Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
_4 época
COi.-:-en1Dorânea
.L
..;
·',,
96-1480 CDI>-305.23509
SUMÁRIO
Tabela 1
Número de militares (em milhares)
Anos Fr. AI. lt. Ingl. Áus. Bélg . H o i. Din. Sué./Nor.
1850 439 131 41 201 434 .35 30 26 63
1860 608 201 183 3.47 306 40 39 25 68
1870 452 319 155 257 252 40 39 39 58
1880 544 430 167 248 273 46 41 6 65
1890 596 505 257 278 332 45 42 18 65
1900 621 624 262 487 308 51 31 Il 73
1910 652 673 252 372 31 5 48 28 15 35
1920 1457 114 1350 596 29 156 14 16 72
. Tabela 2
Percentagem de militares na população masculina entre 20 e 44 anos
Anos Fr. AI. lt. Ingl. Áus. Bélg. H o i. Din. Sué./Nor.
1850 6,5 4,7 5,3 4,3 14,5 4,3 5,4 10,3 7,2
1860 9,0 6,6 23,0 7,2 9,7 4,7 6,5 8,7 7,1
1870 6,5 7,7 3,3 5,0 7,3 4,5 6,3 12,9 6,0
1880 8,1 5,7 3,3 4,4 7,2 4,9 6,1 1,8 6,4
1890 8,6 6, 1 5,1 4,4 8,2 4,3 5,7 5,3 6,4
1900 8,8 6,3 5,3 6,6 . 6,9 4,2 3,6 2,8 6,4
1910 9,0 5,8 4,7 4,5 6,7 3,5 2,8 3,4
1920 22,6 1,1 22,9 7,4 2,5 10,8 1,2 3,0
Ponte (para as duas tabelas): P. Flora (org.) State, economy and society in Western
Europe (I 815-1975) fEstado, economia e sociedade na Europa ocidental (18 15·1 975)),
v. 1, The growth of mass democracies and wel{are State [O crescimento das demo-
cracias de massa c do Estado de hem-estar), Londres, 1983, pp. 245-53. Os dados
relativos à Alemanha de 1850, de 1860 e ele 1870 só se referem à Prússia. Os da
Itália de 1850 e de 1860 referem-se apenas ao reino da Sardenha.
A EXPF.RIENCIA .11/L/TAR 2/
seis aos 23 anos e não faltavam sequer crianças de dez ou onze anos
que partiam sozinhas, sem família nem patrão. Todavia, conhecer
o mundo do trabalho não significava ser independente. Conforme
lembrou Keith Thomas:
As séries ordenadas dos salários mostram que os jovens não tinham
o direito de receber um pagamento de adultos até os dezesseis, dezoi-
to, vinte, 21 e, com bastante freqüência, até os 24 anos. Em Londres,
esta era a idade mínima que o estatuto dos artesãos previa para a eman-
cipação dos aprendizes que trabalhavam na cidade. No campo, a apren-
dizagem durava mais, até 2 1 ou 24 anos [... ]. Muitas corporações ti-
nham estabelecido severas restrições para retardar a independência
dos jovens mesmo após o final ela aprendizagem. Segundo a lei, um
mestre artesão podia ser impedido de se estabelecer por conta pró-
pria até a idade de trinta anos.64
Assim, antes de entrar para o exército, muitos soldados já ti-
nham trabalhado por muitos anos e haviam passado longos perío-
dos longe de casa. Provavelmente, a decisão de alistar-se estava muitas
vezes ligada a uma insatisfação concernente à própria situação de
semi-independência e à distância que os jovens sentiam entre suas
responsabilidades produtivas e sua autoridade na família. Por exem-
p lo, parece ter sido esse o caso de Martin Guerre, que era um cam-
ponês abastado, de 23 anos, casado e com um filho, quando deci-
diu abandonar a aldeia de Artigat e entrar nas milícias de Filipe n,
" com medo da severidade do pai". 6 5
32 HJSTÓRitl DOS]OVT,NS
17. Georges ele la Tour, A hou sorte. Nova York , The Metropolitan Museum of Art (Rogers Funcl, 1960).
lH. Cecco dd Caravaggio (Frann;sco Honeri),
Retraio de nolvn com pomha. Madri, M useu do Prado.
Forma um jogo com um retrato m:tsculino hoje no MuseLI
Real de ,\Jadri. caracterizado pela pre:;en\·a de um coelho
(outro bicho com prm·erbial atividade erótica).
21. Bernardo Cavallino. Desped ida de 'f(>hiolo. Roma. Galleria l'/azionak· d'i\rrc Anrica
(foro Fratelli Alinari/ Giraudon). O rema do jovem e a\·t:nturoso Tobiolo conhen:
um êxito especial na pintura naturalista elo século XTH.
22. Carlo Cc:resa, Retrato de menino.
Mil;1o, Ci vici Musci del Castello.
O predominante realismo da rrad i~·fío figuraciva lomharda
garante um amplo repertório de retratos ele jovens.
ça, antes a exigiam[...]; então, dado que a robustez, o vigor (... ] dos
indivíduos era preponderante para o resultado das guerras, assim a per-
feição física dos corpos se tornava o instrumento principal da segu-
rança ou da ambição dos povos[ ...]. Mas hoje( ... ] que os verdadeiros
soldados, os verdadeiros guerreiros são o fuzil e o canhão (... ]; hoje
que o soldado morre sem saber quem o mata, foge, persegue, ataca
seres que não ouve, não toca e não vê; (... ] hoje, digo que as coisas
bélicas mudaram de aspecto, os legisladores passaram a dedicar à per-
feição das armas aqueles cuidados que um dia foram dirigidos inteira-
mente à perfeição do homem.90
A força física começou a ceder terreno para a maschia vigoria
durante as guerras napoleônicas . No dia seguinte à derrota de jena
(1806), Friedrich Ludwig Jahn, o im·emor do Turnen, a ginástica
político-militar, que haveria de conduzir à '·ressurreição da nação
alemã", propunha-se a infundir nos jovens um estilo de vida viril;
fazia-lhe eco Ernst Moritz, o profeta do nacionalismo alemão, quan-
do, retornando da batalha de Leipzig (1813), exclamava: "Assisti a
um choque sangremo entre homens de verdade" .91 Algumas déca-
das mais tarde, na França, o escritor Victor de Laprade, convicto
defensor da educação física, dirigia-se à "mãe" para lembrar-lhe que
"se teu filho cresce sem se tornar homem, comporta-se efemina-
damente em relação aos deveres viris [... ], quer di zer que a tua ter-
nura não direcionou bem a alma dele: se ele não sabe morrer, não
soubeste criá-lo" .92 E o suíço Rodolfo Obermann declarava que era
necessário predispor ''fisicamente a juventude para a verdadeira vi-
rilidade, longe daquele hermafroditismo que só retém do homem
as formas externas". 93
Para um jovem, a p rimeira prova de potência viril era o exame
do serviço militar, como lembrava um dito comum na Itália centro-
setentrional, segundo o qual "quem não é bom para o rei não o é
tampouco para a rainha". Contudo, mesmo atribuindo imensa im·
portância à ginástica, muitos grupos nacionalistas consideravam que
o fundamento de "uma educação máscula e austera" seria muito mais
que corpóreo: o que estava em jogo não era a força bruta nem a
coragem, mas sim "um modelo de moralidade e de bons hábitos" .9 4
A virilidade era ames de mais nada um traço do caráter, o contrá-
rio daquela " recusa da vida, chamada na Inglaterra byronismo, na
Alemanha werterismo, [na Itália] leopardismo" _95 Assim, Paul Dé-
roulede fazia votos, em De l'education mílítaire [Sobre a educação
militar), de " transformar a juventude numa legião de valorosos fran-
38 HISTÓRIA DOS jOVENS
por mil, em 1870, para treze por mil em 1910) e a morre era cada
vez mais associada à velhice (as expectativas de vida haviam subido
ele quarenta anos, em 1850, para 52 em 191 O), 10 3 o sacrifício da pró-
pria existência era exaltado até mesmo pelos jovens. "Morrer jovens,
puros, ardentes"), cantava Horace A. Vachell em The hill:
Morrer rapidamente, com perfeita saúde; morrer salvando os outros
da morte ou, pior, da desgraça; morrer escalando os cimos; morrer
e levar junto, na existência mais ampla e mais plena do além, esperan-
ças e aspirações não contaminadas, doces lembranças, roda a frescura
e as alegrias do mês de maio- não é este um mo tivo de alegria mais
do que de aflição? 104
Como lembra David Cannadine, a imagem, improd,·el. de uma
morte heróica no campo de batalha se corroeria em 191-L O mare-
chal Alfred von Schilieffen havia previstO ,-encer a guerra em qua-
renta dias, mas "a lista de morros crescia, mês após mês e ano após
ano, até atingir uma cifra espantosa". 105 ::--Jos campos de Ypres. de
Verdun, de Somme, de Caporeno, perdiam a ,-ida mais de 8 milhões
de jovens: " apenas" 114 mil americanos. 500 mil italianos. -oo mil
ingleses (mais 300 mil súditos do império), quase 2 milhões de ale-
mães e igual·número ele russos; mas, proporcionalmente, o preço
mais alto era pago pelos franceses com 1,3 milhão ele mo rtos, equi-
valente a 16% elos recrutas, e 2 milhões de feridos, metade elos quais
receberam a pensão por invalidez para o resto de suas vidas. 106 A
retórica da morte viril cedia lugar a outra, menos romântica, do sol-
dado desconhecido, e as elites européias começavam a lamentar a
"geração perdida" . 10 7
NOTAS
(1) G. d' Annunzio, Per la piu grande /talia. Orazioni e messaggi (Milão, 191 5),
p. 68; G. Pascoli, la grande proletttria si e mossa (2 1 de nove mbro de 19 11 ); F.
T . Marineni, "Guerra sola igiene dcl mondo", in De Maria, org., Teoria e irzvenzio-
nefuturista (Milão, 1986), pp. 286-9. Sobre os discursos de guerra, cf. M. Jsnenghi,
Le guerre degli Italiani. Paro/e, immagirzi, ricordi, 1848-1945 (.'vtilão, 1989), pp.
32, 205, 220.
(2) E. Pound, 1Jugh Selwin Mauberley (1920, tracl. it; Milão, 1970), pp. 186-9:
" There died a myriad,/ And of the best, among them,l For an old bitch gone in
tccth,l For acr botched civilization".
A EXPERJ!.SCIA MILITAR 4/
adultos, pois se tOrnaram cada vez mais sujeitos ao controle dos pais e das insti-
tuições".
(83) Cf. E.]. Leed, No man 's land. Combat and identity in W'orld \fi ar f (Cam-
bridge, 1979), trad. ir. Terra di nessuno (Bolonha, 1985), cap. I.
(84) Cf. O. Reshef, Guel'l'es, mytbes et caricature. Au berceau d 'une mentali-
té française (Paris, 1984), cap. 6. Sobre o patriotismo dos textOs escolares, cf. tam-
bém ~1. Ozouf, " Le theme du patriotisme dans les manuels primalres", Le mouve-
ment socia/49 (1964); A. Prost, Histofl·e de t 'enseignement en France 1800-1967
(Paris, 1968), pp. 335-40.
(85) Cf. C. Amalvi, Les béros de l 'bistoire de Franêe, recbercbe iconogmpbi-
que sur /e pantbéon scolaire de la Troisiême République (Paris, 1979).
(86) Cf. Bonetta, Corpo e naz ione, op. cit., p . 77. Sobre a atividade de ginásti-
ca, cf. S. jacomuzzl, "Gii sport", in Storia d'ltalia, v. 5, t. 1, f documen ti (Turim,
1973), pp. 9 11 -35; M. Spivak, "Contribution à l'étude du nationalisme français:
gymnastique, exercices milita ires c t spon s, de 1870 à 191 4 " , llulletin de la Sociáté
d 'Histoire Modeme 3 ( 1978), pp. 24-31; S. Gium ini, Sport scuola caserma dal Ri-
sorgimento a! primo conflitto mondiale (Pádua, 1988); E. Weber, "Gymnastics and
sports in fin-dc-siêcle France: opium of the classes", American Historfcal Revíew
(1971), pp. 70-98; J. Thihault, Les aventures du corps dans la pédagogíe française
(Vrin, 1977).
(87) Cf. Gillis, Youtb and history, o p. cit. , pp. 95 e ss., que lembra a explosão
selvagem do Mafeking Night de 18 de maio de 1900 e os ataques contra as manifes-
tações pacifistas a favor dos bôeres.
(88) Cf. G. Best, "l'vlilitarism anc.l the Victoria n public school" , in B. Si-
mon - I Brad ley, org., The Victorfan pub/ic school (Londres, 1975); J. Springhall,
Youth, Empire a.nd society: British youth movements, I 883 -1940 (Lond res, 1977),
p. 40;]. H . Grainger, Patriotfsm: Rritain 1900-1.939 (Londres, 1986); M .-L. Chris-
tadler, " Kriegserziehung im jugend buch Literarische Mobilmachung in Frankreich
une.! Deutschland vor 19 14" (tese, Frankfurt, 1977, datilografado), no q ual, anali-
sando os livros destinados à íuventudc nos anos que precederam a e xplosão da
Primeira Guerra Mundial, observa como os voluntários provinham, na maioria dos
casos, justamente dos ambientes mais instruídos da população. Cf. também A. M.
Ghisalbeni, Ricordi di uno storico ai/ora studente in grigiouerde (Guerra
19 14-1918) (Roma, 1981); R. Fabre, "Un groupc d 'étudiams protestants e n
1914-1918", Mouuement Social 122 (1983), pp. 75-101.
(89) C f. G. L. Mosse, Sessua/ílà e na zíonalismo. Mentalità borghese e rispet-
tabilità (Roma - Bari, 1982).
(90) G. Filangieri, La scfenza de/la legislazione (Milão, 1786), livro 4, pane
1, p . 5 1.
(91) Cf. Mosse, Sessualítà e nazfonalismo, op. cit. (introdução).
(92) Cf. Reshd , Guerre, mytbes et caricature, op. cit., cap. 6.
(93) Cf. Bonetta, Corpo e nazioue, op. cit., p. 63.
(94) Cf. Mosse, Sessualftà e nazionalismo, op. cit. (introdução).
(95) Cf. Bo ne tta, Corpo e nazio11e, op. cit., p. 91.
(96) Cf. Crubellier, L 'enfance et la jeunesse dans la société frança /se, op. cit.,
cap. 9.
(97) Cf. Bo netta, Corpo e naziorw, op. cit., p. S4.
A EXPERJi!..\'CIA .11/L/TAR 47
ção. Uma razão prática parece, desde o início, impor sua ordem ao
espaço. A orquestra deve ser vista e ouvida: constrói-se-lhe um es-
trado sobre o qual um toldo compõe o teto. Da mesma maneira,
vai se proteger a vasta pista de dança, delimitada por uma coroa de
grandes pilares; de um ao outro prega-se um círculo de tábuas que
formarão bancos, muito rústicos, em torno ele toda a área do baile.
O apresto desta última aguarela o último dia; exige várias camadas
ele areia, que são comprimidas passando e repassando um rolo ma-
nual, e, para terminar, uma camada de serragem que o marceneiro
deve generosamente fornecer, pois seu aprendiz faz parte da juven-
tude. Resta apenas iluminar a cena, não mais com lampiões, como
os antigos gostam de lembrar, mas com lâmpadas elétricas que vêm
sublinhar com suas cores tremeluzenres os contornos e as diago-
nais do "salão de baile". Mas este não seria mais que esqueleto sem
atrativos se não fosse revestido com seu corpo de vegetação que
rapazes e moças modelam juntos durante dias e dias. A entrada ela
pista, na frente do estrado, é emoldurada por dois pinheiros tão al-
tos e folhosos quanto possível, os ângulos da orquestra são suaviza-
dos com musgo e buxo trançado , rodas as paredes do salão de baile
são recobertas por galhos de pinheiros, pináceas e lariços entrela-
çados, entrançados, tão apertado que não sobra nenhum vazio, ne-
nhuma abertura insignificante. Guirlandas de buxo estendidas de um
lado ao outro da rua conduzem até essa e·spessa cabana ele folha-
gem, quintessência da floresta, transplantada ele fora .e na qual as
moças, no último momento, pregam aqui e ali flores de papel ver-
melhas e brancas. Antes mesmo que a música soe, assinalando-o -ao
longe, um salão de baile preparado propaga o odor mesclado de suas
resinas. Esse abrigo florestal basta para instaurar outro mundo pos-
sível onde reinam a música, a dança e a cortesia. Na própria aldeia,
a aproximação dos rapazes e elas moças é impensável; mesmo entre
noivos qualquer beijo público seria impróprio , ao passo que essa
floresta os autoriza cem vezes. A que deve ela essa virtude? A seu
lugar no calendário elos ritos que pontuam a vertente verde do ano. 7
Aqui tudo começa na segunda-feira depois da Páscoa, que "cada
fam ília celebra comendo omelete. Apenas os jovens, entre catorze
e vinte anos, entre diploma de primeiro grau e serviço militar, co-
mo dizia a geração anterior, se separam, partem juntos para os bos-
ques, até a relva - lcnhosa, espessa e sempre verde sob a neve -
que cobre os arredores dos riachos de água pura. Ali, depois de ter
dividido as charcuterias trazidas por cada um, as moças batem os
56 HISTÓRIA DOSJOVENS
(•) Referê ncia às emoções ternas. 0 Mapa da Ternura foi concebido pela ro·
mancista francesa Madeleine de Sardéry ( 1607-1701), em sua obra Clélie, para o rei-
no de Tendre. (N. T.)
