Você está na página 1de 11

COMO DISCERNIR O BEM DO MAL

Primeiramente, esclarecemos que não tratamos aqui de dogmas


religiosos que visem abrir as portas do paraíso ou nos afastar dos portais
do inferno.

Para melhor compreensão do texto, três palavras são de suma


importância: Discernimento, Bem e Mal.

Discernimento não é conhecimento. Discernir é perceber as claras


diferenças. O ponto fundamental é distinguir as características, mesmo
não conhecendo os opostos e seus efeitos. Por exemplo, o banho diário é
salutar. Não precisamos passar uma semana sem nos banhar para se ter
certeza disso.

O Bem é simplesmente tudo aquilo que enseja as condições naturais de


equilíbrio, que resultem na manutenção ou no enlevo da nossa condição
como indivíduo, no plano pessoal e como cidadão, no plano coletivo.

Por outro lado, o Mal é a forma imperfeita ou incompleta como o


indivíduo ou a coletividade interage com algo ou entre si. O Mal é a
ausência do Bem.

Mas, o que nos une para discernir o que é o Bem e o Mal?

O ENTE UNIVERSAL NOS DOTOU DE UMA FACULDADE A QUAL


CHAMAMOS DE INTELIGÊNCIA. ELA GUARDA EM SÍ A POSSIBILIDADE DE
PROGRESSO E APERFEIÇOAMENTO.

O que vem a ser a inteligência?

A Mainstream Science on Intelligence a definiu como: "uma capacidade


mental bastante geral que, entre outras coisas, envolve a habilidade de
raciocinar, planejar, resolver problemas, pensar de forma abstrata,
compreender idéias complexas, aprender rápido e aprender com a
experiência. Não é uma mera aprendizagem literária, uma habilidade
estritamente acadêmica ou um talento para sair-se bem em provas. Ao
contrário, o conceito se refere a uma capacidade mais ampla e mais
profunda de compreensão do mundo à sua volta."

Portanto, todos os Seres Humanos são dotados de inteligência. Sabemos,


também, que muitos, muitos mesmo, a usam com vis propósitos, ou, pelo
menos duvidosos.

Para combater a má formação do caráter no homem, a Maçonaria criou


um sistema de alegorias e mistérios, que nos fazem abdicar das vaidades
profanas, reconhecer a pior das escravidões que é das próprias paixões,
entender que a venda mais densa da visão é aquela materializada quando
fechamos os olhos às necessidades dos que estão à margem da
sociedade.

Em resumo, é o trabalho para formação da “Moral Sã”, que se baseia no


amor ao próximo e nas incessantes ações da irretocável e primordial
conduta ética.

SEMPRE HAVERÁ CAMINHOS ESCABROSOS, OBSTACULOS, TROVÕES DE


INDIGNAS AMBIÇÕES E O TILINTAR DE ARMAS PRONTAS PARA NOS
FERIR.
NOSSA FIEL ARMADURA É A MORAL MAÇÔNICA, QUE NOS SUSTENTA E
NOS AMPARA EM CADA PASSO, PARA COMPREENDERMOS O MOMENTO
E DISCERNIRMOS O BEM E O MAL.

