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CÁLCULO: LIMITES

DE FUNÇÕES DE
UMA VARIÁVEL E
DERIVADAS

Cristiane da Silva
Números reais, funções e
gráficos (linear, quadrática
e trigonométrica)
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:

„„ Descrever o conjunto dos números reais.


„„ Definir o conceito de função.
„„ Representar graficamente uma função.

Introdução
Neste capítulo, você recordará os conhecimentos adquiridos sobre o
conjunto dos números reais, suas representações por meio de exem-
plos numéricos e ilustrações, bem como receberá dicas de leitura para
aprofundar seus estudos. Ainda que algumas vezes não percebamos, os
conjuntos numéricos estão presentes em nossa vida diária: o conjunto
dos números inteiros, por exemplo, com seus valores negativos que
podem representar as temperaturas negativas que experimentamos
no inverno, ou ainda os saldos bancários negativos. O conjunto dos
números racionais, que contém as frações, costuma ter aplicação em
receitas culinárias, em estudos envolvendo proporções, etc. E o conjunto
dos números reais, que contém os naturais, os inteiros, os racionais e os
irracionais, é bastante abrangente e pode contemplar diversos exemplos,
além dos já mencionados.
Outro aspecto interessante é que as funções podem ser percebidas
em situações bem-próximas a nós, como na conta de energia elétrica
que recebemos mensalmente para pagar. O valor pago depende da
quantidade de kW/h consumida em um mês. Ou seja, nesse exemplo, há
uma relação entre duas variáveis. Podemos, ainda, pensar na cobrança que
os estacionamentos de veículos fazem: em geral, cobra-se um valor fixo e
um variável que dependerá de quanto tempo o veículo permanecerá no
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estacionamento. Também se pode pensar em uma construção: o preço


que se pagará pela obra depende de várias variáveis, como do custo
de mão de obra, da quantidade de material necessário para a obra, do
tamanho da obra, entre outros.
Você encontrará também representações gráficas que elucidam dife-
rentes funções e direcionam a atenção para alguns pontos importantes,
como o que poderia descaracterizar uma função, ou seja, fazer com que
determinada expressão matemática não represente uma função.

Conjunto dos números reais


Um número real pode ser representado como um decimal (ou expansão decimal)
finito, periódico ou infinito não periódico. Para ficar mais claro, observe os
exemplos a seguir:

π = 3,141592653589793…

Nesses exemplos, é representado por um decimal finito; já é represen-


tado por um decimal periódico, também conhecido como dízima periódica.
A barra sobre 142857 destaca que essa sequência se repete indefinidamente.
No caso do π, temos uma expansão decimal infinita, mas não periódica (RO-
GAWSKI, 2008).
Denota-se o conjunto dos números reais por R, em negrito. Utiliza-se o
símbolo ∈ para indicar que “pertence a”, com em:

a ∈ R é lido como “a pertence a R”

Vejamos agora alguns conjuntos que estão contidos no conjunto dos nú-
meros reais: elemento “pertence” a um conjunto. Subconjunto “está contido”
em um conjunto.
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O conjunto dos números inteiros, denotado pela letra Z, é composto por


números negativos e positivos. Assim, Z = {…, –2, –1, 0, 1, 2, …}. Um número
natural é um número inteiro não negativo. O conjunto dos números racionais
é composto por aqueles números que podem representar um quociente , em
que p e q são inteiros com q ≠ 0, ou seja, as frações podem representa-los.
Esse conjunto é denotado pela letra Q. Cabe destacar que os números como π
e não são racionais, e sim denominados irracionais (ROGAWSKI, 2008).

Segundo Rogawski (2008), podemos dizer que um número é ou não racional a partir
de sua expansão decimal. Ou seja, números racionais têm expansões decimais finitas
ou periódicas, e números irracionais têm expansão infinitas que não são periódicas.

A reta numérica nos permite visualizar os números reais como pontos sobre
ela. A Figura 1, a seguir, mostra o conjunto dos números reais representado
como uma reta.

