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As seis paramitas são ensinamentos do Budismo Mahayana.

Paramita é uma palavra que pode


ser traduzida como “perfeição” ou “realização perfeita”. O ideograma chinês para este termo
significa “atravessar para a outra margem”, que é a margem da coragem, da paz e da
libertação. As perfeições devem ser praticadas em nossa vida diária. Estamos atualmente na
margem do sofrimento, da raiva e da depressão, e queremos atravessar para a margem do
bem-estar. Para atravessar, é preciso fazer alguma coisa, e é a isso que chamamos de
perfeição. Assim, voltamos para nós mesmos, praticamos a respiração consciente e olhando
nosso sofrimento, nossa raiva, nossa depressão, e sorrimos. Ao fazer isso, superamos a dor e
atravessamos. Devemos praticar as “perfeições” todos os dias.

(1) Dana paramita – Doação, generosidade, oferta.

(2) Shila paramita – Os preceitos ou treinamentos da atenção plena.

(3) Kshanti paramita – Tolerância, a capacidade de acolher, suportar e transformar a dor


infligida a você por seus inimigos e também pelas pessoas que o amam.

(4) Virya paramita – O esforço, energia, perseverança.

(5) Dhyana paramita – A meditação.

(6) Prajna paramita – A sabedoria, compreensão, insight.

Praticar as seis perfeições ajuda a atingir a outra margem – a margem da liberdade, da


harmonia e dos bons relacionamentos.

A primeira prática da travessia é a perfeição da generosidade (a dana paramita). Dar significa,


primeiro, oferecer alegria, felicidade e amor. Existe uma planta, muito conhecida na Ásia – um
membro da família das cebolas, que fica deliciosa nas sopas, no arroz frito e nos omeletes –
que a cada vez que a cortamos torna a crescer em vinte e quatro horas. E quanto mais se corta
essa planta, maior e mais forte ela cresce. A planta representa a dana paramita. Não
guardamos nada para nós. Apenas queremos dar. Talvez a outra pessoa se sinta feliz com isso,
mas com certeza os maiores beneficiados seremos nós mesmos. Em diversas histórias sobre as
vidas passadas de Buda, nós o encontramos praticando a perfeição da generosidade.

A maior dádiva que podemos dar a alguém é nossa presença verdadeira. Um menino que
conheço ouviu de seu pai: “O que você quer de aniversário?” O menino hesitou. O pai era rico
e podia lhe dar o que pedisse. Mas passava tanto tempo ganhando dinheiro que quase nunca
estava com a família. Por isso, o menino respondeu: “Pai, eu quero você!” A mensagem era
clara. Se amamos alguém, temos que ofertar nossa presença verdadeira a essa pessoa.
Quando damos esse presente, recebemos ao mesmo tempo o presente da alegria. Aprenda a
oferecer sua presença verdadeira através da meditação. Inspirando conscientemente,
promova a união do corpo e da mente. “Querido, estou aqui para você” é um mantra a ser
repetido quando praticar essa perfeição.
O que mais podemos oferecer? Nossa estabilidade. “Inspirando, eu sou uma montanha.
Expirando, eu me sinto firme.” A pessoa que amamos necessita de que sejamos firmes e
estáveis. Podemos cultivar nossa estabilidade através da inspiração e da expiração, da
caminhada com atenção plena, da meditação sentada, e também gostando de viver
profundamente cada momento. A firmeza é uma das características do Nirvana.

O que mais podemos oferecer? Nossa liberdade. A felicidade não é possível, a menos que
estejamos livres de aflições tais como desejo, raiva, ciúme, medo, ou percepções errôneas. A
liberdade é uma das características do Nirvana. Alguns tipos de felicidade são realmente
destrutivos para o corpo, a mente e os relacionamentos. Estar livre de desejos é uma prática
importante. Contemple profundamente a natureza daquilo que você acha que vai lhe
proporcionar felicidade e pense se, de fato, isso pode implicar sofrimento para aqueles que
ama. É preciso ter certeza disso se queremos ser realmente livres. Volte-se para o momento
presente, e desfrute as maravilhas da vida que estão disponíveis. Existem tantas coisas
saudáveis capazes de nos proporcionar felicidade, como por exemplo um lindo nascer do sol, o
céu azul, montanhas, rios, e os rostos felizes das pessoas que nos cercam.

