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jbpaulo@ispgaya.pt
1 Introdução
Bem-vindo ao seu curso de Análise matemática II. O nosso tópico inicial será explorar as
funções multivariáveis, também, conhecidas por: funções no espaço n-dimensional. Isso sig-
nifica que, essas funções possuem muitas variáveis. Você certamente já conhece funções de
uma variável (x), que, portanto, pertencem a reta dos números reais. Já conhece a função de
duas variáveis (x, y) (segunda dimensão - representados em um plano cartesiano por pares
ordenados) que estão “desenhadas” em um plano cartesiano e as funções de três variáveis
(x, y, z) (terceira dimensão - vistos nos famosos filmes em 3D, representados em um plano
tridimensional por ternos ordenados), portanto, estão no espaço tridimensional. Você pode
estar a se fazer as seguintes perguntas:
• As funções reais de variável real f : R → R, isto é, definidas no conjunto dos números
reais R que tomam valores reais, podem descrever o comportamento de uma grandeza
que depende apenas de um fator. Poderı́amos dizer que entra um número na função e
na saı́da retorna-se também um número. Input, output, entra um valor no input e sai
um valor no output. Essas são as chamadas funções de única variável.
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x
R
• Para contemplar o caso de grandezas que dependam de mais que um fator, devemos
considerar funções com mais variáveis definidas em R2 , R3 ou de modo geral Rn .
x
y
Figura 2: R2
x
Figura 3: R3
A tı́tulo de “curiosidade” dizemos que lá pelo século 17 começou a ficar explı́cita a ideia
de utilizar pares de números para situar pontos no plano e ternos de números para situar
pontos no espaço tridimensional. Em meados do século 18 matemáticos e fı́sicos começaram
a perceber a necessidade dos quádruplos (x, y, z, t), por exemplo, dos quı́ntuplos, ou seja,
números como pontos num espaço de dimensão 4, dimensão 5, respectivamente e assim su-
cessivamente. Portanto, chegou-se a uma n-upla de números sendo pontos de um “espaço
de n-dimensional”.
O nosso objetivo no momento é o estudo das funções com várias variáveis. Portanto o
domı́nio é um subconjunto de Rn .
Ainda, podemos dizer que, uma função é chamada de multivariável se a sua entrada
(input) for composta de múltiplas variáveis.
Exemplo:
Quando a saı́da (output) for composta de múltiplos números essas funções são chamadas
de funções vetoriais, tratamos essas funções, como sendo o caso geral, definidas por:
f : Rn → Rm . Com n, m ∈ N
Dizemos ainda que o domı́nio de uma função vetorial é o conjunto dos números reais e
a imagem é dada por um conjunto de vetores. Ou seja, as funções vetoriais associam cada
ponto definido por um conjunto de valores das suas variáveis, um vetor.
Como você já deve ter conhecimento, no espaço vetorial V são consideradas duas operações:
soma e multiplicação por escalar.
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Relembrando
Dizemos que um conjunto V com V ̸= ∅ é um espaço vetorial sobre R quando e somente quando:
. u + v = v + v; ∀ u, v ∈ V (Propriedade comutativa).
. u + (v + w) = (u + v) + w ; ∀ u, v, w ∈ V (Propriedade Associativa).
{0 ∈ V | v + 0 = v, ∀v ∈ V }
* Está definida uma multiplicação de R × V em V , o que significa que cada par (α, v) de R × V está associado a um
único elemento de V que se indica por αv e para essa multiplicação temos as seguintes propriedades:
. (α + β)v = αv + βv
. 1.v = v
Agora já podemos começar a responder uma das primeiras perguntas do inı́cio desse texto.
Sendo assim, como falado anteriormente as funções utilizadas para descrever estas gran-
dezas são chamadas de funções vetoriais ou campos vetoriais.
Conclui-se que essas funções associam a cada ponto definido por um conjunto de valores
das suas variáveis, um número real.
A aplicação das funções reais de variável vetorial ou campos escalares está orientada na
descrição de fenômenos relacionados, por exemplo, com pressão no interior de fluı́dos, poten-
cial eletrostático, energia potencial no sistema gravitacional, temperatura num determinado
local, o que permite modelar problemas reais do dia a dia.
