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Capítulo 1

“Foi confirmado pela rainha Rose que a pedra vital da cidade de Rubi não está mais na Casa,
as autoridades estão buscando informações para descobrir o que e como aconteceu realmente,
até lá, pediremos para as pessoas tomarem cuidado e avisarem se souberem de alguma coisa.”
Foi essa notícia que me fez despertar tantas dúvidas, quem, como, por quê? Sei que não sou
ninguém da área da polícia, mas para que alguém roube a pedra vital da Casa precisa ser um
ótimo vilão com ótimos planos e eu precisaria saber. Não sei se devo me preocupar em
relação a isso, vi pessoas reclamando nas ruas que tinha algo de diferente ou de estranho
acontecendo, mas particularmente eu nunca notei isso. As pedras vitais são cristais mágicos
que ficam guardados sob máxima segurança em uma Casa branca no meio de sua cidade (cada
uma tem a sua) e é de lá que elas nos ajudam em absolutamente tudo! Como comida, água etc.
Sem elas, aos poucos as cidades vão se destruindo e parando de funcionar. Ok, talvez eu
realmente deva me preocupar com isso.
Só que os rumores foram tantos que me fizeram duvidar até mesmo se aquela notícia era
verdade, ora, as autoridades teriam descoberto se as pedras tivessem sido roubadas antes,
certo!? Eu gostaria de perguntar para elas, mas a história pode ter sido completamente
mudada ao passar de pessoa para pessoa. Então prefiro ir ver tudo com meus próprios olhos,
talvez assim eu consiga perceber pessoalmente se realmente tem alguma mudança nas cidades
ou não.
Quando todas as luzes já estavam apagadas, (era de madrugada) eu ajustei minha capa violeta
e saí de casa, me certificando de que ninguém me viu.
As ruas estavam escuraras e bem calmas, aqui sempre foi bem calmo, mas agora
especificamente está parecendo um deserto. Ao mesmo tempo que me senti segura por não ter
ninguém na rua, também vejo desvantagem nisso.
De quatro postes na mesma rua, apenas um funcionava em cada uma. Foi apenas isso que eu
consegui notar ao meu redor com toda aquela escuridão. Atravessei alguns postes caídos até
que percebi que deveria voltar para casa, já que minha mente divagou no meio do caminho e
isso pode fazer com que eu tenha me perdido. Assim que me virei para fazer o caminho de
volta me deparei com um garoto alto. Me assustei e me afastei, era apenas meu irmão, Isaac.

- Tá fazendo o que na rua uma hora dessas? – Ele me repreendeu.

- Pergunto o mesmo para você, mocinho. – Cruzando os braços.

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- Eu estava com alguns amigos... – Respondeu jogando alguma coisa no chão.

- Fazendo o que? – Cerrei os olhos.

- Ei, o mais velho aqui sou eu. – Cerrei os olhos mais ainda, quase fechando-os por completo.
Ele parou com a tentativa do sermão. – Eu estava fumando.
Balancei a cabeça em negação, não era a primeira vez que ele fazia isso, nunca fico brava nem
nada, não tem muito o que fazer a respeito.

- E você? – Ele perguntou.

- Estava apenas caminhando. Ia voltar para casa agora.

- Vamos, já passei muito tempo na rua.

Então nós dois voltamos para casa, no maior silêncio e calmaria do mundo, principalmente
para não acordar Ismael, ele iria nos dedurar para nossa mãe na primeira oportunidade. Bem,
eu sempre tenho razão quando digo que Ismael é insuportável. Apesar de todo nosso cuidado
até para abrir a porta da casa, as luzes se acenderam como um detetive recebendo um suspeito
em casa. Meus pais estavam sentados no sofá nos encarando e é óbvio que meu irmão estava
ao lado deles.

- Onde estavam? – Meu pai perguntou bravo.

- Eu só fui caminhar aqui perto. – Respondi rapidamente.

- E está de capa por quê? Queria que ninguém te reconhecesse? – Ismael provocou.

- Cala a boca garoto, ninguém te perguntou nada. – Isaac respondeu.

- Parem. – Minha mãe ordenou. – Digam a verdade, onde estavam?

- Eu não menti! – Disse. – Juro! Eu fui caminhar para pegar um ar fresco. – Isaac estava
comigo.

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- Mentira. – Ismael retrucou.

- Você não estava lá para saber.

- Eu vi um saindo e depois o outro. – Ele olhou para nossos pais.

Caramba Ismael, fica quieto!

- Ele foi na frente porque quis! Eu estava me arrumando! – justifiquei desejando que a língua
do meu irmão caísse.

- Olha Amélie, nós até acreditaríamos em você se o seu irmão não tivesse feito isso faz tempo.
Nós sabemos que ele saia escondido com amigos e infelizmente ele mentiu dizendo que não ia
mais fazer isso.

Ismael riu.

- Obrigada pela tentativa maninha, fico te devendo uma! – Isaac colocou uma mão em meu
ombro.

- Com certeza! – Abafei um riso.

Eu recebi apenas uma advertência, assim que chamamos aqui em casa quando recebemos
avisos por algo de errado que fazemos. São três avisos, depois disso é castigo, foi o que
aconteceu com meu irmão, agora ele não pode mais sair de casa por três meses para
absolutamente nada, se ele ajudar em casa e se comportar sua “sentença” acaba.
Como o que eu vi na rua não me ajudou em nada, tive que esperar por notícias. E que saíram
mais rápido do que imaginei. Eu estava sentada na sala com meus irmãos quando o plantão de
emergência da nossa cidade começou. Fazia décadas que não recebíamos uma notícia do
plantão.

“Foi confirmado agora, que roubaram a pedra vital da cidade de Turmalina, o rei da cidade
iniciou as buscas locais, mas até agora nada. Percebemos que não só nessa cidade como
muitas outras foram roubadas, as cidades de Jade; Esmeralda; Safira; Ametista; Turquesa e
Rubi estão sem elas e isso pode prejudicar a todos. A Rainha e o Rei do reino tinham
instalado medidas protetoras, mas elas foram burladas.

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Recomendamos a todos que fiquem em suas casas, muitas cidades estão destruídas e a
tendência é só aumentar daqui para frente, tomem cuidado.”

Enfim, não quis ouvir o resto.


Antes eu não estava preocupada com isso, quando vi as notícias, eu pensei que isso não nos
afetaria tão rápido, eu me lembro bem de quando percebi tudo o que estava acontecendo. Fui
até a casa de uma senhorinha que trabalha comigo para lhe entregar alguns mapas que ela
deveria analisar, mas no caminho de volta uma loja explodiu e jogou algumas pessoas para
longe, eu fui uma dessas pessoas. Lembro de ser atropelada por uma multidão de pessoas que
corriam de um lado para o outro, foi um desespero. Se antes eu não me preocupava, agora eu
tinha motivos de sobra, principalmente depois de ouvir isso. Na realidade eu não tinha muita
noção do que estava acontecendo, estava ocupada demais pensando no meu trabalho, na
minha possível independência financeira aos dezessete anos, tenho que agradecer ao mundo
por ter me acordado para a realidade.
No começo, quando as notícias sobre o assunto tinham acabado de sair, ninguém sabia ao
certo o que realmente tinha acontecido, mas algumas pessoas das primeiras cidades afetadas
foram correndo avisar a rainha, quando foi confirmado que alguém tinha roubado as pedras,
foi um choque em tanto. Todos sabem da importância delas para as cidades funcionarem.
Peguei os mapas que estavam espalhados pela minha escrivaninha e os guardei em uma
gaveta, depois me joguei na cama. Tenho que entregar a análise desses mapas daqui duas
semanas, se eu quiser receber esse mês. Com a cidade parando vai ser bem difícil, não recebi
nenhum aviso do meu trabalho falando se iríamos parar de trabalhar.
Eu me irmãos nos entre olhamos e não comentamos nada pelo resto do dia. No fim da tarde,
tentei cochilar no meu quarto, até que minha mãe me chamou para o jantar.
Eu, nossa família se reuniu na mesa se jantar e agradecemos o pouco que temos. Já tivemos
mais, mas com todo esse caos o pouco acaba virando muito.

— Vi no jornal que a escassez de alimentos e outros recursos está aumentando. – Meu pai
disse.

— Tenho certeza de que tudo vai se resolver. – Minha mãe retrucou

Eu também pensava desse jeito, mas o jornal sempre dá as mesmas notícias de sempre, nada
mudou desde o começo, aliás, parece que tudo apenas piora. Pelo menos ouvi dizer que a
esperança é a última que morre.
Depois do jantar eu fui para o meu quarto, tomei um banho com o pouco de água que restou e
adormeci.
Acordei com a luz invadindo meu quarto porque eu esqueci de fechar a cortina, e com um
barulho na cozinha. Desci as escadas esfregando os olhos e vi minha mãe fuçando em tudo
dentro da geladeira, minha barriga roncou e ela notou minha presença.

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— Oi Amélie.

— Oi, o que você tanto mexe aí?

— Bem, eu estava procurando alguma coisa para o café da manhã, mas não temos nada. – Ela
sorriu ironicamente.

— Quer que eu vá buscar alguma coisa?

— Se você tomar cuidado, pode ir tentar. Não sei se vai encontrar algo.

— Tudo bem.

Subi de volta para o meu quarto e troquei de roupa, fiz um rabo de cavalo e desci novamente.

— Amélie, tente ir rápido porque seu pai vai trabalhar daqui a pouco. – Ela disse antes de sair
de casa.

Sorri forçadamente antes de fechar a porta de casa a sair andando pela rua. Fui para o
mercado que fica na esquina de casa, ele estava fechado. Os mais próximos pontos de
referências que tenho são: uma padaria na esquina da rua ao lado, um mercado vinte e quatro
horas dois quarteirões abaixo da minha rua.
Fui até a padaria e tinha um recado dizendo que eles não tinham mais alimentos. Minha
última esperança é o mercadinho, espero que mamãe não se incomode com alguns minutinhos
de atraso. Com altas expectativas, cheguei no mercadinho e ele estava aberto, peguei o que
dava para pagar. No caminho de volta, vi um tumulto que não tinha como desviar, a não ser
que eu queria dar a volta e chegar atrasada em casa.
Passei pelo tumulto e fiquei parcialmente presa, tinha uma mãe segurado um filho desmaiado
no chão por fome. As pessoas em volta, a maioria eram curiosos e o resto tentava demostrar a
sua indignação pela rainha e o rei não estarem fazendo “nada” em relação a isso. Nada é o que
eles pensam. É difícil cuidar de um reino todo quando seu exército está enfraquecido (outra
coisa que o jornal nos avisou) e tudo está falindo, mas eu entendo a revolta, no começo senti
um misto de emoções e uma delas foi a revolta. Fiquei com medo de ser agredida por estar
com comparas ali no meio, me surpreendi por sair dali inteira.
Voltei para casa e meus pais estavam sentados na mesa de jantar, na verdade minha mãe
estava colocando a mesa.

— Vi um tumulto aqui na rua. – Coloquei as comparas em cima da mesa.

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— Você se envolveu? Você está bem? – meu pai perguntou nervoso e preocupado.

— Não me envolvi e sim, eu estou bem.

Respondi e então deixei que eles tomassem café da manhã, eles precisam mais do que eu. Por
sorte sobrou um pão de queijo. Meu pai foi trabalhar e minha mãe foi começar a limpar a
casa, meu trabalho era tirar limpar e guardar a mesa. Mas antes que eu pudesse fazer isso,
minha mãe pediu para que eu limpasse as janelas da cozinha/sala.
Depois de algumas horas, ouvimos a porta abrir e meu pai chegou do trabalho, um horário que
na verdade ele deveria estar lá.

— Por que voltou tão cedo? – minha mãe perguntou varrendo a sala.

— Não tínhamos mais condições de trabalhar, o chefe temeu por nossa segurança – ele
pendurou o casaco no cabide e depois se sentou no sofá comigo.

Minha mãe resmungou e eu suspirei, ainda não tinha terminado de lavar a louça e ainda tinha
que lavar o banheiro e passar pano no meu quarto. Que pensa em limpeza quando o mundo
está acabando? Vou parar de ser pessimista demais, eu só não gosto de limpar a casa e tenho
leves questionamentos sobre quem faz isso por livre e espontânea vontade. Ela me mandou
costurar uma peça de roupa que havia rasgado, sorte a dela que sou boa em costura... E que eu
sou uma boa filha. Nem fiz o resto das coisas que tinha para fazer e me concentrei na peça,
meu pai estava sentado na mesa de jantar lendo um jornal e minha mãe provavelmente estava
no quintal de casa.
Ouvimos um estrondo do lado de fora, como um pneu sendo calibrado e em seguida, três
batidas de palmas. Meu pai foi até a janela e afastou um pouco a cortina para ver o que estava
acontecendo.

— No que você se meteu? – Meu pai arqueou uma sobrancelha, nervoso.

— Nada. – Respondi confusa.

- É melhor desconfiar, pai! – Ismael abriu a boca.

— Por que o filho da rainha está aqui? Vocês se meteram em alguma coisa?

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É preocupante por um lado, mas ele pode estar aqui por muitos motivos diferentes. Não posso
ter medo dele, penso, é um garoto da minha idade que apesar da diferença de poder não pode
fazer nada contra mim, a não ser que eu tenha cometido um crime. Ainda assim, sinto um
arrepio passar por meu corpo, não dou muita confiança em minhas próprias palavras.

— Mas eu não fiz nada, juro!

- Nem eu! – Isaac disse.

Então meu pai se levantou para abrir a porta.


Fiz um leve contato visual com o filho da rainha, o que fez o meu coração acelerar, nunca se
sabe no que passa na cabeça de um príncipe. Meus irmãos pareciam estar bem normais. Eu
realmente não deveria sentir medo dele. Eu o conheço, lembro-me de quando tínhamos quatro
ou cinco anos quando nos esbarramos no salão central do castelo real. Minha mãe estava lá
para falar com seus pais sobre negócios, então eu fiquei brincando e correndo pelo castelo até
encontrar ele. Depois que eu fui embora nunca mais esbarrei com o príncipe por aí. Também,
seria pedir demais para nós nos reencontrássemos? Talvez. Mas me pego pensando, como será
que ele está hoje em dia? Será que continua sendo aquela criança sorridente? Sua aparência
não mudou pelo menos, ele continua bem branquelo e com cabelos curtos e loiros quase
brancos.
A conversa entre eles não foi rápida, então voltei a prestar atenção na costura.

— Vocês três! – meu pai gritou. – Se arrumem que mais tarde ele vem buscar vocês aqui em
casa.

— Tudo bem. – Eu e Isaac respondemos juntos, até parece que na verdade eu sou sua gêmea,
não Ismael.

Não sabia o que sentir, o mundo está acabando e de repente o filho da rainha vem te buscar na
sua casa. Eu tenho medo do motivo, não que eu tenha feito algo de errado, mas minha
ansiedade me faz pensar até em coisas inimagináveis.
Sorri e acenei para o príncipe que apenas sorriu e acenou com a cabeça.
Papai fechou a porta e finalmente consegui respirar normalmente.
Corri para o meu quarto e tomei um banho, aliás, um banho de baldinho, é complicado
quando a água acaba. Desci a escadas e esperei pacientemente por ele, como me portar
quando o filho da rainha vem me buscar aqui em casa? Passei as mãos nos cabelos com a
mente divagando, não completamente, só estava pensando nas possíveis opções para isso
acontecer.

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Três batidinhas na porta. É ele. Eu e meus irmãos fizemos um cumprimento e o príncipe abriu
a porta da limosine, logo ele se sentou perto de mim, apesar do carro ter bancos mais
distantes. Observei tudo admirada, nunca pensei que fosse ver isso na minha vida. Preciso
tomar cuidado com as palavras e com meus movimentos para não quebrar nada daqui.

— Qual seu nome? – Perguntei, tem tanto tempo que nem lembrava mais seu nome.

— Harvey. - Ele estendeu a mão e eu retribui. – E o de vocês?

- Me chamo Ismael, ela é a Amélie e ele ali é o Isaac. – Ismael respondeu mais rápido que
todo mundo, nesse momento eu desejei não ter irmãos.

— O que sua mãe quer falar com a gente? – Quis diminuir minha ansiedade.

— Bem, você vai descobrir lá. – Ele riu. - Me desculpe, é que se eu contar, não tem o porquê
de você ir para lá.

- Faz sentido, curiosa! – Ismael concordou.

Sério, para que ele quer chamar tanta atenção?

— Tudo bem. – Fingi não estar incomodada, talvez meu medo tenha sumido, mas ainda não
me sinto segura.

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Capítulo 2

Chegamos no castelo e senti minhas pernas tremerem. Harvey passou a mão nas minhas
costas como consolo, (não que tenha me ajudado em alguma coisa, mas valeu a tentativa de
ser amigável, eu deveria ser assim) Ele me guiou até a entrada no salão real. O castelo era
estranhamente gelado o que me fez sentir frio, alguns detalhes são de gelo, afinal esse é o
poder da família real, mas é gelo de verdade que me surpreende por não derreter com o sol
que estava fazendo lá fora. Por alguns momentos me sinto dento de um iglu. Ele tinha cores
bem claras e a maioria era em tons de azul, detalhes em dourado, bem... Rico.
A rainha e o rei estavam sentados sem seus tronos, usando roupas em tons de branco e azul
pastel, bem clarinho. O vestido da rainha é lindo, alguns detalhes com pedrinhas brilhantes e
transparentes, e tanto ela quanto o rei usavam algo parecido com uma capa, preso no pescoço,
cobria os ombros e ia até um pouco acima dos cotovelos, era cheio de pelinhos na cor branca,
tipo os pelos de um lobo da neve... Harvey me deixou em frente a eles (com uma distância
enorme entre nós) e o príncipe correu para o terceiro trono, o dele. Outra coisa que me
chamou a atenção, os tronos eram ou de vidro azulado e transparente ou de gelo; tinham cones
pontudos acima do encosto. Bem, ainda estou em dúvida.

— Bom dia. – Disse.

— Bom dia meninos! – a rainha quase gritou. — Vocês devem estar bem confusos, mas
fiquem tranquilos porque tudo vai se resolver.

Balancei a cabeça.

— Vocês devem ter visto tudo que está acontecendo com o reino. Mandei todo o meu exército
e meus soldados atrás dessa pessoa, poucos voltaram com vida.

Me preocupei mais ainda. O governo desses dois foi bem reconhecido (e ainda é) por terem
um dos melhores exercícios de toda a história de Georse.

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— Já chamei adultos e pessoas mais velhas que você, – Ela continuou – Ninguém aceitou.

— Queríamos desistir, mas pensamos que valeria a pena tentar chamar os jovens para nos
ajudar. – O rei complementou. – Jovens tem energia e são mais dispostos.

— Enfim, meninos, estamos te dando a chance de aceitar nossa proposta de ir em busca da


pessoa que está por trás dessa bagunça. O dinheiro dos poucos trabalhadores que restaram
será investido na reconstrução de tudo.

Uma proposta boa, ou eu apenas gosto de uma aventura, afinal a minha vida estaria em risco,
são muitas chances de dar tudo errado e algo acontecer. Ninguém aceitou provavelmente por
medo.

— Podemos chamar pessoas para nos ajudar? – Levantei a cabeça.

Melhor fazer isso com companhia do que sozinha, se eu morrer, vou ter alguém junto comigo.
Eu sei que não é a melhor maneira de ver um colega de trabalho, mas nesses casos foi o
melhor conforto que encontrei para minha mente. E sim, eu sei que tenho meus irmãos, mas
me refiro a alguém diferente.

— Claro. Inclusive...

Ela olhou para o rei e ele me entregou uma pasta enorme e um pouco pesada.

— Nessa pasta tem documentos exclusivamente de todos os jovens de Georse. Vocês podem
escolher quem vocês achares melhor.

Posso chamar pessoas para me ajudar, mais uma vantagem. Mas eu ainda me preocupo com
minha vida, vou deixar todos meus familiares e amigos aqui para salvar o reino.
Fiquei paralisada por alguns minutos reprimindo os lábios e pensando, mas os reis pareciam
calmos e sem pressa.
Quando fui abrir a boca para responder, todos ouvimos um barulho, como se fosse algo
estalando. As paredes e teto começaram a tremer muito e aquilo afetava o nosso equilíbrio,
olhei para cima e o enorme lustre despencou na minha direção. Me joguei para o lado e ainda
assim senti pedaços de vidro grudarem no meu braço, a família real também se afastou afinal
o lustre era grande o suficiente para acertar eles também, apesar da enorme diferença de
distância entre nós.

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Quando fui me levantar, acabei caindo em cima da minha própria mão direita, senti um leve
estalo e a sensação de algo se quebrar. Uma dor insuportável tomou conta do meu pulso e a
única coisa que eu pensava era: "eu consegui quebrar os dois pulsos na mesma semana".
Um dos poucos guardas que restaram no palácio me ajudaram a levantar e eu ainda estava
chateada comigo mesma pelo descuido.

— Meninos vocês estão bem? – A rainha gritou assim que tudo se acalmou.

- Sim! – Isaac gritou de volta.

— Não, - Rebati. - Acho que quebrei minha mão direita, ou o pulso... Não tenho certeza. –
Tentei mover ele, mas não tive muito sucesso, doía, meus irmãos me olharam.

— Eu sinto muito pelo ocorrido, é melhor vocês cuidarem de seus ferimentos. – Ela disse e
acenou para a gente.

— Tudo bem.

Falei e saí dali o mais depressa que pude, os guardas da rainha nos deixaram em casa.
Cheguei em casa e minha mãe nos recebeu desesperada.

— O que houve? – Ela perguntou me trazendo para dentro de casa.

— Um lustre caiu perto da gente. Eu não sei se quebrou... – Tentei mexer o pulso.

- Vocês se machucaram também meninos?

- Me arranhei um pouco. – Isaac respondeu.

- Eu também não, sou forte o suficiente, um lustre de vidro não me machucaria.

— Vamos dar uma olhada nisso. – Minha mãe me puxou para a cozinha enquanto eu revirava
os olhos encarando meu irmão.

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Ela se sentou em uma cadeira e puxou meu pulso para analisar. Ela mexeu, bateu e perguntou
se doía, claro que doía. Ela o mexeu e senti a dor aumentar.

— Apenas torceu. – Ela respondeu e enrolou o membro com um pano e compressas de gelo –
Tome cuidado agora. O que a rainha queria?

— Ajuda para cessar a destruição. – Ismael respondeu antes que eu pudesse abrir a boca.

— Vocês aceitaram? Meninos, não é arriscado demais? A vida de vocês pode estar em risco.

— Eu sei, eu não vou aceitar, mãe. – Respondi.

- E não deveria mesmo, você não resistiu a queda de um lustre, imagine uma aventura dessas.
– Ismael se sentou do outro lado da mesa onde eu me minha mãe estávamos.

Fiz com que uma rajada de vento atingisse meu irmão e ele caiu da cadeira a levando junto.
Ele utilizou seu poder também e fez alguns pratos voarem na minha direção, tudo parou
quando nossa mãe gritou com a gente.

- Vão limpar isso agora, que horror vocês parecem duas criancinhas, já passaram dessa fase de
brigar.

Eu realmente nunca me dei bem com meu irmão e não sinto necessidade de mudar isso, claro
que às vezes eu sinto vontade de fazer com que um furacão o leve para o fim do mundo e o
deixe lá, mas eu não faria isso. Ele deve ter ciúmes e raiva por ter perdido seu colo tão cedo
para mim.
Sobre o assunto do castelo, na verdade, eu quero muito aceitar, não parece uma tarefa muito
difícil. Mas se eu falasse isso para minha mãe, ela iria até o castelo para falar com a rainha
pessoalmente, só para dizer que nós não iremos. É o medo de perder os filhos,
especificamente a única menina da família, eu a entendo.
Passaram-se dois dias desde o acidente, eu pensei bem se eu aceitaria a proposta ou não. Eu
gosto de uma aventura e vai ser uma experiência em tanto para o resto da minha vida, aliás eu
vou ter outras pessoas comigo, vamos nos ajudar e enfrentar todos os perigos juntos. Eu sou
perita em liderar trabalhos em grupo, gosto de trabalhar juntamente a outras pessoas.
Quando eu pensei que não teria outra chance de aceitar a proposta, recebemos uma carta
escrita por Harvey. O filho da mercê.

"Olá,

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A queda do lustre atrapalhou tudo e você deve ter recusado por medo. Mamãe quer que você
vá novamente para o palácio para conversamos melhor, quem sabe você pode mudar de
ideia ;)
Vou te buscar em casa às 15.
Ass. Harvey."

Bem, pelo visto nós não temos opção. Realmente a queda do lustre atrapalhou tudo. Inclusive
a letra do príncipe é linda, pensei seriamente em voltar para a escola.
Já que a água acabou, meus cachos estavam secos, sem definição, bagunçados... Por isso a
melhor opção que eu vi para disfarçar o desastre que meu cabelo estava era amarrando-o. É
nessas horas que eu adoraria ter puxado os cabelos de minha mãe, lisos que não dão trabalho.
Foi quando ouvi três batidinhas de palmas, o jeitinho de um certo alguém para dizer que
chegou. Meus irmãos correram para a porta, quase brigando para passar. Meu pai então
chamou Isaac e o mandou ficar em casa, ah não! Não acredito que vou ter que suportar Ismael
se exibindo e sendo o garoto mais insuportável que eu conheço.

— Oi! – Sorri.

— Prontos? – Perguntou.

Balancei a cabeça, entramos no carro e durante o caminho, Harvey puxou assunto, senti que
ele queria falar alguma coisa desde que me viu.

— Como está seu pulso?

— Ah, ele apenas torceu..., mas está bem.

- Pois é, pelo visto ela não aguenta muita coisa... – Meu irmão piscou para o príncipe entender
sua piadinha, valeu maninho...

- Você também se machucou naquele dia? – Mudei de assunto rapidamente.

— Só me arranhei um pouco. – Ele foi apontando para os lugares onde tinha curativos.

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Chegamos no palácio, Harvey me guiou com as mãos nas minhas costas e depois ele subiu
para o trono dele. Dessa vez o rei não estava lá, provavelmente estava cuidando e reforçando
a segurança do palácio.
E eu ainda consigo ver um caco de vidro ou outro espalhado pelo chão, péssimas lembranças.

— Bom dia novamente meninos, tudo bem?

— Acho que sim. – Olhei para o pulso direito.

- Onde está seu outro irmão? – Ela questionou tentando encontrá-lo.

- Em casa, ele se meteu em conf... – Ismael começou a falar, mas dei um tapa em sua boca
impedindo que ele falasse qualquer comentário desnecessário sobre nosso irmão.

Acho que meu irmão é um babaca mesmo...

— Não conseguimos conversar muito bem, mas espero que a mente de vocês tenha se
acalmado. A proposta é a mesma, podem ter um tempo para pensar.

Pensei bem, eu iria responder que não ia mais aceitar a proposta, mas alguma coisa me diz
para aceitar e as noites que eu passei pensando sobre isso tinham que servir para alguma
coisa. Salvar um reino todo parece uma ideia boa, talvez ser reconhecida futuramente por isso
ou alguma recompensa no final, mas eu não estou aceitando por isso, e sim por minha família.
Quero que eles ainda vivam muito. Talvez sem alguém para ajudar com essa situação eu perca
colegas, família e tudo o que conheço e amo hoje, então sim, até que é uma ótima proposta.
Apesar de eu ser jovem, tenho meus poderes e posso mostrar ao mundo minhas habilidades.
Então encarei meu irmão que estava impacientemente esperando eu terminar minha linha de
pensamento.

— Rainha, nós vamos aceitar a proposta. – Meu irmão respondeu com orgulho.

- Mas eu quero pedir uma condição. – Disse erguendo a cabeça.

A rainha mostrou ar de alívio ao ouvir nossa resposta e balançou a cabeça indicando que
estava disposta a ouvir minha condição, Ismael me encarou tentando dizer com os olhos para
eu ficar quieta.

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— Podemos chamar quem nós quisermos para nos acompanhar? – Relembrei.

— Sim. – Ela respondeu.

— O seu filho pode nos acompanhar? – Cerrei os olhos.

Ela pareceu desconfortável quando pedi, olhou para seu filho e para mim novamente. Ismael
colocou a mão na testa suspirando, talvez ele tenha achado essa condição uma bobagem. A
rainha demorou um pouco para responder, abriu a boca algumas vezes para tentar me
responder, mas nenhum som saia.
Harvey tem a minha idade e é um príncipe com poderes, por que não o chamaria para vir
comigo nessa jornada!? Aliás, não quero suportar meu irmão sozinha por tanto tempo, isso
daria muito errado.

— Tudo bem... – Ela respondeu trêmula.

É estranho ver esse tipo de reação vindo de uma rainha, mas já que o mundo está bem mais
perigoso agora eu entendo que ela esteja preocupada com a vida de seu filho, minha mãe ficou
igual. Ele não disse nada e se foi, quando fui o esperar do lado de fora a rainha chamou nossa
atenção.

— Mas cuidem dele, por favor!

— Ok!?

Saí dali e fiquei me perguntando o porquê de ela pedir isso, acho que era para acontecer o
contrário.
Harvey chegou por trás de mim, fazendo com que eu me assustasse.

— Você esqueceu isso. – Ele me entregou a pasta que seus pais tinham nos entregado. –
Amanhã bem cedo, eu passo na casa para buscar vocês.

— Tudo bem.

Sorrimos um para o outro e eu caminhei até em casa, duas horas de caminhada deveria ser
considerado tortura. Sorte que a onde eu moro é bem perto da divisa de Rubi com Diamante,

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imagina se eu morasse do outro lado de Rubi? Eu teria muito mais trabalho para chegar ao
castelo.
Quando cheguei em casa, preferi reunir meus pais na cozinha para contar a eles a novidade.
A conversa foi longa e meu pai tentou fazer com que eu mudasse de ideia e minha mãe ficou
quieta a maior parte do tempo. Tenho certeza de que ela não queria que eu fosse, mas tenho
ótimas explicações para convencê-la. Ismael foi quem basicamente convenceu nossos pais,
querendo ou não ele é mais velho e meus pais com certeza se sentiriam mais seguros em
deixar eu ir com ele. Depois de conseguir convencer eles eu fui me preparar, meu irmão não
quis fazer o mesmo, tomara que ele tenha um problema no meio do caminho para deixar de se
sentir orgulhoso o suficiente ao ponto de pensar que não precisa de nada para embarcar em
uma aventura. Para não me atrapalhar na missão eu levei pouquíssimas coisas, o suficiente
para caber em uma trouxa, resolvi não levar comida, não sei quanto tempo vou demorar com
isso e a comida pode facilmente estragar além de que pausas para se alimentar pode nos
atrasar.
Dei uma rápida analisada na pasta com os documentos, ele é divido pelas cidades e em cada
cidade tem várias informações de pessoas, juntamente a foto delas. O primeiro nome que eu
procurei foi o meu, para ver como era.
Tão bem-organizado, achei muito útil, eu lembro de quando me buscaram para tirar essa foto,
todo ano eles renovam as fotos e mudam alguns dados.
Depois de ficar folheando algumas páginas, encontrei em uma cidade próxima a minha uma
menina chamada Selina Estohoga. Tem dezessete anos e tem o poder de ver o presente de
outras pessoas, com ela vai ser rápido encontrar quem eu quero. Aqui também diz que Selina
pode controlar a mente das pessoas, um poder herdado de sua falecida mãe. A garota tem a
pele escura, olhos castanhos claros e os cabelos trançados. Por sua expressão facial ela parece
bem destemida e um tanto quanto insistente, mora na cidade vizinha, Safira. Isaac entrou no
quarto e se aproximou de mim, tentando ver o que eu estava fazendo. Sorri para ele e coloquei
a pasta de lado.

- Você não vai, certo?!... – Suspirei triste.

- A mãe e o pai não deixaram, ela disse que eu ainda estou de castigo. – Ele respondeu mais
triste ainda.

- Talvez seja uma desculpa para ela ter um dos filhos perto dela, e vivo. – Ri.

- Talvez..., mas eu acredito que vocês vão conseguir. E te desejo muita paciência para ter que
suportar Ismael. – Ele riu.

- Nossa, nem me fale.

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- Boa noite maninha... Vou sentir saudades. – Ele me abraçou e andou para sua cama.

- Eu também...

Guardei a pasta e fui dormir, tenho um longo dia amanhã

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Capítulo 3

Estava tentando abaixar os fios altos do meu cabelo quando ouvi aqueles familiares três
batidinhas na porta, a abri e Harvey estava lá.

— Onde está o carro? – Ismael perguntou, a limosine que ele sempre vinha para me buscar
não estava aqui.

— Minha mãe não confia em mim para dirigir. Dependendo de onde vocês querem ir,
podemos alugar cavalos.

Alugar, como os bichinhos fossem produtos!? Aparentemente é uma boa ideia e até mesmo
um bom negócio, eu particularmente não sei como isso funciona.

— Vamos para a cidade de Safira, é próxima daqui.

— Sim. – Apesar de não ser uma pergunta, ele respondeu como se fosse.

Enquanto estávamos andando, ele se aproximou de mim com as mãos no bolso e começou a
falar.

— Então... Me conte sobre seu plano.

- Não temos um plano. – Meu irmão interrompeu.

- Eu tenho um plano. – Respondi.

- Não deve ser tão bom. – Rebateu cruzando os braços. – Você não é muito boa em criar
planos.

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— Não lembro de ter te perguntado alguma coisa. – Cruzei os braços o fazendo se calar.

- Conte o plano Amélie. – O príncipe me olhou.

- Vai mesmo querer saber? – Ismael perguntou.

- Sim. – E Harvey respondeu.

- Encontrar mais jovens. A pessoa está roubando a pedra vital de cada cidade, vamos juntar
cada poder de cada jovem. Assim teremos poder o suficiente para combater essa pessoa.
Entendeu?

— Entendi – ele respondeu não muito animado – Mais alguma coisa?

— Já encontrei alguém, ela se chama Selina. Ela consegue ver o presente de outras pessoas,
seria útil para acharmos mais jovens.

- Você acha que esse plano daria certo? – Ismael deu uma risada olhando o príncipe.

— Sim, é um plano bem esperto. – Ele respondeu.

Escondi minha vontade de rir.

— A sua mãe não quis falar muito ontem, né!? – Mudei o assunto.

— Ela parecia tensa... Bem, lembra que o lustre caiu? Foi porque essa pessoa roubou a pedra
da nossa cidade. Acabou desconectando várias, se não todas, energias da cidade o que causou
um tremor, o lustre acabou não aguentando o balanço das paredes e teto.

Abri a boca e levantei as sobrancelhas, tudo faz sentido agora.

— Harvey, você trouxe dinheiro?

- Para de se aproveitar do príncipe garota. – Meu irmão me repreendeu.

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— Sim. – Ele respondeu ignorando o comentário do meu irmão. - Pensei que iríamos
precisar... – Ele deixou a frase morrer e logo continuou – Você tem algum apelido?

— Às vezes meu pai me chama de Amy. É a junção das duas primeiras letras do meu nome
com a penúltima. – Respondi.

- Um apelido bem sem graça. – Ismael comentou. Como eu queria que ele sumisse nesse
momento...

— Posso te chamar assim?

— Claro.

Harvey me encarou e sorriu, o contrário fez meu irmão que cruzou os braços observando bem
a situação.
Horas se passaram, tivemos que atravessar quase toda Rubi para chegarmos em Diamante.
Com algumas pausas, nós finamente paramos de andar, um estábulo aparentemente
abandonado, mas ninguém abandonaria isso, não com os animais dentro.
Escutamos alguns relinchos e eu realmente pensei que estava tudo abandonado, mas um casal
de velhos saiu de dentro de uma casinha jogando algumas caixas com maçãs na calçada.
Harvey correu até eles e me deixou sozinha, depois ele sinalizou para eu segui-lo. Corri até ao
seu encontro.

— Vamos alugar os cavalos.

— Vamos pagar por cada dia?

— Não, por cada hora. Não é muito caro... – Ele tentou amenizar a situação. – Eu sou o filho
da rainha, eu tenho dinheiro.

— Olha ele! – Meu irmão cantou sorrindo. Foi melhor coisa que ele disse até agora.

O casal de velhos chegara até a gente com dois cavalos, um caramelo e um preto.

- Quer saber, acho que a partir daqui eu vou embora. – Ismael disse.

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- Entendi, vai abandonar a missão. Pensei que você fosse corajoso. – Provoquei sorrindo,
finalmente pude dar o troco nele.

- Nada disso, eu só acho que vou atrapalhar o casal com minha presença. – Ele provocou de
volta, golpe baixo.

- Casal? – Harvey retrucou completamente sem graça.

- Vai voltar para casa ou não? – Revirei os olhos.

- Vou, me recuso a ficar de vela. Tchau maninha! – Então ele começou a fazer o caminho
contrário, voltando para casa.

- Caramba, que irmão.... – Harvey começou dizendo.

- Insuportável e chato? Sim, ele é. – Suspirei.

— Sabe andar a cavalo? – Ele perguntou.

— Sim, tinha um amigo que cuidava de um estábulo. Ele me ensinou a andar a cavalo depois
que eu o perturbei.

Respondi e o príncipe riu, logo ele pagou o suficiente para andarmos por um dia inteiro,
adiantado, então nós fomos com os animais até a entrada da cidade.

— Vamos para o subúrbio de Safira. – Disse.

— Algum ponto de referência?

— Uma padaria que fica na terceira rua depois da entrada da cidade. Eu sei o caminho, pode
me seguir.

Respondi e lá fomos nós.

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Quando se trabalha fazendo análise e atualizações de mapas, você acaba conhecendo bem
cada canto do reino.
Algumas horas de viagem, fizemos uma pausa para os cavalos e a gente descansarem, depois
continuamos o caminho até a cidade de Safira.
A entrada da cidade estava acabada e bem diferente do quando vim outras vezes. Fomos até o
ponto de referência solicitado e descemos.
Peguei aquela pasta que os pais do Harvey me deram e analisei a foto da garota novamente.

— Se subirmos essa rua e virarmos a esquina, para qualquer um dos lados, vamos ver casas.
Para qual dos lados você quer ir? – Ele comentou.

— Vamos nos dividir. – Sugeri.

— Amy, as ruas estão bem perigosas agora para andarmos sozinhos, melhor não nos
separamos.

— Então escolhe, esquerda ou direita.

— Esquerda.

Demos um descanso para os cavalos e andamos puxando-os. Subimos a rua e viramos à


esquerda, várias casas e estava quase anoitecendo, mostrando que os postes nem funcionavam
mais. Peguei o documento da garota e analisei uma foto, depois de andarmos um pouco, vi
uma garota colocando o lixo na lixeira do lado de fora de uma casa.
É a garota do documento.
Cutuquei Harvey e apontei com os olhos para a garota, caminhamos rapidamente até ela e a
chamei.

— Oi, Selina Estohoga, certo!? – Olhei para o documento.

— Sim? – Ela cruzou os braços.

— A rainha nos colocou na missão de cessar a destruição dos reinos e ir atrás da pessoa que
roubou as pedras vitais de cada cidade. Precisamos de mais pessoas para nos ajudar.

— Olha! Você é o filho da mercê!? – Ela se animou e olhou para Harvey.

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Ele sorriu de volta para ela e os dois apertaram as mãos.

— Então deve ser verdade, se bem que... Como eu sei que poso confiar em vocês?

Eu o príncipe nos entre olhamos pensando no que responder.

- Você deve ter visto no jornal que alguém roubou as pedras vitais de cada cidade. E eu, o
próprio filho da mercê está aqui para pedir sua ajuda. – Harvey disse.

Obrigada, cara! Vou ficar te devendo uma por conseguir salvar minha pele da vergonha por
não saber o que responder.
A garota riu e colocou as mãos na cintura.

- Só aceito poque eu reconheço o príncipe de longe e sei que vocês não estão mentindo.

Foi mais rápido que eu pensei, pelo menos ela aceitou... Se todas as pessoas agirem como ela,
vamos acabar com isso rápido.
Um homem saiu de dentro da casa chamando por Selina.

— Tudo bem? – Ele perguntou. – Quem são vocês?

— Pai, esse é o filho da rainha e ela deve ser ajudante dele. – Ela respondeu.

— Harvey! – O homem bateu nas costas do príncipe sorrindo – Precisam de ajuda em quê?
Querem entrar?

Aceitamos, prendemos o cavalo na lixeira e entramos na casinha dela. Casinha, era bem
apertada e estreita, sorte que eu não tenho claustrofobia. Também gosto de pensar que Harvey
é bem conhecido, esse pai e essa filha o reconheceram de longe o que faz com que eu e sinta
estranhamente segura.
Selina foi com seu pai até a cozinha, que tinha uma parede para separá-la da sala então não
ouvimos nem vimos o que eles estavam falando, que julgando pelo tamanho da casa é bem
estranho. Enquanto esperávamos, o príncipe se escorou na parede e eu fiquei observando os
quadros que tinham na casa.
Minutos depois ela passou pela gente e subiu as escadas, o pai dela foi até a sala e se sentou
no sofá.

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— Ela vai voltar viva para casa? – Ele perguntou.

— Claro. Não precisa se preocupar. – Respondi.

- Por favor, cuidem bem dela, Selina é idêntica a sua mãe e é isso que faz os meus dias serem
tão alegres. Ela é minha garotinha...

Felizmente eu nunca lidei com a morte, mas imagino como deve ser o sentimento de perder
alguém tão querido. Esse pequeno discurso me comoveu bastante, a sensação deve ser
péssima.
Selina voltou com uma bolsinha e quando íamos sair da casa o homem nos chamou.

— Está bem tarde, não querem dormir aqui?

Olhei para Harvey e para eles novamente.

— Tudo bem.

Respondi e passamos a noite na casa dela. Ela dormiu com o pai, eu dormi no quarto dela e
Harvey dormiu na sala.
Na manhã seguinte, eu estava analisando outras pessoas na pasta, fui para a parte de
Esmeralda, a cidade mais próxima daqui. Procurei especificamente por um garoto, para que
Harvey não se sinta tão sozinho. Encontrei um garoto, provavelmente asiático por sua
aparência, ele se chama Tommy e tem dezesseis anos. Fiz vista grossa ao perceber que Selina
apareceu na porta do quarto.

— Bom dia. Meu pai está te chamando para o café da manhã.

— Ah. – Coloquei a pasta de lado – Estou indo.

Vi que Selina ficou parada na porta do quarto até que enquanto eu ajeitava minha papelada, eu
reforcei:

— Pode descer, eu já vou!

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— Eu preciso trocar de roupa. – Ela me encarou séria.

— Ah, perdão.

Claro, é o quarto dela Amélie!


Saí do cômodo deixando a pasta lá. Tomei café da manhã com eles, o que não foi a coisa mais
confortável do mundo. Era um café simples, mas o suficiente para todos, o pai de Selina
realmente se empenhou para acolher dois desconhecidos em sua casa, tenho muito o que a
agradecer pela empatia desse homem. Depois subi novamente para o quarto da garota e
peguei a pasta.
O pai de Selina deu um abraço demorado nela e o ouvi sussurrar:

— Te amo muito.

— Também te amo, pai.

Ela veio ao nosso encontro e desamarramos os cavalos da lixeira, eles tinham acabado de
acordar, sugeri que parássemos em um mercado para comprarmos algumas maças para os
coitados comerem.

— Você quer ir com o meu cavalo?! Eu posso ir com o Harvey. – Disse a ela.

— Eu nunca andei a cavalo. – Ela respondeu.

— Então, você vem comigo.

Harvey disse já no cavalo dele, ajudei a garota a subir e depois fui eu.

— Vamos para a cidade de Esmeralda.

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Capítulo 4

Disse e assim pegamos viagem. Harvey ficou à frente, ele conhece o caminho melhor do que.
Entre atalhos e outros, chegamos na cidade. Safira é uma cidade muito grande, se não a maior
do reino, então demorou para chegar lá, saímos de manhã e chegamos de tarde. Um sol
razoavelmente quente para quatro da tarde. Mas só me incomodo quando sinto a luz forte
bater em meus olhos.
Descemos dos cavalos em uma biblioteca, fica bem no centro da cidade e é extremamente
conhecida. O monumento também é enorme, parece um palácio. Eu gosto de bibliotecas, estar
entre os livros é minha paixão secreta. Peguei o hábito de ler da minha mãe.
Tommy é neto da dona da biblioteca, diz na ficha que seus pais faleceram.

