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Circuitos RLC

⚡Princípios gerais
⚡Sistemas em série e em paralelo
⚡Osciladores
⚡Filtros

1
ELETROMAGNETISMO I / IFUSP / AULA 16
Circuitos:
elementos básicos
• As propriedades eletromagnéticas dos
materiais permitem que possamos
manipular não apenas voltagens e
correntes, mas também os próprios
campos eletromagnéticos.
• Os elementos principais que compõe um
circuito elétrico são:
Fonte (AC ou DC)
Resistência
Indutância (bobina)
Capacitor
• Combinando esses elementos podemos
construir circuitos que cumprem uma
variedade infinita de funções.

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Elementos básicos
• Além da fonte de voltagem (corrente contínua ou alternada) e da resistência,
dois elementos têm um caráter eletromagnético mais “sofisticado":
O capacitor (ou condensador) é um aparato que guarda energia na forma do
campo elétrico, e acumula cargas que podem depois serem liberadas
rapidamente;
O indutor (ou bobina) é um aparato que consegue guardar energia na forma
de um campo magnético, e devido à Lei de Faraday, introduz um retardo (uma
“inércia") nos sinais.
• Vamos recordar como cada elemento relaciona a voltagem e a corrente:

Resistência: ΔV = I R
1 1
C∫
Capacitor: ΔQ = C ΔV ↔ ΔV = ΔQ = dt I
C
dI
Indutor: ΔV = L (ΔV ↔ ℰ)
dt
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Circuitos em série
• Os circuitos mais simples que podemos montar consistem de vários desses elementos, montados
um após o outro, num único fio. Um caso simples é mostrado ao lado: uma fonte alimenta uma
resistência, depois uma resistência, depois um indutor, e depois um capacitor.
• Podemos usar as relações da página anterior para ver que a equação que determina o
comportamento desse sistema é dada por:

dI 1 dQ d 2Q 1
V = R I(t) + L + Q(t) = R + L 2 + Q(t)
dt C dt dt C
• No caso de uma fonte de corrente contínua a uma voltagem fixa, V = V0 , podemos derivar a
equação acima no tempo e obter:

dI d 2I 1 d 2 I R dI 1
R +L 2 + I=0 ⇒ + + I=0
dt dt C dt 2 L dt LC
• Mas essa é exatamente a equação de um oscilador harmônico amortecido! Definindo a frequência
fundamental do circuito e o fator de atenuação:

1 1R
ω02 = , α= , e tentando uma solução I = I0 e iωt , chegamos em:
LC 2L

⇒ ω 2 + 2ωα + ω02 = 0 ⇒ ω = iα ± ω02 − α 2

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Circuitos em série
• Nesse caso simples, desprezando a solução que cresce exponencialmente (claramente ela “não satisfaz as condições de contorno”),
temos dois casos:

( )
1.0

Caso sub-crítico: α < ω0 I(t) = I0 cos t ω02 2


−α + ψ e −αt
0.5

5 10 15 20 25 30

( 1 )
ω02 − α2 ω02 − α2
-0.5
t −t
Caso super-crítico: α > ω0 I(t) = I0 c e + c2 e e −αt
0.3
0.2
• Para completar o problema, temos que especificar algumas outras condições. Por um lado, note que no instante inicial (t = 0) a carga 0.1

armazenada no capacitor ainda é nula, e portanto a equação para a carga envolve apenas a corrente: 2 4 6 8 10
-0.1
· ·
V0 = R I(t = 0) + L I(t = 0) onde I = dI/dt
• Agora basta substituir as soluções acima e encontrar I0 e ψ , no caso sub-crítico, ou c1 e c2 no caso super-crítico. Vamos considerar o
caso sub-crítico, onde obtemos:

[ ]
V0 = R I0 cos ψ − L I0 ω02 − α 2 sin ψ + α cos ψ

• Note que isso é uma equação — afinal, especificamos que Q(t = 0) = 0. Claramente, ainda falta outra equação — que pode ser, por
exemplo, I(t = 0) = 0 . Nesse caso temos que ψ = − π /2, e se for assim teremos:

