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O PROCESSO DE CRIAÇÃO E PRODUÇÃO DO CD A CAMINHO DO MEIO:

UMA EXPERIÊNCIA TRANSDICIPLINAR

Marcos Kröning Corrêa (UFSM)


marcoskc@terra.com.br

Resumo. O presente relato descreve algumas etapas da produção do CD A Caminho do Meio, do


violonista Marcos Kröning Corrêa. O CD foi gravado durante o ano de 2003 em Santa Maria-RS,
com músicas e músicos provenientes do Curso de Música da Universidade Federal de Santa Maria/
UFSM. O CD foi lançado em maio de 2004 em algumas cidades universitárias do RS, com
entrevistas e programas especiais para rádio, televisão, sites e jornais. O presente texto revela
alguns caminhos da trajetória musical até o processo de gravação e edição, os compositores e as
músicas escolhidas, as participações especiais, a criação do Encarte e o lançamento em cidades do
RS.

Introdução
O CD A Caminho do Meio é basicamente um disco autoral, com obras para violão que
expressam diferentes ambientes e caminhos percorridas nos últimos anos pelo intérprete. A
escolha do repertório se deu partindo das obras para violão solo e da posterior inclusão de
um segundo violão, ou de voz, baixo ou percussão, chegando até a formação de trio
(violões e guitarra). Neste CD de estréia, todas as obras são inéditas e algumas foram
estreadas em performance no próprio estúdio de gravação. A maioria das músicas gravadas
foi apresentada em concertos em Santa Maria-RS entre 2001 e 2003.
O processo de gravação do CD foi digital, assim como a edição, mixagem e
masterização. Todas as etapas de estúdio foram realizadas em Santa Maria por Patrício
Contreras, egresso da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), com bacharelado em
violão e já há muitos anos atuando nesse meio na região central do RS. Os músicos
convidados que gravaram o CD são também egressos do Curso de Licenciatura Plena em
Música e Bacharelado em instrumento da UFSM.
O CD foi prensado pela Microservice do Brasil, e a produção fonográfica e direitos
musicais foram registrados na Socinpro (RJ), sociedade arrecadadora do ECAD, incluindo
o ISRC de cada música. O apoio cultural para o CD foi da UFSM, através do Gabinete do
Reitor e do LABIMED - Laboratório de Análises Clínicas de Santa Maria. A Gráfica e
Editora Pallotti apoiou o lançamento do CD no RS durante o mês de maio. A distribuição
do CD é feita pelo Selo Barulhinho, de Porto Alegre. Para aquisição do CD ver também
www.antaresmusica.com.br

A formação e produção musical dos autores convidados


No CD há dez músicas, sete são minhas e as outras três de parceiros musicais e
egressos do Curso de Música da UFSM: Gustavo Assis Brasil, Adelir Paulus e Gerson
Werlang. Gustavo cursou o mestrado em Jazz nos Estados Unidos e desenvolve uma
carreira como guitarrista e violonista, compondo e ministrando masterclasses. Em 1996
lançou em Santa Maria o CD independente Bicho Folha, em parceria com o
guitarrista/violonista Guilherme Barros. Em 2003 lançou o CD Dig Trio, juntamente com
David Pinto e Maurício Zottarelli, na formação guitarra, baixo e bateria. Adelir é
compositor, arranjador e professor, tendo já lançado um método de violão e gravado em
2003 um CD independente com o grupo Solos e Cordas (violões e bandolim). Em 2003
dedicou-me o Concerto nº 1 para 2 violões e orquestra, estreado, estreado por nós no
mesmo ano com a Orquestra Sinfônica de Santa Maria. Gerson cursou o mestrado em
violão na Miami University (FL/USA), tendo produzido e coordenado o CD Músicos, da
Universidade de Passo Fundo-RS (UPF). Em 1997 lançou Outros Outonos, livro de poesias
editado pela Editora da UPF. Posteriormente gravou dois CDs com a Banda Progressiva
Poços e Nuvens. Atualmente é professor de História da Música e Violão na UPF.

