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São Carlos, v.9 n.

41 2007
UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO

Reitora:
Profa. Dra. SUELY VILELA

Vice-Reitor:
Prof. Dr. FRANCO M. LAJOLO

ESCOLA DE ENGENHARIA DE SÃO CARLOS

Diretor:
Profa. Dra. MARIA DO CARMO CALIJURI

Vice-Diretor:
Prof. Dr. ARTHUR JOSÉ VIEIRA PORTO

DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA DE ESTRUTURAS

Chefe do Departamento:
Prof. Dr. CARLITO CALIL JUNIOR

Suplente do Chefe do Departamento:


Prof. Dr. SERGIO PERSIVAL BARONCINI PROENÇA

Coordenador de Pós-Graduação:
Prof. Dr. MARCIO ANTONIO RAMALHO

Coordenadora de Publicações e Material Bibliográfico:


MARIA NADIR MINATEL
e-mail: minatel@sc.usp.br

Editoração e Diagramação:
FRANCISCO CARLOS GUETE DE BRITO
MARIA NADIR MINATEL
MASAKI KAWABATA NETO
MELINA BENATTI OSTINI
RODRIGO RIBEIRO PACCOLA
TATIANE MALVESTIO SILVA
São Carlos, v.9 n. 41 2007
Departamento de Engenharia de Estruturas
Escola de Engenharia de São Carlos – USP
Av. Trabalhador Sãocarlense, 400 – Centro
CEP: 13566-590 – São Carlos – SP
Fone: (16) 3373-9481 Fax: (16) 3373-9482
site: http://www.set.eesc.usp.br
SUMÁRIO

Métodos simplificados para a verificação de punção excêntrica


Juliana Soares Lima & Libânio Miranda Pinheiro 1

Análise experimental de ligações duplo “T” com almas coplanares,


perpendiculares e enrijecidas
Yuri Ivan Maggi & Roberto Martins Gonçalves 23

Análise do comportamento de blocos de concreto armado sobre estacas


submetidos à ação de força centrada
Fabiana Stripari Munhoz & José Samuel Giongo 47

Análise de pavimentos de edifícios de concreto armado com a consideração


da não-linearidade física – modelagem e metodologia de aplicação a projetos
Richard Sarzi Oliveira & Márcio Roberto Silva Corrêa 77

Avaliação da rigidez rotacional em estruturas planas de madeira concebidas


por elementos unidimensionais com dois parafusos por nó
André Luis Christoforo & Francisco Antonio Rocco Lahr 109

A ação do vento em silos cilíndricos de baixa relação altura/diâmetro


Luciano Jorge de Andrade Junior & Carlito Calil Junior 129
ISSN 1809-5860

MÉTODOS SIMPLIFICADOS PARA A VERIFICAÇÃO


DE PUNÇÃO EXCÊNTRICA
Juliana Soares Lima1 & Libânio Miranda Pinheiro2

Resumo
Nas recomendações da NBR 6118:1978 relativas à punção, não eram previstos os
casos em que ocorre transferência de momentos desbalanceados entre a laje e o pilar.
Como a influência desses momentos pode ser bastante significativa para a análise da
punção, algumas diretrizes foram incluídas na Revisão da NBR 6118, versão de 2000.
Este trabalho apresenta um estudo dessas disposições sobre a chamada punção
excêntrica, ressaltando-se algumas omissões quanto ao cálculo das tensões solicitantes
na face do pilar e além da região armada para punção. São propostas
complementações e métodos simplificados para a consideração dos efeitos dos
momentos. Por fim, resolve-se um exemplo de cálculo, demonstrando os procedimentos
apresentados e comparando-os com aqueles propostos pela Revisão da NBR 6118.

Palavras-chave: lajes; punção; momentos desbalanceados; ligação laje-pilar.

1 INTRODUÇÃO

Quando um momento desbalanceado é transferido em uma ligação laje-pilar,


parte se dá por flexão, parte por torção e parte por cisalhamento. Essa distribuição
pode ser considerada por uma variedade de métodos e depende essencialmente das
dimensões do pilar e da espessura da laje.
Para a punção, em especial, interessa a parcela transferida por cisalhamento.
Nas recomendações da NBR 6118:1978, relativas à punção, não eram previstos os
casos em que ocorre transferência de momentos desbalanceados. Mas como a
influência desses momentos pode ser bastante significativa, sua análise foi incluída na
Revisão da NBR 6118 (2000).
Em trabalho anterior, GUARDA, LIMA & PINHEIRO (2000) apresentaram essas
novas diretrizes da NBR 6118 (2000), resolvendo, inclusive, um exemplo de cálculo.
Posteriormente, LIMA (2001) estudou mais detalhadamente esses procedimentos,
identificando algumas omissões relacionadas ao cálculo das tensões solicitantes.
Neste trabalho, são apresentadas algumas sugestões para contornar essas
omissões, enfatizando-se a possibilidade de utilização de métodos simplificados.

1
Mestre em Engenharia de Estruturas - EESC-USP, jslima55@uol.com.br
2
Professor do Departamento de Engenharia de Estruturas da EESC-USP, libanio@sc.usp.br

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 9, n. 41, p. 1-22, 2007


2 Juliana Soares Lima & Libânio Miranda Pinheiro

2 PUNÇÃO EXCÊNTRICA SEGUNDO A REVISÃO DA NBR 6118

O modelo empírico da NBR 6118 (2000) para a verificação da punção é


baseado no método da superfície de controle, que consiste em comparar tensões de
cisalhamento atuantes em superfícies consideradas críticas, com tensões resistentes
do concreto.
Essas superfícies críticas estão relacionadas às regiões com possibilidade de
ruína por punção, localizadas entre a face do pilar e o início da armadura, dentro da
região armada e além dela.
Quando não for prevista armadura de punção, duas verificações devem ser
feitas:
• verificação da compressão do concreto, no contorno C;
• verificação da punção, no contorno C’.

Quando for prevista armadura de punção, três verificações devem ser feitas:
• verificação da compressão do concreto, no contorno C;
• verificação da punção, no contorno C’;
• verificação da punção, no contorno C”.

Os contornos críticos C, C’ e C” encontram-se, respectivamente, na face do


pilar, à distância 2d da face do pilar e à distância 2d da última linha de armadura de
punção. A determinação de cada um dos contornos críticos C, C’ e C” varia de acordo
com a posição do pilar na estrutura (Figura 1).

Pilar Interno Pilar de Borda Pilar de Canto


C' C'

2d 2d
C C C'
C
2d
2d
2d 2d
C" C"

2d 2d

C"

2d
2d 2d 2d

Figura 1 - Perímetros críticos.

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Métodos simplificados para a verificação da punção excêntrica 3

O cálculo das tensões solicitantes nos casos de punção excêntrica foi


apresentado por GUARDA, LIMA & PINHEIRO (2000) e por LIMA (2001). Um resumo
das expressões utilizadas encontra-se na Tabela 1.
Vale lembrar que, no caso de pilares de canto, devem ser feitas verificações
separadas para cada uma das direções, sendo estudadas duas situações de cálculo.

Tabela 1 - Expressões para o cálculo das tensões solicitantes.


Situação de Cálculo Tensão Solicitante

Pilar interno FSd K ⋅ M Sd


τ Sd = +
com momento em uma direção u ⋅ d Wp ⋅ d

Pilar interno FSd K 1 ⋅ M Sd1 K 2 ⋅ M Sd 2


τ Sd = + +
com momentos nas duas direções u ⋅d Wp1 ⋅ d Wp 2 ⋅ d
Pilar de borda FSd K 1 ⋅ M Sd
sem momento no plano paralelo à borda τ Sd = +
u * ⋅d Wp1 ⋅ d
livre
Pilar de borda FSd K 1 ⋅ M Sd K 2 ⋅ M Sd 2
com momento no plano paralelo à borda τ Sd = + +
u * ⋅d Wp1 ⋅ d Wp 2 ⋅ d
livre
FSd K 1 ⋅ M Sd
Pilar de canto τ Sd = +
u * ⋅d Wp1 ⋅ d

Nas expressões da Tabela 1, têm-se:


FSd - força normal de cálculo;
u - perímetro crítico do contorno considerado;
u* - perímetro crítico reduzido do contorno considerado (Figura 2);
d - altura útil da laje;
K, K1 e K2 - coeficientes que fornecem a parcela de momento transferida por
cisalhamento (Tabela 2), e que dependem da relação c1 / c 2 entre as dimensões do
pilar (Figura 3); para pilares de borda com momento no plano paralelo à borda livre, K2
depende da relação c 2 / 2c1 ;

Tabela 2 - Valores do coeficiente K.


c1/c2 0,5 1 2 3

K 0,45 0,60 0,70 0,80

c1 - dimensão do pilar na direção da excentricidade ou na direção perpendicular à


borda;
c2 - dimensão do pilar na direção perpendicular à excentricidade ou na direção da
borda;

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4 Juliana Soares Lima & Libânio Miranda Pinheiro

a ≤ 1,5d ou 0,5c1
Perímetro crítico u

2d 2d

c2 c2

Borda livre 2d Borda livre 2d


da laje da laje
c1 2d c1 2d
Perímetro crítico
reduzido u*
Bordas livres da laje

c
a ≤ 1,5d ou 0,5c

2d 2d

2d 2d

Perímetro crítico u Perímetro crítico


reduzido u*

Figura 2 - Perímetros críticos reduzidos do contorno C’ para pilares de borda e de canto.

M c2
sd

c1

Figura 3 - Dimensões c1 e c2.

MSd, MSd1 e MSd2 - momentos desbalanceados de cálculo; para pilares de borda e de


canto:
MSd2 - momento no plano paralelo à borda livre;
MSd - momento resultante de cálculo, dado pela expressão M Sd = (M Sd1 − M Sd *) ≥ 0 ;
MSd1 - momento desbalanceado de cálculo, no plano perpendicular à borda livre;
MSd* - momento resultante da excentricidade do perímetro crítico reduzido u* em
relação ao centro do pilar, no plano perpendicular à borda livre, ou seja, M Sd * = FSd ⋅ e * ;
e* - excentricidade do perímetro crítico reduzido (Figura 4), dada por
u* u*
e* = ∫ e ⋅ dl ∫ dl .
0 0

De acordo com esta definição, a NBR 6118 (2000) apresenta apenas as


expressões da Tabela 3, correspondentes ao contorno crítico C’. Nenhuma indicação
é feita para os contornos C e C”.

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Métodos simplificados para a verificação da punção excêntrica 5

b a 2d
a ≤ 1,5d ou 0,5c 1
2d

c1 / 2 e*
c2

Borda livre da laje 2d

c1 2d
Perímetro crítico reduzido u*

c1 2d

c2 e*
a2

2d 2d a1 ≤ 1,5d ou 0,5c1
a2 ≤ 1,5d ou 0,5c2
a1 2d

Perímetro crítico reduzido u*

Figura 4 - Excentricidade do perímetro crítico reduzido do contorno C’, para pilares de borda e
de canto.

Tabela 3 - Valores de e* para o contorno C’.


Situação de Cálculo Excentricidade
c1 ⋅ c 2
c1 ⋅ a − a 2 + + 2 ⋅ c 2 ⋅ d + 8 ⋅ d 2 + π ⋅ d ⋅ c1
Pilares de borda e* = 2
2⋅a + c2 + 2⋅ π⋅d
c1 ⋅ a 1 − a 1 2 + a 2 ⋅ c1 + 4 ⋅ a 2 ⋅ d + 8 ⋅ d 2 + π ⋅ d ⋅ c1
Pilares de canto e* =
2 ⋅ (a 1 + a 2 + π ⋅ d )

Observa-se que, para pilares de borda e de canto, não é necessário utilizar o


momento no plano perpendicular à borda livre com seu valor integral. A excentricidade
do perímetro crítico provoca um momento MSd* de sentido oposto ao de MSd1, podendo
até anular o efeito deste. A favor da segurança, mesmo que MSd* seja maior que MSd1,
o que significaria “alívio” da tensão de cisalhamento atuante, esta situação não é
considerada ( M Sd1 − M Sd * ≥ 0 ).
a, a1 e a2 - menor valor entre 1,5 ⋅ d e 0,5⋅ c ;
Wp, Wp1 e Wp2 - módulos de resistência plástica do perímetro crítico, nas direções
u
paralelas aos momentos correspondentes, dados por Wp = ∫ e ⋅ dl , onde dl é o
0

comprimento infinitesimal de u e e é a distância de dl ao eixo que passa pelo centro


do pilar e em torno do qual atua MSd. De acordo com essa definição, a NBR 6118

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(2000) apresenta apenas as expressões da Tabela 4, relativas ao contorno crítico C’.


Nenhuma indicação é feita para os contornos C e C”.

Tabela 4 - Valores de Wp para o contorno C’.


Situação de Cálculo Wp

c1 2
Pilares internos Wp = + c1 ⋅ c 2 + 4 ⋅ c 2 ⋅ d + 16 ⋅ d 2 + 2 ⋅ π ⋅ d ⋅ c1
2
c12 c1 ⋅ c 2
Pilares de borda - Wp1 Wp1 = + + 2 ⋅ c 2 ⋅ d + 8 ⋅ d 2 + π ⋅ d ⋅ c1
2 2
c22
Pilares de borda - Wp2 Wp 2 = + c1 ⋅ c 2 + 4 ⋅ c1 ⋅ d + 8 ⋅ d 2 + π ⋅ d ⋅ c 2
4
c12 c1 ⋅ c 2 π ⋅ d ⋅ c1
Pilares de canto Wp1 = + + 2⋅c2 ⋅d + 4⋅d 2 +
4 2 2

3 VALORES DE Wp PARA OS CONTORNOS C E C”

A omissão da NBR 6118 (2000) sobre a obtenção das expressões de Wp para


os contornos C e C” pode acarretar o uso de valores indevidos desse parâmetro para
as verificações na face do pilar e além da região armada, não devendo persistir na
versão definitiva da NBR 6118.
No CEB MC-90 (1993), no qual a verificação de punção da NBR 6118 (2000) é
baseada, não ocorre esse problema. Para o contorno C”, fica claro que deve ser
calculado um Wp’ correspondente ao perímetro crítico u’, de forma análoga ao Wp
para o contorno u. Resolvendo-se a integral de definição, podem ser obtidas as
expressões de Wp’ da Tabela 5, para cada situação de cálculo, sendo p a distância da
face do pilar até a última linha de conectores.
Para o contorno C, o CEB MC-90 (1993) apresenta a tensão solicitante em
termos de uma força de compressão efetiva, FSd,ef, que considera o efeitos dos
momentos fletores. Rearrumando sua expressão para um formato similar ao da NBR
6118 (2000), tem-se:
FSd K ⋅ M Sd
τ Sd = +
uo ⋅d uo
⋅ Wp ⋅ d
u

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Métodos simplificados para a verificação da punção excêntrica 7

Tabela 5 - Valores de Wp’.


Situação de Cálculo Wp’

' c1 2
Wp = + c1 ⋅ c 2 + 4 ⋅ c 2 ⋅ d + 16 ⋅ d 2 + 2 ⋅ π ⋅ d ⋅ c1 + 2 ⋅ c 2 ⋅ p +
Pilar interno (Wp’) 2
+ 16 ⋅ d ⋅ p + 4 ⋅ p 2 + π ⋅ c1 ⋅ p
2
c1 c ⋅c
Wp1 ' = + 1 2 + 2 ⋅ c 2 ⋅ d + 8 ⋅ d 2 + π ⋅ d ⋅ c1 + c 2 ⋅ p + 8 ⋅ d ⋅ p +
Pilar de borda (Wp1’) 2 2
π ⋅ p ⋅ c1
+ + 2⋅p2
2
2
c2
Wp 2 ' = + c1 ⋅ c 2 + 4 ⋅ c 1 ⋅ d + 8 ⋅ d 2 + π ⋅ d ⋅ c 2 + 2 ⋅ c1 ⋅ p + 8 ⋅ d ⋅ p +
Pilar de borda (Wp2’) 4
π⋅p ⋅c2
+ + 2⋅p2
2
2
c1 c ⋅c π ⋅ d ⋅ c1
Wp1 ' = + 1 2 + 2⋅c2 ⋅d + 4⋅d 2 + + c2 ⋅p + 4⋅d ⋅p +
Pilar de canto (Wp1’) 4 2 2
π ⋅ p ⋅ c1
+ + p2
4

Nota-se que o CEB MC-90 (1993), apesar de não fornecer expressão direta
para o cálculo do Wp no contorno C, utiliza uma redução do próprio Wp do contorno C’
para o cálculo da tensão solicitante na face do pilar3. Pode-se escrever então:
uo
Wpo = ⋅ Wp (1)
u

Para pilares de borda e de canto, devem ser utilizados os perímetros críticos


reduzidos:
uo *
Wpo = ⋅ Wp (2)
u*

Mas assim como foi feita uma redução do Wp para se calcular o Wpo, pode-se
pensar numa majoração do Wp para se obter o Wp’. Essa interpretação é bastante
prática, pois permite que os valores de Wp’ sejam calculados de uma forma mais
simples que aquela apresentada na Tabela 5. Assim sendo, pode-se escrever:
u'
Wp ' = η wp ⋅ Wp (3)
u

Para pilares de borda e de canto:

3
Deve-se ressaltar que essa redução do Wp do contorno C’ não corresponde à aplicação da integral de
definição ao perímetro crítico uo.

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u '*
Wp ' = η wp ⋅ Wp (4)
u*
sendo ηwp - coeficiente para correção do Wp’ em função da situação de cálculo.

Para determinar os valores de ηwp, foram utilizadas as expressões:


Wp '
Wp
η wp = para pilares internos;
u'
u
Wp '
Wp
η wp = para pilares de borda e de canto.
u '*
u*
Foram resolvidos diversos exemplos para cada situação de cálculo, supondo-
se Wp’ dado pela Tabela 5 e s e ≤ 2 ⋅ d , sendo se o espaçamento entre os conectores
mais afastados do pilar. Variou-se a altura útil da laje entre 12 e 22 cm, a menor
dimensão da seção do pilar entre 20 e 30 cm, a maior dimensão até cinco vezes a
outra, e manteve-se a distância da última linha de armaduras à face do pilar em pelo
menos 2d. Com base nesses dados e na análise estatística de LIMA (2001), observou-
se que podem ser adotados os valores de ηwp apresentados na Tabela 6. Mas vale
ressaltar que esses valores ainda podem ser melhorados, a partir de outras análises
mais refinadas e que considerem uma amostragem maior e mais diversificada.

Tabela 6 - Valores de ηwp.


Situação de Cálculo c1 ≤ c2 c1 > c2

Pilar interno (Wp’) 1,6 1,3

Pilar de borda (Wp1’) 1,5 1,1

Pilar de borda (Wp2’) 1,3 1,3

Pilar de canto (Wp1’) 1,3 1,1

Assim, tanto a redução quanto a majoração do Wp, para a determinação de


Wpo e Wp’, respectivamente, podem ser introduzidas na versão definitiva da NBR
6118. Para cálculos mais rigorosos, entretanto, recomenda-se a adoção das
expressões completas de Wp’, apresentadas na Tabela 5.

4 VALORES DE e* PARA OS CONTORNOS C E C”

A omissão da NBR 6118 (2000) sobre a obtenção das expressões de e* para


os contornos C e C”, assim como no caso do Wp, também pode acarretar a escolha de

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valores indevidos para as verificações na face do pilar e além da região armada,


devendo ser solucionada na versão definitiva da NBR 6118.
Uma primeira idéia seria aplicar a integral de definição de e* aos contornos C e
C”. Com isso, são obtidas as expressões da Tabela 7, para pilares de borda, e da
Tabela 8, para pilares de canto.
Observa-se, entretanto, que o cálculo de e* segundo essas expressões pode
se tornar um pouco trabalhoso. Fazendo-se uma analogia à solução apresentada para
o Wp, pode-se propor que as excentricidades dos perímetros críticos reduzidos dos
contornos C e C” sejam escritas da seguinte forma:
uo *
e o * = η e1 ⋅e* (5)
u*

u '*
e'* = η e 2 ⋅e* (6)
u*
sendo:
ηe1, ηe2 - coeficientes para correção de e* em função do contorno estudado.
Para a determinação de ηe1 e ηe2, as seguintes expressões foram utilizadas:
eo * e'*
η e1 = e * e ηe2 = e*
uo * u '*
u* u*

Tabela 7 - Valores de e* para pilares de borda.


Contorno Crítico Excentricidade do perímetro crítico e*
c1 ⋅ c 2
c1 ⋅ a − a 2 +
C eo * = 2
2⋅a + c2
⎛ c ⋅c ⎞
⎜ c1 ⋅ a − a 2 + 1 2 + 2 ⋅ c 2 ⋅ d + 8 ⋅ d 2 + π ⋅ d ⋅ c 1 + ⎟
⎜ 2 ⎟
C” ⎜ π ⋅ p ⋅ c1 ⎟
⎜ + c2 ⋅ p + 8⋅d ⋅ p + + 2⋅p2 ⎟
e '* = ⎝ ⎠
2
2⋅a + c2 + 2⋅π⋅d + π⋅p

Foram resolvidos diversos exemplos com as mesmas características citadas no


item 3, supondo-se eo* e e’* calculados pela Tabela 7 e pela Tabela 8, e, novamente,
s e ≤ 2 ⋅ d . Com base nesses dados e na análise estatística desenvolvida por LIMA
(2001), observou-se que podem ser adotados os valores de ηe1 e de ηe2 apresentados
na Tabela 9. Mas vale ressaltar que esses valores também podem ser melhorados, a
partir de outras análises mais refinadas e que considerem uma amostragem maior e
mais diversificada.

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Tabela 8 - Valores de e* para pilares de canto.


Contorno Crítico Excentricidade do perímetro crítico e*

c1 ⋅ a 1 − a 1 2 + a 2 ⋅ c1
C eo * =
2 ⋅ (a 1 + a 2 )
⎛ c 1 ⋅ a 1 − a 1 2 + a 2 ⋅ c 1 + 4 ⋅ a 2 ⋅ d + 8 ⋅ d 2 + π ⋅ d ⋅ c1 ⎞
⎜ ⎟
⎜ π ⋅ p ⋅ c1 ⎟
⎜ + 2 ⋅a 2 ⋅ p + 8⋅d ⋅ p + + 2⋅p2 ⎟
C”
e '* = ⎝ ⎠
2
⎛ π⋅p ⎞
2 ⋅ ⎜ a1 + a 2 + π ⋅ d + ⎟
⎝ 2 ⎠

Tabela 9 - Valores de ηe1 e de ηe2..


Coeficiente
c1 ≤ c2 c1 > c2
s
ηe1 0,5 1,0
ηe2 1,0 0,8

Assim, tanto a redução quanto a majoração do e*, para a determinação de eo*


e e’*, respectivamente, podem ser introduzidas na versão definitiva da NBR 6118.
Para cálculos mais rigorosos, entretanto, recomenda-se a adoção das expressões
completas, indicadas na Tabela 7 e na Tabela 8.

5 MÉTODO SIMPLIFICADO PARA A PUNÇÃO EXCÊNTRICA

No item 2, foram apresentadas expressões para o cálculo das tensões


solicitantes quando atuam momentos fletores desbalanceados, além da força normal.
Essas expressões, entretanto, podem se tornar inconvenientes quando se desejar
uma análise mais imediata do problema.
Nesses casos, a utilização de um método mais simplificado para a verificação
da punção excêntrica pode ser interessante. Uma alternativa é a adoção de um
coeficiente majorador da tensão atuante causada pela força normal, que leve em
consideração o efeito da excentricidade, como é permitido pela FIP (1999) e pelo EC-2
(1999). Assim,
FSd
τ Sd = β ⋅ (7)
u⋅d
sendo:
β - coeficiente para a consideração do efeito da excentricidade.

Pode-se imaginar que o valor de β sofre variações de acordo com a situação


de cálculo e o contorno crítico estudados. De uma maneira geral, com base no cálculo
de τSd pelo método mais rigoroso já apresentado, pode-se escrever:

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Métodos simplificados para a verificação da punção excêntrica 11

• no contorno C’:
FSd K 1 ⋅ (M Sd1 − FSd ⋅ e *) K 2 ⋅ M Sd 2
+ +
u ⋅d Wp1 ⋅ d Wp 2 ⋅ d
β=
FSd
u ⋅d

• no contorno C:

FSd K ⋅ (M Sd1 − FSd ⋅ e o *) K 2 ⋅ M Sd 2


+ 1 +
uo ⋅d Wp1,o ⋅ d Wp 2,o ⋅ d
β=
FSd
uo ⋅d

• no contorno C”:

FSd K 1 ⋅ (M Sd1 − FSd ⋅ e'*) K 2 ⋅ M Sd 2


+ +
u '⋅d Wp1 '⋅d Wp 2 '⋅d
β=
FSd
u '⋅d
Para que os valores de β em cada contorno fossem obtidos a partir dessas
expressões, foram resolvidos diversos exemplos para cada situação de cálculo,
supondo-se s e ≤ 2 ⋅ d . As características desses exemplos foram as mesmas citadas
no item 3, a menos da maior dimensão da seção do pilar, limitada a três vezes a outra.
Com base nesses dados e na análise estatística feita por LIMA (2001), notou-se que
podem ser adotados os valores de β da Tabela 10. Mas vale ressaltar, mais uma vez,
que esses valores ainda podem ser melhorados a partir de outras análises mais
refinadas, e que considerem, principalmente, uma variação maior do carregamento.
Sugere-se, então, a introdução desse método simplificado para o cálculo de
τSd, na versão definitiva da NBR 6118.

Tabela 10 - Valores de β.
c1 ≤ c2 c 1 > c2
Situação de Cálculo
C C’ C” C C’ C”
Pilar interno, com carregamento simétrico 1,0 1,0 1,0 1,0 1,0 1,0
Pilar interno, com momento aplicado 1,2 1,2 1,1 1,2 1,2 1,1
Pilar de borda 1,5 1,3 1,2 1,7 1,4 1,1
Pilar de canto 1,7 1,4 1,1 1,5 1,2 1,1

6 EXEMPLO DE CÁLCULO

Para exemplificar a utilização dos critérios para a verificação da punção, foram


estudadas as regiões dos pilares P1, P5 e P6, indicados na Figura 5. Os arranjos das
armaduras de punção encontram-se na Figura 6. Os esforços foram obtidos a partir da

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12 Juliana Soares Lima & Libânio Miranda Pinheiro

resolução da placa por elementos finitos, utilizando o programa SAP 90. Adotaram-se
os seguintes valores:
f ck = 30 MPa , c = 2,0 cm e d = 14,75 cm

30
P1 P2 P3 P4
(30/30) (40/30) (40/30) (30/30)
370

30
P5 P6 P7 P8
(40/30) (30/40) (30/40) (40/30)

570 h = 18

P9 P10 P11 P12


(40/30) (30/40) (30/40) (40/30)
30

370
P13 P14 P15 P16
(30/30) (40/30) (40/30) (30/30)
30
30 565 40 560 40 565 30

Figura 5 - Forma do pavimento do exemplo (dimensões em centímetros) - LIMA (2001).

10 cm
10 cm
10 cm
7 cm
10 cm
10 cm
10 cm
7 cm

7 cm
28,32 cm 10 cm
10 cm
10 cm

so ≤ 0,5d = 7,375 ⇒ 7,0 cm a = 15 cm a = 15 cm


so = 7 cm so = 7 cm
sr ≤ 0,75d = 11,06 ⇒ 10 cm
sr = 10 cm sr = 10 cm
se ≤ 2d = 29,5 ⇒ 28,32 cm se = 28,32 cm se = 28,32 cm

= Armadura adicional = Armadura adicional

Figura 6 - Arranjo dos conectores tipo pino para os pilares estudados - LIMA (2001).

6.1 Pilar P6 (pilar interno)

FSd = 1,4 ⋅ 329 = 461 kN


M Sd1 = 1,4 ⋅ 1313 = 1838 kN ⋅ cm
M Sd 2 = 1,4 ⋅ 3002 = 4203 kN ⋅ cm

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 9, n. 41, p. 1-22, 2007


Métodos simplificados para a verificação da punção excêntrica 13

u o = 140 cm , u = 325 cm e u ' = 558 cm


K1 = 0,525 e K 2 = 0,633

6.1.1 Contorno C
Tensão solicitante (Tabela 1):
Pela Tabela 4:
30 2
Wp1 = + 30 ⋅ 40 + 4 ⋅ 40 ⋅ 14,75 + 16 ⋅ 14,75 2 + 2 ⋅ π ⋅ 14,75 ⋅ 30 = 10271 cm 2
2
40 2
Wp 2 = + 40 ⋅ 30 + 4 ⋅ 30 ⋅ 14,75 + 16 ⋅ 14,75 2 + 2 ⋅ π ⋅ 14,75 ⋅ 40 = 10958 cm 2
2

Pela eq.(1):
140
Wp1,o = ⋅ 10271 = 4424 cm 2
325
140
Wp 2,o = ⋅ 10958 = 4720 cm 2
325

Assim, de acordo com a Tabela 1, obtém-se:

461 0,525 ⋅ 1838 0,633 ⋅ 4203


τ Sd = + + = 0,223 + 0,015 + 0,038
140 ⋅ 14,75 4424 ⋅ 14,75 4720 ⋅ 14,75
kN
τ Sd = 0,276 = 2,76 MPa
cm 2
Tensão solicitante (eq.7):
Pela Tabela 10, β = 1,2. Assim:
461 kN
τ Sd = 1,2 ⋅ = 0,268 = 2,68 MPa
140 ⋅ 14,75 cm 2

Nota-se que o método simplificado para o cálculo de τSd conduziu a um bom


resultado, apesar de sua grande simplificação.

6.1.2 Contorno C’
Tensão solicitante (Tabela 1):
461 0,525 ⋅ 1838 0,633 ⋅ 4203
τ Sd = + + = 0,096 + 0,006 + 0,016
325 ⋅ 14,75 10271 ⋅ 14,75 10958 ⋅ 14,75
kN
τ Sd = 0,118 = 1,18 MPa
cm 2

Tensão solicitante (eq.7):


Pela Tabela 10, β = 1,2. Assim:

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 9, n. 41, p. 1-22, 2007


14 Juliana Soares Lima & Libânio Miranda Pinheiro

461 kN
τ Sd = 1,2 ⋅ = 0,115 = 1,15 MPa
325 ⋅ 14,75 cm 2

Observa-se que o método simplificado para o cálculo de τSd forneceu


novamente um resultado próximo daquele obtido com a expressão da Tabela 1.

6.1.3 Verificação do contorno C”


Tensão solicitante (Tabela 1):
Pela eq.(3), tomando-se η wp = 1,6 para Wp1’, e η wp = 1,3 para Wp2’, de acordo
com a Tabela 6:
558
Wp1 ' = 1,6 ⋅ ⋅ 10271 = 28215 cm 2
325
558
Wp 2 ' = 1,3 ⋅ ⋅ 10958 = 24458 cm 2
325

Assim:
461 0,525 ⋅ 1838 0,633 ⋅ 4203
τ Sd = + + = 0,056 + 0,002 + 0,007
558 ⋅ 14,75 28215 ⋅ 14,75 24458 ⋅ 14,75
kN
τ Sd = 0,065 = 0,65 MPa
cm 2

Calculando-se os valores de Wp1’ e de Wp2’ a partir da expressão indicada na


Tabela 5, tem-se:
30 2
Wp1 ' = + 30 ⋅ 40 + 4 ⋅ 40 ⋅ 14,75 + 16 ⋅ 14,75 2 + 2 ⋅ π ⋅ 14,75 ⋅ 30 +
2
+ 2 ⋅ 40 ⋅ 37 + 16 ⋅ 14,75 ⋅ 37 + 4 ⋅ 37 2 + π ⋅ 30 ⋅ 37 = 30926 cm 2
40 2
Wp 2 ' = + 40 ⋅ 30 + 4 ⋅ 30 ⋅ 14,75 + 16 ⋅ 14,75 2 + 2 ⋅ π ⋅ 14,75 ⋅ 40 +
2
+ 2 ⋅ 30 ⋅ 37 + 16 ⋅ 14,75 ⋅ 37 + 4 ⋅ 37 2 + π ⋅ 40 ⋅ 37 = 32036 cm 2

E assim:
461 0,525 ⋅ 1838 0,633 ⋅ 4203
τ Sd = + + = 0,056 + 0,002 + 0,006
558 ⋅ 14,75 30926 ⋅ 14,75 32036 ⋅ 14,75
kN
τ Sd = 0,064 = 0,64 MPa
cm 2

Tensão solicitante (eq.7):


Pela Tabela 10, β = 1,1. Assim:
461 kN
τ Sd = 1,1 ⋅ = 0,062 = 0,62 MPa
558 ⋅ 14,75 cm 2

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Métodos simplificados para a verificação da punção excêntrica 15

Observa-se que os valores de Wp1’ e de Wp2’ obtidos pela eq.(3), apesar de


conservadores, não são muito distantes daqueles calculados a partir da Tabela 5, mas
são muito mais facilmente calculados.
O importante, entretanto, é que as tensões solicitantes obtidas nos dois casos
são bastante parecidas. Acredita-se que a boa aproximação dos resultados justifica o
uso do método simplificado, o mesmo ocorrendo para o cálculo de τSd pela eq.(7), que
forneceu um bom resultado em relação àquele obtido com a expressão da Tabela 1.

6.2 Pilar P5 (pilar de borda)

FSd = 1,4 ⋅ 178 = 249 kN c1 = 40 cm (perpendicular à borda livre)


M Sd1 = 1,4 ⋅ 8536 = 11950 kN ⋅ cm c 2 = 30 cm (paralelo à borda livre)
M Sd 2 = 1,4 ⋅ 2049 = 2869 kN ⋅ cm a = 20 cm
M Sd1 = M Sdx (perpendicular à borda livre) u o * = 70 cm , u* = 163 cm e u '* = 279 cm
M Sd 2 = M Sdy (paralelo à borda livre) K1 = 0,633 e K 2 = 0,45

6.2.1 Contorno C
Tensão solicitante (Tabela 1):
Pela Tabela 3:
40 ⋅ 30
40 ⋅ 20 − 20 2 + + 2 ⋅ 30 ⋅ 14,75 + 8 ⋅ 14,75 2 + π ⋅ 14,75 ⋅ 40
e* = 2 = 33,68 cm
2 ⋅ 20 + 30 + 2 ⋅ π ⋅ 14,75

Pela eq.(5), tomando-se η e1 = 1,0 , de acordo com a Tabela 9:


70
eo * = ⋅ 33,68 = 14,46 cm
163

Logo,
M Sd * = FSd ⋅ e o * = 249 ⋅ 14,46 = 3600 kN ⋅ cm
M Sd = (M Sd1 − M Sd *) = (11950 − 3600) = 8350 kN ⋅ cm

Pela Tabela 4:
40 2 40 ⋅ 30
Wp1 = + + 2 ⋅ 30 ⋅ 14,75 + 8 ⋅ 14,75 2 + π ⋅ 14,75 ⋅ 40 = 5879 cm 2
2 2
30 2
Wp 2 = + 40 ⋅ 30 + 4 ⋅ 40 ⋅ 14,75 + 8 ⋅ 14,75 2 + π ⋅ 14,75 ⋅ 30 = 6916 cm 2
4

Pela eq.(1):
70
Wp1,o = ⋅ 5879 = 2525 cm 2
163

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16 Juliana Soares Lima & Libânio Miranda Pinheiro

70
Wp 2,o = ⋅ 6916 = 2970 cm 2
163

Assim,
249 0,633 ⋅ 8350 0,45 ⋅ 2869
τ Sd = + + = 0,241 + 0,142 + 0,029
70 ⋅ 14,75 2525 ⋅ 14,75 2970 ⋅ 14,75
kN
τ Sd = 0,412 = 4,12 MPa
cm 2

Tensão solicitante (eq.7):


Pela Tabela 10, β = 1,7 . Assim:
249 kN
τ Sd = 1,7 ⋅ = 0,410 = 4,10 MPa
70 ⋅ 14,75 cm 2

Considerando-se eo* calculado através da expressão da Tabela 7, tem-se:


40 ⋅ 30
40 ⋅ 20 − 20 2 +
eo * = 2 = 14,29 cm
2 ⋅ 20 + 30

Nota-se o valor obtido com a eq.(5) está bastante próximo deste, sendo,
entretanto, muito mais facilmente calculado. O mesmo ocorre para o cálculo de τSd
pela eq.(7), cujo resultado se aproxima bastante daquele obtido segundo a Tabela 1.

6.2.2 Verificação do contorno C’


Tensão solicitante (Tabela 1):
M Sd * = FSd ⋅ e* = 249 ⋅ 33,68 = 8386 kN ⋅ cm
M Sd = (M Sd1 − M Sd *) = (11950 − 8386) = 3564 kN ⋅ cm

Assim:
249 0,633 ⋅ 3564 0,45 ⋅ 2869
τ Sd = + + = 0,104 + 0,026 + 0,013
163 ⋅ 14,75 5879 ⋅ 14,75 6916 ⋅ 14,75
kN
τ Sd = 0,143 = 1,43 MPa
cm 2

Tensão solicitante (eq.7):


Pela Tabela 10, β = 1,4 . Assim,
249 kN
τ Sd = 1,4 ⋅ = 0,145 = 1,45 MPa
163 ⋅ 14,75 cm 2

Observa-se que o cálculo de τSd pelo método simplificado conduziu novamente


a um bom resultado em relação àquele obtido com a expressão da Tabela 1.

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 9, n. 41, p. 1-22, 2007


Métodos simplificados para a verificação da punção excêntrica 17

6.2.3 Verificação do contorno C”


Tensão solicitante (Tabela 1):
Pela eq.(6), tomando-se ηe 2 = 0,8 , de acordo com a Tabela 9:
279
e'* = 0,8 ⋅ ⋅ 33,68 = 46,12 cm
163
Logo,
M Sd * = FSd ⋅ e'* = 249 ⋅ 46,12 = 11484 kN ⋅ cm
M Sd = (M Sd1 − M Sd *) = (11950 − 11484) = 466 kN ⋅ cm

Pela eq.(4), tomando-se η wp = 1,1 para o Wp1, e η wp = 1,3 para o Wp2, de


acordo com a Tabela 6:
279
Wp1 ' = 1,1 ⋅ ⋅ 5879 = 11069 cm 2
163
279
Wp 2 ' = 1,3 ⋅ ⋅ 6916 = 15389 cm 2
163

Assim,
249 0,633 ⋅ 466 0,45 ⋅ 2869
τ Sd = + + = 0,060 + 0,002 + 0,005
279 ⋅ 14,75 11069 ⋅ 14,75 15389 ⋅ 14,75
kN
τ Sd = 0,067 = 0,67 MPa
cm 2
Calculando-se a excentricidade pela expressão da Tabela 7, tem-se:
⎛ 2 40 ⋅ 30 ⎞
⎜ 40 ⋅ 20 − 20 + + 2 ⋅ 30 ⋅ 14,75 + 8 ⋅ 14,75 2 + ⎟
⎜ 2 ⎟
⎜ π ⋅ 37 ⋅ 40 2⎟
⎜ + π ⋅ 14,75 ⋅ 40 + 30 ⋅ 37 + 8 ⋅ 14,75 ⋅ 37 + + 2 ⋅ 37 ⎟
e'* = ⎝ ⎠ = 57,43 cm
2
2 ⋅ 20 + 30 + 2 ⋅ π ⋅ 14,75 + π ⋅ 37

Logo:
M Sd * = FSd ⋅ e'* = 249 ⋅ 57,43 = 14300 kN ⋅ cm
M sd = (M sd1 − M sd *) = (11950 − 14300) = −2350 kN ⋅ cm ≤ 0
M sd = 0

Calculando-se Wp1’ e Wp2’ pelas expressões da Tabela 5, têm-se:


40 2 40 ⋅ 30
Wp1 ' = + + 2 ⋅ 30 ⋅ 14,75 + 8 ⋅ 14,75 2 + π ⋅ 14,75 ⋅ 40 +
2 2
π ⋅ 37 ⋅ 40
+ 30 ⋅ 37 + 8 ⋅ 14,75 ⋅ 37 + + 2 ⋅ 37 2 = 16418 cm 2
2

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 9, n. 41, p. 1-22, 2007


18 Juliana Soares Lima & Libânio Miranda Pinheiro

30 2
Wp 2 ' = + 40 ⋅ 30 + 4 ⋅ 40 ⋅ 14,75 + 8 ⋅ 14,75 2 + π ⋅ 14,75 ⋅ 30 +
4
π ⋅ 37 ⋅ 30
+ 2 ⋅ 40 ⋅ 37 + 8 ⋅ 14,75 ⋅ 37 + + 2 ⋅ 37 2 = 18723 cm 2
2

E assim,
249 0,633 ⋅ 0 0,45 ⋅ 2869
τ Sd = + + = 0,060 + 0 + 0,005
279 ⋅ 14,75 16418 ⋅ 14,75 18723 ⋅ 14,75
kN
τ Sd = 0,065 = 0,65 MPa
cm 2

Tensão solicitante (eq.7):


Pela Tabela 10, β = 1,1 . Assim,
249 kN
τ Sd = 1,1 ⋅ = 0,066 = 0,66 MPa
279 ⋅ 14,75 cm 2

Observa-se que os valores de Wp1’ e de Wp2’ obtidos pela eq.(4), apesar de


conservadores, não são muito distantes daqueles calculados a partir da Tabela 5, o
mesmo ocorrendo para o e’* obtido pela eq.(6), em relação ao da Tabela 7.
O mais importante, entretanto, é que novamente as tensões solicitantes
calculadas para os dois casos são bastante parecidas, justificando, mais uma vez, o
uso do método simplificado. E quanto ao cálculo de τSd pela eq.(7), observa-se que o
resultado obtido também ficou próximo daqueles correspondentes à expressão da
Tabela 1.