— Ok, quem viemos buscar? – Selina perguntou.

— Tommy Ileszima, ele consegue manipular a terra, achei interessante.

— O plano é recrutar mais pessoas para ajudar a gente?

— Sim. – Respondi. – Inclusive, Selina, pode ver o presente dele? Assim conseguimos achá-
lo mais rápido.

— Ok.

Entreguei o documento do garoto para ela, encarou o papel por segundos, fechou os olhos
fortemente e depois disse.

— Ele está aqui na biblioteca, no segundo andar.

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Fiquei levemente admirada com o poder dela. Na verdade, a encarei por um bom tempo. Não
sei exatamente como ela fez isso ou como seu poder funciona, mas ver alguém usá-lo
pessoalmente foi tão... Incrível.
Prendemos os cavalos e entramos no lugar. Selina foi andando na frente e nós a seguimos,
afinal ela sabia exatamente onde o garoto estava, meu maior medo era de nós nos perdemos
nessa biblioteca, para sair daqui seria um tanto quando desesperador, tantos corredores para lá
e para cá. Eu não me importaria tanto assim se o monumento não fosse tão gigante. Paramos
no segundo andar e avistei ele de longe, lendo o livro em pé. Os puxei para nós
“escondermos” entre as prateleiras.

— Harvey, quer ir conversar com ele, ou eu vou? – Perguntei me escorando nas prateleiras.

— Eu? – Ele perguntou.

— Sim, conversa de homem para homem, talvez ele compreenda melhor... Vai lá. – Sorri e
bati no ombro dele, Selina riu.

— Tudo bem, eu vou.

Ele foi mesmo, fiquei de ouvidos e Lina ficou observando tudo na mente dela, usando o poder
dela, tentei me controlar para não a encarar a cada dois segundos. Quando percebi que a
conversa não seria nada rápida, me virei para os livros e comecei a procurar por algum que
me interessasse.
Minutos depois eles voltaram e Harvey estava segurando o garoto pelo braço.

— Oi Tommy! – sorri me levantando e guardando o livro de volta na prateleira. - Ele não


respondeu. — Harvey te contou tudo, certo?!

Ele acenou com a cabeça.

— Por favor não me prendam! – ele gritou e ajoelhou nos pés de Harvey. – Eu prometo fazer
qualquer coisa, mas por favor, não me julguem eu não quero morrer!!!

Eu e Selina nos entre olhamos e Harvey ficou constrangido, coitado. Comecei a pensar em
quantos traumas, medos ou coisas nesse sentido faria uma pessoa ter tanto medo da realeza
assim. Talvez tenha sido dessa maneira que seus pais morreram... Não sei, também não
estudei a mente humana para desvendar.
Lina o levantou pelos ombros e bateu bem de leve no rosto dele enquanto o garoto soluçava.

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— Se recomponha. – Ela sussurrou para ele.

— Não vão me prender? – Ele perguntou.

— Sim, nós vamos. Se ajoelhe novamente. – Harvey brincou.

Ele obedeceu e se ajoelhou fitando o chão, Selina cruzou os braços e revirou os olhos,
enquanto Harvey ria eu dei um chute na canela dele. Já estávamos constrangidos o suficiente
e não precisávamos de mais uma brincadeira. Apesar de não saber o passado desse garoto, não
acho que é certo brincar com o medo que ele demonstrou ter da realeza, principalmente de
Harvey.

— Nós não vamos te prender, levanta-se daí. – Disse.

Ele suspirou aliviado e se levantou.

- Não sei se quero ir com vocês. – O garoto disse se afastando do príncipe. – Parece perigoso.

- Tem medo de alguma coisa? – Perguntei.

- Não. – Tentou mentir balançando a cabeça repetidas vezes. – Só não me sinto confortável
perto de alguém da... Família real.

- Por quê? Ter alguém da família real nos acompanhando é um dos motivos pela qual você
deveria se sentir mais seguro.

- Se não quiser, podemos procurar outra pessoa para colocar no seu lugar, você quem sabe,
vai perder uma grande aventura! – Selina provocou.

- Realmente parece uma aventura muito legal, mas não acho que...

- Tudo bem, eu entendi, você é medroso! – Ela o interrompeu e riu.

- Não! – Tommy rebateu.

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- É sim!

- Tudo bem! Eu vou!

O garoto se rendeu a pressão psicológica feita por Selina que, pelo menos teve um bom
resultado. Andamos todos para fora da biblioteca e quando Tommy olhou para os cavalos ele
se surpreendeu.

— Nós quatro em apenas dois cavalos? Que judiação... – Ele disse.

— E nós vamos como? – Selina perguntou de braços cruzados.

— Olha, eu estou trabalhando em um carro, está quase pronto.

— Carro!? – Harvey se interessou.

— Sim, fiz o projeto, falta pouquíssimas coisas. Vai ser melhor para nós e para os bichinhos,
podemos devolver eles para um estábulo aqui perto, aliás, são a uma quadra da minha casa.

— Que incrível. Aceito a ideia. – O príncipe se animou e subiu no cavalo. – Nos leve até sua
casa e termine o carro.

— Isso é possível? Em tão pouco tempo? – Perguntei.

— Com certeza. Sou bem rápido, montei metade dele em menos de um mês.

— Então vamos.

Paramos de andar a cavalo em uma quadra antes da casa de Tommy, deixamos os cavalos lá e
explicamos que pegamos eles na cidade de Rubi, então Harvey terminou de pagar o tempo
que ficamos com eles e andamos até o caminho de volta até a casa do garoto, ele mora atrás
da biblioteca. Ao menos os bichinhos vão ter como descansar e um pouco de caminhada não
mata ninguém, não que eu seja fã, longe disso.
Nos acomodamos na casa de Tommy e lá conhecemos sua avó, que nos acolheu muito bem, e
conhecemos a irmãzinha do garoto, ela deve ter no máximo dez anos. A senhora era tão

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carinhosa e fofa, ela nos contou algumas histórias de livros na hora de dormir, me fez
perceber que isso já era costume naquela casa, já que a irmãzinha de Tommy já ficava
preparada quando chegava na hora de dormir.
Foram quatro dias calmos, aproveitei e consegui terminar o livro que havia pegado antes.
Enquanto estávamos todos dormindo, Tommy acendeu a luz da sala e nos chamou. Já era de
manhã, mas o céu ainda estava escuro e cinzento.
Fomos até a garagem e encontramos um carro grande, Harvey andou em volta do veículo
analisando cada detalhe dele.

— Caramba, ficou bom mesmo! Quero muito testar essa belezinha.

Selina suspirou alto e se jogou no banco do motorista, ligou a chave para testar se o carro
estava ligando.

— Vamos, eu vou dirigir.

— Ah... – Harvey cruzou os braços e se colocou no banco do passageiro com cara de irritado.

Tommy se sentou ao lado de Harvey e eu me sentei ao lado de Selina, olhei para trás para
conferir e suspirei.

— Para onde nós vamos agora? — Harvey perguntou.

— Vamos para o centro de Turmalina, onde fica o castelo. — Respondi e olhei para Selina –
Você sabe o caminho?

— Sim. – Ela respondeu.

Selina deu partida e começamos o caminho, foram quatro longas horas de uma cidade para
outra que pareciam não ter fim. Eu fiquei acordada o tempo todo já os meninos parecem terem
dormido por um tempo.
O próximo passo do meu plano é procurar uma garota de dezessete anos com o nome de
Giselly Juragsss, ela é filha do rei dessa cidade. Comentei sobre ela para Selina para que eles
não se sentissem excluídos do plano, como se apenas eu soubesse de tudo. Já que é um
trabalho em grupo, todos devem saber o que eu estou pensando.

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Chegamos na cidade, estacionamos o carro e descemos. A claridade do sol consegue invadir
qualquer canto escuro, aqui é conhecido por ser um lugar bem alegre, otimista. As lojas estão
fechadas e tem pouquíssimas pessoas andando pela rua, algumas famílias procuram coisas no
lixo. Bem, aqui está menos afetado se comprarmos ao resto do reino.

— Está calmo...– Harvey comenta. – Muito calmo.

Harvey já veio aqui e sabe como esse lugar é movimentado. O pai da garota e o pai dele
sempre foram muito amigos, então George entregou uma cidade para que Albert pudesse
governar e sentir o gosto da monarquia. Como se fosse um reino dentro de outro reino, a
diferença é que um tem mais poder. É isso que faz a garota ser uma princesa.

— Onde vamos encontrar a mimada? – Selina pergunta.

— A princesa, – Tommy corrige – Vai estar no palácio obviamente.

— Não, ela odeia ficar lá. – Harvey apontou. – Provavelmente ela está na praia ou no Jardim
Floral. Vamos procurar primeiro na praia.

Assim chegamos no local e encontramos uma roda grande de pessoas.


Localizei a menina, não foi difícil por seu cabelo ser loiro bem cacheado, ele simplesmente se
destaca de tudo e todos. Ela olhou para nós e assim que visualizou Harvey, saiu da roda e veio
correndo.

— Quanto tempo! – ela diz abraçando-o.

— Estava com saudades. – Ele diz.

Selina revirou os olhos ao ver a cena, já eu estava sorrindo de braços cruzados, achei fofa a
reação de ambos.

— Consegue explicar para gente o que é isso? – Harvey pediu ainda sorrindo.

— Claro. Apesar de não estarmos tão afetados, não queríamos deixar todos desesperados,
então resolvemos fazer uma festa aqui na praia para eles fazerem orações para a Mãe água.
Aumenta a fé deles...

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Matei minha curiosidade, quando explicado não parece tão estranho assim. A Mãe água é
agora uma entidade, ela foi a primeira na geração da loirinha, a primeira a ter esse poder de
controlar a água. Fora muitas crenças de que foi ela quem criou o universo e todos os seres
humanos. A habilidade foi passando de gerações em gerações até chegar aonde está hoje,
consequentemente as pessoas foram parando de dar valor a esse poder e agora ele é apenas
um entre muitos. Dizem que quem tem essa fé ou é dessa geração pode se comunicar com a
Mãe através de praias, rios, todas as águas correntes existentes. As pessoas de Turmalina são
os que partilham sua fé, não sei muito sobre essa prática no resto do mundo.

— Incrível como sempre... – Harvey sorriu para ela.

— Acelera o passo aí princesinha, nós precisamos de você. – Selina disse batendo palmas.

— Precisam de mim? Para quê? – Ela se virou para gente, mas logo virou para Harvey
novamente.

— Você ficou sabendo de todo o caos, certo? – Harvey disse.

—Sim. – Ela suspirou.

— Por isso precisamos de você, para nos ajudar a parar tudo isso, vai ser uma jornada um
pouco difícil, mas conseguimos prometer que vai estar segura.

— Ah para Harvey, você conhece meus pais, eles só irão deixar se você for pedir, e tudo isso
para mostrar como a filha dele é incrível. – Os dois riram, mas pude notar uma leve tristeza na
frase, talvez essa não seja a vida que a loirinha gosta.

— Eu falo com ele. – O príncipe diz indo saindo de perto da gente e indo até a roda de
pessoas onde o rei também estava.

— Então, qual seu nome? – Selina perguntou.

— Giselly.

— Selina.

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— Amélie, prazer.

— Tommy.

Giselly acenou para todo mundo e sorriu, escutamos Harvey rir junto a uma risada abafada,
segundos depois ele volta junto com o rei. Ele vestia uma roupa branca com capa, tudo feito
apropriadamente para o frio, e não para o sol que está fazendo aqui nesse lugar.

— Boa tarde queridos jovens, sobre o assunto tratado com a minha filha, desde que me
prometam que ela volte viva para casa.

— Vamos tomar o máximo de cuidado possível majestade, pode ficar tranquilo. – Harvey
sorriu amigavelmente.

— Giselly, vamos ao palácio para você se arrumar.

O rei chamou a filha e os dois se foram dentro de uma carruagem, eu e o grupo fomos a pé
mesmo até o palácio.
Esperamos entre trinta minutos, e Giselly saiu do palácio com sua mala pronta. O casal real se
despediu dela e depois a menina voltou com suas malas na nossa direção.

— Então, para onde vamos? – Ela perguntou.

Começamos a andar na direção do carro, eu fiquei de um lado da princesa e Harvey do outro.

— Vamos para a cidade de Jade, ficamos quatro dias parados e nesse tempo eu escolhi mais
duas pessoas, no caso você e um menino. – Respondi.

— Legal, qual o nome dele? – A princesa sorriu e disse animada.

— Eddie Ittaeasn.

Chegamos no automóvel, eu fiquei no banco da frente junto a Selina e Harvey, Tommy e


Giselly ficaram no banco de trás.

33
— Cidade Jade né? – Selina perguntou.

— Sim. – Respondi.

Ela deu partida e seguimos. Demorou menos para chegar pois as cidades são vizinhas, uma do
lado da outra e Turmalina é uma cidade bem pequena, chegamos entre uma hora e meia ou
duas horas.

34
Capítulo 5

Descemos na cidade, já estava escurecendo. O lugar estava destruído, fogo e tralhas jogadas
por tudo que era lado, tinha postes de luz no chão, uma bagunça, pelo menos essa é a cidade
menos movimentada e habitada do reino, o que significa que não precisaremos lidar com
tantos tumultos.

— Selina, consegue encontrar ele? – perguntei.

Mostrei uma foto do garoto para ela, que ficou alguns segundos com os olhos fechados. Eddie
tem dezoito anos, pele escura, cabelos trançados, porém bem curtos, como Selina. Ele é
imortal e pelas fotos parece ser forte, vai poder nos ajudar muito caso aconteça alguma coisa e
ainda por cima vai ficar vivo!

— Sigam me.

Fizemos mais uma caminhada, eu e provavelmente todo mundo já estávamos cansados de


andar, a cidade é estreita, mas não significa que é pequena. Aliás, aqui tem mais ruas e bairros
do que eu imaginei, pelo que eu via nos mapas a cidade parecia pequena...
Nós paramos uma rua bem estreita, que as casas são bem pequenas. Na verdade, todas as
casas daqui são pequenas, até me lembram um pouco da estrutura da casa de Selina. Localizei
um menino sentado em frente a uma dessas casas, escorado na parede com as mãos nos
cabelos e olhando para o nada, talvez pensando na vida. Lembrei da foto que vi no documento
e o reconheci. Apontei para ele.

— Eddie Ittaeasn, é você?!

Chamei a atenção do garoto que me olhou assustado e se levantou rapidamente.

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— Como me conhece? – Ele arqueou as sobrancelhas.

— Eu e esse pessoal estamos buscando pessoas para nos ajudar.

— Ajudar em quê?

Harvey deu um passo à frente, ele parecia estar com pressa.

—Eu sou o filho da rainha... – Eddie o interrompeu.

- Foi mal aí, alteza.

Não pude deixar de rir, as meninas fizeram o mesmo. Harvey suspirou e continuou.

- Você está sendo escolhido para nos ajudar a parar com essa destruição.

— Aceito! – ele gritou rapidamente fazendo com que a gente se assustasse.

— Certo, é melhor que faça as malas. – Eu o encarei.

— Acho que não vai ser possível...

— Por quê? – Selina perguntou já irritada de estar em pé ali.

— Meus pais estão em casa, não quero que eles saibam.

— Não é melhor avisar pelo menos que você está saindo?

— Eu estou trancado do lado de fora... – ele coçou a nuca.

Selina colocou a mão na boca para impedir um riso, Harvey fez o mesmo só que mais
discreto. Sinceramente eu me preocupei, por que razão ele estaria preso do lado de fora da

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própria casa? Notei um leve desconforto em Eddie, me aproximei dele ao ponto de conseguir
sussurrar em seu ouvido.

- Está tudo bem? Precisa de ajuda?

- Obrigado, já me acostumei, não sou do tipo que desabafa com qualquer um.

- É algo muito sério ou pessoal? – Insisti. Por que não ajudar alguém que vai se juntar a você?

- Não quero falar sobre isso, eu não apenas ir com vocês?

— Tudo bem, vem logo. – disse.

Fizemos o caminho de volta até o carro.

— Estou cansada, alguém quer dirigir? – Selina balançou a chave do carro.

— Eu!

Harvey pulou para pegar a chave o que fez Tommy resmungar, ambos estão disputando o
banco do motorista já tem um bom tempo.

— O carro vai ficar apertado, não? – Giselly perguntou analisando o automóvel.

— Um pouco. – Tommy respondeu, só tem mais um terceiro banco na frente, mas nós vamos
dar um jeito.

— Estou com fome. – Resmunguei, todos me encararam o que parecia um julgamento. – Eu


não me alimentei bem esses últimos dias, comi que nem um passarinho na casa do Tommy.

Eu quis dizer que comi pouquíssimo quando pude, ainda estamos em escassez de alimentos e
o pouco que a avó de Tommy tinha ela dividiu com a gente nesses três dias, e ainda recusei
algumas vezes porque não queria incomodar. Até porque naquela casa tinha cinco bocas para
alimentar e uma delas era uma criança em fase de crescimento.

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— Quer saber eu também estou com fome. – Tommy disse.

Ele tinha mais motivo ainda, tudo o que foi dividido ele recusou e deixou para nós comermos.

— Eu também. – Eddie disse.

— Ok, então todos concordam que devemos fazer um lanche. – Selina disse fechando a porta
do carro pela qual ela iria entrar.

— Conheço alguns lugares que ainda tem comida e eles nem cobram. É tipo caridade. – Eddie
disse parando para pensar. – Vamos.

Caminhamos até um tipo de bar, tinha várias famílias ali perto. Esse “bar” ficava no meio do
nada, nós saímos de alguns bairros extremamente pequenos para o meio do mato que se não
me engano, é a minifloresta que fica no sudeste de Jade. Mas o bar especificamente ficava em
local que lembrava muito áreas de acampamento, terra e matos baixos no meio e as árvores
apenas em volta. Eddie fez um sinal para nós pararmos de andar, ele foi até a janela do lugar
que estava aberta e conversou com um velho gordo que estava lá dentro.
Eu e o pessoal nos sentamos perto de uma árvore que tinha ali, alguns se sentaram em alguns
bancos de madeira que ficava um pouco mais afastado da “área de acampamento”, mal
iluminado, mas com a leve brisa e a calmaria que o lugar estava apesar de cheio, passava uma
energia muito boa. Ou só eu que gosto de ficar sozinha na natureza mesmo.
Dentro de alguns minutos, ele voltou com três marmitas.

— Foi o máximo que consegui, vai ter que dividir cada uma para duas pessoas. E consegui
uma água também.

A marmita não era muito grande, mas era o suficiente para saciar a fome, pelo menos a
minha.

— Giselly eu divido com você. – Eddie disse e se sentou ao lado dela.

Eu comi junto a Selina e Harvey junto a Tommy.


Todos sentimos uma leve preguiça depois da janta, ficamos ali sentando e especificamente os
meninos deitados no chão. Consegui ouvir um pouco da conversa entre Giselly e Eddie.

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- Quer conversar? Por que estava do lado de fora da sua própria casa? – A loirinha perguntou.

- Meu pai chegou bêbado em casa, brigou com minha mãe... Quando eu fui tentar intervir, ele
brigou comigo. Então eu saí de casa para respirar um ar fresco e quando voltei, estava tudo
trancado. – O garoto respondeu, mas não parecia nada desconfortável como antes.

- Eu sinto muito por você... Espero que esteja bem. – Giselly colocou uma de suas mãos sobre
seu ombro.

- Ficar um pouco longe daquele ambiente tóxico com certeza vai me fazer bem! – Ele riu.

Quando terminamos nosso descanso, jogamos os potinhos no lixo e fomos de volta ao carro.

— Estou cansado para dirigir. – Harvey disse. – A gente podia dormir.

- Mas a gente acabou de descansar. E a gente dormiria onde? – Selina perguntou ironicamente
cruzando os braços.

— Eu vou dormir no carro. – Ele respondeu.

— Vamos dividir então. – Eddie sugeriu.

— É. – Selina concordou – Eu não quero dormir apertada com todo mundo.

— Eu durmo aqui fora. – Giselly disse saindo do carro.

— Não Giselly, dorme no carro, eu durmo aqui fora. – Eddie retrucou.

Selina fez uma cara de nojo ao perceber o possível casal. Eu achei fofo, mas talvez não seja
certo juntar suas pessoas que acabaram de se conhecer, eles só estão sendo legais um com o
outro.

— Eu não vou dormir nesse chão. – Ela disse abrindo a porta do carro.

39
Por fim, ficou dividido: Selina, Giselly, Tommy no carro e eu, Eddie e Harvey no chão.
A noite será longa.
Acordei com um barulho de galhos se quebrando, me levantei rapidamente e observei todos
os lados, não vi nada. Outro barulho de galhos se quebrando.

— Oi? – foi a única coisa que consegui dizer, naquele momento eu poderia morrer ou poderia
fazer uma amizade.

Não obtive nenhuma resposta, só escutei os passos se afastarem.


Bem, voltei para onde todos dormiam sem nenhuma preocupação. Tentei dormir novamente,
mas não consegui, minha mente estava perturbada. E se nós estivermos sendo observados? E
se alguém estiver perseguindo a gente? Mas acho que ver um grupo de adolescentes jogados
no chão é realmente chamativo, então não julgo se alguém parou para ver. Ainda assim me
preocupo, são tantas hipóteses. Melhor descansar, minha cabeça não vai aguentar tantas
paranoias e semanas sem dormir com um reino para salvar.

40
Capítulo 6

Acordei com respingos de água no meu rosto, era Selina tentando acordar todo mundo,
especificamente no Harvey ela deu um chute.

— Você não falou que ia dirigir? – ela disse apressada.

Todos se levantaram, o príncipe me deu a mão e me ajudou a levantar.


Eu me sentei no banco da frente com o Harvey e o Tommy, e no banco de trás ficou o resto
do pessoal.

— Sabe onde fica a cidade de Turquesa? – perguntei para o príncipe.

— Claro.

- Quero ir atrás de um garoto chamado Martinez, ele tem dezessete anos e mora mais para o
leste da cidade.

Acho que Giselly não dormiu bem, ela ficou com a cabeça encostada no ombro de Eddie a
viagem toda.
Seguimos caminho, a cidade era bem mais longe do que as outras. Depois de três horas de
viagem nós paramos o carro na beira de um rio. Eu estava cansada de ficar sentada naquele
banco, e nós precisávamos de uma pausa mesmo.

— Eu quem vou dirigir agora. – Tommy disse roubando a chave da mão de Harvey enquanto
ele estava distraído a segurando por apenas um dedo.

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— Eu queria tomar um banho... – Giselly disse cruzando os braços e encarando o chão.

— Pode tomar. Tem um rio bem ali. – Selina disse ironicamente e apontou.

— Verdade!

Giselly foi até o carro e pegou uma peça de roupa e uma toalha, se escondeu atrás de uma
grande árvore e pareceu em segundos com um biquíni. Eu mesma demoro uns vinte minutos
só para amarrar a parte de cima. Ela foi até o rio e entrou.
Confesso que fiquei com muita vontade de entrar também, fui até a beirada e resisti em
colocar a mão na água.

— A água está gelada? – Perguntei.

— Um pouco. – Ela respondeu sorrindo, mas com certeza ela não se importa com isso.

Senti alguém nas minhas costas e Selina me empurrou para dentro do rio, tirei o cabelo do
rosto e a ouvi rir. Encarei ela de volta e puxei seu braço a derrubando também.
Minutos depois Tommy e Eddie pularam na água. Parecíamos crianças brincando de jogar
água uns nos outros. O único que não quis entrar foi o príncipe.

— Harvey tem certeza de que não vai entrar? – perguntei apertando o cabelo para tirar o
excesso da água que tinha nele.

— Eu não. Obrigado.

Tommy foi até ele e o puxou a força para dentro do rio, Harvey até tentou se segurar nas
coisas para impedir, mas não conseguiu.
Um momento alegre e descontraído, meus pensamentos foram embora e a única preocupação
que eu tinha agora era de não me afogar. Enquanto eu torcia minha roupa para tirar o excesso
de água ouvi um barulho, como uma madeira estalando. Olhei para todos os lados e notei uma
árvore bem na beirada do rio se tombando, e bem onde Giselly estava.

— Giselly! – gritei.

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Ela olhou para trás e foi o tempo suficiente para ela sair de perto e a árvore cair, levantando
uma onda de água para cima das meninas que estavam ali perto. Elas quase se afogaram.
Todos foram até o carro e se sentaram calados, cada um em seu assento anterior. Foi tanto
choque que acho que ninguém quis comentar sobre nada. Mas graças a Giselly que gemeu de
dor ao colocar o pé no chão do carro, o silêncio constrangedor foi quebrado.

— Tudo bem com você? – Eddie perguntou.

— Acho que torci o pé quando fui me salvar. Eu manquei um pouco até chegar no carro, mas
não estava doendo tanto.

— Para o carro, deixa eu ver se está tudo bem. – Eu pedi.

Tommy parou o carro e eu desci, abri a porta onde Giselly estava e ela se sentou deixando as
pernas para fora do veículo, peguei um pano que estava úmido e enrolei no pé dela, na
segunda volta eu coloquei um grande pedaço de gelo, enrolei novamente e prendi para não
soltar. Ela fez uma expressão de dor, mas logo passou.

— Agora evite colocar o pé no chão.

— Tudo bem, obrigada.

Ela sorriu e eu votei ao meu lugar, peguei a pasta que estava nos meus pés e comecei a
folhear. Eddie me olhou e se aproximou, curioso para ver quem eu estava procurando.

— Achou alguém interessante? – ele perguntou.

— Falando sério, o único que me interessou aqui foi esse tal de Martinez. Ele parece
destemido. Olhe. – Mostrei a foto do garoto para ele.

Sim, eu havia procurado por outra pessoa depois de perceber que estava julgando as pessoas
pela aparência e nada a mais, na verdade, os poderes também, mas a maioria eu julguei por
aparência. Que coisa feia Amélie! Mas Martinez não parece uma péssima opção.

— Realmente, ele tem cara de quem não desiste facilmente até conseguir o que quer. – Ele
disse.

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— Tudo bem então, Harvey. – O chamei. – Que tal?

— Ele parece bom. – Ele analisou a foto por alguns segundos. – Alguma habilidade em
especial?

— Aqui diz que ele já trabalhou em vários restaurantes como cozinheiro. – Me surpreendi,
não tinha lido isso sobre ele, tinha feito vista grossa sobre o documento. – Achei útil. – Ri.

— Tudo bem, Tommy, dirija para a cidade de Turquesa. – Harvey ordenou

Ri ao ver que Tommy lançou um olhar de raiva para o príncipe, como se ele mostrasse com os
olhos a sua indignação por ter alguém mandando nele.
Entramos na cidade, estava escurecendo e estava bem difícil enxergar algo por ali, não tinha
nenhuma iluminação pelas ruas, talvez vindo de dentro de uma casa ou outra, tirando isso,
nada.
Senti Giselly se arrepiar atrás de mim, (estava segurando meu braço como se quisesse me
puxar para perto dela a qualquer momento, talvez para amenizar seu medo) ela se
autoanalisou e deu um sorriso nervoso.

— Esse lugar dá medo. – Ela comentou.

— Como você é medrosa, princesinha. – Selina disse.

— Eu só não estou acostumada com esse tipo de lugar. – Ela retrucou.

— Aham... – Selina murmurou e começou a rir.

— É sério! – A loirinha insistiu.

— Ok meninas, parem. – Olhei para elas.

— Não estamos discutindo Amélie. – Selina respondeu.

Harvey começou a acelerar o carro e fez uma expressão de preocupação.

44
— Esse povo age estranho, tomem cuidado. – Ele disse.

— Não estamos em Opala. – Selina disse.

Opala... uma cidade tão distante, mas ao mesmo tempo ela parece tão próxima. No caso me
refiro as pessoas imigrantes que vieram de lá para cá.

— Você não estudou história? – Giselly perguntou e sorriu, como se fosse a dona da verdade
e soubesse de tudo.

— Por que em vez de brincar, você não explica para ela? – Tommy disse irritado, a
provocação das meninas o deixou assim, e tudo isso misturado com uma má noite de sono.

— A cidade foi civilizada por muitas pessoas de Opala antes dela se tornar uma ilha afastada,
alguns foram banidos daqui e jogados de volta para a ilha. Mas ainda tem vários espalhados
pela cidade. Outros migraram.

– Obrigada, princesinha.

— De nada, se precisar de aulas de história pode falar comigo.

— Eu não preciso de você. – Ela respondeu.

O príncipe olhou para trás por poucos segundos para as meninas e logo se virou para frente
novamente.

—Tommy, cuidado!

Harvey gritou e logo uma silhueta se jogou na frente do carro, o garoto desviou o automóvel
rapidamente, acelerou e acabou batendo na parede. Todos saíram do carro rapidamente.

— Está todo mundo bem? – perguntei.

— Nossa! – Tommy colocou as mãos na cabeça e foi ver o carro. – Que estrago.

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— Esse negócio vai explodir. – Selina disse se afastando vendo que o automóvel estava
saindo fumaça.

— Acho que não chega a explodir. Mas e agora? Como a gente vai se virar?

— Vamos ter que ir a pé. Selina tente encontrar um menino de nome Martinez Engasia. –
Respondi.

— O que vocês querem comigo? – Uma voz falou na direção das sombras.

Nos afastamos e um menino de cabelos médios, loiros e pele clara saiu das sombras. Ele tinha
um estilo meio gótico, anéis, colares, roupas largas etc., suas olheiras apagavam o brilho de
seus olhos azuis escuros. O garoto também era extremamente magro.

— Você é Martinez Engasia?

— O que você acha!?

Ele começou a se aproximar da gente, Harvey segurou meu pulso e tentou me puxar para trás,
mas eu não me movi.

— Aliás, ninguém respondeu minha primeira pergunta. O que vocês querem comigo?

— Martinez, precisamos de você para nos ajudar.

— É algum tipo de piada?

— Deixa eu terminar de falar. – disse com um pouco de repreensão, eu estava com medo.

Ele veio na minha direção e encostou seu rosto de frente para o meu, ele segurou meu queixo
e sussurrou:

— Você não sabe com quem você está falando, toma cuidado garotinha...

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— Se afasta dela. – Selina disse em um tom firme e ameaçador.

— E se eu não quiser? – ele pegou meu pulso e apertou encarando-a.

Harvey foi até o menino e puxou pelo ombro para longe de mim.

— Estamos indo atrás de quem roubou as pedras de cada cidade e precisamos de mais pessoas
para nos ajudar. – Selina disse.

— Vocês não conseguem trabalhar entre si?

— Só falta você para completar a equipe. – Giselly respondeu rapidamente.

— Nem ferrando.

Ele disse e saiu correndo.

— Amélie escolhe outra pessoa, vai... – Tommy disse.

— Eu não fiz outra escolha quando você cogitou fugir. Vamos dar uma chance para ele. –
Respondi.

— Amélie!? – Selina ergueu uma sobrancelha, um pouco indignada com minha resposta. – Se
você realmente der essa chance para ele, vai ser do meu jeito!

— Por quê?

— Porque você é ingênua, eu não. Por isso deixa que eu comando.

Selina começou a andar e nós a seguimos. Eu não me acho ingênua, talvez ele esteja agindo
cruelmente, mas todos deveriam ter uma chance. Quem sabe ele possa mudar de ideia com
uma boa conversa. Ok, talvez eu realmente seja ingênua em acreditar que um garoto com essa
mentalidade pode mudar de ideia facilmente, além que ele poderia ter me machucado se não
fosse por Harvey.

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Nós o encontramos sentado em um bar.

— Selina, sem nenhum tipo de agressão. – alertei.

Ela revirou os olhos e foi na direção dele, vi eles conversando então o garoto começou a se
mexer de um jeito robótico e os dois andaram para onde nós estávamos. Demorei, mas percebi
que o garoto estava sendo controlado, ele manteu os olhos em uma só direção e continuava se
mexendo roboticamente. Ela não disse nada e apenas andaram para longe do bar, nós a
seguimos e vimos Selina dar um soco na cabeça dele.
Coloquei as mãos na testa e suspirei.

— Problema resolvido, e agora?

— Eu quero dar uma olhada no carro. – Tommy disse.

— Procurem um lugarzinho para vocês ficarem, nós vamos ver o que fazer. – Eddie
continuou.

— Posso ir com vocês? – Giselly perguntou.

— Desde quando você mexe com isso? – Selina cruzou os braços.

— Sou mais inteligente do que você pensa. Eu posso ajudar eles. – A loirinha sorriu, se
exibindo.

— Olha eu não sei se beijos vão ajudar a consertar o carro, mas vá em frente. – Ela riu e eu vi
que Eddie também riu.

— Ok, já pode parar com essa provocação. Somos amigos, certo? – Gi disse calma se virou
para trás para olhar para Eddie.

— Certo. – Ele balançou a cabeça.

— Tudo bem, vamos logo. - Tommy puxou os dois.

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Então eles foram andando até sumirem de vista.

— Sei de um lugar que a gente pode ficar. – Harvey disse.

Começamos a andar e eu me preocupava toda vez que via Selina arrastando o corpo do
menino desmaiado pela cidade inteira, afinal poderiam pensar o pior. E o melhor é que ela
pegava atalhos para que ninguém visse nada, engraçado e suspeito ao mesmo tempo.
Chegamos em uma casinha, bem pequena o que me lembrava a casa de Selina. Não tinha
ninguém lá, entramos e a garota começou a arrastar Martinez até uma cadeira.

— Você está bem? – Harvey me perguntou.

— Sim, por quê?

— Parece exausta.

— Estou mesmo, mas eu estou bem, obrigada. – Sorri. — E você?

— Eu não sei. Não estou acostumado a ficar tanto tempo fora do castelo, longe da família. Só
estou ficando meio nervoso e estressado. – Ele se sentou no pequeno sofá.

— Fica tranquilo, daqui vamos direto à raiz do problema e depois vamos para casa.

Me sentei ao lado dele e coloquei minha mão sob seu ombro.

— Sabe, eu também não costumo ficar tanto tempo longe da família. – Confessei
rapidamente.

– Mas eu não dependo extremamente deles, por isso acredito que estou mais tranquila.

— Eu não sei o que é isso. – Ele riu. – Eu tenho que depender dos meus pais para tudo e
ainda, porque eles acham que eu sou uma criança... Eu não fui igual ao meu irmão que está
fazendo uma espécie de intercâmbio em outro reino.

49
— Irmão? – perguntei.

— Sim, eu tenho um irmão mais velho. Ele saiu de casa cedo e eu acho que minha mãe não
quer que eu faça igual.

Oh, então é por isso que ela me pediu para cuidar dele quando fomos sair do castelo. Ela deve
ser bem superprotetora. Isso explica tudo, explica até o porquê de Harvey não saber se virar
tão bem sem minha ajuda, vai por mim, estou a tempo o suficiente com ele para perceber isso.

— Aconteceu alguma coisa na sua família? – perguntei, mas logo que ele abriu a boca para
responder, minha atenção de voltou para Selina. – O que você está fazendo?

— Cuidando do nosso problema. – Ela respondeu.

— Amarrando-o na cadeira? Onde conseguiu essa corda? — Me levantei e Harvey continuou


sentado.

— Calma, não vou torturar ele, é só para ele não fugir.

— Selina o soco que você deu nele não vai deixá-lo inconsciente por muito tempo né? – me
abaixei na direção do menino e analisei seu rosto.

— Acho que não.

— Precisamos dele e da resposta dele. – enfatizei.

— Sim, eu sei. – Ela respondeu estressada por eu estar falando o óbvio.

— Harvey! – chamei ele – Que tal procurarmos comida?

— Boa ideia. Selina, tome conta dele e tome muito cuidado. – Ele respondeu.

— Fica tranquilo que eu sei me virar.

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Saímos de casa e começamos a andar pela cidade, pedi para ele me acompanhar para termos
um momento a sós, nos conhecer melhor e ainda vamos jantar no final! Só coisas boas.

— Então, eu tinha feito uma pergunta. Quer falar sobre isso? — comecei.

— Pode ser. – ele respondeu – Minha mãe teve um filho antes de mim e depois do meu irmão
mais velho. Mas estava tendo a guerra dos reinos, e por um descuido meu irmão entrou no
campo de batalha e acabou falecendo. Ele tinha dois anos e minha mãe se culpou muito por
isso. Quando eu nasci, ela queria e ainda quer me proteger de tudo, mas ela não aceita que eu
cresci e não sou mais uma criança, eu sei me virar e não preciso mais de cuidados especiais.

Sabia. Sentimento de culpa, geralmente resulta em superproteção. Eu sei que disse que não
trabalho com a mente humana, mas isso é algo que aprendi com meus irmãos. Eles nunca me
deixavam pedir desculpas pelos meus erros bobos de criança, diziam que é normal errar e que
eu teria outra chance. Falando em irmãos, que saudades deles, pode até existir momentos que
eu desejaria ser filha única e ache desnecessário ter dois irmãos, mas as brincadeiras entre
outras coisas me fazem sentir saudades. Espero que estejam bem.

— Sinto muito por isso, mas você pode conversar com ela sobre isso, explique que ela não
precisa mais de tanta preocupação e que apesar do que aconteceu, tudo se resolveu e está tudo
bem. – Respondi.

— Eu tinha medo de conversar com ela, eu tinha medo de magoá-la, porque ela se considera
uma ótima mãe.

— Ela parece uma boa mãe, mas é o poder do trauma sobre ela. Tenta conversar com ela,
promete que vai tentar.

Segurei as mãos deles, as levantei e nós dois respiramos fundo, ao mesmo tempo, sorrindo.

— Prometo.

Levantei as sobrancelhas e sorri.


Paramos em frente a um mercado, Harvey pegou a carteira e contou alguns trocados que ele
tinha consigo.

51
*
Pov. Narradora:

Selina estava sentada na pequena sala, desfiando um pedaço de tecido que encontrara jogado
por ali, ficou ali com a mente divagando. Até ela ouvir resmungos, se aproximou do menino
com cuidado e ele abriu os olhos devagar.

— Oi gata. – Ele abriu um sorriso bobo.

— Eita, a pancada teve efeito. – Selina resmungou.

Martinez tentou de mexer e logo percebeu que estava preso.

— Vamos parar com a brincadeira, por que eu estou preso?

— Eu vou ter que responder? Você não teve amnésia, teve?

— Nunca. Seria decepcionante esquecer a garota que me deu um soco enquanto eu estava na
minha. – O silêncio permaneceu ali por alguns segundos. – A morena namora?

— Estava tão bom quando você estava em silêncio, quieto...

— Vai me libertar daqui pelo menos?

— Não é isso que eu quero ouvir. Não tem nada mesmo para dizer?

— Ah, é aquele assunto chato lá, eu já disse que não vou aceitar.

— Você não quer ajudar salvando o reino? – ela insiste.

— Por que eu faria isso?

52
— Porque talvez sua casa não seja destruída, os seus amigos e familiares não vão morrer, a
sociedade vai voltar a ter paz e harmonia e ninguém vai sofrer.

— Fala como se não tivesse desigualdade no mundo. – Martinez arqueou as sobrancelhas.

— Essa não é a questão, tudo estava melhor antes, não tinha gente morrendo no meio das
ruas, por exemplo. Isso só aconteceu durante a Guerra dos Reinos, e isso tem quase trinta
anos. Trinta anos vivendo em harmonia.

Martinez riu.

— Garoto, eu estou falando sério. O futuro de Georse depende da sua escolha. Nós podemos
deixar você me paz, mas por causa da sua ausência tudo pode dar errado e todo o reino de
Georse vai por água abaixo.

O sorriso do jovem sumiu, ele ficou pensativo. Selina molhou os lábios e começou a se afastar
dele.

— A escolha é toda sua.

— Mas eu só queria viver minha vida. – Martinez confessou.

— Você não vai ter uma vida se não nos ajudar. – Selina disse firme.

— Eu não estou a fim de me envolver nesse tipo de coisa, por que vocês não escolhem outra
pessoa?

— Isso você deve perguntar para a Amélie.

— Quem? A moreninha com quem eu brinquei!?

— Ela mesma, inclusive... – Selina andou até o garoto e lhe deu um tapa no rosto. – O soco
que te dei antes não valeu pela Amélie.

53
Martinez com o mínimo de esforço, conseguiu chutar as pernas da garota, e ela devolveu com
outro tapa (mais forte).

— Você não vai aceitar mesmo né? Tudo o que te disse, não comoveu nem um pouquinho? –
ela disse passando as mãos na perna.

— Não.

— Tudo bem, eu tentei, vai ter que ser pela ameaça.

Selina pegou uma corda fina de palha que estava jogada no chão e colocou em volta do
pescoço de Martinez.

— Aceita! – ela gritou.

— Você vai me matar só porque eu recusei?

— Sim! Aceita... – ela sussurrou apertando mais a corda contra o pescoço dele.

Martinez começou a gritar e poucos minutos depois a porta da casa se abriu e Amélie e
Tommy apareceram.
*
Pov. Amélie:

Abri a porta da casa já com medo, escutava gritos e pensei comigo mesma: “Selina não faria
isso, certo?!”, pelo visto eu estava errada.

— O que está acontecendo? – Harvey jogou as comparas no chão e foi até os dois.

— Selina, você não pode agredir todo mundo. – Eu disse cruzando os braços e indo
lentamente até eles.

— Tentei negociar com ele, ele não aceitou. Era melhor partir para a ameaça.

54
— Tudo bem! Tudo bem! Eu aceito! – Martinez gritou.

— Que oferecido, só porque sua “moreninha” está aqui.

— Moreninha? – Harvey perguntou e me olhou, sentindo ciúmes da provocação do meliante.

— Não é por isso. – Ele disse – É só porque eu não quero morrer desse jeito.

— Ótimo! – Eu disse indo até ele, enquanto desamarrava a corda que estava enrolada nele e
na cadeira, ele sorriu para mim.

Sorri gentilmente de volta e terminei de soltar ele.

— Será que os meninos arrumaram o carro? Selina, consegue ver?

Selina olhou para o nada e ficou parada por alguns segundos.

— Eles não conseguiram, pelo visto vamos ter que ir a pé.

— O que você fez? – Martinez perguntou.

— Eu vi o presente deles.

— Como?

— Eu consigo ver o presente de outras pessoas.

— Consegue ver o presente da minha mãe?

— Eu preciso conhecer a pessoa, pelo menos por vista. – Ela disse meio chateada.

— Ah... – ele murmurou

55
A porta foi aberta e Eddie, Tommy e Giselly chegaram na casa.

— Vocês não conseguiram né!? – Eu disse.

— Não, não temos peças reservas, o estrago foi mais intenso do que vocês pensam... –
Tommy respondeu.

— Como vamos chegar na raiz do problema? – Harvey olhou para mim.

— Bem, minha ideia inicial era pegara foto por foto de cada adolescente e pedir para Selina
localizar cada um para ver o culpado. – Ouvi ela resmungar – Só que iria demorar uma
eternidade, então é melhor procurarmos e fazer de tudo para conseguir informações.

Não quero que eles saibam, mas eu não tenho um plano B. Eu fui encarregada para essa
missão, não posso vacilar, caso contrário a vida desses jovens que eu convoquei estariam em
extremo risco. Sem planos, sem atitudes, mais demora para tudo voltar ao normal.
Nunca me vi tão sobrecarregada, preocupada e estressada como estou agora. Eu preciso de
saúde (física e mental) para continuar e eles precisam de mim para continuar. Eu preciso estar
disposta, mas quanto mais demora, mais problemas.
Conseguir informações é um bom plano, mas pode ser demorado, então... O que eu faço?
Harvey não consegue se virar tão bem por conta própria, ele querendo ou não. Então não
posso largar essa responsabilidade na mão dele.

— Giselly pensou em algo que eu acho que ela deveria compartilhar. – Eddie disse.

— Eu estive pensando muito e cheguei à conclusão de que: não temos poder o suficiente para
derrotar o vilão. – Ela disse fitando o nada.

— Como não? Eu juntei todas as cidades! – respondi.

— Não juntou não. A pessoa pegou as pedras vitais de todas as cidades, incluindo Opala.

— Opala tem uma pedra vital? – Selina perguntou.

56
— Claro que tem. A diferença é que a pedra foi feita pela civilização de lá, com o poder de
lá. – Ela explicou – E para que nós possamos derrotar essa pessoa, nós precisamos ter os
poderes de todos, incluindo Opala, para poder criar um poder mais forte.

