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Nesse momento, nós é que estamos sendo tentados; a lição é para provar-
nos, não a ele. Ele é apenas o instrumento; devemos sim repreendê-lo
como Cristo o fez, mostrando nossa consciência no bem. Outras vezes nós
nos tornamos o adversário de nós mesmos. Quando não temos vontade e
inteligência de agir corretamente.
Na Bíblia, Saturno é Satanás, Satã, o adversário, o inimigo, o opositor, o que
luta contra, o contrário. Aquele que limita; que obstrui; que cristaliza; que nos
incomoda. Aquele que nos deixará passar para um nível mais elevado se
provarmos ter o merecimento necessário. Aquele que nos incita a nada fazer;
a fraquejar; a xingar; blasfema; a cristalizar; a perder tempo. Enquanto
ficamos nisso, nada conseguiremos e só retrocedemos. Aprendamos com as
nossas fraquezas e elas nos elevarão. É nosso dever prosseguir, agir,
desafiar novos opositores, abrir novos horizontes. Lembremos que: “a messe
é grande e os operários são poucos“. Daqui concluímos que Saturno é o
tentador que nos incita a não agir; a blasfemar; a opor-se.
Outro tentador há que nos incita a agir, mas agir para o mal; a manter uma
compreensão errada pela Mente; a viver na ignorância. Nesse sentido Cristo-
Jesus foi tentado três vezes pelo demônio no deserto. As tentações visavam
tocar no ponto mais fraco, com isso o tentador poderia justificar a sua queda
alegando que: ou se fazia assim ou morreria.
Esses três tipos de provas, de tentações são as três mais difíceis que
estamos, constantemente, passando: interesse pessoal, poder pessoal e
fama pessoal. No início do nosso caminho Espiritual essas provas nos
apresentam como simples e clara de serem refutadas, mas conforme
progredimos, torna-se menos óbvio e mais sutil. E como diz Tomás de
Kempis, em Imitação de Cristo: “por isso lemos no livro de Jó (7:1): ‘É um
combate a vida do homem sobre a terra‘. Cada qual deve estar acautelado
contra as tentações mediante a vigilância e a oração, para não dar azo as
ilusões do demônio, que nunca dorme, mas anda por toda parte em busca de
quem possa devorar (IPd 5:8)”.
A tentação tornou-se parte fundamental da nossa vida. É ela que nos traz a
paciência, quando tentamos e não conseguimos fazer o certo; a humildade,
quando erramos e nos humilhamos; a esperança, quando, após muito
sofrimento estamos prestes a desistir; a fé, quando se sentindo perdido
apoiamos na graça e na consolação divina; ânimo, quando nos sentimos
fortalecidos ante uma tentação sobre passada e; principalmente, a
consciência que, através da sua voz e quando aconteçam circunstâncias
onde antigas tentações nos apresentam, ela nos orienta como agir não nos
deixando cair nelas.
(Carlos Raposo)
Ao entrar para a Ordem, a primeira imagem com a qual o Aprendiz Maçom toma contato, sob um
ponto de vista sintetiza boa parte (senão todos) dos símbolos pertinentes a seu presente estágio e, sob
outro aspecto, ela traz em si a indicação do trabalho que começou a ser realizado por aquele que
iniciou o seu longo aprendizado.
Para podermos iniciar nossas rápida exposição – tanto sobre esses elementos quanto sobre o
conjunto que a imagem em si representa, como um todo – é necessário que voltemos um pouco no
tempo para nos lembrar da época em que assim chamada Maçonaria, hoje especulativa, era
considerada operativa.
Naquele tempo, com a evolução da arte de se construir, o material utilizado nas edificações aos
poucos passaria de madeira para pedra e, depois, da pedra para a pedra trabalhada. Assim, as
construções iam se tornando mais sólidas e belas. O trabalho na pedra bruta visava, principalmente, a
preparar um conjunto de peças para que essas se moldassem e se encaixassem em um todo maior de
pedras, e que todo as estivessem em conformidade com o projeto dos “construtores”. No campo
operativo, boa parte do trabalho de lapidação executado pelo novos Pedreiros era feito com o suo de,
entre tantos outros materiais, três elementos básicos : a Pedra em si, o Martelo (ou Malho) e o Prego
(ou Cinzel).
Talvez como efeito do avanço industrial, quando a máquina começava a substituir a mão-de-obra
humana, por volta da segunda década do século 18, a Maçonaria passaria a ser considerada de ordem
especulativa. Assim, boa parte dos componentes materiais até então utilizados no ofício e na arte da
construção passaria a compor símbolos, cuja natureza, ainda associada às edificações, agora também
estariam relacionados a aspectos internos do ser humano, sejam esses aspectos de ordem moral,
sejam de ordem espiritual.
Dessa forma, o que antes era visto como a preparação para se produzir peças perfeitas, agora
ganhava os contornos de símbolos que visavam à edificação do verdadeiro homem. Para tal, assim
como acontecia com os blocos de pedra bruta, o próprio homem necessitaria ser trabalhado, ou
lapidado, para que sua perfeição enfim se mostrasse.
Na já citada imagem do Grau de Aprendiz, vemos o jovem pedreiro trabalhando a pedra bruta. Para
a realização desse trabalho, ele emprega o Cinzel e o Malho. O Malho se encontra em sua mão
direita, enquanto o Cinzel está na esquerda. Comparando a pedra com o homem, é mostrado que ela,
em seu estado bruto, se encontra disforme, distante de um possível estado de perfeição que, mais
tarde, será representado pela Pedra Cúbica; igualmente, esse trabalho de lapidação poderá ocorrer
com o próprio ser humano.