6.3 Pilar P1 (pilar de canto)

FSd = 1,4 ⋅ 77 = 108 kN a 1 = a 2 = 15 cm


M Sdx = 1,4 ⋅ 4344 = 6082 kN ⋅ cm u o * = 30 cm , u* = 76 cm e u '* = 134 cm
M Sdy = 1,4 ⋅ 1850 = 2590 kN ⋅ cm K1 = 0,6

As duas situações de cálculo estão representadas na Figura 7.

M Sd1 = M Sdx M Sd1 = M Sdy

30 30
30 30

6082 2590

1a situação 2 a situação

Figura 7 - Situações de cálculo para o pilar P1.

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 9, n. 41, p. 1-22, 2007


Métodos simplificados para a verificação da punção excêntrica 19

Mas como o pilar é quadrado, c1 = c 2 , e as excentricidades e os valores de K e


de Wp são iguais para as duas direções. O determinante da situação mais crítica é,
portanto, apenas o valor do momento Msd, que é maior no primeiro caso. Se o pilar
fosse retangular, seria necessário se calcular a tensão solicitante segundo as duas
situações de cálculo, para então se descobrir a mais crítica.

6.3.1 Contorno C
Tensão solicitante (Tabela 1):
Pela
Tabela 3:
30 ⋅ 15 − 15 2 + 15 ⋅ 30 + 4 ⋅ 15 ⋅ 14,75 + 8 ⋅ 14,75 2 + π ⋅ 14,75 ⋅ 30
e* = = 30,72 cm
2 ⋅ (15 + 15 + π ⋅ 14,75)

Pela eq.(5), tomando-se η e1 = 0,5 , de acordo com a Tabela 9:


30
e o * = 0,5 ⋅ ⋅ 30,72 = 6,06 cm
76

Logo:
M Sd * = FSd ⋅ e o * = 108 ⋅ 6,06 = 655 kN ⋅ cm
M sd = (M sd1 − M sd *) = (6082 − 655) = 5427 kN ⋅ cm

Pela Tabela 4:
30 2 30 ⋅ 30 π ⋅ 14,75 ⋅ 30
Wp1 = + + 2 ⋅ 30 ⋅ 14,75 + 4 ⋅ 14,75 2 + = 3125 cm 2
4 2 2

Pela eq.(1):
30
Wp1,o = ⋅ 3125 = 1234 cm 2
76

Assim:
108 0,6 ⋅ 5427 kN
τSd = + = 0,244 + 0,179 = 0,423 2 = 4,23 MPa
30 ⋅ 14,75 1234 ⋅ 14,75 cm
Calculando-se a excentricidade pela expressão da Tabela 8, tem-se:
30 ⋅ 15 − 152 + 15 ⋅ 30
eo * = = 11,25 cm
2 ⋅ (15 + 15)

Logo:
M Sd * = FSd ⋅ e o * = 108 ⋅ 11,25 = 1215 kN ⋅ cm
M sd = (M sd1 − M sd *) = (6082 − 1215) = 4867 kN ⋅ cm

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 9, n. 41, p. 1-22, 2007


20 Juliana Soares Lima & Libânio Miranda Pinheiro

E assim:
108 0,6 ⋅ 4867 kN
τ Sd = + = 0,244 + 0,160 = 0,404 = 4,04 MPa
30 ⋅ 14,75 1234 ⋅ 14,75 cm 2

Tensão solicitante (eq.7):


Pela Tabela 10, β = 1,7 . Assim,
108 kN
τ Sd = 1,7 ⋅ = 0,415 = 4,15 MPa
30 ⋅ 14,75 cm 2

Mais uma vez percebe-se que, apesar do valor conservador de eo* obtido com
o uso da eq.(5) não estar próximo daquele obtido a partir da Tabela 8, a diferença
entre as tensões solicitantes calculadas nos dois casos é pequena. E quanto ao
método simplificado para o cálculo de τSd, ele forneceu, novamente, um bom resultado
em relação àqueles obtidos com a expressão da Tabela 1.

6.3.2 Contorno C’
Tensão solicitante (Tabela 1):
M Sd * = FSd ⋅ e* = 108 ⋅ 30,72 = 3318 kN ⋅ cm
M sd = (M sd1 − M sd *) = (6082 − 3318) = 2764 kN ⋅ cm

E assim,
108 0,6 ⋅ 2764 kN
τ Sd = + = 0,096 + 0,036 = 0,132 = 1,32 MPa
76 ⋅ 14,75 3125 ⋅ 14,75 cm 2

Tensão solicitante (eq.7):


Pela Tabela 10, β = 1,4 . Assim:
108 kN
τ Sd = 1,4 ⋅ = 0,135 = 1,35 MPa
76 ⋅ 14,75 cm 2

Nota-se que o resultado da eq.(7) para τSd se aproxima bastante daquele


obtido pela Tabela 1, sendo, entretanto, muito mais facilmente calculado.

6.3.3 Contorno C”
Tensão solicitante (Tabela 1):
Pela eq.(6), tomando-se ηe 2 = 1,0 , de acordo com a Tabela 9:
134
e'* = ⋅ 30,72 = 54,16 cm
76
Logo:
M Sd * = FSd ⋅ e'* = 108 ⋅ 54,16 = 5849 kN ⋅ cm
M sd = (M sd1 − M sd *) = (6082 − 5849) = 233 kN ⋅ cm

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 9, n. 41, p. 1-22, 2007


Métodos simplificados para a verificação da punção excêntrica 21

Pela eq.(4), tomando-se η wp = 1,3 , de acordo com a Tabela 6:

134
Wp1 ' = 1,3 ⋅ ⋅ 3125 = 7163 cm 2
76

Assim,
108 0,6 ⋅ 233 kN
τ Sd = + = 0,055 + 0,001 = 0,056 = 0,56 MPa
134 ⋅ 14,75 7163 ⋅ 14,75 cm 2

Calculando-se a excentricidade pela expressão da Tabela 8, tem-se:

⎛ 30 ⋅ 15 − 15 2 + 15 ⋅ 30 + 4 ⋅ 15 ⋅ 14,75 + 8 ⋅ 14,75 2 + ⎞
⎜ ⎟
⎜ π ⋅ 37 ⋅ 30 2⎟
⎜ + π ⋅ 14,75 ⋅ 30 + 2 ⋅ 15 ⋅ 37 + 8 ⋅ 14,75 ⋅ 37 + + 2 ⋅ 37 ⎟
e'* = ⎝ 2 ⎠ = 54,47 cm
⎛ π ⋅ 37 ⎞
2 ⋅ ⎜15 + 15 + π ⋅ 14,75 + ⎟
⎝ 2 ⎠
Logo:
M Sd * = FSd ⋅ e'* = 108 ⋅ 54,47 = 5883 kN ⋅ cm
M sd = (M sd1 − M sd *) = (6082 − 5883) = 199 kN ⋅ cm

Calculando-se Wp1’ pela expressão da Tabela 5, tem-se:


30 2 30 ⋅ 30 π ⋅ 14,75 ⋅ 30
Wp1 ' = + + 2 ⋅ 30 ⋅ 14,75 + 4 ⋅ 14,75 2 + +
4 2 2
π ⋅ 37 ⋅ 30
+ 30 ⋅ 37 + 4 ⋅ 14,75 ⋅ 37 + + 37 2 = 8659 cm 2
4
E assim,
108 0,6 ⋅ 199 kN
τ Sd = + = 0,055 + 0,001 = 0,056 = 0,56 MPa
134 ⋅ 14,75 8659 ⋅ 14,75 cm 2

Tensão solicitante (eq.7):


Pela Tabela 10, β = 1,1 . Assim:
108 kN
τ Sd = 1,1 ⋅ = 0,060 = 0,60 MPa
134 ⋅ 14,75 cm 2

Observa-se que valor do Wp1’ obtido com a eq.(4), apesar de conservador, está
novamente próximo daquele obtido a partir da expressão da Tabela 5, sendo muito
mais facilmente calculado. O mesmo acontece com o valor de e’* obtido pela eq.(6),
em relação àquele da Tabela 8. Desta vez, inclusive, nem se pode considerar
diferenças entre os valores das tensões solicitantes calculadas nos dois casos. E
quanto ao cálculo de τSd pela eq.(7), observa-se que, mais uma vez, o resultado obtido
ficou próximo daqueles correspondentes à expressão da Tabela 1.

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 9, n. 41, p. 1-22, 2007


22 Juliana Soares Lima & Libânio Miranda Pinheiro

7 CONCLUSÕES

Observou-se que a omissão da Revisão da NBR 6118 (2000) quanto ao cálculo


do Wp e do e* nos contornos C e C” poderia acarretar o uso de valores indevidos
desses parâmetros para as verificações na face do pilar e a 2d da região armada.
Sugeriu-se, então, um método simplificado para a determinação de Wpo, Wp’, eo* e e’*,
a partir dos coeficientes ηwp, ηe1 e ηe2.
Também se propôs um método simplificado para a obtenção das tensões
solicitantes nos casos de punção excêntrica, através de um coeficiente majorador da
tensão provocada pela força normal, chamado de β. A adoção desse coeficiente,
apesar de conduzir a valores um pouco conservadores em alguns casos, facilita
bastante avaliação dos efeitos da transferência de momentos desbalanceados.
Apesar dos bons resultados obtidos, como demonstrado no exemplo do item 6,
vale ressaltar que os valores dos coeficientes propostos ainda podem ser melhorados,
através de análises que utilizem uma amostragem maior e mais diversificada que
aquela adotada por LIMA (2001).

8 AGRADECIMENTOS

Ao CNPq, pelas bolsas de mestrado e de pesquisador.

9 REFERÊNCIAS

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. (2000). Revisão da NBR


6118 - Projeto de estruturas de concreto.

COMITÉ EURO-INTERNACIONAL DU BÉTON. (1993). CEB-FIP model code 1990.


London: Thomas Telford.

COMITE EUROPEEN DE NORMALISATION. (1999). Eurocode 2 - Design of


concrete structures. Part 1: General rules and rules for buildings. Brussels: CEN.
(1st draft)

FEDERATION INTERNATIONALE DE LA PRÉCONTRAINTE. (1999). Practical


design of structural concrete. London: SETO. (FIP Recomendations).

GUARDA, M. C. C.; LIMA, J. S.; PINHEIRO, L. M. (2000). Novas diretrizes para a


análise da punção no projeto de lajes lisas. In: SIMPÓSIO EPUSP SOBRE
ESTRUTURAS DE CONCRETO, 4., São Paulo. Anais... São Paulo: 2000. 1 CD-Rom.

LIMA, J. S. (2001). Verificações da punção e da estabilidade global de edifícios de


concreto: desenvolvimento e aplicação de recomendações normativas. São
Carlos. Dissertação (Mestrado) - Escola de Engenharia de São Carlos - Universidade
de São Paulo.

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 9, n. 41, p. 1-22, 2007


ISSN 1809-5860

ANÁLISE EXPERIMENTAL DE LIGAÇÕES DUPLO


“T” COM ALMAS COPLANARES,
PERPENDICULARES E ENRIJECIDAS

Yuri Ivan Maggi1 & Roberto Martins Gonçalves2

Resumo

Este trabalho apresenta e discute o comportamento de perfis “T” parafusados de


acordo com os resultados obtidos durante o programa experimental desenvolvido como
parte da Tese de Doutorado intitulada “Análise do Comportamento Estrutural de
Ligações Parafusadas Viga-Pilar com Chapa de Topo Estendida” no programa de pós-
graduação do Departamento de Estruturas da Escola de Engenharia de São Carlos,
USP. Três séries de ligações duplo “T”, com almas co-planares, perpendiculares e
enrijecidas, totalizando 50 protótipos, foram testados à tração com o objetivo de
simular possíveis configurações de vigas e pilares em ligações parafusadas com chapa
de topo. Dentro de cada série, a espessura das mesas dos perfis “T” e o diâmetro dos
parafusos foram variados, permitindo a obtenção de diferentes modos de colapso. Os
deslocamentos e deformações nas mesas dos perfis “T” são apresentados e os
resultados obtidos são analisados comparativamente entre os protótipos, discutindo-se
os modos de falha, a influência da variação da geometria no comportamento dessas
ligações, a interdependência do comportamento entre mesa e parafusos e o “efeito
alavanca”, enfatizando-se os modelos analíticos adotados pelo Eurocode-3 e a
utilização dos perfis “T” equivalentes no dimensionamento da chapa de topo à flexão.

Palavras-chave: estruturas; aço; ligações; perfis “T”; análise experimental; Eurocode.

1 INTRODUÇÃO

O comportamento semi-rígido das ligações viga-pilar em estruturas metálicas


– inicialmente introduzido nos procedimentos da AISC (1980) no início da década de 80
e mais tarde na metodologia de dimensionamento do Eurocode-3 (1993) – tornou-se um
aspecto de significativa importância na análise estrutural uma vez identificada sua
influência no comportamento global das estruturas.
Na busca de modelos capazes de representar as ligações com maior precisão
quanto à rigidez e à resistência, inúmeros estudos têm sido realizados na tentativa de

1
Doutor em Engenharia de Estruturas - EESC-USP, ymaggi@unicenp.edu.br
2
Professor Associado do Departamento de Engenharia de Estruturas da EESC-USP, goncalve@sc.usp.br

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 9, n. 41, p. 23-46, 2007


24 Yuri Ivan Maggi & Roberto Martins Gonçalves

incorporar o comportamento semi-rígido das ligações aos procedimentos de


dimensionamento, estabelecendo-se as variáveis que o influenciam, sua
interdependência e os estados limites últimos aplicáveis. No entanto, a natureza
complexa das ligações parafusadas requer a aplicação de modelos avançados para sua
representação, o que dificulta o desenvolvimento de metodologias que considerem
modelos tridimensionais com todas as não-linearidades existentes.
As ligações com chapa de topo, geralmente consideradas rígidas, podem ser
utilizadas como exemplo para as considerações feitas acima já que podem apresentar os
mais variados comportamentos rotacionais dependendo de parâmetros geométricos,
como espessura da chapa de topo, diâmetro e posicionamento dos parafusos, entre
outros, além do elevado grau de iteração dos diversos componentes que, geralmente, são
tratados de forma isolada. Esse comportamento complexo é traduzido em modelos
simplificados e, citando-se o dimensionamento da chapa de topo à flexão, o Eurocode-3
(1993) propõe a utilização de perfis “T” equivalentes para os quais a determinação de
resistência é mais simples.
Atualmente, existem diversos métodos que podem ser utilizados no cálculo da
resistência última de perfis “T” parafusados levando em consideração, principalmente, a
identificação e quantificação dos esforços de alavanca. Segundo Swanson (1999), dentre
os modelos existentes o proposto por Kulak et al. (1987) é o que provê melhores
resultados quando comparado à resultados experimentais e, juntamente com o trabalho
desenvolvido por Zoetemeijer & deBack (1972), foi aplicado aos modelos analíticos
utilizados pelo Eurocode-3 (1993) para determinação dos modos de falha em perfis “T”.
A metodologia proposta pelo Eurocode-3 (1993) para a modelagem e
dimensionamento das ligações representa um marco de importante referência para os
estudos desenvolvidos na última década com a introdução do “método das
componentes”, extremamente didático e generalista. Com relação à flexão da chapa de
topo e da mesa do pilar, especificamente, reproduz-se três possíveis modos de falha,
esquematizados na figura 1, aplicáveis aos perfis “T” e relacionados ao comportamento
conjunto entre chapa de topo e parafusos na região tracionada da ligação. A formulação
analítica tem base em métodos de energia envolvendo a distribuição de tensões plásticas
em torno dos parafusos, tanto na chapa de topo quanto na mesa do pilar, e a análise
dessas linhas de escoamento leva à determinação do comprimento efetivo de um perfil
“T” que representa a resistência de cada linha de parafusos, ou de um grupo de linhas,
considerando:

i. Modo 1 - Plastificação da mesa do perfil “T” na região dos parafusos;


ii. Modo 2 - Colapso dos parafusos com plastificação da intersecção
mesa/alma; e
iii. Modo 3 - Colapso dos parafusos.

Figura 1 - Modos de falha de perfis “T” parafusados.

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 9, n. 41, p. 23-46, 2007


Análise experimental de ligações duplo “T”com almas coplanares, perpendiculares e enrijecidas 25

A analogia proposta entre o comportamento dos perfis “T” e das chapas de


topo sob flexão merece atenção por reproduzir, qualitativamente, os mecanismos
envolvidos na região tracionada de ligações parafusadas com chapa de topo. No entanto,
cabe ressaltar que se trata de uma simplificação para um comportamento altamente
complexo, principalmente à medida que o comportamento da chapa de topo à flexão e a
resposta dos parafusos à tração tornam-se interdependentes, passando do modo de falha
3 para o modo 2 e 1 com significativo aumento do “efeito alavanca” o que, segundo
Bursi & Jaspart (1998), demonstra a necessidade de refinamentos dos modelos
analíticos, principalmente para ligações com chapas mais finas.
Desta forma, este trabalho apresenta parte de um programa experimental
desenvolvido com perfis “T” parafusados, comumente denominados de T-stubs, com o
objetivo de gerar observações paramétricas sobre o comportamento dessas ligações,
relacionando-as às ligações com chapa de topo. Assim, apresentam-se resultados
referentes ao comportamento força-deslocamento, discutindo-se a influência da variação
da espessura das mesas dos perfis “T”, do diâmetro dos parafusos, da posição relativa
entre as almas dos perfis conectados e a presença ou não de enrijecedores, além das
variações dos modos de falha.

2 PROGRAMA EXPERIMENTAL

Com relação à metodologia geral adotada no estudo experimental é


importante ressaltar que o objetivo dessa série de ensaios não é a de caracterizar o perfil
“T” como um componente isolado, mas sim de observar seu comportamento como parte
de uma ligação, simulando a flexibilidade da chapa de topo conectada à mesa do pilar
pelos parafusos. Por esse motivo os protótipos foram testados unindo-se os perfis “T”
aos pares. A figura 2 apresenta, esquematicamente, uma ligação duplo “T”.

Figura 2 - Tipologia usual da ligação duplo “T”.

Ao todo foram realizados 50 ensaios com 25 configurações diferentes de


ligação, testadas aos pares e divididas em três grupos. O primeiro grupo, denominado de
TSC, é formado por perfis “T” com almas coplanares, sem enrijecimento, simulando a
região da chapa de topo na altura da mesa tracionada da viga, com variações de
geometria a fim de se obter diferentes modos de falha.

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26 Yuri Ivan Maggi & Roberto Martins Gonçalves

O segundo grupo, denominado de TSI, é formado por perfis “T” dispostos


com as almas perpendiculares para simular o posicionamento da mesa da viga com
relação à alma do pilar nas ligações com chapa de topo. O terceiro e último grupo,
denominado de TSIE, utiliza a mesma formação do grupo TSC, com a inclusão de
enrijecimento em um dos lados no plano perpendicular à alma. Ambos têm como
objetivo fornecer dados para análises comparativas com o grupo TSC. A geometria dos
protótipos dos grupos TSC, TSI e TSIE podem ser visualizadas na figura 3 e as
configurações para cada grupo, respectivamente, nas tabelas 1, 2 e 3.

A A

38 38
TSC
76
168

155
35 85 35
38 38
16

16

Furos (variáveis)
76

38 38 38 38
400 400
tch tch

168
16
B A
12,5 130 12,5
38 38

TSI
76

Corte A
16

100
38 38
16
76

155
35 85 35
200 300 300 Furos (variáveis)
t1 t2
19

300

38 38 38 38
B A
130

168
92

16
38 38

TSIE
19

100
57
16

12,5 130 12,5


19
38 38
16
57

Corte B
19

400 400
t1 t2

Figura 3 - Geometria dos protótipos dos grupos TSC, TSI e TSIE


Dimensões em mm – tch, t1 e t2 variáveis.

Tabela 1 - Configurações do grupo TSC (dimensões em mm).


Protótipo db dFuro tch quant.
TSC1 12,5 14,0 12,5 2
TSC2 12,5 14,0 16,0 2
TSC3 12,5 14,0 19,0 2
TSC4 16,0 18,0 12,5 2
TSC5 16,0 18,0 16,0 2
TSC6 16,0 18,0 19,0 2
TSC7 16,0 18,0 22,4 2
TSC8 19,0 21,0 16,0 2
TSC9 19,0 21,0 19,0 2
TSC10 19,0 21,0 22,4 2
TSC11 19,0 21,0 25,0 2

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Análise experimental de ligações duplo “T”com almas coplanares, perpendiculares e enrijecidas 27

Tabela 2 - Configurações do grupo TSI (dimensões em mm).


tch
Protótipo db dFuro quant.
t1 t2
TSI1 16,0 18,0 12,5 19,0 2
TSI2 16,0 18,0 16,0 19,0 2
TSI3 16,0 18,0 19,0 19,0 2
TSI4 16,0 18,0 22,4 19,0 2
TSI5 19,0 21,0 16,0 22,4 2
TSI6 19,0 21,0 19,0 22,4 2
TSI7 19,0 21,0 22,4 22,4 2
TSI8 19,0 21,0 25,0 22,4 2

Tabela 3 - Configurações do grupo TSIE (dimensões em mm).


tch
Protótipo db dFuro quant.
t1 t2
TSIE1 16,0 18,0 16,0 16,0 2
TSIE2 16,0 18,0 16,0 19,0 2
TSIE3 19,0 21,0 16,0 22,4 2
TSIE4 19,0 21,0 19,0 19,0 2
TSIE5 19,0 21,0 19,0 22,4 2
TSIE6 19,0 21,0 19,0 25,0 2

Chapas de aço ASTM-A36 foram utilizadas na confecção dos perfis “T”,


conectados com parafusos de alta resistência ASTM-A325. Forças iniciais de protensão
foram aplicadas nos parafusos de todos os modelos com o auxílio de torquímetros,
segundo as recomendações da NBR-8800 (1986).
Para a análise do comportamento das ligações ensaiadas, dois grupos de
dados foram observados: as deformações das mesas dos perfis “T” em torno dos
parafusos e as aberturas relativas em uma das bordas e na região central. Para a
definição da distribuição dos extensômetros, inicialmente, foi realizado um ensaio
piloto utilizando um protótipo da série TSC, com mesa de 16.0 mm de espessura e
parafusos de 16.0 mm (TSC5), também utilizado para a verificação da simetria dos
protótipos, da metodologia de fixação e protensão dos parafusos e da velocidade de
ensaio. Extensômetros também foram utilizados nos parafusos para a verificação da
protensão e calibração do torquímetro. Um esquema da instrumentação é apresentado na
figura 4.
De maneira geral, o comportamento do protótipo durante o ensaio foi o
esperado, havendo uma abertura visível das mesas na intersecção mesa-alma. Com os
dados coletados nas rosetas observou-se uma assimetria no protótipo, conseqüência da
falta de alinhamento entre a mesa e a alma, o que ocorreu sistematicamente para todos
os protótipos. No entanto, foi possível detectar padrões de deformação para as mesas,
decidindo-se por concentrar extensômetros nas proximidades de um dos furos do lado 1,
considerados suficientes para coletar dados de plastificação nessa região.

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28 Yuri Ivan Maggi & Roberto Martins Gonçalves

Figura 4 - Esquema da instrumentação do ensaio piloto.

Como as solicitações máximas ocorreram nas proximidades da


intersecção mesa-alma, dois extensômetros foram utilizados na posição das rosetas 2 e
4, na direção perpendicular à alma. Adicionalmente, foram utilizados 4 transdutores de
deslocamento, posicionados simetricamente em relação ao lado 1 e 2, para a obtenção
do deslocamento relativo entre as mesas. A figura 5 apresenta um detalhe da
instrumentação final em um protótipo da série TSC.

Figura 5 - Visão geral da instrumentação e detalhes do posicionamento dos transdutores.

3 RESULTADOS EXPERIMENTAIS

3.1 Grupo TSC – almas coplanares

Observando-se, inicialmente, a variação da espessura da mesa dos perfis “T”,


a figura 6 apresenta as curvas força-deslocamento para os protótipos TSC1, TSC2 e
TSC3, com parafusos de 12,5 mm. A rigidez dos protótipos, por meio das curvas força-
deslocamento, será utilizada como indicativo do comportamento global dessas ligações
e também de suas variações.
Para o subgrupo dos protótipos TSC1 à TSC3 observa-se pouca variação da
rigidez inicial, conseqüência da protensão dos parafusos. O protótipo TSC1, com mesa
de 12,5 mm de espessura, é mais dúctil e apresenta maior contribuição da mesa na

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Análise experimental de ligações duplo “T”com almas coplanares, perpendiculares e enrijecidas 29

deformabilidade da ligação. Com o aumento da espessura da mesa, os parafusos têm sua


capacidade de deformação maximizada, havendo limitações para a deformabilidade do
protótipo TSC3.
Esse comportamento pode ser associado a dois fatores: o primeiro, com
relação à solicitação dos parafusos, tem razão direta na diminuição do efeito alavanca
uma vez que a mesa tem menor deformabilidade à flexão, aumentando a capacidade
resistente dos protótipos TSC2 e TSC3; o segundo indica a grande dependência do
comportamento da ligação à rigidez relativa entre a mesa e os parafusos, uma vez que a
mesa do protótipo TSC3, de 19,0 mm, permite que os parafusos sejam solicitados
preferencialmente à tração, com uma queda acentuada de resistência antes do colapso
devida à plastificação mais uniforme da seção líquida dos parafusos.

700

600 TSC1 (tch=12,5 mm)


TSC2 (tch=16,0 mm)
500 TSC3 (tch=19,0 mm)
Força (kN)

400

300

200

100

0
0.0 1.0 2.0 3.0 4.0 5.0 6.0 7.0 8.0 9.0 10.0
Deslocamento (mm)
Figura 6 - Curvas força-deslocamento para os protótipos TSC com
parafusos de 12,5 mm.

Na figura 6 representa-se o deslocamento total da ligação duplo “T”,


incluindo-se as deformações da alma. Neste caso, representa-se o deslocamento do
atuador hidráulico que foi utilizado como referência para as relações força-
deslocamento de todos os protótipos desta série.
As figuras 7(a) e 7(b) apresentam, respectivamente, as deformações dos
protótipos TSC1 e TSC3 após o colapso, percebendo-se claramente a mudança de
configuração das mesas com o aumento da espessura.
Apesar de haver uma indicação visível do desaparecimento do “efeito
alavanca” nos parafusos, a ductilidade do protótipo TSC3 é diminuída sensivelmente,
reafirmando a rigidez elevada à flexão da mesa de 19,0 mm com relação à rigidez axial
dos parafusos de 12,5 mm, que seguem o comportamento observado nos diagramas
força-deslocamento da caracterização dos parafusos com solicitações predominantes de
tração.

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30 Yuri Ivan Maggi & Roberto Martins Gonçalves

(a) TSC1 (b) TSC3


Figura 7 - Deformações dos protótipos TSC1 e TSC3 após o colapso.

Dessa forma, é possível caracterizar o modo de falha 3, representando a


ruptura dos parafusos como estado limite último, visível no protótipo TSC3.
Convém ressaltar que todos os protótipos do programa experimental foram
ensaiados até o colapso dos parafusos, mesmo para as ligações em que a mesa
apresentou deformações elevadas, para as quais caracteriza-se o modo de falha 1.
Devido às condições do ensaio e às imperfeições dos protótipos, não se observou a
ruptura conjunta de todos os parafusos, caracterizando-se como colapso a ruptura de um
ou mais parafusos tracionados na ligação.
Dentro do sub-grupo com parafusos de 16,0 mm, as curvas força-
deslocamento dos protótipos TSC4, TSC5, TSC6 e TSC7 estão mostradas na figura 8.
Chama-se a atenção para o fato de que os resultados dentro desse sub-grupo,
considerando os protótipos de cada par, não são tão uniformes quanto os observados
para o primeiro sub-grupo, com parafusos de 12,5 mm.

700

600

500
Força (kN)

400

300
TSC4 (tch=12,5 mm)
200 TSC5 (tch=16,0 mm)
TSC6 (tch=19,0 mm)
100 TSC7 (tch=22,4 mm)

0
0.0 1.0 2.0 3.0 4.0 5.0 6.0 7.0 8.0 9.0 10.0
Deslocamento (mm)
Figura 8 - Curvas força-deslocamento para os protótipos TSC com
parafusos de 16,0 mm.

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 9, n. 41, p. 23-46, 2007


Análise experimental de ligações duplo “T”com almas coplanares, perpendiculares e enrijecidas 31

Analisando-se as curvas na figura 8 é possível se observar um pequeno


escorregamento nos protótipos TSC4, TSC5 e TSC6, causado pelas imperfeições de
montagem comentadas no capítulo anterior.
Como grande parte dos protótipos apresentou falta de alinhamento entre as
almas e também falta de perpendicularidade entre mesa e alma, observou-se a
ocorrência de solicitações de flexão nas mesas no momento da fixação no atuador.
Neste caso, surgiram forças adicionais, paralelas às mesas, que devem ter provocado o
escorregamento à medida que a força de protensão inicial nos parafusos era superada.
Para o protótipo TSC7 não se observou esse escorregamento. No entanto, o
primeiro protótipo do par não foi solicitado até a ruptura dos parafusos pois, antes disso,
houve o esmagamento e deslizamento da rosca, conseqüência de se ter utilizado um
parafuso com pequeno comprimento de rosca.
Com relação à rigidez deste sub-grupo, comportamento semelhante aos
observados entre os protótipos TSC2 e TSC3 ocorre entre os protótipos TSC4 e TSC5.
Para os protótipos TSC6 e TSC7, o “efeito alavanca” é menor permitindo que os
parafusos sejam solicitados predominantemente à tração, com aumento da capacidade
de deformação.
Para referenciar os modos de falha previstos para os protótipos descritos
acima, na tabela 4 apresentam-se os valores da capacidade resistente à tração (T) e a
quantificação das forças de alavanca (Q) das ligações duplo “T” calculados segundo o
Eurocode 3 (1993) para cada parafuso.

Tabela 4 - Capacidade resistente, forças de alavanca e modos de falha do grupo TSC


calculados segundo o Eurocode 3 (1993).
Protótipo T (kN) Q (kN) Modo de falha
TSC1 56,73 19,21 2
TSC2 68,65 7,28 2
TSC3 75,93 - 3
TSC4 65,43 26,17 1
TSC5 95,58 28,82 2
TSC6 106,44 17,96 2
TSC7 119,16 5,25 2

Analisando-se mais detalhadamente a resposta deste sub-grupo, o protótipo


TSC4, assim como o protótipo TSC1 do sub-grupo anterior, tem na mesa a maior fonte
de deformabilidade para a ligação. De fato, o estado limite último do protótipo TSC1 é
previsto para o modo de falha 2, enquanto o protótipo TSC4 apresenta o modo de falha
1.
A variação do modo de falha e a variação da deformabilidade dos parafusos e
da mesa dos perfis “T” pode ser visualizada na figura 9, que ilustra as deformações nas
mesas dos protótipos TSC4, TSC5 e TSC6.

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32 Yuri Ivan Maggi & Roberto Martins Gonçalves

(a) TSC4 (b) TSC5 (c) TSC6


Figura 9 - Deformações nas mesas dos protótipos TSC4, TSC5
e TSC6 após o colapso.

Com os gráficos das figuras 6 e 8 e os valores apresentados na tabela 4, as


seguintes observações podem ser feitas com base na resistência e na deformabilidade
dos protótipos.

i. Os limites de resistência para os perfis “T” são função da capacidade


resistente dos parafusos e do “efeito alavanca”, ou seja, do tipo de
solicitação a que estão sujeitos os parafusos. Quanto maior o diâmetro dos
parafusos e maior a espessura da mesa, maior a capacidade resistente à
tração da ligação duplo “T”;
ii. Os limites de deformação axial também são função do “efeito alavanca”,
mas são influenciados, principalmente, pela relação entre a
deformabilidade dos parafusos e a deformabilidade da mesa dos perfis
“T”. Assim, quando a ligação passa do modo de falha 1 para o modo de
falha 2, há uma diminuição da deformabilidade, observada entre os
protótipos TSC4 e TSC5. No entanto, entre o modo de falha 2 e o modo
de falha 3, duas situações distintas podem ocorrer: na primeira, quando a
deformação à flexão da mesa é muito inferior à deformação axial dos
parafusos, há uma queda contínua na ductilidade dos protótipos; na
segunda, havendo uma relação mais equilibrada entre mesa e parafusos há
também um ganho de ductilidade, devido à deformabilidade da mesa.

Essas observações, apesar de qualitativas, indicam a existência de uma


relação ótima entre espessura de mesa e diâmetro de parafusos para a maximização da
deformabilidade e manutenção de requisitos mínimos de resistência.
Outra observação interessante pode ser feita com as figuras 10 e 11 que
indicam, respectivamente, as forças de tração (T) e a “força de alavanca” (Q) por
parafuso, calculados segundo o Eurocode 3 (1993) e obtidas experimentalmente. Para os
protótipos, a força de tração (T) é calculada dividindo-se a força máxima no ensaio pelo
número de parafusos da ligação – neste caso, 4. As forças de alavanca são obtidas pela
diferença entre a força de tração aplicada por parafuso e a força que o parafuso
suportaria sob tração simples, ou seja, sem efeitos de alavanca.

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 9, n. 41, p. 23-46, 2007


Análise experimental de ligações duplo “T”com almas coplanares, perpendiculares e enrijecidas 33

150.0

Força de tração por parafuso (kN)


135.0 Eurocode 3
120.0 Experimental
105.0
90.0
75.0
60.0
45.0
30.0
15.0
0.0
TSC1 TSC2 TSC3 TSC4 TSC5 TSC6 TSC7
Protótipos
Figura 10 - Forças de tração nos parafusos dos protótipos TSC.

80.0
Força de alavanca por parafuso (kN)

70.0 Eurocode 3

60.0 Experimental

50.0

40.0

30.0

20.0

10.0

0.0
TSC1 TSC2 TSC3 TSC4 TSC5 TSC6 TSC7
Protótipos
Figura 11 - Forças de alavanca nos parafusos dos protótipos TSC.

Os resultados experimentais, nos gráficos acima, seguem um padrão bem


definido para a capacidade resistente e para as forças de alavanca nos parafusos. Esse
padrão refere-se a um aumento da resistência à medida que se aumenta a espessura da
mesa dos perfis “T” e o diâmetro dos parafusos e uma diminuição quase proporcional
das forças de alavanca com o aumento da espessura da mesa, dentro de um sub-grupo de
parafusos.
Neste caso, reforça-se a idéia de que a resistência dos protótipos e o “efeito
alavanca” depende significativamente da interação entre parafusos e mesa dos perfis
“T” como contribuintes na deformabilidade da ligação duplo “T”.

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34 Yuri Ivan Maggi & Roberto Martins Gonçalves

Os resultados analíticos, por sua vez, mostram valores desproporcionais com


relação às forças de alavanca e, em geral, conservadores com relação à resistência dos
perfis “T”.
Tratando-se de modelos analíticos de dimensionamento, o fato de serem
conservadores é um ponto positivo ao desconsiderarem imperfeições, tensões residuais
e diferenças na resistência dos materiais utilizados, ressaltando-se que os valores
analíticos e experimentais se aproximam na medida em que a ligação se aproxima do
modo de falha 3. Por outro lado, reforça-se a complexidade de se tratar analiticamente
os mecanismos de transferência de esforços e o “efeito alavanca”.
Especificamente para o protótipo TSC4, a previsão da capacidade resistente
pelo Eurocode 3 (1993) é significativamente menor que a resistência observada
experimentalmente, o que indica uma previsão incorreta do modo de falha.
Para complementar a observação dos modos de falha, a figura 12 ilustra, para
os protótipos TSC4-1 e TSC5-2, as deformações nos extensômetros 1 e 2, posicionados
perpendicularmente à alma nas mesas de um dos lados dos protótipos conforme
indicado na figura.
Para o protótipo TSC5-2, a deformação é significativamente maior no centro
com relação à extremidade lateral, indicando a flexão nos dois planos da mesa para esse
protótipo e uma tendência de plastificação dos furos para o centro e para a lateral,
característica do modo de falha 2.
Como o deslocamento axial do protótipo TSC5-2 é menor que a do protótipo
TSC4-1 e as deformações no protótipo TSC4-1 são menores que as do TSC5-2, até
com uma maior uniformidade, percebe-se uma modificação na plastificação da mesa,
cuja flexão é acentuada na direção perpendicular à alma.

700
Ext(1) - TSC4-1
tch = 12,5 mm
600 Ext(2) - TSC4-1
Ext(1) - TSC5-2
tch = 16,0 mm
500 Ext(2) - TSC5-2
Força (kN)

400

300

200

100

0
-1.0 1.0 3.0 5.0 7.0 9.0 11.0 13.0
3
Deformação (x10 )
Figura 12 - Deformações nas mesas dos protótipos TSC4 e TSC5.

O protótipo TSC4-2 foi pintado com uma mistura de água e cal e, na figura
13, é possível visualizar a formação de uma linha de plastificação entre os furos,

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 9, n. 41, p. 23-46, 2007


Análise experimental de ligações duplo “T”com almas coplanares, perpendiculares e enrijecidas 35

paralela à alma do perfil “T”, além de um detalhe da ruptura de um parafuso por


solicitações de tração combinadas com flexão.

Figura 13 - Linhas de plastificação na mesa do protótipo TSC4-2 e detalhe da ruptura do


parafuso.

As deformações para os protótipos TSC6 e TSC7 nas mesmas posições da


mesa (figura 12) estão mostradas na figura 14.

700

600

500
Força (kN)

400

300
Ext(1) - TSC6-2
tch = 19,0 mm
200 Ext(2) - TSC6-2
Ext(1) - TSC7-2
tch = 22,4 mm
100 Ext(2) - TSC7-2

0
-1.0 1.0 3.0 5.0 7.0 9.0 11.0 13.0
3
Deformação (x10 )
Figura 14 - Deformações nas mesas dos protótipos TSC6 e TSC7.