— Droga, eu não queria isso. – Reclamei cruzando os braços.

— Por quê? – Harvey perguntou.

— Não gosto das pessoas de Opala, são traiçoeiros. – Respondi alisando meus braços por
sentir um arrepio ao falar dessa cidade.

— Mas ele deve jurar confiança, tecnicamente ele estaria trabalhando para a rainha então
tudo que ele fizer, tem uma consequência. – Selina apontou.

Agora isso, eu realmente não quero chamar ninguém de Opala para essa missão, não gosto
deles e não confio neles. Tem grandes chances de sermos traídos por alguém de lá, aliás,
tenho certeza de que a raiz de todo o caos vem de Opala, ou pelo menos tem algo a ver.

— Eu preciso pensar. – disse. – Olhem só, está ficando tarde. Preciso descansar minha mente
e o meu físico e vocês também, não acham?

Eles concordaram.
A casa era pequena demais, tinha uma cama de casal e uma de solteiro. Eu optei por dormir
na sala onde também estava Harvey.

57
Capítulo 7

Essa deveria ser uma noite para descansar, faz semanas que eu não durmo bem e isso está
acabando comigo, são tantas questões na minha cabeça e eu não disposta a lidar com todas
elas.
Me levantei do sofá e caminhei para a cozinha, olhei pela janela e aproveitei para refletir.
O que será do meu futuro? E do futuro dessas pessoas? Todas elas estão aqui por um motivo
e com uma missão, mas e se der tudo errado? O que vai ser de nós e de Georse? Será mesmo
necessário chamar alguém de Opala?... Mas se eu não chamar, tudo pode realmente dar
errado.
Comecei a tremer, minha respiração começou a falhar e meu coração estava a mil. Andei de
um lado para o outro tentando me acalmar até que percebi que era melhor pedir ajuda. Eu
nunca senti isso, nunca me ocorreu. O que está acontecendo?
Fui até Harvey e balancei seu corpo.

— Harvey acorda, por favor... – disse gaguejando.

— O que aconteceu Amélie? – ele respondeu sonolento.

— Eu também não sei, preciso de você.

Ele se sentou no sofá e me encarou, sua expressão fácil logo mudou quando ele percebeu
meus olhos ficando vermelhos, enchendo de lágrimas.

— O que aconteceu? – Ele me puxou rapidamente para o sofá e me abraçou.

Desmoronei.

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Senti o príncipe me abraçar cada vez mais forte e acariciar minhas costas enquanto eu
soluçava, repetia constantemente que estava tudo bem. Ele se levantou e foi correndo até a
cozinha e voltou com um pedaço de gelo nas mãos.

— Segure. – Ele entregou o gelo para mim.

Minha atenção se voltou ao gelo derretendo e queimando minha mão, aos poucos toda aquela
sensação sumiu e eu já estava respirando normalmente novamente. Respirei fundo e enxuguei
as mãos nas roupas.

— Se sente melhor? – ele perguntou.

— Sim, muito obrigada. – Respondi baixo.

— Agora, quer conversar sobre o que aconteceu?

— Só estava pensando. Você acha que a gente vai conseguir acabar com isso tudo?

— Na verdade, talvez seja bem difícil, o poder de Opala é suficiente para nos ajudar.

Cruzei os braços, não era essa a resposta que eu queria, e ele sabe disso muito bem.

— Eu sei que você não quer chamar ninguém de Opala para a missão, mas talvez essa seja a
única forma de conseguirmos salvar o reino. Nem todos de lá podem ser traiçoeiros, não é
porque eles são de Opala que são todos maus. Pense bem, ok? Descanse agora.

Ele beijou minha testa, caminhou de volta para o sofá e adormeceu novamente.
Pensei nas palavras de Harvey. Vai ser uma ótima oportunidade para eu perder esse
preconceito.
No dia seguinte, eu estava sentada no sofá procurando no documento alguém de Opala. O que
foi frustrante, não encontrei ninguém de lá. Tiveram tempo o suficiente para excluir todas as
informações de todos da ilha.

— Por que não acho nada sobre eles? – perguntei olhando para Harvey.

59
— Não encontrou ninguém?! — Ele perguntou e balancei a cabeça.

— Aqui deveria ter páginas de pessoas de Opala, certo?

— Acho que depois da guerra dos reinos eles imprimiram tudo de novo, excluindo as pessoas
de Opala.

— Faz sentido, Opala não faz parte do reino. – Tommy comentou.

— Não? – Selina perguntou.

— Existe ainda uma grande burocracia para decidirem isso oficialmente. – Ele respondeu. –
Eu e muitas pessoas pelo menos não os consideram daqui.

— Isso só por que eles estão numa ilha no nosso território? – ela perguntou novamente.

— Estou dizendo que você precisa estudar história. – Giselly se ajeitou na cadeira e então
disse – A guerra dos Reinos, aconteceu porque uma pessoa que veio de uma cidade antiga, a
atual ilha Opala, tentou aplicar um golpe de estado nos governantes da época, antes dos pais
do Harvey virarem os reis atuais, ou seja, os avós dele. Então a sociedade se dividiu, em quem
estava a favor dessa pessoa e nas pessoas que estavam do lado dos reis. A guerra durou oito
anos e nesse meio tempo o pai do Harvey conseguiu se tornar rei por conseguir tomar ótimas
atitudes em relação a esse povo. O povo de Opala perdeu a guerra, e o rei todas as pessoas que
estavam contra seu reinado foram exiladas na ilha que aquela pessoa veio. Então o rei baniu
aquela ilha do território do nosso reino, e ela acabou formando seu próprio governo e se
tornando um outro reino com o nome atual de Opala. Mas, tem alguns anos que a rainha e o
meu pai estão querendo mudar isso.

— Uau. – Selina resmungou.

— Você é inteligente. – Eddie disse.

Giselly sorriu para ele.

— Mas isso é história básica. – Martinez balançou os ombros.

60
Todos ficaram em silêncio.
Balancei a perna e acabei derrubando a pasta, quando fui pegá-la de volta uma folha caiu de
lá. Peguei o papel e analisei, parece que o destino está ao nosso lado. São informações de uma
menina de Opala.

— Olhem o que eu encontrei. – Mostrei o documento para eles.

— Quem é? – Martinez perguntou.

— Lilith Opala.

Selina pegou o papel da minha mão.

– Ela é bem bonita. – disse com interesse.

Peguei o papel de volta e analisei a ficha dela. Filha de Ravena Opala, seu poder consiste na
escuridão da morte, mas ele foi “desativado” pelo governo do rei George.

— Olha. Aqui diz que o poder dela foi desativado.

Selina pegou novamente o papel da minha mão, franziu a testa cruzando os braços.

— Ela é filha de Rainha, deve ter reativado o poder faz tempo. – Ela apertou os olhos e me
entregou o papel.

- Principalmente se tratando da rainha da maldade. – Martinez riu.

— Tudo bem, vocês têm certeza de que vão confiar essa missão a ela? – Perguntei séria,
guardando o documento na bolsa.

Alguns balançaram a cabeça e outros responderam um baixo “sim”.

— Vamos alugar um barco para ir até Opala. – Harvey mordeu o lábio inferior.

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Ele deve estar mais preocupado que eu.
As meninas foram no quarto do segundo andar pegar as malas e voltaram em instantes.
Fomos andando até um cais. Foram duas horas de caminhada e eu não aguentava mais ficar
em pé. Harvey foi até a cabine onde se aluga os barcos, agora era ter a esperança que eles vão
permitir.
Estava de braços cruzados com a cabeça deitada.

— Ei. – Selina passou as mãos nos meus ombros para me chamar, levantei os olhos. – Tem
certeza disso, certo?

A vontade era responder "não".

— Sim, se for para nos ajudar, lá vamos nós... – Respondi sem um pingo de animação.

— Espero que dê tudo certo. – Ela disse. – Você acha que aqueles dois vão ficar juntos?

Ela apontou para Giselly e Eddie que estavam conversando olhando para o horizonte, Eddie
estava com o braço em volta da cintura de Giselly.

— Fazem um ótimo casal. – Respondi. – São tão fofos.

Selina arregalou os olhos querendo rebater minha opinião, que bom que não deu tempo. Não
estava a fim de brigar.

— Entre nesse primeiro barco agora! – Harvey chegou correndo e mandou.

— O que aconteceu? – perguntei.

Ele não respondeu e só arrastou todo mundo para o primeiro barco que tínhamos visto.
O príncipe foi correndo até o volante e ordenou que Giselly e Tommy puxassem as ancoras e
mandou Eddie e Selina empurrem o barco rapidamente.
Assim foi feito e começamos a velejar.
Giselly amou o contanto próximo que ela tinha agora com o mar, ela foi até a beirada do
navio e suspirou. Selina e Tommy estavam sentados no chão, eu em pé e Eddie estava
apoiado na parede da cabine com as mãos na cabeça. Ele parecia nervoso.

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— Tudo bem? – fui até ele e perguntei.

— Passo mal em viagens de barco. – Ele respondeu.

— Olhe para um ponto fixo no horizonte. – disse e me afastei indo até Harvey.

— Tudo certo? – perguntei.

— Sim.

— Você consegue dirigir a noite?

— Sim.

Ficamos em silêncio por alguns segundos.

— Por que você mandou a gente correr para o barco? – Perguntei.

— Porque eu o roubei. – Ele disse em alto e bom tom.

Todo mundo que estava ali incluindo eu fiquei bem surpresos.

— A gente precisava de um barco, o dono que não quis negociar. – Ele respondeu calmo.

— Entendi...

Respondi ainda surpresa e andei até Selina e Tommy que estavam sentados no chão, me juntei
a eles.

— Quem diria... – Selina disse com um sorrisinho esboçado no rosto encarando Harvey.

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Fechei os olhos, respirei fundo e ouvi o barulho do mar, a brisa do vento batendo em meu
rosto, o barco balançando levemente... Não ando de barco com frequência.

— Eu precisava de um banho. – Giselly andou até a gente e disse, me tirando da calmaria.

Estou a tempo suficiente com eles para perceber que a Giselly é bem limpinha, deve tomar
dois banhos por dia. O que me faz pensar que metade do dia dela se resume em pentear e
finalizar seus cabelos.
Não é uma brincadeira minha, o cabelo de Giselly bate na cintura e é cacheado, deve dar
muito trabalho lavar e cuidar, sei disso porque tenho cachos médios, sou a cópia viva de meu
pai, principalmente de quando ele era mais jovem, ele tinha cabelos cacheados, negros e
médios, olhos castanhos esverdeados e puxados, a pele castanha... Puxei tudo nele menos a
personalidade.

— Se joga no mar. – Selina respondeu ironicamente.

A princesinha caminhou em direção a borda do barco.

— Eu estava brincando! – Selina gritou – Ela vai mesmo se jogar?

Como eu disse, ela deve ser tão limpinha que eu não duvido nada que ela realmente faça isso.
Mas Giselly se virou para o lado e caminho para trás da cabine, onde Eddie estava quando eu
fui ver ele.

— Ela deve ter ido ver como o Eddie está. – comentei.

Ficamos em silêncio, voltei a prestar atenção no balanço do mar, no vento, no barulho que as
águas faziam, mas tudo foi interrompido por Tommy que soltou uma risada. Me assustei tanto
que apertei o braço de Selina e uma mão eu levei ao coração.

— Você quer infartar a gente? – me estiquei o suficiente para acertar um tapa na cabeça dele.

– Quem que começa a rir assim, do nada?

— Desculpa – ele riu – Mas ver o Harvey parado que nem estátua é muito engraçado.

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— Homens... – Selina molhou os lábios e franziu a testa rapidamente.

Me levantei e andei até onde Giselly tinha ido, vi ela e Eddie apoiados na borda do barco, a
loirinha passava a mão nas costas dele. Ela se virou para trás rapidamente e me viu.

– É normal passar mal em viagens de barco. Quer saber, leve ele para a popa do barco, lá
balança menos.

— Uh, claro, obrigada. – Ela disse e ajudou Eddie a se levantar. – Onde fica isso? – parou de
andar e me perguntou.

Sorri e levei eles até a popa do barco, acendi a luz do lugar e Giselly rapidamente se sentou
com ele no chão. Martinez também estava lá sentado, cochilando.
Aqui é um bom lugar para dormir, tinha até um colchão encostado na parede. E faz um bom
tempo que eu não tenho boas noites de sono.

— Se vocês não se importam, eu vou dormir ali...

Me deitei no colchão e finalmente conseguir dormir em paz.


Acordei com uma pancada que o barco deu, por pouco não bati a cabeça na parede. Giselly e
Eddie dormiram um encostado no outro.
Fui até convés onde Harvey deveria estar dirigindo. O vi sentado na beira do barco, me
aproximei dele e tive a sensação de que quase o assustei, apoiei minha cabeça em seu ombro e
sorri para ele.

— Se quer saber... O barco tem piloto automático. – Ele disse quase sussurrando

— Tudo bem, nem estava preocupada com isso. Confio em você. – Eu respondi. – Todo
mundo dormiu?

— Sim.

Ele respondeu sem me olhar, seus olhos estavam fixos no nada. Parecia tenso.

— O que houve? – me afastei um pouco dele.

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— Nada, só estou pensando, essa é minha expressão normal.

Comecei a rir.

— Você fica com cara de bravo normalmente?

— Eu nunca percebo, mas me falam que sim. – Um sorriso se esboçou em seu rosto.

— Que bom que está bem. – Sussurrei.

Por poucos segundos seus olhos se fixaram em meus lábios, pensei em estar sonhando, será
que eu realmente bati a cabeça na parede? Eu não senti nenhum clima entre nós, mas ele
sentiu.
E em segundos, eu estava beijando o filho da rainha. Senti um leve desespero e falta de ar,
mas não pensei em afastá-lo.
Ele se afastou rapidamente e sorriu nervoso.

— Me desculpa. – Ele implorou, rindo.

Me prendi em meus pensamentos e estava boquiaberta, o que ele viu e mim?


Molhei os lábios e fui até ele, me segurei bem firme para não cair com o balanço do mar. O
desespero e a felicidade tinham tomado conta de mim então comecei a rir. O beijei em meios
aos risos, se cessaram quando ele passou as mãos pela minha cintura. Resolvi dar um leve
empurrão nele.
Nos sentamos um ao lado do outro e não pude conter meu sorriso bobo.

— Está a fim de fazer o almoço amanhã? – mudei de assunto.

— Faço... – ele bagunçou meus cabelos e meu sorriso sumiu.

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Capítulo 8

Ficamos a noite toda conversando e quando menos esperamos, já estava de dia. Fui sentir
sono de novo devia ser umas oito da manhã, mas não me rendi, estou acostumada a ficar sem
dormir.
Harvey foi dar uma olhada no caminho que estávamos e eu fiquei sentada num banquinho que
tinha na beira do barco, fiquei de olhos fechados fazendo aquela minha meditação (quando eu
percebo tudo ao meu redor através dos movimentos, sentimentos etc.)

— Bom dia! Eu acho. – Giselly gritou aparecendo no convés.

— São dez da manhã. – Harvey disse olhando para o relógio de pulso dele.

— Acordei um pouco tarde. – Ela resmungou.

Revirei os olhos levemente indignada com o que acabei de ouvir. Lembre-se Amélie, vocês
têm estilo de vida completamente diferentes. Bem que eu queria ter um dia tão produtivo
como o da loirinha deve ser ao ponto de cogitar em dizer que dez da manhã é tarde.
Talvez seja mau humor por ter virado a noite, ou o beijo de Harvey teve algum efeito sobre
mim. Talvez eu esteja precisando de outro para ficar mais alegre.

— Vou dormir. – Avisei.

— De novo? – Giselly perguntou. – Você dormiu a tarde toda ontem.

— Giselly, querida, você deveria ir dormir também, essas olheiras dizem muito sobre sua
noite. – Passei as unhas de leve no rosto dela.

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Ela me encarou com aquele sorrisinho maroto no rosto.

— O que você fez? – Sussurrei.

— Pode ir dormir, depois eu te conto.

— Achei que você queria me ver cozinhar. – Harvey gritou.

Já tinha descido algumas escadas então não entendi o que ele quis dizer.
Algumas horas depois eu acordei com alguém me balançando, era o Eddie.

— Harvey mandou te chamar para o almoço.

Subimos de volta parta o convés e eu vi a melhor cena da minha vida: Martinez cozinhando
uma panela que Eddie estava segurando enquanto Harvey deixava a mão com cones de gelo
embaixo do objeto e Tommy deixava uma lupa meio quebrada que ele encontrou por ali,
fazendo o sol refletir no gelo e o derreter. Talvez pelo vapor que aquilo vai causar na falta do
fogo, ou eu sei lá o que. Eles disseram que era a melhor maneira de esquentar a comida.
Eles estavam em uma roda, me sentei ao lado de Giselly e olhei para todos os lados.

— Onde está Selina?

— Dormindo, ainda. – Eddie respondeu.

— Que horas são?

— São meio-dia e quarenta e sete. – Harvey respondeu.

— Ela acorda bem tarde... – Giselly riu e me encarou rapidamente, lembrando de algo. –
Tenho que contar uma coisa! – ela sussurrou.

Balancei a cabeça e ela me arrastou para o outro lado do convés, onde não tinha ninguém.

— Conta! – pedi ansiosa.

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— Ontem à noite, quando você não estava mais na popa. O Eddie me beijou.

— Só isso? – perguntei. – Suas olheiras dizem outra coisa.

— A gente só ficou, até porque o Martinez também estava lá.

— Giselly... – sorri, pensei seriamente se contava sobre minha noite ou ficava quieta.

— E você? – ela perguntou – Encarou o príncipe a manhã toda sorrindo, aconteceu alguma
coisa entre vocês?

— Bem, ele provavelmente gosta de mim agora, ou já gostava... É estranho. Eu pensei que
vocês se gostavam.

— Amy, ele é meu melhor amigo, é como meu irmão. Eu não seria capaz de me apaixonar
por ele.

— Tive uma ideia! – quase gritei. – Pergunte a ele o que ele sente por mim, vocês são tão
próximos que ele não poderá mentir. Só não diz que fui eu quem pediu.

— Boa ideia. Vamos almoçar primeiro.

Voltamos para perto de todos.

— Alguém vá acordar o resto do pessoal? – Harvey pediu.

Então eu e Eddie nos levantamos e fomos acordar Selina que estava dormindo encostada em
uma parte do convés. Ela acordou com um pouco de dificuldade e nós fomos comer, ficamos
sentados em uma roda e aproveitamos o momento para conversar e até nos conhecer melhor.
Sobrou bastante comida e enquanto eu estava guardando a grande panela nos armários de algo
que eu acredito ser uma cozinha, vi Giselly puxar Harvey para a proa do barco e conversar
com ele, tentei não os encarar e disfarçar meu interesse. Desde que eu conheci Harvey, nós
nos ajudamos sempre que podemos e ele, quando nós fomos no mercado buscar comida, ele
flertou comigo. Eu me fingi de maluca e que não tinha percebido ou entendido o que ele tinha
falado. Ele deve ter gostado de mim, faz quase três semanas que estamos juntos, nos
conhecemos bem e algo deve ter interessado ele.

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Apesar de eu confiar nele, acho pouco tempo para nos apaixonarmos, não sei se senti algo por
ele. Mas, o beijo que demos ontem à noite me fez despertar algo, Harvey é gentil, carinhoso,
trata todos bem e tem muito respeito. Quando falamos de assunto sério, ele age como seu pai,
um adulto sábio e inteligente. Além de ser bonito, não vou mentir, Harvey tem cabelos lisos e
bem curtos, loiros quase brancos ou platinados... Sei apenas que eles são naturais, olhos azuis
cristalinos que imagino que possam quebrar como vidro... Sinto minha pele esquentar toda
vez que penso especificamente em sua aparência.
Ele é quase o homem perfeito, mas isso não existe. Ainda não encontrei seu pior defeito (não
que eu queira encontrar), mas que ele seria um homem incrível para se relacionar... É
verdade!
Giselly entrou disfarçadamente na cozinha e olhou pela janela para ver se Harvey estava de
olho em nós.

— Fiz o que me pediu e tenho resultados ótimos! – ela se empolgou, levantei as sobrancelhas
e sorri, indicando que estava prestando atenção. – Primeiro que ele parecia envergonhado de
falar sobre o que sente, depois ele disse: “Amélie é uma garota incrível, eu faria de tudo para
ficar com ela, ela é tão sábia, sabe tomar boas decisões e enfrentar seus medos. Ela também é
bem bonita, você devia ter imaginado minha reação quando eu a beijei!”

Gelei, meu sorriso se desfez, era apenas vergonha por mais alguém saber dessa noite.

— Inclusive, por que não me contou sobre o beijo? – Ela me perguntou antes de continuar.

— Achei pessoal demais. – Respondi balançando os ombros. – O que mais ele falou?

— Ele disse que está gostando de você e que é para eu ajudá-lo. Preciso saber do que você
gosta.

— Você o beijou?! – Selina abriu a janelinha da minicozinha.

— Você estava escutando tudo? – Giselly sorriu nervosa.

— Claro. Fofoca boa é fofoca compartilhada. – Ela sorriu de volta. – Ah! O Martinez e o
Tommy estão implorando para você mostrar o seu poder.

Saímos da minicozinha e Giselly foi até a borda do barco e se esticou o suficiente para tocar
na água, quando fez, a água dos dois lados do barco se levantou e se cruzara bem em cima da
gente, o que também formou um arco íris. Foi lindo, e todos ficaram admirados. Menos o

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Eddie que vomitou do outro lado do batel, Giselly se preocupou e desfez a “magia”, enquanto
ela corria para o parceiro toda aquela água em cima da gente caiu e molhou a todos.
Em meio aos risos, Selina me arrastou até a popa do barco.

— O que? – perguntei ainda sorrindo.

— Só queria conversar e aproveitar a oportunidade para secar meu cabelo, porque dá muito
trabalho. – Ela pegou uma toalha e começou a secar as tranças delicadamente. – Então, você
gosta do Harvey?

— Não sei. – Me rendi ao assunto e me sentei perto dela. – Talvez seja admiração, eu não sei
o que eu sinto por ele.

— Amy, todo mundo percebeu. Vocês dão sorrisinhos bobos um para o outro, confia em
mim, eu entendo de relacionamentos.

— Quantos você já teve? – Me interessei.

— Deixa de ser curiosa e não muda de assunto. O que você sente por ele?

— Olha, o Harvey é legal, inteligente, carinhoso e ele se preocupa muito comigo...

— E ele é rico! – Ela acrescentou. Ignorei o comentário quase irrelevante.

— Ele me trata muito bem e a gente até se beijou. E... – Fui continuar, mas ela me
interrompeu.

— Ele beija bem? – Ela perguntou desfazendo uma trança na primeira mecha do cabelo.

— Selina! – Chamei a atenção dela, morrendo de vergonha, minha pele agora esquentava a
mais do que o normal. Ela apertou os olhos então tive que responder. – Sim... – Sussurrei.

— Nem precisa continuar, você está super caidinha por ele. Dá para perceber. Se precisar de
algum conselho... – ela desfez outra trança, do mesmo jeito da outra, mas dessa vez do lado
direito.

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— Será que ele percebeu?

— Provavelmente. Se bem que... – Ela parou para pensar. – Eu nunca me relacionei com
homens, então não me peça conselhos sobre ele, não vou saber ajudar.

Saquei de primeira o que ela quis dizer, sempre soube disso. Lina tem um jeito mais
masculino que eu particularmente admiro muito, combina com ela. Por meio de estereótipos
que eu fiquei desconfiada, ao menos eu estava certa. Seria bem constrangedor cair em
estereótipos exagerados e acabar julgando alguém errado por isso.
Sorri para ela como uma maneira de dizer: “Aí sim, garota!” e trocamos um high five.

— Vamos subir, cansei de ficar aqui embaixo. – Sugeri.

Subimos para o convés, não tenho muito o que dizer, ficamos conversando e até brincamos,
como crianças... Aquilo fez com que eu me sentisse viva, e me lembrou mais ainda de meus
irmãos.

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Capítulo 9

Naquela noite a ventania foi um pouco forte, admiro quem dormiu bem. Pela manhã apenas
eu, o príncipe, ela e Eddie estavam no convés. Eu estou ali com Harvey todas as noites para
lhe fazer companhia. E em todas elas aconteceu o mesmo: O beijo. Harvey adorou essas
visitas e pode apostar que eu também.
Giselly queria muito nos contar algo naquela manhã, ela se atrapalhava toda hora tentando
criar coragem para falar, para mim isso se chama chamar atenção, mas eu gosto muito de
Giselly para dizer algo assim dela, não que seres humanos não sejam imperfeitos, eu apenas
penso isso sobre algumas atitudes da minha amiguinha. Por fim, quando todos estavam no
convés reunidos ela foi toda animada chamar nossa atenção.

- Encontrei esses papéis na popa do barco. E se nós escrevermos cartas para nossos parentes
dizendo que estamos bem!? – Ela sorriu e seu rosto todo se iluminou.

- É? E quem vai enviar essas cartas para a gente? Sereias? – Selina apoiou a cabeça nas mãos.

O brilho de Giselly diminuiu.

- Ah... Não tinha pensado nisso.

- Você não pensou que a gente ia voltar do outro lado de reino só para enviarmos cartas,
certo? – Ela riu.

- Ei, mas a Mãe água não pode enviar cartas sem molhá-las? – Eddie encarou Giselly
sorrindo, querendo trazer seu brilho de volta.

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- Boa pergunta. – Ela correu até a borda do barco e picou um pedaço do papel. Pude ver algo
como uma mão deixar a loirinha colocar as cartas na água e por incrível que pareça, elas não
molharam. – Ela entregaria. – Voltou para perto de nós saltitando.

Comecei a rir da expressão sínica de Selina ao sentir seu deboche indo embora, em alto e bom
tom.
Então nós começamos a escrever as cartas, todos na maior concentração:

“Queridos mamãe, papai, Ismael e Isaac,


Eu estou bem, está tudo correndo como planejado e não se preocupem, eu me sinto ótima e
estou cuidando de mim. Não se preocupem meninos, eu consegui durar mais de dois dias se a
proteção de vocês, haha. Se eu conseguir, vou enviar mais atualizações em breve, por
enquanto o que eu tenho para falar é isso. Amo muito vocês!”

Reli a carta para ver se estava tudo certo, a dobrei e caminhei lentamente até Harvey.

- Como está indo? – Perguntei, ele parecia preocupado no que escrever.

- Bem, só estou pensando em... Coisas fúteis. – Ele tentou mentir, mas já que ele não quer
falar, não vou insistir. Então preferi fingir acreditar.

- Como você acha que eles vão reagir a isso? Acha que sua mãe vai finalmente ver o
garotinho dela crescendo?

- Bem eu tentei dizer de todas as maneiras que estou bem então espero que leia isso com
clareza. – Ele riu.

Nós fomos juntos entregar as cartas para Giselly, ela recolheu todas as cartas e as entregou
para a Mãe água, tendo toda uma conversa na qual ninguém conseguiu ouvir.
Foi um dia engraçado, os meninos ficaram caçoando do que os outros escreviam aos parentes
para testar tamanha fragilidade a masculinidade deles. Agora é esperar que eles recebam as
cartas.
Se foram quatro dias depois disso. O tédio era geral, não tinha muito o que fazer.
Todos nós acordamos com Harvey nos chamando para o convés, onde fica o volante.
Chegamos em Opala. Sinceramente, nem sinto mais medo daqui.

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— Ok, vamos nos preparando. – Bati palmas e olhei para eles. Todos desceram para a poupa
para pegar as coisas e eu fiquei lá em cima com Harvey. – Está preparado?

— Com certeza. E você?

— É...

Suspirei e encarei aquela cidade por mais alguns segundos. Depois dei uma leve batida no
ombro de Harvey e sorri para ele, ele repetiu o movimento, mas batendo na minha bunda.
Desci para a poupa onde todos estavam pegando malas e até mesmo arrumando os cabelos,
roupas etc. Fiz o mesmo com minhas coisas e sinceramente eu estava parecendo uma
mendiga.
O barco parou em um cais completamente abandonado e a energia do lugar pesou
rapidamente.
Descemos do barco e ninguém ousou em dar um passo, Selina correu para a frente de todos e
colocou as mãos na cintura.

— E então? – Ela nos encarou. – Eu sei onde ela está, percam o medo vamos! – Sorriu e
tomou o caminho.

— Vamos. – Repeti sorrindo – Gosto dessa animação.

Com certeza ela tem motivos para isso.


Andamos para dentro da cidade e permanecemos atentos a qualquer pessoa que passava por
nós. Entre becos e encruzilhadas, chegamos na parte movimentada de Opala. O lugar era mal
iluminado, postes caídos, pontos de incêndio em alguns locais fora a fumaça que nos obrigava
a prender a respiração, barulho de carros de polícia, gente gritando, crianças berrando e tinha
muitas famílias pegando comida no lixo. Isso é quase o normal de Opala, será que eles viram
diferença em algo? Será que sabem o que está acontecendo?
Selina sempre esteve na frente, a seguimos até que ela parou de andar e olhou para os lados.
Um quinteto passou correndo por nós e quase derrubaram Selina. Uma garota pálida de
cabelos longos e pretos parou de correr e olhou para trás gritando. Um moleque apareceu e
correu junto a ela. Logo depois foi o carro da polícia que passou por nós.

— É ela! – Selina apontou.

— Tive uma péssima primeira impressão. – Pensei alto.

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— Eu gostei dela. – Martinez sorriu e olhou para baixo.

— Eu também. – Tommy o encarou.

— Nem vem. – Selina correu na direção que a garota tinha ido e nós as seguimos.

Encontramos ela e o grupinho encostados em um paraciclo. Nos escondemos em um beco ali


por perto e chamei a atenção de todos.

— É agora. Alguém quer ir falar com ela? – Sugeri, mas ninguém respondeu. – Vocês têm
medo?

— Ela pode ser perigosa. – Eddie confessou.

- Somos jovens com poderes, nós sim somos perigosos. – Harvey disse.

— Ela não pode e nem vai, nos matar em público. Eu acho... – disse. – Vamos todos, eu falo
com ela.

— Obrigada! – Selina sorriu e agradeceu por eu poupar o sofrimento de todos.

Andamos até o grupinho de Lilith, eles se afastaram e a “princesa” cruzou os braços.

— Oi, Lilith. Podemos conversar? Fique tranquila, não somos da polícia.

Ela olhou para trás e sorriu.

— Vocês estão em muitos, como sei que posso confiar em vocês? – Ela apertou os olhos, sua
voz é estranhamente doce ou algo nesse sentido. Pela sua voz eu não diria que ela tem
dezessete anos.

— Eles são meus amigos, pode confiar em mim. – Respondi e apontei para meu grupo para
eles se afastarem.

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— Vocês são turistas ou coisa parecida? – ela descruzou os braços e os levou a cintura.

— Não.

— Fazem parte de algum serviço comunitário ou querem me convencer a fazer o bem?

— Não!?

— Trabalham para a rainha Rose?

Droga. Princesinha da maldade, você precisava fazer essa pergunta? Justamente essa
pergunta?

— É... Bem, é mais ou menos isso.

O grupo dela se aproximou da gente em forma de ameaça e a garota andou para trás.

— Calma, deixa eu terminar de falar. – falei com uma mão no peito. – Nós queremos a sua
ajuda, precisamos de você para ajudar o reino de Georse.

Lilith riu escandalosamente e olhou para os amigos que começaram a rir também.

— Vocês têm certeza de que estão falando com a pessoa certa? Tipo, Georse nem é o meu
reino, para que querem minha ajuda?

- Está havendo uma burocracia sobre isso. – Harvey começou.

- Me poupe dos detalhes, garotinho. Nem era para você estar aqui. – Lilith o interrompeu.

Depois do que aconteceu, as famílias brigam e isso é bem chato, mas eu entendo a revolta.

— Bem, um caos se instalou no reino vizinho e o seu reino também está envolvido.

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— Ah! – ela exclamou. – É o lance das pedras vitais, sei bem. Roubaram a nossa também,
mas nós nem notamos a diferença. Aqui já é um inferno sem o poder, a droga de uma pedra
não faz mudança nenhuma.

Ela falou naturalmente e começou a rir da própria desgraça.

— O reino vizinho foi bem afetado e por isso precisamos de você. Queremos juntar poder o
suficiente para conseguir tudo de volta e bem... Você foi nossa única opção.

— Meu poder está em desenvolvimento, tem certeza? – Ela analisou as próprias unhas.

— Absoluta. – Fui continuar a frase, mas ela cerrou os olhos na direção da minha mão e
pegou o documento com as informações dela.

— Nossa eu lembro desse dia, meu cabelo estava horrível. Eu entendi a proposta, mas o que
eu ganho com isso?

— Ninguém vai morrer. – O sorrisinho dela se desfez – Um mundo inteiro salvo... – Seu
brilho só continuou sumindo, então eu apelei para o ponto mais fraco. – E dinheiro.

— Dinheiro? – ela levantou os olhos.

— Sim.

— Tipo quanto?

— Muito.

— Olha, eu até aceitaria, mas minha mãe controla minha vida então... Vai ter que falar com
ela. – Ela iria me entregar o documento, mas mudou de ideia. – Eu vou ficar com isso. Boa
sorte para convencer minha mãe.

Ela começou a andar junto ao grupinho dela, olhei para meus amigos e molhei os lábios.

— Temos um problema. – Sorri.

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Eles resmungaram e fizeram cara de desgosto.

— E agora? Como vamos falar com a rainha? – Giselly cruzou os braços nervosa e deu
alguns pulinhos.

— Eu falo. – Harvey deu um passo à frente.

— Está maluco!? – O encarei. – Sua família não se dá nada bem com a família dela, por
inúmeros motivos. A não ser que você queira morrer.

Giselly analisou Tommy e andou em volta dele apertando os olhos, ela segurou seus ombros e
se animou.

— Sei de alguém que pode fazer isso. – Ela olhou para o garoto.

— Boa! – Selina bateu palmas e apontou para ele. – Tommy se parece muito com as pessoas
daqui quem sabe a rainha não se sente mais confortável em falar com alguém como eles.

— Eu me pareço tanto assim? – Ele bagunçou os cabelos, sentindo orgulho de si mesmo.

— Tommy, você é pálido, tem o rosto fino e tem os cabelos pretos. Se eu não te conhecesse,
diria que você é irmão da princesinha da maldade. – Martinez disse.

— Mas, e se a rainha não for com a minha cara e mandar me matar?

Começamos a andar em direção ao palácio.

— Fica tranquilo, vamos estar aqui te dando apoio moral. – Sorri para ele. – Não parece tão
difícil.

— Então vai você! – Ele tentou recuar.

— Nem pensar, o sacrifício aqui é você.

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Chegamos no grande palácio, chega a dar um arrepio na espinha só de ver as gárgulas lá em
cima, penduradas.

— Vamos fazer o seguinte, Selina e Martinez vão atrás da garota e nós ficamos aqui
esperando o nosso amigo. – Sugeri.

— Nós? – Martinez apontou para eles.

— Algum problema? – Selina cruzou os braços e o olhou.

— Nenhum, madame, só acho que não vamos saber nos virar nessa cidade perigosa. – Ele
juntou as mãos.

— Eu os escolhi justamente porque vocês sabem se virar.

— Qualquer coisa é só dar um soco.

- Selina, não agrida ninguém enquanto estivermos aqui. – Alertei.

- Ok, tanto faz. – Ela disse. – Vai na frente! – ordenou para Martinez.

— Ok, madame. – Ele obedeceu.

Eles se foram, bati no ombro de Tommy que estava quase paralisando na frente das escadas.

— Você fala bem, é só explicar o que você quer. Mas pelo amor, não vá dizer que serve a
rainha Rose.

— Tudo bem. Eu consigo.

— Isso aí garoto! – bati mais uma vez nas costas dele então ele foi. Conversou com os
guardas que estavam no portão, mas a rainha estava do lado de fora do palácio, quando viu
Tommy só o convidou para entrar.

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— Foi bom conhecer ele. – Eddie passou o braço na cintura de Giselly.

— Ele vai ficar bem. – Encarei um pouco o portão e comecei a andar. – Vamos sair daqui da
frente e esperar por ele.

*
Pov. Narradora:

Para sorte ou azar de Tommy, à mercê já estava praticamente na entrada do palácio. Uma
mulher de cabelos pretos ondulados, pele branca como a neve e a aparência de pouca idade.
Ele entrou no palácio e acompanhou a moça até o salão central, o castelo era escuro e todo
feito à base de preto e da arquitetura gótica, eram muitos detalhes para se apreciar o que fez o
garoto quase perder o rumo da conversa.
A mulher o fez parar de andar e um pouco adiante dele, pegou uma xícara de chá que estava
em cima de um carrinho-mesa.

— Diga garoto, o que faz aqui? – ela perguntou.

— Eu preciso conversar com a senhora sobre... – ela o interrompeu.

— Eu nunca te vi por aqui, não é ninguém do reino de Georse, não é?!

— Não vossa mercê! Eu só não saio muito de casa, por isso não deve me reconhecer. Eu
preciso conversar com você sobre um assunto, bem sério.

— Diga.

O garoto se embolou nas palavras e gaguejou um pouco, a mulher percebeu seu estranho
desconforto e ficou mais atenta. Tommy não tinha uma versão pronta em sua cabeça então
precisou respirar fundo antes de continuar.

— Garoto, você está me enrolando? Diga o que tem que dizer!

— Um grupo de jovens aqui da ilha percebeu que alguém roubou as pedras vitais do reino e
do reino vizinho, nós resolvemos acabar com essa destruição e precisaríamos de sua filha para
isso, no caso a ajuda dela. – Ele respondeu rapidamente, sem pausas.

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— E qual é o lema do nosso reino? – A rainha apertou os olhos, Tommy congelou.

— Eu não me lembro rainha... – Ele respondeu baixo encarando o chão.


A rainha ficou em silêncio e começou a rir logo em seguida.

— Talvez eu deva investir mais na educação desse lugar. – Ela disse. - Sabe que o reino é
bem pobre, ajudar os outros em troca nenhuma recompensa é quase um crime. Aqui nós
vivemos de trocas.

— Bem, eles disseram que vão pagar uma boa quantia para quem ajudar.

— Onde foi dito isso e quem vai te pagar?

— Olha eu não tenho todas as informações aqui, isso é tudo o que eu sei. – Ele disse
brincando com as mãos. – Mas nós precisaríamos muito da Lilith.

— Você não me convenceu muito. Não sei se devo confiar em você... – a mulher o encarou
rigidamente e colocou a xícara de volta ao carrinho. Tommy pensou que seu plano tinha
falhado e que a rainha era uma mulher muito difícil de se convencer. Foi então que ela disse –
Bem, eu só deixo você levá-la porque eu quero me livrar logo dessa praga.

— O que? – Tommy a olhou confuso. Ela não é sua filha?

— Não lhe devo satisfações, vá.

- Rainha, por que diz isso da sua filha? – Ele insistiu sem pensar nas palavras.

- Garoto eu vou mandar cortarem sua cabeça fora.

— Tudo bem então, obrigado. – Tommy tentou correr, mas a mulher o chamou.

— Quando ganhar a recompensa, traga metade para mim.

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— Claro.

O garoto saiu correndo dali e foi ao encontro de seus amigos, eles tinham saído de onde
estavam antes então Amélie precisou assoviar para ele notar onde estavam.

— Achei que vocês tinham sumido.

— Então, como foi? – Ela perguntou.

— Foi... – Ele parou e se lembrou da rainha falando de sua filha. – Interessante.

— Ela é muito brava? – Harvey perguntou.

— Ela dá medo, mas permaneceu calma o tempo todo.

— Nós vamos procurar por Martinez e Selina? – Giselly perguntou sentada no chão.

— Não sei, o reino não é muito grande, mas ainda há chances de nos perdemos. – Amélie
disse.

Por coincidência, Martinez chegou no grupo de amigos poucos minutos depois.

— Eu e Selina encontramos uma casa para ficarmos. – Ele disse.

— Casa? – Martinez perguntou. – Uma casa grande, uma casa mesmo?

— Sim!? – ele respondeu. – É na beira da praia.

— Então vamos.

Giselly se levantou rapidamente do chão e puxou Eddie para andar junto a ela. Tommy
começou a andar na frente e os amigos o seguiam. Na beira da praia a cidade parecia muito
mais bonita, as casas eram mais organizadas, nem parecia a mesma cidade de Opala que nem

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iluminação tinha direito. Enquanto eles andavam, Amélie que estava andando ao lado de
Harvey, perguntou.

— Selina está com Lilith? Vocês conseguiram convencer ela?

— Na verdade a Selina só arrastou a menina para perto da gente e disse que a rainha
concordou em deixá-la conosco, não me pergunte como ela acreditou. Ela se despediu do
grupo dela e comentou que tinha uma casa onde ela e os amigos costumavam ficar.

— Elas se deram bem? – Harvey perguntou.

— Mais ou menos, as duas são... Ignorantes por igual.

O casal riu. Eles continuaram andando até finalmente chegarem na casa, abriram a porta e se
depararam com as meninas limpando a casa, Selina varrendo o chão e a branquinha passando
pano no balcão da cozinha. Lilith notou a presença deles e sorriu.

— Não precisavam se dar esse trabalho, não iremos ficar aqui por muito tempo. – Amélie
disse analisando a casa que lembrava a sua, apesar de serem bem diferentes.

— É que você não viu a bagunça que estava aqui quando entramos. – Lilith largou o pano
que estava usando no móvel.

Giselly apoiou a cabeça em uma mão e se sentou no sofá, Eddie se preocupou e a ajudou.

— Tudo bem? – Ele perguntou.

— Fome. – Ela respondeu baixo.

Lilith colocou as mãos na cintura e foi até a cozinha e abriu a geladeira, analisando o que
tinha nela.

— Meus amigos são mortos de fome, roubamos tanta coisa na semana passada e já acabou
tudo! – Ela fechou a geladeira com raiva.

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— Roubaram? – Amélie reforçou.

— Sim, acha que viver aqui é fácil? Roubar de vez e quando é necessário.

— Eu posso pescar. – Giselly disse.

— Eu te acompanho até o mar. – Eddie a levantou, Lilith jogou uma cesta na direção dele e
assim os dois se foram.

Lilith se jogou no segundo sofá que ficava um pouco à frente do balcão da cozinha.

— Quais os planos? – Ela perguntou cruzando as pernas.

— Já temos os poderes de todas as cidades, precisamos encontrar o ladrão ou a ladra, juntar


nossos poderes e devolver as pedras vitais. E precisamos fazer isso rápido, as cidades estão
ficando piores. – Amélie respondeu.

A branquinha se apertou no sofá. A porta logo foi aberta e o casal entrou na casa e Eddie,
animado, jogou a cesta cheia de peixes num terceiro sofá que tinha na casa.

— Giselly é ótima! – Ele disse.

— Podem cozinhar agora. – A loirinha se sentou no sofá.

— Vamos lá. – Martinez arrastou Tommy e Eddie para a cozinha, eles procuraram e pegaram
as panelas que estavam nos armários. O fogão não funcionava, então Martinez foi bem útil.

— Tudo bem...

Amy sussurrou e subiu até o segundo andar da casa, um corredor com quatro portas, abriu
uma delas e jogou a pasta que ela ainda carregava na grande cama de casal que tinha ali, então
ela fez o mesmo com seu corpo. Ela desligou sua mente aos poucos e adormeceu.
Alguns minutos depois, a porta do quarto se abriu e Harvey entrou, viu Amy na cama e foi até
ela. Ele se sentou ao seu lado e sorriu, mesmo sabendo que ela não estava vendo. Em sua
mente só se passava o quanto ele estava apaixonado pela garota, o quanto ela deveria ser a

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mulher certa para ele. Percebendo que a garota estava na beirada da cama, a pegou no colo
com cuidado e a levou para o meio da cama, para não correr o risco de ela cair. Ele sorriu
novamente e decidiu deixá-la dormir.
Horas depois, Harvey voltou para o quarto e foi calmamente até a cama novamente onde Amy
ainda estava dormindo, ele passou a mão por seus cabelos pretos cachos desenhados e fez um
cafuné. Parte o seu coração queria agradá-la para fazer dela sua rainha, queria conquistá-la,
essa garota pode ter despertado o lado mais carente e amoroso do príncipe. Que por sua vez
foi obrigado a não demonstrar sentimentos em público, acaba sendo difícil para ele se abrir,
mas quando é com Amy, ele confia nela e se sente estranhamente confortável.
Então Amélie acordou, percebeu quem estava a acompanhando e sorriu para ele. Ela se
espreguiçou, piscou algumas vezes e Harvey parou com o carinho vendo que ela já tinha
acordado completamente.

