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Fonte: http://1999pkdweb.philipkdickfans.com/Man,
%20Android%20and%20Machine.htm
Essas criaturas estão entre nós, embora elas não se diferenciem de nós
morfologicamente; nós não devemos postular uma diferença de essência, mas uma
diferença de comportamento. Em minha ficção científica, escrevo sobre elas
constantemente. Algumas vezes, elas mesmas não sabem que são androides. Como
Rachel Rosen, elas podem ser belas, mas, de alguma forma, pode nelas faltar algo;
ou, como Pris em WE CAN BUILD YOU, eles podem ter nascido totalmente de um
útero humano, ou até mesmo projetar [design] androides — o Abraham Lincoln,
nesse livro — e eles mesmos não terem paixão [warmth]; eles caem na definição
clínica da entidade “esquizoide”, que significa que lhes falta precisamente
sentimento. Estou certo de que queremos dizer a mesma coisa aqui, com ênfase na
palavra “coisa”. Um ser humano que não tenha propriamente empatia ou
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A maior mudança que se vê progredindo por todo o mundo nos dias de hoje
é provavelmente o impulso do vivente rumo a reificação e, ao mesmo tempo, uma
recíproca na animação pelo que é mecânico. Não possuímos, no momento,
nenhuma categoria pura para falar sobre o confronto entre o vivo e o não-vivo; esse
será nosso paradigma; minha personagem Hoppy, em DR. BLOODMONEY, que é
uma espécie de bola de futebol humana [human football] em um labirinto de
servomecanismos [servo-assists]. Parte dessa entidade é orgânica, mas o todo dela
está vivo; parte veio de um útero, todas [suas partes] vivas e dentro do mesmo
universo. Eu estou falando sobre o nosso mundo real, e não sobre um mundo de
ficção, quando eu digo: um dia, teremos milhões de entidades híbridas que vão ter
um pé em cada mundo, ao mesmo tempo. [A tentativa de] defini-los como o
“homem” versus a “máquina” nos fornecerá com jogos de quebra-cabeças [puzzle-
games]. Nossa real preocupação é e será a seguinte: a entidade composta (da qual
Palmer Eldritch é um bom exemplo dentre outras personagens) se comporta de
modo humano? Muitas de minhas estórias contêm sistemas puramente mecânicos
que demonstram afetuosidade — taxis, por exemplo, ou os pequenos carrinhos de
compra [rolling carts] no final de À ESPERA DO ANO PASSADO, construídos por
aquele pobre e defeituoso humano. “Humano” ou “ser humano” são termos que
devemos compreender corretamente, e devemos aplica-los, mas eles se aplicam
não à origem ou a qualquer ontologia, mas a uma forma de ser no mundo; se um
construto mecânico interrompe sua operação costumeira para te cedesse
assistência, você então, grato, suporia nele uma humanidade que nenhuma análise
de seus transistores e sistemas de retransmissão poderiam elucidar. Um cientista,
seguindo os traços dos circuitos cabeados dessa máquina, a fim de localizar nela
sua humanidade, seria como nossos mais sérios cientistas, que tentam em vão
localizar a alma no homem e, não sendo capazes de encontrar um órgão específico
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em um ponto específico, optam por se negar a admitir que temos almas. Como a
alma é para o homem, o homem é para a máquina: é sua dimensão adicional, em
termos de hierarquia funcional. Como um de nós age de maneira divina (doando
seu casaco a um estranho), uma máquina age de maneira humana quando pausa,
em seu ciclo programado, para protelar por causa de uma decisão [a ser tomada].
Ainda assim, devemos nos dar conta de que o universo, ainda que gentil
para conosco em sua totalidade (ele deve gostar de nós e nos aceitar, ou não
estaríamos aqui; como Abraham Maslow diz, “de outro modo, a natureza nos teria
executado há muito tempo”), contem máscaras sorridentes e malignas que nos
assomam a partir da névoa confusa, e que podem nos assassinar para seu próprio
proveito.
