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Editora CRV - versão para revisão do autor - Proibida a impressão
Paulo Augusto Tamanini
(Organizador)
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Editora CRV - versão para revisão do autor - Proibida a impressão
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HISTÓRIA ENSINADA: uma prosopografia
do ensino de história, no Brasil
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Editora CRV
Curitiba – Brasil
2019
Copyright © da Editora CRV Ltda.
Editor-chefe: Railson Moura
Diagramação e Capa: Editora CRV
Revisão: Os Autores
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DADOS INTERNACIONAIS DE CATALOGAÇÃO NA PUBLICAÇÃO (CIP)
CATALOGAÇÃO NA FONTE
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2019
Foi feito o depósito legal conf. Lei 10.994 de 14/12/2004
Proibida a reprodução parcial ou total desta obra sem autorização da Editora CRV
Todos os direitos desta edição reservados pela: Editora CRV
Tel.: (41) 3039-6418 - E-mail: sac@editoracrv.com.br
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Conselho Editorial: Comitê Científico:
Aldira Guimarães Duarte Domínguez (UNB) Altair Alberto Fávero (UPF)
Andréia da Silva Quintanilha Sousa (UNIR/UFRN) Ana Chrystina Venancio Mignot (UERJ)
Antônio Pereira Gaio Júnior (UFRRJ) Anna Augusta Sampaio de Oliveira (UNESP)
Carlos Alberto Vilar Estêvão (UMINHO – PT) Andréia N. Militão (UEMS)
Carlos Federico Dominguez Avila (Unieuro) Barbara Coelho Neves (UFBA)
Carmen Tereza Velanga (UNIR) Diosnel Centurion (Univ Americ. de Asunción – Py)
Celso Conti (UFSCar) Cesar Gerónimo Tello (Universidad Nacional
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Cesar Gerónimo Tello (Univer. Nacional de Três de Febrero – Argentina)
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Três de Febrero – Argentina) Eliane Rose Maio (UEM)
Eduardo Fernandes Barbosa (UFMG) Elizeu Clementino de Souza (UNEB)
Elione Maria Nogueira Diogenes (UFAL) Fauston Negreiros (UFPI)
Élsio José Corá (UFFS) Francisco Ari de Andrade (UFC)
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Elizeu Clementino de Souza (UNEB) Gláucia Maria dos Santos Jorge (UFOP)
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Fernando Antônio Gonçalves Alcoforado (IPB) Helder Buenos Aires de Carvalho (UFPI)
Francisco Carlos Duarte (PUC-PR) Ilma Passos A. Veiga (UNICEUB)
Gloria Fariñas León (Universidade Inês Bragança (UERJ)
do
de La Havana – Cuba) José de Ribamar Sousa Pereira (UCB)
Guillermo Arias Beatón (Universidade Jussara Fraga Portugal
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de La Havana – Cuba) Kilwangy Kya Kapitango-a-Samba (Unemat)
Jailson Alves dos Santos (UFRJ) Lourdes Helena da Silva (UFV)
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João Adalberto Campato Junior (UNESP) Lucia Marisy Souza Ribeiro de Oliveira (UNIVASF)
Josania Portela (UFPI) Marcos Vinicius Francisco (UNOESTE)
Leonel Severo Rocha (UNISINOS) Maria de Lourdes Pinto de Almeida (UNOESC)
Lídia de Oliveira Xavier (UNIEURO) Maria Eurácia Barreto de Andrade (UFRB)
Lourdes Helena da Silva (UFV) Maria Lília Imbiriba Sousa Colares (UFOPA)
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Maria de Lourdes Pinto de Almeida (UNOESC) Mônica Pereira dos Santos (UFRJ)
Maria Lília Imbiriba Sousa Colares (UFOPA) Najela Tavares Ujiie (UTFPR)
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Maria Cristina dos Santos Bezerra (UFSCar) Nilson José Machado (USP)
Paulo Romualdo Hernandes (UNIFAL-MG) Sérgio Nunes de Jesus (IFRO)
Renato Francisco dos Santos Paula (UFG) Silvia Regina Canan (URI)
Rodrigo Pratte-Santos (UFES) Sonia Maria Ferreira Koehler (UNISAL)
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INTRODUÇÃO 11
CAPÍTULO 1
LEITURAS DE IMAGENS DE CUNHO VIOLENTO NO ENSINO
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DE HISTÓRIA: do estupor à aprendizagem 13
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Ana Meyre de Morais
Paulo Augusto Tamanini
CAPÍTULO 2
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REMEMORANDO O TEMPO ESCOLAR: uma ponte entre o
passado, presente e o futuro 21
Maria Aparecida Dias Lima
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Simone Maria da Rocha
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CAPÍTULO 3
PARA ALÉM DA SALA DE AULA: o uso do museu como espaço
de ensino-aprendizagem da história local 35
Anna Rafaella de Paiva Dantas
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CAPÍTULO 4
RELAÇÕES ENTRE ESPAÇO E ENSINO DE HISTÓRIA:
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CAPÍTULO 5
IMAGENS ESTEREOTIPADAS E SOCIALMENTE
RECONHECIDAS. O NORDESTE NOS ATUAIS LIVROS
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DIDÁTICOS DE HISTÓRIA 59
Enock Douglas Roberto da Silva
Paulo Augusto Tamanini
CAPÍTULO 6
A HISTÓRIA DA ÁFRICA E DOS AFRICANOS. UM DESAFIO
DO ENSINO DE HISTÓRIA PARA A EDUCAÇÃO DAS
RELAÇÕES ÉTNICO-RACIAIS 69
Francinaldo Rita da Silva
Guilherme Paiva de Carvalho
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CAPÍTULO 7
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PALMILHANDO A INSTITUCIONALIZAÇÃO DO CURSO DE
HISTÓRIA NA UNIVERSIDADE DO ESTADO DO RIO GRANDE
DO NORTE – UERN 83
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Gislânia Dias Soares
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Ocimara Fernandes Negreiros Oliveira
Paulo Augusto Tamanini
do
CAPÍTULO 8
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HISTÓRIA, PATRIMÔNIO CULTURAL E EDUCAÇÃO
CAPÍTULO 9
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AS HISTÓRIAS EM QUADRINHOS (HQS) E A SUA RELAÇÃO
rev
CAPÍTULO 10
ALUNO LOGADO, CIDADÃO CONECTADO: ensino de história e
ver dit
CAPÍTULO 11
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CAPÍTULO 13
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DIVERSIDADE E O ENSINO DE HISTÓRIA: mulheres no
processo de colonização através do filme “desmundo” 163
Silene Ferreira Claro
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CAPÍTULO 14
IMAGENS DA MULHER NOS LIVROS DIDÁTICOS HISTÓRIA.
do
UM PRIMEIRO OLHAR 177
Vanusa Maria Gomes Noronha
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Paulo Augusto Tamanini
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CAPÍTULO 15
O ENSINO DE HISTÓRIA NOS GINÁSIOS VOCACIONAIS: uma
intridução ao debate (São Paulo, 1961-1969) 187
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objetos novos, fontes inéditas fazem da História Ensinada um rosto que se
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olha, buscando aperfeiçoar o que vê, no vasto reflexo da didática e do conhe-
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cimento interdisciplinar. A História, essa velha senhora preocupada com o
tempo que já se foi, ao olhar para si não busca um conformismo entorpecente
como aquele de Narciso. Ela acredita que o reflexo que a revela insinua mo-
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dificações, melhoramentos, mudanças, aperfeiçoamentos, em sala de aula.
a
Na tentativa de descrever esse rosto tão conhecido, ao mesmo tempo
do
tão púbere, a História aqui refletida quer ser aquela que passeia nas salas de
aula, procurando um lugar junto aos alunos, tão jovens e curiosos. Discentes
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que queiram se sentar junto à velha senhora do tempo e das coisas ditas para
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confabularem sobre algo que um dia também foi presente e que, agora, se
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espelha nos Livros Didáticos. Rostos de promissores alunos e o rosto daquela
que busca outra vez, repaginar-se, para não parecer tão distante o lastro de
tempo que os separa.
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História e técnicas etc. iluminarão este percurso que formata uma obra que
tenta grafar, descrever, discorrer sobre um rosto da História no tempo e nos
ver dit
espaços escolares.
A velha senhora, auxiliada pelos seus pesquisadores, deixa-se então
op
que tenta registar uma permanência nos espaços que a ela são outorgados.
Talvez, os futuros pesquisadores e professores, os alunos de hoje, enxerga-
rão o rosto da velha senhora transmutado pelo vigor da juventude que é sempre
bem-vindo nesse tempo das aparências, tão encantadoras, mas tão fugidias!
O organizador
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CAPÍTULO 1
LEITURAS DE IMAGENS DE
CUNHO VIOLENTO NO ENSINO DE
HISTÓRIA: do estupor à aprendizagem
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Ana Meyre de Morais
Paulo Augusto Tamanini
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Segundo Hannah Arendt (1970, p. 51) “[...] a prática da violência – como
toda ação, transforma o mundo, mas a transformação mais provável por causa
dela será de um mundo mais violento”. Porque as guerras, os conflitos, as sanções,
do
os encarceramentos e todas as formas de tolhimento de liberdade são práticas
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em que a violência se impõe, modificam, por consequência, as preocupações
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de História, desde que ilustrações, gravuras, mapas, filmes, jogos etc. sejam
analisados como objetos potencialmente construtores de conhecimentos.
Contudo, na maioria dos livros didáticos, muitas imagens que abordam
momentos conflitantes apenas estão lá como coadjuvantes, reforçando este-
ticamente um texto. Ora, as imagens que abordam violências não deveriam
ser consideradas apenas como penduricalhos, preenchimentos de espaços ou
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violento em sala de aula no Ensino de História, este capítulo se servirá de
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duas ilustrações. A primeira, trata da imagem de uma menina correndo nua
após o bombardeio feito no período da Guerra do Vietnã, disponibilizada no
livro didático História sociedade & cidadania, de Alfredo Boulos Júnior.
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A segunda, aborda o atentado de 11 de setembro de 2001, quando as Torres
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Gêmeas foram atingidas, encontrado no livro História passado e presente,
de Gislane Azevedo e Reinaldo Seriacopi. As imagens serão discutidas como
do
potenciais instrumentos que despertam no aluno a criticidade para aparelhá-lo
aC
perceptivelmente a enxergar a imagem não mais como simples adereço, mas
como uma forma narrativa eivada de informações que ensinam História.
não como apenas um mero apoio ou recurso didático secundário, mas uma
linguagem composta, o que requer reflexão crítica para sua decifração. Peter
op
Burke (2004, p. 17) diz que as “imagens, assim como textos e testemunhos orais,
constituem-se numa forma importante de evidência histórica”. A diversidade
iconográfica, compreende tipos diversos de imagens, e entre elas se encontram
as que registram os atos humanos, as que configuram suas crenças, ideologias,
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de fotografias, por exemplo, possam servir também como método de Ensino
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de História mais atraente.
Para Santaella (2012, p. 80), que ao tecer sobre o ato de leitura de uma
fotografia, aclara que:
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Ler uma foto é lançar um olhar atento àquilo que a constitui como lingua-
gem visual, com as especificidades que lhe são próprias. Significa fazer
do olhar uma espécie de máquina de sentir e conhecer. Assim, uma vez
do
diante da fotografia, trata-se de buscar a unidade melódica de suas luzes,
linhas e direções, suas escalas e volumes, seus eixos e suas sombras, enfim,
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contemplar a atmosfera que ela oferta ao olhar, pois a significação imanente
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A imagem acima registra informações que aos olhos não podem ser
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negadas. O ponto de vista flagrado, não diz ser um instante casual, cintila
momento de dor. Essa fotografia é uma imagem icônica sobre a Guerra do
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1 BOULOS JÚNIOR, Alfredo. História Sociedade & Cidadania: 3 º ano. 1. ed. São Paulo: FTD, 2013.
HISTÓRIA ENSINADA: uma prosopografia do ensino de história, no Brasil 17
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Portanto, as imagens como os textos para a História têm seu papel: narrar,
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falar sobre, descrever sobre, relatar sobre. Mas não será um relato, um conto,
uma descrição, uma narrativa qualquer. Baseados nas fontes, o Historiador
e o professor trarão ao presente aquilo que se fala, se descreve e se narra de
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um acontecido. Portanto é uma reconstrução de um instante do pretérito, em
a
que a linguagem tem papel fundante na aproximação de temporalidades dife-
rentes. Tão importante quanto narrar, relatar e descrever será refletir, buscar
do
compreender e entender; perceber e exercer a capacidade de pensar sobre
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os atos, as falas e a inteligibilidade que conduzem o percurso dos homens e
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terroristas, que sequestraram quatro aviões comerciais de passageiros. Dois
desses aviões colidiram contra as torres gêmeas do complexo empresarial
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World Trade Center (Nova York), como se vê na foto, que desmoronaram.
Os atentados, ocorridos em 11 de setembro de 2001, foram responsáveis
pela morte de milhares de pessoas (AZEVEDO; SERIACOPI, 2016, p. 188).
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A imagem está posta como se a fotografia não falasse, como se não fosse
um flagrante da realidade da ação humana destruidora. O recorte do momento
do
fez da imagem um documento histórico e uma fonte de imaginações. Até por-
que, como reforça Mauad (2004, p. 35): “[...] nunca ficamos passivos diante
aC
de uma fotografia: ela incita nossa imaginação”, logo, nos fazendo refletir
tas nos manuais didáticos. Isto não quer dizer que elas não existiram. Daí se
conclui que as fotografias são mundos de afinidades mudas, densas, gélidas
(CIAVATTA, 2004, p. 45) e que obedecem a certas normativas e regras para
serem publicizadas, dependendo do lugar de exposição. E, tratando-se dos
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2 AZEVEDO, Gislane; SERIACOPI, Reinaldo. História: passado e presente. 1ano/ Ensino Médio. 1. ed. São
Paulo: Ática, 2016.
HISTÓRIA ENSINADA: uma prosopografia do ensino de história, no Brasil 19
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que possibilite o objeto iconográfico ir além de simples ilustrações, importa
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atentar para o que instrui Ivani Fazenda (2003, p. 70): “[...] o fato é que nem
sempre nos damos conta dessas parcerias”.
Considerações finais
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Na historiografia tradicional, o conhecimento histórico só era possível
do
a partir da análise das fontes que se restringiam aos documentos escritos.
No entanto, com as transformações metodológicas, o pensar historiográfico
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a presença humana ora dos fracassos, ora das vitórias. O fotógrafo é então a
testemunha, o elemento humano por trás de uma câmera que eternizou um
instante e que a História, em cada olhar o presentifica. Visualizar imagens
que remetem a situações de conflitos intensos é perceber a vida em suas der-
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REFERÊNCIAS
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ano/ Ensino Médio. 1. ed. São Paulo: Ática, 2016.
uto
BITTENCOURT, Circe Maria Fernandes. Ensino de história: fundamentos
e métodos. 3. ed. São Paulo: Cortez, 2009.
R
a
BURKE, Peter. Testemunha ocular: história e imagem. Trad. Vera Maria Xavier
do
dos Santos; rev. técnica Daniel Aarão Reis Filho. Bauru, SP: EDUSC, 2004.
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CIAVATTA, Maria. Educando o trabalhador da grande “família da fábrica”:
A fotografia como fonte histórica. In: CIAVATTA, Maria; ALVES, Nilda
lus, 2003.
or
2004. p. 19-36.
ver dit
mentos, 2012.
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CAPÍTULO 2
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Simone Maria da Rocha
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A arte de lembrar possibilita ao sujeito uma conexão com o tempo, in-
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centivando a reflexibilidade das vivências motivadas pelas experiências de
a
vida e de formação. O conhecimento sobre histórias e experiências passadas
torna-se relevante para a compreensão dos rumos tomados pela educação do
do
presente, deixando previsíveis alguns acontecimentos futuros. Assim, temos
muito a refletir sobre a trajetória da educação e a construção da identidade
aC
docente, de modo a entender que a educação se reflete nos indivíduos provo-
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são
cando a necessidade de transformação e a superação do medo da mudança.
Rememorar as salas de aula antigas, as práticas pedagógicas dos profes-
sores, o processo de aprendizagem dos alunos pode contribuir na compreensão
de como aconteceu a transição entre a antiga escola e a nova escola, assim
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ações dos sujeitos no passado, pois o tempo histórico condiz com os grupos
humanos, os quais são responsáveis pelas mudanças sociais e, também, são
modificados por elas.
Convidamos quatro professoras de uma escola do ensino fundamental da
rede municipal de ensino de Mossoró-RN para colaborar em nossas pesquisas,
priorizando as que já tiveram experiências em escolas públicas e privadas. As
professoras foram incentivadas a escrever sobre si, a rememorar e construir as
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lembranças do seu tempo escolar, evidenciando as temáticas escola-família-
uto
-aprendizagem; a escola tendo como cenário o contexto inclusivo; a professora
no início de carreira e a professora que me tornei. Assim, a narrativa escrita
fornece no próprio movimento da sua escrita, fatos tangíveis, estados de
R
espírito, sensibilidades, pensamentos a propósito de emoções e sentimentos,
a
bem como atribuições de valores (JOSSO, 2004, p. 186).
Nosso objetivo centra-se nas reflexões e análises das narrativas e escritas
do
dos professores diante do cenário das salas de aula e do processo de ensino
aC
aprendizagem do passado, da infância; e sua relação, comparação ou reconhe-
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enfraquecer e, também, para completar o que sabemos de um evento sobre
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o qual já temos alguma informação (HALBWACHS, 2006, p. 29). De certo,
temos muitas informações bibliográficas, e até algumas lembranças de como
eram as salas de aula e o processo de ensino, o que é relacionado as lembranças
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a
da infância, muitas vezes fazemos essa relação e a comparação com os dias
atuais, no entanto, buscamos nesse trabalho fortalecer a memória individual
do
fazendo uso da memória coletiva.
Nas palavras de Halbwachs:
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afetar, ou seja, a relação de algo que lhe foi proporcionado e o momento como
compreendeu esse percurso de experiência de vida e de formação. A imersão
no passado conduz movimentos de significação, principalmente a algumas
respostas de como estamos compreendendo e respondendo as exigências
proporcionada no ser professora e sua atuação nos dias atuais.
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carreira, a professora que me tornei; analisando os percursos de interação es-
uto
cola-família-aprendizagem- nos processos de formação profissional, também
relacionando, a perspectiva inclusiva no contexto escolar. Realizamos três
encontros. O primeiro encontro se deu sob a forma de convite explicando a
R
a
proposta e o desenvolvimento do trabalho; o segundo foi o encontro de sen-
sibilização sob a relevância de rememorar o tempo, narrar e torna-se autor da
sua própria história de vida e formação evidenciando o percurso profissional
do
e a história de todo esse percurso. No terceiro encontro, formamos uma mesa
aC
redonda e desenvolvemos o trabalho reflexivo em três momentos: a escrita
de si, a socialização das escritas e a análise das reflexões.
[...] Comecei minha vida escolar aos sete anos, devido a problemas alérgicos
e respiratórios. [...] Meus pais tinham o ensino fundamental incompleto,
mas mesmo assim me ensinavam o que sabiam, minha mãe utilizava a
metodologia tradicional que enfatizava repetições. Quando fui pela pri-
meira vez para a escola me senti triste, desprotegida e insegura isso me
fez chorar desesperadamente. O fato da professora não ter valorizado esse
HISTÓRIA ENSINADA: uma prosopografia do ensino de história, no Brasil 25
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contribuir para a minha formação humana. Continuava tímida e sentia-
uto
-me incapaz de organizar a fala para interagir, a professora continuava
fria, distante exigente e sem considerar as singularidades de seus alunos
(MARGARIDA, 2019).
