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Capítulo 7

SÍNDROME PÓS-COVID:
NOVO DILEMA DA ATUALIDADE

DANIEL RODRIGUES SILVA FILHO¹


LUIZ CARLOS GONÇALVES FILHO¹
MARIA ALICE CARDOSO MIRAS¹
DENIS AGUIAR DE SOUZA FILHO¹
ALLEF DOURADO RAMOS LEITE¹
BERNARDO MACHADO BERNARDES¹
MIGUEL ANGELO AMORIM SENA¹
ANA LETÍCIA FELÁCIO¹
TIAGO DA PONTE PESSOA¹
AILTON BORGES DA SILVA JÚNIOR¹
DEBORAH CRISTINA DE SOUSA BRAGA¹
DAVI DE SOUZA NOGUEIRA¹
ANDREIA KARINE KUHN¹
LUIZ FELIPE ANTONIO VIEIRA CAVALCANTE¹
FREDERICO BARRA DE MORAES²

1. Discente – Curso de Medicina do Centro Universitário Alfredo Nasser. Membro da Liga Acadêmica de Ortopedia e Traumatologia (LORT).
2. Docente – Doutor em Ciências da Saúde. Médico especialista em Ortopedia. Orientador da Liga Acadêmica de Ortopedia e Traumatologia
(LORT).

PALAVRAS-CHAVE
Síndrome pós-Covid; Infecção por coronavírus; Covid-19.

