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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE

CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS


DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS CONTÁBEIS

VITOR NISHIMURA GUERRA

HOME CARE – PERFIL E ANÁLISE DE CUSTOS DOS PACIENTES


PARTICIPANTES NO PROGRAMA DE ASSISTÊNCIA DOMICILIAR NUM
PLANO DE SAÚDE NO ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE

NATAL
2021
VITOR NISHIMURA GUERRA

HOME CARE – PERFIL E ANÁLISE DE CUSTOS DOS PACIENTES


PARTICIPANTES NO PROGRAMA DE ASSISTÊNCIA DOMICILIAR NUM
PLANO DE SAÚDE NO ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE

Monografia apresentada no processo


avaliativo de Defesa de Trabalho de Conclusão
de Curso em Ciências Contábeis, do
Departamento de Ciências Contábeis da
Universidade Federal do Rio Grande do Norte.

Orientador (a): Daniele da Rocha


Carvalho, Me.

NATAL
2021
Guerra, Vitor Nishimura.
Home Care: perfil e análise de custos dos pacientes
participantes no Programa de Assistência Domiciliar num plano de
saúde no estado do Rio Grande do Norte / Vitor Nishimura Guerra. -
2021.
49f.: il.

Monografia (Graduação em Ciências Contábeis) - Universidade


Federal do Rio Grande do Norte, Centro de Ciências Sociais
Aplicadas, Curso de Ciências Contábeis. Natal, RN, 2021.
Orientadora: Prof.ª Me. Daniele da Rocha Carvalho.

1. Home Care - Monografia. 2. Custos hospitalar - Monografia.


3. Perfil dos usuários - Monografia. I. Carvalho, Daniele da
Rocha. II. Universidade Federal do Rio Grande do Norte. III.
Título.

RN/UF/Biblioteca CCSA CDU 657.4


VITOR NISHIMURA GUERRA

HOME CARE – PERFIL E ANÁLISE DE CUSTOS DOS PACIENTES


PARTICIPANTES NO PROGRAMA DE ASSISTÊNCIA DOMICILIAR NUM
PLANO DE SAÚDE NO ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE

Monografia apresentada no processo


avaliativo de Defesa de Trabalho de Conclusão
de Curso em Ciências Contábeis, do
Departamento de Ciências Contábeis da
Universidade Federal do Rio Grande do Norte.

Aprovado em ____________________.

BANCA EXAMINADORA

______________________________________________________
Prof.ª Ms. Daniele da Rocha Carvalho
Orientador – DCC/UFRN

______________________________________________________
Prof.º Dr. Ridalvo Medeiros Alves de Oliveira
Examinador – DCC/UFRN

______________________________________________________
Profª Dra. Giovanna Tonetto Segantini
Examinador – DCC/UFRN
AGRADECIMENTOS

A minha esposa por todo companheirismo e paciência, pelos incentivos nos momentos
difíceis e compreensão na minha ausência enquanto me dedicava à realização deste trabalho.
A professora Daniele, por ter sido minha orientadora e ter desempenhado tal função
com dedicação e paciência, entendendo todas as minhas dificuldades e me ajudando a superá-
las.
Aos meus colegas de curso, com quem convivi intensamente durante os últimos anos,
pelo companheirismo e pela troca de experiências que me permitiram crescer não só como
pessoa, mas também como formando.
A todos da empresa, pelo fornecimento de dados e materiais que foram fundamentais
para o desenvolvimento da pesquisa que possibilitou a realização deste trabalho. Em especial
a Abner Braga, Elaine Neves, Illiana Pereira, Fabio Bezerra, Pablo Santos e Livia Soriano,
que se dispuseram sempre em ajudar.
Também quero agradecer à Universidade Federal do Rio Grande do Norte e a todos os
professores do meu curso pela elevada qualidade do ensino oferecido e infraestrutura
disponibilizada.
Por fim, a todos aqueles que contribuíram, de alguma forma, para a realização deste
trabalho.
RESUMO

Para permanecer no mercado e crescer, qualquer empresa precisa gerir bem suas ações. Na
Saúde não é diferente. Com o crescimento dos custos assistenciais, seja pela concorrência, ou
pelo desenvolvimento de novas tecnologias, a gestão dos custos é indispensável para a
sobrevivência de qualquer empresa de saúde. Nesse contexto o serviço de home care, tem
sido utilizado como estratégia de redução de custos nas operadoras de saúde em detrimento a
internação hospitalar. Aliando economia, encontra-se também a possibilidade dos pacientes
receberem os cuidados com qualidade no ambiente familiar. O presente estudo teve como
objetivo descrever o perfil dos usuários e o impacto no custo da prestação do serviço de home
care por uma empresa operadora de saúde. A pesquisa foi classificada como uma pesquisa
descritiva quanto ao objetivo, quanto aos procedimentos é um estudo de caso e uma pesquisa
documental, e quanto a abordagem foi classificada como qualitativa e quantitativa. A coleta
de dados se deu através de entrevistas e documentos disponibilizados pela empresa e quanto a
análise de dados utilizou-se de estatística descritiva e de análise de conteúdo. Como resultado
observou-se a incidência maior de usuários de idade avançada (58% acima de 80 anos), do
sexo feminino (67%), oriundos da desospitalização (64,9%) e como patologia mais recorrente
a hipertensão (289 incidências), seguindo de alguma demência (191 incidências) e Alzheimer
(172 incidências), denotando a cronicidade dos pacientes. No que diz respeito aos custos ao
comparar um paciente no programa assistência domiciliar com a internação hospitalar
verificou-se uma economia de 80%. Já na comparação entre internação hospitalar e o
programa de internação domiciliar, a economia foi apenas de 31% devido ao alto curso com
pessoal, visto que os pacientes do programa de internação domiciliar possuem técnico de
enfermagem disponível 12 ou 24 horas por dia, corroborando com outros estudos anteriores.
Por fim, sugere que sejam realizados novos estudos, aprofundando a temática dos custos,
avaliando metodologias de custeio e fornecendo informações valiosas na tomada de decisão.
Palavras-chaves: Custos hospitalares; Home Care; Análise de Custos; Perfil dos Usuários.
ABSTRACT

To stay in the market and grow, any company needs to manage its actions well. In Health it is
no different. With the growth of care costs, whether due to competition or the development of
new technologies, cost management is essential for the survival of any healthcare company. In
this context, the home care service has been used as a cost-cutting strategy for health care
providers to the detriment of hospitalization. Combining savings, there is also the possibility
for patients to receive quality care in the family environment. This study aimed to describe the
profile of users and the impact on the cost of providing the home care service by a healthcare
company. The research was classified as a descriptive research regarding the objective,
regarding the procedures, it is a case study and a documentary research, and regarding the
approach, it was classified as qualitative and quantitative. Data collection took place through
interviews and documents made available by the company and for data analysis, descriptive
statistics and content analysis were used. As a result, there was a higher incidence of users of
advanced age (58% over 80 years), female (67%), from de-hospitalization (64.9%) and
hypertension as the most recurrent pathology (289 incidences) , followed by some dementia
(191 incidences) and Alzheimer's (172 incidences), denoting the chronicity of the patients.
With regard to costs, when comparing a patient in the home care program with hospital
admission, there was an 80% savings. In the comparison between hospitalization and the
home care program, the economy was only 31% due to the high course with staff, since
patients in the home care program have a nursing technician available 12 or 24 hours a day,
corroborating with other previous studies. Finally, it suggests that further studies be carried
out, deepening the theme of costs, evaluating costing methodologies and providing valuable
information in decision-making.
Keywords: Hospital costs; Home Care; Cost analysis; User Profile
LISTA DE QUADROS

Quadro 1 – Alguns estudos sobre home care................................................................ 24


Quadro 2- Classificação no home care quanto a pontuação atingida ........................... 35
LISTA DE FIGURAS

Figura 1 – Ilustra o Fluxo do paciente Home Care ....................................................... 39


Figura 2 – Ilustra a Prestação da Assistência por complexidade .................................. 40
LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 1– Pacientes Ativos no Home Care por mês em 2020 .................................... 31


Gráfico 2 - Faixa etária e quantidade por sexo ............................................................. 33
Gráfico 3– Pacientes segundo Classificação por Complexidade .................................. 36
Gráfico 4 – Situação do Paciente no Home Care ......................................................... 37
Gráfico 5– Cinco principais incidências de patologias................................................. 38
LISTA DE TABELAS

Tabela 1- Quantidade de colaboradores por função (2021) .......................................... 32


Tabela 2– Classificação por complexidade .................................................................. 34
Tabela 3 - Custo diário do Paciente X no Programa PID com complexidade alta ....... 41
Tabela 4 - Custo diário do Paciente Y no Programa PAD com complexidade baixa... 42
SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO...............................................................................................11
1.1 PROBLEMATIZAÇÃO ................................................................................. 11

1.2 OBJETIVOS ................................................................................................... 12

1.2.1 Geral ......................................................................................................... 12

1.2.2 Específicos ................................................................................................ 12

1.3 JUSTIFICATIVA ........................................................................................... 12

2 REFERENCIAL TEÓRICO ............................................................................... 14

2.1 PLANO DE SAÚDE: HISTÓRIA, LEGISLAÇÃO E HOME CARE ........... 14

2.2 PERFIL DOS PACIENTES QUE SE UTILIZAM O HOME CARE ............ 17

2.3 CUSTOS HOSPITALARES E CUSTOS PARA TOMADA DE DECISÃO 19

2.3.1 Classificação dos custos hospitalares..................................................... 20

2.3.2 Classificação dos custos no home care ................................................... 22

2.4 PESQUISAS RELACIONADAS ................................................................... 22

3 METODOLOGIA ................................................................................................ 28

3.1 TIPOLOGIA DE ESTUDO ............................................................................ 28

3.2 ABRANGÊNCIA E OBJETO DE ESTUDO ................................................. 29

3.3 COLETA E ANÁLISE DOS DADOS ........................................................... 29

4 ANÁLISE DE RESULTADOS ........................................................................... 31

4.1 PERFIL DO HOMECARE NA EMPRESA EM ESTUDO ........................... 31

4.2 PERFIL DOS PACIENTES QUE SE UTILIZAM DO HOMECARE .......... 32

4.3 PRINCIPAIS MOTIVOS DE INSERÇÃO DE PACIENTES NO


PROGRAMA ....................................................................................................................... 37