Caminhos trilhados
Eu estudei violão clássico dos sete aos onze anos. Já no ensino médio voltei a tocar
para formar uma Banda de rock. As experiências de palco me fizeram querer estudar
música profissionalmente. Voltei a estudar violão e entrei no Bacharelado em música da
UFSM, terminando a graduação na UFRGS de Porto Alegre. Trabalhei cinco anos na
FUNDARTE de Montenegro, onde ministrava aulas individuais, de violão em grupo e
classes teóricas. Ingressei como professor substituto na UFSM quando ainda tinha 26 anos.
Dois anos mais tarde fiz concurso para professor efetivo. Por necessidade de
aprimoramento musical, fui ter aulas com o Maestro Abel Carlevaro. Em 1995 estive nos
Estados Unidos numa viagem de intercâmbio como bolsista da CAPES, a convite dos
professores Milton Masciadri e John Sutherland (University of Geórgia/Athens). Em 1998
ingressei no mestrado em educação musical com a Jusamara Souza, na UFRGS, o que me
rendeu muitas aprendizagens, incluindo o hábito diário de leitura e escrita, chegando à
proeza do processo de uma defesa de dissertação. Ao mesmo tempo, ouvia música new age,
world music e muita coisa relativa a processos musicoterápicos. Nesse período, também
vivenciei processos terapêuticos que me abriram caminhos que desconhecia. Foi nesse
período que as primeiras composições começaram a chegar. De volta a Santa Maria em
2000, após a defesa de Mestrado, passei a escrever artigos e orientar alunos de graduação
em projetos de pesquisa e de extensão na UFSM, passando também a lecionar na
Licenciatura Plena do Curso de Música.

A decisão de gravar
A partir de 2002 percebi que poderia direcionar algumas obras que vinha estudando e
estreando em concertos para o registro em áudio digital. Era um novo desafio e um desejo
de passar pelo processo de gravação. Passei a ouvir com especial interesse as produções
discográficas recentes realizadas no RS. Através de Gerson Werlang, reencontrei Patrício
Contreras, músico também formado em Violão na UFSM e com larga experiência em
estúdios. Conversamos muito sobre captação de som, ambiência, atitude sonora e ouvimos
dezenas de discos. Era nosso primeiro trabalho em um CD acústico, de violão de lutheria,
sem cabos e pedais, utilizando apenas microfone para captar o som natural dos violões.
Busquei informações substanciais sobre a produção de um CD em vários artigos de revistas
e jornais, assim como nos livros de FISCHER (2004), NATALE (2001) e OLIVEIRA
(2002).
Definimos que iríamos gravar aos poucos, realizando sessões de 3 horas de duração,
com intervalos de 3 a 4 semanas. Com isso, gravava de uma a três músicas por mês, me
possibilitando um tempo considerável para ouvir o trabalho realizado antes de ir para a
próxima sessão. Patrício trabalhou com maestria e dedicação em todas as etapas, da
gravação à edição, mixagem, masterização e inserção do código de ISRC.

As músicas e músicos
Além das três músicas solo do CD - Sr de si Sr de mim (Corrêa), Hélios (Corrêa) e
Prelúdio de Outono (Werlang), gravei dois violões em Berceuse (Assis Brasil) e Estrada de
Vime (Corrêa). Há ainda vários duos – com Edu Pacheco no Vaso em Têmpera (Corrêa), a
voz de Jane Corrêa na única canção do disco, Bem bem (Corrêa), Felipe Álvares no baixo
fretlees em Impar (Corrêa), Adelir Paulus ao violão em Essência (Paulus). Em Nós Três
(Corrêa), são dois violões e as guitarras do Leo Perotto e Patrício Contreras. Além da
afinação padrão do violão, utilizei no CD afinações alteradas em algumas músicas e violão
de sete cordas em outras.
A trajetória de cada músico neste CD apresenta variações interessantes. Edu Pacheco é
percussionista, mestrando em educação e desenvolve trabalhos de educação musical no
ensino fundamental e em oficinas de música. Jane Carlos Corrêa é Licenciada em Música
pela UFSM, desenvolvendo trabalhos de educação musical em pré-escola, ensino
fundamental, educação especial e em oficinas. Felipe Álvares é baixista e está cursando a
Licenciatura Plena em Música pela UFSM. Participa de diversos projetos e tem tocado com
diversos músicos do RS. Leo Perotto é violonista e guitarrista, além de compositor e
professor de música, onde desenvolve linhas de ação ligada ao repertório contemporâneo.

O processo de gravação
As músicas para violão solo (Sr de si Sr de mim e Hélios, Prelúdio de Outono) eu
gravei como se estivesse tocando ao vivo. Em seguida nós ouvíamos e o que não
gostávamos eu gravava de novo ou o Patrício já editava. Na obra do Gerson estudei com a
partitura que ele escreveu, fazendo na gravação pequenas adaptações para violão de 7
cordas. Sr de Si e Hélios gravei sem ter escrito a partitura. Em Essência, escrita para dois
violões, gravamos como se fosse ao vivo, cada um em um canal. Em Berceuse (Assis
Brasil) estudei a partitura e com o tempo fui agregando novas frases, também utilizando um
segundo violão em algumas passagens. Fiz o mesmo em Nós Três, gravei os dois violões e
posteriormente foram incorporadas as guitarras do Leo e do Patrício. Estrada de Vime
originalmente tinha letra e era para uma formação maior. Para o CD reduzi a peça para
violão solo, agregando frases dobradas em algumas passagens da seção rápida. Na única
canção no disco, Bem bem, o Patrício colocou apenas 1 microfone para o violão e voz,
onde toquei e cantei ao mesmo tempo, sem gravação guia. Jane gravou a sua parte
posteriormente. Em Impar e Têmpera gravei primeiro o violão, e mais tarde foram
incorporadas as criações do Felipe e do Edu, que utilizou o Vaso e uma Vareta de
Berimbau no vaso. Em Têmpera, além dos solos individuais, há uma sessão onde tocamos
em pulsos e tempos diferentes, cada um seguindo seu rumo. Essa idéia do Edu transformou
a música substancialmente. Em Impar, o baixo fretlees em algumas partes é mais solista do
que o violão, sendo que as frases de Felipe acrescentaram muito à música original. No
estúdio, o Patrício e o Felipe fizeram um trabalho pontual, preciso e refinado.