O que mais podemos oferecer? Nosso frescor. “Inspirando, eu me vejo como uma flor.
Expirando, eu me sinto com o frescor.” Podemos inspirar e expirar três vezes para restaurar a
flor dentro de nós. É um grande presente!

O que mais podemos oferecer? Paz. É maravilhoso sentar-se ao lado de alguém que esteja em
paz. Nós nos beneficiamos com a sua paz. “Inspirando, eu sou a água calma. Expirando, reflito
as coisas como elas são.” Podemos oferecer nossa paz e nossa lucidez para aqueles que
amamos.

O que mais podemos oferecer? Espaço. A pessoa amada precisa de espaço para ser feliz. Em
um arranjo de flores, cada flor precisa de espaço ao seu redor para poder irradiar sua
verdadeira beleza. As pessoas são como flores. Sem espaço interno e externo elas não podem
ser felizes. Não podemos comprar este tipo de presente na loja. Temos que produzi-lo através
da prática. E quanto mais dermos, mais teremos. Quando a pessoa que amamos está feliz, esta
felicidade retoma para nós imediatamente. Nós damos algo a essa pessoa, mas na verdade
estamos dando a nós mesmos.

Dar é uma prática maravilhosa. O Buda disse que quando se está zangado com alguém, a
ponto de tentar de tudo e ainda continuar zangado, devemos praticar a perfeição da
generosidade. Quando estamos com raiva, nossa tendência é punir a outra pessoa. Mas ao
fazer isso só aumentamos nosso sofrimento. O Buda propôs que, em vez disso, mandássemos
um presente para a pessoa que é motivo de nossa raiva. Quando estamos com muita raiva,
não temos a menor vontade de sair e comprar um presente, por isso temos que preparar esse
presente enquanto não estamos zangados. A seguir, quando tudo o mais falhar, devemos sair
e enviar o presente para a pessoa. Constataremos, para nosso espanto, que logo estamos nos
sentindo melhor. A mesma coisa é verdade no caso dos países. Para que Israel tenha paz e.
segurança, os israelenses precisam achar formas de assegurar a paz e a segurança dos
palestinos. E para que os palestinos tenham paz e segurança, eles também precisam encontrar
maneiras de assegurar a paz e a segurança dos israelenses. Você recebe aquilo que dá. Em vez
de tentar punir a outra pessoa, ofereça exatamente aquilo de que a pessoa necessita. A prática
da doação pode conduzir rapidamente ao bem-estar.

Quando alguém nos faz sofrer, é porque essa pessoa sofre profundamente dentro de si
mesma, e seu sofrimento está se esparramando do lado de fora. Esta pessoa não precisa de
mais sofrimento, precisa de ajuda. Essa é a mensagem que está sendo enviada. Se você
conseguir entender isso, ofereça o que a pessoa precisa – alívio. Felicidade e segurança não
são questões individuais. A felicidade e a segurança do outro são fundamentais para a sua
felicidade e a sua segurança. Deseje o bem do outro com sinceridade, para que você também
fique bem.

O que mais podemos oferecer? Compreensão. A compreensão é a flor da prática. Focalize sua
atenção concentrada em um objeto, observe profundamente o objeto, e você terá insight e
compreensão. Ao oferecer compreensão aos outros, eles deixarão imediatamente de sofrer.

A primeira pétala da flor das perfeições é a prática da generosidade. Recebemos aquilo que
damos, muito mais depressa do que os sinais enviados por satélite. Quer você dê sua
presença, sua estabilidade, seu frescor, sua firmeza, sua liberdade, ou sua compreensão, sua
dádiva fará milagres. A generosidade é a prática do amor.

