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ÍNDICE

Direitos autorais
Dedicatória
Sinopse
Prólogo
Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18
Capítulo 19
Capítulo 20
Capítulo 21
Epílogo
Agradecimentos
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Direitos autorais © 2024 Rose Moraes

Todos os direitos reservados

Os personagens e eventos retratados neste livro são fictícios. Qualquer semelhança com pessoas reais, vivas ou falecidas, é
coincidência e não é intencional por parte do autor.

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ou por qualquer meio, eletrônico, mecânico, fotocópia, gravação ou outro, sem a permissão expressa por escrito da autora.

Design da capa por: Rose Moraes


Diagramação: Rose Moraes
Revisão: Rose Moraes
1ª edição
Na vida, há dois momentos muito distintos: o antes e o depois de um amor verdadeiro.
SINOPSE
Bruno era um jovem que sonhava viver muitas coisas, mas tinha pais controladores que o
impediam de fazer tudo que um rapaz da sua idade adorava. E ainda tinha que lidar com o fato de
que escondia sua orientação sexual, até mesmo dos seus melhores amigos por medo de perdê-los.
Mas ao conhecer um novo aluno transferido para sua faculdade, Bruno vê sua vida mudar para
sempre.
Matheus chega na nova faculdade para dar seguimento a sua vida depois que precisou se
afastar de um amor não correspondido. O rapaz não planeja se envolver com ninguém, mas se vê
incapaz de resistir a tudo que o jovem Bruno desperta em seu coração.
Um romance cheio de amor, descobertas e que nos mostra, que quando é para ser, nem o
tempo é capaz de impedir.
PRÓLOGO

Bruno

Uma palavra que poderia resumir minha vida?


MERDA, essa é a palavra!
Tenho dezoito anos e nunca pude viver da maneira que eu sempre quis. Sempre desejei
conhecer lugares diferentes, mas nunca saí de onde moro. Sempre desejei ir à festas, festas de
verdade, com muitos jovens da minha idade, onde eu tomaria meu primeiro porre e sei que me
arrependeria no dia seguinte.
Queria ficar na rua até tarde, rindo de alguma besteira com meus amigos e ir dormir tão
feliz a ponto de não conseguir pegar rápido no sono. Queria poder ler meus livros de romance
que tanto amo sem ter que ser escondido. Queria sentar à tarde no computador e escrever meus
pensamentos sem medo de ser censurado.
É cansativo andar com um caderno escondido onde, quando dá, coloco para fora tudo que
me consome.
Me chamo Bruno Avilar, venho de uma família simples, honesta e trabalhadora, mas
também muito rígida e controladora. Tenho um irmão, Cássio, que tem vinte e oito anos e é o
orgulho do nosso pai, seu Adalberto, e nossa mãe, dona Ester.
Cássio é formado em administração de empresas e conseguiu um cargo bom em uma
empresa de software. Sempre foi o queridinho, pois sempre fez tudo que nosso pai mandou,
enquanto eu era considerado o filho ingrato, apenas por sonhar demais e por querer coisas
simples, mas que para meus pais era pura desobediência.
Cássio, por sempre andar na linha, vivia normal, sem cobranças ou que pegassem em seu
pé. Ele nunca levantou a voz, só saía quando era permitido, seguia rigorosamente todas as
normas impostas por eles. Resumindo: ele tinha a confiança total deles.
Já eu? Por questionar, por não concordar com algo que meu pai falasse, era considerado o
desobediente, o bebê que não deveria ter vindo ao mundo. Essas foram as últimas palavras da
minha mãe em nossa última discussão, apenas porque eu fui pedir para ir na festa de aniversário
de meu amigo Pedro e eles negaram. Questionei o porquê, estava bem aborrecido por ser
impedido de algo tão simples e isso me rendeu um tapa no rosto e duas semanas sem meu
celular, que no caso eu só tinha, porque Cássio interveio.
Já terminei meu ensino médio e prestei vestibular, passei em 2º lugar e vou cursar
veterinária. Sempre amei animais, mas claro, isso também já foi motivo de brigas na minha
família. Meu pai costuma falar que continuarei a ser um ninguém cuidando de bicho, mas pelo
menos meu irmão me apoiou e então papai concordou a contragosto.
Cássio e eu temos uma ótima relação, apesar dele ter herdado o mesmo jeito do nosso pai.
Ele pega no meu pé, mas como um irmão mais velho mesmo, com preocupação e carinho. Amo
meu irmão, ele é a salvação na minha casa. Até me sinto sozinho quando ele sai com a
namorada, uma moça muito bacana chamada Érica, que estudou junto com ele no ensino médio e
eles se apaixonaram e estão juntos até hoje, inclusive, estão noivos.
Fico pensando no dia em que ele se casar, o que será de mim. Isso está perto, é daqui a dois
meses. Ele fez tudo certinho, concluiu faculdade e se estabilizou num emprego para dar uma boa
vida a sua futura esposa. Fico muito feliz pelo meu irmão, ele merece tudo que conquistou.
Cássio encontrou seu amor e nem isso eu encontrei.
Mas esse é outro problema na minha vida e que eu guardo a sete chaves. Se já sou um filho
rejeitado e crucificado apenas por sonhar e querer viver, imagine se meus pais soubessem que
também gosto de homens? Isso me consumia muito, ter que disfarçar meus sentimentos e
vontades e viver preso numa gaiola, vendo minha vida passar.
Descobri meu gosto por meninos aos treze anos, quando um novo aluno entrou na mesma
sala que eu estudava. Assim que o vi, meu coração quase saltou pela boca. Ele era lindo e me
chamou atenção de imediato. Foi aí, pela 1ª vez, que senti atração por alguém, nenhuma menina
havia me despertado tal coisa. Fiquei assustado, mas tive que lidar com isso sozinho.
Depois disso, ao longo do tempo, outros meninos me chamaram atenção. Fui crescendo e
admirando em segredo absoluto meus colegas de escola que eram bonitos, mas sem nunca sequer
deixar nada transparecer para ninguém. O motivo de eu não ter namorado ainda, eu atribuía para
todos o fato de que não tinha liberdade, então... era como eu disfarçava.
Eu já chamei atenção de várias meninas na escola, mas sempre inventei desculpas e saí
fora, nem mesmo meus dois melhores amigos, Pedro e Caio, sabiam desse meu segredo. Caio
tem a minha idade e Pedro, dezenove anos. Pedro vai cursar a mesma faculdade que eu e Caio,
Psicologia. Estudamos os três juntos desde o oitavo ano e pelo menos na escola e agora na
faculdade, posso estar com eles.
Me sinto aprisionado dentro de mim mesmo, apenas existindo. Me sinto sozinho mesmo
rodeado de pessoas, sem poder fazer tudo que quero. Sem poder falar de meus reais sentimentos,
sem poder ser o verdadeiro Bruno.
CAPÍTULO 1
Começando uma nova etapa

Bruno

Hoje é o primeiro dia de aula na faculdade, estou animado, é uma enorme conquista na
minha vida, tão cheia de regras. Pelo menos terei algumas horas com meus amigos e quando eu
conseguir um emprego, irei viver minha vida. Esses são meus planos. Amo meus pais, mas quero
seguir meu caminho e realizar meus sonhos. Ao lado deles sei que isso nunca será possível,
infelizmente.
Estou agora na frente do espelho terminando de me arrumar. Acordei bem cedo, tomei um
bom banho e escolhi minha melhor calça, um jeans escuro. Completei o visual com uma camisa
branca que meu irmão me deu no Natal. Meu cabelo é meio ondulado, então jogo para lado com
a mão mesmo e está bom. Ele está meio grande e preciso cortá-lo.
Gosto do que vejo, não sou nenhum galã, mas me acho jeitoso. Meus olhos são castanhos
claros como os da minha mãe e tenho 1,78 de altura. Não faço academia, apesar de ter muita
vontade, mas para isso meu pai teria que pagar, então, sem chance.
Escuto minha porta do quarto ser aberta e olho de relance vendo minha mãe entrar.
— Bom dia, Bruno. Achei que teria que te acordar, já que você é preguiçoso. — Minha
mãe e seu eterno desdém para o meu lado. É incrível como eu sempre tenho todos os defeitos
para os meus pais. Estou tão cansado disso tudo.
— Bom dia, mãe. Acordei bem cedinho, já terminei de me arrumar — digo, encarando
seus olhos que me estudam com atenção.
— Você está muito bonito para ir a faculdade, não acha não? Estou sentindo seu perfume
daqui.
— As pessoas se arrumam, mãe. Para estudar, trabalhar, e como não usarei uniforme a
partir de agora, tenho que me vestir melhor. Embora, até se eu estivesse de uniforme estaria
bonito como a senhora está vendo e bem cheiroso. Gosto de me sentir assim — respondo bem
firme, vendo minha mãe ficar ainda mais séria.
— Sempre com uma resposta na ponta da língua, né, Bruno? Seu irmão nunca foi assim,
mas você parece que adora provocar seu pai e eu.
— Não estou provocando ninguém, mãe. Estou aqui quieto me arrumando para meu
primeiro dia de aula e a senhora que está criticando tudo, minha roupa, meu perfume. A senhora
deveria estar feliz, mais um filho seu está indo para faculdade.
— Uma faculdade que não te dará futuro — diz por fim e sai do quarto.
Solto um suspiro e me sento na cama, apoiando minha cabeça em minhas mãos. Isso tudo
está me aborrecendo muito, não consigo ser indiferente e está afetando minha saúde. Me sinto
pra baixo o tempo todo. Tem dias que nem disposição para comer eu tenho. Acho que estou
ficando depressivo e isso está me deixando com medo.
Meu irmão passa no meu quarto antes de ir trabalhar e me vê de cabeça baixa sentado na
beirada da cama.
— Bom dia, garotão! Ei, por que está todo murcho? Anime-se, hoje é seu primeiro dia na
faculdade! — pergunta Cássio, visivelmente preocupado comigo.
— Ah, a nossa mãe que já passou aqui para destilar seu veneno. Implicou que estou muito
arrumado e cheiroso.
— Ei, não fala assim, olha pra mim. — Encaro meu irmão. — Eles são assim, já era para
você estar acostumado. Não deixe isso te aborrecer, tem que ir bonito mesmo, cheiroso, vai
conhecer a partir de agora várias gatinhas. Tenho certeza que vai fazer sucesso na faculdade.
Mulheres tem quedas por homens que amam bichos. — Dou um sorriso fraco para o meu irmão.
— Ah, então minha beleza nem conta, né? — Brinco com Cássio, já sentindo meu estresse
passar.
— E eu vou lá elogiar homem, sai fora! — Meu irmão ri e pisca para mim. Eu o abraço e
já me sinto um pouco melhor.
Desço junto com ele e vou tomar o café da manhã. Nosso pai está de serviço hoje, ele é
porteiro em um prédio no centro da cidade. Dona Ester faz costuras em casa para uma igreja aqui
de perto, mas não é um trabalho, ela faz por hobby e só porque é para uma igreja que meu pai
permitiu. Ela é dona de casa, papai nunca a deixou trabalhar fora. Pensamentos das cavernas, eu
acho.
Como em silêncio, enquanto mamãe conversa com Cássio sobre seu casamento. Ela está
toda orgulhosa, adora a Érica e já até fala em netos, dizendo que a menina tem logo que ter
filhos. Reviro meus olhos para isso, coitado do meu irmão e da minha cunhada, nem se casaram
e já tem cobranças, mas se ela não cobrasse algo, não seria minha mãe.
Ouço a buzina de Pedro e me levanto despedindo-me de todos. Pego a mochila no sofá e
vou encontrar meu amigo que me dará carona para a faculdade. Pedro mora a três ruas daqui de
casa e Caio, nosso amigo em comum, é vizinho dele, então já vem junto.
Entro no carro me sentindo livre e feliz pela primeira vez no dia, é assim que me sinto na
companhia de meus amigos. É o momento em que posso sorrir, cantar, falar besteiras e ser eu
mesmo, sem cobranças.
— E aí, irmãozinho? — Pedro bate em minha mão.
— E aí? Agora tudo ótimo! — respondo sorridente. — Bom dia, Caio. Que cara de sono é
essa? — Cumprimento meu amigo que está jogado no banco de trás quase dormindo.
— Porra, fala não, parceiro, estou com muito sono. Dormi tarde ontem, aí hoje me ferrei.
— Explica Caio enquanto boceja.
Vamos rumo a faculdade zoando Caio e seu sono e Pedro comentando que já soube que vai
rolar uma festa em breve comemorando a início do ano para os calouros. Claro que terá os
veteranos também e ele diz que será muito boa. Tudo bem que se falou em festa, Pedro já acha
tudo bom, nunca vi gostar tanto de uma farra, mas meu amigo é assim, farrista e alegre, para ele
não tem tempo ruim.
Gostei do Pedro logo de cara assim que nos conhecemos. Ele é como eu gostaria de ser,
desinibido, não possui vergonha nenhuma, já eu, sou muito tímido. Caio se parece mais comigo,
somos mais centrados, mas claro que gostamos de farrear também, pena que não posso fazer isso
sempre que me dê vontade.
Assim que chegamos na faculdade, passamos no mural em frente a secretaria para ver
nossas salas e nos dirigimos para o segundo andar. Pedro está na mesma sala que eu. Caio, como
é psicologia, vai para o terceiro andar e deixamos combinado de nos vermos no intervalo. O local
está lotado de gente, de inúmeras caras novas e gosto do ambiente.
Este primeiro dia de aula está sendo basicamente conhecer nossos professores e alguns já
adiantando como serão as aulas, foram poucos que deram algo de fato.
No intervalo, estou sentado com Pedro, rindo de suas besteiras, quando passa um grupo de
garotas e descaradamente elas dão em cima de mim e do meu amigo. Fico bem sem graça e
Pedro sorri todo cheio de si.
— Caramba, viu? Já estamos fazendo sucesso logo no primeiro dia — diz Pedro se
sentindo.
— Ah, para! Elas só olharam pra nós, somos rostos novos por aqui. A maioria prefere os
veteranos — digo despistando.
— Agora você vai desencalhar, irmãozinho. Quero ver você pegando uma gata! — Pedro
fala e ainda balança as sobrancelhas.
Fico totalmente sem graça e até me sentindo um pouco culpado por não falar para os meus
amigos o que gosto de verdade. Dentro de mim existe medo, medo da rejeição, eles são meus
únicos amigos e perdê-los acabaria de vez comigo.
Caio finalmente chega e se junta a nós já com seu lanche. Pedro começa a contar sobre as
garotas e me surpreendo ao ver Caio ficar sério e responder de modo ríspido a Pedro.
— Mal começou as aulas e você já pensando em garotas, Pedro? Aí depois fica
infernizando o Bruno, pedindo matéria, dizendo que não entendeu tal coisa, sempre foi assim no
colégio.
— Pô, qual é, Caio? As meninas eram super gatas, não sei qual o seu problema. Você
sempre fica implicando comigo e se comento de garotas, que saco!! — Pedro fica puto e sai da
mesa dizendo que vai buscar mais refrigerante.
Observo Pedro se afastar e Caio soltar um suspiro. Fico sem saber o que pensar sobre o que
acabou de acontecer aqui. Observo Caio mais um tempo até que tomo coragem e pergunto.
— Ei, o que foi? Você está chateado hoje? Nunca te vi assim, nem falando com Pedro
dessa maneira. Vocês se dão super bem.
— Me irrita o Pedro só ficar falando de garotas todo tempo. Vamos numa festa e lá está ele
só correndo atrás de meninas e fica me empurrando também. Não sossega enquanto eu também
não pego alguém. Porra, às vezes só quero curtir a festa e tal, aí se não saio com ninguém, ele
fica puto porque fico sozinho, afinal ele simplesmente esquece que existo. E pior, fica me zoando
que estou parecendo uma bichinha, pois não pego mulher nenhuma.
Observo Caio falar e fico com pena dele, mas sinto dentro de mim que existe algo a mais
nessa revolta toda. Não é de hoje que observo que ele anda diferente, muito pensativo, menos
falante, principalmente quando Pedro começa a falar de festas e suas garotas. Quando a atenção
do Pedro está total nele, o vejo relaxar, sorrir e ser ele mesmo. Fico com isso na cabeça e o
observo comer distraído o seu lanche. Tenho certeza de que Caio está escondendo algo. Pedro
retorna e se senta calado.
Passo a observar os dois, Pedro é lindo, loiro de olhos azuis, tem um corpo bacana, nem
muito magro e nem forte, parece o meu. Sou sorriso é contagiante, está sempre arrumado e
cheiroso, não importa o momento do dia. Caio já é negro, tem um corpo normal, e é estiloso.
Acho seu sorriso lindo demais, ele é gentil e carinhoso. Está sempre pronto a nos dar conselhos e
ouvir. Já pensei várias vezes em me abrir com ele, sei lá, sinto dentro de mim que ele não me
rejeitaria.
— Desculpe pela forma que falei — diz Pedro, voltando sua atenção para Caio.
— Tudo bem, eu que não devia ter me metido na sua vida — Caio fala, encerrando o
assunto.
Nosso restante de intervalo passou em silêncio, cada um no seu mundinho. Quando deu o
horário, subimos juntos, mas logo Caio seguiu para seu andar.
Antes de entrarmos na sala, observei que Pedro ficou olhando Caio ir em direção as
escadas e com um suspiro entrou na sala. Bom, definitivamente algo estava acontecendo e eu
teria que descobrir.
As duas primeiras semanas de aulas passaram de forma tranquila, as matérias já haviam
iniciado com força total. Na minha casa, tudo seguia igual. Meus amigos já tinham superado o
estresse do primeiro dia de aula e tudo estava na mais perfeita paz. Fizemos outras amizades em
nossa sala, o que era bem legal. Mesmo tímido, eu gostava de conhecer gente nova.
Tinha uns carinhas maneiros e algumas meninas também. Uma estava visivelmente
encantada por Pedro, seu nome era Letícia. Meus professores eram bacanas e eu estava pelo
menos feliz com minha faculdade, o tempo que eu passava aqui era perfeito, conversava, me
distraía e vivia, para ser mais exato.
Hoje estava um dia chuvoso, então além de minha habitual calça jeans, coloquei um blusão
por cima da minha camisa que já era de manga. Não estava frio extremo, o tempo estava bem
fresco principalmente para quem estudava pela manhã e ficava em salas com ar-condicionado.
Eu estava distraído sentado em minha cadeira esperando dar o horário do intervalo, quando
meu celular apitou e vi que era uma mensagem de Caio.
Caio: "Não vou descer para o intervalo, estou ajudando um parceiro que
entrou hoje transferido e precisa pegar o que perdeu, nos vemos na saída"
Franzi as sobrancelhas. Caio não tinha comentado de nenhum amigo novo.
"Tudo bem, irmão. Você já o conhecia de alguém lugar?"
Caio: "Não, não, ele entrou hoje aqui vindo transferido de outra instituição,
mas é um cara maneiro, sentou perto de mim e como vi que ele estava meio
perdido, estou dando uma força pra ele. Está num período mais a frente que eu,
mas estava com matérias pendentes e está tentando se organizar agora."
"Ok então, nos vemos na saída, mas você vai ficar sem comer?"
Caio: "Eu me viro, se preocupa não."
Caio era um cara muito bacana, estava quase convencido a me abrir com ele, precisava
muito conversar com alguém e meu amigo me parecia ser a pessoa certa. Pedro também era meu
irmão de coração, mas era Caio que me passava a paz que precisava para falar.
Quando descemos para o intervalo, Letícia estava pendurada em Pedro e não parava de
falar. Quando já estávamos comendo, Pedro estranhou a ausência de Caio e perguntou por ele.
— Cadê o Caio? Por que ele não desceu?
— Ele ficou ajudando um cara novo que entrou na sala dele, estava perdido nas matérias,
disse que não desceria hoje.
— A cara dele fazer isso — diz Pedro, com um semblante orgulhoso do amigo.
— Quem é Caio? Aquele escurinho que anda com vocês? — Letícia tinha uma voz
insuportavelmente melosa e não gostei da forma que se referiu a Caio.
— Sim, Letícia, nosso amigo, nosso irmão e ele se chama Caio. Da próxima, se dirija a ele
pelo seu nome — Pedro respondeu com certa irritação na voz.
— Vou comprar algo pra ele e levar lá na sala — digo, já pegando minha carteira e
levantando.
— Nossa, você é muito cuidadoso com seus amigos — diz Letícia, perdendo mais uma vez
a chance de ficar calada.
— Sou mesmo, esses dois são como irmãos pra mim.
Pedro me olha e dá um sorriso de lado. Minha resposta deixou Letícia sem graça. Saio de
perto deles e compro um sanduíche e um refrigerante para Caio, indo para o terceiro andar.
Não sei sinceramente como Pedro pode dar trela para essas garotas mimadas e fúteis, tem
até algumas bem legais na nossa sala, mas ele foi dar corda justo para a mais chata e metida de
todas. Balanço minha cabeça em negação diante do meu pensamento.
Quando chego ao terceiro andar, busco pelo número da sala de Caio. Ao encontrar sua
porta, abro e entro, vendo ele sentado no fundo da sala com o rapaz novo que está de costas para
mim. Percebo que Caio dita algo para ele. Estão tão entretidos no que estão fazendo que nem
notam eu me aproximando.
Observo o tal rapaz de costas, ele veste uma blusa branca de mangas compridas e calça
jeans. Seus cabelos de um tom claro, estão bagunçados e ele usa uma pulseira na mão direita. De
onde paro, sinto seu perfume, muito gostoso por sinal.
Estou tão entretido o admirando que não vejo que Caio nota minha presença até que ele me
chama.
— Oi, Bruno! Está perdido por aqui?
Olho para Caio um pouco sem graça por ter sido pego no flagra, e o rapaz escolhe esse
momento para levantar a cabeça e olhar para trás. É quando ele me vê. Jesus Cristo, ficar sobre
minhas pernas nessa hora se tornou um pouco difícil.
Lembro-me imediatamente do primeiro menino que me interessei e em como fiquei
mexido naquele dia. Hoje, a sensação é quase a mesma, digo quase, pois, além do coração ter
vindo na boca, minhas pernas acharam de não me obedecer. O encaro por alguns segundos antes
de desviar de seu olhar completamente sem graça. Queria um buraco para me enterrar agora,
juro.
Sempre li situações parecidas assim nos livros de romance que leio, e em algumas até achei
exagero e sempre me perguntei se um dia sentiria isso quando visse alguém que me chamasse
atenção, algo no nível do que estou sentindo hoje. Claro, que já me senti atraído por outros
garotos, mas sempre tive que disfarçar tanto, que mal dava tempo de analisar minhas reações.
Já imaginei, inclusive, tantas vezes sozinho em meu quarto, o dia em que eu ia olhar para
alguém e sentiria meu mundo balançar. É exatamente isso que estou sentindo neste momento, um
misto de nervosismo, vergonha e incríveis palpitações.
— Ah, oi... Caio, eu fiquei com pena de você não descer e trouxe algo para você comer.
— Poxa, meu irmãozinho, nem sei como agradecer, valeu mesmo. Ah! Esse aqui é o
Matheus, o rapaz que comentei com você. Matheus, esse é o Bruno, meu parceiro, meu irmão de
coração.
Matheus ainda não tinha tirado os olhos de mim e sinto meu rosto corar. O encaro de volta
até que ele se levanta e fico surpreso por sua altura. Eu me considerava alto, mas ele é no mínimo
uns quinze centímetros mais alto que eu. Ele me estende a mão.
— Prazer, Bruno. Acabei roubando seu amigo hoje, mas ele está me dando uma força
enorme. Estava precisando e nem sabia por onde começar. Esse lance de vir de outra faculdade e
ainda ter a preocupação de botar em ordem matérias que deixei para trás, é foda, mas preciso me
organizar.
— Por que se enrolou tanto? — Me vi perguntando e isso nem era da minha conta.
— Não abriu turmas de determinadas matérias na época e eu segui para não ficar atrasado
com a faculdade, só que agora estou botando a casa em ordem. — Matheus sorri de lado.
A voz dele me arrepia até a nuca, tento disfarçar como posso.
— Seja bem-vindo, então. Quanto a roubar meu amigo, sem problemas, conheço o Caio,
ele está sempre ajudando as pessoas. Só quis me certificar dele não ficar com fome.
Digo tudo sorrindo e Matheus sorri de volta, tornando a se sentar em seu lugar. Caio, que
já tinha pegado o lanche das minhas mãos, estava devorando tudo.
— Acerto contigo depois, mano.
— Relaxa — repondo, me sentando em uma cadeira vaga e observo Matheus escrever. Sua
letra é bonita e resolvo fazer uma pergunta.
— E você, não vai comer nada? — Ele me olha com um sorriso de lado.
— Eu tomei um café da manhã reforçado, estou sem fome.
Caio que me observa, sorri quando volto minha atenção para ele. Fico tímido e resolvo
voltar para o meu intervalo.
— Bom, vou voltar, o Pedro deve estar reclamando que sumi.
— Vai lá, Bruno. Obrigado pelo lanche, e diz para o chato que nos vemos na saída. — Dou
um sorriso para o meu amigo.
Caio gosta muito do Pedro, por isso implica tanto com ele.
— Quem é Pedro? — Matheus tem um semblante curioso.
— Nosso outro amigo, somos um trio inseparável — Resumo para ele.
— Você pode andar com a gente, Matheus. Ainda não conhece ninguém. — Caio soa
simpático.
— Obrigado, Caio. Amanhã então vamos juntos para o intervalo. — Matheus responde e
me olha ao mesmo tempo. Resolvo me despedir e saio logo dali.
Ando os corredores me sentindo aéreo, e com o sorriso do Matheus na minha cabeça.
Porra, além de gato, ainda é cheiroso pra cacete. Minha mão que ele apertou está com seu
perfume. Sorrio com meus pensamentos e volto para o refeitório perdido em meus devaneios.
O que eu ainda não sabia era que esse homem seria o motivo de tantos sorrisos meus e de
muitas lágrimas também.
CAPÍTULO 2
Meu eu

Bruno

Estou em meu quarto após jantar, é sempre um martírio esta hora, porque meu pai usa esse
momento para me passar sermões desnecessários e mamãe fica apoiando. Como Cássio está na
casa de Érica, fiquei à mercê desses dois e quase não consegui comer.
Fico tentando entender a implicância deles comigo e não acho uma resposta. Sempre fui
um filho tranquilo, caseiro e os trato com respeito. Quando falo algo a mais é simplesmente para
lutar pelo que quero, eles não podem dominar minha vida desta forma. Tenho dezoito anos e
mesmo que ainda viva sob o mesmo teto que eles, tenho minhas vontades como qualquer rapaz
da minha idade e mereço respeito também.
Mas aqui, agora, dentro do meu quarto, trancado para evitar as invasões de privacidade da
minha mãe, estou relaxado e visto apenas uma boxer branca e meus cabelos estão revoltados no
topo da minha cabeça. Estou lendo um livro de romance perfeito, desses que nos faz voar com a
imaginação. As vezes até me irrito com eles, que criam uma expectativa que não condiz com
minha realidade e estou cansado de sonhar com situações que nunca irei viver.
Não vou viver para sempre aqui com meus pais, mas mesmo tendo meu canto, não sou
desinibido como esses protagonistas, não sou capaz de chegar em alguém que eu esteja a fim.
Nunca fiz isso, não sei nem por onde começar. Bufo estressado comigo mesmo, mas o que posso
fazer?
Fui criado de uma forma controladora e meu irmão também é certinho, só conquistou a
Érica e vejo que minha cunhada também é como ele no jeito de ser. Nunca sequer falei para
ninguém que gosto de meninos, estou perdido, sem ninguém para me ajudar. Preciso de
conselhos, de uma direção. Para que ao menos saiba chegar em alguém que eu esteja a fim.
Resolvo continuar a ler meu livro, estou chegando na parte hot, e essas me desestabilizam.
Não aguento mais me dar prazer sozinho, queria ter alguém, que me fizesse gemer como vejo
nos vídeos, que me dominassem na cama como vi uma vez num pornô que assisti. Foi neste dia
que descobri sozinho o que é ser passivo e ativo, nem fazia ideia do que era isso, mas depois de
assistir todo vídeo, no final pesquisei e achei a descrição, os atores mencionaram isso.
Descobri ali que tinha preferência em ser passivo. Queria alguém para me fazer seu, que
me amasse e cuidasse, tanto na cama como fora dela, mas isso parecia bem distante.
Meu celular faz barulho e vejo que é no grupo que tenho da faculdade, com pessoas da
minha sala e da sala de Caio. Observo as mensagens e vejo que um número foi adicionado.
Quando olho na foto, vejo que se trata de Matheus e meu coração dá um pulo nessa hora.
Sorrio lembrando de hoje mais cedo quando o conheci, todo lindo e cheiroso. Os poucos
sorrisos que deu, fez minha respiração falhar. Quando ele ficou em pé na minha frente, e percebi
todo seu tamanho, me senti dominado por ele. Logo vejo que está digitando e prendo a
respiração não sei por que, mas fico observando.
“Oi, pessoal! Obrigado por add.”
Caio: “Seja bem-vindo, Matheus.”
Pedro: “Prazer, parceiro. Amanhã a gente se conhece pessoalmente.”
Flavinha: “Que isso, hein? Que beleza toda é essa!”
Oferecida!
Obrigado, linda. Kkk
Matheus responde cheio de sorrisos pelo que pude perceber pelos seus “kkk” e resolvo
salvar o número dele. Estava ali disponível pra todo mundo mesmo.
Matheus: “Cadê o Bruno? Ele não fala aqui não? Está online pelo que posso
ver.”
Deixei o aparelho de lado cheio de vergonha, mesmo que ninguém estivesse me vendo,
mas logo um barulho de mensagem chamou minha atenção, era Caio.
Caio: “Oi, irmãozinho. Você está por ai?”
“Estou. Tudo bem?”
Caio: “Sim, você viu? Eu add o Matheus lá no grupo, ele é muito gente boa.”
“Eu vi sim.”
Caio: “Ele falou contigo, por que não respondeu?”
“Ah, sei lá, mal o conheço.”
Caio: “Ah, Bruno, para de bobeira, hoje você o conheceu e ele foi bem
simpático. O Pedro que nunca o viu, já falou com ele.”
“Você sabe como sou, Caio.”
Caio: “Eu sei muito bem, mas está na hora de mudar, meu amigo. Você está
deixando seus pais te dominarem. Você é uma das melhores pessoas que
conheço, não fique se retraindo, fará o que eles querem.”
“Eu sei...”
Caio: “E além do mais... queria falar algo que observei hoje.”
“O que você observou?”
Perguntei sentindo meu coração quase parar.
Caio: “A forma como você olhou para o Matheus.”
Dali não respondi mais o Caio. Levantei transtornado da cama e andei de um lado para o
outro no quarto sem saber o que pensar ou como agir. Meu telefone começou a tocar e era Caio
me ligando. Chamou cinco vezes, mas não atendi nenhuma delas, até que ele desistiu.
Entrei em pânico. Caio percebeu que eu estava babando no Matheus, puta que pariu! Tudo
que eu não queria aconteceu, e se ele não quiser mais ser meu amigo? E se ele falar para o
Pedro e nenhum dos dois olharem para minha cara amanhã?
Deitei na cama e chorei muito. Sempre procurei ser discreto, nunca deixei nada para
ninguém captar, aí vem esse Matheus e me faz dar esse mole. Vou perder meus únicos amigos e
vou ficar mais sozinho do que já sou...
Chorei a noite inteira com medo do que viria pela frente. Foi bem difícil pegar no sono.
CAPÍTULO 3
Coração na mão