O encarte
O encarte traz diversas imagens distribuídas pelas 12 páginas, com textos inspirados
nas músicas e comentários sobre as mesmas, além de informações sobre os instrumentos
utilizados, microfones, encordoamentos e afinações. Roberto Gerhardt, autor do encarte,
criou-o a partir de nossas conversas e das músicas que vinham sendo gravadas. Roberto é
designer formado pela UFSM e trabalha numa agência de publicidade. Cheguei até ele
através de colegas do Centro de Artes e Letras da UFSM, José Goulart e Edemur Casanova.
Roberto trabalhou no projeto gráfico, no layout e arte-final, acompanhando o processo até a
prova de cor do encarte, numa síntese de competência, sensibilidade e dedicação. As fotos
são do próprio Roberto e de Paulo Fernando Machado, fotógrafo e amigo que vem
acompanhando e registrando nossa produção artística desde 2001.

Concertos de lançamento
Durante o mês de maio, o CD foi lançado em diferentes cidades do RS, com
divulgação nos meios de comunicação, através de matérias em sites e jornais do Estado,
além de entrevistas e programas especiais para rádio e televisão. A turnê foi iniciada no
Theatro 13 de Maio de Santa Maria, prosseguiu em Porto Alegre no Santander Cultural,
passando pelo Oratório do Campus da Universidade de Passo Fundo (VII Semana
Acadêmica da Faculdade de Artes e Comunicação), Teatro Caixa Preta do Campus da
Universidade Federal de Santa Maria (Encontro Regional da SBPC) e no Conservatório de
Música da Universidade Federal de Pelotas.
Em cada concerto de lançamento houve uma formação diferente, mas sempre com
músicos que participaram do CD. Na estréia oficial em Santa Maria, no dia 05 de maio,
aproximadamente 200 pessoas assistiram o concerto com todos os músicos envolvidos no
projeto. Três dias depois, tocamos na sala de espetáculos do Santander Cultural de Porto
Alegre, onde participaram como convidados Jane, Edu e Adelir. No dia 18 de maio o CD
foi lançado em Passo Fundo, com as participações de Jane e Edu. Na semana seguinte
houve dois concertos, o primeiro no dia 25 no Encontro Regional da SBPC, com a
participação do Edu, Leo Perotto e Adelir. No dia seguinte foi em Pelotas, a convite de
Marcio Souza e Coordenação do Curso de Música, no Projeto Quartas Musicais, desta vez
com a participação do Leonardo e do Adelir, configurando um recital de violões - solo, duo
e trio.

Algumas considerações
Como violonista e educador, venho utilizado materiais e formas de conhecimento
disponíveis advindos de discos, partituras e livros para desenvolver em diferentes espaços
de atuação o que tenho em mente, de acordo com as demandas e necessidades. A criação de
música nova como veículo de expressão, através da gravação de um CD, é mais um passo
no caminho deste educador e intérprete, onde o fazer musical assume novas formas e
maneiras de compartilhar e expressar experiências e momentos que pertencem a todos,
alunos, intépretes, produtores, compositores, educadores e sociedade em geral. Que o CD A
Caminho do Meio acrescente a sua vida luz e inspiração.

BIBLIOGRAFIA UTILIZADA

CORREA, Marcos K. A Caminho do Meio. CD com 10 faixas e encarte incluso de 12


páginas. Porto Alegre: Barulhinho, 2004.
FISCHER, Heloísa (Org). Anuário Viva Música 2004: Guia de Negócios da música
clássica no Brasil. Rio de Janeiro: Viva Música Marketing e Edições Ltda, 2004.
NATALE, Edson. Guia Brasileiro de Produção Cultural 2001. São Paulo, Natale M.P.A,
2001.
OLIVEIRA, Marcelo C. de; LOPES, Rodrigo de C. Manual de produção de CDs e Fitas
demo. 3ª edição. Rio: Gryphus, 2002.

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