— Todos estão se preparando para dormir, querida.

— Eu perdi o jantar?! – ela disse sonolenta e quase sussurrando.

— Você estava dormindo, parecia tão cansada que preferi não te acordar. Deixamos comida
para você, se quiser comer...

— Ainda não estou com fome... – ela sorriu.

— Mas você precisa comer, faz dois dias que você não come nada.

Ele disse a recordando que a comida que o grupo fez no segundo dia de barco sobrou pouca
coisa para o dia seguinte, Amélie preferiu deixar os amigos comerem.

— Que horas são? Não está muito tarde para jantar? – Ela perguntou.

— São onze e meia, mas é melhor comer agora do que passar mal depois.

— Tudo bem, você me convenceu. – Ela se levantou da cama e os dois foram até a cozinha.

Harvey guiou a garota para sentar-se na cadeira em frente ao balcão da cozinha.


— Eu coloco a sua janta. Você come muito? – Ele disse andando até a cozinha e pegando um
prato.

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— Não.

O príncipe colocou o arroz com pedaços de milho e o peixe frito no prato da garota e, junto
aos talheres e entregou para Amy.

— Obrigada. – Ela sorriu.

Enquanto a garota comia, ela prestava atenção em seus amigos que estavam sentados na sala,
alguns estavam com pijamas, e eles estavam fazendo alguma brincadeira, a brincadeira
consistia em uma pessoa contar uma situação e os outros adivinham se essa história era real
ou não.
Quando ela terminou de comer, colocou o prato na pia e se sentou de novo no balcão. O grupo
parou de brincar e começaram a discutir sobre os quartos.

— Ok, tem quatro quartos, apenas um tem cama de casal, os outros são duas camas de
solteiro. – Lilith explicou.

— Eu vou dormir com a Giselly. – Eddie abraçou a garota por trás.

— Posso dormir com você Lilith? – Selina perguntou.

— Ok. – Ela respondeu.

— Não quero dormir com o Tommy! – Martinez disse. – Esse cidadão fala dormindo!

— Problema seu. – Lilith respondeu se levantando do sofá.

— Nós podemos deixar o quarto de casal para vocês. – Martinez passou por Amélie e por
Harvey.

— Não é necessário. – Harvey disse.

— É sim! – Selina respondeu já subindo as escadas.

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Todo o grupo se separou, cada dupla em seus quartos.
O casal ficou no andar de baixo, na cozinha.

— Não estou com sono. – Amélie girou a cadeira na direção do príncipe que estava do outro
lado do balcão.

— Por incrível que pareça, eu também não. – Ele respondeu. – Quais os planos para amanhã?

— Vou pedir para duas pessoas buscarem possíveis informações sobre onde o ladrão está e
vou treinar vocês para saberem usar seus poderes. – Amy respondeu.

— Você nos treinar? – Harvey se aproximou mais da garota. – Chega ser engraçado ver você
querer treinar um príncipe.

— O que foi? Tem medo de que eu possa saber demais? – ela sorriu.

— Nunca, mas acho que também posso ensinar algumas coisas para você.

Harvey puxou o queixo de Amélie e depositou um beijo em seus lábios. O príncipe deu a
volta no balcão e puxou a garota para o andar de cima, eles entraram no quarto de casal e ele
fechou a porta.

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Capítulo 10

Na manhã seguinte, o casal acordou cedo, afinal nem conseguiram dormir. Eles fizeram o café
da manhã e decidiram esperar seus amigos acordarem.

— Nós podíamos tirar um tempinho só para nós, sem preocupações... – Harvey disse
colocando uma jarra de suco em cima da mesa.

— Você sabe que não podemos. Não agora, pelo menos.

— Ah, sim... – o príncipe desfez seu sorriso. Ele sabia as condições que estavam e sabia que
não poderiam demorar mais do que já demoraram. – Tem algumas suspeitas de onde está o
ladrão?

— Na verdade não. Acho que se ele estivesse entre nós, alguém teria falado, fora que ele
pode ter ido para ilhas bem longe daqui. Primeiro eu vou tentar descobrir se está por aqui.

— Será que as pessoas vão ceder informações?

— Só tentando para descobrir.

O casal ouviu barulhos de passos descendo as escadas, Lilith, Selina, Tommy e Martinez
apareceram no andar de baixo. Tommy se jogou em um dos sofás e Selina se sentou na
cadeira em frente ao balcão da cozinha.

— Bom dia. – Lilith disse baixo e foi pegou um prato em cima da mesa.

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— Bom dia, dormiram bem? – Amélie perguntou.

— Sim. – Selina respondeu com a voz rouca. – Só os meninos ficaram conversando a noite
toda e isso quase me atrapalhou, mas dormi bem, sim.

— Tivemos assuntos para colocar em dia. – Martinez retrucou.

— Não podiam fazer isso de dia? – Ela apoiou a cabeça com as mãos.

— Não, nós vamos estar ocupados hoje, certo? – Tommy respondeu.

— Sim. – Amy respondeu.

Minutos depois, Giselly e Eddie desceram para o andar de baixo, todos toaram café da manhã
juntos, sem muitos assuntos para conversar. Logo depois, todos se reuniram na sala de estar,
Amy ficou de frente para eles e começou a conversar.

— Eu tenho tarefas para todos vocês, e já as dividi. Eddie e Gi, vão andar pelo reino
procurando informações do ladrão, seria bom se vocês anotassem tudo. Tommy, crie
plataformas com a terra e as erga em direção ao céu, você e a Lilith vão tentar ver ilhas
distantes que possam ter algo suspeito. Lina, Martinez eu e Harvey vamos treinar os poderes.
Durante esses dias vamos revezando para todos estarem treinando.

— Beleza. – Eddie se levantou do sofá – Acho que vi um bloquinho de notas no nosso


quarto, Giselly, vou buscá-lo.

Lilith pegou um grande chapéu que estava em um gabinete na entrada da sala para se proteger
do sol, que nem estava tão forte, também pegou um óculo escuro e o colocou. A branquinha
ainda sentia muita sensibilidade a claridade, já que a cidade era pouco iluminada e tinha uma
grande nuvem cinza cobrindo quase todo o céu de Opala, permitindo raramente a entrada de
luz. Ela quase nunca ficava na praia, o lugar que mais tinha iluminação em todo o reino. Ficar
no sol sem proteção a qualquer hora do dia (com exceção à noite) lhe causava fortes dores nos
olhos, na cabeça, sensação de queimação e quase uma cegueira. Seus olhinhos azuis gelo não
suportariam a luz.

— Esperem aqui. – Amélie disse para Martinez e Selina quando viu o segundo casal sair da
casa.

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Ela os acompanhou e viu Tommy usar seu poder, ele encostou no chão e levantou os olhos até
eles ficarem totalmente brancos, o chão estremeceu e uma plataforma, não muito grande, de
areia saiu de dentro do mar e levitou, o garoto usou sua cabeça e sua mente para guiar a
plataforma até eles.

— É seguro? – Lilith perguntou cruzando os braços.

— Tão seguro quanto confiar em você para não me jogar de lá de cima. – Ele respondeu. –
Fique tranquila, eu posso criar outra plataforma rapidamente, qualquer coisa...

Ele ajudou a garota a subir e a se sentar na areia e então Tommy começou a levantar a
plataforma em direção ao céu e ao horizonte, eles acabaram sumindo da vista.
Eddie e Giselly saíram da casa e foram até a garota.

— Estamos indo Amy. – Eddie falou. – Temos que perguntar alguma coisa especificamente?

— Não, podem inventar qualquer coisa que possa ajudar vocês. – Ela respondeu.

— Tudo bem.

— Amélie, passe um protetor solar que eu trouxe, está na cômoda, no segundo quarto a
esquerda.

A loirinha sorriu para ela e o casal começou a andar.


Amy pensou um pouco e foi para dentro da casa onde estavam os três amigos.

— Vamos lá, todos vão para a frente da casa que estou esperando vocês. – Ela ordenou e
subiu até o quarto que Giselly tinha falado.

Ela pegou o produto e começou a aplicar calmamente em cada parte de seu corpo.

— Por que correu? – Harvey perguntou entrando no quarto.

— Só vim passar protetor solar, você é branquelo, também deveria passar.

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— Não, obrigado.

Amy jogou um olhar de desprezo para o príncipe e molhou os lábios.

— Me ajude a passar nos ombros então.

Enquanto ele fazia uma leve massagem nos ombros da garota, espalhando o produto, seus
pensamentos queriam repetir o que fizeram na noite passada. Mas eles estavam ocupados
demais para isso. Amy tentava esconder dentro de si a vontade que sentia de desistir dos
planos e fugir com Harvey, para longe das responsabilidades, eles precisam de um tempinho
para relaxar. Aquele serviço e tanta coisa para planejar era desgastante.
O príncipe terminou e deu um beijo no pescoço da garota, fazendo ela sentir um leve arrepio.

— Vamos descer. – Ela bateu palmas e se apressou para andar.

Eles foram até a beira da praia onde Selina e Martinez estavam deitados na areia.

— Se levantem. – Amy disse e parou na frente deles.

— Não sei por que quer me treinar, meu poder é inútil agora. – Selina se sentou na areia.

— Martinez. – Ela chamou o garoto. – Me mostre seu poder.

O garoto se levantou, brincou com os dedos e simplesmente sumiu. Logo depois ele apareceu
atrás de Harvey dano um leve susto nele.

— Teletransporte! – Selina apontou para ele.

— Sim!? – Ele confirmou. – Achei que fosse óbvio.

— Sabe lutar? – Amélie perguntou.

— Sei. – Respondeu e deu um soco nas costas do Harvey.

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O príncipe levantou e o encarou seriamente, foi para cima do garoto que se teletransportou
novamente para o lado de Selina.

— Posso treinar ele? – Harvey pediu.

— Para vocês se matarem? Nem pensar.

— Não, vou ser bonzinho. – Ele disse não tirando os olhos do garoto, apertando os punhos e
estralando os dedos. – Vamos! – o príncipe o chamou e passou o braço em volta de seus
ombros.

Os dois andaram para a parte de trás da grande casa.

— Sabe se defender? – Harvey perguntou.

— Por que eu não saberia?

— Tudo bem.

O príncipe correu para trás do garoto e tentou lhe dar um soco, que Martinez desviou.

— Foi previsível. – Martinez disse.

— Ah, foi!? – ele cruzou os braços.

— Claro.

Harvey ficou parado e jogou um raio de gelo na direção do garoto que queimou o braço por
não ter uma reação imediata. O príncipe continuou atirando gelo na direção de Martinez que
tentava desviar, as vezes conseguia, em outras acabava queimando partes do corpo.
Até que Martin se teletransportou e não viu o príncipe em lugar nenhum, enquanto isso
Harvey se aproximou lentamente dele e atirou gelo nas costas do garoto. Ao menos tentou,
queimou um pouco da blusa que ele estava usando, mas ainda conseguiu se teletransportar.

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Ele voltou em cima de uma árvore e não ficou desatento por nenhum segundo, ele sentiu o
leve vento em suas costas e percebeu Harvey tentando empurrar ele do galho. Rapidamente o
garoto desceu e se afastou, sem dar as costas.

— Muito bem, está ficando esperto. – O príncipe parou e esticou as mãos para um aperto.

Martinez o olhou de cima a baixo e iria retribuir, mas viu pequenos flocos sair da mão garoto
e em vez de responder o aperto, ele puxou o braço de Harvey e passou a perna para que ele
caísse. Os dois riram e continuaram ali.
Enquanto isso na praia, Amélie estava sentada na areia com Selina, conversando.

- Eu disse que meu poder é inútil agora. – Ela disse.

- Na verdade não. Se esqueceu que pode controlar mentes?

- O ladrão juntou vários poderes, ele deve ser muito mais poderoso que eu.

- Não tenha certeza disso. Te chamei primeiro porque você vai ser como nossa guia, precisa já
saber o que vai fazer. Não acho que vamos conseguir as pedras sem uma luta, assim que você
ver o ladrão pode nos informar onde ele está, por exemplo, se ele sumir você pode nos
mostrar a onde ele foi. Fora que pode controlar a mente dele. – Amélie disse.

- Não acho que isso vai ser possível.

- É melhor tentar, caso não consiga, fique com o primeiro plano.

- E se ele usar meu poder contra mim? – Selina se preocupou.

- Não acho que ele vai fazer isso com tanta gente para ele se defender.

- Espero.

- Levanta, quero te treinar fisicamente, caso precise você sabe se defender.

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- Fui criada apenas por um pai que prestou serviço para o exército. Eu sei me defender.

Amélie guiou com os olhos uma pequena tempestade de areia em direção a garota que
rapidamente se afastou. Amy aumentou o tamanho da tempestade, fazendo com que ela
ficasse duas vezes maior que o tamanho da garota. Lina, apesar de se surpreender ela correu
rapidamente para perto de uma árvore e subiu nela, para o topo. Selina cerrou os olhos em
direção de Amélie e começou a controlar a mente dela, a tempestade se desfez, fazendo com
que voasse areia e terra para todos os lados. A garota fez com que Amy fosse correndo em
direção, aproveitou a oportunidade para brincar um pouco, fez Amélie deixar que as ondas a
levassem, fez a nadar de volta para a beira da praia e por fim a jogou no chão, logo parou com
o controle e desceu da árvore para ajudá-la.

- Tudo bem? – a garota perguntou segurando Amy.

- Não, a sensação é horrível.

- Imagino como deve ser.

As duas voltaram para a areia dando leves risos, Amélie se jogou no chão e franziu a testa
piscando várias vezes, Selina observou com um sorriso tímido com medo de ter machucado a
garota. O controle de mentes pode causar ânsia, vômitos, dor de cabeça, dor muscular etc. Ela
sabia disso por isso a preocupação.

- Tudo bem, precisamos conversar sobre o que você vai fazer... – Amélie se sentou. –
Precisamos ter tudo exatamente planejado e como eu disse, você vai ser como nossa guia.
Provavelmente, ele vai poder se teletransportar, quando não pudermos ver ele, você vê e nos
avisa. Temos que treinar seu reflexo para isso também, vai que ele aparece atrás de você e
silencia seus poderes. – Ela disse se lembrando de um poder de um reino vizinho, que poderia
silenciar os poderes dos outros.

- Espera, acha que ele roubou as pedras de todo o mundo?

- Não sei.

A garota fechou os olhos fortemente e suspirou.

- Amy, está tudo bem mesmo? – Lina perguntou.

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- Sim, eu acho. Olha, eu vou te fazer umas perguntas e você responde como você...

Amy não terminou a frase e se levantou, correu cambaleando até um matagal que tinha por ali
e cuspiu nas plantas, Selina correu em direção a garota e a ajudou.

- Acho melhor ir para casa.

Selina ajudou a garota a ir para casa. Amélie se jogou em um dos sofás e colocou a mão na
cabeça. A amiga foi até a cozinha pegar um copo, ela ainda estava preocupada.

- Sério, controlar mentes é tão perigoso assim? – ela perguntou baixo.

- Isso nunca aconteceu com você, seu corpo não está acostumado e foi tempo o suficiente para
você ficar mal. – Lina respondeu e colocou o copo d’água em cima da mesinha em frente ao
sofá.

- Mas nós precisamos treinar.

- Nada disso, você vai descansar até esse mal-estar passar!

Enquanto isso...

Flutuando pelo céu, Tommy e Lilith, ambos olhavam a paisagem tentavam notar algo de
estranho, a plataforma se mexia lentamente na direção de ilhas que ficavam perto da praia.

- Acho que não tem nada por aqui. – Lilith comentou. – Se formos olhar o mundo todo...

- Não é uma má ideia. – Tommy a interrompeu.

- Vamos levar a vida toda! – Ela o encarou seriamente. – Não vimos nada de diferente até
agora.

- Vamos continuar tentando, julgando pelo céu, temos o dia todo. – Tommy disse, deitado na
plataforma com a cabeça para fora sentindo o forte calor do sol arder em sua barriga.

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- É sério!?... – A garota bufou e tirou por poucos segundos seus óculos escuros. – Deveríamos
voltar.

- Não. – Tommy se sentou na plataforma. – Nem vimos tudo, vamos continuar nesse
caminho.

- Ah, pelo amor! Estamos aqui faz muito tempo, não vamos chegar em nada. – Ela disse
encostando nas bordas da coisa tentando mudá-la de direção.

- Quem comanda a plataforma sou eu, vamos continuar nesse caminho.

Lilith o olhou de cima a baixo arqueando as sobrancelhas.

- Sabe nadar? – ela perguntou.

- Sei, por quê? – Tommy perguntou se tirar os olhos do horizonte.

A branquinha o empurrou para fora da plataforma o que o fez cair aproximadamente uns sete
metros de altura entre o mar e onde eles estavam. Foi então que a plataforma de areia
começou a tremer e a balancear, pouco a pouco ela foi se desfazendo e Lilith começou a
entrar em pânico. Ela começou a gritar implorando que Tommy voltasse para lá, mas ele
estava longe o suficiente, não conseguia ouvi-la e nem prestar atenção no que estava
acontecendo, ele tentava nadar, não se afogar com as grandes ondas e a voltar a superfície.
Tommy não tinha controle o suficiente para fazer outra plataforma às pressas e logo ela se
desfez, derrubando Lilith. Ela demorou minutos para voltar o que preocupou Tommy, mas
logo apareceu, batendo os braços desesperada. A branquinha teve que aprender a nadar ali e
agora, ela não sabia e ficava com cada vez mais medo de se afundar, pela terceira vez que ele
voltou para a superfície e se afundou novamente, o garoto que já estava mais calmo suspirou,
revirou os olhos e foi buscá-la nas águas. A garota estava agarrada a ele e não pretendia soltar
tão cedo, ela estava tossindo e tentava respirar normalmente, seus olhos ardiam e ela não
conseguia enxergar muito bem. Tommy segurou as mãos dela e a afastou de seu corpo, seus
olhos ficaram brancos novamente e ele olhou para baixo. Uma plataforma de areia subiu
lentamente e os apoiou, os levando novamente até o céu.
Lilith se deitou na plataforma e tentou voltar a total consciência e Tommy balançou a cabeça
várias vezes, rapidamente, espirrando água para todos os lados, igual a um cachorro.
A plataforma ficou indo em direção reta, mais rápido do que antes. Quando Lilith se sentou
novamente, ela avistou algum borrão de longe e chamou a atenção do garoto que deitado na
mesma posição de antes de tudo acontecer.

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- O que é aquilo? – ela apertou os olhos para enxergar melhor e aos poucos sua vista foi
voltando.

- Parece um castelo. – Tommy respondeu.

- Castelo? – ela riu. – No meio do nada!?

- É o que parece.

- É mesmo um castelo! – ela gritou. – Vamos voltar para a praia e avisar os outros.

- Como? Você sabe a direção? – Tommy perguntou sarcasticamente, logo sua expressão
mudou para medo. – E se ficarmos presos aqui em alto mar?

- Se recomponha! Vamos voltar em direção reta, vai dar na mesma.

- Não se devo confiar em você, mas acho que é a única opção.

Enquanto isso em Opala.

Eddie e Giselly estavam com o bloquinho de notas ainda vazio, alguns não sabiam de nada e
outros queriam uma recompensa para dizer alguma coisa ou outra.

- Precisamos de um plano B. – Tommy disse vendo a garota voltar de uma conversa com uma
moça que tinha passado por eles. – Alguma coisa?

- Não. – Ela cruzou os braços. – Olha, sei que há um lugar aqui que dá para ver todas as
câmeras que estão espalhadas por toda a cidade. Quem sabe podemos ver o histórico dela.

- Precisamos pensar no lugar mais provável que esconderiam isso.

- Na floresta! – os dois falaram juntos.

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Foram andando até uma parte afastada da cidade que era quase vazia, eles ultrapassaram uma
grade malfeita, que se desfez com apenas um toque. Andaram até o meio da floresta tentando
encontrar algo.

- Opala nem é tão grande assim, como pode caber uma floresta aqui? – Giselly disse, por sua
distração ela bateu a cabeça em um tronco de árvore baixo o suficiente para acertá-la.

Eddie riu e depois concordou.

- Realmente.

Começaram a andar um mais perto o outro, Eddie passou o braço pela cintura da garota e
ambos sorriam, tímidos um para o outro.

- Quando vai me pedir em namoro? – Giselly disse, sua voz saiu em um tom de riso.

- Quando eu puder comparar uma aliança, em breve, acredite. – Ele respondeu em tom de riso
também.

- Não ligo para isso. Você pode me dar uma simples rosa para me pedir em namoro, eu
aceitaria! - Ela se afastou um pouco dele.

- Você tem certeza de que passaria o resto de sua vida comigo? – Eddie parou de andar e
passou as mãos em seus cabelos, o que o fez lembrar que estava com box breads já a algum
tempo.

- Claro, nossas personalidades combinam e você... Você é incrível! – Giselly também parou
de andar.

Eddie pegou uma flor que estava no chão, fez um furo em seu pedúnculo e passou seu caule
para dentro do furo, fazendo um pequeno anel. Ele se aproximou da garota e ajoelhou, Giselly
por sua vez sorriu e cobriu o rosto, ambos começaram a rir. Depois ele se ajeitou e ficou sério,
pegou a mão de sua amada e a beijou, passando o anel em seu dedo anelar da mão direta.

- Aceita namorar comigo? Promete que vamos ficar juntos independente da situação? Vamos
ficar juntos?!

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- É claro. É claro que eu aceito! – Giselly gritou animada.

Eddie pegou-a no colo e rodou, enquanto ela analisava o anel, eles começaram a andar.

- Desculpa o texto improvisado.

- Não, não. Não se preocupe com isso.

Eles foram andando próximos um ao outro até que Giselly parou e fez um sinal com a mão
para o garoto encostar na árvore, eles avistaram um galpão cinza e velho e dava para ver uma
luz azulada saindo de dentro da casa e atravessando a janela, era ali que os dois precisavam
entrar. Foi então que a garota viu sair um único homem dali ela fez uma corda de água e
enrolou no pescoço dele, depois o jogou para longe do local onde estavam. Dois outros
guardas saíram da casa ao ouvir os gritos e Giselly fez o mesmo com eles. Eles andaram com
cautela, silêncio e devagar até as janelas da casa, olharam para dentro para ver se não tinha
mais ninguém ali e depois de conferir, entraram. Giselly andou até o grande telão que era
dividido em muitas, muitas câmeras.  
 
- E o que vamos fazer agora? – Eddie perguntou.  

Giselly apertou alguns botões até chegarem em um quadro escrito: “data”. A garota estimou
uma data suficiente para o roubo ter acontecido, como não acertou ela passou as imagens para
frente até que Eddie gritou para ela parar.  

- Olhe nessa imagem.  

Ele apontou para um menino encapuzado que estava justamente na sala onde estava guardada
a pedra vital de Opala. Ela deu play na imagem e puderam ver o garoto desencaixando com
muita dificuldade a pedra do vidro, coberto por proteção, ele usou o poder silenciador para
parar com toda a proteção e pegou o objeto, um alarme foi acionado e seu capuz acabou
caindo. Mas a má qualidade da imagem não deixou reconhecer o rosto do garoto, mesmo
assim, Eddie pausou o vídeo, deu zoom, diminuiu um pouco o brilho e por um computador
que estava ali, ele pegou o vídeo e aumentou a nitidez. Giselly olhou para os lados e pegou
um identificador que encontrara jogado, um objeto grande e pesado que precisa ser carregado
com as duas mãos. Ela aproximou da imagem, mas a coisa não o reconheceu, então Eddie
tirou print no computador e imprimiu a imagem. Giselly aproximou de novo o identificador e
assim ele o reconheceu. A qualidade da imagem impressa era bem melhor do que a do
eletrônico, que por si só era velho. O identificador imprimiu um papel com informações do
possível garoto da foto e logo depois desligou, saindo uma fumaça de dentro dele. 

- Se chama Axel e tem 20 anos. – Giselly disse lendo o papel.   


- Bem, conseguimos o que queríamos, vamos embora.  
 

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- Claro. Espere.  
 

Giselly fez escorrer água do teto e paredes, alguns pontinhos vermelhos (câmeras) pifaram e
dava para ver a fumaça saindo.  
 

- Não quero que saibam que estivemos aqui, só poderíamos entrar com permissão.  
 

- Então jogue água em tudo! – Eddie retrucou. 


 

Giselly obedeceu e o dois saíram do galpão, foram até a janela e depois a garota jogou uma
onda enorme que inundou a casa toda.  
Eles saíram dali correndo e foram para o caminho de volta a casa na praia.  
Quando os dois já estavam na parte movimentada da cidade, Eddie parou de andar e fez um
senhor com um carrinho de sorvete parar também, depois de uma conversinha, o senhor
pegou dois picolés e entregou para o garoto. Ele foi até o encontro de Giselly e entregou um
picolé de morango para ela.  
  

- Obrigada. – Ela riu. – Como pagou por isso? 


 

- Implorei para o vendedor e desenvolvi uma conversinha com ele, sempre funciona, pelo
menos comigo.  

- Uau... – Ela sorriu e os dois continuaram o caminho de volta.  


 

Quando já era de noite, o casal chegou na casa. Os meninos estavam jogando dominó, Selina
estava bebendo um vinho que encontrara na cozinha, Amélie estava cochilando no sofá e
Lilith estava tomando um banho. Eddie e Giselly se sentaram em um dos sofás e o garoto foi
brincar com os meninos. Lilith voltou para a sala secando os cabelos com uma toalha e foi até
a cozinha beber o mesmo vinho que Selina estava bebendo.

- Eu e Giselly achamos o ladrão! – Eddie colocou suas peças na mesa.

- Conte! – Harvey também colocou as peças na mesa.

- Ele se chama Axel e tem 20 anos. – Giselly pegou o documento e o colocou na mesa.

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- Eu e Lilith encontramos algo que se parece com um castelo em uma ilha aqui perto. –
Tommy acrescentou.

- Castelo? – O príncipe perguntou.

- Parece um castelo. – Ele respondeu.

- Ótimo, podemos ir atrás dele agora. – Eddie disse.

- Amélie quer nos treinar primeiro, hoje foi a Selina e o Martinez. Temos todo um plano em
mente. – Harvey pensou um pouco antes de responder seus amigos.

Logo, uma pequena discussão foi ouvida na cozinha, Selina ria de uma maneira tímida
enquanto Lilith ameaçava jogar a bebida de seu copo nela.

- Para de mexer nos meus cabelos.

Selina repetiu esse movimento assim que a garota se virou para responder Tommy. Foi então
que Lilith atirou a bebida que caiu no chão e não a acertou.

- Eu limpo. – Ela disse.

- Fica jogando bebida no chão, não tem educação não? – Selina riu.

A branquinha ouviu a provocação e jogou o rodinho que pegara para limpar o que sujou, na
garota, acertando a pia e os copos.

- Parem vocês duas. – Giselly olhou para elas. – Lilith, limpa isso logo.

- Eu vou dormir, tive um dia cansativo. – Eddie disse se levantando e indo até o quarto.

- Já subo também! – Giselly sorriu. – Olhem! Ela mostrou o anel de flor que o garoto
entregara para ela horas atrás.
- O que significa? – Selina perguntou.

102
- Eu e ele estamos namorando. – Ela respondeu sorrindo, seus olhinhos brilhavam.

Harvey subiu correndo para o segundo andar logo depois que a princesinha terminou a frase,
ele bateu na porta do quarto que estava Eddie, pedindo a permissão para entrar. Agora que um
de seus amigos estava namorando, ele queria alguma dica para reproduzir o mesmo com sua
garota. Depois de tudo que os dois passaram juntos, o príncipe aceita que está apaixonado por
Amélie e pensa em fazer de tudo para conquistá-la. Apesar da situação que eles se encontram,
ele prefere fazer isso o quanto antes, antes que Amy possa mudar de ideia em relação a eles.
Eddie abriu a porta do quarto.

- Diga.

O príncipe se sentou na cama e cruzou as mãos.

- Olha, preciso da sua ajuda. Como faço para pedir alguém em namoro?

Eddie riu e se sentou ao lado dele.

- Se ela não for exigente, use algo que ela goste, entregue para ela e a peça em namoro, ou,
compre uma aliança. Por quê?

- Nada, fiquei curioso.

- Cara, a Amélie parece uma mulher incrível e não muito exigente, com uma rosa e uma
declaração bonita ela pode aceitar na hora.

Harvey se assustou e o encarou seriamente.

- Eu não disse quem era.

- Dá para perceber.

- Tudo bem, me ajudou muito, boa noite.

103
Assim que ele abriu a porta, Eddie jogou um travesseiro na direção dele, o príncipe ficou
parado por alguns segundos observando o garoto rir, depois ele correspondeu jogando a
travesseiro mais forte, desse jeito se iniciou uma guerra de travesseiros que atraiu Tommy e
Martinez que estavam no andar de baixo por causa da gritaria.
Enquanto isso as meninas estavam na sala, Selina penteando o cabelo de Lilith, quando ela
terminou jogou o pente na mesinha e deu um leve tapa na cabeça dela. A branquinha se
levantou e foi até o andar de cima, na direção de seu quarto. Giselly notou um sorrisinho bobo
no rosto de Selina e não pode conter o riso.

- Apaixonada? – a loirinha perguntou ainda rindo.

- Não. Claro que não. – Ela respondeu se ajeitando no sofá.

- Conte para ela. Quem sabe vocês duas não dão certo.

- Para de falar ou eu vou controlar sua mente. – Selina arqueou uma sobrancelha.

- Tudo bem, mas pensa nisso.

Selina foi para seu quarto e se deparou com Lilith retirando a maquiagem que tinha feito
depois de seu banho. Ela fechou a porta e se aproximou devagar da garota, se sentado ao seu
lado. A branquinha notou a presença da colega através de seu reflexo no pequeno espelho que
ela usara como auxiliar, ela sorriu e olhou para Selina. As duas ficaram em silêncio por muito
tempo.

- Seu dia foi cansativo? – Lilith perguntou sem tirar os olhos do espelho.

- Não tanto quanto o seu, disso eu tenho certeza. – Ela respondeu. – Poxa, você fica linda com
ou sem maquiagem.

- Não gosto de ficar sem maquiagem, mas obrigada pelo elogio. – A branquinha riu.

Ela terminou de tirar o batom preto que usara a maior parte do tempo e se encarou no espelho
novamente, o colocou em cima de uma poltrona roxa que tinha encostado na parede. Ela se
sentou perto de Selina que não tirava os olhos dela.

104
- Você não tem um alguém para amá-la, certo? – Selina perguntou.

- Não.

- Como não? Com essa beleza você deveria ter alguém. – Disse sem pensar muito nas
palavras.

- Ninguém é digno o suficiente para me amar, eu creio nisso. Por que a pergunta? Está
insinuando alguma coisa? – Lilith sorriu.

- Não! Só por curiosidade, não vi nenhuma aliança de compromisso em seu dedo

A branquinha gargalhou e se deitou na cama, se cobrindo até as orelhas. Selina ficou em


silêncio e apagou as luzes do lugar, também se deitando para dormir, em sua cama que ficava
do outro lado.
Giselly andou até o quarto onde estava acontecendo a guerra de travesseiros e expulsou os
meninos do quarto (com a exceção de Eddie). Harvey desceu até a sala e bebeu um copo de
água, Amy se esticou no sofá, ainda dormindo e o príncipe lembrou de sua presença, andou
até Amélie, acariciou seus cabelos e sorriu olhando seu rosto.

- Se eu pudesse te pedir em namoro, eu o faria agora... – Ele sussurrou.

- Você pode. – A garota sorriu e aos poucos foi abrindo os olhos.

Harvey congelou e apenas conseguiu a encarar um pouco em choque, sentiu uma vergonha
tomar conta da sua mente, mas não poderia contrariar sua própria fala.

- Você está bem? – a única coisa que conseguiu falar.

- Não, mas estou melhor do que antes. – Ela tentou se sentar no sofá, mas sentiu um peso em
sua cabeça, então o garoto a ajudou. – E então? Não vai me pedir em namoro?

Ele se lembrou das palavras de Eddie e pensou bem antes de dar uma resposta a ela.

- Quero fazer algo especial. Você pode esperar um pouco. – Ele sorriu e beijou sua bochecha.

105
- Só não demore, por favor. – Ela suspirou. – O controle me deixou bem cansada, pode me
ajudar a ir ao quarto?

- Claro.

Harvey pegou a garota no colo; ela não esperava por algo assim, e os dois foram até o quarto
de casal, ele a colocou na cama e beijou sua testa. Andou até o guarda-roupa e pegou algo que
seria um pijama, saiu do quarto até o banheiro e em minutos voltou.

- Vai conseguir dormir agora depois de passar a tarde toda dormindo?

- Por incrível que pareça, sim.

O príncipe apagou as luzes e se deitou na cama.

106
Capítulo 11

A luz da lua ultrapassava as janelas e iluminava alguns cantos da casa, o silêncio e calma da
noite ecoavam pela casa. Em plena madrugada, enquanto todos dormiam... Um estrondo foi
ouvido a quilômetros de distância, um ruído fino, mas alto o suficiente para acordar e assustar
todos na casa (talvez de toda a cidade). Todos desceram para ver o que estava acontecendo.

- O que foi isso? – Giselly perguntou.

Todos notaram uma forte luz vindo do lado de fora, não estava tão forte por causa da distância
entre eles e de onde vinha a luz. Afinal, ela vinha da pequena ilha que continha o castelo que
Lilith e Tommy avistaram horas atrás.

- Ela vem da ilha que avistamos o castelo! – Tommy finalmente gritou.

- Podemos ir lá? – Martinez perguntou.

- Não! – Harvey gritou colocando o braço na frente do garoto para que ele não pudesse passar.
– Não sabemos o que é, pode ser perigoso.

- Parece que está diminuindo. – Amy disse.

A forte luz por fim diminui o suficiente para não cegar o grupo, eles abriram a porta e foram
até a beira da praia. Uma espécie de arco-íris se formou no céu escuro que antes era iluminado
apenas por estrelas e pela lua, feito na direção vertical, era bonito de se ver. Mas eles sabiam
que não era algo bom ou sequer normal. Tinha algo de muito errado acontecendo.

- Precisamos ir lá. – Harvey disse. – Precisamos voltar para o cais imediatamente.

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O grupo, sem questionar, atravessaram a cidade. Pessoas estavam caídas no chão, várias
gritando que estavam cegas devido à forte luz, outras reclamavam que estavam surdas pelo
ruído que surgiu junto com o brilho. A cidade entrou em um caos. Pessoas atravessavam as
ruas sem olhar para os lados e os poucos carros que existiam ali, alguns bateram, outros
atropelaram pessoas; o que gerou um grande tumulto. Finalmente chegaram ao cais que
apesar de sempre estar abandonado, estava cheio de pessoas que queriam ver o que tinha
acontecido, várias reclamando também dos efeitos que sua curiosidade causara.
O grupo entrou em um barco qualquer; que era difícil de identificar com tantos outros
parecidos. Selina e Tommy puxaram os pesos que mantem o barco parado e Lilith e Martinez
o empurraram para que ele pudesse pegar a velocidade, eles pularam de volta e se sentaram na
beirada do barco, observando as pessoas que estavam fofocando sobre o grupo,
provavelmente. Lilith andou até Harvey e deu as coordenadas para chegarem à ilha e se
sentou distante dali. Amélie que estava sentada com a cabeça apoiada em uma das mãos
suspirou e observou a paisagem. Giselly tentava distrair Eddie para que ele não passasse mal
durante a viagem. Selina estava sentada ao lado de Tommy que estava levemente entrando em
pânico. Martinez observava a paisagem em pé e Harvey dirigia. Eles precisaram dar a volta no
reino e seguir reto, o que levou em torno de cinco horas, em mais algumas horas,
amanheceria. O “arco-íris” estava cada vez mais forte em relação ao que eles se
aproximavam. Eles finalmente aterrissaram em uma parte da ilha, a luz não era tão forte por
conta de algumas árvores que as cobriam. O grupo desceu e Amélie precisou da ajuda do
príncipe, sua pressão tinha caído e sua exaustão ainda não passara.

- Tudo bem, se protejam e tente se infiltrar dentro do castelo principalmente para descobrir de
onde vem essa luz, se virem alguém em perigo, ajudem. – Amélie ordenou com a voz
extremamente fraca e cansada.

O grupo andou calmamente até o centro da situação, literalmente. A casa grande; que não era
um castelo, ficava bem no meio da ilha. Um garoto saiu correndo para a frente do casarão de
onde estava vindo as luzes.

- É ele? – Martinez sussurrou.

- É. – Eddie respondeu.

*
Pov. Amélie:

Selina ficou na frente e os meninos a seguiram, bem atrás dela. Eles começaram a prestar
atenção no garoto, para não atacarem sem motivo. Eu até iria acompanhá-los se ainda não me
sentisse tão mal. Tem algumas horas que Selina me controlou, desde então a minha cabeça
dói, como se ainda tivesse alguém lá, me movendo a força. Meus olhos também ardem, meus
músculos doem a cada respiração e não consigo me mexer muito. Eu deveria ajudá-los,

108
deveria estar lá, mas no momento estou completamente inútil. Não sei se eles saberiam se
virar sozinhos, já deveria ter treinado Lilith a muito tempo, mas queria que ela interagisse
com o grupo. Não foi bem planejado, tenho medo de que ela possa se machucar, fora os
outros que não foram treinados e podem se machucar também. Tudo isso por uma
brincadeirinha besta que durou quase dez minutos e agora está exigindo muito da minha
energia, bateria em Selina se tivesse forças e se não estivéssemos em uma situação tão
complicada.
Me agarrei à minha dor de cabeça e não prestei atenção no que estava acontecendo, meus
amigos observavam o garoto e conversavam sobre um rápido plano.

- Não consigo parar essa droga! – o garoto gritou. Ele apontou com os dedos e jogou um raio
em direção ao palácio, o raio refletiu nas luzes que saiam do castelo e acertou uma árvore ao
meu lado, metade dela caiu ao meu lado e precisei me esforçar para não ser acertada.

O garoto sorriu de uma maneira estranha e se aproximou da gente. Meus amigos se afastaram
e Harvey veio ao meu encontro, segurando meu braço para me puxar em qualquer caso.

- Ora, o que temos aqui... – ele disse, consegui prestar atenção em seus olhos verdes que
brilhavam com a luz do castelo. – Com certeza vocês são sem juízo, para estarem aqui...

O garoto corre, confrontando à uma árvore. Selina suspira e me encara, sentindo um leve
orgulho de ter feito aquilo, provavelmente o fez por impulso.

- Parabéns? – é a única coisa que consigo dizer.

Axel se levanta e joga cones pontiagudos de gelo em nossa direção, Martinez pega Giselly e
Tommy pelo braço e se teletransporta para longe dali Lilith puxa o braço de Selina que arrasta
Eddie junto. Harvey revida o ato jogando os mesmos cones de volta. O garoto se irrita mais
ainda e corre em nossa direção, formando uma cerca de eletricidade em volta da gente,
Martinez se teletransporta e tenta acertar a cabeça dele, mas não conseguiu. Porém foi o
suficiente para ele se distrair. Giselly joga uma onda de água em cima do garoto que se
protege fazendo uma barreira de terra em sua volta, ela intensifica o ato o que faz a terra
desmanchar e soterrar o garoto. Mas ele é erguido por uma árvore que nasceu naquele
momento ali, os galhos dela cresceram e se esticaram tentando acertar todos, Tommy fez uma
enorme barreira impedindo o ato e Harvey cortou as raízes da árvore com pedaços de gelo.
Não tinha mais ninguém ali além de mim, Axel foi até minha direção, se abaixou na minha
altura e riu, senti uma pontada na cabeça e tudo escureceu... Ah não... De novo não. Uma voz
meio rouca e sarcástica ecoou em minha mente minha respiração começou a falhar aos
poucos, afinal eu dependo dele para continuar respirando e para meu corpo continuar
funcionando. Não consigo entrar e desespero, muito menos ter alguma reação, sinto alguém
tocar meu rosto e dar leve batidinhas. (provavelmente Harvey ao julgar pelo toque.) Ouço
uma voz baixinha e desesperada gritando o meu nome.

109
Alguma coisa acontece, não sei o que, mas a voz de Axel e aquela escuridão somem da minha
mente como um puxão, sinto uma forte de dor de cabeça por ele ter saído assim. Eddie se
aproxima dele, provavelmente ele acertou um soco no garoto que estava caído no chão, é a
única coisa que consigo ver antes da minha vista escurecer completamente, fecho os olhos e
aceito a dor. O príncipe me puxou pelo braço e pela voz, percebo que ele pede a Lilith que me
leve para outro lugar, longe dali. Minha cabeça latejava e era extremamente difícil manter a
calma, demos pouquíssimos passos, ouvi a garota gritar e o meu braço ser puxado, como se
ela fosse arrastada. Ouvi um tique ensurdecedor, e algo penetrando minha pele, me
queimando e se espalhando em linhas. Me sento no chão desesperada, essas linhas começaram
a subir por meu corpo, ardendo tudo que estivesse próximo, isso até chegar em meu pescoço.
Como se ele estivesse em um circuito elétrico, ouço uns barulhinhos eletrizantes e a dor piora.
Tenho quase certeza que um raio entrou em mim, ele se envolve em meu pescoço e minha
respiração é cortada, tenho menos de três minutos para tentar me salvar e ficar consciente de
novo. Mas pensar isso é uma grande ilusão, sem oxigênio, meu corpo vai enfraquecer aos
poucos, agora eu mal consigo virar a cabeça para o lado. Ouvi Harvey gritar meu nome, foi o
único momento que eu me esforcei, me esforcei para vê-lo, ao invés de uma cena bonita vi o
príncipe cair um pouco distante de mim.
Alguns gritos e antes de apagar, vi a sombra de um garoto, aqueles olhos verdes brilhante se
encontraram com os meus, por fim, minha vista escureceu e perdi a consciência.

Acordei, me levantei rapidamente o que fez minha pressão cair, me apoiei na cama e suspirei.
Não sei onde estou e tento não entrar em pânico. Sinto uma leve dor nos músculos e na
cabeça, mas nada comparado ao outros dias, pelo que eu me lembre. Tem algumas linhas
desenhadas pelo meu braço, como se fossem veias, mas não são. Posso senti-las e vejo que
elas vão até meu pescoço. Não sinto nada além da leve dor de cabeça e da vertigem que aos
poucos passou.
Olho em volta, um quarto digno de um castelo, os móveis são de luxo, detalhados em ouro e
bem-feitos. Ao menos não estou em um cativeiro. Mas se estou em um castelo, tudo se
resolveu e Harvey me trouxe para sua casa. Ando até a porta do quarto, giro a maçaneta e
coloco primeiro a cabeça para fora antes de sair do cômodo, dando uma olhada em volta. As
cores dos corredores são mais escuras e o castelo não é gelado como costuma ser, não tinha
quadros nas paredes, o teto é reto e não pontiagudo, alto e de vidro. Será que reformaram?
Acho que a família real não seria tão egoísta e esse tipo de decoração nem combina com eles.
Me deparei com uma porta enorme, abro-a e chego em uma sala de jantar, a mesa gigante que
vai de um ponto do cômodo até o outro. Caminho por ali até ouvir alguém me chamar,
congelo, não é a voz de Harvey ou dos outros meninos. Reconheço os olhos verdes brilhantes.

- Axel? – Digo levando uma mão ao coração.

Senti que meu coração fosse parar de bater a qualquer momento, o garoto usava uma roupa
toda em tons de verde musgo, e uma capa verde escuro brilhante enorme.

- Por que saiu de seu quarto? – Ele pergunta.

110
- Achei que...Estivesse com Harvey... – As palavras entalam na minha garganta, a frase morre
e entro em desespero. – Onde ele está? O que você fez com ele?

Tento confrontar o garoto, mas ele é alto e mais forte comparado ao meu corpo fraco. Com
apenas ele segurando meu queixo é o suficiente para não conseguir me mexer.

- Dei um jeito nele, assim como em todos seus amigos.

- O que você fez com eles? – Choro, apenas deixo as lágrimas caírem pelo meu rosto.

