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EVOLUÇÃO DO DÉFICIT ATUARIAL E SUAS PRINCIPAIS CAUSAS, UM


ESTUDO EM UM MUNICIPIO CATARINENSE

EVOLUTION OF THE ACTUARIAL DEFICIT AND ITS CAUSES, A STUDY IN A


MUNICIPALITY IN CATARINA

JOHNNY GEORGE OLIVEIRA DE CARVALHO1


CRISTIAN MASSON2
Cleunice Fátima Frozza3

Resumo: Este artigo aborda a problemática do déficit atuarial nos Regimes Próprios
de Previdência Social (RPPS) no Brasil, com foco no Instituto de Previdência Social
dos Servidores Municipais de um município em Santa Catarina. O estudo tem como
objetivo geral analisar a origem do déficit do RPPS, identificar suas causas e as
medidas adotadas para mitigá-lo. Além disso, o artigo visa estudar a evolução do
déficit nos últimos cinco anos, verificar o gerenciamento desse déficit e examinar as
políticas criadas para administrá-lo. A pesquisa busca fornecer informações que
revelem a situação atual do instituto de previdência, a fim de determinar se as
obrigações previdenciárias e a gestão dos recursos financeiros são adequadas para
manter o RPPS sustentável. Os resultados deste estudo têm potencial para auxiliar
na tomada de decisões, otimizar o financiamento do passivo previdenciário e
melhorar a gestão do regime, contribuindo para o equilíbrio financeiro e atuarial do
Instituto. Isso pode reduzir os repasses extraordinários de ativos financeiros pelos
entes públicos, resultando em uma gestão pública mais eficiente e menos onerosa
para os contribuintes.
Palavras Chave: Déficit atuarial, Regimes Próprios de Previdência Social (RPPS),
Gestão financeira, Sustentabilidade previdenciária.

1
Bacharelando em Ciências Contábeis pela Universidade do Oeste de Santa Catarina (Unoesc)
Campus Joaçaba. E-mail: massoncristian11@gmail.com
2
Bacharelando em Ciências Contábeis pela Universidade do Oeste de Santa Catarina (Unoesc)
Campus de Joaçaba. E-mail: jgocoliv@gmail.com
3
Professora da Universidade do Oeste de Santa Catarina (Unoesc), Doutorando em Administração
pela Universidade do Oeste de Santa Catarina – Unoesc. E-mail: Cleunice.frozza@unoesc.edu.br,
lattes: http://lattes.cnpq.br/1107258694298961
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Abstract: This article addresses the issue of actuarial deficits in the Own Social
Security Systems (RPPS) in Brazil, with a focus on the Social Security Institute of
Municipal Servants in a municipality in Santa Catarina. The study aims to analyze the
origin of the RPPS deficit, identify its causes, and the measures taken to mitigate it.
Additionally, the article aims to study the evolution of the deficit over the past five
years, assess the management of this deficit, and examine the policies created to
manage it. The research seeks to provide information that reveals the current
situation of the pension institute to determine if pension obligations and financial
resource management are adequate to maintain the sustainability of the RPPS. The
results of this study have the potential to assist in decision-making, optimize the
financing of pension liabilities, and improve the management of the system,
contributing to the financial and actuarial balance of the Institute. This can reduce
extraordinary financial asset transfers by public entities, resulting in more efficient
and less burdensome public management for taxpayers.
Keywords: Actuarial deficit, Own Social Security Regimes (OSSR), Financial
management, Pension sustainability.

1 INTRODUÇÃO

De acordo com a constituição de 1988 a Previdência Social no Brasil é


composta por três regimes: 1) Regime Geral de Previdência Social (RGPS): operado
pelo INSS, que é uma entidade pública e de filiação obrigatória para os
trabalhadores regidos pela CLT (lei nº 8.213/91); 2) Regime Próprio de Previdência
Social (RPPS): instituído por entidades públicas – Institutos de Previdência ou
Fundos Previdenciários e de filiação obrigatória para os servidores públicos titulares
de cargos efetivos da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios (lei nº
9.717/98); e 3) Regime de Previdência Complementar: operado por Entidades
Abertas e Fechadas de Previdência Complementar, regime privado, com filiação
facultativa, criado com a finalidade de proporcionar uma renda adicional ao
trabalhador, que complemente a sua previdência oficial (lei complementar nº
109/2001).
Há alguns anos ouve-se também falar no “Rombo da Previdência” onde o
Governo Federal aponta para uma crise no setor previdenciário, alegando um
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desequilíbrio entre as suas receitas e despesas, fato que fez gerar um déficit nas
contas deste setor. O Regime Geral de Previdência Social, administrado pelo INSS,
tem sido apontado como o principal atingido pelos efeitos da crise. Não obstante,
sabe-se que a realidade dos RPPS não se distancia da situação vivenciada pelo
Regime Geral, o que tem ocasionado fortes críticas a sua sustentabilidade financeira
e atuarial, bem como a inquietação dos servidores públicos vinculados a este
regime.
No entanto, a realidade é que o desequilíbrio nesse sistema tem se
evidenciado ao longo dos anos, e esse déficit é identificado no momento em que o
custo do pagamento dos benefícios concedidos é superior às receitas disponíveis e
os ativos não são mais suficientes para cobrir essas obrigações; um fato
demonstrado nos resultados das avaliações atuariais dos referidos entes,
(NOGUEIRA, 2011).
Partindo desta breve contextualização, e, sobretudo buscando entender os
efeitos deste déficit nas autarquias de âmbito municipal, onde as prefeituras tem
implantado os Regimes Próprios de Previdência Social – RPPS, surge o problema
de qual a origem e a evolução do Déficit Atuarial do Instituto de Previdência Social
do Servidores Municipais. De acordo com esse problema, este trabalho tem como
objetivo geral analisar a origem do déficit do regime próprio de previdência social do
Instituto Municipal, elencando as causas e as medidas tomadas para mitigação do
déficit no âmbito gerencial e financeiro. Além deste objetivo, este artigo tem mais
quatro objetivos: estudar os dados dos últimos cinco anos para conhecimento da
evolução do déficit, identificar as principais causas, verificar se há gerenciamento do
déficit e quais as políticas geradas para gerir o fundo e conceituar e escrever o
histórico dos planos de previdência a nível de Brasil.
Assim, considerando que os servidores efetivos do Município, localizado no
Estado de Santa Catarina, e seus dependentes, terão seus benefícios custeados
pelo Regime Próprio de Previdência Social, e que os mesmos contribuíram,
obrigatoriamente, durante toda sua vida laboral, é imprescindível o conhecimento
acerca da sustentabilidade atuarial e financeira do regime. Dessa maneira, a
pesquisa desenvolvida justifica-se no sentido de que será relevante identificar nas
informações coletadas, a situação atual do Instituto de Previdência Social dos
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Servidores Municipais, de modo a evidenciar se as obrigações previdenciárias e a