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Nesta narrativa, a professora Margarida deu ênfase a fragilidade de sua
saúde na infância e essencialmente a sua primeira experiência com a instituição
escolar, a qual não foi tão satisfatória. Em sua fala, fica visível que o método
do
tradicional de ensino, no qual o/a professor/a cumpre o papel de transmissor
aC
de conhecimento e o/a aluno/a de depositário de informação era predominante
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[...] O ensino tradicional não proporcionava oportunidades para aqueles que
não acompanhavam os padrões esperados, diante das dificuldades dos alu-
nos muitos nãos eram acompanhados individualmente, como as atividades
eram homogenias, alguns alunos eram castigados por não concluírem suas
R
tarefas, rotulados de desatentos e preguiçosos. Os alunos com deficiências
a
geralmente estudavam na APAE. Atualmente, como professora vejo que
ocorreram muitas mudanças no cenário inclusivo, as salas regulares re-
do
cebem alunos com deficiência e tem se esforçado na medida do possível
para atender as especificidades desses alunos. Apesar de contar com essas
aC
inovações as famílias não tem contribuído de forma significativa e muitas
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Dando continuidade nas reflexões, a professora Jasmim iniciou de uma
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forma bem sentimental falando da sua infância:
do
leitura e na escrita. Era com muita alegria que íamos para casa das professoras
que ficava a poucos metros da nossa casa, aprendemos as letras através da
aC
carta do ABC (cartilha). Depois fomos estudar em outra escola, que também
funcionava na casa das professoras, mais distante de nossa casa. Lembro que
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são
lá era um salão e sentávamos em banco de madeira ao redor de uma grande
mesa e elas tomavam as nossas lições, usavam uma cartilha para ensinar a
juntar as sílabas, passava atividade no caderno de cobrir e copiar, também
atividades de algumas operações de matemática. Naquela época, ajudávamos
a nossa mãe nas obrigações de casa, mas também estudávamos e brincávamos
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escola da zona rural distante há mais de vinte quilômetros da cidade, foi
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uma experiência diferente, pois estava há vários anos trabalhando com
alunos com outro nível de ensino. A escola funcionava em um galpão,
sem a mínima estrutura física, em dois turnos e com duas salas de aulas,
separados por tabiques (parede divisória de madeira), na época não tinha
R
coordenação pedagógica, era por polo, mesmo enfrentando dificuldade
a
com acesso a transporte, falta de material, eu gostava muito de trabalhar
nessa escola [...] Fiquei trabalhando lá por dois anos, depois construíram
do
uma nova estrutura e permaneci até cinco anos. Consegui uma escola na
cidade e estou há muitos anos trabalhando na mesma escola, com muita
aC
satisfação e afetividade. [...] Com relação a inclusão tive pouca experiência,
quando trabalhava na zona rural tive um aluno surdo e ele se comunicava
duas realidades acerca das instituições escolares com as quais teve contato,
a escola pública e a escola privada. Ela apresenta a escola particular como
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a importância da prática colaborativa do/a professor/a, auxiliar de sala, pro-
uto
fessora do atendimento educacional especializado e a família. Ela iniciou suas
narrativas evidenciando o seu afeto desde a infância com a profissão docente,
expressando amorosidade com a educação em cada narrativa.
R
a
Morava na zona rural e aos cinco anos fui morar com a minha tia na ci-
dade, estudei na alfabetização com uma professora maravilhosa, eu era
do
uma aluna muito dedicada gostava muito de estudar e também de ajudar
as professoras a escrever a tarefa na lousa [...] Brincava de ser professora,
aC
cresci nesse pensamento, a minha mãe era professora. Na adolescência
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mos o tempo da segregação. Hoje nas escolas que leciono esse cenário é
diferente, a sala de aula é diversificada e temos alunos com deficiências,
ver dit
principalmente saber lidar com a violência presente nas escolas, que é real-
mente, uma das grandes preocupações atuais.
A professora Lírio iniciou esclarecendo a todas que estava sensibilizada
com aquele momento e que a memória das colegas tinha estimulado as lem-
branças do seu tempo escolar. [...] Isto significa que, antes de ser falada ou
escrita, existe uma certa linguagem sob a forma de armazenamento de infor-
mações na nossa memória (LE GOFF, 2003, p. 421). Lírio também inicia a
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escrita de si demonstrando o seu afeto pelos estudos:
uto
[...] Morava em uma cidade pequena do RN, meus pais eram pobres e tive
minhas primeiras lições escolares com meus avós. [...] Quando fui para
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uma escola já conhecia o alfabeto e escrevia o meu nome, a escola era
a
como se fosse a minha segunda casa, era quieta e atenta as aulas, sempre
tirava dez. Na época, a escola tinha muitas normas e tudo devia ter or-
ganização e obediência: filas, cantar o hino e respeitar a todos da escola
do
chamando de senhoras e senhores, principalmente os professores. As vezes
lembro de todas as dificuldades que passei, essas lembranças me trazem
aC
saudades, principalmente a certeza de que gerou muita aprendizagem,
de ter estudado com uma aluna que sofria de epilepsia, no momento das
convulsões a gente tinha medo, mas depois todos respeitavam e ajudavam
ver dit
Em suas reflexões, Lírio coloca que sua opção pelo magistério teve a
op
influência de seu pai, mas quando ela começou a lecionar veio a certeza que
estava na profissão certa, de que deveria perseverar na opção de ensinar e
compartilhar saberes. Nas reflexões das professoras percebe-se visões que
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tratados em sala, sendo assim, vestígios do método tradicional onde segundo
uto
Libâneo (2010, p. 8): “discrimina os pobres, levando o abandono escolar e a
resistência violenta dos alunos” se mostrava recorrente.
Considerações finais
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Por meio do ato de rememorar preservamos fatores relevantes para a
do
formação da essência humana, tomamos consciência do tempo, de já ter-
aC
mos vivido um passado e com isso entender, através do contexto histórico
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mana, com isso, fica visível que para aperfeiçoar as suas práticas elas buscam
novos conhecimentos, formações continuadas, compartilhamento de saberes e
afetividade para compreender a singularidade de cada aluno. Sobre a inclusão
todas reconheceram avanços, principalmente com a implantação das políticas
de educação na perspectiva inclusiva. Legalmente superamos a segregação
com relação ao ensino dos alunos com deficiência, porém ainda temos que
lutar por muitas conquistas e superar alguns desafios diante de uma sociedade
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o contexto histórico, ou seja, as transformações sociais, políticas e econômicas
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mudam substancialmente as concepções e os paradigmas educacionais. A partir
das reflexões, as professoras entraram em um processo de reinventar-se, de
dar sentido a tudo que viveu, valorizar as oportunidades hoje e esperançar no
R
amanhã dias melhores, de forma que todos possam fazer parte desse processo:
a
a escola, os alunos, os saberes e o professores. De acordo com Passeggi (2011)
o ser humano tem a capacidade de ressignificar as experiências, configuran-
do
do-os como seres autopoéticos porque são capazes de se reinventar.
aC
REFERÊNCIAS
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JOSSO, Marie-Cristhine. Experiências de vida e formação. São Paulo:
Cortez, 2004.
R
a
LE GOFF, Jacques. História e memória. Trad. Irene Ferreira, Bernardo
Leitão e Suzana Ferreira Borges. Campinas, SP: Editora da Unicamp, 2003.
do
p. 207-233.
aC
LIBÂNEO, José Carlos. A escola brasileira em face de um dualismo
perverso: escola do conhecimento para os ricos, escola do acolhimento
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são
social para os pobres. Pontifícia Universidade Católica de Goiás. Uberlân-
dia, jul. 2010.
Associados, 1988.
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CAPÍTULO 3
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Anna Rafaella de Paiva Dantas
Cléia Maria Alves
Francisco das Chagas Silva Souza
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Atualmente, uma das grandes preocupações dos professores está no fato
de os alunos, por muitas vezes, sentirem dificuldades em compreender os
do
motivos pelos quais estudam História. Em alguns casos, isso ocorre quando
aC
as abordagens em sala de aula evidenciam fatos que são muito distantes da
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que a História não é algo que se refere apenas ao passado, mas que ela está
direta ou indiretamente relacionada com vivência do presente.
or
aproximação dos educandos com fatos históricos locais, bem como o olhar
sobre diferentes fontes históricas que são disponibilizadas, para que, dessa
op
de ensino-aprendizagem
r
V
As discussões também davam ênfase no papel da História, enquanto
uto
componente curricular, para contribuir na formação de alunos autônomos,
partícipes e emancipados. Não cabia mais à sala de aula se restringir a um
espaço de reprodução de conteúdo, mas a um lugar no qual a troca de sabe-
R
res entre os alunos e os professores pudesse favorecer a construção de novas
a
reflexões sobre a vida prática.
Assim, tornou-se indispensável discutir e refletir sobre os objetivos e as
do
propostas curriculares da História. Aos poucos, tais propostas foram influen-
ciadas pelas diversas tendências historiográficas, e, com isso, muitos pesqui-
aC
parte dos estudantes, acerca da sua própria formação enquanto ser histórico e
político, pois, é comum perceber, na sala de aula, a resistência na desconstrução
dos estereótipos e a desvalorização da memória dos grupos locais.
Diante disso, estimular as capacidades do educando no sentido da refle-
xão, observação e posicionamentos, frente à realidade vivenciada, tornaram-se
características indispensáveis do processo ensino-aprendizagem da História.
As práticas interdisciplinares passam a serem incentivadas no sentido de
HISTÓRIA ENSINADA: uma prosopografia do ensino de história, no Brasil 37
r
V
ao infinito o território do saber. Cada especialista ocupou, como proprietário
uto
privado seu minifúndio de saber, onde passa a exercer [...] seu mini-poder”.
Porém, o autor esclarece que o incentivo à interdisciplinaridade
R
[...] não se trata de tentarmos buscar uma superdisciplina ou uma espécie
a
de super-ciência capaz de dar conta da complexidade dos problemas. Os
“óculos” de uma disciplina são totalmente impotentes para estudar os
do
problemas em sua complexidade. Creio ser ilusória a atitude pretendendo
que uma abordagem interdisciplinar construirá uma nova representação
aC
do problema que seria muito mais 40 adequada no absoluto, vale dizer,
independentemente de todo critério particular. Por exemplo, não é ver-
Editora CRV - versão para revisão do autor - Proibida a impressão
são
dade que a pura associação de abordagens da biologia, da psicologia, da
sociologia, etc. pode nos fornecer uma “ciência” interdisciplinar da saúde
e que seria mais adequada, mais objetiva e mais universal, pois exami-
naria muitos mais aspectos do problema. Tal abordagem interdisciplinar
não cria uma espécie de “super-ciência” mais objetiva que as outras. Ela
i
como ponto de partida a realidade prática e vivência dos alunos. Essa estratégia
ver dit
[...] a História Local foi tomada como um dos eixos temáticos dos conteúdos
de todas as séries iniciais da escola fundamental e como perspectiva metodo-
lógica em todas as séries da escola básica. O objetivo era que a adoção dessas
perspectivas pudesse contribuir para a construção da noção de pertencimento
do aluno a um determinado grupo social e cultural. [...] A História Local foi
valorizada também como estudo do meio (SCHMIDT, 2007, p. 189).
38
r
V
atores da História, acrescentando-lhes vivências e concretudes para a sua
uto
imaginação” (BRASIL, 1997, p. 90).
Bittencourt (2009) explica que os estudos referentes ao meio social
assumem uma tarefa de propiciar vivências sociais com diferentes grupos e,
R
ao mesmo tempo, estimula a interdisciplinaridade nas propostas de ensino.
a
Para as disciplinas de História, Geografia e Artes o “meio social e físico”
do
corresponde a um laboratório de ensino. A sociedade, em suas relações
temporais e espaciais, normalmente apresenta por textos escritos ou pela
aC
iconografia, situa-se em outra dimensão e profundidade ao ser observada
relação à disciplina História, apresentam alternativas para que haja uma me-
or
r
V
A construção da identidade social relaciona-se com a consciência que se
uto
tem de si mesmo. De acordo com Neves, (1997, p. 15), “[...] essa consciên-
cia supõe um reconhecimento do mundo no qual se existe e atua”. Assim, a
construção da identidade social é compreendida quando o sujeito se reconhece
R
como ser pertencente a determinado grupo social e a sua localidade.
a
Nessa perspectiva, é relevante o desenvolvimento de práticas pedagógicas
que retratem, na sala de aula, a história pessoal e dos grupos de convívio dos
do
educandos, pois, assim, favorecerá a construção das identidades e a compreen-
são das relações que os cercam. Um forte elo para o desenvolvimento dessas
aC
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r
V
atualidade, refere-se ao uso de fontes históricas como instrumento pedagógico
uto
para a construção do conhecimento. O uso didático de fontes históricas constitue-
-se como um instrumento pedagógico relevante por favorecer o desenvolvimento
intelectual dos alunos, através de situações concretas do passado.
R
Nesta perspectiva, o uso do espaço museológico no ensino de História,
a
constitui-se como um importante aliado que auxilia na construção do conhe-
cimento histórico e aprendizagem do aluno. Desse modo, “[...] os objetos
do
de museu que compõem a cultura material, são portadores de informações
sobre costumes, técnicas, condições econômicas, ritos e crenças dos nossos
aC
específicas e identitárias.
Para Pierre Nora, os museus de história constituem-se em lugares de me-
mória, porque assumem a tarefa de difundir determinada versão dos eventos
E
sã
r
V
terial expostos no museu, contribuem para a observação, descoberta, análise
uto
e transformação dos conceitos históricos apresentados na sala de aula, pois:
R
com temas relativos a natureza, sociedade, política, artes, religião. Leva a
a
conhecer espaços e tempos, próximos e distantes, estranhos e familiares, e
a refletir sobre eles; aguça a percepção por meio da linguagem dos objetos
e da iconografia, desafia o pensamento histórico com base na visualização
do
das mudanças históricas, permitindo repensar o cotidiano (ABUD; SILVA;
ALVES, 2010, p. 136).
aC
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são
Desse modo, o uso do museu como espaço pedagógico propicia opor-
tunidades concretas de significados, pois possibilita ao aluno refletir sobre o
seu papel na sociedade, contribuindo para a construção da identidade cultural
e o exercício da cidadania. Para Schmidt e Cainelli (2007), ensinar História é
i
r
V
para a construção do conhecimento.
uto
O educador, ao adotar práticas educativas que conduzem a criticidade
dos alunos, remetem a ideia de que ensinar não é transferir conhecimento,
conforme menciona Paulo Freire. Para este autor: “Quando entro em sala de
R
aula devo estar sendo um ser aberto a indagações, à curiosidade, às perguntas
a
dos alunos, às suas inibições; um ser crítico e inquiridor, inquieto em face da
tarefa que tenho – a de ensinar e não de transferir conhecimento” (1996, p. 47).
do
O uso do museu na sala de aula, possibilita ao aluno, novas leituras e
interpretações da cultura material, e que através desses mecanismos possam
aC
exposição museológica:
or
que os alunos percebam que os objetos não são apenas guardiões da memó-
ria, mas portadores de uma informação sobre o passado, que possibilitam a
construção do conhecimento histórico.
De acordo com Abud, Silva e Alves (2010), durante a aula no museu, é
importante que a exposição seja explorada de diversas maneiras, tais como:
o levantamento de hipótese e identificação, a investigação, a relação entre o
mundo das coisas e as pessoas que as produziram, a interpretação da linguagem
r
V
dos objetos e o momento da reinvenção, de dar significados às informações,
uto
críticas e conhecimentos construídos durante o trabalho.
É importante ressaltar que, a volta para a escola também é um momento
em que os alunos explicitam questões, dúvidas e curiosidades. Portanto, é
R
importante que o professor utilize recursos e linguagens diferenciadas, tais
a
como, rodas de conversas, levantar novas questões e propor pesquisas sobre
os temas de interesses dos estudantes (ABUD; SILVA; ALVES, 2010).
do
Desse modo, o uso do museu na sala possui um potencial educativo,
aC
tendo em vista que não devemos considerar apenas a atenção centrada nas
exposições, mas um recurso didático, capaz de promover a sensibilidade do
Editora CRV - versão para revisão do autor - Proibida a impressão
são
aluno, incitando à construção de um conhecimento histórico crítico e reflexivo.
Considerações finais
i
rev
REFERÊNCIAS
ABUD, Kátia Maria; SILVA, André Chaves de Melo; ALVES, Ronaldo Car-
doso. Ensino de História. São Paulo: Coleção Ideias em Ação, 2010.
r
V
visitar museus. In: BITTENCOURT, Circe (Org.). O saber histórico na sala
uto
de aula. 11. ed. São Paulo: Contexto, 1999. p. 104-116.
R
a
ed. São Paulo: Cortez, 2009.
do
taria de Educação Fundamental. Brasília: MEC/SEF, 1997.
aC
r
V
de História: sujeitos, saberes e práticas. Rio de Janeiro: Mauad X/FAPERJ,
uto
2007. p. 187-198.
R
a
do
aC
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são i
rev
or
ara
ver dit
op
E
sã
E
ver dit
sã or op
ara aC
rev R
i são V
do
a uto
r
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CAPÍTULO 4
r
V
uto
Daniel Syllas Pereira Sousa
Marcelo Bezerra de Morais
R
a
Grande parte da história do ser humano se constituiu na busca pela con-
quista de novos territórios. Nos primórdios de sua aventura, a procura cons-
do
tante por alimentos e a busca por abrigo e proteção para enfrentar as longas
noites e os perigos ocasionados pelos animais fizeram dele uma espécie que
aC
vagava pelo mundo, aventurando-se por regiões desconhecidas e inóspitas.
Editora CRV - versão para revisão do autor - Proibida a impressão
Segundo Harari (2016, p. 87) “tudo isso mudou há cerca de 10 mil anos,
rev
(2016, p. 89), “assim que isso ocorreu, eles abandonaram alegremente a vida
ver dit
O espaço por eles habitados, nesse processo, passou a ter novo signifi-
cado: de propriedade, de intimidade, de importância para o desenvolvimento
de um grupo de pessoas. Os espaços deixaram de ter uma ligação ínfima com
E
r
V
outras tantas experiências, que os sujeitos evoluem e constroem suas me-
uto
mórias coletivas, produzindo, também daí, histórias (HALBWACHS, 2006;
ALBUQUERQUE JR., 2009).
A experiência produzida pelos sujeitos é repleta de significados e cons-
R
truções que, muitas vezes, tornam-se valoráveis para gerações futuras, trans-
a
formando-as em conhecimentos necessários para compreender as trajetórias
que proporcionaram toda a produção cultural. De outro modo, buscam com-
do
preender o que foi pensado, decidido, construído, alterado, imaginado para
a constituições das significações de um presente, remetendo, muitas vezes e
aC
A busca por uma outra definição de espaço, tanto questionada por Massey
(2008) em Pelo espaço: uma nova política da espacialidade, nos remete a
imaginar associações com outras áreas do conhecimento. Assim, estabelecer
essas aproximações leva-nos a compreender as possibilidades de produção
do conhecimento histórico.
Seguindo a perspectiva de Massey (2008) sobre espaço, temos que ele
deixa de situar-se na ordem conceitual do que é estático, fixo, imóvel, como
HISTÓRIA ENSINADA: uma prosopografia do ensino de história, no Brasil 49
r
V
social: da coexistência contemporânea de outros (MASSEY, 2008, p. 15).
uto
As aproximações que pretendemos do espaço com o conhecimento
histórico vão além das construções territoriais e físicas de um determinado
R
lugar no tempo, passam a atravessar aspectos da produção da subjetividade,
a
das trajetórias, dos percursos elaborados pelos sujeitos em cada jornada e em
cada período da história. São construções simbólicas, experiências, memórias,
do
bem como a produção cultural, linguagens, crenças, costumes.
aC
Nesse sentido, visualizamos o espaço como uma dimensão estruturante
Editora CRV - versão para revisão do autor - Proibida a impressão
tiva que a história é construída, que assume com vigor sua posição científica.
O espaço é também aquele que age sobre os sujeitos, que causa mudanças
na sua formação, que afeta tanto quanto é afetado. É aquele que soa a própria
50
r
V
Devemos tomar as relações espaciais como relações políticas e os discur-
uto
sos sobre o espaço como o discurso da política dos espaços, resgatando
para a política e para a história, o que nos aparece como natural, como
nossas fronteiras espaciais, nossas regiões. O espaço não preexiste a uma
sociedade que o encarna (ALBUQUERQUE, 2011, p. 35).
R
a
Compreendemos, dessa forma, que espaço e história como coexistentes, e
intrinsecamente relacionadas, se posicionam em campos correlacionados, por
do
vezes nos mesmos discursos, dimensionam as produções culturais, os sujeitos
aC
e suas relações com os outros sujeitos na construção de suas narrativas. Assim,
afirmamos nossa justificativa discursando que o foco dessa aproximação é o
turistas de outros países como Portugal, Noruega, Suíça, que vem a nossa
terra se deleitar com as nossas belezas e aproveitam para conhecer a nossa
história. Pessoas de cidades do nosso estado também tem frequentado bas-
tante o museu, Apodi, Mossoró, Baraúnas, Natal, Açu, Grossos, Currais
Novos e outras. Por mês temos uma frequência de mais de 200 visitantes
(REBOUÇAS, Máximo. Entrevista realizada no dia 07/11/2018 por Daniel
Syllas. Entrevista escrita disponível no arquivo dos pesquisadores).