- Nada que você deva se preocupar. – Ele respondeu.

- Você os matou?

- Você acha?

Aceno com a cabeça, ele sorri, como se concordasse comigo, choro mais ainda, caindo
lentamente no chão. O garoto vê meu sofrimento, mas não me ajuda e nem se importa.

- Por fez isso? – Soluço. – Por favor, me diz onde eles estão!

- Você mesma se respondeu! Fiz isso por legítima defesa e pela defesa do meu negócio.

- Então me mate também! – Entro em desespero.

- Não, você é importante para mim.

É uma mentira; um contraditório, não sou importante para ele. Ele não me conhece e por que
ele se importaria comigo? Posso ser importante para seus negócios, mas nada a ver com
sentimentos. Não me importo com isso, no momento só choro.

- Eles vão me encontrar, você é apenas um mentiroso. – Digo, ele me levanta pelo braço e
começa a andar comigo.

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- Não vão. Eles se foram, todos eles. Você causou isso, se tivesse se defendido, seus amigos
não iriam se preocupar e talvez o destino de todos seria diferente.

- Por favor, para com isso. – Suspiro. – Eu sei que é mentira!

- Prefere acreditar na verdade ou em seus amigos que a propósito, não estão mais aqui.

- Para de falar!

Grito e uma rajada de vento tenta nos separar, mas Axel nem se move. Não quero acreditar
nisso, ele ainda tenta me manipular, fazer com que eu me sinta culpada. Sei que isso é
mentira, ou não?... Pude perceber que ele é um monstro, nenhuma palavra que sai de sua boca
é confiável. Continuamos andando até ele me jogar de volta ao meu quarto, aquele onde eu
acordei.

- Você vai ficar aí até eu mandar. Trarei suas refeições.

Ele disse e trancou a porta do quarto. Sinto a raiva me consumir até chegar em um ponto que
não consigo mais guardar tudo para mim. Peguei uma cadeira e a joguei longe acertando um
abajur e alguns vasos de plantas, começo a gritar e a pegar mais objetos para atirar nas
paredes, sinto um ventinho pairar em meu coração, libero tudo por um grito. Paredes, teto e a
luminária começaram a tremer e um vento extremamente forte se forma no quarto, como um
furacão. Papéis, cobertores, toalhas entre outras coisas começaram a voar ao redor do quarto.
Arranco a gaveta de uma escrivaninha e a jogo no chão, pego alguns vasos de flor atiro contra
a parede, os cacos se juntam na ventania... Vou até a cama e começo a gritar apertando o rosto
contra o travesseiro, depois o jogo para o furacão também. Me levanto e tiro todas as coisas
do móvel ao lado as jogando na parede e chão. Ando até o meio do cômodo e coloco as mãos
na cabeça, a grande saia que usara estava quase voando junto com as coisas, mas por algum
motivo, meu furacão não me afeta. Penso em meus amigos, Harvey, o garoto que eu amava e
que pretendia passar o resto da minha vida ao lado. Selina, que se tornou uma das minhas
melhores amigas e todos... Não consigo esquecer seus rostos e todos os momentos que
passamos juntos. Agora, por falta de planejamento, todos estão mortos, todos. Incluindo o
príncipe que tinha um longo futuro e um grande reinado pela frente. Tudo acabado por minha
culpa, que não os treinei e não pude os ajudar quando precisamos. Se eu tivesse sido mais
forte, se eu não estivesse tão mal, estaria tudo bem. Eu não estaria aqui. E agora? O que vai
ser de Georse, o que vai ser da vida dessas pessoas, da minha própria vida? Tudo isso me faz
entrar mais em pânico ainda, chuto e começo a socar o pilar da cama, gritando mais ainda,
choro e por fim cubro meu rosto com as mãos.
A porta do quarto é aberta e Axel entra, e todo o meu poder acaba, tudo que estava flutuando
caiu no chão fazendo um estrondo. Me viro para vê-lo.

112
- Vamos parar com essa arruaça? – Ele grita cruzando os braços. – O que está acontecendo
aqui?

- Você sabe! – Grito de volta e jogo um travesseiro que parou em pé, na direção dele. Axel
impede o objeto de chegar até ele, cremando-o.

- Colabore comigo Amélie. – Ele disse.

- Por favor, me mate. – Corri e me ajoelhei aos pés dele. – Eu estou falando sério, por favor
me mate! – Comecei a chorar novamente.

- Eu já disse que não! – Ele me puxou pelos braços para ficar de pé.

- Eu não consigo viver com essa dor, não vou suportar, nunca vou aceitar. Deixe ao menos eu
ficar com minha família, eles são as únicas pessoas que eu tenho agora.

- Caramba garota, você é muito chata. – Ele revirou os olhos e depois analisou a bagunça que
estava meu quarto. – Você fez isso?

Ele entrou no cômodo com raiva e andou em círculos observando cada coisa espalhada pelo
chão, engoli o choro e sequei minhas lágrimas.

- Você vai arrumar isso. – Ele ordenou. – Vou buscar tudo e você trate de terminar isso antes
do jantar.

Saiu do quarto e me deixou sozinha, em vez de ficar e obedecer, saio correndo. Mas, como o
esperado, me perco. Ando por alguns corredores, mas não encontro nada além de mais e mais
cômodos vazios. Na tentativa de voltar para meu quarto percebendo que meu plano não deu
certo, esbarro com Axel.

- Esqueceu do poder de Safira? – ele disse. Claro, é o poder de Selina, como eu poderia
esquecer? Encaro o chão, ele me pega pelo braço e me lev de volta para meu quarto, me
entregando uma vassoura junto a uma pá e trancando a porta do quarto.

Não pensei em fugir, não daria certo de qualquer jeito. Comecei meu trabalho e deixei minha
mente divagando, na verdade pensei quando encontrei Tommy e Selina usou seu poder... É
melhor eu não pensar nisso se eu não quiser entrar em outra crise de choro. Quando eu surtei,

113
me lembrei de quando Harvey me ajudou e me acalmou. É muita coisa para arrumar, tantas
coisas que quebrei que me sinto uma criança sendo educada por uma mãe, a minha já fez isso,
mas eu não quebrava tanta coisa. Nesse caso eu tenho metade do quarto inteiro e a outra
metade... Bem, é o que estou fazendo, limpando.
Fiquei horas arrumando o quarto e ainda falta bastante coisa. Já tinha anoitecido e meu quarto
estava um breu, porque eu quebrei a lâmpada que deveria iluminar tudo, a única luz que tenho
é a luz da lua. Me sinto enjoada, paro o que estou fazendo e me apoio no pilar da cama. Não
sei há quanto tempo estou sem comer, mas ele deve saber muito bem. Iria pegar a vassoura
novamente, mas minha pressão caí junto com meu corpo.

114
Capítulo 12

Me levanto rapidamente e vejo que estou em um quarto completamente diferente do que eu


estava antes. Agora sim eu estava em um tipo de cativeiro. Era um quadrado não muito
grande, sem nenhuma janela, apenas uma lâmpada. Uma cama bem desconfortável e um
móvel. São as únicas coisas que tenho aqui. Me sento na cama e percebo que Axel estava me
encarando de pé, escorado na parede bebendo algo em uma xícara.

- Está a quanto tempo aí? – Resmungo.

- Você dorme muito. – Ele disse se aproximando de mim.

- Eu desmaiei. Um desmaio nem dura tanto tempo assim.

- Você apagou por duas horas. Fora que desde que você está aqui você dormiu por uma
semana inteira.

Eu estou aqui faz uma semana, uma semana dormindo.

- Sério? Quem cuidou de mim? – Perguntei um pouco inconformada.

- Isso não lhe interessa. Você vai ficar aqui porque seu outro quarto tinha grandes janelas.
Aqui não tem chances de fugir.

Nem seu eu quisesse fugir pelo outro quarto eu conseguiria, são quase vinte metros de altura
da janela até o chão.

115
- Ainda não entendi o porquê você me sequestrou. – Sussurrei insegura.

- E não vai entender tão cedo.

Idiota.
Ele saiu do quarto trancando a porta, me deixando ali. Preciso tomar cuidado, ele pode me ver
se quiser. Ainda sentada na cama tento não pensar em meus amigos, o que me parece
impossível, mas é necessário para que eu não entre em uma depressão. Axel traz o meu jantar
e me deixa ali. Pelo menos ele se preocupa com minha alimentação, não é algo que eu
comeria no dia a dia, mas é a melhor opção do que passar fome.
Ele me sequestrou e matou todos meus amigos, por que ele me deixou viva? Por quê? O que
ele quer comigo? Eu sou tão importante quando ele disse, não vejo necessidade de me deixar
viva e matar todos os outros, não consigo encontrar sentido nisso.
Já que dormi por tanto tempo, passo a noite em claro, meus olhos não se fecham e minha
mente não precisa descansar. Fico deitada na cama com o braço para fora da cama em direção
ao chão, meus dedos brincavam com solo já que eu não poderia fazer nada além de suspirar,
pensar na vida ou encarar o teto...
Acabo me rendendo ao sono, por causa do tédio. Acordo com o barulho de alguém abrindo a
porta com raiva. Sinto algumas batidinhas em meu rosto e emburro a cara, esperando meus
olhos se acostumarem. Harvey me acordava com um sorriso ou um beijinho...

- Acorde e tome seu café.

Ele diz deixando um prato com um pão provavelmente feito na chapa e um copo de leite, sai
do quarto e o ouço trancar a porta. Me sento no chão e começo a tomar meu café da manhã,
por alguns segundos me sinto uma criança, me sinto transportada de volta a minha infância.
Eu não gostava de comer na mesa de jantar, mas minha mãe me obrigava a comer ao menos
na cozinha com eles. Então e me sentava no chão. Lembro-me que isso durou até meus nove
anos até eu perceber que não havia nada de errado com a mesa.
Terminei e deixei as coisas ali mesmo, vejo se a porta está realmente trancada e não penso em
abri-la. Não tenho muito o que fazer aqui.
Não faço nada além de ficar deitada, Axel sempre traz minhas refeições e isso virou minha
rotina. Percebo que ele me observa dormindo e não sinto medo, se quisesse me matar, já teria
feito. Eu acordo, como e fico deitada o resto do dia. Não tem nada no meu quarto para que eu
possa apenas me divertir. Eu fico encarando o teto ou durmo no chão quando está muito calor.
Nada demais. Foi assim que passaram quatro longos dias.
Sempre deixo a mente divagando ou cantando uma música para me distrair, a solidão
misturada ao tédio e calor vira uma tristeza inexplicável.
Deitada no chão como na maioria das vezes, com a barriga para cima e as mãos cruzadas,
ouço a porta se abrir e Axel entra no quarto, ele se escora na parede e me observa.

116
— Tudo bem com você?

Ele pergunta e acabo por me surpreender, até parece que se importa comigo. Apenas viro os
olhos e o observo de canto, sem mexer um músculo.

— Como eu deveria estar nessa situação?

Respondo baixo. Ele anda até minha direção e me levanta pelo braço, que nem uma mãe
levantando uma criança quando faz birra. Andamos até o fim do corredor e ele me jogou para
dentro de um cômodo, um banheiro enorme. Parecia um quarto pelo tamanho. Olho para perto
da banheira com grandes portas de vidro em volta, vejo um vestido rosa salmão pendurado
ali.

— Tome um banho e se vista.

Ele diz e fecha a porta atrás de mim, suspiro e ligo a torneira da banheira, espero que ela
encha para tirar a roupa e entrar. Faz um bom tempo que não tomo um belo de um banho,
estava precisando. Me deito na banheira e ouço vindo de algum lugar, a música "Love on the
Brain - Rihanna" tocar e ecoar pelo banheiro. A água quente, o vapor, essa música... Tudo
isso me acalma, me relaxa e tira a preocupação da minha mente. A única preocupação que
tenho é meu sequestrador estar agindo dessa maneira. Bem, tem cinco dias que ele me trata
como um lixo, mas agora ele quer que eu me vista como uma princesa, não entendo o plano
dele. Ainda assim, me arrumo, término o banho. Prendo meus cabelos em duas mechas para
trás com uma presilha pequena. Coloco o vestido que ficou um pouco acima dos joelhos, é
lindo. Suspiro e vou até a porta do banheiro, a abro e fico do lado de fora do cômodo.
Vejo Axel vir até minha direção, ele me puxa pelo braço sem dizer nenhuma palavra e me
leva até a grande sala de jantar na qual eu tinha me perdido antes, ele me jogou contra umas
das cadeiras para que eu me sentasse e deu a volta, sentando-se na minha frente. Nos entre
olhamos e fico envergonhada, o silêncio era constrangedor.

— O que... – Sussurro fitando a mesa, mas a frase entala na minha garganta, Axel aperta os
olhos ainda me encarando.

— É estranho, não? – Ele sorri.

— Eu quem deveria fazer essa pergunta.

— Não te matei porque preciso de você. Disso você sabe. – Ele responde me ignorando.

117
De repente, o assunto parece ficar interessante.

— Para eu me tornar um rei futuramente, preciso de uma rainha.

— Foi para isso que me sequestrou? – Bato na mesa e cruzo os braços. – Vai tirar minha
felicidade através de um casamento?

— Não tinha te sequestrado para isso, mas esse é o plano a partir de agora.

— Vou ter que passar o resto de minha vida com você?

— Sim, esse é o propósito dos casamentos. A não ser que você queria que eu lhe mate depois
de alguns meses.

— Eu não tenho opção. – Sussurro.

Ele balança a cabeça e arregala os olhos.

— Acabei de falar que tem, ficar comigo o resto de sua vida ou morrer.

Minha mente se afoga em um mar de pensamentos. Esse é um futuro completamente distinto


de todos que já imaginei. Eu não quero passar minha vida ao lado dele, aliás, ele está me
usando para virar rei. Mas eu também não queria morrer, meus olhos começam a arder e aos
poucos lacrimejar. Axel continua me encarando. Suspiro e forço as palavras a saírem da
minha boca.

— Vai ser algo entre nós, rápido e não terá consequências para você também, certo?!

Me odeio por ainda pensar nele, eu deveria estar preocupada comigo.

— Rápido e calculado. Pode apostar que vou ficar bem. – Ele sorriu maliciosamente.

— Ok. Três meses após o casamento, me envenene.

118
— Deixe essa parte comigo. Não vamos nos casar tão cedo. – Ele bateu na mesa e se levantou
as pressas. – Te trouxe aqui para te dar classe, uma pobrezinha como você não deve saber
como se portar.

— Não faz sentido você querer fazer isso comigo.

Ele gargalhou alto.

— Se vamos ficar juntos por algum tempo, quero que você se comporte. Afinal você está
comigo, e não com qualquer um.

Que audácia da parte dele.


Me sequestra e ainda quer me tornar uma princesa só para agradá-lo. Não posso dizer nada,
apenas observar tornar-me uma bonequinha. Vão ser longos dias.

119
Capítulo 13

Faz mais ou menos duas semanas que Axel tentou me dar aulas de etiqueta, absorvi poucas
coisas e ele desistiu quando percebeu que eu levara tudo na ironia. Eu não queria aulas e ele
percebeu isso. Sua paciência melhorou comigo, até fazemos piadas juntos antes dele se
estressar me colocar de castigo, trancada no quarto. Bem, eu ando desanimada.
Esses últimos dias ele mexeu muito no lugar onde ele armazena as pedras preciosas, ele já fez
tanta bagunça...
Enfim, nesses últimos dias eu quase não o vi, ele está sempre bem ocupado. Axel tem uma
sala só com mapas e uma grande televisão com muitos, muitos botões. Eu já fui lá, tem pelo
menos oitenta câmeras para cada reino, do mundo todo. Ele tem uma ajudante que espalha um
“convite” para as pessoas se tornarem guardas, como um vírus. Tudo isso com o controle de
mentes. Essa ajudante entrega um papel que contém um anel, assim que a pessoa coloca o
anel, ela está sendo controlada por Axel, e essas pessoas teriam a missão de “tomar” o reino
onde eles estão. Ele parou com isso tem alguns dias, os reis do local são mais rápidos e eles
acabam matando essas pessoas. Agora ele está pensando em novas estratégias para fazer isso
acontecer.
Eu estava sentada na varanda do castelo, com a cabeça apoiada na mureta quando o ouvi me
chamar.

- Se comporte. – Foi a única coisa que ele disse e simplesmente saiu de perto de mim.

Franzi a testa e voltei a olhar para o horizonte, mas a minha vista acabou focando em uma
garota entrando no castelo, ela tinha a pele extremamente clara e pálida, cabelos ruivos
vermelhos como fogo que batiam em sua cintura, ela estava usando uma roupa toda preta.
Axel pediu para eu comportar porque essa garota veio aqui no castelo. Resolvi descer onde
eles estavam e os vi conversando.

- Eu te avisei. – A ruiva falou, seu rosto e voz me é familiar.

120
- Precisamos de novas estratégias, vamos para a sala de reunião para discutirmos melhor sobre
o plano. – Axel respondeu, antes que eles pudessem andar, a garota o parou.

- E a garota que você sequestrou? – Me inclino um pouco para vê-los e acabo fazendo um
contato visual com ela. - Olha ela aí. Nossa Axel, ela é a garota que eu te falei, que estava em
grupo e eu os observei dormindo!

Tive que aparecer no cômodo, Axel controlou a raiva e passou o braço em volta da minha
cintura. A ruiva estendeu a mão para um aperto e eu o retribui.
Me lembrei de quando meu grupo ainda estava se formando, eu disse “oi” porque ouvi passos
de alguém, agora eu sei quem era.

- Ela vai participar da nossa reunião?

Ele pensou um pouco antes de responder e então disse que sim. Andamos até uma pequena
sala, me sentei perto da garota e Axel se sentou ao meu lado.

- Precisamos trazer o seu “exército” para cá, os reis das cidades estão tentando descobrir
como eles ficaram desse jeito. E precisamos de uma nova técnica, muitos que deveriam estar
ao seu lado estão morrendo ou se revoltando. – Ela disse.

- Claro, passei dias pensando em novas técnicas, pensei em sequestrar as pessoas e hipnotizá-
las no caminho. – Ele respondeu.

- Daria muito trabalho. Não pensou em nada melhor?

- Não, você pensou? – Ela apertou os olhos. – Ah, não se esqueça de me mostrar sua fonte de
poder.

- Não vou esquecer.

- Vou ir conversando com um do suas “guardinhas” para começarem a trazer o povo para cá.
Depois que conseguir seu exército, vai colonizar os reinos como? – a ruiva cruzou as pernas.

- Vou treinar alguns deles para apagar os reis.

121
Isso inclui os pais de Harvey e de Giselly, mas agora eles não precisam se preocupar com
isso... Não sei se isso é algo bom ou ruim.
Ouvi o assunto com muita atenção para captar todos os detalhes.

- Isso vai demorar muito, até lá, todos já saberão do que está acontecendo.

- Até agora ninguém soube da minha existência. – Axel sorriu, ela reprimiu os lábios e o
encarou.

- Espero que esteja certo. Aliás, a Ravena quer fazer uma reunião com você.

- Já falei que não quero conversar sobre isso com ela.

- Minha mãe é chata, vai precisar de uma boa desculpa.

- Eu penso nisso depois.

Espera, para Ravena querer fazer uma reunião, ela precisa ser rainha... Eles estão falando da
rainha Ravena, a rainha de Opala? Não pude deixar essa curiosidade passar.

- Espere, a rainha Ravena de Opala? – Perguntei um pouco baixo.

- Sim. – A ruiva balançou os ombros como se a resposta fosse óbvia.

- Ela é sua mãe? Então você é irmã de Lilith!? – Falei ainda mais alto.

- Infelizmente sim. – Ela riu.

Fiquei boquiaberta e resmunguei, eu sempre soube que Opala estava envolvida nisso, ao
menos meus amigos não terão que testemunhar essa traição.
Axel me encarou enquanto a garota ainda ria.

- Eu não lhe dei permissão para falar. – Ele sussurrou.

122
- Axel o que você vai fazer com essa sua amante? – A garota perguntou.

- Amante? – Repeti sussurrando.

- Ela vai ser minha esposa. – Axel respondeu.

- Que irônico... Por falar em amante, a segunda parte do meu pagamento está atrasada! – ela
mudou o tom de voz.

- Eva, aqui não é lugar para falar sobre isso, e enquanto eu estiver noivo você esqueça essa
segunda parte do pagamento. – Ele disse bravo, gritando enquanto Eva ria.

- Vai me mostrar a sua bugiganga ou não? – Ela coçou a nuca.

- Vamos logo com isso.

Eles se levantaram e começaram a andar pelos corredores, eu os segui. Uma porta no fim do
corredor é por onde entramos, lá estava todas as pedras preciosas enfileiradas em ordem, em
cima de uma plataforma, uma energia passava por cima delas criando aquele mesmo arco-íris
que vimos quando fomos atrás do garoto. Elas ficavam no meio da salinha e tinha uma
barreira de proteção em volta dela juntamente com cones pontiagudos de gelo em volta. Eva
cruzou os braços e balançou a cabeça, ela parecia impressionada com tudo aquilo. A energia
as vezes escapava de onde ela deveria estar e acertava as paredes, causando um leve tremor na
sala.

- E o que você fez com todo esse poder? – Eva perguntou.

Axel mostrou um anel que tinha uma pedrinha que mudava de cor toda hora, indicando que
ele armazenou todo o poder dele ali.

- A parte de trás da joia energizada tem alfinetes, eles perfuram meu dedo e passam a energia
para mim.

A ruiva fez a mesma expressão que eu, ambas tentando digerir a informação um tanto quanto
perturbadora.

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Mais uma energia escapou do lugar e atingiu a parede, comecei seriamente a me preocupar,
Eva perguntou como aquilo funcionou e como foi o processo, apenas me escorei na parede e
comecei a ouvir tudo.
*
Pov. Narradora:

De volta a Opala, a casa na beira da praia é preenchida com a tristeza, um clima pesado que
poderia ser até cortado com uma faca. O grupo de amigos estavam sentados na cozinha,
debatendo sobre um plano para resgatar Amélie, eles já o discutiam por uma semana inteira.
Harvey estava depressivo, triste e desesperado. A garota era quem fazia os planos e trazia uma
pitada de felicidade para ele, sem ela, ele teve que aprender a se virar sozinho do pior jeito
possível.
O grupo sempre criava suposições de situações que poderiam acontecer para que o plano
fosse executado com sucesso e eles estivessem preparados para qualquer situação. Martinez e
Selina tentariam entrar no castelo sem serem vistos, Lilith e Harvey ficariam de guarda,
Tommy e Eddie criariam uma distração. Mas antes disso eles precisariam se certificar que o
castelo não tem câmeras, alarmes de segurança ou coisas do tipo. Procurar outro jovem com o
mesmo poder de Amélie demoraria muito. Apesar de que agora eles estariam mais
preparados, Lilith ainda tinha muita insegurança com seu poder e não sabia como e quando
usá-lo.
Depois de mais um dia longo de discussão, o grupo se dividiu: alguns foram para os quartos e
outros ficaram na sala. Harvey andou até o lado de fora da casa e observou a paisagem. Tudo
o lembrava Amélie, a garota era importante para ele e ele temia constantemente por sua
segurança, apesar que sua mente cogitava a opção de a garota estar morta. Mas ele não prefere
acreditar nisso, Amy se sai muito bem com seus poderes, ela saberia se defender. O medo era
sua companhia diária e sua ansiedade aumentava cada vez que ele percebia a demora com a
realização do plano. Ele entra novamente na casa e vê que Lilith ficou sozinha sentada no
sofá, de braços cruzados e encarando o nada, ele se aproximou lentamente da garota que não
tinha notado sua presença. Selina estava na cozinha observando tudo.
O príncipe se sentou ao seu lado e a branquinha o encarou, o silêncio ficou ali por alguns
minutos até ele perceber um desconforto e uma preocupação vir de Lilith.

- Tudo bem com você?

- Sim. – Ela sussurrou, molhou os lábios rapidamente e encostou no encosto do sofá


novamente, com raiva.

- Está com medo. – Ele disse. Lilith franziu a testa. – Você quer um treinamento?

- Garoto, acha que não sei usar meus poderes?

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- Acho. É o que sempre demonstra, e você parece muito preocupada.

- Não é da sua conta se estou com medo ou não. – Ela o cortou rapidamente e disse, seca. –
Meus poderes foram silenciados e eu só consegui recuperá-lo um pouco, e para isso eu tive
que fazer algumas vítimas. E se na hora eu me descontrolar e matar vocês?

- Vamos te treinar a partir de amanhã, assim que se sentir mais segura partiremos. – Harvey
passou uma das mãos em seu ombro, ele se levantou e andou até o segundo andar.

Selina se aproximou de Lilith com duas taças de vinho na mão, ela se sentou ao lado da garota
e entregou-lhe uma das taças.

- Achei que fosse querer um pouco para desestressar.

- Obrigada.

- Eu não pude deixar de ouvir a conversa, mas, você acha mesmo que pode causar uma
catástrofe? – Selina se inclinou um pouco.

- Sim, minha mãe me proibiu de usar meus poderes, não tenho muito controle desde que os
recuperei.

- Não acho que faria isso. - Agora a voz de Selina tinha um tom mais suave, tranquilizador e...
Sedutor. – Tenho certeza de que saberia o que fazer na hora certa, e se quiser uma ajuda, pode
falar comigo, eu estou aqui com você. Imagino que lidar com esse medo não seja fácil.

- Com certeza foi a coisa mais reconfortante que eu já ouvi em toda minha vida. – A
branquinha sorriu de olhos fechados e abaixou a taça em seu colo.

Selina teve um leve espanto por ver que a garota não tinha o mínimo de apoio possível em sua
casa, ela se sentiu feliz por ter feito alguém se sentir bem, principalmente ela. As duas
trocaram olhares, Lina foi se aproximando cada vez mais de Lilith.

- Sabe...

125
Lilith ia dizendo, mas foi interrompida rapidamente com um beijo, Selina apoiou as pernas
em cima do sofá e tentava cada vez mais trazer a garota para perto de si. As duas se
levantaram ainda se beijando e pararam apenas para ir até o segundo andar, elas pararam de
andar assim que terminaram de subir a escada. Selina colocou as mãos na cintura da menina e
a beijou novamente, deu um beijo em seu pescoço e a levou para o quarto que estavam
dormindo, ela trancou a porta e encarou a menina. Foi se aproximando lentamente da menina
e deu outro beijo em seu pescoço, Lilith pediu para parar e a afastou um pouco. Ela riu de
uma maneira nervosa e Selina estava sem entender nada do que estava acontecendo.

- Não podemos continuar. – Ela riu novamente.

- Por que não? – Selina cruzou os braços.

- Então... – A branquinha disse se sentando na cama. Ela gesticulou com as mãos tentando
encontrar as palavras certas. – Eu já estou tendo um rolo com outra pessoa...

- Espera, o que? Você tem outra pessoa e deixou com que te beijasse?!

- Deixei. Só não podemos passar de certo ponto, imagine o porquê.

- Sim. Na verdade, não quero estragar sua chance com outra pessoa. – Selina se sentou na
mesma cama que a garota. – Pode me contar quem é?

- Claro. Mas antes eu quero te pedir um favor.

- Ok, diga.

- Consegue ver como Amélie está?

Selina tentou ver a garota em sua mente, mas não conseguiu, fechou os olhos e nada. Ela
fechou os olhos com mais força tentando ver alguma coisa, nada acontecia. O esforço fora
tanto que a garota se levantou da cama rapidamente e se apoiou na parede sentindo uma leve
tontura. Lilith se levantou também para se preparar caso Selina desmaiasse.

- Eu não consigo... – Ela sussurrou ainda indignada com a situação.

126
- Como não? O que aconteceu?

- Eu não sei!

- Tente me controlar. Prometo que vou ficar bem.

- Tudo bem... – Selina respondeu com medo, medo do que poderia acontecer.

Ela se esforçou e fez o de sempre, mas Lilith não sentiu nada, Selina não conseguiu ter acesso
a mente da garota e consequentemente não conseguiu controlá-la.

- O que? – Selina ia sussurrando.

Um alto trovão foi ouvido do lado de fora da casa, um grito feminino e alguns transtornos
vindo do andar de baixo. As garotas correram até o andar de baixo e iriam continuar descendo
as escadas se o chão não estivesse inundado com água, a branquinha quase caiu e teve que se
segurar em Selina. Giselly e Eddie estavam em cima do balcão da cozinha. Harvey, Martinez
e Tommy estavam cada um em cima de um sofá diferente.

- O que aconteceu? – Lilith perguntou ainda abraçada a garota.

- Ninguém sabe, nós apenas vimos uma onda bater na direção da janela, quebrar e começar a
inundar a casa. – Giselly gritou.

- E ninguém consegue usar os poderes! – Martinez gritou.

Selina e Lilith se entre olharam e entenderam o que aconteceu. A água começou a subir mais,
uma grande tempestade havia se instalado do lado de fora e todos estavam com medo.

- Giselly! Não consegue parar isso? Faz parte da sua família não!? – Martinez gritou tentando
se equilibrar no sofá.

- Olha, não é bem assim que funciona. – A garota gritou de volta, ficando de pé no balcão.

- Tenta, você é filha de rei e rainha, deve conseguir! – Selina disse.

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- Tudo bem.

Giselly fechou os olhos e começou a acenar com a mão para o lado de fora, ela se abaixou
com cuidado e colocou a mãos nas águas. Uma onda enorme entrou dentro da casa,
derrubando o sofá que Tommy estava atirando-o. Copos entre outras coisas também foram
atiradas para longe, Giselly abriu os olhos, eles estavam brilhando, uma luz prateada envolveu
as mãos da menina, ela flexionou o pulso para frente e a luz se espalhou pela água, em
seguida um vento forte puxou todo o líquido para fora da casa, Giselly que estava de pé em
cima do balcão, caiu lentamente no chão. Tommy que foi atirado em direção a cozinha se
levantou, Martinez foi até ele e Lilith foi até o garoto, o abraçou e mexeu no seu cabelo que
estava completamente enxarcado e depositou um beijo suave em seus lábios, Selina observou
a cena um tanto quanto indignada. Harvey e Eddie ajudaram a loirinha a se levantar e os três
passaram pela garota que os parou no caminho.

- Sabia que conseguiria. – Ela disse batendo no ombro da loirinha. – Deixem que eu a leve
para o quarto.

Assim, as duas subiram. Lilith se soltou dos braços de Tommy e analisou o cômodo.

- Precisamos limpar isso urgentemente.

- Não, não tem necessidade. Vamos partir logo. – Harvey disse.

- Não interessa, isso aqui está uma bagunça e os móveis podem mofar. – Ela retrucou.

- Tudo bem, amanhã teremos uma reunião.

Lilith resmungou e foi para a lavanderia da casa pegar uma vassoura.


Enquanto isso no andar de cima, Selina colocou um pano molhado e gelado na testa de
Giselly, que estava deitada na cama em um estado febril.

- Como pode?! Eu nunca fiquei com febre depois de usar meus poderes.

- Talvez seja mais do que poderia aguentar. – Ela respondeu.

- E o que rolou entre você e Lilith? – Giselly se virou na cama.

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- Ela está com Tommy, não quero atrapalhar. – Selina respondeu e pegou novamente o pano
da testa da garota.

- E ela, a princesinha da maldade não aceitou trair ele contigo? – a loirinha riu, Lina bateu o
pano em seu rosto.

- Sério, não quero atrapalhar eles, apesar que eu ainda estou gostando dela...

- Uma história de amor não correspondido. – Giselly riu e fez beicinho.

- Vai dormir Giselly.

Selina saiu do quarto apagando as luzes e fechando a porta.

*
Pov. Amélie:

Axel foi muito burro em fazer o que ele fez.


Ele tentou mostrar que tinha controle sobre a plataforma com as pedras preciosas e acabou
tirando uma delas do lugar, a plataforma piscou e atirou energia para tudo que era lado, uma
delas acertou o pilar que segura a plataforma, ele bateu e voltou; atirando-as. As luzes
começaram a piscar e começou a chover água juntamente com granizo! Como o castelo fica
em uma ilha, a água invadiu quase todo o primeiro andar. O anel de Axel quase pifou.
Corri com Eva até a varanda mais próxima e nós vimos tudo, a água se acalmou em um
instante e o céu ficou parcialmente nublado. Tudo aquilo me lembrou Giselly, o poder dela...
É uma pena que possa ser apenas uma coincidência, aquilo pode ter acontecido de qualquer
lado do reino. Dentro do acastelo vimos um arco-íris piscar fortemente e logo se conter, nós
duas fomos até Axel, ele arrumou as pedras e tudo estava funcionando novamente, mas algo
estava errado com seu anel. Me surpreendo por ele não ter levado um choque, é muito poder
passando descontroladamente passando para seu corpo. Andei até ele e pedi sua mão, vi que
saía sangue para fora do anel, algo de muito ruim aconteceu.
Enfim, nós saímos da sala e eles retomaram seus planos, logo em seguida Eva foi embora. Eu
o obriguei a ir ao banheiro para vermos o que aconteceu com seu dedo. O sentei em uma
cadeira e puxei uma maleta que encontrei dentro de um armário, me sentei perto dele e tentei
tirar o anel de seu dedo, sem sucesso pedi para que ele quebrasse uma das partes do objeto
para que eu pudesse tirá-lo. Algumas faíscas de energia saíram dele e por precaução o joguei
dentro da pia com água, saiu uma fumaça como se fosse fogo se apagando. Limpei o
machucado no dedo de Axel e passei uma pomada, ele se contorceu levemente de dor e eu

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precisei segurar o riso. Passei um esparadrapo em volta do membro e comecei a guardar as
coisas que utilizei. Espero que não tenha causado um ferimento interno.

- Vai precisar fazer outro anel de poder. – alertei.

- Pelo menos você não deixou escapar muito poder através do machucado, ainda sou um
pouco poderoso. – Ele riu.

- Vê se presta mais atenção da próxima vez, poderia ter causado um grande estrago. – Não
resisti, eu precisava dar esse sermão nele.

- Só não te coloco de castigo porque você me ajudou. – Ele apertou os olhos, fiz o mesmo e o
encarei profundamente, esperando por algo. – Não vou dizer obrigado, pode esquecer isso.

Revirei os olhos e tentei abrir a porta do banheiro, mas estava trancada.

- Por quê? – Cruzei os braços.

- Pensei que você pudesse fugir. Agora não é tão ruim assim... – Ele sorriu.

- Sério?! – bufei.

Ele andou até a minha direção e agarrou o meu braço, o encarei.

- Por que você só anda com essa capa? – Perguntei em uma mistura de riso.

- Ela me deixa maneiro, não acha?

- Não. – Gargalhei. – Parece uma criança brincando de super-herói.

O sorrisinho bobo dele se desfez. Não sei o que deu em mim, posso ter perdido o juízo, mas
acabo por não sentir mais medo dele, como disse há alguns dias: se ele quisesse me matar,
provavelmente já teria feito. Me matar vai atrapalhar nossos planos, eu acho.
Axel forçou um sorriso e colocou as mãos na minha cintura, sorri com uma leve falta de ar.

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- Obrigado por cuidar de mim. – Ele sussurrou.

Passei as mãos por seus cabelos e sorri, meus dedos se enroscaram em alguns nós em seu
cabelo, não só estava embolado como indicava estar sujo. Tirei e o encarei.

- Não tenho tido muito tempo para me arrumar. – Ele me deu um leve empurrão.

- Eu posso dar um jeito nisso. – Respondi animada.

- Hoje não, talvez outro dia. – Ele respondeu e saiu do banheiro.

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Capítulo 14

Com essa ideia de “outro dia”, se passaram quatro. Enquanto isso, dois grupinhos dos
hipnotizados de Axel chegaram aqui no castelo, alguns ficam de guarda, outros Axel ensinou
para que eles pudessem treinar os que ainda vão chegar, ele usa comandos fáceis de serem
seguidos. Eva sempre vem junto e fica conversando comigo. Ela costuma ir embora no fim o
dia. Não dei muita confiança a ela por ser alguém de Opala, apesar de tudo ela é... Suportável.
Especificamente hoje, Eva ainda está juntando o grupo de hipnotizados, ela disse que alguns
desconhecidos já desconfiaram que algo de errado estava acontecendo, mas ela usou a
desculpa que a Rainha convocou algumas pessoas para se reunir e treinar longe do perigo para
que elas pudessem ajudar a acabar com tudo. Falando nisso, eu nem sei como estão as
cidades, com certeza um caos. Mas não tenho ideia de como tudo está indo.
Estava almoçando na sala de jantar com Axel, eu ainda não tinha terminado, mas ele sim, e
ainda ficou me encarando; me observando como quem quer alguma coisa. Quando acabo, ele
sorri satisfeito e penso que posso ter sido envenenada antes da hora.

- Vamos receber uma visita hoje... – Ele ia dizendo, mas o interrompi.

- Você não está apresentável para isso.

- Por que se importa tanto com isso?

- Por que não deveria? Se quiser causar uma boa impressão, você deve estar apresentável. –
Cruzo os braços em cima da mesa.

- Não há necessidade para isso.

- Quem quis me dar aulas foram você, essa foi umas das primeiras coisas que você me
ensinou, seu hipócrita.

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- Faça o que quiser! – Ele bateu na mesa e gritou assim que acabei minha frase, ri e me
levantei.

Pedi para Axel me guiar até seu quarto, entramos e fui na direção do guarda-roupa. A paleta
de cores era composta por variados tons de verde, algumas roupas brancas e pretas. Peguei
uma blusa branca básica com manga curta do tipo “abullonada”, parecia uma blusa feminina.
Também peguei um macacão verde musgo. Entrei as peças para ele e o guiei até o banheiro,
liguei a banheira e o encarei animada, pela expressão de seu rosto, Axel parece não ter
gostado muito de sua ideia.

- Acho que não quero fazer isso. – Ele disse, cruzei os braços e o olhei de cara feia.

- Você não vai se afogar. – Respondi ironicamente. – Por que não quer?

Tenho quase certeza de que Axel foi uma daquelas crianças que não gostava de tomar banho e
só o fazia se a mãe obrigasse. Pensando nisso, tive uma ideia. Apoiei minhas mãos nos
ombros de Axel, de frente para ele, sorri e sinceramente senti meu rosto ficar mais rosado do
que ele já é. O garoto também me encarou, comecei a andar em direção a banheira sem tentar
deixar explícito o que eu estava fazendo, por algum motivo ele sequer desconfiou, parecia
hipnotizado em meus olhos. Ele encarou meus lábios que assim que tentou alcançá-los, o virei
na direção da banheira onde eu estava e o empurrei. Axel molhou suas roupas e boa parte do
chão, enquanto eu ria da situação ele ainda tentava raciocinar o que aconteceu.

- Espertinha... – Se rendeu ao riso também, enquanto eu ainda gargalhava senti ele jogar água
em minha direção, o encarei brava.

- Tome seu banho e vista as roupas que eu lhe entreguei.

- Não ache que vou ser o único a tomar banho. – Ele retrucou enquanto tirava a camisa.

Axel foi em minha direção e me puxou pelo braço para dentro da banheira, recuei algumas
vezes, mas como eu comecei a rir, consequentemente fiquei mais fraca e o garoto me
direcionou calmamente para dentro do ofurô.
100% do tempo eu tentei deixar eu corpo submerso na água, Axel fez o mesmo. Tive que
fechar os olhos quando ele saiu do banho até ele se vestir, pedi a ele uma roupa emprestada e
o garoto voltou com uma blusa sua preta com detalhes roxos.

- Foi mal, Eva pegou de volta todas suas roupas e só restou as minhas. – Ele me entregou a
blusa juntamente de uma toalha.

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Ele ficou de costas enquanto eu me trocava. A blusa ficou como um vestido largo, mas não
me incomodo. Peguei um banquinho e pedi para ele se sentar, procurei uma escova de dente,
peguei um gel de cabelo que estava na pia. Sequei os cabelos dele com uma toalha, passei um
gel na escova de dente e passei, girando-a para dentro no final da mecha. Fiz isso por todo seu
cabelo que ficou completamente definido. Me surpreendi com minha própria habilidade, será
que com o cabelo de Giselly também daria para fazer isso? Acho que vou testar quando... Ah,
deixa quieto, esqueci que eles não estão mais vivos.
Axel se olhou no espelho e ficou bem surpreso, admirou seus cabelos enquanto eu guardava
as coisas de volta onde peguei. Olhei para mim mesma e pensei que minhas roupas não eram
apropriadas para receber uma visita, peguei um cinto que estava ali jogado e passei pela
minha cintura, felizmente era preto e combinou com a blusa. Arrumei meus cabelos passando
uma água neles.
Assim que saímos do banheiro, ele me olhou e sorriu.

- Obrigado. – O olhei de volta e não pude conter um sorriso.

- De nada.

Axel está mudando, por algum motivo ele naturalmente começou a mudar, começou a me
tratar de uma maneira melhor. Eu espero que seja uma mudança sincera e que não seja um
plano de traição.... Isso me deixa feliz, eu fico alegre em saber que um garoto como ele pode
mudar, mudar... Por amor? Axel parece demonstrar interesse, e sinceramente eu também.
Não quero ele, mas talvez eu não possa evitar...
Nós andamos até o salão central que fica de frente para a porta principal do castelo, ficamos
em pé ali esperando e bem na hora certa, Ravena, a rainha de Opala chegou, congelei por
alguns segundos, mas tentei me manter plena. Elas nos cumprimentaram e os dois foram até a
sala de reunião que eu fui dias atrás com ele e a Eva, preferi ficar esperando-os no salão.
Infelizmente (ou não), minha curiosidade é maior, fui até uma outra sala que ficava na frente
da de reuniões, era na verdade, um buraco na parede com livros em volta de um banco com
uma janelinha. Peguei um livro para fingir estar lendo, mas não tinha como escutar os dois
conversando.
Se passaram minutos ou até mesmo horas, acabei por ler o livro. Eu realmente estava
concentrada até que tudo foi interrompido por algo de vidro se quebrando, me atentei e resolvi
me aproximar mais da porta. Escutei outro vidro se quebrando e alguns resmungos
provavelmente vindo de Axel. A porta não estava trancada, entrei e me deparei com uma cena
um tanto quanto horrível: Axel estava pressionado na parede com uma parede de vento
grossa, preta em volta de sua cabeça e espalhada pela parede. Minha única reação foi gritar
com a mulher, ela gargalhou e não pode se concentrar em mim, se não seu poder pararia. Fui
na direção de Axel e tentei de todas as formas acordá-lo, mas ele não respondia. “Escuridão
da morte”, lembro-me do poder de Lilith, era isso que estava acontecendo. Fiz um furacão se
formar e o direcionei para a Rainha, ela tentou desviar, mas não conseguiu, o fiz aumentar e
girar cada vez mais rápido. Livros, os cacos de vidro e papéis começaram a voar junto com o
furacão, alguns raios caíram na direção dela. Aos poucos, a fumaça preta começou a sumir.
Escutei a Rainha cair no chão e Axel caiu de joelhos, quase sufocado por completo, a fumaça

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que o envolvia sumiu completamente e fui até ele. Ele estava fraco, o fiz sentar no chão
encostado na parede e fui até o lado de fora do palácio chamar alguns guardas, eles retiraram
a Rainha desacordada dali e a levaram para o salão central.
Voltei ao encontro de Axel, o ajudei a levantar e guiei até o quarto, com certeza as
consequências disso são piores do que um simples controle de mentes, ele é forte, vai ficar
bem. O deixei descansando e fui falar com Ravena. Ela estava bebendo um copo de água e
estava acorrentada pelos dois braços com os guardas segurando as correntes. Andei de braços
cruzados até ela e parei bem em sua frente, ela poderia me matar se não estivesse tão tonta.

- Você tentou matar Axel, por acaso você perdeu a cabeça? Quem você pensa que é para fazer
isso com ele? Uma Rainha com um trabalho tão digno não deveria fazer isso, mas o que eu
esperaria de alguém de Opala? – Me abaixei até ficar em sua altura, não foi muito difícil
porque ela estava apenas sentada e é uma adulta.

Ela se levantou também e jogou o copo longe, me encarou séria e se aproximou de mim.

- Garota você não sabe com quem está falando.

- Não sei?! Tem tanta certeza assim? Você mostrou que é uma desequilibrada egoísta, que
quer as coisas apenas do seu jeito, tentou matá-lo para ficar poderosa!? O mundo não
funciona assim.