Bruno

Nem sequer escuto meus pais falarem durante o café da manhã. Meu irmão já percebeu que
não estou bem, pois seu olhar para mim é profundo e questionador, mas ele me respeita e sempre
espera que eu fale o que está me perturbando.
Quando a buzina do Pedro anuncia sua chegada, meu peito aperta e meus olhos
involuntariamente ficam úmidos. Disfarço como posso. Peço licença e vou para sala pegar minha
mochila , mas acabo levando um susto quando sinto uma mão segurando meu braço, é Cássio.
— O que aconteceu com você, Bruno? Estou observando você desde que se levantou e está
visível que você não está bem.
— Eu só estou chateado, Cássio. Coisa minha, não fica preocupado, tá bom? Deixa eu ir,
senão me atraso para a faculdade. Depois a gente conversa.
Meu irmão me abraça e tudo que sinto vontade é de não sair dos braços dele, me sinto
protegido do mundo aqui no seu abraço, quentinho e acolhedor.
— Qualquer coisa me liga, vou deixar o celular ligado mesmo estando no trabalho.
— Está bem.
Saio de casa e observo meus amigos no carro. Pedro está ao volante e Caio do seu lado,
que ao me ver, sai do carro e vem em minha direção. Prendo minha respiração e fico estático.
— Oi, meu irmão. Por que não me atendeu ontem? Te liguei tanto, Bruno. Me senti
culpado depois do que falei.
Eu olhava para Caio cheio de medo e ao mesmo tempo processando que ele ainda estava
me chamando de “irmão”. Fui tirado do meu estado de paralisia quando ele me abraçou, e sendo
mais baixo que eu, foi engraçado, pois sua cabeça encostou no meu peito e ele suspirou.
— Precisamos conversar depois, ok? Só quero que você saiba que eu amo muito você, meu
amigo.
Abracei Caio e a vontade de chorar veio forte, mas eu não podia fazer isso ali, não na
frente do Pedro, que já nos olhava com uma expressão de que não estava entendendo nada.
— Me desculpe por não te atender, mas eu precisava ficar quieto no meu canto.
— Tudo bem, eu entendo. Vamos, senão a gente se atrasa. — Caio me soltou e foi ao meu
lado para o carro.
— Ei, aconteceu algo que eu não estou sabendo? — Pedro estava todo perdido, coitado.
Tive vontade de rir dele pela sua expressão, do tipo, vocês estão me deixando de fora?,
mas apenas disse que não era nada demais, que havia sido aborrecimentos com meus pais. Como
Pedro sabia da minha relação com eles, eu esperava que isso colasse.
Entrei no carro, mas desta vez fui atrás e Caio ao lado de Pedro. Pelo retrovisor do lado do
carona, Caio me olhou e piscou para mim. Sorri meio sem jeito, ainda estava com medo, mas a
recepção dele me surpreendeu e de certa forma me acalmou um pouco.
O caminho para a faculdade foi tranquilo, mas toda tranquilidade se esvaiu no momento
em que pus meus pés para fora do carro e dei de cara com Matheus vindo em nossa direção.
Eu já não sabia como me portar ou simplesmente como falar e isso me deixou com raiva.
Será que Caio continuaria me reparando perto desse carinha?
— Bom dia, pessoal! — ele disse todo animado.
— E aí, cara, tudo beleza? — cumprimentou Caio, batendo na mão dele. — Pedro, este é o
Matheus. — Caio os apresentou.
— Fala, parceiro, ouvi falar de você. Seja bem-vindo — disse Pedro, também apertando
sua mão.
Matheus virou sua atenção pra mim e tudo que eu quis neste momento foi sumir. Eu ficava
sem jeito com a forma que ele olhava, e ainda tinha que disfarçar perante meus amigos, iria
enlouquecer a qualquer momento, com certeza.
— Bom dia, Bruno — Matheus disse encarando meus olhos e estendendo a mão pra mim.
Olhei pra ele e apertei sua mão de forma contida.
— Bom dia — disse por fim. Acho que meu cumprimento soou meio antipático, mas
estava difícil disfarçar tanta coisa.
Podia sentir o olhar de Caio em mim e isso me incomodava, passei anos escondendo isso e
agora estava me sentindo exposto, mesmo que apenas uma pessoa desconfiasse.
Soltei rapidamente da mão do Matheus e comecei a entrar na faculdade. Os três vieram
atrás de mim e dei graças a Deus quando escutei que eles começaram um papo aleatório.
As primeiras aulas foram tranquilas, todos estavam concentrados e o silêncio reinava na
sala. O único barulho era feito dentro de mim, eu estava o caos em pessoa. Pensava na conversa
que eu teria com Caio e no que eu falaria, como me explicaria, ao mesmo tempo que Matheus
insistia em invadir meus pensamentos.
Essa parte eu lutei contra, não queria pensar nele, não queria sequer achar ele bonito ou
atraente, não queria, mesmo que eu desejasse um amor e ser feliz. A forma como ele estava
entrando na minha vida, eu não estava gostando, ele não sabia, mas já estava bagunçando tudo,
me fazendo ficar exposto perante meus amigos e eu mal o tinha conhecido. Caramba!
Eu preferia o silêncio, me acostumei com ele, qualquer coisa que fugisse disso me
apavorava. Sei que era errado, mas me acostumei a sentir tudo sozinho, a me sentir atraído
sozinho, a admirar sozinho, era meu escudo. Tinha medo por causa dos meus pais, deles
descobrirem. Medo de perder meus amigos, medo de não ser amado como sempre sonhei. Era
muito medo para uma pessoa só.
Então me recusei totalmente a pensar em Matheus, não daria a ele essa importância. O
sinal tocou e chegou a hora do intervalo, Pedro estava distraído com a chata da Letícia, mas
quando me levantei, ele me chamou.
— Bruno, quero falar com você.
Porra, estou ferrado mesmo, foi o que pensei.
— O que é? — perguntei, já saindo da sala com ele ao meu lado.
— Só queria te dizer, meu amigo, que se você precisar conversar sobre qualquer coisa que
estiver te aborrecendo, você pode falar comigo, tá? Você sabe disso, não é?
Olhei para o Pedro e ele, que sempre estava rindo e brincando, estava sério como poucas
vezes eu vi. Ele disse essas poucas palavras com tanto carinho, que tive vontade de apertar meu
amigo ali mesmo no corredor, mas claro, me contive, seria estranho.
— Obrigado, eu sei que posso contar com você. Algumas coisas estão me afligindo, mas
quando eu estiver preparado, eu falo com você. Por enquanto são coisas minhas mesmo, preciso
resolver sozinho.
— Sozinho é a única coisa que você não está, você tem a mim, ao Caio e o seu irmão. A
gente te ama muito.
— Também amo vocês — disse, enquanto olhava naqueles olhos lindos que ele tinha.
Pedro era um cara nota dez.
Me lembro de que quando o conheci, fiquei impactado com a beleza dele, mas desde o
início eu nutri por ele o sentimento da amizade. Ele me conquistou com seu jeito alegre, risonho
e alto astral. Em pouco tempo ficamos inseparáveis.
Ele era a parte agitada e eu a parte calma. Quando Caio, alguns meses depois, passou a
andar com a gente, estava tudo completo. Caio era calmo como eu, mas tinha seus momentos
agitados também. Nós três formávamos um trio perfeito.
Nos entendíamos muito bem e o amor entre nós era gigante. Não sabia ficar sem eles, acho
que por isso esse pavor de ser rejeitado era tão grande, nem todos aceitavam um amigo gay. Eles
sempre estiveram presentes quando mais precisei, quando mais a rejeição dos meus pais me
feriu. Quando eu simplesmente precisei chorar. Nunca fui julgado por isso.
É engraçado que Pedro fica sem saber o que fazer quando estou assim, desolado, ele fica
transtornado, quer bater em todo mundo que me magoou. Caio me dá seu colo e me acalenta sem
eu precisar dizer nada. Ele tem sempre as palavras certas nos momentos certos. Cada um tem seu
jeito de cuidar de mim e amo muito todos eles.
Chego ao refeitório perdido nesses pensamentos. Pedro está ao meu lado rindo com outro
carinha de nossa sala e logo vejo Caio numa mesa e ele está com o... Matheus. Reviro meus
olhos. Vai ser difícil escapar disso.
Nos aproximamos e Matheus logo me olha e sorri. Como odeio achar esse sorriso lindo.
merda!
Sento ao lado de Caio e meu amigo aperta meu ombro. Pedro chega com seu barulho
habitual e logo envolve Matheus na conversa. Até a chata da Letícia se aproxima. Ainda não sei
que tipo de relacionamento o Pedro está tendo com ela. Caio me dá um toque e me chama para
irmos comprar algo na cantina, então me levanto e vou com ele.
Quando estamos saindo da mesa, Letícia olha para Caio com cara de desdém e perde
novamente a grande chance de ficar de boca fechada.
— Oi, Caio. Hoje desceu para comer? Não precisou de babá?
Caio olha pra ela de cima a baixo e nem sequer se dá ao trabalho de responder. Acho
engraçada a cara que ele faz, enquanto eu, por outro lado, quando passo por ela, cutuco a onça.
— E você sempre perdendo a chance de ficar calada, não é, querida?
Letícia me olha com nojo e sai com suas amigas. Alcanço Caio e ele ri do meu comentário.
— Ela me detesta, é preconceituosa. Sou negro e ela não suporta.
Fico passado com o que Caio fala e na fila o encaro antes de responder.
— Que ridículo! Eu não achei que era por isso, uma vez que ela também me olha com
nojo. Só achei que era antipática mesmo.
— Ela é racista, notei logo de cara. Já vi também ela humilhando uma garota por ser
lésbica. Me chateia o Pedro dar confiança para uma pessoa assim.
— Ele não é assim, Caio, é o que importa. Eles nem estão namorando, Pedro só está, sei lá,
dando uns pegas, como ele diz.
— Eu sei como Pedro é e me orgulho dele não ser como ela.
Observo Caio falar do Pedro e vejo o mesmo brilho nos olhos que vi outro dia. O carinho
está explícito na forma que ele fala do nosso amigo.
— Acho muito bonito... eu queria dizer fofo ... seu carinho pelo Pedro, aliás, com nós dois.
— Vocês dois são muito importantes pra mim. Cada um de um jeito especial.
Fico pensativo com essa última frase do Caio, mas quando vou questioná-lo, ele começa a
ser atendido, então resolvo deixar para outra hora. Compramos nosso lanche e voltamos para a
mesa. No caminho, Caio comenta da tal festa que Pedro já havia falado.
— Eu não vou nessa festa. Os veteranos sempre dão um jeito de zoar os calouros, tô fora.
— Não poderia ir mesmo, então, nem me animo. E já sabendo que você não vai. E o
Pedro?
— A gente o convence de não ir. — Caio e eu rimos cúmplices.
Durante todo lanche comi quieto, a presença do Matheus me intimidava, ainda mais que o
flagrei várias vezes me olhando. Como sei disso? Meus olhos teimosos insistiram em olhar para
ele também e muitas vezes nossos olhares se cruzaram.
CAPÍTULO 4
Revolta

Bruno

Acordo assustado com meu pai entrando no meu quarto e, sem que eu espere, recebo um
tapa tão forte no meu rosto que caio da cama.
— Pai! Pelo amor de Deus, o que aconteceu? — pergunto assustado, já com as lágrimas
inundando meus olhos e a mão no rosto. Queima pra caralho.
— Sua mãe me falou que aquele seu amigo neguinho ontem estava te abraçando aqui na
porta de casa. Eu fui trabalhar com isso entalado na garganta e vim só te dar um aviso, Bruno.
Você já é a maior decepção como filho, se eu ainda descobrir que você é um viado nojento, eu
acabo com a tua raça — meu pai disse as palavras quase cuspindo na minha cara, com o dedo na
direção do meu rosto.
Depois de dizer tudo que queria, ele saiu do meu quarto e foi para o trabalho. Eu chorei
caído no chão, chorei muito, por todo ódio que estava sentindo. Eu estava dormindo, porra, nem
ele e nem minha mãe tinham um pingo de amor por mim.
Soluço de tanto chorar, pela forma que fui acordado, por meu rosto que queima, por tudo.
Pela vida de merda que levava.
De repente, o ódio foi maior que eu e dei um grito que fez meus pulmões arderem.
Levantei atordoado e comecei a quebrar tudo em meu quarto. Meu irmão chegou assustado na
porta e veio pra cima de mim tentando me segurar.
— Por favor, Bruno, PARA! Meu irmão, por favor, para!!!
Só paro quando ouço seu choro, sua voz embargada me pedindo calma. O abraço e choro
ainda mais. Minha mãe chega desesperada na porta do quarto e fica chocada com o que vê.
— Meu Deus, o que houve? Por que ele está chorando, Cássio?
Escutar a voz dela me embrulha o estômago, é o pior pensamento que um filho pode ter
por uma mãe, mas a falta de amor dela comigo me fez assim.
Olho em seus olhos e vejo o medo e... seria remorso?
— Estou chorando, porque você foi fazer inferno com meu pai, insinuando não sei o que
para ele, pelo simples fato do Caio ter me abraçado ontem aqui na porta de casa. Foi ridícula a
sua atitude, mãe!
— Calma, Bruno! Explica isso direito. — Interfere meu irmão.
— Eu fui acordado com um tapa na cara, porque meu pai foi envenenado por ela. —
Aponto para aquela que se diz minha mãe. Cuspo as palavras e ela tem noção do ódio que estou
sentindo.
— Eu falei mesmo, não criei filho viado. Seu pai tinha que saber para te consertar logo,
antes que seja tarde. Nunca gostei mesmo daquele neguinho.
— Mãe, que coisa mais ridícula você está falando. Está prestando atenção nas barbaridades
que está dizendo? Você está sendo preconceituosa com o Caio que já conhecemos há tanto
tempo, ele ser negro não muda nada, mãe. Ele não é gay e meu irmão não é isso também.
Olhei para Cássio enquanto ele falava, sua última frase acabou comigo. Ali pude perceber
que nunca teria o apoio do meu irmão, ele falou de uma forma... sem perceber, preconceituosa.
Minha mãe pouco se importou, virou as costas para sair do quarto, mas antes ainda se virou
para terminar de me ferir de vez.
— Por isso que nunca quis ser mãe de novo — ela fala e me deixa chocado. Olho para o
meu irmão e o vejo sério. Mas quando ele foge dos meus olhos, sinto que me esconde algo.
— O que ela disse? Você ouviu isso?
— Esquece isso, Bruno.
— O que vocês estão me escondendo?
— Nada.
— Fala, porra!
— Olha como você está falando comigo. Sou seu irmão.
— Então seja mesmo e me conte o porquê da minha própria mãe dizer aquilo.
Cássio passou as mãos pelo rosto e sentou na cama. Estava visivelmente tenso.
— Só quero que você saiba que nada do que eu disser, vai mudar a nossa relação.
— Sou adotado?
— O quê? Não! Você é meu irmão, sim e filho dos nossos pais. Filho biológico.
— Então não estou entendendo nada. A única coisa que sei é que sou maltratado desde
sempre. Foram poucos os momentos de carinho, ainda mais que ao crescer, eu aprendi a abrir a
boca.
— Depois da minha gestação, nossa mãe não queria engravidar de novo, a médica tinha
dito a ela que se ficasse grávida novamente, seria de risco. Mas como você conhece nosso pai,
ele queria outro filho, sempre quis dois, e para agradar ao marido, ela deixou vir. Dona Ester
ficou de cama quase a gravidez toda, passou muito mal, quase morreu. Uma vez vi nosso pai
dizer perto dela que estava arrependido de ter pedido outro filho. — Cássio me olha nessa hora e
tem um olhar de pesar. Engulo em seco. — Nossa mãe quase se foi no parto, mas graças a Deus
isso não aconteceu. Você e ela sobreviveram, você nasceu um bebê lindo e gordinho. Vi os olhos
do meu pai brilharem ao te ver, mas quando ele olhava pra nossa mãe, meio que se sentia
culpado. Enfim, tudo depois se acalmou, você foi amado e bem tratado, mas confesso que
sempre senti um tratamento diferente entre nós dois, me desculpa.
— Não é você que tem que me pedir desculpas. Nem eu e nem você temos culpa de nada,
não pedi para nascer. Como sempre, ela abaixando a cabeça pro nosso pai. Nem ouso sonhar o
que aconteceria comigo se eu sobrevivesse e ela não.
— Não pense nisso. Agora você sabe a história e... não leve isso pra sua vida. Eu te amo
muito, meu irmão.
Cássio ficou me observando e depois de uma eternidade resolveu falar de novo.
— Por que o Caio te abraçou?
Saí de perto dele neste momento e comecei a catar minhas coisas. Nem sentia mais vontade
de falar com meu irmão, por isso respondi entre os dentes. Tudo que ele tinha acabado de me
contar estava doendo muito.
— Ele estava me pedindo desculpas, tinha falado algo que não gostei.
— Hum.
— Por quê? Está pensando que sou gay também? — perguntei encarando seus olhos.
— Eu não estou pensando nada, Bruno — disse Cássio, visivelmente tentando fugir do
assunto.
— Se eu fosse, você iria me virar as costas também? — Nem pensei muito, a pergunta
apenas saiu.
Coloquei o amor de meu irmão a prova naquele momento, ele me olhou durante
intermináveis segundos, até que se aproximou de mim, colocando a mão em meu rosto e depois
de um suspiro me respondeu.
— Eu amo você demais, jamais iria virar as costas para você por nenhum motivo, mas não
quero essa vida pra você, meu irmão. Vejo em jornais ou na TV o preconceito que essas pessoas
enfrentam, muitas morrem e te perder seria minha morte também. Você é tudo pra mim, Bruno,
mas quero que você saiba de uma coisa... eu amo você exatamente como você é. Quero que veja
em mim não só um irmão e sim, seu melhor amigo também. Que se sinta seguro para se abrir
comigo seja qual assunto for, pois estou sempre aqui por você. Como disse, esquece essa história
dos nossos pais, que eles carreguem o que for na consciência. Você não merece carregar nada.
Eu chorava ouvindo meu irmão falar. Sua mão estava em meu rosto, fazendo carinho onde
meu pai bateu. Não o abracei, apenas o olhei e concordei com a cabeça. Acho que foi a primeira
vez que fiz isso, não o abracei depois de um carinho.
— Quanto ao nosso pai, hoje à noite ele vai me ouvir. — Cássio saiu triste do meu quarto,
me deixando ali completamente sozinho.
Sozinho... essa era a palavra que me definia a partir de agora, era assim que me sentia. Só
tinha mais uma coisa a fazer para dar o veredicto final, conversar com o Caio.

✽ ✽ ✽

No momento em que Pedro bateu os olhos em mim, ele sabia que eu não estava bem. Nem
sequer tomei café da manhã, desci do meu quarto e nem olhei nos olhos de ninguém e isso
incluiu o Cássio.
Pedro saiu do carro e veio em minha direção. Assim que chegou perto de mim, me abraçou
tão apertado que me surpreendeu, mas o abracei de volta.
— Não precisa falar nada se não quiser, mas estou aqui, não esquece — meu amigo falou
no meu ouvido e meus olhos arderam.
— Obrigado.
Fomos para o carro e estranhei Caio não estar ali.
— Onde está o Caio?
— Ele se atrasou, sua mãe não se sentiu bem, aí ele falou para irmos na frente, só que vou
te deixar lá e volto para pegá-lo. Ele insistiu que não, mas não vou deixá-lo ir de ônibus. — Sorri
com o cuidado de Pedro
— Podia ter ficado esperando por ele, eu ia de ônibus, era só me avisar.
— Ah! Outro chato, para! Eu levo todo mundo e pronto.
— Tá bom, chofer, então vamos.
Pedro me olhou fingindo uma cara braba, que me arrancou um sorriso, mesmo eu não
estando com ânimo para nada. Assim que chegamos na porta da faculdade, desci e ele voltou
para pegar o Caio. Observei o carro do meu amigo virar a esquina e quando me virei para entrar,
vi Matheus de longe sentado num banco de cabeça baixa. Me aproximei dele devagar.
— Bom dia, Matheus. Está tudo bem?
Ele me olhou com aqueles olhos lindos, mas que hoje estavam pouco abertos.
— Bom dia, Bruno. Hoje não está tudo bem, minha crise de enxaqueca atacou assim que
cheguei e estou alucinado de dor.
— Caramba! Já tomou alguma coisa?
— Tomei, mas até o efeito vir, vou sofrer um bocado. Eu queria ir sentar ali perto da
cantina onde é mais coberto, a claridade está me matando, mas nem consegui. Estou tonto e
enjoado.
Fiquei com pena dele e no impulso resolvi ajudá-lo.
— Vem, eu te ajudo. — Fiz com que Matheus me abraçasse pelo ombro e fomos devagar
para perto da cantina. O perfume dele era delicioso, ainda mais assim, de pertinho.
Quando chegamos, o ajudei a se sentar e ele me olhou de forma carinhosa. Isso me fez
derreter um pouco por dentro.
— Obrigado, Bruno. Minhas crises são muito fortes, se tivesse atacado em casa, nem tinha
vindo. Passo o dia deitado no escuro para melhorar, essa tontura que sinto acaba comigo.
— Mesmo medicado, não pode ficar aqui, você não terá o repouso que precisa.
— Mas não posso dirigir assim, terei que ficar por aqui mesmo.
Não conseguia ir para aula e deixá-lo, então me sentei ao seu lado.
— Ei, você irá perder sua aula.
— Não vou deixar você aqui sozinho, quase todo mundo já entrou.
— Eu vou ficar bem. Cadê seus amigos? Meus agora também — ele fala e dá um pequeno
sorriso. Lindo demais por sinal.
— Caio se atrasou e Pedro voltou para pegá-lo. Irão entrar só na próxima, assim como eu.
— Sério, Bruno, vai lá, não quero te atrapalhar. — Matheus segurou em minha mão.
Meu corpo inteiro sentiu esse toque, assim como minha timidez e acabei puxando minha
mão rápido demais. Isso o fez me olhar um pouco receoso. Merda!
— Me desculpe, não quis constranger você. Já percebi que você foge do meu olhar ou se
puxo um papo, você encurta a conversa. De maneira alguma quero ser invasivo com você.
— Eu não fujo de você, não sei de onde tirou isso — digo constrangido e olhando para
qualquer lugar menos para ele.
— Quando um cara é gay, ele sabe quando o outro foge, seja por vergonha ou preconceito.
Olho imediatamente para Matheus e minha cara deve estar engraçada, pois ele ri de mim e
do meu espanto.
— Sim, Bruno. Respondendo a sua pergunta, eu sou gay.
— Mas eu não perguntei na-nada — digo gaguejando e fico puto com isso.
— Mil perguntas passaram por seus olhos, mas sei que essa era a principal. Fique
tranquilo, tá? Não estou te cantando, ou insinuando nada, gostei muito de você e te achei um gato
também, mas no momento não estou à procura de ninguém. Quero curtir minha solidão, gosto de
uma pessoa que já ama outra. Por isso vim pra cá, não dava mais para ficar perto dele. Mas quero
que saiba que gostei de verdade de você, do Pedro e do Caio. Está sendo bom ter a amizade de
vocês.
Fico processando tudo que Matheus acabou de falar, mas na minha cabeça as seguintes
frases martelavam: “no momento não estou à procura de ninguém” e “te achei um gato
também.”
— Repito, não estou fugindo de você, e nem tenho nenhum problema com você ser gay.
Nem tinha percebido isso.
— Que bom, então fico feliz, sei que posso ter sua amizade.
— Sim. — respondo, tentando esconder o desanimo na minha voz depois de ter a certeza
que essa criatura linda nunca iria me enxergar como eu queria.
Porra, que merda estou pensando? Tenho que tirar isso da cabeça , já tenho muitos
problemas.
Caio
— Mãe, tem certeza que está tudo bem mesmo?
— Sim, meu filho, já te falei. Pode ir para sua faculdade. O remédio de pressão já está
fazendo efeito, eu só esqueci de tomar.
— Não faça mais isso, mãe
— Desculpa, meu filho, mamãe chegou tão cansada do trabalho, que só jantei, tomei banho
e apaguei.
— Tá bom, hoje eu te perdoo. — Deixo um beijo na bochecha da minha rainha.
Somos só ela e eu, faço tudo por esta mulher. Quero logo arranjar algo para trabalhar para
ajudar nas despesas e ela ficar mais aliviada.
— Oh! A buzina do seu amor! Vai, meu filho, para não se atrasar ainda mais.
— Mãe, para de falar isso, uma hora você vai falar na frente dele e como eu fico? Pedro
não sabe que sou apaixonado por ele, por favor, só você sabe.
— Tá bom, meu filho. Prometo guardar seu segredo. Você vai conversar com o Bruno
hoje?
— Vou, meu amigo está precisando de mim, ele não tem uma mãe maravilhosa como a
minha que me aceita e me ama. Sei tudo que está se passando na cabeça dele, já há algum tempo,
mas esperei pela atitude dele em falar, só que essa conversa nunca veio e o sinto a ponto de
explodir. Agora vou tomar providências.
— Isso, meu filho, você é meu orgulho. Vai com Deus, mamãe está bem.
Beijo minha mãe, pego minha mochila e saio mandando beijos para ela. Já na porta, me
viro e vejo Pedro encostado no carro de braços cruzados, lindo, com camisa preta e calça jeans
escura. Seus cabelos estão bagunçados como sempre e vou me aproximando dele com a maior
cara de paisagem e ajeitando meus óculos. Por dentro o coração está quase saindo pela boca. É
sempre assim, pequenos ataques cardíacos quando estamos perto um do outro, pena ser só da
minha parte.
— E aí, parceiro, como está nossa mãezona?
— Está melhor, graças a Deus. Tinha esquecido de tomar o remédio da pressão.
— Eita, fica de olho nisso, hein? É perigoso. Agora vamos, a gente entra na segunda aula.
Pedro fala e me abraça pelo ombro. Fico louco com seu perfume, mas já virei profissional
em disfarçar.
Vamos rumo a faculdade conversando amenidades e sem ele perceber, encaro seu rosto
várias vezes, pensando no quanto sou louco por ele e ele nem faz ideia.
CAPÍTULO 5
Abrindo o meu coração

Bruno

Eu já não tinha jeito para ficar perto do Matheus, ele falava uma coisa ou outra, mas
também estava quieto por causa da dor em sua cabeça.
Depois de um tempo, avistei Pedro e Caio entrando e me senti aliviado, Já não sabia o que
falar para a pessoa ao meu lado.
— Ué, não foi para a aula, Bruno? — Pedro perguntou olhando de mim para Matheus e
vice-versa.
— Não, o Matheus não está se sentindo bem, está com enxaqueca e fiz companhia pra ele.
E aí, Caio? Sua mãe está bem?
— Fala, irmão. Minha mãe passou mal da pressão, mas já está boa. Ela tinha se esquecido
de tomar seu remédio. — Caio observa Matheus— Já tomou algo pra dor, parceiro? — meu
amigo pergunta.
— Já sim, esperando fazer efeito.
— Falei que ele tinha que ir embora, mas ele não consegue dirigir assim.
— Eu te levo, cara. Sempre venho de carro. Deixa o seu aqui no estacionamento e vai pra
casa descansar. — Matheus olhou para Pedro.
— Não quero atrapalhar vocês, se você me levar perde aula.
— Pego depois com o Bruno. — Meu amigo me dá um sorriso.
— Isso, eu passo pra ele. Matheus, aceita, você precisa de repouso, não adianta ficar aqui
desse jeito. — Insisti com Matheus.
— Obrigado, Bruno. Valeu mesmo por tudo. Então vamos, Pedro.
Matheus se despediu de Caio com um aperto de mão e um abraço de lado. De mim, com
um aperto de mão e uma piscada que me arrepiou até a alma. Corei.
Fiquei observando ele saindo com o Pedro, aliás, acho que observei por tempo demais,
porque Caio tocou meu braço com um sorrisinho de canto que fiquei sem entender.
— Vamos entrar?
— Vamos.
Mas vi o sorriso de Caio morrer em seu rosto quando ele franziu a testa, segurou meu rosto
e virou de encontro a luz.
— Quem fez isso no seu rosto?
Gelei na hora, fiquei sem graça e abaixei a cabeça. Não achei que daria para perceber, mas
deveria saber que nada passa despercebido aos olhos do Caio.
— Responde, Bruno!
— Meu pai. — A expressão que surgiu no rosto de Caio foi de desgosto, ele estava
perplexo.
— Como assim? Ontem você não tinha isso no rosto. Foi quando, a noite ou hoje cedo?
— Ele me acordou já me batendo, porque minha mãe falou para ele que ontem você me
abraçou na porta de casa. — Expliquei já bem sem graça e desviando o olhar de Caio.
Caio arregalou os olhos e levou as mãos na boca, não acreditando no que estava ouvindo.
— Seus pais me conhecem há anos, como sua mãe pôde insinuar algo assim para o seu
pai?
— Porque tudo que eu faço é errado tanto para ela quanto para o meu pai. Se eu dou um
espirro dentro daquela casa, sou o filho que não presta. Ele foi tão ignorante comigo, o tapa foi
tão forte, que cheguei a cair da cama. Ele disse que se eu fosse um viado nojento, ele acabava
com a minha raça.
Respiro fundo, mas as lágrimas já brotam nos meus olhos e no meu momento desabafo
acabo falando o que não devia.
— Eu não aguento mais viver como vivo, tudo tem que ser escondido, até os livros que
leio. Não posso ser eu mesmo, não posso gostar do que eu gosto.
Levo minhas mãos na cabeça e choro não aguentando mais.
Caio que estava parado deixando eu falar, vem até mim e me abraça. Choro ainda mais em
seus braços, ele faz carinho em minhas costas e me conforta no meu momento de explosão.
— Eu sei de tudo, Bruno — ele diz com a voz embargada.
Me desvencilho dos seus braços e encaro seu rosto. Ele me olha com carinho.
— Do que você sabe? — pergunto sentindo medo.
Caio me pega pela mão e sai me levando para a quadra de esportes da faculdade. O local
fica deserto nessa hora, então sentamos na parte mais alta da arquibancada e ele fica me
observando e esperando que eu me acalme.
— Eu sei que você é gay, Bruno. Eu sempre soube, esperei pacientemente você se abrir
comigo, mas você nunca fez.
Meu corpo inteiro treme, fico sem reação, nenhuma palavra consegue sair da minha boca.
Esse tempo todo e Caio simplesmente sabia? Mas como? Eu sempre disfarcei tão bem. E ele
continuou a ser meu amigo? Durante todo esse tempo?
Tudo isso passa pela minha cabeça, mas por fora estou estático e vendo meu jeito, Caio
continua a falar.
— Não precisa ter medo de falar comigo, esperei tanto tempo por essa nossa conversa, mas
nunca quis ser invasivo com você. Só que eu sinto que agora precisamos mais que tudo dessa
conversa, você não está bem, meu amigo. Não está sabendo lidar com tudo que sente, com tudo
que quer. Seus sentimentos estão uma bagunça, você está se sentindo perdido, ainda mais com os
pais que você tem. Mas você tem a mim também, e eu estou aqui para te ouvir e te aconselhar,
gosto muito de você.
— Como você sabe por tudo que estou passando? Como me sinto? —- pergunto,
finalmente conseguindo falar.
Caio respira fundo e encara meus olhos sem desviar.
— Porque também sou gay.
Me levanto tão rápido que me sinto tonto, Caio tem que me segurar e me ajudar a sentar
novamente. Olho para ele de boca aberta. Meu amigo apenas sorri pra mim.
— Sim, meu amigo, eu também já tive minhas dúvidas, meus medos e até hoje tenho medo
para falar a verdade, mas sempre tive minha mãe, que sempre me ouviu e me aconselhou. Você
não tem seus pais para conversar sobre isso, mas você tem a mim. — O carinho nas palavras e no
olhar de Caio me deixam perplexo e feliz ao mesmo tempo por ter essa pessoa em minha vida.
Minha reação foi abraçá-lo tão forte, mas tão forte, que ele reclamou. Eu ri, mas continuei
abraçando ele e emocionado ao mesmo tempo.
— Eu tive tanto medo de perder você, de você não querer ser mais meu amigo — digo,
ainda abraçado a ele.
— Mesmo se eu também não fosse, você nunca iria perder minha amizade, Bruno. Você é
como o irmão que eu nunca tive.
— Pedro também sabe? De você? Ou você já comentou de mim para ele? — pergunto
atropelado, ainda estou na adrenalina.
Vejo o olhar de Caio mudar. Ele suspira, abaixa a cabeça e me encara novamente.
— Não, ele não sabe de mim e nunca falei nada de você para ele. Existem muitas coisas
que ele não sabe. Pedro é nosso amigo também, mas há coisas que talvez seja melhor ele não
saber.
— Você acha que ele poderia ser preconceituoso com a gente?
—Não acredito nisso, conhecemos o Pedro, ele é um cara maravilhoso.
— Então por que nunca falou nada? Tinha os mesmos medos que eu?
— Não, no meu caso envolve outra coisa.
Observo Caio, e começo a me lembrar de várias situações que me chamaram atenção,
como por exemplo, a forma que ele fica quando Pedro está rodeado de garotas, e principalmente
como ele fica quando Pedro tem atenção total nele, a felicidade estampada em seu olhar...
Olho mais fixamente para Caio quando a ficha começa a cair e ela cai de forma pesada.
— O que foi? Por que você está me olhando assim? — Caio me olha ressabiado.
— Você é apaixonado pelo Pedro. — Afirmo, certo da minha descoberta.
Vejo pela primeira vez o meu amigo ficar tímido, completamente sem jeito e isso combina
comigo e não com ele, mas desta vez Caio está desta forma e isso só comprova o que eu
descobri.
— Sou completamente apaixonado por ele.
Suspiro olhando para meu amigo, agora entendendo tudo, todas as suas reações que
estavam na minha cara e eu nunca percebi. Bom, não fui o único cego, pelo jeito, Pedro também
era.
— Ele não sabe e nunca vai saber, Bruno. Por favor, confio em você. — Caio põe a mão
em meu ombro
— Claro que você pode confiar. Jamais vou trair sua amizade. Obrigado por confiar em
mim para se abrir, eu não agi assim com você.
— Eu entendo completamente você, não se preocupe com isso. Agora temos um ao outro,
ok? Você não vai carregar isso sozinho.
— Obrigado por tudo. — Me sinto incrivelmente mais leve.
Meu celular faz um barulho e quando olho, é uma mensagem do Matheus.
Matheus: "Estou bem melhor, o remédio está fazendo efeito e agora deitado
ajuda ainda mais. Obrigado por seu cuidado hoje ;)"
Suspiro e dou um leve sorriso. Caio percebe.
— Matheus está melhor? — Caio pergunta como quem não quer nada, mexendo em sua
pulseira.
— Como você sabe que é ele?
— Pelo sorriso bobo que nasceu em seu rosto.
Tento disfarçar, mas Caio é mais rápido.
— Admite que ele mexe com você, anda vamos. — Caio levanta uma sobrancelha pra
mim. Encarando seus olhos, admito tanto para ele quanto para mim mesmo.
— Sim, ele mexe muito. — Caio sorri.
— Ele te olha muito. Se não for gay, é bissexual.
— Ele não está a fim de mim.
— Como você pode ter tanta certeza?
— Porque ele gosta de outro cara que não gosta dele. Por isso veio para cá, para não ficar
perto e esquecer.
— Como você sabe disso tudo?
— Hoje, enquanto vocês não chegavam, ele me contou e contou inclusive que era gay
também.
— Uau, se abriu todo pra você. Contou para ele sobre...?
— Não, de jeito nenhum. Só deixei claro que não tinha problemas com ele ser.
Caio sorriu e em pé na minha frente, disse a maior loucura de todas.
— Que tal fazer ele esquecer esse carinha, hein? Você está de quatro por ele, percebo seus
olhares. Está na hora de viver, meu amigo e eu vou te ajudar.
— Esquece isso, Caio. Tenho muitos problemas. Hoje soube de uma coisa com relação aos
meus pais que me respondeu todos os questionamentos que já fiz.
— Matheus será a solução dos seus problemas, meu amor. Agora levanta e vamos tomar
sorvete, não assistimos nenhuma aula hoje, então vamos aproveitar. Aí você aproveita e vai me
contando o que descobriu com relação aos seus velhos. Com sorvete vai ser mais fácil de eu
digerir.
— Caio? — Ele para e olha para mim.
— Oi.
— Ainda vamos conversar sobre o Pedro, ok?
— Tudo bem, outra hora, tá? Agora vamos nos divertir um pouco, merecemos.
Dou um sorriso para o meu amigo, só ele mesmo para me animar. Juntos, vamos para a
sorveteria. Mandamos mensagem para o Pedro no caminho e logo nosso amigo se juntaria a nós.
Iria contar aos dois juntos o que meu irmão me contou sobre meus pais.
CAPÍTULO 6
O que você está fazendo comigo?