Para os protótipos TSC6 e TSC7, a flexão na mesa também é


pronunciadamente maior na direção perpendicular à alma devido ao aumento da
espessura da mesa. Neste caso, as deformações voltam a ser uniformes no centro e na
lateral, havendo uma diminuição da flexão na mesa do protótipo TSC7, característica do
modo de falha 3.
No sub-grupo com parafusos de 19,0 mm não foi possível solicitar todos os
modelos até o colapso devido à plastificação da alma dos perfis “T”, com exceção do

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 9, n. 41, p. 23-46, 2007


36 Yuri Ivan Maggi & Roberto Martins Gonçalves

protótipo TSC8 no qual houve a ruptura dos parafusos, evidenciando a existência de


forças de alavanca acentuadas neste protótipo, com mesa de 16,0 mm de espessura.
Quanto à rigidez inicial, pequenas variações foram observadas neste sub-
grupo. Como o torquímetro utilizado na protensão dos parafusos de 19,0 mm possuía
apenas controle visual do torque, por relógio graduado, pequenas variações da força de
protensão podem ter ocorrido, influenciando o trecho inicial das curvas força-
deslocamento, apresentadas na figura 15 para os protótipos TSC8, TSC9, TSC10 e
TSC11.
Com o escoamento da alma, há uma limitação de resistência para os
protótipos TSC9, TSC10 e TSC11, com um aumento significativo da deformabilidade
devido ao patamar de escoamento do material da alma. Com o encruamento da alma,
poderia se esperar um novo acréscimo de resistência e, possivelmente, a ruptura dos
parafusos, mas os ensaios foram interrompidos uma vez que a plastificação da alma já
caracteriza um estado limite último. Novamente, observam-se escorregamentos nos
protótipos TSC8 e TSC9.
Mantendo-se a espessura da mesa constante e variando-se o diâmetro dos
parafusos, tem-se como padrão um aumento de resistência e de ductilidade em
diferentes proporções, como pode ser observado na figura 16 para os protótipos TSC1 e
TSC4, com mesa de 12,5 mm e parafusos de 12,5 e 16,0 mm, respectivamente, e na
figura 17 para os protótipos TSC2, TSC5 e TSC8, com mesa de 16,0 mm e parafusos
de 12,5, 16,0 e 19,0 mm, respectivamente.

700

600

500
Força (kN)

400

300
TSC8 (tch=16,0 mm)
200 TSC9 (tch=19,0 mm)
TSC10 (tch=22,4 mm)
100 TSC11 (tch=25,0 mm)

0
0.0 1.0 2.0 3.0 4.0 5.0 6.0 7.0 8.0 9.0 10.0
Deslocamento (mm)
Figura 15 - Curvas força-deslocamento para os protótipos TSC com
parafusos de 19,0 mm.

Para os protótipos com mesa de 12,5 mm, há um aumento proporcional entre


resistência e ductilidade. Para os protótipos com mesa de 16,0 mm, no entanto, a
proporção entre as curvas é observada apenas para o aumento de resistência e para a
ductilidade entre os protótipos TSC5 e TSC8. A variação da ductilidade do protótipo
TSC2 para o TSC5 é mínima, destacando-se que, no caso do protótipo TSC2, a

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 9, n. 41, p. 23-46, 2007


Análise experimental de ligações duplo “T”com almas coplanares, perpendiculares e enrijecidas 37

deformabilidade à flexão da mesa é maior com relação à deformabilidade axial dos


parafusos.

700

600
TSC1-1 (db=12,5 mm)

500 TSC4-1 (db=16,0 mm)


Força (kN)

400

300

200

100

0
0.0 1.0 2.0 3.0 4.0 5.0 6.0 7.0 8.0 9.0 10.0
Deslocamento (mm)
Figura 16 - Curvas força-deslocamento para os protótipos TSC com
mesa de 12,5 mm de espessura – variação dos parafusos.

700

600

500
Força (kN)

400

300

200 TSC2-1 (db=12,5 mm)


TSC5-2 (db=16,0 mm)
100 TSC8-1 (db=19,0 mm)

0
0.0 1.0 2.0 3.0 4.0 5.0 6.0 7.0 8.0 9.0 10.0
Deslocamento (mm)
Figura 17 - Curvas força-deslocamento para os protótipos TSC com
mesa de 16,0 mm de espessura – variação dos parafusos.

3.2 Grupo TSI – almas perpendiculares

Os resultados do grupo TSI são importantes para a verificação do


comportamento da ligação duplo “T” com a mudança de posição entre as almas dos

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 9, n. 41, p. 23-46, 2007


38 Yuri Ivan Maggi & Roberto Martins Gonçalves

perfis “T”, seguindo a configuração usual da ligação com chapa de topo se considerados
a viga e o pilar.
Enfatizando-se, novamente, aspectos globais, na figura 18 são apresentadas as
curvas força-deslocamento para os protótipos TSI. Como os resultados dos pares, para
esse grupo, foram mais uniformes que no grupo TSC, indicam-se apenas as curvas
obtidas no primeiro ensaio de cada par, a menos do protótipo TSI4-1 que apresentou
interferências na coleta de dados, sendo substituído pelo protótipo TSI4-2. Para os
protótipos TSI5 à TSI8, o ensaio foi interrompido pelos mesmos motivos dos protótipos
TSC com parafusos de 19,0 mm.
A representação esquemática da geometria dos protótipos da série TSI
também é indicada na figura 18.
Assim como para os protótipos do grupo TSC, não há modificação da rigidez
inicial para o grupo TSI, inclusive para o aumento do diâmetro dos parafusos,
conseqüência da força de protensão inicial aplicada.
No entanto, ao contrário do grupo TSC, o aumento da espessura da mesa dos
perfis “T” provocou pequenos acréscimos na ductilidade e na resistência das ligações
dentro de cada sub-grupo de parafusos. Um ganho de resistência significativo pode ser
visualizado com o aumento do diâmetro dos parafusos, de 16,0 para 19,0 mm.
A figura 19 apresenta as deformações no protótipo TSI1-1 após o colapso e
no protótipo TSI6-1 antes do término do ensaio.

700
650
600 db = 19,0 mm

550
500
450
db = 16,0 mm
Força (kN)

400
350
300 TSI1-1 (t1=12,5 mm)
db = 16,0 mm TSI2-1 (t1=16,0 mm)
250
t2 = 19,0 mm TSI3-1 (t1=19,0 mm)
200 TSI4-2 (t1=22,4 mm)
150 TSI5-1 (t1=16,0 mm)
db = 19,0 mm TSI6-1 (t1=19,0 mm)
100 t2 = 22,4 mm TSI7-1 (t1=22,4 mm)
50 TSI8-1 (t1=25,0 mm)

0
0.0 1.0 2.0 3.0 4.0 5.0 6.0 7.0 8.0 9.0 10.0
Deslocamento (mm)
Figura 18 - Curvas força-deslocamento para os protótipos TSI.

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 9, n. 41, p. 23-46, 2007


Análise experimental de ligações duplo “T”com almas coplanares, perpendiculares e enrijecidas 39

(a) TSI1-1 (b) TSI6-1


Figura 19 - Deformações das mesas dos protótipos TSI1-1 e TSI6-1.

É interessante observar que, devido às diferenças de braço de alavanca para


os parafusos e da espessura da mesa entre os perfis “T” desses protótipos, a deformação
se concentra em uma das mesas, modificando a interação entre mesa e parafusos na
caracterização do colapso.
Comparando-se os grupos TSC e TSI pela consideração da menor espessura
de mesa, o protótipo TSI1, com mesas de 12,5 e 19,0 mm de espessura e parafusos de
16,0 mm, tem um pequeno ganho de ductilidade com relação ao protótipo TSC4, com
mesas de 12,5 mm. O protótipo TSI2, com mesas de 16,0 e 19,0 mm, no entanto,
apresenta um aumento significativo de ductilidade quando comparado ao protótipo
TSC5, com mesas de 16,0 mm, como pode ser visualizado na figura 20.

700

600

500
Força (kN)

400

300

TSC4-1 (tch=12,5 mm)


200
TSC5-2 (tch=16,0 mm)
db = 16,0 mm
TSI1-1 (t1=12,5 mm)
100
TSI2-1 (t1=12,5 mm)

0
0.0 1.0 2.0 3.0 4.0 5.0 6.0 7.0 8.0 9.0 10.0
Deslocamento (mm)
Figura 20 - Variação de ductilidade entre os protótipos TSI e TSC.

Enfatiza-se que, neste caso, a influência do “efeito alavanca” na variação do


modo de falha dos perfis “T” é menor e a solicitação nos parafusos passa a ser menos
influenciada por esforços de flexão quando comparadas aos protótipos TSC4 e TSC5.

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 9, n. 41, p. 23-46, 2007


40 Yuri Ivan Maggi & Roberto Martins Gonçalves

Assim, caracteriza-se a flexão mais pronunciada na direção perpendicular à alma dos


perfis “T” como um padrão de deformação para as mesas, não influenciada
significativamente pela interação em mesa e parafusos.
No entanto, é possível observar uma variação nos padrões de plastificação da
mesa, que ocorreu de forma sistemática para o grupo TSI. A figura 21 ilustra a
plastificação nas mesas do protótipo TSI1-2 juntamente com detalhes dos parafusos
após a ruptura.

Figura 21 - Plastificação e detalhes dos parafusos no protótipo TSI1-2.

Na figura 21 identificam-se marcas que indicam a tendência de plastificação


dos furos para a borda nas mesas, na direção perpendicular à alma do perfil “T” e para a
região central da borda entre os furos. No detalhe dos parafusos, a seção de ruptura
indica a menor influência da flexão destes componentes. Esse padrão foi verificado para
todos os protótipos do grupo TSI. As linhas de plastificação nos protótipos TSI2 e TSI3
podem ser visualizadas nas figuras 22(a) e 22(b).

(a) TSI2-2 (b) TSI3-2


Figura 22 - Linhas de plastificação nas mesas dos protótipos TSI2-2 e TSI3-2.

Para observar a variação nas deformações das mesas entre os protótipos TSC
e TSI, apresenta-se, na figura 23, os dados coletados nos extensômetros 1, 2, 3, e 4,
indicados na figura, na direção perpendicular à alma para cada lado da ligação dos
protótipos TSI3-1 e TSC6-2, ambos com mesas de 19,0 mm de espessura e parafusos
de 16,0 mm.
Para o protótipo TSI3-1 há uma diminuição significativa para a deformação
no lado 1, pelo aumento de flexibilidade da mesa no lado 2. As deformações no lado 2,

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 9, n. 41, p. 23-46, 2007


Análise experimental de ligações duplo “T”com almas coplanares, perpendiculares e enrijecidas 41

com relação ao protótipo TSC6-2, apresentam um aumento significativo no centro da


mesa nos estágios iniciais de plastificação.
No entanto a deformação no centro tende a uniformizar-se com a deformação
na borda, o que indica a flexão predominante segundo a direção perpendicular à alma,
apesar da plastificação ter iniciado na região central em direção aos furos.

550
500
450
400
350
Força (kN)

300 Ext(1) - TSC6-2


250 Ext(2) - TSC6-2
db = 16,0 mm Ext(1) - TSI3-1
200 tch = t1 = 19,0 mm Ext(2) - TSI3-1
150 Ext(3) - TSI3-1
100 Ext(4) - TSI3-1

50
0
0.0 2.0 4.0 6.0 8.0 10.0 12.0 14.0 16.0
3
Deformação (x10 )
Figura 23 - Deformações nas mesas dos protótipos TSI3-1 e TSC6-2.

Considerando-se a utilização dos modos de falha para os perfis “T” no


dimensionamento da chapa de topo à flexão, aplicados usualmente às ligações duplo
“T”, a variação da tipologia pela perpendicularidade entre as almas dos perfis “T” não
modifica de forma significativa a resistência dos protótipos.
No entanto, observou-se variações nos padrões de plastificação das mesas e
na interação entre mesa e parafusos, o que conduziu à variações na magnitude do “efeito
alavanca” e da ductilidade dos protótipos.

3.3 Grupo TSIE – almas enrijecidas

Para o grupo TSIE foi possível observar a influência do enrijecimento da


alma que não modifica significativamente o comportamento global da ligação com
relação ao grupo TSC, a menos de um ganho de resistência.
A figura 24 apresenta as curvas força-deslocamento para os protótipos do
grupo TSIE, ressaltando que os protótipos com parafusos de 19,0 mm não foram
ensaiados até o colapso.

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 9, n. 41, p. 23-46, 2007


42 Yuri Ivan Maggi & Roberto Martins Gonçalves

700
650 db = 19,0 mm
600
550
500 db = 16,0 mm
450
Força (kN)

400
350
300
250 TSIE1-1 (t2=16,0 mm)
db = 16,0 mm
TSIE2-2 (t2=19,0 mm) t1 = 16,0 mm
200
TSIE3-1 (t2=22,4 mm)
150 TSIE4-2 (t2=19,0 mm)
db = 19,0 mm TSIE5-2 (t2=22,4 mm)
100 t1 = 19,0 mm
TSIE6-1 (t2=25,0 mm)
50
0
0.0 1.0 2.0 3.0 4.0 5.0 6.0 7.0 8.0 9.0 10.0
Deslocamento (mm)
Figura 24 - Curvas força-deslocamento para os protótipos TSIE.

Para os protótipos com parafusos de 16,0 mm, o aumento da espessura da


mesa provoca uma leve diminuição da ductilidade, com um pequeno aumento de
resistência. Para o sub-grupo com parafusos de 19,0 mm, o aumento da capacidade
resistente é visível.
Na figura 25 apresenta-se uma comparação entre as curvas força-
deslocamento dos protótipos TSIE1-1 e TSC5-2, ambos com mesas e parafusos de 16,0
mm.
Para esses dois protótipos, observa-se o aumento da capacidade resistente
com a inclusão do enrijecimento, ressaltando-se a manutenção da ductilidade entre os
protótipos TSIE1-1 e TSC5-2, o que também ocorre de maneira sistemática entre os
dois grupos.
A inclusão do enrijecimento diminui de forma significativa a deformabilidade
da mesa para o lado enrijecido da ligação duplo “T”. Neste caso, espera-se que as
deformações sejam concentradas na mesa não enrijecida, cuja plastificação deve
acontecer em taxas mais elevadas.
No entanto, não há indicações de que os padrões de plastificação na mesa dos
protótipos TSIE sofram modificações quando comparados aos protótipos similares do
grupo TSC, já que não há variações significativas de ductilidade como observado na
figura 25.
Outro indicativo de que os padrões de plastificação não são alterados é o
aumento de resistência da ligação que, apesar de pequena, sugere uma diminuição do
“efeito alavanca”.

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 9, n. 41, p. 23-46, 2007


Análise experimental de ligações duplo “T”com almas coplanares, perpendiculares e enrijecidas 43

700

600

Força (kN) 500

400

300

db = 16,0 mm TSIE1-1
200
tch = t2 = 16,0 mm TSC5-2
100

0
0.0 1.0 2.0 3.0 4.0 5.0 6.0 7.0 8.0 9.0 10.0
Deslocamento (mm)
Figura 25- Curvas força-deslocamento para os protótiopos TSIE1 e TSC5.

Para exemplificar a configuração das deformações para o grupo TSIE, na


figura 26 são ilustradas duas vistas para o protótipo TSIE1-1 logo após o colapso dos
parafusos.

(a) Visão lateral (b) Visão frontal


Figura 26 - Deformações nas mesas do protótipo TSIE1-1 após o colapso.

3.4 Comparação geral entre os grupos

Apenas para ilustrar, de forma geral, a variação de comportamento entre os


protótipos de ligações duplo “T”, a figura 27 apresenta as curvas força-deslocamento
para os três grupos, especificamente para os protótipos com parafusos de 16,0 mm.
Em uma comparação geral, é possível se concluir que a capacidade resistente
das ligações duplo “T”, independentemente da tipologia analisada, tem uma faixa de
variação cujo patamar superior é bem definido, em função da capacidade resistente dos
parafusos à tração.

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 9, n. 41, p. 23-46, 2007


44 Yuri Ivan Maggi & Roberto Martins Gonçalves

700

600

500

400
Força (kN)

TSC4-1 (tch=12,5 mm)


TSC5-2 (tch=16,0 mm)
300 TSC6-2 (tch=19,0 mm)
TSC7-2 (tch=22,4 mm)
TSI1-1 (t1=12,5 mm)
200
TSI2-1 (t1=16,0 mm)
TSI3-1 (t1=19,0 mm)
TSI4-2 (t1=22,4 mm)
100
TSIE1-1 (t2=16,0 mm)
TSIE2-2 (t2=19,0 mm)
0
0.0 1.0 2.0 3.0 4.0 5.0 6.0 7.0 8.0 9.0 10.0
Deslocamento (mm)
Figura 27 - Curvas força-deslocamento para os protótipos TSC, TSI e TSIE com parafusos de
16,0 mm.

O patamar inferior é função da intensidade dos “efeitos de alavanca”, que


dependem da interação entre as mesas dos perfis “T” e os parafusos e, portanto, não é
facilmente determinada. No entanto, a tendência de crescimento da resistência com o
aumento da espessura da mesa do perfil “T” é uniforme, mesmo considerando-se as
mudanças de tipologia.
O mesmo não ocorre com a ductilidade. De acordo com o exposto no capítulo
3, os limites de ductilidade para essas ligações não são tratados pelos modelos analíticos
e dependem, novamente, da intensidade dos “efeitos de alavanca” que, por sua vez, é
função da deformabilidade da mesa dos perfis “T” com relação à deformabilidade dos
parafusos.
Como a variação de ductilidade não é uniforme, é coerente supor que há
variações nos modos de falha em função das variações das linhas de plastificação,
utilizadas na metodologia proposta por Zoetemeijer & deBack (1972) para a
equivalência entre os perfis “T” e a chapa de topo.
A observação dos resultados para as ligações duplo “T” também permite
concluir que não há, pelo menos em termos do comportamento global, variações
significativas da capacidade resistente e da ductilidade dos protótipos com a variação de
tipologia.

4 CONCLUSÕES

Neste trabalho foram apresentados os resultados de um programa


experimental no qual foram testadas diversas ligações formadas por perfis “T”
parafusados, divididas em três grupos em função da tipologia da ligação. A rigidez axial

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 9, n. 41, p. 23-46, 2007


Análise experimental de ligações duplo “T”com almas coplanares, perpendiculares e enrijecidas 45

das ligações foi analisada, constatando-se a significativa influência da interdependência


entre as características geométricas dos flanges e dos parafusos na determinação dos
modos de falha, resistência e ductilidade dos perfis “T”, que são aplicados no
dimensionamento das ligações parafusadas com chapa de topo por meio de modelos
analíticos simplificados.
O efeito alavanca, presente na maioria dos protótipos ensaiados, representa
uma variável de difícil quantificação. Sua maior ou menor intensidade também é função
da tipologia da ligação, que pode apresentar maior ductilidade à medida que a
distribuição de tensões nos flanges é melhor distribuída entre borda e centro, como
ocorreu para o grupo TSI com almas perpendiculares.
Finalmente, é interessante ressaltar que os resultados gerados pelos ensaios com
perfis “T” serão utilizados em conjunto com resultados numéricos dos modelos
correspondentes para gerar discussões em torno do comportamento deste tipo de ligação
e de sua representatividade no dimensionamento das ligações com chapa de topo,
incluindo-se a análise detalhada das linhas de escoamento nos flanges e a discussão em
torno dos modelos analíticos existentes.

5 AGRADECIMENTOS

Os autores agradecem o suporte financeiro provido pela FAPESP (Fundação


de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo) para o desenvolvimento do trabalho de
Doutoramento, cujos resultados parciais foram apresentados nesta contribuição.

6 REFERÊNCIAS

AMERICAN INSTITUTE OF STEEL CONSTRUCTION. Manual of steel construction.


8.ed. Chicago, 1980.

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. (1986). NBR-8800 -


Dimensionamento e construção de estruturas de aço em edifícios. Rio de
Janeiro.

BURSI, O.S.; JASPART, J.P. Basic issues in the finite element simulation of extended
end plate connections. Computer & Structures, n. 69, p. 361-382, 1998.

EUROCODE-3. Design of steel structures: Part 1.1 - General rules and rules for
buildings - Revised Annex J: Joints in building frames, 1993.

KULAK, G.L.; FISHER, J.W.; STRUIK, J.H.A. Guide to design criteria for bolted and
riveted joints. 2. ed. John Wiley & Sons, 1987.

MAGGI, Y.I. (2000). Análise numérica, via M.E.F., do comportamento de ligações


parafusadas viga-coluna com chapa de topo. São Carlos. Dissertação (Mestrado) –
Escola de Engenharia de São Carlos – Universidade de São Paulo.

MAGGI, Y.I. (2004). Análise do comportamento estrutural de ligações


parafusadas viga-pilar com chapa de topo estendida. São Carlos. Tese
(Doutorado) – Escola de Engenharia de São Carlos – Universidade de São Paulo.

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SWANSON, J.A. Characterization of the strength, stiffness, and ductility


behavior of T-stub connections. Ph.D. Dissertation, Georgia Institute of Technology,
1999.

ZOETEMEIJER, P.; BACK, J. High strength bolted beam to column connections.


The computation of bolts, T-stub flanges and column flanges. Report 6-72-13,
Delft University of Technology, Stevin Laboratory, 1972.

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 9, n. 41, p. 23-46, 2007


ISSN 1809-5860

ANÁLISE DO COMPORTAMENTO DE BLOCOS DE


CONCRETO ARMADO SOBRE ESTACAS
SUBMETIDOS À AÇÃO DE FORÇA CENTRADA
Fabiana Stripari Munhoz 1 & José Samuel Giongo 2

Resumo
Este trabalho estuda o comportamento de blocos rígidos de concreto armado sobre
duas, três, quatro e cinco estacas, submetidos à ação de força centrada. Com o objetivo
de contribuir na análise de critérios de projeto utilizaram-se resultados obtidos por
meio de modelos analíticos e realizou-se análise numérica por meio de programa
baseado no Método dos Elementos Finitos. Foi desenvolvida, ainda, uma análise
comparativa entre os processos de dimensionamento adotados em projeto, na qual se
verificou grande variabilidade dos resultados. Para análise numérica adotou-se
comportamento do material como elástico linear e os resultados de interesse foram os
fluxos de tensões em suas direções principais. Nos modelos adotados variaram-se os
diâmetros de estacas e as dimensões dos pilares, a fim de se verificar as diferenças na
formação dos campos e trajetórias de tensões. Concluiu-se que o modelo de treliça
utilizado em projetos é simplificado e foram feitas algumas sugestões para a utilização
de um modelo de Bielas e Tirantes mais refinado. Foi possível a verificação da
influência da variação da geometria de estacas e de pilares no projeto de blocos sobre
e a revisão dos critérios para os arranjos das armaduras principais. Para os modelos
de blocos sobre cinco estacas com o centro geométrico de uma das estacas coincidente
com o centro do pilar, concluiu-se que o comportamento não é exatamente como
considerado na prática.

Palavras-chave: blocos sobre estacas; fundações; concreto armado; bielas e tirantes.

1 INTRODUÇÃO

Os blocos sobre estacas são elementos estruturais de fundação cuja finalidade


é transmitir às estacas as ações oriundas da superestrutura (figura 1). O uso deste
tipo de fundação se justifica quando não se encontram camadas superficiais de solo
local resistentes sendo necessário atingir camadas mais profundas que sirvam de
apoio à fundação.
São estruturas tridimensionais, ou seja, todas as dimensões têm a mesma
ordem de grandeza, tornando seu funcionamento complexo. O comportamento

1
Mestre em Engenharia de Estruturas - EESC-USP, fs-munhoz@uol.com.br
2
Professor do Departamento de Engenharia de Estruturas da EESC-USP, jsgiongo@sc.usp.br

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 9, n. 41, p. 47-76, 2007


48 Fabiana Stripari Munhoz & José Samuel Giongo

mecânico do conjunto aço/concreto, a determinação de vinculações e a existência da


interação solo/estrutura são problemas que agravam o grau de complexidade. Esses
elementos estruturais, apesar de serem fundamentais para a segurança da
superestrutura, geralmente, não permitem inspeção visual quando em serviço, sendo
assim, importante o conhecimento de seu real comportamento.

Figura 1 - Bloco sobre quatro estacas.

Os métodos para dimensionamento destes elementos utilizados até os dias


atuais tratam-os de modo simplificado, além disso, há diferentes parâmetros adotados
pelas normas e processos.
A norma brasileira NBR 6118:2003 considera os blocos sobre estacas como
elementos estruturais especiais que não respeitam a hipótese de seções planas, por
não serem suficientemente longos para que se dissipem as perturbações localizadas.
Classifica o comportamento estrutural de blocos em rígidos e flexíveis. No caso de
blocos rígidos o modelo estrutural adotado para cálculo e dimensionamento deve ser
tridimensional, linear ou não, e modelos de biela-tirante tridimensionais, sendo esses
últimos os preferidos por definir melhor a distribuição de forças nas bielas e tirantes. A
NBR 6118:2003 não fornece em seu texto um roteiro para verificações e
dimensionamento destes elementos.
O código americano ACI-318 (1994) adota hipóteses bem simplificadas para o
dimensionamento de blocos. Recomenda o uso da teoria da flexão e a verificação da
altura mínima do bloco para resistir à força cortante.
A norma espanhola EHE (2001) fornece expressões que permitem determinar
as áreas das barras da armadura para os casos mais freqüentes de blocos sobre
estacas, conforme o modelo de treliça adotado.
A rotina de projeto de blocos sobre estacas utilizada pelo meio técnico no
Brasil, conhecida como Método das Bielas é adaptada do trabalho de Blévot (1967),
que indica um modelo de treliça para a determinação da força no tirante e verificações
de tensões nas bielas comprimidas. As tensões de compressão são verificadas
considerando as áreas do pilar e das estacas projetadas na direção perpendicular ao
eixo da biela.

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 9, n. 41, p. 47-76, 2007


Análise do comportamento de blocos de concreto armado sobre estacas submetidos à... 49

Outro procedimento que tem sido utilizado por alguns projetistas de estruturas
de concreto é o processo sugerido pelo CEB-FIP (1970).
Esse procedimento indica verificações de segurança para tensões normais e
tangenciais com esforços solicitantes determinados em seções transversais
particulares. Este procedimento diverge da norma brasileira que considera que blocos
rígidos não respeitam a hipótese de seções planas.
Uma análise criteriosa para definir o comportamento estrutural de blocos sobre
estacas é a que considera o modelo de Bielas e Tirantes, afinal, tratam-se de regiões
descontínuas, onde não são válidas as hipóteses de Bernoulli. No modelo de Bielas e
Tirantes as verificações de compressão nas bielas podem ser feitas com as
considerações do Código Modelo do CEB-FIP (1990), pois as regiões nodais têm
geometria diferente das sugeridas por Blévot (1967).
O modelo de Bielas e Tirantes pode ser adotado considerando o fluxo de
tensões na estrutura, utilizando o processo do caminho das cargas. Essas tensões
podem ser obtidas por meio de uma análise elástica linear, utilizando métodos
numéricos como, por exemplo, o método dos elementos finitos.
Segundo Tjhin e Kuchma (2002), a orientação mais adequada para a seleção
de modelos apropriados de bielas e tirantes pode ser verificada em Schlaich et al.
(1987) que propõem arranjar os elementos da treliça do modelo utilizando as
trajetórias das tensões principais obtidas a partir de uma solução elástica linear.
Essas aproximações permitem verificar os estados limites último e de serviço.
O uso de trajetórias de tensões principais para guiar a construção de modelos
de bielas e tirantes também foi estendido à geração automática de modelos. Um
exemplo disto pode ser visto no trabalho de Harisis e Fardis (1991), que utilizaram
uma análise estática de dados de tensões principais obtida de uma análise linear por
elementos finitos para identificar localizações de bielas e tirantes.
Longo (2000) utilizou campos e trajetórias de tensões principais em vigas pré-
moldadas obtidas de uma análise elástica linear por meio do Método dos Elementos
Finitos e conseguiu bons resultados iniciais para adoção de modelos de bielas e
tirantes.
Autores como Iyer e Sam (1991) estudaram o comportamento de blocos sobre
três estacas por meio de uma análise elástica linear tridimensional e concluíram que a
analogia de treliça, aplicada a blocos sobre estacas utilizada por Blévot e Frémy
(1967), não é satisfatória, pois não conferem com as localizações e magnitudes de
tensões máximas com precisão.
Em virtude dessas e outras divergências nos métodos analíticos utilizados
para cálculo de blocos sobre estacas decidiu-se estudar modelos de blocos, sendo o
objetivo deste trabalho, estudar o comportamento de blocos rígidos de concreto
armado sobre duas, três, quatro e cinco estacas submetidos à ação de força centrada
para sugestão de um modelo de Bielas e Tirantes mais refinado do que o modelo de
treliça utilizado atualmente em projetos. Para isto, utilizaram-se resultados obtidos por
meio de modelos analíticos e realizou-se uma análise numérica utilizando-se o
programa ANSYS®(1998) baseado no Método dos Elementos Finitos. Nos modelos,
adotados variaram-se os diâmetros de estacas e as dimensões de pilar.
Para análise numérica, adotou-se comportamento do material como elástico
linear. Os resultados de interesse foram os fluxos de tensões em suas direções
principais a fim de se aplicar o modelo de Bielas e Tirantes.

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50 Fabiana Stripari Munhoz & José Samuel Giongo

Provavelmente uma análise não-linear ofereceria algumas vantagens por


fornecer resultados mais realistas acerca dos efeitos de perda de rigidez dos
elementos estruturais por causa da fissuração e escoamento das armaduras
longitudinais, mas com a proposta de quantificar alguns parâmetros, acredita-se que a
análise elástico-linear constitui-se em passo inicial imprescindível.

2 MÉTODOS DE CÁLCULO PARA PROJETO DE BLOCOS SOBRE


ESTACAS

O Método das Bielas desenvolvido tomando por referência a análise de


resultados experimentais de modelos ensaiados por Blévot (1967) considera no
interior do bloco uma treliça composta por barras tracionadas e barras comprimidas.
As forças de tração que atuam nas barras horizontais da treliça são resistidas pela
armadura enquanto que as de compressão nas bielas são resistidas pelo concreto. É
recomendado para ações centradas, mas pode ser empregado no caso de ações
excêntricas, desde que, admita-se que todas as estacas estão submetidas à maior
força transferida.
O Método do CEB-FIP (1970) é aplicável a blocos cuja distância entre a face
do pilar até o eixo da estaca mais afastada varia entre um terço e a metade da altura
do bloco. O método sugere um cálculo à flexão considerando uma seção de
referência interna em relação à face do pilar e distante desta 0,15 da dimensão do
pilar na direção considerada. Para verificações da capacidade resistente à força
cortante, define-se uma seção de referência externa distante da face do pilar de um
comprimento igual a metade da altura do bloco e, no caso de blocos sobre estacas
vizinhas ao pilar, a seção é considerada na própria face do pilar.
A norma espanhola EHE (2001) adota modelo de cálculo semelhante ao
Método das Bielas. A diferença entre os dois métodos ocorre na adoção da altura da
treliça para cada modelo e na questão da verificação das tensões de compressão. A
EHE (2001) sugere que a verificação da resistência do concreto nos nós do modelo,
em geral, não é necessária se as estacas são construídas “in loco” e se a resistência
característica do concreto destas e do pilar forem iguais a do bloco. Nos outros casos
deve-se realizar verificações adicionais.
O código americano ACI-318 (1994) admite os blocos sobre estacas como um
elemento semelhante a uma viga apoiada sobre estacas. O procedimento para
dimensionamento sugerido é o dimensionamento considerando momento fletor e
fazendo à verificação a força cortante em uma seção crítica. O máximo momento
fletor é determinado em relação a um plano vertical localizado na face do pilar. A
quantidade de armadura longitudinal é determinada pelos procedimentos usuais às
vigas de concreto armado. O código indica como essa armadura deve ser distribuída
e recomenda o valor de 30 cm para altura mínima de blocos sobre estacas.
A verificação à força cortante em blocos sobre estacas, segundo o código
americano, deve ser feita em uma seção crítica que é medida a partir da face do pilar
com a localização definida conforme o comportamento do bloco, ou seja, quando
ocorre comportamento de viga, o bloco é considerado uma viga extensa e a seção
crítica é definida por um plano que dista d da face do pilar, sendo d a altura útil do
bloco. Quando ocorre comportamento por “dois caminhos” cisalhantes, a ruína ocorre
pela punção ao longo de um cone, a superfície crítica é definida a partir de d/2 do
perímetro do pilar.

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Análise do comportamento de blocos de concreto armado sobre estacas submetidos à... 51

3 APLICAÇÃO DE MODELOS DE BIELAS E TIRANTES

O modelo de bielas e tirantes é uma representação discreta de campos de


tensões nos elementos estruturais de concreto armado. É idealizado o fluxo de forças
internas nas regiões com a consideração de uma treliça que transfere o carregamento
imposto no contorno para seus apoios. Esta treliça é composta por uma estrutura de
barras comprimidas (bielas) e tracionadas (tirantes) interconectadas por nós.
Os modelos de Bielas e Tirantes são fundamentados no Teorema do Limite
Inferior da Teoria da Plasticidade. Uma das hipóteses para se aplicar esse teorema é
o material exibir comportamento elasto-plástico perfeito, ou seja, para fins de
determinação da capacidade limite de carga de uma estrutura é possível dispensar
uma análise evolutiva das tensões e das deformações, admitindo-se,
simplificadamente, que o material tenha comportamento elasto-plástico perfeito.
O projeto de regiões, utilizando o modelo de Bielas e Tirantes, pode oferecer
mais do que uma treliça possível representando campos de tensões estaticamente em
equilíbrio e plasticamente admissíveis sendo, cada solução, garantida pelo Teorema
do Limite Inferior (ou Teorema Estático) da Teoria da Plasticidade (Análise Limite).
Machado (1998) apresentou modelos de consolos curtos e muito curtos sem
utilizar de maneira formal a Teoria da Plasticidade (Análise Limite), mas baseado em
Modelos de Bielas e Tirantes.
Os modelos propostos neste trabalho também não usam de maneira formal
esta análise, embora o modelo sugerido seja baseado em um Modelo de Bielas e
Tirantes, o qual tem solução garantida pelo Teorema do Limite Inferior.
Como orientação inicial deve-se seguir de perto os contornos e as trajetórias
de tensões elásticas na peça que são obtidas, inicialmente, empregando-se um
programa de análise em Elementos Finitos Linear (regime elástico linear sem a
consideração da fissuração).
O Método dos Elementos Finitos pode ser usado em sua versão linear, a mais
simplificada, em conjunto com Método das Bielas e Tirantes fornecendo as trajetórias
das tensões para facilitar a definição dos modelos de treliça, os campos de tensões
possíveis, ou pode ser usado na construção efetiva de um modelo para a análise
aproximada, desconsiderando a fissuração da peça.
O programa CAST, desenvolvido recentemente por Tjhin e Kuchma (2002)
para projeto de regiões D, utiliza contornos de tensão e trajetórias de tensões
principais obtidas de uma análise elástica linear para a seleção da treliça do modelo.
Schlaich et al. (1987) explicam que este processo de orientar o modelo de
bielas e tirantes ao longo dos caminhos de forças indicados pela teoria da elasticidade
negligencia um pouco a capacidade última de carga que poderia ser utilizada por uma
aplicação da teoria de plasticidade. Por outro lado, tem a vantagem principal que o
mesmo modelo é usado para o estado limite último e de serviço. Se por alguma razão
o propósito da análise é determinar a força última, o modelo pode ser adaptado
facilmente a esta fase de carregamento trocando suas bielas e tirantes para obter um
valor maior e mais real da resistência da estrutura. Neste caso, porém, a capacidade
de rotação não elástica do modelo tem que ser considerada.

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52 Fabiana Stripari Munhoz & José Samuel Giongo

4 ANÁLISE NUMÉRICA

Os modelos foram submetidos a uma análise elástica linear via Método dos
Elementos Finitos utilizando o programa computacional ANSYS®.

4.1 Modelos adotados

Foram analisados 29 modelos de blocos sobre duas, três e quatro estacas,


submetidos à ação de força centrada. Os modelos foram agrupados em cinco séries
conforme a quantidade de estacas e força aplicada, como pode ser visto na tabela 1:

Tabela 1 - Modelos analisados.


Número de Força
Tipo de Bloco Série
modelos aplicada (kN)
2 estacas B 9 710
3 estacas C 7 1000
4 estacas D 7 1400
5 estacas E 6 1900

A fim de se estudar a formação dos campos de tensões, foram adotados


modelos variando-se o diâmetro das estacas (30 cm, 35 cm e 40 cm) e as dimensões
de pilares para blocos com a mesma geometria e carregamento. Para blocos sobre
uma e cinco estacas alteraram-se também as alturas dos modelos.
Foram adotados resistência característica do concreto de 20 MPa e aço
CA-50. A ligação do bloco com a estaca foi considerada de 10 cm e as demais
condições geométricas são apresentadas nas figuras 2. e 3.

a=170

le =30 l =110 le =30

b=60 bp

ap
lc

d=40 h=50

d'=10

φest φest

Série B – duas estacas

Figura 2 - Modelos de blocos sobre duas estacas (medidas em centímetros).

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Análise do comportamento de blocos de concreto armado sobre estacas submetidos à... 53

l =120

lcy

l√3/2=103,92
bp

ap lcx

d=60 h=70

d'=10

φest φest

Série C – três estacas

a=190 a=190

le =35 l =120 le =35 le =35 l =120 le =35

lcy

b=190 bp b=190 bp

ap ap

d=70 h=80 d h

d'=10 d'=10

φest φest φest φest

Série D – quatro estacas Série E – cinco estacas

Figura 3 - Modelos de blocos sobre três, quatro e cinco estacas (medidas em centímetros).

Na tabela 2 são apresentados os parâmetros geométricos de cada modelo, ou


seja, dimensões do bloco (a, b), altura útil (d), distância entre eixos de estacas (l),

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54 Fabiana Stripari Munhoz & José Samuel Giongo

distância da face do pilar ao eixo da estaca mais afastada (lc), dimensões de pilares
(ap e bp) e diâmetro das estacas (φest).

Tabela 2 - Parâmetros Geométricos (medidas em centímetros).