Em minha escrita, há anos tenho por tema o seguinte: “O diabo tem uma
face de metal.” Talvez isso deva ser agora corrigido. O que eu vislumbrei e, então,
sobre o que eu escrevi não era, na verdade, uma face; era uma máscara sobre uma
face. E a face verdadeira é o inverso da máscara. É claro que ela seria isso. Você não
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deve colocar um metal frio e cruel sobre outro metal frio e cruel. Você o coloca
sobre carne macia, como inofensivos adornos de mariposa, em si mesmo
inofensivos, aterrorizam outros que tenham ocelli. Essa é uma medida defensiva e,
se ela funciona, o predador retorna para sua toca, resmungando: “Eu vi a mais
horripilante criatura no céu — caretas selvagens e asas [flappings], ferrões e
venenos.” Seu parente está impressionado. A mágica funciona.
o mal, o bem; o bem é reservado ao bom, e o mal, para os maus. [the good is
preserved for the good, and the evil for the bad ones.]”
Subjacente aos dois jogadores, está Deus, que não é nenhum deles e ambos. O
resultado do jogo é o de que os dois jogadores fiquem purificados. Tal é o
monoteísmo hebreu antigo, tão superior a nossa própria perspectiva [to our own
view]. Nós somos criaturas em um jogo, com nossas afinidades e aversões
predeterminadas para nós — não pelo acaso cego, mas por pacientes e videntes
sistemas de marcação [engramming systems] que nós mal vemos. Se fosse para vê-
los claramente, nós teríamos de abolir o jogo. Evidentemente, isso não serviria ao
propósito de ninguém. Devemos confiar nesses tropismos e, de qualquer maneira,
não temos nenhuma escolha — não até que os tropismos se mostrem [lift]. E, sob
certas circunstâncias, eles podem se mostrar e se mostram. E, nesse ponto, muito
do que, anteriormente, estava oculto para nós, se torna claro, intencionalmente.
Devemos nos dar conta de que esse embuste, esse obscurecimento das
coisas como sob um véu — o véu de Maya, como tem sido chamado — não é um
fim em si mesmo, como se o universo fosse, de alguma forma, perverso e gostasse
de nos despistar per se; o que devemos aceitar, uma vez que nos dermos conta de
que um véu (chamado pelos gregos de dokos) repousa entre nós e a realidade, e de
que este véu serve a um propósito benigno. Parmênides, o filósofo pré-socrático, é
historicamente creditado por ser a primeira pessoa no Ocidente a elaborar
sistematicamente provas de que o mundo não pode ser como nós vemos, de que o
dokos, o véu, existe. Observamos que São Paulo expressa uma noção praticamente
igual quando fala sobre vermos “como se por um reflexo no fundo de uma panela
de metal.” Ele está se referindo à noção familiar de Platão de que vemos apenas
imagens da realidade, e de que provavelmente essas imagens sejam imprecisas,
imperfeitas e não confiáveis. Gostaria de acrescentar que Paulo provavelmente
estava dizendo uma coisa a mais que Platão, na celebrada metáfora da caverna:
Paulo estava dizendo que podemos muito bem estar vendo o universo ao contrário.
Espero que você perceba a importância disso. O tempo é real, tanto como
uma experiência, no sentido kantiano do termo, quanto no sentido em que o
doutor soviético Nikolai Kozyrev a expressou: de que o tempo é uma energia, a
energia básica que mantém o universo unido, sobre a qual toda a vida depende,
fonte da qual emana e se expressa todo fenômeno: ele é a energia de cada
enteléquia e da enteléquia total do universo mesmo.