6Q 11/STÓ RIA DOS JO VENS
O DOMINGO D OS LAÇOS
De manhã cedo, por volta das oiro horas, toda casa está de pé:
todos se aprontam para a missa, vestem para a ocasião o verdadeiro
traje ele festa. Nada q ue evoque, porém, os antigos modos lo cais de
se vestir - apenas os negociantes ele cavalos com seu avental e as
batedoras de feno com sua touca usam ainda os trajes de anrigan1en-
te - , mas bastam·alguns indícios para situar cada um, nesse dia, em
seu grupo etário. Desde os catorze anos os rapazes vestem-se como
homens: terno escuro, camisa branca de colarinho engo mado, gra-
SER JOVE.\1 XA ALDt'IA 61
sita seu óbolo e oferece bebidas aos rapazes, enquanto as moças pre-
gam rapidamente na lapela dos paletós e nos corpetes uma peque-
na flor de papel. Os músicos permanecem na soleira e declinam o
convite. O giro é longo e eles elevem tocar as árias que lhes forem
pedidas. Pois tais são os termos da troca: dinheiro e vinho doce por
um brasão musical. O leque das melodias é pobre mas cheio de sen-
tido : uma canção ele omrora que tOdos. mesmo os antigos, podem
retomar em coro e, aqui e ali, A marselhesa ou a In ternacional, se-
gundo a cor política dos chefes de família mais engajados. Assim
balizada, a estrada alonga-se, visto que se fazem esforços para reter
os visitantes. Por volta das quatro horas ela tarde, quando o Tour
alcança os cõs, as fazendolas distantes. fiapos de música vagueiam
no ar; chegando intermitentemente à aldeia. desenham-lhe, pelo ou-
vido, os limites extremos. Entretanto. a melodia é· cada vez mais
e ntrecortada, hesitante; por certo. os músicos não faltaram ao seu
princípio, não beberam nada nas casas, mas, como por encanto, gar-
rafas saíram dos sacos, cheias ela irresisth·ei bebida da festa em todo
o baixo Languecloc, a carthagene, essa mistela que embriaga por sua
doçura. Acontece que a trupe dos coletores YOite embriagada, que
as moças, indignadas, os abandonem no caminho ... c, assim, todos
os anos promete-se ser mais sóbrio, nem sempre fazendo esforços
para isso, a tal ponto é imperiosa a obrigação ele beber e a tal p onto
a juventude apega-se ao seu Tour de table como a um privilégio ina-
tacável, um costume que perpetua as formas e garante os limites.
Ao convidar todos os lares a dividir o custo da festa, ela assegura,
sem dúvida, a realidade de uma participação coletiva sem falhas, afir-
mando-se como uma idade menos produtora que a predadora. Tu-
do o que o giro recolhe se vai em música, banquetes e bebedeiras,
o gasto imediatO é a única regra. Além disso, e esse é outro aspecto
de sua condição, a juventude é livre para circular entre as diferen-
ças sociais: ela casa pobre à casa rica, dos " bran cos" aos "verme-
lhos", dos proprietários aos meeiros ... Desincumbem-se, portanto,
nesse dia, do dever ele dar co rpo à unanimidade comuna!, já que
apenas ela, em tempo de festa , possui semelhança e poder.
A coleta percorre toda a região, de mesa em mesa, daí seu no-
me; ela visita todas as casas, com exceção daquelas que, enlutadas
durante o ano, permanecem de janelas fechadas, solitárias e silen-
ciosas. Ao aproximar-se delas o ruidoso cortejo se cala. Mas. em qual-
quer outra parte, ele se intromete nos ágapes que reúnem parentela
e jovens amigos. A grande refeição do domingo é uma delicada tra-
64 HISTÓRiA DOS jOI'ENS
C) Bolo com farinha, manteiga, açúcar e ovos em partes iguais. (N. T.)
SER}O\'E.\1 \'A ALDEIA 65
- intervêm . Mas, em geral, a dona elo café, apenas por sua pre-
sença c, quando é preciso, pela vivacidade de suas réplicas, mode-
ra os belicosos. Ela conhece os pais deles e lembra-os disso, eles
não são estrangeiros de verdade. Ela reina sem contestação sobre
outros círculos de homens exaltados que acolhe em outras ocasiões
-para os banquetes ele caçadores e de ex-combatentes -, única
mulher, maternal e respeitada, nessas reuniões viris. A arrogância
dos jovens não a impressiona muito e ela os faz saber disso. Mas
há incursões mais raras e mais inquietantes. Uma noite sobem do
burgo e da cidade esses bandos que não se identificam mais com
a juventude ele um lugar, cuja razão de ser é, precisamente, des-
prender-se de tOda vinculação e de toda continuidade genealógica.
Eles nascem num verão para desaparecer no seguinte. São temidos
na aldeia pois rompem de chofre a ordem aceita, que fixa para o
desafio um lugar, um momento, uma forma e limites. Assim, mal-
dizem-se essas batalhas que lançam por terra em um minuto a deli-
cada arquitetura ritual e desencadeiam uma violência necessariamente
absoluta: com esses estrangeiros, esses desconhecidos que destroem,
até mesmo a vendera é impossível, sabe-se que eles não serão reen-
contrados. Sua rápida incursão une instantaneamente os homens da
comuna, seus convidados e seus aliados, mas a autoridade deve tam-
bém apelar à força legítima. Com a chegada dos gendarmes, excep-
cional , é verdade, a juventude vê sua festa escapar-lhe. 18
tão é uma porta que é sacudida ritmicamente por uma grande pe-
dra angulosa ou por um pesado cepo manobrado ela ponta ele uma
corda comprida. Cobrir com um saco a chaminé, tapar com um tra-
po bem apertado o cano de escoamento que conduz para o meio
da rua as águas da lavagem ela louça, acender uma mecha com en-
xofre na gateira, untar delicadamente de estrume a maçaneta de uma
porta ... fazem igualmente parte do repertório das farsas juvenis.
Essas brincadeiras não são reservadas à noite ela festa, mas, co-
mo são apanágio exclusivo da juventude, concentram-se, prolon-
gam-se e intensificam-se nessa noite . Apenas as vigílias de Natal, do
retorno dos conscritos e, por vezes, do 14 de julho suscitam tantas
agressões simbólicas que, pelo menos, ratificam o controle exclusi-
vamente juvenil da noite.2° Sob sua aparência desenfreada e impro-
visada, essas facécias são repletas ele sentido. Em primeiro lugar,
enunciam globalmente uma relação da juventude com o mundo so-
cial que a espera. De maneira geral, o que fazem os rapazes nessa
noite? Erigem o caos, circunscrito, por certo, mas espetacular, mis-
turando objetos, impondo-lhes percursos erráticos- o que está em-
baixo passa para o alto e vice-versa- c, sobretudo, desapt·oprian-
do -os. Seu prazer nasce dessa desordem . Basta assistir, ele manhã,
às exclamações de despeitO, as vituperações e as disputas dos adul-
tos diante do amontoado confuso no qual procuram separar o que
é de cada um para avaliar a eficácia desse gesto que emaranha. Ao
diabo os espaços delimitados e as instalações regulares que dão tes-
temunho de cada poder doméstico! Tudo se confunde para além
das portas marteladas, das cercas pelas quais se penetra, das barrei-
ras postas abaixo . Quanto ao roubo, é plenamente ritual, isto é, co-
dificado em suas formas, em seus objetOs c em seus parceiros, ao
pontO de definir uma ilegalidade consuetudinária. Similar à coleta
e ao resgate matrimonial ou ao charivari que, por bem ou por mal,
acompanham todos os casamentos, ele é uma dízima tOlerada. De
restO, a apropriação juvenil é toda provisória, atinge apenas víveres
imediatamente consumíveis. Essa regra do dispêndio proíb e todo
entesouramento, pessoal ou coletivo, e acarreta, a maior parte do
tempo, a boa vontade das vítimas. A história daquela mulher que,
sem o saber, assou no dia seguinte, para a juventude, a galinha que
lhe havia sido furtada na véspera tem valor de apólogo; ilustra a coin-
cidência profunda, a harmonia preestabelecida implícita entre to-
mar e doar. Tal é, em todo caso, o princípio superior que se invoca
quando vozes se levantam contra a turbulência dos jovens, pois há
SER jOVEM .\'A ALDEIA 7/
seu lugar e não deixa mais que o rastro de um nome, aquela que,
ainda hoje, para a maior parte dos camponeses europeus, marca uma
fenda do tempo e revela a cláusula trágica, a do imposto do sangue.
do contrato que une o Estado moderno e sua juventude?
NOTAS
- como Revel - no século xvm a juventude era dividida em três categorias, se-
gundo o vínculo social.
(7) Essa retirada florestal foi subli~hada e comentada por Y. Verdier, "Che-
mins dans la forêt: les comes" , Des arbres et des hommes (atas do colóquio "Forêt
et société", Arles, Actcs Sud, 1981), pp. 344-52.
(8) Um tipo de "baile" ainda mais carregado de vegetação existia até os anos
1950 na fronteira do Languedoc e da Catalunha; ve r D. Fabre, "Le sauvage en per-
sonne", Terrain 6 ("Les hommes e t le milieu naturel"), pp. 6-18.
(9) Tustet vem do provcnçal tustar, bater; conhece-se também o termo caril-
lon , muito comum nos documentos judiciários do século xvm, e o termo marte-
lei, mais mediterrâneo (ver C. Robert & M. Valiere," 'Lo manclet', un charivari oc-
citan à Lespignan (Hérault)", in]. Le Goff &]. C. Schmitt (dirs.), Le cbarivari (Paris,
Editions de l'École des Hautes Étudcs en Sciences Sociales- Mouton, 1981), pp. 55-64.
(10) O termo ostal (do latim hospitalis) designa no Languecloc a "casa" no
sentido físico e sociológico.
(11) A Academia céltica, em suas Mémoires .. . (Paris, 1807-1 3), acolheu vários
estudos do ritO de casamento que acen tuam esse acompanhamentO de canções e,
implicitamente, a importância da canção como linguagem da educação sentimen-
tal. A passagem da canção oral tradicional para a canção moderna, referida a um
intérprete, não modificou sensivelmente essa função . Sobre o lugar da canção co-
mo espelho das emoções amorosas juvenis, seria preciso reler de perto a autobio-
grafia de Louis Simon. Ver A. Fillon, Louis Símon étaminier, 1741 -1820, dans son
vil/age du haut lvlaíne au siec/e des Lumieres, tese (Le Mans, 1982), 2 vols. , c da
mesma autora Les trois bagues au doigt, amours villageoises au XV!l/e siec/e (Pa-
ris, Robert Laffont, 1989), em particular, cap. 6.
(12) Louis Girard, pesquisando em 1959 sobre Le choix du conjoint en Fran-
ce (Cahiers de l'JNED, Paris, PUf', 2• ed., 1974), confirmou a presença do baile co-
mo lugar de primeiro encontro para os casais (22,3%). Esse lugar da dança- cujas
ocasiões e locais evoluíram, entrementes - permanece importante; ver M. Bozon
& F. Héran, "La devouverte du conjoint. Evolution et morphologic des scenes de
rencomre" , Population (novembro/dezembro de 1987), pp. 943-73, que no tam um
apogeu para o meio rural em 1969-75 (34,8%).
(13) A passagem do branle - em corrente, em círculo ... - para a contradan-
ça, no século xvm, e depois para a dança em par, no século XIX, é sublinhada sutil-
mente nos trabalhos de Jean-Michel Guilcher; ver, por exemplo, La contredanse
et les renouvellements de la danse française (Paris, Mouton, 1970). Sobre danças
modernas, ver: R. Hess, La valse, révolution du couple en Europe (Paris, Métaillié,
1989), eLe tango (Toulousc, Univcrsité de Toulouse-Le Mirai!, 1985). Sobre a críti-
ca moral da dança: P. Gerbod, " Un espace de sociabilité, le bal en France au xxe
sieclc" , Ethnologie Françaíse (t. 19, n ~ 4, 1989), pp. 362-70.
(14) Para uma apresentação geral dos efeitos modeladores da conscrição: M.
Bozon, Les conscrits (Paris, Berger-Levrault, 1981 ), e para um pomo de vista com-
parativo, T. Buhler, " Les conscrits", Folklore suisse (48? ano, n'? 3, 1958), pp. 33-42;
uma etnografia minuciosa da hierarquia atual de uma juventude (em subconscrito,
conscrito, militar, celibatário e rzoivo) é apresentada em C. 1-longrois, Paire sa ]eu-
rzesse en Vendée (Maulévirer, Héraul-Éditions, 1988, 224 pp.).
( 15) Sobre essas migrações temporárias, ler A. Poitrineau, Remues d 'bommes
(Paris, Aubicr, 1966).
SER JOVEM NA AlDEIA 79
(25) Noel du Fail foi o primeiro a descrever, com relação à época moderna,
a farsa elos rapazes disfarçados de fantasmas , Contes et cliscours d'eutrapel (cd.].
Assézat, Paris, 1874, t. 2), pp. 9 e ss.; sobre esse tema, ver D. Fabre, "Juvéniles reve-
nants. Le retour des mons" , Études Rurales, 195-6 (1987), pp. 147-64.
(26) Essa simulação da morte é ritualizada em "o enterro da vida de rapaz",
ritO que Arnold van Gcnnep considerava, antes de tudo, de origem burguesa e rela-
tivamente recente- início do século XIX; ver Manuel defolklorefrançais contem-
porain (Paris, Picarei, 1943), t . 1, vol. 1, p. 318 De fatO , o ritO é muito vivo, por
exemplo, na Vendéia (C. Hongrois, 1988, op. cit.) e sua ligação com a embriaguez
ritual dos jovens é ilustrada por sistemas cerimoniais muito diversos: C. Hongrois,
"Oes caves et eles hommes en Vendée", Terrain 13 (outubro de 1989), pp. 29-41;
C. Amiel, "Traverses d'un pélerinage. Les jeunes, le vin et les mons", id., ibidem,
pp. 15-28.
(2 7) Sobre essa tensão, ver os artigos de Henri Forestier, entre os quais "Le
'droit eles garçons' dans la communauté villageoise aux xvue et xvllle siedes" , An-
nales de Bourgogne (t. 13, 1941), pp. ·100-14, que utiliza os dados dispersos na obra
de Restif de la BretOnne. Mu.tatis mutandis, a emergência do jovem ddi nqüente
rural poderia beneficiar-se da análise dc].-C. Chamboredon, " La délinquance juvé-
nile. Essais de construction d'objet", Revue Française de Sociologie (t. 12, 1971),
pp. 335-77.
(28) Os historiadores, na linha das novas curiosidades da demografia históri-
ca, ficaram fascinados pelo tema das relações pré-nupciais em sistema de casamen-
to tardio c das práticas eróticas estudadas, quanto ao Norte da Europa, em um clás-
sico da etnologia: K . Rob. V. Wikman, Die Einleitu.ng der Ebe (Acta Academiae
Aboensis, Abo, 193 7); ver, por exemplo, J.-L. Flandrin, Les amours paysannes (Pa-
ris, Gallimard-Juliard, 1975). Y. Ve rdier, op. cit. , estudou a preparação cortês das
moças; ve r também N. Belmont, "Ritucls ele courtoisie dans la société française tra-
ditionellc" , Ethnologie Française (t. 8, n':' 4, 1978), pp. 279-86. Um estudo de con-
junto dessas trocas galantes juvenis é proposto por M. Sarmcla, Reciprocity systerns
of tbe rural society in tbe Finnish-Karelian cultu.re area (witb specíal r-eJerences
to social intercourse of the youth) (Helsinque, Suomalainen Tiedeakatemia, 1969).
A monografia antropológica de C. Macherel, " La traversée du champ matrimonial:
un exemple alpin", Études Ru1·tlles 73 (janeiro-março de 1979), pp. 9 -40, é impor-
tante. Para uma análise precisa da convergência das linguagens de um e outro sexo,
ver. D. Fabre, "La voie des oiseaux, sur quelques récits d'apprentissage", L 'Hom-
me 99 (1986), pp. 7-40.
(29) Sobre uma forma dessas loucuras masculinas que implicam um malogro
dos aprendizados juvenis da virilidade: O. f abre, " La folic de Pierre Riviere", Le
Débat (setembro de 1991), pp. '107-22.
(30) A. van Gennep foi o primeiro a insistir na importância dos ritOS de sepa-
ração, op. cit., L 1, vol. 2, pp. 437-50; uma monografia muito aprofundada é pro-
posta por P. Fonier-Beaulieu, Mariages et noces campagnardes dans les pays ayant
formé /e département de la Lo ire (Paris, Maisonneuve, 1945), pp. 23 7-44, em parti-
cular. A possibilidade de comprender certos aspectOS enigmáticos do rito de boda,
como "olhares para trás", rumo à formação da identidade sexual, é ilustrada por
D. Fabre, L 'âge libertin (Paris, Le Seui!), a ser publicado.
SER JOVEM NA ALDEIA 81
REPRESENTAÇÕES
cicia a essas operárias uma dose de droga que lhes permita " manter-
se": as "morfinadas" conhecem os paraísos artificiais. 1o Floristas c
plumisras sugerem a carícia dos frufrus; bordadeiras e rendeiras, a
doçura das roupas íntimas. Ao contato da água e do linho, lavadei-
ras e passadeiras, rema favorito dos pintores impressionistas, acen-
dem o desejo. Nas ruas, seguem-se as modistas e as cosrureirinhas,
alegres e elegantes "mocinhas". Que ocasião de conquista essa li-
vre circulação de moças elo povo tão atraentes numa sociedade em-
polada! E que fortuna para o poeta - aqui, Rainer Maria Rilke -
. o encontro com a moça pobre e pura, Marta, em busca do inefável,
querendo ir dançar em Paris, "sempre, como ela dizia, com o pres-
sentimento ele que seria para algo mais que o baile". l l Erotizacla ou
sublimada, a imagem da jovem operária, atravessada por rodos os
fantasmas, exacerbados, que envolvem o corpo das mulheres, frag-
menta-se em mil pedaços, inapreensível. Mas ela permanece amar-
rada ao sexo, enquanto a imagem de seu companheiro, o jovem ope-
rário, evolui para uma delinqüência mais ostensiva, que requer uma
intervenção mais forte . Doravante, é a juventude que precisa ser
salva.