gestão dos recursos financeiros serão suficientes para manter o RPPS sustentável.
O resultado servirá de auxílio tanto para conhecimento das causas de déficit para
tomada de decisão quanto para a otimização dos meios de financiamento do passivo
previdenciário e da gestão do regime contribuindo assim para o ajuste do equilíbrio financeiro
e atuarial dos RPPS, diminuindo os repasses extraordinários de ativos financeiros dos entes,
contribuindo para uma gestão pública mais eficiente e consequentemente menos onerosa para
o contribuinte.

2 REFERENCIAL TEÓRICO

Esse trabalho discorre sobre o histórico dos planos de previdência a nível de


Brasil, o RPPS do Município de Joaçaba, Desafios na Gestão dos Regimes Próprios
de Previdência Social e o Equilíbrio Financeiro e Atuarial.

2.1 HISTÓRIA DA PREVIDÊNCIA SOCIAL NO BRASIL

A previdência social possui papel importante na sociedade brasileira ao


desempenhar a função de seguradora do trabalhador para os momentos em que
este se encontra incapacitado para exercer suas atividades laborais, seja por motivo
de doença, invalidez, idade avançada e óbito, com provimento de renda a ele ou aos
seus dependentes. Para ter acesso a esse conjunto de benefícios, é necessário que
o trabalhador realize periodicamente contribuição à previdência social, com base em
sua remuneração e conforme a legislação vigente. Esse recolhimento é obrigatório a
todos os empregados com contrato de trabalho regido pela consolidação da
legislação trabalhista – CLT, servidores públicos e trabalhadores autônomos.
(Ministério da Fazenda 2018). Para isso é necessário conceituar os três tipos de
regimes de previdência existentes no país.
O Regime Geral de Previdência Social, administrado pelo Instituto Nacional
do Seguro Social (INSS), é o mais amplo e tem seus fundamentos calcados no
artigo 201 da Constituição Federal, regulado pelas Leis nº 8213/91 (Plano de
Benefício) e nº 8212/91 (Plano de Custeio), e também com a redação dada pela
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Emenda Constitucional nº 20/1998 que o regulamentou e o organizou sob a forma


de regime geral, de caráter contributivo e com necessidade de preservação do
equilíbrio financeiro e atuarial das contas da previdência.
O Regime Próprio de Previdência Social possui sua regulamentação
estabelecida na Lei nº 9717/98 e no artigo 40 da CF/88, onde estão dispostas as
normas básicas de funcionamento. Seus benefícios são gerenciados pelos entes
públicos instituidores, seja União, Estados, Distrito Federal ou Municípios. O RPPS
possui caráter contributivo e solidário e também é regido pelo princípio do equilíbrio
financeiro e atuarial, tendo como principal objetivo assegurar o pagamento dos
benefícios concedidos e a conceder a seus segurados.
Em contrapartida, o Regime de Previdência Complementar é um regime
privado de caráter facultativo, criado com o intuito de proporcionar uma renda
adicional ao trabalhador, que complemente a sua previdência oficial. Sua instituição
foi regulamentada pela Lei nº 6.435/1977 e, atualmente, é regulada pelas Leis
complementares nº 108 e nº 109, de 2001.

2.1.1 Marco legal e Evolução dos RPPSs

Na passagem do século XIX para o século XX começam a se esboçar os


primeiros sistemas de proteção social voltados aos servidores públicos, cuja origem
se liga às características do Estado brasileiro naquele momento, ainda em busca de
consolidação: no plano econômico, a tentativa de desenvolvimento baseada no
modelo primário-exportador e no plano político o modelo patrimonialista da relação
entre os detentores do poder e os servidores. Assim, a previdência alcança,
primeiro, as categorias mais organizadas e relevantes para o desenvolvimento do
País e a aposentadoria (“passagem para a inatividade”) é tratada como um prêmio
oferecido em troca dos anos de serviço público prestados, sem natureza
contributiva.
No plano jurídico, as aposentadorias dos servidores vão sendo gradualmente
incorporadas nas sucessivas Constituições: 1891 (invalidez), 1934 (compulsória por
idade); 1946 (facultativa por tempo de serviço) e nos Estatutos dos Funcionários
Públicos (da União: Decreto-Lei nº 1.713/1939; Lei nº 1.711/1952), embora estes
continuem a alcançar uma parcela reduzida de servidores, pois até a Constituição de
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1988 o ingresso continuará se dando majoritariamente por outros regimes jurídicos


