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Análise Matemática II - Licenciatura - EI

Estudo de Funções no Espaço n-dimensional Professora: Joana Becker Paulo

jbpaulo@ispgaya.pt

1 Introdução
Bem-vindo ao seu curso de Análise matemática II. O nosso tópico inicial será explorar as
funções multivariáveis, também, conhecidas por: funções no espaço n-dimensional. Isso sig-
nifica que, essas funções possuem muitas variáveis. Você certamente já conhece funções de
uma variável (x), que, portanto, pertencem a reta dos números reais. Já conhece a função de
duas variáveis (x, y) (segunda dimensão - representados em um plano cartesiano por pares
ordenados) que estão “desenhadas” em um plano cartesiano e as funções de três variáveis
(x, y, z) (terceira dimensão - vistos nos famosos filmes em 3D, representados em um plano
tridimensional por ternos ordenados), portanto, estão no espaço tridimensional. Você pode
estar a se fazer as seguintes perguntas:

Por que eu preciso saber mais dimensões?

Onde em minha vida profissional eu utilizarei variáveis de dimensões maiores?

Antes de respondermos essas perguntas vamos a algumas considerações.

• As funções reais de variável real f : R → R, isto é, definidas no conjunto dos números
reais R que tomam valores reais, podem descrever o comportamento de uma grandeza
que depende apenas de um fator. Poderı́amos dizer que entra um número na função e
na saı́da retorna-se também um número. Input, output, entra um valor no input e sai
um valor no output. Essas são as chamadas funções de única variável.
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x
R

Figura 1: Representação na reta real.

• Para contemplar o caso de grandezas que dependam de mais que um fator, devemos
considerar funções com mais variáveis definidas em R2 , R3 ou de modo geral Rn .

x
y

Figura 2: R2
x

Figura 3: R3

• A partir do R4 já não há representação gráfica, só analı́tica mesmo.

A tı́tulo de “curiosidade” dizemos que lá pelo século 17 começou a ficar explı́cita a ideia
de utilizar pares de números para situar pontos no plano e ternos de números para situar
pontos no espaço tridimensional. Em meados do século 18 matemáticos e fı́sicos começaram
a perceber a necessidade dos quádruplos (x, y, z, t), por exemplo, dos quı́ntuplos, ou seja,
números como pontos num espaço de dimensão 4, dimensão 5, respectivamente e assim su-
cessivamente. Portanto, chegou-se a uma n-upla de números sendo pontos de um “espaço
de n-dimensional”.

Esse espaço é conhecido como Espaço Euclidiano com n dimensões e é representado


pelo conjunto:

Rn = {(x1 , x2 , x3 , ..., xn ) | xi ∈ R, i = 1, 2, 3, ..., n}. Sendo n ∈ N.


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Ou seja, o Rn é o espaço de todos os n-uplos ordenados de números reais (x1 , x2 , ..., xn )

O nosso objetivo no momento é o estudo das funções com várias variáveis. Portanto o
domı́nio é um subconjunto de Rn .

Ainda, podemos dizer que, uma função é chamada de multivariável se a sua entrada
(input) for composta de múltiplas variáveis.

Exemplo:

f (x, y) = x2 y, múltiplos números na entrada.

Você pode estar se perguntando:

E com relação as saı́das (output)? Como serão ? multivariáveis também?

Quando a saı́da (output) for composta de múltiplos números essas funções são chamadas
de funções vetoriais, tratamos essas funções, como sendo o caso geral, definidas por:

f : Rn → Rm . Com n, m ∈ N

Dizemos ainda que o domı́nio de uma função vetorial é o conjunto dos números reais e
a imagem é dada por um conjunto de vetores. Ou seja, as funções vetoriais associam cada
ponto definido por um conjunto de valores das suas variáveis, um vetor.

Como você já deve ter conhecimento, no espaço vetorial V são consideradas duas operações:
soma e multiplicação por escalar.
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Relembrando
Dizemos que um conjunto V com V ̸= ∅ é um espaço vetorial sobre R quando e somente quando:

* Existe uma adição (u, v) → u + v em V com as seguintes propriedades:

. u + v = v + v; ∀ u, v ∈ V (Propriedade comutativa).

. u + (v + w) = (u + v) + w ; ∀ u, v, w ∈ V (Propriedade Associativa).

. Existe em V um elemento neutro para essa adição, o qual é simbolizado por 0:

{0 ∈ V | v + 0 = v, ∀v ∈ V }

. Para todo elemento v de V existe o oposto, indicaremos por (−v):

{∀v ∈ V, (−v) | v + (−v) = 0}

* Está definida uma multiplicação de R × V em V , o que significa que cada par (α, v) de R × V está associado a um
único elemento de V que se indica por αv e para essa multiplicação temos as seguintes propriedades:

. α(βv) = (αβ)v, sendo α, β ∈ R

. (α + β)v = αv + βv

. 1.v = v

Porém, é preciso expandir o conhecimento para o Rn , as dimensões 2 e 3 nos ajudam a


visualização geométrica.

Sendo assim, em Rn também estão definidas as operações de adição e multiplicação por


um escalar.

A adição de vetores no Rn é feita de modo simples somando as coordenadas correspon-


dentes de cada vetor.

x + y = (x1 , x2 , ..., xn ) + (y1 , y2 , ..., yn ) = (x1 + y1 , x2 + y2 , ...., xn + yn ) ∀x, y ∈ Rn

Da mesma forma é feita a multiplicação por um escalar:


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λx = λ(x1 , x2 , ..., xn ) = (λx1 , λx2 , ..., λxn ) ∀λ ∈ R, ∀x ∈ Rn

Agora já podemos começar a responder uma das primeiras perguntas do inı́cio desse texto.

Em muitas áreas, em particular em engenharias é necessário considerar grandezas como:


deslocamento de forças, velocidades, não representáveis numa escala ou cujos valores não são
escalares.

Exemplo: Para verificar completamente uma força é necessário conhecer a direção, a


intensidade e o sentido. Tais grandezas são chamadas de grandezas vetoriais.

Sendo assim, como falado anteriormente as funções utilizadas para descrever estas gran-
dezas são chamadas de funções vetoriais ou campos vetoriais.

Em contrapartida, muitas vezes é necessário estudar problemas onde grandezas fı́sicas,


como: comprimentos, áreas, volumes, massa são chamadas de grandezas escalares. Po-
dendo assim, ser simbolizadas por um número real e pela unidade correspondente. As funções
utilizadas para descrever essas grandezas são chamadas de funções escalares ou campos
escalares.

Conclui-se que essas funções associam a cada ponto definido por um conjunto de valores
das suas variáveis, um número real.

A aplicação das funções reais de variável vetorial ou campos escalares está orientada na
descrição de fenômenos relacionados, por exemplo, com pressão no interior de fluı́dos, poten-
cial eletrostático, energia potencial no sistema gravitacional, temperatura num determinado
local, o que permite modelar problemas reais do dia a dia.

2 Aplicação Prática
Esse tópico (os conceitos mencionados anteriormente) é riquı́ssimo em aplicabilidade e é
muito utilizado em circunstâncias que você nem imagina. Para responder a outra pergunta
que fizemos no inı́cio do capı́tulo anterior vamos nos aprofundar mais um pouco nessas dife-
rentes áreas em que o estudo de funções de multivariáveis é trabalhada.

• Computação Gráfica

É uma ciência onde o profissional que está nessa área de pesquisa lida com problemas
de modelagem, dados, imagem digital, processamento de imagens e análise das mes-
mas, por exemplo. Essa modelagem está muito ligada a geometria, um tópico dentro
da disciplina de matemática. Também é conhecida como modelagem geométrica, já
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que trata com elementos gráficos (curvas, superfı́cies e sólidos). Seus problemas, por-
tanto, giram em torno da representação, geração e manipulação dessas “figuras” . O
resultado final da modelagem é o que costumamos chamar de modelo matemático.

Você pode ter reparado que no inı́cio de nosso texto usamos duas palavras que podem
ter chamado sua atenção, mas que certamente já ouviu muitas vezes: input e output.
Pois é, quem diria que elas tinham a ver também com a matemática, não é mesmo? As
entradas e saı́das estão ligadas às funções utilizadas nos programas computacionais.
Você fornece dados, aplica à um modelo matemático e a saı́da terás os resultados.
Pode-se assim dizer que essa é a finalidade do recurso gráfico de entradas e saı́das.

Já se formos falar em formatos em que os dados se apresentam podemos classificá-los


através de matrizes ou de vetores. E qual a diferença de recolher os dados no formato
matricial ou vetorial?

* No formato matricial, como a própria palavra indica os dados estão nesse formato,
apresentam-se e são armazenados na forma de uma matriz, a qual é vista no for-
mato 3D, a ordem da matriz já não é a tradicional que você conhece linhas ×
coluna (i × j), Mij , agora existe mais um referencial, que trabalhará a cor. Sendo
assim, o formato da matriz já é bem diferente, a representação simbólica é algo
do tipo Mijk , onde i passa a ser o número de colunas, j o número de linhas e k
representa a cor, como já colocado anteriormente. Assim como na matriz “tradi-
cional” , na qual a12 significava o valor escalar que se encontrava na posição de
linha 1 e coluna 2, esses três referenciais também ditarão a posição, só que agora
essa posição é representada pelo o que chamamos de pixel (pontos retangulares ou
quadrados) que juntos formam a imagem. Esses pontos encontram-se dispostos
dentro de uma grade de pontos, na qual tens informações e cores que formam uma
imagem. A quantidade de pontos está relacionada com a melhor ou pior quali-
dade da imagem. Você certamente já tentou ampliar, dar zoom em uma fotografia
digital e percebeu que a mesma começa a aparecer em formados de quadrados e
que isso faz com que a imagem fique desfocada. Portanto, para exemplos, do dia
a dia, podemos dizer que equipamentos matriciais são, as máquinas fotográficas
digitais e as scanners.

* No formato vetorial, os dados são coletados de forma isolada e seu armazenamento


ocorre através das coordenadas de um espaço vetorial. Sua imagem já não é mais
dada em pixels, e sim formada por figuras geométricas (linhas, polı́gonos, pontos,
curvas). As coordenadas do vetor correspondem ao posicionamento, tamanho e
forma da figura em questão. Todo esse processo é realizado, calculado, através de
expressões matemáticas e cálculo geométrico, uma vez que, as imagens são cons-
truı́das pela ligação de segmentos de retas e curvas descritas pelas coordenadas
de seus pontos iniciais e finais, fazendo com que a imagem não fique limitada a
uma grade de pontos. Porém, normalmente a grade de cores é limitada, mas em
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contrapartida, a imagem pode ser ampliada, por exemplo, sem que se perca a
qualidade e não havendo distorção nenhuma da imagem. Isso acontece, porque
novos cálculos são realizados de forma automática e com isso o objeto no seu novo
tamanho, seu posicionamento e forma não têm suas caracterı́sticas comprometi-
das, distorcidas. Exemplos do dia a dia que trabalham com o formato vetorial,
seria por exemplo, o rato ou um tablet.

Vamos dar uma pausa nos exemplo mais práticos do dia a dia de que áreas fazem uso
das funções multivariadas e dos vetores, para mais uma vez falar sobre uma “curio-
sidade”. A Mecânica, é responsável pelo aparecimento do conceito de vetores. Isso
decorreu do fato de um engenheiro que foi chamado de Arquimedes Holandês ter ex-
posto um problema sobre a disposição de forças. A partir daı́ surgiu a relação entre
dois vetores que possuı́am o mesmo ponto de partida (origem) e através deles se dese-
java encontrar o vetor resultante (soma ou subtração).

Relembrando

Geometricamente a soma de dois vetores #» u e #»v é representado pelo o que chamamos de


#» #»
vetor soma u + v mais conhecido como Regra do Paralelogramo (adição de vetores).
Estabelecendo que o vetor #»
u + #»
v é a diagonal do paralelogramo formado a partir de #» u e #»
v , os
quais formam os lados desse paralelogramo. Atenção!! Essa regra só é válida somente quando
os dois vetores tiverem a mesma origem.

y

u + #»
v


v

u

Figura 4: Regra do Paralelogramo - soma de vetores

Vamos supor que os dois vetores não tenham a #»


mesma origem, mas que um tem sua origem na u + #»
v #»
v
saı́da do outro. Visualizando ficará mais fácil de
entender. Você observará a soma desse vetores
na figura ao lado. O que significa que o vetor
soma #»u + #»
v agora, parte da origem do primeiro #»
vetor e vai até a saı́da do segundo vetor.
u

Figura 5: Soma de vetores - origem diferente


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Relembrando

Mas ainda falta-nos o caso da subtração desses


dois vetores #»
u − #» v . Observe no gráfico uma
mudança de sentido do vetor #» v . Lembre-se
que só são possı́veis duas operações no espaço #»
vetorial: a soma e a multiplicação por um u
escalar. Para que se obtenha a subtração temos

que utilizar a propriedade do oposto: #» u + −v.
#» #»
Portanto, o vetor −v terá sentido contrário ao u − #»
v #»
da figura anterior, mas mantem a sua direção v
e módulo. E assim, a representação do vetor
subtração também tem o seu sentido alterado. Figura 6: Subtração de vetores.
Veja na figura:


v

u
Se formos utilizar a Regra do Paralelogramo
para a subtração de vetores, voltamos a ter que
considerar que eles partem da mesma origem. e
desenharmos o paralelogramo. Veja como fica #»
essa relação: u − #»
v
u

u
− #»
v

Figura 7: Regra do Paralelogramo - subtração


de vetores

Agora que você já sabe de onde surgiu o conceito de vetores vamos a mais um exemplo
prático onde os mesmos podem e são muito usados.

• Mecânica dos Fluı́dos

Trata-se de mais uma ciência onde o profissional que estuda essa área de pesquisa tem
interesse e precisa lidar com o comportamento fı́sico dos fluı́dos, estejam eles em movi-
mento (dinâmico) ou estáticos (repouso). Está inserida na parte da fı́sica que observa
os resultados de forças nos fluı́dos. É importante destacar que apesar da palavra fluido
te levar a uma imagem de elementos lı́quidos, como a água (que está inserida den-
tro da Hidrodinâmica, a qual, estuda: o seu movimento, o transporte de sedimentos,
poluentes, nutrientes entre outros), refere-se a outros tipos de fluı́dos, como gases e
até mesmo o vento (aerodinâmica), o movimento do ar na atmosfera com o intuito de
minimizar as forças de resistência que existem, por exemplo, na iteração do ar com um
objeto sólido, como a vela de um barco, ou a asa de um avião. Pode-se ainda dar como
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exemplo, a aplicação da mecânica dos fluidos relacionada aos carros. Antigamente,


objetivavasse diminuir o ‘atrito”do carro (sólido) com o ar atmosférico o que tornaria-
os mais velozes. Sendo assim, através de equações, modelos matemáticos e fı́sicos era
possı́vel observar a interação que havia entre esses dois componentes e a força. Força
essa, conhecida como força tangencial que mesmo que sendo mı́nima existe e deforma
o fluı́do de forma contı́nua. Hoje em dia, os estudos estão mais voltados ao tema ambi-
ental, utilizando os conhecimentos para tornar os carros mais ecológicos e econômicos.
Fazendo com que o carro percorra igual ou maiores distâncias sendo mais econômico
no gasto de combustı́vel ou eletricidade nos carros elétricos, da atualidade. O que já
envolve a questão de energia, velocidade e objetivando fabricar carros mais estáveis
(mais seguros). Portanto, podemos considerar que a Hidrodinâmica e a Aerodinâmica
são dois ramos, dois sub conceitos dentro da mecânica dos fluı́dos. E passarı́amos dias
a falar sobre a sua riqueza e aplicabilidade em tantas diversas situações de nossa vida.
Mas, nosso enfoque aqui, além de indicar onde os conceitos que você vai estudar em
Análise Matemática 2 podem ser aplicados na futura profissão que escolheste é mostrar
onde e como de fato o nosso primeiro conceito funções vetoriais, se encaixa em tudo
que acabamos de citar para a dinâmica dos fluı́dos.

Antes, mais uma “curiosidade” que assim explica o porquê termos relembrado esse
tópico anteriormente no quadro acima. Há muito séculos quando se estudou mais a
sério e de forma mais cientı́fica problemas e as possı́veis soluções para fluidos em re-
pouso, foi quando Arquimedes Holandês com Héron de Alexandria descreveram a regra
do paralelogramo para a adição de vetores.

O ambiente fı́sico, no qual, ocorrem os processos dos diferentes exemplos aplicados que
mencionamos é definido através de propriedades associadas às funções matemáticas que
estão inseridas no espaço tridimensional, isto é, possuem as variáveis (x, y, z) correla-
cionadas com o tempo t. Na maioria das vezes, portanto, passa a ter como composição
uma quadrupla ordenada (x, y, z, t). Quando escrevemos a expressão: na maioria das
vezes, na frase anterior, isso tem a ver, como você já observou, que existem diferentes
tipos de fluidos. O que acarreta que cada tipo possui seu comportamento ligado a
uma grande quantidade de variáveis e que nem sempre serão as mesmas. E em muitos
tópicos ligados à fı́sica ainda se trabalhará com matrizes e vetores ao mesmo tempo.
E não só eles mas também curvas e superfı́cies.

Dentro das conhecidas três leis de Newton, definições que as antecedem fazem uso dos
vetores e suas propriedades, ajudando assim, o melhor entendimento dessas leis.

– Força e Aceleração

Trabalha com o que é chamado de quantidade de movimento, uma grandeza fı́sica


vetorial. Na qual a fórmula é dada por:
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Q = m #»
v
Onde Q é a quantidade de movimento, diz-se movimento linear, m é a massa e v
é a velocidade.

É uma das grandezas mais importantes da dinâmica, uma vez que se relaciona
com outras grandezas como: força, impulso e energia cinética.

Estudos mais avançados como a utilização das integrais permitiu a Newton ex-
pandir suas experiências e citar que: Quando mais de uma força existir, elas
devem ser somadas utilizando a Regra do Paralelogramo, o que transforma o ve-

tor F no vetor força resultante. Essa força resultante inserida em cálculos de

integral resulta no vetor chamado Impulso I . E após muitas outras relação que
envolvem, intervalo de tempo e outros cálculos matemáticos, como a aplicação da
derivada, nos remete ao vetor aceleração #»
a . E assim, temos a famosa fórmula
que certamente já é conhecida por você:


F = m #»
a
– Força Tangencial e Normal

Um objeto pode ter sua velocidade modificada diante da força que é imposta a ele.
Quando essa força não tem a mesma direção da velocidade ela é decomposta em
duas forças (que comumente são chamadas de componentes): Força Tangencial
#» #»
Ft e Força Normal Fn (também chamada de centrı́peta).


Ft

Fn

O que se observa é que as equações matemáticas formuladas são estruturadas de acordo


com o movimento que é descrito o fluı́do, sendo necessário identificar as caracterı́sticas
em todos os pontos e em todos os momentos (relação espaço/tempo). A velocidade
é modificada no tempo e espaço conforme a trajetória (geometria) da situação pro-
blema levando em consideração as forças atuantes nessa curva. Porém, não é a única
componente-caracterı́stica que pode variar em um fluı́do, a temperatura, o vento, a den-
sidade e outros também podem influenciar a trajetória do fluı́do mediante as variáveis
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a que ele está sendo exposto.

Paramos por aqui, para nós é suficiente teres as noções que já destacamos. Nesse mo-
mento, é importante que você tenha uma visão geral de onde o tema que vamos estudar esta
inserido no mundo profissional. Vale ressaltar que outros conceitos que ainda vamos estudar
na nossa disciplina estarão novamente inseridos nos conceitos da fı́sica, como a questão do
gradiente, divergente entre outros. Mas esses são temas para outros capı́tulos.

Fazendo, portanto um breve resumo do que vimos até o momento, podemos afirmar que
a aplicação das funções reais de variável vetorial e/ou campo de escalares estão inseridas
na descrição de fenômenos relacionados, por exemplo, com a pressão no interior de fluı́dos,
potencial eletroestático, energia potencial no sistema gravitacional, temperatura num local
o que permite modelar problemas reais do dia a dia.
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3 Função de várias variáveis


Terminamos o capı́tulo introdutório com o exemplo de temperatura em um local, a qual sa-
bemos depender de algumas variáveis como latitude, longitude e altitude, portanto está em
função (depende) de três variáveis. Mas, que ao final, nos resulta em apenas um “número”,
ou seja, um escalar. Sendo assim podemos considerar que x representa a latitude, y a longi-
tude e z a altitude. Formulamos simbolicamente da forma:

T = f (x, y, z)
Consideramos então que a temperatura T ocorre no ponto (x, y, z). Isto é:

f : R3 → R
(x, y, z) 7→ f (x, y, z) = T

Esse é um exemplo de uma função escalar.

De forma geral definimos como:

f : Rn → R
(x1 , x2 , ...xn ) 7→ f (x1 , x2 , ..., xn ) = y

Onde (x1 , x2 , ..., xn ) ∈ Rn , variáveis independentes e y = f (x1 , x2 , ..., xn ) ∈ R, variáveis


dependentes.

Vamos a um exemplo mais prático:

Exemplo Prático:

O ı́ndice I de temperatura - umidade é a temperatura aparente do ar quando a tempe-


ratura real é T e a umidade relativa é h, de modo que possamos escrever I = f (T, h). A
tabela seguinte com valores de I foi extraı́da de uma tabela do Enviroment Canadá.

Sabendo que a umidade relativa(h) é dada em % e a temperatura (T ) em (ºC).

(ºC)/% 20 30 40 50 60 70
20 20 20 20 21 22 23
25 25 20 26 28 30 32
30 30 31 34 36 38 41
35 36 39 42 45 48 51
40 40 43 47 51 55 63
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Responda:

a) Qual o valor de f (35, 60)? Qual o seu significado?

b) Para que valor de h temos f (30, h) = 36?

Um outro exemplo mais prático do dia a dia e para sairmos um pouco do mundo da
engenharia, podemos aplicar esses conhecimentos na economia. Quando se deseja saber o
lucro de um determinado produto leva-se em consideração seus custos, por exemplo, custo
da mão de obra, custo da matéria prima. Se forem contabilizados apenas esses dois aspectos
temos uma função de 2 variáveis que nos retornará em apenas um valor no final (Lucro):

f : R2 → R
(x, y) 7→ f (x, y) = L

Vale ressaltar que em muitas vezes existem outros custos adicionais.

Mas e se agora tivermos a seguinte generalização?:

f : Rn → Rn

Passamos a trabalhar com funções vetoriais. Vamos a exemplos:

• f : R → Rn , trata-se de uma função vetorial de uma variável;

• f : R2 → Rn , função vetorial de duas variáveis. (Superfı́cies parametrizadas);

• f : Rn → Rn , função vetorial de n variáveis. (Transformação de coordenadas, campo


de forças elétrico, gravitacional, gradiente de uma função).

Conclusão:

* f : Rn → R - representam funções de várias variáveis que retornam um único valor -


portanto, função escalar.

* f : Rn → Rn - representam funções de n variáveis que retornam n valores - portanto,


função vetorial.
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Quando, agora falamos em retornar n variáveis, você deve se lembrar que os elementos
do Rn podem ser considerados tanto pontos como vetores.

A princı́pio vamos pensar no espaço vetorial R2 , se considerarmos os elementos como


pontos temos algo do tipo:

Considere o ponto P = (1, −3),


trata-se portanto de um par ordenado
que será representado no plano carte- x
siano. Sua representação geométrica
fica:

Figura 8: Ponto (1, −3) (par ordenado) no plano


cartesiano R2
Mas se nosso interesse for tratar (1, −3) como um vetor? Ou seja, #»v = (1, −3).
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Relembrando

É interessante que você se recorde da seguinte representação geométrica. Em primeiro


# » #» #»
lugar vamos considerar (x, y) como o vetor OP e indicamos por i e j os vetores a ele
associados. Isso te lembrará muito algebra linear e uma base especial que chamamos de
base canônica, a qual “vem”da matriz identidade. O que isso tudo quer dizer ? Que os
#» #»
vetores i e j representam (1, 0) e (0, 1), se fossemos colocar em forma de combinação
linear terı́amos:

#» #»
(x, y) = x. i + y. j
O que pode ser reescrito da forma:

(x, y) = x.(1, 0) + y.(0, 1)

Ou seja:

# » #»
OP = x i + y #»
y

# »
Mas e graficamente como que fica a representação do vetor OP ? Lembre-se que O re-
presenta a origem, o que significa que o vetor partirá da origem e vai ate a extremidade P .

P

j
#» x
i

Figura 9: Ponto (x, y) (par ordenado) no plano


cartesiano R2
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Após essa recordação, você já pode representar (1, −3) como um vetor.

Figura 10: Ponto (1, −3) (par ordenado) no plano


cartesiano R2

Descrições do vetor:
−→
Tem origem no ponto (0, 0) e extremidade no ponto (1, −3) ou seja, #» v = OP = P − O =
(1, −3) − (0, 0) = (1, −3). A direção é entre O e P, o sentido de O para P e o comprimento
é OP .

3.1 Função de duas variáveis


Definição 1 Seja D um conjunto de pares ordenados (x, y) de números reais R, uma função
de duas variáveis é uma correspondência que associa a cada par ordenado(x, y) em D exata-
mente um número real, denotado por f (x, y). D é o domı́nio da função, o conjunto imagem
de f consiste em todos os números reais f (x, y), com (x, y) ∈ D.

Muitas bibliografias tem o costume de descrever a função de duas variáveis da seguinte


forma: z = f (x, y), considerando a variável z como uma variável dependente e x e y variáveis
independentes:

f : D ⊂ R2 → R
(x, y) 7→ z = f (x, y)
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Sendo assim, o conjunto de todos os valores possı́veis para z pode ser obtido pelo o que
chamamos na Álgebra de aplicação ou transformação linear ou função em relação aos pares
ordenados (x, y) ∈ D, sendo como já colocado anteriormente a imagem da função f .

3.1.1 Domı́nio da função e Representação geométrica do domı́nio.


Nas funções reais de n variáveis esta implı́cito o estudo do domı́nio da função.

Antes de avançarmos para a dimensão n, vamos pensar e relembrar o que representa um


domı́nio de uma função. Faremos ligação com o estudo da teoria dos conjuntos. Supomos
que os elementos x1 e x2 pertencem (∈) ou estão contidos no conjunto C, e os elementos y1 e
y2 pertencem ao conjunto D. Através de um esboço a visualização pode se tornar mais clara:

Df
Imf
x1
y1
x2
y2

Figura 11: Relação entre os conjuntos - Domı́nio/Contradomı́nio.

Aos elementos do conjunto C chamamos de domı́nio da função e aos do conjunto D con-


tradomı́nio da função. Nada disso é novo para você. Mas vale ressaltar que cada elemento de
C tem que estar ligado a algum elemento do conjunto D, não podendo “sobrar” elementos
no conjunto C. Nesse caso temos que o contradomı́nio é igual ao conjunto Imagem.

Agora já podemos supor que nos encontramos no R2 , ou seja, existem pares ordenados,
nesse caso do exemplo, 2 pares: (x1 , y1 ), (x2 , y2 ) e vamos aplicar uma relação, (na Álgebra
chamamos de transformação linear) e aqui chamamos de função, que “levara” esses pares em
um valor real na reta numérica. Vamos mais uma vez fazer um esboço da situação.
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D f

Q = (2, 1)
O = (0, 0) R
x f f (1, −3) f (2, 1)

P = (1, −3)

Figura 12: Transformação do par ordenado em um número real (Aplicação da função).

Para a relação que vimos anteriormente através do esquema acima podemos definir
domı́nio da seguinte forma:

Definição 2 O domı́nio de f é um subconjunto de R2 para os quais a função f é definida


por meio da ligação de cada par ordenado (x, y) do domı́nio a um único valor f (x, y) do
contradomı́nio.

Df = {(x, y) ∈ R2 ; f (x, y) ∈ R}

Ressaltamos que muitas vezes o contradomı́nio dado por:

CDf = {z = f (x, y) ∈ R | (x, y) ∈ Df }

é o mesmo que o conjunto imagem, isto é: Imf = {z = f (x, y) ∈ R | (x, y) ∈ Df }.

Se você bem se lembrar terá em mente que para “descobrir”o domı́nio de uma função, ou
melhor para estudá-lo é preciso estar atento a algumas informações. O que isso quer dizer
? Que temos que analisar observando se existirá alguma restrição ou não para o domı́nio de
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referida função.

Recordemos as mais habituais restrições das função. Os exemplo que daremos aqui traba-
lham apenas com funções de uma única variável mas é muito intuitivo expandir para maiores
dimensões, mais variáveis, as restrições se mantêm as mesmas.

1. Denominadores diferente de zero em funções fracionárias;

Exemplo:

1
f (x) =
x

O domı́nio dessa função são todos os valores do conjunto dos números reais a menos
do zero. Portanto, poderı́amos descrever o domı́nio da seguinte maneira:

Df = {x ∈ R | x ̸= 0}

2. Radicandos de raı́zes de ı́ndice par precisam ser maiores ou iguais a zero;

Exemplo:


x

O domı́nio dessa função são todos os valores do conjunto dos números reais maiores
do que zero. Isto é:

Df = {x ∈ R | x ≥ 0}

Se o ı́ndice da raiz for ı́mpar não haverá restrições:


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Exemplo:


3
x

O domı́nio dessa função poderá ser qualquer valor do conjunto dos números reais.

Df = {x ∈ R | x ∈ R}

3. Argumentos de logaritmos devem ser positivos.

Exemplo:

logBA = x

Onde A e B são os argumentos e possuem as seguintes restrições:

A > 0; B > 0 e B ̸= 1.

Lembramos também do logaritmo neperiano que possui como base o número irracional
e = 2.718... conhecido como sistema de logaritmos naturais com a condição do argu-
mento também ser maior de zero.

Exemplo:

logeA = ln(A)

Onde A é o argumento, A > 0.

Exemplos práticos serão dados em sala no quadro.

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