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Afastado de todos os continentes conhecidos, um imenso continente flutuava sobre os vastos oceanos

do mundo. Era uma terra isolada e enigmática, onde as leis humanas não encontravam lugar e criaturas
vorazes reinavam soberanas. Esse continente pulsava com vida, gerando constantemente seres únicos
para povoar suas terras, mantendo um equilíbrio intrincado e singular em seu ecossistema. Era uma
terra proibida, onde nada entrava e nada saía.
No coração desse continente extraordinário, sete dragões despertaram como as primeiras criaturas
conscientes a emergirem dessa terra ancestral. Cada um desses dragões era o guardião de um conceito
primordial, possuindo poder suficiente para moldar e influenciar o destino do mundo. Viviam suas
vidas regulando uns aos outros, em uma dança delicada de equilíbrio, pois somente eles possuíam a
sabedoria e a destreza necessárias para tal tarefa.
Porém, um dos dragões cedeu à ganância insaciável. Consumido por uma fome voraz e um desejo
incontrolável de devorar, esse dragão se autodenominava "Arauto da Gula". Sua forma negra exalava
uma aura sombria e suas chamas ardiam com um brilho sinistro, refletindo seu desejo malicioso de
saciar sua avidez insaciável.
Num dia fatídico, a gula do dragão ultrapassou todos os limites. Sua insaciável voracidade irritou seus
irmãos, dragões orgulhosos de sua linhagem. Julgaram e condenaram o irmão mais jovem, o último a
ser criado, sentenciando-o à morte.
No entanto, a condenação imposta pelos dragões era mais do que uma mera punição. Era uma sentença
final. Enquanto erguiam suas garras afiadas para desferir o golpe mortal, acreditavam que a vida do
arauto da gula seria ceifada... ou assim imaginavam.
No momento crucial, o destino tecia uma reviravolta surpreendente. Ferido, desamparado e sem
qualquer esperança, o arauto da gula encontrou uma força interior desconhecida. Lutou com todas as
suas forças, rompendo as garras ameaçadoras de seus irmãos e desafiando as fronteiras do continente
vivo.
Foi nesse instante que o dragão fez uma descoberta assombrosa: sob a superfície do continente vivo,
uma carne pulsante e viva sustentava sua existência. Essa carne se manifestou em tentáculos grotescos
que se estenderam, serpenteando e tentando capturá-lo, desesperados para impedir sua fuga das
fronteiras do continente. Os tentáculos contorciam-se freneticamente, uma manifestação da própria
carne, numa tentativa desesperada de mantê-lo prisioneiro.
Determinado a escapar, o arauto da gula lutou com todas as suas forças. Suas escamas negras
brilhavam com intensidade enquanto enfrentava os tentáculos traiçoeiros. Cada músculo de seu corpo
era impulsionado por uma determinação selvagem. E, contra todas as adversidades, conseguiu libertar-
se das garras da carne viva e escapar de suas fronteiras.
Então, voando sem rumo pela vastidão azul do céu, o dragão encontrou-se imerso em uma enxurrada
de pensamentos atormentadores. "O que eu devo fazer agora?", questionou-se. "Meu único propósito
foi negado." Sentimentos de solidão e desespero o envolveram. Ele refletiu sobre sua condição
solitária em meio a um mundo vasto e desconhecido. Mas, mesmo em meio à incerteza, sua chama
interior ardia com uma centelha de determinação, sussurrando-lhe a promessa de uma nova jornada.
O tempo parecia ter perdido seu significado para o dragão, mergulhado em um torpor desconhecido.
Ele despertou em meio a uma clareira envolta por montanhas, próximo a um sereno lago. Era uma
paisagem bela, se não fosse pela condição deplorável em que se encontrava a fera.
Faminto, solitário e ferido, o dragão estava condenado à morte iminente. Sua regeneração, que antes
era rápida e vigorosa, agora dava sinais de fraqueza. Ele se tornara uma presa vulnerável, um banquete
aguardando qualquer predador que se atrevesse a se aproximar.
Decidindo poupar suas energias e resignar-se a uma morte pacífica, o dragão se forçou a dormir. Era
uma tentativa desesperada de esquecer seus problemas e encontrar algum alívio temporário.
Quanto tempo ele permaneceu adormecido? Isso era um mistério. O que era certo era que ainda estava
vivo, embora seus ferimentos permanecessem inalterados. Seu corpo, porém, era resiliente o suficiente
para resistir por mais algum tempo. No entanto, a fome era uma presença constante e avassaladora.
No entanto, algo rompeu o torpor do dragão. Ele despertou e, certamente, algo o havia estimulado.
Seus olhos pousaram em uma árvore próxima ao lago, onde uma silhueta espreitava nas sombras.
Quem seria aquela figura? O que desejava? O dragão não conseguia responder a essas perguntas.
Contudo, essa era sua oportunidade de reerguer-se, e ele esperou pacientemente que o intruso se
aproximasse, pronto para devorá-lo.
E assim, ele esperou. E esperou. No exato momento em que o sol se erguia majestosamente no céu,
anunciando a chegada de um novo dia, e quando o dragão começava a se cansar de esperar, foi no
crepúsculo, quando o sol se despedia para dar lugar à noite, que ele finalmente avistou o movimento
tão aguardado.
Emergindo de trás da árvore, surgiu um jovem. Não havia nada de extraordinário nele. Cabelos
escuros, olhos castanhos e uma constituição magra. A peculiaridade mais marcante era que,
aparentemente alheio à imponência do enorme dragão diante de si, ele se arrastava em direção ao lago,
buscando apenas um pouco de água para saciar sua sede.

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