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(2)
SCARLET CRESCEU e resolveu seguir os passos do pai: se tornar uma agente da ISD,
mas seria da área de estratégia e ação.
Ao decorrer dos anos, após o acidente, sua mãe explicara que seu pai desapareceu,
que a casa deles foi invadida e o levaram. Com isso, Scarlet resolveu procurar
informações sobre o pai, informações que sua mãe não dera. Mas não exigiu mais
nada, sabia que conseguiria encontrá-las sem sua ajuda. Como seu pai havia
trabalhado na ISD, era conhecido por quase todos e haviam pessoas velhas ali que
construíra uma amizade com ele. Além disso, tinha Emma, a agente e programadora da
ISD que, em um piscar de olhos, conseguiria rastrear alguém, caso necessário.
Também havia Lisa, sua melhor amiga, que conhecia muitas pessoas, e quanto mais
pessoas, mais informação. Scarlet estava confiante. Depois de pedir a Lisa que
entrasse em contato com pessoas velhas no departamento, foi até Emma, para que
pesquisasse por "Wallin Doyle", quem Lisa dissera ser seu pai, com as informações
que conseguiu tirar dos velhos da ISD.
Scarlet estranhou o sobrenome, mas não deixou de se animar com a possibilidade.
Seria só ver os olhos azuis com um tom acinzentado como os seus. O cabelo liso
castanho escuro, e o rosto quadrado de que sua mãe tanto falara.
Não. Não havia nada disso, era o oposto. Ele possui um cabelo com um tom claro,
meio avermelhado. Seus olhos eram um pouco claros, mas longe de serem azuis. Longe
de serem como os dela. Opção descartada, diria normalmente. Mas ela parece conhecer
esse homem de algum lugar...
Seus pensamentos foram interrompidos por Brandon, agente-chefe do departamento.
Mais trabalho.
Alguns dias se passaram, mas o homem ainda permanecia em seus pensamentos. Iria
investigar mais sobre Wallin Doyle, até que tivesse certeza de que não o conhecera
ou que não era seu...pai. Mas, após estudar sobre seus ancestrais, os Hubber, sua
dúvida desapareceu. Ele realmente não era seu pai. Daí ela pensou: tanto meus avós
como bisavós paternos não possuíam sequer um traço semelhante aos de Wallin. Mas
então, quem seria ele? Ela o conhece
(3)
SCARLET CONTINUOU investigando Wallin Doyle, fazendo perguntas à mãe, que acabou
em uma discussão. A mãe se perdia em pensamento toda vez que a filha a questionava
sobre o pai.
Scarlet não desistiu, ela investigou até o fim. Até achar algo que não queria.
Uma ficha criminal. Um departamento, lugar onde pessoas vendem seus itens roubados.
Ela não perde tempo e vai até lá ao encontro de Wallin.
Depois de uma cena em que o faz vários questionamentos, eles lutam. Mas no fim,
ele só a faz ter mais certeza de o conhecia de algum lugar. Wallin se prepara.
Envia uma de seus agentes até a casa dela. Ninguém mais, ninguém menos que Lisa
Bakker, melhor amiga de Scarlet.
Scarlet vai até sua casa. Precisava falar com sua mãe. Precisava encontrá-la. Mas
ela se surpreendeu ao ver Lisa. Ela parecia diferente. Não só parecia, como estava.
Depois de discutirem um assunto começado por Lisa, acabam lutando. Scarlet lutava
para se defender, e Lisa para matar. No fim, foi ela quem estava sem vida.
Scarlet senta e chora. Sofreu por ter que matar alguém em quem confiava.
Um sentimento tomou cobrade seu coração.
Sua mãe chega em casa. Ela estava estranha ultimamente, talvez por causa da briga
que tiveram.
Quando viu a filha caída, seu coração disparou e as compras que antes estavam em
suas mãos já se encontravam no chão. Maya a leva para o hospital. Não estava
gravemente ferida, mas sofria. Scarlet contou à mãe o que aconteceu. Depois recebe
visita de seus amigos e até de Levon, pra sua surpresa.
Os médicos determinam um tempo estimado para que Scarlet se recuperasse, em média
uma semana, era pouco tempo. Mas para Scarlet uma eternidade.
Ela estranhava o sumiço da mãe enquanto repousava. Talvez estivesse comprando
milhões de caça-palavras para que ela jogasse enquanto ficava 24 horas por dia numa
cama, sem fazer nada. Como estava em melhores condições, resolve levantar da cama e
sair do quarto, quando encontra sua mãe, que escrevia algo. Uma carta, parecia.
Elas conversam, e depois vão para a cozinha preparar o jantar.
Sua mãe, agora, parecia estar dando mais atenção. Nunca parava de dizer quanto a
amava. Fazia comidas pra ela. Brincavam, riam e se divertiam.
Scarlet não parou de pensar em Wallin, quem ela suspeitava ser seu pai. Ela não
queria brigar com a mãe, mas não podia perder a oportunidade de conseguir mais
alguma informação, algo que lhe tirasse a dúvida. Ela ficou surpresa com a
tranquilidade que sua mãe conversava. Ela lhe deu alguns conselhos, disse pequenas
coisinhas, mas ainda havia muitas coisas que Scarlet ainda precisava descobrir.
Mesmo assim, uma onde de alívio a atingiu.
Dias depois, Scarlet já havia ver recuperado, retornando ao trabalho na Agência,
mas ainda pensava em seu pai. Seria mesmo Wallin?
Quando ela chegou em casa mais dedique o normal, resolveu preparar um jantar
surpresa para mãe, já que ela não se encontrava ali.
Estava quase tudo pronto quando escutou a porta bater. Sua mãe havia chegado e
Scarlet ainda permanecia de costas para a porta. Abriu um sorriso quando se virou
para a mãe, que logo se esvaiu quando olhou para ela, com os olhos arregalados.
Sua mãe estava ferida, gravemente. Ela caiu no chão antes mesmo de dizer uma
palavra.
Scarlet fica em sua companhia, ela estava morrendo. Ela tentou levantar Maya para
que a levasse no hospital, mas a mãe impediu. Não havia mais salvação, faltava
pouco para que seu coração parasse de bater.
Mas antes que isso acontecesse, a mãe fala sobre o pai de Scarlet e o quanto a
ama, aos choros.
A mãe dela lhe revela tudo. Não, quase tudo.
(4)
MINUTOS ANTES de Maya ser levada do mundo, pede à filha que vá até a escrivaninha
e pegue uma carta. A carta. A mesma que sua mãe escrevera enquanto repousava. Ela
pediu que a lesse na sua frente.
Revelações.
Seu pai foi assassinado. Antes mesmo de vir ao mundo, seu pai já havia sido
morto. Ela sofreu concussão. Se esqueceu de tudo. Quase tudo. Lembrou-se apenas da
invasão, na qual levaram seu pai, ou quem pensava ser.
Quando termina de ler a carta, sua mãe já estava sem vida. Ela chorou. Havia
perdido todos que ela amava. Imaginava que iria morrer naquele momento. Mas não
podia. Não agora.
No dia seguinte, a cerimônia de enterro acontece. Scarlet ficará surpresa com a
quantidade de pessoas que havia ali.
O corpo de Lisa fora enviado para o departamento de Wallin, com um bilhete
escrito "Se cuida". Sim, era uma ameaça.
(5)
QUANDO A CERIMÔNIA acaba Scarlet foi direto para casa, acompanhada por seus
amigos e até Levon, mesmo que não fosse seu amigo.
Lançaram e se entreolharam.
Scarlet sabia que poderia confiar neles. E então lhes mostrou a carta. Eles a
questionaram sobre o que faria, e ela simplesmente lhes disse:
- Vou matá-lo.
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**** Personagens ****
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♧ Estava procurando o contato de minha mãe para que pudesse ligar pra ela, mas meu
telefone tocou. Uma coincidência.
- Oi, mãe, eu ia ligar agora. Está tudo certo?
- Sim, meu amor. Aconteceu alguma coisa?
- Não, quer dizer... estarão dando uma prova para os grupos. Chegou a hora de
avançar o placar.
- Hum. Está preocupada com isso?
- Não, só não esperava. Ninguém esperava.
- Isso é pra você e seus amigos aprenderem a sempre estarem preparados para algo
que não esperam.
- Sim, exatamente isso. Liguei só para avisar, agora tenho que ir. Vou comer um
lanche e ir treinar. Não posso perder tempo.
- Tá bom, meu docinho de olhos azuis - sorri ao ouvir minha mãe me chamando
daquele jeito - E mais uma coisa: não tome atitudes impulsivas. - comecei a falar
junto com ela - Monte estratégias. Pense. Planeje. Mire e, por fim, atire.
Rimos aos falarmos aquilo. Era meio bobo, mas às vezes funcionava comigo, como
muitas outras coisas que minha mãe dizia. Algo que aprendi durante meus 19 anos de
vida, é que se você não escutar sua mãe, algo sempre dá errado, como se suas
palavras fossem uma promessa.
Enfim desliguei o telefone.
- Pelo visto a conversa estava boa, não?
Lisa chegou com duas fatias de pizza. Estava acompanhada por Emma, Brandon e Levon.
- Oi - disse, pegando uma fatia de pizza.
- E aí, estão preparados para a prova? - Brandon perguntou.
- É fácil perguntar isso quando não se faz nada além de dar ordens. Mas, mesmo
assim, eu nasci pronto. Nem sei porque fez essa pergunta. - Levon reclamou.
- Sendo assim, era mais fácil você não responder, já que é óbvio para todo mundo
- disse Emma, com um sorriso no rosto.
- Deixa ele, Emma! Ele é superior demais a nós, não merecemos sua atenção. -
Lisa falou, cheia de ironia.
Todos riram. Depois olharam pra mim, provavelmente esperando que eu dissesse
alguma coisa, mas estava com a boca cheia, tinha acabado de dar uma mordida grande
na pizza que Lisa trouxera pra mim.
- Essa pizza está maravilhosa, vocês deviam calar a boca e comer também.
Eles deram um sorrisinho, então pegaram as suas fatias e comeram.
- Isso mesmo, precisamos de energia para nos movimentarmos, não é, Scarlet? -
Emma disse, rindo.
Fiz que sim com a cabeça, ainda saboreando aquela pizza que, por sinal, estava
realmente muito boa.
- Vamos treinar daqui a pouco, certo? - Brandon perguntou.
- Claro. - Todos falamos em uníssono, eu com a boca ainda cheia.
De repente todos começariam a rir, e franzi a testa, numa expressão que indicava
dúvida.
- Do que estão rindo? - Eu perguntei.
Ninguém disse nada, apenas continuaram rindo e, apesar de meus pensamentos
estarem na pizza e na prova, sem saber exatamente a graça daquilo tudo, me juntei a
eles e comecei a rir.
♧ - Agora, estarão na segunda etapa as duplas restantes junto com seus chefes. Uma
boa sorte e que comecem os jogos!
Não era tão fácil quanto parecia. Mal dei um passo e uma lâmpada disparou contra
mim. Esquivei a tempo. Analisei o espaço em que estávamos. Emma e eu nos
entreolhamos. Sorrimos. Tínhamos chegado à mesma conclusão.
- Certo. A prova é meio diferente, mas de uma coisa sabemos: lâmpadas disparam,
paredes explodem e... o chão espirra.
- Exatamente isso. - Emma confirmou.
Haviam trinta bonecos em toda a área, talvez fosse desnecessário estar carregando
uma mochila com cinquenta algemas.
Começamos a correr. Durante a caminhada, já havíamos algemado dez bonecos
criminosos. Continuamos, caminhando rápido e com cautela. Observei as paredes e
procurei pelos bonecos criminosos, enquanto Emma alertava quando havia lâmpadas e
saídas de água no chão. Corremos e vi uma brecha de mais ou menos um metro na
parede. Mesmo assim, era praticamente invisível. Um sensor.
- Pare! - ouvi Brandon gritar através do ponto em meu ouvido.
Me esquivei antes de algo sair de dentro da brecha. Uma lâmina...de verdade? Não,
não era. Mas não era totalmente inofensivo. Estava a um centímetro de meu pescoço.
Emma arregalou os olhos.
- Scarlet, um boneco, vou algemá-lo e já volto. Vê se toma cuidado.
Assenti.
Continuei observando o que parecia uma lâmina, havia algo estranho ali, só não
sabia o que era. Esperei. Nada.
- Scarlet? - Brandon perguntou.
- O que é?
- Prossiga. Não é bom estar perto dessa coisa, pode acertar outro disco no seu
rosto.
- Jura? Pior ainda é você estar vendo um mapa que mostra todas as armadilhas e me
avisar um segundo antes de dar com a cara em uma, não acha?
Brandon riu. Ergui um canto da boca em um pequeno sorriso.
- Sim, acho. Mas talvez seja melhor você seguir em frente, há mais bonecos à
esquerda. Temos pouco tempo.
- Aham, mas tem alguma coisa aqui. Relaxa aí, Brad - disse, com o tom de voz de
Lisa.
Ouvi um estalo. Outro. Mais um. Me afastei antes de o disco cair e a brecha
começar a abrir.
- Hã? - Brandon exclamou, tão surpreso quanto eu, ele podia me ver através das
câmeras na área. Mas era estranho que não soubesse sobre o que havia ali. -
Scarlet...
- Hum. Avise Emma que estou no mesmo local e que já a encontro. Mande-a ir atrás
de criminosos. - disse em um tom de voz baixo.
A brecha era grande, mas pequena para uma pessoa passar. Me aguachei e entrei.
Luzes amareladas se acenderam e o espaço continuava escuro, apesar da iluminação.
Observo. Não fazia sentido. Por que haviam colocado isso na área da prova?
De repente me dei conta.
Vários bonecos estavam ali. Milhares, parecia. Era por isso. Por isso que haviam
mais algemas. Haviam bem mais bonecos do que disseram. Talvez fosse um teste de
habilidades individuais.
Ouvi Brandon avisar Emma do meu recado.
- Pessoal, falta menos de um minuto, melhor se apressarem.
Os bonecos estavam distantes, aparentemente uns 40 metros. Então peguei algumas
algemas e comecei a ir em direção aos bonecos. Parei.
Água.
- Argh! Sério isso? - disse para mim mesma.
Certo, eu teria que nadar, e rápido. Não hesitei, pulei na piscina, que era
enorme, e comecei a nadar o mais rápido que pude.
- Quarenta segundos. - Brandon não parava de lembrar.
Rápido Scarlet, rápido.
Estava quase na metade do caminho. Se aquilo realmente ajudaria, eu não sabia,
mas isso eu veria depois. Voltei a me concentrar.
Mais rápido.
- Trinta segundos.
Falta pouco.
Quase lá.
Eu me perguntei se haviam outros lugares com mais bonecos. Esperava que não.