A Tentação e a sua Importância no


Discernimento do Bem e do Mal
Elman Bacher em seus estudos de Astrologia escreveu: “o artista no ser
humano durante as épocas passadas tratou de interpretar em versos,
canções e quadros, seu conceito de vida como uma grande luta. Toda
escritura narra a história, em símbolos e alegorias, dos ataques furiosos das
forças das trevas contra a fortaleza da luz, a contenda do diabo
contra Deus pela alma do homem, a fricção incessante entre o mal e o bem,
o tentador que procura, eternamente, acabar com aquilo que é aspiração no
coração humano”.
Isso faz parte da nossa evolução e saber como funciona nos fortalece para
extrair melhor o ensinamento que nos é oferecido. Vejamos então, de onde
vem tudo isso.
Todos nós descendemos de uma raça chamada semitas originais. Nós, como
Semitas, fomos a primeira raça a ganhar o livre arbítrio e a faculdade de
poder escolher o que fazer.
Essas duas condições – caminhar por conta própria e decidir o que fazer –
eram necessárias, como ainda o são, para desenvolver a faculdade da razão
a nossa Mente, a fim de aprendermos a pensar estando na consciência de
vigília nessa Região Química do Mundo Físico.
Em qualquer escola que cursamos, seja no primeiro grau, segundo na
faculdade, de tempos em tempos são dados testes ou provas a fim de nos
examinar e descobrir se aprendemos as lições dadas.
Do mesmo modo, na escola da vida, os sublimes mestres que nos orientam
na nossa evolução, de tempos em tempos, nos dão provas que realcem ou
destaquem os nossos pontos débeis.
Essa é a maneira mais eficaz de corrigir as nossas deficiências e fortalecer o
nosso caráter. Esse é o momento onde o mestre se converte em tentador, ou
em outras palavras: se converte num adversário ou inimigo (Satã ou Satanás
em hebreu).
Temos vários casos na Bíblia: por exemplo, no capítulo 24 do Segundo Livro
de Samuel de 1 a 15: “Tornou-se de novo a acender o furor do Senhor
contra Israel e excitou o Senhor contra eles a Davi, permitindo que
dissesse: vai e numera a Israel e Judá. Disse, pois, Davi a Joab, General
do seu exército: corre todas as tribos de Israel desde Dan até Betsabée,
e fazei a resenha do povo, para eu saber o seu número (…) e tendo
percorrido toda a terra, voltaram para Jerusalém depois de nove meses
e vinte dias (…) acharam-se em Israel 860 mil homens robustos (…)
mas, depois que foi contado o povo, sentiu Davi ao Senhor: eu cometi,
nessa ação, um grande pecado: mas rogo-te, ó Senhor que perdoe a
iniquidade de teu servo, porque obrei muito nesciamente (…) mandou,
pois, o Senhor, a peste a Israel (…) e morreram do povo desde Dan até
Betsabée 70 mil homens“.
Na passagem: “excitou o Senhor” vemos que o Senhor permitiu que Davi
caísse na tentação de vã glória e ambição ordenando o recenseamento. Isso
é evidenciado se notamos que em primeiro Paralipômenos Capítulo 21,
versículos de 1 a 13 temos a mesma passagem só que relatada da seguinte
forma: “Levantou-se, pois Satanás contra Israel e incitou a Davi a fazer
resenha de Israel e disse Davi à Joab, e aos principais do seu povo: Ide
e fazei a conta a Israel desde Betsabée até Dan e trazei-me o número
para eu saber“.
Davi deveria ter confiança em Deus e atribuído a ele toda força e poder que
possuía e não a quantidade de soldados que existiam.
Ora Davi era semita e Jeová era o Deus de Raça responsável por toda a