Uma pista disso repousa na reiteração de São Paulo de que os Últimos Dias
do mundo seriam o Tempo de Restauração de Todas as Coisas. Ele evidentemente
havia experienciado esse tempo ortogonal o suficiente para compreender que ele
contém em si, como um plano ou extensão simultânea, tudo o que já passou, assim
como os sulcos em um LP contêm a parte da música que já foi tocada neles. Um
gravador fonográfico é, na verdade, uma longa espiral helicoidal, e pode ser
representado inteiramente com algum tipo de geometria plana no espaço, embora
eu suponha que você possa dizer que a agulha acumula a música na medida em
que passa [pelo disco]. A ideia de disfunções, como o pulo para trás ou para frente,
é possível aqui, mas isso não serviria a nenhum propósito teleológico; as
disfunções seriam apenas lapsos de tempo, como em minha novela, TEMPO
MARCIANO. Ainda assim, se elas ocorressem, serviriam a um propósito para nós,
o observador ou ouvinte; nós poderíamos, de súbito, aprender muito sobre nosso
universo. Eu acredito que essas disfunções ontológicas ocorram com o tempo, mas
que nossos cérebros geram automaticamente falsos sistemas de memória para
obscurece-las de uma vez. A razão para tal leva de volta a minha premissa: o véu ou
dokos está aí para nos enganar por uma boa razão, e tais revelações, como essas
disfunções temporais, são feitas para serem obliteradas para que esse propósito
benigno seja mantido.
Isso implicaria que nosso mundo, tão extensivo em tempo (ao invés de extensivo
em espaço), é como uma cebola, um montante quase infinito de camadas
sucessivas. Se o tempo linear parece adicionar camadas, talvez então o tempo
ortogonal as descasque, expondo camadas de progressivamente maiores de Ser.
Pode-se lembrar, aqui, do ponto de vista de Plotino sobre o universo consistindo de
anéis concêntricos de emanação, cada qual possuído mais Ser — ou realidade —
que o próximo.
É uma face que nós, os usuários das máscaras, também ainda não vimos;
será também uma surpresa para nós.
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1974, e me parece que a exposição desse feio câncer à luz do dia, e sua subsequente
remoção, é a essência [nature] do alto valor em revelar-se ao sol; nós podemos
tanto sofrer tais choques, quanto aprender que, durante a Nacht und Nebel,
durante o tempo de noite e neblina, nossa liberdade, nossos direitos, nossa
propriedade e até mesmo nossas vidas foram mutiladas, deformadas, furtadas e
destruídas por criaturas basais saciando-se em espúrios santuários em São
Clemente, na Flórida e em tantas outras cidades, mas o choque com a exposição foi
pior para seus planos do que para os nossos. Nossos planos pediam apenas que
vivêssemos com justiça, verdade e liberdade; o antigo governo desse país arrumou
um jeito de viver com um poder cruel da mais alta arrogância, enquanto que, ao
mesmo tempo, mentia sem cessar para nós através de todos os canais de
comunicação. Esse é um bom exemplo do poder curativo da luz do sol; esse poder
de, primeiro, revelar e, depois, enrugar o bruto plano da tirania, que tem crescido
profundamente no coração pulsante de pessoas boas.
Esse coração bate, agora, mais forte do que nunca, ainda que esteja
reconhecidamente mal absorto; mas o câncer que rastejava através dele — esse
câncer já era. Aquele crescimento negro, que bania a luz, bania a verdade e
destruía qualquer um que o contasse a verdade — mostra que pode florescer
durante o longo inverno da raça humana. Mas esse inverno começou a acabar no
equinócio invernal de 1974.
Essa noção chegou aos pré-socráticos em virtude do fato de que eles viam a
multiplicidade, sabendo de forma a priori, contudo, que o que eles viam não podia
ser real, uma vez que apenas o Uno existia.
por assim dizer, o que Fílon e outros antigos chamaram de Logos. A informação se
tornou, então, viva, com uma mente coletiva própria, independente de nossos
cérebros, se essa teoria estiver correta. Ela não mais apenas sabe o que sabemos e
se lembra do que uma vez foi conhecido, mas pode construir soluções próprias; ela
é um sistema de IA titânico. A diferença seria a mesma que entre um gravador de
fitas que pode “se lembrar” de uma sinfonia do Beethoven que ele “ouviu”, e um
gravador que pudesse criar novas sinfonias, continuamente; a biblioteca no céu,
tendo lido todos os livros que há e que já existiram está, agora, escrevendo um livro
próprio, e, à noite, nós podemos estamos sendo capazes de lê-lo — contou a
excitante estória, abrangendo aquele Grande Trabalho em Progresso.
