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Sobre o legado de um povo holandês forte

Um Estudo de Dissonâ ncia no Patrimô nio Cultural Compartilhado


em Nova York e Recife

Dissertaçã o de mestrado
Relaçõ es Internacionais em Perspectiva Histó rica Jochem
Boodt 4126246
Jochem.Boodt@gmail.com
Supervisor Dra. Yvonne Kleistra
Segunda leitora: Dra. Remco Raben
Índice de conteú dos

Prefá cio 2

Introduçã o 3

Capítulo 1 Origem de uma Política de Patrimô nio Cultural Compartilhado


8
1.1 |||UNTRANSLATED_CONTENT_START|||Erfgoedzorg zonder overheid
8|||UNTRANSLATED_CONTENT_END|||
1.2 |||UNTRANSLATED_CONTENT_START|||Nederland voorbij de
postkoloniale kater 11|||UNTRANSLATED_CONTENT_END|||
1.3 |||UNTRANSLATED_CONTENT_START|||Gemeenschappelijk Cultureel
Erfgoed geboren 14|||UNTRANSLATED_CONTENT_END|||
1.4 |||UNTRANSLATED_CONTENT_START|||Rendementsdenken in het
erfgoedbeleid 18|||UNTRANSLATED_CONTENT_END|||

|||UNTRANSLATED_CONTENT_START|||Hoofdstuk 2 Cultureel erfgoed en


dissonantie 21|||UNTRANSLATED_CONTENT_END|||
2.1 |||UNTRANSLATED_CONTENT_START|||Erfgoed als continue keuze21|||
UNTRANSLATED_CONTENT_END|||
2.2 |||UNTRANSLATED_CONTENT_START|||Dissonant erfgoed 23|||
UNTRANSLATED_CONTENT_END|||
2.3 |||UNTRANSLATED_CONTENT_START|||Dissonantie in het Nederlands
GCE-‐beleid 28|||UNTRANSLATED_CONTENT_END|||

|||UNTRANSLATED_CONTENT_START|||Hoofdstuk 3 New York en GCE31|||


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3.1 |||UNTRANSLATED_CONTENT_START|||Een mislukte ontdekkingsreis
met grote gevolgen 32|||UNTRANSLATED_CONTENT_END|||
3.2 Nova Amsterdã : uma cidade adormecida ou um terreno fértil para a
tolerâ ncia? 34
3.3 |||UNTRANSLATED_CONTENT_START|||Holland on the Hudson37|||
UNTRANSLATED_CONTENT_END|||
3.4 |||UNTRANSLATED_CONTENT_START|||GCE-‐beleid in New York41|||
UNTRANSLATED_CONTENT_END|||

|||UNTRANSLATED_CONTENT_START|||Hoofdstuk 4 Recife en GCE 45|||


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1
4.1 |||UNTRANSLATED_CONTENT_START|||Nederlanders in Brazilië45|||
UNTRANSLATED_CONTENT_END|||
4.2 |||UNTRANSLATED_CONTENT_START|||Maurits als tolerant rolmodel
49|||UNTRANSLATED_CONTENT_END|||
4.3 |||UNTRANSLATED_CONTENT_START|||GCE-‐beleid in Recife 52|||
UNTRANSLATED_CONTENT_END|||

|||UNTRANSLATED_CONTENT_START|||Conclusie 58|||
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|||UNTRANSLATED_CONTENT_START|||Literatuur en bronnen 64|||


UNTRANSLATED_CONTENT_END|||

2
Prefá cio

Como estagiá rio da embaixada holandesa em Colombo, Sri Lanka, fui autorizado a
participar dos dias de retorno ao Patrimô nio Cultural Compartilhado em fevereiro de
2014. Este evento de três dias foi organizado para os adidos culturais das embaixadas e
consulados nos países prioritá rios do Programa Patrimó nio Cultural Partilhado. Como
cento e cinquenta anos de ocupaçã o holandesa no Sri Lanka renderam muita herança,
tive a chance de sentir o cheiro da CGE.Em preparaçã o, Anouk Fienieg, da DutchCulture,
me enviou um artigo, que ela escreveu sobre o Dissonant Heritage aplicado à política
holandesa da CGE. Eu me interessei imediatamente por esse tó pico. Depois de um
está gio muito interessante, no qual mergulhei no patrimô nio local tanto profissional
quanto pessoalmente, soube que também queria mergulhar academicamente no mundo
do patrimô nio cultural compartilhado. Uma conversa com Anouk Fienieg entã o me
ajudou a entrar no caminho desta pesquisa.
Durante a investigaçã o, tive contato com vá rias pessoas envolvidas na CGE para o
governo. Todos os funcioná rios dos Ministérios dos Negó cios Estrangeiros e da
Educaçã o, da Cultura e da Ciência, do Arquivo Nacional e da Cultura Holandesa com
quem tive contacto estavam muito dispostos a responder à s perguntas que fiz no
contexto da minha pesquisa. Também realizei três entrevistas com funcioná rios da BZ e
da Agência do Patrimô nio Cultural. As conversas com profissionais da á rea ajudaram
muito a minha pesquisa e aprofundaram a minha compreensã o da implementaçã o da
política do PCC. Em particular, gostaria de agradecer a Niels Hanje e Serge de Valk, da
embaixada holandesa em Brasília, a Ryan Emmen, do consulado holandês em Nova York,
e a Martijn Manders, chefe do programa marítimo do RCE, por seu tempo e pelos
insights que me forneceram. Minha orientadora de tese Yvonne Kleistra sempre me
forneceu rapidamente críticas claras, para que eu pudesse continuar trabalhando de
maneira direcionada. Uma ú ltima palavra de agradecimento vai para minha namorada e
minha mã e, que frequentemente corrigiram esta tese e forneceram apoio quando
necessá rio.

Amsterdã , 8 de julho de 2015.

3
Introduçã o

Com quatrocentos anos de comércio exterior, expansã o colonial e migraçã o, a Holanda


deixou sua marca no mundo. Do Brasil à Indonésia, você encontrará fortes feitos na
Holanda. Nomes de bairros como Hulftsdorp em Colombo e Brooklyn em Nova York
evidenciam a presença histó rica dos holandeses. As celebraçõ es do Sinterklaas em larga
escala na Austrá lia e no Canadá sã o manifestaçõ es contemporâ neas de fluxos
migrató rios passados. Esses fortes, nomes de distritos e há bitos culturais sã o lembretes
de um mundo que nã o existe mais. Eles formam uma ligaçã o direta com o passado e sã o
vistos como patrimô nio importante para a compreensã o do nosso passado. Lidar com a
histó ria e o patrimô nio do período da Companhia Holandesa das Índias Orientais (VOC)
e da Companhia das Índias Ocidentais (WIC) é caracterizado na Holanda por
sentimentos conflitantes de orgulho e vergonha. Orgulhoso de que a pequena Repú blica
fosse uma potência mundial, vergonha porque a administraçã o e preservaçã o do
império eram acompanhadas por excessos à s vezes grosseiros, como o trá fico de
escravos e as guerras de descolonizaçã o na Indonésia.
Embora haja sentimentos contraditó rios sobre esse passado na Holanda, o Estado
holandês gostaria de preservar o patrimô nio, por vezes controverso. Isso ocorre
principalmente porque o governo holandês acredita que é precisamente estudando a
herança que uma reflexã o crítica sobre o passado pode ser feita. Além disso, a pesquisa
sobre esse passado pode melhorar os laços com países que têm um passado comum com
a Holanda. Desde meados da década de 1990, a política governamental tem se
concentrado na preservaçã o do patrimô nio ultramarino do período da voc e da WIC.
Como o estado holandês nã o quer reivindicar o patrimô nio, a política se refere ao
"Patrimô nio Cultural Compartilhado" (GCE). O programa GCE é financiado pelo
Ministério da Educaçã o, Cultura e Ciência (OCW) e pelo Ministério dos Negó cios
Estrangeiros (BZ). Ambos os ministérios liberam um milhã o de euros anualmente para a
CGE. Vá rios países prioritá rios foram selecionados no programa, com os quais os Países
Baixos cooperam mais intensamente. Os países prioritá rios atuais sã o Austrá lia, Brasil,
Índia, Indonésia, Japã o, Rú ssia, Suriname, Sri Lanka, Estados Unidos e Á fricado Sul.
O entusiasmo pela CGE nem sempre foi o mesmo nos países prioritá rios. Gostaria
de levantar mais uma questã o relacionada com a eficá cia política O termo "Patrimônio
Cultural Compartilhado" (PCC)é baseado na

|||UNTRANSLATED_CONTENT_START|||1 De nationale viering van ‘400 jaar VOC’ in 2002 en het


collectieve verkneukelen over de opmerking van Minister-‐president Balkenende over een
benodigde ‘VOC-‐mentaliteit’ in 2006, geven twee kanten van de medaille van de beleving van
koloniale geschiedenis in Nederland weer. |||UNTRANSLATED_CONTENT_END|||Veja também: Gert
Oostindie, ‘Squaring the Circle: Commemorating the voc after 400 years’ in Bijdragen tot de Taal-,
Land-en Volkenkunde, Vol. 159, No. 1, (2003), 135-161.
2 Anouk Fienieg, et al., ‘Heritage trails. International cultural heritage policies in a European

perspective’, in Gert Oostindie (ed.) , colonialismo holandês, migração e patrimônio cultural (Leiden
2008)23-62.

4
herança com dois herdeiros. O ponto de partida do governo holandês é que ele
compartilha o cuidado com o patrimô nio com os países prioritá rios. Quando dois países
compartilham essa preocupaçã o, é importante que eles também compartilhem uma
visã o do patrimô nio. No entanto, isso nem sempre parece ser evidente. Os historiadores
culturais J.E. Tunbridge e G.J. Asworth escreveram em sua obra Dissonant Heritage que a
herança sempre tem herdeiros. Porque a herança pertence a um grupo, nã o é a herança
de outro. Isso pode levar a visõ es conflitantes (dissonâ ncia) sobre as quais o discurso
(histó rico) se encaixa na herança. Dentro de uma naçã o, pode, portanto, haver diferentes
pontos de vista sobre o que é o patrimô nio e qual histó ria pertence ao patrimô nio.
Herdeiros diferentes podem abordar a mesma herança de uma maneira diferente. Isso
contradiz a premissa de uma perspectivacompartilhada.3
A especialista em patrimó nio Anouk Fienieg aplicou a visã o do patrimó nio de
Tunbridge e Ashworth a vá rios países prioritá rios do programa da CGE. Ela investigou
como o PCC foi vivenciada na Á frica do Sul, Sri Lanka, Índia, Indonésia, Gana e
Suriname.4 Fienieg chegou à conclusã o de que a dissonâ ncia ocorria frequentemente
nas visõ es sobre o patrimô nio local nesses países prioritá rios. Ela encontrou um bom
exemplo na Cidade do Cabo, Á frica do Sul. O Castelo do Cabo é conhecido na Holanda
como um exemplo perfeito da PCC da era de sucesso da voc. No entanto, os sul-africanos
nã o só têm uma atitude mais ambivalente em relaçã o ao PCC do que os holandeses, mas
também vêem o edifício mais na funçã o que cumpriu numa fase posterior,
nomeadamente como uma prisã o para dissidentes políticos na época do apartheid.
Portanto, eles nã o reagem particularmente positivamente se houver uma iniciativa do
lado holandês para restaurar a fortaleza à sua antiga gló ria voc. Com tal discrepâ ncia de
abordagem, ainda podemos falar de patrimô nio compartilhado? Ele descreve os
problemas que podem surgir com a escolha de uma política de patrimô nio cultural
compartilhado . A política do PCC poderia, portanto, ter mais desvantagens do que
benefícios para as relaçõ es bilaterais5.
A pesquisa de Fienieg remonta a 2006. Em sua pesquisa, ela nã o conseguiu incluir
aquisiçõ es recentes para o programa PCC, incluindo Brasil (2008) e Japã o, Austrá lia e
EUA (2012). Nenhuma dissonâ ncia relacionada à PCC ainda foi investigada nesses
países. É importante que isso aconteça, pois a dissonâ ncia pode levar ao atrito, como
mostra o exemplo do Castelo do Cabo na Á frica do Sul. A dissonâ ncia nã o beneficia a
cooperaçã o patrimonial. Este estudo se concentra no Brasil e em Nova York. Ao
contrá rio do Japã o e da Austrá lia, a Repú blica estabeleceu duas colô nias de pleno direito
nesses países. O período e a duraçã o em que a Repú blica esteve ativa em ambos os
países também correspondem aproximadamente. Isso significa que os dois países se
prestam bem à comparaçã o. Porque a PCC está localizada nesses países

3 J.E.
Tunbridge e G.J. Ashworth, Dissonant heritage: the management of the past as resource in conflict
(Chichester 1996).
4 Anouk Fienieg, Patrimônio comum, patrimônio compartilhado? A study of dissonance in common

cultural heritage in six countries(MA thesis 2006).


5 Fienieg, Patrimônio Comum, 26, 27.

5
principalmente em Nova York e Recife, a pesquisa desta tese se concentra nessas
cidades. Como a presença de dissonâ ncia afeta a execuçã o de projetos da PCC em Nova
York e Recife nos Estados Unidos e no Brasil, respectivamente? Para responder a essa
pergunta, é necessá rio responder a uma série de subquestõ es. Como surgiu a política da
PCC? Que desenvolvimento a política sofreu? O que é dissonâ ncia? Há herança
dissonante em Nova York e Recife? Recife, no Brasil, e Nova York, nos EUA, sã o locais
interessantes porque a influência holandesa nessas cidades parece pequena à primeira
vista. Os holandeses estiveram presentes em ambas as colô nias por apenas algumas
décadas. No entanto, esses curtos períodos desempenham um papel na historiografia
nacional desses países.
A Nova Amsterdã foi criada apó s uma viagem de descoberta financiada pela voc
sob a liderança do inglês Henry Hudson. Hudson deve encontrar um novo curso para o
leste rico em especiarias. O marinheiro foi atrá s de Willem Barentsz em 1609 com a
ideia de navegar diretamente ao norte da Rú ssia em direçã o à Á sia. Quando essa viagem
ameaçou um fiasco, Hudson mudou de rumo. Agora ele estava planejando encontrar a
famosa passagem noroeste. A passagem noroeste era uma via navegá vel para a Á sia, que
deveria ser o norte da América. Chegando ao que hoje chamamos de Manhattan, ele
correu por um rio largo. No entanto, Hudson notou que esse rio estava ficando cada vez
mais estreito e doce. Isso nã o parecia o estreito prometido para a Á sia. Ele voltou sem
sucesso. No rio onde ele entrou na América, a colô nia da Nova Holanda foi fundada em
1624 sob os auspícios da Companhia das Índias Ocidentais (WIC). Esta colô nia
holandesa nã o teve uma vida longa. Já na paz de Breda, no final da Segunda Guerra Naval
Inglesa, em 1667, a colô nia foi entregue aos ingleses.6
Hoje, o fracasso de Hudson em encontrar Asia nã o é mais culpado. Em 2009, o
400º aniversá rio da jornada de Hudson foi comemorado exuberantemente em Nova
York e Amsterdã . Em um livreto, publicado na época do aniversá rio, os jornalistas Geert
Mak e Russell Shorto refletem sobre a jornada de Hudson e o estabelecimento da colô nia
de Nova Amsterdã . O prefá cio explica como "o venerável vínculo entre nossos dois países
e nossa paixão mútua pelo comércio, liberdade e diversidade" devem ser celebrados.7
Atençã o extensiva foi dada aos valores liberais de liberdade religiosa e tolerâ ncia que os
holandeses teriam introduzido em sua colô nia. Os Estados Unidos da América seriam
construídos sobre esses valores. O fato de os holandeses terem travado uma guerra
sangrenta com os habitantes originais nã o aparece nesta histó ria. Podemos nos
perguntar o quanto os valores

6 Robert Putnam, ‘The Discovery of Manhattan’ em Martin Pruijs (ed.), Amsterdã. Nieuw-Amsterdam.
1609-2009. The400-year link between Amsterdam and New York (Naarden 2009), 11-27, there 17-21.
7 Gerdy van der Stap (ed.), A história esquecida de Hudson, Amsterdã e Nova York

(Amsterdam and New York 2009), p. 8.

6
que foram propagadas durante o Ano Hudson, na verdade, tocam em Nova York. Até que
ponto a presença holandesa desempenha um papel na histó ria americana? Até que
ponto existe uma histó ria e uma herança compartilhadas em Nova York?
Uma colô nia no Brasil era um sonho da WIC. A WIC foi fundada em 1621, quando
a trégua de doze anos entre a Espanha e a Repú blica estava chegando ao fim. Sem o
fornecimento contínuo de prata da América do Sul, a Espanha teria grandes problemas
para continuar a financiar a guerra. O WIC teve que interromper esse fornecimento. Para
este fim, a empresa emitiu cartas de corso autorizando-a a atacar os comboios de prata
espanhó is, e os senhores XIX também tentaram quebrar o monopó lio português sobre o
comércio de açú car.8 Quando o almirante Piet Heijn sequestrou a frota de prata
espanhola em 1628, uma expediçã o à costa do Brasil poderia ser financiada. Este é o
lugar onde a maioria das plantaçõ es de açú car portuguesas estavam localizadas. Em
1630, os holandeses conquistaram Recife, na província açucareira de Pernambuco, onde
permaneceram por vinte e quatro anos. Embora os holandeses já tenham sido expulsos
do Brasil em 1654, eles geralmente têm uma reputaçã o muito boa no país. Em particular,
o sobrinho do stadtholder Maurits, Johan Maurits van Nassau-Siegen, é lembrado. Este
ú ltimo foi governador da colô nia de 1637 a 1644. Ele fez com que vá rios cientistas,
artistas e poetas viessem à colô nia para descrever o Brasil. Isso resultou em uma série
de belos trabalhos-padrã o sobre a flora e fauna do Brasil e pinturas com a vida na
colô nia comotema.9
Como a populaçã o da colô nia era composta principalmente por portugueses
cató licos, índios luso-cristianizados e comerciantes judeus, o regime tinha que mostrar
um certo grau de tolerâ ncia. Em parte por causa disso, havia relativa liberdade de
religiã o na Nova Holanda. Por conta dessa novidade e do convite de cientistas ao Recife,
Maurice é celebrado no Brasil como um déspota esclarecido. O fato de os holandeses nã o
terem sido os primeiros ou os ú ltimos colonos também ajudou a ganhar uma boa
reputaçã o. É interessante ver que a antiga presença da Holanda está mais viva no Brasil
do que na consciência do ex-colonizador. Na histó ria holandesa, a aventura brasileira
tem um papel limitado. Maurice nã o tem status de heró i indiscutível na Holanda. Afinal,
foi ele quem descobriu que as plantaçõ es de açú car nunca seriam lucrativas sem
importaçõ es de escravos africanos, fato que os portugueses conheciam há muito tempo.
Maurits liderou duas expediçõ es à costa africana e capturou o Forte Elmina no Gana e
Luanda em Angola. Esses depó sitos de escravos permaneceriam o centro do comércio de
escravos holandês por um longo tempo. Sem a açã o decisiva de Maurice, a Holanda
poderia nunca ter transportado 600.000 escravos africanos através do oceano. Por outro
lado,

de 1580 a 1640, Portugal esteve ligado à Espanha em uniã o pessoal. Um ataque à s colô nias portuguesas
foi um ataque aos espanhó is.
9 Mariëlle, Hageman, Brasil – Amsterdã. Historische Banden (Amsterdã 2013), 16-22.

7
O governo nã o desempenha nenhum papel no Brasil. Brasileiros e holandeses
compartilham uma visã o de Maurits, há uma histó ria compartilhada?10
Como restaram poucos vestígios materiais em Nova York e Recife, a pesquisa é
principalmente sobre patrimô nio imaterial. Neste caso, o patrimô nio imaterial é
principalmente sobre a experiência da histó ria. Para investigar a dissonâ ncia, preciso
ver quais histó rias estã o sendo contadas sobre a CGE em Nova York e Recife. A
perspectiva americana/brasileira se depara com a perspectiva holandesa? Como a
experiência é difícil de capturar, uso fontes diferentes. Ao analisar a historiografia
nacional, os enunciados dos meios de comunicaçã o contemporâ neos e as entrevistas
com especialistas ao nível da PCC, criarei uma imagem matizada das opiniõ es sobre a
PCC. Para esse fim, uso, entre outras coisas, as fontes secundá rias The Island at the
centre of the World de Russell Shorto e "o holandês" de Gonsalves de Mello no Brasil. 11
Para interpretar o desenvolvimento da política da PCC, estudarei cartas para câ maras,
estruturas políticas e moçõ es para câ maras como fontes primá rias. O referencial teó rico
é representado pela visã o patrimonial Patrimônio Dissonante de Tunbridge e Ashworth
e pela coleçã o Patrimô nio elaborada por Frank Grijzenhout. A história de um conceito é
central. Eu uso as publicaçõ es de Anouk Fienieg para um histó rico de dissonâ ncia na
política holandesa de PCC.
A tese será composta por quatro capítulos. No primeiro capítulo, será discutida a
política da PCC do governo holandês. Nisso, lidarei com o surgimento da política de
patrimô nio holandesa e os pontos mais importantes dentro dessa política. No segundo
capítulo, é delineado o referencial teó rico sobre patrimô nio. A visã o patrimonial
Dissonant Heritage, bem como a aplicaçã o à política holandesa de PCC por Anouk
Fienieg, sã o discutidas aqui. O terceiro capítulo será sobre o estudo de caso de Nova
York. Neste capítulo, discuto o papel da colô nia holandesa na histó ria americana e no
Ano Hudson e qualquer dissonâ ncia nisso. No quarto capítulo, examino até que ponto a
dissonâ ncia em relaçã o ao patrimô nio ocorre em Recife, Brasil. O papel que o
governador holandês Johan Maurits desempenhou na colô nia da Nova Holanda e depois
no câ none da histó ria brasileira será central aqui.

10 GertOostindie, ‘Historical memory and national canons’, em Gert Oostindie (ed.) , colonialismo
holandês, migração e patrimônio cultural (Leiden 2008) 63-96, lá 78.
11 Russell, Shorto, A ilha no centro do mundo. A história não contada da Manhattan holandesa e a

fundação de Nova York (Londres 2004), José Antonio Gonsalves de Mello, holandês no Brasil (1624-
1654). A influência da ocupação holandesa na vida e na cultura do norte do Brasil (Zutphen 2001).

8
Capítulo 1 – Origem de uma Política de Patrimô nio Cultural
Compartilhado

A política de Patrimô nio Cultural Compartilhado surgiu ao longo de um período de


quase cem anos. O estado holandês nã o interferiu nessa herança até o final do século XX.
Por que o governo nã o estava interessado no patrimô nio estrangeiro? O que levou o
governo holandês a examinar os diques? Este capítulo descreve as origens e as
circunstâ ncias que contribuíram para a formaçã o da política. O conteú do de todos os
quadros de políticas da CGE até à data também será discutido. Quais sã o os principais
pontos dessas políticas e como a política foi desenvolvida? Essas perguntas serã o
respondidas com base em documentos de política e literatura secundá ria.
Na primeira seçã o, discuto as iniciativas no campo do cuidado do patrimô nio que
surgiram antes do governo formular uma política de PCC. Isso também analisa as razõ es
para a falta de política do governo. A segunda seçã o trata das mudanças na sociedade na
década de 1980, que abriram caminho para o desenvolvimento de uma política de
patrimô nio internacional. Os primeiros passos para a formaçã o desta política também
sã o discutidos nesta seçã o. Na terceira seçã o, discuto o primeiro Quadro de Política de
Patrimô nio Cultural Compartilhado de 2000 e as mudanças subsequentes a essa política.
A parte final do capítulo trata do mais recente Quadro Político da PCC 2013-2016.

