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Por que, justamente hoje, a Igreja proclama um Evangelho que parece falar
da destruição da família? Em que Jesus se declara como quem veio trazer a
divisão?
Em primeiro lugar, é evidente que a família tem uma base biológica. É um tipo
de relacionamento que, inicialmente, é constituído por vínculos sanguíneos:
um homem e uma mulher se unem e dali nascem filhos; e é da própria
natureza frágil do ser humano quando nasce que decorre o fato de que ele
precisa ser educado, cuidado e alimentado para chegar à sua plenitude.
Só que não para por aí! Afinal, não somos simplesmente um corpo que
precisa ser cuidado. Nós temos também uma alma.
No caso dos mamíferos, por exemplo, você vai encontrar (no máximo) um
vínculo materno, que permanece enquanto o filhote está sendo amamentado.
Passado este período, acabou. Quando aquele filhote se tornar adulto, se
estiver na época do acasalamento, ele não vai se preocupar se aquela é a
mãe dele ou não!
Não existem, no mundo animal, os papéis de pai, mãe, irmão, irmã, filhos.
Porque estes só existem entre os seres humanos que, além do vínculo
biológico, têm um vínculo espiritual.
Então nós temos de olhar para o mundo espiritual e nos perguntar: o que é
ser filho? O que é ser pai?
Nosso Senhor quer que sejamos família e tenhamos virtude. Mais do que
isso, quando veio a este mundo, Jesus pegou essa realidade da família e a
elevou a algo ainda mais sublime.
Os seres humanos, Adão e Eva, foram criados para ser família no paraíso. Ali
já havia uma determinação espiritual maravilhosa, uma missão para que,
através da virtude e da obediência a Deus, os filhos fossem conduzidos para
a felicidade.
Jesus veio para nos dar a sua felicidade: a felicidade do próprio Deus!
É debaixo dessa luz que podemos ler o Evangelho deste domingo. Jesus
inicia dizendo assim:
"Eu vim para lançar fogo sobre a terra, e como gostaria que já estivesse aceso!
Devo receber um batismo, e como estou ansioso até que isso se cumpra!"
— São Lucas 12, 49-50
É inevitável pensarmos nas palavras de São João Batista: "Eu batizo com
água, mas virá aquele que irá batizar com fogo e com o Espírito".
Agora, com a vinda de Jesus, vemos que Deus abriu a salvação para todos
os povos, porque o vínculo agora não é mais o de sangue; agora, a nova
família está vinculada a Jesus.
É esse batismo de fogo que nos une a Cristo e que nos faz família com Ele.
Jesus veio para chamar todos, mas é claro que, sendo realista, Nosso Senhor
está dizendo que, infelizmente, nem todas as pessoas irão acolher esse
convite.
Então, isso irá introduzir uma divisão naquela realidade do povo de Israel:
com a vinda de Jesus, todos os descendentes de Abraão são convidados a
fazer parte da Igreja, mas haverá aqueles que não irão aceitar o convite e,
por isso, essa família do povo eleito será dividida. E é por isso que vai
acontecer o que está escrito aqui:
"Vós pensais que Eu vim trazer a paz sobre a terra? Pelo contrário, eu vos digo,
vim trazer divisão"
— São Lucas 12, 52
Que paz é essa que Jesus diz que não irá trazer sobre a terra?
Então, não é de se admirar que, assim como aconteceu com o povo judeu,
em que nem todos aceitaram Jesus, isso vá acontecendo também em nossas
famílias.
Jesus não veio para abolir a lei do Antigo Testamento, ou seja, o quarto
mandamento de "honrar pai e mãe" continua valendo, sim! Mas ele só tem
sentido quando os pais cumprem sua missão de levar seus filhos para fazer
parte dessa nova família de Deus.
É por isso que os pais católicos ficam muito felizes ao batizarem, o quanto
antes, seus filhos: sabem que o mais importante não é transmitir a vida
biológica, mas dar a eles a vida sobrenatural.
Neste dia dos pais convidamos você a viver o projeto de família de Deus em
sua família. O que isso quer dizer, na prática?
Mas Jesus quer que essa união, que constitui a família humana, seja agora
um sacramento, um vínculo espiritual que nos fala de uma outra família, a de
Deus.
Ao abrir a porta da sua casa, um pai e uma mãe devem fazê-lo da mesma
forma que abririam a porta do sacrário: abrir a porta de sua casa para
encontrar Jesus — em sua esposa, em seu marido, em seus filhos.
Na nova família, o "mais importante" é aquele que mais serve, que mais se
entrega. Esse é o batismo pelo qual todos nós precisamos passar: unidos a
Cristo, precisamos amá-lo e servi-lo.
Que Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, seja aquele que une as
famílias!
Fazei, Senhor, que essa graça nos visite e que Nossa Senhora, Virgem
Santíssima e Mãe da Graça, seja nossa intercessora, resgatando as
nossas casas.
Amém.