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**** SEM TÍTULO ****


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**** Sinopses ****
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--- Ideia ---


O pai de uma menina desaparece durante uma invasão, e ela se prepara para um dia
encontrá-lo.

--- Resumo breve ---


Após o desaparecimento de seu pai, a protagonista se prepara para um dia encontrá-
lo, mas descobre que o pai morreu assassinado antes mesmo de ela nascer, através de
uma carta deixada pela mãe, após sua morte. Depois da descoberta, ela vai em busca
do assassino e diz que vai matar ele.

--- Sinopse ---


Desde criança, Scarlet se preparou diariamente para um dia encontrar seu pai que
desapareceu não se sabe como, nem o por quê. Quando ela finalmente decide embarcar
nesta jornada e está a um passo de encontrar seu pai, mistérios que não fazia ideia
de que existiam lhe são revelados, mas Scarlet se vê disposta à encará-los, mesmo
com sua capacidade e seus relacionamentos postos à prova. Será possível encontrar
alguém quando há tantos obstáculos?

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--- Sinopse expandida ---


(1)
ERA CEDO e o sol já brilhava. Scarlet tinha apenas 8 anos e estava no chão da
cozinha brincando enquanto sua mãe cozinhava. Seu pai, Wallin, estava assistindo
televisão, Maya parecia estar um pouco ansiosa, durante o tempo em que estava
esperando a carne assar no forno e encarava Scarlet.
De repente escutam um som que parecia vários carros freando ao mesmo tempo. Todos
olham para a janela, que dava visão à frente da casa, onde podiam ver ver vários
policiais. Wallin levanta do sofá, se encaminha até a porta, mas recua quando ouve
gritos vindos de fora. Escutam algo se aproximar. Uma bomba. Os policiais jogaram
um bomba...uma não, duas. Gás lacrimogêneo. Maya grita e se agacha perto de sua
filha.
Todos ficam cegos. A porta é arrombada. Os policiais entram e prendem Wallin. A
mãe se agarra à filha.
"Finalmente", pensou ela. Wallin seria preso. Iria pagar pelo que fez. Por
assassinar seu marido e estragar sua vida. Aqueles não eram policiais, mas agentes
do Departamento de Segurança Internacional. Apesar de não compreender o porquê de
ter de destruir uma casa inteira para prender um assassino, mas estava aliviada por
estar livre daquele homem. Mas antes que pudesse pensar nisso, viu ali. Scarlet
caída no chão, inconsciente. Sua filha desmaiou.
Maya foi às pressas até o hospital, acompanhada por um agente. Scarlet estava
bem, mas durante a invasão, algo atingiu sua cabeça e ela perdeu a memória. Estava
com concussão. Maya chorou e duvidou se fez realmente a escolha certa. Não. Fez o
que deveria ser feito. Agora, recomeçariam, juntas.
Algumas semanas se passam, as coisas voltam ao normal, com exceção da memória de
Scarlet. Maya tomou a decisão de não contar sobre o acidente e nada além de que seu
pai havia desaparecido. Queria um recomeço. Sem traumas e sofrimentos para seu
docinho de olhos azuis, como a chamava. Uma chance de algo novo, de uma vida
melhor.

(2)
SCARLET CRESCEU e resolveu seguir os passos do pai: se tornar uma agente da ISD,
mas seria da área de estratégia e ação.
Ao decorrer dos anos, após o acidente, sua mãe explicara que seu pai desapareceu,
que a casa deles foi invadida e o levaram. Com isso, Scarlet resolveu procurar
informações sobre o pai, informações que sua mãe não dera. Mas não exigiu mais
nada, sabia que conseguiria encontrá-las sem sua ajuda. Como seu pai havia
trabalhado na ISD, era conhecido por quase todos e haviam pessoas velhas ali que
construíra uma amizade com ele. Além disso, tinha Emma, a agente e programadora da
ISD que, em um piscar de olhos, conseguiria rastrear alguém, caso necessário.
Também havia Lisa, sua melhor amiga, que conhecia muitas pessoas, e quanto mais
pessoas, mais informação. Scarlet estava confiante. Depois de pedir a Lisa que
entrasse em contato com pessoas velhas no departamento, foi até Emma, para que
pesquisasse por "Wallin Doyle", quem Lisa dissera ser seu pai, com as informações
que conseguiu tirar dos velhos da ISD.
Scarlet estranhou o sobrenome, mas não deixou de se animar com a possibilidade.
Seria só ver os olhos azuis com um tom acinzentado como os seus. O cabelo liso
castanho escuro, e o rosto quadrado de que sua mãe tanto falara.
Não. Não havia nada disso, era o oposto. Ele possui um cabelo com um tom claro,
meio avermelhado. Seus olhos eram um pouco claros, mas longe de serem azuis. Longe
de serem como os dela. Opção descartada, diria normalmente. Mas ela parece conhecer
esse homem de algum lugar...
Seus pensamentos foram interrompidos por Brandon, agente-chefe do departamento.
Mais trabalho.
Alguns dias se passaram, mas o homem ainda permanecia em seus pensamentos. Iria
investigar mais sobre Wallin Doyle, até que tivesse certeza de que não o conhecera
ou que não era seu...pai. Mas, após estudar sobre seus ancestrais, os Hubber, sua
dúvida desapareceu. Ele realmente não era seu pai. Daí ela pensou: tanto meus avós
como bisavós paternos não possuíam sequer um traço semelhante aos de Wallin. Mas
então, quem seria ele? Ela o conhece

(3)
SCARLET CONTINUOU investigando Wallin Doyle, fazendo perguntas à mãe, que acabou
em uma discussão. A mãe se perdia em pensamento toda vez que a filha a questionava
sobre o pai.
Scarlet não desistiu, ela investigou até o fim. Até achar algo que não queria.
Uma ficha criminal. Um departamento, lugar onde pessoas vendem seus itens roubados.
Ela não perde tempo e vai até lá ao encontro de Wallin.
Depois de uma cena em que o faz vários questionamentos, eles lutam. Mas no fim,
ele só a faz ter mais certeza de o conhecia de algum lugar. Wallin se prepara.
Envia uma de seus agentes até a casa dela. Ninguém mais, ninguém menos que Lisa
Bakker, melhor amiga de Scarlet.
Scarlet vai até sua casa. Precisava falar com sua mãe. Precisava encontrá-la. Mas
ela se surpreendeu ao ver Lisa. Ela parecia diferente. Não só parecia, como estava.
Depois de discutirem um assunto começado por Lisa, acabam lutando. Scarlet lutava
para se defender, e Lisa para matar. No fim, foi ela quem estava sem vida.
Scarlet senta e chora. Sofreu por ter que matar alguém em quem confiava.
Um sentimento tomou cobrade seu coração.
Sua mãe chega em casa. Ela estava estranha ultimamente, talvez por causa da briga
que tiveram.
Quando viu a filha caída, seu coração disparou e as compras que antes estavam em
suas mãos já se encontravam no chão. Maya a leva para o hospital. Não estava
gravemente ferida, mas sofria. Scarlet contou à mãe o que aconteceu. Depois recebe
visita de seus amigos e até de Levon, pra sua surpresa.
Os médicos determinam um tempo estimado para que Scarlet se recuperasse, em média
uma semana, era pouco tempo. Mas para Scarlet uma eternidade.
Ela estranhava o sumiço da mãe enquanto repousava. Talvez estivesse comprando
milhões de caça-palavras para que ela jogasse enquanto ficava 24 horas por dia numa
cama, sem fazer nada. Como estava em melhores condições, resolve levantar da cama e
sair do quarto, quando encontra sua mãe, que escrevia algo. Uma carta, parecia.
Elas conversam, e depois vão para a cozinha preparar o jantar.
Sua mãe, agora, parecia estar dando mais atenção. Nunca parava de dizer quanto a
amava. Fazia comidas pra ela. Brincavam, riam e se divertiam.
Scarlet não parou de pensar em Wallin, quem ela suspeitava ser seu pai. Ela não
queria brigar com a mãe, mas não podia perder a oportunidade de conseguir mais
alguma informação, algo que lhe tirasse a dúvida. Ela ficou surpresa com a
tranquilidade que sua mãe conversava. Ela lhe deu alguns conselhos, disse pequenas
coisinhas, mas ainda havia muitas coisas que Scarlet ainda precisava descobrir.
Mesmo assim, uma onde de alívio a atingiu.
Dias depois, Scarlet já havia ver recuperado, retornando ao trabalho na Agência,
mas ainda pensava em seu pai. Seria mesmo Wallin?
Quando ela chegou em casa mais dedique o normal, resolveu preparar um jantar
surpresa para mãe, já que ela não se encontrava ali.
Estava quase tudo pronto quando escutou a porta bater. Sua mãe havia chegado e
Scarlet ainda permanecia de costas para a porta. Abriu um sorriso quando se virou
para a mãe, que logo se esvaiu quando olhou para ela, com os olhos arregalados.
Sua mãe estava ferida, gravemente. Ela caiu no chão antes mesmo de dizer uma
palavra.
Scarlet fica em sua companhia, ela estava morrendo. Ela tentou levantar Maya para
que a levasse no hospital, mas a mãe impediu. Não havia mais salvação, faltava
pouco para que seu coração parasse de bater.
Mas antes que isso acontecesse, a mãe fala sobre o pai de Scarlet e o quanto a
ama, aos choros.
A mãe dela lhe revela tudo. Não, quase tudo.

(4)
MINUTOS ANTES de Maya ser levada do mundo, pede à filha que vá até a escrivaninha
e pegue uma carta. A carta. A mesma que sua mãe escrevera enquanto repousava. Ela
pediu que a lesse na sua frente.
Revelações.
Seu pai foi assassinado. Antes mesmo de vir ao mundo, seu pai já havia sido
morto. Ela sofreu concussão. Se esqueceu de tudo. Quase tudo. Lembrou-se apenas da
invasão, na qual levaram seu pai, ou quem pensava ser.
Quando termina de ler a carta, sua mãe já estava sem vida. Ela chorou. Havia
perdido todos que ela amava. Imaginava que iria morrer naquele momento. Mas não
podia. Não agora.
No dia seguinte, a cerimônia de enterro acontece. Scarlet ficará surpresa com a
quantidade de pessoas que havia ali.
O corpo de Lisa fora enviado para o departamento de Wallin, com um bilhete
escrito "Se cuida". Sim, era uma ameaça.

(5)
QUANDO A CERIMÔNIA acaba Scarlet foi direto para casa, acompanhada por seus
amigos e até Levon, mesmo que não fosse seu amigo.
Lançaram e se entreolharam.
Scarlet sabia que poderia confiar neles. E então lhes mostrou a carta. Eles a
questionaram sobre o que faria, e ela simplesmente lhes disse:
- Vou matá-lo.

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**** Personagens ****
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**** Scarlet Hubber ****


--- Descrição ---
Agente da ISD - Departamento Internacional de Segurança

--- Aparência ---


Idade: 19 anos
Gênero: Mulher
Etnia: Finlandesa (nascida em Varkaus)
Cor dos olhos: Azul acinzentado

--- Personalidade ---


Motivação: Conhecer o pai dela
Objetivo: Encontrar o pai e descobrir o que aconteceu com ele
Talento: Tiro - Luta - Estratégia
Fraqueza: Família e o seu passado. A dúvida de que o pai simplesmente a esqueceu a
atormenta em alguns momentos.
Hábitos: Atirar sozinha em seu quarto
Autocontrole: Age de forma impulsiva quando com raiva, mas ao decorrer da história,
aprende a se autocontrolar.
Moral: Não tome atitudes impulsivas. Monte estratégias. Pense. Planeje. Mire.
Atire.
Desenvolvimento: Não agir com raiva ou impulsividade. Estratégia. Planejamento.
Mira. Ataque.
Conflito: Ela não sabe o nome, paradeiro e nem características do pai. A mãe não a
informa nada além dos olhos azuis com um tom acinzentado de quem a protagonista
puxou.

--- Biografia ---


Nasci em Varkaus, na Finlândia. Tenho 19 anos. Meu pai desapareceu e pretendo
encontrá-lo e descobrir o que realmente aconteceu. Minha mãe diz: "não tome
atitudes impulsivas. Monte estratégias. Pense. Planeje. Mire. Atire." Sempre tomei
atitudes impulsivas, quando estava com raiva, sem pensar. Mas às vezes, de tanto
quebrar a cara, se entende o que é a palavra autocontrole. Agora, estou preparada
para embarcar numa brincadeira bem divertida: encontrar meu pai desaparecido.
Prazer, Scarlet.
**** Brandon Lennon ****
--- Descrição ---
Agente-chefe da ISD

--- Aparência ---


Idade: 23 anos
Gênero: Homem
Etnia: Australiano (nascido em Camberra)

--- Personalidade ---


Motivação: Independência
Objetivo: Montar a própria empresa de segurança e tecnologia
Conflito: Inseguranças
Desenvolvimento: Arriscar
Fraqueza: Morte da mãe
Autocontrole: Sem autocontrole nenhum
Talento: Luta - Inteligência - Estratégia

--- Biografia ---


Desejar independência e evolução é o que me compõe. Quero essas duas coisas há
tempos, mas os riscos são grandes. Quero ter meu próprio departamento de segurança,
e não vai ser ficando de braços cruzados que vou conseguir. Antes de morrer, minha
mãe me disse: "medo você nunca deixará de ter, mas pode escolher deixar ele te
atingir ou não." Por causa de medo, deixei meus sonhos irem por água abaixo. Chegou
a hora de mudar isso.

**** Lisa Bakker ****


--- Descrição ---
Agente ISD, amiga de Scarlet Hubber

--- Aparência ---


Idade: 19 anos
Gênero: Mulher
Etnia: Inglesa (nascida em Londres)
Cor dos olhos: Castanho claro

--- Personalidade ---


Objetivo: Cumprir a missão dada por Wallin Doyle de seguir os passos da família
Hubber
Conflito: *MORTE* após Scarlet descobrir sua traição e sua tentativa de assasiná-
la, elas lutam e Lisa perde a batalha. Morta.
Desenvolvimento: Dinheiro não é tudo, mas percebeu isso tarde demais
Motivação: Poder ter coisas que não teve quando mais nova

--- Biografia ---


Sou Lisa Baker. Sempre tirei as melhores notas, sempre fui elogiada, eu sou
considerada perfeita. Faço tudo perfeito, mas não tenho a vida perfeita, eu sou
pobre, passo dificuldades. Eu não tenho dinheiro, mas Wallin Doyle me ofereceu a
chance de ter isso. E para isso, preciso me infiltrar na família Hubber e me tornar
amiga de Scarlet. Estou pronta pra isso.

**** Maya Hubber ****


--- Descrição ---
Mãe de Scarlet Hubber

--- Aparência ---


Idade: 41 anos
Gênero: Mulher
Etnia: Finlandesa (nascida em Varkaus)
Cor dos olhos: Castanho

--- Personalidade ---


Motivação: Se livrar de Wallin Doyle
Objetivo: Proteger sua filha
Conflito: O contato do assassino de seu marido com a família
Desenvolvimento: Lutar pela justiça, mesmo que custe a própria vida.

--- Biografia ---


Sou Maya Hubber, fui casada com Bryan Hubber, mas ele foi morto por Wallin Doyle.
Agora, mais do que nunca, preciso lutar e proteger minha filha, Scarlet, quem tanto
amo, mesmo que custe minha vida. Chegou a hora de arregaçar minhas mangas e ir para
a batalha. Vou matar Wallin e conseguir a minha liberdade.

**** Wallin Doyle ****


--- Descrição ---
Assassino de Bryan Hubber

--- Aparência ---


Idade: 43 anos
Gênero: Homem
Etnia: Americano (Nascido em Nova York)

--- Personalidade ---


Objetivo: Despistar policiais, seguir os passos da família Hubber e conseguir uma
equipe
Conflito: Mandato na agência ISD
Motivação: Montar um departamento de roubo e casar-se com Maya
Desenvolvimento: Não aprende nada, só morrendo mesmo

--- Biografia ---


Olá, senhoras e senhores! Eu sou Wallin Doyle, o dono de uma casa de leilões. Eu
assassinei Bryan Hubber e estou sendo perseguido pela ISD, afinal de contas, ele
roubou meu emprego e a mulher que eu amava. Vou pegar tudo o que é dele, e acredito
que vai ser uma aventura e tanto.

**** Bryan Hubber ****


--- Descrição ---
Pai de Scarlet Hubber

--- Aparência ---


Idade: Estaria com 45 anos
Gênero: Homem
Etnia: Americano (nascido em Nova York)
Cor dos olhos: Azul acinzentado

--- Personalidade ---


Objetivo: Proteger e dar um lar a mulher e à filha
Conflito: *MORTE*
Motivação: Sua família

--- Biografia ---


Sou Bryan Hubber, nascido em Nova York. Meu melhor amigo é Wallin Doyle, meu
vizinho. Eu trabalho para a ISD, na qual fui aprovado há dois meses. Uma pena
Wallin não ter conseguido, eu acreditava muito nele. Até vê-lo me sequestrar e me
torturar até a mor...

**** Emma Cooper ****


--- Descrição ---
Agente da ISD - trabalha com Scarlet

--- Aparência ---


Idade: 21 anos
Gênero: Mulher
Etnia: Finlandesa (nascida em Helsinque)

--- Personalidade ---


Objetivo: Ser agente-chefe na área de programação da ISD
Desenvolvimento: Desenvolve uma verdadeira amizade com Scarlet
Conflito: Conflitos familiares
Talento: Programação e Liderança
Maior medo: Pensamento dos familiares
Moral: Desafiar e ultrapassar meus limites. Não desistir. Rápida e forte como uma
bala.
Motivação: Avançar no mercado de trabalho e conseguir uma família

--- Biografia ---


Agente e programadora da ISD. Quero viver mais e aprender mais, desafiar e
ultrapassar meus limites. Não desistir. Rápida e forte como uma bala. Vem por aí
algo maior do que eu possa imaginar. Sempre quis me tornar a agente-chefe da área
de programação da ISD, mas será que é isso mesmo o que eu quero?

**** Levon Davis ****


--- Descrição ---
Agente forense da ISD

--- Aparência ---


Idade: 23 anos
Gênero: Homem
Etnia: Finlandense (nascido na Helsinque)

--- Personalidade ---


Motivação: Ser o melhor no que faz
Objetivo: Ganhar títulos de melhor agente
Conflito: Sua incapacidade e egoísmo
Desenvolvimento: Ninguém precisa ter razão sempre
Fraqueza: Questionamentos à sua capacidade

--- Biografia ---


Meu nome é Levon Davis. Nasci na Finlândia e tenho 23 anos. Quero ser o melhor,
fazer o melhor e ser amado por todos que estão à minha volta. Sou desvalorizado,
mas tenho talento, tenho garra e ambição. Preciso de oportunidades pra mostrar que
sou um dos melhores agentes, se não o melhor, da ISD. Farei o meu melhor e
mostrarei a minha capacidade, vai ser chato, mas o objetivo fala mais alto.

**** Untitled ****

**** Untitled ****


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**** Cenas ****
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**** 1. SONHO - C1|C1 ****


Etiqueta: Finalizado
Eu estou brincando na cozinha, enquanto minha mãe prepara o almoço. A televisão
está ligada. Meu pai está no sofá.
Escuto um barulho e olho para a janela. Algo se aproxima. Uma...não, duas. Duas
bombas. De repente não consigo ver mais nada. Sinto uma dor forte na cabeça. Um
barulho que parece a porta sendo arrombada. Recupero minha visão. Meu pai está
sendo carregado à força por dois homens. Minha cabeça ainda dói. Minha mãe me
chama.
Scarlet! Scarlet! Vamos, você consegue!
Sussurrei algo antes de a escuridão me envolver.
De repente, tudo clareia. Desta vez, estava em um carro, deitada no colo de minha
mãe, que gritava meu nome. Minha cabeça latejando.
Scarlet, você consegue, filha. Vamos, Sca...

**** 2. CAFÉ DA MANHÃ - C1|C2 ****


Etiqueta: Finalizado
06h30
O alarme tocou. Acordei ofegante.
Mais uma vez esse sonho. Já estava cansada disso.
- Scarlet, não vai descer? - ouvi a voz da minha mãe - Já está na hora de ir para
o trabalho, não acha?
Ela estava sorrindo. Toda vez que eu via aquele sorriso, alegria despertava
dentro de mim. Eu faria qualquer coisa para ver aquele sorriso todos os dias, pelo
resto da minha vida.
- Hum. Pensei que poderia dar mais uma cochilada. Mas pelo visto a senhora Maya
não está muito afim, está? - Nossa risada tomou conta do meu quarto e ela me deu um
abraço forte.
Levantei da cama, depois fui direto para o banheiro escovar os dentes e tomar um
banho. Mais um dia de trabalho.
Eu gostava daquele emprego. Trabalhar na ISD, assim como meu pai havia trabalhado
um dia era prazeroso, apesar do estresse que causava algumas vezes. Eu fazia parte
do planejamento de trabalho - onde criávamos um plano de ação, caso precisássemos
invadir uma casa ou pegar um bandido estrategista - e ação - onde executávamos o
plano.
Me vesti e desci as escadas que levavam direto para a cozinha, minha mãe estava
fazendo o meu café da manhã.
- Já conversamos sobre isso - fui até ela e a beijei - Não tem que ficar fazendo
minha comida. Vá trabalhar, mãe. Eu já posso fazer isso.
- Sim, você pode, mas eu quero fazer por você, não me custa nada - disse em um
tom brincalhão - Além disso, hoje eu começo mais tarde, há poucas encomendas de
brigadeiros.
Sorri para ela e ajudei a pôr os pratos na mesa do café. A cozinha cheirava a
bolo fresquinho e frutas, nosso café da manhã de segunda feira. Coloquei dois
pratos, dois copos e em seguida os talheres. Depois mamãe partiu o bolo e picou as
frutas, pondo-as nos pratos. Enchemos os copos com suco e começamos a comer.
- Mãe, sobre o papai...
- Filha, o seu pai desapareceu quando você ainda era nova. Nova demais. - Eu não
era mais tão nova assim, poderia entender o que quer que fosse. Mas não disse isso
em voz alta.
- Disso eu sei, mãe. Mas por quê? Por que ele desapareceu? Como?
- Ah, filha...eu queria muito entender, mas às vezes é difícil. Não compreendo...
- ela parecia também ter as mesmas dúvidas, talvez também não soubesse muita coisa.
Mas sabia mais do que eu.
- A senhora poderia me dizer pelo menos o nome dele, só isso. Não preciso de mais
nada, mãe.
- Eu sei, mas não posso lhe contar. Você irá atrás dele. Irá se arriscar, e não
quero que faça isso. Quero você aqui, pertinho de mim.
- Como ele sumiu? - fingi ignorar o que ela disse.
- Não sei exatamente, meu docinho. Seu pai tinha alguns...amigos estranhos.
- Ele fugiu?
- Não, claro que não. Nunca faria isso, ele era um homem bom, um homem correto.
Ah...Scarlet, como vocês se parecem. Seus olhinhos azuis com esse tom lindo
acinzentado, que só ele tinha. Além daquele cabelo lisinho... - ela riu, a mente em
um lugar longe da Terra - Ele era lindo, filha, assim como você. Ele te ama muito.
Eu tenho certeza disso.
Lágrimas escorreram do seu rosto, o que me fez levantar e abraçá-la. Eu sentia
saudade dele, mesmo que nem lembrasse de seu rosto. Eu sabia que ela só queria me
proteger, e eu a amava por isso e por ser quem era. Beijei-a na testa, enquanto
passava minha mão por seu cabelo.
Ela enxugou as lágrimas.
- Chega de chorar. Vá trabalhar que já está se atrasando. Vai, eu te amo. Bom
trabalho.
- Obrigada mãe, volto antes do jantar.
Ela me abraçou e levou até a porta, acenando até que eu estivesse fora do seu
campo de visão.c

**** 3. AMIGOS NA ISD - C2|C1 ****


Etiqueta: Finalizado
Eu cheguei cedo na agência, apesar de ter saído de casa mais tarde que o normal. O
departamento era enorme, as janelas feitas de um vidro limpíssimo e azul escuro,
não era possível ver nada que estivesse ali dentro.
Entrei no prédio, cumprimentei os agentes e pressionei meu dedo na tela ao lado
de uma roleta, para que detectasse minhas impressões digitais. Só pessoas que
trabalhavam ou eram permitidas entravam ali, até porque era um espaço de
investigação. Logo depois, peguei meu crachá do Departamento de Segurança
Internacional, a ISD.
Alguém tocou meu ombro.
- Oi, chegou mais tarde que o normal, aconteceu alguma coisa? - ouvi a voz de
Lisa, minha melhor amiga.
- Sim. Um coisinha chata chamada sono quis me prender na cama hoje. - Ela ergueu
um canto da boca, em um leve sorriso.
- Que bom que conseguiu escapar, porque hoje teremos algo diferente, eu acho.
Rimos e então fomos direto para a sala de reuniões da agência. Brandon era nosso
chefe, quem liderava os planos e fazia as escolhas principais do nosso grupo.
Apesar de nossas posições, somos todos amigos. Com exceção de Levon...
- Ah! Chegaram as mocinhas. O que estavam fazendo de importante? Pintando as
unhas? Passando maqui...
- Silêncio, Levon! Não temos tempo pra suas brincadeirinhas. - Brandon, o nosso
chefe.
- Relaxa aí, Brad, hoje é segunda feira, a semana está só começando. - Lisa
disse.
Todos se entreolharam. Brandon tinha apenas 23 anos, mas até que combinava com o
cargo, mesmo assim, não costumava gritar. Devia estar num dia mau, mesmo. Mas eu
estava animada naquele momento.
- Lisa tem razão e, como você disse, não temos tempo, então fale logo o que temos
pra hoje.
- Hoje a missão é aqui dentro mesmo. Haverá uma prova para que as equipes possam
avançar no placar. Nossa equipe...
- Ninguém nos avisou que haveria uma prova hoje. - Levon disse, interrompendo
Brandon.
- Era essa a intenção - ele retomou - o departamento quer avaliar cada um sem que
estejam esperando para saberem quem são de fato os mais preparados para uma
surpresa, mas ainda temos tempo para nos preparar.
- E quando começa? - perguntei.
- A prova começa após o almoço. Por hoje é só. Preparem-se.
Todos já entendíamos que isso significava um "adeus", então saímos da sala. Lisa
me acompanhava.
- Como vai a busca pelo seu pai? Já encontrou alguma informação? - Ela perguntou.
- Não. Minha mãe não me fala de jeito nenhum sobre ele. Nada além de sua
aparência. - ela me encarou - Eu até cheguei a perguntar para ela qual o nome dele,
mas não quer que eu descubra onde ele está por medo de que me arrisque.
Era até engraçado ela pensar isso, já que eu trabalhava num lugar onde precisava
lidar com criminosos.
- Não desiste, amiga. Tudo no seu tempo. Você vai encontrar ele, tenho certeza. -
ficamos em silêncio por um tempo - Está afim de comer um lanche? Depois disso
podemos ir treinar. Não acho que essa prova seja muito fácil. - Lisa disse,
sorrindo. Ela era uma mulher linda, de olhos castanhos, pele escura e tinha um
cabelo encaracolado de comprimento um pouco acima do ombro. Ela era uma das meninas
mais bonitas que conhecia.
- Pode ser. Mas antes, vou ligar para minha mãe, preciso contar a ela sobre a
prova.
Ela assentiu e foi direto para a lanchonete.

♧ Estava procurando o contato de minha mãe para que pudesse ligar pra ela, mas meu
telefone tocou. Uma coincidência.
- Oi, mãe, eu ia ligar agora. Está tudo certo?
- Sim, meu amor. Aconteceu alguma coisa?
- Não, quer dizer... estarão dando uma prova para os grupos. Chegou a hora de
avançar o placar.
- Hum. Está preocupada com isso?
- Não, só não esperava. Ninguém esperava.
- Isso é pra você e seus amigos aprenderem a sempre estarem preparados para algo
que não esperam.
- Sim, exatamente isso. Liguei só para avisar, agora tenho que ir. Vou comer um
lanche e ir treinar. Não posso perder tempo.
- Tá bom, meu docinho de olhos azuis - sorri ao ouvir minha mãe me chamando
daquele jeito - E mais uma coisa: não tome atitudes impulsivas. - comecei a falar
junto com ela - Monte estratégias. Pense. Planeje. Mire e, por fim, atire.
Rimos aos falarmos aquilo. Era meio bobo, mas às vezes funcionava comigo, como
muitas outras coisas que minha mãe dizia. Algo que aprendi durante meus 19 anos de
vida, é que se você não escutar sua mãe, algo sempre dá errado, como se suas
palavras fossem uma promessa.
Enfim desliguei o telefone.
- Pelo visto a conversa estava boa, não?
Lisa chegou com duas fatias de pizza. Estava acompanhada por Emma, Brandon e Levon.
- Oi - disse, pegando uma fatia de pizza.
- E aí, estão preparados para a prova? - Brandon perguntou.
- É fácil perguntar isso quando não se faz nada além de dar ordens. Mas, mesmo
assim, eu nasci pronto. Nem sei porque fez essa pergunta. - Levon reclamou.
- Sendo assim, era mais fácil você não responder, já que é óbvio para todo mundo
- disse Emma, com um sorriso no rosto.
- Deixa ele, Emma! Ele é superior demais a nós, não merecemos sua atenção. -
Lisa falou, cheia de ironia.
Todos riram. Depois olharam pra mim, provavelmente esperando que eu dissesse
alguma coisa, mas estava com a boca cheia, tinha acabado de dar uma mordida grande
na pizza que Lisa trouxera pra mim.
- Essa pizza está maravilhosa, vocês deviam calar a boca e comer também.
Eles deram um sorrisinho, então pegaram as suas fatias e comeram.
- Isso mesmo, precisamos de energia para nos movimentarmos, não é, Scarlet? -
Emma disse, rindo.
Fiz que sim com a cabeça, ainda saboreando aquela pizza que, por sinal, estava
realmente muito boa.
- Vamos treinar daqui a pouco, certo? - Brandon perguntou.
- Claro. - Todos falamos em uníssono, eu com a boca ainda cheia.
De repente todos começariam a rir, e franzi a testa, numa expressão que indicava
dúvida.
- Do que estão rindo? - Eu perguntei.
Ninguém disse nada, apenas continuaram rindo e, apesar de meus pensamentos
estarem na pizza e na prova, sem saber exatamente a graça daquilo tudo, me juntei a
eles e comecei a rir.