FONTES
Bom Pastor jovens p rostitutas que desejavam sair dali; isso ocasio-
nou incidentes e revoltas.
Ora, as fam ílias utilizavam a caderneta como meio de pressão,
como conta Jean-Baptiste Dumay. Aprendiz na fábrica deLe Creu-
sot, em conflito com sua direção, ele teve dificuldade de obter dos
pais a autorização de partir. "Como eu não era maior, havia neces-
sidade, segundo as leis em vigor na época , elo consentimento dos
meus pais para que a Prefeitura pusesse o visro na minha caderneta
ele operário, que era uma espécie de passaporte interno e sem o qual
um operário não podia viajar. [.. .] Eles hesitaram por alguns dias,
mas acabaram se decidindo após altercações que tive com eles por
conta de um caso amoroso que veio se juntar à minha desavença
com a administração da Creusot. "33 Isso se deu em 1860, ele tinha
dezoito anos.
Começa então para ele um período de relativa liberdade, em
rodo caso de grande mobilidade, tal como lemos em outras biogra-
fias, masculinas pelo menos. Para as mulheres, pode suceder o in-
verso; tudo depende da presença e da vigilância da família e de seu
código moral. Seja como for, dois tempos se delineiam. O prinieiro
- ele doze/treze a dezesseis/dezoito anos - corresponde à adoles-
cência; o segundo, à "juventude" no sentido estrito. O primeiro é
restrito e controlado; o segundo, mais aberto , quando não mais fe-
liz: tempo ele todos os perigos, segundo os moralistas, que nada te-
mem tanto quanto a circulação dos jovens do povo.
P R ESHNÇA DA FAMÍLIA
TRABALHAR
xa-o um ano mais tarde; está com quinze anos e começa a ganhar
a vida. Sua caderneta de trabalho permite fazer uma idéia de seu iti-
nerário; ele 1855 a 1858, tem cinco empregadores diferentes, sem-
pre no sexto arrondissement, grande bairro do livro. Dispensado
do serviço militar em 1859, ele "gira" por mais cinco anos, até 1864;
torna-se contramestre da Despierres, rua de l'Échelle, de onde é ra-
pidamente afastado. Instala-se então por conta própria aos 26 anos.
" Minha especialidade é a preparação de capas para encadernação,
mas posso fazer tudo, se preciso" , diz ele. Hábil artesão, chega a
ganhar até oito francos por dia.77
Jean Allemane tem um percurso um pouco diferente, pois per-
manece quatro anos (185 5-9), elos doze aos dezesseis anos, certa-
mente ligado por contrato, numa grande tipografia (Dupont), e so-
mente então começa um périplo profissional e operário intenso, antes
de se fixar. Quanto a Renê Michaud, cinqüenta anos mais tarde, ele
tenta se iniciar nos diversos setores da indústria do calçado, frag-
mentada em operações múltiplas, e vai de uma fábrica a outra, em-
penhado em conquistar um ofício. "Éramos os últimos nômades dó
trabalho industrial, e o número de oficinas pelas quais sucessivamente
passei, meu tum over, faria algum douto psicólogo me qualificar
como um indivíduo patologicamente instável.. . Mas como nadare-
gulamentava a aprendizagem, era preciso forçosamente substituí-la
pela iniciativa." 78
Eis o que esclarece a " crise da aprendizagem" , ao mesmo tem-
po industrial e disciplinar. As mutações tecnológicas fizeram explo-
dir os ofícios, especialmente em Paris, cidade de artesanato tradi-
cional. "A especialização invadiu tudo", diz um relatório ele 1877.
"Na maior parte das indústrias, foram criadas oficinas secundárias
nas quais se fabrica, de uma ponta do ano à outra, apenas um único
objeto ou mesmo uma fração ele objetO. Ora, é sobretudo nas pe-
quenas oficinas que os aprendizes são numerosos, porque somente
aí podem ser aproveitados pelo patrão q ue vigia ele próprio o traba-
lho. Não é fazendo constantemente o mesmo objeto que eles pode-
rão se tornar verdadeiros, bons operários. Acaso se formarão ebanis-
tas nessas oficinas ele Paris onde se fabricam apenas, e com a ajuda
de máquinasjermmentas, mesas de certo tipo ou mesas de máquina
de costura? Far-se-á um cadeireiro do aprendiz cujo único trabalho
consiste em reunir as diversas partes de uma cadeira que, por causa
das necessidades ele transporte, chega desmontada ela província ou
do estrangeiro?" E o relatório conclui: " A aprendizagem está em
vias ele decadência" . O remédio? Uma rede ele escolas profissionais
sustentadas pelo Estado, pois "a pobreza elos pais é grande e não
lhes permitiria sequer pagar uma pensão suficiente para cobrir as
simples clespesas.com o ensino".'9 O movimento operário não diz
outra coisa , desenvolvendo, ele congresso em congresso, um ver-
dadeiro " pensamento sobre a educação" .so Ele reivindica sobrem-
elo um "ensino integral" que não sacrifique nem a cultura geral que
faz o cidadão, nem os saberes profissionais que constroem o bom
operário, o operário completo; um ensino que jamais dissocie a teoria
c a prática. "O adolescente que experimenta no mesmo dia um fe-
nômeno cuja teoria estudou, honra em sua justa medida o labor do
operário, suas mãos", diz Ernest Rache no Congresso de Marselha
(1879). 8 1 Vãs esperanças. O ensino técnico e profissional francês foi
e continua sendo um fracasso. Isso se deve ao desconhecimento que
o sistema escolar, contrariamente à Grã-Bretanha e sobretudo à Ale-
manha, tinha da indústria, à indiferença e mesmo ao desprezo que
nutria em relação ao operário - e que os jovens sentiam como uma
discriminação. 82
Isso explica seu " espírito ele rebeldia", sua insubordinação, sua
tendência a " desistir", sua insolência. Eis aqui um trecho do regis-
tro ele uma agência patronal de colocação, em 1874. Um aprendiz,
"após ter permanecido dois dias na casa ele seu patrão, partiu ele
maneira bastante grosseira, sob a influência ele sua tia. Voltou ao
escritório elo secretário dizendo que havia deixado seu patrão por-
que seus pais não haviam podido se entender com ele quanto às
condições. O secretário lhe indicou a casa Hendrickk, onde ele se
apresentou ele forma tão pouco conveniente e demonstrando pre-
tensões tão exorbitantes que a senhora Henclrickk o dispensou" .83
" Não há nada a esperar dos aprendizes", escreve La République
Française (18 ele agostO ele 1884). " Eles não sabem nada, mas em
compensação conhecem todas as ruas de Paris e mesmo da perife-
ria." A lamentação sempiterna indica uma situação real, bem iden-
tificada por Alain Cottereau: a recusa ele um número crescente ele
aprendizes ele aceitar a situação que lhes é proposta, recusa que o
mercado ele emprego parisiense permitia. Mais instruídos (desde
1860, 87% elos operários parisienses sabem ler e escrever), com mais
idade também, os "aprendizes" do fim do século XIX dão sinais de
consciência impaciente.
i 08 HISTÓRIA DOS ]Ol'E.\'S
NA FÁBRICA
V!VER NA CIDADE
Por isso, assim que podem, aos dezoito ou mesmo aos dezes-
seis anos, os jovens procuram partir, valendo-se ela idéia positiva
que apesar de tudo se associa à viagem como instrumento de for-
mação, na esteira do Tour de France, do qual Agricol Perdiguier
fo rneceu, na metade do século, um modelo autobiográfico nostál-
gico . A narração desse tour ocupa dois terços das Mémoires d 'un
compagnon. Percliguier realiza essa viagem, principalmente pelo Sul
da França, entre 1824 e 1828, dos dezenove aos 23 anos. Faz dela
p=
1/4 HISTÓRIA VO~ JOI't:.VS
cas. Se operária é uma " palavra ímpia" (Michclct), ela o é ainda mais
para as jovens. Trata-se de protegê-las, de separá-las, inclusive de
subtraí-las, muito mais do que lhes dar uma identidade e uma for-
mação. Assim, a legislação (leis de 1874 e de 1892) cria uma catego-
ria: "as moças menores" (dezoito a 21 anos), rejeitada no que se
refere às adolescentes: " é proibido a estas ...", c nada mais. A dimen-
são da relação dos sexos é, no entanto, essencial. Como se constrói
o " gênero" na juventude operária?
Em primeiro lugar, na família. Há pouca segregação na primei-
ra infância: mesmos jogos, mesmos trabalhos. As menininhas parti-
cipam juntamente com seus irmãos das operações proto-industriais
ou manufatureiras, confundidas no elogio de uma destreza infantil
da qual se fará a seguir um apanágio das mulheres. A diferença co-
meça com as aprendizagens formais. Quer sejam escolares ou indus-
triais, estas excluem em grande parte as meninas. A escola é conside-
rada algo secundário para elas. O Estado faz pouco a esse respeito;
a lei Guizo t (1833) as esquece. A Igreja substitui o Estado. As meni-
nas pobres são confiadas às religiosas ou às clamas de caridade. Nes-
sas escolinhas, ensinam-lhes as o rações, a moral, a costura, os rudi-
mentos de uma instrução; preparam-nas para a comunhão, em geral
aos onze anos. A diferença de alfabetização entre garo tas e rapnes
é variável conforme as regiões, mas constante. 108 A Escola Ferry,
sejam quais forem seus objetivos políticos, realiza quase a igualda-
de; ela é p ouco diferenciada. A segregação se opera pela família, e
em primeiro lugar pela mãe.
A mãe, chave da transmissão elos papéis, ela memória, dos ges-
tos cotidianos, inicia as filhas em melo. Isso acontece como norma,
sem que sejam devidamente avaliadas as perturbações trazidas pela
sociedade industrial às antigas práticas, como a confecção do en-
xoval, essa " longa história entre mãe e filha" . 109 Na indústria do-
méstica, a mãe ensina às suas filhas os gestos do trabalho: é o que
acontece no fabrico ele malhas ele Troyes ou na passamanaria de
Saint-Étienne, onde as filhas sucedem às mães sem terem realmente
escolha. Essas aprendizagens não gozam de nenhum reconhecimento:
fala-se das "qualidades inatas" dessas meninas que nascem "com
uma agulha entre seus dedos de fada".
J\lais uma razão para que não lhes proporcionem uma qualifica-
ção particular. Isso as dispensa igualmente de entrar em aprendiza-
gem, a menos que se trate de pseudo-aprendizagens, pretexto para
uma exploração desavergonhada . 110 A pesquisa ela Câmara do Co-
A JUI'E.\Tl.'DE O PERÁRIA. DA OFICINA À FÁBRICA 119
mércio ele Paris, que em 1870-2 registra 8902 meninas contra 18127
rapazes, denuncia isso claramente. Os patrões, por meio ele contra-
tos ele longa duração, se asseguram ele mão-ele-obra barata; as poli-
cloras ele metais ou as cortadoras de diamantes são obrigadas a per-
manecer dos onze aos dezenove anos com os mesmos mestres, a
baixo preço, quando poderiam inteirar-se elo.ofício em dois ou três
anos. Ora as utilizam sistematicamente como domésticas: "Nas ofi-
cinas têxteis, as mestras de aprendizagem parecem[ ... ] ignorar a exis-
tência do artigo 8? da lei de 1851. Parecem tOmar aprendizes so-
bretudo para empreg<í-las nas tarefas domésticas ou em trabalhos
de qualquer natureza" .111 Noutros casos, a denominação de apren-
dizes dissimula um trabalho produtivo, aprendido em alguns me-
ses, ou mesmo em alguns dias, e a baixo custo: é o que acontece
com as torcedoras de fios ou as dobadeiras de seda de Lyon, cuja
sorte nada perdeu de sua dureza desde o século :>.'VIII. 112 Em 1877,
a jornada começa às sete da manhã e termina pela nove ou dez da
noite, com apenas três intervalos de meia hora. "Poucas dessas apren-
dizes sabem ler e escrever, e trabalham em oficinas malconserva-
das, onde as normas de higiene não são observadas e o ar não é su-
ficientemente renovado." 11 3 A alimentação e o lugar ele dormir são
medíocres. De modo que essas jovens vivem " num estado mórbi-
do" inquietante, expostas à tísica, ou tuberculose. A condição elas
moças aprendizes é pior que a dos rapazes , e agravada pelo fatO ele
não poderem se revoltar nem fugir. Não há turn over feminino. As
moças são fixadas em seu lugar pela vontade de todos, a começar
pelo pai.
Algumas brechas se abrem, no entanto, no ramo do desenho
ou ela moela e de seus ofícios. As operárias da costura - floristas,
plumistas, modistas, bordadeiras etc. - adquirem no trabalho ha-
bilidades requisitadas, base de um melhor salário e ele certo prestí-
gio. Jeanne Bouvier relatou seu périplo pelos ateliês ele costura pa-
risiense e as rupturas por meio elas quais acabou por se impor. 114
Mas o que é normal ou meritório para um rapaz é suspeito para uma
moça, que não deve ter ambição e geralmente terá que pagá-la ao
preço ela solidão ou da má reputação. A impertinente festa das Ca-
tarinetas adquire aqui todo o seu sentido.
É que as moças não são feitas para exercer o fícios, mas apenas
para realizar trabalhos provisórios, à espera elo casamento e da vida
doméstica, ideal do século xrx e do mundo operário. Por isso um
mercado ele emprego é restrito. Dois grandes setores: o serviço do-
110 11/ST<'IRIA DOS}OI'E.YS
elas torcedoras ele fios de Lyon (1869) põe em cena moças muito
jovens, muitas.delas italianas, que os patrões despedem sumariamen-
te; elas acampam nas ruas, junto com suas malas. Sua líder, Philo-
mene Rosalic Rozan, que desfila pelas ruas de Lyon brandindo um
bastão como uma espada, é por um momento conejada pela Pri-
meira Internacional; pensou-se em enviá-la como delegada ao con-
gresso da Basiléia, o que teria sido uma grande novidade, j~í que os
congressos, lugares por excelência de discursos e representações pú-
blicas, eram masculinos. Mas isso não aconteceu. 123 Outra figura de
líder é Lucic Baud, que deixou um raro testemunho autobiográfico
sobre a condição elas operárias ela indústria da seda c a greve de Vi-
zille (1905). Expressão ele uma mão-de-obra juvenil, a maior parte
elas líderes de greve eram moças muito jovens; entre 1871 c 1890,
42% delas têm de quinze a 24 anos (segundo as fichas ela polícia).
A juventude das operárias dá um co lo rido espécial a suas manifesta-
ções: elas formam bandos, às vezes faràndolas, agitam bandeiras, can-
tam, geralmente a Marselbesa, mas também canções sentimentais
nos comícios, e dançam . Assim. finge-se não levar a sério suas "gaia-
tices", trarando-as, se necessário, co m uma indulgência divertida o u
um moralismo sentencioso. No caso ele raparigas, suspeita-se sem-
pre de seus hábitos, põe-se em questão sua virtude. Juntemos a isso
a reprovação das famíli as que temem a ruptura dos contratos. Tudo
isso torna difícil a sustentação e o êxito dessas greves juvenis que
na maioria das vezes terminam sem resultado. É possível, porém-
disto há testemunhos mais contemporâneos -, que a greve tenha
deixado nessas vidas cinzentas um gosto de audácia, um sabor de
prazer, um ar ele festa.
Encontramos essa mesma coloração moral em todas as formas
de enquadramentO para moças: o ensino de atividades domésticas,
em que alguns- Émile Cheysson, por exemplo, eminente estatísti-
co, discípu lo deLe Play - vêem um meio ele melhorar o serviço
doméstico, como se este fosse sempre o único futuro profissional
das jovens das classes populares. Delineiam-se porém outras formas,
do lado do setor terciário que, já antes de 191 4, se feminiza. Datiló-
grafa, funcionária elos Correios, professora, enfermeira, parteira ...
projetam novas identidades. As famíli as populares gostariam de ter
acesso a elas: em Saim-Érienne, as escolas profissionais não podem
acolher todas as candidatas, geralmente filhas ele comerciantes de
passamanarias, e as famílias criticam a importância excessiva dada
aos trabalhos manuais. Mas, para as filhas ele operários, tornar-se pro-
I 24 msr6Rt,l nos JOI"t:ss
AMAR
ou até pela família elo rapaz sedutor, sobretudo quando este não havia
feito o serviço militar. Havia certa reprovação, feminina sobretu-
do, em relação ao pai que não cumpria seus deveres. A mãe ele Amé-
clée, jovem operário do início do século, obriga seu filho a casar
com a moça que engraviclou, a despeito da forte resistência elo ra-
paz.1'-~-1 De resto, ao longo do século, o índice de nascimentos ile-
gítimos não cessa de baixar e o das regularizações de crescer. Con-
trariamente a isso, alguns p ais podiam se opor a tais regularizaçôes,
assim como a uniões, por motivos econômicos ou de estima social.
As famílias operárias, em sua penúria, têm também estratégias ma-
trimoniais. Muitos casamentos buscavam condições vantajosas e es-
táveis.
As relações amorosas também podem acabar em violência. As
jovens das classes operárias são as principais vítimas dos crimes pas-
sionais cometidos pelos parceiros que não suportam sua liberdade
de compo rtamento e sua reivindicação do prazer. 14 S As jovens ope-
rárias têm acesso aos jogos do amor, a grande aventura dos tempos
modernos, arrastando consigo seus companheiros.