Bruno

No dia seguinte, quando chegamos na faculdade, Matheus estava saindo da secretaria e


quando nos viu, veio em nossa direção. Seu olhar estava todo em mim pelo caminho que ele
percorreu e no rosto ele tinha um sorriso que me deixava sempre desconcertado. Por que ele me
olhava dessa forma?
Ele nos cumprimentou e pra mim restou aquela piscada que me desestabilizava, mas eu me
fazia de forte.
Fomos para a aula e teve bastante trabalho, os professoras já estavam com força total. No
intervalo, Pedro e eu vimos Matheus e Caio descendo a escada conversando e resolvemos
esperar. Neste momento, Letícia veio e se agarrou no braço de Pedro, que sorriu para ela. Caio
que se aproximava, trocou um olhar comigo. Fiquei com pena do meu amigo. Agora seria pior
aturar essas garota.
Fomos todos juntos para o refeitório, Matheus sentou na mesa com Pedro e a chata da
Letícia, enquanto Caio e eu fomos pegar algo para comer.
— Detesto essa garota. — Caio revirou os olhos.
— Também não vou com a cara dela, mas agora sei de mais um motivo de você não gostar,
senhor ciumento — disse, dando um sorriso para ele, que me mostrou a língua.
— O que vocês vão comer? — Matheus surgiu atrás de mim e eu nem tinha o visto se
aproximar.
— Vou de sanduíche natural e um refrigerante — respondi olhando para ele.
— Eu vou do mesmo — respondeu Caio.
Matheus ficou na fila conosco e rimos quando ele disse que veio logo, porque não
aguentava mais a voz da Letícia. Ele se dava muito bem com Caio e senti uma pequena inveja do
meu amigo de poder conversar com ele sem sentir vergonha.
Matheus mexeu comigo desde que o vi pela primeira vez e mexeu de um jeito diferente,
não sabia explicar. Todas as atrações que já senti por outros garotos, não se comparava ao que
sentia por ele, tudo nele funciona como um imã para mim. Sua voz grave, seu perfume gostoso
que me despertava um tesão louco, a forma como ele nos tratava, sempre tão simpático. Ele era
mais velho que eu, cinco anos, mas na aparência nem se via tanta diferença, apenas no jeito de
ser, era seguro de si, independente, coisa que eu não era nem um pouco.
Sou tirado dos meus pensamentos por seu toque em meu braço.
— Um doce pelos seus pensamentos. — Sua fala me arranca um sorriso.
Tudo que eu queria responder era que ele habitava meus pensamentos, mas ao invés
disso...
— Não estou pensando nada demais não, só me distraí mesmo.
— Sei... — ele respondeu e novamente piscou pra mim, voltando sua atenção para Caio.
Ele tinha que parar de ficar piscando pra mim, pois cada vez que ele fazia isso, eu tinha
vontade de me jogar nos braços dele e descobrir como era seu beijo.
Comemos nossos lanches e, graças a Deus, Letícia foi ficar com as amigas e deixou nossa
mesa. Caio sorriu quando ela foi e Pedro concentrou sua atenção nele. Queria muito ver meus
amigos juntos, mas Pedro era hétero, então não via como isso poderia acontecer. Queria a
felicidade do Caio, torcia para ele encontrar outra pessoa que pudesse correspondê-lo.
Quando cheguei, a casa estava em silêncio, minha mãe devia ter ido entregar costuras na
igreja. Não estava com fome, então tirei minha roupa e tomei um banho. Ao voltar para o quarto,
tranquei a porta e me deitei pegando meu celular para ler meu livro preferido, amava esse
romance, essa história de amor entre dois amigos me tirava o fôlego. Já o relia pela 5ª vez.
Passei boa parte da minha tarde mergulhado na “Brotheragem” de Enzo e Iago, do autor
Bruno Jovovich. Já estava excitado, então resolvi parar um pouco para me acalmar e Matheus
veio na minha cabeça. Mordi os lábios para reprimir um sorriso quando lembrei das piscadas
dele pra mim e parecendo se conectar comigo, uma mensagem sua chegou. Mal acreditei quando
vi. Telepatia que fala?
Matheus: "Amanhã vou fazer uma recepção aqui em casa, pois é aniversário
do meu primo Victor, que divide o apê comigo. Virão alguns amigos mais
chegados dele e então ele disse que eu poderia chamar alguns meus. Pensei em
você, no Caio e Pedro, topa? Já falei com eles e eles irão vir, falta só sua
resposta."
Neste mesmo momento Caio me mandou uma mensagem falando que Matheus havia
chamado ele para uma festinha. Conto que tinha acabado de receber a mesma mensagem
Antes de responder ao Matheus, precisava ver se conseguiria ir, afinal era a noite e só eu
sabia o inferno que era para eu conseguir sair.
Ouço meu irmão bater em minha porta, então visto um short e deixo o celular de lado para
abrir pra ele. Assim que abro, Cássio me olha com cara de culpado, o cumprimento e volto para
cama.
— Tudo bem com você? — pergunta.
— Sim, tudo. Como foi seu trabalho? Chegou cedo.
— Foi tranquilo. Hoje teve reunião entre os chefes e aí saí mais cedo.
— Que bom.
— Você ainda está chateado comigo?
Olho para Cássio e balanço a cabeça negativamente. Então uma luz surge na minha cabeça.
— Fui convidado para um jantar na casa de um amigo, é aniversário do primo que divide o
apê com ele. Será que você consegue fazer com que me deixem ir?
— Eles não precisam saber que você vai, vamos comigo para a casa da Érica, como sempre
vou mesmo. Invento uma desculpa para te levar e de lá você vai.
Sorrio para o meu irmão.
— Só não beba, se o pai sentir cheiro de álcool em você...
— Não vou beber, só quero sair e me divertir com meus amigos.
— Tudo bem. — Cássio vem até mim, beija meus cabelos e sai do quarto.
Pego meu celular e confirmo minha ida a festinha com Matheus.
"Amanhã estarei aí."
Matheus: "Isso me deixa muito feliz ;)"
E lá estava a carinha piscando. Sorri olhando sua foto no perfil.
Naquela noite, jantei em silêncio na mesa com meus pais e meu irmão, onde ele anunciou
que amanhã iria na Érica, pois teria uma festa por lá de amigos do colegial dos dois e que ele me
levaria junto. Ainda comentou que a gente ia dormir por lá para não voltar tarde pela rua.
Meu pai me olhou com uma cara não muito boa, mas como foi o Cássio que falou, ele
concordou. Sorri internamente, poderia ficar bastante na casa do Matheus sem hora para voltar.
Nem sabia que Cássio inventaria isso, olhei para meu irmão sorrateiramente e ganhei uma
piscada. É ... ultimamente todo mundo andava piscando pra mim. Sorri de lado e continuei a
comer.
No dia seguinte, enquanto Pedro nos levava para faculdade, Caio estava falando da festa,
então contei a eles que iria, mas que não era para me buscarem, pois meu irmão me deixaria lá.
Eles riram da desculpa que Cássio inventou, mas acharam criativa.
Matheus não foi a faculdade, estava as voltas com os preparativos da recepção junto com
seu primo, foi Caio que me contou isso, eles ficaram muito amigos. A faculdade estava chata de
repente e eu sabia que era falta da presença do Matheus que eu estava sentindo.
Aquela manhã passou tão lenta quanto a tarde. Quando deu 18h, meu irmão falou para eu
me arrumar e assim eu fiz. Como estava meio frio, dava para ir mais arrumadinho. Meu irmão
quando entrou no quarto, assobiou e sorriu para mim.
— Eu achei que você não elogiava homens — disse, me lembrando de uma brincadeira que
ele fez comigo.
— Ah, se esse homem é meu irmão, eu elogio, sim. Está gato, com certeza tem alguém
nessa festa que te interessa.
Senti frio na barriga e fiquei sério enquanto me olhava no espelho. Meu irmão se
aproximou de mim e disse baixinho perto do meu ouvido.
— Não precisa ficar com vergonha, você já é um homem, meu irmão, tem 18 anos e suas
necessidades. É bonito e é logico que chamará atenção. Quero aproveitar e lhe pedir desculpas
pelas besteiras que te falei naquele dia que o pai te bateu.
Me virei de frente para Cássio e o encarei.
— Do que você está falando? — perguntei curioso.
— Só quero que você saiba que eu te amo. Você já é maior de idade, é um cara bonito,
inteligente e que merece muito ser feliz por ser tão especial. Eu estarei com você no que você
escolher para sua vida, seja sua profissão ou quem você desejar amar e sim, é o que você está
pensando. Você nunca falou sobre isso comigo, então não tenho certeza de nada, mas essa pessoa
especial, seja uma mulher ou ... um homem, não me importa, o que me importa é sua felicidade.
Eu nem respirava prestando atenção em Cássio. Meu coração martelava no peito, as
palavras simplesmente sumiram.
— Não precisa falar nada e nem ficar com essa cara de assustado, termina de se arrumar e
vamos logo — ele falou e saiu do meu quarto. Precisei me sentar, minhas pernas estavam como
gelatina.
Passado o susto, desci e saí com meu irmão. Dei a ele o endereço que Matheus havia me
mandado por mensagem e fomos pra lá.
Em frente ao condomínio, comecei a sentir um calor que com certeza não fazia naquele
momento, meu irmão percebeu meu nervosismo.
— Ei, você está nervoso, o que foi? — Olhei para Cássio e não sei o que me deu para falar
o que saiu da minha boca.
— É a primeira vez que o vejo fora da faculdade e na casa dele.
Meu irmão me olhou a princípio com susto, acho que ele não esperava minha confissão
naquele momento. Na verdade nem eu esperava, mas saiu de uma vez. Acho que eu ainda estava
envolvido por tudo que ele me disse há alguns minutos.
Mas sua expressão passou de susto para a de compreensão em segundos e o que ele falou
nunca serei capaz de esquecer.
— Você está lindo, vai lá e arrasa. Tenho certeza que ele vai ficar impressionado e se
também não ficar, vai ter outro que fique. Só quero te ver feliz.
Meus olhos ficaram úmidos e abracei Cássio.
— Obrigado por ser o melhor irmão que alguém poderia ter — disse com o rosto enfiado
no pescoço dele.
— Eu que agradeço por ter você em minha vida. Não sou nada sem você, meu irmão e
estarei sempre aqui por você. Se esse cara fizer você sofrer, arrebento a cara dele, tá ouvindo?
Sorri e enxuguei minhas lágrimas.
— Eu não tenho nada com ele, Cássio. É apenas um amigo.
— Tenho certeza que a partir de hoje ele não te verá mais assim.
— O que deu em você hoje, hein? — perguntei, batendo meu ombro no dele e já retirando
o cinto de segurança.
— Nada, só estou cuidado do que é importante para mim e você é muito importante. Você
e Érica são tudo, meus maiores presentes.
Beijei a bochecha do meu irmão e fui para o jantar. Me identifiquei na recepção e fui pegar
o elevador.
A cada andar meu estômago revirava, minhas mãos estavam geladas quando cheguei ao
10° andar e fiquei tímido. Pedro já estava aí, pois Caio havia saído com a mãe e viria direto pra
cá. Bom, pelo menos um dos meus amigos estava presente para que eu não me sentisse
deslocado.
Toquei a companhia e abaixei a cabeça, ouvindo uma música baixinha e alguém
destrancando a porta. Quando levantei meu olhar, Matheus estava na minha frente,
desconcertantemente lindo, e eu fiquei quente como o inferno. Cada parte do meu corpo
estremeceu, acho que até esqueci de como se respirava. Não conseguia tirar meus olhos dele.
Ele, por sua vez, admirou cada pedacinho de mim e muito lentamente. Quando ele chegou
em meu rosto, depois de toda sua inspeção, respirava pesado e eu devia estar mais vermelho que
um tomate.
— Você está muito gostoso hoje.
Porra! Por essa eu não esperava. Queria um buraco agora para me enfiar, que vergonha!
Enquanto ele tinha um sorriso sedutor.
— Não queria te deixar sem graça, desculpe, mas eu não resisti.
— Fiquei com vergonha, mas obrigado pelo elogio.
— Vem, entra, fica à vontade. A casa é sua.
Quando passei por ele devagar, Matheus segurou suavemente em meu braço para que eu
parasse e sussurrou no meu ouvido.
— O dono também pode ser, basta você querer.
Engoli em seco e fiquei tremendo. Vi Pedro de longe encostado perto da janela
conversando com outro cara e fui direto pra lá. Nem respondi ao Matheus, só fiquei pensando no
que meu irmão me disse.
“Tenho certeza que a partir de hoje ele não te verá mais assim.”
CAPÍTULO 7
Uma loucura estar em seus braços

Bruno

“Slow Down” da Normani tocava, dando ao ambiente um certo charme, quando cheguei
perto de Pedro e cumprimentei o rapaz que estava com ele.
— Fala, mano. — Pedro bateu em minha mão, fazendo nosso cumprimento de sempre.
—— Caio já deve estar chegando, ele me mandou mensagem tem uns 15 minutos — disse
Pedro.
— Beleza — respondi, pegando um refrigerante da bandeja de um rapaz que estava
servindo.
— Bruno, deixa eu te apresentar, este é o Victor, meu primo e estes são os amigos dele —
disse Matheus, me apresentando a todo mundo, alguns rapazes e moças.
Gostei de cara do Victor, alegre e falante, seus amigos pareciam maneiros também.
— Eu quis fazer essa festinha aqui, porque falei pro Matheus que nunca fizemos nada aqui
em casa. Eu ganhei uma festa na faculdade organizada pelo meu amigo Isaak, aí aqui, chamei
quem não pôde ir até lá, isso inclui o Matheus e pedi a ele que chamasse vocês. Eu já estava até
curioso, de tanto que ele vem falando dos amigos novos. — Explicou Victor todo sorridente.
— Gostei de te conhecer, Victor — disse, sendo simpático.
Victor me abraçou de lado e logo emendou um papo com Pedro. Matheus estava agora do
outro lado da sala. Eu o observava de longe e só agora reparava no apartamento também. Era
lindo, espaçoso e elegante, tinha um corredor que devia levar para os quartos e a cozinha
americana, de onde eu via uma moça e o rapaz que me serviu refrigerante. O sofá grande parecia
bem aconchegante. Amei o fato de ter uma mesa de sinuca que parecia fazer parte da decoração e
não somente hoje para a festa.
Matheus conversava com dois rapazes e sorria, estava lindo, com uma calça preta e uma
camisa social cinza, dobrada até os cotovelos. Seus cabelos estavam bagunçados na cabeça como
sempre e o perfume estava daquele jeito que eu já sentia por aí, era o mesmo cheiro e ele me
enlouquecia.
Eu estava agora ao lado de Pedro, Victor tinha ido ao banheiro e meu amigo mexia em seu
celular. Acho que falava com Letícia. Eu passei a observá-lo, estava muito gato, já imaginava
quando Caio o visse. Foi justo nessa hora que a campainha tocou e Matheus como estava perto
da porta, logo abriu e era o nosso amigo.
Quando olhei para o Caio, quase engasguei com o refrigerante que bebia. Ele estava lindo
demais, vestia uma calça jeans clara colada em seu corpo, um blusão preto também dobrado até o
meio do braço, com seu relógio e pulseiras como de costume. No pescoço, ele usava um cordão
fininho dourado que combinou com a pulseira em seu pulso. Seus cabelos estavam bem rebeldes
como ele gostava. Não usava seus óculos hoje, imaginei que estivesse de lentes.
Olhei para o Pedro de relance e o que vi me deixou bem curioso.
Pedro nem piscava olhando para o Caio. Bom, só podia ser para ele, pois quando Caio
entrou e Matheus fechou a porta, Pedro seguiu Caio com os olhos. Matheus apresentou Caio a
todos os rapazes e as garotas. Olhei para o Pedro e ele continuava vidrado em nosso amigo.
Caio nos viu e veio em nossa direção. Arrisquei olhar para Pedro novamente e lá estava
ele, confirmando minha suspeita. Ele observava Caio desde que o mesmo entrou, mas olhava de
uma forma que nunca o vi direcionar para ninguém, nem mesmo para as garotas que saía.
— E aí, pessoal! Demorei, mas consegui chegar.
— Demorou muito — Foi Pedro que disse.
— Ah, deixa de ser implicante, ele chegou e pronto — falei e pisquei um olho para Caio,
que franziu a testa, mas sabia se comunicar comigo pelo olhar. Ele entendeu que depois eu
falaria algo para ele.
— Fui com minha mãe ver uma roupa para um casamento que ela vai, não aguentava mais
ver vestidos. — Meu amigo suspirou e eu ri da cara que ele fez.
Matheus se aproximou de nós e eu senti frio na barriga, até porque ele vinha e não tirava os
olhos de mim. Caio logo percebeu e me olhou sorrindo disfarçadamente.
— Caio, deixa eu te apresentar o meu primo.
Matheus apresentou os dois e Caio riu muito das palhaçadas de Victor. Olhei
disfarçadamente para o ser ao meu lado e Pedro estava sério de novo. Definitivamente algo
estava acontecendo com ele.
Ficamos conversando nós três. Às vezes Victor chegava perto de nós e Matheus ficava lá e
cá para dar atenção a todos também.
Em determinado momento, resolvi andar pelo apartamento. Pedro e Caio emendaram um
papo, então fui me distrair e passando por um corredor pequeno ao lado de onde ficava a
cozinha, cheguei na varanda do apartamento. A vista era perfeita, eu adorava altura, ver as
luzinhas de longe. Estava distraído quando alguém chegou por trás de mim e colocou as mãos
em minha cintura.
Nem precisei me virar para saber quem era, seu perfume marcante anunciou. Meu peito
mal sustentava meu coração que pulava, então ele falou em meu ouvido.
— O que eu preciso fazer para ter um beijo seu? — Fechei meus olhos diante do seu tom
de voz.
— Eu não sou... — Tentei negar.
— Não minta quando já sei da verdade. Eu te enxergo, Bruno.
Engoli em seco e continuava de olhos fechados. Eu estava um misto de “seja forte”,
com “se entrega logo”, e não sabia o que fazer. Então, me virei pra ele para lhe dizer algo que o
afastasse de mim, mas conforme fiquei de frente, Matheus não me deu tempo nem de respirar e
logo capturou minha boca e todo meu controle foi pelos ares.
Sentir os lábios dele nos meus era melhor do que eu imaginei. Matheus me puxou ainda
mais pela cintura e colou nossos corpos, só me restando subir as mãos, que até então estavam em
seu peito, para contornar seu pescoço e ceder completamente ao seu beijo. E que beijo!
Nossas línguas ficavam se entrelaçando uma na outra e isso me deixava mole. Ele tinha
uma mão me segurando na cintura e a outra enfiada nos meus cabelos, os segurando com força.
Isso me mostrava que era possessivo e me vi adorando sua pegada.
Ele mordia meus lábios e lambia ao mesmo tempo. Quando Matheus soltou minha boca,
foi que lembrei de respirar, mas ele logo desceu pelo meu pescoço, beijando e mordendo, e eu já
sentia nossos paus duros um encostando no outro pelo nosso atrito.
Quando pensei em falar algo, ele me beijou novamente, só que desta vez ele nos virou e
me encostou na parede da varanda, onde levantou minhas mãos acima da minha cabeça e
continuou atacando minha boca.
Era o beijo dos meus sonhos e eu estava sendo dominado como sempre sonhei. Tive medo
de não saber beijar, afinal nunca fiz isso, mas não foi difícil acompanhar sua boca deliciosa. Meu
corpo estava febril tamanho tesão que eu sentia. Quando ele se abaixou de leve e subiu roçando
seu corpo no meu, não fui capaz de conter o gemido que soltei.
— Eu estava com tanta vontade de te beijar. — Matheus estava completamente sem
fôlego. — Não consigo tirar meus olhos de você desde o primeiro instante.
— Eu... eu ... também queria — confessei, totalmente rendido. — Meus amigos devem
estar estranhando que eu não voltei. Pedro não sabe, por favor...
Matheus soltou minhas mãos e levou as suas ao meu rosto.
— O que ele não sabe? — Matheus me perguntou e ao mesmo tempo me olhava de uma
forma gostosa, que me puxava para ele ao mesmo tempo.
— Que sou gay — disse e abaixei minha cabeça, mas suas mãos me fizeram olhar para ele
novamente.
— Não precisa ter vergonha de mim, Bruno. Não precisa ter vergonha de quem você é.
Então, apenas o Caio sabe?
— Sim, somente ele, mais ninguém. Quer dizer, agora você.
Matheus beijou minha boca novamente e eu não fui capaz de lhe dizer não. O beijei de
volta me derretendo em seus braços.
— Vamos pra festa, mas voltaremos aqui novamente, tá bom? Ou melhor, quando eu fizer
um sinal, você me segue. — Balancei a cabeça concordando, era loucura, mas eu queria.
Matheus voltou primeiro e eu fiquei ali encostado na parede, tentando me lembrar de como
se respirava normalmente. Esperei uns minutinhos e voltei para perto dos meus amigos. Eu nem
andava, apenas flutuava...
E queria muito mais.
CAPÍTULO 8
Seguindo meu coração