4.4 FLUXO DAS ATIVIDADES DE INTERNAÇÃO NO HOME CARE ........ 38

4.5 COMPARATIVO DE CUSTOS – HOSPITALIZAÇÃO E HOMECARE


(PAD E PID) 41

4.6 VISÃO DO PROGRAMA HOME CARE PELO GESTOR .......................... 43

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS .............................................................................. 44


6 REFERÊNCIAS ................................................................................................... 46
11

1 INTRODUÇÃO

1.1 PROBLEMATIZAÇÃO

Os planos de saúde surgiram nos planos de previdência das empresas junto ao


movimento de urbanização e industrialização na década de 1940, como o plano Caixa de
Assistência dos Funcionários do Banco do Brasil (CASSI), criado em 1944 e evoluindo até o
que o modelo que se tem atualmente, não limitado aos planos de previdência das empresas,
mas organizados em diferentes modalidades (ANS, 2021).
Nesse contexto, a expansão do setor de saúde suplementar por meio dos planos de
saúde, datada desde a década de 1980, foi acompanhada pelo crescimento no número de
queixas de interrupção de atendimento, aumento de preços e negativas de cobertura para
determinados procedimentos impulsionando debates acerca da regulamentação do setor, o que
culminou na criação da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), fundada em 2000,
cujo objetivo era de regulamentar o setor (SATO, 2007).
Assim, diante do alto nível de regulação existente, por meio da ANS, e da crescente
concorrência e competitividade do setor, as empresas operadoras de saúde necessitaram
buscar estratégias de melhorias do serviço prestado e de redução de custos, visando sua
sustentabilidade (FEITOSA et al., 2010).
Surge com isso a oferta do serviço de home care (do inglês “cuidado do lar”) pelas
empresas operadoras de saúde, visando a desospitalização e, consequentemente, redução de
custos. Esta economia, quando se compara a assistência à saúde no ambiente hospitalar com
essa assistência realizada no domicílio, tem sido objeto de estudo, cujos resultados têm
reafirmado relevantes reduções de custos, já que os custos da internação se mostram mais
expressivos (RIBEIRO, 2004; BORGES JUNIOR, 2018; REIS, 2018; FEITOSA et al, 2010).
O conhecimento detalhado sobre os custos por meio de um sistema de contabilidade
de custos permite um controle mais preciso, visando a diminuição ou substituição de itens
mais onerosos e possibilitando uma melhoria na análise da lucratividade, estabelecimento de
taxas de serviços, planejamento estratégico e gerenciamento de pessoal (FALK, 2008).
Os sistemas de custos são ferramentas necessárias às empresas, pois, com base neles,
os estoques são avaliados, o custo dos bens vendidos para a geração de relatório financeiros é
calculado; são estimadas as despesas operacionais, produtos, serviços e clientes; bem como
oferecem feedback econômico sobre a eficiência do processo a gerentes e operadores. A
12

forma efetiva de calculá-los tem por base os sistemas ou métodos de custeio (FEITOSA et al,
2010).
O direcionamento da contabilidade de custos no segmento saúde teve como foco
principal a apuração do custo dos serviços prestados. Todavia, a necessidade de controle e
avaliação das atividades operacionais tornou o conjunto de informações geradas pela
contabilidade de custos um insumo básico à gestão de instituições de saúde, tornando-a
central para a tomada de decisões operacionais (UNIMED, 2019).
Diante disso, tem-se o seguinte problema de pesquisa: Qual impacto nos custos o
programa home care tem trazido para a empresa operadora de saúde, no Rio Grande do
Norte?

1.2 OBJETIVOS

1.2.1 Geral

Descrever o perfil e o impacto no custo da prestação do serviço de home care por uma
empresa operadora de saúde.

1.2.2 Específicos

• Descrever o perfil do serviço de home care da empresa operadora de saúde;


• Descrever o perfil dos pacientes atendidos no serviço de home care da empresa
operadora de saúde;
• Apresentar o fluxo percorrido pelo paciente atendido no serviço de home care;
• Comparar os custos de atendimento de um paciente no serviço de home care com os
custos desse mesmo atendimento na internação hospitalar;
• Identificar os pontos positivos e negativos do home care na visão do Gestor, bem
como os tipos de controles executados.

1.3 JUSTIFICATIVA

Considerando a crescente concorrência no mercado de saúde suplementar e a


necessidade das empresas se manterem competitivas, estas vêm buscando cada vez mais o
melhoramento da qualidade dos seus serviços e estratégias na redução de custos. A exemplo
nas operadoras de saúde, a estratégia de ofertar o serviço de home care, tem sido idealizada
13

como uma opção para aumentar a desospitalização, gerando desta forma, um aumento na
rotatividade dos leitos e uma direta diminuição significativa nos custos de internação.
Vários são os estudos que indicam essa redução de custos, há exemplos de Ribeiro
(2004), onde o gasto total evitado com 64 pacientes em assistência domiciliar foi 69,9%
menor do que se estivessem em internação hospitalar. Fisher (2010) em seu estudo com um
paciente, viu o valor médio da diária de internação ir de R$ 736,09 na hospitalar para R$
39,64 no atendimento domiciliar. Feitosa et. al (2010) em seu estudo os dados sugerem que o
atendimento médico domiciliar reduz em torno de 60% dos custos para operadora de saúde.
Para Borges Junior (2018), em sua tese, os resultados levantados indicaram que o custo do
cuidado domiciliar é 21,5 vezes menor do que o cuidado hospitalar. E por fim, Reis (2018),
em suas análises encontrou um custo médio paciente/dia da atenção domiciliar 1.041% menor
que o da internação hospitalar.
O presente estudo visa analisar o custo/mês médio de pacientes que se encontram no
programa home care da empresa em estudo, com patologias fratura de fêmur e sequelas de um
acidente vascular cerebral, de forma comparativa com os gastos caso eles estivessem em
internação hospitalar, com o intuito de comprovar se essa estratégia trouxe redução de custo
para o plano de saúde no Rio Grande do Norte.
Este estudo visa também colaborar com as discussões na área de gestão de custos, bem
como os seus impactos para as empresas, além de reafirmar a continuidade de um serviço que
além de redutor de custo assistencial, aumenta a disponibilidade dos leitos hospitalares e a
qualidade de vida dos pacientes em cuidados paliativos, conforme comprovado pelo estudo de
Ribeiro et al (2018). Os autores afirmam que os cuidados domiciliares proporcionam uma
diminuição no risco de internações em Unidade de Terapia Intensiva, de múltiplas
hospitalizações e proporcionam a oportunidade de receber mais visitas do que no hospital,
resultando em maior satisfação dos familiares e do paciente em cuidados paliativos.
Haja vista que, no cenário competitivo e de custos crescentes vivenciados pelas
instituições de saúde, seja ela pública ou privada, com o crescimento dos grandes grupos de
saúde, e a competitividade, os gestores precisam cada vez mais de instrumentos gerenciais
adequados para administrar seus recursos e executar suas atividades da forma mais eficiente
possível. Com isso, a análise de custos auxilia no gerenciamento dos resultados, cálculo das
margens por procedimento, direcionamento do trabalho, na identificação de instalações e
espaços ociosos e até mesmo no nível de atividade de uma instituição de saúde (BONACIM,
ARAUJO, 2010)
14

2 REFERENCIAL TEÓRICO

Nesta seção serão discutidos o aporte teórico de sustentação para a pesquisa, sendo
dividido em três grandes tópicos: no primeiro tópico será abordado sobre Plano de Saúde, seu
contexto e a evolução, os tipos de Internações, a Assistência Domiciliar (home care), as
Modalidades dessa Assistência Domiciliar, o Perfil de Usuários e a Legislação relacionada ao
serviço de home care; o segundo tópico, trata-se de uma discussão os elementos de gastos
hospitalares e os Métodos de Custeio Gerencial; e no último tópico, denominado Pesquisas
Relacionadas, serão evidenciados trabalhos sobre home care com o intuito de mostrar a
importância do tema tanto para os gestores hospitalares, como para a sociedade, e em seguida
trazendo o diferencial desta pesquisa em relação os estudos levantados.

2.1 PLANO DE SAÚDE: HISTÓRIA, LEGISLAÇÃO E HOME CARE

Os planos de saúde, como são conhecidos hoje, começaram a surgir junto ao


movimento da urbanização e industrialização a partir da década de 1940, sendo fornecidos
pelas empresas aos seus empregados, inicialmente pautados nos planos de previdências das
empresas. Como exemplo, pode-se citar o plano Caixa de Assistência dos Funcionários do
Banco do Brasil – CASSI constituído em 1944 (ANS, 2021).
Atualmente os planos de saúde se encontram organizados em diferentes modalidades
de gestão, absorvendo desta forma a demanda de outros clientes que até então não tinham
acesso à assistência à saúde por meio de auxílio oferecido por sua empresa empregadora. De
acordo com a RDC Nº 39, de 27 de outubro de 2000, as operadoras de saúde são classificadas
em administradora, cooperativa médica, cooperativa odontológica, autogestão, medicina de
grupo, odontologia de grupo ou filantropia (ANS, 2000).
Apesar de já existir a Lei Federal 9.656 de 03 de junho de 1998 que dispõe sobre os
planos e seguros privados de assistência à saúde, somente em 28 de janeiro de 2000, através
da Lei Federal de 9.961 foi criada a Agência Nacional de Saúde Suplementar – ANS, para
regular a atuação dos planos de saúde. De acordo com FEITOSA et al (2010), o surgimento
da ANS se deu pela necessidade de uma intervenção regulatória no mercado de prestação de
serviços em saúde devido às constantes reclamações da população, tanto em relação aos
aumentos abusivos por parte das empresas de plano de saúde quanto a restrições à cobertura
dos planos ofertados.
15

Através da medida provisória nº 2.177-44 de 2001, que atualizou amplamente a Lei


9.656 de 03 de junho de 1998, conceitua Operadora de Plano de Assistência à Saúde no seu
artigo 1º, inciso II, como sendo pessoas jurídica constituída sob a modalidade de sociedade
civil ou comercial, cooperativa, ou entidade de autogestão, que opere produto, serviço ou
contrato de:

prestação continuada de serviços ou cobertura de custos assistenciais a


preço pré ou pós estabelecido, por prazo indeterminado, com a finalidade
de garantir, sem limite financeiro, a assistência à saúde, pela faculdade de
acesso e atendimento por profissionais ou serviços de saúde, livremente
escolhidos, integrantes ou não de rede credenciada, contratada ou
referenciada, visando a assistência médica, hospitalar e odontológica, a
ser paga integral ou parcialmente às expensas da operadora contratada,
mediante reembolso ou pagamento direto ao prestador, por conta e ordem
do consumidor.