Assim, coerção e liberdade atravessam a juventude operária no
século XIX . A disciplina do trabalho torna-se mais pesada, acompa-
nhada de normatizações de todo tipo. Mas crises múltiplas, ruptu-
ras diversas, migraçôes etc. favo recem uma conquista de autono-
mia, mascu lina sobretUdo. Os jovens tendem a libe rtar-se, a indivi-
dualizar-se. De resto, no início do século xx, o aparecimento de uma
juventude libertária causa inquietação, como também a agitação con-
tra o serviço militar, os bandos de jovens que se tornam mais visí-
veis, o aumento da delinqüência juvenil, as revoltas das casas ele cor-
reção. Já se esboçam algumas soluções tímidas que posteriormente
se desenvolverão em movimentos e políticas da juventudc.t-16 A
questão ela infância, pensa-se, está resolvida; a da juventude come-
ça. O século xx far<i dela um problema, um campo de intervenção,
uma entidade.
No século XIX não encontramos a juventude operária. Entretan-
tO, nos deparamos com jovens operários .
.VOTAS
vriers er des moyens de l 'am éliorer (Bruxelas, ~l él ine Cans et Compagnie, 1843), :J
2 vo ls., 444 e 423 p p .; v . 1, p. 36.
-~
'
(6) Citado po r C. Duprat, o p . ciL ; 1. 5. p . 1334.
(7) Citad o por M. I'oucault, Surveiller e1punir. Saissance de la p rison (Paris, ""'
.:::::
Galli mard, 1975), p . 297, segundo La Ga:eue des Tribunaux (agosto de 1840). -,
(8) .\I. Perrot , " Dans Je Paris de la Belle Époque: les Apaches, premiêres ban - : ..--'
des de jeun es", Cabie1·s ]ussieu 5 (prim:J\'e ra de 19- 9), Les marginau.\· et /es exclus u
~
( I 12) 1\·1. Garclcn, Lyon et les Ly onnaís au XV/lle siecle (Lille , 1970).
( 11 3) A. N. F l2 483 1, pesquisa ... , 1877.
( I 14) J. Bouvicr, Mes mémoires ou cinquarzte-neuf années d 'activité iru:lus-
lrielle, soeiale et inteflectuelle d'une ouvriere (1876-193 5), 1 ~ ccl ., 1936, 2" e d . au-
mentada, apresemada e comentada por D. Armogathe & M. Albistu r (Paris, La Dé-
couvene, 1983); K. Paul!, " Les miclincttes à Paris (1885-1914)" (mestrado, Paris vu,
1975).
( I I 5) A.-M. Fugicr, Laplace des bonnes. La domesticitéfém iníne à Pan·s en
\.
1900 (Paris, Grassct, 1979).
(1 16) Ducpéliaux, op. c it., p. 326.
(11 7) M.-V. Louis, Le droit de cuissage. Chair à trava i!, cbair à plaisir, Fmn-
ce, 1860-1930 (L'Atelier, Paris, 1994).
(118) C. Hc ywood, o p. cit., pp. 102-3 .
(1 19) T. Harcvcn, Randolph Langenbach, Amoskeag. Life and work in anAme-
rican factory city in New England (Methucn, 1978).
( 120) Ducpétiaux, op. cit., 11 , p. 286.
('I 21 ) L. Rey baud, Étu de su1· te régime des marzufactures. Condition des ou-
uriers en soíe (Paris, Michel Lévy, 1859); Les ouvriers des deux-rnondes, wmo 5,
monografia n <:' 26, monografia dos tecelões ele Sainte-Marie-aux-Mines, Vosges, pp.
392 c ss.; P.-Le roy & Beaulieu, re travai/ des jemmes au X!Xe si(JC/e (Paris, Char-
pentier, 1888), pp. 41 4 e ss. Ent re os estudos recentes, além de Y. Lequin , op. cit.,
ver Dominiquc Vanoli, " Les ouvricrcs cn soie du sucl-csl ele la France, 1890-1914"
(mestrado, Paris vn, 1975); Claire Auzias c 1\nn ick 1-louel, La greve des ovalistes,
juin-juíllet 1869 (Paris, Pa yot, I 982).
(122) V. Vie t, op. ciL, passim.
(123) C. Auzias, A. Hou el, op. c it.
(124) A. Cottereau, "Travail, écoles, famillc. Aspects de la vie dcs enfan ts cl'ou-
vricrs à Paris au X!Xe siccle", op. cit. , pp. 41-2.
( 125)]. B. Dumay, o p. cit., pp. 9 1-2 .
(126) D. Riesman, La foule solita.il'e (Arthaud, Paris, 1964).
(127) A. Pe rdiguier, op. cit. (ed. de 19 14), p . 216.
(128) A. Corb in , Filies de noce. Misere sexuel/e et prostitutíon au X/XC siecle
(Paris, Aubier, 1978).
(I 29) J.-L. Flandrin, Les amours paysannes. Amour et sexualité dans /es cam-
pagnes de l 'ancienne France (XVJ-XIÃ"' siiJcle) (Paris, Gallimard, 1975).
( 130) Ducpétiaux, op. cit ., 1, p. 33 7
( 13 1) M. Cordillot, op. cit., p. 120.
(132) J. Bouvicr, op. c it. , pp. 83-5.
(133) 13ihliothcque de la Pléiade, Gallimard, pp. 137-8 .
(134) M. Frey publicou sob re esse ponto dois artigos complementares: " Du
mariage et du co ncubinagc dans les classes populaires à Paris cn 1846- 1847", An-
na/es ESC 4 (julho-agosto de 1978); " Les comportemen ts concubins au sein eles clas-
ses populaires à Paris en 1846-1847: le rõle des proslituées et des fe mmcs logeant
en garnis'', em Aimer en France, 1760-1860, Un iversidade de Clermont-Fcrrand,
Atas do Colóquio Internacional, recolhidas e apresentadas por P. Viallaneix & ] . Eh-
rard, 1980, 2 vols .. aqui t. 2, pp. ;6;-87.
(13 5) M. Perrot, op. cit., 1, p. 314, cf. 11. N. C 30 18 -21 , pesquisa de 1872.
A }l.YF..\'TUDE OPERÁRIA DA OfJCINA -~ FÁBRICA 135
(136) Y. Lequin, op. cit., I, p. 209; C. Ouprat, op. cit., p . 1229; embora criti-
cando M. Frcy, ela sublinha igualmente que os casais concubinos representam um
caso em cinco, e que os mais altos índices de concubinatO coincidem com os bair-
ros jovens, com uma grande porcentagem da população de vime a 29 anos.
(13 7) Ibidem.
(138) Ducpétiaux, op. cit., p. 234.
( 139) Cf. nota 134, especialmente Annales para o estudo estatístico.
(140) L. Chevalier, op. cit.; Edward Shoner, "lllegitimac y, sexual revolution
and social change in modem Europe", journal of /nterdisczjJ!inarJ' Hístory (u, ou-
tono ele 1971).
(14 1) M . Frey, op. cit., u, p. 568.
(142) As feministas reivindicam durame o século XIX o direitO de busca de pa-
ternidade, que elas só o btêm no início do século xx e com algumas condições res-
tritivas.
(143) R. G. Fuchs, Poor and pregnanr in Paris. Strategies for surv ival in the
nineteenth-century (Rutgers Universi ry Press. :"'ew Brunswick, Nova ]ersey, 1992),
p. li ; nume rosas informações sobre a condição das mulheres pobres parisienses
no século x1x.
(144)]. Caroux-Destray, op. cir.; p. 70.
(145)]. Guillais-Maury, La cbair de l'atllre. Le crime passionnel à Paris au
X!Xe siiJcte (Paris, Orban, 1986).
(146) Sobre todos esses pomos. que não aborda mos aqui, ver Y. Cohen, op.
cit. O enquadramento elos jovens nas sociedades de patronato é um capítulo consi-
derável; em relação à primeira metade do século XIX, ele foi estudado por C. Du-
prat, mas relacionado sobretudo às crianças. Sobre as casas de correção, ver H. Gail-
lac, Les maisons de correclion, 1830·1945 (Paris, Cujas, 2~ ed., 1991), que trata
também das colônias agrícolas para jovens delinqüentes, que podiam ser coloca-
dos ali até os 21 anos.
BIBLIOGRAFIA
Tilly, L. A. & Scott, j oan \XI. Women, work and Jamily. Holt, Rinehan and W ins-
ron, 1978, trad. franc. Les femmes, /e travail et la famille , Paris-.t-.·i arsclha, Ri-
vagcs, 1987.
INTRODUÇÃO
RENOVAÇÃO PEDAGÓGICA
ginal e que, por bem ou por mal , é preciso salvar, mas um indiYí-
duo naturalmente bom. Do bebê ao rapaz, o século xvm malt.hu-
siano reinventa as idades ela viela, ritmadas pela educação e a ins-
trução que, por etapas, permitem fab ricar o homem esclarecido. O
objetivo, como sublinha Louis Trénard, não é mais o céu, mas a Fe-
licidade .7
(*) Pas /alin significa não latinos c soa como palatinos. (N. T.)
/48 HISTÓRIA 1)05}01'E.YS
Iha ele Luís Filipe), Michclet é, também ele, homem da palavra, ora-
dor reconhecido, embora vocalmente bastante fraco.
Esse confisco da palavra pelo mestre no ensino secundário é
encontrado ainda mais no ensino superior, no qual o professor per-
manece aquele homem que, do altO de sua cátedra, demonstra um
saber raramente contestado e tanto mais apreciado quanto a fo rma
está à altura do fundo. Entre esses homens de palavra de o uro, es-
tão Cousin, Villemain, Guizot na Sorbonne sob a Restauração, Mi-
chelet, Quinet, Michiewcz no College de France sob a Monarquia
de Julho.
(•) Primeiro grau obtido ao término dos estudos secundários. (N. T.)
OS jO I'I::,vs S A ESCOLAc A/.U,\.OS nr: COL!!GIOS E UCEL"S .YA FRASÇA E .\A EI.JIIOPA 155
em média, e mais de seis horas ele estudo, ou seja, onze horas pelo
menos em posição sentada e, teoricamente, silenciosa ... Michelet
tem razão de evocar " assembléias de pequenos paralíticos, de per-
netas, de velhos pequenos escribas" .39 Esses horários aparecem com
freqüência aos seus usuários como uma prévia do regime militar,
sobretudo para a geração que, como Alfred de Vigny, cresceu so b
o Primeiro Império: "Nossos preceptores pareciam arautos, nossas
salas de estudos casernas, nossas recreações manobras e nossos exa-
mes revistas" .1° Conhece-se também toda a importância do unifor-
me usado pelos alunos de liceu: instaurado sob o Império , foi su-
primido sob a Restauração nos estabelecimentos públicos, primeira
etapa da desmilitarização elos liceus. Ele subsiste, contudo, em es-
tabelecimentos privados como Soreze, onde, além disso, a jaqueta
marrom é assinalada por uma cor diferente segundo o nível (verde,
amarelo, azul, vermelho, elos mais jovens aos mais velhos), o que
permite estabelecer uma hierarquia visual entre os alunos.
Quanto aos efetivos das classes, são muito variáveis, mas, nos
grandes liceus, não é raro ver, no século XI X, turmas de sessenta,
oitenta ou mesmo cem alunos em retórica. Em Strasbourg, a classe
de retórica de Jules Ferry compreende 51 alunos em 1848 . Ainda
que seja difícil generalizar, alunos de colégios e liceus vivem muitas
vezes mal essa reclusão interrompida apenas por alguns raros pas-
seios de percurso sempre idêntico, seis semanas de férias de verão
sob a Monarquia de Julho, e pequenas férias passadas no estabeleci-
mento para os internos cuja família é muito pobre ou está muito
· distante para buscá-los . Muito pouco ou nada de exercícios físicos:
a obra pioneira de Amoros não atingiu diretamente a escola, e as
tentativas para criar uma ginástica escolar chocaram-se, ao longo do
século xrx, com o obstáculo das mentalidades e da administração.
Caso bastante excepcional o do colégio de Soreze, onde Armand
Barbes entra em 1824: além de cursos ministrados por pedagogos
renomados, ali se pode praticar diferentes esportes e equitação. 41
Facultativa nos liceus imperiais a partir de 1854, o brigatória em to-
dos os níveis de ensino (escola, colégio, liceu , escola normal) em
1869, a ginástica é novamente proclamada o brigatória em 1880, em
um país marcado pela derrota de 1870 - o paralelo com o ensino
de história é significativo da vontade de enraizar o sentimento na-
cional e o espírito de revanche no seio das futuras elites do país.
Conhece-se o avanço inglês nesse domínio, tendo o colegial a
obrigação de ser um sportsman consumado: cultivam-se muito as
virtudes viris dos esportes, um dos quais leva o nome de uma céle-
OS JOVENS N'l E.SCOlll: ALUNOS DE COLÉGIOS E UCEL"S .\:-1 FRASÇA E SA EUROPA J59
bre public school, a de Rugby. Foi ali que Thomas Arnold desen-
volveu o ideal do muscular christian. Na França, Michelet, desde
1869, reclamava férias à beira-mar, passeios botânicos e geológicos
e uma ginástica digna desse nome, como a que os gregos pratica-
vam e da qual os alemães haviam sabido redescobrir o espírito com
Friedrich Luclwig]ahn, "der Turnvater" ("o pai da ginástica"). Mas
foi preciso esperar o fim do século para que a ação ela Liga Francesa
do Ensino ou do Comitê para a Propagação dos Exercícios Físicos
na Educação, de personalidades como Pierre Coubertin, Jules Simon,
Philippe Daryl, ou mesmo dos próprios alunos ele liceus, fizesse do
esporte um componente da educação: assim , alunos do liceu Con-
dorcet criaram, fora da universidade, o Racing Club da França em
1882 e os do Saint-Louis criaram o Stade Français em 1883.
A COROA E A PALMATÓRIA
de ferro nas janelas e postigo nas portas para vigiar os " detentos" .
No colégio de Vendôme, os alunos apelidam de "alcova" um cala-
bouço situado sob a escada, e nos dormitórios existem também "cal-
ças de madeira'' , uma espécie de cela minúscula. No Rollin, trata-se
de jaulas contendo uma mesa cujo corte molda-se ao contorno do
aluno na altura do estômago, não podendo o prisioneiro ''passar as
mãos em nenhuma parte inferior de seu corpo" .52 Se o regime da
prisão geralmente não é muito duro, a privação ele liberdade pode
prolongar-se no caso de recusa do condenado de retratar-se; Lamar-
tine, interno em Lyon, pego depois de uma fuga em companhia de
dois colegas, permanecerá um mês no calabouço, de onde apenas
sairá tirado por sua mãe.
A lição dobrada é uma punição escrita que vai da dissertação
à cópia, passando pelos verbos latinos a copiar, talvez ma.is temida,
por vezes, que o calabouço, pois priva de recreação ou de saída,
dá um trabalho suplementar a fazer no estudo ou à noite e não tem
o prestígio da prisão para suas vítimas. Ainda mais que dos profes-
sores, ela é a arma favorita dos vigilantes. Suas vítimas guardam-lhe
uma lembrança tenaz e um vivo rancor; de Victor Hugo, aluno do
colégio Napoleón sob o Primeiro Império, com "seus bancos de car-
valho escuros, seus longos dormitórios melancólicos,/Seus pedan-
tes que fazem, entre a papelada,/ Devorar a hora da brincadeira pe-
las lições vorazes", a Paul Verlaine, aluno do modesto internato
Landry sob o Segundo Império, que, não sabendo o pretérito do
verbo legere, vê-se condenado a copiá-lo dez vezes, com sua tradu-
ção, no calabouço. Terminemos este rápido florilégio lembrando
a dedicatória de Jules Valles em L 'enjant: "A todos aqueles que mor-
reram de tédio no colégio o u a quem se fez chorar na família, que,
durante sua infância, foram tiranizados por seus mestres ou espanca-
dos por seus pais". A visão vallesiana do colégio que "mofa, transpi-
ra tédio e fede a tinta'', associada de maneira significativa à da famí-
lia, evidentemente não pode servir de mero padrão a uma apreensão
" média" da atmosfera colegial: Valles, filho de vigilante que se tor-
nou professor, tinha duplas razões para detestar tanto o lugar quan-
to os q ue ali trabalhavam. Também ele foi transformado em "besta
de lições".
Contudo, convém recolocar em questão essa visão uniforme
demais do colégio ou do liceu-caserna. Depois da experiência das
Écoles centrates, a estrita aplicação da parte de jovens burgueses ha-
bituados a mais liberdade e a mais consideração. Diante dessa per-
OSJOI 'EXS .\"A F.SCOI.Ac ,ILU.\'05 VE COLiGIOS E LICEl"S .\'A FR...!XÇA E ,\A ECROPA 16 5
COMPORTAMENTOS RELIGIOSOS
VIOLÊNCIAS COLEGIAIS
dos professores não pode pretender mais que uma estima na me-
dida de seu saber e, mais ainda, de seus rendimentos.
