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MINISTÉRIO DA MARINHA

Instituto de Pesquisas da Marinha

PRINCÍPIOS DE SONAR

Documento IPqM-013-0177-ET/97

1997
IPqM-013-0177-ET/97

INFORMAÇÕES SOBRE A DOCUMENTÇÃO

GRAU DE SIGILO CÓDIGO CÓDIGO SAT

OSTENSIVO IPqM-013-0177-ET/97 IPqM-013-5220/1/1/97

TÍTULO
PRINCÍPIOS DE SONAR

RESUMO

Introdução à acústica submarina e sistemas sonar: som no mar; equações sonar; transdutores;
propagação; reflexão do som; reverberação; análise de sinais acústicos; ruído; detecção e sistemas
sonar

AUTOR(ES) PALAVRAS-CHAVE

Sonar
CMG(QC-CA) LUIZ A. LOPES DE SOUZA IPqM
Acústica Submarina
Propagação do som

EDIÇÃO VERSÃO DATA EDIÇÃO

1 1 29/DEZ/1997

NO DE PÁGINAS NO DE VOLUMES NO DE ANEXOS

248 XXX XX

ORGANIZAÇÃO RESPONSÁVEL DISTRIBUIÇÃO INICIAL


DSAM
EN
Instituto de Pesquisas da Marinha CIAW
Grupo de Sonar CASOP
Rua Ipiru, S/N CIASM
21931-090 Rio de Janeiro, RJ CAAML
Tel: (021) 396-2004 IPqM-11
IPqM-13

II VERSÃO 1.0
IPqM-013-0177-ET/97

CAPÍTULO 1 - O SOM NO MAR

1.1 INTRODUÇÃO [Ref. 1]

No mar, as ondas eletromagnéticas são fortemente atenuadas. A aplicação dessa forma de radiação é
restrita a pequenas distâncias. Por outro lado, o som, uma forma de energia mecânica, possibilita a transmissão
de sinais a grandes distâncias.

A compreensão dos fatores que influenciam quaisquer sistemas é fundamental tanto para quem os
projeta como para os que devem empregá-los eficazmente. A Acústica é a parte da Física que trata da produção,
transmissão (propagação) e recepção do som. No presente caso, estudaremos aspectos da Acústica Submarina,
um ramo da Acústica, que nos proporcionarão os conhecimentos básicos para o estudo dos sistemas sonar.

O termo sonar é usado para designar o ramo da engenharia que trata da aplicação da acústica
submarina no uso e exploração dos mares. Os sistemas que empregam o som submarino são denominados,
genericamente, sistemas sonar.

Os sistemas sonar são ditos ativos quando o som é gerado propositadamente (através de um
componente denominado projetor). Nesses sistemas, o som se propaga através do mar até atingir o alvo, onde é
refletido e retorna, na forma de um eco, a um hidrofone que converte o som em sinal elétrico (é o análogo ao
microfone da acústica aérea) *. O sinal elétrico é amplificado e processado de várias formas. Finalmente, uma
representação do sinal e de informações dele extraídas é apresentada a um operador através de um display. Os
sistemas sonar ativos são empregados para eco-localização de alvos submarinos.

Sistemas sonar passivos ou de escuta empregam o som emitido, geralmente de forma não intencional,
pelo alvo. O som é convertido em sinal elétrico pelo hidrofone, o qual é processado e apresentado ao operador.

Alguns sistemas, como os de comunicação, empregam projetores e hidrofones em ambos os lados do


canal acústico de comunicação.

1.2 UM BREVE HISTÓRICO [Ref. 1]

O desenvolvimento da Acústica Submarina, do ponto de vista quantitativo, sofreu um grande impulso


durante a Segunda Guerra Mundial. Suas raízes, no entanto, remontam ao passado. No século XV, Leonardo da
Vinci descreveu um processo de detecção de navios por meio de um dispositivo de escuta submarina. Naquela
descrição pode-se encontrar, por exemplo, uma indicação da importância da redução do próprio ruído para
aumentar a distância de detecção, um problema ainda atual. Um dispositivo similar foi empregado na Primeira
Grande Guerra.

O século XIX assistiu as primeiras medições de velocidade de propagação do som submarino e o


descobrimento de fenômenos empregados na transdução sonora (conversão de som em eletricidade e vice-
versa): os efeitos piezelétrico † e magnestritivo ‡. O microfone de carvão, inventado naquele século, chegou a ser
empregado como hidrofone.

Próximo ao início do século XX, foi desenvolvido o primeiro equipamento prático que empregava o
som submarino, o sino submarino: pela diferença de tempo entre a escuta do som de um sino submarino e de

*
o termo transdutor sonar aplica-se a projetores e hidrofones.

propriedade de certos cristais desenvolverem uma carga elétrica quando submetidos a esforços mecânicos.

certas substâncias deformam-se em presença de campo magnético.

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uma buzina acionados simultaneamente, um navio podia determinar sua distância ao ponto onde os dois
dispositivos estavam instalados (um navio-farol).

Ainda antes da Primeira Grande Guerra foram aplicadas patentes para detecção de icebergs por meio
de ecos de um sinal acústico emitido (sonar ativo). Durante a Guerra, foram utilizados equipamentos de escuta
submarina (passivos): conjuntos de sensores acústicos instalados no casco ou rebocados que permitiam a
detecção e a determinação de marcação de alvos. Foram realizadas pesquisas com sistemas ativos. Nessa época,
os ingleses introduziram o termo “asdic” (baseado na denominação do grupo que fez o trabalho de pesquisa -
“Anti-Submarine Division”) para designar sonares ativos.

No período entre guerras, observou-se um certo desenvolvimento, embora lento, da aplicação prática
do som submarino, tais como o ecobatímetro e componentes para sonares ativos (visando a detecção de
submarinos): novos transdutores, o domo sonar (compartimento de formato hidrodinâmico onde o transdutor é
instalado para isolá-lo do fluxo de água no casco, turbulento e ruidoso, dos navios), e, possibilitado pelo
desenvolvimento da eletrônica, melhores meios de processamento dos sinais e displays. Do ponto de vista do
conhecimento científico, no período entre guerras estabeleceu-se a relação entre pequenas variações de
temperatura e salinidade da água do mar e a mudança na direção de propagação de raios sonoros e reconheceu-
se a importância desses fatores na determinação do alcance sonar. Observações de campo, obtidas para se tentar
explicar as mudanças de desempenho de sonares em função da hora do dia, permitiram descobrir a existência de
gradientes de temperatura que, ao provocar mudanças na direção de propagação do som, ocasionavam regiões de
“zona de sombra” (regiões do volume do mar onde a intensidade sonora decorrente de emissões sonar
apresentam valores insignificantes em relação ao que seria previsível caso o som se propagasse em linha reta). O
primeiro batitermógrafo (equipamento que mede temperatura em função da profundidade) foi desenvolvido.
Quantificou-se o fenômeno de absorção do som no mar. Ao se iniciar a Segunda Guerra Mundial, vários navios
eram equipados com sonares ativos e passivos e batitermógrafos.

Durante a Segunda Guerra, houve grande atividade de pesquisa e desenvolvimento na área de acústica
submarina e sistemas sonar. O torpedo com "homing" acústico, a mina de influência acústica, os sonares com
varredura eletrônica e absorvedores de som para submarinos são desenvolvimentos daquela época. A intensa
atividade de pesquisa § resultou na compreensão dos diversos fatores que influenciam o desempenho de sonares.
O termo “sonar” apareceu nessa época por analogia com “radar”, embora seja considerada como uma
abreviatura de “sound navigation and ranging”.

Após a Guerra, verificou-se um grande avanço na exploração do som submarino. Os sonares ativos de
uso militar tornaram-se maiores, mais complexos e operam em freqüências bem menores que os de então. Os
sonares passivos operam em freqüências mais baixas a fim de explorar os componentes tonais do espectro de
ruído dos submarinos.

Sonares passivos fixos foram instalados em áreas estratégicas em águas profundas, aproveitando as
características de boas condições de propagação e baixos níveis de ruído nas freqüências baixas de interesse. Por
outro lado, os submarinos tornaram-se mais discretos acusticamente, tornando-se alvos mais difíceis. O
surgimento de processadores digitais viabilizou o emprego de técnicas de processamento de sinais mais
complexas, o que tende a contrabalançar os menores níveis de ruído dos alvos. A pesquisa em Acústica
Submarina possibilitou a exploração mais eficaz das características de propagação do meio submarino no projeto
e emprego dos sistemas sonar.

§
Nos EUA foi criado o “National Defense Research Committee” (NDRC), cuja “Division 6” era responsável
pela condução de pesquisas em Acústica Submarina.

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Atualmente, os sistemas sonar são amplamente empregados, tanto para fins civis quanto militares.
Como exemplo, encontram-se hoje comercialmente disponíveis sistemas para batimetria convencional e de sub-
fundo; sonares de varredura lateral para mapeamento detalhado do fundo do mar; odômetro doppler; sonares de
pesca e de auxílio à pesca (para estima de potencial pesqueiro e de tamanho de peixes, monitoração de redes de
pesca etc); equipamentos de comunicação e sonares portáteis para mergulhadores; dispositivos para marcação de
posição no fundo do mar (beacons e transpondedores); equipamentos para comunicação, telemetria e
telecontrole acústicos.

Aplicações militares incluem as minas acústicas e de pressão; varredura de minas; caça de minas;
sonares passivos de flanco, rebocados (táticos e estratégicos) e fixos; sonares ativos de freqüência baixa (abaixo
de 3.5 KHz); torpedos acústicos; telefone submarino (UQC) e sonoboias.

Exercícios de Fixação

1. Quais os significados do termo sonar?

2. Defina sistemas sonar, sonar ativo, sonar passivo e sonar passivo.

3. Para que são empregados os projetores e hidrofones?

4. Descreva os efeitos piezelétrico e magnetestritivo.

5. O que é asdic?

6. Qual a finalidade do domo sonar?

7. Cite dois fatores ambientais que influenciam a propagação do som no mar.

8. O que é “zona de sombra” e qual a sua causa?

9. O que é o batitermógrafo?

1.3 GRANDEZAS ACÚSTICAS BÁSICAS

O som se propaga em um meio material por meio de ondas acústicas, de natureza mecânica. A
compressão de uma região de um meio elástico (gás, líquido ou sólido) provoca o aparecimento de uma força
que tende a expandi-lo (i.e. retorná-lo à situação inicial de equilíbrio). Aquela região se expande, comprime as
camadas adjacentes do meio e torna-se rarefeita. Essa rarefação também provoca o aparecimento de uma força
de restauração tendendo ao retorno à situação de equilíbrio, o que resultará em nova compressão. As camadas
adjacentes comportam-se de forma similar. O resultado final é a transmissão de energia mecânica potencial,
camada a camada, hora por compressão, hora por rarefação. O movimento das partículas que compõem o meio
acompanha esse fenômeno, havendo portanto um componente cinético na energia mecânica transmitida.

Esse fenômeno de forças restauradoras tendendo ao retorno de uma situação de equilíbrio,


acarretando oscilações mecânicas associadas a energia potencial/cinética pode ser verificada no pêndulo. Ao se
retirar o pêndulo da sua posição de equilíbrio em um campo gravitacional, este passa a ter uma energia
potencial (massa x aceleração da gravidade x altura). Ao ser liberado, ele tende a retornar à posição inicial,
adquirindo velocidade, aumentando sua energia cinética e reduzindo a potencial (a energia mecânica total
permanece constante caso não haja perdas). Ao passar pela posição de equilíbrio, a energia cinética será
máxima e a potencial, mínima. O movimento continua até se atingir a altura máxima do lado oposto ao inicial,
quando o fenômeno se repete.

1-3 VERSÃO 1.0


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A Figura 1-1 ilustra uma placa vibrante em um meio fluido. A placa vibra na direção X. Quando a
placa se desloca para a direita, as partículas do fluido adjacentes à placa são comprimidas, aumentando a pressão
e a densidade do meio naquela região. Conforme descrito anteriormente, essa compressão é transmitida às
partículas adjacentes (propagando-se para a direita). Essas partículas vibram com uma velocidade que é função
da velocidade de vibração da placa.

direção da vibração X

rarefação compressão


u

vibração da
vibração da partícula do
placa meio

Figura 1-1 - Placa vibrante gerando som

No próximo semi-ciclo de vibração, a placa se desloca para a esquerda, provocando rarefação (baixas
pressão e densidade) do fluido adjacente. As partículas vizinhas à direita deslocam-se para ocupar a região de
baixa pressão, acarretando um deslocamento da perturbação (rarefação) idêntica à propagação da compressão do
semi-ciclo anterior.

Deste modo, em um dado instante de tempo, haverá regiões de compressão (alta densidade, alta
pressão) e de rarefação (baixa pressão, baixa densidade) ao longo da direção X, conforme indicado na Figura 1-
1. Essas variações (pressão acústica) ocorrem em torno de um valor médio igual à pressão de repouso P0.
Supondo variações senoidais, a distância entre os máximos de pressão é o comprimento de onda λ (metro). Se
um sensor de pressão for colocado em uma posição fixa, verificar-se-á que as variações temporais de pressão
também são senoidais com nível médio igual à pressão de repouso. O intervalo de tempo entre máximos
consecutivos da forma de onda de pressão é o período do sinal acústico, T (segundo, s), cujo inverso é a
freqüência do sinal f (Hertz, H). A relação entre λ e f é dada pela expressão λ = c / f, onde c é a velocidade de
propagação do som.

Neste exemplo, as direções do movimento das partículas (vetor velocidade de partícula) e da


propagação da onda são coincidentes (direção X). Essas são ondas longitudinais ou de compressão. Ondas
eletromagnéticas são transversais, pois o vetor campo elétrico é perpendicular à direção de propagação. O som
pode se propagar também por ondas transversais, nesse caso conhecidas como ondas de cisalhamento, típicas de
sólidos.

A velocidade de propagação do som não deve ser confundida com a de movimento das partículas.
Aquela se refere à velocidade com que a energia acústica é transmitida e é característica do meio. A segunda se
refere à vibração das partículas em torno de uma posição de equilíbrio. Para ondas planas harmônicas

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(senoidais), a amplitude de pressão acústica P (N/m2) é relacionada à amplitude da velocidade de partícula U


(m/s) pela expressão

P = ρo cU (ondas planas harmônicas) ( 1-1 )

onde, ρ o = massa específica do meio, Kg/m3, e c = velocidade de propagação do som, m/s.

O fator de proporcionalidade ρ o c é denominado impedância acústica específica do meio (Pa s/m).


Quanto maior a impedância acústica, menor será a amplitude da velocidade de partícula associada a uma dada
amplitude de pressão. A água do mar tem massa específica de 1026 Kg/m3 e velocidade do som de cerca de
1500 m/s, resultando em uma impedância de 1,54 106 Pa s/m. Para o ar, ρ o ≈ 1,21 Kg/m3 e c ≈ 343 m/s (para 1
atm e 20 °C), resultando em uma impedância de 415 Pa s/m. A Equação ( 1-1 ) expressa a lei de Ohm da
Acústica: a pressão é análoga à voltagem, a velocidade de partícula é análoga à corrente e a impedância acústica
é análoga à impedância elétrica. Quando a onda não é plana, a impedância acústica será, em geral, complexa,
indicando uma defasagem entre pressão e velocidade de partícula.

As unidades usuais de pressão são mostradas no Apêndice 1.A. O Pascal (Pa) é a unidade no sistema
internacional (SI). Uma fórmula que nos será útil em acústica submarina é a da pressão hidrostática P o (atm) a
uma dada profundidade h (m) no mar:

( )
Po ≈ 1 + h 10 (pressão hidrostática em atm) ( 1-2 )

É em torno dessa pressão hidrostática que as variações acústicas ocorrem. A não ser nas proximidades de
projetores de sonares ativos, os valores de pressão acústica encontrados na prática são várias ordens de grandeza
menores que 1 atm (cerca de 105 Pa), a pressão encontrada na superfície do mar.

Exemplo 1-1 A placa da Figura 1-1 vibra senoidalmente com velocidade de amplitude 1,20 µm/s.
Qual o valor eficaz da pressão resultante (a) no ar e (b) na água do mar, se considerarmos que as
partículas do meio vibram com a mesma velocidade? (considerar ρc igual a 415 Pa s/m no ar e 1,54
x106 Pa s/m no mar).

(a) a amplitude da onda de pressão no ar é obtida pela substituição de U=1,2x10-6 m/s e ρ c = 415 Pa
s/m na Equação ( 1-1), obtendo-se 498 x 10-6 Pa = 498 µPa. O valor eficaz (amplitude/√2) resultante
é de 352 µPa. Este é o limiar de audibilidade para o ser humano na freqüência de 100 Hz.

(b) para a água do mar, encontra-se um valor de pressão eficaz de 1,31 Pa.

Exemplo 1-2 A placa da Figura 1-1 vibra senoidalmente e produz uma pressão sonora de amplitude
200 Pa (limiar da dor a 100 Hz). Qual o valor da amplitude de velocidade de partícula se a placa
estiver vibrando (a) no ar e (b) na água do mar? (considerar ρ o c igual a 415 Pa s/m no ar e 1,54 x106
Pa s/m no mar).

(a) a amplitude da velocidade de partícula no ar é obtida pela substituição de P=200 Pa e ρ o c = 415


Pa s/m na Equação ( 1-1), obtendo-se 0,482 m/s.

(b) para a água do mar, encontra-se um valor de amplitude de velocidade de 129 µm/s.

O Exemplo 1-1 e o Exemplo 1-2 indicam que, para uma dada amplitude de pressão sonora, a
velocidade de partícula (e, em conseqüência, o deslocamento das partículas) no mar é várias ordens de grandeza
menor que no ar, em virtude da disparidade das impedâncias acústicas específicas. Em termos práticos: o

1-5 VERSÃO 1.0


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deslocamento do cone de um alto-falante, projetor de som usado no ar, será muito maior que o exigido de um
projetor sonar que gere a mesma pressão na mesma freqüência.

Exercícios de Fixação

1. Descreva o processo de propagação do som.

2. Com referência à Figura 1-1, supondo que a onda que se propaga é uma onda plana harmônica, desenhe
a função que representa a pressão acústica ao longo do eixo X em um dado instante de tempo, indicando a
amplitude e o comprimento de onda.

3. Calcule o comprimento de onda no ar e no mar de uma onda plana de freqüência (a) 170 Hz; (b) 340
Hz; (c) 750 Hz; (d) 1500 Hz e (e) 3000 Hz.

4. Com referência à Figura 1-1, supondo que a onda que se propaga é uma onda plana harmônica, desenhe
a função que representa a pressão acústica em função do tempo em um dado ponto X, indicando a amplitude e o
período.

5. O que são ondas compressionais e de cisalhamento e quais as suas características básicas?

6. Calcule o valor eficaz da pressão e a amplitude da velocidade de partícula correspondente a amplitudes


de pressão de (a) 16 Pa no ar (correspondente a uma banda de rock em uma discoteca); (b) 5 Pa no ar (avião a
jato voando a 300 m de distância); (c) 5 mPa no ar (zona residência silenciosa); (d) 140 KPa no mar (sonar ativo
nas proximidades do transdutor).

7. Qual a pressão hidrostática no mar, em atm e Pa, nas profundidades de (a) 5 m (típico de transdutores
sonar); (b) 10 m; (c) 300 m; (d) 1000 m e (e) 5000 m. (f) Compare o valor do item (a) com o do item (d) do
problema anterior.

1.4 VELOCIDADE DE PROPAGAÇÃO DO SOM NO MAR

O fenômeno da propagação acústica é modelado matematicamente por uma equação da onda similar
à eletromagnética. Em se tratando de ondas compressionais, a equação da onda acústica pode ser escrita em
termos de uma grandeza escalar, a pressão acústica. O único parâmetro ambiental (ie, relativo ao meio onde a
onda se propaga) que aparece na equação da onda acústica é a velocidade de propagação c característica do
meio **. No caso mais geral, tanto a velocidade de propagação do som quanto a pressão acústica variam com as
três coordenadas espaciais (x, y, z) ††.

A velocidade de propagação do som é uma grandeza característica do material. Sua expressão é obtida
a partir da equação de estado da termodinâmica. No caso de líquidos, a expressão de c em função da
temperatura, densidade e pressão é obtida experimentalmente. Para a água do mar, existem várias expressões,
dadas em função da temperatura, da salinidade e da pressão (em geral, convertida para profundidade), com
diferentes graus de precisão e condições de validade. A título de ilustração, a seguinte expressão é válida para
temperatura T na faixa de zero a 35 °C, salinidade S de zero a 45 ppt (parts per thousand) e profundidade D de
zero a 1000 m [Ref. 1 : 113]:

**
um outro parâmetro de importância é o fator de absorção que não aparece nessa aproximação da equação da
onda, mas pode ser introduzido a posteriori nas suas soluções.
††
a solução da Equação da onda depende das condições de fronteira que, no mar, são representadas pelas
características do fundo e da superfície com as quais o som interage.

1-6 VERSÃO 1.0


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c = 1449,2 + 4,6T − 0,055T 2 + 0,00029T 3 + (1,34 − 0,01T )( S − 35) + 0,016 D ( 1-3 )

Para fins de previsão das condições acústicas em uma área de operação, os navios devem obter um
perfil da velocidade do som (c em função da profundidade, já incluindo os efeitos da temperatura e da
salinidade) de tempos em tempos. Os submarinos são equipados com um dispositivo, o velossom, que mede
diretamente a velocidade de propagação do som. Para obter o perfil, o submarino realiza um mergulho
exploratório enquanto a velocidade é medida. Os navios de superfície contam com um instrumento, o
batitermógrafo descartável - XBT (expendable bathythermograph) que é lançado ao mar. Este dispositivo consta
de um sensor de temperatura (termistor) preso a um corpo que afunda com velocidade constante. O sensor é
ligado, por meio de fio, a um equipamento a bordo que mede a resistência do termistor (convertida em
temperatura) ao longo do tempo (convertido para profundidade). Este perfil de temperatura é convertido para
perfil de velocidade através da Equação ( 1-3 ) ou similar, onde a salinidade, na falta de informação mais
precisa, é suposta constante (caso não se saiba seu valor, assume-se S = 35 ppt, um valor médio dos oceanos).
Atualmente, existem submarinos equipados com XBT, o que permite a obtenção de perfis de velocidade até
grandes profundidades, superiores à de operação do navio.

Exemplo 1-3 Um navio, ao lançar um XBT, obteve os seguintes pontos do perfil de temperatura:

profundidade, m 10 30 50 200 500 800 1000

temperatura, °C 25 25 15 10 8 4 4

Considerando que a temperatura varia linearmente entre as profundidades dadas e que a


temperatura na superfície era de 25 °C, faça os gráficos dos perfis de temperatura e velocidade até
1000 m. (Supor S = 35 ppt).

O gráfico do perfil de temperatura é feito diretamente a partir dos dados. Para obtenção do perfil de
velocidade, basta substituir os valores de profundidade e temperatura dados, juntamente com S = 35
ppt, na Equação ( 1-3 ). O resultado é apresentado na tabela abaixo:

profundidade, m temperatura, °C veloc. do som, m/s

0 25 1534,36

10 25 1534,52

30 25 1534,84

50 15 1507,60

200 10 1493,19

500 8 1490,63

600 6.67 1487,12

700 5.33 1483,40

800 4 1479,54

1-7 VERSÃO 1.0


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profundidade, m temperatura, °C veloc. do som, m/s

900 4 1481,14

1000 4 1482,74

Alguns pontos foram incluídos entre 500 m e 800 m para melhor interpolar valores no gráfico.

Exercícios de Fixação

1. Calcule a velocidade do som no mar, próximo à superfície e a 200 m e 1000m de profundidade na


temperatura de (a) 0 °C; (b) 13 °C; (c) 20 °C e (d) 25 °C, considerando uma salinidade de 35 ppt.

2. O que é o perfil de velocidade de som e como pode ser obtido usando-se um XBT?

3. (a) O que é o velossom?; (b) Que limitação sofre um submarino ao obter o perfil de velocidade com o
velossom?

4. Que vantagens e desvantagens você consegue identificar pelo uso de um XBT para obtenção do perfil
de velocidade em relação ao velossom?

1.5 INTENSIDADE ACÚSTICA

A onda acústica transporta energia mecânica. A energia cinética é associada ao movimento das
partículas que compõem o meio e a potencial é associada às deformações e tensões resultantes das
características elásticas do meio (compressão/rarefação). Se supusermos uma superfície interceptando a onda
que se propaga, uma certa quantidade de energia a atravessará por unidade de tempo, conforme ilustrado na
Figura 1-2.

direção de propagação

fluxo de superfície
energia normal

Figura 1-2 - Fluxo de energia acústica

A intensidade é o fluxo de energia (energia/área) por unidade de tempo que atravessa uma superfície
normal à direção de propagação e tem unidades de energia/(tempo x área), ou seja, potência/área (1 W/m2 ≡
1000 erg/s cm2 ).

Por analogia com as grandezas elétricas, podemos obter uma expressão simples para a intensidade
média de uma onda plana. A intensidade pode ser vista como análoga à potência elétrica. Nesse caso, a pressão é
análoga à voltagem e a impedância acústica específica para ondas planas é análoga à resistência:

1-8 VERSÃO 1.0


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2
PRMS
I=
ρo c ( 1-4 )

onde P RMS é o valor eficaz da pressão acústica.

Dada uma superfície de área S normal à direção de propagação de uma onda plana de intensidade I, a
potência que atravessa a área é dada pelo produto dessas grandezas: potência = (potência por área) × (área): Π ac
= I × S.

Exemplo 1-4 Determine a intensidade, na água do mar, de uma onda plana harmônica (impedância
acústica específica de 1,54×106 Pa s/m) de pressão eficaz igual a (a) 1 µPa (valor de referência
usado na acústica) e (b) 1 µbar.(antiga referência em acústica submarina)

(a) substituindo os valores na Equação ( 1-4 ), obtém-se, para P RMS = 10-6 Pa :

I=
2
PRMS
=
10 ( −6 2
)
= 649 × 10 − 21 W / m 2
ρo c 1,54 × 10 6

(b) para obtermos o resultado em unidades do SI, é preciso converter o valor de pressão para Pa:

−6 105 Pa
PRMS = 10 bar × = 0,1 Pa
1 bar

que, substituído na Equação ( 1-4 ), resulta em I = 6,49 × 10-9 W / m2.

Exemplo 1-5 Na acústica aérea era empregado um valor de referência de intensidade de 10-12
W / m2. Qual a pressão eficaz correspondente no ar? (impedância acústica específica de 415 Pa
s/m).

Da Equação ( 1-4 ) obtém-se:

PRMS = ρo c I = 415 × 10 − 12 = 20,4 × 10 − 6 Pa = 20,4 µPa

Para fins práticos, considera-se que a antiga referência da acústica aérea vale, em termos de
pressão, 20 µPa.

Exemplo 1-6 Um valor de amplitude de pressão acústica tipicamente emitido por um sonar ativo de
busca é de 1,41 bar = 1,41×105 Pa, nas proximidades do projetor. (a) Qual a intensidade de uma
onda plana harmônica com esta amplitude, no mar? (b) Qual a potência acústica que flui através de
uma superfície de 1 m2 normal à direção de propagação?

(a) O valor eficaz é de 1,41×105 / 2 Pa = 105 Pa. Substituindo este valor de pressão eficaz e ρ 0 c =
1,54×106 Pa s/m na Equação ( 1-4 ), obtém-se I = 6,36 KW/m2. Este valor elevado de intensidade dá
uma idéia da ordem de grandeza das potências associadas à emissão sonar, embora a aproximação
de onda plana não seja estritamente válida a pequenas distâncias do projetor.

1-9 VERSÃO 1.0


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(b) Dada a potência por área unitária I = 6,36 KW/m2 e uma área de 1 m2 normal à direção de
propagação, supondo-se que a intensidade é a mesma em toda a área, obtém-se uma potência
acústica que “flui” através da área dada:

Π ac = I × S = 6,36 KW

Exercícios de Fixação

1. Calcule o valor eficaz da pressão, a intensidade e a potência acústica que atravessa uma área de 1 m2
normal à direção de propagação correspondentes a pressões acústica de amplitude (a) 16 Pa no ar; (b) 5 Pa no ar;
(c) 5 mPa no ar; (d) 141 KPa no mar; (e) 5 µPa no mar.

1.6 DENSIDADE DE FLUXO DE ENERGIA

Os sinais sonar são, em geral, pulsados. Formas de onda típicas transmitidas por sonares ativos são
pulsos CW e FM, mostrados na Figura 1-3. O pulso CW é caracterizado por uma duração t p (da ordem de alguns
ms até alguns s), uma freqüência portadora f c (Hz) ou ω c = 2πf c (rd/s) e uma amplitude A (Volt, Pascal, Ampère
etc). O sinal FM é caracterizado pelos mesmos parâmetros mais uma faixa de freqüências varrida (f c a f c + mt p
no exemplo da figura). O sinal FM mostrado é do tipo linear FM ou FM slide ou chirp FM (freqüência varia
linearmente com o tempo). Tais sinais têm duração finita e são denominados sinais de energia.

pulso CW:

A A sen(ωc t), 0 ≤ t ≤ tp

tp

A pulso FM:

A sen((ωc + 2πmt)t), 0 ≤ t ≤ tp

Figura 1-3 Sinais típicos empregados em sonares ativos

Um outro tipo de sinal de energia de interesse em acústica é o pulso exponencial resultante de


explosões submarinas, Figura 1-4. Este é um exemplo de sinal transiente, que se caracteriza pela pequena
duração. Pulsos sonar CW e FM podem também ser considerados transientes, principalmente quando de
pequena duração e distorcidos em decorrência do ambiente de propagação ou da reflexão em alvos.

1-10 VERSÃO 1.0


IPqM-013-0177-ET/97

p(t), (Pa)

p( t ) = P e − t t o , t > 0

Figura 1-4 - Pulso Exponencial

Em termos de onda acústica, a grandeza de interesse, nesses casos de sinais transientes, é a densidade
de fluxo de energia E (Joule/m2) que representa a razão entre a quantidade de energia que flui através de uma
superfície normal à direção de propagação e a área da superfície . É calculada como a integral temporal da
intensidade instantânea:

∞ ∞
p 2 (t )
E = ∫ I inst (t ) dt = ∫ dt (ondas planas)
0 0 ρo c

Vejamos, a título de exemplo, quais as expressões de densidade de fluxo de energia dos pulsos CW e
exponencial. Em primeiro lugar, consideremos o pulso CW cuja expressão é indicada na Figura 1-3 (com
amplitude P no lugar de A). A integral deve ser avaliada no intervalo (0, t p ), pois o sinal é nulo fora daquele
intervalo. Supondo, sem perda de generalidade, que a largura de pulso t p é igual a um número inteiro de
períodos da portadora, a integral pode ser decomposta em um número inteiro de intervalos, cada um igual a um
período, T=2π/ω c , da senoide portadora. Cada integral será igual a π/ω c . O resultado final será:

P2 P2
E cw = t p = RMS t p
2 ρo c ρo c ( 1-5 )

onde, por comparação com a Equação ( 1-4 ), verifica-se que a densidade de energia de um pulso CW é igual à
intensidade média multiplicada pela largura de pulso [(energia/área) = (potência/área) × tempo]. O mesmo
resultado é válido para o pulso FM e podemos escrever:

2
P2 PRMS
E cw = E fm = t = t = I tp ( 1-6 )
2 ρo c p ρo c p

1-11 VERSÃO 1.0


IPqM-013-0177-ET/97

No caso do pulso exponencial, a integração da expressão dada na Figura 1-4 resulta em

P2
E exp = t ( 1-7 )
2 ρo c o

que equivale à densidade de energia de um pulso CW de amplitude igual ao pico do pulso exponencial P e
duração igual à constante de tempo t o .

Dada uma superfície de área S normal à direção de propagação de uma onda plana de densidade de
fluxo de energia E, a energia que atravessa a área é dada pelo produto dessas grandezas: energia = (energia por
área) × (área): E = E × S.

Exemplo 1-7 Um sonar emite um pulso CW de duração igual a 100 ms. A 10 m do transdutor, mede-
se, com a ajuda de um hidrofone calibrado, um pulso acústico de 28,284 KPa pico-a-pico. Uma
análise do diagrama de irradiação nos mostra que a potência total transmitida está distribuída em
uma superfície cilíndrica em torno do navio, de 3,5 m de altura na distância de medição (10 m) e que
é normal, em cada ponto, à direção de propagação. (a) Qual o valor eficaz (rms) de pressão do pulso
medido? (b) Qual a densidade de fluxo de energia a 10 m do transdutor? (c) Qual a energia acústica
total transmitida? (d) Qual a potência acústica total transmitida? (e) Supondo que o transdutor sonar
tem uma eficiência de 50%, qual a potência elétrica entregue ao transdutor pelos amplificadores de
potência? Supor que são válidas as expressões de onda plana para o presente caso.

(a) A amplitude do pulso é igual à metade do valor pico-a-pico, ou seja, 14142 Pa. O valor eficaz
será, portanto:

P 14142
PRMS = = = 10000 Pa
2 2

(b) A densidade de fluxo de energia do pulso CW a 10 m é calculada substituindo t p = 0,1 s, ρ o c=1,54


× 106 Pa s/m e o valor de P RMS calculado acima na Equação ( 1-6 ):

2
PRMS 10000 2
E cw = tp = × 0,1 = 6,49 J / m 2
ρo c 1,54 × 10 6

(c) A energia acústica total transmitida é a densidade de energia multiplicada pela área onde a
energia está distribuída (supondo que a energia está distribuída uniformemente naquela área e que a
expressão de densidade de fluxo de energia para ondas planas é válida). No caso em questão, trata-
se de uma superfície cilíndrica de raio 10 m e altura 3,5 m em torno do transdutor, cuja área é

S = 2π × 10 × 3,5 = 220 m 2

A energia total será, então

E = E cw × S = 6,49 × 220 = 1,43 KJ

(d) A potência acústica total será a energia acústica transmitida dividida pelo tempo de duração do
pulso:

1-12 VERSÃO 1.0


IPqM-013-0177-ET/97

E 1,43 × 10 3
Π ac = = = 1,43 × 10 4 W = 14,3 KW
tp 0,1

(e) A eficiência do transdutor é a razão entre a potência acústica transmitida e a potência elétrica a
ele entregue. Então, a potência elétrica entregue pelos amplificadores de potência será de:

Π ac 14,3 × 103
Π ele = = = 28,6 KW
η 0,5

Exemplo 1-8 Uma carga de 1 lb (454 g) de TNT produz, no mar, um pulso acústico exponencial de 3
MPa de pico e constante de tempo igual a 100 µs, quando medido a 10 m do ponto da explosão. (a)
Qual a densidade de energia naquela distância? (b) Supondo que a energia está distribuída em uma
esfera, qual a energia acústica total gerada pela explosão? (c) No Exemplo 1-7, qual deveria ser a
largura do pulso do sonar CW (mantendo-se a amplitude) para que a energia total emitida fosse a
mesma que a da carga explosiva deste exemplo?

(a) A densidade de energia para um pulso exponencial é calculada pela Equação ( 1-7 ), com P = 3
× 106 Pa, t o = 10-4 s e ρ o c=1,54 × 106 Pa s/m :

E exp =
P2
t =
(
3 × 10 6 )2
× 10 − 4 = 292 J / m 2
2 ρo c o 2 × 1,54 × 10 6

(b) A esfera de raio 10 m centrada no ponto da explosão tem área S = 1257 m2. A energia total será,
então

E = E exp × S = 292 × 1257 = 367 KJ

(c) A energia calculada acima é 256 vezes maior que a calculada para o pulso CW do exemplo
anterior. Como a energia é diretamente proporcional à largura de pulso (vide Equação ( 1-6 ), por
exemplo), então a nova largura de pulso deveria ser 256 vezes a original (100 ms), ou seja
256×0,1=25,6 s, a fim de que o sonar emitisse a mesma energia acústica que a explosão da carga de
454 g de TNT.

Exercícios de Fixação

1. Defina intensidade e densidade de fluxo de energia e indique suas unidades no SI.

2. Dado o valor da intensidade de uma onda acústica e a área de uma superfície normal à direção de
propagação, qual o significado físico da grandeza obtida pela multiplicação do valor dessas grandezas?

3. Dado o valor da densidade de fluxo de energia de uma onda acústica plana e a área de uma superfície
normal à direção de propagação, qual o significado físico da grandeza obtida pela multiplicação do valor dessas
grandezas?

4. Qual a intensidade e a densidade de fluxo de energia associadas a um pulso CW de duração 1s e


pressão de amplitude 141 KPa, medido nas proximidades de um projetor sonar, supondo que a propagação se dê
por onda plana?

1-13 VERSÃO 1.0


IPqM-013-0177-ET/97

5. Suponha que, no caso do exercício anterior, a energia acústica esteja distribuída uniformemente por
uma superfície cilíndrica de altura 35 cm e raio 1m em torno do projetor (digamos, devido ao feixe sonar
direcional só “ensonificar” essa região) . (a) Qual sua estimativa dos valores de energia total e potência acústicas
envolvidas no processo de transmissão desse pulso? (b) Por considerações meramente geométricas, determine a
largura angular vertical do feixe do projetor.

1.7 O DECIBEL E AS REFERÊNCIAS EM ACÚSTICA

É usual expressar-se pressões e intensidades sonoras usando escalas logarítmicas com a denominação
genérica de níveis sonoros. Um primeiro motivo para isto é a grande faixa de valores que aquelas grandezas
podem assumir na prática. Por exemplo, intensidades audíveis vão desde cerca de 10-12 W/m2 até 10 W/m2. O
emprego de escala logarítmica reduz a faixa de números empregados para representar essas intensidades. Um
segundo motivo é que o sistema auditivo humano julga intensidade relativa de dois sons pela razão entre suas
intensidades acústicas, um comportamento logarítmico.

A escala de decibéis é a escala logarítmica mais empregada. O nível de intensidade IL correspondente


a um som de intensidade I é dado por:

(
IL = 10log I I ref ) ( 1-8 )

onde I ref é uma intensidade de referência, IL é expresso em “dB referente a I ref ” (sucintamente, “dB re I ref ” ou
“dB//I ref ”) e o logaritmo é da base 10. Mais empregado em acústica submarina é o nível de pressão sonoro SPL
2 2
obtido a partir da Equação ( 1-8 ) pela substituição I = PRMS / ρo c e I ref = Pref / ρ o c :

(
SPL = 20log PRMS Pref ) ( 1-9 )

onde SPL é expresso em “dB referente a P ref ” (sucintamente, “dB re P ref ” ou “dB//P ref ”) A definição de P ref em
função de I ref conforme indicado acima nos leva à igualdade:

2
I ref = Pref ρ o c ⇒ SPL re Pref = IL re I ref ( 1-10 )

ou seja, o mesmo número em dB expressa o nível de intensidade e o nível de pressão sonora, desde que as
referências sejam equivalentes.

A referência empregada atualmente em acústica é o microPascal, P ref = 1 µPa (ou seja, a intensidade
de referência é a da onda plana cuja pressão eficaz é de 1 µPa). Em acústica aérea, é usual empregar-se como
referência a intensidade correspondente ao limiar de audibilidade em 1000 Hz, igual a 10-12 W/m2. A pressão
eficaz correspondente (no ar, ρ o c = 415 Pa s/m) é de cerca de 20 µPa. Em acústica submarina era empregada
uma pressão de referência de 1 µbar = 105 µPa. A Figura 1-5 apresenta uma comparação entre os valores de SPL
calculados para as diferentes referências. A conversão do valor do SPL entre as diferentes referências, conforme
indicado na Figura 1-5, é:

SPL re 1µPa = SPL re 1µbar + 100 dB ( 1-11 )

SPL re 1µPa = SPL re 20 µPa + 26 dB

1-14 VERSÃO 1.0


IPqM-013-0177-ET/97

Pressão, µPa
(Escala dB)
pressão medida

SPL re 1 µbar
100 1 µbar

SPL re 20 µPa

26 20 µPa

SPL re 1 µPa
0 1 µPa

Figura 1-5 - Comparação entre os SPL com diferentes referências

Exemplo 1-9 Os sonares ativos empregados na detecção de submarinos emitem níveis de pressão
elevados que são limitados, aproximadamente, pela pressão hidrostática do meio (ie, amplitude de
pressão igual à pressão hidrostática). Qual o nível de pressão correspondente referente a (a) 1 µPa
e (b) 1 µbar , para um transdutor sonar instalado próximo à superfície do mar? (Próximo à superfície
do mar, a pressão hidrostática é de 1 atm ≈ 1 bar = 105 Pa).

A amplitude é igual a P = 105 Pa = 1011 µPa. A pressão eficaz correspondente vale

1011
PRMS = = 70,7 × 10 9 µPa
2

(a) que corresponde a um SPL de

( )
SPL = 20 log 70,7 × 10 9 = 217 dB re 1 µPa

(b) Convertendo a pressão eficaz para µbar, obtém-se

( )
SPL = 20 log 70,7 × 10 4 = 117 dB re 1 µbar

que poderia ser diretamente calculado com o auxílio das fórmulas de conversão, Equação ( 1-11 ).

Uma questão ìmportante quando se trabalha em dB é como combinar níveis. Veja o exemplo a seguir
que trata de dois sinais de mesma freqüência que mantêm uma relação de fase constante. Neste caso, diz-se que
os sinais combinam-se de forma coerente.

Exemplo 1-10 Um sinal senoidal emitido por um sonar é recebido em um hidrofone por duas
trajetórias: uma direta e uma por reflexão no fundo do mar. O sinal direto chega à posição do

1-15 VERSÃO 1.0


IPqM-013-0177-ET/97

hidrofone com nível SPL dir = 120 dB re 1 µPa. O sinal refletido tem nível SPL refl = 109,6 dB re 1 µPa e
é defasado de 180o do sinal direto. Qual o nível de pressão sonora total recebido pelo hidrofone?

Neste caso, os dois sinais a combinar são senóides de mesma freqüência e têm relação de fase fixa. A
intensidade total será então a correspondente à soma (incluindo efeito da fase) das duas formas de onda
senoidais. Devemos calcular a amplitude (ou valor eficaz) de cada sinal e somá-las (considerando a fase),
obtendo a amplitude (ou valor eficaz) resultante, para então calcular o SPL:

P
SPLdir = 20 log RMSdir = 120 ∴ PRMSdir = 10120 20 × 1 µPa = 10 6 µPa
1 µPa

PRMSrefl
SPLrefl = 20 log = 109,6 ∴ PRMSrefl = 10109,6 20 × 1 µPa = 302 × 10 3 µPa
1 µPa
698 × 10 3 µPa
PRMS = PRMSdir − PRMSrefl = 698 × 10 3 µPa ∴ SPL = 20 log = 117 dB re 1 µPa
1 µPa

onde os valores foram subtraídos devido à defasagem de 180o.

Caso dois sinais de freqüências diferentes sejam combinados o valor eficaz resultante deve ser obtido
a partir da soma de potências (ou intensidades ou valores eficazes ao quadrado). Diz-se que os sinais combinam-
se de forma incoerente.

Exemplo 1-11 Um hidrofone é instalado em um tanque de testes próximo a um projetor. Com o


projetor emitindo uma freqüência f 1 mediu-se um nível de pressão sonora de 100 dB re 1 µPa.
Quando a freqüência foi alterada para um valor diferente f 2 , mediu-se um nível de pressão sonora
idêntico. Qual a pressão eficaz e o nível de pressão sonora totais quando o projetor emite ambas as
freqüências simultaneamente?

A pressão eficaz em cada freqüência é obtida a partir do nível de pressão correspondente:

P
SPL = 20 log RMS = 100 ∴ PRMS
2
= 10100 10 = 1010 µPa 2
1 µPa

A combinação dos dois níveis deve ser feita em “potência” pois os sinais são de freqüências
diferentes:

2 2 2 10 5
PRMStotal = PRMS 1 + PRMS 2 = 2 × 10 ∴ PRMS = 2 × 10 µPa

2 × 105 µPa
∴ SPLtotal = 20 log = 103 dB re 1 µPa
1 µPa

ou seja, combinando dois sinais de mesma potência e freqüências diferentes, obtém-se uma potência
total 3 dB acima dos dois (ie, o dobro da “potência”).

Ao se especificar ruídos, usa-se o nível espectral de pressão PSL que indica como a intensidade varia
com a freqüência e é especificado, usualmente em dB re 1 µPa em uma banda de 1 Hz. Em uma banda de
freqüências B (Hz) onde o PSL seja constante, o nível de pressão sonora total é dado por:

( 1-12 )

1-16 VERSÃO 1.0


IPqM-013-0177-ET/97

SPL = PSL + 10log B , dB re 1 µPa

O termo 10 logB é usualmente referido como fator de correção de banda, empregado para transformar nível
espectral em nível de banda, quando o nível espectral pode ser considerado constante na banda de interesse.

Como uma última observação, o dB denota 10 (ou 20) vezes o logaritmo de uma relação entre
grandezas, não tendo unidade. É somente quando fixamos o denominador com uma quantidade de referência é
que podemos falar em dB “referente a uma unidade de µPa, Volt etc”. Se calcularmos, por exemplo, a diferença
entre dois níveis de pressão em dB, estaremos, na realidade, dividindo um valor de pressão pelo outro (logaritmo
da razão ≡ diferença dos logaritmos). Devemos ter o cuidado de verificar se a referência usada foi a mesma.
Além disto, esta diferença será adimensional, sem referência: será somente um número de dB que reflete a razão
entre dois valores de pressão.

Exercícios de Fixação

1. Determine as intensidades de referência correspondentes às pressões de referência de 1 µPa, 20 µPa e 1


µbar (a) no ar e (b) na água do mar.

2. Determine os níveis de pressão sonora referentes a 1 µPa correspondente às amplitudes de pressão


(senoidal) de (a) 16 Pa, (b) 5 Pa, (c) 5 mPa e (d) 140 KPa.

3. Repita o exercício 2 para uma pressão de referência de 20 µPa.

4. Repita o problema 2 para uma pressão de referência de 1 µbar.

5. Qual o nível de pressão sonora correspondente ao limiar da dor a 100 Hz referido a 1 µPa, 20 µPa e 1
µbar? (limiar da dor ≈ amplitude de pressão de 200 Pa).

6. Qual o nível de pressão sonora correspondente ao limiar de audibilidade que vale 10-12 W/m2 no ar,
referido a 1 µPa, 20 µPa e 1 µbar?

7. Quais os valores eficazes e amplitudes de pressão correspondentes ao nível de 210 dB re 1 µPa?


(Típico valor de nível da fonte de sonares de busca operando em potência reduzida)

8. Qual será o valor do nível do exercício anterior, se a pressão acústica (a) dobrar de valor e (b) for
multiplicada por 10?

9. Repita o exercício anterior se a intensidade acústica aumentar nas proporções dadas, ao invés da
pressão.

10. (a) Dois sinais de mesmo nível de pressão sonora SPL são somados. Qual o nível de pressão sonora
SPL T resultante se os sinais forem (a) duas senoides de freqüências diferentes? (c) duas senoides de mesma
freqüência e fase?

11. Um sinal de nível de voltagem N 1 dB re 1V é aplicado a um amplificador cujo ganho de voltagem vale
100 na faixa de freqüências ocupada pelo sinal. Qual o nível de voltagem do sinal de saída do amplificador?

12. Obtenha o nível de pressão sonora em dB re 1 µPa correspondente a (a) 120 dB re 1 µbar; (b) 194 dB
re 20 µPa; (c) pressão eficaz de 1 Pa; (d) pressão senoidal de amplitude 1,41 Pa; (e) pressão senoidal de
amplitude 1 bar; (f) pressão senoidal de 2 atm de valor pico-a-pico.

1-17 VERSÃO 1.0


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13. O dB é empregado para comparar valores de intensidades, pressões, potências, voltagens etc. O que
significa: (a) um valor negativo em dB; (b) uma pressão sonora (ou voltagem) 3 dB maior que outra; (c) uma
pressão sonora (ou voltagem) 6 dB maior que outra; (d) uma intensidade acústica (ou potência) 3 dB maior que
outra; (e) uma potência 10 dB acima de 1 mW; (f) uma voltagem de -10 dB em relação a 1 V; (g) uma pressão
sonora de 0 dB em relação a 1 atm.

14. Em uma medição realizada no sonar instalado em um CT, verificou-se que o nível de ruído em um
ponto de teste, quando convertido para pressão sonora equivalente na face do transdutor era de 85 dB re 1µPa.
Sabendo-se que a banda ocupada pelo ruído era de 1000 Hz, qual o nível espectral de ruído, se pudermos
considerá-lo constante na banda de freqüências em questão?

1.8 ONDAS ESFÉRICAS

Até agora mencionamos apenas as ondas planas, assim denominadas porque os pontos de mesma fase
localizam-se em planos. A expressão de uma onda plana propagando-se na direção X é da forma

p(t , x ) = P cos(ω t − k x )

e indica que sua amplitude P não muda a medida que a onda se propaga. Existem casos especiais em que o
comportamento físico da onda acústica aproxima-se deste modelo (idealização matemática).

Um modelo de maior utilidade em acústica submarina é o de ondas esféricas. Suponha uma fonte
sonora omnidirecional em espaço livre (sem fronteiras). O sinal emitido propaga-se uniformemente em todas as
direções, conforme indicado na Figura 1-6. Se a fonte emite um pulso estreito, após um certo intervalo de tempo
a energia emitida estará distribuída em uma esfera centrada na fonte. Se a fonte emite continuamente, o lugar
geométrico dos pontos de mesma fase da onda serão esferas centradas na fonte. Supondo que a potência acústica
emitida é Π ac , então, a intensidade (potência dividida pela área) será

Π ac
I= (fonte omnidirecional em espaço livre) ( 1-13 )
4π r 2

ou seja, a intensidade é inversamente proporcional ao quadrado da distância. Como a intensidade é


proporcional ao quadrado da pressão, a amplitude (e o valor eficaz) da pressão será inversamente
proporcional à distância:

1
P( r ) ∝
r

Uma outra característica das ondas esféricas é que a impedância acústica específica é complexa,
denotando uma defasagem entre a pressão e a velocidade de partícula. Porém, a expressão da intensidade em
função da pressão é a mesma da onda plana:

1-18 VERSÃO 1.0


IPqM-013-0177-ET/97

superície
esférica

r
fonte
sonora,
potência Πac

Figura 1-6 - Onda esférica

2
1 P 2 (r ) PRMS (r )
I (r ) = = (ondas esféricas) ( 1-14 )
2 ρo c ρo c

A grandes distâncias da fonte (r elevado), a onda esférica pode ser considerada aproximadamente
plana se considerarmos uma pequena região da esfera (uma pequena calota esférica é aproximadamente plana se
o raio for suficientemente elevado). Nesse caso, todas as relações mostradas neste Capítulo para ondas planas
são válidas, a menos do fato de que a pressão é inversamente proporcional à distância à fonte.

As Equações ( 1-13 ) e ( 1-14 ) nos permitem escrever uma relação entre a potência acústica de uma
fonte e a amplitude de pressão a uma distância r:

1 Π ac ρο c
P(r ) = 2 ρo cI (r ) =
r 2π
( 1-15 )
1 Π ac ρο c
∴ PRMS (r ) =
2r π

Transformando para µPa, e calculando o SPL em dB re 1 µPa usando a impedância acústica específica do mar,
temos:

SPL(r ) = 170,9 + 10 log Π ac − 20 log r ( 1-16 )

onde Π ac é dada em Watt, r em metro e SPL em dB re 1 µPa. A expressão acima é válida para uma fonte de
pequenas dimensões (em relação ao comprimento de onda do sinal emitido) desde que não haja fronteiras na
região em consideração. Se a fonte tiver dimensões comparáveis ao comprimento de onda, ela tenderá a ser
direcional. Em geral os transdutores sonar são direcionais. Neste caso, a expressão acima deve ser alterada para
incluir um fator adicional, o índice de diretividade na transmissão DI T . Se a pressão é medida na direção em que
o transdutor tem máxima emissão, então o nível de pressão sonoro será dado por:

SPL(r ) = 170,9 + 10 log Π ac − 20 log r + DI T ( 1-17 )

1-19 VERSÃO 1.0


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Exemplo 1-12 O nível da fonte SL de um sonar é o nível de pressão sonora referido a uma distância
de 1 m do projetor sonar. A medição de SL é feita a uma distância maior, a fim de evitar erros em
decorrência de campo próximo. A equipe de medição, durante testes de verificação do sonar a bordo
de um navio mediu, a uma distância de 30 m do transdutor, um nível de pressão emitido de 180 dB re
1 µPa. Supondo que a variação de pressão com a distância é aquela de uma onda esférica
(suposição usual neste tipo de medição), (a) Qual a potência acústica emitida? (b) Qual o SL?
Considerar um índice de diretividade de 15 dB e que as condições de espaço livre se aplicam.

(a) Dispomos do SPL a 30 m da fonte. Substituindo os valores na Equação ( 1-17 ), obtém-se:

180 = 170,9 + 10 log Π ac − 20 log 30 + 15 ∴ Π ac = 231 W

(b) O SL é o SPL a 1 m . Substituindo os valores na Equação ( 1-16 ), obtém-se:

SL = SPL(1 m) = 170,9 + 10 log 231 − 20 log 1 + 15 ∴ SL = 209,5 dB re 1 µPa @ 1 m

O modelo de propagação de onda esférica é muito utilizado em medição de características de


projetores e hidrofones, onde as condições de espaço livre são simuladas por técnicas de pulso, conforme será
discutido em um próximo capítulo.

Exercícios de Fixação

1. Qual a intensidade, a pressão eficaz e o nível de pressão sonora resultante de uma fonte omnidirecional
que emite uma potência acústica de 1 W em espaço livre (a) a 1 m da fonte e (b) a 10 m da fonte?

2. Se a fonte do exercício anterior fosse direcional com índice de diretividade de 10 dB, quais seriam os
novos valores de intensidade, pressão eficaz e nível de pressão sonora (a) a 1 m da fonte e (b) a 10 m da fonte?

3. Qual o nível da fonte nos exercícios anteriores?

4. (a) Obtenha uma expressão do nível de pressão sonora a uma distância R de uma fonte em espaço livre,
dado o nível da fonte SL? (b) Qual a redução, em dB, do nível de pressão sonora em relação ao SL?

PROBLEMAS

1.1 Esboce o gráfico de velocidade de propagação versus profundidade para uma camada de água do mar de
temperatura constante igual a 20 °C e salinidade 35 ppt?

1.2 Nos oceanos, a ação combinada do sol e vento provoca o aparecimento de uma camada d’água de
temperatura constante, denominada camada de mistura, com profundidades típicas de até 30 m. (a) Qual a
taxa de variação da velocidade do som com a profundidade dentro da camada de mistura? (b) Qual a
variação absoluta e percentual da velocidade do som em uma camada de 30 m de profundidade em relação a
uma velocidade de 1500 m/s na superfície? Resp.: (a) 0,016 s-1; (b) 0,48 m/s; 0,032%.

1.3 O som, ao incidir na fronteira entre dois meios de características acústicas diferentes, é parcialmente
refletido de volta ao meio original e parcialmente transmitido. A relação entre as intensidades acústicas
transmitida e incidente para o caso de incidência normal de onda plana é dada por:

It 4 z1 z2
TI = = 12
Ii ( z1 + z2) 2

1-20 VERSÃO 1.0


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onde z 1 e z 2 são as impedâncias acústicas específicas (ρ o c) dos meios de incidência e transmissão


respectivamente. Uma onda plana de intensidade I propagando-se no ar incide na água do mar. (a) Qual a
intensidade da onda transmitida? (b) Qual a razão entre as pressões transmitida e incidente? Resp.: (a)I t =
0,00108 I i ; (b) P t / P i = 2;

1.4 Repita o problema 1.2 para o caso inverso, isto é, se a onda incidir a partir da água do mar. Resp.: (a) I t =
0,00108 I i ; (b) P t / P i = 539×10-6;

1.5 Expresse em dB o aumento de intensidade e pressão transmitida nos problemas 1.3 e 1.4. Resp.: (1.3a) -29,7
dB; (1.3b) 6 dB; (1.4a) -29,7 dB; (1.4b) -65,4 dB.

1.6 Uma onda acústica plana no ar de freqüência 100 Hz tem uma amplitude de 2 Pa. Determine: (a) a
intensidade e o nível de intensidade; (b) a amplitude da velocidade de partícula; (c) a pressão eficaz; (d) o
nível de pressão sonora re 20 µPa e re 1 µPa. Resp.: (a) 4,82 mW/m2; 123 dB re 2,41×10-15 W/m2; (b) 4,82
mm/s; (c) 1,41 Pa; (d) 123 dB re 1 µPa; 97 dB re 20 µPa.

1.7 Repita o problema 1.4 para o caso da água do mar. Resp.: (a) 1,36 µW/m2; 123 dB re 649×10-21 W/m2; (b)
1,30 µm/s; (c) 1,41 Pa; (d) 123 dB re 1 µPa; 97 dB re 20 µPa.