Bloco Distâncias Pilar e estaca
Série Modelos
a b d l lcx lcy ap bp φest
B1-1 170 60 40 110 37,68 - 34,64 34,64 30
B1-2 170 60 40 110 37,68 - 34,64 34,64 35
B1-3 170 60 40 110 37,68 - 34,64 34,64 40
B2-1 170 60 40 110 25,00 - 60,00 20,00 30
B B2-2 170 60 40 110 25,00 - 60,00 20,00 35
B2-3 170 60 40 110 25,00 - 60,00 20,00 40
B3-1 170 60 40 110 20,00 - 70,00 20,00 30
B3-2 170 60 40 110 20,00 - 70,00 20,00 35
B3-3 170 60 40 110 20,00 - 70,00 20,00 40
C1-1 - - 60 120 41,63 50,95 36,74 36,74 30
C1-2 - - 60 120 41,63 50,95 36,74 36,74 35
C1-3 - - 60 120 41,63 50,95 36,74 36,74 40
C C2-1 - - 60 120 51,00 31,82 18,00 75,00 30
C2-3 - - 60 120 51,00 31,82 18,00 75,00 40
C3-1 - - 60 120 22,50 60,32 75,00 18,00 30
C3-3 - - 60 120 22,50 60,32 75,00 18,00 40
D1-1 190 190 70 120 40,00 40,00 40,00 40,00 30
D1-2 190 190 70 120 40,00 40,00 40,00 40,00 35
D1-3 190 190 70 120 40,00 40,00 40,00 40,00 40
D D2-1 190 190 70 120 50,00 20,00 20,00 80,00 30
D2-2 190 190 70 120 50,00 20,00 20,00 80,00 35
D2-3 190 190 70 120 50,00 20,00 20,00 80,00 40
D3-1 190 190 70 120 50,00 15,00 20,00 90,00 30
E1-1h80 190 190 70 120 40,00 40,00 40,00 40,00 30
E1-3h80 190 190 70 120 40,00 40,00 40,00 40,00 40
E1-1h95 190 190 85 120 40,00 40,00 40,00 40,00 30
E
E1-1h110 190 190 100 120 40,00 40,00 40,00 40,00 30
E2-1h80 190 190 70 120 50,00 20,00 20,00 80,00 30
E2-3h80 190 190 70 120 50,00 20,00 20,00 80,00 40

As siglas adotadas para representar os nomes dos blocos têm o seguinte


significado: Wx-y, W relaciona a série do modelo (ver tabela 1) que foi dividida
conforme o número de estacas, x está relacionada com a seção do pilar, y está
relacionado com a seção da estaca (y=1 para φest=30cm, y=2 para φest=35cm, y=3
para φest=40cm). Em alguns modelos com as mesmas iniciais x e y e variação da

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Análise do comportamento de blocos de concreto armado sobre estacas submetidos à... 55

altura, acrescentou-se a letra h e o valor da altura em centímetros. Citando como


exemplo o bloco B1-1, B significa que ele pertence à série B (blocos sobre duas
estacas), o primeiro 1 significa que ele tem a mesma seção que os demais modelos
da mesma série com x=1, e o outro 1 significa estacas com diâmetro de 30 cm.
Para os modelos B1-x e C1-x ap e bp são as medidas do lado de um quadrado
com uma área equivalente a do retângulo que foram adotadas para os demais
modelos da mesma série, por isso têm valores com números com mais casas
decimais.

4.2 Modelagem numérica

Para a análise seguiram-se algumas etapas: definição das propriedades dos


materiais, do tipo de elemento finito a se utilizar, da malha, das ações e condições de
contorno.
Em quase todos os modelos foi possível aproveitar a simetria para a
modelagem, apenas para os modelos de blocos sobre três estacas não foi possível.
Para os modelos de blocos sobre quatro e cinco estacas aproveitou-se a simetria em
uma direção, modelando-se metade do bloco; no caso de blocos sobre duas estacas
aproveitou-se a simetria nas duas direções, modelando-se 1/4 dos blocos.
Adotaram-se para os modelos de blocos estacas com seção quadrada, mas
com área equivalente aos referidos diâmetros. Essa medida foi tomada para facilitar a
construção da malha numérica, e foi muito útil, já que não interferiu nos resultados de
interesse. Os pilares e as estacas foram modelados com a mesma altura do bloco,
procedimento este, normalmente adotado em ensaios experimentais.
As propriedades dos materiais, considerando avaliação global dos modelos,
foram adotadas conforme a NBR 6118:2003, coeficiente de Poisson (ν) de 0,2 e
módulo de elasticidade tangente do concreto conforme a expressão 1:

E c = 5600 fck → E c = 2504 kN / cm 2 (1)

O programa ANSYS® possui uma vasta biblioteca de elementos finitos com a


finalidade de fornecer ao usuário condições para resolver problemas diversos. Neste
trabalho o elemento SOLID 65 foi utilizado para discretizar o bloco, pilar e estacas.
Este elemento é tridimensional constituído por oito nós, cada nó possuindo três graus
de liberdade referentes às translações das coordenadas x, y e z.
Para discretização dos elementos, adotou-se uma malha com espaçamento
entre nós de aproximadamente 5 cm para os modelos da série B, 10 cm para modelos
da série D e E e 14 cm para os modelos C. Não foi possível utilizar uma malha mais
refinada, pois com o aumento do número de elementos, inviabilizou o processamento
do modelo numérico. Os modelos da série C (blocos sobre três estacas) foram os
mais difíceis de modelar por não ter simetria, utilizou-se uma malha grande, além
disso, optou-se por excluir da modelagem os elementos triangulares que foram
gerados na malha nas periferias, já que, nestes locais, não havia tensões
significativas. Isso se justifica, pois, na modelagem inicial esses elementos
triangulares não foram excluídos e causaram dificuldades no processamento dos
modelos, já que exigiram uma malha mais refinada.

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56 Fabiana Stripari Munhoz & José Samuel Giongo

A figura 4 explicita as malhas utilizadas em um modelo de cada série de


blocos analisados.

Série B – duas estacas Série C – três estacas

Série D – quatro estacas Série E – cinco estacas


Figura 4 - Malha de elementos finitos utilizada.

A ação foi aplicada como pressão na área referente ao pilar.


Como condições de contorno restringiram-se todos os nós na face das estacas
no plano xz, nas duas direções e na direção normal a este plano, ou seja,
restringiram-se as três direções. A intenção de impedir a rotação dos modelos deve-
se ao fato de analisar o comportamento do bloco, mantendo condições coerentes a de
um ensaio experimental.
O uso da simetria foi indispensável para a modelagem, pois sem esse recurso
o número de elementos aumentaria, o que, conseqüentemente aumentaria o tempo e
o trabalho computacional. A condição de simetria foi aplicada referente aos planos
que foram cortados.

5 ANÁLISE DE RESULTADOS

As análises realizadas foram divididas em duas etapas. Primeiramente os


modelos foram verificados por meio de três métodos analíticos. Nesta etapa
verificaram-se as diferenças no cálculo das áreas das barras das armaduras.
Na segunda etapa deste trabalho consideraram-se os resultados obtidos pela
análise numérica. Foi feita análise gráfica dos campos de tensão de compressão e

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Análise do comportamento de blocos de concreto armado sobre estacas submetidos à... 57

com isso foram possíveis algumas comparações com os modelos analíticos. Além
disso, observaram-se as divergências, tanto na formação do campo de tensão de
compressão, quanto nos valores de tensão máxima de tração, quando são variadas
dimensões de pilares e estacas.

5.1 Resultados analíticos

Os blocos sobre duas, três, quatro e cinco estacas foram dimensionados por
três métodos analíticos, de BLÉVOT (1967), CEB-FIP(1970) e EHE (2001).
Para as áreas de armaduras calculadas, é importante observar que neste
trabalho não se verificou a ancoragem das mesmas em nenhum dos modelos. Os
valores das forças nos tirantes (Rst) e das áreas de armadura são apresentados na
tabela 3. O CEB-FIP não fornece o valor da força Rst, por não ser baseado em modelo
de Biela e Tirante e o cálculo da armadura foi feito com as expressões utilizadas para
cálculo de flexão em vigas.
Para os modelos de blocos sobre três, quatro e cinco estacas a armadura foi
calculada segundo os lados dos blocos, portanto os valores fornecidos na tabela 3
referem-se à área de armadura que deve ser colocada em cada lado. O procedimento
do CEB-FIP sugere verificações em duas direções, então, adotou-se a mesma
armadura para as duas direções, escolhendo a maior delas.

Tabela 3 - Valores de Rst e As.


BLÉVOT CEB-FIP EHE
Modelos
Rst (kN) As (cm2) As (cm2) Rst (kN) As (cm2)

B1-1/ B1-2/ B1-3 473,0 9,46 8,00 483,8 9,68


2 estacas

B2-1/ B2-2/ B2-3 408,3 8,17 6,28 417,7 8,35

B3-1/ B3-2/ B3-3 382,7 7,65 5,61 391,5 7,83

C1-1/ C1-2/ C1-3 186,9 3,74 3,66 228,2 4,56


3 estacas

C2-1/ C2-3 204,9 4,10 4,01 245,9 4,92

C3-1/ C3-3 150,05 3,00 4,09 192,1 3,84

D1-1/ D1-2/ D1-3 250,0 5,00 4,65 294,0 5,88


4 estacas

D2-1/ D2-2/ D2-3 275,0 5,50 5,36 323,5 6,47

D3-1 275,0 5,50 5,36 323,5 6,47

E1-1h80/ E1-3h80 271,4 5,43 5,05 235,3 4,71


5 estacas

E1-1h95 223,5 4,47 4,14 193,8 3,88

E1-1h110 190,0 2,80 3,52 167,7 3,29

E2-1h80/ E2-3h80 298,6 5,97 5,83 258,8 5,18

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 9, n. 41, p. 47-76, 2007


58 Fabiana Stripari Munhoz & José Samuel Giongo

Os métodos analíticos para dimensionamento conduziram a diferentes


resultados para a área de armadura, fornecendo valores com diferenças que
chegaram até 30% para modelos de blocos sobre duas estacas. Para os blocos sobre
duas, três e quatros estacas, o método da EHE (2001) apresentou as maiores áreas
de armadura e o Método do CEB (1970), as menores, ou seja, as diferenças foram
maiores entre esses dois métodos. Entre os Métodos de Blévot (1967) e CEB (1970)
também ocorreram diferenças grandes, nos modelos de blocos sobre duas estacas
chegaram a mais de 30%, para um dos modelos de blocos sobre três estacas houve
uma diferença um pouco maior (a área de armadura calculada com os critérios do
CEB foi 36% maior que a calculada com as indicações de Blévot), isso ocorreu por
causa do posicionamento do pilar e das diferentes considerações dos dois métodos.
Para os modelos de blocos sobre cinco estacas, de modo geral, o método que
apresentou maiores áreas de armadura foi o de Blévot e as maiores diferenças
ocorreram entre Blévot (1967) e EHE (2001), essa diferença foi da ordem de 15%.

5.2 Resultados numéricos

Os resultados numéricos de interesse neste trabalho são os campos de


tensões com valores máximos e mínimos nas direções principais, que fornecem uma
noção do funcionamento das estruturas.
Por meio das trajetórias de tensões principais é possível montar um modelo de
Bielas e Tirantes. As trajetórias mínimas principais (tensão principal direção 3),
geralmente de compressão, podem orientar as posições das bielas comprimidas. As
trajetórias máximas principais (tensão principal direção 1) podem orientar o
posicionamento dos tirantes. No item 5.4.3 serão apresentadas essas trajetórias para
os modelos analisados, e são, por meio delas, em conjunto com a análise dos campos
de tensão, que serão apresentadas algumas sugestões para modelos de bielas e
tirantes mais refinados para blocos sobre uma, duas, três, quatro e cinco estacas.
Analisaram-se os campos de tensões principais máximas e mínimas. As
tensões máximas representadas pelas tensões na direção 1 (tração) e as mínimas
são representadas pelas tensões na direção 3 (compressão).
Para cada série de modelos de estacas foram feitas algumas constatações
quando se variam os diâmetros das estacas ou a dimensão dos pilares ou a altura dos
blocos.

5.2.1 Blocos sobre duas estacas


5.2.1.1 Análise de modelos de blocos com mesma geometria de pilar variando-
se diâmetro das estacas
Neste item foram feitas comparações entre os modelos em que se variou o
diâmetro das estacas, ou seja, dividindo-se os modelos em três grupos: (1) B1-1, B1-2
e B1-3; (2) B2-1, B2-2 e B2-3 e (3) B3-1, B3-2 e B3-3.
As constatações que seguem são as mesmas para os três grupos distintos, já
que, nas análises feitas ocorreram as mesmas situações.
Analisando primeiramente os campos de tensão na direção principal 3, que
representam as tensões de compressão, pode-se observar a formação das bielas de
compressão, como pode ser visto na figura 5. Além disso, observou-se a grande

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 9, n. 41, p. 47-76, 2007


Análise do comportamento de blocos de concreto armado sobre estacas submetidos à... 59

concentração de tensões nas regiões nodais, próximas ao pilar e próximas às


estacas.

B1-1 (φest = 30 cm) B1-2 (φest = 35 cm) B1-3 (φest = 40 cm)

B2-1 (φest = 30 cm) B2-2 (φest = 35 cm) B2-3 (φest = 40 cm)

B3-1 (φest = 30 cm) B3-2 (φest = 35 cm) B3-3 (φest = 40 cm)


Figura 5 - Formação das bielas de compressão.

Uma importante constatação refere-se à formação das bielas de compressão.


Os campos de tensão de compressão na região nodal superior, obtidos com a análise
numérica, formaram-se além da seção do pilar, como pode ser observado na figura 5.
Conforme o Modelo de Blévot (1967), a biela se forma partindo da área do pilar e, no
entanto, não foi isso que ocorreu. Por meio de uma aproximação gráfica pode-se
notar melhor as diferenças que ocorreram entre o modelo numérico e o analítico,
conforme figura 6.
Na figura 6 as linhas contínuas em vermelho mostram a formação das bielas
proposta pelo modelo de Blévot. As linhas em azul mostram uma idealização dos
campos de compressão obtidos por análise numérica. Observa-se que o ângulo das
bielas formado pelas linhas azuis tracejadas (modelo numérico) seria bem maior que
o formado pelas linhas vermelhas contínuas. Além disso, conforme o modelo
numérico a região nodal logo abaixo do pilar tem uma altura bem maior. É lógico que
essas conclusões baseadas em análises gráficas são bem aproximadas, mas, mesmo
assim são válidas.
Uma outra constatação relaciona os campos de tensão de compressão com o
diâmetro das estacas. Observou-se que a tensão de compressão ao longo da biela

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 9, n. 41, p. 47-76, 2007


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diminuiu conforme se aumentou o diâmetro da estacas, esta diferença foi notada entre
os blocos com estacas de diâmetros de 30 cm e 40 cm.

45
°

Figura 6 - Bielas de compressão, modelo numérico e modelo de Blévot.

Com relação às tensões principais na direção 1, observou-se que essas


máximas tensões de tração ocorrem na face inferior do bloco, como era esperado, no
local onde se posiciona a armadura principal do bloco. A figura 7 ilustra os campos de
tensão máxima em um dos modelos adotados.

Figura 7- Campos de tensão de tração.

Relacionando as tensões máximas de tração com os diâmetros das estacas,


observou-se que as tensões aumentaram conforme se diminuiram os diâmetros das
estacas. A tabela 4 traz os valores de tensão máxima de tração obtidos para cada
grupo de blocos analisados.

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 9, n. 41, p. 47-76, 2007


Análise do comportamento de blocos de concreto armado sobre estacas submetidos à... 61

Tabela 4 - Tensões máximas de tração.


Tensão de tração
Grupos Modelos φest (cm)
máxima (MPa)
B1-1 30 4,8
1 B1-2 35 4,4
B1-3 40 4,0
B2-1 30 4,0
2 B2-2 35 3,6
B2-3 40 3,3
B3-1 30 3,6
3 B3-2 35 3,4
B3-3 40 3,0

As diferenças entre os valores de tensão máxima chegaram a 20%. No cálculo


analítico isso não aconteceria, pois a força no tirante, com a qual se calcula a área de
armadura, independe do diâmetro da estaca.

5.2.1.2 Análise de modelos de blocos com mesma geometria e mesmo


diâmetro das estacas variando-se a dimensão de pilares
Esta análise refere-se aos modelos de blocos com mesmas dimensões e
mesmo diâmetro de estaca, mas com dimensões de pilares diferentes. Os grupo de
blocos analisados refere-se aos modelos: (1) B1-1, B2-1 e B3-1, (2) B1-2, B2-2 e B2-3
e (3) B1-3, B2-3 e B3-3.
Os modelos B1-x e B2-x têm pilares com área equivalente, sendo o primeiro
com área quadrada e o segundo retangular, já o modelo B3-x tem pilar com área
retangular mais alongada. A importância desta análise deve-se ao fato de, a maioria
dos métodos de cálculo serem aplicados somente para blocos sobre estacas com
pilares de seção quadrada. Ocorreu que, em um modelo de bloco com mesma
geometria e seção de pilar diferente, as tensões de tração foram distintas, portanto,
não é muito realista a consideração que muitos métodos fazem utilizando seções
quadradas equivalentes para pilares retangulares. Estas constatações podem ser
observadas na tabela 5 que mostra os valores de tensões máximas de tração para
cada grupo de modelos analisados.

Tabela 5 - Tensões máximas de tração.


Seção Pilar Tensão de tração
Grupos Modelos
(cmxcm) máxima (MPa)
B1-1 34,64 x 34,64 4,8
1 B2-1 20,00 x 60,00 4,0
B3-1 20,00 x70,00 3,6
B1-2 34,64 x 34,64 4,4
2 B2-2 20,00 x 60,00 3,6
B3-2 20,00 x70,00 3,4
B1-3 34,64 x 34,64 4,0
3 B2-3 20,00 x 60,00 3,3
B3-3 20,00 x70,00 3,0

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62 Fabiana Stripari Munhoz & José Samuel Giongo

Observou-se que as máximas tensões de tração diminuem conforme se


alonga a seção do pilar. Tomando como exemplo o modelo B2-1, aplicando o Método
das Bielas e considerando uma seção quadrada equivalente, a armadura adotada
seria a mesma que para o modelo B1-1, portanto, talvez seja conservativo adotar esta
estratégia de seções equivalentes para blocos sobre duas estacas.

5.2.2 Blocos sobre três estacas


Para análise de bloco sobre três estacas adotaram-se modelos com estacas
de diâmetros diferentes, e pilares de seção retangular e seção quadrada equivalentes,
ou seja, os modelos C1-1, C1-2 e C1-3 têm pilares de seção quadrada; os modelos
C2-1 e C2-3 pilares de seção retangular, com a mesma área que os anteriores, e, os
modelos C3-1 e C3-3 a mesma seção retangular que os anteriores, mas agora no
outro sentido. A intenção era observar os campos de tensão nestes modelos e notar
as diferenças que existem nestes casos.
Foram analisadas vistas e cortes pré-determinados para os modelos de blocos
sobre três estacas, para melhor visualização dos campos de tensão, conforme a
figura 8.

B
C

A A

PLANTA C B

Vista1

VISTA1
Vista de Baixo

Figura 8 - Vistas esquemáticas dos modelos de blocos sobre três estacas.

5.2.2.1 Análise de modelos de blocos com mesma geometria de pilar variando-


se o diâmetro das estacas
Neste item analisaram-se modelos de blocos com diferentes diâmetros de
estacas, dividindo-se os modelos em três grupos distintos: (1) C1-1, C2-1 e C3-1, (2)
C1-2 e C2-3 e (3) C1-3 e C3-3. A figura 9 mostra os campos de tensão dos modelos
do grupo (1).
Analisando os campos de tensão para os modelos do grupo (1) constatou-se
que a distribuição das forças de compressão é bem coerente com o modelo de Blévot
(1967), mas as regiões nodais são bem distintas. Como era esperado, com o aumento
do diâmetro das estacas, a tensão de compressão ao longo da biela diminuiu, isto se

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Análise do comportamento de blocos de concreto armado sobre estacas submetidos à... 63

justifica afinal com o aumento da área da biela ocorre uma diminuição de tensão.
Estas mesmas constatações foram feitas para os grupos (2) e (3).

CORTE AA

CORTE CC

C1-1(φest = 30 cm) C1-2(φest = 35 cm) C1-3(φest = 40 cm)


Figura 9 - Campos de tensão de compressão – blocos sobre três estacas.

Por meio da figura 10 pode se observar as formações dos campos de tensão


de tração (direção principal) para os modelos de blocos sobre três estacas.

CORTE AA

CORTE CC

C1-1(φest = 30 cm) C1-2(φest = 35 cm) C1-3(φest = 40 cm)


Figura 10 - Campos de tensão de tração – blocos sobre três estacas.

Com relação às tensões de tração máximas para os modelos com pilares


retangulares (grupo 1) constatou-se que essas aumentaram conforme se diminuíram
os diâmetros das estacas, as diferenças entre os valores máximos, de forma geral,
não foram significativas. Estas observações também se aplicam ao grupo 3; para o
grupo 2, as tensões diminuíram conforme se diminuiu o diâmetro das estacas. Essas
constatações têm sua validade, mas é importante ressaltar que os grupos de modelos
têm seções diferentes de pilar e, essa variação na seção, tem grande importância na
formação dos campos de tensão conforme será visto no item seguinte.

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 9, n. 41, p. 47-76, 2007


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5.2.2.2 Análise de modelos de blocos com mesma geometria e mesmo diâmetro


das estacas variando-se a dimensão de pilares
Neste item analisaram-se modelos de blocos com diferentes seções de pilares,
dividindo-se os modelos em dois grupos distintos: (1) C1-1, C2-1, C3-1 e (2) C1-3, C2-
3, C3-3.
A figura 11 apresenta os campos de tensões de compressão dos modelos do
grupo 1. É mostrada uma vista de cima (face superior) dos modelos onde pode se
observar as diferentes formas de distribuição de um modelo para o outro.

C1-1 (36,74x36x74) C2-1 (18x75) C3-1 (75x18)


Figura 11 - Campos de tensão de compressão – blocos sobre três estacas (vista de cima).

A figura 12 apresenta os campos de tensões de tração dos modelos do


grupo 1. É mostrada uma vista da parte inferior dos modelos, onde pode se observar
os contornos dos campos de tensão de tração para os modelos com diferentes
seções de pilares.

C1-1 (36,74x36x74) C2-1 (18x75) C3-1 (75x18)

Figura 12 - Campos de tensão de tração – blocos sobre três estacas (vista de baixo).

Com relação às tensões de tração os valores máximos para todos os modelos


estudados ocorreram aproximadamente no centro do bloco, mas sua formação, como
era esperado, diferiu muito de acordo com as mudanças nas seções dos pilares.

5.2.3 Blocos sobre quatro estacas


Para melhor visualização dos campos de tensão foram analisados vistas e
cortes pré-determinados para os modelos de blocos sobre quatro estacas, a figura 13
ilustra quais foram as vistas e cortes feitos nos modelos.

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Análise do comportamento de blocos de concreto armado sobre estacas submetidos à... 65

Figura 13 - Vistas esquemáticas dos modelos de blocos sobre quatro estacas.

5.2.3.1 Análise de modelos de blocos com mesma geometria de pilar variando-


se o diâmetro das estacas

Neste item foi feita uma análise dos campos de tensão de compressão (tensão
principal na direção 3) para modelos de blocos sobre quatro estacas e comparada
com o modelo analítico que utiliza analogia de treliça. Além disso, observaram-se as
divergências, tanto na formação do campo de tensão de compressão, quanto nos
valores de tensão máxima de tração (tensão principal na direção 1), quando se variam
dimensões de estacas.
Para esta análise utilizaram-se apenas 6 dos 7 modelos dividindo-os em dois
grupos: (1) D1-1, D1-2 e D1-3 e (2) D2-1, D2-2 e D2-3.
Observando-se os elementos mostrados no corte AA obtiveram-se as
configurações de campos de tensão de compressão mostrados na figura 14, as
diferenças nas formações das bielas, devem-se às diferentes geometrias dos pilares.

D1-1 (φest = 30 cm) D1-2 (φest = 35 cm) D1-3 (φest = 40 cm)

D2-1 (φest = 30 cm) D2-2 (φest = 35 cm) D2-3 (φest = 40 cm)

Figura 14 - Campos de tensão de compressão nos modelos de blocos sobre 4 estacas


(corte AA).

Da mesma forma que para os blocos sobre duas estacas, constatou-se que os
campos de tensão de compressão nas regiões nodais formam-se além da seção do
pilar e estacas, conforme é considerado no Modelo de Blévot (1967). Observou-se
ainda que, com o aumento do diâmetro das estacas, as intensidades das tensões de

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66 Fabiana Stripari Munhoz & José Samuel Giongo

compressão diminuíram, isso era esperado e se justifica, pois há uma dissipação


maior das tensões de compressão, portanto, maiores intensidades.
Com relação às tensões de tração, houve diferenças nos valores de tensões
máximas de tração conforme aumentaram-se os diâmetros das estacas, mas não
foram significativas como nos modelos de blocos sobre duas estacas. Os campos de
tensão de tração apresentaram aspecto semelhante em todos os modelos, como é
mostrado na figura 15.

Vista de Baixo Vista 1 Corte AA


Figura 15 - Campos de tensão de tração no modelo D1-1.

5.2.3.2 Análise de modelos de blocos com mesma geometria e mesmo diâmetro


das estacas variando-se a dimensão de pilares

Os modelos D1-x e D2-x têm pilares com área equivalente, sendo o primeiro
com área quadrada e o segundo retangular, já o modelo B3-x tem pilar com área
retangular mais alongada.
Observando-se a figura 14, pode-se perceber que, conforme mudou-se a
geometria do pilar, houve diferença na distribuição de tensões de compressão.
Ocorreram diferenças significativas entre os modelos de blocos com pilares
quadrados e retangulares. A intensidade da tensão de compressão ao longo da biela
foi maior nos modelos com pilares de seção quadrada e diminuiu conforme alongou-
se a seção do pilar.
Comparando-se os modelos de blocos sobre quatro estacas com pilar
retangular de área 20cm x 80cm e com pilar quadrado de área equivalente 40cm x
40cm obtiveram-se valores máximos de tensões de tração muito próximos, o que não
ocorreu nos modelos de blocos sobre duas estacas. Neste caso, seria possível a
utilização de seções quadradas de área equivalente para blocos com pilares de seção
retangular. Logicamente para o modelo B3-1, com seção um pouco mais alongada
(20cm x 90cm), os valores foram um pouco menores, como era esperado. Estas
constatações podem ser observadas na tabela 6, que mostra os valores de tensões
máximas de tração para o grupo de modelos analisados.

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Análise do comportamento de blocos de concreto armado sobre estacas submetidos à... 67

Tabela 6 - Tensões máximas de tração.


Seção Pilar Tensão de tração
Grupos Modelos
(cmxcm) máxima (MPa)
D1-1 40 x 40 1,898
1 D2-1 20 x 80 1,890
D3-1 20 x 90 1,540

5.2.4 Blocos sobre cinco estacas


Para os blocos sobre cinco estacas também foram feitas análises comparando
modelos com diferentes diâmetros de estacas e seções de pilares, mas, a
constatação mais importante foi na análise das reações das estacas em modelos com
diferentes alturas. Ocorreram diferenças significativas na comparação dos modelos
numéricos com o modelo analítico. Na adoção de modelos com diferentes alturas
também pode-se comprovar as diferenças nas formações dos campos de tensão de
compressão mostradas na figura 16, que ilustra um corte passando no centro dos
modelos.

E1-1h80 E1-1h95 E1-1h110


θ=45º θ=50º θ=55º
Figura 16 - Campos de tensão de compressão nos modelos de blocos sobre 5 estacas.

Os modelos foram adotados conforme o ângulo de inclinação das bielas,


modelo E1-1h80 possui ângulo de inclinação de 45º, E1-1h95 de 50º e E1-1h110 de
55º. Estes ângulos estão contidos no intervalo sugerido pelo Método das Bielas (45º a
55º)
A figura 16 mostra que, quando o ângulo de inclinação das bielas está em seu
limite inferior (45º), uma parcela maior de tensões de compressão dirigem-se para a
estaca central. Conforme aumenta-se este ângulo, as tensões são melhores
distribuídas para as demais estacas. Esta constatação pode ser melhor conferida
quando se compara as reações obtidas em cada estaca.
Em cada um dos modelos de blocos sobre cinco estacas foi aplicada uma
força centrada de 1900 kN. Portanto, a reação em cada estaca, considerada no
modelo analítico, é igual a 380 kN, já que, para modelos de blocos com ação de força
centrada a reação em cada estaca é considerada o valor da força aplicada dividido
pelo número de estacas.
A figura 17 mostra como foi considerada a numeração das estacas no modelo.

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Figura 17 - Numeração das estacas nos modelos de blocos sobre cinco estacas.

Nos modelos numéricos a reação obtida em cada estaca divergiu dos modelos
analíticos, como é mostrado na tabela 7.

Tabela 7 - Reações nas estacas dos modelos numéricos de blocos sobre três estacas.
Reação nas estacas (kN)
Modelos θº
1 2 3 4 5
E1-1h80 45 360,01 360,01 459,96 360,01 360,01
E1-1h95 50 367,41 367,41 430,36 367,41 367,41
E1-1h110 55 371,84 371,84 412,64 371,84 371,84
E1-3h80 45 344,10 344,10 523,60 344,10 344,10
E2-1h80 45 361,66 361,66 453,36 361,66 361,66
E2-3h80 45 347,09 347,09 511,64 347,09 347,09
Sendo: θ = ângulo de inclinação das bielas

Conforme a tabela 7 nos modelos numéricos, a reação na estaca central


(estaca 3) foi muito maior do que nas outras estacas. Notou-se, analisando os
modelos E1-1h80, E1-1h95 e E1-1h110 que, conforme aumenta-se a altura do bloco,
o valor da reação na estaca 3 é menor, ou seja, esse modelo de bloco sobre cinco
estacas teria que ser muito mais rígido para que a distribuição de força normal fosse
coerente com o modelo analítico. O modelo E1-1h110 tem o ângulo de inclinação das
bielas de 55º, ou seja, o valor máximo que é permitido pelo Método de Blévot (1967)
para que se garanta que a transmissão de forças se dê pelo Modelo de Bielas e
Tirantes.
Mediante as constatações decidiu-se pela modelagem de mais um modelo de
blocos sobre cinco estacas que foi nomeado E1-1h150 (d = 140 cm) e que teve a
mesma geometria do modelo E1-1h80, mas, neste caso, a altura adotada foi de
150cm. Para essa altura adotada no novo modelo, o ângulo de inclinação das bielas é
de aproximadamente 63º, ou seja, bem maior que o intervalo permitido. A tabela a
seguir mostra as reações encontradas para estacas do bloco E1-1h150.
As reações nas estacas obtidas no modelo E1-1h150 foram valores bem mais
próximos do modelo numérico, mas ainda assim a estaca 3 (central) apresentou maior
valor que as demais.

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Análise do comportamento de blocos de concreto armado sobre estacas submetidos à... 69

Tabela 8 - Reações nas estacas do modelo E1-1h150.


Reação nas estacas (kN)
Modelo θº
1 2 3 4 5
E1-1h150 63 377,23 377,23 391,08 377,23 377,23

Após essas verificações pode-se constatar que esse modelo de bloco sobre
cinco estacas não é confiável, já que teria que atingir ângulos maiores que 63º para a
inclinação das bielas.

6 MODELAGEM UTILIZANDO BIELAS E TIRANTES

É fato que para a definição de um modelo de Bielas e Tirantes deve-se seguir


como orientação inicial os contornos e as trajetórias elásticas de tensões na peça que
são obtidas inicialmente empregando-se um programa de análise em Elementos
Finitos Linear.
Longo (2000) utilizou modelos numéricos obtidos do Método dos Elementos
Finitos para obtenção de modelos de Bielas e Tirantes, sendo que os modelos foram
desenhados na própria tela do computador sobre os desenhos de trajetórias de
tensão.
Da mesma maneira que Longo (2000), com os modelos obtidos neste trabalho
procurou-se sugerir um modelo mais refinado do que os analíticos existentes, mas
não se pode generalizar, já que, o modelo adotado é função da geometria e das
ações atuantes em seu contorno; estruturas com mesmas ações e geometrias
diferentes são modeladas diferentemente. Portanto, nos modelos sugeridos não se
definiu, por exemplo, espessura das bielas já que isso dependeria da seção de
estacas e pilares adotados.
Neste item não foram analisados os modelos de blocos sobre cinco estacas, já
que, concluiu-se que este tipo de disposição de estacas não é adequada.

6.1.1 Blocos sobre duas estacas


A figura 18 apresenta as trajetórias de tensão nas direções principais 1
(tração) e 3 (compressão) obtidas para um dos modelos.

Tensão Principal 1 Tensão Principal 2


(tração) (compressão)
Figura 18 -Trajetória de Tensões Principais – Modelo B1-1.

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70 Fabiana Stripari Munhoz & José Samuel Giongo

Nos modelos adotados para blocos sobre duas estacas, apesar das diferentes
seções adotadas para estacas e pilares a trajetórias de tensão é semelhante,
divergindo obviamente nas regiões nodais. A figura 19 mostra as trajetórias de
tensões em todas as direções obtidas para alguns dos modelos.

B1-1 B2-1 B3-1


Figura 19 -Trajetórias de tensões principais.

Fazendo uma análise conjunta dos campos de tensão e das trajetórias de


tensões obtidas conclui-se, que o modelo sugerido por Adebar et al.(1990) mostrado
na figura 20, seria bem coerente com os modelos estudados e estes para obteria-se a
treliça mostrada na figura 21. O modelo refinado sugerido pelo autor sugere um tirante
onde os campos de tensão de compressão se expandem e são produzidas tensões
de tração. Essa constatação pode ser feita para os modelos estudados observando-se
as trajetórias de tensão principal na direção 1.

Figura 20 - Trajetórias de tensões elástico-lineares e Modelo refinado de Bielas e Tirantes


sugerido por Adebar et al. (1990).

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 9, n. 41, p. 47-76, 2007


Análise do comportamento de blocos de concreto armado sobre estacas submetidos à... 71

Proposta de Modelo de Bielas e Tirantes para


Trajetórias de tensões elástico-lineares
blocos sobre duas estacas
Figura 21 - Trajetórias de tensões elástico-lineares e Modelo refinado de Bielas e Tirantes para
blocos sobre duas estacas.

Para a treliça apresentada é necessária a verificação das regiões nodais,


conforme as recomendações do Código Modelo do CEB-FIP (1990), para isto, é
preciso definir as larguras das bielas que chegam nos nós. O arranjo da armadura fica
definido pelo tirante localizado na parte inferior do modelo. O tirante inclinado pode
ser considerado de concreto, e deve ser feita a verificação da resistência à tração do
mesmo.

6.1.2 Blocos sobre três estacas


A figura 22 apresenta as trajetórias de tensão nas direções principais 1
(tração) e 3 (compressão) obtidas para um dos modelos de blocos sobre três estacas.

CORTE AA

CORTE CC
Tensão Principal 1 (tração) Tensão Principal 3 (compressão)
Figura 22 - Trajetória de Tensões Principais – Modelo C1-1.

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 9, n. 41, p. 47-76, 2007


72 Fabiana Stripari Munhoz & José Samuel Giongo

De forma geral, a distribuição de tensão de compressão (formação das bielas)


foi semelhante para todos os modelos podendo-se adotar uma solução semelhante.
As trajetórias de tensões de tração, para os blocos sobre duas estacas, foram mais
intensas na parte superior do mesmo, apresentando tensões inclinadas ao longo da
altura. Portanto, para a adoção de um modelo de bielas e tirantes poderia utilizar a
mesma treliça, utilizada para blocos sobre duas estacas mudando, logicamente, o
posicionamento do tirante inferior. A forma das bielas e o tirante inclinado no meio
seriam iguais aos sugerido na figura 21.
A posição dos tirantes na face inferior dos blocos deve ser estudada para cada
caso. É mostrada na figura 23 uma vista de baixo das trajetórias de tensões principais
de tração.

C1-1 (36,74x36x74) C2-1 (18x75) C3-1 (75x18)

C1-3 (36,74x36x74) C2-3 (18x75) C3-3 (75x18)


Figura 23 - Trajetória de Tensões Principais Direção 1 (tração) – Vista Inferior.

É possível imaginar como deve ser a disposição das armaduras dos tirantes
com as trajetórias de tensão mostradas na figura 23. Para todos os modelos com a
melhor disposição de armadura encontrada que atenderia a distribuição das trajetórias
de tensões seria segundo os lados dos blocos (ligando as estacas). Havia dúvidas se,
no caso de pilares alongados, a disposição de armadura seria a mesma que para
pilares quadrados, mas concluiu-se que essa disposição pode atender aos dois
modelos. Talvez, em conjunto com uma armadura de distribuição, os modelos
trabalhariam melhor já que, as tensões máximas ocorrem no centro do bloco, essa
armadura distribuiria melhor para a armadura principal disposta segundo os lados. O
uso desse tipo de distribuição justifica-se também aos ensaios experimentais feitos
por Miguel (2000) que utilizou, em um de seus modelos, uma disposição de armadura
segundo os lados do bloco, somadas a uma armadura em malha e, constatou que o
uso de barras distribuídas diminui as fissuras na base do bloco.

6.1.3 Blocos sobre quatro estacas


A figura 24 apresenta as trajetórias de tensão nas direções principais 1
(tração) e 3 (compressão) obtidas para um dos modelos de blocos sobre quatro
estacas.

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 9, n. 41, p. 47-76, 2007


Análise do comportamento de blocos de concreto armado sobre estacas submetidos à... 73

Tensão Principal 1 (tração) Tensão Principal 3 (compressão)


Figura 24 - Trajetória de Tensões Principais – Modelo D1-1 (corte AA).

Como era esperado, a trajetória de tensões principais nos modelos de blocos


sobre quatro estacas foi semelhante para todos os modelos. Para o modelo de bielas
e tirantes pode se adotar uma treliça semelhante a que foi adotada pra blocos sobre
duas estacas, mas equilibrada, neste caso para quatro estacas.
As tensões principais de tração ocorreram no centro do bloco. A figura 25
mostra a configuração das trajetórias de tensões principais na direção 1 (tração), vista
de baixo, para alguns modelos adotados.

D1-1 D2-1 D3-1


Figura 25 - Trajetória de tensões de tração – Vista Inferior.

Com as trajetórias de tensões mostradas na figura 25 é possível a sugestão de


uma disposição adequada para as armaduras dos tirantes inferiores. Para todos os
modelos adotados notou-se que uma distribuição bem coerente seria armar o bloco
segundo os lados (unindo as estacas), como pode ser visto na figura 26.

Figura 26 - Trajetórias de tensões de tração e sugestão para disposição de armadura dos


tirantes para blocos sobre quatro estacas.

Da mesma maneira que para blocos sobre três estacas é interessante a


adoção de uma armadura de distribuição em conjunto com a armadura principal
distribuída segundo os lados.

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 9, n. 41, p. 47-76, 2007


74 Fabiana Stripari Munhoz & José Samuel Giongo

A sugestão desse tipo de disposição de armadura atende aos requisitos


propostos na NBR 6118:2003, que sugere que a armadura principal dos blocos deva
ser disposta essencialmente em faixas definidas pelas estacas em proporção de
equilíbrio com as bielas.