O que provoca formas de violência, ainda que abafada, sah·o
casos extremos. Sob o Antigo Regime, as revoltas de alunos comra
os pedagogos são bastante freqüentes: bastões, pedras, espadas, ver-
galhos são por vezes utilizados em estabelecimentos franceses; no
século :xvm, vários decretos da universidade lembram a proibição
do porte de armas pelos colegiais; um edito de 1763 recomenda aos
diretOres e aos pedagogos que zelem para que " ninguém se aban-
done, nos ditOs colégios, às invectivas querelas, explosões ele cóle-
ra, vias de fato, para que não se dispare[ ... ] sob nenhum pretexto,
com nenhuma arma de fogo , iscas, espoletas nem petardos" .63 Na
Inglaterra, as public schools passam também por violentas rebeliões:
a de 1779 em Rugby não 2erá controlada senão pela intervenção da
força armada, tendo a última dessas re,·oltas ocorrido em Eton, em
1832.64 Na França, sob o Império, o jovem Lamartine, interno em
uma instituição privada de Lyon, é testemunha de uma luta feroz,
verdadeiro corpo-a-corpo, entre um aluno mais velho, que se recu-
sa a ajoelhar-se para pedir perdão por uma falta, e um professores-
pecialmente encarregado da disciplina: o primeiro arranca a peruca
do segundo, que, com a ajuda dos empregados e cozinheiros do es-
tabelecimento, consegue pôr para fora , na rua ela Croix-Rousse, o
jovem revoltado.65 Lamartine conduzirá a vingança dos colegas por
ocasião de uma "distração" proposta aos alunos: tratava-se ele ten-
tar, de olhos vendados e de sabre na mão, cortar o pescoço de uma
gansa suspensa a uma. corda; em combinação com um camarada,
Lamartine ·guiou-o com sua voz para o professor temido, que re-
cebeu, por uma aparente inabilidade, o golpe de sabre destinado
à gansa. Em Belley, com os jesuítas, o futuro poeta encontrou, ao
contrário, um espírito liberal e conviva!: estava-se entre pessoas do
mesmo mundo, em sociedade. As violências são praticadas também
entre a direção e os alunos: violências desiguais devidas à diferença
de condição, mas que resultam por vezes em verdadeiras rebeliões.
É o caso do colégio D'Eu em 1788, diante das brutalidades do sub-
diretor. Revolta mais comedida, porém determinada, diante de uma
lição suplementar infligida pelo encarregado da disciplina do liceu
Corneille de Rouen: o jovem Gustave Flaubert toma a pena para exigir
justiça ao diretor e afirmar a solidariedade da classe com os alunos
ameaçados de expulsão.66 Em 1840, em Bourges, é preciso enviar
a força armada. Mais grave, no Louis-Ie-Grand em 1883, a expulsão
f 72 HISTÓRTA DOS JOVENS
OS PÁRIAS DA HUMANIDADE
CON CLUSÃO
NOTAS
(1) Christina Niquc, Comment l'éco/e deuint urre ajfaire d 'État (Nathan, 1990),
288 pp.
(2) Citado in L. H. Parias (dir.), Histoire générale de l'enseignement et de l 'édu-
catiort en France (t. 2, Nouvelle Librairie de Francc , 1981), pp. 135 c ss.
(3) Ver Les Lumii!res en Hong1·ie, en Europe centrale et err Europe orielltale,
Actes du 5e co/loque de Matrcwfured, Budapest (Akademi Kiado e CNRS, 1984), 412 pp.
(4) C. Mialaret e]. Via!, Histoire mondia/e de l'éducation (Pt;F, 1981, t. 1), pp.
213-32.
(5) L. -S. Mercicr, in Tabteau de Paris, cit. por M. Gomard, L 'enseignement
secondaire en France de la.fin de.l'Ancien Régime à la /oi Falloux, 1 750-1850(Edi-
sud, 1984), pp. 1O e ss.
190 HISr6RiA DOS jOVENS
INDICAÇÕES BIBLIOGRÁFICAS
Albisctti, J C. Scboolirzg german girls and u:omen. Secondary and higbe1· education
in the nineteenth century. Princeten ~-] .), Princewn Univcrsity Press, 1988.
Besançon, A. Éducation et société en Russie dans la second tiers du Xlx_e siecle.
Paris, Mouton, 1974.
Bowen, J. A history of \Vestem education, \"OI. 3: The modern West Europe and
the New World. Londres, ~lethuen and Co., 1981.
Caron, J .-C. Générations romantiques. Les étudiants de Paris et /e Quartier Latin,
1814-1851. Paris, Armand Colin, 1991.
Charmasson, T.; Lelorrain, A.: i\1. & Ripa, Y. L 'erzseignement tecbnique de la
Révolution à nosjours, t. 1: 1789-1926, Paris, Eco nomica-lnp, 1987.
Chartier, R.; Compcre, M.-M. &Julia, D. L 'éducation en France du XV1e au XV!ff!
sii)cle. Paris, Sedes, 1976.
Clark, L. C. Schooling tbe daughters of.l!arianne. Textbooks and tbe socialization
of girls in modem French primary scbools. Albany, State Unívcrsity of New
York Press, 1984.
Compere, M.-M. Du college au lycée. 1500-1850. Paris, Gallimard, 1985.
CrubeUicr , M: L 'enfance et la jeunesse dans la société française - 1800-19 50. Paris,
Armand Colin, 1979.
Ferrari, B. La politica sco/astica de/ Cavour. Dal/e esperienze prequarantottesche
alie responsabilita di governo. Milão, \'ita e Pensiero, 1982.
Frijhoff, W. & Julia, D. École et société dans la France de l'Ancien Régirne. Quatre
exemples: Aucb, Avallon, Condom et Gisors, Paris, Armand Colin, 1975.
Gebord, P. La vie quotidierme dans les lycées et les colleges tlu x1xe siec/e. Paris,
llachette, 1968.
Gildcs, R. Education in provincial France - 1800-1914. A stucly of three
departments. Oxford, Clarendon Press, 1983.
Gontard, M. L 'enseignernent secondaire en France de la fin de I'Ancien Régime
à la /oi Falloux, 1750-1850. Aix-en-Pro\'encc, Edísud, 1984.
Gontard, M., (dir.). Histoire des lycées de Marseille. Aix-en-Provcncc, Edisud, 1982.
Harrigan, P. & Neglia, V. Lycéens et collégiens sous /e Second Empire. Étude
statistique sur les fonctions sociales de l'enseignement secondaire public
194 HISTÓRIA DOS jOVENS
I
::l
o espera pelo direito de voto O
13
""'~ 30
25 - Jl v
2)
21 - 21
'--
1791 1793 179S 1799 1807 18 14 1831 1848
OS RAPAZES PERIGOSOS
tudo isso, de "moderno", tanto que uma página dos Pensées de '48
pode soar inquietante para o leitor deste século, conhecedor de cenas
mutações posteriores do "modernismo reacionário". Mais pertinente,
na economia de nosso discurso, é notar como a obra de Renan cons-
titui, também, uma espécie de história moral elas gerações france-
sas, do século X IX a 1948. Renan usava palavras de escárnio para o
sonho pedagógico que o Iluminismo entregara aos jacobinos: a busca
de procedimentos que servissem para acelerar a moralização dos ho-
mens, "um pouco como frutos que amadurecem entre os dedos.
Gente de pouca fé na natureza, deixem-nos ao sol!". Por outro la-
do, ele devia reconhecer que o sol do progresso não aquecia wdas
as gerações com a mesma intensidade.
Como outros franceses do século XIX, antes e depois dele, Re-
nan cedia à tentação de falar de sua geração como tendo sido sa-
crificada. Fizera falta aos homens que haviam começado a pensar
depois de 1830, à diferença do que ocorrera com os expoentes da
geração que se tornara adulta em 1815, uma luta generosa para exer-
citar a própria juventude. Nascidos sob o signo de Mercúrio, os ho-
mens da geração de Renan se adaptaram rápido demais a uma vida
cômoda e banal: "Pobre da geração que teve diante dos olhos so-
mente uma ordem regular, que concebeu a vida como um repouso
e a ane como uma fruição!". Por outro lado, já não parecia invejá-
vel a Renan- que escrevia tendo ainda nos olhos as cenas sangui-
nolentas de junho - o destino das gerações a quem caiba uma re-
volução; também ele era sensível à graça dos nascimentos tardios:
"Ai de quem faz as revoluções, feliz de quem as recebe como he-
rança! Felizes sobretudo aqueles que, nascidos numa época melhor,
não mais terão necessidade, para fazer triunfar a razão, de recorrer
aos meios mais irracionais e absurdos! ''. Este, o círculo vicioso dentro
do qual se inscrevia a reflexão de Renan, sem que o jovem se agitas-
se muito para escapar dele, convencido que estava de escrever o
profético elogio de uma humanidade afortunadamente progressiva.
Esta era a convicção que o ex-seminarista amadurecia nos Pensées
de '48, exceto quando tornava a apresentá-Ia, mais ou menos enve-
nenada, nas obras posteriores: os tempos de revolução enquanto
maldição, os tempos de repouso enquanto condenação; a sociedade
política como o terreno de caça para os seres imorais, a socieda-
de civil como o paraíso para os seres frívolos. Assim, se o rigor filo-
lógico c o gênio crítico de Renan serviram de escola para gerações
de estudiosos de lingüística e de psicologia, de etnologia e de reli-
L
}OI'EXS REBELDES E REVOWGO.VÁRJOS 233
gião, para os jovens que vão ler sua obra com intenções políticas
Renan será mestre de outra coisa: tanto a Georges Sorel e a Lucien
Herr quanto a Charles Maurras e a Léon Blum, ele comunicará o fas-
cínio da política e, ao mesmo tempo, a repulsa por ela.
Nada mais alheio a Renan que a apologia da violência revolu-
cionária, quer se tratasse da praticada pelos operários nosjaubourgs,
em 1848, quer fosse a dos terroristas do ano II; contudo, ele sabia
que, "quando se trata ele fundar o fu turo agredindo o passado, são
necessários soldados enérgicos, que não se deixam enternecer com
prantos femininos e não economizam golpes de machado". 102 Co-
mo fizeram tantos jacobinos, Renan desprezava as massas, mas ad-
mirava quem sabia se fazer intérprete delas, fosse um punhado de
homens ou um único. Portanto, foi também por meio de Renan que
a Revolução Francesa transmitiu aos homens da Terceira República
seu legado jacobino mais imponante: a desconfiança em relação a
uma sociedade civil reconhecida como jovial ou como incapaz, e
a convicção de que cabe a um punhado de heróis da inteligência
sacrificar as próprias vidas na lama da sociedade política, para o bem
das gerações futuras.
Mas convém destacar que não só aos franceses os acontecimen-
tOS de 1848 ofereceram matéria de reflexão quanto ao "mal" da Fran-
ça e às perspectivas da revolução na Europa. Decisiva para o futuro
da tradição revolucionária foi a meditação de Herzen no tocante ao
significado profundo dos fatos de junho e às perspectivas do socia-
lismo francês no contexto do movimento democrático europeu. Num
ensaio hoje clássico, Isaiah Berlin colocou a tônica sobre a carga ex-
traordinária de anticlogmatismo que animava um texto como Da ou-
tra margem: elegia herzeniana para as ilusões ele 1848 e denúncia
- ao mesmo tempo - da aberrante lógica jacobina que conclama-
va as gerações presentes a sacrificar-se pelas gerações vindouras ("co-
mo cariátides obrigadas a sustentar uma sala na qual, algum dia,
outros irão dançar"). to3 No admirável estudo que dedicou ao po-
pulismo russo, Franco Venturi descreveu, por seu lado, os êxitos
políticos da reflexão de Herzen sobre as ruínas de 1848: o reconhe-
cimento ela irremediável "velhice" da Europa ocidental e a decisão
do exilado de voltar-se para aquele Oriente do qual ele se afastara;
um Oriente bastante "jovem" para subtrair-se à esclerose de ideais
elo Ocidente, e, talvez, para evitar algumas etapas do desenvolvi-
mento eco~ômico pelo qual a Europa vinha pagando a um preço
tão alto.
234 l!ISTÓRh1 DOS J OVENS
regenerado pela nitidez das consciências ames ainda que pela solu-
ção dos problemas materiais das classes populares. 135
No mesmo período em que o jovem Mathiez reconhecia nos
acontecimentos históricos da Revolução Francesa a melhor prova
do primado da subjetividade revolucionária, o jovem Lenin trans-
formava a asserção de tal primado em linha política. Contudo, fa zia
isso refletindo sobre a tradição revolucio nária russa em detrimento
da tradição revolucionária francesa: 136 ames do exílio na Suíça, ha-
viam sido decisivos para ele, bem mais que o estudo deste ou da-
quele livro de história da Grande Revolução, o encontro com Ak-
sel'rod e o diálogo à distância com Plekanov, veteranos do populis-
mo que se haviam incorporado às fileiras do marxismo. Embora os
exegetas tenham muitas vezes sublinhado as dívidas do leninismo
com o jacobinismo, o percurso ideológico de Vladimir Ulianov ofe-
rece sempre um sinal da progressiva desatualização, fora da França,
do património de memória que, durante quase um século, servira
de referência, em positivo ou em negativo, aos revolucionários do
mundo inteiro . Quando, no início da década de 1890, Lenin se vol-
tava para a política militante, as gerações de populistas e niilistas rus-
sos que o haviam precedido na estrada da op osição revolucionária
ao regime czarista já tinham atuado e sofrido suficientemente para
que ele th·esse que considerar tudo o que eles representavam, pres-
cindindo das experiências revolucionárias estrangeiras e até elo pe-
sado precedente representado pela Revolução Francesa.
Em 1902, Lenin publicava o seu Que jazer?. Um livro que, desde
o título, remetia para o romance político de Cernysevskij, e que
exibia claramente o que o auror aprendera com Aksel'rocl: o modo
de produção capitalista não incide sobre o desenvolvimento social
ele maneira tão determinante a pomo de não deixar espaço para o
voluntarismo individual e coletivo, à intervenção da ação revolu-
cionária. Porém, o que é mais necessário destacar é a importância
elo elemento de polêmica geracional no magistério de Aksel 'rod e
ele Plekanov, os quais se opuseram infatigavelmente à interpretação
escolar que era feita da doutrina marxista pelos jovens recrutas rus-
sos: tào cegos em sua fé no proletariado quanto haviam sido os po-
pulistas da década ele 1870 em sua fé nos muziki. No momento em
que aprendia com os "velhos" a investir na ação socialista como
o melhor trunfo para suprir as carências ela espontaneidade históri-
ca russa, Lenin se rornava, digamos assim, um estranho no interior
da própria geração. E isso acontecia num período em que a social-
]Ol"ESS REBELDES E RE~"OL/.:C/0.\"ÁRIOS 247
NOTAS
(I ) Ver I. Woloch, The New Regime: transformations of lhe French ciuic ar-
der, 1789-1820s (Nova York, 1994).
(2) Segundo a conhecida tese de Philippc Arics, Padri e figli nell'Eumpa me-
dievale e moderna (1975) (Roma-Bari, 1985); e idem, "Generazioni", in EnciclojJe·
dia Einaudi, v . Vl (Turim, 1979), pp. 557·63.
-(3) Ve r J. R. Gillis, Youth and history. Tradition and change in European age
relatíons, 1770-present (Nova York, 1974).
(4) Remete-se aqui, naturalmente, à interpretação já clássica de E. H. Erikson,
Childhood and society (Nova York, 1963).
(5) Ver F. Moretti, i! romanzo diformazione (Milão, 1986); R. Terdiman, " Struc·
tures o f Initiation: on semiotic education and its comradictions in Balzac" , Yale
]0\"ESS REBELDES E REl"OU:aO.\'ÁRJOS 251
French Studies ( 1982), pp. 198-226;]. Seigel, Bohemian Paris. Cultw·e, politics and
the boundaries of bourgeois life, 1830-1930 (Nova York, 1986).
(6) L. Borne, Gesammelte Schrijten (Hamburgo, 1862), p. 63.
(7) Limito-me a remeter a J-C. Schmitt, " Generazioni", in Enciclopedia Ei-
nattdi, vol. 15, Sistematica (Turim, 1982), pp. 266-75; e, para a França, a M. Crubel-
lier, L 'enfance et la jeunesse dans la société jrançaise, 1800-1.950 (Paris, 1979).
(8) K. Gutzkow, Briefe aus Paris (Leipzig, 1842), pp. 227-8.
(9) Assim F. D. Bassermann, cit. in L B. Namier, La rivoluzione degli intellet-
tuali e altri saggi sull'Ottocento europeo (Turim, 1972), p . 2 12.
(1 O) Ver W. Benjamin, Parigi capitale de! XIX secolo. I "passaggí '' di Pm·igi
([1982, ed. póstuma) Turim, 1986).
(11) R. ]akobson, Una generazíone che ba dissipato i suoi poeti. ll caso Ma -
jakovskzj ( 193 1] (Turim, 1975), p. 41.
(12) Assim D . Milo, Trabír te temps (histo ire) (Paris, 1991), p. 182.
(13) Cit. in A. Chuquet, L 'École de Ma rs (Paris, 1899), p. 6 [grifo meu); do bc-
lo livro de Chuque t também foram extraídas as citações que seguem.
( 14) Obrigatório remeter a M. Ozouf, La fête révolutionnaire, 1789-1799 (Pa-
ris, 1976).
(1 5) Ver J.·F. Lyotard, " Futilité cn révolutio n" (1975), in idem, Rudiments
pai"ens. Genre díssertatif (Paris, 1977), pp. 157-212, esp. pp . 198 e ss.; L Hum, "La
vita privata durante la Rivoluzionc francese ", in Ph. Aries-G. Duby (sob adir. de),
La víta privara. L 'Ottocento, organizado por M . Perrot, Roma-Bari, 1988); e P. Vio-
la, Il trono vuoto. La transizione delta sovranità nella Rivoluzione francese (Tu-
rim, 1989), pp. 76 e ss.
(16) Ch. Lacretellc, Dix années d 'épreuves pendant la Révolution (Paris, 1842),
p . 202 .
(17) Ver R. Cobb, Reazioni alta Rivoluzione francese [1972 ] (Milão, 1989).
(18) Cit. de F. Gend ron, La "jeunessedorée". Episodes de la Révolution (Quc-
bec, 1979), p . 164.
(19) Ver ]. -P. Gutton, Naissance du vieillard. Essai sur l'histoire des rapports
entre Jes vieillards et la société en France (Paris, 1988); eM. Ouzof, "Symboles e t
fonction des âges dans les fê tes de I'Europe révolutionnaire", Annales HistOriques
de la Révolution Française (1970), pp. 569-93, notadamente pp. 579 e ss.
(20) Paris, Archives Nationales, Assemblées Législatives, C 266-232.