1.1 |||UNTRANSLATED_CONTENT_START|||Erfgoedzorg zonder overheid|||


UNTRANSLATED_CONTENT_END|||

Desde 1997, a Holanda tem uma política oficial destinada a preservar restos do passado
ultramarino. O deputado Eimert van Middelkoop, da Uniã o Cristã , perguntou ao governo
por que nã o liberou dinheiro para a preservaçã o desse patrimô nio. Van Middelkoop
sentiu que o passado colonial da Holanda era muitas vezes descartado como uma pá gina
negra na histó ria. Ele achava que a Holanda nã o deveria se esquivar desse passado, que
um país só se conhece quando conhece sua pró pria histó ria. O deputado pediu um
inventá rio de qual patrimô nio do período do WIC e do COV ainda existia. Tanto o
inventá rio quanto a política se tornaram realidade. Nasceu o Programa Patrimô nio
Cultural Comum.
A crítica que van Middelkoop expressou sobre a falta de política do governo
holandês em relaçã o ao patrimô nio ultramarino nã o era nova. No início do século XX, o
arquivista de Leiden Jacob Cornelis Overvoorde presidia a Comissã o Nacional, fundada
em 1875, por falta de visã o internacional. O

9
A Comissã o Imperial foi criada pelo governo em um período de crescente nacionalismo e
busca de uma identidade nacional. Este instituto disponibilizaria dinheiro para reformar
monumentos. A Rijkscommissie foi a antecessora da Rijksdienst voor Monumentenzorg
(RDMZ), que continuaria em 2006 como Rijksdienst voor Culturalel Erfgoed (RCE). A
á rea de interesse do comitê era a Holanda. Nã o havia olho para monumentos fora das
fronteiras do país, nem nas (antigas) colô nias. Isso bateu em Overvoorde, uma
funcioná ria da Comissã o Nacional, contra seupeito.12
Em 1910, Overvoorde fez uma viagem ao redor do mundo com sua esposa que o
levou a quase todos os destaques do império colonial holandês. À s suas pró prias custas,
mas com cartas de recomendaçã o dos Ministros do Interior e dos Negó cios Estrangeiros
e das Coló nias na sua bagagem, visitou a Á frica do Sul. Ele entã o navegou ao longo da
costa leste da Á frica para a Índia e o Sri Lanka, viajou para a Indonésia e a Malá sia e,
finalmente, terminou sua viagem com uma visita a Taiwan e ao Japã o. Ao longo do
caminho, ele visitou o maior nú mero possível de restos de manufatura holandesa. Suas
descobertas podem ser encontradas em relató rios anuais da Comissã o Nacional e no
Boletim da Associação Arqueológica Holandesa. Nã o por acaso, um sindicato que devia
seu direito de existir ao entusiasmo do arquivista. Overvoorde fulminou sobre o estado
dos monumentos holandeses que encontrou nos tró picos. Ele observou que havia
numerosos monumentos no Oriente "aos quais pouca atençã o ainda foi dada, mas que
também representam um interesse nacional, uma vez que a pá tria deve uma parte nã o
desprezível de seu significado aos bravos homens que fundaram assentamentos em
regiõ es distantes e lançaram as bases para nossas possessõ es coloniais" .13
Em seu discurso, Overvoorde refletiu como as colô nias haviam formado a pá tria.
Ele estava, portanto, irritado com o fato de que havia tã o pouca atençã o para essa
herança da Holanda. Este fato foi particularmente marcante quando se leva em conta
que a Holanda, especialmente nas Índias Orientais Holandesas, investiu na preservaçã o
da herança hindu. Em 1905, por exemplo, o Borobudur em Java foi completamente
restaurado à s custas do estado holandês. As palavras de Overvoorde foram parcialmente
ouvidas na Holanda. Em 1931, houve uma ordenança de monumentos nas Índias
Orientais Holandesas, na qual foi registrado o cuidado com a preservaçã o de
monumentos. Isso foi trinta anos antes de uma lei de monumentos semelhante em

12 Nicole van Cann, From Colony to Commonality: Dutch Overseas Heritage Preservation under the
Common Cultural Heritage Policy (tese de mestrado de 2013), p. 17.
13 Ypie Attema e Jolanda Keesom, ‘Tropical surpreende com ingredientes holandeses. Cuidar do

patrimô nio comum ultramarino’, em A serviço do patrimônio. Conservação do monumento do anuário


1997 (Zwolle 1997), 332-354, lá 332.

10
Holanda. No entanto, olhando em geral, pouca atençã o ainda havia sido dada aos fortes
holandeses e ao que eles alcançaram nos territó riosultramarinos.14
Apó s a Segunda Guerra Mundial e as subsequentes guerras de descolonizaçã o na
Indonésia, o governo mostrou-se ambivalente em relaçã o ao patrimô nio. Por um lado,
em uma ressaca pó s-colonial, tudo o que tinha a ver com as Índias Orientais
Holandesas/Indonésia foi deslocado. Cresceu a ideia de que a interferência do governo
holandês no campo do patrimô nio só poderia ser interpretada como neocolonialismo.
Por outro lado, havia também uma consciência de que fontes e conhecimentos sobre as
(antigas) colô nias poderiam em breve ser perdidos para a posteridade se o Estado
holandês nã o interferisse nesse patrimô nio. Embora o governo nã o tenha formulado
uma política para preservar o patrimô nio, forneceu algum apoio financeiro à s
instituiçõ es comprometidas com isso. Exemplos disso foram a Fundação para a
Cooperação Cultural (STICUSA) e a Fundação para a História Cultural do Ultramar
Holandês (CNO).15
A STICUSA foi fundada em 1948 e se concentrou na cooperaçã o cultural mú tua
com a Indonésia, o Suriname e as Antilhas. O intercâ mbio acabou se baseando
principalmente na perspectiva holandesa, sem muita atençã o à s opiniõ es dos parceiros
na cooperaçã o. A fundaçã o foi, portanto, rapidamente descartada como colonial.16 Em
1961 , a Fundação para a História Cultural do Ultramar Holandês foi fundada por
iniciativa privada. Essa fundaçã o se concentrou principalmente na preservaçã o da
cultura viva material, que surgiu nos contatos entre os holandeses e a populaçã o nas
colô nias. Mais tarde, a fundaçã o também mostrou mais interesse no patrimô nio
construído. Por exemplo, com a ajuda do CNO, o Kruyskerk em Jaffna, Sri Lanka, foi
restaurado e a restauraçã o do Forte Batenstein em Gana foi financiada pela fundaçã o em
1970. Embora o PCC fosse uma iniciativa privada e a fundaçã o tivesse ligaçõ es
especialmente fortes com o mundo dos museus, o Rijksmuseum em particular, o
governo cumpriu uma tarefa de apoio fornecendo um subsídio.17
Por causa do medo de ser rotulado como neocolonial, o RDMZ permaneceu
principalmente olhando para o umbigo durante esse período. A partir desse instituto, o
foco ainda nã o estava no mundo dos monumentos para além das fronteiras nacionais.
Dois funcioná rios da RDMZ foram uma exceçã o a isso. Profa. M.D. Ozinga e Prof. Ir. C.L.
Temminck Groll viajou pelo mundo nos anos cinquenta e setenta, respectivamente. Com
zelo

14 Attema e Keesom, ‘Tropical Surprises’, 334.


15 CL Temminck Groll, The Dutch overseas: architectural survey: mutual heritage of four centuries in
three continents ( Zwolle 2002), p. 9.
16 Gert Oostindie, ‘Historical entrepreneurship, the colonies and heritage policy’, in Thomas Lindblad

& Alicia Schrikker (eds), Het verre gezicht; Political and cultural relations between the Netherlands
and Asia, Africa and America (Franeker 2011), 422-35, there 425.
17 Temminck Groll, The Dutch overseas, 9, Th. H., Lunsingh Scheurleer, ‘Stichting

Cultuurgeschiedenis van de NederlandersOverseas 1961-1986. Review and perspective‘, in Bulletin


11
of the Rijksmuseum, Year. 35, No. 1 (1987), 4-9.

12
reminiscentes de Overvoorde, eles fizeram inventá rios do patrimô nio construído em
antigas colô nias. Ozinga foi convidado a vir para Curaçao e Suriname. Temminck Groll
também veio ao Suriname e visitou os restos de fortes holandeses em Gana em 1967.
Entre outras coisas, esteve envolvido na renovaçã o do Forte Zeelandia em Paramaribo e
na restauraçã o dos fortes de Amesterdã o e Batenstijn no Gana. Tanto Ozinga quanto
Temminck Groll nã o eram controlados pela RDMZ, mas foram convidados pelos
governos relevantes que queriam saber qual herança eles tinham dentro de suas
fronteiras. O RDMZ forneceu a influência financeira para poder fazer essasviagens.18

1.2 A Holanda além da ressaca pó s-colonial

Nas décadas de 1980 e 1990, lentamente tornou-se menos tabu prestar atençã o ao
patrimô nio do passado colonial. No entanto, continuava difícil navegar entre a vergonha
da histó ria e o orgulho e a admiraçã o pelo passado ilustre. Isso se deve em parte à
posiçã o que a Idade de Ouro tem na historiografia holandesa. Valores como a tolerâ ncia,
o espírito empresarial e a mentalidade empreendedora sã o vistos como pilares da
Repú blica, que surgiu na resistência contra o governante espanhol. A expansã o da
Holanda em todo o mundo, com empresas comerciais como a voc e a WIC, coincidiu com
o período de maior sucesso da histó ria holandesa. A Holanda era temida como um poder
político, era líder em ciência e experimentou um boom cultural sem precedentes. Havia
espaço para livres-pensadores na Repú blica. Livros proibidos em outros lugares da
Europa foram avidamente impressos nos Países Baixos. Esse sucesso e o status da
Holanda como um país poderoso nunca foram igualados novamente. No entanto,
também havia um lado sombrio nesse sucesso. As companhias oprimiam os nativos em
suas colô nias tanto ou talvez mais do que os holandeses sofriam sob o jugo espanhol. A
Holanda também era culpada de trá fico de escravos em larga escala, nã o estava
particularmente ansiosa para abolir a escravidã o e travou guerras brutais de
descolonizaçã o nas Índias Orientais Holandesas apó s a Segunda Guerra Mundial.19
Por que houve uma atençã o renovada ao patrimô nio nas décadas de 1980 e
1990? Há três razõ es para que isso aconteça. Primeiro, na década de 1980, o contingente
da populaçã o que havia vivenciado a Indonésia como colô nia e a dolorosa
descolonizaçã o

18 Temminck Groll, holandê s no exterior, 9.


19 Oostindie, ‘Historical memory’, p. 86-89. Para uma descriçã o abrangente do complicado legado
deixado pela Era de Ouro, ver: Vincent Houben, ‘A Torn Soul: The Dutch Public Discussion on the
Colonial Past in 1995’, na Indonésia, No. 63 (April 1997), p. 47-66.

13
era cada vez menor. Em segundo lugar, apesar de uma grande crise na década de 1980, a
Holanda tornou-se cada vez mais rica e o Estado tinha mais para gastar em cultura. Em
terceiro lugar, o grupo de imigrantes que fazia parte do debate pú blico cresceu cada vez
mais. Já nos anos cinquenta e sessenta, muitos migrantes da Indonésia vieram para a
Holanda. Eles foram seguidos pela imigraçã o das Antilhas Holandesas e Curaçao. A
independência do Suriname em 1975 também resultou em uma grande onda de
imigraçã o. Esses surinameses passaram a interferir cada vez mais no debate pú blico. No
final da década de 1980 e início da década de 1990, esse grupo pediu a comemoraçã o da
escravidã o e surgiram as primeiras críticas a Zwarte Piet. A imigraçã o das colô nias foi
concluída com a chegada de grupos de trabalhadores convidados do Marrocos e da
Turquia que se estabeleceram permanentemente na Holanda. Isso criou uma nova
sociedade multicultural na qual a questã o era quais valores comuns se aplicariam, em
que os holandeses se basearam no passado da Repú blica que poderia apoiar a
identidadeholandesa.20
Em parte devido a mudanças na sociedade, a RDMZ também se concentrou mais
em países estrangeiros. A "herança cultural holandesa no exterior" agora entrou em
cena. O serviço respondeu a pedidos oficiais de assistência de Curaçao (1987), Indonésia
(1989) e Sri Lanka (1994). No entanto, nenhuma política cultural internacional ainda
havia sido formulada pelo governo. A RDMZ escreveu um artigo de opiniã o, no qual se
argumentava que o serviço também deveria desempenhar um papel fora da Europa. Isso
chamou a atençã o do governo. Em 1989, o Ministério do Bem-Estar, Saú de Pú blica e
Cultura solicitou à RDMZ que escrevesse uma nota sobre o papel internacional do
serviço. No memorando The National Service between East and West. A RDMZ fez uma
série de recomendações para uma política externa cultural sobre a Conservação de
Monumentos Internacionais e o local do Escritório Nacional para a Conservaçã o de
Monumentos. O Conselho de Monumentos também interveio na discussã o e observou
que o governo nunca havia seguido uma política estrutural em relaçã o ao patrimô nio
cultural. Essas recomendaçõ es, em combinaçã o com as observaçõ es do deputado Van
Middelkoop, levaram aos documentos parlamentares Armour or Spine em 1996 e Absent
Past em1997.21
Em Armour or Spine , prestou-se atençã o à sociedade culturalmente heterogênea
que a Holanda se tornara. O Secretá rio de Estado da Educaçã o, Cultura e Ciência, Aad
Nuis, do D66, queria incentivar que a cultura nã o funcionasse como uma armadura e,
portanto, "como um meio de fazer a diferença entre um grupo e outro", mas sim como
apoio para entrar em contato com outras culturas sem o medo de perder a identidade.
Assim, Nuis esperava trazer "unidade na diversidade". Foram os primeiros

20 Canhã o, Colônia para Comunalidade, 22.


21 Attema e Keesom, ‘Tropical Surprises’, 341.

14
esboços de uma política cultural internacional. Por exemplo, o memorando previa uma
maior cooperaçã o com as Antilhas Holandesas e Aruba, e "países com os quais os Países
Baixos tradicionalmente tinham laços culturais especiais, como o Suriname e a
Indonésia".22
On Armor ou Spine Stray Past seguiram. Este memorando foi escrito pelo
Ministério da Educaçã o, Cultura e Ciência e pelo Ministério O Secretá rio de Estado dos
Negó cios Estrangeiros e o VVD Michiel Patijn apresentaram o memorando à Câ mara. O
memorando previa um inventá rio do patrimô nio cultural holandês no exterior e dava os
primeiros passos para a formulaçã o de uma política de patrimô nio internacional. No
memorando, OCW e BZ dividem o patrimô nio ultramarino em três categorias. A primeira
categoria é a dos objetos construídos, como fortes e igrejas. A segunda categoria inclui
os naufrá gios voc e WIC espalhados pelo mundo. A terceira categoria inclui os arquivos,
principalmente dos COV, que muitas vezes sã o mantidos em má s condiçõ es. Os dois
ministérios queriam investir dinheiro em programas que garantissem a preservaçã o de
objetos que se enquadravam nessas categorias. Por exemplo, o Grupo Homogêneo de
Cooperaçã o Internacional (HGIS), que incluía a política de patrimô nio, recebeu fundos
adicionais. No documento parlamentar, o Secretá rio de Estado Patijn enfatiza que a
vontade de preservar o patrimô nio deve ser aplicada tanto na Holanda quanto no país
em questã o. A experiência mostrou que a preservaçã o do patrimô nio só pode ter
sucesso se houver uma percepçã o de ambos os lados de que se trata de patrimô nio
cultural comum.23 O sucesso na política de patrimô nio sustentá vel só é possível se
houver "um interesse duradouro das autoridades locais envolvidas" .24 Esse ponto
ainda será bastante difícil de alcançar, como veremos mais adiante.
O memorando também indica por que o Estado holandês quer investir em
patrimô nio cultural. A importâ ncia do patrimô nio reside, entre outras coisas, no papel
que ele pode desempenhar como fonte de informaçã o sobre o passado. Além disso, o
patrimô nio físico também pode servir como um ‘ponto de convergência para a
experiência e identidade histó ricas’. No entanto, o patrimô nio nã o deve apenas ancorar a
identidade holandesa. O documento menciona regularmente que o patrimô nio nã o deve
servir apenas aos interesses holandeses e que os Países Baixos nã o têm direito exclusivo
ao patrimô nio. Além disso, investir em patrimô nio pode fortalecer as relaçõ es bilaterais
com os países onde o patrimô nioestá localizado.25

22 Ministé rio
da Educaçã o, Cultura e Ciência, Armadura ou Coluna: Memorando de Cultura 1997-2000
(Haia 1996).
23 Segunda Câ mara dos Estados Gerais, Passado distraído. Atos da Câ mara dos Deputados 1996-

1997(Haia 1997), 2.
24 Câ mara dos Deputados, Ausência Passada, 2.
25 Câ mara dos Deputados, Ausente no Passado, 10.

15
1.3 Nascimento do Patrimô nio Cultural Comum

O Quadro de Política Comum do Patrimó nio Cultural de 2000 seguiu-se ao memorando


AbsentPast.26 Foi o primeiro quadro de política em que foi cuidadosamente formulado o que
se entendia por política da CGE. De acordo com os políticos, a escolha do termo
"Patrimó nio Cultural Comum" reflete melhor a mensagem de que diz respeito ao
patrimó nio que é "reconhecido por todos os envolvidos (...) que existe uma
responsabilidade partilhada por esse patrimó nio" .27 "Património mútuo" ou
"patrimó nio comum" é um termo que foi cunhado em 1988 por Fuad Hassan, o entã o
Ministro da Educaçã o e Cultura da Indonésia, como substituto do "património colonial "
.28 Tal como no passado idealizado, é enfatizada a necessidade de sentir uma
responsabilidade partilhada pelo patrimó nio. O memorando distingue três categorias de
patrimô nio.

1 Patrimô nio cultural ultramarino: um termo coletivo geralmente usado


para antigos objetos voc, WIC ou coloniais localizados fora da Europa.
Geralmente há (ou houve) estabelecimento ou contatos materiais com os
holandeses. Característica é uma interaçã o de longo prazo entre culturas, que
pode ser expressa, entre outras coisas, em características de estilo misto de
objetos e em um significado (social) alterado de patrimô nio.

2. Os objetos construídos ou trazidos pelos holandeses em nome de outro


país fora dos Países Baixos (incluindo arquivos), que nã o estavam mais
envolvidos posteriormente.

3. Objetos presentes na Holanda de países com os quais houve influência


cultural mú tua. Estes sã o, de fato, os países implicitamente referidos em 1.’29

26 OQuadro Político foi obtido atravé s de correspondência pessoal com Anouk Fienieg. Tanto o
Ministé rio das Relaçõ es Exteriores quanto o Ministério da Educaçã o, Cultura e Ciê ncia nã o possuem
mais o documento original com a carta de acompanhamento. Portanto, nã o está claro quem
apresentou o documento à Câ mara. Os Ministros das Relaçõ es Exteriores e da Educaçã o, Cultura e
Ciência do gabinete Kok-II foram Jozias van Aartsen e os Drs. Loek Hermans, ambos VVD.
27 Ministé rio das Relaçõ es Exteriores e Ministé rio da Educaçã o, Cultura e Ciê ncia, Quadro Comum do

Patrimô nio Cultural (Haia, 2000).


4 Anouk Fienieg, Patrimônio comum, patrimônio compartilhado? A study of dissonance in common

cultural heritage in six countries (Master 's thesis 2006), p. 18.


29 BZ e OCW, Framework GCE, 2-3.

16
O principal objetivo da política ainda é trabalhar em conjunto na preservaçã o
sustentá vel do patrimô nio. Os objetivos secundarios sã o a troca de conhecimentos, o
reforço do apoio local e a sensibilizaçã o para o patrimó nio comum, o aumento do
conhecimento sobre o patrimó nio comum através de inventá rio e documentaçã o.
Uma vez que a CGE faz parte da política do HGIS, os objetivos nacionais e
internacionais desta política também sã o tidos em conta no documento. O foco em
países prioritá rios é um deles, assim como a ênfase no alcance do pú blico. Os
formuladores de políticas estã o cientes de que esses objetivos podem entrar em conflito
com os desejos do país parceiro. A fim de garantir a uniformidade, é necessá rio,
portanto, ouvir atentamente o que os pró prios países parceiros podem desejar. Ao
iniciar projetos, um envolvimento local ou nacional é novamente martelado, o que, em
qualquer caso, se manifesta em contribuiçã o monetá ria ou outra contribuiçã o
substancial. Além disso, o programa HGIS tem uma série de critérios que os novos
projetos devem cumprir.

 ‘fortalecimento da identidade cultural do país;


 grande significado simbó lico com muitos desdobramentos;
 significado para mais setores políticos (por exemplo, emprego, turismo), como
parte da formaçã o;
 grande importâ ncia estratégica para a política de cooperaçã o cultural com países
prioritá rios culturais;
 destino segurado (e, portanto, manutençã o futura).’30

Uma série de consideraçõ es precederam a formulaçã o do quadro político e a seleçã o dos


países prioritá rios Gana, Á frica do Sul, Índia, Indonésia, Sri Lanka, Suriname e Federaçã o
Russa. Os países foram selecionados com base no entusiasmo pelo patrimô nio cultural
comum e na quantidade e qualidade do patrimô nio no terreno. Estes eram
principalmente países onde o COV e o WIC estavam presentes. A Rú ssia era um peixe
fora d'á gua. O país tornou-se um país prioritá rio devido ao comércio que os Países
Baixos tradicionalmente mantinham com o país e à s relaçõ es especiais que surgiram
apó s a visita de Pedro, o Grande, aos Países Baixos em 1697. Os críticos veem a inclusã o
da Rú ssia principalmente à luz do medo de parecer neocolonial. Afinal, a Rú ssia era o
ú nico país prioritá rio que nunca havia sido colonizado31.

30 BZ e OCW, Framework GCE, 2.


31 Anouk Fienieg, ‘Sharing heritage with the Netherlands’, em Andrea Kieskamp (ed.), Sense and
sensitivity: The Dutch and delicate heritage issues (Rotterdam 2010), p. 41.