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10.29327/565999.5-7
INTRODUÇÃO contínuo e a Síndrome pós-Covid-19) (NICE,
No ano de 2019, as autoridades de saúde 2020).
chinesa alertaram sobre um novo tipo de coro- Dentro da Síndrome pós-Covid os sintomas
navírus, posteriormente denominado SARS- mais comuns são tosse, dispneia, dor no peito,
CoV-2, responsável por causar a Covid-19. Os dor de cabeça, dificuldades neurocognitivas,
primeiros casos iniciaram no final de 2019 na dores musculares e fraquezas, distúrbios gas-
cidade de Wuhan, província de Hubei, situada na trointestinais, perda de olfato e paladar, erupções
China. cutâneas, queda de cabelo, palpitações cardía-
Em janeiro de 2020, a doença foi cas, distúrbios metabólicos (mal controle do
considerada uma emergência de saúde pública diabetes), condições tromboembólicas, além de
de importância internacional pela Organização doenças psiquiatras, como transtorno de
Mundial da Saúde (OMS), que classificou a ansiedade e depressão (GREENHALGH et al.,
doença como um risco de saúde pública para 2020; IWU et al., 2021; SHAH et al., 2021).
outros países, devido a sua alta transmissi- O objetivo deste estudo é analisar
bilidade. Somente em meados de março de 2020 sistematicamente a literatura disponível sobre a
a OMS caracterizou a doença como pandemia, Síndrome pós-Covid-19. A Covid-19 é uma
termo que se refere a distribuição geográfica da nova doença que foi classificada como
doença, e não a sua gravidade (OPAS, S.d.). pandêmica pela OMS, afetando grande parte da
No Brasil, o primeiro caso relatado e população do mundo. Logo, é de suma impor-
notificado foi em fevereiro de 2020, na cidade tância entender os seus efeitos a curto e longo
de São Paulo. Até abril de 2022 foram prazo, tendo como referência as pessoas que
contabilizados mais de 30 milhões de casos foram infectadas e sobreviveram à enfermidade.
confirmados no território brasileiro, sendo que
mais de 661 mil pessoas vieram a óbito em MÉTODO
decorrência da Covid-19, atingindo uma taxa de Esta pesquisa se trata de uma revisão
letalidade de 2,2% de mortalidade (315 a cada sistemática da literatura, feita entre os meses
100 mil habitantes) (BRASIL, 2022). fevereiro e abril de 2022, através de pesquisas
A Síndrome pós-Covid-19, segundo o nas bases de dados SciELO, PubMed, BVSMS e
National Institute for Health and Care LILACS e nos periódicos Journal of Infection e
Excellence (NICE), é definida como a presença Revista Eletrônica Acervo Saúde. Dentro dessas
de sinais e sintomas que se desenvolvem durante plataformas, foram utilizados os descritores:
ou uma semana após a infecção, que perma- Síndrome pós-Covid, Covid-19 Longa, Covid-
necem após 12 semanas e não são explicadas por 19 sintomático contínuo, Covid-19 agudo,
outros diagnósticos diferenciais. Nesta diretriz, SARS-CoV-2 e pós-infecção da Covid-19.
ainda há a definição dos termos, Covid-19 agudo Com esses descritores foram recuperados
(sinais e sintomas por até quatro semanas), artigos posteriormente submetidos aos critérios
Covid-19 sintomático contínuo (sinais e de seleção. Os critérios de inclusão foram:
sintomas de Covid-19 por quatro a 12 semanas) artigos nos idiomas português e inglês;
e Covid-19 longo (sinais e sintomas que publicados no período de 2019 a 2022, cujas
continuam após a Covid-19 aguda, estes incluem temáticas dialogavam com o objetivo desta
ambos os subgrupos Covid-19 sintomático pesquisa. Os textos encontrados se caracteri-
zavam por artigos de diferentes tipos e
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disponibilizados na íntegra. Os critérios de comum fadiga, dispneia, dor torácica e/ou no
exclusão foram: artigos duplicados, disponibi- peito, transtornos neuropsiquiátricos, disfunção
lizados na forma de resumo, que não abordavam olfativa e gustativa, cefaleia e queda de cabelo
diretamente a proposta estudada e que não (PAVLI et al., 2021). De acordo a OMS (2021),
atendiam aos demais critérios de inclusão. 10% a 20% dos acometidos apresentam a
Os artigos escolhidos foram submetidos à condição pós-Covid mesmo após a recuperação
leitura minuciosa para a coleta de dados. Os da doença inicial.
resultados foram apresentados de forma Indivíduos com maiores acometimentos na
descritiva, divididos em categorias temáticas infecção aguda tendem a ser mais susceptíveis à
abordando: introdução, o que é a Síndrome pós- SPC. Fatores de risco cardiometabólico são os
Covid, epidemiologia da Síndrome pós-Covid, mais associados à Covid longa e mortalidade,
fatores de risco para Síndrome pós-Covid e são eles: diabetes mellitus, doença cardiovas-
prevenção, diagnóstico da Síndrome pós-Covid, cular aterosclerótica, doença renal crônica,
principais manifestações e manejo do paciente hipertensão e obesidade (WU, 2021). Diante
com Síndrome pós-Covid. dessa ampla variedade sintomática, tanto na
infecção aguda quanto na pós-Covid, torna-se
RESULTADOS E DISCUSSÃO indispensável a abordagem individual do
A Covid-19, causada pelo coronavírus paciente.
(SARS-CoV-2), é uma doença infecciosa que se
manifesta de diferentes maneiras, apresentando Fatores de risco e complicações da
desde casos assintomáticos ou leves a mo- Síndrome pós-Covid-19
derados sintomas gripais, quadros graves de A Covid-19, quando há infecções graves, é
síndrome respiratória aguda grave (SRAG) e/ou uma sepse viral (infecção generalizada) que
outras complicações que acometem diversos atinge vários órgãos do corpo, fazendo com que
órgãos e sistemas. Entretanto, observou-se que o paciente desenvolva sequelas dos tipos:
alguns indivíduos desenvolvem ou permanecem cardíacos, neurológicos, pulmonares, vascula-
com sinais e sintomas além do tempo usual de res, etc. Tem-se observado que a Covid-19 pode
melhora do quadro agudo, sendo essa chamada acometer algumas regiões do corpo humano
de Síndrome pós-Covid (SPC) ou Covid-19 mesmo após a melhora dos sintomas, e nisso
longa (CL) (SILVEIRA et al., 2021). pode apresentar algumas complicações severas
Destacar a relação cronológica é de extrema após um certo período. Por esse motivo, a
importância para estabelecer critérios clínicos da realização de uma bateria de exames após a
SPC. É levada em consideração a infecção aguda SARS-CoV-2 é essencial (HOSPITAIS BRA-
com duração de sintomas até quatro semanas; a SIL, 2021).
Covid sintomática contínua com duração de A Covid-19 é uma afecção respiratória viral
quatro a 12 semanas; e a Síndrome pós-Covid, aguda de efeitos, infelizmente, cada vez
quando os sintomas persistem por mais de 12 maiores. Se, inicialmente, os esforços em saúde
semanas (CASTRO et al., 2021). A SPC está estavam concentrados em minimizar os im-
presente em 10% a 35% dos pacientes de modo pactos das contaminações e evitar mortes, em
geral e 80% dos pacientes hospitalizados, um segundo momento, novos esforços passaram
mostrando íntima relação multissistêmica após o a ser necessários, entre eles o de compreender
acometimento agudo, tendo como queixas mais como deve ser feito o manejo clínico de