- Pelo menos você não é tão ingênua quanto eu pensei. Mas não deixa de ser uma criança.

- A única criança que enxergo aqui é você.

Ela tentou ir para cima de mim, mas foi impedida pelas correntes. Ela se debateu e derrubou
os guardas, pisou em cimas das correntes com o seu grande coturno preto, por incrível que
pareça ela conseguiu quebrá-las. Tentei impedir as foi em vão, ela colocou uma mão em meu
pescoço e apertou, não consegui pensar em fazer um vento forte para pará-la. Escutei passos e
consegui ver um borrão verde andando em nossa direção.

- Tire as mãos da minha noiva. – Axel gritou fazendo crescer do chão grandes espinhos de
gelo, foram na direção dela então ela teve que afastar.

Me escorei na parede com uma mão no peito tentando regular minha respiração. Não vi muita
coisa, os guardas se levantaram e levaram Ravena para fora do palácio, Axel foi em minha
direção e segurou maus ombros, de frente para mim.

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- Você está bem?

- Sim, e você deveria estar de cama. – Respondi.

- Eu te observei e vi que precisava de ajuda, é uma maneira de retribuir o que você fez por
mim.

Abri a boca algumas vezes querendo dar uma bronca nele, mas não consegui. Coloquei uma
das mãos apoiadas e seu queixo e sorri.

- Você precisa descansar. – Digo.

- Apenas se você for comigo. – Ele segurou minha mão.

Eu aceitei, precisávamos de um descanso e por que não? Ele me levou até seu quarto e nós
dormimos a tarde toda e posso dizer que não foi tão ruim assim...

*
Pov. Narradora:

Em Opala, nesses quatro dais, todo o grupo tentou limpar a casa.


Selina e Martinez estavam colocando um dos sofás para fora da casa, praticamente todos os
móveis de pano e madeira tinham mofado e eles estavam jogando tudo para fora da casa.
Lilith, Tommy e Eddie estavam lavando dentro da casa, passando rodo e depois um pano
seco, o resto do grupo estavam analisando outros móveis para ver se não e eles não tinham
estragado. Além de metade do telhado da casa estar caído e destruído, a frente da casa estava
toda arrebentada.

- Sério, eu desisto. – Tommy jogou o rodinho no chão.

Selina e Martinez terminaram de jogar o sofá no chão, a menina cruzou os braços e andou em
direção ao resto do grupo.

- Também não aguento mais. – Ela reclamou.

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- Certo, chamem todos aqui para fora, por favor. – Harvey ordenou e Martinez obedeceu.

O grupo foi para o lado de fora da casa, alguns se sentaram na areia e outros quiseram ficar
em pé.

- Não temos condições de continuar nessa casa, vamos em busca de moradia até discutirmos o
final do plano. Precisamos ser rápidos com isso. – O príncipe começou.

- Ok, e onde vamos achar uma casa? Com esse caos. – Lilith retrucou.

- Deve ter algumas casas perto do cais que estacionamos o barco, vamos para lá.

- E vamos demorar mais ainda para resgatar Amélie, não acha que já enrolamos demais? – A
branquinha disse batendo o pé.

De alguma forma aquilo irritou Harvey de uma maneira que nem ele poderia controlar, todo o
estresse e a preocupação adquirida nessas semanas o fez perder a cabeça. Seu rosto começou a
avermelhar e seus cabelos cor de mel começaram a voar, mesmo sem vento nenhum.

- Lilith, você quer que aconteça como aconteceu naquele dia? Você nem usou seus poderes e
não conseguiu proteger Amélie. A falta de planejamento que nos trouxe ao presente, espero
que você aprenda a se organizar e que faça algo de útil ao invés de ficar parada. – Ele
esbravejou.

Lilith o encarou em choque, aquelas palavras não feriram seu coração, mas a maneira rude
como o príncipe a tratou a fez ficar brava, ela sabe que se perder a cabeça como Harvey, ela
pode ser bem pior que ele. A garota se desencostou da parede e andou para mais perto dele,
Selina tentou chamar sua atenção, mas a mesma a ignorou.

- Olha aqui garoto, foi por culpa do seus pais que eu perdi meus poderes, você acha que é
fácil recuperá-los? Você sempre teve tudo em mãos, nasceu com o bom e do melhor, está
acostumado ter tudo feito do seu jeito. Eu acho melhor você maneirar no tom que fala
comigo, quer que eu entregue todos vocês para minha mãe e acabe com o plano? Você me
pediu para cuidar da sua “namoradinha”, se estava tão preocupado, por que não a cuidou você
mesmo? – a garota retrucou.

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Todos ficaram em silêncio, Martinez e Selina se entreolharam reprimindo os lábios com uma
leve vontade de rir. O clima do lugar pesou. Harvey sabia que no fundo ela estava certa, mas
ele não tinha espaço em sua mente para se preocupar com isso.

- Saiba que... – O príncipe ia dizendo.

- Cala a boca. – Lilith que estava quase saindo dali se virou para responder.

- Garota, você está falando com o filho da rainha.

A branquinha o ignorou e saiu andando, Tommy foi atrás dela.

- Ah! Ótimo! – Harvey bateu as mãos nas pernas. – Arrumem suas coisas que partiremos
daqui a pouco. – Ele disse entrando na casa.

Ninguém falou nada, eles entraram na moradia e foram pegar suas malas.
Selina estava no quarto que dividia com Lilith, ambas estavam arrumando suas coisas. Assim
que Lina terminou, ela olhou para a branquinha e esperou para que ela percebesse.

- O que você quer? – Lilith finalmente a encarou.

- Está tudo bem?

- Claro, com certeza, está tudo ótimo!

-Sério Lilith, tenta ficar de boa.

- Ficar de boa? – A branquinha a interrompeu. – Ele tem a ousadia de falar daquela maneira
comigo. Você só diz isso porque o passado não é seu!

- Está todo mundo meio estressado com isso, Harvey não está bem, ele está preocupado com
Amy...

A menina se sentou na cama e suspirou fitando o chão por alguns segundos.

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- Eu só não abandono vocês porque precisam de mim, eu não faria esse tipo de coisa com...
Meus amigos.

- Que bom! – Selina exclamou. Ela caminhou até Lilith e apoiou a mão em seu ombro. – Fico
feliz que tenha se enturmado... Apesar das discussões.

A troca de olhares foi intensificada e Selina achou melhor se afastar. Ela sorriu e disse que era
melhor elas descerem.
Todos estavam do lado de fora apenas esperando por elas. Martinez se lembrava bem do
caminho, ele quem guiou o grupo para andar até Opala. Para chegar até o cais eles
precisariam atravessar Opala, Martinez optou por ir pelo meio da cidade. Lá estava destruído,
ainda havia pessoas tirando a água de dentro dos lugares, a maioria das lojas estavam
fechadas. Tinham poucas pessoas nas ruas, algumas com filhos, outra tentando conseguir algo
no lixo, outras se escondendo em becos... A única coisa que talvez amenizasse a situação era
uma fonte cinza que tinha um chafariz em formato de rosas e peixes no meio, a água era
pouca.
O grupo estava andando em silêncio. Lilith ainda estressada começou a resmungar com
Martinez, Giselly se virou para trás para tentar ouvi-los, querendo saber do que ela estava
sussurrando. A branquinha ficou estressada e começou a discutir com a loirinha, chamando-a
de intrometida. Selina tentou a acalmar, Harvey se irritou e começou a mandá-los a calar a
boca. A loirinha ignorou todos os insultos de Lilith e foi até Harvey, ela colocou a mão em se
ombro e o pediu para respirar fundo.

- Sério, tente ficar calmo. – Ela diz.

Harvey deu um leve empurrão na garota e a encarou.

- Diz para todo mundo o que quer dizer. – O príncipe cruzou os braços.

- Deixa de ser intrometido. Não interessa.

- Por que você não me trata com respeito? Eu sou filho da rainha que é praticamente dono do
mundo. – Ele disse.

- Giselly também é, eu também sou! – Ela gritou. – E ninguém está exigindo respeito aqui,
você é o único egocêntrico.

- Quem você chamou de...

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Harvey disse e tentou se aproximar da garota, mas Eddie e Martinez o seguraram mandando-o
se acalmar, ela cruzou os braços indignada com que acabou de ouvir ainda mais com a
tentativa do garoto de ir para cima dela. Ela bateu palmas.

- Isso! Me bate! Que coisa linda, um príncipe batendo em outra princesa!

Tommy puxou a garota pelo ombro chamando sua atenção discretamente.

- Está chamando a atenção de todo mundo na rua. – Selina sussurrou para ela.

- Ah, agora tudo é culpa minha! – ela disse, mas com o tom de voz diminuído. – Quer saber!?
Cansei! Vocês que se virem!

Ela saiu correndo, Selina revirou os olhos, bateu aos braços nas pernas e saiu correndo atrás
da garota, Tommy foi atrás das duas.
Selina conseguiu ver onde Lilith estava através de seus poderes e a encontrou parada de frente
a uma parede olhando para o chão, em um beco. Lilith percebeu a presença dos dois, mas
apenas olha para Selina, indicando que queria falar apenas com ela. Tommy sai dali, deixando
as duas à sós.

- Ei... Sério?! – Selina começou a andar na direção dela.

- Olha, eu não quero ver ninguém. Por que me seguiu?

- Lilith, conta comigo. Já esse estresse vai passar, nós precisamos de você.

- Não interessa. Some daqui!

Selina andou até ela e segurou suas mãos.

- Não saio enquanto você não me contar.

Lilith suspirou e a olhou com ódio, mas achou melhor obedecer para as coisas não piorarem,
ela suspirou e se soltou da garota.

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- Harvey não está facilitando o trabalho, ele está deixando todo mundo estressado. Eu não sei
o que eu fiz para ele, mas ele arruma motivos para brigar! – ela responde com os olhos
enchendo de lágrimas. – Eu tentei me encaixar no seu grupo, tentei ser uma pessoa melhor e
diferente. Só que um dos líderes te trata assim só porque a “namoradinha” está com outro.

Lilith a abraçou e fez um carinho na sua cabeça, a branquinha se rendeu ao abraço.

- Sei como pode ser difícil para você. Já disse que estou aqui com você? Tudo isso vai passar,
são apenas alguns conflitos por trabalhar em grupo.

- Você não sofreu com isso... – Ela sussurra puxando a pele próxima aos olhos para as
lágrimas não caírem.

- Eu sei, mas eu te prometo que vai ficar tudo bem. Precisamos de você, se não fosse
importante, Amélie não teria te escolhido. Depois disso tudo, nós vamos ficar bem e voltar a
harmonia de antes, agora realmente é um momento difícil. – Selina segurou seu queixo – Mas
eu prometo que vou ficar aqui com você, mas você precisa me prometer também que vai
voltar.

As duas se entreolharam profundamente, Lilith olhou para o chão e depois para Selina. Ela
tentou esboçar um sorriso em seus lábios e só teve forças para beijar a garota. Lina abraçou a
cintura da garota a trazendo para mais perto de si, a branquinha puxou seu rosto para
intensificar o beijo. Selina ficou surpresa com o ato, Lilith nunca foi de demonstrar tanto
amor, ela não era do tipo que tomava iniciativa. Aquele beijo só significava que ela realmente
a amava e sentia algo pela garota.
As duas andaram até encostar no muro do beco, quando perceberam, elas pararam.

- Podemos fazer isso em qualquer outro lugar, menos em um beco. – Lilith disse.

- E o Tommy? – Selina tentou, mas não conseguiu se afastar de Lilith.

- Não tenho mais nada com ele.

Ela respondeu e Lina soltou um sorriso sincero.

- E então? – Ela se aproximou novamente da garota. – Promete que vai voltar?

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Lilith depositou outro beijo em seus lábios e sorriu.

- Tudo bem, eu prometo.

As duas saíram dali de mãos dadas e passaram por Tommy que estava sentado na frente de
uma loja abandonada, não muito longe de onde as meninas estavam.

- E então? Tudo bem? – Ele perguntou.

- Claro. Vamos voltar até onde o pessoal está. – Lilith respondeu.

Eles caminharam até a fonte, mas não havia ninguém lá. O grupo tinha sumido.

- Para onde eles foram? – Tommy resmunga.

Selina tentou vê-los.

- Eles estão em um lugar, eu não consigo reconhecer onde eles estão.

- Devem ter ido para o único cais da cidade. Eu sei onde é. – Lilith respondeu, mas assim eu
ia andar, parou. - Se bem que já vai anoitecer, demora para chegar lá. Não é bom nós
andarmos de noite por aqui.

- Vamos entrar em qualquer casa abandonada. – Lina disse balançando os ombros.

O trio andou até chegarem em algumas casas mais distantes do centro e se abrigaram em uma
moradia quebrada, se certificaram de que não havia ninguém ali e entraram. Lilith já sentiu o
espírito da limpeza encostar nela, mas se rendeu a vontade de organizar o lugar. Eles
dormiram ali.

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Capítulo 15

Na manhã seguinte, a luz invadiu a casa por não ter janelas ou cortinas fazendo com que todo
mundo acordasse. Lilith estava dobrando alguns lençóis que encontrou jogado no chão e os
usou de travesseiro. Selina estava sentada ao lado de Tommy e ambos estavam encarando o
nada.

- Vamos encontrar o resto do pessoal? – Tommy perguntou.

- Não. – Lilith respondeu.

Os dois a encararam ao mesmo tempo com olhares confusos, Lilith terminou de guardar os
lençóis e foi até eles colocando a mão na cintura.

- Como assim “não”? – Selina a encarou.

- Eu não quero ver eles. Não quero olhar para Harvey, o clima ficou pesado demais, não quero
voltar.

Selina se levantou e ficou de frente para a garota.

- Você prometeu que ia voltar. – Ela a encarou.

- Eu vou, mas vão nos procurar quando precisarem da gente e com certeza vão nos dar
notícias.

- O que vamos fazer então? – Tommy perguntou

143
- Sei lá, podemos procurar comida ou descansar. – A branquinha respondeu.

- Ok... – Selina respondeu.

Enquanto isso

Na beira do cais, havia casas, a maioria eram palafitas e estavam abandonadas. Martinez os
guiou até eles decidirem em que casa ficar. Essa parte de Opala seria o começo de uma
revolução no reino. A maioria das casas funcionavam através de geradores de energia que
ficavam dentro do mar, hélices que giravam dentro da água e passavam pelo processo de
transformação. Algumas casas tinham plataformas em cima dos telhados para energia solar,
mas as árvores impediam o funcionamento, não era um investimento muito bom. O litoral era
coberto por árvores, justamente onde ficavam as casas. O resto do reino quase não tinham
energia. O lugar era extremamente calmo, mas também era o lugar mais depressivo para se
morar, tão pior quanto o centro da cidade destruída. Foi por pouco que o descontrole que
aconteceu dias atrás não destruiu toda as casas, ainda assim, o lugar era tão calmo ao ponto de
se tonar insuportável.
O grupo se acomodou em uma das casas e o clima ali era muito pesado, ninguém falou nada
pelo resto da noite e pela manhã inteira. Giselly tinha feito uma espécie de caderno para seu
amigo, ela queimou pedaços que ela conseguia dos troncos das árvores, queimava a madeira
até virar cinzas escuras e as misturava com água. Pegou uma pena que encontrou no cainho,
afiou a ponta com uma faca e fez um furo fundo na ponta que tinha afiado do câlamo, criando
assim, uma caneta. Ela também pegou folhas de árvores e entregou para Harvey para que ele
pudesse anotar todos seus planos.
O príncipe ficou a tarde toda tentando criar planos, não demorou para que ele surtasse e
atirasse as coisas para longe. Ele colocou as mãos na cabeça e suspirou. Os amigos o
encararam preocupado e Giselly encorajou Martinez para conversar com Harvey, uma
conversa de homem para homem. Ele retrucou e desconfiou, mas a garota o empurrou para
perto dele e começou a sair de fininho junto com Eddie para fora da casa. Martinez caminhou
lentamente até Harvey e se sentou ao lado dele, ele cruzou as mãos e suspirou.

- Harvey, não acha que trabalhou demais? – Ele perguntou tentando ficar calmo.

- O que você quis dizer? Que vou parar de trabalhar e deixar Amélie esperando por mais
tempo? – O príncipe retrucou bravo.

- Cara, se você ficar estressado, todos seus planos vão dar errado. Você não está com cabeça
para pensar nessas coisas. Eu entendo que é a Amélie, sua “namoradinha” e que você está
extremamente preocupado. Mas você não pode pensar só nela. – Harvey ia dizer alguma
coisa, mas o garoto o cortou. – Eu sei que é difícil, você precisa pensar em você também.

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O príncipe suspirou e começou a pensar, Martinez o encarou meio confuso.

- Vai mesmo acreditar no que eu disse? Não sou bom com conselhos.

- O que? Mas tudo o que você disse é verdade. – Ele respondeu e o amigo sorriu orgulhoso de
si mesmo.

- Amélie está viva, você acha mesmo que Axel ia matar só ela e nos deixar vivo? Agora, para
o seu bem e para o bem de todos, descanse por uns dois dias só para o estresse diminuir, você
não vai conseguir fazer planos desse jeito. É melhor fazer as coisas com calma e do jeito
certo. Ela vai ficar bem.

- Mas... Lilith, Selina e Tommy. Nós precisamos deles, se não os planos não vão dar certo.

- Bem, agora você precisa pensar como um rei e ir atrás deles! – Martinez abraçou-o de lado
sorrindo.

- Está certo! Vamos atrás deles! – Harvey gargalhou entusiasmado. – Isso depois que eu
descansar um pouco. – Ele se afastou do amigo e começou a andar para um dos quartos da
casa.

Martinez reprimiu os lábios e sorriu extremamente orgulhoso de si mesmo. Ele foi até o lado
de fora da casa procurar onde estavam o casal. Os encontrou sentados na beira da praia,
Giselly estava catando conchas e entregando para Eddie, o garoto caminhou lentamente até
eles e sorriu quando o casal notou sua presença.

- E então? – Eddie perguntou.

- Ele aceitou ter dois dias de descanso, eu disse que Amélie com certeza está bem. Depois nós
vamos atrás das meninas e do Tommy. – Respondeu.

- Ah, que bom! – Giselly sorriu.

O trio ficou na praia até o sol ficar bem mais forte, perto do meio-dia.
Então eles saíram pela feira que estava acontecendo por ali e procuraram alguma coisa para
comer.

145
*

Nesse mesmo horário, no castelo da pequena ilha, Amélie, Axel estavam almoçando
juntamente a Eva. Eles ficavam em silêncio na maior parte do tempo, mas a ruivinha não
deixou de perceber a intensa e corriqueira troca de olhares que o casal dava.
Quando terminaram de comer, uma das mulheres hipnotizadas de Axel juntamente de alguns
guardas estava recolhendo a mesa. Eva ajeitou a postura, abaixando a perna que estava
apoiada no braço da cadeira.

- Seus anéis hipnotizadores acabaram. Não vai arrumar mais guardas? – Ela comentou.

- Sim, eu sei. E não, não vou continuar. Já tenho dois pequenos reinos inteiros dominados,
essa foi uma das minhas primeiras ações para meu plano. – Ele respondeu.

- Ninguém desconfiou? Como conseguiu dominar dois reinos inteiros? – Amy entrou na
conversa.

- Óbvio que várias pessoas desconfiaram e outras pessoas se recusaram a usar o anel. – Eva
respondeu encarando intensamente a garota, para que ela se interessasse mais pelo assunto.

- E o que você fez? – A garota sorriu apoiando a cabeça nas mãos.

- Primeiro eu me disfarcei e me ofereci para fazer um banquete para os reis dos dois reinos,
usei os hipnotizados para conseguir convencê-los a me contratar, falando bem de mim. Os
envenenei e ninguém desconfiou porque eu forjei minha morte. As pessoas opositoras que eu
mencionei, juntei todas elas com a ajuda do “povo de Axel” e as matei. Uma chacina em
tanto, você nem imagina. – A ruivinha terminou de responder.

Amy se encolheu um pouco com um leve medo da garota, ela estava sozinha em um castelo
com dois assassinos, mas quem mais lhe dava medo era justamente Eva.

- Qual o próximo passo do seu plano? – Ela tentou mudar de assunto.

- Me casar com você e colocar esses reinos que dominei em meu nome, me tornando rei aos
poucos. Aliás, precisamos começar a ver as coisas do casamento.

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- Espera, vocês vão se casar? – A ruivinha riu de uma maneira tímida. – Um dos hipnotizados
é um padre, já temos alguém para fazer o casamento.

- Mas eu não queria uma festa, muitos ficaria sabendo. – Amy resmungou, porém alto o
suficiente para os dois escutarem.

- Não vamos ter uma festa. – Axel respondeu. – Independente de que forma vamos nos casar,
precisamos de um cerimonialista para que também possamos nos tornar reis, se adiantarmos
algumas papeladas podemos fazer tudo no mesmo dia.

- Amy, você vai ser rainha, todo mundo vai conhecer o seu nome de qualquer jeito. – Eva
acrescentou.

A garota se encostou na cadeira e deixou sua mente organizar as informações. Ela queria falar
com seus pais a respeito do casamento, mas isso seria meio impossível de fazer acontecer,
Axel talvez não goste da ideia. Ela sabe que eles vão a reconhecer quando ela se tornar rainha
e aparecer e todos os canais de jornais, ela também sente medo do que pode acontecer depois
que eles começarem a governar. Mas vai ficar viva apenas por três meses depois do
casamento, outra coisa que preocupava muito a sua mente. Amélie queria conversar com Axel
a respeito, talvez ela realmente tenha começado a gostar do garoto e não queria morrer.
A porta da cozinha foi aberta e um dos guardas chamou Axel para verificar algo. O garoto foi
analisar se uma parte de seu plano está ocorrendo bem. Ele utilizar um de seus hipnotizados
para ser culpado de todos os seus atos, já que o plano é matar os reis de todos os reinos, ele
precisa de alguém para colocar a responsabilidade, esse hipnotizado vai ser conhecido como
um dos maiores assassinos que está a solta pelo mundo, o mesmo que matou os governantes
dos reinos que ele já dominou. Mas esse verdadeiro cargo já foi colocado para Eva.
De volta a cozinha, assim que Axel saiu, a ruivinha foi até Amélie e puxou ela para sair do
cômodo, enquanto elas andavam, a garota segurou Amy pelo braço e começou a conversar
com ela.

- Não sabia que vocês iam se casar... Se quiser, eu tenho alguns vestidos para te emprestar,
roupas em geral eu posso te doar algumas. Eu volto ainda hoje para lhe entregá-las.

- Obrigada. – Amy respondeu e sorriu.

- Está animada com o casamento?

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Aquela pergunta abriu uma enorme oportunidade para Amélie desabafar tudo o que adentra
em sua mente, mas ela preferiu ficar quieta e apenas acenar com a cabeça. A ruivinha
entendeu que ela não queria falar sobre aquilo, então parou de andar.

- Não vou vir aqui amanhã, vou voltar para casa agora e trazer suas roupas, ok?

- Claro, pode ir.

Assim, a ruiva se retirou. Amy começou a caminhar pelo castelo até não ter mais para onde ir,
ela se deparou com uma porta na qual decidiu entrar. Aquela sala estava bem bagunçada,
tinha livros, papéis entre muitas outras coisas espalhadas pelo lugar, nas paredes tinham
vários mapas, principalmente de várias cidades e reinos, quadros brancos e cartolinas com
anotações ou sobre o plano em si, ou sobre os reinos. Muitos cadernos estavam jogados em
cima de uma mesa, entre eles, um diário. Amy fez vista grossa objeto, mas conseguiu capturar
a frase “{...}para o nosso casamento.” Ela resistiu em ler e continuou andando pelo cômodo,
enquanto olhava para o mapa do mundo colado na parede com algumas marcações em
vermelho, preto e amarelo. Ela não ouviu os passos se aproximarem. Axel a chamou parado
na porta encarando-a, a garota pulou de susto e foi até ele, de certa forma tentando se explicar,
o garoto gargalhou e colocou a mão na testa.

- Só não brigo com você porque é minha noiva, não posso ficar “escondendo” o plano. Então,
o que te interessou aqui? O que você quer?

- Nada. Só estava olhando os mapas...

Axel entrou na sala e se deu conta da bagunça que estava ali, parando e andar e analisando
todo o cômodo.

- Uma pena que possa ter notado a bagunça. – Ele disse enquanto pegava alguns papéis e os
juntava na mesa.

Amélie se sentou na cadeira e começou a fazer o mesmo. Ela juntou um pouco de coragem
naquele momento para conversar com o garoto.

- Axel... Preciso te contar uma coisa.

- Diga.

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A garota travou na hora de falar, o garoto a encarou e cruzou os braços parando tudo o que
estava fazendo.

- Não precisa ter vergonha de falar comigo, pode ser difícil, mas pode confiar em mim.

- Eu realmente não quero que você me mate.

- Te matar? Por que eu faria isso? – Ele a encarou confusamente.

- Não se lembra? Três meses após o casamento, você deveria me matar!

- Ah... Se não quer que eu te mate, não irei fazer isso. Não me importo nenhum um pouco em
ficar com você, gosto tanto de você quanto gostava de Eva.

- Vocês tiveram um caso?

- Ela é uma meretriz. – Axel gargalhou - Apenas me pediu o pagamento por seu serviço de
outra forma, depois de um tempo perdeu a graça.

- Então, vou ficar ao seu lado pelo resto de sua vida.

- Não sei se devo ficar feliz ou triste. – Ele gargalhou novamente, dessa vez baixo.

Amélie o encarou com um sorriso no rosto apesar de estar indignada com o que acabou de
ouvir, ela já tinha terminado de organizar três pilhas de folhas, duas delas dentro de sacos e a
outra ela jogou na mesa.

- Depois dessa, vai terminar de arrumar tudo sozinho!

Ela se levantou e andou até a porta, mas Axel fechou a porta usando o vento, ele riu enquanto
Amy voltava para perto dele, ela começou a pegar os livros, fechá-los e os colocá-los nas
prateleiras, especificamente em ordem alfabética. O casal ficou andando de um lado para o
outro como se estivessem em uma dança silenciosa. Por fim, quando tudo já estava arrumado,
Amélie se jogou na cadeira e deitou a cabeça na mesa.
- Nunca mais acumule essa bagunça! – Ela disse.

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- Não posso prometer nada. Sabe, amanhã já que a Eva não vai vir, eu planejei um dia inteiro
só para nós.

- Não é uma má ideia.

- Então a gente conversa sobre o casamento e tem um tempinho só para a gente.

- Tudo bem.

Axel puxou a garota da cadeira e a segurou em seu colo, ele caminhou até a porta e assim que
abriu, se deparou com Eva ali, parada.

- Oi? – Ela diz. – Trouxe as roupas da Amélie, espero que eu não esteja atrapalhando.

- Roupas? – Axel a colocou no chão.

- Sim. Eu já volto. – Amy disse saindo com a ruivinha do cômodo.

As duas caminharam até um canto do castelo que ficava de frente a uma janela, com sofás
encostados nas paredes, uma mini sala. Lá tinha uma caixa com muitas roupas dentro. Amélie
sorriu e abriu a caixa, Eva encostou na parede e sorriu a observando.
A garota puxou um vestido de cor vinho e o colocou em frente ao seu corpo.

- Sabia que você ia gostar. – A ruivinha disse.

- Muito obrigada.

Eva se ofereceu para ajudar a garota a arrumar as roupas dentro de um guarda-roupa. Elas
foram até o quarto onde ela e Axel estavam dormindo e começou a ajudá-la, dobrando e
entregando-as para a garota. Foi um momento que as duas aproveitaram para conversar sobre
a vida da ruivinha, que não era nada fácil, já que Lilith não queria ser cruel como sua mãe,
Eva sendo a próxima na linha de sucessão, foi obrigada a treinar para ser a futura e próxima
rainha de Opala. Ela também comentou como sua vida foi controlada pela mulher até ela
decidir sair de casa, foi onde ela encontrou Axel e os dois ficaram juntos desde então. Amélie
prestou bem atenção na conversa e conseguiu perder um pouco de medo que sentia por ela,
apesar de ser uma assassina, Eva estranhamente lhe passava uma sensação de conforto.

150
As duas acabaram de arrumar as coisas e a ruiva acompanhou Amélie até o salão de entrada,
ela estava indo embora e quis se despedir. Ela foi embora então Amélie começou a andar de
volta ao quarto, começou a vasculhas as roupas que tinha arrumado, pegou um vestido violeta
e enquanto o analisava não percebeu que Axel havia chegado no quarto. Ele se apoiou na
porta e esperou que a garota o notasse.

- Daqui a pouco o jantar vai ser servido. Vou me preparar e te espero na sala. – Ele disse
entrando no quarto, pegando uma peça de roupa e saindo.

Amélie sorriu olhando para o vestido e se imaginou o usando no jantar, a oportunidade


perfeita para estrear a peça nova.
Ela se vestiu e prendeu os cabelos, queria ficar atraente, mas não queria chamar tanta a
atenção. O vestido era vinho, deixava os ombros de fora e sua saia chegava até os pés, tendo
uma abertura em V que mostrava dos joelhos para baixo. Também acompanhado de um cinto
preto com a fivela prateada. Ela se autoanalisou em um dos espelhos do quarto enquanto
passava a mão na roupa vendo se estava do jeito que queria: confortável.

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Capítulo 16

Um sino foi ouvido e um dos guardas foi chamá-la para o jantar, eles caminharam juntos e
foram até a sala de jantar onde Axel já estava a sua espera, ela se sentou à sua frente, bem em
sua direção e esperou o guarda sair para que eles pudessem se servir. Os dois trocavam
olhares indiscretos e se alimentavam, em silêncio, como se algo pudesse atacar se fizessem
qualquer tipo de barulho. Por fim, Amy tomou um gole de uma bebida prateada com espuma
branca em cima, molhou os lábios e tentou quebrar o gelo.

- Qual foi sua ideia inicial quando roubou as pedras vitais de Georse?

- Quer mesmo falar de negócios agora?

- Quero, é um assunto que me interessa, até porque eu moro no reino.

- Digamos que Georse tem governadores muito fortes, na qual eu não conseguiria executá-los
tão rápido. Então fiz apenas uma parte, roubar as pedras, transformá-las em uma fonte de
poder. Ninguém sabe onde estão localizadas e o reino vai se destruindo aos poucos, não
preciso de muito. – Axel respondeu.

Amélie arqueou as sobrancelhas e bebeu mais um pouco da bebida, prestando atenção.

- Os dois reinos que já conquistei não tinham esse tipo de pedras preciosas, eram
extremamente pobres e pequenos, consegui-los não foi difícil.

- E aqui em Georse? Foi difícil?

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- Deu um pouco de trabalho, confesso. Mas também achei que vocês fossem mais espertos,
poucos ou nenhum sistema de segurança!?

- Pois é, foi bem estúpido... – Amy terminou sua bebida e logo colocou a taça na mesa se
lembrando de algo. – Sabia que você quase me matou?
- Outra vez?

- Quando você foi roubar a pedra de Diamante, no castelo. O lustre caiu em cima de mim.

Axel gargalhou alto e demorou para se recompor, ele encarou Amélie que estava o
observando com um leve sorriso, mas seu olhar continha indignação, ela suspirou e pegou
uma garrafa para colocar mais da bebida prateada em sua taça.

- Qual é, não tive nenhuma intenção em te matar, sabe disso. – Ele disse se levantando.

- Sei. – Ela respondeu ironicamente. – Vai aonde?

- O jantar acabou, devemos sair da sala de jantar para que os empregados possam retirar a
mesa.

Amélie tomou o resto de sua bebida em um só gole e se levantou. Sua pressão caiu e ela teve
que se apoiar na mesa, Axel riu antes de passar os braços em volta de seus ombros para ajudá-
la.
Os dois caminharam para fora do castelo para que a garota também pudesse respirar um ar
fresco. Axel se sentou em um banquinho de madeira que ficava encostado na parede do
castelo e que era na beirada de um barranco, que se descesse, iria de encontro a uma praia.
Ficava no meio de plantas e arbustos, ventava bastante e a vista para o céu era linda.
Amélie encostou na parede e cruzou os braços, respirando fundo. Ela encarou o horizonte e
depois seu noivo.

- O que vai fazer em relação a Georse?

- Não tenho certeza, mas pensei em fazer quase o mesmo que Eva fez. Oferecer um banquete
envenenado ou matá-los e usar um de meus hipnotizados para colocar a culpa, dizendo que é
um assassino em série. Depois eu o capturo e por causa de minha braveza e coragem, me
ofereço para ser rei dos reinos, já que eles estariam sem governador.

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- E as pedras vitais? – Amy o olhou de canto.

- Elas são como o poder máximo, sem elas, os reinos e cidades se destroem e não são o que
são. Elas quem passaram todo o poder para mim e me tornaram muito poderoso. Vou deixá-
las armazenadas como minha fonte.

- Vai se tornar o rei do mundo todo?

- Claro, ter todo o poder para mim, tudo em minhas mãos.

- E se alguém destruir seu plano, o que você vai fazer? – Amy mudou o tom de voz.

- Isso não vai acontecer. Por que a pergunta? – Ele se virou para ela.

- Só estava imaginando a situação.

Os dois ficaram em silêncio, Axel escorou na parede um pouco confuso com a pergunta de
Amy, ele estava sentindo algo pela garota e estava adorando a ideia do casamento até então...,
Mas Amélie não seria capaz de trai-lo, ah não... Ela nunca faria isso.
A garota riu e logo o olhou.

- Tem medo? – ela perguntou com um sorriso provocador.

- Não, por que eu teria? Sou poderoso o suficiente.

Ela levantou as sobrancelhas rapidamente e continuou sorrindo, olhando para o mato.

- Parece tarde. Acho melhor entrarmos.

Eles se levantaram, Axel passou o braço em volta de sua cintura e entraram no castelo. Foram
até o quarto e Amélie, por causa da bebida, não demorou para adormecer. Mas Axel ficou
conturbado, sua mente estava preocupada se nenhum motivo, aparentemente. No meio da
madrugada, ele ainda estava tentando deixar seus pensamentos sumirem, mas não conseguia.
Ele temia que sua noiva poderia se virar contra ele e planejar algo maligno, acabando com
seus planos e destruindo seu poder, os dois eram inimigos e seria difícil acreditar em seu

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sequestrador e futuro noivo, difícil de acreditar em qualquer uma de suas palavras. O
sequestrador que matou todos seus amigos, que te manipulou e o fez acreditar em suas
mentiras. Seria um de seus melhores motivos se ela quisesse se voltar contra ele. Mas Amélie
não faria isso, não se estivesse morta. Foi o que Axel pensou.
Ele se sentou na cama, observou a garota dormindo, seus pensamentos queriam e estavam
tomando conta de sua mente, ele quis acreditar neles e resolveu tomar alguma atitude, uma
atitude péssima. Saiu do quarto e foi até sua sala onde guardava seus documentos, onde sua
noiva o ajudou a organizar tudo. Ele pegou seu diário e junto a uma caneta, começou a
escrever.

“Hoje, se for depois da meia noite, deve ser dia vinte e sete de agosto. Eu gostava de minha
noiva, mas ela quer acabar comigo e com meus planos, tudo o que quero e ser rei e governar e
a pessoa que eu amo vai me trair. Eu deveria ser sensato e tentar confrontá-la sobre isso.
Não preciso dela, posso ter Eva para se casar comigo. Puxa, que saudades dela. Vou acabar
com todo esse plano dela, não queria tomar medidas tão drásticas, mas prefiro assim.”

Um sorriso maligno se formou em seu rosto.


Ele pegou uma corda jogada na estante e foi até de volta ao quarto. Andou calmamente até o
lado que Amy dormia, cuidadosamente colocou a corda em volta de seu pescoço e puxou.
Amélie acordou e começou a tentar gritar, sua voz não estava saindo.

- O que está fazendo? Pare!

Ela murmurou tentando se soltar.

- Não se meta mais em meus planos, vá se encontrar com seus amigos!

Por fim, Amélie soltou um grito longo e desesperador, sua vista aos poucos embaçou e ela
soltou seu último suspiro, seu grito foi abafado imediatamente assim que seu coração parou
de bater.
Axel gargalhou, mas logo parou quando seu corpo saltou e ele voltou para a realidade. O
garoto estava com a respiração agitada, seu coração palpitava e ele suava frio. Ele se jogou no
corpo da garota e deitou sua cabeça em cima de seu peito esperando ouvir seu coração bater,
felizmente, isso aconteceu. Amélie acordou assustada e se sentou na cama rapidamente
perguntado o que ele estava fazendo, Axel, ainda sentado na cama, apertou-a em um abraço
extremamente forte, ele implorava por perdão e estava chorando, um choro sentido. Ele não a
soltou até que ela o empurrasse.
- O que aconteceu? – ela segurou seu rosto, que estava gélido e pálido. – Está tudo bem! – ela
o puxou de volta para o abraço. – O que houve? – nenhuma resposta, apenas um choro sendo
silenciado aos poucos – Axel?

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O garoto adormeceu em seu colo. Amélie o colocou de volta ao seu lado da cama, mas ele
insistiu em segurar sua mão. Dessa vez, que não conseguiu dormir foi a garota. Ela estava
preocupada com seu noivo e não pretendia dormir, queria ficar acordada para ter certeza de
que ele estava bem e que não ia ter outra crise no meio da madrugada.
O dia raiou, Amélie estava deitada sobre o corpo de Axel, que estava de lado, com os olhos
pequenos e mais caídos do que o normal. Ele começou a se mexer e a garota se levantou o
observando. Axel se espreguiçou e se sentou na cama e se sentou, tentando evitar contato
visual com ela.

- Tudo bem com você? – Ela pergunta, mas não obteve resposta. – O que aconteceu ontem à
noite?

- Tive um pesadelo.

- Por que estava em cima de mim?

- Não quero falar sobre.

- Fala! Sua esposa tem direito de saber, principalmente se foi algo que te afetou e te fez mal.

- Não!

- Fale!

- Já disse que não, vá se arrumar para o café da manhã.

Ele disse pegando uma peça de roupa e saindo do quarto. Amélie coçou a nuca e encarou o
nada, morrendo de sono. Ela se levantou e colocou uma peça que Eva tinha doado.
Se encontrou com Axel na sala de jantar enquanto ainda estavam servindo a mesa, ela se
sentou no lugar de sempre e de frente para Axel. Enquanto uma empregada servia suco para
ele, ela o encarava à espera de algo.
- Vai desabafar sobre seu pesadelo ou não?

Ele colocou o copo de suco na mesa e revirou os olhos.

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- Quer mesmo saber?

- Sim!

- Eu te matei! Eu te enforquei enquanto dormia.

Amélie deixou seu copo escorregar de sua mão enquanto olhava fixamente para ele. Ela olhou
para os lados boquiaberta, Axel tinha matado seus amigos e era seu sequestrador, não era
impossível de acreditar que ele poderia fazer isso se quisesse. As pessoas sonham com aquilo
que querem, a garota sempre ouviu isso durante sua vida, aquilo era apenas uma prova que fez
Amy perder toda a credibilidade e os sentimentos que tinha criado por seu noivo. Ela sabia
que ele poderia fazer isso se ele quisesse. Ela foi morta por Axel, mas não com ações, e sim
com suas palavras que ela sabe que podem se concretizar. Seu coração, que confiava
inocentemente nele, foi morto, machucado. Toda sua alegria e confiança foi quebrada naquele
momento, talvez Axel não tenha entendido o motivo do “drama”, mas os pensamentos de
Amélie foram além e ela tinha motivos para se sentir daquele jeito.

- Olha, foi você quem pediu para contar. – Ele disse. Os empregados, no canto da sala se
entreolhavam, curiosos e preocupados.

Amélie não tinha forças para responder. Ela se levantou e andou lentamente até a porta,
saindo do lugar. Axel revirou os olhos e tentou continuar seu café, mas usou o poder e avistou
Amy indo até a sala onde as pedras estavam guardadas.

- Vão atrás dela! Agora! – Ele berrou.

Os empregados saíram correndo da sala e foram até onde Amy estava.


Ela pensou, desde o dia que chegou, em roubar todas elas e correr para entregá-las para o rei e
a rainha, tudo já estava muito bem pensado e planejado. Agora seria um momento perfeito
para isso. Ela estava na frente da porta pronta para colocar seu plano em ação, mas os
empregados chegaram antes, e dois deles pularam na frente da porta.

- Perdão princesa, mas você não pode ultrapassar.

- Eu vou sim! – Amy respondeu e foi impedida por um guarda alto que a segurou pelo braço.

A garota fez um furacão e tentou direcioná-los às pessoas, mas eles conseguiram escapar e um
foi atrás da garota e tentou a imobilizar, outros dois seguraram suas mãos. Mas Amy

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conseguiu rebater um dos que estavam segurando suas mãos e jogou um vento forte na
direção dos homens que foram atirados para pouco longe dali. Ela correu em direção a porta,
mas foi barrada, ela tentou tirá-los a força, mas um guarda a imobilizou completamente por
trás. O mesmo a segurou pelos ombros e a levou de volta para a sala de jantar a força.

- Não podem usar seus poderes? – Ela perguntou, fraca.

- Não temos poderes, bobinha. – Respondeu.

Axel removeu os poderes de todos e os hipnotizou, fazendo-os esquecer que antes tinham.
Eles chegaram na sala de jantar e Axel já estava de pé, esperando por eles, o guarda a
entregou para ele e ficou ao lado da porta.

- Onde estava com a cabeça? Eu pensei que poderia confiar em você! Você é minha noiva!
Acho que estava errado...

Ele pensou um pouco e puxou Amy pelo braço até o seu antigo quarto, o quarto onde passou
os primeiros dias que esteve no castelo. Ele a jogou lá dentro.

- Espero que se arrependa! Vai passar o resto de sua vida aí.

- Você é um monstro!

- Eu realmente deveria ter te matado! – Ele gritou antes de bater a porta e trancá-la.

- Idiota!

Amy gritou e foi até a porta, batendo, socando e chutando-a, uma grande tempestade se
formou no quarto, a lâmpada pifou e as poucas coisas que tinham ali começaram a voar em
uma velocidade gigantesca, o furacão cobriu o quarto inteiro, Amy socou o chão e vários
relâmpagos começaram a atingir o quarto, o suficiente para fazer uma rachadura na parede.
Enquanto seu poder dominava o quarto, ela se deitou no chão e seu próprio vento, foi como
um calmante, que a fez dormir.
Já era de noite quando Axel decidiu ir ver como sua noiva estava, ele entrou no quarto e quase
não pode entrar. O furacão de Amélie era forte e pairava pelo quarto, ele usou seu poder para
acalmar toda aquela situação, tudo que estava voando caiu no chão, fazendo um enorme
barulho. Amy acordou, assustada com o barulho, mas ela já sabia que entrou no quarto e

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apenas revirou os olhos, sem se mover. Axel andou calmamente até ela e se abaixou sem sua
direção. Ele não se arrependia de ter colocado a garota de castigo e por ele, a deixaria ali pelo
resto de sua vida, algo comoveu seu coração, talvez algo relacionado ao amor que sentia por
ela. Apenas queria ver se a garota estava viva e bem. Amélie não pode evitar o encarar, ele
não mexeu um músculo sequer mesmo quando ele puxou seu pulso.

- Eu sei que está brava. – Ela não o respondeu, apenas suspirou. – Vamos jantar.

Amy se recusou, mas o garoto a puxou pelo braço e a arrastou até a sala de jantar, a mesa que
geralmente estava cheia, tinha poucas coisas. Ele a jogou na cadeira usou seu poder para
fechar e trancar todas as portas e janelas. A mesa tinha um forro vermelho com detalhes em
prata, velas, pratos e copos em prata com mínimos detalhes possíveis. Um jantar à luz de
velas, mas por que ele faria isso? Amélie se perguntava, suas respostas não seriam
respondidas tão cedo se tratando de Axel.

- Quer o que de mim? – ela arrumou forças para perguntar.

- Não posso mais oferecer um jantar à luz de velas? – ele respondeu. – Para minha própria
noiva?