1.8 Um pulso sonar CW de freqüência 10 KHz e duração 50 ms é transmitido. A 10 m do transdutor mede-se


SPL=210 dB re 1 µPa. (a) Qual a densidade de energia (J/m2) no ponto de medida? (b) Se considerarmos que
a energia está distribuída em uma superfície cilíndrica de 2 m de altura naquela distância, qual a energia total
transmitida? (c) Qual a potência acústica total, considerando somente o tempo de duração do pulso? (d) Qual
o SPL a 1 m do transdutor, se considerarmos que a propagação deu-se por onda esférica (este é o nível da
fonte, SL, do sonar) (e) Qual o índice de diretividade de transmissão do projetor sonar? Resp.: (a) 32,5 J/m2;
(b) 4,08 KJ; (c) 81,6 KW; (d) 230 dB re 1 µPa a 1 m (e) 10 dB.

1.9 Um pulso acústico gerado pela explosão submarina de 450 g de TNT tem a forma de exponencial
decrescente, p ( t ) = p o e -t / t o 13. A 500 m do ponto da explosão, mediu-se p o =0,3 MPa e t o =200 µs. (a)
Qual a densidade de energia no ponto de medida? (b) Considerando que a energia está distribuída em uma
superfície esférica de raio 500 m, qual a energia acústica total? (c) Qual deveria ser a duração do pulso sonar
do problema anterior, de modo que a energia total transmitida fosse igual à da explosão? Resp.: (a) 5,84
J/m2; (b) 18,4 MJ; (c) 225 s.

1-21 VERSÃO 1.0


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APÊNDICE 1.A - ALGUNS FATORES DE CONVERSÃO E OBSERVAÇÕES SOBRE dB

Fatores de conversão:

Comprimento 1 dina/cm2 = 0,1 Pa

1 psi = 6 894,8 Pa
1 pol (in) = 0,0254 m
Energia
1 pé (ft) = 0,3048 m = 12 pol
1 Btu = 1055 J
1 mn = 1 852 m = 2025 jd
1 erg = 1 × 10-7 J
1 jd (yd) = 0,9144 m = 3 pés
1 KWh = 3.6 × 106 J
1 braça (fathom) = 1,8288 m = 6 pés
1 ton = 4,184 × 109 J (equiv. de TNT)
Velocidade
Massa
1 Km/h = 0,27778 m/s
1 lb = 0,4536 Kg
1 nó = 0,51444 m/s
1 slug = 14,59 Kg
1 pé/s = 0,3048 m/s
Temperatura
Força
°C: T K = T C + 273,15
1 dina = 1 × 10-5 N
°F: T C = 5*(T F - 32)/9
1 Kgf = 9,80665 N
°R: T K = 5*T R /9
1 lbf = 4,4482 N
Peso específico
Pressão
1 g/cm3 = 1 000 Kg/m3
1 atm = 101 325 Pa (padrão)
1 slug/pé3 = 515,4 Kg/m3
1 bar = 100 000 Pa
1 lb/pé3 = 16,02 Kg/m3
1 cm Hg = 1 333,2 Pa (0 °C)

10 m água (mar, 13 °C) = 100 610 Pa ≈ 1 atm

= 14,6 psi

Referências em acústica:

SPL (dB//1 µPa) = 100 + SPL (dB//1 µbar)

SPL (dB//1 µPa) = 26 + SPL (dB//20 µPa)

SPL (dB//0,0002 µbar) = SPL (dB//20 µPa)

SPL (dB @ 1 m) = -0,777 + SPL (dB @1 jd)

Cuidados com dB:

Soma em dB equivale à multiplicação de grandezas: somar dB não equivale a somar valores das grandezas

Verifique sempre uma operação em escala linear antes de executá-la em dB.

1-22 VERSÃO 1.0


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Exemplo: Dois sinais senoidais de freqüências diferentes de mesmo nível NL (dB) são somados. O nível
resultante é NL+3 (ie, 3 dB acima). Verificação: somando-se as potências, temos Π T = Π + Π = 2 Π ∴
10logΠ T = 10 log 2 + 10 log Π = 3 + NL. Esse mesmo raciocínio vale para soma de intensidades, densidades de
energia, valores rms ao quadrado etc, desde que se trate de soma de sinais não correlacionados ou sinais
senoidais de diferentes freqüências.

Verifique a dimensional das expressões em dB, executando as operações, em escala linear, com as unidades.
Exemplo: SPL (dB//1 µPa) - R (dB//1 µPa/V) dá, como resultado, dB//1 V:

[µPa] / ([µPa]/[V]) = [V]

BIBLIOGRAFIA

[1]. Urick, Robert J. Principles of underwater sound. 3.ed. New York, McGraw-Hill. 1983.

1-23 VERSÃO 1.0


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CAPÍTULO 2 - EQUAÇÕES SONAR


2.1 INTRODUÇÃO

A função básica dos sistemas sonar é detectar alvos, isto é, decidir corretamente que o sinal oriundo de
um alvo (eco ou ruído irradiado) está presente na entrada do receptor sonar. Esta tarefa é dificultada pela presença
de ruído gerado pelo próprio navio onde o equipamento sonar está instalado ou por elementos externos. No caso
de sonares ativos, há também a presença de reverberação, que é o retorno do sinal emitido provocado pela
superfície, fundo e espalhadores presentes no volume d’água. Ou seja , o sinal desejado ocorre em meio ao ruído
e à reverberação interferentes.

Outras funções, acompanhamento e classificação, por exemplo, dizem respeito à obtenção de


informações (estima de parâmetros) sobre a fonte dos sinais ou de objetos nos quais tenha ocorrido reflexão. Neste
caso, procura-se medir parâmetros (distância, rumo, velocidade, freqüência etc) associados ao sinal previamente
detectado. Esta tarefa é também dificultada pela presença de ruídos e reverberação interferentes.

Em ambos os casos, a função do sistema diz respeito a um sinal (componente desejado do campo
acústico total) que está combinado a ruídos e interferências (componentes indesejáveis do campo acústico ou
componentes interferentes).

Seja, por exemplo, um operador de um sonar ativo de busca. Neste sistema, um sinal de características
conhecidas é transmitido, propaga-se no mar e é atenuado. Ao atingir um alvo, ocorre reflexão do som e parte do
sinal refletido retorna ao sonar na forma de um eco. Quando o alvo está distante, o nível de eco (ou nível de sinal)
é baixo, o nível interferente (ruído ou reverberação) encobre o eco e o operador tem pouca probabilidade de
reconhecer a sua presença (baixa probabilidade de detecção). Quando a distância sonar--alvo diminui, o nível de
eco e a probabilidade do operador detectá-lo aumentam. Quando o alvo está muito próximo do sonar, o nível de
eco será maior que o necessário para que a detecção ocorra: diz-se que há um excesso de eco (ou excesso de sinal).
Em suma, a relação [potência de eco (sinal)] / [potência interferente] é um parâmetro básico para se estabelecer
quando o sistema sonar terá condições para executar a função para o qual foi projetado: no presente caso, detectar
alvos. A previsão de alcance consiste em calcular a que distância a probabilidade de detectar terá um valor pré-
definido (usualmente 0,5).

As equações sonar permitem uma abordagem sistemática ao problema da detecção sonar e, em última
análise, à aplicação dos princípios teóricos de acústica submarina e sistemas de detecção à Guerra AS [Ref.1:62-
3]. O desempenho de um sonar ativo é previsto em função das características do alvo e do sistema sonar e de
parâmetros ambientais. As equações sonar são baseadas nas razões [nível de sinal]/[nível interferente (ruído ou
reverberação)]. Expressas em dB, essas razões transformam-se em subtração de termos: [nível de sinal] - [nível de
ruído ou reverberação interferentes]:

[nível de sinal] - [nível interferente] = [excesso de sinal]


O excesso de sinal é zero na distância igual ao alcance previsto (= distância onde a probabilidade de detecção é
igual a um valor pré-definido).

As equações sonar são aplicadas no projeto de novos sistemas ou na análise de desempenho (previsão de
alcance sonar por exemplo) de sistemas existentes.

Exercícios de Fixação

1. Defina as funções detectar, acompanhar e classificar de um sistema sonar.

2. O que é alcance previsto de um sistema sonar?

3. Defina nível de sinal, nível interferente e excesso de sinal.

2-1 VERSÃO 1.0


IPqM-013-0177-ET/97

4. (a) Qual a forma das equações sonar em dB? (b) Se os níveis de sinal e interferente são expressos em dB
re 1 µPa, qual a unidade de referência para o excesso de sinal?

5. Como se “comportam” as grandezas nível de sinal, excesso de sinal e probabilidade de detecção quando
a distância sonar-alvo diminui?

2.2 PARÂMETROS SONAR

Os parâmetros empregados nas equações sonar para compor os termos [nível de sinal] e [nível
interferente] são determinados em função de características do sistema sonar (equipamento), do mar (meio) e do
alvo. São designados por símbolos, em geral de duas letras maiúsculas, e expressos em dB. Os parâmetros sonar
são identificados na Tabela CAPÍTULO 2 - -1. A Tabela CAPÍTULO 2 - -2 apresenta a definição desses
parâmetros.

A referência para medições de níveis acústicos é a onda plana de pressão eficaz igual a 1 µPa e, quando
envolvem distâncias, adota-se a distância de referência de 1 m. Encontra-se, na literatura sobre sonar, indicação
de níveis empregando a referência antiga: 1 µbar a 1 jd. Os fatores de conversão são:

1 µPa = 10-5 µbar ⇒ SPL dB re 1 µPa ≡ 100 + SPL dB re 1 µbar


1 m = 1,0936 jd ⇒ SPL @ 1 m ≡ -0,78 + SPL @ 1 jd
SL dB re 1 µPa @ 1 m = 99,22 + SL dB rµbar @ 1 jd.
O conjunto de parâmetros apresentado não é o único possível. Por exemplo, o parâmetro TS poderia ser
substituído pela seção-reta sonar, tal como empregado em radar. Os indicados na Tabela CAPÍTULO 2 - -1 e na
Tabela CAPÍTULO 2 - -2 são os usuais na literatura de sonar.

O parâmetro NL pode ser definido em termos de nível de pressão (SPL) em uma banda ao invés de nível
espectral (PSL) como indicado na Tabela CAPÍTULO 2 - -1. O primeiro é referido como nível banda-larga e o
segundo, banda-estreita ou espectral, quando necessário para evitar confusão. O usual é empregar níveis espectrais de
ruído.

Na Tabela CAPÍTULO 2 - -2 indica-se os “terminais do hidrofone ou do arranjo” como ponto de referência


para medição de alguns parâmetros. Os receptores sonar empregam arranjos de hidrofones para recepção de sinais.
Esses arranjos consistem de um grupo de hidrofones cujos sinais são combinados em um processador denominado,
usualmente, de conformador de feixe. A vantagem de se usar um arranjo é a facilidade de se alterar suas características
direcionais (direção de escuta, nível de lóbulos secundários etc) através do conformador, isto é, eletronicamente ou
através de software (quando o conformador é implementado como um programa em um processador digital). O termo
terminais do arranjo refere-se à saída do conformador (um par de fios ou um endereço de memória acessível para
leitura de valores).

Os limiares de detecção são definidos em função de duas probabilidades. A probabilidade de detecção é a


probabilidade do sistema decidir que o sinal desejado está presente quando ele realmente estiver presente nos terminais
do sonar. A probabilidade de falso-alarme é definida como a probabilidade do sistema decidir que o sinal está presente
quando, na realidade só há ruído ou reverberação nos terminais do sonar.

Tabela CAPÍTULO 2 - -1 - Descrição dos parâmetros sonar

Símbolo Parâmetro Descrição / Observações

Relativos ao equipamento

SL Nível da fonte Nível de pressão sonora irradiado pelo projetor (sonar ativo).

2-2 VERSÃO 1.0


IPqM-013-0177-ET/97

Símbolo Parâmetro Descrição / Observações

NL Nível de ruído Nível espectral de ruído provocado pela própria plataforma onde o sonar
próprio está instalado.

AG Ganho do array Fator de aumento da relação sinal/ruído (SNR) decorrente do arranjo de


transdutores e conformador de feixe em relação a um hidrofone
omnidirecional.

DI Índice de Caso particular do AG quando o ruído é isotrópico*.


diretividade de
recepção

DT Limiar de detecção Relação sinal/ruído requerida para que o sistema sonar opere com
probabilidades de detecção e falso-alarme** especificadas.

DT R Limiar de detecção Relação sinal/reverberação requerida para que o sistema sonar opere com
probabilidades de detecção e falso-alarme especificadas.

Relativos ao meio

TL Perda na Redução do nível de pressão sonora causada pela propagação do som na


propagação distância sonar-alvo.

NL Nível de ruído Nível espectral de ruído ambiente.


ambiental

RL Nível de Nível sonoro da reverberação presente no feixe de recepção sonar.


reverberação

Relativos ao alvo

TS Poder de reflexão Aumento do nível de pressão sonora refletida em relação à incidente no


do alvo alvo.

SL Nível da fonte Nível de pressão sonora irradiado pelo alvo (ruído irradiado, sonar
passivo)(NRI).

*
um campo acústico é dito isotrópico se seu valor é independente da direção de escuta.
**
ocorre detecção quando o operador declara que há alvo e o alvo está realmente presente; se o alvo não estiver
presente, há falso-alarme.

Tabela CAPÍTULO 2 - -2 - Definição dos parâmetros sonar

Parâmetro e referência de medição Definição

SL 1 µPa @ 1 m da fonte, no seu eixo intensidade da fonte


10log 1
acústico 
intensidade de referencia

2-3 VERSÃO 1.0


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Parâmetro e referência de medição Definição

DI Nos terminais do hidrofone ou SNR (em potência) no hidrofone (ou arranjo)


10log
arranjo SNR (em potência) em hidrofone ominidirecional
2

AG Nos terminais do hidrofone ou Mesma definição do DI, porém válida para ruídos não isotrópicos
arranjo (DI é caso particular)

DT Nos terminais do hidrofone (ou potência de sinal necessária a


arranjo) uma certa funcão
10log 3
potência espectral de ruído

DT R Nos terminais do hidrofone (ou potência de sinal necessária a


arranjo) uma certa função
10log 4
potência de reverberação

TL 1 m da fonte e no alvo (sonar intensidade de sinal @ 1m da fonte


10log 5
ativo) ou no receptor (sonar intensidade de sinal no alvo ou receptor
passivo)

RL 1 µPa, nos terminais do hidrofone potência de reverberação


10log 6
ou arranjo potência gerada por sinal com
intensidade de referência

NL 1 µPa/Hz1/2 na face do hidrofone densidade espectral de ruído


10log 7
densidade espectral de referência

TS 1 m do centro acdstico do alvo intensidade do eco


10log 8
intensidade incidente no alvo

Exercícios de Fixação

1. Liste os símbolos, os nomes e as definições dos parâmetros sonar associados ao (a) equipamento, (b)
meio de propagação e (c) alvo.

2. O manual de um sonar ativo indica que, em determinado modo de operação, o nível da fonte é de “115 dB re
1 µbar a 1 yd”. Qual o SL usando as referências usuais em acústica?

3. Na saída do conformador de feixes de um sonar mediu-se uma SNR de 20 dB quando o eco foi recebido. Um
hidrofone ominidirecional foi instalado próximo ao transdutor sonar e a SNR medida, simultaneamente, em seus
terminais foi de 5 dB. (a) Qual o ganho do array do conjunto transdutor--conformador do sonar? (b) Supondo que o
ruído é isotrópico, qual é o índice de diretividade de recepção correspondente?

4. No mesmo ponto de medição do exercício anterior, mediu-se uma SNR espectral (ie, usando nível espectral
de ruído) de 19 dB quando o alvo estava na distância igual ao alcance previsto. Qual o DT do sistema sonar?

5. Um navio de superfície irradia um tom de freqüência 420 Hz com nível de 150 dB re 1µPa a 1 m. A bordo
de um submarino dotado de sonar passivo, verificou-se que o sinal irradiado pelo navio de superfície tem um nível de
100 dB re 1µPa. Qual o valor da perda na propagação?

6. Qual o significado físico de um poder de reflexão positivo?

2-4 VERSÃO 1.0


IPqM-013-0177-ET/97

2.3 EQUAÇÕES SONAR ATIVO

Em um sistema sonar ativo, ilustrado na Figura CAPÍTULO 2 - -1, um transdutor (projetor) atua como
fonte sonora e emite um sinal acústico cujo nível de pressão é SL a 1 m do transdutor. Ao se propagar em direção ao
alvo, o pulso sofre perdas, de modo que o nível acústico que chega ao alvo é SL-TL. O sinal refletido pelo alvo, medido
a 1 m de seu centro acústico, é SL-TL+TS. Esse nível é novamente reduzido na propagação de volta ao receptor sonar
e se torna SL-2TL+TS, que é o nível de eco EL (na face do transdutor, agora atuando como hidrofone).

transmissor
e receptor operador
sonar . . . PING ! sonar

SL

EL=SL-2TL+TS SL-TL+TS

SL-TL
Figura CAPÍTULO 2 - -1 - Sonar ativo

Concorrendo com o eco, sinal desejado, o sonar recebe ruído (provocado por navios, vento, chuva, pela
própria plataforma onde o sonar está instalado etc) e reverberação, provocada pelo espalhamento de energia do próprio
pulso sonar na superfície do mar, no fundo ou em organismos marinhos e matéria em suspensão (reverberação de
superfície, de fundo ou de volume respectivamente).

2.3.1 Equações Sonar Ativo - Detecção Limitada por Ruído

Supondo que a reverberação seja desprezível, somente o nível de ruído isotrópico NL deve ser considerado.
O índice de diretividade DI do transdutor (atuando como hidrofone na recepção) aumenta a relação sinal/ruído e, nas
equações sonar, é representado como um fator redutor do nível de ruído NL, resultando em um “nível de ruído nos
terminais do transdutor *” igual a (NL-DI) (que pode ser denominado nível de ruído no feixe sonar).

No receptor (face do transdutor), a relação sinal/ruído resultante (SNR) é a diferença (dB) entre os termos
nível de eco EL (sinal) e nível de ruído no feixe (ruído):

SNR = ( SL - 2TL + TS ) - ( NL − DI )
( CAPÍTULO 2 - -1 )
= ( EL, nível do eco) - (nível de ruído de feixe)
Quanto mais próximo o alvo, maior é o nível do eco (e do sinal total correspondente à soma das formas de
onda de eco e ruído). O operador sonar observa o sinal na saída do receptor sonar a fim de decidir se um eco está ou
não presente em meio ao ruído. Quando o nível total medido na saída do receptor estiver acima de um valor limiar
preestabelecido (correspondente a um valor limiar de SNR), será decidido (pelo operador humano ou por meios
automáticos) que o eco está presente. Quando o nível estiver abaixo daquele valor, será decidido que o eco está ausente.

*
considera-se que o conformador de feixes sonar é parte integrante, na recepção, do arranjo de transdutores.

2-5 VERSÃO 1.0


IPqM-013-0177-ET/97

Quando o nível de eco for exatamente aquele suficiente para que a detecção ocorra a SNR será igual ao limiar de
detecção DT:
SNR = SL - 2TL + TS - ( NL - DI ) = DT
( CAPÍTULO 2 - -2 )
(na distância do alcance previsto)

Esta é uma forma da equação sonar ativo quando a detecção é limitada por ruído: SNR = DT na distância igual ao
alcance previsto. A distâncias menores, SNR > DT e o eco é maior que o necessário para que ocorra detecção na
condição pré-especificada. A distâncias maiores que o alcance sonar previsto, SNR < DT e a condição para detecção
não é satisfeita. De modo mais geral que a Equação ( CAPÍTULO 2 - -2 ), podemos escrever:
SE = SNR − DT = ( SL - 2TL + TS ) - [( NL - DI ) + DT ]
( CAPÍTULO 2 - -3 )
(em qualquer distância)

onde SE é o excesso de eco (ou excesso de sinal). Esta é uma equação sonar ativo quando a detecção é limitada
por ruído: SNR-DT=SE. Quando o alvo se aproxima do sonar, o nível de eco EL, a SNR e o excesso de sinal SE
aumentam. A relação entre essas grandezas é indicada na Tabela CAPÍTULO 2 - -3 -.

Resumindo o caso da equação sonar ativo com detecção limitada por ruído, temos:

[nível de sinal] - [nível interferente] = [excesso de sinal]


onde:

[nível de sinal] = SL - 2TL + TS = [nível de eco]


[nível (de ruído) interferente] = (NL-DI) + DT

Tabela CAPÍTULO 2 - -3 - Relação entre SE e distância alvo - sonar


SE SNR na entrada do distância ao alvo probabilidade de detecção
receptor

<0 < DT > alcance previsto baixa

=0 = DT = alcance previsto = valor pré-especificado

>0 > DT < alcance previsto alta

As equações sonar apresentadas acima são válidas quando o transmissor e o receptor sonar estão na
mesma posição: são os sistemas monoestáticos. Há situações nas quais o transmissor e o receptor são separados:
são os sistemas biestáticos. Neste caso, as perdas na propagação do transmissor ao alvo e de volta ao receptor são
diferentes e o valor do TS é diferente do caso monoestático. Uma possível configuração é a multiestática: um
transmissor de grande porte a bordo de um navio e vários receptores a bordo de outros navios, por exemplo.

2.3.2 Equações Sonar Ativo - Detecção Limitada por Reverberação

Quando a reverberação é predominante, a detecção é dita limitada por reverberação. Neste caso o termo
(NL-DI) deve ser substituído pelo nível de reverberação RL. Emprega-se o símbolo DT R para diferençar os limiares
de detecção referentes a ruído e reverberação. A equação sonar ativo torna-se, então
SL - 2TL + TS - RL = DTR (distância igual ao alcance previsto)
ou
( CAPÍTULO 2 - -4 )
SE = SL - 2TL + TS - RL − DTR (a qualquer distância)
onde SE=0 quando a condição especificada para detecção é satisfeita (i.e., distância igual ao alcance previsto). Os
dados da Tabela CAPÍTULO 2 - -3 - são válidos também para este caso.

2-6 VERSÃO 1.0


IPqM-013-0177-ET/97

Observe que o parâmetro DI não aparece associado à detecção limitada por reverberação. Isto ocorre
porque a reverberação é provocada pelo sinal transmitido, tendo características direcionais similares ao eco.
Qualquer aumento do eco provocado pelas características direcionais do conjunto transdutor-conformador de feixe
afeta igualmente a reverberação, de modo que a relação [potência de eco/potência de reverberação] não é afetada
pelo DI.

Resumindo o caso da equação sonar ativo com detecção limitada por reverberação, temos:

[nível de sinal] - [nível interferente] = [excesso de sinal]


onde:
[nível de sinal] = SL - 2TL + TS = [nível de eco]
[nível (de reverberação) interferente] = RL + DT R
2.3.3 Equações Sonar Ativo - Previsão de Alcance [Ref.2:23-4]

Nas equações sonar, o valor de SE representa o quanto o SNR é menor (se SE < 0) ou maior (se SE > 0)
que o necessário à detecção. Os fatores TL e RL são dependentes da distância, logo o SE também o será. A distância
na qual SE=0 é o alcance do sistema. Esta é a distância calculada pelos programas de previsão de alcance.

A Figura CAPÍTULO 2 - -2 e a Figura CAPÍTULO 2 - -3 apresentam curvas idealizadas de nível de


eco (SL-2TL+TS) e níveis interferentes de ruído (NL-DI+DT) † e de reverberação (RL+DT R ) em função da distância
sonar-alvo. Tanto o nível de eco EL quanto o de reverberação interferente RL+DT R diminuem com a distância
sonar-alvo, porém o de eco cai mais rapidamente. O nível de ruído interferente não depende da distância ao alvo.
Observe que nas equações sonar para detecção limitada por ruído e reverberação, respectivamente, os termos
interferentes acima são subtraídos do nível de eco para obter o excesso de eco SE. O ponto de interseção da curva
de eco com a de nível interferente indica o alcance:

ALCANCE SONAR ⇒ [nível de sinal] = [nível interferente]


atenção: os valores de DT e DTR são calculados para valores de probabilidades de detecção (PD) e falso-alarme
(PFA) pré-especificados.

2-7 VERSÃO 1.0


IPqM-013-0177-ET/97

dB EL=SL-2TL+TS (nível de eco)

(nível de
RL+DTR reverberação
interferente)

(nível de
( NL-DI )+DT
ruído
interferente)

R2 R1 distância
sonar-alvo
Figura CAPÍTULO 2 - -2 - Níveis de eco, reverberação e ruído em função da distância, alcance limitado
por ruído

dB EL=SL-2TL+TS (nível de eco)

(nível de
RL+DTR reverberação
interferente)

(nível de
( NL-DI )+DT ruído
interferente)

R1 R2 distância
sonar-alvo
Figura CAPÍTULO 2 - -3 - Níveis de eco, reverberação e ruído em função da distância, alcance limitado por
reverberação

Na Figura CAPÍTULO 2 - -2 e na Figura CAPÍTULO 2 - -3, a interseção da curva de nível de sinal com a de
reverberação interferente ocorre na distância R 1 . Com a de ruído interferente, na distância R 2 . Em outras palavras,
na distância R 1 :

[nível de sinal] = [nível de reverberação interferente]


e, na distância R 2 :

[nivel de sinal] = [nível de ruído interferente]

2-8 VERSÃO 1.0


IPqM-013-0177-ET/97

Quando R 2 < R 1 (Figura CAPÍTULO 2 - -2), o alcance, igual a R 2 , é dito ser limitado por ruído. A partir
de R 2 , o ruído predomina. Alvos a distâncias maiores terão probabilidade de detecção menor que a especificada para
o sistema.

Quando R 1 < R 2 (Figura CAPÍTULO 2 - -3),o alcance, igual a R 1 , é dito ser limitado por reverberação. A
partir de R 1 , a reverberação predomina. Alvos a distâncias maiores terão probabilidade de detecção menor que a
especificada para o sistema.

Exercícios de Fixação

1. O nível do pulso sonoro que incide em um submarino, decorrente de uma emissão sonar de um navio de
superfície, é de 130 dB re 1 µPa. Sabendo-se que o nível da fonte do sonar é de 220 dB re 1 µPa a 1 m e que o
poder de reflexão do submarino é de 15 dB, qual o valor da perda TL e o nível de eco EL recebido pelo sonar
ativo?

2. O DT do sonar do exercício anterior foi estimado em 20 dB. Sabendo-se que o submarino estava a uma
distância igual ao alcance previsto, determine (a) o nível de ruído de feixe e (b) o nível de ruído interferente.

3. Qual será o excesso de sinal para o sonar dos exercícios anteriores se a distância sonar-submarino variar
de modo que a nova perda na propagação TL seja de (a) 80 dB e (b) 100 dB?

4. A uma dada distância sonar-alvo, o nível de ruído interferente é maior que o nível de reverberação
interferente. Qual das equações sonar deve ser empregada para previsão de alcance sonar?

5. Na distância calculada para alcance limitado por ruído, verificou-se que o nível de reverberação
interferente era maior que o de ruído interferente. O alcance do sonar será limitado por ruído ou reverberação?

2.4 - EQUAÇÃO SONAR PASSIVO

No caso de sistemas sonar passivos, Figura CAPÍTULO 2 - -4, é o alvo quem gera o sinal a ser
detectado, de modo que o SL refere-se ao nível de ruído irradiado (NRI) pelo alvo. Como o sinal só se propaga
uma vez na distância sonar-alvo, a perda total será igual a TL. O termo TS e a reverberação não se aplicam a
sonares passivos. Deste modo, temos a equação sonar passivo:

operador
receptor sonar
sonar . . . CHUMP

SL-TL SL

Figura CAPÍTULO 2 - -4 - Sonar passivo

SL - TL -
 (
NL
 )
- DI = DT
nível de sinal nível de ruído no feixe
ou
SE = SL - TL - ( NL - DI ) − DT

2-9 VERSÃO 1.0


( CAPÍTULO 2 - -5 )
IPqM-013-0177-ET/97

onde, mais uma vez, SE=0 quando a condição preeestabelecida para detecção é satisfeita (vide Tabela CAPÍTULO
2 - -3 -, também válida para o presente caso(vide Tabela 2-3).).

Resumindo o caso da equação sonar passivo, temos:

[nível de sinal] - [nível interferente] = [excesso de sinal]


onde:
[nível de sinal] = SL - TL
[nível (de ruído) interferente] = (NL-DI) + DT

2.4.1 - EQUAÇÃO SONAR PASSIVO - ALCANCE [REF.2:24-5]

Para sonares passivos, além da distância versus níveis, deve-se considerar também a variável freqüência:
tipicamente, sonares passivos operam em amplas faixas de freqüência. Os sonares passivos de banda estreita
permitem a detecção de tons conspícuos emitidos pelo alvo. Os sonares passivos banda-larga detectam ruído em
bandas de freqüência relativamente largas, independente do nível global de ruído irradiado pelo alvo ser devido a
tons conspícuos ou não. Nestes caso, uma forma conveniente de se visualizar o alcance sem recorrer a gráficos
tridimensionais é o emprego da previsão de alcance sonar por sobreposição, SORAP ("sonar overlay range
prediction"). O sistema consiste de dois gráficos sobrepostos, conforme indicado na Figura CAPÍTULO 2 - -5. O
gráfico de base consiste de curvas de TL+NL-DI+DT em função da freqüência (ou para diferentes bandas, no caso
de sonares banda-larga) para diferentes distâncias. O parâmetro relativo ao alvo, SL é plotado como nível em
função da freqüência em uma transparência. A equação sonar passivo [Equação ( CAPÍTULO 2 - -5 )] indica que
SE = 0 quando esses dois termos são iguais:
SE = SL - TL - ( NL - DI ) − DT = 0

10 mn
Transparência
(linha sólida)
Nível da Fonte SL
Base (linha 5 mn
pontilhada)
TL+NL-DI+DT

1 mn
f1 f2 f3 f4

freqüência

Figura CAPÍTULO 2 - -5 - SORAP - “Sonar overlay range prediction”

Sobrepondo os dois gráficos, verifica-se a distância na qual os diferentes tons do alvo acarretarão SE =
0, ou seja, a que distâncias as diferentes freqüências serão detectadas. No exemplo da Figura CAPÍTULO 2 - -5, a
freqüência f 3 será detectada a 10 mn. Se o critério de detecção for a presença de três linhas espectrais no monitor
do sonar, então o alcance será de 4 mn (resultado da detecção de f 1 , f 2 e f 3 simultaneamente).

2-10 VERSÃO 1.0


IPqM-013-0177-ET/97

Exercícios de Fixação

1. Um navio mercante apresenta um defeito nas instalações de máquinas que provoca a emissão de um tom
de nível 150 dB re 1 µPa a 1 m do seu centro acústico. Um submarino operando na área recebe aquele sinal com
um nível de 70 dB re 1 µPa. Qual o valor da perda na propagação?

2. O DT do sonar do exercício anterior foi estimado em -5 dB para uma probabilidade de detecção de 0,5 e
de falso-alarme 10-4. Sabendo-se que o navio mercante estava a uma distância igual ao alcance previsto, determine
o (a) nível de ruído de feixe e o (b) nível de ruído interferente.

3. Qual será o excesso de sinal para o sonar dos exercícios anteriores se a distância sonar-alvo variar de
modo que a nova perda na propagação seja de (a) 60 dB e (b) 100 dB? (c) Em qual dos casos (a) e (b) a
probabilidade de detecção será maior que 0,5?

4. Qual seria o alcance previsto do sonar passivo cuja SORAP é apresentada na Figura CAPÍTULO 2 - -5,
se o critério de decisão fosse a apresentação de duas linhas espectrais no monitor do sonar?

2.5 - COMBINAÇÕES DE PARÂMETROS

É usual agrupar parâmetros sonar de formas compatíveis com as equações sonar. O nível de eco EL é
um exemplo. A Tabela CAPÍTULO 2 - -4 [Ref.2:22-3] define várias dessas combinações.

O rendimento operativo sonar, ROS, é usualmente medido para verificar o desempenho dos sistemas
sonar. A medição do nível (NL-DI), necessária à determinação do ROS, pode ser realizada diretamente em nível
espectral usando-se analisadores espectrais. Mais comum, no entanto, é medir-se o nível de ruído na banda
correspondente ao sistema transdutor-conformador de feixes. Neste caso, deve-se corrigir o valor medido para
nível espectral, antes de se empregar o ROS para cálculos envolvendo a equação sonar (para previsão de alcance,
por exemplo). Caso o ruído possa ser considerado branco na faixa de freqüências de interesse, obtém-se [ver
Equação ( 1-12 )]:

( NL - DI ) = ( NL - DI ) BANDALARGA − 10 log Bn
ROS BANDA LARGA = SL − ( NL − DI ) BANDALARGA ∴
A
ROS BANDALARGA = ROS − 10 log Bn ( CAPÍTULO 2 - -6 )

onde B n é a banda efetiva de ruído na saída do conjunto formado pelo transdutor, conformador de feixes e circuitos
desde o transdutor até o ponto de teste (saída do conformador) onde a medição é realizada (B n pode ser
considerado, em uma primeira aproximação, igual à banda de passagem de -3 dB) (vide Figura CAPÍTULO 2 - -
6 ‡).

Tabela CAPÍTULO 2 - -4 - Combinação de parâmetros

Definição Nome Observação

SE=SL-2TL+TS-(NL-DI)-DT Excesso de sinal Excesso da relação sinal/ruído recebida em


relação à requerida para detecção com as
probabilidades de detecção e falso-alarme
especificadas (dB).


a voltagem na saída do conformador devida ao ruído NL não corresponde ao valor do termo (NL-DI). O valor
medido é transformado para (NL - DI) somente após a conversão de voltagem para pressão sonora de ruído ("parte"
do fator DI está "embutido" na voltagem medida e "parte", no próprio fator de conversão voltagem -- pressão).

2-11 VERSÃO 1.0


IPqM-013-0177-ET/97

Definição Nome Observação

NL-DI Nível de ruído do Nível espectral de ruído total no feixe de


feixe recepção sonar (dB re 1 µPa2/Hz)

EL=SL-2TL+TS Nível de eco Nível do eco (dB re 1 µPa)

MDL=(NL-DI)+DT Mínimo sinal Corresponde ao menor nível de sinal que será


discernível ou nível detectado sob detecção limitada por ruído (dB re
de ruído 1 µPa).
interferente

ROS=SL-(NL-DI) Rendimento Geralmente, o fator (NL-DI) é medido na banda


Operativo Sonar do sistema transdutor-conformador de feixes e
deve ser corrigido para nível espectral antes de
ser empregado na equação sonar (dB ou dB re 1
Hz).

FOM=SL+TS-(NL-DI+DT) Figura de mérito Sonar ativo: perda total na propagação


(sonar ativo) permissível (2TL) para que a detecção ocorra
dentro das condições pre-estabelecidas, isto é,
quando SE=0 (dB).

FOM=SL-(NL-DI+DT) Figura de mérito Sonar passivo: perda na propagação permissível


(sonar passivo) (TL) para que a detecção ocorra dentro das
condições pre-estabelecidas, isto é, quando
SE=0 (dB).

RL+DT R Nível de Corresponde ao menor nível de sinal que será


reverberação detectado, ou mínimo sinal discernível (MDL)
interferente sob detecção limitada por reverberação (dB re
µPa)

A figura de mérito FOM combina os vários parâmetros relativos a equipamento e alvo. O seu valor é igual
à perda na transmissão no momento em que a detecção ocorre, isto é, quando SE=0, para detecção limitada por ruído.
Quanto maior o seu valor, maior será a perda permissível, ou seja, maior a distância na qual SE=0, e melhor será o
desempenho do sistema. Para detecção limitada por ruído, a FOM se presta para comparação de desempenho de
sonares operando na mesma freqüência. Para detecção limitada por reverberação ela não é empregada.

Exercícios de Fixação

1. Escreva a equação sonar ativo com detecção limitada por ruído em termos do ROS.

2-12 VERSÃO 1.0


IPqM-013-0177-ET/97

direção
de H(f)dB
escuta
selecionável -3dB
B-3dB ≈ Bn
f
circuitos
de conformador circuitos
condicionamento de adicionais
(amplificadores feixes
e
filtros) demais
circuitos de
recepção do
sonar
DI

ponto de teste
transdutor (voltagem
(array) NL correspondente a
NL)
Figura CAPÍTULO 2 - -6 - Medição de (NL-DI)

2. Escreva a expressão da figura de mérito em função do ROS.

3. Ao se calcular a FOM do sonar de um CT a partir de valores medidos logo após o reparo do sistema sonar,
verificou-se uma redução de seu valor em 10 dB em relação ao valor histórico nas mesmas condições de operação.
O que se pode concluir a respeito do desempenho do sonar?

4. (a) Compare o desempenho de um sonar ativo e um sonar passivo de mesma FOM e freqüência de
operação. (b) E se a freqüência de operação do sonar passivo for menor?

5. O sonar de uma Fragata apresenta um ROS de 175 dB medido com equipamento banda-larga com o navio
a 6 nós. Sabendo-se que o conjunto transdutor-conformador tem uma banda equivalente de ruído de 250 Hz, qual
o valor do ROS a ser empregado na equação sonar ativo?

6. Em um sonar de interceptação instalado a bordo de um submarino mediu-se um pulso sonar proveniente


de um CT. Pelas características do sinal, estima-se que o CT empregue um sonar cujo nível da fonte é de 230 dB
re 1µPa a 1 m e cuja FOM é de 180 dB. (a) Qual o valor do nível medido a bordo do submarino que indica ao
Comandante que seu navio está prestes a ser detectado pelo CT? (b) Se o TS do submarino é de 15 dB, qual o valor
do nível do eco medido no CT quando o submarino está prestes a ser detectado? (c) Qual o mínimo sinal discernível
do sonar do CT?

2.6 - FORMA TRANSIENTE DAS EQUAÇÕES SONAR [Ref.2:25-9]

As equações sonar foram apresentadas até agora em termos de intensidade acústica, potência média por
unidade de área. No caso de sinais transientes, como os decorrentes de explosões submarinas ou sonares ativos
operando com pulsos estreitos, é conveniente trabalhar-se com densidade de fluxo de energia (J/m2). Conforme
discutido no Capítulo 1, a densidade de energia de um pulso pode ser descrita sob a forma [vide Equação ( 1-6 )]:

E = I to ( CAPÍTULO 2 - -7 )

onde t o é a duração do pulso (ou “constante de tempo” do pulso exponencial). Ao escrevermos as equações sonar
ativo, o nível do eco foi descrito como

2-13 VERSÃO 1.0


IPqM-013-0177-ET/97

EL=SL-2TL+TS
( CAPÍTULO 2 - -8 )
onde está implícito que os níveis referem-se a intensidades do eco I eco e transmitida I tx (a 1 m do projetor):
I eco I I
EL = 10 log , SL = 10 log tx ⇒ EL = SL − 10 log tx ( CAPÍTULO 2 - -9 )
I ref I ref I eco

Para fins de detecção, no entanto, a grandeza de importância é energia (= intensidade × duração). Se a


duração do eco e do pulso transmitido forem iguais, a razão entre intensidades e entre energias são iguais: a relação
entre energia do eco e energia do sinal transmitido (ou sua diferença em dB) será igual à das intensidades e as equações
sonar descritas até agora são válidas.

Porém, quando um pulso se propaga no mar e é refletido por um alvo, a sua duração é alterada. Sejam um
pulso transmitido de duração t tx e um eco de duração t E . Para podermos usar as equações sonar já definidas, essas
durações deveriam ser as mesmas. Quando isto não ocorre, usamos, para fins das equações sonar, um pulso transmitido
modificado que tenha duração igual à do eco e a mesma energia E tx do pulso original transmitido, de modo que, do
ponto de vista de detecção, as condições permanecem inalteradas (vide Figura CAPÍTULO 2 - -7):
t tx
E tx = I tx (modificado) × t E = I tx′ (medido) × t tx ∴ I tx = I tx′ ( CAPÍTULO 2 - -10 )
tE

Nas equações sonar devemos então usar um valor SL modificado, calculado a partir do SL’ medido. Este
SL é obtido pela conversão da expressão anterior para dB:
t tx
SL (equação sonar) = SL ′ (medido) + 10log
tE ( CAPÍTULO 2 - -11 )

pulso
transmitido
(medido)

Pressão
correspondente SL’ = 10log I’tx / Iref
a I’tx
ttx mesma energia

Pressão
correspondente SL = 10log Itx / Iref
a Itx
tE
pulso
equivalente
(calculado)
Figura CAPÍTULO 2 - -7 - Pulso transmitido equivalente

Um exemplo dramático da necessidade de se corrigir o SL são os pulsos provocados por explosões


submarinas. Esses pulsos, quando próximo à fonte, têm subida rápida seguida de uma queda exponencial. O valor
de pico da pressão e a constante de tempo de descida do pulso são função da carga explosiva e da distância. Para
uma carga de 454 g de TNT, o pico de pressão é de cerca de 2 MPa e a constante de tempo, 100 ms, quando
medidos a 10 m. Um eco provocado pela reflexão de tal pulso em um submarino pode chegar a 100 ms de duração,
cerca de 250 vezes mais longo, e tem forma muito diferente da do pulso original.

2-14 VERSÃO 1.0


IPqM-013-0177-ET/97

A duração total do eco é função de três componentes: a duração do pulso transmitido t tx ; a duração
adicional imposta pela propagação no meio t M e uma duração adicional imposta pela extensão do alvo na direção
de propagação t A . A duração do eco é a soma desses três componentes:
t E = t tx + t M + t A
( CAPÍTULO 2 - -12 )
Como exemplos de ordens de grandeza das durações adicionais, o t M em um
ambiente de propagação de características de múltiplas trajetórias em águas profundas é de 1 ms e em águas rasas,
100 ms. Um submarino pode acarretar aumentos de 10 ms a 100 ms, dependendo do aspecto. Deste modo, um
pulso explosivo de duração 0,1 ms pode gerar ecos de 10 ms a 200 ms. Sonares com pulsos de 100 ms ou mais
longos seriam pouco afetados por propagação em águas profundas contra submarinos com aspecto de través.

Exercícios de Fixação

1. Considere que a largura de pulso transmitida por um sonar ativo seja t tx e que o eco tenha duração t E . (a)
Qual será a expressão do nível do eco em termos das densidades de fluxo de energia dos pulsos transmitido E tx (a
1 m do projetor) e recebido E E (na face do transdutor) [use a Equação ( CAPÍTULO 2 - -9 ) em conjunto com a
Equação ( CAPÍTULO 2 - -7 )]. (b) Compare seu resultado com a Equação ( CAPÍTULO 2 - -11 ) - são
compatíveis?

2. Um sonar emite um pulso CW de duração 50 ms. O nível da fonte foi medido, encontrando-se um valor
de 210 dB re 1 µPa a 1 m. Verificou-se que a duração do eco, em decorrência do ambiente de propagação e da
reflexão em um submarino é de 100 ms. Qual deve ser o valor do nível da fonte empregado nas equações sonar
para fins de previsão de alcance?

3. Qual a faixa de valores da duração do eco do problema anterior, se o sonar operar em (a) em águas
profundas? (b) em águas rasas?

4. A resolução em distância mede a capacidade de um sonar distinguir o eco de dois alvos próximos na
mesma marcação. Para um sonar operando com pulso CW a resolução em distância é cerca de c t E /2, onde c é a
velocidade de propagação do som e t E é a largura de pulso do eco. Considere o sonar do Exercício 2 e as condições
de operação do Exercício 3. Que valores de resolução devem ser obtidos se (a) não houver enlongamento do pulso,
(b) o sonar operar em águas profundas e (c) o sonar operar em águas rasas?

2.7 - LIMITAÇÕES DAS EQUAÇÕES SONAR [Ref.2:29]

As equações sonar escritas em termos de intensidade não são completas para alguns tipos de sonar. O
caso de sonares que operam com pulso estreito é um exemplo: há necessidade de se adicionar um novo termo, a
duração do eco, para incluir os efeitos de alongamento do pulso decorrente da propagação e da reflexão em alvos,
conforme discutido na Seção anterior.

Outro exemplo de correção é a perda de correlação para sonares que empregam correlatores de réplica.
Nesses receptores, o eco é comparado com a forma de onda transmitida previamente armazenada, na suposição
que essas formas de onda são similares. As distorções do eco impostas pela propagação e reflexão no alvo reduzem
a eficácia deste tipo de sonar. Como as equações sonar representam intensidades ou energias, detalhes das formas
de onda e métodos de processamento que os explorem não são modelados.

Um outro tipo de limitação decorre da natureza do meio onde os sonares operam. O mar é um meio em
constante movimento, caracterizado pela inomogeneidade§, com fronteiras irregulares, uma das quais, a
superfície, em constante movimento. Conseqüentemente, alguns dos parâmetros sonar variam irregularmente com
o tempo. Outros parâmetros variam devido a mudanças no equipamento e na plataforma onde está montado. Deste
modo, a solução das equações sonar é, na melhor das hipóteses, uma estimativa do que deve ocorrer em média

§
um meio é dito homogêneo se suas características são as mesmas em qualquer ponto.

2-15 VERSÃO 1.0


IPqM-013-0177-ET/97

com um fenômeno essencialmente estocástico. Cálculos precisos até décimos de dB são um exercício fútil. O
alcance previsto é um valor médio em torno do qual os valores observados de alcance provavelmente ocorrerão.

No caso específico de sonares passivos banda larga, onde o sinal recebido é integrado em bandas de
freqüência da ordem de até várias oitavas, surge um outro tipo de problema. O mar pode ser modelado como um
filtro, com atenuação variável com a freqüência. Nesses casos não é possível obter-se equações genéricas em dB
onde, por exemplo, o parâmetro perda na propagação possa ser separado do nível da fonte.

Exercícios de Fixação

1. Descreva algumas das limitações quanto ao emprego das equações sonar para previsão de alcance.

2.8 - RESUMO DAS EQUAÇÕES SONAR

[nível do sinal] - [nível interferente] = [excesso de sinal]


No momento da detecção (SE=0), temos:

Equação sonar ativo com detecção limitada por ruído:


SL - 2TL + TS - ( NL - DI ) = DT I
Equação sonar ativo com detecção limitada por reverberação:
SL - 2TL + TS - RL = DT R J

Equação sonar passivo:


SL - TL - ( NL - DI ) = DT
Caso a duração do eco t E seja diferente da largura de pulso transmitida t tx , as equações sonar ativo
poderão ser ainda empregadas se o nível da fonte medido SL’ for corrigido para:
t tx
SL (equação sonar) = SL ′ (medido) + 10log K
tE

PROBLEMAS

2.1 Um CT e um submarino operam na mesma área. O CT irradia um ruído de 3 KHz com nível de 132 dB re 1
µPa, devido a uma avaria. O seu equipamento sonar emite um pulso CW de 5KHz e duração 100 ms, com nível
de 220 dB re 1 µPa @ 1 m. As demais características do sistema sonar do CT são: índice de diretividade 20
dB; limiar de detecção 19 dB; nível de ruído próprio espectral 70 dB re µPa e banda de medição de ruído 500
Hz. O submarino possui um sonar passivo banda estreita em 3 KHz, com limiar de detecção 11 dB; índice de
diretividade 20 dB e ruído próprio igual ao ambiente. Supor que o submarino tem um poder de reflexão médio
de 15 dB e que o nível espectral de ruído ambiente é de 55 dB re µPa. Determine: (a) o ROS do sonar do CT
se o ruído de feixe for medido com um equipamento banda larga; (b) a relação sinal/ruído no sonar do CT no
momento da detecção; (c) o menor nível de eco a ser detectado pelo operador e a pressão rms correspondente;
(d) a FOM do sonar do CT; (e) o nível de eco quando SE=0; (f) o nível da fonte que o operador sonar do
submarino deveria usar para calcular o seu alcance previsto; (g) a FOM do sonar do submarino; (h) o menor
nível de sinal que o operador sonar do submarino poderá detectar, e a pressão rms correspondente; (i) Qual dos
dois deverá detectar o outro primeiro, se as freqüências de operação dos dois sonares puderem ser consideradas
iguais para fim de cálculo de perdas na propagação? (j) No momento em que o submarino estiver para ser
detectado, qual o nível de sinal do sonar ativo do CT medido a bordo do submarino (se o operador sonar do
submarino puder medir o nível do pulso sonar proveniente do CT, este é o nível que o deixará alarmado)?
Resp.: (a) 143 dB; (b) 19 dB; (c) 69 dB re 1 µPa; (d) 166 dB; (e) 69 dB re 1 µPa; (f) 132 dB re µPa @ 1 m; (g)
86 dB; (h) 46 dB re 1 µPa; 200 µPa; (j) 137 dB re 1 µPa.

2-16 VERSÃO 1.0


IPqM-013-0177-ET/97

2.2 No problema 2.1, suponha que o nível de reverberação seja de 60 dB re µPa na distância correspondente ao
alcance limitado por ruído. Considere que o limiar de detecção para reverberação é igual ao de ruído. O alcance
do sonar do CT seria o mesmo? Justifique.

2.3 A equipe de medição de ROS mediu valores de ruído banda larga (banda de 400 Hz) em diversas condições
de operação do navio e nível da fonte SL = 220 dB re 1 µPa @ 1m. Os resultados, convertidos para dB re 1
µPa, são indicados na Tabela ao lado. Calcular, para as diferentes velocidades de operação do navio, (a) o ROS
banda larga, (b) o ROS banda estreita (a ser empregado para previsão de alcance); (c) a FOM, supondo DT =
19 dB e TS = 15 dB; (d) o alcance sonar se TL = 20 log (R) onde R é a distância sonar-alvo em metro; (e) a área
varrida pelo sonar em 1 hora de operação, supondo o navio em rumo constante e que a detecção só é possível
no setor de 180° de vante. (f) Qual a velocidade ótima de operação em termos de área varrida por unidade de
tempo? Resp.:(a) a (e) vide Tabela CAPÍTULO 2 - -5 (mn = milha náutica); (f) 8 nós.
Tabela CAPÍTULO 2 - -5 - Respostas do
Problema 2.3 2.4 Um sonar ativo opera com largura de pulso de 10
v (a) dB (b) dB (c) dB (d) m (e) mn2 ms e SL de 230 dB re 1 µPa @ 1 m. (a) Qual a faixa de
valores de larguras de eco que se espera receber de um
6 135 161 157 8414 86,9
submarino em águas rasas ? (b) Quais devem ser os
8 134,5 160,5 156,5 8185 101,4 correspondentes valores de SL a empregar na previsão de
10 130 156 152 6310 86,4 alcance ? (c) Quais as resoluções em distância
12 126 152 148 5012 76,5 correspondentes ao pulso originalmente transmitido e aos
casos indicados em (a)? Resp.: (a) 120 ms a 210 ms; (b)
14 120 146 142 3548 59,4
219 dB e 217
Tabela CAPÍTULO 2 - -6 - Dados
dB, ambos re 1 µPa @ 1 m; (c) 7,5 m; 90 m e 158 m.
do Problema 2.3
veloc (nó) (NL - DI) (banda
BIBLIOGRAFIA larga)
[1]. Jenkins, James W. Sonar principles & antisubmarine warfare, Sea 6 85
Technology, 34(2):61-70, Feb. 1993. 8 85,5
[2]. Urick, Robert J. Principles of underwater sound. 3ed. New York, 10 90
McGraw-Hill. 1983 12 94
14 100

2-17 VERSÃO 1.0


IPqM-013-0177-ET/97

CAPÍTULO 3 - TRANSDUTORES SONAR

O termo transdutor sonar engloba dois tipos de dispositivos: os projetores, empregados na


transmissão, convertem sinais elétricos em acústicos e os hidrofones, empregados na recepção, realizam a
conversão reversa. Em algumas aplicações, um mesmo dispositivo é empregado nas duas funções.

A radiação acústica é obtida pela vibração de uma superfície em contato com o meio. No caso dos
transdutores sonar, esta vibração é controlada pelo sinal elétrico aplicado. Na recepção, uma onda acústica
provoca a vibração de uma superfície em contato com o meio, a qual é convertida em sinal elétrico.

3.1 MODELO E CONFIGURAÇÃO BÁSICAS DE TRANSDUTORES

3.1.1 Modelo de Quatro Terminais [Ref. 1:344-7]

O transdutor sonar pode ser representado como um dispositivo de quatro terminais, conforme
indicado na Figura 3-1(a), que relaciona as propriedades elétricas em um par de terminais às propriedades
mecânicas no outro par. As grandezas indicadas, todas na forma de fasores (magnitude e fase de variações
senoidais) são:

• V = voltagem nos terminais elétricos do transdutor;


• I = corrente elétrica;
• F = força na superfície radiante;
• U = velocidade de vibração da superfície radiante.

Tomando a voltagem e a força como variáveis dependentes, podemos representar o transdutor através
das equações canônicas:

V = Z EB I + TemU
, ( 3-1 )
F = Tme I + Z mo U
onde,
• Z EB = V/I  U= 0 = impedância elétrica bloqueada, Ω;

• Z mo = F/U  I= 0 = impedância mecânica a circuito aberto (N s/m = Ohm mecânico);

• T em = V/U  I= 0 = coeficiente de transdução a circuito aberto (transformação mecânico para


elétrico, V s/m);

• T me = F/I  U= 0 = resposta de força bloqueada (transformação elétrico para mecânico, N/A);

Os parâmetros acima dependem das características dos materiais empregados, configuração e dimensões do
transdutor e da freqüência.

Para caracterização de um transdutor são realizadas medições elétricas nos seus terminais e de
pressão no meio. Por exemplo:

3-1 VERSÃO 1.0


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I U

(a)

V F

ZG I U

(b)
VG V F Zl = -F/U

I U Zg

(c)
ZL = -V/I V F Fg

Figura 3-1 - O transdutor como um dispositivo de quatro terminais:(a) genérico; (b) transmissão e (c)
recepção

• Z EL = V / I para F = 0 :impedância elétrica (livre) de entrada com o transdutor colocado no


vácuo *, Ω;

• Z E = V / I para F e U ≠ 0 : impedância elétrica de entrada com o transdutor operando no meio


fluido (carregado), Ω;

• S V = P(1m) / V = amplitude de pressão a 1 m da face do transdutor quando excitado por um sinal


elétrico de 1 Volt de amplitude = resposta de voltagem na transmissão, medido em espaço livre,
Pa/V;

• M 0 = V / P(face) para I=0 :amplitude da voltagem nos terminais elétricos a circuito aberto (I = 0)
para 1 Pa de amplitude de pressão incidente na face do transdutor = sensibilidade de recepção a
circuito aberto, V/Pa

Essas características são medidas em função da freqüência e dependem dos valores dos parâmetros da equação
canônica.

*
Para trandutores sonar, uma boa aproximação de “vácuo” é obtida operando-se o transdutor no ar, que tem
impedância acústica várias ordens de grandeza menor que a água.

3-2 VERSÃO 1.0


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Usualmente, na análise de transdutores, emprega-se uma analogia elétrica para as grandezas


mecânicas. Assim, a força é análoga à voltagem e a velocidade é análoga à corrente. Deste modo, a impedância
mecânica Z m = F/U é o análogo da impedância elétrica Z E = V/I.

Na Figura 3-1 estão indicadas as duas situações possíveis do emprego do transdutor. Na transmissão
[Figura 3-1(b)] uma fonte V G de sinal elétrico excita o transdutor que responde com uma força nas partículas do
meio (representada pela impedância de carga Z l ). A impedância elétrica Z G do gerador representa perdas (parte
real) e energia armazenada (parte imaginária) que não são transmitidas ao transdutor. Quando da recepção
[Figura 3-1(c)], a onda acústica incidente age como um gerador de força F g na superfície do transdutor através
de uma impedância mecânica Z g do meio, o que provoca a resposta do transdutor na forma de uma voltagem
aplicada a uma carga elétrica Z L .

3.1.2 A Cadeia de Transdução

O esquema básico de um transdutor é mostrado na Figura 3-2. Na transmissão (projetor), um sinal


elétrico de amplitude V é aplicado a um componente conversor eletromecânico. Este componente emprega
algum material que tenha a propriedade de se movimentar ou se deformar quando excitado eletricamente. Um
exemplo é o da bobina móvel dos alto-falantes: bobina cilíndrica circundando um ímã. Ao circular uma corrente
na bobina, surge uma força que a acelera (de modo inverso, quando a bobina é acelerada uma voltagem variável
é induzida em seus terminais). Um outro exemplo é o cristal piezelétrico: ao ser submetido a um campo elétrico
o cristal se deforma (e vice-versa). Em transdutores sonar os conversores eletromecânicos usualmente
encontrados empregam materiais com as seguintes propriedades:

• eletrestrição - propriedade similar à piezeletricidade, porém presentes em materiais policristalinos,


tais como certas cerâmicas (titanato de bário e titanato zirconato de chumbo - PZT - são as mais
comuns) e polímeros (por exemplo, PVDF) denominados, na prática, piezelétricos. Estes
materiais, para se tornarem piezelétricos devem ser polarizados, que consiste na aplicação de um
campo elétrico elevado, enquanto a cerâmica é aquecida. Após algum tempo eles apresentam as
desejadas propriedades piezelétricas, que se mantêm por alguns anos.