(contratações “temporárias”, admissões pela CLT e outras).
Cabe ainda relatar um breve histórico da evolução da previdência social no
Brasil. A primeira legislação específica sobre Direito Previdenciário data de 1888. Foi
o Decreto nº. 9.912 de 26 de março de 1888, que regulou o direito à aposentadoria
dos empregados dos correios. Outra norma, em novembro do mesmo ano, criaria a
Caixa de Socorros em cada uma das estradas de ferro do Império.
Por outra, a primeira Constituição Federal a abordar a temática previdenciária
específica foi a Constituição Republicana de 1891, no tocante à aposentadoria em
favor dos funcionários públicos, ao dispor em seu art. 75 que "a aposentadoria só
poderá ser dada aos funcionários públicos em caso de invalidez no serviço da
Nação."
Em seguida, no ano de 1892, foi instituída a aposentadoria por invalidez e a
pensão por morte aos operários do Arsenal da Marinha, tendo em conta que já
estava vigorando o regime republicano, sob forte influência de cafeicultores e
militares.
Em 1919, o Decreto Legislativo n°. 3.724 instituiu compulsoriamente um
seguro por acidente de trabalho, que já vinha sendo praticado por alguns
seguimentos, contudo sem previsão expressa na lei.
O Decreto-Legislativo n°. 4.682, de 14 de janeiro de 1923, mais conhecido
como "Lei Elói Chaves", é dado como um marco para o desenvolvimento da
Previdência Social brasileira. Com efeito, tal norma determinava a criação das
caixas de aposentadorias e pensões para os ferroviários, a ser instituída de empresa
a empresa.
A Carta Magna de 1934 foi a primeira a estabelecer o custeio tríplice da
Previdência Social, com a participação do Estado, dos empregadores e dos
empregados.
A Constituição Federal de 1946 apresentou, pela primeira vez em termos
constitucionais, a expressão "Previdência Social", abandonando de vez o termo
"seguro social". Não houve alteração substancial sobre a previdência com a Carta de
1946.
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A Lei Orgânica da Previdência Social de 1960 estabeleceu um marco de


unificação e uniformização das normas infraconstitucionais existentes sobre a
Previdência Social, já buscadas, mas até então nunca alcançadas.
A Constituição de 1967, instituída no início do Regime Militar, trouxe algumas
regras sobre a Previdência Social, entre elas, previdência social, mediante
contribuição da União, do empregador e do empregado, para seguro-desemprego,
proteção da maternidade e, nos casos de doença, velhice, invalidez e morte.
A Lei Maior de 1988, marco da objetivação democrática e social do Estado
Brasileiro, tratou de alargar em demasiado o tratamento constitucional dado à
Previdência Social, dispondo pela primeira vez do termo "Seguridade Social", como
um conjunto de ações integradas envolvendo Saúde, Assistência e Previdência
Social. O organograma 1 abaixo, esquematiza a Seguridade Social.

Organograma 1: Organograma da Seguridade Social


Seguridade Social

Saúde

RGPS
Assistência Social
(INSS)

União / Estados e
Previdência RPPS
Municípios

Previdência
Complementar

Fonte: Constituição Federal / 88

Esse é o primeiro período histórico dos RPPSs, no qual há a sua “origem”, e


se estende até a Constituição de 1988. O segundo período foi relativamente curto,
concentrado na década de 1990, e caracterizado pela “expansão” dos RPPS,
manifestada em dois sentidos: aumento expressivo do número de segurados
amparados, nos entes que já os haviam instituído no primeiro período (basicamente,
a União, os Estados/Distrito Federal e parte dos municípios de médio e grande
porte), e criação de grande número de novos RPPSs, principalmente nos médios e
pequenos municípios.
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As principais causas que motivaram o movimento de expansão dos RPPSs


nesse período foram: 1) a obrigatoriedade do regime jurídico único para os
servidores públicos, prevista no art. 39 da Constituição Federal e adotada pela União
por meio da Lei nº 8.112/1990, com a “efetivação” promovida por seu art. 243,
modelo reproduzido por Estados e municípios; 2) a fuga da cobrança das
contribuições devidas ao INSS, por meio de retenções nos Fundos de Participação
dos Estados e Municípios, e a tentativa de reduzir os encargos previdenciários,
instituindo alíquotas de contribuição mais “baratas”; 3) a ausência de uma lei geral
que regulasse a criação dos RPPSs, deixando espaço aberto para que cada
município legislasse livremente. Esses elementos aceleraram a criação de novos
RPPSs, sem preocupação com a sustentabilidade, deixando parte do déficit que
hoje precisa ser equacionado.

2.2. MÉTODOS DE FINANCIAMENTO DOS RPPSS

Os métodos de financiamento apresentam-se como regimes financeiros


adequados para fazer face aos compromissos com benefícios de prestação
continuada, sendo o nível inicial de contribuições superior às necessidades
iminentes, de modo a gerar reservas para utilização futura, ou regimes que
determinem uma arrecadação suficiente para a cobertura de gastos imediatos. Entre
os Regimes Financeiros mais utilizados são:
Repartição de Capitais de Cobertura: arrecadação suficiente para cobertura
de gastos com benefícios iniciados no mesmo exercício, cobrindo apenas os
assistidos e não provisionando para os ativos. Que abrange as aposentadorias por
incapacidade.
Repartição Simples: arrecadação suficiente para cobertura de gastos com
benefícios temporários (curta duração) do mesmo exercício. Que abrange os
benefícios entregues na forma de pagamento único, em caso de morte, invalidez,
doença ou reclusão.
Capitalização: é o método que tem como finalidade formação de reservas, ou
provisões matemáticas, para cada segurado do plano, garantindo que as contribuições sejam
capazes de garantir os benefícios futuros. Ele é constituído de provisões matemáticas de
benefícios concedidos a partir da data de concessão e benefícios a conceder até a data prevista
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de sua concessão e abrange as aposentadorias por idade, especiais e por tempo de contribuição
ou serviços, as pensões por morte.

