contínuo nas trajetórias de aprendizagem das quais
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CONSELHEIROS LINGUAGEIROS
COMO POTENCIAIS PERTURBADORES
od V
r
DE SUAS PRÓPRIAS TRAJETÓRIAS
uto
NO SISTEMA DE APRENDIZAGEM
R
oa
Walkyria Magno e Silva (UFPA)
1 Introdução
aC
Os sistemas de aprendizagem vistos como sistemas adaptativos com-
Editora CRV - versão para revisão do autor - Proibida a impressão
1 Pós-doutoramento realizado na Universidade Federal de Minas Gerais entre junho de 2013 e abril de 2014, com
financiamento parcial da CAPES – Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior.
200
V
r
aconselhamento influencia a trajetória dos próprios conselheiros. Os obje-
uto
tivos, portanto, deste capítulo voltam-se para esse foco. Procuro discernir
padrões de comportamento na trajetória de três conselheiros atuantes, os
quais podem ser representativos de percursos de outros de seus pares. Esta
R
discussão pode contribuir tanto para a compreensão desse sistema aninhado
a
que vem a alterar e ser alterado pelos aconselhados quanto para o direciona-
mento na preparação de novos conselheiros.
do
Este capítulo está organizado em uma breve exposição teórica que se
segue. Depois disso, explico a metodologia empregada neste estudo e, na
aC
sequência, os resultados que encontrei. Finalizo, interligando os subsistemas
2 Agradeço aqui este insight provocado pela Profa. Elaine Borges, co-editora deste volume, por ocasião do IX Congresso
da ABRALIN em fevereiro de 2015 em Belém.
3 Esta e todas as traduções de citações neste capítulo são de minha responsabilidade.
COMPLEXIDADE EM AMBIENTES DE ENSINO
E DE APRENDIZAGEM DE LÍNGUAS ADICIONAIS 201
od V
r
uto
2.1 Sistema de aconselhamento
R
SAC, a figura do conselheiro linguageiro é entendida como um agente de
oa
mudança na trajetória dos aprendentes. Ele pode atuar em um ponto de bifur-
cação e auxiliar o estudante a desviar de uma trajetória para outra.
Segundo Mozzon-McPherson e Visman (2001), o campo do aconselha-
aC
mento linguageiro está se desenvolvendo como importante apoio ao aluno,
às vezes até substituindo o professor, na aprendizagem de línguas em nível
Editora CRV - versão para revisão do autor - Proibida a impressão
ticas que se estendem muito além das sessões, buscando sempre uma atmosfera
que maximize a ação do aprendente e que minimize intervenções professorais.
Segundo Stickler (2001), algumas das técnicas empregadas pelo CL
são: espelhamento, paráfrase e sumário. O espelhamento é a repetição inten-
par
4 Affordance.
202
V
r
contexto, diálogo e ferramentas. Este modelo é adequado aos SACs, uma
uto
vez que o contexto e a ação que nele se desenrola são inseparáveis. Mynard
prevê que o diálogo ocorre tanto internamente em ambos quanto entre os in-
teractantes. Eles desenvolvem um diálogo interior, o aconselhado pensando
R
nas dificuldades que tem e nas estratégias que precisa passar a empregar e o
a
conselheiro pensando no que pode fazer para auxiliar o aprendente. O apren-
dente precisa agir e o conselheiro não deve assumir tons diretivos em suas
do
orientações, mas propor um cardápio de alternativas para que o aconselhado
escolha seu próprio caminho.
aC
Os três tipos de instrumentos são descritos pela autora como cogni-
O que também não deve ser relegado a segundo plano é a própria perso-
nalidade do candidato a conselheiro. Além de conhecer a língua e ter conhe-
cimentos teóricos sobre a aprendizagem de línguas, é preciso ser tolerante,
amigável, calmo e, principalmente, saber ouvir.
Grande parte da literatura sobre aconselhamento linguageiro procura
od V
r
fazer a distinção do papel deste agente daquele do professor (KELLY, 1996;
uto
MOZZON-MCPHERSON, 2000; AOKI, 2012 entre outros). Entendo que
esta é uma preocupação pertinente enquanto desejosa de estabelecer um
campo de atuação para este profissional. Neste capítulo, embora respeite
R
esse posicionamento, coloco-me em uma posição conciliadora, argumen-
oa
tando que o professor cada vez mais volta-se para a necessidade de ser mais
conselheiro, oferecendo possibilidades de ação, e tendo um discurso menos
impositivo. Vejamos quais são essas maiores diferenças.
aC
Já na última década do século passado, Kelly estabelece uma diferen-
ciação entre macro e micro habilidades de um conselheiro linguageiro. As
Editora CRV - versão para revisão do autor - Proibida a impressão
V
r
irei argumentar ao longo deste capítulo, muitas das atitudes do conselheiro
uto
são transferíveis para o professor se uma visão for a de alguém que deve
fomentar a autonomia do aluno e levá-lo a aprender a aprender.
Aoki (2012) estabelece uma lista de checagem para o conselheiro a qual
R
é dividida nas seguintes categorias: habilidade para estabelecer uma ligação
a
com o aprendente, imaginação e empatia, habilidade de pensar positivamente,
habilidade de não julgar, vontade de ajudar, habilidade para manter um nível
do
de controle adequado, habilidade de fazer perguntas, habilidade de ouvir, ha-
bilidade de observar e interpretar, habilidade de prover alternativas, habilidade
aC
para explicar a causa de problemas de aprendizagem, habilidade de falar de
acima), que pode trazer estranheza para a discussão, uma vez que o professor
precisa avaliar seus alunos, mostra coerência quando vemos quais são as ações
ara
Sou consciente de que o que é bom para mim não necessariamente é bom
para todos. Sou consciente de que as generalizações não podem ser apli-
i
op
od V
r
uto
2.2 Motivação
R
selheiro linguageiro. Especulo sobre os aspectos motivacionais que fazem
oa
com que professores queiram agir como conselheiros.
Deci e Ryan (1985 apud DÖRNYEI; USHIODA, 2011) estabelecem
três necessidades que são inerentes ao comportamento motivado: autonomia,
aC
representada pela sensação de ser responsável pelas próprias ações; conexão,
ou seja, o fato de estar ligado a outras pessoas; e competência, revelada por
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V
r
de uma trajetória de aprendizagem ascendente pode alimentar o senso de
uto
autoeficácia do conselheiro, o que resulta em mais motivação para trabalhar
com o aconselhado, gerando sinergia entre esses agentes.
Ao discorrerem sobre a motivação do professor, Dörnyei e Ushioda
R
(2011, p. 188) afirmam que “o impacto positivo de bons professores é, em
a
larga medida, devido à força de seu compromisso em relação ao conteúdo
ensinado o qual se torna ‘infeccioso’, isto é, ele instila nos alunos um desejo
do
de buscar o conhecimento”. O mesmo pode-se dizer que ocorre com os con-
selheiros. Uma vez que estes são, por definição, estudiosos da área de ensino
aC
e aprendizagem de línguas e apaixonados pelo que fazem, podem funcionar
efeitos em suas rotas futuras. Este não é um privilégio de nosso país, pois
Patrick, Hisley e Kempler (2000 apud DÖRNYEI; USHIODA, 2011, p. 190)
E
sã
dizem que
od V
r
a partir de seus encontros com seus conselheiros apresentam essa energia
uto
adormecida, mencionada pelos autores, e não sabem – ou esqueceram – do
prazer de aprender por aprender e da boa sensação que é sentir-se capaz.
Não pretendo afirmar ser o conselheiro o santo graal do processo de apren-
R
dizagem, mas apenas reconhecer que ele é mais um elemento dinamizador
oa
do sistema. Arrisco-me a propor que ele seja até mesmo um elemento pri-
vilegiado que, por gerar empatia e por oferecer apoio individualizado, pode
fazer com que o aconselhado se coadapte de forma que favoreça o processo
aC
de aprendizagem.
Ushioda (2009) argumenta que o ímpeto motivacional sustentado é
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diversos vieses de sua pessoa e sentem que a língua adicional serve para que
eles vivam essas identidades multifacetadas5.
V
r
Essas estabilidades, bacias atratoras, são resistentes à mudança. Constelações
uto
de sistemas envolvendo a cognição, a emoção e a motivação são interdepen-
dentes e levam ou não ao sucesso da aprendizagem. Se o aprendente precisa
estar motivado, o conselheiro também. Ele deve aprender a se automotivar
R
acreditando sempre que o aconselhado tem condições de aprender e de de-
a
senvolver suas competências na língua, o que leva novamente a uma das cate-
gorias mencionadas por Aoki (2012), a de pensar positivamente.
do
Os conselheiros também sofrem com a flutuação da sua própria moti-
vação, em uma trajetória que assume um equilíbrio dinâmico no continuum
aC
entre motivação e desmotivação. Esse aspecto sinergético da motivação foi
2.3 Autonomia
od V
r
lugar porque é ele o processo que se deseja instaurar ou fomentar tanto em
uto
salas de aula quanto no trabalho do aconselhamento.