• magnetestrição - certas ligas metálicas deformam-se ao serem submetidas a um campo magnético


e geram campo quando deformadas. Durante seu uso deve-se aplicar um campo magnético
constante ao qual se sobrepõem as variações magnéticas decorrentes de uma corrente (sinal
elétrico) circulando em uma bobina (transmissão) ou de deformações sofridas pelo material
(decorrente de uma onda acústica incidente, na recepção).

I Conversor Sistema U Sistema


terminais Eletromecânico Mecânico Acústico
V elétricos F′ F, P
(cerâmica (pistão etc) (encapsulamento,
piezelétrica etc) abafador etc)

Figura 3-2 - "Cadeia" de transdução

A força F′ resultante do conversor eletromecânico é transmitida a um sistema mecânico, provocando


sua vibração (em resposta à excitação elétrica variável na entrada do conversor). Essa vibração de amplitude de
velocidade U é acoplada, por meio do sistema acústico, ao meio, gerando uma força F e uma pressão acústica P
irradiada.

3-3 VERSÃO 1.0


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Na recepção (hidrofone), ocorre o inverso. Uma onda acústica provoca uma vibração que é acoplada
ao sistema mecânico, que por sua vez a transmite ao conversor eletromecânico onde é convertida no sinal
elétrico obtido nos terminais do transdutor.

Um transdutor é dito reversível quando pode ser empregado tanto como projetor quanto como
receptor (embora seu projeto possa ser otimizado para uma dessas funções). Caso contrário é dito ser
irreversível. Transdutores piezelétricos, eletrestritivos e magnestritivos são reversíveis; hidrofones de fibra ótica,
por exemplo, são irreversíveis.

O transdutor será linear quando as relações entre as grandezas elétricas (V e I) e as mecânicas (U e F


ou P) são lineares. O transdutor será passivo se não contiver componentes ativos (fontes de energia,
amplificadores etc). Finalmente, diz-se que um transdutor apresenta características de reciprocidade se for,
simultaneamente, reversível, linear e passivo. Neste caso, tem fatores de conversão T em e T me de mesma
magnitude †. A maioria dos transdutores eletroacústicos apresentam reciprocidade.

3.1.3 Um Exemplo: Transdutor Tonpilz

A Figura 3-3 apresenta a estrutura interna de um transdutor empregado em sonares ativos, o


transdutor tipo tonpilz. Basicamente, consiste de uma pilha de cerâmicas montada entre duas massas metálicas.
A pilha é formada por anéis colados entre si, formando um tubo. Entre os anéis são inseridos discos metálicos
para manter o contato elétrico. Cada anel cerâmico é um capacitor. Os anéis são ligados eletricamente em
paralelo. A pilha é mantida comprimida por um parafuso central. Os terminais elétricos do transdutor são
ligados, através de um transformador ou indutor de casamento, à pilha.

Em operação, uma voltagem alternada aplicada aos terminais do transdutor é convertida em força de
tração/compressão das cerâmicas, transmitida às massas traseira e dianteira. Do ponto de vista mecânico, a pilha
atua como uma mola ligada, em cada extremidade, a uma massa. Considerando que o transdutor, como um todo,
não se move, a quantidade de movimento do conjunto pilha/massas é nulo. Supondo que a massa traseira M
vibra com velocidade U M e a massa dianteira m, com velocidade U m de sentido oposto a U M teremos:

quantidade de movimento = MU M + mU m = 0 ∴

−M
Um = UM ( 3-2)
m

de modo que, sendo a massa traseira muito maior que a dianteira, a velocidade de vibração desta última será
muito maior que a da traseira (M » m ⇒ U m  » UM). Assim sendo, somente a massa dianteira, em termos
práticos, vibra. Esta vibração é transmitida à face da massa frontal, que é a superfície vibrante do transdutor.

O transdutor completo inclui, no seu interior, o circuito de casamento de impedâncias (indutor ou


transformador) e, no seu exterior, um invólucro estanque e um conector elétrico. A superfície vibrante é
recoberta de borracha ou outro polímero macio com características acústicas (ρ c) próximas às da água.

Em geral, nos sonares ativos, são empregados conjuntos (arrays) de elementos transdutores. Um sonar
ativo de busca terá, tipicamente, centenas de elementos do tipo tonpilz.


Se Tem = Tme, o transdutor é dito recíproco; se Tem = -Tme, o transdutor é dito antirecíproco.

3-4 VERSÃO 1.0


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porca de
aperto

massa
traseira

pilha de
cerâmicas
intercaladas
com discos
metálicos
(stack)

parafuso
central

massa dianteira

Figura 3-3 - Transdutor tipo tonpilz

Exercícios de Fixação

1. (a) Escreva as equações canônicas que representam transdutores sonar empregando a voltagem nos
terminais elétricos e a força nos terminais acústicos como variáveis dependentes; (b) identifique as variáveis
envolvidas em um desenho de quadripolo. (c) A partir das equações canônicas, encontre a expressão da
impedância de entrada quando o projetor opera no vácuo (força nula no terminal mecânico → impedância
elétrica livre).

2. Um transdutor operando como projetor tem reposta de transmissão SV = 0,1 Pa/V. Qual a amplitude
de pressão a 1m do transdutor quando este é excitado por um sinal senoidal de 20V de amplitude em Pa e em dB
re 1 µPa?

3. Uma onda acústica de 1000 µPa de amplitude incide na face de um hidrofone cuja sensibilidade de
recepção vale MO = 10-8 V/µPa. Qual a amplitude da voltagem nos terminais do hidrofone operando a circuito
aberto em Volts e em dBV?

4. Supondo que a impedância apresentada pelo meio fluido a um projetor seja aproximadamente igual ao
caso da onda plana, a impedância de carga será Zl = ρcA onde A é a área da superfície radiante do projetor.
Usando as equações canônicas, encontre uma expressão para a impedância elétrica de entrada nessas condições.

5. Faça uma breve descrição do funcionamento da cadeia de transdução de um hidrofone.

6. Defina transdutores reversíveis, lineares, passivos e recíprocos.

7. Faça um desenho esquemático de um transdutor tipo tonpilz, identifique seus componentes em termos
da cadeia de transdução e descreva seu funcionamento.

3-5 VERSÃO 1.0


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3.2 CARACTERÍSTICAS BÁSICAS DE TRANSDUTORES

Várias das especificações de um sistema sonar estão intimamente ligadas às características do


transdutor. Do ponto de vista do projetista do sistema, há necessidade de, a partir daquelas especificações,
estabelecer qual o transdutor a ser empregado, ou seja, estabelecer as especificações técnicas do transdutor para
posterior encomenda. Do ponto de vista do mantenedor, algumas dessas características devem ser
periodicamente verificadas (medidas), a fim de assegurar que as especificações originais do sistema são
mantidas e, se for o caso, decidir pela substituição de transdutores avariados.

3.2.1 Impedância Terminal

A impedância terminal de transdutores é um parâmetro de importância para sonares ativos, pois representa
a carga dos amplificadores de potência, quando da transmissão. Em hidrofones passivos (sem amplificadores
internos) usa-se também medi-la. A partir dessa medição pode-se verificar, por exemplo, as freqüências de
ressonância e o aparecimento de ressonâncias espúrias (não originalmente existentes) indicadoras de avarias internas.

A Figura 3-4 apresenta uma curva de impedância de um transdutor cerâmico típico empregado em sonares
ativos (tipo tonpilz), operando no ar, onde são indicadas a magnitude e a fase. A Figura 3-5 detalha a curva de
impedância no ar próximo à ressonância e apresenta também a curva levantada com o transdutor operando na água
(carregado). A Figura 3-6 apresenta os mesmos dados da Figura 3-5 para o caso da água, porém na forma do
círculo de admitância (parte imaginária - susceptância - em função da parte real - condutância, onde cada ponto
corresponde a uma freqüência). A impedância no ar é, aproximadamente, a impedância elétrica livre ZEL: do
transdutor. A impedância medida na água é a impedância elétrica carregada (ou simplesmente, impedância
elétrica na água) ZE. As seguintes características do transdutor são refletidas nestes gráficos:

• na faixa de freqüências apresentada verifica-se a ocorrência de regiões de ressonância (três no


exemplo mostrado na Figura 3-4); o transdutor opera na primeira região de ressonância para
máxima eficiência em transmissão; cada região apresenta uma ressonância série (impedância
baixa, admitância alta) seguida de uma ressonância paralela (impedância alta, admitância baixa);

• em cada região de ressonância, o transdutor apresenta um circuito equivalente como o apresentado


na Figura 3-7 [Ref.2:81];

• o capacitor Co e o resistor Ro são característicos da pilha cerâmica, sendo este último de valor
elevado (centenas de MΩ); incluem também as capacitâncias e eventuais resistências de fuga de
cabos elétricos, conectores e outros componentes elétricos do transdutor;

• o circuito R1-C1-L1 representa o reflexo das características mecano-acústicas nos terminais


elétricos (características mecânicas da pilha, massas frontal e traseira, parafuso etc e a carga
apresentada pelo fluido decorrente da radiação acústica e fenômenos hidrodinâmicos);

• na resistência R1 estão incluídos os efeitos das perdas mecânicas do transdutor, Ri, e da radiação
acústica, Rr; no caso de operação no vácuo, Rr = 0 e R1 = Ri;

3-6 VERSÃO 1.0


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Magnitude ZE

104

102
Fase {ZE}
50
graus 0
-50
0 5 10 15 20
f,KHz
Figura 3-4 - Impedância de entrada de um transdutor tonpilz cerâmico no ar (aproximadamente igual à
impedância elétrica livre, ZEL)

106

ZE, Ω
ar
ar
105
Zn

água
água
104

água

3
Zm 10

ar

102
0 2 4 6 8 10 12
fm fn f, KHz

fase{ZE}
graus
80
ar
60

40

20

0
água
-20

-40

-60

-80
0 2 4 6 8 10 12
f, KHz

Figura 3-5 - Impedância no ar (≈ZEL) e na água (ZE) próximo à ressonância

3-7 VERSÃO 1.0


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1 / R1 YE = 1/ZE = GE + jBE

1 / 2R1
BE, mS
0.2
f1
f↑
fm
0.15

Ym=1 /Zm

0.1
fS

0.05
fn
fp
0
f2

0 0.05 0.1 0.15 0.2 0.25


GE, mS
Figura 3-6 - Círculo de admitância (na água) do transdutor

equivalente elétrico dos componentes


mecânico e acústico (Ri, Li e C1) e da
carga do fluido (Rr e Lr)

C1 Li Lr
I

Ri
L1 = Li + Lr

V Ro Co R1 =
Ri + Rr
Rr

ZE
Figura 3-7 - Circuito equivalente do transdutor na ressonância

• na indutância L1 estão incluídos os efeitos das massas do transdutor (Li) e do fluido deslocado
quando o transdutor vibra (Lr); no caso de operação no vácuo, Lr = 0 e L1 = Li;

3-8 VERSÃO 1.0


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• a capacitância C1 representa as características elásticas dos componentes mecânicos, em particular


das cerâmicas piezelétricas;

• em freqüências baixas, o transdutor é capacitivo; o valor da capacitância é igual ao da pilha


cerâmica e componentes elétricos associados (Co);

• as seguintes freqüências são indicadas na Figura 3-5 e na Figura 3-6:

◊ fS = freqüência de ressonância série mecânica (YIN = 1/ZIN ≈ 1/R1 + j2π fS Co); corresponde à
ressonância do ramo R1-C1-L1 do circuito equivalente;

◊ fm = freqüência de máxima admitância (mínima impedância);

◊ fp = freqüência de ressonância paralela (ou de anti-ressonância), corresponde à ressonância


de L1 com a combinação série de C1 e Co;

◊ fn = freqüência de mínima admitância (máxima impedância);

◊ f1 e f2 = freqüências abaixo e acima de fp onde a condutância de entrada é metade da


verificada em fS, isto é, onde GIN ≈ 1/2R1;

• O fator de qualidade mecânico do transdutor QM é dado por

fS ( 3-3 )
QM =
f 2 − f1

quanto maior o QM, menor a faixa de freqüências em que um projetor pode ser empregado com razoável
eficiência. Quando o transdutor é operado na água, energia acústica é irradiada, o que se reflete na impedância
elétrica de entrada na forma de uma resistência de irradiação Rr ≠ 0 em série com Ri, reduzindo o fator de
qualidade QM.

Para projetores, uma característica importante é a eficiência eletroacústica do transdutor, definida como a
razão entre a potência acústica irradiada e a potência elétrica entregue ao transdutor:

Π ac
ηea =
Π ele ( 3-4 )

Podemos considerar separadamente dois fatores na eficiência eletroacústica, a partir da cadeia de transdução
mostrada na Figura 3-2. A eficiência eletromecânica ηem diz respeito ao componente de conversão
eletromecânica e inclui a influência das perdas nos circuitos de casamento e nas cerâmicas. A eficiência mecano-
acústica ηma diz respeito aos sistemas mecânico e acústico e inclui a influência das perdas mecânicas e de
acoplamento com o fluido. A eficiência total será o produto desses dois componentes:

Π ac Π mec Π ac
ηea = = = ηemηma ( 3-5 )
Π ele Π ele Π mec

A eficiência varia com a freqüência. Seu valor máximo ocorre na freqüência de ressonância mecânica série
(primeira região de ressonância) e é dado por [Ref.2:86-7]:

3-9 VERSÃO 1.0


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Ro  Rr 
ηea (max) =   ( 3-6 )
Ro + Ri + Rr  Ri + Rr 

onde Ri é o valor de R1 medido no ar e (Ri + Rr) é o valor de R1 medido na água.

Uma medição usualmente feita em transdutores cerâmicos é a da resistência de isolamento, realizada com
megômetro (CC). O valor medido nos terminais do transdutor inclui a resistência da pilha cerâmica (da ordem de
centenas de MΩ) e a perda no cabo elétrico e conectores (Ro). Quando o transdutor é casado através de um
transformador interno ou é do tipo magnetestritivo (que contém uma bobina como elemento principal ligada aos
terminais de entrada), essa medição não tem sentido. Um valor baixo de resistência de isolamento indica fuga nos
cabos, conectores ou na pilha cerâmica, normalmente provocada por penetração de água. Um valor baixo de
capacitância em freqüências baixas (Co) em transdutores cerâmicos indica alteração das suas características de
conversão eletroacústica.

3.2.2 Resposta de Transmissão

A resposta de transmissão é o fator de conversão voltagem-pressão irradiada. É normalmente expressa


em dB e refere-se à pressão acústica reduzida a 1 m de distância do projetor:

PRMS @ 1m do transdutor, µPa


SV = 20log , dB re 1µPa / V @ 1m ( 3-7 )
VRMS nos terminais do transdutor, V

usando a definição de nível de pressão sonora, teremos:

SV = SPL(a 1m) - 20 logVRMS ( terminais do transdutor), dB re 1µPa / V @ 1m ( 3-8 )

É usual também definir-se uma resposta de corrente SI:

PRMS @ 1m do transdutor, µPa


S I = 20log , dB re 1µPa / A @ 1m ( 3-9 )
I RMS nos terminais do transdutor, A

Como a corrente de entrada é igual à voltagem aplicada dividida pela impedância de entrada, verifica-se
que:
( 3-10 )
S I = SV + 20log Z IN

SV e SI são função da freqüência, conforme indicado na Figura 3-8. Em freqüências baixas seus
valores aumentam com a freqüência, atingindo os máximos na região de ressonância. As respostas de
transmissão são medidas no eixo acústico do transdutor, que é a direção de máxima resposta.

É comum encontrar-se a resposta de transmissão expressa em termos da antiga referência da acústica


submarina: dB re 1µbar/V @ 1jd. Conforme indicado no Capítulo 1, a conversão de unidades dá-se pelas
expressões:

SV dB re 1µPa/V @ 1m = SV dB re 1µbar/V @ 1jd + 100 dB - 0,78 dB

SI dB re 1µPa/A @ 1m = SI dB re 1µbar/A @ 1jd + 100 dB - 0,78 dB

3-10 VERSÃO 1.0


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220

200
SI

180

160
dB re 1µPa/V
ou 140
dB re 1µPa/A

120
SV
100

80
1 f, KHz 10
Figura 3-8 - Resposta de transmissão de voltagem e corrente

Exemplo 3-1. Um projetor de teste apresenta resposta SV de 125 dB re 1µPa/V @ 1m na freqüência


de 10 KHz. (a) Qual o nível de pressão sonora a 1 m do projetor quando ele é excitado por um pulso
de 100 V de amplitude naquela freqüência? (b) Qual a voltagem pico a pico do pulso CW de 10 KHz
aplicado nos terminais do transdutor se o nível de pressão sonora, reduzido a 1 m do projetor, é de
180 dB re 1µPa?

(a) 100 V de amplitude corresponde a 100/2½ V eficazes. Substituindo este valor de voltagem e o SV
dado na Equação ( 3-8 ), obtém-se:

100
125 = SPL(a 1m) - 20 log ∴ SPL(a 1m) = 162 dB re 1µPa / V
2

(b) Substituindo os valores de SV e SPL(a 1m) na Equação ( 3-8 ), obtém-se:

125 = 180 - 20 logVRMS ∴ VRMS = 562 V ∴ V pp = 1590 V

3.2.3 Sensibilidade

Quando operando como hidrofone, o transdutor pode ser visto como uma fonte de voltagem, cujo
circuito equivalente, no caso de hidrofones cerâmicos, é indicado na Figura 3-9 [Ref.2:268], que corresponde ao
circuito da Figura 3-7 onde foi adicionado uma fonte de voltagem ideal em série com a impedância de radiação.
A voltagem da fonte VP é proporcional à pressão na face do hidrofone P, sendo o fator de proporcionalidade
igual à razão entre a área ativa do hidrofone, A, e o fator de conversão voltagem-força, ϕ. Em freqüências baixas
(bem abaixo da primeira ressonância), o circuito equivalente pode ser simplificado desonsiderando-se L1 e R1.

A sensibilidade ou resposta de recepção de um hidrofone é o fator de conversão entre a pressão


acústica na face do hidrofone, P, e a voltagem terminal a circuito aberto Voc:

V nos terminais do transdutor a circuito aberto, V


M oc = 20log RMS , dB re 1V / µPa ( 3-11 )
PRMS na face do transdutor, µPa

3-11 VERSÃO 1.0


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I C1 Li Lr

L1 = Li + Lr Ri

R1 =
Ri + Rr
V Ro Co
Rr

VP = AP/ϕ

Figura 3-9 - Circuito equivalente do transdutor operando como hidrofone

ou, usando a definição de nível de pressão sonora,

M oc = 20log(V RMS (terminais do transdutor, circuito aberto) V) − SPL( face) , dB re 1V / µPa ( 3-12 )

Conforme pode ser deduzido do circuito equivalente, a voltagem de saída do hidrofone, para pressão
constante na face, é função da freqüência. A Figura 3-10 apresenta a curva de sensibilidade de um hidrofone
cerâmico. Em freqüências baixas a sensibilidade é aproximadamente constante. A medida que a freqüência
aumenta e a região de ressonância se aproxima, a sensibilidade aumenta, atinge um máximo e decresce.

Os seguintes fatores provocam redução de Moc, conforme indicado na Figura 3-10:

• carga capacitiva: instalar ou aumentar comprimento de cabo elétrico ligado aos terminais do
hidrofone (equivale a aumento de Co e redução de Ro);

• carga resistiva: (por exemplo, entrada de um pré-amplificador de voltagem) que forma, em


paralelo com Co, circuito passa-alta e provoca aumento da freqüência de corte inferior;

Para contornar o problema provocado pelo aumento do cabo, necessário às instalações, escolhe-se um hidrofone
de alta capacitância, o que concorre também para reduzir a freqüência de corte inferior de um conjunto
hidrofone-amplificador. Quando o transdutor é projetado para operar unicamente como hidrofone, os fabricantes
introduzem um amplificador casador (elevada impedância de entrada, baixa impedância de saída) no interior do
invólucro do hidrofone, o que também reduz a influência da capacitância do cabo ligado aos seus terminais.

A sensibilidade Moc é medida no eixo acústico do transdutor, que é a direção de máxima sensibilidade.
No caso de transdutores reversíveis, a direção de máxima sensibilidade é a mesma da de máxima resposta de
transmissão (SV, SI).

Exemplo 3-2. Um hidrofone empregado no sonar passivo de um submarino apresenta uma


sensibilidade de -180 dB re 1V/µPa na faixa de freqüências de 100Hz a 3KHz. (a) Qual a voltagem de
saída do hidrofone (a circuito aberto) quando uma onda acústica de nível 100 dB re 1µPa incide na sua
superfície? (b) Qual o nível de pressão sonora da onda acústica incidente quando a voltagem de saída a
circuito aberto é de 14,1µV de amplitude?

3-12 VERSÃO 1.0


IPqM-013-0177-ET/97

(a) A Equação ( 3-12 ) nos fornece:

− 180 = 20 logVRMS − 100 ∴VRMS = 10 −4 V = 0,1 mV

(b) 14,1 µV de amplitude corresponde a VRMS = 10 V eficazes. Substituindo valores na Equação ( 3-12
) obtemos:

− 180 = 20 log 0,1 − SPL ∴ SPL = 160 dB re 1µPa

3.2.4 Medição de Resposta de transmissão e Sensibilidade

Um esquema de medição de SV ou Moc é mostrado na Figura 3-11. Um hidrofone H é colocado a uma


distância d do projetor T dentro de um tanque de água. Aplica-se um sinal CW de valor eficaz VIN aos terminais
do projetor. Mede-se a voltagem eficaz VOUT nos terminais do hidrofone calibrado. A distância d deve ser
escolhida de modo que a onda incidente no hidrofone seja praticamente plana e que o hidrofone esteja localizado
no campo distante do projetor. Deve-se ter

L2 ( 3-13 )
r≥
λ

onde L é a maior dimensão da superfície ativa dos transdutores envolvidos na medição e λ é o comprimento de
onda. É usual empregar-se uma distância mínima de 1 m quando a Equação ( 3-13 ) resulta em valor menor que
aquele.

-155
dB re
1V/µPa
-160

-165 com
resistência
de carga
-170
Moc

-175

-180 com cabo


(capacitância)

-185
1 f, KHz 10
Figura 3-10 - Curva de sensibilidade de hidrofone cerâmico

3-13 VERSÃO 1.0


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VIN sinal VOUT


refletido

T H
SV sinal direto Mo

água

Figura 3-11 - Esquema de medição de resposta de transmissão e sensibilidade

Supondo propagação em espaço livre, a onda acústica propaga-se a partir do projetor na forma de
onda esférica cuja amplitude é inversamente proporcional à distância (sinal direto). Em termos de nível de
pressão sonora, isto corresponde a um SPL que é reduzido de 20 log r em relação ao nível correspondente a uma
distância de 1m do projetor. Assim temos:

• nível sonoro a 1m do projetor, da Equação ( 3-8 ):

SL = SPL(1m) = 20 logVIN + SV ( 3-14 )

• nível sonoro na face do hidrofone:

SPL( r ) = SL − 20 log r = 20 logVIN + SV − 20 log r ( 3-15 )

• voltagem a circuito aberto nos terminais do hidrofone, da Equação ( 3-12 ):

20 logVOUT = SPL( r ) + M oc = 20 logVIN + SV − 20 log r + M oc ( 3-16 )

A partir da Equação ( 3-16 ) pode-se vislumbrar um método de medição de SV a partir de um


hidrofone padrão (ou seja, para o qual a sensibilidade Mo tenha sido aferida). A partir dos valores de r, VIN, VOUT
e Mo, calcula-se o SV. De modo análogo, se dispusermos de um projetor padrão (SV aferido), podemos obter o
valor da sensibilidade do hidrofone, Mo.

Um método similar é o da substituição. Mede-se o VOUT com um osciloscópio. Em seguida aplica-se a


mesma voltagem VIN na entrada de um atenuador padrão (i.e., aferido), cuja atenuação é variada até que a
voltagem de saída seja igual ao VOUT anteriormente medido. Lê-se o valor da atenuação, em dB, AdB, que será
igual a 20 log VIN - 20 log VOUT. A partir da Equação ( 3-16 ), obtém-se

AdB = 20 logVIN − 20 logVOUT = − SV + 20 log r − M oc ( 3-17 )

e podemos obter SV ou Moc como anteriormente. A vantagem deste método é não depender da precisão da
medição de voltagem, uma vez que as voltagens são somente comparadas.

3-14 VERSÃO 1.0


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Inicialmente, supôs-se que a propagação dar-se-ia como no espaço livre. Porém, o tanque é uma
região finita com fronteiras bem definidas. Além da propagação direta projetor--hidrofone, a onda acústica
reflete nas paredes e no fundo do tanque e na superfície da água, conforme ilustrado na Figura 3-11, e o sinal
recebido no hidrofone será a soma das pressões acústicas direta e refletidas. Para contornar este problema e
simular a condição de espaço livre, usa-se um sinal pulsado. Como a distância direta é menor que as percorridas
pelos sinais refletidos, o início do pulso recebido corresponderá ao sinal direto. Esta porção inicial do pulso
recebido (após término da parte transiente) é onde se mede a voltagem de saída VOUT [vide Figura 3-12].

Um terceiro método para calibração de transdutores é o da reciprocidade [Ref.1:389-90 , Ref.2:261,


Ref.3:47-8,51-3]. Este método permite a determinação absoluta (independente de padrões) da sensibilidade de
um hidrofone e emprega três transdutores: um como projetor, um reversível e o hidrofone a ser calibrado.
Existem variantes deste método. Uma delas emprega somente um transdutor reversível que transmite o pulso
acústico que, uma vez refletido em um refletor perfeito (a superfície da água, por exemplo) é recebido pelo
mesmo transdutor.

sinal
transmitido intervalo de tempo onde
VOUT deve ser medido (só
sinal direto)

sinal
recebido
τp

interferência
transientes do sinal
refletido

τ > τp
Figura 3-12 - Pulsos transmitido e recebido em tanque

Exemplo 3-3. Um projetor de teste empregado a bordo para medições do sistema sonar foi calibrado
em um tanque, ou seja, teve sua resposta de transmissão medida em diferentes freqüências.
Empregou-se para tanto um hidrofone padrão cuja sensibilidade é de -185 dB re 1V/µPa na faixa de
freqüências de interesse. O projetor foi excitado com 40 V pico-a-pico de um pulso CW de 7KHz. A
voltagem de saída do hidrofone instalado a 1m do projetor foi de 22,5 mV pico-a-pico. (a) Qual a
resposta de transmissão do projetor? (b) Se fosse empregado o método da substituição, qual seria o
valor da atenuação lido?

(a) Substituindo os valores dados na Equação ( 3-16 ), obtemos:

22,5 × 10 −3 40
20 log = 20 log + SV − 20 log 1 + ( −185) ∴ SV = 120 dB re 1µPa / V @ 1m
2 2 2 2

(b) Substituindo d, SV e Mo na Equação ( 3-17 ), obtemos:

3-15 VERSÃO 1.0


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AdB = −120 + 20 log 1 − ( −185) = 65 dB

Exemplo 3-4. Um projetor padrão de resposta 110 dB re 1 µPa/V @ 1m (@ 10 KHz) é excitado com
um pulso CW de 10 KHz com 100V pico-a-pico. A forma de onda de voltagem de saída em um
hidrofone instalado a 5m do projetor é armazenada em um osciloscópio digital. A mesma voltagem de
100 V pico-a-pico é aplicada na entrada de um atenuador ajustável calibrado. O valor da atenuação é
variado até que a sua voltagem de saída coincida com a voltagem de saída do hidrofone previamente
medida, o que ocorre quando a atenuação é de 83 dB. (a) Qual a sensibilidade do hidrofone a
10KHz? (b) Qual foi a voltagem pico-a-pico de saída do hidrofone ?

(a) Substituindo os valores dados na Equação ( 3-17 ), obtemos:

83 = −110 + 20 log 5 − M oc ∴ M oc = −179 dB re 1V / µPa

(b) Usando a Equação ( 3-16 ), obtemos:

100 VINp− p
83 = 20 log − 20 log ∴VINp− p = 7,08 mV (pico - a - pico)
2 2 2 2

Exercícios de Fixação

1. Esboce a curva de impedância de um transdutor na região da primeira ressonância, na formas retangular


e círculo de admitância, identificando as freqüências de ressonância série e paralela e de máxima e mínima
admitâncias.

2. Desenhe o circuito equivalente de um projetor na região de primeira ressonância e identifique cada


componente e o que cada um representa.

3. Qual a relação entre o fator de qualidade mecânico QM e o diâmetro do círculo de admitâncias próximo
à primeira ressonância?

4. Com base nas curvas de impedância e no círculo de admitâncias mostrados nas figuras, defina as
freqüências (a) fS e fm e (b) fp e fn.

5. Qual a resposta de transmissão (dB re 1µPa/V @ 1m) de um transdutor excitado com um sinal senoidal
de 100 V eficazes e cuja pressão resultante tem valor eficaz (a) 100 Pa medida a 1m do transdutor; (b) 1,094
mbar medida a 1jd do transdutor.

6. Qual a resposta de recepção, em dB re 1V/µPa, de um hidrofone cuja (a) voltagem de saída é de 10


mV pico-a-pico quando excitado por uma onda acústica de nível sonoro 100 dB re 1µPa (b) voltagem de saída é
de 1 mV pico-a-pico quando excitado por uma onda acústica de -20 dB re 1µbar?

7. Descreva os métodos de calibração de transdutores por medição direta de voltagens e por substituição.

8. A que distância devem ser colocados um projetor cuja superfície ativa tem forma quadrada com
diagonal de 20cm e um hidrofone esférico de 2cm de diâmetro, para calibração em um tanque na freqüência de
(a) 1KHz e (b) 100KHz, supondo velocidade de propagação do som de 1500m/s?

8. Qual a vantagem de se empregar o método da reciprocidade para se calibrar transdutores?

9. Porque a técnica de pulsos deve ser empregada na calibração de transdutores?

3-16 VERSÃO 1.0


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3.3 CARACTERÍSTICAS DIRECIONAIS E NÍVEL DA FONTE

A pressão irradiada por um radiador acústico é, em geral função da direção. Somente radiadores
muito pequenos (em relação ao comprimento de onda), chamados pontuais, são omnidirecionais. Em termos de
transdutores, a resposta de transmissão varia com a direção, medida em relação a uma direção de referência, em
que se mede a pressão. O mesmo ocorre na recepção. Os hidrofones apresentam sensibilidade que é função da
direção de chegada da onda acústica. Transdutores reversíveis apresentam, numa dada freqüência, as mesmas
características direcionais operando como projetor ou hidrofone. Podemos então escrever:

SV (θ ,ϕ ) = SV max + 20 log H (θ ,ϕ ) = SV max + HdB (θ ,ϕ ) ( 3-18 )


e
M oc (θ ,ϕ ) = M oc max + 20 log H (θ ,ϕ ) = M oc max + HdB (θ ,ϕ ) ( 3-19 )

onde H(θ,ϕ) é o fator de direcionalidade do transdutor, HdB é o seu correspondente em dB e (θ,ϕ) são
ângulos do sistema de coordenadas esféricas, conforme indicado na Figura 3-13. O fator H(θ,ϕ) é normalizado,
isto é, tem valor máximo unitário (logo HdB tem valor máximo 0 dB). A direção (θ,ϕ) na qual o fator direcional é
máximo (unitário) é denominado eixo acústico do transdutor e, neste eixo, Moc = Mocmax e SV = SVmax, ou seja é a
direção onde há máxima sensibilidade de um hidrofone ou máxima irradiação de um projetor. Estes valores
máximos são os medidos conforme descrito na Seção anterior.

3.3.1 Diagrama de Irradiação

A Figura 3-13 apresenta o sistema de coordenadas de referência. As medições de características


direcionais (SV ou Moc) são realizadas com o ponto de medição de campo ou localização da fonte de campo,
conforme o caso, a distâncias correspondentes à condição de campo distante:

L2
Z r≥ ( 3-13 )
λ
M(x,y,z)
θ onde r é a distância do ponto de medição M(x,y,z) ao
transdutor, L é a maior dimensão da face ativa dos
r
transdutores envolvidos na medição (seja o sob teste ou o
padrão) e λ é o comprimento de onda.
Y
O diagrama de irradiação é a representação
ϕ gráfica do fator direcional em dB, HdB. Normalmente ele é
X
plotado em coordenadas polares e explora as simetrias do
transdutor, de modo que somente um ou dois gráficos (em
Figura 3-13 - Sistema de Coordenadas função de θ ou ϕ, com o outro ângulo mantido constante)
são suficientes para representá-lo.

Um exemplo de diagrama de irradiação é mostrado na Figura 3-14 ‡. Devido à simetria do arranjo de


transdutores, o diagrama não varia com ϕ, isto é, o fator direcional é função somente de θ. O diagrama mostrado
corresponde a ϕ = ±90o. Observa-se a simetria do diagrama em relação ao eixo Z. O diagrama completo
tridimensional é representado pela figura gerada pela rotação do diagrama apresentado em torno do eixo Z. A
Figura 3-14 deve ser interpretada como uma seção reta principal do diagrama tridimensional.


Este diagrama refere-se a um arranjo linear de 12 transdutores pequenos igualmente espaçados de 0,3λ que são
ligados de modo que o máximo da emissão ocorre a cerca de 45° do eixo Z

3-17 VERSÃO 1.0


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Z largura
Z
θ M(x,y,z) de feixe
entre nulos
r θ 2∆θnulo
Y eixo
acústico
X ϕ

lóbulo
principal H(θ )dB

lóbulos lóbulo
secundários principal

nulos

arranjo
(array)
linear
Figura 3-14 - Diagrama de irradiação de arranjo linear

O lóbulo principal é a região do diagrama nas proximidades do máximo absoluto do fator direcional.
Os demais máximos (relativos) ocorrem nos lóbulos secundários. Uma linha reta que passe pelo centro do
diagrama e pelo ponto de máximo do lóbulo principal é um eixo acústico. Um parâmetro importante é o nível do
lóbulo secundário, definido pela diferença, em dB, entre o nível do lóbulo principal (0 dB, pois H(θ) é
normalizado) e o maior nível de lóbulo secundário. Para arranjos lineares onde os elementos vibram com mesma
amplitude (ou são amplificados pelo mesmo fator, no caso de hidrofones) este valor é de 13 dB. Entre os lóbulos
há direções onde a pressão irradiada (ou sinal recebido) é zero: são os nulos do diagrama (correspondem a SV e
Moc → -∞).

O lóbulo principal é caracterizado por uma largura de feixe, definida pelo ângulo compreendido pelo
lóbulo para um certo valor de HdB especificado. Podemos definir larguras de feixe entre nulos, conforme
indicado na Figura 3-14. Outras larguras empregadas são as correspondentes aos pontos do lóbulo principal 3
dB, 6 dB e 10 dB abaixo do máximo [larguras de feixe de -3 dB (2∆θ3dB), de -6dB (2∆θ6dB) e de -10 dB
(2∆θ10dB) respectivamente]. A largura de feixe de -6dB é apresentada na Figura 3-15.

Para facilitar a leitura, os diagramas de irradiação são representados sobre uma escala de ângulos
versus níveis em dB, conforme indicado na Figura 3-15, onde é mostrado o diagrama correspondente a um
pistão circular abafado de raio igual a cerca de 2λ. O pistão circular é um círculo vibrante. Ele é dito abafado
quando solidário a um plano rígido (não vibrante). Transdutores de ecobatímetro instalados em cascos de navios
comportam-se aproximadamente como pistão circular. Um outro exemplo é o do alto-falante instalado em uma
caixa acústica.

Qual a importância da largura do feixe e do nível de lóbulos secundários para sistemas sonar?

A largura do feixe está associada à medição da marcação do sinal recebido. Nos sonares de busca
antigos, empregava-se um projetor do tipo pistão conteirado pelo operador. A marcação do alvo é estimada pela
amplitude do eco. Se o projetor (ou seja, o eixo acústico) estiver apontado para o alvo, o eco será máximo.

3-18 VERSÃO 1.0


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Porém, nas proximidades da direção do feixe acústico o fator direcional varia pouco, de modo que marcações
relativamente precisas só serão medidas se o feixe for “estreito”, i.e., se a largura de feixe for pequena. O erro de
marcação é da ordem da largura de feixe de -3dB. Mesmo nos sonares modernos, que empregam técnicas mais
sofisticadas de estima de marcação, ainda é válida a conclusão de que menores larguras de feixe resultam em
menores erros de marcação. Uma outra característica associada à largura de feixe é a capacidade de um sonar
distinguir dois alvos próximos. Quanto menor a largura de feixe, maior a capacidade do sistema em resolver
alvos próximos.

O nível de lóbulos secundários está associado à característica de rejeição de interferências. Suponha a


situação de dois alvos, um na direção do feixe acústico (digamos, “alvo desejado”) e outro na direção do maior
lóbulo secundário (“alvo interferente”). O sinal do alvo desejado será atenuado, em razão do diagrama de
irradiação, de 0dB. O sinal do alvo interferente será atenuado pelo valor do nível do lóbulo secundário, digamos
13dB. Se ambos os alvos produzem o mesmo SPL na face do transdutor, então a voltagem decorrente do alvo
interferente será 13 dB menor que a do desejado e não haverá problema em “escutá-lo”. Se, porventura o SPL
interferente for 13dB maior que o desejado, então, nos terminais do transdutor, a voltagem de sinal decorrente
dos dois alvos será igual, i.e., a razão sinal/interferência será de 0 dB e não se conseguirá distinguir entre os
dois. A situação piora quanto maior o nível interferente. Quanto menor o nível de lóbulos secundários, melhor o
sistema sonar em termos de rejeição de interferências.

Z
Z
θ M(x,y,z)
ϕ = -90° ϕ = 90°
r
Y 2∆θnulo

ϕ
X 2∆θ6dB

lóbulos 0° lóbulo
secundários principal

0dB
-20dB
90° 90°

pistão
circular

Figura 3-15 - Diagrama de irradiação de um pistão circular

3.3.2 Diretividade e Índice de Diretividade

Conforme discutido no Capítulo 1, uma fonte pontual (ominidirecional) em espaço livre irradiando
uma potência acústica Πac acarreta uma intensidade dada por

Π ac
I omni = (fonte omnidirecional em espaço livre) ( 3-20 )
4πr 2

3-19 VERSÃO 1.0


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A potência acústica da fonte pontual será o produto da área da esfera (onde a potência é distribuída) 4πr2 pela
intensidade.

No caso de uma fonte direcional, a potência acústica associada a uma área elementar dS localizada a
uma distância r na direção (θ,ϕ) será (o produto da intensidade por aquela área):

dΠ ac = I (r ,θ ,ϕ )dS = I (r ,θ ,ϕ ) r 2 dΩ ( 3-21 )

onde dΩ = senθ dϕ dθ é o ângulo sólido subentendido pela área elementar dS = r 2


dΩ. Usando o fator
direcional, a Equação ( 3-21 ) pode ser escrita como

dΠ ac = I (r ,θ ,ϕ ) r 2 dΩ = I eixo (r ) H (θ ,ϕ ) r 2 dΩ
2
( 3-22 )

onde Ieixo(r) é o valor da intensidade na direção do eixo acústico do transdutor. A potência total é obtida pela
integração de dΠac sobre a superfície da esfera de raio r:

2π π
Π ac = I eixo (r ) r 2 ∫ H (θ ,ϕ ) dΩ = I eixo (r ) r 2 ∫ ∫ H (θ ,ϕ ) sen θ dϕ dθ
2 2
( 3-23 )

0 0

Sejam duas fontes, uma omnidirecional e outra direcional, irradiando a mesma potência acústica. A
intensidade no eixo acústico da fonte direcional, Ieixo(r), será maior que a intensidade decorrente da fonte
omnidirecional, Iomni(r). A diretividade da fonte direcional é definida pela razão entre essas duas intensidades:

I eixo (r ) P 2 eixo (r )
D= = ≥1 ( 3-24 )
I omni (r ) P 2 omni (r )

onde P é a amplitude ou valor eficaz das pressões associadas às fontes. A partir das Equações ( 3-20 ) e ( 3-23 ),
obtém-se a expressão da diretividade:


D= ( 3-25 )
∫ π H (θ ,ϕ ) dΩ
2

A diretividade foi definida em termos de potência irradiada e se aplica à operação do transdutor como
projetor. No caso de hidrofones, define-se diretividade em termos de ganho de relação sinal/ruído (SNR).
Suponha dois hidrofones expostos a uma onda acústica plana em meio a ruído isotrópico. Um dos hidrofones é
omnidirecional e o outro, direcional. Mede-se os valores da relação sinal/ruído SNRomni nos terminais do
hidrofone omnidirecional e SNRdir no direcional. A diretividade é então definida como:

SNRdir
D= ≥1 ( 3-26 )
SNRomni

Nas condições estabelecidas (sinal onda plana, ruído isotrópico) o desenvolvimento da Equação ( 3-
26 ) nos levará a uma expressão idêntica à da Equação ( 3-25 ). Ou seja, embora definidas de modo diferente, as
diretividades de transmissão e recepção (de um mesmo transdutor) são idênticas.

O índice de diretividade é a diretividade expressa em dB:

3-20 VERSÃO 1.0


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DI = 10 log D ≥ 0 dB ( 3-27 )

Embora seja comum que sistemas sonares empreguem o mesmo transdutor na transmissão e recepção
(usualmente um arranjo de elementos transdutores), o diagrama de irradiação (ou seja, o fator direcional H) pode
não ser o mesmo devido a diferenças no modo como o sinal é aplicado na transmissão e processado na recepção.
Para evitar confusão usa-se o símbolo DIT para representar o índice de diretividade na transmissão.

Exemplo 3-5 Um dipolo acústico consiste de duas fontes acústicas pontuais próximas de mesma
amplitude e fases em oposição. Sem fugir à generalização, podemos considerá-lo localizado no eixo
Z e centrado da origem. O fator direcional do dipolo é dado por H(θ ) = cosθ, onde θ é o ângulo
medido em relação ao segmento de reta que une as duas fontes (no presente caso, eixo Z). Qual a
diretividade e o índice de diretividade do dipolo acústico?

Da Equação ( 3-25 ) temos:

4π 4π
D= = 2π π =
∫ π cos(θ ) ∫ ∫
2
dΩ
2
4
cos(θ ) sen(θ ) dθ dϕ
0 0

4π 2 2
= π = π = =3
2π ∫ cos(θ ) sen(θ ) dθ ∫
2
(1 − sen(θ ) 2 ) sen(θ ) dθ 2/3
0 0

O índice de diretividade é DI = 10logD = 4,77 dB.

3.3.3 Nível da Fonte

O nível da fonte SL é definido como o nível de pressão sonoro referido a 1 m do centro acústico do
projetor. A técnica de medição do SL é similar àquela descrita para calibrar-se um transdutor. Um hidrofone
padrão (aferido) é instalado a uma distância d do projetor, na direção do seu eixo acústico§. Emite-se com o
sonar e mede-se a voltagem eficaz na saída do hidrofone (com um osciloscópio ** com memória, por exemplo).
Sendo a sensibilidade do hidrofone padrão, Moc, conhecida, calcula-se o nível de pressão sonora na face do
hidrofone como [vide Equação ( 3-16 )]:

SPL(d ) = M oc − 20 logVOUT

e o nível da fonte [vide Equação ( 3-14 )]:

SL = SPL(1m) = SPL( d ) + 20 log d = M oc − 20 logVOUT + 20 log d ( 3-28 )

A relação entre o nível da fonte, a potência acústica e a diretividade de transmissão do transdutor foi
indicada no Capítulo 1 e pode ser deduzida a partir das Equações ( 3-20 ), ( 3-23 ), ( 3-24 ), ( 3-25 ) e da relação
entre intensidade e pressão eficaz no eixo acústico do projetor:

§
Nos sonares modernos, o operador sonar pode controlar o diagrama de irradiação, posicionando o eixo acústico
em diferentes conteiras. Nos navios, normalmente a medição de SL é realizada com o hidrofone padrão instalado
em um ponto pré-determinado (usualmente na proa). Emite-se com o sonar na direção do hidrofone.
**
Com o osciloscópio mede-se o valor pico-a-pico Vpp e calcula-se VRMS = V pp (2 2 ) .
3-21 VERSÃO 1.0
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2
Peixo (r )
I eixo (r ) =
ρo c

que no caso da água do mar resulta (em dB re 1µPa a 1 m do projetor) em

Peixo(1m)
SL = SPL(1m) = 20 log = 170,9 + 10 log Π ac + DI T ( 3-29 )
1µPa

3.3.4 Cavitação e Nível da Fonte

A cavitação é um fenômeno que compreende a formação, sob certas condições, de bolhas gasosas no
meio líquido. Dependendo das condições que deram origem à bolha, ela oscilará e, em seu interior, pressões e
temperaturas elevadíssimas podem ocorrer. Em contato com uma superfície, a bolha colapsa provocando jatos
gasosos de alta velocidade. É o que ocorre, por exemplo, em hélices de navios operando em grandes rotações e
que leva ao desgaste do material que o compõe. Outros fenômenos, tais como luminescência e decomposição
química são normalmente associados à ocorrência de cavitação. Sob condições controladas, a cavitação pode ser
empregada para limpeza de superfícies e processamento de materiais.

Para que ocorra cavitação na água é preciso que a pressão em um determinado ponto caia a valores
próximos à pressão de vapor. Em água pura é preciso ainda que haja pressão negativa suficiente para romper as
cadeias de moléculas (a água pura apresenta alta resistência à tração). No mar, por outro lado, a presença de
impurezas e bolhas gasosas facilitam o início do processo de cavitação (são os chamados núcleos de cavitação).

Quando um transdutor é excitado, as variações acústicas de pressão se sobrepõem à pressão


hidrostática. A pressão máxima será a soma da hidrostática Po com a amplitude da pressão acústica Pac. A
pressão mínima será a diferença entre esses dois valores. Ao se aumentar a excitação do projetor, Pac aumenta
até que, quando a amplitude for igual à pressão hidrostática, haverá condições para ocorrer cavitação. Deste
modo, podemos dizer que o limiar de cavitação, definido como o valor de amplitude de pressão acústica, em
atm, em que ocorre cavitação é dado por Pc = Po = 1+h/10, onde h é a profundidade do projetor em metros. É
por vezes conveniente definir o limiar de cavitação em termos da intensidade equivalente de onda plana em
W/m2. Deste modo temos [Ref.3:76-80]:

Pc ≈ 1 + h 10 (atm)

(1,013 × 10 )
2
5
Pc 2 ( 3-30 )
ou Ic = = 3,3 × 103 Pc 2 (W / m 2 )
ρo c

Uma vez calculada a intensidade limiar de cavitação, a potência acústica (máxima que o projetor pode
emitir) correspondente é obtida multiplicando-se seu valor pela área da superfície vibrante do projetor. Na
prática observam-se valores de limiar correspondentes, em média, à metade do valor de intensidade calculada
pela Equação ( 3-30 ).

Exemplo 3-6 O transdutor de um sonar de casco opera a 5m de profundidade. A superfície radiante


tem uma área de 6 m2 distribuída em 400 elementos iguais que compõem o arranjo transdutor.
Sabendo-se que a diretividade de transmissão é de 8 dB quando o sonar opera no modo OMNI e que
a eficiência do projetor é de 70%, calcular (a) a pressão hidrostática na profundidade de operação do
transdutor; (b) a pressão limiar de cavitação em atm e Pa; (c) a intensidade limiar de cavitação em
W/m2; (d) a potência acústica total máxima que pode ser irradiada, considerando o valor prático de
limiar de cavitação e a potência acústica emitida por cada elemento transdutor; (e) a potência

3-22 VERSÃO 1.0


IPqM-013-0177-ET/97

elétrica de sinal que os amplificadores de potência devem fornecer ao transdutor como um todo e a
cada elemento; (f) o nível da fonte máximo no modo OMNI.

(a) Po = 1+5/10 = 1,5 atm

(b) Pc ≈ Po = 1,5 atm = 1,52×105 Pa

(c) Ic = 3,3×103 Pc2 = 3,3×103×1,52 = 7,43×103 W/m2 = 7,43 KW/m2

(d) Πac = 0,5×Ic×A = 0,5×7,43×6 = 22,3 KW total

Πac = 22,3/400 KW = 55,8 W por elemento

(e) Πele = Πac/η = 22,3/0,7 = 31,9 KW total

Πele = 55,8/0,7 = 79,7 W por elemento

(f) SLmax = 170,9 +10log Πac+DIT = 170,9 + 10log 22.300 + 8 = 222 dB re 1µPa @ 1m

Os cálculos indicados no Exemplo 3-6 fornecem uma aproximação razoável do valor de potências e
níveis da fonte máximos que se pode esperar em sistemas sonar.

O limiar de cavitação impõe uma limitação ao valor máximo do nível da fonte. Existem meios de se
contornar, em parte, esta limitação:

• aumento da pressão hidrostática: pode ser obtido aumentando-se a profundidade de operação ou


acondicionando-se o projetor em um invólucro pressurizado. Neste último caso, a superfície do
invólucro em contato com a água deve ser grande o suficiente para evitar a cavitação (i.e., a
intensidade acústica na superfície externa do invólucro deve estar abaixo do limiar de cavitação da
água à pressão ambiente;

• líquido de maior limiar: usa-se o projetor em um invólucro contendo um líquido de características


acústicas similares à da água, porém com um maior limiar de cavitação (maior viscosidade e livre
de bolhas de ar), como, por exemplo, óleo de rícino;

• maiores freqüências: o limiar de cavitação aumenta com a freqüência.

• redução da largura de pulso: reduz o tempo disponível para que os núcleos de cavitação cresçam a
ponto de que seus efeitos sejam observáveis. Na água, larguras de pulso abaixo de cerca de 5 ms
aumentam o limiar.

Exercícios de Fixação

1. Esboce um diagrama de irradiação, indicando o(s) lóbulo(s) principal(is) e secundários, nulos e eixo(s)
acústico(s).

2. Com relação ao dipolo acústico definido no Exemplo 3-5: (a) Esboce o diagrama de irradiação. (b)
Qual a largura de feixe entre nulos, de -3dB e de -6dB? (c) Qual a posição (ângulo θ) do(s) eixo(s) acústico(s)?
(d) Quantos lóbulos secundários existem? (e) Qual o valor do fator direcional (linear e em dB) nas direções 0°,
±30°, ±60°, ±90° e ±150°?

3-23 VERSÃO 1.0


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3. O fator direcional de um transdutor em linha (cilíndrico de pequeno diâmetro) de comprimento L


centrado na origem e suportado pelo eixo Z é dado por H(θ ) = senv/v, onde v = (πL/λ)cosθ. Para uma
freqüência na qual o comprimento do transdutor é o dobro do comprimento de onda, (a) esboce o diagrama de
irradiação. (b) qual a largura de feixe entre nulos? (c) qual a posição do(s) eixo(s) acústico(s)? (d) quantos
lóbulos secundários existem na região 0≤ θ ≤π/2 ? (e) Qual o valor do fator direcional (linear e em dB) nas
direções 0°, ±30°, ±60°, ±90° e ±150°?

4. Uma fonte omnidirecional é excitada por um pulso CW e irradia uma potência sonora que resulta em
um nível de pressão sonora de 160 dB re 1µPa a 100 m de distância. Um segundo projetor irradia a mesma
potência e produz um nível de 167 dB re 1µPa na mesma distância, medida na direção do seu eixo acústico.
Qual a diretividade e o índice de diretividade do segundo projetor?

5. Um hidrofone omnidirecional produz, quando excitado por ruído ambiente isotrópico, uma voltagem de
10mV medida na saída de um conjunto filtro/amplificador. Quando uma onda plana produzida por um projetor
distante incide no hidrofone, a voltagem de saída é de 1V na freqüência da onda plana. Um conjunto de sensores
na mesma posição do hidrofone produz, empregando o mesmo filtro/amplificador, uma voltagem de 40 mV de
ruído e de 16V quando a onda plana (propagando-se na direção do eixo acústico do conjunto de sensores) está
presente. Qual a diretividade e o índice de diretividade do conjunto de sensores?

6. Um valor típico de índice de diretividade de conjuntos transdutores de sonares ativos é 20 dB. Níveis
da fonte podem atingir cerca de 230 dB re 1µPa @ 1m. (a) Qual o valor da potência acústica irradiada? (b)
Supondo que os transdutores tenham uma eficiência de 60%, qual a potência elétrica de excitação
correspondente? (c) Supondo ainda que os amplificadores de potência tenham eficiência de 60%, qual a
potência elétrica entregue pela fonte de alimentação aos estágios de saída do sonar durante a transmissão?

7. Descreva o processo de cavitação em transdutores sonar e cite suas conseqüências.

8. Defina limiar de cavitação e descreva processos para aumentá-lo.

3.4 ARRANJO DE ELEMENTOS

Os arranjos de elementos transdutores são amplamente empregados em sistemas sonares. As suas


principais vantagens são:

• transmissão de altas potências acústicas, permitindo obter maiores SL que os possíveis com
elementos isolados;

• controle do diagrama de irradiação (conteira do eixo acústico, redução de lóbulos secundários,


adaptabilidade do diagrama ao campo acústico recebido) através da seleção de elementos ativos na
transmissão e recepção, introdução de retardos entre elementos e diferentes amplitudes de sinais
(na transmissão) ou ganhos (na recepção).

Os arranjos mais empregados são o linear, onde os sensores são dispostos em linha reta, usualmente
igualmente espaçados (arranjos rebocados -- towed arrays, sistemas fixos de vigilância, arranjos de flanco em
submarinos) e o cilíndrico, onde os elementos transdutores são dispostos em uma superfície cilíndrica (sonares
ativos e passivos de casco). Arranjos planares, com transdutores dispostos em uma superfície retangular ou
circular, têm sido empregados em sistemas especiais e experimentais.

3-24 VERSÃO 1.0


IPqM-013-0177-ET/97

3.4.1 Arranjos Lineares

O arranjo linear consiste de elementos transdutores dispostos em linha reta. A Figura 3-16 apresenta
um arranjo linear de hidrofones pontuais igualmente espaçados de d. O sinal do hidrofone n é aplicado a um
multiplicador e sofre, a seguir, um retardo de valor nτ. Todos os sinais assim processados são somados, gerando
um sinal de saída y(t). O conjunto formado por multiplicadores, elementos de retardo e somador é denominado
um conformador de feixe (beamformer) do tipo retarda-e-soma (delay-sum).

frente de
onda d cosθo
plana
θo
N-1 N
d

d
θo
Z
s1(t) s2(t) s3(t) s4(t) sN(t)
c1 × c2 × c3 × c4 × cN ×
. . .
0×τ τ 2τ 3τ (N-1)τ Z
θ M(x,y,z)
r
Y
∑ y(t) ϕ
X

Figura 3-16 - Arranjo linear rebocado e conformador de feixe (beamformer) tipo retarda-soma (delay-
sum)

Um sinal propagando-se como uma onda plana incide no arranjo de uma direção θo. Uma frente de
onda atinge, inicialmente, o hidrofone N e gera o sinal sN(t). Em seguida, atinge o hidrofone N-1 e gera o sinal
sN-1(t) e assim por diante. Após atingir o hidrofone n, a frente de onda deve percorrer uma distância dcosθo antes
de atingir o hidrofone que se segue, n-1. Deste modo, o sinal sn-1(t) será uma versão retardada do sinal sn(t), isto
é

sn −1 (t ) = sn (t − τ )
onde
d cosθo
τ= ( 3-31 )
c

é o retardo entre sinais e c é a velocidade do som.

Para que a saída do somador seja máxima, é preciso que os retardos decorrentes da direção de
propagação sejam compensados, de modo que os sinais a serem somados estejam todos em fase. Esta é a função
dos retardadores. No exemplo da Figura 3-16, o sinal do hidrofone 1 é o mais retardado pela propagação e não
sofre retardo adicional no conformador de feixes. O do hidrofone 2 é submetido a um retardo adicional de valor

3-25 VERSÃO 1.0


IPqM-013-0177-ET/97

τ, ficando em fase com o primeiro. O do hidrofone 3 sofre um retardo adicional de valor 2τ e também fica em
fase com o primeiro, e assim por diante. Obtém-se, deste modo, sinais em fase na entrada do somador, como
desejado.

Caso a frente de onda venha de uma direção diferente de θo, os retardos introduzidos pelo
conformador já não serão adequados para colocar em fase os sinais dos hidrofones e a amplitude do sinal de
saída será reduzida.

