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Avaliação da indutância de magnetização e da

constante de tempo secundária de transformadores de


corrente de proteção através de ensaio de saturação
*
V. V. Coelho, P. R. Bernardes A. de C. Antônio Jr, V. R. Niedzwiecki, M. Rigoni, **N. J.
ELETROSUL – Centrais Elétricas S.A. Batistela, N. Sadowski, J. P. A. Bastos
Florianópolis, Brasil Grupo de Concepção e Análise de Dispositivos
*
valci@eletrosul.gov.br Eletromagnéticos – GRUCAD
Universidade Federal de Santa Catarina – UFSC
Florianópolis, Brasil
**
jhoe@grucad.ufsc.br

Resumo — Este artigo trata de transformadores de corrente dinâmica de TCs, as normas IEC 60044-1 [3] e IEC 60044-6
(TCs) de proteção. Apresenta a importância da determinação [4] se baseiam na norma IEEE 76 [2].
da constante de tempo secundária T2, concomitantemente da
indutância de magnetização L0 em relação às especificações de
resposta dinâmica. O trabalho comenta como as normas IEC
60044-1 e IEC 60044-6 tratam estes dois parâmetros. É
proposto um método de avaliação de TCs em função da
determinação de L0 e T2. Utiliza-se um instrumento virtual
desenvolvido em LABVIEW® para obter valores de T2 e L0
encontrados por meio do ensaio de saturação de TCs. Valores
encontrados com o método proposto são comparados com a
aplicação de métodos normalizados. Dentro de um mesmo lote
Figura 1 – Esquema típico de um circuito usando TC [10].
de TCs de mesma especificação, a aplicação da metodologia
proposta é capaz de avaliar quais destes apresentam melhor
desempenho dinâmico de acordo com a especificação. Assim,
possibilita-se uma escolha seletiva de equipamentos que
atendam uma determinada resposta dinâmica a transitório.

Palavras-chave: Transformadores de Corrente; Indutância


de magnetização; Constante de tempo secundária; Metodologia
de ensaio de TCs.

I. INTRODUÇÃO
Os equipamentos transformadores de corrente elétrica Figura 2 – TC tipo bucha com núcleo toroidal.[10].
- TCs - fazem parte do circuito de uma subestação de
transformação de um sistema elétrico, seja de distribuição
ou transmissão [1]. O TC de alta tensão tem a função de
transferir uma imagem da corrente elétrica que circula no
circuito de potência do sistema de energia aos
instrumentos de medição ou aos relés de proteção de uma
subestação. A Figura 1 mostra um circuito representando
um TC como uma “caixa preta” que transfere uma
informação de um lado ao outro do dispositivo através de
Figura 3 – Circuito equivalente do TC tipo bucha [2].
acoplamento magnético entre enrolamentos com uma
determinada relação de transformação. Neste trabalho II. RESPOSTA DINÂMICA DO TC – IEEE 76
aborda-se os TCs aplicados em sistemas de proteção.
A grande importância para um projeto de um sistema de
Normalmente, os TCs utilizados em alta tensão são do
proteção envolvendo TC é a determinação do tempo de
tipo bucha (vide Figura 2). Seu circuito equivalente [2] para
saturação (Ts). Este parâmetro é relacionado com a resposta
análise, geralmente adotado pelas normas internacionais
do equipamento quando um transitório se apresenta no
IEC [3][4] e ANSI [5], é conforme o apresentado pela
primário de tal forma que se tenha um sinal fiel no
Figura 3. As normas ABNT [6][7] seguem normas
secundário [2]. A Figura 4(a) apresenta o comportamento do
internacionais como referência. Sob o aspecto da resposta
efeito do transitório do fluxo magnético sob o efeito da
saturação do núcleo do TC. Nesta figura, há um esboço da
curva do fluxo para um curto-circuito no sistema caso não
houvesse saturação no material do núcleo e a curva do fluxo
saturando em 5pu. A Figura 4(b) mostra o comportamento
da corrente secundária sob a saturação, apresentando a
distorção devido ao efeito de saturação. Quando ocorre a
saturação, a amplitude do sinal secundário tende a ser nulo
no intervalo de tempo em que o núcleo está saturado [9].