**** 4. PROVA ISD - C3|C1 ****


Etiqueta: Finalizado
- Antes de começarmos, vamos às regras! - alguém dizia em um microfone. A voz era
transmitida através das caixas de som que estavam espalhadas por todo o
departamento. Eram muitas. O prédio possuía, no mínimo, uns dez andares. Na
verdade, nunca prestei muita atenção nisso, mas sabia que era, com certeza, um dos
maiores prédios da cidade.
"Em primeiro lugar, jamais machuque outro agente, independente de qual seja o seu
grupo."
"Em segundo lugar, não confie em ninguém. Você pode formar duplas, mas não se
empolgue, pois são selecionados. Assim, ganharão duzentos pontos as equipes em que
as duplas trabalharam juntas e corretamente."
"Haverá duas etapas nas provas, as equipes enviarão dois de seus agentes em cada
uma uma delas, para que sejam todos testados. O chefe de equipe estará participando
em ambas, de forma que seram provadas as habilidades individuais, agilidade física
e mental, liderança e estratégia de cada jogador."
"E, por último: as pessoas que capturarem mais inimigos da forma correta
alcançarão o topo no placar, levando consigo a equipe. A pontuação máxima de cada
jogador é 1000. Se tiver mais pontos, estará no topo. Bem, agentes, apenas isto.
Boa sorte a todos!
Certo. Não iria ser tão difícil. Eu treinei, vou conseguir ganhar pelo menos uns
setecentos pontos, não menos que isso. No fim, a equipe vencedora ganha um nome com
a inicial do chefe e em seguida dos membros de acordo com a posição de cada um no
placar. Mas eu não me importo, agora quero apenas completar meu primeiro ano de
experiência na ISD.

♧ - As duplas que participarão da primeira etapa da prova serão...


Allany e Liam.
David e Michael.
Kera e Martha.
Chris e Eric.
E, por fim, Levon e Lisa.
Eu não havia percebido que haviam tantas pessoas que ainda completariam um ano na
ISD. Competiríamos com uma boa quantidade.
Sendo assim, sobrariam apenas Emma e eu para a próxima etapa. Emma seria uma boa
parceira. Tive sorte, já Lisa...
- Agora fiquem em suas posições e que comecem os testes!
Haviam câmeras por toda a área da prova, onde podíamos ver tudo que estava
acontecendo lá dentro através de uma enorme televisão, com os placares da equipe e
dos jogadores. O nome "Allany Tinnis" estava em primeiro, Lisa estava em quinto e
Levon em sétimo, estavam entre o melhores. Eu não poderia montar uma lógica através
daquela etapa, já que seria diferente da segunda.
Os agentes tinham uma pistola que, ao invés de balas, atirava bolinhas e, como
ovos, se estouravam quando atingiam algo. Poderiam ser usadas apenas contra alvos
na área, nunca contra outro participante. Cada dupla tinha suas próprias algemas,
para que ficassem marcados os criminosos - como eram chamados os bonecos de madeira
- que foram capturados. Haviam vários elementos que atrapalhavam na chegada da
dupla até esses bonecos. Paredes explodiam, lâmpadas disparavam as mesmas bolinhas
das armas dos participantes, água era espirrada do chão, era uma supresa a cada
segundo.
Lisa e até Levon estavam se saíndo bem se ignorasse as discussões deles sobre
qual lado iriam. Lisa estava em quarto no placar, Levon em quinto, Brandon dando
avisos e montando estratégias, ele e os outros chefes possuíam acesso ao mapa da
área.
Emma e eu nos entreolhávamos a cada capturado pela dupla de nossa equipe. De
trinta bonecos em toda a área, Lisa e Levon capturaram dezessete. Estavam
avançando. Faltavam 10 segundos para o fim.
Quarta e quinta posição. Terceira e quarta. Capturaram mais dois. Primeiro e
segundo. Vamos, vocês conseguem!
3...2...1...
- Fim do jogo! - as caixas de som vibraram - Que emocionante, meu amigos.
Emocionante. Vamos agora aos placares. Entre os cinco melhores estão: David Bizty
em quinto, Allany Tinis em quarto, Liam Jones em terceiro, Levon Davis em segundo
e, por fim, Lisa Bakker, em primeiríssimo lugar com 916 pontos! - Todos começaram a
bater palmas - Sim! Uma salva de palmas a todos os nossos agentes e, em especial à
nossa agente Lisa! - o departamento estava tomado pelo som de palmas e gritinhos.
Uma verdadeira festa, mas ainda não era o fim. Agora seria a segunda etapa. A dupla
de Liam e Allany estava na nossa cola, com 900 pontos, não faltaria muito para nos
mandar para trás. Mas era a minha vez de jogar e colocar mais pontos naquele
placar.

♧ - Agora, estarão na segunda etapa as duplas restantes junto com seus chefes. Uma
boa sorte e que comecem os jogos!
Não era tão fácil quanto parecia. Mal dei um passo e uma lâmpada disparou contra
mim. Esquivei a tempo. Analisei o espaço em que estávamos. Emma e eu nos
entreolhamos. Sorrimos. Tínhamos chegado à mesma conclusão.
- Certo. A prova é meio diferente, mas de uma coisa sabemos: lâmpadas disparam,
paredes explodem e... o chão espirra.
- Exatamente isso. - Emma confirmou.
Haviam trinta bonecos em toda a área, talvez fosse desnecessário estar carregando
uma mochila com cinquenta algemas.
Começamos a correr. Durante a caminhada, já havíamos algemado dez bonecos
criminosos. Continuamos, caminhando rápido e com cautela. Observei as paredes e
procurei pelos bonecos criminosos, enquanto Emma alertava quando havia lâmpadas e
saídas de água no chão. Corremos e vi uma brecha de mais ou menos um metro na
parede. Mesmo assim, era praticamente invisível. Um sensor.
- Pare! - ouvi Brandon gritar através do ponto em meu ouvido.
Me esquivei antes de algo sair de dentro da brecha. Uma lâmina...de verdade? Não,
não era. Mas não era totalmente inofensivo. Estava a um centímetro de meu pescoço.
Emma arregalou os olhos.
- Scarlet, um boneco, vou algemá-lo e já volto. Vê se toma cuidado.
Assenti.
Continuei observando o que parecia uma lâmina, havia algo estranho ali, só não
sabia o que era. Esperei. Nada.
- Scarlet? - Brandon perguntou.
- O que é?
- Prossiga. Não é bom estar perto dessa coisa, pode acertar outro disco no seu
rosto.
- Jura? Pior ainda é você estar vendo um mapa que mostra todas as armadilhas e me
avisar um segundo antes de dar com a cara em uma, não acha?
Brandon riu. Ergui um canto da boca em um pequeno sorriso.
- Sim, acho. Mas talvez seja melhor você seguir em frente, há mais bonecos à
esquerda. Temos pouco tempo.
- Aham, mas tem alguma coisa aqui. Relaxa aí, Brad - disse, com o tom de voz de
Lisa.
Ouvi um estalo. Outro. Mais um. Me afastei antes de o disco cair e a brecha
começar a abrir.
- Hã? - Brandon exclamou, tão surpreso quanto eu, ele podia me ver através das
câmeras na área. Mas era estranho que não soubesse sobre o que havia ali. -
Scarlet...
- Hum. Avise Emma que estou no mesmo local e que já a encontro. Mande-a ir atrás
de criminosos. - disse em um tom de voz baixo.
A brecha era grande, mas pequena para uma pessoa passar. Me aguachei e entrei.
Luzes amareladas se acenderam e o espaço continuava escuro, apesar da iluminação.
Observo. Não fazia sentido. Por que haviam colocado isso na área da prova?
De repente me dei conta.
Vários bonecos estavam ali. Milhares, parecia. Era por isso. Por isso que haviam
mais algemas. Haviam bem mais bonecos do que disseram. Talvez fosse um teste de
habilidades individuais.
Ouvi Brandon avisar Emma do meu recado.
- Pessoal, falta menos de um minuto, melhor se apressarem.
Os bonecos estavam distantes, aparentemente uns 40 metros. Então peguei algumas
algemas e comecei a ir em direção aos bonecos. Parei.
Água.
- Argh! Sério isso? - disse para mim mesma.
Certo, eu teria que nadar, e rápido. Não hesitei, pulei na piscina, que era
enorme, e comecei a nadar o mais rápido que pude.
- Quarenta segundos. - Brandon não parava de lembrar.
Rápido Scarlet, rápido.
Estava quase na metade do caminho. Se aquilo realmente ajudaria, eu não sabia,
mas isso eu veria depois. Voltei a me concentrar.
Mais rápido.
- Trinta segundos.
Falta pouco.
Quase lá.
Eu me perguntei se haviam outros lugares com mais bonecos. Esperava que não.
Provavelmente já tinham sido todos algemados. Mal conseguia pensar, os meus membros
estavam doendo com o esforço.
Cadê o fim?
Mais um pouquinho. Água entrou em minha boca. Pigarreei.
- Eu realmente espero que isso valha a pena. - Brandon não disse nada, apesar de
ouvir.
Soltei um grito de dor, aquilo parecia uma eternidade.
Quase...
Eu não ia aguentar.
Não falta muito, vai, Scarlet. Isso, está perto.
Finalmente.
Cheguei à beirada da piscina, saí da água. Minhas pernas estavam tremendo.
- Vinte segundos.
Peguei as algemas que guardei antes de pular na piscina. Estava ofegante. O
coração batendo rápido.
Cinco algemados. Vamos, Scarlet.
- Quinze segundos. - Brandon soava aflito, mas não mais que eu.
- Cale a boca, Brandon! - gritei.
Continuei. Minhas mãos tremiam. Doze já estavam algemados.
- Scarlet...cinco segundos.
Vamos, vamos! Dezesseis algemados. Mais um. Só mais um.

**** 5. PREMIAÇÃO - C3|C2 ****


Etiqueta: Finalizado
- Dezoito algemados em vinte...
- Fim de jogo, meus amigos! - uma voz me interrompeu - Esse foi mesmo
espetacular! Por favor, agentes, apenas fiquem parados e aguardem os auxiliares
chegarem até vocês para que os guie até a saída.

♧ Quando deixei a área da prova, estava totalmente encharcada de água. Minhas


pernas doíam e meus braços ainda mais.
Meu nome estava em primeiro lugar no placar. As pessoas bateram palmas assim que
me viram e o locutor dos testes, Joseph, já me chamava no palco onde, geralmente,
um chefe dava suas ordens.
- Temos aqui, em primeiro lugar, Scarlet Hubber, da equipe de Brandon Lennon! -
ele pareceu se esquecer que eu estava totalmente ensopada, porque me abraçou assim
que cheguei ao palco - Parabéns, minha jovem, você ocupa o primeiro lugar, com 1000
pontos!
Mais palmas...
Confesso que odiava ser o centro das atenções, mas naquele momento eu me sentia
uma vencedora. As pessoas olhavam pra mim com admiração. Em um canto, eu conseguia
ver Levon, Emma, Brandon e Lisa. Eles estavam felizes por mim. Dei um sorriso ao
perceber aquilo.
- O que tem para dizer? - Joseph retomou minha atenção. Hesitei.
- Bom...nadar numa piscina de quarenta metros de distância em 20 segundos não é
fácil. Então, eu só queria tirar essa roupa molhada e tomar um banho quentinho
agora. - Eu disse, com um sorriso largo.
Todos riram.
- Ah, sim! Entendo que não tenha sido fácil. Mas antes do banho quentinho, não
vai querer receber sua medalha? - Disse ele, com um sorriso de olho a olho. - Ah, e
além disso, temos outros campeões aqui também. Venham Brandon, Lisa, Emma e Levon.
O prêmio também é de vocês!
Eles vieram, e todos bateram palmas. Joseph colocou uma
medalha no pescoço de cada um de nós e carimbou nossos crachás com um símbolo que
parecia uma coroa. O símbolo do primeiro ano de experiência e melhores
funcionários.
Foi exibido o placar de nossa equipe, comigo em primeiro lugar, Lisa em segundo,
Emma em terceiro e Levon em último.
- Ah, mais umas observações! Na primeira etapa a dupla de Levon e Lisa conseguiu
capturar 19 bonecos, mais da metade de todos os criminosos de madeira! - Não
exatamente, pensei. - Incrível! - Lisa e Levon sorriram. - E na segunda, as jovens
Emma e Scarlet capturaram trinta e três bonecos! Elas descobriram a brecha que
levava para mais de vinte e cinco deles. Magnífico! Uma salva de palmas à equipe de
Brandon, agora nomeada BSELL!
Todos bateram palmas.
Brandon
Scarlet
Emma
Lisa
Levon
A equipe perfeita. E agora essa equipe tinha um nome.

**** 6. COMEMORAÇÃO - C4|C1 ****


Etiqueta: Finalizado
Eram seis da noite e estávamos indo até minha casa. Resolvemos aproveitar o fim do
dia para comemorarmos o nosso avanço na ISD.
- À essa hora os hambúrgueres já devem até ter esfriado - Levon reclamou, apesar
do bom humor.
- Vê se para de reclamar pelo menos durante o resto do dia. - Emma disse, com um
sorriso no rosto.
- E nós já estamos chegando. - Brandon lembrou.
Virei a esquina e estacionei o carro na garagem de casa. Saímos e paramos na
porta. Percebi que estava sem as chaves.
- Mãe! Chegamos. - Gritei pela janela.
Depois de um tempo a porta se abriu, minha mãe estava à nossa frente, com um
sorriso de olho a olho.
- Entrem, fiquem à vontade! - Minha mãe os cumprimentou.
Abracei minha mãe e fomos até a cozinha para conversar.
- Pelo visto a prova foi melhor do que imaginei, não? - Ela falou, dando tapinhas
em meu ombro.
- Concerteza. Sua filha aqui ganhou em primeiro lugar, sabia? - eu disse,
sorrindo.
Minha mãe riu.
- Eu não duvidei disso, meu amor. Meus parabéns, você merece. Agora vai lá pra
sala se divertir com seus amigos, porque eu já tomei seu tempo.
- Ah, mãe, pare com isso! - Dei-a um abraço apertado. Fiz uma expressão,
demonstrando que queria ouvir ela falar mais.
- Hum. Você nem vai acreditar no que tenho pra contar. Para hoje só havia uma
entrega, mas logo quando cheguei para descansar, meu telefone tocou. E...adivinha?
- Olhei para ela, curiosa - Um salão de festas sugeriu a minha presença numa festa
ainda hoje, às oito! Agora eu sou uma doceira chique, sabia? - Rimos.
- Isso é incrível, mas...espera? Vai sair daqui a menos de duas horas e não está
arrumada? - Coloquei as mãos na cintura. Ela deu um risinho.
- Pois é...
- Aham. - Uma ideia me veio à cabeça - Lisa! Emma! Venham aqui. - Gritei.
Minha mãe fez uma cara de quem parecia não entender nada.
Elas correram para a cozinha, estavam um pouco envergonhadas. Era a primeira vez
delas em minha casa.
- Hoje temos uma modelo pra arrumar. Vamos caprichar!
Enquanto os meninos jogaram videogame, comemos os hambúrgueres, ao mesmo tempo
que arrumávamos minha mãe. Levamos pouco mais de uma hora, mas valeu a pena. Ela
estava linda.
- A senhora está incrível, mãe! - Elogiei. Ela estava com um sorriso largo.
- Muito, muito obrigada mesmo, meninas. Vamos fazer isso mais vezes! - Todas
rimos. - Mas agora eu preciso ir, já estou atrasada. Tchau, pessoal! - Ela acenou e
foi correndo para a porta. Depois pegou o carro e seguiu adiante. Eu estava muito
feliz por ela. Esse era, com certeza, um dos melhores dias da minha vida.

♧ Ficamos assistindo televisão enquanto comíamos o bolo de minha mãe que sobrara do
café da manhã. Lisa se levantou e parou em frente à TV.
- Ei, pessoal. Isso está muito chato, vamos animar um pouco, isso mais parece um
enterro do que uma comemoração.
- O que você sugere, então? - Levon perguntou.
- Vamos tirar fotos! - Emma pegou seu celular.
- Hum...eu... - Eu odiava tirar fotos, mas todos já haviam se levantado, apesar
de estarem olhando pra mim. Mudei de ideia - Tá bom, então. - Talvez seja bom
registrar o momento.
Até que foi divertido. Fizemos caretas, piruetas e cambalhotas mortais, e quase
querbramos a televisão, mas no fim tudo correu bem.
- Scarlet, você tem uma piscina aqui? - Levon perguntou.
- É...tenho, sim. Por quê?
- E nem avisou nada? Um calor desse e a gente aqui vendo televisão? Fala sério,
Scarlet. - Levon reclamou.
- Eu havia esquecido. E você nem tem o direito de se oferecer para entrar na
piscina da minha casa. Quem sugere isso sou eu, não você. - Todos nos encaravam. A
tensão se espalhou pela sala. Dei um sorriso. - Estão esperando o quê? A piscina
está ali, é só entrar.
Todos rimos e a tensão foi embora. Colocamos uma roupa mais adequada para a
ocasião e entramos na piscina.
Minha mãe já havia chegado fazia tempo quando saímos da água. Conversei um pouco
com ela e logo depois fomos todos dormir.

**** 7. SONHO 2 - C4|C1 ****


Etiqueta: Finalizado
Eu estou brincando na cozinha, minha mãe está preparando o almoço. Meu pai está no
sofá.
Escuto um barulho e olho para a janela. Duas bombas. De repente não consigo ver
mais nada. A dor forte na cabeça. A porta sendo arrombada. Recupero minha visão.
Meu pai está sendo carregado à força por dois homens. Minha cabeça doendo. Minha
mãe gritando o meu nome.
Scarlet! Scarlet! Vamos, você consegue!
Escuridão me envolve.
Depois tudo clareia. Estou no carro, no colo de minha mãe, ela me chama várias
vezes. Minha cabeça latejando.
Scarlet, você consegue, filha.
Meu olhos se fecham.
Vamos, Sca...
Abro os olhos. Estou em uma maca. Médicos correndo de um lado para o outro. Fecho
os olhos novamente.
Pisco lentamente e vejo minha mãe. Ela está na minha frente.
Oi, meu amor, é mamãe. Está tudo bem. Levanto rápido da cama e começo a correr.
Estou quase saindo do hospital, quando alguém agarra meu braço...

**** 8. DESABAFO - C4|C2 ****


Etiqueta: Finalizado
Acordei. Minha respiração acelerada.
Caramba! De novo esse sonho.
Mas até hoje, ele nunca continuou no momento em que eu estou no carro. Nunca. Por
quê?
Olhei o relógio. Três da manhã. Ainda estava ofegante.
Olhei para os meus amigos. Estavam dormindo. Era o que parecia, pelo menos.
Minha garganta estava seca, precisava de um pouco de água. Desci as escadas e fui
até a cozinha. Peguei um copo, enchi de água e bebi. Ainda podia sentir o
desespero, igual ao do sonho. Podia sentir a dor. Sem saber exatamente o motivo.
Escuto um barulho.
- Mãe? - Chamei, mais como um sussurro. Ninguém responde.
- Mãe. - Chamei um pouquinho mais alto. Nada.
Fui até o seu quarto, onde as luzes ainda estavam acesas. Ela estava sentada na
cama, com fones de ouvido. Arregala os olhos ao me ver. Eu mal tinha percebido que
meu olhos estavam marejados.
- Meu amor, aconteceu alguma coisa? Está tudo bem? - Em um segundo ela já estava
na porta, à minha frente.
Encaro ela. Eu estava sofrendo em meu sonho. Eu sabia disso. Eu podia sentir.
- Todos os dias...durante dez anos. Todos os dias, eu sonho com meu pai. Nesse
sonho ele estava sendo carregado... por dois homens. - Lágrimas escorreram de seus
olhos. - Alguém jogou uma bomba em nossa casa. Tudo escureceu e de repente
estávamos em um carro. A senhora...a senhora gritava. Eu parecia estar... morrendo.
Eu fechei os meus olhos e tudo acabou. Durante dez anos, eu acordei com essas
coisas na minha cabeça. O sonho...ele sempre foi o mesmo. Até hoje. Porque dessa
vez, eu abri os olhos. E eu estava numa cama de hospital e a senhora estava ali,
dizendo coisas, e de repente eu... saí correndo. E quando estava perto de sair do
hospital, alguém agarrou meu braço. E tudo...acabou. - Fechei os olhos e as
lágrimas caíram.
Minha mãe me abraça.
- Calma, filha. É um pesadelo. Uma hora passa. Mamãe está aqui, está tudo bem.
- Eu sofria, mãe.
- Ah, meu amor...
Enxuguei as lágrimas.
- Qual é nome dele?
- O quê?
- O meu pai. Qual é o nome dele?
- Filha...
- Por favor, mãe. - disse em um quase sussurro.
- Eu já falei, filha, eu não quero que você se arrisque. - Me afastei dela - Sim,
eu sei, você pode acabar descobrindo sozinha, mas por mim não vai ser,
porque...porque se alguma coisa acontecer com você, eu nunca vou me perdoar.
- Obrigada, mãe. Eu te amo muito. Mas eu também amo o meu pai, preciso saber onde
ele está.
- Eu te amo muito filha, e também amo muito o seu pai. Mas tudo tem seu tempo.
Ficamos em silêncio. Nós nos abraçamos.
- Mãe?
- Sim?
- Sabe onde ele está, não sabe?
- Eu... Um dia eu vou encontrá-lo, embora demore, mas um dia eu vou.
- Vamos encontrá-lo agora, mãe. Juntas.
- Não, meu amor. Tudo no seu tempo.
- Tudo no seu tempo. Eu vou encontrá-lo.
Minha mãe chorou, mas minhas lágrimas já haviam secado minutos atrás.
- Vou pro quarto. Até amanhã.
- Boa noite, minha filha. Estou aqui para o que precisar.
Assenti.
Fui para o quarto na pontinha dos pés, evitando acordar alguém. Havia apenas uma
cama no quarto. Emma e eu dormimos nela, uma em cada ponta. Lisa, Brandon e Levon
dormiram no chão mesmo. Sentei na cama.
- Pesadelos? - Dei um pulo antes de perceber que era Brandon.
Olhei para baixo. Ele estava sorrindo.
- Mais ou menos. Talvez pior que isso. Eu fiquei com medo.
- Já devia se acostumar, pesadelos fazem parte da vida.
- Hum. Já me acostumei. Na verdade, acho que qualquer um se acostumaria com um
sonho que tem todos os dias durante dez anos. - Sussurrei.
- Dez anos? - Brandon parecia surpreso.
- Sim.
- Sobre o quê é?
- Meu pai... - hesitei, mas ele sabia do que eu estava falando. Todos os meus
amigos sabiam que meu pai havia desaparecido.
- Ah, sim... - ele se sentou no chão. - Não precisa contar, então. Imagino que
não seja muito agradável ficar falando sobre isso.
- Não. Adoro falar sobre o meu pai, mas fico chateada por ele não estar aqui.
Saí da cama e sentei no chão.
- Entendo. - Sim, é claro que ele entende. O pai dele morreu há pouco mais de um
ano. Eu havia acabado de conhecer Brandon quando soube. Mas é diferente quando você
sabe que o seu pai pode estar em qualquer luga e você não pode ir até ele.
- Sim, entende.
Ficamos em silêncio. Estávamos pensando em nossos pais. Pessoas que tanto amamos.
De repente algo se agita dentro de mim. Esperança.
Antes que eu me desse conta, as palavras saíram da minha boca.
- Vou encontrá-lo. Meu pai trabalhou na ISD, conheceu muitas pessoas. Talvez se
perguntássemos para as pessoas velhas... - Brandon balançou a cabeça e riu. - Que
foi? Ah, vai... Não vai negar que tem pessoas velhas lá. Talvez um dia até outra
pessoa vá se referir a nós como velhos, e não temos culpa. Faz parte da vida.
- Sim. Agora continue com o seu plano. Você parou nas pessoas velhas. - Rimos.
- Shh! - coloquei um dedo nos lábios - Retomando...vamos falar com as pessoas
velhas da ISD e perguntá-las sobre alguém que dizia ter uma filha Scarlet, ou com o
sobrenome Hubber. Quando aparecer o Hubber, vamos ver um pouquinho da sua vida. Até
descobrimos o cônjuge e a filha. Depois disso, localização. E enfim, achamos.
- Você falando desse jeito, parece até fácil.
- Triste que só pareça.
- Quando começamos?
- Hoje, no horário de almoço.
- Ótimo, agora eu vou dormir.
Voltei para a cama e Brandon deitou de volta no chão. Fechei os olhos e adormeci.

**** 9. DESCOBERTA /1 - C5|C1 ****


Etiqueta: Revisar
Passamos praticamente o dia inteiro ouvindo e analisando depoimentos na agência, e
já era noite. Mas eu ainda pretendia conversar com eles sobre o meu pai, e quando
finalmente terminamos o que tínhamos para fazer, fui até eles.
- Que eu quero encontrar meu pai vocês já sabem, mas para isso, preciso descobrir
o nome dele, e pelo visto não vai ser tão fácil. - disse, sem encará-los.
- Como vamos fazer isso? - Lisa perguntou, franzindo a testa. Era muito bom saber
que podia contar com eles.
- Meu pai trabalhou na ISD, conheceu várias pessoas. E algumas delas ainda podem
estar aqui, podemos perguntar. Acho impossível ele não ter comentado uma vez sequer
que tinha uma filha. Alguma coisa eles sabem.
- Mas para quem vamos perguntar? - Emma questionou, fazendo uma expressão
pensativa.
- Talvez nós possamos ter acesso à lista de pessoas que trabalham aqui há um
tempo. - Brandon disse.
- É verdade. Emma, pode fazer isso?
- Claro.
- Sim. - De repente me dou conta de que está tarde e estamos todos cansados, e eu
não poderia dá-los esse trabalho agora, parecia injusto. - Obrigada, mas podemos
fazer isso depois, vão para suas casas e descansem.
- Eu não quero - Levon me encarou com um olhar de desafio.
Levantei uma sobrancelha.
- Então não vá. - Eu disse, revirando os olhos.
- Você me entendeu, Let. - Levon levantou da cadeira - Vamos te ajudar.
Dei uma risada sarcástica.
- Você está bem? - Era realmente surpreendente que ele falasse aquilo. Todos ali
estavam tão supresos quanto eu. - Não vamos fazer nada disso agora, vocês
trabalharam muito hoje e o pai que estamos procurando é meu, não de vocês. Não
posso envovê-los nisso.
Levon senta na cadeira novamente.
- Amigos servem pra ajudar. Estamos aqui para isso, Scarlet. Sabemos que faria o
mesmo por nós. - Emma disse em um tom carinhoso. Desde que a conheci, ela fora
gentil comigo. Já havíamos conversado uma vez sobre sua vida antes da agência. Ela
sempre quis fazer com que os familiares e amigos tivessem orgulho dela, mas nunca
demonstraram. Ela comentou sobre ficar triste com isso mas, mesmo assim, seguiu em
frente. Eu a admiro, e tento frequentemente entender como há pessoas que não o
fazem.
- Obrigada. - Todos me deram um sorriso. - Vou para casa.
- O quê!? - Lisa franziu a testa, surpresa. - Você acabou de ouvir o que Emma
falou e simplesmente diz "Vou para casa"? - Ela consultou o relógio em seu pulso.
- E você acabou de verificar a hora, sabendo que faltam menos de dez minutos para
a agência fechar e simplesmente acha que vamos conseguir perguntar a alguém sobre
meu pai?
- Scarlet...
- Lisa, só há faxineiros aqui.
Levon soltou uma gargalhada.
- Então vamos para casa, meu amigos, porque eu realmente não quero ser confundido
com um faxineiro. - Todos olhamos para ele, sérios. Ele se ajeita na cadeira. -
Odeio admitir isso, mas Scarlet está certa, vamos para casa e descansar. Sei que
não sou o único aqui com as costas doloridas.
Peguei minha mochila e saí da sala de reuniões. Quando entrei no elevador,
percebi que eles haviam me seguido e entraram juntos comigo.
- Nos vemos amanhã.
Saí do prédio e entrei no carro. Coloco o cinto de segurança e ponho as mãos no
volante, mas fico parada.
Será que vou conseguir? Como vou chegar do nada e perguntar para alguém se
conheceu o meu pai? Estou sendo impulsiva?
- Calma, está tudo bem. Está tudo bem. - Sussurrei, com os olhos fechados. Apoiei
a cabeça no volante. Meu telefone vibrou. Uma mensagem da minha mãe.
Filha, está tudo bem?
Respondi com um "Sim. Estou a caminho."
Liguei o carro e segui em frente.
Quando cheguei em casa, as luzes já estavam apagadas. Fui ao quarto de minha mãe
antes de ir direto para o banheiro.
Depois de tomar um banho, pulei na cama. Eu estava animada para encontrar meu
pai. Não podia esperar até o dia seguinte.
Peguei meu celular.
"Lista de agentes da ISD".
Pesquisei no Google.
Apareceu um site, que parecia oficial e realmente era.
Eles exibiriam fácil assim os agentes?
Para entrar no site eu precisei colocar o meu ID da agência, nome completo, número
de telefone e o nome da minha equipe.
Se eu soubesse o quão fácil era aquilo, teria o feito antes. Como eu não havia
pensando nisso?
Apareceram muitos nomes. Milhares. Quando cliquei em um, pude ver seus anos
de experiência na empresa. Mas nada além disso.
E era só o que eu precisava.
Depois de achar alguns agentes que trabalham lá há mais de dez anos, anotei seus
nomes. Eu iria bater um papo com eles no dia seguinte.
Talvez eu não estivesse tão longe de encontrá-lo. Esperança cresceu em meu peito.
Naquele momento, eu ansiava pelo amanhã, mas não conseguia dormir. Me dei conta de
que estava com um sorriso no rosto.
- Chega, Scarlet. Vá dormir. - Falei para mim mesma, afundando minha cara no
travesseiro, abafando a minha voz.
Levantei da cama e, pela janela, encarei o céu estrelado.
Depois de refletir por alguns minutos, fui em direção à cama. Em seguida, ajeitei
o travesseiro e deitei. Os olhos ainda abertos. Sem notar, eu adormeci.