Hoje no mercado de plano de saúde no Brasil, sem considerar os planos puramente


odontológicos, segundo dados da ANS consultados em agosto de 2021, existem 702
operadoras em atividade com beneficiários, 19.300 planos ativos, acobertando 48.238.177
beneficiários, correspondendo uma taxa de cobertura de 24,87% da população do Brasil,
gerando uma receita de R$ 58.436.510.419 no primeiro trimestre de 2021. No Rio Grande do
Norte há 549.006 beneficiários desses planos privados, representando 17,01% da população
do estado.
Apesar da taxa de cobertura dos planos ser menor que ¼ da população, demonstrando
um mercado vasto de possibilidades de crescimento e expansão de cobertura das operadoras
de saúde, não se percebe um crescimento muito expressivo nos últimos 10 anos, quando
analisado a quantidade de beneficiários cobertos, que passou de 44.937.350 em dezembro de
2010 para 47.564.363 beneficiários em dezembro de 2020, representando um acréscimo
apenas de 5,85%, segundo dados do site da ANS (ANS, 2021).
Contudo, o número de empresas no mesmo período sofreu um decréscimo de 31,96%,
passando de 1045 empresas em dezembro de 2010 para 711 em dezembro de 2020, segundo
dados da ANS (ANS, 2021). Esta situação demonstra que grandes empresas têm aos poucos
absorvidos os beneficiários de outras empresas, caracterizando um mercado estável em
relação a quantidade de beneficiários, mas bastante agressivo quanto aos concorrentes que
atuam nele.
16

Com a expansão do setor, o alto nível de regulação e a competitividade desse


segmento, as operadoras de planos de saúde necessitam encontrar estratégias capazes de
assegurar sua sustentabilidade, por meio de redução de custos sem prejudicar a qualidade dos
serviços oferecidos aos usuários (FEITOSA et al, 2010).
Conforme já mencionado, as operadoras de saúde e os planos comercializados por
elas, são regulamentados segundo a Lei Federal 9.656 de 03 de junho de 1998 e as
regulamentações proferidas pela ANS. No que diz respeito aos serviços obrigatórios
ofertados, conforme o art. 4º, inciso III, da Lei nº 9.961, de 2000, compete à Agência
Nacional de Saúde Suplementar – ANS elaborar o Rol de Procedimentos e Eventos em Saúde,
que constituirão referência básica para os fins do disposto na Lei nº 9.656, de 1998, e suas
excepcionalidades, com isso, o regramento acerca da prestação de serviços refere-se aos
serviços inclusos pela ANS no Rol de Procedimentos e Eventos em Saúde.
Um serviço que atualmente os planos de saúde estão oferecendo é o chamado home
care (do inglês, cuidado do lar), também conhecido como assistência domiciliar, e que
consiste na assistência ao paciente no âmbito da sua residência. De acordo com Tiossi e Marin
(2004) o serviço de Assistência Domiciliar, da qual a internação domiciliar faz parte, surgiu
no final do século XIX, nos Estados Unidos, através de um movimento denominado
“Associações de Enfermeiras Visitantes”, porém há registros que em 1813 já existiam as
assistências domiciliares, mas de maneira informal e sendo de exclusiva responsabilidade das
mulheres.
Apesar desse registro histórico, esse modo de assistência passou por um período de
desuso a partir do aumento desenfreado, em termos nacionais e internacionais, de oferta de
leitos e do estímulo ao consumo (para médicos e para usuários) de internações hospitalares,
gerando uma longa tradição do modelo de saúde hospitalocêntrico. Porém esse modelo, nos
últimos anos tem perdido espaço para a “nova” assistência domiciliar, bem diferente da
registrada em 1813, impulsionada pela tendência de desospitalização, bem como pela busca
constante de redução do custo da assistência médico-hospitalar (MALIK; SCHIESARI,
1998).
Não há registro da história da assistência domiciliar no Brasil. Baseado em
depoimentos de pessoas que viveram o desenvolvimento dessa modalidade, pode-se
restabelecer um elo entre as várias ações pregressas e as compreensões mais atuais. Diferente
do movimento dos EUA, de origem comunitária, no Brasil o estado teve presença indutora
das atividades de atenção à saúde com a criação do Serviço de Assistência Médica Domiciliar
17

e de Urgência (Samdu), criado em 1949, provavelmente a primeira atividade planejada de


assistência domiciliar do país (MENDES, 2001).
Outro grande marco foi a criação, em 1967, de um sistema de atenção domiciliar para
atender os pacientes com doenças crônicas, pelo Hospital do Servidor Público Estadual de
São Paulo. Sua administração imaginava que uma assistência domiciliar fosse o
prolongamento do tratamento hospitalar e poderia permitir a alta precoce, diminuindo o tempo
de permanência (MENDES, 2001).
A partir de então, foram surgindo vários outros serviços, privados e públicos, cada
qual se moldando às necessidades de sua clientela. No Brasil, foi implantado o serviço de
assistência domiciliar, denominado Programa de Saúde da Família (PSF), voltado para o
cuidado preventivo, com mesmo intuito de prevenir internações desnecessárias e/ou
manutenção de pacientes crônicos (TIOSSI, MARIN, 2004).

2.2 PERFIL DOS PACIENTES QUE SE UTILIZAM O HOME CARE

O atendimento domiciliar tem como objetivo acelerar a recuperação do paciente e


promover redução dos custos, e dessa forma ser uma saída mais humana e econômica para
pacientes portadores de doenças crônicas ou de longa duração (FOGAÇA, 2021).
A assistência domiciliar sempre aparece ligada ao atendimento de doente idoso com
patologia crônica. Em que pese o volume de atendimento ser maior nos idosos, com doenças
crônico-degenerativas, a modalidade atinge todas as faixas, desde o recém-nascido, e
patologias de curta duração e/ou de caráter agudo (MENDES, 2001).
De modo geral, os programas de atenção domiciliar são desenhados,
preferencialmente, para atender pacientes com agravos e doenças crônicas, em sua maioria
idosos. São portadores de feridas crônicas, distrofias neuromusculares, sequelados de
Acidente Vascular Cerebral (AVC) ou de politrauma, portadores de Alzheimer, de Doença
Pulmonar Obstrutiva Crônica, pacientes oncológicos sem possibilidades terapêuticas, dentre
outros (SILVA et al., 2013).
A Resolução do COFEN Nº 0464/2014 que regulamenta a atuação da enfermagem na
atenção domiciliar, considera como atenção domiciliar as ações desenvolvidas no domicílio
da pessoa, que visem a promoção de sua saúde, a prevenção de agravos e tratamentos de
doenças, bem como a sua reabilitação e ainda os cuidados paliativos. Define ainda as
modalidades da atenção domiciliar, como sendo:
18

a) Atenção domiciliar - compreende todas as ações, sejam elas educativas ou


assistenciais, desenvolvidas pelos profissionais de enfermagem no domicílio,
direcionadas ao paciente e seus familiares;
b) Internação domiciliar - é a prestação de cuidados sistematizados de forma integral,
contínua e até mesmo ininterrupta, no domicílio, com oferta de tecnologia e de
recursos humanos, equipamentos, materiais e medicamentos para pacientes que
demandam assistência semelhante à oferecida em ambiente hospitalar; e por fim
c) A visita domiciliar - considera um contato pontual da equipe de enfermagem para
avaliação das demandas exigidas pelo usuário e/ou familiar, bem como o ambiente
onde vivem, visando estabelecer um plano assistencial, programado com objetivo
definido.
Fabricio et al. (2004), definem que, de forma geral, o atendimento domiciliar, a
internação domiciliar e a visita domiciliar são atividades exercidas por profissionais e/ou
equipes de saúde na residência do cliente, diferindo pelo seu objetivo: o atendimento
domiciliar objetiva executar procedimentos mais complexos, que exigem formação técnica
para tal; a Internação domiciliar, sendo um atendimento domiciliar, oferta recursos humanos,
equipamentos, materiais e medicamentos, assemelhando-se ao cuidado oferecido em ambiente
hospitalar; e a visita domiciliar tem como objetivo avaliar as necessidades do paciente, de
seus familiares e do ambiente onde reside, para estabelecer um plano assistencial voltado à
recuperação e/ou reabilitação. Percebe-se que para cada modalidade são exercidas diversas
atividades, de forma diferenciada, que irão impactar tanto no controle da prestação de serviço
como nos custos.
Segundo o Parecer técnico nº 05/GEAS/GGRAS/DIPRO/2018 da ANS, que emite
conteúdo acerca da cobertura da Assistência Domiciliar (home care) pelos planos de saúde,
assinala que tanto a Lei nº 9.656, de 1998, quanto o Rol de Procedimentos, cuja regras estão
estabelecidas pela Resolução Normativa – RN nº 428, de 2017, não contemplam a Assistência
Domiciliar como procedimento básico coberto obrigatoriamente pelos planos de saúde. Frisa-
se ainda que a RN nº 428, de 2017 não prevê cobertura obrigatória para quaisquer
procedimentos executados em domicílio, ficando as operadoras de planos de saúde livres para
oferecer tais serviços sob sua iniciativa ou mediante expressa previsão no instrumento
contratual. Contudo, caso a operadora opte por oferecer a internação domiciliar como
alternativa à internação hospitalar, deverá obedecer às exigências previstas nos normativos
vigentes da Agência Nacional de Vigilância Sanitária – ANVISA - e na própria Lei citada
acima (ANS, 2018).
19

Como a atenção domiciliar na saúde suplementar não é parte do rol de procedimentos


obrigatórios nem é regulada pela ANS, as operadoras optam por utilizar esse “guarda-chuva”,
reservando para si mesmas os critérios de inclusão ou não dos usuários em programas de
atenção que são oferecidos como “benefícios” (SILVA et al., 2013).
Além das vantagens apontadas de forma geral para o prestador da assistência, Moraes
et al. (2010), afirma que apesar de todas as tecnologias e estruturas presentes no ambiente
hospitalar, este pode muitas vezes representar isolamento e falta de autonomia para o
paciente, sendo o domicílio um local seguro, que pode possibilitar mais liberdade ao paciente,
além de facilitar sua adaptação.