(21) Moscou, Arquivo do Instituto para o Marxismo-Leninismo, dossiê Jullien.
(22) (M. A. Jullien], Entretien politique [...] sur la France (Paris), a. vw, pp. 62-5 .
(23) Ver L Guerci, Libertà degli antichi e libertà dei moderni. Sparta, Atene
e i "philosophes" ne/la Francía del '700 (Nápoles, 1979).
(24) Naturalmente refiro-me a A. de Musset, La conjession d'un enjant ctu sie-
cle [1836), in idem, Oeuvres compli~tes (Paris, 1866), vol. m.
(25) Ver ].-C. Caron, Générations romantiques. Les étudiants de Paris et /e
Quartier Latin (1814-1851) (Paris, 1991), pp. 225 e ss.
(26) Para uma descrição particularmente rica e de nuances fe lizes dos ambien-
tes estudantis sob o Império, ver H. Gouhier, La jeunesse d'Auguste Comte et la
jor·mation du positivisme, vol. 1 (Paris, 1933); ver também Ch. H. Pouthas, Guizot
pendant la Restauration: préparation de l'homme d'Etat (1814-1830) (Paris, 1923),
pp. 5-27.
252 HISTÓRIA DOS jOVENS
(44) Ver A. Galante Garrone, " I sansimonianí e la storia della Rivoluzione fran-
cese", Rivista Storica Italiana (1949), pp. 252-78, e R. Pozzi, "La nasci ta di un mi-
to: robespierrism o e giacobinísmo nella Francia della rivoluzionc di luglio" , in ~!.
Salvadori & N. Tranfaglia (org.), 11 modello político giacobino e le rívoluzioni (Flo-
rença, 1984), pp. 19 7-222 .
(45) Uran elt d e Le uzc, Réjw ation de I'" Histoire de France" op. cit., p p. 283,
383, 435-7, 442.
(46) Segundo o relato do fil ho, I-1. Fazy, ]ames Fazy. Sa vie et son oeuvre
(Genebra-Base!, I 887), p p. 40 e ss.
(47) Ver F. Ruch on , "Une famille geneYoise: les Fazy d'Amoine Fazy, fabri-
cam d'índiennes àjamcs Fazy, homme d'état et tribun", Bulletin de l' Institut Natio-
nal Gcncvois (1939), pp. I e ss., eM. Vuilleumier, '·Buonarroti ct ses sociétés secrê-
tcs à Genêve. Quelques documents inédits (1815-1824)", Annales Historiques de
la Révolution Française (1970), pp. 473-505.
(48) Como saliento u ]. H. Billington, Con i/ juoco nella mente. Le origini del-
la fede rivotuziona ria [1980] (Bolonha, 1986), pp. 303-1O.
(49) Genebra, Bibliotheque Publique et Universitaire, Fondation Fazy, pasta 5.
(50) O termo gero ntocrac ia (do qual Fazy vangloriava-se de ser o criador) fo i
imediatamente retomado por Béranger- ou seja, pelo poeta nacional, ídolo da ju -
ventude - , que o transformou em título de um poema: ver]. Touchard, La gloire
de Béranger (Paris, 1968), vol. 1, pp. 525-9.
(5 1)]. Fazy, De la gérontocratie, ou abus de la sagesse des víeillards dans
le gouvernement de la France (Paris, 1828), pp. 5, 23.
(52) Ver J. Fazy, Príncipes d'organization industrielle pour /e développement
des richesses en France, e:::tplication dtt malaise des classes productives, et des mo-
yens d'y porter remede (Paris, 1830).
(53) La Révolulion de 1830, 21 de dezembro de 1830.
(54) Satisfaço-me rem ete ndo a M. Agulhon , " 1830 d ans l' histoire du x1x< sie-
clc français" (1980], in idem, Histoire vaga bonde, t. 2, l déologies et poli tique dans
la France du XIX" siecle (Paris, 1988), pp. 31-47, e à clássica síntese de D. H. Pink-
ney, The Frerzch revolution oj 1830 (Princeton , 1972).
(55) Para uma visão de conjunto, ver A. Esler, "Youth in revolt: the French
generation of 1830", in R.]. Bezucha (org.), Modem European social histOIJ' (Le-
xington, D.C., 1972), pp. 301-34.
(56) E. Quinet, Advertissement à la monarchie de 1830 (Paris, 1831), p. 5.
(57) Ver Seigel, Bohemian Paris, op. cit., pp. 25 e ss.; c P. Béníchou, "Jeune-
Francc et Bousingo ts", Revue d'Histoire Littéraire de la France (1971), gp. 439-62.
(58) Cit. in B. Guyon , La pensée politique et sociale de Batzac (Paris, 1947,
pp. 384 e ss.
(59) Ver Moretti, /1 romanzo di jormazione, op. cit., p p. 2 11 e ss.
(60) A anedo ta em R. Caillo is, "Paris, mythe mo de rne", Nou.velle Revue Fra n-
çaise (193 7), p . 698.
(61) In Notti fiorentine: cit. por S. Kracauer, ]acques Ojfenbach e la Parigi
del suo tempo [193 7] (Casalc MonferratO, 1984), p. 12 .
(62) Ver R. Treves, La dottrina sansimoniana nel pensiero italiano de/ Ri-
sorgimento (Turim, 1933), p. 17.
(63) Ver F. Venruri, // populismo russo, vol. 1, Herzen, Bakunin, Cernysevs-
kij (Turim, 1972), p. 19.
254 HISTÓRIA DOS JOVENS
zes para designar " o jovem Estado fascista", dinâmico c " moder-
no": transferência usada freqüentemente pela imagem publicitária.
O esporte estará presente da mesma forma nos numerosos periódi-
cos dedicados às mulheres e às " mães da Itália" : modelo insistente-
mente proposto de pedagogia saudável e de higiene familiar.
Para os mais jovens , as atrações e as gratificações da vida es-
portiva tornaram-se um motivo recorrente no âmbito da rica pro-
dução da imprensa juvenil, cuiclaclosameme calibrada segundo a ida-
de e o sexo do destinatário. Para o vasto público de Balilla (jornal
"elos jovens ela Itália" sob a égide da ONB), será assim o emblemáti-
co Lio, petulante e ousado bati/la modelo, que saberá representar
com eficácia, por meio da simbolização essencial e primária ela his-
tória em quadrinhos, as vantagens que a vida espartana em acampa-
mentos podia trazer para uma estirpe vigorosa: " Grita Lio: 'Nossas
fileiras/ feitas são de meninos fortes: sabem dormir em cama de pre-
gos/ depois de fazer os deveres!"' _32
Para as meninas, ao contrário, as vantagens eram apresentadas
em termos menos peremptórios. A Piccola I taliana, "jornal dedi-
cado às moças e às meninas ela It~!li a", oferece de fato uma imagem
esportiva mais fugi dia e discreta, pois as " moças" e as "meninas"
devem ser "saudáveis, fortes e belas" , mas sem renegar a própria
vocação doméstica e familiar. Os fatais saiotes pretos plissados do
uniforme serão encurtados ou alongados pudicamente conforme as
necessidades da ginástica, limitando-se sempre às modalidades rít-
micas ou atlética ligeira "que melhor se adaptavam" às meninas c
às adolescentes (fig. 10). No final da década de 1930, podemos roda-
via constatar, para as " pequenas" e " jovens" italianas, uma roupa
mais desenvolta, mais adaptada à prática desportiva: em conseqüên-
cia, surgem na imprensa feminina algumas elegantes nadadoras de
maiô. Devido à provável influência das colegas alemãs, mais desini-
bidas por seu enquadramento nas Hitler-]ugend , mas também ao
faro ele, na Itália, aumentar o peso do eugenismo biológico oficiali-
zado pela política racial, a partir de 193 7, e especialmente uma no-
va orientação na política juvenil em geral (e feminina em particular),
que se afirmou com a criação da G IL , como faria supor o material
iconográfico do período. Hipótese que deveria ser verificada por
meio de um estudo mais aprofundado.
272 HISTÚRIA DOS}OI'ENS
Contudo, foi no decorrer ela década ele 1930 que, ao redor da ima-
gem elo Duce, se estruturou uma operação ele propaganda de gran-
des proporções e com uma articulação sem precedentes . Uma or-
questração atenta e .meticulosa conduziu portanto à transformação
da imagem do Duce em objeto de culto 6 3 Imagem onipresente, ca-
rismática e ao mesmo tempo familiar e tranqüilizadora, a obcecante
repetição dessa presença não exprimia somente a homenagem e a
veneração frente ao chefe. "A esmagadora, predominante e domi-
nante figura do Duce" tornava-se de fa to um acessível suporte in-
terpretativo que permitia concentrar num símbolo visual, evitando
qualquer perturbadora mediação conceitual, a imagem do próprio
fascismo. A espetacular exposição da Revolução fascista ele 1932 pu-
sera em evidência sobretudo "a unidade espiritual Duce - Itália -
Fascismo" .64 De faro , "a Mostra de/la Rivoluz ione é Ele: Mussoli-
ni. A exposição palpita inteira com sua presença invasora, que elo-
mina homens e coisas [... ], criações de arte e figurações simbó li-
cas"65 (fig. 19).
A "unidade espiritual " entre o Duce e o fascismo exigia uma
estreita concordância de e lementos conotativos: a juventude eter-
na do fascismo devia ser inapelavelmente a de seu chefe. Assim, so-
bre a imagem do Duce serão acumulados todos os atributos que a
"primavera ele beleza" podia o fe recer ao fasci smo: o dinamismo e
a força, o entusiasmo e a eficiência, a excelência física e o espírito
combativo e a udaz. "O Duce é o mais jovem ele todo nós. Maravi-
lhosa juventude a Dele!" 66 A "maravilhosa juventude" do chefe
constituía de fato o atestado necessário da juventude de um sistema
político que p retendia caracterizar-se pela novidade e pela juventu-
de dos próprios dirigentes. Mas sobretudo a juventude que a ima-
gem do Duce devia sugerir constituía um símbolo "c\esvinculac\o
do espaço e elo tempo" :67 juventude eterna, portanto atributo ina-
lienável do carisma do chefe; ao mesmo tempo, gratificante certeza
ela perenidade do fasc ismo .
É sabido como, por meio do discurso chegou a criar-se, em torno
ela imagem do Duce, um inimaginável florilégio de metáforas, de
despreocupadas e fantas iosas aproximações históricas ou literárias,
de líricas evocações e de místicos transportes. " O filho melhor ele ·
nossa grande mãe Itália" será, no .decorrer da operação, "o novo
Enéias", o "herói que supera os limites elo humano" . Inclusive os
profissionais da escrita participarão com entusiasmo dessa epifania
280 HISTÓRhl DOS JOVENS
A JUVENTUDE FARDADA
vens por meio de uma intensa obra de pedagogia visual baseada es-
pecialmente nas inúmeras revistas e jornais que se dirigiam à juven-
tude italiana, " pupila e esperança do Regime" .
Uma série bem articulada de estereótipos intermediados pela
palavra - mas que se exprimia sobretudo na linguagem elíptica e
concentrada da imagem - tinha o escopo de definir, e de impor,
aquele enorme prontuário de modelos tipológicos que, enquadra-
elos pelo critério ela idade e elo sexo, formavam "as legiões" e "os
manípulos" da ON I3 (Opera Nazionale Balilla) e, depois ele 193 7,
da GIL (Gioventü Italiana del Littorio).
Uma vez mais a imagem se revelava particularmente apta para
abranger e sublinhar a especificidade das estruturas de enquadra-
mento do regime, fazendo-se instrumento de transmissão e ele mo-
bilização, que podia atingir com extraordinária capilaridade rodo o
corpo social. A representação da juventude italiana enquadrada pe-
lo regime levava sem dúvida a modificar alguns estereótipos impos-
tOS pela imagem na representação ela mítica juventude elo fascismo.
Mesmo porque na variedade de indivíduos que compunham a "ju-
ventude nova e guerreira" não se incluíam somente os jovens, mas
também as crianças: antevisã.o elo regime " que provê o amanhã"
ao forjar em tempo hábil a "grande, gigantesca forja de lutadores" 72
(fig. 22). De fato, " o regime e o Partido definiram para si a tarefa
de educar o espírito das crianças treinando-lhes o corpo e equipan-
do um e outro, gradualmente, para as exigências elo combate" .7 3
Nas colônias fascistas, " complemento ela família", as "vigilantes ma-
ternas [... ] educam fascistamente os tenros rebentos, viveiros ela
pátria" .74
Assim, a imagem procurará com indulgência, com a máxima be-
nevolência, esculpir tantos "borões de nossa estirpe fecundíssima",
remontando até os primeiros e míticos " filhos ela loba": os vigoro-
sos gêmeos amamentados pela fatídica loba de Roma, emblema da
ascendência romana elo fascismo (fig. 23). Uma surpreendente série
ele meninos de poucos meses (as meninas serão singularmente ex-
cluídas deste cerimonial), vestidos com a camisa negra e o indefec-
tível boné, expostos com o rgulho ao objetivo, irão estrear nas pági-
nas dos jornais, tradução convincente e doméstica da " perenidade
ela estirpe" , tranqüilizante " certeza da Itália fascista" (figs. 24-5).
282 HISTÓIIIA DOS }OI'E.VS
NO TA S
monumentale negli anni de/ fascismo . Arturo Mar tini e il monumento ai duca
d 'Aosta (Turim, Allemancli, 1992).
(20) G. Bottai, " Esposizione del '42", Critica Fascista (dezembro de 1938),
p. 3, está em G. Bottai, Política fascista de/fe arti (Ro ma, Signorclli, 1940), p. 75.
(2 1) Sobre a utilização do símbolo co mo forma de auto-representação nacio-
nal na Europa (e nos Estados Unidos) durante os anos 30, ver M. Vaudagna (org.),
L 'estetica del/a política. Europa e America degli anni Trenta (Roma-Bari, Laterza,
1989); sobretudo as participações de G. L. Mosse, B. CartOsio, G. P. Brunetta e A.
Faeti abordam o tema do uso da imagem simbólica por parte elo nazismo c do fas-
cismo. Sobre o debate, ver a resenha da o bra escrita po r L. Malvano, " La política
per simboli" , L 'lndice dei Libri (março ele 1990), pp. 20-1.
(22) Sobre o E42, uma vasta esposição foi o rganizada em Roma, em 1987, pe-
lo Arquivo Central do Estado: E42. Utopia e scenario del regime, 2 v ois. (Marsilio,
Veneza, 1987).
(23) Idem, vol. 2, p. 315.
(24) O mesmo tema encontra-se numa esc ulru ra de 1930 (Balilla e Atleta) da
Mostra Regional da Toscana (op. cit., p. 316). Sobre a escultura para o E42, ver B.
Fattori in Il Me1·idiano di Roma (1 4 de feve reiro de 1943).
(25) ll lavoro- Le opere e i giorni, executado por Siro ni para a v Trienal,
de via simbolizar o " trabalho no tempo", da época mitológica à conte mporâ nea.
A pintura, destruída e m 1934, inseria-se na temática da Trienal, centrada na grande
decoração mural. Sobre Sironi, ver a recente exposição na Galeria Nacional de Arte
Moderna de Ro ma: Sironi 1885-1961 (Milão, Electa, 1993).
(26) Maraini fora nomeado presidente da Bienal em 192 7; de 1930 em diante
inicia uma política cultural que auspiciava laços mais estreitos entre a Bienal c as
exposições ligadas às estruturas do regime (mostras sindicais das regiões e nacio-
nais). Em 1932 substitui Oppo no cargo de comissário nacional do Sindicato de Belas-
Artes. Sobre Maraini, ver P. Spadini, " Antonio Maraini: la gestione della Biennalc
di Venezia e de! Sindacato Nazionale Fascista di Belle Arti. Primi risultati di una ri-
cerca d'archivio" , in E42. Utopia e scenario, op. cit., vol. 1, pp. 261 -5.
(27) A. Turati, "Il Partito per !'arte", Ct-itica Fascista (J 5 de fevereiro de 1929),
p. 68.
(28) A. Maraini, "Il ritorno dell'arte alia vita" , Rivista Jllustrata del Pop olo
d'Jtalia (fevereiro de 1936), p. 31.
(29) Sobre o Foro Italico, ver M. Piacentini, "Il Foro .Mussolini Ro ma", Archi-
tettul·a xu (fevereiro de 1933), pp. 65-74.
(30) !l Balilla (28 de fevereiro de 1929).
(31) C. De leva, " Formare nei giovani il carattere fascista", Gioventu Fascista
(20 de dezembro ele 1933).
(32) "Sfilare di corsa", Gioventu Fascista (10 de fevereiro de 1933).
(33) Ibidem.
(34) U. Cues ta, " La gioventü fascista ai servizio dello Stato", Gioventii Fascis-
ta '' ( I? de janeiro de 1934).
(35) Rivista Jllustrata de/ Popolo d'ltalia (janeiro de 1935), p. 13.
(36) G. Ruberti, "Lo sport nell'arte dei giorni nostri alia li Quaclricnnale ro-
mana" , Rivista Jllustrata de/ Popolo d'ltalia (abril de 1935), p. 36. No artigo sa-
288 11/STÔ RIA DOS JOVENS
lienta-se que, entre as quase mil obras presentes, somente umas setenta trataram
o tema proposto.
(3 7) Idem, p. 40.
(38) Sarfatti, La seccmda rnost1·a de/ No uecento, op. cir.
(39) O. I. Taddeini-L. Mercamc, Arte f ascista, arte per la massa (Roma, 1935),
p. 33 .
(40) Ibidem.
(41) Ruberti, " Lo sport nell'arte", op. cir., p. 37.
(42) 11 Bati/la (25 de julho de 1929).
(43) Ver, para a França, o ensaio ele M. Agulhon, Marianne au combat. L 'ima-
gerie et la symbolique republicaines de 1 789 à 1880 (Fiammarion, Paris, 1979).