**** 10. ZOEIRA ****


Abri a porta com força e procurei por Brandon. Entrei no cômodo, fechando-a em um
baque.
Raiva e ódio pulsavam em mim. Era como se minhas veias transportassem fogo em vez
de sangue. Meu coração batia forte e rápido.
De repente escuto um barulho. Mas não vejo ele.
- Brandon - chamei.
Nada.
- Brandon! - Chutei uma cadeira.
Atravessei o cômodo, indo em direção à cozinha, quando bato com a cara em alguma
coisa.
Estava cara a cara com Brandon. Não olhei, mas pude sentir suas mãos agarrando
meu braço, que ele acariciou levemente. Seus olhos estavam arregalados. Ele me
fitava, como se estivesse conferindo algo.
- Brandon! - gritei, na mesma hora em que ele gritou o meu nome.
Nos afastamos.
Meus olhos deviam estar selvagens, a julgar pelo modo como ele me olhava.
- Por que fez isso? - eu disse, num tom de voz baixo.
- Não é o que você está pensando...
Coloquei a mão na testa. Minha cabeça girava.
- Por quê, Brandon!? - levantei a voz -Eu esperava isso de qualquer um. Qualquer
um, Brandon, menos você!
- Let...
- Não me chame assim!
Olhei para ele, e percebi que meus olhos estavam marejados. Entre tantas pessoas,
por que ele?
Me dei conta de que estávamos na cozinha. Olhei em volta, como se pudesse achar
uma resposta para aquilo tudo.
- Brandon, eu...eu sempre confiei em você. Eu duvidei de todo mundo, menos você.
O que aconteceu? O que aquele cara fez? O que ele te ofereceu? Dinheiro?
- Para, Scarlet! Nos conhecemos há tanto tempo e você acha mesmo que eu seria
capaz disso? - Brandon gritava.
- O quê!? - eu disse com escárnio. - Você foi até o cara que matou o meu pai e
faz um acordo com ele contra mim. O que você quer que eu pense de você?
- Depois que você voltou ferida, quando se meteu numa confusão com Wallin, Emma
me avisou que você voltaria pro departamento dele. E, acredite, aquele cara é muito
pior do pensamos, e eu não podia deixar você ir até ele, porque ia acabar morta! -
ele se aproximou - Eu não duvido que você possa acabar com qualquer um, se quiser.
Mas isso não pouparia você de voltar machucada. Você estava com raiva, magoada;
estava tomada por um fogo, uma disposição... E só Deus sabe como você não explodiu
aquele prédio inteiro. Você estava imparável, você iria até aquele canalha e a
única forma de ele não te machucar foi fazendo um acordo. Eu negociei com ele e
garanti que pararíamos de investigar, assim ele não iria matar você e quem você
ama. Eu sei que não foi legal, mas eu não suportaria te ver machucada! Que droga,
Scarlet!
Ele estava muito próximo de mim, bastava mais um pouco para tocá-lo. Eu olhava no
fundo de seus olhos, e podia ver a verdade neles.
A proximidade, o olhar, a voz e o calor de seu corpo acenderam uma faísca em mim.
E algo - que não sabia exatamente o que era - tomou conta de meus pensamentos. Mal
tinha percebido que suas mãos estavam uma de cada lado do meu corpo, apoiadas sobre
a bancada da cozinha. Eu pude sentir fogo em meus olhos, e os de Brandon estavam
selvagens - mais ainda do que os meus, minutos antes.
- Eu odeio você! - gritei. A raiva pulsando em meus ouvidos.
Brandon balançou a cabeça.
- Não, não odeia.
Me afastei enquanto ele tentava se aproximar, e me dei conta de que estava
andando de costas pela cozinha, procurando por uma faca.
Senti minha mão tocar o cabo de um talher, e imediatamente o puxei, na esperança
de ser algo que cortasse.
Olhamos para o objeto em minha mão, e percebo que acertei em cheio. Era uma faca.
Dei um golpe com o cotovelo no rosto de Brandon, e ele segurou minha mão antes
que eu pudesse dar outro. E então agarrou meus dois braços, me virando de costas
pra ele. Minha faca estava no chão.
- Você não quer fazer isso, Let - ele sussurrou em meu ouvido.
Pisei com força em seu pé, me soltando e correndo em direção a faca, ciente de
que ele poderia estar com uma. Estávamos numa cozinha, afinal. Mas então percebo
que a faca estava embaixo da geladeira, e não havia outra tão perto.
Brandon vinha em minha direção, e quando estava próximo o suficiente, peguei um
copo e o acertei na cabeça, provocando um corte em sua têmpora e outro em minha
mão. Empurrei-o até a parede, enquanto procurava outra faca. Em um instante já
tinha uma em minha mão. Eu estava confiante.
Me aproximei e pressionei a faca contra seu pescoço, enquanto minha mão livre
segurava seu braço, e sua mão esquerda lutava para que minha faca não afundasse em
seu pescoço. Forcei mais a lâmina, mas Brandon era mais forte. Minhas mãos
fraquejaram um segundo, e antes que eu pudesse perceber, uma de suas mãos estavam
em minha cintura, me erguendo do chão. Eu estava em seu ombro. Seria fácil dar um
golpe com a faca, mas minhas mãos travaram. Eu não conseguiria. Brandon sabia
disso. Meu ódio aumentou.
Larguei a faca, numa suposta tentativa de paz, e ele me largou, fazendo com que
minhas costas batessem diretamente no chão. O impacto me arrancou um gemido de dor.
- Chega, Scarlet - Brandon disse, enquanto tocava de leve o corte em sua têmpora.
Quando finalmente consegui levantar, peguei uma cadeira e joguei-a na direção
dele, que desviou.
Minhas costas doíam e minhas pernas estavam tremendo, o que me deixava mais
lenta.
Mas não desisti.
Peguei a faca e corri em sua direção.
- Argh - ele segurou meus braços um segundo antes de levar uma facada em seu
peito. Forcei mais, o que foi inútil.
- Você não quer me matar, Scarlet. No fundo, você sabe que eu estou falando a
verdade.
Ele estava muito próximo de mim. E estava certo. Fitamos o olhar um do outro. Uma
chama intensa pendia sobre nós. Eu não iria conseguir ferir ele.
- Eu odeio você. Odeio - sussurei.
- Uhum - ele disse, e percebi que estava olhando para minha boca.
Ele agarrou a faca em minha mão e a jogou para longe. E sua boca veio com força e
vontade sobre a minha. Sua mão estava em minha cintura, enquanto a outra segurava
meu rosto, provocando um arrepio súbito em meu corpo. Sua língua roçou a minha, me
fazendo morder seus lábios de leve.
Então sinto suas mãos descerem até pararem em meu quadril, me erguendo e pondo
sobre a bancada da cozinha.
Não hesitei. Sem interromper o beijo, levei minha mão até a bainha de sua camisa,
e senti seu corpo se contrair ao toque quando levantei-a um pouco, acariciando com
o polegar o seu abdômen.
Ele me segurou com mais força, a ponto de doer. Então suas mãos se afastaram, e
num segundo a minha jaqueta estava no chão, enquanto sua boca deixava rastros de
calor em meu pescoço, me provocando arrepios.
Então o afastei e tirei sua camisa, e senti um arrepio percorrer seu corpo. Seu
abdômen era esculpido em músculos, e tudo o que eu queria naquele momento era
sentir o calor do corpo de Brandon. Agarrei seu cinto e o puxei para mais perto. E
sua boca veio de encontro a minha. A nossa respiração entrecortada, tomada por
desejo.
Então ouvimos um estrondo e a porta da sala se abriu.
O momento foi quebrado.
Olhamos para a entrada da cozinha e ali apareceram Emma e Levon, que começou a
gargalhar.
- Isso aí são vocês se resolvendo? - ele disse.
Olhei para Brandon, que já me encarava. Então ergueu o canto da boca em um
sorriso. Resisti a tentação de trazer ele para mais perto. Mas ele pareceu se dar
conta de que estava sem camisa, e resolveu se afastar para que eu pudesse descer da
bancada.
- Nós não terminamos. - Mas eu estava falando do que fui fazer ali, não do que
realmente havia feito. Ou começado a fazer.
Estão desci da bancada, ciente dos olhares em mim. Mas Brandon não se afastou
muito, ele continuou em minha frente, com um olhar indescritível. Seus olhos ainda
estavam selvagens.
E quando comecei a me afastar, ele agarrou meu braço, e automaticamente senti
arrepios percorrerem todo o meu corpo.
- Se quiser, depois podemos continuar a conversa - ele sussurrou, erguendo o
canto da boca em um sorriso.
Eu não conseguia entender como chegamos aquilo, depois de tudo o que aconteceu.
Ele queria me proteger, mas podia ter agido de outra forma. Agora eu teria que
resolver aquilo, e sabia que podia contar com ele.

♤ - Beleza, estamos indo embora, precisamos fazer uns trabalhos. Vemos vocês mais
tarde. - Emma disse.
- Isso aí, e vejam se não perdem o juízo. - Levon falou, dando uma piscadela para
Brandon. - Ou melhor, as roupas.
Todos riram, menos eu.
- Fica na sua, Levon, você entendeu tudo errado, então não se intrometa - eu
disse, por mais que estivesse constrangida com o comentário dele.
- Hoje ela está estressada. Mas rapidinho Brandon dá um jeito, não é, amigão?
Levantei uma sobrancelha para Brandon, que parecia esconder um sorriso. Eu não
tinha nada com ele, o que aconteceu foi sem querer, mas eles pareciam não entender
isso.
Talvez nem eu entenda.
Joguei uma almofada na cara de Levon.
- Está bem. Parei - e enfim fecharam a porta.
Encarei Brandon. Faziam uns dois meses que não ficávamos sozinhos. E as memórias
da última vez que nos vimos me veio à mente todos os dias. E agora meu rosto
esquentava por lembrar disso enquanto ele me olhava. Mas eu não posso negar que ele
parecia ter o mesmo pensamento. O mesmo... desejo.
Fechamos, ao mesmo tempo, os nossos punhos. Levantamos do sofá.
Apesar de estarmos em lados opostos da sala, fomos rápidos. Não havia muito
espaço entre nós. Percebi uma pequena cicatriz em sua boca, provavelmente ainda do
dia em que tentei matá-lo. Não faltava muito pra tocar a minha boca naquela
cicatriz. Me afastei.
- Ainda não terminamos aquilo - eu disse, fingindo não pensar na última vez que
toquei ele, em que nos tocamos -. Eu não quero discutir, e fique tranquilo porque
eu não vou tentar te matar - Brandon riu -, mas agora preciso arrumar um jeito de
voltar atrás naquele seu acordo. Mas sem discussão. Sem brigas. Isso nunca acaba
bem.
- Bom, na última vez que discutimos não acabou tão mal. Acabou?
Enquanto eu lutava pra tirar isso da cabeça, ele me lembrava...
- Brandon, não faz nem 5 minutos que eu falei que não ia tentar te matar. Eu não
gosto muito de quebrar promessas, então colabore.
Brandon riu, mas parecia feliz de verdade.
- Pelo menos dessa vez as facas estão longe.
- Por quê? Não se garante de que conseguiria arrancar ela da minha mão e jogá-la
no chão?
- Talvez não. Mas me garanto de que aconteça o que aconteceu depois disso. - ele
estava se referindo ao beijo e... a todas as outras coisas.
Meu fôlego sumiu. Minha língua travou, minhas palavras sumiram. De repente meu
coração acelerou. E esqueci do que estava a nossa volta.
- Você sabe que existe outras formas de matar sem uma faca, não sabe? -
provoquei, mas ele sabia que eu estava sem argumentos.
- Estamos sozinhos aqui. Por favor, não me assuste - ele riu, brincando.
Estávamos mais próximos. Bem mais próximos.
- Está com medo de mim?
- Estou com medo de mim, não de você.
Eu entendi o que ele quis dizer. Ele não se importava mais. Ele não conseguia
esconder a fome em seus olhos. E aquilo era contagiante. Aquela noite não podia
acabar da mesma forma que antes. Eu tinha que me controlar.
- Garanto que Levon e Emma iriam chegar numa boa hora da conversa. - eu disse.
Ele deu um sorriso malicioso.
- Você quer conversar?
- Você quer? - eu também podia fazer aquele jogo idiota.
Ele olhou para meus lábios, e fiz o mesmo com ele. Eu não ia me deixar levar,
disse para mim mesma. É só uma brincadeira. E ele pareceu ler meus pensamentos.
- Você está brincando com fogo.
- E você está brincando com um incêndio. - eu disse, satisfeita por arrancar um
sorriso dele.
Estávamos perdendo tempo. Então tinha que parar com aquilo. Me afastei e fui até
o quarto.
Quando cheguei na sala, estava com uma arma em punho e podia jurar que ele se
assustou. Talvez estivesse pensando que eu fosse quebrar a minha promessa.
- Posso saber por que está com medo? - provoquei.
- Eu não sei o que você vai fazer, mas te conheço o suficiente para saber que não
é uma coisa lá muito legal.
- Eu acho super divertido.
Eu estava arrumada com o uniforme. Era óbvio que eu iria sair. E ele sabia que eu
iria começar outra briga com Wallin.
- Vou...
- Não, Scarlet - ele confirmou minhas suspeitas.
- Não é nada demais. Só vou reduzir um pouquinho os gastos dele com agentes.
Ele estava à minha frente agora, faltava pouca coisa para que nos tocássemos.
- Scarlet, vá dormir. Faça isso outro dia.
- Senão o quê?
Ele agarrou meus braços, pressionando-os com uma força que chegava a doer. Me
obrigou a andar, até colidir com uma parede. Minha respiração começou a acelerar.
Seu rosto estava a milímetros do meu.
- Vai arriscar? - ele passou a mão pela minha e pegou a arma.
- Vai negar que eu não vou dar um chute entre as suas pernas, pegar a arma de sua
mão e sair daqui em menos de cinco segundos?
Seu braço estava ao lado de minha cabeça, apoiado na parede. Ele estava me
prendendo, arrumando uma desculpa para eu não ir atrás de Wallin.
- Acha mesmo que eu não vou fazer você mudar de ideia?
- Você não é assim. Relaxa aí, Brad - ele estava tão próximo que eu mal conseguia
respirar. Não havia outra coisa que pudesse dizer, ou não veio nada na minha mente.
- Quem está nervosa é você, Let.
Dei um chute entre as pernas dele, peguei a arma de sua mão e saí do apartamento.
Contei no relógio 3,14 segundos. Atingi o recorde. Me senti orgulhosa de mim mesma.
Eu sabia que Brandon iria atrás de mim. Então, quando peguei a arma de sua mão,
puxei a chave do cinto dele e tranquei quando saí. Ele ficaria preso. Mas não tinha
tempo para isso agora.
Chegou a minha hora. Hoje nem vai ser nada demais. Vou matar, no máximo, uns 10
capangas de Wallin.

♧ Eram 07h45 quando cheguei no apartamento. Quando abri a porta, dei de cara com
Brandon.
- Onde você estava, Scarlet? - ele perguntou. Parecia cansado.
- Não é da sua conta. Eu te disse ontem o que ia fazer.
- Até que enfim chegou a madame! - Levon reclamou - Perdemos a chave ontem e
tivemos que entrar pela janela porque você estava com as chaves e trancou Brandon
aqui.
Joguei as chaves em Brandon. Mas ele pegou antes que atingisse seu rosto.
- Você está bem, Scarlet? - Emma perguntou.
- Estou.
Ela e Levon falaram mais alguma coisa, mas fingi não ter ouvido e fui até o
quarto tirar aquela roupa da saída. Estava suja.
Tirei a jaqueta e os sapatos, que deram muito trabalho. Momentos antes de tirar
por completo a minha blusa, me deparei com Brandon no batente da porta.
Revirei os olhos, mas antes que fizesse isso, percebi que ele me olhava do mesmo
jeito de dois meses atrás. Parei o movimento.
- Sai daqui. Eu odeio você, Brandon.
- Uhum.
Parei e encarei ele.
Flashs da última vez em que coloquei uma faca em sua garganta pairaram sobre nós.
Mas ele saiu antes que seja lá o que for pudesse acontecer.
Fui para o banheiro e tomei um banho gelado. Quando terminei, fui até a sala e
expliquei a eles o que havia acontecido.
Eles pareceram ter gostado da parte em que escrevi uma mensagem pelo telefone de
um dos capangas para Wallin, que dizia "
" Não costumo quebrar promessas, mas acho que os costumes não importam pra você,
importam?"

♧♧♧
Estávamos livres de trabalho e de qualquer outra coisa, então hoje seria só
curtir e aproveitar a vida. Eu estava ignorando Brandon haviam dois dias, mas ele
não demonstrou raiva de mim. E talvez seja imaturo ficar fazendo isso. Eram 05h36 e
estavam todos dormindo. Então resolvi dar um passeio pelo bairro.

♧♧ Quando cheguei no nosso apartamento, não havia ninguém lá. Então dei de cara
com Brandon na portaria. Levon e Emma haviam saído. Subimos juntos até o
apartamento, e eu não disse nada. Mas então resolvi parar com essa infantilidade.
- Eles estão bem saidinhos ultimamente, não? - perguntei.
- Sim, estão.
Me virei para ele e o encarei. Aquela droga de olhar, de novo.
- Argh, eu te odeio tanto - eu disse, enquanto tentava destrancar a porta, com as
sacolas de compras me atrapalhando.
Brandon riu, e foi se aproximando de mim, percebi. Meus batimentos cardíacos
estavam começando a se apressar. Então consegui abrir a porta.
- Vamos brincar - sugeri, assim que chegamos na cozinha.
- Brincar?
- Sim, vamos lutar. De brincadeira, claro.
Brandon riu.
- Não acho que seja muito uma brincadeira.
- Na realidade não é. Mas quero arrumar um motivo pra dar um soco na sua cara.
Então coloquei as compras em cima da bancada, e abri um pacotinho de frutas.
Brandon me encarou, dessa vez com os olhos meio inexpressivos. Ele parecia não
entender. Então veio para trás de mim e pegou uma uva do pacote.
- Tá bom, Let - ele sussurrou em meu ouvido. Ele sabe o quanto odeio que me chame
assim.
Dei-lhe um golpe na barriga, me virando rápido. Segurei a gola de sua blusa,
empurrando Brandon até uma parede mais próxima. Com o braço em seu pescoço, eu
disse:
- Eu odeio você. E isso nunca vai mudar. E também não me chame assim.
Não me dei conta do quão próximos estávamos. E no quanto nossa respiração estava
acelerada.
- As coisas mudam, não? - ele provocou.
- Algumas, e geralmente para pior.
- É, mas precisamos conversar, como você mesma disse. Agora temos a oportunidade.
Ou prefere brincar de lutinha?
Pressionei meu braço com mais força, fazendo-o tossir.
- Você quer conversar? - Agora era a minha vez de provocar.
Brandon não diz nada, apenas me encara com um olhar que me faz corar, então acho
que acabou a discussão, então soltei Brandon e me afastei, numa tentativa de
esconder minhas bochechas rosadas. Vou em direção à bancada, e estamos num silêncio
completamente perturbador. Antes que eu pudesse me virar para dizer algo, Brandon
me puxa pela calça. O movimento foi tão rápido, que só depois me dei conta de que
estava cara a cara com ele. Sua estrutura firme e forte estava contra a minha,
fazendo eu me sentir pequena. Muito pequena. Seu olhar enviou faíscas por todo o
meu corpo, me fazendo tremer da cabeça aos pés. Ele sabe. Ele sabe o que faz
comigo.
De alguma forma, e eu não sei qual, estávamos na sala. O silêncio persistia, e as
vozes na minha cabeça eram tão altas que eu temia que Brandon pudesse ouvir. Claro.
Nós sabíamos o que íamos fazer. Não é nenhum segredo. Eu não sei como, mas consegui
pronunciar as palavras.
- Emma e Levon... - Começo a falar, mas ele me interrompe com um sorriso maroto
nos lábios.
- Eles não vão voltar agora, Scarlet.
Colidi com a mesa de centro. E Brandon estava tão próximo que eu fui obrigada a
sentar na mesa. E então ele parou. Só havia o som de nossa respiração ofegante.
Brandon se aproxima, e seus lábios estão perto da minha orelha.
- No que está pensando?
Sinto sua respiração entrecortada aquecer meu pescoço. Ondas de arrepios me
percorrem, e não consigo evitar fechar meus olhos.
- Estou pensando no quanto odeio você, Brandon Lennon. - Abro os olhos, as
palavras saindo da minha boca como um sussurro.
Ele dá um sorrisinho e se vira para me encarar. Seu rosto próximo, muito próximo
do meu. Cada um de seus braços estão de um lado do meu corpo, me prendendo.
- Jura? - Ele pergunta.
Não.
- Sim - olho para seus lábios. - O que você quer, Brandon?
Ele chega mais perto e há milímetros nos separando.
Seus olhos traçam a linha dos meus lábios.
- Se você soubesse, Scarlet.
Brandon acaba com nossa distância com um beijo. Seus lábios são tão macios.
Suaves. Sinto uma onda de vibrações chegar ao meu corpo e meus sentidos estão em
voltagem máxima. Sua língua roça na minha, e Deus, ele faz isso tão bem.
É um beijo suave. Sem desespero. Sem mágoas. Só há Brandon e eu. Quando ele se
afasta, abrimos nossos olhos ao mesmo tempo. O canto da sua boca se ergue em um
sorriso, e seu olhar percorre cada centímetro do meu rosto. Sinto minhas bochechas
corarem de desejo. É óbvio. Está na cara o que eu estou pensando. E, droga, ele
sabe direitinho ler meus pensamentos.
Suas mãos estão em meu quadril, me empurrando e fazendo deitar na mesa. Seu corpo
sobre o meu. Nossos lábios se encontram, dessa vez mais famintos, mas ao mesmo
tempo calmo, lento. Sinto suas mãos descerem e pararem no botão da minha calça.
Batidas na porta.
- Brandon! Scarlet! Abram a porta. - Ouvimos a voz de Emma.
Nos encaramos. Ele se afasta, mas afastamento é a última coisa que eu quero
agora.
Agarrei sua calça e o puxei para perto. Então peguei a chave em seu bolso, e uma
risada escapou de seus lábios. Aquele sorriso. Tão lindo. Tão encantador.
Antes que eu pudesse pensar, minha boca tocou a sua e me aproximei um pouco mais.
Nossos quadris se tocando. Entrelaço minhas pernas ao redor de sua cintura e faço
um gesto indicando que me leve até a porta.
Íamos mesmo fazer isso.
Destravo a porta sem nem olhar para ela, concentrada apenas nos lábios de
Brandon.
Quando a porta se abre, ele afasta seu rosto do meu, mas continua me segurando
firme em seus braços.
- Fomos comprar doces, porque a gente... - Levon se atrapalha e arregala os olhos
assim que nos vê. Estávamos completamente vestidos, mas essa não é uma posição em
que amigos ficam.
Brandon solta uma risada enquanto ajuda Emma com as sacolas, e está me firmando
em si apenas com um braço. As vezes me esqueco do quão forte ele é.
Me assusto comigo mesma por não sentir vergonha alguma. E é algo bom, eu acho.
Quando eles terminam de colocar as compras na mesa, Levon começa a falar.
- Bom, eu nem queria falar nada, mas vocês dois não precisam sair por aí
mostrando que não estão solteiros e esfregando isso na nossa cara - Ele faz um
gesto entre Brandon e eu - E nem vem querendo se exibir porque eu não estou
solteiro, não é, Flor? - Arregalamos os olhos diante da surpresa. Eu já sabia, mas
falando assim é meio chocante.
Ele puxa Emma pela cintura e lhe dá um beijo. Na boca.
Brandon e eu levantamos as sobrancelhas. Emma dá um sorriso. Mando Brandon ir até
os copos, e encho-os de água. E sim, ainda estou em cima de Brandon.
- Surpreendente. - Digo, fazendo uma expressão de surpresa.
Viro o copo e bebo com vontade.
- Além disso, ninguém quer ver suas relações sexuais, Brandon - Levon diz, ainda
abraçando Emma.
Engasgo antes de começar a rir. Brandon não gostou, mas não consegui segurar a
risada. Bato a mão contra meu peito, para tentar fazer a água descer. Pigarreio.
- Nós não estávamos... - Eu começo a falar, mas Brandon me interrompe com um
beijo.
- Então saiam daqui - Ele diz, sem se afastar. E sorri, ainda com a boca
encostada na minha.
- Mais que baixaria, hein, pombinhos. - Levon diz, pegando Emma no colo e indo
até o quarto.
Emma acena para mim e faz um gesto de incentivo. Odeio isso, mas faço o mesmo.
Brandon me coloca sobre a bancada da cozinha, e me surpreendo, pois ele sequer
ofega, mesmo depois de um bom tempo me carregando.
- Você é muito forte, sr. Brandon - digo, cutucando seu braço musculoso.
Ele ergue a mão e percorre a maçã do meu rosto com o polegar. Como pode, um
simples toque me proporcionar tantas emoções?
- Eu poderia fazer isso todos os dias. Durante toda a minha vida, srta. Lennon -
Ele diz, e me derreto todinha com...
Espera. Ele me chamou de Lennon?
Brandon Lennon me chamou pelo seu sobrenome?
Scarlet Lennon.
Penso no nome, e acho que fica muito bom.
Espere, o quê? Não. Fica horrível. Eu nem devia pensar nisso. Meu nome é Hubber.
Mas Scarlet Lenn...Não.
Cale a boca, Scarlet!
Cale a boca, cale a boca...
- Let - Brandon chama. Algo faísca em mim.
Ele faz um caminho com o dedo indicador por entre meus seios, descendo até o
fecho do zíper da minha calça. Ainda não acabou, lembro a mim mesma.
- Antes que você pergunte, eu estava pensando no quanto odeio você - digo,
apontando para ele.
- Diga de novo. - Desafia.
- Eu te odeio. Eu te odeio, Brandon Lennon. - Digo, como uma prece, enquanto
percorro seu rosto e pescoço com os lábios.
Levo minha mão até a bainha de sua camisa e puxo-a para fora de seu corpo. Fico
maravilhada com a beleza de Brandon. Seu abdômen é esculpido em músculos. Cada
centímetro. Ele é perfeito. Passo minhas mãos por todo o seu tronco e o sinto
estremecer com o toque. Ele está me encarando com aqueles olhos marrons lindos e
tão expressivos. Tão doces. Amo tanto esses olhos. Amo tanto esse homem.
Suas mãos estão embaixo de minha blusa, roçando minha cintura. Estou sem ar. Tudo
que eu quero é Brandon. Só ele.
Brandon. Brandon. Brandon. Brandon.
- Eu te amo tanto. Não consigo pensar em outra coisa. É só você. Dia e noite. Em
qualquer lugar e em qualquer hora é você, Brandon. Você. - Eu não sei como consegui
dizer isso. Eu demorei tempo demais para perceber que eu não estava pensando, mas
dizendo. Coloco uma mão na boca. - Mas que merda.
Ele parece surpreso, mas está fazendo uma cara de quem gostou e me puxa para um
abraço apertado.
As lágrimas que brotaram de meus olhos não são de tristeza, dor ou sofrimento.
São de amor. Eu nunca chorei por amor, e quando ouvia sobre isso, só imaginava que
fosse outro nome para dor. Nunca achei possível que esse sentimento me
transbordasse tanto a ponto de se transformar em lágrimas. Lagrimas do bem.
Eu nunca me senti assim. Essa paz inexplicável que enche meus pulmões parece
irradiar, e percebo que os olhos de Brandon estão marejados.
Ele apoia a testa na minha.
- Scarlet - diz, com os olhos fechados.
Fungo. Dou uma risada em meio as lágrimas.
- Estou aqui, Brandon. Estou aqui - sussurro.
- Eu amo você. Semprei amei. Sempre irei amar. No momento em que eu der meu
último suspiro, é você que quero que esteja ao meu lado. É você, Scarlet, que eu
quero que seja a primeira e a última coisa a ver, durante todos os dias de minha
vida. Quero dormir e acordar com você. Chorar e sorrir com você. Quero carregar
você para todos os lugares que eu for, porque não vejo razão em viver se não for
com você ao meu lado.
Rios e oceanos escorrem dos meus olhos. Eu não consigo parar de sorrir, e nem de
chorar.
Deus, eu sou tão patética.
Abraço ele com todas as minhas forças.
- Está bem, eu não trouxe um anel. Eu...eu não pretendia fazer isso agora. Mas -
ele hesita - mas acho que é o momento, não é? - ele encara o teto. Suspira. - Sim,
talvez seja.
Dou um sorriso diante do nervosismo de Brandon. Eu nunca o vi assim, e ele fica
tão fofo que chega a doer quando me seguro para não pular em cima dele, apesar de
já estar em seu colo.
- Então - ele limpa a garganta - Droga, eu sou tão ruim nisso - sussurra pra si
mesmo. - Scarlet Hubber.
Ele se ajoelha diante de mim e segura minha mão.
- Você quer se casar comigo?
Óbvio. Eu devia saber que ele ia fazer isso. Ele se ajoelhou e segurou minha
mão. Um pedido de casamento. Mas estou tão perplexa que não sou capaz de pronunciar
uma palavra. Ele me encara, e posso sentir o seu nervosismo.
- Brandon... - eu digo, num tom de surpresa.
- Ai, meu Deus. Sim ou não? Não me iluda.
Uma risada escapa dos meus lábios. Me ajoelho para ficar cara a cara com Brandon.
Seguro seu rosto.
- Claro que sim, seu idiota. Eu te amo.
Eu lhe dou um beijo.
- Eu te amo, eu te amo, eu te amo - dizemos, como uma prece, um segredo.
Os beijos que trocamos começam a desacelerar e ainda ajoelhados, puxo-o para mais
perto pela barra de sua calça e ele faz um som que mostrava tinha gostado. Suas
mãos me agarram pela cintura e enquanto uma de minhas mãos acaricia seu quadril, a
outra o empurra contra o chão e o deito ali. Termino o beijo e me levanto. Tiro os
seus sapatos. Depois os meus. Eu dou um sorriso malicioso, que ele devolve,
enquanto subo minhas mãos por sua calça, de quatro, bem devagar.
Quando chego no botão de sua calça e a abro, deixando uma parte de sua cueca à
mostra, ele estremece. Mas não permito que se mexa. Dou um beijo em seu abdômen, e
sigo o caminho até sua boca com os meus lábios.
- Nós vamos nos casar.
Ele dá um sorriso e faz que sim.
- Você vai ser meu homem.
- Eu sou seu homem faz tempo, Let.
Dou um beijo em seu pescoço. Outro em sua clavícula.
- É mesmo? - pergunto, com um tom de malícia.
- Sim.
- Posso fazer o que quiser com você, então - mordisco sua orelha e acaricio seu
abdome - Não é?
Ele me encara.
- Sim - ele diz e, antes que eu pudesse dizer mais alguma coisa, ele me puxa para
si e pega minha perna para que eu possa me agarrar nele. E então levanta, e não
percebo que estamos no banheiro, até ele me apoiar na bancada fria.
Levo uma mão até sua calça e começo a tirá-la. Brandon sorri. Devolvo o gesto,
percorrendo um caminho na sua clavícula com a minha boca.
- Amor - meu sorriso aumenta ao ouvi-lo me chamar assim. Olho para ele. - Preciso
que feche os olhos.
Faço uma careta.
- O que você vai fazer? - questiono.
- Você confia em mim?
Faço que sim.
Hesito antes de fechar os olhos.
Ele solta uma risada grave, que faz meus pelos se arrepiarem.
Um momento de silêncio. E está sendo muito difícil manter os olhos fechados.
Dou um pulo quando suas mãos acariciam minha barriga, meu rosto, meu quadril.
Me inclino para tocá-lo, mas ele segura meus braços.
- Levante os braços.
Levanto, num sinal de rendição.
- Quietinha.
Levanto as sobrancelhas.
- Você não manda em mim. Além disso, desde quando você é assim tão sem vergonha?
- Dou uma risada - Eu preciso te tocar, saber que está aqui.
- Eu sempre estarei.
Um beijo nas minhas duas bochechas. Eu não quero que ele me beije só na bochecha.
Quero que ele beije cada pedacinho do meu corpo.
Suas mãos vão até a barra da minha calça, e depois sinto seu polegar no elástico
da minha calcinha.
Enrubesci. Solto um gemido de sofrimento e Brandon solta uma risada.
- Brandon - digo, em um tom de súplica.
Isso é uma tortura.
Suas mãos percorrem meus braços, meus ombros e sobem até a clavícula, onde deixa
um beijo. Ele começa a tirar minha blusa, e sua tarefa não se torna difícil com os
meus braços já levantados.
Estou só de sutiã e calça jeans.
- Tão linda - ele sussurra.
Eu mordo o lábio e o sinto se aproximar. Ele faz um caminho na lateral do meu
corpo com as mãos, como se tentasse me memorizar.
Isso está me matando. Eu não aguento mais.
- Pare de me torturar, Brandon, eu preciso...
Minhas palavras morrem quando sua boca encontra a minha.