Provavelmente já tinham sido todos algemados. Mal conseguia pensar, os meus membros
estavam doendo com o esforço.
Cadê o fim?
Mais um pouquinho. Água entrou em minha boca. Pigarreei.
- Eu realmente espero que isso valha a pena. - Brandon não disse nada, apesar de
ouvir.
Soltei um grito de dor, aquilo parecia uma eternidade.
Quase...
Eu não ia aguentar.
Não falta muito, vai, Scarlet. Isso, está perto.
Finalmente.
Cheguei à beirada da piscina, saí da água. Minhas pernas estavam tremendo.
- Vinte segundos.
Peguei as algemas que guardei antes de pular na piscina. Estava ofegante. O
coração batendo rápido.
Cinco algemados. Vamos, Scarlet.
- Quinze segundos. - Brandon soava aflito, mas não mais que eu.
- Cale a boca, Brandon! - gritei.
Continuei. Minhas mãos tremiam. Doze já estavam algemados.
- Scarlet...cinco segundos.
Vamos, vamos! Dezesseis algemados. Mais um. Só mais um.
♧ Ficamos assistindo televisão enquanto comíamos o bolo de minha mãe que sobrara do
café da manhã. Lisa se levantou e parou em frente à TV.
- Ei, pessoal. Isso está muito chato, vamos animar um pouco, isso mais parece um
enterro do que uma comemoração.
- O que você sugere, então? - Levon perguntou.
- Vamos tirar fotos! - Emma pegou seu celular.
- Hum...eu... - Eu odiava tirar fotos, mas todos já haviam se levantado, apesar
de estarem olhando pra mim. Mudei de ideia - Tá bom, então. - Talvez seja bom
registrar o momento.
Até que foi divertido. Fizemos caretas, piruetas e cambalhotas mortais, e quase
querbramos a televisão, mas no fim tudo correu bem.
- Scarlet, você tem uma piscina aqui? - Levon perguntou.
- É...tenho, sim. Por quê?
- E nem avisou nada? Um calor desse e a gente aqui vendo televisão? Fala sério,
Scarlet. - Levon reclamou.
- Eu havia esquecido. E você nem tem o direito de se oferecer para entrar na
piscina da minha casa. Quem sugere isso sou eu, não você. - Todos nos encaravam. A
tensão se espalhou pela sala. Dei um sorriso. - Estão esperando o quê? A piscina
está ali, é só entrar.
Todos rimos e a tensão foi embora. Colocamos uma roupa mais adequada para a
ocasião e entramos na piscina.
Minha mãe já havia chegado fazia tempo quando saímos da água. Conversei um pouco
com ela e logo depois fomos todos dormir.
♤ - Beleza, estamos indo embora, precisamos fazer uns trabalhos. Vemos vocês mais
tarde. - Emma disse.
- Isso aí, e vejam se não perdem o juízo. - Levon falou, dando uma piscadela para
Brandon. - Ou melhor, as roupas.
Todos riram, menos eu.
- Fica na sua, Levon, você entendeu tudo errado, então não se intrometa - eu
disse, por mais que estivesse constrangida com o comentário dele.
- Hoje ela está estressada. Mas rapidinho Brandon dá um jeito, não é, amigão?
Levantei uma sobrancelha para Brandon, que parecia esconder um sorriso. Eu não
tinha nada com ele, o que aconteceu foi sem querer, mas eles pareciam não entender
isso.
Talvez nem eu entenda.
Joguei uma almofada na cara de Levon.
- Está bem. Parei - e enfim fecharam a porta.
Encarei Brandon. Faziam uns dois meses que não ficávamos sozinhos. E as memórias
da última vez que nos vimos me veio à mente todos os dias. E agora meu rosto
esquentava por lembrar disso enquanto ele me olhava. Mas eu não posso negar que ele
parecia ter o mesmo pensamento. O mesmo... desejo.
Fechamos, ao mesmo tempo, os nossos punhos. Levantamos do sofá.
Apesar de estarmos em lados opostos da sala, fomos rápidos. Não havia muito
espaço entre nós. Percebi uma pequena cicatriz em sua boca, provavelmente ainda do
dia em que tentei matá-lo. Não faltava muito pra tocar a minha boca naquela
cicatriz. Me afastei.
- Ainda não terminamos aquilo - eu disse, fingindo não pensar na última vez que
toquei ele, em que nos tocamos -. Eu não quero discutir, e fique tranquilo porque
eu não vou tentar te matar - Brandon riu -, mas agora preciso arrumar um jeito de
voltar atrás naquele seu acordo. Mas sem discussão. Sem brigas. Isso nunca acaba
bem.
- Bom, na última vez que discutimos não acabou tão mal. Acabou?
Enquanto eu lutava pra tirar isso da cabeça, ele me lembrava...
- Brandon, não faz nem 5 minutos que eu falei que não ia tentar te matar. Eu não
gosto muito de quebrar promessas, então colabore.
Brandon riu, mas parecia feliz de verdade.
- Pelo menos dessa vez as facas estão longe.
- Por quê? Não se garante de que conseguiria arrancar ela da minha mão e jogá-la
no chão?
- Talvez não. Mas me garanto de que aconteça o que aconteceu depois disso. - ele
estava se referindo ao beijo e... a todas as outras coisas.
Meu fôlego sumiu. Minha língua travou, minhas palavras sumiram. De repente meu
coração acelerou. E esqueci do que estava a nossa volta.
- Você sabe que existe outras formas de matar sem uma faca, não sabe? -
provoquei, mas ele sabia que eu estava sem argumentos.
- Estamos sozinhos aqui. Por favor, não me assuste - ele riu, brincando.
Estávamos mais próximos. Bem mais próximos.
- Está com medo de mim?
- Estou com medo de mim, não de você.
Eu entendi o que ele quis dizer. Ele não se importava mais. Ele não conseguia
esconder a fome em seus olhos. E aquilo era contagiante. Aquela noite não podia
acabar da mesma forma que antes. Eu tinha que me controlar.
- Garanto que Levon e Emma iriam chegar numa boa hora da conversa. - eu disse.
Ele deu um sorriso malicioso.
- Você quer conversar?
- Você quer? - eu também podia fazer aquele jogo idiota.
Ele olhou para meus lábios, e fiz o mesmo com ele. Eu não ia me deixar levar,
disse para mim mesma. É só uma brincadeira. E ele pareceu ler meus pensamentos.
- Você está brincando com fogo.
- E você está brincando com um incêndio. - eu disse, satisfeita por arrancar um
sorriso dele.
Estávamos perdendo tempo. Então tinha que parar com aquilo. Me afastei e fui até
o quarto.
Quando cheguei na sala, estava com uma arma em punho e podia jurar que ele se
assustou. Talvez estivesse pensando que eu fosse quebrar a minha promessa.
- Posso saber por que está com medo? - provoquei.
- Eu não sei o que você vai fazer, mas te conheço o suficiente para saber que não
é uma coisa lá muito legal.
- Eu acho super divertido.
Eu estava arrumada com o uniforme. Era óbvio que eu iria sair. E ele sabia que eu
iria começar outra briga com Wallin.
- Vou...
- Não, Scarlet - ele confirmou minhas suspeitas.
- Não é nada demais. Só vou reduzir um pouquinho os gastos dele com agentes.
Ele estava à minha frente agora, faltava pouca coisa para que nos tocássemos.
- Scarlet, vá dormir. Faça isso outro dia.
- Senão o quê?
Ele agarrou meus braços, pressionando-os com uma força que chegava a doer. Me
obrigou a andar, até colidir com uma parede. Minha respiração começou a acelerar.
Seu rosto estava a milímetros do meu.
- Vai arriscar? - ele passou a mão pela minha e pegou a arma.
- Vai negar que eu não vou dar um chute entre as suas pernas, pegar a arma de sua
mão e sair daqui em menos de cinco segundos?
Seu braço estava ao lado de minha cabeça, apoiado na parede. Ele estava me
prendendo, arrumando uma desculpa para eu não ir atrás de Wallin.
- Acha mesmo que eu não vou fazer você mudar de ideia?
- Você não é assim. Relaxa aí, Brad - ele estava tão próximo que eu mal conseguia
respirar. Não havia outra coisa que pudesse dizer, ou não veio nada na minha mente.
- Quem está nervosa é você, Let.
Dei um chute entre as pernas dele, peguei a arma de sua mão e saí do apartamento.
Contei no relógio 3,14 segundos. Atingi o recorde. Me senti orgulhosa de mim mesma.
Eu sabia que Brandon iria atrás de mim. Então, quando peguei a arma de sua mão,
puxei a chave do cinto dele e tranquei quando saí. Ele ficaria preso. Mas não tinha
tempo para isso agora.
Chegou a minha hora. Hoje nem vai ser nada demais. Vou matar, no máximo, uns 10
capangas de Wallin.
♧ Eram 07h45 quando cheguei no apartamento. Quando abri a porta, dei de cara com
Brandon.
- Onde você estava, Scarlet? - ele perguntou. Parecia cansado.
- Não é da sua conta. Eu te disse ontem o que ia fazer.
- Até que enfim chegou a madame! - Levon reclamou - Perdemos a chave ontem e
tivemos que entrar pela janela porque você estava com as chaves e trancou Brandon
aqui.
Joguei as chaves em Brandon. Mas ele pegou antes que atingisse seu rosto.
- Você está bem, Scarlet? - Emma perguntou.
- Estou.
Ela e Levon falaram mais alguma coisa, mas fingi não ter ouvido e fui até o
quarto tirar aquela roupa da saída. Estava suja.
Tirei a jaqueta e os sapatos, que deram muito trabalho. Momentos antes de tirar
por completo a minha blusa, me deparei com Brandon no batente da porta.
Revirei os olhos, mas antes que fizesse isso, percebi que ele me olhava do mesmo
jeito de dois meses atrás. Parei o movimento.
- Sai daqui. Eu odeio você, Brandon.
- Uhum.
Parei e encarei ele.
Flashs da última vez em que coloquei uma faca em sua garganta pairaram sobre nós.
Mas ele saiu antes que seja lá o que for pudesse acontecer.
Fui para o banheiro e tomei um banho gelado. Quando terminei, fui até a sala e
expliquei a eles o que havia acontecido.
Eles pareceram ter gostado da parte em que escrevi uma mensagem pelo telefone de
um dos capangas para Wallin, que dizia "
" Não costumo quebrar promessas, mas acho que os costumes não importam pra você,
importam?"
♧♧♧
Estávamos livres de trabalho e de qualquer outra coisa, então hoje seria só
curtir e aproveitar a vida. Eu estava ignorando Brandon haviam dois dias, mas ele
não demonstrou raiva de mim. E talvez seja imaturo ficar fazendo isso. Eram 05h36 e
estavam todos dormindo. Então resolvi dar um passeio pelo bairro.
♧♧ Quando cheguei no nosso apartamento, não havia ninguém lá. Então dei de cara
com Brandon na portaria. Levon e Emma haviam saído. Subimos juntos até o
apartamento, e eu não disse nada. Mas então resolvi parar com essa infantilidade.
- Eles estão bem saidinhos ultimamente, não? - perguntei.
- Sim, estão.
Me virei para ele e o encarei. Aquela droga de olhar, de novo.
- Argh, eu te odeio tanto - eu disse, enquanto tentava destrancar a porta, com as
sacolas de compras me atrapalhando.
Brandon riu, e foi se aproximando de mim, percebi. Meus batimentos cardíacos
estavam começando a se apressar. Então consegui abrir a porta.
- Vamos brincar - sugeri, assim que chegamos na cozinha.
- Brincar?
- Sim, vamos lutar. De brincadeira, claro.
Brandon riu.
- Não acho que seja muito uma brincadeira.
- Na realidade não é. Mas quero arrumar um motivo pra dar um soco na sua cara.
Então coloquei as compras em cima da bancada, e abri um pacotinho de frutas.
Brandon me encarou, dessa vez com os olhos meio inexpressivos. Ele parecia não
entender. Então veio para trás de mim e pegou uma uva do pacote.
- Tá bom, Let - ele sussurrou em meu ouvido. Ele sabe o quanto odeio que me chame
assim.
Dei-lhe um golpe na barriga, me virando rápido. Segurei a gola de sua blusa,
empurrando Brandon até uma parede mais próxima. Com o braço em seu pescoço, eu
disse:
- Eu odeio você. E isso nunca vai mudar. E também não me chame assim.
Não me dei conta do quão próximos estávamos. E no quanto nossa respiração estava
acelerada.
- As coisas mudam, não? - ele provocou.
- Algumas, e geralmente para pior.
- É, mas precisamos conversar, como você mesma disse. Agora temos a oportunidade.
Ou prefere brincar de lutinha?
Pressionei meu braço com mais força, fazendo-o tossir.
- Você quer conversar? - Agora era a minha vez de provocar.
Brandon não diz nada, apenas me encara com um olhar que me faz corar, então acho
que acabou a discussão, então soltei Brandon e me afastei, numa tentativa de
esconder minhas bochechas rosadas. Vou em direção à bancada, e estamos num silêncio
completamente perturbador. Antes que eu pudesse me virar para dizer algo, Brandon
me puxa pela calça. O movimento foi tão rápido, que só depois me dei conta de que
estava cara a cara com ele. Sua estrutura firme e forte estava contra a minha,
fazendo eu me sentir pequena. Muito pequena. Seu olhar enviou faíscas por todo o
meu corpo, me fazendo tremer da cabeça aos pés. Ele sabe. Ele sabe o que faz
comigo.
De alguma forma, e eu não sei qual, estávamos na sala. O silêncio persistia, e as
vozes na minha cabeça eram tão altas que eu temia que Brandon pudesse ouvir. Claro.
Nós sabíamos o que íamos fazer. Não é nenhum segredo. Eu não sei como, mas consegui
pronunciar as palavras.
- Emma e Levon... - Começo a falar, mas ele me interrompe com um sorriso maroto
nos lábios.
- Eles não vão voltar agora, Scarlet.
Colidi com a mesa de centro. E Brandon estava tão próximo que eu fui obrigada a
sentar na mesa. E então ele parou. Só havia o som de nossa respiração ofegante.
Brandon se aproxima, e seus lábios estão perto da minha orelha.
- No que está pensando?
Sinto sua respiração entrecortada aquecer meu pescoço. Ondas de arrepios me
percorrem, e não consigo evitar fechar meus olhos.
- Estou pensando no quanto odeio você, Brandon Lennon. - Abro os olhos, as
palavras saindo da minha boca como um sussurro.
Ele dá um sorrisinho e se vira para me encarar. Seu rosto próximo, muito próximo
do meu. Cada um de seus braços estão de um lado do meu corpo, me prendendo.
- Jura? - Ele pergunta.
Não.
- Sim - olho para seus lábios. - O que você quer, Brandon?
