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RESIDÊNCIA INTEGRADA EM SAÚDE

PROGRAMA DE SAÚDE MENTAL COLETIVA

CRISTIAN DA CRUZ CHIABOTTO

RELATÓRIO DE PRÁTICAS 2021/01


CAMPO DE GESTÃO

PORTO ALEGRE – RS
2021
DADOS DE IDENTIFICAÇÃO

Nome: Cristian Da Cruz Chiabotto


Núcleo Profissional: Psicólogo – CRP 07/32192
Ano: R2
Semestre: 2021/01
Município: Farroupilha/RS
Campo: Gestão – Secretaria Municipal de Saúde
Preceptor de Campo: Adriane Callegari Lume
Tutor de Referência da Escola de Saúde Pública: Ana Luiza Vieira e Fernanda
Mattioni
Introdução

Ao iniciar o R2 do Programa de Residência em Saúde Mental Coletiva,


cujo percurso compreende diversos campos de aprendizado no ensino em
serviço, a Gestão em Saúde Pública é o primeiro espaço onde desenvolvi
práticas no primeiro semestre do ano de 2021. No município de Farroupilha, o
campo que compreende os processos de gestão, se realizou no setor de
Planejamento, da Secretaria Municipal de Saúde (SMS). Os processos de
Gestão do Sistema Único de Saúde (SUS), também compreendem uma
importante virada proposta pelo modelo assistencial preconizado desde à
Reforma Sanitária Brasileira, uma vez que historicamente no Brasil, as políticas
de saúde eram centralizadas – todas as ações federalizadas – e apenas parcela
da população tinha acesso através do Instituto Nacional de Assistência Médica
e Previdência Social – INAMPS (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2002).

A partir da implementação do SUS, a Lei 8.080/90, a gestão da saúde


pública brasileira, assim como as ações de promoção, prevenção e recuperação
da saúde, são, descentralizadas, e passam a ser integradas a partir das três
esferas de governo que compreende: União, Estados e Municípios. Neste
sentido, a articulação de recursos financeiros e humanos, planejamento das
ações e políticas de saúde, se tornam articuladas a partir de um processo de
regionalização e territorialização que conferem acesso à toda população e
garantem o direito universal em saúde. O Controle Social, na figura do Conselho
Nacional, Conselhos Estaduais e Conselhos Municipais de Saúde, também
adquirem um importante papel nos processos de gestão, uma vez que o SUS é
construído a partir da participação popular e da construção de diversos atores
na sua efetivação no cotidiano. A gestão passa, portanto, a ser compartilhada
entre trabalhadores, usuários, organizações da sociedade civil e organizações
de governo, explicitando o caráter coletivo da concepção de saúde da Reforma
Sanitária.

O município de Farroupilha, possui cerca de 70 mil habitantes, está


localizado na região da Serra Gaúcha e componente da Comissão Intergestores
Regional – CIR Uva e Vales, pertencente à 5ª Coordenadoria Regional de
Saúde. Farroupilha conta com um contrato de gestão com uma Organização
Social (O.S) – Associação Farroupilhense Pró Saúde – que executa e gerencia
os serviços de atenção básica e média complexidade do município. Cabe à
gestão da SMS, o planejamento das ações em saúde, o controle, planejamento
e participação orçamentária (compreendendo repasses financeiros para
aquisição de materiais e insumos em saúde, e também para a execução das
políticas que é feita pela O.S) e gerência sobre todos os processos de execução
das políticas públicas de saúde.

A SMS conta com o setor de planejamento, regulação e finanças. O setor


de planejamento onde foram realizadas as atividades da residência no mês de
março à abril, é responsável por articular e planejar as ações em saúde,
compreendendo todos os atores envolvidos neste processo e uma gestão
democrática, e se utilizando de alguns instrumentos balizadores, como as
resoluções das Conferências Municipais, o Plano Plurianual e a Programação
Anual Orçamentária (PLANO MUNICIPAL DE SAÚDE, 2018-2021).