Amélie não quis comer nada da mesa, seu noivo brigou com ela, a colocou de castigo e logo
depois oferece um jantar. O medo de ser envenenada e morta era grande. Ela não quis nada ali
oferecido. Diferentemente, Axel se alimentou bem e sempre encarando Amy, quando podia.
Assim que acabou, a garota estava fitando a mesa, pensando em vários planos caso algo
acontecesse. O garoto se levantou da cadeira e a puxou pelo braço para uma sala que ambos
não tinham ido antes, pelo menos não juntos. Era uma sala grande, as janelas eram do
tamanho de uma pessoa, o teto era todo detalhado com vários pilares nos cantos das salas.
Tinham algumas mesas finas com velas em cima, especificamente em uma delas tinha taças e
uma garrafa de vinho, um vinho extremamente forte.
Axel guiou Amy para dentro da sala e ela não entendia o que estava acontecendo, ele gostava
ou não dela? Estava com ódio ou não? O garoto sabia dessas questões, mas ficou quieto e
deixou apenas a música que estava tocando no fundo, continuar e preencher o clima. Axel
colocou a bebida nas duas taças e uma delas entregou a sua noiva, ele a puxou a garota e
beijou sua mão. Os dois começaram a dançar, em ritmos lentos e ao som do clássico que
estava tocando, os passos eram calmos e não faziam um barulho sequer. Até que em certo
momento, Axel parou atrás de sua noiva e deu um beijo em seu pescoço enquanto fazia uma
massagem em suas costas.

- Por que quer tanto me agradar? – Ela saiu de perto dele rapidamente.

- Eu disse que iríamos passar esses dias juntos, estou apenas cumprindo com o que falei. – Ele
respondeu dando um gole em sua bebida.

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- Sentiu tanto ódio de mim que pensei que iria desistir.

- Desistir? Ora, sou um homem de palavra.

- Sim, estou vendo... – Ela respondeu ironicamente, bufando logo em seguida.

Axel quis segurar suas mãos, mas a garota o afastou.

- Um jantar à luz de velas, uma valsa com um belo vinho... Quer mais o que para se
reconciliar comigo? – Ele se aproximou deixando seu rosto frente a frente com o dela. – O
que quer de mim?

- Não quero nada, na verdade eu queria que você me deixasse em paz.

- Por quê? – Se afastou extremamente magoado.

- Não deveria te dar confiança. Você... – Amy ia dizendo, mas foi interrompida.

- Foi apenas um pesadelo! Eu continuo sendo seu noivo, eu nunca faria isso com você.

- Não? – Ela gargalhou e colocou as mãos na cintura. – Você mesmo disse que faria.

- Eu estava com raiva, eu não teria coragem.

- Eu... Não confio em você.

Axel andou até mais perto dela e deu um beijo calmo em sua bochecha. Amy o encarou com
raiva e deu um leve empurrão nele.

- Quer saber, pode me usar e se preferir, retome seu plano. Me mate.

- O que? Não! Falamos de negócios ontem, vamos retomar à nossa noite... – Ele tentou
abraçá-la, mas Amélie se afastou. – Acha mesmo que não te amo e faria isso com você?
Preparei essa noite apenas para nós. – Ele sussurrou para ela.

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Com um pouco de luta, Amélie se entregou ao abraço que Axel deu. Ele carinhosamente fazia
um carinho em sua cabeça. A garota se afastou, bebeu um pouco da bebida e a colocou de
volta na mesa que Axel pegou. Ela começou a andar para fora do salão, mas foi impedida por
uma tontura que a parou e fez com que ela precisasse se apoiar na porta, já que não tinha
comido nada o dia inteiro, usou seu poder com raiva e tomou uma bebida um tanto quanto
forte. De longe, Axel a observava de braços cruzados. Ele segurou a menina para que ela não
caísse.
Enquanto andava juntos, Amélie cruzou os braços.

- Me envenenou?

- Não. – Ele riu. – É apenas seu estômago te dando uma bronca.

Eles chegaram no quarto, mas assim que entraram, Amy deu dois passos para trás, se
recusando a entrar.

- Se vai dormir comigo, prefiro ficar sozinha. – Ela disse e foi se apoiando até um outro
quarto que tinha ali, naquele mesmo corredor.

Axel suspirou e esperou ter a certeza de que a garota entrou no quarto, quando viu, passou por
ele e trancou a porta com uma chave reserva que ele tinha consigo. O garoto foi até o salão
central do palácio e chamou sete guardas para conversar, ele os juntou todos ali.

- Eu não queria fazer isso, mas acho que não temos opções. Vocês três! – Ele apontou para os
guardas. – Vão até Opala e busquem uma menina de cor retinta, cabelos trançados. Ela está
em uma loja abandonada que fica no final da rua de cima depois da fonte, ela juntamente com
outras duas pessoas, tomem cuidado.

- Por que vamos fazer isso? – Um deles perguntou.

- Mentir foi uma boa ideia, mas Amélie está ficando de bem comigo e não podemos ser
interrompidos! Deem o recado aos seus amiguinhos para ficarem longe da gente. – Os guardas
assentiram e foram para o lado de fora do palácio. – Vocês dois, fiquem de guarda na porta do
quarto de Amélie. – Assentiram e começaram a andar. – E por fim, me sigam.

Ele comentou para os dois guardas que restaram, passaram pela porta no final do corredor que
guardam as pedras vitais e entrou. Axel se sentou em um banquinho e pediu para que
pegassem um tubo que estava jogado no chão. Uma barreira criada por Axel e com ajuda do
poder das próprias pedras pode ser penetrada facilmente em seu corpo, e se feita
corretamente, nada de ruim acontece. Um dos guardas que estavam ali colocou a parte aberta

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do tubo nessa barreira, assim que o poder começou a correr pelo objeto, Axel pediu para que
furasse seu braço com a agulha que ficava do outro lado do tubo. Assim foi feito, ele sentiu
uma dor de cabeça, mas usou o poder de ver o presente ao máximo, ele começou a observar
os guardas que estavam indo até Opala. Aquilo que fez, o deixaria mais poderoso caso algo
acontecesse.
Assim a noite se passou.

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Capítulo 17

Enquanto isso em Opala, o dia estava amanhecendo. Nas casas da beira do cais, Harvey e
Eddie já estavam em pé, Eddie preparando o café da manhã e Harvey escorado na parede
desgastada da casa. Eles estavam conversando sobre o plano, mesmo que o príncipe tenha
concordado em descansar, ele queria ir atrás do trio para conversar com eles da maneira mais
simples possível, mesmo que pensar não seja tão simples quanto agir.

- Eu não posso simplesmente chegar. – O príncipe disse. – O que eu faço?

- Já pensou em tentar agradá-la? Leve algum presente ou algo do tipo.

- Vai parecer que eu estou dando em cima dela. Não quero causar esse tipo de impressão.
Talvez eu chegue pedindo desculpas e para irmos conversar.

- É uma boa ideia. – Eddie respondeu colocando os utensílios de cozinha que já tinha
utilizado, na pia. – E a mais normal.

- Tudo bem, agora eu sei o que fazer. Agora, onde será que eles estão?

- É uma boa pergunta, mas você prometeu que ia descansar, pense nisso mais tarde.

- Tudo bem. – Ele levantou as mãos em sinal de rendimento.

Passos no corredor foram ouvidos e Giselly apareceu na cozinha, ela deu um beijo em Eddie e
se sentou na mesa, impressionada.

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- Vocês quem fizeram isso? – Ela perguntou com um sorriso enorme no rosto.

- Não, foi seu namorado. – Harvey respondeu sorrindo.

- Bom trabalho! – ela disse e Eddie se abaixou na altura da garota para outro beijo, dessa vez
na bochecha. Eddie encarou o príncipe, exibindo a fato dele ter uma namorada.

- Martinez está dormindo? – Harvey perguntou.

- Sim. – A garota respondeu. – Quer que eu o acorde?

- Não precisa. – O príncipe respondeu.

Eddie se sentou na mesa junto com sua namorada, os dois começaram a tomar o café da
manhã, Harvey ficou em pé observando ambos.

- Vocês planejaram algo para hoje? – a loirinha perguntou passando manteiga em uma
torrada.

- Apenas relaxar. – Harvey foi se jogar para trás, mas lembrou que nada iria o segurar, por
pouco não bateu a cabeça na parede. O casal riu discretamente. – Quis dizer que não
planejamos nada.

A loirinha riu de novo.


Infelizmente, do outro lado de Opala, o trio não teve a mesma sorte que acordar e ver um café
da manhã pronto. Eles já estavam acordados e pensando em onde procurar comida,
pouquíssimas lojas estavam abertas e a maioria ficava longe de onde o trio estava.
Lilith estava com a cabeça apoiada no ombro de Selina, ela não estava se sentindo bem
naquela manhã, embora nenhum dos dois percebesse. A branquinha, percebendo que os dois
não estava entrando em um acordo, se levantou e olhou para ambos.

- A loja mais próxima fica duas ruas daqui ela provavelmente está aberta.

- Ótimo, vamos para lá. – Selina disse e começou a andar até a porta e Tommy a seguia, mas
Lilith não os acompanhou, fazendo a garota parar de andar e olhar para ela. – Você não vem?
Nós não sabemos onde fica.

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- Tudo bem, eu vou. – Ela reclamou, afinal tinha pensado em ficar em casa.

Ela coçou a nuca e foi para perto dos garotos. Eles caminharam pelas ruas de Opala seguindo
exatamente onde Lilith mandava e falava. As ruas pareciam de filme de terror, tudo
abandonado e uma hora ou outra você ouvia choro de mães que perderam seus filhos ou
coisas parecidas. Também, apesar de ter uma enorme nuvem cobrindo toda Opala, o calor
estava insuportável, como se alguém tivesse feito uma barreira na camada de ozônio. Eles
chegaram em um pequeno mercado, uma velha grande, lotada de joias falsas e um cigarro na
boca, estava atendendo as pessoas. Naquele momento, um cliente saiu do mercado frustrado
porque reclamou de um produto para a velha, que não quis o reembolsar.

- Vocês têm certeza? – Tommy perguntou.

- Se não formos aqui, não teremos outro lugar para procurar. – Selina respondeu.

Lilith colocou a mão na boca e se afastou de Selina, ela se apoiou na parede do mercado que
dava direto para um beco. Ela tossiu e já que nada veio, se sentou no chão respirando fundo.
Selina entregou algumas moedas para Tommy.

- Vai lá e procura alguma coisa, eu vou ficar aqui com ela. – Ela disse olhando para ele e indo
até a garota.

Tommy entrou no mercado com medo da velha, enquanto do lado de fora, Selina fazia um
carinho na cabeça da garota.

- Tudo bem? – Ela perguntou à branquinha.

- Um mal-estar apenas.

Elas ficaram em silêncio e esperaram o garoto voltar, felizmente ele veio com um leve sorriso
no rosto e olhando dentro da sacola, as meninas se levantaram e Tommy olhou para dentro da
loja, xingando a velha bem baixinho.

- E aí? – Selina cruzou os braços.

- Odiei a velha, mas consegui boas coisas. – Ele disse olhando para a sacola novamente.

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- Por que odiou a velha? – Ela perguntou rindo.

- Queria cobrar o preço que não estava escrito na prateleira, mesmo sabendo que ninguém
teria esse dinheiro. Enfim, eu consegui macarrão, molho, almondegas e alguns temperos.

Selina sorriu, Lilith colocou a mão na boca novamente e outra na barriga, soluçando.

- Vamos voltar logo para casa. – Tommy percebeu a situação e começaram a fazer o caminho
de volta.

Quando voltaram, Tommy estava cozinhando e Selina estava na mesa da cozinha observando
o garoto cozinhar. Lilith estava em uma cadeira perto da janela quebrada afim de pegar um
vento no rosto.

- O que ela tem? – Ele perguntou olhando para a branquinha. Selina balançou os ombros
indicando que não sabia.

- Terminei.

O garoto disse olhando para a panela, ele ajudou Selina a colocar a mesa e o três se sentaram.
Enquanto os dois comiam, Lilith apenas os observavam se concentrando em não passar mal
novamente. Eles ficaram em silêncio e Selina até pediu para a garota comer um pouco, mas
ela recusou.
Enquanto Tommy guardava a louça, um barulho do lado de fora e atrás da casa foi ouvido. As
meninas ficaram atentas e Lina até se levantou por medo. Os barulhos foram aumentando,
agora uma janela foi quebrada e os barulho de pessoas entrando na casa foram ouvidos. O trio
foram juntos até a porta. Felizmente, Lilith precisou abrir a porta e vomitou do lado de fora,
obrigando todo mundo a sair casa, eles aproveitaram a oportunidade para sair dali e procurar
outro abrigo. Subiram até uma rua e se depararam com uma encruzilhada, apenas escolheram
qualquer caminho e encontraram uma vila na beira da praia, não era muito longe, mas também
não era perto. Quase todas as pessoas que moram ali são famílias com crianças, a maioria
entre quatro e seis anos. Havia muito barulho, mas não seria um problema, a alegria das
criancinhas era a única energia boa nessa parte de Opala, que por si só, já é bem melancólica.
O tempo estava bem nublado e chuviscando, o que fez com que eles escolhessem qualquer
casa que apresentasse estar abandonada. Tommy começou a andar pela casa e Lilith ficou
parada na porta tentando pegar a brisa do lado de fora. Selina viu a garota e andou até ela e
colocou uma mecha de seu cabelo para trás da orelha para chamar sua atenção.

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- Lilith, ter certeza de que está tudo bem? – Ela perguntou. – Está sentindo alguma coisa? O
que aconteceu?
- Eu estou bem, querida, só pode ser uma mal-estar. - Respondeu.

- Certeza?

- Só sinto mais sono que o normal, fora isso, estou bem. – A branquinha a abraçou e sorriu.

Tommy voltou para perto das duas, ainda vendo cada detalhe da casa.

- O que será que foi aquilo? – Ele perguntou cruzando os braços.

- Na outra casa? – A branquinha perguntou. – Não sei, mas foi muito estranho. –
Complementou e Lina concordou com a cabeça.

Um livramento, eles não sabiam. Na outra casa, os três guardas de Axel estavam
bisbilhotando tudo e procurando um vestígio sequer se Selina ou seus amigos. Eles entraram
na casa quebrando a única janela intacta que a casa tinha, mas um deles ficou com a perna
presa entre os cacos de vidro que estavam ali, dando tempo o suficiente para o trio fugir.
Checaram tudo, mas não encontraram nada. Um dos guardas de cabelos ralos e mesclado
entre grisalho e preto, pegou um pequeno rádio e tentou conexão com outro guarda que estava
no castelo do chefe.

- Não tem nada aqui, procuramos em tudo. – Ele disse, demorou alguns segundos para que
ouvisse um chiado e alguém responder:

- Procuraram em tudo mesmo? O chefe não vai gostar de saber disso.

- E você quer que procuremos onde? Pergunte isso a ele. – O homem disse desligando o rádio.

Do outro lado da linha, um guarda velho que estava respondendo, andou até a sala dos fundos,
abriu a porta sem nem fazer barulho e se deparou com Axel com os olhos completamente
brancos, imóvel e com um tubo conectando seu braço à sua fonte de poder. Duas empregadas
que estavam ali, o olharam rapidamente e acenaram para ele ir embora, antes que pudesse
virar, uma voz ecoou pela sala. A voz de Axel.

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- O que você quer?

- Os meninos não encontraram a garota e seus amigos, eles querem saber onde procurar. – O
velho gaguejou.

- Claro, eu tenho que fazer tudo aqui! – a voz estremeceu desde os tetos até as paredes. Ele
ficou em silêncio e era possível ver uma cor roxa passando da fonte de energia para o corpo
do garoto com mais intensidade. – Uma vila um pouco antes da praia, chamada Styach.
Subam duas ruas de onde vocês estão, virem à esquerda e desçam.

- Obrigado. – Ele respondeu e saiu dali o mais rápido que pode. Comunicou aos guardas sobre
isso no rádio e esperou a resposta. Tudo o que ele escutou foi um chiado e vários barulhos
incompreensíveis.

- Aqui começou a chover muito, vamos esperar isso parar, não tem como sair nessas
condições. – O guarda do outro lado da linha respondeu. Outro chiado e o aparelho foi
desligado imediatamente, como se fosse queimado.

Opala estava ficando inundada com a imensa chuva de lá. As casas de palafitas estavam a
pouco de ficarem inundadas, principalmente a casa em que o quarteto estava. A chuva que
antes estavam apenas em poucas gotas, aumentou em um nível preocupante. As casas,
principalmente a vila que ficavam na beira da praia quase foram devastadas. Quase todas as
casas com muitas goteiras, o que dificultava mais ainda.
Na palafita onde estava o quarteto, a casa tinha um número incontável de goteiras. Giselly e
Eddie estavam encolhidos juntos no sofá, Martinez estava em largado uma poltrona e Harvey
estava em pé, sem se preocupar muito com as poças de águas que molhavam seus pés. Na
verdade, suas preocupações eram outras.

- O que vamos fazer? Selina, Lilith, Tommy... – o príncipe disse encarando o nada, ainda
preso em seus pensamentos.

- Vamos ter que esperar essa chuva passar, não vamos até lá desse jeito. – Giselly respondeu.

- Espero que estejam bem... – Eddie comentou.

Eles estavam consideravelmente bem, a casa em que o trio estava, tinha menos goteiras. Mas
você conseguia ouvir a água escorrendo pelas paredes. Lilith e Selina estavam dormindo
juntas no sofá e Tommy estava sentado em frente ao balcão da cozinha, dormindo, porém,
com os olhos abertos. Um bom momento para todos descansarem.

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Capítulo 18

Já do outro lado, Amélie estava o completo contrário de seus amigos. Ela estava sentada no
chão e escorada na porta, brincando com a barra do vestido vermelho que estava usando, sua
mente precisava descansar, mas ela não permitia. Passou a noite toda acordada. A bebida que
ela tomou era forte, ainda assim ela não quis dormir. Seus pensamentos estavam dançando em
sua mente, uma dança violenta. Ela pensava constantemente na traição de seu noivo, que ele
poderia tentar e tem a capacidade de matá-la. Axel não era uma pessoa de confiança, ela se
entregou a ele, mas se esqueceu de ter um pé atrás. Apesar de não querer morrer, essa agora,
era sua única opção. Não queria passar o resto de sua vida com o homem que pode matá-la a
qualquer momento, seus planos foram arruinados e ela vai ser usada apenas para que Axel
possa se tornar rei. Tudo voltou a ser como era antes, seu futuro é morrer.
Ela se rende ao sono e adormeceu ali.
No dia seguinte, os guardas entraram no quarto da garota e acabaram empurrando seu corpo
juntamente com a porta quando a abriram. Um deles pegou a garota no colo e a colocou na
cama. Pelo menos Amélie não estava morta. Axel estava ainda conectado a sua fonte de poder
e ambos não iriam se encontrar para tomar um café da manhã, como sempre faziam.
Lá na ilha não chovia, mas nos últimos dia fez frio com o céu parcialmente nublado.
Axel ainda estava conectado a sua fonte, extremamente concentrado (como se estivesse em
um de seus sonos mais profundos) mas um barulho extremamente alto o fez acordar e
balançar toda a casa, fazendo a pedras balançarem e o tubo ser desconectado. Ele caiu da
cadeira com uma forte dor de cabeça e seus olhos que estavam totalmente brancos, voltaram a
ser verdes. As empregadas o ajudaram a se levantar e ele rapidamente se afastou delas.

- O que aconteceu? – Ele gritou, mas as moças ficaram em silêncio.

Ele saiu dali batendo a porta e caminhou por todos os corredores até encontrar o problema:
Amélie. A garota arrombou a porta do quarto e correu até o salão central, quando os guardas
tentaram a impedir ela usou o vento para jogar objetos na direção deles, um deles sendo uma
cadeira de mármore que quebrou uma parte da parede. Assim que Amélie avistou o garoto, ela
se afastou de alguns guardas que estavam em pé. Axel correu até a garota e a pegou pelo
braço, por mais que ela tentasse fugir e reagir, não conseguia.

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- O que você fez? Por que você fez isso? – Ele gritou, por fim, Amélie conseguiu se soltar.

- Sai de perto de mim! Tudo o que você fez, você é horrível e egoísta!

- Como se atreve? Pirralha!

Amélie cuspiu na cara dele e iria começar a andar, se o garoto não tivesse a puxado pelo
braço.
Ele a arrastou de volta ao quarto em que ela se trancou na noite passada. Ele a jogou lá dentro,
Amy até tentou passar, mas a passagem da porta foi bloqueada por ele.

— Eu te odeio. – Ela murmura.

— Eu fiz tudo isso por você! – Ele gritou. – Tudo o que eu fiz, tentando te agradar, tentando
te fazer e feliz e confiar em mim! Você vai acreditar em um sonho tosco?

— Confiar? Você pode me matar, pode muito bem se virar contra mim a qualquer momento!

Amélie jogou o abajur que estava em cima da cômoda na direção do garoto. Do lado de fora
do quarto, os empregados faziam intriga e murmuravam coisas a respeito do casal.
Axel pegou o objeto do chão e jogou de volta na direção da garota.

— Eu quero que você apodreça aqui dentro! Se eu não te matar, as condições vão. Espero que
tenha gostado de estragar nossa relação, estragar tudo o que eu construí. Tudo para ganhar sua
confiança e em troca, eu recebo isso. Eu nunca deveria ter te deixado viva, nunca deveria ter
feito acordos e confiado em você! Tomara que tenha uma morte lenta, Amélie Tainnetl.

— Para de falar! – Ela gritou em resposta, o deja-vu de uma situação parecida foi inevitável.

— Tudo o que eu disse foi verdade! Tudo!

Amélie fez um furacão, forte para fazer tudo voar, fraco para deixá-los ainda no chão.
Algumas folhas e travesseiros atingiram Axel, que bateu à porta do quarto, fazendo o barulho
ecoar pelos corredores. Os quadros pendurados na parede começaram a balançar e a girar sem
sair do lugar, as portas e gavetas (não só dali, como de todos os cômodos perto daquele)
batiam e voltavam com uma força bruta. As lâmpadas caíram dos tetos e os cacos voavam

170
junto com as outras coisas, Amélie socou a cômoda e a chutou diversas versas, o que só fez a
tempestade aumentar gravemente. Os vidros dos corredores e teto foram se quebrando um por
um e as paredes começaram a descascar, sua tinta verde musgo virou uma cor amarronzada e
em outras partes acinzentadas.
Percebendo a gravidade da situação, Axel foi até o quarto da garota, as empregadas tentaram
o acalmar para que o estrago não pudesse ser maior, mas ele pouco se importou. A porta foi
aberta com força e ele caminhou rapidamente, com difícil e muitos tropeços até a garota. A
falha tentativa de fugir foi humilhante, a porta se fechou antes mesmo dela sair dali. Axel
pegou seu queixo e uma fumaça branca começou a envolvê-los, os poderes da garota
começaram a falhar até pararem por completo. Enquanto os destroços caiam pelos chãos,
Amélie se deitou no chão, extremamente fraca. Axel suspirou e apenas saiu do quarto sem
falar nada.
A garota ficou jogada no chão, encarando o teto e se perguntando por que desafiou alguém
que poderia matá-la. Ela dormiu, o poder foi sugado de seu corpo bruscamente, isso a cansou.

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Capítulo 19

Já do outro lado, Lilith estava sentada na cadeira da cozinha com a cabeça deitada na mesa.
Tommy estava dormindo no sofá e Selina estava alternando entre ficar acordada prestando
atenção em Lilith e descansar enquanto podia. Então, a branquinha se levantou e andou meio
trêmula para a entrada do corredor, que dava direto para a sala. Selina acordou e rapidamente
se levantou, pronta para ajudar a garota caso algo acontecesse.

— Tudo bem? – Ela perguntou rindo.

Lilith balançou a cabeça algumas vezes querendo responder não, mas seu enjoo passou por
alguns segundos. Ela foi até a garota e abraçou sorrindo.

— Estou cansada. – Respondeu.

— Imagino.

— Tommy também está bem cansado. – As duas olharam para o sofá onde o garoto estava
dormindo e riram.

Selina pegou a garota pela cintura e a levou até a bancada que separava a cozinha da sala,
dando um beijo em seu pescoço, depois a abraçou.

— O que está acontecendo com você?

— Como assim? – Lilith demorou para responder, fazendo carinho na cabeça de Selina.

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— Por que está passando mal? Têm sentido algo estranho, algum tipo de ansiedade ou
preocupação?

— Não... Preocupada eu estou, mas não sei por que estou passando tão mal.

— Quando souber, saiba que pode me contar.

— Sim eu sei. – A branquinha sorriu para ela e depositou um beijo em seus lábios com suas
mãos segurando seus rostos.

Selina subiu na bancada para se juntar a garota e, de joelhos, segurava seu pescoço
aperfeiçoando o beijo e tentando juntar seus corpos cada vez mais. Lilith se virou para a ela,
ficando completamente em cima e parcialmente deitada na bancada. Selina se aproximou da
garota e se deitou em seu colo.

— Você tinha dito que queria fazer isso em qualquer lugar.

— Menos em um beco. – A branquinha riu, se deitando por completo na mesa. – Aí caramba,


eu te amo tanto.

Selina que estava abraçada a ela com a cabeça deitada em sua barriga, virou para vê-la,
confusa.

— Certeza de que está bem? – ela perguntou rindo.

— Não. – Lilith riu de volta e logo em seguida saiu de cima da bancada e correu até onde
seria o banheiro.

Selina riu até ouvir a garota passando mal e descer para ir ajudá-la.

O dia todo o céu ficou nublado, escuro, frio. Quase não deu para perceber que estava
anoitecendo, também era difícil distinguir o dia da noite. Do outro lado de Opala, na pequena
casinha, Eddie estava sentado no sofá com Giselly em seu colo, fazendo cafuné em seus
cabelos. Martinez estava desleixado no sofá apoiando a cabeça na mão. Todos ouvindo
Harvey falar sem parar, já haviam se passado algumas horas que o príncipe não ficava quieto
e dizia repetidamente e de uma maneira desorganizada como abordar o trio que estava do
outro lado da cidade. Giselly já estava quase dormindo com tanta falação na qual ela não

173
estava prestando atenção, Eddie deixava a mente divagar e às vezes voltava ao planeta Terra.
Martinez era o único que realmente estava prestando atenção no príncipe, tentando participar
de cada posicionamento do garoto.
Depois de muita falação, Harvey se escorou na mesa da cozinha e suspira, parando de falar:

— Ok, amanhã bem cedo, vamos atrás deles.

— Ótimo, eu vou dormir agora então. – Giselly se levantou.

— Mas precisamos retocar o plano. – O príncipe disse.

— Desculpa Harvey, mas eu não aguento mais ouvir sua voz, eu preciso dormir.

Ela respondeu e saiu dali. Eddie e Martinez riram.

— Não precisa retocar o plano, a gente já entendeu e ele todo vai ser feito por você, não
precisa tanto de nós. – Martinez disse colocando o cabelo para trás das orelhas.

O príncipe não disse nada, apenas cruzou os braços.


Martinez então decidiu fazer o jantar com os frutos do que mar que havia pescado com
Giselly.
Eddie resolveu ir dormir com a namorada.

*
De volta ao trio, algumas crianças estavam passando pelas casas oferecendo chocolates e
biscoitos para serem vendidos. Três crianças, uma maior, outra menor e um bebê que estava
dentro de um carrinho juntamente com os doces. Eles bateram na casa e esperaram, Selina
quem abriu.

— Oi moça, quer comparar alguns biscoitinhos para ajudar a gente com a nossa família? –
uma criança loirinha e bem branquinha disse, devia ter sete anos.

Selina se surpreendeu com o fato das crianças que a maior deveria ter no máximo nove anos,
estarem trabalhando para ajudar em casa. Era triste, mas nada fora do comum para Opala.
Ela pensou bem no que responder, as crianças já pareciam bem tristes e desanimadas.

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— Vocês têm quantos anos? – ela se abaixou na altura da criança que bateu na porta.

— Eu tenho sete, ela tem oito – respondeu apontando para uma garotinha que estava
empurrando o carrinho – E a pequenininha tem nove. – Ela respondeu e apertou as bochechas
da bebê.

— Nove? – Lina perguntou.

— Sim.

Enfim ela entendeu que eram nove meses, e que as crianças provavelmente não tinham
estudado e não sabiam disso, mostrando mais uma vez a situação precária que Opala se
encontrava.

— Vocês já conseguiram vender algumas coisas? Estão a quanto tempo na rua? – ela
perguntou.

— Não, vendemos só dois saquinhos de biscoitos. Eu não sei quanto a quanto tempo estamos
aqui.

— Deve ter umas duas horas. – A garota mais velha respondeu.

— Quanto custa? – Selina perguntou.

Enquanto as crianças respondiam, de dentro da casa, Lilith observava do corredor a garota


conversando com as crianças, ela achou a cena fofa, a paciência de Lina ao conversar com as
crianças.

— Me desculpem, mas eu estou sem nenhum dinheiro aqui.

A branquinha ouviu aquilo e antes que as crianças pudessem sair ela as chamou. Andou até a
porta e entregou duas notas do que seriam cinquenta pratas para elas, as crianças riram e
pularam de alegria. Entregaram alguns pacotes para elas para não darem todos.

— Obrigada tia!!

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Elas disseram e saíram dali.
Selina se escorou na porta e sorriu vendo as crianças se afastarem. Lilith forçou um sorriso,
passou a mão na barriga e acariciou.

— Não pensei que a princesinha da maldade pudesse fazer isso. – Selina provocou.

— São muito novinhas para estarem passando por isso. Elas deveriam estar brincando ao
invés de trabalhar.

— Você está um pouco estranha.

— Por quê? – Lilith riu.

— É supernormal a filha de uma rainha da maldade ajudar pobres crianças. – Ela disse
ironicamente e entrou dentro da casa.

A garota sabia bem do que Selina estava falando, mas preferia não acreditar.
Enfim, anoiteceu completamente, estava ventando muito.
O trio estava adormecido na sala perto de uma fogueira que eles fizeram no meio da casa com
pedaços de madeira que caíram da estrutura, para que o fogo esquentasse um pouco a casa.
Enquanto estavam ali, os guardas de Axel estavam ainda atrás deles. Procurando-os por toda
cidade, ameaçando famílias e roubando lojas. Seu chefe estava desconectado com eles então
não sabiam muito bem que coordenadas seguirem, Axel não tinha enviado mais nenhuma
atualização sobre a localização de Selina, resumindo, estavam perdidos.
Foram a tarde toda de procura, quando já era noite e pensaram em desistir. Até o rádio de um
deles chiar.

— O que? – O guarda de Opala atendeu, impaciente.

— Já os encontraram? – Um dos guardas perguntou do outro lado da linha.

— Nos os perdemos, mas sinto que estamos perto. – Respondeu.

— Perto de morrer de frio nessa ventania! – Outro gritou ao lado dele, o mais novo.

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— O chefe se irritou, é melhor os encontrarem logo, porque se ele perguntar sobre... – O
guarda fez uma pausa dramática o suficiente para os outros pudessem entender. – Vai sobrar
para a gente aqui.

— Fique tranquilo, imagino que estejamos mais perto do que imaginamos.

— Espero mesmo! – Então, assim que o guarda parou de falar, o grito de Axel ecoou pelo
palácio, fazendo que até os que estavam em Opala escutassem através do rádio, por fim, o
rádio desligou.

O guarda de cabelos grisalhos que atendeu o rádio ficou levemente preocupado, mas não
demonstrou tão explicitamente. O mais novo dos guardas, que estava escorado em uma pedra
observando todos os lados, se levantou rapidamente e foi para mais perto das casas, tentando
captar qualquer movimento de uma casa que ele achou suspeito.
Ainda não sabiam, mas estavam extremamente perto da casa do trio, atrás das pedras que
fecham a vila.
Por uma infelicidade, Tommy saiu da casa para jogar uma bandeja na calçada do lado de fora,
a comida que ele tentou fazer queimou deixando apenas algumas cinzas e um peixe tostado, a
desculpa usada por ele foi que o fogão era muito velho.
O guarda mais novo viu o garoto sair da casa e rapidamente se levantou do chão, ele olhou
mais atentamente e chamou a atenção do guarda que tinha desligado o rádio. Eles ficaram um
do lado do outro e logo que Tommy entrou novamente na casa, Selina saiu abafando a fumaça
de um pano que havia queimado.

— É ela! – O mais novo sussurrou.

Os três se entre olharam e já sabiam o que fazer. Eles foram andando lentamente até a casa e
ao invés de entrarem pelas janelas de trás eles decidiram ir de fininho até as janelas da frente,
assim não daria tempo de o trio fugir como da outra vez, já que essas janelas davam para o
cômodo único onde eles estavam. Cada um dos guardas iria segurar uma pessoa, eles
acenaram com a cabeça e contaram até três.
Um,
Dois,
Três!
Eles quebraram a janela da casa o que fez o trio se assustar, mas o estado de choque era maior
do que o reflexo para fazer algo. Selina foi até Lilith e a garota tentou controlar a mente de
um deles, o que não deu certo. O guarda com quem ela tentou isso correu até a garota em uma
velocidade incrivelmente impossível de der alcançada para um ser humano comum, ele
segurou a garota por trás e por mais que Lilith tentasse bater nele para libertar a amiga, ela
também que tinha se preocupar com si mesma. O guarda apertou cada vez mais o pescoço que

177
Selina que não conseguia de maneira alguma controlar sua mente, seus chutes eram fracos e
sua estrutura física era extremamente menor do que a do homem. Lilith correu até a parte da
cozinha procurando uma faca, mas o guarda mais novo subiu na bancada bloqueando seu
caminho, ele piscou para ela e saltou para cima da garota, a derrubou no chão e Lilith se
rebatia enquanto o guarda tentava imobilizá-la. Selina vendo a situação deu uma cotovelada
nas costelas do homem e finalizou sua ação com um chute em seu estômago. Ela correu até a
branquinha e pulou em cima do menino dando um soco nele, e enquanto Lilith tentava se
levantar e se afastar o guarda mais novo empurrou Selina com todas as força para a parede e
ela bateu a cabaça na parede, revirou os olhos e sua vista embaçou. O guarda de cabelo
grisalhos foi até a garota e a segurou no colo. O mais novo impediu a passagem da Lilith e
antes que ela pudesse reagir ele prendeu seus braços para trás, ela tentou chutar ele e se
debater, mas nada adiantava. Enquanto as meninas eram pegas, Tommy estava correndo pela
cada tentando desviar do outro guarda, arrancando grandes pedaços do chão e outros pedaços
de terra que vinham do lado de fora da casa e quebravam a janela, tentando acertar ele. O
guarda esperou o próximo ataque do garoto, uma pedra voou na direção dele e a rebateu com
um pedaço da janela que estava caída ali, ela se bateu na parede e atingiu a cabeça de Tommy,
ele se deitou no chão e antes que pudesse levantar o guarda foi até ele, o virou de barriga para
baixo e amarrou suas mãos, em seguida o levantou com esforço.

— O que vocês querem? – Lilith perguntou.

— Vocês. O chefe vai ficar feliz em vê-los. – O guarda que estava a segurando respondeu.

— Quem é o chefe? – Tommy perguntou e logo levou um tapa do seu guarda.

— Vocês vão ao conhecer. – Respondeu novamente. – Principalmente aquela garotinha... –


Ele apontou para Selina.

— O chefe vai gostar mais dela ainda. – Ele apertou o braço de Selina.

— Nós levamos todos ou apenas ela? – O que segurava Lilith perguntou.

— Irei perguntar ao chefe.

O guarda ligou o rádio e esperou.


Do outro lado de Opala, os meninos dormiam tranquilamente, a única que estava inquieta era
Giselly, a garota de mexia na cama tentando descansar a mente, mas algo a perturbava. Ela
decidiu levantar-se da cama, Eddie percebeu e a olhou perguntando a aonde ela ia, mas a
garota disse para ele não se preocupar pois ela está bem.

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A princesinha se levantou e foi até a cozinha, ela abriu a torneira e encostou na água. Seu
poder estava enfraquecendo cada vez mais, mas sua conexão com a água permanecia, mesmo
que fosse mínima. Ela jogou a água no rosto e algo atingiu sua mente, um aperto no coração e
uma preocupação que perturbou sua mente mais do que estava, ela sentia que precisava
conversar com a Mãe Água imediatamente. A garota correu para fora de casa e foi até a beira
da praia, ela entrou na água e se sentou na areia de modo que a água batia em seu peito. Ela
esperou qualquer conexão, que logo surgiu.

"Seus amigos estão em perigo, é melhor ir até o outro lado de Opala em uma vila chamada
Styach, o trio está lá e eles precisam de você imediatamente."

A Mãe água comunicou, Giselly perguntou o que estava acontecendo, mas a única coisa que
obteve em resposta foi: "Vá agora e rápido".
Ela pediu ajuda e a Mãe disse que que daria um jeito.
A loirinha voltou o mais depressa possível para casa e chamou pelos meninos, balançou o
corpo do namorado para que ele acordasse, ela explicou a situação causando um leve pânico
em todos. O quarteto correu até a parte um pouco mais movimentada da cidade até se
afastarem das casas palafitas. Sem muitas explicações, os meninos apenas a seguiram
confiando no que ela estava fazendo.

— Vocês sabem onde fica Styach? – Ela parou de andar.

— Eu sei, mas fica do outro lado, como vamos chegar lá tão rápido? – Harvey respondeu.

— Martinez!! – A loirinha gritou, o garoto a encarou assustado. – Não consegue nos levar ao
se teletransportar?

— Consigo se for de dois em dois.

— Perfeito!

Eddie e Giselly seguraram um em cada braço do menino, Harvey se escondeu dentro do beco
para esperar Martinez voltar. O garoto desapareceu com os dois e os deixou no endereço que
ele também já sabia. Então ele voltou e levou o príncipe.

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Capítulo 20

O quarteto foi teletransportado para à beira da praia, a casa não ficava muito longe, mas
aquele era o ponto de referência que Martinez tinha. Giselly seguiu sua intuição dentro de si e
guiou todo o grupo exatamente para a casa em que o trio estava. Eles olharam pela janela e
viram os guardas conversando, um deles estava no rádio e todos segurando os amigos.
Giselly usou seu poder e fez a maré subir e subir, cada vez mais, a água começou a invadir
mais a cidade e ondas violentas tentavam entrar na casa. O guarda que segurava Tommy
começou a andar para mais perto da janela para ter certeza do que estava acontecendo, já que
os outros estavam levemente assustados. Foi então que Martinez se teletransportou para
dentro da casa e deu um soco no guarda que segurava o garoto, ele desmaiou e Tommy ficou
livre. Ele correu até o guarda que estava com Lilith e deu alguns socos em seu rosto, já o que
segurava Selina parcialmente inconsciente tentou ir para os quatros do fundo da casa, mas
Harvey entrou na casa e gritou para que ele parasse, o homem sacou uma arma para Harvey e
tentou atirar então Giselly fez com que outras ondas violentas invadissem a casa, uma delas
atingiu a parede perto do guarda e derrubou a arma de sua mão. Martinez conseguiu se
teletransportar para trás do guarda que estava com Lilith, o que fez o guarda se distrair e soltar
a garota para tentar se defender de Martinez, enquanto isso Harvey foi até o guarda mais
velho que segura Selina, ele correu para se afastar do príncipe mas acabou tropeçando em
Eddie que estava tentando sair dali do meio, o velho levantou deixando Selina no chão e
tentou correr até a janela, mas Giselly impediu com uma grande barreira de água em volta da
casa, impedindo passagem, depois do feito a garota correu até Selina e a puxou para o canto
da sala. Harvey começou a socar o mais novo, pegando sua cabeça e batendo contra a parede.
O mais velho tentou correr até as meninas que estavam no canto da sala, mas foi impedido por
Tommy, Martinez e Eddie. Sua opção foi se jogar contra a bateria de água e se afogar afinal a
densidade o impedia de se mexer se tentasse passar. Assim foi feito.
Lilith correu até Selina e Giselly e começou a conversar com ela tentando reanimá-la. Tommy
cumprimentou os meninos com batidinhas nas costas troca de sorrisos. A loirinha se levantou
e correu até o namorado vendo grandes hematomas em sua pele, felizmente ele é imortal e
aquilo não era nada. Todos olharam para as meninas jogadas no canto do cômodo e
observaram para ver se Selina reagia. Harvey caminhou até elas e se abaixou na altura da
garota.

— Selina, consegue me ouvir bem? Pode olhar para mim? – Ele tocou em sua perna para
chamar sua atenção.

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— Sim. – Ela respondeu.

— Certeza de que está tudo bem? – Ele insistiu.

— Acho que sim...

Ela murmurou então Lilith a ajudou a levantar. O grupo todo se abraçou e então eles se
afastaram deixando Harvey e Lilith no meio da sala.

— Sei que estou devendo algumas desculpas a você, eu percebi sem a ajuda de ninguém que
eu realmente estava estressado. – Ele disse se referindo à sua melhor amiga que lançou um
olhar fulminante para ele. – Enfim, me perdoe por tudo o que eu disse, eu não quero ter essa
rivalidade com você e espero que pense o mesmo. Quer voltar à equipe?

Ele estendeu a mão para um aperto, Lilith que estava de braços cruzados, o encarou de cima a
baixo.
Então ela riu e abaixou a cabeça e retribuiu o aperto, dizendo que sim, ainda rindo. O grupo se
abraçou novamente. Finalmente um momento de paz e felicidade para os amigos depois de
tudo o que passaram e todo o estresse acumulado nesses meses. Tudo interrompido por
Giselly, que colocou as mãos na cabeça e correu até a pia para abrir a torneira e se conectar
com a água. Ela se virou para eles e suspirou, em choque.

— Amélie precisa da gente, agora!

— O que aconteceu? – Harvey perguntou se aproximando dela.

— Ela está machucada, muito machucada. Foi apenas isso que ela falou.

— Vamos até lá, agora! – O príncipe gritou.

Todo mundo correu para fora de casa e foram até a beira da praia. Tommy fez uma enorme
plataforma e areia sair do chão, com ajuda, eles conseguiram subir e Giselly ficou inclinada
com a mão para fora tentando receber qualquer atualização da Mãe Água.
Lilith ficou ao lado de Selina o tempo que estava se recuperando aos poucos. Os meninos
observavam o caminho e Harvey tanto guiava o caminho quanto resgatava em sua mente o
plano feito á semanas.

181
Eles chegaram na ilha, desceram todos na beira da água e enfim a plataforma se desfez
rapidamente. Começaram a subir a ladeira que dava para a floresta na qual foram pela
primeira vez. A ilha era pequena, mas era bem dívida. Giselly tomou a frente do caminho, ela
andou até ver um de muitos guardas de Axel e se escondeu rapidamente entre as árvores e
arbustos. Os outros perceberam o mesmo e a imitaram.

— Precisamos ir! – Ela bateu na perna do melhor amigo querendo se levantar dali.

— Você está muito eufórica!

— Você está muito lento!

Eddie a encarou perplexo e escondeu o riso.


O príncipe puxou todo mundo para mais perto uns dos outros para que seu sussurro fosse
ouvido em bom tom por todo o grupo.

— Tommy Giselly se escondam nos arbustos em frente ao castelo e esperem o sinal. Eu e


Eddie vamos subir um de cada lado do castelo até o telhado, vamos parar em uma das janelas
e vou apontar para Lilith, ela vai assoviar e então você dois ataquem! Martinez vai tentar
entrar no castelo quando tudo estiver mais limpo junto com Selina, ela vai encontrar Amélie e
você aproveita para perguntar a ela sobre as pedras preciosas. Eu e Eddie vamos observar
tudo de lá de cima para ver quando ajudar. Lilith, tente ficar na entrada do castelo para que
Selina e Amélie consigam te localizar, se não achar seguro, não vá!