HISTÓRIA ENSINADA: uma prosopografia do ensino de história, no Brasil 51
r
V
de uma escola da zona rural do município na qual o proprietário do museu
uto
era professor. O projeto buscava uma exposição com o tema “Resgatando a
história de Areia Branca”. Na oportunidade, o professor Máximo Rebouças
teve a iniciativa de recolher artefatos antigos pertencentes a pessoas da co-
R
munidade para compor a exposição. “Para minha surpresa consegui muitas
a
relíquias que chamei de pepitas, como documentos, fotografias, objetos de
várias utilidades, moedas e cédulas antigas, disco de vinil etc.”, diz o profes-
do
sor. A exposição foi um sucesso e fortaleceu o interesse em colecionar esses
aC
artefatos e em fundar o museu.
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r
V
padres, marítimos, profissionais da saúde, professores, empresas e instituições
uto
que se instalaram na cidade são lembrados através de representações expostas em
peças, documentos e objetos pessoais, como é o caso do dormitório da professora
Geralda Cruz, primeira professora de matemática da cidade, cujo nome atualmente
R
é perpetuado por denominar uma das escolas municipais de Areia Branca.
a
É possível perceber que as homenagens são muitas e que não estão
simbolizadas somente nas personalidades e autoridades que fiseram parte da
do
história do município. Do político ao pescador, do professor ao fotógrafo,
do padre ao barbeiro, de espaços públicos à instituições privadas, muitos
aC
são lembrados por meio dos pertences, posições ou serviços prestados à so-
ças não carrega consigo somente a história da cidade de Areia Branca. Por
trás de uma história oficial do município são compiladas diversas memórias
outras, não oficiais, experiências diferenciadas, visões, hábitos e costumes
deixados como lembranças e retratados em objetos e artefatos que, em posse
E
sã
r
V
Compreendemos que esse espaço assume o cenário de produtor de
uto
memórias quando da sua relação com os acontecimentos históricos, anula a
distância e o tempo da memória e das narrativas ainda pronunciadas pelos
objetos do museu, possibiltando também a potente criação de histórias. Desse
R
modo, temos um espaço vivo que pulsa e forma, afeta e transforma, como
a
proposto por Massey (2008).
A memória de um povo permanece atrelada aos objetos e artefatos que
do
fizeram parte da vida de cada sujeito. Dessa forma, o acervo pode contribuir
para a compreensão da historicidade de um povo e de um lugar.
aC
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r
V
de grande parcela da população. Dessa forma, uma história “oficial” é con-
uto
cretizada em muitos currículos de ensino e enaltece os fatos em particular e
oculta a participação coletiva da sociedade nos eventos históricos.
Sendo assim, esse tipo de história perde a sua dinâmica temporal, e fica
R
presa a um passado inalcançável, distante de se lembrar e de vinculá-lo à rea-
a
lidade. Com isso, a história desvincula-se da memória, de sua autenticidade e
das possíveis “verdades” que carrega e do contexto social do povo.
do
Essa perspectiva de ensino de história acima é distinta da que pretende-
aC
mos defender. Abordamos uma história ensinada que dê sentido ao passado
e ao presente, e proporcione reflexões para a construção de um futuro. Ad-
r
V
nobreza e aos grandes feitos. Segundo Julião (2006, p. 22 apud SILVA, 2015,
uto
p. 254), “esses museus eram caracterizados pelas pretensões enciclopédias”,
objetivando-se como grandes repositórios de curiosidades.
Em Silva (2015), podemos perceber que nas primeiras décadas do século
R
XX os museus passam a assumir princípios pedagógicos, sobretudo, no que
a
se refere a construção e fortalecimento do sentimento pátrio. A partir daí
esse distanciamento entre os espaços museológicos e o povo começam a ser
do
encurtados e ganham maior proximidade na atualidade.
aC
Um dos principais objetivos definidos nos PCN’s de história dos anos
Editora CRV - versão para revisão do autor - Proibida a impressão
são
iniciais do ensino fundamental, diz respeito à questão da valorização das
diversas formas culturais existentes e também a relação entre passado e
presente. Sendo assim, seriam os museus, um lugar de grande contribuição
para as aulas de histórias, além de torná-las mais práticas e dinâmicas,
porque a criança não apenas escutaria sobre determinado conteúdo, ela
i
rev
estaria entrando em contato com artefatos de sua cultura que possam ainda
lhes parecer estranhos (SANTOS, 2012, p. 3).
or
Enxergar nos museus espaços que podem ocupar função social junto
à população requer pensá-lo como lugar de conhecimento, de vivência, de
56
r
V
de História com ações significativas para a construção do conhecimento dos
uto
acontecimentos históricos, possiblitanto reflexões a respeitos de práticas
condizentes com as dos sujeitos envolvidos no processo de ensino. Logo,
nessa direção, discussamos com o estreitamento das relações entre espaço e
R
os artefatos do museu que atravessaram espaços outros e tempos passados,
a
pois compreendemos ser elementos constitutivos nos processos históricos e
carregados de representatividade.
do
De modo mais geral, ao se confrontarem com os objetos museológicos,
aC
em que se misturam a memória imbuída nos objetos do museu e os espaços,
Considerações finais
ara
REFERÊNCIAS
r
V
uto
BARROS, Carlos Henrique Farias de. Ensino de História, Memória e História
Local. Criar Educação, Campina Grande, PB, Ediunesc, v. 2, n. 2, p. 1-23,
jul./dez. 2013.
R
a
BITTENCOURT, Circe Maria Fernandes. Ensino de História: fundamentos
do
e métodos. São Paulo: Cortez, 2008.
aC
BLAINEY, Geoffrey. Uma breve história do mundo. São Paulo: Editora
Editora CRV - versão para revisão do autor - Proibida a impressão
dez. 1995.
r
V
n. 4, p. 5-23, 2015.
uto
ROZA, Luciano Magela. Heterogeneidade temática e usos da memória de uma
experiência histórica: uma visita ao Museu Digital da Memória Afro-Brasi-
R
leira e Africana. Revista História Hoje, Marília, SP, v. 3, n. 6, p. 223-238,
a
jul./dez. 2014.
do
SANTOS, Mileide Borges Adalberto. Memória e o ensino de história. In: VI
aC
COLÓQUIO INTERNACIONAL EDUCAÇÃO E CONTEMPORANEI-
IMAGENS ESTEREOTIPADAS E
SOCIALMENTE RECONHECIDAS.
O NORDESTE NOS ATUAIS LIVROS
r
V
DIDÁTICOS DE HISTÓRIA
uto
Enock Douglas Roberto da Silva
Paulo Augusto Tamanini
R
a
As escolas da Rede Pública de Ensino recebem, periodicamente, as obras
do
aprovadas pelo Programa Nacional do Livro Didático – PNLD, adquiridas e
distribuídas pelo Ministério da Educação-MEC, por meio do Fundo Nacio-
aC
nal de Desenvolvimento da Educação-FNDE. Não há dúvida que os Livros
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são
passaram, antes de chegar às mãos dos professores e alunos por criteriosa
avaliação e tiveram aval da Secretaria da Educação Básica de cada Estado
da Federação. Neste capítulo, utilizamos como fonte de análise as coleções
de livros didáticos de História que fazem parte do Programa Nacional do
i
XXI, que vivem em um mundo conectado pela internet e pelos telefones ce-
lulares, dominado pelas imagens e pela explosão de informações que chegam
via web. São tantos os conteúdos disponíveis na internet que, quando há ne-
op
r
V
ênfase na abordagem política e econômica.
uto
Imagens de um Nordeste estereotipado
R
Todas as imagens que constam neste tópico pertencem às já supra-
a
citadas coleções de livros didáticos. A figura abaixo, situa-se à página 49
do livro HISTÓRIA, 8º ano da Coleção Integralis, em que se encontram
do
representadas as principais áreas produtoras de açúcar no Brasil colônia.
A narrativa confirma que o Nordeste se destacou como o grande produtor
aC
dessa que foi uma das primeiras riquezas do país. Mostra que a produção
r
V
“ocidental” do Norte, provocada principalmente pela preocupação com a
uto
migração de “nordestinos” para a extração da borracha e o perigo que isto
acarreta para o suprimento de trabalhadores para as lavouras tradicionais
do Nordeste (ALBUQUERQUE JÚNIOR, 1999, p. 69).
R
Entende-se que nesse momento o Nordeste se oficializa como região
a
de fato e direito mesmo que a necessidade de superação fosse visivelmente
do
enorme, no processo de sua institucionalização, pois, antes acostumados ao
poder oligárquico do Estado do Norte. Como revela o mesmo autor em:
aC
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r
V
discurso regionalista é refletida por Durval Muniz de Albuquerque Júnior, que
uto
refle sobre a construção de estereótipos e de práticas que legitimam discursos
preconcebidos (ALBUQUERQUE JR., 2011).
Reforça a ideia de messianismo o trecho encontrado no livro de História
R
da coleção Integralis, 9º ano, especialmente quando trata de Antônio Conse-
a
lheiro e o Arraial de Canudos:
do
A ideia de região como espaço Nordeste se reporta a elementos de caráter
social e político, que tem no tradicional e no místico, a formação de sua
aC
população e, das relações sociais e culturais que fizeram e que fazem
acontece com o termo “Nordeste açucareiro”: será que toda a região Nordeste
era produtora da cana de açúcar? Ou seria apenas uma faixa litorânea? Há
também generalizações e representações distorcidas relacionadas a cultura,
E
sã
r
V
uto
De um lanço de vista geral, poder-se-ia fixar o cangaceirismo clânico ou
agrário e o cangaceirismo político. Ou seja, o que decorreu de concen-
tração dos núcleos em fazendas, com seus agregados, pequenos feudos
que rivalizaram em lutas incruentas, nos tempos coloniais. E, já dento da
R
a
República, lutas por motivos políticos entre coronéis sertanejos dominando
os municípios, influindo nas eleições, tendo as urnas como motivo central
das competições. Bem sabemos que, no fundo, as molas são econômicas,
do
e revertem nesse sentido. Nos últimos quartéis do século, o banditismo,
que se desprendeu da propriedade rural, por cissiparidade, autonomizou-se
aC
em grupos volantes, agindo por conta própria; e aceitando empreitadas
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r
V
suposta inviolabilidade.
uto
Figura 3 – Imagem do bando de Lampião
R
a
do
aC
r
V
imagéticos e discursivos acerca da região passa pela compreensão das rela-
uto
ções de poder e de saber que produziram clichês e inventaram o Nordeste e
os nordestinos.
Considerações finais
R
a
O livro didático de História, esse recurso que em muitas situações se
do
torna o único disponibilizado aos docentes da rede pública para o ensino,
aC
também causa reflexões acerca de sua funcionalidade, elaboração e mecanis-
mos políticos envolvidos na sua produção. Capítulos repletos de informações
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são
sistematizadas, tentam dar conta de um percurso historiográfico geral, com
o auxílio de uma iconografia pouco explorada pela acuracidade dos pesqui-
sadores e professores.
i
tamente quando do manuseio das páginas que recontam o que um dia poderia
ter sido o passado. No comprometimento de narrar o acontecido, um tanto
or
de figuras se imposta. Por mais numerosas que sejam, estão ali para além de
ilustrar, de preencher vazios ou de apenas reforçar o já escrito. As imagens
ara
passado. Aliás, a forma apenas textual de ensinar causa tédio, cria um dis-
tanciamento da disciplina com a realidade presente e faz os alunos odiarem
op
a disciplina de História!
O mesmo acontece com a falta de valorização dos temas regionais e
locais que muito poderiam enriquecer os conteúdos de História, valorizando
E
sã
r
V
dimensão continental. Quem sabe, esses que são os atuais alunos de História
uto
e que sentem falta dos conteúdos regionais em seus livros, poderão ser os
futuros profissionais de Ensino que se notabilizarão por sua criatividade e por
valorizar a História Local!
R
a
do
aC
REFERÊNCIAS
______. Fazer defeitos nas memórias: para que servem o ensino e a escrita da
r
V
história? In: GONÇALVES, M. de A. et al. (Org.). Qual o valor da história
uto
hoje? Rio de Janeiro: Editora FGV, 2012.
R
a
culino (Nordeste 1920-1940). Maceió: Catavento, 2003.
do
ANDRADE M. C. de. A Terra e o Homem no Nordeste. 2. ed. São Paulo:
Brasiliense, 2014.
aC
Editora CRV - versão para revisão do autor - Proibida a impressão
Paulo, 2004.
r
V
Coleções livros didáticos analisados
uto
BRAICK, Patrícia Ramos. Estudar História. Editora Moderna, componente
curricular: História, Ensino Fundamental. 1. ed. PNLD 2014, 2015, 2016.
R
a
SANTIAGO, Pedro; CERQUEIRA, Célia. Coleção Integralis: História.
Editora IBEP. 1. ed. PNLD 2014, 2015, 2016.
do
VIANA, Maria. Nordeste: História e Geografia. Editora FTD. 1. ed. PNLD
aC
2014, 2015, 2016.
r
V
DAS RELAÇÕES ÉTNICO-RACIAIS
uto
Francinaldo Rita da Silva
Guilherme Paiva de Carvalho
R
a
O conhecimento adquirido proporciona às pessoas condições de alterar
do
o ambiente social, intervir na natureza em benefício do bem-estar de todos.
aC
Novos saberes despontam para atender a necessidades que surgem no dia
a dia. A capacidade criadora dos atores sociais de transformar os recursos
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são
naturais, de adaptar o meio às novas realidades, evolui e transforma até a
própria natureza humana. Logo, as ações e as atividades criadoras estão
atreladas a significados valorados que resultam no patrimônio cultural
gerado por todos.
i
para suas exigências, elas também podem satisfazer suas necessidades vitais
or
2007, p. 19).
3 “Os valores são objetos ideais, essências, significações, ou qualidades, existindo apenas como abstrações,
como criações da subjetividade. Não tem vida objetiva, são apenas projeções do espírito sobre a natureza,
como a luz que ilumina e dá vida à paisagem” (NÓBREGA, 1972, p. 16).
70
r
V
à diversidade étnico-racial.
uto
A despeito do reconhecimento histórico da contribuição desse amálgama
de saberes para a identidade cultural do Brasil, hoje ainda não está consoli-
dada a reformulação do ensino nacional para que se faça valer a educação
R
multicultural nas escolas e com a revisão histórica da contribuição de cada
a
povo, de forma que possa ocorrer a igualdade cultural.
A formação do Brasil e do povo brasileiro consiste numa seara de ci-
do
vilizações, cuja rica diversidade de culturas já existia antes dos invasores
aC
europeus se apoderarem do território brasileiro. O colonizador português
transplantou um tipo de organização de sociedade estratificada, hierarquizada
r
V
o modo dominante de produção de conhecimento (QUIJANO, 2002, p. 5).
uto
Tendo-se a educação como um eficaz mecanismo de transformação social,
e contra a discriminação racial que ainda solapa o imaginário coletivo, a Lei
10.639/2003 visa à promoção de uma reeducação das relações étnico-raciais
R
a
de encontro à forjada democracia racial.
O referido diploma jurídico, ao modificar a Lei 9.394/96 – que estabelece
do
as diretrizes e bases da educação nacional – determina que a obrigatoriedade
do ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana na Educação
aC
Básica, para o resgate da contribuição do negro na formação da sociedade
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são
nacional, também terá incluso no conteúdo programático o estudo da História
da África e dos Africanos4. Consiste, pois, em ação afirmativa para contornar
as injustiças contra os negros e sua invisibilidade na historiografia nacional.
Compete ao Estado promover ações afirmativas de reparações e de
i
4 “Art. 1º A Lei 9.394, de 20 de dezembro de 1996, passa a vigorar acrescida dos seguintes arts. 26-A, 79-A 79-B:
Art. 26-A. Nos estabelecimentos de ensino fundamental e médio, oficiais e particulares, torna-se obrigató-
rio o ensino sobre História e Cultura Afro-Brasileira.
§ 1º O conteúdo programático a que se refere o caput deste artigo incluirá o estudo da História da África e
dos Africanos, a luta dos negros no Brasil, a cultura negra brasileira e o negro na formação da sociedade
nacional, resgatando a contribuição do povo negro nas áreas social, econômica e política pertinentes à
História do Brasil” (BRASIL, 2005, p. 35).
72
r
V
dentes na contemporaneidade, desde as formas individuais até as coletivas”
uto
(BRASIL, 2005, p. 12).
Diante do panorama de adversidades e dificuldades para a educação das
relações étnico-raciais no ambiente escolar, este trabalho tem por objetivo
R
apresentar uma abordagem acerca do desafio da obrigatoriedade do estudo
a
da “História da África e dos Africanos” para o ensino de História.
do
O ensino de História com o advento da Lei 10.639
aC
r
V
de pecado, uma providência que dela não sobrevinha imoralidade ou conduta
uto
indecorosa. “A religião moldou mentes e almas, funcionando como principal
valor e referência da sociedade colonial.” (AMADO; FIGUEIREDO, 1999,
p. 105). Ainda que o colonizador recorresse à violência, ao morticínio, ou
R
qualquer meio desumano contrário aos ensinamentos cristãos. O abrigo nos
a
mitos e nos dogmas religiosos não se prestava à reprovação do tráfico negreiro,
senão para justificar sua exploração. A escravização dos negros apoiava-se em
do
preceitos éticos e morais, cuja legitimidade era assegurada pelo representante
aC
de Deus no mundo (a Igreja Católica) – postura condizente com o orbe cristão5.
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r
V
prezada e a contribuição dos grupos excluídos apagada. Assim, ignoraram-se
uto
os efeitos da aculturação sobre o colonizador, desprezaram-se os intercâmbios
culturais ocorridos entre os diferentes povos envolvidos, dando-se o foco
sobre o Outro com a finalidade única de desqualificá-lo.
R
Na persecução da igualdade racial, as Diretrizes Curriculares Nacionais
a
para a Educação das Relações Étnico-Raciais e para o Ensino de História
e Cultura Afro-Brasileira e Africana foi concebida contra as perversas con-
do
sequências da colonialidade6 vigente. Ademais, ela prever em uma de suas
determinações que a História da África deverá ser “tratada em perspectiva
aC
positiva, não só de denúncia da miséria e discriminações que atingem o con-
algumas pessoas não atentam para o bem comum quando ignoram o corrente
descaso de autoridades e as práticas ilícitas nas instituições públicas, além
r
V
obrigatoriedade da temática “História e Cultura Afro-Brasileira”. Entretanto,
uto
é notório o pouco caso dispensado à implementação do referido ensino, so-
bretudo do estudo da História da África e dos africanos.
Enquanto o país mostrou um retrocesso na estrutura educacional no
R
governo Temer, na atual administração inexistem perspectivas para uma
a
reeducação pautada na diversidade, senão um futuro nebuloso próprio de um
governo descompromissado e com tendências fascistas que se preocupa em
do
perpetuar benesses para a classe dirigente em detrimento da perda de direitos
aC
sociais dos demais cidadãos e a contenção de gastos públicos. A atual conjun-
Editora CRV - versão para revisão do autor - Proibida a impressão
tura pauta-se, pois, numa involução social porque ameaça também o ambiente
são
escolar com medidas que visam à deturpação de valores e ampliação das já
gritantes desigualdades sociais.
Conquanto esteja vigente a norma de obrigatoriedade da temática “His-
tória e Cultura Afro-Brasileira”, vê-se ainda incipiente o estudo de História
i
rev
r
V
história da África tradicionalmente negada ou silenciada no currículo obriga-
tório. Sendo alvo de desqualificação, a África é ignorada, destituída de uma
uto
história, tradicionalmente manchada de estigmas e estereotipias. “Não é por
acaso que todas as ideologias de dominação tentaram falsificar e destruir as
histórias dos povos que dominaram. A história da África na historiografia
R
a
colonial foi negada e quando foi contada o foi do ponto de vista do coloni-
zador” (MUNANGA, 2015, p. 31). Por se tratar do berço da humanidade7, a
do
história desse continente é antiquíssima e, por isso, são também longínquos os
registros desqualificantes a ele atribuídos, não sendo tais preconceitos contra
aC
a África exclusivos da Europa contemporânea.
