Você está na página 1de 12

RECONSTRUÇÃO FACIAL

História do cuidado com o corpo

A história nos mostra que o costume de embalsamar cadáveres humanos, de prepara-los para velá-los
preservando suas características físicas o mais próximo do natural e pelo maior tempo possível é algo respeitante
ao ser humano.
Os Chinchorros são o povo que há mais tempo usou esta prática, estudos arqueológicos realizados na cidade
de Arica, extremo norte do Chile, no deserto Atacama, mostram cadáveres mumificados datados de 7.000 anos.
Além do clima seco do deserto, que contribui para o sucesso do procedimento de conservação, eles usavam
barro, madeira e até capim na tentativa de devolver a aparência normal do cadáver, tendo como motivo rituais
mágicos.
Há 3.000 anos os egípcios acreditavam que preservar o corpo na morte pelo processo de mumificação era
importante para manter sua alma em vida, sem um corpo físico a alma não tinha lugar para morar . As antigas
máscaras mortuárias egípcias foram usadas para cobrir o rosto de múmias e assegurar que o espírito da pessoa
morta fosse capaz de reconhecer o corpo. Máscaras mortuárias eram feitas de linho ou papiro e pintado para
parecer ouro. A finalidade das máscaras da morte era fornecer os mortos com o rosto na outra vida. A mais
conhecida é a máscara mortuária de Tutancâmon, esta, feita em ouro.

Ao longo dos tempos os egípcios aperfeiçoaram a arte das máscaras mortuárias. No período romano as
máscaras ainda eram usadas e continuaram sendo confeccionados ao longo dos milênios. Na evolução de suas
técnicas as máscaras mortuárias costumavam ser criadas poucas horas após a morte da pessoa, para não
comprometer a aparência da peça, e eram produzidas a partir de moldes de cera e gesso feitos do rosto do
falecido e após eram pintadas para parecerem vivas.

438
O hábito da execução de máscaras mortuárias se perpetuou e tornou relevante quanto à exposição “in
memorian” de figuras ilustres e personalidades históricas, entre elas Lenin e Beethoven apresentados a seguir.

439
No Brasil, a história política pode ser retratada com a imagem real de personalidades através da máscara
mortuária, como as de Getúlio Vargas e Tancredo Neves.

Já no século XIX, durante a guerra civil americana (1861-1865) o médico Thomas Holmes destacou-se
embalsamando 4.028 soldados mortos em combate para devolvê-los a seus familiares. Com isso até os dias
atuais o povo americano permanece com esse costume.
Como podemos observar a necessidade de cuidar dos seus entes queridos não é difundida pelo comércio
nem pela cultura, vem gravada no DNA do ser humano. Quando a empresa funerária é contratada, a família
procura o serviço de cuidados com o corpo e os materiais que compõem o funeral complementam o serviço.

O Mundo atual

Com a globalização da economia é cada vez maior o número de pessoas fora do seu país de origem e a
aparência é altamente valorizada nos mundos sociais e nos negócios, onde as pessoas se tornam conhecidas,
mas são reconhecidas pelas suas faces.
A morte se apresenta de forma trágica e sofrida, a aparência saudável desaparece e a imagem de abandono,
de sofrimento choca os seus semelhantes e o velamento com a urna fechada é fator de negação da morte

440
atrapalhando assim o processo de luto. Quando a aparência da pessoa falecida estiver muito prejudicada,
deixará tristes lembranças e até traumas psicológicos aos familiares.
Com a reconstrução facial a imagem da pessoa falecida é preservada e passa a ser reconhecida, a família é
protegida dos constrangimentos ocasionados e pode guardar uma imagem natural e de descanso.

Reconstrução Facial

A Reconstrução Facial é uma técnica de recuperação das feições da pessoa falecida, redução dos efeitos de
prolongados períodos de enfermidade e acidentes trágicos com lesões faciais, braços e mãos, permitindo assim
uma última apresentação confortante à família e amigos.

EPIs

Em todo procedimento efetuado no corpo devemos ter cuidado. O uso de equipamentos de proteção individual
(EPI), touca, máscara, avental, luva descartável, botas de borracha e óculos de proteção são indispensáveis para
a preservação da saúde do profissional que está manipulando o cadáver.