Agora posso viver em paz.

um beijo e sussuro "banheiro" em seus lábios. Eu sei que não é um lugar muito
bom para o que vamos fazer, mas ele vai mesmo assim.

..................

- Está bem, o que vamos fazer hoje? - Emma perguntou, rodeando a sala inteira.
- Nós podíamos ir para uma festa.- Levon sugeriu, pensativo.
- Não - falamos em uníssono.
- Vamos almoçar, já passou da hora - eu lembro, quando, na verdade, eu só queria
sair da sala.
- Você só pensa nisso, Scarlet - Levon levantou do sofá e colocou um braço em meu
ombro. - Mas já que é isso o que você quer.
Ele me levou em direção a cozinha. Quando chegamos, ele foi até a geladeira
buscar ovos e manteiga.
Franzi a testa, numa expressão de que não estava entendendo nada.
- Hoje não tem almoço. Vamos fazer um bolo. Emma! Brandon! Venham cá ajudar.
Em um instante eles já estavam na cozinha.
- Você não sabe fritar nem um ovo. Acha que vai conseguir fazer um bolo? - Emma
disse o que todos estávamos pensando.
- Você me ajuda - o tom de voz maroto de Levon me fez olhar para Brandon, que já
me encarava. Então seguramos o riso. - O que foi? - Levon perguntou, encarando-nos.
- Pelo visto tem mais algumas pessoas que precisam ter cuidado para não perder o
juízo. Ou as roupas. Não é, Levon? - Eu provoquei.
Fique aliviada por arrancar gargalhadas de Emma e Levon. Mas no fundo todos
sabíamos que eles eram só amigos. Todos começamos a rir. Mas a risada logo morreu
quando Levon abriu a boca.
- Somos todos amigos, não é, Scarlet?
- É - eu sabia que ele estava provocando a Brandon e a mim, mas fingi não me
importar. Mesmo que estivesse olhando diretamente nos olhos de Brandon, que
pareciam me ler de uma forma...
- Está bem, vamos fazer logo isso.
Emma nos lembrou de acordar para a vida, então fiz malabarismo com os ovos
enquanto eles usavam os outros ingredientes.
Enquanto o bolo assava, Emma e Levon foram para a sala, me deixando sozinha com
Brandon.
Era inexplicável a rapidez com que as lembranças de nossa última briga pairaram
sobre nós. A faca em seu pescoço, o corte em sua têmpora e a camisa de Brandon
saindo de seu corpo em um segundo. Senti meu rosto esquentar com a lembrança, e
pude ver que Brandon não pensava diferente.
Estávamos em lados opostos na cozinha. Ele estava perto da entrada, enquanto eu
estava na bancada. Não nos movimentamos. Apenas fitamos o olhar um do outro. Por
que todas as vezes em que nos encontramos pensávamos nisso?
- Vou fazer cobertura. - Abri um armário à procura dos ingredientes.
Então começo a fazer, sem olhar para Brandon.
.....
- Eu ia falar isso agora, Scarlet. E acho que o bolo já está pronto.
E então ela o retira do forno, e depois fomos todos para o quarto. Haviam duas
camas de casal, uma onde Emma e eu dormíamos, e a outra onde os meninos dormiam.
Juntamos as camas e pedimos uma pizza.
Nos divertimos muito. E acabamos nos sujando com molho de pizza e cobertura de
bolo. Então eu fui a primeira a ir no banheiro, já que só havia um no apartamento.
Quando saí, os três brigaram para ver quem entrava primeiro.
- Estão parecendo três crianças - eu disse.
Então eles pararam e acabou que Emma foi primeiro, depois Levon. E os dois foram
para o quarto arrumar as coisas, enquanto Brandon e eu arrumávamos a cozinha.
Depois que todos estavam limpos e a casa também, fomos assistir um filme. De
romance. Porque Emma ganhou na aposta.
- Como você pode gostar de uma coisa brega como essa, Emma? Deus me livre. - Eu
disse. Mas me calei, porque começou a ficar bom quando a mocinha deu um soco na
cara dele. Então eu fui mais para a frente, e todo mundo percebeu que eu comecei a
gostar.
Mas o cara começou a tirar a roupa dela e ela beijou ele.
- Argh, fala sério. Estava melhor antes.
Então levantei do sofá e procurei outro disco para colocar no aparelho. Um filme
de ação ou algo assim.
Mas então me dou conta.
Uma briga.
Um beijo.
Estavam prestes a fazer algo mais.
Olhei para Brandon.
Desisti de colocar outro filme. E quando saí da sala, olhei de relance para a
televisão e vi que o casal continuou, e já era outro dia.
Patético, pensei.
E então fui para o quarto e pulei na cama, com a cara no travesseiro.
- Scarlet, o que aconteceu? - Escutei a voz de Emma, que sentou na cama.
- Nada, só achei aquele filme uma droga.
Emma riu.
- Você e Brandon...
- Não tem essa de eu e Brandon, Emma.
- Mas vocês não...? - olhei para ela - Não tem nada?
- Para com isso. Eu realmente não estou muito afim de falar sobre ter alguma
coisa com alguém, sinceramente.
Sentei na cama. Olhamos uma para a outra. E, sem motivo algum, nós começamos a
gargalhar.
- Você parou pra pensar na cena em que Brandon e Levon estão vendo um filme de
romance?
Rimos, e eu não pude deixar passar a chance que tinha de provocar Emma.
- Sim. Levon deve estar pensando em fazer com você a mesma coisa do filme.
Emma ficou paralisada, e percebi que ficou meio constrangida. Mas ela também não
perdeu a oportunidade.
- E Brandon deve estar lembrando de quando vocês dois fizeram a mesma coisa do
filme, não?
Abri a boca. Mas não saiu nenhuma palavra.
Ela me deu tapinhas.
- É uma loucura da nossa parte falar essas coisas. E sei que você e Levon são
amigos - a frase ficou meio solta. Faltava dizer que eu e Brandon éramos apenas
amigos, mas eu disse outra coisa em vez disso. - No dia em que descobri o acordo
com Wallin, eu fui atrás de Brandon. Estava com muita raiva dele. Tanta raiva que
cheguei a colocar uma faca em seu pescoço. Mas teve uma hora em que ele jogou a
faca no chão e...
Emma estava perplexa. Seus olhos estavam arregalados.
- Então era por isso que metade da cozinha estava quebrada?
Rimos.
- Sim.
- Vocês combinam, sabia? - Eu não sabia bem o que dizer em resposta a isso, então
disse qualquer coisa.
- Emma, eu odeio ele.
- Você não odeia ele, Scarlet - ela deu um riso leve e suave - Mas vamos pra
sala.
Então levantamos e saímos do quarto. Quando chegamos na sala, eles estavam vendo
filme de terror, com zumbis.
- Levon! - levantei o tom de voz, indicando surpresa. Ele olhou para mim. - Você é
ator e nós não sabíamos?
Ele jogou uma almofada em mim, que devolvi com ainda mais força.
Então sentamos no sofá. E Brandon estava ao meu lado.
- Você está bem?
Não respondi, mas dei um sorriso, olhando para a televisão.
O filme tinha acabado, e Emma e Levon saíram da sala para ir "dar um cochilo de
10 minutos".
E sim, só havíamos Brandon e eu no mesmo cômodo e no mesmo sofá, só que de lados
opostos dessa vez. Estávamos cientes disso.
Pensamos rápido. Agimos juntos.
Em um segundo, estavámos cara a cara, ajoelhados no sofá.
- Está com sono? - Brandon perguntou.
- Não - falei, rapidamente.
Agarrei o cinto em sua calça e puxei Brandon pra perto, e meus lábios encontraram
os dele com força e desejo e sua mão segurou o meu rosto. Senti meu corpo se
incendiar com o toque.
Eu queria mais. Precisava de mais.
Coloquei meus braços em volta de seu pescoço e suas mãos agarraram minha cintura,
então Brandon levantou do sofá, me levando consigo. Envolvi sua cintura com as
pernas.
Interrompi o beijo.
- Brandon - falei, mais como um sussurro.
- Hum.
Ele beijava meu pescoço e me apertava contra si, desmanchando minhas palavras.
Mas não perdi o controle.
- Brandon.
Colidi em algo sólido, e percebi que era uma parede. Senti meu corpo pegar fogo.
Levei minhas mãos até a bainha de sua camisa e levantei-a aos poucos, fazendo meus
dedos roçarem seu abdômen.
- Odeio você, sabia?
Tirei sua camisa.
Brandon riu. Então me tirou de seu colo.
Pensei que havia desistido da nossa conversa, mas então ele se agacha e começa a
desamarrar meu sapato.
- Brandon.
Quando se levantou, o empurrei para o sofá e o fiz sentar. Emma e Levon não podia
nos ver.
De repente escutamos um grito e risos ao mesmo tempo. Parecia vir do quarto.
Quando comecei a ir em direção ao cômodo, Brandon me puxou para seu colo e me
beijou. Pela primeira vez foi um beijo simples, onde só pude sentir seus lábios, e
nada mais.
Sorri com o gesto, a minha boca ainda pressionando a de Brandon.
Mais um grito.
E antes que eu pudesse levantar, Brandon já me segurava em seu colo, indo até o
quarto. Mas saí antes que Emma e Levon nos vissem assim. Embora eu não o tocasse,
sua mão estava na minha cintura, levantando a bainha da minha blusa, tocando minha
barriga. O contato me provocou arrepios.
Quando chegamos no quarto, Levon estava fazendo cócegas em Emma. Ele estava sem
camisa e ela sem a calça. Eles não nos viram na porta.
- Vejam só quem está sem roupa - falei, mais alto do que os gritos de Emma.
Eles pararam e nos olharam perplexos. A vergonha estampada na cara deles.
Não era nem por mal, mas era bom demais fazer com eles o que fizeram comigo e com
Brandon.
- Nós estávamos brincando - Levon se defendeu.
- Claro. E entendo que esteja sem metade da sua roupa. Afinal, está meio quente
hoje, não? - Eu amava provocar ele. Mas esqueci de um detalhe, que com certeza
Levon não deixou de lado.
- Sim, e imagino que Brandon esteja com muito calor, não é?
Olhei de relance para Brandon.
- É.
Olhei pra Emma, que sorria pra mim, apesar das minhas provocações. Ela sabia o
que havia acontecido.
- Scarlet, por que você acha que saímos da sala? - Levon perguntou.
- Disseram que iriam dormir.
- E você acreditou? A gente até cochilou, mas sabíamos que em 5 segundos vocês
estariam dando um amasso. - Ele acabou levando o assunto um pouco a sério - Fala
sério, Scarlet! Vocês nem escondem que se olham como se estivessem tirando as
roupas um do outro.
Todos ficaram sérios. Todos olharam pra mim. E eu estava perplexa. Uma tensão se
espalhou pelo quarto. E todos ficamos em silêncio.
Então Levon começou a gargalhar. E junto com ele Emma e Brandon. Me senti traída.
- Você devia ter visto a sua cara, Scarlet! - Levon apontou para mim, pondo a
outra mão na barriga, de tanto rir.
Saí do quarto em passos pesados e fui até o banheiro trocar de roupa. Peguei uma
calça e uma jaqueta, e comecei a me despir.
- Scarlet - Brandon chamou pela brecha da porta.
Logo em seguida a abri, e passei direto. Precisava respirar. Pensar um pouco. Ele
me seguia pela casa inteira.
- Me deixe em paz! - Eu sabia que estava sendo imatura. Mas eu não sabia o que
dizer.
Então parei e me virei para Brandon.
- Só quero respirar um pouco.
- Está bem.
E ele saiu da cozinha, onde eu estava. Uns minutos depois, deixei o apartamento e
peguei o carro.

♧ Havia um bar à uns 70 metros de onde morávamos, então entre nele. Por mais que
fosse próximo de onde eu vivia, nunca havia ido ali antes, então me surpreendi com
o estilo do espaço.
Era meio escuro, com luzes amareladas e paredes de madeira, o que deixou o
ambiente mais rústico e confortável. Cheirava à vinho, com um leve toque
amadeirado. Eu amei aquele lugar. Era chique e simples ao mesmo tempo.
Fui até a bancada e pedi uma garrafa de vinho, que era bem cara, por sinal.
Depois de pegar a garrafa, sentei em uma mesa vazia e enchi uma taça. Beberiquei o
vinho e... nossa! Era realmente muito bom. Valia o preço.
As horas foram passando, a garrafa se esvaziando aos poucos. Comecei a me sentir
mais leve. Não queria exagerar. E já havia bebido metade da garrafa.
Verifiquei o relógio. Já haviam se passado 6 horas. Terminei de beber o que havia
na taça. Não estava bêbada, embora me sentisse um pouco mais leve pela sensação do
vinho. Levantei da mesa, e peguei a garrafa. Saí do bar e procurei pelo carro.
Quando entrei, percebi que estava sem o celular aquele tempo todo, e vi que
haviam 10 chamadas perdidas. Todas de Levon, Emma e Brandon. Não houve tempo de
retornar, porque eu levei o celular descarregado, e desligou antes que eu pudesse
ligar para um deles.
Coloquei o cinto, mas não liguei o carro. Encostei a cabeça no volante. Esperei.
Mais uns minutos.
Só mais um pouquinho.
Uns segundos a mais.
Fechei os olhos.
Abri, e quando olhei o relógio, já tinha se passado uma hora.
Liguei o carro, ainda sob o efeito do vinho. Dirigi até o condomínio e parei no
estacionamento. Minhas pálpebras se fecharam contra a minha vontade. Meus olhos
lutavam para permanecerem abertos.
Mas não aguentei.
Adormeci.
E um conforto invadiu meu corpo.

♧ Mal conseguia abrir os olhos, mas percebi que alguém me carregava.


Levon, me dei conta.
- Levon? - minha voz quase não saía.
- Oi, mocinha. Onde se meteu?
- Bar.
- Isso explica a sua tontura.
- Me larga - olhei para o relógio. Havia apenas 30 minutos que eu adormeci.
- Você mal consegue andar, Scarlet.
- Me solta. Agora - meu olhos se fecharam novamente.
- Você prefere cair e se machucar do que ficar no meu colo?
Não respondi. Minha cabeça começou a latejar. Estava com sono demais para lutar
com Levon, então adormeci.

**** 11. ZOEIRA 2 ****


♧ Acordei no sofá. Olhei o relógio.
03h56
Minha cabeça não doía, mas ainda podia sentir a mesma sensação de quando havia
bebido metade da garrafa de vinho. E naquele momento, eu pude perceber o quão forte
era a bebida.
Levantei do sofá e fui direto para o banheiro, quando dei de cara com Brandon na
porta antes de entrar. Não levei susto. Estava cansada demais para me assustar.
- Scarlet - ele sussurrou, como se não me visse há anos.
- Brandon - sussurrei de volta, como se também não o visse há muito tempo. -
Desculpa, eu...
- Tudo bem, eu te entendo.
- Obrigada - meu olhos se fecharam, e eu me apoiei no batente da porta.
Brandon me segurou. Seu toque me deixou mais alerta.
- Você está bem?
Fiz que sim com a cabeça.
- Só preciso tomar um banho.
Entrei no banheiro, e percebi que ele entrou também. E fechou a porta.
Olhei para ele. E não havia sequer um sinal de maldade ou brincadeira. Ele entrou
mesmo.
Peguei a escova e comecei a escovar os dentes, olhando para Brandon pelo reflexo
no espelho. Eu estava com um pouco de olheiras. Estava cansada. Sem forças. Tomada
pela sensação do vinho.
Quando terminei, soltei meu cabelo, que antes estava amarrado em um rabo de
cavalo. Brandon me olhava.
Então sentei no toalete com a tampa fechada, e olhei para o nada. Sem energia
alguma para fazer qualquer coisa. Tudo o que havia acontecido desencadeou aquele
sentimento antigo de perda. De estar sozinha naquele mundo. Eu já havia me
acostumado a estar sozinha, mas às vezes o sentimento vinha em um baque. Rápido
demais para que eu pudesse intervir.
- Sinto falta da minha mãe, do meu pai. De Lisa.
Brandon me abraçou. Descansei em seu peito.
- Eu só tenho vocês.
- Sim. E sempre estaremos com você. Eu sempre estarei.
- Obrigada - minha voz falhava com as lágrimas que ameaçavam cair. Mas não
deixei.
Levantei e tirei a jaqueta. Brandon a pegou e jogou em algum lugar. E então senti
suas mãos me tocarem. Olhei para ele.
Logo em seguida começou a desabotoar minha calça e depois a jogou junto com a
jaqueta.
Brandon abriu o box e ligou o chuveiro, depois tirou a camisa e me ergueu. Eu
estava em seu colo. Pensei em reclamar, mas estava sem forças. Entrelacei minhas
pernas à sua volta. E então sinto água gelada escorrer pelo meu corpo. Meu corpo
começou a tremer, mas Brandon me abraçou mais forte, me trazendo conforto. E
ficamos assim por um bom tempo, com ele me dando beijos na cabeça e na bochecha
quando me sentia estremecer. Nunca estive tão confortável em toda a minha vida. O
calor de Brandon me tornava mais forte. Mais viva. E apenas descansei em seus
braços. Até que minha temperatura esfriou, e escutei Brandon desligar o chuveiro.
Ele pegou uma toalha e pôs ela em cima de mim.
Ele não me largou por nem um segundo. Mesmo quando precisou pegar meu pijama. E
só aí me soltou. Então saiu do banheiro para que eu pudesse me vestir e quando
terminei e fui até a cozinha beber água, ele me abraçou. Fomos para o quarto e fui
para a cama de Emma, e Brandon esperou até que eu adormecesse.

♧ Acordei sozinha no quarto. Eram 09h34.


Levantei bem mais tarde que o normal. Dei um pulo da cama e quando vi, já estava
no banheiro. Escovei os dentes e tomei banho.
Me sentia bem melhor. Minhas olheiras sumiram. Meu rosto estava com mais cor. Eu
parecia mais feliz. E estava.
De repente a lembrança do calor de Brandon ontem à noite me veio à memória. E
quando me olhei no espelho, vi que estava sorrindo. Então taquei uma bolinha de
papel no espelho.
Quando saí do banheiro, dei de cara com os os três na porta. Dei-lhes um abraço
coletivo.
- Obrigada. Você são muito importantes pra mim, e me desculpem pelas minhas
atitudes.
- Nós te amamos, Scarlet - Emma disse, dando um beijo em minha bochecha. - Não é,
Levon?
Arregalamos os olhos. Ele não ia aceitar aquilo, não na minha frente. Dei um
sorriso pra ele.
- Talvez. Mais ou menos. Ainda não tenho comprovações científicas, sacou? - Levon
falou.
Dei um beijo em sua bochecha.
De repente Emma e Levon olharam para Brandon.
Meu Deus. Eles estavam esperando que ele dissesse...que me amava?
Sim, claro, isso era normal. Amigos. Amigos se amavam. E diziam que se amavam.
Quando olhei para Brandon, percebi que ele já me olhava.
- É, você é muito importante para nós.
Me senti aliviada por sua resposta.
Então fui direto para a cozinha. Precisava comer algo. Escutei alguém chegando
perto de mim.
- Você está melhor? - Brandon perguntou.
- Sim, estou - me virei e olhei em seus olhos. - Obrigada, eu... eu nem sei como
te agradecer por ontem.
- Não fiz mais que a minha obrigação, Scarlet.
- Você não me deve nada.
- E você me deve?
- Sim.
- Então como vai pagar? - ele assumiu um tom de voz diferente.
- Como você quer que eu pague? - dei um sorriso.
Ele sorriu de volta e me lançou um olhar hipnotizante.
Brandon pôs a mão em meu rosto, acariciando-o de leve. E me puxou para perto
dele, me beijando suavemente, me trazendo conforto, como na noite anterior. E então
me abraçou forte, levando sua boca até meu meu ouvido.
- Está pago. - sussurrou.
Então começou a mexer no armário e me ajudou a fazer meu café da manhã.

♧ Aproveitei para comer no quarto, na companhia de Emma.


- O que aconteceu ontem? - olhei para ela e abri a boca, mas eu não sabia
exatamente o que dizer. - Tem alguma coisa a ver com o que Levon disse? Ele estava
brincando.
Não. Ele não estava brincando.
- Você sabe que ele não estava. E aquilo me incomodou porque, mesmo que eu odeie
admitir, era verdade. - Emma sorriu, o que me incomodou, já que eu não achava
aquilo engraçado - Não que eu fique olhando pra Brandon como se quisesse tirar suas
roupas. Mas... desde a nossa última briga, todas as vezes em que nos encontramos
pensamos nisso. E eu queria esquecer. Mas Brandon e Levon não me deixam em paz.
Emma sorriu de novo.
- Vocês se beijaram?
Arregalei os olhos. Não sabia o motivo, mas era difícil admitir aquilo. Eu queria
que ficasse só entre Brandon e eu. O meu silêncio respondeu por mim. E pra minha
surpresa, Emma me abraçou e deu um gritinho.
- Brandon ficou todo apaixonadinho. - franzi a testa - Sim! Aposto que você
colocou...sei lá, uma faca ou uma arma na cara de Brandon e ele gostou.
Ela começou a gargalhar.
- Scarlet, eu sempre soube disso.
Revirei os olhos e bati com o travesseiro na cara de Emma. Ela não reclamou.
- Claro que não, Emma. Foi um...impulso nervoso. - Ela me encarou, com a testa
franzida - Quero dizer, as outras coisas além da nossa briga...
- Eu sei! O beijo de vocês! - Ela gritou em alto e bom som, pra todos ouvirem.
Senti meu rosto arder de vergonha.
- Scarlet, não arrume uma desculpa. Você beijou ele porque quis, só não admite
isso.
- Foi ele que...
- Mas se você não quisesse, não teria deixado, e ele não teria feito aquilo. Você
sabe disso, Scarlet. - olhei para ela, à procura de argumentos contra suas falas,
mas ela foi mais rápida - Ontem, quando você e Brandon chegaram no quarto, vocês
tinham...?
Ela gesticulou com as mãos.
- Me poupe, Emma - revirei os olhos.
- Vai, me fala. Sim ou não?
- Claro que não. Somos amigos.
- Vou fingir que acreditei. - Emma sorriu.
Eu não queria mais falar de mim, já tinha me exposto demais, então arrumei outro
assunto.
- E ontem, você e Levon estavam brincando mesmo ou dando uns beijinhos?
Emma me deu um empurro, fingindo não ter gostado.
- Rolaram alguns, mas nada demais.
E rimos.
- Mas não foge do assunto, Scarlet.
- Pensei que já tínhamos encerrado.
- Tem mais que eu sei. E eu quero ouvir.
Saiu tudo de uma vez. Contei para Emma sobre mais cedo, quando Brandon ficou
comigo depois de eu ficar quase bêbada. A cada frase que eu falava Emma dava
gritinhos, o que me fazia rir.
Talvez não fosse tão ruim conversar com alguém.
- Scarlet... - olhei para ela, atenta - Brandon está apaixonado por você.
As palavras chegaram ao meu ouvido como um soco, que me desconcertaram. Eu fiquei
simplesmente paralisada.
Eu nunca parei pra pensar no que Brandon sentia por mim. Aquilo não podia ser
verdade.
- Ele não está... - hesitei - Brandon falou isso?
- Não, mas nem precisa. Você pode até não olhar pra Brandon como se quisesse
tirar as roupas dele - revirei os olhos e ela riu-, você consegue esconder. Mas ele
não.
- Pare, Emma.
- Além disso, ele não só te olha desse jeito, como também olha pra você com vida
nos olhos. Não negue.
Então essa era outra descrição para o olhar selvagem que ele me lançava quando
estávamos sozinhos?
- Eu nunca vi.
- Viu, sim. E você está apaixonada por Brandon Lennon.
- Eu nunca estaria...
- O que vocês estão fazendo aí? - Escuto a voz de Levon, que estava apoiado na
porta. Estava acompanhado de Brandon. E então pulou na cama.
- Coisas de menina - Emma falou.
Tentei esconder o nervosismo por quase ter falado algo que eles não poderiam
ouvir. Brandon sentou na cama, com mais delicadeza do que Levon.
- Posso saber do estavam falando? - Levon perguntou.
- Não - respondi.
Ele mostrou a língua pra mim.
E então olhei para Emma, que estava levantando uma sobrancelha, pedindo
discretamente que eu olhasse para algum lugar. Não. Uma pessoa.
Brandon.
Olhei para ele, que estava me encarando parecia fazer tempo. Seus olhos... eles
estavam... selvagens.
Me perdi em seu olhar e tudo a nossa volta pareceu sumir. Senti ele fechar o
punho, como se estivesse se segurando. Eu não havia entendido o gesto, até perceber
que eu também o estava fazendo.
Ele queria me tocar. Eu queria tocar ele.
Levon começou a bater palmas, me trazendo de volta para a realidade.
Tirei meus olhos dos de Brandon e olhei para Emma, que fazia uma cara que dizia
"eu avisei".
Senti vergonha. Mas eu não fugiria dali e me empanturraria de vinho como da
última vez.
- Scarlet?
- Oi.
- Resolveu viajar até a lua? - Levon perguntou.
- É. - falei, ainda meio distraída.
Emma estava segurando um riso, percebi.
- Acho que vou dar um passeio por aí - Emma começou a falar - Levon, você pode ir
comigo?
Me dei conta do que ela queria fazer.
- Tem certeza de que quer sair? - perguntei.
- Tenho, sim - e Emma se levantou.
Segurei sua mão.
- Eu posso ir com você.
- Vamos todos juntos. - Brandon sugeriu.
- Isso! Vamos todos juntos. Ótima ideia. Vou me arrumar. Para onde vamos? - me
senti agradecida por Brandon.
- Vamos ao parque! E depois no bar.
- Na última vez que Scarlet foi num bar, as coisas não deram muito certo. - Levon
falou o que eu já estava pensando - E, pelo que lembro, isso foi, hum... ontem.
- Mas agora vamos todos juntos.
- Tudo bem, pode ser. Vou me arrumar.
Nunca me senti tão animada para sair quanto naquele momento. Tudo isso porque não
queria mais ficar sozinha com Brandon.
Emma e eu ficamos no quarto escolhendo nossas roupas, e como ela me disse que
iríamos para um lugar chique depois do parque, escolhemos umas de nossas melhores
roupas para a ocasião. Depois do banho, ficamos de toalha penteando o cabelo uma da
outra, e expulsamos Brandon e Levon quando tentaram entrar no quarto.
Emma estava linda. Ela vestia um vestido tomara que caia verde água, com
comprimento acima do joelho, destacando suas curvas. Seu penteado era uma trança
embutida, enfeitada com grampos em formatos de flores. Ficou deslumbrante quando
colocou as jóias e passou um batom rosa pink. Ela sabia se arrumar muito bem.
Emma fez questão de me emprestar um de seus vestidos e ainda quis me arrumar.
Deixei. Afinal, eu não ia passar de ridícula.
Mas ela fez milagre.
Quando olhei no espelho, vi uma criatura diferente de tudo o que já havia visto
em toda a minha vida. Eu nunca investi muito em roupas. Mas eu parecia outra pessoa
com as que Emma me arrumou.
Eu estava usando um vestido preto longo, que possuía um decote marcante. As alças
eram finas, deixando minha clavícula praticamente nua. Emma era mais magra do que
eu em suas curvas, então o contorno de todo o meu corpo estava à mostra. Meu cabelo
estava enrolado em um coque elaborado, com uma pregadeira cheia de brilho. Emma
pintou meus lábios com um vermelho forte e marcante.
E, por fim, os brincos, que tilintavam com o menor movimento.
- Meu Deus, Scarlet. Você está linda! E muito sexy também.
Rimos.
Quando saímos do quarto, os meninos já estavam prontos.
Dei um sorriso ao ver Levon encantado com a beleza de Emma. Ele estava
hipnotizado. Depois olhou para mim, e claro que não iria deixar a oportunidade de
lado.
- Olha só quem aprendeu a se arrumar.
Revirei os olhos.
E olhei para Brandon. Ele estava muito bonito. Vestia uma calça jeans preta e uma
blusa social, com os dois primeiros fechos abertos.
Quando entramos no carro, Levon dirigia e Brandon estava no banco do
acompanhante. Emma e eu conversávamos por mensagem, apesar de ela estar do meu
lado.