(2008, p. 197):
7 “A mais marcante das singularidades africanas é o fato de seus povos autóctones terem sido os progenito-
res de todas as populações humanas do planeta, o que faz do continente africano o berço único da espécie
humana. Os dados científicos que corroboram tanto as análises do DNA mitocondrial quanto os achados
paleoantropológicos apontam constantemente nesse sentido” (WEDDERBURN, 2005, p. 135).
HISTÓRIA ENSINADA: uma prosopografia do ensino de história, no Brasil 77
r
V
questionamentos a partir dos prévios conhecimentos que estes apresentem.
uto
Trata-se de um grande desafio pôr em execução um estudo historiográfico
que atente para as reais condições históricas de uma África que não é destituída
de sua própria história. Contra os efeitos do constructo ideológico-social de
R
desqualificação latente no imaginário coletivo provenientes dos séculos de
a
sujeição colonizadora, importa o olhar sobre a África em sua diversidade,
em seus aspectos sociopolíticos, em suas múltiplas realidades históricas.
do
A compreensão sobre os povos africanos colonizados e, sobretudo, os es-
aC
cravizados, exige conhecimentos que se estendem além da grande tragédia
do tráfico negreiro empreendido pelos países dominadores. Conforme atesta
Editora CRV - versão para revisão do autor - Proibida a impressão
são
Joseph Ki-Zerbo (2013, p. 17):
todo tipo, que acabaram por fixar sua imagem no cenário da miséria, da
barbárie, da irresponsabilidade e do caos. Essa imagem foi projetada e
or
r
V
persistentes estereótipos vinculados ao território da África seria que suas
terras sempre desenvolveram culturas nativas selvagens e perigosas – os
uto
famosos pigmeus, canibais e gigantescos negroides – ou etnias primitivas,
quase semelhantes ao tipo de vida que nossos antepassados mais remotos
levavam. Sem escrita, sem estado organizado e centralizado, e muito
mais importante – sem cidades, templos e construções de pedra. Portanto,
R
a
prescindindo de civilizações aos moldes ocidentais. Apesar de não muito
conhecidas, existem grandes estruturas arquitetônicas no continente (além
do
das egípcias), como as de Axum (Etiópia), Napata e Meroé (Sudão), Tum-
buctu e Jenne (Máli), Grande Zimbabwe, Cami e Naletale (Zimbabwe).
aC
Considerações finais
ver dit
r
V
(MUNANGA, 2015, p. 28).
uto
A leitura das entrelinhas da historiografia africana nos põe a par da
existência de tantas áfricas em razão das muitas civilizações em um con-
R
tinente que deu origem à comunidade humana – compostas de variados
a
povos afrodescendentes.
Por fim, temos o compromisso de uma educação de relações étnico-raciais
do
positivas por meio de posturas de respeito à diferencia e à igualdade étnico-
aC
-racial. Para tanto, é preciso formar pessoas conscientes de seus direitos e
Editora CRV - versão para revisão do autor - Proibida a impressão
REFERÊNCIAS
r
V
AMADO, Janaína; FIGUEIREDO, Luís. A formação do império português
uto
(1415-1580). São Paulo: Atual, 1999.
R
a
Curriculares Nacionais para a Educação das Relações Étnico-Raciais e
para o Ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana. Brasília:
do
Ministério da Educação, 2005.
aC
KI-ZERBO, Joseph. Introdução Geral. In: SILVÉRIO, Válter Roberto. Síntese
PAIVA, José Maria de. Colonização e catequese. São Paulo: Editora Autores
Associados/Cortez, 1982.
HISTÓRIA ENSINADA: uma prosopografia do ensino de história, no Brasil 81
r
V
Cadernos de História, Belo Horizonte, v. 12, n. 17, p. 59-92, out. 2011.
uto
SILVA, Francinaldo Rita da. A produção da identidade racial negra nas
Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação das Relações Étni-
R
co-raciais e para o Ensino de História e Cultura Afro-brasileira e Afri-
a
cana. 2007. 73 f. Monografia (Especialista em Leitura e Produção Textual)
– Universidade do Estado do Rio Grande do Norte – UERN, Mossoró, 2007.
do
aC
WEDDERBURN, Carlos Moore. Novas bases para o ensino de história da
Editora CRV - versão para revisão do autor - Proibida a impressão
PALMILHANDO A
INSTITUCIONALIZAÇÃO
DO CURSO DE HISTÓRIA NA
r
V
UNIVERSIDADE DO ESTADO DO
uto
RIO GRANDE DO NORTE – UERN
Gislânia Dias Soares
R
a
Ocimara Fernandes Negreiros Oliveira
Paulo Augusto Tamanini
do
aC
A universidade, lócus de formalização do conhecimento e dos saberes,
Editora CRV - versão para revisão do autor - Proibida a impressão
(ROSSATO, 2005).
r
V
também a criação de medidas para instituir o Ensino Superior no Brasil.
uto
Nesse sentido, podemos afirmar que a iniciativa de se formalizar os estudos
superiores no Brasil obedeceu aos interesses de uma pequena minoria fechada
e aristocrática (SAMPAIO, 1991).
R
No que concerne ao curso de História, nosso intuito é traçar seu percurso
a
historiográfico no país, desde o primeiro a entrar em funcionamento, a saber:
curso da Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas da Universidade de São
do
Paulo (USP), em 1934 até a criação do curso de História da Universidade do
aC
Estado do Rio Grande do Norte (UERN), em 1966. Nossa pesquisa ancorou-se
sua política de colonização, seja da parte de brasileiros, que não viam justifi-
or
a Coroa Portuguesa negou aos jesuítas, ainda no século XVI sua criação na
colônia. Em decurso, os alunos graduados nos colégios jesuítas iam para a
Universidade de Coimbra ou para outras universidades europeias, a fim de
op
8 Base de dados oficial dos cursos e Instituições de Educação Superior /IES, independentemente de sistema
de ensino. Os dados do Cadastro e-MEC devem guardar conformidade com os atos autorizativos dos cur-
sos e das IES, editados pelo Poder Público ou órgão competente das instituições nos limites do exercício
de sua autonomia, conforme Portaria Normativa nº 21, de 21/12/2017.
HISTÓRIA ENSINADA: uma prosopografia do ensino de história, no Brasil 85
r
modelo de formação dos profissionais liberais em faculdades isoladas,
V
e visava assegurar um diploma profissional com direito a ocupar postos
uto
privilegiados em um mercado de trabalho restrito além de garantir prestígio
social. Ressalte-se que o caráter não universitário do ensino não constituía
demérito para a formação superior uma vez que o nível dos docentes devia
R
se equiparar ao da Universidade de Coimbra, e os cursos eram de longa
a
duração (MARTINS, 2002, p. 1).
do
É oportuno observar ainda que, mesmo como sede da Monarquia, o Brasil
consegue apenas o funcionamento de algumas escolas superiores de caráter
aC
profissionalizante. Ou seja, “o novo ensino superior nasceu sob o signo do
Editora CRV - versão para revisão do autor - Proibida a impressão
são
Estado Nacional” (CUNHA, 1980, p. 62).
O padrão de ensino instalado se manteve quase inalterado até o final do
século XIX, quando algumas modificações passaram a dar ênfase à formação
tecnológica. Por sua vez, marcas de descontinuidades no que diz respeito, so-
i
bretudo, aos aspectos que envolvem sua relação com o Estado foram sentidas
rev
É eleito um presidente civil. Nesse mesmo ano tem início os trabalhos da Assembleia
1985
Nacional Constituinte.
Fonte: Quadro elaborado pelos autores com dados extraídos de (SAMPAIO, 1991).
Fica patente que esses anos num contexto maior definem, em linhas gerais,
os períodos de mudanças no formato do sistema de ensino superior ao longo
de seus quase duzentos anos de existência. Desse modo, apreendemos que,
86
r
V
que no ensino superior, estudantes oriundos de famílias com renda de até 06
uto
salários mínimos, representavam aproximadamente 12% dos matriculados
em instituições privadas e 11% em instituições públicas (MARTINS, 2002).
Ainda, Segundo Martins,
R
a
tanto no setor privado, quanto no público, a proporção de estudantes
oriundos de famílias com renda acima de 10 salários mínimos ultrapassa
do
os 60%, o que desmistifica a crença de que os menos favorecidos é que
frequentam a instituição privada. Se por um lado, há um contingente
aC
expressivo de estudantes de nível superior proveniente das camadas de
Centro
Universidade Faculdade IF e Cefet
Universitário
Ano Total
E
sã
Fonte: Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP, 2017).
r
V
âmbito estadual.
uto
Consideramos pertinente traçar um caminho histórico da educação supe-
rior no Brasil para posteriormente abordar a institucionalização dos cursos de
História. Vimos que o ensino superior teve que, periódica e sistematicamente,
R
estar se desdobrando para atender tanto a momentos históricos quanto aos
a
princípios legais, mesmo estando em fase de construção.
do
Historiografia do ensino superior de História
aC
Editora CRV - versão para revisão do autor - Proibida a impressão
do Rio de Janeiro, sendo esse o motivo de não estar no Quadro 3 como UDF,
e sim já diretamente como UFRJ.
Cada curso foi fundado por razões locais específicas, mas geralmente
E
sã
9 No final do século XIX se iniciava o escolanovismo, com duras críticas a escola tradicional. Esse movi-
mento foi o mais implacável combatente das teses pedagógicas tradicionais. O Manifesto dos Pioneiros
da Educação Nova, publicado em 1932, representou um dos mais significativos e propositivos movimentos
nacionais em prol da implantação do sistema de educação pública. A escola passa a preocupar-se em
entender como o aluno aprende (LOURENÇO FILHO, 1978).
88
Categoria
Ano Estado Cidade Região Instituição Grau
Acadêmica
r
V
1934 SP São Paulo Sudeste USP B/L Pública
uto
1935 RJ Rio de Janeiro Sudeste UFRJ B/L Pública
1938 PR Curitiba Sul UFPR B/L Pública
R
1941 BA Salvador Nordeste UFBA B/L Pública
a
1941 RJ Rio de Janeiro Sudeste UERJ B/L Pública
1943 RS Porto Alegre Sul UFRGS B/L Pública
do
1947 CE Fortaleza Nordeste UECE B/L Pública
aC
1947 RJ Niterói Sudeste UFF B/L Pública
Grande
1952 AL Maceió Nordeste UFAL B/L Pública
1953 MA São Luiz Nordeste UFMA B/L Pública
ara
10 A Lei nº 2.594, de 8 de setembro de 1955, dispõe sobre o desdobramento dos cursos de Geografia e
História nas faculdades de Filosofia.
HISTÓRIA ENSINADA: uma prosopografia do ensino de história, no Brasil 89
continuação
Categoria
Ano Estado Cidade Região Instituição Grau
Acadêmica
1960 PR Paranaguá Sul FAFIPAR L Pública
1960 PR União da Vitória Sul FAFIUV L Pública
1963 SP Assis Sudeste UNESP L Pública
1964 MG Montes Claros Sudeste UNIMONTES L Pública
r
V
1965 RS Santa Catarina Sul UFSM B/L Pública
uto
1966 MG Uberlândia Sudeste UFU B/L Pública
1966 SP Franca Sudeste UNESP B/L Pública
1966 RN Mossoró Nordeste UERN L Pública
R
a
Fonte: Quadro elaborado pelos autores com base nos dados extraídos do <emec.mec.
gov.br> B/L= Bacharelado/Licenciatura; L= Licenciatura. Acesso em maio 2019.
do
Verificando o contexto trazido pelo quadro 3, inferimos que os três pri-
meiros cursos foram implantados nas regiões sudeste e sul. O primeiro curso
aC
de História implementado no Nordeste foi em 1941, em Salvador. Já na Região
Editora CRV - versão para revisão do autor - Proibida a impressão
são
Norte, o primeiro curso de História foi instituído em 1954.
O curso da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte (UERN)
de História foi o segundo a ser criado no estado após 32 anos desde a criação
do primeiro curso em 1934. Percebe-se também, que até 1966 nenhum curso
i
rev
35%
ver dit
30%
op
25%
20%
35,30% 35,30%
15%
E
sã
26,47%
10%
5%
2,93%
0
Sudeste Nordeste Sul Norte Centro-Oeste
r
V
Grande do Norte, o curso de Licenciatura em História ofertado pela UERN,
uto
foi o segundo curso ofertado no Estado, pois o primeiro foi implementado na
Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN).
A Universidade do Estado do Rio Grande do Norte (UERN) foi cons-
R
tituída em 28 de setembro de 1968, pela Lei Municipal nº20/68, da cidade
a
de Mossoró-RN. Teve como primeira nomenclatura “Universidade Regional
do Rio Grande do Norte (URRN)”, sendo vinculada à Fundação Universi-
do
dade Regional do Rio Grande do Norte (FURRN). Outras duas Faculdades
aC
fazem-se presente na sua criação, a Faculdade de Ciências Econômicas de
Considerações finais
r
V
houve a necessidade de se pensar lugares de cultivo dos saberes formais.
uto
Se as Universidades são fruto das relações tecidas ao longo da história
da educação brasileira, elas espelham as correntes de pensamento que atraves-
saram o percurso educativo no Brasil. Basta lembrar que, inicialmente ela foi
R
a
pensada não para atender as necessidades de formação, mas pensada e aceita
como um bem cultural oferecido a minorias, um lugar dos privilegiados, um
do
lugar de distinção.
A trajetória dos cursos superiores de História no Brasil ressalta a percep-
aC
ção das desigualdades regionais no país. Ao passo que, em algumas regiões
Editora CRV - versão para revisão do autor - Proibida a impressão
este ensino foi instituído na década de 30, em outras, isso aconteceu somente
são
duas décadas depois. Um desalinho, portanto, que não se restringe unicamente
às questões econômicas, mas às questões políticas.
No que concerne ao curso de História da UERN/Campus Mossoró-RN,
seu processo de instalação se deu em 1966 de forma incipiente, em que
i
rev
à pesquisa e à extensão.
op
E
sã
92
REFERÊNCIAS
r
V
GHIRALDELLI JR., P. História da educação brasileira. 3. ed. São Paulo:
uto
Cortez, 2008.
R
Censo da Educação Superior 2017 – Notas Estatísticas. Disponível em:
a
<http://inep.gov.br/dados/notas-estatisticas>. Acesso em: 3 abr. 2019.
do
LOURENÇO FILHO, M. B. Introdução ao estudo da Escola Nova. 13. ed.
São Paulo: 15 Edições Melhoramentos, 1978.
aC
MARTINS, A. C. Ensino superior no Brasil: da descoberta aos dias atuais.
estudopratico.com.br/conheca-a-universidade-do-estado-do-rio-grande-do-
-norte-uern/>. Acesso em: 3 abr. 2019.
r
V
uto
Janaina Valéria Pinto Camilo
do
A história, continua, o autor, “não é uma ciência como as outras” (LE GOFF,
1990, p. 17) e há, ainda, aqueles que nem a consideram uma ciência. Assim,
aC
a complexidade de se entender a História reside na própria historicidade da
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sociais no traçado de sua história”. Nesse traçado estão os vestígios que nós
historiadores(as) e professores(as) de história procuramos e reinterpretamos,
sendo uma prática indelével do nosso ofício. E ao procurarmos os “sinais”,
como já escreveu Carlo Ginzburg, nos deparamos com a cultura material e
imaterial, com o patrimônio histórico e a memória social que, uma vez reti-
rados do esquecimento pelo historiador, passam a ser documentos histórico
e, também, um importante registro para a educação patrimonial de gerência
r
V
também do ensino de história.
uto
Patrimônio cultural e ensino de História: uma relação necessária
R
A relação entre Patrimônio Cultural e História ou ainda Educação Patrimo-
a
nial e Ensino de História está sustentada no uso da cultura material e imaterial
como suporte de conhecimento, porque os objetos, os prédios históricos, as
do
ruas, as praças, as cidades, bem como os saberes, as tradições culturais, as
manifestações religiosas, as músicas e as danças nos contam sobre histórias
aC
de diferentes personagens: homens, mulheres, negros, negras, índios, índias,
o termo História pode ser compreendido por meio de três objetos comple-
mentares: a História processo (dimensão tempo-espaço), a História ciência
ver dit
Pacheco atribui uma quarta parte que é a disciplina escolar história. “Esta
seria o conjunto de atividades escolares voltadas à transmissão da narrativa
histórica, que foi produzida pela história ciência, sobre a história processo”
E
sã
r
V
e, portanto, um instrumento de alienação ou como instrumento de resistência
uto
à metodologia tradicional e ao encarceramento dos saberes escolares.
O estudo da cultura material e dos relatos de experiências do cotidiano
escolar, do ponto de vista da “ciência histórica – como ciência da memória
R
social – tem como objeto de investigação o conjunto de eventos da experiência
a
humana” (PACHECO, 2017, p. 21). Assim, se pensarmos nas conexões entre
memória, patrimônio e ensino de história, observaremos, conforme afirma
do
Ricardo de Aguiar Pacheco que “a disciplina escolar de história tem a respon-
sabilidade de problematizar junto aos educandos as informações históricas que
aC
fazem parte da memória coletiva do tempo presente” (PACHECO, 2017, p. 21).
Editora CRV - versão para revisão do autor - Proibida a impressão
são
Além disso, o autor apresenta a preocupação recorrente entre os historiadores,
que diz respeito à narrativa histórica construída pelo professor de História que:
não deve se preocupar em ensinar como um fato realmente aconteceu, mas
i
r
V
tra a presença, a atividade, os gostos e as maneiras de ser do homem
uto
(FEVBRE, 1985, p. 249).
R
documental. A História podia ser escrita por meio da indagação de diferentes
a
fontes: escrita, sonora, ilustrado, oral, material etc. Os museus, arquivos e
bibliotecas passaram a ser lugares depositários dessa variedade de documentos
do
e, portanto, da pesquisa e do ensino de história. Nessas instituições, a memória
aC
coletiva valoriza-se e se constituiu em patrimônio cultural e histórico. Neste
sentido, Circe Bittencourt elucidou que os
por si próprias não dizem sobre os homens, sobre as sociedades que as pro-
ver dit
r
V
móveis de cultura material ou imaterial e podem despertar a curiosidade dos
uto
alunos e alunas sobre as práticas sociais, políticas e culturais de um determi-
nado grupo social. Entretanto, esses documentos históricos “não se constituem
na narrativa histórica em si mesmos ou na história processo revelada diante
R
do aluno, mas sim em fontes sobre as quais se empregam diferentes procedi-
a
mentos e técnicas de investigação” (PACHECO, 2017, p. 12). Acrescenta-se
a esta afirmação, a conclusão da Professora Circe Bittencourt que observa a
do
importância do uso dos objetos museológicos, sobretudo,
aC
na inversão de um ‘olhar de curiosidade’ a respeito de ‘peças de mu-
Editora CRV - versão para revisão do autor - Proibida a impressão
seus’ – que, na maioria das vezes, são expostas pelo seu valor estético e
são
despertam o imaginário de crianças, jovens e adultos sobre um ‘passado
ultrapassado’ ou ‘mais atrasado’ – em ‘um olhar de indagação’, de infor-
mação que pode aumentar o conhecimento sobre os homens e sobre sua
história” (BITTENCOURT, 2018, p. 286).
i
rev
ou em suas congêneres não são muitas vezes o limite da fonte a ser estudada.
Os prédios, que servem de abrigo para esses acervos também constituem, em
si mesmos, o valor de patrimônio cultural e, portanto, podem ser transforma-
ara
Choay, por exemplo, pode ser compreendido por meio da origem da palavra,
visto que sua origem:
op
‘nômade’, ela segue hoje uma trajetória diferente e retumbante [...] A ex-
pressão designa um bem destinado ao usufruto de uma comunidade que
se ampliou a dimensões planetárias, constituído pela acumulação contínua
de uma diversidade de objetos que se congregam por seu passado comum:
obras [...] e produtos de todos os saberes e savoir-faire dos seres humanos
(CHOAY, 2001, p. 11).