A Tanatopraxia

Para obtermos um bom resultado na reconstrução facial e necromaquiagem é recomendado que o corpo
passe pelo procedimento de conservação, ou seja, pela tanatopraxia, pois este procedimento torna o corpo
estabilizado.
Para se interferir na decomposição do corpo é necessário substituir os líquidos corporais por líquidos
conservantes que tem a capacidade de matar bactérias, fungos e vírus além de proceder com a fixação celular.
Esses líquidos conservantes são injetados no cadáver através do sistema arterial impulsionados por uma bomba
injetora com pressão e vazão similares as do coração, a veia é aberta para a drenagem do sangue. Durante e
injeção arterial o corpo é massageado para permitir uma melhor drenagem do sangue. Após a injeção arterial as
cavidades torácica, pélvica e abdominal são aspiradas através de instrumental denominado vara trocadora, ligado
a uma bomba aspiradora, a seguir, é introduzido nessas cavidades uma quantidade de líquido cavitário
conservante.

Fraturas Faciais

O tipo de fratura facial e sua extensão são determinados por fatores anatômicos, tais como, forma, tamanho,
densidade das estruturas ósseas e suas relações com cavidades ósseas, estruturas musculares e tecido mole
que o reveste. Podemos então considerar que os fatores anatômicos influenciam no maior ou menor
deslocamento dos segmentos fraturados ou proteção da estrutura óssea.
As principais causas dos traumas de face são o aumento em acidentes automobilísticos, a violência urbana e
quedas. O gênero mais acometido é o masculino e a faixa etária varia, contudo a maior concentração de vítimas
encontra-se na faixa de 20 a 30 anos de idade.

441
Na reconstrução facial, devemos analisar o comprometimento interno e externo da face, ou seja, examinar se
há fraturas, perda tecidual e perda óssea.

Osteologia da cabeça

A Osteologia é o ramo da anatomia que estuda a estrutura, forma e desenvolvimento dos ossos e das
articulações.
Na reconstrução facial, devemos conhecer os ossos da cabeça bem como sua estrutura, forma e
desenvolvimento. O trabalho não será de replicar o formato do osso em si, mas sim criar estrutura com base no
tamanho, volume e característica individual do falecido.

Faz-se importante atentarmos aos conhecimentos em antropologia no fator sexo onde as características
ósseas se diferem, e com isto conseguiremos direcionar a base da reconstrução.

1. Diferenças sexuais do crânio – Vista Lateral.

1.1. Contorno do Crânio:


No homem: Suave.
Na mulher: Mais angular.

1.2. Processo Mastóide:


Na mulher é menor e mais liso.

442
1.3. Ângulo da Mandíbula:
No homem: reto.
Na mulher: obtuso.

1.4. Borda Inferior do Zigomático:


No homem é mais desenvolvido.

Masculino Feminino

2. Diferenças sexuais do crânio – Vista Frontal

2.1. Seio frontal:


Na mulher é menos volumoso.

2.2. Arcos superciliares:


No homem é mais desenvolvido.

2.3. Margem supra-orbital:


Na mulher é mais cortante.

2.4. Zigomático:
No homem é mais desenvolvido.

Músculos da Face

443
Os músculos faciais são um grupo de cerca de vinte músculos esqueléticos planos que se encontram abaixo
da face da pele. A maior parte deles se origina do crânio ou de estruturas fibrosas, e se irradiam para a pele
através de um tendão elástico.
Ao contrário de outros músculos esqueléticos, eles não são cercados por uma fáscia (exceto o bucinador).
Estão posicionados ao redor das aberturas da face (boca, olho, nariz e ouvido), ou se estendem ao longo do
crânio e pescoço.
A localização específica dos músculos faciais permite a realização dos diversos movimentos do rosto, que é
conhecida como mímica. Estes músculos participam em várias expressões faciais, como surpresa, riso, dor, etc.
Na reconstrução, usaremos técnicas para corrigir algumas expressões e o conhecimento dos músculos da
face é importante.

1. Couro Cabeludo
1.1. Epicrânio:
O Epicrânio é uma vasta lâmina musculotendinosa que reveste o vértice e as faces laterais do crânio, desde o
osso occipital até a sobrancelha. É formado pelo ventre occipital e pelo ventre frontal e estes são reunidos por
uma extensa aponeurose intermediária: a gálea aponeurótica.

