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Sob olhos ocidentais:

Estudos feministas e
discursos coloniais

MOHANTY,
CHANDRA
CHANDRA TALPADE MOHANTY nasceu em Mumbai, Índia.

É professora, pesquisadora e ativista feminista. Distinguished Professor e Dean’s Professor de


humanidades na Syracuse University, Estados Unidos, no departamento de Women’s and Gender
Studies.

Tornou-se internacionalmente conhecida em 1986, ao publicar o ensaio Sob olhos ocidentais:


estudos feministas e discurso colonial.

O ativismo e a produção acadêmica e de ensino de Chandra Mohanty concentram-se em políticas


de diferença e solidariedade, nas relações entre conhecimento feminista, produção acadêmica
para organização e movimentos sociais; ela se interessa fundamentalmente pela crítica feminista
anticapitalista, a descolonização do conhecimento e a teorização da agência, identidade e
resistência no contexto de uma solidariedade feminista transfronteiriça.

Fonte: Zazie edições


Estudos feministas e discursos coloniais¹

Três pressuposições analíticas no discurso feminista ocidental:

I – Categoria monolítica "mulheres"; II – Metodologia universalista e


transcultural; III – Mulheres do terceiro mundo .

¹MOHANTY, C. T. Sob olhos ocidentais. Sob olhos ocidentais: estudos feministas e discursos coloniais. Tradução de Ana Bernstein. Copenhague / Rio de Janeiro: Zazie edições, 2020. .
9 (-1) livros da série da Zed Press, Women in the
Third World

Da esquerda para a direita, Jeffery, 1979; Latin American and Caribbean Women’s Collective, 1980; Omvedt, 1980; Minces, 1980;
Siu, 1981; Bendt e Downing, 1982; Cutrufelli, 1983; Mies, 1982; e Davis, 1983.
I pressuposição analítica:

“Mulheres” como categoria de análise: grupo homogêneo, constituído


historicamente – pela sociologia e antropologia, universalisticamente
identificado pelos rótulos de “impotente”, “explorado”, “sexualmente
assediado”, e assim por diante, por parte de discursos feministas científicos,
econômicos, legais e sociológicos” (MOHANTY, 2020, p. 20).

“Esses argumentos não são tanto contra a generalização, mas antes a favor
de generalizações cuidadosas e historicamente específicas, que respondam a
realidades complexas” (MOHANTY, 2020, p. 49).

“A colonização quase sempre implica uma relação de dominação estrutural e


uma supressão – frequentemente violenta – da heterogeneidade do(s)
sujeito(s) em questão” (MOHANTY, 2020, p. 10)
“[6] maneiras específicas pelas quais “mulheres” como categoria de análise são usadas no
discurso feminista ocidental que aborda mulheres no Terceiro Mundo” (MOHANTY, 2020, p. 21).

1. Mulheres como vítimas do controle masculino

Fran Hosken – mutilação genital feminina no Oriente e na África. Define as mulheres como vítimas do
controle masculino – “oprimidas sexualmente” (P. 23).

“definir mulheres como vítimas arquetípicas as congela em “objetos que se defendem”, os homens em
“sujeitos que cometem violência” (p. 24).

Mulheres = impotentes
Homens = poderosos

“A violência masculina precisa ser teorizada e interpretada no interior de sociedades específicas (...) A
sororidade não pode ser assumida com base no gênero, deve ser forjada em práticas e análises históricas e
políticas concretas” (P. 24).
2. Mulheres como dependentes universais

Maria Rosa Cutrufelli – descrita em seu livro Women of Africa: Roots of Oppression como escritora,
socióloga, marxista e feminista italiana.

“Minha análise começará por afirmar que todas as mulheres africanas são política e economicamente
dependentes (...) Não obstante, aberta ou secretamente, a prostituição ainda é a principal, se não a única,
fonte de trabalho para mulheres africanas” (CUTRUFELLI, 1983, p. 13-33 apud MOHANTY, 2020, p. 25)

Argumento universalista.

“O ponto crucial esquecido é que as mulheres são produzidas por meio dessas mesmas relações [“de
parentesco, colonialismo, organização de trabalho, e daí por diante”], assim como estão implicadas na
formação dessas relações (MOHANTY, 2020, p. 27)
3. Mulheres casadas como vítimas do processo colonial

Cutrufelli, em Mulher da África, determina o status sexual-político das mulheres do povo Bemba, na Zâmbia,
a partir da comparação entre a estrutura do contrato de casamento tradicional e o contrato pós-colonial
estabelecido.