> Você tinha que ver como Brandon estava te olhando. Ele deve ter te achado a
mulher mais linda do mundo, e provavelmente que você só ficaria mais bonita sem
ele.

> Para, Emma. E você tinha que ver Levon. Ele não tirou os olhos de você nem um
segundo.

> É, eu percebi.

Começamos a rir.
Acabamos mudando de ideia e fomos para um baile, que tivemos que comprar
ingressos de última hora.
O lugar era muito elegante. Haviam muitas pessoas chiques.
Na hora da dança, um homem esquisito e elegante veio se oferecer pra dançar
comigo, e acabei aceitando. Fiquei aliviada por saber que os pares trocariam
durante a dança.
- Você é muito atraente.
Soltei uma risada sarcástica.
- Eu? Atraente?
- Sim, é a mulher mais linda que já vi em toda a minha vida. - não soube como
reagir, mas ele falou antes que pudesse dizer algo - Quantos anos você tem?
- Vinte.
- Tenho vinte e quatro.
Não sei porque ele havia dito sua idade, já que não perguntei, mas fingi não me
importar.
Procurei por Brandon na multidão, e então o encontro. Estava dançando. Com uma
garota. De repente, nossos olhares se encontraram e, sem querer, levantei uma
sobrancelha. Mas virei rápido para Jack, o cara com quem eu estava dançando.
- Procurando alguém? - ele perguntou.
- Não.
- Está solteira?
- Eu...
- Se quiser... eu estou livre. - ele piscou para mim. Aparentemente, estava se
achando um sedutor de alto nível.
- Não, obrigada.
- Posso fazê-la mudar de ideia.
Ele me puxou um pouco mais para perto. Ainda estávamos numa distância respeitosa.
Levantei uma sobrancelha.
- Geralmente não volto atrás em minhas palavras.
Ele deu um riso sedutor e forçado.
- Gosto de você.
Dei um sorriso visivelmente falso.
Senti ele se aproximar. Estava prestes a me beijar, quando mãos quentes seguraram
firme em minha cintura e me puxaram para trás, logo em seguida me virando.
Dei de cara com Brandon.
- Quem era aquele cara? - ele me perguntou, ao mesmo tempo em que perguntei quem
era aquela garota.
- Ela estava sem par e me pediu para fazer companhia.
- E aquele cara só me chamou para dançar, mesmo.
- Ele ia beijar você.
Eu não sabia porque ele tinha falado aquilo.
- E eu ia quebrar o pescoço dele.
Brandon sorriu.
- Você tinha que ver Levon e Emma. Eles parecem estar se divertindo bastante.
Cheguei mais perto dele para que pudesse ouvi-lo melhor, e suas mãos seguraram
minha cintura com mais firmeza, e Brandon me puxou para mais perto. Seu peito
pressionava o meu, e pude sentir seu cheiro.
Aquilo era realmente sedutor.
- Está na cara que eles se gostam - voltei a me concentrar.
- É.
Chegou a hora de trocarmos os parceiros, mas Brandon não me soltou. Em vez disso,
chegou mais perto de meu ouvido.
- Você está incrível - sussurrou.
Dei um sorriso grande demais para o meu gosto.
- Obrigada.
- Eu que devia agradecer. Entre duzentos caras nesse salão que, inclusive, estão
te engolindo com os olhos, você está comigo. E você é a mulher mais linda daqui. -
Ele ainda estava sussurrando em meu ouvido.
Uma chama se acendeu quando ele beijou meu pescoço. Fechei meus olhos, sentindo a
música suave que tocava no salão e os lábios de Brandon me tocando.
Quando a dança acabou, esperamos Emma e Levon na saída, e logo depois fomos para
casa.

♧♧ Eram 22h00 quando chegamos, deixamos Emma e Levon entrarem em casa primeiro. Uma
hora depois entramos, e percebemos que eles estavam no quarto, com a porta fechada.
- Pelo menos dessa vez eles pensaram. - Brandon disse.
Dei uma risadinha.
Coloquei a bolsa no sofá. E quando olhei para ele, percebi que já olhava pra mim.
Pude ver a fome em seus olhos, o que fez um leve arrepio percorrer meu corpo.
Fomos até a cozinha beber um pouco de água, e enquanto eu virava o copo, percebi
que Brandon estava desabotoando sua camisa, indo em direção ao banheiro. E de
repente engasguei, e comecei a tossir.
- Você está bem? - Brandon se aproximou.
- Não - e comecei a tossir mais.
Levantei a mão em um sinal de espera. E respirei fundo. Brandon abriu um sorriso
gigante diante da cena. Seus olhos brilhavam. Acho que foi o sorriso mais lindo que
já vi durante meus vinte anos de vida. Algo se agitou dentro de mim.
Parei de tossir. Limpei a garganta.
- Agora estou melhor.
Ele estava com uma de suas mãos apoiadas nas minhas costas. Abaixei a cabeça.
- Por que você... - levantei e virei de costas - Argh, Brandon.
Rapidamente, ficamos frente a frente, e antes que pusesse ver seu rosto, segurei
seu cinto e o puxei com força. Minha boca encontrou a sua com vontade.
- Eu te odeio - murmurei, com nossos lábios ainda se tocando.
Em um segundo os braços de Brandon estavam me envolvendo, e eu terminei de
desabotoar sua camisa, jogando-a no chão. Ele me ergueu e colocou sobre a bancada
da cozinha, as lembranças pairavam no ar. Senti desacelerarmos.
Olhei para ele e acariciei seu maxilar, sua bochecha, seu cabelo. Ele parecia um
garoto de cinco anos feliz por ganhar presentes. Apesar de não haver nenhuma
iluminação na cozinha, eu pude ver como seus olhos brilhavam.
Ele passou a mão em meu cabelo e tirou a pregadeira. O coque imediatamente se
desfez e meu cabelo estava solto. Logo suas mãos estavam em meus braços, deslizando
e fazendo meus pelos se arrepiarem com o toque. Então suas mãos subiram novamente,
parando na alça do vestido.
Num instante meu vestido estava na metade do meu corpo, eu estava apenas com o
sutiã, e minha barriga tocava a de Brandon.
Ouvimos uma porta se abrir.
- Que droga - sussurramos em uníssono.
Brandon agarrou meu quadril e puxou para preto de si, e percebi que estava em seu
colo.
Não paramos.
Ele nos levou ao banheiro, encostou a porta e me pôs na pia. Logo em seguida,
interrompeu o beijo e me abraçou.
- Scarlet - sussurrou, como uma prece.
E deixou rastros de beijos em meu pescoço e em minha clavícula, dizendo meu nome
em cada beijo que me dava.
Nos abraçamos.
Olhamos um para o outro e sorrimos.
- Ainda me odeia, Let?
Dei um beijo em seu pescoço.
- Sim.
Ele sorriu, e então me deixou lá no banheiro, para ir falar com Emma e Levon.

**** 12. Na hora da dança, ****


Na hora da dança, um homem esquisito e elegante veio se oferecer pra dançar comigo,
e acabei aceitando. Fiquei aliviada por saber que os pares trocariam durante a
dança.
- Você é muito atraente.
Soltei uma risada sarcástica.
- Eu? Atraente?
- Sim, é a mulher mais linda que já vi em toda a minha vida. - não soube como
reagir, mas ele falou antes que pudesse dizer algo - Quantos anos você tem?
- Vinte.
- Tenho vinte e quatro.
Não sei porque ele havia dito sua idade, já que não perguntei, mas fingi não me
importar.
Procurei por Brandon na multidão, e então o encontro. Estava dançando. Com uma
garota. De repente, nossos olhares se encontraram e, sem querer, levantei uma
sobrancelha. Mas virei rápido para Jack, o cara com quem eu estava dançando.
- Procurando alguém? - ele perguntou.
- Não.

- Se quiser... eu estou livre. - ele piscou para mim. Aparentemente, estava se


achando um sedutor de alto nível.
- Não, obrigada.
- Posso fazê-la mudar de ideia.
Ele me puxou um pouco mais para perto. Ainda estávamos numa distância respeitosa.
Levantei uma sobrancelha.
- Geralmente não volto atrás em minhas palavras.
Ele deu um riso sedutor e forçado.
- Gosto de você.
Dei um sorriso visivelmente falso.
Senti ele se aproximar. Estava prestes a me beijar, quando mãos quentes seguraram
firme em minha cintura e me puxaram para trás, logo em seguida me virando.
Dei de cara com Brandon.
- Quem era aquele cara? - ele me perguntou, ao mesmo tempo em que perguntei quem
era aquela garota.
- Ela estava sem par e me pediu para fazer companhia.
- E aquele cara só me chamou para dançar, mesmo.
- Ele ia beijar você.
Eu não sabia porque ele tinha falado aquilo.
- E eu ia quebrar o pescoço dele.
Brandon sorriu.
- Você tinha que ver Levon e Emma. Eles parecem estar se divertindo bastante.
Cheguei mais perto dele para que pudesse ouvi-lo melhor, e suas mãos seguraram
minha cintura com mais firmeza, e Brandon me puxou para mais perto. Seu peito
pressionava o meu, e pude sentir seu cheiro.
Aquilo era realmente sedutor.
- Está na cara que eles se gostam - voltei a me concentrar.
- É.
Chegou a hora de trocarmos os parceiros, mas Brandon não me soltou. Em vez disso,
chegou mais perto de meu ouvido.
- Você está incrível - sussurrou.
Dei um sorriso e fiquei na ponta dos pés.
- Obrigada - sussurrei.
Mas Brandon me surpreende quando sinto seus lábios em meu pescoço, fazendo meus
pensamentos se dissiparem. Só havia nós dois.
Antes que eu pudesse encontrar algo para dizer, seus lábios encontram os meus e
me sinto transportada para outro mundo. O contato foi tão suave, tão delicado.
Brandon segurou meu rosto com as mãos e me puxou para si. Quando ele termina o
beijo, diz, com a boca ainda pressionando a minha:
- Desculpe, não consigo segurar.
Fico na ponta dos pés para que possa alcançar seu ouvido, e sinto seu perfume
masculino e intenso.
- Então não segure. - sussurro, com um sorriso.
Sinto-o sorrir, enquanto eu deito minha cabeca em seu ombro, e me conforto ainda
mais quando Brandon beija minha cabeça e acaricia meu cabelo.
- Sabe,
**** 13. - Aposto que você ****
- Aposto que você não passa de 6 taças - Levon provoca.
Gesticulo para o garçom e, sem tirar os olhos de Levon, peço que traga 5
garrafas.
Quando o vinho chega, encho minha taça. Era a quarta.
- Valendo 200 dólares e você não conta nada.
Estamos há pelo menos umas duas horas na festa de noivado de Clare, a irmã de
Levon, tentando encontrar um acordo para que eu não seja prejudicada. Eu conversei
com Emma sobre Brandon, no quanto ele era bonito e outras coisas estúpidas que eu
não devia ter falado. E o pior, foi por m⁸ensagem. E depois que Emma emprestou seu
celular pra Levon, ele entrou em nossas conversas e viu tudo o que eu disse sobre
Brandon. E para Levon não contar nada pra ele, me desafiou a beber o máximo de
vinho que conseguisse, e além disso, eu iria ganhar uma boa grana.
Ainda bem que o vinho era de graça. Afinal, era uma festa. E ao invés de estarmos
dançando e comendo, estamos fazendo um acordo idiota em que eu só vou ficar bêbada.
Mas seria muito pior se Brandon soubesse que eu disse que ele era o meu primeiro
namorado, minha primeira vez e muitas outras coisas que me fariam corar à ponto de
evaporar completamente.
Então, eu aceitei a proposta de Levon.
Sim, isso é estúpido. Mas agora estou na sexta taça e ainda estou sóbria. Me
pergunto onde foi que ele arrumou Uno para jogar aqui em uma festa chique, mas não
questiono em voz alta.
Eu estava ganhando naquela merda de jogo.
Um homem velho e barbudo vem em minha direção e eu troco olhares com Levon.
- Olá, senhorita. Pemita-me que eu me apresente - ele faz uma reverência.
É um homem baixo, e está vestindo um terno de seda azul marinho, com uma rosa no
bolso superior. Seu cabelo em tom alaranjado é encaracolado, e cai e pequenas ondas
até abaixo de suas orelhas. É pai de Levon, percebo. E agora sei de onde ele
arrumou aqueles cabelos e aquela covinha no queixo. Mas Levon não parece gostar da
presença do pai, e eu sei o motivo.
- Sou Thommas Davis, pai de Levon. Qual o seu nome?
Olho de soslaio para Levon, e percebo que sua mandíbula está travada. Ele está
com raiva.
- É um prazer conhecê-lo, sr. Thommas. Me chamo Scarlet. Scarlet Hubber.
- É um lindo nome, srta. Hubber. Digno de sua beleza.
Levon revira os olhos e antes que eu possa agradecer, ele se direciona ao pai.
- O que está fazendo aqui?
Ele pareceu não ter visto seu próprio filho ali, e demorou tanto tempo para
prestar atenção em Levon que pensei que ele não o tinha ouvido.
- Filho, como você está? - Ele leva uma mão ao ombro de Levon.
- Estou ótimo. Mas será que você poderia se retirar? Estou tendo uma conversa
particular com Scarlet.
Mentira. Ele queria se afastar do pai.
- Claro, meu filho, peço perdão por incomodar - ele se vira para mim. - Srta.
Hubber, pegue esse papel com o meu número de contato, e fique à vontade para me
ligar ou mandar uma mensagem.
Eu hesito, e Levon pega o papel.
- Ela não precisa, Thommas. Agora pode ir, obrigado.
Fecho os olhos. Estou na metade da oitava taça, e os efeitos do vinho já começam
a fluir. Levon solta uma risada. Já tem mais umas cinco pessoas aqui, vendo mais
quantas eu consigo beber.
- Mas já, Letzinha? Vamos, você aguenta mais.
Eu vou socar ele.
Encaro-o com um olhar sombrio e ameaçador. Ele levanta as mãos em defesa.
Alguém me dá uma outra taça cheia de vinho.
Levon acha que não vou aguentar.
Pego a taça. Em apenas dois goles, estava vazia.
Gritos ecoam em celebração, mas minha cabeça começa a girar e as imagens se
distorcem levemente.
Estou rindo muito.
Mais taças na minha direção. Pego todas.
Não posso beber mais, senão vou cair desmaiada, e eu já passei vergonhas demais
hoje.
Mas gritos começam a surgir, incentivando-me a beber mais, cada um oferecendo 100
dólares. Quase aceito, mas não tenho forças pra mais nada.
Minha cabeça começa a pesar. Todos estão me perguntando coisas, e estou
respondendo sem saber exatamente o quê. Estou sentindo meus membros mais lentos, e
uma tontura me atinge. Acho que vou vomitar.
- Preciso ir ao banheiro - eu digo, sorrindo sem saber exatamente o por quê.
Me levanto e tropeço no pé da mesa. Ouço risadas.
Quando eu estiver sóbria, vou matar ele.
Só vou ter que adiar, porque dez taças é o suficiente pra me fazer desmaiar em
alguns poucos minutos.
Quando chego ao banheiro, vou direto ao toalete e vomito. Muito. Quando eu penso
que acabou, outro enjoo me atinge e jogo mais coisas para fora. Mal percebo que
cochilei sentada de frente para o vaso sanitário. O cheiro me deixa ainda mais
enjoada.
- Scarlet - ouço alguém chamar.
- Scarlet precisa de um tempo sozinha. Isso aqui está cheirando a chiqueiro. -
digo, sem saber para quem.
- Scarlet, por favor, saia desse banheiro. Brandon está prestes a me matar se
você não sair - Levon, percebo. As vozes soam muito altas para meus ouvidos, e
fazem minha cabeça latejar ainda mais.
Minhas palavras não são mais do que sussurros, mas eles ainda podem me ouvir.
- Isso é ótimo. - Dou um bocejo - É menos um trabalho pra mim. Obrigada, sr.
Brandon.
Ouço alguém dar uma risada tão alta que faz os meus membros tremerem. Levon, eu
acho.
Tento me levantar, mas minhas pernas estão fracas e acabo caindo no chão.
Tento de novo. Caio.
Mais uma vez. Queda.
- Pernas, vocês não estão ajudando - eu digo.
- Scarlet. - É Brandon - Levon, onde Emma está?
- Se divertindo, oras.
Ouço alguém suspirar.
- O que aconteceu? Como ela conseguiu ficar bêbada?
- Bebendo, seu tolo.
Começo a rir. Oh, isso é tão engraçado.
- Eu ganhei 200 dólares, você acredita? - digo, com um sorriso.
- Levon, eu juro por Deus que vou te matar.
- Calma aí, grandão. Ela vai ficar bem.
Eu tento novamente me levantar, mas bato com minhas nádegas na lixeira.
- É isso aí, vou ficar bem - digo, me levantando.
- Scarlet, saia daí, por favor.
Caio de novo.
Me levanto e seguro firme na porta da cabine, com dificuldade. Destravo a porta
e antes que eu pudesse apoiar em algo, bato de cara no chão.
- Scarlet - alguém me chama - Scarlet, você está bem?
- Eu estou ótima - minha voz sai trêmula.
Levanto e apoio com força na pia do banheiro. Olho para o meu reflexo. Estou
linda.
Cambaleio em direção à porta e a destravo. Quando a abro, vejo dois rostos me
encarando.
Levon e Brandon. Os dois estão de terno. Mas em Brandon está tão diferente. Ele é
tão bonito. Os seus músculos são perceptíveis, mesmo sob o tecido grosso, mas
delicado, de seu terno. Os dois primeiros fechos estão abertos, deixando à mostra
sua camisa social branca. Tão perfeito.
Dou um passo em falso, e não seria uma grande surpresa bater com a minha cara no
chão de novo, já que isso aconteceu umas mil vezes. Mas braços fortes me seguram
com firmeza. Braços que eu conheço.
- Brandon - dou um sorriso ridículo.
Ele põe uma mão embaixo das minhas coxas, enquanto a outra pousa em minhas
costas, e percebo que estou em seu colo.
Um sono muito tentador me atinge, mas me mantenho acordada. Não quero perder esse
momento.
Minha cabeça parece latejar cada vez mais e as coisas parecem não ter sentido.
- Brandon, é você? - Toco seu nariz.
- Sim, amor. Estou aqui - ele me diz.
Olho para seu rosto. Ele está sério, a testa franzida.
- Você é muito bonito. E forte também - cutuco seu braço musculoso.
Alguém solta uma risada cheia de humor.
- Irmão - Levon diz, colocando uma mão no ombro de Brandon. - Ela está muito
bêbada.
Ele começa a andar.
- Você é solteiro? - eu pergunto. Ele seria um bom cavalheiro, eu acho. Não
lembro de reparar muito nisso, mas a vida é curta, e as vezes é bom ter um cara
maneiro do seu lado, não?
Ele me olha nos olhos.
- Eu sou seu noivo, Scarlet - ele me responde.
- Você o quê!? - Acho que é Levon quem diz isso.
Mas Brandon só encara ele.
Uma onda de felicidade me percorre.
- Você é meu noivo? Vamos nos casar?
- Hum...sim, amor.
Dou um sorriso muito grande. Eu estou muito feliz.
- Isso é muito maneiro.
Levon ri alto.
- Eu tenho uma ideia. Vamos fazer umas perguntas para a senhorita Scarlet. É uma
brincadeira. O que você acha, Scarlet? - Brandon diz.
- Eu acho ótimo, vamos brincar! - gesticulo como se houvesse um copo em minha
mão.
- Não - Brandon repreende.
- Ah, vamos! Vai ser divertido. Não é, Scarlet?
- Sim! Muito divertido.
Quero me divertir. Estou muito feliz essa noite. Eu vou me casar! E não é com
qualquer um, é com Brandon. Ele é inteligente, tem um bom coração e além disso é
lindo. Seu corpo parece esculpido em músculos. Seus braços parecem de ferro, e me
sinto segura neles, como nunca antes. Eu quero ficar aqui. Pra sempre.
- Scarlet, me diz o que você está pensando.
- Estou pensando nesses braços. São tão fortes. Eu me sinto segura aqui. Não
quero sair.
Brandon me encara. Eu dou um sorriso bobo. Ele sorri de volta. Meu coração
acelera. Ele é realmente muito bonito.
- Entendi. E como você prefere Brandon? Com ou sem roupa?
Brandon dá um chute em seu pé e Levon reclama e o xinga em alto e bom som. Dou
uma risada. Coloco o indicador no meu queixo, pensando.
- Acho que os dois. Os dois ficam bons. Ele é assustadoramente - as palavras saem
emboladas - assustadoramente lindo. Acho que é de outro mundo. E está maravilhoso
nessa roupa. Está lindo, meu amor.
Ele é meu amor. Acho que posso chamar ele assim.
- Obrigado.
Dou um sorriso grande e bobo.
- Brandon, ela está muito, muito doida, cara. Aproveite.
- Cale a boca, seu imbecil.
Ele me coloca em uma sofá largo e chique, onde posso ver o salão de dança. Um
garçom passa por mim e oferece vinho, eu tento pegar, mas Brandon me impede.
Faço uma careta. Ele se senta ao meu lado, e sem pensar, deito em seu colo. Sua
mão acaricia meu cabelo. Tão suave.
Procuro Levon, mas ele não está aqui.
Olho para as pessoas dançando no salão. Os movimentos são bem executados. Há uma
emoção ali. Há diversão. E eu quero me divertir. Eu quero dançar.
- Vamos dançar! - Digo, com um sorriso e começo a levantar, mas ele descansa uma
mão na minha coxa para me impedir e levantar.
Olho para a mão. Depois para ele. Ele me dá um sorriso grandão. Ele tem covinhas.
Covinhas lindas. Fico tão feliz que começo a balançar os pés. Eu quero mais dele.
Pego sua mão e...

♧ Ela coloca em seu seio e se aproxima de mim. Mas fecho a minha mão e a afasto. É
uma tentação, mas ela está muito bêbada e, quando estivesse sóbria, iria ficar
arrasada. Então eu me controlo. Ela faz uma careta triste.
- Você não gosta de mim? - Ela pergunta.
Essa pergunta me assusta. Como eu poderia não gostar dela?
- Eu amo você.
Ela dá uma risadinha, envergonhada.
- Eu também te amo - ela diz.
Ela é tão linda. Eu nunca poderia ter escolhido outra se não ela. Scarlet foi a
melhor escolha que fiz na minha vida. Perfeita. É tão forte, e ao mesmo tempo tão
delicada. Não consigo vê-la sem pensar essas coisas.
Eu percorro o seu rosto com meu polegar e a sinto estremecer com o toque. Ela
realmente me ama.
Seus olhos se fecham e preciso, com muito esforço, me controlar para não tocar
seus lábios com os meus.
Levon chega.
- Tá legal, o carro chegou. Vamos levar a madame para o hotel de noites da noiva.
Era uma salvação esse hotel da noiva. Os casais poderiam dormir sem ter de
percorrer uma grande distância de volta para casa. Isso com certeza custou uma
fortuna.
- Scarlet, vamos. Você consegue andar? - Pergunto.
- Claro!
Ela tenta se levantar, mas é visível o quanto está sendo difícil. Eu a pego
segundos antes que possa cair no chão.
Ela me dá um sorriso.
- Obrigada, noivo bonitão.
Dou-lhe um beijo na bochecha.
- Vamos para o carro - digo.

Não foi fácil colocá-la no carro, porque ela achou que estávamos sequestrando ela
ou algo assim. Mas conseguimos. Agora ela está cochilando em meu colo, mas sei que
é um cochilo leve. Ela vai acordar a qualquer momento, então tento fazer o menor
barulho possível.
Eu sonhei tanto com um dia tê-la em meus braços, que agora é até difícil
acreditar que isso está realmente acontecendo. Eu a amo. Amo tudo nela. A curva de
sua boca. A sua voz. Seus cabelos longos e ondulados. Seus olhos. Eles são tão
expressivos. Posso sempre saber o que está passando pela sua cabeça através dos
seus deles.
De repente eles se abrem, e ela parece se assustar antes de perceber que sou eu.
- Meu amor - sussurra, um sorriso tomando vida em seu rosto. Eu sorrio de volta.
Seus olhos se fecham novamente. Percebo que chegamos ao hotel. Então, com ela em
meus braços, sigo até a recepção. Levon me acompanha.
- Boa noite, senhores. Em que posso ajudar? - Uma mulher pergunta.
- Precisamos de um dos quartos. Viemos do casamento de Clare e Jenny. - Digo, e
Levon lhe entrega nossos convites. Ela confere.
- Claro! E como são amigos mais próximos dos noivos, a suíte de vocês é vip, fica
no último andar. Fiquem à vontade e tenham uma boa noite. - A recepcionista diz.
Troco um olhar com Levon, que sabe exatamente o que estou pensando. Não sei se
Scarlet iria gostar ou não de um quarto só, para nós dois.
Espero que tenha um sofá.

Scarlet fez amizade com, no mínimo, metade do hotel até chegarmos no último
andar. Quando finalmente encontramos o quarto, coloco-a na cama e tiro seus
sapatos.
- Amor - chamo, e ela olha pra mim. Um sorriso estampado em seu rosto - Acha que
consegue tomar banho?
Provavelmente não. Mas espero sua resposta.
Ela hesita e olha em volta.
- Acho que não. Você pode me ajudar? Eu mal consigo ficar de pé, consegue
acreditar? - Ela solta uma risada - É como se eu não tivesse pernas. Acho que elas
não vão muito com a minha cara.
Ela se levanta e traça seu caminho até o banheiro, cambaleando. Seus sentidos
estão começando a voltar, mas ela ainda está sob efeito do vinho.
Pego numa bolsa uma toalha e uma camisa minha, pois não achei nenhuma pertencente
à ela. Vou em direção ao banheiro e bato na porta. Ela se abre e me puxa para
dentro.
Scarlet está apenas de calcinha e sutiã, e me obrigo a me concentrar em seu
rosto, que exibe um sorriso de olho a olho, o que me faz rir.
- Aqui. Use o que você precisar. - Digo, entregando-lhe a toalha e a camisa.
- Obrigada, bonitão - dou um sorriso largo e sinto ela se aproximar.
Me afasto.
Ela não está pensando direito, e pode fazer algo de que arrependa depois. Então é
melhor eu não fazer isso, pois não sei se vou conseguir me controlar. Então saio do
banheiro antes que Scarlet possa dizer algo.

♧ O banho frio fez cada centímetro de meu corpo vibrar, e saio tremendo do
banheiro. Escorreguei e quase caí durante o banho, mas estou feliz. É uma noite
feliz. Estou satisfeita com o meu pijama. É uma blusa bem grandona e de roupa de
baixo, estou apenas de calcinha, então procuro um short para aliviar o frio que
sinto nas pernas. Encontro um em cima da cama e o visto. É bem largo, mas
confortável. Brandon não está aqui e fico triste. Eu queria ele perto de mim. Mas
então uma porta se abre e vejo ele sair de dentro do cômodo. Ele fica muito lindo
assim, sem camisa. Está vestindo uma calça moletom. Ele é meu noivo! Eu tenho um
noivo muito gato.
Vou correndo em sua direção e tropeço no ar, mas chego nele e lhe dou um abraço
apertado. Ele também me abraça e fico feliz de novo.
Uma tontura me invade e só não caio porque os braços do meu noivo gato me
seguraram, firmes como sempre.
- Obrigada, noivo bonitão - minha voz sai como um sussurro, e eu solto um bocejo.
Estou com muito sono.
Ele não fala nada e me carrega até a cama. Ele me deita e se levanta, mas eu
agarro sua mão.
- Fica comigo, por favor - eu peço.
Ele hesita, mas pula na cama. Agora posso dormir em paz com meu noivo bonitão
aqui para me proteger. Sinto uma onda de arrepios percorrer meu corpo. Olho para
ele.
- Eu te amo. Você sabe disso, não sabe? - eu sussurro, com os olhos fechados.
- Sim, amor. Eu também te amo.

. . . . . . . . . . . . . .