2.3. FONTES DE FINANCIAMENTO DOS RPPSS

Os RPPS são custeados através das contribuições dos seus segurados (ativos, inativos
e pensionistas), além das contribuições do respectivo ente federativo, conforme previsto no
artigo primeiro, inciso segundo da Lei nº 9.717/98, juntamente com os valores repassados das
compensações previdenciárias entre RGPS e RPPS.
Segundo Rodrigues 2018, com a Emenda Constitucional nº 20, de 15 de
dezembro de 1998, o caráter contributivo e o equilíbrio financeiro e atuarial
passaram a modelar a previdência do servidor como regime, inclusive vedando-se
qualquer forma de contagem de tempo de contribuição fictício. Naquele mesmo ano,
a Lei nº 9.717 fixou as regras gerais a que deve se submeter esse sistema
previdenciário, trazendo a observância do equilíbrio financeiro e atuarial e a
organização em normas de atuária e contabilidade como seu fundamento e
prevendo o seu financiamento por meio de recursos dos entes federativos e das
contribuições “do pessoal civil e militar, ativo, inativo e dos pensionistas”.
Por fim, é importante frisar que as fontes de financiamento do RPPS não se
restringem às contribuições do ente e dos segurados, alcançam as receitas
decorrentes de investimentos e geradas pelo patrimônio do regime, os valores
recebidos a título de compensação financeira, em razão do § 9º do art. 201 da
Constituição Federal, os valores aportados pelo ente federativo, as demais dotações
orçamentárias e outros bens, direitos e ativos com finalidade previdenciária. Os
recursos devem ser suficientes e adequados para manter a higidez do regime,
possibilitando o cumprimento das obrigações do plano de benefícios.

2.4. EQUILÍBRIO FINANCEIRO E ATUARIAL

Segundo Ferrari et al (2002), a EC 20/1998, determinou que os Regimes


Próprios fossem contributivos e com isso começou a ser exigido o equilíbrio
financeiro e atuarial, rompendo a ideia do estado total financiador da previdência,
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assim o Equilíbrio das finanças do RPPS passou a ser considerado um princípio


essencial para estabilidade no fluxo de caixa dos pagamentos previdenciários.
A Lei nº 9.717, de 27 de novembro de 1998, dispõe sobre as regras gerais
para a organização e o funcionamento dos Regimes Próprios de Previdência Social
(RPPS) dos servidores públicos da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos
Municípios. Essa mesma lei determina que esses RPPS têm a obrigação de se
basearem em normas gerais de contabilidade e atuária, de maneira a garantir e
perenizar o Equilíbrio Financeiro e Atuarial (EFA) do sistema.
Nogueira (2012) descreve o equilíbrio financeiro e atuarial como a igualdade do fluxo
de caixa, onde o valor atual das contribuições futuras, dos servidores e do entes federativo,
seja igual ao valor atual dos benefícios futuros do plano, de mesmo modo que o desequilíbrio
atuarial ocorrerá quando existir déficit ou superávit no primeiro caso quando as contribuições
futuras não são capazes de honrar o benefícios futuros e no segundo caso ocorre quando há
sobra de recursos financeiros que vão honrar os benefícios subsequentes.

2.5. DÉFICIT E ALÍQUOTA

Sob uma perspectiva exógena, Boschetti (2003) considera que são três as
causas do déficit (se ele houver): a primeira, é a não implementação das orientações
constitucionais referentes ao financiamento da Seguridade Social (estimular a
arrecadação, gastar em âmbitos apropriados); a segunda causa é o baixo aporte de
recursos fiscais para o financiamento dos benefícios não contributivos; a terceira é a
chamada “renúncia previdenciária” assegurada por meio de subsídios a algumas
entidades de assistência, saúde e educação, além de micro e pequenas empresas e
clubes de futebol.
Baeta Filho (2011) analisou, endogenamente, o custeio, o déficit e seus
condicionantes nos RPPS dos servidores públicos municipais do Brasil. A pesquisa
foi enviada (por e-mail) a 1.852 municípios brasileiros que possuem RPPS e foram
obtidas 84 (que possuem legalmente constituído o Regime Próprio de Previdência
até a data de 30 de agosto de 2011) respostas válidas para a pesquisa. Dentre os
municípios pesquisados, 94% apresentaram déficit do órgão gestor do RPPS.
Constatou-se que a alíquota média de contribuição do ente exigida é de 25,1%,
enquanto a praticada é, em média, de 15,5%.
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2.6. AVALIAÇÃO ATUARIAL

A Avaliação Atuarial é o instrumento basilar que mensura a saúde financeira e


atuarial do RPPS, identificando e projetando as obrigações e direitos dos
beneficiários em um momento do tempo. Dessa avaliação resulta principalmente a
situação previdenciária, que é refletida em déficit, superavit ou equilíbrio atuarial.
Não obstante, esse instrumento abarca um conjunto de critérios que se vinculam
direta e indiretamente à situação previdenciária (BENELLI et al., 2016).
A situação previdenciária, também denominada resultado atuarial, está
condicionada a fatores diversos, como já citados, exógenos e endógenos. Esses, em
vezes podem ser definidos e não definidos, uma vez que nesse cenário enquadram-
se os parâmetros técnico-atuariais, as legislações, a dinâmica demográfica e outros
(BENELLI et al., 2016). A relação desses fatores, exógenos e endógenos, tende a
definir no cálculo atuarial o resultado das provisões matemáticas estimadas e, por
conseguinte, a manipulação dessas provisões reflete o déficit, superavit ou equilíbrio
do sistema de previdência. Desta maneira a avaliação atuarial torna-se a ferramenta
determinante para a mensuração das obrigações do ente.

2.7. ESTUDOS RECENTES

Nos últimos anos, foram realizados alguns estudos em relação ao déficit


atuarial dos municípios. Um exemplo de trabalho recente é o de Gomes e Gosmann
(2022, pág. 9 e 10), conforme exposto adiante.
Ferreira (2006) aborda a meta atuarial, em sua dissertação mensurou o risco
de um RPPS não conseguir atingir a meta de rentabilidade projetada, através de
diferentes óticas e simulações de investimentos de acordo com o que determina a
legislação pertinente e utilizando os dados do Fundo de Previdência do Estado de
Minas Gerais (FUNPEMG). Foi avaliado o risco sob três óticas: pela marcação a
mercado da carteira, pela curva de vencimento e por simulações. A avaliação pela
marcação a mercado concluiu que os títulos públicos apresentaram muitos retornos
negativos, além de adicionar maior volatilidade ao fundo, mas os fundos de renda
fixa infligiram perdas maiores diariamente. A avaliação pela curva de vencimento
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mostrou que os títulos públicos também adicionaram volatilidade aos investimentos,