17
Apesar das consideraçõ es cuidadosas, o entusiasmo pelos projetos do PCC nem
sempre se revelou grande. A partir de uma avaliaçã o da política cultural internacional
em 2004, ficou claro que os projetos, especialmente na categoria PCC, eram
frequentemente rejeitados porque havia muito pouco compromisso financeiro do
parceiro pretendido, uma indicaçã o da falta de demanda externa. Ao fazer isso, o
envolvimento de um país era frequentemente medido puramente com base na
contribuiçã ofinanceira.32
No mundo acadêmico, as finanças disponibilizadas pela política da CGE foram
usadas com gratidã o. Com a ajudados fundos do HGIS, vá rias iniciativas foram lançadas.
O Arquivo Nacional (NA) e a Universidade de Leiden iniciaram o projeto Rumo a uma
Nova Parceria (TANAP ) em 1997. A TANAP forneceu acesso aos arquivos voc, que
muitas vezes estavam em um estado lamentá vel. O programa apoiou a investigaçã o e a
digitalizaçã o destes arquivos. Os arquivos podem ser encontrados em dez países
asiá ticos e na Á frica do Sul. Além disso, a TANAP forneceu bolsas de estudo para
estudantes de doutorado promissores desses países. O TANAP ainda está ativo. O Mundo
Atlântico e o programa holandês. "1500-2000" que foi iniciado em 2004 pelo Instituto
Real de Língua, Terra e Etnologia (KITLV) tinha o objetivo de "promover o estudo e a
preservaçã o do patrimô nio cultural comum que surgiu do contato entre o povo holandês
com povos da Á frica e das duas Américas" .33O programa funcionou até 2011, quando
nã o era mais elegível para subsídio. Em 2006, a Universidade de Leiden iniciou o
programa Encontro com um Passado Comum na Ásia (ENCOMPASS). Estudantes de
bacharelado e mestrado da Á sia tiveram a oportunidade de aprender a língua holandesa
em Leiden e foram ensinados a usar fontes histó ricas holandesas para poder pesquisar e
preservar fontes holandesas em seu país de origem. O programa ENCOMPASS ainda
oferece bolsas de estudo. Com os fundos do HGIS, sites como
www.atlasofmutualheritage.nl e www.culturalheritageconnections.org também foram
criados para fornecer informaçõ es sobre as atividades e iniciativas de voc e WIC no
campo da CGE. Como essas atividades foram criadas com a ajuda de fundos do HGIS,
essas iniciativas têm como denominador comum que elas tenham uma histó ria comum
como ponto departida.34
No Clear Windows, o relató rio de avaliaçã o realizado pelo Conselho da parte
externa e Consultores de Gestão a partir de 2007, entre outras coisas, o papel do PCC no
programa de cultura HGIS foi examinado. No relató rio, os consultores em causa
recomendaram que o programa do PCC fosse dissociado do

32 Ministé rio das Relaçõ es Exteriores, ‘Report on consultation on international cultural policy.
O lugar do patrimô nio cultural na política cultural internacional (Haia 2004), 117. 33
http://www.nationaalarchief.nl/internationaal/gemeenschappelijk- ‐cultural-‐
heritage/atlantic-world- and- the- dutch, consultado em 2 de fevereiro de 2015.
34 Oostindie, ‘Historical entrepreneurship’, p. 428-430.

18
Fundos HGIS.35Isso foi cumprido. Na Carta de 2008 à Câ mara dos Representantes sobre
Arte sem Fronteiras, oferecida pelos Ministros da Educaçã o, Cultura e Ciência e
Desenvolvimento Ronald Plasterk e Bert Koenders e pelo Secretá rio de Estado dos
Negó cios Estrangeiros Frans Timmermans (todos PvdA), é indicado que haveria um
"compromisso focadocom o patrimó nio comum" .36 Isso tomou forma no "Quadro da
Política do Patrimó nio Comum 2009-2012". A política do PCC foi dissociada dos fluxos
de caixa do HGIS e recebeu um orçamento modesto de 2 milhõ es de euros. Este encargo
foi partilhado proporcionalmente entre o Ministério da Educaçã o, Cultura e Ciência e o
Ministério dos Negó cios Estrangeiros. Podemos ver essa medida como uma medida de
austeridade, motivada pela crise financeira global, com a qual o gabinete de Balkenende-
IV foi confrontado. Do orçamento, um milhã o de euros foram para as embaixadas nos
países prioritá rios. Um milhã o de euros também foi distribuído entre os Arquivos
Nacionais, a Agência do Patrimô nio Cultural dos Países Baixos (RCE) e o Instituto de
Coleta dos Países Baixos (ICN).37 Os países prioritá rios para 2009-2012 foram Brasil,
Gana, Índia, Indonésia, Rú ssia, Sri Lanka, Suriname e Á frica do Sul. O Brasil,
anteriormente nã o um país prioritá rio, foi adicionado por causa de um lobby do
embaixador brasileiro na Holanda. Uma diferença importante entre o quadro político de
2009 e os quadros políticos anteriores foi a inclusã o da categoria de patrimó nio
intangível. A UNESCO usa essa categoria desde 2003.
Os resultados da nova política da CGE foram avaliados em 2012 pelos serviços de
auditoria da BZ e OCW numa revisã o intercalar. No geral, a política do PCC foi avaliada
positivamente. No entanto, também houve comentá rios a serem feitos. Especialmente
em termos de conscientizaçã o em relaçã o ao patrimô nio e à identidade cultural nos
países parceiros, houve muito ganho de terreno a ser conquistado. O nú mero de projetos
acabou sendo muito pequeno para mudar muito sobre essa conscientizaçã o. Rú ssia e Sri
Lanka foram a exceçã o a essa regra, nesses países o PCC vivia. No Brasil, notou-se uma
grande consciência dos laços histó ricos com a Holanda em nível regional,
principalmente na á rea de Recife. Nestas bandas esse passado comum era mais
conhecido do que na pró pria Holanda. Houve também um forte apoio ao PCC em países
nã o prioritá rios, como os EUA, Japã o e Austrá lia. No entanto, o entusiasmo foi
decepcionante na Á frica do Sul, Suriname e Indonésia. Aqui, o passado compartilhado
era particularmente sensível. Em Gana e na Índia, a atençã o para o PCC foi mínima e, no
segundo caso, impulsionada principalmente pela Holanda. As conclusõ es da revisã o
intercalada levaram Gana a ser removida como país prioritá rio e os Estados Unidos, o
Japã o e a Austrá lia a aderirem ao PCC.

35 Consultores de Diretoria e Gestã o, Janelas claras. Avaliação do programa cultural doHGIS 1998-
2006 e implementação do ’Choosing Course’ (2007), 58-61.
36 Ministé rio das Relaçõ es Exteriores e Ministé rio da Educaçã o, Cultura e Ciê ncia, Boundless Art (Haia

2008).

19
37 O
RCE foi chamado de Agência Nacional de Arqueologia, Paisagem Cultural e Monumentos entre
2006 e 2009, para maior clareza, o nome RCE é usado. A ICN foi incorporada ao RCE em 2011.

20
A política de preservaçã o do patrimô nio comum |||
UNTRANSLATED_CONTENT_START|||De gemeenschappelijkheid in de benadering van
het erfgoed werd in een groot aantal landen nog niet gedeeld. 38|||
UNTRANSLATED_CONTENT_END|||

1.4 |||UNTRANSLATED_CONTENT_START|||Rendementsdenken in het


erfgoedbeleid|||UNTRANSLATED_CONTENT_END|||

A política do PCC para 2013-2016 baseia-se na política para 2009-2012 e assemelha-se


amplamente a ela. A política tem suas origens na carta "Visão Política Cultural
Internacional" que o Ministro das Relaçõ es Exteriores Dr. Uri Rosenthal e Secretá rio de
Estado da OCW Drs. Halbe Zijlstra 24 de abril de 2012. O PCC faz parte da política
cultural internacional. O PCC vê os ministros principalmente no papel que
desempenham como um ponto de entrada nas relaçõ es bilaterais e a relevâ ncia
histó rica do patrimó nio permanece. De acordo com Rosenthal e Zijlstra, o foco da
política do PCC deve ser a coerência entre os programas de patrimó nio em diferentes
países, a relaçã o com a política econó mica e externa e a visibilidade e reconhecimento
dos Países Baixos. No entanto, os interesses econô micos parecem pesar mais na política
externa cultural do que o valor intrínseco: "o fortalecimento do interesse econô mico
holandês foi pela primeira vez explicitamente formulado como um objetivo da política
cultural internacional". Isso é surpreendente quando se leva em conta que, na revisã o
intercalar da política da CGE 2009-2012, foi estabelecido que os chamados efeitos de
"cisã o" da política para a comunidade empresarial holandesa estavam limitados a
"contratos menores para empresas de consultoria e arquitetura holandesas".39 Embora
o gabinete Rutte-I tivesse caído três dias antes, em 21 de abril, essa ênfase continuou a
orientar a nova política do PCC, que foi apresentada à Câ mara em novembro de 2012.40
Uma das primeiras mudanças da política é a terminologia. OCW e BZ agora estã o
falando sobre Patrimônio Cultural Compartilhado , onde anteriormente o Comum era
usado. Nã o é dada uma razã o para a escolha diferente de palavras. Isso pode estar
relacionado aos problemas de alcançar um ponto comum na política do PCC, conforme
observado na revisã o intercalada. Patrimô nio compartilhado é um termo mais neutro.
Os formuladores de políticas se concentram em três objetivos na política do PCC 2013-
2016. Primeiro: Promover as relações internacionais. O PCC ofereceria pontos de
referência para a cooperaçã o internacional. Essa cooperaçã o resultaria em paz e
segurança e na possibilidade de resolver problemas econô micos, sociais, culturais ou
humanitá rios. A colaboraçã o desembarcaria

38 Ministryof Foreign Affairs and Ministry of Education, Culture and Science, Mid-term review GCE
policy (The Hague 2012), p. 16.
39 Embora esses efeitos de cisã o nã o fossem um objetivo político da política da CGE 2009-2012, eles

21
foram investigados em nome do Ministério da Educaçã o, Cultura e Ciência e do Ministério das Relaçõ es
Exteriores a médio prazo.
40 Carta do Ministro das Relaçõ es Exteriores e do Secretá rio de Estado da Educaçã o, Cultura e Ciê ncia,

Câ mara dos Deputados, 2011-2012, 31 482, no. 84 (Haia 2012).

22
na aproximaçã o de institutos internacionais. Além disso, de acordo com os formuladores
de políticas, o diá logo intercultural é estimulado e oferece uma visã o da pró pria
identidade e da "conexã o dos povos". O segundo objetivo é mais específico. Este é o
Patrimô nio da Conservação Sustentável. O patrimô nio deve ser preservado. Estudar o
patrimô nio pode levar a uma reflexã o crítica da histó ria e a uma compreensã o mú tua do
passado e do presente. O patrimô nio deve ser compartilhado, disponibilizado a um
pú blico amplo, estimular a atividade econô mica local, o emprego, o turismo e a melhoria
geral do ambiente de vida. O terceiro objetivo é chamado de Interesse Holandês . O
patrimô nio pode desempenhar um papel na diplomacia pú blica e econô mica. Pode
colocar a Holanda no mapa e gerar boa vontade para a Holanda. Desta forma, de acordo
com o Ministério da Educaçã o, Cultura e Ciência, a comunidade empresarial holandesa
colherá os benefícios. Nã o apenas por meio de atribuiçõ es relacionadas ao patrimô nio,
mas também em um sentido mais geral. Os vínculos com as Indústrias Criativas e os
Setores Water Top sã oincentivados.41
Esses objetivos devem ser alcançados na Austrá lia, Brasil, Índia, Indonésia, Japã o,
Rú ssia, Suriname, Sri Lanka, Estados Unidos e Á frica do Sul. Os fundos de €2 milhõ es
permanecem os mesmos, mas agora devem ser distribuídos por mais países. Para serem
elegíveis para um projeto, os candidatos a subsídios desses países devem atender a
vá rios critérios. Uma lista de doze critérios possíveis em relaçã o aos quais os projetos
sã o testados baseia-se nos objetivos acima e centra-se, entre outras coisas, no
envolvimento demonstrá vel (financeiro) dos parceiros, na cooperaçã o com outros
países do PCC, na garantia de intercâ mbio de conhecimentos, na cooperaçã o com a
comunidade empresarial, no desdobramento econó mico tanto para o país parceiro como
para a comunidade empresarial holandesa e no reforço da sensibilizaçã o local para o
projeto. Para projetos financiados pelo orçamento das embaixadas, foram elaboradas
três condiçõ es adicionais. Primeiro, o pedido de apoio financeiro para um projeto do
PCC deve vir de uma parte local, que sem os fundos nã o está ameaçada na sua
sobrevivência. Em segundo lugar, o projeto nã o pode durar mais de quatro anos. Como
terceira condiçã o, a contribuiçã o da embaixada nã o pode exceder 60% do orçamento
total. Se a instituiçã o local nã o tiver os recursos financeiros necessá rios, outros assuntos,
como contribuiçã o de espaço ou mã o de obra, também podem ser incluídos no
orçamento. As partes implementadoras da política do PCC sã o a RCE, a NA, as
embaixadas nos dez países prioritá rios e a DutchCulture (DC). O DC Institute gerencia
um fundo de contrapartida no valor de

41 Ministé rio
das Relaçõ es Exteriores e Ministé rio da Educaçã o, Cultura e Ciê ncia, Quadro de Política de
Patrimô nio Cultural Compartilhado 2013-2016 (Haia 2012), 1.

23
€200.000. |||UNTRANSLATED_CONTENT_START|||Projecten die de samenhang en de
zichtbaarheid van het GCE versterken komen in aanmerking voor een subsidie. 42|||
UNTRANSLATED_CONTENT_END|||

Desde as críticas de Overvoorde, as medidas necessá rias foram tomadas. A partir de uma
ausência no nível do patrimô nio internacional, a Holanda desenvolveu uma política de
patrimô nio direcionada. O caminho para a política é pavimentado com imigrantes e o
desejo relacionado de retornar aos valores da Era de Ouro Holandesa. A política foi
primeiro chamada de comum e depois de compartilhada . Isso provavelmente ocorreu
porque a semelhança no patrimô nio nem sempre foi sentida nos países prioritá rios. A
mudança de nome nã o é o maior desenvolvimento que a política do PCC sofreu em doze
anos. A política recebeu gradualmente um sotaque diferente. Enquanto o primeiro
quadro político se concentrou principalmente no reforço da identidade cultural, no
reforço das capacidades e na preservaçã o do patrimó nio nos países parceiros, o ú ltimo
quadro político coloca uma forte ênfase nos objetivos econó micos. A política deve polir a
imagem holandesa e resultar em atribuiçõ es para a comunidade empresarial holandesa.
Essa mudança de rumo tem suas origens principalmente na crise financeira e em uma
política externa mais orientada economicamente
Isso dá à política do PCC muita responsabilidade. Com um orçamento modesto, é
uma chave para melhorar as relaçõ es internacionais, deve garantir a conservaçã o
sustentá vel do patrimó nio, tem o papel de fortalecer as identidades nacionais e
regionais nos locais do patrimó nio e, além disso, deve servir o interesse holandês - ler
negó cios - criando novas entradas. Tudo isto em dez países com um orçamento de 2
milhõ es de euros. Esse valor nã o era muito em 2008, quando o PCC foi dissociada dos
fundos do HGIS, mas agora é um declínio real porque nunca foi ajustado pela inflaçã o.

42 BZ e OCW, Policy Framework GCE 2013-2016, 3, 4.

24
Capítulo 2 – Patrimô nio cultural e dissonâ ncia

No primeiro capítulo, foi discutido o desenvolvimento da política do PCC. Por enquanto,


a definiçã o de patrimô nio cultural utilizada nesta tese foi ignorada. Porque? Afinal, o que
exatamente é herança? Para chegar à resposta dessa pergunta, vá rias definiçõ es serã o
discutidas. Faço isso com base na coleçã o Heritage compilada pelo historiador de arte
Frans Grijzenhout. História de um conceito. É muito importante mencionar uma
característica inerente ao patrimô nio. O patrimô nio nã o existe em si, mas é uma escolha
contínua para um lado da histó ria. Isso pode levar à exclusã o de grupos populacionais
que nã o veem seu lado da histó ria refletido no discurso histó rico e social. Os
historiadores culturais J.E. Tunbridge e G.J. Asworth descrevem esse problema em sua
visã o de herança Dissonant Heritage, que desempenha um papel central neste capítulo. A
dissonâ ncia pode ser um perigo para a política do PCC, porque como podemos falar de
patrimó nio partilhado quando, por exemplo, apenas a visã o holandesa do patrimó nio se
aplica? As implicaçõ es disso sã o investigadas com base no Patrimô nio Comum de Anouk
Fienieg, patrimônio compartilhado. Nesta peça, Fienieg examinou a política de herança
holandesa em busca de dissonâ ncia.
A primeira seçã o discute as características mais importantes do patrimô nio. A
segunda seçã o abordará a visã o de Tunbridge e Ashworth sobre a dissonâ ncia na
herança. O ú ltimo pará grafo trata da pesquisa sobre dissonâ ncia na política patrimonial
holandesa, realizada por Anouk Fienieg.

2.1 Herança como uma escolha contínua

No exposto, o patrimô nio cultural foi discutido. Porque? Afinal, o que exatamente é
herança? O patrimô nio cultural pode assumir muitas formas físicas e menos tangíveis,
tangíveis ou intangíveis. De acordo com o governo, o patrimô nio também pode ser
compartilhado. Na introduçã o à coleçã o Heritage. A história de um conceito tenta fazer
com que o historiador Frank Grijzenhout compreenda essa noçã o que tem tantas
implicaçõ es. Originalmente, a herança representa as coisas materiais que se herda. É um
termo legal que garante que os ativos sejam transferidos de gênero para gênero. Uma
segunda interpretaçã o histó rica do termo gira em torno da herança intangível. Tradiçõ es
espirituais, há bitos, tradiçõ es dentro de um grupo para todo o sistema de normas e
valores dentro de uma cultura. Na tradiçã o judaico-cristã , trata-se da herança que o
herdeiro recebe, fé e, portanto, bem-aventurança eterna. Grijzenhout nomeia o
patrimô nio intangível como uma categoria relativamente nova. Nã o em

25
sentido espiritual, mas muitas vezes se manifesta em expressõ es culturais que ameaçam
desaparecer. Isso diz respeito a certos rituais, festas ou outros costumes.43
As definiçõ es acima estã o parcialmente alinhadas com o que a Organizaçã o do
Patrimô nio Mundial da UNESCO define como patrimô nio. Na Conferência do Patrimô nio
Mundial de 1972, a UNESCO fez uma distinçã o entre patrimô nio cultural e natural. O
patrimô nio cultural é o tema desta tese e é nisso que nos concentramos. Esse patrimô nio
consistia em patrimô nio material e paisagens que se originaram na interaçã o entre o
homem e a natureza. Em ambos os casos, o patrimô nio deve ser de valor universal do
ponto de vista da histó ria, da arte ou das ciências. Os edifícios monumentais podem,
portanto, pertencer ao patrimô nio cultural, assim como as paisagens. Nã o está
totalmente claro quais sã o esses valores universais que podem ser atribuídos ao
patrimô nio. Em 2003, a UNESCO adicionou o patrimô nio intangível como uma nova
categoria. Isso incluí as práticas, representações, expressões, conhecimentos, habilidades –
bem como os instrumentos, objetos, artefatos e espaços culturais associados a eles – que
comunidades, grupos e, em alguns casos, indivíduos reconhecem como parte de sua
herança cultural’.44 Tradiçõ es orais , linguagem, rituais, conhecimento sobre a natureza
e o meio ambiente e artesanato tradicional se enquadram nesse título. O patrimô nio
cultural existe, portanto, como restos e tradiçõ es tangíveis e intangíveis. De acordo com
o historiador F.J. Duparc, que primeiro cunhou o termo "patrimô nio cultural" na Holanda
em seu trabalho de pesquisa Um Século de Luta pelo Patrimônio Cultural Holandês, o
patrimô nio cultural abrange "toda a cultura"45.
Nesta tese, a definiçã o de patrimô nio cultural nã o terá significado histó rico legal
ou espiritual. No entanto, os significados materiais e imateriais mais modernos que a
UNESCO usa seguirã o. No entanto, o patrimô nio tem uma característica que é mais
importante para esta tese: uma vez que nã o podemos preservar toda a cultura, o
patrimô nio é uma escolhacontínua. Essas escolhas sã o feitas por pessoas, instituiçõ es e
culturas. O que costumava ser considerado importante e o que agora é considerado
importante? Muitos edifícios histó ricos perderam a sua fachada no século XIX para
serem "restaurados" para um estilo classicista da Idade de Ouro. A herança está , assim,
no presente e no passado e está em constante mudança. O produto herdado pode
permanecer o mesmo, mas a interpretaçã o do produto é limitada no tempo. Nas ú ltimas
duas décadas, os especialistas em patrimô nio têm cada vez mais

43 FransGrijzenhout, ‘Introduction’, em Frans Grijzenhout (ed.), Heritage. The history of a concept


(Amsterdam 2007), 1-20, there 1-3.
44 UNESCO, Convençã o para a Salvaguarda do Patrimô nio Cultural Imaterial, (Paris 2003), 2.
45 Greywood, ‘Introduction’, p. 5. F.J. Duparc, A Century of Struggle for Dutch Cultural Heritage (’s-

Gravenhage 1975).

26
consciência desse fato. Como observa apropriadamente o historiador cultural Rob van
der Laarse: "a herança parece antiga, mas é nova".46
O historiador David Lowenthal também é dessa opiniã o. Achamos herança algo
ú nico e ele escreve sobre si mesmo. A herança nã o é um passado antigo (e está tico). É
um passado que está vivo, que a gente quer ou precisa lidar. É um passado do qual nos
orgulhamos, ou um passado que preferimos esquecer. Penduramos nossa identidade
contemporâ nea na herança. Delineamos essa identidade e nos apresentamos aos outros
com base na herança. Nada torna o patrimô nio mais valioso do que quando é ameaçado
ou realmenteperdido.47 Como o patrimô nio é determinado por uma interpretaçã o
contemporâ nea, também nã o é possível deixá -lo descansar. É preciso se preocupar com
a herança, interpretando-a sempre e adaptando-a ao pró prio tempo. Deve ser protegido
daquilo que busca romper com o patrimô nio. Quando diferentes grupos querem
reivindicar patrimô nio, pode surgir um conflito sobre a interpretaçã o do patrimô nio.
Essa visã o do patrimô nio é articulada por J.E. Tunbridge e G.J.Ashworth.48

2.2 Herança dissonante

A herança dissonante é uma visã o de herança de J.E. Tunbridge e G.J. Ashworth, que eles
elaboram no estudo Dissonant Heritage, management of the past as resource in conflict.49
Com a dissonâ ncia, eles usam um termo que é comum na mú sica e na psicologia
cognitiva. O termo tem tudo a ver com discrepâ ncia. Na mú sica, um tom dissonante nã o
é melodioso, daí o contraste de uma consoante. Na psicologia, a dissonâ ncia cognitiva
trata de visõ es conflitantes, experimentando duas ideias conflitantes ao mesmo tempo
ou a existência de diferença entre visõ es e comportamento. Em geral, as pessoas ajustam
seu comportamento ou seus pontos de vista até que haja acordo entre os dois. Fala-se de
herança dissonante quando há visõ es incoerentes ou mesmo conflitantes sobre a
herança. A herança dissonante tem duas visõ es centrais. Primeiro, a dissonâ ncia é
intrínseca ao patrimô nio; porque o patrimô nio é criado, é criado por um grupo e,
portanto, há sempre grupos que sã o excluídos. Em segundo lugar, porque

46 Rob van der Laarse, ‘Heritage and the construction of the past’, em Rob van Laarse (ed.), Obcecada
pelo passado. Heritage, identity and museumisation (Amsterdã 2005), 1-‐28, there 12, 13.
47 David Lowenthal, ‘Heritage and history. Rivais e parceiros na Europa’, em Rob van der Laarse (ed.)