Acordo com a luz do sol na janela. Eu me espreguiço. Olho em volta. Arregalo os


olhos ao perceber que não estou no meu apartamento.
Então me lembro.
Na noite anterior, eu fiz uma aposta com Levon e bebi umas, o quê? Dez taças?
Mais, talvez?
Eu me esqueci de outra coisa. Ah, meu Deus! Que merda.
Merda. Merda. Merda.
Brandon me carregou bêbada.
Eu pedi pra ele deitar comigo.
Eu não devia ter aceitado a aposta.
Eu vou matar Levon.
- Scarlet - Brandon me chama.
Que vergonha! Que vergonha! Ai, meu Deus, que vontade de sair correndo. Me viro
para ele. Só está vestindo uma calça moletom.
- Você está bem?
Não. Engulo em seco.
- Sim.
Tento, e fracasso, não demonstrar o meu surto. Mas ele percebe. É óbvio que ele
percebe.
- Eu sei que você deve estar mal por ontem, mas não aconteceu...
Olho para minha roupas. Ai, meu Deus!
Levanto uma mão e o interrompo.
- Olha só - me levanto - você vai entrar naquele banheiro e eu vou entrar nesse
aqui. Depois que terminarmos de fazer o que precisamos fazer, você vai ser
interrogado, está me ouvindo?
Ele arregala os olhos.
Assente.
- Muito bem. Agora vá.
Ele se levanta e segue em direção ao banheiro. Faço o mesmo.
Eu estou com uma camisa que não é minha. É grande demais. Eu estou usando um
short que também não é meu. É enorme. Procuro pelo meu vestido e não acho. Me
lembro que derramei vinho nele, então obviamente, eu o perdi.
Solto um grunhido.
Escovo os dentes e tomo um banho. Como não tenho o que vestir, coloco as mesmas
roupas que acordei, mas agora estão cheirosas com o perfume que eu usei. Eu sempre
carrego meu perfume na roupa, e fico feliz por não ter perdido ele também.
Quando termino, saio do banheiro e encontro Brandon arrumando a cama e o ajudo,
sem encará-lo.
Ok. Acabamos.
Chegou a hora da verdade.
- Senta aí - indico a cama com um gesto.
Ele se senta.
- Está bem, vamos às perguntas.
- Scarlet...
- Shh - coloco o dedo indicador nos lábios. - Primeiramente, bom dia.
Ele assente.
- De quem é essa camisa? - pergunto.
Ele hesita antes de responder.
- É minha. O seu vestido estava sujo de vinho e não achei nenhuma roupa sua.
- Entendi - ando de um lado para o outro, e penso no que mais perguntar. - E esse
short? É seu?
Ele olha para o short, e parece não tê-lo visto antes.
Ele parece surpreso.
- Brandon?
Ele não olha nos meus olhos quando diz:
- Não é um short, é - olho para baixo. Não é um short - é minha...
- Ai, meu Deus! O que eu fiz? Me desculpa, Brandon - apoia minha cabeça nas mãos
- Me desculpa.
Ele vem na minha direção, e parece segurar um riso. Qual é a graça? Isso é
constrangedor.
E se você ainda não entendeu, é a cueca de Brandon.
Ele me abraça e acaricia meu cabelo.
Dá uma risada leve.
- Não tem problema, amor.
- Ai, isso é horrível, eu não devia ter...
Espere. Do que ele me chamou?
Amor. Agora me lembro.
Brandon me chamou assim ontem o tempo todo.
Olho para ele. Meu olhar viaja por seu rosto.
- Desculpa. Eu vou tirar isso aqui.
Começo a tirar a cueca de Brandon, e ele parece incrédulo com a cena.
Ainda bem que eu estava vestindo algo por baixo.
Passo a peça pelos meus calcanhares e a dobro, e coloco sobre a cama.
- Está aí. É...pode deixar que eu lavo.
Ele ainda não falou nada. Parece chocado.
Eu estou ficando meio maluca, acho.
Olho para Brandon, esperando que diga alguma coisa.
Nada.
- Brandon?
- Scarlet, não tem problema. Por que fez isso?
- Porque...eu não sei. Eu só faço merda.
- Essas coisas acontecem. Mas já passou. É outro dia.
Ok. Eu ainda preciso perguntar outras coisas.
- Está bem, eu... - olho para ele, e percebo que por um bom tempo - Eu preciso
saber o que aconteceu ontem. Nossa, eu fiquei muito doida, não é?
Ele dá um riso e abaixa a cabeça.
Sim, eu fiquei muito doida.
Finalmente, ele faz que sim.
- Fui eu quem me vesti?
Me assusto só em pensar na resposta dele. Isso não pode piorar, pode?
- Sim.
Óbvio que sim. Ele não colocaria sua cueca em mim.
- Ok - pigarreio - e o que eu fiz antes de dormir? Tipo, eu falei alguma coisa?
Você e eu - não, não. Isso não pode ter acontecido - A gente...
- Não aconteceu nada.
Suspiro de alívio. Mas eu me lembro de ter dito algumas coisas, provavelmente
constrangedoras.
- E eu falei alguma coisa? Quais as baboseiras que eu saí por aí falando? Eu não
me lembro.
Dou uma risada, tentando parecer casual.
- No quarto, você me pediu pra deitar com você. Mas foi só isso, você não se
lembra?
- Não mesmo. Espera. Eu te chamei de...
- Noivo bonitão.
Viro o rosto. Não posso encarar ele.
- Que vergonha, meu Deus! - resmungo para mim mesma, mas Brandon parece ter
ouvido, porque deu um sorriso tímido. Ele ainda está sem camisa.
- Mais o quê? O que eu disse? Falei de você? Ai, por favor, Brandon, me conte
tudo. Cada coisinha. Por favor.
Com muito esforço, faço ele me dizer tudo. Eu falei dos braços dele. Falei que
ele fica bom com ou sem roupa. Está bem, isso é verdade, mas não é algo pra ficar
falando por aí. Eu puxei ele para dentro do banheiro.
Vou lembrar de agradecer a ele por ser tão respeitoso comigo, mas depois que ele
me contou a história toda, eu corri para o banheiro e me tranquei ali. Como ontem.
A diferença é que eu não estou bêbada.
- Eu sabia que você iria ficar assim, por isso não devia ter contado.
- Como vou encarar o mundo depois de tudo o que eu fiz? Levon vai me perturbar
até nos meus pesadelos.
Ouço Brandon rir.
- Esqueça isso, amor.
Sinto borboletas no estômago quando ele me chama assim.
- Me responda uma coisa. Por que decidiu beber tanto assim? Tudo por 200 dólares?
Você não faria isso.
Enrubesço. Não podia deixar que toda aquela vergonha fosse em vão. É ainda mais
vergonhoso ter que explicar isso. Imagine se ele descobrisse tudo? Eu queria
evaporar dali. Eu pensava que não tinha como piorar...
- Scarlet? - Brandon me chama.
- Sim?
- Como Levon te convenceu a fazer isso?
Junto coragem e abro a porta.
Ai, eu havia esquecido que ele estava sem camisa. Isso é ruim, porque me
atrapalha. Eu mal percebo que fico igual uma paparazzi piscopata olhando para
aquele corpo lindo. Pisco várias vezes e olho para seu rosto. Ele percebeu. Droga.
- Se eu te contar, tudo vai ter sido em vão. Então eu só posso dizer que Levon
viu minhas conversas com Emma e ameaçou explanar por aí. Então me desafiou a beber
uma boa quantidade de vinho, e eu aceitei. Pelo menos ganhei alguns dólares, não?
Finjo uma risada, que sai enferrujada.
Pigarreio.
- Eu sei que é estranho e você está curioso, mas são só coisas de menina,
entende?
Ele assente.
Provavelmente está me achando uma idiota. E eu sou mesmo. Encaro a janela que
mede a parede inteira. Eu preciso mudar de assunto. E rápido.
- E eu preciso de roupas. Aqui tem?
Ele não responde e, quando olho para ele, vejo que estava olhando pra minha
calcinha, mas desviou rápido, com timidez.
- Vou pedir na recepção. Eu só preciso da...
Ele coloca a mão nos bolsos da calça, parecendo nervoso, e aponta com a cabeça
para a camisa que estou vestindo.
Claro.
- Ah, sim! Eu havia me esquecido disso. - Dou uma risada nervosa.
Isso vai ser meio constrangedor. Eu sei. Mas já passei por tantos momentos assim
nas últimas horas, que acho que um a mais não faz diferença.
Levo minhas mãos à bainha da camisa e começo a tirá-la. Olho de soslaio para
Brandon antes de puxá-la pela minha cabeça. Ele está...

♧ Prestes a morrer. Eu vou infartar. Por que nunca me acostumo? É como se fosse a
primeira vez que a vejo assim. Mas agora ela está sóbria. Sabe o que está fazendo.
E eu preciso virar o rosto para não vê-la. Isso é torturante. Eu mal consigo
respirar.
E o que eu mais quero no momento é abraçar ela. Beijá-la nos lugares mais
inesperados. Quero tocá-la. Mas eu não sei o que ela está pensando. Provavelmente
ela me acharia um babaca se eu fosse em sua direção e a beijasse. Eu não sei.
Ela termina o gesto e estende a mão para me entregar a blusa. Eu a pego, e luto
para parecer calmo. Deslizo a camisa sobre o meu corpo - o oposto do que quero
fazer agora - e quando me viro em sua direção, ela parece nervosa. Excitada. Está
mordendo o lábio inferior e temo que comece a sangrar.
É bom perceber que eu não sou o único assim.
Sorrio e dou uma piscadela. Ela sorri.
Mal percebo que nos aproximamos e que há apenas alguns centímetros nos separando.
- Bom, eu vou indo. Fique aí - digo.
- Está bem. Não demore, estou morrendo de frio.
Dou uma risada e beijo sua testa.
- Volto logo.
Então eu saio da suíte e pego um elevador.

♧ Estou tremendo de frio, e como não tenho o que vestir, pulo na cama recém-
arrumada para me enrolar nas cobertas fofinhas e me cubro até o pescoço.
Então a lembrança me vem à cabeça. O momento em que eu pedi para Brandon ficar
comigo. E ele ficou. Eu o provoquei de diversas formas, e ele não cedeu por
respeito à mim. E eu me pego imaginando uma situação em que estivesse sóbria. Ele
teria se afastado? Porque, pelo que eu entendi, ele recusou qualquer relação comigo
por medo de eu não gostar. Então talvez isso signifique que ele queria, mas não fez
porque me respeita. Brandon é incrível. Ele precisa saber que, se tem uma coisa que
vou sempre estar disposta, é fazer qualquer coisa com ele. Juntos. Eu preciso que
ele saiba que eu o quero tanto como ele me quer.
Estou pensando demais. Olho em volta em busca de algo para ocupar minha mente, e
percebo algo que eu não vi antes. Abro as gavetas da cômoda ao lado da cama e vejo
vários gibis. Há também, na segunda gaveta, um monte de cremes faciais e máscaras
de argila. Resolvo pegar uma argila e um gibi. Vou rápido até o banheiro e passo a
máscara no rosto. Estou parecendo aquelas adolescentes ricas e com a pele perfeita.
Começo a rir com o pensamento. É uma máscara verde consistente e cheira a lavanda.
A sensação é relaxante.
Depois de terminar, espero secar e enquanto isso leio um dos gibis, de volta às
cobertas quentinhas.
Estou rindo com a fala de um dos personagens quando a porta se abre.
Brandon. Ele sorri quando me vê.

♧ - O que é isso aí no seu rosto? - Pergunto, rindo.


- Eu sei o quão horrível eu estou com essa coisa na minha cara. - Ela diz. - É
uma máscara de argila. E o que é isso aí na sua mão?
Olho para a tábua que estou segurando e digo:
- Comida. E as roupas estão aqui nessa sacola.
Seu sorriso aumenta e ela vem na minha direção.
- Deixa eu te ajudar com isso aqui - ela pega a tábua e a coloca na cama e depois
pega a sacola.
Eu realmente não me incomodo que ela continue assim, mas é óbvio que eu não digo
isso. Quero me socar por ter esses pensamentos.
- Já volto. - Ela diz, indo em direção ao banheiro.
Assinto.
Eu pego o telefone e vejo duas mensagens de Levon.

Levon《Foi mal por ontem, cara

Levon《Como ela está?

Brandon《Forte o suficiente para quebrar a sua cara.

Levon《Merda.

Brandon 《Boa sorte, irmão.

Levon 《Idiota.

Guardo o celular no bolso e alguns segundos depois Scarlet aparece, ainda com a
"máscara de argila".
Eu consegui uma calça legging, uma blusa de malha justa e um casaco de estilo
jogador de basquete. Seu cabelo está preso em um coque improvisado.
Ela está linda. Como sempre.
Ela se aproxima e pega um bolinho. E enfia com tudo na boca, fechando os olhos ao
sentir o sabor.
- Hum, isso é muito bom - ela diz, com a boca cheia.
Um sorriso escapa da minha boca. Ela devolve.
- Consegue comer com isso aí? - faço um gesto para indicar a máscara, enquanto
levanto e me apoio na cabeceira da cama. Pego uma maçã.

♧ - Claro que sim - digo, sorrindo - E daqui a alguns minutos vou tirar ela e vou
estar linda - brinco.
Mas então, algo que eu não imaginava acontece. Enquanto mastiga a maçã, seus
olhos se movem sem pressa pelo meu corpo, da cabeça aos pés. Eu coro.
Pigarreio e ele volta a atenção para mim. Meus olhos, na verdade. Vou em direção
ao banheiro e removo a máscara. Então volto para o quarto, me sentando novamente na
cama. Brandon ainda está de pé, e me pergunto como. Guardo a máscara dentro da
gaveta e percebo os olhos dele grudados em mim.
- Ontem - olho para ele - ontem você disse muitas coisas...
- Horríveis? Idiotas? Estúpidas? - tento adivinhar.
- Não, mas seria pedir muito que você me dissesse exatamente o que estava
pensando? - franzo a testa - Eu sei que talvez você se sinta envergonhada em
responder esse tipo de coisa, mas eu queria saber se entre todas aquelas coisas que
você disse, alguma foi real.
Eu disse muitas coisas. Eu acredito que quando eu estava embriagada, eu não
estava mentindo e falando coisas sem sentido, mas dizendo, sem pensar, as coisas
que se passavam pela minha cabeça.
Brandon é meu noivo e é bonitão. Eu estava feliz em saber que em breve nos
casaríamos. Eu quero estar, para sempre, nos braços fortes e musculosos de Brandon.
Então sim, tudo o que eu falei foi real.
Eu abro a boca para dizer algo, mas nada sai. Brandon não está me encarando, eu
percebo que ele está nervoso, muito nervoso. Então eu me obrigo a falar.
- Sim - digo, baixinho - tudo o que eu disse foi real.
Brandon me encara e vejo seus olhos brilharem.
- Tudo? - ele questiona.
Fico de bruços na cama.
- Eu achei - começo a falar, e engasgo com as palavras - eu achei que você
soubesse. Eu não teria ficado envergonhada em... Eu não teria me importado tanto se
o que eu disse fosse só brincadeira.
Brandon parece sem saber o que dizer. Então decido continuar.
- Menos a cueca - Brandon solta uma risada enferrujada, mas sincera - Eu juro que
pensei que aquela coisa fosse um short ou sei lá. Me desculpe.
Ele balança a cabeça.
- Você não fez nada errado. Eu só não estou acostumado a emprestar minhas cuecas.
Começo a rir.
- Ai, meu Deus! - eu exclamo - Isso seria muito esquisito.
- Sem dúvidas.
As risadas ficam mais baixas e de repente um silêncio perturbador se acomoda no
ambiente, e penso em uma coisa.
- Sabe, eu gostei daqui. Tem comida, livros, dois banheiros grandes...sem contar
esse quarto e essa cama - deito de cara nos travesseiros, com pernas e braços
abertos, minha voz abafada. Ouço Brandon rir - É tão macia. Eu nem quero sair
daqui.
Tiro o casaco e Brandon se senta na beirada da cama.
- Sim, mas temos que sair até o almoço. A não ser que você tenha uma grana para
continuar pagando.
Eu olho para ele.
- Não, Scarlet- ele já sacou a minha ideia. Maldito leitor de mentes.
- Você tem grana, Lennon - cutuco seu abdômen e ele se contorce. Dou um sorriso -
Você sente cócegas, amor? Que bonitinho.
Só depois percebo do que o chamei, e ele também.
Ele faz uma careta engraçada. Meu sorriso se alarga.
Cutuco seu abdômen de novo. E de novo.
- Pare, Scarlet - diz, começando a abrir um sorriso.
Me aproximo dele para fazer mais cócegas, mas ele segura minhas duas mãos atrás
das minhas costas, me virando. Posso sentir seu peito nu tocar meus ombros. Ele fez
isso apenas para que eu fraquejasse.
Trapaceiro.
- Tudo que vai, volta, Scarlet - ele sussurra em meu ouvido, e sinto os pelos da
minha nuca se arrepiarem com sua respiração. Ele percebe isso, porque dá um
risinho.
Uma de suas mãos levanta a bainha da minha blusa e toca minha cintura.
- Não! - grito - para, Brandon.
De repente estou de costas na cama, com ele sobre mim.
Suas mãos viajam por várias partes do meu corpo, e estão saindo lágrimas de meus
olhos com os risos.
Não sei como, mas consigo puxar a cabeça de Brandon para mais perto da minha, e o
beijo suavemente.
Ele finalmente para, e suas mãos percorrem meu corpo apenas para me sentir, e não
me matar de rir, então consigo entrelaçar minhas pernas em sua cintura.
Já estava sentindo falta desses lábios. Tão suaves. Tão doces. Eles fazem eu
sentir como se estivesse deitada numa nuvem fofa. Meu corpo estremece quando sua
língua roça na minha. É um beijo simples. Calmo.
Quando ele se afasta, meus olhos permanecem fechados, tentando sentir seu gosto.
Eu finalmente abro os meus olhos e o vejo me encarando, seus olhos estão brilhando
de desejo, provavelmente como os meus. Sorrimos.
O telefone do hotel toca. Nos levantamos, e Brandon atende sem tirar os os olhos
dos meus.
- Sim, sim. Avise que já estamos descendo.
Ele coloca o telefone no gancho se vira para mim.
- Estão nos chamando no térreo. Creio que seja Emma e Levon - ele diz.
Me levanto e coloco a jaqueta, enquanto Brandon coloca uma camisa.
Ele estende a mão para me ajudar a levantar e eu a pego, sem soltá-la, mesmo
depois de saímos da suíte.
Quando saímos do elevador, encontramos Emma e Levon cochichando coisas entre si,
provavelmente obscenas. Brandon e eu nos entreolhamos.
Pigarreio e eles nos veem. Levon vai para trás de Emma, como se tentasse se
proteger. De mim.
Emma me puxa para um abraço apertado.
- Amiga, me desculpe! Eu juro que teria quebrado a cara de Levon na hora se
soubesse o que ele tinha feito - ela diz.
Ouço Levon limpar a garganta e ele tenta se esquivar dos olhares que
provavelmente Brandon o está enviando.
- Florzinha, você já fez isso - Levon sussurra.
Olho para ele com um sorriso ameaçador. Pigarreia.
- É... oi - ele acena para mim.
Abro os braços para lhe abraçar, mas ele se afasta, com as mãos em frente ao
corpo.
- Não quer me dar um abraço? - pergunto.
- Hum...não, obrigado.
Ouço Emma e Brandon rir.
De repente, estamos correndo, e nem percebo que subimos vários andares enquanto
Levon foge de mim.
Ele abre a porta do quarto que parece o dele e, antes que consiga fechá-la, eu
entro na suíte.
- Você que aceitou a aposta! - ele aponta para mim.
- Você me chantageou. - eu me inclino para pegar uma bolsa que parece ser de
Emma. Vou lembrar de comprar outra depois.
- E você ganhou 200 dólares! - ele pula em cima da cama.
Solto uma risada sarcástica.
- Claro, e falei milhões de coisas que não devia ter falado. E você inventou
aquela brincadeira ridícula pra me fazer passar vergonha.
- Mas você disse que queria brincar.
- Eu estava bêbada, seu babaca.
Jogo a bolsa em sua direção e a acerto em seu rosto. Ele solta um gemido de dor.
- Olha a boca, Letzinha.
Damos voltas e voltas pelo quarto, e eu jogo o que consigo na cara dele.
- Eu odeio você! - digo, com raiva.
- Calma, é um estado de espírito, vai passar logo.
Ouço passos se aproximarem e vejo Brandon e Emma. Levon corre na direção dela,
longe do meu alcance.
- Socorro, Emma, ela quer me matar! - ele vai para trás dela, mesmo que tenha o
dobro de seu tamanho.
Emma não consegue segurar a risada.
- Scarlet, você não precisa tentar esconder que está apaixonada. - Ela diz.
Meus olhos se viram automático e lentamente na direção de Brandon, que já está me
encarando.
- Eu - começo a falar - Eu não...
- Está sim - Levon me interrompe - e tudo isso só está acontecendo porque está
com medo de que Brandon saiba que você repara, e muito, na...estrutura física dele,
vamos dizer. E também vamos concordar que você fica fofinha bêbada.
Disparo contra ele como uma bala, mas antes que eu soque sua cara, Brandon
intervém.
- Você já deu uma surra nele, não precisa dar outra - ele sussurra no meu ouvido.
Estou em total atenção às suas mãos em meu quadril, e sinto meu rosto queimar de
vergonha. Eu não reparo na estrutura física dele.
Está bem, só um pouquinho.
Mas Levon falando assim, me faz parecer uma obcecada na beleza dele, ou caidinha,
e isso é horrível, porque talvez ele esteja certo.
Me sinto derrotada.
- Brandon... - chamo, sem saber o que dizer exatamente.
- Agora me sinto importante - ele diz, num tom brincalhão.
- Você sempre foi - digo baixinho, para que só ele possa me ouvir.
Ele dá um sorrisinho satisfeito.
- Além disso, ouso dizer que nosso sentimento é recíproco. Você, Scarlet, é a
mulher mais linda que eu conheço - Olho em seus olhos, e vejo uma energia ali que
parece nos conectar - Você acha mesmo que não admiro cada centímetro do seu corpo?
Acha que, todas as vezes em que olho para você, não penso que a coisa mais certa
que fiz na vida foi ter te escolhido para estar ao meu lado?
Abro a boca, mas nenhum som sai.
Eu nunca me permiti pensar muito nisso. Suas palavras são tão doces, tão pra mim,
que eu mal reparo na presença de Emma e Levon que escutaram cada letra que saiu dos
lábios de Brandon. Ouço alguém pigarrear.
- Uau. Tá legal, isso foi...nossa. Arrasou, Brandon. Admiro demais seu
vocabulário romântico. Mas, como já sei o que vocês estão prestes a fazer, peço que
se retirem. Porque, apesar de ter uma cama aqui, não é o quarto de vocês, então...
Pego uma almofada e jogo em sua cabeça.
- Bem, vamos comer? - Emma pergunta, rindo.
- Por favor. Estou morrendo de fome - digo, saindo do quarto e seguindo até o
elevador. Eu só havia comido o bolinho e não me satisfez.
- Pensei que tinha feito uma refeição durante a noite, Letzinha.
Seguro o impulso de dar-lhe um soco.
- Você era divertido, Levon.
- Agora eu sou o quê? Encantadoramente lindo? Sexy?
- Estúpido? - Provoco.
Ele mostra a língua pra mim.

Depois de um bom pedaço de pizza de calabresa, alguns pães de queijo e uma


limonada, eu volto para a suíte.
Chegou a hora de ir embora.
Como, obviamente, eu não trouxe nenhum pertence, tudo o que eu faço é esperar
Brandon terminar o que quer que esteja fazendo.
Meus olhos vagueiam pelo quarto, e as memórias do dia anterior me vêm à mente.
Mesmo que eu não tenha ficado muito tempo aqui, é surpreendente que as lembranças
permaneçam pelos longos próximos anos de minha vida.
Eu fiquei bêbada por causa de uma aposta ridícula, e agora me pergunto se aquilo
tudo valia a pena. Levon não ia contar nada do que leu para Brandon. A única coisa
que ele queria era me ver com a cara cheia. Ver o que eu falo. Saber o que eu
penso. Isso é imaturo e ridículo, mas se não fosse por isso, eu não teria
vivenciado momentos aqui que ficarão marcados para sempre. E Brandon tem uma
parcela de culpa.
Demoro um bom tempo para perceber que estou sorrindo. E também demoro para
perceber que ele está aqui, de pé. Na minha frente. Sorrindo lindamente. Sem
camisa.
E como você já pode imaginar, meu coração pula dentro do peito, e temo que seja
tão alto a ponto de o hotel inteiro ouvir.
- O que foi? - pergunto.
- Você é que estava rindo - ele retruca, e me pergunto há quanto tempo ele está
aqui - Estava pensando em chocolates e pizzas ou algo assim? - ele brinca.
- Estava pensando em você. - As palavras saem antes que eu possa pensar se as
pronuciava ou não.
Bem, agora é tarde demais.
Ele pega minha mão e me puxa para si. Nossos peitos se tocando. Um turbilhão de
emoções toma conta de mim.
Deus, isso é tão bom.
Ele se aproxima e seus lábios roçam minha orelha.
- Eu amo você, Scarlet.
Eu abro a boca para responder, mas ouço algo que parece um telefone tocando.
Procuro pelo aparelho e vejo que é o celular de Brandon.
Ele me afasta para...
Para que eu não possa ver?
Olho para Brandon, e ele já está me encarando.
Pego o telefone e ele tenta tirar da minha mão.
Vejo o nome do contato.
Sarah, e embaixo está escrito, entre parênteses, flor.

B.
Droga. Ela vai descobrir.

S.
Entrego o telefone à Brandon, e ele parece surpreso com a minha atitude.
- Aqui, pode atender.
Ele hesita, mas pega o telefone e atende.
Faço um gesto para que coloque no viva voz.
- Alô, Brandon?
- Oi, sou eu - ele responde.
Que merda é essa? Está muito formal.
- Está tudo pronto. Que horas você vai estar disponível?
Brandon olha para mim e eu levanto uma sobrancelha.
- Já estou indo.
Não é possível.
Não. Não. Não.
Não pode ser.
Sinto a raiva pulsar nas minhas veias, e luto para permanecer calma. Como posso
ter sido tão burra? Eu nunca nem olhei o telefone de Brandon.
Eu nunca imaginei...
Eu pensei que...ele me amava.
Ele desliga o telefone e o joga na cama. Ponho uma mão na testa num gesto de
autocontrole.
Estou tão perplexa que não sou capaz de pronunciar uma palavra sequer. Luto
contra as lágrimas que ameaçam cair. Não posso ser fraca. Mas acho que não vou
conseguir. É uma dor muito forte.
- Scarlet, por favor. Me escuta. Senta aí - ele apoia as mãos de cada lado do meu
ombro, me fazendo sentar na cama.
Não desvio o olhar. E antes que eu possa evitar, uma lágrima escorre pela minha
bochecha esquerda.
Pronuncio a única frase que eu consigo dizer.
- Olha - fungo - por essa eu não esperava, Brandon. Não mesmo.
Ele franze a testa. E sorri. E balança a cabeça.
- Não, não, não. Scarlet, a única mulher da minha vida é você. Me escuta.
Eu solto uma risada seca e sem humor.
- Scarlet, quando chegarmos...
Interrompo-o erguendo a minha mão.
- Não precisa se explicar. Eu já vou indo.
Me levanto e corro para a porta.
Agora sim eu posso chorar. Posso jogar tudo isso pra fora. E quem sabe, o amor
que eu ainda sinto por Brandon. Tanto tempo. Tanto tempo sendo enganada. Sempre
enganada.
Quando alguém vai me contar tudo, quando alguém vai ser verdadeiro comigo?
Não espero o elevador, corro direto para as escadas, e anseio para chegar logo ao
térreo. Quero sair daqui.

♧ ♧ ♧

Droga. Droga. Droga.


Eu fui um idiota. Eu devia ter dito logo que não era o que ela estava pensando,
mas fui idiota, idiota.
Agora estou a um passo de perdê-la.
Mas não posso permitir que isso aconteça. Preciso esclarecer essa situação, e não
vai ser aqui parado que vou conseguir.
Visto uma camisa e saio às pressas da suíte.
A passos largos, pego o elevador para descer até a recepção.
Estou tamborilando os dedos nos bolsos da calça.
Olho o relógio.
16h58.
Esse elevador parece mais lento que o normal.
Aperto várias vezes o botão do andar, como se isso fizesse eu chegar mais rápido.
Merda. Merda. Merda.
Como o elevador está vazio, me permito andar de um lado para o outro, e me
surpreendo quando o sinto parar.
Olho para o andar. Ainda não cheguei.
Umas três pessoas entram, e de repente me sinto claustrofóbico.
Não posso perdê-la. Não posso perdê-la. Não posso perdê-la. Não posso perdê-la.

♧ ♧ ♧

Posso sentir meu rosto vermelho e inchado com as lágrimas.


Escuto alguém gritar meu nome, mas os barulhos da minha mente, as vozes que dizem
"você foi traída mais uma vez" são muito, muito mais altas.
Saio às pressas pela porta principal do hotel, e nunca me senti tão satisfeita
por não ter trazido nenhum pertence quando cheguei nesse lugar.
Quando estou ao ar livre, sinto os pingos grossos de água baterem contra meu
corpo. Chuva.
No momento em que chego ao estacionamento, não pego o carro, eu só quero correr,
correr até perder minhas forças, e eu sei que elas não se vão tão facilmente.
Então tudo que eu faço é correr e correr.