porém num nível menor que o observado sob a outra ótica. Por fim, quanto às
simulações, foram encontradas estratégias alternativas de composição dos
investimentos no RPPS para ter maiores retornos, porém como consequência tendo
o aumento da volatilidade e aumento do risco. Em geral, Ferreira (2006) concluiu
sobre a importância do RPPS definir a Política de Investimentos anual, porque
conforme for implementada afeta diretamente no nível dos riscos apresentados
pelos fundos de previdência. Considerando os efeitos do número de segurados nos
RPPS e seus efeitos no resultado atuarial, há o estudo de Corrêa (2014), que
analisa como que o tamanho populacional pode interferir na situação do RPPS e
como se comporta a relação entre o esperado (premissas) e o efetivamente
verificado. Observa-se no estudo que os RPPS com o menor número de indivíduos,
incluindo servidores ativos, inativos e pensionistas, apresentam uma variabilidade
aleatória maior, sendo assim pequenas mudanças na quantidade de eventos
ocorridos podem causar uma grande discrepância comparado ao que era previsto.
Como estudo referente ao déficit apresentado por um RPPS, temos o de Andreis,
Zuanazzi e Santos (2016), que identificaram as possíveis causas do RS apresentar
um dos maiores gastos com a previdência dos servidores. Ao longo do estudo foram
testadas hipóteses de alguns fatores relacionados que poderiam explicar tamanho
gastos previdenciários, sendo alguns desses a longevidade, alíquotas de
contribuição, quantidade de servidores ativos em comparação aos aposentados e a
instituição do RPC. Ao longo do estudo, descartaram a hipótese de alíquotas de
contribuição insuficientes, visto que observaram alíquotas até acima da média, no
entanto realmente constataram o envelhecimento da população segurada e geral no
estado, com foco nos que ocupam/ocuparam cargos de professor, além de um
declínio da proporção entre os grupos de servidores ativos e inativos e a instituição
tardia do RPC, concluindo assim a complexidade da análise e como o déficit foi
causado por diversos fatores e não apenas um. Ren et al. (2021) estudaram a
rentabilidade passada em relação à meta atuarial das previdências públicas nos
Estados Unidos da América (EUA) e a estrutura atual dos investimentos, conforme o
cenário econômico da época e o que é projetado. Segundo as observações feitas
em 69 fundos, na década de 2010 os planos em geral obtiveram rentabilidades altas
e acima da taxa de juros prevista, porém a previsão é que na próxima década
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haverá um retorno menor dos investimentos e que ao menos 70% desses planos
não alcancem a meta de rentabilidade. Também analisaram os efeitos que as baixas
taxas e retornos podem ocasionar no equilíbrio dos planos, visto que observaram a
sensibilidade dos retornos em relação aos eventos econômicos mundiais, e formas
alternativas de alocação dos recursos. Grings (2022) analisou o resultado atuarial de
quatro municípios gaúchos antes e após a realização do censo previdenciário. Em
seu artigo, apurou qual foi a variação apresentada de cada RPPS, contatou-se que
todos da amostra tiveram uma redução no déficit atuarial, sendo que dois municípios
obtiveram uma redução acima de 20% e 30% e outros dois apresentaram uma
variação menor, de 6% e 7%. A autora comparou também as alíquotas definidas
para contribuição suplementar, definida no plano de amortização sugerido pelo
atuário e constatou também que houve reduções consideráveis. Ressaltou ainda,
durante seu estudo, como a atualização cadastral ajuda a realizar um cálculo mais
fidedigno, principalmente pela atualização de variáveis como o tempo de serviço
passado. Há uma convergência na preocupação referente à composição atuarial dos
regimes, tipos e alternativas de investimentos encontradas, majoritariamente, nas
pesquisas aqui referenciadas. Estes estudos servirão de fonte para corroborar ou
refutar os dados a serem analisados.

3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

Essa seção está dedicada a descrever e justificar a metodologia utilizada para


o desenvolvimento do estudo. A abordagem de pesquisa escolhida para o
desenvolvimento do estudo é qualitativa. De acordo com Creswell e Creswell (2021)
“a pesquisa qualitativa é uma abordagem voltada para a exploração do significado
que indivíduos ou grupos atribuem a um problema social ou humano”.
Como método de pesquisa o estudo de caso foi escolhido, pois é o método
que melhor responde a proposição de pesquisa. De acordo com Yin, (2015) “o
estudo de caso é usado em muitas situações, para contribuir ao nosso
conhecimento dos fenômenos individuais, grupais, organizacionais, sociais, políticos
e relacionados”.
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O estudo de caso terá como objeto o Instituto de Previdência Social dos


Servidores Municipais, o qual optamos por designá-lo pelo codinome de “Instituto
Municipal de Previdência” para preservar a identidade do mesmo.
Para a coleta de dados serão utilizadas, análise documental observação
direta, com base nos pressupostos definidos no protocolo de pesquisa.
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Etapas Descrição
Planejamento:
Qual a origem e a evolução do Déficit Atuarial do regime
Questão de
próprio de previdência social do Munícipio de Joaçaba?
pequisa
Preparação:
Unidade de Instituto de Previdência dos Servidores Municipais
Análise
Ambiente da Regime de Previdência destinado a suportar os benefícios
análise dos servidores inativos e pensionistas.
A análise de dados será feita entres os meses de Setembro e
Cronograma
Outubro de 2023

Coleta: fontes
- Análise documental
de evidência

Foram utilizados dados documentais que foram produzidos


Validade da
por profissionais especializados em atuária, e sites
pesquisa
governamentais.

Fontes de A confiabilidade dos dados é obtida a partir da triangulação


dados e entre os dados, comparando os dados obtidos por meio da
confiabilidade pesquisa documental.