Ele chega mais perto e há milímetros nos separando.
Seus olhos traçam a linha dos meus lábios.
- Se você soubesse, Scarlet.
Brandon acaba com nossa distância com um beijo. Seus lábios são tão macios.
Suaves. Sinto uma onda de vibrações chegar ao meu corpo e meus sentidos estão em
voltagem máxima. Sua língua roça na minha, e Deus, ele faz isso tão bem.
É um beijo suave. Sem desespero. Sem mágoas. Só há Brandon e eu. Quando ele se
afasta, abrimos nossos olhos ao mesmo tempo. O canto da sua boca se ergue em um
sorriso, e seu olhar percorre cada centímetro do meu rosto. Sinto minhas bochechas
corarem de desejo. É óbvio. Está na cara o que eu estou pensando. E, droga, ele
sabe direitinho ler meus pensamentos.
Suas mãos estão em meu quadril, me empurrando e fazendo deitar na mesa. Seu corpo
sobre o meu. Nossos lábios se encontram, dessa vez mais famintos, mas ao mesmo
tempo calmo, lento. Sinto suas mãos descerem e pararem no botão da minha calça.
Batidas na porta.
- Brandon! Scarlet! Abram a porta. - Ouvimos a voz de Emma.
Nos encaramos. Ele se afasta, mas afastamento é a última coisa que eu quero
agora.
Agarrei sua calça e o puxei para perto. Então peguei a chave em seu bolso, e uma
risada escapou de seus lábios. Aquele sorriso. Tão lindo. Tão encantador.
Antes que eu pudesse pensar, minha boca tocou a sua e me aproximei um pouco mais.
Nossos quadris se tocando. Entrelaço minhas pernas ao redor de sua cintura e faço
um gesto indicando que me leve até a porta.
Íamos mesmo fazer isso.
Destravo a porta sem nem olhar para ela, concentrada apenas nos lábios de
Brandon.
Quando a porta se abre, ele afasta seu rosto do meu, mas continua me segurando
firme em seus braços.
- Fomos comprar doces, porque a gente... - Levon se atrapalha e arregala os olhos
assim que nos vê. Estávamos completamente vestidos, mas essa não é uma posição em
que amigos ficam.
Brandon solta uma risada enquanto ajuda Emma com as sacolas, e está me firmando
em si apenas com um braço. As vezes me esqueco do quão forte ele é.
Me assusto comigo mesma por não sentir vergonha alguma. E é algo bom, eu acho.
Quando eles terminam de colocar as compras na mesa, Levon começa a falar.
- Bom, eu nem queria falar nada, mas vocês dois não precisam sair por aí
mostrando que não estão solteiros e esfregando isso na nossa cara - Ele faz um
gesto entre Brandon e eu - E nem vem querendo se exibir porque eu não estou
solteiro, não é, Flor? - Arregalamos os olhos diante da surpresa. Eu já sabia, mas
falando assim é meio chocante.
Ele puxa Emma pela cintura e lhe dá um beijo. Na boca.
Brandon e eu levantamos as sobrancelhas. Emma dá um sorriso. Mando Brandon ir até
os copos, e encho-os de água. E sim, ainda estou em cima de Brandon.
- Surpreendente. - Digo, fazendo uma expressão de surpresa.
Viro o copo e bebo com vontade.
- Além disso, ninguém quer ver suas relações sexuais, Brandon - Levon diz, ainda
abraçando Emma.
Engasgo antes de começar a rir. Brandon não gostou, mas não consegui segurar a
risada. Bato a mão contra meu peito, para tentar fazer a água descer. Pigarreio.
- Nós não estávamos... - Eu começo a falar, mas Brandon me interrompe com um
beijo.
- Então saiam daqui - Ele diz, sem se afastar. E sorri, ainda com a boca
encostada na minha.
- Mais que baixaria, hein, pombinhos. - Levon diz, pegando Emma no colo e indo
até o quarto.
Emma acena para mim e faz um gesto de incentivo. Odeio isso, mas faço o mesmo.
Brandon me coloca sobre a bancada da cozinha, e me surpreendo, pois ele sequer
ofega, mesmo depois de um bom tempo me carregando.
- Você é muito forte, sr. Brandon - digo, cutucando seu braço musculoso.
Ele ergue a mão e percorre a maçã do meu rosto com o polegar. Como pode, um
simples toque me proporcionar tantas emoções?
- Eu poderia fazer isso todos os dias. Durante toda a minha vida, srta. Lennon -
Ele diz, e me derreto todinha com...
Espera. Ele me chamou de Lennon?
Brandon Lennon me chamou pelo seu sobrenome?
Scarlet Lennon.
Penso no nome, e acho que fica muito bom.
Espere, o quê? Não. Fica horrível. Eu nem devia pensar nisso. Meu nome é Hubber.
Mas Scarlet Lenn...Não.
Cale a boca, Scarlet!
Cale a boca, cale a boca...
- Let - Brandon chama. Algo faísca em mim.
Ele faz um caminho com o dedo indicador por entre meus seios, descendo até o
fecho do zíper da minha calça. Ainda não acabou, lembro a mim mesma.
- Antes que você pergunte, eu estava pensando no quanto odeio você - digo,
apontando para ele.
- Diga de novo. - Desafia.
- Eu te odeio. Eu te odeio, Brandon Lennon. - Digo, como uma prece, enquanto
percorro seu rosto e pescoço com os lábios.
Levo minha mão até a bainha de sua camisa e puxo-a para fora de seu corpo. Fico
maravilhada com a beleza de Brandon. Seu abdômen é esculpido em músculos. Cada
centímetro. Ele é perfeito. Passo minhas mãos por todo o seu tronco e o sinto
estremecer com o toque. Ele está me encarando com aqueles olhos marrons lindos e
tão expressivos. Tão doces. Amo tanto esses olhos. Amo tanto esse homem.
Suas mãos estão embaixo de minha blusa, roçando minha cintura. Estou sem ar. Tudo
que eu quero é Brandon. Só ele.
Brandon. Brandon. Brandon. Brandon.
- Eu te amo tanto. Não consigo pensar em outra coisa. É só você. Dia e noite. Em
qualquer lugar e em qualquer hora é você, Brandon. Você. - Eu não sei como consegui
dizer isso. Eu demorei tempo demais para perceber que eu não estava pensando, mas
dizendo. Coloco uma mão na boca. - Mas que merda.
Ele parece surpreso, mas está fazendo uma cara de quem gostou e me puxa para um
abraço apertado.
As lágrimas que brotaram de meus olhos não são de tristeza, dor ou sofrimento.
São de amor. Eu nunca chorei por amor, e quando ouvia sobre isso, só imaginava que
fosse outro nome para dor. Nunca achei possível que esse sentimento me
transbordasse tanto a ponto de se transformar em lágrimas. Lagrimas do bem.
Eu nunca me senti assim. Essa paz inexplicável que enche meus pulmões parece
irradiar, e percebo que os olhos de Brandon estão marejados.
Ele apoia a testa na minha.
- Scarlet - diz, com os olhos fechados.
Fungo. Dou uma risada em meio as lágrimas.
- Estou aqui, Brandon. Estou aqui - sussurro.
- Eu amo você. Semprei amei. Sempre irei amar. No momento em que eu der meu
último suspiro, é você que quero que esteja ao meu lado. É você, Scarlet, que eu
quero que seja a primeira e a última coisa a ver, durante todos os dias de minha
vida. Quero dormir e acordar com você. Chorar e sorrir com você. Quero carregar
você para todos os lugares que eu for, porque não vejo razão em viver se não for
com você ao meu lado.
Rios e oceanos escorrem dos meus olhos. Eu não consigo parar de sorrir, e nem de
chorar.
Deus, eu sou tão patética.
Abraço ele com todas as minhas forças.
- Está bem, eu não trouxe um anel. Eu...eu não pretendia fazer isso agora. Mas -
ele hesita - mas acho que é o momento, não é? - ele encara o teto. Suspira. - Sim,
talvez seja.
Dou um sorriso diante do nervosismo de Brandon. Eu nunca o vi assim, e ele fica
tão fofo que chega a doer quando me seguro para não pular em cima dele, apesar de
já estar em seu colo.
- Então - ele limpa a garganta - Droga, eu sou tão ruim nisso - sussurra pra si
mesmo. - Scarlet Hubber.
Ele se ajoelha diante de mim e segura minha mão.
- Você quer se casar comigo?
Óbvio. Eu devia saber que ele ia fazer isso. Ele se ajoelhou e segurou minha
mão. Um pedido de casamento. Mas estou tão perplexa que não sou capaz de pronunciar
uma palavra. Ele me encara, e posso sentir o seu nervosismo.
- Brandon... - eu digo, num tom de surpresa.
- Ai, meu Deus. Sim ou não? Não me iluda.
Uma risada escapa dos meus lábios. Me ajoelho para ficar cara a cara com Brandon.
Seguro seu rosto.
- Claro que sim, seu idiota. Eu te amo.
Eu lhe dou um beijo.
- Eu te amo, eu te amo, eu te amo - dizemos, como uma prece, um segredo.
Os beijos que trocamos começam a desacelerar e ainda ajoelhados, puxo-o para mais
perto pela barra de sua calça e ele faz um som que mostrava tinha gostado. Suas
mãos me agarram pela cintura e enquanto uma de minhas mãos acaricia seu quadril, a
outra o empurra contra o chão e o deito ali. Termino o beijo e me levanto. Tiro os
seus sapatos. Depois os meus. Eu dou um sorriso malicioso, que ele devolve,
enquanto subo minhas mãos por sua calça, de quatro, bem devagar.
Quando chego no botão de sua calça e a abro, deixando uma parte de sua cueca à
mostra, ele estremece. Mas não permito que se mexa. Dou um beijo em seu abdômen, e
sigo o caminho até sua boca com os meus lábios.
- Nós vamos nos casar.
Ele dá um sorriso e faz que sim.
- Você vai ser meu homem.
- Eu sou seu homem faz tempo, Let.
Dou um beijo em seu pescoço. Outro em sua clavícula.
- É mesmo? - pergunto, com um tom de malícia.
- Sim.
- Posso fazer o que quiser com você, então - mordisco sua orelha e acaricio seu
abdome - Não é?
Ele me encara.
- Sim - ele diz e, antes que eu pudesse dizer mais alguma coisa, ele me puxa para
si e pega minha perna para que eu possa me agarrar nele. E então levanta, e não
percebo que estamos no banheiro, até ele me apoiar na bancada fria.
Levo uma mão até sua calça e começo a tirá-la. Brandon sorri. Devolvo o gesto,
percorrendo um caminho na sua clavícula com a minha boca.
- Amor - meu sorriso aumenta ao ouvi-lo me chamar assim. Olho para ele. - Preciso
que feche os olhos.
Faço uma careta.
- O que você vai fazer? - questiono.
- Você confia em mim?
Faço que sim.
Hesito antes de fechar os olhos.
Ele solta uma risada grave, que faz meus pelos se arrepiarem.
Um momento de silêncio. E está sendo muito difícil manter os olhos fechados.
Dou um pulo quando suas mãos acariciam minha barriga, meu rosto, meu quadril.
Me inclino para tocá-lo, mas ele segura meus braços.
- Levante os braços.
Levanto, num sinal de rendição.
- Quietinha.
Levanto as sobrancelhas.
- Você não manda em mim. Além disso, desde quando você é assim tão sem vergonha?
- Dou uma risada - Eu preciso te tocar, saber que está aqui.
- Eu sempre estarei.
Um beijo nas minhas duas bochechas. Eu não quero que ele me beije só na bochecha.
Quero que ele beije cada pedacinho do meu corpo.
Suas mãos vão até a barra da minha calça, e depois sinto seu polegar no elástico
da minha calcinha.
Enrubesci. Solto um gemido de sofrimento e Brandon solta uma risada.
- Brandon - digo, em um tom de súplica.
Isso é uma tortura.
Suas mãos percorrem meus braços, meus ombros e sobem até a clavícula, onde deixa
um beijo. Ele começa a tirar minha blusa, e sua tarefa não se torna difícil com os
meus braços já levantados.
Estou só de sutiã e calça jeans.
- Tão linda - ele sussurra.
Eu mordo o lábio e o sinto se aproximar. Ele faz um caminho na lateral do meu
corpo com as mãos, como se tentasse me memorizar.
Isso está me matando. Eu não aguento mais.
- Pare de me torturar, Brandon, eu preciso...
Minhas palavras morrem quando sua boca encontra a minha.
um beijo e sussuro "banheiro" em seus lábios. Eu sei que não é um lugar muito
bom para o que vamos fazer, mas ele vai mesmo assim.
..................
- Está bem, o que vamos fazer hoje? - Emma perguntou, rodeando a sala inteira.
- Nós podíamos ir para uma festa.- Levon sugeriu, pensativo.
- Não - falamos em uníssono.
- Vamos almoçar, já passou da hora - eu lembro, quando, na verdade, eu só queria
sair da sala.
- Você só pensa nisso, Scarlet - Levon levantou do sofá e colocou um braço em meu
ombro. - Mas já que é isso o que você quer.
Ele me levou em direção a cozinha. Quando chegamos, ele foi até a geladeira
buscar ovos e manteiga.
Franzi a testa, numa expressão de que não estava entendendo nada.
- Hoje não tem almoço. Vamos fazer um bolo. Emma! Brandon! Venham cá ajudar.
Em um instante eles já estavam na cozinha.
- Você não sabe fritar nem um ovo. Acha que vai conseguir fazer um bolo? - Emma
disse o que todos estávamos pensando.
- Você me ajuda - o tom de voz maroto de Levon me fez olhar para Brandon, que já
me encarava. Então seguramos o riso. - O que foi? - Levon perguntou, encarando-nos.
- Pelo visto tem mais algumas pessoas que precisam ter cuidado para não perder o
juízo. Ou as roupas. Não é, Levon? - Eu provoquei.
Fique aliviada por arrancar gargalhadas de Emma e Levon. Mas no fundo todos
sabíamos que eles eram só amigos. Todos começamos a rir. Mas a risada logo morreu
quando Levon abriu a boca.
- Somos todos amigos, não é, Scarlet?
- É - eu sabia que ele estava provocando a Brandon e a mim, mas fingi não me
importar. Mesmo que estivesse olhando diretamente nos olhos de Brandon, que
pareciam me ler de uma forma...
- Está bem, vamos fazer logo isso.
Emma nos lembrou de acordar para a vida, então fiz malabarismo com os ovos
enquanto eles usavam os outros ingredientes.
Enquanto o bolo assava, Emma e Levon foram para a sala, me deixando sozinha com
Brandon.