Dentre as definições de autonomia na aprendizagem de LA mais co-
nhecidas, prefiro a de Benson (2001, p. 47) que diz que “autonomia é uma
R
capacidade multidimensional que se manifesta de diferentes formas em
oa
indivíduos diferentes, e até mesmo em um único indivíduo em diferentes
contextos ou em épocas diferentes”. Minha preferência por esta definição
deve-se ao fato de ela englobar a variabilidade dessa autonomia, por vezes
aC
exercida pelo indivíduo e em outras vezes até mesmo mascarada por ele, de-
pendendo do contexto. Isso se deve, dentro do pensamento dos SACs, a sua
Editora CRV - versão para revisão do autor - Proibida a impressão
nalmente uma teoria dinâmica da ação” fazendo com que uma nova compre-
ensão dos fenômenos seja alcançada.
Argumentos são abundantes mostrando a conexão entre as decisões do
Ed
mais forte. Essa posição é reforçada pela argumentação de que o próprio não
posicionamento ou a não ação é, em si, uma ação. O autor chama isso de
“ação repelidora” de distratores, estudada principalmente no âmbito da re-
siliência. Em estudos de autonomia, podemos traçar um paralelo dessa ação
“repelidora” com o conceito explicitado como “resistência à autonomia”
V
r
(BROWN; SMITH; USHIODA, 2007), que pode também ser uma ação es-
uto
colhida pelo aprendente.
Há os indivíduos que são intuitivamente autônomos e há estudiosos
que afirmam que pouco se pode fazer para aqueles que não têm o ímpeto de
R
dirigir sua própria aprendizagem. Alinho-me, no entanto, com pesquisadores
a
como Benson (2001), Raya, Lamb e Vieira (2007) os quais afirmam que se
pode fomentar a autonomia e pavimentar o caminho para que o aprendente
do
se torne mais autônomo. Explorei este aspecto em Magno e Silva (2008),
texto no qual argumento que o professor pode agir para que a autonomia do
aC
aluno floresça, precisando para isso abdicar de parte de seu poder diretivo e
3 Considerações metodológicas
od V
r
porque só podem tratar dessas trajetórias uma vez que elas já tenham ocorrido.
uto
Nessa metodologia a predição é inexistente, uma vez que cada sistema opta por
uma de várias trajetórias a cada ponto de bifurcação encontrado.
Ao se analisar o sistema de aprendizagem como um SAC, compartilha-
R
-se da ideia da inseparabilidade do contexto do objeto analisado. Como diz
oa
Vasconcellos, “por meio da operação lógica de distinção, que é necessária
para conceber os objetos ou fenômenos, o cientista distinguirá o objeto de
seu contexto, sem, entretanto, isolá-lo ou dissociá-lo desse contexto” (2002,
aC
p. 113). Ao enfocar o papel do conselheiro linguageiro e suas relações com
o aconselhado, não se deixa de lado todos os sistemas aninhados que fazem
Editora CRV - versão para revisão do autor - Proibida a impressão
parte de ambos.
visã
Passo a relatar brevemente o contexto de trabalho desses conselheiros;
em seguida, explico como se dá a preparação desse conselheiro em nosso
ambiente. Depois, exponho os instrumentos que utilizei para coletar os
dados para este estudo e como os analisei.
O corpus da investigação consistiu em dados coletados no projeto de
a re
itor
6 A inspiração para esse modelo provém dos grupos Balint (1975) nos quais um grande número de médicos e assistentes
sociais puderam ser preparados para ouvir pessoas em crise. O trabalho nesses grupos “era levado a efeito discutindo
os relatos dos clínicos gerais sobre seus pacientes no grupo, composto de seus colegas” (p. 250). O assistente social
relatava livremente sua experiência com o sujeito. Esse relato era usado para inferir os fatores dinâmicos que davam
212
V
r
trabalho, além da preparação mencionada, há a discussão de casos em reu-
uto
niões quinzenais. Nessas reuniões, cada conselheiro relata o estado da arte
do sistema de seus aconselhados e requer opinião dos demais conselheiros.
Além de mim, os demais membros do grupo também intervém quando ne-
R
cessário para auxiliar nas possibilidades de ação desses conselheiros. Os
a
pontos que merecem maior atenção são foco de estudos teóricos futuros.
Para este estudo foram levantados os dados de três conselheiros, aqui
do
identificados por CL1, CL4 e CL10. À época da coleta, os dois primeiros eram
mestrandos em Linguística Aplicada e professores substitutos na FALEM.
aC
CL10 é ainda aluno da graduação. CL1 é casada e tem filhos; já CL4 e CL10
4 Atratores e emergência
or
origem aos comportamentos. Tanto as reflexões do relator quanto as críticas e comentários dos outros membros do grupo
ajudavam a reconstruir a trajetória e identificar pontos de interferência. Esse procedimento, que ficou conhecido como
“10 minutos para o paciente” foi implementado na Clínica Tavistok, em Londres, e visava a sensibilização do clínico para
prestar atenção ao paciente como um todo, vendo-o como um sujeito integral e não só como o portador dos resultados
de exames em folhas de papel.
COMPLEXIDADE EM AMBIENTES DE ENSINO
E DE APRENDIZAGEM DE LÍNGUAS ADICIONAIS 213
od V
r
como os descritos aqui.
uto
Alguns aspectos emergiram na análise dos dados das trajetórias desses
três conselheiros enfocados neste estudo. Optei por separá-los em dois
grandes grupos: o primeiro expõe a instalação de bacias atratoras e o se-
R
gundo elenca a emergência de novos comportamentos, em uma das vezes
oa
decorrente da saída dessas bacias. Essas observações foram interpretadas à
luz da complexidade.
aC
4.1 Bacias atratoras
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4.1.1 Coadaptação
Ed
(1) AC3CL10 diz o que deve e quer fazer, mas não faz (CL10, ata
V
r
26/3/14).
uto
(2) CL10 encontrou-se com AC3 na segunda-feira passada e mudou
as metas dela diminuindo-as; a aluna só apresentou os tópicos, mas
não fez os exercícios (CL10, ata 9/4/14).
R
(3) AC3CL10 teve dificuldades na compreensão escrita no Toefl. Não
a
deu a mini aula previamente acordada. Disse que não lembrava do
que tinha estudado. Disse que está muito envolvida em um projeto
para a disciplina de língua. Ela estava se organizando, mas com o
do
feriado parou tudo. Ainda, a aluna tem dificuldades com estratégias
aC
de gerenciamento (CL10, ata 7/5/14).
talvez por achar que sabe mais inglês do que realmente sabe e consi-
op
derar que não seria necessário dispor de maiores esforços. Ainda pre-
d
Fica claro nos excertos de (1) a (4) acima que este tipo de coadaptação
E
sã
7 Levo o leitor ao capítulo 8 que mostra com mais detalhes alguns episódios dessa coadaptação.
COMPLEXIDADE EM AMBIENTES DE ENSINO
E DE APRENDIZAGEM DE LÍNGUAS ADICIONAIS 215
od V
r
leitura das atas nas quais o mesmo comportamento era relatado, reunião após
uto
reunião, foi inevitável constatar a bacia atratora em que se encontram tanto
as aconselhadas quanto os conselheiros. O diálogo interior (MYNARD,
2012) dos conselheiros precisou ser acionado mais energicamente para que
R
eles percebessem a longa estabilidade do sistema.
oa
4.1.2 Linguagem diretiva
aC
Outra bacia atratora encontrada nos relatos dos conselheiros é a influência
do tom diretivo no discurso em suas orientações aos aconselhados. No lugar
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(5) CL4 reparou que está sendo muito prescritivo nas sessões de
a re
itor
trabalho se assenta e a ação desses no processo. Gremmo (2009) diz que não
são
V
r
escrita de textos. CL4 gostaria de ter sugerido um trabalho com
uto
oralidade, mas deixou de ser diretivo e aceitou a vontade da aluna
(ata 18/11/14).
R
Os excertos (5a) e (5b), especialmente quando comparados a (5)
a
mostram o quanto o conselheiro apresenta uma trajetória que já transita co-
modamente pelos comportamentos esperados de um conselheiro. Em (5a)
do
ele ouve a aconselhada, mas deixou a responsabilidade pelas ações para ela,
aC
atuando como uma caixa de ressonância para suas preocupações, mostrando
4.2 Emergência
três deles nos dados sobre os quais me debrucei. São eles: a perturbação no
op
d
od V
r
de forma constante e contínua fazendo com que a trajetória desse aconse-
uto
lhado avance. O excerto abaixo ilustra como isso pode ocorrer.
(7) CL1 preparou uma espécie de aula para AC2CL1 com o objetivo
R
de tirá-la do ciclo “lamurioso” em que se encontrava, reclamando
oa
sempre da mesma professora, uma situação em que ambas têm pouco
espaço de ação. [...] CL1 pediu que AC2CL1 trouxesse várias re-
dações de diversos períodos, tarefas do curso livre que frequenta, do
Curso de Letras, de vários professores. CL1 foi fazendo perguntas e
aC
AC2CL1 foi se avaliando. Na análise comparativa ela foi vendo o
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com a aconselhada, o que foi descoberto na supervisão pelo grupo, ela tomou
as ações descritas em (7), o que fez o sistema se mover. Em primeiro lugar,
a aula dada, embora não seja atribuição do conselheiro, foi uma ação que re-
tirou o sistema de sua passividade injetando nele nova energia. Em segundo
par
lugar, nessa mesma época, a conselheira usou uma técnica de reflexão e au-
toanálise com sua aconselhada que a fez verificar, por meio de suas próprias
produções em inglês de diferentes épocas, o quanto já havia progredido. Este
Ed
V
r
selhados pode ocorrer uma valorização da autoimagem do conselheiro, o que
uto
pode ser comprovado pelos excertos abaixo. Esses episódios são altamente
motivadores para o conselheiro e fazem com que o sistema se reenergize.
R
(8) AC1CL10 tirou a nota máxima na prova de inglês e está muito or-
a
gulhoso com esse resultado. Eu também estou muito feliz, pois tenho
acompanhado os altos e baixos da trajetória de aprendizagem dele. Ele,
do
no nosso último encontro, agradeceu minha presença na sua aprendi-
zagem e relatou que se não fosse pelo aconselhamento linguageiro ele
aC
teria desistido do curso. Saber deste efeito positivo na trajetória dele
foram coordenadas por CL1 e por mim, e esse foi outro ganho
op
od V
r
práticas do aconselhamento em suas aulas. Esse movimento de emergência
uto
de um novo professor já havia sido notado em Gantuss (2015) que entre-
vistou e observou três professores que também são conselheiros, em suas
práticas docentes.
R
Nos conselheiros estudados neste texto, todos, sem exceção, relataram
oa
que ouvem mais seus alunos dentro de sala de aula e na medida em que isso
é possível passaram a dar a eles atenção mais individualizada.
aC
(11) Tanto a Teoria da Complexidade quanto o Aconselhamento con-
tribuem significativamente para minha formação. Em primeiro lugar,
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Considerações finais
são
V
r
Estar informado e consciente das diferentes bases teóricas da comple-
uto
xidade pode, de fato, trazer uma enorme contribuição para uma trajetória
ascendente e diria até transcendente para o professor da complexidade.
Assim como a maioria dos fenômenos vistos sob o paradigma da
R
Complexidade, o professor conselheiro sempre esteve no sistema. Ele foi
a
recortado, simplificado, desconectado de seu contexto em sucessivas levas
metodológicas. Hoje, com a reconciliação das teorias de aquisição de se-
do
gunda língua (MENEZES, 2013) e com a emergência da abordagem com-
plexa de ensino de línguas (BORGES; PAIVA, 2011, BORGES, 2015), que
aC
potencialmente iluminam as ações multifacetadas do professor no processo
ver
Ed
são
itor
par aC
a re
PARTE IV
R
COMPLEXAS
visã
od V
CONSIDERAÇÕES TEÓRICAS
oa
uto
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rev
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do
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r
Editora CRV - versão para revisão do autor - Proibida a impressão
CAPÍTULO 10
COMPLEXIDADE BIOLÓGICA
NO ENSINO/APRENDIZAGEM
od V
r
DE LÍNGUAS ADICIONAIS
uto
Rodrigo Camargo Aragão (UESC)1
R
oa
Introdução
comum da mente.
1 Este trabalho foi desenvolvido durante estágio pós-doutoral na UFMG, sob a supervisão de Vera Menezes de Oliveira e Paiva.
A pesquisa contou com bolsa do CNPq, Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico – Brasil (Processo:
168419/2014-9). Agradeço a Vera Menezes, ao POSLIN/UFMG e ao CNPq o apoio para o desenvolvimento da pesquisa.
2 Ao longo do século XX e até a contemporaneidade, as ciências cognitivas têm fornecido modelos e estratégias
acadêmicas para se compreender os processos relacionados à cognição, impactando diversas áreas, bem como campos
que tratam do ensino/aprendizagem de línguas adicionais.
224
V
r
Primeira Ordem estavam movidos pelo interesse de se modelar e desenhar
uto
máquinas de estrutura igual que poderiam comunicar-se entre si através
de sistemas lógico-matemáticos. Dessa fase da Cibernética, temos desdo-
bramentos tecnológicos importantes desenvolvidos no pós-guerra, como
R
equipamentos de engenharia eletrônica, materiais da indústria bélica e de
a
telecomunicações, próteses mecânicas para seres humanos, bem como os
primórdios da Inteligência Artificial e as ciências cognitivas em sua pri-
do
meira e mais difundida versão, o cognitivismo. A Cibernética de Primeira
Ordem toma como princípios os modelos computacionais para o entendi-
aC
mento da comunicação e o controle entre máquinas e os humanos.
servador que ao observar seu sistema faz parte deste mesmo sistema. Advém
i
3 A essa linha de pensamento sobre comunicação e conhecimento Reddy (1979) deu o nome de metáfora do tubo; Van Lier
(2004) e Kramsch (2002) chamaram de metáfora do contêiner, da transmissão de informações, ou do quebrador de input.
A ideia que prevalece aqui é em relação à linguagem e conhecimento e não à incorporação de elementos socioculturais,
históricos e afetivo-emocionais.
COMPLEXIDADE EM AMBIENTES DE ENSINO
E DE APRENDIZAGEM DE LÍNGUAS ADICIONAIS 225
od V
r
observa. Notamos aqui o surgimento de noções sobre autorreferência, pois
uto
aquele que descreve suas observações está inserido na observação, bem como
problematizações sobre o entendimento da cognição como algo da “realidade”
que surge independentemente daquele que a conhece. Esses questionamentos
R
se deram particularmente à luz da dinâmica de seres vivos e sistemas dinâ-
oa
micos de aprendizagem em ecologias complexas, como por exemplo, expli-
citado na Teoria Geral dos Sistemas de Bertalanffy. Nesta esteira observamos
o desenvolvimento de modelos regidos pelas primeiras discussões sobre auto-
aC
-organização através de processos de retroalimentação iterativos que permitem
a estabilidade e mudança, com emissão de padrões dinâmicos.
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V
r
nética, movimento intelectual transdisciplinar de meados do século XX que
uto
fundamentou o desenvolvimento de teorias do caos/complexidade em sua
segunda fase. A Segunda Cibernética traz implicações para a compreensão
dos sistemas complexos distinta daquela concebida pela Cibernética de
R
Primeira Ordem. Ao descrever conceitos centrais da Biologia do Conhecer
a
para compreensão dos sistemas vivos em seu meio, estarei guiado pelas se-
guintes questões: Como se constitui conhecimento de uma língua adicional?
do
Como posso distinguir processos de aprendizagem de uma língua adicional?
Quais são as limitações e implicações da instrução formal no ensino e apren-
aC
dizagem de uma língua adicional? A partir destas questões, busco elaborar
od V
r
creviam um tipo de “sistema detector de insetos”, que funcionava de acordo
uto
com os padrões de excitação da retina e de uma rede neuronal conectada a
ela, independentemente da quantidade de iluminação. Este grupo de pesqui-
sadores procura, no artigo, descrever o trajeto dos impulsos nervosos que
R
“informam” o cérebro daquilo que a retina está “vendo”, enfatizando a ati-
oa
vidade da retina e do sistema nervoso em detrimento da intensidade de luz
que incide sobre a retina, essa uma novidade na época (Cf. MAGRO, 1999;
MAGRO, 2001; MATURANA, 1997a; MATURANA; VARELA, 2001).
aC
Refletindo sobre a resposta dada por sua equipe ao problema, Maturana
conclui, em meados de 1960 ao preparar uma palestra para Sociedade
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conta disso. O anfíbio não era capaz de corrigir seu comportamento e não
era capaz de aprender. Maturana propôs então que tudo que realizamos num
meio depende de nossa biologia. Neste caso, ao alterar a estrutura do an-
Ed
fíbio, este continuava a fazer o que sempre fez em sua história de interações
prévias e correlações neuroefetoras, mas somente para os pesquisadores que
são
V
r
da hipótese da organização autopoiética dos seres vivos, que implica num
uto
fechamento operacional dos seres vivos em contínuo acoplamento em seu
meio, não podemos fazer referência a objetos externos e independentes do
ser que os distingue e nomeia, em que consiste então uma explicação cien-
R
tífica? Maturana (2001, p. 29) afirma que as explicações científicas são re-
a
formulações da experiência com elementos da própria experiência que são
aceitas por um observador. A validade de um explicar depende de um outro
do
observador, que pode ser eu ou você, ou de uma comunidade de observa-
dores. Se a explicação proposta não é aceita, não pode ser uma explicação.
aC
Se aceitam o que estou explicando, seguimos em frente. A validade da expli-
5 Em sua estrutura epistemológica Maturana usa termos verbais ao invés de conceitos nominais. Essa opção tem relação
com sua concepção destes fenômenos enquanto ações dinâmicas contínuas.
COMPLEXIDADE EM AMBIENTES DE ENSINO
E DE APRENDIZAGEM DE LÍNGUAS ADICIONAIS 229
constitutiva, meu caminho é explicar como faço o que faço para gerar tal fe-
nômeno. A existência depende do observador, depende do que ele faz, de suas
operações e de seu agir na linguagem (MATURANA, 2001, p. 34). Isso é
indicado ao colocarmos a objetividade entre parênteses. Dentro deste domínio
distinguimos muitas realidades, cada uma dentro de suas lógicas e coerências
od V
r
operacionais explicativas que podem ser aceitas por um observador.
uto
A Autopoiese e a Dinâmica dos Seres Vivos
R
Humberto Maturana e Francisco Varela (2001), colaborador de
oa
Maturana no aprofundamento, expansão e divulgação de sua obra, nos con-
vidam a um olhar diferente do tradicional para os fenômenos constitutivos
dos seres vivos imersos na cognição e na linguagem que somos. Essa com-
aC
preensão da dinâmica biológica é feita com base na constituição da hipótese
explicativa sobre a biologia celular, feita anteriormente por Maturana, em
Editora CRV - versão para revisão do autor - Proibida a impressão
que se propõem uma caracterização dos seres vivos como sistemas dinâ-
visã
micos complexos, diferentemente das máquinas lógico-computacionais, o
que era padrão no pensamento da Cibernética de Primeira Ordem. Passamos
então para a compreensão dos sistemas autopoiéticos.
Elaborada por Humberto no início da década de 1970, o conceito de
autopoiese é proposta como uma forma encontrada pelo pesquisador para
a re
itor
são produzidas por outros (alopoiético), já que há sempre alguém que as pro-
grama, que as informa para executar uma determinada tarefa com funções
pré-estabelecidas. Maturana e Varela (1973) argumentam que os seres vivos
não têm uma finalidade específica, um propósito de ações programadas e
programáveis como as máquinas, e assim, não são igualmente passíveis de
230
instrução por outros e pelo meio. Sobre este conceito, Magro (2002, p. 32)
nos indica como esta distinção entre máquinas e seres vivos ser torna crucial
no conjunto da Biologia do Conhecer:
V
r
sistemática entre o que chamaram de máquinas alopoiéticas, feitas
pelo homem com objetivos específicos para a execução de tarefas, e
uto
máquinas autopoiéticas, como designaram então os seres vivos, cujo
mecanismo de funcionamento é caracteristicamente distinto das pri-
meiras: uma rede de relações moleculares que, ao se produzir, produz
R
os componentes e as próprias relações que o constituem. A ousadia
a
dessas ideias no início de 1970 é enorme: os autores questionaram aí
as relações causais típicas do raciocínio tradicional ocidental, a tele-
do
onomia, a dependência plantada no interior dos indivíduos por meio
aC
de mecanismos animísticos diversos (as representações inatas, os me-
canismos computacionais, os controles centrais) e ressaltaram a auto-
dinâmicos e processuais.
or
od V
r
danças ocorridas nos sistemas vivos são determinadas a cada instante por
uto
sua própria estrutura e dinâmica de estados em conservação do acoplamento
estrutural. Na Biologia do Conhecer a coadaptação estrutura viva-meio (o
acoplamento estrutural) é uma invariável e condição de continuidade cir-
R
cular do organismo vivo. Sem acoplamento estrutural, o sistema vivo deixa
oa
de existir, e cessam os processos autopoéticos. Nossa história ontogenética
é um fluir dinâmico de interações recorrentes em permanente adaptação e
congruência num meio de ações específico, o acoplamento estrutural. Ainda
aC
aqui, a ontogenia contínua dos sistemas vivos é a marca mais contundente
da complexidade inerente a esses sistemas. Como Davis e Sumara (2006,
Editora CRV - versão para revisão do autor - Proibida a impressão
6 Fechamento operacional não é um conceito físico (sistema se mantém aberto ao fluxo de energia e matéria – se não as
células morrem) – mas caracterizam um funcionamento autrreferecial das dinâmicas internas do sistema nervoso. Estados
de atividades do sistema nervoso sempre levam a outros estados de atividade e são disparados por estados de atividade – e
toda essa dinâmica de mudanças nos estados de atividade permanecem como rede de elementos neuronais.
7 A expressão de uma argumentação circular tem relação com a fenomenologia circular dos sistemas cibernéticos de
segunda ordem. Ainda, conforme Magro (2012, p. 16) argumenta, a Biologia do Conhecer (BC) não escapa da crítica de
Dupuy (1996) sobre o insulamento proposital dos cibernéticos e suas estruturas conceituais. Maturana trabalha sempre
com os mesmos conceitos em uma estrutura recursiva e que recusa o uso de vocabulário de modelos causais-lineares
associados à primeira fase da cibernética. Em uma primeira leitura costumamos ter um estranhamento com a construção
discursiva da BC.
232
V
r
nós as representações necessárias para lidarmos cognitivamente com nossos
uto
contextos. Além disso, a relação de transformação mútua e contínua entre
fisiologia e meio, supera as dicotomias tão caras ao pensamento da meta-
física ocidental (corpo/mente, emoção/razão; essência/aparência...), em que a
R
Cibernética de Primeira Ordem e o cognitivismo são articulados. A Biologia
a
do Conhecer toma fenômenos não quantificáveis como a emoção, a história,
a experiência, como fundamentais para compreensão das mudanças contínuas
do
que ocorrem em sistemas vivos. As emoções, definidas como disposições cor-
porais que modulam nossas ações estão relacionadas às dinâmicas cognitivas
aC
e linguísticas e são fundamentais nos processos de aprendizagem.
há, neste sentido, interações instrutivas com o meio, mas uma congruência
op
od V
r
viver. Desse modo, Maturana postula que, como seres vivos, vivemos simul-
uto
taneamente em dois domínios distintos: o domínio da fisiologia e o domínio
do comportamento ou das interações, como mostram as figs. 1 e 2 abaixo,
reproduzidas de Maturana (1997b, p. 215- 218):
R
oa
aC Figura 1 – Domínios explicativos
Editora CRV - versão para revisão do autor - Proibida a impressão
visã
Fonte: MATURANA (1997b, p. 215- 218)
V
r
uma instrução de seu meio (input), mas somente pela dinâmica dos compo-
uto
nentes e relações entre tais componentes de sua estrutura, momento a mo-
mento com mudanças contínuas graduais e emergentes abruptas.
Em outras palavras, a história de vida de um ser vivo é um fluir inin-
R
terrupto de mudanças estruturais num meio, em uma constante deriva on-
a
togênica e permanente coadaptação. A fig. 3 ilustra nosso fluir ontogênico
dinâmico de mudanças estruturais acopladas num meio (MATURANA,
do
1997b, p. 217):
aC
Figura 3 – A deriva ontogênica
cadeadas a partir de perturbações que são geradas pelos que ensinam e pelos
que aprendem em reciprocidade mútua (aquele que aprende também ensina)
E
sã
od V
r
Implicações da Deriva Ontogênica e o Linguajar
uto
Ao interagir com uma língua adicional, entra-se em um certo domínio
de ações e vai-se transformando nesse meio, constituindo o que a Biologia
R
do Conhecer distingue como deriva ontogênica ou transformação na convi-
oa
vência. Para a Biologia do Conhecer, é cara a noção que nos transformamos
com outros através de convivência prolongada realizando ações coordenadas
e conjuntas proximamente. Aprendemos a ser alunos num determinado do-
aC
mínio de interações no qual entramos. Transformamos-nos com nossos pro-
fessores, colegas e artefatos tecnológicos quaisquer que geram interação e
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9 Esta imagem foi projetada em uma obra de Claire Kramsch sobre aquisição de línguas (KRAMSCH, 2002) em que
apresenta perspectiva ecológicas para aprendizagem de línguas.
236
V
r
Maturana e Varela (2001) definem a distinção como o mecanismo ope-
uto
racional cognitivo básico de um observador. Vivemos em uma interobjeti-
vidade, ou seja, num espaço relacional e comportamental de distinções entre
objetos e pessoas. No ato de distinguir, destacamos uma certa unidade do
R
fundo em que ela está. Ao fazê-lo, especificamos figura e fundo ao mesmo
a
tempo, e acabamos por dar ênfase àquilo que escolhemos para constituir
nossa figura, negligenciando o fundo, que distinguimos também. Assim, os
do
objetos surgem nos espaços consensuais de distinções de distinções e de
coordenações de coordenações de ações como elementos que distinguem
aC
um elemento de outro e coordenam uma ação com outra. Dessa maneira,
-los das mais diversas maneiras, vamos ao mesmo tempo fazendo coisas
com esses objetos e ações, construindo domínios de ações consensuais
ara
od V
r
estabelecendo aí um domínio pragmático de operações que um observador
uto
pode distinguir, posteriormente ao uso, como comunicação simbólica.
O comportamento adequado é a expressão de um fluir dinâmico estru-
tural histórico de um organismo em congruência com o meio interacional em
R
que se vive, fala e conhece. Logo, o comportamento adequado é um comen-
oa
tário de um observador (que pode ser um professor ou você mesmo) sobre o
fluir dinâmico de um organismo, em domínios de ações particulares. Assim,
a aferição do conhecimento depende do domínio de ações especificado pelo
aC
observador ao fazer sua pergunta, e do que ele e sua comunidade de obser-
vadores consideram como um comportamento adequado naquele domínio de
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embora dependa de sua dinâmica estrutural corporal para ocorrer (seu de-
terminismo estrutural). Portanto, para que ocorra o que um observador pode
distinguir como o funcionamento de uma língua adicional, é necessário que
Ed
explícito, mas a participação efetiva num domínio de ações num modo par-
ticular de convivência.
O processo de desenvolvimento linguístico é pessoal e contingente. Os
ver
V
r
processos de ensino e aprendizagem de uma língua adicional são esperadas.
uto
A consensualidade de atividades deve ir de encontro ao domínio de distinções
de distinções, de coordenações de coordenações de ações e de domínios re-
cursivos, pragmáticos e interativos. Elementos do sistema distinguidos pelo
R
professor como aqueles que tendem a expandir ou restringir a transformação
a
dos sistemas com vistas à emergência de novas formas de organização em
níveis de complexidade mais elevada devem ser observadas.
do
A instrução formal em sala de aula concebida como transmissão de
informações, é radicalmente questionada na perspectiva biológica da com-
aC
plexidade de sistemas. Como venho argumentando, a transmissão, nem
od V
r
geram padrões novos - podem modular dinâmicas entre organismos e seu
uto
nicho ecológico. Essa possibilidade depende da própria estrutura do orga-
nismo da qual participam as emoções, a linguagem, a identidade, a cognição,
de maneira interdependente e em reciprocidade mútua. Num espaço de in-
R
terações particulares, o emocionar tende a modular o curso de ações de um
oa
agente, assim como as consequências em termos de aprendizagem para os
aprendizes ali envolvidos (ARAGÃO, 2011).
O que um observador pode distinguir como a gramática e o léxico
aC
emerge nas prolongadas interações recorrentes, no âmbito das distinções de
distinções de objetos e sentidos e das coordenações de coordenações de ações
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od V
r
MULTIDIMENSIONAL NA
uto
EDUCAÇÃO DE SURDOS
R
oa
Elaine Ferreira do Vale Borges (UEPG)
Eliziane Manosso Streiechen (UNICENTRO)
Introdução
aC
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mínio da língua oral era condição determinante para que esse sujeito fosse
aceito dentro da sociedade majoritária (STREIECHEN, 2013). O Congresso
de Milão revelou que, para uma parcela significativa da sociedade, era o
surdo que deveria se adaptar à língua oral predominante, contudo sem pro-
curar compreender as dificuldades implicadas nesse processo de oralização.
242
V
r
1970, o que se convencionou chamar filosofia da comunicação total. Nessa
uto
abordagem, previa-se o uso livre de quaisquer estratégias e/ou recursos que
resultassem em comunicação ou o seu desbloqueio; o que fez emergir uma
prática bimodal simplificada, ou seja, o uso de uma língua oral sinalizada
R
e sem gramática própria. Com as críticas a essa modalidade que, como o
a
oralismo, não enxergava a LS como uma língua natural, a abordagem bi-
língue emerge como a mais adequada na educação de surdos já ao final da
do
mesma década, na Europa. O bilinguismo fortalece o enfoque da aquisição
da LS como L1 e de uma língua escrita como L2. Dessa forma, a educação
aC
bilíngue do surdo passa a significar “que a linguagem gestual natural da
fractalizada (SADE, 1999), com uma concepção sistêmica, não linear, auto-
-organizável do processo de construção do conhecimento. No primeiro mo-
mento, o surdo é o sujeito patológico, diagnosticado com uma deficiência
od V
r
mente, o sujeito surdo – emergente na educação bilíngue.
uto
No contexto brasileiro, a Língua Brasileira de Sinais (Libras) foi oficia-
lizada somente em 2002, por meio da Lei Nº 10.436 (BRASIL, 2002), sendo
que o principal interesse pelo seu reconhecimento estava atrelado aos cons-
R
tantes fracassos e evasão escolar dos alunos surdos por não conseguirem
oa
adquirir conhecimentos por meio da oralidade. Nesse cenário, a educação
bilíngue já se fazia presente, de forma incipiente, todavia, desde o final da
década de 1980, consolidando-se nas décadas seguintes. Com isso, surgem
aC
estudos (SALLES et. al., 2004; CAMPOS, 2009; ALBRES; OLIVEIRA,
2013; SOUSA, 2014) que discutem a similaridade e/ou afiliação da meto-
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V
r
Deus” (BÍBLIA, João 1, 1).
uto
Nessa atmosfera, os surdos foram privados de receber qualquer tipo de
educação, uma vez que não se acreditava na possibilidade de seu desenvol-
vimento intelectual e moral. Com o passar do tempo e com a evolução da
R
medicina e das pesquisas, a visão sobre o sujeito surdo também vai se trans-
a
formando. Assim, a partir do século XVI, principalmente na Europa, surgem
os primeiros educadores, tais como Pedro Ponce de Leon (1520-1584), Ivan
do
Martim Pablo Bonet (1620), entre outros, os quais se utilizam de diferentes
técnicas de ensino (alfabeto manual, códigos visuais, linguagem oral e a
aC
própria LS). No século XVIII, o alemão Sammuel Heinicke, principal de-
nação das decisões do Congresso de Milão, a maioria dos países optou por
implantar a abordagem oralista na educação dos surdos, ocasionando um
ara
falar, exceto algumas palavras que eram repetidas de forma mecânica sem
saber o que elas realmente significavam; não receberam uma educação efetiva,
resultando em milhões de surdos analfabetos. Os surdos, que passaram por
ver
essa abordagem, trazem marcas negativas em suas vidas até os dias atuais.
Com o fracasso do oralismo, os surdos permaneceram durante um século
sem comunicação e à mercê das pesquisas que tinham como alvo apenas a
“orelha” do surdo e não o sujeito como um todo (STREIECHEN; KRAUSE-
LEMKE, 2014). Há de se enfatizar que esse século em que os surdos foram
submetidos ao oralismo, foi o período do auge econômico para as fábricas
COMPLEXIDADE EM AMBIENTES DE ENSINO
E DE APRENDIZAGEM DE LÍNGUAS ADICIONAIS 245
od V
r
ao uso constante do AAS e encaminhá-la às sessões de terapia de fala, reali-
uto
zadas em consultórios particulares de fonoaudiologia, em centros de surdez
ou ainda nas próprias escolas especiais. Apesar de se constatar, a partir dos
próprios depoimentos dos surdos, que a abordagem oralista não é a mais
R
apropriada para a educação de surdos, ainda hoje existem escolas brasileiras
oa
que insistem em trabalhar com esse método. Segundo Streiechen e Krause-
Lemke (2014, p. 959), “[e]ssas escolas priorizam o desenvolvimento da ora-
lidade e da audição, como se isso fosse um pré-requisito para a alfabetização
aC
do sujeito surdo e sua inserção na sociedade”.
Para que se possa entender os motivos pelos quais se torna extrema-
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mente difícil uma pessoa surda conseguir falar é necessário que se com-
preenda o desenvolvimento da fala em ouvintes e surdos. Streiechen e
visã
Krause-Lemke (2014, p. 962) explicam que uma pessoa ouvinte aprende,
fundamentalmente, pelo canal auditivo, relacionando as palavras aos fo-
nemas apresentados a ela. Portanto, todo vocabulário que um ouvinte ad-
quire é processado, prioritariamente, pelo canal auditivo. Contudo, ao longo
a re
itor
de todo esse processo, ocorrem, também, pistas visuais por meio das quais
ele tem a oportunidade de observar os usos e as funções em determinados
objetos, além de ouvir seus nomes, com frequência. Ou seja, desde bebê, a
criança ouve seus pais, parentes, vizinhos, o rádio, a televisão entre outros. À
par
há comunicação por meio da oralidade com esses sujeitos, mas por meio
de sinais visuais, ao sinalizar uma palavra que ele não está acostumado a
usar e pedir para que a escreva, ele terá muita dificuldade (como erros de
grafia) ou poderá não saber escrevê-la. Uma palavra escrita para o surdo
nada mais é do que um simples desenho e ele não consegue associá-la a
V
r
nenhum tipo de som pelo simples fato de nunca ter ouvido. Por isso, a ideia
uto
pré-concebida de que bastaria sinalizar uma palavra, letra por letra, por meio
do alfabeto manual (datilológico) para que um surdo a compreenda é uma
ilusão (STREIECHEN; KRAUSE-LEMKE, 2014, p. 963). Uma vez que o
R
sujeito surdo não assimila nada ou praticamente nada pelo canal auditivo,
a
a única forma que ele tem para aprender as palavras é pelos olhos, mas os
olhos não distinguem os sons. Como ele não conhece os sons das palavras,
do
não sabe como pronunciá-las. As palavras que existem em sua mente são
aquelas poucas que ele visualizou em sua forma escrita (se já alfabetizado)3.
aC
Diante disso, é possível concluir que para a pessoa surda expressar-se por
lavra por palavra; ou seja, não existe um sinal correspondente em Libras para
cada palavra pronunciada em LP: muitas coisas são entendidas pelos surdos
apenas por meio de expressão facial, outras por sinais, outras por meio de
ver
datilologia (alfabeto manual – letra por letra). Ainda, ao se utilizar dessa mo-
dalidade (misturar Libras e LP), produz-se uma terceira modalidade, o ‘por-
tuguês sinalizado’ podendo, inclusive, dificultar ainda mais a compreensão
3 Para compreender melhor essa questão, ler: Análise da produção escrita de surdos alfabetizados com proposta bilíngue:
implicações para a prática pedagógica (STREIECHEN; KRAUSE-LEMKE, 2014).
COMPLEXIDADE EM AMBIENTES DE ENSINO
E DE APRENDIZAGEM DE LÍNGUAS ADICIONAIS 247
od V
r
de sol”, por exemplo, sinalizada em Libras na figura 1 abaixo, observa-se
uto
que a estrutura da sentença não obedece à ordem de sujeito, verbo e objeto
como na LP: o objeto (SOL) é sinalizado primeiro e não o pronome (EU).
Eu traria a figura 1 para cá.
R
oa
aC Figura 1: “Eu gosto de sol” em Libras
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visã
Fonte: STREIECHEN (2013, p. 105)
a re
itor
essas abordagens não eram coerentes para a educação de surdos; o que po-
são
V
propõe a tornar acessível à criança surda duas línguas no contexto escolar.
r
De fato, estudos têm apontado que essa proposta é a mais adequada para o
uto
ensino de crianças surdas, tendo em vista que considera a língua de sinais
como natural e se baseia no conhecimento dela para o ensino da língua
majoritária, preferencialmente na modalidade escrita. [...] Na adoção do
R
bilinguismo deve-se optar pela apresentação simultaneamente das duas
a
línguas (língua de sinais e língua da comunidade majoritária).
do
No Brasil, a educação bilíngue surge entre as décadas de 80 e 90. No
aC
entanto, somente no início de 2000, ao se considerar as dificuldades do
Diante disso, muitas cidades brasileiras têm lutado para implantar es-
colas bilíngues visando atender a demanda. Os municípios menores, que não
possuem surdos em número suficiente, estão tentando criar polos centrali-
zados para atender também os alunos das cidades vizinhas. Nesse sentido,
podemos considerar que a abordagem bilíngue é um modelo de educação
od V
r
que valoriza o sujeito surdo como um ser em toda a sua plenitude, acredi-
uto
tando, inclusive, que ele pode se tornar um ser livre, autônomo, indepen-
dente, emancipado, crítico e capaz de viver dignamente. Para isso, basta lhe
a oportunidade de poder se comunicar e adquirir conhecimentos por meio
R
de sua língua natural, a língua de sinais. Essa abordagem segue o princípio
oa
de que “as diferenças existentes no processo de desenvolvimento da escrita
pelos surdos não podem ser associadas à surdez, mas às línguas envolvidas
nesta dinâmica [...]” (STREIECHEN; KRAUSE-LEMKE, 2014, p. 967).
aC
2 Abordagens de Ensino de Línguas
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visã
Historicamente, a subárea de ensino de línguas na LA é dividida em três
eras: dos métodos, das abordagens e do pós-método. Métodos e abordagens
de ensino de línguas sempre estiveram relacionados a uma “sistematização de
procedimentos que pudessem concretizar uma determinada visão de como se
ensina e como se aprende uma língua” (BORGES, 2010a, p. 398). No âmago
a re
itor
no topo (teoria), seguida pelo método e técnica (prática) que deveriam ser
coerentes com os pressupostos teóricos da abordagem.
são
V
r
Compreensão; ambientalistas: Teoria Behaviorista-Estrutural, Modelo da
uto
Aculturação, Modelo Conexionista; interacionistas: Hipótese da Interação,
Hipótese do Output ou da Lingualização, Teoria Sociocultural, e; Aquisição
de Segunda Língua na Perspectiva da Complexidade – esse último modelo
R
já inserido na era do pós-método (tratado à frente). Paiva ainda discute, re-
a
sumidamente, outras quinze teorias das quais incluiremos, aqui, apenas o
Modelo da Competência Variável e o Modelo Dialógico – ambos intera-
do
cionistas. Por outro lado, de acordo com Borges (2009; 2010b; 2015) as
principais abordagens de ensino de línguas são: gramatical; instrumental4;
aC
comunicativa; comunicacional; dialógica, e; complexa – a primeira inserida
4 Também conhecida como ensino de língua para fins específicos (acadêmicos, negócios etc.) (skill-based), com foco em
uma ou mais habilidade da língua (ouvir, falar, escrever ou ler), dependendo das necessidades dos alunos previamente
analisadas. As demais abordagens, em contraposição, são reconhecidas como para fins gerais e geralmente tendem a
focar, conjuntamente, todas as habilidades da língua, salvo pressupostos teóricos específicos de cada uma em relação à
primazia de uma habilidade sobre a outra.
COMPLEXIDADE EM AMBIENTES DE ENSINO
E DE APRENDIZAGEM DE LÍNGUAS ADICIONAIS 251
od V
r
tendida como compondo a abordagem comunicativa (BORGES, 2011),
uto
emerge da necessidade de aprendizagem rápida (skill-based) de uma LE/L2
à época da Segunda Guerra Mundial. Décadas mais tarde, ela teve grande
repercussão no Brasil com o desenvolvimento do projeto de ensino de inglês
R
para fins acadêmicos, com foco na leitura, da PUC-SP5, nas universidades
oa
brasileiras na década de 1980 (CELANI et. al., 1988) – servindo de base
teórico-didática, depois, aos Parâmetros Curriculares Nacionais de Língua
Estrangeira (PCN-LE) do Ensino Fundamental (BRASIL, 1998). A compe-
aC
tência que essa abordagem visa desenvolver é essencialmente a pragmática6
por meio da negociação de significado (hipótese da interação) e da exposição
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compreensível). Outra razão seria o espaço exíguo deixado tanto para o uso
da L1 (princípio monolíngue) quanto para a explicitação gramatical (ensino
são
V
r
refação dos gêneros textuais. As Diretrizes Curriculares da Educação Básica
uto
de Letras Estrangeiras Modernas – DCE-LEM (PARANÁ, 2008), por
exemplo, seguiu essa tendência, tecendo críticas à abordagem comunicativa.
A abordagem comunicacional de ensino de línguas, mais conhecida
R
como ensino baseado em tarefas (task-based), não é muito usada no Brasil,
a
já que conta muito com o professor proficiente na LE/L2 na preparação,
execução e condução de tarefas em L2/LE que levem os aprendizes a racio-
do
cinarem na língua a fim de adquiri-la. Sua prática é via tarefas (pré-tarefa,
tarefa e pós-tarefa) que promovam interações satisfatórias (teoria sociocul-
aC
tural) para o desenvolvimento da competência linguística, a priori, similar
-modernidade, traz para a área de ensino de línguas uma reflexão de que não
i
7 Se entendermos L2 (segunda língua oficial de um país, caso do inglês na Índia) como diferente de LE (país apenas com
a L1 como língua oficial), em que os alunos estão mais expostos à língua que aprendem. Atualmente, no entanto, muitos
autores não diferenciam mais L2 de LE, usando, ainda, nesse caso, a terminologia língua adicional ou LE/L2 – como é o
caso das autoras deste capítulo.
COMPLEXIDADE EM AMBIENTES DE ENSINO
E DE APRENDIZAGEM DE LÍNGUAS ADICIONAIS 253
od V
r
da complexidade (PAIVA, 2014) que “deve, necessariamente, conceber
uto
tanto a lingua(gem) como o ensino/aprendizagem como fenômenos igual-
mente complexos” (BORGES; PAIVA, 2011, p. 344). Ainda, um modelo
de ASL no âmbito dos SACs deve ser entendido como “um conjunto de
R
conexões em um sistema dinâmico, complexo, não linear e imprevisível,
oa
que se move em direção ao ´limite do caos´, considerado como uma zona
de criatividade com um potencial máximo para aprendizagem” (PAIVA,
2009, p. 34-5). Modelo que, segundo Borges e Paiva (2011), “admite com-
aC
petências inatas [...] criação de hábitos automáticos [...] a importância da
afiliação à cultura da outra língua e a construção de identidades [...] o papel
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e sinais) da abordagem da comunicação total que, por sua vez, surge como
uma proposta diferente que pretendia superar os insucessos do modelo mo-
nolíngue do oralismo. Com isso, a educação do surdo volta-se para as pes-
Ed
V
r
e a produção de textos escritos, como processos essencialmente interativos,
uto
devem ir além da transmissão de informações estruturais e lexicais, visando
aspectos pragmáticos, sociolinguísticos e culturais e a abordagem interacio-
nista estaria mais em acordo com essa proposta do que a abordagem comu-
R
nicativa. Em discussão sobre política linguística na Libras, Albres e Oliveira
a
(2013) assinalam as três concepções clássicas de linguagem no âmbito do
ensino de línguas (“espelho” do pensamento, código e interação), asso-
do
ciando as duas primeiras a um ato monológico da comunicação subsidiada
pela educação oralista do surdo, e; vinculando a última, a uma ação dialógica
aC
da enunciação compartilhada pelo bilinguismo. Sousa (2014), por sua vez,
od V
r
como relevantes na constituição da bilingualidade: (1) competência relativa:
uto
competência linguística em L1 e L2 (bilinguismo balanceado) ou mais em uma
língua do que em outra (bilinguismo dominante)8; (2) organização cognitiva:
única representação cognitiva para duas traduções equivalentes (bilinguismo
R
composto) ou representações distintas paras duas traduções equivalentes (bilin-
oa
guismo coordenado); (3) idade de aquisição: bilinguismo infantil (simultâneo
ou consecutivo na aquisição da L1 e L2), adolescente e adulto; (4) exoge-
neidade: presença (bilinguismo endógeno) ou não (bilinguismo exógeno) de
aC
falantes da L1 e L2 no ambiente social da criança; (5) status sociocultural:
L1 e L2 são valorizadas (bilinguismo aditivo) ou L1 é desvalorizada (bilin-
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8 Usaremos, aqui, o apoio do artigo de Megale (2005) que discute cada uma dessas dimensões.
256
V
r
como postulado em diferentes reflexões sobre a construção de co-
uto
nhecimento” (BORGES; PAIVA, 2011, p. 350-351), como o beha-
viorismo, o cognitivismo e o interacionismo (BORGES, 2015);
4. enfoque no desempenho do aprendiz para a emergência das com-
R
petências na língua, fazendo o caminho inverso das outras abor-
a
dagens de ensino que focam uma competência, a priori, para se
chegar a outras;
do
5. perspectiva do professor como dinamizador do processo de ensino/
aprendizagem, entendendo a sala de aula, alunos, escola e sua co-
aC
munidade (diretor, professores, familiares), material didático, plane-
od V
r
dizes de utilizar plenamente o input compreensível) é um fator importante a
uto
se considerar em relação à aquisição da L2 pelo surdo, dado a sua exposição
histórica à imposição da oralidade sobre a LS. O que se tem praticado em
abordagens unidimensionais na educação do surdo é ensinar a L2 sem que
R
o surdo se aproprie primeiramente da sua L1 (a LS) o que contribui muito
oa
para que o filtro afetivo em relação à L2 se mantenha alto dificultando a sua
aquisição/aprendizagem.
aC
Figura 2 – Interfaces entre a abordagem complexa e
a abordagem bilíngue multidimensional
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Abordagem Complexa
visã
Sistema Adaptativo Complexo
Abordagem Comunicativa
Content-based
INTERACIONISTAS
Abordagem Gramatical
Grammar-based
AMBIENTALISTAS Hipótese da Modelo da Abordagem Instrumental
Interação Competência Skill-based
Teoria Variável NATIVISTA
Modelo Behaviorista- INTERACIONISTA
Conexionista /
Estrutural competência Modelo do/a
Hipótese do/a
a re
Compreensão Hipótese da
organização Compreensível Interação
cognitiva Modelo
Aculturação
Abordagem Comunicacional
Task-based Abordagem Dialógica exogeneidade
status NATIVISTA Genre-based
sociocultural INTERACIONISTA INTERACIONISTAS
Modelo da
Gramática Teoria Modelo
Teoria
Universal
par
pode inibir ou promover a aquisição da sua L1. A falta desse contato, por
exemplo, desde a tenra idade da criança surda, tem resultado na aquisição
tardia da L1 o que gera atraso em todo o seu desenvolvimento e prejudica o
processo de aquisição da L2. Nesse caso, a bilingualidade entra na dimensão
de status sociocultural das línguas envolvidas em que a L1 (bilinguismo sub-
trativo) não possui valor. Pode-se entender que esse era o caso na perspectiva
258
V
r
de Skinner, prevê o comportamento verbal emergindo a partir do estímulo,
uto
resposta e reforço mediado pelo outro e, se não for usada isoladamente
(como invariavelmente acontecia nas abordagens oralista e da comunicação
total), pode contribuir para a aquisição da L2, como em atividades com
R
objetivos específicos que visam reforçar a compreensão do funcionamento
a
da gramática da L2, via análise contrastiva entre L1 e L2, por exemplo. O
modelo conexionista, por sua vez, estaria mais em acordo com a dimensão
do
da organização cognitiva da bilingualidade, cujo tipo composto (uma única
representação para as duas línguas) e coordenado (uma representação para
aC
cada língua) pode estar ligado a questões de idade e contexto de aquisição.
competência linguística do surdo bilíngue pode ser nas duas línguas (bilin-
guismo balanceado) ou apenas na L1 (bilinguismo dominante). Por outro
E
sã
surda deve ter aulas ministradas em LS (L1) por professores surdos desde
a educação infantil. Na dimensão exógena, entende-se que o professor deva
ser proficiente em ambas as línguas (L1/ L2).
od V
r
uto
O professor como o elemento que dá dinamicidade ao processo da
educação bilíngue – no âmbito do bilinguismo/bilingualidade de natureza
multidimensional – ainda precisa ser muito discutido pelos profissionais
R
envolvidos na área, considerando todas as questões tratadas e outras não
oa
incluídas neste capítulo. Contudo, aspectos de suma importância a serem ob-
servados, principalmente em ambientes escolares onde há surdos incluídos,
foram sintetizados por Streiechen (2013) e os apresentamos aqui como um
aC
ponto de partida para essa discussão: a criança surda só iniciará seu apren-
dizado da língua escrita após dominar a L1; o aluno surdo não estará neces-
Editora CRV - versão para revisão do autor - Proibida a impressão
– ele só não fala porque não ouve; o surdo se expressa com o corpo todo,
então será comum afastar a carteira ou se levantar para se expressar; em toda
situação duvidosa, paciência e bom senso é o que sempre devem prevalecer.
ver
260
Conclusão
V
r
lação entre as duas abordagens foi desenvolvida por meio das principais
uto
dimensões do bilinguismo multidimensional tratado em Harmers e Blanc
(2000) e as mais importantes hipóteses/ teorias de ASL (PAIVA, 2014) que
permeiam as abordagens de ensino de língua e que, por sua vez, são ele-
R
mentos constitutivos da abordagem complexa (BORGES; PAIVA, 2011;
a
BORGES, 2015). Para tanto, tivemos a preocupação em descrever resu-
midamente a história da educação do surdo, bem como em apresentar, de
do
forma mais detalhada, as principais abordagens historicamente utilizadas
na educação do surdo e no ensino de línguas adicionais (LE/L2). Com
aC
a análise, foi possível observar que todas as dimensões do bilinguismo
od V
r
CONDIÇÕES INICIAIS
uto
Walkyria Magno e Silva (UFPA)
R
Elaine Ferreira do Vale Borges (UEPG)
oa
Os objetivos da obra foram alcançados e agora resta-nos saber da re-
cepção que o volume terá no nosso meio. A busca por lançá-lo em um evento
aC
de formação de professores reflete a preocupação das editoras a respeito
do universo educacional multifacetado no qual esses profissionais atuam. A
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complexidade, que sempre existiu nessa área, mas que foi sucessivamente
apagada por levas de estudos reducionistas que ainda perduram, revela-se
visã
nos textos que acabamos de apresentar.