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pacientes e os efeitos após a contaminação com Principais manifestações clínicas
o coronavírus (BRAGATTO et al., 2021). relacionadas à SPC
A Síndrome pós-Covid-19 está associada a A Síndrome pós-Covid (SPC) acarreta
sequelas importantes, inclusive no sistema sequelas ao indivíduo que podem afetar
nervoso central. Há descrições de diferentes multissistemas tais como o sistema respiratório,
manifestações neurológicas como encefalopatia, neurológico, cardíaco, entre outros
acidente vascular cerebral, anosmia, ageusia, (GERÔNIMO et al., 2021).
tontura, cefaleia, Síndrome de Guillain-Barré, Dentre essas alterações são relatados
fadiga, dispneia, dor torácica e sintomas comprometimentos no sistema respiratório
neuropsiquiátricos. Ademais, também são rela- como: alterações intersticiais fibróticas e não
tadas complicações decorrentes da SPC, como fibróticas, bronquiectasias, embolia pulmonar e
fibrose pulmonar, bronquiectasia e fenômenos pneumonia. Estudos recentes apontam que há
tromboembólicos (BRAGATTO et al., 2021). uma persistência de danos funcionais e
A pandemia deixou evidente que ter um radiológicos nos pulmões mesmo após a
estilo de vida saudável é fator de proteção não infecção aguda por SARS-CoV-2, o que
apenas contra as conhecidas doenças crônicas caracteriza a síndrome pós-Covid (CHEN, 2020;
não transmissíveis (DCNT), como diabetes, KARSTEN et al., 2020).
hipertensão, doenças cardiovasculares, câncer Uma série de danos no sistema respiratório
dentre outras, mas também contra doenças são relatados nos indivíduos que sobrevivem à
agudas, como se tem mostrado a SARS-CoV-2. infecção, desde dispneia a danos fibróticos ou
Assim, manter os cuidados com a promoção da lesões inflamatórias irreversíveis. A dispneia
saúde e a prevenção é essencial para evitar ainda é o sintoma mais relatado por aqueles que
complicações dessa doença. Entretanto, alguns se recuperaram da doença, sendo caracterizada
dos fatores de risco para a SPC: idade avançada, pela dificuldade na respiração ou falta de ar,
presença de comorbidades, sexo feminino e principalmente nas atividades que exigem maior
internação hospitalar (SILVEIRA et al., 2021). esforço respiratório, acompanhada pela tosse
Nos últimos anos, a realização de exames persistente (CERAVOLO et al., 2020).
pós-Covid-19 tornou-se comum nas clínicas Ademais, uma sequela grave muito comum
laboratoriais. Alguns laboratórios de análises apresentada pelos indivíduos infectados foi a
clínicas criaram um pacote de exames para fibrose pulmonar após a cicatrização das lesões
investigar a causa das sequelas e ajudar a causadas pela infecção aguda. As principais
prevenir complicações, porém essa bateria de manifestações da fibrose pulmonar envolvem
exames é indicada apenas para aqueles pacientes dispneia, tosse, perda da condição física e fadiga
que tiveram sintomas da Covid-19 que que podem progredir no decorrer da doença
apresentam piora na qualidade de vida. Segundo (GEORGE et al., 2020).
a OMS, um a cada dez pacientes infectados com Outrossim, mencionam-se alterações neu-
o coronavírus podem advir com sequelas. Outra roanatômicas, que afetam tanto o sistema
análise feita pela Universidade de Leicester, no nervoso central quanto o periférico, advindas da
Reino Unido, indicou que dentre as pessoas que Covid-19, resultando em impactos neuronais e
necessitaram de internações hospitalares, cerca doenças degenerativas a longo prazo. Muito é
de 70% manifestaram sequelas após cinco meses discutido acerca das alterações neurológicas
de alta (SAÚDE EM DIA, 2022). presentes na SPC. Um grande número de