Instituto de Previdência dos Servidores Municipais


1023 vidas cobertas pelo instituto entre ativos e inativos
Questões
21anos de existência
chaves:
Possui responsável pelo Controle Interno
Tem como principal desafio manter o equilíbrio atuarial

Na análise e interpretação dos dados foi realizada a elaboração de tabelas,


que demonstraram a situação financeira e atuarial do Regime, através dos dados
coletados nos Demonstrativos de Resultado da Avaliação Atuarial (DRAA) e no
Cálculos Atuariais entre os anos de 2018 e 2022, com o intuito de analisar a
evolução dos déficits atuariais, foram extraídos também do Sistema de Informações dos
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Regimes Próprios de Previdência Social - CADPREV, através dos relatórios obrigatórios


encaminhados pelos entes no formato de planilhas Excel.
A tabulação de dados requer entender que ela se refere à transformação de
informações coletadas em dados para serem analisados. Assim, deve dar suporte às
decisões. Para a organização e classificação dos dados foi utilizado o software
Excel, assim como para a construção dos gráficos e tabelas, também foram
utilizados métodos estatísticos, sendo que os dados qualitativos foram usados
principalmente de maneira suplementar. Os cálculos foram voltados
majoritariamente na evolução do déficit atuarial, visando analisar as causas e
efeitos.

4 RESULTADOS E ANÁLISES DOS DADOS

O presente estudo foi realizado no Instituto Municipal de Previdência, tendo


como foco a investigação da sustentabilidade financeira e atuarial deste Regime
Próprio de Previdência Social, instituído pelo município em 2002. Nesta etapa serão
discutidos os resultados obtidos a partir do levantamento dos dados de modo a
responder as proposições dispostas nos objetivos específicos da pesquisa.

4.1 OBRIGAÇÕES PREVIDENCIÁRIAS DO MUNICÍPIO JUNTO AO INSTITUTO DE


PREVIDÊNCIA

A Lei Complementar nº 62/2002 criou o Instituto Municipal de Previdência em


30 de julho de 2002, sendo reorganizado através da Lei Complementar nº 99/2005
de 24 de Junho de 2005 e pela Lei Complementar nº 436/2021 de 30 de novembro
de 2021. Essa mesma lei estipulou as alíquotas de contribuição para o ente
federativo sobre a folha de ativos, estabeleceu a contribuição para o servidor ativo
sobre o seu salário e para os aposentados e para os pensionistas, sendo que para
esses dois últimos, incidirá sobre o valor que exceder o piso municipal.

Os dados apresentados a seguir apresentam as informações acerca das


alíquotas de contribuição estabelecidas na Avaliação Atuarial Anual do Regime
Próprio de Previdência Social do Município de 2018 a 2022.
17

Tabela 1 – Alíquotas de Contribuição de 2018 a 2022


ANO 2018 2019 2020 2021 2022

Alíquota – Ente Federativo 22% 22% 22% 22% 28%

Alíquota – Ativos, Aposentados e Pensionistas 11% 11% 11% 11% 14%

Alíquota Total 33% 33% 33% 33% 42%

Fonte: Elaborada pelos autores

Conforme observamos, a alíquota de contribuição normal do ente federativo é


de 22% entre os anos de 2018 a 2021, e para o ano de 2022 é de 28% da mesma
forma, a contribuição dos servidores é de 11% e passa a 14% em 2022, em razão
da Emenda Constitucional nº 103/2019, onde também é possível ver um incremento
de 9% no Total das Alíquotas do ano de 2021 para 2022.
Vale ressaltar ainda que a contribuição dos aposentados e pensionistas para
os anos de 2018 a 2021 incide sobre o que excede o teto do INSS e a partir de
2022, incide sobre o que excede o piso municipal.

Tabela 2 – Quantidade de participantes


ANO 2018 2019 2020 2021 2022

Ativos 711 713 761 757 759

Inativos 151 175 203 214 210

Pensionistas 44 47 49 53 54
Fonte: Elaborada pelos autores

Observando a Tabela 2, mostra a quantidade dos participantes do sistema da


previdência. A primeira linha mostra a o total de ativos no período de 2018 a 2022, já
as duas últimas linhas mostram quanto variou o número de aposentadorias e
pensões concedidos. Comparando os valores do período, houve um aumento de
6,75% da quantidade de ativos, 39,07% da quantidade de inativos e 22,73% do
número de pensionistas.
18

Tabela 3 – Variação da Folha de Salários e Benefícios


ANO 2018 2019 2020 2021 2022

Ativos 25.737.876,28 32.009.760,72 38.232.652,46 37.208.612,74 38.927.814,89

Inativos 8.105.737,34 9.332.220,82 11.481.237,21 13.330.387,01 14.718.628,90

Pensionista 1.746.119,08 1.835.909,92 1.860.608,50 1.993.029,13 2.161.768,74

Fonte: Elaborada pelos autores

Como observado na Tabela 3, a folha de salário dos ativos teve um aumento


de 51,25% ao passo que a folha dos inativos foi de 81,58% e a dos pensionistas foi
de 23,80% no período de 2018 a 2022.

4.2 GESTÃO DOS RECURSOS FINANCEIROS DO INSTITUTO DE PREVIDÊNCIA

A alocação dos recursos financeiros do Instituto, é feita obedecendo as


diretrizes estabelecidas nas Políticas de Investimentos que situa a aplicação dos
recursos nos vários segmentos de aplicação, conforme Resolução CNM nº
4.695/2021.
A tabela abaixo apresenta as informações acerca dos resultados das
alocações de investimentos de acordo com a Política de Investimentos realizadas no
RPPS nos anos 2018 a 2022, bem como comparativo com a meta de rentabilidade a
ser alcançada.

Tabela 4 – Folha de Pagamentos X Investimentos e Rentabilidade


ANO 2018 2019 2020 2021 2022

Folha 9.851.856,42 11.168.130,74 13.341.845,71 15.323.416,14 16.880.397,64


Inativos e
Pensionistas
Rentabilidade 7.009.880,61 12.083.447,90 7.787.381,56 2.712.620,60 7.994.283,71
Investimento
Meta – INPC + 9,64% 10,75% 11,77% 16,19% 11,09%
6%
Rentabilidade 8,83% 13,55% 4,95% 2,45% 6,71%
Obtida
Diferenças -0,81% 2,80% -6,82% -13,74 -4,38
Apuradas
Fonte: Elaborada pelos autores
19

Fazendo-se o comparativo entre a meta atuarial e a rentabilidade obtida,


observou-se conforme exposto na tabela 4, que a taxa de rentabilidade no ano 2019
superou a meta atuarial mínima estabelecida para o regime, enquanto nos anos
2018 e 2020 a 2022 não atingiu as metas esperadas. Vale ressaltar que nos anos
em que o Instituto não alcançou a meta, ele conseguiu uma rentabilidade
considerável, sendo esta responsável pela cobertura de 46,04% do total da folha de
pagamento dos servidores inativos do órgão para o período pesquisado.