O sinal de saída do conformador pode ser representado pela expressão

N
y (t ) = ∑ cn sn (t − (n − 1)τ ) ( 3-32 )
n =1

A partir desta expressão pode-se verificar, quando os coeficientes cn são iguais, que a amplitude do sinal de
saída y(t) varia com o ângulo de incidência da onda plana (marcação da fonte sonora) θ de acordo com a
expressão

 Nπ d  cτ  
sen   cosθ −  
1  λ  d 
H (θ ) =
N π d  cτ   ( 3-33 )
sen   cosθ −  
 λ  d 

onde H(θ ) é o fator direcional (normalizado para valor máximo unitário) do arranjo linear. A Figura 3-17
apresenta um gráfico deste fator, em dB, para um conformador conteirado em θo = 45o.

Naquela Figura observa-se que se o sinal vier na marcação polar 045, não importa por qual bordo: ele
será recebido da mesma maneira. Daí dizer-se que o arranjo linear apresenta, quando empregado como arranjo
rebocado, ambigüidade de marcação. Nos sonares de flanco, um arranjo linear é instalado em cada bordo do
submarino, de modo que o casco serve para isolá-los acusticamente. Como conseqüência, o feixe apontando para
o bordo oposto ao qual o arranjo é instalado é atenuado, reduzindo, ou mesmo eliminando, o problema de
ambigüidade.

A conteira do feixe acústico pode ser alterada variando-se o retardo τ. Pode-se também gerar vários
feixes em diferentes conteiras usando-se vários conformadores de feixe operando sobre o arranjo ou variando
continuamente o retardo. Modernamente, os sonares digitais implementam o conformador como um programa.
Neste caso, os sinais dos hidrofones são digitalizados e o valor das amostras dos sinais são armazenados em
memória. É relativamente simples, nesses sonares, implementar um programa que calcule o sinal de saída para
diferentes valores de retardo, isto é, gerar vários feixes simultaneamente.

As seguintes características gerais do diagrama de irradiação são observadas na Figura 3-17 e podem
ser deduzidas da Equação ( 3-33 ):

• a situação τ = 0 corresponde a θo = ±π/2, i.e., o lóbulo principal está apontado na direção


perpendicular ao arranjo; esta é a situação “broadside”;

• a situação τ = ±d/c corresponde a θo = 0 ou θo = π, i.e., o lóbulo principal está apontado na direção


do arranjo; esta é a situação “endfire”;

3-26 VERSÃO 1.0


IPqM-013-0177-ET/97

• os nulos do numerador ocorrem quando o argumento da função seno do numerador for nulo ou um
múltiplo inteiro de π, isto é, para

cτ λ cτ λ
cosθ = ±n , n = 0, 1, 2... ±n ≤1 ( 3-34 )
d Nd d Nd

90

0 dB

-20dB

ϕ = -90° ϕ = -90°

180 θ=0
Z
ϕ = 90° ϕ = 90°

Z
θ M(x,y,z)
r
Y
90 ϕ
Y X
Figura 3-17 - Diagrama de irradiação de arranjo linear, N = 24, d = 0,3λ.

• os nulos do denominador ocorrem quando o argumento da função seno do denominador for nulo
ou um múltiplo inteiro de π, isto é, para

cτ λ cτ λ ( 3-35 )
cosθ = ± n , n = 0, 1, 2... ±n ≤1
d d d d

• lóbulo primário centrado no eixo acústico do arranjo, na direção onde H(θ ) é unitário, o que
corresponde à direção θ onde há nulo simultâneo do numerador e denominador; esta coincidência
ocorre quando o denominador é nulo (observe que sen(x) ≈ x e H(θ )= 1 quando x → 0):

cτ λ cτ λ
cosθ = ± n , n = 0, 1, 2... ±n ≤1 ( 3-35 )
d d d d

onde se observa que pelo menos dois lóbulos principais ocorrem nas direções correspondentes a
cos θ = cosθo = cτ/d, i.e., θ = θo e θ = -θo (para n = 0). Esta ambigüidade de marcações é típica de
arranjos lineares e decorre da sua simetria cilíndrica em relação ao eixo Z; os demais lóbulos
principais (que ocorrem em direções diferentes de ±θo , ou seja n > 0) denominam-se “grating
lobes”;

• nulos do diagrama localizados nas direções onde o numerador é nulo e o denominador não o é,
correspondentes a

3-27 VERSÃO 1.0


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cτ λ cτ λ
cosθ = ±n , n = 1, 2... ±n ≤ 1, n / N não inteiro ( 3-36 )
d Nd d Nd

• os lóbulos secundários correspondem a máximos relativos de H e ocorrem aproximadamente


nas direções

cτ  1 λ cτ  1 λ ( 3-37 )
cosθ = ± n +  , n = 0, 1, 2... ± n +  ≤1
d  2  Nd d  2  Nd

A Equação ( 3-35 ) indica a possibilidade de ocorrência de lóbulos principais em direções diferentes


da desejada (grating lobes), i.e., θo = ±cos-1(cτ/2) [vide Equação ( 3-31 )]. Para evitar isto, basta fazer d > λ/2.
Nesta condição não haverá valor de n > 0 que satisfaça à condição dada na Equação ( 3-35 ) (só ocorrerá lóbulo
principal nas direções ambíguas correspondentes a cosθo = cτ/d). No caso de um arranjo que seja empregado
exclusivamente na direção broadside, basta satisfazer à condição d > λ para evitar esses lóbulos principais
adicionais.

O nível dos lóbulos secundários, cerca de -13dB (máximo) na Figura 3-17, pode ser controlado
através dos coeficientes cn. Aplica-se um ganho máximo aos elementos centrais, o qual é reduzido para os
elementos afastados do centro do arranjo, no que se denomina tonalização do arranjo (array shading). A Figura
3-18 apresenta um exemplo de coeficientes de “shading”. Dependendo dos valores destes coeficientes,
diferentes níveis e características de lóbulos secundários podem ser obtidos. Para os coeficientes da Figura 3-18,
o diagrama resultante é mostrado na Figura 3-19. Observa-se, em comparação com a Figura 3-17, uma dramática
redução do nível dos lóbulos secundários para, no máximo, cerca de -40 dB. Esta redução do nível de lóbulos
secundários é obtida a custa de uma maior largura de feixe, o que é aparente quando se compara este diagrama
com o da Figura 3-17.

3.4.2 Arranjos Cilíndricos

Os arranjos cilíndricos são empregados em sonares ativos de casco e em alguns modelos de sonares
passivos. O seu funcionamento é análogo ao do linear: introduz-se retardos nos sinais dos elementos para
conteirar-se o eixo acústico na direção desejada.

A Figura 3-20(a) apresenta um arranjo cilíndrico. Ele é formado montando-se elementos transdutores
de modo a compor uma superfície externa cilíndrica. Os elementos em uma mesma vertical formam um stave
(pilha), que são, normalmente, ligados entre si em paralelo. Cada stave pode ser visto como um arranjo linear
vertical que proporciona uma certa direcionalidade no plano vertical.

3-28 VERSÃO 1.0


IPqM-013-0177-ET/97

cn

0.8

0.6

0.4

0.2

0
5 10 15 20 n

Figura 3-18 - Exemplo de coeficientes de shading

90

0dB
-20dB

ϕ = -90° -40dB ϕ = -90°


0
180 Z

ϕ = 90° ϕ = 90°
Z
θ M(x,y,z)
r
Y
90
X ϕ
Y
Figura 3-19 - Diagrama de irradiação com o "shading" da Figura 3-18, N = 24, d = 0,3λ.

3-29 VERSÃO 1.0


IPqM-013-0177-ET/97

17 18 frente
stave 1
(pilha) de
onda
2
τ2 h2
3
y(t) τ1
∑ h1
τ1
4
anel τ2 h2

8 6
7
(a) (b)
Figura 3-20 - Arranjo cilíndrico

Para formar um feixe de recepção horizontal, sinais de diferentes staves são combinados. Na Figura 3-
20(b) é mostrado o conformador de feixes que gera um diagrama de irradiação com feixe acústico passando
entre os staves 3 e 4 (e o centro geométrico do cilindro). Uma frente de onda oriunda daquela direção atinge os
staves 3 e 4 simultaneamente, depois, os staves 2 e 5 e, finalmente, os de número 1 e 6. Em relação aos sinais
gerados nos staves 1/6, os sinais de 3/4 são adiantados em h1/c e os sinais de 2/5 são adiantados em h2/c
segundos, onde c é a velocidade do som. Antes de combinar (somar) os sinais, os retardos correspondentes são
aplicados àqueles sinais, de modo que, na entrada do somador, os sinais oriundos daquela frente-de-onda estarão
em fase. Ondas provenientes de outras direções acarretarão diferentes relações de fase e serão atenuadas. Para se
formar o mesmo diagrama de irradiação, porém com feixe acústico entre os staves 2/3, basta girar o
conformador no sentido anti-horário, de modo que o primeiro stave passa a ser o 18 e o último, o 5. Deste modo,
um mesmo conformador poderia ser usado para formar feixes em diferentes direções ††.

Os sonares ativos de busca empregam, em sua maioria, arranjos cilíndricos. A transmissão dita
omnidirecional ‡‡ é obtida alimentando-se todos os staves em fase. A transmissão direcional é obtida
alimentando-se os staves com sinais defasados, de modo análogo à formação de feixes na recepção (por vezes,
uma certa direcionalidade horizontal é obtida excitando-se, em fase, somente os staves do setor que se deseja
ensonificar). Como a formação de todos os feixes é obtida do mesmo modo (mesmo conformador empregando
os mesmos retardos e uma mesma quantidade de staves), os diagramas de irradiação dos diversos feixes são
idênticos. Tal não ocorre, por exemplo, com arranjos lineares, onde diferentes direções de feixe são obtidas
variando-se o retardo entre elementos; nesses arranjos as larguras de feixe que são função da conteira do feixe.

Se os diferentes elementos transdutores de um stave forem excitados com retardos adequados, pode-
se também controlar a componente vertical do diagrama de irradiação, tal como nos arranjos lineares. Deste
modo pode-se transmitir (ou receber) com o eixo acústico na horizontal ou algum ângulo de depressão, o que
permite explorar melhor as características de propagação de uma determinada área do mar. Em geral, os
sonares de busca ativos possuem um modo de operação MCC (maintenance of close contact) que consiste em

††
no caso da Figura 3-20(b), podem ser formados 18 feixes diferentes, cada um cobrindo um setor de
360/18=20o; a largura de feixe de 3 dB não deve ser maior que 20o para evitar setores “surdos” onde a recepção
de ecos fique prejudicada.
‡‡
a transmissão é ominidirecional somente no plano horizontal, pois os staves impõem, como arranjos lineares
verticais, uma certa direcionalidade no plano vertical.

3-30 VERSÃO 1.0


IPqM-013-0177-ET/97

aumentar a largura de feixe vertical visando possibilitar o acompanhamento de alvos próximos ao navio. Neste
modo de operação, somente alguns transdutores de cada stave são excitados, acarretando uma redução do
comprimento efetivo de cada stave e um conseqüente aumento da largura vertical do feixe.

Do mesmo modo que nos arranjos lineares, pode-se obter melhores características de lóbulos
secundários através de shading aplicado aos diferentes staves, sempre com sacrifício da largura de feixe.

Outras formas de arranjos tem sido empregadas em sonares. Arranjos esféricos, elípticos (cilindros de
seção reta elíptica) e planos. Para formação de feixes direcionais, o princípio é o mesmo: aplicam-se retardos
entre elementos dependendo da direção desejada para o eixo acústico e da posição relativa dos elementos.

Exercícios de Fixação

1. Cite as vantagens do emprego de arranjos de transdutores.

2. Deduza, com base na Figura 3-16, a Equação ( 3-31 ).

3. Verifique que o valor máximo do fator direcional do arranjo linear [Equação ( 3-33 )] é um e ocorre
quando cosθ = cτ /d = cosθo.

4. Explique (usando esboços auxiliares) como a ambigüidade pode ser eliminada se o navio que reboca o
arranjo linear guinar, supondo que o alvo praticamente não muda sua posição durante esta manobra.

5. Faça um gráfico do fator direcional de um arranjo linear de 4 elementos cuja distância entre elementos
é de λ /2 quando o conformador de feixes emprega um retardo correspondente à direção (a) broadside e (b)
endfire. Verifique a correção dos valores de ângulos previstos nas Equações ( 3-34 ) a ( 3-37 ) para este caso em
particular.

6. O sonar ativo AN/SQS-26 emprega um arranjo cilíndrico de transdutores consistindo de 72 staves de 8


elementos cada. (a) Quantos feixes é possível formar? (b) Qual deve ser a largura de feixe de 3 dB a fim de se
evitar a ocorrência de setores “surdos”?

3.5 EFEITOS NÃO LINEARES [Ref. 3:81-6]

Em uma primeira aproximação, os fenômenos acústicos são considerados lineares, i.e., a variação de
densidade do meio é proporcional à variação de pressão. Esta aproximação é válida quando se trata de variações
de pressão pequenas em comparação com a pressão hidrostática do meio.

No entanto, em várias situações esta aproximação é falha, tais como nas proximidades de projetores
sonar e em explosões submarinas. Os resultados obtidos até a presente Seção, baseados na acústica linear,
devem ser encarados como uma primeira aproximação.

As conseqüências dessas não linearidades podem ser entendidas por analogia com circuitos
eletrônicos, onde as não linearidades são responsáveis por geração de harmônicos e mistura de freqüências. No
mar, um projetor excitado com um sinal de uma única freqüência pode provocar a emissão acústica de
harmônicas e sub-harmônicas. Duas freqüências emitidas simultaneamente podem se combinar, resultando na
propagação de sinais nas freqüências originais e nas freqüências soma e diferença.

3.5.1 Geração de Harmônicos

Um efeito das não linearidades é que pressões acústicas de valores diferentes propagam-se a
diferentes velocidades. Valores altos de pressão (negativa ou positiva) propagam-se a velocidades maiores.

3-31 VERSÃO 1.0


IPqM-013-0177-ET/97

Deste modo, uma onda senoidal de grande amplitude tem diferentes velocidades de propagação para
os valores de pressão próximos aos picos e os próximos a zero (relativo à pressão hidrostática). Após algum
tempo de propagação, a onda estará distorcida, o que corresponde à geração de harmônicas. Parte da potência
acústica é transferida para os harmônicos, onde é mais rapidamente atenuada devido à maior absorção das
freqüências altas no mar.

Em termos práticos, esse efeito é contrabalançado pela própria perda na propagação, que reduz a
amplitude do sinal com o aumento da distância à fonte, reduzindo, assim, os efeitos não-lineares.

3.5.2 Geração de Subharmônicos

A geração de subharmônicos está associada à existência de bolhas gasosas na água. Tais bolhas
ocorrem em organismos marinhos, na esteira de navios, nas proximidades da superfície do mar e junto a
partículas em suspensão.

Uma bolha gasosa em presença de um campo acústico tende a vibrar em sua freqüência de
ressonância natural, se a freqüência da onda acústica é seu múltiplo. Ao vibrar, gera som em um subharmônico
da freqüência de excitação.

As bolhas geradas pela cavitação de projetores dão origem a subharmônicos. Este fato é empregado,
em laboratório, para se verificar a ocorrência de cavitação e, deste modo, medir o limiar de cavitação. Excita-se
o projetor com uma freqüência e usa-se um hidrofone para verificar o surgimento de um sinal na metade da
freqüência original. Aumenta-se o nível da fonte até que o subharmônico apareça.

3.5.3 Geração de Freqüência-Diferença

Se a água for excitada por duas ondas acústicas de alta amplitude e freqüências diferentes (digamos, f1
e f2), observa-se a geração de ondas nas freqüências soma e diferença, além das freqüências originais e seus
harmônicos. O sinal acústico na freqüência diferença (f1 - f2), menor que as demais, sofre menor absorção que os
demais.

Este sinal na freqüência diferença tem uma série de características interessantes que tornam este
fenômeno um candidato à experimentação e, possivelmente, ao uso em sistemas sonar:

• não ocorrem lóbulos secundários, i.e., não há emissão da freqüência diferença fora do lóbulo
principal;

• a largura do feixe é determinada pelas características direcionais dos projetores nas freqüências
originais f1 e f2, que são maiores que a diferença. Maiores direcionalidades são relacionadas a um
maior tamanho de transdutores em comparação com o comprimento de onda e são mais facilmente
obtidas em freqüências altas pois não exigem grandes dimensões físicas;

• é inerentemente banda larga, i.e., se f1 e f2 forem próximas (digamos 101 KHz e 100 KHz),
grandes variações percentuais da freqüência gerada (1 KHz no nosso exemplo) são obtidas com
pequenas variações percentuais das freqüências originais (se f1 for aumentada em cerca de 1%,
passando a 102 KHz, a freqüência diferença passa a ser 2 KHz, 100% acima do valor original). É
complexo projetar-se um sistema para uma banda de 100% da freqüência nominal; para 1% é
fácil. Deste modo pode-se operar com transdutores de alto Q e alta eficiência e obter-se largura de
feixe constante em toda a banda;

• não há problema de cavitação, uma vez que as freqüências originais f1 e f2 podem ser elevadas;

3-32 VERSÃO 1.0


IPqM-013-0177-ET/97

O preço a se pagar é que somente uma pequena fração da potência emitida é convertida em sinal na freqüência
diferença.

Exercícios de Fixação

1. Sob que condições as aproximações da acústica linear são válidas?

2. Descreva o mecanismo de geração de harmônicos decorrente da propagação.

3. Descreva o mecanismo de geração de subharmônicos.

4. Descreva o mecanismo de geração de freqüência diferença e vantagens do processo que podem ser
exploradas para fim de implementação de um sistema sonar de baixa freqüência.

PROBLEMAS

3.1 O círculo de admitâncias de um transdutor operando na água foi plotado e os seguintes dados foram
levantados: fS = 7 KHz, f1 = 6,2 KHz, f2 = 7,9 KHz, YIN = 10+j0,066 mS na freqüência de ressonância série.
Em medições realizadas no ar foi determinado que R1 = 10 Ω e Ro = 100 MΩ. Determine (a) a resistência
equivalente de radiação; (b) a capacitância de entrada em freqüências baixas; (c) o fator de qualidade
mecânico na água; (d) a eficiência máxima. Resp.: (a) 90 Ω; (b) 1,5 nF; (c) 4,11; (d) 0,90.

3.2 O nível de pressão sonora medido a 1 m de um projetor na direção de seu eixo acústico é de 120 dB re 1
µPa quando a voltagem de entrada senoidal tem valor pico-a-pico de 30V. A impedância de entrada medida
na mesma freqüência é de (100-j0,70) Ω. Determine a resposta de transmissão (a) de voltagem e (b) de
corrente do projetor. Resp.: (a) 99,5 dB re 1 µPa/V @ 1 m; (b) 139,5 dB re 1 µPa/A @ 1 m.

3.3 O projetor do problema anterior foi excitado na mesma freqüência, gerando um campo acústico de nível 135
dB re 1 µPa medido na mesma posição daquele problema. Qual a (a)voltagem e (b) a corrente de excitação
pico-a-pico? Resp.: (a) 170 Vpp; (b) 1,7 A.

I C1 3.4 O circuito equivalente de um hidrofone cerâmico


em freqüências baixas é mostrado na Figura 3-21.
Para um determinado hidrofone padrão foi levantado
que C1 = 1 nF e Co = 10 pF. Ao ser excitado por
uma onda plana de freqüência baixa de nível 80 dB
re 1 µPa, mediu-se uma voltagem de saída V, a
circuito aberto, de 28,3 µV pico-a-pico com o
V Co
auxílio de um amplificador de instrumentação. Em
seguida adicionou-se um cabo elétrico de 100 m de
comprimento, a fim de que o hidrofone pudesse ser
VP = AP/ϕ empregado a bordo. O cabo apresenta perdas muito
baixas e uma capacitância de 10 pF por metro de
Figura 3-21 - Circuito equivalente de hidrofone comprimento. Qual a sensibilidade do hidrofone
cerâmico em freqüências baixas (a) original e (b) com o cabo elétrico adicional? (c)
Qual a voltagem de saída do amplificador de
instrumentação se seu ganho de voltagem é de 60 dB? Resp.: (a) -180 dB re dB re 1 V/µPa; (b) -186 dB re 1
V/µPa; (c).28,3 mVpp.

3.5 Durante a medição do ROS de um sonar de casco que opera a 5,5 KHz, aplicou-se um pulso senoidal de 40
Vpp ao transdutor de teste cuja resposta de transmissão é mostrada na Figura 3-8. O transdutor de teste

3-33 VERSÃO 1.0


IPqM-013-0177-ET/97

estava posicionado a 20m do arranjo transdutor do sonar, na direção do eixo acústico de um de seus feixes.
No ponto de teste do receptor sonar, mediu-se um pulso CW recebido de 63,2 mVpp. (a) Qual a
sensibilidade do arranjo sonar, considerando o ponto de teste como o terminal de saída do arranjo? (b) Qual
o nível de ruído espectral (equivalente a NL-DI) na face do arranjo quando o navio opera a 10 nós, se foi
medido, no mesmo ponto de teste, uma voltagem (rms) espectral de ruído de 31,6 µV (-90 dB re 1 V em
banda de 1Hz) na faixa de operação do sonar? (c) Considerando que o ruído é aproximadamente branco e
que a banda do conjunto arranjo-conformador é de 1000 Hz, qual seria a voltagem de ruído medida no ponto
de teste se fosse empregado um microvoltímetro rms de banda larga?

3.6 Para calibração de um projetor sonar em 4 KHz foi empregado um hidrofone de teste cuja sensibilidade é
mostrada na Figura 3-10 (com cabo) instalado a 2 m do projetor. Excitou-se o projetor com 30 Vpp. O sinal
de saída nos terminais do hidrofone foi aplicado a um conjunto filtro--amplificador cuja forma de onda de
saída foi armazenada em um osciloscópio digital. Em seguida, um atenuador calibrado e ajustável substituiu
o conjunto projetor--hidrofone, ou seja, foram aplicados 30 Vpp na entrada do atenuador e seus terminais de
saída foram ligados à entrada do conjunto filtro--amplificador. A atenuação foi então variada até que a forma
de onda observada no osciloscópio tivesse mesma amplitude que a armazenada anteriormente. (a) Qual a
resposta de transmissão do projetor se a atenuação indicada foi de 73,5 dB e a voltagem nos terminais do
hidrofone? (b) Qual seria o valor de atenuação se o projetor, pelas informações do catálogo do fabricante,
tem uma resposta de transmissão especificada em 108 dB re 1µPa/V ± 3 dB? Resp.: (a) 110 dB re 1µPa/V e
6,34 mVpp; (b) 75.5 dB ± 3 dB.

3.7 Um tanque de calibração tem superfície quadrada de 10 m de lado e profundidade 5m. Usualmente, a
distância entre projetor e hidrofone empregada é de 1m. (a) A fim de maximizar o intervalo de tempo entre
a recepção do pulso direto e dos sinais refletidos nas fronteiras (fundo, superfície e paredes laterais do
tanque), quais devem ser as posições do projetor e hidrofone? (b) Para as posições do item a, qual o valor
daquele intervalo de tempo? (c) Considerando que, em decorrência dos valores típicos do fator de qualidade
QM dos transdutores calibrados, é necessário que hajam dez ciclos do pulso recebido antes que os sinais
refletidos interfiram, qual a menor freqüência de operação do sistema de calibração? Resp.: (b) 2,73 ms; (c)
3659 Hz.

3.8 (a) Calcule o nível, em dB, do maior lóbulo secundário correspondente ao fator direcional de um transdutor
linear (cilíndrico de pequeno diâmetro), dado por H(θ ) = senv/v, onde v = (πL/λ)senθ e θ é medido em
relação à mediatriz do segmento de reta coincidente com o eixo do cilindro. (b) Em que direções θ ocorre
esse lóbulo quando o transdutor tem comprimento igual a quatro comprimentos de onda? (c) Quando o
transdutor é empregado como hidrofone, uma onda plana incidindo na direção do eixo acústico provoca uma
voltagem de saída de 10 mVpp. Qual será a voltagem de saída se a mesma onda incidir de uma direção 30°
fora do eixo acústico? (d) E se incidir a 10° do eixo acústico? Resp.: (a) -13,3 dB; (b) 21,0° e 159°; (c)
zero; (d) 3,75 mVpp.

3.9 Nos exercícios de fixação da Seção 3.3 foi apresentado o fator direcional do transdutor em linha.
Determine a diretividade e o índice de diretividade quando o transdutor tem comprimento muito maior que o

∫ ( sen(v) v) ( sen(v) v)

dv ≈ ∫
a 2 2
comprimento de onda (L>>λ), usando o fato de que dv = π ,
−a −∞

quando a>>1. Resp.: D ≈ 2L/λ; DI ≈ 10log(2L/λ).

3.10 Um sonar ativo de casco emprega um transdutor cilíndrico formado por 36 staves de 10 elementos cada.
Cada par de staves é excitado por um amplificador de potência. Quando da determinação do ROS, verificou-
se que no modo omni o sonar tem nível da fonte de 210 dB re 1 µPa @ 1 m. O manual do sonar indica que,
nesse modo, o índice de diretividade de transmissão é de 8 dB. O técnico encarregado das medições mediu a

3-34 VERSÃO 1.0


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forma de onda de corrente da fonte CC de alimentação dos estágios de saída e verificou que, durante a
transmissão, o nível médio de corrente total demandada era de 115 A para uma voltagem média de 28V.
Qual (a) a potência acústica emitida e (b) a eficiência do conjunto transdutor/estágios de saída? Resp.: (a)
1288 W; (b) 40%.

3.11 O sonar do problema anterior, quando operando no modo RDT (Rotational Directional Transmission), tem
um nível da fonte de 222 dB. O DI, de acordo com o manual, é de 20 dB neste modo. Qual (a) a potência
acústica emitida e (b) a corrente média total fornecida pela fonte de alimentação durante a transmissão?
Resp.: (a) 1288 W; 115 A.

3.12 O transdutor cilíndrico de um sonar de casco opera em ambiente estanque submetido a 3 atm de pressão
hidrostática. O arranjo consiste de 400 elementos transdutores de superfície quadrada de lado igual à metade
do comprimento de onda (f = 5 KHz, c = 1500 m/s). Sabendo-se que a diretividade de transmissão é de 6 dB
quando o sonar opera no modo OMNI e que a eficiência do projetor é de 80%, calcular (a) a pressão limiar
de cavitação em atm e Pa; (b) a intensidade limiar de cavitação em W/m2; (c) a potência acústica total
máxima que pode ser irradiada, considerando o valor prático de limiar de cavitação e a potência acústica
emitida por cada elemento transdutor; (d) a potência elétrica de sinal que os amplificadores de potência
devem fornecer ao transdutor como um todo e a cada elemento; (e) o nível da fonte máximo no modo OMNI.
Resp.: (a) 3 atm = 304×103 Pa; (b) 29,7 KW/m2; (c) 134 KW; (d) 167 KW, 418 W; (e) 228 dB re 1 µPa @
1m.

3.13 (a) Verifique que a condição λ/d ≥ (1 + cτ /d)N / (N - 1) garante que só ocorrerá um lóbulo principal
(nenhum grating lobe) no diagrama de irradiação de um array linear. Considerando essa condição básica,
qual deve ser o espaçamento entre elementos do arranjo que (b) só opere em broadside? (c) só opere em
endfire? (d) pode operar conteirado em qualquer direção? Resp.: (b) d ≤ λ(N - 1)/N (≈ λ para N>>1); (c) d
≤ λ(N - 1)/2N (≈ λ/2 para N>>1); (d) igual à (c).

3.14 Um arranjo linear empregado em um sonar rebocado tático (TACtical Towed Array Sonar--TACTAS) é
constituído por uma seção de alta freqüência e uma de baixa freqüência. A seção de baixa freqüência contém
20 elementos espaçados de 2 m e a de alta, 40 elementos espaçados de 0,2 m. Se o sonar fosse empregado
para detecção de tons discretos emitidos por submarinos, quais (a) as maiores freqüências de operação de
cada seção, a fim de evitar múltiplos lóbulos principais, (b) as larguras de feixe entre nulos correspondentes
na direção broadside e (c) as larguras de feixe entre nulos na direção endfire (θo = π)? Resp.: (a) 356 Hz e
3,656 KHz; (b) 12,1° e 5,88°; (c) 53,1° e 36,9°.

BIBLIOGRAFIA

[1]. Kinsler, L.E. et alli. Fundamentals of acoustics. 3. ed. New York, John Wiley. 1982.

[2]. Stanfield, D. Underwater electroacoustic transducers; a handbook for users and designers. Claverton
Down, Bath University. 1990.

[3]. Urick, Robert J. Principles of underwater sound. 3.ed. New York, McGraw-Hill. 1983.

3-35 VERSÃO 1.0


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CAPÍTULO 4 - PERDAS NA PROPAGAÇÃO

A perda na propagação é definida, em termos das equações sonar, como sendo

Io P
TL(r ) = 10 log = 20 log o = SPLo − SPL1 (r ) ( 4-1 )
I1 (r ) P1 (r )

onde I o (P o ) é a intensidade (pressão) acústica referida a 1m do centro acústico da fonte sonora, I 1 (P 1 ) é a


intensidade (pressão) acústica a uma distância r da fonte, SPL o é o nível de pressão sonora correspondente a I o e
SPL 1 é o correspondente a I 1 . No caso de sinais transientes, TL é definido em termos da relação de densidades
de fluxo de energia. Quando I o refere-se à fonte de sinal (projetor de um sonar ativo ou alvo de um sonar
passivo), então SPL o é o próprio SL. Quando I o refere-se ao campo acústico refletido por um alvo em um
sistema ativo, então SPL o refere-se ao termo SL - TL + TS da equação sonar ativo.

Os mecanismos de perdas na propagação do som no mar são indicados na Tabela 4-1 e discutidos
neste Capítulo. A perda total será a soma das perdas associadas a cada mecanismo. Os principais mecanismos,
aqueles considerados em uma primeira aproximação, são o geométrico e o de absorção. Deste modo, podemos
escrever

Io
TL = 10 log = TLgeom + TLabsor + TLoutros ( 4-2 )
I1

Tabela 4-1 - Mecanismos de perdas

tipo de perda mecanismo

divergência geométrico

atenuação absorção

espalhamento

fuga em canais sonoros

reflexão no fundo e na superfície

“ganho” de convergência

refração em zonas de sombra

A previsão de alcance sonar, conforme discutido no Capítulo 2, consiste em determinar a distância na


qual a equação sonar é satisfeita. Em primeiro lugar, os parâmetros da equação são medidos ou calculados e,
então, o valor de TL requerido pelo sistema é obtido. Por exemplo, no caso de sonares ativos com detecção
limitada por ruído temos :

2TLrequerido = FOM = SL + TS − ( NL − DI ) − DT

Em seguida, um modelo de propagação, na forma de uma função da distância TL = g(r) é equacionado ao


TL requerido :

4-1 VERSÃO 1.0


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TLrequerido = g(r )

A solução r da equação acima é o alcance desejado. No Apêndice ao presente Capítulo é apresentado um


método para solução numérica de equações.

Além da compreensão dos mecanismos de perdas e dos fatores ambientais envolvidos, o objetivo
deste Capítulo é apresentar modelos de propagação empregados para a previsão de alcance sonar.

4.1 DIVERGÊNCIA

A perda por divergência é um efeito geométrico que representa a redução do nível de pressão sonora a
medida em que a onda se propaga. Como veremos a seguir, esta perda é função do logaritmo da distância.

Vamos considerar dois casos de interesse em sistemas sonar: as divergências esférica e cilíndrica. Um
outro tipo de fenômeno que pode ser modelado como perda por divergência é o alongamento do pulso sonar
(aumento da duração e correspondente redução da intensidade) decorrente de efeitos de propagação por
múltiplos trajetos (multipath propagation) característico do mar. Quando ocorre, provoca um aumento da perda
esférica ou cilíndrica. A Tabela 4-2 resume os diferentes tipos de perda por divergência.

Tabela 4-2 - Modelos de perda por divergência

tipo intensidade TL, dB propagação em


proporcional a

esférica r -2 20 log r espaço livre

cilíndrica r -1 10 log r entre placas paralelas

hipercilíndrica (exemplo) r -2 (exemplo) 20 log r entre placas paralelas com


(exemplo) alongamento no tempo (exemplo
com perda adicional proporcional
à distância)

4.1.1 Divergência Esférica

A divergência esférica, como o nome indica, está associado à propagação por ondas esféricas. Ocorre,
em termos exatos, somente em espaço livre (sem fronteiras). Embora este seja um modelo idealizado, é
empregado quando estão envolvidas pequenas distâncias, tais como em medições em laboratório ou na
verificação do nível da fonte a bordo.

Conforme discutido nos Capítulos 1 e 3, a potência acústica, neste caso, é distribuída em uma esfera
de raio r centrada na fonte. Deste modo, a intensidade a uma distância r da fonte é

Π ac I (r = 1m) I o
I 1 (r ) = = = 2 ( 4-3 )
4πr 2
r2 r

onde, novamente, o índice ‘o’ corresponde à distância r = 1m. A pressão acústica correspondente vale

ρ o cI o Po
P1 (r ) = ρ o cI 1 (r ) = = ( 4-4 )
r2 r

Usando as Equações ( 4-1 ) e ( 4-4 ), obtém-se

4-2 VERSÃO 1.0


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Po P
TLgeom = 20 log = 20 log o = 20 log r ( 4-5 )
P1 Po / r

Exemplo 4-1..Um sonar ativo possui FOM = 180 dB. Determine o alcance sonar considerando perda
por divergência esférica.

FOM = 2TL requerido = 180 dB ⇒ 90 = 20logr ∴ r = 31,6 Km.

4.1.2 Divergência Cilíndrica


superfície
Se a fonte acústica estiver localizada cilíndrica
entre duas superfícies planas paralelas perfeitamente
refletoras, conforme indicado na Figura 4-1, então a
r
potência acústica a grandes distâncias da fonte
estará distribuída em uma superfície cilíndrica. H
fonte
Deste modo, a intensidade será

Π ac I (r = 1m) I o
I1 (r ) = = = ( 4-6 )
2 πrH r r
Figura 4-1 - Geometria da perda cilíndrica

e a pressão correspondente será

Po
P1 (r ) = ( 4-7 )
r

A partir da Equações ( 4-1 ) e ( 4-7 ) obtém-se

Po Po
TLgeom = 20 log = 20 log = 10 log r ( 4-8 )
P1 Po / r

Exemplo 4-2 Repita o Exemplo 4-1 caso a perda seja por divergência cilíndrica.

FOM = 2TL = 180 dB ⇒ 90 = 10logr ∴ r = 106 Km.

Geralmente, o modelo de perdas cilíndricas é empregado em conjunto com o de perda esférica. Por
exemplo, até uma distância r s da fonte a perda geométrica pode ser modelada como esférica e, a partir daquela
distância, como cilíndrica. É o que ocorre em dutos de superfície [vide Equação ( 4-37 )].

Exercícios de Fixação

1. Supondo divergência esférica, calcule a perda na propagação para um ponto distante da fonte de (a)
1m; (b) 2m; (c) 1000m; (d) 2000m; (e) 150Km; (f) 300Km.

2. Repita o exercício anterior para divergência cilíndrica.

3. Qual o aumento na perda se a distância dobrar, supondo (a) divergência esférica e (b) cilíndrica.

4. Um sonar ativo tem nível de fonte 220dB re 1µPa @1m. Qual o nível sonoro incidente em um alvo
submarino a 2Km do projetor, supondo (a) divergência esférica e (b) divergência cilíndrica?

4-3 VERSÃO 1.0


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4.2 ABSORÇÃO

A uma primeira aproximação, o fenômeno acústico é adiabático, ou seja, as flutuações de pressão


ocorrem sem perda de energia para o meio. Agora vamos melhorar o modelo acústico incluindo o mecanismo de
perda denominado absorção.

4.2.1 Perda por Absorção

A forma de variação da perda com a distância decorrente de absorção é diferente da verificada para
divergência. A absorção provoca uma redução exponencial da intensidade com a distância. Se nos abstrairmos
por um momento da perda por divergência, a absorção pode ser representada por uma redução exponencial da
intensidade

I (r ) = I (r = 0)e −2 a r ( 4-9 )

onde a é o coeficiente de absorção em nepers/m. Aplicando a Equação ( 4-1 ) temos

e −2 a
TLabsor = 10 log = a(20 log e)(r − 1) ≈ α r ( 4-10 )
e −2 ar

onde se considera que as distâncias de interesse são altas (r >> 1) e α = 20a log e = 8,69a é o coeficiente de
absorção em dB/m. É usual expressar-se α em dB/Km ou dB/Kjd.

Considerando a perda por absorção, os modelos de perda na propagação tornam-se mais adequados à
realidade do mar e têm a forma indicada na Tabela 4-3.

Tabela 4-3 - Modelos de perda por divergência e absorção

divergência TL, dB propagação em

esférica 20 log r + α r espaço livre

cilíndrica 10 log r + α r entre placas paralelas

hipercilíndrica 20 log r + α r entre placas paralelas com alongamento no


tempo

4.2.2 Mecanismos de Absorção

A absorção representa energia acústica transferida para o meio, com a correspondente redução da
energia propagada. Existem três tipos básicos dessas perdas: perdas por viscosidade, por condução de calor e por
trocas de energia a nível molecular.

Durante a ocorrência de compressões e expansões das partículas do meio que acompanham a onda
acústica, ocorre movimento relativo entre essas partículas e, em decorrência da viscosidade do meio, há
transporte de energia que pode ser interpretada como uma perda por atrito.

As perdas por condução de calor decorrem da condução de energia térmica entre as regiões de
diferentes temperaturas no campo acústico (temperatura é mais elevada nas regiões de compressão do que nas
de rarefação).

4-4 VERSÃO 1.0


IPqM-013-0177-ET/97

Esses dois tipos de perdas são modelados através de um coeficiente de absorção clássico de fluidos,
que é proporcional ao quadrado da freqüência. A teoria baseada nesse mecanismos (viscosidade e condução de
calor), no entanto, não é capaz de prever valores de absorção observados em alguns fluidos. Este é o caso da
água e, em particular, da água do mar.

Um terceiro grupo de fenômenos, relativo a trocas de energia a nível molecular, podem resultar em
perdas na propagação. Esses fenômenos consistem na conversão de energia cinética das moléculas em (a)
energia potencial armazenada (por exemplo, rearranjo de um grupo de moléculas), (b) energia vibracional e
rotacional de moléculas poliatômicas e (c) energia de associação e dissociação iônica. O primeiro mecanismo
parece explicar o excesso de absorção na água em relação à teoria clássica. Para a água do mar, em freqüências
abaixo de cerca de 500 KHz, há necessidade de se considerar também o terceiro mecanismo, decorrente da
associação/dissociação do sulfato de magnésio (MgSO 4 ) e, abaixo de 5 KHz, o do ácido bórico [B(OH) 3 ].

Um fator adicional de absorção observado no mar para freqüências abaixo de cerca de 100 Hz é
atribuído ao espalhamento de energia decorrente da presença de partículas em suspensão e outras
inhomogeneidades do mar.

A Figura 4-2 compara os coeficientes de absorção clássico e observados para água doce e do mar. O
coeficiente de absorção no mar é função da freqüência, da temperatura, da pressão (profundidade), da salinidade
(devido ao MgSO 4 ) e do pH (devido ao ácido bórico). Em função das diferentes características das massas de
água nos oceanos (temperatura, pH, quantidade de sulfato de magnésio), é de se esperar que o coeficiente de
absorção apresente grande variabilidade em função da região geográfica. A expressão para o coeficiente de
absorção no mar em função da freqüência f é da forma

2 2
f f
α = A1 B1 + A2 B2 + A3 B3 f 2
+ 3 × 10 −6 dB / m ( 4-11 )
f1 + f
2 2
f2 + f
2 2

= α (ácido bórico) + α ( MgSO 4 ) + α ( H 2 O) + α (espalhamento)

onde os coeficientes A i e f i são função da temperatura e os coeficientes B i são função da pressão. Esses
coeficientes também são função da salinidade e do pH. A Figura 4-3 apresenta uma comparação dos quatro
fatores que compõem a Equação ( 4-11 ) (para 1atm, 20oC e pH=8). Em freqüências elevadas (> 500 KHz), a
absorção predominante decorre dos mesmos mecanismos da água doce. Abaixo de 500 KHz, a relaxação
iônica do sulfato de magnésio torna-se um fator predominante até que, em torno de 10 KHz a relaxação do
ácido bórico começa a influenciar. Em freqüências baixas (abaixo de cerca de 200Hz, conforme indicado na
Figura 4-2), o mecanismo de espalhamento começa a predominar e a absorção torna-se independente da
freqüência.

A Figura 4-4 apresenta o gráfico de α, em dB/Km, para diferentes temperaturas, na superfície do mar
(pressão de 1 atm), salinidade 35 ppt e pH=8.

Exemplo 4-3 Repita o Exemplo 4-1, incluindo absorção, para um sonar de casco (próximo à
superfície) em águas com temperatura de cerca de 20°C operando a (a) 3 KHz e (b) 10 KHz.

(a) Da Figura 4-4 obtém-se α = 0,15 dB/Km = 0,15×10-3 dB/m a 3 KHz, então, TL = 90 = 20logr +
0,15×10-3r. A solução dessa equação pode ser obtida por métodos numéricos (como o indicado no
Apêndice) ou plotando-se 20logr + 0,15×10-3r em função de r. O resultado é r = 21,7 Km.

4-5 VERSÃO 1.0


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100

10-2
água do mar

10-4
α, dB/m
10-6

água doce clássico


-8
10

10-10

10-12
101 102 103 104 105 106
f, Hz
Figura 4-2 - Comparação dos coeficientes de absorção para água doce e do mar

100

1 H2 O
α
dB/Km
ácido bórico
MgSO4
10-2

espalhamento

10-4
0,5 1 10 100 500 f,KHz
Figura 4-3 - Comparação dos fatores que influenciam a absorção da água do mar

4-6 VERSÃO 1.0


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200

100

α,dB/Km

10

4o C 20oC

30oC
1

0,1

0,02
0,5 1 10 100 f, KHz 500

Figura 4-4 - Coeficiente de absorção da água do mar na superfície ( P = 1 atm), salinidade 35 ppt e pH 8,
em três temperaturas

(b) Para 10 KHz, o coeficiente de absorção vale 0,6 dB/Km = 0,6×10-3 dB/m, então, TL = 90 = 20logr
+ 0,6×10-3r e o resultado, r = 12,9 Km.

[Compare esses resultados com o do Exemplo 4-1]

O efeito da pressão é reduzir o coeficiente de absorção pelo fator (1-6,54×10-4P), onde P é a pressão
hidrostática em atm. Como 1 atm corresponde a cerca de 10m de profundidade, o coeficiente de absorção na
profundidade z (metro) no mar vale

α ( z) = αo (1 − 6.54 × 10 −5 z) ( 4-12 )

onde α o é o valor do coeficiente na superfície (z = 0). Em medições no mar já foi observada uma redução da
absorção maior que a prevista na Equação ( 4-12 ).

Exercícios de Fixação (supor T = 20°C para determinação de α, a menos que outro valor seja indicado)

1. Qual o valor, em nepers/m, do coeficiente de absorção de (a) 10-4 dB/m; (b) 0,1dB/Km?

2. Escreva as expressões da perda na propagação incluindo absorção e (a) perda esférica e (b) perda
cilíndrica.

4-7 VERSÃO 1.0


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3. Quais os fenômenos físicos determinantes da perda por absorção no mar e em que faixa de freqüências
eles predominam?

4. Considerando a forma com que o coeficiente de absorção varia com a freqüência, explique qual a
conseqüência, em termos de alcance, do emprego de sonares caça-minas de freqüências elevadas e de sonares
anti-submarinos de freqüências baixas.

5. Qual o valor do coeficiente de absorção do mar a 4°C, na freqüência de 30KHz na (a) superfície e (b)
na profundidade de 1000m?

6. Um navio de superfície emprega um sonar de nível da fonte 230dB re 1µPa @1m e freqüência de
8KHz. Qual o nível sonoro incidente em um submarino a 10Km de distância, considerando absorção e
divergência (a) esférica e (b) cilíndrica?

7. Repetir o exercício anterior para um sonar que opere em 3KHz.

8. A que distância a perda por absorção a 10 KHz iguala-se à perda por divergência (a) esférica e (b)
cilíndrica?

4.3 VELOCIDADE DE PROPAGAÇÃO DO SOM NO MAR

A fim de podermos prosseguir a discussão sobre propagação no mar, será necessário introduzir os
conceitos de raios sonoros e de refração.

Como será visto na próxima Seção, raios sonoros são linhas perpendiculares a frentes de ondas e
indicam a direção de propagação daquelas frentes. Se a velocidade do som fosse constante em todo o volume de
água, os raios seriam linhas retas. Isto, porém, não ocorre. A velocidade do som é variável: frentes de onda, no
mar, têm trajetória curva. Em conseqüência podem ocorrer regiões que as ondas acústicas não atinjam, as
chamadas zonas de sombra; em outras regiões o som pode ser focalizado, gerando grande intensidade sonora
(zonas de convergência são um exemplo). Ao longo do dia, em decorrência dos processos de troca de calor entre
as camadas superficiais do mar e o ar, ocorrem variações horárias na forma com que a velocidade do som varia
com a profundidade.

A compreensão dos fenômenos observados de propagação do som no mar passa, necessariamente,


pela análise das variabilidades espacial (diferenças regionais, por exemplo) e temporal da velocidade do som.

4.3.1 Variação com Temperatura, Salinidade e Profundidade

Conforme discutido no Capítulo 1, a velocidade do som no mar é uma grandeza termodinâmica


função da densidade, temperatura e pressão. É expressa por equações empíricas em função da temperatura, da
salinidade e da profundidade. Existem várias expressões com diferentes faixas de validade. Adotaremos aqui a
expressão dada no Capítulo 1, válida para temperatura T na faixa de zero a 35 °C, salinidade S de zero a 45 ppt e
profundidade z de zero a 1000 m [Ref. 1 : 113]:

c = 1449,2 + 4,6T − 0,055T 2 + 0,00029T 3 + (1,34 − 0,01T ) ( S − 35) + 0,016z ( 4-13 )

A velocidade do som aumenta com a temperatura, salinidade e profundidade. Valores aproximados


da taxa de variação com relação a estas grandezas são indicados na Tabela 4-4. Em águas oceânicas, a
salinidade, por apresentar pequena variabilidade, tem pouca influência na variação da velocidade (exceto nas
proximidades de fontes salinas). Em águas costeiras, principalmente nas proximidades de foz de rios, sua
influência pode ser significativa.

4-8 VERSÃO 1.0


IPqM-013-0177-ET/97

Tabela 4-4 Taxas de variação da velocidade do som

Variação com taxa de variação

temperatura (em torno de 21oC) ∂c /∂T ≈ 2,7 (m/s)/oC

salinidade (em torno de 21oC) ∂c /∂S ≈ 1,13 (m/s)/ppt

profundidade ∂c /∂z ≈ 0,016 (m/s)/m

No Capítulo 1 são discutidos os principais dispositivos empregados para se determinar a velocidade


do som em função da profundidade no mar: o velossom e o batitermógrafo.

4.3.2 Perfis Típicos de Velocidade do Som no Mar

Perfil de velocidade é a representação da velocidade do som em função da profundidade. É obtido


através de observações oceanográficas de temperatura e salinidade em função da profundidade ou por medição
direta (empregando um velossom).

Um perfil típico em águas profundas em latitudes médias é apresentado na Figura 4-5. Este perfil é
empregado para dividir a massa de água em camadas com características diferenciadas.

A camada de superfície sofre ação de vento e aquecimento solar. A superfície do mar é aquecida
durante o dia e o vento mistura a água, o que pode provocar o aparecimento de uma camada de água misturada
(camada de mistura) isotérmica. A camada de mistura varia de zero, sob condições de ausência de vento, até
uma profundidade de camada (espessura) de cerca de 50m e nela a velocidade do som aumenta com a
profundidade, em razão da temperatura constante (uma camada de mistura é mostrada na Figura 4-5). Conforme
será visto adiante, a ocorrência de um perfil de velocidade com gradiente positivo próximo à superfície acarreta
um aprisionamento de energia acústica na camada de mistura, formando um duto de superfície de grande
importância para o emprego dos sistemas sonar. A profundidade de camada e o perfil de velocidade sofrem
variabilidade horária e estão sujeitos às condições meteorológicas predominantes em uma determinada área.
Deste modo, o gradiente de velocidade (∆c /∆z) pode ser positivo (quando ocorre a camada de mistura), negativo
ou nulo.

Abaixo da camada de superfície há a termoclina sazonal. O termo termoclina denota uma camada onde a
temperatura varia com a profundidade. A termoclina sazonal apresenta gradientes negativos de temperatura e
velocidade (a redução de temperatura predomina sobre a influência do aumento de profundidade, acarretando
um gradiente de velocidade negativo) que variam com a estação do ano. Durante o verão, quando as águas
próximas à superfície são quentes, a termoclina sazonal é forte e bem definida. Durante o inverno, ela tende a se
confundir com a camada de superfície. Este comportamento é típico de médias latitudes, onde as estações são
bem definidas. Em latitudes altas, próximas ao Ártico e à Antártida, a termoclina sazonal tende a confundir-se
com a camada de superfície.

Sob a termoclina sazonal está a termoclina principal, que é muito pouco afetada pelas estações do
ano. Nesta camada ocorre a maior variação de temperatura no mar. Os gradientes de temperatura e velocidade do
som são negativos (predomina redução da temperatura sobre o aumento da profundidade na determinação da
velocidade).

4-9 VERSÃO 1.0


IPqM-013-0177-ET/97

temperatura, °C velocidade do som, m/s


0 5 10 15 1480 1490 1500 1510
0
camada de termoclina
200 superfície sazonal

400

600
termoclina
principal
800
profundidade
m (eixo do canal
1000 sonoro profundo)

1200

1400
camada
isotérmica
1600 profunda

1800

2000
Figura 4-5 - Perfis típicos de temperatura e velocidade do som em águas profundas, latitudes médias

A última camada é a camada isotérmica profunda de temperatura constante próxima a 4oC e alta
densidade. Nela, a velocidade do som aumenta com a profundidade (gradiente de velocidade positivo) devido ao
efeito da pressão. Entre as regiões de redução de velocidade na termoclina principal e de aumento na camada
isotérmica profunda, ocorre um mínimo de velocidade. A profundidade em que este mínimo ocorre ( cerca de
1200 m em latitudes baixas) é o eixo do canal sofar (sound fixing and ranging). Este canal propicia propagação
com perdas reduzidas. A profundidade inicial da camada isotérmica profunda diminui com o aumento da
latitude. A camada atinge a superfície nas proximidades dos círculos polares (onde o mínimo de velocidade do
som ocorre na superfície).

Em águas rasas de regiões costeiras, o perfil de velocidade tende a ser irregular e de difícil previsão.
Suas características são em muito influenciadas pelo aquecimento/esfriamento superficial e mudanças de
salinidade (importante nas proximidades de rios).

Exercícios de Fixação

1. Verifique os valores de gradiente dados na Tabela 4-4, a partir da Equação ( 4-13 ).

2. Esboce perfis de temperatura e velocidade típicos de águas profundas e indique as camadas.

4-10 VERSÃO 1.0


IPqM-013-0177-ET/97

3. Quais as condições necessárias para a formação da camada de mistura e qual a sua característica
principal?

4. Qual o gradiente de velocidade (∆c/∆z) na camada isotérmica profunda, considerando-se salinidade


constante?

5. Considerando que, em latitudes baixas, o eixo do canal sofar está a uma profundidade de cerca de
1200m, qual a perda por absorção para um sinal de 10 KHz que se propaga a uma distância de 10 Km (a)
próximo à superfície e (b) próximo ao eixo sofar? (considerar temperatura na superfície de 20°C e a redução do
coeficiente de absorção com a profundidade).

6. Determine a taxa de variação da velocidade do som com a temperatura e com a salinidade para águas
com temperatura em torno de 4 °C.

4.4 TEORIA DE PROPAGAÇÃO E TRAÇADO DE RAIOS SONOROS

4.4.1 Teorias de Onda e de Raios

A propagação acústica é modelada matematicamente através de uma equação da onda associada a


condições de fronteira. As condições de fronteira, no mar, dizem respeito à superfície e ao fundo do mar, os
quais serão discutidos posteriormente. Na equação da onda, o único parâmetro ambiental presente é a velocidade
de propagação do som. Deste modo, o fenômeno de propagação é ditado primordialmente pelo valor da
velocidade de propagação que, em geral, é função da posição (x,y,z).

A solução da equação da onda é a expressão da onda de pressão resultante de uma determinada fonte
acústica, a partir da qual podemos obter, por exemplo, a expressão da perda TL em função da posição (x,y,z) ou
(r,z,ϕ) (distância, profundidade e marcação). Porém, aquela solução analítica só é conhecida em certos casos
particulares, quando a velocidade do som é função somente da profundidade (e mesmo assim, para algumas
poucas funções c(z) e certas condições de fronteira “bem comportadas”).

A fim de viabilizar a obtenção de soluções a problemas (perfis) e condições de fronteira realistas,


deve-se recorrer a métodos aproximados que consistem em simplificações (válidas sob algumas condições) da
equação da onda ou de alguma forma de solução conhecida e a métodos numéricos (computacionais) que usam
daquelas aproximações.

Uma das aproximações mais empregadas é a da teoria dos raios, que leva a resultados análogos à da
ótica geométrica. Nós temos empregado, sem referência direta à teoria de raios, o conceito de frente-de-onda. A
frente-de-onda é definida como o lugar geométrico dos pontos onde a fase de uma onda acústica é constante. Por
exemplo, a onda

p(r , t ) = p( x , y , z , t ) = P( x , y , z )e − j (ωt − kx )

tem fase ωt - kx = constante ao longo do plano x = (ωt - constante)/k que é a equação de um plano que se desloca
no sentido X positivo. Daí a denominação onda plana. Por outro lado, a onda

p(r , t ) = p(r ,θ ,ϕ , t ) = P(r ,θ ,ϕ )e − j (ωt − kr )

tem fase ωt - kr = constante ao longo da superfície r = (ωt - constante)/k que é a equação de uma esfera
centrada na origem cujo raio aumenta com o tempo. A expressão acima representa, portanto, uma onda
esférica.

4-11 VERSÃO 1.0


IPqM-013-0177-ET/97

O outro conceito da teoria dos raios é o de raio acústico. É uma linha que representa, em cada ponto,
a direção de propagação da onda. É perpendicular à frente de onda. Assim sendo, no exemplo acima da onda
plana, o raio acústico pode ser representado pelo próprio eixo X ou qualquer reta que lhe seja paralela. No caso
da onda esférica os raios são linhas que partem da origem. O diagrama de raios é um conjunto de raios traçados
a partir de uma fonte em um dado ambiente.

Um grande apelo da teoria de raios é justamente essa possibilidade de representação da propagação


através de diagrama de raios, o que possibilita a visualização das condições de propagação. Existem vários
programas de computador para traçado de diagrama de raios sonoros. Uma segunda vantagem é a facilidade de
se esboçar manualmente um diagrama de raios, dado o perfil de velocidade.

Existem limitações. A teoria de raios decorre de uma aproximação da equação da onda. A solução de
raios só é válida em freqüências altas (para as quais não ocorrem variações apreciáveis das condições ambientais
e da amplitude de pressão ao longo de um comprimento de onda) e não é capaz de representar fenômenos
ondulatórios como a difração.

4.4.2 Traçado de Raios meio 1


A base para o traçado de raios é a Lei de Snell,
velocidade de
propagação c1
um resultado da teoria de raios, que diz respeito à refração
do raio sonoro transmitido de uma camada para outra de θ1
diferente velocidade de propagação. θ2
meio 2
Na Figura 4-6, um raio sonoro propaga-se em um velocidade de
meio onde a velocidade de propagação é c 1 e atinge a propagação c2
fronteira para um segundo meio onde a velocidade é c 2 . O
ângulo de chegada no meio 1 é θ 1 e o raio entra no meio 2 Figura 4-6 - Refração de raios
com ângulo θ 2 . A Lei de Snell relaciona os valores de
velocidade e ângulo * como:

cosθ1 cosθ2 1
= = constante = ( 4-14 )
c1 c2 co

onde a constante do raio é igual o inverso da velocidade de propagação do meio para o qual o raio torna-se
horizontal (θ o = 0 e cosθ o = 1), c o . Quanto maior a velocidade do som no meio 2, mais o raio aproxima-se da
horizontal (c 2 ↑ cosθ 2↑ θ 2↓). Se um determinado meio puder ser dividido em camadas de velocidade
constante, conforme indicado na Figura 4-7, podemos generalizar a Equação ( 4-14 ) para

cos θ1 cos θ2 cos θ3 cos θn 1


= = =... = = ( 4-15 )
c1 c2 c3 cn co

Finalmente, para um meio onde a velocidade do som varie continuamente com a profundidade [c = c(z)] temos:

*
se o ângulo for medido em relação à normal à fronteira, isto é α = 90-θ, basta substituir cosθ por senα, como
por vezes encontrado na literatura. Ângulos medidos em relação à horizontal são, por vezes, denominados
ângulos de ataque.