O grupo se abraçou e a loirinha antes de começar a andar com Tommy disse "eu amo vocês."
Todos foram até seus postos tentando tomar o máximo de cuidado possível para que os
guardas não os vissem. Martinez foi junto com Harvey para que ele pudesse observar tudo
mais de perto e ter certeza de quando agir e se teletransportar para dentro do castelo.
Os meninos se separaram atrás do castelo cada um indo para um lado, correndo por entre as
árvores para que os guardas dali não os vissem. O príncipe jogou algumas pedras em direção a
entrada do castelo fazendo com que os guardas andassem até lá e o espaço ficasse livre. Eles
correram e começaram a subir as janelas ao mesmo tempo, chegando ao teto do que seria o
primeiro andar do castelo, o príncipe pediu permissão para dar o sinal a Lilith, Eddie se
sentou na beirada da janela em que eles pararam e permitiu o sinal. A branquinha já o
encarava esperando por isso, Harvey apontou para ela então a garota assoviou para eles.
Tommy levantou um grande pedaço de terra e Giselly a envolveu com água, eles a atiraram
perto da entrada do castelo fazendo a terra e a água explodirem no chão e se espalharem, os
guardas que ficaram de pé começaram a correr, alguns para ajudar quem caiu, outros se
aproximaram para achar de onde veio isso. Eles continuaram com os ataques de terras e água,
muitos se afogaram porque Giselly os prendeu em uma barreira de água, alguns forram

182
soterrados pela terra de Tommy. Martinez vendo que a entrada do castelo ficou mais livre, ele
chamou a atenção de Selina para que ela observasse também e concordasse em correr.
Mais alguns ataques feitos pelo casal e a entrada ficou completamente livre, eles correram
pata dentro do castelo e comemoram por alguns segundos. Martinez se teletransportou mais à
frente do corredor para que ele tivesse certeza de que é seguro para Selina avançar. Foram
fazendo isso aos poucos até chegarem em um lugar com várias divisões de corredores, Selina
visualizou Amélie em sua mente e seguiu sua intuição para chegar até o quarto onde a garota
estava.
Axel estava na sala das pedras preciosas quando ouviu do andar de baixo toda a situação, ele
visualizou Selina em frente ao quarto de Amélie, mas ele decidiu esperar o momento perfeito
para atacar, à essa altura, sua única preocupação era com sua fonte de poder.
Martinez se teletransportou para dentro do quarto e viu a garota jogada no chão, desacordada.
Ele chutou com tudo sua força abaixo da maçaneta, o que fez a porta abrir. Selina entrou no
quarto e correu em direção à Amélie, ela tentou acordar a menina chamando por seu nome,
então ela deitou-a no chão e levantou suas duas pernas para melhorar seu fluxo sanguíneo.
Amélie acordou aos poucos e Martinez a ajudou a levantar.

— Eu morri? – Foi a primeira coisa que ela disse ao ver o garoto ajudando-a.

— Não, não morreu. Está bem viva! – Selina respondeu.

Amélie se afastou dos dois e coçou os olhos, os meninos se entre olharam confusos.

— Vocês não estavam mortos? Acho que não estou bem.

Selina caminhou até a garota e segurou seus ombros.

— Todo mundo está aqui, nós estamos vivos!

— Eu ainda estou dormindo...

A garota se irritou e deu um tapa no rosto de Amélie, ela grunhiu.

— Foi forte o suficiente para te fazer acordar?

183
Amélie balançou a cabeça e sorriu, ela abraçou Selina fortemente e tentou não deixar algumas
lágrimas caírem. Lina se afastou dela e sorriu dando alguns tapas em seu ombro. Martinez
sorriu e passou seu braço em volta do ombro de Amélie. Eles deram um passo para fora do
quarto, mas cinco guardas passaram pelo corredor, o trio rapidamente entrou novamente e
fecharam a porta.
Lilith percebendo a demora vendo que a entrada ainda estava livre resolveu correr até lá,
andando pelo corredor ela se deparou com alguém familiar, familiar até demais.

— Eva?! – Ela perguntou travando no caminho. — Olha só quem eu desejei nunca mais
encontrar! – a ruivinha sorriu e se aproximou da garota.

— Desprazer em te ver também, mana. Está fazendo o que aqui?

— Pergunto o mesmo para você. – Ela cruzou os braços. – Coisas importantes cujo não são da
sua conta!

— Se prostituindo? – a branquinha riu, a ruivinha se aproximou mais dela. – Calma, era


brincadeira!

— E você?

— Não te interessa também.

Lilith começou a andar, mas Eva a segurou pelo braço.

— A onde pensa que vai, nossa conversa está apenas começando, maninha.

Do lado de fora foram chegando cada vez mais guardas, Giselly e Tommy tiveram que sair do
esconderijo porque tinham os achado. A água e a terra estavam se misturando cada vez mais
formando um grande lamaçal, quanto mais guardas morriam, mais surgiam de todos os lados
possíveis. Eddie e Harvey vendo a situação lá embaixo resolveram descer e ajudá-los.
Eddie imobilizava as pessoas muito bem, mas mal queria matá-las, ele não se sentia bem com
isso, independente da pessoa ele não queria que eles morressem. Todos agiam das mesmas
formas, conseguia-se perceber que eles eram controlados ou algo do tipo. Eddie percebeu isso
e foi mais um motivo para não acabar com a vida deles. Harvey por outro lado dava socos que
conseguiam apagar as pessoas por um longo tempo, um ou outro acabou falecendo.
Enquanto Giselly prendia mais um guarda em uma barreira de água, outro se aproximou de
suas costas e lhe deu um soco nas costas, Eddie percebeu e correu até a namorada, ele socou o

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homem várias vezes e o jogou para longe dos dois. Ele a ajudou a levantar, nesse pequeno
momento de distração um guarda cravou uma espada nas costas do garoto. Tommy atirou um
bolo de terra em direção ao guarda que fez isso, provavelmente ele morreu soterrado. Giselly
entrou em pânico e tentou se comunicar com ele, apesar da situação o garoto apenas se
retorceu de dor. Ela criou um círculo de água em volta deles para que pudessem estar
protegidos.
Do lado de dentro, Selina tinha acabo com a mente de três guardas que entraram no quarto,
Martinez terminou o serviço. Eles saíram do quarto correndo até a entrada central do castelo,
consequentemente eles passaram ao lado das irmãs. A ruivinha tentou segui-los, mas a
passagem do corredor foi bloqueada por Lilith.

— Aquela era Amélie?! Ha, o Axel vai adorar saber que ela fugiu com os amiguinhos dela.

— Pelo amor! Quem é Axel?

— Ela vai adorar saber de você também.

Por um momento, a branquinha pensou que esse era o garoto que sequestro e manteve Amy
aqui. Lilith deu um tapa no rosto da irmã.

— Você virou cúmplice desse imbecil? – Ela disse alto. – Vocês machucaram muita gente,
sua idiota!

Eva cravou as mãos no pescoço da irmã e a prensou contra a parede, apertando cada vez com
mais força.

— Não consegue usar seus poderes né maninha?!

Ela riu.
Lilith tentou se afastar da garota e até chutá-la, mas todas suas tentativas eram em vão. Os
olhos de Eva ficaram totalmente negros e uma densa aura negra começou a subir em direção
as meninas, especificamente Lilith. A aura começou a tampar todo o rosto da garota que não
tinha mais forças para se mexer, mesmo assim ela tentou e aproveitou um momento de
distração da irmã que estava rindo de seu sofrimento, chutando sua canela com toda a força
que lhe restou. Eva se afastou e levou um pouco da aura junto.
Quando o trio chegou do lado de fora, Amélie correu para abraçar Tommy, Giselly viu a
garota correndo e fez a Água levitar Eddie e os dois andaram até Amy. A loirinha pulou em
cima da garota e abraçou fortemente, ela olhou para Eddie e de aproximou dele.

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— O que houve com ele?

— Se machucou, mas ele consegue te ouvir. – A loirinha respondeu.

— Oi Eddie... É a Amélie! Eu senti muita falta de vocês.

O garoto olhou para o lado e sorriu, esticando sua mão, a garota segurou a mão dele e se virou
para o grupo novamente.

— Onde está o Harvey? – Perguntou.

— Eu acho que ele entrou procurando por você. – Tommy pontuou.

Amélie queria correr e ir atrás do garoto, mas Martinez segurou seu braço e a puxou de volta
para perto do grupo.

— Não vá! Não sabemos o que ou quem está lá dentro ainda. – Ele disse. – Não é seguro.

— Onde está Lilith? – Selina olhou para todos os lados.

— Nós passamos por ela lá dentro, no corredor.

De repente, um grito feminino e agudo foi ouvido de dentro do castelo, era Eva enforcando a
irmã com sua aura negra.

— É ela! – Selina gritou e saiu correndo, Tommy tentou segurá-la, mas ela se contorceu e foi
mais rápida que ele.

A garota correu para dentro do palácio e viu a branquinha presa na parede com aquela aura a
prendendo e a sufocando. Ela correu, mas Eva a avistou e foi rápida o suficiente, empurrando-
a para longe da irmã, Eva ficou entre as duas e não deixava Selina se aproximar.
Lina começou a usar seu poder para controlar Eva, mas a ruivinha percebeu e bloqueou seu
poder fazendo voltar em dobro para a garota. Ela se ajoelhou no chão se agarrando aos
próprios cabelos trançados gritando de dor e implorando para a garota parar, ela se deitou no
chão não suportando seu próprio poder. Lilith ouviu os gritos da garota e arrumou forças do

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além para se libertar, ela arrebentou a aura negra como se fossem correntes feitas de papel e
mesmo tropeçando e sem muitas forças ela correu até Selina, Eva reforçou a aura, agora sobre
as duas. Os olhos de Lilith começaram a ficar totalmente negros e uma fumaça vermelha cor-
de-sangue começou a tomar conta da aura negra de Eva, o vermelho tomou conta do preto e
Lilith gritou sentindo a intensa energia passar agressivamente pelo seu corpo. Sua aura
vermelha se espalhou como vento fazendo sua irmã bater as costas na parede.
Os olhos da branquinha voltaram a ser castanho e azul. Ela bateu no rosto de Selina várias
vezes tentando fazê-la acordar, sua aura voltou a aparecer, mas dessa vez era raiva e vingança
por sua irmã machucar o amor de sua vida. Lilith se levantou do chão e automaticamente fez
sua aura envolver Eva, fazendo-a desmaiar.
Ela caiu de joelhos no chão e sentiu sendo carregada por alguém, Selina conseguiu ficar
consciente novamente e pegar sua companheira no colo e carregá-la para fora do castelo.
Elas se encontram com o grupo, Lina deitou a garota no chão.
Amélie observando tudo aquilo ficou em choque, mas sabia que a garota iria ficar bem.
Martinez vendo a demora do príncipe, se teletransportou para a frente do quarto onde estavam
antes, ele correu pelos corredores até encontrar Harvey em frente a uma porta no fim do
corredor.

— O que você está fazendo aí, cara? – Ele correu até o príncipe.

— Elas estão aqui, eu sei que estão aqui! – Harvey tentou abrir a porta trancada.

Foi então que a passagem foi aberta bruscamente por Axel, que deu de cara com os meninos.

— Ora, ora, olha só quem voltou. – Ele riu.

— Tem algo aqui que não lhe pertence. – Harvey disse.

— Tudo aqui pertence a mim!

— Não! Essas coisas não são suas, devolva-as agora! – Martinez complementou.

— E perder tudo o que eu tenho? Nunca. Nem por sonhos.

Harvey deu um soco inesperado em Axel e passou para dentro do cômodo. O garoto foi atrás
e o príncipe fez uma barreira de gelo para impedir que Axel passasse, mas ele ainda assim

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conseguiu passar usando o teletransporte, Harvey jogou alguns cones pontiagudos na direção
do "príncipe", que desviou de todos eles. Ele se aproximou da fonte de poder de Axel e
quanto tentou ultrapassar a barra que criava a distância entre a pessoa e a fonte, Axel usou o
poder do reino de Amélie para usar uma forte ventania e jogar o príncipe para longe delas.
Martinez entrou na sala, mas logo correu quando viu que Axel o percebeu ali.

— Axel! – Uma voz feminina gritou.

— Eva!? – Ele gritou de volta.

— Sua esposa fugiu com os amiguinhos dela! – Ela disse e logo caiu no colo do garoto, ainda
estava fraca.

— O que aconteceu com você?

— Minha irmã, eu vou acabar com a vida dessa menina!

— Não agora, você precisa descansar. Fique aqui de olho na fonte.

Eva se sentou no chão. Axel se teletransportou ficando de frente com Harvey, o garoto tentou
correr, mas ele o segurou com força. O príncipe tentou se debater e se soltar, ele não
conseguiu.
Axel o arrastou por todo o castelo enquanto o garoto ainda tentava se soltar. Chegando ao
lado de fora, Axel jogou Harvey à frente dele, no chão, todo o grupo que estavam distantes o
encararam surpresos, principalmente Amélie. Ela sentia vontade de correr até o garoto e
libertá-lo daquele monstro que Axel se mostrou ser, mas ela ainda não podia fazer isso.

— Acho que estou precisando dar uma lição a todos vocês. Principalmente em Amélie.

O rosto de Harvey se virou imediatamente em direção ao grupo tentando encontrar Amy, ele
conseguiu se soltar e quando chegou na metade do caminho, um vento forte o jogou para o
lado e uma barreira de gelo se ergueu do chão em volta dele, o prendendo ali.

— Amélie! – Axel a chamou e começou a andar em direção ao grupo. – Agora sim você vai
ver seus amigos morrerem, e você vai junto. Talvez Eva seja melhor que você e possa te
substituir, fui tolo em não ter percebido isso antes. Pelo menos vai ter seus últimos momentos
com as pessoas que você gosta, foi bom compartilhar tudo isso com você.

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A garota levou uma das mãos ao coração e suspirou fundo, Axel a lembrou da pior traição que
ela já sentiu.
O garoto lançou água e vento em direção ao grupo que explodiria ao tocar o solo, todos se
afastaram o mais rápido possível. Tommy tentou rebater atirando pedras e terra na direção do
garoto, que se defendeu em uma barreia de vento. Giselly preferiu ficar cuidando de seu
namorado justamente a Lilith que não tinha força alguma para lutar. Axel percebeu a
vulnerabilidade e tentou atacar o trio diversas vezes, mas Amélie e Tommy o impediam todas
as vezes usando seus poderes. Martinez aparecia atrás do garoto tentando socar e bater nele,
Axel rebatia todas as vezes e o socava de volta.
Foi em um momento que o garoto estava muito distraído tentando acabar com o grupo que
Martinez viu a oportunidade perfeita para entrar no castelo. Ele correu até lá e se
teletransportou para mais perto da porta ao fim do corredor. Quando já estava quase no fim do
caminho, três guardas apareceram na frente do garoto, Martinez deu um soco em dois e o
terceiro saiu correndo de medo.
Ele conseguiu completar o caminho e foi até a porta no fim do corredor. Correu até a fonte de
poder e ultrapassou a barra que criava a distância entre a pessoa e fonte. Eva se levantou e foi
correndo em direção ao garoto, ela tentou puxá-lo para trás, mas ele conseguiu se soltar.
Ainda assim a ruivinha tentava prender e imobilizar o garoto, Martinez por sua vez, tentava se
soltar, mas tinha um leve medo de Eva.
Do lado de fora, Axel visualizou o garoto perto da fonte de poder e resolveu ir ajudar a
ruivinha, ele correu até a entrada do castelo, mas foi só isso que ele conseguiu fazer.
Do lado de dentro, Martinez estava em cima da barra enquanto Eva tentava o puxar, sua aura
negra estava aparecendo e subindo até os dois. Quando o garoto percebeu que iria morrer por
causa do poder da ruiva, ele se jogou para trás, batendo as costas na fonte de poder. Eva viu o
garoto cair e tentou ir atrás dele, para impedir a queda.
A fonte de poder balançou e caiu no chão, espalhando vidro pelo chão e poder para todos os
lados possíveis. Como a sala era fechada, os poderes bateram nas paredes e voltaram todos em
um ponto só, acumulando muita energia e explodindo. Os poderes se espalharam por quase
todo o castelo explodindo tudo e derrubando as paredes. Uma forte luz surgiu dali no
momento da explosão fazendo o grupo do lado de fora fechar os olhos.
Quando eles olharam em volta, Axel não estava mais ali, mais da metade do castelo estava
caindo no chão levantando muita poeira.

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Capítulo 21

— Martinez? – Amélie disse se levantando.

Selina pegou Lilith no como se ela fosse uma criança e Giselly não desfez sua cama de água.
O grupo começou a se aproximar da bagunça, ao lado direito alguns pedaços de gelos
quebrados começaram a se mexer. Eles pararam de andar e olharam para lá. O príncipe se
libertou da parede de gelo, agora em pedaços, ele se levantou e mexeu nas roupas para alguns
cacos caírem.
Amélie correu até ele e pulou em cima dele, dando um abraço bem apertado. Harvey depois
de perceber quem estava o abraçando, ele retribui a apertando mais ainda e a girando, tirando-
a do chão.
Quando ele a soltou, depositou um grande e emocionante beijo em seus lábios. Giselly soltou
um riso nervoso, ao ver seu casal finalmente dando certo. O beijo mais esperado por todos.
Eles continuaram abraçados enquanto andavam pelos destroços procurando Martinez, o
silêncio era constrangedor ao ponto de acharem que garoto estava morto. Até que eles viram
um braço com uma pulseira preta debaixo de uma lajota, Harvey e Tommy correram e tiraram
a lajota de lá, suspirando fundo com medo do que eles poderiam ver. Felizmente o corpo
inteiro de Martinez estava lá, ensanguentado e com vários cortes e machucados, mas vivo. Ele
tapou a claridade do sol de meio-dia com uma das mãos. Os meninos o ajudaram a levantar e
a cena para o resto do grupo era um tanto quanto assustadora.

— Ele está vivo, fiquem tranquilos. – Harvey disse.

Amélie suspirou de alegria e depois olhos para todos os lados, ela correu pelos destroços à
procura de algo, ou alguém...
Ela avistou de longe, um garoto se levantando e depois caindo novamente. Correu até ele e o
segurou, mesmo que Axel tentasse se soltar.
O grupo correu até ambos e Selina lançou um olhar mortal para Amélie.

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— Saia de perto dele! – Ela gritou.

— Se machucou? – Amélie se abaixou na direção dele.

— Escute sua amiga. Me deixe aqui. – Axel disse com as forças que lhe restaram.

— Não. Se levanta. – Amélie tentou.

Selina foi até a garota e a puxou pelo braço para longe dele.

— É sério!? – Ela se afastou novamente. – A rainha pode dar a ele uma boa punição e acima
de tudo deixá-lo vivo.

— Eu acho que deveríamos cortar o mal pela raiz. – Lina disse.

— Não... Talvez ele aprenda com uma boa punição.

Todos se entre olharam e Harvey foi até Amélie, ele segurou suas mãos e olhou no fundo de
seus olhos.
— Sabe que ele te fez um mal tremendo, certo!? – Ele sussurrou.

— Eu sei.

— Sabe que ele não deveria estar vivo.

— Mas eu não acho certo acabar com a vida dele.

— Mas ele te fez muito mal!

— Independente.

— Ele deveria receber uma punição grande pelo que fez.

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— Mas não esse tipo de punição.

— Tudo bem! – Harvey se afastou um pouco. – Espero que saiba bem o que está fazendo.

O príncipe foi até Axel e o levantou, o apoiando em seu ombro.


Foi então que Martinez tentou se soltar do ombro de Tommy, mas suas pernas falharam ao
tentar andar.

— As pedras vitais! – Ele gritou.

— Onde estão? – Tommy perguntou.

— Eu não tenho certeza, as vi sendo lançadas uma para cada lado. – Respondeu.

— Mas até acharmos todas vai levar um século! Olha o tamanho dessa ilha! – Giselly disse.

— Verdade... – Amy respondeu.

Então, passos foram ouvidos de longe e o grupo todo se virou para ver quem era que estava
andando, se todos estavam ali. Grandes cabelos vermelhos com um fundo laranja brilhando
com sol se aproximou deles. Eva se aproximou mais e jogou todas as pedras vitais na direção
deles, eram fortes o suficiente para não se quebrarem com a queda.

— Quer ir embora com a gente? – Lilith se virou para vê-la, Selina a colocou no chão.

A garota não respondeu, reprimiu os lábios com raiva e se virou, dando uma corridinha e
sumindo rapidamente de vista.
Lilith se curvou em direção ao chão e vomitou, Selina a pegou de volta no colo, com seu rosto
apoiado em seu peito.

— Precisamos levar todos a um curandeiro. – Tommy disse.

— Deve existir algum em Opala.

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— Não... Os hospitais são bem lotados e pobres. – Lilith sussurrou, mas baixo o suficiente
para apenas Selina ouvir.

— Minha avó é curandeira, podemos ir até lá. – Tommy complementou.

Então a decisão foi tomada, o grupo foram até um cais na cidade de Opala, logo depois de
passarem por todas as casas que eles já estiveram para pegar seus pertences. Eles embarcaram
e começaram a viagem para a cidade de Esmeralda.

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Capítulo 22

Em uma noite, todos estavam dormindo, menos Harvey e Amélie. Eles estavam sentados um
ao lado do outro.

— Nem acredito que deu tudo certo. – Amy disse.

— Também... Não imaginei que tudo fosse dar tão certo. Eu... Eu estava com tanto medo de
te perder.

— Entendo, pensei que eu fosse morrer tantas vezes, de tantas maneiras diferentes. Mas por
fim, estou aqui, vivíssima. E tenho muito o que agradecer a vocês.

Ele se entre olharam e a garota se deitou em seu colo, ambos olharam para o horizonte escuro.

— Você lembra de um cenário parecido? – Ela disse, querendo-o fazer lembrar de quando
eles se beijaram.

— Sim, não tem como esquecer. E você lembra de quando eu disse que se eu pudesse... – O
príncipe se levantou e se ajoelhou na frente de Amélie. – Te pediria em namoro agora
mesmo?

— Não tem como esquecer... – Ela se abaixou na altura do príncipe.

— Quer namorar comigo?

A garota gritou que sim e pulou em cima de Harvey, que a segurou no colo e se levantou a
girando. Finalmente o pedido foi oficializado, os dois se queriam muito á muito tempo, eles

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sabiam como foi difícil finalmente estarem juntos. Tantos desafios e manipulações, mas deu
tudo certo e Harvey vai poder realizar seu desejo de ver Amélie sendo sua princesa e
utilizando uma coroa. Amélie, apesar da dúvida que se encontrou, vai ficar com o príncipe.
Como metade do grupo estavam machucados e sem energia para entreter a viagem, essa foi a
única coisa que interessante que aconteceu em uma semana de uma viagem sem pausas.
Chegando em Esmeralda, o príncipe estacionou o barco em um dos cais da cidade. A cidade
estava vazia, mais vazia de quando eles foram pela primeira vez recrutar Tommy.
O grupo escondeu as pedras vitais em um canto do barco e Tommy os guiou para a biblioteca
de sua avó, sua casa ficava no último andar do lugar, que entrava por uma escada atrás do
monumento. Eles bateram na porta da casa e uma senhora abriu.

— Vovó!! – Tommy gritou e a abraçou.

— Meu querido! Que saudades que eu estava de você, tanto tempo sem contato você nem
imagina como eu me senti... – Ela respondeu. – Quem são seus amiguinhos?

— Então, eles se machucaram no final da nossa missão eu queria se a senhora os ajudasse.

— Claro, podem entrar.

Então, a senhora foi cuidando um por um. Martinez e Eddie precisaram de alguns cuidados
maiores, o corpo todo do loirinho ficou enfaixado com esparadrapos e Eddie com pontos nas
costas e vários panos e curativos repletos de sangue. Eles ficaram em um quarto para que
possam descansar em paz. Os outros receberam cuidados mais simples, por não estarem tão
machucados.
Lilith foi uma das últimas a ser cuidadas, ela ficou em um quatro separado com Maria por um
longo tempo. Enquanto todos estavam na sala em silêncio descansando, Lilith correu para a
sala em pânico e a senhora correu atrás dela pedindo para que ela se acalmasse.

— Como eu vou fazer isso Maria? Eu não posso!

— Você precisa ficar calma.

— Eu não posso cuidar de uma criança!

— O que aconteceu? – Giselly perguntou.

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Lilith começou chorar e se arrastou na parede. Os soluços aumentaram e ela tremia.

— Lilith? – Amy tentou se aproximar. – Se acalme!

— O que aconteceu? – Giselly reforçou a dúvida.

— Eu estou grávida. E eu não quero.

Ela chorou mais ainda, o grupo se entre olhou em choque, menos Amélie que não sabia o que
estava acontecendo. Selina andou até a garota e a levantou do chão pedindo para ela manter a
calma.

— Eu não te traí, eu juro! – ela abraçou Selina e a apertou no abraço, ainda chorando.

Lina olhou para o grupo ainda tentando processar a informação que chegou eu sua mente, ela
puxou a garota para o quarto que ela tinha saído, Maria foi junto.

— De quem é essa criança? – Selina a colocou na cama, e a encarou séria e a branquinha não
respondeu. – Lilith, você tem que saber de quem é essa criança.

— Tommy... – Lilith soluçou mais ainda.

— Que? Quando isso aconteceu?

— Faz semanas, eu não te traí!

A branquinha se jogou no colo de Selina e a abraçou.

— Tudo bem..., mas, o que você vai fazer agora?

— Eu quero você, ninguém além de você! Eu quero ter essa criança, mas ficar com você! Eu
quero passar o resto da minha vida com você, e criar nossa família... – Lilith disse
rapidamente e os soluços foram diminuindo aos poucos.

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— Foi um pedido de casamento? – Selina riu.

— Talvez... Fica comigo, e me ajude com essa criança, por favor!

Selina a abraçou mais fortemente e a levantou do chão, elas se viraram para Maria.

— Eu vou ser avó... – Ela sorriu. – Tommy vai saber disso e não se preocupe que eu ajudo
com ele.
— Obrigada, não estou com cabeça para lidar com as reações dele. Pode contar por mim?

— Claro, vão descansar agora...

O grupo não tocou mais no assunto pelos próximos quatro dias.


Era hora de ir embora, cada um para o seu reino, Tommy até queria ficar com sua avó, mas
preferiu ir junto com os amigos para ver o que a rainha iria fazer a respeito e aproveitar para
se apresentar a ela. Ele prometeu a Maria que voltaria rapidamente

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Capítulo 23

Pov. Amélie:

Minha cabeça está a mil, agora deu tudo certo e metade dos meus problemas foram embora,
agora estou namorando com o filho da Rainha. Isso deve ser o mais preocupa a minha mente,
não sei como minha vida vai ser daqui para a frente, mas esse futuro com certeza é muito
melhor do que ficar com Axel. Ele ficou quieto por todos esses dias e ninguém quis conversar
com ele, muito menos eu.
Às vezes eu sinto vontade de fazer um ciúme para ele, mas não. É melhor não complicar as
cosias quando elas estão indo bem.
Foram quase uma semana para chegar em Diamante e nada de interessante aconteceu.
Inclusive, eu não tinha entendido a confusão de Lilith estar grávida, mas Giselly me explicou
tudo o que aconteceu nesses dias e confesso que não me chocou muito. Ela é a princesinha da
maldade, apesar de afirmar que não traiu Selina, eu confio, mas é estranho ver que mesmo
grávida ela não quis ficar com o pai da criança. Ela preferiu ficar com Selina, mas enfim,
realmente não vejo problema nisso, apenas comentei.
Foi incrível o tempo que passei com Harvey ao meu lado, ele foi acolhedor e quando minha
ansiedade o atacava estava ali para me ajudar, ele é um homem maravilhoso.
Nós chegamos em Diamante, me recordo do caminho quando Harvey vinha me buscar em
casa para me levar ao castelo, nós estacionamos o barco em um cais próprio do castelo. Assim
que o príncipe desceu os guardas foram correndo o abraçar e alguns foram para dentro do
castelo, provavelmente avisar a Rainha. Nós nos preparamos para poder entrar no local,
Giselly pegou as pedras vitais que estavam em uma sacolinha e ao mesmo tempo estava
apoiando Eddie em seu ombro, Martinez estava sendo apoiado por Tommy e Axel segurado
pelo pulso por Selina, Lilith quis ficar distante de todo mundo, imagino como a sua mente
deve estar, grávida aos dezessete anos. Enfim, seguimos o caminho. É tão reconfortante
lembrar de quão gelado é o castelo, me sinto segura ao estar aqui, a paleta de cores claras
como azul e dourado são acolhedoras. Não sei se só eu sinto isso...
Chegamos ao salão central onde nem o rei nem a Rainha estavam, mas eles rapidamente. Os
pais de Harvey foram o abraçar e o arrastaram para o trono dele, estavam muito felizes ao ver
o filho depois de tanto tempo sem notícia nenhuma.

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Ele explicou a situação e o processo de chegarmos até aqui.

— Parabéns a todos, são jovens incríveis que conseguiram salvar o mundo. – A Rainha
parabenizou. – Vamos oferecer à recompensa para todos.

— Ah não! – Tommy gritou colocando as mãos no rosto. – Rainha, eu prometi a Ravenna,


Rainha de Opala que traria metade da recompensa para ela!

— Não se preocupe garoto, ela não pode te alcançar aqui. Tomaremos medidas protetoras
para que tudo ocorra bem, e que voltem para casa com segurança. – Ela o confortou.

Giselly começou a se aproximar do rei e o entregou as pedras vitais.

— Muito obrigado, seu pai vai ficar muito orgulhoso de você. – Ele sorriu para ela.

Giselly sorriu de volta com um pouco de vergonha, seu pai, um rei intimidador e que não
parece ficar impressionado facilmente. Ela vai ficar muito feliz se ouvir ele dizer isso.

— Tudo pode voltar ao normal agora. E o responsável por isso... – Ela encarou Axel
friamente. – Vai trabalhar aqui no castelo com segurança máxima todos os dias, até que
complete seus vinte e sete anos! Podem o levar, mas antes, tem alguma coisa a dizer garoto?

— Não. – Ele respondeu.

Então os guardas o levaram com um sinal da Rainha. Não sinto pena dele, talvez lá no fundo,
mas ele merece.
Resumidamente, ela entregou a recompensa em dinheiro vivo e os guardas os acompanharam
para ir embora, menos Lilith, a Rainha queria conversar com ela e comigo. Harvey foi
finalmente tomar um banho enquanto o rei foi ver a partida das pessoas, ficando apenas nós
três no salão.
Confesso que não uma despedida fácil, depois de tanto tempo eu tenho certeza de que não vou
conseguir esquecê-los assim, tão depressa. Mas nós prometemos que manteríamos contato, e a
apesar de morarmos longe um dos outros ainda vamos marcar de nos encontrar. Fico feliz em
saber que ao menos Giselly e Eddie vão voltar juntos.
A Rainha sorriu para Lilith e andou até ela.

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— Você é uma menina forte, não dá nem para acreditar que a filha da Rainha da maldade teve
tanta evolução. Demonstrou bravura, coragem, lealdade e fez de tudo para ajudar seus
amigos. Principalmente aqueles quem você ama. – Vi a branquinha corar. – Não quero que
você volte para a casa de sua mãe, seu lugar não é lá! Imagino como sua mente deve estar...
Você tem dezessete anos, está grávida... Vai ficar com o pai da criança?

— Vou ficar com a minha namorada. – Ela respondeu. – Selina.

— Claro, ela disse que iria te esperar, ela está lá fora. – Antes que Lilith pudesse sair, a
Rainha a chamou. – Sabe que pode contar com a gente, estamos com você e qualquer coisa
que precisar.

— Obrigada.

Ela sorriu e foi se aproximando de mim aos poucos, então me abraçou. Um guarda foi junto
com ela para o lado de fora, ela foi embora para, especificamente para a casa de Selina.
A Rainha me encarou com um sorriso leve esboçado no rosto.

— Parabéns Amélie, não imaginei que os jovens iriam conseguir fazer isso, mas você me deu
orgulho. Fiz certo em te escolher, e espero que tenha perdido esse preconceito com Opala... –
Ela apertou os olhos como se soubesse de tudo que eu já fiz de errado. – Harvey quer te
acompanhar até em casa.

Fiquei esperando o príncipe do lado de fora, ele segurou minha mão e me levou até o carro, se
sentando perto demais para quem está em uma limosine. Mas agora eu não me incomodo.
Ele me deixou em casa e antes que eu pudesse bater na porta, ele me chamou.

— Quando vou ver minha princesa novamente?

— Mais cedo do que imaginar.

Então o carro foi embora, bati na porta de casa implorando para alguém vivo abrir. Assim que
minha mãe me viu, ela me abraçou e chorou, confesso que deixei várias lágrimas caírem.
Finalmente estar em casa de volta, à minha simples vida com quem eu amo ao meu lado...
Senti tanta falta de tudo, da comida todo dia que mamãe fazia, agora eu finalmente posso ter
tudo isso de volta, depois de passar por tudo o que passei.
Meu pai estava sentado no sofá, mas assim que me viu ele correu para me abraçar. Nos
reunimos no sofá da sala e eles me perguntaram como foi a jornada, como tudo aconteceu e

200
como eu estava. Bem: eu viajei pelo reino todo, conheci sete jovens incríveis (sem contar
Axel e Eva), um deles virou meu namorado, fui sequestrada, solta e quase morri diversas
vezes. Contei tudo para eles, meu pai ficou em choque e em silêncio, acho que foram muitas
informações para a cabeça dele. Minha mãe ao mesmo tempo que ficou animada, ficou
levemente preocupada, ela quase chorou por ver o "bebê" dela crescendo. Meu pai suspirou e
disse que, portanto, que eu esteja feliz, é melhor eu me portar como uma princesa.

201
Capítulo 24

Se passaram dois meses desde que eu voltei para casa, tem bastante coisa acontecendo e
finalmente coisas boas.
As pedras vitais foram enviadas para seus lugares e tem um mês que as pessoas foram
liberadas para trabalhar normalmente, em algumas cidades a água, comida, energia e outras
coisas do gênero ainda não voltaram completamente ou mesmo parcialmente. Aqui na minha
cidade, Rubi, as coisas já estão funcionando, apenas a comida que está um pouco atrasada.
Tirando isso está tudo funcionando muito bem. Já voltei a trabalhar com a análise de mapas e
estou recebendo, mesmo que seja pouco. Vi Harvey poucas vezes desde que voltei, às vezes
bate uma saudade...
Estava limpando a louça quando ouvi o barulho da caixa de correio, parei de fazer o que eu
estava fazendo e fui até lá. Era uma carta de Harvey.

“Oi, minha princesa, como vai? Venha até o castelo hoje à noite, às 18:00. Tenho uma grande
surpresa para você.

Ass.: Harvey."

Sorri enquanto lia, minha mãe percebeu e se aproximou sem eu perceber, fazendo com que eu
me assustasse.

— Eu te levo! – ela gritou. – Seu pai vai fazer hora extra para compensar o que ele perdeu
nesses meses. – Já sabe que roupa vai usar?

— Não. – Respondi.

— Pois eu tenho a opção perfeita para você.

202
Ela me arrastou até o quarto dela e começou a mexer embaixo do guarda-roupa procurando
por algo, por fim ela pegou uma caixa velha e empoeirada, ela me entregou e a abriu em cima
do meu colo. Ali tinha um vestido verde escuro, a saia era rodada e ele tinha brilho em
literalmente todos os cantos. Até acompanhava um par de luvas que iam até os cotovelos.
Quem diria, minha mãe tem bom gosto.

— Usei ele no dia do meu casamento, guardei muito bem. Ele está limpo e bom para uso. –
Ela sorriu de uma maneira angelical.

— Posso experimentar. Mas nem sabemos o que é essa surpresa, pode ser algo tão simples.

— Ele é o filho da Rainha, nunca que algo vindo da família real vai ser simples. Vai!
Experimenta!

— Tudo bem. – Sorri de volta.

O vestido ficou bom em mim, ri ao imaginar meu pai aqui, já que eu sou quase sua versão
feminina quando ele tinha minha idade. Fiquei de frente para um espelho, admirada e
boquiaberta. Pude ver minha mãe me encarando com orgulho e uma leve vontade de chorar.

— Você está tão linda... – Ela disse e se aproximou de mim. – Agora vamos dar um jeito
nesse cabelo para que você possa ir ainda mais esbelta!

Ri.
Minha mãe fez uma trança no meu cabelo, que partia de uma trança menor, contornando meu
rosto até se tornar uma trança normal. Passei o resto do meu perfume favorito, não muito
doce, porém não tão forte.
Saímos de casa e minha mãe pediu carona e o moço nos deixou perto do castelo, ou seja,
ainda assim tivemos que andar um pouco. Chegando no castelo, Harvey correu até meu
encontro e me abraçou, minha mãe se afastou aos poucos.
O príncipe me puxou para dentro do castelo, ele estava mais arrumado que o comum.

— Então, preparei essa noite para nós. – Ele riu.

Sorri e dei um selinho nele.

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— Vamos começar a noite com um jantar.

Ele me guiou até a sala de jantar, a mesa já estava posta e só havia nós dois ali. Nos sentamos
um na frente do outro. Isso acabou me lembrando de Axel, mas preferi ignorar o sentimento
familiar e aproveitar minha noite. Nós jantamos enquanto conversávamos sobre o reino e
como nossa vida estava fluindo, ele até fez alguns flashbacks sobre a nossa aventura. Depois
do jantar, ele me levou para a maior varanda do castelo que estava completamente enfeitada
com velas, flores etc. Tinha um banco com travesseiros e cobertas para amenizar o frio que
fazia aqui fora. Ele pediu para que eu me sentasse no banco, me cobriu com uma das cobertas
e pegou as panquecas que estavam em cima de uma mesinha. Comemos algumas delas e
tomamos um vinho não muito forte. Então Harvey foi até a porta da varanda e pegou uma
caixinha com a empregada que estava na porta, ele se sentou ao meu lado novamente e sorriu.
Encostei minha cabeça em seu ombro e quase adormeci, mas o príncipe me chamou e tive que
olhar para ele.

— Amy... Não nos lembramos bem, mas quando criança éramos bons amigos. Sempre me
senti feliz e confortável com sua companhia o que me fez ter a certeza de que você é a mulher
certa para mim. Eu sempre senti isso. Quero te pedir em casamento, aqui e agora. – Ele abriu
a caixinha e lá tinha um anel prateado. – Aceitar ser a minha esposa?

Chorei tanto que não consegui responder, balancei a cabeça e ele me abraçou, me deitando no
banco. Ele continuou abraçado comigo até perceber meu choro cessar.

— Eu te amo.

— Eu também te amo. – Sorri em meio as lágrimas. – Seus pais sabem?

— Claro, eles me ajudaram. Só precisamos falar com eles para que possam te falar como se
portar.

— Tudo bem.

— Quer beber mais um pouco?

— Sim. – Respondi rapidamente.

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Ficamos mais um tempo do lado de fora, eu estava bem, mas Harvey parecia um pouco
alternado.
Depois ele se levantou e me ofereceu ajuda, me levantei e começamos a andar em direção a
sala do trono, com o braço de Harvey sempre em volta da minha cintura. A Rainha estava
conversando com alguém então ficamos ali no canto esperando-a terminar. Não pude deixar
de ver com quem ela estava conversando, Axel. Ele estava com uma blusa azul marinho e
uma calça verde. Pelo que eu ouvi, a próxima vez que ele tentasse roubar algo do reino ele
seria morto, já que a punição de ser empregado não seria o suficiente. Me deixa um pouco
triste saber o fim que o garoto levou e talvez levará (porque eu duvido que ele não faça nada
de errado por um longo tempo), mas ainda assim é melhor do que antes. Na verdade, eu
queria que ele fosse um garoto normal, que nunca tivesse tido essas ideias malucas de
dominar o mundo, infelizmente não posso controlar a mente das pessoas e fazê-lo mudar de
pensamento. Cada um escolhe o que faz e devem saber das consequências. Pelo menos é bom
saber que ele esteja vivo.
O garoto saiu do encontro da Rainha e Harvey sinalizou para que eu esperasse, ele entrou
primeiro e começou a conversar com sua mãe. Então ele sinalizou novamente para que eu
pudesse entrar na sala. Fiz uma reverência e não pude conter meu sorriso bobo, estava
morrendo de vergonha.

— Amélie Tainnetl, não consigo descrever minha felicidade em saber que agora eu tenho uma
filha. – Ela riu. – Sabe que a vida de princesa requer muita responsabilidade, mas tenho
certeza de que uma garota como você vai se adaptar rapidamente. Para poder anunciar essa
notícia para todos, podemos fazer uma festa de noivado para que você seja oficialmente o par
do meu filho.

— Claro, tudo bem. – Meu sorriso só foi aumentando cada vez mais. – Eu já posso contar
para os meus pais?

— Claro. – A Rainha riu.

Foi a primeira coisa que eu fiz quando cheguei em casa, conversei com eles. Minha mãe já
tinha uma grande suspeita do que ia acontecer lá, então ela gritou de felicidade e me disse mil
e uma cosias sobre casamento e coisas do gênero, meu pai chorou, mas não um choro de
tristeza. Como eu disse antes, é muita emoção ver a "bebê" deles crescer assim. Depois ele
teve uma séria conversa comigo falando sobre como me cuidar. Foi a conversa mais
constrangedora que eu já tive, independente, isso mostra que eles se importam comigo.
Foram duas semanas para preparar tudo desde os mínimos detalhes possíveis, fiquei mais
tempo no castelo do que na minha própria casa. O dia finalmente chegou, não dormi direito
nos últimos três dias, ao mesmo tempo que as preocupações fizeram os dias passarem rápido,
parece que demorou uma eternidade para o dia chegar. Tive que dormir no castelo, o dia
anterior foi muito cansativo e estava muito tarde para que eu pudesse voltar para casa.
Acordei com uma das empregadas mexendo em alguma coisa em meu quarto, me levantei

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devagar e vi que ela estava pendurando um vestido no gabinete, assim que tomei
completamente consciência do que estava acontecendo, a empregada já havia saído do quatro.
Meu café da manhã já estava ali no quarto. Comi e fui para o banheiro me arrumar. Abaixo do
vestido pendurado havia uma caixa com um bilhete, reconheci de quem era pela letra
maravilhosa de Harvey.

" Não me permitiram entrar em seu quarto para que eu pudesse te ver. Aqui está um presente
em comemoração ao nosso noivado, o vestido escolhido por você, está tudo indo como
planejado. A festa começará às 17 horas, quero te ver no salão central antes que possamos
começar a festa.
Lembre-se que eu te amo muito e estou muito feliz em saber que vou passar o resto da minha
vida ao seu lado.

Ass.: Harvey."

Abri a caixa é lá tinha um colar com a data em que começamos a missão de buscar as pedras
vitais. Me emocionei, pensar tudo o que eu passei até chegar aqui.
Coloquei o colar e vesti minha roupa, me senti a pessoa mais feliz do mundo, afinal o que
poderia estragar o melhor momento da minha vida?
Foram dois dias de festa, no fim de tudo posso afirmar com toda certeza do mundo que estava
exausta.
Agora minhas responsabilidades então por vir, a vida de uma princesa não vai ser nada fácil,
mas eu vou dar conta. Tive que me virar sozinha muitas vezes na nossa missão e isso só me
mostrou o quanto eu sou forte e que mesmo com todas as dificuldades expostas em meu
caminho eu pude continuar firme, isso até meus amigos aparecem: os amigos que eu achei
estivessem mortos. Ainda bem que essa mentira não passou de uma manipulação feita por um
homem maluco e controlador. Eles me ajudaram quando eu os mais precisei, principalmente
meu noivo.
Foi engraçado ver meus pais chorando ao anunciarmos o noivado, meus irmãos fizeram
questão de zoar a pestinha que eles importunavam tanto se casar com alguém rico, e primeiro
que ele ainda! Eles ficaram bem felizes em geral e Ismael ameaçou Harvey, discretamente,
mas deixou claro que é para o príncipe prestar atenção em como ele me trata. Isaac foi mais
de boa e apenas nos parabenizou.
Eles estavam lá na festa, Lilith está tão lindinha grávida!... Giselly também vai se casar com
Eddie e enfim, estão todos muito bem.
Sobre Axel, eu não o vi na festa, apenas levando uma bandeja de um lugar para o outro, mas
não quis conversar com ele e com certeza ele não iria gostar nada de conversar comigo. Em
um momento, senti seus olhos fixados em mim, mas assim que o encarei de volta o rei disse
alguma coisa para ele, então o garoto voltou ao trabalho. Não estou muito a fim de conversar
com o motivo de alguns traumas meus.

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É tão incrível ver o final em que nós chegamos, estamos vivos! E pensar que somos jovens.
Mas somos jovens especiais, que lutaram para conseguir salvar o mundo todo. Discussões
seriam inevitáveis, mas tudo se resolveu com conversas e a aceitação de nossas diferenças.
Foi uma aventura e tanto, nunca pensei que passaria por isso na minha vida toda. Agora eu
estou aqui, noiva e com um futuro magnífico pela frente, se eu soubesse que esse seria o final
da minha história, viveria tudo de novo, só pela experiência e ensinamentos que a vida me
entregou.

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