Bruno

Quando retornei para perto de Caio e Pedro me sentia um vulcão e precisava disfarçar.
— Onde você estava, Bruno? — perguntou Pedro, estranhando meu sumiço.
— Ele tinha avisado que ia na varanda, você não ouviu? — Caio me salvou.
— Ah tá, não tinha prestado atenção.
Assim que Pedro disse que ia ao banheiro, Caio se aproximou de mim.
— Eu chutei a varanda e acertei? Pois o local eu não sei, mas que você foi beijado, isso eu
tenho certeza.
— Senhor!! Está visível? Como você sabe? — perguntei assustado.
— Sua boca, querido, está inchada e vermelha — disse Caio, rindo da minha cara.
Suspirei e procurei Matheus com o olhar e o encontrei na outra extremidade da sala me
encarando de um jeito tão intenso que corei.
— Ele está te devorando com os olhos, nossa! Mas vem cá, ele beija bem? — Caio estava
curioso.
— Muito, meu Deus! Que beijo sensacional. Acho que ainda não sinto minhas pernas —
disse de costas para o monumento do outro lado da sala e suspirando.
— Estou tão feliz por vocês, estava na cara que ele te queria — disse Caio com um sorriso
no rosto.
— Eu não sei o que fazer. Ele quer me encontrar daqui a pouco de novo. Contei a ele que
apenas você sabe que sou gay. Nem acredito ainda que meu primeiro beijo foi com ele.
— E você vai encontrá-lo e beijar muito de novo — Caio falou, fazendo uma dancinha
ridícula.
Isso me levou a gargalhar, Pedro chegou neste momento.
— Estão rindo de quê? — perguntou ele todo perdido.
— Estou rindo do Caio dançando.
— Esse aí está muito exibido hoje — Pedro olhou Caio dos pés à cabeça.
— Ih, Pedro, você está chato hoje, hein? O que deu em você? Vou buscar mais
refrigerante e salgadinhos — Meu amigo saiu de perto de nós.
Observei Pedro que seguia Caio com os olhos, mas quando percebeu que eu o olhava,
tentou disfarçar.
Alguns minutos haviam passado, estávamos nós três conversando junto com o Victor e um
amigo dele, quando vejo Matheus cruzar a sala e ir em direção ao corredor que imagino ser dos
quartos. Antes de sumir por ele, Matheus parou e me olhou. Ganhei minha famosa piscada e
sabia que esse era o meu sinal.
Fiquei nervoso como de costume e encostei na mão de Caio que estava ao meu lado. Ao
me ver piscar para ele, meu amigo entendeu que devia entreter mais o pessoal para que eu
escapasse de fininho.
Disfarço meio sem jeito e sigo para o corredor. Não sei em qual porta entrar, até que sinto
meu braço ser puxado e quando dou por mim, estou sendo imprensado na porta, que agora se
encontra fechada pelo meu corpo e o de Matheus, que me agarra e me beija com vontade.
Não me faço de rogado e me entrego ao seu beijo, é tão gostoso e ele alterna da minha
boca para o meu pescoço. Sinto meu blusão ser tirado e de repente Matheus me vira de cara para
porta e cola seu corpo todo nas minhas costas.
Sinto seu pau na minha bunda e movido por uma audácia que não costuma me
acompanhar no dia a dia, dou uma leve rebolada e ele enlouquece com isso, gemendo em meu
ouvido. Tenho que fazer um esforço enorme para não gozar só com esse momento.
Matheus puxa meus cabelos, procurando minha boca, e a dou com todo gosto. Sinto ele
puxando minha camisa pra cima, mas estou tão enlouquecido com seu beijo, que apenas levanto
meus braços para ajudar.
Quando ela sai por completo, ele passa a deixar beijos molhados por toda, as minhas
costas. Chego a revirar meus olhos.
Nunca vivi ou senti isso na minha vida, meu corpo simplesmente tem vida própria e minha
calça está quase rasgando na frente de tanto que meu pau implora para sair.
Quando Matheus termina seus beijos perto do cós da minha calça, ele sobe de novo e me
vira de frente para ele.
— Você é gostoso demais, Bruno. Eu quero você e quero agora.
— Vamos com calma, Matheus. Por favor, eu nunca... — Fiquei vermelho nessa hora e
extremamente tímido.
— Você é virgem? — Matheus pergunta me olhando com intensidade.
— Sou. — Estou sem jeito e com receio de que sabendo disso, ele me ache sem graça.
Matheus suspira e me beija, me envolvendo em seus braços e me levando de encontro a
cama onde ele me deita com carinho.
— Não vamos transar hoje, você não terá sua primeira vez assim, numa rapidinha. Mas eu
vou te dar prazer hoje, quero sentir teu gosto, quero ter seu cheiro, quero que você queira tudo
isso de novo, comigo — diz Matheus, roçando seus lábios nos meus de modo sedutor. Depois de
se fartar com a minha boca, ele desce beijando meu peito, indo preguiçosamente até o meu cinto,
que ele abre e em seguida tira minha calça.
Estou na cama apenas de cueca, pois até meus sapatos ele fez o favor de tirar. Matheus
passa as mãos pelas minhas coxas, me fazendo fechar os olhos e ficar totalmente entregue.
O encaro novamente quando sinto a leve mordida que ele dá em meu pau por cima da
cueca, estou quase gozando, mas nem consigo falar.
Ele vem até minha boca e me beija, mas ao mesmo tempo uma de suas mãos abaixa a
frente da única peça de roupa em meu corpo. Quando ele se separa dos meus lábios, vai direto ao
meu pau e me coloca inteiro em sua boca. Me sento imediatamente na cama, segurando seus
cabelos. Matheus segura meu pau e me chupa de uma forma alucinante. Meu corpo cai na cama
novamente e só sei gemer.
— Matheus, eu vou... eu vou... não aguento mais...
— Goza pra mim, Bruno. Vai, goza gostoso — Matheus pede rouco de tanto tesão.
E eu me desmancho em sua boca, gozando tanto da vista escurecer e não tenho forças para
mais nada.
Matheus me limpa inteiro com sua boca e sobe beijando meu corpo. Quando ele me encara
só consigo sorrir e levo minha mão em seu rosto, fazendo ele fechar os olhos recebendo meu
carinho.
— Você vai ser meu, Bruno, de todas as formas. — Seu tom é possessivo e me vejo
gostando disso. Não tenho nem forças para perguntar de que formas ele está falando, meus olhos
pesam e meu corpo está flutuando.
Só que a nuvem de prazer esvai como fumaça da minha cabeça quando ouço meu celular
tocando. Matheus pega para mim no bolso da minha calça no chão e vejo que é meu irmão.
— É meu irmão, ele que me trouxe hoje. — falo baixinho com Matheus e atendo a ligação.
— Alô. — Procuro ser firme na voz, para não dar nenhuma bandeira do que acabou de acontecer.
— Oi, mano, tudo bem aí? Só queria saber de você.
— Tudo bem. A festa está ótima e fica tranquilo que não bebi, estou só no refrigerante.
— Tranquilo, Bruno. Confio em você. Eu estou com sono, você vai curtir mais aí? Ou quer
que eu te busque? Sei que muitas vezes as festas rolam até quase de manhã.
Olho neste momento para Matheus que está sem camisa, sentado num sofá no canto do
quarto e me olhando com um sorriso tão lindo que me derrete por dentro.
— Quero curtir mais, posso?
— Claro que pode, te busco de manhã, pode ser? É seguro mesmo ficar?
— Sim, é seguro. Me pega então de manhã — respondo, fugindo do olhar do Matheus.
— Combinado então. Quando for para eu te buscar me liga, ok?
— Ligo sim.
Me despeço do meu irmão e finalmente encaro Matheus.
— Ele queria vir te buscar? — ele pergunta.
— Queria saber se estava tudo bem. Ele está me dando cobertura para estar aqui hoje,
nossos pais são muito controladores. Para eles estou na casa da noiva do meu irmão, eles nunca
me deixariam vir aqui.
— Quem bom que seu irmão faz isso por você.
— Foi a primeira vez e me surpreendeu tudo que escutei dele hoje, mas resumindo, vou
ficar, ele só vem me buscar quando eu ligar.
Respondo sorridente e Matheus me olha sorrindo ainda mais. Ele se levanta e vem em
minha direção, ficando entre minhas pernas ajoelhado no chão e me beija.
— O que você está fazendo comigo, Bruno?
— Eu? Beijando você. — Me finjo de desentendido.
Matheus ri e se joga em cima de mim. Nosso beijo esquenta ainda mais e ele entre minhas
pernas faz meu pau ficar duro com o atrito de sua calça, enquanto eu estou apenas de cueca.
Movido pela audácia de novo, inverto nossa posição na cama e fico por cima. A visão que tenho
dele deitado e entregue, faz meu coração bater tão forte que fico momentaneamente sem saber o
que fazer.
— O que foi? — ele me pergunta, passando a mão por minhas costas.
— Não sei, é tão diferente estar aqui, assim com você, eu nunca vivi isso — digo, sendo
totalmente sincero. — Tive até medo de você me achar sem graça por isso.
— Eu não tive muitos relacionamentos na minha vida, mas posso dizer que o que eu estou
sentindo aqui com você é diferente, só não sei ainda por quê. Sinto algo muito bom quando você
está por perto — Matheus fala e faz um carinho em meu rosto — Como eu te falei, estou
tentando esquecer um sentimento não correspondido e quando estamos juntos, seja apenas na
faculdade, não consigo prestar atenção em mais nada, só em você. É estranho tudo isso, mas não
consigo controlar. E para que fique sabendo, não vejo nada de sem graça em você, pelo
contrário, acho você perfeito.
— Mesmo eu sendo bem mais novo?
— Nunca me importei com idades. Quer dizer, você é maior de idade, isso que é
importante. — Rimos juntos.
Meu coração dispara diante de suas palavras e faço um carinho em seu rosto gravando cada
contorno dele. Matheus não resiste mais e me beija, puxando meu corpo e nos virando de lado na
cama. Ficamos completamente enroscados nessa posição.
Tudo em mim pede por ele, mas é ele que me faz um pedido.
— Fica aqui comigo, não vai embora.
Meu coração quase salta do peito, mas sigo meu desejo e meu coração.
— Eu fico...
— Eu vou lá na sala e vou inventar algo para seus amigos. Não sai daqui, me espera.
Balanço a cabeça concordando e ele me beija de novo.
Logo depois Matheus coloca sua camisa, me cobre com um lençol e vai para sala. Fico ali
perdido em meus pensamentos, mas louco que ele volte logo. Preciso finalmente viver um
pouco.
Matheus
Saio do quarto e pareço estar em êxtase. Fico um pouco parado em frente a porta com o
coração martelando, somado a um sorriso bobo que não sai do meu rosto. De repente me sinto
feliz como não sou há muito tempo.
Ter gostado do Isaak em silêncio, durante um bom tempo, me maltratou, esconder um
sentimento não é legal , mas agora tudo está sendo diferente. Bruno está mexendo comigo de
uma forma que não sei explicar e nem me defender, estou apenas sentindo sem ter controle
algum.
O fato dele ser mais novo e agora também sabendo que é inexperiente, realmente não me
importa, pelo contrário, me vejo com vontade de ser tudo pra ele.
Volto para sala e Caio logo me olha. Pedro está na mesa de sinuca e Caio se aproxima.
— Onde está o Bruno?
— Ele está no meu quarto.
Como Bruno disse que Caio sabe de sua orientação, me sinto confortável em falar com
ele, e além do mais, gosto demais desse menino.
— Espero que vocês estejam se entendendo. — Caio tem um sorriso no rosto.
— Estamos sim — respondo, sorrindo ainda mais.
— Faço muito gosto, o Bruno é especial demais e espero que você já tenha percebido isso.
— Sim, fique tranquilo, ele está sendo minha preciosidade. Agora preciso de sua ajuda, ele
irá dormir aqui, já até falou com o irmão. Ele só vai pegá-lo de manhã, mas o Bruno não vai
voltar mais aqui pra sala. O que podemos falar para o Pedro? Ele me contou que o amigo ainda
não sabe de sua orientação.
— Vou inventar algo para ele e logo vamos embora. Já vai dar 1h da manhã, algumas
pessoas já foram também.
— Obrigado, Caio. Pela sua ajuda. Vou falar com o Victor e também não volto mais pra
cá.
— O Bruno tinha me dito que não tinha falado nada a respeito dele...
— Eu percebi, Caio. Assim como percebi você.
— Olha, o Pedro também...
— Não sabe de você?
— Não.
— Por que escondem isso dele? Ele já demonstrou ser preconceituoso?
— Não, nada disso. O Bruno nunca tinha contato nem pra mim, eu que o pressionei, pois
vi que estava prestes a explodir e porque percebi os olhares dele... bom, pra você. — Dou um
sorriso nessa hora. — Aí me revelei a ele, mas eu não disse nada pro Pedro por que... — O rapaz
na minha frente olha para o amigo e ali, sem querer, pesco algo, mas fico quieto.
— Não precisa se explicar pra mim, fica tranquilo. Não comentarei nada. Só em saber que
ele não é preconceituoso, já me alivia.
— Ele não é. O Bruno que tinha medo de perder nossa amizade por isso, ele é meio
paranoico, mas o entendo. Os pais não são fáceis, fique sabendo.
— Imagino, ele falou por alto. Vou dar início ao nosso plano, ok?
— Ok, vai lá.
Bato na mão de Caio e vou falar com meu primo. Depois disso, disfarçadamente, volto
para o meu quarto e para o homem que está mudando alguma coisa dentro de mim.
CAPÍTULO 9
Bônus 1 - Pedro e Caio

O que está acontecendo comigo?

Pedro
Estou parado na janela do apartamento do Matheus e me sentindo estranho, não sei dizer o
que é, mas desde que Caio chegou, algo está diferente.
Ele está diferente, ou eu que estou? Porra, nem sei mais. Estou até agora tentando entender
o que eu senti no momento em que Caio cruzou aquela porta.
Somos amigos há tanto tempo, conheci primeiro o Bruno, mas logo o Caio se juntou a nós
e de cara eu gostei daquele moleque mais baixo que eu, de sorriso fácil e gentil. O cabeça
centrada de nós três.
Caio sempre foi meu parceiro, considero ele demais. Bruno é como meu irmão, sou filho
único, então Bruno preencheu este vazio. Caio é meu melhor amigo e até o chamo de irmãozinho
também, mas o carinho que sinto pelos dois tem diferença, eu nunca soube explicar. Eu gosto
tanto dos dois, mas algo em Caio sempre foi diferente. Com o tempo esqueci desse detalhe, até o
dia de hoje.
Quando vi o Caio chegar, algo em mim deu um nó, eu não conseguia tirar os olhos dele.
Não sei se foi a roupa, ou o fato de estar sem óculos. Não sei que merda aconteceu, fiquei muito
nervoso com isso e tentei disfarçar ao máximo, porque o Bruno estava ao meu lado, e esperava
que ele não tivesse percebido nada.
Sempre amei compartilhar tudo da minha vida com o Caio, minhas inseguranças, meus
medos, compartilhamos desabafos, palhaçadas, coisas de amigos mesmo. Gosto do seu jeito
protetor comigo e até mesmo possessivo às vezes, acho que ele me vê como seu irmão, então tem
todo esse cuidado comigo.
Gosto de falar das minas que eu saio, apesar dele ficar criticando quando apareço cada hora
com uma. Caio é certinho, quase não vejo ele sair com ninguém, só quando insisto muito, mas
faço porque quero ver meu amigo feliz.
Então por tudo isso, estou agora me sentindo perdido, confuso, enquanto observo ele
conversar com um dos amigos de Victor, acho que é Alexandre o nome dele. Eles são só sorrisos
e quero entender por que diabos isso está me irritando tanto. Acho que é porque sou o amigo
dele, então é a mim que ele deveria estar dando toda sua atenção e não para aquele mané.
Bufo, me virando para a janela novamente e fico observando as luzes de outros
apartamentos. O vento está gostoso, chego a fechar meus olhos por instantes sentindo a brisa que
bate em mim.
— Está pensando em quê? — pergunta Caio, com sua voz calma e rouca, ao se aproximar
de mim de novo.
Por alguns segundos eu quis responder em você, mas isso seria tão estranho que eu mesmo
não entendi o rumo dos meus pensamentos e fiquei sem graça.
— Em nada, estava só sentindo o ventinho — respondi a primeira besteira que veio.
— Você estava com uma cara tão pensativa agora pouco — ele comenta, todo observador.
— Ué, você reparou isso? Achei que sua conversa com o Alexandre estava tão boa que
você tinha esquecido de todo resto e isso inclui eu — disse e na mesma hora me arrependi.
— Está me vigiando? Você também estava conversando todo animado com aqueles amigos
do Victor, o Beto e a Vanessa, então fui na sinuca e lá , o Ale puxou papo comigo, o que tem?
Hum, Ale.
— Não tem nada, só comentei, senhor esquentadinho.
— Eu, esquentadinho? Você que está chato hoje, implicando comigo toda hora desde que
cheguei. Que bicho te mordeu?
— Nenhum bicho, Caio. Posso falar mais nada não, eu hein. Cadê o Bruno?
— Acho que ele foi ver uma coisa que o Matheus queria mostrar para ele, não sei o que é.
Nasceu grudado no Bruno, foi?
Fico emburrado com Caio e saio de perto dele indo pra sinuca um pouco. Quando resolvo
olhar as horas, vejo que já são quase 1h da manhã, acho que está na hora de ir embora. Observo
de longe Matheus aparecer e falar algo com Caio, mas não vejo o Bruno. Estranho, mas fico na
minha, porque se eu perguntar por ele, vou ganhar outro fora do “senhor esquentadinho”.
Logo Caio vem até mim e fala que já está tarde, que é melhor irmos. Pergunto por Bruno e
ele fala que ele está jogando com o Matheus em seu quarto. Como sei da paixão por jogos do
meu amigo, nem me importo e Caio ainda me fala que o Cássio vem buscar o irmão.
— Pedi então ao Matheus que avisasse a ele que já estamos indo.
— Ok.
Já do lado de fora do apartamento, observo Caio terminar de se despedir do pessoal, até
que ele chega no tal "Ale".
Vejo o cara dar um papel para ele e imediatamente fico puto, e mais puto ainda por me
sentir assim. Resumindo: estou soltando fogo pelas ventas.
Logo Caio e eu estamos indo para o elevador e um silêncio reina entre nós até descermos.
Já no estacionamento, vamos até meu carro e o destravo, vendo Caio entrar no carona e eu, antes
de entrar, suspiro e tento me acalmar. Porra, nem bebi hoje e estou desta forma, descontrolado.
Quando entro no carro, o cheiro de Caio me atinge em cheio e para meu desespero, começo
a ficar com tesão no cheiro do meu amigo. Isso é de enlouquecer qualquer um. Coloco o cinto,
seguro o volante, mas não ligo o carro.
Meu coração bate acelerado e quando Caio fala comigo, todos os meus sentidos sentem a
sua voz.
— O que houve, Pedro? Você está bem? Você está estranho, está sentindo alguma coisa?
— pergunta Caio já aflito.
— Eu...eu estou... só estou pensando numas coisas, mas é coisa minha, não fica
preocupado, ok? Estou bem.
Caio me olha com aquelas duas jabuticabas que ele tem como olhos e por instantes eu me
perco nelas. Me arrepio inteiro e antes que ele perceba algo, dou um sorriso sem graça e desvio
meu olhar do seu.
Ligo o carro e nos tiro dali. Quando chego em frente à casa dele, que é ao lado da minha,
desligo o carro e observo ele tirar o cinto. Não queria que ele fosse embora agora, mas não tenho
nenhuma desculpa para que continue aqui.
— Vou nessa, valeu pela carona. — Caio levanta a mão para bater na minha.
Bato na mão dele e ele me dá seu sorriso. Em seguida ele sai do carro e eu o sigo com os
olhos e o vejo entrar. Coloco meu carro na garagem, mas permaneço dentro dele. O silêncio me
rodeia, mas dentro de mim há um barulho tão grande que minha cabeça chega a doer.
Não sei o que aconteceu hoje, não sei o que pensar, mas tenho que admitir para mim
mesmo que tudo que eu queria era o Caio ainda aqui comigo, mas até para mim mesmo é difícil
admitir uma coisa dessas.
É... acho que talvez eu esteja perto de descobrir o porquê dos meus sentimentos por ele
serem diferentes do Bruno, só que eu queria estar errado. Não queria que isso acontecesse, somos
amigos, somos héteros, somos...
— PORRA, PORRA, PORRA!!!! — Bato no volante do meu carro e as lágrimas vem nos
meus olhos. — O que está acontecendo, meu Deus? Por que eu quero tanto provar o beijo dele?
— digo em voz alta, entregue ao meu choro dentro do carro.
CAPÍTULO 10
Me perdendo em você

Bruno

Estou deitado de bruços e quase pegando no sono. Meu corpo está leve, o prazer que
Matheus me deu foi incrível.
Meus olhos pesam e me entrego ao sono. Não sei quanto tempo se passa, mas depois sinto
beijos serem distribuídos pelas minhas costas. Uma boca macia e quente me beija devagar
deixando rastros de desejo.
Meus olhos, que antes estavam fechados de sono, agora reviram de tesão, de expectativa.
Me arrepio inteiro quando sinto o pau duro de Matheus encostando na minha bunda e isso me
acende, mas ao mesmo tempo me deixa um pouco nervoso.
Um homem desses e eu todo inexperiente, tenho receio de fazer algo errado ou de
simplesmente não saber fazer. A boca do Matheus chega em meu pescoço e ele sussurra em meu
ouvido.
— Tem alguém com preguiça? — Dou um sorriso de lado.
— Eu estava cochilando, mas senti uma boca gostosa em mim que me acordou.
— Ah, é? Estou louco para te ver bem acordado e rebolando pra mim como você fez ali na
porta.
Corei com o que ele disse, mas um sorriso surgiu em meus lábios que logo foram
capturados por ele. Matheus me beija faminto, passando suas mãos pelo meu corpo, então me
viro e ele se encaixa no meio das minhas pernas. Só aí percebo que ele está somente de cueca.
Me entrego ao seu beijo e passo minhas mãos por suas costas, enquanto as suas estão em
minhas coxas, apertando e me fazendo enlaçar seu corpo.
Separo nossas bocas em buscar de ar, meu coração bate rápido e o tesão que me preenche
me faz arfar. Matheus morde minha boca e logo desce pelo meu pescoço. Mas quando ele chega
em meus mamilos, solto um gemido profundo. Nunca pensei que sentiria um prazer tão grande
nessa região e Matheus percebendo o que me causou, me maltratou bastante, lambeu, mordeu e
chupou cada um deles.
Quando ele desceu pela minha barriga, eu já esperava o que viria e ao sentir sua boca em
meu pau novamente, sorri entregue e me dando inteiro pra ele.
Matheus me chupou com carinho, apreciando o nosso momento, mas meu corpo retesou
quando senti um dedo atrevido em outro lugar. Ele me olhou sorrindo nessa hora.
— Relaxa, foi só um carinho. Hoje a gente está só dando um amasso gostoso. Você é bem
viciante, Bruno.
Porra, escutar uma coisa dessas desse homem gostoso, com essa voz, fez meu tesão
triplicar.
O puxei pelos cabelos e o beijei, sua boca tinha meu gosto e isso tornou tudo ainda melhor.
Matheus se livrou da cueca que nem vi e aí sim o nosso amasso foi perfeito. Ele se esfregava em
mim, nossos paus unidos e molhados, me fazendo ver estrelas. E claro, tudo regado a muitos
beijos.
As posições durante o nosso amasso foram as mais variadas, mas Matheus revirou os olhos
quando foi minha vez de chupá-lo. As cenas dos livros que eu lia brilharam na minha mente, dos
vídeos que já vi e eu dei a ele um boquete para que nunca mais esquecesse.
— Quero entrar em você, quero sentir o calor do teu corpo, eu quero...
Matheus balbuciava as palavras, possuído pelo tesão. Não senti medo de estar nu na cama
com ele e o deixando alucinado. De alguma forma eu sabia que ele respeitaria o meu tempo.
Só que acabei levando um susto com ele me puxando e nos virando na cama de forma
brusca, ficando por cima de mim. Estávamos nus, eu não tinha experiência alguma e nem tinha
me preparado para o ato em si.
— Vamos com calma — pedi. — Eu te quero muito, mas...
— Não tenha medo de mim, jamais faria algo contra a sua vontade. Está uma delícia o que
está acontecendo aqui e quero apenas que você sinta, que tenha uma pequena noção, do como
será quando transarmos de fato. Quero gozar com você.
Voltamos aos beijos e depois de rolarmos na cama sentindo o corpo um do outro, Matheus
me pôs sentado em seu colo. Ele também estava sentado e me olhava com desejo. Rebolei sem
dó, fazendo ele morder os próprios lábios.
— Porra, Bruno! Você me mata assim. Vai, rebola de novo.
E eu rebolei...
— PUTA QUE PARIU, isso foi demais! Vou gozar desse jeito.
Ouvir sua boca suja e a forma que a gente se esfregava, ele na minha bunda, sem me
penetrar e meu pau em sua barriga, me fez gemer alto. Mas foi quando eu, movido por tudo que
estava sentindo, peguei em seu pau e esfreguei a cabeça dele em meu cu, enquanto o beijava, que
Matheus começou a gozar, gemendo e chamando meu nome. Foi uma delícia sentir seu prazer
bater quente em meu corpo. Sua reação me fez gozar de novo e melei toda a sua barriga.
— Foi gostoso demais, meus Deus. Vou enlouquecer com você em modo safadinho. — Ri
de sua fala.
— Fiz um estrago na sua barriga.
— Não me importo, em mim está o seu perfume e o cheiro do seu prazer. Perfeitos. —
Sorri nos braços dele.
Naquela noite, tomamos banho juntos e dormimos agarrados um no outro, sentindo o
cheiro, a respiração e o coração que custava a acalmar.
Eu não sabia o que seria dali pra frente, eu só queria nunca mais deixar de sentir tudo que
meu coração descobria em uma única noite. E queria com o Matheus, somente com ele.
CAPÍTULO 11
Voltando a viver

Matheus

Continuo deitado, as pernas de Bruno estão enroscadas nas minhas, seu braço envolve
minha cintura e sua cabeça está em meu ombro fazendo com que seu rosto esteja colado em meu
pescoço. Uma de minhas mãos está no emaranhado dos seus cabelos e a outra envolve ele em um
abraço gostoso.
Dormimos assim, um enroscado no outro, o cheiro dele é incrível e posso facilmente me
viciar nele.
Sou um cara solitário, de poucos relacionamentos, até hoje só gostei de duas pessoas, o
carinha que me vi apaixonado quando descobri que era gay e depois o Isaak.
Isaak... lembrar dele é bom, acima de qualquer coisa, ele é meu amigo, um cara nota dez.
Me apaixonei por ele gradativamente, por seu jeito de ser, de me tratar, de tratar os outros.
Só que desde o início eu sabia que não teria seu amor, o amor que ele tem por seu
companheiro, o Gustavo, é o amor que sonho para minha vida.
Mas sentir foi inevitável, nós nunca escolhemos de quem gostar e acabei sofrendo com
isso, pois não é nada legal gostar e não ser correspondido, ter que esconder. Quando cheguei ao
meu limite, decidi pensar em mim. Acabei mudando algumas coisas para poder recomeçar.
Não era minha intenção me envolver com ninguém agora, queria ficar sozinho, apenas
curtir, sem me apegar, mas essa pessoinha que agora se encontra enroscada em mim, depois da
noite fantástica que tivemos, chamou minha atenção desde o dia em que nos conhecemos.
Eu sabia que ele era gay assim que bati meus olhos nele, mas Bruno é reservado até mesmo
com seus amigos e pelo pouco que vi ontem, quando ele falava com seu irmão, pude perceber
que as coisas na casa dele não são muito fáceis. Por isso não me espanta que ele ainda seja
virgem.
Mas algo em Bruno chamou minha atenção, ele é lindo. O conjunto: boca, olhos e corpo
faz toda obra ser perfeita. Seu jeito tímido e arisco, é encantador. Quando ele teima com algo ou
fica constrangido, faz um bico que nem percebe e é irresistível. Sorrio lembrando disso.
Esta noite eu conheci o Bruno homem, no sentido prático da palavra, e que homem. Meu
corpo arrepia só de lembrar do que vivemos, e olha que nem transamos de fato, com penetração.
Saber que esse monumento é virgem só apimentou ainda mais as coisas.
Ele se entregou ao nosso momento, a conhecer meu corpo, a me deixar explorar o dele. Via
em seus olhos curiosidade, inocência e o desejo ávido de um homem que tem necessidades e
nunca tinha se satisfeito. Ainda posso sentir o gosto da sua pele, da sua boca e do seu prazer que
ele derramou em minha língua, que eu não desperdicei uma gota sequer.
Eu fiquei louco com o cheiro, sua pele gostosa e a desenvoltura quando ele deixava a
timidez de lado.
Quando ele rebolou para mim, quase perdi os sentidos com tamanho prazer. Já tenho mania
de morder, mas naquela hora tive vontade de arrancar um pedaço dele de tão louco que fiquei.
Bruno está derrubando meu frágil murinho que eu estava construindo para me proteger. A
forma que ele está mexendo comigo, até está me assustando um pouco, mas não estou sendo
capaz de resistir.
Abraço ele, que me aperta ainda mais, e sinto meu corpo acordando por saber que está
encostado no dele.
Observo seu rosto que saiu debaixo do meu pescoço e sinto meu coração se aquecer.
Nunca tive um amor para chamar de meu, mas sendo bastante sincero, eu queria muito que este
amor fosse o Bruno. Não sei o que ele sente e nem se vai querer repetir o que vivemos esta noite,
mas torço para que queira tanto quanto eu.
A única coisa que sei é que este cara está entrando em mim sem pedir licença, como se o
lugar já fosse seu de direito e eu não estou com a mínima vontade de impedir isso.
Puxa, eu que me remende depois se nada der certo.
Beijo sua boca suavemente e ele geme de levinho e se encolhe na cama. Aproveito para
sair e ir até o banheiro onde tomo um banho e escovo meus dentes.
Saio do quarto, indo à cozinha preparar algo para ele comer. Está tudo meio bagunçado,
ainda bem que mais tarde dona Olga, nossa secretária, vem limpar.
Preparo um misto quente e faço um suco de laranja natural. Antes de voltar, passo no
quarto do Victor e ele dorme de boca aberta, com a cabeça pendurada pra fora da cama. Sorrio
balançando a cabeça.
Entro no meu quarto novamente e Bruno continua dormindo, só que o lençol saiu de cima
dele e aquela bunda deliciosa está visível. Sinto vontade de morder a delícia na minha frente.
Respiro fundo, colocando seu café da manhã em cima da minha escrivaninha e vou pra
cima dele, distribuindo beijos em suas costas para que acorde.
Observo ele sorrir e quando chego perto de sua boca, deixo um selinho demorado e
molhado. Olhos lindos se abrem e me observam. Ele coloca sua mão ao meu rosto e fecho meus
olhos sentindo seu carinho.
— Bom dia — Bruno fala com a voz rouca e sedutora.
Meu coração palpita nessa hora e quando encaro seus olhos de novo, tenho certeza que
estou me rendendo completamente a esse homem.
CAPÍTULO 12
Consequências