♧ ♧ ♧
Olho para o relógio.
16h59.
É inacreditável que tenha se passado apenas um minuto, isso parece levar uma
eternidade.
O elevador para.
Olho para o andar e solto um suspiro de alívio.
Finalmente cheguei.
Sinto um aperto no peito. Eu sou responsável por isso, e última coisa que eu
quero nessa vida e fazê-la chorar e sofrer.
Idiota. Idiota.
Saio do elevador e procuro por ela, mas não a vejo em nenhum lugar, então corro
pela recepção e de repente colido com algo. Ou melhor, alguém.
Levon. Seus olhos estão arregalados.
- Merda, o que houve com a Scarlet? Eu chamo e ela não me escuta - ele diz,
agarrando meus ombros.
Estou ofegante.
- Eu sou um idiota...
- Está bem, isso eu já sei - diz, olhando para todos os lados - Mas ela não está
nada bem, então acho que talvez seja melhor lhe dar um tempo, Brandon.
Passo uma mão pelo cabelo.
Infelizmente, não posso fazer isso.
Olho para ele.
- Não posso, ela está achando que eu...que eu estou traindo ela com Sarah.
- O quê!? - ele grita, incrédulo - O que você está esperando, imbecil? Pega o
carro.
Começo a correr, mas Levon me chama.
- As chaves, idiota.
- Sim, as chaves...
Ele joga elas na minha direção e eu as pego no ar.
Corro até o estacionamento e procuro pelo carro.
Onde está, onde está...
Achei.
Abro a porta e entro no carro. Viro a chave e tento, o mais rápido possível, sair
do estacionamento do hotel. Agora tudo que eu preciso é de sorte para acertar qual
caminho Scarlet seguiu.

♧ ♧ ♧

Não ligo para minhas roupas ensopadas, nem para meu cabelo encharcado.
Não sei onde estou.
Estou ajoelhada no chão duro e estou gritando.
Burra. Burra. Burra.
Sinto meu coração bater forte e rapidamente contra meu peito.
Carros e motos e pessoas estão circulando à minha volta, os barulhos ecoando em
meus ouvidos e mesmo assim não presto atenção, até o momento em que sinto uma voz
familiar a poucos metros de mim. Mas talvez seja alguma alucinação. Uma alucinação
em que alguém está me abraçando. É um abraço protetor. Um abraço que eu ainda quero
ter para sempre.
Brandon.
Bem, talvez não seja uma alucinação, e se for, está muito, muito realista. Eu
estou enlouquecendo. Ou não.
Eu não sei.
Ainda posso sentir braços ao meu redor e, sendo real ou não, eu me desvencilho
dele.
É Brandon que está me fazendo sofrer. Ele é o culpado.
- Me deixe em paz - eu sussurro, numa tentativa de afastar essas imagens
ilusórias. Mas eu olho em seus olhos. E percebo o quão real ele é, e está aqui, em
carne e osso.
Eu olho para ele e vejo a boca que tanto beijei, os olhos com que eu sonhei em
acordar pelos próximos anos da minha vida. Vejo esse rosto encantadoramente lindo e
meu coração dói tanto. Tanto.
Meu Deus, o que eu fiz para merecer isso?
Fecho os olhos com força e tento me afastar, mas Brandon é mais forte.
Ele não me solta. E antes que eu perceba, estou em seu colo.
Ele abre a porta de acompanhante do carro e me coloca ali, e depois senta no
banco do motorista. Eu penso nele com um ódio tão grande que temo que minha cabeça
exploda, e é como se ele estivesse aqui, comigo. Eu estou em um carro e ele está
dirigindo, mas é parte da minha imaginação. Eu queria que fosse ele, mas não é. Ele
liga o carro e começa a acelerar. Eu seguro o impulso de lhe dar um soco na cara,
pois seria uma estupidez agredir ao motorista com o carro em movimento. E mesmo que
eu pretendesse fazê-lo, não seria capaz. Por que estou assim? Por que tudo parece
tão real e ao mesmo tempo fictício?
Eu estou ficando louca.
Não consigo distinguir a imaginação da realidade. Mal consigo entender a qual
lugar esse carro está indo. A única coisa que eu sei é que quero espancar Brandon,
mesmo que seja nos meus delírios. Teria sido muito mais fácil ter terminado comigo
de uma vez do que mentir para mim. Me fazer de trouxa. Dizer que me amava. De tudo,
isso foi o que mais doeu. Espere, talvez não. Não é a primeira vez que isso
acontece. Brandon não é a primeira pessoa a me fazer acreditar que era o certo me
abrir, amar alguém. Confiar. Mas no fim, percebo que estou sozinha, como sempre
estive. Como sempre estarei.
Olho para o lado e vejo Brandon. Isso não era parte da minha imaginação? Ele não
pode estar aqui. Eu corri, corri e corri até minhas pernas falharem e tudo o que eu
continuo querendo é correr mais e mais. Não posso estar de fato em um carro, posso?
Ainda mais com Brandon.
Eu estou enlouquecendo. É isso.
Brandon está aqui, sim. Ele está me levando a algum lugar que eu não quero ir.
Não quero mais estar perto dele. Eu não estou. É minha cabeça. Não, não é. Na
verdade, eu desejo não querer, mas no fundo eu quero. Quero estar com ele. Eu
queria. Queria viver com ele até a minha morte. Tínhamos tudo planejado, um caminho
a seguir. Mas agora eu não sei para onde estou indo.
Oh, Deus...é ele, em carne e osso. Aqui, do meu lado. E de repente me pergunto se
tudo aquilo foi apenas um pesadelo enquanto cochilo no carro, à caminho do nosso
apartamento. No lugar onde tenho uma família. Pessoas em quem confiar.
O que ele está fazendo?
O que está acontecendo?
Eu não consigo entender. Algo está errado.
Ele planeja se encontrar com uma mulher, e sou eu que estou aqui no carro? Ele
está tentando me prender?
É isso. Ele quer me manter presa até enjoar de mim.
Brandon é um cretino. Eu quero matar ele.
Para minha sorte, ele para o carro. Estamos num...estacionamento? Olho em volta,
sem mexer a cabeça. Não é o hotel. Nem o apartamento.
Sim, exato. É um estacionamento. A céu aberto. Quando admiro com atenção o local,
meu sentidos começam a retornar, as coisas parecem ganhar algum sentido.
Já está anoitecendo e ainda chove, os vidros do carro estão completamente
embaçados.
Eu quero sair daqui. Não quero ficar perto do homem responsável pelas lágrimas
mais dolorosas já derramadas em meu rosto.
Abro a porta o mais rápido que posso e saio.
Solto um gemido quando meus pés tocam o chão. As minhas pernas ainda estão
doloridas e trêmulas, e se eu não estivesse com tanta raiva teria voltado para a
segurança do carro. Minhas roupas já molhadas voltam a respingar com a chuva e eu
forço minhas pernas a andarem.
- Scarlet, volta aqui! - Brandon grita, mas continuo andando e andando,
aumentando a velocidade a cada passo. Minhas canelas estão queimando.
Já estou a uma boa distância do carro quando ouço um bater de portas e, quando
olho para trás, vejo ele vindo na minha direção. Em um segundo, Brandon está
ensopado e próximo de mim.
Ele agarra meu braço.
Tento soltar, mas ele continua me segurando com força.
- Me solta! - Com a chuva forte, eu preciso gritar para que ele consiga me ouvir.
- Eu nunca vou te soltar - ele diz, sorrindo. - Sarah está me ajudando a fazer
uma coisa que eu estou planejando há um tempo para você.
- Essa é a desculpa mais imbecil que você poderia inventar - eu digo, ríspida.
Ele me ignora.
- Ela está me ajudando a fazer uma surpresa para você, que eu iria te mostrar
hoje quando chegasse no apartamento. Já está lá.
- Ótimo. Ela está te ajudando a fazer uma coisa pra mim e você salva ela como
"flor"?
Ele põe uma mão na testa, como se eu fosse burra.
- A surpresa é uma flor, Scarlet.
Olho para ele.
Ao contrário do que eu disse antes, essa é uma desculpa muito bem pensada.
Então ele estava planejando fazer uma flor de surpresa pra mim, com a ajuda dessa
mulher. E salvou o contato dela como Sarah. O flor estava entre parênteses.
Não. Isso não é possível.
- Ela me ligou para avisar que o material estava pronto. Scarlet, vamos para o
carro e eu te explico melhor.
Depois de um bom tempo pensando, decido ir até o carro. Percebo que estou
mancando.
No caminho, Brandon me explicou tudo.
Sarah era uma conhecida de Emma, que é designer e arquiteta. Brandon queria fazer
uma escultura de flor para o nosso casamento e resolveu compartilhar a ideia com
Emma, que sabe bem de decoração e indicou Sarah. Ele me disse que é "uma flor meio
elaborada" e que tem coisas dentro que ele não vai me contar agora. Era por isso
que o contato estava salvo como flor.
Ai, meu Deus!
Eu sofri por nada.
Eu fiquei tão perplexa e envergonhada que quando entramos no carro, tudo o que
podíamos ouvir era os pingos grossos de água batendo no parabrisa e o barulho de
nossa respiração, em vez de meus pedidos de desculpa à Brandon. Mas ele está rindo.
Rindo enquanto eu estou com os olhos arregalados e estou tremendo. Eu já tive
várias tentativas fracassadas de falar alguma coisa, mas ele disse que não há
motivo para eu me desculpar.
Mas mesmo assim.
Engulo em seco e reúno todas as minhas forças para falar. Eu preciso me
desculpar.
- Brandon - minha voz sai trêmula -, eu preciso me...
- Você está tremendo de frio, amor - interrompeu ele, erguendo uma das mãos para
tocar minha bochecha - Deveríamos ir logo para casa, antes que pegue um resfriado.
Ele sorri.
- Se não fosse pela minha idiotice, estaríamos em casa agora, secos e aquecidos -
digo, me surpreendendo quando as palavras saem. - Agora vamos ter que esperar a
chuva diminuir pra voltar à estrada.
Ótimo, estou começando a desenvolver a fala novamente.
- Talvez não demore muito tempo.
Ele diz. Estamos tão próximos que eu posso ver os detalhes de seu rosto molhado
pela chuva, e me lembro que o meu também deve estar. Seus olhos encaram os meus. Me
sinto corar.
- E você não precisa se desculpar - diz, e seus olhos deslizam para minha boca e
permanecem ali apenas alguns segundos, e voltam para me encarar - Mas precisa saber
que eu nunca escolheria outra pessoa além de você. Não há e não haverá ninguém além
de você, entendeu?
"Não há e não haverá ninguém além de você."
Tento dizer algo, mas falho com sucesso e a única coisa em que consigo pensar é
no quão perto estamos e quão pouco falta para acabar com essa distância. Esqueço de
responder e me concentro em seus olhos, suas sobrancelhas, sua boca e em quanto amo
esse rosto. Há minutos eu olhara para ele e pensara que nunca mais poderia tocá-lo,
mas agora eu só quero juntar meu corpo ao dele e dormir. Tenho vontade de fechar
meus olhos com o conforto que é estar com Brandon dentro desse carro embaçado, com
uma chuva batendo contra os vidros tão forte quanto meus batimentos cardíacos
dentro do peito.
Eu quero tanto beijá-lo.
- Aham, acho bom - forço-me a responder, com um ar brincalhão.
- É sério, Scarlet - murmurou ele.
Então eu o beijo.
Sem hesitar, cruzo minhas mãos em torno de sua nuca e aproximo nossos quadris.
Brandon parece surpreso por um momento, mas então ele devolve o beijo, apoiando
uma mão em meu quadril, enquanto a outra acaricia a lateral do meu rosto.
Ondas elétricas percorrem meu corpo, e me sinto completamente envolvida pelo
cheiro de seu perfume masculino junto ao da chuva.
Seus lábios são sempre tão macios. Tão suaves. Meu corpo está arrepiado e sei que
não é apenas pelo frio, e o calor do corpo de Brandon é tão confortante que me
inebria.
Posso ouvir, junto ao som da chuva, nossos batimentos cardíacos desacelerarem, e
o beijo que antes era suave, se tornar algo mais profundo e intenso.
Brandon me puxa para si e suas mãos deslizam para a bainha de minha blusa,
enquanto as minhas passam pelos seus cabelos macios e sedosos.
De repente, um estrondo irrompe do céu e nos afastamos.
Olho para ele e começamos a rir.
- Pelo visto, não vamos sair daqui tão cedo. - Brandon diz, sorrindo.
Concordo.
Ouvimos um celular vibrando - dessa vez o meu - e o pego para ver quem nos
perturba.
Levon. Reviro os olhos.
Brandon parece achar alguma graça na minha expressão e antes que eu possa impedi-
lo, ele pega meu celular e atende o telefone.
- O quê você quer?
- Caraca, a sua voz engrossou muito, Scarlet. Está tomando anabolizantes ou algo
assim?
- Seu idiota. Se me der licença, precisamos desligar.
- Entendi, então se resolveram?
- Sim.
- Scarlet, amiga - Levon chama. Ele sabe que estou ouvindo. - Você foi muito não
inteligente ao pensar uma merda daquelas. Esse cara aí é um saco, mas ama você, ok?
Olhando para o cara ao meu lado, respondo:
- Ok, eu sei disso - digo, com um sorriso.
- E onde vocês se meteram? Já ligamos umas 20 vezes e ninguém atendeu.
- Quando a chuva diminuir, estaremos aí.
- Você estão simplesmente esperando a chuva diminuir? Tipo, parados?
Brandon revira os olhos e eu solto uma risada.
- Estamos fazendo coisas.
Ele me manda um olhar cheio de significado, levando em consideração o que
estávamos fazendo agora há pouco e sorri. Devolvo o sorriso, que subitamente se
transforma em algo meio malicioso.
Ele me dá uma piscadela.
- Que nojo. Voltem logo para casa. Ah! E não esqueçam...
- Até logo, Levon - Brandon diz.
E desliga.
Ele se aproxima e coloca meu celular no porta-luva, em seguida pegando minha mão
e me puxando para mais perto.
**** 14. Já haviam três dias ****
Já haviam três dias que estávamos ao redor do depósito. Estava óbvio que não haviam
pessoas ou qualquer ser vivo lá dentro.
- Vamos entrar - eu digo.
- Você tem c-certeza? - alguém me pergunta, e pelo visto parece ter sido Sam.
Faço que sim.
Começo a me levantar e gesticulo para me seguirem. Olho por todas as janelas, de
todos os ângulos.
Nenhuma bomba. Nenhuma luz.
Abro a porta com dificuldade, ela parece ter sido arrombada antes, mais de uma
vez.

. . . . . . .

Vasculhamos toda a área em busca de quaisquer sinais de ameaça, mas ela estava
abandonada, literalmente. Não era uma armadilha. Agora tínhamos um local onde
podíamos dormir, mesmo que não seja nas melhores condições, mas isso não importa.
Estávamos sem dormir havia três dias, e nem temos forças para pensar em nada além
de dormir.
Ficamos o dia todo arrumando o espaço e já não aguentamos mais. Precisamos
dormir.
Sam já estava em um canto do depósito. Provavelmente se esqueceu que ainda faltava
mais outro, mas podíamos deixar isso para outro dia.
- Let, ainda falta muito? - Bella pergunta.
Olho em volta. Já está bom o suficiente para dormirmos confortavelmente.
- Já terminamos. Vão descansar. Todos vocês.
Depois de - quase - todos se acomodarem, eu me sento no sofá duro e barulhento. É
madrugada e não deve faltar muito para o sol começar a nascer.
Saio do depósito e pego os itens restantes, levando-os para dentro. O resto
faremos amanhã. Mal percebo que se passou una bons longos minutos. Estão todos
dormindo, menos Brandon.
Sento-me no sofá e dou um bocejo, sem perceber.
- Você deveria ir dormir. Sabe que não temos muito tempo até começarmos tudo de
novo - sussurra.
- Sim - respondo. Juro que estou tentando, mas agora se passam mil coisas na
minha cabeça, e não consigo dormir, por mais que queira. Mas não digo isso em voz
alta.
Me ajeito e viro no sofá extremamente confortável, e penso como será o amanhã. Se
ficaríamos bem. Se morreríamos. Essa missão e esse lugar são uma caixa de surpresa.
Qualquer coisa poderia acontecer. Qualquer um poderia morrer. Tudo isso e minha
responsabilidade, meu dever . E sei que não vou conseguir cumpri-los sem descansar.
Respiro fundo numa tentativa de relaxar, e é como se todo o cansaço dos últimos
dias me atacassem de uma vez e, aos poucos, minhas pálpebras se fecham, bem
devagar.

. . . . . . .

Abro os olhos e sinto como se estivesse no céu, como se eu pudesse voar. Meus
membros estão vibrando, com uma energia gostosa. Mas então me dou conta de que
estou num sofá duro e barulhento. Quase solto uma risada, mas percebo que estão
todos dormindo. Começo a me levantar e peg...
Brandon não está aqui.
Olho em volta. Nada. Talvez ele esteja no outro depósito ou ali fora.
Vou até a porta e saio, com uma brisa passando por todo o meu corpo, um vento
fresco que faz meu cabelo voar. O sol está começando a nascer. Vou à procura de um
rio, que, como vimos há poucos dias, não fica muito longe, então podemos tomar
banho diariamente.
Estou com meu arco e flecha, até porque não iria ser legal usar uma arma essa hora.
Ando na ponta dos pés, evitando fazer qualquer barulho que espante uma presa.
Procuro por uma pedra ou qualquer lugar onde eu possa me esconder.
De repente ouço o passos sobre a mata. Prendo a respiração. Pego uma flecha em
minhas costas silenciosamente. Outro passo.
Me locomovo até uma árvore grande o suficiente para me esconder. Mas um passo. Dois
passos de uma vez. Tem mais de um, seja humano ou não.
Ouço alguém resmungar. Tento prestar atenção aos barulhos.
Olho para cima.
Tem um homem barbudo e com roupas de caçador. Está com botas resistentes que vão
até abaixo do joelho. Usa um boné velho e desbotado. Não reparei isso antes da faca
em seu punho. Arregalo os olhos. Estava próximo. Era impossível eu atirar. Ele dá
um sorriso assustador e coloca o dedo indicador sobre os lábios.
Ouço mais passos.
O que eu vou fazer?
Olho por um segundo para trás. Tem mais alguém vindo. Mais de um. Um grupo. Olho
para o outro lado o mais rápido que consigo, e tem um homem apontando uma arma para
mim. Parece jovem. Não muito mais velho que eu.
- Ande, se aproxime. - ele diz.
Eu levanto uma sobrancelha.
- O que faz você pensar que eu vou fazer o que está dizendo? - eu digo, tentando
parecee calma.
Ouço o homem acima dar gargalhar.
- Há uma arma apontada para sua cabeça - o garoto diz.
- Nada que eu já não esteja acostumada - digo, tentado ser casual -, e eu não
gosto muito de fazer o que mandam.
O homem na árvore desce, e eu me encolho um pouco. Um movimento imperceptível
diante dos 5 homens à minha frente, armados. Estão rindo da minha cara.
- Eu não arriscaria tanto a sorte assim, garota. - Diz um homem velho, com uma
facão em mãos.
Ele se aproxima.
- O que vocês querem? - Ergo a cabeça.
Eles começam a rir de novo.
- Fique tranquila, nós não vamos machucá-la. Venha conosco, vamos te alimentar.
Temos tudo o que precisa. Afinal de contas, o que faz aqui sozinha, princesa? - Diz
um homem, que parece, no máximo, uns 3 anos mais velho que eu. Algo em sua voz me
irrita. Ele não está armado - Está indefesa.
Riem de novo.
Travo a mandíbula.
Reviro os olhos.
Vou em sua direção. Os homens levantam apontam suas armas com mais intensidade
contra o meu crânio. Paro a centímetros de seu rosto. Levanto a cabeça para olhá-lo
com intensidade, sem demonstrar qualquer sentimento de medo. Sinto-o enrijecer.
Ergo um canto do lábio em um sorriso malicioso.
- Eu não pensaria isso. Você acha que uma moça indefesa estaria viva nesse droga
de floresta? - Risos. Mais risos. Estão me subestimando.
- Ninguém aponta uma arma para uma mulher indefesa. E admita - olho para o garoto
a minha frente - você está tremendo da cabeça aos pés.
Quando olho para baixo numa tentativa de fortalecermeu argumento, percebo uma
arma em seu coldre.
Todos ficam sérios.
Dou um sorriso irônico.
O garoto está sorrindo.
Não era essa a reação que eu queria, mesmo que não esteja zombando de mim, pelo
que parece.
Dou uma joelhada entre suas pernas, em seguida dando-lhe um golpe no rosto com o
cotovelo direito e, com a mão esquerda, pego a arma disfarçadamente de seu coldre.
Há instantes atrás percebi que só haviam mais dois caras armados. Então puxo o
garoto pela gola de sua blusa e o coloco em minha frente como escudo. Ele está meio
desnorteado, o que é ótimo. Disparo em direção ao cara armado e depois no outro.
Jogo o garoto para o lado. O barbudo com a faca vem em minha direção. Consigo
desviar de seus golpes e pegar sua faca. Ele arregala os olhos. Antes que pudesse
falar, dou uma facada próxima ao seu quadril. Eu não queria matá-lo, queria apenas
fugir. Ele solta um grito.
Me viro e começo a correr o mais rápido que posso, e é só aí que começo a sentir
minha panturrilha latejar. Uma dor intensa percorre minhas pernas. O garoto que não
feri estava atrás de mim, a um passo de me agarrar. Eu não o que aconteceria se ele
conseguisse, mas a dúvida não dura muito tempo, porque tropeço em um galho de
árvore grande e quase caio, o que me desacelerou completamente. Ele tapa minha boca
e segura com força.
Não há como escapar.
- Era só obedecer, e nada disso teria acontecido.
Reviro os olhos. Mordo a palma de sua mão com força. Apesar de soltar minha boca,
eu ainda estou presa. Droga.

Escuto passos se aproximando, e fico realmente surpresa quando vejo os outros


três homens. Eles mal conseguiam andar, mas todos eles estavam vivos. Quase todos.
Percebo que está faltando um. Não pude esconder o gosto da vitória estampado em meu
rosto.
- Meus pêsames - fingi estar triste.
Um deles se aproxima.
E dá um tapa na minha cara. Sinto minha bocheca arder.
E é aí. Aí que eu sinto fogo percorrer minhas veias. A minha vida inteira fui
ensinada a jamais deixar qualquer um bater em meu rosto. Nunca deixei. Agora não é
uma exceção.
Piso com o máximo de força no pé do garoto que me segura, e ele me solta. Em
menos de um segundo, dou uma cotovelada no homem que me deu um tapa. Sem que
qualquer um perceba, pego sua arma. A dor em minha panturrilha parece ainda mais
forte. Aponto para o homem mais alto. O outro está desarmado. Ficamos frente a
frente, ambos apontando nossas armas. Por um momento, me esqueço do garoto. Eu não
o feri a ponto de fazê-lo parar de me atacar.
Quando olho de resquício para trás, vejo ele se aproximar, e antes que eu pudesse
desviar, algo o atinge na cabeça e ele cai. Depois o garoto mais novo desarmado cai
com uma bala em seu abdômen.
Não perco tempo.
Enquanto o homem à minha frente se distrai com o espetáculo, me aproximo? dou-lhe
um golpe forte no pescoço e pego sua arma. Em seguida, atiro em sua perna.
Está tudo acabado.
Quando estou prestes a me virar para ver o que foi que salvou a minha vida, algo
colidi em mim. Levanto os olhos.
Brandon.
Dou um sorriso, mas ele parece preocupado.
- Está tudo bem. Onde você estava? - pergunto, como se não fosse possível ver a
marca do tapa em minha bocheca esquerda. Fecho os olhos com força numa tentativade
controlar a dor em minha perna. Eu estava tremendo e parecia que iria cair a
qualquer momento. Mas me mantenho firme.
Ele franze as sobrancelhas, e me inspeciona. Em um segundo, vejo-o agachado e
pondoa mão em minha perna. Levo um susto quando olho para minha perna. E Brandon
disse o que eu pensei.
- Você levou um tiro, Scarlet.

. . . . . . .

- MEU DEUS - Bella parecia estar prestes a desmaiar, apesar de não ser ela que
está com uma bala na perna.
Minhas pernas estão tremendo, e já perdi uma boa quantidade de sangue, o que me
faz ficar tonta. Minha coxa está latejando de dor, e sinto uma aflição tão grande
que me faz querer arrancar minha perna agora mesmo.
- Você está bem? - Brandon pergunta.
Estou enrolando um bocado de esparadrapo na minha coxa esquerda, e estou lutando
para não soltar um gemido.
- Sim - tento mentir, mas minha voz sai trêmula. Os três seres humanos presentes
estão semicerrando os olhos. - Estou ótima.
Ok. Tentativa fracassada. É óbvio que não estou ótima, e é uma idiotice mentir.
Tento levantar e solto um grito quando sinto uma pontada no meu ponto esquerdo.
Não foi só uma bala.
Apoio uma mão em um lugar que não existe, e quase caio. Mas sinto braços fortes
me segurarem. Olho para Brandon e me afasto minimamente dele. Ainda posso sentir o
seu corpo quente ao meu lado.
- Não preciso de ajuda.
Ele solta uma risada sarcástica.
- Você não QUER.. É diferente - Levanto uma sobrancelha, numa tentativa de tirar
a atenção à perna - E nem por isso uma ajuda se torna desnecessária.
Reviro os olhos. Ele dá um sorriso, dessa vez sincero. Não consigo conter um
sorriso.
- Você precisa tomar alguns remédios. Um ao meio dia e outro à madrugada. - Sam
lembra.
Meus ombros caiem e me permito relaxar um segundo no corpo sólido de Brandon. Um
segundo, era o que eu pretendia. Mas acabei me esquecendo disso quando seus dedos
pressionaram minha cintura com um pouco mais de força. Expulso as ondas elétricas
que ameaçam percorrer meus sentidos.
- Está bem, eu vou tomar. - digo em um tom arrastado.
Pisco várias vezes antes de me dar conta que já estou relaxada demais em um lugar
que não era pra estar. Me desvencilho dele, e sinto meu corpo lamentar pelo vento
gelado batendo contra os lugares que antes estavam em chamas com o calor de
Brandon.
Mas que merda. De onde veio esse pensamento?
Afasto-o o mais rápido possível.
- Pessoal - começo a falar -, eu preciso entrar em contato com a agência...
- Nananinanão, mocinha! Você vai ficar aqui. Precisa repousar pra entrar logo em
atividade. Não é uma sugestão e nem um pedido. Senta aí. - Bella gesticula o sofá
com um gesto estranho.
Reviro os olhos.
Essa é uma coisas que mais ando fazendo nas últimas horas.
- Além dos remédios, você tem que trocar os curativos.
Faço um gesto de desdém.
Todos me encaram com um olhar de desafio.
Sento no sofá. Na verdade, eu caio no sofá.
- Humm, tá legal...vou ficar quieta aqui. Mas quero a...
- Aqui - Brandon está segurando minha pistola, gesticulando carinhosamente para
que eu a segure.
Olha só, sabe até ler meus pensamentos. Brandon, Brandon...
- Isso mesmo, obrigada - dou um sorriso enviesado.
Eu não rinha percebido o quão cansada estava até deitar nesse sofá, e nossa...eu
precisava disso.
E o que aconteceu depois? Bem, eu não lembro.
Estava dormindo, sonhando com um pedaço bem grande de pizza.

. . . . . . . . .

Acordo com um líquido pegajoso nas mãos.