Figura 5 – Parâmetros da constante de tempo primária no momento de curto-


circuito a ser refletida no secundário do TC [9][10].

Baseado no circuito equivalente do TC tipo bucha (vide


Figura 3), considera-se a indutância de magnetização L0
tendo um valor muito maior que a indutância da carga L2.
Assim, calcula-se a constante de tempo secundária do TC
conforme (5).
L0 L0
T2 = = (5)
R 2 r2 + rc
O fator de saturação Ks é expresso em (6) [2], sendo
dependente de T1 e T2 conforme esta expressão. Sabe-se que
(6) é válida para um curto-circuito considerado o “pior” caso
em termos de transitório [2].
Figura 4 – Comportamento do sinal com saturação: (a) efeito da saturação
no fluxo; (b) efeito na corrente secundária [9].
ωT2 T1  
t t
− −
Ks = e T2
−e T1  +1 (6)
O documento IEEE Report. 76 CH 1130-4 PWR – 1976 T2 − T1  

[2], referente ao comportamento do TC no transitório, define
A Figura 6 mostra a variação de Ks em relação a T1 e T2,
o parâmetro tempo de saturação Ts (vide Figura 4) conforme mantendo-se T1 igual a 0,04 segundo e traçando-se a curva
(1). de Ks para diferentes T2, variando de 0,1 a 1,0 segundo.
 Ks −1  Verifica-se que quanto maior T2, maior será o valor de Ks e
  consequentemente maior Ts.
 X1  (1)
Ts = −T1 ln 1 −
 R1 
 
 
Em (1), Ts é o tempo de saturação, T1 a constante de
tempo primária do sistema, Ks o fator de saturação (que será
abordado a seguir), X1 a reatância do sistema primário para
o ponto de falta e R1 a resistência do sistema primário para o
ponto de falta.

III. PARÂMETROS DO TEMPO DE SATURAÇÃO - IEEE 76


A constante de tempo primária (T1) no instante da falta,
utilizada no cálculo do tempo de saturação (Ts) em (1), é
obtida somente considerando os parâmetros do sistema
elétrico ao qual o TC está conectado (vide Figura 5) e dado
pelas equações (2), (3) e (4). Figura 6 – Variação de Ks em função de T2 com T1 = 0,04 s [10].
ω = 2πf (2) Para se poder determinar a constante de tempo secundária
X 1 = L1ω (3) T2 do TC é necessário obter, através de ensaios, o valor da
indutância de magnetização L0 (vide (5)).
X1
T1 = (4)
R1ω IV. DETERMINAÇÃO DE L0 E T2 ATRAVÉS DO ENSAIO DE
SATURAÇÃO
Nestas equações, f é a frequência da rede elétrica (no caso
60Hz no Brasil), L1 a indutância primária e X1 a reatância Pode-se calcular o valor da indutância de magnetização
primária. L0 por (7), onde se observa a sua dependência com os
parâmetros construtivos do TC.
µ 0 µ r SN 22 Nos ensaios realizados com TCs de proteção aplicados
L0 = (7) em subestações de energia elétrica, notou-se que a queda de
lm tensão causada pela resistência do enrolamento secundário é
Em (7), µ0 é a permeabilidade magnética do ar, S a área desprezível [10].
da seção magnética efetiva do núcleo, N2 o número de espiras
Os ensaios de TCs foram realizados com uma bancada
do enrolamento secundário e lm o caminho médio magnético.
conforme mostra a Figura 9. As formas de onda provenientes
Estes parâmetros geralmente são constantes ou apresentam do transdutor de tensão e de corrente foram adquiridas por
pouca variação. Assim, L0 varia principalmente com a uma placa da National Instruments conectada em um
permeabilidade magnética relativa µr do material computador pessoal com um instrumento virtual (VI)
ferromagnético do núcleo do TC (vide Figura 7). desenvolvido em LABVIEW® [10]. A Figura 10 mostra o
painel frontal do VI onde consta, por exemplo, curva de
magnetização tensão por corrente, formas de onda de tensão
e de corrente e laço de fluxo por corrente [10].