Era inexplicável a rapidez com que as lembranças de nossa última briga pairaram
sobre nós. A faca em seu pescoço, o corte em sua têmpora e a camisa de Brandon
saindo de seu corpo em um segundo. Senti meu rosto esquentar com a lembrança, e
pude ver que Brandon não pensava diferente.
Estávamos em lados opostos na cozinha. Ele estava perto da entrada, enquanto eu
estava na bancada. Não nos movimentamos. Apenas fitamos o olhar um do outro. Por
que todas as vezes em que nos encontramos pensávamos nisso?
- Vou fazer cobertura. - Abri um armário à procura dos ingredientes.
Então começo a fazer, sem olhar para Brandon.
.....
- Eu ia falar isso agora, Scarlet. E acho que o bolo já está pronto.
E então ela o retira do forno, e depois fomos todos para o quarto. Haviam duas
camas de casal, uma onde Emma e eu dormíamos, e a outra onde os meninos dormiam.
Juntamos as camas e pedimos uma pizza.
Nos divertimos muito. E acabamos nos sujando com molho de pizza e cobertura de
bolo. Então eu fui a primeira a ir no banheiro, já que só havia um no apartamento.
Quando saí, os três brigaram para ver quem entrava primeiro.
- Estão parecendo três crianças - eu disse.
Então eles pararam e acabou que Emma foi primeiro, depois Levon. E os dois foram
para o quarto arrumar as coisas, enquanto Brandon e eu arrumávamos a cozinha.
Depois que todos estavam limpos e a casa também, fomos assistir um filme. De
romance. Porque Emma ganhou na aposta.
- Como você pode gostar de uma coisa brega como essa, Emma? Deus me livre. - Eu
disse. Mas me calei, porque começou a ficar bom quando a mocinha deu um soco na
cara dele. Então eu fui mais para a frente, e todo mundo percebeu que eu comecei a
gostar.
Mas o cara começou a tirar a roupa dela e ela beijou ele.
- Argh, fala sério. Estava melhor antes.
Então levantei do sofá e procurei outro disco para colocar no aparelho. Um filme
de ação ou algo assim.
Mas então me dou conta.
Uma briga.
Um beijo.
Estavam prestes a fazer algo mais.
Olhei para Brandon.
Desisti de colocar outro filme. E quando saí da sala, olhei de relance para a
televisão e vi que o casal continuou, e já era outro dia.
Patético, pensei.
E então fui para o quarto e pulei na cama, com a cara no travesseiro.
- Scarlet, o que aconteceu? - Escutei a voz de Emma, que sentou na cama.
- Nada, só achei aquele filme uma droga.
Emma riu.
- Você e Brandon...
- Não tem essa de eu e Brandon, Emma.
- Mas vocês não...? - olhei para ela - Não tem nada?
- Para com isso. Eu realmente não estou muito afim de falar sobre ter alguma
coisa com alguém, sinceramente.
Sentei na cama. Olhamos uma para a outra. E, sem motivo algum, nós começamos a
gargalhar.
- Você parou pra pensar na cena em que Brandon e Levon estão vendo um filme de
romance?
Rimos, e eu não pude deixar passar a chance que tinha de provocar Emma.
- Sim. Levon deve estar pensando em fazer com você a mesma coisa do filme.
Emma ficou paralisada, e percebi que ficou meio constrangida. Mas ela também não
perdeu a oportunidade.
- E Brandon deve estar lembrando de quando vocês dois fizeram a mesma coisa do
filme, não?
Abri a boca. Mas não saiu nenhuma palavra.
Ela me deu tapinhas.
- É uma loucura da nossa parte falar essas coisas. E sei que você e Levon são
amigos - a frase ficou meio solta. Faltava dizer que eu e Brandon éramos apenas
amigos, mas eu disse outra coisa em vez disso. - No dia em que descobri o acordo
com Wallin, eu fui atrás de Brandon. Estava com muita raiva dele. Tanta raiva que
cheguei a colocar uma faca em seu pescoço. Mas teve uma hora em que ele jogou a
faca no chão e...
Emma estava perplexa. Seus olhos estavam arregalados.
- Então era por isso que metade da cozinha estava quebrada?
Rimos.
- Sim.
- Vocês combinam, sabia? - Eu não sabia bem o que dizer em resposta a isso, então
disse qualquer coisa.
- Emma, eu odeio ele.
- Você não odeia ele, Scarlet - ela deu um riso leve e suave - Mas vamos pra
sala.
Então levantamos e saímos do quarto. Quando chegamos na sala, eles estavam vendo
filme de terror, com zumbis.
- Levon! - levantei o tom de voz, indicando surpresa. Ele olhou para mim. - Você é
ator e nós não sabíamos?
Ele jogou uma almofada em mim, que devolvi com ainda mais força.
Então sentamos no sofá. E Brandon estava ao meu lado.
- Você está bem?
Não respondi, mas dei um sorriso, olhando para a televisão.
O filme tinha acabado, e Emma e Levon saíram da sala para ir "dar um cochilo de
10 minutos".
E sim, só havíamos Brandon e eu no mesmo cômodo e no mesmo sofá, só que de lados
opostos dessa vez. Estávamos cientes disso.
Pensamos rápido. Agimos juntos.
Em um segundo, estavámos cara a cara, ajoelhados no sofá.
- Está com sono? - Brandon perguntou.
- Não - falei, rapidamente.
Agarrei o cinto em sua calça e puxei Brandon pra perto, e meus lábios encontraram
os dele com força e desejo e sua mão segurou o meu rosto. Senti meu corpo se
incendiar com o toque.
Eu queria mais. Precisava de mais.
Coloquei meus braços em volta de seu pescoço e suas mãos agarraram minha cintura,
então Brandon levantou do sofá, me levando consigo. Envolvi sua cintura com as
pernas.
Interrompi o beijo.
- Brandon - falei, mais como um sussurro.
- Hum.
Ele beijava meu pescoço e me apertava contra si, desmanchando minhas palavras.
Mas não perdi o controle.
- Brandon.
Colidi em algo sólido, e percebi que era uma parede. Senti meu corpo pegar fogo.
Levei minhas mãos até a bainha de sua camisa e levantei-a aos poucos, fazendo meus
dedos roçarem seu abdômen.
- Odeio você, sabia?
Tirei sua camisa.
Brandon riu. Então me tirou de seu colo.
Pensei que havia desistido da nossa conversa, mas então ele se agacha e começa a
desamarrar meu sapato.
- Brandon.
Quando se levantou, o empurrei para o sofá e o fiz sentar. Emma e Levon não podia
nos ver.
De repente escutamos um grito e risos ao mesmo tempo. Parecia vir do quarto.
Quando comecei a ir em direção ao cômodo, Brandon me puxou para seu colo e me
beijou. Pela primeira vez foi um beijo simples, onde só pude sentir seus lábios, e
nada mais.
Sorri com o gesto, a minha boca ainda pressionando a de Brandon.
Mais um grito.
E antes que eu pudesse levantar, Brandon já me segurava em seu colo, indo até o
quarto. Mas saí antes que Emma e Levon nos vissem assim. Embora eu não o tocasse,
sua mão estava na minha cintura, levantando a bainha da minha blusa, tocando minha
barriga. O contato me provocou arrepios.
Quando chegamos no quarto, Levon estava fazendo cócegas em Emma. Ele estava sem
camisa e ela sem a calça. Eles não nos viram na porta.
- Vejam só quem está sem roupa - falei, mais alto do que os gritos de Emma.
Eles pararam e nos olharam perplexos. A vergonha estampada na cara deles.
Não era nem por mal, mas era bom demais fazer com eles o que fizeram comigo e com
Brandon.
- Nós estávamos brincando - Levon se defendeu.
- Claro. E entendo que esteja sem metade da sua roupa. Afinal, está meio quente
hoje, não? - Eu amava provocar ele. Mas esqueci de um detalhe, que com certeza
Levon não deixou de lado.
- Sim, e imagino que Brandon esteja com muito calor, não é?
Olhei de relance para Brandon.
- É.
Olhei pra Emma, que sorria pra mim, apesar das minhas provocações. Ela sabia o
que havia acontecido.
- Scarlet, por que você acha que saímos da sala? - Levon perguntou.
- Disseram que iriam dormir.
- E você acreditou? A gente até cochilou, mas sabíamos que em 5 segundos vocês
estariam dando um amasso. - Ele acabou levando o assunto um pouco a sério - Fala
sério, Scarlet! Vocês nem escondem que se olham como se estivessem tirando as
roupas um do outro.
Todos ficaram sérios. Todos olharam pra mim. E eu estava perplexa. Uma tensão se
espalhou pelo quarto. E todos ficamos em silêncio.
Então Levon começou a gargalhar. E junto com ele Emma e Brandon. Me senti traída.
- Você devia ter visto a sua cara, Scarlet! - Levon apontou para mim, pondo a
outra mão na barriga, de tanto rir.
Saí do quarto em passos pesados e fui até o banheiro trocar de roupa. Peguei uma
calça e uma jaqueta, e comecei a me despir.
- Scarlet - Brandon chamou pela brecha da porta.
Logo em seguida a abri, e passei direto. Precisava respirar. Pensar um pouco. Ele
me seguia pela casa inteira.
- Me deixe em paz! - Eu sabia que estava sendo imatura. Mas eu não sabia o que
dizer.
Então parei e me virei para Brandon.
- Só quero respirar um pouco.
- Está bem.
E ele saiu da cozinha, onde eu estava. Uns minutos depois, deixei o apartamento e
peguei o carro.
♧ Havia um bar à uns 70 metros de onde morávamos, então entre nele. Por mais que
fosse próximo de onde eu vivia, nunca havia ido ali antes, então me surpreendi com
o estilo do espaço.
Era meio escuro, com luzes amareladas e paredes de madeira, o que deixou o
ambiente mais rústico e confortável. Cheirava à vinho, com um leve toque
amadeirado. Eu amei aquele lugar. Era chique e simples ao mesmo tempo.
Fui até a bancada e pedi uma garrafa de vinho, que era bem cara, por sinal.
Depois de pegar a garrafa, sentei em uma mesa vazia e enchi uma taça. Beberiquei o
vinho e... nossa! Era realmente muito bom. Valia o preço.
As horas foram passando, a garrafa se esvaziando aos poucos. Comecei a me sentir
mais leve. Não queria exagerar. E já havia bebido metade da garrafa.
Verifiquei o relógio. Já haviam se passado 6 horas. Terminei de beber o que havia
na taça. Não estava bêbada, embora me sentisse um pouco mais leve pela sensação do
vinho. Levantei da mesa, e peguei a garrafa. Saí do bar e procurei pelo carro.
Quando entrei, percebi que estava sem o celular aquele tempo todo, e vi que
haviam 10 chamadas perdidas. Todas de Levon, Emma e Brandon. Não houve tempo de
retornar, porque eu levei o celular descarregado, e desligou antes que eu pudesse
ligar para um deles.
Coloquei o cinto, mas não liguei o carro. Encostei a cabeça no volante. Esperei.
Mais uns minutos.
Só mais um pouquinho.
Uns segundos a mais.
Fechei os olhos.
Abri, e quando olhei o relógio, já tinha se passado uma hora.
Liguei o carro, ainda sob o efeito do vinho. Dirigi até o condomínio e parei no
estacionamento. Minhas pálpebras se fecharam contra a minha vontade. Meus olhos
lutavam para permanecerem abertos.
Mas não aguentei.
Adormeci.
E um conforto invadiu meu corpo.
> Você tinha que ver como Brandon estava te olhando. Ele deve ter te achado a
mulher mais linda do mundo, e provavelmente que você só ficaria mais bonita sem
ele.
> Para, Emma. E você tinha que ver Levon. Ele não tirou os olhos de você nem um
segundo.
> É, eu percebi.
Começamos a rir.
Acabamos mudando de ideia e fomos para um baile, que tivemos que comprar
ingressos de última hora.
O lugar era muito elegante. Haviam muitas pessoas chiques.
Na hora da dança, um homem esquisito e elegante veio se oferecer pra dançar
comigo, e acabei aceitando. Fiquei aliviada por saber que os pares trocariam
durante a dança.
- Você é muito atraente.
Soltei uma risada sarcástica.
- Eu? Atraente?
- Sim, é a mulher mais linda que já vi em toda a minha vida. - não soube como
reagir, mas ele falou antes que pudesse dizer algo - Quantos anos você tem?
- Vinte.
- Tenho vinte e quatro.
Não sei porque ele havia dito sua idade, já que não perguntei, mas fingi não me
importar.
Procurei por Brandon na multidão, e então o encontro. Estava dançando. Com uma
garota. De repente, nossos olhares se encontraram e, sem querer, levantei uma
sobrancelha. Mas virei rápido para Jack, o cara com quem eu estava dançando.
- Procurando alguém? - ele perguntou.
- Não.
- Está solteira?
- Eu...
- Se quiser... eu estou livre. - ele piscou para mim. Aparentemente, estava se
achando um sedutor de alto nível.
- Não, obrigada.
- Posso fazê-la mudar de ideia.
Ele me puxou um pouco mais para perto. Ainda estávamos numa distância respeitosa.
Levantei uma sobrancelha.
- Geralmente não volto atrás em minhas palavras.
Ele deu um riso sedutor e forçado.
- Gosto de você.
Dei um sorriso visivelmente falso.
Senti ele se aproximar. Estava prestes a me beijar, quando mãos quentes seguraram
firme em minha cintura e me puxaram para trás, logo em seguida me virando.
Dei de cara com Brandon.
- Quem era aquele cara? - ele me perguntou, ao mesmo tempo em que perguntei quem
era aquela garota.
- Ela estava sem par e me pediu para fazer companhia.
- E aquele cara só me chamou para dançar, mesmo.
- Ele ia beijar você.
Eu não sabia porque ele tinha falado aquilo.
- E eu ia quebrar o pescoço dele.
Brandon sorriu.
- Você tinha que ver Levon e Emma. Eles parecem estar se divertindo bastante.
Cheguei mais perto dele para que pudesse ouvi-lo melhor, e suas mãos seguraram
minha cintura com mais firmeza, e Brandon me puxou para mais perto. Seu peito
pressionava o meu, e pude sentir seu cheiro.
Aquilo era realmente sedutor.
- Está na cara que eles se gostam - voltei a me concentrar.
- É.
Chegou a hora de trocarmos os parceiros, mas Brandon não me soltou. Em vez disso,
chegou mais perto de meu ouvido.
- Você está incrível - sussurrou.
Dei um sorriso grande demais para o meu gosto.
- Obrigada.
- Eu que devia agradecer. Entre duzentos caras nesse salão que, inclusive, estão
te engolindo com os olhos, você está comigo. E você é a mulher mais linda daqui. -
Ele ainda estava sussurrando em meu ouvido.
Uma chama se acendeu quando ele beijou meu pescoço. Fechei meus olhos, sentindo a
música suave que tocava no salão e os lábios de Brandon me tocando.