A segunda prática é o aperfeiçoamento dos preceitos, ou treinamentos da atenção plena. Os


Cinco Treinamentos da Atenção Plena ajudam a proteger o corpo, a mente, a família e a
sociedade. O Primeiro Treinamento da Atenção Plena versa sobre proteger as vidas dos seres
humanos, animais, vegetais e minerais. Proteger outros seres significa proteger a nós mesmos.
O segundo treinamento versa sobre impedir a exploração de seres humanos, de outros seres
vivos e da natureza. Relaciona-se com a prática da generosidade. O terceiro tem a ver com
proteger crianças e adultos do abuso sexual, e preservar a felicidade dos indivíduos e das
famílias. Muitas famílias já foram separadas devido à má conduta sexual. Quando praticamos o
Terceiro Treinamento da Atenção Plena, protegemos a nós mesmos, as famílias e os casais,
porque ajudamos os outros a se sentirem seguros. O Quarto Treinamento da Atenção Plena
versa sobre praticar a fala amorosa e a escuta atenciosa. O Quinto Treinamento da Atenção
Plena é sobre consumir de maneira consciente.

A prática dos Cinco Treinamentos da Atenção Plena é uma forma de amor e de doação.
Assegura a boa saúde e a proteção da nossa família e da sociedade. Shila paramita é uma
grande dádiva que oferecemos à sociedade, à família e àqueles a quem amamos. A maior
dádiva que podemos ofertar aos outros é praticar os Cinco Treinamentos da Atenção Plena. Se
vivermos de acordo com eles, estaremos protegendo a nós mesmos e as pessoas que amamos.
Quando praticamos shila paramita, oferecemos o precioso presente da vida.

Vamos contemplar juntos as causas de nosso sofrimento, seja ele individual ou coletivo. Se
fizermos isso, veremos que os Cinco Treinamentos da Atenção Plena são o remédio necessário
para a doença de nossa época. Todas as tradições têm o equivalente aos Cinco Treinamentos
da Atenção Plena. Cada vez que vejo alguém receber e praticar os Cinco Treinamentos da
Atenção Plena, fico feliz – pela pessoa, por sua família e por mim mesmo – porque sei que essa
é a forma mais objetiva possível de se ter consciência de tudo o que ocorre. Precisamos de
uma Sangha ao nosso redor para poder praticar com profundidade.

A quarta pétala da flor é a virya paramita, a perfeição do esforço, a energia ou a prática


contínua. O Buda disse que no fundo da nossa consciência armazenadora, alaya vijnana,
existem diversos tipos de sementes, positivas e negativas – sementes de raiva, ilusão e medo,
assim como sementes de compreensão, compaixão e perdão. Muitas dessas sementes nos
foram transmitidas por nossos ancestrais. Deveríamos aprender a reconhecer cada uma delas
dentro de nós, para poder praticar o esforço. No caso de uma semente negativa, como raiva,
medo, ciúmes ou discriminação, deveríamos evitar que fosse irrigada na vida cotidiana, porque
cada vez que tal semente é regada ela aparece na camada superior de nossa consciência, o
que significa sofrimento, para nós e para aqueles que nos cercam. A prática é impedir que a
semente negativa seja regada.

Também reconhecemos as sementes negativas nas pessoas amadas, e tentamos não regá-las.
Se o fizermos, os seres que amamos serão infelizes, e conseqüentemente nós também. Essa é
a prática da “irrigação seletiva”. Se você quer ser feliz, evite regar suas próprias sementes
negativas e também as dos outros, e peça aos que o cercam que evitem regar as sementes que
existem em você.

Tentamos reconhecer nossas sementes positivas, e viver nossa vida diária de tal forma que
possamos ter contato com elas e ajudá-las a se manifestar na camada superior da nossa
consciência, a mano vijnana. Cada vez que essas sementes se manifestam e permanecem lá
por algum tempo, ficam mais fortes. Se as sementes positivas ficarem mais fortes, seremos
mais felizes e tornaremos felizes aqueles que nos cercam. Reconheça as sementes positivas na
pessoa que você ama, regue essas sementes, e essa pessoa ficará cada vez mais feliz. Em Plum
Village, nós praticamos “regar as flores”, reconhecendo as melhores sementes dos outros e
regando-as. Quando tiver tempo, por favor regue tudo o que há para ser regado. É uma grande
prática de esforço, e traz resultados imediatos.