7 CONCLUSÃO

A importância deste trabalho foi mostrar que os métodos utilizados para


projeto de blocos sobre estacas apresentam divergências entre si. Esta constatação
pôde ser feita em virtude dos diferentes resultados encontrados no cálculo das áreas
de barras de armadura e para as verificações de tensões de compressão.
Os modelos numéricos apresentaram os resultados esperados demonstrando
a importância em adotar-se um modelo analítico mais refinado que leve em
consideração parâmetros como diâmetro de estacas e seções de pilares. Além disso,
deve-se adotar uma verificação de compressão nas regiões nodais, próximos ao pilar
e próximas às estacas, semelhantes aos modelos de Bielas e Tirantes.
Ficou comprovado que a adoção de uma análise numérica simplificada,
considerando comportamento elástico linear, era necessária, já que existem poucos
trabalhos tratando desse assunto, e, além disso, é o primeiro passo para adoção de
um modelo de Bielas e Tirantes.
Constatou-se que a treliça adotada pelo Método das Bielas (Blévot, 1967) é
um modelo coerente para projeto de blocos sobre estacas e é o mais simples. Por
meio das trajetórias de tensões e com os contornos de tensão obtidos para cada
modelo foi possível posicionar bielas e tirantes e sugerir um modelo mais refinado,
além disso, foi possível a verificação da influência do diâmetro das estacas e das
seções de pilares no projeto de blocos sobre estacas e pôde-se sugerir arranjos de
armadura.
Com relação ao comportamento dos modelos pôde-se verificar que o modelo
de Biela e Tirante sugerido não é nenhuma novidade, já que outros autores já tinham
constatado em trabalhos experimentais que as bielas de compressão romperam por
esmagamento do concreto; acreditando-se que a ruptura do tirante diagonal de
concreto era o mecanismo crítico envolvido nas ruínas por cisalhamento dos blocos
ensaiados.
Por isso, entende-se a importância em adotar-se a treliça sugerida, fazendo a
verificação do tirante diagonal, se não for possível a adoção de tirante de concreto
(fazendo-se a verificação à tração do concreto) deve-se adotar uma armadura
diagonal.
Outro ponto importante é a geometria da treliça que deve ser diferente
conforme a seção do pilar; a maior parte dos métodos analíticos considera para
blocos com pilares de seção retangular, uma seção quadrada equivalente, e essa
pode ser uma solução conservativa, em alguns casos, portanto, deve-se estudar caso
a caso. A seção da estaca também deve ser considerada, já que, nos modelos
analisados, quando se aumenta a seção, as tensões nas bielas diminuem, e,
conseqüentemente, diminuem as tensões nos tirantes.
Com relação aos blocos sobre cinco estacas pôde-se constatar que, na
adoção de modelos com estacas distribuídas segundo os vértices de um quadrado e

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 9, n. 41, p. 47-76, 2007


Análise do comportamento de blocos de concreto armado sobre estacas submetidos à... 75

uma estaca no centro geométrico, o comportamento não é exatamente como


considerado na prática. Considerando fatores como a fissuração, os resultados
poderiam ser ainda piores, ou seja, a distribuição de tensão seria ainda mais distinta.
Com as análises efetuadas foi possível verificar que o modelo de bloco sobre
cinco estacas, adotado neste trabalho, não é confiável, já que teria que atingir ângulos
maiores que 63º para a inclinação das bielas. Aumentando muito a altura ficaria
descaracterizado o tratamento desse modelo como bloco sobre estacas, devendo-se
talvez, ser tratado como viga-parede. Além disso, não é vantagem econômica utilizar
um bloco de fundação com uma altura muito elevada. Sendo assim, o mais correto é
adotar outra disposição de estacas, quando houver a necessidade de utilizar blocos
sobre cinco estacas, como por exemplo, blocos com estacas dispostas nos vértices
de um pentágono.

8 AGRADECIMENTO

Os autores agradecem à CAPES pelo apoio financeiro, sem o qual esta


pesquisa não poderia ter sido realizada.

9 REFERÊNCIAS

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pile caps: an experimental study. ACI Structural Journal, v.87, p. 81-92, Jan./Feb.

ANSYS User’s Manual - Theory Manual (1998). ANSYS revision 5.5.

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 6118:2003 – Projeto de


estruturas de concreto. Rio de Janeiro.

AMERICAN CONCRETE INSTITUTE (1994). ACI 318M – Building code


requeriments for reinforced concrete. Detroit, USA.

BLÉVOT, J.; FRÉMY, R. (1967). Semelles sur pieux. Annales d’Institut Technique
du Bâtiment et des Travaux Pulblics, Paris, v.20, n. 230, p. 223-295, fev.

COMITÉ EURO–INTERNATIONAL DU BÉTON (1970). CEB-FIP Recommandations


particulières au calcul et à l’exécution dês semelles de fondation. Bulletin
D’Information, Paris, n.73.

COMITÉ EURO–INTERNATIONAL DU BÉTON (1990). CEB-FIP model code for


concrete structures. Bulletin D’Information, Paris, n. 203-205, July.

COMISIÓN PERMANENTE DEL HORMIGÓN (2001).Ministerio de Fomento. Centro


de Publicaciones. Instrucción de hormigón estructural (EHE), Madrid.

HARISIS, A., FARDIS, M. N. (1991). Computer-Aided Automatic Construction of Strut-


and-Tie Models. Structural Concrete, IABSE Colloquium, Stuttgart, International
Association for Bridge and Structural Engineering, Zürich, p. 533-538, Mar.

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Engineering Mechanics, ASCE, v. 117, n. 12, p. 2862-2883, Dec.

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LONGO, H. I. (2000). Modelagem de estruturas de concreto pelo modelo de bielas e


tirantes utilizando o método dos elementos finitos. In: JORNADAS SUL-AMERICANAS
DE ENGENHARIA ESTRUTURAL, 29., 1 CD-ROM.

MACHADO, C. P. (1998). Consolos curtos e muito curtos de concreto armado.


São Paulo. Tese (Doutorado) – Escola Politécnica, Universidade de São Paulo.

MIGUEL, M. G. (2000). Análise experimental e numérica de blocos sobre três


estacas. São Carlos. Tese (Doutorado) – Escola de Engenharia de São Carlos,
Universidade de São Paulo.

MUNHOZ, F. S. (2004). Análise do comportamento de blocos de concreto armado


sobre estacas submetidos à ação de força centrada. São Carlos. Dissertação
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Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 9, n. 41, p. 47-76, 2007


ISSN 1809-5860

ANÁLISE DE PAVIMENTOS DE EDIFÍCIOS DE


CONCRETO ARMADO COM A CONSIDERAÇÃO DA
NÃO-LINEARIDADE FÍSICA – MODELAGEM E
METODOLOGIA DE APLICAÇÃO A PROJETOS

Richard Sarzi Oliveira1 & Márcio Roberto Silva Corrêa2

Resumo

O presente trabalho objetiva colaborar na melhoria dos procedimentos destinados à


aplicação dos modelos não-lineares ao dimensionamento estrutural. Os estudos
desenvolvidos estão didaticamente divididos em duas áreas do conhecimento. Na
primeira delas, dedicada às leis constitutivas que representam os materiais aço e
concreto, são estudadas as possíveis abordagens da não-linearidade física, e
desenvolvidos modelos uni e biaxiais destinados à análise do Estado Limite Último,
bem como dos Estados Limites de Serviço de abertura de fissuras, e de deformação ao
longo do tempo. Na segunda parte, voltada ao dimensionamento de elementos de
pavimentos de edifícios, são apresentadas e discutidas as metodologias atualmente
empregadas. O método semi-probabilístico é analisado quanto à sua aplicabilidade e,
ao final, uma proposta original é apresentada. Em seguida, o método do coeficiente
global de segurança é apresentado com maior ênfase, destacando-se os seus pontos
favoráveis e desfavoráveis. São apresentados estudos originais envolvendo o
comportamento do coeficiente global de segurança sob diversas solicitações de projeto.

Palavras-chave: concreto armado; não-linearidade física; elementos finitos.

1 INTRODUÇÃO

O meio científico tem desenvolvido, no decorrer dos últimos tempos,


importantes ferramentas para o processamento da análise não-linear de elementos
estruturais de concreto armado. Em contrapartida, a exploração dessas teorias no campo
prático, notadamente no dimensionamento de estruturas correntes (como, por exemplo,
um pavimento de edifício), encontra-se pouco explorada. Da mesma forma os códigos
modelo, responsáveis pela normalização do cálculo estrutural, não dispõem ainda de
procedimentos seguros que auxiliem o dimensionamento considerando-se o
comportamento não-linear dos materiais.

1
Doutor em Engenharia de Estruturas - EESC-USP, rsarzi@sc.usp.br
2
Professor do Departamento de Engenharia de Estruturas da EESC-USP, mcorrea@sc.usp.br

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 9, n. 41, p. 77-108, 2007


78 Richard Sarzi Oliveira & Márcio Roberto Silva Corrêa

2 ASPECTOS SOBRE A FORMULAÇÃO DOS ELEMENTOS

2.1 Elemento finito de barra

Neste trabalho são empregados os elementos finitos de barra de Euler com seis
graus de liberdade (gdl) por nó na representação dos elementos estruturais lineares de
pórtico tridimensional, como mostrado na Figura 2.1.

Figura 2.1 - Elemento de barra de pórtico tridimensional - coordenadas locais.

onde: ux, uy, uz - translações segundo os eixos x, y e z, respectivamente;


θx, θy, θz - rotações em torno dos eixos x, y e z respectivamente;
x - coordenada genérica no domínio do elemento;
li - comprimento do elemento finito.

Os elementos são dotados de campos de deslocamentos transversais (uy e uz)


cúbicos, e longitudinais (ux) lineares em seu domínio:
u x ( x) = a 1 + a 2 x (2.1)
2 3
u y ( x) = b1 + b 2 x + b 3 x + b 4 x (2.2)
u z ( x) = c 1 + c 2 x + c 3 x 2 + c 4 x 3 (2.3)

As rotações θx são descritas através de um campo linear no domínio do


elemento, e as demais são dependentes das derivadas dos deslocamentos transversais:
θx(x) = d1 + d2 x (2.4)
2
θy(x) = c2 + 2.c3 x + 3.c4 x (2.5)
θz(x) = b2 + 2.b3 x + 3.b4 x2 (2.6)

2.2 Modelos aplicados à análise de vigas

Os modelos descritos a seguir são ambos aplicáveis às vigas usuais de


pavimento, ou seja, vigas de seção transversal retangular, e tê (T).

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 9, n. 41, p. 77-108, 2007


Análise de pavimentos de edifícios de concreto armado com a consideração da não-linearidade... 79

2.2.1 Seção transversal não estratificada


Esse modelo aborda o comportamento mecânico do elemento segundo relações
entre o esforço interno de momento fletor e a curvatura. A matriz de rigidez [ki], e os
vetores de forças nodais equivalentes f iext e de forças internas f iint , são:
li
[k i ] = ∫ [B i ]T [C i ][B i ]dV = ∫ [B i ]T E.I[B i ].dx (2.7)
V 0

{f }= {f
i
ext ext
concentrada ,i }+ ⎛⎜⎜ ∫ [N ] {b }dV + ∫ [N ] {p }dS⎞⎟⎟
i
T
i i
T
i (2.8)
⎝V S ⎠

{ }= ∫ ([B ] {σ }) = ∫ [B ] {M }.dx
li
T T
f iint i i i i (2.9)
V 0

onde: E - módulo de deformação longitudinal;


I - momento de inércia;
{Mi} - campo de esforço interno de momento fletor do elemento i.

2.2.2 Seção transversal estratificada


Permite a aplicação de modelos constitutivos individualizados à representação
dos materiais e das sua inter-relações de interação (Figura 2.2).

Figura 2.2 - Elemento de viga estratificado; diagrama de deformações normais.

A integral de volume que origina a matriz de rigidez é desmembrada em uma


integral no comprimento sobre um somatório discreto da contribuição de cada uma das
camadas na rigidez da seção transversal. As propriedades físicas e mecânicas das
camadas são constantes ao longo da largura do elemento.

[k i ] = ∫ [B ]T [C i ][B i ]dV = ∫ ∑ ([B ]T {Z i }T [E ij ]{Z i }[B i ])b.dx


li m
i i (2.10)
V 0 j=1
onde: b = bw, bf - largura da alma e da mesa da viga, respectivamente;
{
{Z i } = 1 z ij 0 0 ; }

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80 Richard Sarzi Oliveira & Márcio Roberto Silva Corrêa

Os vetores são expressos como:

{f }= ∫ [B ] {σ }dV = ∫ ⎛⎜⎜ [B ] {Z } ∑ {σ }⎞⎟⎟dx


li m
int T T T j
i i i i i i (2.11)
V ⎝ ⎠ 0 j=1
li
{f } = {f
i
ext ext
conc,i }+ b.∫ [N ] .{p }.dx i
T
i (2.12)
0

2.3 Modelos aplicados à análise de pilares

A modelagem dos pilares submetidos à flexão oblíqua composta pode se dar


através de modelos não-estratificados, segundo diagramas de interação momento-
normal-curvatura (EL-METWALLY; EL-SHAHHAT; CHEN (1989)). Outra
possibilidade, implementada neste trabalho, emprega a estratificação simultânea da
seção transversal segundo suas direções principais (ASSAN (1990)).

2.3.1 Seção transversal filamentada


A Figura 2.3 ilustra uma seção transversal filamentada típica.

Figura 2.3 - Elemento de pilar filamentado; diagrama de tensões normais.

Matriz de rigidez de um filamento de concreto

[k i ] = ∫ [B ] [C i ][B i ]dV = ∫ [B ]T {Z i }T [E ij,k ]{Z i }[B i ]dx


li
T
i i (2.13)
V 0

onde: {Z i } = {1 z ij,k 0 y ij,k };


y ij,k , z ij,k - coordenadas y e z do ponto médio do filamento j,k.

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Análise de pavimentos de edifícios de concreto armado com a consideração da não-linearidade... 81

Matriz de rigidez de um filamento de aço

[ ] = ∫ [B ] [C ][B ]dV = ∫ [B ] [C ][B ]dx


li
T T
k ifs i i i i
s
i i (2.14)
V 0

⎡1 z il 0 y il ⎤
⎢ l ⎥
onde: [ ]
s l l ⎢z i
Ci = E i Ai
(z )
l 2
i 0 y il z il ⎥
.
⎢0 0 0 0 ⎥
⎢ l 2⎥
⎣⎢ y i y il z il 0 ( )
y il ⎦⎥
Do mesmo modo, escreve-se o vetor de forças internas do elemento:

{ }= ∫ [B ] {σ }dV = ∫ [B ] { } ∑∑ { }+ ∫ [B ] [ ]∑ {σ }
li m j mk li ms
T T T T
f iint i i i Z ij,k σ ij,k i C si l
i (2.15)
V 0 j=1 k =1 0 l =1

2.4 Elemento finito de placa delgada T3AF

Neste trabalho são empregados os elementos T3AF (Figura 2.4) de formulação


livre, anteriormente implementados por CORRÊA (1991).

Figura 2.4 - Elementos triangular T3AF, e quadrilateral - coordenadas locais.

O campo dos deslocamentos transversais uz é cúbico, e composto por um


conjunto de modos básicos aliado a modos superiores.
u z = [Nrc ]{α rc } + [Nh ]{α h } (2.16)

onde: uz - campo dos deslocamentos transversais no domínio do elemento;


[Nrc ] = [ξ1 ξ 2 ξ 3 ξ 1ξ 2 ξ 2 ξ 3 ξ 3 ξ1 ] - polinômio completo até o grau que
corresponde aos modos rígidos e de deformação constante;
[
[Nh ] = ξ 1ξ 2 (ξ1 − ξ 2 ) ξ 2 ξ 3 (ξ 2 − ξ 3 ) ξ 3 ξ1(ξ 3 − ξ 1 ) - modos superiores; ]
{α rc }, {α h } - coeficientes associados;
ξ i - coordenadas homogêneas de área.

2.4.1 Seção transversal não estratificada


O modelo de momento fletor por curvatura aplicado ao elemento de placa
apresenta as mesmas características já comentadas no item referente à barra.

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82 Richard Sarzi Oliveira & Márcio Roberto Silva Corrêa

A matriz de rigidez generalizada [k α,i ] de um elemento finito i, consiste em

utilizarem-se modos básicos completos ( [k αrc,i ] = ∫ [B rc ] [C][B rc ]dV ) em conjunto com


T

modos superiores ( [k αh ,i ] = ∫ [B h ] [C][B h ]dV ) linearmente independentes:


T

[k α,i ] = ⎢ [k Tαrc,i ] [Prc G h ]⎥


⎡ T ⎤
⎢⎣[G h Prc ] [k αh ,i ] ⎥⎦
(2.17)

[ ] ∫[ ]
T
onde: G hT Prc = Brc [ C][Bh ]dV - submatriz de rigidez que acopla o modo básico ao
V
superior. Para o elemento T3AF, essa matriz apresenta
coeficientes nulos devido à imposição da ortogonalidade em
força (CORRÊA (1991));
[Prc] = [k u,i ][G rc ] .

2.4.2 Seção transversal estratificada


A Figura 2.5 ilustra um elemento genérico de concreto armado estratificado.

Figura 2.5 - Elemento de placa estratificado; diagrama de tensões normais.

Os conceitos apresentados neste item constituem uma pequena introdução ao


assunto. Maiores esclarecimentos sobre as formulações apresentadas podem ser
encontrados em CORRÊA (1991).

3 TÓPICOS SOBRE AS IMPLEMENTAÇÕES

Neste item são apresentados os modelos efetivamente implementados, bem


como os aspectos relevantes dessas implementações no sistema computacional para
ANáliSe de Estruturas Reticuladas (ANSER).

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 9, n. 41, p. 77-108, 2007


Análise de pavimentos de edifícios de concreto armado com a consideração da não-linearidade... 83

3.1 Modelos para as vigas

Para a análise das vigas, foram implementados os modelos não-estratificados


propostos pelo CEB-FIP MC90, e por CORRÊA (1991), além do modelo estratificado.

3.2 Modelos para os pilares

Para a análise dos pilares utiliza-se a seção transversal filamentada. Além dos
modelos constitutivos para o aço e o concreto (Figura 3.1), são também incorporados os
modelos de aderência, e os efeitos do tempo sobre o comportamento.

Figura 3.1 - Modelos constitutivos uniaxiais para o concreto e o aço.

onde: fy - resistência de escoamento do aço à tração;


εy = fy/Es - deformação específica de escoamento do aço;
Es - módulo de deformação longitudinal do aço.

Os parâmetros dos modelos podem ser calculados pelo CEB-FIP MC90, ou


mesmo pela NBR-6118, de acordo com a classe de resistência de cada material (Tabela
3.1). Já os parâmetros do modelo de dano não são relacionáveis à resistência
característica do concreto e, por esse motivo, devem ser obtidos experimentalmente.

É de extrema importância para a análise de estruturas de concreto armado o


correto posicionamento da linha neutra na seção transversal com o progresso do
carregamento. Existem pelo menos duas formas para a abordagem do problema,
exemplificadas a seguir para o caso de um elemento de viga submetido à flexão simples,
na 1a iteração do 1o incremento de um carregamento externo que lhe impõe um estado
curvaturas. A cada um dos pontos de integração ou, simplesmente PGs, deverá
corresponder um valor de curvatura, e um estado de deformações associado. Admitindo-
se, inicialmente, que a linha neutra corte a seção transversal na metade da sua altura
geométrica (Figura 3.2), e empregando os modelos constitutivos dos materiais,
determinam-se as tensões e as forças internas correspondentes a cada PG.

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84 Richard Sarzi Oliveira & Márcio Roberto Silva Corrêa

Tabela 3.1 - Valores dos parâmetros do concreto e do aço.


Parâmetro CEB-FIP Model Code 1990 NBR-6118
εc1 0,0022 0,0020
εcu σc = 0,5.fc no diagrama do CEB-90 não consta
εm 0,0020 não consta
fc=fcm fck + Δf (com Δf ≅ 8MPa) fck + Δf (com Δf ≅ 3,5 MPa)
2
⎛f ⎞
0,30. ( )
f ck 3 (MPa) k. ⎜ ck ⎟ para fck ≤ 18MPa
ft=fctm ⎝ 10 ⎠
k. (0,06. fck + 0,7) para fck > 18MPa
, → sec. re tan gular
⎧12
k=⎨
⎩ , → sec. " T "
15

1
4 ⎛ fcm
⎞3
Ec 2,15 x10 ⎜ ⎟
⎝ 10 ⎠
(MPa) 6600. fck + 3,5 (MPa)
f cm fcm
Ec1 (não consta)
0,0022 0,0020
fy fyk (sugestão deste autor) fyk (sugestão deste autor)
Es 210000 MPa 210000 MPa
α 0,5 ≤ α ≤ 0,7 não consta

Figura 3.2 - Estados de deformação, tensão e forças (1a iteração do 1o incremento).

Esse vetor de forças internas {Ni, Mi}, comparado ao vetor das forças externas
{Ne, Me}, resulta em um vetor de resíduos Ψ={ΔN, ΔM} composto por força normal e
momento fletor, já que a força cortante é obtida pelo equilíbrio dos momentos fletores.
Como se trata de flexão simples (N=0), o resíduo de normal nos dois PGs deve ser
anulado através de um dos procedimentos a seguir (Figura 3.3):

• a primeira alternativa, consiste em manter a curvatura obtida para a iteração


em função do estado de deslocamentos, e movimentar a LN para até que seja satisfeita a
condição de Ni=0 (uma vez que Ne=0). Estabelecida essa condição calcula-se, para a
posição atualizada da LN, o vetor de forças internas e o respectivo vetor resíduo
Ψ={ΔM} (pois ΔN=0). Obedecendo a esse procedimento são acertadas,
independentemente, as posições das linhas neutras nos dois PGs;

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Análise de pavimentos de edifícios de concreto armado com a consideração da não-linearidade... 85

• a segunda é mais simples, e consiste na reaplicação do vetor resíduo Ψ={ΔN,


ΔM} à estrutura. Desse modo, a própria parcela do resíduo referente à normal (ΔN) fica
responsável pelo reposicionamento da LN na seção transversal.

Figura 3.3 - Ilustração do vetor resíduo sobre o domínio da barra.

A primeira apresenta convergência com um menor número de iterações (cerca de


70%) em relação à segunda. No entanto, a sua aplicação à casos de flexão composta
(Ni≠0) se torna mais complexa devido à inclinação da LN com os eixos principais de
inércia da seção transversal. A segunda alternativa é mais simples de ser implementada,
porém apresenta convergência com maior número de iterações comparativamente à
primeira alternativa. A utilização de um campo de deslocamentos longitudinais linear
para o elemento finito gera um campo constante de forças normais. Desse modo, ao se
realizarem as integrações das tensões normais no domínio do elemento segundo os dois
PGs, chega-se a um resíduo de normal equivalente à média obtida nos dois PGs.
⎡ 1⎤
⎢− l ⎥
li
⎧ − N1 − N 2 N1 + N 2 ⎫
ΔN = ∫ [B i ] {σ i }dV = ∫ ⎢ i ⎥{ΔN 1 ΔN 2 } = ⎨
T
1 ⎥ ⎬ (3.1)
V 0⎢ ⎩ 2 2 ⎭
⎢⎣ l i ⎥⎦

Esse valor médio, no entanto, é maior, em módulo, que o resíduo verificado no


PG menos solicitado (Figura 3.3), o que na prática deve provocar um novo resíduo
nessa seção transversal, de sinal contrário ao anterior. Sucessivamente, para o PG
menos solicitado, há a inversão do sinal do resíduo a cada iteração, mas sempre
convergindo para a solução. Por outro lado, sendo o valor médio menor, em módulo,
que o resíduo observado no PG mais solicitado, o mesmo torna-se insuficiente para
colocar a LN em uma posição capaz de anular o resíduo de normal nessa seção. Esse PG
mais solicitado apresenta uma convergência monotônica para a LN, já que não ocorre a
inversão de sinal do resíduo para essa seção transversal. Por esse motivo, a
convergência para o elemento e para a própria estrutura torna-se mais dispendiosa em
termos do número de iterações comparativamente à primeira alternativa.

3.2.1 Atualização da matriz de rigidez


A análise dos elementos lineares de concreto armado pode ser efetuada de
acordo com três procedimentos de solução: matriz de rigidez inicial, método de
Newton-Raphson, ou Newton-Raphson modificado.

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86 Richard Sarzi Oliveira & Márcio Roberto Silva Corrêa

3.3 Modelos para as lajes

No campo dos momentos fletores e das curvaturas foram implementados os


modelos propostos pelo CEB-FIP MC90 e por CORRÊA (1991), adotando o momento

equivalente de von Mises ( M eq =


2
3
(
. M 2x + M 2y − M x .M y + 2.M 2xy ).)
Doravante, especial destaque é dado à implementação do modelo estratificado.
As armaduras longitudinais estão submetidas exclusivamente à ação de tensões normais
e, como no caso das vigas, respondem à relação constitutiva elastoplástica perfeita.
As camadas de concreto simples têm o comportamento mecânico regido por um
modelo misto. Para os estados de compressão biaxial, aplica-se o critério de von Mises,
que apresenta resultados bastante razoáveis na representação desse comportamento.
Para os estados envolvendo a tração, emprega-se o modelo de fissuração dispersa fixa,
monitorado pelo critério de Rankine, responsável pelo cut-off da superfície de von
Mises (Figura 3.4).
A superfície elástica do critério de von Mises (superfície 1) pode ser adotada no
limite de 30% da resistência à ruptura (fc). O encruamento é do tipo positivo isótropo,
estabelecido em função da deformação plástica equivalente (strain-hardening), e a
evolução (encruamento) das superfícies de carregamento até o limite da ruptura é regida
pela parábola de Madrid. A regra da normalidade do vetor fluxo plástico, na qual
r ( {σ}, {q}) = f σ , é aqui adotada para o encruamento das duas superfícies. Sua
aplicabilidade é mais indicada a materiais que não apresentem variação volumétrica
com a plastificação, como é o caso do aço anteriormente à ruptura. No entanto, o
emprego dessa regra à descrição do comportamento do concreto tem proporcionado
bons resultados (CHEN;CHEN(1975)).

Figura 3.4 - Superfícies do modelo implementado: von Mises e Rankine.

3.3.1 Atualização da matriz de rigidez (von Mises)


A parcela da atualização da matriz de rigidez referente às camadas de concreto
que satisfazem ao critério de von Mises é obtida através da matriz elástica tangente
modificada.

d{σ} ( )(
[Ξ] j+1 (γ )[P]{σ}j+1 [Ξ] j+1 (γ )[P]{σ}j+1 )
T

= [Ξ ] j+1 (γ ) − (3.2)
d{ε} j+1 {σ}Tj+1 [P][Ξ ] j+1 (γ )[P]{σ}j+1 + β j+1

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Análise de pavimentos de edifícios de concreto armado com a consideração da não-linearidade... 87

onde: β j+1 =
2
3θ 2
( )
k j+1 {σ}Tj+1 [P]{σ}j+1 e θ2 = 1 −
2
3
k j+1 .γ (para k variável).

3.3.2 Aspectos sobre a formulação da superfície de Rankine


A superfície elástica de Rankine (superfície 2) é definida pela resistência à
tração do concreto (ft). FEENSTRA;DE BORST (1995) trazem a formulação completa
para o critério de Rankine, incluindo o amolecimento a partir da superfície de ruptura.
No entanto, este trabalho apresenta um enfoque peculiar à análise das camadas de
concreto submetidas a estados de tração.
Admita-se uma camada de concreto solicitada por um determinado estado plano
de tensões que gerem, pelo menos, uma tensão principal positiva superior ao limite de
ruptura ft, promovendo o surgimento de uma ou mais fraturas do tipo I. Nessas
condições, de acordo com a teoria de fissuras dispersas, a placa de concreto perde as
características de comportamento bidimensional acoplado (pois ν → 0), e passa a se
comportar independentemente nas duas direções principais. O comportamento mecânico
segundo essas direções passa a ser governado por relações uniaxiais. Esse
comportamento pós-fissuração também é previsto por autores cujos trabalhos estão
ligados estritamente ao projeto de lajes de concreto armado.
Além da hipótese de desacoplamento do comportamento biaxial apresentada no
parágrafo anterior, observa-se que a superfície de Rankine é delimitada paralelamente
aos eixos principais. Pela regra da normalidade, então, o retorno de um estado de
tentativa elástica à superfície de carregamento se dá paralelamente a um desses eixos.
No caso de o estado de tentativa exceder o limite ft nas duas direções principais, o
retorno se daria ao vértice da superfície de carregamento, o que está de acordo com o
proposto por FEENSTRA;DE BORST (1995), com base na generalização de KOITER
(1953)3 apud PROENÇA(1988) para a abordagem do escoamento de pontos com
derivada indefinida (Figura 3.5).

Figura 3.5 - Retornos à superfície de Rankine (FEENSTRA;DE BORST(1995)).

A curva de amolecimento adotada para a superfície de Rankine é idêntica à do


modelo uniaxial (Figura 3.1). No entanto essa curva deve agora ser calibrada com base
no conceito de energia de fratura. O comprimento equivalente heq é calculado de acordo
com o proposto por FEENSTRA;DE BORST (1996):

3
KOITER,W.T.(1953). Stress-strain relations, uniqueness and variational theorems for elastic-plastic materials with a
singular yield surface. Q. Appl. Math. n. 11, p.350-354. apud PROENÇA(1988).

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88 Richard Sarzi Oliveira & Márcio Roberto Silva Corrêa

h eq = α h . A (3.3)

⎧ 2 para elementos com campos lineares


onde: α h = ⎨ ;
⎩1 para elementos com campos quadrati cos
A - área do elemento finito.

A energia de fratura Gf utilizada para calcular os parâmetros da curva de


amolecimento são os sugeridos pelo CEB-FIP MC90 (Tabela 3.2) de acordo com a
classe do concreto e o diâmetro máximo do agregado graúdo.

Tabela 3.2 - Energia de fratura Gf (N.m/m2).


tamanho máximo do
agregado classes do concreto

(mm) C12 C20 C30 C40 C50 C60 C70 C80


8 30 40 50 60 70 75 85 90
16 50 60 75 90 105 115 125 135
32 80 105 130 150 170 190 200 220

Cabe observar que a determinação do comprimento equivalente através da


expressão 3.3 ameniza, mas não resolve o problema da dependência de malha. Os
autores advertem que a expressão tem proporcionado bons resultados para malhas
consideradas usuais, o que não é garantido para um refinamento qualquer.
Para a análise do vértice entre as duas superfícies, cujas características são
similares às do vértice da superfície de Rankine, é aplicada a generalização proposta por
Koiter. Como resultado, o retorno de um estado de tentativa inicial pertencente à região
delimitada pelos versores normais às duas superfícies concorrentes (Figura 3.6) se dá
indiretamente ao vértice. Primeiro, há uma projeção intermediária do estado de tentativa
{σ}t sobre a bissetriz do ângulo formado pelas direções dos vetores de fluxo plástico
das duas superfícies naquele ponto. Em seguida, esse estado intermediário retorna ao
vértice das superfícies de carregamento.

Figura 3.6 - Procedimentos de retorno às superfícies - caso do vértice.

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Análise de pavimentos de edifícios de concreto armado com a consideração da não-linearidade... 89

3.3.2.1 Atualização da matriz de rigidez (Rankine)


Por ocasião da fissuração, o concreto passa a apresentar ortotropia, cuja
orientação coincide com a dos eixos principais (1 e 2). A cada um dos eixos estão
relacionados valores tangentes dos módulos de deformação do concreto (ET,1, ET,2 e
βcr.GT,12), obtidos da análise uniaxial de cada direção principal isoladamente (lembrando
que, neste caso, ν →0). O ponderador βcr contempla a contribuição do engrenamento
dos agregados na transmissão da tensão de cisalhamento na fissura.
⎡C11 0 0 ⎤
[C] ep
12 = ⎢⎢ 0 C 22 0 ⎥⎥ (3.4)
⎢⎣ 0 0 C 33 ⎥⎦

A matriz de rigidez é atualizada através da matriz [ C] ep


xy
devidamente
relacionada ao sistema de eixos principais da seguinte forma:
[C]epxy = [T]T [C]12ep [T] (3.5)

⎡ cos 2 (α ) sen 2 (α ) sen (α ) cos(α ) ⎤


⎢ ⎥
onde: [T ] = ⎢ sen 2 (α ) cos 2 (α ) − sen (α ) cos(α ) ⎥ ;
⎢− 2. sen (α ) cos(α ) 2. sen (α ) cos(α )
⎣ ( )
cos 2 (α ) − sen 2 (α ) ⎥⎦

α - ângulo formado entre o eixo principal 1 e o eixo x (>0 se anti-horário).

4 CONSIDERAÇÃO DOS EFEITOS NO TEMPO

O objetivo deste item é a formulação de um modelo simples, mas


suficientemente preciso para a análise dos esforços, deslocamentos, tensões e
deformações de uma estrutura ao final de um determinado período de tempo.
O fenômeno básico para a apresentação das formulações é a fluência à
compressão manifestada desde um instante inicial t0, ao instante de interesse t (t=t0+Δt).
Nos respectivos instantes, não havendo restrições às deformações específicas do
concreto, as deformações podem ser escritas como:
σc
ε c (t 0 ) = (4.1)
E c (t 0 )
ε c (t ) = ε c (t 0 ) + ε cc (t , t 0 ) (4.2)

onde: ε c (t 0 ) - deformação instantânea em t0;


ε c (t ) - deformação no instante t;
ε cc (t 0 , t ) - fluência específica do concreto entre t0 e t;
σ c - tensão de compressão no concreto (constante entre t0 e t);
E c (t 0 ) - módulo de deformação longitudinal do concreto em t0.

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90 Richard Sarzi Oliveira & Márcio Roberto Silva Corrêa

A deformação do concreto no instante t também pode ser definida como a


superposição da fluência ocorrida entre t0 e t com a deformação inicial em t0,
empregando-se o coeficiente de fluência:
ε c (t ) = ε c (t 0 ).[1 + ϕ(t , t 0 )] (4.3)

onde: ϕ(t 0 , t ) - relação entre a deformação por fluência e a deformação inicial.

A implementação dos efeitos do tempo tem como base os parâmetros do modelo


de fluência proposto pelo CEB-FIP MC90.

4.1 Fluência

Retomando a expressão 4.3, a hipótese para o instante t0=28 dias, leva a um


coeficiente de fluência ( ϕ 28 ) calculado pelo CEB-FIP MC90 como:
ϕ 28 (t 0 , t ) = ϕ 0 β c (t − t 0 ) (4.4)
( )
onde: ϕ 0 = ϕ UR .β f cj .β(t 0 ) ;
UR
1−
ϕ UR = 1 + 100 ;
1
0,215.( h0 3 )
16,8
β(f cJ ) = ;
f cj
1
β(t 0 ) = ;
0,1 + (t 0f )0, 2

tT - idade inicial fictícia;


fcj - resistência média do concreto à compressão, prevista para os j dias;
h0 - espessura fictícia da peça.

4.1.1 Aplicação aos elementos lineares


A metodologia empregada neste trabalho baseia-se na decalagem do diagrama
tensão-deformação do concreto entre os instantes t0 e t. Com a hipótese da
independência entre o coeficiente de fluência (ϕ) e a respectiva tensão no concreto (σc),
FUSCO,P.B.(1981) sugere que, por efeito da fluência, o diagrama tensão-deformação
do concreto deva sofrer uma transformação afim, de razão ϕ, paralelamente ao eixo de
εc (Figura 4.1).

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Análise de pavimentos de edifícios de concreto armado com a consideração da não-linearidade... 91

Figura 4.1 - Influência da fluência sobre o modelo do concreto.

4.1.2 Aplicação aos elementos de placa


Para a análise dos elementos de placa submetidos aos efeitos da fluência, foram
mantidas as mesmas premissas adotadas para os elementos lineares. As relações
constitutivas que exprimem os comportamentos típicos de estado plano (tração-tração,
tração-compressão e compressão-compressão), têm apenas alterada a rigidez no que
concerne ao módulo de deformação longitudinal. Os estados desacoplados
(tração+tração e tração+compressão) seguem as mesmas leis constitutivas uniaxiais
apresentadas no item 4.1.1.

5 ASPECTOS SOBRE O DIMENSIONAMENTO

5.1 Introdução

O dimensionamento de estruturas empregando-se modelos constitutivos mais


representativos para os materiais tem sido, nos últimos anos, objeto de grande interesse
dentre os órgãos internacionais de regulamentação.
De acordo com o CEB: Bulletin d’Information no 227, “. . . dados teóricos e
experimentais atualmente demonstram que a hipótese da análise elástico-linear pode se
apresentar tanto a favor como contra a segurança. Esse aspecto é inaceitável para a
execução de um projeto seguro e econômico”.
O objetivo desta parte do trabalho é o de apresentar o estado da arte da análise
não-linear física aplicada ao projeto de estruturas, descrevendo as principais
metodologias cujo emprego ao dimensionamento tem sido estudado. Ao final, são
apresentados exemplos práticos envolvendo estruturais isolados.

5.2 Métodos disponíveis

Atualmente, são duas as correntes de pensamento que fundamentam as


metodologias atualmente em pauta. A primeira delas, liderada pelo pesquisador Giorgio
Macchi, defende a continuidade do método semi-probabilístico, apesar de não descartar
a necessidade de algumas adaptações necessárias. A segunda, tendo à frente Gert König
e Josef Eibl, adota uma postura revolucionária, e defende o conceito de um coeficiente
de segurança global relativo aos materiais.

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92 Richard Sarzi Oliveira & Márcio Roberto Silva Corrêa

5.2.1 Método semi-probabilístico


Os aspectos que dificultam a aplicação e, de certo modo, o entendimento da
lógica implícita no método, estão relatados a seguir.

5.2.1.1 Composição do carregamento


Uma primeira possibilidade de consideração do carregamento surge da analogia
com a análise de estruturas considerando-se a não-linearidade geométrica (NLG), onde
é comum o particionamento de γf (Figura 5.1).

Figura 5.1 - Aspecto da majoração do esforço parcial de projeto (Md,parcial).

Aplicado à análise de estruturas cujos comportamentos atendam a uma lei


constitutiva limitada por um valor último, esse procedimento pode levar ao estado
ilustrado na Figura 5.1. Supondo que, ao final da análise a seção esteja submetida a um
esforço suficientemente próximo a Mu, tal que a pós multiplicação desse esforço por γf3
possa conduzir a M>Mu, significa admitir que a capacidade resistente pré-estabelecida
para a seção é incompatível com o valor do carregamento aplicado. Esse problema, já
observado por OLIVEIRA (1997), gera um procedimento iterativo na busca da
convergência entre o momento fletor de projeto (Md), e o valor da capacidade última
resistente arbitrada para a seção transversal (Md,u).
A opção mais plausível, então, parece ser a aplicação do carregamento total de
projeto (majorado por γf) para a obtenção dos esforços, o que eliminaria o problema da
possível superação de Md,u.

5.2.1.2 Valores para as propriedades dos materiais


Valores característicos, ou de projeto, envolvem aspectos probabilísticos ligados
à segurança da estrutura no ELU, e por isso não exprimem o comportamento em serviço
esperado. No ELU, no entanto, de acordo com o método semi-probabilístico, as
características mecânicas dos materiais devem ser minoradas pelos coeficientes de
segurança. Isso pode levar, na maioria dos casos, ao mesmo problema assinalado na
Figura 5.2 pois, ao final da análise respeitando-se os valores dos esforços obtidos com
as propriedades médias dos materiais, estes devem ser minorados pelos coeficientes de
segurança.
Por outro lado, a adoção das propriedades de projeto dos materiais em toda a
estrutura pode conduzir a resultados pouco confiáveis e fisicamente distorcidos, uma
vez que a análise contemplaria uma estrutura mais deformável que a estrutura real,
prejudicando o aspecto da redistribuição de esforços.

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Análise de pavimentos de edifícios de concreto armado com a consideração da não-linearidade... 93

Figura 5.2 - Aspecto da minoração do esforço característico (Mk).

5.2.1.3 Propostas para o dimensionamento


Ao definir as propriedades de projeto do concreto altera-se, além da capacidade
resistente teórica (fck → fcd), também a relação constitutiva do material. Isso inviabiliza
a caracterização de uma relação constitutiva que seja capaz de ambos: representar
coerentemente as redistribuições de esforços (de acordo com as propriedades médias), e
ainda estar limitada a um valor convencional (fcd).
A definição de uma relação constitutiva para o aço é menos conflitante, haja
visto a invariabilidade (mesmo que convencional) de seu módulo de deformação
longitudinal (Es) com a resistência ao escoamento (Figura 5.3).

Figura 5.3 - Diagrama tensão-deformação para o aço CA-50ª.

5.2.1.4 Proposta de alteração da rigidez inicial


Essa proposta, apresentada por CÂMARA et al. (1994) e depois adotada por
SANTOS (1997) mantém, para o aço, o valor de projeto convencional obtido com
γs=1,15, mas promove uma modificação da lei constitutiva do concreto. O módulo de
elasticidade, calculado na origem com base no valor médio da resistência, é afetado por
um fator γc=1,20 como preconiza o CEB-FIP MC90 consoante à determinação dos
deslocamentos. A tensão de ruptura é a de projeto convencional (fcd=fck/ γc, com
γc=1,50), como mostra a Figura 5.4 devidamente adaptada ao γc=1,40.