evolução naquela época. Os semitas eram teimosos e gostavam de fazer
tudo por si só. Aí a represália em forma de peste de modo a deixar bem claro
que a quantidade de homens era insignificante se comparado ao poder
de Jeová.
Note, então, que Satanás apareceu com o significado de adversário, de
tentador, a fim de provar ao próprio Davi até onde ia a sua fé.
Perceba que o próprio Davi tão logo viu a estupidez que fez caiu em remorso
no seu coração. Só que naquela época não havia o perdão dos pecados e
estavam sob a lei e devia-se aprender pela dor – ai a peste e todo o
sofrimento. Entretanto, da mesma forma que hoje, uma vez aprendida a
lição, o ensino foi suspenso!
Temos um segundo exemplo no livro de Jó (1:6-22 e 2:1-10): “Um dia em
que os filhos de Deus se apresentaram diante do Senhor, veio também
Satanás entre eles (…). E o Senhor disse-lhe: ‘Notaste o meu servo Jó?
Não há ninguém igual a ele na terra: íntegro, reto, temente a Deus,
afastado do mal’. Mas Satanás respondeu ao Senhor: ‘e a troco de nada
que só teme a Deus? Não cercaste como de uma muralha a sua pessoa,
a sua casa e todos os seus bens? (…) Mas estende a tua mão e toca em
tudo o que ele possui: juro-te que te amaldiçoará na tua face’. ‘Pois
bem’, respondeu o Senhor. ‘Tudo o que ele tem está em teu poder; mas
não estendas a tua mão contra a sua pessoa’“.
Daí por diante tudo o que Jó possuía foi sendo destruído por inimigos ou por
fogo ou por furacão. Jó perdeu tudo.
Então, Jó se levantou, rasgou o manto e raspou a cabeça. Depois caído,
prosternado por terra, disse: “Nu saí do ventre de minha mãe, nu voltarei.
O Senhor deu; o Senhor tirou. Bendito seja o nome do Senhor“.
Em tudo isso Jó não cometeu nenhum pecado, nem proferiu
contra Deus nenhuma blasfêmia. “Ora um dia em que os filhos de Deus se
apresentaram diante do Senhor, Satanás apareceu também no meio
deles (…) o Senhor disse-lhe: Notaste o meu servo Jó? (…) Foi em vão
que me incitasse a perdê-lo“.
“Pele por pele!” – respondeu Satanás. “O homem dá tudo que tem para
salvar a própria vida. Mas estende a sua mão, toca-lhe nos ossos, na
carne; juro que te renegará na tua face“.
O Senhor disse a Satanás: “Pois bem, ele está em teu poder, poupa-lhe
apenas a vida! (…) Satanás feriu Jó com uma lepra maligna, desde a
planta dos pés até o alto da cabeça. (…) Sua mulher disse-lhe: Persiste
ainda em tua integridade? Amaldiçoa a Deus; e morre! Falas,
respondeu-lhe ele, como uma insensata. Aceitamos a felicidade da mão
de Deus; não devemos também aceitar a infelicidade?“.
Em tudo isso Jó não pecou por palavras. Essas provações só mostram quão
firmes devemos ser. Tudo Deus nos deu. Tudo só Ele pode nos tirar. Tudo
que possuímos são bens que temos o privilégio de administrar. Se
administrarmos bem, mais possuímos. Se administrarmos mal, até o que
temos nos será tirado.
Esses são os talentos que Cristo nos fala, em São Mateus 25:14-30.
Satanás, aqui, é senão o adversário se empenhando para provar a Jó.
Entretanto, perceba que ele nada faz sem a permissão de Deus que, por
outro lado, não permite que Satanás nos tente acima de nossas forças!
Além disso, Deus nos ajuda com a sua graça de tal forma que tudo o que o
adversário ou o inimigo nos faça redunde em nosso bem, mostrando-nos e
reforçando em nós as virtudes e o merecimento.