Figura 1. Representação dos números reais na reta


numérica.
Fonte: Rogawski (2018, p. 1).

O valor absoluto de um número real, conforme representação na Figura 2,


pode ser observado quando olhamos para o módulo desse número. Ou seja:
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Figura 2. Valor absoluto |a|.


Fonte: Rogawski (2018, p. 1).

Vejamos alguns exemplos numéricos do valor absoluto de um número real:

|3, 1| = 3, 1
|–10| = 10
|4| = |–4| = 4
|5 ∙ 3| = |5| ∙ |3| = 15

Observe que a distância entre dois números reais a e b é |b – a|, ou seja, é


o comprimento do segmento de reta que liga a a b, como mostra a Figura 3
(ROGAWSKI, 2008).

Figura 3. Distância entre a e b é |b – a|.


Fonte: Rogawski (2018, p. 2).

Rogawski (2008) destaca que, dados os números reais a < b, teremos quatro
intervalos com extremidades a e b. O intervalo fechado [a, b] é o conjunto de
todos os números reais x, tais que a ≤ x ≤ b. Note que a e b fazem parte e estão
contidos no intervalo. Algebricamente, podemos representar da seguinte forma:

[a, b] = {x ∈ R: a ≤ x ≤ b}
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Os intervalos aberto e semiabertos podem ser representados pelos seguintes conjuntos


da Figura 4:

Figura 4. Quatro intervalos com extremidades a e b.


Fonte: Rogawski (2018, p. 2).

O intervalo infinito (–∞, ∞) é toda reta real R. Um intervalo semi-infinito pode ser
aberto ou fechado e contém sua extremidade finita, conforme Figura 5:

Figura 5. Intervalos semi-infinitos fechados.


Fonte: Rogawski (2018, p. 2).

Função
Em nosso cotidiano, as funções estão presentes nas mais variadas situações.
No entanto, nem sempre nos damos conta disso. De acordo com Hoffmann et
al. (2018), a palavra função é utilizada para designar a ação de exercer uma
influência, ou seja, certa grandeza ou característica depende de outra. Sendo
assim, função pode ser definida como “uma regra que associa a cada objeto
de um conjunto A e apenas um objeto de um conjunto B. O conjunto A é
chamado de domínio da função, e o conjunto B é chamado de contradomínio”
(HOFFMANN et al., 2018, p. 2).
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Pode-se pensar em uma função como um mapeamento de números em um domínio A


para números em um contradomínio B, como mostra a Figura 6a; ou em uma máquina
que transforma um número do conjunto A em um número do conjunto B, usando um
processo especificado pela regra funcional, como mostra a Figura 6b.

B Entrada f Saída
A Máquina f(x)
x

(a) Função como um mapeamento (b) Função como uma máquina

Figura 6. Interpretações da função f.


Fonte: Hoffmann et al. (2018, p. 2).

Lembre-se de que existe um, e apenas um, número no contradomínio (conjunto de


saída) associado a cada número do domínio (conjunto de entrada).

Hoffmann et al. (2018) destacam que, às vezes, é conveniente representar


uma relação funcional como uma equação do tipo y = f(x). Nesse contexto, x
e y são chamados de variáveis. Em particular, como o valor numérico de y é
determinado pelo valor de x, y é chamado de variável dependente, e x de variável
independente. Não havendo condições adicionais, supomos que o domínio de
uma função f é o conjunto de todos os números x para os quais f(x) existe.
Além disso, para determinar o domínio de uma função, é necessário excluir,
por exemplo, os números x que resultam em uma divisão por zero ou uma
raiz quadrada de um número negativo. Vejamos, a seguir, alguns exemplos.

Exemplo 1

Vamos determinar os domínios das seguintes funções:


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Como a divisão por qualquer número diferente de zero é possível, o domínio


de f(x) é o conjunto de todos os números x ≠ 4.