4-12 VERSÃO 1.0


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c1

c1
θ1
θ2
velocidade
c2 do som
θ2
c3 θ3
θ3
θ4
c4
Z
Figura 4-7 - Refração em meio dividido em camadas de velocidade constante

cosθ ( z ) 1
= = constante ( 4-16 )
c( z ) co

Um resultado de interesse prático é o do traçado de raios em um meio onde a velocidade do som varie
linearmente com a profundidade, ou seja, em camadas de água onde

c( z ) = c1 + gz

Nesta situação (gradiente g constante), os raios serão arcos de círculo com raio de curvatura

− c0
R= ( 4-17 )
g

onde co é a velocidade do som no ponto em que o raio sonoro torna-se horizontal (inverso da constante do raio).
O sinal resultante de R indica a profundidade do centro da circunferência em relação ao ponto onde o raio passa:

• se g < 0 então R > 0 e o centro da circunferência está a uma profundidade maior que o ponto por
onde o raio está sendo traçado (i.e., centro abaixo do ponto, raio com curvatura “para baixo”);

• se g > 0 então R < 0 e o centro da circunferência está a uma profundidade menor que o ponto por
onde o raio está sendo traçado (i.e., centro acima do ponto, raio com curvatura “para cima”);

Os centros de curvatura dos raios que emanam de uma fonte sonora são localizados a uma mesma
profundidade
( 4-18 )
cs
zo = z s −
g

onde zs é a profundidade da fonte e cs é a velocidade do som nesta profundidade. Valores negativos de zo, pela
nossa convenção de representar profundidades como valores positivos, indicam que os centros de curvatura
encontram-se acima da superfície do mar.

Em geral, o valor do raio de curvatura R é muito elevado.

4-13 VERSÃO 1.0


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Exemplo 4-4 Na camada de mistura isotérmica, g ≈ 0,016 (m/s)/m e o raio que sai da fonte sonora
na horizontal [θ(z) = 0] em um ponto onde a velocidade do som seja 1500 m/s terá raio de curvatura

1500
R≈− = −93750 m
0,016

com centro localizado acima da fonte (i.e., raio com curvatura “para cima”). Os centros de curvatura
dos raios emanados de uma fonte a 5 m de profundidade, supondo cs = 1500 m/s, são localizados,
conforme Equação ( 4-18 ), na profundidade:

1500
zo = 5 − = −93745 m
0,016

ou seja, a 93745 m acima da superfície.

Como R é elevado, se os raios fossem desenhados com distância e profundidade na mesma escala,
eles seriam representados, para profundidades e distâncias usuais no mar, praticamente como linhas retas. Nos
diagramas de raios, a escala de profundidade é usualmente maior que a de distância.

Existem algumas funções c(z) que permitem obter expressões analíticas para a trajetória dos raios a
partir da Lei de Snell (velocidade constante e gradiente constantes são dois desses casos). Nestes casos é
possível calcular-se várias de suas características, tais como distância horizontal percorrida quando o raio passa
entre duas profundidades dadas e o tempo de propagação ao longo do raio. Dificilmente, porém, um perfil de
velocidade medido no mar poderá ser representado exatamente por essas funções.

Os programas de traçado de raios usam, em geral, subdividir o meio em camadas de velocidades


constantes, para as quais os raios são segmentos de reta, ou em camadas de gradiente constante, para as quais os
raios são arcos de círculo. A partir de um determinado ponto (fonte), raios são traçados com determinados
ângulos e os pontos por onde passam (trajetória) são calculados usando a Lei de Snell. Ao encontrar uma
fronteira (superfície ou fundo do mar), considera-se o ângulo de incidência do raio igual ao de reflexão. Existem
programas que permitem que as características do meio (profundidade, perfil de velocidade) variem com a
distância. É possível calcular-se a intensidade acústica em um dado ponto somando-se a contribuição de cada
raio (intensidade ou amplitude e fase da pressão) que sai da fonte e passa pelo ponto em consideração
(denominados auto-raios, em analogia aos autovalores dos problemas lineares).

Um exemplo de diagrama de raios obtido a partir de aproximação por camadas de gradiente constante
é mostrado na Figura 4-8. O perfil de velocidade mostrado poderia ser aproximado por três seguimentos de reta,
o que definiria três camadas de gradiente constante. Observe as curvaturas para cima próximo à superfície (onde
o gradiente de velocidade é positivo) e para baixo nas camadas inferiores (onde os gradientes são negativos). As
diferentes escalas usadas para distâncias e profundidades leva à distorção de ângulos. Por isso, o raio que passa
para as camadas inferiores parece quebrar na fronteira da camada superior com a intermediária.

4.4.3 Cálculo de TL pelo Diagrama de Raios

Foi mencionado, na Seção anterior, que programas de traçado de raios podem também calcular
perdas. Basicamente, esses programas calculam perdas geométricas, por absorção e por reflexão. A perda por
absorção já foi analisada e a por reflexão será analisada mais adiante. O componente geométrico da perda pode
ser calculado a partir do diagrama de raios. Os resultados obtidos, embora sofrendo das limitações da teoria de
raios, estendem os resultados anteriores (divergências esférica e cilíndrica) que não se aplicam quando há

4-14 VERSÃO 1.0


IPqM-013-0177-ET/97

refração. Deste modo o diagrama de raios fornece um método de cálculo de perdas mais geral, aplicável a perfis
de velocidade arbitrários.

1500 1530

z, m

100

200
0 4 8 12 dist, Km 16
Figura 4-8 - Diagrama de raios, para o perfil mostrado à esquerda, fonte a 5m de profundidade e raios
partindo da fonte a 1,0° (acima da horizontal), 0,0° e 1,315° (abaixo da horizontal). Observe as diferentes
escalas de distância e profundidade, que leva à distorção de ângulos

Em um método, o TLgeom é calculado a partir do espaçamento vertical entre raios adjacentes na fonte
que passem acima e abaixo do ponto onde se deseja calcular o valor da perda, como no caso do ponto Q da
Figura 4-9. Supõe-se que o par de raios subentenda uma certa potência acústica ∆Πac que não escapa (por
difração, por exemplo) para a região externa aos raios (uma idealização da teoria de raios). Na fonte, os raios
estão separados por um pequeno ângulo ∆θ e saem com ângulos θ1 ± ∆θ/2 em relação à horizontal. A 1m da
fonte, os raios interceptam uma área ∆A1, dada por

∆ A1 = 2π r 2 ∆θ cosθ1 r =1 = 2π ∆θ cosθ1 ( 4-19 )

de modo que a intensidade a 1m da fonte em decorrência destes raios vale

Π ac Π ac
Io = =
∆A 1 2π ∆θ cosθ1 ( 4-20 )

1m Q θ2

∆h
θ1 ∆l
∆A1

Figura 4-9 - Cálculo do TLgeom pelo diagrama de raios

4-15 VERSÃO 1.0


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No ponto Q, os raios estão a um ângulo θ2 com a horizontal, espaçados de ∆h (medido na vertical) e interceptam
uma área ∆A2 dada por

∆ A2 = 2πr∆ l = 2πr∆ h cosθ2 ( 4-21 )

onde ∆l é a distância entre os raios. A intensidade no ponto Q será, então

Π ac Π ac
I1 = =
∆ A2 2πr∆ h cosθ2 ( 4-22 )

Deste modo, a perda será dada por

Io r∆ h cosθ2 r∆ h c2 r∆ h
TLgeom = 10 log = 10 log = 10 log ≈ 10 log ( 4-23 )
I1 ∆ θ cosθ1 ∆ θ c1 ∆θ

onde se empregou a Lei de Snell para substituir a razão de cosenos por razão de velocidades que, no mar, é
aproximadamente unitária. As grandezas r e ∆h são em metro e o ângulo ∆θ, em radiano. Observe que se a
velocidade de propagação for constante e não houver fronteira (sem reflexões), os raios serão linhas retas, ∆h ≈
r∆θ e a Equação ( 4-23 ) reduz-se a TL = 20logr, correspondente à divergência esférica.

Quanto menor o intervalo angular ∆θ maior a precisão do resultado, dentro das limitações da teoria de
raios. A Equação ( 4-23 ) falha quando ∆h = 0, ou seja, quando os raios cruzam. Os pontos onde os raios
adjacentes em um diagrama se cruzam formam uma linha ou superfície denominada cáustica. Nestes pontos, a
teoria de raios prevê perda TLgeom → −∞, correspondente a uma intensidade infinita. Esta é uma limitação da
teoria. Na realidade, nessas regiões a intensidade é elevada, porém finita. A teoria de ondas é empregada para se
calcular a intensidade acústica e as perdas nas proximidades de cáusticas.

Em resumo, empregando o diagrama de raios, a perda na propagação é dada, fora das regiões de
cáustica, por

r∆ h
TL = TLgeom + TLabsor + TLreflexão ≈ 10log + α r + TLreflexão ( 4-24 )
∆θ

onde α é o coeficiente de absorção em dB/m. Outros fatores, decorrentes de outros mecanismos de perdas
podem ser incluídos.

Exercícios de Fixação

1. Defina frente-de-onda, raio sonoro e diagrama de raios.

2. Qual a distância entre as frentes de uma onda plana onda correspondentes a uma diferença de fase de
180°?

3. Cite duas limitações da teoria de raios.

4. Expresse a Lei de Snell em termos de uma equação e descreva seus termos.

5. Um raio sonoro propaga-se em uma camada de água onde a velocidade do som é de 1500 m/s. (a) qual
o ângulo do raio ao passar para uma segunda camada onde a velocidade do som é de 1498 m/s, se o ângulo de
incidência do raio na primeira camada era de 30° em relação à horizontal? (b) E se a velocidade do som fosse
de 1505 m/s na segunda camada? (c) Qual é a velocidade de som na camada em que o raio torna-se horizontal?

4-16 VERSÃO 1.0


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(d) Considerando os valores normalmente encontrados de velocidade do som no mar, este raio tornar-se-á
horizontal?

6. Qual o raio de curvatura de um raio sonoro propagando-se na camada isotérmica profunda?

7. Um procedimento para se esboçar os principais raios em um diagrama consiste nas seguintes etapas:

• linearizar o perfil de velocidade de modo que o perfil resultante seja constituído por seções de
gradiente constante;

• determinar a profundidade z1 de máxima velocidade (cmx) “acima da fonte” próximo à superfície


(vértice de velocidade);

• determine a profundidade crítica z2 “abaixo da fonte” onde a velocidade volta a ser cmx; se tal
profundidade não existir, então teremos uma situação “limitada” pelo fundo;

• um raio que saia da fonte na horizontal, passará pela horizontal toda vez que passar por uma
profundidade onde a velocidade do som seja igual à na fonte (lei de Snell);

• um raio que seja horizontal na profundidade z1 também o será na profundidade crítica z2; caso z2
não exista, então aquele raio refletirá no fundo;

• os raios serão curvados “para cima” nas camadas onde o gradiente seja positivo e “para baixo” nas
demais camadas;

• desenhe os raios mais próximos da horizontal na fonte que atinjam as profundidades z1 ou z2 com
ângulo zero; um raio para o qual isto ocorra simultaneamente é dito raio refrata-refrata, RR; raios
que refletem na superfície e refratam antes de atingir o fundo são denominados refrata-reflete-na-
superfície, RRS; raios que refratam antes de atingir a superfície e refletem no fundo são
denominados refrata-reflete-no-fundo, RRF;

• caso não existam raios que refratam , esboce o raio mais próximo da horizontal na fonte que reflita
no fundo e na superfície (RSRF);

• para uma fonte próxima à superfície, os raios RR e RSR acarretam menores perdas e maiores
alcances (reflexões no fundo, em geral, acarretam maiores perdas que as na superfície).

Esboce o diagrama de raios para o perfil da Figura 4-5, caso a fonte esteja localizada (a) na camada de superfície
e (b) na termoclina sazonal, próximo à camada de superfície.

4.5 AS FRONTEIRAS DO MAR: SUPERFÍCIE E FUNDO

4.5.1 Reflexão, Transmissão e Espalhamento

A superfície e o fundo do mar são refletores e espalhadores de som e têm grande influência na
operação dos sistemas sonar.

Do ponto de vista da acústica geométrica (teoria dos raios), a interação de uma onda com uma
fronteira plana e lisa separando dois meios resulta em reflexão e transmissão. Parte da energia acústica é
transmitida ao segundo meio segundo a Lei de Snell e parte é refletida de volta de forma especular (ângulo de
reflexão igual ao de incidência). Se a superfície é rugosa, parte da energia é espalhada de volta ao meio original
em ângulos diferentes do especular.

4-17 VERSÃO 1.0


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A Figura 4-10 mostra uma onda plana de fasor


Pi Pr
(amplitude e fase) de pressão Pi incidente em uma fronteira
meio 1 a partir de um meio de características ρ1-c1-α1 (massa
ρ1, c1, α1
específica, velocidade do som e coeficiente de absorção). O
θi θr segundo meio têm características ρ2-c2-α2. O ângulo de
θt
meio 2 incidência é θi. Em conseqüência, há uma onda refletida,
Pt
ρ2, c2, α2 segundo um ângulo de reflexão θr = θi, de fasor (amplitude
e fase) Pr e uma onda transmitida ao meio 2, segundo um
ângulo de transmissão θt, de fasor Pt. Todos os ângulos são
Figura 4-10 - Incidência oblíqua de onda plana medidos em relação à horizontal. O ângulo de transmissão
em uma fronteira obedece à Lei de Snell:

cos θi cos θt
= (4-25 )
c1 c2

As condições de fronteira em acústica referem-se aos valores da pressão e do componente da


velocidade de partícula normal à superfície. Ambas devem ser contínuas na fronteira, por exemplo, Pi+Pr=Pt
(onde a soma deve incluir magnitude e fase). Essas condições levam a três resultados: ângulos de incidência
igual ao de reflexão; relação entre ângulos de incidência e transmissão (Lei de Snell) e às relações entre os
fasores de pressão:

Pr ρ2 c2 sen θi − ρ1c1 sen θt


R= =
Pi ρ2 c2 sen θi + ρ1c1 sen θt
( 4-26 )
P
T = t = 1+ R
Pi

onde R é o coeficiente de reflexão (complexo), T é o coeficiente de transmissão (complexo) e

sen θt = 1 − cos2 θt = 1 − (c2 / c1 ) 2 cos2 θi ( 4-27 )

Nestas equações não foi levado em conta o coeficiente de absorção.

Exemplo 4-5 Considere uma onda plana propagando-se na água do mar e incidindo na superfície
(meio 1 - água do mar, c = 1500 m/s, ρc = 1,54×106 Pa s/m; meio2 - ar, c = 343 m/s, ρc = 415 Pa
s/m). Calcule os ângulos da onda transmitida e os coeficientes de reflexão para ângulos de incidência
zero, 30°, 60° e 90°.

Aplicando a Equação ( 4-27 ) obtém-se o seno dos ângulos de transmissão. Por meio das Equações (
4-26 ), calculam-se os receptivos coeficientes. O resultado é apresentado abaixo:

θi senθt θt R T

0 0,9735 76,8° -1,000 0

30 0,9820 78,6° -0,99973 0,000275

60 0,9934 83,4° -0,99953 0,000470

4-18 VERSÃO 1.0


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θi senθt θt R T

90 1,000 90,0 -0.99946 0,000539

Valores negativos de R indicam que reflexão provoca defasagem de 180°.

Exemplo 4-6 Considere uma onda plana propagando-se na água do mar (c = 1500 m/s, ρc =
1,54×106 Pa s/m) (meio 1) e incidindo em um fundo com características c = 1540 m/s, ρc = 2,76×106
Pa s/m (meio 2). (a) Calcule os ângulos da onda transmitida e os coeficientes de reflexão para
ângulos de incidência 30°, 60° e 90°. (b) Para qual ângulo de incidência o ângulo de transmissão
torna-se zero? (c) Qual o valor do coeficiente de reflexão para ângulos menores que o valor
encontrado em b?

(a) Procedendo como no Exemplo 4-5, obtém-se a Tabela abaixo:

θi senθt θt R T

20 0,2632 15,3° 0,39926 1,39926

30 0,4577 27,2° 0,32386 1,32386

60 0,8582 59,1° 0,28789 1,28789

90 1,000 90,0 0,28372 1,28372

Obs.: Valores de T maiores que a unidade indicam que a amplitude da onda de pressão transmitida é
maior que a incidente. Porém, a intensidade transmitida (associada à potência) nunca será maior
que a incidente.

(b) Para θt = 0, a Equação ( 4-27 ) nos dá cosθi = c1/c2 θi = acos(c1/c2) = 13,087°, que é denominado
ângulo crítico θc. Quando o ângulo de incidência é igual ao crítico, senθt = 0, R = 1, T = 2.

(c) Para ângulos de incidência menores que o indicado no item b, o seno de θt torna-se imaginário.
Deste modo o coeficiente de reflexão torna-se complexo, com magnitude constante igual a 1 (por
quê?). Este (R = 1) é o caso de reflexão total que ocorre quando c1<c2 e θi ≤ θc.

Em certos casos, dependendo dos valores de velocidade do som e massa específica dos meios, pode
ocorrer que o coeficiente de reflexão é nulo para um certo valor de ângulo de incidência denominado ângulo de
intromissão. Quando R = 0, diz-se haver transmissão total.

O espalhamento decorre de irregularidades na fronteira. A influência da rugosidade depende da


freqüência. Se o comprimento de onda for muito maior que as dimensões das irregularidades da fronteira, então
tudo se passa como se a fronteira fosse lisa. A medida que o comprimento de onda diminui (ou a rugosidade
aumenta), parte da energia que seria refletida na direção especular (θr = θi) é espalhada em outras direções até o
ponto em que toda a energia incidente é espalhada. O espalhamento, em termos de sistema sonar, tem o efeito de
aumentar a perda por reflexão, ensonificar regiões que não o seriam normalmente (zonas de sombra) e provocar
reverberação.

Um critério utilizado para se verificar a influência da rugosidade de uma superfície é dado pelo
parâmetro de Rayleigh:

4-19 VERSÃO 1.0


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h
K = kh sen θi = 2π sen θi ( 4-28 )
λ

onde k = 2π/λ é o número de onda, λ = c/f é o comprimento de onda, θi é o ângulo de incidência medido em
relação à horizontal e h é a altura eficaz (rms) das irregularidades da fronteira. Quando K << 1, a superfície é
lisa. Isto ocorre na prática quando h << λ (freqüências “baixas” ou “superfícies suaves”) ou quando o ângulo de
incidência é baixo, θi ≈ 0 (incidência paralela à fronteira). Neste caso a superfície atua como refletora. Quando K
>> 1 a superfície atua como espalhadora, distribuindo energia em todas as direções. O coeficiente de reflexão
especular R é multiplicado por um fator µ (i.e., Pr /Pi = µR) que, sob certas condições teóricas, é dado por µ =
exp(-K). Quando a superfície é lisa, K<<1, µ ≈ 1 e µR ≈ R. Quando a superfície é muito rugosa, K>>1, µ ≈ 0 e
µR ≈ 0, indicando que não há reflexão especular.

A perda em cada reflexão é definida como a razão entre a intensidade incidente e refletida, expressa
em dB:

Ii P 1
TLrefl = 10 log = 20 log i = 20 log ( 4-29 )
Ir Pr R

4.5.2 - A Superfície do Mar - Perda na Reflexão

A superfície do mar é a fronteira entre o mar e o ar. Como a impedância acústica específica do ar
(ρ2c2) é várias ordens de grandeza menor que a da água(ρ1c1), o coeficiente de reflexão pode ser aproximado
para

Pr ρ2 c2 sen θi − ρ1c1 sen θt − ρ1c1 sen θt


R= = ≈ = −1
Pi ρ2 c2 sen θi + ρ1c1 sen θt ρ1c1 sen θt

indicando que a onda refletida tem mesma amplitude e fase oposta à incidente, havendo reflexão total. Na
realidade, uma parte muito pequena da energia incidente é transmitida para o ar. A perda por reflexão na
superfície será, então, TLrefl = 0 dB.

Em decorrência da presença de ondas, a superfície do mar pode atuar também como espalhador,
reduzindo a magnitude do coeficiente de reflexão, conforme discutido na Seção anterior, acarretando TLrefl > 0
dB. O parâmetro h que mede a altura rms das irregularidades da fronteira no cálculo do parâmetro de Rayleigh
[vide Equação ( 4-28 )] refere-se, no caso do mar, à altura rms da onda provocada pelo vento local (i.e.,
descontando o efeito de swell provocado por ondas originadas em locais distantes). Em oceanografia é usual
empregar-se a altura significativa da onda ho. A altura eficaz é dada por h ≈ ho/4. Atualmente, recomenda-se
empregar a velocidade do vento como parâmetro para estimar a rugosidade do mar. Em um mar completamente
desenvolvido †, a altura significativa da onda (metro) é dada por

( 4-30 )
ho = 4h = 5,67 × 10 −3 U 2

onde U é a velocidade do vento em nó. Essa expressão é válida para velocidades de vento inferiores a 20 nós.
Um modelo para perdas por reflexão na superfície do mar é dado por


mar completamente desenvolvido é aquele em que a influência do vento local faz-se sentir em sua plenitude, o
que ocorre quando o vento tem duração e pista (distância de interação vento-mar) suficientes.

4-20 VERSÃO 1.0


IPqM-013-0177-ET/97

[ ]
TLrefl = 20 log exp( 2 K 2 ) , dB / reflexão
( 4-31 )
(limitado a 11 dB / reflexão)

onde K é o parâmetro de Rayleigh dado pela Equação ( 4-28 ).

Exemplo 4-7 Determine a perda sofrida em cada reflexão na superfície de um raio sonoro a 5° da
horizontal, nas freqüências de 3 KHz e 10 KHz e velocidades do vento de 5 nós e 10 nós.

Considerando c = 1500 m/s, emprega-se a Equação ( 4-30 ) para obter a altura rms da onda, a
Equação ( 4-28 ) para calcular o parâmetro de Rayleigh e a Equação ( 4-31 ) para obter TLrefl. Os
resultados são apresentados na Tabela abaixo, onde podem ser observados os efeitos de freqüência
e altura de ondas na perda por reflexão (ou melhor, por espalhamento).

Freqüência (KHz) Vento (nó) h (m) K TLrefl, dB/reflexão

3 5 0,0354 0,03877 0,03

10 0,142 0,1555 0,4

10 5 0,0354 0,1292 0,3

10 0,142 0,5184 4,7

4.5.3 A Superfície do Mar - Efeito Imagem-Interferência

Quando a superfície é pouco rugosa, observa-se no mar um certo padrão de interferência no campo
acústico decorrente de uma fonte acústica próxima à superfície. Este padrão decorre da interferência da onda
direta com a onda refletida na superfície que atinge um determinado ponto. Este fenômeno é conhecido como
efeito imagem-interferência ou efeito de espelho de
Lloyd (Lloyd mirror effect).
r
A geometria do problema é apresentada
na Figura 4-11. Uma fonte na profundidade h1
h1 l2 θ h2 ensonifica um receptor na profundidade h2, distante
l1 em linha reta. A onda refletida na superfície
percorre uma distância total l2 antes de atingir o
fonte receptor. A pressão acústica total no receptor é a
l1
soma (magnitude e fase) das ondas direta e
refletida. A diferença em amplitudes entre as duas
receptor
ondas decorre das diferentes distâncias percorridas
Figura 4-11 - Efeito de Lloyd mirror e do fato da onda incidente ser ainda reduzida pelo
fator µ ≤ 1, decorrente da rugosidade da superfície
do mar. A diferença de fase decorre da diferença de distâncias e da inversão de fase ocorrida na reflexão
especular (R = -1). Para distâncias r grandes em comparação com as profundidades (de modo que r ≈ l1 ≈ l2), a
amplitude de pressão no receptor é dada por:
( 4-32 )
A  4π h1h2 
P(r ) = 1 + µ 2 − 2 µ cos 
r  λr 

4-21 VERSÃO 1.0


IPqM-013-0177-ET/97

A perda TLgeom entre fonte e receptor (considerando que a amplitude de pressão a 1m da fonte em espaço livre é
A) é dada por

A   4π h1h2  
TLgeom = 20 log = 20 log r − 10 log 1 + µ 2 − 2 µ cos  ( 4-33 )
P   λ r 

onde o segundo termo logarítmico é por vezes denominado anomalia de transmissão (em relação à perda
esférica 20logr). A Equação ( 4-33 ) inclui o efeito da perda por reflexão na superfície.

A Figura 4-12 apresenta o gráfico de


50
µ=1 TLgeom para o presente problema, em função da
20log r distância normalizada λr/4h1h2. O gráfico
correspondente à perda por divergência esférica
0 (20 log r) é também mostrado para
TLgeom comparação. Na ausência de rugosidade da
superfície (µ = 1), o efeito do padrão de
-50 interferências é evidente para distâncias
50 µ = 0,5
normalizadas inferiores à unidade. As perdas,
20log r nesta região próxima à fonte, variam,
teoricamente, de infinito (onde a pressão
0 acústica é anulada pela soma das componentes
TLgeom
direta e refletida em oposição de fase) até 6 dB
-50 abaixo da perda esférica. Para distâncias
0.1 1 λr 10 normalizadas acima da unidade, o TLgeom tende
4h1h2 a 40 log r, o dobro da que seria decorrente de
divergência esférica. Quando a superfície do
Figura 4-12 - TLgeom para fonte próxima à superfície do
mar (µ = 1 corresponde a superfície sem ondas) mar está agitada, (µ = 0,5, por exemplo) o
padrão de interferência torna-se mais fraco. Se
fizermos µ = 0 na Equação ( 4-33 ),
correspondente a uma superfície extremamente agitada, a perda reduz-se à de divergência esférica, indicando
ausência total de padrão de interferência.

O efeito, observado com superfície lisa (µ = 1) de perda igual a 40 log r a grandes distância da fonte
pode também ser entendido sob outro ponto de vista. Uma fonte próxima à superfície (em termos de
comprimento de onda) forma, com sua imagem na superfície, um dipolo. A grandes distâncias, correspondente a
ângulos horizontais próximo a zero ( θ ≈ 0 na Figura 4-11) um observador verá duas fontes acústicas próximas
(a fonte propriamente dita e sua imagem na superfície) de mesmo poder de fonte, porém defasadas de 180°
(decorrente de um coeficiente de reflexão igual a -1). O campo acústico medido será, portanto, menor que o
decorrente de uma única fonte, sendo, teoricamente, nulo na superfície ‡.

O efeito imagem-interferência pode ser explorado por um sonar passivo, por exemplo, uma sonobóia,
para estimar se um submarino está se aproximando, observando como a intensidade de um tom conspícuo
emitido pelo alvo varia com o tempo (quando o alvo estiver próximo, dentro da região de flutuação do TL, o


pode-se verificar que, nas condições de grandes distâncias, superfície do mar calma (lisa) e fonte próxima à
superfície (h1<<λ), a pressão resultante é dada por P(r) ≈ (4πAh1 / rλ)sen θ, onde se observa o fator direcional
senθ, típico de dipolos.

4-22 VERSÃO 1.0


IPqM-013-0177-ET/97

sinal variará de intensidade em função da distância sonar-alvo). Deve-se evitar, no entanto, posicionar a
sonobóia muito próximo à superfície, onde a pressão acústica tende a ser reduzida (o padrão imagem-
interferência e suas conseqüências não se alteram se trocarmos a posição da fonte acústica com o receptor). Este
efeito deve ser considerado em medições acústicas realizadas no mar, como, por exemplo, no levantamento de
assinaturas acústicas de navios. Finalmente, no cálculo de perdas por raios, deve-se corrigir o valor calculado se
o efeito for significativo.

4.5.4 A Superfície do Mar - Zonas de Sombra

Quando o gradiente de velocidade é negativo próximo à superfície, os raios sonoros curvam-se para
baixo, provocando, a alguma distância da fonte, uma região não ensonificada denominada zona de sombra.

A Figura 4-13 é o diagrama de raios para uma fonte próxima à superfície em gradiente de velocidade
negativo. O raio limite é aquele que se torna horizontal na superfície do mar. Se a velocidade do som na
profundidade da fonte é cf e na superfície é co, então o raio limite será o emitido na fonte com ângulo (dado pela
Lei de Snell) θf = acos(cf /co).

Exemplo 4-8 Para a situação da Figura 4-13, o gradiente de velocidade vale g = ∆c/∆z = -7,5/50 = -
0,15 s-1 e a velocidade na profundidade da fonte vale cf = co+g×zf = 1500-0,15×5 = 1499,25 m/s. O
raio limite será emitido a θo = acos(1499,25/1500) =1,81° de elevação, na fonte.

c, m/s
1492,5 1500
0
prof, m raio
limite
10

zona de
20 sombra

30

40

50
0 0.5 1 dist, Km 1.5

Figura 4-13 - Diagrama de raios para uma fonte a 5m de profundidade em gradiente constante. A zona de
sombra é indicada

Embora a teoria de raios preveja um campo nulo na zona de sombra, a intensidade acústica não é zero
(porém é baixa em relação ao que seria de se esperar em condições de espaço livre). No mar, vários fatores
contribuem para a ensonificação da zona de sombra. Primeiramente, o gradiente tende a zero junto à superfície,
possibilitando que raios de ângulo maior que θo atinjam a região de sombra. Em segundo lugar, a agitação da
superfície provoca espalhamento de energia dos raios refletidos em outras direções que não a especular. De
modo análogo, o volume da água contém espalhadores (matéria inorgânica em suspensão, animais marinhos,
bolhas de ar). Parte da energia espalhada, seja na superfície ou no volume da água, acaba “escapando” para a
zona de sombra. No caso de águas rasas, onde a reflexão do fundo assume importância, a zona de sombra pode
não ocorrer.

4-23 VERSÃO 1.0


IPqM-013-0177-ET/97

4.5.5 A Superfície do Mar - Flutuação do Som

A agitação da superfície do mar provoca flutuações do sinal recebido em um sistema sonar. Essas
flutuações são observadas como variação do nível e espalhamento em freqüência do sinal recebido.

A cada reflexão na superfície agitada, as ondas acústicas encontram uma fronteira cuja altura e
orientação está mudando. Assim sendo, mesmo que a fonte acústica e o receptor sejam fixos, o sinal se propaga
em um ambiente de características variáveis com o tempo, provocando flutuações da intensidade do sinal que
chega ao receptor. Flutuações rápidas e lentas de intensidade são observadas no mar. Em sistemas pulsados
observam-se tanto diferenças entre as intensidades de pulsos adjacentes quanto variações de amplitude durante
um único pulso. Variações na faixa de 10 dB não são raras quando se opera com pulsos estreitos.

O outro efeito, na freqüência do sinal, pode ser entendido se encararmos a superfície agitada como um
refletor em movimento que produz efeito doppler. Em um sinal originalmente de freqüência única, a agitação
provoca o aparecimento de freqüências laterais que, de certa forma, reproduzem o movimento da superfície do
mar. Este feito é mais importante em sistemas de freqüências elevadas de banda estreita, como, por exemplo,
sistemas de comunicação.

O resultado da agitação da superfície do mar é que o sinal recebido apresenta variações de amplitude
e freqüência que pode ser encarado como uma modulação imposta ao sinal original. Quanto maior o estado do
mar, mais energia é “espalhada” em freqüência, aumentando a banda do sinal.

4.5.6 O Fundo do Mar

O fundo do mar é refletor e espalhador de som, tal como a superfície porém (geralmente) imóvel. No
entanto, seus efeitos acústicos são de modelagem física mais complexa e de difícil previsibilidade devido à
estrutura em camadas (não necessariamente planas ou horizontais) e à diversidade de tipos de fundo.

Os efeitos de imagem-interferência (Lloyd mirror) e o aparecimento de zonas de sombra (desta vez


devido a um gradiente positivo) decorrente de uma fonte próxima ao fundo ocorrem de maneira análoga à da
superfície.

Com relação à reflexão, a Equação ( 4-26 ) prevê que as características de reflexão do fundo são
função da massa específica e da velocidade do som do material que o forma. Embora não explícito naquela
equação (cuja dedução não levou em conta a absorção do som), o coeficiente de absorção do material do fundo
tem grande influência nas características de reflexão.

O fundo do mar possui uma estrutura complexa e variável. Ele começa na fronteira água--sedimento e
se estende até a crosta oceânica composta basicamente de ferro e manganês. Em certas regiões, a crosta
“aflora” e a camada sedimentar é praticamente nula. Os sedimentos tem diversas origens. Partículas de argila,
originadas de erosão em terra, caem para o fundo. Animais e plantas marinhas tem esqueleto de sílica (SiO2) ou
carbonato de cálcio (CaCO3) que, eventualmente, caem para o fundo. Além das camadas formadas por estes
materiais, com predominância de um ou outro, dependendo da região, há ainda outras formadas por material de
origem vulcânica. Próximo à costa, produtos de erosão movem-se em direção aos oceanos, dependendo das
correntes costeiras presentes. Nessas áreas, os rios têm um papel importante. Cada um desses materiais
apresenta características acústicas (massa específica, velocidade do som e coeficiente de absorção) próprias, que
variam de acordo com a profundidade da respectiva camada. Por exemplo, velocidades do som em sedimentos
variam de 1490 m/s a 1840 m/s e as densidades entre 1,2 e 2 (à pressão atmosférica).

Em sistemas sonar somente as camadas próximas à fronteira com a água têm importância. Em
freqüências acima de cerca de 100Hz, o som que penetra e se propaga no fundo é tão atenuado que pode ser

4-24 VERSÃO 1.0


IPqM-013-0177-ET/97

desprezado. Deste modo, podemos modelar o fundo como um refletor de som constituído pelo material da
camada superficial.

Embora a Equação ( 4-26 ) seja muito simples para poder ser aplicada a fundos reais, pode nos
fornecer algumas “pistas” do que pode ocorrer. Na Figura 4-14, o resultado daquela expressão é mostrado para
quatro casos de velocidades de propagação e massas específicas do material do fundo.

Em fundos rápidos (p.ex., areia, argila) observa-se que para ângulos de incidência até um certo valor
de ângulo crítico θc o coeficiente de reflexão é unitário, ou seja a reflexão é total, toda energia incidente é
refletida de volta, nenhuma é transmitida e TLrefl = 0 dB. Este é o desejável em ambientes nos quais a reflexão
no fundo é inevitável (águas rasas) ou proposital (modo de operação por reflexão no fundo, bottom bounce,
encontrado em alguns sistemas sonar). Os raios incidentes em ângulos inferiores a θc não sofrem perdas na
reflexão, o que propicia maiores alcances. O ângulo crítico θc é o ângulo de incidência para o qual o ângulo de
transmissão θt torna-se nulo ou imaginário, indicando que não há transmissão para o fundo. Fazendo-se a
expressão sob o radical da Equação ( 4-27 ) igual a zero quando θi = θc, obtém-se

c1
cosθc = ( 4-34 )
c2

Em fundos lentos-densos e leves-rápidos pode ocorrer um ângulo de intromissão θI para o qual o


coeficiente de reflexão é (teoricamente) nulo e a perda por reflexão infinita, correspondente à condição de
transmissão total para o fundo. O valor do ângulo de intromissão é calculado igualando a Equação ( 4-26 ) a
zero, obtendo-se

2 2
 c1   ρ2 
  − 
 c2   ρ1 
cosθI = 2 ( 4-35 )
ρ 
1−  2 
 ρ1 

O efeito da absorção do fundo é indicado como linha pontilhada nos gráficos da Figura 4-14. Um
coeficiente de absorção não nulo acarreta uma certa suavização das curvas de coeficiente de reflexão. O
coeficiente de absorção dos materiais do fundo é maior que o da água e segue, aproximadamente, a expressão α
= k f n dB/m, onde f é a freqüência em KHz e k e n são constantes empíricas. Em medições realizadas em vários
materiais verificou-se que n é aproximadamente unitário. A constante k depende da porosidade do material,
valendo cerca de 0,5 para porosidade na faixa de 35% a 60%.

Nos fundos reais, o modelo da Equação ( 4-26 ) não é satisfatório, conforme indicado anteriormente.
Uma das razões é que certos materiais suportam ondas acústicas transversais (ou de cisalhamento), típicas de
sólidos, que possuem valores de velocidade de propagação e coeficientes de absorção diferentes dos das ondas
compressionais (em fluidos e sólidos). Em segundo lugar, o fundo é formado por camadas de diferentes
materiais. Em cada fronteira entre camadas, ocorre transmissão e reflexão e parte das ondas refletidas nas
camadas inferiores retornam à superfície e se somam com a onda refletida na fronteira água-fundo.

4-25 VERSÃO 1.0


IPqM-013-0177-ET/97

fundos rápidos fundos lentos


(c2>c1) (c2<c1)
1 1
R R
fundos densos
(ρ2>ρ1) 0.5 0.5

ρ1 c1 água
0 0
θi θr = θi 0 θc θi 80 0 θI θi 80
θt
fundo
ρ2 c2 1 1
R R
fundos “leves”
0.5 0.5
(ρ2<ρ1)

0 0
0 θc θI θi 80 0 θi 80
Figura 4-14 - Coeficiente de reflexão para quatro casos de características de fundo a partir das
combinações de fundos rápidos (c2 > c1), lentos (c2 < c1), densos (ρ2 > ρ1) e leves (ρ2 < ρ1); a linha tracejada
indica a influência de perdas por absorção no fundo.

O valor das perdas por reflexão no fundo pode ser medido diretamente no mar ou calculado a partir
das características geofísicas do material do fundo. A Figura 4-15 apresenta algumas curvas de perdas por
reflexão, em função do ângulo de
9 incidência, baseadas em resultados de
30 experimentos realizados na faixa de 1KHz a
TL, dB 4KHz pelo Naval Oceanographic Office da
marinha norte-americana na década de 60.
20 Os números indicam uma classificação de
5
tipo de fundo de acordo com o grau de
10 perdas (1 é o de menor perda, 9, o de
1 maior). Não há indicação da natureza ou
características físicas desses fundos. Essas
0 curvas são associadas a cartas indicando
0 20 40 60 80 θi
qual curva deve ser usada em determinada
Figura 4-15 - Curvas de perdas baseadas em medições
região.

Medições realizadas em freqüências baixas (< 100 Hz) indicam que a propagação do som no material
do fundo pode ser um fenômeno significativo, o que decorre da baixa absorção do som nessas freqüências.

Exercícios de Fixação

1. (a) Descreva os fenômenos de reflexão, transmissão e espalhamento de uma onda acústica plana
incidindo na fronteira com um segundo meio. (b) Em que condições o espalhamento predomina sobre a
reflexão?

4-26 VERSÃO 1.0


IPqM-013-0177-ET/97

2. Qual o significado físico de um coeficiente de transmissão maior que a unidade?

3. Calcule as perdas por reflexão correspondentes ao Exemplo 4-5 e ao Exemplo 4-6.

4. Quais os valores dos coeficientes de reflexão e transmissão no caso de incidência em uma (a)
superfície livre (ρ2 = c2 = 0) e (b) superfície perfeitamente rígida (c2→∞)?

5. Um pulso sonar CW propaga-se no mar (c = 1500 m/s, ρc = 1,54×106 Pa s/m). Qual a amplitude de
pressão da onda refletida e transmitida (em relação à incidente) e a perda por reflexão (dB) quando a onda incide
com ângulo de 45° em uma fronteira com um segundo meio cujas características são (a) c2 = 343 m/s, ρ2c2 =
415 Pa s/m (ar); (b) c2 = 2070 m/s, ρ2c2 = 3,58×106 Pa s/m (areia de quartzo)? (c) A aproximação R = -1, T = 0,
TLrefl = 0 dB é razoável para o caso do ar?

6. Determine as perdas por reflexão nos casos de (a) reflexão total e (b) transmissão total.

7. Esboce curvas de perda por reflexão correspondentes àquelas de coeficientes de reflexão apresentadas
na Figura 4-14.

8. Um sonar ativo opera na freqüência de 5 KHz. Considerando que o maior ângulo de incidência da onda
acústica transmitida com a superfície do mar é cerca de 10°, para fins práticos, verifique se o espalhamento é
considerável com estado do mar (a) um (altura da onda h ≈ 0,1 m) e (b) três (h ≈ 1 m). (c) Calcule as perdas
por reflexão nesses casos.

9. Descreva o efeito Lloyd’s mirror.

10. Descreva o processo de formação de zona de sombra próximo à superfície e próximo ao fundo do mar.
(b) Sob que condições podem ocorrer? (c) Esboce um diagrama de raios e o perfil de velocidade
correspondentes a cada caso.

11. Para um sistema de escuta que opere em freqüências abaixo de 100 Hz, é suficiente modelar
acusticamente o fundo como formado somente pela camada superficial? Por quê?

12. (a) Com relação à reflexão do som no fundo do mar defina ângulos crítico e de intromissão. (b) Quais
as condições necessárias para que existam?

13. (a) Considerando as curvas de coeficiente de reflexão apresentadas na Figura 4-14, qual seria a melhor
condição para operação de um sonar em águas rasas? (b) E qual a pior?

14. Em qual das curvas da Figura 4-15 pode se observar uma tendência a ocorrer o fenômeno de
intromissão?

4.6 AMBIENTES ACÚSTICOS

A propagação do som no mar a grandes distância ocorre através de dutos que confinam a energia
sonora, evitando que as ondas acústicas se propaguem em todas as direções. Em águas rasas, por exemplo, o
som propaga-se por reflexões entre o fundo e a superfície. A camada de mistura forma um duto de superfície em
decorrência da sua característica isotérmica. Outros dutos de ocorrência comum no mar são o canal sonoro
profundo e os dutos internos. As zonas de convergência, formadas por focalização do som em águas profundas,
assumem também importância para detecção a grandes distâncias.

4-27 VERSÃO 1.0


IPqM-013-0177-ET/97

4.6.1 Duto de Superfície

Conforme mencionado anteriormente, a ação combinada de ventos e aquecimento superficial, dá


origem a uma camada de água isotérmica onde o gradiente de velocidade é positivo. Nessa camada de mistura, o
som se propaga refratando-se em direção à superfície, onde é refletido e, depois, novamente refratado em
direção à superfície. Forma-se, então um duto de superfície de grande importância para a operação de sistemas
sonar.

Na Figura 4-16, uma fonte acústica está na profundidade zf em uma camada de mistura de
profundidade H. O perfil de velocidade que caracteriza a camada de mistura é mostrado à esquerda. Um raio
partindo da fonte refrata para cima, em decorrência do gradiente de velocidade positivo que caracteriza a
camada. Raios em trajetória para cima refletem na superfície. Raios que interceptam a fronteira inferior da
camada passam para a região inferior, onde seguem uma trajetória determinada pelo gradiente de velocidade
abaixo da camada. Somente raios que partem da fonte com ângulos de depressão ou elevação inferiores a θlim
permanecem no duto. O ângulo θlim é calculado pela Lei de Snell: os raios que partem da fonte com aquele
ângulo chegam na profundidade de camada H na horizontal (θ = 0). Sendo co a velocidade na profundidade H e
cf a velocidade na profundidade da fonte, teremos:

cosθ f cos 0 cf
= ∴ cosθlim =
co θ f =θlim
( 4-36 )
cf co

rs rs ≈ (8co H/g)1/2, g = 0,016 s-1

r
cf co
0 c(z)
θsup
raios
θlim limites
zf
θlim

raio zona de sombra


crítico

Figura 4-16 - Propagação na camada de mistura - duto de superfície

4-28 VERSÃO 1.0


IPqM-013-0177-ET/97

A faixa de ângulos ∆θ = 2θlim de raios que ficam “presos” no duto é pequena. Por exemplo, seja um
duto de profundidade 30 m com gradiente +0,016 s-1 (correspondente a águas isotérmicas), velocidade do som
na superfície de 1500 m/s e um projetor sonar de casco a 5m de profundidade. Na profundidade do projetor a
velocidade do som é cf = 1500+0,016×5=1500,08 m/s; na profundidade de camada, co = 1500+0,016×30 =
1500,48 m/s. A Equação ( 4-36 ) nos dá θlim = 1,32°, de modo que 2,64° é a parte da largura de feixe vertical
responsável pela ensonificação da camada de mistura. Sonares de busca têm larguras de feixes verticais de 6 dB
entre 10° e 20° normalmente e somente uma parcela da energia emitida será propagada no duto. Apesar disto, a
ocorrência de dutos de superfície proporciona alcances sonar consideráveis.

A perda na transmissão no duto de superfície envolve os seguintes mecanismos:

• divergência (TLgeom): próximo à fonte, a perda geométrica aproxima-se do valor da divergência


esférica, 20logr; a grandes distâncias da fonte, a divergência tende à cilíndrica, 10logr ;

• absorção (TLabsor), α r;

• espalhamento na superfície rugosa do mar (TLrefl), a qual também é responsável pela


ensonificação parcial da zona de sombra; essa perda é normalmente expressa em termos de
decibéis por reflexão (dB/reflexão ou “dB/bounce”) do raio limite na superfície ou dB por
unidade de distância [vide Equação ( 4-31 )];

• fuga de energia na fronteira inferior do duto (TLfuga) que depende da freqüência, da profundidade
de camada e do contraste entre os gradientes de velocidade da camada de mistura e da
termoclina logo abaixo; é usualmente expresso em dB por unidade de distância;

Uma fórmula empírica para o cálculo de perdas no duto é [Ref.1:157]:

TL = 20 log r + (α + α E )r × 10 −3 , r < 580 H


TL = 10 log rs + 10 log r + (α + α E )r × 10 −3 , r ≥ 580 H
onde:
( 4-37 )
10 log rs = 23 + 5 log H
16 f (1,4) S
αE = dB / Km
H (1452 + 3,5T )
faixa de validade e unidades:
f = 3,25 a 7,5 KHz (frequencia)
 

r = 1000 a 50000 m (distancia)
H = 24 a 70 m (profundidade de camada)
S = 2 a 5 (estado do mar)
T = temperatura, ° C
α = coeficiente de absorção, dB / Km

que se aplica a ambientes com gradientes médios na termoclina abaixo da camada de mistura. O coeficiente αE
inclui os efeitos de espalhamento na superfície e de escape de energia na fronteira inferior do duto. A expressão
acima fornece resultados aproximados independentes das profundidades da fonte o do receptor. Na prática,
verifica-se que a intensidade sonora diminui (e as perdas aumentam) com a profundidade dentro da camada.

4-29 VERSÃO 1.0


IPqM-013-0177-ET/97

Exemplo 4-9 Qual o alcance do sonar do Exemplo 4-3 (TLrequerido = 90 dB) quando operando em
uma região onde há uma profundidade de camada de 25m, supondo que o alvo está localizado no
duto. O estado do mar é 2 (vento de 8 nós) e a temperatura da água do mar é de 20°C (supor
Equação ( 4-37 ) válida para 10 KHz).

(a) A 3 KHz, α = 0,15 dB/Km. Empregando a Equação ( 4-37 ), obtemos αE = 0,48 dB/Km e 10logrs =
30,0.

Quando r ≥ 580H1/2 = 2900 m, TL [da Equação ( 4-37 )] ≥ 71 dB, logo devemos empregar a equação
do TL para r ≥ 580H1/2 a fim de obtermos o valor da distância r que resulta em TL = 90 dB.

Então, resolvendo 90 = 30,0 + 10logr + (0,48+0,15)×10-3r, obtemos r = 25,3 Km.

O alcance é maior que o calculado no Exemplo 4-3, indicando que as perdas o duto de superfície são
menores que as de divergência esférica (incluindo absorção).

(b) A 10 KHz, α = 0,6 dB/Km. Empregando a Equação ( 4-37 ), obtemos αE = 1,6 dB/Km e 10logrs =
30,0.

Quando r ≥ 580H1/2 = 2900 m, TL [da Equação ( 4-37 )] ≥ 71 dB, logo devemos empregar a equação
do TL para r ≥ 580H1/2 a fim de obtermos o valor da distância r que resulta em TL = 90 dB.

Então, resolvendo 90 = 30,0 + 10logr + (1,6+0,6)×10-3r, obtemos r = 9,2 Km.

O alcance é menor que o calculado no Exemplo 4-3, indicando que as perdas o duto de superfície
são maiores que as de divergência esférica (incluindo absorção). Isto se deve ao alto coeficiente de
perda αE em 10 KHz.

Exemplo 4-10..Considerando que o transdutor do sonar do Exemplo 4-9 está instalado a 5 m de


profundidade, determine (a) a faixa de valores de ângulos ∆θ =2θo de raios que se propagam no
duto; (b) a perda por reflexão na superfície. (c) Compare esses valores com o αE obtido no Exemplo
4-9.

(a) Para uma temperatura de 20°C, a velocidade do som na superfície, supondo salinidade 35 ppt, é
obtida através da Equação ( 4-13 ): cs = 1521,52 m/s. Como g = 0,016 s-1, as velocidades na
profundidade da fonte e na profundidade da camada são, respectivamente, cf = 1521,60 m/s e co =
1521,92 m/s. O raio (limite) que atinge a horizontal na profundidade de camada sai da fonte com
ângulo θo = acos(1521,6/1521,92) = 1,175°. Logo, ∆θ = 2,35°.

(b) O raio limite atinge a superfície com ângulo θsup = acos(1521,52/1521,92) = 1,314°. A altura rms
das ondas é obtida através da Equação ( 4-30 ): h = 0,3629 m. O parâmetro de Rayleigh [Equação (
4-28 )] vale K = 2π×0,3629×sen(1,314°)×f / 1521,52 = 34,37×10-6f.

Na freqüência de 3KHz, K = 0,1031 e a perda, pela Equação ( 4-31 ), vale TLrefl = 0,185 dB/reflexão.

Na freqüência de 10KHz, K = 0,3437 e a perda, pela Equação ( 4-31 ), vale TLrefl = 2,052
dB/reflexão.

(c) Uma reflexão do raio limite ocorre, de acordo com a Figura 4-1, a cada rs =
(8×1521,92×25/0,016)1/2 = 4361 m. Então podemos considerar que a perda calculada no item anterior
é dada em dB a cada 4361 m. Deste modo:

4-30 VERSÃO 1.0


IPqM-013-0177-ET/97

• a 3KHz, 0,185 dB/reflexão ≈ 0,185/4,361 = 0,0424 dB/Km (comparar com αE = 0,48 dB/Km)

• a 10 KHz, 2,052 dB/reflexão ≈ 2,052/4,361 = 0,47 dB/Km (comparar com αE = 1,6 dB/Km)

Os valores obtidos no presente exemplo são menores que os αE calculados no exemplo anterior.
Primeiramente, o valor aqui calculado não inclui a perda por fuga. Em segundo lugar, as equações
empregadas têm diferentes origens. A Equação ( 4-37 ), por exemplo, é empírica, seus parâmetros
foram obtidos a partir de médias realizadas com inúmeros dados experimentais. As expressões
empregadas para o cálculo da perda por reflexão têm origens teórica e empírica [provavelmente a
partir de dados diferentes daqueles que levaram à Equação ( 4-37 )]. A validade de se aplicar um
determinado modelo a condições reais em uma determinada região no mar só pode ser verificada
experimentalmente.

Na zona de sombra, a teoria de raios prevê campo nulo. A intensidade sonora na zona de sombra não
é nula, conforme discutido na Seção 4.5.3, porém, é muito baixa. A grandes distâncias da fonte, a zona de
sombra tende a ser ensonificada pelas reflexões no fundo.

Em freqüências baixas, as ondas acústicas não ficam restritas ao canal. Por analogia com guias de
onda, isto ocorre para freqüências abaixo da freqüência de corte do menor modo de propagação. Usando valores
típicos de gradiente de velocidade e de velocidades de propagação, a freqüência de “corte” do duto de superfície
é cerca de

f min = 176 × 103 H −3/2 ( 4-38 )

onde H é a profundidade de camada em metros e fmin em Hz. Para um duto de superfície de 30m de
profundidade, a Equação ( 4-38 ) nos dá uma freqüência mínima de 1071 Hz. Este corte não é brusco, mas
freqüências muito abaixo do limite calculado serão fortemente atenuadas. As perdas por espalhamento na
superfície e por absorção aumentam com a freqüência e a de fuga do duto diminuem com o aumento da
freqüência. Deve existir uma freqüência ótima na qual a perda no duto seja mínima. Essa freqüência é
aproximadamente fmin [Equação ( 4-38 )].

Observa-se que ocorre flutuação da intensidade acústica na camada de mistura. Além dos fatores
mencionados na Seção 4.5.5, as condições de propagação no duto são afetadas pela ocorrência de ondas internas
na termoclina abaixo da camada. Estas ondas provocam variações na profundidade H da camada de forma
análoga às ondas da superfície do mar.

4.6.2 Canal Sonoro Profundo

Em águas profundas observa-se um mínimo de velocidade do som em profundidades que variam de


cerca de 1200 m, em latitudes baixas, até próximo a zero, em regiões polares. Como os raios sonoros refratam-se
em direção ao mínimo de velocidade do som, ondas acústicas geradas por uma fonte sonora próxima daquela
profundidade refratam-se em direção ao mínimo, concentrando energia em uma região, como em um duto, o
canal sonoro profundo ou canal sofar (sound fixing and ranging). Uma porção da energia acústica irradiada não
interage com as fronteiras (fundo e superfície), proporcionando perdas muito baixas. Em um experimento, o
sinal de uma fonte colocada no eixo do canal sofar próximo às ilhas Heard (53° 06′ S, 73° 30′ E) foi recebido
em ambas as costas dos EUA, numa forma de propagação transoceânica (oceanos Índico, Pacífico e Atlântico).

A Figura 4-17 é o diagrama de raios sonoros para uma fonte colocada no eixo do canal sofar. Raios
de ângulos de elevação e depressão de 2°, 4° e 6° são indicados. A concentração de energia no canal é

4-31 VERSÃO 1.0


IPqM-013-0177-ET/97

evidente. Embora não indicados no diagrama, haverá raios que deixam a fonte em ângulos elevados que refletir-
se-ão na superfície e no fundo.

1480 1530 0 20 40
0
c(z) r, Km
m/s



1000

2000
z,m z,m
Figura 4-17 - Diagrama de raios para uma fonte no eixo do canal sonoro profundo

Há várias trajetórias de raios entre a fonte e um ponto qualquer do eixo a grandes distâncias da fonte.
Raios de pequeno ângulo na fonte viajam mais próximo ao eixo, onde a velocidade de propagação é mínima e,
portanto, têm o maior tempo de propagação. Este trajeto próximo ao eixo é o de menor perda. Raios em ângulos
mais elevados têm trajetos que se afastam mais do eixo e, portanto, têm menor tempo de propagação. Em
conseqüência, um pulso emitido por uma fonte no eixo sofar e recebido também no eixo estará espalhado no
tempo ao chegar ao receptor. Primeiro chegam pulsos correspondentes aos raios de grande ângulo. Finalmente,
chega um pulso de maior amplitude correspondente aos raios (“lentos”) próximos ao eixo e, depois, a
intensidade sonora cai bruscamente a zero.

As perdas na propagação em pontos afastados da fonte decorrem de divergência cilíndrica e


absorção. Como pulsos tendem a ser alongados, o TL é usualmente definido, no canal sofar, em termos de
energia do sinal:

Eo
TL = 10 log = 10 log rs + 10 log r + αr ( 4-39 )
Er

onde Eo é a densidade de fluxo de energia transmitida e Er, a recebida. O valor de rs é obtido experimentalmente
[Ref. 1 : 161].

Dependendo da posição da fonte e do receptor dentro do canal sonoro profundo §, a propagação pode
se dar por raios que não interceptam nem o fundo nem a superfície do mar. Isto ocorre, por exemplo, a
distâncias moderadas para um transmissor profundo e um receptor próximo à superfície (ou vice-versa). Tais

§
os limites do canal sonoro profundo são definidos pelas duas profundidades de mesma velocidade máxima no
perfil entre as quais existe um mínimo de velocidade

4-32 VERSÃO 1.0


IPqM-013-0177-ET/97

trajetos são denominados trajetos acústicos confiáveis (reliable acoustic paths) por serem pouco sensíveis a
efeitos da superfície e fundo [Ref. 1 : 163, 195].

4.6.3 Zonas de Convergência

Dentro do canal sonoro profundo podem ser formadas regiões onde ocorrem intensidades sonoras
elevadas. Nos pontos onde os raios sonoros adjacentes interceptam-se em um diagrama, a intensidade é elevada.
A envoltória formada pelos pontos de interceptação de raios adjacentes é denominada cáustica. O cálculo da
intensidade sonora (e, em conseqüência, do TL) em uma cáustica requer o emprego da teoria de onda. Quando
uma cáustica intercepta a superfície do mar, a região próxima à superfície é denominada zona de convergência,
zc.