A assistência domiciliar é uma alternativa à hospitalização e pode


promover maior comodidade e conforto para pacientes que necessitam de
cuidados. É também uma modalidade importante para a população, seja
no setor privado ou pelo SUS, pois busca uma saúde mais plena e
humanizada. Além de que, é uma ótima opção para pacientes com
doenças crônicas, graves que acabam por ocupar leitos de hospitais. Pois
assim, esses pacientes podem ter o mesmo auxílio que tem em clínicas e
hospitais, na comodidade de sua casa (KATZER; MADEIRA, 2016).

Quando o paciente está hospitalizado existe um rompimento com seu ambiente


habitual e, assim, muda seus costumes, hábitos e capacidade de autorrealização e autocuidado,
o que naturalmente causa uma insegurança. É possível reestabelecer esse vínculo com a
assistência domiciliar, pois ela permite que o paciente retorne ao convívio familiar
(FOGAÇA, 2021).
A assistência domiciliar é uma tendência mundial que vem sendo implementada como
estratégia através do processo de desospitalização. Isto contribui na diminuição do risco de
infecções, reduz custos hospitalares, otimiza os leitos hospitalares e proporciona maior
conforto para o paciente e sua família (DEFINE; FRANCISCO; KPOGHOMOU, 2019).

2.3 CUSTOS HOSPITALARES E CUSTOS PARA TOMADA DE DECISÃO

A economia em saúde vem ganhando papel extremamente relevante em todo o mundo.


Os recursos utilizados na prestação da assistência médica, por um lado, apresentam demanda
crescente em função das novas opções que a tecnologia oferece e, por outro, a insuficiência de
recursos do setor público e da população justifica a necessidade de estudos e práticas na área.
(BONACIM, ARAUJO, 2010).
20

Informação mais detalhada sobre custos oferece maior esclarecimento sobre seu
comportamento e variáveis que lhe influenciam nos diversos serviços. Um sistema de
contabilidade de custos facilita um controle mais preciso dos mesmos para fins de diminuição
ou substituição de itens mais onerosos na composição dos custos, permite melhor análise da
lucratividade, estabelecimento de taxas de serviços, planejamento estratégico e gerenciamento
de pessoal (FALK, 2008).
Não obstante toda e qualquer empresa, independente do porte/estrutura, do ramo, da
forma tributária, necessita de informações que possam auxiliar os gestores em suas tomadas
de decisão. A Unimed (2019, sn) em sua Cartilha de Orientações para Custos em Serviços
Próprios, ressalta a importância das informações geradas pela área de custos, aplicadas como
instrumentos de avaliação, controle e tomada de decisão:

Ainda, diante de ambientes competitivos e de forte elevação dos custos,


são imprescindíveis ferramentas gerenciais e um sistema de custos bem
estruturado, não só com o objetivo de se conhecer o custo dos serviços,
mas principalmente para servir de instrumento gerencial disseminando a
informação aos gestores e delegando responsabilidade em gerenciar cada
um, impactando os resultados operacionais desdobrados de diversas
maneiras (paciente, cliente, serviços etc), apoiando a análise sobre
decisões de investimentos e calculando o custo da capacidade ociosa.”

De acordo com Falk (2008), um sistema de contabilidade de custos estabelece padrões


para cada atividade, seja de recursos humanos, materiais ou outros recursos empregados na
atividade, que irão permitir serem comparados com os resultados alcançados no dia a dia e
com isso terem sua performance avaliada.
Desta forma, é necessário um conhecimento aprofundado sobre a classificação dos
gastos (custos e despesas) com o intuito de desejar um sistema que possa responder por
demandas de informações gerenciais por parte dos gestores e, de forma geral, dos processos
operacionais.

2.3.1 Classificação dos custos hospitalares

O detalhamento dos custos gera um maior esclarecimento sobre seu comportamento e


os fatores que impactam nos diversos serviços do hospital, permitindo melhor gerenciamento
dos custos em nível departamental, por procedimentos específicos e mesmo por prestador ou
provedor do serviço (FALK, 2008).
21

Custo é entendido como o gasto relativo a um bem ou serviço utilizado na produção de


outros bens ou serviços. O custo é também um gasto, só que reconhecido como tal, isto é,
como custo, no momento da utilização dos fatores de produção (bens e serviços) para a
fabricação de um produto ou execução de um serviço. (MARTINS, 2010).
Falk (2008) coloca que o custo muitas vezes depende da razão pela qual se quer saber,
e que nem sempre o custo para fins de relatórios financeiros é o mesmo para fins de controle
gerencial ou para tomadas de decisões estratégicas. A razão pela qual se quer saber do custo
pode buscar o custo fixo, o variável, o perdido, o marginal, o de oportunidade, o histórico ou
de reposição. Portanto, é de extrema importância definir qual o objeto de custo, ou seja, o
item para o qual queremos saber o custo, pois a depender do seu objeto, um custo que era
indireto, pode se tornar direto e mudar a forma como será tratado.
Quanto a sua classificação, os custos podem ser classificados de acordo com a
alocação ao objeto de custo (direto e indireto) e em relação ao nível de atividade (fixo e
variável).
Custos diretos são os incorridos e claramente identificáveis para produzir um bem ou
serviço, sendo o valor alocado ao centro de custo ou serviço sem demandar nenhuma forma
de rateio, como materiais e medicamentos utilizados pelo paciente ou pelo procedimento. Já
os indiretos são aqueles incorridos na operação geral, sem corresponder à produção de um
bem ou serviço específico, e necessitando normalmente de algum critério de rateio para ser
apropriado, a exemplo da energia elétrica e da depreciação do imóvel (UNIMED, 2019).
Quanto ao nível de atividade, este leva em consideração a relação entre o valor total de
um custo e o volume de atividade numa unidade de tempo. Divide-se basicamente em custos
fixos e variáveis, sendo fixos os custos que não variam de acordo com o volume da atividade
numa unidade de tempo (aluguel do imóvel) e variáveis os que variam em função do volume
de atividade (combustível, medicamentos, materiais) (MARTINS, 2010).
Já o custo marginal é definido como a mudança nos custos totais relacionados a uma
mudança em volume (FALK, 2008). É o custo que se tem para ao invés de produzir uma
unidade, produzir duas ou atender duas pessoas ao invés de uma.
Um outro conceito apresentado por Falk (2008) é o de custo subsidiado. Demonstrado
quando há dificuldade de se conseguir apurar o custo exato de cada unidade de um
determinado objeto de custo, principalmente nos casos em que nenhuma unidade é igual a
outra, pois as divergências para mais e para menos, após um volume de unidades, tornam-se
irrelevantes, sendo subsidiados um pelo outro, não justificando, portanto, investir esforços
demasiados na busca do custo exato de cada unidade.
22

Segundo Dallora (2007), para a implantação de alguns sistemas de custeio, torna-se


necessário dividir a instituição em centros de custos, podendo ser classificados em produtivos,
auxiliares e administrativos.
O custo dos recursos vinculados a um departamento ou centro de custo operacional
compõe-se de vários elementos: colaboradores, supervisão, equipamentos, ocupação e outros
recursos indiretos e de apoio. A maioria dessas categorias tem relação direta de alocação,
contudo alguns outros exigem definição de critérios mais elaborados (FALK, 2008).
Acerca do estudo de custos relacionado às organizações de serviços de saúde, muitas
são as formas de evidenciação dessas informações, entre estas o custo por paciente
hospitalizado, custo médio por dia de leito, custo por especialidade etc. A análise de sua
variação é o fundamento para a implementação da estratégia baseada no baixo custo
(FEITOSA et al., 2010).

2.3.2 Classificação dos custos no home care

No home care, tem-se como custos diretos, os profissionais empregados, os materiais


e medicamentos utilizados, os serviços de terceiros e locação de equipamentos. Como custos
indiretos tem-se os custos a estrutura de funcionamento do setor, bem como o pessoal
administrativo e auxiliar.
No caso dos custos diretos dos profissionais, o mesmo pode ser distribuído de forma
direta e proporcionalmente ao atendimento prestado para cada paciente, pelo tempo e
quantidade de visitas que cada profissional faz no domicílio.
Os custos indiretos, esses podem ser rateados de diversas maneiras a depender do
método de custeio adotado pelo plano de saúde, que atualmente se utilizam do custeio por
absorção, mas este não é o foco do estudo, podendo ser consideradas como pesquisas futuras.