V 0.8
V0 = L I0 ω02 − α 2 ⇒ I0 = e portanto: 0.6
L ω02 − α 2 0.4
0.2

( )
-0.2 1 2 3 4 5
I(t) = I0 sin t ω02 − α 2 e −αt -0.4
-0.6

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Circuitos em série: corrente alternada
• Mas o que aconteceria se tivéssemos ao invés de uma corrente contínua uma fonte de corrente alternada? Im(Z )

iωt dI 1 iωt dI d 2I 1 XL
V = V0 e = R I(t) + L + Q(t) ⟷ iω V0 e =R +L 2 + I Z
dt C dt dt C
• Podemos novamente tentar o nosso ansatz da forma anterior, I = I0 e iωt , resultando na equação: Re(Z )
R
XC
( ωC )
V0 1 1
= R + iωL − i = R + i ωL −
I0 ωC
• Sim, esse é basicamente um oscilador harmônico forçado e amortecido! Mas é útil olhar para as soluções que os
engenheiros bolaram para lidar com esse problema. É interessante introduzir a noção de impedância:
1/ | Z |
1
Z = R + iX , X = XL + XC , com XL = ωL , XC = − 3.0
ωC 2.5
2.0
• O módulo da impedância é:
1.5
1.0
| Z | = Z0 = R2 + X 2 , ou de modo equivalente, 0.5
0 1 2 3 4
X ω/ω0
Z = Z0 e iΨ onde a fase tan Ψ = também dá a defasagem entre a corrente e a voltagem no circuito.
R
• Quando X = 0 temos a frequência de ressonância do sistema, e nesse caso Z = R . Isso acontece quando:

1 1
ω0 L = ⇒ ω0 = , o que é idêntico ao que foi encontrado no caso anterior (fonte DC).
ω0C LC

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Energia em um circuito LC
• Vamos considerar agora um circuito muito simples, composto apenas de uma bobina
(indutor) e um capacitor.
• Nesse caso podemos assumir que o capacitor vem carregado inicialmente, e num dado
instante inicial nós fechamos o circuito.
• A equação para o circuito fica então

dI 1 t d 2I 1

L + dt′ I(t′) = 0 ⇒ L 2 + I(t) = 0
dt C dt C

• Claramente, isso é um oscilador harmônico, com a frequência fundamental ω02 = 1/(L C) .


Portanto, se a corrente for nula no instante inicial temos uma solução:

I = I0 sin ω0t
e a carga no capacitor é:

I0
Q(t) = − cos ω0t
ω0

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Energia em um circuito LC
• O interessante nesse sistema é que ele não tem atenuação (resistência), então a carga no capacitor e a corrente ficam se
alternando.
• Mas vamos ver o que está acontecendo com a energia.
• Podemos primeiro ver o que está acontecendo no capacitor. E energia dele é dada por:

2 2
1 1 Q 1 I0
UE = C V 2 = = cos2 ω0t
2 2 C 2 ω0 C
2

1 1 2
ω02 = ⇒ UE = L I0 cos2 ω0t
LC 2
• Por outro lado, a energia que fica guardada na bobina (indutor) pode ser expressa em termos da corrente e da
indutância da bobina. Sabendo que:

( )
dUB dI d 1 2
P= = − ℰI = L I= LI
dt dt dt 2 I Q
1.0
• Portanto, a energia que fica guardada no campo magnético gerado pela bobina é: 0.5

1 2 1 2 2 t
UB = L I = L I0 sin ω0t e portanto: 2 4 6 8 10
2 2 -0.5

-1.0
2 2 2
Q02
U = UE + UB = L I0 = L (Q0 ω0 ) =
C
Ou seja, a energia fica "oscilando" entre o campo elétrico e o campo magnético!

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Circuitos em paralelo: filtros
• Vamos considerar agora o seguinte circuito em paralelo (figura ao lado), com fonte AC, V = V0 e iωt A B
• A mesma voltagem é aplicada nos pontos A e B , e os pontos C e D também têm a mesma voltagem.

