2. a. F. É muito difícil isolar etapas definidas da evolução literária de Garrett. b. V; c. F. Lucrécia e Catão são obras dramáticas. d. V.
Transcrição do registo áudio
Exposição sobre Almeida Garrett
Evolução literária garrettiana
Garrett conta-se certamente no número dos escritores em quem se torna muito
difícil isolar etapas definidas de evolução literária. Formado e amadurecido sob o signo da mudança (literária, ideológica, política, social, etc.), Garrett manifesta, para mais – e em sintonia com o Romantismo emergente –, uma tendência 5 indisfarçável para o hibridismo: hibridismo de formas e temas estéticos, de referências culturais, etc., que tornam muito difícil demarcar neste escritor fases superadas de evolução literária. Verdadeiramente, pode dizer-se que os dois grandes veios de criação cultural de que Garrett é tributário – o legado neoclássico e o filão romântico – interagem de forma harmoniosa, não se anulando mutuamente. De qualquer modo, não há dúvida de que o jovem Garrett é responsável por uma produção literária em que são predominantes os vestígios do Neoclassicismo, 10 associados a um discreto pendor iluminista e já a uma certa inclinação para o culto de uma sensibilidade pré-romântica. Daí provêm o teatro de juventude garrettiano (Lucrécia, 1819; Catão, 1822), o sensualismo e a ambiência mitológica do ousado Retrato de Vénus (1821) e ainda alguma poesia da Lírica de João Mínimo (1829). […] Noutro local, foram já comentadas as circunstâncias (exílio, solidão, saudade) que presidiram à composição do poema «Camões». Obra praticamente de iniciação do Romantismo português, o «Camões» traz consigo uma consciência 15 muito clara do seu pioneirismo artístico […]. E depois de declarar que não aspira a imitar o «engenho e talento» de Lord Byron, Garrett enuncia a mais determinante e consequente afirmação que aqui se encontra: «Não sou clássico nem romântico; de mim digo que não tenho seita nem partido em poesia (assim como em coisa nenhuma)». Reclamar tão radical independência é fazer, implicitamente e por paradoxal que pareça, uma confissão de fé romântica, que vem, afinal, confirmar o que antes se anunciava: o pendor inovador, o desrespeito pelas regras, o primado do 20 sentimento sobre a razão, mesmo a atração pela sedutora personalidade artística de Lord Byron. O poema «Camões» confirma tudo isto, antes de mais pelo tom estilístico e pela opção temática que concretiza […]. Com efeito, a figura de Camões – figura que seduzia já o jovem Garrett, autor do soneto «Camões náufrago», inserido na Lírica de João Mínimo – reúne fundamentais traços característicos de um verdadeiro herói romântico: o estigma do poeta maldito e desterrado, o génio poético incompreendido, a solidão 25 ontológica, mesmo a energia vital que em Camões sobrevive, quando do regresso à Pátria ingrata, constituem elementos psicoemotivos que só de um ponto de vista romântico são devidamente valorizados. Se a isto juntarmos a temática amorosa […] e o toque de exotismo próprio das referências ao Oriente, teremos evidenciado a dominância romântica […]. A partir daqui, pode dizer-se que se encontra consolidada em Garrett a opção por um Romantismo que fará da cultura nacional um grande filão de captação de temas. REIS, Carlos, 1990. Literatura Portuguesa Moderna e Contemporânea. Lisboa: Universidade Aberta (pp. 40-45)