2 Aplicação Prática
Esse tópico (os conceitos mencionados anteriormente) é riquı́ssimo em aplicabilidade e é
muito utilizado em circunstâncias que você nem imagina. Para responder a outra pergunta
que fizemos no inı́cio do capı́tulo anterior vamos nos aprofundar mais um pouco nessas dife-
rentes áreas em que o estudo de funções de multivariáveis é trabalhada.
• Computação Gráfica
É uma ciência onde o profissional que está nessa área de pesquisa lida com problemas
de modelagem, dados, imagem digital, processamento de imagens e análise das mes-
mas, por exemplo. Essa modelagem está muito ligada a geometria, um tópico dentro
da disciplina de matemática. Também é conhecida como modelagem geométrica, já
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que trata com elementos gráficos (curvas, superfı́cies e sólidos). Seus problemas, por-
tanto, giram em torno da representação, geração e manipulação dessas “figuras” . O
resultado final da modelagem é o que costumamos chamar de modelo matemático.
Você pode ter reparado que no inı́cio de nosso texto usamos duas palavras que podem
ter chamado sua atenção, mas que certamente já ouviu muitas vezes: input e output.
Pois é, quem diria que elas tinham a ver também com a matemática, não é mesmo? As
entradas e saı́das estão ligadas às funções utilizadas nos programas computacionais.
Você fornece dados, aplica à um modelo matemático e a saı́da terás os resultados.
Pode-se assim dizer que essa é a finalidade do recurso gráfico de entradas e saı́das.
* No formato matricial, como a própria palavra indica os dados estão nesse formato,
apresentam-se e são armazenados na forma de uma matriz, a qual é vista no for-
mato 3D, a ordem da matriz já não é a tradicional que você conhece linhas ×
coluna (i × j), Mij , agora existe mais um referencial, que trabalhará a cor. Sendo
assim, o formato da matriz já é bem diferente, a representação simbólica é algo
do tipo Mijk , onde i passa a ser o número de colunas, j o número de linhas e k
representa a cor, como já colocado anteriormente. Assim como na matriz “tradi-
cional” , na qual a12 significava o valor escalar que se encontrava na posição de
linha 1 e coluna 2, esses três referenciais também ditarão a posição, só que agora
essa posição é representada pelo o que chamamos de pixel (pontos retangulares ou
quadrados) que juntos formam a imagem. Esses pontos encontram-se dispostos
dentro de uma grade de pontos, na qual tens informações e cores que formam uma
imagem. A quantidade de pontos está relacionada com a melhor ou pior quali-
dade da imagem. Você certamente já tentou ampliar, dar zoom em uma fotografia
digital e percebeu que a mesma começa a aparecer em formados de quadrados e
que isso faz com que a imagem fique desfocada. Portanto, para exemplos, do dia
a dia, podemos dizer que equipamentos matriciais são, as máquinas fotográficas
digitais e as scanners.
contrapartida, a imagem pode ser ampliada, por exemplo, sem que se perca a
qualidade e não havendo distorção nenhuma da imagem. Isso acontece, porque
novos cálculos são realizados de forma automática e com isso o objeto no seu novo
tamanho, seu posicionamento e forma não têm suas caracterı́sticas comprometi-
das, distorcidas. Exemplos do dia a dia que trabalham com o formato vetorial,
seria por exemplo, o rato ou um tablet.
Vamos dar uma pausa nos exemplo mais práticos do dia a dia de que áreas fazem uso
das funções multivariadas e dos vetores, para mais uma vez falar sobre uma “curio-
sidade”. A Mecânica, é responsável pelo aparecimento do conceito de vetores. Isso
decorreu do fato de um engenheiro que foi chamado de Arquimedes Holandês ter ex-
posto um problema sobre a disposição de forças. A partir daı́ surgiu a relação entre
dois vetores que possuı́am o mesmo ponto de partida (origem) e através deles se dese-
java encontrar o vetor resultante (soma ou subtração).
Relembrando
y
#»
u + #»
v
#»
v
#»
u
Relembrando
#»
v
#»
u
Se formos utilizar a Regra do Paralelogramo
para a subtração de vetores, voltamos a ter que
considerar que eles partem da mesma origem. e
desenharmos o paralelogramo. Veja como fica #»
essa relação: u − #»
v
u
#»
u
− #»
v
Agora que você já sabe de onde surgiu o conceito de vetores vamos a mais um exemplo
prático onde os mesmos podem e são muito usados.