O depósito está vazio e escuro, exceto pela iluminação da lâmpada improvisada do
lado de fora do espaço. Acho que estou sozinha.
Tento levantar, mas quando me movimento, sinto minha perna inteira latejar e
mordo o lábio inferior para não gritar. No momento em que olho para o local onde
dói, percebo de onde veio o líquido. Minha coxa está sangrando e já está na hora de
trocar os curativos.
Espero que o "kit primeiros socorros" - nome dado por Sam, que disse que
colocaria perto de mim - estivesse próximo, mas quando olho em volta à procura
desse kit, percebo que está numa mesa pequena. Do outro lado do depósito.
- Obrigada, Sam - sussurro na escuridão com um sarcasmo quase tão grande quanto a
vontade que tenho de arrancar essa perna.
Respiro profundamente e desabo na primeira tentativa de levantar. Dou um pulo
quando escuto algo cair no chão. Derrubei uma lata, mas não me dou o trabalho de
pegá-la do chão. Tento levantar mais uma vez e quase caio, mas consigo ficar de pé.
Solto um suspiro profundo e começo a mancar em direção à cabeceira.
Isso não é tão fácil quanto parece.
A minha perna parece poder desabar a qualquer momentos e não duvido que demore
muito. Seguro, com muito esforço, um grito, que acaba saindo um grunhido.
Um pulinho. Fecho os olhos com força, numa tentativa de diminuir a dor.
Mais um pulinho. Quase caio, mas ainda estou de pé. Isso é ridículo. Eu não estou
conseguindo atravessar uma sala? Isso me parece impossível no momento, ainda mais
quando percebo que não é só minha perna que está ferida. Eu havia esquecido da mão,
que mal fechava com o inchaço provocado pela lâmina. Suspiro e volto a me
concentrar.
- Scarlet - sussurro pra mim mesma - você só pode estar brincando. Você consegue,
isso está só...
Minhas palavras morrem quando escuto um som familiar. Um destrave.
Corro os olhos em volta, em alerta. Procuro a pistola e agradeço por terem a
colocado próxima de mim. Um pulinho e alcanço. Meus dedos se firmam no cabo da arma
e olho em volta mais uma vez. Tento, ao máximo, aguçar meus sentidos.
Passos largos, que parecem mais próximos do que possível.
Esqueço por um momento a dor na perna, avançando, e quase grito quando meu pé
esquerdo toca o chão. Giro no momento em que sinto uma pontada forte a ponto de me
desequilibrar. Mas antes que eu chegue ao chão, algo corpulento me segura, e estou
de costas para alguém que está me enforcando.
Sem pensar, uso a perna sem ferimentos para chutar o pé de seja lá quem for e dou
um golpe com o cotovelo em seu rosto. É um homem.
Assim que ele se afasta, me viro em busca de uma identificação, mas mal consigo
enxergar no escuro que envolve o depósito. E antes que eu faça alguma coisa, posso
sentir o homem se aproximando para atacar, mas meus reflexos são mais rápidos.
Agacho um segundo antes de seu punho golpear o local onde estava minha cabeça, e
caio no chão por conta dessa perna praticamente inútil.
Merda. Merda. Merda.
Não sei como, mas consigo rolar rápido e perfeitamente bem, desviando de um chute
que provavelmente quebraria minhas costelas ao meio. Quando bato no sofá, me apoio
aos cotovelos no assento, um de cada lado do meu corpo. Luto contra a dor que
irradia meus nervos e levanto, mas antes que eu possa me esquivar, um punho vem com
tudo na direção da maçã do meu rosto, tirando meu equilíbrio.
Sinto minha bochecha latejar, e não me dou ao luxo de imaginar o roxo que irá
ficar em meu rosto. Pisco forte numa tentativa de fazer meus sentidos voltarem a
vida, e mal percebo o quão próximo o atacante está. Antes que ele faça qualquer
coisa, dou-lhe um golpe tão forte como o que eu levei em seu abdôme. Ele recua e eu
arfo.
Antes que eu possa recuar, ele me chuta na cintura, roçando uma ferida não
cicatrizada.
Meu corpo arde, e é nesse momento que algo se acende em mim. À muito custo,
ignoro todas as dores que ameaçam me derrubar e deixo a adrenalina tomar conta das
minha entranhas. Solto a arma e a coloco ao meu lado no sofá. Sim, é um risco
idiota. Mas não ocupo meu tempo pensando.
Dou um impulso e me jogo na direção da silhueta corpulenta e musculosa, e sinto-o
fraquejar por um segundo. Apenas. Um. Segundo.
Posso sentir sua respiração, e algo que eu não imaginava acontece. Sinto uma onda
eletrizante, e não é só pela luta. É familiar. E não parece que sou só eu a pensar
nisso. Esse homem está parado, perdido em pensamentos.
Balanço a cabeça para afastar os meus e aproveito o momento de fraqueza com um
soco em suas costelas. Ele devolve, mas não me acerta. Dou-lhe um golpe com o
joelho na parte interna de sua coxa. Sua arma escapou da mão, e agora é um combate
corpo a corpo. Mais um golpe e eu ganho a luta.
Óbvio.
Era óbvio que alguma coisa iria me atrapalhar.
Antes que eu dê o último golpe, suas mãos agarram minha cintura e me levantam com
uma facilidade que chega a me assustar. Ele me joga no sofá, em seguida se
agachando. Quando me levanto, vislumbro o brilho da pistola em sua mão. Meu punho
já está firme ao redor do cabo da arma.
Estamos cara a cara. Nossas armas apontadas.
Destravo a segurança, mas então percebo, e solto um xingamento memorável em
ibalete.
- Demorou mais do que eu imaginei, sinceramente - Brandon diz.
Cerro a mandíbula e desvio o olhar.
- Você me deu um soco sabendo que era eu?
Nossas armas ainda estão apontadas.
- Eu percebi que era você assim que te chutei - Ele está sorrindo, pelo jeito
como pronuncia as palavras - Desculpe, Let.
Abaixamos as armas na mesma hora. Meus ombros caiem e sinto meu corpo relaxar.
Suspiro uma, duas, três vezes antes de responder.
- Tudo bem. - Olho para a minha perna e percebo o sangue escorrendo, minha coxa
latejando. Faço uma careta de dor. - Os remédios...
A caixa branca é a única coisa completamente visível no cômodo, então ele entende
de primeira. Tento me levantar para colocar a arma na mesa, e seguro um gemido
quando minha perna toca o chão. Pressiono os olhos com força e me apoio na mesa
para evitar uma queda livre. O cansaço me atinge como um soco, que dói cada vez
mais somando aos outros que levei.
Aos pulos, procuro alguma muda de roupas. Algo simples se torna uma tarefa
complicada na escuridão, mas consigo encontrar outra calça menos ensanguentada.
Brandon está ao meu lado, com a caixa na mão. Pego-a e assinto, mesmo que ele não
possa ver, me preparando para voltar para o sofá aos pulos, e não me permito corar.
Quando dou o primeiro pulo, sinto mãos fortes pairarem ao meu redor. Uma sobre as
minhas costas e outra abaixo das minha pernas.
Eu juro que quero espancar Brandon e sair daqui, mas a tensão em minhas pernas
diminui tanto que me permito relaxar nos braços dele. Seu calor me conforta e fecho
meus olhos brevemente, me lamentando por ter que abri-los quando ele me coloca no
sofá, com uma delicadeza abrupta.
Sinto-o se afastar por alguns segundos e retornar, acendendo uma vela e a pondo
na beira da janela. Ainda que com dificuldade, posso vê-lo com um pouco mais de
clareza. Seu tronco nu está a mostra, e repreendo a mim mesma quando me pego
olhando demais para aquela parte específica de seu corpo. Merda, eu não sei porque
quero tanto beijá-lo.
Balanço a cabeça, afastando esses pensamentos ridículos.
Não sei como, mas estamos tão próximos que bastaria eu me mover apenas uns
centímetros para tocá-lo
Ainda assim, eu não me mexo. Esses olhos me hipnotizam tanto que quase não me dou
conta de que a meu membro inferior ainda está liberando sangue.
- O que foi? - pergunto, como se isso fosse, de alguma forma, esconder o rubor em
minhas bochechas. Lembro que provavelmente pareço uma acabada. - Eu estou tão ruim
assim?
Consigo ver um sorriso ganhando vida em seu rosto, e, talvez seja delírio meu,
mas parece que ele se aproximou um pouco mais.
- Não - diz ele, em um sussurro quase inaudível.
Me dou conta de que estou mordendo o lábio inferior, e paro o gesto imediatamente
quando seus olhos viajam até minha boca.
Pigarreio e gesticulo para a caixa de remédios, inquieta.
Começo a pegar os suprimentos e trocar os curativos.
- Não quer uma ajuda? - Brandon pergunta.
- Não - digo, torcendo para não soltar um gemido pela mão ferida. Tento, ao
máximo, parecer tranquila, e falho descaradamente. As ferramentas escapam de minhas
mãos, que mal se fecham, tremendo feito uma casa num terremoto.
Noto Brandon levantar uma sobrancelha.
- Isso foi muito convincente - diz, num tom escarnecedor.
- Não era pra ser.
Ouço-o rir baixinho, e não consigo segurar um sorriso.
De repente, sinto suas mãos sobre as minhas, pegando os curativos que ameaçam
cair. Enrijeço quando sinto suas mãos tocarem minha coxa, me provocando arrepios
que não deveriam ser provocados.
Volto a atenção para os curativos em seus dedos, que trabalham habilmente, e em
apenas alguns segundos, meu sangue está estancado. Por mais que ele esteja fazendo
tudo com muito cuidado, seus olhos não se desviam dos meus por muito tempo, até ele
terminar.
- Terminamos. Está sentindo muita dor?
Faço que não com a cabeça, e nos encaramos por um bom tempo antes de notarmos que
minhas pernas estão abertas e ele está entre elas.
Me sento e apoio sobre os cotovelos, mas Brandon não se move um centímetro
sequer.
- Obrigada - digo, enquanto penso em algo para quebrar o silêncio.
Mas antes que eu diga mais alguma coisa, lábios macios e suaves encontram os
meus. Eu não havia percebido o quanto precisava do calor de Brandon até ele me
aquecer. Mais tarde irei repreender a mim mesma por me entregar tão facilmente, mas
só mais tarde.
Solto um "humm" e ouço Brandon dar uma risada grave enquanto estou, novamente,
deitada no sofá, com ele sobre mim.
Seus lábios são como nuvens contras os meus, e eu quero afundar-me nelas até que
não haja nada além de nós. Só nós dois.
Nossas línguas se roçam, e...Deus, ele faz isso tão bem.
Cada toque, cada palavra que ele pronuncia faz meu coração palpitar, e temo que
possa sair de dentro do meu peito, a julgar pelo modo como bate tão forte.
Posso sentir o cheiro de chuva e terra em Brandon, e me pergunto como é possível
que me sentir vulnerável e mais forte ao mesmo tempo.
Brandon se afasta. Seus olhos estão fechados, e seus lábios ainda encostam nos
meus.
- Foi uma tentativa de sarar suas feridas - ele diz, e fico em uma situação
complicada ao tentar perceber se é uma brincadeira ou não, porque eu me sinto bem
melhor depois daquilo. - Nos contos de fadas sempre funciona.
Sorrio.
- Um pena que estejamos na vida real, não é?
Ele encolhe os ombros, e seus cotovelos estão um de cada lado do meu corpo.
- Talvez funcione na vida real também. Eu só acho que...
- Deu no lugar errado. Afinal de contas, não é a minha boca que está ferida,
Brandon.
Percebo que ele se surpreendeu com a minha resposta, e falho quando tento segurar
um sorriso por sua surpresa.
De repente algo muda entre nós e, antes que eu perceba, suas mãos estão no
puxando minha calça e seus dedos brincam com o elástico da minha calcinha.
- Deveria ser aqui? - Ele diz, despositando beijos em meu joelho.
Faço que não.
Ele sobe mais um pouco, e sua boca toca minha coxa.
- Aqui?
Faço que não, novamente.
Seus lábios estão mais perto do meu quadril, beijando suave e delicadamente o
curativo feito alguns minutos atrás.
- Aqui, então? - Ele diz, sorrindo.
E sua boca roça em lugares nunca tocados antes, causando tantos calafrios que
acabo sem pronunciar uma palavra sequer.
Há tanto carinho no modo como ele me toca.
Não sei como, mas estou no colo de Brandon e minhas pernas estão aninhadas ao seu
redor, e percebo que ele está segurando a maior parte do meu peso apenas para eu
que eu não sinta dor.
Ah, Brandon...
Há algumas horas eu achara que não era possível ficar ainda mais calor, mas
enquanto a vela se apaga, uma chama encandescente ganha vida entre nós, me
aquecendo tão intensamente que pergunto a mim mesma como ainda não me queimei.
Nos afastamos para encararmos um ao outro.
Não saberíamos dizer nosso sentimentos, mas esses beijos foram capazes de mostrá-
los de modo que jamais conseguiríamos usando apenas palavras.
Se você estiver achando brega, eu não irei reclamar, porque, de fato, é.
- Isso não quer dizer que esqueci o soco - brinco, beijando seu pescoço
lentamente.
Brandon ri, e eu sinto seus pelos se arrepiarem.
- Machucou mesmo, não é?
- Uhum.
Levanto para olhá-lo ele acaricia de leve a minha bochecha enquanto seus olhos
percorrem todo o meu rosto. Está sorrindo. E passamos um longo tempo nos encarando
antes de eu pensar em algo para dizer.
- Oi - digo, quando seu olhar encontra o meu. Eu sei que não é nem um pouco
criativo, mas era o que tinha em meu vocabulário. E isso é culpa dos dedos de
Brandon que agora percorrem caminhos em minhas costelas, provocando aquelas famosas
e malditas borboletas no estômago. Isso está parecendo um romance adolescente
idiota. Por favor, esqueça o que eu disse.
- Oi - Brandon interrompe meus pensamentos com um sussurro.
Antes que eu possa pensar, seus lábios tocam os meus e Brandon me puxa para mais
perto, nossos peitos se tocando.
Suas mãos deslizam pela lateral do meu corpo, causando um choque que me mata e me
torna mais viva ao mesmo tempo.
Estou completamente agarrada à ele, e seu polegar roça na ferida em minha perna -
que não para de latejar -, o que me faz soltar um gemido de dor. O encanto se vai
quando o ar gélido bate nos lugares onde antes estavam as mãos de Brandon.
Nossos rostos se afastam.
- Me desculpe - diz, pegando minha mão ferida.
- Tudo bem.
- Faltou essa aqui. - ele diz, olhando fixamente para a mão.
- Não precisa, eu posso fazer isso.
Ele balança a cabeça e se aproxima mais.
- Você pode fazer muitas coisas - sussurra, mordiscando suavemente minha orelha.
- Mas agora não está muito bem para isso. - Seus lábios estão descendo do meu
pescoço até a clavícula. - Deixe-me ajudá-la.
Tudo que eu sou capaz de pronunciar é um simples "hmmm".
Abro os olhos quando sinto Brandon levar minha mão ferida até sua boca, beijando-a
com delicadeza.
Merda. Eu quero tanto esse homem.
Brandon enfaixa minha mão com cuidado e agilidade, seus dedos trabalhando
habilidosamente. Isso é tudo que eu percebo antes de fechar meus olhos e a
escuridão me invadir.

**** 15. CONTINUAÇÃO ****


◇ • ◇ • ◇
CAP 3

Antes mesmo de eu abrir os olhos, sinto o braço de Brandon ao redor da minha


cintura, ciente de cada centímetro em que nossos corpos se tocam. Brandon e eu. Nós
dormimos juntos, assim: com seu corpo segurando o meu, como se eu fosse escapar
daqui a qualquer momento. Eu não o faria nem mesmo se pudesse. E isso me assusta.
Pisco várias vezes antes de notar o céu alaranjado, indicando que sol está
prestes a surgir com um brilho forte.
Olho para minha perna e não me surpreendo quanto vejo a atadura manchada de
sangue, ainda que seja uma quantidade bem menor do que algumas horas atrás. Isso é
um bom sinal.
De repente sinto Brandon se remexer atrás de mim e quando me viro para encará-lo,
seus olhos encontram os meus, e percebo que ele não dormiu muito.
- Oi, Let. - Apesar das olheiras em suas pálpebras, há um sorriso em seu rosto. O
sorriso mais lindo que eu conheço.
- Oi.
Seus olhos viajam por meu rosto, e depois minha perna ferida. Sua mão desliza
pela lateral do meu corpo, me inspecionando.
Minha perna parece ter ganhado o dobro de seu peso, e seguro um gemido quando
tento me mover.
- Como você está? - pergunta ele.
Péssima.
- Você não precisa ficar no meu pé.
- E você não respondeu à minha pergunta.
Solto um suspiro profundo, revirando os olhos.
- Melhor.
Me apoio sobre os cotovelos e observo o ferimento atado e, justo nesse momento,
uma dor irradia na parte externa da minha coxa.
Eu havia me esquecido que a bala não era o único problema. Durante a luta de
ontem, alguma outra coisa me feriu.
Brandon percebe o meu incômodo.
- Tem alguma coisa... - Começo a dizer enquanto tento levantar minha perna, e
sinto uma dor tão súbita que solto um grunhido para não gritar.
Brandon me segura com cuidado, uma mão sob minhas pernas e outra sob minhas
costas, me pondo sentada sobre o sofá.
Apoio a cabeça no encosto e, involuntariamente, faço um expressão de dor.
Brandon corre os olhos por todo o lugar, como se estivesse procurando algo. Ele
permanece um bom tempo assim antes de me encarar.
Dou o sorriso mais doloroso da minha vida.
- Estou ótima - digo, dando tapinhas em seu ombro nu.
Ele passa uma mão pelos cabelos, enquanto a outra repousa na cintura.
- Você não está nada bem, Scarlet. Eu vou chamar Sam e Bella, talvez eles...
- Isso não é necessário, eles já fizeram o que podia ser feito, agora só me resta
esperar.
Ele balança a cabeça.
- Não...
- Eu não vou morrer, Brandon. Darei logo uma olhada aqui e qualquer coisa fora do
normal eu aviso. Confie em mim, eu sei me cuidar.
- Não, você não sabe.
- Está tudo sob controle, é só uma dorzinha aqui e ali, mas...espere, o quê? É
claro que eu sei me cuidar. Não venha me dizer que...
- Você pode até se cuidar, mas existem pessoas que fazem isso muito melhor do que
você. Talvez devamos chamar um médico ou... ligar para a agência.
- Não. - O tom da minha voz indica que essa não seria uma opção.
Essa missão é muito importante, não posso desperdiçá-la por conta de um ferimento
que ainda nem sabemos o estado. Ir embora é a última coisa que quero agora.
Brandon se aproxima, pondo uma mão de cada lado do meu corpo. Ele me olha como se
estivesse tentando me analisar, mas minha expressão permanece impassível.
- Se a situação piorar, você não vai ter escolha. E eu carrego você nas minhas
costas, se for preciso.
- Você não conseguiria. Eu poderia atirar nelas - sussurro, levantando uma
sobrancelha na direção da cabeceira, onde está a arma.
- Eu colocaria algo em sua bebida para dormir. Pronto, os problemas acabaram. -
Ele dá um piscadela.
- Assim eu não bebo nada do que vocês me oferecerem. Obrigada pelo aviso. -
Devolvo o gesto, com um sorriso.
- Eu pegaria sua arma. - Faço uma expressão que ele imediatamente entende como um
"duvido". - Você se esqueceu que sou mais forte que você? - sussurra.
Finjo pensar e, tentando ignorar todas as dores que me atormentam, coloco um dedo
no queixo.
- Hum...não, mas eu posso colocar uma dentro das minha roupas.
- Eu poderia facilmente tirá-las.
A sugestão me faz produzir imagens em minha mente que não vão sair com tanta
facilidade. De repente o ar pareceu ter fugido do depósito, deixando-nos a sós.
Apenas nós dois. Implorando por uma vida em que isso poderia acontecer, mesmo que
seja impossível. Tão impossível quanto nascer de novo.
Sem que eu perceba, as palavras ganham vida em minha língua, que as joga pra fora
antes que eu possa evitar.
- É... talvez isso funcione.
Seu sorriso aumenta, e eu juro que vi seus olhos pararem um instante na minha
boca, antes de a porta se abrir com tudo.
Nos afastamos num movimento brusco.
- Amiga! - Bella chama. - Como você se sente?
Elaboro as minhas mil possíveis mentiras, mas Brandon fala primeiro.
- Nada bem. Ela está com algum outro ferimento que não sentiu antes, e precisamos
descobrir o que aconteceu. - Brandon desliza uma camisa pela cabeça, se sentando
numa cadeira.
Bella e Sam se entreolham, a testa franzida.
- Talvez tenha sido uma pancada. Há sangue ou marcas?
Balanço a cabeça.
- Na verdade, eu não vi nada. Não troquei de roupa desde ontem.
- Está bem...onde estão aquelas...? - Bella pergunta e sei que está se referindo
a roupas.
- Manchadas de sangue.
Ela arregala os olhos como se fosse algo incomum.
- Ok, então vou ver se acho algo para você no outro depósito e vou lavar umas
roupas no rio e vou aproveitar e procurar algumas plantas medicinais. Vai ser
rápido.
Assinto.
- Leve alguém com você, não é seguro andar sozinha por aí - digo, e talvez haja
um pouco de hipocrisia nisso tudo.
Brandon revira os olhos.
- Olhe só quem está falando - murmura.
- Pode levar ele. - Aponto para Brandon e ele cruza os braços, relutante.
Levanto uma sobrancelha.
Ele balança a cabeça em negativa.
- Não vou sair daqui - diz.
- Ah, você vai sim.
- Está legal, já chega - Sam repreende - Eu vou com ela e não se matem até
voltarmos.
- Voltem logo - dizemos em uníssono.
Jogo uma almofada em Brandon.
- Scarlet, preciso que você tire os trajes e dê uma olhada no ferimento.
Dependendo do estado em que estiver, vamos ter que chamar a equipe.
Não, não, não.
- Isso não vai ser necessário, nem está doendo tanto assim.
Brandon bufa.
Ninguém acredita em mim.
Aceno para Sam e Bella, e eles se retiram, me deixando a sós com Brandon. De
novo.
Permanecemos um bom tempo em silêncio e, para disfarçar meu desconforto, começo a
tirar a jaqueta e os itens de proteção, mas então me lembro que, dependendo do que
houver embaixo dessas roupas, essa missão está acabada. Paro o movimento, sentindo
o olhar de Brandon em mim.
- É...dá licença?
- Hum...não.
Ele se levanta, vindo em minha direção, e põe as mãos nos botões do meu traje,
mas eu o paro, colocando minha mão não ferida sobre a sua.
- Brandon - chamo, sem olhá-lo -, isso é muito importante pra mim, você nem sabe
quanto...eu vou estar correndo o risco de perder meu lugar na IST.
Ele balança a cabeça.
- E nós estamos correndo o risco de perder você, Scarlet.
Sua mão desliza por minha bochecha, depois pelo pescoço e então por minha
clavícula. Sinto minha respiração ficar irregulada.
Brandon se aproxima.
- Não podemos perdê-la. Precisamos...eu preciso de você. - Ele beija a maçã do
meu rosto, suas mãos segurando meu quadril com firmeza, me puxando para mais perto.
- Eu preciso estar na IST tanto quanto vocês precisam de mim. E eu - Minhas
palavras morrem quando sinto os lábios de Brandon em meu pescoço. - Eu não quero
estar só pela missão, mas por vocês também.
- Não falta muito para isso tudo acabar - sussurra ele, seus lábios roçando minha
orelha.
Uma tarefa tão simples como falar se torna uma das mais difíceis com suas mãos
passeando por meu corpo, quebrando qualquer linha de raciocínio que se possa ter em
minha mente.
Sua atenção se volta para os botões de minha vestimenta e, um por um, ele
desabotoa lentamente. Permanecemos assim por um longo tempo, até que só restem
minhas roupas casuais e alguns acessórios.
Engulo em seco quando suas mãos tocam o coldre e, antes que tire o resto das
minhas roupas, percebo o que está fazendo.
- Puta que pariu, Bran...
E então ele me beija.
- Você tem andado bem distraída ultimamente - diz, com sua boca encostada na
minha.
- Isso é culpa sua - resmungo, mordiscando seu lábio inferior.
Sua risada grave ecoa em meus ouvidos, e eu odeio ser tão ridiculamente
dramática, mas eu poderia ouvir esse som pelo resto da minha vida e, ainda sim, não
iria me acostumar com sua beleza.
- Que bom - murmura ele.
Brandon interrompe o beijo e me encara.
- Eu estava falando sério quando disse que não podemos perdê-la.
Seus lábios formam um sorriso triste, suas mãos acariciando a lateral do meu
rosto.
Reflito por um momento e chego à conclusão de que tudo isso é inevitável: se eu
estiver ferida, querendo ou não eu vou precisar deixar a missão, porque não quero
nem ser uma incapacitada, quem dirá um peso para todo mundo. Para meus amigos.
Então talvez seja melhor saber, mesmo que eu não queira. Mesmo que eu odeie essa
ideia.
Lanço um olhar expressivo para Brandon.
- Vamos o ver o que tem aí. - Indico o meu quadril com a cabeça.
Rapidamente, os dedos de Brandon escorregam por minhas roupas, leves, mas que
marcam minha pele como ferro quente.
Logo nossas mãos são um emaranhado, trabalhando habilmente para tirar os últimos
acessórios do traje, e prendo a respiração quando percebo que não há mais nada
ocultando o ferimento.
O que há aqui pode mudar os meus próximos dias e sujar minha ficha na IST. Para
sempre.
Fecho os olhos com força antes de olhar.

◇ • ◇ • ◇
CAP 4
Minhas bochechas estão doloridas depois de sorrir durante uma hora, sem parar. Eu
nunca havia ficado tão feliz por ter me queimado.
- Como isso aconteceu, não sabemos. Mas foi uma queimadura de segundo grau, sem
riscos - explica Bella.
- Se você usar os medicamentos corretamente - Sam diz, analisando a ferida.
- Mas nem por isso você deve pensar que é um ferimento leve. Por pouco não
atingiu uma queimadura de terceiro grau - Bella completa.
Assinto e percebo que Sam está segurando uma risada.
Pisco.
- Scarlet - chama ele. - Eu já comentei...
- Que é extremamente ridícula a cara que você faz quando não gosta de alguma
coisa? - diz Bella, aos risos.
Eu não tenho culpa. Eu não quero passar os dias aqui aplicando pomada em uma
queimadura leve, parece um desperdício.
- Eu já comentei que é extremamente ridículo o jeito como vocês dois completam a
fala um do outro? - retruco.
Eles trocam risos constrangidos. Visivelmente apaixonados.
- Eu admito que remédios e horários são entediantes, mas não adianta fazer cara
feia. - Brandon diz. - Você precisa usá-los se quer andar.
Revirou os olhos.
- Obrigada, doutor Brandon.
- Disponha.
Ignorando as repreensões de Sam e Bella, jogo um dos frascos na cara dele, mas
sua mão foi mais rápida, impedindo que o objeto o atinja. Uns segundos depois,
Brandon está de pé na minha frente, com um comprimido em uma mão e um copo de água
na outra.
- Você está brincando, não é? - digo, com um sorriso amargo. - Eu não vou tomar
isso.
- É uma queimadura, Scarlet.
Scarlet. Ele só me chama assim em momentos importantes, carinhosos ou quando está
sério e mal-humorado.
- Exato. Uma queimadura.
- Scarlet. - Há um tom de advertência em sua voz.
Então resolvo testá-lo. Só um pouco.
- Você sabia que fica bonito quando está de mal humor? Eu nem sabia que isso era
possível.
Um canto de sua boca se ergue, num sorriso sarcástico.
- Eu faço coisas que você nem imagina, então eu sugiro que tome logo isso. Agora.
- Faço uma expressão de deboche. - Por favor.
De repente, meus sentidos se ativam sem minha permissão e, quando me dou conta, o
comprimido já está descendo pela minha garganta.
Quando coloco o copo na mesa, Brandon se aproxima, sou rosto perto do meu.
Bastariam só mais alguns centímetros para acabar com essa distância.
- Boa garota - sussurra, para que só eu possa ouvir.
Meus olhos grudam nele, e não consigo segurar um sorriso. Parece que só há nós
dois aqui, mas logo essa hipótese é excluída, porque alguém pigarreia alto.
- Tá legal, vou indo para o escritório. Precisamos encomendar suprimentos e os
equipamentos de localização. - diz Sam. - Bella, você topa me ajudar?
- Vou fingir que isso não significou um convite para transar - brinco, mas uma
reação que eu não esperava surge.
Bella passa as mãos pelos braços de Sam e ele pisca para ela.
- É engraçado você dizer essas coisas como se nunca tivesse feito. - retruca Sam.
- Eu nunca fiz. - Dou de ombros.
Ouso uma risada abafada. De Brandon. Ele está implicado comigo.
- Vocês sabem que eu não faço isso - reafirmo.
E de repente todos começam a rir. De mim.
E quando percebi, estávamos fazendo piadas sexuais idiotas e sem sentido, que
terminou aqui.
Com Brandon e eu nos beijando como se tivéssemos todo o tempo do mundo, sua boca
se movendo lentamente contra a minha. Um beijo longo, calmo, terno, mas intenso. E
é exatamente esse o caminho que leva ao meu fim. É como se tudo estivesse
desmoronando e se reconstruindo ao mesmo tempo. É o que me deixa mais vulnerável e
mais forte na mesma intensidade.
Isso. É isso o que ele faz comigo.
- Brandon.
Ele só me responde com um "hum".
Tenho que reunir todas as minhas forças para nos afastamos mas, uma vez que seus
lábios não estão nos meus, eles se concentram em meu pescoço.
- Não dá pra ficar se agarrando aqui, Brandon.
- Por quê? - sussurra, com beijos lentos na minha clavícula. - Eles estão
ocupados fazendo a mesma coisa.
A mesma coisa? Brandon e eu não estamos...estamos?
- Já nem devíamos encostar um no outro, Brandon. São as regras.
- Não somos obrigados a segui-las.
Brandon está me tocando em tantos lugares, e isso está começando provocar
sentimentos que eu não deveria sentir, de forma alguma. Mas cá estou eu.
- Você costumava ser mais certinho no início - provoco.
Ele para o que está fazendo e olha para mim, um sorriso sarcástico estampado em
seu rosto.
- Eu precisava do emprego.
Começo a dar risada, e depois de uns segundos enxugando minhas lágrimas, percebo
que Brandon também está sorrindo, me encarando de um jeito adorável, como uma
criança. Como se estivesse olhando para a coisa mais incrível do mundo.
E eu estou tão longe disso...
- Você quer parar? - sussura ele.
Há um sorriso maroto em seu rosto, mas consigo notar a hesitação em seus olhos.
Reflito por um momento.
Até onde isso vai? Se continuarmos, seremos capazes de parar?
Isso tudo nem devia ter começado. Os nossos sentimentos tinham que estar
enterrados há muito.
- Isso tudo é um erro, Brandon.
Passo a mão pelo cabelo.
- O erro mais adorável da minha vida - ele sussurra. Oh, sim, esse é concerteza o
melhor erro de nossas vidas. - Mas você não respondeu a minha pergunta.
Brandon desliza seu polegar pelo meu queixo, depois por minha bochecha.
Olho para ele e me perco no castanho de seus olhos, pensando se eu seria capaz de
dizer não pra eles. Eu poderia beijá-lo por horas e ainda não me saciaria. As
palavras escorrem dos meus lábios tão rapidamente que não consigo segurá-las. Nem
se eu quisesse.
- Eu não quero parar.
Há um lampejo imediato em seu olhar e, rapidamente sua boca toca a minha, me
fazendo viajar por lugaress desconhecidos e que mal sei explicar, porque estou tão,
mas tão perdida em seus lábios, que mal consigo pensar.
Nossas blusas estão amontoadas no chão e minha calça está sendo deslizada para
baixo, os dedos longos e firmes de Brandon roçando minhas pernas. Eu queria que ele
não pudesse ver o quanto estou arrepiada com seu toque, com o seu corpo.
Há mil palavras não ditas que estão marcadas em cada beijo, cada contato fisíco
entre nós. Isso é muito mais do que toque. É sentimento. Um sentimento tão potente
que criou raízes fortes e que não para de florescer.
Não há nada entre nossos corpos além de sua calça jeans e minhas roupas intímas,
as mãos de Brandon ameaçando arrancá-las e tirar, junto com elas, todo o meu
autocontrole.
Me apoio sobre o joelho que não está ferido e com o apoio de Brandon, ficamos
colados um no outro, ajoelhados no sofá enquanto minha boca viaja por seu peito,
depois poe seu abdômen e até uma parte próxima a barra de sua calça, que eu tiro de
seu corpo com um agilidade surpreendente.
Estamos tão perto de fazer algo a mais...
Quando ouvimos tiros do lado de fora do depósito, e estamos tão imersos no
momento que demoramos para processar o que aconteceu.
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**** Mundo ****
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