Bruno

A felicidade que estou sentindo é impossível de se explicar, cada parte do meu corpo sente
o toque do Matheus. É o tipo de toque que te torna dependente.
Sinto beijos pelas minhas costas e imediatamente me lembro de que a noite anterior
começou exatamente assim. Ao sentir um beijo em meus lábios, gostoso e molhado, o sorriso
vem espontâneo.
— Bom dia — digo, ainda muito sonolento.
E a visão na minha frente é de tirar o fôlego. Matheus me olha e suspira. Queria saber o
que está se passando em sua cabeça, porque na minha, tudo que sei, é o quanto quero acordar
assim todos os dias.
— Bom dia, meu gatinho — Seu sorriso foi deslumbrante.
— Dormi igual a uma pedra.
— Mas dormiu bem? – pergunta.
— Sim, eu estava num abraço muito bom — digo meio envergonhado, mas sendo sincero.
— Eu também dormi muito bem, tinha uma pessoa em meus braços que me deu uma noite
perfeita.
Meu peito se enche de felicidade e apenas sei sorrir igual um bobo. O barulho do meu
celular nos tira da nossa bolha e Matheus novamente o pega pra mim. Vejo que é meu irmão.
— Bom dia, irmão — Atendo, tentando fugir dos beijos que Matheus deixa em meu
pescoço.
— QUERO SABER AONDE VOCÊ ESTÁ AGORA! — grita meu pai do outro lado da
linha.
Imediatamente fico de pé e começo a tremer. Meu olhos estão arregalados e Matheus me
olha assustado sem entender o que está acontecendo.
— Pai, calma. Cadê o Cássio? – pergunto, sentindo a cor sumir do meu rosto. Estou a
ponto de ter um ataque do coração.
Neste momento, olho para Matheus, que está sério e se aproxima de mim me pedindo
calma com as mãos.
— ESSE DAÍ JÁ DEI UM JEITO, EU QUERO AGORA VOCÊ!! — O ódio na voz do
meu pai arrepia meus pelos e só penso em meu irmão. Como assim ele deu um jeito?
— BRUNO, NÃO VEM PRA CASA AGORA! – grita meu irmão e posso escutar.
— CALA A BOCA!! MEU ASSUNTO AGORA É COM ESSE INFELIZ QUE EU
TENHO QUE CHAMAR DE FILHO.
Eu já choro e Matheus me abraça. Fico sem saber o que fazer, apenas respondo que estou
indo pra casa e desligo o telefone.
— Você não vai pra casa, seu pai está descontrolado! — Matheus fala aflito e segurando
meus braços.
— Eu preciso ir, não sei o que ele fez com meu irmão, não vou deixá-lo sozinho.
— Seu irmão está vivo, porra! Você ouviu a voz dele, até eu ouvi. Não vou deixar você
sair daqui, não vou mesmo. — Matheus passa as mãos pelos cabelos.
— Você não entende, Matheus – Tento argumentar.
— Quem não está entendendo é você, seu pai é um homofóbico, nem preciso conhecer
para saber. Olha o tom que ele usou com você, seu próprio irmão pediu para você não voltar!! —
Matheus estava transtornado.
Eu já estava pegando minhas roupas e vestindo. Fui até o banheiro e joguei uma água no
rosto. Quando voltei para o quarto, Matheus estava sentado na beirada da cama com as mãos na
cabeça, mas logo encarou meu olhos.
— Bruno, eu vou junto. Seu pai não vai encostar um dedo sequer em você ou eu arrebento
ele.
— Ele não vai me bater, Matheus. Vou conseguir conversar com ele, agora me deixa ir
sozinho — peço, depois de contar a maior mentira da minha vida.
— EU VOU COM VOCÊ E PRONTO! – Matheus eleva a voz e começa a se vestir.
Meu corpo inteiro treme e choro compulsivamente na sala enquanto espero por Matheus,
que logo vem ao meu encontro.
— Vamos. — É apenas o que ele diz.
Durante o trajeto para casa, sinto meu peito comprimir, só penso em Cássio. Meu irmão
nunca precisou enfrentar a fúria do nosso pai, sempre foi o filho perfeito, nunca ouviu um grito e
agora não sei o que papai fez com ele. Como ele descobriu que eu não estava na casa de Érica
com o Cássio?
Meu telefone toca e é o número da minha cunhada...
— Bruno, graças a Deus você atendeu. Meu querido, toma cuidado, seu pai está possuído
pelo demônio. Ele chegou aqui em casa de repente, estávamos tomando café da manhã e seu
irmão já ia ligar para te buscar, quando seu pai entrou e pediu para falar imediatamente com
você. Não tínhamos nem como inventar nada, não esperávamos, ele simplesmente... voou em
cima do Cássio e deu um soco nele, o chamando de mentiroso, que ele estava te acobertando.
Que você era um viado nojento — Érica fala o final da frase mais baixo.
Choro de soluçar por saber o que aconteceu com meu irmão, mas Érica continua...
— Não sei como ele soube que você não estava aqui, mas ele estava até com a roupa do
trabalho ainda, então veio direto. Seu irmão ficou perplexo com a atitude dele e está morrendo de
medo de quando ele te encontrar.
— Onde está o Cássio? Ele está em nossa casa?
-— Sim, foi embora com seu pai.
Me despeço de Érica e choro ainda mais, porque sei tudo que virá pela frente. Observo o
homem ao meu lado dirigindo completamente sério. Tivemos uma noite especial que poderia vir
a se tornar tanta coisa, mas sei que daqui a alguns minutos não o terei mais e nunca mais vou vê-
lo.
Quando chegamos na esquina da minha casa, peço para Matheus me deixar ali, ele se
recusa e sou obrigado a ser mais drástico com ele.
— VOCÊ NÃO VAI COMIGO!! ISSO É ASSUNTO MEU E VOCÊ NÃO TEM NADA
A VER COM ISSO!! — grito dentro do carro, tomado pelo desespero e medo do meu pai. Se ele
machucar o Matheus, eu não vou suportar, já chega o que fez com meu irmão.
— Como você pode pensar que não tenho nada a ver com isso? Você estava comigo,
Bruno. Não vou deixar ele encostar um dedo em você.
— Matheus, quero que você vá embora, AGORA!!!!! — grito e saio do carro batendo a
porta. Corro até minha casa sem olhar para trás.
Quando abro o portão da frente e entro, meu pai sai na porta. Engulo em seco ao olhar para
ele. Vou me aproximando devagar, encarando seus olhos e quando chego perto o suficiente,
antes que eu possa falar algo, ele me agarra pelos cabelos e me joga com toda força no chão da
sala.
Nessa hora, Cássio desce as escadas correndo, gritando para que nosso pai pare, mas isso
não impede que ele me chute as costelas.
— PAI, PARA !!! — grita Cássio, tentando empurrá-lo para longe de mim, mas nosso pai
é um homem grande e forte.
— EU NÃO CRIEI FILHO PARA SER VIADO, SE QUER DAR O RABO, NÃO VAI
FAZER ISSO DEBAIXO DO MEU TETO. EU DOU COMIDA E TETO PARA ELE E ELE
AGRADECE DANDO ESSE MALDITO RABO!
Meu pai me agarra pela camisa e quando vai acertar um soco em meu rosto, a porta da sala
abre violentamente. Matheus o empurra e ele cai sobre o sofá.
— Você não vai bater nele, seu filho da puta — diz Matheus, apontando o dedo para meu
pai.
Cássio se desespera e tenta puxá-lo para longe.
— Ah!!! O macho veio defender sua puta. — Meu pai começa a debochar. — Eu vou
chamar a polícia por ter invadido minha casa e me agredido — meu pai fala cuspindo ódio pelo
Matheus.
Mas ao mesmo tempo ele se vira para mim, de repente, e me dá um soco tão forte, que caio
cuspindo sangue no chão da sala. Cássio já não consegue segurar Matheus e ele voa para cima de
meu pai e defere socos em seu rosto, os dois se engalfinham no chão.
Tento segurar meu pai e Cássio, o Matheus. Minha mãe que até agora estava calada, grita
pedindo socorro e para que chamem a polícia. Dois vizinhos entram em nossa casa e ajudam a
separar a briga. Quando meu pai percebe que sou eu segurando ele, me empurra com força e me
olha com ódio.
— A polícia vai levar ele e vou adorar ver este verme na cadeia. Tenho nojo de você —
Meu pai cospe as palavras em cima de mim.
Levanto na mesma hora e vou até Matheus e Cássio.
— Por favor, Cássio, tira o Matheus daqui. Por favor, a polícia vai prendê-lo.
— Eu não vou deixar você aqui com esse monstro, Bruno — diz Matheus convicto.
Percebo que se eu não mentir, nada vai tirar o Matheus dessa situação, que por minha culpa
ele entrou. Então olho em seus olhos e digo com todas as letras.
— Você já não acha que atrapalhou minha vida o suficiente? — digo e meu irmão e
Matheus me olham sem entender nada.— Quero que você vá embora, eu que tenho que me
resolver com meu pai. Não somos nada um do outro, só tivemos uma noite e que nem sei se ia se
repetir. Me deixa em paz com minha família e com meus problemas, vai embora, eu não pedi a
sua ajuda. Não quero ser responsável pela sua prisão. Vou conversar com meu pai, AGORA
SAIA DA MINHA CASA! – grito e todos nos olham. Um silêncio se instala na sala.
— Bruno! – Cássio tenta falar, mas olho para ele e sinto vontade de chorar ao ver seu olho
roxo. E é ele que me dá forças para manter o personagem.
— Vai embora, Matheus. Obrigado pela noite, mas acabamos por aqui — digo e meu
coração se quebra ao meio.
Matheus me olha perplexo, com os olhos cheios de lágrimas e depois olha para todos
naquela sala. Sinto sua vergonha e decepção, ele se desvencilha dos braços do meu irmão
bruscamente e se próxima de mim. Ficamos olhando um nos olhos do outro até que ele fala.
— Nunca mais olhe na minha cara.
E vai embora.
Tudo em mim grita para que eu corra atrás dele, mas não quero que seja preso, não quero
que meu pai bata nele. Não quero essa situação de merda que eu vivo para ele que é tão especial.
Matheus merece alguém forte o suficiente para lutar por seu amor e não um covarde como eu.
Os vizinhos começam a sair, minha mãe está limpando o corte na boca e no supercilio de
meu pai, quando ouço a sirene da polícia de longe e me aproximo dele.
— Por favor, não denuncie o Matheus. Se o senhor fizer isso, eu vou mostrar meus
ferimentos e denunciá-lo por agressão.
— Você está me ameaçando, moleque?
— Estou.
— Eu também mostro o meu, seremos dois contra um. — Meu irmão para ao meu lado.
Meu pai nos olha com ódio e minha mãe resmunga, mas por fim, quando a polícia chega,
meu pai fala que foi um desentendimento de família e que não quer prestar queixa. Os policiais
ainda insistem, mas meu pai fala que foi ele que começou, então está tudo resolvido.
— Por que você falou com o rapaz daquela forma, Bruno? — Cássio me olha com pesar.
— Porque era o único jeito de tirá-lo daqui naquele momento, nem pensei em mais nada,
só queria protegê-lo a qualquer custo. Ele seria levado, os vizinhos viram ele batendo no nosso
pai. O Matheus não merece esse inferno que é minha vida, eu moro aqui, dependo do nosso pai
ainda.
— Eu não vou continuar aqui, vou para a casa da Érica e você vai junto comigo. Ele não
pode impedir, pois você já tem dezoito anos.
Abraço meu irmão e me sinto seguro nos seus braços. Meus pais voltam para dentro de
casa nesse momento e nos flagram abraçados.
— Que momento lindo em família — Debocha meu pai.
— Vou pegar minhas coisas e as de Bruno e estamos indo embora — Nunca tinha visto
meu irmão tão sério.
— Seu irmão não vai sair daqui, ele depende de mim.
— Vou sim, vou morar com meu irmão, aqui eu não fico mais — respondo, encarando
seus olhos e o ódio que vejo me assusta. Dou um passo para trás.
— Os dois passando por aquela porta não serão mais meus filhos e não terão nada de mim
— diz meu pai.
Deixamos os dois na sala e fomos para o meu quarto. Cássio imediatamente ligou para
Érica e perguntou se podíamos ir para lá, ela respondeu que sim e começamos a arrumar nossas
coisas.
Seria só por um tempinho, logo Cássio ia se casar e eu ficaria na casa deles. Meu irmão já
tinha visto um apartamento, ele só estava esperando o imóvel desocupar.
Depois de pegar minhas coisas, desço junto com meu irmão, nossos pais estão na sala e nos
olham.
— Há quanto tempo você está acobertando ele, Cássio? — pergunta meu pai.
— Eu não estava acobertando ninguém, pai. Bruno foi apenas a uma festa, vocês não
deixam o menino viver. Ele já tem dezoito anos, um homem já, precisa ver a vida, sair com os
amigos.
— Seu irmão é viado. Você sabia disso? – meu pai fala e minha mãe me olha com nojo.
— A orientação sexual do meu irmão não é da minha conta nem da de vocês, Bruno é a
pessoa mais especial da minha vida e a única coisa que sei é que, a partir de agora, nem eu e nem
ele devemos nenhuma satisfação para vocês. — Meu irmão segura em minha mão e me tira de
casa.
Entramos em seu carro e vamos rumo a casa de Érica. Fui chorando pelo caminho, tudo
isso que presenciei, tudo que falei para o Matheus, tudo pesou agora e apertou meu peito. Meu
irmão passa a mão pelas minhas costas e fala para que eu coloque tudo para fora.
Chegamos na casa de Érica e ela vem correndo nos receber. Ela dá um beijo no meu irmão
e me abraça. Minha cunhada me leva para um quarto vazio que há em sua casa e me deita na
cama, choro ainda mais abraçado a ela que faz carinhos em meus cabelos.
Érica mora com seus pais, eles são pessoas maravilhosas, gosto muito deles. Sua mãe,
vendo meu estado, fez um chá de camomila, me deu um remédio para dor de cabeça e passou
uma pomada em meu rosto e nas costelas. Essa combinação, depois de chorar muito, me fez
adormecer aos poucos e só me lembro de dizer baixinho:
— Desculpa, Matheus.
CAPÍTULO 13
Não me deixe aqui sozinho

Bruno

Acordo sentindo o cheirinho de uma comida gostosa, então me lembro de que nem cheguei
a comer o café da manhã que Matheus preparou para mim.
Matheus... basta lembrar dele que meus olhos se enchem de lágrimas. Choro baixinho,
encolhido na cama. Ainda estou com a mesma roupa que fui pra festa, acabei adormecendo após
o chá que dona Eleonora fez para mim.
Me viro na cama e fico de barriga para cima. Sinto dor no rosto e em minhas costelas, mas
é meu coração que dói mais que tudo. Os olhos do Matheus cheios de lágrimas, enquanto me
olhava perplexo não saem da minha cabeça.
Estou tão triste e distraído, que não vejo meu irmão entrar no quarto, até que sinto sua mão
em meus cabelos e ele se deita ao meu lado. Me viro e fico de frente para ele.
— Como você está?
— Destruído.
—Tudo ainda mais por causa dele, não é?
— Simplesmente tudo por ele, Cássio. Eu o magoei e falei um monte de mentiras. Estou
completamente apaixonado por ele.
Meu irmão me abraça e eu suspiro.
— Não deixe ele escapar. Vai atrás dele e explica tudo, mas não perca seu amor.
Olho para o meu irmão e faço um carinho no rosto dele.
— Eu amo você. Desculpa ter te metido em tudo isso.
— Eu te amo mais. Não me peça desculpas, faria tudo de novo.
Dona Eleonora bate na porta e entra.
— Bruninho, venha comer um pouco, meu filho. Você precisa se alimentar.
— Obrigado por tudo que a senhora está fazendo por mim e meu irmão.
— Seu irmão é como um filho para mim, ele é o amor da minha menina. Você também é
meu querido, o mesmo amor que dou a ele, dou a você.
As palavras de dona Eleonora me emocionam muito. Cássio se levanta e me entrega uma
roupa que separou para mim e sai do quarto. Me levanto e vou para o banheiro. Quando passo
por dona Eleonora, ela me diz algo que toca lá no fundo.
— Não desiste do seu amor, menino. Não deixe ele sem saber o quanto você o ama, leve o
tempo que for. — Ela deve ter escutado eu falar com meu irmão, fico um pouco constrangido.
Olho para ela sentindo cada uma de suas palavras e a abraço. Ela retribui o carinho e
percebo que jamais ganhei um gesto assim da minha própria mãe.
Depois de tomar um banho, vou me encontrar com eles na cozinha, onde Cássio, dona
Eleonora, senhor Paulo e Érica estão sentados para o almoço.
Beijo cada um deles e me sento para comer. Após conversar um pouco e me alimentar,
volto para o quarto, minha cabeça ainda dói. Pego meu telefone e ligo para o Matheus, mas seu
número dá desligado. Suspiro triste.
Ligo para Caio e meu amigo me atende no segundo toque, então conto a ele tudo que
aconteceu desde a noite anterior até agora, quando não consegui falar com Matheus. Meu amigo
fica chocado com tudo que relato.
Passo o endereço da Érica para ele e nós combinamos dele vir aqui mais tarde. Quando
desligo, tento novamente ligar para o Matheus, mas continuo sem sucesso.
Me deito novamente e tento cochilar. Meu irmão ia agora à tarde com a Érica na
imobiliária saber do imóvel deles. Fico ali quieto, tentando sem sucesso fazer o sono vir, quando
ouço a porta abrir e vejo Caio parado me olhando.
— Vem cá — digo e me sento na cama.
Caio quando chega perto de mim, me abraça forte.
— Você sabe que minha casa é sua também, não sabe?
— Eu sei, meu amigo. Sei que tenho você na minha vida, que tenho sua amizade e seu
amor.
— Ainda bem que você sabe, senão eu iria te passar um sermão aqui.
— Não, sem sermões, por favor. Hoje preciso de carinho.
— Dengoso — Caio me faz sorrir pela primeira vez depois de tudo.— Seu rosto está roxo,
meu Deus.
— Meu coração está pior, meu amigo. Isso na minha cara não é nada. Onde está o Pedro?
— Não sei, Bruno. Aliás, eu sei, só estou achando ele estranho. Hoje de manhã fui chamá-
lo, minha mãe fez o bolo de banana que ele tanto gosta, aí levei um pedaço, mas a mãe dele falou
que o Pedro foi passar o final de semana na casa dos avós. Ontem quando voltamos da festa, ele
estava esquisito, não sei o que está acontecendo.
— Preciso te falar uma coisa.
— Então fale.
— Ontem, quando você chegou na festa, percebi uma coisa.
— O quê?
— Ele ficou vidrado olhando para você, te acompanhando com os olhos por todos os
lugares, e não diga que é impressão minha, pois não é, eu observei bem ele. O Pedro estava tão
concentrado em você, que nem percebeu que eu o olhava.
Caio me olha tentando entender tudo que estou falando.
— Ele implicou tanto comigo ontem, e na hora de nos despedirmos, ele me olhou de uma
forma diferente, fiquei sem entender.
— Acho que Pedro está começando a te reparar de outra forma.
— Não acredito nisso, Bruno. Qual é? O Pedro é hétero. Nunca o vi olhar para nenhum
cara. Não vou embarcar nessa, não quero sofrer mais do que já sofro por gostar de alguém que
nunca gostará de mim, que só me vê como amigo.
— Mas não descarto observarmos ele.
—Vamos focar em você e no Matheus. O que você fará agora?
— Ele não me atende, deve estar muito magoado, seu celular só dá desligado. Vou
conversar com ele segunda, lá na faculdade. Deixarei hoje e amanhã ele refrescar a cabeça,
também não estou bem, mas não vou desistir. Estou apaixonado por ele, Caio. O que vivemos
ontem foi incrível e quero muito mais, quero ele na minha vida.
— Assim que se fala, meu amigo, não desiste. Você tem chance, então corre atrás. Estou
com você, me avise se precisar de reforços. Mas... o que aconteceu ontem propriamente? — Dou
um sorriso tímido.
— Não transamos, se é isso que quer saber, mas... foi um amasso daqueles. Chegamos a
ficar sem roupas e dormi nos braços dele.
— Uau! E você conseguiu não transar?
— Ah, a gente se beijou ontem pela primeira vez e mesmo que ele tenha me deixado com
um fogo daqueles, eu não estava preparado.
— Isso, vai no seu tempo. O bom é que ele respeitou então.
— Sim. Matheus é incrível, gostoso e incrível. — Sorri para o meu amigo.
Aquela tarde, Caio passou comigo e meu amigo me animou um pouco. Fiquei triste pela
forma que ele falou do Pedro, pois imagino o quanto deva ser difícil para ele, e sinceramente,
estranhei essa ida de Pedro para a casa dos avós, ele não gosta de ir pra lá, se sente preso, mas
nem comentei isso com o Caio. Enfim, ficaria de olho nisso.
A noite foi a pior parte, pensei a madrugada toda em Matheus e nem dormi, lembrei de
cada toque dele, fiquei excitado, depois chorei e só queria estar nos braços dele naquele
momento.
O domingo passou nostálgico, chovia um pouco. Conversei com Caio pelo telefone e fiz
vários nadas. Pedro realmente ficou sumido no final de semana.
A segunda-feira chegou e avisei ao Caio que Cássio me levaria a faculdade para ele avisar
ao Pedro. Nos encontraríamos lá.
Quando cheguei, me despedi do meu irmão e entrei. Encontrei logo meus amigos e Pedro
veio em minha direção e me abraçou apertado.
— Desculpe não estar por aqui, o Caio me falou hoje cedo um resumo de tudo. Eu estou
aqui para o que você precisar, meu irmão. Não acredito que seu pai fez isso com você. — Sabia
que Caio tinha contado apenas que meu pai descobriu a mentira da festa.
— Eu sei, meu irmãozinho, te amo.
— Também amo muito você.
— Quando tudo isso passar, quero conversar com você, tudo bem? — falei olhando nos
olhos de Pedro.
— Claro, é só marcar, estaremos lá.
— Não. Só você e eu, pode ser?
— Tudo bem então.
Entrei com meus amigos e não vimos Matheus em nenhum lugar. Pedi ao Caio que
avisasse a ele na sala que eu precisava falar com ele.
Naquela segunda-feira eu não vi o Matheus, ele não foi para aula. Voltei para a casa da
Érica desolado e o telefone dele continuava desligado. Em meu coração eu tinha a esperança que
amanhã conseguiria falar com ele, mas não foi bem isso que aconteceu...
Matheus não apareceu na faculdade a semana toda, eu já estava desesperado a ponto do
meu irmão querer me levar na casa dele, mas eu tinha medo, não sabia como ele ia reagir. Porém,
na sexta-feira, sem nenhuma notícia, pedi que Cássio me levasse até lá.
Quando chegamos em frente ao condomínio, meu coração martelava no peito.
— Você tem que ficar calmo, Bruno. Você está uma pilha esta semana. Nervoso assim
vocês não irão resolver nada. Quer que eu vá com você?
— Não, quero conversar a sós com ele. Só me espera um pouco, tá? Espera minha
mensagem para ir embora.
— Ok, eu espero.
Desci do carro e fui até a recepção. Foi anunciada minha chegada e permitida a minha
entrada, quase chorei nessa hora. Quando cheguei em frente a porta e toquei a campainha, foi
Victor que me recebeu.
— Oi, Bruno. Tudo bem?
— Agora estou melhor, Victor. O Matheus está?
— Não, ele viajou.
— Como assim viajou?
— Entra que a gente conversa.
Entrei no apartamento e uma enxurrada de lembranças me invadiu. O apartamento estava
todo arrumadinho, mas era vazio sem o Matheus aqui.
— Senta, você quer beber alguma coisa? — Victor foi gentil.
— Não, obrigado.
— O Matheus recebeu no último domingo de manhã uma ligação do pai dele, dizendo que
minha tia estava muito doente, mas não disse o que era. Ele pediu que meu primo fosse
imediatamente pra lá.
— E esse lá é aonde?
— São Paulo.
— Ah, eu tentei falar com ele desde sábado à tarde, mas o celular dele só dava desligado.
— É... eu soube depois que estava desligado. Matheus chegou muito transtornado no
sábado de manhã, eu tinha acabado de acordar e não entendi nada. Sabia que você tinha dormido
aqui e com ele, mas quando vocês saíram, eu estava dormindo. Aí ele voltou da rua com a boca
machucada e custei a entender o que tinha acontecido até que ele me explicou por alto que se
envolveu numa briga com seu pai. Mas não quis falar muita coisa e ele fala tudo comigo.
Ouço Victor falar e meus olhos ficam úmidos.
— Mas a noite ele desabafou e chorou muito, Bruno. Nunca vi meu primo daquele jeito.
Ele contou tudo e detalhou o que você disse a ele. Matheus passou o dia fechado em si mesmo,
estava se segurando, mas a noite ele não suportou mais e depois de eu insistir, acabou
desabafando comigo.
— Não é verdade nada do que eu falei, Victor. Só disse aquelas coisas para protegê-lo,
para tirar ele da minha casa naquela hora. Fiquei com muito medo, ele foi bem teimoso.
— Pois ele acreditou em cada palavra sua, disse que não iria mais falar com você. Aí no
domingo meu tio ligou e ele foi. Até perguntei da faculdade, ele apenas disse que no momento o
importante era a mãe dele, que se fosse o caso, ele trancaria.
Meu coração ficou pequenininho nessa hora.
— Ele não vai voltar, é isso que você está me dizendo?
— Bom, eu não devia falar isso, pois não quero me meter na vida dele, mas hoje ele me
disse que ligou para faculdade e entrou com pedido para trancar a matrícula, porque minha tia
não está bem e ele quer ficar perto da mãe.
Meu mundo desabou ali. Eu havia ido na secretaria em busca de notícias na quarta-feira,
mas ele não tinha justificado as ausências. Hoje ele ligou.
— Ele ligou para você como?
— Pelo telefone da casa da minha tia. Nem me preocupei em perguntar pelo celular dele,
só sei que durante a semana toda ele não tinha entrado em contato.
Abaixei a cabeça derrotado, meu amor havia ido embora com raiva de mim.
— Ele precisa me ouvir, Victor. Nada do que falei foi verdade, você precisa...
— Bruno, eu já tentei falar para vocês dois conversarem. Quando o vi daquela forma, foi a
primeira coisa que fiz, ele falou para que eu não repetisse isso, que ele não queria mais saber
dessa história. Ele disse que estava cansado de sofrer por quem não gostava dele. Que parecia ser
uma sina que ele carregava.
— Mas eu o amo, Victor. — Victor me olha com um olhar de pena, mas entendo que ele
não pode fazer nada.
— Amanhã ele vai vir aqui para pegar mais algumas de suas coisas, mas não sei que horas
ele vem, só sei que ele volta amanhã mesmo, foi o que ele disse.
Balanço a cabeça, mas não consigo dizer mais nada.
— Você me permite ir até o quarto dele?
— Claro, vai lá.
Mesmo com vergonha do meu pedido, vou até o quarto de Matheus e quando abro a porta,
a saudade me invade totalmente. Caminho para perto da cama e consigo ver nos dois em cima
dela, nossos beijos e nossos carinhos. Está tudo arrumado, mas consigo ver nitidamente. Abro
seu guarda-roupas e dentro dele tem apenas três camisas penduradas, pego uma delas e ela está
com seu cheiro. Penduro de volta e fecho o armário. Resolvo ir embora, não há mais nada para
fazer aqui.
— Obrigado por me receber, Victor. Eu vou tentar amanhã falar com ele. Não se preocupe
que não vou te envolver nesse assunto. Eu que preciso correr atrás do prejuízo.
— Tenta sim.
Aperto a mão de Victor e vou embora, estou em frangalhos. Meu irmão me vê e logo desce
do carro, vindo ao meu encontro e me abraça. Choro copiosamente.
— O que houve? Ele não quis te ouvir?
— Ele foi embora para São Paulo — É a única coisa que consigo falar para meu irmão.
O restante daquele dia eu passei trancado no quarto...
Na manhã seguinte, consegui conversar com meu irmão e contei tudo que Victor me disse
e ele falou que ia me ajudar a encontrá-lo hoje.
Fizemos acampamento em frente ao prédio do Matheus, logo após tomarmos café da
manhã. Cássio e eu estávamos dentro do carro e almoçamos por ali mesmo, até que Cássio
recebeu uma ligação da Érica de que não estava se sentindo bem. Falei que podíamos voltar, que
já estávamos há muito tempo ali.
Voltamos para casa e Érica estava muito enjoada e nada parava em seu estômago. Cassio
foi levar a noiva ao médico e eu estava inquieto. Liguei para o Pedro, pedi se ele podia me levar
no apartamento do Matheus e em 20 minutos meu amigo chegou e me pegou. No caminho,
apenas expliquei que queria falar com ele e como ele não foi a faculdade a semana toda, eu
estava indo em sua casa. Pedro me olhava sem entender muita coisa, mas me levou, ele era um
amor de pessoa.
Assim que chegamos, vi o Victor sair na portaria, desci apressado do carro e gritei seu
nome.
— Oi, Bruno! Conseguiu falar com ele?
-— Não, ele não veio.
— Como não veio? Ele chegou hoje cedinho, e saiu agora pouco para o aeroporto de novo.
Minha tia tem exames hoje, ele precisava voltar. Como você está aqui, achei que haviam se
encontrado.
Putz, ele chegou antes de Cássio e eu chegarmos e saiu no momento em que eu não estava
aqui. Foi o que pensei.
— Não, eu cheguei aqui cedo, mas não tão cedo quanto ele. E ainda fiquei vigiando
quando chegasse e a todo tempo ele já estava aí dentro, que merda!!
— Calma, vai para o aeroporto que você alcança ele. Tem uns 15 minutos que ele pediu
um táxi e saiu. Até lá tem um chão, o voo de volta dele está para sair às 16:30.
Me despedi do Victor correndo e voltei para o carro às pressas e pedi ao Pedro que em
levasse ao aeroporto. Meu amigo arregalou os olhos, mas como era muito gente fina, apenas
meteu o pé no acelerador.
— Bruno, o que está acontecendo? Por que estamos indo para o aeroporto? — perguntou
Pedro todo confuso.
— Prometo depois te explicar tudo, Pedro. Eu juro, mas agora só posso te dizer que o
Matheus está indo pegar um avião para São Paulo e eu preciso muito falar com ele antes disso.
— Tudo bem, mas depois você me explica.
— Ok. — Olho no relógio e são 15:15 da tarde, o trânsito está bom, mas não avisto
nenhum táxi e começo a me desesperar.
Chegamos no aeroporto às 16:10 e começo a procurar por ele em todos os cantos. Pedro se
separou de mim para me ajudar, mas não o vejo. Escuto o voo para São Paulo ser chamado, olho
para tantos rostos e nenhum é o dele, até que quando estou prestes a desistir e me viro, vejo
Matheus de costas entrando na sala de embarque. Grito seu nome desesperado, mas ele não me
escuta. Grito de novo e de novo, mas ele entra e fico vendo ele seguir pelo vidro que nos separa.
Ele está com fones no ouvido, por isso não me ouviu. As lágrimas já descem pelo meu rosto,
quando ando até onde vejo os aviões. Nesse momento Pedro chega perto de mim.
— Eu não o encontrei, Bruno — diz meu amigo ofegante.
— Eu sim.
— Onde?
— Ele está indo embora. — Aponto o avião fechando suas portas.
Tento segurar meu choro, limpando meu rosto toda hora e até me esqueço de que é Pedro
que está comigo e ele não sabe de nada. Mas a dor que sinto está me matando, e não consigo
mais me segurar perto dele. Meu amigo me abraça.
— O que aconteceu, Bruno? Por que você está assim?
— Por favor, não pergunta nada agora, só me abraça, por favor.
E assim ele faz e me sinto acolhido em seus braços. Abraçado a Pedro, vejo o avião
levando o amor da minha vida embora.
Depois de me acalmar um pouco, Pedro me levou a um café que tem no aeroporto e nos
sentamos numa mesa mais escondida. Meu amigo me olha com um olhar que transmite pena e
confusão, ele não sabe o motivo do meu choro. Encaro seus olhos, estamos a quase 10 minutos
em silêncio, então respiro fundo e enfim tomo coragem, ele merece.
— Eu sou gay, Pedro — digo de cabeça baixa, mexendo no guardanapo que tenho nas
mãos.
Não ouço nenhum outro barulho que não seja a moça que limpa a mesa distante de nós, ou
as pessoas que fazem seus pedidos no caixa.
Arrisco olhar para o Pedro e ele está perdido em algum pensamento, pois olha para fora
com um olhar que me diz que ele não está aqui. Nem sei ao menos se ele me ouviu, mas no
momento que ele olha para mim, vejo que sim. Fico nervoso, Pedro não fala absolutamente nada.
Quando ele segura minha mão e aperta, ele enfim diz tudo que eu queria ouvir.
— Por que não me contou antes? Eu jamais iria te discriminar. Você teve medo?
Balanço a cabeça que sim.
— Poxa, Bruno. Que tipo de pessoa você acha que eu sou? Quantas vezes eu te disse que
você é meu irmão? Você gostar de homem ou mulher, ou dos dois, não faz a mínima diferença
para mim, eu respeito você e suas escolhas.
— Obrigado — disse com a voz embargada. — Eu vivi tempo demais com medo e
sentindo tudo sozinho, por isso tenho medo das pessoas.
— Não tenha medo de mim, eu sou seu amigo e vou estar com você em tudo. Agora me
conta onde o Matheus entra nessa história. Eu até faço uma ideia, mas quero ouvir de você.
Contei tudo para o Pedro, desde o momento em que me interessei por Matheus, até agora.
— Porra, eu não percebi nada, caramba! — Pedro estava surpreso.
— Desculpa, meu amigo.
— Então o Caio... também não vê nada demais nisso? Fico ainda mais orgulhoso daquele
baixinho. A forma que ele te acolheu, te aconselhou e ainda armou o encontro. — Pedro dá um
sorriso lindo ao falar de Caio.
— Sim, o Caio não é preconceituoso — digo, querendo falar mais, mas não posso trair a
confiança do Caio e nem sei como o Pedro reagiria se soubesse que nosso amigo é
completamente apaixonado por ele.
— Fico muito triste que você não tenha conseguido falar com o Matheus, ele é um cara
super gente boa. Imagino que também esteja sofrendo com tudo isso, todo esse mal-entendido.
— Eu tentei, Pedro. Estou acabado por dentro. Quando finalmente encontro alguém,
quando finalmente me entrego a um sentimento, eu o perco. E pensar que ele deva estar com
muita raiva de mim, é ainda pior.
— Fica assim não, dê um tempo. Ás vezes, ele é o melhor remédio. Se for para ser, meu
amigo, vai ser, leve o tempo que for.
— Nossa, você é a segunda pessoa que me fala de tempo.
— Algo me diz que no fim dará tudo certo.
Conversar com Pedro me trouxe uma paz muito grande, eu não aguentava mais me
esconder para ele.
— Pedro?
— Oi.
—Tem alguma coisa que você queira conversar?
— Que tipo de coisa? — Senti Pedro meio arisco.
— Sei lá, qualquer coisa. Quero que você saiba que pode conversar sobre tudo comigo, ok?
— Eu sei, Bruno. Tem uma coisa, mas não me sinto preparado para falar, é uma coisa
minha que ainda estou tentando entender, é muito confuso. Não quero falar agora, tudo bem?
—Tudo bem, meu irmão, mas saiba que eu estou aqui, sempre. Desculpa mais uma vez se
eu mesmo não falei sobre mim antes, mas acho que tudo é reflexo do que vivi dentro da casa dos
meus pais. Como você e o Caio são as melhores pessoas da minha vida, junto com meu irmão,
eu tinha um medo absurdo de perder vocês. Não iria suportar.
Aperto a mão de Pedro que ainda continua segurando a minha. Algo me diz que o que ele
não quer falar tem a ver com o Caio, mas não irei pressioná-lo, sei bem como é tentar se
entender.
—Você me dá um minutinho só? — Peço ao meu amigo.
— Claro.
Me levanto e vou até onde visualizo a pista dos aviões. Sinto minha garganta arder olhando
aquela pista vazia. Queria tanto ter conseguido me explicar, queria tanto dizer o quanto sou louco
por ele, mas não consegui. Choro com a testa encostada no vidro.
Levo um susto quando sinto alguém me abraçar de lado, mas ao ver Pedro deito a cabeça
em seu ombro.
— Sabe, meu amigo, tenho algo para te dizer — falo.
— Então diz, estou aqui para te ouvir.
— Nunca deixe de dizer a alguém o quanto essa pessoa é importante pra você, não esconda
seus sentimentos, pode não dar tempo. Acabou de acontecer comigo e dói demais.
Pedro suspira e vejo seus olhos cheios de lágrimas como os meus e o abraço apertado.
— Vamos embora, por favor. Preciso seguir com a minha vida — peço com a voz
embargada.
Pedro me leva até seu carro abraçado comigo.
Naquela noite, deitado em minha mais nova cama na casa de Érica, eu prometi a mim
mesmo não me esconder mais, não esconder o que sinto. Prometi lutar para ser feliz, concluir
meus estudos, arrumar um emprego, e ser alguém. Prometi tudo pensando no Matheus.
— Eu vou conseguir, amor. Eu vou conseguir tudo isso, mesmo você estando longe de
mim. Mesmo não tendo seu sorriso ou seus braços envolta de mim. Por você, pelo que sinto por
você, eu vou seguir e quem sabe um dia eu tenha a chance de te encontrar novamente — falo
sozinho em meu quarto.
Dormi sentido e amando demais alguém que agora estava longe de mim.
CAPÍTULO 14
Destino

Dois anos depois ...