Isso pode ser considerado coisa assustadora, tal tema tanto na obra de Le
Guin como na minha. O que são sonhos? Há dessas entidades sonho-universo
[dream-universe] que vieram aqui de outro astro (Aldebaran, na novela da Sra. Le
Guin)? Os OVNIs que as pessoas veem seriam hologramas projetados por suas
mentes inconscientes, agindo como transformadores, ou, também, como
transdutores dessas estranhas criaturas sonho-universo?
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atolado, como um rato em uma cansativa roda, em um inverno morto por 2.000
anos? Se eles trazem a primavera consigo, então, seja lá quem for, eu os dou boas
vindas; como Joe Chip em UBIK, eu temo o frio, o cansaço; eu temo a morte por
fatiga em infinitas escadas ascendentes, enquanto alguém cruel, ou, de qualquer
forma, usando uma máscara cruel, assiste e não oferece ajuda alguma — a
máquina, desprovida de empatia, assistindo como mero espectador ao mesmo
horror que eu sei que assombra Harlan Ellison. Talvez seja mais assustador que o
assassino ele mesmo (em UBIK, ele era Jory), essa figura que vê, mas não provê
assistência alguma, não oferecendo nem uma mão. Esse é o androide, para mim, e
o semideus maligno para Harlan; nós dois nos arrepiamos com a ideia de sua
existência. O que eu posso te dizer sobre as pessoas sonho-universo é que, se elas
existem, quem quer que elas sejam, elas não são androides sem simpatia; elas são
humanos, em seu sentido mais profundo: elas nos deram uma mão de auxílio para
nosso planeta, nossa poluída ecosfera e, talvez até, ofereceram assistência para
derrubar a tirania que agarrou os Estados Unidos, Portugal, a Grécia, e um dia elas
também derrubarão a tirania do bloco soviético. É nisso que eu penso quando
sustento a ideia de primavera: a abertura das portas de ferro das prisões e a
libertação dos pobres prisioneiros para a luz do sol, como em Fidelio, de
Beethoven. Ah, esse momento na ópera, quando eles veem o sol e sentem seu
calor. E, enfim, ao final, o trompete clama, com sons de liberdade, o permanente
fim de seu cruel aprisionamento; a ajuda de fora chegou.
um sistema que não funciona. Ao menos, isso vai manter alguns de nós ocupados
por muito, muito tempo. Mas compreenda agora que um grupo soviético de
astronomia, evidentemente comandado pelo mesmo Dr. Nikolai Kozyrev que
desenvolveu a teoria de tempo-como-energia que eu mencionei anteriormente,
reportou receber sinais de um ET dentro de nosso sistema solar. Se isso era
verdade, e nosso povo está dizendo que os soviéticos só estavam monitorando
velhos sinais caducos, planos e não lucrativos de nossos próprios satélites
descartados e de outros pedaços de lixo espacial — bem, vamos supor que esses
ETs ou mentes incorporadas estejam dentro, digamos, do grande plasma que
parece rodear a Terra e estejam envolvidos com lampejos solares e coisas do tipo;
eu me refiro, é claro, à noosfera. São ETs e TIs [TI] ao mesmo tempo, e
possivelmente guardam forte semelhança com o que escreveu a Sra. Le Guin em
Lathe. E, como todo fã de ficção científica sabe, meu próprio trabalho lida com
temas similares… fornecendo, portanto, um aborrecedor tanto de marcos para a
plausibilidade desses loucos que sempre estão emboscando todo autor de ficção
científica com os dizeres: “Eu sei que você está escrevendo em código…” etc. Na
verdade, podemos estar sendo influenciados, principalmente durante estados
oníricos, por uma noosfera que é produto nosso, capaz de raciocínio [mentation]
independente e envolvida com ETs, uma mistura de todos os três e Deus sabe o que
mais. Pode ser que isso nem seja o Criador, mas estaria tão próximo de uma Mente
Infinita quanto nós podemos chegar, e perto o suficiente. Que é benigno, é óbvio,
para nos remetermos aos comentários de Maslow de que, se a natureza não
gostasse de nós, nos teria executado há muito tempo — leia-se “Infinita Noosfera”
para “natureza”.