Obsessed with the past (Amsterdam 2005), 29-39, there 29.


48 Frank Grijzenhout, ‘Introduction’, p. 11.
3 J.E. Tunbridge e G.J. Ashworth, Dissonant heritage: the management of the past as resource in conflict

(Chichester 1996).

27
a dissonâ ncia é universal, é uma condiçã o ativa ou latente, intencional ou nã o
intencional, sempre refletida em alguma medida na herança.
Tunbridge e Ashworth desenvolveram sua visã o em resposta ao surgimento de
uma indú stria de patrimô nio abrangente. De Hollywood ao Holocausto, tudo é
comercializado como patrimô nio há algumas décadas. Esse patrimô nio pode enriquecer,
mas também pode incentivar a xenofobia, escreve David Lowenthal em The Heritage
Crusade.50 A "musealizaçã o" e o marketing de cidades histó ricas do interior da Europa
sã o um bom exemplo da nova indú stria do patrimô nio. Tunbridge e Ashworth acreditam
que a dissonâ ncia é inerente à herança. Como vimos, o patrimô nio é sempre apropriado
por um grupo. A herança sempre pertence a alguém e, portanto, nã o a outra pessoa.
Como escreve Anouk Fienieg, herança é "posse disputada".51 Cada grupo que se
identifica com uma peça de herança conta sua pró pria histó ria sobre ela. Nessas
histó rias, a narrativa de outros grupos é substituída ou suprimida. A UNESCO está
tentando contornar esse problema introduzindo a categoria "Patrimô nio Mundial".
Nesta soluçã o, deve haver espaço suficiente para a visã o de diferentes grupos na
interpretaçã o do patrimô nio. Tunbridge e Ashworth nã o acreditam na categoria de
Patrimô nio Mundial. Como a UNESCO é uma instituiçã o ocidental de origem, as visõ es
sobre como e se o patrimô nio deve ser preservado vêm de uma estrutura ocidental52.
Segundo Tunbridge e Ashworth, a localidade e a mensagem do patrimô nio podem
causar dissonâ ncia. A localidade é um aspecto importante do patrimô nio. Afinal, todo
lugar tem uma histó ria e toda histó ria tem um lugar. Lugares onde a histó ria pode ser
localizada sã o ‘lugares de memó ria’, ou como Pierre Nora colocou: ‘lieux de mémoires’.
Por exemplo, a Europa está cheia de castelos que aproximam a experiência da Idade
Média. No entanto, esses lugares de lembrança nã o sã o está ticos. Os lugares estã o
sempre em construçã o. Um lugar em si pode ser patrimô nio. Assim como a interpretaçã o
do patrimô nio construído pode mudar, o mesmo pode acontecer com lugares sem
patrimô nio construído. Por exemplo, os campos de batalha da Primeira Guerra Mundial
na Bélgica e na França sã o, por si só , um importante destino turístico. Em geral, o local
onde um evento importante ocorreu pode valer uma visita. Na indú stria do patrimô nio,
um lugar é muitas vezes o produto que é vendido. Esses lugares podem até ser criados e
comercializados como produtos patrimoniais. Por razõ es políticas, as autoridades
podem designar um lugar para evocar associaçõ es com um passado, para que um lugar
seja experimentado positivamente. Por exemplo, o regional ou

50 DavidLowenthal, The Heritage Crusade and the Spoils of History (Cambridge 1998).
51 Fienieg,
Common Heritage, p. 9.
52 Tunbridge e Ashworth , Dissonant heritage, p. 20-21, Fienieg, Common Heritage, p. 9.

28
a identidade nacional, identificando lugares com um passado (glorioso) 53.
Quando os lugares sã o vendidos como um produto, isso também pode causar
dissonâ ncia. Por exemplo, um lugar pode ser comercializado de maneiras diferentes, a
fim de jogar em mercados diferentes. Esse marketing extensivo geralmente resulta em
uma hierarquia de produtos patrimoniais, com possíveis efeitos positivos e negativos. É
possível que a interpretaçã o do patrimô nio de um país vá contra a de uma regiã o ou
cidade. Um produto patrimonial pode tentar identificar-se com um produto patrimonial
que funcione bem a partir de uma hierarquia superior ou inferior, ou distanciar-se
dele:"É improvável que o País de Chernobil seja usado em brochuras de turismo".54Os
produtos patrimoniais criados para o mercado nacional ou internacional também
podem evocar dissonâ ncia. Uma boa experiência patrimonial está ligada à experiência
histó rica do visitante. De acordo com Tunbridge e Ashworth, isso pode causar
dissonâ ncia se os grupos que diferem uns dos outros em segundo plano nã o forem
separados uns dos outros. Por exemplo, um memorial de guerra pode despertar
sentimentos nacionalistas entre visitantes de diferentes países que lutaram entre si55.
Além da localidade, a mensagem do patrimô nio também é uma fonte potencial de
dissonâ ncia. Como vimos, herança é interpretaçã o. Isso significa que uma mensagem
pode ser encontrada em cada herança. Na verdade, herança sem mensagem nã o existe. A
mensagem pode ser muito diferente. O patrimô nio pode ser um serviço em forma de
museu, cidade histó rica ou parque de diversõ es, mas em um nível mais profundo, o
produto é um sentimento, como nostalgia, orgulho ou mesmo vergonha. Em geral, a
educaçã o é frequentemente usada como uma locomotiva para a criaçã o de patrimô nio. O
patrimô nio representará entã o o paradigma científico mais dominante do momento e
proclamará posiçõ es que atualmente se aplicam. O fato de a herança abrigar mensagens,
intencionais ou nã o, também pode levar à dissonâ ncia.
Tunbridge e Ashworth distinguem quatro categorias nas quais a mensagem da
herança pode causar dissonâ ncia. Primeiro, é possível que o patrimô nio abrigue vá rias
mensagens ao mesmo tempo. Isso pode causar dissonâ ncia, quando o pú blico nã o
consegue processar mensagens diferentes ou quando o pú blico nã o está devidamente
segregado. Uma segunda possibilidade de dissonâ ncia surge quando uma mensagem de
herança acaba com o grupo errado. Em terceiro lugar, a dissonâ ncia pode surgir quando
a herança carrega uma mensagem de outro tempo que nã o se encaixa mais no presente.
Um bom exemplo é a está tua do "heró i" Jan Pieterszoon Coen, que foi inaugurada em
1893 em seu

53 Fienieg,
Common Heritage, p. 10.
54 Tunbridge e Ashworth, Dissonant heritage, p. 26.
55 Tunbridge e Ashworth , Dissonant heritage, p. 26-27.

29
local de nascimento Hoorn. Coen foi duas vezes governador das Índias Orientais
Holandesas. Vá rios moradores de Hoorn ficaram perturbados com esta está tua. Eles
sentiram que era inapropriado que uma figura tã o cruel fosse homenageada com uma
está tua. Em 2011, eles criaram uma iniciativa de cidadania para modificar o cartaz da
está tua. O novo cartaz menciona que o legado de Coen é altamente controverso e que
tanto contemporâ neos quanto historiadores já criticaram as açõ es de Coen.56Tunbridge e
Ashworth distinguem uma quarta categoria de herança que espalha mensagens
indesejá veis. A histó ria humana está cheia de ‘história que dói’; assassinatos, genocídios
e outras atrocidades, histó rias que as pessoas preferem nã o ouvir. A herança que
espalha essas mensagens pode causar dissonâ ncia entre vítimas ou descendentes de
vítimas, ou perpetradores, ou entre populaçõ es que se mataram no passado e preferem
nã o ser lembradas disso.57
Devido à seletividade inerente ao patrimô nio, é inevitá vel que alguns grupos
sejam excluídos da mensagem que o patrimô nio transmite. Grupos sociais, étnicos ou
regionais nã o participantes verã o sua histó ria ignorada ou marginalizada. A gestã o do
patrimô nio nã o só conhece o problema de escolher entre diferentes histó rias, mas
também é confrontada com o patrimô nio construído no passado. Embora tenhamos
visto que o patrimó nio é um produto contemporâ neo, o patrimó nio na forma de edifícios
e monumentos é designado por um período mais longo e transferido para as pró ximas
geraçõ es. Essas geraçõ es, por sua vez, têm que ver se esse patrimô nio se encaixa no seu
pró prio período. Em uma cultura onde mú ltiplas identidades sã o justapostas como
iguais, a herança de um grupo nã o precisa influenciar a identidade do outro grupo e a
dissonâ ncia nã o existe. A identidade patrimonial de um grupo nã o precisa levar à
exclusã o de outro grupo. Tunbridge e Ashworth distinguem três circunstâ ncias em que
este é o caso; desinteresse comum, aceitaçã o tolerante por necessidade ou uma visã o
equilibrada que pode levar à interaçã o entre os grupos.
No primeiro caso, há grupos que possuem uma determinada identidade e
herança, que nã o é percebida como ameaçadora por outro grupo. Um bom exemplo é a
descendência alemã de muitos americanos. Embora os teuto-americanos formem a
maior minoria na América, pretzels, cachorros-quentes e jeans Levi sã o

56 Erikvan den Beek, "Você nã o deve honrar algué m como Coen". As condiçõ es de tempo nã o eram
uma circunstâ ncia atenuante para o assassino em massa J.P. Coen’
,http://www.volkskrant.nl/opinie/iemand-if coen heard you notto er ~a2774480/?
akamaiType=GRÁ TIS, consultado em 3 de fevereiro de 2015.
57 Tunbridge e Ashworth , Dissonant heritage, p. 28-29.

30
totalmente incorporados à cultura americana.58 No segundo caso, com uma aceitaçã o
tolerante do outro grupo, podemos pensar no Pilar na Holanda. Durante esse período,
grupos com ideologias e crenças diferentes e potencialmente conflitantes viveram lado a
lado. Cada grupo tinha suas pró prias escolas, associaçõ es e patrimô nio. Como ú ltimo
recurso, há interaçã o entre grupos que compartilham a herança um do outro. Isso é feito
com base em uma relaçã o de igualdade. Em Nova York, todos podem comemorar o dia
de Sã o Patrício para se tornarem irlandês uma vez, independentemente da ascendência.
Diferenças de identidade e herança nã o precisam levar à dissonâ ncia. No entanto,
quando certos grupos sã o negados ativamente o acesso ao patrimô nio de outros, esse é o
perigo. Um dos exemplos mais ó bvios é a divisã o de lugares religiosos entre três grupos
religiosos diferentes em Jerusalém, a quem é negado o acesso à herança um do outro,
criando grandestensõ es.59
Quando os grupos sã o social e/ou economicamente desiguais e o grupo
dominante domina o patrimô nio, a chance de dissonâ ncia é maior. Nas relaçõ es mestre-
servidor, como as encontradas no colonialismo, a interpretaçã o e a identificaçã o com a
herança sã o a favor de um grupo de países. Isso pode ser feito com o patrimô nio
originalmente construído pelo grupo subjacente para os mestres ou patrimô nio negado
a eles. Quando o grupo subjacente ganha poder político, essa herança pode ser associada
à pró pria subserviência. Eles podem negar, reinterpretar e, assim, identificar essa
herança com seu novo status de poder político, mergulhar na herança de antes da
dominaçã o colonial ou se concentrar em uma nova herança. A herança entã o tem a
chance de ser molestada ou negligenciada. Por exemplo, o Estado Islâ mico (EI) destruiu
está tuas e templos assírios em Mosul e Nimrud, porque essas imagens nã o se encaixam
na estrita doutrina islâ mica pregada pelo EI.60 Como as relaçõ es de poder mudam com
tanta frequência, é particularmente prová vel que os grupos sejam confrontados com a
herança de um passado em que outros grupos populacionais eram dominantes. O
patrimô nio tem grande poder construtivo e destrutivo na formaçã o ou quebra de
identidades (nacionais) e, portanto, deve ser tratado comcuidado.61

58 ‘A minoria silenciosa. O maior grupo é tnico da Amé rica tem se amaldiçoado tã o bem que as
pessoas mal percebem’, http://www.economist.com/news/united- states/21642222- americas
largest ethnic group has assimilated so well people barely notice it, consultado em 19 de
fevereiro de 2015.
59 Tunbridge e Ashworth, p. 30-31.
60 Ben van Raaij, ‘IS bulldozers 3,000 year old city flat’, http://www.volkskrant.nl/dossier- -

Estado Islâ mico/IS bulldozers 3000 year old city flat~ a3889369/?akamaiType=GRÁ TIS,
consultado em 11 de março de 2015.
61 Tunbridge e Ashworth, p. 31-32.

31
2.3 Dissonâ ncia na política holandesadaCGE

Anouk Fienieg aplicou a visão do patrimô nio Herança dissonante de Tunbridge e


Ashworth à política da CGE do governo holandês. Ela pesquisou em sua tese de mestrado
Patrimônio Comum, Patrimônio Compartilhado? o Quadro do Patrimônio Comum de 2000
sobre dissonâ ncia. Ela entã o elaborou sua pesquisa em dois artigos.62 Fienieg se
perguntou se a comunalidade sempre poderia ser assumida na política do PCC. Ela
analisou o patrimô nio que havia sido designado como PCC pelo Estado holandês nos
países prioritá rios da Indonésia, Sri Lanka, Índia, Gana, Á frica do Sul e Suriname. Houve
histó ria coletiva nos locais do patrimô nio e os moradores locais vivenciaram o
patrimô nio como comum? O termo "Patrimó nio Comum" estava correto e, se nã o, que
implicaçõ es teria para a política do PCC?63
Em sua pesquisa sobre a experiência com a política do PCC nos países em
questã o, Fienieg notou uma série de coisas interessantes. Na Indonésia, por exemplo,
houve um grande protesto em Jacarta em 1985, porque um edifício originalmente
holandês, De Harmonie , deveria ser demolido. No entanto, os cidadã os protestaram nã o
por causa da percepçã o de que o patrimô nio comum estava sendo destruído, que a
consciência nã o existia, mas porque os cidadã os se apegaram ao edifício na cena da rua.
No Sri Lanka, houve uma conscientizaçã o e uma aceitaçã o ansiosa de uma histó ria
compartilhada, mas a histó ria foi vista inteiramente de uma perspectiva holandesa, a
interaçã o com os cingaleses nã o teve nenhum papel nessa histó ria. Na Á frica do Sul,
houve dissonâ ncia na concepçã o de se uma fortaleza era um bom exemplo do período
voc ou deveria ser interpretada como um símbolo do regime do Apartheid.
Anouk Fienieg conclui, com base em sua pesquisa, que nã o há visã o
compartilhada na política comum de patrimô nio cultural, nos sítios patrimoniais que ela
investigou. Afinal, a política holandesa pressupõ e que o PCC nã o é apenas parte da
histó ria e identidade holandesas, mas também da histó ria do país parceiro. Uma série de
premissas segue da política que Fienieg discute. Em primeiro lugar, o pressuposto de
que existe PCC nos países em causa. Isso está lá , mas deve-se notar que, com base na
política, muitos lugares receberam o selo de patrimô nio. Ela remonta a um passado que
à s vezes nã o existe há muito tempo. Em segundo lugar, a política baseia-se no
pressuposto de que o patrimô nio faz parte do

2 Anouk Fienieg, et al., ‘Heritage trails. International cultural heritage policies in a European
perspective’, in Gert Oostindie (ed.), Dutch colonialism, migration and cultural heritage (Leiden
2008), 23-62, Anouk Fienieg ‘Sharing heritage with the Netherlands’ in Andrea Kieskamp (ed.), Sense
and sensitivity: The Dutch and delicate heritage issues (Rotterdam 2010).
63 Fienieg, CommonHeritage, p. 3-5.

32
Histó ria Isso é verdade, mas principalmente porque o governo determina que o
patrimô nio permanece. O componente holandês nem sempre é claro para o país
parceiro. O terceiro pressuposto é que a herança faz parte da identidade holandesa.
Fienieg acha que este é provavelmente o caso. A grande atençã o dada ao patrimô nio de
voc e a escolha dos países prioritá rios indicam a visã o de que o patrimô nio do PCC
desempenha um papel importante na identidade holandesa. É menos prová vel que
desempenhe um papel claro na identidade de outros países e, portanto, merece o ró tulo
em comum. No entanto, essa é a visã o defendida pelo governo. Muitas vezes, os sítios
patrimoniais que Fienieg investigou também têm uma funçã o simbó lica em outros
países, mas nã o foi dito que a narrativa holandesa sobre esses lugares ocupa um lugar na
identidade nacional dos países prioritá rios. O governo holandês nã o está ciente do papel
de "criador" do patrimô nio. Na política, parece que há um patrimô nio que é comum e,
portanto, precisa ser preservado. Mas há lugares que sã o bombardeados em um
patrimô nio comum que desempenhou um papel diferente. Há muito mais histó rias a
serem conectadas ao patrimô nio construído do que apenas a holandesa. Em muitos
PCCs, há mais de simultaneidade, dois povos no mesmo lugar com pouca interaçã o, do
que de comunidade. 64
A pesquisa de Fienieg fornece um bom exemplo dos problemas que podem surgir
com uma interpretaçã o bem-intencionada e ingênua da política. É dada uma imagem
clara das diferentes circunstâ ncias nos países prioritá rios. A pesquisa nã o é perfeita.
Supõ e-se que a populaçã o dos países prioritá rios seja homogênea em composiçã o étnica
e pontos de vista. Sã o medidas nã o negociá veis. No entanto, Fienieg é a primeira a
levantar essa questã o. Em um estudo desse tamanho, nã o há espaço para um extenso
levantamento do local em todos os locais do patrimô nio estudados, embora os dados de
tal levantamento sejam muito interessantes.

A visã o do patrimô nio de Tunbridge e Ashworth fornece uma estrutura a partir da qual o
patrimô nio pode ser abordado. Isso diz respeito principalmente à s experiências em
torno do patrimô nio material. Os autores mostram que a criaçã o de patrimô nio segue a
visã o de um grupo. Essa visã o é inspirada por uma abordagem da histó ria. Quando a
narrativa histó rica de um grupo é seguida, outros grupos podem ser excluídos. O
patrimô nio que foi construído tem localidade e uma mensagem. Isso pode evocar
dissonâ ncia entre grupos que aderem a uma narrativa diferente da histó ria. Os ó culos
que determinam a visã o do passado sã o visíveis em celebraçõ es bilaterais como o Ano
Hudson, atividades patrimoniais e o apreço por figuras histó ricas como Johan Maurits
van Nassau-Siegen. Com este ponto de partida, podemos preservar o patrimô nio em
Nova York e
64 Fienieg, Common Heritage, p. 54-57.

33
no Recife. Existe uma experiência compartilhada de histó ria nessas cidades? A
dissonâ ncia surge quando esse nã o é o caso. Embora o modelo de Tunbridge e Ashwoth
seja principalmente sobre patrimô nio material, vou usá -lo para interpretar a mensagem
do patrimô nio imaterial e possível dissonâ ncia em Nova York e Recife. O modelo oferece
ferramentas para investigar a origem da dissonâ ncia, bem como para explicar a
dissonâ ncia e interpretar as consequências da dissonâ ncia. Os dois estudos de caso de
Nova York e Recife oferecem a oportunidade de examinar a política do PCC na prá tica
com base na visã o patrimonial de Tunbridge e Ashworth.
Anouk Fienieg mostrou que a dissonâ ncia também ocorre na política patrimonial
da Holanda, onde ela olhou principalmente para o patrimô nio construído. Ela conclui,
entre outras coisas, que o PCC carece do fator comum. Simultaneidade é uma
interpretaçã o melhor aqui. O patrimô nio comum ou compartilhado é uma utopia? Nos
pró ximos capítulos, examinaremos se essa caracterizaçã o também se aplica aos estudos
de caso de Nova York e Recife.

34
Capítulo 3 – Nova York e PCC

Nova York foi conhecida como Nieuw-Amsterdam durante a maior parte do século XVII.
Na atual Manhattan e perto desta ilha, um grupo de colonos de vá rias origens viveu a
partir de 1624.65Em 1664, a coroa inglesa ocupou a colô nia. Nas negociaçõ es de paz no
final da Segunda Guerra Anglo-Holandesa em Breda em 1667, a Inglaterra ganhou a
Nova Holanda da Repú blica, que recebeu o Suriname e a ú ltima ilha inglesa de
especiarias Run em troca. Na época da Terceira Guerra Anglo-Holandesa (1672-1674),
os Países Baixos ocuparam Nieuw-Amsterdam, que agora era chamada de Nova York,
por cerca de dez meses. Em 1674, os ocupantes holandeses partiram novamente.
Manteremos 1664 como o final do período holandês.
Neste capítulo, explorarei se há dissonâ ncia na herança cultural compartilhada de
Nova York. Por restarem poucos vestígios materiais, investigo a dissonâ ncia
principalmente com base no patrimô nio imaterial. Essa herança imaterial é
particularmente sobre a idéia de que os holandeses teriam deixado um legado
importante em Nova York. Eu investigo isso de três maneiras. Primeiro, olho para o
papel que os holandeses têm na historiografia americana. Como surgiu a Nova Amsterdã
e que influência esse curto período de autoridade holandesa, segundo autores
americanos, teve na formaçã o de Nova York? Em segundo lugar, examino a celebraçã o
contemporâ nea de 400 anos de Henry Hudson a partir de 2009. Como a histó ria é
apresentada na celebraçã o e os nova-iorquinos têm consciência dessa histó ria? Terceiro,
estudo as atividades da RCE, NA, DC e do consulado em Nova York. Que atividades sã o
organizadas por estes ó rgã os e que mensagem querem espalhar? No primeiro pará grafo,
descrevo brevemente a histó ria da colô nia da Nova Holanda. Na segunda seçã o, discuto a
imagem dos holandeses que se originou na América. Isso também inclui o papel que os
holandeses teriam desempenhado na formaçã o de Nova York. O terceiro pará grafo é
sobre a celebraçã o do Ano Hudson: quem foram os impulsionadores da celebraçã o e e
com esta se deu.

65 Em 1625, um grande nú mero de colonos se mudou de NotenEylant, agora Governors Island, para
Manhattan e o Forte de Amsterdã foi construído. Este ano está , portanto, no selo oficial da cidade de
Nova York. No entanto, os historiadores discordam sobre se o selo deve mostrar um ano diferente.
Por exemplo, em 1624, o ano em que os primeiros colonos fundaram a colô nia da Nova Holanda, em
1626, o ano em que Manhattan foi "comprada" dos índios, ou em 1653, quando Nova Amsterdã foi
reconhecida como uma cidade e recebeu uma administraçã o municipal. Na dé cada de setenta do
sé culo XX, foi escolhido o ano de 1625, onde 1664, a rendiçã o aos ingleses, foi vista pela primeira vez
como a data de fundaçã o da cidade. Roberts, Sam, ‘Hot history debate: 1624 or 1625?’,
http://cityroom.blogs.nytimes.com/2008/07/24/hot- history‐‐ debate ‐ ‐1624‐ or ‐1625/,
consultado em 2 de abril de 2015.