Bruno
Se tem uma coisa que nunca me acostumo é acordar cedo, mas preciso ir para faculdade. À
tarde, agora, estou trabalhando como recepcionista em uma empresa de advocacia.
Dou graças a Deus por ter conseguido este emprego, com ele estou independente
financeiramente, posso comprar minhas coisas, sem depender do meu irmão e ajudar em casa. Já
estou há um ano neste trabalho, vi por acaso o anúncio da vaga no jornal e fui chamado para a
entrevista.
Ainda moro com o Cássio, mas neste um ano de trabalho tenho guardado um dinheirinho,
pois quero alugar meu canto. Tenho uma vida ótima com meu irmão, Érica e minha sobrinha
Elisa, que há dois anos é a alegria de nossa casa. Mas, como qualquer pessoa, sonho em ter meu
canto com minhas coisas, apesar de ter meu próprio quarto com tudo que nunca meu pai me
deixou ter.
Nesses dois anos depois de tudo, só os vi no casamento do meu irmão, mas eles nem
falaram comigo e no nascimento de Elisa.
Vivo minha vida em paz com Cássio, minha faculdade segue firme, foi o único pedido que
meu irmão me fez, que não desistisse por emprego algum.
Meus amigos e eu continuamos inseparáveis, é uma amizade para vida toda. Como Pedro
sabe da minha orientação sexual, posso falar de tudo com meus amigos sem mais viver travado
ou sentindo tudo sozinho.
Caio também contou ao Pedro sobre ele, mas sem falar de seus reais sentimentos. Foi lindo
esse momento, voltávamos de uma festa e o assunto surgiu, porque tinha vários casais gays
aonde fomos. Pedro opinou dizendo que achou maneiro todos na festa respeitarem os casais e
Caio ficou comovido com a atitude do nosso amigo. Ele já havia ficado mexido quando contei
que conversei com Pedro sobre mim e ele me aceitou numa boa, então naquela noite, no caminho
de volta, Caio acabou confessando para Pedro que era gay também.
Choramos os três juntos, e tenho certeza que vi mais do que admiração nos olhos de Pedro.
Ele nunca mais falou comigo o assunto que levantou no aeroporto, mas também nunca insisti,
tinha que partir dele. Nunca deixei de repará-lo, a forma como ele falava com Caio, o carinho, a
preocupação, os ciúmes que só ele achava que ninguém percebia quando Caio, depois de
assumido, passou uma vez ou outra a aparecer com algum carinha.
Pedro ainda ficou com Letícia quase um ano. Mas depois terminaram e nunca mais o vi
namorar sério com ninguém. Nem achei que ia ficar com a Leticia tanto tempo, mas acabou
ficando e graças a Deus terminou, ela nunca mudou, continuou antipática.
Caio, mesmo com minha insistência, nunca acreditou que Pedro poderia sentir algo por ele,
mas até hoje ele é louco por nosso amigo. Até tentou conhecer alguém, mas nunca deu certo,
nunca foi pra frente. Hoje estão os dois solteiros.
Aliás, nós três, pois nunca consegui esquecer o Matheus. Chorei no meu quarto durante
vários meses após sua partida, meu irmão me deu muito carinho e meus amigos também, mas
minha vida precisava seguir.
Até tentei conhecer pessoas novas, em festas ou baladas que fui com os meninos. Arrisquei
uns beijos por aí, mas ninguém nunca conseguiu tirar ele do meu coração. Até que desencanei e
parei de procurar um substituto, simplesmente deixei rolar. Fui vivendo, trabalhando, estudando
e sei que quando eu menos esperar, vou conhecer alguém que me fará feliz.
Nunca mais soube nada dele, não voltei mais ao apartamento do Victor. Não aguentava
mais sofrer, então apenas segui, com todo sentimento sufocado dentro de mim e querendo tanto
uma oportunidade da vida para que eu dissesse ao meu amor tudo que nunca tive a oportunidade
de dizer.
Acabo de me arrumar, gosto do que vejo, estou com mais corpo, agora faço também minha
tão sonhada academia. Cortei meus cabelos e já estou apresentável para ir.
Desço e Érica está dando o mingau de Elisa, beijo as duas. Elisa sorri para mim com a boca
toda branca e acho graça. Meu irmão vem do banheiro e me dá um abraço de lado e beija minha
bochecha.
— Está bonito, moleque!
— Eu sou um gato — digo, piscando para ele.
— Convencido. — Cássio revira os olhos pra mim.
Tomo meu café da manhã e saio junto com meu irmão, ele me deixa na faculdade e vai
para seu trabalho. Encontro Pedro e Caio e vamos estudar, passo a manhã com meus amigos.
Com o tempo fiz outras novas amizades na faculdade, o que tornou tudo melhor.
Quando saio da aula, vou direto para a empresa Ferraz onde trabalho, Pedro me dá uma
carona até lá. Ele e Caio também estão trabalhando, Pedro trabalha em uma loja de suplementos
de academia e Caio está fazendo estágio num consultório na sua área.
Assim que entro, comprimento Bárbara e o segurança Carlos. Me dirijo até meu andar e
assim que saio do elevador, Susana sorri para mim. Gosto dessa guria, ela me ajudou muito no
início com minhas dúvidas no dia a dia, apesar do Bernardo, um dos meus chefes, ter sido um
amor comigo me ensinando tudo que eu precisava saber. Tenho uma admiração enorme por ele e
seu marido, meu outro chefe, o Afonso.
Minha vida anda bem ocupada agora, estudo de manhã, trabalho à tarde e à noite, vou para
academia. Me cansa às vezes, mas me sinto bem em estar vivendo tudo que não podia. Minha
vida é outra agora longe do controle absurdo dos meus pais. Me sinto leve e dono de mim
mesmo, correndo atrás dos meus sonhos.
— Que sorriso é esse, hein? Tem boy na área? -— pergunta Susana, rindo de mim.
— Que boy o quê, estou só pensando na minha vida e no quanto está diferente. Estou
dando graças a Deus.
— Fico muito feliz por você, Bruno. — Sorrio para Susana.
Estamos com alguns clientes novos e por isso tendo que contratar novos funcionários.
Observo no cronograma que tenho que ligar para um novo psicólogo, já temos dois, mas
precisamos de mais um.
— Nossa, hoje tenho que ligar para um monte de gente — comento.
— Eu também, estou ligando para as novas entrevistas da nossa filial.
— As minhas ligações são todas para sócios, só uma que é para o novo psicólogo que eles
querem contratar.
— Ah, o Bernardo falou isso comigo ontem. Como estão aumentando os funcionários, eles
precisam de mais um. O que já tem não estão dando conta.
Passo quase a metade da tarde em ligações, aí quando vou para o psicólogo, vejo que não
colocaram o nome dele.
— Susana, vou na sala do Bernardo, não tem o nome do profissional aqui.
— Ok.
Saio do meu lugar e vou na sala do meu chefe, bato na porta e sou autorizado a entrar.
— Oi, meu querido. Como está sendo sua tarde?
— Ah, eu tenho um patrão meio chato que me manda ligar para um monte de gente. —
Brinco com ele.
A risada de Bernardo invade a sala. Quando fiz a entrevista com ele, fiquei encantado dele
ser gay e viver super bem, sem se preocupar com os outros e suas opiniões. Ele tem uma
segurança que me contagiou desde o início, mesmo que ele tenha me dito que não foi sempre
assim. A forma que ele me tratou me cativou e quando conheci o Afonso e descobri que eram
casados, aí que meu queixo caiu de vez. Só fiquei pensando que um dia eu queria poder viver
uma história assim.
— Te demito, hein, menino! — diz Bernardo, mordendo a tampa da caneta.
— E onde você vai encontrar um secretario lindo como eu?
Sorrimos os dois.
— Eu estava indo ligar para o psicólogo que você solicitou, mas não tem o nome dele aqui.
— Ah, foi distração minha, tem aqui na minha agenda. Eu recebi o currículo dele, até tive
outros com mais experiência, mas, sei lá, algo me disse para contratá-lo e então segui minha
intuição. Aqui, pronto, o nome dele é Matheus Lucena.
Eu que estava indo me sentar, parei no meio do caminho e olhei para Bernardo.
— Que foi? — Bernardo perguntou.
— Nada, é que... esse nome, me lembra alguém.
— Alguém especial eu suponho, pela sua expressão.
— Sim, muito, mas deixa eu ir fazer a ligação. Obrigado.
Saí da sala do Bernardo meio nervoso, não sei por que me sentia assim, eu hein. Existiam
milhões de Matheus pelo mundo, qual a probabilidade de ser o meu Matheus? Uma em um
milhão.
Ao chegar na recepção, disco o número que está no papel que Bernardo me deu e o
telefone chama. Somente no terceiro toque a pessoa atende.
— Alô.
A voz é gostosa, nunca falei com o meu Matheus pelo telefone, apenas por mensagem,
então me xingo por não ser capaz de identificá-lo.
— Boa tarde, falo com Matheus Lucena?
— Sim, é ele.
— Falo do escritório das empresas Ferraz. Estamos entrando em contato para agendar uma
entrevista com o senhor.
— Ah, sim, eu enviei um currículo. Para quando seria essa entrevista?
— Para amanhã às 11 horas, com o senhor Bernardo.
— Estarei aí então.
— Por favor, traga todos os seus documentos e carteira de trabalho.
— Sim, eu levarei, obrigado. Mas com quem eu falo mesmo?
— Ah, me desculpe, você fala com Bruno Avilar.
E a linha fica muda e eu fico nervoso de repente. Penso até que a ligação possa ter caído.
— Estarei aí, obrigado — diz o tal Matheus e desliga.
Olho para o telefone e meu coração bate forte. Sacudo minha cabeça tirando caraminholas,
não preciso disso agora e sim me concentrar na minha vida e fazer bem o meu trabalho.
CAPÍTULO 15
Bônus 2 - Pedro e Caio

Está cada vez mais difícil

Pedro
Estou deitado em minha cama cansado, trabalhei muito e cheguei a pouco da academia
com Bruno. Acabei de sair do banho e coloquei uma música baixinha para escutar e estou aqui
pensando. Todo meu pensamento se resume em uma pessoa: Caio.
Tem sido assim já há algum tempo. Há dois anos, para ser exato, que eu comecei a ter
outros tipos de pensamentos com meu amigo. Ainda tentei levar meu relacionamento com
Letícia adiante, mas não deu mais, eu não achava mais graça nela e suas atitudes começaram a
me incomodar.
Mas o que ninguém sabe é que o estopim do fim do nosso namoro foi que em um
comentário ela ofendeu o Caio por causa de sua cor. Aquilo me revoltou de uma maneira que
passei a ter nojo dela. No dia seguinte, eu terminei nosso relacionamento e ela ainda tentou
argumentar, mas para atitudes como as dela não existiam argumentos.
Depois que terminamos até saí com algumas garotas, mas elas não mexiam mais comigo
como antes. Caio estava em meus pensamentos 24h por dia e a cada dia que passava mais difícil
estava sendo disfarçar minha atração por ele.
Já tem um tempo que aceitei que sou completamente atraído pelo meu melhor amigo, mas
nunca falei nada nem para ele nem para o Bruno. Tenho muito medo de perder a amizade do
Caio ou pior, ele confirmar na minha cara que eu não tenho nenhuma chance sequer.
No dia que ele contou que era gay, meu coração explodiu de felicidade, mas ao mesmo
tempo pensei, que chances eu teria com ele? Ele me vê apenas como um amigo. Me considera
um irmão de coração.
Morro de ciúmes quando ele aparece com algum carinha, dá vontade de sair socando todos
eles, apenas por ousarem tocar no que é meu, ou pelo menos no que eu queria que fosse.
Tudo começou apenas com uma vontade enorme de provar o beijo dele, de sentir o
perfume dele que é tão gostoso mais de perto, mas agora já penso nele, mesmo estando com uma
garota. Minha vontade nessas horas é que fosse ele em meus braços. No meu último encontro foi
assim. Até me senti mal pela garota que estava comigo, não foi certo o que fiz.
Neste dia, quando voltei para casa, foi a primeira vez que me masturbei pensando nele. De
lá pra cá, já aconteceu várias vezes.
Vê-lo todos os dias, participar de sua vida, querendo tanto ser algo mais está me
maltratando. Agora mesmo, eu queria ir em sua casa e pegar ele por aqueles cabelos revoltados,
que acho um charme, e beijá-lo até a boca dele ficar inchada, mas não poder fazer nada disso
acaba comigo. Parece que vivo passando vontade.
Acabo cochilando pensando em Caio e não sei quanto tempo se passa, até que sinto uma
mão em minhas costas, já que estou de bruços. A mão me faz carinho, mas penso estar
sonhando...
Caio
Após jantar com minha mãezinha, depois de um dia exaustivo no estágio, já de banho
tomado, estou em meu quarto lendo, até que pego meu celular e vou olhar meu Instagram.
A primeira foto que aparece em meu feed é do meu amor. Ah se ele soubesse o quanto sou
louco por ele, o quanto quero seu beijo, o quanto tenho vontade de sentir seu corpo. E tudo isso
já sinto há muito tempo.
Fico vários minutos namorando as fotos de Pedro, até que minha mãe entra no meu quarto.
— Amor, eu fiz a mais a sobremesa do jantar para você levar um pouco para o Pedro.
Sorrio, minha mãe sempre foi assim com o Pedro, sempre gostou de mimá-lo. Quando
descobriu que eu era apaixonado por ele, aí que os mimos se intensificaram. Ela é muito amiga
dos pais dele, então até acaba fazendo para todos.
— Mãe, você e suas sobremesas!
— Leva pra ele? Assim aproveita e mata saudades.
— Como você sabe que estou com saudades?
— Pela sua cara de apaixonado olhando a rede social dele.
— Cruzes, mãe! Tenho medo de você.
— Mãe sabe, meu filho. A gente sempre sabe de tudo.
Mamãe arruma tudo num pote e lá vou eu às 20:30 da noite levar sobremesa para o meu
gatinho.
Ao chegar na casa dele, sou recebido pelos meus sogros que me adoram. Minha
imaginação é tão fértil por tratá-los desta forma. Aviso da sobremesa e a mãe do Pedro fala que
ele está no quarto que é para eu ir até lá.
Vou até seu quarto com o coração aos pulos e ao chegar lá, bato na porta, mas ele não
responde. Quando bato pela segunda vez, a porta se abre sozinha e o vejo deitado de bruços, só
de boxer branca e me derreto todo.
Isso que eu chamo de uma visão e tanto.
Fico um pouco sem graça, já o vi de cueca antes, mas ele está dormindo todo largado e me
sinto invadindo sua privacidade. Tenho que respirar fundo, meu corpo todo esquenta com a visão
na minha frente. Me sento na beirada da cama e o observo. Num ato de coragem, passo minha
mão por suas costas, sua pele é uma delícia. Posso sentir seu perfume daqui de onde estou.
Pedro se mexe e vira sua cabeça para minha direção. Sua boca vermelhinha me deixa com
vontade de beijá-lo, então começo a achar que não foi uma boa ideia vir até aqui. Decido ir
embora e deixar a sobremesa com sua mãe, mas antes de ir, cometo uma loucura, deixo um beijo
em sua bochecha e ele se mexe mais.
Levanto-me depressa e começo a sair do quarto com o coração disparado, rindo da minha
audácia, só que ao chegar na porta, o ouço me chamar.
— Caio? — Fecho meus olhos e até fico com medo. Será que ele percebeu que o beijei?
Merda, pra que fui fazer isso?!
— Desculpa, eu não queria te acordar, já estou indo — digo de costas, sem coragem de me
virar.
— Não vai... — Estremeço com a voz dele. Sonolenta é ainda melhor, minha nossa!
Escuto passos e fico mais nervoso quando sinto Pedro atrás de mim. Ele está tão perto que
sinto o calor do seu corpo e o cheiro divino que ele exala.
— Eu... queria te dar algo — diz ele tão perto, que me arrepio inteiro.
Me viro para ele e como Pedro é mais alto que eu, tenho que levantar um pouco meu rosto.
Meu amigo me encara de uma forma diferente. Ele tira meus óculos e os coloca no aparador ao
lado da porta sem tirar seus olhos dos meus. Meu coração já bate todo errado e me sinto até
tonto. Por que ele tirou meus óculos?
Pedro se aproxima mais, colocando suas mãos em meu rosto e tudo que eu sonhei durante
tanto tempo acontece diante dos meus olhos. Pedro traz sua boca até a minha e me beija.
Seus lábios são macios e gentis quando tocam os meus e estou tão surpreso, que não
consigo fechar meus olhos e nem corresponder, mas quando sinto sua língua tocar meus lábios,
abro minha boca lhe dando passagem.
Conforme nosso beijo se aprofunda, suas mãos que estavam em meu rosto descem para
minha cintura e me puxam de encontro ao seu corpo. Completamente envolvido e já
correspondendo tudo, levo meus braços ao redor de seu pescoço e me entrego totalmente ao
nosso beijo. Ao beijo que esperei por muito tempo!
O toque de sua língua na minha faz as borboletas no meu estômago dançarem um
verdadeiro ballet. Levo uma de minhas mãos ao seu rosto enquanto nosso beijo vai ganhando
uma velocidade envolvente.
Suas mãos em minha cintura me apertam cada vez mais, estamos grudados. Pedro me
conduz para trás e sinto minhas costas colarem na porta.
Ele agora me beija e se abaixa um pouco apenas para subir esfregando seu corpo no meu.
Minha respiração até falha neste momento, pois como ele está apenas de cueca, sinto toda sua
magnitude encostando em mim e não estou diferente.
Quando aperto seus braços mostrando a ele o quanto estou gostando do que está
acontecendo. Pedro geme na minha boca ao mesmo tempo que morde meu lábio inferior. Mas é
quando nossas bocas se separam um pouco e ele me encara com seus lindos olhos azuis, é que
fico com as pernas bambas.
O que está acontecendo, meu Deus? Estou sonhando? Não quero acordar!
— Você não tem ideia do quanto eu queria beijar você. — Não é possível, eu devo ter
dormido e sonhei que vim aqui.
Não encontro minha voz, meu cérebro deu pane, passo meus dedos por sua boca
admirando cada pedacinho dela e ele fecha seus olhos entregue ao meu toque.
— Eu sempre te quis tanto — Finalmente consigo falar.
Pedro abre os olhos e o que vejo neles me dá uma vontade enorme de tirar cada peça de
roupa que estou vestindo.
Sou beijado novamente com uma vontade tão grande que perco a sanidade em seus braços
e tudo que eu peço a Deus é que eu não esteja sonhando, pois eu amo esse homem demais.
Pedro
O que estou sentindo nem eu mesmo sei descrever. Estou no paraíso, só pode, a boca que
me beija, o perfume que me envolve, fazem meu coração quase explodir no peito.
Caio está sentado em meu colo e estamos na minha cama em um beijo que eu não queria
que acabasse nunca. Sua boca é tão macia, não me canso de beijar, lamber, provar, como se ele
fosse um manjar dos deuses.
Quando senti o carinho em minhas costas, eu estava pensando nele naquele momento, num
sonho gostoso. Quando senti um beijo em meu rosto, eu sabia que conhecia aquele cheiro e
minhas certezas foram confirmadas quando abri meus olhos e vi o dono do meu coração saindo
do meu quarto.
Ainda levei minha mão em minha bochecha não acreditando que ele realmente havia me
beijado, mas eu não estava mais sonhando, era real, Caio estava ali e havia me dado um beijo.
Ele nunca tinha feito isso. Nesses anos de amizade, nós já nos abraçamos, tivemos carinho um
com o outro, mas ele nunca havia me beijado da forma que tinha acabado de fazer. Isso tinha que
significar algo.
Chamei por ele que imediatamente parou, mas não me olhou. Levantei da cama e me
aproximei, mas quanto mais eu chegava perto, mais meu corpo era puxado pelo dele. Caio vestia
short e camiseta e ver aquela pele linda mais exposta ali dentro do meu quarto, funcionou como
um imã.
Então simplesmente, não apenas me aproximei, tomei coragem com nossa proximidade e
beijei o cara que já povoava meus pensamentos já há algum tempo. Não tive mais medo, apenas
segui meu coração e a vontade absurda de ter o beijo dele.
Nunca seria capaz de esquecer seu olhar antes da minha boca tocar a sua. Ele me dizia
tanta coisa e tive a sensação de não saber metade delas, mas queria muito descobrir.
Quando toquei seus lábios e não tive rejeição, pois o medo que isso acontecesse me corroía
por dentro, me senti aliviado. Sua boca me dando passagem me mostrou que não tinha mais
volta, mas eu nem queria voltar seja lá para onde Caio estivesse me levando.
Quando percebi, já o tinha preso em meus braços na porta do meu quarto e meu corpo
parecia ter vida própria, pois eu tinha a necessidade de me encostar todo nele.
Enquanto o beijava, sentia todo seu corpo no meu. Caio me apertou pelos braços e ali eu
percebi o quanto ele estava gostando de tudo aquilo, ele estava tão entregue quanto eu. Gemi
enlouquecido.
Nunca havia ficado tão excitado em toda minha vida, meu corpo estava pegando fogo, mas
precisava falar, precisava dizer o que estava entalado há tanto tempo, então parei nosso beijo e
encarei os olhos do cara que está me enlouquecendo.
— Você não tem ideia do quanto eu queria beijar você. — Abro meu coração.
Percebo Caio ficar molinho em meus braços, mas ele não diz nada, apenas toca meus
lábios com sua mão e sua carícia me faz fechar os olhos, entregue ao maior sentimento que já
senti.
— Eu sempre te quis tanto. — Finalmente Caio fala e um vulcão entra em erupção dentro
de mim.
O beijo com mais vontade e o aperto quase tirando seus pés do chão. E com isso o trago
para minha cama, onde me sento e o conduzo para que se sente em meu colo. Caio fica de frente
pra mim.
Minha vontade é de tirar toda roupa dele, mas me controlo. O atrito que nossos sexos estão
tendo por ele estar em cima de mim, apenas de short e eu de boxer, está fazendo meu controle
ficar por um fio.
— Eu vou enlouquecer desse jeito — diz ele sobre minha boca.
— Não mais do que eu — respondo com um fio de voz.
Pego Caio pela cintura e o deito em minha cama, beijando seu pescoço, seu queixo e
coloco minhas mãos por baixo de sua camiseta. Observo que sua pele se arrepia. Levanto sua
camisa até seu peito e quando visualizo o bico do seu mamilo marronzinho, não penso duas
vezes em passar minha língua ali.
Caio geme...
Faço no outro a mesma coisa.
Caio chama meu nome... Porra, nunca pensei que meu nome fosse tão bonito saindo dessa
boca gostosa que está gemendo e chamando por mim. Desço por sua barriga, até que vejo sua
boxer preta aparecendo e o volume que ela abriga me traz um misto de desejo e curiosidade.
Desço meu rosto esfregando pelo seu short, sentindo seu cheiro, o cheiro de sua excitação,
até que ouço sua voz.
— Não precisa fazer isso se você não quiser...
Olho para ele e suspiro. Ele é tão fofo.
— Caio, eu desejo você há muito tempo e sonhei várias vezes com esse momento. Você
acha mesmo que eu teria nojo de você? Tive tempo suficiente para aceitar tudo que queria.
— Eu só pensei que... você nunca ficou com um cara antes, talvez pudesse não gostar de
fazer certas coisas.
— Eu quero fazer todas as coisas com você. Se eu não levar muito jeito, ficarei feliz se
puder me ensinar.
Caio abre o sorriso mais lindo do mundo pra mim, e olhando para ele mordo seu pau por
cima do short. Ele geme e fecha os olhos se entregando.
Tiro seu short e o deixo apenas de cueca. Não a tiro, apenas coloco minha mão dentro dela
e coloco para fora o que mais desejo. Caio tem seus olhos fechados neste momento.
— Olha pra mim — peço.
Caio me encara com os olhos nublados de tesão. Faço questão de lamber seu sexo olhando
para ele.
— Meu pai do céu — Ouço ele dizer.
Nos minutos seguintes faço meu primeiro sexo oral com um homem, mas não é um homem
qualquer, é o meu homem, o cara que está me conquistando de todas as formas possíveis.
Caio goza na própria mão depois de me afastar um pouco, gemendo e mordendo seu
próprio short para não fazer barulho. Estou no ápice de gozar só de vê-lo gozando, é a visão mais
linda.
Quando enfim ele se acalma, subo por cima dele, cheirando sua pele e chegando perto de
sua boca onde deixo um beijo gostoso.
— Tem certeza que você nunca fez isso? Meu Deus, foi fantástico — diz Caio sorrindo.
— Nunca fiz, mas confesso que quando me vi atraído por você, vi vários vídeos, então de
vídeos eu sou bem profissional.
Caio cai na risada e eu também. Ele leva sua mão em meu rosto e me beija novamente.
— Agora eu quero fazer a mesma coisa. — Meu coração que estava se acalmando, acelera
de novo de expectativa.
Caio se levanta, dou a ele uma camisa minha que estava na cama para que ele se limpe e
depois de feito isso, ele me puxa e me empurra até a parede, se ajoelhando na minha frente.
É a cena mais erótica da minha vida. Ele abaixa minha cueca e segura com possessividade
meu pau, mas quando o coloca na boca, eu perco o ar. Seguro seus cabelos e vejo ele me tomar
para si, todo sexy, me lambendo, me chupando tão gostoso, que começo a sentir as penas
bambas. Meu pau está tão duro que chega a estar dolorido, mas a boca macia de Caio dá a ele o
carinho na medida exata e me leva ao delírio. Por isso, não consigo mais segurar, gozo tão farto
que minha visão fica turva e Caio aproveita até a última gota. Fico de boca aberta com a cena na
minha frente. Nem em um milhão de anos eu seria capaz de imaginar a perfeição.
Ele se levanta e o que me diz me deixa ainda mais tonto.
— Eu não quero mais ficar sem você, digo, eu não quero mais ser apenas seu amigo.
— Você já é muito mais do que isso há muito tempo... Eu te amo — digo com todo meu
coração.
— Eu também te amo demais, Pedro. Sempre te amei, mas tinha medo de perder sua
amizade, de você me rejeitar, de você...
— Shhh... — Coloco um dedo sobre a boca de Caio.
— A gente se ama, não existe mais medo, de nada. Tudo que eu quero é ter você em meus
braços.
Caio me beija e me cheira, me apertando em seus braços. Aproveito e cochicho em seu
ouvido.
— Você quer ser meu namorado?
— É tudo que eu sempre quis... — Abraço Caio tão apertado me sentindo o homem mais
feliz desse mundo.
Depois que nos arrumamos, descemos juntos e comi a sobremesa que ele havia me trazido.
Meus pais estavam junto conversando conosco, mas meus olhos tinham apenas uma direção e ele
sabia, pois me olhava da mesma forma.
Eu sabia que dali em diante tudo seria diferente, mas tudo que eu queria era ter o amor do
Caio todos os dias na minha vida. Já tínhamos perdido tempo demais.
CAPÍTULO 16
Eu ainda te amo tanto