Figura 7 – Comportamentos da tensão induzida no enrolamento secundário e


da indutância de magnetização em função da corrente de magnetização
obtidos no ensaio de saturação de um TC [10].
Figura 9 – Diagrama de blocos da bancada de ensaios de TCs [10].
O circuito equivalente do ensaio de saturação está
apresentado na Figura 8. Neste ensaio, o enrolamento
secundário do TC é alimentado por uma fonte de tensão v(t)
senoidal, deixando o enrolamento primário em aberto. A
corrente i(t) é a de magnetização e vm(t) é a tensão que
representa a força eletromotriz induzida no enrolamento
secundário. Há duas maneiras de se obter o fluxo magnético:
Φ(t) através da integração da tensão da fonte v(t) ou Φm(t)
através da integração da tensão vm(t) calculada descontando a
queda de tensão na resistência do enrolamento (vide (8)). Em
(8), i(t) é a corrente de excitação.

Figura 10 – Painel frontal do VI de aquisição e tratamento de dados [10].

Através do ensaio de excitação do TC e das ferramentas


de software implementadas no VI, a curva de magnetização
do núcleo do TC é traçada, contendo informações relativas
ao comportamento da permeabilidade magnética do material
do núcleo. Uma vez que as demais variáveis que determinam
Figura 8 – Circuito de ensaio de saturação de um TC [10].
L0 são consideradas constantes (vide (7)), esta curva
v m (t ) = v (t ) − i (t ) r2 (8) representa indiretamente a variação de L0.

Φ (t ) = ∫ v (t ) dt (9) V. PROPOSTA PARA ESCOLHA DE TC ATRAVÉS DA


AVALIAÇÃO DO DESEMPENHO POR T2
Φ m (t ) = ∫ v m (t ) dt (10)
Muitas vezes se almeja nos laboratórios de fábrica, ou em
dΦ m laboratórios de alta tensão dos centros de manutenção de
dΦ m equipamentos de pátio de subestação das empresas do setor
L0 = N 2 dt = N 2 (11) elétrico, selecionar os TCs em função da resposta ao
di di transitório pela avaliação do tempo de resposta à saturação.
dt
A proposta é então avaliar o comportamento de T2, que é um proposto L0_Met.Proposto (15) dado em função da corrente i de
reflexo de L0 , pois, quanto maior for T2, maior será Ts. magnetização. Nesta equação, os efeitos da resistência do
Na prática de ensaios em laboratório nem sempre se enrolamento são desprezados. Como resultado, pelo método
dispõe dos dados de placa do equipamento a ser ensaiado, proposto se obtém o valor máximo da curva de indutância
desconhecendo-se então a carga nominal e, portanto, o valor em função da corrente em valores eficazes (vide Figura 12).
da resistência de carga rc. Assim, sugere-se realizar a V (i ) (15)
L0 _ Met .Pr oposto (i ) =
determinação de T2 (12) desconsiderando o parâmetro rc que 2π fi
compõe R2, utilizando somente o valor da resistência do
enrolamento secundário r2, mensurado com um ohmmímetro,
e a curva de L0 obtida através do ensaio de saturação.
L0 (i ) (12)
T2 _ Met .Pr oposto ( i ) =
r2
A norma IEC 60044-6 [4] considera o ponto de joelho da
curva de excitação como ponto de referência de saturação
(vide Figura 11) e define o cálculo da indutância de
magnetização L0 através da relação entre o valor de pico do
fluxo de saturação Φs e o correspondente valor de pico da Figura 12 – Determinação de L0 conforme método proposto [10].
corrente de magnetização i dada por (13). Convém chamar
Assim, o valor máximo da curva de L0 é considerado
atenção para o que se encontra na mesma norma: “A
como valor crítico da indutância de magnetização em termos
indutância de magnetização é dada pela inclinação média
da constante de tempo. Cabe observar o seguinte: na
em cima da curva estimada na faixa entre 20% e 90% do
realidade, considera-se a indutância de magnetização
fluxo de saturação Φs.” Isto parece gerar uma contradição
calculada como a indutância própria do enrolamento
com respeito ao se utilizar a parte linear da curva de
secundário do TC, tendo em vista a dificuldade de se
magnetização (inclinação) para determinação de L0 com o
determinar a indutância de dispersão. Posteriormente, poder-
que define (13) constante na norma IEC [4].
se-ia compensá-la com o conhecimento do valor da
indutância de dispersão.