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5.2.1.5 Proposta da limitação da tensão máxima


Neste trabalho, propõe-se a composição de duas relações constitutivas, ou seja,
uma lei baseada no valor médio de resistência até que seja atingida a tensão de projeto
(fcd). Em seguida, a curva tensão-deformação segundo os valores médios é substituída
por uma relação elastoplástica perfeita limitada (Figura 5.4).

4,0

3,5
CEB-FIP MC90 - v al. médios
CEB-FIP MC90 - v al. de projeto
3,0 propos ta des te trabalho
SA NTOS (1997)
te ns ão (k N/cm 2 )

2,5

2,0

1,5

1,0

0,5

d e fo r m ação
0,0
0,000 0,001 0,002 0,003 0,004 0,005
Figura 5.4 - Diagramas para o concreto C-30 (CEB-FIP MC90).

5.2.2 Método dos coeficientes globais


A proposta de emprego do método dos coeficientes globais tem o objetivo,
segundo o texto do CEB: Bulletin d’Information no 239, de estabelecer uma
metodologia consistente que seja aplicável a todo tipo de modelo ou de estrutura.
O conceito de coeficiente global (γgl) doravante empregado quer referir-se
apenas à parcela da segurança relativa à resistência da estrutura, de modo que:

(γ q .Q + γ g .G) ≤ γR (5.1)
gl

onde: R é a capacidade resistente da estrutura empregando-se as propriedades médias


dos materiais.

A maior discussão quanto ao emprego do método restringe-se à definição do


valor do coeficiente global a ser empregado. Se as propriedades médias dos materiais
forem definidas simplificadamente como:
f cm = 1,1.f ck
(5.2)
f ym = 1,1.f yk

pode-se mostrar que o γgl para uma seção transversal de concreto armado situa-se,
aproximadamente, entre 1,265 (quando a ruptura se dá pela armadura de flexão) e 1,650
(quando a ruptura se dá pelo concreto), se for empregado γc=1,5. No entanto, quando a

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Análise de pavimentos de edifícios de concreto armado com a consideração da não-linearidade... 95

ruptura da seção se dá pela concomitância dos dois modos, não existe uma descrição
para o coeficiente (Figura 5.5).

M pl /M pl,d

1,650
?
1,265

ρ
ruptura pelo aço ruptura pelo concreto

Figura 5.5 - Diagrama idealizado para o γgl esperado para uma estrutura de concreto armado
submetida à flexão. Carregamento proporcional.

onde: Mpl – momento de plastificação obtido com os valores médios dos materiais;
Mpl,d – momento de plastificação obtido com as propriedades de projeto.

Esses valores, apresentados por EIBL;SCHMIDT-HURTIENNE (1997),


também podem ser caracterizados analiticamente:
aço concreto
f yk f
f yd = ; f ym = 1,10.f yk f cd = ck ; f cm = 1,10.f ck (5.3)
1,15 1,5
f ym f cm
onde: = 1,10.1,15 = 1,265 = 1,10.1,5 = 1,650
f yd f cd

De um modo geral, as vigas são projetadas para um ELU definido pela


deformação excessiva das armaduras de flexão, enquanto que os pilares,
preferencialmente, pelo esmagamento do concreto. Nessa linha de raciocínio,
LOURENÇO et al. (1992) propõem uma análise global segmentada, de acordo com o
modo de ruptura: γgl = 1,5 se a ruptura for pelo concreto (1,5 pois os autores propõem
fcm=fck), e γgl = 1,15 para a ruptura por deformação excessiva da armadura.
A solução encontrada pelos membros do CEB Task Group 2.1 Non-linear design
methods and safety concepts, e sobre a qual pesam as maiores críticas, foi a de adaptar o
valor da resistência média do concreto (fcm) de acordo com pesquisas finalizadas e em
andamento na Universidade de Leipzig (KÖNIG et al. (1997)4 apud CEB: Bulletin
d’Information no 239). Segundo os autores, o valor da resistência média do concreto,
medido in-situ é de 0,85 do respectivo valor característico medido em laboratório.
f cm = 0,85.f ck (5.4)

Uma vez aceita a validade da relação 5.4, os coeficientes referidos a ambos os


tipos de ruptura passam a ser bastante próximos e, para efeito prático, iguais a 1,27.
aço concreto

4
KÖNIG,G.;SHOUKOV,D.;JUNGWIRTH,F.(1997). Sichere beton production für stahlbetontragwerke, Intermediate
report 2, March. apud CEB: Bulletin d’Information no 239.

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96 Richard Sarzi Oliveira & Márcio Roberto Silva Corrêa

f yk f ck
f yd = ; f ym = 1,10.f yk f cd = ; f cm = 0,85.f ck (5.5)
1,15 1,5
f ym f cm
onde: = 1,10.1,15 = 1,265 = 0,85.1,5 = 1,275
f yd f cd

A adaptação do método aos coeficientes indicados pelos códigos de


normalização brasileiros é apresentada a seguir. O coeficiente de segurança aplicado ao
aço é γs=1,15. O coeficiente aplicado ao concreto, de acordo com a NBR-8681/84 deve
valer γc=1,4, o que leva a um valor de ruptura pelo concreto de:
f cm
= 0,85.1,4 = 1,19 (5.6)
f cd
Se o objetivo final é o de manter fixo o coeficiente de segurança, quer seja a
ruptura pelo concreto ou pelo aço, deve-se agora alterar o valor médio para o
escoamento do aço, de modo a se obter um coeficiente de 1,19.
1,19
f ym = .f ck = 1,035.f ck (5.7)
1,15
A seguir, são realizadas uma série de aferições com o objetivo de explorar
melhor as respostas mecânicas de seções transversais, agora empregando-se γc=1,4. A
amplitude dos estudos constam da Tabela 5.3, e os resultados apresentados, convém
ressaltar, dão apenas um indicativo sobre o comportamento estrutural.

Tabela 5.3 - Resumo dos casos analisados com γc=1,4.

Os resultados obtidos são apresentados nas figuras a seguir.

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 9, n. 41, p. 77-108, 2007


Análise de pavimentos de edifícios de concreto armado com a consideração da não-linearidade... 97

1,200
sem armadura de compressão
1,190

1,180

1,170

1,160

Mpl / Mpl,d
1,150
C-20
C-25
1,140 C-30
C-35
1,130 C-40
C-45
1,120 C-50

1,110

1,100

1,090
0,000 0,005 0,010 0,015 0,020 0,025 0,030 0,035 0,040
taxa de armadura - ρ

Figura 5.6 - γgl. FSr-01 a FSr-07.

1,20
armadura de compressão (porta estribos: 2 φ 6,3 mm): ρ' = 0,05%
1,19

1,18

1,17

1,16
Mpl / Mpl,d

1,15
C-20
1,14 C-25
C-30
1,13 C-35
C-40
1,12 C-45
C-50
1,11

1,10

1,09
0,000 0,005 0,010 0,015 0,020 0,025 0,030 0,035 0,040
taxa de armadura - ρ

Figura 5.7 - γgl. FSr-08 a FSr-14.

1,20
armadura de compressão: ρ' = 0,25 %
1,19

1,18

1,17

1,16
Mpl / Mpl,d

1,15

1,14

1,13

1,12 C-20
C-25
C-30
1,11
C-35
C-40
1,10 C-45
C-50
1,09
0,000 0,005 0,010 0,015 0,020 0,025 0,030 0,035 0,040
taxa de armadura - ρ

Figura 5.8 - γgl. FSr-15 a FSr-21.

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98 Richard Sarzi Oliveira & Márcio Roberto Silva Corrêa

1,20
armadura de compressão: ρ' = 0,50 %
1,19

1,18

1,17
C-20
1,16
C-25
C-30
C-35
Mpl / Mpl,d

1,15 C-40
C-45
1,14 C-50

1,13

1,12

1,11

1,10

1,09
0,000 0,005 0,010 0,015 0,020 0,025 0,030 0,035 0,040
taxa de armadura - ρ

Figura 5.9 - γgl. FSr-22 a FSr-28.

1,20
sem armadura de compressão

1,19

1,18

C-20
C-25
1,17 C-30
Mpl / Mpl,d

C-35
C-40
1,16 C-45
C-50

1,15

1,14

1,13
0,000 0,005 0,010 0,015 0,020 0,025 0,030 0,035 0,040
taxa de armadura - ρ

Figura 5.10 - γgl. FSt-01 a FSt-07.

1,20
armadura de compressão mínima: ρ'=0,100 a 0,197%

1,19

1,18

1,17
Mpl / Mpl,d

C-20
C-25
1,16 C-30
C-35
C-40
1,15 C-45
C-50

1,14

1,13
0,000 0,005 0,010 0,015 0,020 0,025 0,030 0,035 0,040
taxa de armadura - ρ

Figura 5.11 - γgl. FSt-08 a FSt-14.

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Análise de pavimentos de edifícios de concreto armado com a consideração da não-linearidade... 99

1,20
armadura de compressão: ρ'=0,50%

1,19

1,18 C-20
C-25
C-30
1,17 C-35

Mpl / Mpl,d
C-40
C-45
C-50
1,16

1,15

1,14

1,13
0,000 0,005 0,010 0,015 0,020 0,025 0,030 0,035 0,040
taxa de armadura - ρ

Figura 5.12 - γgl. FSt-15 a FSt-21.

1,20
armadura simétrica: ρ' = ρ

1,19
C-20
C-25
C-30
C-35
Mpl / Mpl,d

C-40
1,18
C-45
C-50

1,17

1,16
0,000 0,005 0,010 0,015 0,020 0,025 0,030 0,035 0,040
taxa de armadura - ρ

Figura 5.13 - γgl. FNC, e=10 cm.

1,20
armadura simétrica: ρ' = ρ
C-20
C-25
C-30
1,19 C-35
C-40
C-45
C-50
Mpl / Mpl,d

1,18

1,17

1,16
0,000 0,005 0,010 0,015 0,020 0,025 0,030 0,035 0,040
taxa de armadura - ρ

Figura 5.14 - γgl. FNC, e=30 cm.

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100 Richard Sarzi Oliveira & Márcio Roberto Silva Corrêa

1,20
armadura simétrica: ρ' = ρ

C-20
C-25
C-30
1,19 C-35
C-40
C-45
C-50
Mpl / Mpl,d

1,18

1,17

1,16
0,000 0,005 0,010 0,015 0,020 0,025 0,030 0,035 0,040
taxa de armadura - ρ

Figura 5.15 - γgl. FNC, e=40 cm.

De um modo geral, os diagramas indicam que o emprego do coeficiente global


de segurança relativo aos materiais apresenta um bom potencial a ser explorado,
principalmente se resolvidos alguns dos problemas aqui observados. As seções
submetidas à flexão simples mostraram-se bastante sensíveis à introdução de armadura
negativa, revelando-se, para as seções retangulares, o menor coeficiente γgl (1,092 para
ρ’=0,5%). Nas seções T submetidas à flexão simples, o efeito da introdução da
armadura foi menos intenso, e o coeficiente γgl apresentou um valor mínimo igual a 1,13
para ρ’=0,5%. As seções sob flexão normal composta apresentaram tanto maior
variabilidade do coeficiente γgl quanto maior a excentricidade da força normal. Há que
se ressaltar que, em todos os casos estudados, houve uma maior estabilidade de γgl à
medida em foram empregados concretos de classes superiores.
O comportamento descrito para γgl, bem como as conclusões parciais, são
aplicáveis tão somente à análise de seções ou de estruturas isostáticas cujo
comportamento no ELU coincide com o de uma seção transversal típica. O emprego
dessas idéias ao dimensionamento de estruturas hiperestáticas, onde a redistribuição dos
esforços seja possível, pode levar a um comportamento ainda melhor para γgl, mas que
deve ser corretamente qualificado e quantificado através de análises de confiabilidade
estrutural. HENRIQUES (1998) analisa dois casos de vigas de concreto armado sob o
enfoque da confiabilidade empregando o método de simulação de Monte Carlo: viga
biengastada e viga apoiada-engastada. Foram consideradas como variáveis aleatórias as
resistências à compressão do concreto e de escoamento do aço à tração, além da altura
da viga (podendo variar até 0,7 cm). A resistência média à compressão do concreto foi
considerada de acordo com a CEB-FIP MC90, ou seja: fcm=fck+8,0 MPa. Os resultados,
para diversas classes de concreto, e diversas taxas de armadura, mostram que a relação
entre o coeficiente global (referido aos materiais) para a estrutura (γgl,est.) e para a seção
(γgl), dentre os casos analisados, é igual ou superior a 1 (parâmetro a). Um resumo das
curvas propostas por Henriques, relativamente à profundidade da linha neutra (x/d) na
seção onde ocorre o ELU, é apresentado na Figura 5.16. Nota-se que o parâmetro a
supera a unidade para x/d entre 0,35 e 0,52.

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Análise de pavimentos de edifícios de concreto armado com a consideração da não-linearidade... 101

Figura 5.16 - Relação a = γgl,est./ γgl.

5.2.2.1 Particularização às lajes


A natureza tensorial dos esforços observados nas lajes, que acabam por
impossibilitar a caraterização de um comportamento mecânico típico de seção
transversal, dificulta o avanço no estudo do coeficiente global de segurança relativo aos
materiais para esse elemento estrutural. Um estudo (determinístico) sobre a segurança
envolvendo as lajes de concreto armado deveria contemplar uma gama razoável de
variáveis fartamente combinadas entre si, destacando-se: relação entre os lados,
condições de apoio, espessura, resistência característica do concreto e do aço, e taxas de
armadura. Obviamente, um estudo com essas características consumiria um período de
tempo tal que, por si só, inviabilizaria a sua inclusão neste trabalho. O que se faz,
paleativamente, com o objetivo único de mostrar a aplicabilidade do método também
com relação às lajes, é estabelecer alguns valores para γgl relacionados a uma laje
quadrada (400cm x 400 cm) apoiada nos quatro lados. O concreto empregado é o C-30;
o aço é o CA-50A. Foram empregadas apenas armaduras positivas, com as mesmas
praticadas nas direções x e y.

1,36

1,35

1,34

1,33
M pl / Mpl,d

1,32

1,31

1,30

1,29
0,000 0,001 0,002 0,003 0,004 0,005 0,006 0,007 0,008 0,009 0,010
taxa de armadura - ρ

Figura 5.17 - γgl para uma laje quadrada apoiada.

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102 Richard Sarzi Oliveira & Márcio Roberto Silva Corrêa

Os resultados retratam um bom comportamento de γgl para a estrutura analisada


(laje apoiada). O menor valor observado, de 1,293 (para uma taxa ρ=1,0%), é cerca de
5% inferior ao maior deles: 1,350 para ρ=ρmin=0,116%.

5.3 Exemplos de aplicação

Os exemplos são baseados nas características mecânicas dos materiais: concreto


C-30 (fck=30 MPa); e aço CA-50A, cujas propriedades médias e de projeto constam da
Tabela 5.4. Para o aço, os valores médios de resistência à tração e à compressão são os
próprios valores característicos, uma vez que essas propriedades apresentam pequena
variabilidade. O módulo de elasticidade pode ser considerado invariável. Os valores
relativos ao concreto são obtidos através das relações do CEB-FIP MC90 sendo que,
para o valor da resistência à tração característica (fctk), adota-se a média entre os valores
superior e inferior indicados, o que na prática corresponde à própria resistência à tração
média (fctm).

Tabela 5.4 - Características mecânicas dos materiais empregados nos exemplos.


concreto aço
propr. módulo de def. longitudinal Ec=3355 kN/cm2 Es=21000 kN/cm2
médias resistência à compressão fcm=3,80 kN/cm2 fyk=50,00 kN/cm2
resistência à tração fctm=0,29 kN/cm2 fyk=50,00 kN/cm2
propr. módulo de def. longitudinal Ec=3355 kN/cm2 Es=21000 kN/cm2
de resistência à compressão fcd=1,82 kN/cm2 fyd=43,48 kN/cm2
projeto resistência à tração fctd=0,21 kN/cm2 fyd=43,48 kN/cm2

O carregamento é composto apenas de cargas uniformemente distribuídas: uma


carga permanente g=25,0 kN/m, e uma sobrecarga q=5,0 kN/m.
ELS (CQP): Fd,serv = (1,0x25,0+0,2x5,0) kN/m
Fd,serv = 26,0 kN/m (5.8)
ELS (CR): Fd,serv = (1,0x25,0+1,0x5,0) kN/m
Fd,serv = 30,0 kN/m (5.9)
ELU (última): Fd,u = 1,4x25,0+1,4x5,0 kN/m
Fd,u = 42,0 kN/m (5.10)

Nestes exemplos, a porcentagem de plastificação imposta estará sempre referida


à porcentagem de diminuição da armadura de flexão tracionada.

5.3.1 Viga apoiada-engastada


O segundo exemplo refere-se à viga apresentada na Figura 5.18.

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Análise de pavimentos de edifícios de concreto armado com a consideração da não-linearidade... 103

Figura 5.18 - Viga apoiada-engastada - exemplo 2.

a) dimensiona-se a estrutura em regime elástico-linear atendendo ao ELU entre


os domínios 3 e 4.
Md- = 18900 kN.cm → d=44 cm; h=47 cm; A ,s =13,19 cm2; As=0,62 cm2
Md+ = 10631 kN.cm → d=44 cm; h=47 cm; A ,s =0,62 cm2; As=6,28 cm2
b) determina-se a flecha instantânea e, principalmente, a flecha no tempo
infinito, considerando-se:
• a armadura do item a);
• propriedades médias dos materiais;
• carregamento de serviço (combinação quase-permanente)
• por simplicidade, ϕ28=2,5 (adotado).
f0 = 0,77 cm (flecha no instante de aplicação do carregamento)
f∞ = 1,23 cm < l/250 (= 2,4 cm)
c) para a combinação última normal, utilizando o diagrama tensão-deformação
para o concreto proposto na Figura 5.4 (diagrama com as propriedades médias,
seccionado no valor de fcd) e as propriedades de projeto do aço, verificam-se as
deformações máximas (nas seções críticas):
seção de M+máx : concreto: ε min
c = -0,00077 ; aço: ε max
s = 0,00189
seção de M-máx : concreto: ε min
c = -0,00210 ; aço: ε max
s = 0,00228

Como ambas as deformações estão dentro do espectro permitido para o ELU,


admite-se que a estrutura esteja segura para a configuração adotada.
A NB1-revisão 2000 traz uma proposta para a verificação de possíveis
redistribuições impostas à estrutura. Reduzindo-se um momento fletor de M para δM
em uma determinada seção transversal, a relação entre o coeficiente de redistribuição δ
e a posição da LN nessa seção (x/d), para o momento reduzido δM, é dada por:
δ ≥ 0,44 + 1,25.(x / d ) para concretos com fck ≤ 35 MPa (5.11)
δ ≥ 0,56 + 1,25.(x / d ) para concretos com fck > 35 MPa (5.12)
O coeficiente de redistribuição deve, ainda, obedecer aos seguintes limites:
δ ≥ 0,75 em qualquer caso;
δ ≥ 0,90 para estruturas de nós móveis.
E a posição da linha neutra deve, no ELU, satisfazer aos seguintes limites:
x/d ≤ 0,50 para concretos com fck ≤ 35 MPa

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 9, n. 41, p. 77-108, 2007


104 Richard Sarzi Oliveira & Márcio Roberto Silva Corrêa

x/d ≤ 0,40 para concretos com fck > 35 MPa


Supondo que a seção do engaste esteja solicitada no estádio III, a profundidade
da LN deve valer: x=21,40 cm, ou seja, x/d=0,486. Essa posição de LN satisfaz aos
quesitos mínimos mas, de acordo com a expressão 5.11, não permite redistribuições,
pois δ = 1,05.
Estabelecendo uma a análise não-linear, torna-se possível a imposição de
plastificações à viga quantificando-se, coerentemente, as redistribuições decorrentes.
d) como foi dimensionada com os esforços obtidos em regime elástico-linear, a
viga deve apresentar reservas quanto aos aspectos de flechas e de deformações. Isso
pode viabilizar a imposição de plastificações em determinadas regiões, buscando um
melhor aproveitamento das características geométricas e mecânicas da viga. Com esse
objetivo, propõe-se uma plastificação de 18% (o que eqüivaleria a uma redução de 12%
no momento de cálculo segundo as tabelas de dimensionamento) para a seção do
engaste, mantendo-se a armadura da região de momento positivo.
Md- = 16700 kN.cm → d=44 cm; h=47 cm; A ,s =10,81 cm2; As=0,62 cm2
Md+ → A ,s =0,62 cm2; As=9,30 cm2

Com essa nova distribuição de armaduras, retorna-se ao item b) do


procedimento de verificação, agora denominado b1) (primeira iteração):
b1) f0 = 0,67 cm (flecha no instante de aplicação do carregamento)
f∞ = 1,11 cm < l/250 (= 2,4 cm)
c1) seção de M+ máx : concreto: ε min
c = -0,00086 ; aço: ε max
s = 0,00207
seção de M- máx : concreto: ε min
c = -0,00331 ; aço: ε max
s = 0,00391

Sugere-se um decréscimo de aproximadamente 37% na taxa de armadura, ou de


29% em relação ao momento fletor (de acordo com a NB1-revisão 2000) para a região
do engaste, que passaria a estar submetida à ação de um momento fletor Md=13387
kN.cm (ΔMd=13387-18900=-5513 kN.cm). Essa plastificação acresce o momento fletor
máximo positivo de aproximadamente ΔMd/2=2756,5 kN.cm.
Md- = 13387 kN.cm → d=44 cm; h=47 cm; A ,s =8,22 cm2 ;As=0,62 cm2;
Md+ = 13387 kN.cm → d=44 cm; h=47 cm; A ,s =0,62 cm2 ;As=8,22 cm2;
Como procedido anteriormente, retorna-se ao item b):
b2) f0 = 0,76 cm (flecha no instante de aplicação do carregamento)
f∞ = 1,21 cm < l/250 (= 2,4 cm)
c2) seção de M+ máx : concreto: ε min
c = -0,00088 ; aço: ε max
s = 0,00172
seção de M- máx : concreto: ε min
c = -0,00304 ; aço: ε max
s = 0,00425

As aberturas de fissuras para as três opções analisadas (considerando-se Φ≅12


mm), e para as regiões do vão e do engaste, constam da Tabela 5.5.

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Análise de pavimentos de edifícios de concreto armado com a consideração da não-linearidade... 105

Tabela 5.5 - Abertura de fissuras para a viga apoiada-engastada (mm).


opção wr - vão wr - engaste
inicial 0,16 0,17
1 0,13 0,17
2 0,15 0,21

As aberturas das fissuras apresentaram-se com diferentes valores para os três


casos analisados. De um modo geral, a pior condição foi observada para a opção 2 na
região do engaste, que apresentou uma abertura de 0,21 mm.
Os resultados para o coeficiente global γgl, apresentados na Tabela 5.6,
confirmam a armadura inicial como uma das possíveis ao projeto seguro, e habilitam as
demais opções como sendo seguras.

Tabela 5.6 - Valores de γgl para a viga apoiada-engastada.


opção armaduras (cm2) carregamento carregamento γgl
As A’s caract. médias caract. de proj.
inicial 6,28 13,19 55,0 kN/m 43,6 kN/m 1,26
1 9,30 10,81 63,0 kN/m 45,2 kN/m 1,39
2 8,22 8,22 58,1 kN/m 41,6 kN/m 1,40

5.3.2 Laje simplesmente apoiada


A laje empregada neste exemplo é aquela apresentada na Figura 5.19.

Figura 5.19 - Laje apoiada nos quatro lados - exemplo 4.

Supondo ser uma laje de pavimento usual de concreto armado, o carregamento


convencional, bem como a combinações empregadas para o dimensionamento no ELU e
a verificação dos ELS devem ser:
g: 2,5 kN/cm2 (peso próprio, supondo h=10 cm);
1,0 kN/cm2 (revestimento);
q: 3,0 kN/cm2 (sobrecarga).

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106 Richard Sarzi Oliveira & Márcio Roberto Silva Corrêa

ELU: 1,4x(2,5+1,0)+1,4x3,0 = 9,1 kN/m2;


ELS: 1,0x(2,5+1,0)+0,2x3,0 = 4,1 kN/m2.
O pré-dimensionamento, a partir dos esforços obtidos a partir das hipóteses da
elasticidade, é feito de acordo com as tabelas de PINHEIRO (1996).
Mx = My = 6,15 kN.m/m;
Asx = Asy = 1,62 cm2/m.
Considerando essa configuração de armaduras, as flechas calculadas nos
instantes t0 e t=∞ foram (considerando-se, simplificadamente, ϕ28=2,5):
f0 = 0,15 cm (flecha no instante de aplicação do carregamento)
f∞ = 0,50 cm < l/250 (= 2,3 cm)

O dimensionamento considerando-se a espessura h=10 cm leva à uma taxa de


armadura pequena, o que sugere o mau aproveitamento do concreto. Alternativamente,
adota-se uma nova espessura para a laje, agora de 9 cm, o que significa uma altura útil
d=8,1 cm. As novas armaduras são:
Asx = Asy = 1,82 cm2/m.

Para a nova configuração, os deslocamentos calculados são de:


f0 = 0,20 cm
f∞ = 0,66 cm
Para as duas taxas de armadura, foram calculados os coeficientes globais γgl, que
ficaram em 1,31 para a opção h=10 cm, e 1,30 para h=9,0 cm.

6 CONCLUSÃO

Os elementos finitos, bem como os modelos constitutivos empregados na


descrição do comportamento mecânico dos elementos estruturais, mostraram-se
suficientemente precisos para a representação dos estados limites último e de serviço
abordados neste trabalho. Devido à maior capacidade de representação, os elementos
finitos estratificados receberam maior ênfase em detrimento daqueles formulados no
campo dos momentos fletores e das curvaturas (elementos não-estratificados).
A obtenção de uma metodologia segura para o dimensionamento considerando-
se as leis constitutivas não-lineares ainda está por ser consolidada. A metodologia semi-
probabilística, ou mesmo a do coeficiente global, são ainda passíveis de duras críticas, e
necessitam ser melhor estudadas antes que o seu uso prático seja estabelecido. O futuro
dessa área aponta para a confiabilidade estrutural como ferramenta para a viabilização
de uma metodologia determinística segura.

7 REFERÊNCIAS

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CONGRESSO IBERO LATINO-AMERICANO SOBRE MÉTODOS
COMPUTACIONAIS PARA ENGENHARIA, Rio de Janeiro. v.2, p.741-749.

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 9, n. 41, p. 77-108, 2007


Análise de pavimentos de edifícios de concreto armado com a consideração da não-linearidade... 107

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CEB-FIP Model code 1990 - final draft. Bulletin D’Information, n. 203-205, 1991.

CEB-FIP. Bulletin D’Information, n. 229 New developments in non-linear analysis


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CEB-FIP. Bulletin D’Information, n. 239 Non-linear analysis / Safety evaluation and
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CHEN, A. C. T.; CHEN, W. F. (1975). Constitutive relations for concrete. Journal of


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Escola de Engenharia de São Carlos – Universidade de São Paulo.

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ISSN 1809-5860

AVALIAÇÃO DA RIGIDEZ ROTACIONAL EM


ESTRUTURAS PLANAS DE MADEIRA CONCEBIDAS
POR ELEMENTOS UNIDIMENSIONAIS COM DOIS
PARAFUSOS POR NÓ
André Luis Christoforo1 & Francisco Antonio Rocco Lahr2

Resumo
Neste trabalho, é desenvolvido um programa através do método dos deslocamentos, em
que o mesmo leva em consideração a influência do efeito da semi-rigidez rotacional nas
ligações formadas por dois parafusos sobre o comportamento mecânico da estrutura.
Esta configuração de parafusos é devidamente escolhida em função de sua corrente
aplicação em estruturas de madeira, principalmente em estruturas auxiliares ou de
cobertura. Vários exemplos de estruturas típicas de cobertura são executados
considerando-se as três formas que o presente programa analisa, evidenciando-se a
importância do comportamento semi-rígido sobre as ligações.

Palavras-chave: ligações semi-rígidas; método dos deslocamentos; estruturas de


madeira.

1 INTRODUÇÃO

As ligações são os elementos responsáveis pela redistribuição dos esforços


entre os elementos estruturais. Na engenharia, foram elaborados alguns modelos
teóricos ideais de cálculo para as ligações, baseando-se em algumas hipóteses
simplificadoras de cálculo, como a que considera que os esforços solicitantes são
transmitidos integralmente entre os elementos, evidenciando-se o comportamento
teoricamente indeformável das ligações. Estes modelos ideais ou tradicionais são: a
rótula e o engaste perfeito.
Com o advento da análise experimental, o engenheiro descobriu que não só os
materias empregados na construção da ligação eram responsáveis pela sua rigidez,
em virtude desta variar de acordo com a disposição dos mesmos.
De acordo com RIBEIRO (1997) o estudo das ligações teve início na Inglaterra
no início do século XIX, com WILSON & MOORE, onde foram ensaiadas ligações
rebitadas do tipo viga-coluna, com a finalidade de analisar o seu comportamento
considerando a relação momento-rotação.

1
Doutor em Engenharia de Estruturas - EESC-USP
2
Professor do Departamento de Engenharia de Estruturas, frocco@sc.usp.br

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 9, n. 41, p.109-128, 2007


110 André Luis Christoforo & Francisco Antonio Rocco Lahr

Um trabalho de suma importância foi o de JOHNSTON & MOUNT (1942), que


analisaram pórticos com ligações semi-rígidas. Posteriormente, SHOROCHNIKOFF
(1950) verificou a influência das forças por ação do vento em ligações semi-rígidas
para o mesmo tipo de estrutura.
LOTHERS (1951) propôs equações para representar a restrição elástica de
ligações semi-rígidas.
FRYE & MORRIS (1975) utilizaram processos iterativos para obter o
comportamento das ligações. KRISHNAMURTHY ET al. (1979) aplicaram o método
dos elementos finitos (MEF) na obtenção de curvas de momento-rotação para
ligações com chapa de aço. JONES ET al. (1980) verificaram a influência das ligações
semi-rígidas em colunas de aço. SIMITSES & VLAHINOS (1982), também estudaram
a estabilidade de pórticos planos com ligações semi-rígidas.
As características estruturais das ligações semi-rígidas foram obtidas a partir
de ensaios em escala real. MARAGHECHI & ITANI (1984) verificaram que as rigidezes
axial e rotacional das ligações têm influência apreciável nas solicitações das/ barras,
enquanto que a rigidez ao cisalhamento tem seu efeito desprezível.
A deformabilidade das ligações entre os elementos estruturais de madeira são
geralmente determinadas por meio de resultados experimentais, e muito raramente
são elaborados modelos analíticos que representem o comportamento da resistência e
da rigidez da ligação.
Os resultados baseados apenas em procedimentos puramente experimentais
são na maioria das vezes muito caros e, além disso, existe limitação na aplicação dos
resultados, por serem aplicados a ligações com as mesmas dimensões e
detalhamentos.
Uma outra forma da determinação qualitativa e quantitativa na rigidez da
ligação é desenvolver uma modelagem analítica que consiga retratar o comportamento
da mesma, entretanto, como ligação revela uma certa complexidade na questão do
seu comportamento, é necessário que se faça juntamente com a modelagem uma
análise experimental para a validação desta modelagem teórica.
Uma outra alternativa para a determinação da deformabilidade das ligações é
por meio de procedimentos numéricos, procedimentos estes utilizados para o estudo
das ligações parafusadas, como proposta do presente trabalho. Esses surgiram e
ganharam amplitude de uso a partir do advento dos computadores, quando então,
vários métodos numéricos surgiram na tentativa da resolução de problemas estruturais
que anteriormente eram calculados de forma analítica.
A análise numérica do comportamento semi-rígido das ligações começou com
WEAVER & GERE (1986) com o método da flexibilidade. A partir deste método, foi
possível determinar os coeficientes de semi-rigidez rotacional e de translação na
matriz de rigidez de um elemento de barra de pórtico. Posteriormente, foram feitas
análises experimentais em estruturas de madeira, com o objetivo de testar e validar
suas formulações teóricas desenvolvidas.
GESUALDO (1987), estudou a contribuição das deformações das ligações na
rigidez da estrutura por meio de um ensaio de um modelo de viga treliçada de
madeira (Aspidosperma polyneuron), com dez metros de comprimento, em duas
maneiras diferentes: interligadas por anéis de aço e interligadas por cavilhas partidas
de madeira (Eucalyptus citriodora), com força abaixo do limite de proporcionalidade. O
estudo teórico restringiu-se na implementação numérica de um algoritmo em um

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, , v. 9, n. 41, p.109-128, 2007


Avaliação da rigidez rotacional em estruturas planas de madeira concebidas por elementos... 111

programa para estruturas planas que contabilizasse a deformação pela não


linearidade geométrica para um nó concebido por n parafusos. Foram contabilizados
os efeitos de mola rotacional e axial, desprezando-se o efeito da mola com rigidez
transversal ao elemento por causa da pequena influência que esta gera na ligação,
quando comparada com as duas outras anteriormente citadas. A comparação dos
resultados teóricos com as dos resultados experimentais mostrou-se aceitável,
confirmando, portanto, a importância da contribuição das deformações das ligações
na rigidez da estrutura.
FERREIRA (1999) desenvolveu uma metodologia analítica para o cálculo de
deformabilidades de ligações típicas de concreto pré-moldado, levando-se em conta
os mecanismos básicos de deformação na ligação. Foram estudadas duas ligações
típicas viga-pilar de concreto pré-moldado e posteriormente foram desenvolvidas as
formulações analíticas que representavam o comportamento de ambas; a primeira
ligação é formada com o auxílio de uma almofada de elastômero e chumbador (cálculo
analítico da deformabilidade ao cisalhamento da ligação) e a segunda ligação é tida
como resistente à flexão formada com o auxílio de chapas soldadas (cálculo analítico
da deformabilidade à flexão da ligação). Para os protótipos com almofada de
elastômero e chumbador, foram em média, 23 % superiores aos valores obtidos com
relação aos dados experimentais, e a resistência ao cisalhamento atingiu valores entre
96 e 100 % com relação aos obtidos experimentalmente. A ligação com chapa soldada
apresentou uma rigidez da ordem de 83 % da rigidez monolítica e o valor calculado da
rigidez à flexão secante foi de 5 % superior à rigidez apresentada pela ligação. Em
função dos dados experimentais obtidos, chegou-se à conclusão de que a análise
analítica das ligações desses tipos, na questão das medidas das suas
deformabilidades, representaram o problema de forma coerente e concisa em função
da pequena margem de erros entre os resultados analíticos e experimentais obtidos.
ZHAO ET al (2000) introduziram o conceito e aplicação do sistema nodal
Oktalok. O método de projeto proposto foi baseado na suposição que os nós são
presos na extremidade e a rigidez rotacional é zero. Contudo, a capacidade estimada
do pórtico pode aumentar significativamente, dependendo da rigidez rotacional dos
nós. Os testes de rigidez e as simulações do elemento finito foram usados para
determinar a rigidez rotacional dos nós Oktalok. Os testes de flambagem de coluna e
análises de elemento finito não linear foram realizados para determinar a capacidade
das colunas em condições últimas, utilizando ligações semi-rígidas. Uma simples
fórmula para o fator efetivo de comprimento de flambagem da coluna foi baseada nas
investigações teóricas e experimentais descritas acima.

2 DESENVOLVIMENTO DA MATRIZ DE RIGIDEZ MODIFICADA

A análise numérica do modelo será desenvolvida a partir da modificação da


matriz de rigidez de um elemento prismático e unidimensional, analisado em um plano.
Este elemento possui três graus de liberdade por nó, sendo dois graus quanto a
translação e um grau quanto à rotação, de acordo com a figura 2.1.a.
A modificação da rigidez rotacional nas extremidades do elemento estrutural
será efetuada através da introdução de coeficientes, obtidos a partir da modificação
matemática da rigidez das mola ( S R ) , de acordo com a figura 2.1.b.

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112 André Luis Christoforo & Francisco Antonio Rocco Lahr

1 4

SRi SRj
3 6
2 5
(a) (b)

Figura 2.1 - Elemento com três graus de liberdade.

Considerando-se para os valores desses coeficientes números grandes, isto é,


9
próximo de 10 , a matriz de rigidez modificada será aquela tradicionalmente utilizada
para estruturas planas com três graus de liberdade. No caso dos valores dos
−9
coeficientes serem considerados números pequenos, isto é, próximo de 10 , a matriz
de rigidez será aquela obtida para estruturas planas com dois graus de liberdade.
Desta maneira, os valores intermediários têm o comportamento das estruturas
planas com ligações semi-rígidas.
A obtenção da matriz de rigidez do elemento para um elemento com ambas as
extremidades semi-rígidas, será apresentada a seguir. A figura 2.2.a mostra um
elemento com ligação semi-rígida, em ambas as extremidades. Será considerado
S
( S Ri ) como sendo a rigidez rotacional da extremidade "i" do elemento e ( Rj ) a rigidez
rotacional da extremidade "j" do mesmo.
O comprimento do elemento é (L), a área da seção transversal é (A), o
momento de inércia em relação ao eixo 3 é (I) e o módulo de elasticidade é (E). A
matriz de rigidez do elemento é determinada no seu sistema de coordenadas locais (1-
2-3). Os coeficientes da matriz de rigidez do elemento são obtidos a partir da matriz de
flexibilidade, utilizando-se a compatibilidade de Weaver e Gere (1986).

eixo 2

EI eixo1

i AL j
SRi , SAi SRj , SAj
eixo 3
(a)

D 21

D11
1
(b)

1
D22

D12

(c)

Figura 2.2 - Elemento com ambas as extremidades semi-rígidas: determinação da


matriz de rigidez.