Quando a dança acabou, esperamos Emma e Levon na saída, e logo depois fomos para
casa.
♧♧ Eram 22h00 quando chegamos, deixamos Emma e Levon entrarem em casa primeiro. Uma
hora depois entramos, e percebemos que eles estavam no quarto, com a porta fechada.
- Pelo menos dessa vez eles pensaram. - Brandon disse.
Dei uma risadinha.
Coloquei a bolsa no sofá. E quando olhei para ele, percebi que já olhava pra mim.
Pude ver a fome em seus olhos, o que fez um leve arrepio percorrer meu corpo.
Fomos até a cozinha beber um pouco de água, e enquanto eu virava o copo, percebi
que Brandon estava desabotoando sua camisa, indo em direção ao banheiro. E de
repente engasguei, e comecei a tossir.
- Você está bem? - Brandon se aproximou.
- Não - e comecei a tossir mais.
Levantei a mão em um sinal de espera. E respirei fundo. Brandon abriu um sorriso
gigante diante da cena. Seus olhos brilhavam. Acho que foi o sorriso mais lindo que
já vi durante meus vinte anos de vida. Algo se agitou dentro de mim.
Parei de tossir. Limpei a garganta.
- Agora estou melhor.
Ele estava com uma de suas mãos apoiadas nas minhas costas. Abaixei a cabeça.
- Por que você... - levantei e virei de costas - Argh, Brandon.
Rapidamente, ficamos frente a frente, e antes que pusesse ver seu rosto, segurei
seu cinto e o puxei com força. Minha boca encontrou a sua com vontade.
- Eu te odeio - murmurei, com nossos lábios ainda se tocando.
Em um segundo os braços de Brandon estavam me envolvendo, e eu terminei de
desabotoar sua camisa, jogando-a no chão. Ele me ergueu e colocou sobre a bancada
da cozinha, as lembranças pairavam no ar. Senti desacelerarmos.
Olhei para ele e acariciei seu maxilar, sua bochecha, seu cabelo. Ele parecia um
garoto de cinco anos feliz por ganhar presentes. Apesar de não haver nenhuma
iluminação na cozinha, eu pude ver como seus olhos brilhavam.
Ele passou a mão em meu cabelo e tirou a pregadeira. O coque imediatamente se
desfez e meu cabelo estava solto. Logo suas mãos estavam em meus braços, deslizando
e fazendo meus pelos se arrepiarem com o toque. Então suas mãos subiram novamente,
parando na alça do vestido.
Num instante meu vestido estava na metade do meu corpo, eu estava apenas com o
sutiã, e minha barriga tocava a de Brandon.
Ouvimos uma porta se abrir.
- Que droga - sussurramos em uníssono.
Brandon agarrou meu quadril e puxou para preto de si, e percebi que estava em seu
colo.
Não paramos.
Ele nos levou ao banheiro, encostou a porta e me pôs na pia. Logo em seguida,
interrompeu o beijo e me abraçou.
- Scarlet - sussurrou, como uma prece.
E deixou rastros de beijos em meu pescoço e em minha clavícula, dizendo meu nome
em cada beijo que me dava.
Nos abraçamos.
Olhamos um para o outro e sorrimos.
- Ainda me odeia, Let?
Dei um beijo em seu pescoço.
- Sim.
Ele sorriu, e então me deixou lá no banheiro, para ir falar com Emma e Levon.
♧ Ela coloca em seu seio e se aproxima de mim. Mas fecho a minha mão e a afasto. É
uma tentação, mas ela está muito bêbada e, quando estivesse sóbria, iria ficar
arrasada. Então eu me controlo. Ela faz uma careta triste.
- Você não gosta de mim? - Ela pergunta.
Essa pergunta me assusta. Como eu poderia não gostar dela?
- Eu amo você.
Ela dá uma risadinha, envergonhada.
- Eu também te amo - ela diz.
Ela é tão linda. Eu nunca poderia ter escolhido outra se não ela. Scarlet foi a
melhor escolha que fiz na minha vida. Perfeita. É tão forte, e ao mesmo tempo tão
delicada. Não consigo vê-la sem pensar essas coisas.
Eu percorro o seu rosto com meu polegar e a sinto estremecer com o toque. Ela
realmente me ama.
Seus olhos se fecham e preciso, com muito esforço, me controlar para não tocar
seus lábios com os meus.
Levon chega.
- Tá legal, o carro chegou. Vamos levar a madame para o hotel de noites da noiva.
Era uma salvação esse hotel da noiva. Os casais poderiam dormir sem ter de
percorrer uma grande distância de volta para casa. Isso com certeza custou uma
fortuna.
- Scarlet, vamos. Você consegue andar? - Pergunto.
- Claro!
Ela tenta se levantar, mas é visível o quanto está sendo difícil. Eu a pego
segundos antes que possa cair no chão.
Ela me dá um sorriso.
- Obrigada, noivo bonitão.
Dou-lhe um beijo na bochecha.
- Vamos para o carro - digo.
Não foi fácil colocá-la no carro, porque ela achou que estávamos sequestrando ela
ou algo assim. Mas conseguimos. Agora ela está cochilando em meu colo, mas sei que
é um cochilo leve. Ela vai acordar a qualquer momento, então tento fazer o menor
barulho possível.
Eu sonhei tanto com um dia tê-la em meus braços, que agora é até difícil
acreditar que isso está realmente acontecendo. Eu a amo. Amo tudo nela. A curva de
sua boca. A sua voz. Seus cabelos longos e ondulados. Seus olhos. Eles são tão
expressivos. Posso sempre saber o que está passando pela sua cabeça através dos
seus deles.
De repente eles se abrem, e ela parece se assustar antes de perceber que sou eu.
- Meu amor - sussurra, um sorriso tomando vida em seu rosto. Eu sorrio de volta.
Seus olhos se fecham novamente. Percebo que chegamos ao hotel. Então, com ela em
meus braços, sigo até a recepção. Levon me acompanha.
- Boa noite, senhores. Em que posso ajudar? - Uma mulher pergunta.
- Precisamos de um dos quartos. Viemos do casamento de Clare e Jenny. - Digo, e
Levon lhe entrega nossos convites. Ela confere.
- Claro! E como são amigos mais próximos dos noivos, a suíte de vocês é vip, fica
no último andar. Fiquem à vontade e tenham uma boa noite. - A recepcionista diz.
Troco um olhar com Levon, que sabe exatamente o que estou pensando. Não sei se
Scarlet iria gostar ou não de um quarto só, para nós dois.
Espero que tenha um sofá.
Scarlet fez amizade com, no mínimo, metade do hotel até chegarmos no último
andar. Quando finalmente encontramos o quarto, coloco-a na cama e tiro seus
sapatos.
- Amor - chamo, e ela olha pra mim. Um sorriso estampado em seu rosto - Acha que
consegue tomar banho?
Provavelmente não. Mas espero sua resposta.
Ela hesita e olha em volta.
- Acho que não. Você pode me ajudar? Eu mal consigo ficar de pé, consegue
acreditar? - Ela solta uma risada - É como se eu não tivesse pernas. Acho que elas
não vão muito com a minha cara.
Ela se levanta e traça seu caminho até o banheiro, cambaleando. Seus sentidos
estão começando a voltar, mas ela ainda está sob efeito do vinho.
Pego numa bolsa uma toalha e uma camisa minha, pois não achei nenhuma pertencente
à ela. Vou em direção ao banheiro e bato na porta. Ela se abre e me puxa para
dentro.
Scarlet está apenas de calcinha e sutiã, e me obrigo a me concentrar em seu
rosto, que exibe um sorriso de olho a olho, o que me faz rir.
- Aqui. Use o que você precisar. - Digo, entregando-lhe a toalha e a camisa.
- Obrigada, bonitão - dou um sorriso largo e sinto ela se aproximar.
Me afasto.
Ela não está pensando direito, e pode fazer algo de que arrependa depois. Então é
melhor eu não fazer isso, pois não sei se vou conseguir me controlar. Então saio do
banheiro antes que Scarlet possa dizer algo.
♧ O banho frio fez cada centímetro de meu corpo vibrar, e saio tremendo do
banheiro. Escorreguei e quase caí durante o banho, mas estou feliz. É uma noite
feliz. Estou satisfeita com o meu pijama. É uma blusa bem grandona e de roupa de
baixo, estou apenas de calcinha, então procuro um short para aliviar o frio que
sinto nas pernas. Encontro um em cima da cama e o visto. É bem largo, mas
confortável. Brandon não está aqui e fico triste. Eu queria ele perto de mim. Mas
então uma porta se abre e vejo ele sair de dentro do cômodo. Ele fica muito lindo
assim, sem camisa. Está vestindo uma calça moletom. Ele é meu noivo! Eu tenho um
noivo muito gato.
Vou correndo em sua direção e tropeço no ar, mas chego nele e lhe dou um abraço
apertado. Ele também me abraça e fico feliz de novo.
Uma tontura me invade e só não caio porque os braços do meu noivo gato me
seguraram, firmes como sempre.
- Obrigada, noivo bonitão - minha voz sai como um sussurro, e eu solto um bocejo.
Estou com muito sono.
Ele não fala nada e me carrega até a cama. Ele me deita e se levanta, mas eu
agarro sua mão.
- Fica comigo, por favor - eu peço.
Ele hesita, mas pula na cama. Agora posso dormir em paz com meu noivo bonitão
aqui para me proteger. Sinto uma onda de arrepios percorrer meu corpo. Olho para
ele.
- Eu te amo. Você sabe disso, não sabe? - eu sussurro, com os olhos fechados.
- Sim, amor. Eu também te amo.
. . . . . . . . . . . . . .
♧ Prestes a morrer. Eu vou infartar. Por que nunca me acostumo? É como se fosse a
primeira vez que a vejo assim. Mas agora ela está sóbria. Sabe o que está fazendo.
E eu preciso virar o rosto para não vê-la. Isso é torturante. Eu mal consigo
respirar.
E o que eu mais quero no momento é abraçar ela. Beijá-la nos lugares mais
inesperados. Quero tocá-la. Mas eu não sei o que ela está pensando. Provavelmente
ela me acharia um babaca se eu fosse em sua direção e a beijasse. Eu não sei.
Ela termina o gesto e estende a mão para me entregar a blusa. Eu a pego, e luto
para parecer calmo. Deslizo a camisa sobre o meu corpo - o oposto do que quero
fazer agora - e quando me viro em sua direção, ela parece nervosa. Excitada. Está
mordendo o lábio inferior e temo que comece a sangrar.
É bom perceber que eu não sou o único assim.
Sorrio e dou uma piscadela. Ela sorri.
Mal percebo que nos aproximamos e que há apenas alguns centímetros nos separando.
- Bom, eu vou indo. Fique aí - digo.
- Está bem. Não demore, estou morrendo de frio.
Dou uma risada e beijo sua testa.
- Volto logo.
Então eu saio da suíte e pego um elevador.
♧ Estou tremendo de frio, e como não tenho o que vestir, pulo na cama recém-
arrumada para me enrolar nas cobertas fofinhas e me cubro até o pescoço.
Então a lembrança me vem à cabeça. O momento em que eu pedi para Brandon ficar
comigo. E ele ficou. Eu o provoquei de diversas formas, e ele não cedeu por
respeito à mim. E eu me pego imaginando uma situação em que estivesse sóbria. Ele
teria se afastado? Porque, pelo que eu entendi, ele recusou qualquer relação comigo
por medo de eu não gostar. Então talvez isso signifique que ele queria, mas não fez
porque me respeita. Brandon é incrível. Ele precisa saber que, se tem uma coisa que
vou sempre estar disposta, é fazer qualquer coisa com ele. Juntos. Eu preciso que
ele saiba que eu o quero tanto como ele me quer.
Estou pensando demais. Olho em volta em busca de algo para ocupar minha mente, e
percebo algo que eu não vi antes. Abro as gavetas da cômoda ao lado da cama e vejo
vários gibis. Há também, na segunda gaveta, um monte de cremes faciais e máscaras
de argila. Resolvo pegar uma argila e um gibi. Vou rápido até o banheiro e passo a
máscara no rosto. Estou parecendo aquelas adolescentes ricas e com a pele perfeita.
Começo a rir com o pensamento. É uma máscara verde consistente e cheira a lavanda.
A sensação é relaxante.
Depois de terminar, espero secar e enquanto isso leio um dos gibis, de volta às
cobertas quentinhas.
Estou rindo com a fala de um dos personagens quando a porta se abre.
Brandon. Ele sorri quando me vê.
Levon《Merda.
Levon 《Idiota.
Guardo o celular no bolso e alguns segundos depois Scarlet aparece, ainda com a
"máscara de argila".
Eu consegui uma calça legging, uma blusa de malha justa e um casaco de estilo
jogador de basquete. Seu cabelo está preso em um coque improvisado.
Ela está linda. Como sempre.
Ela se aproxima e pega um bolinho. E enfia com tudo na boca, fechando os olhos ao
sentir o sabor.
- Hum, isso é muito bom - ela diz, com a boca cheia.
Um sorriso escapa da minha boca. Ela devolve.
- Consegue comer com isso aí? - faço um gesto para indicar a máscara, enquanto
levanto e me apoio na cabeceira da cama. Pego uma maçã.
♧ - Claro que sim - digo, sorrindo - E daqui a alguns minutos vou tirar ela e vou
estar linda - brinco.
Mas então, algo que eu não imaginava acontece. Enquanto mastiga a maçã, seus
olhos se movem sem pressa pelo meu corpo, da cabeça aos pés. Eu coro.
Pigarreio e ele volta a atenção para mim. Meus olhos, na verdade. Vou em direção
ao banheiro e removo a máscara. Então volto para o quarto, me sentando novamente na
cama. Brandon ainda está de pé, e me pergunto como. Guardo a máscara dentro da
gaveta e percebo os olhos dele grudados em mim.
- Ontem - olho para ele - ontem você disse muitas coisas...
- Horríveis? Idiotas? Estúpidas? - tento adivinhar.
- Não, mas seria pedir muito que você me dissesse exatamente o que estava
pensando? - franzo a testa - Eu sei que talvez você se sinta envergonhada em
responder esse tipo de coisa, mas eu queria saber se entre todas aquelas coisas que
você disse, alguma foi real.
Eu disse muitas coisas. Eu acredito que quando eu estava embriagada, eu não
estava mentindo e falando coisas sem sentido, mas dizendo, sem pensar, as coisas
que se passavam pela minha cabeça.
Brandon é meu noivo e é bonitão. Eu estava feliz em saber que em breve nos
casaríamos. Eu quero estar, para sempre, nos braços fortes e musculosos de Brandon.
Então sim, tudo o que eu falei foi real.