VI. ANÁLISE DE RESULTADOS DE ENSAIOS


O VI de análise pode calcular o L0_IEC tanto para valores
de pico como em valores eficazes. Observou-se que os
valores calculados pelo método IEC, tanto para eficaz
quanto de pico, não diferem significativamente (<0,3%) em
TCs de proteção ensaiados no Laboratório [10]. Como
exemplo, a Tabela I mostra os resultados de um destes
Figura 11 – Avaliação da curva de excitação conforme IEC 60044-6 [10]. ensaios. Note que a diferença utilizando valores eficazes ou
O cálculo da indutância de magnetização conforme a de pico é de aproximadamente de 0,27%. Menciona-se este
norma IEC 60044-6 [4], L0_IEC, é realizado conforme (14) fato devido à impossibilidade de se manter a forma de onda
[10], isto é, a relação da tensão de pico (no ponto em que há da tensão perfeitamente senoidal durante todo o ensaio [10].
um acréscimo de 10% no valor da tensão corresponde a um O valor de L0 pelo método proposto apresentou um valor
acréscimo de 50% no valor da corrente de excitação) e a maior que o da IEC, o que era esperado por estar
corrente de pico de excitação multiplicada por 2πf. A Figura considerando somente a resistência do enrolamento
11 exemplifica o procedimento da norma IEC 60044-6 [4]. secundário r2 no cálculo e por utilizar o valor máximo da
indutância. Uma das vantagens de se utilizar o método
Φs proposto é não se ter que buscar o valor da resistência de
L0 = (13)
I0 carga nominal em catálogos e ou contratos de compra do
V Pico _ quando _ a _ tensão _ acrescer _ 10% _ e _ corrente _ 50% equipamento, prolongando o tempo de ensaio e análise dos
L0 _ IEC = (14) resultados. Como já mencionado, o valor de carga deveria
2πfI Pico _ quando _ a _ corrente _ acrescer _ 50% _ e _ tensão _ 10% estar apresentado na placa que acompanha o TC, o que nem
Para viabilizar os vários procedimentos de análise sempre ocorre. A outra vantagem se deve ao fato de se
experimental de TC, o VI de análise desenvolvido em [10] e poder conhecer o maior valor máximo da indutância do TC.
aplicado neste trabalho, utiliza curvas e valores obtidos
experimentalmente de um TC de proteção de relação
1200/5, classe C400 [5].
O VI de análise fornece dois valores de indutância: um
calculado pela norma IEC (L0_IEC) (14) e outro pelo método
TABELA I. RESULTADO DE L0 E T2 OBTIDOS PELOS MÉTODOS com entreferro ensaiado, o valor da permeabilidade
PROPOSTO E DA IEC
magnética começa a decair antes de se chegar à região do
Método joelho da curva de magnetização.
IEC
Parâmetros Proposto
Valor eficaz Valor eficaz Valor de pico
L0 [mH] 1,591 1,462 1,458

