A CADO
CONHECIMENTO
Ir:. Milton Pozzo da Silva - Curitibanos -
ARLS:.
-I arecia bastante comum,
P
olhando o lado externo não
tinha nada especial, somen-
te um esquadro e um com-
passo, sobrepostos e forjados
-----l em bronze.
Na tampa, entalhados na madeira de
ébano, três pontos, que distribuídos geo-
metricamente formavam um triângulo
perfeito.
Cada ponto encimava uma palavra
que, se colocada isoladamente, represen-
tava um princípio fundamental para o
aperfeiçoamento da sociedade e aprimo-
ramento da humanidade.
Juntas, tinham o poder de transfor-
mar o mundo!
Foi preciso remover uma espessa ca-
mada de poeira para que surgissem, en-
talhadas em esplendoroso relevo, estas
três singelas palavras:
LIBERDADE, IGUALDADE E arca qualquer.
FRATERNIDADE.
Passada a surpresa da inusitada des-
coberta, foram surgindo os questio-
namentos.
Fora esquecida?
Seria um tesouro?
Que propósito teria?
Meus pensamentos, em diálogo silen-
cioso, conversavam com aquela antiga
arca, de conservação quase perfeita, que
acabara de encontrar ao remover os en-
tulhos de antiga construção, que soube-
ra tratar-se de um templo qualquer.
Embevecido e curioso, notei um últi-
mo detalhe externo.
Um enorme e tosco cadeado, forjado
no calor de antigo forno de ferreiro.
E sem chaves!
Decidi removê-Ia e aguardar.
Três dias, interminável eternidade,
reflexões incontáveis ...
E se, de repente, todo mundo esque-
cesse as diferenças?
A cor, o idioma, os costumes, a geo-
"lI! Milênio" nO 50 - Grande Oriente de Santa Catarina
grafia, a religião, a raça e tudo o que se-
para e isola os homens.
Se a humanidade finalmente desper-
tasse, evoluísse ...
Assim como J ohn Lennon imaginou,
sem fronteiras, sem ódios, sem guerras,
sem fome, sem diferenças e sem discri-
minação.
Prevalecendo o amor, a compreensão,
a justiça, o perdão, a paz total!
O que parece desvairada utopia se-
ria pura e simples realidade, se cada um
de nós, num lampejo de luz rasgando as
trevas, acreditasse que tudo é possível,
usando como poder transformador ape-
nas três palavras:
LIBERDADE, IGUALDADE,
FRATERNIDADE.
Reflita e também faça a sua parte!
A quem pertencia, ainda era um mis-
tério, mas decididamente não era uma
O que esconderia, ou teria para reve-
lar?
Na noite do terceiro para o quarto dia
o sonho revelador.
Das brumas do tempo surgiu uma fi-
gura de enigmática aparência.
Alto, meio calvo, mãos calejadas, rou-
pas de estranha confecção, cinturão
entulhado de instrumentos para constru-
ção e desajeitado avental.
Não senti medo, mas uma estranha
familiaridade.
Então, a etérea figura, esforçando-se
para comunicar-se em arcaico portu-
guês, apoiando-se em gestos, fez compre-
ender que era proprietário do enigmáti-
co baú.
Apresentou-se como ANTÔNIO PE-
DERNEIRAS DE ANDRADE, mestre
maçom e construtor de templos do sécu-
lo XVIII.
Viera autorizar a abertura da caixa e
apontar o compartimento secreto, que
ocultava a chave que abriria o cadeado.
se
- GOSC
o primeiro ato, ao despertar, foi a
procura da chave.
E lá estava ela, perfeitamente conser-
vada!
O cadeado, este sim, corroído pela fer-
rugem, ofereceu interminável resistên-
cia.
Mas, finalmente a revelação, espera
vencida, curiosidade superada!
Uma nuvem de poeira que se desfez.
Um segredo que foi revelado e uma
súbita decepção!
Lá dentro, só ferramentas de traba-
lho, instrumentos de construtor.
UMA RÉGUA
UM MAÇO
UM CINZEL.
Dias e noites passaram.
Meditação, perguntas sem resposta,
esquecimento ...
Então, de repente, como se um sus-
surro fosse aumentando, se tornando
mais audível e finalmente culminasse em
estrondoso troar de impropérios.
E lá estava ANTÔNIO PEDERNEI-
RAS DE ANDRADE, realidade absolu-
ta, em irreal dimensão provoca da pelo
sono.
Gritava, irado, que não acreditava em
minha displicência e ignorância.
Como pudera eu não ter tirado pro-
veito dos instrumentos contidos na arca?
Que houvera tempo suficiente, mas
não os utilizei, chegando a esquecê-los.
Expliquei-lhe que pedreiro não era a
minha profissão, o que o irritou ainda
mais.