Eu abro a boca para dizer algo, mas nada sai. Brandon não está me encarando, eu
percebo que ele está nervoso, muito nervoso. Então eu me obrigo a falar.
- Sim - digo, baixinho - tudo o que eu disse foi real.
Brandon me encara e vejo seus olhos brilharem.
- Tudo? - ele questiona.
Fico de bruços na cama.
- Eu achei - começo a falar, e engasgo com as palavras - eu achei que você
soubesse. Eu não teria ficado envergonhada em... Eu não teria me importado tanto se
o que eu disse fosse só brincadeira.
Brandon parece sem saber o que dizer. Então decido continuar.
- Menos a cueca - Brandon solta uma risada enferrujada, mas sincera - Eu juro que
pensei que aquela coisa fosse um short ou sei lá. Me desculpe.
Ele balança a cabeça.
- Você não fez nada errado. Eu só não estou acostumado a emprestar minhas cuecas.
Começo a rir.
- Ai, meu Deus! - eu exclamo - Isso seria muito esquisito.
- Sem dúvidas.
As risadas ficam mais baixas e de repente um silêncio perturbador se acomoda no
ambiente, e penso em uma coisa.
- Sabe, eu gostei daqui. Tem comida, livros, dois banheiros grandes...sem contar
esse quarto e essa cama - deito de cara nos travesseiros, com pernas e braços
abertos, minha voz abafada. Ouço Brandon rir - É tão macia. Eu nem quero sair
daqui.
Tiro o casaco e Brandon se senta na beirada da cama.
- Sim, mas temos que sair até o almoço. A não ser que você tenha uma grana para
continuar pagando.
Eu olho para ele.
- Não, Scarlet- ele já sacou a minha ideia. Maldito leitor de mentes.
- Você tem grana, Lennon - cutuco seu abdômen e ele se contorce. Dou um sorriso -
Você sente cócegas, amor? Que bonitinho.
Só depois percebo do que o chamei, e ele também.
Ele faz uma careta engraçada. Meu sorriso se alarga.
Cutuco seu abdômen de novo. E de novo.
- Pare, Scarlet - diz, começando a abrir um sorriso.
Me aproximo dele para fazer mais cócegas, mas ele segura minhas duas mãos atrás
das minhas costas, me virando. Posso sentir seu peito nu tocar meus ombros. Ele fez
isso apenas para que eu fraquejasse.
Trapaceiro.
- Tudo que vai, volta, Scarlet - ele sussurra em meu ouvido, e sinto os pelos da
minha nuca se arrepiarem com sua respiração. Ele percebe isso, porque dá um
risinho.
Uma de suas mãos levanta a bainha da minha blusa e toca minha cintura.
- Não! - grito - para, Brandon.
De repente estou de costas na cama, com ele sobre mim.
Suas mãos viajam por várias partes do meu corpo, e estão saindo lágrimas de meus
olhos com os risos.
Não sei como, mas consigo puxar a cabeça de Brandon para mais perto da minha, e o
beijo suavemente.
Ele finalmente para, e suas mãos percorrem meu corpo apenas para me sentir, e não
me matar de rir, então consigo entrelaçar minhas pernas em sua cintura.
Já estava sentindo falta desses lábios. Tão suaves. Tão doces. Eles fazem eu
sentir como se estivesse deitada numa nuvem fofa. Meu corpo estremece quando sua
língua roça na minha. É um beijo simples. Calmo.
Quando ele se afasta, meus olhos permanecem fechados, tentando sentir seu gosto.
Eu finalmente abro os meus olhos e o vejo me encarando, seus olhos estão brilhando
de desejo, provavelmente como os meus. Sorrimos.
O telefone do hotel toca. Nos levantamos, e Brandon atende sem tirar os os olhos
dos meus.
- Sim, sim. Avise que já estamos descendo.
Ele coloca o telefone no gancho se vira para mim.
- Estão nos chamando no térreo. Creio que seja Emma e Levon - ele diz.
Me levanto e coloco a jaqueta, enquanto Brandon coloca uma camisa.
Ele estende a mão para me ajudar a levantar e eu a pego, sem soltá-la, mesmo
depois de saímos da suíte.
Quando saímos do elevador, encontramos Emma e Levon cochichando coisas entre si,
provavelmente obscenas. Brandon e eu nos entreolhamos.
Pigarreio e eles nos veem. Levon vai para trás de Emma, como se tentasse se
proteger. De mim.
Emma me puxa para um abraço apertado.
- Amiga, me desculpe! Eu juro que teria quebrado a cara de Levon na hora se
soubesse o que ele tinha feito - ela diz.
Ouço Levon limpar a garganta e ele tenta se esquivar dos olhares que
provavelmente Brandon o está enviando.
- Florzinha, você já fez isso - Levon sussurra.
Olho para ele com um sorriso ameaçador. Pigarreia.
- É... oi - ele acena para mim.
Abro os braços para lhe abraçar, mas ele se afasta, com as mãos em frente ao
corpo.
- Não quer me dar um abraço? - pergunto.
- Hum...não, obrigado.
Ouço Emma e Brandon rir.
De repente, estamos correndo, e nem percebo que subimos vários andares enquanto
Levon foge de mim.
Ele abre a porta do quarto que parece o dele e, antes que consiga fechá-la, eu
entro na suíte.
- Você que aceitou a aposta! - ele aponta para mim.
- Você me chantageou. - eu me inclino para pegar uma bolsa que parece ser de
Emma. Vou lembrar de comprar outra depois.
- E você ganhou 200 dólares! - ele pula em cima da cama.
Solto uma risada sarcástica.
- Claro, e falei milhões de coisas que não devia ter falado. E você inventou
aquela brincadeira ridícula pra me fazer passar vergonha.
- Mas você disse que queria brincar.
- Eu estava bêbada, seu babaca.
Jogo a bolsa em sua direção e a acerto em seu rosto. Ele solta um gemido de dor.
- Olha a boca, Letzinha.
Damos voltas e voltas pelo quarto, e eu jogo o que consigo na cara dele.
- Eu odeio você! - digo, com raiva.
- Calma, é um estado de espírito, vai passar logo.
Ouço passos se aproximarem e vejo Brandon e Emma. Levon corre na direção dela,
longe do meu alcance.
- Socorro, Emma, ela quer me matar! - ele vai para trás dela, mesmo que tenha o
dobro de seu tamanho.
Emma não consegue segurar a risada.
- Scarlet, você não precisa tentar esconder que está apaixonada. - Ela diz.
Meus olhos se viram automático e lentamente na direção de Brandon, que já está me
encarando.
- Eu - começo a falar - Eu não...
- Está sim - Levon me interrompe - e tudo isso só está acontecendo porque está
com medo de que Brandon saiba que você repara, e muito, na...estrutura física dele,
vamos dizer. E também vamos concordar que você fica fofinha bêbada.
Disparo contra ele como uma bala, mas antes que eu soque sua cara, Brandon
intervém.
- Você já deu uma surra nele, não precisa dar outra - ele sussurra no meu ouvido.
Estou em total atenção às suas mãos em meu quadril, e sinto meu rosto queimar de
vergonha. Eu não reparo na estrutura física dele.
Está bem, só um pouquinho.
Mas Levon falando assim, me faz parecer uma obcecada na beleza dele, ou caidinha,
e isso é horrível, porque talvez ele esteja certo.
Me sinto derrotada.
- Brandon... - chamo, sem saber o que dizer exatamente.
- Agora me sinto importante - ele diz, num tom brincalhão.
- Você sempre foi - digo baixinho, para que só ele possa me ouvir.
Ele dá um sorrisinho satisfeito.
- Além disso, ouso dizer que nosso sentimento é recíproco. Você, Scarlet, é a
mulher mais linda que eu conheço - Olho em seus olhos, e vejo uma energia ali que
parece nos conectar - Você acha mesmo que não admiro cada centímetro do seu corpo?
Acha que, todas as vezes em que olho para você, não penso que a coisa mais certa
que fiz na vida foi ter te escolhido para estar ao meu lado?
Abro a boca, mas nenhum som sai.
Eu nunca me permiti pensar muito nisso. Suas palavras são tão doces, tão pra mim,
que eu mal reparo na presença de Emma e Levon que escutaram cada letra que saiu dos
lábios de Brandon. Ouço alguém pigarrear.
- Uau. Tá legal, isso foi...nossa. Arrasou, Brandon. Admiro demais seu
vocabulário romântico. Mas, como já sei o que vocês estão prestes a fazer, peço que
se retirem. Porque, apesar de ter uma cama aqui, não é o quarto de vocês, então...
Pego uma almofada e jogo em sua cabeça.
- Bem, vamos comer? - Emma pergunta, rindo.
- Por favor. Estou morrendo de fome - digo, saindo do quarto e seguindo até o
elevador. Eu só havia comido o bolinho e não me satisfez.
- Pensei que tinha feito uma refeição durante a noite, Letzinha.
Seguro o impulso de dar-lhe um soco.
- Você era divertido, Levon.
- Agora eu sou o quê? Encantadoramente lindo? Sexy?
- Estúpido? - Provoco.
Ele mostra a língua pra mim.
B.
Droga. Ela vai descobrir.
S.
Entrego o telefone à Brandon, e ele parece surpreso com a minha atitude.
- Aqui, pode atender.
Ele hesita, mas pega o telefone e atende.
Faço um gesto para que coloque no viva voz.
- Alô, Brandon?
- Oi, sou eu - ele responde.
Que merda é essa? Está muito formal.
- Está tudo pronto. Que horas você vai estar disponível?
Brandon olha para mim e eu levanto uma sobrancelha.
- Já estou indo.
Não é possível.
Não. Não. Não.
Não pode ser.
Sinto a raiva pulsar nas minhas veias, e luto para permanecer calma. Como posso
ter sido tão burra? Eu nunca nem olhei o telefone de Brandon.
Eu nunca imaginei...
Eu pensei que...ele me amava.
Ele desliga o telefone e o joga na cama. Ponho uma mão na testa num gesto de
autocontrole.
Estou tão perplexa que não sou capaz de pronunciar uma palavra sequer. Luto
contra as lágrimas que ameaçam cair. Não posso ser fraca. Mas acho que não vou
conseguir. É uma dor muito forte.
- Scarlet, por favor. Me escuta. Senta aí - ele apoia as mãos de cada lado do meu
ombro, me fazendo sentar na cama.
Não desvio o olhar. E antes que eu possa evitar, uma lágrima escorre pela minha
bochecha esquerda.
Pronuncio a única frase que eu consigo dizer.
- Olha - fungo - por essa eu não esperava, Brandon. Não mesmo.
Ele franze a testa. E sorri. E balança a cabeça.
- Não, não, não. Scarlet, a única mulher da minha vida é você. Me escuta.
Eu solto uma risada seca e sem humor.
- Scarlet, quando chegarmos...
Interrompo-o erguendo a minha mão.
- Não precisa se explicar. Eu já vou indo.
Me levanto e corro para a porta.
Agora sim eu posso chorar. Posso jogar tudo isso pra fora. E quem sabe, o amor
que eu ainda sinto por Brandon. Tanto tempo. Tanto tempo sendo enganada. Sempre
enganada.
Quando alguém vai me contar tudo, quando alguém vai ser verdadeiro comigo?
Não espero o elevador, corro direto para as escadas, e anseio para chegar logo ao
térreo. Quero sair daqui.
♧ ♧ ♧
♧ ♧ ♧
♧ ♧ ♧
Olho para o relógio.
16h59.
É inacreditável que tenha se passado apenas um minuto, isso parece levar uma
eternidade.
O elevador para.
Olho para o andar e solto um suspiro de alívio.
Finalmente cheguei.
Sinto um aperto no peito. Eu sou responsável por isso, e última coisa que eu
quero nessa vida e fazê-la chorar e sofrer.
Idiota. Idiota.
Saio do elevador e procuro por ela, mas não a vejo em nenhum lugar, então corro
pela recepção e de repente colido com algo. Ou melhor, alguém.
Levon. Seus olhos estão arregalados.
- Merda, o que houve com a Scarlet? Eu chamo e ela não me escuta - ele diz,
agarrando meus ombros.
Estou ofegante.
- Eu sou um idiota...
- Está bem, isso eu já sei - diz, olhando para todos os lados - Mas ela não está
nada bem, então acho que talvez seja melhor lhe dar um tempo, Brandon.
Passo uma mão pelo cabelo.
Infelizmente, não posso fazer isso.
Olho para ele.
- Não posso, ela está achando que eu...que eu estou traindo ela com Sarah.
- O quê!? - ele grita, incrédulo - O que você está esperando, imbecil? Pega o
carro.
Começo a correr, mas Levon me chama.
- As chaves, idiota.
- Sim, as chaves...
Ele joga elas na minha direção e eu as pego no ar.
Corro até o estacionamento e procuro pelo carro.
Onde está, onde está...
Achei.
Abro a porta e entro no carro. Viro a chave e tento, o mais rápido possível, sair
do estacionamento do hotel. Agora tudo que eu preciso é de sorte para acertar qual
caminho Scarlet seguiu.
♧ ♧ ♧
Não ligo para minhas roupas ensopadas, nem para meu cabelo encharcado.
Não sei onde estou.
Estou ajoelhada no chão duro e estou gritando.
Burra. Burra. Burra.
Sinto meu coração bater forte e rapidamente contra meu peito.
Carros e motos e pessoas estão circulando à minha volta, os barulhos ecoando em
meus ouvidos e mesmo assim não presto atenção, até o momento em que sinto uma voz
familiar a poucos metros de mim. Mas talvez seja alguma alucinação. Uma alucinação
em que alguém está me abraçando. É um abraço protetor. Um abraço que eu ainda quero
ter para sempre.
Brandon.
Bem, talvez não seja uma alucinação, e se for, está muito, muito realista. Eu
estou enlouquecendo. Ou não.
Eu não sei.
Ainda posso sentir braços ao meu redor e, sendo real ou não, eu me desvencilho
dele.
É Brandon que está me fazendo sofrer. Ele é o culpado.
- Me deixe em paz - eu sussurro, numa tentativa de afastar essas imagens
ilusórias. Mas eu olho em seus olhos. E percebo o quão real ele é, e está aqui, em
carne e osso.
Eu olho para ele e vejo a boca que tanto beijei, os olhos com que eu sonhei em
acordar pelos próximos anos da minha vida. Vejo esse rosto encantadoramente lindo e
meu coração dói tanto. Tanto.
Meu Deus, o que eu fiz para merecer isso?
Fecho os olhos com força e tento me afastar, mas Brandon é mais forte.
Ele não me solta. E antes que eu perceba, estou em seu colo.