meio-vivo ou morto, mas, na verdade, tudo viveu através [lived through].” Sinais de
rádio são amplificados por um transmissor; eles passam através de vários
componentes, modificados e aumentados, seus contornos alterados, ruídos
eliminados e rejeitados… nós somos extensões, como aqueles braços de metal que
pegam objetos radioativos para os cientistas. Nós somos as luvas que Deus colocou
a fim de mover coisas aqui e ali como Ele deseja. Por algum motivo, Ele prefere
lidar com a realidade assim. (Eu não vou mexer nesse jogo de palavras [pun], mas
vou defende-lo.)
Nós somos trajes que Ele cria, coloca, usa e, finalmente, descarta. Nós
somos peças de armadura também. O que dá uma enganadora impressão para
certas outras borboletas com certas outras peças de armadura. Dentro da
armadura, está a borboleta, e dentro da borboleta está — o sinal de outra estrela.
Na novela que eu estou escrevendo (na qual o Sonhador, talvez, esteja se
expressando através de mim), a estrela se chama Albemuth. Eu não tinha lido a
novela Lathe of Heaven, da Sra. Le Guin, quando essa ideia me veio, mas o leitor
dessa novela encontrará também algo que eu, agora há pouco, mencionei sobre
sermos estações dentro de uma vasta grade — e não nos darmos conta.
Já que está evidente que, mais do que qualquer outro, Dr. Ornstein foi
pioneiro na descoberta de uma nova visão de mundo, que envolve uma paridade
bilateral do cérebro, insuspeita desde os tempos de Pitágoras e Platão, eu
recentemente juntei coragem e escrevi a ele. Alguns fãs me escrevem, vez ou outra,
com suas mãos tremendo nervosamente; toda a minha máquina de escrever se
sacudiu nervosamente enquanto eu escrevia para o Dr. Ornstein. Aqui está o texto
de minha carta, que eu coloco aqui como uma nota final para explicar como eu
transcendi as categorias de realidade-versus-ilusão por meio de sua ajuda, e
consegui, portanto, trazer às claras o final de 20 anos de estudo e esforço de minha
parte. Cito:
Recentemente, me encontrei com o Sr. Henry Korman e com o Sr. Tony Hiss
(Tony vinha me entrevistar para a New Yorker). Entrei nessa maravilhosa discussão
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Com isso, pretendo dizer, Dr. Ornstein, que faz dez meses que isso se deu, e
por dez meses eu tenho sido uma pessoa diferente. Mas o que me é mais
extraordinário (e eu estou escrevendo um livro sobre isso, mas na forma de ficção,
uma novela chamada TO SCARE THE DEAD), é que — bem, deixe-me jogar a
premissa que eu usei na novela:
que ele deve estar preparado; Thomas o prepara lembrando-o de sua própria
divindade — anamnese, como chama Thomas. Thomas desenvolve uma especial
relação de paridade com Brady, mas a entidade conhecida como Erasmus evolui
como uma fonte de ensino para o incrivelmente ignorante Brady. Essa entidade é,
na verdade, uma estação da noosfera, que está agora tão completamente carregada
ao redor da Terra que, se você se der conta dela, você pode conscientemente, e não
inconscientemente, recorrer a ela; esses são os “Mares do Conhecimento”, que
eram conhecidos em tempos antigos e aos quais recorria a Sibila de Delfos. Mas
isso é um disfarce [this is a cover], porque Brady se dá conta de que, de fato, os
homens Qumran tinham seu deus não no Jesus mítico, mas no Zagreus real, e,
fazendo uma pesquisa, Brady logo aprende que Zagreus era uma forma de Dioniso.