4.3 EQUILÍBRIO FINANCEIRO E ATUARIAL DO INSTITUTO MUNICIPAL DE


PREVIDÊNCIA

Nos anos de 2018 a 2022, foram elaboradas as reavaliações anuais, que


apresentaram a evolução dos benefícios concedidos, que são as aposentadorias e
pensões já concedidas, e os benefícios a conceder que são as aposentadorias e
pensões estimadas. A tabela abaixo faz um comparativo desses benefícios, bem
como das receitas existentes e a receber em virtude das alíquotas de contribuições,
compensação previdenciária e ganhos de mercado, das quais são deduzidas as
despesas geradas a partir da concessão de benefícios e despesas administrativas.
A diferença entre essas duas variáveis apresenta o resultado atuarial do exercício.

Tabela 5 – Resultado Atuarial


Ano Provisão de Provisão de Plano de Ativos Resultado
Benefícios a Benefícios Amortização Garantidores Atuarial
Conceder Concedidos Vigente

2018 (71.827.168,22) (117.173.995,26) 88.499.348,55 86.934.102,29 (13.567.712,64)

2019 (95.522.539,67) (144.989.045,10) 105.876.456,67 102.345.855,66 (32.289.272,42)

2020 (78.349.793,05) (152.427.110,12) 112.409.284,44 110.377.894,58 (7.989.724,15)

2021 (71.619.200,38) (164.317.349,58) 119.125.488,54 117.012.222,26 201.160,84

2022 (86.316.740,45) (186.627.971,68) 118.146.767,67 131.279.054,38 (23.518.890,08)

Fonte: Elaborada pelos autores

A variação dos resultados atuariais pode ser analisada comparando os


valores dos anos subsequentes. A provisão de benefícios a conceder aumentou
entre 2018 e 2022, enquanto a provisão de benefícios concedidos também
aumentou no mesmo período. O plano de amortização vigente aumentou entre 2018
20

e 2022. Os ativos garantidores aumentaram entre 2018 e 2022. O resultado atuarial


foi negativo em 2018 e 2019, mas tornou-se positivo em 2020 e 2021. A variação
percentual da provisão de benefícios a conceder foi +19% entre os anos de 2018 e
2022, enquanto a variação percentual da provisão de benefícios concedidos foi de
+59% no mesmo período. A variação percentual do plano de amortização vigente foi
+33% entre os anos de 2018 e 2022, enquanto a variação percentual dos ativos
garantidores foi +51% no mesmo período.
Mesmo com o aumento da alíquota do Plano de Amortização Vigente, o
Instituto ainda apresentou um déficit atuarial. Tomando por base a avaliação atuarial
de 2022 que recomendou uma nova alteração do plano, pois o valor presente da
contribuição suplementar futura é inferior às reservas a amortizar. Na tabela adiante
veremos o plano de amortização sugerido para equacionamento do déficit atuarial.

Tabela 6 – Plano de Amortização


% anual Parcela
Ano Saldo Devedor Juros Parcela anual sobre a mensal
folha (Aporte)
2023 R$ 141.665.657,75 R$ 7.125.782,58 R$ 3.922.490,93 8,82% R$ 326.874,24
2024 R$ 144.868.949,41 R$ 7.286.908,16 R$ 4.857.938,77 10,67% R$ 404.828,23
2025 R$ 147.297.918,79 R$ 7.409.085,32 R$ 7.564.972,90 16,23% R$ 630.414,41
2026 R$ 147.142.031,20 R$ 7.401.244,17 R$ 7.720.860,49 16,17% R$ 643.405,04
2027 R$ 146.822.414,88 R$ 7.385.167,47 R$ 7.876.748,08 16,11% R$ 656.395,67
2028 R$ 146.330.834,26 R$ 7.360.440,96 R$ 8.032.635,67 16,04% R$ 669.386,31
2029 R$ 145.658.639,55 R$ 7.326.629,57 R$ 8.188.523,26 15,97% R$ 682.376,94
2030 R$ 144.796.745,86 R$ 7.283.276,32 R$ 8.344.410,85 15,89% R$ 695.367,57
Fonte: Elaborada pelos autores

É possível observar na tabela acima que é sugerido um aumento gradual no


valor a pagar da parcela mensal no intuito de mitigar o crescente déficit atuarial,
onde podemos vislumbrar que a partir de 2028 inicia-se o equacionamento do
mesmo, observa-se ainda que em virtude do aumento da parcela anual há um
aumento da porcentagem anual sobre a folha até 2025, quando atinge o valor
máximo de 16,23%. A partir de então, a porcentagem anual sobre a folha começa a
diminuir e atinge 15,89% em 2030.
No entanto, é importante entender que embora o Instituto tenha déficit atuarial
ele ainda apresenta equilíbrio financeiro que é o comparativo de receitas e despesas
21

de um exercício financeiro sendo que as receitas auferidas foram sempre superiores


às despesas com o pagamento dos benefícios devidos, conforme demonstrado na
tabela abaixo.