Imagine um círculo dividido em dois. Embaixo está a consciência armazenadora e em cima a


consciência mental. Todas as formações mentais estão no fundo da consciência armazenadora.
Todas as sementes podem se manifestar no nível superior, ou seja, na consciência mental. A
prática consiste em fazer o melhor que pudermos para não deixar que as nossas sementes
negativas sejam atingidas no dia-a-dia, para que não tenham oportunidade de se manifestar.
As sementes da raiva, discriminação, desespero, ciúmes e desejo estão todas presentes.
Fazemos o que podemos para impedi-las de subir. Dizemos às pessoas com quem vivemos: “Se
você realmente me ama, não regue essas sementes em mim. Não é bom para a minha saúde
nem para a sua.” Temos que saber quais os tipos de sementes que não devem ser
alimentados. Caso uma semente negativa, uma semente de dor, for regada e se manifestar,
usaremos todo o nosso poder para abraçá-la com nossa atenção plena e ajudá-la a voltar para
o lugar de onde veio. Quanto mais tempo tais sementes ficarem na consciência mental, mais
fortes se tornarão.

O Buda sugeriu uma prática chamada “trocar a cavilha”. Quando uma cavilha de madeira não é
do tamanho certo, ou está podre, ou está quebrada, o carpinteiro a substitui por outra,
colocando a nova cavilha exatamente no lugar da velha e martelando em cima. Se em você
surgir uma formação mental considerada não-saudável, pratique convidando uma formação
mental saudável para substituí-la. Existem diversas sementes lindas e saudáveis em nossa
consciência armazenadora. Apenas inspire e expire, convidando uma delas a subir e a não
sadia descerá. Isto se chama de “trocar a cavilha”.

Outra prática consiste em tocar tantas sementes positivas na consciência armazenadora


quantas possível, para que se manifestem na consciência mental. Em um aparelho de
televisão, quando queremos assistir a um determinado programa, apertamos o botão
correspondente. Portanto, só chame sementes agradáveis para a sala de sua consciência.
Nunca convide uma visita que vai lhe trazer tristeza e aflições. E diga aos seus amigos: “Se
vocês gostam de mim, por favor, alimentem as boas sementes que existem em mim.” Uma
semente fantástica é a atenção plena. A atenção plena é o Buda em nós. Use todas as
oportunidades que tiver para regá-la e para fazer com que se manifeste no nível superior da
consciência.

A quarta prática é manter uma semente saudável o mais tempo possível depois que ela se
manifestou. Se a atenção plena for mantida por quinze minutos, a semente da atenção plena
será fortalecida, e da próxima vez que você precisar da energia da atenção plena será mais
fácil trazê-la à superfície. É muito importante ajudar as sementes da atenção plena, do perdão
e da compaixão a crescerem, e a melhor forma de fazer isso é mantê-las na consciência mental
o máximo de tempo possível. Isso se chama transformação na base – ashraya paravritti. Este é
o verdadeiro sentido da virya paramita, a perfeição do esforço.

A quinta prática é a dhyana paramita, a perfeição da meditação. Dhyana é chamada de zen em


japonês, chan em chinês, thien em vietnamita e son em coreano. A dhyana, ou meditação, tem
dois atributos. O primeiro é o de parar (shamatha). Nós passamos nossa vida correndo atrás de
uma idéia ou outra de felicidade. Parar significa parar de correr, parar de esquecer, parar de
estar sempre preso no passado ou no futuro. Voltamos para casa, para o momento presente,
onde a vida realmente se desenrola. Esse momento contém todos os outros momentos. Aqui
podemos entrar em contato com nossos ancestrais, nossos filhos e netos, mesmo que eles
ainda não tenham nascido. Shamatha é a prática de acalmar nosso corpo e nossas emoções
através da prática de respirar consciente, caminhar consciente e meditar consciente. A
shamatha é também a prática da concentração, para que possamos viver cada momento
intensamente e entrar em contato com o nível mais profundo de nosso ser.

O segundo aspecto da meditação é olhar em profundidade (vipashyana), para ver a verdadeira


natureza das coisas. Você olha com profundidade a pessoa que ama e descobre que tipos de
sofrimento ou de dificuldades ela traz dentro de si, e também suas aspirações e anseios. A
compreensão é uma grande dádiva, mas uma vida diária conduzida com atenção plena
também é uma dádiva. Fazer tudo conscientemente é a prática da meditação, porque a
atenção plena sempre alimenta a concentração e a compreensão.