98
r
V
Pensar em patrimônio agora é pensar com transcendência, além das paredes,
uto
além dos quintais, além das fronteiras. É incluir as gentes. Os costumes, os
sabores, os saberes. Não mais somente as edificações históricas, os sítios
de pedra e cal. Patrimônio também é o suor, o sonho, o som, a dança, o
jeito, a ginga, a energia vital, e todas as formas de espiritualidade de nossa
R
gente. O intangível, o imaterial (GIL apud FLORÊNCIO, 2015, p. 25-26).
a
Além disso, a legislação apresenta os argumentos previstos, por exemplo,
do
no Direito Ambiental que regula a proteção do patrimônio histórico, o qual,
aC
na qualidade de direito difuso e indisponível, é tido como direito fundamental
cional. E, assim, que o Artigo 216 da Constituição Federal de 1988 define que
r
V
o seu acervo ilustra, de maneira concreta, as aulas de História” (HIRATA
uto
apud BITTENCOURT, 2018, p. 285). Além disso, especialistas afirmam que
a educação museológica é um processo de descobrimento pelo qual o objeto
de cultura material torna-se, simultaneamente, o objeto estético e o científico.
R
Por esse motivo, o desenvolvimento das aulas de História a partir da
a
observação do acervo museológico ocorre por meio de duas ações. A primeira
diz respeito ao desenvolvimento das sensibilidades estéticas, que para Circe
do
Bittencourt “é fundamental [para] uma aproximação do aluno com o objeto,
deixando-o expressar livremente suas impressões”. O segundo, diz respeito ao
aC
olhar científico de observação da cultura material e ocorre quanto “o aluno [é]
Editora CRV - versão para revisão do autor - Proibida a impressão
são
introduzido na compreensão do objeto como integrante de uma organização
social, de uma parte da vida cotidiana, dos rituais, da arte de determinado
grupo social” (BITTENCOURT, 2018, p. 288).
i
rev
r
V
de palavras, de expressões, de vestígios da presença do ser humano? Como
uto
colocá-las como protagonistas na missão de entender quem sou e onde estou
na cidade?”. Não existem respostas prontas, visto que elas dependem das in-
fluências teóricas e metodológicas do profissional da História. Por este viés,
R
é importante ressaltar que as “ações educativas para o patrimônio não está
a
em ‘capacitar’ para a preservação [...] mas na afirmação contínua de que as
pessoas são protagonistas no processo, sendo os seus valores e conhecimentos
do
produzidos reconhecidos” (PINHEIRO, 2015, p. 14).
aC
Além disso, no processo ensino-aprendizagem e a relação com o pa-
uma temática atual do IPHAN, na verdade, ainda nos anos de 1930 quando
o Instituto chamava-se Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacio-
op
r
V
também fazem parte da história brasileira. O patrimônio cultural, assim como
uto
ocorreu com o ensino de história, sobretudo durante a primeira metade do
século XX, também foi instrumentos de poder e de manipulação das tradições
culturais, que se pretendia branca, civilizada e cristã. Por essa razão, segundo
Sônia Florêncio:
R
a
A Educação Patrimonial deve ser tratada como um conceito basilar para
do
a valorização da diversidade cultural, para a definição de identidades e de
alteridades no mundo contemporâneo, e como um recurso para a afirmação
aC
das diferentes maneiras de ser e de estar no mundo. O reconhecimento
Editora CRV - versão para revisão do autor - Proibida a impressão
Lei de Diretrizes e Bases, a LDB – 9394/96 prevê em seu artigo 1º, que
r
V
a educação abrange os processos formativos que se desenvolvem na vida
familiar, na convivência humana, no trabalho, nas instituições de ensino
uto
e pesquisa, nos movimentos sociais e organizações da sociedade civil e
nas manifestações culturais, quer dizer, os espaços da vida (FLORÊNCIO,
2015, p. 27).
R
a
Por fim, concluímos que a educação que se pretende é aquela que serve
como mediação para a construção coletiva do conhecimento, pela apropriação
do
social do patrimônio cultural que identifica a comunidade como produtora de
aC
saberes, que reconhece, portanto, a existência de um saber local e a diversidade
REFERÊNCIAS
r
V
Paulo: Editora Cortez, 2018.
uto
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Telles. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2001.
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do
Unesp, 2001.
aC
FACHIN, Zulmar; FRACALOSSI, Willian. O meio ambiente cultural equi-
Editora CRV - versão para revisão do autor - Proibida a impressão
Autêntica, 2004.
op
AS HISTÓRIAS EM QUADRINHOS
(HQS) E A SUA RELAÇÃO COM
A HISTÓRIA ENSINADA
r
V
uto
Jonathan Diógenes Costa
Paulo Augusto Tamanini
R
Na busca por mudanças e reflexões acerca do Ensino de História, pesqui-
a
sadores vêm se debruçando e apresentando novas perspectivas metodológicas,
do
redescobrindo outras fontes, o que reverbera também na prática pedagógica e
no Ensino de História, em sala de aula. Ademais, o debate sobre a variedade
aC
e o consequente uso pedagógico das fontes na História Ensinada revela o
Editora CRV - versão para revisão do autor - Proibida a impressão
em sala de aula, apenas se reproduzia o que estas fontes diziam sobre um fato,
rev
tivo era, então, mostrar os acontecimentos tal como tinham sucedido”. Tanto
historiadores quanto professores, eram meros receptores de informações e
op
r
V
principalmente, orientador do aluno. No caso do ensino da História, a
uto
utilização de documentos tornou-se uma forma de o professor motivar
o aluno para o conhecimento histórico, de estimular suas lembranças
e referências sobre o passado e, dessa maneira, tornar o ensino menos
livresco e dinâmico.
R
a
A mudança dos protagonistas e das funções dos professores e alunos no
do
processo de mediação do conhecimento fez alterar a exclusividade do livro
como única ferramenta de transmissão de conteúdos de História, em sala de
aC
aula. Para além do Livro, mapas, globos, gráficos, gravuras etc. foram acres-
Nesta compreensão, as fontes não falam por si, são vestígios deixados,
representações, testemunhos de uma realidade passada que respondem aos
questionamentos feitos na tentativa de se extrair, confirmar, contestar ou
acumular informações de cunho historiográfico. Em outras palavras, pode-se
dizer que, na operação historiográfica, o sujeito que produz o conhecimento,
por estar inserido em contextos culturais e sociais, sofre as influências de seu
tempo e espaço. (BARROS, 2010). Logo, deve ser este fator levado em conta
r
V
quando da arguição das fontes.
uto
As HQs como fonte histórica
R
a
Pensar quais os métodos serão utilizados para se trabalhar uma miríade
de novas fontes, sejam elas de caráter visual, textual, audiovisual, dentre
do
tantas outras que se despontaram a partir dos Annales, permite ao historiador
contemporâneo prospectar novas metodologias de pesquisa e novas maneiras
aC
de ensinar História.
Editora CRV - versão para revisão do autor - Proibida a impressão
importa, porém, é de onde vêm essas histórias e quem as escreve, pois elas
são excelentes veículos de mensagens ideológicas e de crítica social” (LUY-
ara
Uma das grandes questões dos quadrinhos está nas mensagens que eles
repassam. As HQ, desde o seu nascimento, são uma forma de comunicação
e, portanto, uma forma de enviar mensagem. Por meio das imagens dese-
nhadas, das palavras e diálogos, da representação pictórica, os quadrinhos
manifestam valores, sentimentos, concepções, etc. Neste processo, o papel
proeminente dos quadrinhos é repassar as ideias e valores dominantes
(VIANA, 2010, p. 2).
108
r
V
que seduzem um público infanto-juvenil por causa de sua linguagem, mas
uto
como um documento ou uma fonte passível de análise e problematização.
Segundo Jefferson Lima:
R
É chegado o momento em que podemos admitir, com certa segurança, que
a
estas fascinantes peças culturais podem servir na formação do conheci-
mento histórico, trabalhando com a ideia de agenciamento/subjetividade,
do
tanto como fontes, ou como ferramentas pedagógicas (LIMA, 2011, p. 5).
aC
Isto posto, vamos partir para exemplos práticos, analisando sob o crivo da
uma obra de cunho didático que revisitava de forma lúdica um dos recortes
temporais mais importantes para a História do Brasil: da vinda da Família Real
ver dit
Figura 1 – A capa da HQ
r
V
uto
R
a
do
aC
Editora CRV - versão para revisão do autor - Proibida a impressão
são
r
V
uto
R
a
do
aC
exército, que dominava o continente por terra. Do outro, a Inglaterra, com sua
enorme frota naval, que dominava os mares. E no meio deste embate estava
op
r
V
uto
R
a
do
aC
Editora CRV - versão para revisão do autor - Proibida a impressão
são
puxando uma carroça de boi. A cena se torna mais caricata com o príncipe
ver dit
representação oficiosa do fato em si, que foi construída para ser aceita e di-
fundida como marco histórico da separação da colônia brasileira em relação
à metrópole portuguesa. A informação foi repassada e reproduzida nos livros
E
sã
r
V
de tempo (a tela foi pintada em 1888, e a Independência ocorreu em 1822),
uto
mas também porque não seria possível reconstituir minuciosamente o acon-
tecido, faltavam relatos”, explicou a historiadora e professora da USP, Cecília
Helena de Salles, coautora do livro “O Brado do Ipiranga”11.
R
Contudo, em sala de aula, o professor de História poderá aproveitar a
a
imagem da Proclamação da Independência para lançar algumas questões aos
alunos, para fazê-los pensar atentamente sobre o que a figura mostra. Quais
do
suas incongruências, desajustes? Por exemplo: não era comum, na época,
aC
usar cavalos, mas sim mulas, para fazer o trajeto da Serra do Mar, região
entre a HQs aqui analisada e as telas originais pode levar à sala de aula
questões pertinentes. Embora todos os elementos apresentados, adaptações,
op
Considerações finais
E
sã
r
V
O desafio é, tomando os documentos como fontes, entendê-los como
uto
marcas do passado, portadores de indícios sobre situações vividas, que
contêm saberes e significados que não estão dados, mas que precisam
ser construídos com base em olhares, indagações e problemáticas co-
locadas pelo trabalho ativo e construtivo dos alunos, mediados pelo
R
trabalho do professor.
a
Logo, o desafio de se trabalhar com as HQs como fontes requer uma
do
capacitação dos profissionais de ensino, exige uma formação permanente
aC
e mais direcionada à leitura de imagens. Isto porque, as Imagens não são
Editora CRV - versão para revisão do autor - Proibida a impressão
REFERÊNCIAS
r
V
percorrido e perspectivas sobre os novos tempos. Albuquerque: revista de
uto
História, Campo Grande, MS, v. 2, n. 3, p. 71-115, jan./jun. 2010.
R
Edusc, 2004.
a
CAIMI, Flávia Eloisa. Fontes históricas na sala de aula: uma possibilidade de
do
produção de conhecimento histórico escolar? Anos 90, Porto Alegre, v. 15,
n. 28, p. 129-150, dez. 2008.
aC
r
V
uto
Maria do Socorro Souza
Paulo Augusto Tamanini
R
a
Os avanços tecnológicos e a explosão informacional causada principal-
mente pela internet fizeram com que as instituições educativas passassem a se
preocupar em entrar no ritmo das transformações, por meio da apropriação das
do
tecnologias emergentes e da consequente integração à sociedade do conheci-
aC
mento e da informação. Em decorrência disso, os governantes começaram a
Editora CRV - versão para revisão do autor - Proibida a impressão
modo que o aluno aprenda em todos os ambientes por onde circula. A diversi-
ficação na forma de uso das tecnologias, via técnicas diferentes e atrativas, é
op
igualmente defendida por este autor, que orienta o professor a trabalhar com
“conteúdos articulados a muitos desafios, projetos [...], ênfase em pesquisa,
compartilhamento, discussão, produção, sínteses, práticas refletidas, colabo-
rativas, com flexibilidade de espaços e tempos, de momentos presenciais e
E
sã
r
V
contribuição para a Inclusão Digital
uto
Analisar de que forma os usos pedagógicos que o professor de História
das escolas públicas de Mossoró/RN faz das tecnologias digitais, em especial
R
a internet, favorece a inclusão digital do aluno e sua consequente formação
a
como sujeito crítico, ativo, participativo e reflexivo e que constituiu o principal
objetivo desse Capítulo.
do
Problematizar a inclusão digital a partir dos usos que o professor de Histó-
ria faz das tecnologias digitais visa promover reflexões sobre a inserção destes
aC
Percurso metodológico
r
V
digitais nas aulas. Embora o tamanho da amostra tenha sido pequeno, por ser
uto
um estudo qualitativo e por estarem as escolas onde os professores atuam geo-
graficamente distribuídas, de modo a abranger públicos distintos, demonstrou
ser suficiente no sentido de atender aos objetivos da pesquisa. A entrevista
R
semiestruturada e a observação não participante constituíram os procedimentos
a
técnicos empregados para a coleta de dados. As transcrições das entrevistas
realizadas e os registros das observações no diário de campo constituíram o
do
corpus de análise. A análise de conteúdo foi o método utilizado para analisar
aC
os dados (BARDIN, 2016).
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r
V
cada análise, observando-se aspectos similares e diferentes.
uto
A análise das categorias temáticas e suas respectivas subcategorias, iden-
tificadas nos depoimentos e nas anotações do diário de campo das observações,
será realizada em seguida, por proximidade temática.
R
a
Perfil do Professor de História
do
Da análise dos dados obtidos, foi possível concluir que dois dos profes-
aC
sores pesquisados são o que Prensky (2001) denomina nativos digitais pois,
nascidos no fim da década de 80 e na década de 90, cresceram imersos nas
cultura digital, está mais aberto a inseri-las em seu fazer docente, enquanto
o imigrante é mais propenso a rejeitá-las, às vezes até pela falta de domínio
técnico, não é o que atestam os dados analisados. O professor mais experiente,
ara
professor da era digital?”, consideraram o uso que fazem das tecnologias limi-
tado, reconhecendo a necessidade de aprender mais, para inseri-las nas aulas:
Eu acho assim: eu tento. Mas, eu não me acho ainda.... Eu acho que tem
E
sã
muita coisa que eu ainda preciso dominar. Mas também já consegui avan-
çar em muita coisa, pela curiosidade, pela não vergonha em perguntar.
Porque eu acho que hoje em dia uma parcela significativa de professores
me parece ser assim: “ah, eu sou professor, então eu deveria saber”, aí
tem vergonha de perguntar (PEM, 28 mar. 2019).
r
V
tampouco os alunos aqueles que aprendem; ambos se tornam sujeitos e par-
uto
ceiros de aprendizagens, construtores e coautores de conhecimento.
Apesar de não se sentirem professores da cultura digital, quanto ao acesso
às tecnologias, todos afirmaram ter, em casa, computador, internet e celular,
R
e usarem a rede todos os dias, em média, de duas a três horas (dois profes-
a
sores) e cinco horas (um professor), para acessar redes sociais, se informar
ou pesquisar. Bonilla e Pretto (2011) reconhecem ser a internet um relevante
do
meio de acesso à informação, mas defendem que seu uso seja “acompanhado
de um fortalecimento da produção cultural e científica” (p. 11), para que “o
aC
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de questões de prova e imagens para usar nas aulas ou inserir em slides, o que
denota uma postura do professor como receptor no uso dos artefatos digitais
do ciberespaço. Falta-lhes, assim, o olhar crítico sobre as tecnologias e seu
uso, advogado por Mattelart (2002), Arruda (2013) e Setton (2010), entre
outros. Até que ponto isso pode influenciar na formação crítica, reflexiva e
ativa do aluno face à História e seu papel nela?
120
r
V
na vida das pessoas, especialmente a internet. Mas, como os entrevistados
uto
concebem o termo tecnologia?
Em uma concepção instrumental, eles veem a tecnologia como um recurso
para facilitar a vida humana, embora citem também o acesso à informação
R
e ao mundo como seus fins. PEF (29 mar. 2019), em uma visão mais crítica,
a
considera as tecnologias “tudo aquilo que [...] amplia a nossa ação dentro de
uma realidade”, inserindo-se aí os usos, os processos advindos da inteligência
do
humana, aproximando-se, assim, do conceito de Kenski (2007, p. 22-23),
aC
para quem tecnologia: engloba “a totalidade de coisas que a engenhosidade
tório de informática das escolas e a conexão lenta. Justificando o não uso das
tecnologias móveis para inserir os recursos da rede na aula, especialmente do
smartphone, afirmaram que nem todos os alunos possuem celular e, entre os
que possuem, alguns não têm internet em seus aparelhos. Apesar desses óbi-
ces, os pesquisados não desistem, buscando alternativas para superá-los, seja
realizando cotas entre os docentes para pagar uma conexão à internet melhor
e mais rápida, seja baixando os materiais que querem usar nas aulas em casa.
HISTÓRIA ENSINADA: uma prosopografia do ensino de história, no Brasil 121
r
V
levam ao exercício pleno da cidadania (LEMOS, 2011). O Google Earth,
uto
mapas, charges, trechos de filmes, música, textos de jornais e revistas, TV
e câmera fotográfica também foram citados como tecnologias utilizadas nas
aulas. A despeito das inúmeras vantagens dos jogos digitais no ensino de
R
História, como a abordagem atraente de temáticas históricas (ARRUDA,
a
2014; GIACOMONI; PEREIRA, 2013), apenas um docente já utilizou jogos
em suas aulas. Dois alegaram falta de preparo e de tempo para se familiarizar
com o jogo e planejar a aula.
do
aC
De que forma, porém, os professores usam essas tecnologias? Consoante
Editora CRV - versão para revisão do autor - Proibida a impressão
r
V
uto
Os textos que debateram foram retirados de jornais e revistas e eram sobre
o tema que estava sendo trabalhado. Se eu não me engano, era sobre a
Proclamação da República. Aí, eu dividi o tema em vários subtemas e dis-
tribuí com os grupos: a crise militar, a crise entre o império e os militares,
R
a
a crise entre a igreja, os militares e o império e a crise entre os fazendeiros,
proprietários de escravos e o império. Eles leram, debateram, fizeram um
resumo e apresentaram, em forma de charge. Depois, perguntei se podia
do
expor as charges e eles gostaram da ideia [...] (PEM, 28/03/2019).
aC
Indagados se os recursos digitais, acessíveis via internet, podem poten-
um fato histórico, de uma forma muito mais dinâmica e leve, não no sentido
de memorizar, mas no sentido de se relacionar com o conteúdo”.
op
mais atraente” (PEM, 28 mar. 2019). PEF (29 mar. 2019) coloca, ainda, que
os artefatos digitais servem para facilitar o trabalho docente: “Eu diria que
também seria até facilitar o meu trabalho pedagógico; realmente, a tecnologia
facilita o trabalho pedagógico”.
Essas falas expressam uma preocupação em associar o uso das tecnolo-
gias com a ação pedagógica do professor, sem se voltar à formação crítica do
aluno. Manifestam, por conseguinte, uma visão instrumental da tecnologia,
r
V
como se seu único fim fosse tornar a aula atrativa para o aluno, motivando-o.
uto
Consoante Lemos (2011), a inclusão digital só pode ocorrer quando o indiví-
duo usa as tecnologias para exercitar plenamente sua cidadania e não somente
por meio do acesso a computadores e internet. Logo, para a plena inclusão
R
digital, cabe pensar a “formação global do indivíduo para a inclusão social”
a
(id., ibid., p. 16), ultrapassando o teor meramente tecnicista. Malgrado essa
percepção de tecnologia como mero instrumento, os entrevistados ressaltam
do
que seus benefícios dependem da forma como serão usadas pelo professor,
aC
isto é, do que os alunos irão fazer com elas. Para eles, é preciso deixar claro o
Editora CRV - versão para revisão do autor - Proibida a impressão
que estou falando ou achar que se decorar aquela frase do livro, já aprendeu”.
Destacou o estímulo à interdisciplinaridade, com a qual o aluno “aprende a
or
r
V
leituras, interpretações de sujeitos históricos situados socialmente” (id., ibid.,
uto
p. 2), sendo o passado tal qual se conhece condicionado pela visão de quem
o recortou para registrá-lo, a partir do seu presente.
Direcionando o olhar para as tecnologias, os pesquisados acreditam serem
R
estas manifestações da cultura que refletem o contexto social e as intenções de
a
seus criadores, com vistas a influenciar seus usuários. Para PEM (28 mar. 2019),
“nada é neutro, tudo o que é criado para o público, tem uma intenção”. Arruda
do
(2013, p. 38) cita como exemplo o ciberespaço que, por ser criado pelo homem,
é “permeado de seus paradoxos, contradições e relações de poder”.
aC
Pinsky (2018) falam. Ante a pergunta sobre o que seria incluir digitalmente
ver dit
aluno” (PEF, 29 mar. 2019); “Seria dar mais o acesso, porque quando eles
têm o acesso, eles desenvolvem mais rapidamente a prática do uso, a técnica.