(44) Riuista fllustmta de/ Popolo d 'l talia (dezembro ele 1936, p. 25).
(45) A Viuoria a/ata esculpiela por Libero Andreotti em 192R no frontão de
inspiração românica elo monumento de Piacentini q uer afirma r co m ênfase a pre-
sença da Itália fascista nos limites do território nacional.
(46) O gigantesco monumento, ele dcwiw metros ele altu ra, foi inaugurado
em 1928. Para seu modelo em gesso (Turim, Galeria de Arte .Mode rna) ve r !llauro
e il bronzo, catálogo ela exposição sobre a esc ultura comemorativa entre o século
XIX e xx (Turim, Circolo Ufficiali, 1990), p. 120.
(47) Alfieri-Fredd i, lv/ostra del/a Riuoluzione Fascista, op. cit., p. 96.
(48) Idem, pp. 2 16-8. A gigantesca escultura de cinco metros de altura, " cria-
ção de o usadia e de grandeza romana", fora realizada pelos escultores .Maiocchi c
Ru ggcri sobre um modelo ele Siro ni.
(49) Sala C, catálogo 1'r10stra del/a Rivoluzio ne Fascista , op. cit , p. 96.
(50) Rivista 1/lustrata del Popolo d'Jtalia (novembro de 1936), p. 28.
(51) A grande decoração foi e xecutada em 1935; objet.o de um recente restau-
ro, o afresco foi o tema de uma exposição sobre a pintura mural do regime: 1935
- Gli artisti dell'Unit,;ersità e la questio11e de/la piltura mura/e (U niversità elegli
Studi " La Sapienza", Roma, 1985).
(52) U. Cuesta, " Il destino delle Nazioni c Jcgato alia !oro potenza demografi-
ca", Giov&ntii Fascista (I 5 de junho de 1936).
(53) " Popolo in camicia nera", Gioventu Fascista (1<? de fevereiro de 1934).
(54) M amma e Bimbi ( I 0 de março de 1938).
(55) O. Baldi, " Le confide nze di una mamma di dieci figli", Mamma e Bimbi
(janeiro de 1939), p. I O.
(56) M. Pompei, Son contadino e me ne vartto (Roma, 1940), p. 68.
(57) 11 Balilla (18 de abril de 1929).
(58) O Prêmio Crcmona fora instituído em 1939 por iniciativa de Farinacci,
represen tante-chefe do P Nf da cidade de Crcmona c intérpre te da tendência dura
e an timodernista do regime. A participação ao concurso, anual, exigia o anonimato
do artista, que assinava com um pseudônimo, o u com um slogan "militante". O
concurso era estruturado com base nos temas di retamente ligados à " realidade his-
tó rica" da Itália fascista . A primeira edição incluía duas categorias: "Ouvindo-se pe-
Jo rádio um disc urso elo Duce" (Prêmio A) e " Estados de espírito criados pelo fas-
cismo" (Prêmio B). A "batalha do trigo" era o tema de 1940 e " A GIL" o de 1941.
A última edição, planejada para 1943 e não realizada, deveria ter tido por título " Do
sangue, a nova Europa" c previa uma participação direta de artistas alemães.
O .\1/TO D A }U\1EN1VDE mASSM/1'/DO Pt'V.IJL~GL\1: O FA5CJSJ10 ITAL/A,YO 289
(59) G. Piovcnc, " La mostra d clm Premio Cremona" , Primata (1 '?de julho
de 1941), p. 20.
(60) E. Gaifas .Jr., " li 111 Premio Cremona" , Emporium 506 (agosto de 19-41).
p . 90.
(61 ) idem, p. 92.
(62) Sarfatti, La seconda mostra del Nouecento, op. cit., p. 45.
(63) A respeito da elaboração do mito do " Duce", ver L. Passerini, Mussolini
immaginario (Roma-Bari, Laterza, 199! ). Sobre o papel da imagem como elemen-
to constitutivo deste mito, ver L. Malvano, " L' immagine di massa: il culto de! Du-
ce", Fascismo e politicc~ de!l'immagine, op. cit., pp. 62-70.
(64) Alfieri-Freddi, Mostra del/a Rivoluzione Fascista, op. cit., p. 178.
(65) O. Dinalc, " La Mostra dclla Rivoluzione", Gioventü Fascista (1 '? de mar-
ço de 1934).
(66) La giovinezza iJ un sim bolo, op. cit.
(67) Ibidem.
(68) M . Carli, "Benito Mussolini", Stile Futurista Oulho de 1934), p. 36.
(69) " La seminagione", ll Bati/la (18 de abril de 1929).
(70) Riuista Illustrata de! Popolo d '! falia (julho de 1939), p. 45.
(71) Tipologia formal que terá um sucesso especial na área futurista. Além ela
notória Sintesi pfastica dei Duce, ele Prampolini (c. 192 5), pode-se citar a escultura
ele Mino Rosso, exposta na Mostra da Plástica Mural de Gênova (1934). Célebre e
celebrada a Sintesi Piastica dei Duce, esculpida p or E. Michaelles, chamado Tha-
yath, é re produzida em página inteira na Riuista !llustrata de! Pop o/o d 'lta/ia , em
número ded icado à i\•lostra da Revolução Fascista (outubro de 1932), p. 14. Expost.a
na .Mostra Futurista de Berlim, de !934, e instalada na entrada da exposição, cau-
cionará a lin ha " modernis ta" d o fu turismo diante dos rigores formais nazistas (ver
G. Lista, "Futurisme et cubofuturisme", Cahíe,·s des Musées Nationaux 5 (se tem-
bro de 1980), p. 487.
(72) Morgagni, " La leva fascista" , op. cit., p . 6 .
(73) 6 . Orioli, " !1 partito e i bim b i" , Giouentü Fascista ( !5 de julho de 1935).
(74) O. Grcgorio, La Famiglía Fascista (junho de 1939), p. 24.
(75) lvlorgagni, " La leva fascista " , op. cit., p. 5.
(76) Gíovinezza. Organo del comitato Prouincíale O.N.B. Messina (i o de fe -
vereiro de !929). A lenda do " moleque" Giovanni Battista Perasso, chamado " Ba-
lilla" , faz deste precursor um personagem lendário que, em 1746, teria dado início
à revolta comra os austríacos, em Gênova.
(77) Ibidem.
(78) Morgagni, " La leva fascista", op. cit., p. 5.
(79) A. .Malatino, " Avanguardisti e Balilla, a noi!", Giovinezza (I'? de feverei -
ro de !929).
(80) Il Balilla ( 16 de julho de 1931 ).
(81) D. Calcagno, "Avangua rdopoli", Il Balilla ( ! 7 de setembro de 193 1).
(82) " Sane, forti e belle", La Giovane italiana (28 d e o utubro de 1927), p. 7.
(83) La Giouane Italiana (28 de outubro de 1927), p. 1.
(84) Jl Balilla (16 de julho de 193 !).
(85) ll lialilla (26 de d ezembro 1929).
290 11/STÓRIA DOS JOVESS
1. lsti/11/0 Nazionale del/e Assicumz ioni, in NitJista Jllustrala dal Popolo d'ltalia, julho de 1~27, p. 1.
O dcbo "jovem ele idade e helo de corpo".
2. .fu/Jentude, juveutttde!, in Suem sanso e tricolore, catálogo organizado pdo lstituto Nazionale
di Propagand.a Iwlüllla, Florença, s.d., p. 27. A ··primavera ele beleza":
a vis<io idílica da ··força primordial da nova ll;ília".
3. D. [)azzi, T:mfascista. Urescia, praça ela Vitória, 1932. in Rivista Illustrata de! PofxJ!o d'Jtalia,
novembro de 1932, p. 63. A estamália romana a servi~·o do mito fascista.
tf. I. Griselli. O gênio do fascismo, Roma, E42, 1939. A csculmra deveria ter dominado
a grande exposiç<io romana do E42, não realizada por çausa da guerra.
5. M. Sironi, O traba/bo, Gênova, 1931, coleção pri vada. G r;1 ~:a:; à polissemia
da imagem, o efebo, símbolo da juvenrucle, será sucessivamente
"o l.rabalho", "o construtor", "o atleta" ...
6. D. l'onzi, O.ft.tsci.~mo em marcha, 1936. O rnusculoso atleta comparecer&
à x.x Bienal ele Veneza de 1936. símbolo redundante do "estilo fascista".
7. E. clcl Debbio, Fórum Itálico. Roma. 1929-32. Por meio da opm maJ!.mlln elo
regime, a celebrnÇ{io da '·ter<;eira Roma •· de i\lussolini.
nLLt L~ oducazinne fi~ica dBllB nostre camBra1B
t~ di f..ar~
iloJtt,.~l<~,r'
·rir ,.,,lc:.re
r~ ot(~~1t.t
'l• po"fJil•
t. 11:<1 .. u.
i lt' c•;]tl:lt'".-
;..-.mluY ~
;,ltt'J~(:Íi' ~
•fat..d.. lfl'"'J"
d Uft" ~m·
:o. s'U~1 tlch--
~.hh(lthl- Ih ·
nt<id(l:oJI••
H. Giove11fú Fascista, 30 d(: ab ril <k 1932. A "prática esportiva", "espetáculo de uma juv(:ntu<k forte
de espírito e de músculos" assumida enquanto modelo para a juventude fascista.
9. C. Carrà. O jogo de futebol, 1935, in Riuista l/lustra ta de! Popolo d'!talia, abril de 1935, p . 37.· A rigorosa
busca formal da pintura ele Carrà adaptada ao mito esportivo do regime, na n Quaclrienal romana.
10 . .11 educaçâo física de nossas camaradas, in La Picco/a Italiana, 14 de outubro <k 1928, p. 4.
"Sãs, fortes e belas": a educ<1ção física das Pequenas Italianas.
1'UUo) ~J;J~i n/II;J. b.iA'>ei~i. n i ....~~.
r "d rM}O(I lU~ (<" t d'CI!"11''1f>
1!', ,..,.. •'i1tt.N <.ÍI~ hlllit'f wtltt
1 lftkt rt;XIi L "!ntt)(IIQ '11'-.i*'"" ·
HUJU l~ , .......,.,, co- .,, ..; ,,._,,,.,._,
q•1nl6ll"'.lll' Q .l:Ut. ~wt 1'"-"'ru
~bi PQ/(~,[tl#ç.iMfOJ'-"1111111oUILI,
t"'" ' b t;r.Jol il.'c.1 blf r.~-U~
.~ ... !«:CII'f;~ C'li- ....._ .............
rcq:oi!Mõbkir'»dll'~''"l't'N"•
• ~~..r"'""""•#c-rt.m .. -,1.......
,. $.AI' '""' ;;: /!IH u:-... tn ..
HíUII .1.1 .MUol• .t _., wtJi ._, U
~ 1-:.::s· JlJ il.ri tQIIi h ......
'f'(r-..ci ,;rt:::~~._,...,.c.~ .
drDit•-.-·u~I,_."Z1 .._._....
15. A Jtiltbada ·5oo··. in Mâes e Fffbos. ouLUhro ele J93!:!. l'ul>licidade c ckmogr:llla.
·~
19. Du-ce LJu-ce, Mostr<t ela Rc.:volw::tto Fascista, Roma. 1932, carMogo (cara).
A exposição foi a allrn1a~·ào da .. unidade csriritual Duce Itália Fascismo''.
21. E. Pramrolini. Síntese plástica do D11ce, c. 1926.
A attc a serviço da "etc.:rna juvt'nrude elo D1.1Ce ...
22. Os .filhos da loba, in Niuista Jllustrata de/ Popolo d'!tali{l, maio <.1~ 1935:
"Os rebentos da gigantesca forj:t dc luwdorcs··.
23. Rlimulo alimentado pela loba. in Rivistn 11/ustmtn de/ Popolo d 'lwlia,
abril ele 1936. p. 12. Os modelos mí1 kos.
2-!. "A dona ele casa rural Maria llaliani di l\lontignana (l'crúgia) com seus gêmeos ele cinco meses",
de lt De Fdici-L. (joglia. Storiafo to,qmjica de!fascL~nw, l.alerza, Kom:t Ba ri. 198:l. fig . 9:l.
/.-,~~~.-tt f.t /flr~f'.,fitoJ,I,..;,.,...~ (,·.,;.;.
.!! ...~.-; li # rJ..t ~,.. dt Kt. li. F"~'~ co(
~ ,_,....,,;., ,.I ,_,.,,. di k!{uu.. J; A.l<'í''14
· (u.'4,;<~•i.t•l<'tttl.l••l1
1 1~ ;l Jr....... ,.,.l"..t'""' rAt;,.....w.. .\lrl/(A,
clork-1 .r..u11t ,,.,..,. &....,u,.., ficrl<lf.. '"~•lt,
,,t..,,,.,u;r
("-..,:-
t
.......,..,
,::.t.c,,_,
C.UihA .Afi"A.t:ll:
'-••-'' -""'" .......,., • AQI OCNA • ,-_ t~ol,._ N
i~ ~]
~
-::-.-=:::.-:":.-:;:;.~-=-
$0CIU A MUUM O'"tTAJ,.&A
t...= ~...., a . )
w... e:-.. , - ta -
l
•s•o•liElm· ...
ft :1 11
-
'"~0: .. ....... .. ~ ··
•
Conto Corronto Poa tnlo -
ANNO VIl
M.
ll Popolo ct'ltõ.liõ.
Dlr•JI04MI • Ammlnl\lrallone : MILAUO
Glovod' tO M agolo 10 2.0
ANHO V!l lilo F,
4- VIa Mouo••
Sditi--kihl....
.. --. ....
~---
--
PICCOIA rTALIANA
Mamm.e e P lg iiPdell' ltalia grande
f'$7n rilorno 111111 t.err• "~~'c•·;. ~ t\ttl d l fedt: e C'!:-mo N:
~~ -.•..,.....n.,.. r..tt,. · •• _ ...., ..,,. ••-'"'"""" • f"""-
1·:• oi titru t i.:O 1~U<) t' <41)1::\·ot.h" f r~ •!ln!+l~ ,... 1111 "'M J"'IA•II.:~u :
!n ."~~...d.!;l!!.'!-'!!...!:,!!:.'.!:~~-tn•lluo-. s; \•U.lo "'"
tli1Urt .,., r; ~1f~1tfl e ,.~ nlllt;:;lú ol• r .w\t tlil ll l ..t.dJ1i "'"'~
ChU ~~~ t.r.i.l .....:,_
• HI
· vostro interesse .
' ..~.. _.
..,./
\\'u l"'i.:.N.•::
\f'l4'fnn::-.r '1\,\(,..,rfultllr.
Bunbastrncht bqs BDm.
.
A AMÉRICA DA DÉCADA DE 1950
.
NASCJJ\tiENTO DO "TE.tNAGER"
I
-
AJUl'ESTUDE. .1/ETÁf OHA D.-1 .l!UL!ASÇA SOCIAL 353
tenham ficado famosas uma década depois. Basta dar dois exemplos:
On the road, escritO por Kero uac em 1941, tendo como título ori-
ginal The bectt generation, foi recusado pelos editores até 1957,
quando foi publicado c tornou-se famoso (para horror de Kerouac,
todos começaram a usar o termo beat não no sentido original de
beatífico, mas para indicar desordem c delinqüência);Rebe/ without
a cause, romance escrito em 1944 por Robert Lindner, rornou-se
popularíssimo depois ele 1955, quando foi lançado o filme homôni-
mo com ]ames Dean c Natalie Wood (Cioventti bruciata na It~Wa,
.... j uventude transviada no Brasil).
Em 1950, o processo estava completo e a adolescência adquiri-
ra um estatuto legal e social, a ser disciplinado, regulamentado, pro-
tegido. Prova desse reconhecimento e sanção: uma série de imer-
venções governamentais, destacando-se a criação, em 1951, da Youth
Corrcction Division (tendo como base o Federal Youth Corrections
Act) para tratar e reabilüar os transgressores com idade inferior aos
22 anos; em 1953, surge o Subcomitê sobre a Delinqüência juvenil
do Senado e, em 1954, a seção para a delinqüência juvenil no âmbi-
to elo Children's Bureau do governo federal; a constituição, em 1961 ,
obra do presidente Kcnnedy, do Committee on Youth Employment;
e a promoção, por parte de agências governamentais, de múltiplas
iniciativas para o estudo e discussão do problema elos jovens, co-
mo o gral)de seminário sobre crianças e jovens organizado pela Ca-
sa Branca, em 1960,_com a participação de 7 600 delegados, sendo
que 1200 tinham ele dezesseis a 21 anos. H7 Esses 'á tos governamen-
tais refletem um modo de perceber _QS jovens comojnclivíduos pe-
~osos eara a sociedade e para si próprios c, ao mesmo tempo, ne-
cessitando ele proteção e de ·ajuda particulares; era inevitável q ue
acabassem por solicitar comportamentos que valorizassem tal con-
cepção ou pelo menos que tOrnassem muito di fícil pensar e definir
os fenômenos com que se ocupavam de modos alternativos. Kctt
. observou que a mentalidade que criou o delinqüente como tipo se
parece com aquela que criou o tipo do adolescente: primeiro, cer-
tas traços físicos e/ou mentais são definidos como próprio& elo tipo
e em seguida a definição é usada para explicar o comportamento
dos jovens. 88
Naquele período, teve lugar nos Estados Unidos um debate so-
bre os jovens que envolveu psicólogos, educadores, sociólogos,
funcionários escolares e judiciários·, e que continuou também na dé-
cada seguinte . O material do debate é interminável, porém bastam
354 11/S'f'ÓUM DOS JOI't'.V~
"TEENPICS"
morada, dizendo ãos pais sem margem para réplica: "Esta é Julic:
I ·--
nós nos amamos". Toda a sociedade foi chamada à ordem pelos ado- ! ..;J
......'
lescentes, q ue impõem suas regras: afeto, respeito , independência
e direito de going steady .