Lembrarmo-nos disso nos ajudará, e muito, a nos mantermos firmes em meio


às adversidades.
Qualquer pessoa, qualquer circunstância ou qualquer ser pode se tornar um
Satanás, um adversário, um inimigo para nós num momento em que dele
precisamos.
E o que é Satanás para nós, pode não ser, e muitas vezes não é para os
outros. O importante e ter em mente que quando qualquer pessoa ou
qualquer sugestão de qualquer pessoa – seja ela a pessoa que mais
amamos ou que mais respeitamos ou, ainda, a que mais nos espelhamos –
vier nos pedir ou sugerir que façamos algo que, pela lógica, pela razão e pelo
nosso coração é errado devemos dizer como Cristo disse a São Pedro em
São Mateus (16:23): “Afasta-te Satanás; tu és para mim um escândalo;
teus pensamentos não são de Deus, mas dos homens!“.
Não devemos também amaldiçoar o tentador, o nosso adversário, só porque
ele se apresentou como tal para nós.

De repente essa apresentação se deu só uma vez e não se dará mais. De


repente ele nem se sentiu adversário nosso. Também não adianta tentar
ensiná-lo que está errado ao pedir ou sugerir “algo errado”.

Nesse momento, nós é que estamos sendo tentados; a lição é para provar-
nos, não a ele. Ele é apenas o instrumento; devemos sim repreendê-lo
como Cristo o fez, mostrando nossa consciência no bem. Outras vezes nós
nos tornamos o adversário de nós mesmos. Quando não temos vontade e
inteligência de agir corretamente.
Na Bíblia, Saturno é Satanás, Satã, o adversário, o inimigo, o opositor, o que
luta contra, o contrário. Aquele que limita; que obstrui; que cristaliza; que nos
incomoda. Aquele que nos deixará passar para um nível mais elevado se
provarmos ter o merecimento necessário. Aquele que nos incita a nada fazer;
a fraquejar; a xingar; blasfema; a cristalizar; a perder tempo. Enquanto
ficamos nisso, nada conseguiremos e só retrocedemos. Aprendamos com as
nossas fraquezas e elas nos elevarão. É nosso dever prosseguir, agir,
desafiar novos opositores, abrir novos horizontes. Lembremos que: “a messe
é grande e os operários são poucos“. Daqui concluímos que Saturno é o
tentador que nos incita a não agir; a blasfemar; a opor-se.

Outro tentador há que nos incita a agir, mas agir para o mal; a manter uma
compreensão errada pela Mente; a viver na ignorância. Nesse sentido Cristo-
Jesus foi tentado três vezes pelo demônio no deserto. As tentações visavam
tocar no ponto mais fraco, com isso o tentador poderia justificar a sua queda
alegando que: ou se fazia assim ou morreria.

Entretanto, é preferível morrer a trabalhar para o mal! Após Cristo-Jesus ter


jejuado 40 dias e 40 noites “o tentador aproximou dele e lhe disse: ‘se és
Filho de Deus, ordena que estas pedras se tornem pão‘. Cristo-
Jesus respondeu: ‘Não só de pão vive o homem, mas de toda palavra que
procede da boca de Deus‘”(Mt 4:1-14).
Através do seu poder espiritual, Cristo-Jesus poderia matar sua fome, mas é
uma lei cósmica que não se pode usar o próprio poder para tirar algum
proveito material para si mesmo. Se o fizesse estaria praticando magia
negra! E o demônio sabia disso.
Na segunda tentação, “o demônio transportou-o à cidade santa, colocou-
a no ponto mais alto do templo e disse-lhe: ‘se és Filho de Deus, lança-
te abaixo, pois está escrito: ele deu a seus Anjos ordens a teu respeito;
proteger-te-ão com as mãos, com cuidado, para não machucares o teu
pé em alguma pedra’.

Disse-lhe Cristo-Jesus: ‘Também está escrito: ‘não tentarás o Senhor


teu Deus’“.
Note que o demônio percebeu que Cristo se apoiava nas Sagradas
Escrituras, e também só apoiou nela para fundamentar a sua sugestão!
Na terceira e última tentação “o demônio transportou Cristo-Jesus, uma
vez mais, para um monte muito alto, e lhe mostrou todos os reinos do
mundo e a sua glória, e disse-lhe: ‘dar-te-ei tudo isto se, prostrando-o
diante de mim, me adorares’. Respondeu-lhe Cristo-Jesus: ‘Para trás,
pois está escrito: ‘Adorarás o Senhor teu Deus e só a ele servirás’“.
Com a ajuda do demônio, que possuía o controle sobre a terra, naquele
tempo, seria fácil se tornar um herói maravilhoso no conceito das pessoas
sem ter os transtornos e as dificuldades que viriam.
Entretanto logo descobria que “teria ganhado o mundo inteiro, mas
perdido não só a sua própria alma, mas a alma do mundo inteiro, que
tinha esperança de salvar“! Além do que a Reino de Deus não é deste
mundo; não é o Reino dos homens; o Reino de Deus é celeste.

Após essa última tentação “o demônio o deixou-o por um certo tempo“.


Repare na última frase: “por um certo tempo”, pois a prova não foi feita de
uma vez, mas de tempos em tempos. Durante a Sua vida terrestre,
encontramos a Cristo refutando as mesmas provas.

Esses três tipos de provas, de tentações são as três mais difíceis que
estamos, constantemente, passando: interesse pessoal, poder pessoal e
fama pessoal. No início do nosso caminho Espiritual essas provas nos
apresentam como simples e clara de serem refutadas, mas conforme
progredimos, torna-se menos óbvio e mais sutil. E como diz Tomás de
Kempis, em Imitação de Cristo: “por isso lemos no livro de Jó (7:1): ‘É um
combate a vida do homem sobre a terra‘. Cada qual deve estar acautelado
contra as tentações mediante a vigilância e a oração, para não dar azo as
ilusões do demônio, que nunca dorme, mas anda por toda parte em busca de
quem possa devorar (IPd 5:8)”.