35
recebido em Nova York? A ú ltima seçã o trata da implementaçã o da política do PCC em
Nova York pela RCE, NA, DC e pelo consulado holandês.

3.1 Uma viagem fracassada de descoberta com grandes consequências

Em 1609, o inglês Henry Hudson navegou por um rio que hoje é conhecido por seu
nome. Ele havia chegado a este lugar porque teve que mudar seu curso original por
causa de uma tripulaçã o amotinada, um fato que ele parecia ter patenteado. A tripulaçã o
começou a se amotinar, porque Hudson estava enviando seu navio De Halve Maen cada
vez mais para o norte e a hibernaçã o, encerrada no gelo polar, parecia se tornar uma
realidade. O explorador havia convencido o conselho do COV de que ele poderia chegar à
Á sia pela passagem nordeste. Esta passagem estaria localizada ao norte da Rú ssia
moderna. Se essa passagem existisse, encurtaria a jornada para as ricas á reas comerciais
da Á sia, os navios nã o sofreriam com a falta de vento no equador e a ameaça de piratas
era menor. Hudson, apoiado pela convicçã o do cartó grafo e pregador Petrus Plancius,
acreditava que o hemisfério norte recebia tanto sol no verã o que o gelo ao norte de um
certo meridiano teria que derreter. A crença nessa teoria deu ao explorador holandês
Willem Barentsz uma sepultura fria mais de uma década antes.
Hudson já havia procurado, mas nã o encontrado a passagem nordeste em 1607 e
1608 a serviço da Companhia de Moscó via Inglesa. O COV soube dessas expediçõ es e
financiou Hudson para outra viagem. Ele deixou Texel em 6 de abril de 1609 com uma
tripulaçã o de dezesseis pessoas. Alguns meses depois, ele descobriu que essa viagem
também nã o seria bem-sucedida. Os marinheiros estavam fartos dos perigosos blocos de
gelo e Hudson mudou seu curso para o oeste, na esperança de encontrar uma passagem
ao longo do noroeste. No século XVI, exploradores franceses e portugueses a
procuraram repetidamente em vã o. Hudson também estava encalhado. O canal que ele
esperava que o levasse para a Á sia logo se tornou doce e muito estreito. Acabou nã o
sendo a prometida passagem noroeste, mas apenas um rio. Sem sucesso, Hudson voltou
para a Europa. Ele nã o visitaria mais Amsterdã . Durante uma parada em Dartmouth, ele
foi proibido de navegar pelas autoridades inglesas. Um ano depois, ele procurou a
passagem noroeste novamente no serviço inglês. O gelo fez a tripulaçã o se amotinar
novamente. Hudson foi colocado em um barco com seu filho e vá rios membros da
tripulaçã o que permaneceram leais a ele. A Baía de Hudson, no Canadá , se tornaria seu
lugar de descanso final.
Embora Hudson nã o tivesse encontrado uma rota alternativa para a Á sia, a á rea
que ele descobriu permaneceu na mira dos holandeses. Isso se deveu principalmente à

36
possibilidade de negociar peles de castor. A Adriaen Block adquiriu o monopó lio desse
comércio em 1614. Quatro anos depois, o monopó lio expirou e o comércio foi liberado. A
presença dos holandeses na América do Norte permaneceu limitada durante esse
período. Isso mudou quando a WIC cuidou da á rea. A WIC foi fundada imediatamente
apó s o término da Trégua de Doze Anos (1609-1621). A trégua previa paz com a
Espanha. Como um dos seus termos, a Repú blica se comprometia em nã o estabelecer
uma empresa comercial no Atlâ ntico Norte. Quando o tratado expirou, essa condiçã o
obviamente nã o se aplicava mais. A WIC tinha o comércio e a guerra como motivo. A
Companhia continuaria a luta contra Espanha e Portugal no Novo Mundo. Os
mercená rios que ameaçavam a Repú blica eram pagos com os recursos das minas de
prata e plantaçõ es de açú car na América do Sul. Interromper as colô nias do inimigo
espanhol era um objetivo importante, mas, como empresa pú blica, também era
necessá rio obter lucro. O comércio de peles de castor tornou-se a primeira prioridade.
Devido aos invernos frios na Europa, houve uma alta demanda por peles.66
Como quase nã o havia investidores, demorou um pouco para que o capital inicial
do WIC fosse coletado. É por isso que demorou até 1624 para que os primeiros
holandeses chegarem à á rea. Embora o ideal de colonizaçã o nã o tenha desempenhado
um papel importante no estabelecimento da WIC, havia duas facçõ es dentro do conselho
em relaçã o à Nova Holanda. Por um lado, havia a facçã o de colonizaçã o que queria
fundar uma colô nia agrícola e, portanto, pedia o envio de muitos colonos, por outro lado,
havia a facçã o comercial, que só queria estabelecer uma colô nia comercial limitada. Nos
primeiros anos de existência da WIC, prevaleceu a campanha de colonizaçã o. Em janeiro
de 1624, o primeiro comboio com algumas dezenas de colonos partiu para o Novo
Mundo. Dois meses depois, trinta famílias valonesas se juntaram a eles. Eles se
estabeleceriam em toda a Nieuw-Nederland, a fim de reivindicar uma á rea tã o grande
quanto possível. Nieuw Nederland acabaria por consistir nos assentamentos em
Manhattan, Long Island e assentamentos ao longo dos rios Hudson, Delaware e
Connecticut. Dois anos depois, o governador Peter Minuit ‘comprou’ Manhattan dos
índios. Eles pensavam que os holandeses queriam comprar sua tribo e poderiam, assim,
fazer uso de peixes e terras agrícolas. Como os colonos se estabeleceram muito
amplamente, a colô nia nã o era mais defensá vel. Por isso, foi tomada a decisã o de reunir
todos os colonos deManhattan.67
A colô nia nunca se tornou particularmente grande. Durante a ocupaçã o da Nova
Holanda pelos ingleses em 1664, a cidade contava mil e quinhentos habitantes em toda a
colô nia

66 Putnam, ‘Discovery of Manhattan’, p. 22-24.


67 Jaap Jacobs, uma região abençoada. Nova Holanda no século XVII (Leiden 1999), 28, 64, Ben
Speet, ‘Foot on American soil’, em Martin Pruijs (ed.), Amsterdã. Nieuw-Amsterdam. 1609-2009. The
400-year link between Amsterdam and New York (Naarden 2009), 29-56, there 29.

37
oito mil almas. Há três razõ es para isso: a Repú blica era muito pequena, muito pró spera
e muito tolerante. Com 1,7 milhõ es de habitantes, nã o havia um enorme excedente
populacional, os holandeses estavam geralmente bem economicamente e, devido à
relativa tolerâ ncia na Repú blica, quase nã o havia grupos religiosos dissidentes à procura
de outra casa. Outra razã o pela qual a colô nia nã o cresceu rapidamente foi o fato de que
demorou um pouco para a WIC incentivar ativamente a colonizaçã o e também havia
concorrência de outras colô nias. A influência da Nova Holanda também permaneceu
limitada economicamente. O valor das exportaçõ es de peles de castor e tabaco totalizou
900.000 florins no final da presença holandesa na América do Norte. O comércio
atlâ ntico holandês, por outro lado, já tinha um volume de quatro a sete milhõ es e meio
de florins na década de 1920. Com exceçã o do ano de 1673, quando o antigo Nieuw-
Amsterdam foi brevemente ocupado pela Repú blica, a colô nia estava em mã os inglesas
desde 1664. Os colonos holandeses nã o fugiram de volta para a Repú blica apó s a
aquisiçã o, mas continuaram a negociar, visitar agricultores e a igreja. Eles estã o
incluídos na maior colô nia inglesa. 68

3.2 Nova Amsterdã : uma cidade adormecida ou um terreno fértil para a


tolerâ ncia?

Que papel desempenha o curto período de presença holandesa na historiografia inglesa


e holandesa? Existe uma influência demonstrá vel dos valores holandeses no Novo
Mundo? Pergunte a um americano sobre as origens dos Estados Unidos e ele lhe contará
sobre os pais fundadores que chegaram à Terra Prometida com o navio Mayflower em
1620. Os puritanos da Inglaterra sã o vistos como os progenitores da América. Os
historiadores ingleses sempre se concentraram no papel da Inglaterra e dos ingleses na
histó ria de Nova York e dos EstadosUnidos.69
A imagem dos holandeses há muito tempo é determinada por uma fonte satírica.
Em 1809, Washington Irving escreveu sob o pseudô nimo The History of New York, desde
o início do mundo até o fim da dinastia holandesa, por Diederich Knickerbocker.70 Nele,
os holandeses em Nova Amsterdã sã o apresentados como muito teimosos,

68 Putnam, ‘Discovery Manhattan’, 22, Jacobs, Zegenrijk Gewest, 227, 228. Na década de 1950, o
comércio de peles de castor representava um valor de 300.000 a 350.000 florins, de acordo com
Jacobs. Quando a colô nia foi tomada pelos ingleses, o valor do comércio de tabaco oscilou entre
500.000 e 800.000 florins.
69 Joyce D. Goodfriend, ‘Introduction’, em Joyce D. Goodfriend (ed.), Revisitando a Nova Holanda.

Perspectives on Early Dutch America (Leiden 2005), 1-12, there 1.


70 Washington Irving, The History of New York, from the beginning of the world to the end of the Dutch

dynasty, por Diederich Knickerbocker (New York 1809).

38
pessoas, que passam o tempo com conversa fiada e com a atividade favorita de preguiça
pensativa. Esses holandeses nã o teriam contribuído de forma alguma para o progresso
americano. Embora esta fosse uma publicaçã o satírica, influenciou muito a percepçã o
que os americanos tinham do povo holandês. Essa imagem mudou um pouco em meados
do século XIX, quando John Lothrop Motley escreveu The Rise of the Dutch Republic: a
History.71 Motley descreveu os holandeses como agricultores e cidadã os trabalhadores,
que entraram em guerra com os governantes espanhó is. Essa luta pela liberdade
ressoou fortemente entre os leitores americanos que haviam concluído com sucesso a
mesma luta apenas um pouco mais de um século antes. Outra popularizaçã o da Holanda
foi feita com base em Hans Brinker, de Mary Mapes Dodge72. Hans Brinker , um garoto
holandês de quinze anos patina pela Holanda e experimenta todos os tipos de aventuras.
A Holanda é apresentada como um conto de fadas com muita atençã o para diques e
moinhos. Dodge faz parecer que todas as crianças na Holanda sã o visitantes frequentes
do museu e têm muito conhecimento da pintura holandesa. Um trecho do livro, de um
menino sem nome que coloca o dedo em um buraco em um dique e, assim, impede um
avanço do dique, tornou-se tã o conhecido que esse papel heró ico foi atribuído a Hans
Brinker.73

No final do século XIX, havia até mesmo uma verdadeira mania holandesa na
América. Como resultado de uma grande onda de migraçã o da Europa Oriental, os
americanos procuraram freneticamente por sua identidade. Isso resultou em muita
atençã o para a Holanda e, em particular, para a pintura holandesa da Idade de Ouro. Os
americanos se reconheceram nas representaçõ es dos mestres holandeses de holandeses
razoá veis e limpos, que travaram uma batalha contínua contra a á gua, tinham um olho
para as liberdades religiosas, econô micas e políticas e se distinguiam por seu espírito
empreendedor. Museus na Holanda tiveram que lutar para manter as obras mais
importantes dos mestres holandeses da Idade de Ouro fora das mã os americanas.74
Na historiografia da origem da América, o papel de Nieuw-Amsterdam nunca foi
medido de forma muito ampla. Nas histó rias urbanas de Nova York, a colô nia holandesa
ocasionalmente recebia um pouco mais de atençã o. A razã o pela qual nã o se escreveu
muito sobre Nieuw-Nederland foi principalmente devido ao

71 John Lothrop Motley. The Rise of the Dutch Republic: a History, (Nova York, 1856).
72 Mary Mapes Dodge, Hans Brinker; or, the silver skates: A story of life in Holland. (Nova York, 1865).
73 Annette Stott, ‘Images of Dutchness in the United States’, em Hans Krabbendam, Cornelis A. Van

Minnen, Giles Scott-Smith, Four Centuries of Dutch-American Relations 1609-2009 (Amsterdã 2009)
238-249, lá 238, 240, 242.
74 Karla Olgers, ‘From Hollandmania to Broadway Boogie Woogie’, em Martin Pruijs (ed.), Amsterdã.

Nieuw-Amsterdam. 1609-2009. A ligação de 400 anos entre Amsterdã e Nova York (Naarden 2009), 157-
169, lá 159-161.

39
fato de que os cientistas americanos nã o liam holandês e, portanto, nã o podiam realizar
pesquisas de arquivo. As traduçõ es de documentos de arquivo que existiam eram de
qualidade muito questioná vel ou foram perdidas em vá rios incêndios. No entanto, o
historiador americano Charles Gehring mudou isso desde 1974. Ele começou a traduzir
os arquivos da Nova Holanda, o chamado The New Netherlands Project. Acadêmicos e
jornalistas se inspiraram amplamente nos resultados deste projeto. A histó ria de Nova
Amsterdã é mais popularizada pelo jornalista americano Russell Shorto com sua
publicaçã o A Ilha no centro do Mundo. A história não contada da Manhattan holandesa e
a fundação de NovaYork.75
Shorto, ao contrá rio da maioria de seus compatriotas, atribui a presença
holandesa em Manhattan a um papel central na histó ria da cidade de Nova York e até
mesmo na formaçã o dos Estados Unidos. De acordo com Shorto, sã o os holandeses que
formam o modelo da sociedade multiétnica que a América se tornou na colô nia de
Nieuw-Nederland e na cidade de Nieuw-Amsterdam. Foram os holandeses que
introduziram a liberdade de consciência, fé, movimento e comércio. O legado mais
importante da Holanda nã o está nos nomes de lugares holandeses que ainda existem
hoje, nem nos descendentes holandeses, como os Vanderbilts, mas no fato de que
Manhattan era um lugar de abertura, livre comércio, pluralismo religioso e cultural.
Shorto coloca a colô nia holandesa contra as colô nias inglesas puritanas na Nova
Inglaterra e na Virgínia, onde, segundo o jornalista, os colonos estavam principalmente
envolvidos na perseguiçã o de dissidentes.76
Há muito a ser dito contra a posiçã o de Shorto. A colô nia era mesmo holandesa e
as possíveis influências em Nova York têm um selo holandês? Afinal, cinquenta por
cento dos colonos eram alemã es, dinamarqueses, franceses ou da Valô nia. Se a cultura
dominante é holandesa, as minorias poderiam se contentar com isso, mas isso nã o foi
dito comcerteza.77 Além disso, podemos nos perguntar se a colô nia era tã o tolerante.
Embora tenha sido decidido pela WIC em 1624 nã o perseguir ninguém por causa da
religião e conceder a todos a liberdade de consciência, ficou claro que, para a paz
desejada na colô nia, a religiã o reformada tinha que ser espalhada. A prá tica religiosa
pú blica de outras religiõ es minaria isso e levaria a "descura, heresia e rupturas". Ambas
as comunidades luterana e judaica entraram em confronto com o governador Peter
Stuyvesant. Os luteranos queriam um pregador luterano, um luxo que só obtiveram
depois

11 Russell, Shorto, A ilha no centro do mundo. A história não contada da Manhattan holandesa e a
fundação de Nova York (Londres 2004).
76 Russell Shorto , A Ilha , 3-7, 10, 11, 347-351.
77 Jacobs, Zegenrijk Gewest, p. 22.

40
aquisiçã o pelos ingleses e um grupo de 23 migrantes judeus do Brasil só foram
autorizados a se estabelecer em Nova Amsterdã depois que a WIC aprovou isso.78
O fato de Nova Amsterdã ser um farol de tolerâ ncia em um mar de extremistas
puritanos nã o parece sustentá vel. A posiçã o da Igreja Reformada foi defendida, pois a
WIC esperava que a unidade da religiã o tivesse um efeito estabilizador na jovem colô nia.
Na colô nia, essa convicçã o foi mantida, as minorias religiosas tiveram que se adaptar e
apenas as petiçõ es ao conselho da WIC ocasionalmente relaxavam a política rígida. É
imprová vel que essa nuance acadêmica seja uma fonte de dissonâ ncia. No entanto, a
mensagem de Shorto é diferente da dos historiadores que o precederam. Sua mensagem
de influência holandesa em Nova York é ansiosamente citada por aqueles que defendem
o caso holandês. Isso também se reflete na celebraçã o do Ano Hudson.

3.3 Holanda no Hudson

Uma celebraçã o das relaçõ es bilaterais como o Ano Hudson é um importante tema de
pesquisa, pois reflete os sentimentos histó ricos do período. Como a histó ria é trazida e
vivenciada entre os países? Existe acordo entre os países, ou duas naçõ es aderem a um
lado diferente da histó ria? A mensagem da celebraçã o pode causar dissonâ ncia. Isso
ficou dolorosamente claro em 2002. Na celebraçã o nacional dos 400 anos da voc,
indonésios e sul-africanos reagiram com muita incompreensã o. Em vez de uma
celebraçã o da voc e do espírito empreendedor e comercial que a Holanda trouxe ao
mundo, nã o era mais apropriado organizar uma reuniã o de comemoraçã o em conjunto
para refletir sobre os crimes da empresa? Os ministros indonésios e sul-africanos,
portanto, nã o estavam presentes durante as festividades79.
Em 2009, o Ano Hudson foi celebrado, quatrocentos anos apó s a viagem do
explorador. A celebraçã o deste ano foi uma iniciativa do empresá rio holandês Gert
Tetteroo. Em 1909, o governo holandês mandou construir uma réplica da Meia Lua
como presente para os EUA e, em 1959, a princesa Beatrix visitou Nova York. Esses
sentimentos nã o mais desempenharam um papel até que Tetteroo se jogou no projeto.
Ele fundou a Fundação Henry Hudson 400 em 2006. Juntamente com a jornalista
americana Angela Haines e o ex-banqueiro do ING Gerard Jongerius, Tetteroo convenceu
a província da Holanda do Norte e o município de Amsterdã da

78 Jacobs
, Zegenrijk Gewest, 254, 263-265, 315, 316.
79Oostindie, ‘Squaring the circle’, p. 149. O ministro indonésio Kwik Kian Gie esteve
presente e fez um discurso, mas nã o o fez na sua qualidade oficial. Em seu discurso, Gie
cedeu ao COV por causa da opressã o colonial do povo indonésio.

41
importâ ncia de uma celebraçã o bilateral. O estado e a cidade de Nova York rapidamente
seguiram o exemplo. A ideia subjacente da fundaçã o é explicada no site da fundaçã o:

‘O caráter único da cidade de Nova York, originalmente Nova Amsterdã, foi


moldado pelo legado da cultura multiétnica e tolerante da Amsterdã do século
XVII. Além de celebrar o evento histórico com uma série de eventos especiais em
2009, Henry Hudson 400 promoverá futuros laços entre essas duas grandes
cidades, que estão ligadas por sua crença compartilhada no valor de
sociedades livres, diversas e empreendedoras.’80

Os organizadores usam com gratidã o a tese de Shorto e enfatizam a cultura tolerante de


Nieuw-Amsterdam que eles acreditam que continua a funcionar em Nova York. De
acordo com os organizadores, os cidadã os de Nova York e Amsterdã compartilham os
valores de liberdade, diversidade e espírito comercial. O governo holandês também agiu,
provavelmente por razõ es econô micas. Em 2009, o programa NY400: Holland on the
Hudson chamaria a atençã o ‘para a‘pegada’ que nosso país deixou na histó ria dos EUA’ a
partir dos ‘valores compartilhados de abertura, orientaçã o internacional, criatividade,
diversidade e tolerâ ncia’. Para esse fim, foram disponibilizados € 6,2 milhõ es.81 Um
grande nú mero de eventos foi planejado em Amsterdã e Nova York para celebrar o Ano
Hudson. A abertura do Ano Hudson ocorreu em 29 de janeiro em Nova York pelo
prefeito de Amsterdã Job Cohen e pelo secretá rio de Estado das Relaçõ es Exteriores
FransTimmermans.82
Em 8 de setembro de 2009, uma mostra da frota de camas planas holandesas e
uma réplica da Lua Crescente foram realizadas em Nova York, no rio Hudson. O príncipe
herdeiro Willem-Alexander e a princesa Maxima estavam acompanhados por Frans
Timmermans. Do lado americano, a delegaçã o era composta pela secretá ria de Estado
Hillary Clinton e pelo prefeito de Nova York, Michael Bloomberg. |||
UNTRANSLATED_CONTENT_START|||Een greep uit de evenementen die in het kader
van de viering in New York werden georganiseerd, toont een tentoonstelling over
Nieuw-‐Amsterdam, een waterconferentie, een wandelroute in het zuiden van
Manhattan over de resten van Nieuw-‐Amsterdam, een job swap waar|||
UNTRANSLATED_CONTENT_END|||

80 http://www.henryhudson400.com/hh400_foundation.php ,
consultado em 2 de abril de 2015. A fundaçã o agora se
renomeou Henry Hudson 500. Henry Hudson 400 foi levantado.
81 Informaçõ es té cnicas sobre a publicaçã o Status: preparaçã o para o 400º aniversá rio dos Países

Baixos/Nova York, Ano da Reuniã o de 2008-2009, Anexo ao DocumentoParlamentar31700- ‐V nº 16


82 Henk Schutten, Amsterdam New York 400, Parool, 23 de fevereiro de 2008., ‘Cohen and

Timmermans open jubilee yearNew York’, http://www.volkskrant.nl/buitenland/cohen- -en-


carpenters - open - jubilee year - new-york~ a313478/, consultado em 2 de abril de 2015.