Como o denominador x2 + 3 de f(x) é um número positivo para qualquer


valor de x, não precisamos nos preocupar com a divisão por zero. Entretanto,
os números x, tais que 2 – x < 0, devem ser excluídos do domínio porque a raiz
quadrada de um número negativo não é um número real. Assim, o domínio de
f(x) é o conjunto de números x, tais que 2 – x ≥ 0, ou seja, x ≤ 2.

Exemplo 2

Se A = {1, 2, 3, 4, 5}, B = Z (o conjunto dos números inteiros) e f de A em B


for a função que associa a cada elemento de A o seu dobro, então:

„„ a lei de formação de f pode ser escrita como y = 2x ou f(x) = 2x;


„„ a imagem do elemento 1 é 2, isto é, f(1) = 2 ∙ (1) = 2;
„„ a imagem do 2 é o 4, isto é, f(2) = 2 ∙ 2 = 4;
„„ o domínio de f é o conjunto A, isto é, D( f ) = {1, 2, 3, 4, 5};
„„ a imagem de f é o conjunto Im( f )={2, 4, 6, 8, 10}.

Observação: note que, apesar de o contradomínio ser o conjunto Z dos números


inteiros, nem todo elemento do contradomínio pertence ao conjunto imagem,
uma vez que, por exemplo, 3 e –2 não são o dobro de nenhum elemento de A
(BRAGA, 2012).

Exemplo 3

Ambientalistas estimam que, em certa cidade, a concentração média diária


de monóxido de carbono no ar será c(p) = 0,5p + 1 partes por milhão quando
a cidade tiver uma população de p mil habitantes. Um estudo demográfico
indica que a população da cidade dentro de t anos será p(t) = 10 + 0,1t2 mil
habitantes (HOFFMANN et al., 2018).
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a) Determine a concentração média de monóxido de carbono no ar


em função do tempo.
Como a concentração de monóxido de carbono está relacionada com
a variável p por meio da equação c(p) = 0,5p + 1, e a variável p está
relacionada com a variável t pela equação p(t) = 10 + 0,1t2, a função
composta

c(p(t)) = c(10 + 0,1t2) = 0,5(10 + 0,1t2) + 1 = 6 + 0,05t2

expressa a concentração de monóxido de carbono no ar em função da


variável .
b) Daqui a quanto tempo a concentração de monóxido de carbono
atingirá o valor de 6,8 partes por milhão?
Fazendo c(p(t)) igual a 6,8 e explicando t, obtemos:

6 + 0,05 t2 = 6,8

Subtraindo 6 de ambos os membros:

0,05t2 = 0,8

Dividindo ambos os membros por 0,05:

Extraindo a raiz quadrada de ambos os membros:

Desprezando a raiz negativa, pois não pertence ao domínio de nossa


função, uma vez que a variável independente t representa o tempo.
Assim, a concentração de monóxido de carbono chegará a 6,8 partes
por milhão daqui a quatro anos.
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Gráficos de funções
Nesta seção, você estudará a representação gráfica de algumas funções. De
acordo com Braga (2012), os gráficos são uma excelente forma de visualizar-
mos funções em que as entradas e saídas são números reais. Além disso, o
autor destaca que é possível aplicar o teste da reta vertical para verificar se
um gráfico representa uma função, já que qualquer reta vertical no plano só
poderá interceptar o gráfico de uma função, no máximo, em um único ponto,
não podendo cortar o gráfico duas vezes. Se assim fosse, teríamos dois pontos
diferentes (x, y1) e (x, y2) pertencentes a f, em que y1 ≠ y2, contradizendo a
definição de função. Observe, a seguir, alguns exemplos:

Exemplo 4

Veja, na Figura 7, a construção do gráfico de (BRAGA, 2012).

Figura 7. Gráfico da função .


Fonte: Braga (2012, p. 8).
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Exemplo 5

Veja, na Figura 8, a construção do gráfico de f(x) = x2 – x – 2 (BRAGA, 2012).

Figura 8. Gráfico da função f(x) = x2 – x – 2.


Fonte: Braga (2012, p. 8).