Linhas de trabalho e ações desenvolvidas

Ao chegar na SMS, dou início ao percurso com uma proposta de trabalho


em duas linhas: a elaboração de uma Política Municipal de Educação
Permanente em Saúde (PMEPS) e o acompanhamento do processo de
implementação do CAPS infanto-juvenil (ij) no município. Por outro lado, além da
minha proposta de trabalho, acompanho também o dia-a-dia das tarefas que vão
surgindo no setor de planejamento. A proposta de trabalho feita, surge a partir
de um desejo, ligado às dificuldades vivenciadas na realidade dos serviços
durante o período de R1 no ano de 2020, que explicitou a urgência de
estabelecer a Educação Permanente em Saúde para às equipes contratadas
pela O.S, bem como tencionar a discussão sobre a implementação do CAPS -ij,
que se encontra parada desde à vinda do recurso para efetivar este serviço em
2018.

Em relação à PMEPS, foi desenvolvido um documento orientador para a


efetivação de espaços de EPS nas equipes de saúde da atenção básica e
especializada. A elaboração deste documento, se faz necessária justamente
porque o município conta com um Núcleo Municipal de Educação em Saúde
Coletiva (NUMESC) desde 2017, que é um importante instrumento para efetivar
a Política Nacional de Educação Permanente, instituída pela Portaria nº 1.996, DE
20 DE AGOSTO DE 2007. Tal necessidade também se justifica, pelas fragilidades
identificadas nos processos de trabalho dos colaboradores contratados pela O.S,
que em sua maioria não possuem uma formação adequada para efetivar no
cotidiano os princípios e diretrizes do SUS, que é um dos principais objetivos da
PNEP, que se preocupa com os processos de trabalho no SUS que consolidem
de fato o projeto de sociedade e os princípios preconizados pela Reforma
Sanitária Brasileira.

O processo de elaboração de um documento de orientação para a


PMEPS, colabora, do ponto de vista da gestão, para um diálogo entre os atores
envolvidos, através de consulta com os trabalhadores, com os coordenadores
das unidades e com a gerência da O.S, e do ponto de vista assistencial,
objetivando efetivar a Clínica Ampliada e Compartilhada no cotidiano,
estabelecendo um processo de reflexão e análise constante dos processos de
trabalho no SUS. Compreende-se por efetivação da Clínica Ampliada e
Compartilhada, a virada do modelo assistencial preconizado pelo SUS, que
concebe os sujeitos em sua complexidade, a partir dos determinantes sociais da
saúde, e não mais a saúde como um processo meramente centrado na doença
e nos procedimentos, ou seja, a consolidação do princípio de integralidade.

Em relação ao processo de planejamento e implementação de um CAPS-


ij, o município possui um projeto feito em meados dos anos de 2017/2018, e
também teve a verba financeira aprovada em CIB e CIR para efetivar este
serviço de saúde mental na cidade. Apesar destes marcos de gestão importantes
para implementar um serviço de extrema importante para a saúde pública local
e regional, há entraves na sua consolidação. O município possui um ambulatório
de saúde mental (CAISME) que atende as crianças e adolescentes como
transtornos mentais graves e persistentes, bem como todas as demandas
psicossociais que surgem nesta faixa etária, o que evidencia, uma fragilidade
significativa na política municipal de saúde mental, uma vez que, o ambulatório
têm um funcionamento limitado e não consegue de fato suprir as necessidades
em saúde da população infanto-juvenil, o que se expressa na enorme lista de
espera existente para atendimento no local.
Tal impasse para a implementação do CAPS ij, deixa claro que há uma
disputa de modelos de atenção no município: de um lado a clínica da Reforma
Psiquiátrica centrada na atenção psicossocial, de outro lado, a velha lógica
médico-hegemônica e tradicional da clínica psiquiátrica, que historicamente, não
produz saúde. As dificuldades da gestão em efetivar a implementação deste
serviço, esbarram com a gestão da O.S terceirizada, na figura da coordenação
de saúde mental da organização, que de diversas maneiras comunica a
insatisfação em renunciar à lógica ambulatorial. Em relação à isto, me remeto a
esta situação como um analisador sobre a gestão municipal: fica evidente a
insuficiência de instrumentos de gestão na regulação entre a O.S e a SMS, uma
vez que a ordem parece estar invertida, já que como prestadora de serviços para
um bem público – neste caso a saúde – deveria zelar pelo diálogo e a construção
de uma gestão séria com a máquina pública e não agir como se fosse autônoma
em relação à SMS. Acredito que, é preciso criar espaços de debate e reuniões
periódicas para consolidar o diálogo entre estes atores.