42
pessoas de Nova York e Amsterdã mudaram temporariamente de emprego e um
pequeno livreto sobre a "histó ria esquecida"de Nieuw-Amsterdam.83
O livro The forgotten history of Hudson, Amsterdam and New York84 foi escrito pelos
jornalistas Geert Mak e Russell Shorto. Em dois capítulos, sã o discutidas a viagem de
descoberta de Hudson, a fundaçã o de Nova Amsterdã e a influência duradoura da
colô nia holandesa em Nova York. Mak e Shorto prestam muita atençã o à tolerâ ncia na
colô nia, seja ou nã o realizada apó s a intervençã o do WIC, a composiçã o multiétnica da
Nova Holanda e como Nova York se diferencia de outras cidades da América do Norte.
Shorto chega a dizer que os imigrantes que chegaram a Nova York no século XIX
pegaram os valores liberais desta cidade e os espalharam por todo o país. Sã o convicçõ es
que se encaixam perfeitamente na mensagem que a Fundaçã o queria transmitir há 400
anos Henry Hudson. Os patrocinadores do Hudson Year foram empresas holandesas e
americanas, como o Schiphol Group, a Aegon, a Câ mara de Comércio de Amsterdã , a
Heineken, a American Express e a Bolsa de Valores de Nova York. Uma boa quantidade
de atençã o foi dada ao ano na mídia holandesa. Isso ocorreu porque a celebraçã o nã o
apenas ocorreu em setembro em Nova York, mas também no início do ano, em
Amsterdã . As festividades ocorreram no contexto do AnoHudson.85
O governo holandês, a mídia, a comunidade empresarial e o setor cultural
prestaram atençã o ao Ano Hudson. Mas como foi isso em Nova York? Olhando para os
parceiros do governo e da Fundaçã o Henry Hudson 400, também houve muita atençã o
para a celebraçã o na América. Vá rias instituiçõ es museoló gicas, incluindo o Museu da
Cidade de Nova York e o South Street Seaport Museum, tiveram exposiçõ es sobre Henry
Hudson e a influência da colô nia comercial holandesa. O Jardim Botâ nico de Nova York
exibiu uma coleçã o de bulbos de tulipas, o Conselho de Turismo de Nova York foi muito
ativo na promoçã o do ano e o prefeito de Nova York foi um defensor caloroso do evento.
O New York Times dedicou uma série de artigos à s festividades. No entanto, uma peça
nã o muito entusiasmada apareceu sobre a semana festiva em setembro86.
No artigo, AG Sulzberger descreve o Ano Hudson em Nova York como um evento
que toda a naçã o apoiou, que o governo planejou por anos, a mídia gravou tudo e
cidadã os entusiasmados de todos os cantos apareceram.

83 http://www.henryhudson400.com/all_projects.php ,
consultado em 2 de abril de 2015.
7 Gerdy van der Stap (ed.), A história esquecida de Hudson, Amsterdã e Nova York
(Amsterdam and New York 2009), p. 8.
85 Russell Shorto, ‘The Accidental Legacy of Henry Hudson’, em Gerdy van der Stap (ed.), The

forgotten history of Hudson, Amsterdam and New York (Amsterdam and New York 2009), p. 39-63, p.
61, 62.
86 http://www.nycgo.com/ny400 , consultado em 3 de abril de 2015.

43
O lugar onde as festividades eram tã o celebradas? Holanda. Sulzberger observa que foi o
governo holandês que financiou as festividades por cerca de US $10 milhõ es e que os
holandeses, embora tenham abandonado a cidade de Nieuw-Amsterdam há 350 anos,
"carregam abertamente um apego persistente, como o de um romântico rejeitado".
Segundo o jornalista, a celebraçã o do Ano Hudson nã o vive muito bem entre os nova-
iorquinos. O NRC é da mesma opiniã o. Um artigo na seçã o internacional do jornal com a
manchete "Festa holandesa atrai principalmente público holandês em Nova York"
menciona o pú blico principalmente holandês que veio ao festival na Ilha dos
Governadores. O ú nico evento que chamou a atençã o dos nova-iorquinos foi uma
apresentaçã o do internacionalmente renomado DJ Armin van Buuren, mas as partes
interessadas deixaram o festival logo apó s o término de sua apresentaçã o.87
Isso é dissonâ ncia? A atençã o dos nova-iorquinos para o Ano Hudson era baixa e
eles estavam pouco ausentes das festividades. A questã o é se esse grupo tem uma ideia
de um passado compartilhado. No entanto, houve muito interesse pelo evento em nível
oficial. Na abertura do Ano Hudson, Michael Bloomberg enfatizou a importâ ncia de Nova
Amsterdã para a identidade de Nova York. "Esses primeiros anos como entreposto
comercial são tão importantes para a nossa identidade, e estamos empenhadosemdar a esse
período o reconhecimento de que merece plenamente 1988 e em uma exposiçã o no
Museu da Cidade de Nova York, com o tema 400 anos Nova York, a influência holandesa
no campo da tolerâ ncia e do comércio foi amplamente discutida. Nã o há dú vida aqui
sobre a percepçã o do efeito da presença holandesa em Nova York. No entanto, o
interesse por essa histó ria parece estar limitado a instituiçõ es museoló gicas, governos e
empresas que têm motivos econô micos e americanos de origem holandesa. Como isso
afeta a política do PCC?

87 A.G. Sulzberger, ‘400 Years later, and Still Proud of New Amsterdam’,
http://www.nytimes.com/2009/09/14/nyregion/14dutch.html , consultado em 3 de abril de
2015, Freek Staps, ‘Dutch Party draws mostly Dutch Crowd’,
http://vorige.nrc.nl/international/article2359445.ece , consultado em 3 de abril de 2015.
88 http://www.nytimes.com/2009/01/29/nyregion/29hudson.html. Com o entusiasmo da

Bloomberg, pode-se observar que, em meio a uma crise financeira, Nova York estava feliz em
receber a renda dos turistas holandeses.

44
3.4 Política do PCC em Nova Iorque

Que patrimô nio cultural pode ser encontrado em Nova York? O consulado, os Arquivos
Nacionais, o RCE e a cultura holandesa dã o prioridade ao patrimó nio material ou
imaterial? Que mensagem é divulgada pelos implementadores da política do PCC? Em
Nova York, nã o resta muito do PCC em termos de patrimô nio material. De Nieuw-
Amsterdam, situada no que é hoje Lower Manhattan, nenhum vestígio material pode ser
encontrado. Por exemplo, a câ mara municipal de Nieuw-Amsterdam já foi demolida em
1697, incêndios em 1776 e 1835 e mais tarde o peso do edifício fez o resto. A planta da
rua na Baixa Manhattan, que segue o desenvolvimento da antiga colô nia, ainda pode ser
caracterizada como um patrimô nio material. Fora de Manhattan, ainda há casas
construídas por descendentes de colonos holandeses, como a VanderEnde-
OnderdonkHouse de 1709 no distrito de Queens. Esta é também a mais antiga casa de
pedra ainda habitada em Nova York do período holandês. Mais restos holandeses podem
ser encontrados no Brooklyn. A Casa Jan Martense Schenck de 1675 foi desmontada
pedra por pedra no século XX e reconstruída no Museu do Brooklyn. A Wyckoff
Farmhouse, também no Brooklyn, data de 1654. Muitos restos materiais foram
construídos por colonos holandeses usando técnicas de construçã o holandesas, mas
estas datam de depois da rendiçã o aos ingleses em1664.89
Mais patrimô nio pode ser encontrado em um nível intangível. Nomes de ruas
como Broad Street, Paerl Street e Bever Street sã o herdeirosdas ruas Breedewegh,
Paerle Street e Beversgracht, do século XVII. Wall Street, lar do centro financeiro de
Nova York, fica no local onde os holandeses construíram uma paliçada. Há também
muitos exemplos de influências holandesas na língua. Os americanos comem biscoitos,
têm um chefe (boss) e sã o chamados de Yankees (Jan Kees). Sobrou o suficiente para
uma publicaçã o sobre empréstimos holandeses na língua americana. A herança
holandesa nem sempre se sai bem na língua. Por exemplo, a frase "Eles falam como um
tio holandês" refere-se a uma frase rude. Essa animosidade semâ ntica provavelmente
tem suas origens no século XVII, quando ingleses e holandeses estavam emguerra.90
Como os Estados Unidos só se tornaram um país prioritá rio em 2012, a Holanda
ainda nã o estabeleceu um enorme nú mero de atividades do PCC. O RCE conduziu uma
pesquisa sobre um naufrágio De Tijger e faz um inventá rio de

89 Temminck Groll, CL, The Dutch overseas, 288, Gaius Scheltema e Heleen Westerhuijs (eds.), Dutch
New York. A travel guide to the heritage of "New Netherlands" (Haarlem 2012), 29, 66, 84.
90 Nicoline van der Sijs, Yankees, biscoitos e dólares. The influence of Dutch on North American

languages (Amsterdam 2009), p. 57-58.

45
naufrá gios em á guas norte-americanas. O Rijksdienst também financia um ‘mapeamento
cultural’, onde a potencial cooperaçã o cultural com os EUA é investigada. Com o
Matching Fund, a DC apoiou um projeto da New Holland Foundation, no qual é feito um
inventá rio de fortes na América do Norte e uma oficina com alunos do ensino médio em
Utrecht e Nova York. Neste workshop, o conhecimento do passado compartilhado é
aumentado e colocado em perspectiva. A AN ainda nã o tem atividades. O consulado
holandês em Nova York é mais ativo no início das atividades. Como o orçamento do
consulado nã o chega ao céu, o dinheiro é usado principalmente para o patrimô nio
intangível. Afinal, manter o patrimô nio material custa muito dinheiro. Os fundos sã o
usados principalmente para chamar a atençã o para a influência holandesa na sociedade
americana. Em Nova York, vá rias partes estã o ativamente envolvidas na contribuiçã o
holandesa para a histó ria americana. Sã o exemplos o New Netherlands Institute (NNI),
onde sã o traduzidos os arquivos de Nieuw-Amsterdam, o New Amsterdam History Center
(NAHC), instituto sob os auspícios da Collegiate Church, que tem suas raízes na
Reformed Church, e sociedades como a Holland Foundation ou a Holland America
Friendship Foundation. Desde 2012, o consulado tem prestado muita atençã o aos seus
laços com o NNI e o NAHC. Também colabora com museus como o Museu da Cidade de
Nova York e a Sociedade Histó rica do Brooklyn91.
Em colaboraçã o com os museus, o dinheiro será destinado ao desenvolvimento
de currículos que enfatizem o papel dos holandeses em Nova York. Em cooperaçã o com
o NNI, foram obtidos ganhos educacionais. O currículo para o estado de Nova York é
determinado na capital Albany. Enquanto os livros de histó ria das escolas primá rias
escreviam anteriormente sobre "colonos europeus", isso mudou para "colonos
holandeses" depois de um lobby conjunto do NNI e do consulado. Crianças de 9/10 anos
aprendem sobre a histó ria holandesa de Nova York. A histó ria da Holanda vive muito
entre os nova-iorquinos? De acordo com Ryan Emmen, oficial de patrimô nio cultural do
consulado em Nova York, isso nã o é tã o ruim. Há um nú mero limitado de organizaçõ es
envolvidas nisso. Ele também é um pouco cético sobre a experiência de uma histó ria
compartilhada. Emmen vê que para os americanosa ‘herança’, no sentido de origem, é
muito importante. Se eles sã o descendentes de alguma forma do povo holandês, essa é
uma parte importante de sua identidade.92

Na historiografia em língua inglesa das origens de Nova York e da América, a Nova


Holanda nã o tem um papel decisivo. O jornalista Russell Shorto mudou isso afirmando
que nesta colô nia a primeira forma de liberdade religiosa em

91 Entrevista Ryan Emmen.


92 Entrevista Ryan Emmen.

46
América foi pregada. Embora nã o haja consenso sobre sua tese no nível acadêmico, ela é
particularmente popular. Certamente entre os defensores do caso holandês em Nova
York, essa suposta influência é vista como um importante patrimô nio imaterial. A
mensagem transmitida pelas partes organizadoras do Ano Hudson foi, de acordo com
Shorto, um dos valores compartilhados devido a uma influência duradoura dos colonos
holandeses. Os valores de liberdade de religiã o e tolerâ ncia combinados com um
interesse no comércio foram celebrados. Esta mensagem foi proclamada em nível oficial.
Parecia que o nova-iorquino comum nã o poderia ter repetido essa mensagem por conta
pró pria. Que essa consciência nã o existisse poderia potencialmente levar à dissonâ ncia.
O cidadã o comum tem uma ideia diferente sobre as influências no desenvolvimento de
Nova York e, portanto, nã o concorda com a mensagem de que o patrimô nio se espalha.
No final, a indiferença foi a emoçã o mais intensa que a celebraçã o evocou, e a
dissonâ ncia persistiu. A que se deve isto?
O modelo de Tunbridge e Ashworth fornece duas explicaçõ es para isso. Em
primeiro lugar, a relaçã o histó rica entre os colonos holandeses e ingleses, que nã o é
tipificada como uma relação mestre-servidor , na qual uma parte dominou a outra e,
portanto, nã o lança sombra sobre o presente. A Inglaterra nã o colonizou brutalmente a
colô nia holandesa, mas assumiu o controle sem derramamento de sangue. Isso garante
que as proporçõ es estejam menos sob tensã o com antecedência. Em segundo lugar,
seguindo um pouco do exposto, os nova-iorquinos e os holandeses podem compartilhar
igualmente da folia. Ambos os grupos têm o que Tunbridge e Ashworth chamam de
"visã o equilibrada", nenhum grupo sendo considerado mais importante que o outro. Por
exemplo, a identidade patrimonial de um grupo nã o causa perda patrimonial do outro
grupo.
Deve-se notar que descendentes de índios ou escravos da colô nia holandesa
tinham motivos para reclamar. A sangrenta guerra contra os índios e a introduçã o da
escravidã o na colô nia pelos holandeses nã o foram lembradas na celebraçã o. Isso
certamente poderia ter causado dissonâ ncia, mas nã o houve protestos. A dissonâ ncia
está presente na política holandesa do PCC? Desde que os Estados Unidos foram
adicionados como um país prioritá rio em 2012, o consulado apoiou uma série de
atividades onde o passado da escravidã o foi discutido. No entanto, o consulado se
concentra principalmente em espalhar a histó ria da influência holandesa na sociedade
americana. Uma das atividades mais atraentes para trazer isso à tona foi o lobby de
personalizaçã o de livros didá ticos escolares de Nova York. As crianças agora estã o
aprendendo sobre os colonos holandeses que povoaram Nova Amsterdã , onde antes
eram colonos europeus. Onde a dissonâ ncia está ausente entre os cidadã os de Nova
York, ela também nã o parece estar presente em um nível superior. No entanto, o Ano
Hudson mostra que, com os governos americanos, o

47
a disposiçã o de acompanhar a mensagem de conexã o também é fortemente influenciada
por motivos econô micos. O Ano Hudson, portanto, se encaixa perfeitamente no
desenvolvimento do marketing patrimonial, que distingue Tunbridge e Ashworth.

48
4 Recife e PCC

Como parte de uma tentativa de enfraquecer o império hispano-português, a Repú blica


voltou os olhos para o Novo Mundo. Foi aqui que as potências ibéricas ganharam
dinheiro com o comércio de prata e açú car. A Companhia das Índias Ocidentais
conseguiu conquistar a província brasileira de Pernambuco em 1630. Recife se tornaria
a capital da nova colô nia da Nova Holanda. Os benefícios do açú car poderiam ser usados
para financiar os esforços de guerra do WIC. Esta aventura teve um destino ainda mais
curto do que a New Holland na América do Norte. Já em 1654, os holandeses foram
expulsos do Recife. Isso nã o aconteceu até que a WIC se envolveu ativamente no
comércio de escravos. Sob a liderança do proeminente Conde Johan Maurits de Nassau-
Sieggen, foram conquistadas feitorias de escravos nas atuais Gana e Angola.
O conde foi governador da Nova Holanda por apenas sete anos, de 1637 a 1643.
No entanto, ele causou uma grande impressã o neste curto período e deixou um legado
duradouro. No Brasil, é claro. Enquanto Maurice ‘o brasileiro’ é conhecido na Holanda
principalmente por causa do museu em Haia nomeado em sua homenagem, todas as
crianças brasileiras em idade escolar conhecem o seu nome. Maurits está
inequivocamente ligado à histó ria holandesa no Brasil e, portanto, à PCC neste país. No
Brasil, também, estou investigando se a dissonâ ncia surge no patrimô nio imaterial. Eu
investigo isso de três maneiras. Primeiro, olho para o papel de Maurice na histó ria
brasileira. Como os brasileiros veem Maurits? Em segundo lugar, estou investigando as
atividades do PCC em Recife. Que mensagem é apresentada nessas atividades? Existe
uma histó ria ou dissonâ ncia compartilhada? No primeiro pará grafo, descrevo a histó ria
da New Holland, a colô nia holandesa no Brasil. O segundo pará grafo tratará do papel de
Maurice na historiografia brasileira. Na terceira seçã o, discutirei a política do PCC da
Holanda no Brasil.

4.1 Holandês no Brasil

Como vimos no Capítulo 3, a fundaçã o do WIC foi baseada em um desejo de expansã o no


Novo Mundo. Isso ocorreu principalmente porque Portugal e Espanha derivaram grande
parte de sua renda daqui. A Espanha ganhou muito dinheiro com as minas de prata na
América do Sule Portugal tinha uma posiçã o forte no comércio de açú car. Inicialmente, o
WIC se concentrou em corsá rios. Esta foi uma forma relativamente intensiva de capital
de perturbar o comércio das superpotências ibéricas. O WIC também percebeu que, para
financiar a luta, a renda sustentá vel é urgentemente necessá ria

49
eram. Isso nã o poderia ser feito apenas por corsá rios. Isso exigia uma colô nia. O Brasil,
que estava sob o domínio português, era visto como um objetivo ideal. O WIC tinha
quatro razõ es para isso. Primeiro, havia a ideia de que os portugueses tinham um
exército menos forte e menos organizado do que os espanhó is. Em segundo lugar, a
populaçã o local teria sido tã o aterrorizada pelos portugueses que provavelmente se
juntaria aos holandeses. Em terceiro lugar, Portugal poderia se tornar um aliado mais
facilmente do que a arqui-inimiga Espanha. O ú ltimo motivo foi a produçã o muito
lucrativa de açú car no Brasil português que encheria as malas do WIC. Dentro da
Repú blica, também havia oponentes dessa aventura pretendida. Com uma comparaçã o
colorida, eles discutiram seu caso: o rei da Espanha veria a Á sia portuguesa como sua
concubina, que também poderia passar sem ele, mas ele via a América como sua esposa
legal, da qual ele tinha ciú mes e nã o permitia ser tocado. No entanto, esses contra-
argumentos nã o eram fortes o suficiente aos olhos dos Srs. XIX, o Brasil se tornaria o
alvo.93

Como demorou um pouco para o WIC coletar seu capital inicial, a empresa nã o
conseguiu financiar imediatamente uma expediçã o ao Brasil. Portanto, a primeira frota
de guerra nã o foi enviada até 1624. A expediçã o tinha como objetivo capturar a cidade
de Salvador da Bahia. Os portugueses ficaram completamente surpresos, quase tã o logo
a frota de guerra holandesa apareceu no horizonte, eles fugiram da cidade com pressa. A
Holanda tomou a Bahia e a expediçã o foi um grande sucesso. No entanto, portugueses e
espanhó is nã o deixariam barato. Apressadamente equiparam uma frota de cinquenta e
quatro navios com 12 mil homens a bordo, e retomaram a Bahia em 1625. O WIC nã o
tinha dinheiro suficiente para planejar imediatamente uma nova expediçã o. Isso só
mudou quando Piet Heijn sequestrou a frota de prata espanhola em 1628. Os lucros
desta vitó ria forneceram uma infusã o financeira muito necessá ria para o WIC, para que
uma nova expediçã o pudesse ser equipada em 1630. Agora Olinda, capital da rica
província açucareira de Pernambuco, foi atacada. Os holandeses conseguiram capturar
esta cidade com uma frota de setenta e seis navios. Olinda foi saqueada e reduzida a
cinzas, entã o a pequena vila de pescadores do Recife, que teria uma localizaçã o mais
favorá vel, foi elevada a nova capital. A New Hollandnasceu.94
A nova colô nia nunca se tornaria lucrativa sem os benefícios do açú car. Esta
indú stria foi duramente atingida nos primeiros cinco anos da presença holandesa. Isto
deveu-se em parte aos plantadores portugueses que se revoltaram contra os holandeses.
Em uma guerra de guerrilha, eles visavam principalmente as plantaçõ es, cujos canaviais
eram ateados fogo. Nã o foi até 1635 que essa rebeliã o esteve sob controle. Como o
conselho dos XIX nã o estava satisfeito com a Nova Holanda, que carecia de uma
administraçã o central, um governador foi nomeado

93 C. R. Boxer, The Dutch in Brazil 1624-1654 (Oxford 1957), p. 14-16.


94 Marielle Hageman, Brasil – Amsterdã, 16.

50
como desejavam. Esse homem era Johan Maurits van Nassau-Siegen. Este primo em
segundo grau do stadtholder Frederik Hendrik veio de uma família proeminente,
recebeu uma boa educaçã o e já havia se mostrado um general competente. Maurice foi
nomeado no final de 1636 e chegou em 23 de janeiro de 1637. Sua missã o era colocar as
exportaçõ es de açú car de volta nos trilhos. Esta era uma tarefa que exigia muito tato. Os
ocupantes holandeses tiveram que lidar com uma colô nia, que girava em torno da
expertise dos plantadores de açú car portugueses cató licos (colonos) e de uma populaçã o
indígena, que havia sido espalhada o má ximo possível pelos portugueses. Era
importante manter boas relaçõ es com os plantadores, fato que nã o era tã o fá cil por
causa da diferença de religiã o.95
Para manter os moradores e a populaçã o indígena amigá veis, Maurice montou a
colô nia de forma tolerante. Como também foi estipulado para a colô nia de Nieuw-
Amsterdam, aos moradores foi prometida liberdade de consciência. A confissã o religiosa
pú blica nã o era permitida, mas era tolerada abertamente. Maurits foi além da missã o da
WIC, tolerando também ordens mendicantes cató licas como os franciscanos e
beneditinos. Durante os sete anos em que esteve presente no Recife, Maurits foi
repetidamente puxado pelos pregadores calvinistas locais. Eles queriam que Maurits
processasse ativamente os padres cató licos. Ao prometer aos pregadores mais
supervisã o, mas depois nã o agir, Maurits os manteve na linha. Nem todos os cató licos
eram tolerados. Para os jesuítas, nã o havia papel na Nova Holanda. Este grupo colocou
ativamente os habitantes locais contra os holandeses e condenou a ocupaçã o holandesa.
Portanto, acontecia regularmente que os jesuítas eram banidos da colô nia. Havia mais
liberdade para a populaçã o judaica. Embora Maurice pessoalmente nã o tivesse
sentimentos calorosos pelos judeus, ele viu a importâ ncia desse grupo. Especialmente
como credores dos plantadores, que tinham que fazer grandes investimentos e com seus
conhecimentos de português e holandês, eles tinham uma funçã o importante. Os judeus
sefarditas foram, portanto, ativamente abordados para partir para o Brasil. Portanto,
nã o é de surpreender que a primeira sinagoga do Novo Mundo, Kahal Zu Israel, tenha
sido construída em Recife em 1636. Os judeus eram até autorizados a administrar lojas,
um luxo que nã o lhes era permitido na Europa. A ú nica coisa em que os calvinistas e os
cató licos estavam unidos era sua condenaçã o da liberdade que os judeus receberam.96
Com a tolerâ ncia sozinha, no entanto, a colô nia nã o foi salva. As plantaçõ es de
açú car tinham uma alta demanda por capital humano. Para resolver isso, Maurits
solicitou

95 Boxer,Holandês no Brasil, 67, 68.


96 Boxer,Dutch in Brazil, 57, 121-124, Jonathan Israel, ‘Religious Toleration in Dutch Brazil
(1624-1654)’ em Jonathan Israel e Stuart B. Schwartz, The Expansion of Tolerance. Religião no
Brasil Holandês (1625-1654) (Amsterdã 2007), 13-32, lá 27.