Exemplo 6

O círculo x2 + y2 = 9, de raio 3, não pode ser o gráfico de uma função, pois


existem retas verticais que contêm mais do que um ponto do círculo. Veja, na
Figura 9, que os pontos (0, 3) e (0, –3) pertencem ao círculo, e 3 ≠ –3, o que
está em desacordo com a definição de função (BRAGA, 2012).
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Figura 9. Gráfico de x2 + y2 = 9.
Fonte: Braga (2012, p. 9).

Exemplo 7

Seja uma função f: R → R definida por (FLEMMING; GONÇALVES, 2006):

O gráfico de f pode ser visto na Figura 10.

Figura 10. Gráfico da função f(x).


Fonte: Flemming e Gonçalves (2006, p. 15).
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Exemplo 8

Seja f(x) = |x|. Quando x ≥ 0, sabemos que f(x) = x. Quando x < 0, f(x) = –x. O
gráfico de |x| pode ser visto na Figura 11 (FLEMMING; GONÇALVES, 2006).

Figura 11. Gráfico da função f(x) = |x|.


Fonte: Flemming e Gonçalves (2006, p. 16).

Exemplo 9

Seja . Então, D( f ) = R – {0}, conforme gráfico da Figura 12 (FLEM-


MING; GONÇALVES, 2006).

Figura 12. Gráfico da função .


Fonte: Flemming e Gonçalves (2006, p. 16).
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Rogawski (2008) apresenta as classes básicas de funções que são bem-


-conhecidas e importantes, como: polinômios, funções racionais, funções
algébricas, funções exponenciais e funções trigonométricas ­– – que são funções
construídas a partir de senx e cosx, mas não são o foco desta seção. Vejamos,
a seguir, cada uma das principais.

Polinômios
Para qualquer número real m, a função f(x) = xm é denominada função potência
de expoente m. Um polinômio é a soma de múltiplas funções potência de
expoentes naturais em que o domínio são os reais (Figura 13):

f(x) = x5 – 5x3 + 4x

Figura 13. Polinômio f(x) = x5 – 5x3 + 4x.


Fonte: Rogawski (2018, p. 20).
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Racionais
Conforme Rogawski (2008), uma função racional é o quociente de dois po-
linômios (Figura 14):

Onde P(x) e Q(x) são polinômios. O domínio de uma função racional é o


conjunto de números x, tais que Q(x) ≠ 0. Por exemplo:

D( f ) = {x ∈ R:x ≠ –2 e x ≠ 1}

Figura 14. Função racional .


Fonte: Rogawski (2018, p. 20).
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Algébricas
De acordo com Rogawski (2008), uma função algébrica envolve soma, produto
e quociente de raízes de polinômios e funções racionais (Figura 15):

Um número x pertence ao domínio de f se cada expressão da fórmula de f


estiver definida e o resultado não envolver divisão por zero.

D( f ) = {x ∈ R: –1,81753 ≤ x ≤ 1,81735}
Im( f ) = {f ∈ R: 0 ≤ f ≤ 1,80278}

Figura 15. Função algébrica .


Fonte: Rogawski (2018, p. 20).

Exponenciais
Rogawski (2008) define função exponencial como a função f(x) = bx, onde
b > 0, em que b é a base:
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A função f(x) = bx é crescente se b > 1 e decrescente se b < 1, como mostra


a Figura 16. A inversa de f(x) = bx é a função logaritmo y = logbx.

Figura 16. Funções exponenciais.


Fonte: Rogawski (2008, p. 22).

BRAGA, R. O. Cálculo I: estudo da derivada. São Leopoldo: Unisinos, 2012. 190 p.


FLEMMING, D. M.; GONÇALVES, M. B. Cálculo A: funções, limite, derivação, integração.
6. ed. São Paulo: Pearson, 2006. 464 p.
HOFFMANN, L. D. et al. Cálculo: um curso moderno e suas aplicações. 11. ed. Rio de
Janeiro: LTC, 2015. 680 p.
ROGAWSKI, J. Cálculo. Porto Alegre: Bookman, 2008. 2 v. 1248 p.

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