Outras ações desenvolvidas, dizem respeito ao dia-a-dia da gestão e das


demandas que vão surgindo no setor de planejamento. Pude vivenciar a
experiência significativa – que vou denominar aqui de Apoio Institucional – de
escuta e apoio aos Agentes Comunitários de Saúde (ACS) de cada UBS do
município. As reuniões aconteceram em formato de um circuito por cada
unidade, para dar suporte aos ACS e também para repassar novo protocolo de
visitação e busca a partir dos indicadores do Programa Previne Brasil, que
compreende as novas formas de financiamento da APS no SUS. Segundo o
Documento Base para Gestores e Trabalhadores do SUS (2018), o apoio
institucional é uma importante ferramenta para criar espaços coletivos e mediar
a construção de objetivos e pactuações comuns e também qualificar as ações
através do suporte, planejamento e supervisão. Neste sentido, aponto a
necessidade da SMS do Município poder efetivar o Apoio Institucional –
circulação pelas equipes de saúde, presença e contato constante com a ponta
onde se realiza assistência – como forma de qualificar as ações e também
prestar suporte para os processos de gestão da O.S.
Conclusão

A partir das ações desenvolvidas no período que compreende a


experiência na Gestão, percebe-se a importância dos espaços e processos
gestores do SUS na consolidação dos seus princípios e diretrizes, que são
operacionalizados pela assistência nas diversas complexidades. A Gestão, e
aqui em especial o setor de Planejamento da SMS, têm papel fundamental na
organização, planejamento e estratégias de gestão para dar suporte e
retaguarda à ponta do acesso em saúde. Apesar dos desafios – e ressalto dentre
eles o compartilhamento e difícil diálogo com a O.S terceirizada – percebe-se a
qualidade técnica e a capacidade de resolução de problemas da equipe, que
apesar de estar em número pequeno, exerce um excelente trabalho.

Ressalto também, a importância da municipalização e da


descentralização da atenção e da gestão em saúde, como um marco que efetiva
o princípio da Universalidade do acesso. Neste sentido, a experiência na SMS
demarcou o papel significativo da gestão municipal na efetivação cotidiana do
SUS. Atenção e gestão em saúde, são processos que estão constantemente
interligados e emaranhados, daí a relevância de compreensão sistêmica destes
processos que são engendrados e que consolidam o modelo de atenção
preconizado desde à Reforma Sanitária e a criação do SUS.

Autoavaliação

Em relação aos processos de trabalho estive presente e assíduo em todos


os dias durante o mês vivenciado na SMS, estabeleci bons vínculos com a
equipe de trabalho e estive sempre disposto a efetuar os trabalhos no cotidiano.
Sem mais, agradeço imensamente este período de aprendizado que compõe
minha trajetória pela Residência Multiprofissional.
Referências

BRASIL. Ministério da Saúde. O Sistema Público de Saúde Brasileiro.


Brasília: DF, 2002. Disponível em:
https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/sistema_saude.pdf

Ministério da Saúde, Secretaria de Atenção à Saúde, Núcleo Técnico da PNH.


Documento Base para Gestores e Trabalhadores do SUS, Brasília-DF,
2008. Disponível em:
https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/humanizasus_documento_gestores
_trabalhadores_sus.pdf

BRASIL. Ministério da Saúde. Política Nacional de Educação Permanente


em Saúde /Departamento de Gestão da Educação em Saúde. – Brasília :
Ministério da Saúde, 2009. Disponível em:
http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/pacto_saude_volume9.pdf

FARROUPILHA. Plano Municipal de Saúde 2018-2021. Secretaria Municipal


de Saúde, 2018.

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