Trata-se de mais uma ciência onde o profissional que estuda essa área de pesquisa tem
interesse e precisa lidar com o comportamento fı́sico dos fluı́dos, estejam eles em movi-
mento (dinâmico) ou estáticos (repouso). Está inserida na parte da fı́sica que observa
os resultados de forças nos fluı́dos. É importante destacar que apesar da palavra fluido
te levar a uma imagem de elementos lı́quidos, como a água (que está inserida den-
tro da Hidrodinâmica, a qual, estuda: o seu movimento, o transporte de sedimentos,
poluentes, nutrientes entre outros), refere-se a outros tipos de fluı́dos, como gases e
até mesmo o vento (aerodinâmica), o movimento do ar na atmosfera com o intuito de
minimizar as forças de resistência que existem, por exemplo, na iteração do ar com um
objeto sólido, como a vela de um barco, ou a asa de um avião. Pode-se ainda dar como
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Antes, mais uma “curiosidade” que assim explica o porquê termos relembrado esse
tópico anteriormente no quadro acima. Há muito séculos quando se estudou mais a
sério e de forma mais cientı́fica problemas e as possı́veis soluções para fluidos em re-
pouso, foi quando Arquimedes Holandês com Héron de Alexandria descreveram a regra
do paralelogramo para a adição de vetores.
O ambiente fı́sico, no qual, ocorrem os processos dos diferentes exemplos aplicados que
mencionamos é definido através de propriedades associadas às funções matemáticas que
estão inseridas no espaço tridimensional, isto é, possuem as variáveis (x, y, z) correla-
cionadas com o tempo t. Na maioria das vezes, portanto, passa a ter como composição
uma quadrupla ordenada (x, y, z, t). Quando escrevemos a expressão: na maioria das
vezes, na frase anterior, isso tem a ver, como você já observou, que existem diferentes
tipos de fluidos. O que acarreta que cada tipo possui seu comportamento ligado a
uma grande quantidade de variáveis e que nem sempre serão as mesmas. E em muitos
tópicos ligados à fı́sica ainda se trabalhará com matrizes e vetores ao mesmo tempo.
E não só eles mas também curvas e superfı́cies.
Dentro das conhecidas três leis de Newton, definições que as antecedem fazem uso dos
vetores e suas propriedades, ajudando assim, o melhor entendimento dessas leis.
– Força e Aceleração
#»
Q = m #»
v
Onde Q é a quantidade de movimento, diz-se movimento linear, m é a massa e v
é a velocidade.
É uma das grandezas mais importantes da dinâmica, uma vez que se relaciona
com outras grandezas como: força, impulso e energia cinética.
Estudos mais avançados como a utilização das integrais permitiu a Newton ex-
pandir suas experiências e citar que: Quando mais de uma força existir, elas
devem ser somadas utilizando a Regra do Paralelogramo, o que transforma o ve-
#»
tor F no vetor força resultante. Essa força resultante inserida em cálculos de
#»
integral resulta no vetor chamado Impulso I . E após muitas outras relação que
envolvem, intervalo de tempo e outros cálculos matemáticos, como a aplicação da
derivada, nos remete ao vetor aceleração #»
a . E assim, temos a famosa fórmula
que certamente já é conhecida por você:
#»
F = m #»
a
– Força Tangencial e Normal
Um objeto pode ter sua velocidade modificada diante da força que é imposta a ele.
Quando essa força não tem a mesma direção da velocidade ela é decomposta em
duas forças (que comumente são chamadas de componentes): Força Tangencial
#» #»
Ft e Força Normal Fn (também chamada de centrı́peta).
#»
Ft
#»
Fn
Paramos por aqui, para nós é suficiente teres as noções que já destacamos. Nesse mo-
mento, é importante que você tenha uma visão geral de onde o tema que vamos estudar esta
inserido no mundo profissional. Vale ressaltar que outros conceitos que ainda vamos estudar
na nossa disciplina estarão novamente inseridos nos conceitos da fı́sica, como a questão do
gradiente, divergente entre outros. Mas esses são temas para outros capı́tulos.
Fazendo, portanto um breve resumo do que vimos até o momento, podemos afirmar que
a aplicação das funções reais de variável vetorial e/ou campo de escalares estão inseridas
na descrição de fenômenos relacionados, por exemplo, com a pressão no interior de fluı́dos,
potencial eletroestático, energia potencial no sistema gravitacional, temperatura num local
o que permite modelar problemas reais do dia a dia.