Ele abre a porta de acompanhante do carro e me coloca ali, e depois senta no
banco do motorista. Eu penso nele com um ódio tão grande que temo que minha cabeça
exploda, e é como se ele estivesse aqui, comigo. Eu estou em um carro e ele está
dirigindo, mas é parte da minha imaginação. Eu queria que fosse ele, mas não é. Ele
liga o carro e começa a acelerar. Eu seguro o impulso de lhe dar um soco na cara,
pois seria uma estupidez agredir ao motorista com o carro em movimento. E mesmo que
eu pretendesse fazê-lo, não seria capaz. Por que estou assim? Por que tudo parece
tão real e ao mesmo tempo fictício?
Eu estou ficando louca.
Não consigo distinguir a imaginação da realidade. Mal consigo entender a qual
lugar esse carro está indo. A única coisa que eu sei é que quero espancar Brandon,
mesmo que seja nos meus delírios. Teria sido muito mais fácil ter terminado comigo
de uma vez do que mentir para mim. Me fazer de trouxa. Dizer que me amava. De tudo,
isso foi o que mais doeu. Espere, talvez não. Não é a primeira vez que isso
acontece. Brandon não é a primeira pessoa a me fazer acreditar que era o certo me
abrir, amar alguém. Confiar. Mas no fim, percebo que estou sozinha, como sempre
estive. Como sempre estarei.
Olho para o lado e vejo Brandon. Isso não era parte da minha imaginação? Ele não
pode estar aqui. Eu corri, corri e corri até minhas pernas falharem e tudo o que eu
continuo querendo é correr mais e mais. Não posso estar de fato em um carro, posso?
Ainda mais com Brandon.
Eu estou enlouquecendo. É isso.
Brandon está aqui, sim. Ele está me levando a algum lugar que eu não quero ir.
Não quero mais estar perto dele. Eu não estou. É minha cabeça. Não, não é. Na
verdade, eu desejo não querer, mas no fundo eu quero. Quero estar com ele. Eu
queria. Queria viver com ele até a minha morte. Tínhamos tudo planejado, um caminho
a seguir. Mas agora eu não sei para onde estou indo.
Oh, Deus...é ele, em carne e osso. Aqui, do meu lado. E de repente me pergunto se
tudo aquilo foi apenas um pesadelo enquanto cochilo no carro, à caminho do nosso
apartamento. No lugar onde tenho uma família. Pessoas em quem confiar.
O que ele está fazendo?
O que está acontecendo?
Eu não consigo entender. Algo está errado.
Ele planeja se encontrar com uma mulher, e sou eu que estou aqui no carro? Ele
está tentando me prender?
É isso. Ele quer me manter presa até enjoar de mim.
Brandon é um cretino. Eu quero matar ele.
Para minha sorte, ele para o carro. Estamos num...estacionamento? Olho em volta,
sem mexer a cabeça. Não é o hotel. Nem o apartamento.
Sim, exato. É um estacionamento. A céu aberto. Quando admiro com atenção o local,
meu sentidos começam a retornar, as coisas parecem ganhar algum sentido.
Já está anoitecendo e ainda chove, os vidros do carro estão completamente
embaçados.
Eu quero sair daqui. Não quero ficar perto do homem responsável pelas lágrimas
mais dolorosas já derramadas em meu rosto.
Abro a porta o mais rápido que posso e saio.
Solto um gemido quando meus pés tocam o chão. As minhas pernas ainda estão
doloridas e trêmulas, e se eu não estivesse com tanta raiva teria voltado para a
segurança do carro. Minhas roupas já molhadas voltam a respingar com a chuva e eu
forço minhas pernas a andarem.
- Scarlet, volta aqui! - Brandon grita, mas continuo andando e andando,
aumentando a velocidade a cada passo. Minhas canelas estão queimando.
Já estou a uma boa distância do carro quando ouço um bater de portas e, quando
olho para trás, vejo ele vindo na minha direção. Em um segundo, Brandon está
ensopado e próximo de mim.
Ele agarra meu braço.
Tento soltar, mas ele continua me segurando com força.
- Me solta! - Com a chuva forte, eu preciso gritar para que ele consiga me ouvir.
- Eu nunca vou te soltar - ele diz, sorrindo. - Sarah está me ajudando a fazer
uma coisa que eu estou planejando há um tempo para você.
- Essa é a desculpa mais imbecil que você poderia inventar - eu digo, ríspida.
Ele me ignora.
- Ela está me ajudando a fazer uma surpresa para você, que eu iria te mostrar
hoje quando chegasse no apartamento. Já está lá.
- Ótimo. Ela está te ajudando a fazer uma coisa pra mim e você salva ela como
"flor"?
Ele põe uma mão na testa, como se eu fosse burra.
- A surpresa é uma flor, Scarlet.
Olho para ele.
Ao contrário do que eu disse antes, essa é uma desculpa muito bem pensada.
Então ele estava planejando fazer uma flor de surpresa pra mim, com a ajuda dessa
mulher. E salvou o contato dela como Sarah. O flor estava entre parênteses.
Não. Isso não é possível.
- Ela me ligou para avisar que o material estava pronto. Scarlet, vamos para o
carro e eu te explico melhor.
Depois de um bom tempo pensando, decido ir até o carro. Percebo que estou
mancando.
No caminho, Brandon me explicou tudo.
Sarah era uma conhecida de Emma, que é designer e arquiteta. Brandon queria fazer
uma escultura de flor para o nosso casamento e resolveu compartilhar a ideia com
Emma, que sabe bem de decoração e indicou Sarah. Ele me disse que é "uma flor meio
elaborada" e que tem coisas dentro que ele não vai me contar agora. Era por isso
que o contato estava salvo como flor.
Ai, meu Deus!
Eu sofri por nada.
Eu fiquei tão perplexa e envergonhada que quando entramos no carro, tudo o que
podíamos ouvir era os pingos grossos de água batendo no parabrisa e o barulho de
nossa respiração, em vez de meus pedidos de desculpa à Brandon. Mas ele está rindo.
Rindo enquanto eu estou com os olhos arregalados e estou tremendo. Eu já tive
várias tentativas fracassadas de falar alguma coisa, mas ele disse que não há
motivo para eu me desculpar.
Mas mesmo assim.
Engulo em seco e reúno todas as minhas forças para falar. Eu preciso me
desculpar.
- Brandon - minha voz sai trêmula -, eu preciso me...
- Você está tremendo de frio, amor - interrompeu ele, erguendo uma das mãos para
tocar minha bochecha - Deveríamos ir logo para casa, antes que pegue um resfriado.
Ele sorri.
- Se não fosse pela minha idiotice, estaríamos em casa agora, secos e aquecidos -
digo, me surpreendendo quando as palavras saem. - Agora vamos ter que esperar a
chuva diminuir pra voltar à estrada.
Ótimo, estou começando a desenvolver a fala novamente.
- Talvez não demore muito tempo.
Ele diz. Estamos tão próximos que eu posso ver os detalhes de seu rosto molhado
pela chuva, e me lembro que o meu também deve estar. Seus olhos encaram os meus. Me
sinto corar.
- E você não precisa se desculpar - diz, e seus olhos deslizam para minha boca e
permanecem ali apenas alguns segundos, e voltam para me encarar - Mas precisa saber
que eu nunca escolheria outra pessoa além de você. Não há e não haverá ninguém além
de você, entendeu?
"Não há e não haverá ninguém além de você."
Tento dizer algo, mas falho com sucesso e a única coisa em que consigo pensar é
no quão perto estamos e quão pouco falta para acabar com essa distância. Esqueço de
responder e me concentro em seus olhos, suas sobrancelhas, sua boca e em quanto amo
esse rosto. Há minutos eu olhara para ele e pensara que nunca mais poderia tocá-lo,
mas agora eu só quero juntar meu corpo ao dele e dormir. Tenho vontade de fechar
meus olhos com o conforto que é estar com Brandon dentro desse carro embaçado, com
uma chuva batendo contra os vidros tão forte quanto meus batimentos cardíacos
dentro do peito.
Eu quero tanto beijá-lo.
- Aham, acho bom - forço-me a responder, com um ar brincalhão.
- É sério, Scarlet - murmurou ele.
Então eu o beijo.
Sem hesitar, cruzo minhas mãos em torno de sua nuca e aproximo nossos quadris.
Brandon parece surpreso por um momento, mas então ele devolve o beijo, apoiando
uma mão em meu quadril, enquanto a outra acaricia a lateral do meu rosto.
Ondas elétricas percorrem meu corpo, e me sinto completamente envolvida pelo
cheiro de seu perfume masculino junto ao da chuva.
Seus lábios são sempre tão macios. Tão suaves. Meu corpo está arrepiado e sei que
não é apenas pelo frio, e o calor do corpo de Brandon é tão confortante que me
inebria.
Posso ouvir, junto ao som da chuva, nossos batimentos cardíacos desacelerarem, e
o beijo que antes era suave, se tornar algo mais profundo e intenso.
Brandon me puxa para si e suas mãos deslizam para a bainha de minha blusa,
enquanto as minhas passam pelos seus cabelos macios e sedosos.
De repente, um estrondo irrompe do céu e nos afastamos.
Olho para ele e começamos a rir.
- Pelo visto, não vamos sair daqui tão cedo. - Brandon diz, sorrindo.
Concordo.
Ouvimos um celular vibrando - dessa vez o meu - e o pego para ver quem nos
perturba.
Levon. Reviro os olhos.
Brandon parece achar alguma graça na minha expressão e antes que eu possa impedi-
lo, ele pega meu celular e atende o telefone.
- O quê você quer?
- Caraca, a sua voz engrossou muito, Scarlet. Está tomando anabolizantes ou algo
assim?
- Seu idiota. Se me der licença, precisamos desligar.
- Entendi, então se resolveram?
- Sim.
- Scarlet, amiga - Levon chama. Ele sabe que estou ouvindo. - Você foi muito não
inteligente ao pensar uma merda daquelas. Esse cara aí é um saco, mas ama você, ok?
Olhando para o cara ao meu lado, respondo:
- Ok, eu sei disso - digo, com um sorriso.
- E onde vocês se meteram? Já ligamos umas 20 vezes e ninguém atendeu.
- Quando a chuva diminuir, estaremos aí.
- Você estão simplesmente esperando a chuva diminuir? Tipo, parados?
Brandon revira os olhos e eu solto uma risada.
- Estamos fazendo coisas.
Ele me manda um olhar cheio de significado, levando em consideração o que
estávamos fazendo agora há pouco e sorri. Devolvo o sorriso, que subitamente se
transforma em algo meio malicioso.
Ele me dá uma piscadela.
- Que nojo. Voltem logo para casa. Ah! E não esqueçam...
- Até logo, Levon - Brandon diz.
E desliga.
Ele se aproxima e coloca meu celular no porta-luva, em seguida pegando minha mão
e me puxando para mais perto.
**** 14. Já haviam três dias ****
Já haviam três dias que estávamos ao redor do depósito. Estava óbvio que não haviam
pessoas ou qualquer ser vivo lá dentro.
- Vamos entrar - eu digo.
- Você tem c-certeza? - alguém me pergunta, e pelo visto parece ter sido Sam.
Faço que sim.
Começo a me levantar e gesticulo para me seguirem. Olho por todas as janelas, de
todos os ângulos.
Nenhuma bomba. Nenhuma luz.
Abro a porta com dificuldade, ela parece ter sido arrombada antes, mais de uma
vez.
. . . . . . .
Vasculhamos toda a área em busca de quaisquer sinais de ameaça, mas ela estava
abandonada, literalmente. Não era uma armadilha. Agora tínhamos um local onde
podíamos dormir, mesmo que não seja nas melhores condições, mas isso não importa.
Estávamos sem dormir havia três dias, e nem temos forças para pensar em nada além
de dormir.
Ficamos o dia todo arrumando o espaço e já não aguentamos mais. Precisamos
dormir.
Sam já estava em um canto do depósito. Provavelmente se esqueceu que ainda faltava
mais outro, mas podíamos deixar isso para outro dia.
- Let, ainda falta muito? - Bella pergunta.
Olho em volta. Já está bom o suficiente para dormirmos confortavelmente.
- Já terminamos. Vão descansar. Todos vocês.
Depois de - quase - todos se acomodarem, eu me sento no sofá duro e barulhento. É
madrugada e não deve faltar muito para o sol começar a nascer.
Saio do depósito e pego os itens restantes, levando-os para dentro. O resto
faremos amanhã. Mal percebo que se passou una bons longos minutos. Estão todos
dormindo, menos Brandon.
Sento-me no sofá e dou um bocejo, sem perceber.
- Você deveria ir dormir. Sabe que não temos muito tempo até começarmos tudo de
novo - sussurra.
- Sim - respondo. Juro que estou tentando, mas agora se passam mil coisas na
minha cabeça, e não consigo dormir, por mais que queira. Mas não digo isso em voz
alta.
Me ajeito e viro no sofá extremamente confortável, e penso como será o amanhã. Se
ficaríamos bem. Se morreríamos. Essa missão e esse lugar são uma caixa de surpresa.
Qualquer coisa poderia acontecer. Qualquer um poderia morrer. Tudo isso e minha
responsabilidade, meu dever . E sei que não vou conseguir cumpri-los sem descansar.
Respiro fundo numa tentativa de relaxar, e é como se todo o cansaço dos últimos
dias me atacassem de uma vez e, aos poucos, minhas pálpebras se fecham, bem
devagar.
. . . . . . .
Abro os olhos e sinto como se estivesse no céu, como se eu pudesse voar. Meus
membros estão vibrando, com uma energia gostosa. Mas então me dou conta de que
estou num sofá duro e barulhento. Quase solto uma risada, mas percebo que estão
todos dormindo. Começo a me levantar e peg...
Brandon não está aqui.
Olho em volta. Nada. Talvez ele esteja no outro depósito ou ali fora.
Vou até a porta e saio, com uma brisa passando por todo o meu corpo, um vento
fresco que faz meu cabelo voar. O sol está começando a nascer. Vou à procura de um
rio, que, como vimos há poucos dias, não fica muito longe, então podemos tomar
banho diariamente.
Estou com meu arco e flecha, até porque não iria ser legal usar uma arma essa hora.
Ando na ponta dos pés, evitando fazer qualquer barulho que espante uma presa.
Procuro por uma pedra ou qualquer lugar onde eu possa me esconder.
De repente ouço o passos sobre a mata. Prendo a respiração. Pego uma flecha em
minhas costas silenciosamente. Outro passo.
Me locomovo até uma árvore grande o suficiente para me esconder. Mas um passo. Dois
passos de uma vez. Tem mais de um, seja humano ou não.
Ouço alguém resmungar. Tento prestar atenção aos barulhos.
Olho para cima.
Tem um homem barbudo e com roupas de caçador. Está com botas resistentes que vão
até abaixo do joelho. Usa um boné velho e desbotado. Não reparei isso antes da faca
em seu punho. Arregalo os olhos. Estava próximo. Era impossível eu atirar. Ele dá
um sorriso assustador e coloca o dedo indicador sobre os lábios.