Uma fonte próximo à superfície dentro do canal sonoro profundo provocará o aparecimento de zc.
Um receptor colocado em uma zc captará sinais , usualmente, de 10 dB a 15 dB acima do que seria esperado por
divergência esférica e absorção. No exemplo da Figura 4-18 verifica-se que os raios emanados da fonte
convergem na superfície nas distâncias de cerca de 55 Km (1a zc), 110 Km (2a zc), 165 Km (3a zc) e assim por
diante. A largura das zc é cerca de 5% a 10% da distância à fonte e a primeira zona tem cerca de 5 Km de
largura. Entre zonas, o nível acústico é baixo e decorre de sinais refletidos no fundo. O início de uma zc é
determinado pelo aparecimento de uma cáustica, onde a intensidade acústica, para um receptor que esteja se
afastando da fonte, aumenta bruscamente com a distância. O término das zc (pontos mais afastados da fonte) é
menos brusco. A largura das zonas aumentam com a distância e, a várias centenas de Km, elas acabam por se
fundir. De interesse prático para detecção sonar é a primeira zc, embora existam notícias de sistemas que
conseguem operar em zonas mais afastadas.

1480 1530 0 50 100 150 r,Km


0
c(z)
m/s
1000

2000

3000

4000
z,m z,m
Figura 4-18 - Diagrama de raios para uma fonte rasa em águas profundas

As condições para ocorrência de zc são as seguintes:

• fonte e receptor devem estar dentro do canal sonoro profundo, próximos à superfície. O canal é
limitado, acima e abaixo, por profundidades nas quais a velocidade do som é a mesma; deste
modo, raios que partem da fonte próximo à horizontal são refratados para o fundo onde refratam
de volta à superfície (Lei de Snell → mesma velocidade de propagação implica em mesmo
ângulo de raio);

• que haja um excesso de profundidade de modo que vários raios, emitidos com diferentes
ângulos de depressão (ou elevação), possam refratar de volta à superfície sem refletir no fundo.

4-33 VERSÃO 1.0


IPqM-013-0177-ET/97

Quanto maior a profundidade, maior quantidade de raios forma as zc, que são, assim, mais
intensas.

A Figura 4-19 apresenta a configuração e a terminologia aplicáveis a zonas de convergência. A


profundidade limite é determinada pelo raio que, na fonte, é o mais próximo à horizontal e que consegue ser
refratado para as camadas inferiores. Caso a fonte esteja no duto de superfície, este é o raio que chega na
profundidade de camada com ângulo aproximadamente igual a zero e consegue escapar do duto. Neste caso a
profundidade limite é aquela na qual a velocidade do som é igual à da profundidade de camada. Caso o
gradiente de velocidade seja negativo próximo à superfície (i.e., quando não há duto de superfície), o raio limite
será o que sai da fonte na horizontal (0°). Neste caso, a profundidade limite será aquela onde a velocidade do
som é igual à da profundidade da fonte. Na Figura 4-19 este raio é o de 1° (na fonte). Raios de maiores ângulos
atingem profundidades maiores. O raio de maior ângulo que contribui para a formação das zc é o que tangencia
o fundo. Na Figura 4-19 este raio limite é o de 10,3° (na fonte). Raios com ângulos maiores refletem no fundo e
não contribuem para a formação da zc. O excesso de profundidade é a diferença entre a profundidade local e a
profundidade limite. O excesso de velocidade é a diferença entre a velocidade do som próximo ao fundo e a da
profundidade limite **. O intervalo de ângulos de raios que formam a zc, ∆θ, determina quão intensa ela será.
Este intervalo e, em conseqüência, a intensidade da zc, será maior quanto maior for o excesso de profundidade.
Excessos de profundidade de pelo menos 400m a 800m são necessários para a formação de zonas de
convergência de interesse prático.

duto de distância mínima


superfície largura
c(z) r da zc

1° raio limite
eixo do canal
sonoro profundo

∆θ =
9,3° linha que une os
pontos de inflexão cáusticas
dos raios
profundidade limite

excesso de 6° raio limite tangente
profundidade 8° ao fundo

10,3°

excesso de fundo
velocidade
Figura 4-19 - Configuração e terminologia de zonas de convergência

4.6.4 Canais Sonoros Internos

Um canal ocorre sempre que há um mínimo no perfil da velocidade do som. O eixo do canal coincide
com a profundidade daquele mínimo. Canais sonoros intermediários podem ocorrer entre a superfície e o canal
sonoro profundo.

**
como as águas profundas são isotérmicas, o gradiente de velocidade será cerca de 0,016 s-1. Neste caso, o
excesso de velocidade será cerca de 0,016×(excesso de profundidade).

4-34 VERSÃO 1.0


IPqM-013-0177-ET/97

Esses canais ocorrem em certas regiões e apresentam, em geral, variabilidade sazonal. Um exemplo é
o canal de baixa profundidade que ocorre no Mediterrâneo durante o verão. Seu eixo situa-se a cerca de 100m de
profundidade. Este canal dá origem a zonas de convergência similares às do canal profundo, embora a distâncias
menores. Um outro exemplo é o canal ao norte das Bermudas, que ocorre também durante o verão e é atribuído
a condições especiais da corrente do Golfo.

Embora esses canais sejam transitórios e de baixa profundidade, podem ter um efeito considerável na
operação de sistemas sonar.

4.6.5 Águas Rasas

Do ponto de vista acústico, são consideradas águas rasas aquelas em que as distâncias envolvidas são
muito maiores que a profundidade e onde o som se propaga principalmente por múltiplas reflexões no fundo e
na superfície ††. Neste ambiente, as características do fundo e da superfície são fatores determinantes das
condições de propagação. O canal sonoro é delimitado pela superfície e pelo fundo. Como nos outros tipos de
canal, o som é aprisionado entre as fronteiras superior e inferior do canal de águas rasas.

Na Figura 4-20, uma fonte é localizada a 10m de profundidade na camada de mistura. São mostrados
raios de 0° até 7,5° de depressão e elevação na fonte. Os raios mais próximos à horizontal ficam restritos ao duto
de superfície. Os demais são refratados em direção ao fundo, onde refletem e retornam à superfície. Se nos
restringirmos a distâncias inferiores a cerca de 4 Km, podemos, para pequenas profundidades, empregar o
modelo de perdas em dutos de superfície. A maiores distâncias (ou se a profundidade for menor-- os raios
refletidos no fundo retornam à superfície em menores distâncias da fonte), o modelo de propagação deve incluir
a reflexão no fundo e torna-se mais complexo.

c(z), m/s
0

200

400 z, m
fundo
0 4 8 r, Km 12
Figura 4-20 - Ambiente de águas rasas, fonte a 10m de profundidade com largura de feixe de 15°; foram
desenhados raios emitidos da fonte entre ângulos de 7,5° acima e 7,5° abaixo da horizontal.

O estudo da propagação em águas rasas é caracterizado pela complexidade teórica e pela dificuldade
em se modelar as condições acústicas das fronteiras. A determinação da perda na transmissão é usualmente

††
por vezes, considera-se águas rasas aquelas na qual a profundidade é da mesma ordem de grandeza que o
comprimento de onda das ondas acústicas.

4-35 VERSÃO 1.0


IPqM-013-0177-ET/97

feita via computador por programas baseados em algum tipo de aproximação da equação da onda (ou de alguma
de suas soluções conhecidas).

Existem modelos empíricos que permitem estimar as perdas na propagação para profundidades de até
cerca de 400 m. Tais modelos foram obtidos a partir de medições, cujos resultados foram empregados para obter
coeficientes de uma função da profundidade local, do estado do mar, da freqüência do sinal e do tipo de fundo.
Esses modelos tendem a ser muito simplificados e se prestam, no máximo, para obtenção de uma estimativa
grosseira da perda se o ambiente for diferente daquele onde as medições foram realizadas.

As condições de propagação em águas rasas apresentam grande variabilidade temporal, o que,


somado às demais complexidades, resulta na impraticabilidade de se prever perdas na transmissão nessas regiões
usando modelos genéricos. A solução é obter, através de medições, valores típicos de perdas nas regiões de
interesse, em função da época do ano e outras variáveis (condições meteorológicas, hora etc), dependendo das
características da região.

4.6.6 Variabilidade Horizontal

Quando as distâncias envolvidas na detecção sonar são elevadas, não se pode desprezar o efeito das
mudanças de condições com a distância ou direção de propagação.

Ao se operar em águas profundas próximo à plataforma continental, por exemplo, a inclinação do


fundo leva à reflexão, no fundo, de som que inicialmente se propaga por refração. Por vezes, isto provoca uma
redução das perdas na propagação entre a região profunda e a rasa, um efeito conhecido como efeito de ganho
de inclinação (slope enhancement effect).

Um outro caso é o da variação do perfil de velocidade com a distância. As condições de refração de


ondas, por exemplo, podem sofrer alterações significativas, levando a valores de perdas menores ou maiores que
o calculado considerando-se o perfil de velocidade constante. Em regiões proximas a correntes marítimas, por
exemplo, pode se observar este efeito mesmo a pequenas distâncias. Atualmente, existem modelos
computacionais que permitem a definição de diferentes perfis, profundidades, tipos de fundo etc, em função da
distância (são os modelos bidimensionais). Alguns modelos mais recentes permitem definir o ambiente em
função da distância e direção (modelos tridimensionais).

Quem opera sistemas sonar, ou tenta evitar a detecção, deve conhecer o ambiente acústico pela
medição local das condições oceanográficas predominantes nas áreas de operação e utilização de modelos de
perdas adequados. O conhecimento e exploração das características do ambiente em que se opera é fundamental
para o sucesso de qualquer empreendimento.

4.6.7 Múltiplas Trajetórias

Propagação por múltiplas trajetórias ocorre quando existe mais de uma trajetória entre uma fonte e o
receptor. Esta é a norma para a propagação do som no mar, conforme pode ser verificado em diagramas de raios
típicos: duto de superfície, canal sofar, águas rasas ou mesmo na ausência de dutos, como no caso de reflexão no
fundo quando não há duto de superfície.

Os efeitos de múltiplas trajetórias no sinal recebido são diversos. Flutuações de amplitude, decorrente
de diferentes contribuições de amplitude e fase das diversas trajetórias, podem facilitar a detecção de sinais com
baixa relação sinal-ruído (SNR). Caso o SNR seja alto, a probabilidade de detecção é reduzida pelas flutuações.
Em segundo lugar, as trajetórias tem tempos de propagação diferentes, o que pode levar a grandes distorções do
sinal transmitido, como ocorre com sinais de fontes explosivas no eixo do canal sofar. Estas distorções reduzem
a eficácia de receptores baseados na forma de onda transmitida, os correlatores de réplica, comuns nos

4-36 VERSÃO 1.0


IPqM-013-0177-ET/97

sistemas modernos. Em grandes arranjos de sensores, observa-se ainda uma degradação do ganho de arranjo
(array gain), devido à decorrelação entre sinais em diferentes elementos do arranjo. Em outras palavras, não se
pode assumir que o sinal que chega ao arranjo seja uma onda plana coerente, quando as distâncias envolvidas
são elevadas (em relação ao comprimento de onda), o que limita o comprimento máximo útil de arranjos de
sensores no mar. Um outro efeito decorre da possibilidade de que cada trajeto apresente um desvio doppler
ligeiramente diferente, decorrente de múltiplas reflexões na superfície ou do movimento da fonte ou receptor.
Como resultado, observa-se um espalhamento do espectro de freqüências originalmente ocupado pelo sinal.

Em águas rasas, observa-se que um sinal banda larga (como, por exemplo, o ruído irradiado por um
navio), é reforçado em certas freqüências e atenuado em outras. Isto se deve à interferência entre as múltiplas
trajetórias que se somam no receptor, reforçando algumas freqüências em detrimento de outras. Este padrão de
interferências muda com a distância fonte-receptor e pode ser usado para se estimar a distância por meios
passivos.

Exercícios de Fixação

1. Esboce um perfil de velocidade e os raios que caracterizam o duto de superfície.

2. (a) Considerando uma camada isotérmica de 15 m na temperatura de 18°C e fonte a 5 m de


profundidade, qual a faixa de valores de ângulos ∆θ de raios que se propagam no duto? (b) Qual a freqüência
ótima de propagação neste duto?

3. Quais os mecanismos de perdas nos dutos de superfície e quais os respectivos modelos representados
na Equação ( 4-37 )?

4. Quais as causas (a) da ensonificação da zona de sombra e (b) de flutuação do sinal associadas ao duto
de superfície?

5. Esboce um perfil de velocidade e o raios correspondentes a uma fonte colocada no eixo do canal sofar.

6. Repita o exercício 5 para uma fonte colocada no canal sofar próximo à superfície.

7. Um sonar ativo de 5 KHz tem FOM = 180 dB. Estime se o sonar poderá ser empregado para detecção
de um alvo localizado em uma zc a 30 Km de distância.

8. Liste as condições para ocorrência de zc.

9. Esboce um diagrama de raios de formação de zc e o correspondente perfil de velocidade. Identifique o


eixo sofar, a profundidade limite, os raios limites, o excesso de velocidade e o excesso de profundidade.

10. Esboce um perfil de velocidade e o correspondente diagrama de irradiação para uma situação típica de
águas rasas com ocorrência de duto de superfície.

11. Explique os efeitos observados nos sinais acústicos em decorrência de propagação por trajetórias
múltiplas.

PROBLEMAS

4.1 Durante a medição do ROS de um sonar ativo de casco, obtiveram-se os seguintes resultados: SL = 230 dB
re 1 µPa @ 1m; nível de voltagem médio de ruído banda larga no ponto de teste do receptor sonar: -70 dBV @
5 nós, -65 dBV @ 10 nós e -60 dBV @ 13 nós; sensibilidade do arranjo/conformador medido no mesmo ponto
de teste: -150 dB re 1 V/µPa. O sonar opera a 7 KHz, tem largura de banda do conjunto

4-37 VERSÃO 1.0


IPqM-013-0177-ET/97

transdutor/conformador de 800 Hz e o DT para quando operando com Tabela 4-5 - Resposta ao Prob. 4.1
pulso FM de 100 ms é de 18 dB. Determine o alcance sonar para um
v, nó Alcance, Km
alvo submarino operando a 20m de profundidade (TS = 15 dB)
considerando os seguintes modelos de propagação: (a) divergência (a) (b)
esférica; (b) divergência esférica e absorção. Resp.: vide tabela
5 25,1 14,2

4.2 Repita o Problema 4.1 para um sonar de freqüência 14 KHz. 10 18,8 11,7
Resp.: vide tabela.
13 14,1 9,6

4.3 Ao realizar um experimento para verificar o desempenho de seu Tabela 4-6 - Resposta ao Prob. 4.2
sistema sonar, o técnico instalou um transponder sonar a 5 m de
v, nó Alcance, Km
profundidade amarrado a uma bóia. Este dispositivo emite um pulso de
nível constante 180 dB re 1µPa @ 1m em resposta a um pulso sonar (a) (b)
recebido. O sonar opera em 3,5 KHz e está instalado a 5 m de
5 25,1 9,0
profundidade. Supondo que o sonar só detecte ecos de nível 60 dB re
1µPa ou maior e que o nível de pulso que chega ao transponder é 10 18,8 7,7
suficiente para acioná-lo, determine a que distância o sonar detectará o 13 14,1 6,6
transponder caso (a) só consideremos perda por divergência esférica e
(b) consideremos o efeito de Lloyd mirror com estado do mar zero. (c) Qual será a perda por absorção nos casos
dos itens a e b? (d) Calcule os novos alcances caso a perda por absorção seja incluída no modelo. Resp.: (a)
1000 Km; (b) 27,1 Km; (c) 180 dB e 4,87 dB, respectivamente; (d) 107 Km e 21,6 Km respectivamente.

4.4 Uma forma rudimentar de estima de alcance de um sistema sonar ativo em condições de gradiente de
velocidade negativo na camada de superfície (sem duto de superfície) consiste em considerarmos a distância na
qual um submarino penetra na região ensonificada ao aproximar-se do navio onde o sonar está instalado (ou
seja, quando o submarino “encontra” o raio limite). Seja, por exemplo, um navio operando em águas profundas
(não considerar raios refletidos no fundo) onde o gradiente é de -0,02 s-1 e a temperatura da água é de cerca de
18°C na superfície. O transdutor sonar é instalado a 6 m de profundidade. (a) Qual o ângulo do raio limite na
profundidade do transdutor? (b) Qual o raio de curvatura do raio limite? (c) Qual a equação do raio limite?
Estime o alcance sonar caso o submarino opere (d) na cota periscópica (20 m) e (e) a 100 m de profundidade.
Resp.: (a) 0,72°; (b) 75793,5 m; (d) 2695 m; (e) 4846 m.

Tabela 4-7 - Resposta ao Prob. 4.5


4.5 Repita os Problemas 4.1 e 4.2, quando o sonar estiver
operando em uma camada de mistura isotérmica de 15°C e v, nó Alcance, Km
30 m de profundidade, com estado do mar 2 (supor que o 7 KHz 14 KHz
modelo da Equação ( 4-37 ) é válido a 14 KHz). Resp.:
vide tabela 5 12,2 6,37

10 10,7 5,71
4.6 Em uma região de águas profundas foi verificada a
possibilidade de ocorrência de zonas de convergência a 13 9,35 5,07
cada 30 Km de distância, com um ganho de convergência
de cerca de 10 dB acima da perda esférica. Verifique se os sonares dos Problemas 4.1 e 4.2 poderão detectar um
alvo na primeira zc. Resp.: Não deverão detectar, porém a condição é marginal com o navio a 5 nós e sonar de
freqüência 7 KHz.

4-38 VERSÃO 1.0


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4.7 Verifique se há possibilidade de Tabela 4-8 - Perfil de Temperatura, Prob. 4.7


ocorrer zonas de convergência de interesse
profundidade, m Temperatura, °C
prático no ambiente onde o perfil de
temperatura é indicado na Tabela 4-8.
0 20
Calcule a (a) profundidade limite, (b) o
excesso de profundidade, (c) o excesso de 100 15
velocidade e (d) a faixa de ângulos de
raios na fonte ∆θ que contribuem para a zc 1000 4
para uma fonte a 10 m de profundidade.
5000 (profundidade local) 4

4-39 VERSÃO 1.0


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APÊNDICE 4.A- DETERMINAÇÃO DO ZERO DE UMA FUNÇÃO

Na determinação do alcance sonar, procura-se a distância r que satisfaça à equação

TLrequerido = g (r )

onde g(r) é o modelo de perdas para um dado ambiente acústico. Por exemplo, no caso de um sonar ativo e um
modelo de perdas do tipo divergência esférica e absorção, temos

TLrequerido = FOM / 2 = 20 log r + α r

onde a FOM e o coeficiente de absorção α são dados. Este tipo de problema pode ser visto como o da
determinação do zero ou raiz de uma função f(r), ou seja, determinar r tal que

f (r ) = 0

No caso do exemplo anterior, f(r) = 20logr + α r - TLrequerido.

As calculadoras científicas programáveis possuem, em geral, uma função para resolução deste tipo de
problema. Métodos numéricos podem ser encontrados em livros de cálculo. Vamos aqui descrever um dos mais
conhecidos, o método de Newton-Raphson, para emprego na resolução dos nossos exemplos e problemas por
quem (por algum estranho motivo) não disponha de uma calculadora com essa capacidade.

O método é relativamente simples, dada uma estimativa ri da raiz procurada, uma nova estimativa ri+1
é calculada através da expressão [Ref.2:270-3]:

f (ri )
ri +1 = ri − ( 4-40 )
f ′(ri )

onde f ′(ri) é a primeira derivada df(r)/dr avaliada no ponto r = ri. Esta iteração é repetida até que algum critério
seja satisfeito. Por exemplo, podemos adotar, como critério de verificação, a diferença (ou variação percentual)
entre duas estimativas consecutivas ser menor que um valor predefinido. Um outro critério, seria interromper a
iteração quando uma raiz ri resultar em um valor f(ri) ≤ 0,1 dB.

Para que a iteração convirja para a raiz verdadeira, é necessário que o valor inicial ro seja escolhido de
modo que entre este valor e a raiz verdadeira não existam máximos ou mínimos locais da função f(r). Isto não é,
normalmente, um problema para a nossa aplicação, uma vez que os modelos descritos neste Capítulo são
monotônicos. Convém, entretanto, selecionar um valor inicial ro não muito afastado do real, a fim de minimizar
a quantidade de iterações necessárias.

Os Exemplos a seguir mostram o procedimento básico de estima da raiz de uma equação.

Exemplo 4-11 Seja o Exemplo 4-3, item a. Devemos obter o alcance r tal que 90 = 20logr + 0,15×10-
3
r. Neste caso temos f(r) = 20logr + 0,15×10-3r - 90, e f’(r) = 20/(r ln10) + 0,15×10-3. Primeiramente,
calculamos o valor de f(r) para alguns valores de r, iniciando de r = 1e3 (valor suficientemente baixo)
e aumentando r até que f(r) mude de sinal:

r (m) 1000 10000 20000 30000

f(r) (dB) -29,85 -8,50 -0,979 4,04

4-40 VERSÃO 1.0


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Como ouve inversão de sinal entre r = 20000 m e r = 30000, então o valor procurado encontra-se
nesse intervalo. A raiz deve estar mais próxima de r = 20000, pois f(r) é mais próximo de zero nesta
extremidade do intervalo. Vamos empregar ro = 20000 como estima inicial da raiz e aplicar a
Equação ( 4-40 ) até que a diferença entre valores consecutivos de ri seja menor que 100 m. O
resultado é apresentado abaixo:

i ri ri - ri-1 f(r)

0 20000 xxx -0,979

1 21676 1676 -0,0291

2 21729 53 -0,145×10-3

Observa-se a rápida convergência. Caso empregássemos o critério f(r) ≤ 0,1 dB, poderíamos parar
logo na primeira iteração. Em qualquer dos dois casos, a resposta ao item a do Exemplo 4-3 seria r =
21,7 Km, dentro da resolução esperada para este tipo de problema de previsão de alcance.

Exemplo 4-12 No Problema 4.4, o modelo de perdas decorrente do efeito imagem-interferência deve
ser empregado. Vamos determinar o alcance de um sistema operando em 1KHz, com projetor e
hidrofone a 5 m de profundidade, onde o nível da fonte é de 210 dB re 1µPa @ 1m e o necessário ao
receptor é de 80 dB re 1µPa. Para fins de determinação do coeficiente de absorção, consideremos
uma temperatura de 20 °C.

A perda requerida é TLrequerida = 220 - 80 = 140 dB. O modelo de perdas,

  4π h1h2  
TL = 20 log r − 10 log 2 − 2 cos  + α r
  λ r 

é obtido a partir da Equação ( 4-33 ) com µ = 1 (mar zero) e acrescentando a perda por absorção. No
presente exemplo, λ = 1500/1000 = 1,5 m; h1 = h2 = 5 m e α = 0,06×10-3 dB/m. Deste modo, temos

  100π  
f (r ) = 20 log r − 10 log 2 − 2 cos   + 0,06 × 10 −3 r − 140
  1,5 r  

 
 
10  2 1 100π  100π   −3
e f ′(r ) = − sen  + 0,06 × 10
ln 10  r  100π  1,5r 2  1,5r  
 1 − cos  
  1,5 r  

Como no exemplo anterior, primeiramente, calculamos o valor de f(r) para alguns valores de r,
iniciando de r = 1e3 (valor suficientemente baixo), aumentando r até que f(r) mude de sinal:

r (m) 1000 10000 100000 40000

f(r) (dB) -66,3 -25,8 19,6 0,06

4-41 VERSÃO 1.0


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Como ouve inversão de sinal entre r = 10000 m e r = 100000 m, a raiz encontra-se neste intervalo.
Procurando melhorar a estima inicial, o valor de f(r) foi calculado para r = 40000 m. Como este último
valor está mais próximo da raiz, vamos empregar ro = 40000 como estima inicial e aplicar a Equação (
4-40 ) até que a diferença entre valores consecutivos de ri seja menor que 100 m. O resultado é
apresentado abaixo:

i ri ri - ri-1 f(r)

0 40000 xxx 0,06

1 39876 -124 -83,5×10-6

2 39876 0,17 -169×10-10

Observe que a diferença entre os dois últimos valores de r está em uma casa decimal não
representada. Mais uma vez, qualquer dos dois critérios (ri - ri-1<100 ou f(r) ≤ 0,1 dB) nos leva a
r = 39,8 Km.

BIBLIOGRAFIA

[1]. Urick, Robert J. Principles of underwater sound. 3 ed. New York, McGraw-Hill. 1983.

[2]. Press, William H. et alli. Numerical recipes in C; the art of scientific computing. Cambridge, Cambridge
University. 1988

4-42 VERSÃO 1.0


IPqM-013-0177-ET/97

CAPÍTULO 5 - REFLEXÃO E ESPALHAMENTO - ALVOS E REVERBERAÇÃO


Os sonares ativos operam com base no princípio da reflexão de um pulso transmitido em um alvo. Nas
equações sonar, o parâmetro TS, poder de reflexão do alvo, quantifica este fenômeno.

O mar não é um meio homogêneo. Tanto nas suas fronteiras quanto no seu volume, existem bolhas de
gases, partículas, animais marinhos, montes submarinos e outras irregularidades que também interagem com os
pulsos sonar, re-irradiando parte da energia acústica em diferentes direções, ou seja, provocando espalhamento. O
resultado é um sinal recebido de freqüência igual à do pulso transmitido e de longa duração perceptível logo após
a transmissão: a reverberação, cujo nível é o parâmetro RL, concorre com o eco, dificultando sua detecção.

5.1 TS - CONSIDERAÇÕES PRELIMINARES

Considerando a superfície refletora indicada na


S Figura 5-1, uma onda plana de intensidade I i incide na
superfície S. A 1 m do centro acústico (fictício) C a , a
Ca intensidade refletida é I r . No caso de sonares monoestáticos,
1m 1m transmissor e receptor na mesma posição, a intensidade
P Q refletida é medida na mesma direção da incidência da onda
(ponto P). Nos demais casos, I r deve ser medida na direção do
receptor. Em geral, o valor de TS será diferente para os casos
mono e biestático. Em qualquer caso, TS é definido como:
Figura 5-1- Geometria de definição do TS
I r (a 1 m)
TS = 10log ( 5-1 )
Ii

Neste Capítulo, nossa atenção é focalizada no caso monoestático.

Em geral, os pontos a 1 m do centro acústico são localizados em locais inacessíveis ou no interior do


alvo. O próprio centro acústico é de difícil determinação, a não ser em alvos de geometria simples, como esferas.
Um outro ponto a ser considerado é que estamos interessados nas características do alvo do ponto de vista do
sistema sonar, que, em geral, encontra-se a grande distância do alvo. Mesmo que fosse viável medir diretamente a
intensidade refletida a 1 m, seu valor poderia não ser representativo do que ocorre nas distâncias de interesse. Do
mesmo modo que na medição do SL, I r é medida a uma distância convenientemente grande no campo distante (de
modo que a exata localização do eixo acústico não afeta o cálculo do TS) e reduzida a 1 m do alvo usando a
expressão de divergência esférica ou um modelo de perdas mais adequado às condições ambientais locais.

A maioria dos alvos sonar de interesse para sistemas de busca (submarinos, por exemplo) apresenta TS
positivo. Em termos da definição de TS, Equação ( 5-1 ), isto significa que I r (a 1 m) > I i . Como pode a intensidade
refletida ser maior que a incidente? Em realidade, o ponto a 1 m do centro acústico estará a uma distância menor
que a superfície refletora do alvo nesses casos (alvos grandes), de modo que aquele valor de I r não ocorre em lugar
algum no meio fluido onde se mediu a intensidade incidente. Em outras palavras, valores de TS maiores que zero
são, em geral, conseqüência da distância arbitrária de 1m usada como referência.

Em radar, o parâmetro que modela o fenômeno de reflexão por um alvo é a seção reta radar σ. No caso
de sonar, σ é denominado seção reta acústica e equivale à área que intercepta a potência acústica associada à onda
incidente. Como TS e σ quantificam a reflexão de ondas por um corpo, podemos estabelecer uma relação entre os
dois. Se nos referirmos à distância de 1 m empregada em sonar, a definição de seção reta é, em m2,

I r (a 1 m)
σ = 4π ( 5-2 )
Ii

e, comparando esta definição com a de TS, teremos:

5-1 VERSÃO 1.0


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I r (a 1 m) σ
TS = 10 log = 10 log
Ii 4π ( 5-3 )

Exercícios de Fixação

1. Esboce a geometria básica de definição do TS e escreva a equação correspondente.

2. Porque a intensidade refletida deve ser medida longe do alvo?

3. Um valor de TS > 0 dB implica I r (a 1 m) > I i . Isto significa que há ganho de intensidade acústica?

5.2 UM REFLETOR GEOMETRICAMENTE SIMPLES - A ESFERA

A esfera, pela sua simplicidade geométrica, pode ter seu TS determinado analiticamente. Vamos
considerar o caso mais simples de uma esfera grande (em relação ao comprimento de onda) fixa (de modo que não
se mova em razão do campo acústico) e de superfície perfeitamente rígida (de modo que o som reflita totalmente
na superfície e não penetre na esfera). Em seguida vamos considerar que alguns desses requisitos não são
observados e, deste modo, procurar descrever qualitativamente o que ocorre com esferas reais submetidas a um
campo acústico.

Embora os alvos de interesse para sistemas sonar guardem pouca semelhança com uma esfera, o estudo
dos fenômenos básicos de reflexão e espalhamento do campo acústico por esferas ideais e reais nos ajudará a
compreender o que ocorre com alvos de geometria mais complexas.

5.2.1 Esfera Grande, Fixa e Rígida

Considere a esfera grande *, fixa e rígida de raio R


mostrada na Figura 5-2, onde uma onda plana de intensidade I i
incide. Por ser perfeitamente rígida (ρc→∞), a reflexão é total
R (vide Capítulo 4) é unitário. Por hipótese, essa esfera é um
refletor isotrópico, ou seja, o som é refletido igualmente em
Ii r todas as direções. A potência acústica interceptada pela esfera
Ir será

Figura 5-2 - Esfera como refletor isotrópico Π ac = πR 2 I i


( 5-4 )
a qual, por hipótese, é refletida uniformemente em todas as direções. Em conseqüência, a intensidade da
onda refletida a uma grande distância r do centro da esfera será:

Π ac R 2 Ii
I r (r ) = = ( 5-5 )
4πr 2 4r 2
e, substituindo a Equação ( 5-5 ) na definição de TS, Equação ( 5-1 ), reduzindo r a 1 m, obtemos

I r (a 1 m) R2
TS = 10 log = 10 log (esfera grande fixa rígida) ( 5-6 )
Ii 4

onde se observa uma regra geral para TS: quanto maior o alvo, maior o TS. Uma esfera de raio 2 m terá, por
exemplo, um TS de 0 dB, desde que λ << 2 m. Esferas podem ser empregadas como alvo de referência pois o TS,
em decorrência da simetria, é independente da orientação do alvo.

*
esfera grande em relação ao comprimento de onda: R » λ, kR » 1, onde k = 2π/λ é o número de onda. Adotaremos
kR ≥ 10 como aceitável para se considerar a esfera grande

5-2 VERSÃO 1.0


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Exemplo 5-1 (a) Qual a faixa de freqüências em que uma esfera fixa rígida de 2 m de raio pode ser
empregada como alvo sonar de TS independente da freqüência e (b) a seção-reta acústica
correspondente?

(a) k = 2πf /c = 2πf /1500 ≥ 10/R = 5 é a condição para que a esfera seja considerada grande ⇒ f ≥
1193,7 Hz. Para fins práticos, podemos considerar que essa esfera apresenta um TS de 0 dB para
freqüências acima de 1200 Hz.

(b) Comparando as Equações ( 5-6 ) e ( 5-3 ), verifica-se que σ = πR2 = 4π m2, que coincide com a
seção geométrica da esfera.

5.2.2 Esfera Pequena, Fixa e Rígida

Quando as dimensões de um corpo são pequenas em relação ao comprimento de onda da onda incidente,
o processo deixa de ser reflexão e passa a ser modelado como espalhamento (scattering) de energia. Para uma
esfera de raio R pequeno † em relação ao comprimento de onda λ, ou seja 2πR/λ = kR « 1, o TS é dado por
[Ref.1:298-9]:

I r (a 1m)  R6 
TS = 10 log =10 log 1082 4  ( 5-7 )
Ii  λ 

onde tanto o raio R quanto o comprimento de onda λ são em metro. Observe que o TS aumenta com a freqüência
f = c/λ, o que é característico de espalhamento por alvos pequenos em relação ao comprimento de onda.

A seção reta acústica da esfera pequena, por comparação das Equações ( 5-3 ) e ( 5-7 ), é dada por

R4
σ = 4328 πR 2 = 2,78( kR ) 4 πR 2 ( 5-8 )
λ 4

onde k = 2π/λ é o número de onda. O termo πR2, a seção geométrica da esfera, foi destacado por conveniência de
notação. Observa-se que para esferas pequenas (kR « 1) a seção reta acústica é bem menor que a seção geométrica
πR2.
Mesmo em alvos de grandes dimensões, parte do eco pode ser formado por espalhamento, em
decorrência de irregularidades em sua superfície ou de estruturas de pequenas dimensões nela instalada.

Exemplo 5-2 Determine (a) a seção reta acústica σ para a esfera do Exemplo 5-1 na freqüência de
20 Hz; (b) o TS; (c) a potência acústica interceptada pela esfera se a intensidade incidente é de 1
W/m2?

(a) Em 50 Hz, kR = (2πf /c)R = (2π×20 / 1500)×2 = 0,0838 < 0,5. Deste modo, a Equação ( 5-8 ) se
aplica e σ = 2,78×(0,0838)4π×202 = 0,172 m2 (compare com a seção geométrica de 4π m2).

(b) O valor de TS pode ser obtido pelas Equações ( 5-3 ) ou ( 5-7 ), resultando em TS = -18,6 dB.

(c) a potência acústica interceptada vale Π ac = I i σ = 0,172 W.

5.2.3 Esferas Reais

Nas Seções anteriores examinamos dois casos limites de esferas fixas rígidas. As de grande dimensões
(kR ≥ 10) apresentam TS e σ independentes da freqüência, sendo que a seção reta acústica coincide com a
geométrica πR2. Para as pequenas (kR ≤ 0,5) TS e σ aumentam com a freqüência e têm valores bem menores que
no caso anterior.


a esfera será pequena, para fins práticos, se kR ≤ 0,5.

5-3 VERSÃO 1.0


IPqM-013-0177-ET/97

Quando os requisitos de rigidez e fixação de esferas pequenas é relaxado, verifica-se que o TS passa a
ser função também da densidade e da compressibilidade (ou velocidade de propagação do som) relativa do material
que compõe a esfera e, dependendo do valor desses parâmetros, pode ser maior ou menor que o do caso ideal.
Como exemplo, para uma bolha (pequena) de ar na água o TS chega a ser 77 dB maior que o previsto pela Equação
( 5-7 ). No caso de um grão de areia, o TS é cerca de 4 dB menor que o dado por aquela Equação [Ref.1:300].

Uma esfera grande produz uma forma de onda de eco diferente do pulso sonar incidente. A interação
de uma onda acústica com uma esfera sólida é mais complexa do que a representada pela mera reflexão pela sua
superfície. Basicamente quatro fenômenos ocorrem quando um pulso sonar incide na esfera. Primeiramente, o
pulso é refletido pela superfície com uma intensidade que depende do contraste entre as impedâncias acústicas da
água e do material que a compõe (vide discussão sobre reflexão de ondas no Capítulo 4). Em segundo lugar, parte
da energia incidente penetra na esfera e sofre reflexões internas produzindo ecos secundários que podem ser
distintos ou combinados ao eco principal (dependendo da largura de pulso, das dimensões da esfera e da velocidade
do som no seu material). A onda incidente podem também induzir vibrações na superfície da esfera que passa a se
comportar como uma fonte de som que será emitido de volta ao sonar, contribuindo para a formação do eco.
Finalmente, parte da energia incidente se propaga na água acompanhando a superfície da esfera (onda difratada) e
também acaba por retornar ao sonar como parte do eco ‡ [Ref.1:301].

Os efeitos de penetração do som, vibrações induzidas e onda difratada são típicos de alvos sonar reais,
como os submarinos. Quanto mais complexa a forma externa e a estrutura interna dos alvos, mais complicada será
a estrutura (forma de onda) do eco resultante.

Um quarto fator a ser considerado é a possibilidade de ressonância entre a onda incidente e os modos
naturais de vibração do alvo ou de alguma estrutura que o compõe (por exemplo, tanques de um submarino, chapas
do casco externo etc) que podem provocar aumento ou redução do TS.

Exercícios de Fixação

1. Na esfera do Exemplo 5-1 incide uma onda plana de freqüência 10 KHz e intensidade 1 W/m2. Determine
(a) a potência interceptada pela esfera; (b) a intensidade refletida medida a 1000 m do centro seu acústico e (c) a
intensidade refletida referida a 1 m do seu centro acústico. (d) Calcule a seção reta acústica usando o resultado do
item c e a Equação ( 5-2 ).

2. (a) Qual a seção geométrica, o TS e a seção reta acústica de uma esfera rígida e fixa de raio 2 cm na
freqüência de 10 KHz? (b) Se uma onda plana naquela freqüência e de intensidade 1 W/m2 incide na esfera, qual
a intensidade refletida medida a 1 m?

3. Descreva os mecanismos de formação de eco em esferas reais que produzem formas de onda de eco
diferentes da do pulso incidente.

5.3 PODER DE REFLEXÃO DE SUBMARINOS

A característica mais marcante do TS de submarinos é sua variabilidade. As medições realizadas em


inúmeros submarinos desde a Segunda Guerra Mundial resultaram em valores muito diferentes. Mesmo se
considerarmos um único submarino, observam-se variações significativas entre ecos individuais. Na presente
Seção vamos analisar as características gerais do poder de reflexão de submarinos.


este efeito de difração da onda em torno da esfera é previsto pela teoria de ondas e ocorre mesmo quando se
consideram as condições de rigidez e fixação. No caso da Seção 5.1.1 este efeito não foi considerado devido ao
uso da aproximação da acústica geométrica (teoria de raios).

5-4 VERSÃO 1.0


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5.3.1 Variação com o Aspecto

A Figura 5-3 apresenta o padrão borboleta típico da variação do TS de um submarino com as seguintes
características gerais [Ref.1:310]:

• valores máximos da ordem de 25 dB são encontrado pelo través e decorrem da reflexão no casco

• mínimos na proa e na popa atingindo cerca de 10 dB, decorrente da pequena seção reta disponível
para reflexões;

• lóbulos a cerca de 20° de cada bordo, na proa e na popa, que atinge de 1 dB a 2 dB acima do nível
médio do padrão, causado, provavelmente, pela estrutura interna de tanques do submarino; em
submarinos sem tanques de combustível e de lastro fora do casco resistente estes lóbulos não
aparecem;

• um formato circular nos demais aspectos decorrente de uma multiplicidade de regiões de


espalhamento na estrutura do submarino e seus apêndices.

Este padrão idealizado não é observado, usualmente, em medições de campo. No entanto, na falta de melhor
informação, é usual empregá-lo em estimativas de alcance sonar. Neste caso, o valor TS = 15 dB é empregado
como sendo o TS de um submarino com aspecto aleatório.

Exemplo 5-3 Um sonar opera em um ambiente acústico cujo modelo de perdas é dado por TL =
30+10logr+0,0022r, com r em metro. A FOM do sonar considerando um TS de 15 dB é de 180 dB.
Determine o alcance sonar considerando o submarino (a) em aspecto aleatório, (b) com aspecto través
e (c) com aspecto proa.

Proa 0

30dB

20

10

270 90

180
Figura 5-3 - Variação do TS de submarinos com o aspecto

(a) Para aspecto aleatório, TS = 15 dB, que foi o valor empregado na FOM = 180 dB. Deste modo, o
alcance é dado pela solução (vide Apêndice 4A) da equação TL requerido = FOM/2 = 90 =
30+10logr+0,0022r, resultando em r = 9,25 Km;

5-5 VERSÃO 1.0


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(b) O TS para aspecto través é de 25 dB, 10 dB acima


do empregado no cálculo original da FOM. A nova FOM
será 180+10=190 dB e o alcance será a solução da
l = Lcosθ
equação 95 = 30+10logr+0,0022r, resultando em r =
11,15 Km;
L
(c) O TS para aspecto proa é de 8 dB, 7 dB abaixo do
empregado no cálculo original da FOM. A nova FOM
será 180-7=173 dB e o alcance será a solução da
lp = ctp equação 86,5 = 30+10logr+0,0022r, resultando em r =
7,95 Km;
θ
Como pode ser observado no exemplo acima, o
aspecto do submarino no instante da detecção tem influência
marcante no alcance. O alcance previsto para aspecto
Figura 5-4 - Um pulso sonar de comprimento l p aleatório (usualmente empregado na estima do alcance) deve
ensonifica um alvo de comprimento aparente l ser encarado como mera estima, ainda mais se considerarmos
que o TS de submarinos pode ser bem diferente dos valores do padrão borboleta típico.

5.3.2 Variação com a Largura do Pulso

O TS de submarinos, como de qualquer corpo extenso, apresenta variações com a largura do pulso sonar.
Um pulso de largura t p ocupa, ao se propagar, um comprimento l p = ct p na direção de propagação. Se o
comprimento aparente do alvo l (vide Figura 5-4) naquela direção for menor que a metade do comprimento do
pulso, então, em qualquer instante de tempo, todo o comprimento do alvo estará ensonificado. Caso contrário, o
eco será produzido somente por parte do alvo, acarretando uma redução do TS:
• l p = ct p ≥ l/2 ⇒ alvo totalmente ensonificado;

• l p = ct p < l/2 ⇒ alvo parcialmente ensonificado;

Este efeito é importante quando se empregam pulsos de curta duração contra um submarino no aspecto proa ou
popa. Para pulsos longos, usualmente empregados para detecção a grandes distâncias, o submarino é, em geral,
totalmente ensonificado e a redução de TS não se observa.

Exemplo 5-4 Qual deve ser a largura de pulso mínima a ser empregada para detecção de um
submarino de 100 m de comprimento a fim de evitar redução do TS.
Para que o alvo seja totalmente ensonificado em um certo aspecto, devemos ter ct p ≥ l/2. Se
considerarmos o pior caso, devemos ter ct p ≥ L/2, logo: t pmin = L/(2*c) = 100/(2*1500) = 33,3×10-3 = 33,3
ms garante que todo o alvo será ensonificado simultaneamente em qualquer aspecto.

5.3.3 Redução do TS

A fim de aumentar a discrição dos submarinos contra sonares ativos, o projetista de submarinos só
dispõe de um parâmetro (até certo ponto) sob seu controle, o TS. As duas principais técnicas empregadas para este
fim dizem respeito à forma e ao material de revestimento do casco.

A expressão do TS de esferas grandes, Equação ( 5-6 ), indica que o TS aumenta com o raio de curvatura.
Isto é válido para qualquer superfície convexa de dimensões grandes comparadas ao comprimento de onda, caso
típico do casco de submarinos. Deve-se, então projetar o casco de modo a reduzir, onde for possível, os raios de
curvatura. A fim de evitar também espalhamento de som, deve-se produzir um casco de formas suaves, sem
protuberâncias e cavidades.

5-6 VERSÃO 1.0


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Os revestimentos anecóicos são


onda refletida materiais fixados a uma superfície a fim de
reduzir o coeficiente de reflexão. Em
onda incidente submarinos têm sido empregados
onda refletida
revestimentos absorvedores (Figura 5-5)
no casco e
transmitida de constituídos por partículas metálicas imersas
volta à água em borracha ou outro polímero. O som
incidente é transmitido ao material, cuja
impedância acústica específica (ρc) deve ser
revestimento próxima à da água (de modo a resultar em
coeficiente de reflexão praticamente nulo). O
som neste material é convertido em calor
casco devido às suas características de viscosidade,
resultando em atenuação. Deste modo, o som
é atenuado tanto na transmissão entre a água
Figura 5-5 - Ondas incidente e refletidas em casco com e o casco que serve de suporte, quanto no
revestimento absorvedor retorno da reflexão provocada pelo casco.
Existem outros tipos de revestimentos, mas não se aplicam a submarinos [Ref.1:320-1].

Quando do cálculo do alcance previsto, deve ser empregado um valor de TS de cerca de 10 dB abaixo
do normal, na falta de informação mais precisa, caso o alvo esteja empregando um revestimento anecóico.

Exemplo 5-5 Refaça o Exemplo 5-3


λ frente de onda considerando uma redução de 10 dB no TS
provocada por um revestimento anecóico.
alvo
t=0 v A FOM é, neste caso, 10 dB menor que as
correspondentes no Exemplo 5-3. Em
c conseqüência, o TL requerido será 5 dB menor.
vT
(a) TL requerido = 90 - 5 = 30+10logr+0,0022r,

t=T λ′ v
resultando em r = 7,41 Km com submarino em
aspecto aleatório;
c (b) TL requerido = 95 - 5 = 30+10logr+0,0022r,
resultando em r = 9,25 Km em aspecto través;
Figura 5-6 - Onda plana incidente em alvo em
movimento - efeito doppler (c) TL requerido = 86,5 - 5 = 30+10logr+0,0022r,
resultando em r = 6,18 Km no aspecto proa.

5.3.4 Características dos Ecos

O parâmetro TS só representa o efeito do alvo na intensidade do eco. O pulso sonar incidente, entretanto,
interage com o alvo de modo a produzir um eco diferente em outros aspectos que não somente a intensidade. Deste
modo, o eco contém informações sobre o alvo que podem ser exploradas por um sistema sonar tanto na detecção
quanto na classificação.

Uma característica marcante do eco é a variação da freqüência, em relação ao pulso incidente,


decorrente do movimento do alvo, o efeito doppler. Quando uma frente de onda incide no alvo, a próxima frente
ainda terá que se propagar uma distância igual ao comprimento de onda antes de atingi-lo. Se o alvo está se
afastando do sonar a uma velocidade v « c (ou seja, em números mach M = v/c baixos), conforme indicado na
Figura 5-6, a segunda frente de onda terá que se propagar uma distância adicional vT = v/f para “atingir” o alvo
(considerando que o alvo praticamente não muda de posição durante o tempo que a frente de onda leva para se

5-7 VERSÃO 1.0


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propagar na distância vT). Em conseqüência, o alvo “vê” um comprimento de onda efetivo λ + v/f. Quando da
reflexão, o comprimento de onda sofre um
“enlongamento” adicional v/f, de modo que o
va
comprimento de onda refletido vale λ’ = λ + 2v/f.
θP
vs que corresponde a uma freqüência f’ = c/λ’ = f-
(2v/c), menor que a incidente. Caso o alvo esteja se
vr = va cos θP aproximando, a freqüência do eco será 2v/c acima da
θM do pulso incidente. Generalizando, o desvio doppler
vale

2v
vs cos θM ∆f D = f ( 5-9 )
c
( 5-10 )
v = vs cos θM + vr
onde f é a freqüência do sinal transmitido
(Hz), v é a velocidade relativa de aproximação entre
Figura 5-7 - Velocidade de aproximação do alvo §
o sonar e o alvo (m/s) (e será negativa caso eles
estejam efetivamente se afastando) e c é a
velocidade de propagação do som (m/s). Em termos práticos, considerando c = 1500 m/s, f em KHz e v em nó, o
desvio doppler em Hz é dado por
∆f D = 0,69 f ( KHz) v ( nó), Hz

A velocidade relativa v sonar-alvo decorre tanto da velocidade da plataforma onde o sonar está instalado,
v s , quanto da velocidade do alvo, v a , conforme indicado na Figura 5-7. O desvio doppler, então, pode ser
decomposto em dois componentes: o decorrente da projeção da velocidade da plataforma do sonar na direção da
marcação do alvo θ M , denominado doppler próprio, e o decorrente da projeção da velocidade do alvo na direção
da plataforma sonar, v r :

∆f D = ∆f Dproprio + ∆f Dalvo

∆f Dproprio = 0,69 f ( KHz) v s ( nó) cosθ M , Hz


( 5-11 )
∆f Dalvo = 0,69 f ( KHz) vr ( nó), Hz

O sinal de áudio disponível ao operador sonar, obtido pela mistura do eco com um sinal senoidal, terá
uma freqüência central que depende do doppler. A fim de que o operador possa estimar se o alvo está se
aproximando (doppler agudo) ou se afastando (doppler grave), os receptores compensam o doppler próprio através
de circuitos de cancelamento do doppler próprio (own doppler nullifier, ODN) **. O princípio de funcionamento
desses circuito é relativamente simples. Conforme mostrado na Figura 5-8, a freqüência do eco na saída do
conformador de feixes é f e = f + ∆f D = f + ∆f Dproprio + ∆f Dalvo . O eco é aplicado a um circuito misturador juntamente
com um sinal senoidal de freqüência f o < f e , de modo que, na saída, a freqüência do eco é a diferença f + ∆f Dproprio
+ ∆f Dalvo - f o . Se a freqüência do sinal senoidal for, por exemplo f o = f - 800 (Hz) + ∆f Dproprio , então a freqüência
na saída do misturador será 800 (Hz) + ∆f Dalvo . Este eco amplificado é aplicado ao fone do operador. O sinal

§
o ângulo θM é a marcação do alvo indicada em graus de 000 (alvo pela proa) a 359, no sentido horário; o ângulo
θP é o ângulo de proa e varia entre 0° (alvo de proa) e 180° (alvo de popa) por boreste (BE) ou bombordo (BB).
**
o cancelamento do doppler próprio visa eliminar o componente ∆fDproprio, restando somente o ∆fDalvo, que pode
assim ser medido para, por exemplo, calcular-se a componente da velocidade do alvo na direção do sonar, vr.

5-8 VERSÃO 1.0


IPqM-013-0177-ET/97

senoidal de freqüência f o é obtido através de um circuito oscilador controlado a voltagem onde se aplica uma
voltagem proporcional a v s cosθ M . Quando o alvo se mantém a distância constante do sonar, não há desvio doppler
e o operador escuta ecos na freqüência de 800 Hz. Se o alvo estiver se aproximando com velocidade tal que cause
um desvio doppler de, por exemplo, 10 Hz, o operador escutará um eco em 810 Hz (agudo).

Exemplo 5-6 Um sonar de 6 KHz opera com pulso CW de 100 ms de duração. Supondo que a
velocidade típica da plataforma do sonar é de 10 nós e que o sonar deve detectar alvos com velocidades
de até 40 nós, qual deve ser a banda de respostas dos circuitos de condicionamento de sinais ligados
ao arranjo de transdutores na recepção?

eco proveniente do
conformador de feixes
na marcação θM
fe = f + ∆fD
Misturador Filtro fe’ = 800 + ∆fDalvo
Oscilador
fo = f - 800 + ∆fDproprio
controlado a eco aos circuitos do
voltagem canal de áudio do
operador
voltagem
proporcional a
vs cosθM
Figura 5-8 - Circuito de cancelamento do doppler próprio (ODN)

341 Hz A banda dos circuitos de condicionamento deve ser tal que


permita a amplificação de sinais recebidos sem atenuação.
10 Hz
Os ecos tem banda igual à do sinal transmitido e freqüência
central igual à de transmissão mais a decorrente do efeito
doppler. A banda do sinal CW é cerca de 1/t p = 10 Hz. Se o
navio opera a 10 nós e o alvo a 40 nós, então as maiores
fc - 124 fc fc + 207 velocidades relativas do alvo são de 50 nós aproximando-
Figura 5-9 - Exemplo 5-6: espectros de ecos se e 30 nós afastando-se, ou seja -30≤v≤50 nós. Os desvios
com maior doppler possível (-30 a +50 nós) doppler correspondentes são obtidos através da Equação (
5-10 ), obtendo-se -124≤∆f D ≤207 Hz, de modo que ecos
podem ser recebidos centrados em 6000-124 = 5876 Hz se o alvo estiver se afastando com velocidade
máxima ou 6000+207 = 6207 Hz se o alvo estiver se aproximando com velocidade máxima, conforme
indicado na Figura 5-9. A banda total dos circuitos de condicionamento deverá ser 207+124+10 = 341
Hz.

Um segundo efeito da interação pulso sonar-alvo é o aumento da duração do pulso. Enquanto o pulso
estiver “passando” pelo alvo, ecos são produzidos por espalhadores e refletores nele existentes. O eco começa a
ser produzido quando o pulso incide na superfície do alvo e só termina quando o pulso passa pela extremidade
oposta do alvo. Com referência à Figura 5-4, o eco será produzido igual à duração do pulso incidente mais o tempo
que este pulso leva para percorrer o comprimento aparente do alvo l na direção de propagação, tanto na “ida”
quanto na “volta” do eco (ecos refletidos de volta ao sonar continuam a produzir novos ecos enquanto estiverem
em “contato” com o alvo. Se tp é a largura do pulso transmitido, a largura do eco tE será:

2
tE = t p + ( 5-12 )
c

5-9 VERSÃO 1.0


IPqM-013-0177-ET/97

Ecos de submarinos medidos no mar apresentam alongamentos maiores que o previsto na Equação ( 5-12 ) no
aspecto través e menores nos aspectos proa e popa.

Exemplo 5-7 Determine a faixa de valores de larguras de pulso do eco de um submarino de 100 m de
comprimento e 10 m de boca quando o pulso transmitido tem largura de (a) 10 ms e (b) 100 ms;
A maior largura de eco deve ocorrer quando o alvo está no aspecto proa, neste caso l = 100 m e o
pulso será alongado em 2l/c = 200/1500 = 0,133 s = 133 ms. Quando no aspecto través teremos l =
10m e 2l/c = 20/1500 = 0,0133 s = 13,3 ms.

(a) tE = 10 + 13,3 = 23,3 ms até 10 + 133 = 143 ms, ou seja, podem ocorrer ecos entre 23,3 ms e 143
ms a partir de um pulso transmitido de 10 ms, dependendo do aspecto do alvo (i.e., ecos 133% a 1330%
mais longos que o pulso transmitido);

(b) tE = 100 + 13,3 = 113,3 ms até 100 + 133 = 233 ms, ou seja, podem ocorrer ecos entre 113,3 ms e
233 ms a partir de um pulso transmitido de 100 ms, dependendo do aspecto do alvo (i.e., ecos 13,3%
a 133% mais longos que o pulso transmitido).

A influência do alongamento será proporcionalmente maior para pulsos estreitos.

Até agora já discutimos a influência do alvo na intensidade (TS), freqüência (desvio doppler) e duração
do eco (alongamento). Um outro efeito observável são variações de amplitude ao longo do eco. Uma das causas é
a estrutura complexa dos submarinos, composta por diferentes refletores e espalhadores de som. Os ecos parciais
oriundos desses diferentes componentes interagem entre si ao longo do tempo, por vezes de forma construtiva
(quando em fase), por vezes de modo a reduzir a amplitude (quando fora de fase). Em outros casos, estruturas
distintas, como a vela, podem produzir, em meio ao eco, um retorno notável. A segunda causa é a interação entre
o pulso incidente e o hélice propulsor, no aspecto través. O movimento das pás modula o eco em amplitude. A
esteira, por vezes um bom refletor de som em si mesma, provoca ecos que podem combinar-se com o do submarino.

Por vezes, esses efeitos podem distorcer a forma de onda de tal modo a reduzir a eficácia de receptores
sonar com projetos baseados na forma de onda. Por outro lado, as informações sobre o alvo contidas na estrutura
do eco podem ser exploradas para fins de classificação.

5.3.5 TS de Outros Alvos

A Tabela 5-1 [Ref.1:324] apresenta, para fins de ilustração, valores nominais aproximados de TS de
possíveis alvos de sistemas sonar. Alguns desses alvos podem ser encarados como indesejáveis, dependendo do
propósito do sistema. Por exemplo, peixes provocam retornos que podem interferir com a detecção de submarinos,
porém são alvos de interesse em sonares de pesca.

Tabela 5-1 - Valores aproximados de TS


Alvo Aspecto TS, dB
Submarinos través +25
popa +10
proa +8
intermediário +15
Navios de superfície través +25
outros aspectos +15
Minas cilíndricas través +10
outros aspectos +10 a -25
Torpedos proa -20
Peixe de comprimento L, m visto de dorso 19logL - 84

5-10 VERSÃO 1.0


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Exercícios de Fixação

1. Esboce o padrão típico de variação de TS de submarinos com o aspecto e descreva suas características.

2. O modelo de perdas empregado para previsão de alcance sonar indicado no Exemplo 5-3 foi empregado
para prever o alcance de um sonar supondo um submarino em aspecto aleatório. O alcance previsto foi de 8 Km.
Determine a variação percentual do alcance caso o submarino esteja com aspecto (a) de proa e (b) de través.