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T = f (x, y, z)
Consideramos então que a temperatura T ocorre no ponto (x, y, z). Isto é:
f : R3 → R
(x, y, z) 7→ f (x, y, z) = T
f : Rn → R
(x1 , x2 , ...xn ) 7→ f (x1 , x2 , ..., xn ) = y
Exemplo Prático:
(ºC)/% 20 30 40 50 60 70
20 20 20 20 21 22 23
25 25 20 26 28 30 32
30 30 31 34 36 38 41
35 36 39 42 45 48 51
40 40 43 47 51 55 63
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Responda:
Um outro exemplo mais prático do dia a dia e para sairmos um pouco do mundo da
engenharia, podemos aplicar esses conhecimentos na economia. Quando se deseja saber o
lucro de um determinado produto leva-se em consideração seus custos, por exemplo, custo
da mão de obra, custo da matéria prima. Se forem contabilizados apenas esses dois aspectos
temos uma função de 2 variáveis que nos retornará em apenas um valor no final (Lucro):
f : R2 → R
(x, y) 7→ f (x, y) = L
f : Rn → Rn
Conclusão:
Quando, agora falamos em retornar n variáveis, você deve se lembrar que os elementos
do Rn podem ser considerados tanto pontos como vetores.
Relembrando
#» #»
(x, y) = x. i + y. j
O que pode ser reescrito da forma:
Ou seja:
# » #»
OP = x i + y #»
y
# »
Mas e graficamente como que fica a representação do vetor OP ? Lembre-se que O re-
presenta a origem, o que significa que o vetor partirá da origem e vai ate a extremidade P .
P
#»
j
#» x
i
Após essa recordação, você já pode representar (1, −3) como um vetor.
Descrições do vetor:
−→
Tem origem no ponto (0, 0) e extremidade no ponto (1, −3) ou seja, #» v = OP = P − O =
(1, −3) − (0, 0) = (1, −3). A direção é entre O e P, o sentido de O para P e o comprimento
é OP .
f : D ⊂ R2 → R
(x, y) 7→ z = f (x, y)
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Sendo assim, o conjunto de todos os valores possı́veis para z pode ser obtido pelo o que
chamamos na Álgebra de aplicação ou transformação linear ou função em relação aos pares
ordenados (x, y) ∈ D, sendo como já colocado anteriormente a imagem da função f .
Df
Imf
x1
y1
x2
y2
Agora já podemos supor que nos encontramos no R2 , ou seja, existem pares ordenados,
nesse caso do exemplo, 2 pares: (x1 , y1 ), (x2 , y2 ) e vamos aplicar uma relação, (na Álgebra
chamamos de transformação linear) e aqui chamamos de função, que “levara” esses pares em
um valor real na reta numérica. Vamos mais uma vez fazer um esboço da situação.
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D f
Q = (2, 1)
O = (0, 0) R
x f f (1, −3) f (2, 1)
P = (1, −3)
Para a relação que vimos anteriormente através do esquema acima podemos definir
domı́nio da seguinte forma:
Df = {(x, y) ∈ R2 ; f (x, y) ∈ R}
Se você bem se lembrar terá em mente que para “descobrir”o domı́nio de uma função, ou
melhor para estudá-lo é preciso estar atento a algumas informações. O que isso quer dizer
? Que temos que analisar observando se existirá alguma restrição ou não para o domı́nio de
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referida função.
Recordemos as mais habituais restrições das função. Os exemplo que daremos aqui traba-
lham apenas com funções de uma única variável mas é muito intuitivo expandir para maiores
dimensões, mais variáveis, as restrições se mantêm as mesmas.
Exemplo:
1
f (x) =
x
O domı́nio dessa função são todos os valores do conjunto dos números reais a menos
do zero. Portanto, poderı́amos descrever o domı́nio da seguinte maneira:
Df = {x ∈ R | x ̸= 0}
Exemplo:
√
x
O domı́nio dessa função são todos os valores do conjunto dos números reais maiores
do que zero. Isto é:
Df = {x ∈ R | x ≥ 0}
Exemplo:
√
3
x
O domı́nio dessa função poderá ser qualquer valor do conjunto dos números reais.
Df = {x ∈ R | x ∈ R}
Exemplo:
logBA = x
A > 0; B > 0 e B ̸= 1.
Lembramos também do logaritmo neperiano que possui como base o número irracional
e = 2.718... conhecido como sistema de logaritmos naturais com a condição do argu-
mento também ser maior de zero.
Exemplo:
logeA = ln(A)