2.4 PESQUISAS RELACIONADAS

A partir de levantamento bibliográficos sobre pesquisas realizadas tendo como objeto


o serviço de home care, foram levantados aquelas que mais se aproximam do presente estudo,
conforme apresentados no Quadro 1. Em seguida é apresentada uma discussão sobre as
contribuições desses estudos fazendo uma comparação com o foi abordado neste trabalho.
A fonte para este levantamento bibliográfico, apresentado no Quadro 1, foi a base de
dado de congressos nacionais e internacionais, periódicos e uma pesquisa mais ampla no
23

google acadêmico, utilizando os seguintes descritores: home care, Custos/Saúde, Assistência


Domiciliar, Custeio na Saúde, assistência integral da saúde, planos de saúde/custos.
24

Quadro 1 – Alguns estudos sobre home care

AUTOR (ES)/ANO TÍTULO OBJETIVO (S)


Enfocar a Assistência Domiciliar,
evidenciando origem, serviços prestados e
TIOSSI; MARIN, 2004 Home Care baseado em evidências. resultados encontrados referentes à
satisfação dos usuários, custos e qualidade
da assistência.
Abordar conceitualmente e
Assistência domiciliar: qualidade e operacionalmente a Assistência Domiciliar a
RIBEIRO, 2004
racionalização de recursos. partir de Serviço e do estudo de caso de um
programa de Autogestão.
Internação domiciliar e internação Refletir acerca das semelhanças, vantagens e
MORAES et al., 2010 hospitalar: semelhanças, vantagens e desvantagens das internações hospitalar e
desvantagens para o paciente. domiciliar para o paciente.
Descrever a trajetória de uma paciente que
Modelo de atenção integral à saúde
permaneceu institucionalizada em um
como Redutor de custos para a
FISCHER, 2010 hospital de grande porte da cidade de São
operadora de saúde e satisfação ao
Paulo, foi admitida no Hospital Premier e
usuário
hoje está em atendimento domiciliar.
Analisar as estratégias adotadas pelas
operadoras de planos de saúde que podem
Estratégias para redução de custos em
FEITOSA et al., 2010 contribuir para a redução dos custos,
operadoras de plano de saúde
mantendo ou mesmo melhorando a
qualidade dos serviços.
Desafios da atenção domiciliar sob a
Analisar os serviços de atenção domiciliar
SILVA et al., 2014 perspectiva da redução de
em saúde sob a perspectiva de custos.
custos/racionalização de gastos.
Comparou os custos e a qualidade de vida de
Custos e qualidade de vida de
RIBEIRO et al., 2018 pacientes com câncer em cuidados paliativos
pacientes em cuidados paliativos.
no hospital e no domicílio.
BORGES JÚNIOR, Análise do custo-efetividade de um Analisou o custo e a efetividade de um SAD
2018 Serviço de Atenção Domiciliar. e caracterizou o público usuário do serviço.
Analisou a Atenção Domiciliar em relação
Atenção domiciliar: análise do perfil
ao perfil dos pacientes na utilização de
dos pacientes na utilização de recursos
REIS, 2018 recursos e custos relacionados ao serviço
e custos em uma cidade do sudeste do
público de saúde, em uma cidade do sudeste
Brasil.
do Brasil.
Fonte: Elaboração do autor (2021)
25

Tiossi e Marin (2004) trouxeram um pouco da história e origem da Assistência


Domiciliar no Brasil e, alguns dados comparando os custos hospitalares com os da assistência
domiciliar referentes ao ano de 1996, como justificativa para a expansão desse tipo de
assistência no Brasil. Ressaltaram, por fim, a importância da qualidade do serviço prestado,
inicialmente vista sob a perspectiva da assistência ao paciente.
Ribeiro (2004) em sua tese de doutorado, apresentou um estudo de caso no Programa
Home Care VW, com o objetivo de abordar tanto conceito como operação a assistência
domiciliar. Além do estudo de caso, realizou levantamento bibliográfico rico e extenso e
aplicou questionário para gerentes de serviços de assistência domiciliar do município de São
Paulo. Dos resultados encontrados nos questionários, quando levantado o motivo de criação
do serviço de assistência domiciliar, os gerentes apontaram como um dos pontos a redução de
custos, sendo este um dos motivos também apontado para a criação do Programa home care
VW. Essa estratégia de redução de custos pode ser confirmada através de um empírico feito
com os 64 pacientes do Programa home care VW domiciliados no estado de São Paulo.
Quanto aos resultados verificou-se também que o gasto total evitado foi de 69,9% quando
comparado com os mesmos 64 pacientes internados o mesmo período de tempo no hospital.
Moraes et al. (2010) a partir de reflexões oriundas de discussões realizadas no Núcleo
de Estudos Interdisciplinares em Saúde, da Universidade Federal de Santa Maria, e de leituras
relacionadas à dissertação de mestrado intitulada “Representações sociais da internação
domiciliar na terminalidade sob o olhar do cuidador familiar”, comparou as duas modalidades
de internação disponíveis, hospitalar e domiciliar, através de estudo bibliográfico acerca do
tema e concluiu que em ambas internações o cuidado humanizado é possível, identificando
nelas vantagens e desvantagens que devem ser observadas pelos profissionais da saúde.
Fischer (2010) através de levantamento de dados nos prontuários do Hospital Premier,
da Proativa Saúde e nos arquivos do setor de Contas Médicas do Grupo MAIS, um grupo de
empresas da Zona Sul de São Paulo, comparou os custos em cada serviço de internação que a
paciente passou, sendo três hospitalares e dois domiciliares, identificando concreta redução
nos custos, e através de uma entrevista aberta com um familiar, explicitou a satisfação da
família e da paciente quanto ao Modelo de Atenção Integral à Saúde utilizado.
Feitosa et al. (2010) realizaram um estudo de caso de seis pacientes de uma operadora
de saúde de grande porte do município de Fortaleza, todos com cronicidades aparentes,
comparando os custos hospitalares e no programa de home care, confirmando uma redução de
custos na ordem de 50% a 80%, corroborando com a estratégia de redução de custos da
operadora através da implantação do home care. Os autores ressaltaram que, mesmo tendo um
26

tamanho de amostra reduzido e não ter sido utilizado procedimentos estatísticos, foi
considerado relevante o estudo no que diz respeito à sua contribuição para operadoras de
saúde na busca de redução de custos.
Silva et al (2014) observaram de forma qualitativa, por meio do estudo de caso de 13
instituições que ofereciam o serviço de atenção domiciliar em Belo Horizonte, Contagem e
Betim. A escolha destas instituições se deu por atenderem aos seguintes critérios: serviços
com organização da atenção definida por abrangência territorial sistematicamente delimitada,
serviços com tempo de existência superior a 2 anos e serviços que operavam com uma equipe
multiprofissional. Foram realizadas entrevistas com os gestores das instituições e
posteriormente entrevistas e observações com os cuidadores, os familiares e os pacientes.
Como principais resultados evidenciados pelo estudo de caso, observou-se a desospitalização
como fator motivacional para implantação da atenção domiciliar, a terceirização do serviço de
atenção domiciliar ou a transferência dos custos para a família e para o SUS como opções de
redução de custos para a empresa.
Ribeiro et al (2018) realizaram um estudo quantitativo, descritivo e de avaliação
econômica com os pacientes oncológicos adultos internados na enfermaria de cuidados
paliativos do Instituto de Medicina Integral Professor Fernando Figueira – IMIP em Recife -
PE e nos seus domicílios, através de coleta de dados financeiros, com intuito de comparar os
custos. Aplicou a escala European Oraganization for Reacrch ant Tratament for Cancer Core
Quality of Life Questionnaire (EORTC QLQ C30, versão 3.0) para avaliar a qualidade de
vida. Constatou-se que as equipes de cuidados paliativos domiciliares oferecem melhor
qualidade de vida para o paciente (57,1 da escala) se comparadas à assistência paliativa no
hospital (28,6 da escala), contudo o custo médio mensal do paciente na internação hospitalar
(R$ 724,30) ficou um pouco abaixo do Serviço de Atenção Domiciliar (R$ 848,63)
contrariando o que é apresentado na maioria da literatura encontrada sobre a redução de
custos na internação domiciliar em comparação à internação hospitalar.
Borges Junior (2018) em sua tese de doutorado realizou um estudo comparativo entre
atenção domiciliar e hospitalar, e através de análise dos prontuários de usuários atendidos no
período entre agosto/2014 a setembro/2016, no serviço de Atenção Domiciliar de Uberlândia
– MG e em um hospital geral de média complexidade da mesma localidade, observou que o
custo diário de um usuário em Atenção Domiciliar foi de R$ 35,27 e em cuidado hospitalar
foi de R$ 822,92, chegando à conclusão de que o cuidado desenvolvido pela Atenção
Domiciliar tem um custo bastante inferior quando comparado ao cuidado hospitalar.
27

Reis et al (2018) em sua tese de doutorado, através de um estudo de caso, coletou


dados nos prontuários de 621 pacientes, do almoxarifado e do sistema de informação do
Serviço de Atenção Domiciliar e do Sistema Único de Saúde (SUS) localizado em um
município do sudeste brasileiro, para analisar a Atenção Domiciliar quanto ao perfil dos
pacientes e sua utilização de recursos. O resultado apontou que o custo médio paciente/dia na
Atenção Domiciliar foi de R$ 28,26 e na internação hospitalar foi de R$ 294,46 reiterando a
importância e a viabilidade econômica da Atenção Domiciliar.
A partir dos estudos levantados acima, percebe-se que o SAD já é uma realidade no
Brasil e que é um tema que tem ganhado relevância, principalmente quando analisado no
aspecto de gestão de custos. Desta forma o presente estudo tem como objetivo identificar o
impacto que o home care tem trazido nos custos de uma operadora de saúde na inserção de
pacientes no Programa PID, com o intuito de fornecer informações quantitativas e qualitativas
da temática para a operadora de saúde suplementar em Natal/RN, como também
conhecimento mais aprofundado para discussões acadêmicas.
28

3 METODOLOGIA

Neste capítulo é apresentada a metodologia empregada na monografia. Metodologia


refere-se ao estudo sistemático e lógico dos métodos empregados nas ciências, seus
fundamentos, sua validade e sua relação com as teorias científicas (OLIVEIRA, 2011).
Pode-se definir método como caminho para se chegar a um determinado fim. E
método científico como o conjunto de procedimentos intelectuais e técnicos adotados para se
atingir o conhecimento (GIL, 2008).

3.1 TIPOLOGIA DE ESTUDO

Esta seção é fundamentada nos conceitos de Beuren (2003) a qual preconiza que
existem tipologias de delineamento que se enquadram mais adequadamente em relação às
pesquisas feitas em contabilidade, sendo estas agrupadas em três categorias: quanto aos
objetivos (exploratória, descritiva e explicativa), quanto aos procedimentos (estudo de caso, o
levantamento, a pesquisa bibliográfica, documental, participante e experimental) e quanto à
abordagem do problema (qualitativa e a quantitativa).
De acordo com Gil (2008) as pesquisas deste tipo têm como objetivo primordial a
descrição das características de determinada população ou fenômeno ou o estabelecimento de
relação entre variáveis. Sendo assim, quanto aos objetivos a presente pesquisa é do tipo
descritiva visto que seu objetivo é descrever o perfil dos pacientes do programa home care da
empresa e relacionar o custo do paciente dentro do programa com o custo caso o paciente
estivesse hospitalizado.
No que se refere aos procedimentos, o presente estudo é do tipo estudo de caso.
Conforme Yin (2001) este procedimento é mais utilizado quando o autor deseja estudar o
“como” e o “por que” e não possui controle sobre os acontecimentos, investigando um
fenômeno contemporâneo dentro de seu contexto da vida real. Também trata-se de uma
pesquisa documental, visto que foram utilizados documentos como fonte primária (relatórios,
planilhas, manuais) da empresa em estudo, materiais estes que não receberam nenhum
tratamento analítico anterior, corroborando a definição desse procedimento por Gil (2008).
A abordagem do problema da presente pesquisa é qualitativa e quantitativa.
Quantitativa uma vez que, segundo Beuren (2003) caracteriza-se pelo emprego de
instrumentos estatísticos, frequentemente utilizada em estudos descritivos buscando
correlacionar as variáveis, e qualitativa devido aos destaques às características não observadas
29

por meio de instrumentos estatísticos, identificado por meio de entrevista ao gestor no


presente estudo.