Bruno
Estou na faculdade esperando por Pedro e Caio e nenhum dos dois chega, já mandei
mensagem e eles não me respondem.
Fico sentado perto da cantina e me lembro de que foi aqui que eu trouxe o Matheus quando
ele teve crise de enxaqueca. A saudade é tão grande, fico tentando imaginar como ele deva estar,
se está com alguém, se me esqueceu.
Não há um dia sequer que eu não me lembre dele, que não sinta saudade do seu beijo. Foi
tudo tão injusto, tudo tão triste, perdi o amor da minha vida sem nem ao menos dizer que o
amava. Ele ficou tão magoado comigo, seu olhar ainda me assombrava.
Estou mergulhado em meus pensamentos que nem percebo que meus amigos chegaram e
estão sentados perto de mim.
— Poxa, até que enfim. Vocês não tem celular não? — digo bravo.
— Olha o drama, Bruno. Só nos atrasamos dez minutos — diz Caio com um sorriso no
rosto que não me passa despercebido. — Olho para o Pedro e ele também sorri feito um bobo.
— Qual é a graça, hein? Que está todo mundo sorrindo e eu não sei — pergunto me
levantando.
Mas é nesse momento que vejo algo que me faz ficar imóvel no meu lugar. Não consigo
parar de olhar as duas mãos que estão unidas, discretamente, mas estão, bem na minha frente.
Olho para o Pedro e depois para o Caio, até que levo minha mão na boca e fico de olhos
arregalados.
Não posso acreditar, meus amigos estão juntos? Finalmente estão juntos?
— Bruno, quero te apresentar uma pessoa, meu namorado — Pedro fala todo orgulhoso e
me emociono.
Caio que já tem os olhos mais brilhantes que o normal, me abraça apertado e diz no meu
ouvido.
— Ele me ama, meu amigo. Nos entendemos ontem e ele me pediu em namoro.
Não consigo nem falar, estou com um sorriso gigante abraçado a Caio. Pedro se junta a
nós, beijando meus cabelos e a bochecha de Caio.
— Estou feliz demais, vocês não imaginam o quanto — falo, me sentindo tão feliz por
meus amigos que minha vontade é gritar para todo mundo ouvir.
Fomos radiante para as aulas, Pedro não se cabia em si, senti até ele mais compenetrado
em sala. A felicidade era visível em seu rosto.
Depois de uma manhã maravilhosa na faculdade onde no intervalo eles tentaram resumir
tudo que aconteceu ontem pra mim, Pedro me deixa na porta da Ferraz. Com tanta novidade até
me esqueci de contar a eles o nome do psicólogo que veio fazer entrevista hoje. Entro na
empresa e vou direto para o 18° andar.
Chego cumprimentando Susana e ela nota minha felicidade. Explico o porquê e até ela
vibra com a notícia. Até ela já conhecia a história do amor platônico do Caio pelo Pedro.
— Bruno, acho melhor você já fazer o encaminhamento do novo psicólogo, pois Bernardo
irá te pedir.
— Ele veio para a entrevista?
— Sim, ele ainda está aí com o Bernardo, fizeram a entrevista e nosso chefe gostou muito
dele. Estão acertando os últimos detalhes, então por isso sei que o Be vai te pedir esse
documento.
— Tá bom, então vou preparar — digo, me sentindo nervoso de repente, mas me concentro
no que estou fazendo.
Dez minutos depois meu telefone toca e vejo que é o ramal do meu chefe.
— Diga, senhor Bernardo.
— Ai, Bruno, assim você acaba com meu coraçãozinho. Não estou velho ainda, bastava
apenas Bernardo.
Sorrio com o jeitinho do Be, amo essa criatura, sei que ele é meu chefe, mas tenho um
carinho muito grande por ele, é muito difícil não ter.
— Tá bom, chefe, diga — falo sorrindo.
— Traz para mim, por favor, um encaminhamento? É para o Matheus que está aqui
comigo, vou encaminhá-lo para o RH.
— Ok, estou levando. — Quando me levanto, me sinto estranho e até Susana percebe.
— Bruno, você está bem?
— Sim, estou. É que o nome desse psicólogo me lembra tanto alguém e isso mexe comigo.
— Aquele alguém que eu sei que existe, mas você nunca quis me falar dele?
— Sim. É muito difícil falar dele sem que eu vá as lágrimas. Desculpe, mas um dia te
conto tudo, ok?
— Conte quando você sentir vontade de falar, estarei aqui para te ouvir.
Deixo um beijo na bochecha de Susana.
Vou para sala do Bernardo e quando chego de frente a sua porta, fico muito nervoso. Tudo
que eu mais queria era que fosse o meu Matheus aí dentro, mas ao mesmo tempo tenho medo,
medo de sua reação, de tudo que aconteceu no passado, caso fosse ele.
Respiro fundo, bato na porta e Bernardo me manda entrar. Assim que estou lá dentro, meus
olhos vão imediatamente para o homem sentado de costas para mim.
Ando devagar e meu coração vai batendo tão acelerado, que chego a amassar o papel em
minhas mãos. Olho para o meu chefe que já percebeu que algo está diferente em mim, e me
observa conforme me aproximo. Mas quando estou quase pertinho, o homem se vira para mim e
tudo fica em câmera lenta.
Nossos olhares se encontram e meu coração parece que vai sair pela boca. Matheus, o meu
Matheus, está diante de mim e tem os olhos levemente arregalados em minha direção. Fico sem
saber o que fazer, acho que até me esqueci do que vim fazer aqui. Ele pisca várias vezes e eu,
bom, eu estou estarrecido ali em pé.
Mas é justo ele que quebra meu momento de transe.
— Oi, Bruno. Quanto tempo, tudo bem? — Começo a buscar por minha voz e quando ela
sai, sai mais rouca do que eu gostaria.
— Oi, Matheus. Quanto tempo.
— Sim, muito. Você trabalha aqui? — Matheus me pergunta.
— Sim, há um ano.
— Bruno é meu braço direito, um ótimo secretário. Já fico até com medo de quando eu o
perder para a veterinária — diz Bernardo, nos olhando com um sorrisinho. — Matheus olha para
Bernardo e se vira para mim novamente.
— Fico feliz que não tenha desistido dos seus estudos e que logo irá se formar.
— Não desisti, vou conciliando com meu trabalho e no fim tudo dá certo.
— Que bom. — É apenas o que Matheus diz.
Olho para Bernardo completamente sem graça, entregando o papel que me foi solicitado.
Peço licença e me retiro. Quando passo pela porta estou suando frio de tão nervoso. Ando
apressado para minha cadeira e me sento.
— Menino, você está pálido, está sentindo alguma coisa? Quer ir a enfermaria, Bruno?
— É ele, Susana.
— Ele quem, menino?
Olho para Susana com os olhos cheios de lágrimas.
— A pessoa da qual nunca te falei, o amor da minha vida. É ele que está ali dentro.
— O psicólogo novo?
— Sim.
— Caramba!!
— Estou muito nervoso, Susana. Mal me aguento sobre minhas pernas.
— Nossa, ele então é muito especial mesmo.
— Ele é tudo, Susana. Tudo. E ele nem sabe disso, nunca consegui dizer a ele. Fomos
separados por um mal-entendido tão grande e eu nunca pude dizer o quanto o amava. Isso foi há
dois anos.
— Meu Deus, Bruno.
— Eu ainda o amo tanto, Susana.
— Diga isso a ele.
— Ele nem vai querer saber disso. Eu acabei o magoando muito, mesmo que tudo que
tenha saído da minha boca tenha sido uma grande mentira.
— Bruno, nada que uma boa conversa não resolva.
Não consigo ficar parado, me levanto e vou beber um pouco de água. Nesse momento,
Bernardo sai de sua sala com Matheus, que me olha, estou parado perto do bebedouro. Vejo que
Bernardo carimba o papel de Matheus, mas ele nem vê, pois não para de me olhar.
— Matheus, é só você ir no RH no andar que te falei, ok?
— Obrigado, Bernardo, pela oportunidade.
— Gostei de você, rapaz — diz Bernardo, me olhando em seguida.
Termino minha água e volto para minha cadeira, de repente ficou difícil ficar em pé
novamente.
— Bruno, meu querido, você está liberado por hoje, está bem? Pode resolver aquilo que
você me pediu mais cedo — Bernardo fala, levantando uma sobrancelha para mim.
Fico confuso momentaneamente, mas ao observar Bernardo voltar para sua sala, ele me
olha e pisca para mim. Sorrio internamente.
Matheus ainda está parado perto da recepção e me observa enquanto organizo minhas
coisas. Susana olha para ele e para mim ao mesmo tempo. Pego minha bolsa, piscando em
seguida para minha amiga e mesmo estando uma pilha de nervos, passo por Matheus jogando
todo meu charme. Sinto seu olhar em mim.
Quando paro esperando o elevador, Matheus para ao meu lado. Tomo coragem e olho para
ele, que me olha descaradamente de cima a baixo.
— Podemos tomar um café mais tarde? — Matheus me pergunta, fazendo meu coração
falhar uma batida.
— Podemos? — Devolvo com outra pergunta.
Matheus dá um sorrisinho de lado tão lindo, olha para baixo e depois me encara de volta.
— Sim, podemos. Eu gostaria muito.
E de repente tudo que eu sofri, todas as noites que chorei pensando neste homem, toda
saudade, me vem como uma avalanche, mas apenas para me mostrar que eu o amo demais, que
nunca deixei de amá-lo nem por um segundo. Que preciso tê-lo novamente em meus braços.
— Meu número ainda é o mesmo, você ainda tem? — pergunto.
— Nunca o apaguei do meu telefone.
E o elevador chega...
CAPÍTULO 17
Eu sou louco por você

Matheus
Esses dois últimos anos não foram fáceis para mim. Enfrentar a doença da minha mãe, vê-
la toda hora indo a hospitais e por fim, sua cirurgia. Eram dores intermináveis, e ver minha
mãezinha sofrendo acabava comigo um pouco mais a cada dia.
Uma hérnia de disco estava quase tirando os movimentos da minha mãe e suas dores eram
apenas controladas com morfina, tínhamos medo da cirurgia, era ariscada, mas no fim deu tudo
certo quando sua vez na fila chegou.
Mas todo o processo desde que retornei para São Paulo também não foi fácil. Já cheguei
quebrado por aqui, toda situação com o Bruno foi uma facada no peito, e foi tudo tão rápido. O
tempo que estive longe nunca o esqueci, mas remoí durante um bom tempo suas palavras
naquele fatídico dia em que o vi pela última vez.
Tudo aconteceu tão rápido, que eu me sentia atropelado por um trem. No sábado eu
passava por tudo aquilo com a família do Bruno depois de ter tido a noite mais incrível da minha
vida, com uma pessoa que, mesmo em tão pouco tempo, me fez acreditar que eu podia ser feliz.
Que talvez minha vez tivesse chegado de ter o meu alguém. E no domingo, eu já voltava para
São Paulo, pois meu pai estava desesperado com as dores da minha mãe e não sabia o que era e
nem o que ele poderia dar para amenizar a sua dor, nada surtia efeito.
Me vi perdido, triste, tendo que decidir o que eu fazia com minha faculdade, que
momentaneamente tranquei, mas logo dei um jeito de fazer a distância mesmo.
Ajudava meu pai com as coisas de casa, limpeza, comida, mercado e minha mãe só ficava
deitada. Isso durante o dia distraía minha cabeça, mas a noite, no meu quarto, as palavras de
Bruno ficavam voltando e eu chorava como uma criança.
Ele mexeu muito comigo, num momento da minha vida em que eu tinha decidido não me
envolver com ninguém, pois estava ferido pelo que eu sentia por Isaak.
Mas Bruno veio como uma avalanche, quando dei por mim, eu já o desejava demais. Tudo
nele me atraía, a noite em que passamos juntos foi tão especial, que acordei naquele dia querendo
aquele garoto junto de mim pra sempre. Nem tínhamos feito sexo, mas o que fizemos juntos
abalou demais as minhas estruturas. Foi uma entrega perfeita.
Eu desconfiava que a situação na casa dele não era fácil, mas ver o que aquele pai fez foi
assustador. Eu o defenderia com unhas e dentes, só nunca poderia imaginar que ele me
descartaria daquela forma, ali, na frente de todos.
Eu soube por meu primo que ele me procurou, mas minha mágoa era tanta que eu não
queria saber de nada, eu precisava me concentrar na minha mãe e em sua saúde, então fiquei em
São Paulo e nunca mais soube dele.
Não foi fácil. Mesmo com raiva e mágoa, eu não parei de pensar um minuto sequer nele,
era um misto de preocupação, pois eu não sabia o que mais tinha acontecido naquele dia, com
mágoa, com vontade de pôr ele no colo e protegê-lo de tudo aquilo. De repente, o meu
sentimento por Isaak tinha virado fumaça e só Bruno existia pra mim. Me achei muito burro por
isso durante muito tempo.
Bruno havia me conquistado, isso era fato, o beijo dele, o cheiro, seu sorriso, me fizeram
acreditar que enfim eu teria um amor para chamar de meu. Me apaixonei por ele de uma forma
tão gostosa e queria muito mais, mas esse mais não existiu para mim, não existiu para nós.
Tive encontros esporádicos nesse tempo, mas nada que me prendesse, nada que despertasse
o que Bruno despertou em pouquíssimo tempo e isso me irritava as vezes.
Por fim, depois da minha mãe recuperada e minha faculdade concluída, eu fui em busca de
emprego, distribuí vários currículos ainda em São Paulo, mas enviei para o Rio também, aonde
surgisse, eu estava indo.
Depois de uns seis meses, com algumas entrevistas sem sucesso por São Paulo, algumas
surgiram no Rio, então num final de semana eu voltei e fiquei no apartamento que eu dividia
com Victor. Estava com muita saudade dele, sempre que dava ele ia me visitar. Fiz as
entrevistas, ficavam de ligar, mas nunca retornavam.
Já estava começando a procurar trabalho em outra área, precisava de um emprego, queria
meu dinheiro e não viver sempre com a ajuda do meu pai.
Foi aí que um escritório de advocacia no Rio, que estava expandindo cada vez mais, entrou
em contato comigo agendando uma entrevista. Porém, a voz que me ligou naquele dia, além de
muito familiar, ainda tinha o mesmo nome do cara que nunca fui capaz de esquecer.
...
Entrevista agendada para o dia seguinte às 11h da manhã e eu ainda estava olhando para o
telefone quando Victor chamou minha atenção.
— Ei, o telefone não vai sair correndo, não precisa vigiá-lo — disse Victor, rindo da minha
cara.
— Acabei de agendar uma entrevista para amanhã, um escritório de advocacia.
— Ótimo, primo. Para sua área mesmo?
— Sim, eles estão precisando de mais um psicólogo.
— Você vai conseguir, vamos ter pensamento positivo. Mas era por isso que você estava aí
todo pensativo?
— Não. O rapaz que ligou agendando a entrevista me lembrou o Bruno. A voz estava mais
rouca, mas mesmo assim... e sem contar que se chama Bruno também. — digo, levando minhas
mãos a cabeça e fechando meus olhos.
— Você nunca o esqueceu, não é?
— Nunca, Victor. Nem por um minuto sequer. Nem com a raiva inicial eu deixei de me
lembrar dele. Depois, quando esse sentimento passou, a saudade me dominou por completo.
— Você nunca mais quis procurá-lo?
— Não, minha vida ficou uma bagunça e atarefada, só agora que está se normalizando. E
além do mais, procurar ele para ouvir tudo aquilo de novo? Eu não ia aguentar.
— Mas eu te falei que ele veio aqui, que me disse que nada daquilo era verdade, primo.
— A mágoa não me deixou acreditar nisso, Victor. E depois, eu não tinha mais como
voltar, precisava me dedicar a minha mãe.
— Beleza, mas agora você está aqui, Matheus. Não vai correr atrás de quem você tanto
quer?
— Não sei como eu chegaria nele depois de tanto tempo, e se ele estiver com alguém?
Cara, eu não sei, eu sou louco por ele, esse tempo todo afastado e nunca fui capaz de esquecê-lo.
Deixa eu resolver meu emprego e vejo o que eu faço.
— Só não desiste, primo, ele parecia estar sendo muito sincero. Ele queria te encontrar de
todas as formas, até no aeroporto o menino foi.
— Como assim? — Olho assustado para Victor.
— Ué, eu não te falei, não? Ele veio aqui e no outro dia voltou, mas desencontrou de você
e quando eu esbarrei com ele na portaria, falei que você tinha ido para o aeroporto, ele foi igual
um louco atrás.
— Você nunca me falou essa parte, apenas que ele teve aqui na primeira vez.
— Cara, eu esqueci então, desculpa. Depois daquele dia você me ligava sempre chorando,
falando da minha tia, eu acabei deletando isso. E depois, mesmo quando falávamos dele, eu não
lembrei, desculpa.
—Tudo bem, deixa pra lá, isso foi há muito tempo. Vou me concentrar no meu emprego,
se for pra ser, vamos conseguir conversar um dia.
Passei o resto daquele dia pensando em Bruno. Queria tanto vê-lo, eu nos daria mais essa
chance, mas se ele me tratasse da mesma forma, o esqueceria de vez.
Olho para o número dele no meu telefone, eu mudei de número, mas o dele nunca tive
coragem de deletar. Nem sei se é mais o mesmo, não consigo ver movimentação em seu
aplicativo de mensagens. Mas quando eu me estabilizar aqui, ligarei para este número e Deus
queira que ainda seja o mesmo.
Na manhã seguinte, fui para minha entrevista e estava nervoso por dois motivos: por
querer muito um trabalho e pela voz que me ligou ontem, nem sei se veria a tal pessoa.
Quando cheguei, uma moça muito simpática me atendeu, seu nome era Susana e logo
minha chegada foi anunciada para o chefe que se chamava Bernardo.
Quando entrei em sua sala, sendo direcionado por Susana, Bernardo estava em pé,
molhando algumas plantas que tinham no canto. Beleza definia a pessoa dele, e a sua gentileza
era impressionante. Quando ele me cumprimentou, vi que também era gay, só que mais delicado
que eu. Achava um charme e ainda mais sendo um pessoa tão simpática e elegante.
Nosso papo fluiu naturalmente, até rimos juntos durante a entrevista. Bernardo perguntou
vários detalhes da minha vida. Ele até me pediu desculpas se estava sendo muito invasivo, mas
explicou que devido a experiências nada agradáveis, criou um certo medo.
Conversamos sobre meu lado profissional e pessoal, falei de minha mãe, minha ida para
São Paulo e meu retorno para o Rio. Fui sincero ao dizer que não tinha experiência, mas ele disse
que havia gostado muito de mim e que seguiria a intuição dele. A conversa estava tão boa que
nem vi que o início da tarde já havia chegado.
Em determinado momento, Bernardo ligou para um ramal e vi que se dava muito bem com
a pessoa que atendeu, ele até brincou no telefone. Estava maravilhado com sua simpatia,
definitivamente não tinha como ter um dia ruim perto de Bernardo, mas quando ele falou o nome
“Bruno” no telefone, me arrepiei até a nuca. Ouvir ele pedir ao rapaz para trazer meu
encaminhamento fez meu coração dar um salto no peito, nem prestei atenção se isso significava
que eu estava empregado.
Quais eram as probabilidades de ser meu Bruno? De ser a pessoa que eu mais queria ver
novamente nessa vida? Eram muito poucas, eu sei, mas, mesmo assim, tive esperanças e só o
fato de constatar de como fiquei só com essa possibilidade, eu tomei ali mesmo a decisão de que
quando saísse da entrevista, eu iria ligar para o número que nunca deletei.
A pessoa chegou, bateu na porta e Bernardo autorizou sua entrada. Quando escutei a porta
se abrindo, tive vontade de virar imediatamente, mas me segurei. Só que ele custava a chegar ao
meu lado para que eu pudesse finalmente vê-lo.
Então, sem mais aguentar, me virei e quando meus olhos bateram naqueles olhos de uma
cor tão linda, um castanho claro, que eu nunca esqueci, eu passei realmente a acreditar no
destino.
A vontade que eu tinha era de chorar, vendo meu amor ali na minha frente, lindo pra
caralho, senhor!! Ele mudou bastante, estava mais forte, os cabelos estavam diferentes. Bruno
parecia em transe olhando para mim, eu não sabia se isso era bom ou ruim, só sabia que nós dois
tínhamos até nos esquecido de que Bernardo estava na mesma sala.
— Oi, Bruno. Tudo bem? — eu disse por fim, quebrando o silêncio que se instalou.
— Oi, Matheus. Quanto tempo.
— Sim, muito — digo, tentando me manter calmo, pois sua voz está fodidamente mais
gostosa. — Você trabalha aqui? — pergunto.
— Sim, há um ano.
— Bruno é meu braço direito, um ótimo secretário. Já fico até com medo de quando eu o
perder para a veterinária. — Bernardo era só elogios a ele, e isso me mostrava que meu Bruno
continuava sendo alguém muito especial, do jeitinho que eu me lembrava.
— Fico feliz que não tenha desistido dos seus estudos e que logo irá se formar.
— Não desisti, vou conciliando com meu trabalho e no fim, tudo dá certo.
— Que bom. — Não consigo responder nada mais além disso, estou com meus
pensamentos embaralhados e ele é o culpado.
Após nossa breve conversa, Bruno entrega o papel e sai da sala. Sigo ele com os olhos e
ainda fico encarando alguns minutos a porta, mesmo depois dela já fechada.
— Então vocês se conhecem? — Bernardo pergunta.
— Sim, eu o conheci há dois anos.
— Sinto uma conversa mal resolvida entre vocês — diz Bernardo, olhando em meus olhos.
— Não sei se ele ainda vai querer conversar comigo — respondo meio triste.
— Você só vai saber se tentar, Matheus. Bom, você está liberado por hoje, amanhã te
espero aqui, às 9h para trabalhar.
— Então o emprego é meu mesmo?
— E você ainda tinha dúvidas disso? E mesmo se eu estivesse pensando, a partir de agora
que quero você aqui na empresa.
— Por que diz isso?
— Só minha intuição, rapaz. Vai por mim, ela é boa — Bernado sorri e saímos de sua sala.
Já na recepção, vejo Bruno bebendo água, não consigo tirar os olhos dele, mas ele logo se
senta, até que Bernardo o libera para algum compromisso que ele tinha marcado.
Bruno imediatamente arruma suas coisas e passa por mim, mais sexy do que nunca. Meu
corpo inteiro reage a sua beleza.
Paro ao lado de Bruno para esperar o elevador, e não consigo disfarçar meu olhar sobre ele
e quando ele me olha de volta, enfim tomo coragem.
— Podemos tomar um café mais tarde? — pergunto com meu coração aos pulos.
— Podemos? — Ele me pergunta sendo abusado. Que sexy isso!
Sorrio de sua ousadia, pelo visto meu Bruno tímido cedeu lugar para outro.
— Sim, podemos, eu gostaria muito — digo me rendendo a ele.
— Meu número ainda é o mesmo, você ainda tem?
— Nunca o apaguei do meu telefone — Encaro seus olhos e ele não desvia o olhar.
E o maldito elevador chega...
CAPÍTULO 18
A vida tem dessas surpresas

Bruno
Estou dentro do elevador com o amor da minha vida, mas estou tão nervoso, que minha
respiração está tensa. Sinto os olhos dele em mim e me sinto tímido como há muito tempo não
me sentia.
Ele tem esse poder...
Quando tomo coragem para encarar seus olhos, seu andar chega. Matheus segura a porta
antes de sair e olhando para mim ele fala:
— Depois que eu acabar tudo por aqui, posso ligar para você? Você poderá atender?
Por um momento não entendo totalmente a pergunta dele, mas logo me toco e respondo.
— Posso, estarei em casa, na minha nova casa — respondo, vendo sua expressão mudar.
— Você e sua família se mudaram?
— Meu irmão e eu, sim, há muito tempo. Hoje moro com ele e sua esposa, aliás, moro com
ele e Érica desde aquele dia em que te vi pela última vez.
Matheus fica me olhando um tempão.
— Eu vou te ligar assim que eu sair, tá bem?
— Pode ligar.
Então fico sozinho no elevador. Todas as minhas emoções estão um caos, quero chorar e
sorrir ao mesmo tempo, quero gritar e desmaiar, quero dizer para esse cara que eu o amo muito,
mas nem sei por onde começar.
Saio da empresa, pegando um táxi para casa, assim chegarei mais rápido e vou logo tomar
um banho e me arrumar. Mas ainda dentro do carro, ligo para o meu chefe.
— Não vai me dizer que você parou de beijar para ouvir minha linda voz? — Essa é a frase
que Be diz assim que atende o telefone.
Tento segurar minha risada, mas ela sai forte.
— Mas não estou beijando ninguém.
— Ainda não, né? Assim eu espero, senão desconto seu dia de trabalho.
— Que chefe mau que eu tenho — digo curtindo com ele.
-— Sei ser má, tá bom? Agora me fala, eu presenciei o verdadeiro reencontro de Rose e
Jack do Titanic, né?
— Você presenciou o meu reencontro com o amor da minha vida.
— Meu Deus!!! Estou até tremendo. Sério isso?
— Sim, mal começamos e já terminamos de uma maneira nada legal, mas tudo um mal-
entendido. Quero reconquistá-lo, Be.
Bernardo então me responde com a voz mais doce que já ouvi vindo dele.
— Reconquistá-lo? Meu amorzinho, ele ama cada parte de você, só um idiota não percebe.
Ele ficou hipnotizado quando você entrou e quando saiu.
— Eu espero que você esteja certo, Be. Não aguento mais ficar sem ele.
— Eu estou, meu amor, tenho certeza. Agora me deixa ir, Afonso me espera e pela
mensagem que acabei de receber, vai rolar um namoro básico naquela sala, beijos!
Bernardo desliga rindo e eu sorrio ainda mais com seu jeito de ser e com as palavras dele.
Será que realmente ainda tenho uma chance com Matheus?
Chego em casa, Érica está vendo sua série favorita e pintando as unhas. Elisa dorme ao seu
lado.
— Oi, meu amorzinho. Já chegou? — Dou um beijo em minha cunhada e na cabecinha da
minha sobrinha.
— Oi, pretinha — respondo, beijando seus cabelos.
— O que aconteceu para você já estar em casa?
— Você não vai acreditar!!
— Ai, já estou curiosa. O que houve, Bruno?
— Encontrei ou melhor, reencontrei o Matheus!!.
— O quê? — Érica até se levanta.
— Isso mesmo, pretinha. Eu não estou sabendo o que fazer, ele vai me ligar para tomarmos
um café.
— E você vai, ué!
— Lógico que eu vou, mas estou tão nervoso e se ele não me quiser mais?
— Bruno, ele te chamou para um café, ele deve estar querendo esclarecer tudo. Chegou a
hora de fazer o que você tentou há dois anos, meu querido. Explique-se e declare o seu amor, não
o deixe escapar novamente. Vá com tudo!
Beijo e abraço Érica, sempre gostei muito dela. Vou para o meu quarto e tomo um banho
delicioso. Escolho uma roupa bem bonita, mas casual, passo meu perfume e me acho um gato
quando olho no espelho.
Envio uma mensagem tanto para Caio quanto para o Pedro, dizendo que tenho algo para
contar e sei que eles ficarão em cócegas para saber do que se trata. Meu celular toca em minhas
mãos e meu coração vai no embalo do toque.
— Alô.
— Oi Bruno. Sou eu, Matheus.
— Oi.
— Posso te buscar aí para o nosso café? Me passa seu endereço.
Digo a ele onde moro e ele avisa que chegará em 15 minutos. Quando desligo, estou
derretido por sua voz e começa a me dar um calor absurdo.
Assim que desço, me despeço de Érica e fico na porta esperando por ele.
Quem diria que hoje eu estaria aqui esperando o Matheus vir me buscar. Esperei tanto por
isso, tudo em mim está vibrando, não consigo nem ficar parado. Quando olho para rua e o vejo
descer do carro, paro de respirar.
Tudo nele me atraí, seu jeito de andar, seu cabelo rebelde, essa barba que agora está mais
cheia e que estou louco para passar a mão. Porra, tenho que me controlar, eu o quero demais.
— Oi — ele diz tão pertinho, que seu perfume me embriaga.
— Oi. — Não consigo desviar dos seus olhos.
— Tem um café bem bonito que conheço, frequento com o Victor. Podemos ir pra lá —
Ele fala tão perto, sem parar de olhar para minha boca e sua voz... ah, sua voz.
— Sim, vamos lá então — respondo, quase me jogando nos braços dele.
— Toda vez que eu te ver será assim? — Fico confuso com a sua pergunta.
— Assim como?
— Assim, com essa vontade nos rondando? — Matheus fala passando a mão pelo meu
rosto, me fazendo fechar os olhos com seu toque.
— Eu tenho tanta coisa para te dizer... — digo, ainda de olhos fechados e ficando mole
com seu carinho em meu rosto.
— E eu quero ouvir cada uma delas — Sinto sua respiração ainda mais perto. Sei onde está
seu olhar mesmo estando de olhos fechados. Dá pra sentir.
Assim que abro meus olhos, tomo coragem e levo minhas mãos ao seu rosto e devagar faço
carinho em sua barba. Sorrio de lado com a cócega que ela faz na palma da minha mão.
— Você gostou? — ele me pergunta.
— Eu...adorei.
Matheus desce sua mão em meu rosto e passa seus dedos por meus lábios que estão
entreabertos. Ao mesmo tempo que faz isso, ele próprio umedece seus lábios como se estivesse
se controlando ao máximo.
Deixei aquele Bruno inseguro e tímido para trás há muito tempo, precisei amadurecer.
Sofri muito com a criação dos meus pais, vivi escondendo minhas emoções e preferências e isso
me maltratava por dentro de uma forma que doía cada vez mais.
Mas ao conhecer esse homem que agora está na minha frente, eu quis me libertar, eu quis
tudo diferente para mim. Passei a ter um motivo para sonhar ainda mais, para querer minha
liberdade. Descobri o amor, eu quis esse amor e agora ele está aqui na minha frente, depois de
termos nos separado tão bruscamente, depois de quase meu pai e sua ignorância terem vencido.
O destino, felizmente, não quis assim e trouxe meu amor para mim novamente. Chorei por
tantas noites, senti tanta saudade e pedi a Deus uma segunda chance para mostrar a ele o quanto
eu o amava...
— No que você está pensando? – pergunta Matheus, agora segurando minha cintura.
— No quanto eu te amo. – Sinto as lágrimas em meus olhos, mas não consigo mais
esconder.
Matheus fica mudo e sua respiração fica profunda. Acho que fui precipitado, mas não
aguento mais esconder isso, vivo muito tempo com esse sentimento entalado na garganta e
mesmo que ele me dê um fora...
— Eu também te amo muito – Matheus fala e simplesmente me beija.
O toque de seus lábios nos meus me transportam para outra dimensão. Esqueço de onde
estamos, esqueço de tudo que sofri, esqueço até do meu nome, para mim só existe sua boca e o
aqui agora.
Abraço Matheus e nosso beijo se conecta de uma forma que me faz arrepiar, é um beijo
com desejo, saudade e promessas, e quero cada uma delas. Quero ele em minha realidade, em
minha cama e em meu coração.
Somos só mãos que não param, línguas que duelam e respiração irregular...
— Eu esperei tanto tempo por isso — ele sussurra entre meus lábios.
— Eu também, preciso falar tudo, por favor.
— Eu deixo, amor. — Me derreti em seus braços nessa hora e o abracei apertado.
Fomos para o nosso café, o lugar era lindo e charmoso, Matheus tinha um sorriso em seu
rosto e eu o acompanhava.
— Eu soube ontem que você chegou a ir no aeroporto atrás de mim.
— Sim, tentei de todas as formas me explicar com você, mas não consegui. Hoje aqui,
olhando em seus olhos, quero que você saiba, que nada, absolutamente nada do que eu disse
naquele dia era verdade. Eu quis te proteger, te tirar daquela casa o mais rápido possível, você
estava irredutível, foi a única forma que encontrei. Se eu te visse sendo preso, nem sei o que
seria de mim.
Engulo em seco, relembrar aquele dia me traz uma tristeza muito grande.
— Só eu sei o que me custou dizer aquelas mentiras a você, nem meus ferimentos doíam
mais que meu coração. Seu olhar para mim naquele dia, me fez companhia durante todo esse
tempo. Eu nunca tinha sido tão feliz em minha vida como fui na noite que passei com você. Eu te
amo tanto, todo esse tempo e pedi muito por uma segunda chance para te provar isso.
Matheus tem suas mãos entrelaçadas com as minhas por cima da mesa e seus olhos estão
fixos em mim.
— Não houve um dia que eu não pensasse em você. Não foi fácil tudo que enfrentei depois
daquele dia, tive que cuidar da minha mãe, tão quebrado por dentro e vê-la sofrer de dor, quase
me enlouqueceu. Mas eu precisei ser forte pelos dois, meu pai também sofria muito, então deixei
tudo para trás e vivi em função deles por esse tempo. Só que a noite, quando deitava na cama, era
seu rosto que eu via, era sua boca que eu queria. Você me conquistou de uma forma tão incrível,
que depois da nossa noite, eu acordei tendo a certeza que eu queria acordar daquela forma todos
os dias, mas aí tudo aconteceu.
Matheus limpa a garganta, mas sua voz continua embargada.
— Eu te amo muito, Bruno. Você é o amor que eu quero chamar de meu pro resto da
minha vida. Nada vai me separar mais de você, eu não suporto mais ficar longe, não agora que te
reencontrei.
Choramos os dois, de mãos dadas, um olhando nos olhos do outro.
— O Victor hoje vai dormir na casa da namorada. Vamos para o meu apartamento? Dorme
comigo, faz amor comigo...
— Eu vou com você aonde quiser me levar — respondo sorrindo para ele, que limpa
minhas lágrimas e eu limpo as dele.
Saboreamos nosso café com um delicioso bolo e logo depois vamos para o apartamento
dele. No caminho, recebo uma mensagem do Caio, que chegou do estágio e logo me respondeu.
Caio: “oi, meu irmão. O que houve? O que você tem para contar?"
"Estou indo para o apartamento do Matheus, no carro dele, com ele"
Caio: “oi???? Explica isso direito, Bruno. Que Matheus? O
MATHEUS?????? NÃO ACREDITOOO"
Sorrio com a mensagem de Caio e Matheus percebe.
— O que foi, amor? Do que você está rindo?
— Caio está surtando aqui, pois falei que estou com você. Ele não está acreditando.
— Faz uma chamada de vídeo com ele.
Sorrio com a ideia de Matheus e faço a chamada de vídeo. Como eu esperava, Caio está
eufórico e quando mostro Matheus no volante, ele surta de vez e todos caímos na gargalhada.
— Puta que pariu!!!! NÃO ACREDITOOOOOOO, MATHEUS!!!! HOMEM, NÃO
SOME MAIS, POR FAVOR! — Caio diz levando Matheus aos risos. Eu chego a estar chorando
de tanto rir.
— Não vou sumir nunca mais, Caio. Não largo mais o meu amor – diz Matheus, me dando
um selinho, o que faz Caio gritar ainda mais.
— Pedro vai ficar louco quando souber, logo ele chega aqui.
— Como está o Pedro? Muito maneiro aquele moleque — Matheus pergunta.
— Meu amor vai muito bem, ainda mais agora que cuido dele direitinho, com muito
carinho — Caio responde fazendo Matheus franzir as sobrancelhas.
— Oi? Como assim? Vocês estão juntos? Mas o Pedro era hétero, não era? Meu Deus,
quanta coisa eu perdi! — diz Matheus surpreso.
— Estamos juntos, sim, somos apaixonados um pelo outro, mas tem pouco tempo. Você
está pegando a história do começo — diz Caio rindo.
Conversamos mais um pouco, mas logo encerramos a ligação com meu amigo mandando
muitos beijos para nós.
Matheus estaciona na garagem do condomínio, desliga o carro e olha para mim.
— Estou até nervoso de ter você ao meu lado novamente.
— Não estou diferente. Ainda tenho minhas lembranças daquela noite gostosa. E espero
todo esse tempo que ela se repita de forma completa desta vez.
Matheus me observa e quando entende o que eu quis dizer, sorri e me beija com vontade.
— Hoje ela será completa, finalmente! Não acredito que...
— Não, eu nunca fui de ninguém, não consegui. Eu quero ser seu.
Suspiro e devoro sua boca, louco de desejo e saudade.
CAPÍTULO 19
Encontro de amor