• Além disso, a corrente que flui de A a D se soma à corrente que flui de B a C , e portanto temos as três equações:

(i) I = IAD + IBC

dIAD
(ii) V = RIAD + L
dt
1
C∫
(iii) V = dt IBC D C

• Vamos tentar novamente uma solução do tipo I = I0 e iωt , IAD = I1 e iωt , IBC = I2 e iωt . Isso leva às equações:

(i) I0 = I1 + I2

1
(ii) V0 = (R + iωL) I1 ⇒ I1 = V0
R + iωL
1
(iii) iωV0 = I2 ⇒ I2 = iωCV0
C
• Juntando I1 e I2 obtemos finalmente que:

( R + iωL )
1
I = (I1 + I2)e iωt = + iωC V0 e iωt

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Circuitos em paralelo: filtros
• Vamos repetir aqui essa solução, em termos da impedância: A B

V0 iωt 1 R + i [ωL + ωC(R 2 + ω 2 L 2)]


I= e , com =
Z Z R2 + ω2L2
• Vamos agora analizar essa corrente por meio da dependência da impedância com a frequência.

• Para frequências muito baixas a impedância fica constante, igual à resistência:

1 R 1 D C
→ 2 =
Z R R
• A dependência no caso em que a impedância é muito grande se torna mais interessante:
podemos efetivamente filtrar as frequências mais altas, como mostrado nas figuras.

R 10
R 1.0 R 1.0
|Z | 8
| Z | 0.8 | Z | 0.8
L ≫ (1/R) ≫ C 6
0.6 0.6
0.4 0.4 4
L ≪ (1/R) ≪ C
0.2 0.2 L ≫ (1/R) ∼ C 2

0.0 0.0 0
0.0 0.2 0.4 0.6 0.8 1.0 0.0 0.2 0.4 0.6 0.8 1.0 0.0 0.2 0.4 0.6 0.8 1.0
ω ω ω

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Circuitos em paralelo: filtros
• Vamos considerar um outro exemplo, ainda com fonte AC, V = V0 e iωt
F A B

• Temos as seguintes condições:

(i) I = IAD + IBC

dIAD
(ii) V − I R = L
dt
D C
1

(iii) V − I R = dt IBC
C

• Vamos tentar novamente uma solução do tipo I = I0 e iωt , IAD = I1 e iωt , IBC = I2 e iωt . Isso leva às equações:

(i) I0 = I1 + I2

V0 − I0 R
(ii) V0 − I0 R = + iωL I1 ⇒ I1 =
iωL
1
(iii) iω(V0 − I0 R) = I2 ⇒ I2 = iωC(V0 − I0 R)
C
• Juntando I1 e I2 obtemos uma equação para I0 :

[ ] [ ]
V0 − I0 R R 1
I0 = I1 + I2 = + iωC(V0 − I0 R) ⇒ I0 1 + + iωCR = V0 + iωC
iωL iωL iωL

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Circuitos em paralelo: filtros
• Portanto, a corrente que flui pelo circuito é dada por: F A B

1
iωL
+ iωC V0 1 − ω2 L C
I0 = V0 R
=
1 + iωL + iωCR R 1 − ω 2 LC + iωL/R

• O fator de atenuação é portanto: D C

I0 1 1 1 − ω2 L C
= =
V0 Z R 1 − ω 2 LC + iωL/R
• Uma versão mais realística desse circuito usa a voltagem entre os pontos A /B e C/D
como sinal “filtrado”. Nesse caso temos a voltagem:
1.0

( V0 ) ( 1 − ω 2 LC + iωL/R )
I0 R 2
1−ω LC 0.8
VAB/CD = V0 − I0 R = V0 1 − = V0 1 − 0.6
0.4

V0 iωL
0.2

⇒ VAB/CD = 0.0
0.0 0.2 0.4 0.6 0.8 1.0 1.2 1.4

R R(1 − ω 2 LC) + iωL ω

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Emissoras de rádio
• Esse tipo de circuito pode ser manipulado, tanto num transmissor quanto F A B
num receptor de rádio.
• Queremos não apenas acertar a frequência de ressonância, mas também a
largura de banda — o intervalo de frequências nas quais ocorre a
transmissão de dados.
D C
• Nas rádios AM (ν ∼ 540-1600 kHz) temos larguras de aprox. 10 kHz

• Nas rádios FM (ν ~ 80 - 110 MHz) temos larguras de aprox. 200 kHz

1.0
0.8
0.6
0.4
0.2
0.0
0.0 0.2 0.4 0.6 0.8 1.0 1.2 1.4
ω
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Próxima aula:
• As equações de Maxwell

• O problema e a solução: a corrente de deslocamento de Maxwell

• Condições de contorno

• Transformações de Calibre

• Leitura: Griffiths, Cap. 7.3

• Leitura complementar: Jackson, Cap. 6

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