3. Verifique se ocorrerá redução do TS em decorrência da relação entre largura de pulso e comprimento


aparente de um submarino de 150 m de comprimento e 10 m de boca: (a) tp = 10 ms, alvo no aspecto través; (b)
tp = 10 ms, alvo no aspecto bochecha (20°) (c) tp = 50 ms, alvo no aspecto proa.

4. Quais devem ser as características da forma de cascos para redução do TS?

5. Descreva o processo pelo qual os revestimentos anecóicos reduzem o TS.

6. Qual a redução percentual do alcance sonar indicado no exercício de fixação 2, caso o alvo esteja
empregando um revestimento que reduza o TS em 10 dB, no aspecto aleatório?

7. Que informações sobre um submarino, além de distância e marcação, podem, em princípio, ser obtidas
pela análise da forma de onda e características de freqüência (espectrais) do eco?

8. Esboce a situação plataforma-alvo nos moldes da Figura 5-7 e determine as velocidades de aproximação
vr e v e os desvios doppler próprio, do alvo e total decorrente de um sonar de 10 KHz movimentando-se com
velocidade 10 nós e um alvo na mesma velocidade nas marcações e ângulos de proa indicados: (a) 000 (θM =
0°), θP = 0° (situação de roda-a-roda); (b) 030, 0°; (c) 000, 30° por BB; (d) 090, 90° por BB; (e) 090, 180°;
(f) 135, 180°; (g) 135, 0°.

9. Desenhe o diagrama em blocos de um circuito que implemente a função ODN, identificando os sinais e
freqüências envolvidas, tomando como exemplo o item b do exercício anterior e descreva seu funcionamento.

5.4 MEDIÇÃO DE TS

Existem três métodos usualmente empregados para medição de TS. No método convencional, o eco
produzido pelo alvo é medido e emprega-se a equação do nível do eco, EL = SL - 2TL + TS, para se determinar TS.
O método da comparação consiste em medir, simultaneamente, os ecos produzidos pelo alvo sob teste e por um
alvo de referência. Finalmente, o método do transpondedor mede-se tanto o nível incidente no alvo quanto o nível
do eco juntamente com o nível produzido por um transpondedor instalado no alvo. As medições são realizadas a
grandes distâncias a fim de garantir a condição de campo distante; possibilitar a separação entre pulsos transmitido,
incidente (quando for o caso) e eco; tornar insignificante o erro de localização do centro acústico do alvo e,
finalmente, garantir que todo o alvo seja ensonificado.

5.4.1 Método Convencional

Neste método, um sonar emite pulsos com nível da fonte conhecido SL, enquanto o alvo realiza um giro
lento ou procede em rumo constante a grandes distâncias, de modo que vários pulsos possam se medidos em um
mesmo aspecto. Os ecos recebidos pelo sonar são medidos por meio de um osciloscópio e convertidos para nível
sonoro na face do transdutor. Considerando-se que se conhece um modelo de perdas acurado para a região de
medição, TL(r), o TS é então calculado:

TS = EL + 2TL − SL ( 5-13 )
para cada aspecto. Este é um método simples que não requer o uso de instrumentação especial, porém exige
o conhecimento de um modelo de perdas acurado. Este conhecimento do modelo de perdas pode, por sua vez,
requerer medições em separado, a não ser que se disponha de uma área onde se garantam condições de propagação
simples.

5-11 VERSÃO 1.0


IPqM-013-0177-ET/97

5.4.2 Método da Comparação

Este método que não exige conhecimento preciso do modelo de perdas, pois os ecos provenientes do
alvo são comparados com os produzidos por um alvo de referência de TSref conhecido. Se ambos os alvos estiverem
a uma mesma distância do sonar emissor, os níveis de eco medidos serão
ELref = SL − 2TL(r ) + TS ref
( 5-14 )
EL = SL − 2TL(r ) + TS
e o TS procurado é obtido pela diferença entre essas duas equações:

EL − ELref = TS − TS ref ∴ TS = EL − ELref + TS ref


( 5-15 )
O método da comparação é útil para medição de TS de pequenos objetos a pequenas distâncias,
pois o TSref deve ser da mesma ordem do TS a ser medido. Uma esfera de raio 2 m, construída cuidadosamente de
modo que seu TS seja próximo ao teórico (0 dB), ou um transpondedor †† sonar calibrado podem ser empregados
como referência. Para alvos grandes, como submarinos, o controle do experimento ou mesmo o tamanho do alvo
de referência ‡‡ tornam este método impraticável.

5.4.3 Método do Transpondedor [Ref.1:308]

O esquema de medição
1m
deste método é mostrado na Figura 5-
10. Um transpondedor e um hidrofone
são instalados no alvo, distantes 1 m
transpondedor hidrofone
1m entre si. O projetor emite um pulso
sonar que é refletido no submarino e
projetor hidrofone retorna ao hidrofone instalado no
navio. O transpondedor, ao receber o
No navio: No submarino: pulso sonar, emite outro pulso (após
um retardo previamente ajustado). A
Vtr2 Vtr1
bordo do navio medem-se as voltagens
Veco A, dB Vinc B, dB correspondentes ao eco e ao pulso do
transpondedor. A bordo do submarino,
t t medem-se as voltagens no hidrofone
correspondentes ao pulso incidente e
eco pulso do pulso pulso do ao pulso do transpondedor.
transpondedor incidente transpondedor
Calcula-se a diferença, em
Figura 5-10 - Método do transpondedor
dB das voltagens de eco (Veco) e do
pulso do transpondedor (Vtr2) medidos
no hidrofone do navio. Como se trata de diferença, não importa o valor da sensibilidade do hidrofone nem dos
ganhos de amplificadores empregados, as diferenças serão as mesmas em termos de nível de pressão. Como Vtr2
corresponde ao nível de sinal do transpondedor que chega ao navio e Veco ao nível de eco, temos:

A = 20 logVtr 2 − 20 logVeco = ( SLtransp − TL) − ( SL − 2TL + TS )


( 5-16 )

††
o transpondedor é um instrumento que, ao receber um pulso sonar, transmite, após um certo retardo, um pulso
acústico de nível, dependendo do seu projeto, fixo ou um certo números de dB acima do nível recebido.
‡‡
Uma esfera de TS 10 dB deve ter um raio de cerca de 6,3 m.

5-12 VERSÃO 1.0


IPqM-013-0177-ET/97

onde SL é o nível da fonte do projetor e SLtransp, o do transpondedor. Analogamente, temos no lado do submarino

B = 20 logVtr 1 − 20 logVinc = ( SLtransp ) − ( SL − TL)


( 5-17 )
A diferença, em dB, entre as grandezas A e B será o valor procurado:
B − A = 20 logVtr 1 + 20 logVeco − 20 logVinc − 20 logVtr 2 = TS
( 5-18 )
Este método independe de modelos de perdas, dispensando o controle preciso de distância. A
calibração da instrumentação não é crítica, uma vez que nem os níveis da fonte nem as sensibilidades dos
hidrofones são necessárias para o cálculo de TS. Como desvantagem, a instrumentação necessária é de certa
complexidade.

Exercícios de Fixação

1. Descreva o método convencional de medição de TS e esboce um diagrama do sistema, indicando os


parâmetros envolvidos.

2. Em uma medição de TS pelo método convencional, mediu-se um nível de eco de 70 dB re 1 µPa referido
aos terminais do conformador de feixe quando o alvo encontrava-se a 1000 m do sonar. O nível da fonte do sonar
era de 180 dB e o modelo de perdas TL = 20log r +0,0002r. Qual o valor do TS?

3. Descreva o método da comparação de medição de TS e esboce um diagrama do sistema, indicando os


parâmetros envolvidos.

4. Em uma medição de TS pelo método da comparação, mediu-se um nível de eco de 70 dB re 1 µPa referido
aos terminais do conformador de feixe. Uma esfera rígida fixa de raio 2 m localizada nas proximidades do alvo
provocou um eco de 60 dB re 1 µPa. Qual o valor do TS?

5. Descreva o método do transpondedor de medição de TS e esboce um diagrama do sistema, indicando os


parâmetros envolvidos.

6. Em uma medição de TS pelo método do transpondedor, mediu-se, a bordo da plataforma sonar um nível
de eco de 100 dB re 1 µPa referido aos terminais do hidrofone e um nível de sinal do transpondedor de 120 dB re
1 µPa. A bordo do alvo foi medido um pulso incidente, proveniente do sonar, de 150 dB re 1 µPa e um pulso
proveniente do transpondedor de 180 dB re 1 µPa. Qual o valor do TS?

7. Compare as vantagens de cada um dos métodos de medição de TS.

8. Quando se emprega um transpondedor como alvo de referência, o método da comparação se confunde


com o do transpondedor? Justifique.

5.5 REVERBERAÇÃO - CONSIDERAÇÕES PRELIMINARES

O nível de reverberação foi definido no Capítulo 1 como

potência de reverberação no hidrofone


RL = 10log
potência gerada por sinal com
intensidade de referência

uma definição equivalente, mais útil no cálculo de níveis de reverberação, é


intensidade de uma onda plana incidente no eixo acústico que
produz a mesma saída, no hidrofone, que a reverberação observada
RL = 10log
intensidade de referência
esta última definição é denominada nível de reverberação de onda plana equivalente.

5-13 VERSÃO 1.0


IPqM-013-0177-ET/97

A reverberação é classificada em função da localização dos espalhadores que a produzem. A reverberação


de volume ocorre na massa d’água e é produzida por organismos marinhos, matéria em suspensão e por regiões de
pequenas dimensões onde ocorrem variações bruscas de impedância acústica (massa específica ou velocidade de
propagação do som). A reverberação da superfície do mar é produzida por espalhadores localizados na superfície
(por exemplo, rugosidade da superfície decorrente de ondas locais) ou próximo a ela (por exemplo, bolhas de ar
capturado pelas ondas). Finalmente, a reverberação de fundo é produzida por espalhadores no ou próximos ao
fundo do mar (por exemplo, rugosidade do fundo). Essas duas últimas podem ser agrupadas como reverberação
de superfície pois os espalhadores estão distribuídos em uma superfície e recebem o mesmo tratamento analítico.

Na análise de pequenas esferas em presença de um campo acústico, Seção 5.2.3, esses espalhadores foram
caracterizados pelo parâmetro TS, o mesmo empregado quando o fenômeno era de reflexão do som. A reverberação
também decorre de espalhamento. No entanto, agora os espalhadores estão distribuídos por uma região (superfície
ou volume) e sua caracterização requer um outro parâmetro, denominado poder de espalhamento, que pode ser de
superfície, SS ou de volume, SV, definidos de forma análoga ao TS. Com referência à Figura 5-11, podemos defini-
los como:

I esp I esp
I ref
sS ,V = área ou volume unitários = área ou volume unitários
I inc I ref I inc
I esp ( 5-19 )
I inc
S S ,V = 10 log sS ,V = 10 log área ou volume unitários − 10 log
I ref I ref

onde Iinc é a intensidade de uma onda plana que incide em uma área ou volume, Iesp é a intensidade de som
espalhado por área ou volume unitário, medido no campo distante e reduzido a 1 m da área ou volume, Iref é a
intensidade de referência (empregada para conversão de intensidades em nível em dB) e sV = Iesp(por área ou
volume)/Iinc é a expressão de SV em escala linear. A direção de espalhamento que nos interessa é a de retorno, ou
seja de sentido oposto à da onda incidente (backscattering). A Figura 5-11 ilustra a definição de SV; a de SS é
análoga: basta substituir o elemento de volume unitário por um de área unitária.

Exercícios de Fixação

1. Defina nível de reverberação em termos de potências e intensidades acústicas.

2. Quais os tipos de reverberação e suas causas principais?

3. Defina poder de espalhamento de superfície e de volume.


onda plana incidente
5.6 REVERBERAÇÃO DE VOLUME

A “formação” do sinal de reverberação é análoga à do eco. Uma pulso Iesp


de nível SL é emitido e propaga-se a uma distância r (sofrendo uma perda TL),
onde parte da energia é espalhada de volta, sofrendo nova perda TL até incidir Iinc
sobre o transdutor. A diferença básica é que o alvo é concentrado em uma região,
de modo que podemos considerá-lo na direção do eixo acústico do feixe sonar, 3
tanto na transmissão quanto na recepção;. na reverberação, os espalhadores estão
1m
1m
distribuídos no mar e é preciso considerar todo o diagrama de irradiação, tanto o
de transmissão quanto o de recepção. Figura 5-11 - Definição de poder
de espalhamento de volume
Ao se calcular o nível de reverberação correspondente aos
espalhadores a uma distância fixa r, é preciso considerar a contribuição de cada volume elementar dV em cada
uma das possíveis direções (θ,ϕ) (e a redução tanto do nível da fonte quanto do sinal de volta provocada pelos

5-14 VERSÃO 1.0


IPqM-013-0177-ET/97

diagramas de irradiação) e integrá-las. A Figura 5-12 ilustra um elemento de volume de reverberação. O


“comprimento” l de elemento de volume é selecionado de modo a ser compatível com a largura de pulso.

r dV

l = ctp/2
ângulo sólido elementar dΩ
Figura 5-12 - Elemento de volume de reverberação

Seja um transdutor sonar usado tanto para transmissão [com fator direcional HTX(θ,ϕ)] quanto na
recepção [com fator direcional HRX(θ,ϕ)]. Na transmissão, a energia acústica emitida pelo transdutor em um ângulo
sólido elementar dΩ na direção (θ,ϕ) propaga-se, sofre uma perda TLR e incide, a uma distância r, em um elemento
de volume dV:
10 log I inc = SL
 + 20 log HTX (θ ,ϕ ) − TLR


no eixo acústico 
na direção (θ , ϕ )

O poder de espalhamento diz respeito a um volume unitário. Para um volume dV = l r 2dΩ, a intensidade espalhada
de volta será
dI esp I inc
10 log = 10 log + SV + 10 log dV
I ref I ref

A intensidade espalhada é reduzida pelas perdas na propagação quando retorna ao sonar, onde é afetada pelo fator
direcional do transdutor na recepção, resultando em

dI reverb dI esp
10 log = 10 log − TLR + 20 log H RX (θ ,ϕ )
I ref I ref

A reverberação total é obtida pela soma (integração realizada na forma linear, não em dB, das expressões dadas)
das contribuições de todos os elementos de volume na distância r. Considerando, por hipótese, que tanto a perda
na propagação quanto o poder de espalhamento são os mesmos em todas as direções, obtemos [Ref.1:242]

RLV = SL − 2TLR + SV + 10 logV


ct p ( 5-20 )
V = lΨ r 2 = Ψ r2
2
onde V é o volume equivalente de reverberação, ilustrado na Figura 5-13. Conforme discutido na Seção 5.3.2 com
relação à influência da largura de pulso no TS, para que um comprimento l seja totalmente ensonificado devemos
ter l = ctp/2, valor este indicado na Equação ( 5-20 ). A grandeza Ψ, indicada na Figura 5-13, corresponde à
integração do produto dos fatores direcionais de transmissão e recepção:

5-15 VERSÃO 1.0


IPqM-013-0177-ET/97

V, volume
equivalente de
reverberação
ângulo sólido Ψ
r
equivalente de l = ctp/2
reverberação de
volume

Figura 5-13 - Volume equivalente de reverberação

∫H
2
Ψ= TX (θ ,ϕ ) H RX (θ ,ϕ ) dΩ ( 5-21 )
0

e pode ser interpretado como a largura de feixe (ângulo sólido em esferoradiano) equivalente de transmissão e
recepção para reverberação de volume. O Exemplo 5-8 mostra como calcular o valor aproximado de Ψ quando o
diagrama de irradiação é caracterizado somente pela largura de feixe de 3 dB ou 6 dB.

Exemplo 5-8 Do diagrama de irradiação de um sonar só se dispõe das larguras de 3 dB vertical e


horizontal que, no modo omni §§ é, durante a transmissão: 20° na vertical e, durante a recepção: 20° na
vertical e 10° na horizontal. Estime o valor da largura de feixe equivalente para reverberação.

Na falta de melhor informação, podemos aproximar o fator direcional para uma função de valor unitário
dentro da largura de feixe e nulo fora.

Na transmissão, temos HTX(θ,ϕ) = 1 para 0° ≤ ϕ < 360° (ou -180° ≤ ϕ < 180°) e 80° ≤ θ < 100° e
zero fora dessa faixa. Na recepção, HRX(θ,ϕ) = 1 para -5° ≤ ϕ < +5° e 80° ≤ θ < 100° e zero fora
dessa faixa. O produto dos fatores direcionais será unitário na interseção desses intervalos, ou seja
(vide Figura 5-14):

1, − π / 36 ≤ ϕ < π / 36 rad , 4π / 9 ≤ θ < 5π / 9 rad


2
HTX (θ ,ϕ ) H RX (θ ,ϕ ) = 
0, outros valores de ϕ e θ

onde os valores de ângulos foram convertidos para radianos. Neste caso, a integração
4π 2π π

∫H ∫∫ H
2 2
Ψ= TX (θ ,ϕ ) H RX (θ ,ϕ ) dΩ = TX (θ ,ϕ ) H RX (θ ,ϕ ) sen θ d ϕ d θ
0 0 0

§§
de um modo geral, os sistemas sonares permitem que o operador selecione diferentes modos de operação; o
modo omni consiste na transmissão empregando diagrama de irradiação omnidirecional no plano horizontal e
recepção direcional. Este modo permite que toda a região em torno do transdutor seja ensonificada. Outros modos
de operação podem incluir transmissão direcional.

5-16 VERSÃO 1.0


IPqM-013-0177-ET/97

Z
θ
(a) Y
Y
X ϕ Z

θ = 80°
ϕ = 5° 1 20° 1
X X

(b) (c)
Figura 5-14 - Produto dos fatores direcionais HTX(θ,ϕ)HRX(θ,ϕ)2 do Exemplo 5-8: (a) coordenadas de
referência; (b) diagrama horizontal (para θ = 90°); (c) diagrama vertical (para ϕ = 0°)

reduz-se a
π / 36 5π / 9
Ψ= ∫ ∫ senθ d ϕ dθ =0,0606
−π / 36 4 π / 9
esferoradianos

Generalizando este exemplo, se o diagrama de irradiação conjunto transmissão-recepção tem largura de


feixe de -6dB igual a ∆ϕ6dB na horizontal e ∆θ6dB na vertical, a largura de feixe equivalente de reverberação de
volume será, aproximadamente
∆ϕ 6 dB π / 2+∆θ6 dB

Ψ≈ ∫ ∫ senθ d ϕ dθ =2∆ϕ 6 dB sen( ∆θ6dB / 2) esferoradiano ( 5-22 )


− ∆ϕ 6 dB π / 2−∆θ6 dB

onde os ângulos são dados em radiano.

Para se ter uma idéia de comparação do valor resultante do Exemplo 5-8, um transdutor sem qualquer
direcionalidade (pontual) tem fator direcional unitário em todas as direções e, deste modo,

Ψ= ∫ dΩ = 4π

é o maior valor que Ψ pode assumir. Quanto mais direcional o transdutor, menor a largura de feixe equivalente
de reverberação e menor será RL.

Exercícios de Fixação

1. Escreva a expressão do nível de reverberação de volume e descreva os parâmetros e variáveis envolvidas.

2. O que é volume equivalente de reverberação?

3. Determine o volume equivalente de reverberação a 2000 m do sonar do Exemplo 5-8 para uma largura
de pulso de (a) 10 ms e (b) 250 ms.

4. Repita o exercício 3 para um sonar que empregue um transdutor omnidirecional.

5.7 REVERBERAÇÃO DE SUPERFÍCIE

Quando os espalhadores estão distribuídos em uma superfície, como a superfície ou o fundo do mar, o
nível de reverberação é expresso por:

( 5-23 )

5-17 VERSÃO 1.0


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RLS = SL − 2TLR + S S + 10 log A


ct p
A= Φr
2
onde A é a área equivalente de reverberação (vide Figura 5-15). A grandeza Φ corresponde à integração do produto
dos fatores direcionais de transmissão e recepção:

∫H
2
Φ= TX (π / 2,ϕ ) H RX (π / 2,ϕ ) dϕ ( 5-24 )
0

e pode ser interpretado como a largura de feixe (ângulo plano) equivalente de transmissão e recepção para
reverberação de superfície. Observe que, de forma diferente do caso da reverberação de volume, a largura de feixe
equivalente é obtida por integração somente em ϕ [no plano horizontal (θ = π/2)], pois, usualmente nas aplicações
de sonar, o eixo acústico do feixe é pouco inclinado em relação à horizontal.

θ ≈ 90°

ctp/2 r
largura de feixe A, área
equivalente de equivalente de
reverberação de reverberação
superfície Φ
Figura 5-15 - Área equivalente de reverberação

Exemplo 5-9 Estime a largura de feixe equivalente para reverberação de superfície do sonar do
Exemplo 5-8.

Substituindo os dados do Exemplo 5-8 na Equação ( 5-24 ), obtém-se


2π π / 36

∫ ∫ dϕ = 0,175 rad
2
Φ= HTX (π / 2,ϕ ) H RX (π / 2,ϕ ) dϕ =
0 −π / 36

Para comparação, um transdutor não direcional tem Φ = 2π rad. Conforme fizemos para o caso do
Exemplo 5-8, podemos generalizar o exemplo anterior: se o diagrama de irradiação conjunto transmissão-recepção
tem largura de feixe de -6dB igual a ∆ϕ6dB na horizontal, a largura de feixe equivalente de reverberação de
superfície será, aproximadamente
2π ∆ϕ 6dB / 2

∫H ∫ dϕ = ∆ϕ
2
Φ= TX (π / 2,ϕ ) H RX (π / 2,ϕ ) dϕ ≈ 6dB radiano
0 − ∆ϕ 6dB / 2
( 5-25 )

Exercícios de Fixação

1. Escreva a expressão do nível de reverberação de superfície e descreva os parâmetros e variáveis


envolvidas.

2. O que é área equivalente de reverberação?

3. Determine a área equivalente de reverberação a 2000 m do sonar do Exemplo 5-9 para uma largura de
pulso de (a) 10 ms e (b) 250 ms.

4. Repita o Exercício 3 para um sonar que empregue um transdutor omnidirecional no plano horizontal.

5-18 VERSÃO 1.0


IPqM-013-0177-ET/97

5.8 EQUAÇÃO SONAR ATIVO E REVERBERAÇÃO

Vamos supor que a reverberação é predominante de um tipo, volume ou superfície, a fim de simplificar
nossa análise. A equação sonar ativo com detecção limitada por reverberação
SL − 2TL + TS − RLS ,V = DTR

reduz-se, após a substituição das Equações ( 5-20 ) (no caso de reverberação de volume) ou ( 5-23 ) (no caso de
reverberação de superfície), a

TS − S S ,V − 10 log A,V = DTR ( 5-26 )

onde, por simplificação, supôs-se que as perdas TL para o eco e TLR para reverberação são iguais. SS e A são usados
para reverberação de superfície, SV e V para a de volume. Uma conseqüência de considerarmos TL = TLR é que a
distância só aparece na equação sonar através do volume ou área equivalentes de reverberação, V ou A. Se
substituirmos a expressão dessas grandezas na equação sonar, obtemos:

ct p
20 log r = TS − DTR − SV − 10 logΨ − 10 log , sob reverberação de volume
2
ct p ( 5-27 )
10 log r = TS − DTR − S S − 10 log Φ − 10 log , sob reverberação de superfície
2
A Equação ( 5-27 ) nos permite avaliar quais parâmetros são importantes quando o sonar opera com
detecção limitada por reverberação:

• O nível da fonte SL não tem influência: de nada adianta variar o nível da fonte visando aumentar
o alcance, como ocorre quando a detecção é limitada por ruído (o aumento do nível de eco é
compensado por um igual aumento do nível de reverberação);

• se a largura de pulso for aumentada, na expectativa de que o alcance aumentasse em decorrência


da maior energia do sinal, então, conforme pode ser visto nas Equações ( 5-20 ) e ( 5-23 ), o volume
V e a área A equivalentes de reverberação aumentam, provocando maior reverberação e
efetivamente reduzindo o alcance; para aumentar o alcance em condições de limitação por
reverberação deve-se reduzir a largura de pulso;

• quanto mais direcional o transdutor na transmissão e recepção (menores Ψ e Φ), menor A ou V,


acarretando redução do nível de reverberação e aumentando o alcance;

• uma forma de se reduzir a influência da reverberação é pela redução do DTR; embora não esteja
explícito nas equações mostradas até o presente, se a banda do sinal transmitido for aumentada,
o DTR diminui, acarretando maior alcance ( a redução da largura de pulso CW acarreta aumento
da banda 1/tp, e afeta, de modo favorável, dois termos: o DTR e o 10logctp/2 decrescem).

Uma estima rudimentar do alcance limitado por reverberação pode ser obtida diretamente através da
Equação ( 5-27 ), sem uso de modelos de perdas

Exemplo 5-10 Um sonar possui as características indicadas na Tabela 5-2 Determine o alcance
limitado por reverberação, considerando que a reverberação predominante é da superfície do mar com
SS = -50 dB e largura de pulso de (a) 100 ms e (b) 10 ms.

Tabela 5-2 - Dados do Exemplo 5-10


SL 10logΨ 10logΦ DTR

tp = 10 ms tp = 100 ms

5-19 VERSÃO 1.0


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220 dB re 1µPa @ 1 m -12 dB -10 dB 8,3 dB 13,3 dB

(a) Usando TS = 15 dB, c = 1500 m/s, tp = 0,1 s, SS = -50 dB, 10logΦ = -10 dB e DTR = 13,3 dB na
Equação ( 5-27 ), obtemos
ct p 1500 × 0,1
10 log r = TS − DTR − S S − 10 log Φ − 10 log = 15 − 13,3 + 50 + 10 − 10 log = 42,9
2 2
e o alcance será r = 19,5 Km (caso a condição predominante seja de detecção limitada por
reverberação).

(b) Empregando tp = 0,01 s e DTR = 8,3 dB, obtemos


1500 × 0,01
10 log r = 15 − 8,3 + 50 + 10 − 10 log = 57,9
2
e r = 616,6 Km. Este alto valor de alcance indica que o nível de reverberação é tão baixo que a detecção
deverá estar sendo limitada, em realidade, por ruído. De qualquer forma verifica-se a dramática
influência da redução da largura de pulso como meio de reduzir o nível de reverberação no nosso
exemplo: um aumento de 15 dB em 10logr provocado por uma redução de 5 dB no limiar de detecção
e de 10 dB no termo 10log ctp/2.

Exemplo 5-11 Repita o Exemplo 5-10 caso a reverberação predominante seja de volume com SV = -
80 dB.

(a) Usando a Equação ( 5-27 ) com c = 1500 m/s, TS = 15 dB e tp = 0,1 s os demais valores da Tabela
5-2 obtemos
ct p 1500 × 0,1
20 log r = TS − DTR − SV − 10 logΨ − 10 log = 15 − 13,3 + 80 + 12 − 10 log = 74,95
2 2
resultando em r = 5,59 Km.

(b) Para tp = 0,01 s, DTR = 8,3 dB e obtemos


1500 × 0,01
20 log r = 15 − 8,3 + 80 + 12 − 10 log = 89,95
2
e r = 31,4 Km.

Exercícios de Fixação

1. Obtenha as Equações ( 5-26 ) e ( 5-27 ) a partir das Equações ( 5-20 ), ( 5-23 ) e da equação sonar ativo
com detecção limitada por reverberação.

2. Supondo que um sistema sonar esteja operando com detecção limitada por reverberação, indique o efeito
no alcance quando se (justifique) (a) reduz o SL; (b) dobra a largura de pulso; (c) passa de transmissão
omnidirecional para direcional; (d) passa o tipo de pulso de CW para FM.

5.9 CARACTERÍSTICAS DE REVERBERAÇÃO DO MAR

5.9.1 Reverberação da Superfície do Mar

O poder de espalhamento SS da superfície do mar é função da velocidade do vento (ou altura das ondas
locais), da freqüência e do ângulo de incidência da onda acústica com a superfície. As causas de reverberação são
a rugosidade da superfície e a presença de bolhas de ar.

Conforme discutido no tocante à reflexão na superfície (Seção 4.5.1), um critério para se verificar a
influência da rugosidade de uma superfície é dado pelo parâmetro de Rayleigh

5-20 VERSÃO 1.0


IPqM-013-0177-ET/97


K = kh senθ = h senθ
λ
onde k = 2π/λ = 2πf /c é o número de onda, h é o valor eficaz (rms) da altura da onda (função da velocidade do
vento [vide Equação ( 4-30 )] e θ é o ângulo de incidência medido em relação à horizontal. Quanto maior o K,
maior a rugosidade em relação ao comprimento de onda e, deste modo, maior o espalhamento e o SS. Espera-se,
então que SS aumente com a freqüência, com a altura da onda (e com a velocidade do vento) e com o ângulo de
incidência.

A Figura 5-16 apresenta o comportamento típico, obtido experimentalmente, de SS em função do ângulo


de incidência [Ref.1:270], onde se observam três regiões características. Na primeira região (I), θ até cerca de 30°,
o poder de espalhamento é praticamente constante. Uma possível explicação para este fenômeno é a presença de
uma camada de espalhadores logo abaixo da superfície, provavelmente bolhas de ar capturadas pela superfície em
estados de mar moderados e fortes. Na região I SS é também fortemente dependente da freqüência. A segunda
região apresenta um comportamento coerente com a teoria de espalhamento por superfícies rugosas. Na terceira
região, a incidência aproxima-se da normal e o processo tende a ser mais de reflexão do que propriamente de
espalhamento. Na região III observa-se que SS é praticamente independente da freqüência.

Valores típicos de SS para a superfície do mar é de -55 dB a -45 dB para estados do mar entre 1 e 4 para
ângulos de incidência na região I da Figura 5-16. Para ângulos de incidência em torno de 40°, SS aumenta para
cerca de -40 dB a -30 dB [Ref.2:423].

SS, dB

vento forte

vento moderado

I II III

0 10 20 30 40 50 60 70 80
ângulo com a horizontal, θ, grau
Figura 5-16 - Variação típica do poder de espalhamento da superfície do mar com o ângulo de incidência
para duas velocidades de vento

5.9.2 Reverberação do Fundo do Mar

O fundo do mar, como a superfície, é refletor e espalhador de som. Aqui também espera-se que o poder
de espalhamento seja tanto maior quanto maior for o parâmetro de Rayleigh K = khsenθ, onde h é uma medida da
rugosidade do fundo. Ao contrário da superfície, porém, o coeficiente de reflexão não é unitário e, por isso, é de
se supor que as características acústicas dos materiais que compõem o fundo (que determinam o coeficiente de
reflexão) sejam importantes na determinação do poder de espalhamento. Em freqüências de interesse para sistemas
ativos (acima de cerca de 1 KHz), a penetração e propagação do som no fundo pode ser desprezada.

Para ângulos de incidência baixos (medidos a partir da horizontal), SS aumenta com o ângulo e atinge
valores da ordem de -40 dB a -10 dB para ângulos entre 20° e 60°. O valor exato é função da natureza do fundo e
tende a aumentar com a freqüência, na maioria dos casos [Ref.2:423].

5-21 VERSÃO 1.0


IPqM-013-0177-ET/97

O valor de SS (em função de freqüência, natureza do fundo e ângulo de incidência) aplicável a uma dada
região deve ser obtido experimentalmente.

5.9.3 Reverberação de Volume - Camada de Espalhamento Profunda [Ref.1:255-61]

Os espalhadores de som presentes no volume d’água no mar são de natureza essencialmente biológica.
Outros possíveis espalhadores são partículas (areia, poeira) em suspensão, microestrutura térmica da massa d’água
e turbulência por causas naturais ou de origem humana (esteira de navios), mas usualmente suas contribuições à
reverberação de volume são desprezíveis.

Os organismos responsáveis pela reverberação de volume são várias espécies e se concentram em uma
camada denominada camada de espalhamento profundo (deep scattering layer, DSL). Esta camada é um agregado
complexo de organismos biológicos diferentes e possui características (poder de espalhamento) que varia com
freqüência, localização, estação do ano e hora.

Em freqüências acima de cerca de 20 KHz (sonares de pesca, sonares de torpedos), os principais


organismos espalhadores são os zooplâncton ***, os menores animais marinhos, que se alimentam de fitoplâncton
e servem de alimento para pequenos peixes pelágicos. Entre cerca de 2 KHz e 10 KHz, os espalhadores
predominantes são as diversas espécies de peixes que possuem uma bexiga de natação, uma bolsa de ar empregada
para controlar a flutuabilidade. Bolhas de ar apresentam poder de espalhamento muito maior que o decorrente de
suas dimensões quando excitadas por um pulso sonoro de freqüência igual à de sua ressonância natural, cujo valor
depende do seu tamanho e da pressão hidrostática (profundidade).

A variação do poder de espalhamento SV com a profundidade é função da distribuição de organismos.


SV decresce, de forma geral, com a profundidade, porém com um aumento da ordem de 5 dB a 15 dB dentro da
DSL. Os organismos tendem a se manter em uma profundidade de luminosidade constante. Deste modo, a DSL
permanece a uma maior profundidade durante o dia e varia rapidamente de profundidade ao nascer e pôr do sol.
Em latitudes médias, a DSL localiza-se entre 180 m e 900 m de profundidade durante o dia.

Em freqüências altas (> 20 KHz), a variação de SV com a freqüência é mínima ou ausente. Em


freqüências mais baixas, por outro lado, observam-se picos no valor de SV em diferentes freqüências (indicando
presença de ressonâncias) e profundidades, indicando que a DSL é composta por subcamadas que possuem
movimento vertical, como descrito no parágrafo anterior, que é acompanhado por uma variação de freqüências
ressonantes.

As características de reverberação de volume em uma determinada região só podem ser obtidas


experimentalmente. Valores na faixa de -90 dB a -60 dB são típicos para SV, com o valor máximo tendendo a
ocorrer em freqüências mais elevadas. Dentro da DSL, há possibilidade de ocorrência de picos nos valores de SV
em freqüências e profundidades específicas, associadas à distribuição de diferentes espécies na camada. Fora da
DSL, SV varia entre cerca de -100 dB a -70 dB, com valores máximos tendendo a ocorrer em freqüências mais
elevadas e menores profundidades [Ref.2:423].

Exercícios de Fixação

1. Quais são as causas de reverberação da superfície do mar e os parâmetros ambientais envolvidos?

***
organismos marinhos são classificados basicamente em plâncton (fitoplâncton e zooplâncton), que possuem
pouca ou nenhuma mobilidade horizontal contra as correntes e nécton, dotados de capacidade de nadar. As baleias
e os tubarões são exemplos de nécton. Animais marinhos são ainda classificados pelos ambientes onde vivem:
bentônicos (sobre o fundo ou dentro dos sedimentos) e pelágicos (na massa d’água). O ambiente pelágico é ainda
dividido em epipelágico (até 200 m de profundidade), mesopelágico (200 m e 1000 m de profundidade),
batipelágico (1000 a 4000 m) e abissopelágico (abaixo de 4000 m).

5-22 VERSÃO 1.0


IPqM-013-0177-ET/97

2. Qual o efeito, no poder de espalhamento e no nível de reverberação da superfície do mar de, mantidas as
demais condições (a) aumentar a velocidade do vento por tempo suficiente que seus efeitos façam-se sentir no
estado do mar; (b) aumentar a freqüência do sonar.

3. Com referência às características típicas de SS da superfície do mar apresentadas na Figura 5-16, descreva
os fenômenos físicos envolvidos em cada faixa de valores de ângulo de incidência e a dependência com a
freqüência.

4. Qual região da Figura 5-16 aplica-se a sonares operando em dutos de superfície típicos?

5. Que parâmetros ambientais são significativos na determinação da reverberação de fundo?

6. O que é a camada de espalhamento profunda, DSL?

7. Qual a causa das variações horárias normalmente observadas no nível de reverberação provocado pela
DSL?

8. Descreva a dependência do poder de espalhamento da DSL com a freqüência.

5.10 CARACTERÍSTICAS DO SINAL DE REVERBERAÇÃO

O sinal de reverberação observado no receptor de um sonar ativo é basicamente um tom na freqüência


do sonar, de intensidade irregular que decai com o tempo. Em certos instantes o nível aumenta em decorrência do
espalhamento do pulso sonar na superfície, no fundo ou em alguma concentração de espalhadores na água (Figura
5-17).

Para um determinado grupo de espalhadores incluídos no volume ou área elementar de reverberação, o


sinal de reverberação que retorna ao sonar é uma combinação do sinal decorrente de cada espalhador individual
interceptado pelo pulso sonar em um dado instante de tempo, conforme indicado na Figura 5-17. A amplitude
resultante flutua de instante a instante uma vez que a quantidade de espalhadores e fases relativas dos sinais
individuais variam com o a distância ao sonar. Os espalhadores que provocam a reverberação são distribuídos
aleatoriamente no mar. Deste modo, a amplitude do sinal de reverberação resultante só pode ser convenientemente
descrita em termos estatísticos. Medições de campo indicam que o sinal de reverberação, a cada instante, apresenta
uma distribuição de probabilidades similar à da soma de um grande número de senóides de mesma amplitude e
fase aleatória (distribuição de Rayleigh), o que é compatível com a descrição do processo de formação do sinal
descrita acima.

5-23 VERSÃO 1.0


IPqM-013-0177-ET/97

reverberação de
superfície
sonar

DSL

reverberação de
fundo

Figura 5-17 - Formação do sinal de reverberação

Uma outra característica estatística importante para sinais acústicos é a coerência. Esta grandeza indica,
em termos simplistas, o grau de independência estatística entre dois sinais. Por exemplo, os sinais de entrada e
saída de um amplificador apresentam coerência elevada (um decorre do outro), a menos que o ruído interno do
amplificador (que não é relacionado ao sinal de entrada) seja elevado. Se compararmos duas porções de um sinal
em intervalos de tempo diferentes, estaremos medindo sua coerência temporal. Caso comparemos sinais de dois
hidrofones separados de uma certa distância e ocorrendo simultaneamente, estaremos medindo a coerência
espacial. Uma senóide, por exemplo, apresenta grande coerência temporal, pois é um sinal determinístico
periódico. Uma onda plana senoidal apresenta grande coerência espacial. De importância para o projetista de
sistemas sonar é a coerência espacial de um sinal ao longo do arranjo transdutor.

A envoltória do sinal de reverberação apresenta baixa coerência temporal para intervalos de tempo
maiores que a largura de pulso, indicando que o sinal de reverberação é formado por trechos distintos de duração
aproximadamente igual à do pulso sonar transmitido. A coerência espacial depende do espaçamento entre
hidrofones, da freqüência e do tipo de reverberação. Por exemplo, sinais de reverberação de fundo para hidrofones
em uma mesma vertical apresentam grande coerência durante o início da ocorrência da reverberação de fundo; a
coerência é menor se a reverberação decorrer da camada de espalhamento profunda. Em águas rasas, a
reverberação tende a ter alta coerência para hidrofones em uma mesma vertical. Essas características são
importantes para o projeto de arranjo de transdutores que visem reduzir a influência da reverberação. Quanto maior
a coerência na vertical, menos ganho se obtém, contra a reverberação, pela redução da largura de feixe vertical. O
mesmo se aplica no plano horizontal.

O pulso gerado no transmissor do sonar ocupa uma certa banda de freqüência em torno de uma
freqüência central portadora. O sinal de reverberação apresenta um desvio de freqüência da portadora e aumento
da banda ocupada em relação ao pulso transmitido.

O desvio de freqüência (efeito doppler) decorre do movimento tanto da plataforma onde o sonar está
instalado quanto dos espalhadores, de forma análoga aos ecos de alvos. Os circuitos de ODN cancelam (embora

5-24 VERSÃO 1.0


IPqM-013-0177-ET/97

não perfeitamente) o efeito do doppler próprio, conforme descrito na Seção 5.3.4 (vide Figura 5-8), de modo que
podemos considerar que a reverberação tem um desvio doppler decorrente do deslocamento dos espalhadores †††.

A banda ocupada pelo sinal de reverberação decorre de três fatores. O sinal transmitido ocupa uma
banda de freqüências Btx que no caso do pulso CW de duração tp vale cerca de 1/tp. A reverberação ocupará esta
banda.

O segundo fator é o cancelamento imperfeito do doppler próprio. Conforme descrito na Seção 5.3.4, o
cancelamento do doppler próprio é obtido ajustando-se a freqüência do oscilador local em função da velocidade
da plataforma do sonar e da conteira do feixe (vide Figura 5-8). Em tese, o cancelamento é perfeito se o sinal (seja
eco ou reverberação) estiver na marcação coincidente com a conteira do eixo do feixe sonar (digamos, θM). O
próprio feixe sonar, no entanto, tem largura finita, ou seja, o feixe na conteira θM permite a recepção de
reverberação vinda não só naquela marcação mas também nas suas proximidades quase sem atenuação. Seja o
caso do feixe a 000, ou seja, na proa: o doppler próprio de valor 0,69fvcos 0 = 0,69fv é cancelado pelo circuito de
ODN; o sinal que for recebido na marcação 2° neste mesmo feixe terá um doppler próprio de valor 0,69fvcos 2°.
Deste modo, após o cancelamento, haverá um desvio doppler residual, decorrente do movimento da plataforma do
sonar, de valor 0,69fv(1-cos 2°). Se a largura de feixe de -3 dB do transdutor for ϕ 3dB, a largura de banda adicional
de reverberação decorrente do erro do cancelamento de doppler será, aproximadamente

[
B feixe ≈ 0,69 f (KHz) v (nó) 1 − cos(ϕ3dB / 2) , Hz ]
Embora justificável somente para o feixe na proa, a expressão acima será usada como estimativa em qualquer
conteira.

Finalmente, deve-se considerar que os espalhadores podem ter seu próprio movimento em relação à
plataforma sonar, acarretando desvio doppler. Como uma estimativa, mesmo que grosseira, do desvio doppler da
reverberação decorrente do movimento dos espalhadores, podemos supor, com base em alguns resultados
experimentais, que sua velocidade média é da ordem de 0,5 nó, resultando em um desvio doppler da ordem de
Bmar = 0,69 f (KHz) × 0,5 ≈ f (KHz) / 3, Hz

que será usado como estimativa da largura de banda adicional de reverberação.

Em conclusão, a banda de freqüências ocupada pela reverberação vale, após o cancelamento do doppler
próprio:

Breverb = Btx + B feixe + Bmar


 1/t p , CW

Btx ≈ 
1/t + ∆f , FM ( 5-28 )
 p
[
B feixe ≈ 0,69 f ( KHz)v ( nó) 1 − cos(ϕ3dB / 2) ]
Bmar ≈ f ( KHz) / 3

onde tp é a largura de pulso (s), ∆f é a banda varrida em pulsos FM (Hz), f é a freqüência do sonar, ϕ3dB é a largura
de feixe de -3 dB de recepção na horizontal e v é a velocidade da plataforma do sonar. As larguras de banda B são
calculadas em Hz na Equação ( 5-28 ).

†††
odômetros acústicos empregam justamente o doppler próprio presente na reverberação para estimar a
velocidade da plataforma do sonar. Posicionando-se o eixo acústico do transdutor direcional para a proa ou través,
pode-se medir a velocidade da plataforma no sentido longitudinal ou transversal respectivamente.

5-25 VERSÃO 1.0


IPqM-013-0177-ET/97

Exemplo 5-12 Determine a largura de banda ocupada pelo pulso CW transmitido e pela reverberação
em um sonar operando a 6 KHz com largura de pulso de 50 ms e cuja largura de feixe de -3 dB de
recepção é de 15°, quando a plataforma sonar se desloca a 10 nós.

Pela Equação ( 5-28 ):

• a largura de banda do pulso transmitido vale Btx = 1/tp = 1/0,05 = 20 Hz;

• a largura de banda adicional devido ao erro no cancelamento do doppler próprio decorrente da


largura de feixe é Bfeixe = 0,69×6×10[1-cos(15°/2)] = 0,354 Hz;

• a largura de banda adicional devido ao movimento dos espalhadores no mar é Bmar = 6/3 = 2 Hz.

A largura de banda da reverberação é: Breverb = 20 + 0,354 + 2 = 22,4 Hz.

Exercícios de Fixação

1. Descreva as características (a) gerais da forma de onda, (b) de amplitude e (c) de coerência do sinal de
reverberação observado nos terminais de um receptor sonar.

2. Quais são as principais diferenças entre as características espectrais dos pulsos transmitidos e do sinal de
reverberação e suas causas?

PROBLEMAS

5.1 Em um experimento realizado em laboratório, um projetor produz um pulso acústico que incide em um objeto
a 1 m de distância. Ao lado do projetor, um hidrofone é empregado para se medir o pulso refletido no objeto. Na
freqüência utilizada, o projetor tem resposta de transmissão de 150 dB re 1µPa/V e o hidrofone tem sensibilidade
de -180 dB re 1V/µPa. Excitou-se o projetor com um pulso de 20 V pico-a-pico e, em conseqüência, o pulso
refletido medido nos terminais do hidrofone foi de 10 mV pico-a-pico. Determine (a) o nível da fonte; (b) o nível
sonoro e a intensidade incidente no objeto; (c) o nível sonoro do pulso refletido medido na face do hidrofone e a
intensidade correspondente; (d) o TS do objeto? (e) a seção reta acústica do objeto; (f) a potência acústica
interceptada. Considerar o meio como água doce onde c = 1500 m/s e ρc = 1,48×106 Pa⋅s/m e que a distância de 1
m é suficiente para garantir a condição de campo distante. Resp. (a) 167 dB re 1 µPa @ 1 m; (b) 167 dB re 1 µPa
@ 1 m, 33,8 mW/m2; (c) 131 dB re 1 µPa, 8,45 µW/m2; (d) -36 dB; (e) 31,6 cm2; (f) 107 µW.

5.2 Se o objeto do Problema 5.1 for uma esfera grande fixa e rígida, determine (a) o seu raio e seção geométrica;
(b) a menor freqüência em que o experimento deve ser realizado. Resp.: (a) 31,7 mm, 31,6 cm2; (b) 75 KHz.

5.3 Se o experimento do Problema 5.1 foi realizado em 1 KHz, quais o raio e a seção geométrica do objeto, se for
uma esfera fixa e rígida? Resp.: 103 mm, 332 cm2.

5.4 Um sonar de 3 KHz detecta um submarino pelo aspecto proa, sob determinadas condições de detecção limitada
por ruído, a 3 Km. A que distância o submarino será detectado, sob as mesmas condições, se estiver com aspecto
través? Considerar o modelo de perdas do tipo TL = 10logro + 10logr + αr, onde ro é uma constante e α é o
coeficiente de absorção a 20°C. Resp.: 12,3 Km.

5.5 Qual deve ser a largura de pulso mínima a ser empregada contra um submarino de 200 m de comprimento
para evitar redução de TS? Resp.: 67 ms.

5.6 Se ao submarino do Problema 5.4 fosse aplicado um revestimento anecóico, qual seriam as novas distâncias
de detecção pelo aspecto (a) proa; (b) través. Resp.: (a) 1016 m; (b) 4,98 Km.

5.7 Um cardume de peixes é detectado na proa de um pesqueiro por um sonar e freqüência 200 KHz. O navio
desloca-se a 5 nós e o cardume a 2 nós em rumos opostos. Qual a freqüência do eco recebido? Resp.: 100,966
KHz.

5-26 VERSÃO 1.0


IPqM-013-0177-ET/97

5.8 Um sonar de busca ativo opera com freqüência central de 5 KHz. Os circuitos de condicionamento de sinal
do transdutor tem largura de banda de 400 Hz simétrica em torno de 5 KHz. Supondo que a plataforma do sonar
opera a até 15 nós, qual a faixa de valores de velocidade de alvos que pode ser processada pelos circuitos de entrada
do receptor sonar operando (a) com pulso sonar CW de 50 ms e (b) com pulso FM de 50 ms e varredura de 100
Hz? Resp.: (a) 40 nós aproximando-se a 70 nós afastando-se; (b) 26 nós aproximando-se a 56 nós afastando-se.

5.9 A fim de estimar o doppler de alvos, o operador compara o eco com a reverberação logo antes e após a
ocorrência do eco. Como o efeito doppler da reverberação é baixo em relação a um alvo deslocando-se, digamos,
a cerca de 10 nós, pode-se considerá-lo, por simplificação, inexistente. Como o desvio doppler é baixo em relação
à freqüência central do sonar, a diferença entre a freqüência da reverberação e do eco de um alvo móvel pode não
ser percebida. Em razão disto, usa-se reduzir a freqüência dos sinais recebidos por meio de heterodinagem,
aproveitando-se o circuito misturador para implementar a função ODN, conforme mostrado na Figura 5-8. Outras
formas de facilitar a estima de doppler é pelo aumento da largura de pulso CW (o que dá mais tempo de escuta
para o operador). Qual a variação percentual de freqüência de um sonar operando em 10 KHz contra um alvo que
se afasta a 10 nós, após o cancelamento do doppler próprio, em relação (a) à freqüência do sonar e (b) à freqüência
de 800 Hz indicada na Figura 5-8? Resp.: (a) -0,69%; (b) -8,63%

5.10 No Capítulo 2, vimos que se o eco tiver duração tE maior que a duração do pulso transmitido tTX, o nível da
fonte efetivo SL a ser empregado na equação sonar deve ser corrigido em relação ao nível medido no sonar SL′, de
modo que SL = SL′ + 10log tTX/tE. Qual a correção a ser introduzida ao nível da fonte quando o eco é alongado por
um submarino de 150 m de comprimento no aspecto proa e o pulso transmitido tem duração (a) 10 ms; (b) 50
ms; (c) 100 ms? Resp.: (a) -13,2 dB; (b) -7,0 dB; (c) -4,77 dB.

5.11 Repita o Problema 5.10 caso o submarino tenha 10 m de boca e esteja no aspecto través. Resp.: (a) -3,68
dB; (b) -1,03 dB; (c) -0,54 dB.

5.12 Durante a medição de TS descrita no Exercício de Fixação 2 da Seção 5.4, o analista ficou em dúvida com
relação ao modelo de perda mais adequado às condições predominantes. Um outro modelo candidato é TL = 27 +
10log r + 0,00025r. Determine (a) o valor do TS empregando este modelo de perdas alternativo e (b) o
correspondente erro absoluto no TS em relação ao valor de 10,4 dB daquele Exercício. Resp.: (a) 4,5 dB; (b) 5,9
dB.

5.13 Determine as larguras de feixe equivalentes de reverberação de volume e superfície de um sonar cujas
larguras de feixe horizontal e vertical de -3 dB é de 10° tanto na transmissão quanto na recepção. (Dica: a largura
de -6 dB do diagrama combinado transmissão-recepção será de 10°). Resp.: 0,0304 esferoradiano e 0,175 radiano.

5.14 Determine os volumes equivalentes de reverberação referentes ao Exemplo 5-11. Resp.: (a) 0,148 Km3; (b)
0,467 Km3.

5.15 Determine as áreas equivalentes de reverberação referentes ao Exemplo 5-10. Resp.: (a) 0,146 Km2; (b)
0,462 Km2.

5.16 Determine o volume e a superfície equivalentes de reverberação a 1000 m de distância quando o sonar do
Problema 5.13 transmite um pulso de (a) 10 ms; (b) 250 ms. Resp.: (a) 228×103 m3 e 1,31×103 m2 (b) 5.70×106
m3 e 32,8×103 m2.

5.17 Determine o nível de reverberação do Problema anterior quando o sonar de SL 210 dB re 1 µPa @ 1m opera
em uma região onde predomina (a) a reverberação de volume com SV = -90 dB; (b) a reverberação de superfície
com SS = -50 dB. Considere um modelo de perdas por divergência esférica. Resp.: (a) 53,6 dB re 1 µPa para
largura de pulso 10 ms e 67,6 dB re 1 µPa para largura de pulso de 250 ms; (b) 71,2 dB re 1 µPa para largura de
pulso de 10 ms e 85,2 dB re 1 µPa para largura de pulso de 250 ms.

5.18 Considerando que o sonar do Problema 5.17 tem um DTR dado por 20+5logtp para um pulso CW de largura
tp, determine o alcance limitado por reverberação (a) de volume e de (b) de superfície. Considere como alvo um

5-27 VERSÃO 1.0


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submarino em aspecto aleatório. Resp.: (a) 118 Km com largura de pulso de 10 ms e 10,5 Km com largura de
pulso de 250 ms; (b) 241 Km com largura de pulso 10 ms e 1,93 Km com largura de pulso 250 ms.

5.19 Repita o Exemplo 5-12 quando se seleciona uma largura de pulso CW de 1s.

5.20 O diagrama de irradiação horizontal de um sonar tem largura de feixe de -3 dB de 15° e opera com pulsos
de 50 ms de largura com freqüência central de 8 KHz. Determine a banda ocupada pela reverberação quando a
plataforma se desloca a 15 nós (a) para um sinal transmitido FM que varre uma faixa de 100 Hz; (b) para um
sinal transmitido CW. Resp.: (a) 123 Hz; (b) 23 Hz.

5.21 Um odômetro doppler (doppler log) consiste de um sistema sonar que opera com pulsos CW na freqüência
de 200 KHz. O transdutor (direcional) é instalado na quilha com eixo acústico contido no plano longitudinal do
navio a 60° da vertical e voltado na direção da proa. Durante sua operação, o desvio doppler do pulso de
reverberação recebido é medido e este valor é usado para calcular a velocidade de deslocamento do navio
(supondo-se os espalhadores com velocidade nula). Determine a velocidade do navio quando o sinal de
reverberação tem freqüência (a) 201 KHz; (b) 199,5 KHz. Resp.: (a) 5,77 nós; (b) 2,89 nós a ré.

BIBLIOGRAFIA

[1]. Urick, Robert J. Principles of underwater sound. 3.ed. New York, McGraw-Hill. 1983.

[2]. Kinsler, Lawrence E. et alli. Fundamentals of acoustics. 3.ed. New York, John Wiley. 1982.

5-28 VERSÃO 1.0


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CAPÍTULO 6 - ANÁLISE DE SINAIS

6.1 INTRODUÇÃO

Sistemas sonar podem ser vistos como processadores de sinais que transformam o sinal de entrada
(ruído irradiado pelo alvo ou eco) para uma forma que, espera-se, facilite sua interpretação e a extração de
características por um operador humano ou sistema automático, ao mesmo tempo que procura reduzir a
influência de ruídos e outras formas de interferência.

A expressão processador de sinal envolve dois termos. Para se projetar ou empregar com eficácia um
sistema sonar é preciso conhecer as características dos sinais (aí incluído ruídos e outras interferências) a serem
transformados bem como dos processadores ou sistemas que implementam aquelas transformações. Os termos
sistema e filtro são também empregados como sinônimos de processador.

Neste Capítulo apresentamos uma breve introdução das definições e ferramentas empregadas para se
caracterizar sinais. Descrição dos sistemas que os processam está fora do nosso escopo. O estudo detalhado
deste assunto pode ser encontrado em livros texto sobre sinais e sistemas, análise de circuitos elétricos, sistemas
de controle e princípios de comunicação (vide, por exemplo, [Ref. 1, 2, 3, 4]). Uma breve introdução a
processamento de sinais digitais torna-se necessária em virtude do emprego generalizado dessas técnicas nos
sonares modernos. Livros texto sobre processamento de sinais digitais ou sinais de tempo discreto devem ser
consultados para uma abordagem mais completa ( vide, por exemplo, [Ref. 5, 6]).

6.2 CLASSIFICAÇÕES DE SINAIS

Sinais podem ser classificados de várias formas. Dois tipos de classificação que nos interessam são
quanto à possibilidade de uma exata descrição matemática e quanto à discretização da variável independente
(usualmente, tempo). No primeiro caso, os sinais podem ser classificados como determinísticos e aleatórios; no
segundo caso podemos ter sinais de tempo contínuo e sinais discretos.

6.2.1 Sinais Determinísticos

Sinais determinísticos podem ser descritos por uma expressão matemática ou tabela de valores, ou
seja, podem ser representados por funções matemáticas. Dada a função que representa o sinal como uma função
do tempo, x(t), conhecemos o valor do sinal em qualquer instante de tempo.