Tabela 7 – Receitas X Despesas


Receitas X Despesas 2018 2019 2020 2021 2022

Contribuição Patronal 7.121.552,77 7.762.317,65 8.185.843,34 8.522.325,39 11.787.676,84

Contribuição Ativos 3.520.690,66 3.881.187,24 4.433.401,51 5.440.060,43 6.245.477,98

Contribuição inativos 184.494,53 245.211,21 700.396,26 1.816.200,90 1.988.668,38

Receitas Patrimoniais 7.009.880,61 12.083.447,89 7.787.381,56 2.712.620,60 7.994.283,71

Total de Receitas 17.836.618,57 23.972.163,99 21.107.022,67 18.491.207,32 28.016.106,91

Aposentadorias e Pensões 11.024.725,66 13.341.567,06 15.323.415,91 16.879.085,51 19.655.567,21

Taxa de Administração 424.558,76 519.862,54 533.394,88 558.665,16 794.087,73

Total de Despesas 11.449.284,42 13.861.429,60 15.856.810,79 17.437.750,67 20.449.654,94

SALDO 6.387.334,15 10.110.734,39 5.250.211,88 1.053.456,65 7.566.451,97


Fonte: Elaborada pelos autores

Analisando a tabela acima observa-se que o fluxo de receitas se manteve


contínuo, e que o fluxo de despesas, principalmente as aposentadorias e pensões
aumentam gradativamente, mas ainda assim percebemos um saldo superavitário.
Vale ressaltar ainda que nos anos de 2020 e 2021, tivemos como agravante um
cenário pandêmico, o que afetou significativamente a arrecadação de receitas de
investimentos ou patrimoniais, tivemos também mudança em algumas regras de
aposentadoria e majoração de alíquotas de contribuição, a partir de 2022, onde
observa-se um aumento nas arrecadações de contribuição.
O Demonstrativo Atuarial de 2018 apresentou a projeção atuarial das receitas
e despesas do Instituto de Previdência para os 71 anos seguintes (de 2018 a 2089),
conforme estabelece a legislação vigente, a tabela abaixo apresenta algumas destas
projeções.
22

Tabela 8 – Demonstrativo Atuarial


Novos Repasse Repasse Despesa Resultado Saldo
Ano Benefícios Patronal Segurado Previdenciária Previdenciário Financeiro
2018 153.518,08 9.251.088,14 3.222.288,71 10.782.154,86 1.691.221,99 78.807.239,95
2019 0,00 8.887.554,50 2.801.419,95 9.115.774,98 2.573.199,47 81.380.439,43
2020 0,00 9.145.455,42 2.705.926,56 8.625.573,21 3.225.808,77 84.606.248,20
2021 1.877,93 9.437.534,76 2.612.536,49 8.182.550,92 3.867.520,34 88.473.768,53
2022 0,00 9.131.281,27 2.519.020,04 7.753.301,19 3.897.000,12 92.370.768,65
2023 51.472,67 10.099.599,35 2.429.632,02 7.729.553,49 4.799.677,88 97.170.446,54
2024 74.904,49 9.522.266,08 2.289.276,76 7.849.434,34 3.962.108,49 101.132.555,03
2025 178.391,71 8.928.477,33 2.132.298,78 8.611.772,19 2.449.003,91 103.581.558,94
2026 137.886,85 8.174.263,11 1.887.188,26 9.023.837,26 1.037.614,11 104.619.173,06
2027 88.439,31 7.532.470,81 1.690.817,21 9.028.859,19 194.428,83 104.813.601,89
2028 90.034,83 7.022.146,71 1.553.131,66 9.005.507,10 -430.228,73 104.383.373,15
2029 70.082,05 6.538.653,13 1.422.211,76 8.850.043,11 -889.178,22 103.494.194,94
Fonte: Elaborada pelos autores

Com base na tabela, é possível perceber que somente por volta de 2028
haverá uma queda no resultado previdenciário, onde as receitas e despesas
apresentarão a menor proporção. Além disso, também é possível observar que em
todos os anos analisados o Regime apresentou um saldo financeiro positivo, que
permitiria cumprir com suas obrigações previdenciárias.

5. CONCLUSÕES

Este estudo buscou avaliar a situação financeira e atuarial do Instituto


Municipal de Previdência, com o objetivo de entender sua sustentabilidade a médio
e longo prazo. A literatura revisada destacou os aspectos gerais dos Regimes
Próprios de Previdência Social. Foi observado que o cumprimento do princípio do
equilíbrio financeiro e atuarial é crucial na gestão dos RPPS.
Os dados indicaram ainda que o ente municipal tem cumprido suas
obrigações previdenciárias junto ao Instituto, mantendo as contribuições em dias e
sem atrasos ou insuficiências de valores. No entanto, foi notado que os servidores
que se aposentam têm salários mais altos do que os que estão ativos, exigindo mais
recursos para cobrir as despesas, destacando a necessidade de uma gestão
planejada, eficiente e otimizada.
23

A análise da rentabilidade dos Investimentos revelou que as taxas de


rentabilidade em 2018, 2020, 2021, 2022 foram inferiores à meta estabelecida,
sugerindo a necessidade de revisar as estratégias de investimentos para alcançar
uma rentabilidade mais satisfatória.
Ao analisar as Avaliações Atuariais, verificou-se que a situação financeira do
Instituto de Previdência estava equilibrada em 31 de dezembro de 2022. No entanto,
o aspecto atuarial estava desequilibrado, pois para amortizar o Déficit Técnico
Atuarial existente, Sugere-se a necessidade de adotar o plano de custeio sugerido
na avaliação de 2022.
É importante salientar que considerando as diversas variáveis existentes em
uma Avaliação Atuarial, é difícil afirmar o que contribui para o déficit atuarial, mas é
possível perceber como agravantes, a meta atuarial não atingida, aumento dos
benefícios a conceder, exigindo da gestão um melhor planejamento no intuito de
mitigar os agravantes.
Em conclusão, o Instituto Municipal de Previdência apresenta sustentabilidade
financeira e encontra-se em processo de equilíbrio atuarial uma vez que já existe um
Plano de Amortização do Déficit vigente. Ademais, uma gestão eficaz com o
cumprimento da legislação previdenciária vigente e suas alterações são sempre
essenciais para a maturidade do sistema. Portanto, o Instituto de Previdência têm
procurado desenvolver melhores procedimentos e métodos que visam garantir aos
seus segurados o pagamento dos benefícios estabelecidos em sua lei de criação.
Isso inclui buscar o aumento das receitas através do incremento de alíquotas
sempre que a lei exigir e realizar aplicações financeiras com base nas Política de
Investimentos aprovadas.

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