444
1.1.1. Ventre Occipital:
Origem: 2/3 laterais da linha da nuca superior do osso occipital e processo mastoide.
Inserção: Gálea aponeurótica.
Inervação: Ramo auricular posterior do nervo facial.
Ação: Trabalhando com o ventre frontal traciona para trás o couro cabeludo, elevando as sobrancelhas e
enrugando a fronte.

1.1.2. Ventre Frontal:


Origem: Não possui inserções ósseas. Suas fibras são contínuas com as do prócero, corrugador e orbicular do
olho.
Inserção: Gálea aponeurótica.
Inervação: Ramos temporais.
Ação: Trabalhando com o ventre occipital traciona para trás o couro cabeludo, elevando as sobrancelhas e
enrugando a fronte. Agindo isoladamente, eleva as sobrancelhas de um ou de ambos os lados.

1.2. Temporoparietal:
O Temporoparietal é uma vasta lâmina muito delgada.
Origem: Fáscia temporal.
Inserção: Borda lateral da gálea aponeurótica.
Inervação: Ramos temporais.
Ação: Estica o couro cabeludo e traciona para trás a pele das têmporas. Combina-se com o occipitofrontal para
enrugar a fronte e ampliar os olhos (expressão de medo e horror).

1.3. Gálea Aponeurótica:


A Gálea Aponeurótica reveste a parte superior do crânio entre os ventres frontal e occipital do occipitofrontal.
Origem: Protuberância occipital externa e linha nucal suprema do osso occipital.
Inserção: Frontal. De cada lado recebe a inserção do temporoparietal.
Inervação: O ventre frontal e temporoparietal são supridos pelos ramos temporais, e o ventre occipital, pelo ramo
auricular posterior do nervo facial.
Ação: Traciona para trás o couro cabeludo elevando a sobrancelha e enrugando a fronte, como uma expressão
de surpresa.

2. Pálpebras
2.1. Orbicular do olho:
Este músculo contorna toda a circunferência da órbita. Divide-se em três porções: palpebral, orbital e lacrimal.
Origem: Parte nasal do osso frontal (porção orbital), processo frontal da maxila, crista lacrimal posterior (porção
lacrimal) e da superfície anterior e bordas do ligamento palpebral medial (porção palpebral).
Inserção: Circunda a órbita, como um esfíncter.
Inervação: Ramos temporal e zigomáticas do nervo facial.
Ação: Fechamento ativo das pálpebras.

2.2. Corrugador do supercílio:

445
Origem: Extremidade medial do arco superciliar.
Inserção: Superfície profunda da pele.
Inervação: Ramos temporal e zigomáticas do nervo facial.
Ação: Traciona a sobrancelha para baixo e medialmente, produzindo rugas verticais na fronte. Músculos da
expressão de sofrimento.

3. Nariz
3.1. Prócero:
Fáscia que reveste a parte mais inferior do osso nasal e a parte superior da cartilagem nasal lateral.
Inserção: Pele da parte mais inferior da fronte entre as duas sobrancelhas.
Inervação: Ramos bucais do nervo facial.
Ação: Traciona para baixo o ângulo medial da sobrancelha e origina as rugas transversais sobre a raiz do nariz.

3.2. Nasal (transverso do nariz):


Origem:
 Porção Transversal – Maxila, acima e lateralmente à fossa incisiva.
 Porção Alar – Asa do nariz.
Inserção:
 Porção Transversal – Dorso do nariz
 Porção Alar – Imediações do ápice do nariz
Inervação: Ramos bucais do nervo facial
Ação: Dilatação do nariz

3.3. Depressor do Septo:


Origem: Fossa incisiva da maxila.
Inserção: Septo e na parte dorsal da asa do nariz.
Inervação: Ramos bucais do nervo facial.
Ação: Traciona para baixo as asas do nariz, estreitando as narinas.

4. Orelha
4.1. Auricular Anterior:
Origem: Porção anterior da fáscia na zona temporal.
Inserção: Saliência na frente da hélix.
Inervação: Ramos temporais.
Ação: Traciona o pavilhão da orelha para frente e para cima.

4.2. Auricular Superior:


Origem: Fáscia da zona temporal.
Inserção: Tendão plano na parte superior da superfície craniana do pavilhão da orelha.
Inervação: Ramos temporais.
Ação: Traciona o pavilhão da orelha para cima.

4.3. Auricular Posterior:

446
Origem: Processo mastoide.
Inserção: Parte mais inferior da superfície craniana da concha.
Inervação: Ramo auricular posterior do nervo facial.
Ação: Traciona o pavilhão da orelha para trás.