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, , v. 9, n. 41, p.109-128, 2007


Avaliação da rigidez rotacional em estruturas planas de madeira concebidas por elementos... 113

2.1 Matriz de rigidez considerando-se apenas a rigidez rotacional

Para obter os coeficientes de flexibilidade da extremidade “j”, o elemento é


engastado elasticamente na extremidade “i” e livre na extremidade “j” como mostrado
nas figuras 2.2.b e 2.2.c. Uma força unitária é aplicada na direção 2 e na extremidade
“j” como mostrado na figura 2.2.b. Os coeficientes de flexibilidade, ( D11 ) e ( D21 ), na
extremidade “j” são obtidos como segue.
O deslocamento vertical na extremidade “j” devido à força unitária é chamado
de D11 e será composto de duas partes:

1) Deslocamento na extremidade “j” devido à força unitária Fu :


L3
D Fu
11 = (1)
3 EI
2) Deslocamento da extremidade “j” devido à rotação na extremidade “i” causado por
Fu :

3) Momento na extremidade ”i” devido à Fu :


M iFu = Fu L ⇒ M iFu = L (2)

a) Rotação na extremidade “i” devido à Fu :


M iFu
M i
Fu
= S Ri θ i Fu
⇒ θi Fu
= (3.a)
S Ri
L
θ iF =
u
(3.b)
S Ri

c) Deslocamento da extremidade “j” devido à rotação na extremidade “i” causada por


Fu :

⎛ L ⎞
D 11θ = θ iFu L ⇒ D 11θ = ⎜⎜ ⎟⎟ L (4)
⎝ S Ri ⎠
θ
Deslocamento vertical total na extremidade “j” é D11 = D11u + D11
F
, portanto:
L3 L2
D 11 = + (5)
3 EI S Ri

A rotação na extremidade “j” devido à força unitária Fu é chamado de D21 e


será composta de duas partes:

1) Rotação na extremidade “j” devido à Fu :


L2
θ 21F =
u
(6)
2 EI

2) Rotação na extremidade “j” devido à rotação na extremidade “i” causada por Fu :

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114 André Luis Christoforo & Francisco Antonio Rocco Lahr

L
θ θ21 = (7)
S Ri

θ
3) Rotação total na extremidade “j” é D21 = θ 21u + θ 21
F
, portanto:
L2 L
D 21 = + (8)
2 EI S Ri

Aplicando-se, agora, um momento unitário na direção do eixo 3 na extremidade


“j” como mostrado em figura 2.2.c, os coeficientes de flexibilidade , D12 e D22 , na
extremidade “j” são obtidos como segue.
O deslocamento vertical na extremidade “j” devido ao momento unitário M u é
chamado de D12 e será composto de duas partes:
1) Deslocamento na extremidade “j” devido à M u :
L2
D 12M u = (9)
2 EI

2) Deslocamento da extremidade “j” devido à rotação na extremidade “i” causado por


Mu :

a) Momento na extremidade “i” devido à M u :


M i
M u
=1 (10)

b) Rotação na extremidade “i” devido à M u :


Mu
M iM u = S R θ iM u ⇒ θ iM u = (11.a)
SR
1
θ iM =u
(12.b)
S Ri

c) Deslocamento na extremidade “j” devido à rotação na extremidade “i” causado por


Mu :

⎛ 1 ⎞
D 12θ = ⎜⎜ ⎟⎟ L (13)
⎝ S Ri ⎠

θ
Deslocamento vertical total na extremidade “j” é D12 = D12 u + D12
M
, portanto:

⎛ L2 ⎞ ⎛ L ⎞
D 12 = ⎜⎜ ⎟⎟ + ⎜⎜ ⎟⎟ (14)
⎝ 2 EI ⎠ S
⎝ Ri ⎠

A rotação na extremidade “j” devido ao momento unitário M u é chamado de


D22 e será composta de duas partes:

1) Rotação na extremidade “j” devido à M u :

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Avaliação da rigidez rotacional em estruturas planas de madeira concebidas por elementos... 115

L
θ 22M = u
(15)
EI

2) Rotação na extremidade “j” devido à rotação na extremidade “i” causada por M u :


θ 1
θ 22 =i
(16)
S Ri

3) Rotação na extremidade “j” devido à própria rotação da mesma extremidade


causada por M u :
θ 1
θ 22 = j
(17)
S Rj
θ θ
Rotação total na extremidade “j” é D22 = θ 22 u + θ 22i + θ 22j , portanto:
M

⎛ L ⎞ ⎛ 1 ⎞ ⎛ 1 ⎞
D 22 = ⎜ ⎟+ ⎜⎜ ⎟⎟ + ⎜ ⎟ (18)
⎝ EI ⎠ ⎜S ⎟
⎝ S Ri ⎠ ⎝ Rj ⎠

Para facilitar as expressões das equações e, posteriormente, as matrizes,


foram introduzidos os parâmetros adimensionais conforme a seguir:
EI
e Ri = ; (19.a)
LS Ri
EI
e Rj = ; (19.b)
LS Rj
e Rij = 1 + e Ri + e Rj ; (19.c)
e Ri 1 = 1 + e Ri ; (20.a)
e Rj 1 = 1 + e Rj ; (20.b)
e Ri 2 = 1 + 2 e Ri ; (20.c)
e Rj 2 = 1 + 2 e Rj ; (20.d)
e Ri 3 = 1 + 3 e Ri ; (20.e)
e Rj 3 = 1 + 3 e Rj ; (20.f)

Substituindo-se as equações (19 ) e ( 20 ) nas equações ( 5 ), ( 8 ), (14 ) e (18)


e após algumas simplificações, os coeficientes de flexibilidade ficam da seguinte
forma:
L3 e Ri 3
D 11 = ; (21.a)
3 EI
L 2 e Ri 2
D 12 = ; (21.b)
2 EI
L 2 e Ri 2
D 21 = ; (21.c)
2 EI
Le Rij
D 22 = . (21.d)
EI

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116 André Luis Christoforo & Francisco Antonio Rocco Lahr

A matriz de flexibilidade,
[F ], para a extremidade ”j” será da seguinte forma:
jj

[F ] = ⎡⎢ DD
jj
D 12 ⎤
11
⎥ (22)
⎣ 21 D 22 ⎦
L ⎡ 2 L e Ri 3 3 Le Ri2 ⎤
2

[F jj = ] ⎢
6 EI ⎢⎣ 3 Le Ri 2

6 e Rij ⎥⎦
(23)

F
Invertendo a matriz [ jj ] da equação (23), obtem-se a matriz de rigidez
S
modificada [ jj ], para a extremidade “j”:

[S ] = C ⎡⎢
6 e Rij - 3 Le Ri2 ⎤
jj ⎥ (24.a)
⎣⎢ - 3 Le Ri2 2 L 2 e Ri 3 ⎦⎥
2 EI
onde: C = (24.b)
[
L3 4 e Rij + 3 (4 e Ri e Rj − 1) ]

A matriz de rigidez completa [ S´ M ], sem considerar a rigidez axial é obtida por


Weaver e Gere (1986):
⎡ S ii S ij ⎤
[ S´M ]= ⎢ ⎥ (25)
⎢⎣ S ji S jj ⎥⎦

S ii S ij S ji S jj
Onde: [ ], [ ], [ ] e [ ], são todas submatrizes de [ S ´ M ]. Os
S
coeficientes em [ jj ] são definidos como as ações de restrição na extremidade “j” do
elemento devido aos deslocamentos unitários na mesma extremidade. Os coeficientes
Sij
em [ ], são ações de restrição na extremidade “i” devido ao deslocamentos unitário
S
na extremidade “j” e eles estão em equilíbrio com os termos em [ jj ]. Os coeficientes
S
em [ ji ] consistem em ações de restrição na extremidade “j” devido aos
S
deslocamentos unitários na extremidade “i”. Os coeficientes em [ ii ] ‚ são ações de
restrição na extremidade “i” devido ao deslocamento unitário na extremidade “i” e eles
S
estão em equilíbrio com os termos em [ ji ].
S jj
A matriz de rigidez modificada [ ] foi determinada e é apresentada pela
equação (24.a). As outras três submatrizes de [ S ´ M ] podem ser determinadas pela
transformação de eixos. Estaticamente equivalente, as forças na extremidade “i”,
podem ser obtidas através da matriz de transformação [ T ], onde:
⎡1 0⎤
[T ] = ⎢L (26)
⎣ 1 ⎥⎦

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Avaliação da rigidez rotacional em estruturas planas de madeira concebidas por elementos... 117

S
Nessas condições a submatriz [ ij ] pode ser determinada a partir da relação
S
[ ij ] = − [T ] [ S jj ], assim tem-se:

− 6 e Rij
[ S ] = C ⎡⎢
3 Le Ri 2 ⎤
ij ⎥ (27)
⎢⎣ − 3 Le Ri 2 L2 ⎥⎦

S
Como a matriz de rigidez [ S´M ] é simétrica à submatriz [ ji ], a mesma deve
S S S T
ser igual à transposta de [ ij ]. Assim, transpondo [ ji ] = [ ij ] tem-se:
− 6 e Rij − 3 Le Ri 2 ⎤
[S ] = C ⎡⎢
ji ⎥ (28)
⎢⎣ 3 Le Ri 2 L 2 ⎥⎦

S
A submatriz restante [ S ii ] pode ser determinada a partir de [ ji ] usando a

relação
[Sii ] = −[T ] [S ji ], isto dá:
⎡6e Rij 3Le Ri 2 ⎤
[S ii ] = C ⎢ ⎥ (29)
⎣⎢3Le Ri 2 2 L2 e Rj 3 ⎦⎥

Desta forma, todas as submatrizes de [ S´ M ] da equação (25), foram


determinadas. Assim, a matriz de rigidez modificada de um elemento, sem a inclusão
da rigidez axial, é apresentada como:

⎡ 6eRij 3LeRij2 − 6eRij 3LeRi2 ⎤


⎢ ⎥
⎢3LeRj2 2L eRj3 − 3LeRj2
2 2
L ⎥
[S´M ] = C ⎢ (30)

− 6eRij − 3LeRj2 6eRij − 3LeRi2 ⎥


⎢ ⎥
⎢⎣3LeRi2 L2 − 3LeRi2 2L2eRi3 ⎥⎦
Através do princípio da superposição de efeitos, as coordenadas axiais ao
elemento de pórtico (figura 3.5.), desconsiderando-se sobre estas o efeito semi-rígido,
serão determinadas através do método dos deslocamentos (coeficientes de rigidez) e
posteriormente, estes coeficientes serão alocados na matriz de rigidez do elemento
modificada.
Para o elemento com dois graus de liberdade, observe a figura 2.2.1.

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118 André Luis Christoforo & Francisco Antonio Rocco Lahr

Figura 2.1.1 - Elemento com dois graus de liberdade.

Aplicando-se um deslocamento unitário na coordenada “1” e mantendo-se nulo


o deslocamento na coordenada “4”, chega-se aos seguintes coeficientes re rigidez:
EA − EA
K 11 = e K 14 = (31)
L L

Aplicando-se um deslocamento unitário na coordenada “4”, e mantendo-se


nulo o deslocamento na coordenada “1”, chega-se aos seguintes coeficientes de
rigidez:
− EA EA
K 41 = e K 44 = (32)
L L

A matriz de rigidez para um elemento de barra de pórtico será representada


0
pela matriz [ S M ] da equação (33), com os termos da matriz [ S´M ] da equação (30),
juntamente com os coeficientes rigidez axial provenientes das equações (31) e (32),
dispostos corretamente em função da ordem seqüencial dos graus de liberdade
atribuídos ao elemento.

⎡ AE AE ⎤
⎢ L 0 0 - 0 0 ⎥
L
⎢ ⎥
⎢ 0 6Ce Rij 3CLe Rj2 0 - 6Ce Rij 3CLe Rj2 ⎥
⎢ ⎥
0 3CLe Rj2 2CL2 e Rj3 0 - 3CLe Rj2 CL2
[ S M ] = ⎢⎢
0 ⎥

AE AE
⎢- 0 0 0 0 ⎥
⎢ L L ⎥
⎢ 0 - 6Ce Rij 3CLe Rj2 0 6Ce Rij - 3CLe Rj2 ⎥
⎢ ⎥
⎢⎣ 0 3CLe Rj2 CL2 0 - 3CLe Rj2 2CL2 e Ri3 ⎥⎦ (33)

3 ANÁLISE DO COMPORTAMENTO SEMI-RÍGIDO PARA UM MODELO


SIMPLES

Para analisar o comportamento da ligação semi-rígida, foi considerado uma


barra engastada nas duas extremidades e aplicada uma força concentrada (F) no seu
centro, como mostrada na figura 3.1. Os dados obtidos nessa análise valem para o

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Avaliação da rigidez rotacional em estruturas planas de madeira concebidas por elementos... 119

comportamento individual de cada barra, independente do tamanho da estrutura ou da


sua configuração.

F (kN)

i j
L L
2 2

Figura 3.1 - Barra bi-engastada nas extremidades.

Variou-se somente a rigidez rotacional ( S R ), mantendo a rigidez axial


constante em toda a simulação. Obteve-se assim, a relação Momento x Rigidez para
as extremidades da barra, apresentada no gráfico 3.1. Aproveitando-se a variação da
rigidez rotacional ( S R ), obteve-se também os deslocamentos no ponto central da viga,
onde a relação Deslocamento x Rigidez está apresentado no gráfico 3.2. Na ligação
semi-rígida, a viga tem rotações nos nós “i” e “j” cujos valores variam em função da
rigidez ( S R ) adotadas para os mesmos, conforme o gráfico 3.3. Pode-se verificar com
os resultados das três relações, que a rigidez se comporta exponencialmente, sempre
convergindo para as situações esperadas, que é a de engastamento perfeito ou de
uma barra simplesmente apoiada.

M en
Momento

Rigidez
Sen

Gráfico 3.1 - Relação momento x rigidez.

M = PL / 8
No gráfico 3.1, en é o momento de engastamento perfeito de uma
viga bi-engastada com forca aplicada no ponto central. Para valores de rigidez
S
menores do que ( en ), o momento comporta-se conforme a curva do mesmo gráfico.
Caso a rigidez se aproxime de zero, o momento também converge para o mesmo
valor.

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 9, n. 41, p.109-128, 2007


120 André Luis Christoforo & Francisco Antonio Rocco Lahr

Deslocamento
d1

d2

Rigidez
S1 S2

Gráfico 3.2 - Relação deslocamento x rigidez.

O gráfico 3.2, mostra que para S2 → ∞ , deslocamento é d = PL / 192 EI , ou


3

seja, a viga é engastada. Para S1 → 0 , o deslocamento é d = PL / 42 EI , ou seja, a


3

viga é bi-apoiada, ficando assim, a curva exponencial para o comportamento semi-


rígido.
Rotação

θ3

θ4
Rigidez
S3 S4

Gráfico 3.3 - Relação rotação x rigidez.

O gráfico 3.3, mostra que para S4 → ∞ , a rotação é θ = 0 , ou seja, a viga

engastadas. Para
S3 → 0 , a rotação é θ = PL2 / 16EI , ou seja, a viga é bi-apoiada.

Neste caso, para valores da rigidez entre zero e S4 o comportamento é semi-rígido.


Ressalta-se ainda, que para qualquer estrutura, a rigidez da ligação é adotada
inicialmente, 1000 vezes a rigidez da barra, isto é:
S R = 1000.(4E b I b / Lb ) .

onde:
SR : Rigidez da ligação.
E b : Módulo de elasticidade da barra.

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Avaliação da rigidez rotacional em estruturas planas de madeira concebidas por elementos... 121

Ib : Momento de inércia da barra.

Lb : Comprimento da barra.

4 CONSIDERAÇÃO DA RIGIDEZ ATRAVÉS DA LIGAÇÃO PARAFUSADA

Neste trabalho, foi adotada, para o detalhamento da estrutura, uma ligação


típica, utilizando dois parafusos, figura 4.1. A utilização mínima para essa ligação é
uma disposição construtiva da NBR 8800 (1986). O afastamento dos parafusos
determina um momento resistente na extremidade da barra. Através da entrada de
dados conveniente no programa, o mesmo irá verificar o quanto este momento
influenciará na ligação e na estrutura como um todo.

ep

FR FR

Figura 4.1 - Detalhe da ligação parafusada.

onde: e p é o espaçamento entre parafusos;


FR é a força resistente dos parafusos;

4.1 Determinação do momento resistente

A força resistente ao corte do parafuso é igual a:


FR = ΦV RNV

onde: Φ = 0,65 para parafusos ASTM A325 e ASTM A490


Φ = 0,60 para parafusos ASTM A307 e ISO 898

RNV = 0,42 AP f u
AP é a área bruta, baseada no diâmetro nominal “dp“ do parafuso.

f u é a resistência à tração do material do parafuso.


A resistência à tração do material do parafuso depende da especificação do
próprio parafuso. A tabela 4.1 apresenta os valores de f u aplicáveis.

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 9, n. 41, p.109-128, 2007


122 André Luis Christoforo & Francisco Antonio Rocco Lahr

Tabela 4.1 - Materiais usados nos parafusos.


ESPECIFICAÇÃO RESISTÊNCIA À TRAÇÃO (MPA) DIÂMETRO (MM)
ASTM A307 415 100
825 12,7< dp < 25,4 *
ASTM A325
725 25,4[ dp < 38,1 *
ASTM A490 1035 12,7[ dp <38,1 *
* dp é o diâmetro do parafuso.

O valor do momento resistente é dado por:


M R = FR e p
A distância mínima entre os centros dos furos, não podem ser inferior a
2,7d p 3d p
, sendo utilizado preferencialmente .
Além desse requisito, a distância entre as bordas de dois furos consecutivos
dp
não pode ser inferior a , conforme mostra a figura 4.2.

≥ dp

≥ 3d p

Figura 4.2 - Espaçamento mínimo entre furos.

dp
onde: é o diâmetro do parafusos.

5 AVALIAÇÃO DOS MOMENTOS DA ESTRUTURA

O programa P.S-R (Pórtico Semi-Rígido), desenvolvido no presente trabalho,


faz o estudo do comportamento das ligações formadas com dois parafusos por nó de
elemento. A correção da rigidez das ligações fica por conta de um processo iterativo.
Esta correção se faz apenas quando o momento resistente da ligação passa a
ser inferior ao momento solicitante aplicado à mesma. Para a determinação a priori
dos esforços na estrutura, as ligações são consideradas como perfeitamente
engastadas (modelos ideais); para a determinação dos esforços reais provenientes
das forças externas aplicadas à correção das estruturas, e logo após a esta
consideração inicial, os esforços de flexão atuantes na ligação são comparados em
módulo com a resistência que a mesma oferece.
Sabendo-se que o valor do momento resistente é uma função direta do
espaçamento e do diâmetro dos parafusos e constante ao longo do processo de
análise, ou seja, seu valor será o mesmo para todos os nós. Deve-se atentar para o

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, , v. 9, n. 41, p.109-128, 2007


Avaliação da rigidez rotacional em estruturas planas de madeira concebidas por elementos... 123

dimensionamento mínimo de parafusos previsto por norma, para que a confiabilidade


dos resultados não seja prejudicada.
Após calcular o momento solicitante e o momento resistente, o programa
compara os dois valores:

Se M S > M R , então:
recalcula-se toda estrutura, até que os momentos solicitantes em todas as ligações

sejam iguais ou inferiores ao momento resistente: MS = MR

Se MS <MR , então:

o valor do momento continua sendo MS .


O programa reduz a rigidez da ligação que foi solicitada além do seu limite,
fazendo com que o momento solicitante na mesma seja igual ao resistente, e assim,
uma nova rigidez deverá ser computada nos cálculos. O processo iterativo elaborado
no programa fará os cálculos de forma em que o momento excedente na ligação
propague-se para as demais ligações vizinhas através dos elementos estruturais.
Desta forma, a estrutura encontrará uma nova configuração de equilíbrio.

6 EXEMPLO DE APLICAÇÃO

A figura 6.1, mostra a geometria e o carregamento da estrutura Fink, com um


vão de 10,80 m analisada nesse caso, sendo que, para esta estrutura, foi aplicada
uma força concentrada no centro da mesma.
Os valores dos momentos solicitantes, bem como o deslocamento no meio do
vão, estão apresentados nas tabelas 6.1 e 6.2, respectivamente.

Figura 6.1 - Estrutura Fink, L=10,80 m.

Para a estrutura fink, mostrada na figura 6.1, foi-se efetuada sobre a mesma,
uma análise mais completa do seu comportamento estrutural, isto é, em uma primeira
avaliação, admitiu-se a rigidez das barras para verificar somente o comportamento da
ligação semi-rígida. Em uma segunda avaliação, procurou-se obter qual o valor da
ação externa responsável pelo início das primeiras iterações, isto é, quando a ligação
foi solicitada ale’m do seu limite de resistência.

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 9, n. 41, p.109-128, 2007


124 André Luis Christoforo & Francisco Antonio Rocco Lahr

Posteriormente, numa terceira avaliação, admitiu-se um valor para a ação


externa superior às anteriores para que houvessem as devidas iterações e,
conseqüentemente, as distribuições dos momentos. Os valores das ações para as
três situações descritas anteriormente foram de 15, 300, 700 kN, respectivamente.

6.1 Obtendo-se um pré-dimensionamento das barras

Os valores adotados para o cálculo dessa estrutura são:


Força concentrada nos nós: 15,00 kN.
Área da seção transversal: 2,25 cm2.
Momento de inércia: 0,4219 cm4.
Módulo de elasticidade: 20500 kN/cm2.
Diâmetro do parafuso: 1,27 cm.
Espaçamento entre parafusos: 5,00 cm.

O pré-dimensionamento das barras da estrutura foi realizado no Software SAP


2000, conforme a figura 6.2. A única força externa concentrada, mencionada
anteriormente de 15 kN, está aplicado no nó “10”. O Software SAP 2000 faz uma
relação percentual das forças atuantes na estrutura e os seus valores limites para que
as condições normativas sejam satisfeitas, sendo o valor 1, o coeficiente de
solicitação máxima. No caso da estrutura Fink, mostrada na figura 6.2, pode-se
verificar que os elementos do banzo superior próximos ao ponto de aplicação da força
concentrada, encontram-se em seus respectivos limites de resistência.
Observou-se que, após o processamento da estrutura no programa
desenvolvido, não se verificou nenhuma iteração, porque o valor do momento
resistente das ligações foram muito superiores aos solicitantes.

Figura 6.2 - Pré-dimensionamento das barras.

6.2 Sem a obtenção do dimensionamento das barras.

Para se obter o processo de redistribuição entre os momentos que atuam na


estrutura em função da ligação semi-rígida, admitiu-se um valor para a rigidez das
barras na estrutura e aplicou-se também um valor de carga compatível para iniciar-se
esse processo iterativo.

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, , v. 9, n. 41, p.109-128, 2007


Avaliação da rigidez rotacional em estruturas planas de madeira concebidas por elementos... 125

Os valores adotados para o cálculo dessa estrutura são:


Carga concentrada nos nós: 700,00 kN.
Área da seção transversal: 2,25 cm2.
Momento de inércia: 0,4219 cm4.
Módulo de elasticidade: 20500 kN/cm2.
Diâmetro do parafuso: 1,27 cm.
Espaçamento entre parafusos: 5,00 cm.

Tabela 6.1 - Valores dos momentos solicitantes nos elementos, L=10,80 m.

barra Nó(i) Nó(j) Rotulada Semi-Rígida Rígida


nó “i” nó “j” nó “i” nó “j” nó “i” nó “j”
1 1 2 0,00 0,00 -1,95 62,55 -1,09 81,14
2 2 3 0,00 0,00 -52,95 -19,25 -55,11 -23,05
3 3 4 0,00 0,00 -19,52 19,52 -19,77 19,77
4 5 4 0,00 0,00 52,95 19,25 55,11 23,05
5 6 5 0,00 0,00 1,95 -62,55 1,09 -81,14
6 1 7 0,00 0,00 1,95 62,15 1,09 82,24
7 7 8 0,00 0,00 -61,96 -21,17 -91,06 -35,93
8 8 9 0,00 0,00 35,42 61,80 55,74 108,62
9 9 10 0,00 0,00 -61,90 -62,04 -113,73 -111,71
10 11 10 0,00 0,00 61,90 62,04 113,73 111,71
11 12 11 0,00 0,00 -35,42 -61,80 -55,74 -108,62
12 13 12 0,00 0,00 61,96 21,17 91,06 35,93
13 6 13 0,00 0,00 -1,95 -62,15 -1,09 -82,24
14 2 7 0,00 0,00 51,98 -0,19 52,91 8,91
15 2 8 0,00 0,00 -61,57 -34,31 -78,95 -43,26
16 3 8 0,00 0,00 7,24 -1,14 1,60 -4,42
17 8 14 0,00 0,00 21,21 61,30 27,88 67,89
18 9 14 0,00 0,00 -1,90 -45,10 5,11 -1,48
19 3 14 0,00 0,00 31,54 61,96 41,23 87,27
20 10 14 0,00 0,00 -61,24 -62,16 -148,26 -153,68
21 10 15 0,00 0,00 61,24 62,16 148,26 153,68
22 4 15 0,00 0,00 -31,54 -61,96 -41,23 -87,27
23 11 15 0,00 0,00 1,90 45,10 -5,11 1,48
24 12 15 0,00 0,00 -21,21 -61,30 -27,88 -67,89
25 4 12 0,00 0,00 -7,24 1,14 -1,60 4,42
26 5 12 0,00 0,00 61,57 34,31 78,95 43,26
27 5 13 0,00 0,00 -51,98 0,19 -52,91 -8,91

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 9, n. 41, p.109-128, 2007


126 André Luis Christoforo & Francisco Antonio Rocco Lahr

Tabela 6.2 - Valor do deslocamento no meio do vão, L=10,80 m.

Nó Rotulada Semi-Rígida Rígida


3 -3,3467 -3,2350 -3,1580

7 CONCLUSÕES

No item 6, a máxima carga para que a estrutura Fink verifique o


dimensionamento para as barras, foi de 15 kN; neste caso não houve iteração. Isso
acontece devido ao fato de que o momento resistente é muito superior ao momento
solicitante, aproximadamente vinte vezes. Portanto, a conclusão primordial a que se
pode chegar da análise do comportamento das ligações semi-rígidas, é que a mesma
só tem uma influência significativa para estruturas de grande porte, pois a variação do
momento para estruturas de pequenos vãos, não terão grande significativa em termos
de dimensionamento e de custo. Porém, em termos percentuais, dependendo da
configuração da estrutura, pode-se chegar a uma variação de até 40% ou mais, do
momento aplicado nos extremos de certos elementos.

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ISSN 1809-5860

A AÇÃO DO VENTO EM SILOS CILÍNDRICOS DE


BAIXA RELAÇÃO ALTURA/DIÂMETRO
Luciano Jorge de Andrade Junior1 & Carlito Calil Junior2

Resumo
Os silos metálicos cilíndricos de chapas corrugadas e cobertura cônica são as unidades
mais utilizadas no Brasil para o armazenamento de produtos granulares. As principais
ações variáveis que atuam sobre os silos são as pressões devidas aos produtos
armazenados e ao vento, sendo esta ação crítica quando o silo se encontra vazio.
Devido à grande eficiência estrutural da forma cilíndrica e à resistência elevada do
aço, estas estruturas são leves e delgadas e, portanto, suscetíveis a perdas de
estabilidade local e global e arrancamento. Com a finalidade de avaliar estes efeitos
foram realizados estudos teóricos e experimentais sobre as ações do vento em silos. O
trabalho foi desenvolvido com ensaios de modelos aerodinâmicos e aeroelásticos em
um túnel de vento na Universidade de Cranfield, Inglaterra, com o objetivo de
determinar os coeficientes aerodinâmicos no costado e na cobertura. Os resultados
mostram que os valores dos coeficientes recomendados pela Norma Brasileira de vento,
NBR 6123 (1990), são adequados para o costado. Para a cobertura cônica, como não
são especificados pela NBR, são recomendados valores dos coeficientes aerodinâmicos
determinados nos ensaios. Conclui-se também que a colocação externa das colunas é a
favor da segurança e que o uso de anéis enrijecedores no costado é indicado e muito
importante para a estabilidade local e global da estrutura do silo.

Palavras-chave: silos; ação do vento; modelos aerodinâmico; aeroelástico;


coeficientes aerodinâmicos.

1 INTRODUÇÃO

Os silos metálicos cilíndricos de chapas corrugadas e cobertura cônica são as


unidades mais utilizadas no Brasil para o armazenamento de produtos granulares,
porque são eficientes, de baixo custo e de fácil montagem, seja em cooperativas ou
agroindústrias.
Este tipo de silo contém um arranjo estrutural de muitos elementos ligados por
parafusos, sendo classificado em função da altura/diâmetro H/D: H/D≤0,5−curto;
0,5<H/D≤1,5−médio; H/D>1,5−longo. O cilindro, ou costado, é composto em chapas
metálicas corrugadas. A cobertura cônica é composta em painéis de chapas metálicas
com dobras na direção da geratriz do cone. O costado é assumido rotulado à base,
que pode ser rígida e, dependendo das dimensões do silo, é reforçado com colunas

1
Doutor em Engenharia de Estruturas - EESC-USP, landrade_jr@hotmail.com
2
Professor do Departamento de Engenharia de Estruturas da EESC-USP, calil@sc.usp.br

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 9, n.41, p. 129-155, 2007


130 Luciano Jorge de Andrade Junior & Carlito Calil Junior

metálicas de seção-U dispostas no perímetro e, opcionalmente, com anéis metálicos


tubular ao longo da altura. A cobertura cônica também pode dispor de reforços com
vigas radiais e circunferenciais. O fundo é, em geral, plano. Os silos têm dimensões
comerciais que variam de 3 m a 32 m de diâmetro por 3 m a 30 m de altura, com
volumes de 20 m3 até 26.000 m3. Todo este conjunto encontra-se diretamente apoiado
sobre uma base, com o costado fixo por parafusos a um anel rígido de concreto que é
independente da base.

1.1 Definição do problema

Como conseqüência da grande eficiência estrutural da forma cilíndrica e da


resistência elevada do aço, são estruturas leves, de chapas delgadas e de grandes
dimensões em relação ao peso-próprio, o que torna este tipo de silo susceptível ao
problema de perda de estabilidade local e global da estrutura.
Por conseguinte, os estados limites mais importantes para os silos metálicos
são as perdas de estabilidade por compressão do costado devidas às ações de atrito
com a parede dos produtos armazenados e devidas às pressões do vento (Figuras 1,
2 e 3), e o arrancamento do costado (que se encontraria fixo à base) (Figura 4).

Figura 1 - Perda de estabilidade do costado Figura 2 - Perda de estabilidade do costado


de silos na Austrália (ANSOURIAN 1985). de um silo na Espanha (RAVENET 1992).

Sobrepressão
Vento
θ

Ponto de
estagnação

C = 1,0
pe
Sucção H/D = 10
C = 0,5
Sucção H/D < 2,5 pe

Figura 3 - Distribuições de pressões Figura 4 - Efeito de tombamento (RAVENET


(NBR6123 1990). 1992).

Neste estudo são avaliados os efeitos do vento nos silos curtos e médios na
condição de estarem vazios ou parcialmente preenchidos. Quando estão quase ou

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 9, n.41, p. 129-155, 2007


A ação do vento em silos cilíndricos de baixa relação altura/diâmetro 131

totalmente carregados os silos metálicos de fundo plano e diretamente apoiados no


solo possuem grande massa e dificilmente sofrem danos devidos ao vento.
Deste modo, foi realizado um programa de ensaios junto à Universidade de
Cranfield, Inglaterra, com o apoio do CNPq, no túnel de vento de camada limite da
Faculdade de Aeronáutica (College of Aeronautics), de 9 m de comprimento e seção
retangular na câmera de ensaios de 8x4-ft em unidades inglesas, ou 1,22 x 2,44 m.
Com o estudo dos modelos em túnel de vento, é feita uma avaliação do
comportamento deste tipo de estrutura e fornecido um roteiro ao engenheiro estrutural
para o cálculo das estruturas dos silos à ação do vento.

2 METODOLOGIA

Este tópico contém as descrições dos materiais empregados para a geração do


escoamento de ar no túnel de vento e à confecção dos modelos, bem como dos
métodos utilizados na determinação dos parâmetros de similaridade, e nas medições
das pressões e deslocamentos dos modelos.

2.1 Materiais

Os materiais que são empregados para a construção dos dispositivos de


geração de turbulência no escoamento de ar são madeira, papelão, PVC e aço.
Os dispositivos usados para se obter os perfis são barreira alta, em madeira,
grade em barras horizontais de aço arredondadas, geradores de vórtices em madeira
e, para a rugosidade do piso do túnel, uma prancha com copos em PVC, duas
pranchas com caixas de ovos em papelão, uma prancha com peças formadas por três
blocos plásticos de Lego©, e metade de uma prancha com peças de um bloco.
A função da barreira é prover um déficit inicial de quantidade de movimento
representando o efeito de um campo de rugosidade mais longo; a dos geradores de
vórtices, é distribuir esta quantidadade pela camada limite em desenvolvimento e
influencia na turbulência média e a grade é usada para gerar turbulência média. Os
elementos de rugosidade representam a superfície na vizinhança da estrutura real,
conforme z0.
Para a determinação das dimensões iniciais dos dispositivos, o silo em escala
real é considerado em um terreno típico de fazendas com muitas árvores, cercas e
algumas edificações, sendo adotado z0 = 80 mm conforme (BLESSMANN 1995). De
acordo com FANG & SILL (1992) o z0 é proporcional à dimensão hk dos obstáculos,
com c ≅ 0,1:

z0 = c.hk ( 1)

Considerando-se que os modelos estão a uma escala geométrica de 1/42, e os


obstáculos em escala real são de hk = 80.(1/0,1) = 800 mm, então a altura exigida para
os elementos de rugosidade dentro do túnel é em torno de 800/42, sendo adotado 19
mm. Os geradores de vórtices são calculados de acordo com SIMIU & SCANLAN
(1986), e a altura da barreira é obtida experimentalmente, pelo ajuste dos perfis de
velocidade e de intensidade de turbulência.
A disposição final correspondente é mostrada na figura 5, em que o túnel
apresenta seção transversal igual a 2440 por 1220 mm e o comprimento do campo
medido a partir dos geradores ao centro da mesa giratória é 7850 mm.

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132 Luciano Jorge de Andrade Junior & Carlito Calil Junior

Grade Geradores de vórtices

Campo com elementos de rugosidade

Barreira

Mesa giratória

Figura 5 – Disposição geral dos dispositivos no túnel.

Os modelos são rígido e flexível e os materiais usados são madeira, papel,


cobre, PVC, PETP (Polyethlene terephthalate) e poliéster.
O modelo rígido é feito em madeira e lâminas de madeira compensada, com
pequenos tubos de cobre embutidos na lâmina e usados para tomadas de pressão,
tubos em PVC para a conexão entre as tomadas e as válvulas, e entre estas e os
transdutores de pressão. As colunas são feitas em madeira e PETP para simular as
colunas no costado, e em fios roliços de cobre e φ=1,0 mm para simular as dobras
radiais na cobertura cônica.
O modelo flexível é composto em poliéster, Melinex©, na casca cilíndrica, em
PETP nas colunas, com especificações dadas na tabela 1, e madeira balsa e papel na
cobertura cônica. O emprego de madeira de baixa densidade (valor relativo à massa
da água igual a 0,4) e papel na cobertura é justificado pelo fato de serem simuladas
apenas as características de forma geométrica e de massa.

Tabela 1 - Especificações para o material usado no Modelo 1,0.


Melinex (casca cilíndrica) PETP (colunas) Propriedade
E = 4414,5 Mpa E = 3000 Mpa Módulo de Elasticidade
σ = 98,1 MPa σ = 80 MPa Tensão de escoamento
γ = 1,4 g/cm3 γ = 1,37 g/cm3 Densidade

2.2 Métodos

Os métodos são análise dimensional e teoria da semelhança física, técnicas de


ensaios em túnel de vento,medidas de pressões e visualização do escoamento na
superfície dos modelos rígidos e medições de deslocamentos por imagens no modelo
flexível.

2.2.1 Análise dimensional


O estudo do comportamento de silos cilíndricos à ação do vento envolve uma
grande quantidade e diversidade de informações relacionadas às áreas de engenharia
de estruturas e de engenharia do vento. A exeqüibilidade desta tarefa está ligada a
condições e hipóteses simplificadoras que são obtidas com a análise dimensional, a
qual abrange "os casos em que não é possível formular as equações diferenciais do
fenômeno" (CARNEIRO 1996).

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 9, n.41, p. 129-155, 2007


A ação do vento em silos cilíndricos de baixa relação altura/diâmetro 133

Admite-se que o deslocamento radial da parede do silo, δ, é função de onze


parâmetros característicos: diâmetro do silo D, massa específica do ar ρ, velocidade
média do escoamento U, módulo de elasticidade E, tensão σk, pressão exercida pelo
vento p, uma freqüência das flutuações da velocidade do vento η, a viscosidade
dinâmica do ar μ, a massa total da estrutura M, momento de inércia da estrutura I, um
intervalo de tempo Tc. Os parâmetros E, σk, p têm as mesmas dimensões.
Como resultado da análise dimensional são obtidos os números Π, que são
interpretados como relações de escalas das grandezas existentes no protótipo e no
modelo, sendo condição de semelhança a igualdade dos Π em ambos modelo e
protótipo. Esta condição é definida como fator de escala λ, que é a relação entre a
magnitude de uma grandeza física no modelo e a magnitude correspondente no
protótipo. Por exemplo, se o modelo é feito 10 vezes menor que o protótipo, então o
fator de escala é geométrico e definido λL = 1/10. São utilizados subscritos para definir
as grandezas nas Tabelas 2 e 3 e os fatores de escala λ. Além desses subscritos, m
indica modelo, e p protótipo.

Tabela 2 - Fatores de escala. Tabela 3 - Condições de semelhança.


FATOR DESCRIÇÃO CONDIÇÃO DE SEMELHANÇA
D Número Π Πim
λL = m Fator de escala Geométrico Condição: =1
Dp Πi p

I δ λδ λδ = λ L
λI = m Fator de escala para o Π1 = =1
Ip Momento de inércia D λL
ρ I λI λI = λL4
λρ = m Fator de escala para a massa Π2 = =1
ρp específica do ar D4 λL4
Um Fator de escala da velocidade Dη λ L λη λη = λU λ L
λU = Π3 = =1
Up ou cinemático U λU
σkm UTc λU λTc λU = λ L λTc
λσ k = Fator de escala da tensão Π4 = =1
σk p D λL
η M λM λM = λ ρ λL3
λη = m Fator de escala de freqüência Π5 = =1
ηp ρD 3 λ ρ λL3
Mm μ λμ λμ
λM = Fator de escala de Massa Π6 = =1 λL =
Mp ρDU λ ρ λ L λU λ ρ λU

μ σk λσ k λσ k = λ ρ λU 2
λμ = m Fator de escala para a Π7 = =1
μp ρU 2
viscosidade dinâmica do ar λ ρ λU 2
Tc m
λTc = OBS.: O fator de escala serve às grandezas
Tc p Fator de escala de tempo
relacionadas pelos fatores de forma

2.2.2 Simulação em túnel de vento


Para propósitos da engenharia estrutural é suficiente modelar o escoamento às
condições, admitidas localmente estacionárias, da camada limite atmosférica (ASCE

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 9, n.41, p. 129-155, 2007


134 Luciano Jorge de Andrade Junior & Carlito Calil Junior

1997). No túnel, a turbulência é gerada com uma superfície rugosa e gradiente de


pressão nulo.
O principal critério é a verificação do perfil de velocidade e da escala de
turbulência medidos do escoamento no túnel e comparados àqueles da NBR 6123
(1990) e ESDU (1995). Entretanto, as regiões de separação são fortemente
influenciadas pela turbulência, logo também é importante a medição da intensidade de
turbulência (COOK 1982).
A metodologia está de acordo com BLESSMANN (1995) e BENDAT e
PIERSOL (1971), e está esclarecida à medida que os parâmetros são mostrados.
Esses perfis são traçados com as respectivas curvas teóricas, dadas por:
U(z )
α
⎛ z⎞
=⎜ ⎟ (2)
U(z ref ) ⎝ 10 ⎠

A intensidade de turbulência é definida como o quociente entre o desvio padrão


das flutuações e uma velocidade de referência. Se a velocidade de referência for
definida com um valor fixo, então a intensidade da turbulência é normalizada (IN).
σ
IN = (3)
U ref
Onde Uref é a velocidade de referência, tomada a 10 m de altura em escala
real.
A turbulência do vento é caracterizada pelos turbilhões ou redemoinhos, cujas
dimensões são avaliadas a partir das funções de autocorrelação. A partir destas
funções são definidas as escalas temporal para o estudo da repetição das rajadas do
vento, e espacial, para a caracterização da não uniformidade das rajadas sobre as
estruturas.
A autocorrelação descreve a dependência de um valor medido no tempo t com
outro valor medido no tempo t+τ, para um mesmo ponto. Fisicamente, isto representa
a “memória” do fenômeno das rajadas. Se a curva de autocorrelação for alargada,
então a memória é grande; se a curva for estreita, então a memória é curta.
Para avaliar a escala temporal, a partir das curvas de autocorrelação
normalizada, ρ(τ), calcula-se o tempo característico, Tc, do processo aleatório do
vento, que é numericamente igual à área sob a curva de autocorrelação longitudinal
normalizada.