3.2 ABRANGÊNCIA E OBJETO DE ESTUDO

A pesquisa foi realizada em uma operadora de saúde situada no Rio Grande do Norte,
dentro do seu programa de home care. A seleção se deu pela disponibilidade dos dados e por
se tratar de uma operadora de saúde onde seus pacientes podem estar tanto utilizando o
programa de home care quanto o serviço hospitalar da rede assistencial, de acordo com os
critérios de elegibilidade, possibilitando a realização da comparação dos dados de custos.

3.3 COLETA E ANÁLISE DOS DADOS

Como instrumentos de pesquisa foram utilizados os documentos escritos que de acordo


com Beuren (2003) são fontes valiosas de coleta de dados nas pesquisas em ciências sociais e
que agilizam o processo investigatório e entrevistas que é a técnica de obtenção de
informações em que o investigador se apresenta pessoalmente à população selecionada e
formula perguntas, com o objetivo de obter dados necessários para responder à questão
estudada (BEUREN, 2003).
Para coleta das informações quantitativas, foram retiradas de documentos da empresa
objeto de estudo dos anos de 2020 e 2021 (manuais setoriais, procedimentos operacionais,
relatórios em Excel com informações gerais dos pacientes e aos custos envolvidos).
Os dados qualitativos foram coletados por meio de entrevistas a gestora administrativa
do home care e da supervisão de enfermagem. No caso da gestora, através de uma entrevista
semiestruturada, buscou-se obter a visão do negócio, seus pontos fortes e fracos, bem como os
controles utilizados. Para tanto, foram realizados os seguintes questionamentos a gestora:
• Que pontos positivos e negativos ela visualizava no home care da empresa?
• Que controles ela utilizava na gestão diária?
• O que levou a empresa implantar o home care?
Na entrevista informal com a supervisão de enfermagem buscou-se conhecer melhor
como é a realizada a classificação dos pacientes, principais patologias tratadas e o fluxo deles
dentro do programa, informações que auxiliaram na construção do perfil da população e na
escolha da amostra.
Para definir o perfil do home care da empresa em estudo, foram utilizados os números
absolutos de pacientes que se encontravam registrados no dia 23/06/2021, visto que esse
30

número varia diariamente, com as entradas e saídas de pacientes, sendo essa a população de
estudo. Essa população foi subdividida nos programas PID e PAD, por gênero, por
complexidade, por situação no programa, motivos de inserção no programa, e os dados foram
apresentados em número absolutos e percentuais. Também foram elencados o número de
profissionais envolvidos na operação do home care e a quantidade de sessões de terapias
realizadas mensalmente para demonstrar o tamanho do serviço.
O fluxo das atividades de internação no home care foi descrito a partir das
informações existentes no Manual de Atenção Domiciliar (2021) e das entrevistas com a
gestora e a supervisão de enfermagem.
No que diz respeito ao estudo do comparativo de custos de internações, foi constituída
a amostra intencional por dois pacientes, sendo um de cada programa do home care (PID e
PAD). Os critérios considerados na escolha desses pacientes foram a condição dentro do
programa e que eles tivessem vindo oriundos da desospitalização. Os dados dos custos
hospitalar, foram retirados de relatórios de custos da rede prestadora e considerado o custo
médio, preservando a identidade dos pacientes, conforme informações disponibilizadas pela
empresa.
Para os dados relativos a medicamentos e materiais, considerou-se o mesmo valor dos
relatórios de custos do programa home care, pois os tratamentos dentro do hospital e no home
care foram realizados em momentos distintos, o que poderia trazer diferenças significativas
nesses custos específicos, e com isso buscou-se simular o mesmo plano terapêutico nas duas
situações.
31

4 ANÁLISE DE RESULTADOS

4.1 PERFIL DO HOMECARE NA EMPRESA EM ESTUDO

O serviço de atendimento domiciliar na empresa em estudo teve início no ano de 2009.


Tendo como objetivos hoje, reorganizar o processo de trabalho das equipes que prestam
cuidado domiciliar com vistas a reduzir a demanda por atendimento hospitalar e a ampliar a
autonomia dos usuários, proporcionando cuidado aos pacientes em meio ao seio familiar.
Ele é subdividido em: Programa de Atendimento Domiciliar (PAD) - um conjunto de
atividades de caráter ambulatorial, programadas e continuadas, desenvolvidas em domicílio; e
o Programa de Internação Domiciliar (PID) - um conjunto de atividades caracterizadas pela
atenção, em tempo integral, aos pacientes com quadros clínicos mais complexos e com
necessidades de tecnologia especializada, de recursos humanos, equipamentos, materiais,
medicamentos, atendimentos de urgência/emergência e transporte.

Gráfico 1– Pacientes ativos no home care por mês em 2020

800
700
600 574 583
531 535 560 558 565 564 538 547
534 531
500
400
300
200
95 93 92 92 94 96 95 91 92 93 98 104
100
0
J F M A M J J A S O N D

PID PAD Total de Pacientes

Fonte: elaborado pelo autor (2021)


Conforme o gráfico 1, hoje o serviço de home care em estudo conta com 709 pacientes
ativos, sendo 617 dentro do programa PAD e 92 dentro do programa PID, dados de
23/06/2021, informações fornecidas pela empresa. Esse número varia muito, visto que todos
os dias pode ocorrer novas admissões, altas e saídas por outros motivos como óbito. Contudo,
como pode ser visto no gráfico abaixo esse número vem se mantendo estável ao longo de
2020 com um leve crescimento.
Para atender hoje esses 709 pacientes, o serviço de home care na empresa conta com
139 colaboradores próprios distribuídos nas funções conforme tabela 1.
32

Tabela 1- Quantidade de colaboradores por função (2021)

Função Quantidade
Gerente Administrativo 1
Supervisor Atendimento 2
Analista Administrativo 1
Assistente Administrativo 1
Auxiliar Administrativo 14
Aprendiz Administrativo 2
Farmacêutico 2
Auxiliar de Farmácia 10
Motorista 16
Motociclista 1
Médico 10
Enfermeiro 25
Técnico de Enfermagem 35
Auxiliar de Enfermagem 4
Assistente Social 5
Fisioterapia 7
Nutricionista 2
Fonoaudiólogo 1
Total Geral 139
Fonte: Elaborado pelo autor (2021)
Além dos colaboradores próprios da empresa, para realizar toda a assistência
necessária, as sessões de fisioterapia (cerca de 5000 sessões/mês) e fonoaudiologia (cerca de
1132 sessões/mês) são realizadas por terceiros, bem como o acompanhamento por técnicos de
enfermagem de todos os pacientes do programa PID, seja por 12 horas (13 pacientes), ou 24
horas (79 pacientes) diariamente.

4.2 PERFIL DOS PACIENTES QUE SE UTILIZAM DO HOMECARE

Ao analisar os 709 pacientes ativos, tem-se 473 (67%) do sexo feminino e 236 (33%)
do sexo masculino. No PID e no PAD a proporção segue a mesma tendência, no PID são 56
(61%) do gênero feminino e 36 do gênero masculinos (39%); no PAD, tem-se 417 do gênero
feminino (68%) e 200 do gênero masculinos (32%).
Considerando a pirâmide etária, tem-se uma pirâmide invertida, onde a maior
quantidade dos pacientes no programa se encontra no topo da pirâmide, nas faixas acima de
80 anos com 396 pacientes (56%), conforme apresentado no gráfico 2.
33

Gráfico 2 - Faixa etária e quantidade por sexo

[91 - 100] 27 128

[81 - 90] 68 173

[71 - 80] 44 79

[61 - 70] 29 46

[51 - 60] 18 18

[41 - 50] 16 8

[31 - 40] 9 11

[21 - 30] 8 2

[11 - 20] 7 5
F M
[00 - 10] 10 3

Fonte: elaborado pelo autor (2021)

Ainda analisando o gráfico 2 da faixa etária, percebe-se que a diferença entre as


quantidades de homens e mulheres crescem à medida que as faixas vão crescendo, exceto na
faixa etária entre 91 – 100 anos. Essa pirâmide corrobora com a pirâmide etária do brasil,
onde tem-se uma quantidade maior de mulheres nas faixas superiores comparadas a
quantidade de homens, ou seja, a medida que se tem uma expectativa de vida maior, há maior
probabilidade de utilização de plano de saúde em decorrência dessa expectativa. No que diz
respeito ao programa PID, 33 pacientes (36%) se encontram nas faixas acima de 80 anos e já
no programa PAD, 380 (62%).
Ao avaliar a quantidade de dias em que cada paciente se encontra no programa, tem-se
uma média de 520 dias, com 4909 dias o paciente mais antigo, que continua ativo, tendo
ingressado em 14/01/2008. Quando analisados apenas os pacientes PID, essa média sobe para
820 dias, e no PAD a média cai um pouco, para 475 dias.
Para a inserção no programa, é realizada uma avaliação de cada paciente e é
preenchida a tabela de classificação por complexidade (Tabela 2).
34

Tabela 2– Classificação por complexidade

Idade Até 60 anos 0


Acima de 60 anos 1
Doença Crônica Não 0
Sim 2
Cognição Consciente e orientado 0
Confuso e/ou agitado 6
Semicomatoso 8
Comatoso 10
Estado Nutricional Eutrófico 0
Emagrecido 1
Obesidade 1
Obesidade mórbida 2
Caquético 2
Dieta Via oral 0
Por gastrostomia 2
Por SNE 4
Por jejunostomia 6
Nutrição Parenteral 86
Mobilidade Sem auxílio 0
Com auxílio de dispositivos 1
Com auxílio de terceiros 3
Totalmente acamado 5
Eliminações Com controle de esfíncteres 0
Sem controle de esfíncteres 1
Uso de sondas 3
Ostomias: colostomias, ileostomias, cistostomias e 3
outras
Uso de sonda e ostomias 4
Autocuidado Independente 0
Dependente parcial 1
Dependente total 4
Úlcera por pressão Ausente 0
Estágio I 2
Estágio II 4
Estágio III 6
Estágio IV 8
Não classificável 10
Outras Feridas Ausente 0
Pequena 2
Média 4
Grande 6
Dispositivos Invasivos Ausente 0
35