O demônio ou o diabo é o nome comum dado a Lúcifer ou


Espíritos Lucíferos, cujo Planeta residente é Marte. Como diz em Fausto,
quando pergunta quem é Lúcifer: “o Espírito da negação; o poder que
trabalha para o bem, embora planejando o mal”.

O trabalho de Lúcifer foi, e ainda é, mostrarmos que existem o bem e o mal.


Com isso ele trouxe-nos a dor, a tristeza e a morte, roubando-nos a
inocência e a paz. Pois como éramos ingênuos e ignorantes abusamos da
força criadora sexual, tornamos conscientes do nosso corpo físico –
nosso Corpo Denso – esquecemos os mundos espirituais e mergulhamos no
pecado, mas obtivemos a possibilidade de escolher entre fazer o bem ou cair
na tentação fazendo o mal.

A tentação tornou-se parte fundamental da nossa vida. É ela que nos traz a
paciência, quando tentamos e não conseguimos fazer o certo; a humildade,
quando erramos e nos humilhamos; a esperança, quando, após muito
sofrimento estamos prestes a desistir; a fé, quando se sentindo perdido
apoiamos na graça e na consolação divina; ânimo, quando nos sentimos
fortalecidos ante uma tentação sobre passada e; principalmente, a
consciência que, através da sua voz e quando aconteçam circunstâncias
onde antigas tentações nos apresentam, ela nos orienta como agir não nos
deixando cair nelas.

Que as rosas floresçam em vossa cruz

O BEM, O MAL E A LIÇÃO DA PEDRA BRUTA


Postado em Mythos Editora
Uma análise dos símbolos maçônicos que têm como objetivo a edificação e aprimoramento do ser
humano, e a necessidade de se lapidar e trabalhar o espírito.

(Carlos Raposo)

“All in all you’re just another brick in the wall”


(The Wall, Pink Floyd)

Ao entrar para a Ordem, a primeira imagem com a qual o Aprendiz Maçom toma contato, sob um
ponto de vista sintetiza boa parte (senão todos) dos símbolos pertinentes a seu presente estágio e, sob
outro aspecto, ela traz em si a indicação do trabalho que começou a ser realizado por aquele que
iniciou o seu longo aprendizado.

Descrevendo rapidamente, a imagem apresenta um jovem olhando em direção a um bloco disforme


de pedra. Este jovem, provavelmente um pedreiro ou um escultor, traz consigo os instrumentos de
seu ofício: um malho e um cinzel. Em uma primeira vista, logo notamos que, pelo menos os já
citados quatro elementos básicos da imagem, saltam aos nossos olhos. Repetindo, são eles: o próprio
pedreiro, o malho, o cinzel e a pedra bruta.

Para podermos iniciar nossas rápida exposição – tanto sobre esses elementos quanto sobre o
conjunto que a imagem em si representa, como um todo – é necessário que voltemos um pouco no
tempo para nos lembrar da época em que assim chamada Maçonaria, hoje especulativa, era
considerada operativa.

Naquele tempo, com a evolução da arte de se construir, o material utilizado nas edificações aos
poucos passaria de madeira para pedra e, depois, da pedra para a pedra trabalhada. Assim, as
construções iam se tornando mais sólidas e belas. O trabalho na pedra bruta visava, principalmente, a
preparar um conjunto de peças para que essas se moldassem e se encaixassem em um todo maior de
pedras, e que todo as estivessem em conformidade com o projeto dos “construtores”. No campo
operativo, boa parte do trabalho de lapidação executado pelo novos Pedreiros era feito com o suo de,
entre tantos outros materiais, três elementos básicos : a Pedra em si, o Martelo (ou Malho) e o Prego
(ou Cinzel).