O texto da autora analisado não leva em conta as implicações políticas nas relações sociais inerentes a esse
grupo e as respectivas diferenças simbólicas que marcam as mulheres que constituem o povo Bemba.

(MOHANTY, 2020)
4. Mulheres e sistemas familiares

“Quando Juliette Minces (1980) cita a família patriarcal como base de “uma visão de mulher quase
idêntica” às das sociedades árabes e islâmicas, ela cai na mesma armadilha".

“...falar da estrutura patriarcal da família ou da estrutura tribal de parentesco como origem do status
socioeconômico das mulheres é novamente assumir que elas são sujeitos sexuais-políticos antes de sua
entrada na família (...) Sua família patriarcal se mantém desde o tempo do profeta Maomé. Elas
existem, por assim dizer, fora da história.

(MOHANTY, 2020, p. 31).


5. Mulheres e ideologias religiosas

As religiões analisadas a partir da oposição entre países “desenvolvidos” e “em desenvolvimento” mais
uma vez estabelecem a priori uma distinção qualitativa entre “mulheres do primeiro mundo” e
“mulheres do terceiro mundo”, fazendo uma comparação transcultural.

“De uma maneira estranha, o discurso feminista sobre mulheres do Oriente Médio e do Norte da África
espelha o discurso da própria interpretação dos teólogos sobre as mulheres no islã” (LAZREG, 1988, p.
87 apud MOHANTY, 2020, p. 34)

“O efeito geral desse paradigma é privar as mulheres da autopresença, do ser. “Mulheres subsumidas”
na religião, deslocadas do tempo histórico (LAZREG, 1988, p. 87 apud MOHANTY, 2020, p. 34).
6. Mulheres e o processo de desenvolvimento

A jornalista e ativista pelo direito das mulheres, Perdita Huston, afirma que as “necessidades” e
“problemas” de mulheres no Egito, Quênia, Sudão, Tunísia, Sri Lanka e México tem a ver com
educação, saúde, trabalho, direitos legais e participação política, sendo assim necessária a
implementação de políticas de desenvolvimento para a mulher (MOHANTY, 2020).

“Mulheres são constituídas como mulheres por meio da interação complexa entre classe, cultura,
religião e outras instituições e estruturas ideológicas (MOHANTY, 2020, p. 36).

“É revelador que, para Perdita Huston, as mulheres em países do Terceiro Mundo sobre as quais ela
escreve tenham “necessidades” e “problemas”, mas poucas, ou quase nenhuma, tenham “escolhas”
ou liberdade de ação” (MOHANTY, 2020, p. 37).

“É apenas por meio da compreensão das contradições inerentes à posição das mulheres no interior de
várias estruturas que é possível conceber ações e desafios políticos efetivos” (MOHANTY, 2020, p. 42).
II pressuposição analítica:
Universalismos metodológicos ou
A opressão das mulheres é um fenômeno global: [três métodos de estudos feministas
ocidentais sobre mulheres no terceiro mundo].

A. Método aritmético. quanto maior o número das mulheres que usam véu, mais universal é a
segregação sexual e o controle sobre as mulheres (DEARDON, 1975, p. 4-5 apud MOHANTY, 2020, p. 42).

B. Emprego de conceitos sem a especificidade da contextualização cultural e histórica local. (Ex.


casamento, família, lar, divisão sexual do trabalho, etc.).

Divisão sexual do trabalho = “valor diferencial atribuído ao “trabalho masculino” versus “trabalho feminino””
(MOHANTY, 2020, p. 45)

C. Confusão entre discursos de representação e realidades materiais (Ex. natureza/cultura e


feminino/masculino).

“...ignorando as relações complexas e dinâmicas entre sua materialidade histórica no nível das opressões específicas
e escolhas políticas, por um lado, e de suas representações discursivas gerais, por outro” (MOHANTY, 2020, p. 49).
III pressuposição analítica:
Os sujeitos do poder

Colonialismo

Homogeinização

Binarismo

“É hora de ir além do que Marx achou possível dizer: eles não podem se representar;
eles devem ser representados” (MOHANTY, 2020, p. 61).
Obrigado!

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