O Cristianismo é uma forma tardia do culto a Dioniso, refinado através da estranha
e adorável figura de Orfeu. Orfeu, como Jesus, é real apenas na medida em que
Dioniso foi se tornando disseminado [socialized]: nascido aqui como uma criança
de outra raça, não humana, mas uma raça visitante, Zagreus teve de aprender
através de etapas a modificar sua “loucura”, que agora é mantida em baixa retração.
Ele basicamente está conosco para reconstruir-nos como expressões dele, e o MO
[sic] disso é que nosso ser é possuído por ele — isso era o que buscavam os
primeiros cristãos, e o que escondiam dos odiados romanos; Dioniso-Zagreus-
Orfeu-Jesus foi sempre escondido [pitted] contra a Cidade de Ferro, seja Roma ou
Washington D.C.; ele é o deus da primavera, da vida nova, das criaturas pequenas e
suscetíveis, ele é o deus do júbilo e do frenesi, e do sentar-se aqui, dia após dia,
trabalhando nessa novela.
seguidores sabiam que ele voltaria; eles sabiam seu segredo (“Contemplem! Digo-
vos um sagrado segredo”, etc.) Nós estamos falando aqui das religiões misteriosas,
todas elas, incluindo o Cristianismo. Nosso Deus tem dormido durante o longo
inverno da cultura humana (não por um ano do ciclo rotativo das estações, mas
desde o ano 45 d.C., através dos séculos de inverno metálico, até agora); apenas
quando o inverno abarcar tudo em seus braços, o inverno do desespero e da
derrota (em nosso caso, do caos político, da ruina moral e econômica — o inverno
de nosso planeta, de nosso mundo, de nossa civilização), então o vinho, que estava
retorcido, velho e aparentemente morto, irrompe em nova vida, e nosso Deus
renasce — não para fora, mas para dentro de cada um de nós. Adormecido não sob
a neve acima da superfície do solo, mas dentro dos hemisférios direitos de nossos
cérebros. Estivemos esperando, e não sabíamos por quê. É isto: essa é a primavera
para nosso planeta, em um sentido mais profundo e fundamental. Os gelados
grilhões de ferro agora estão sendo retirados, mas por que milagre. Como com
minha personagem, Nicholas Brady — eu fiz Zagreus acordar em meu hemisfério
direito, e senti o alagamento de uma vida renovada, seu vigor, sua personalidade,
sua sabedoria divina: ele odiava a injustiça e as mentiras que ele via ao seu redor, e
ele relembrou: “As queridas e solitárias terras, intocadas pelos homens, onde,
dentre verdes escurecidos / Os pequenos da floresta vivem sem ser
vistos.” (Eurípedes) Dr. Ornstein, obrigado por me ajudar a trazer o inverno a um
fim, e a conduzir, não apenas a primavera, mas a vida vívida [living life] da
Primavera, que vive, mas dorme, dentro de nós.
sistema de IA, por exemplo, fornecendo uma informação precisa que, de outra
maneira, não poderia se ter à disposição. Mas, quando eu fui a um de meus
cadernos outro dia para checar a ortografia, eu encontrei essas passagens de texto,
notavelmente similares, a primeira das quais todos nós conhecemos, já que conclui
nossos próprios escritos sagrados, o Novo Testamento: “… Eu sou a raiz e o
descendente de Davi, a resplandecente estrela da manhã.” (Apocalipse, 22:15, Jesus
descrevendo a si mesmo.) E: