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3200m
QUINTA DO
SOURINHO
S. JULIÃO
PASSOS
900m
A3/SAÍDA
300m
AO Km 47
BRAGA OESTE
PORTAGEM BARCELOS
UPORTO EDITORIAL
Prioridades para 2004 Publica-se o décimo número da UPorto quando se aproxima um novo ano que, na
Universidade, se antevê de grande actividade, nomeadamente de carácter prospectivo
e estratégico, em articulação com a entrada em vigor de disposições legais sobre
governo e gestão das instituições e sobre estruturação de graus e cursos, de graduação
e pós-graduação, incluindo a educação contínua. Os conteúdos finais dos textos
legislativos não são ainda conhecidos, esperando-se que não sejam excessivamente
regulamentadores, de modo a facultarem a cada instituição a possibilidade de encontrar
modelos adequados à sua cultura institucional e às suas especificidades.
No que diz respeito a governo e gestão, considera-se que será questão da maior
importância a discutir a ponderação da inserção central de um conselho - constituído por
2|3 um número reduzido de membros independentes em que a representação do
exterior seja significativa - com funções ligadas ao enquadramento estratégico, à
apreciação da prossecução dos objectivos fixados por parte dos órgãos executivos e
eventualmente com algum tipo de intervenção no preenchimento de outros lugares no
governo da Instituição. Constituirá também motivo de reflexão a inserção dos cursos -
em particular os de pós-graduação, inter e pluridisciplinares, - das escolas e das unidades
de investigação na estrutura da Universidade, bem como a definição e o posicionamento
dos órgãos científicos e pedagógicos na mesma estrutura. Será também aspecto a
analisar o da relação entre os órgãos centrais, em particular o reitor, e os órgãos dirigentes
das unidades orgânicas, de modo a reforçar a harmonia nos programas e intervenções,
sejam de âmbito estratégico, sejam de carácter executivo, potenciando a unidade da
Universidade. Deverá, por fim, salientar-se como preocupação final a colocação em
prática de sedes de decisões e procedimentos mais ágeis, sem esquecer a indispensável
representação de todos - docentes, não docentes e estudantes - no governo e na
gestão, mas privilegiando a gestão democrática em detrimento da autogestão.
UPORTO Nº 10
EDITORIAL - 2 PERFIL - 32
REVISTA DOS ANTIGOS ALUNOS
DA UNIVERSIDADE DO PORTO
PRIORIDADES PARA 2004 O HOMEM, O ESPÍRITO E O SONHO
DIRECTOR SOB A VIGÍLIA DA RAZÃO
JOSÉ NOVAIS BARBOSA ACTUALIDADES - 4
Tinha 27 anos quando deixou o sangue
EDIÇÃO E PROPRIEDADE falar mais alto que o sonho. Aos 52 anos,
UNIVERSIDADE DO PORTO;
RUA D. MANUEL II. 4050-345 PORTO. Luís Portela construiu um império no ramo
VOZES DA UP - 14
T. 226073565 + F. 226098736.
da indústria farmacêutica, mas ainda hoje
PUBLICAÇÃO E DISTRIBUIÇÃO DA UNIVERSIDADE
DO PORTO COMO DEVER ESPECIAL, CONFORME CIÊNCIA E TECNOLOGIA EM PORTUGAL diz que não se sente empresário
ART. 8º AL. E. DOS ESTATUTOS DA ASSOCIAÇÃO
Por José António Salcedo, PhD,
DOS ANTIGOS ALUNOS
IDENTIDADES - 38
CEO na Multiwave.
CONSELHO EDITORIAL
TRASTES COM HISTÓRIA
ALBERTO CARNEIRO, ARMANDO LUÍS CARVALHO
FACULDADE DE FARMÁCIA
HOMEM, JORGE FIEL, JOSÉ FERREIRA GOMES, LUÍS Objectos notáveis que acompanharam a
MIGUEL DUARTE, RUI GUIMARÃES E RUI MOTA Ensino Farmacêutico na UP, por Jorge
CARDOSO história da Universidade do Porto
Gonçalves, presidente do Conselho
SUPERVISÃO EDITORIAL Directivo da Faculdade. ESTÓRIAS _ A TEMPERATURA DO GELO
ISABEL PACHECO, JOÃO CORREIA
A temperatura do gelo, uma estória de
DOSSIER - 18
REDACÇÃO medicina contada por Armando Luís
ANABELA SANTOS
PARA UM PORTO MAIS EVIDENTE Carvalho Homem
SECRETARIADO
NO MAPA
PAULA FERREIRA A SABER - 42
Constrangimentos e potencialidades no
COLABORAM NESTE NÚMERO
ÁLVARO AGUIAR, ÁLVARO DOMINGUES, ANTÓNIO
caminho da afirmação da cidade e da
LACERDA, ARMANDO LUÍS SILVA, AUGUSTO região. Textos de opinião de Augusto
SANTOS SILVA, CARLOS TÊ, DANIEL BESSA, CRÓNICA - 44
EDUARDO J. S. LAGE, FRANCISCO BARRETO Santos Silva, Daniel Bessa, Ilídio Pinho, Mário
CALDAS, HELENA COUTO, ILÍDIO PINHO, JORGE Dorminski e Jorge Marques dos Santos. UM OLHAR SOBRE A PRAXE
GONÇALVES, JORGE MARQUES DOS SANTOS, JOSÉ
ALVES TEIXEIRA, JOSÉ ANTÓNIO SALCEDO, LUÍS Por Carlos Tê
DELFIM SANTOS, MÁRIO DORMINSKY. SABER EM MOVIMENTO - 24
AGENDA - 45
FOTOGRAFIA A LEGITIMIDADE DA DOR
1/2 FORMATO
CAPA: © RUI MENDONÇA
Entrevista a José Manuel Castro Lopes
que reconhece na classificação da dor
DESIGN
R+C=CR ARTE E DESIGN, LDA como quinto sinal vital uma revolução
na prestação dos serviços médicos.
EXECUÇÃO GRÁFICA
MULTIPONTO
UM PATRIMÓNIO A DESCOBRIR
RAFAEL, VALENTE E MOTA S.A.
ENTRE LUZ E ESCURIDÃO
DEPÓSITO LEGAL
149487/00
Ajuda a desvendar o património geológico
e natural da Serra de Santa Justa, à beira
ICS
5691/2000 da classificação como paisagem protegida.
TIRAGEM
40.000 EXEMPLARES
PERIODICIDADE
TRIMESTRAL
NA 1ª PÁGINA
1º PRÉMIO, NO CONCURSO DE FOTOGRAFIA, PARA
ALUNOS ERASMUS, NA UNIVERSIDADE DO PORTO
MEMÓRIA DESCRITIVA, DA ALUNA, SOBRE A IMAGEM:
«Esta foto mostra o candeeiro de tecto do nosso RECTIFICAÇÕES
apartamento, que foi feito da Espanhola Beatriz TESTE INOVADOR MEDE TEMPO DE VIDA DA CERVEJA
Villaroya como solução provisória, pois o apartamento Na edição anterior da UPorto, número 9, sob o título Teste inovador mede tempo de vida da
foi sem mobília. cerveja, na página 26, publicava-se um gráfico erroneamente legendado que comparava os
Quero apresentar esta foto porque mostra um aspecto da resultados do teste voltamétrico com os do painel de provadores da Unicer. De facto as barras
nossa vida Erasmus no Porto: chegar dum país com cinzentas referiam-se aos resultados decorrentes do painel de provadores e as negras ao teste
quase nada num apartamento sem mobília e fazer com voltamétrico.
que os meios mais simples (duas folhas de plástico dum QUAL É A MEDIDA DO MUNDO? A ESCALA DE ABEL SALAZAR
caderno de exercícios Matemática e Inglês) uma Nas páginas 43 e 44 da Agenda da edição anterior da UPorto, publicou-se, por lapso, uma versão
coisa tão bonita. Há dois meses este candeeiro enche a provisória do programa do colóquio interdisciplinar Qual é a Medida do Mundo? A Escala de Abel
nossa sala com luz suave e aquecendo. Faz nós Salazar. O programa actualizado das sessões, que decorrerão no auditório da Reitoria da
sentirem casa.» 06/10/03 Universidade do Porto, 5ª feiras às 18h00, pode ser consultado na Agenda desta edição.
Comunicação interna
reforçada com tecnologia
Wi-Fi
4|5 A Universidade do Porto pretende estreitar a distância entre os envolverá outras instituições para além da UP.
pólos com as novas tecnologias da informação/comunicação, A iniciativa prevê ainda a aquisição de computadores portáteis,
através de uma rede interna sem fios e da utilização de um com interface Wi-Fi, por parte de alunos, professores e
sistema de informação universitário. Para já, ao sistema chamado comunidade académica em geral, em condições mais vantajosas.
SIGARRA (Sistema de Informação para Gestão Agregada dos Informação detalhada sobre a iniciativa e-U está disponível no
Recursos e dos Registos Académicos da Universidade do Porto) endereço http://www.e-u.pt/, nomeadamente as condições espe-
aderiram seis faculdades. No futuro, passará a ser possível ter ciais de financiamento para a aquisição de computadores portáteis.
acesso à informação mais rapidamente e, certos serviços, hoje O projecto da Universidade do Porto, coordenado pelo IRICUP,
só prestados presencialmente, serão possíveis via rede. está orçado sensivelmente em 2,3 milhões de euros, sendo cerca
Numa perspectiva mais prática, o projecto da UP, coordenado de 1,5 milhões a comparticipação ao projecto Campus Virtual. A
pelo Instituto de Recursos e Iniciativas Comuns da UP (IRICUP) UP aguarda a celebração do contrato relativo a este projecto.
no âmbito da iniciativa nacional Campus Virtual, permitiu a exten- Informações sobre o mesmo vão sendo difundidas a partir do sítio
são do sistema de informação desenvolvido e em produção na Web http://www.iric.up.pt
Faculdade de Engenharia da UP, desde 1996, às restantes Faculdades.
O sistema designado SIGARRA poderá fornecer informação
completa sobre registos académicos dos alunos, planos de estudo
dos cursos, horários e disponibilidade de salas, localização de
pessoas, autores de publicações, projectos em curso, entre outras
funcionalidades. Actividades, pessoas, contactos e informações
de carácter pedagógico, científico, técnico ou administrativo ao
alcance de um clique, o que será certamente potenciado pela instala-
ção em todas as Faculdades e nas residências universitárias de maior
capacidade de tecnologia Wi-Fi (acrónimo de wireless fidelity).
O SIGARRA interrelaciona-se com outros sistemas da instituição,
como os de Gestão de Alunos (GAUP) e Gestão de Pessoal
(GRHUP) e terá ligações a sistemas integrados de gestão de
bibliotecas, sistemas de contabilidade e sistemas de e-learning.
Actualmente e no âmbito deste projecto, o SIGARRA está
on-line nas Faculdades de Ciências da Nutrição e da Alimentação,
Economia, Engenharia, Letras, Medicina Dentária, Psicologia e
de Ciências da Educação, devendo ficar activo, ainda em 2003,
em mais duas instituições. Em 2004 completar-se-á a instalação
nas unidades orgânicas da UP. O projecto Campus Virtual da UP
contempla ainda a extensão a todas as unidades orgânicas do
sistema de gestão de bibliotecas, já existente em algumas
faculdades, e a criação de um portal integrador ao nível da UP.
O projecto da UP foi homologado no âmbito da iniciativa
Campus Virtual (e-U), de cariz nacional, lançada pela Unidade
de Missão, Inovação e Conhecimento e apoiado pelo Programa
Operacional da Sociedade de Informação (POSI).
Este projecto prevê também a ligação entre os pólos da UP com
rede de fibra óptica, em articulação com um outro projecto ainda
em elaboração, o projecto Porto Cidade/Região Digital, que
PUB
>
UPORTO UP
ACTUALIDADES
NOTÍCIA
6|7 O Departamento de Física da Faculdade de nos primeiros lugares as equipas que A Universidade do Porto, através do
Ciências, no Campo Alegre, acolheu a 19 tiverem conseguido resolver correctamente Instituto de Recursos e Iniciativas
de Novembro a cerimónia de entrega de o maior número de problemas no menor Comuns (IRICUP) disponibilizou a partir
prémios às três equipas de alunos da espaço de tempo. do mês de Outubro um Programa de
Faculdade de Ciências e da Faculdade de As equipas cuja prestação foi agora Actividade Física para toda a
Engenharia que representaram a premiada foram as seguintes: Ansible Universidade; para isso realizou protocolos
Universidade do Porto na edição de 2003 Coders (FCUP), composta por Jorge de cooperação com diferentes
das provas de programação para o ACM- Tavares Pinto, Pedro Torres Pereira e instituições/empresas ligadas ao ramo da
SWERC SouthWestern Europe Regional Pedro Pinto Ribeiro; KickSort (FEUP), actividade desportiva.
ACM Programming Contest. constituida por Francisco dos Santos, Este programa, dirigido aos alunos,
O ACM-SWERC, etapa de qualificação Nuno Cerqueira e Ricardo Barreira e Open docentes e funcionários da UP, divide-se
para o concurso mundial para estudantes Source, que integra Hugo Penedones em três sectores de actividades: os health
universitários promovido pela instituição Fernandes, Rui Augusto Ferreira e Rui clubs, designado por Actividade Física de
americana AssociationforComputing Martins, respectivamente classificadas em Academia, as Actividades Radicais
Machinery (ACM), frequentemente Paris no 11º, 25º e 21º lugar. (canoagem, rafting, canyoning, rappel,
referido como Olímpiadas da A cerimónia, em que estiveram presentes escalada, etc.) e Cursos de iniciação/
Programação, decorreu de 14 a 16 de José Marques dos Santos, Vice-reitor da formação (golfe, mergulho, vela, etc.),
Novembro na ÉcolePolytéchniquede UP e representantes das duas faculdades, mantendo ainda as actividades
Palaiseau, em Paris. contou ainda com a participação de André promovidas pela FCDEF Faculdade de
A UP participa desde 1995 neste concurso Oliveira Restivo (FEUP), tendo este Ciências do Desporto e de Educação Física
internacional, primeiro através da FEUP e último lançado o repto para as próximas da Universidade do Porto.
depois também pela FCUP, e encarregou- edições do concurso através de uma Paramaisinformaçõesconsultar
-se da organização desta etapa do concurso conferência intitulada: Quatro partici- http://www.iric.up.pt.
nos últimos dois anos. pações no SWERC; lições para o futuro.
As equipas de três elementos que Informações adicionais sobre as etapas
representam a UP na ACM-SWERC são locais e nacionais do concurso podem ser
seleccionadas na Maratona inter- obtidas no endereço electrónico: http://
-Universitária de Programação, prova acm.up.pt/local/
nacional de seriação das equipas
concorrentes que se sucede à realização de
eliminatórias a nível local. Classificam-se
Disseminar plantas geneticamente portuguesas
Latitude Zero
_
Equatorial Challenge
no Campo Alegre
A peça Copenhagen, que o Seiva Trupe estabeleceu uma relação familiar, com O primeiro número do ElectronicJournal
levou à cena no Teatro do Campo Alegre, Heisenberg a procurar os conselhos de ofPortugueseHistory, uma publicação
trata de um assunto que, à primeira vista, Bohr não só para problemas científicos, conjunta da Brown University (EUA) e da
pouco interesse despertaria na maioria mas também filosóficos, sociais ou Universidade do Porto, já está disponível
dos espectadores. Contudo, o políticos. Como físicos nucleares, na Internet, através do endereço: http://
reconhecido êxito que a peça obteve deve- participam na compreensão da fissão do www.brown.edu/e-jph.
-se tanto ao excelente desempenho dos núcleo de urânio 235, descoberto O projecto arranca com a promessa de
três únicos actores como à qualidade do praticamente quando a II Guerra se inicia dois números por ano.
autor (Michael Fraym) que soube e se levanta o espectro de armas atómicas. São editores da publicação Luís Adão da
transformar um encontro de dois amigos, Que problemas quis Heisenberg discutir Fonseca (FLUP), Onésimo Almeida
num dia de Setembro de 1941, numa com Bohr naquele Setembro de 41, (Brown University), José Luís Cardoso
Copenhague ocupada pelos nazis, num quando o exército nazi dominava a (Universidade Técnica de Lisboa),
drama onde se cruzam reminiscências da Europa continental? Pretenderia obter Mafalda Soares da Cunha (Universidade
época gloriosa da fundação da teoria segredos dos avanços aliados na construção de Évora) e António Costa Pinto
quântica (quase totalmente criada na da bomba? Ou desejaria transmitir a (Universidade de Lisboa).
capital dinamarquesa e que, por isso, é informação que ele não a desenvolveria na Entre os objectivos editoriais da revista
conhecida por interpretação de Alemanha? Da ambiguidade do encontro, destaca-se o de promover a publicação de
Copenhague), com o próprio cenário de duas certezas: a ruptura da amizade e o trabalhos académicos, com maior
guerra, num ambiente de medo e desenvolvimento acelerado do projecto incidência sobre temáticas da História de
hostilidade, mas conduzindo subtilmente Manhatan que terminaria em Hiroshima. Portugal, analisadas numa perspectiva
o espectador a uma atitude de Mas a ambiguidade maior reside na comparativa; oferecer novas abordagens
ambiguidade quanto à finalidade do responsabilidade moral do cientista sobre o desenvolvimento da historiografia
encontro entre dois dos maiores físicos do quando descobre o poder terrível a que portuguesa, e veicular notícias e infor-
séc. XX, o dinamarquês e judeu pode conduzir a investigação mais mações sobre a investigação neste campo.
Niels Bohr (1885-1962) e o alemão exotérica e desinteressada - parar ou A iniciativa recolhe apoios da Fundação
Werner Heisenberg (1901-1976), e onde a continuar? A peça não dá resposta, porque para a Ciência e Tecnologia (FCT), da
terceira personagem (Margaret, mulher de não há resposta. fundação Luso-Americana para o
Bohr) não é mera espectadora, antes Desenvolvimento (FLAD) e da PT.
marcando a presença do senso comum (e, EDUARDO J. S. LAGE (ENGENHARIA ELECTROTÉCNICA,
com ele, o espectador) no debate histórico. 1964; PROF. CAT. FÍSICA, FACULDADE DE CIÊNCIAS)
Born to Explore .
No passado mês de Outubro, O IRICUP, através do GATIUP, deu outros docentes a produzir conteúdos segundo metodologias
início a um novo projecto: E-LEARNINGUP2003/2004, que testadas e não a impressioná-los de uma forma fácil com recursos
conta já com o empenho de um grupo de 21 docentes de 7 multimédia demasiado elaborados, que porventura se poderão
faculdades diferentes que se disponibilizam para encabeçar um tornar pouco realistas e assustadores para todos aqueles que não
projecto-piloto de e-learning. possuem conhecimentos avançados em Tecnologias da
Este projecto está a ser desenvolvido e acompanhado desde a fase Informação e Comunicação (TIC).
de percepção do que é o e-learning, passando pelo desenvolvi- O objectivo da Universidade do Porto é a promoção do e-learning
mento de conteúdos, até à avaliação dos resultados finais. para todos, de uma forma acessível, seja para o utilizador aluno,
O projecto consiste em fomentar o aproveitamento de sinergias ou para o utilizador professor. Os docentes participantes neste
de forma a que a Universidade do Porto se direccione para níveis projecto-piloto serão os líderes disseminadores junto das
de excelência crescentes, numa área de incontestável interesse: faculdades e os impulsionadores da continuidade desta iniciativa
o e-learning. junto dos colegas.
O E-LEARNING UP2003/2004 é um projecto inovador, tanto
pelo envolvimento de professores e alunos de áreas diversificadas,
orientados por um objectivo final comum, como pelo propósito
de integrar os recursos já disponíveis no sistema de informação
com os do sistema de gestão de conteúdos.
Numa fase inicial, estima-se que cerca de 2000 alunos estejam Ensinar pela Internet
envolvidos neste projecto. Os conteúdos a desenvolver poderão O Gabinete de Apoio para as Novas
destinar-se a disciplinas do primeiro semestre, do segundo ou a Tecnolo-gias na Educação (GATIUP),
disciplinas anuais. Os alunos também não estão distribuídos em integrado no Instituto de Recursos e
igual número por turma, haverá turmas com algumas dezenas, Iniciativas Comuns da Universidade do
outras com centenas de alunos. Este aspecto será certamente Porto (IRICUP), presta serviços de apoio
importante para avaliar o impacto da utilização de recursos técnico e orientação pedagógica a todos os
multimédia e verificar se poderá ajudar na resolução de problemas docentes da Universidade do Porto que
de aproximação docente-aluno. queiram aderir a um projecto de e-
Deste projecto-piloto espera-se obter, para além da oferta organi- learning, ou simplesmente disponibilizar
zada de conteúdos de apoio à aprendizagem para vários cursos materiais educativos, tirando partido das
de pré e pós-graduação da Universidade, resultados qualitativos e tecnologias da Internet, em particular da
quantitativos que permitam concluir acerca do impacto do uso Web.
do e-learning nas estratégias de ensino e promover a utilização O GATIUP divulga e promove a utilização
de técnicas eficazes e eficientes na criação e disponibilização de das Tecnologias de Informação e Comuni-
conteúdos de aprendizagem. cação (TIC) nos processos de Ensino/
Como produto deste projecto irão surgir tipos distintos de Aprendizagem; apoia a criação de materiais
materiais pedagógicos e estratégias diferentes de utilização dos multimédia, de interesse para as
mesmos, que serão analisados por todos os docentes envolvidos actividades de ensino e de formação da
e apreciados pela comunidade académica da Universidade. UP; participa na realização de trabalhos
Um outro ponto que se considera pertinente é o facto deste em colaboração com outras unidades
projecto estar direccionado para docentes com competências orgânicas da UP e mantém uma
tecnológicas ao nível do utilizador. Neste projecto a ênfase é actualização permanente dos conhecimen-
colocada no conteúdo a desenvolver e a testar e não no conhe- tos na área das TIC aplicadas ao ensino,
cimento aprofundado da tecnologia. nomeadamente através do acompanha-
Os resultados a obter no final do projecto destinam-se a motivar mento e participação em projectos
nacionais e internacionais nesta área.
UPORTO UP
ACTUALIDADES
NOTÍCIA
12 | 13 Cândido Augusto Dias dos Santos nasceu em Vila Nova de Gaia, Mário Augusto do Quinteiro Vilela é docente da Faculdade de
em 1934. Letras da Universidade do Porto desde 1970 e Professor
Em 1965 viajou para Roma para estudar na Universidade Catedrático desde 1981. Lecciona: Linguística Portuguesa II e
Gregoriana, na qual se licenciou em História Eclesiástica. Na Análise Contrastiva (Ramo da Tradução). Coordena o Mestrado
Biblioteca Vaticana estudou e diplomou-se em Biblioteconomia. de Linguística Portuguesa Descritiva desde 1987 e é Professor
Diplomou-se em Diplomática no Arquivo Secreto Vaticano e em Visitante em universidades alemãs, brasileiras e espanholas.
Biblioteconomia na Biblioteca Apostólica Vaticana. Mário Vilela nasceu em Vilarinho da Samardã (Vila Real) em 2 de
Licenciou-se em História na Faculdade de Letras da Universidade Janeiro de 1934 e jubila-se em Janeiro de 2004. Tem Licenciatura
do Porto, em 1969. Tornou-se assistente da mesma Faculdade em em Filologia Românica (1963-1969) pela Faculdade de Letras da
1970. Prosseguiu a sua formação em Paris, para onde viajou em Universidade de Coimbra e Doutoramento na Universität
1975, como bolseiro do Instituto Nacional de Investigação Tübingen (Alemanha) (1975-1978), com a dissertação
Científica (INIC), na École des Hautes Études en Sciences LexikalischeSemantik-Wortfeltheorie.TheorieundAnwendung
Sociales. aufdemPortuguiesischen (= Léxico da simpatia). As Provas de
Doutorou-se em 1977 na Universidade do Porto, com a disser- Agregação foram apresentadas na Universidade do Porto em
tação Os Jerónimos em Portugal. Das Origens ao Século XVII 1981, na sequência das quais foi aprovado por unanimidade. Foi
(editada pelo INIC em 1980 e reeditada pela Junta Nacional de director e coordenador do Centro de Linguística da Universidade
Investigação Científica e Tecnológica (JNICT) em 1996). do Porto.
Tomou posse como Professor Catedrático em Dezembro de 1979. Publicou, entre outras, as seguintes obras: Estruturas Léxicas do
De 1980 a 1983 foi Presidente do Conselho Directivo da Português (Coimbra: Almedina, 1979), Gramática de Valências:
Faculdade de Letras e de 1985 a 1998 foi Vice-Reitor Teoria e Aplicação ao Português (Coimbra: Almedina, 1980),
da Universidade do Porto. Estudos de Lexicologia do Português (Coimbra: Almedina,
Leccionou diversas cadeiras na Faculdades de Letras da 1990), Tradução e Análise Contrastiva: Teoria e Aplicação,
Universidade do Porto, na área da História Moderna, e ensinou Lisboa: Caminho, 1994, Léxico e Gramática (Coimbra:
no Instituto Superior de Ciências Sociais e Humanas e na Universi- Almedina, 1996), Gramática da Língua Portuguesa: gramática da
dade Católica Portuguesa. Foi membro da Academia Portuguesa palavra, gramática da frase e gramática do texto/discurso
de História e é membro da Sociedade Científica da Universidade (Coimbra: Almedina, 1998) (1ª ed. 1995), Metáforas do nosso
Católica Portuguesa e da Academia Mariana Internacional. tempo, Coimbra: Almedina, 2002. É conselheiro científico de
Entre outros trabalhos publicou Universidade do Porto - Raízes e várias revistas e membro de diversas associações científicas
Memórias da Instituição (1996), História da Cultura na Época internacionais, nomeadamente SociétédeLinguistiqueet
Moderna (1998) e The University of Porto (2003). PhilologieRomane, Associação Portuguesa de Linguística, e
A Jubilação ocorrerá a 7 de Março de 2004. Associação Portuguesa de Tradutores.
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UPORTO VOZES DA UP
Ciência e Tecnologia
JOSÉ ANTÓNIO SALCEDO,PH.D.
(ENGENHARIA ELECTROTÉCNICA, 1968)
CEO, MULTIWAVE, MAIA
em Portugal
14 | 15 Ciência e tecnologia (C&T) são motores de desenvolvimento O financiamento da ciência deve privilegiar os melhores
para qualquer sociedade moderna. Ciência é-o porque produz cientistas, apoiando-os a criar, desenvolver e consolidar
conhecimento e tecnologia é-o porque a aplicação de instituições científicas fortes. Fortes em massa crítica de pessoas
conhecimento à resolução de problemas economicamente qualificadas, fortes em financiamento a médio prazo, fortes nas
relevantes, normalmente feito através de empresas mas não suas ligações nacionais e internacionais, fortes na liderança
só, gera riqueza. Hoje em dia, a riqueza de uma pessoa, de científica sectorial que podem criar e manter. Na minha opinião,
uma região ou de uma nação está intimamente ligada ao é tolo financiar ciência predominantemente através de projectos,
conhecimento que essa pessoa, região ou nação encerra e à quanto mais quando todos sabemos que, em Portugal, entre a
sua capacidade de o aplicar à criação de riqueza. candidatura de um projecto e a concessão do correspondente
Sob o ponto de vista de estratégia política nacional, ciência financiamento podem decorrer anos. A ciência deve ser apoiada
e tecnologia nunca foram prioridades assumidas e pelo financiamento directo dos melhores cientistas, desde que
continuam a não ser. A falta de coragem política nas últimas estejam dispostos a assumir um plano de trabalhos de médio
dezenas de anos tem sido notória, continuando-se a prazo que conduza ao reforço de massas críticas e ao desenvol-
preferir distribuir o dinheiro disponível de forma irracional vimento de instituições científicas fortes. A ciência deverá ser
pelas instituições existentes, satisfazendo clientelas e sem financiada através de projectos apenas pontualmente.
coragem para apoiar de forma decisiva as instituições O financiamento de tecnologia deve privilegiar os projectos
excelentes e de encerrar as medíocres, ou aquelas que o importantes que possam ser definidos para Portugal nas várias
tempo, por uma razão ou outra, tornou obsoletas. áreas sectoriais com impacto económico, envolvendo as equipas
que tiverem contribuições relevantes a dar, depoisdeestarem
Em Portugal apenas 19.8% da população tem o ensino secundário inventariados e percebidos os problemas importantes a resolver.
completo, 9% tem licenciatura, a taxa de abandono escolar entre Trabalhar em tecnologia requer sempre uma filosofia empresarial:
os 18 e os 24 anos é de 45% e o país investe em educação 5.7% identificar em primeiro lugar o problema a resolver (omercado) e
do seu PIB. Em contraste, na República Checa 86.4% da depois implementar uma solução tecnológica para esse problema
população tem o ensino secundário completo, 26.8% tem (umproduto).
licenciatura, a taxa de abandono escolar entre os 18 e os 24 anos Em ambos os casos, o financiamento de ciência e de tecnologia
é de 5.5% e o país investe em educação 4.4% do seu PIB. Por tem de ter a coragem de apenas financiar a excelência, ou, no
outras palavras, não temos investido correctamente em educação; mínimo, financiar a excelência de forma claramente diferenciada.
temos desbaratado recursos por falta de visão estratégica, de Portugal precisa de introduzir mecanismos de feedback positivo no
coragem política e de competência. seu modelo de desenvolvimento, porque os de feedback negativo
Paradoxalmente, em Portugal existem pólos de excelência que existem abafam a excelência. Para tal, ciência e tecnologia têm
científica de nível mundial; em muito menor grau, existem pólos de passar a ser consideradas como prioridades estratégicas nacionais,
de excelência tecnológica, possivelmente porque lidar com em substituição de algum futebol e construção civil. De outro
tecnologia não faz parte dos hábitos culturais nacionais, que modo, o país estará condenado.
privilegiaram sempre o comércio em detrimento da indústria. As universidades públicas nacionais têm responsabilidades no
Portugal é um país de mercadores e comerciantes, não de actual estado das coisas: (1) não têm tido coragem para se
empresários e empreendedores, porque o assumir e a valorização assumirem como motores intelectuais das regiões onde se
de riscos são penalizados culturalmente. inserem; (2) o seu modelo de corporate governance é medieval e
desresponsabilizante, estando concebido para defender poderes
C&T devem ter diferentes critérios de apoio corporativos; (3) os mecanismos de compensação salarial são
A ciência e tecnologia devem ser apoiadas e financiadas de formas todos de feedbacknegativo e nenhum de feedbackpositivo (por
radicalmente diferentes, quase opostas, embora ambas sujeitas exemplo, o regime arcaico de dedicação exclusiva premeia o não
a um padrão elevado de exigência que estimule a excelência fazermaisnada,emvezdepremiarofazermaisemelhor); (4) os
e que recuse a mediocridade. concursos para progressão na carreira académica são alegados
>
PUB
processos de avaliação que em qualquer ambiente empresarial colaboração com alguns deles. Sim, é arriscado, muito arriscado;
minimamente competente seriam considerados de um profundo mas estamos confiantes na excelência da ciência e tecnologia em
ridículo; (5) os melhores docentes e investigadores são que investimos as nossas vidas, no estrangeiro e em Portugal, e
estimulados a afastarem-se dos alunos que deles mais precisam, isso faz-nos apostar decidamente numa genuina hightechstartup
que são os que frequentam os primeiros anos e (6) a propriedade que tem merecido importantes apoios internacionais.
intelectual não é valorizada nem gerida de forma a instituir-se Os próximos 10 anos vão ser os mais difíceis que Portugal já
como uma fonte importante de receita da instituição. enfrentou nos últimos 50, e estou preocupado quando vejo que a
maioria esmagadora das pessoas ainda não o percebeu. A resolução
Falta coragem política e institucional gradual dos desafios de modernidade que vão cair em cima de nós
Num esforço notável de tentar suprir algumas destas deficiências, podeedeve ser pilotada pelas universidades, mas tal exige um novo
muitas instituições de interface nasceram nas últimas duas modelo de corporategovernance que lhes permita projectarem-se
décadas e algumas delas são agora pólos de excelência científica e como as entidades que vão formar as novas elites e liderar a forma
tecnológica. Porém, não tem havido coragem política nem como o país vai enfrentar esses desafios difíceis. Distinga-se o trigo
institucional para apoiar as poucas instituições que são realmente do joio, tendo coragem de apostar apenas no trigo; então, ciência e
excelentes, encerrando as demais (a larga maioria). Sim, tem tecnologia poderão instituir-se como os verdadeiros motores de
existido muita falta de coragem para financiar instituições apenas desenvolvimento de que tanto precisamos.
se três requisitos forem cumpridos: (1) excelência científica
provada, segundo termos internacionais de referência; (2) plano
coerente a 5 anos com gestão, acompanhamento e avaliações
externas isentas e competentes, e (3) massa crítica garantida, em
termos do número de pessoas qualificadas que estão realmente
dedicadas à instituição.
Sou um pequeno empresário que fundou a sua empresa industrial
de alta tecnologia depois de 25 anos de trabalho focado em
ciência e tecnologia, e considero que ser empreendedor e
empresário é gratificante após ter sido o professor catedrático que
era quando fundei a empresa. Porquê? Porque agora aplico o
conhecimento científico e tecnológico gerado no contexto
universitário à criação de riqueza, ainda por cima com jovens
doutorados com quem tive o privilégio de ir trabalhando ao longo
dos anos. Se não tivéssemos feito esse esforço em ciência e
tecnologia de excelência nunca poderia ter criado a empresa em
UPORTO VOZES DA UP
Ensino farmacêutico
JORGE GONÇALVES
(CIÊNCIAS FARMACÊUTICAS,1979)
PROFESSOR E PRESIDENTE
na UP
DO CONSELHO DIRECTIVO DA FFUP
16 | 17 A relação dos antigos alunos com a sua Faculdade de Farmácia para a criação de novas licenciaturas em instituições privadas.
da Universidade do Porto (FFUP) é, para muitos, uma relação de Acrescente-se que estas autorizações não resultam da falta de
grande afectividade, revelada naquela pergunta que disponibilidade das faculdade oficiais para receber mais alunos
invariavelmente surge em cada encontro: Então como vai a pois, no ano lectivo de 2003/2004, foi-nos recusado um aumento
Faculdade? É para lhe dar resposta que esta nossa contribuição no numerus clausus (razões que a razão desconhece!).
para a revista UPorto foi orientada.
Formação contínua
Docentes A Faculdade tem colaborado nas acções organizadas no âmbito do
A FFUP tem já o seu corpo docente praticamente formado, Secretariado para a Formação Contínua. À semelhança do que
estando assim ultrapassadas as dificuldades com que se deparou vem ocorrendo com os outros parceiros do Secretariado, a FFUP
na década de 80, após o período de reconstrução das instalações. está também a ponderar a realização de iniciativas autónomas
Por força da vida, professores emblemáticos da FFUP deixaram- orientada para as diferentes áreas farmacêuticas. Esperamos que
nos, mas a sua marca ficou bem vincada nas actuais gerações de esta oferta seja uma oportunidade para reencontro de muitos com
docentes que hoje honram essa herança desenvolvendo um a sua Faculdade.
trabalho cuja qualidade tem sido reconhecida pelas várias
avaliações externas. Instalações
Este continua a ser o tema mais preocupante e um dos maiores
Ensino farmacêutico desafios. O planeamento da reconstrução das instalações,
O novo plano de estudos da Licenciatura em Ciências realizado após o incêndio de 1975, baseou-se num cenário de
Farmacêuticas encontra-se já no 2º ano de funcionamento. evolução do ensino superior que não teve em conta as mudanças
Pretendeu-se criar um plano de estudos capaz de compatibilizar ocorridas na década de 80, com a massificação do mesmo. E,
as exigências da directiva comunitária relativa à formação muito menos as que estão a ocorrer no presente, com a
farmacêutica com matérias de áreas onde o Farmacêutico se tem generalização da formação pós-graduada. Actualmente, as aulas
afirmado, ou onde se pode melhorar a empregabilidade dos estão repartidas pelo edifício principal, da Rua Aníbal Cunha, por
futuros licenciados. um edifício situado na Viela da Carvalhosa e pelas antigas
A aproximação do ensino à prática profissional, recomendação instalações da FEUP. Teimosamente, procuramos manter o nível
insistente dos organismos profissionais, tem também merecido a de qualidade na formação teórica e laboratorial que nos tem
nossa atenção, indo nesse sentido a instalação de um laboratório caracterizado. Porém, só a dedicação de docentes e de outros
de prática de farmácia de oficina com o apoio da Associação funcionários e a extraor-dinária compreensão dos estudantes tem
Nacional das Farmácias. A nível dos estágios de licenciatura, a tornado isso suportável.
colaboração com a Ordem dos Farmacêuticos tem sido A construção das novas instalações irá resolver este grave
inestimável para a selecção das farmácias de oficina. A nível problema. Estas estão projectadas para a área hoje ocupada pela
hospitalar, esperamos que a nova legislação sobre hospitais Reitoria (ex. CICAP) e onde se irá construir também o Instituto
universitários, em fase de discussão, possa criar o enquadramento de Ciências Biomédicas de Abel Salazar. Cria-se assim um novo
legal necessário para que os estudantes das Faculdades de pólo de saúde da Universidade do Porto, potenciado pela
Farmácia aí possam realizar estágios. proximidade do Hospital de Santo António. Esta mudança, que
A crítica de que as faculdades de farmácia estão a formar gostaríamos que fosse para breve, abrirá uma nova página na
demasiados licenciados é ouvida com frequência. Antes de se história da FFUP, criando sinergias que valorizarão todas as
apontar o dedo às faculdades de farmácia (em particular à FFUP instituições desse pólo.
que é, das oficiais, a que tem o menor numerusclausus) que se
preste atenção às políticas que têm sido seguidas com autorizações
PUB
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UPORTO DOSSIER
Para um Porto
mais evidente no mapa
18 | 19 É preciso tornar mais evidente no mapa a posição do Porto unicamente as sedes do Finibanco e parte do Conselho de
e da sua região. Certos sinais de declínio precisam de ser Administração do BPI. Álvaro Domingues refere uma tímida
contrariados com um projecto mobilizador, para o qual a terciarização na cidade, a partir de meados dos anos 80, que terá
Universidade do Porto está fortemente empenhada. Antes entretanto abrandado.
do amplo debate, Porto, Cidade, Região, marcado para
Fevereiro, alguns tópicos apenas para avivar a discussão. Fraca capacidade de mobilização
Este ano, voltaram a ouvir-se críticas à atribuição das verbas do
Várias vozes coincidem na constatação de um certo declínio da PIDDAC (Programa de Investimentos e Despesas de
região Norte, sobretudo nas últimas duas décadas. Desenvolvimento da Administração Central) para a região Norte. A
Certos sectores da indústria em que a região assentava tradicio- Associação Empresarial de Portugal defende que, perante a redução
nalmente a sua força produtiva, como os têxteis, vestuário e do PIB na região, as verbas do PIDDAC deveriam ser superiores
calçado - que baseavam a sua vantagem competitiva sobretudo na (embora o valor percapita da região Norte seja superior ao de
mão-de-obra barata -, têm vindo a enfrentar a forte concorrência Lisboa e Vale do Tejo), tendo em conta as potencialidades para um
das indústrias asiática e da Europa de Leste, apoiadas em factores crescimento equilibrado.
produtivos ainda mais baratos. De facto, em 2002, o sector do Notícias recentes davam conta da quebra de ocupação hoteleira
calçado e dos artigos de pele e couro registaram uma diminuição na cidade, nos oito primeiros meses deste ano, contrariando a
nas suas exportações, enquanto as saídas de matérias têxteis se tendência do turismo fluvial no Douro e das visitas às caves do
mantiveram estagnadas. Isto é ainda mais significativo, tendo em Vinho do Porto e referiam como motivo para a desistência em
conta que estes sectores tradicionais continuam a ter um grande realizar congressos internacionais na cidade o reduzido número
peso (52%) nas exportações da região Norte. de vôos do aeroporto Francisco Sá Carneiro para o estrangeiro.
Um dos sinais mais notórios deste declínio é a perda de centros de Terá sido o caso de congressos organizados pela Texas Instruments
decisão que se reflecte na quase ausência de sedes de instituições do e pela Compaq. Há ainda uma significativa perda do poder de
sector financeiro, constatam Daniel Bessa, ex-ministro da Econo- compra da população do concelho do Porto relativamente à
mia e director do Conselho Directivo da Escola de Gestão do média do país: o índice do poder de compra do concelho baixou
Porto, e Álvaro Domingues, geógrafo, professor da Faculdade de de 257% (em 1995), em relação à média nacional, para 177% em
Arquitectura e docente no Mestrado em Projecto e Planeamento 2002 (dados do Instituto Nacional de Estatística).
do Ambiente Urbano. Funções superiores dos organismos públi- Por outro lado, na Área Metropolitana do Porto (AMP), que pode
cos, acima de director-geral ou equivalente, quase não existem, ser vista como o motor do desenvolvimento da região, os
excepção feita para o Reitor da Universidade, o Presidente da problemas urbanos têm vindo a ter mais efeitos na vida da
Comissão de Coordenação e Desenvolvimento da Região Norte e população, como constatam certos estudos recentes: o trânsito, a
o Conselho de Administração da Agência Portuguesa para o insegurança e o agravamento da condição de subúrbio (em
Investimento. Nas instituições financeiras mantêm-se concelhos à volta do Porto que vêem reforçada a sua condição de
dormitório). Foi significativa a perda de população do concelho
do Porto, centro da AMP, nos últimos 20 anos: perdeu 64.000
habitantes, cerca de 20 por cento da sua população.
A dinâmica sócio-cultural criada com o evento Porto 2001-
-Capital Europeia da Cultura terá esmorecido muito para além do
Um dos sinais mais notórios deste que poderia ser considerado normal após aquele ano de excepção,
declínio é a perda de centros de decisão como aliás assinala Augusto Santos Silva, ex-ministro da Cultura
e professor da Faculdade de Economia (ler texto neste dossier).
que se reflecte na quase ausência de sedes Mesmo o sucesso do desafio Capital Europeia da Cultura não é
unânime. Bem sucedido para os que dão mais importância à
de instituições do sector financeiro programação cultural, pior sucedido para os que atentam mais nas
iniciativas de requalificação urbana. Muitos afirmam que os casos Internacionalização e qualidade de vida
tornados públicos e relacionados com a organização do evento e Teresa Barata Salgueiro, na revista Sociedade e Território, de Julho
com a sua execução são sintomáticos da fraca capacidade de de 1999, a propósito do tema Fragmentação e Exclusão nas
mobilização e congregação de esforços entre os agentes políticos, Metrópoles, afirma que perante as crises, as falências e o
económicos, sociais e culturais da cidade e sua região, como aumento do desemprego, a nova gestão urbana sente a neces-
decorre dos textos de opinião publicados nesta secção, sobretudo, sidade de reter as actividades económicas, de atrair investimentos,
o de Augusto Santos Silva e de Jorge Marques dos Santos. empresas, turistas e residentes. Para isso, tenta-se construir uma
Um olhar para Leste pode revelar aspectos curiosos. A estratégia imagem forte explorando peculiaridades que lhes permitam
de afirmação e desenvolvimento de Barcelona, tal como o Porto, apresentar-se como diferentes, investindo em infra-estruturas,
segunda cidade nacional, centro de uma das regiões (Catalunha) grandes edifícios, beneficiando as comunicações e transportes,
com maior dinamismo económico do país vizinho e cidade desenvolvendo os serviços e actividades de lazer, turismo e ócio, os
também de notável património histórico-arquitectónico, passou, centros de congressos, reabilitando os centros históricos,
durante muitos anos, por estabelecer desafios de cariz nacional e valorizando as frentes aquáticas, promovendo operações de
internacional que funcionaram como motivos para a mobilização promoção da imagem (...). No Porto, tem-se vindo a fazer um
dos agentes que intervêm na cidade, na região e as projectam no pouco de tudo isto, no entanto notícias recentes dão conta da
exterior, com uma eficácia que poucas conseguiram. Os Jogos preocupação dos operadores turísticos, perante a proximidade do
Olímpicos e o Ano Gaudi que decorreu em 2002 são apenas dois Euro 2004, pela falta de uma estratégia de promoção da cidade. A
22 | 23
ILÍDIO PINHO
reconduzir o Porto Cidade Região a uma MÁRIO DORMINSKY
PRESIDENTE DO CONSELHO
DE ADMINISTRAÇÃO DA posição de influência perdida? (ARQUITECTURA, 1973)
DIRECTOR DO FANTASPORTO
FUNDAÇÃO ILÍDIO PINHO
- qualificação dos recursos humanos de
nível internacional: a Universidade do
Porto, a maior do país, e as outras escolas
da cidade, com relevo para a Universidade
Católica, são imprescindíveis pela sua
O Porto Cidade está cada vez mais capacidade de inovação e competências O Porto só tem uma hipótese de reforçar a
pequeno e discreto. A fuga do centro da de formação dirigidas às áreas de maior sua influência europeia: apoiando-se na
cidade para os arredores diminuiu o seu relevância do futuro; cultura, no turismo e no comércio.
peso político e o protagonismo dos - atracção do investimento estrangeiro: Considero o Porto uma das cidades mais
autarcas vizinhos muitas vezes supera o do o centro de decisão API está no Porto: belas do Mundo. Em cada edição do
autarca do Porto. A força dos opinion- qual é a vantagem da descentralização? Fantasporto percebo melhor, pelas
-makers do Porto corre o risco de tornar- - um novo tipo de empresariado: conversas que vou tendo sobretudo com
-se irrelevante no Terreiro do Paço. incubação de ideias e empresas para estrangeiros, que o Porto é um local de
O Porto Região enfrenta as dificuldades de crescer, trocar ou vender; prazer para todos eles. Mas, o que falta,
uma mudança. É lenta e dolorosa a - turismo de cidade e turismo da região então a esta cidade, de que todos gostam.
transição entre a indústria que (já) teve e Norte: urge terminar com o constrangi- Antes de mais resolver o problema da
os serviços que (ainda) não tem e o mento absurdo nas ligações internacionais segurança. Sem isso a cidade não se pode
desemprego cresce mais do que no resto do aeroporto do Porto e com a expandir e logicamente exprimir. Andar a
do país. discriminação negativa da política do ICEP; pé na Batalha, na Avenida dos Aliados,
Com a perda de protagonismo do Porto - marketing pelo desporto: como Praça da Liberdade, Carlos Alberto, Leões,
toda a região perde também, embora aproveitar o centro de gravidade do Euro ou Ribeira e até em Cedofeita ou na
alguns municípios pequenos possam 2004? A cidade está preparada para receber Boavista, é perigoso. A cidade está deserta
parecer ganhar protagonismo mas sem e cativar? dominada pelos sem abrigo e outros
resultados aparentes. - melhorar significativamente a nativos. É essa população que
Note-se que as posições públicas dos mobilidade na Área Metropolitana do conquistou a baixa do Porto, que a
notáveis do Norte relativamente ao Porto através da inter-modalidade dos controla. Como podem assim os cidadãos
centralismo na administração dos dossiers transportes; do Porto viver o centro do Porto? Como
PIDDAC, TGV, obras do aeroporto, etc., - assumir um protagonismo de podem ir a um espectáculo ou a um
passaram despercebidas, se é que as houve... competência, no qual pode ter um papel restaurante? Como pode uma cidade assim
O Porto, Cidade, Região resiste porém e crucial a Universidade, cuja excelência é afirmar-se a nível europeu?
tem um potencial único. No Norte, é o internacionalmente reconhecida em muitas Que soluções poderá haver para esta
pólo visível do exterior áreas: arquitectura, engenharia civil e objectiva situação? Porque não abrir os
internacionalmente reconhecido. É o ciências da saúde são apenas algumas delas. restaurantes da baixa, os bares, as livrarias,
centro de gravidade de um Norte litoral as discotecas, as lojas de lembranças (que
ainda assim determinante em termos o Porto não tem e deveria ter) noite
demográficos e económicos. E, para além dentro? Abrir esplanadas junto dos cafés e
do seu papel histórico, cultural e até colocar naturalmente toda essa área
desportivo, oferece os acessos aéreos e urbana sob controlo policial? Ganhar-se-ia
marítimos a toda a malha empresarial das seguramente a afluência de uma população
PMEs do norte. que assim poderia fugir dos Centros
Que apostas poderão ser feitas para Comerciais gozando este magnífico Porto.
Seria isto muito difícil? O eixo Batalha, JORGE MARQUES
estrutura associativa empresarial de tipo
DOS SANTOS
Aliados, Carlos Alberto com a ligação à (ENGENHARIA QUÍMICA, monárquico que divide o país em dois, em
Ribeira poderia ser um local aprazível para 1965) ADJUNTO vez de se juntarem esforços no sentido de
DA ADMINISTRAÇÃO
estar e tudo isto em ligação com os DA SONAE SGPS
se criar uma estrutura única a nível
espaços culturais aí existentes a servir de nacional, forte, virada para a defesa
motor para toda uma nova movida. O S. colectiva dos interesses de toda a indústria,
João e o Batalha, o Coliseu e o Passos falando a uma só voz, e ajudando-a a
Manuel, o Rivoli e o Sá da Bandeira, o A região do Porto tem de se assumir como adaptar-se aos combates globais que se
Teatro Carlos Alberto, o Mercado Ferreira a plataforma de logística integrada por intensificam.
Borges, a Alfândega e até o Mercado do excelência da região, dotando-se de infra- Vivemos numa época em que é cada vez
Bolhão, trabalhariam em melhores -estruturas, acessibilidades, serviços de maior a importância e valor dado ao
condições proporcionando uma cada vez apoio, com efectiva intermodalidade dos conhecimento. E nesse aspecto a UP pode
maior oferta cultural à cidade e transportes, tirando partido da e deve desempenhar um papel vital. Para
logicamente mais turismo e mais proximidade do aeroporto, porto de isso deveria seleccionar duas ou três áreas
comércio. É claro que, concomitantemente, Leixões e infra-estruturas rodo e nas quais seria reconhecida como uma
ter-se-ia de pensar o que fazer aos milhares ferroviárias, que têm de se articular referência (recordo do meu tempo a
de fogos desabitados do centro do Porto eficazmente. imagem de qualidade, rigor e excelência da
obrigando o regresso ao Porto dos seus Deve assumir-se, sem complexos, como Engenharia da U.P.).
habitantes naturais. Só aí a cidade poderia uma área complementar a Lisboa no
renascer, tornar-se viva, um centro. E uma âmbito nacional, abandonando
cidade assim traz novas empresas, uma comportamentos de tipo provinciano e
ecomonia renovada. É só preciso fazer um clubístico exacerbado. A nível europeu a
pequeno esforço. nossa força pode vir de Portugal como um
todo e não de cada uma das pequenas
regiões enfraquecidas. A competitividade
construtiva é benéfica, mas a rivalidade
provinciana destrói, pelos anticorpos que
cria. Como exemplo, os grandes eventos
culturais deveriam ser desenvolvidos em
parceria, de forma a se poderem realizar
nas duas cidades, beneficiando-se de
economias de escala.
É preciso combater a visão de micro-
-empresa isolada. É dramático, que
pequenas e médias empresas, continuem a
ver no seu vizinho o concorrente,
combatendo-se ferozmente em preços, em
vez de se associarem em clusters fortes,
inovando, introduzindo design, marcas,
marketing internacional, qualidade logís-
tica, para competirem no mercado global.
Vide o que se passa na indústria dos móveis.
Outra imagem desta pequenez, é dada pela
UPORTO SABER EM MOVIMENTO
A legitimidade da dor
OcursodePós-Graduaçãojáexistehádoisanos.Que Dequalquerforma,ésemprepreocupantepensarmosqueos
preocupaçõesditaramacriaçãodestecurso,queéúnico medicamentosparaador,osanti-inflamatóriosnão
no país? esteróides, triplicam o risco de complicações gastrintestinais.
Em Portugal existe um Plano Nacional de Luta contra a Dor. Esse Cerca de metade dos indivíduos que tomam medicamentos
plano resultou de uma análise feita em 1999 que concluiu que paraadorcrónicatêmproblemasanívelintestinal...
existe uma grande falta de estruturas destinadas à terapêutica da Asoluçãopassapelosnovosanti-inflamatórios(coxibes),que
dor, nomeadamente as Unidades de Dor. Só 16% dos hospitais é bloqueiamapenasoCOX-2-enzimaimplicadanoprocesso
que tinham Unidades de Dor Crónica e 20% tinham Unidades de dadoredainflamaçãoepoupamaCOX-1-enzimaque
Dor Aguda. O Plano determina como meta (até 2007) a existência protegeorevestimentodoestômago.Sãomaiscarosestes
de 75% dos hospitais com Unidades de Dor Crónica e 65% com medicamentos?
Unidades de Dor Aguda. Mas não basta colocar isto no papel, são São um pouco mais caros. Foram lançados recentemente. Não
necessários profissionais para trabalhar nessas unidades. Até agora são mais eficazes do ponto de vista analgésico, mas sim na
Ao encontro das pequenas tremuras
Ao encontro do desfalecimento
P EDRO TAMEN
redução dos efeitos colaterais. Teoricamente, os estudos que têm Isso pode ser quase uma revolução na humanização dos cuidados
vindo a ser publicados apontam nesse sentido, mas já estão a ser de saúde em Portugal. Foi uma ideia da associação americana (para
usados na prática clínica. o estudo da dor) e significa que, a partir de agora, nos esta-
belecimentos do Serviço Nacional de Saúde para além de se registar
Masaindanãotêmumusomuitofrequente... os 4 sinais vitais clássicos (a pressão arterial, a frequência cardíaca,
Só nos casos em que há contra-indicações para o uso de respiratória e a temperatura corporal) tem de se registar a intensi-
antagonistas da COX 1 (em pessoas com problemas dade da dor. Na nossa cultura judaico-cristã a dor é muitas vezes
gastrintestinais). E já que estamos a falar em terapêuticas, um dos escondida ou ignorada. É vista como uma coisa para expiação de
problemas que temos em Portugal é a falta de consumo de opióides, pecados, uma coisa inevitável. Tanto os doentes como os médicos
nomeadamente da morfina e dos derivados da morfina. têm alguma tendência para negligenciar a dor. A ideia, por
exemplo, de que se um doente foi operado à barriga, tem de sentir
Autilizaçãodacannabisnotratamentodadorcrónicaeem dor, não é verdade, sobretudo neste caso. A dor pós-operatória é
doençasterminaisjáfoidefendidapeloBlocodeEsquerda, eticamente mais reprovável que não seja tratada. Foi induzida pelo
queatéjáapresentouumprojecto-leiparapermitiroacesso próprio médico, já sabemos que vai acontecer e temos todos os
àsubstânciamediantereceitamédica,masseiquenãoé meios para a tratar. Uma das razões pelas quais não é eficazmente
nadaapologistadorecursoàcannabis.Porquê? combatida é porque não é visível. As pessoas não se queixam, já
Não, não sou nada apologista. Já há mais de cem anos que sabem que vão sentir dor... Paciência.
sabemos que os analgésicos mais eficazes são os opióides. São
medicamentos económicos, excepto aqueles que são apresentados Àsvezesatésequeixam,masosprofissionaisdesaúde
sob a forma de penso e que permitem uma libertação regular e minimizamodesabafo.
constante do medicamento. Mas em Portugal há ainda um mito à É isso que queremos combater. E a dor como 5º sinal vital vai
volta da morfina. A maior parte dos doentes não quer tomar permitir esse avanço. A partir de agora tem de se registar a
morfina e os médicos têm alguma reserva em prescrever, receiam intensidade da dor. Portanto, o enfermeiro tem de perguntar ao
que provoque adicção ou depressão do centro respiratório. A APED doente como está a sua dor. Ao ser questionado o doente vai
(A Associação Portuguesa para o Estudo da Dor) tem estado a consciencializar-se da dor e ao referi-la o enfermeiro ou o médico
desenvolver campanhas no sentido de tentar fazer com que esses não vão ficar indiferentes. Se não podem ser acusados de má
mitos desapareçam. Curiosamente, a comparticipação dos prática. Mas atenção, nós não queremos acabar com a dor.
opióides é mais baixa do que muitos anti-inflamatórios. O que é Existem expressões tipo Hospital sem dor, ou Portugal sem
um contra-senso. Em Portugal ainda temos pessoas que não dor. A dor é um mecanismo de alerta indispensável. É a base de
controlam a sua dor crónica eficazmente (nomeadamente muitos diagnósticos. Queremos é acabar com a dor desnecessária e
doentes terminais) que acabam por não tomar a medicação por mesmo quando não a podemos eliminar há técnicas para que a
razões económicas. É outra das nossas lutas. Queremos que os possamos controlar e tornar suportável ao doente.
opióides, que até agora são comparticipados a 40% (enquanto que
muitos analgésicos anti-inflamatórios são comparticipados a
70%) o passem a ser, pelo menos, a 70%, mas, no nosso entender,
para os doentes crónicos, oncológicos sobretudo, sejam a 100%.
HOSPITAL
O coração
o coração
A NTÓNIO BARBEDO
26 | 27 Na4ªConferênciaEuropeiadaDorqueserealizouemPraga seja, até que ponto é que é rentável para um hospital ter uma
foramapresentadasasRecomendaçõesdeAmsterdão. unidade de dor crónica?... São doentes que muitas vezes ficam
Trata-sedeumconjuntodeorientaçõespararegularizara agarrados ao seu hospital e ao seu médico porque a dor vai
utilizaçãoadequadadosmedicamentosparaumamelhor continuar a necessitar de ser assistida. Na Comissão de
qualidadedevida.Estasorientaçõespassampelacriaçãodos Acompanhamento do Plano Nacional de Luta Contra a Dor
CentrosdeControlodaDor,porumamaiordisponibilidade estamos a fazer uma revisão dos actos médicos que são praticados
demedicamentosepelodesenvolvimentodascapacidades nas unidades de dor. Há tabelas que são aprovadas nacional e
dosprofissionaisquecontrolamador.ComoéquePortugal internacionalmente para os vários actos médicos, das várias
seposicionaperanteestasrecomendaçõesdeAmsterdão? especialidades, e até agora havia apenas uma pequena referência à
Quanto aos Centros, estamos a trabalhar na implementação do dor crónica, no meio da anestesia. Estamos a fazer uma
Plano Nacional de Luta Contra a Dor para ter a tal cobertura a actualização desses actos médicos de tal maneira que, se calhar, vai
75% nos hospitais. Neste momento estamos na fase do inquérito. passar a ser rentável para os hospitais ter unidades de dor crónica.
Já sabemos que há mais unidades do que em 1999, mas ainda não
há dados completos. Estamos também a planear quais os hospitais Comoassim?
(de acordo com Carta Hospitalar Nacional) em que essas unidades É que depois será possível fornecer esses serviços a entidades
de dor poderão surgir e quais onde deverão evoluir. As unidades de exteriores, como por exemplo a companhias de seguros que têm
nível 1 devem ser implementadas nos hospitais distritais, as de nível doentes com dor crónica. Claro que, neste momento, temos um
2 (que são mais complexas) devem ser implantadas nos hospitais grande problema: há falta de médicos. A maior parte dos
centrais e as unidades de nível 3 (que ainda não existem cá) devem profissionais que trabalha em dor são anestesistas, há programas
ser implantadas nos hospitais universitários. de recuperação de listas de espera que só funcionam com
Em relação aos medicamentos, em Portugal existem todos os que anestesistas e a preocupação maior nem é com a rentabilidade das
estão disponíveis na Europa (excepto a cannabis que só está unidades de dor crónica, mas sim com os especialistas necessários
legalizada na Holanda). A questão prende-se com a comparti- para trabalharem nessas unidades. Em relação aos cuidados palia-
cipação. Em todos os países europeus os opióides são gratuitos, ou tivos, está em fase de acabamento um Plano Nacional de Cuidados
praticamente gratuitos, para os doentes crónicos. Esta é uma das Paliativos, à semelhança do que existe para a dor crónica.
nossas lutas. Em relação aos meios humanos, estamos a tratar da
formação e a tentar fazer com que as faculdades de medicina na
pré-graduação incluam a temática da dor. UM FENÓMENO BIOPSICOSOCIAL
Temosestadoafalardadormaisdopontodevistafísico,
OConselhodaEuropaaconselhacuidadospaliativoscomo, masoestadodeespíritododoentetambéminfluenciao
porexemplo,osqueexistemnaUnidadedeCuidados controlodador.
ContinuadosdoIPO.NoPlanoNacionaldeSaúdeháuma Seguramente e vice-versa. Uma pessoa que tenha um estado
referênciaàmelhoriadaqualidadedevidafísica,psíquicae depressivo sente a dor de uma maneira diferente de outra que não
moraldospacientescomdoençaincurávelemprogressãoou esteja na mesma situação, mas a dor crónica também induz à
emfaseterminal.Istonãoserámaisdoqueumapequena depressão. Depois há um ciclo vicioso que é preciso quebrar. Uma
declaraçãodeintenções,jáquetudodependedaboavontade das consequências da dor crónica são os problemas psicológicos,
dasadministraçõeshospitalares.Quandooshospitais desde a ansiedade, a insónia, a perda de apetite e poderá até levar,
passamaterumagestãoempresarial,comcritériosde nos casos mais extremos, ao suicídio. Por isso é que,
rentabilização,oscuidadospaliativosnãocorremoriscode internacionalmente, é aceite que a dor deve ser tratada segundo
seremsecundarizados? um modelo biopsicosocial. Tem uma componente biológica,
Antes de mais, convém explicar que os cuidados paliativos vão relacionada com os estímulos e com a sua percepção pelo cérebro,
muito para além do controlo da dor. Mas a questão que me uma componente psicológica, associada aos comportamentos face
colocou também se pode aplicar às unidades de dor crónica. Ou a essa dor, e uma componente social, que tem a ver com tudo
Uma roda de enigmas O poeta é um fingidor.
O sangue aflui por anéis ao pensamento, Que chega a fingir que é dor,
F ERNANDO PESSOA
E há a estaca desde o fundo.
JORGE MELÍCIAS
Portudoisso,adorpodeserencaradacomoumfenómeno
subjectivo?
Só eu sei a dor que tenho, mas há maneiras de a quantificar. Para
um indivíduo que quer a reforma, a dor é muito maior do que
para um indivíduo que quer continuar a trabalhar. Mas isso faz
parte da análise que deve ser feita segundo o modelo
biopsicosocial.
AIASPInternacionalAssociationoftheStudyofthePain
definedorcomoumaexperiênciaemocionalesensorial
geralmentedesagradável,associadaalesãotecidularrealou
potencial,oudescritaemtermosdessalesão.Concordacom
estadefinição?
Sim. A dor não é só física, mas também emocional. Está
normalmente associada a uma lesão, mas também pode não estar.
Uma das dores que está agora na moda é a fibriomialgia, onde
não se encontra uma lesão. As pessoas queixam-se, por exemplo,
de que lhes dói o músculo, como se tivessem alguma coisa a
apertá-los. Depois há outros casos que dependem do contexto
situacional em que se dá a dor. É sabido que um soldado que
perde um braço no campo de batalha, muitas vezes, só passado
algum tempo é que repara que tem uma lesão daquela gravidade.
É a chamada analgesia induzida pelo stress. Um ferimento de
guerra, numa fase em que o indivíduo tem de lutar pela sua
sobrevivência, é negado, numa outra fase em que signifique uma
ida para casa é hiper-valorizado. Há este componente emocional
associado à dor.
AIASPtambémdefendequeadoréinerenteàvida,como
ummalnecessário...
A dor é fundamental para a sobrevivência da espécie. Há uma
doença genética rara em que os indivíduos não têm sensibilidade
à dor. Podem ter todo o tipo de lesões, que não lhes dói. A dor
enquanto sinal de alarme é fundamental, enquanto indutora de
sofrimento e factor de enriquecimento da experiência humana,
recuso-me a aceitar.
A dor enquanto sinal de alarme
é fundamental
UPORTO SABER EM MOVIMENTO
Um património
a descobrir entre
luz e escuridão
Espécies raras
A espécie de Salamandra (Chioglossalusitanica), as dos fetos
TrichomanesspeciosumeCulcitamacrocarpa, o licopódio
Lycpodiellacernua, e a raridade de cada uma, foram motivo para
realização do projecto Conservação de Quatro Espécies Raras em
© BARRETO CALDAS
Ciência Animal (CECA)/ICETA que integra investigadores da área deixando as rochas a descoberto. Os agentes erosivos, como o
da genética animal, zoólogos e botânicos da Universidade do Porto. vento, chuva e variações de temperatura, deram origem a uma
Na região de Valongo já classificada como Sítio integrante da Rede superfície mais ou menos aplanada. Surgiu então, no início do
Natura 2000, rede europeia de conservação da natureza, ocorrem Ordovícico (há 490 milhões de anos) uma nova fase de avanço do
as únicas populações conhecidas em Portugal Continental tanto mar, em que se depositaram, numa situação de mar pouco
das duas espécies de fetos como a de licopódio, segundo os estudos profundo, seixos e areias, que mais tarde originaram
desenvolvidos. Aliás, os investigadores da Universidade do Porto conglomerados e quartzitos. O mar continua a avançar e, quando
elaboraram os estudos que basearam a integração na Rede Natura se atinge maior profundidade, os sedimentos depositados passam
2000. Neste Sítio ocorrem ainda as também raras plantas a ser mais finos, dando origem posteriormente às ardósias e outras
carnívoras Drosophylumlusitanicumlink e Droseraroundifolia
. . rochas xistentas ricas em fósseis. No período seguinte, no Silúrico
Quanto à fauna, a região possui alguns dos locais mais (cerca de 435 a 395 milhões de anos), o mar terá atingido maior
importantes em Portugal para a reprodução da Salamandra- profundidade, levando a deposição de sedimentos essencialmente
-lusitânica, restrita, em termos de distribuição, ao Noroeste da argilosos com alguns níveis arenosos, mais tarde que deram
Península e, em Portugal, às zonas montanhosas da parte Oeste origem a xistos negros e quartzitos. À medida que o mar recua
do Centro e Norte. novamente, depositam-se os últimos sedimentos em ambiente
marinho (há aproximadamente 375 milhões de anos deram
Um Parque muito visitado origem a arenitos e xistos, durante o Devónico). A zona fica a
Conduzido por Helena Couto, professora do Departamento de descoberto do mar. As forças que actuam no interior da terra
Geologia da Faculdade de Ciências da Universidade do Porto, o (tectónica) originaram uma grande dobra com elevação dos
entusiasmante recuo de milhões de anos ao longo do tempo sedimentos depositados até então, de quilómetros de extensão
geológico, escala temporal que o homem consegue conceber designada Anticlinal de Valongo. Posteriores movimentos da
recorrendo à abstracção e à dedução baseada em métodos crusta (Orogenia Alpina que deu também origem aos Alpes)
científicos, permite a pouco e pouco compreender a origem das provocaram novas fracturas e movimento de fracturas existentes.
serras de Santa Justa e Pias e das estruturas que se vão A acção dos agentes erosivos foi mais evidente a seguir e tiveram
descobrindo. Surgem sinais por entre a vegetação, dominada por efeito diferenciado consoante a dureza das rochas. Por isso,
eucalipto plantado ao longo das últimas décadas, ou visíveis numa aproveitando a fragilidade de falhas que existiam ao longo do
descida aos fojos, que o geólogo sabe interpretar. Anticlinal de Valongo, começou a gravar-se o vale do rio Ferreira.
A viagem no tempo situar-se-á entre os 570 e os 225 milhões de O que era inicialmente uma elevação, transformou-se num vale.
anos, correspondente ao que geologicamente se designa por Os restícios da antiga dobra ainda hoje são visíveis nas cristas
Paleozóico (era geológica). O Projecto iniciado em 1994, com quartzíticas no topo das serras de Santa Justa e Pias.
colaboração da Câmara Municipal Valongo, na sequência da tese
de doutoramento de Helena Couto sobre a zona, designou-se, por
isso, Parque Paleozóico de Valongo, no âmbito do qual têm
decorrido, desde 1999, visitas guiadas a pedido de escolas e grupos
de interessados. Em 2002, contabilizaram-se 40 visitas e, até
Novembro de 2003, registaram-se 50.
Uma história com mais de 500 milhões de anos
Há 570 milhões de anos, o mar cobria a actual região de Valongo.
Lentamente, foram-se depositando sedimentos que formam o
chamado Complexo Xisto-Grauváquico, constituído por xistos,
grauvaques, quartzitos e conglomerados. Na transição para o
Ordovícico (há cerca de 500 milhões de anos), o mar foi recuando,
UPORTO SABER EM MOVIMENTO
30 | 31 Rumo à classificação
A vaga de plantação de eucalipto, ao longo das últimas décadas,
que cobriu as serras de Santa Justa e Pias tem vindo a ameaçar este
património de grande interesse geológico e também ao nível da
fauna e flora. São, sobretudo, a fauna e flora os patrimónios mais
afectados. No entanto, os valores ainda existentes continuam a
merecer atenção da comunidade científica. O vale do rio Ferreira,
por exemplo, manteve-se relativamente preservado da investida
dos eucaliptos e conserva alguma da vegetação característica nas
margens, como amieiros e carvalhos entre outras espécies, e a sua
tradicional actividade agrícola. Ao longo do vale do rio Ferreira,
destacam-se as estruturas em pedra de antigos moinhos de água e a
aldeia de Couce onde vivem cerca de 20 pessoas.
Têm surgido algumas iniciativas conducentes à atribuição do
estatuto de protecção à zona, para além de inscrito na Rede
Natura 2000. O Instituto de Conservação da Natureza ficou
encarregue, pelo Conselho de Ministros de 31 de Julho de 2003,
de prestar colaboração na instrução do processo de classificação,
atribuindo estatuto de protecção, das Serras de Santa Justa, Pias,
Castiçal, Boneca e Banjas. Recentemente, foram também
discutidas duas propostas partidárias para classificação da zona.
Resta esperar que o processo siga o curso normal e saber em que
moldes se fará a gestão desta futura área protegida.
>
UPORTO PERFIL
O homem, o espírito
e o sonho sob a vigília
da razão
32 | 33 Acolheu-noscomalinearidadeprópriadosgestoscontidos. OavôacaboudepoispormontaroslaboratóriosBialemais
Maisfamiliaresàdiscriçãoqueadoptoucomoformadevida tarde,comaajudadeumquímicofarmacêuticopolaco,criou
doqueàracionalidadedoespírito,atéporqueaherança umxaropeanti-tússico-oBenzodiacol(hojedenominado
genéticaéequilibradaeaexperiênciavivencialnãoo Diacol)quefoilíderdomercado.Éverdadequecontinha
permitiria.Oentusiasmocomqueenvolveosdiasandados vinhodoPorto?
foitornandocadavezmaisgenerosaageometriagestual.Diz (Risos). Não, embora tivesse essa tradição. Para tentar popularizar
queaindahojenãosesenteempresárioe,noentanto,construiu o xarope, o meu avô decidiu fazer umas embalagens especiais que
umimpérionoramodaindústriafarmacêutica.Ogrupo continham uma percentagem de álcool e que distribuiu
Bialéaempresaportuguesalíderdomercado.Temdois gratuitamente aos estudantes do Porto e de Coimbra na altura da
CentrosdeInvestigaçãoeDesenvolvimento(naTrofa-onde Queima das Fitas. Naquela época, as pessoas habituaram-se a ver
funcionaasede-eemBilbau)ecolocaprodutosemcercade os estudantes a beber aquelas garrafinhas (que continham Vinho
20países.AFundaçãoBial(instituiçãosemfinslucrativos) do Porto) e, em alguns casos, a chegarem, em não muito bom
atribuiumdosprémiosdemaiorrelevânciaaníveleuropeu estado, às urgências do Hospital Sto. António. Mas foi só essa
naáreadasaúde(oPrémioBial,queem10ediçõesjádistin- colheita especial.
guiu143investigadoresepremiou66obras)easBolsasde
InvestigaçãoCientíficaparaprojectosmédico-científicosna Depoiscoubeaopai,AntónioPortela,continuaronegócioe
áreadapsicofisiologiaeparapsicologia.Aolongodas surgeoprimeiroesboçodeumesforçode
últimascincoediçõesapoiou146projectosdemaisde400 internacionalizaçãocomacompradeequipamentoe
investigadoresde15países.Foigalardoadarecentemente maquinariamaisavançada.
comoPrémioCorinodeAndrade,quevisahomenagear O meu pai, infelizmente, só liderou a empresa por um período de
personalidadesnãomédicasouinstituiçõesquesetenham dez anos. Foi um período de racionalização. O meu avô era um
notabilizadopelaprestaçãodeserviçosrelevantesàmedicina. homem de alguns desvarios, era muito emotivo, tanto ganhava
ÉapartemaisvisíveldaobradeLuísPortela.Aos27anos muito dinheiro como gastava muito dinheiro. Fazia algumas
abdicoudacarreiraclínicaeuniversitáriaparasededicarà loucuras na época...
empresaquenasceucomoavô.Acreditanacomunhãode
seresparamovercoisasbonitas.Éoquegostadefazer. ComoterumCadillacamarelo...
(Risos). Um Cadillac amarelo, descapotável, com o qual se
passeava, durante os anos 30 e 40, pelas ruas da cidade do Porto.
Ainda hoje, eu nem teria coragem de entrar num carro desses...
FalardosprimórdiosdoGrupoBialéfalardoavô,Álvaro Tinha assim uns desvarios. O meu pai não. Era um homem mais
Portela,quecomeçouportrabalharnaFarmáciadoPadrão, racional. No tempo do meu avô a empresa chegou a ter mais de
noPorto,afarmáciadosr.Almeida...éahistóriadosdoisal... trezentos funcionários. Depois passou para menos de duzentos.
Parece-me que o meu avô era um rapaz de muita iniciativa e com Foi o tempo de compra de equipamento e a primeira tentativa de
vocação para o negócio. Naquela época, os medicamentos eram exportação para o continente africano.
preparados nas farmácias e as pessoas que passavam de madrugada
no Largo do Padrão (os ardinas, as padeiras, as lavradeira, etc) não
podiam deixar as receitas porque a farmácia estava fechada. Só o
poderiam fazer no final do dia, ou seja, o doente tinha acesso ao
medicamento entre 24 a 48 horas depois de ser prescrito. Ora, o
meu avô lembrou-se de entreabrir a porta da farmácia a partir das
5 e meia da manhã para poder aceder a todo o receitoário. Como
as outras farmácias estavam fechadas àquela hora fez um negócio
extraordinário. A partir daí robusteceu-se a relação entre os dois.
Eu cresci a desejar ser médico, investigar
e leccionar. Nunca me vi como
empresário. Lidar com dinheiro era uma
coisa que até me atrapalhava.
EntretantooLuísPortelacompletouocursodemedicinae criado. Se tenho peixe, como peixe, se tenho carne como carne,
interessou-sepelainvestigaçãoaníveluniversitário.Deu mas se tiver só batatas ou só arroz é o que está na mesa e é com
aulasdePsicofisiologianaUP(6anos);dedicou-seàprática isso que me satisfaço. Fui assim educado. As pessoas às vezes
clínicanoHospitaldeS.João(3anos);recebeuumconvite perguntam-me se eu sofria quando estava dividido, mas,
parafazerodoutoramentoemCambridge,oqueseriaa verdadeiramente, eu não sofria. Pensava que deveria haver tanta
concretizaçãodeumsonho,masemvezdissoresolve gente que não deveria ter solução nenhuma na sua vida, que
dedicar-seàgestãodaempresafamiliar.Comoéqueum passava fome, sem soluções profissionais. Eu tinha duas bonitas
jovemde27anos,curiosoquantoaosproblemasexistenciais, soluções pela frente. Não foi com sofrimento.
optapelagestão?
Eu cresci a desejar ser médico, investigar e leccionar. Nunca me vi
como empresário. Lidar com dinheiro era uma coisa que até me QUALIDADE E INOVAÇÃO
atrapalhava. Gostava de estar com os meus doentes e fazer alguma Qual foi a estratégia para fazer rejuvenescer a empresa?
investigação, principalmente em determinadas áreas que Ao longo dos anos procurei conquistar para o projecto uma série
dissessem respeito ao sistema nervoso central, à psicofisiologia e à de bons profissionais. Quer a nível nacional, quer internacional.
parapsicologia. Como não me sentia muito vocacionado para o Se me perguntar como... Não sei. Acho que os que vão aderindo
negócio tentei vender a quota que tinha, mas nos anos 70, depois ao projecto reforçam a auto-confiança dos que cá estão... e dos
da revolução, era complicado. que estão de fora, e assim fomos conquistando as pessoas e
constituindo uma equipa. Mas também teve significado a
Comofoiaexperiênciaanívelacadémico? confiança que essa jovem equipa veio a transmitir às empresas
Tive uma vida académica pobre (com algum desgosto nisso). multinacionais que nos licenciaram. A estratégia que definimos
Convivi pouco com os colegas porque trabalhava e estudava ao foi de uma grande aposta na qualidade e na inovação. Entendo
mesmo tempo. Os anos 70 foram muito complicados para mim, que na saúde, e para servir bem, isto é imprescindível. Como não
de algum sacrifício pessoal. Deixei de acompanhar os amigos, não tínhamos um departamento de investigação e desenvolvimento,
tinha vida académica. Isso foi uma coisa que me marcou, mas fiz apostamos numa relação privilegiada com algumas empresas
grandes amigos na faculdade, assim como durante a prática multinacionaias que nos pudessem ceder alguns bons produtos
clínica. Criei uma relação muito bonita com as pessoas com quem para apresentarmos no mercado português. Eu assumi a liderança
trabalhei e que se mantém até aos dias de hoje. Nessa época, eu da empresa aos 27 anos e os jovens que eu ia convidar a Lisboa, a
vivia bastante dividido entre o que eram os interesses da empresa Coimbra e ao estrangeiro, enfim, pouco mais velhos eram. Como
e o meu percurso profissional. Entretanto, a Faculdade conseguiu- é que estes jovens conquistaram a confiança de empresas
-me uma bolsa para fazer o doutoramento em Cambridge. Era a multinacionais como a Glaxo, como a Bayer que nos foram
concretização de um sonho! Mas eu vivia confrontado com a licenciando os produtos para apresentarmos cá? Sobretudo os
situação de que ninguém comprava a minha quota. Nem os sócios primeiros? Como é que isto se explica... Talvez com o entusiasmo
da empresa (risos), nem outras empresas, nem multinacionais, e a paixão com que guiamos o projecto.
ninguém mostrava interesse. Costumo dizer que fiz por Bial
aquilo que não faria por nenhuma outra empresa. Nem hoje me Agorapedia-lheumaespéciedediagnósticodotecido
sinto, realmente, um empresário. Deixei a minha carreira industrialportuguês.Oqueestámal,oquefaltafazer...O
académica e o hospital apenas porque sentia muito orgulho no desenvolvimentoeconómicopoderáounãopassarporuma
trabalho do meu avô e do meu pai. maiorligaçãoentreasuniversidadeseasempresas;como
fortalecerestarelação,enfim,sugestões.
...Osanguefaloumaisaltoqueosonho? Não sou analista, nem economista, portanto acho que não me
É verdade. Sabe, eu acho que não devemos ser muito exigentes. A cabe apontar o que está mal. Mas tenho muito gosto em dizer
vida é muito bonita quando sabemos ver as pequeninas coisas que aquilo que acho que deve ser a via do desenvolvimento industrial:
nos rodeiam. Quando nos adaptamos às situações. Eu fui assim qualidade e inovação. O que adoptámos há vinte anos. Com
UPORTO PERFIL
34 | 35 problemas, com dificuldades, mas fomos superando as situações Investigação e Desenvolvimento (na Trofa e em Bilbau). No Porto
com um desenvolvimento, de facto, industrial. Hoje estamos a trabalhamos o sistema nervoso central e a área cardiovascular. Em
fazer investigação, a procurar servir os interesses da saúde com Bilbau alergologia. Estes profissionais trabalharam arduamente ao
novas soluções terapêuticas apropriadas às patologias que ainda se longo dos anos. Sintetizámos mais de 3.500 novas moléculas,
mantêm. Isto é, na minha perspectiva, fazer indústria. Não é 3.500 novos medicamentos. A verdade é que quase todas foram
copiar o que os outros fazem, não é embalar nem comercializar para o balde do lixo. É o tal risco. Damo-nos por muito satisfeitos
produtos, é procurar novas soluções para oferecer ao mercado. porque neste momento, 6 dessas novas moléculas, estão paten-
Penso que em Portugal tem faltado iniciativa nesse sentido. As teadas a nível mundial. Pensamos ter, dentro de três anos, o
pessoas acomodam-se a comercializar, apostam no benefício mais primeiro desses produtos, um antipiléptico. A nossa equipa é
rápido e não assumem o risco de investir a longo prazo. Na última constituída por pessoas de várias nacionalidades e o projecto tem
década o país apostou muito em formar, em doutorar. Temos nos sido desenvolvido em diversos países, portanto é um projecto
Estados Unidos e na Grã Bretanha algumas centenas de internacional, mas de origem portuguesa. Está na fase III, de
doutorados. Alguns dos nossos melhores jovens estão lá e querem ensaio clínico, a nível humano. Depois será comercializado em
regressar. Quando as empresas desenvolverem projectos na área da todo o mundo. Esta é a nossa aposta de futuro. Atingindo esse
investigação e desenvolvimento que permita a inovação, têm aí nível iremos, concerteza, assumir outra dimensão no contexto
muita gente que pode desenvolver os seus interesses, assim como internacional. O outro projecto, o anti-parkinsoniano, está a
nas nossas universidades, onde existem pessoas muito capazes. iniciar a fase II. Este ano investimos 10 milhões de euros na
investigação.
Então,afinal,oquefaltaparaefectivaressaponteentreas
universidadeseasempresas?
Nada. Não é preciso mais nada. Existe tudo. Existem as cabeças, UMA POSTURA DE SERVIÇO PÚBLICO
existe o know how científico e tecnológico por um lado e de Ointeressequefoidesenvolvendopelosmistériosdamente,
quem comercializa por outro. Desde que as pessoas se foisempreacompanhadopelanecessidadedeencontraruma
disponibilizem para dialogar... Construam essa ponte! No nosso justificaçãocientíficaparaosmesmos,éassimquesurgea
caso, por exemplo, temos uma relação muito boa com algumas FundaçãoBial(em1994)?
instituições, com as quais já estabelecemos contratos, Os primeiros passos da Fundação Bial, na realidade, foram dados
nomeadamente o Instituto de Farmacologia da Faculdade de em 1984 com o lançamento do Prémio Bial. Entendo que
Medicina da Universidade do Porto, o Centro de Neurociência da quando as empresas assumem uma certa dimensão, não basta
Universidade de Coimbra e o IBET de Oeiras. Os portugueses não comercializarem bem. Há uma postura de serviço perante a
são mais nem menos do que os espanhois, os suíços, os belgas, ou comunidade que, na minha opinião, se deve alargar à intervenção
os dinamarqueses e em todos estes países há inovação. Essa é a via. em áreas sociais que o poder político não foca muito. Portanto, é
bom que certas instituições possam ajudar ao desenvolvimento
ParaopróximoanooBialvaicomemorar80anosde nestas áreas. O Prémio Bial visa premiar aqueles que mais se
existência...oquetemprevistoparaassinalaroeventoe,já distinguem na área da saúde, tanto em Portugal como no
agora,comovaiserofuturodogrupoBial? estrangeiro. Percebi desde muito jovem que há profissionais
Assinalar o evento... vai ser de uma forma muito discreta. (risos). extraordinários na saúde e percebi também que publicar qualquer
Cá em casa gostamos de trabalhar. O prazer da vida também se coisa é muito difícil. Por isso, quisemos, por um lado, trazer
pode encontrar no trabalho. A fazer e a descobrir pequenas coisas notoriedade aos melhores, premiá-los pecuniariamente e depois
bonitas. Às vezes, as pessoas chegam aqui e acham que existe um editar e distribuir gratuitamente as obras à classe médica. As coisas
ambiente muito sereno. Ninguém anda a correr. Eu vivo com correram bem, mas os profissionais mais jovens começaram a
prazer essa atmosfera de aparente serenidade, mas com gente que queixar-se de falta de apoio. Daí que em 1994 tenhamos criado
produz e que faz com que as coisas aconteçam. Quanto ao futuro, um pacote de bolsas de investigação para apoiar os mais jovens na
a nossa grande aposta é na investigação. Temos dois Centros de sua trajectória na área da inovação. Depois pensamos que, para
gerir as bolsas, seria melhor criar uma entidade independente que
fizesse essa gestão autonomamente. Como a relação com as
faculdades de medicina é muito boa resolvemos lançar ao
Conselho de Reitores das Universidades Portuguesas o desafio de
constituir connosco uma Fundação. Assumimos a
responsabilidade financeira e o Conselho de Reitores assumiu a
responsabilidade científica do projecto.
Equantoàsáreasdeconhecimento...
No decorrer do diálogo com o Conselho de Reitores chegou-se à
conclusão que o sistema nervoso central era uma óptima área a
desenvolver. Não era muito dispendioso, havia uma grande
capacidade de produção (porque há ainda muito por desbravar) e
há também portugueses notáveis nestas áreas (desde o prof.
António Damásio, o prof. Alexandre Castro Caldas, o prof. João
Lobo Antunes, entre outros) que poderiam ajudar os mais jovens.
Surgiu então a aposta na psicofisiologia e na parapsicologia.
Também acho que houve aqui uma atitude muito bonita por parte
do Conselho de Reitores ao acarinharem áreas que eram do meu
interesse, o que muito me sensibilizou, já que, por exemplo, a
parapsicologia era algo discutida no contexto científico... É com
satisfação que olho para trás e vejo que sob o rigor do método
científico e sob o controlo dos representantes do Conselho de
Reitores foi possível apoiar uma série de trabalhos úteis à
Humanidade.
A INVESTIGAÇÃO
SOB O PONTO DE VISTA FÍSICO E ESPIRITUAL
Deresto,sãotemasqueocativamdesdemuitojovem...
Lembro-me de ter 12, 13 anos e procurar literatura nestas áreas.
Sempre me inquietaram os mistérios, os milagres e os fenómenos
ainda não explicados. Sempre me inquietaram, no sentido em
que o Homem não encontra explicação enquanto não estuda a
fundo. Pode demorar muito tempo, mas lá encontrará a solução.
Normalmente as pessoas dividiam-se em dois grupos mais
radicais: uns que diziam que era tudo fantasia, outros que diziam
que era milagre... O grupo com bom senso queria analisar a
situação, ver o que é verdade e o que é mentira. Separar o trigo do
joio. Mas pouca gente apostou nisto.
UPORTO PERFIL
36 | 37 AFundaçãoBialtemporobjectivoincentivarainvestigação Eoauto-conhecimentopoderiaserbemmaisprofundoao
centradanoHomem,tantodopontodevistafísicocomo abrangeressesfenómenos....
espiritual,noâmbitodaparapsicologiaedapsicofisiologia... A pergunta já contém a resposta. Acho que o Homem tem ainda
Éumobjectivomuitoambicioso.... muito a conhecer, a nível neuronal, mas se calhar muito mais a
Não nos propomos descobrir nada. Apenas queremos ser o nível espiritual. Para poder fazer crescer as coisas bonitas que
catalisador, apoiar quem quiser fazer. Fazer é muito difícil, apoiar estão à sua volta.
já não será tanto.
OPresidentedoBPI,ArturSantosSilvaconsidera-oum
OneurocirurgiãoJoãoLoboAntunesacreditaqueoLuís príncipenomodocomorespondeàsobrigaçõesquetodos
Portelaserealizaatravésdasobrasdosoutros.A deveremosternoquerespeitaàcriaçãodeumasociedade
investigaçãonaáreadapsicofisiologiafoiumprojectoque melhor.
tevedeabandonarquandooptoupelagestãodaempresa Consideraqueestáacumpriroseudestinocomohomem,
familiar....AFundaçãoBialsurge,precisamente,para enquantoserespiritual.
promoverodesenvolvimentodainvestigaçãonestaárea,ou São palavras de um amigo querido. A amizade, às vezes, prega-nos
seja,éumaformadecumprirumsonhoantigo,atravésdo destas partidas. No que diz respeito à segunda parte da questão...
apoioaprojectosdeoutros? (pausa) Penso que nos resta uma consolação que é, a cada dia que
passa podermos contactar com as pessoas, depararmo-nos com
Foi uma promessa que fiz a mim próprio. Se conseguisse alguns situações, e chegar à conclusão que fizemos o que de bom e de
meios materiais, tentaria apoiar aqueles que quisessem bonito poderíamos ter feito. Mas, francamente, não sei se estou a
desenvolver trabalhos científicos nesta área. Partindo do princípio cumprir tudo aquilo que me caberia cumprir.
que um indivíduo só pouco significado pode obter, se houver
várias pessoas a trabalhar no mesmo sentido, concerteza que os Achaquepoderáconsiderar-seàjaneladavida?
resultados poderão ser melhores. O sonho era esse. Já que tive de o (pausa). Faço um esforço por estar atento, nas diversas situações.
abandonar, talvez pudesse vir a retomá-lo mais tarde, de outra Ter, por exemplo, a oportunidade de cheirar a terra no interior de
forma. É verdade o que está a dizer, na medida em que não África, ou de conhecer o funcionamento da sociedade chinesa
acredito muito na obra pessoal. Acho que as coisas bonitas se que alguns dizem terceiro-mundista. Dá-me muito prazer estar
movem através de um conjunto de seres. São áreas muito difíceis. atento às pessoas e à natureza em geral.
Há muita gente a investir aqui o seu talento, a sua energia para Se o faço bem ou não, não é a mim que cabe dizer. Mas faço um
que possam surgir resultados. esforço por estar à janela da vida.
Háalgumaconvicçãodefundoqueomova?
(risos). É uma questão um pouco delicada. Eu não me considero
um homem religioso. Não alinho com nenhuma religião, não
participo em actos religiosos, no entanto, tenho a convicção
firme de que o nosso corpo físico é apenas o fato que vestimos
durante algumas dezenas de anos para passarmos pelo planeta
terra. É a minha sensibilidade, não são coisas demonstradas.
Parece-me que existe um conjunto de fenómenos, de situações e
de energias que são ignoradas pelo ser humano, porque este se
manteve de costas voltadas para essa realidade.
Breve biografia
Nasceu no Porto em 1951. Licenciou-se
em Medicina pela UP. Exerceu actividade
clínica no Hospital de S. João durante três
anos e foi docente da UP durante seis
anos, onde leccionou a cadeira de
Psicofisiologia.
Aos 27 anos assumiu a presidência dos
Laboratórios Bial, cargo que mantém.
É ainda administrador da Fundação de
Serralves e membro do Senado da UP.
Aos 40 anos foi condecorado pelo
Presidente da República como
Comendador da Ordem do Mérito.
Dez anos depois é-lhe atribuída a Grã
Cruz da Ordem do Mérito. É professor
Honorário da Faculdade de Medicina de
Cádis (Espanha) e foi distinguido (em
1998) com o Prémio de Neurociências
da Louisiana State University (E.U.A).
Tem publicado artigos de opinião no
Jornal de Notícias e na revista A Razão.
Entre 1994 e 2001 as Edições ASA
compilaram os artigos em quatro
colectâneas: Para Além da Evolução
Tecnológica; À Janela da Vida;
Esvoaçando e Serenamente.
UPORTO IDENTIDADES
Trastes
com história
38 | 39 Relação dos trastes ainda necessários para para criar o selo original da Academia.
esta Academia Real da Marinha Vieira Portuense era então director da
e Comércio da Cidade do Porto. Este é o Aula de Desenho, José Teixeira Barreto
título de um manuscrito encontrado entre lente e Raimundo Joaquim da Costa o
os documentos da Academia. Alguns lente substituto. Referências explícitas à
destes trastes são de proveniência aprovação oficial do selo não foram
nacional, mas nem todos. Outros tiveram encontradas, mas existe um documento
de ser importados, nomeadamente para datado de 1804 que referencia algum
cumprir o disposto no número XXXIII Emblemaapropriadooqualhádeservir
dos Estatutos da Academia: Olentedo paraChancelarascartasdosGuardaseas
primeiroannoMathematicoexercitaráos cartasdosEstudantesquedaquisahirem
Discipulosnapraxedasdoutrinasquelhes comoseucursocompleto. Pelo menos os
dicta,mostrando-lhessobreosterrenoso que saíram em 1809 já tinham direito à
usopráticodaGeometria,aTrigono- divisa, isto porque foram encontrados
metria,eemconsequênciacomoseusaos diplomas de prémios deste ano
Grafometros,Planxetaseoutros autenticados com as assinaturas dos lentes
instrumentos. A lista seguiu em Agosto de e respectivo selo.
1804 para os Agentes londrinos da Junta
Administrativa da Companhia Geral da Parte deste espólio (juntamente com
Agricultura das Vinhas do Alto Douro. A livros, mapas, cartas náuticas, bustos e
relação de instrumentos incluía ainda um retratos) esteve em exposição até 15
teodolito, uma esfera armilar, um globo de Dezembro último na Faculdade de
terrestre, três telescópios acromáticos, um Ciências da Universidade do Porto. Serviu,
pantómetro, um quadrante, oitantes, entre outros eventos, para assinalar o
sextantes, acromáticos, etc. Em Abril de segundo centenário da primeira aula da
1805 chegaram os primeiros instrumentos, Academia Real da Marinha e Comércio.
mas foi preciso esperar até 1829 para
receber, por exemplo, a esfera armilar, da
casa CARY e os dois globos (terrestre e COMPASSO METÁLICO (LATÃO), DE PONTAS
CURVAS, DOLLOND (LONDRES)
celeste) fabricados por JOHN ADDISON (FEUP)
& Co. Parte da responsabilidade por este TEODOLITO DE CÍRCULO VERTICAL
atraso recai na insistência da Junta no uso COMPLETO, MARCA TROUGHTON & SIMMS
(LONDRES), COM TRÊS NÓNIOS
da língua francesa. Na carta para os (NATUREZA 10´´) E LUPAS
(...)comonessepaiz
Agentes pode ler-se: (FEUP)
Estórias da Universidade
A temperatura do gelo
40 | 41 Houve outrora um fero lente de Medicina que deu pelo nome de ali, prescrevendo além, receitando acolá
A dado momento,
Alfredo Rocha Pereira, Mestre de ClínicaMédica num dado dia
, chega junto de um doente com um saco de gelo aplicado no
da semana, após a aula teórica, encenava o cerimonial da visita à abdómen; palpando o saco, acha que o gelo não está à
enfermaria do serviço médico que dirigia e aí majestosamente temperatura desejável; e de imediato vocifera:
entrava, seguido dos assistentes e alunos da cadeira. - Ó Sr. Enfermeira, este gelo está quente!
Em certa ocasião, pelos alvores da década de 50, integrava o De imediato se faz ouvir a voz de Pereira Viana:
elenco de assistentes o Dr. Manuel Pereira Viana mais tarde - Peço perdão, Sr. Professor, mas se está quente não é gelo!...
um distinto lente da MedicinaInterna pessoa de acutilante Rezam as crónicas que Pereira Viana terá optado por se
inteligência, humor cáustico e resposta pronta; sendo pouco doutorar só após a jubilação de Rocha Pereira
Etpourcause
falador, qualquer comentário seu ostentava sempre a marca da
plenaoportunidade. Num dia de visita, Rocha Pereira lá foi ARMANDO LUÍS CARVALHO HOMEM (HISTÓRIA, 1968)
>> A UPorto aguarda o contributo de actuais ou antigos alunos, docentes ou funcionários da UP, em cerca de 2.500 caracteres
(incluindo espaços), ou sensivelmente página e meia de texto manuscrito para cada estória, através do e-mail jcorreia@reit.up.pt
ou da morada: UPorto-Estórias, Gabinete de Imagem e Relações Públicas da Universidade do Porto, Rua D. Manuel II, 4050-345 Porto.
PUB
>
UPORTO A SABER
Um olhar
CARLOS TÊ
(FILOSOFIA, 1981)
sobre a praxe
44 | 45 Houve em tempos, entre os chapeiros e os mecânicos, a praxe de Nos meus tempos da faculdade de letras, nos anos oitenta, nunca
receber os aprendizes que eram admitidos nas oficinas de me apercebi dum espírito desses. Não que houvesse uma
automóveis com uma revista. Pretendia ser um ritual iniciático, atmosfera de inquietude, de discussão, de especulação, de procura
um modo de receber quem chegava à corporação. A revista era dessealgomais que devia estar subjacente ao espírito
um acto cruel: o aprendiz era agarrado à força pelos mais velhos e universitário, mas não imaginava que, no início do século XXI, a
as suas partes genitais eram devassadas e ungidas com óleos coisa andaria no patamar da mera ostentação do traje negro, da
lubrificantes queimados e massas consistentes. A submissão fita colorida, da insígnia, da bênção das pastas pelo Bispo.
violenta aos oficiais do ramo demarcava as balizas hierárquicas e, Não há, na Queima, o mais pequeno vislumbre de imaginação.
ao mesmo tempo, fazia as honras da casa. Os óleos queimados Parece uma mera celebração do ser estudante, como se ser
simbolizavam um futuro duro e ferruginoso, a proverbial rudeza estudante aparente ser uma grande coisa. Como se andar de capa
da classe operária. Os aprendizes ficavam a saber que, se quisessem e batina aparente ser mais do que andar de fato-macaco. A pulsão
singrar na arte, tinham de passar o exame sem desalento nem que está por baixo é pior. A «Queima», não raro, decorre entre o
choraminguice. Só aturando as venetas dos oficiais estariam à espírito de claque de clube de futebol e o de festa de despedida de
altura de receber os segredos do ofício. Tratava-se de passar de solteiro. Uns excessos, uns copos, umas cartolas, umas bengalas, e
rapaz a homem, perceber a tradição para a poder perpetuar. lá vai a exaltação universitária, desmandos derradeiros de
Entretanto, os chapeiros civilizaram-se. Urbanizaram-se nos juventude antes do abraço à vida séria. Não esperava que os
centros comerciais, embarcaram na nave global da comunicação, estudantes passassem o período da «Queima» em bisonhos
adquiriram telemóveis, ligaram-se à Web, compraram roupa de colóquios e mesas-redondas a discutir matérias nobres, mas
marca, passaram a ir a cursos de reciclagem sobre o podiam ao menos tentar demonstrar que são capazes de ser
comportamento dos novos materiais e sobre as novas técnicas de notícia pela sua capacidade de invenção e intervenção, e não pelo
desentortar guarda-lamas. A praxe caiu na pura obsolescência. A mero folclore dum desfile ou pela simples algazarra.
classe operária subiu um degrau na pirâmide. A praxe, na sua face mais torpe, chegou já à academia da polícia.
Paradoxalmente, os estudantes universitários entraram num Quem precisa destes ritos de passagem?
processo regressivo e abraçaram a praxe. Entretanto, no remanso das oficinas, os mestres seguem nos
Todos os anos, a imaginação dos veteranos fica mais fértil. telejornais, com espanto, as notícias dos excessos dos futuros
Recebem os caloiros proclamando uma hierarquia com base no doutores que um dia lhes entregarão os carros para a revisão, já
respeitinho, na salvaguarda duma suposta tradição. Muitos devidamente circunspectos e ostentando a respeitabilidade do seu
docentes acham a praxe sadia, desde que dentro dos limites do munus, mas com a alma ainda curtida pelas saudosas farras
decoro, mas lavam as mãos do estabelecimento dos limites do académicas, onde beberam o espírito universitário e disseram
decoro. Decoro é uma palavra de ressonâncias moralistas. adeus à inesquecível mocidade.
Ninguém gasta o precioso tempo duma carreira a explicar-lhes
que o espírito universitário devia ser um espírito elevado,
indagador, eivado de rebeldia intelectual, e não o garante duma
tradição assente no primado da obediência ao mais forte.
A tradição dos grandes pensadores que lutaram contra a lei da
selva dilui-se na tradição do «respeitinho é muito lindo». A
Universidade enquanto última fronteira do saber, vanguarda do
pensamento, cede lugar à retaguarda do conformismo político e
social. A tradição académica é o efe-erre-á, alfobre de juventudes
partidárias instruídas na subserviência e na disciplina ao partido
em troca da futura sinecura. O que parece latejar sob os
corredores da Universidade é o espírito da caserna e não o espírito
livre alimentado pela curiosidade intelectual.
UPORTO AGENDA
46 | 47 acções concretas capazes de definir um projecto de espécies (equações de Lotka-Volterra). Programa final do congresso: Junho 2004
mobilizador para o Porto, Cidade, Região. O encontro contará com um grande número ORGANIZAÇÃO: CIIMAR
TEMAS EM DEBATE: de cientistas activos na área, cobrindo INFORMAÇÕES:
. Metrópole, Instituições, Lideranças assuntos com um espectro bastante alargado, Rua dos Bragas, 177
. Conhecimento, Investigação, Valorização desde aspectos fundamentais a aplicações, 4050-123 PORTO-PORTUGAL
. Economia, Sociedade para uma audiência vasta de estudantes de T. (+351) 22 340 18 00 / 37
. Saúde, Ambiente, Qualidade de vida doutoramento e cientistas interessados na área F. (+351) 22 339 06 08
. Educação, Cultura, Património e suas aplicações. É de destacar a participação limnol2004@cimar.org
. Território, Transportes de J.-C. Yoccoz (medalha Fileds em 1994) e
O programa final do Encontro será divulgado Jacob Palis (presidente da União Matemática 25 A 29 DE AGOSTO
no final do mês de Dezembro. Internacional entre entre 1999 e 2002). REGIONS AND FISCAL FEDERALISM
COMISSÃO ORGANIZADORA: ORGANIZAÇÃO: 44 th European Congress of the
José Novais Barbosa José Ferreira Alves (Universidade do Porto, European Regional Science Association
José Marques dos Santos Portugal) jfalves@fc.up.pt Faculdade de Economia da Universidade
Francisco Ribeiro da Silva Marcelo Viana (IMPA, Brazil) viana@impa.br do Porto
Paulo Pinho MAIS INFORMAÇÕES: Prazo para submissão de resumos:
Mário Rui Silva Dept. de Matemática Pura 16 de Janeiro de 2004
António Teixeira Marques Rua do Campo Alegre Notificação da aceitação de resumos:
Henrique de Barros T. 220100707 + F. 220100708 27 de Fevereiro
Carlos Guimarães matpura@fc.up.pt ORGANIZAÇÃO:
SECRETARIADO: APDR (Associação Portuguesa para o Desen-
Reitoria da Universidade do Porto 5 A 8 DE MAIO volvimento Regional) e Faculdade
Rua D. Manuel II 9th BIENNIAL CONFERENCE OF THE de Economia da Universidade do Porto
4050-345 PORTO EUROPEAN ASSOCIATION RESEARCH ON SECRETARIADO:
T. 226073588/ 226073590 + F. 226098736 ADOLESCENCE EARA Vera Melato e Rosa Silva (APDR)
agirao@reit.up.pt + holiveir@reit.up.pt Faculdade de Psicologia e de Ciências da INFORMAÇÕES:
MAIS NFORMAÇÕES: Educação da Universidade do Porto FEP, Rua Dr. Roberto Frias
URL portocidaderegiao.up.pt ou contactar Forum para investigadores e clínicos com T. 22557100 + F.225505050
o secretariado do encontro. trabalho realizado na área do apdr@mail.telepac.pt
desenvolvimento adolescente, partindo de
3 A 8 DE MAIO vários campos disciplinares: psicolologia,
SCHOOL AND WORKSHOP ON DYNAMICAL psiquiatria, sociologia, epidemiologia, ciências
SYSTEMS AND APPLICATIONS da educação.
Departamento de Matemática Pura da UP INSCRIÇÕES: As inscrições prévias serão
Os Sistemas Dinâmicos surgiram e efectuadas até 15 de Fevereiro
desenvolveram-se como uma área interdisci- INFORMAÇÕES:
plinar, inicialmente pretendendo dar respostas www.fpce.up.pt/eara
às questões colocadas por diversas ciências
experimentais, desenvolvendo instrumentos 5 A 9 DE JULHO
com o objectivo de explicar e prever IV CONGRESSO IBÉRICO DE LIMNOLOGIA /
determinados fenómenos. De facto, alguns XII CONGRESSO DE LA ASOCIACIÓN
dos seus mais espectaculares ESPAÑOLA DE LIMNOLOGÍA
desenvolvimentos surgiram no estudo do INSCRIÇÕES: Abertura em Outubro 2003
comportamento do sistema solar (fenómenos Submissão de resumos: Fim de Janeiro de 2004
homoclínicos, não integrabilidade das equações Aceitação dos resumos: Março 2004
do movimento), da atmosfera terrestre Inscrição a preços reduzidos: Até final de Abril
(atractor estranho de Lorenz), ou da evolução de 2004
EXPOSIÇÕES SIMETRIA JOGOS DE ESPELHOS OUTROS EVENTOS
VERSÃO PERMANENTE
22 DE SETEMBRO A partir da observação das simetrias presentes 18 DE DEZEMBRO
A 11 DE JANEIRO DE 2004 em alguns desenhos ou poliedros, ilustra de CINÉMOTION
DINOSSAUROS CHEGARAM AO PORTO modo interactivo o problema da classificação Ciclo de filmes e debates organizados pela
Pavilhão Rosa Mota, Porto. das figuras com base no seu tipo de simetria. Secção de Estudos Franceses do DEPER
Exposição sobre dinossaurios centrada nos A exposição é uma versão ligeiramente Faculdade de Letras da UP, Anfiteatro Nobre
vestígios encontrados no actual Deserto de ampliada de uma exposição permanente, Este ciclo, iniciado a 27 de Novembro, encerra
Gobi, Mongólia, uma jazida mundi-almente criada no Departamento de Matemática F. com a exibição de Stavisky, de Alain Resnais.
famosa pela diversidade e pelo estado de Enriques, em Milão, sob a responsabilidade A sessão será precedida de uma apresentação
conservação dos fósseis, que será enrique-cida científica da Profª. Maria Dedò. A versão e seguida de debate.
com outros elementos. Para além de portuguesa foi realizada pela Associação INFORMAÇÕES:
esqueletos genuínos dos dinossauros incluirá Atractor para assinalar a entrada em funcio- http://www.letras.up.pt/deper/Notícias.htm
vestígios encontrados em Portugal, cedi-dos namento das novas instalações dos
pelo Museu da Lourinhã, e ainda robots Departamentos de Matemática e integrará, 7 DE JANEIRO A 17 DE MAIO DE 2004
Kokoro (o Tyranossaurus rex é um deles). com carácter permanente, o futuro Centro FITAS E SOCIOLOGIA
A exposição sobre os dinossauros do deserto Ciência Viva de Ovar, dedicado à Matemática. Ciclo de Cinema na Faculdade de Letras
de Gobi já esteve em Milão, Helsínquia Está aberta ao público e a visitas guiadas da UP, Anfiteatro Nobre, pelas 18h.
e S. Marino. dirigidas a professores e alunos. O Departamento de Sociologia está a
A iniciativa é do Museu de História Natural MARCAÇÕES: organizar, durante o ano lectivo de 2003/
da Faculdade de Ciências da Universidade A realização de visitas está sujeita a marcação 2004, um ciclo de cinema sob o título Fitas e
do Porto. prévia, de preferência, Sociologia. Esta iniciativa pretende chamar a
Esta exposição recebeu, até ao fecho por e-mail expos@atractor.pt, atenção para algumas temáticas e problemas
desta edição, 200.000 visitantes. ou por telefone: 223401443 sociais que têm sido objecto de uma reflexão
ORGANIZAÇÃO: LOCAL: Pórtico do edifício central da FCUP, particular pela Sociologia.
Universidade do Porto na Praça Gomes Teixeira São responsáveis por esta iniciativa
Câmara Municipal do Porto INFORMAÇÕES: Associação Atractor as docentes Luísa Veloso e Natália Azevedo.
HORÁRIO: das 10h às 23h T. 223401443 + expos@atractor.pt PROGRAMA:
www.fc.up.pt/atractor/simetria Tradição é tradição
15 DE OUTUBRO DE 2003 VERSÃO ITINERANTE: Damien ODonnell - 7/Janeiro (4ª feira)
A 15 DE JANEIRO DE 2004 A versão itinerante da Exposição Simetria - Manobras na Casa Branca
JÓIAS DA TERRA... O MINÉRIO DA Jogos de Espelhos permite levar a exposição a Barry Levinson - 18/Fevereiro (4ª feira)
PANASQUEIRA regiões fora do Porto. Se estiver interessado O ódio
Na Biblioteca da Faculdade de Engenharia da em requisitar esta exposição, consulte a página Mathieu Kassovitz - 8/Março (2ª feira) )
Universidade do Porto (FEUP) http://www.atractor.pt/simetria/geral/expo- Os respigadores e a respigadora
ORGANIZAÇÃO: iti.html ou contacte a Associação. Agnès Varda - 23/Março (3ª feira)
Departamento de Engenharia de Minas da FEUP LOCAIS DE EXIBIÇÃO: Voando sobre um ninho de cucos
Biblioteca da FEUP Palácio de Dom Manuel, Évora (organização Milos Forman - 21/Abril (4ª feira)
HORÁRIO: da Universidade de Évora): 12 Janeiro Bowling for Columbine
Todos os dias das 8h30 às 19h30, excepto a 1 de Fevereiro Michael Moore - 17/Maio (2ª feira)
aos fins-de-semana. INFORMAÇÕES: Associação Atractor MAIS INFORMAÇÕES:
INFORMAÇÕES: Faculdade de Engenharia T. 223401443 + expos@atractor.pt mveloso@letras.up.pt ou
da Universidade do Porto www.fc.up.pt/atractor/simetria nazevedo@letras.up.pt
Rua Dr. Roberto Frias, s/n http://sigarra.up.pt/flup/
T. 225081400 + F. 225081441 noticias_geral.ver_noticia?P_NR=19
feup@fe.up.pt + www.fe.up.pt
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