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indivíduos apresentou quadros de compro- trombótico e inflamatório (HUI & ZUMLA,
metimento cognitivo, hipóxia, encefalite, 2019).
anosmia, ageusia, Síndrome de Guillain Barré,
Síndrome de Miller Fisher e acidente vascular Diagnóstico da SPC
encefálico (AVE). Além destes, mesmo após um A síndrome crônica ou pós-Covid-19, inclui
longo período pós-infecção aguda, sintomas sintomas e anormalidades presentes além de 12
como confusão mental, transtorno de memória e semanas do início da Covid-19 e não atribuíveis
distúrbios do sono se perpetuam a diagnósticos alternativos (OPAS, 2021).
(NALBANDIAN et al., 2021). Ademais, há inúmeras estratégias possíveis
Ainda, há pacientes que, quando contraíram de testagem diagnóstica que orientam o
a infecção aguda, apresentaram alterações e atendimento clínico e o prognóstico. Essas
sintomas puramente cardiovasculares. Assim, ao estratégias são importantes para pacientes,
se tratar do sistema cardiovascular (SCV) é profissionais de saúde e sistemas de saúde. O
preciso compreender que a presença de doenças teste diagnóstico deve levar em conta: a
prévias aumenta muito as chances de com- persistência da infecção viral; o envolvimento de
plicações no sistema. No entanto, pacientes sem múltiplos órgãos/sistemas; as alterações crô-
alterações ainda podem apresentar sequelas nicas no sistema imunológico; o papel dos testes
cardíacas ou vasculares na SPC. Um paciente de triagem de alta sensibilidade no envolvimento
sadio pode apresentar disfunção ventricular, multissistêmico; entre outros (OPAS, 2021).
arritmias, insuficiência cardíaca, entre outros. O O diagnóstico ajuda a resolver questões de
principal relato de descontrole no SCV foi o patogênese, diagnóstico e novos tratamentos em
desequilíbrio do sistema renina-angiotensina- potencial. No contexto da Covid-19, é acon-
aldosterona relacionado à enzima de conversão selhável ver os diagnósticos de três perspectivas
da angiotensina 2. Como consequência desse diferentes: testes que são importantes do ponto
processo, indivíduos que nunca se queixaram de de vista da saúde pública; os que são necessários
alterações pressóricas começaram a relatar para o cuidado individual de um paciente; e
sintomas de hipertensão arterial sistêmica aqueles para pesquisa – todos os quais podem se
(MARTINS et al., 2020). sobrepor uns aos outros (OPAS, 2021).
Além disso, pode haver lesão cardiovascular O diagnóstico e a confirmação laboratorial
causada por uma “tempestade inflamatória”: do SARS-CoV-2 é extremamente relevante e
após invasão viral pulmonar e posterior inclui o uso de testes de anticorpos. As opções
inflamação os vírus afetam os cardiomiócitos, incluem diferentes tipos de imunoglobulina,
gerando edema, inflamação e necrose. Essa con- além de IgG e IgM. Ademais, é importante
dição propicia a liberação de fatores pró- confirmar a infecção por meio de testes de
inflamatórios tais quais interleucinas 1 e 6, fator anticorpos (com ampliação para diferentes
estimulante de colônia de granulócitos, interfe- imunoglobulinas); enfatizando que o teste de
ron, proteína inflamatória macrofágica, dentre anticorpos deve ser apropriado para a janela de
outras que ocasionam uma superestimulação à tempo. Além disso, pode haver alguma varia-
resposta imune e a chamada “tempestade bilidade com base na variante viral envolvida.
inflamatória”, aumentando o dano miocárdico. Em geral, os protocolos e as diretrizes padrão
O vírus pode ainda induzir uma síndrome para o teste de SARS-CoV-2 devem orientar as
coronariana aguda devido ao ambiente