Talvez como efeito do avanço industrial, quando a máquina começava a substituir a mão-de-obra
humana, por volta da segunda década do século 18, a Maçonaria passaria a ser considerada de ordem
especulativa. Assim, boa parte dos componentes materiais até então utilizados no ofício e na arte da
construção passaria a compor símbolos, cuja natureza, ainda associada às edificações, agora também
estariam relacionados a aspectos internos do ser humano, sejam esses aspectos de ordem moral,
sejam de ordem espiritual.

Dessa forma, o que antes era visto como a preparação para se produzir peças perfeitas, agora
ganhava os contornos de símbolos que visavam à edificação do verdadeiro homem. Para tal, assim
como acontecia com os blocos de pedra bruta, o próprio homem necessitaria ser trabalhado, ou
lapidado, para que sua perfeição enfim se mostrasse.

Na já citada imagem do Grau de Aprendiz, vemos o jovem pedreiro trabalhando a pedra bruta. Para
a realização desse trabalho, ele emprega o Cinzel e o Malho. O Malho se encontra em sua mão
direita, enquanto o Cinzel está na esquerda. Comparando a pedra com o homem, é mostrado que ela,
em seu estado bruto, se encontra disforme, distante de um possível estado de perfeição que, mais
tarde, será representado pela Pedra Cúbica; igualmente, esse trabalho de lapidação poderá ocorrer
com o próprio ser humano.
Ora se identificando com a Pedra, ora com o Pedreiro, o Aprendiz terá todos os elementos
necessários para trabalhar a si próprio. Esses elementos estão representados pelos já mencionados
Malho e Cinzel.

Superficialmente, alguns autores relacionam o Malho ao elemento ativo da obra de desbaste da


Pedra Bruta, enquanto que o Cinzel seria o elemento passivo. O primeiro estaria associado à força e
ao intelecto, enquanto que o segundo diria respeito à arte de esculpir propriamente dita. Em uma
análise um pouco mais criteriosa, o Malho seguro pela mão direita, é entendido como sendo um
símbolo da ação pura da vontade o Aprendiz, atuando com perseverança e continuidade sobre a
Pedra, enquanto o Cinzel é visto como a capacidade de orientação e observação, a capacidade de
saber discernir o que deve ou não ser retirado do bloco em trabalho. Sob o ponto de vista iniciático,
Malho e Cinzel podem ser percebidos, respectivamente, como a Tradição, que prepara, e como a
Tradição, que prepara, e como a Revelação, que cria. Um é inútil sem o outro, e eles atuam em
conformidade com o Princípio Hermético da Polaridade, que diz que “tudo é duplo”.

Se uma forma de assimilação do símbolo do Grau de Aprendiz o mostra trabalhando a Pedra Bruta,
um outro entendimento, de ordem ainda superior, nos fala que o Aprendiz, sendo a própria Pedra a
ser desbastada, “sofrerá” a ação do Grande Escultor, que fará uso dos elementos necessário à
realização da Obra final.

Mas qual seria a relação direta do Bem e do Mal com a lição Pedra Bruta? Estes dois conceitos, Bem
e Mal, ocuparam e certamente continuarão ocupando a mente de todos e quaisquer estudantes das
Ciências Antigas. Genericamente tomados como conceitos absolutos – nos quais primeiramente
poderíamos simplesmente optar por um (normalmente o Bem) e esquecer o outro – tais aspectos da
criação são de tamanha relatividade que defini-los satisfatoriamente pode parecer tarefa assaz dura,
senão francamente impossível. Assim, iremos nos limitar a dissertar de modo livre e sucinto sobre os
mesmos sempre tendo em mente o símbolo da Pedra Bruta, bem como nossa fé e confiança no
Grande Artesão.

Em princípio, quanto mais livre de conceitos (sobremodo conceitos religiosos) preestabelecidos


estiver a mente de alguém, mais apta esta mente estará para perceber os notáveis equívocos, alguns
seculares, com os quais estamos obrigados a conviver. Por exemplo, tornou-se uso comum associar
Deus tão somente ao Bem, relegando todos os aspectos supostamente vis da criação, as “coisas”
ruins, ao seu eterno opositor. Dessa forma, a perene luta Bem versus Mal, tendo seu palco há muito
armado, segue seu rumo em direção ao eterno.