5. Boca
5.1. Levantador do Lábio Superior e Asa do Nariz:
Origem: Processo frontal da maxila.
Inserção: Se divide em dois fascículos. Um se insere na cartilagem alar maior e na pele do nariz e o outro se
prolonga no lábio superior.
Inervação: Ramos bucais do nervo facial.
Ação: Dilata a narina e levanta o lábio superior.

5.2. Levantador do Lábio Superior:


Origem: Margem inferior da órbita acima do forame infra-orbital, maxila e zigomático.
Inserção: Lábio superior e asa do nariz.
Inervação: Ramos bucais do nervo facial.
Ação: Levanta o lábio superior e leva-o um pouco para frente.

5.3. Levantador do Ângulo da Boca:


Origem: Fossa canina (maxila).
Inserção: Ângulo da boca.
Inervação: Ramos bucais do nervo facial.
Ação: Eleva o ângulo da boca e acentua o sulco nasolabial.

5.4. Zigomático Menor:


Origem: Superfície malar do osso zigomático.
Inserção: Lábio superior (entre o levantador do lábio superior e o zigomático maior).
Inervação: Ramos bucais do nervo facial.
Ação: Auxilia na elevação do lábio superior e acentua o sulco nasolabial.

5.5. Zigomático Maior:


Origem: Superfície malar do osso zigomático.
Inserção: Ângulo da boca.
Inervação: Ramos bucais do nervo facial.
Ação: Traciona o ângulo da boca para trás e para cima (risada).

5.6. Risório
Origem: Fáscia do masseter.
Inserção: Pele no ângulo da boca.
Inervação: Ramos mandibular e bucal do nervo facial.
Ação: Retrai o ângulo da boca lateralmente (riso forçado).

447
5.7. Depressor do Lábio Inferior:
Origem: Linha oblíqua da mandíbula.
Inserção: Tegumento do lábio inferior.
Inervação: Ramos mandibular e bucal do nervo facial.
Ação: Repuxa o lábio inferior diretamente para baixo e lateralmente (expressão de ironia).

5.8. Mentoniano:
Origem: Fossa incisiva da mandíbula.
Inserção: Tegumento do queixo.
Inervação: Ramos mandibular e bucal do nervo facial.
Ação: Eleva e projeta para fora o lábio superior e enruga a pele do queixo.
5.9. Transverso do Mento:
Não é encontrado em todos os corpos.
Origem: Linha mediana logo abaixo do queixo
Inserção: Fibras do depressor do ângulo da boca
Inervação: Ramos mandibular e bucal do nervo facial
Ação: Auxilia na depressão o ângulo da boca

5.10. Depressor do Ângulo da Boca:


Origem: Linha oblíqua da mandíbula.
Inserção: Ângulo da boca.
Inervação: Ramos mandibular e bucal do nervo facial.
Ação: Deprime o ângulo da boca (expressão de tristeza).

5.11. Orbicular da Boca:


Não é encontrado em todos os corpos.
Origem: Parte marginal e parte labial.
Inserção: Rima da boca.
Inervação: Ramos bucais do nervo facial.
Ação: Fechamento direto dos lábios.

5.12. Bucinador:
Importante músculo acessório na mastigação, mantendo o alimento sob a pressão direta dos dentes.
Origem: Superfície externa dos processos alveolares da maxila, acima da mandíbula.
Inserção: Ângulo da boca.
Inervação: Ramos bucais do nervo facial.
Ação: Deprime e comprime as bochechas contra a mandíbula e maxila. Importante para assobiar e soprar.

Pele

A pele é um órgão do sistema tegumentar constituído por uma camada de tecidos que protegem os músculos
e órgãos subjacentes. É considerada uma das partes mais importantes do corpo, desempenha o papel mais

448
importante na proteção contra patógenos, como também isolamento e regulação de temperatura, sensação e
síntese de vitamina D e B.
A pele tem duas camadas principais de tecidos e funções muito diferentes.
A pele é composta pela epiderme e pela derme. Abaixo dessas camadas está a hipoderme ou camada adiposa
subcutânea.
Quando há o comprometimento do tecido (pele) no óbito, usaremos técnicas para cobertura e estrutura no
procedimento da reconstrução facial.

449

Você também pode gostar