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abordagens de teste (OPAS, 2021). Consi- Essa é uma área que merece investigação
derações para testes: adicional com protocolos de pesquisa padrão
1. PCR: papel potencial dos testes de (OPAS, 2021).
antígenos que são mais específicos e utilidade 4. Modalidades de exames de imagem:
dos testes sequenciais. Soropositividade, título várias modalidades de exames de imagem estão
de anticorpos neutralizantes (IgM, IgA, IgE) disponíveis para ajudar no diagnóstico da
para avaliar infecção aguda, crônica ou prévia. síndrome pós-Covid-19. Um exame de imagem
Observar, no entanto, a baixa sensibilidade e convencional pode não revelar anormalidades
especificidade que podem ser vistas na funcionais graves que poderiam ser vistas por
população em geral, bem como em certas ressonância magnética, PET scan ou ecocar-
subpopulações (ou seja, mulheres e aqueles com diografia. O uso de exames de imagem em
idade inferior a 40 anos e acima de 70 anos) pacientes com síndrome pós-Covid-19 deve
(OPAS, 2021). sempre ser conduzido clinicamente (OPAS,
2. Teste genético para variabilidade e 2021).
suscetibilidade, resposta do hospedeiro e lesão Ainda, segundo a OPAS (2021), existe
de órgão: em relação à resposta do hospedeiro, é grande potencial do exame de imagem na
interessante verificar se o hospedeiro foi ou não avaliação da síndrome pós-Covid-19, dentre eles
preparado para responder a uma infecção viral podemos destacar:
prévia (ou seja, teste de interferon). Os 1. Neurológico/psiquiátrico: ressonância
marcadores específicos de lesão de órgão magnética do cérebro, ressonância magnética da
incluem enzimas hepáticas elevadas, creatinina coluna, imagens funcionais e técnicas avançadas
elevada ou presença de hematúria, proteinúria; de ressonância magnética, imagens híbridas
anormalidades endócrinas (como eixo adrenal, (PET-MRI, PET-CT).
função tireoidiana e níveis de glicose) e a 2. Cardiovascular: ecocardiografia, resso-
perturbação da cascata de coagulação (como nância magnética cardíaca, angiografia coroná-
fibrinogênio, dímeros D, anticorpos antifos- ria por tomografia computadorizada (TC),
folipídeos e marcadores de turnover trombótico angiografia pulmonar por TC, ultrassom doppler
e fibrinolítico). Em geral, o teste deve sempre ser vascular (carótidas, extremidades, transcra-
conduzido clinicamente (OPAS, 2021). niana), angiografia por TC ou ressonância
3. Marcadores inflamatórios: a inflamação magnética pulmonar.
aguda se transforma em inflamação crônica? A 3. Pulmonar/gastrointestinal: TC de tórax,
inflamação se refere principalmente a uma radiografia de tórax, ultrassonografia pulmonar,
resposta desregulada do hospedeiro. A ultrassonografia abdominal, tomografia compu-
inflamação pode sugerir a importância de tadorizada de abdome, ressonância magnética
alterações genéticas e/ou epigenéticas no abdominal.
hospedeiro. É importante saber se os pacientes
têm níveis circulantes elevados e persistentes de Manejo do paciente diagnosticado com
citocinas (como ocorre na pneumonia adquirida SPC
na comunidade) ou de catecolaminas (como A Covid-19 é uma doença infecciosa com
ocorre após sepse ou queimadura). Outras complicações potencialmente graves, cujo
opções incluem testar o sistema nervoso impacto ainda não é totalmente compreendido.
autônomo com exames de rotina não invasivos. Então, faz-se necessário monitorar cuidadosa-