Somente como ilustração para este equívoco, citamos um trecho, extraído dos códigos de uma das
crenças mais populares de nosso país. Este trecho afirma, de modo claro, taxativo, lapidar e final ser
“[....] Deus, soberanamente justo e bom...”. A suposição de que algo seja “justo e bom”, mesmo
muito antes de poder ser considerada primária, deve ser vista como realmente é, ou seja, ilógica, até
mesma contraditória.

O Segundo Princípio elaborado por aquele Três Vezes Grande, o Princípio de Correspondência nos
diz que “o que está em cima é como o que está em baixo...”. Segundo a lógica hermética, sabemos
que, em tese, um juiz, quando emite uma sentença ou julga uma causa humana, intenta nada mais ser
senão justo. Ele não deseja ser nem bom e nem mau, mas apenas justo. As demais partes envolvidas
são as que, segundo a conveniência de cada uma, entendem ter sido o seu veredicto, a sentença, boa
ou má.

Da mesma forma, seguindo o Princípio Hermético das Correspondências, podemos supor o mesmo a
respeito do Grande Juiz, o Criador. Se Ele é justo, como o crêem todos, é apenas justo. Nós, suas
criaturas, é que, dentro de nossa limitada compreensão, entendemos serem as Sua ações mera
conseqüência de um possível Bem o Mal. E exatamente nisto, em Sua Justiça, está a Sua Perfeição.
Não é à toa que os maçons se utilizam do mote “Justo e Perfeito”, e nunca “Justo e Bom”.

Seguindo o raciocínio sobre o Bem e o Mal, no trabalho de lapidação da Pedra Bruta duas vontades
parecem agir de modo concomitante : a primeira vontade seguirá os desígnios do Criador, que é
soberana. A vontade secundária partiria da própria Pedra, ou do indivíduo a ser trabalhado, no caso,
o Aprendiz. Em ambas possibilidades, intenta-se obter o produto final na forma de uma pedra Justa e
Perfeita. Ela é Justa, pois está adequada à Sua Obra, e é Perfeita, pois também está em conformidade
com a Perfeição de Seu Plano Maior.

O livre-arbítrio que, em princípio, parece dirigir a vontade de Aprendiz, nada mais é do que a
faculdade que lhe dá a chance de estar em harmonia com a vontade Maior que o criou. Nesse caso,
as duas vontades, sendo harmônicas, passam a ser uma única Vontade. Então, poderíamos entender o
Bem como sendo a capacidade do Aprendiz de pôr a própria vontade em sintonia com a vontade
Superior, enquanto o Mal simplesmente representaria a opção contrária a esta.

Um outro aspecto do símbolo, presente no processo de tornar desbastada a pedra bruta, também
muito teria a acrescentar. Sob um certo ponto de vista, a Pedra Bruta é entendida como um estado
original de liberdade, enquanto que a pedra trabalhada é vista como sendo nade mais do que o
produto da submissão de uma individualidade pela força. Mas por hora, devido á densidade deste
particular modo de entendimento da lição da Pedra Bruta, não gostaria de me aprofundar.

Para encerrar, diria apenas que cabe a cada um de nós descobrir a sutil diferença entre a perfeição da
pedra trabalhada e a submissão que o desbastar da pedra por vezes representa. Não reconhecer tal
diferença pode nos levar a ser, simplesmente, um mero produto de nosso meio, mais uma peça
moldada à revelia de nossa própria vontade, de nosso próprio querer.

Enfim, talvez a diferença possa estar no fato de que, enquanto uma traz em si mesma o objetivo de
toda Iniciação, ou seja, a fiel expressão da vontade do conjunto Criador e Criatura, constituindo uma
verdadeira jóia unia – a outra não passara de um mero capricho da manipulação profana, apenas
mais um tijolo na parede, fadado a nada mais senão o esquecimento.

Carlos Raposo é maçom, pesquisador da história de ordens secretas, filosofia oculta e ciências
herméticas, e também responsável pelo site Arte Magicka (www.artemagicka.com).

Você também pode gostar