Tc ( z ) = ρ1 ( z;τ )dτ (4)
0

A escala espacial é obtida a partir da escala temporal, considerando-se a


hipótese de Taylor, em que os redemoinhos deslocam-se com a velocidade média do
vento. Portanto, a escala espacial da turbulência, a uma certa altura z, é dada pelo
comprimento médio dos maiores turbilhões na direção longitudinal, L1:

L1 ( z ) = U ( z ).Tc ( z ) (5)

2.2.3 Medidas de pressões nos modelos rígidos


As medidas das pressões são obtidas da diferença entre uma pressão de
referência, que é a pressão estática no escoamento livre, e a pressão estática na
superfície do modelo. Esta diferença é chamada pressão externa. Onde a pressão

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A ação do vento em silos cilíndricos de baixa relação altura/diâmetro 135

externa é numericamente igual à pressão ao longe é chamado ponto de estagnação. A


pressão de referência é dada por um anel estático definido por três tomadas na seção
de trabalho do túnel. O processo de medição é feito por meio de válvulas de busca
automática, conhecidas como "scanivalves", e a pressão em cada tomada é medida
por transdutores elétricos de pressão ligados a uma placa conversora AC/DC e
armazenada no disco rígido de um microcomputador.
Os parâmetros para o cálculo dos coeficientes de pressão externa Cpe são
pressão estática de referência pref e pressão estática na superfície do modelo pm.
A velocidade média de referência U é obtida a partir do perfil de velocidade
medido dentro do túnel de vento, no centro da mesa giratória sem o modelo.
O valor da pressão estática de referência é obtido com a tomada de pressão do
anel estático de referência, ligada à válvula e daí ao transdutor, dentro do modelo.
A equação para o cálculo dos coeficientes de pressão é:
p m − p ref
C pe = (6)
1
ρ0 U 2
2

2.2.4 Medições de deslocamentos por imagens


Os deslocamentos na superfície cilíndrica do modelo flexível são medidos com
o uso do Método do Reticulado, de acordo com SIROCHI & KRISHNA (1991), e a
teoria dos pequenos deslocamentos como mostrada em JONES & WIKES (1989).

2.2.4.1. Método do reticulado


O método do reticulado requer linhas de referência sobre a superfície do objeto
em observação. As distâncias entre as interseções das linhas são medidas antes e
depois do modelo ser submetido à ação, no caso o escoamento de ar no túnel.
As linhas de referência aplicadas ao modelo são na forma de um reticulado
contínuo em padrão ortogonal, com circunferências ao longo da altura e linhas
verticais em torno do perímetro. As linhas podem ser diretamente desenhadas ou
aplicadas à superfície.
Os deslocamentos normais são determinados pela diferença de medida do
comprimento na diagonal e nas linhas laterais. São usadas câmeras de alta resolução,
com lentes livres de distorção, para medir os deslocamentos normais e na superfície
do modelo.

2.2.4.2. Medições de deslocamentos por imagens no modelo flexível


No caso dos modelos cilíndricos em estudo são feitas medições apenas dos
deslocamentos numa pequena área a meia altura do cilindro, que pode ser admitida
plana.
Na figura 6, as lentes das câmeras V1, V2 e V3 nas direções 0V1, 0V2 e 0V3
gravam a imagem com um reticulado na superfície do objeto. As coordenadas das
lentes das câmeras são (X11, X12, 0), (X21, 0, X23) e (X31, X32, 0), respectivamente.
Observe-se que 0V1 = 0V2 = 0V3 e as lentes estão focalizadas no mesmo ponto.

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136 Luciano Jorge de Andrade Junior & Carlito Calil Junior

Figura 6 - Posições V1, V2, V3 das câmeras.

É sabido que há três componentes de deslocamento d1, d2, d3 e nove


gradientes de deslocamento, tal que são necessárias doze medidas. Como em cada
vista das câmeras podem ser medidos quatro deslocamentos, sendo dois em cada
extremidade da linha, figura 7, então há o número necessário de medidas para o
cálculo dos deslocamentos.

k
Δx i1
Q'
Q Δxi2k

P P' Δx k-1
i2

Δxi1k-1
Figura 7 - Deslocamentos para a vista de cada câmera.

3 PROCEDIMENTOS PARA OS ENSAIOS

O estudo dos silos sob a ação do vento inicia-se com a constatação do


problema de perda de estabilidade do costado e a necessidade de caracterizar o
comportamento do silo.
Para tanto, o desenvolvimento dos ensaios abrange os dimensionamentos dos
protótipos e dos modelos, a geração e caracterização do escoamento de ar, os
ensaios dos modelos rígidos para a determinação das pressões externas atuantes, e
os ensaios do modelo flexível para o estudo do comportamento da casca cilíndrica à
ação do vento.

3.1 Dimensionamento dos protótipos e dos modelos

São escolhidas duas relações H/D aos protótipos − 0,5 e 1,0 − para
representarem as estruturas usuais de silos metálicos cilíndricos de chapas

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 9, n.41, p. 129-155, 2007


A ação do vento em silos cilíndricos de baixa relação altura/diâmetro 137

corrugadas, que são calculadas para suportarem os esforços devidos a qualquer um


dos produtos arroz, feijão, milho e soja.
A casca cilíndrica constitui-se em chapas metálicas corrugadas, ligadas entre si
por parafusos, com a geometria dada nas figuras 8 e 9.
As colunas metálicas são aparafusadas às chapas, e calculadas para
suportarem os esforços verticais de compressão devidos ao peso da cobertura e ao
atrito do produto. Desde que a cobertura não é objeto de estudo, são simuladas as
características geométricas em todos os modelos, e a massa da cobertura do modelo
flexível.

Figura 8 - Geometria das chapas. Figura 9 - Geometria do silo.

O cálculo das pressões dos produtos é realizado segundo a ISO 11.697 (1997),
o dos esforços nos silos com base na formulação para o “Cálculo dos Esforços em
Reservatórios Cilíndricos” (ANDRADE JR 1998). A verificação das chapas conforme
TRAHAIR et al. (1983), as verificações dos elementos metálicos segundo o texto base
para a norma brasileira "Dimensionamento de estruturas de aço constituídas por perfis
formados a frio" da ASSOCIACAO BRASILEIRA DE NORMAS TECNICAS - ABNT
(2000).
As dimensões e capacidade dos protótipos foram adotadas em função das
maiores demandas comerciais deste tipo de silo, e estão indicadas na tabela 4.

Tabela 4 - Dimensões dos protótipos


H D b Vol. Total Capacidade dada em número de sacos
H/D
m m m m3 de 50 kg, densidade 750 kg/m3
14,5 29,0 7,2 0,5 11.175 167.625
21,5 21,5 5,3 1,0 8.456 126.840

O dimensionamento dos modelos é feito de acordo com as leis de semelhança


deduzidas no item 2.2.1. Análise dimensional, admitindo-se que: i) o fator de geometria
é λL = 1/42, e ii) o fator da velocidade do vento é λU = 1/2.
O fator geométrico é escolhido em função do tamanho da seção do túnel, das
condições de simulação do vento e das respostas dos modelos. Para o flexível, uma
escala pequena acarretaria em deslocamentos pouco perceptíveis da casca cilíndrica,
e, para os rígidos, uma escala grande exigiria correções significativas das pressões.

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138 Luciano Jorge de Andrade Junior & Carlito Calil Junior

Os modelos rígidos têm relação H/D=0,5 e 1,0 e são denominados modelo 0,5
e modelo 1,0. As dimensões estão na tabela 5, considerando-se que altura da
cobertura cônica é b = 0,25D, e uma taxa de bloqueio igual a 10% da área da seção
do túnel.

Tabela 5 - Dimensões dos modelos em função dos diâmetros dos protótipos.


D Seção - mm
b D H b área - m2
protótipo H/D
mm mm mm do túnel
mm
H
29.000 690 345 173 0,5 1220 x 2440
D 21.500 510 510 128 1,0 2,97

Em cada modelo há um conjunto de tomadas de pressão continua e igualmente


distribuídos a 10 mm a partir do topo do cilindro, até a base e até o ápice da cobertura,
sendo definidos modelos com superfícies lisas e com elementos externos. A figura 10
mostra os modelos com elementos externos - colunas no corpo e fios na cobertura.
15,
1

10
5 ,7
2
29 tomadas

10
39 tomadas

51 tomadas
10

35 tomadas
10

10
5

363,8 227,36
545,72
690 510

Figura 10 - Modelos com tomadas de pressão e elementos externos.

As dimensões das colunas para o corpo cilíndrico e dos fios para a cobertura
cônica são mostradas na tabela 6. São 48 colunas no corpo do modelo 0,5 e 36
colunas no corpo do modelo 1,0, sendo as de 4x7 mm na porção inferior e as de 7x2

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A ação do vento em silos cilíndricos de baixa relação altura/diâmetro 139

mm na porção superior. Nas coberturas, são 12 fios grandes e 12 médios em ambos


modelos, e 24 fios curtos adicionalmente à do modelo 0,5.

Tabela 6 - Dimensões das colunas e dos fios para os modelos.


Dimensões das colunas, mm Fio,
A largura segue a direção tangencial φ = 1,0 mm
Comprimento Largura Espessura Comprimento
120 4 7 724
Modelo 0,5
225 7 2 365 e 161
260 4 7 544
Modelo 1,0
250 7 2 316

O modelo flexível é calculado para atender às condições de semelhança de


geometria, de rigidez, de massa, e de aerodinâmica em relação ao protótipo H/D=1,0,
e é constituído em uma casca cilíndrica de Melinex© com 510 mm de diâmetro e de
altura, altura da cobertura igual a 128 mm, figura 11. A casca tem uma espessura
nominal de 0,095 mm, correspondente à espessura média da porção intermediária do
cilindro (0,4H < média (t) < 0,8H); 36 colunas de PETP de espessura nominal de 2,02
mm, numeradas a partir da linha de estagnação e considerando-se a simetria, e
largura variável em relação à altura, como mostrado na tabela 7.

Tabela 7 - Largura variável das colunas do modelo flexível.


z largura
mm mm
24 11,97
47 11,28
71 11,28
95 10,83
119 10,31
142 10,03
166 10,03
190 8,63
213 7,99
237 7,44
261 6,72
285 5,01
308 4,32
332 3,99
356 3,36
380 2,94
403 2,67
427 2,67
451 2,67
474 2,67
498 2,67
510 2,67

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140 Luciano Jorge de Andrade Junior & Carlito Calil Junior

9
θ 8
7
6
5
34
1 2

Vento
510
Figura 11 - Modelo flexível.

A direção z é vertical e a largura tangencial à casca cilíndrica. A cobertura


segue a redução das escalas de geometria e de massa, com a finalidade de enrijecer
o topo do cilindro, sendo construída em madeira balsa, para manter a relação
massa/volume, e em papel impermeável para o acabamento externo final.

3.3 Geração e caracterização do escoamento no túnel de vento

O escoamento de ar gerado no túnel de vento deve atender à redução de


escala geométrica e cinemática, de tal modo que seja simulada a porção inferior da
camada limite, e sejam definidos os fatores e as condições para o silo e o terreno de
modo a serem traçados os perfis de velocidade e de intensidade de turbulência, de
acordo com as normas ESDU (1995) e NBR 6123 (1990). Também é verificada a
escala espacial do vento, que indica as dimensões médias dos maiores turbilhões e
são da ordem de 400 mm.

3.4 Ensaios aerodinâmicos dos modelos rígidos

Os modelos rígidos atendem às condições aerodinâmica e geométrica, e é


admitido que os testes em túnel de vento apresentam as pressões independentes do
número de Reynolds. Isto significa que os coeficientes de pressão são iguais no
modelo e no protótipo.

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A ação do vento em silos cilíndricos de baixa relação altura/diâmetro 141

Cada teste constituiu-se em posicionar um modelo no centro da mesa giratória,


submetê-lo ao escoamento de ar e medir as pressões à medida que o modelo era
girado.

3.5 Ensaios estáticos do modelo flexível

Os ensaios estáticos com aplicação de força pontual são efetuados e medidos


por meio de um transdutor mecânico linear no modelo flexível para servir de parâmetro
às medições que são realizadas sob a ação do vento. As medições também são
efetuadas a partir das imagens obtidas por câmeras de vídeo para três posições
diferentes, V1, V2, V3, indicadas na figura 13, e focos diferentes, foco 1 e foco 2,
conforme as figuras 12 (a, b, c).

Foco

Foco
Figura 12 (a) - Vista V1 do Figura 12 (b) - Vista V2 do Figura 12 (c) - Vista V3 do
modelo flexível indeformado. modelo flexível indeformado. modelo flexível indeformado.

Figura 13 - Posições para a câmera relativas à seção do túnel.

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142 Luciano Jorge de Andrade Junior & Carlito Calil Junior

3.6 Ensaios aeroelásticos do modelo flexível

Os ensaios aeroelásticos seguem o mesmo procedimento de filmagens do


ensaio estático, sendo realizados no túnel de vento 8x4-ft, de seção 1220 x 2440 mm.
As velocidades médias no túnel de vento, referidas a 510 mm de altura, são
aumentadas gradualmente e o modelo é filmado para as velocidades de 1,8 m/s (6,5
km/h), 3,8 m/s (13,7 km/h), 5,6 m/s (20,2 km/h) e 6,93 m/s (25 km/h).

4 RESULTADOS

A abordagem definida na metodologia e nos procedimentos define os


processos dos ensaios para as medições das características do escoamento de ar
gerado no túnel de vento, das distribuições de pressões nos modelos rígidos e das
configurações de deflexão e dos deslocamentos do modelo flexível. A finalidade é
processar e analisar todos os dados obtidos em cada ensaio.

4.1 Perfis de velocidade e de intensidade de turbulência e escalas de


turbulência

Os dados obtidos no túnel consistem em respostas elétricas do anemômetro de


fio quente em volts, convertidas para velocidade em m/s, e normalizadas em relação à
velocidade média igual a 14,43 m/s a 238 mm de altura (10 m em escala real).
Os resultados são apresentados para a velocidade e a intensidade de
turbulência calculadas para atenderem às normas ESDU (1995) e NBR 6123 (1990).

50,00 50,00
y = 65,68x 2 - 81,09x + 24,61

45,00 45,00

40,00 40,00
NBR6123

35,00 35,00
ESDU

30,00 30,00
NBR6123 1/42
Altura z, m

Altura, m

ESDU 25,00
25,00
1/42 Ref 1/42

20,00 Polinômio (1/42) 20,00


Polinômio (Ref
1/42)
15,00 15,00
y = 2,6819x 2 - 104,76x + 1034,5
10,00 10,00

5,00 5,00

0,00 0,00
0,0 0,2 0,4 0,6 0,8 1,0 1,2 1,4 1,6 10 15 20 25 30
Velocidade Normalizada Intensidade de Turbulência, %
1,0 = 14,43 m/s

Figura 14 (a) - Perfis de velocidade Figura 14 (b) - Perfis da intensidade de


normalizada e linha de tendência. turbulência normalizada.

As escalas de turbulência são obtidas a partir da autocorrelação entre as


componentes flutuantes em torno da velocidade média, para três faixas de
velocidades: 1) baixa, U = 3,94 m/s, 2) média, U = 11,40 m/s, e 3) alta, U = 15,56 m/s.
As velocidades de referência são medidas a 238 mm de altura. As figuras 14 (a, b)
mostram os gráficos para as escalas temporal e espacial da turbulência.

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 9, n.41, p. 129-155, 2007


A ação do vento em silos cilíndricos de baixa relação altura/diâmetro 143

0,12 500,00
0,0995 417
392 396
0,10 400,00

Comprimento, mm
Tempo, s 0,08
300,00
0,06
0,0366 200,00
0,04 0,0254
100,00
0,02
0,00 0,00
3,94 11,40 15,56 3,94 11,40 15,56

Velocidade, m/s Velocidade, m/s


Figura 15 - Escalas temporais de Figura 16 - Escalas espaciais de
turbulência. turbulência.

4.2 Distribuições de pressões nos modelos rígidos

Os resultados são os coeficientes de pressões externas, calculados para os


modelos 0,5 e 1,0, com a altura de referência igual a H para o cilindro e a H+b para a
cobertura cônica, em que b=D/4, o modelo 0,5 - H=0,5D=345 mm, e o modelo 1,0 -
H=D=510 mm.
As pressões dinâmicas de referência para o cálculo dos coeficientes de
pressão são 149 Pa a 345 mm, para o cilindro e 188 Pa a 517,5 mm, para a cobertura
do modelo 0,5. Para o modelo 1,0 as pressões respectivas são 185 Pa - 510 mm, e
198 Pa - 637,5 mm.

4.2.1 Coeficientes de pressão para o modelo 0,5


Os coeficientes de pressão para o modelo 0,5 são apresentados para o modelo
com a superfície lisa e com os elementos externos – colunas no cilindro e fios na
cobertura.
Nas figuras 20 e 21 estão apresentadas as isobáricas dos coeficientes de
pressão, Cpe, para o modelo 0,5 com superfície lisa e com elementos externos,
respectivamente.

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144 Luciano Jorge de Andrade Junior & Carlito Calil Junior

4.2.2. Coeficientes de pressão para o modelo 1,0


Os coeficientes de pressão para o modelo 1,0 são apresentados para o modelo
com a superfície lisa e com os elementos externos – colunas no cilindro e fios na
cobertura.

Figura 17 - Cpe para o modelo 1,0 liso. Figura 18 - Cpe no modelo 1,0 nervurado.

4.2.3. Coeficientes de arrasto e de sustentação para os modelos rígidos


Conforme a literatura, a resistência de forma é praticamente igual à resistência
global do corpo ao escoamento do ar. Deste modo, o cálculo dos coeficientes de
arrasto, Ca, e de sustentação, Cs, é mais adequado pela integração dos coeficientes
de pressão.
O Ca é a resultante dos componentes de Cpe na direção do vento, vezes a área
projetada do cilindro (HxD) ou da cobertura (Dxb/2). O Cs é a resultante dos
componentes dos Cpe na direção perpendicular à do vento, vezes a área projetada da
cobertura (πxD2/4). No cilindro o Cs é considerado nulo devido à simetria do
escoamento.
A tabela 7 traz os valores de Ca com Uref à altura H, de Cs com Uref à altura
H+b, e dos números de Reynolds. Os valores positivos de Ca indicam força de arrasto
na direção do vento e Cs negativo indica força vertical com sentido para cima.

Tabela 7 - Coeficientes de arrasto e de sustentação dos modelos.


Modelo Uref , m/s Ca, NBR Ca Ca Cs
H/D Superfície Cilindro Cilindro Cobertura Cobertura Re
Cil. Cob.
0,5 Lisa 0,50 0,51 -0,021 -0,55
15,58 17,50 7,36x105
0,5 Elementos 0,70 0,61 0,033 -0,50
1,0 Lisa 0,50 0,45 -0,030 -0,74
17,60 18,90 6,14x105
1,0 Elementos 0,70 0,56 -0,019 -0,66

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A ação do vento em silos cilíndricos de baixa relação altura/diâmetro 145

4.3. Configurações e medidas das deflexões no modelo flexível

O modelo flexível foi estudado em dois casos: o primeiro para as forças


estáticas aplicadas ao cilindro e o segundo para as forças exercidas pelo vento gerado
no túnel. A finalidade é coletar informações sobre as configurações e os valores de
deslocamentos estáticos característicos, para servir de base na comparação da ordem
de grandeza dos demais deslocamentos devidos à ação do vento.

4.3.1. Ensaios estáticos


As configurações do corpo cilíndrico são mostradas no caso do ensaio estático,
para a aplicação das forças nos pontos θ = 0º, z = 255 mm e z = 380 mm, como
mostrado nas figuras 19 (a) e (b). Os resultados correspondentes estão na tabela 8,
em que as forças aplicadas e os deslocamentos radiais foram efetuados com um
transdutor.

510
510

380
255

Figura 19 (a) - Modelo flexível com força Figura 19 (b) - Modelo flexível com força
aplicada em z = 255 mm. aplicada em z = 380 mm.

Tabela 8 - Valores médios dos deslocamentos radiais dos ensaios estáticos medidos com o
transdutor.

Cota z Força Deslocamento radial, mm


mm N Média Desvio padrão
0,49 3,4 0,15
255 0,98 5,1 0,07
1,37 6,2 0,18
0,49 3,9 0,13
380 0,98 5,4 0,22
1,37 6,6 0,21

Os deslocamentos por imagens foram calculados com o foco 1 a partir das três
vistas 0V1, 0V2 e 0V3, como mostrado na figura 15. O procedimento para as medidas
dos deslocamentos começa com a superposição da imagem digitalizada do modelo
deformado sobre a imagem do modelo indeformado. Então, a imagem da camada
superior (modelo deformado) é modificada e fica translúcida. A partir deste estágio, a
imagem do modelo deformado tem a sua opacidade aumentada até um percentual, em
torno de 35%, em que é possível ver as duas imagens, a do modelo em repouso e a
do modelo deformado. Os valores dos deslocamentos estáticos obtidos por imagens
são mostrados na tabela 9.

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146 Luciano Jorge de Andrade Junior & Carlito Calil Junior

Tabela 9 - Valores obtidos por imagens dos deslocamentos radiais estáticos.


Cota z Força Deslocamento radial,
θ = 4,5º mm N δ
mm
P3 255 1,37 6,3
P6 300 1,37 6,7

4.3.2 Ensaios aeroelásticos


Os testes aeroelásticos foram gravados com a câmera em três posições
diferentes para as velocidades em que é possível observar uma interação do modelo
com o vento. As imagens foram digitalizadas com resolução de 2 pixels por mm, com
um erro no deslocamento igual a 0,5 mm em cada imagem, a uma taxa de reprodução
de 29,97 qps (quadros por segundo).
A esta taxa, cada quadro ocupa 1/29,97 ≅ 0,033 s. A análise das imagens é
feita quadro a quadro, o que significa que o erro de medida do tempo é dado por
0,0167 s,.
Para as velocidades de 1,8 m/s até quase 5,6 m/s o modelo não apresenta
uma resposta visível. A partir de 5,6 m/s ocorrem os primeiros movimentos da coluna 4
na região de mudança de pressões, aproximadamente a 35º da direção do vento.
Na figura 23 são apresentados os tempos de duração das deflexões em função
do tempo de teste do modelo. O tempo médio de duração é igual a 0,14 s e o desvio
padrão é igual a 0,08. Foram contadas 66 deflexões, ou 1,2 deflexão/s.
A figura 24 apresenta os tempos de intervalo entre duas deflexões
consecutivas em função do tempo decorrido do teste do modelo sob a ação do vento.
O intervalo médio entre deflexões é igual a 0,71 s e o desvio padrão é igual a 0,68 s.

0,35 3,00

0,30 35 2,50 35 °
° 35
° ° 35

0,25
4 4 2,00 4 4
Duração, s

Intervalo, s

0,20
1,50
0,15
1,00
0,10

0,05 0,50

0,00 0,00
0
4
8
12
17
21
25
29
33
37
41
46
50
54

0
4
8
12
15
19
23
27
31
35
38
42
46
50
54

Tempo, s Tempo, s
Figura 23 - Tempo de duração das Figura 24- Intervalo entre as deflexões na
deflexões na coluna 4; velocidade 5,6 m/s. coluna 4; velocidade 5,6 m/s.

O modelo foi testado gradualmente de 5,6 a 6,9 m/s, em que foram observados
movimentos crescentes em número e intensidade na região a barlavento. Acima de
6,9 m/s os movimentos começaram a ficar muito pronunciados e, por isto, foi decidida
a velocidade de 6,9 m/s como representativa, no sentido de prover informações sobre
a máxima interação das forças do vento com o modelo.

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A ação do vento em silos cilíndricos de baixa relação altura/diâmetro 147

Na figura 25 são apresentados os tempos de duração das deflexões em função


do tempo de teste do modelo sob a ação do vento. O tempo médio é igual a 0,23 s e o
desvio padrão é igual a 0,15. Foram contadas 108 deflexões, ou 2,15 deflexão/s.
A figura 26 apresenta os tempos de intervalo entre duas deflexões
consecutivas em função do tempo decorrido do teste do modelo sob a ação do vento.
O intervalo médio entre deflexões é igual a 0,24 s e o desvio padrão é igual a 0,31 s.

0,70 1,80

1,60
0,60
35 35 °
° 1,40 ° 35
° 35
0,50
1,20
11
Duração, s

0,40 11

Intervalo, s
1,00

0,30 0,80

0,60
0,20
0,40
0,10
0,20
0,00 0,00
0
4
9
13
18
22
26
31
35
40
44
48

0
3
7
10
14
17
21
24
27
31
34
38
41
45
48
Tempo, s Tempo, s

Figura 25 - Tempo de duração das Figura 26 - Intervalo entre as deflexões na


deflexões na coluna 1; velocidade 6,9 m/s. coluna 1; velocidade 6,9 m/s.

As amplitudes dos deslocamentos foram medidas das imagens e os resultados


estão na tabela 10, para os pontos definidos nas figuras 27, 28 e 29 (vide figuras 12,
13 e 14).

Tabela 10 - Deslocamentos radiais típicos da casca cilíndrica na região 255 < z < 300 mm, -
4,5º < θ < +4,5º, velocidade 6,9 m/s.
Pontos 1 2 3 4 5 6
Deslocamento, mm 6,0 5,5 5,0 5,2 2,8 2,8

P4 P5 P6 P4 P5 P6 P4 P5 P6

P1 P2 P3 P1 P2 P3 P1 P2 P3

Figura 27 - Área em foco 1, Figura 28 - Área em foco 1, Figura 29 - Área em foco 1,


vista 1. vista 2. vista 3.

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148 Luciano Jorge de Andrade Junior & Carlito Calil Junior

5 ANÁLISE DOS RESULTADOS

Os valores dos Cpe foram comparados com aqueles selecionados na literatura


e indicam boa conformidade em relação aos pontos de separação do escoamento do
costado, que são de 38º para o modelo 0,5 e 35º para o modelo 1,0. Para a cobertura
lisa há menos resultados na literatura, mas comprovam os valores e a distribuição dos
Cpe obtidos neste trabalho.
Para os modelos com superfície cilíndrica nervurada não há muitos artigos e os
que foram encontrados não são recentes, com cerca de 40 e até 70 anos. Isto significa
que a simulação das condições do escoamento de ar gerado no túnel não foi realizada
e descrita conforme os métodos atuais, e faltam com detalhes e parâmetros
estatísticos. Mesmo assim, os valores dos Cpe não apresentam discrepâncias e a
resposta geral e as mudanças dos coeficientes em decorrência das nervuras indicam
um mesmo comportamento em relação aos resultados obtidos nos presentes ensaios.
Deste modo, a contribuição é um conjunto de dados atualizados, com características
de semelhança e simulação bem definidas, com repetições dos testes e aplicabilidade
direta para os silos cilíndricos com coberturas cônicas.
Para as coberturas dos modelos são obtidos resultados de pressão em
superfícies lisas e com fios. A necessidade de dados para a superfície com fios é
representar as dobras das chapas usadas em coberturas cônicas metálicas e seus
efeitos nas distribuições de pressões.
No geral, os resultados para a cobertura lisa estão em conformidade com
aqueles comparados na literatura, o que indica que o método utilizado é adequado.
Quanto à superfície cônica com fios, não havia resultados disponíveis para
comparação. Os valores obtidos nos ensaios revelaram uma redução dos coeficientes
de pressão na cobertura devida aos fios, o que é benéfico à estrutura.
Também foram detalhados os valores dos Cpe na junção do corpo cilíndrico à
cobertura cônica. O efeito geral é uma redução significativa, em torno de 60%, destes
coeficientes devido à colocação dos fios.
Os valores derivados dos Cpe, que são os coeficientes de arrasto e de
sustentação, revelam que os valores da NBR 6123 (1990) são conservadores para os
cilindros com nervuras externas, mas estão em conformidade para os cilindros lisos.
Observa-se que o valor do Ca obtido por SABRANSKY & MELBOURNE (1987)
para um cilindro liso de H/D = 0,66, Re = 1,5x105 e cobertura cônica é cerca de 36%
menor que o valor 0,51 obtido para o modelo 0,5 liso. Contudo, a NBR 6123 (1990)
fornece um Ca = 0,50 para um cilindro liso, Re ≥ 4,2x105 e H/D = 0,5. Portanto, o valor
0,51 está em conformidade com o valor definido na norma brasileira de ventos.
Para o modelo 0,5 com nervuras, o valor do Ca da NBR 6123 (1990), para
saliências 0,02D é 0,7, enquanto que o valor experimental obtido é igual a 0,61 para
nervuras de saliências 0,01D para 0 ≤ z/H ≤ 0,35 e 0,006D para 0,35 ≤ z/H ≤ 1,0. Este
valor 0,61 é justificado pelo fato que as relações 0,01D e 0,006D são menores que a
definida pela norma.
O modelo 1,0 liso apresenta um Ca = 0,45, próximo ao valor 0,5 da NBR 6123
(1990). É interessante que SABRANSKY & MELBOURNE (1987) para um silo de H/D
= 1,16 e liso obtêm um Ca = 0,28, muito inferior aos sugeridos pela NBR 6123 (1990).
Para o modelo 1,0 com nervuras o Ca = 0,56 é inferior ao 0,7 fornecido pela
norma brasileira. Contudo, este valor está próximo ao 0,61 obtido por PRIS (1960),
para um cilindro de H/D = 1,3 sob um Re = 3,0x105. Ainda assim, o valor 0,56 é inferior
ao da NBR, pois a relação das saliências é 0,014D para 0 ≤ z/H < 0,49 e 0,008D para
0,49 ≤ z/H ≤ 1,0.
A NBR 6123 (1990) não dispõe dos valores dos Cpe e, conseqüentemente, dos
coeficientes de sustentação Cs para as coberturas cônicas.

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A ação do vento em silos cilíndricos de baixa relação altura/diâmetro 149

Os valores dos Cs para as coberturas cônicas encontrados na literatura são Cs


= -0,90 e Ca = -0,13 de SABRANSKY & MELBOURNE (1987), para um modelo de H/D
= 1,16 e cobertura cônica de 27º, de superfície lisa. Contudo, estes valores são
maiores que Cs = -0,55 e Ca = -0,021 obtidos nos ensaios do modelo 1,0.
A aposição de fios nas coberturas dos modelos reduziu o Cs em 9%
para o modelo 0,5 e em 11% para o modelo 1,0, e alterações pequenas nos valores
dos Ca.
O modelo flexível foi construído em poliéster e em polietileno com relação
H/D=1,0 e superfície externa com nervuras.
Na literatura foram encontrados testes em modelos de alumínio em RESINGER
& GREINER (1981), com superfície lisa, com o objetivo de serem medidas as
pressões que provocam perda de estabilidade da casca cilíndrica. Com base nas
constatações feitas para os modelos em alumínio e nos testes feitos com o modelo
flexível, afirma-se que a configuração de deformação é de 2 semi-ondas para os silos
metálicos de chapas corrugadas e colunas externas, mas sem anel de enrijecimento.
Noutro estudo de UEMATSU & UCHIYAMA (1985) foi utilizado um modelo
cilíndrico de H/D=2,0 e cobertura plana, também em poliéster, mas com superfície lisa,
para o estudo do comportamento dinâmico do cilindro relacionado às características
dos campos de pressões. Com base nestes autores, os resultados que foram obtidos
para o modelo 1,0 indicam que as primeiras deflexões em um silo cilíndrico de chapas
metálicas corrugadas com colunas externas podem ocorrer a partir de Re = 2,0x105.

6 CONCLUSÕES

Na engenharia as estruturas dos silos são calculadas com a finalidade principal


de suportarem as ações devidas aos produtos armazenados. A ação variável do vento
é importante para o caso em que o silo é metálico e se encontra vazio e é necessário
entender o seu comportamento para a verificação da estabilidade local e global do
corpo cilíndrico.
Os valores sugeridos pela NBR 6123 (1990) para os coeficientes de pressão no
corpo do silo cilíndrico devem ser usados para um escoamento de ar acima da região
crítica, ou seja, para número de Reynolds acima de 4,2x105, ou seja, para D.U > 6,14
m/s2, e com a pressão dinâmica q calculada à altura de referência igual a 10,0 m.
Mantendo-se estas mesmas condições da norma, é proposta uma altura de
referência em H porque se reporta diretamente à geometria do silo, e o valor da
pressão dinâmica do vento pode ser facilmente calculado para esta altura.
Para os cilindros com relação H/D = 0,5 os valores dos Cpe da norma brasileira
podem ser usados para a superfície lisa e, se usados para a superfície com elementos
externos, ou saliências, os valores estão a favor da segurança.
Para os cilindros com relação H/D = 1,0 os Cpe positivos obtidos no presente
trabalho estão de acordo com aqueles fornecidos pela norma brasileira, mas são muito
diferentes na região de pressões negativas, principalmente para o cilindro liso.
Deste modo, são fornecidos na tabela 11 os valores dos Cpe para os cilindros
de relação H/D = 0,5 e 1,0 para uma pressão dinâmica q calculada à altura de
referência H, conforme o procedimento da NBR 6123 (1990).
Na tabela 12 são apresentados os valores dos coeficientes de arrasto
sugeridos para a relação de altura das nervuras próximas a 0,01.D e os valores da
NBR 6123 (1990) para 0,02.D e 0,08D para os silos cilíndricos de relação H/D = 0,5 e
1,0
Os valores dos coeficientes de arrasto Ca sugeridos pela NBR 6123 (1990) são
mantidos para os silos lisos, porque estão em conformidade com os resultados
obtidos. Para os cilindros com colunas externas de relação para a altura da coluna
próximas a 0,01.D, é sugerido o valor 0,6, inferior ao da NBR 6123 (1990), que adota

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 9, n.41, p. 129-155, 2007


150 Luciano Jorge de Andrade Junior & Carlito Calil Junior

0,7 para a relação 0,02.D. Para relações próximas a 0,08.D, os valores da NBR 6123
(1990) são mantidos. Para relações intermediárias os coeficientes podem ser
estimados por interpolação linear.

Tabela 11 - Distribuição Cpe para os silos cilíndricos de relação H/D = 0,5 e 1,0.
Coeficientes de pressão externa Cpe
Pressão dinâmica q à altura H b
θ Superfície Lisa Superfície com Colunas
0,5 1,0 0,5 1,0

H
0º 0,9 0,85 0,80 0,85
10º 0,8 0,8 0,75 0,7
20º 0,6 0,5 0,6 0,5
30º 0,3 0,2 0,4 0,2
D
35º 0,15 0 0 0
40º 0 -0,2 -0,3 -0,3
50º -0,4 -0,6 -0,5 -0,65
Vento
60º -0,75 -1,0 -0,7 -0,8 θ
70º -1,00 -1,3 -0,8 -0,9
80º -1,14 -1,5 -0,6 -0,7
90º -1,14 -1,5 -0,6 -0,6
100º -0,95 -1,3 -0,5 -0,5 D
110º -0,39 -1,0 -0,5 -0,5
120º -0,39 -0,6 -0,45 -0,5
140º -0,39 -0,5 -0,4 -0,5
160º -0,39 -0,5 -0,4 -0,5
180º -0,39 -0,5 -0,4 -0,5

Tabela 12 - Valores dos Ca para silos cilíndricos com relação H/D = 0,5 e 1,0.
Re H/D
Planta x 105
0,5 1,0
≤ 3,5 0,7 0,7
Liso
≥ 4,2 0,5 0,5
Com colunas de Todos
0,6 0,6
altura = 0,01D valores
Com colunas de Todos
Vento 0,7 0,7
D altura = 0,02D valores
Com colunas de Todos
0,8 0,8
altura = 0,08D valores

A norma brasileira não apresenta valores para os coeficientes de pressão


externa na cobertura cônica. Com base nos resultados obtidos são propostas as
distribuições dos coeficientes de pressão externa em coberturas cônicas, que estão
apresentadas nas figuras 30, 31, 32 e 33. Estas distribuições servem para o cálculo
das forças localizadas nas coberturas cônicas lisas e nervuradas, com fios de altura
0,01.b.

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A ação do vento em silos cilíndricos de baixa relação altura/diâmetro 151

Nível Cpe Nível Cpe


13 0 12 -0,1
12 -0,25 11 -0,3
1310 42 4 10 11 -0,5 9 9 10 -0,5
9 9
5 10 -0,7 6 46
11 12 11 8 6
7 11 12 98 5
6
9 -0,7
9 -1 11 10 8 -0,9
7 6 10 11
11 12 9 8 -1,2 99
10 11 9 11 7 -1,1
11 11 88
8 9 7 -1,4 11 11
7
6 -1,3
11 10 6 -1,7 10 9
12 10 10 5 -1,5
10 11 5 -1,9 10 9 4 -1,7
10 4 -2,1 9
9 3 -1,9
11 3 -2,4 9
99 10 2 -2,1
9 9 2 -2,6 9
1 -2,3
1 -2,85

Figura 30 - Cpe para cobertura cônica lisa Figura 31 - Cpe para cobertura cônica
com 27º em silos com H/D=0,5. nervurada com 27º em silos com H/D=0,5.

Nível Cpe Nível Cpe


11 4
11 10 7 14 -0,1 12 0
14 12 8 13 13 -0,4 7 76 33 11 -0,2
12 11
12 13 9 12 -0,7 12 9 4 10 10 -0,4
9
11 -1,0 8 10 4 9 -0,6
10 10 -1,3
12 8 -0,8
12 12 9 -1,6 6 7 -1,0
11 7 9
12 8 -1,9 9 9 6 -
7 -2,2 8 8 1,15
6 -2,5
10
5 -1,3
5 -2,8 4 -1,5
4 -3,1 3 -1,7
3 -3,5 2 -1,9
2 -3,8 1 -2,1
1 -4,1

Figura 32 - Cpe para cobertura cônica lisa Figura 33 - Cpe para cobertura cônica
com 27º em silos com H/D=1,0. nervurada com 27º em silos com H/D=1,0.

Na tabela 13 são propostos os coeficientes de arrasto e de sustentação para a


determinação das forças globais que atuam nas coberturas cônicas.

Tabela 13 - Valores dos coeficientes de arrasto e de sustentação para as coberturas cônicas


de inclinação 27º (b/D=1/4) com relação H/D = 0,5 e 1,0.
Superfície H/D Ca Cs
Lisa 0,5 -0,02 -0,55
Nervurada 0,01.b 0,5 0,03 -0,5
Lisa 1,0 -0,03 -0,75
Nervurada 0,01.b 1,0 -0,02 -0,65

É vantajoso o posicionamento das colunas externamente, porque reduz pela


metade as pressões nas laterais do corpo cilíndrico. Um ônus seria o acréscimo da
força de arrasto, mas isto não aumenta a ancoragem do silo significativamente em
relação ao benefício de se ter um alívio das pressões nas laterais do silo.
Os testes no modelo flexível permitiram avaliar a formulação teórica para uma
casca cilíndrica com colunas. O comportamento da casca somente com colunas foi

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 9, n.41, p. 129-155, 2007


152 Luciano Jorge de Andrade Junior & Carlito Calil Junior

simulado no túnel de vento, mas as deflexões começaram a 5,6 m/s e, sem dúvida,
para 6,9 m/s os deslocamentos extrapolaram a capacidade da estrutura. A conclusão
é que o corpo do silo necessita de anéis de enrijecimento ao longo da altura.
Como uma sugestão preliminar para que a estrutura suporte maiores
velocidades do vento, fundamentada nos estudos de BRIASSOULIS & PECKNOLD
(1986) e na formulação teórica de BRUSH & ALMROTH (1975), sugere-se que sejam
conectados anéis de seção tubular para enrijecer o costado do silo.
Supondo-se que o silo esteja com colunas externas, mas não seja enrijecido
com anéis, estima-se que a perda de estabilidade ocorreria para uma pressão crítica
igual a 375 N/m2, que, nas condições de terreno estabelecidas para os protótipos,
equivale a Vo = 25 m/s. Rememorando-se que o modelo flexível desenvolve um
comportamento de deflexões máximas à velocidade de 6,9 m/s, o que dá 14 m/s em
escala real, ou 120 N/m2, considera-se que é preciso rever essa formulação. A título
de entendimento do efeito das colunas, caso fosse considerado o cilindro somente
com as chapas corrugadas, a pressão crítica seria igual a 314 N/m2. Caso as chapas
não fossem corrugadas, a pressão crítica no cilindro seria 6,5 N/m2.

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