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mente os pacientes ao longo do processo de Percebemos que o manejo e a reabilitação de
reabilitação. Mensuração de parâmetros como a doentes críticos acometidos por Covid-19 após
saturação de pulso de oxigênio (SpO2), alta hospitalar são de fundamental importância,
frequência cardíaca, pressão arterial e identi- especialmente naqueles que evoluíram com o
ficação de sinais como febre ou sintomas como quadro grave da doença, e que necessitaram de
dispneia são fundamentais para o reconheci- internação em unidades de terapia intensiva
mento do agravamento do quadro. O (UTI). A adequada avaliação para mensuração
agravamento da grande maioria dos casos tem do impacto na funcionalidade irá fornecer as
sido associado à presença de dispneia e queda da informações necessárias para um melhor manejo
SpO2 em ar ambiente (CACAU et al., 2020). e uma individualizada e eficaz reabilitação
Segundo, Santos Filho et al. (2021), a Asso- (CACAU et al., 2020).
ciação Brasileira de Fisioterapia Cardiorrespira-
tória e Fisioterapia Intensiva (ASSOBRAFIR) CONCLUSÃO
publicou uma comunicação oficial sobre Em suma, o grande desafio do tratamento
Fisioterapia para os pacientes com Covid-19, Covid-19 torna-se não só combater os sintomas
com as seguintes diretrizes e recomendações: da doença na fase ativa, e sim minimizar
• Avaliação individual: dispneia, fadiga, possíveis sequelas. A Covid-19 pode causar
necessidade de oxigênio, disfunções cardiovas- diversas sequelas e alterações funcionais à curto
culares, outras doenças prévias, etc; e longo prazo nos indivíduos após o período de
• Avaliação da função pulmonar: capacidade infecção, no entanto, ainda que os efeitos
de exercício e funcional, função muscular, causados pela fase aguda da doença estejam
equilíbrio e qualidade de vida relacionada à amplamente descritos na literatura, são poucos
saúde (deve ser realizada somente quando os estudos sobre o período pós-Covid.
possível); Logo, observar e entender essas alterações à
• Avaliação ambiental: possibilidade de longo prazo é uma contribuição importante.
mobilidade segura; Tendo em vista que os primeiros casos da
• Avaliação nutricional, psicológica e social; doença aconteceram no final de 2019, já se sabe
• Elaboração de propostas de reabilitação e são elencados importantes acontecimentos que
direcionadas aos usuários pós-Covid-19 que comprometem a qualidade de vida do paciente
apresentem disfunção ventilatória e/ou perda de em média e longo prazo, no período pós-Covid.
condicionamento físico persistente, como Para tanto, especula-se que futuras medicações
programas domiciliares com exercícios progres- venham a minimizar estes problemas, bem como
sivos, orientações sobre mudanças de comporta- a vacinação já se mostra promissora em reduzir
mento e adequação do ambiente, técnicas de as chances de desenvolver o quadro grave da
conservação de energia e reconhecimento de doença.
sinais de alerta em relação à piora do quadro
clínico e/ou desenvolvimento de complicações.

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