Como professora, seria permitir que eles tenham o acesso às tecnologias
que, muitas vezes, não têm em casa” (PMF, 28 mar. 2019). Conforme as
E
sã
Hoje em dia, eu acho que a inclusão ainda está muito voltada em propor-
cionar o acesso à tecnologia. Não é só o acesso, porém, mas também a
compreensão daquilo que ele vai querer fazer com ela, do uso dela. Não
HISTÓRIA ENSINADA: uma prosopografia do ensino de história, no Brasil 125
Para esse professor, incluir vai além do mero acesso e domínio técnico,
pois implica usar de modo consciente as tecnologias, embora ainda não
signifique um uso em que o aluno seja produtor e distribuidor de conteúdo
r
V
(LEMOS, 2011). Os três pesquisados admitem que, ao realizarem alguma
uto
atividade com o uso das tecnologias, o papel do aluno é mais de consumidor
das informações e conteúdos por elas veiculados do que de produtor. Reco-
nhecem, porém, que o professor deve oportunizar espaços de produção na
R
aula. PMF (28 mar. 2019), que atua somente no Ensino Fundamental, associa
a
a postura de receptor dos alunos a essa modalidade de ensino, afirmando que
ainda lhes falta nessa fase a criticidade e a autonomia e que eles são incapazes
do
de problematizar as informações que acessam.
aC
A questão que se faz é: até que ponto essa visão de inclusão e do papel
do aluno ao aprender usando tecnologias interfere na forma como o professor
Editora CRV - versão para revisão do autor - Proibida a impressão
são
usa as tecnologias e, consequentemente, na formação crítica, reflexiva e ci-
dadã do aluno, ou seja, em sua inclusão digital? Se ser incluído digitalmente
significa participar ativamente das decisões que envolvem as várias esferas
da vida pública, produzir e compartilhar informações e conhecimento em e
i
sociais, atuando como sujeito da história local e global, é possível inferir, dos
or
dados analisados, que as formas de uso das tecnologias pelos professores in-
vestigados, apesar de favorecerem, mostram-se insuficientes para promover a
inclusão digital dos alunos, necessária para exercer plenamente sua cidadania.
ara
O amparo para tal afirmação advém tanto das formas de uso (ou do
não uso) das tecnologias digitais, especialmente a internet, como do papel
ver dit
de sua cidadania e, por conseguinte, “qualquer projeto que vise a uma trans-
formação social escapa a seu horizonte, pois este sujeito deixou de acreditar
que sua ação seja capaz de qualquer mudança” (id., ibid.).
Infere-se que os alunos nunca compartilharam conteúdo na rede, atuando
sempre como consumidores acríticos, já que, conforme foi mencionado su-
pra, a única atividade desenvolvida com eles é a pesquisa a distância, cujo
resultado é copiado sem ser analisado criticamente. Mesmo as tentativas no
r
V
sentido de fazer os alunos problematizarem os resultados encontrados, via
uto
elaboração de resumos ou resenhas de filmes, produção de slides, paródias,
charges e vídeos do tema pesquisado, relacionando com situações do tempo
presente, não escondem sua não participação e contribuição nos diversos
R
processos interativos, sociais e políticos que ocorrem no ciberespaço, o que
a
impede o pleno exercício de sua cidadania, constituindo-se este outro ponto
para que ele não esteja, de fato, incluído digitalmente.
do
Entretanto, conforme os dados analisados, os pesquisados acreditam que
os usos das tecnologias digitais, incluindo as do ciberespaço, podem, sim,
aC
contribuir para que o aluno se torne um sujeito crítico e reflexivo, um cidadão,
volvidas “por meio de projetos de ensino que articulem temas históricos aos
demais componentes curriculares” (p. 9), a produção de saberes históricos
or
despertem o pensamento reflexivo e crítico do aluno: “Não adianta ter tudo nas
mãos e você não saber como usar. Poderia ter um vídeo, mas com uma dica
de como usar, uma experiência que outro professor já tenha feito” (PEM, 28
mar. 2019). O entrevistado sugeriu a socialização no Portal de planos de aula e
experiências de aula de outros professores de História. O portal oferece, assim,
planos de aula e projetos desenvolvidos por professores de História de outras
regiões do país. Além disso, deixa aberto para que os usuários possam enviar
HISTÓRIA ENSINADA: uma prosopografia do ensino de história, no Brasil 127
Considerações finais
r
V
coletivos sociais. Dessa forma, seu ensino não pode se dar dissociado da vida
uto
dos sujeitos que a constroem e da cultura onde está inserida. Na atualidade,
vive-se na cibercultura ou era digital, marcada pela presença das tecnologias
digitais, notadamente a internet. Estar conectado é poder se comunicar, infor-
R
mar (se), de modo célere e instantâneo, com o mundo todo, algo a que o aluno
a
da Educação Básica está acostumado, por ter nascido imerso nesse contexto.
Esta pesquisa buscou analisar de que forma os usos que os professores
do
de História fazem das tecnologias digitais contribuem para a inclusão digital
dos alunos. Por meio da análise dos dados coletados e da discussão com os
aC
autores que embasaram este estudo, pode-se dizer que o objetivo traçado para
Editora CRV - versão para revisão do autor - Proibida a impressão
tivo foram citadas como as tecnologias mais usadas, juntamente com o vídeo.
rev
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safios para os professores. In: MAGALHÃES, Marcelo et. al. (Org.). Ensino
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R
a
do
aC
O PERÍODO DE REDEMOCRATIZAÇÃO
NOS LIVROS DIDÁTICOS DE HISTÓRIA.
AS IMAGENS QUE CONCLAMAM
r
V
UM BRASIL DEMOCRÁTICO
uto
Risalva Ferreira Nunes de Medeiros
Paulo Augusto Tamanini
R
a
O livro didático encontra-se presente na cultura escolar por muitas gera-
do
ções, perpassando várias fases, acontecimentos e transformações sociais. De
modo geral, é construído por objetos complexos de relações. Para Monteiro
aC
(2013, p. 209), os livros didáticos são “[...] produtos de relações entre grupos”
Editora CRV - versão para revisão do autor - Proibida a impressão
são
que envolvem diferentes agentes em sua constituição e apropriação, sendo
frutos de ações e demandas sociais específicas. São materiais que divulgam de
forma massiva o conhecimento socialmente legítimo, tendo por característica
a sua produção atrelada às relações entre o saber escolar, as políticas educacio-
i
r
V
Estado nacional moderno. Um projeto único e homogêneo de educação
uto
significou, na prática, excluir, consolidar distinções e criar ambiguida-
des. Nesse sentido, a educação e a disciplina de História tiveram caráter
enciclopédico e moral, marcado pela ideia de progresso, que deveria dar
visibilidade à Nação.
R
a
A partir do trecho acima, entende-se que quando as estruturas educacionais
do
estão definidas e abrem o caminho para distribuir e interagir com a informação,
a transformação advinda com essa influência transcende para outras áreas do
aC
conhecimento. Pode-se dizer, então, que a educação tem por objetivo formar
r
V
das Imagens é o objetivo deste estudo, a fim de verificar de que maneira
uto
contribuíram com a redemocratização do Brasil.
O presente estudo coteja os trabalhos de Paiva (2006) e Zamboni (2007,
2008), que analisaram as imagens nos livros didáticos para além de uma função
R
a
ilustrativa, auxiliando o aluno na construção de um conhecimento histórico
reflexivo e crítico.
do
O Período Militar e a Redemocratização do Brasil
aC
Editora CRV - versão para revisão do autor - Proibida a impressão
1964 a 1969, o regime militar utilizou a edição de Atos Institucionais (AI) para
impor decisões que visavam garantir a permanência dos militares no poder.
Esses atos eram decretos e normas que se colocavam acima da Constituição
vigente, mesmo depois dos militares outorgarem sua própria Constituição
Ditatorial, em 1967. O decreto garantia amplos poderes ao executivo, como
cassar mandatos, suspender direitos políticos, aposentar funcionários civis e
134
r
V
uto
Os Atos Institucionais foram utilizados, portanto, como mecanismos
de legitimação e legalização das ações políticas dos militares, estabelecendo
para eles próprios diversos poderes extra constitucionais. Esses atos não estão
R
mais em vigor desde o fim do Regime Militar.
a
Havia vários projetos que propunham uma saída para o contexto que
do
o Brasil vivenciava. Os liberais, mais moderados, defendiam a liberdade de
expressão e de organização partidária, o fim da censura, o respeito aos di-
aC
reitos civis. Já a esquerda, dividida entre comunistas, petistas e trabalhistas,
O capitalismo não é criticado por não ser democrático, mas por não
ser suficientemente democrático. Sempre que o princípio do Estado e
or
r
V
leiros naquele período podemos ver no trecho do artigo elaborado pelo então
uto
deputado constituinte, Paulo Paim:
Não podemos nos esquecer que a campanha ‘Diretas Já’ (1984) fez crescer a
R
esperança em meio a nossa gente. Desejava-se a rápida transição, ansiava-se
a
pela abertura democrática. O Brasil viu o crescimento dos movimentos estu-
dantis. Pouco a pouco estava conquistando o direito à liberdade de expressão
do
e rumava ao exercício pleno da cidadania. Começavam-se a se desenhar
as primeiras linhas do que viria ser a Constituinte (PAIM, 2008, p. 134).
aC
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cargo, sendo empossado o seu vice, José Sarney, que havia apoiado o governo
militar e chegou a liderar o partido situacionista, migrando para a oposição
or
pouco antes das eleições. Tancredo morreu dias após a posse de Sarney e o
Brasil, governado por um presidente civil, começava a superar os vinte e um
anos de regime militar.
ara
ver dit
2006, p. 18). Mas a função que ocupam em relação aos textos que as acom-
panham é, muitas vezes, a de mera ilustração, ou apenas para confirmar as
informações escritas. Isso acaba por desvalorizar as fontes visuais, que devem
ser exploradas ou até se opor aos textos, instigando o aluno a pensar e a refletir
sobre as representações imagéticas.
A iconografia é, certamente, uma fonte histórica das mais ricas, que traz
embutida as escolhas do produtor e todo o contexto no qual foi concebida,
r
V
idealizada, forjada ou inventada. Nesse aspecto, ela é fonte como qual-
uto
quer outra e, assim como as demais, tem que ser explorada com muito
cuidado. Não são raros os casos em que elas passam a ser tomadas como
verdade, porque estariam retratando fielmente uma época, um evento,
um determinado costume ou uma certa paisagem. Ora, os historiadores e
R
os professores de história não devem, jamais, se deixar prender por essas
a
armadilhas metodológicas (PAIVA, 2006, p. 17).
do
É correto afirmar que as imagens não podem ser vistas como verdades
absolutas sem antes serem exploradas. É relevante a complexidade de signi-
aC
ficados e interpretações que as metodologias de uso de imagens podem trazer
retrata a realidade, mas sempre tem muito mais a ser apreendido, além da visão
or
que uma primeira leitura pode trazer. Existem as leituras visíveis ou explí-
citas das imagens e, também, as implícitas. De fato, todas as representações
iconográficas deixam lacunas que necessitam ser pesquisadas, descobertas
ara
e ressignificadas.
ver dit
r
V
do passado, pois trazem o registro do imaginado, do representado, do criado
uto
do reconstruído. Junto ao texto são analisadas como uma fonte única em que
a linguagem pictórica e textual discorrem sobre um pretenso passado.
Alertando para o fato do exercício de leitura de imagens sobre a dimensão
R
do complexo processo histórico brasileiro, Paiva (2006, p. 55) afirma:
a
O que se verá é que, por vezes, pequenos detalhes podem significar
do
chaves para exames aprofundados; que comparações entre imagens e
entre elas e outros documentos podem revelar aspectos camuflados dessa
aC
história; que porções importantes dessa realidade passada estão apenas
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são
sugeridas nessas imagens e que elas nunca vêm com uma espécie de
legenda definitiva, por meio da qual o leitor, seja qual for a sua época,
poderá lê-las e compreendê-las. As representações iconográficas, assim
como qualquer outro documento, repito, são lidas sempre no presente,
por meio de filtros e de chaves, para continuar fazendo uso dessas me-
i
Por isso, elas adquirem novos significados a cada nova leitura, a cada
nova época, e por isso também elas oferecem novas respostas às novas
or
indagações que são colocadas. Nem a imagem que pretendeu ser a mais
fiel das cópias de uma realidade qualquer jamais o será, assim como
acontece com qualquer interpretação historiográfica.
ara
r
V
uto
R
a
do
aC
Foto: Kioshi Araki/Agência (2016).
r
V
greve, houve outras em 1979 e 1980, envolvendo também outras categorias,
uto
como a dos petroleiros, professores e bancários, por todo o Brasil, o que evi-
denciou uma ascensão do movimento trabalhista no período.
R
Figura 3 – Luiz Inácio Lula da Silva discursando em uma greve
a
de metalúrgicos do ABC Paulista, em maio de 1978
do
aC
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são i
rev
or
ara
r
V
uto
R
a
do
aC
Considerações finais
r
V
construção do conhecimento.
uto
A análise das imagens no período da Redemocratização revelou a im-
portância destas enquanto recurso de aprendizagem desde que estimulem a
reflexão. Isso implica dizer que nem todas são autoexplicativas. Essas ima-
R
gens trazem o registro do vivenciado, flagrado com o intuito de veiculação
a
de informações a partir de uma ótica, ou seja, aquela vivenciada por quem
as produziu. A análise dessas imagens faz cutucar as intenções, os interesses
do
políticos, que tentavam construir uma memória sobre a Ditadura e sobre o
aC
Período de Redemocratização.
Com o fim do Governo Militar, em março de 1985, é possível perceber
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são
através das imagens nos livros didáticos, uma sensação de esperança e, ao
mesmo tempo, de apreensão quanto a redemocratização do país. Como cita
Paulo Paim (2008) “Não podemos nos esquecer que a campanha ‘Diretas Já’
(1984) fez crescer a esperança em meio a nossa gente”. Portanto, as imagens
i
estão ali com uma função, para além da ilustração: ela também é um tipo de
narrativa que se apropria de uma linguagem.
E
sã
142
REFERÊNCIAS
r
V
da Educação Nacional. Lei n.09.394/96, de 20 de dezembro de 1996. Dis-
uto
ponível em: <portal.mec.gov.br/index.php?option=com_content&view=arti-
cle&id=12814&Itemid=872>. Acesso em: 2 de mar. 2019.
R
a
BRASIL. Plano Nacional do Livro Didático (PNLD). Brasília: MEC; SEF,
2017. Disponível em: <http://portal.mec.gov.br/busca-geral/318-programas-e-
do
-acoes-1921564125/pnld-439702797/12391-pnld>. Acesso em: 2 de mar. 2019.
aC
CAMPOS, Flávio de; PINTO, Júlio Pimentel; CLARO Regina. Oficina de
PAIVA, Eduardo França. História & Imagens. ed., 1. reimp. – Belo Horizonte:
Autêntica, 2006. 120 p. (Coleção História &...Reflexões, 1).
HISTÓRIA ENSINADA: uma prosopografia do ensino de história, no Brasil 143
r
V
mundo. 1. ed. São Paulo: Scipione, 2016.
uto
ZAMBONI, E. Espaços de formação do professor de história. Campinas:
Papirus, 2008. p. 241-259. De Severino
R
a
ZAMBONI, E. (Org.). Digressões sobre o Ensino de História: memória,
história oral e razão histórica. Itajaí: Maria do Cais, 2007, p. 9-18.
do
aC
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são i
rev
or
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ver dit
op
E
sã
E
ver dit
sã or op
ara aC
rev R
i são V
do
a uto
r
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CAPÍTULO 12
ARQUITETURA ESCOLAR E
DISCIPLINARIZAÇÃO DOS SENTIDOS.
OS USOS DE IMAGENS DO PASSADO
r
V
EM UM COLÉGIO JESUÍTA NOS TEMPOS
uto
DA NACIONALIZAÇÃO VARGUISTA
Rogério Luiz de Souza
R
a
do
A Política de Nacionalização do início dos anos 1930, no Brasil, e do
período subsequente, denominado de Estado Novo, estava comprometida com
aC
um projeto que visava, entre outras coisas, à regeneração social e à recondução
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r
V
autônoma e reflexiva do sujeito do conhecimento.
uto
A questão que logo nos vem, então, é sobre como é possível manter os
sujeitos nesse estado de sujeição sensitiva, pois esses mesmos sentidos ligados
que estão, por uma compreensão filosófica, ao mundo do impulso e dos ins-
R
tintos não estariam, por si só, desligados dos sistemas de controle, resistindo?
a
Nesse caso, a ação disciplinar dos agentes institucionais do Estado Novo
acaba se justificando tanto pela necessidade de manter os sentidos em alerta
do
constante quanto pela necessidade de ligá-los aos sistemas de controle, sujei-
aC
tando-os à vigilância sistemática e à repressão efetiva. O processo de sujeição
repete várias vezes e usa de imagens e gestos para imprimir nos sentidos os
sinais convencionados que devem funcionar como elementos exclusivos na
op
r
V
que deixou de sofrer a intervenção direta do rito. Ou seja, a ética dos sistemas
uto
espaciais ou, em outros termos, a ética daquela arquitetura sensitiva em seu
contexto de reprodutibilidade e que se impôs a olhos vistos pelo conjunto de
imagens ou de suas representações pressupôs a ética criada pela imagética do
R
rito, numa relação indissolúvel entre os princípios de responsabilidade pelo
a
bem coletivo e os de realização pessoal. E esse conjunto, pois, de imagens,
diz Marilena Chauí, foi um
do
espelhamento ampliado e iluminado da experiência imediata, dotadas da
aC
capacidade de unificar aquilo que nesta última aparece fragmentariamente.
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r
V
zesse frente à heterogeneidade étnica, ao regionalismo político e à falta de
uto
uma unidade econômico-cultural. E ter presente a brasilidade nos e pelos
sentidos era um exercício disciplinar cotidiano que entrava nas estratégias de
reprodução, repetição, controle, vigilância e punição estado-novista. Tanto
R
os momentos solenes ligados ao sistema ritual sensitivo de entronização do
a
crucifixo nos tribunais do júri ou a inauguração de um retrato no espaço escolar
ou a exposição de um quadro em um museu de arte ou o descerramento de
do
um mural no hall de entrada de uma repartição pública como a proliferação
aC
de quadros, retratos e imagens nas paredes do espaço privado das casas ou
13 Pintor, desenhista e muralista brasileiro, Martinho de Haro iniciou-se na pintura em Lages, Santa Catarina.
Estudou na Escola Nacional de Belas Artes, no Rio de Janeiro de 1927 a 1937. Viajou à Paris em 1938,
onde estudou com Otto Friez. Retornou ao Brasil em 1939, permanecendo em Florianópolis até o final de
sua vida em 1985.
HISTÓRIA ENSINADA: uma prosopografia do ensino de história, no Brasil 149
r
V
domesticar os sentidos para uma única e determinada direção e experiência
uto
do real, e uma outra, externa, porque prepara o sujeito a identificar o que torna
nocivo à ordem, àquela mesma definida pela arquitetura sensitiva do ambiente.
R
O Espaço escolar e a arte de disciplinar os sentidos
a
A capacidade, pois, formativa dessa arquitetura encontramo-la, como já
do
dissemos, em todos os lugares, invadindo a cotidianidade e tomando corpo.
aC
Não se trata aqui de fazer a História de todos esses lugares, no que podem
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aparência, de poder e de saber, mas que também lhe dará a visão mais exata
de si e dos demais, em vista da posição social que se está ou pretende estar.
O espaço escolar fazia parte do processo de nacionalização. Depois da
vitória dos “revolucionários” de 1930, o governo varguista teve pressa em
E
sã
enterrar o passado liberal. Para que isso fosse possível, o estado contou com
um aparato de divulgação e habituação dos sentidos que extrapolou a esfera
da propaganda política e emaranhou-se nas instituições e no cotidiano das
pessoas. Não bastava o triunfo, precisava-se persuadir e convencer a todos
da disposição dos agentes estatais em construir uma pátria ordeira e genuina-
mente brasileira. As instituições escolares deveriam defender esse propósito
e se constituírem como instrumentos de viabilização desse nacionalismo.