A sexta pétala da flor é a prajna paramita, a perfeição da sabedoria. Este é o tipo mais elevado
de compreensão, que se situa além de todo o conhecimento, conceitos, idéias e pontos de
vista. Prajna é a natureza de Buda que existe em nós. É o tipo de compreensão que tem o
poder de nos levar à outra margem, a margem da liberdade, da emancipação e da paz. No
Budismo Mahayana a prajna paramita é descrita como a Mãe de Todos os Budas. Tudo o que é
bom, lindo e verdadeiro nasce de nossa mãe, a prajna paramita. Ela está em nós, só
precisamos atingi-Ia para que ela se manifeste. A Compreensão Correta é a prajna paramita.

Existe muita literatura sobre essa perfeição, e o Sutra do Coração é um dos discursos mais
curtos sobre o assunto. O Sutra do Diamante e o Ashtasahasrika Prajnaparamita (Discurso dos
8.000 versos) são os mais antigos de todos. A prajna paramita é a sabedoria da não-
discriminação.

Se você observar bem a pessoa amada, conseguirá entender seu sofrimento, suas dificuldades,
e também suas aspirações mais profundas. E esta compreensão tornará possível o verdadeiro
amor. Quando alguém nos entende, sentimo-nos felizes. Se pudermos oferecer compreensão a
alguém, este é o verdadeiro amor. A pessoa que recebe nossa compreensão desabrocha como
uma flor, e ao mesmo tempo nós também somos recompensados. A compreensão é o fruto da
prática. Olhar em profundidade significa estar lá, estar atento, estar concentrado. Ao olharmos
em profundidade para um objeto, fazemos com que a compreensão floresça. O ensinamento
de Buda nos ajuda a entender a realidade de forma mais completa.

Olhem uma onda na superfície do oceano. Uma onda é uma onda. Ela tem um começo e um
fim. Pode ser alta ou baixa, mais bonita ou menos bonita que as outras ondas. Mas, ao mesmo
tempo, uma onda nada mais é do que água. A água é o fundamento do ser da onda. É
importante que a onda saiba que ela é água, e não apenas uma onda.

Nós também vivemos nossa vida como indivíduos. Acreditamos que temos um começo e um
fim, e que estamos separados dos outros seres vivos. É por isso que Buda nos aconselhou a
olhar mais profundamente até atingir o fundamento de nosso ser, o Nirvana. Todas as coisas
trazem em si a natureza do Nirvana. Tudo já foi “nirvanizado”. Esta é a razão do ensinamento
do Sutra do Lótus. Quando contemplamos profundamente, tocamos a natureza da realidade.
Ao contemplar uma pedra, uma flor, ou nossa própria alegria, paz, tristeza ou medo, entramos
em contato com a dimensão maior do existir, que nos revelará que temos a natureza do não-
nascimento e da não-morte.

Nós não precisamos atingir o Nirvana, porque sempre estivemos lá. A onda não tem que
procurar água. Ela já é água. Nós somos o alicerce de nosso ser. Quando a onda entende que
ela é água, todo o seu medo desaparece. Depois que tocamos o chão do existir, depois que
tocamos Deus ou o Nirvana, recebemos a dádiva da ausência de medo, que é a base da
verdadeira felicidade. O maior presente que podemos oferecer a outros é nossa falta de medo.
Ao viver com intensidade todos os momentos de nossa vida, tocando o nível mais profundo de
nosso ser, estamos praticando a prajna paramita. A prajna paramita é atravessar para o outro
lado com a compreensão, com o insight.

Olhe para a sua situação e veja como você é rico internamente. Reconheça que tudo o que
você tem no momento é um presente. Sem esperar nem mais um minuto, comece a praticar.
Quando começar a praticar, vai se sentir imediatamente mais feliz. O Darma não é uma
questão de tempo. Verifique isso por si mesmo: o Darma pode transformar sua vida.

Quando você está preso à tristeza, ao sofrimento, à depressão, à raiva ou ao medo, não fique
na margem do rio em que existe o sofrimento. Passe para a outra margem, onde há liberdade
e não existem medo nem raiva. Pratique a respiração consciente, a caminhada consciente, a
contemplação profunda, e acabará passando para a margem da liberdade e do bem-estar. Não
é necessário praticar por cinco, dez ou vinte anos para conseguir atravessar para a outra
margem. Você pode fazer agora.

(Do livro “A Essência dos Ensinamentos de Buda” – Thich Nhat Hanh)

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