Ora se identificando com a Pedra, ora com o Pedreiro, o Aprendiz terá todos os elementos
necessários para trabalhar a si próprio. Esses elementos estão representados pelos já mencionados
Malho e Cinzel.
Se uma forma de assimilação do símbolo do Grau de Aprendiz o mostra trabalhando a Pedra Bruta,
um outro entendimento, de ordem ainda superior, nos fala que o Aprendiz, sendo a própria Pedra a
ser desbastada, “sofrerá” a ação do Grande Escultor, que fará uso dos elementos necessário à
realização da Obra final.
Mas qual seria a relação direta do Bem e do Mal com a lição Pedra Bruta? Estes dois conceitos, Bem
e Mal, ocuparam e certamente continuarão ocupando a mente de todos e quaisquer estudantes das
Ciências Antigas. Genericamente tomados como conceitos absolutos – nos quais primeiramente
poderíamos simplesmente optar por um (normalmente o Bem) e esquecer o outro – tais aspectos da
criação são de tamanha relatividade que defini-los satisfatoriamente pode parecer tarefa assaz dura,
senão francamente impossível. Assim, iremos nos limitar a dissertar de modo livre e sucinto sobre os
mesmos sempre tendo em mente o símbolo da Pedra Bruta, bem como nossa fé e confiança no
Grande Artesão.
Somente como ilustração para este equívoco, citamos um trecho, extraído dos códigos de uma das
crenças mais populares de nosso país. Este trecho afirma, de modo claro, taxativo, lapidar e final ser
“[....] Deus, soberanamente justo e bom...”. A suposição de que algo seja “justo e bom”, mesmo
muito antes de poder ser considerada primária, deve ser vista como realmente é, ou seja, ilógica, até
mesma contraditória.
O Segundo Princípio elaborado por aquele Três Vezes Grande, o Princípio de Correspondência nos
diz que “o que está em cima é como o que está em baixo...”. Segundo a lógica hermética, sabemos
que, em tese, um juiz, quando emite uma sentença ou julga uma causa humana, intenta nada mais ser
senão justo. Ele não deseja ser nem bom e nem mau, mas apenas justo. As demais partes envolvidas
são as que, segundo a conveniência de cada uma, entendem ter sido o seu veredicto, a sentença, boa
ou má.
Da mesma forma, seguindo o Princípio Hermético das Correspondências, podemos supor o mesmo a
respeito do Grande Juiz, o Criador. Se Ele é justo, como o crêem todos, é apenas justo. Nós, suas
criaturas, é que, dentro de nossa limitada compreensão, entendemos serem as Sua ações mera
conseqüência de um possível Bem o Mal. E exatamente nisto, em Sua Justiça, está a Sua Perfeição.
Não é à toa que os maçons se utilizam do mote “Justo e Perfeito”, e nunca “Justo e Bom”.
Seguindo o raciocínio sobre o Bem e o Mal, no trabalho de lapidação da Pedra Bruta duas vontades
parecem agir de modo concomitante : a primeira vontade seguirá os desígnios do Criador, que é
soberana. A vontade secundária partiria da própria Pedra, ou do indivíduo a ser trabalhado, no caso,
o Aprendiz. Em ambas possibilidades, intenta-se obter o produto final na forma de uma pedra Justa e
Perfeita. Ela é Justa, pois está adequada à Sua Obra, e é Perfeita, pois também está em conformidade
com a Perfeição de Seu Plano Maior.
O livre-arbítrio que, em princípio, parece dirigir a vontade de Aprendiz, nada mais é do que a
faculdade que lhe dá a chance de estar em harmonia com a vontade Maior que o criou. Nesse caso,
as duas vontades, sendo harmônicas, passam a ser uma única Vontade. Então, poderíamos entender o
Bem como sendo a capacidade do Aprendiz de pôr a própria vontade em sintonia com a vontade
Superior, enquanto o Mal simplesmente representaria a opção contrária a esta.
Um outro aspecto do símbolo, presente no processo de tornar desbastada a pedra bruta, também
muito teria a acrescentar. Sob um certo ponto de vista, a Pedra Bruta é entendida como um estado
original de liberdade, enquanto que a pedra trabalhada é vista como sendo nade mais do que o
produto da submissão de uma individualidade pela força. Mas por hora, devido á densidade deste
particular modo de entendimento da lição da Pedra Bruta, não gostaria de me aprofundar.
Para encerrar, diria apenas que cabe a cada um de nós descobrir a sutil diferença entre a perfeição da
pedra trabalhada e a submissão que o desbastar da pedra por vezes representa. Não reconhecer tal
diferença pode nos levar a ser, simplesmente, um mero produto de nosso meio, mais uma peça
moldada à revelia de nossa própria vontade, de nosso próprio querer.
Enfim, talvez a diferença possa estar no fato de que, enquanto uma traz em si mesma o objetivo de
toda Iniciação, ou seja, a fiel expressão da vontade do conjunto Criador e Criatura, constituindo uma
verdadeira jóia unia – a outra não passara de um mero capricho da manipulação profana, apenas
mais um tijolo na parede, fadado a nada mais senão o esquecimento.
Carlos Raposo é maçom, pesquisador da história de ordens secretas, filosofia oculta e ciências
herméticas, e também responsável pelo site Arte Magicka (www.artemagicka.com).