150
r
V
uto
Colocar a instituição escolar em primeiro plano era, portanto, a condição
necessária para superar o complexo de inferioridade. Disso nascia o incontido
desejo de agrupar tudo e todos em uma mesma finalidade social e patriótica.
R
a
A educação escolar existiria para formar o educando dentro dos princípios
do corpo social hierarquizado, definido pelo Estado. A reforma de Francisco
do
Campos (1931) e a reforma de Gustavo Capanema (1942) para a educação
brasileira apontaram para essa direção e garantiram, pela primeira vez no
aC
Brasil, uma organização e um método comum para todas as escolas públicas
nas massas, que era preciso tornar habituais entre o povo (NÓBREGA,
1952, p. 311).
op
r
V
tir-se de referenciais cívico-religiosos. O Ginásio Catarinense, considerado
uto
um dos melhores estabelecimentos escolares do Brasil, tinha também sua
importância nesse processo de formação dos sentidos dos sujeitos e, é claro,
no processo de nacionalização. Passou mesmo de Ginásio para Colégio por
R
força do Decreto-Lei n° 11.235, de 06 de janeiro de 1943, em pleno Estado
a
Novo. Desde então denominado de Colégio Catarinense – instituição escolar
da Companhia de Jesus, que por cem anos vem oferecendo ensino, quase
do
sempre, aos filhos da elite letrada e dirigente do estado de Santa Catarina –
aC
iniciou suas atividades escolares em 15 de março de 1906. Sua emergência,
em regime de internato e externato masculino, vinha de certa ineficácia do
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são
governo catarinense em garantir um instituto de ensino secundário público
e da vontade da hierarquia católica em assegurar um colégio sem as feições
liberais da Primeira República.
O Colégio Catarinense, portanto, não poderia deixar de estar situado
i
rev
para promover os ideais nacionais entre uma mocidade masculina que deveria
assumir as responsabilidades maiores dentro da nação. Segundo o inspetor
federal, o Colégio Catarinense não era somente um estabelecimento de estudo,
mas, em verdade,
E
sã
era uma grande casa de família onde todos se dedicavam a uma só finali-
dade que era a de preparar jovens para serem dignos da sociedade e que
pudessem ingressar na vida prática com sólidos conhecimentos culturais,
religiosos e sociais. Não saíam tontos, porque iam fortalecidos pela fé
(GINÁSIO CATARINENSE, 1940, p. 39).
152
r
V
que se queriam educar, isto é, aprender a obedecer e prezar a autoridade e as
uto
ordens dos seus prepostos.
A “revolução” de 1930 inaugurara um momento emergencial, uma nova
era, na qual se queria prever os efeitos e garantir a estabilidade social longe de
R
qualquer alteridade estranha ao regime e ao “bom encaminhamento social”. Os
a
sujeitos deveriam internalizar os valores que seriam capazes de proporcionar a
verdadeira engenhosidade humana. Era o momento da introspecção de valores
do
inventados, nos quais supostamente se estaria realizando a rememoração das
aC
raízes nacionais. De nada valeriam as tecnologias, a ciência e a educação se
r
V
CATARINENSE, 1944, p. 9).
uto
As comemorações cívico-religiosas no Colégio revelam, pois, a montagem
arquitetônico-sensitiva e as intenções de um projeto e uma prática naciona-
R
lista. Ritualizando um sistema comum de crenças e de significados capazes de
a
estabelecer uma unidade interpretativa, a recorrência a estes espaços aglutina-
dores traduzia os sentimentos dos seus representantes e revelavam a vontade
do
de seus autores. Esse processo inculcador, todavia, dependia – como estamos
aC
insistindo desde o início desta nossa discussão – da disciplinarização/sujeição
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Geral; Minha Terra, poesia pelo aluno José Gallotti e Hino Nacional, por
todos os alunos; a seguir foi pronunciado o inspirado e patriótico discurso
pelo Padre Prefeito Geral (GINÁSIO CATARINENSE, 1938, p. 74).
E
sã
Não seria por outra razão que a estrutura curricular contemplaria esses
r
propósitos, explicando-os dentro do entendimento nacionalista. O aumento
V
das cargas horárias para o ensino de História, Geografia e Língua Nacional
uto
e a introdução das disciplinas de Economia Política e Sociologia indicavam
o eixo no qual girava o currículo escolar. Nesses espaços curriculares, pre-
ferencialmente, os alunos deveriam ser moldados nos princípios morais e
R
a
religiosos da pátria brasileira, reconhecendo a partir dos estudos da Ciência
Econômica e da Sociologia o direito à propriedade e o respeito à família e ao
do
Estado (GINÁSIO CATARINENSE, 1942, p. 12). Mas o solene ritual – ao
confirmar e sacralizar esses princípios morais – dava aos sentidos uma sen-
aC
sação de ordenamento, normalidade e “habituidade”, já que a reação coletiva
Inácio de Loyola. Ficaram por conta das figuras de Anchieta, Nóbrega e Vieira
todos os discursos e pronunciamentos oficiais. Isso traduzia o momento forte
de efervescência nacionalista. Buscava-se nos jesuítas lusitanos, e somente
neles, uma forjada continuidade de práticas tipicamente luso-brasileiras, con-
substanciada na raça, na língua portuguesa e na fé católica. Apropriava-se de
uma história em vista daquilo que se queria legitimar e construir no presente.
E nas paredes do colégio, retratava-se o ideal de brasilidade.
r
V
Anchieta passara a ser, no discurso do cronista, “o pioneiro da consciência
uto
nacional e o símbolo da fé, da ciência, da virtude, do patriotismo” (GINÁSIO
CATARINENSE, 1942, p. 12), antes mesmo do nascimento da ideia de Brasil
ou de nação brasileira. Eis, pois, aí, uma linguagem que contém armadilhas e
R
ao mesmo tempo uma função prática e social. Como falamos anteriormente,
a
essa imagem de Anchieta habituaria os sentidos a uma forma de perceber e
conceber a realidade. Para o momento estado-novista de criação de uma nova
do
identidade nacional, “a juventude [do Colégio Catarinense] que aprendia o
aC
temor de Deus, que se formava no cultivo das ciências, não podia esquecer,
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que era dever de todos e imposto por Deus, o amor à pátria, o amor íntegro,
são
o amor capaz de todos os sacrifícios” (GINÁSIO CATARINENSE, 1942,
p. 16). A glorificação de Anchieta, ou melhor, dessa arquitetura sensitiva
permitida pelo rito, deveria levar o jovem a reconhecer quais eram as origens
do Brasil e a renovar o batismo nacional (GINÁSIO CATARINENSE, 1942,
i
rev
r
V
e caótica exatamente pela liberdade que dava. Para se imprimir um novo ritmo
uto
à vida nacional, apresentou-se como necessário um governo forte, austero,
que encarnasse supostamente as inspirações da nação brasileira. E a ditadura
de Vargas deveria confirmar essa expectativa, ao ressignificar o princípio
R
da autoridade.
a
A visita de Getúlio Vargas à capital do Estado de Santa Catarina em
março de 1940 projetou esta imagem de otimismo e de transformação social,
do
centrando a esperança da coletividade na formação de uma pátria unida, mo-
aC
derna e próspera. Ele representava – para os alunos do Colégio Catarinense
que se fizerem presentes à solenidade – o corajoso combatente da alteridade
deixando aos sentidos a sensação – porque também está motivada pelo rito
– de encontrar nesse retrato a segurança e a estabilidade sociais. O que quer
dizer, segundo Bronislaw, que
r
procurando em especial invalidar a sua legitimidade; por outro lado,
V
exaltam através de representações engrandecedoras o poder cuja causa
uto
defendem e para a qual pretendem obter o maior número de adesões
(BRONISLAW, 1985, p. 300).
R
O fato de sentir-se habituado a ver esse retrato ou aquele quadro – o que
a
é permitido pelos sentidos numa determinada arquitetura sensitiva – confere
segurança e tranquilidade ao esforço de todos de se sentirem integrados e
reconhecidos naquele espaço.
do
aC
Por isso, a ascensão à presidência da República era de fato cada vez mais
vista como necessária para que se pudesse destruir o mal que espreitava a
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são
nação. Nas palavras do cronista do Colégio, encontramos a construção dessa
imagem do herói salvador da pátria:
Novo realmente é o pai do Brasil: a ele o nosso apoio irrestrito. O que Getúlio
Vargas fez para facilitar e harmonizar todos os membros da nação não há
palavra que exprima dignamente (GINÁSIO CATARINENSE, 1943, p. 13).
ara
Realmente não havia palavra que exprimisse. Por essa razão, esses
ver dit
intenções. Getúlio era visto como o herói a quem Deus abençoou através de
seus representantes na terra, dando-lhe o poder de ser chefe de uma nação.
A fabricação desse herói, por retratos e quadros que se repetiam e se repro-
E
sã
r
V
mogênea entre seus alunos. Cada moço deveria reconhecer-se em Vargas,
uto
considerado como autêntico defensor dos interesses da nação brasileira. Enfim,
deveriam esses padres colaborar com a ordem, vendo-se como responsáveis
diretos pela execução dessas metas.
R
Portanto, a constituição de uma arquitetura sensitiva no espaço escolar
a
deveria ajudar – como uma verdadeira maquinaria de propaganda e controle – a
compor a trama estado-novista e a promover a domesticação/disciplinarização
do
dos sentidos. As ritualizações e as técnicas de reprodutibilidade das imagens
aC
tiveram a função de divulgar, generalizar, uniformizar, habituar e manter os
REFERÊNCIAS
r
V
Lisboa: Imprensa Oficial – Casa da Moeda, 1985.
uto
CHAUÍ, M.; FRANCO, M. Ideologia e participação popular. São Paulo/
Rio de Janeiro: Cedec; Paz e Terra, 1979.
R
a
CAPANEMA, Gustavo. Exposição de motivos da Lei Orgânica do ensino
do
secundário. In. NÓBREGA, Vandick Londres da. Enciclopédia da Legislação
do Ensino. Rio de Janeiro: Revista dos Tribunais, 1952.
aC
Editora CRV - versão para revisão do autor - Proibida a impressão
rianópolis, 1940.
DIVERSIDADE E O ENSINO DE
HISTÓRIA: mulheres no processo de
colonização através do filme “desmundo”
r
V
uto
Silene Ferreira Claro
do
aceitam como tais, principalmente em relação ao avanço das pesquisas na
área das Ciências Humanas.
aC
Durante o século XX, situações como a Segunda Guerra Mundial, além
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Gênero
A definição mais corrente de gênero é a que o considera uma categoria
relacional, ou seja, gênero é entendido como o estudo das relações sociais
ver dit
r
pode ser avaliada e discutida enquanto elemento estrutural, pelo conhecimento
V
histórico. A partir de tal reflexão, podemos destacar que a sociedade brasileira
uto
é marcada pela violência de gênero, conforme os dados abaixo:
“VIOLÊNCIA SEXUAL
R
– O Brasil registrou 1 estupro a cada 11 minutos em 2015. [...]
a
– Cerca de 70% das vítimas de estupro são crianças e adolescentes. Quem
mais comete o crime são homens próximos às vítimas. (Fonte: Ipea, com
do
base em dados de 2011 do Sistema de Informações de Agravo de Notifi-
cação do Ministério da Saúde)
aC
– Há, em média 10 estupros coletivos notificados todos os dias no sistema
r
V
uto
Na sala de aula, devemos estar sempre atentos para mostrar que a domi-
nação masculina e a violência de gênero estão baseadas em percepções
de gênero desenvolvidas e alimentadas por diversos mecanismos do meio
social: pela escola, pela própria família, na vida profissional e assim por
R
a
diante. Em suma, a dominação de gênero (que pode ter uma face bem
sutil e invisível), quase sempre, é incorporada pelas mulheres dominadas,
devido à forma como as instituições sociais são constituídas e as ima-
do
gens que elas transmitem. No meio escolar, devemos nos acautelar para
não reproduzirmos preconceitos arraigados em livros didáticos, filmes,
aC
músicas e em outras linguagens. É fundamental estimular nas alunas e
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ainda, como uma subárea da História que transite e dialoga com outras
áreas das ciências sociais (SADDI, 2010). A reivindicação dos defensores
da Didática da História é a de que os historiadores retomem suas relações
com a vida prática, proporcionando e mediando conhecimentos que pos-
sibilitem a orientação no tempo, conectando passado, presente e futuro.
Esse último tempo, sob a perspectiva de Rüsen, não pode ficar de fora das
preocupações do historiador, pois ele deve assumir que a História promove
orientações no tempo presente a partir de respostas encontradas no passado
164
r
V
suas identidades. Colocada dessa forma, a Didática da História demonstra
o quanto é importante a mediação do historiador, com sua cientificidade e
uto
metodologia de pesquisa, realizando uma intervenção racional nos vários
conhecimentos (CLARO, 2014, p. 2-3).
R
Por dentro do filme Desmundo
a
O filme “Desmundo”, do ano de 2001, dirigido por Alain Fresnot, com
do
roteiro de Anna Muylaert, foi baseado no livro homônimo, escrito por Ana
aC
Miranda. Trata-se de um romance que narra uma história que se passa no Brasil
que o filme foi produzido em português arcaico, o que contou com vasta
pesquisa, podendo desenvolver atividade conjunta com professor de Língua
op
r
V
uto
R
a
do
Fonte: Disponível em: <http://www.unilab.edu.br/wp-content/uploads/2016/03/
Navio-Negreiro.-Rugendas.-1830-345x199.png>. Acesso em: 16 maio 2019.
aC
Figura – Cena no engenho – 54 min
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são i
rev
or
ara
ver dit
r
V
uto
R
a
do
aC
Fonte: SOARES, Mariza de Carvalho Soares. Engenho sim, de açúcar não o engenho
de farinha de Frans Post. Varia hist. V .25 n .41. Belo Horizonte jan./jun. 2009
HISTÓRIA ENSINADA: uma prosopografia do ensino de história, no Brasil 167
r
V
enviavam todos aqueles que eram indesejados e, muitas vezes, irrecuperáveis,
uto
para povoar o continente descoberto, situação que fica muito marcada pelas
personagens do núcleo familiar de Francisco de Albuquerque.
Muitos destes europeus que chegaram no Brasil vinham na condição de
R
a
degredados e, assim sendo, bastante propensos a se desgarrarem dos valores
cristãos, praticando todos os tipos de “pecados”, e a insinuação da relação
do
incestuosa entre Francisco, a mãe e a irmã, dá ensejo a tal discussão. Visando
combater a permissividade nos trópicos, os padres aqui presentes, eram os
aC
responsáveis por manterem a moral e educarem – ou reeducarem – os que se
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escravização indígena.
Através da narrativa do filme, também, é possível analisar o papel dis-
ciplinador e punitivo da Igreja Católica, em especial em relação às mulheres.
A lição da Dona Brites, na hora do banho das órfãs, é um bom momento
E
sã
r
V
previsto indica de saída, contrario sensu, que a explosão do desejo da mo-
uto
cinha virgem à senhora casada era não raro difícil, muito difícil mesmo, de
controlar. Das leis do Estado e da Igreja, com frequência bastante duras, à
vigilância inquieta de pais, irmãos, tios, tutores, e à coerção informal, mas
forte, de velhos costumes misóginos, tudo confluía para o mesmo objetivo:
R
abafar a sexualidade feminina que, ao rebentar as amarras, ameaçava o
a
equilíbrio doméstico, a segurança do grupo social e a própria ordem das
instituições civis e eclesiásticas (ARAÚJO, 2017, p. 45).
do
A trajetória da personagem Oribela, órfã beata, filha de comerciante em
aC
Portugal, e da freira Maria, que acompanhou as jovens nubentes, permitem
desposar a jovem branca, católica e ainda receber dotes, confirma seu prestígio
social que, em nada, se associava à nobreza de modos ou de caráter.
ara
destacada, visto que nos livros de história, quase não há referência aos cris-
tãos novos e perseguição a judeus. Alain Fresnot, ele próprio e sua família,
teriam fugido da Europa, durante o período da ascensão do nazismo. Como
toda obra cinematográfica que narra um momento histórico, é importante
observarmos o quanto do presente dos idealizadores da obra está presente
em suas abordagens, construção de enredo, cenografia.
A figura do Ximeno, mercador, é o contraponto da figura de Francisco
r
V
de Albuquerque, o senhor de engenho e caçador de indígenas, insinuando,
uto
algumas vezes, a figura do bandeirante, e porta de entrada para o sertão, pavor
da personagem Oribela. Ximeno, por outro lado, mercador, viajante, seria o
elo entre a moça e o Velho Mundo.
R
A velha Maria, a freira mais idosa, representa o domínio que a sociedade
a
e a Igreja faziam sobre a mente e o corpo da mulher. Logo na chegada, ela
é ríspida em relação às moças, para que tomassem cuidado com o sol, que
do
não deveria queimar as peles, brancas. Afinal, era a brancura da pele que as
aC
tornavam tão importantes. No decorrer da narrativa descobrimos que ela teria
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livres, sendo estes tratados de forma inferior aos escravizados, visto que, em
suas atividades, não geravam riqueza, especialmente numa sociedade que se
inseria no capitalismo. Sem cair numa visão anacrônica, é possível identificar,
através do filme Desmundo, os precursores de tais desclassificados, homens
E
sã
tão pobres que não tinham valor perante a sociedade. Tal situação pode ser
observada através dos trabalhos realizados e dos diálogos dos homens que
construíam a vila, quando da chegada das órfãs.
Outra questão abordada no filme, que pode trazer uma discussão im-
portante sobre diversidade, é em relação a deficientes. No início do filme, no
momento do contrato de casamento, é possível perceber que uma das órfãs
era cega, revelando que Portugal também se “livrava” de deficientes físicos,
170
r
V
Esta obra cinematográfica pode ser trabalhada com de alunos do primeiro
uto
ano do Ensino Médio, levando em consideração a classificação etária, que
é de 14 anos. Devemos observar as cenas mais polêmicas e, ao exibi-lo na
escola, a sugestão é a de cortar as mesmas, explicando o motivo para os alu-
R
nos. No caso de solicitar que assistam em casa, comunicar as famílias sobre
a
o conteúdo das cenas mais polêmicas. Após analisar a formação da sociedade
brasileira, podemos dar especial atenção à questão da mulher e a sociedade
do
patriarcal brasileira. Uma boa estratégia é, se a escola fizer uso de materiais
didáticos, após assistirem ao filme e fazerem a leitura do material, solicitar aos
aC
nossos alunos que busquem informações sobre as permanências da sociedade
doméstica, por exemplo. A partir daí, propor a reflexão de como tais situações
podem afetar o cotidiano deles na atualidade.
Muitas outras atividades podem ser realizadas a partir da análise e
ara
REFERÊNCIAS
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BITTENCOURT, Circe Maria Fernandes. Ensino de história: fundamentos
uto
e métodos. São Paulo: Cortez, 2008.
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aC
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STEARNS, Peter. História das relações de gênero. São Paulo: Contexto, 2007.
i
rev
r
V
uto
Vanusa Maria Gomes Noronha
Paulo Augusto Tamanini
R
O presente capítulo tem como objetivo suscitar a discussão sobre a figura
a
da mulher veiculada nos atuais livros didáticos de História. Este trabalho jus-
tifica-se pela necessidade de entender qual imagem feminina é disseminada
do
nos livros didáticos, quais papéis são condicionados à mulher na sociedade
aC
atual e de que forma são abordados nos livros didáticos.
Editora CRV - versão para revisão do autor - Proibida a impressão
Nas aulas de História, por exemplo, nas quais os processos comunicativos são
rev
r
V
tanto, persiste ocupando um papel central.
uto
O caminho percorrido pelos livros didáticos até as escolas brasileiras teve
início em 1929, com a fundação de um órgão específico para legislar sobre políticas
do livro didático, o Instituto Nacional do Livro (INL). Seu intuito era promover
R
a
a efetivação do livro didático nacional, mas depois desse primeiro momento,
demorou algum tempo para seguir adiante, e somente em 1934, no governo do
presidente Getúlio Vargas, o INL recebeu suas primeiras atribuições, como editar
do
obras literárias para a formação cultural da população, elaborar uma enciclopédia
aC
e um dicionário nacionais e expandir o número de bibliotecas públicas.
Somente em 1938, o livro didático voltou ao destaque das discussões,
Porém os recursos não foram suficientes para atender todos os alunos do ensino
fundamental da rede pública, e a solução encontrada foi excluir do programa
a grande maioria das escolas municipais.