As partes do livro articulam-se para ilustrar o emprego das teorias que
integram a complexidade em diferentes estudos, empíricos em sua grande
maioria e teóricos no caso de dois deles. Este é o caminho sugerido pelos
a re
itor
V
r
capítulos anunciam um eterno recomeçar em infinitas bifurcações dadas por
uto
diferentes condições iniciais uma vez que nada é estático e tudo está em cons-
tante adaptação. Eles mostram ainda o quanto o processo de ensino e aprendi-
zagem é orgânico e integrado, não separando e não reduzindo o que ocorre nos
R
múltiplos contextos aninhados aos próprios processos.
a
Cabe ressaltar ainda que os capítulos da primeira parte abordam o
quanto as tarefas em sala de aula podem ser enriquecidas quando o professor,
do
enquanto dinamizador do sistema, está atento tanto às questões macro, pro-
venientes do conhecimento do que se passa no mundo ao largo, como no
aC
caso do capítulo de Rafael Vetromille-Castro, quanto às questões do mi-
três). É evidente que este professor – que se entende ser igualmente com-
i
od V
r
para inglês, relatado por Leonardo Pereira e Elaine Borges, voltado para
uto
o Ensino Fundamental, e o material para espanhol, apresentado por Kelly
Nakayama e Elaine Borges para o Ensino Médio. Finalmente, em um mundo
que reconhece a inclusão como parte dele, o capítulo de Elaine Borges e
R
Eliziane Streiechen traz o quanto a visão da complexidade pode contribuir
oa
para a compreensão da educação de surdos. O mundo é o que é e qualquer
reducionismo ou compartimentalização não atende às suas necessidades.
A diversão e o entretenimento de preparar este livro proporcionou co-
aC
adaptação de funções entre todos que dele fizeram parte. Houve grandes
perturbações nos sistemas dos autores com sucessivas revisões dos textos e
Editora CRV - versão para revisão do autor - Proibida a impressão
od V
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uto
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são
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É graduando em Letras com habilitação em língua inglesa pela
uto
Universidade Federal do Pará. Foi assistente de ensino (teaching assistant)
nos projetos Ícone Duke-UFPA em duas edições do programa. Atualmente
exerce a mesma função no projeto FáLá English Project. É aluno voluntário
R
de iniciação científica e professor estagiário de inglês nos Cursos Livres de
oa
Línguas Estrangeiras (CLLE) da instituição em que estuda. Sua pesquisa
sobre a relação entre aconselhamento, motivação e complexidade foi agra-
ciada com o prêmio Destaque da Iniciação Científica na área de Ciências
aC
Humanas e Sociais, Letras e Artes em 2015 na UFPA. Seus interesses de
Editora CRV - versão para revisão do autor - Proibida a impressão
V
r
Oeste de Guarapuava/PR (UNICENTRO); doutoranda do Programa de
uto
Pós-Graduação em Educação da Universidade Estadual de Ponta Grossa/
PR. Foi professora e tradutora/intérprete de surdos durante vinte anos. Foi
uma das fundadoras da APAE de Ivaí/PR. Atualmente, é professora efetiva
R
da UNICENTRO, Campus de Irati/PR, onde exerce ou exerceu as seguintes
a
funções: coordenadora do Programa de Inclusão e Acessibilidade; coorde-
nadora substituta do PIBID/Espanhol; coordenadora do Curso de Libras no
do
Centro de Línguas. Possui pesquisas relacionadas à aquisição da linguagem
escrita pelo aluno surdo; CODA (Children of deaf adult); inclusão; surdez,
aC
entre outras temáticas. Publicou dois livros: “Língua Brasileira de Sinais
od V
r
uto
Kelly Cristinna Frigo Nakayama
R
do Paraná (2001), bacharel em Letras na área de Espanhol pela Universidade
oa
Federal do Paraná (2002) e mestre em Letras (área de concentração em Estudos
Linguísticos: Aquisição de L2) pela Universidade Federal do Paraná (2006).
Atuou como Coordenadora do Núcleo Pedagógico de Licenciaturas (Letras e
aC
Pedagogia) na Faculdade de Telêmaco Borba-PR (FATEB). Atualmente é pro-
fessora de Língua Espanhola e Portuguesa no IFPR- Instituto Federal do Paraná,
Editora CRV - versão para revisão do autor - Proibida a impressão
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r
à Docência (PIBID) em 2013. Atualmente, ministra aulas de língua inglesa no
uto
Centro Brasileiro de Cursos (CEBRAC). E-mail: leopereirapg@gmail.com.
R
Maria Clara Vianna Sá e Matos
a
Possui graduação em Letras com habilitação em língua inglesa e sua
do
literatura pela Universidade Federal do Pará (1995); é especialista em
Linguística Aplicada ao Ensino e Aprendizagem de Língua Estrangeira
aC
pela Universidade da Amazônia (2004) e mestre em Linguística (2011) pela
Rafael Vetromille-Castro
od V
r
pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Possui pós-doutorado em
uto
Linguística Aplicada pela University of California, Berkeley. É professor
do Programa de Pós-Graduação em Letras stricto sensu e da área de língua
inglesa do Centro de Letras e Comunicação da Universidade Federal de
R
Pelotas. Atua na área de Linguística Aplicada, com especial interesse de pes-
oa
quisa na interface linguagem e tecnologias, formação de professores, ensino/
aprendizagem de línguas, usabilidade pedagógica, interação e complexidade.
É membro do grupo de trabalho Linguagem e Tecnologia da Associação
aC
Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Letras e Linguística (ANPOLL).
De 2014 a 2015, integrou o Núcleo Gestor do Programa Idiomas sem
Editora CRV - versão para revisão do autor - Proibida a impressão
V
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Aprendizagem do Inglês como Língua Estrangeira, e Mestre em Estudos
uto
Linguísticos pelo Programa de Pós-Graduação em Letras da UFPA (2015).
Ministra aulas para a graduação em Licenciatura em Letras, Inglês desde
2012, para disciplinas de Língua Inglesa, Literatura Anglófona, Linguística
R
e Estágio Supervisionado, no programa PARFOR. Atualmente é professora
a
na Faculdade de Letras Estrangeiras Modernas da UFPA. Entre os anos de
2012 e 2015, dedicou parte de seu tempo a projetos que investigam questões
do
que envolvem complexidade e autonomia para aprender uma língua estran-
geira, com ênfase em centros de autoacesso e aconselhamento linguageiro.
aC
Em 2016 ingressou no Doutorado em Estudos Linguísticos e no grupo de
od V
r
da Linguagem pela Universidade de Toulouse II (Le Mirail, França) e pós
uto
doutora pela Universidade Federal de Minas Gerais. Atualmente é pro-
fessora associado 4 da Universidade Federal do Pará, onde leciona no curso
de Letras com habilitação em inglês e no Programa de Pós Graduação em
R
Letras. Seus interesses de pesquisa centram-se nos seguintes temas: auto-
oa
nomia, estratégias de aprendizagem, estilos de aprendizagem, motivação,
aconselhamento linguageiro e ensino e aprendizagem de línguas estran-
geiras no paradigma da complexidade. De março de 2008 a março de 2010
aC
ocupou o cargo de Diretora da Faculdade de Letras Estrangeiras Modernas
da Universidade Federal do Pará. E-mail: walkyriamagno@gmail.com e
Editora CRV - versão para revisão do autor - Proibida a impressão
wmagno@ufpa.br
visã
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itor
par
Ed
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a
do
aC
SOBRE O LIVRO
Tiragem: 1000
Formato: 16 x 23 cm
Mancha: 12 X 19 cm
Tipologia: Times New Roman 11,5/12/16/18
Arial 7,5/8/9
Papel: Pólen 80 g (miolo)
Royal Supremo 250 g (capa)