Acesso venoso periférico 2


Drenos cirúrgicos 4
Acesso venoso profundo 6
Secreção pulmonar Sem necessidade de aspiração 0
Sem necessidade de aspiração com traqueostomia 6
Com necessidade de aspiração sem traqueostomia 9
Com necessidade de aspiração e com traqueostomia 24
Oxigenoterapia Independente 0
Dependente intermitente 3
Dependente contínuo 6
Suporte Ventilatório Ausente 0
Dependente de Bipap (não invasivo) intermitente 3
Dependente de Bipap (não invasivo) contínuo 6
Ventilação mecânica (Ventiladores e Bipap) intermitente 86
invasiva (Ventiladores e Bipap) contínuo 86
TOTAL

Fonte: Manual Setorial da empresa (2019, p. 9)

Para cada resposta da tabela 2 o paciente recebe uma pontuação e a somatória dessas
pontuações é utilizada no Quadro 2, onde se define uma classificação para o mesmo (não
elegível para o home care, baixa, média, alta ou internação domiciliar).

Quadro 2- Classificação no home care quanto a pontuação atingida

Classificação

Marcar Abaixo:

Não elegível até 10

Baixa Complexidade 11 a 30

Assistência domiciliar Média Complexidade 31 a 49

Alta Complexidade 50 a 86

Internação Domiciliar 87 ou mais

Fonte: Manual Setorial da empresa (2019, p. 10)


De acordo com o quadro 2, caso a pontuação final da tabela 2 seja de até 10 pontos,
esse paciente não é elegível ao programa do home care, entre 11 a 30 pontos, o paciente é
elegível a assistência domiciliar classificada como baixa complexidade, entre 31 a 49 pontos,
o paciente é elegível a assistência domiciliar classificada como média complexidade, entre 50
a 86 pontos, o paciente é elegível a assistência domiciliar classificada como alta
complexidade e por fim, pontuação igual ou superior a 87 pontos, o paciente é elegível ao
programa de internação domiciliar. Essa classificação também irá nortear o plano terapêutico
que será ofertado a cada paciente.
36

No gráfico 3 é apresentado a quantidade de pacientes que estão no home care de


acordo com sua classificação: alta, média e baixa complexidade, internação e não elegível.
Ressalta-se que os pacientes classificados como não elegíveis permanecem no programa pois,
apesar da classificação, necessitam de uma ou mais intervenção específica (medicação
injetável de uso exclusivo hospitalar, oxigenoterapia ou curativo complexo).

Gráfico 3– Pacientes segundo Classificação por Complexidade

48
19
35 152
Não elegível
Baixa Complexidade
Média Complexidade
Alta Complexidade
Internação Domiciliar

455

Fonte: elaborado pelo autor (2021)

De acordo com o gráfico 3, 64% dos pacientes foram classificados como baixa
complexidade, 5% como média complexidade e 3% como alta complexidade. Tem-se ainda
7% classificados como elegíveis diretos (que possui mais de 87 pontos) para a internação
domiciliar e 21% não elegível (menos de 10 pontos) segundo pontuação na metodologia de
classificação.
Ainda sobre a condição desses pacientes, dos 709 em home care, tem-se 342 (48%)
acamados, sendo 83 destes incluídos no programa PID, o que representa 90% do total de
pacientes deste programa.
Um ponto a ressalvar é que quando analisados os procedimentos realizados pelo home
care, do total de pacientes tem-se que 377 (53%) realizam fisioterapia e 203 (28%) realizam
fonoterapia, cuja sessão custa em torno de R$ 29,40 e R$ 26,66, respectivamente, sendo os
profissionais que prestam essa assistência 100% terceirizados.
37

4.3 PRINCIPAIS MOTIVOS DE INSERÇÃO DE PACIENTES NO PROGRAMA

Quando considerada a origem do paciente no momento de inserção no home care, tem-


se que 35,1% (249) dos pacientes vieram oriundos do domicílio (não se encontravam
hospitalizados) e 64,9% (460) oriundos de desospitalização, sendo este um dos principais
objetivos do home care (realizar a desospitalização dos pacientes, economizando custos e
liberando leitos para novos pacientes). No PID esse percentual de pacientes oriundos de
desospitalização é ainda maior, 93,5% (86), o que se justifica pelo grau de complexidade
desses pacientes e de dependência de cuidados médicos.
Após a classificação por complexidade, o paciente tem definido o seu status de
situação dentro do home care, dependendo do programa inserido e do tratamento que estiver
recebendo.
De acordo com o Gráfico 4, pode-se ver a situação dos pacientes naquele dado
momento.

Gráfico 4 – Situação do paciente no home care

4% 1%
6%
Gerenciamento de Crônicos
8% Fisioterapia/Fonoterapia
34%
Internação Domiciliar
10% Tratamento de Lesões
Situação Padrão
Terapia Injetável
13% Monitoramento de Equipamentos
Liminar Judicial
24%

Fonte: elaborado pelo autor (2021)


De acordo com o gráfico 4 temos que, dos pacientes que se encontram no programa,
34% são doentes crônicos, 24% realizavam alguma terapia de fisioterapia, seja ela respiratória
ou motora e fonoterapia. O menor percentual, 1%, se refere àqueles pacientes que foram
classificados por liminar judicial, cuja assistência só é ofertada devido a um posicionamento
judicial. Em segundo lugar tem-se o monitoramento de equipamento (4%), que se restringe ao
acompanhamento dos equipamentos utilizados, sem assistência da equipe multidisciplinar.
Quanto às principais patologias encontradas nos pacientes do home care, tem-se as
cinco maiores incidências, conforme apresentado no Gráfico 5.
38

Gráfico 5– Cinco principais incidências de patologias

350
289
300

250
191
200 172
158
150

100 81

50

0
HIPERTENSÃO DEMÊNCIA ALZHEIMER DIABETES AVC
ARTERIAL
SISTÊMICA

Fonte: elaborado pelo autor (2021)


A hipertensão representa a patologia mais prevalente, presente em 41% dos pacientes,
seguida da demência, presente em 27% dos casos, alzheimer (24%), diabetes (22%) e
Acidente Vascular Cerebral (11%). Ademais tem-se ainda 1370 ocorrências divididas em 430
patologias diferentes, que não foram agrupadas para este estudo, devido a falta de
conhecimento técnico do pesquisador.
No que diz respeito ao programa PID, 26% dos pacientes apresentam hipertensão, com
24 ocorrências, e 25% apresentam sequelas de acidente vascular cerebral, com 23 ocorrências,
sendo as duas patologias mais incidentes no programa. Quando agrupadas as síndromes, tem-
se as neuro/musculares com maior incidência, com 112 ocorrências, ou seja, todos os
pacientes atualmente inseridos no programa PID possuem pelo menos uma síndrome
neuro/muscular (hereditária ou adquirida) em seu diagnóstico.

4.4 FLUXO DAS ATIVIDADES DE INTERNAÇÃO NO HOME CARE

Nesta seção será explicado como se dá o fluxo das atividades de internação do home
care, para os programas PAD e PID. A Figura 1 apresenta o fluxo de atividades desde a
solicitação do paciente, passando pela inclusão em um dos programas do home care (PID ou
PAD), até a alta deste.
39

Figura 1 – Ilustra o Fluxo do paciente home care

Fonte: adaptado do Manual de atenção domiciliar (2021)


PRIMEIRA ETAPA: O processo se inicia com a solicitação para inclusão, partindo do
hospital onde o paciente se encontra internado ou da família do paciente.
SEGUNDA ETAPA: Ao chegar à solicitação, a primeira análise realizada é a
administrativa, que visa checar dados contratuais e adimplência. Ressalta-se que a inserção do
paciente no programa não gera nenhum custo a mais, desde que sejam atendidos os critérios
de elegibilidade.
TERCEIRA ETAPA: Passada a primeira análise, é realizada uma triagem
multiprofissional, onde serão avaliadas as condições do paciente, sua elegibilidade ao
programa, grau de complexidade e classificação do tipo de programa (PID ou PAD). A equipe
multiprofissional, responsável por realizar a triagem, é composta por funcionários do quadro
da empresa: médicos, enfermeiros, fisioterapeutas, fonoaudiólogos, nutricionistas, assistentes
sociais e farmacêuticos, sendo a sua composição variável a depender da condição clínica do
paciente e da solicitação médica.
QUARTA ETAPA: Após a triagem multiprofissional, é realizada uma vistoria
domiciliar, com o intuito de verificar condições de acesso, existência de um cuidador efetivo
em tempo integral e realizar um primeiro contato com o ambiente que será prestado a
assistência.
QUINTA ETAPA: Caso esteja tudo em conformidade para o atendimento do home
care, é realizada a assinatura do termo de inclusão do paciente, dando início à PENÚLTIMA
40

ETAPA do fluxo: a assistência. A assistência ao paciente é realizada de acordo com a Figura


02, dependendo da classificação realizada pela triagem multidisciplinar e estado de saúde do
paciente.