Ouço mais passos.
O que eu vou fazer?
Olho por um segundo para trás. Tem mais alguém vindo. Mais de um. Um grupo. Olho
para o outro lado o mais rápido que consigo, e tem um homem apontando uma arma para
mim. Parece jovem. Não muito mais velho que eu.
- Ande, se aproxime. - ele diz.
Eu levanto uma sobrancelha.
- O que faz você pensar que eu vou fazer o que está dizendo? - eu digo, tentando
parecee calma.
Ouço o homem acima dar gargalhar.
- Há uma arma apontada para sua cabeça - o garoto diz.
- Nada que eu já não esteja acostumada - digo, tentado ser casual -, e eu não
gosto muito de fazer o que mandam.
O homem na árvore desce, e eu me encolho um pouco. Um movimento imperceptível
diante dos 5 homens à minha frente, armados. Estão rindo da minha cara.
- Eu não arriscaria tanto a sorte assim, garota. - Diz um homem velho, com uma
facão em mãos.
Ele se aproxima.
- O que vocês querem? - Ergo a cabeça.
Eles começam a rir de novo.
- Fique tranquila, nós não vamos machucá-la. Venha conosco, vamos te alimentar.
Temos tudo o que precisa. Afinal de contas, o que faz aqui sozinha, princesa? - Diz
um homem, que parece, no máximo, uns 3 anos mais velho que eu. Algo em sua voz me
irrita. Ele não está armado - Está indefesa.
Riem de novo.
Travo a mandíbula.
Reviro os olhos.
Vou em sua direção. Os homens levantam apontam suas armas com mais intensidade
contra o meu crânio. Paro a centímetros de seu rosto. Levanto a cabeça para olhá-lo
com intensidade, sem demonstrar qualquer sentimento de medo. Sinto-o enrijecer.
Ergo um canto do lábio em um sorriso malicioso.
- Eu não pensaria isso. Você acha que uma moça indefesa estaria viva nesse droga
de floresta? - Risos. Mais risos. Estão me subestimando.
- Ninguém aponta uma arma para uma mulher indefesa. E admita - olho para o garoto
a minha frente - você está tremendo da cabeça aos pés.
Quando olho para baixo numa tentativa de fortalecermeu argumento, percebo uma
arma em seu coldre.
Todos ficam sérios.
Dou um sorriso irônico.
O garoto está sorrindo.
Não era essa a reação que eu queria, mesmo que não esteja zombando de mim, pelo
que parece.
Dou uma joelhada entre suas pernas, em seguida dando-lhe um golpe no rosto com o
cotovelo direito e, com a mão esquerda, pego a arma disfarçadamente de seu coldre.
Há instantes atrás percebi que só haviam mais dois caras armados. Então puxo o
garoto pela gola de sua blusa e o coloco em minha frente como escudo. Ele está meio
desnorteado, o que é ótimo. Disparo em direção ao cara armado e depois no outro.
Jogo o garoto para o lado. O barbudo com a faca vem em minha direção. Consigo
desviar de seus golpes e pegar sua faca. Ele arregala os olhos. Antes que pudesse
falar, dou uma facada próxima ao seu quadril. Eu não queria matá-lo, queria apenas
fugir. Ele solta um grito.
Me viro e começo a correr o mais rápido que posso, e é só aí que começo a sentir
minha panturrilha latejar. Uma dor intensa percorre minhas pernas. O garoto que não
feri estava atrás de mim, a um passo de me agarrar. Eu não o que aconteceria se ele
conseguisse, mas a dúvida não dura muito tempo, porque tropeço em um galho de
árvore grande e quase caio, o que me desacelerou completamente. Ele tapa minha boca
e segura com força.
Não há como escapar.
- Era só obedecer, e nada disso teria acontecido.
Reviro os olhos. Mordo a palma de sua mão com força. Apesar de soltar minha boca,
eu ainda estou presa. Droga.
. . . . . . .
- MEU DEUS - Bella parecia estar prestes a desmaiar, apesar de não ser ela que
está com uma bala na perna.
Minhas pernas estão tremendo, e já perdi uma boa quantidade de sangue, o que me
faz ficar tonta. Minha coxa está latejando de dor, e sinto uma aflição tão grande
que me faz querer arrancar minha perna agora mesmo.
- Você está bem? - Brandon pergunta.
Estou enrolando um bocado de esparadrapo na minha coxa esquerda, e estou lutando
para não soltar um gemido.
- Sim - tento mentir, mas minha voz sai trêmula. Os três seres humanos presentes
estão semicerrando os olhos. - Estou ótima.
Ok. Tentativa fracassada. É óbvio que não estou ótima, e é uma idiotice mentir.
Tento levantar e solto um grito quando sinto uma pontada no meu ponto esquerdo.
Não foi só uma bala.
Apoio uma mão em um lugar que não existe, e quase caio. Mas sinto braços fortes
me segurarem. Olho para Brandon e me afasto minimamente dele. Ainda posso sentir o
seu corpo quente ao meu lado.
- Não preciso de ajuda.
Ele solta uma risada sarcástica.
- Você não QUER.. É diferente - Levanto uma sobrancelha, numa tentativa de tirar
a atenção à perna - E nem por isso uma ajuda se torna desnecessária.
Reviro os olhos. Ele dá um sorriso, dessa vez sincero. Não consigo conter um
sorriso.
- Você precisa tomar alguns remédios. Um ao meio dia e outro à madrugada. - Sam
lembra.
Meus ombros caiem e me permito relaxar um segundo no corpo sólido de Brandon. Um
segundo, era o que eu pretendia. Mas acabei me esquecendo disso quando seus dedos
pressionaram minha cintura com um pouco mais de força. Expulso as ondas elétricas
que ameaçam percorrer meus sentidos.
- Está bem, eu vou tomar. - digo em um tom arrastado.
Pisco várias vezes antes de me dar conta que já estou relaxada demais em um lugar
que não era pra estar. Me desvencilho dele, e sinto meu corpo lamentar pelo vento
gelado batendo contra os lugares que antes estavam em chamas com o calor de
Brandon.
Mas que merda. De onde veio esse pensamento?
Afasto-o o mais rápido possível.
- Pessoal - começo a falar -, eu preciso entrar em contato com a agência...
- Nananinanão, mocinha! Você vai ficar aqui. Precisa repousar pra entrar logo em
atividade. Não é uma sugestão e nem um pedido. Senta aí. - Bella gesticula o sofá
com um gesto estranho.
Reviro os olhos.
Essa é uma coisas que mais ando fazendo nas últimas horas.
- Além dos remédios, você tem que trocar os curativos.
Faço um gesto de desdém.
Todos me encaram com um olhar de desafio.
Sento no sofá. Na verdade, eu caio no sofá.
- Humm, tá legal...vou ficar quieta aqui. Mas quero a...
- Aqui - Brandon está segurando minha pistola, gesticulando carinhosamente para
que eu a segure.
Olha só, sabe até ler meus pensamentos. Brandon, Brandon...
- Isso mesmo, obrigada - dou um sorriso enviesado.
Eu não rinha percebido o quão cansada estava até deitar nesse sofá, e nossa...eu
precisava disso.
E o que aconteceu depois? Bem, eu não lembro.
Estava dormindo, sonhando com um pedaço bem grande de pizza.
. . . . . . . . .
◇ • ◇ • ◇
CAP 4
Minhas bochechas estão doloridas depois de sorrir durante uma hora, sem parar. Eu
nunca havia ficado tão feliz por ter me queimado.
- Como isso aconteceu, não sabemos. Mas foi uma queimadura de segundo grau, sem
riscos - explica Bella.
- Se você usar os medicamentos corretamente - Sam diz, analisando a ferida.
- Mas nem por isso você deve pensar que é um ferimento leve. Por pouco não
atingiu uma queimadura de terceiro grau - Bella completa.
Assinto e percebo que Sam está segurando uma risada.
Pisco.
- Scarlet - chama ele. - Eu já comentei...
- Que é extremamente ridícula a cara que você faz quando não gosta de alguma
coisa? - diz Bella, aos risos.
Eu não tenho culpa. Eu não quero passar os dias aqui aplicando pomada em uma
queimadura leve, parece um desperdício.
- Eu já comentei que é extremamente ridículo o jeito como vocês dois completam a
fala um do outro? - retruco.
Eles trocam risos constrangidos. Visivelmente apaixonados.
- Eu admito que remédios e horários são entediantes, mas não adianta fazer cara
feia. - Brandon diz. - Você precisa usá-los se quer andar.
Revirou os olhos.
- Obrigada, doutor Brandon.
- Disponha.
Ignorando as repreensões de Sam e Bella, jogo um dos frascos na cara dele, mas
sua mão foi mais rápida, impedindo que o objeto o atinja. Uns segundos depois,
Brandon está de pé na minha frente, com um comprimido em uma mão e um copo de água
na outra.
- Você está brincando, não é? - digo, com um sorriso amargo. - Eu não vou tomar
isso.
- É uma queimadura, Scarlet.
Scarlet. Ele só me chama assim em momentos importantes, carinhosos ou quando está
sério e mal-humorado.
- Exato. Uma queimadura.
- Scarlet. - Há um tom de advertência em sua voz.
Então resolvo testá-lo. Só um pouco.
- Você sabia que fica bonito quando está de mal humor? Eu nem sabia que isso era
possível.
Um canto de sua boca se ergue, num sorriso sarcástico.
- Eu faço coisas que você nem imagina, então eu sugiro que tome logo isso. Agora.
- Faço uma expressão de deboche. - Por favor.
De repente, meus sentidos se ativam sem minha permissão e, quando me dou conta, o
comprimido já está descendo pela minha garganta.
Quando coloco o copo na mesa, Brandon se aproxima, sou rosto perto do meu.
Bastariam só mais alguns centímetros para acabar com essa distância.
- Boa garota - sussurra, para que só eu possa ouvir.
Meus olhos grudam nele, e não consigo segurar um sorriso. Parece que só há nós
dois aqui, mas logo essa hipótese é excluída, porque alguém pigarreia alto.
- Tá legal, vou indo para o escritório. Precisamos encomendar suprimentos e os
equipamentos de localização. - diz Sam. - Bella, você topa me ajudar?
- Vou fingir que isso não significou um convite para transar - brinco, mas uma
reação que eu não esperava surge.
Bella passa as mãos pelos braços de Sam e ele pisca para ela.
- É engraçado você dizer essas coisas como se nunca tivesse feito. - retruca Sam.
- Eu nunca fiz. - Dou de ombros.
Ouso uma risada abafada. De Brandon. Ele está implicado comigo.
- Vocês sabem que eu não faço isso - reafirmo.
E de repente todos começam a rir. De mim.
E quando percebi, estávamos fazendo piadas sexuais idiotas e sem sentido, que
terminou aqui.
Com Brandon e eu nos beijando como se tivéssemos todo o tempo do mundo, sua boca
se movendo lentamente contra a minha. Um beijo longo, calmo, terno, mas intenso. E
é exatamente esse o caminho que leva ao meu fim. É como se tudo estivesse
desmoronando e se reconstruindo ao mesmo tempo. É o que me deixa mais vulnerável e
mais forte na mesma intensidade.
Isso. É isso o que ele faz comigo.
- Brandon.
Ele só me responde com um "hum".
Tenho que reunir todas as minhas forças para nos afastamos mas, uma vez que seus
lábios não estão nos meus, eles se concentram em meu pescoço.
- Não dá pra ficar se agarrando aqui, Brandon.
- Por quê? - sussurra, com beijos lentos na minha clavícula. - Eles estão
ocupados fazendo a mesma coisa.
A mesma coisa? Brandon e eu não estamos...estamos?
- Já nem devíamos encostar um no outro, Brandon. São as regras.
- Não somos obrigados a segui-las.
Brandon está me tocando em tantos lugares, e isso está começando provocar
sentimentos que eu não deveria sentir, de forma alguma. Mas cá estou eu.
- Você costumava ser mais certinho no início - provoco.
Ele para o que está fazendo e olha para mim, um sorriso sarcástico estampado em
seu rosto.
- Eu precisava do emprego.
Começo a dar risada, e depois de uns segundos enxugando minhas lágrimas, percebo
que Brandon também está sorrindo, me encarando de um jeito adorável, como uma
criança. Como se estivesse olhando para a coisa mais incrível do mundo.
E eu estou tão longe disso...
- Você quer parar? - sussura ele.
Há um sorriso maroto em seu rosto, mas consigo notar a hesitação em seus olhos.
Reflito por um momento.
Até onde isso vai? Se continuarmos, seremos capazes de parar?
Isso tudo nem devia ter começado. Os nossos sentimentos tinham que estar
enterrados há muito.
- Isso tudo é um erro, Brandon.
Passo a mão pelo cabelo.
- O erro mais adorável da minha vida - ele sussurra. Oh, sim, esse é concerteza o
melhor erro de nossas vidas. - Mas você não respondeu a minha pergunta.
Brandon desliza seu polegar pelo meu queixo, depois por minha bochecha.
Olho para ele e me perco no castanho de seus olhos, pensando se eu seria capaz de
dizer não pra eles. Eu poderia beijá-lo por horas e ainda não me saciaria. As
palavras escorrem dos meus lábios tão rapidamente que não consigo segurá-las. Nem
se eu quisesse.
- Eu não quero parar.
Há um lampejo imediato em seu olhar e, rapidamente sua boca toca a minha, me
fazendo viajar por lugaress desconhecidos e que mal sei explicar, porque estou tão,
mas tão perdida em seus lábios, que mal consigo pensar.
Nossas blusas estão amontoadas no chão e minha calça está sendo deslizada para
baixo, os dedos longos e firmes de Brandon roçando minhas pernas. Eu queria que ele
não pudesse ver o quanto estou arrepiada com seu toque, com o seu corpo.
Há mil palavras não ditas que estão marcadas em cada beijo, cada contato fisíco
entre nós. Isso é muito mais do que toque. É sentimento. Um sentimento tão potente
que criou raízes fortes e que não para de florescer.
Não há nada entre nossos corpos além de sua calça jeans e minhas roupas intímas,
as mãos de Brandon ameaçando arrancá-las e tirar, junto com elas, todo o meu
autocontrole.
Me apoio sobre o joelho que não está ferido e com o apoio de Brandon, ficamos
colados um no outro, ajoelhados no sofá enquanto minha boca viaja por seu peito,
depois poe seu abdômen e até uma parte próxima a barra de sua calça, que eu tiro de
seu corpo com um agilidade surpreendente.
Estamos tão perto de fazer algo a mais...
Quando ouvimos tiros do lado de fora do depósito, e estamos tão imersos no
momento que demoramos para processar o que aconteceu.
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**** Mundo ****
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