T2 [s] 3,075 2,828 2,820

Sobre a tolerância admissível do valor da constante de


tempo da malha secundária, a norma IEC60044-1 [3] na
Seção 13.4.2, define: “A constante de tempo (T2) da malha
secundária deve ser determinada. Esta não deve diferir do
Figura 13 – Curvas de T2 e L0 de ensaios em TCs sem carga (a) TC sem
valor especificado por mais do que ±30%.”. A norma entreferro (b) TC com entreferro.
IEC60044-6 [4] complementa a norma IEC60044-1 [3]:
“Ela não deve diferir de mais do que ±30% para TC de A Figura 14 mostra as curvas da indutância L0, da
classe TPY e de ±10% para os de classe TPZ.” Nota-se que constante de tempo secundária T2 e da tensão de excitação
a norma IEC apresenta um índice de tolerância para o TC3S e o TC6200377, considerando a carga nominal
relativamente elevado, até 30% para certos casos. Os para classe C400, ou seja, rc = 2Ω e xc = 3,464Ω.
resultados mostrados na Tabela I, tanto o obtido pelo
método proposto como pela norma IEC, não divergem em
mais do que 10%.
Realizou-se ensaios de dois TCs de classe C400, relação
1200/5, sendo um TC sem entreferro de 72kV com r2 =
0,42779Ω, denominado por TC3S, e um TC com entreferro
de 145kV com r2 = 0,51346Ω, denominado por TC6200377.
Os resultados de cálculo L0 e T2 provenientes do VI,
correspondentes às curvas obtidas dos TCs sem entreferro e
com entreferro, são apresentadas na Figura 13. Sem Figura 14 – Curvas de T2 e L0 de ensaios em TCs com carga (a) TC sem
entreferro (b) TC com entreferro.
considerar a carga (ou seja, rc = 0Ω e xc = 0Ω), obtêm-se os
valores apresentados na Tabela II para os dois TCs. Os valores calculados também são apresentados na
Tabela III. Observa-se que os valores calculados para L0 e
TABELA II. VALORES DE L0 E T2 EM TCS SEM E COM ENTRFERRO T2 com o método proposto são idênticos em ambas as
SEM CARGA
Tabela II e III, pois o método não considera a carga. No
Método Proposto IEC caso de se considerar a carga nominal, o valor de T2 diminui
Parâmetros TC sem TC com TC sem TC com para ambos os TC, sem e com entreferro, como esperado.
entreferro entreferro entreferro entreferro Há uma influência significativa da carga no comportamento
L0 [mH] 4,8598 1,6127 3,5795 1,5704 da constante de tempo secundária T2.
T2 [s] 11,36 3,1408 8,3673 3,0585
TABELA III. L0 E T2 EM TCS SEM E COM ENTRFERRO COM CARGA