51
repetidamente ao conselho dos XIX, que enviasse refugiados alemã es da Holanda, ou a
espuma da terra para o Brasil. Em uma carta ao conselho da WIC, Maurits escreve: ‘Eu
apreciaria se as prisõ es de Amsterdã fossem abertas e as galés fossem enviadas para cá
para que pudessem lavar sua antiga vergonha com suor honesto por trá s da pá ’.97
Como os XIX Senhores nã o responderam ao seu pedido, Maurits decidiu voltar seu olhar
para os mercados de escravos naÁ frica.98
O comércio e o uso de escravos ainda eram uma questã o sensível na Holanda no
início do século XVII. Afinal, foram os espanhó is e portugueses papais os culpados desse
exercício pernicioso. No entanto, com o surgimento da necessidade econô mica do trá fico
de escravos, esses argumentos morais foram jogados ao mar. |||
UNTRANSLATED_CONTENT_START|||Slavernij was broodnodig om de suikermolens te
laten draaien, zoals ook de koopman Augustus van Quelen in zijn advies aan de WIC
uiteenzette ‘... want sonder Ossen ende Swarten en heeft men niets van Fernanbuc te
verhoopen’.99 Toen dominee Godfried Udemans in zijn Geestelyck Roer ook nog eens
betoogde dat de slavenhandel voor Christenen geoorloofd was, wanneer getracht werd
de slaven te bekeren en eventueel later vrij te laten, was er naast een economische ook
een morele grond voor de slavernij gevonden.100|||UNTRANSLATED_CONTENT_END|||
Maurits liderou uma frota que conquistou o forte de escravos portugueses Sã o
Jorge da Mina, ou El mina, na Costa do Ouro Africana. Isso deu aos holandeses uma base
fixa para comprar escravos. Em 1641, foi acrescentado o importante mercado de
escravos em Paulo de Luanda, em Angola. A demanda por escravos era alta na colô nia.
De 1637 até a queda do Recife em 1654, mais de 20 mil africanos escravizados foram
transportados para o Brasil.101 A conversã o desse grupo acabou nã o se concretizando. Isso
nã o prejudicou muito os outros moradores da Nova Holanda. Maurice estava bem
colocado com os vá rios grupos da colô nia. Boxer até chama seu cará ter e personalidade
de "o maior trunfo" que o WIC tinha à sua disposiçã o. De qualquer forma, o governador
garantiu relativa paz em uma colô nia que tinha ferozes divisõ es religiosas e financeiras.
The

97 José Antonio Gonsalves de Mello , holandês no Brasil(1624-1654). The influence of the Dutch
occupation on life and culture in northern Brazil (Zutphen 2001), p. 93.
98 Boxer, Dutch in Brazil, p. 82-85.
99 Augustus van Quelen, Kort Verhael Van den Staet van Fernanbuc (Amsterdã 1640).

100 Dirk J. Tang, ‘Slaves and Ships. The Netherlands and the trans-Atlantic slave trade, 1600-1863 ’
in Remmelt Daalder, Dirk J. Tang and Leo Balai (eds), Slaves and Ships in the Atlantic Area (Leiden
2013), 19-49, there 39. Godefridus Udemans, 't Geestelyck leme do navio coopmans, isto é: Trouw
bericht, wie dat een coopman, en coopvaerder, hem selven dragen moet in syne acte, esonderheyt onder
de heydenen in Oost-ende West- Indien (Dordrecht 1638).
101 As estimativas variam em nú mero de africanos negociados de 20.000 a 32.000. Ver Michiel van

Groesen, ‘Introduction’, em Jonathan Israel e Stuart B. Schwartz, The Expansion of Tolerance.


Religion in Dutch Brazil (1625-1654) (Amsterdam 2007), 6-12, there 9, e Victor Enthoven,
‘Pinassen, yachts and fragates. Ships in the Dutch Transatlantic Slave Trade’, in Remmelt Daalder,
Dirk J. Tang and Leo Balai (eds) , Slaves and Ships in the Atlantic Area (Leiden 2013) 50-64, there
53.
52
Portanto, nã o era totalmente inesperado que um terremoto ocorresse apó s a sua partida.102
A WIC retirou a nomeaçã o de Maurits em 1643 devido à sua obstinaçã o e má
gestã o financeira. Ele se despediria da colô nia em 1644. Sua partida foi igualmente
lamentada por judeus, índios, moradores. Em sua despedida, Maurits insistiu no bom
relacionamento que o WIC tinha que manter com os plantadores. Afinal, eles eram a
chave para o sucesso da colô nia. Menos de um ano apó s sua partida, os moradores se
revoltaram contra o domínio dos holandeses. Em uma batalha que duraria mais nove
anos, a WIC acabou derrotando e perdendo a colô nia em1654.103

4.2 Maurits como um modelo tolerante

O período de presença holandesa no Brasil tem sido relativamente curto. Pode ser
comparado em duraçã o à presença do voc em Formosa, agora Taiwan. No entanto, esse
período, especialmente no Brasil, sempre atraiu a imaginaçã o e foi amplamente
documentado. A presença holandesa, com protagonismo de Johan Maurits e a revolta
contra esse governante, funciona como um mito fundacional brasileiro de difícil
erradicaçã o na historiografia brasileira. A historiadora cultural Joan-Paul Rubiés
acredita que esse é um mito duplo. Primeiro, a presença holandesa teria funcionado
como um catalisador para o surgimento de uma consciência nacional. Segundo o mito, as
diferentes raças e etnias de índios, moradores e escravos negros encontrados na colô nia
se uniram em sua resistência ao governante e se sentiram brasileiros pela primeira vez.
O outro mito baseia-se na existência de liberdade de comércio e consciência religiosa,
possibilitada pelas políticas tolerantes, democrá ticas e economicamente liberais de
Maurits. O governador é apresentado aqui como um liberal moderno que serviu de
exemplo para a nova naçã o.104
As origens desses mitos remontam ao início do século XIX. Com a invasã o de
Portugal por Napoleã o em 1807, o rei português fugiu para o Brasil. Quando regressou a
Portugal em 1822, o seu filho foi deixado para trá s. Imediatamente proclamou a
independência do Brasil e foi coroado imperador. Historiadores monarquistas que
queriam criar uma consciência nacional durante esse período descreveram como a
revolta contra os holandeses forjou um verdadeiro

102 Boxer,Dutch in Brazil, p. 122.


103 Boxer,Dutch in Brazil, p. 114.
104 Joan-PaulRubiés, 'Mythologies of Dutch Brazil’, em Michiel van Groesen (ed.), The Legacy of

Dutch Brazil (Cambridge 2014), 284-318, there 286-287.

53
espírito popular e consciência nacional. O catolicismo teria um papel de conexã o nisso. O
maior apoiador desta tese foi o historiador Francisco Adolfo de Varnhagen, que ele
elaborou extensivamente em sua Histó ria Geral do Brasil de 1857. No final do século XIX,
quando o Brasil nã o desempenhava nenhum papel significativo internacionalmente, e os
habitantes do país eram atormentados por uma autoimagem negativa, esta tese foi
complementada. Escritores como Fernandes Gama e Pereira da Costa da província de
Pernambuco, nã o por acaso a província que estava sob administraçã o holandesa,
descreveram a política livre e tolerante dos holandeses e especialmente a de Maurits,
que viria a servir de exemplo para o Brasil. Essa escola de historiadores chegou a se
convencer de que uma presença mais longa dos holandeses teria sido muito benéfica
para o desenvolvimento do Recife e de todo o Brasil.105
O desenvolvimento do mito de uma rebeliã o multiétnica, combinada ao temor por
Maurice, foi inscrito por Gilberto Freyre no século XX. Sua obra Casa- grande & Senzala
traduzida como Mestre e os escravos de 1933 foi uma das mais importantes obras
socioló gicas brasileiras do início do século XX. Nele, Freyre repetiu a tese de que o
impacto holandês era mínimo, mas por causa do levante fraternizante causou uma
confraternizaçã o dos povos. Sua visã o de Maurits está bem refletida em sua contribuiçã o
para uma coleçã o que foi compilada por ocasiã o de uma exposiçã o no Mauritshuis em
1979, trezentos anos apó s a morte do governador. Em sua contribuiçã o, Freyre
posiciona Maurits como um príncipe iluminado, contra os cavalheiros ortodoxos
puramente lucrativos do WIC. Ao fazê-lo, ele dá ampla atençã o ao papel apoiado que
Maurits desempenhou para as ciências, artes e literatura. Um tanto desesperado, Freyre
se pergunta por que Maurits nã o ficou, para fazer de Prenambuco um principado
independente, onde prevaleceria uma combinaçã ode valores luso-holandeses. Devemos
notar que o argumento de Freyre nã o se concentra necessariamente na nostalgia da
presença holandesa, mas na nostalgia da figura de Maurice, o que quase dá à peça
características hagiográ ficas: Maurice funciona como o pai fundador de uma nova naçã o.
Todo lado positivo da ocupaçã o holandesa é, portanto, atribuído por Freyre ao
governador.106

Freyre transferiu seu entusiasmo pela presença de Maurice no Brasil para seu
sobrinho José Antô nio Gonsalves de Mello, a quem também incentivou a aprender
holandês. De Mello seguiu o conselho e, assim, conseguiu acessar os arquivos do WIC

105 Rubies, ‘Mythologies’, p. 296.


106 Gilberto Freyre, ‘Johan Maurits van Nassau-Siegen from a Brazilian Viewpoint’, em Ernst van
den Boogaart (ed.), Johan Maurits van NassauSiegen, 16041679: um príncipe humanista na Europa
e no Brasil: ensaios por ocasião do tricentenário de sua morte (Haia 1979), 237 246.

54
no Instituto Arqueológico, Histoórico e Geográfico Pernambuco . Os arquivos foram
copiados em Haia em 1885 em nome de um professor brasileiro e enviados para Recife.
Lá estavam eles intocados, porque os cientistas brasileiros nã o tinham conhecimento do
(antigo) holandês. A obra Tempo dos Flamengos , que se seguiu à pesquisa do Mello em
1947, tornou-se imediatamente um clá ssico no Brasil apó s a publicaçã o. É uma histó ria
social da colô nia holandesa no Brasil, ricamente salpicada de anedotas. A tese da
confraternizaçã o no levante também é abordada em Tempo dos flamengos , assim como o
culto a Maurício por causa de sua política de tolerâ ncia e papel de Patrono das Artes. A
obra influenciou sobremaneira vá rias geraçõ es de historiadores brasileiros e a memó ria
coletiva brasileira.107
É claro que Maurits fez muito pela cultura. Através dos esforços do conde,
pintores como Frans Post e Albert Eckhout tiveram a oportunidade de pintar a paisagem
brasileira e vá rias tribos indígenas. Os cientistas Willem Piso e Georg Marcgrav, por
instigaçã o de Maurice, descreveram a flora e a fauna em sua Historia Naturalis Brasília,
que permaneceu como a obra de referência mais relevante sobre a biologia do Brasil até
meados do século XIX. O primeiro observató rio do Novo Mundo foi construído em
Recife. Se devemos ver Maurits como um campeã o da tolerâ ncia liberal moderna, no
entanto, é duvidoso. O historiador Jonathan Israel é da opiniã o de que a liberdade
religiosa que judeus e cató licos conheciam nã o veio de uma veia ideoló gica, mas foi
puramente ditada pelas circunstâ ncias. Por exemplo, os judeus foram incentivados a
migrar para a Nova Holanda para funcionar como credores dos moradores e os
plantadores cató licos eram necessá rios para garantir os benefícios do açú car da colô nia.
Israel também observa que grande parte da política de tolerâ ncia foi feita pela WIC,
minimizando um pouco o lado tolerante liberal de Maurits. O fato de que a política era
pragmá tica e nã o baseada em ideologia também é evidente pelo fato de que a tolerâ ncia
na colô nia brasileira nã o era um modelo para outros grupos religiosos, como os
luteranos, e que nã o era pregada em outras colô nias holandesas. Embora a tolerâ ncia
tenha ido longe, Israel se pergunta se devemos celebrar essa prá tica como uma forma
ideoló gica "moderna" de tolerâ ncia, uma vez que a política nasceu puramente do
pragmatismo.108

97 José Antonio Gonsalves de Mello, holandês no Brasil(1624-1654). The influence of the Dutch
occupation on life and culture in northern Brazil (Zutphen 2001), p. 93.
108 Israel, ‘Religious Toleration’, p. 13-17, p. 28-30.

55
4.3 PCC no Brasil

Que vestígios patrimoniais podem ser encontrados em Recife? Existe um foco no


patrimô nio tangível ou intangível? Que mensagem está anexada aos restos do
patrimô nio? O PCC mora em Recife? A capital da colô nia holandesa era Recife. Este é o
lugar onde a maioria dos edifícios holandeses foram originalmente localizados. O
patrimô nio material está , portanto, mais centrado no Recife moderno, embora nã o
restem muitos vestígios. Como a cidade rapidamente se tornou superpovoada, Maurits
construiu uma nova cidade. Em consonâ ncia com o cará ter extravagante do conde, este
lugar foi nomeado Mauritsstad ou Maurícia. A planta da rua desta cidade também pode
ser encontrada no Recife de hoje. Para defender Mauritsststad e Recife, um grande
nú mero de fortes foram construídos, ou fortalezas portuguesas foram reconstruídas.
Cinco defesas com nomes como Frederik Hendrik, Príncipe Willem e de Bruyn tiveram que
mudar a mente de potenciais atacantes portugueses. Apó s a rendiçã o em 1654, estas
fortificaçõ es passaram para mã os portuguesas. Hoje, o Forte de Brum (de Bruyn) e o
Forto das Cinco Pontas (Frederik Hendrik) ainda estã o de pé. A cerca de 40 quilô metros
ao norte de Recife, o Forte Orange ainda pode ser encontrado na ilha de Itamaracá , que
foi restaurada no início do século XXI com apoio holandês. Fora do estado de Pernambuco,
ainda existem três fortes do período holandê s.109
As igrejas que os holandeses construíram desapareceram na histó ria. Os locais
onde as igrejas estavam localizadas sã o bem conhecidos. A localizaçã o da sinagoga
Kahal Zur Israel nã o era conhecida há muito tempo. Era certo que deveria ser
encontrado em algum lugar na Jodenstraat, o bairro judeu original. A pesquisa
arqueoló gica no final da década de 1990 ajudou a encontrar as fundaçõ es da sinagoga,
que foi completamente reconstruída em 2000. A ponte que ligava Recife a Mauritsstad
nã o foi preservada, embora só tenha sido substituída por uma de aço em 1865. Para
atravessar o rio agora, usa-se, como poderia ser de outra forma, a Ponte Mauricio que foi
construída em1920.110
Infelizmente, o edifício mais bonito que foi construído em Mauritsstad nã o
sobreviveu. Esta era a Casa de Vrijburg, o escritó rio oficial de Maurits, financiado pela
WIC para 600.000 florins.111 Este palá cio dominava o horizonte do Recife e era visível
para os marinheiros a dez quilô metros da costa. O observató rio para o cientista
Marcgraf estava localizado em Huis Vrijburg. Devido aos elevados custos de
manutençã o, os pisos superiores foram demolidos em 1794, a demoliçã o de

109 Temminck Groll, holandê s no exterior, 298, 299, 303.


110 Temminck Groll, holandê s no exterior, 302.
111 Convertido para aproximadamente €6,6 milhõ es , http://www.iisg.nl/hpw/calculate-

nl.php,consultado em 21 de maio de 2015.

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o resto da propriedade seguiu no século XIX. Embora os restos materiais da presença
holandesa no Brasil nã o sejam difundidos em Recife, as imagens da New Holland sã o. Em
um estudo sobre o histó rico de compra de pinturas de Frans Post, Rebecca Parker
Brienen chegou à conclusã o de que entre 1895 e 2003, de um total de 155 pinturas
vendidas, 81 foram compradas por brasileiros. Só entre 1999 e 2006, foram 14. De
acordo com Brienen, as obras de Post sã o tã o populares porque formam uma imagem
ideal do passado brasileiro, sobre a qual um presente bem-sucedido pode ser construído.112
No que diz respeito ao patrimô nio imaterial, já discutimos o papel que a presença
holandesa desempenha na histó ria brasileira. Também está claro agora o quanto essa
histó ria gira em torno da figura de Maurice. Além de uma universidade e uma ponte em
seu nome, o hino do município também gira em torno de sua memó ria. A Mauricéia foi
composta em 1924 como homenagem ao fundador da cidade. A mú sica foi usada
oficialmente a partir de 1947 e faz parte do currículo das escolas primá rias desde 1994.
Vá rios museus podem ser encontrados em Recife, onde o passado da Nova Holanda é
destacado. Na escola, as crianças aprendem sobre a influência que o Conde teve no
jovem Brasil.
O legado também se reflete no Memorando de Entendimento para a cooperaçã o
da PCC, que os governos do Brasil e da Holanda elaboraram em 2008. Este documento
nã o se refere apenas aos laços histó ricos que ambos os países compartilham, mas
aborda explicitamente o papel de Maurits ‘considerando, em particular, que o período do
governo de Johan Maurits van Nassau foi influente tanto no Brasil quanto na Holanda’.
Indivíduos histó ricos nã o desempenham um papel em quadros políticos anteriores
específicos de cada país para o Gana, Suriname e Sri Lanka. Indica ainda mais o papel de
Maurits. De acordo com o Memorando de Entendimento, o PCC que ambos os governos
querem prestar mais atençã o é o patrimó nio construído, os museus e a arqueologia
marítima. Este MOU expirou em2013.113
Em 2012, a revisã o intercalar da política do PCC ainda mencionou uma
cooperaçã o patrimonial rígida, de acordo com os investigadores, porque o patrimó nio
era demasiado regional e o governo central nã o cooperou o suficiente. O PCCC seria,
portanto, difícil de sair do papel. Niels Hanje e Serge de Valk, ambos funcioná rios da
embaixada holandesa, nã o reconhecem essa imagem. De acordo com

112 Temminck Groll, holandês no exterior,299-301, Rebecca Parker Brienen, ’Who ows Frans Post?
Collecting Frans Post 's Brazilian Landscapes’, in Michiel van Groesen (ed.), The Legacy of Dutch Brazil
(Cambridge 2014), 229-247, there 246, 247.
113 Governo dos Países Baixos, Governo da Repú blica Federativa do Brasil, Memorando de

Entendimento entre o Governo dos Países Baixos e o Governo da República Federativa do Brasil sobre
Cooperação no Campo do Patrimônio Cultural Comum (Haia 2008).

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a equipe de políticas pú blicas recebe mais solicitaçõ es em cada rodada de subsídios do
que pode atender. No entanto, grandes projetos no campo do patrimô nio construído nã o
estã o decolando. Assim como o consulado em Nova York, a embaixada no Brasil nã o tem
recursos para gastar dinheiro na reforma do patrimô nio construído e o dinheiro vai
principalmente para o patrimô nio imaterial. Na rodada 2013-2014, a embaixada doou
dinheiro para projetos com foco na presença holandesa no Brasil, nas paisagens
pintadas por Frans Post e na publicaçã o de um acervo de mapas do cartó grafo holandês
Vingboons. A embaixada também forneceu fundos para a realizaçã o de uma exposiçã o
intitulada ‘A história agridoce do açúcar’, na qual é mostrado o pano de fundo de quatro
séculos de comércio de açú car. Da Cultura Holandesa, dos Arquivos Nacionais e do RCE,
nã o estã o a ser criadas iniciativas para a renovaçã o do patrimó nio construído,
provavelmente devido à dimensã o dos orçamentos. O RCE incluiu o Recife em um estudo
intitulado Patrimô nio como um ativo para o desenvolvimento do centro da cidade, que
investigou como as qualidades histó ricas de uma cidade podem ser usadas. O Serviço
Governamental também está envolvido na iniciativa ‘RxA - Recife Exchange Amsterdam’,
na qual Amsterdã e Recife trabalham juntos nas á reas de ordenamento do territó rio,
gestã o da á gua e problemas detrá fego.114
As atividades patrimoniais nã o ocorrem exclusivamente em Recife. Fora do
Recife, a DutchCulture financiou o Empire Projectcom o matching fund, um projeto de
pesquisa sobre as consequências nã o intencionais do colonialismo holandês e um
programa chamado Fortress Project da New Holland Foundation, que também está ativo
na América do Norte. Neste programa, a pesquisa é feita em fortificaçõ es holandesas. O
Arquivo Nacional investiu na produçã o de atlas do Brasil holandês e na disponibilizaçã o
online de documentos arquivísticos da WIC.115
Havia também um papel para a arqueologia marítima no MoU. A investigaçã o de
naufrá gios holandeses é o tó pico mais importante. Em 2010, iniciou-se a investigaçã o do
naufrá gio do navio almirantado de Utrecht, que naufragou na costa brasileira em 1648.
Para este projeto, o RCE está trabalhando com o serviço de patrimô nio brasileiro IPHAN,
entre outros. Em 2012, foi publicada uma publicaçã o sobre a investigaçã o do naufrá gio.
Nisso, a importâ ncia da

114 Correspondê ncia Serge de Valk, Agência do Patrimô nio Cultural, Shared Heritage Joint Future.
Visão geral dosprojetos SCH 2009-2013 (Amersfoort 2014), 6, Jean-Paul Corten, Ellen Geurts, Paul
Meurs, Remco Vermeulen (eds.), Heritage as an Asset for Inner City Development. An Urban
Managers’ Guidebook (Nai Booksellers, 2014).
115 DutchCulture, Honored Projects GCE MatchingFund , http://www.sica.nl/content/nl- matching

fund consultado em 30 de maio de 2015, Correspondence Johan van Langen, Advisor


GCEprogramme National Archives.