A tarefa regeneradora é atribuída a figuras de rapazes, embora
. apoiados por companheiras devotadas e, à sua maneira, significati- "_)
vas. As figuras femininas jovens são menos numerosas e sobretudo
menos centrais na produção cinematográfica elo período. Onde apa-
recem, evidencia-se logo o sentido diferente que tem a imagem ela
adolescente na cultura americana da década de 1950. Em Picnic [Fé-
rias ele amor] (1955), um estereótipo de mãe frustrada e irritável de-
posita todas as esperanças na filha mais velha, ele dezenove anos (Kim
Novak), que brilha pela juventude e beleza entendida no sentido men-
surável próprio da época (cintura, quadris, seios), mas na certa não
por inteligência ou personalidade. A mãe aposta na eleição ela moça
como rainha de beleza na festa da comunidade, mas sobretudo num
possível casamento com o filho do magnata local. Com essa inten-
ção, dirige à filha perguntas esperançosas: "Não tenta avançar nun-
ca?", mas suas expectativas serão frustradas pela escolha ele Kim em
favor de um jovem desempregado e simpático (William Holden), que
parece encarnar o velho ideal americano do vagabundo generoso.
A jovem protagonista, petulante e " insípida", 117 que bem podia re-
presentar os sonhos de muitas teenagers, rebela-se contra um eles-
tino ele promoção social por meio do casamento e vai atrás do va-
gabundo; uma decisão que naquela atmosfera tinha certamente um
sentido de ruptura bem marcante. A sua imagem - vistosamente
sexual - é caracterizada pelo silêncio, que leva a um desenlace im-
previsto.
3 72 11/STÓRTII DOS JOVENS
METAFÍSICAS DA JUVENTUDE
NOTAS
('I) Cf . G.L. Mossc, Le origini cullumli dei Terzo Reich (Milão, Mondadori,
1968), pp. 253-81; idem, Sessualità e nazíonalismo. Mentalità borghese e rispetta-
bilità (Roma-Bari, Laterza, 1984), pp. 68 e ss.; E.J Lecd, Terra di nessuno. Espe-
Aj/,l'f:.\7/JDE• .IIF.TÁFORA DA Jfl.'DASÇA SOCIAL 375
rienza beflica e idenlità personale nella prima guerra mondiale (Bolonha, li .\luli-
no, 1985), pp. 80 e ss.
(2) Cf. M. C. Giunrella, " I gruppi universimri fascisti nel primo decennio dei
regime", ll.\1ovimento di Liberaz ione in flalia XXIV (abril-junho de 1972), 10- ; F.
De Ncgri, "Agitazione c movimento studcnteschi nel primo dopoguerra Italia", Studi
storici, XVI (julho-setembro de 1975), 3.
(3) Cf. P. Nello, L 'avcmguarcllsmo giovanile alie or-igini dei fascismo (Roma·
Bari, Laterza, 1978), pp. 23 e ss.; M. Addis Saha, Gioventü italicma dei Littorio. La
stconpa dei giovani nel/a guerra fascista (Milão, Feltrinelli, 1973), cap. I.
(4) Cf. R. Gentil i, Giuseppe Bottai e la riforma fascista del/a scuola (Floren-
ça, La Nuova ltalia, 1979).
(5) Cir. de R. Trcves, " 11 fascismo c il problema dellc generazioni", Quaclerni
di Sociologia xm (abril-junho de 1964).
(6) C f. P. Nello, "Mussolini c Bouai: due modi diversi di conccpire l'educazio-
nc fascista de lia gioventu", Storia Contemporanea vm (junho de 1977), 2.
(7) Cf. !.. Russo, " I giovani nel vcnricinquennio fascista ( 1919·1944)", Belfa-
gor, 1 ( 15 de janeiro de 1946), 1.
(8) G. Papini, Maschilità (Vallecchi, Florença, 1932). Sobre a conexão entre
virilismo c fascismo Cf. L Passerini, Mussolini immaginario (Roma-Bari, L:ucrza,
1991), pp. 99 e ss.
(9) 11 paraclosso v (1960), 22.
(1 O) Grildrig, Le generazioni nel fascismo (Turim, Gobetti, 1924). Cappa iden-
tifica um problema que será crucial para o fascismo: o dos muito jovens que não
tinham participado da guerra e que, por isso, haviam se lançado na guerra civil,
constimindo porém uma ameaça para o fururo do fascismo, isso por estarem insa-
tisfeitOs com os resultados.
( 11) O debate na virada da década de 1950/60 expressou aquela problemática
em publicações, ciclos de testemunhos e de conférências. Cf. Dall'ant!f'ascismo alia
Resistenza. Trent 'anni di storia italiana {19 15-1945). lezioni con testimonianze
presentate ela Franco Antonicelli (Turim, Einaudi, 1961), c os dois volumes Fascis·
mo e antiftlscismo. Lezioni e testimonianze (Milão, feltrinelli, 1962). Particularmente
relevantes foram as discussões que se seguiram à publicação do livro de R. Zan-
grandi, llltmgo viaggio aura verso i/fascismo. Contributo alia storia di una gene-
razione (Milão, Garzanri, 1962).
Sobre a crise induzida pela guerra em jovens convictamente fascistas, saiu re-
centemente um documento de grande interesse, o epistolário de G. Pirelli, Un mondo
che crolla: lettere'1938-I943, organizado por~- Trantaglia (Milão, Archinto, 1990).
(12) C f. A. Folin & M. Quaranta (org.), Le ,·ivistegiovanili dei periodo fascista
(Treviso, Canova, 1977).
(13) G. Ge rmani, "Mobilitazione dall'alto: la socializzazione dei giovani nei
regimi fascisti (Ital ia e Spagna)" , idem, Autoritarismo, fascismo e classi sociali (Bo·
lonha, 11 l'vlulino, 1975); T. H. Koon, Believe ohey figbt. Política/ socialization of
youth in fascit ftaly 1922-1943 (Chapcl Hill, Londres, University o f Norrh Carolina
Press, 1985).
( 14) A primeira cerimônia do gênero teve lugar em 1932, corno lembra fidia
Gambeni que, naqÚela ocasião, tendo completado os 2Ianos, passou para o Parti·
do :--lacional Fascista (cf. Gli anni cbe scoltano, Milão, Mursia, 1978), pp. 179-80.
3 76 HIS7"6HJA DOS JOVENS
(69) F. Sacchi, no COITiere delta Sera (12 de agosto de 1932), observava que
Camerini fugia do esquema de documentário, que reduzia esses ti pos de filmes a
coletâneas de cartões-postais de monumentos famosos.
(70) Savio, op. cit., p. 378. O filme foi o primeiro grande sucesso comercial
de Camerini e foi bem recebido na Primeira Mostra de Veneza, em 1932.
(71) Cf. G. P. Brunetta, Cinema italiano tra /e due guerre. Fascismo e politi-
ca cinematografica (Milão, Mu rsia, 1975), p. 53.
(72) Cf. Rossi, "Come si formo", op. cit., e 11 Popolo d'Italia (18 de abril de
1934).
(73) !ta/ia Letteraria (30 de abril de 1933).
(74) Cf. Savio, op. cit., p. 346.
(75) Cf. P. Ortoleva, Cinema e storia. Scene dal passato (Turim, Loescher,
1991), pp. 101 -2. O filme presta-se, de modo especial, a observações sobre a rela-
ção entre realidade e imagin<'irio a propósito do trabalho das mul heres; ele fora, de
fato, criticado pelos próprios jornalistas, segundo os quais o telefone automático
tornara anacrônicas as mediações entre telefo nistas e assinantes, elemento central
da trama.
(76) Quademi di Giustizia e Libertà, 3 Qunho de 1932), pp. 92-3.
(77) K. Keniston, Gio vani all'opposizione (Turim, Einaudi, 1972).
(78) Sobre as tradições e os costumes próprios à juventude, cf. J. R. Gillis,
I giovani e la storia (Milão, Mondadori, 1981).
(79) Germani, op. cit., p. 255 .
(80) M. Mitterauer, I giovan i in Europa dai Medioevo a oggi (Roma-Bari, La-
terza, 1991 ), p. 270.
(81) A respeitO deste tema, há contradições dentro do próprio fascismo. Quan-
do, no fim de 1931, a liderança do PNF passou de Giovanni Giuriati para Achille
Starace, Critica Fascista sentiu-se na obrigação de especificar: "Nós queremos, sim,
que a juventude saiba embraçar um mosquete, desfilar por três, encher de alegria
e de luminoso frescor, de camos e de juramentos nossas formações, mas também
que saiba dobrar as ágeis costas sobre um livro, ouvir em silêncio e meditar" (Com-
piti di ieri e di oggi (15 de dezembro de 1931 ).
(82) F. Rositi, "La cultura giovanile", in Jnformazione e complessità sociale
(Bari, De Donaro, 1978).
(83) G. Stanley Hall, Adolescence: its psychology and its relat-i ons to anthro-
pology, sociology, sex, crime, religion and education (2 vols., Nova York, 1904). ·
(84) ].F. Kett, Rites oj passage. Adolescence in America 1790 to the present
(Nova York, Basic Books, 1977), pp. 252 e ss.
(85) G. Paloczi-Horvath, Youth up in arms. A political and social world sur-
vey 1955-1970 (Londres, Weidenfeld and Nicolson, 1971), p. 78.
(86) E. E. Cohen, "A teen-age bill of rights", New YMk Times Magazine
(7 de janeiro de 1945), cit. por T. Doherty, Teenagers and teenpics. Thejuvenili-
zation of American movies in tbe 1950's (Londres, Unwin Hyman, 1988), p . 67.
(87) Cf. "Chronology. Evenrs relating to the history of the health, education,
and welfare o f children and youth, 1933-1973" , in R. H. Bremner (org.), Children
and youth in America. A documentary history, vol. 3, 1933-1973 (Cambridge, Mass.,
Harvard University Press, 1974), pp. 1991-2.
(88) Cf. Kett, op. cit., p . 255.
380 f/ISTÓRIA DOS}OVENS
(89)]. Gilbert, A cycle of outrage. Amer·ica 's reaction to the juvenile delin-
quency in the I950s (Oxford, Oxford University Press, 1986), p. 18; enquanto na
década de 1930 somente 50% dos filhos da classe operária freqüentavam a bigh
school, no início da de 1960 a porcentagem passou a ser de 90%.
(90) J. S. Coleman, The adolescent society. TI)e sociallf(e of the teenager and
its impact on education (Glencoc, Frec Prcss, 1961, pp. 11 -3).
(91) E. Z. Friedenberg, The vanishing adolescent(Boston, Beacon Press, 1959,
nova ed., com introdução de David Riesman, 1964), p. 115 . Em outro estudo, Co-
ming oj age in America. Crowth and acquiescence (Nova York, Random House,
1963), Friedenberg compara a sociedade adolescente e o tratamento que recebe,
respectivamente, às colônias c ao colonialismo do século XIX (pp. 4 e ss.). Sobre
o conceito ele suhcultura em referência aos jovens, cf. M. Brake, The sociology oj
youth culture and youtb subcultures. Sex and drugs and rock ' n' mil? (Londres,
Rou tledge anel Kegan Paul, 1980), particularmente p. 7: "as subculwras partilham
elementos das mais amplas culturas ele classe, mas também são distintas delas. As
subculturas também têm uma relação com a cultura geral dominante que, devido
à sua penetração, particularmente sua transmissão pelos meios ele comunicação de
massa, é inevitável. Por exemplo, a subcultura dos hippies tem conexões - mas
se distingue dela por causa de seu caráter clesviante - com a cultura da classe mé-
dia progressista". Importante para a conceitualização, mesmo que referindo-se no-
tadamente à Grã-Bretanha, é D. Hebdigc, Subculture: The meaning of sty le (Lon-
dres, Methuen, 1979).
(92) D. Riesman, The lonely crowd (New Haven, Ya1c Univcrsity Prcss, 1950);
relevantes para o debate são também as obras de W. H . Whyte, The Organization
man (Nova York, Simon and Schuster, 1956), sobre a ética elas grandes corpora-
ções burocráticas que favorecem formas de identidade ele grupo, e de T. Parsons,
Essays in sociological tbeo1y (Nova York, Free Press, 1954), que inclui uma análise
sobre a idade e o gênero na sociedade americana contemporânea.
(93) E. H. Erikson, Childhood and society (Nova York, Nonon, 1950); o julga-
mento sobre o de bate está no prefácio a idem (org.), The challenge of youth (Gar-
de n City, N. Y., Anchor Books, 1965), publicado inicialmente em Daedalus, em
1961. A referência sobre relação entre psicólogos e pais foi extraída de D. R. Miller ·
& G. E. Swanson, Tbe cbanging American parent. A study in the Detroit area (No-
va York, John Willey, 1958).
(94) G. Hechinger & F. 1\·1. Hechinger, Teen-age tyranny (Nova York, William
Morrow & Co., 1962), pp. 10, 17, 18, 57.
(95) Cf. Coleman, op. cit., especialmente os caps. 3 e 4.
(96) O. Riesman, "Introdução" a Tbe vanisbing adolescent (ed. de 1964), p. 22 .
(97) B. Cartosio, Armi inquieti. Società media ideologie negli Stati Uniti da
Truman a Kennedy (Roma, Editori Riuniti, 1992), pp. 277-8.
(98) Sobre os anos 50 nos Estados Unidos, cf. P. A. Carter, Another part of
tbejifties (Nova York, Columbia University Press, 1983), e \YI . J-1. Chafe, The unfi-
nisbedjourney. America since Wlo1·ld ~Var fi (Nova York-Oxford, Oxford Univer-
sity Press, 1986).
(99) Cf. Ke tt, op. cit., p. 256.
A}UVE,\"TUDE, J!ETÁFORA DA JIUDA;\'ÇA SOCIAL 3 81
(100) A. K. Cohen, Delínquent boys. Tbe culture of the gang (Glencoe, Free
Press, 1955); P. Goodman, Gr-owíng up absur-d: p,·otJlems ofyoutb in the or-gani-
zed system (Nova York, Random llouse, 1960).
(I OI) F. Wertham, Seduction oj tbe innocent (Nova York, Rinhean, 19 54).
(1 02) N. George, Tbe deatb of rhythm artd blues, cir. de W. Breines, Young,
white and miserable. Gr-owing up f ema/e in thefifties (Boston, Beacon Press, 1992),
p . 158.
(1 03) Cf. l3reines, op. cit., pp. 125-6.
(104) Cf. T. Doherty, op. cir., p . 196; Goodman, op. cir., p. 13; Fricdenberg,
The vanisbing adolescent cit. (p. 5). Sobre a formação da identidade nas adolescen-
tes, cf. E. Douvan & ]. Adelson, The adolescent experience (Nova York, John Wil-
ley, '1966), baseado em duas investigações de caráte r nacional, de 1955·6, pp. 229-6 1.
Para a conceitualização é útil A. McRobbie & M. Nava (o rg.), Cender and genera-
tíon (Londres, .MacMillan, 1984), especialmente o ensaio de B. Hudson, " Femi nity
and adolescence" .
(1 05) W. Graebner, Coming oj age in Buffalo. Youth and authority in the
post-war era (Filadélfia, Temple Universiry Press, 1990), pp. 69 e ss.
(106) Cartosio, op. cir., p. 279; Kett, op. cir. , p. 6.
(107) C f. Coleman, op. cit., especialmente o cap. 6, "Beauty and brains as paths
tO success" .
(1 08) Cf. E. K. Rothman, Hands and hearts. A bistory of courtsbip in Ame-
rica (Nova York, Basic Books, 1984), pp. 301 c ss.
(109) Cf. Gilbert, op. cit., pp. 21 e ss.; Breines, op. cit., cap. 3.
(110) Graebner, op. cit., p. 52.
(11 1) Breines, op. cit., p . 125.
(112) Idem, p . 158; Doherry, op. cir., p. 89.
(113) Kett, op. cit., p. 4.
(114) A. Lorde, Zami: a new spelling of my nanze. A bíomythography (Free-
dom, CA, The Crossing Press, 1982).
(115) Acima de tudo o estudo de Doherty, op. cit., com rica filmografia, cujos
títulos são muitO difíceis enco ntrar na Itália. Cf. também .M. Wood, L'America e
i! cinema (Milão, Garzami, 1979), com menções autobiográficas sobre os modelos
masculinos no cinema dos anos 50, por exemplo às pp. 138 e ss.
( 116) Para informações sobre os filmes mencionados cf. Di Giammatteo, Di·
zionario op. cir.
(117) Idem, p. 784.
(118) Idem, p . 76.
(119) Doherty, op. cit. , p. 98
( 120) \\!. Benjamin, Metafísica delta gioventi't. Scritti 1910· 1918 (Turim, Ei·
naudi, 1982), p. 108.
( 121) "Morte dcl tecn-agcr. Incomro con Dick Hebdige" (org. Roberto Gatti),
Linea d'Ombra 53 (outubro de 1990), p. 57.
(122) De modos diferentes, vários intérpretes indicaram as continuidades: cf.
Kett, op. cit., p. 267; Gracbner, op. cit., p. 127; Breines, op. cit., pp. 13 e 201-2.
Trara-se de continuidades muitO problemáticas, como a entre as agitações das ban-
das da década ele 1950 e a revolta de Watts em 1960, ou a entre as rebeliões das
382 11/STÓR/A DOS jOIIEXS
·:
.
A mserçao def1n1t1va do 1nd1v1duo na v1da em so- ..
ciedade. É um momento de incertezas, de-procura, .
de aprendizado profis~ional, militar ou erótico. Apesar de
diversamente concebida, ela é, em qualquer sociedade; um
......
.'\, -, ·,
"
;..
-
c---~
/
(
i,.,
t~·~
ISS~ 85-7164-555-8
L.