Bruno
Matheus abre a porta de seu apartamento comigo atrás dele, mordendo seu pescoço e com
as mãos por dentro de sua camisa.
O cheiro dele está me conduzindo e me deixando excitado demais. Ele também está, pois
nem trancar a porta novamente ele consegue, a chave cai de sua mão.
— Porra, Bruno! Meu tesão está nas alturas, nem consigo achar o buraco da fechadura.
— É porque você quer o meu — sussurro em seu ouvido, lambendo em seguida.
— Caralho! O que aconteceu com o outro Bruno que era tímido? Esse é muito safado.
— Qual você prefere?
— Os dois, você inteiro é minha preferência em tudo.
Beijo Matheus, devorando sua boca, mordendo seus lábios, enquanto ele geme entregue
em meus braços.
— Preciso pegar a chave e trancar a porta. Aí sim vou devorar você.
Sorrio com essa promessa.
Ele se vira e abaixa na minha frente para pegar a chave. Não penso duas vezes em segurar
sua cintura e sarrar gostoso em sua bunda. Matheus levanta devagar, mas escora na porta e
continua com a bunda colada em mim.
— Está gostando? De se esfregar em minha bunda?
— Gostosa pra caralho.
Matheus dá um rebolada gostosa e meu pau parece ter vida própria dentro da minha calça.
— Caralho! — É tudo que consigo dizer.
Matheus dá uma gargalhada e finalmente tranca a bendita porta. Ele se vira, me prendendo
na parede com as duas mãos para o alto e se esfrega todo em mim, me fazendo gemer em sua
boca.
Sem que eu espere, Matheus se ajoelha, abre minha calça, desce até meus joelhos junto
com a cueca e abocanha meu pau que já baba enlouquecido por ele.
Seguro seus cabelos e fodo com gosto a boca gostosa que ele tem. Tenho que me controlar
muito, passei muito tempo me dando prazer sozinho e a única boca que já esteve em meu pau foi
a dele, há dois anos.
— Matheus vai devagar, por favor — peço sem fôlego.
Ele levanta e ataca minha boca, ao mesmo tempo que com as mãos por baixo da minha
camisa, belisca meus mamilos, me fazendo revirar os olhos.
São muitas sensações ao mesmo tempo.
Tiro minha camisa e termino de tirar minha calça e cueca, ficando completamente nu na
frente dele, que arranca sua camisa e abre sua calça. Agora é minha vez de me ajoelhar na sua
frente e desço lentamente sua roupa, mas desço lambendo suas coxas e ele tem que se segurar na
parede, pois fica com as pernas bambas de tesão.
Depois de me livrar de tudo, viro Matheus e o encosto na parede, onde passo minha língua
por toda sua extensão. Encaro seus olhos quando passo minha língua em sua glande e ele geme
de tesão.
— Porra, Bruno! Isso foi maldade.
— Eu sou mau. — Pisco um olho para ele.
— O que mais está piscando em você? — ele pergunta de modo ousado.
— Ah, tem um lugar que está piscando muito, quer ver? — pergunto, tendo o momento
mais safado da minha vida. E sempre é com ele, que maravilha!
— Quero muito, me mostra.
Enfio seu pau em minha boca até a garganta e Matheus fica alucinado. Depois me levanto
e ando até o meio da sala, onde tem uma mesa de sinuca, a mesma que vi na festa quando estive
aqui. Olho para Matheus sobre o ombro e ele me observa curioso, pois não sabe o que vou fazer.
Me sentindo mais sexy do que nunca e com uma autoconfiança que nunca imaginei ter, sento na
mesa de frente para ele.
— Vem ver tudo que está piscando por você — digo, deitando meu corpo sobre ela e
abrindo minhas pernas.
— Puta que pariu! — É tudo que ouço Matheus dizer, pois em seguida ele vem até mim, se
abaixa um pouco e me enlouquece com sua língua quente e experiente.
— Minha nossa! — digo e olho para o teto, levando as mãos a cabeça, puxando meus
próprios cabelos nervoso com todas as sensações que me invadem.
Matheus me tira o juízo com a língua em meu cu, me explorando, fazendo meu pau ficar
ainda mais duro, o que me provoca espasmos deliciosos. Começo a me masturbar sentindo sua
língua rodeando minha entrada e ao ver o que estou fazendo, ele sorri pra mim e volta a me
lamber como se eu fosse um sorvete.
Eu não sabia qual era o melhor lugar para o boca do Matheus estar. Porque quando ele
vinha pro meu pau, era um show à parte, com ele se deliciando com meu líquido pré gozo como
se fosse mel. E na mesma hora que estava fazendo isso, ele já me abocanhava e me engolia
inteiro, para logo me soltar e voltar para o meu cu.
Eu estava todo aberto em cima daquela mesa, me perdendo e me encontrando, arfando e
sorrindo, suando e sentindo arrepios por todos os lados. Mas foi quando dois dedos seus
entraram em mim, que eu me senti perdido de fato.
Doeu, ardeu, mas depois eu não soube nomear o que senti, mas sei que parecia que fui até
o céu e voltei, sentindo seus dedos saindo e entrando em mim. Matheus me preparava, me
preparava para ele, para o seu pau e quando ele finalmente veio tomar tudo de mim, foi delicioso
sentir centímetro por centímetro entrar.
Eu deitado na mesa e Matheus entre minhas pernas. O homem era alto, por isso ele
conseguiu essa proeza. Quando ele estava todo dentro de mim, Matheus se deitou sobre meu
peito e ficou cara a cara comigo que tinha as pernas em volta da sua cintura.
— Não existe sensação melhor no mundo do que estar dentro de você.
— Está delicioso te sentir. Eu esperei tempo demais, mas agora cada segundo está valendo
a pena.
— Eu te amo e você é meu, somente meu.
— Então me prova! — provoquei e seu olhar me mostrou que eu tinha despertado um
verdadeiro leão.
Nas próximas horas Matheus me fodeu com gosto, nossos gemidos podiam ser ouvidos por
todo apartamento. Ele chegou a subir na mesa também fazendo ela balançar com dois homens
grandes em cima dela.
Mas depois fomos para o sofá, onde ele me comeu de quatro, me beijando, me mordendo,
arranhando minhas costas e socando bem fundo dentro de mim.
A gente só terminou em sua cama, onde mais uma vez, repetindo o passado, eu fiquei
sentado em seu colo, mas agora rebolava com ele dentro de mim. Seu sorriso era lindo, seu olhar
expressava tesão puro misturado com amor. Sabia que o meu devia estar igual.
Gozamos ao mesmo tempo, chamando o nome um do outro e caindo na cama bêbados de
paixão. Era a primeira vez mais maravilhosa que alguém poderia ter. Ficamos entre carinhos
preguiçosos, curtindo a sensação de estar finalmente no lugar certo.
Dormimos juntos e enroscados após um banho.
Acordo na manhã seguinte com cheirinho de café e minha barriga ronca. Matheus não está
mais na cama, então me espreguiço, meu corpo todo está dolorido e isso me faz sorrir.
Lembranças da noite anterior me invadem e chego a suspirar apaixonado.
Meu lado tímido pensa em dar as caras, mas o safado é mais forte agora e só me vejo
querendo repetir tudo de novo.
— Meu safadinho já acordou? — Escondo meu rosto com as mãos e começo a rir.
— Estou morrendo de vergonha de você, eu estava possuído.
— Estava mesmo e eu amei meu novo Bruno.
— Para!!! Que vergonha.
— Ah, para, vem cá. Vem tomar café, você deve estar faminto de tanto ter gastado energia
e eu preciso de você forte de novo para me comer.
Olho para ele imediatamente, ficando com o corpo apoiado nos cotovelos.
— Você está falando sério? — pergunto curioso.
— Amor, por agora só falei isso para você vir comer e deixar de vergonha.
Olho para ele fazendo cara de aborrecido e ele ri.
— Mas você vai fazer isso, meu gostoso. Não tenha dúvidas — Matheus fala subindo na
cama e se deitando entre minhas pernas. Seu rosto fica pertinho do meu.
— Vou? — pergunto entre seus lábios.
— Vai, eu vou adorar dar pra você. Será a minha primeira vez.
— Delícia. — Mordo sua boca.
Matheus me beija e se deita comigo.
— Não vamos mais nos separar. Promete? — Matheus parece vulnerável agora e o abraço
apertado.
— Lógico que prometo. Não sei mais ficar sem você.
— Como ficou a sua relação com seu pai depois de tudo aquilo?
— Não ficou, eu saí de casa naquele mesmo dia com Cássio e nunca mais meus pais
falaram comigo. Só os vi duas vezes, no casamento de meu irmão e no nascimento da Elisa,
minha sobrinha.
— Que horrível isso.
— Foi libertador, só depois de tudo comecei a viver, mas para ser feliz só faltava uma
coisa.
— O quê?
— Você — digo completamente apaixonado por esse homem.
— Bruno?
— Oi.
— Casa comigo?
Talvez eu estivesse preparado para ouvir isso daqui a um tempo, mas agora sem eu esperar,
fez meu coração dar um pulo tão grande que meu ar faltou. Meus olhos ficaram arregalados e
úmidos. Encarava os olhos de Matheus que me olhavam com amor e expectativa.
— Você quer mesmo isso?
— Nunca quis tanto uma coisa em minha vida como quero você ao meu lado todos os dias
quando eu acordar.
— Então eu caso, pois sinto o mesmo por você.
Matheus deixa as lágrimas descerem pelo seu rosto e me beija como se fosse a primeira
vez.
Naquela manhã maravilhosa, fizemos amor de novo, sem pressa, curtindo cada pedacinho
um do outro, fazendo juras e selando nosso amor que nasceu aos poucos e que venceu o
preconceito, a distância e o tempo.
Nunca fui tão feliz em minha vida.
CAPÍTULO 20
Bônus 3 - Pedro e Caio

A primeira vez

Caio
Estou jogado em minha cama depois de um dia exaustivo no estágio, mas muito feliz e
com a barriga doendo de tanto rir com meus amigos Bruno e Matheus por vídeo chamada.
Ainda estou eufórico por vê-los juntos novamente, meu irmãozinho merece finalmente ser
feliz. Assim que vi a mensagem dele, respondi e depois nos falamos por chamado de vídeo. Foi
uma baita surpresa. Imagino quando Pedro souber, vai surtar como eu surtei. Aliás, mandei
mensagem para ele cedo, mas ele ainda não viu.
Estou sozinho em casa, hoje mamãe foi ao shopping com as amigas depois do seu trabalho.
Eu incentivei muito, ela só sabia trabalhar e nunca se divertia.
Resolvo tomar um banho, estou precisando relaxar, saber que o Bruno reencontrou o
Matheus me deixou feliz, mas hoje não sei por que estou estranho, estou me sentindo inseguro
com relação ao Pedro.
Tem pouco tempo nosso relacionamento, faz apenas alguns dias que nos declaramos um
para o outro. Sem dúvidas, foi o dia mais feliz da minha vida e a forma que a gente se pegou
naquele dia, me deixa até hoje de pernas bambas ao lembrar.
Debaixo do chuveiro, molho meus cabelos e fico alguns minutos pensativo. Tenho medo
de que Pedro se arrependa, que simplesmente diga que não curte ficar com homem e me deixe.
Sei lá, a insegurança resolveu bater forte hoje.
Estou com minha autoestima baixa, isso é fato, mas nossos momentos juntos são
maravilhosos, somos muito carinhosos um com o outro. Ele está esperando o momento certo
para se abrir com seus pais, eu o entendo, afinal ele sempre apareceu com meninas, mas Pedro
disse que vai conversar com eles e falar de seus sentimentos por mim.
Ainda não fizemos sexo com penetração, o que estamos vivendo está muito bom, mas não
vou mentir, quero muito, muito mesmo, só que não quero nada forçado, quero que seja natural
quando acontecer.
Ele me surpreendeu bastante no dia do nosso primeiro beijo, quando fez sexo oral em mim.
Senti que o tesão o movia e foi um momento bastante prazeroso o que vivemos.
Não sei se minha insegurança vem do fato de não termos concretizado o ato, não sei, só sei
que estou me sentindo meio murchinho.
Tomo meu banho e hidrato meus cabelos. Depois de um tempo saio do banheiro enrolado
na toalha e vou para o meu quarto, onde enxugo mais meu cabelo e começo a pentear.
Estou tão absorto em meus pensamentos que nem vejo Pedro entrar e acabo levando um
susto ao ser abraçado pela cintura e ganhar um cheiro no pescoço.
— No que você tanto pensa que nem me viu entrar, amor?
— Que susto, Pedro! — digo sorrindo e colocando minha mão no peito fazendo um
pequeno teatro.
— Eu estava te olhando um tempão da porta e você nem me viu.
— Só estava pensando...
— O que houve? Você está estranho, aconteceu algo? — Pedro me vira para ele e me olha
com carinho.
— Estou me sentindo inseguro — digo derrotado e abaixando minha cabeça.
Pedro pega meu rosto com as duas mãos e me faz encarar seus olhos que estudam o meu
rosto. Ele parece que enxerga tudo dentro de mim.
— Por que você está se sentindo assim? Eu fiz alguma coisa? Me fala, por favor.
— É bobeira minha, Pedro. Não sei o que houve comigo, só estou me sentindo assim. Deve
ser o encontro de algum planeta com meu signo.
Pedro ri de mim e então me beija, um beijo suave e cheio de carinho. Sinto minha tensão ir
se dissipando aos poucos. Sua boca gostosa me envolve num beijo que acende cada parte do meu
corpo.
— Deixa eu cuidar de você e tirar qualquer insegurança? Deixa eu te amar? — Pedro pede
de um jeito bem carinhoso.
Ao ouvir as palavras vindas dele, me aconchego em seus braços e o abraço apertado,
absorvendo seu perfume, que mesmo após um dia de trabalho está tão delicioso.
Beijo seu pescoço, sua orelha e o vejo se arrepiar. Sorrio escondido, ele segura minha
cintura e me aperta contra seu corpo.
Percebo neste momento que toda minha insegurança realmente se deve ao fato dele ainda
não ter me procurado para fazer sexo, mas eu não posso ser assim, ele mostra o tempo todo que
me quer.
Pedro de repente me solta, me olhando de cima a baixo e eu me lembro nessa hora que
estou apenas com uma toalha na cintura e mais nada. Fico com a boca seca pela forma que ele
me observa, parece até que está me vendo pela primeira vez na vida.
— Você tem noção do quanto eu quero você, Caio? Do quanto meu corpo implora pelo
seu?
Meu coração fica desgovernado. Balanço a cabeça num sinal de que não tenho noção.
— Tudo que eu digo para você todos os dias desde que nos declaramos é a mais pura
verdade, eu amo você, amo ser seu namorado. Nossos beijos são pólvora para o fogo que tenho
em mim por você. O que fizemos no meu quarto foi o momento mais erótico que já vivi e sabe o
que eu quero?
Balanço novamente a cabeça, pois perdi a capacidade de falar depois de tudo que ouvi.
— Eu quero fazer amor com você, quero sentir meu corpo dentro do seu. Quero sentir teu
gosto, o gosto e o cheiro de cada centímetro seu. Quero ficar embolado com você numa cama,
onde não sejamos capazes de saber onde um começa e o outro termina, apenas isso.
Me controlo para não chorar e num fio de voz ainda ouso perguntar:
— Você tem certeza?
— Eu mostro pra você todas as minhas certezas.
Depois dessa última frase, Pedro me beijou de uma forma diferente, minha boca estava
sendo devorada. Ele me levantou e minhas pernas rodearam sua cintura. Pedro me deitou na
cama, vindo pra cima de mim, se esfregando todo, me beijando, passando suas mãos pelo meu
corpo. Eu chegava a arfar com tudo que estava acontecendo.
— Onde está sua mãe?
— Foi passear no shopping com as amigas — digo com um sorrisinho de canto.
— Perfeito, eu vim direto do trabalho aqui na sua casa, nem tomei um banho ainda.
— Você está tão cheiroso e gostoso, nem parece. Fica assim mesmo aqui comigo, só quero
ficar em seus braços — peço dengoso, com direito a um biquinho e tudo, o que faz Pedro sorrir
lindamente.
Ele volta a me beijar e nosso beijo de calmo vira um furacão em segundos, com direito a
muitas mordidas gostosas e gemidos quando nossos paus encostavam um no outro mesmo ele
estando de calça e eu de toalha.
Eu estar de toalha fez com que minha excitação ficasse ainda mais visível e durante um
momento do beijo, Pedro levou sua mão até meu pau que estava completamente rígido. Isso fez
com que eu gemesse alto.
Pedro então sentou em cima de mim e tirou sua camisa. O tênis e a meia ele já tinha tirado
com os próprios pés, só restando sua calça que agora tirava o cinto olhando intensamente para
mim.
Engoli em seco. O desejo corria em minhas veias me queimando por dentro. Eu queria isso
há tanto tempo que estava até com receio de não fazer direito.
Pedro se levanta por completo e tira o restante de sua roupa ficando completamente nu na
minha frente e eu nem sei descrever a visão dos deuses que eu estou tendo.
— Estava planejando te levar num lugar pra gente ficar à vontade, porque eu estava louco
para fazer amor com você, mas aqui, agora, você assim de toalha, eu não estou resistindo. Graças
a Deus sua mãe não está em casa, pois tudo que eu quero agora é você gemendo no meu ouvido
— Tive que umedecer a boca que ficou seca diante do que ouvi.
Pedro se aproxima da cama segurando seu pau e fazendo leves movimentos, me deixando
hipnotizado. Por instinto, automaticamente abri minhas pernas e com isso minha toalha se abriu e
caiu pelos lados do meu corpo.
Pedro chegou a parar seus movimentos, momentaneamente, olhando meu corpo excitado
por ele. Suas mãos vieram tocando minhas pernas conforme ele subia na cama. Eu respirava
acelerado quando ele chegou perto do meu pau e o tocou. Meus olhos se fecharam no
automático, mas tive que abrir quando os movimentos de sua mão, subindo e descendo, em
minha extensão, começaram.
Daí por diante eu fui feito de gemidos, ainda mais quando meu amor me colocou em sua
boca, me mostrando que realmente ele me queria, que não existiria nenhuma barreira entre nós,
mesmo eu sendo o primeiro homem de sua vida. Tudo que eu mais queria era ser o único.
Depois de me chupar de uma forma deliciosa, Pedro me beijou cheio de desejo, e nos
embolamos em minha cama, rolando por ela, sem se importar com o mundo lá fora.
— Eu quero...quero entrar gostoso em você, eu preciso de você — ele disse de forma
suplicante.
— Eu também te quero muito... — respondi completamente apaixonado.
Naquela noite fizemos amor pela primeira vez e foi incrível. Pedro foi muito carinhoso e
gostoso ao mesmo tempo. Que pegada! Agora entendia finalmente por que as garotas viviam
atrás dele, ele fazia muito gostoso.
Me acabei em seus braços, gemíamos alucinados e fizemos as mais variadas posições.
Pedro me dominava por completo quando puxava meus cabelos e falava sacanagens em meu
ouvido. Me apaixonei perdidamente por sua boca suja e sem vergonha.
Mas quando eu comandei e rebolei por cima dele, como sempre sonhei, vi meu homem
revirar os olhos de prazer e ali eu fiz as pazes com minha autoestima e dei um show. Cavalguei
gostoso, com ele me apertando, gemendo, perdendo totalmente o controle.
Gozamos juntos, ele dentro de mim e eu em seu peito mais feliz do que nunca.
Tomamos banho juntos e transamos de novo dentro do banheiro. Ele me colocou de cara
para a parede do box e não teve pena. Eu nem reclamei, apenas gemi e me dei todo de novo.
Também nesta noite, contamos juntos para minha mãe, quando ela chegou, que estávamos
namorando. Eu ainda não tinha feito isso, queria junto com ele, seria uma surpresa e tanto para
ela que sempre soube do meu amor e torcia muito por mim. Choramos os três juntos e ganhamos
sua benção.
Meu amor inventou uma desculpa em casa e dormiu comigo pela primeira vez. Dormir nos
braços dele foi a maior felicidade que tive em minha vida até então...
— Eu te amo, amor — disse, já quase desmaiando de sono, estávamos de conchinha.
— Eu te amo muito, Caio. Dorme tranquilo que você ficará em meus braços pra sempre —
ele disse baixinho em meu ouvido e beijou meu pescoço.
Logo nós dois apagamos.
CAPÍTULO 21
Então... o amor

Bruno
Tantas vezes eu sonhei com o amor, desejei ser amado, quis encontrar alguém para
abraçar e ser feliz. Se eu pudesse ao menos ter uma pequena noção de que eu encontraria, teria
sofrido menos.
Mas hoje, ao olhar para trás, vejo o sofrimento como um aprendizado, uma fase que tive
que passar para amadurecer, para formar os pensamentos em minha cabeça e ir em busca da
minha felicidade.
Conhecer o Matheus foi o maior presente que eu poderia ganhar, a forma como sou amado
e cuidado não me deixam dúvidas que tudo estava escrito.
Cada momento ao seu lado me torno ainda mais feliz. Seu jeito de ser, de me tratar, de
dizer que me ama, torna meus dias tão bons, que nunca mais meus pensamentos tristes passaram
por minha cabeça.
Hoje faz dois meses que nos reencontramos. Meu irmão quase teve um treco quando
cheguei de mãos dadas com Matheus em nossa casa. Sua felicidade por mim estava visível em
seu rosto, eu não poderia ter um irmão melhor.
Em nosso trabalho tudo estava indo muito bem, Matheus estava firme na empresa, Be vivia
o elogiando e eu, graças a Deus, continuava firme e forte, juntando meu dinheirinho.
Pedro quase não coube em si quando marquei com ele e Caio um passeio pela praia no
final de semana seguinte ao nosso reencontro e cheguei junto com Matheus. Meu amigo me
abraçou apertado e me desejou tantas felicidades que me emocionou. Ele abraçou Matheus e fez
a mesma coisa, dizendo que era para ele cuidar de mim direito ou ia se ver com ele. Coisa de
irmão.
Eu continuava morando com meu irmão e Matheus dividia o apartamento com Victor, mas
o mesmo anunciou que iria morar com a namorada e então Matheus me chamou para morar com
ele durante um jantar romântico que tivemos num restaurante na beira da praia que meu
namorado planejou em segredo.
— Amor, quando eu disse que queria casar com você, há dois meses, eu não estava
brincando. Somos responsáveis, temos nosso trabalho, pagamos nossas contas, você está
terminando sua faculdade e temos nossos sonhos — Matheus falava e sorria pra mim. — Mas eu
gostaria de viver tudo isso e o que mais estiver vindo pela frente ao seu lado, não só como
namorado, mas como seu homem, o cara que divide a casa, o coração e a vida contigo. Quero
dormir todos os dias com você e te ver acordar descabelado e perdido pela manhã, dizendo que
me ama. Quero chegar da rua e ter seu colo para deitar e receber um cafuné, quero cozinhar para
você e brigar que você pegou a camisa que eu queria usar. Quero tudo isso e muito mais, vem
morar comigo? — Esse pedido veio acompanhado de um olhar apaixonado em minha direção e
uma caixinha com duas alianças de compromisso na minha frente.
Não teve como não ficar emocionado com seu pedido e estendi minha mão para ele que
colocou a aliança em mim sorrindo de dar gosto e eu fiz o mesmo.
— Vou com você para onde for, não sei viver mais um minuto sem seu amor. Se você sai
de perto, um minuto é o tempo que a saudade já grita em meu coração. Também quero te fazer
cafuné todos os dias, comer sua comidinha gostosa, dormir declarando meu amor em seu ouvido
e acordar com seus beijos. Sair lindo por aí usando suas camisas descoladas para você morrer de
ciúmes de mim — disse sorrindo entre as lágrimas.
Ganhei um beijão em pleno restaurante.
A verdade era que eu já dormia mais na casa dele do que na minha. Como Victor fazia o
mesmo com a namorada, tínhamos o apartamento só para nós, para nossa privacidade. Fazíamos
amor loucamente por cada canto dele, então era hora de oficializar isso.
Cássio, claro, deu uma crise de ciúmes que eu não esperava, mas no fim foi o irmão
amoroso que ele sempre foi e disse que estaria sempre comigo mesmo eu não vivendo mais
embaixo do mesmo teto que ele.
Matheus e eu demos uma redecorada no apartamento. O nosso quarto deixamos mais nossa
cara e espalhei nossas fotos juntos por todos os cantos. Sou apaixonado por fotos e fiz até um
quadro com algumas que mais gostava para enfeitar nossa sala. Quem entrasse em nossa casa,
sentiria a presença do nosso amor, da nossa felicidade.
Era maravilhoso sair com meu amor e nossos amigos Pedro e Caio e às vezes, até Victor
vinha com sua namorada. Finalmente eu estava vivendo tudo que sempre sonhei, da forma que
eu sempre quis. Olhar para minha mão unida a de Matheus, enquanto andávamos pela rua, era a
realização de um sonho, era a realização da minha felicidade.
EPÍLOGO
Oito anos depois...
Matheus
Depois de um dia de trabalho exaustivo, chego em casa e encontro tudo em silêncio e no
escuro. Fecho a porta atrás de mim, acendendo o abajur do aparador e a primeira coisa que vejo é
uma foto minha e de Bruno tirada no dia que oficializamos nossa união. Foi o dia mais feliz
depois do nosso reencontro.
Chego perto do sofá, deixando minha bolsa sobre ele e vou até a cozinha beber água.
Estou cansado, mas satisfeito pelo dia produtivo.
Nossa casa normalmente não é assim, quieta, meus amores devem ter saído, mas estranho,
afinal Bruno nem mandou mensagem.
Indo para o corredor que dá para nosso quarto, paro e fico olhando a foto dos meus amores.
Até hoje adoro essa ideia do Bruno de deixar registrado toda nossa felicidade. Claro que como
todo casal tivemos desentendimentos, nenhum relacionamento é feito só de flores, ainda mais
comigo sendo muito ciumento. Em minha defesa ele é lindo e não consigo me controlar. Fico
puto mesmo se alguém olha pra ele com segundas intenções.
Mas a verdade é que meu amor jamais me deu motivos para desconfiança, ele me ama
incondicionalmente, eu é que amo tanto, que o medo de perdê-lo me faz ver coisas onde não
existem. Mas graças a Deus nunca passamos mais de um dia sem fazermos as pazes, não
sabemos ficar longe um do outro.
Quando formamos nossa família, me tornei o homem mais completo que poderia existir.
Lutamos para adotar nossos filhos e hoje não vivo sem meus amores.
Isso mesmo, hoje somos pais, do Rodrigo e do Nicolas, que adotamos há dois anos, dois
irmãos que perderam os pais biológicos num acidente. E da pequena Yasmim, que chegou por
último e terminou de concretizar nossa felicidade.
Quando finalmente entro em nosso quarto, fico chocado com o que vejo. Bruno está
deitado, apenas de cueca vermelha e tem um sorriso safado no rosto.
— Demorou, amor. Estou aqui te esperando.
Nem lembrava mais que estava exausto.
— Sabia que você estava tramando algo, essa casa não possui esse silêncio todo. Cadê os
nossos bebês?— pergunto curioso.
— Estão na casa dos tios. Hoje eles vão ensinar o Pedro e o Caio como serem papais, a
noite TODA!
Ele frisou o “toda” e eu arrepiei. Sabia o que isso significava.
— Como foi em seu trabalho hoje? — pergunto, tirando minha roupa sobre o seu olhar
atento.
— Foi ótimo, consegui um lar para o Tofinho — meu marido responde apaixonado. Nunca
vi alguém amar tanto sua profissão e o melhor, cada bichinho que ele cuidava o amava ainda
mais. — Ele já estava bem curado das feridas e podia ter alta. Fora isso, teve mais consultas de
rotina. Ganhei uma lambida na cara de um dálmata que era quase do meu tamanho sobre as duas
patas, misericórdia. — Tive que rir do meu marido.
— Agora você vai ganhar lambidas minhas.
— Mesmo que eu ame a minha profissão, são as suas lambidas que são a minha perdição.
Fizemos amor a noite inteira, nosso fogo nunca diminuiu durante todo esse tempo. Claro
que com filhos, tivemos que dar uma maneirada, mas volta e meia os tios babões ficavam com
eles e a gente aproveitava. Pedro e Caio eram os que mais ficavam, eles estavam casados há
quatro anos e treinavam para serem papais um dia.
E assim a gente podia curtir mais a fundo nossos momentos, matando saudade de fazer
amor em cada canto de nossa casa. Não trocava a vida que tinha hoje por nada. Sou marido e pai.
Sou feliz e completo.
Os pais de Bruno realmente nunca mais falaram com ele, nem sequer conhecem os netos,
com Cássio ainda falam. Sinto que meu marido no fundo se sente triste por isso, e por nossos
filhos não conhecerem os avós por parte dele, mas eles são tão amados por meus pais, pela mãe
de Caio, pelos dindos Cássio e Elisa e por nossos amigos, que este tanto de amor já basta.
A vida é assim, as surpresas acontecem quando a gente menos espera. Há um tempo eu
estava triste por um amor não correspondido e quando menos esperei encontrei o cara que seria o
amor da minha vida. No início eu nem desconfiava disso, mas a vida se encarregou de mexer
seus pauzinhos. Sofremos para que finalmente ficássemos juntos, mas o amor venceu no fim.
Bruno é tudo que sempre sonhei, o amor que eu queria para minha vida, um amor para
chamar de meu. Todas as vezes que ele encara meus olhos para dizer que me ama, seja depois de
fazermos amor, quando chega do trabalho, depois de um desentendimento, seja num momento
qualquer, eu acredito ainda mais em amor verdadeiro e que todos nós temos nossa alma gêmea
nos esperando. Que a qualquer momento tudo pode acontecer.
Nosso amor aconteceu e é por ele que vivo cada dia da minha vida, para fazer meu amor
feliz.
Fim
AGRADECIMENTOS

A Deus sempre em primeiro lugar.

E aos meus queridos leitores que estão sempre comigo, me apoiando e fazendo o meu trabalho
acontecer desde o início. Escrevo por vocês. Obrigada por tudo!!

O lancamento de Por Você na Amazon está quase encerrando toda a minha era Wattpad, falta
apenas mais um livro para relançar ( meu primeiro livro da vida) Porém, nesse, muitas coisas
irão mudar, virá quase inédito kkkk. Mas em respeito a todos que sempre me acompanharam por
lá e que já não fazem mais tanto o uso da plataforma, todas as histórias um dia publicadas no
Wattpad vieram para a Amazon e também os novos leitores conquistados aqui, puderam
conhecer a fundo todo o meu trabalho.

Um grande beijo,

Rose Moraes
LIVROS DESTE AUTOR
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Todos indicados para maiores de 18 anos.

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