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naufrá gio endossado. De Utrecht fornece informaçõ es sobre a construçã o naval
holandesa no século XVII. Importantes objetivos da pesquisa, segundo os autores da
publicaçã o, sã o reunir informaçõ es sobre o sítio, pesquisar sobre a importâ ncia da
Utrecht e formar arqueó logos brasileiros. Do ponto de vista holandês, o naufrá gio é um
exemplo fantá stico da construçã o naval do início do século XVII. No popular programa
científico De Wereld Leert Door, o chefe do programa marítimo do RCE, Martijn Manders,
foi autorizado a contar sobre os insights fornecidos por Utrecht no início de 2013,
incluindo a informaçã o de que os navios holandeses estavam equipados com peles de
navios adicionais devido à lagarta no Caribe.116
Por mais que o projeto arqueoló gico marítimo de Utrecht parecesse o início de
uma bela amizade, a colaboraçã o correu bem em 2013. Martijn Manders foi informado
do nada que sua equipe havia mergulhado ilegalmente nos destroços. Manders atribui
isso à s circunstâ ncias políticas e se refere ao problema como uma questã o legal. O
Programa Marítimo RCE reivindica os 400 naufrá gios holandeses que gere. Eles veem
esses destroços como propriedade holandesa. No entanto, o governo brasileiro nã o
concorda com isso. Ele vê a reivindicaçã o da Holanda como uma violaçã o da soberania,
uma vez que o naufrá gio está localizado em á guas brasileiras. Apó s o conflito, a
embaixada holandesa no Brasil aconselhou Manders a buscar parcerias nã o em nível
nacional, mas regional, mas isso deu muito trabalho para o RCE.117
No entanto, Manders acredita que os problemas estã o principalmente em um alto
nível político. Vê que a comunalidade do patrimô nio é vivenciada por seus colegas
brasileiros. Eles estã o muito felizes em cooperar com o RCE. Eles estã o interessados no
patrimô nio e reconhecem tanto um fator holandês na origem do navio quanto um fator
brasileiro na localizaçã o. Segundo Manders, é muito importante para a comunalidade
que o componente local esteja presente no patrimô nio. Apesar das dificuldades em alto
nível político, Niels Hanje e Serge de Valk confirmam o potencial no Brasil. Isso se deve
principalmente à figura de Maurice. Todos na escola aprendem sobre a influência que a
presença holandesa teria tido. Essa educaçã o nã o se limita ao estado de Pernambuco,
mas é um fenô meno rural. Embora a escravidã o nã o seja um assunto que foge da
embaixada holandesa, o assunto nã o é facilmente ligado à presença holandesa. Isso
provavelmente tem a ver com o fato de que os portugueses já praticavam a escravidã o

116 Rodrigo Torres e Filipe Castro, The Utrecht Shipwreck Research Effort. Relatório Preliminar e
Catálogo. Programa de Patrimô nio Mú tuo RCE, Holanda e Programa de Arqueologia Ná utica, Texas
A&M University, College Station, EUA, 21, 22. De Wereld Leert Door hele uitzending -‐ Martijn
Manders -‐ 14- ‐ 1-‐2013, http://dewerelddraaitdoor.vara.nl/media/200115 , consultado em 31 de
maio de 2015.
117 Entrevista com Martijn Manders.

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e o Brasil tem uma relaçã o complicada com a escravidã o. No país, os perpetradores e as
vítimas sã o misturados, os brasileiros têm escravos e proprietá rios de plantaçõ es como
ancestrais. O Brasil nã o aboliu a escravidã o até 1888, como um dos ú ltimos países
domundo.118
Segundo Hanje e De Valk, principalmente na regiã o do Recife, nota-se também
que se os holandeses tivessem ficado, tudo teria sido melhor. De acordo com os
responsá veis pela política, o interesse no passado também nã o vem de um grupo
limitado. Pelo contrá rio, de artistas a jornalistas e mú sicos, todos se preocupam com a
histó ria. Precisamente por causa desse interesse, tanto Hanje quanto De Valk, bem como
Manders e os autores da revisã o intermediá ria, concordam que há muito mais potencial
para cooperaçã o no nível da PCC no Brasil. Como a histó ria da New Holland é muito
menos conhecida na Holanda, menos iniciativas holandesas estã o sendo lançadas do que
seria possível. O fato de haver tal discrepâ ncia na experiência patrimonial entre a
Holanda e o Brasil leva Hanje e De Valk a acreditar que o PCC no Brasil é mais algo dos
brasileiros do que um bem comum.119

Na historiografia brasileira, a curta presença holandesa no Brasil desde o século XIX é


um dos períodos mais importantes da histó ria. Segundo historiadores brasileiros, os
holandeses, com o conde Johan Maurits de Nassau-Siegen em particular, causaram uma
impressã o indelével na formaçã o do Brasil contemporâ neo. Por um lado, como motor do
surgimento de um povo nacional, por outro lado, como um exemplo liberal da nova
naçã o. Maurits é um heró i popular na regiã o de Pernambuco, e bem conhecido além.
Reconhecemos essa imagem na Holanda ou há dissonâ ncia na abordagem da histó ria?
Maurits é muito menos conhecido na Holanda. Ele também está associado à entrada
holandesa no comércio transatlâ ntico de escravos. Um lado que nã o é destacado no
Brasil. Podemos, portanto, falar aqui de uma potencial fonte de dissonâ ncia entre a
Holanda e o Brasil na abordagem de uma histó ria comum.
Como é que essa dissonâ ncia nã o leva ao atrito? Olhando para o passado, o Brasil
também poderia ter tido uma relaçã o difícil com a Holanda, por causa da histó rica
relaçã o colonial senhor-servo. Há duas razõ es pelas quais isso nã o acontece. Primeiro, o
fato de que diferentes grupos étnicos sã o misturados no Brasil. Embora índios e
escravos negros fossem subordinados aos holandeses, os

118 Conversation Niels Hanje and Serge de Valk, conversation Martijn Manders, Jeroen, Junte, ‘Recife
craves Maurits, 17thcentury slave baron',, http://www.volkskrant.nl/dossier- archive/recife-
hunger-to-Maurits- 17th century slave baron ~a3469320/?akamaiType=GRÁ TIS, consultado em 1
de junho de 2015.
119 Conversation Niels Hanje e Serge de Valk, Conversation Manders, BZ e OCW, Revisã o intercalar, .

60
brasileiros contemporâ neos também sã o descendentes dos moradores. Estes
proprietá rios portugueses de plantaçõ es viviam em pé de igualdade com os colonos e
eram eles pró prios proprietá rios de escravos. Em segundo lugar, a historiografia tem um
papel importante, onde Maurice tem sido posicionado de forma muito positiva pelos
historiadores brasileiros. A mensagem do PCC é diferente para os brasileiros do que
para os holandeses. Os comentá rios sobre o papel incrivelmente positivo que a Holanda
desempenhou no Brasil sã o desconfortá veis para os holandeses. Apesar disso, a
identidade patrimonial dos brasileiros nã o leva a uma perda patrimonial dos
holandeses.
Também vemos essa dissonâ ncia na política do PCC? Praticamente falando, a
popularidade de Maurits no Brasil significa principalmente que há muito entusiasmo
pela cooperaçã o em relaçã o ao PCC. Devido a esse entusiasmo, iniciativas suficientes
estã o sendo lançadas e a embaixada recebe mais pedidos de subsídios do que pode
conceder. Embora tenha sido concedido um subsídio nos ú ltimos anos a uma exposiçã o
em que a escravidã o era um tema, ela nã o está associada à figura de Maurice. Isso
também pode ser inadequado no contexto local. Onde há dificuldades na cooperaçã o,
isso tem mais a ver com uma questã o de soberania do que com dissonâ ncia.

61
Conclusã o

Depois de uma longa jornada pelos monumentos de trezentos anos de expansã o colonial
holandesa, o arquivista Jacob Cornelis Overvoorde chegou à amarga conclusã o em 1911
de que o Estado holandês pouco ou nada fez para manter esse patrimô nio. O trabalho
que inú meros holandeses fortes haviam feito a serviço da voc foi negligenciado pelo
governo. Um horror em si, mas era ainda mais difícil digerir que o mesmo Estado,
passivo no que diz respeito à preservaçã o da herança holandesa, investiu na
manutençã o da herança hindu. As críticas que Overvoorde expressou sobre isso
resultaram nas primeiras leis de monumentos nos tró picos. No entanto, os monumentos
tiveram que esperar um pouco pela política do governo holandês. Apó s a Segunda
Guerra Mundial e as guerras de descolonizaçã o na Indonésia, o trauma nacional pela
perda dessa regiã o era recente demais para pensar na herança ultramarina. Os esforços
nessa á rea tinham que vir de dois indivíduos e uma ú nica fundaçã o. Isso mudou no
decorrer das décadas de 1980 e 1990. O aumento das oportunidades financeiras, os
pedidos oficiais de assistência das ex-coló nias e uma pergunta parlamentar do político
de CU, Eimert van Middelkoop, resultaram numa atençã o renovada para o patrimó nio
ultramarino. O primeiro Quadro de Política do Patrimó nio Cultural Comum oficial foi
apresentado em 2000.
Como essa política evoluiu? A primeira prioridade da política do PCC foi a
"preservaçã o sustentá vel" do patrimó nio. O foco estava no patrimô nio construído,
naufrá gios e arquivos. A política facilitaria a pesquisa sobre o patrimô nio, o que renderia
uma reflexã o crítica sobre o pró prio passado. Além disso, o programa foi capaz de
intensificar as relaçõ es bilaterais. Considerou-se necessá rio que os restos do patrimô nio
fossem valorizados como ‘comuns‘ pelos países parceiros. A política mudou em 2008 e
2012. Houve menos ênfase na reflexã o crítica do passado. A ênfase foi colocada nos
benefícios econô micos, que devem resultar de uma política compartilhada de
patrimô nio cultural. O programa também foi encurtado. Os fundos de 2 milhõ es de euros
de 2008, quando a austeridade já era desencadeada pela crise de crédito, foram
mantidos em 2012. Este foi um verdadeiro declínio. Com menos dinheiro, a política teve
que ser fortemente focada nos desdobramentos positivos para a comunidade
empresarial holandesa. Isso teve que ser feito no Brasil, nos EUA, no Japã o e na
Austrá lia, entre outros, que foram adicionados à política como países prioritá rios entre
2008 e 2012.
O programa do PCC nem sempre foi recebido de braços abertos em todos os
países. O patrimô nio, em seu sentido moderno de patrimô nio tangível ou intangível, tem
uma propriedade intrínseca que o causa: ele é criado e é, portanto, uma escolha contínua
para uma interpretaçã o da histó ria. No caso de criaçã o de patrimô nio por um

62
grupo, outros grupos sã o sempre excluídos. J.E. Tunbridge e G.J. Ashworth
desenvolveram uma visã o patrimonial Dissonant Heritage, na qual esse fato é elaborado.
Tunbridge e Ashworth notaram que o patrimô nio está sendo cada vez mais usado e
comercializado como um produto, criaçã o de patrimô nio para consumo em massa. Isso
nã o é sem problemas. Duas visõ es sã o centrais para este modelo. Primeiro, a dissonâ ncia
é intrínseca ao patrimô nio: sempre haverá grupos excluídos da criaçã o de um produto
patrimonial. Em segundo lugar, a dissonâ ncia é universal: ela sempre, intencionalmente
ou nã o, ocorrerá em certa medida no patrimô nio. A localizaçã o e a mensagem do
patrimô nio sã o duas fontes potenciais de dissonâ ncia. Quando a ênfase em um lugar está
em uma vitó ria famosa, pode, por exemplo, causar dissonâ ncia entre os conquistados. A
mensagem do patrimô nio pode ser de orgulho, que, segundo outro grupo, é equivocado.
Anouk Fienieg usou a visã o de Tunbridge e Ashworth para examinar a política holandesa
do PCC. Esta política é baseada no patrimô nio comum, tanto na Holanda quanto no país
parceiro que compartilha esse patrimô nio. Fienieg chegou à conclusã o de que a
dissonâ ncia era comum no PCC. A Holanda muitas vezes nã o tinha histó ria comum e,
portanto, herança, com os países prioritá rios. Simultaneidade foi uma qualificaçã o
melhor.
Essa dissonâ ncia também desempenha um papel nas novas aquisiçõ es para o
programa PCC? Brasil e E.U.A sã o dois países que recentemente foram designados como
países prioritá rios, em 2008 e 2012 respectivamente. Por um período relativamente
curto no século XVII, a Repú blica teve uma colô nia em ambos os países, sendo a Nova
Holanda e a Nova Holanda. As capitais dessas colô nias eram Nova Amsterdã e Recife,
agora Nova York e Recife. Podemos falar de dissonâ ncia no nível do PCC em relaçã o a
Nova York e Recife? Em Nova York, uma mensagem de influência duradoura da presença
holandesa e valores compartilhados é espalhada da Holanda. A forma como esta
mensagem é recebida é diferente. Os partidos locais que lidam com a histó ria holandesa
em Nova York, como o New Netherlands Institute ou jornalistas como Russell Shorto,
apoiam essa visã o. A influência de Nova Amsterdã em Nova York também é reconhecida
em um alto nível oficial. Isso ficou claro com a celebraçã o bilateral do Ano Hudson em
2009, onde o prefeito de Nova York gostava de citar histó rias compartilhadas. Este
prefeito tinha um motivo comercial claro em meio à crise de crédito para acompanhar
essa mensagem. No que diz respeito à mesma celebraçã o, também ficou claro que a tese
da influência holandesa nã o era reconhecida pelo nova-iorquino comum. A influência
holandesa é assim celebrada em círculos limitados, aqui há potencial para dissonâ ncia.
No Brasil, os papéis foram um pouco invertidos. Em Recife, o período holandês e
o aparecimento do ú nico governador Johan Maurits de Nassau

63
Vitó ria bem conhecida. Por um lado, os holandeses agem como um bicho-papã o que
forjou um país de composiçã o étnica e social diferente, por outro lado, os brasileiros
veem Maurits como um exemplo brilhante, tolerante e culturalmente comprometido
para a jovem naçã o brasileira. A popularidade de Maurits é tã o forte que sua imagem
reflete em todos os holandeses. Embora esses sentimentos se manifestem em todo o
país, eles sã o mais fortes no estado de Pernambuco e na capital Recife. Aqui, no calor
tropical, o devaneio de um Recife que permaneceu sob o domínio holandês à s vezes é
apreciado. No Brasil, governo e cidadã os estã o igualmente convencidos desse legado. A
aventura do WIC no Brasil, no entanto, entrou nos livros na Holanda como um fiasco
econô mico com alguns pontos positivos culturais. Além das repercussõ es financeiras,
também trouxe a Holanda, com base em Maurits, para as á guas eticamente turvas do
comércio transatlâ ntico de escravos e sobrecarregou a jovem Repú blica com uma dívida
moral. Esse lado da contagem nã o é destacado no Brasil. Aqui, a escravidã o é um
fenô meno difícil de qualquer maneira, uma vez que nã o está claro na sociedade de hoje
quem sã o os descendentes de escravos e proprietá rios de escravos. No Brasil, foi
construído um Maurits, que nã o reconhecemos imediatamente na Holanda. O fato de a
Holanda e o Brasil terem uma visã o diferente de Maurits, e que o debate sobre a
escravidã o tenha se tornado cada vez mais intenso na Holanda nos ú ltimos anos, indica
dissonâ ncia.
Portanto, existem fontes potenciais de dissonâ ncia em ambas as cidades. Isso
também tem consequências negativas para a implementaçã o da política do PCC? Esse
parece ser o caso tanto em Nova York quanto em Recife. O patrimô nio imaterial em Nova
York pode ser celebrado em pé de igualdade para nova-iorquinos e holandeses, há uma
reputaçã o proporcional entre os grupos. A mensagem é que todos os holandeses e nova-
iorquinos compartilham os mesmos valores, nenhum grupo é excluído aqui. Nesta
cidade, nã o há uma relaçã o pó s-colonial difícil entre americanos e holandeses. Isso
significa que a dissonâ ncia nã o ocorre. Portanto, é bem possível em Nova York espalhar
a mensagem da influência holandesa sem problemas. Em Recife, a ligaçã o histó rica com
o ex-colonizador nã o é percebida como negativa. Apesar do domínio colonial, a imagem
da presença holandesa tem sido positiva ao longo dos anos. O legado de Maurice é agora
herança brasileira. A identidade patrimonial dos brasileiros nã o assegura a exclusã o do
patrimô nio para os holandeses. No má ximo, é desconfortá vel para os holandeses
reconhecer que outro grupo tem um percepçã o positiva sobre um ícone que é muito
menos conhecido na Holanda. Certamente podemos ver isso como dissonâ ncia, mas nã o
de natureza tã o violenta que cause problemas na cooperaçã o patrimonial. Os problemas
na cooperaçã o patrimonial que surgem, no caso do naufrá gio do Utrecht, nã o sã o um
conflito sobre a histó ria comum, mas uma questã o de soberania é a fonte de desacordo.

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Podemos falar de patrimô nio cultural compartilhado? Tanto em Nova York
quanto em Recife, é possível que americanos e brasileiros, assim como holandeses,
compartilhem do patrimô nio imaterial que ali está presente. Os componentes brasileiro
e americano na mensagem do patrimô nio também sã o claros. Nã o é o caso de a histó ria
holandesa ser imposta unilateralmente a Nova York e Recife. Em ambos os lugares, há
entusiasmo pelo patrimô nio. No entanto, ainda faltam grupos em ambas as histó rias. A
populaçã o indígena de Manhattan e os escravos da Nova Holanda notaram pouco da
tolerâ ncia que caracterizaria a colô nia holandesa. Isso também se aplica aos mais de
20.000 africanos que foram transportados para a Nova Holanda. O consulado em Nova
York e a embaixada no Brasil fornecem fundos para iniciativas relacionadas ao passado
da escravidã o. É algo positivo. O destino dos indianos mal é mencionado na histó ria da
presença holandesa. Isso poderia ser diferente.
Com base nos estudos de caso, o que podemos dizer sobre a dissonâ ncia em
geral? Pode ser tentador supor de antemã o que há a maior chance de dissonâ ncia entre
países que historicamente tiveram uma relaçã o mestre-servidor (colonial). O exemplo
do Brasil sugere o contrá rio. A dissonâ ncia surge aqui, mas nã o por causa de uma
interpretaçã o mais negativa da histó ria comum pelo país parceiro. A dissonâ ncia surge
justamente por pensar longe do lado menos atraente da presença holandesa. O que
parecem ser fatores mais importantes para evitar a dissonâ ncia sã o o tempo e o curso
posterior da histó ria. Tanto no Brasil quanto no Sri Lanka ou Gana, conforme
investigado por Fienieg, a Holanda nã o foi o ú ltimo colonizador. Quando o país em
questã o tem que suportar um período sucessivo de domínio colonial, o tempo parece
tirar as bordas afiadas de uma ocupaçã o anterior. O que também chama a atençã o é que,
tanto em Nova York quanto no Recife, a dissonâ ncia nã o leva a problemas na cooperaçã o
patrimonial. No entanto, é particularmente importante estar ciente da histó ria. Se os
diplomatas holandeses resolvessem o passado de escravidã o de Maurice, isso
provavelmente nã o combinaria com seus colegas brasileiros.
A visã o do patrimó nio de Tunbridge e Ashworth foi desenvolvida com vista ao
patrimó nio material. No entanto, a pesquisa mostrou que a abordagem do patrimô nio
também pode ser bem usada para pesquisas sobre dissonâ ncia no patrimô nio intangível.
Isso pode ser um acréscimo à visã o do patrimô nio. Onde a dissonâ ncia no patrimô nio
construído surge por causa da localizaçã o e da mensagem, no patrimô nio imaterial é
principalmente por causa da mensagem. O patrimô nio imaterial em Nova York e Recife
gira, em particular, em torno da experiência da histó ria. Se o patrimô nio imaterial gira
em torno dos valores compartilhados de tolerâ ncia, ou a percepçã o de Maurits como o
pai da

65
naçã o, é principalmente a mensagem que pode causar dissonâ ncia. O modelo de
Tunbridge e Ashworth poderia, portanto, também ser um instrumento no estudo da
dissonâ ncia em outros países, onde os restos materiais sã o mais escassos e o PCC é mais
sobre a experiência da histó ria. O modelo poderia, portanto, ser bem utilizado para
pesquisa em países do PCC, Japã o e Austrá lia. A fim de obter insights sobre a dissonâ ncia
potencial, a experiência da histó ria também deve ser examinada para esses países.
A adiçã o de naçõ es com menos patrimô nio material à lista de países prioritá rios
se encaixa no recente desenvolvimento da política do PCC. Quando olhamos mais de
perto para esse desenvolvimento, duas coisas se destacam. Primeiro, um lugar menos
proeminente para o valor intrínseco do cuidado patrimonial. Embora a política tenha
sido elaborada pela primeira vez como um instrumento para permitir que a Holanda
fizesse uma reflexã o crítica sobre o passado com base em sua herança, ela agora é vista
mais instrumentalmente como um bom ponto de entrada para as relaçõ es bilaterais.
Essa entrada também deve resultar em muitos subprodutos para a comunidade
empresarial holandesa. A política do PCC, portanto, parece destinada principalmente a
disseminar uma imagem tã o positiva da Holanda quanto possível, a fim de promover o
comércio. A celebraçã o do Ano Hudson é um bom exemplo desse desenvolvimento.
Neste evento, realizado antes que a América fosse um país prioritá rio, foi dada ampla
atençã o aos laços histó ricos entre Nova York e a Holanda. O governo holandês investiu
uma soma de mais de três vezes todo o orçamento do PCC para impulsionar o
intercâ mbio cultural, mas principalmente econô mico. Há uma chance de que, se esses
benefícios econô micos nã o forem alcançados, o interesse no PCC será perdido. Em
tempos de encolhimento dos orçamentos patrimoniais, pode ser necessá rio usar o
patrimô nio de forma mais comercial, mas o patrimô nio nã o deve ser avaliado
puramente por méritos econô micos. Essa tendência também parece se refletir na
escolha dos EUA, Japã o e Austrá lia como países prioritá rios. Já existe entusiasmo pelo
PCC nesses países. É mais fá cil começar lá , e haverá poucas perguntas difíceis sobre o
passado colonial.
O segundo desenvolvimento parece ser uma consequência das mudanças nos
objetivos da política. Embora a política tenha sido inicialmente destinada
principalmente a ajudar países menos pró speros, como Sri Lanka, Suriname e Indonésia,
na preservaçã o sustentá vel do PCC, agora é mais sobre os efeitos externos que o cuidado
do patrimô nio deve trazer. Embora a ‘preservaçã o sustentá vel do patrimô nio’ ainda seja
um objetivo, os fundos disponíveis para os postos em Nova York e Brasília nã o sã o
grandes o suficiente para trabalhar na preservaçã o do patrimô nio físico. O RCE, a
Cultura Holandesa e o Arquivo Nacional também nã o fizeram nenhum investimento no
patrimô nio material nas cidades estudadas nos ú ltimos anos. Se o Ministério das
Relaçõ es Exteriores e o Ministério da Educaçã o, Cultura e Ciência mantiverem isso como
objetivos, o orçamento terá que ser aumentado consideravelmente.

66
Com a inclusã o do Brasil em 2008 e da Austrá lia, EUA e Japã o em 2012, existe o risco de
que os fundos sejam distribuídos por muitos países. Isso estimula o patrimô nio imaterial
e o papel da histó ria holandesa, mas há o risco de que o patrimô nio físico seja
negligenciado.
Esses dois desenvolvimentos sã o os resultados de uma crise financeira e a
comemoraçã o associada da política externa holandesa. Isso é compreensível em algum
lugar, afinal, tinha que haver austeridade. Ao mesmo tempo, o governo holandês deve
pensar sobre o que quer com sua política de patrimô nio. Se for principalmente uma
maneira de polir a imagem da Holanda e criar oportunidades de cooperaçã o econô mica,
o PCC pode ser usada de forma permanente como um lubrificante para as relaçõ es
bilaterais. Deve-se notar que a pesquisa dos ministérios envolvidos mostrou que investir
no PCC nã o significa uma cisã o econô mica direta. Quando uma reflexã o crítica sobre o
passado é vista como algo valioso, a política patrimonial deve ser tratada como um fim
em si mesma. A ligaçã o com a diplomacia econô mica deve ser menos proeminente neste
caso.

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