Figura 2 – Ilustra a Prestação da Assistência por complexidade

Fonte: Adaptado do Manual de atenção domiciliar da empresa (2021)


Percebe-se que os custos dos programas aumentam conforme aumenta a complexidade
do paciente e se comparar os programas PAD e PID. O PID por possuir um técnico de
enfermagem a partir de 12 horas na residência (um dos maiores custos) passa a ser
considerado o programa que mais consome custos no home care.
Por fim, na ÚLTIMA ETAPA do fluxo, tem-se a alta do programa que poderá ocorrer
por alta médica, por óbito, término do tratamento, inadimplência, solicitação do cliente ou
quando não atender mais os critérios de elegibilidade, seja da condição de saúde ou do
domicílio.
41

4.5 COMPARATIVO DE CUSTOS – HOSPITALIZAÇÃO E HOMECARE (PAD E


PID)

Primeiramente, buscou-se comparar o custo diário de um paciente ingressante no


Programa PID de complexidade alta e com o diagnóstico de sequela de acidente vascular
cerebral, com o custo diário do mesmo paciente caso estivesse na internação hospitalar. A
escolha do perfil para comparação se deu pelas características do paciente inserido no
programa de internação domiciliar se aproximarem mais das condições de um paciente em
internação hospitalar, incluindo o acompanhamento assistencial 24 horas e considerando os
mesmos custos de material e medicamentos, conforme Tabela 3.
Ressalta-se que os custos hospitalares foram retirados de relatórios da empresa,
considerando o mesmo plano terapêutico, caso o paciente estivesse em internação hospitalar
ao invés de estar inserido no home care. Para tanto foi considerado o custo da diária média da
rede hospitalar que atende os beneficiários da empresa e o custo médio de uma visita médica,
da sessão de fisioterapia e da sessão de fonoterapia nos hospitais da rede prestadora. No caso
do material e medicamentos utilizamos o mesmo valor desses itens utilizados no home care.
Importante destacar que o item “Diária”, custo exclusivo do internamento hospitalar, inclui
sessão de fisioterapia, sessão de fonoterapia, equipamentos e recolhimento de resíduo, sendo
esta a razão pela qual estes itens estão com valor zero na Tabela 3.

Tabela 3 - Custo diário do Paciente X no Programa PID com complexidade alta

Home care Valor Hospital Valor Diferença Valor


Item
(R$) (R$) (R$)
Diária 0,00 490,00 -490,00
Profissionais 400,15 200,00 200,15
Material e Medicamento 121,93 121,93 0,00
Sessão Fisioterapia 23,52 0 -53,78
Sessão Fonoterapia 7,11 0 -70,19
Equipamentos 15,91 0 15,91
Recolhimento de Resíduos 7,60 0 7,60
Oxigênio 67,55 125,93 -58,38
Total 643,77 937,86 -294,09
Fonte: Elaborado pelo autor com base no relatório da empresa (2021)

O paciente X, portador de síndrome neuromuscular, sequela de um acidente vascular


cerebral, se encontra no programa PID, com custos diários médios de R$ 643,77, onde a
maior parcela do custo está nos profissionais que o acompanham, que para este perfil de
paciente inclui um técnico de enfermagem 24 horas, gerando um custo com pessoal maior que
42

o custo da internação hospitalar, já que no hospital o custo desse profissional é rateado pelos
pacientes, visto que este presta assistência a mais de um paciente durante o mesmo período.
Em contrapartida a diária do hospital, que contêm custos de infraestrutura, impactam nos
custos da internação hospitalar, fazendo com que seja mais vantajoso a assistência desse
paciente em domicílio, havendo uma economia de R$ 294,09, cerca de 31% mais barato.
Na tabela 4 é realizado uma análise comparativa em um paciente que está inserido no
programa PAD, com complexidade baixa e diagnóstico de fratura de fêmur, no home care e
este mesmo paciente numa internação hospitalar.

Tabela 4 - Custo diário do Paciente Y no Programa PAD com complexidade baixa

Home care Valor Hospital Valor Diferença Valor


Atividade
(R$) (R$) (R$)

Diária 0,00 490 -490,00


Profissionais 38,60 200 -161,40
Material e Medicamento 93,82 93,82 0,00
Sessão Fisioterapia 11,76 0 -65,54
Recolhimento de Resíduos 7,6 0 7,60
Total 151,78 783,82 -632,04
Fonte: Elaborado pelo autor com base no relatório da empresa (2021)
Se considerado o paciente Y, ingressante do programa PAD, com uma fratura de
fêmur, precisando de fisioterapia, medicação e curativos dentro da assistência domiciliar, tem-
se uma diferença bem maior entre os custos da sua assistência em domicílio e na internação
hospitalar. Como no programa PAD não há um técnico disponível no domicílio do paciente,
os custos diretos diminuem consideravelmente quando comparado com a internação
hospitalar. Percebe-se que a assistência domiciliar gerou uma economia de R$ 632,04 para o
plano de saúde, representando 80% a menos do valor deste paciente caso estivesse com
internação hospitalar. Ressalta-se que, caso não existisse a possibilidade de continuar o
tratamento dentro da assistência domiciliar, esse paciente estaria muito provavelmente dentro
de uma internação hospitalar, gerando diariamente um custo 5,6 vezes maior para a empresa,
mesmo que por um período mais curto.
Diante do exposto, observa-se que o programa de home care, nas suas duas vertentes
(PAD e PID) traz uma maior economia para a empresa operadora de saúde, especialmente no
que se refere à diária de internação hospitalar, serviço este que inclui toda a infraestrutura
complexa de um hospital (estrutura física, manutenção, limpeza, alimentação, profissional,
custo administrativo, dentre outros). O serviço que se destaca com maior custo no home care,
43

quando comparado à internação hospitalar, é o de profissionais, no entanto, não supera a


economia que se tem com a diária de internação hospitalar, o que reafirma a vantagem de
oferecer este serviço aos usuários que se enquadram neste perfil. Destaca-se ainda uma
economia ainda mais significativa nos custos relativos ao paciente com perfil de inclusão no
programa PAD.

4.6 VISÃO DO PROGRAMA HOME CARE PELO GESTOR

Quando questionado ao gestor os pontos positivos e negativos do home care na


empresa, o mesmo coloca como positivos a possibilidade de fornecer assistência no domicílio
para os pacientes, minimizando o risco de infecções hospitalares bem como oferecendo uma
assistência de igual qualidade e com um custo menor para a empresa. Outro ponto levantado e
que também impacta no custo é que a prestação de assistência pelo home care, reduz o tempo
de hospitalização dos pacientes.
Como ponto negativo, foi relatado que o relacionamento com os familiares em muitos
casos é delicado, pois alguns não entendem os critérios de elegibilidade do home care, o que
pode levar à insatisfações quando é informado que o paciente não apresenta as condições
necessárias para a assistência ser realizada no domicílio.
Um ponto de atenção levantado pelo gestor é que para realizar a assistência da melhor
forma no domicílio e garantir que a experiência do paciente seja a melhor possível, uma
grande logística precisa acontecer, que envolve gerenciamento de rotas, controle de
dispensação de medicamentos, controle de pessoal, disponibilidade de equipamentos,
gerenciamento de serviços terceirizados entre outros.
Quando perguntado quais controles são executados, foram apresentados alguns
indicadores em ferramentas como Excel e Power bi, como exemplos: tempo de
desospitalização dos pacientes, agudizações, controle de reinternações, controle de compra e
manutenção de produtos e serviços entregues em domicílio.
Por fim, ao questionar os motivos que levaram a empresa a implantar o serviço de
home care, o gestor informou que não estava na empresa na época, mas reforçou os pontos
positivos levantados anteriormente, e que hoje o custo evitado ao fornecer uma assistência de
qualidade e com menor custo do que a hospitalização é um dos motivos da empresa manter
esse serviço aos seus beneficiários, mesmo sem constar no Rol de procedimentos obrigatórios
da ANS.
44

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

O presente estudo teve como objetivo descrever o perfil e o impacto no custo da


prestação do serviço de home care por uma empresa operadora de saúde no Estado do Rio
Grande do Norte. Nesse contexto, observou-se que este serviço na empresa estudada
subdivide em Programa de Assistência Domiciliar (PAD) e Programa de Internação
Domiciliar (PID), a depender da complexidade do quadro clínico do paciente e assistência
necessária. A inserção do paciente neste programa dá-se a partir da solicitação de inclusão,
passando pela análise contratual e de adimplência, triagem multiprofissional para definição da
classificação (PAD ou PID), avaliação do domicílio e assistência até o momento da alta do
programa.
Na data observada no estudo, um total de 709 pacientes estavam inseridos no serviço
de home care, sendo em sua maioria mulheres (67%) e quase metade (48%) acamados. Esses
pacientes são oriundos, em sua maior parte, da desospitalização (64,9%) e grande parte
apresenta doença crônica (34%). O diagnóstico mais prevalente observado foi a hipertensão
arterial sistêmica, presente em 41% dos pacientes, seguido de demência (27%), doença de
Alzheimer (24%), diabetes (22%) e acidente vascular cerebral (11%). Esses achados se
mostram semelhantes aos resultados encontrados por Ribeiro (2004), cujo diagnóstico mais
frequente entre os pacientes atendidos nesse tipo de serviço foi relacionado ao aparelho
circulatório (25%).
Ao comparar o custo da assistência prestada a um paciente em atendimento pelo
serviço de home care e essa mesma assistência na internação hospitalar, observou-se uma
importante economia no home care - 31% de economia no PID e 80% de economia no PAD -
sendo a maior economia referente ao custo da diária da internação hospitalar. Essa vantagem
econômica também foi observada nos estudos de Feitosa et al (2010) e Ribeiro (2004), que
encontraram uma economia de 60% e 69,9%, respectivamente.
Os resultados de redução de custo encontrados no presente estudo estão de acordo com
a visão do gestor, que relatou a economia como um dos pontos positivos do serviço de home
care, além da minimização dos riscos de infecções hospitalares e redução do tempo de
hospitalização. Por outro lado, o gestor colocou como um ponto negativo a insatisfação de
familiares diante das situações em que o paciente não se enquadra nos critérios de
elegibilidade para inserção no programa.
O presente estudo teve como limitação a ausência de algumas informações que
poderiam dar maior robustez para a apuração de custos e, consequentemente, uma
45

comparação mais detalhada entre os custos do serviço de home care e da internação


hospitalar, como o custo administrativo do serviço de home care (funcionários, energia, água,
combustível, dentre outros), e um maior detalhamento do custo da “diária” da internação
hospitalar, visto que este valor é muito variável, a depender do contrato dos hospitais
prestadores com a empresa operadora de saúde. Desta forma, sugere-se que sejam realizados
novos estudos com esta temática, a fim de aprofundar a análise no que diz respeito aos
métodos de custeio e seus diferentes métodos de rateio, trazendo informações valiosas para a
tomada de decisão da empresa, além de identificar outros pontos estratégicos para a redução
de custo na empresa estudada, bem como em outras empresas operadoras de saúde e de
assistência à saúde.
46

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