- TODOS SOMOS PEDREIROS, tro-
vejou!
Logo após, impondo-se ostensivamen-
te, fez-me seu discípulo.
Começou explicando que maçom -
traduzindo-se, quer dizer pedreiro.
Que era mestre da chamada Maçona-
ria Operativa, ou seja, que exercia a pro-
fissão de pedreiro e edificador de cons-
 truções.
Que pretendia difundir a Maçonaria
Simbólica, onde se constroem templos
para morada dos espíritos e onde se uti-
lizam, simbolicamente, os mesmos ins-
trumentos da construção real, para ele-
vação moral e espiritual.
Colocando sua mão direita sobre a
caixa, fitou-me e pausadamente disse:
- Vocêabriu-a porque é um buscador.
Aplicando os fundamentos aqui ocultos
será um construtor, um construtor de
templos que mudarão o coração e a men-
te dos homens.
TEMPLOS DE SABEDORIA E CO-
NHECIMENTO!
O primeiro instrumento que aponta-
va em minha direção, agora brincalhão,
como se fosse uma arma de fogo, era um
esquadro comum.
Explicou que servia para evitar que
a construção ficasse em desalinho,
desencontrada, feia, um susto para os
olhos.
Da mesma forma, sugeriu que sim-
bolicamente o mesmo princípio fosse apli-
cado na construção do ser, como matéria
e como espírito, traçando linhas retas e
perfeitas, para condução moral, forma-
ção e aperfeiçoamento do caráter.
Ainda bem humorado e brincalhão,
apresentou o segundo instrumento:
Imitando ventríloquo, movia as per-
nas do compasso, pretendendo aparen-
tar que este tinha vida e podia falar.
Com voz estridente, como seria ade-
quado para um compasso magricela, fa-
lou:
- Olá, tenho vários formatos e mui-
tas utilidades, servindo essencialmente
para embelezar a construção, construir
arcos e circunferências. Tenho sido aper-
feiçoado ao longo dos anos, alterando um
pouco a minha aplicação e utilidade.
Existo na forma de compasso de
balaústre, compasso de elipse, compas-
so de espessura, compasso de mola, com-
passo de ponta seca e compasso de pro-
porção. Sou utilizado para alinhar e har-
monizar, criar beleza, acrescentar deta-
lhes, tornar agradável para os olhos.
Aplique meus princípios e utilize o meu
poder e juntos poderemos construir um
mundo de singela beleza, um lugar me-
lhor de se habitar.
Dizendo isso, movimentava as pernas
em hilariante despedida.
Então, foram sete dias ausentes.
Tempo concedido para reflexão, expli-
cou Pederneiras de Andrade, novamen-
te surgido da névoa dos sonhos.
Agora sério e circunspeto, brandia em
suas mãos uma régua de 24 polegadas,
um maço e um cinzel.
- És a partir de agora um aprendiz
maçom e com estes instrumentos, sím-
bolos do teu grau, iniciarás tua própria
construção interior. São indispensáveis
para estabelecer uma base bastante só-
lida, utilize suas funções com sabedoria
e ofereça com humildade os conhecimen-
tos que forem adquiridos. Imagina-te
como a PEDRA BRUTA, disforme e tos-
ca, necessitando de eficaz polimento,
una-se a ela, matéria e espírito, força e
delicadeza, porque és tu mesmo a pedra
que terás que trabalhar!
O primeiro instrumento de trabalho,
que recebi em silencioso ritual, foi a ré-
gua de 24 polegadas, utilizada para me-
dir e planear a obra.
Deveria utilizá-Ia com sabedoria, bus-
cando sua aplicação na construção ocul-
ta em meu interior, medindo minhas
ações com responsabilidade e planeando
os meus desvios de conduta.
O maço, utilizado para desferir gol-
pes, consiste na transferência de ener-
gia e aplicação da força, ambas necessá-
rias ao aprimoramento do caráter e da
personalidade.
Desferindo golpes de força, poderia eu
libertar as virtudes que são inerentes ao
ser humano, ao mesmo tempo colocando
com energia e força grilhões que conde-
nariam, irremediavelmente, os vícios e
os maus costumes.
Por fim, o cinzel, utensílio ideal para
cinzelar a pedra bruta, nela criando mol-
duras e detalhes de embelezamento.
- Não dispense os seus serviços, por-
que beleza é fundamental, essa beleza
que brota da alma, que irradia bem es-
tar, grandeza de espírito e placidez de
coração. Os instrumentos que acabas de
conhecer são indispensáveis para traba-
lhar a matéria, formatá-la, direcioná-la ...
Faça deles instrumentos para transfor-
mar a alma dos homens; descobrirás,
então, o maior tesouro existente.
O TESOURO DO CONHECIMEN-
TO!
Voltarei quando for chamado para
apreciá-lo .....•.