E
sã
r
V
educacionais, materiais de reforço e correção de fluxo, materiais de formação
uto
e materiais destinados à gestão escolar, entre outros.
Desde 2019, os livros dos anos iniciais passaram a ser do aluno, não
precisando ser devolvidos ao final do ano letivo, o que faz do livro um recurso
R
para futuras pesquisas e consultas. Diante desse breve resgate da história do
a
livro didático, nos interessa aqui investigar como a mulher é retratada nos
livros didáticos para os conteúdos de ensino de história. A seguir uma breve
do
discussão sobre o papel da mulher.
aC
Marcando o perfil feminino na Historiografia
Editora CRV - versão para revisão do autor - Proibida a impressão
são
Nossa sociedade possui características de um regime patriarcal, na qual
as mulheres historicamente tiveram os seus direitos negados, foram vítimas
de opressão, preconceito e silenciamento de sua história. A figura da mulher
i
rev
casa e ao pouco convívio com pessoas externas à vida privada; seguido pelo
silêncio das fontes, já que as mulheres deixaram poucos registros escritos
op
sobre a sua vida, sua trajetória, e os vestígios existentes eram feitos pelo
olhar do homem, na maioria das vezes, a partir de estereótipos sociais que
inferiorizam o papel feminino:
E
sã
r
V
os vestígios relacionavam a mulher à família, e os papéis do marido eram
uto
considerados superiores. Em contrapartida os papéis femininos eram dimi-
nuídos, ocasionando, assim, um apagamento da história da mulher. Segundo
Perrot (2015, p. 22):
R
a
[...] Convencidas de sua insignificância, estendendo à sua vida passada
o sentimento de pudor que lhes havia sido inculcado, muitas mulheres,
no ocaso de sua existência, destruíram – ou destroem – seus papeis pes-
do
soais. Queimar papéis, na intimidade do quarto, é um gesto clássico da
mulher idosa.
aC
Todas essas razões explicam que haja uma falta de fontes não sobre as
feminino foi visto, e, por vezes, ainda o é, como inferior, relegando à mulher
a um papel secundário frente ao poder masculino.
Desta forma, a visão da mulher como “inferior” ao homem não é um fato
ara
nina um ser menor e, por isso, não consideravam a igualdade entre homem e
mulher, ao contrário, o que se ligava ao mal era associado à mulher.
[...] Das leis do Estado e da Igreja, com frequência bastante duras, à vi-
E
sã
A mulher era vista como um ser inacabado, por isso precisava ser vigiada
a fim de que sua sexualidade fosse contida, ou seja, era controlada por todas
HISTÓRIA ENSINADA: uma prosopografia do ensino de história, no Brasil 179
r
V
cotidiano. Mas não podemos quantificar até que ponto o avanço da tecnologia
uto
recria significados impostos pela hegemonia e até onde privilegia a criticidade.
De acordo com Silva (2018), as representações e ideologias estão presen-
tes em todas as manifestações comunicativas. Em diferentes campos, sejam
R
temas sociais, políticos ou das religiões:
a
[...] as novas interpretações, propiciarão a criação de outras representações,
do
caracterizados especialmente pelas resistências e heroísmo desses sujeitos.
Desse modo, a produção imagética, mais precisamente, as representações
aC
da cultura [...] nos livros didáticos são essenciais para despertar o inte-
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Metodologia e Análise
E
sã
r
V
uto
R
a
do
aC
r
V
físicas ou emocionais, como as referidas a Lampião: “uma espécie de Robin
uto
Hood do sertão” ou “revolucionário”.
Percebemos que a figura feminina não ganhou nenhum destaque sendo
citada apenas por ser “companheira” do elemento principal: o homem. Portanto,
R
a imagem de Maria Bonita aparece de forma secundária, ou seja, a figura da
a
mulher, como já foi dito por Perrot (2015), não têm voz, e são vistas como
figuras que apenas existiram despercebidas, pois a elas não lhes era dado
nenhum valor.
do
aC
Editora CRV - versão para revisão do autor - Proibida a impressão
e a adoção do New Deal. A imagem está associada a um texto que fala sobre
um programa de combate à crise econômica adotado por Roosevelt. Em ro-
dapé, a fotógrafa explica que a imagem está relacionada ao impacto da grande
depressão na vida dos trabalhadores rurais da época.
Na imagem aparece uma mulher, uma “mãe migrante” em busca de
emprego e alimento para a subsistência de seus filhos. Apesar de ser uma
foto famosa e mundialmente reconhecida por representar o grande sofrimento
r
V
dos trabalhadores, num momento de crise econômica, essas questões não
uto
são aprofundadas no texto, sendo necessária uma leitura complementar para
melhor entender a representatividade expressa nas feições tristes de uma mãe
que sofria porque não tinha como suprir as necessidades dos filhos.
R
Parece-nos que o destaque dado à figura da mulher, está direcionado à
a
representação da mulher-mãe, que protege e luta por seus descendentes, mas
não contempla outros grupos que, mesmo não sendo mães, foram igualmente
do
importantes na luta, por exemplo, dos direitos sociais que antes eram desti-
aC
nados somente aos homens.
não são apontados os detalhes da vida de Almerinda, mas a partir de uma pesquisa
bibliográfica, apuramos que ela foi advogada, feminista e líder sindical nascida em
Maceió. Ela mudou-se para a cidade do Rio de Janeiro, inseriu-se no mercado de
trabalho, e logo tornou-se presidente do Sindicato dos Datilógrafos e Taquígrafos.
Como representante classista, Almerinda Gama, foi indicada pelo Sindicato dos
Datilógrafos e Taquígrafos e pela Federação do Trabalho do Distrito Federal para
Câmara Federal, tornando-se a única mulher, em 1933, a votar como delegada
r
V
dos representantes classistas na eleição para Assembleia Nacional Constituinte.
uto
Empolgada pela política Almerinda candidatou-se, em 1934, nas eleições para a
Câmara Federal e o Senado, mas não conseguiu se eleger.
Mesmo não tendo sido eleita, Almerinda Gama marcou com tenacidade
R
um lugar na história da construção da cidadania feminina abrindo espaço para
a
mulher negra participar do cenário político nacional, fato marcado na foto,
por seu sorriso de contentamento. Assim, as características relacionadas a essa
do
figura feminina são de mulheres que batalham pela igualdade de direitos, seja
aC
por trabalho, voto, e representam todas as mulheres, independente de estado
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Considerações finais
rev
or
Dessa forma, percebemos que por trás de cada imagem existe uma
mensagem a ser decifrada, muitas vezes, atrelada à uma elite pensante que
propaga a inferiorização de certos grupos, dentre eles, a população feminina.
Esses temas, representados pelas imagens, precisam ser colocados à tona nas
E
sã
REFERÊNCIAS
r
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BITTENCOURT, Circe Maria Fernandes. Ensino de História: fundamentos
uto
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aC
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or
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ara
ver dit
op
E
sã
CAPÍTULO 15
r
V
uto
Yomara F. Caetano de Oliveira Fagionato
do
considerados um desdobramento das classes experimentais secundárias”
(VIEIRA; DALLABRIDA, 2016, p. 512). Nesse caminho aberto, a experiência
aC
brasileira do ensino vocacional realizada em solo paulista teve ligação com o
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dora Maria Nilde Mascellani. Figura central que gerenciou as seis instituições
rev
criadas com apoio de sua equipe técnica. Por meio do Decreto n. 38.643, de
1961 os vocacionais e o SEV começaram a funcionar. Esse último foi um
or
14 Carlos Alberto Alves de Carvalho Pinto (advogado e professor universitário) foi membro da família tradicio-
nal paulista Rodrigues Alves. Na gestão de Jânio, foi da administração governamental de 1953 até 1958,
por indicação de Queiroz Filho (BUSETTO, 2000). Carvalho foi lançado à candidatura para o Governo do
Estado de São Paulo. Época em que concorreu com Adhemar de Barros, o qual foi apoiado pelos comu-
nistas, sendo levado a manifestar-se a favor do nacionalismo.
186
r
V
defendidas pela Democracia Cristã na área da educação” (BUSETTO, 2002,
uto
p. 141). Luciano Vasconcelos de Carvalho, em 1960, ano de sua indicação
como secretário de educação paulista, visitou as classes experimentais realiza-
das na cidade de Socorro (SP), observando suas salas de aulas. Relatou Maria
R
Nilde Mascellani que esse secretário foi sensível em expandir a experiência
a
para outras cidades do Estado.
O grupo político democrata cristão (incluindo o secretário de educa-
do
ção), no governo paulista de Carvalho Pinto, passou a difundir amplamente
aC
a proposta de democracia com práticas e discursos revestidos do ideal de
dos comunistas de esquerda, buscando a justiça social por outra via. Com
isso, a proposta de democracia cristã recebeu o codinome de Terceira Via,
empreendida pelo grupo democrata cristão paulista na política no governo
ara
de Carvalho Pinto.
ver dit
uma nova forma de agir e pensar com criticidade em relação aos dilemas e
desigualdades sociais brasileiros. Esses princípios compartilhados pelos de-
mocratas cristãos aproximaram-se do movimento denominado de catolicismo
E
sã
r
V
O AI-5 recrudesceu a vida social brasileira, quando o Estado ditatorial fechou
uto
o Sistema de Ensino Vocacional, em 12 de dezembro de 1969. Por meio de
decreto encerrou-se todas as atividades do SEV e das escolas e descaracterizada
a proposta dos vocacionais. Maria Nilde Mascellani, parcela de sua equipe
R
técnica, professores e ex-alunos envolvidos nessa experiência tiveram suas
a
detenções decretadas (CHIOZZINI, 2014).
Os vocacionais realizaram um ensino secundário em busca de unir a
do
formação de cultura geral com a cultura técnica e profissional, criando um
aC
currículo integrado às práticas comerciais, agrícolas ou industriais. Essas
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cultura escolar, sendo respeitada sua especificidade quando tratada pela área.
Essa teve a carga de coordenar as demais matérias, em busca de se construir
um currículo integrado (FAGIONATO, 2018b).
ara
quando considera que os bens culturais são usados singularmente, de modo que a
recepção tem o signo da criatividade e de suas resistências e/ou reconfigurações.
Essas apropriações dos atores educativos sobre uma determinada disciplina-saber
op
r
V
ao mesmo tempo há referências do personalismo advindo do filósofo francês
uto
jesuíta, – Emmanuel Mounier (1905-1950), e do uso de obras do Pe. Teilhard
de Chardin (1881-1955), bem como do educador Paulo Freire (1921-1997).
Conforme Ângela Rabelo M. B Taberlini (1998) foram variados os autores
R
apropriados pelos idealizadores dessa experiência com o fim em fundamentar
a
a concepção de educação.
do
Circularam entre os atores educativos dos vocacionais, ao longo da expe-
riência pensamentos pedagógicos de John Dewey (1859-1952), da psicologia
aC
da aprendizagem de Jerome S. Bruner (1915-2016), combinados à psicologia
r
V
organizados os conceitos considerados prioritários para serem assimilados por
uto
qualquer estudante dos vocacionais que analisasse uma determinada realidade
social (FAGIONATO, 2018b).
Nesse sentido uso a perspectiva da história das disciplinas escolares para
R
identificar o núcleo da disciplina, na relação entre as práticas de ensino da sala
a
de aula como por meio dos “grandes objetivos que presidiram a constituição
das disciplinas” (JULIA, 2001, p. 12). Opero o conceito da disciplina-saber
do
enquanto recorte de saber, e ao mesmo tempo compreendo que no campo das
aC
disciplinas tanto o saber, quanto o corpo “são as duas faces de uma mesma
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r
V
NAL, 1967b, p.2). Mesmo na dúvida em torno dos limites de campos entre a
uto
Geografia humana, História e a Sociologia, o professor Balzan sugere que fazer
Estudos Sociais seria trabalhar “com os métodos científicos e os conteúdos
específicos da História e da Geografia, voltados para objetivos muitas vezes
R
comuns” (BALZAN, 1966, p. 2), embasados em uma investigação social. Essa
a
apropriação advinda do campo da Sociologia buscava superar a divisão entre os
campos das disciplinas-saber Geografia, História e da própria Sociologia, pois
do
“nutre-a e ao mesmo tempo nutre-se dela, estimula a pesquisa, correlacionam
aC
resultados, exigindo a vida nas partes e retornando, de um estudo destas para
[...] Na realidade, há objetivos que podem ser trabalhados mais por Geo-
grafia e outros mais por História; há objetivos que podem ser trabalhados
ver dit
tanto por uma, como por outra dessas áreas. Mas, há uma série deles, a
maioria talvez, que devem ser trabalhados em conjunto pelas duas áreas,
op
r
V
do Brasil dos anos 1960.
uto
A união do conteúdo de cada disciplina-saber seria realizada via planeja-
mentos. Nesses existiria a previsão de práticas a serem aplicados aos educandos
visando a inserção do jovem em sua comunidade local, aproximando-se da
R
proposta do catolicismo social daquele período. Todavia, nota-se a valori-
a
zação, nas fontes investigadas do desenvolvimento da disciplina-saber da
história a serviço do diálogo de se incluir o jovem como conhecedor da sua
do
própria história de vida, mas, também da história do seu entorno, da história
aC
relacionada aos fatos, à civilização, ao estudo do passado, esses conteúdos
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dentro da relação entre causa e efeito. Nesse sentido, mesmo que valorizada
são
a integração disciplinar há no caso da disciplina-saber de história na cultura
escolar prescrita do SEV. Coadjuvante nesse cenário o professor de Geografia
que seria unido pelo objetivo de ensino em comum com o ensino de história,
qual seja, o desenvolvimento da personalidade:
i
rev
que “esses fatos como coisas já superadas [...]. O que nos interessa, [...] a
tomada de consciência de que embora em todo campo de estudo haja um nú-
cleo, que é ponto de determinada ciência, há as zonas intermediárias onde as
ciências contribuem mutuamente” (BALZAN, 1966, p. 2). Outra epistemologia
foi colocada para o campo da disciplina-saber de história, posta pela defesa
escolanovista do uso da área dos Estudos Sociais como núcleo. Os docentes,
pela narrativa do supervisor de Estudos Sociais, eram incentivados a buscar
r
V
no saber escolar a integração entre todas as matérias curriculares (inclusive as
uto
áreas técnicas) para forjar uma cultura escolar específica para o vocacional.
Isso exigiu uma produção de conhecimento histórico singular com recorte de
tema, objetos e sujeitos, para que se atendesse às demandas propostas pelas
R
aulas-plataformas, ocorridas nos diferentes ginásios, que dialogava com os
a
diferentes aspectos dos saberes docentes, inseridos no mundo contemporâneo,
sob o crivo do catolicismo social paulista.
do
Nota-se na fonte do ano de 1966, Relato de Estudos Sociais (BALZAN,
1966), na introdução o desafio de integração disciplinar em forma de pro-
aC
blemática dando o título de “A área de Estudos Sociais’ – o que é e o que
de Estudos Sociais foi alvo das prescrições do SEV como esclarecido por
16 As referidas fontes quando analisadas buscavam sintetizar a experiência via: organização, documentação
e descrição da proposta política e pedagógica dos vocacionais. Esse documento da área de Estudos
Sociais tinha finalidade de autoavaliação do percurso. Propositalmente, sua escrita ocorreu em 1965, ano
em que há tensão entre Secretaria da Educação de São Paulo e o SEV. A leitura da historiografia informa a
constante ameaça de fechamento em que os vocacionais vivenciaram, tais como: cortes de verbas e trocas
de nove secretários de educação (NEVES, 2010; CHIOZZNI, 2014).
HISTÓRIA ENSINADA: uma prosopografia do ensino de história, no Brasil 193
r
V
professor de Estudos Sociais” (SERVIÇO DE ENSINO VOCACIONAL,
uto
1967b, p. 2). Dessa maneira, no decorrer da experiência, ocorreram cursos,
formações e reuniões de trabalho juntamente com os supervisores de área,
sempre com a presença de docentes. Newton Cesar Balzan, em 1967, enfocou
R
a necessidade de formação docente como solução do problema em realizar
a
formação integral do educando.
Os professores ao buscarem ensinar a disciplina de história foram lançados
do
os desafios do contexto do catolicismo social prescrita no Sistema de Ensino
aC
Vocacional, quando atribuiu a responsabilidade de núcleo aos Estudos Sociais,
Editora CRV - versão para revisão do autor - Proibida a impressão
O fato, sem dúvida alguma, é válido também para o Brasil, onde anualmente
rev
que deveria trabalhar necessariamente em grupo. Isso foi colocado para uma
dupla (um professor de Geografia e outro de História) em termos normativos,
indicadores do movimento crescente do protagonismo da área de Estudos
Sociais. Os saberes, sobretudo da história se tornaram um norte em volta da
área dos Estudos Sociais, responsável pelo lançamento dos temas e problemas
em aulas-plataformas.
194
Considerações finais
r
V
1966, p. 4). Os desafios do catolicismo social lançados para a cultura escolar
uto
prescrita do Sistema de Ensino Vocacional foi atribuída a responsabilidade
de núcleo de todo processo educativo para a área de Estudos Sociais, mas,
sobretudo por meio de um norte dado pelo saber da história, como capaz de
R
a
ocupar uma zona intermediária de contato com as demais matérias discipli-
nares (inclusive a geografia).
do
Em suma, nessa época havia a necessidade de uma visão conjunta sobre
os problemas brasileiros acerca do levantamento de assuntos atuais, e por isso
aC
se defendia a ideia de que o saber da História daria esse cimento, a qual deveria
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rado em Educação) – Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Programa
aC
de Pós-Graduação em Educação, Porto Alegre, 1996.
r
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Anna Rafaella de Paiva Dantas
Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Educação Profissional e Tec-
nológica (PROFEPT/IFRN). Graduada em História pela Universidade do
R
a
Estado do Rio Grande do Norte (UERN). Especialista em História do Brasil
pelas Faculdades Integradas de Jacarepaguá. E-mail: anarpaiva1@hotmail.com
E-mail: cleiamary2009@hotmail.com
or
r
V
Educativas (GENPE/IFRN). E-mail: chagas.souza@ifrn.edu.br
uto
Gislânia Dias Soares
Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Ensino (POSENSINO), da
R
Universidade Estadual do Rio Grande do Norte (UERN), Universidade Federal
a
Rural do Semi-Árido (UFERSA) e Instituto Federal de Educação, Ciência e
Tecnologia do Rio Grande do Norte (IFRN). Professora da rede municipal de
do
ensino de Mossoró – RN. Membro do Grupo de Pesquisa Imagem e Ensino:
percepções, métodos e fontes (CNPq) E-mail: gdsbento@hotmail.com
aC
r
V
Educação Matemática (GHOEM). E-mail: morais.mbm@gmail.com
uto
Maria Aparecida Dias Lima
Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Ensino (POSENSINO), da
R
Universidade Estadual do Rio Grande do Norte (UERN), Universidade
a
Federal Rural do Semi-Árido (UFERSA) e Instituto Federal de Educação,
Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Norte (IFRN). Professora da rede
do
municipal de ensino de Mossoró – RN. Membro do Grupo de Estudos e Pes-
quisas com Narrativas (Auto)Biográficas em Educação – GEPNAE. E-mail:
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Editora CRV - versão para revisão do autor - Proibida a impressão
aparecida_cdi@hotmail.com
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Maria do Socorro Souza
Mestre em Ensino pelo Programa de Pós-Graduação em Ensino (POSEN-
SINO), Universidade Federal Rural do Semi-Árido (UERN/UFERSA/IFRN).
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Pedagógica da Secretaria de Estado da Educação do Rio Grande do Norte.
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E-mail: risalvaferreira@hotmail.com
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Bolsista de Produtividade em Pesquisa do CNPq – Nível 2. Professor titular
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do Departamento e Programa de Pós-Graduação em História da Universidade
Federal de Santa Catarina e professor colaborador do Doutorado em Estudos
do
Globais da Universidade Aberta de Lisboa. É pesquisador internacional do
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Centro de Literaturas e Culturas Lusófonas e Europeias da Universidade de
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SOBRE O LIVRO
Tiragem: 1000
Formato: 16 × 23 cm
Mancha: 12,3 × 19,3 cm
Tipografia: Times New Roman 10,5 | 11,5 | 12 | 16 | 18 pt
Arial 7,5 | 8 | 9 | 10 pt
Papel: Pólen 80 g/m² (miolo)
Royal Supremo 250 g/m² (capa)