Analisando-se os resultados apresentados pela Figura 13 Método Proposto IEC


Parâmetros
e pela Tabela II, nota-se que o TC sem entreferro TC3S TC sem TC com TC sem TC com
entreferro entreferro entreferro entreferro
apresenta valores maiores para T2 e L0 em relação ao TC
L0 [mH] 4,8598 1,6127 3,5795 1,5704
com entreferro TC6200377, como esperado. Os valores
obtidos para L0 pelo método IEC são menores do que o T2 [s] 11,36 3,1408 1,4744 0,6248
método proposto: aproximadamente 26,3% menor para o TC
sem entreferro e 2,6% menor para o TC com entreferro. Para Aplicou-se o método proposto na avaliação de um
o TC sem entreferro, o maior valor de L0 obtido no ensaio mesmo lote de TCs com a mesma especificação e de um
está mais próximo do ponto de joelho da curva de excitação mesmo fabricante. Procurou-se os TCs apresentando valores
do que para o TC com entreferro. Cabe realçar aqui que as de T2 que contribui para se obter o tempo mais e menos
normas IEEE/ANSI [2][5] e IEC[3][4] referenciam o ponto elevado de saturação Ts. Realizou-se o ensaio de oito TCs de
de joelho como ponto de máxima permeabilidade, ou seja, relação de 1200/5, C400, 72 kV, sem entreferro,
de máxima indutância de magnetização. No entanto, o que denominados por TC1, TC2, TC3, TC4, TC5, TC6, TC7 e
se observa com os resultados dos ensaios é que isto é válido TC8. As curvas de T2 em função da corrente de
para TCs sem entreferro, sendo que para TC com entreferro magnetização são apresentadas na Figura 15 (um gráfico
o valor máximo de L0 é alcançado em um ponto antes da apresenta a evolução de T2 para todos os valores de corrente
região de joelho da curva de magnetização. Para este TC e o outro o início das curvas). Observa-se que o TC6
apresenta o maior T2, enquanto o TC3 possui o menor T2. VII. CONCLUSÃO
Nota-se que a relação entre os valores máximos para estes A abordagem e a metodologia apresentadas neste
dois TCs é de quase duas vezes. Assim, com este tipo de trabalho podem contribuir para um melhor entendimento do
análise, pode-se selecionar, de um mesmo lote de TCs comportamento dinâmico do núcleo de TCs de proteção
considerados iguais, quais deles contribuirão para um tempo referente à sua resposta a transitórios, bem como da
de saturação Ts maior (ou menor) e também quais se aplicação e análise de normas. O trabalho também pode ser
encontram dentro da tolerância admitida para o projeto de útil aos profissionais envolvidos em proteção no que se
proteção para o qual foram dimensionados. refere a conceitos sobre o assunto em questão.
Com a metodologia proposta para análise e obtenção de
dados da curva de excitação de TCs, pode-se criar critérios
mais rigorosos nos processos de aceitação de TCs pelos
usuários na recepção dos equipamentos junto ao fabricante.
Adicionalmente, com a abordagem proposta, há um auxílio
para a seleção de TCs quanto ao desempenho dinâmico.
Com as modernas ferramentas de análise que
instrumentos virtuais podem oferecer, este trabalho pode
também ser útil para uma eventual revisão de normas em
questões referentes à curva de excitação, à mensuração de
grandezas elétricas e à obtenção de parâmetros.
Figura 15 – Resultado de ensaios de T2 para 8 TCs semelhantes.
VIII. REFERÊNCIAS
Para apresentar a diferença em termos da resposta de T2
de um TC sem entreferro com relação a um TC com [1] F. Solon de Medeiros, Medição de Energia Elétrica, Editora
Guanabara Dois S.A., Rio de Janeiro – RJ, 1982.
entreferro, na Figura 16 são mostradas as curvas do TC6 e
[2] IEEE Power System Relay Committee, “Transient Response of
TC3 (que apresentaram respectivamente valores de maior e Current Transformers”, IEEE Report, 76 CH 1130-4 PWR, 1976.
menor T2 (vide Figura 15)), em conjunto com uma curva [3] IEC 60044-1, Instrument Transformers, Part 1: “Current
obtida em um TC com entreferro denominado TCce (classe Transformers”, International Electrotechnical Commission, Geneve,
C400, relação 1200/5, tensão de operação de 145kV). Switzerland, Edition 1.2, 2003-02.
Observa-se que o TC com entreferro apresenta T2 menor do [4] IEC 60044-6, Instrument Transformers, Part 6: “Requirements for
Protective Current Transformers for Transient Performance”,
que para TC sem entreferro (aproximadamente 69% menor International Electrotechnical Commission, Geneve, Switzerland,
do que o TC3 e 83% menor que o TC6), principalmente na First edition, 1992-2003.
zona linear. Entretanto, na zona de saturação, o TC com [5] ANSI/IEEE Standard, “REQUIREMENTS FOR INSTRUMENT
entreferro apresenta um T2 maior. No entanto, por norma, a TRANSFORMERS”, IEEE Std C57.13-1993, March 4, 1994
constante de tempo T2 é definida para o TC operando na (Revision of IEEE Std C57.13-1978).
região não saturada (pois a importância da constante de [6] ABNT – ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS,
“Transformador de Corrente – Especificação”, NBR 6856,
tempo T2 está relacionada à determinação do tempo de ABR./1992.
saturação Ts). Obviamente, os TCs com e sem entreferro são [7] ABNT – ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS,
diferentes. Mas, na zona de saturação parece ocorrer uma “Transformador de Corrente – Método de Ensaio”, NBR 6821,
contradição quando a constante de tempo secundária do TC ABR./1992.
com entreferro é maior do que para um TC sem entreferro. [8] O. José Mario, “Regime Transitório para Transformadores de
Corrente – Núcleos Linearizados Norma IEC 44-6”, Curso
Geralmente, o entreferro reduz a indutância de Transformadores de Corrente, Curitiba, 1999.
magnetização e, consequentemente, a constante de tempo [9] GE. CT Application Guide for the 489 Generator Management
secundária, o que é observado na comparação entre os dois Relay. GE Power Management, Technical Notes, Publication No.
tipos de TC na região linear. GTE-8402, 2002.
[10] V. V. Coelho, “Estudo da Avaliação de Transformadores de Corrente
de Alta Tensão através da Curva de Excitação”, 2011, Dissertação
(Mestrado em Engenharia Elétrica), UFSC, Florianópolis, 2011.

Figura 16 – Comparação de T2 por resultados de ensaios em TC sem e com


entreferro.

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