Sinais são periódicos quando a função se repete a intervalos de tempo regulares: x(t) = x(t+T o ), sendo
que o período é o menor valor T o em que isto ocorre. Um sinal periódico simples é o sinal cosenoidal

x(t) = A cos (2π f o t + φ)

caracterizado por uma amplitude A, uma freqüência f o e uma fase inicial φ. Este sinal, que inclui a senóide (basta
fazer φ = -π / 2), tem período T o = 1/f o . Uma característica dos sinais periódicos em geral é a possibilidade de
representação pela série de Fourier


x (t ) = d o + ∑ d n cos(2πnf o t + φn ) ( 6-1 )
n =1

onde f o = 1/T o e T o é o período do sinal. Ou seja, sinais periódicos podem ser representados por uma soma de
sinais senoidais: um componente de freqüência zero (valor médio ou CC do sinal) e uma infinidade de
cosenóides harmônicas cuja fundamental tem período igual ao do sinal. Podemos, deste modo, representar o
sinal pela sua forma-de-onda [gráfico de x(t) em função de t] ou pelos coeficientes d n e fases φ n . A série de

6-1 VERSÃO 1.0


IPqM-013-0177-ET/97
Fourier acima indicada está na Forma polar. Outras formas da série são a de quadratura (emprega senos e
cosenos com fase inicial nula) e a complexa [emprega a exponencial complexa exp(j2πnf o t) = cos(2πnf o t) + j
sen(2πnf o t)], cuja forma é


x (t ) = ∑ cn e j 2π nf t o
( 6-2 )
n =−∞
onde
To
1
cn =
To ∫ x(t )e − j 2π nf t d t
o ( 6-3 )
0

Em geral, c n é complexo, i.e. c n = c n  exp(j∠cn). Observe que apesar dos termos da série serem complexos,
cada termo referente a um valor positivo de n combina-se com um termo -n que resulta em uma função real seno
ou coseno [ambas as representações polar ou complexa, representam o mesmo sinal real x(t)]. Na Figura 6-1 são
mostradas duas possíveis representações de uma onda retangular: forma-de-onda e coeficientes da série de
Fourier (complexa), dados por

A  sen(π nf oτ ) 
cn =  
To  π nf o 

x(t)

t
-To/2 -τ/2 τ/2 To/2
cn
A/3

(A/3)sen(nπ /3) / (nπ /3)

-5fo 5fo 10fo


0 f

Figura 6-1 - Onda retangular periódica: representação da forma-de-onda no tempo e a correspondente


representação em termos dos termos da série de Fourier (complexa) (caso mostrado corresponde a To =
3τ).

(observe que co = Aτ/To corresponde ao nível CC do sinal). A representação usando os coeficientes da série é
denominada representação espectral ou, simplesmente, espectro do sinal. Cada linha vertical que representa um

6-2 VERSÃO 1.0


IPqM-013-0177-ET/97
coeficiente da série de Fourier é uma linha espectral. Poderíamos ter empregado também a forma polar da série,
que pode ser obtida a partir da forma complexa pelas fórmulas

do = co ( 6-4 a)

dn = 2 cn, n ≥ 1 ( 6-4 b)

φn = ∠cn, n ≥ 1 ( 6-4 c)

Duas grandezas associadas a sinais que nos interessam são o seu nível CC, as suas potência ou
energia médias totais * e as potências ou energias da componente CA. Quando mencionamos potência de um
sinal de voltagem ou pressão, podemos estar nos referindo à potência propriamente dita (em Watts) ou
intensidade (W/m2) ou a grandezas equivalentes, valor eficaz (VRMS ou PRMS) ao quadrado. Em processamento
ou análise de sinais, normalmente, nos referimos a estas últimas interpretações. O nível CC de um sinal
periódico é dado pelo valor médio em um período:

t1 + To
1
x (t ) =
T0 ∫ x (t ) d t ( 6-5 )
t1

onde o símbolo 〈〉 denota valor médio. A potência média total (valor quadrático médio) será

t1 + To
1
Π x = x (t ) =
2
T0 ∫ x 2 (t ) d t ( 6-6 )
t1

e a potência média da componente CA (retirando-se a potência CC) será

[ x (t ) − x (t ) ]2 = x 2 (t ) − x (t )
2
( 6-7 )

Observe que a unidade destas "potências" será Volt ou Pascal ao quadrado e, na realidade, são valores eficazes
ao quadrado. As integrações acima são realizadas em um período qualquer. Para obter a "energia" (Volts2⋅s ou
Pa2⋅s) contida em um período, basta multiplicar as potências pelo período To. Esses valores também podem ser
calculados a partir da série de Fourier: co e do são o nível CC; a potência média total † será:


1 ∞ 2
∑ cn = do + ∑dn
2
Πx = x (t ) =
2 2 ( 6-8 )
n =−∞ 2 n =1

As Equações ( 6-6 ) e ( 6-8 ) indicam que é indiferente calcular-se potência através da forma-de-onda ou dos
componentes espectrais. Estas Equações relacionam expressões de potência em termos da integral do quadrado
da função e da soma dos quadrados dos termos da correspondente série de Fourier e formam a igualdade de
Parseval.

*
existem sinais, como os transientes, para os quais a potência é nula e são denominados sinais de energia; sinais
periódicos são sinais de potência (têm potência não nula e energia infinita).

a potência de um sinal senoidal de amplitude d é d2/2; a potência de uma exponencial complexa de "amplitude"
c é c2.

6-3 VERSÃO 1.0


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Exemplo 6-1 Determine (a) o nível CC, (b) a potência e (c) a potência CA e (d) a energia em um
período da onda retangular periódica mostrada na Figura 6-1. Indique a unidade dos resultados
considerando que x(t) é dado em µPa.

(a) O nível CC é igual ao coeficiente c0 da série de Fourier que, de acordo com a discussão no texto,
vale Aτ /To. Vamos confirmar calculando pela Equação ( 6-5 ):

t1 + To τ /2
1 1
x (t ) =
To ∫ x(t ) d t = To ∫ A d t = Aτ / To µPa
t1 −τ / 2

onde escolheu-se t1 = -To/2 e usou-se o fato de que, no período centrado em t =0, a forma-de-onda é
nula exceto no intervalo (-τ/2, τ/2);

(b) A potência é facilmente calculada pela Equação ( 6-6 ):

t1 + To τ /2
1 1
Πx = x (t ) =
2
To ∫ x (t ) d t = To
2
∫ A 2 d t = A 2τ / To µPa2
t 1 −τ / 2

(c) A potência da componente CA é obtida a partir da Equação ( 6-7 ):

[ x (t ) − x (t ) ]2 = x 2 (t ) − x (t )
2
( )
= A 2 τ / To − ( Aτ / To ) = A 2 τ / To (1 − τ / To ) µPa2
2

(d) A energia em um período é a potência do sinal multiplicada pelo período. A energia total em um
período é, então A2τ e a energia CA em um período é A2τ (1 - τ /To), ambas em µPa2⋅s

Sinais podem ser não-periódicos. Destes podemos destacar os quase-periódicos e os transientes. Os


quase-periódicos podem ser representados por uma soma de sinais senoidais, similar às séries de Fourier, porém
as diversas componentes espectrais (termos da série) não formam uma família de harmônicos entre si. Isto
ocorre, por exemplo, se pelo menos um dos termos da série (ou ambos os termos, positivo e negativo de uma
série complexa) tiver sua freqüência igual ao valor da fundamental multiplicado por um número irracional (de
modo a eliminar a possibilidade que as freqüências dos diversos termos tenham um divisor comum que seria,
então, a freqüência fundamental). Tais sinais, obviamente, têm uma representação por linhas espectrais. Os
sinais transientes têm duração finita e não podem ser representados por séries de Fourier válidas em todo o
intervalo t ∈(-∞, ∞). Devemos empregar, neste caso, o par de transformadas de Fourier definido por


x (t ) = F -1
{x (t )} = ∫ X ( f )e j 2π f t df ( 6-9 )
−∞


X ( f ) = F {x (t )} = ∫ x(t )e − j 2π f t dt ( 6-10 )
−∞

e que, no caso de sinais transientes, é uma função contínua da freqüência, conforme ilustrado na Figura 6-2.

6-4 VERSÃO 1.0


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x(t) (a) x(t) (b)
1 1

exp(-t)

0 t
0 4 t
-10 0 10
X( f )
∠ X(f)
1 π/2 X( f )
4
f
-5 0 5
f
f
-5 0 5 -π/2 -5 0 5
Figura 6-2 - Sinais transientes e suas representações espectrais (transformada de Fourier): (a) pulso
exponencial; (b) pulso retangular.

O nível CC e as potências médias (total e CA) de um sinal transiente são nulas (um sinal transiente
pode ser visto como um sinal periódico de período infinito). A grandeza empregada neste caso é a energia do
sinal (lembrando que falamos de equivalente à energia, em unidades de Volt2⋅s, por exemplo), dada pela
expressão


Ex = ∫ x 2 (t ) d t ( 6-11 )
−∞

Quando o sinal transiente tem a forma de um pulso aproximadamente retangular ou é um pulso senoidal (CW,
FM) cuja duração é bem definida, emprega-se calcular a potência do sinal considerando somente sua duração τ:

Πx = Ex / τ ( 6-12 )

Este valor de potência pode ser referido como uma potência de pico.

Podemos empregar a transformada de Fourier para calcular a energia de um sinal transiente:


2
Ex = X( f ) d f ( 6-13 )
−∞

Observe a similaridade entre as Equações ( 6-11 ) e ( 6-13 ). Esta igualdade entre os valores dessas duas
integrais é uma forma da igualdade de Parseval mencionada anteriormente.

Exemplo 6-2 Determine a energia do pulso exponencial x(t) = exp(-t), t > 0 e indique sua unidade
considerando que o sinal é dado em µPa.

Aplicando a Equação ( 6-11 ), obtemos:

∞ ∞
1 −2t ∞ 1
Ex = ∫x 2
(t ) d t = ∫ e − 2t d t =
−2
e
0
=
2
µPa2⋅s
−∞ 0

6-5 VERSÃO 1.0


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x(t)

t
(a)
Sx(f)

f
(b)
Figura 6-3 Sinal aleatório: (a) forma de onda; (b) espectro de freqüências

6.2.2 Sinais Aleatórios

Sinais aleatórios não podem ser expressos por uma função e são caracterizados através de parâmetros
estatísticos tais como valor médio (nível CC), média quadrática (potência), autocorrelação e função densidade
espectral. A base matemática para o estudo desses sinais é a teoria das probabilidades. Exemplos de sinais
aleatórios são o sinal de voz e os ruídos de modo geral. Na Figura 6-3 a forma de onda e o espectro de um sinal
aleatório são mostrados. Observe que a forma-de-onda é pouco informativa enquanto o espectro mostra
claramente a presença de três linhas espectrais que indicam a presença de três sinais senoidais em meio ao ruído.

Do ponto de vista de processamento de sinais, os sinais determinísticos não são "interessantes". Se um


sinal é expresso por uma função matemática, nada de novo poderá ser aprendido medindo-se e analisando-se sua
forma de onda. Os sinais que nos interessam devem ser, de alguma forma, desconhecido, ou seja, eles devem
"transportar" algum tipo de informação nova que só pode ser obtida pela sua análise. Vejamos o sinal de voz,
por exemplo: o conteúdo de informação contido na forma de onda de um sinal de voz que modula uma portadora
será conhecido após processarmos o sinal modulado e aplicarmos o sinal resultante a um fone. O nosso interesse
em obter este "conhecimento" (informação) é tão grande que fortunas são gastas pela sociedade na aquisição de
dispositivos capazes de processar o sinal rádio e extrair as informações nele contidas.

Vejamos outro exemplo: o sonar ativo. A uma primeira aproximação conhecemos a forma de onda
que deverá ter o eco (igual à transmitida). Porém não a conhecemos perfeitamente: o instante em que ocorre o
eco depende da distância ao alvo; a freqüência depende da velocidade do alvo; a forma-de-onda depende do
formato do alvo; o meio de propagação introduz distorções e, finalmente, o eco vem acompanhado de ruído e
reverberação. Um bom receptor sonar deve ser capaz de extrair as informações desejadas (posição, velocidade e
forma do alvo) que só são conhecidas em termos estatísticos e que vem embebidas em um fundo (ruído e
reverberação) que também só é conhecido estatisticamente.

Qualquer sistema que deva processar um sinal em meio a interferências deve, no seu projeto,
considerar as características dos sinais e das interferências de fundo. No caso de sonares ativos, isto compreende
possíveis formas e capacidades de manobra dos alvos e as características estatísticas dos ruídos e da
reverberação. Para sonares passivos devemos conhecer também as características do ruído irradiado pelos
possíveis alvos. Em ambos os casos, devemos também considerar os efeitos de propagação do meio, também de

6-6 VERSÃO 1.0


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natureza aleatória. Quanto maior e mais detalhado o conhecimento sobre esses fatores, maiores chances de
especificarmos e projetarmos sistemas eficazes.

Um dos principais objetivos das técnicas de análise de sinais é justamente medir ou melhor, estimar as
características de sinais e ruídos que permitam tanto a extração de informações sobre suas fontes quanto projetar
sistemas de processamento cada vez mais eficazes.

A caracterização espectral de sinais aleatórios através da função densidade espectral de potência será
vista mais adiante.

6.2.3 Sinais Analógicos e Discretos

Sinais podem ser classificados como de tempo contínuo quando definidos em intervalos contínuos de
tempo t (ou seja, se o domínio da função for o conjunto dos reais) ou de tempo discreto se definido em
determinados instantes de tempo (ou seja, se o domínio da função puder ser descrito em termos do conjunto dos
inteiros). Com relação à amplitude, os sinais podem ser de amplitude contínua ou quantizada. Sinais de tempo e
amplitude contínuos são denominados analógicos (vide Figura 6-4). Quando o tempo é discreto e a amplitude
contínua, o sinal é discreto (ou uma seqüência). Quando tanto o tempo quanto a amplitude são discretos o sinal é
dito digital. Observe que o valor dos sinais digitais e discreto só são definidos para certos valores da variável
independente (denominados amostras). É errado dizer que seus valores são nulos nos intervalos: eles
simplesmente não são definidos entre amostras. De um modo geral, na análise de sinais digitais é usual tratá-los
como discretos, considerando, a posteriori os efeitos da quantização da amplitude (o erro de quantização é
tratado como uma forma de ruído). Aqui usaremos, indistintamente, os termos sinal discreto, sinal digital e
seqüência.

3
analógico

discreto

2
erro de digital
quantização

0 t, ms
-50 0 50
n
-5 0 5

Figura 6-4- Sinais analógico, discreto e digital. O sinal analógico é definido para qualquer t real e pode
assumir qualquer valor; o sinal discreto só é definido para certos valores de t indicados pelo índice n mas
pode assumir qualquer valor; o sinal digital corresponde ao sinal discreto, mas só pode assumir certos
valores; os níveis de quantização do sinal digital (i.e., os valores que o sinal digital pode assumir) neste
exemplo são 0, 1, 2 e 3.

6-7 VERSÃO 1.0


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Sinais discretos podem ser obtidos diretamente em função da natureza do problema ou do processo de
aquisição de dados. Este é o caso, por exemplo, quando se analisa o comportamento de uma conta de um plano
de aposentadoria ou as cotações de uma ação em bolsa de valores: os depósitos mensais ou a cotação média
diária formam naturalmente seqüências numéricas. O registro da temperatura da água do mar realizado
diariamente pelo pessoal a bordo de um navio é um outro exemplo.

Uma outra forma de se obter um sinal discreto é pelo processo de amostragem de um sinal
originalmente analógico. Em sistemas sonar modernos, implementados digitalmente, os sinais acústicos captados
pelos hidrofones são convertidos para forma digital logo nos primeiros estágios do receptor. É possível realizar-
se a operação inversa, conversão de um sinal discreto em analógico. Em sonares ativos, diferentes formas de
onda empregadas para modular a portadora são armazenadas em ROM, o que facilita, por exemplo, a
implementação de novos tipos de pulso sonar.

O circuito empregado para a conversão de sinais analógicos em digitais é o conversor analógico-


digital (conversor A/D, Figura 6-5). A intervalos de tempo regulares, o sinal analógico de entrada é amostrado
através de um circuito de amostragem (sample&hold, S&H) e convertido para um número digital, que é então
lido por um processador em um endereço de memória. O circuito S&H é empregado para manter a voltagem de
entrada do conversor constante durante o intervalo de tempo gasto para conversão. Em termos ideais,
desconsiderando o erro de quantização e algum fator de escala porventura empregado no sistema, tudo se passa
como se o valor numérico de saída fosse exatamente igual à voltagem do sinal no instante da amostragem.
Conforme indicado na Figura 6-6, se a voltagem de entrada é v(t) e as amostras são realizadas nos instantes t =
nTs, a seqüência resultante será v(n):

sinal analógico sinal analógico sinal amostrado sinal digital

v(t) Filtro anti-aliasing Circuito S&H Conversor A/D v(n)

fs
Figura 6-5 - Sistema de conversão analógico-digital (A/D)

v(t)t = nTs = v(nTs) ≡ v(n)

onde Ts é o intervalo de amostragem e a freqüência de amostragem é fs = 1/Ts. O sinal discreto pode ser
convertido de volta à forma analógica através de um conversor digital-analógico (D/A), desde que, na conversão
A/D, seja obedecido o critério de Nyquist que estabelece a condição

f s > 2 f Max ( 6-14 )

entre a freqüência de amostragem fs e a máxima freqüência presente no sinal a ser convertido fMax.

Como exemplo do processo de amostragem, a seqüência senoidal x(n) = sen(θn) pode ser obtida a
partir do sinal sen(2πft):

sen(2πft)t=nTs = sen(2πfTsn) = sen(θn)


onde
θ = 2πfTs = ωTs

6-8 VERSÃO 1.0


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v(t)

v(n) ≡ v(nTs)

0 t, seg
Ts

n
0 5 10 15 20
Figura 6-6 - Sinais analógico v(t) e discreto v(n)

é a freqüência digital (radiano). Observe que o sinal senoidal analógico é sempre periódico, o que não ocorre no
caso de sinais senoidais discretos. Sinais discretos são periódicos se existir um valor inteiro P > 0 tal que,
qualquer que seja n,

x(n) = x(n+P )

e um período consiste de exatamente P amostras. No caso da senóide isto ocorre se e somente se a freqüência
digital for da forma θ = 2πk/N, onde k e N são inteiros maiores que zero (1, 2, 3...). Quando k = 1, diz-se a
seqüência seno é de freqüência fundamental e tem período P = N; k = 2 resulta em uma seqüência que é o
segundo harmônico daquela; k = 3 resulta no terceiro harmônico e assim por diante. O período P correspondente
à freqüência θ = 2πk/N é obtido pelo menor valor inteiro de L que resulte em P = 2πL/θ inteiro.

Exemplo 6-3 Determine o período das seqüências dadas: (a) sen(πn/10); (b) sen(3πn/5); (c)
sen(1,5n); (d) sen( 2 πn); (e) sen(-5πn/30)

(a) a seqüência de freqüência digital θ = π/10 = 2π/20 (N = 20, k = 1) é periódica. O período será o
menor P inteiro positivo igual a 2πL/θ = 20L, ou seja P = 20 (correspondente a L = 1). Esta é uma
seqüência de freqüência fundamental com período P = N = 20

(b) a seqüência de freqüência digital θ = 3π/5 = 3×2π/10 (N = 10, k = 3) é periódica. O período será o
menor P inteiro positivo igual a 2πL/θ = 10L/3, ou seja P = 10 (correspondente a L = 3). Esta é uma
seqüência de terceiro harmônico da fundamental θ = 2π/10.

(c) a seqüência de freqüência digital θ = 1,5 não pode ser escrita da forma 2πk/N, logo a seqüência
não é periódica. Em outras palavras, não existe número inteiro P que resulte em sen(1,5n) =
sen[1,5(n + P)] para qualquer n.

(d) a freqüência digital θ = 2 π não pode ser escrita da forma 2πk/N, logo a seqüência não é
periódica.

(e) primeiramente vamos colocar a expressão da seqüência na forma genérica e simplificá-la: sen(-
5πn/30) = - sen(πn/6). A freqüência digital é θ = π/6 = 2π/12 (N = 12, k = 1) e a seqüência é periódica.
O período será o menor P inteiro positivo igual a 2πL/θ = 12L, ou seja P = 12 (correspondente a L =
1). Esta é uma seqüência de freqüência fundamental com período P = N = 12.

6-9 VERSÃO 1.0


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A Figura 6-7 apresenta os sinais discretos do Exemplo 6-3. O critério de periodicidade do sinal
sen(nθ) vale, obviamente, para qualquer sinal do tipo sen(θn+φ), ou cos(θn+φ) ‡ onde θ é a freqüência digital e φ
um ângulo de fase arbitrário. O sinal exponencial complexo exp(jθn) = cos(nθ) + jsen(nθ) segue esta mesma
regra.

(a) 1 1 (b)
-10 n -10
0 0 n
0 10 0 10
-1 -1

(c) 1 1 (d)
-10 n -10 0 n
0 0
0 10 10
-1 -1

1
-10 0 n
(e) 0
10
-1

Figura 6-7 - Seqüências do Exemplo 6-3

Continuando com o caso da senóide amostrada, se o critério de Nyquist for obedecido, fs > 2f, então a
freqüência digital será θ = 2πfTs < π. O que ocorre se não obedecermos o critério de Nyquist? Vejamos o
exemplo a seguir. Suponha que empreguemos uma freqüência de amostragem de valor baixo, seja fs = 1,5f < 2f
⇒ Ts = 1/1,5f. Então, a freqüência digital será θ = 2πfTs = 4π/3. Mas sen[(4π/3)n] = sen[2πn - (2π/3)n] = -
sen[(2π/3)n], de freqüência digital θ = 2π/3. Esta é também a seqüência obtida ao se fazer a conversão A/D de
um sinal senoidal de freqüência 0,5f [este sinal seria -sen(πft)] usando a mesma freqüência de amostragem fs =
1,5f, dentro do critério de Nyquist. Desta forma, ao não obedecermos o critério de Nyquist, obtivemos um sinal
discreto indistinto do obtido a partir de um sinal analógico de menor freqüência (para o qual o critério é
obedecido).

Exemplo 6-4 Determine a freqüência digital da seqüência resultante da amostragem dos sinais
senoidais dados (de freqüência 1 KHz, amplitude unitária e fase inicial nula) e o período
correspondente: (a) senóide de freqüência 1 KHz amostrada a 3 KHz; (b) senóide de 1 KHz
amostrada a 4 KHz; (c) cosenóide de 1 KHz amostrada a 3 KHz; (d) senóide de 4 KHz amostrada a
3 KHz; (e) senóide de 1 KHz amostrada a 10/3 KHz; (f) senóide de 1 KHz amostrada a 2 2 KHz.

(a) o sinal analógico é sen(2000π t) amostrado nos instantes t = nTs = n/fs = n/3000, resultando na
seqüência sen(2000π n/3000) = sen(2π n/3), que é periódica com período N = 3.

(b) o sinal analógico é sen(2000π t) amostrado nos instantes t = nTs = n/fs = n/4000, resultando na
seqüência sen(2000π n/4000) = sen(π n/2), que é periódica com período N = 4.

(c) o sinal analógico é cos(2000π t) amostrado nos instantes t = nTs = n/fs = n/3000, resultando na
seqüência cos(2000π n/3000) = cos(2π n/3), que é periódica com período N = 3.


escrever uma seqüência senoidal como seno ou coseno é uma questão de preferência pessoal, pois podemos
converter facilmente uma na outra usando a propriedade sen(θn) = cos(θn - π/2).

6-10 VERSÃO 1.0


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(d) o sinal analógico é sen(8000π t) amostrado nos instantes t = nTs = n/fs = n/3000, resultando na
seqüência sen(8000π n/3000) = sen(8π n/3) = sen(2π n+2π n/3) = sen(2π n/3), que é periódica com
período N = 3.

(e) o sinal analógico é sen(2000π t) amostrado nos instantes t = nTs = n/fs = 3n/10000, resultando na
seqüência sen(2000π 3n/10000) = sen(3π n/5), que é periódica com período N = 10.

(f) o sinal analógico é sen(2000π t) amostrado nos instantes t = nTs = n/fs = n/2000 2 , resultando na
seqüência sen(2000π n/2000 2 ) = sen(π n/ 2 ), que não é periódica.

O Exemplo 6-4 ilustra alguns fatos interessantes a respeito de amostragem de sinais. As seqüências
resultantes são mostradas na Figura 6-8. Primeiramente, um mesmo sinal analógico resulta em diferentes sinais
analógicos quando se altera a freqüência de amostragem (vide itens a, b, e e f daquele exemplo). A seqüência
resultante pode ter período que não “casa” com o período do sinal analógico (item e) ou mesmo não ser
periódica (item f). Em segundo lugar, diferentes sinais analógicos amostrados com a mesma freqüência podem
resultar em um mesmo sinal discreto: nos itens a e d senóides de diferentes freqüências (1 KHz e 4 KHz) geram
o mesmo sinal discreto sen(2π n/3) quando empregando a mesma freqüência de amostragem 3KHz. Em termos
práticos isto significa que, dado aquele sinal discreto, não é possível deteminar qual o sinal analógico
correspondente (e, por conseguinte realizar a conversão D/A para obtê-lo). O que ocorreu no caso de item d é
que o critério de Nyquist, Equação ( 6-14 ), não foi obedecido (observe que há menos de duas amostras por cada
período do sinal de 4 KHz). Para uma freqüência de 4 KHz, deveríamos empregar uma freqüência de
amostragem fs > 8 KHz e não 3 KHz como apresentado no Exemplo 6-4. Esta característica de amostragem com
freqüência inferior à de Nyquist é observada, por exemplo, ao iluminarmos uma roda de aro com uma luz
estreboscópica. Variando a freqüência da luz, podemos ver a roda girando em velocidade abaixo da sua real
velocidade de rotação (no exemplo, a senóide de 4 KHz estava sendo “vista” como uma de 1 KHz). A fim de
evitar este fenômeno, denominado aliasing, devemos garantir que, na entrada do conversor A/D o sinal
analógico não possua componentes de freqüência maiores que fs/2. Isto é obtido usando-se um filtro anti-
aliasing precedendo o conversor A/D.

De modo similar ao caso analógico, um sinal discreto de período N tem uma representação por série
de Fourier da forma
N −1
1
x ( n) =
N
∑ X ( k )e j(2π / N )nk ( 6-15 )
k =0
onde
N −1
X (k ) = ∑ x(n)e − j(2π / N )nk ( 6-16 )
n=0

Note a similaridade entre os pares de Equação ( 6-2 ), ( 6-3 ) e ( 6-15 ), ( 6-16 ). Os valores X(k) (coeficientes da
série) podem ser representados graficamente em função da freqüência digital θk = (2π /N)k, k = 0, 1, ... N-1,
formando um espectro (discreto) de freqüências do sinal x(n). No caso de um sinal discreto de duração finita
(transiente) devemos empregar o par de transformadas de Fourier
π
1
x ( n) =
2π ∫π X (θ )e θ dθ

j n
( 6-17 )

6-11 VERSÃO 1.0


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(a), (d)
n
Ts = 1/3 ms -9 0 9

1 KHz 4 KHz

(b)
n
-12 0 12
Ts = 1/4 ms

(c)
n

Ts = 1/3 ms -9 0 9

(e)
n
Ts =0,3 ms -10 0 10

(f)
8 n
-8 0

Ts = 2 / 4 ms
Figura 6-8 - Seqüências do Exemplo 6-4


X (θ ) = ∑ x(n)e − jθn ( 6-18 )
n =−∞

Como ocorre no caso analógico, um sinal periódico tem espectro discreto e um sinal transiente tem
espectro contínuo [embora, se a transformada for calculada em um computador, somente alguns pontos θk serão
empregados para calcular X(θ) §].

Exemplo 6-5 Qual a representação, em série de Fourier, do sinal discreto periódico calculado no
item a do Exemplo 6-4?

No Exemplo 6-4, a discretização do sinal analógico sen(2000π t) (freqüência 1000 Hz) usando a
freqüência de amostragem de 3000 Hz, resultou na seqüência x(n) = sen(2π n/3), que é periódica
com período N = 3. Os coeficientes X(k) são calculados pela Equação ( 6-16 ) com N = 3:

2
X (k ) = ∑ x(n)e − j(2π / 3)nk , k = 0, 1, 2
n=0

§
A expressão para calcular a transformada de Fourier X(θ) para pontos θk = (2π/N)k de um sinal discreto
definido no intervalo 0 ≤ n ≤ N é a própria Equação ( 6-16 ), muito empregada em processamento de sinais
digitais e para a qual existem algoritmos de execução rápida (Fast Fourier Transform -- FFT).

6-12 VERSÃO 1.0


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os valores x(n) para n = 0, 1 e 2 são obtidos substituinod esses valores de n na expressão sen(2π
n/3), obtendo-se: x(n) = {0, sen(2π /3), sen(4π /3)} = {0, 0,866, -0,866}, correspondentes a um período
do sinal discreto. Os valores de X(k) calculados são: X(k) = {0, -j1,5, +j1,5}, correspondentes às
freqüências digitais θk = (2π /3)k = {0, 2π /3, 4π /3}. Deste modo, o sinal x(n) pode ser representado
por [Equação ( 6-15 )]:

x(n) = (1/3) [0 + (-j1,5) e+j(2π/3)n + (+j1,5) e+j(4π/3)n]

Como verificação, vamos escrever a forma complexa da função seno:

x(n) = sen(2π n/3) = (1/2j)(ej(2π/3)n - e-j(2π/3)n) = (1/3)[(-1,5j) ej(2π/3)n + (+1,5j) e-j(2π/3)n]

Se somarmos j2πn ao expoente do segundo termo acima, não alteramos o resultado (equivale a
somar um número inteiro de valores 2π a um ângulo) e obtemos

x(n) = sen(2π n/3) = (1/3)[(-1,5j) ej(2π/3)n + (+1,5j) e+j(4π/3)n]

que é, exatamente, a representação em série de Fourier do sinal x(n). Observe que uma das
freqüências digitais presentes na série é a própria freqüência do sinal, 2π/3. A outra corresponde ao
seu valor negativo, -2π/3 (somado a 2π). As "componentes espectrais" nessas duas "freqüências" têm
mesma magnitude (1,5/3 = 1/2), são conjugadas complexas (+j1,5/3 e -j1,5/3) e compõem-se para
produzir o sinal real x(n). Isto é exatamente o que ocorre com séries e transformadas de Fourier de
sinais analógicos reais.

Exemplo 6-6 Um sinal empregado na representação matemática de sinais discretos é a amostra


unitária δ(n) definida como sendo igual à unidade para n = 0 e de valor zero para qualquer outro n:

1, n = 0

δ (n) = 
0, n ≠ 0

Dado o sinal x(n) = δ(n), determine a transformada de Fourier X(θ).

Trata-se de um sinal transiente, de duração finita e admite a transformada de Fourier dada pela
Equação ( 6-18 ). Substituindo a definição da amostra unitária naquela equação, obtemos X(θ) = 1.
Observe que a transformada é um valor constante, indicando que a amostra unitária apresenta um
espectro "branco", de forma análoga ao impulso δ(t). Na realidade, a amostra unitária exerce, para
sinais e sistemas discretos, o mesmo "papel" que o impulso unitário exerce em relação a sinais e
sistemas analógicos.

A similaridade entre sinais analógicos e discretos vai além da possibilidade de representação através
de séries e transformadas de Fourier: sinais discretos podem sofrer operações (transformações, filtragens) que
simulam sistemas analógicos. É possível, por exemplo, implementar um filtro analógico através de programas de
computador. A Figura 6-9 ilustra este ponto: o sinal analógico é convertido para digital, processado em um
computador (através de um programa que implementa o "filtro" HD) e, depois, convertido de volta à forma
analógica; este processo equivale a processar o sinal em um filtro analógico HA. Sistemas tradicionalmente
analógicos (sonares, por exemplo) podem ser implementados empregando processadores digitais. Este
processamento de sinais digitais (DSP) é amplamente empregado hoje em dia.

6-13 VERSÃO 1.0


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x(n) y(n)
Filtro digital
Filtro anti-aliasing HD(z)
x(t) Conversor A/D Conversor D/A y(t)
(programa de
computador)

fs fs

Filtro analógico
x(t) HA(s) y(t)

Figura 6-9 - Implementação digital de um filtro analógico

Exercícios de Fixação

1. Defina sinais determinísticos; periódicos; transientes e de energia.

2. Um sinal tem período de 1ms. Qual o valor das freqüências dos componentes espectrais que podem
estar presentes na série de Fourier que representa o sinal?

3. Escreva a forma geral da série de Fourier de um sinal periódico de período To (a) na forma polar; (b)
na forma complexa. (c) Qual o valor do nível médio do sinal nessas duas representações, em função dos
coeficientes da série?

4. Qual a expressão da potência de um sinal periódico em função (a) da função x(t); (b) dos coeficientes
da série de Fourier polar; (c) dos coeficientes da série de Fourier complexa?

5. Um sinal consiste de uma senóide de amplitude 2 Volts somada a um nível CC de 1 Volt. (a) Qual a
representação do sinal em série de Fourier polar e complexa, supondo fase inicial nula? (b) Qual a potência CC?
(c) Qual a potência total? (d) Qual a potência CA?

6. (a) Quais as expressões da igualdade de Parseval para sinais periódicos e não-periódicos? (b) Qual o
significado dessas igualdades em termos das representações de sinais nos domínios do tempo e freqüência?

7. Durante a corrida de navios em uma raia acústica, o ruído irradiado é gravado. Durante a corrida o
navio pode emitir com o sonar para possibilitar uma análise do pulso emitido. O sinal gravado deve ser
considerado aleatório ou determinístico (a) sem emissão do sonar; (b) com emissão do sonar?

8. (a) Defina sinal analógico, discreto e digital. (b) O que é o erro de quantização?

9. Qual a função do filtro anti-aliasing em um sistema de conversão A/D?

10. A faixa de freqüência do sinal de voz é usualmente limitada a cerca de 3KHz nos sistemas de telefonia.
Qual a freqüência mínima de amostragem a ser adotada nos sistemas de telefonia digitais?

11. Desenhe o diagrama em blocos de um sistema digital que simule um filtro analógico.

6-14 VERSÃO 1.0


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6.3 DENSIDADE ESPECTRAL, NÍVEL ESPECTRAL E NÍVEL DE BANDA

Na Seção anterior vimos como calcular a potência de um sinal por integração temporal ou pela soma
dos componentes da série de Fourier (no caso de sinais periódicos). Vamos estender este conceito, de modo a
calcularmos potências de sinais em geral, incluindo os aleatórios. A função densidade espectral de potência
(dep), S(f) fornece informação sobre como a potência do sinal (ou grandeza equivalente **) está distribuída pelo
espectro de freqüências.

Na Figura 6-10 é mostrado um exemplo de uma função dep Sx(f ) de um sinal x(t) . A potência do
sinal em uma dada faixa de freqüências (f1, f2) é dada pela área limitada pela curva entre as freqüências
especificadas:

f2
Πx = ∫ S x ( f ) df ( 6-19 )
f1

S( f )

f1 f2 f, Hz
Figura 6-10 - Densidade Espectral de Potência

A “potência” total do sinal é calculada pela integração de S(f) em toda a faixa f ∈ (0,∞) ††.

A Tabela 6-1 mostra as unidades usuais da dep e o correspondente resultado da sua integração. A dep
tem unidades de potência (ou intensidade) por Hertz (W/Hz ou W/m2Hz) ou grandezas equivalentes à potência
(valores rms ao quadrado tais como (Volt)2, Pa2 ou µPa2) por Hz, resultando nas chamadas unidades práticas de
densidade espectral: V2/Hz, Pa2/Hz ou µPa2/Hz. A unidade resultante da integração poderá ser Watt, V2, Pa2,
µPa2 etc., dependendo da unidade da dep. Em alguns casos a notação pode tornar-se confusa. Alguns autores,

**
grandezas equivalentes à potência (Π): intensidade I; voltagem (VRMS)2 ou corrente ou pressão acústica (PRMS)2
eficazes elevadas ao quadrado. A grandeza resultante da integração indicada na Equação ( 6-19 ) depende da
grandeza representada por S(f) [vide Tabela 6-1]
††
a dep é definida matematicamente em todo intervalo f ∈(-∞, ∞) (dep bilateral). Quando se usa a dep bilateral,
o cálculo de potência em uma faixa de freqüências deve considerar a integração em dois intervalos: (-f2, -f1) e (f1,
f2). No caso de sinais reais, a dep bilateral apresenta simetria par, ou seja, S(f) = S(-f), bastando, portanto,
integrar no intervalo de freqüências (f1, f2) e multiplicar o resultado por dois para obter a potência. Na prática,
espectros medidos são representados somente no intervalo f ∈(0, ∞) e correspondem ao valor da dep bilateral
multiplicada por 2, de modo que o cálculo de potências pela sua integração indicada na Equação ( 6-19 ) dê
resultados corretos. Aqui trataremos da dep "prática" representada no intervalo (0, ∞).

6-15 VERSÃO 1.0


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principalmente em trabalhos de cunho experimental, e alguns equipamentos indicam unidades sem elevar ao
quadrado, tais como V/ Hz , µPa/ Hz . Outros ainda usam a expressão “Volt em banda de 1 Hz” ou “µPa em
banda de 1 Hz”. Em qualquer desses casos, deve-se lembrar que a integral da dep em uma banda de freqüências
resulta sempre em unidades de potência ou suas equivalentes (valores eficazes ao quadrado).

Tabela 6-1 - Exemplos de unidades da dep e resultado da sua integração


dep S(f), unidade básica dep S(f), formas alternativas de resultado da integral (Π)
representar a unidade básica

referente a potência, W/Hz potência Π, W

referente a intensidade W/m2Hz intensidade I, W/ m2

referente a voltagem, V/ Hz voltagem eficaz ao quadrado,

V2/Hz V na banda de 1Hz (VRMS)2, em (Volt)2

referente a pressão acústica, µPa/ Hz pressão acústica eficaz ao quadrado

µPa2/Hz µPa na banda de 1 Hz (PRMS)2, em µPa2

Uma classe de sinal aleatório de grande interesse é o denominado ruído branco. Sua dep é constante
na faixa de freqüências de interesse. Fisicamente, um sinal com dep constante em toda a faixa de freqüências
(0,∞) não pode existir, pois resultaria em potência infinita [vide Equação ( 6-19 )]. A “potência” de ruído branco
de dep No em uma banda B (Hz) é dada por:

f +B f +B

Π= ∫ S ( f ) df
f
= ∫N
f
o df = N o B (ruído branco) ( 6-20 )

ou seja, é o produto da densidade espectral pela banda.

Circuitos elétricos alteram as características espectrais de sinais. Quando um sinal vi(t) de dep Svi(f) é
aplicado a um circuito elétrico (filtro) cuja função transferência é H(f), o sinal de saída vo(t) terá densidade
espectral Svo(f) dada por

Svo(f) = Svi(f) H(f)2

vi (t) vo(t)
H(f)
Svi (f) Svo(f) = Svi (f)H(f)2

Exemplo 6-7 O espectro de ruído irradiado por um navio mercante foi medido em uma raia acústica.
Observou-se que a dep do ruído irradiado pode ser aproximada pela função:


6,4 × 106 µPa2 / Hz, 0 < f < 1000 Hz

S( f ) = 
 6,4 × 1012
 2 µPa2 / Hz, 1000 Hz < f
 f

6-16 VERSÃO 1.0


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onde a freqüência f é dada em Hz e a distância de medição é de 1000 m. Determine: (a) a pressão
eficaz na faixa de 0 Hz a 1000 Hz; (b) a pressão eficaz total nas freqüências acima de 1000 Hz; (c) a
pressão eficaz total; (d) a intensidade total e (e) a potência acústica total de ruído irradiado, supondo
que ele esteja uniformemente distribuído em um hemisfério limitado, acima, pela superfície do mar.

(a) A integração da dep dada em uma banda de freqüências resulta em valor eficaz ao quadrado.
Para a faixa de 0 Hz a 1000 Hz obtém-se, empregando a Equação ( 6-19 ) ou, uma vez que o ruído é
branco nessa faixa, a Equação ( 6-20 )

2
PRMS = N o B = 6,4 × 10 6 × 1000 = 6,4 × 10 9 µPa2 ∴ PRMS = 80,0 × 10 3 µPa

(b) Na faixa acima de 1000 Hz, devemos usar a Equação ( 6-19 ), obtendo:


6,4 × 1012 6,4 × 1012
2
PRMS = ∫ f 2
df =
1000
= 6,4 ×10 9 µPa2 ∴ PRMS = 80,0 × 10 3 µPa
1000

(c) A pressão eficaz total ao quadrado é obtida pela integração, em toda a faixa, da dep. O valor
resultante é a soma dos dois valores obtidos acima:

2
PRMS = 6,4 × 10 9 + 6,4 × 10 9 = 12,8 × 10 9 µPa2 ∴ PRMS = 113 × 10 3 µPa

(d) A intensidade total é obtida a partir da pressão eficaz total, usando ρoc = 1,54×106Pa s/m:

P2 12,8 × 10 9 × 10 −12
I = RMS = = 8,3 × 10 − 9 W / m2
ρo c 1,54 × 10 6

onde o fator 10-12 foi usado para converter a unidade de pressão (ao quadrado) de µPa2 para Pa2.

(e) A potência acústica irradiada é o produto da intensidade pela área onde a intensidade está
distribuída (supondo que a intensidade é a mesma em toda a área), no nosso caso um hemisfério de
raio 1000 m:

−9 4 π × 1000 2
Π ac = I × S = 8,3 × 10 × = 52 × 10 − 3 W = 52 mW
2

Exemplo 6-8 Para medir o ruído próprio em um sistema sonar, foi empregado um voltímetro true
rms. No ponto de medição, obteve-se uma leitura de 1 mV. Sabendo-se que o ruído pode ser
considerado branco e ocupa uma faixa de freqüências de 3000 Hz a 3500 Hz, qual o valor da dep?

O voltímetro true rms mede valores eficazes (rms) de voltagem ‡‡, independente da forma de onda.
No presente caso, VRMS = 1 mV. Para obter a dep em V2/Hz, podemos usar a Equação ( 6-20 )
substituindo a potência Π pelo valor rms ao quadrado:

‡‡
os voltímetros comuns medem o valor médio do sinal de entrada retificado e o convertem para valor eficaz de
uma senóide.

6-17 VERSÃO 1.0


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10 −6 2
(10 )
−3 2
= N o × (3500 − 3000) ∴ N o =
500
V / Hz = 2 × 10 -9 V 2 / Hz

Espectros são usualmente expressos em dB, com o nome de nível espectral. Em se tratando de
espectro de pressão acústica, usa-se a denominação nível espectral de pressão (pressure spectrum level, PSL),
definido por

PSL(f) = 10 log S(f)/(Pref)2, dB re (Pref)2/Hz ( 6-21 )

onde Pref é a pressão de referência, usualmente, 1µPa (moderna), 1µbar (antiga) ou 22µPa (acústica aérea). As
expressões “dB re 1µPa/ Hz ”, “dB re 1µPa na banda de 1 Hz” e “nível espectral re 1µPa” são encontradas na
literatura como sinônimos de “dB re 1µPa2/Hz”. Em se tratando de espectros de sinais elétricos, usa-se definição
similar:

10 log S(f)/Πref, dB re Πref/Hz

quando se trata de potência propriamente dita, onde referências usuais são 1W e 1 mW, e

10 log S(f)/(Vref)2, dB re (Vref)2/Hz

quando se trata de voltagem, onde a referência usual é 1V. No caso de espectro de voltagem, as expressões “dB
re 1V/ Hz ”, “dB re 1V na banda de 1 Hz” e “nível espectral re 1V” são encontradas na literatura como
sinônimos de “dB re 1V2/Hz”.

Quando se descreve as características espectrais de ruídos, é usual referir-se à inclinação do gráfico de


nível espectral em relação à freqüência em termos de “dB por oitava” ou “dB por década”. Uma oitava é
qualquer faixa de freqüência onde a freqüência do limite superior é o dobro da freqüência do limite inferior da
banda. Por exemplo, as faixas de 1Hz a 2Hz, 8Hz a 16Hz, 20KHz a 40 KHz são bandas de oitava. Na década, o
limite superior é dez vezes maior que o inferior. Assim, 1Hz a 10Hz, 10Hz a 100Hz e 10KHz a 100KHz são
exemplos de bandas de década. Seja, por exemplo, um espectro de ruído dado, em uma certa faixa de
freqüências, por

PSL(f) = A - 20logf

onde A é uma constante, então, quando a freqüência é multiplicada por 10, obtemos PSL(10f) = A - 20log(10f) =
A - 20logf - 20log10 = PSL(f) - 20dB, ou seja, o nível espectral é reduzido em 20dB por década. Este ruído é
dito ser de -20dB/década naquela faixa de freqüência. Se a freqüência é multiplicada por 2, obtemos PSL(2f) =
PSL(f) - 6dB e diz-se que o ruído tem espectro de -6dB/oitava. Deste exemplo, depreende-se que as expressões
“-20dB/década” e “-6dB/oitava” são equivalentes. De um modo geral, se o nível espectral puder ser escrito na
forma §§

PSL(f) = A + 20N log f ( 6-22 )

o ruído é de “+20N dB/década” ou “+6N dB/oitava”, onde N pode ser positivo ou negativo. Observe que se o
nível espectral for plotado em função de log f (i.e., usando abcissa em escala logarítmica), o gráfico resultante da
expressão acima será uma linha reta. Exemplos são mostrados na Figura 6-11. Ruído branco tem nível espectral
constante.

§§
a densidade espectral correspondente à Equação ( 6-22 ) é S(f) = A f 2N
× (Pref)2.

6-18 VERSÃO 1.0


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PSL(f), dB
80
-40 dB/década +40 dB/década
-12 dB/oitava +12 dB/oitava

60

-20 dB/década +20 dB/década


-6 dB/oitava +6 dB/oitava
40

20

f, Hz
0
10 102 103
Figura 6-11 - Exemplos de níveis espectrais

Quando se trata de valores de potência, pressão ou voltagem eficazes em uma banda, obtidas pela
integração das respectivas densidades espectrais, usa-se a denominação nível de banda ou, simplesmente, nível
(de potência, pressão ou voltagem) quando a grandeza é expressa em dB (re 1W ou 1 mW ou 1µPa ou 1V). No
caso de pressões acústicas usa-se o termo nível de pressão sonora (sound pressure level, SPL) para designar
nível de banda. Passando a Equação ( 6-19 ) para dB obtemos, nos casos de voltagem e pressão acústica,
respectivamente:

 1 f2

nível de banda = 10 logV 2
RMS /V2
ref = 20 logVRMS / Vref = 10 log  2
Vref
∫f S ( f ) df  , dB re Vref

1

 1 f2 
SPL = 10 log PRMS
2
/ 2
Pref = 20 log PRMS / Pref = 10 log  2 ∫ S ( f ) df  , dB re Pref ( 6-23 )
 Pref f1 

No caso particular de ruído branco, a relação entre nível espectral e nível em uma banda B é obtido a
partir da Equação ( 6-20 ) [S(f) = No na faixa (f1, f2), onde B = f2 - f1]

nível de banda = 10 log N o + 10 log B (ruído branco)

que, no caso de se tratar de nível de pressão, pode ser escrito como

SPL = PSL + 10log B (ruído branco) ( 6-24 )


[nível na banda = nível espectral + 10 log BANDA]

6-19 VERSÃO 1.0


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A expressão acima é empregada para converter entre valores de níveis espectrais e níveis de banda em situações
em que o ruído possa ser considerado branco, como, por exemplo, quando a banda B é pequena. O termo
“10logB” é denominado “fator de correção de banda”.

Exemplo 6-9 Passe para dB a densidade espectral e os resultados do Exemplo 6-7, usando a
referência de pressão eficaz de 1µPa ou as referência usuais de potência, onde couber.

Aplicando a Equação ( 6-21 ) à expressão do S(f) do Exemplo 6-7 usando Pref = 1µPa, obtemos

 68,0 dB re 1µPa2 / Hz, 0 < f < 1000 Hz


S( f ) 
PSL( f ) = 10 log 2 = 
(1µPa) 128 − 20 log f dB re 1µP 2 / Hz, 1000 Hz < f
 a

O valor eficaz de pressão na faixa de 0Hz a 1000Hz obtido no item (a) do Exemplo 6-7, de
80,0×103µPa é de

SPL = 20log(80,0×103µPa)/(1µPa) = 98,0 dB re 1µPa

como o ruído é branco nesta faixa com PSL(f) = 68 dB re 1µPa2/Hz, este mesmo resultado poderia
ser obtido usando a Equação ( 6-24 ): SPL = 68 + 10log(1000-0) = 68 + 30 = 98 dB re 1µPa. O fator
de correção de banda é 10log1000 = 30dB.

No item (b) do Exemplo 6-7 obteve-se uma pressão eficaz em freqüências acima de 1000Hz no valor
de 80,0×103µPa, idêntico ao anterior. Logo, o nível de pressão sonora nesta faixa é de 98dB re 1µPa.
Observe que este resultado não pode ser obtido através da Equação ( 6-24 ), pois o ruído não é
branco nesta faixa.

A pressão eficaz total [na faixa (0,∞)] obtida no item (c) é de 113×103µPa. O nível de pressão sonora
é, então SPL = 20log(113×103µPa)/( 1µPa) = 101 dB. Justifique o porquê deste nível ser 3dB acima
dos valores anteriores!

A intensidade também pode ser expressa em dB como nível de intensidade IL = 10log(I/Iref). Se


ambas as intensidades referem-se a um mesmo meio fluido, então I/Iref = (PRMS)2/(Pref)2 e, em
conseqüência, IL = 20log(PRMS/Pref) = SPL. Deste modo, para o item (d) do Exemplo 6-7, o nível de
intensidade em toda a faixa é IL = SPL = 101 dB re 1µPa (ou referente à intensidade de 649×10-21
W/m2 no mar) ***.

Finalmente, no caso do item (e) do Exemplo 6-7, a potência acústica pode ser expressa em dB:
10log(Πac/Πref) = 10log(52mW/1mW) = 17,2 dB re 1mW = 17,2 dBm, ou, usando a referência de 1W,
10log(52mW/1W) = 10log(0,052W/1W) = -12,8 dB re 1W = -12,8 dBW.

Exemplo 6-10 Expresse a voltagem medida e a dep do Exemplo 6-8 em decibéis.

A voltagem eficaz do Exemplo 6-8 de 1 mV corresponde a um nível de voltagem de 20log(1mV/1V) =


20log(10-3V/1V) = -60 dB re 1V = -60dBV.

***
observe que este é o valor obtido diretamente de IL = 10log(I/Iref) = 10log(8,3×10-9/649×10-21) = 101 dB re
649×10-21 W/m2

6-20 VERSÃO 1.0


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A dep obtida, S(f) = 2×10-9 V2/Hz é representada como nível espectral como 10log[2×10-9 (V2/Hz) /
1V2] = -87,0 dB re 1V2/Hz. Usando o fato que o ruído é branco na faixa entre 3000Hz e 3500Hz,
correspondente à voltagem medida, poderíamos empregar a Equação ( 6-23 ) para obter 10log S(f) =
10logNo = nível de banda - 10log B = -60dBV - 10log(3500Hz-3000Hz) = -60,0 - 27,0 = -87,0 dB re
1V2/Hz. O fator de correção de banda é 10log500 = 27dB.

Se o ruído é obtido pela soma de dois sinais estatisticamente independentes, a densidade espectral
total é obtida pela soma das densidades espectrais individuais. Atenção - não somar níveis em dB
diretamente: 10log{[S1(f) + S2(f)]/Πref] ≠ 10log[S1(f) /Πref] + 10log[S2(f) /Πref]. Deste modo, se dispomos
valores de níveis em dB, devemos primeiramente realizar a operação inversa (antilog do valor do nível dividido
por 10), obter S1(f) e S2(f) para depois somarmos [S1(f) + S2(f)] e, depois, aplicar dB novamente 10log{[S1(f) +
S2(f)]/Πref] para obter o nível total resultante. Para facilitar a obtenção de níveis correspondentes a soma de
potências ou densidades espectrais quando são dados valores de níveis em dB (e evitar operações de log e
antilog), é apresentado o gráfico da Figura 6-12. Dados dois níveis em dB, N1 > N2, acha-se a diferença,
positiva, entre o maior e o menor valor, N1 - N2. A partir desta diferença, o gráfico fornece a quantidade d (dB) a
ser acrescentada ao maior nível para se obter o valor final, em dB, do nível total: NT = N1 + d. Se a diferença
entre níveis for maior que 10dB, a correção a ser acrescentada é pequena e pode ser desprezada (para aplicações
em acústica submarina). Este gráfico pode ser empregado para soma de níveis espectrais ou de banda, desde que
os sinais combinados sejam estatisticamente independentes ou que ocupem faixas de freqüência diferentes).

Exemplo 6-11 Em uma determinada freqüência sabe-se que o ruído ambiente decorre tanto da ação
do vento quanto do movimento de navios distantes. O ruído decorrente do vento tem nível espectral
de 45dB, enquanto o decorrente do tráfego marítimo é de 50dB, ambos referentes a 1µPa2/Hz. Qual
o nível espectral resultante?

Como os ruídos decorrem de causas estatisticamente independentes (ação do vento na superfície do


mar e tráfego marítimo distante), então eles serão estatisticamente independentes. O maior valor é
50dB, logo, para empregarmos o gráfico da Figura 6-12, devemos adotar N1 = 50dB e N2 = 45dB.
Deste modo, N1 - N2 = 5dB. Do gráfico obtém-se d = 1,2dB. O nível espectral total é, portanto, N1 + d
= 50+1,2 = 51,2dB re 1µPa2/Hz.

Exemplo 6-12 No Exemplo 6-9, verificou-se que o nível de banda de um ruído era de 98dB re 1µPa,
tanto na faixa de 0Hz a 500Hz quanto na faixa de freqüências acima de 1KHz. Qual o nível de banda
em toda a faixa?

Como se trata de combinação de diferentes faixas de freqüência de um mesmo sinal, devemos


combinar potências, ou seja, podemos combinar níveis expressos em dB usando a Figura 6-12.
Como os dois níveis são iguais, a diferença é de 0dB e, por aquela Figura, a correção vale d = 3dB.
Logo, o nível de banda total é de 98+3 = 101dB re 1µPa, conforme calculado no Exemplo 6-9.

Exercícios de Fixação

1. O que são sinais determinísticos e aleatórios. Dê exemplos.

2. Qual a unidade de densidade espectral de potência que descreve um sinal de (a) voltagem elétrica e (b)
pressão acústica?

3. (a) Escreva a expressão do valor eficaz ao quadrado de um sinal em função da dep; (b) qual a unidade
da dep se o valor eficaz é dado em Volt? (c) E se o valor eficaz for em µPa?

6-21 VERSÃO 1.0


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3.5
N1 > N2 N1 - N2, dB d, dB
d, dB NT = N1 + d 0 3,0
3 Se (N1 - N2) > 10 dB, 1 2,5
considerar d ≈ 0dB 2 2,1
3 1,7
2.5 4 1,4
5 1,2
6 1,0
2 7 0,8
8 0,6
9 0,5
1.5 10 0,4
> 10 0
1

0.5

0
0 2 4 6 8 N - N , dB 10
1 2

Figura 6-12 - Gráfico para combinar níveis em dB. A tabela foi incluída para facilitar o uso do gráfico
quando a diferença entre os níveis for inteira.

4. Qual seria a potência do ruído branco que ocupe toda a faixa de freqüências (0,∞)?

5. Um sinal elétrico x(t) de dep Sx(f) é aplicado a um amplificador de dois estágios cujas funções
transferências são H1(f) e H2(f). Qual a expressão da dep do sinal de saída (a) do primeiro estágio, y(t) e (b) do
segundo estágio, z(t)?

6. Escreva a expressão do nível espectral de um sinal para freqüências acima de 1 KHz sabendo-se que a
dep vale 105 (µPa)2/Hz em 1 KHz e que o nível espectral cai 6 dB/oitava nesta faixa.

7. (a) Defina nível de banda. (b) Qual a diferença entre nível de banda e nível espectral? (c) Qual a
relação entre essas duas grandezas no caso de ruído branco em uma banda B?

8. Em que casos podemos obter o nível resultante da soma de dois sinais pelo emprego do gráfico da
Figura 6-12?

6.4 ESTIMA DE ESPECTRO

Pela definição da dep, se o sinal puder ser considerado branco em uma banda de freqüências B = f2 -
f1, a potência do sinal naquela banda será

Π = S(fo) × B (ruído branco) ( 6-25 )

onde fo é qualquer freqüência dentro da banda B. Esta simples equação é a base dos estimadores de dep
(instrumento ou sistema denominado analisador espectral). Se medirmos a potência do sinal na saída de um
filtro de banda B centrado na freqüência fo, então o valor da dep naquela freqüência poderá ser assim calculada,
desde que o sinal possa ser considerado branco naquela faixa. Se vários filtros, poderemos estimar S(f) em uma
faixa de freqüências. Esta é a base de funcionamento dos analisadores espectrais. A qualidade da estima

6-22 VERSÃO 1.0


IPqM-013-0177-ET/97
dependerá de quão bem podemos medir (estimar) potências e da validade da hipótese do sinal ser branco na
banda de análise B †††.

Quando observamos um sinal por um intervalo de tempo Tan, a energia do sinal naquele intervalo, ET,
é obtida integrando-se o valor quadrado do sinal (usualmente uma voltagem) durante o intervalo Tan. A potência
é estimada como aquela energia dividida pelo tempo de integração Tan (o acento circunflexo '^' sobre os
símbolos de potência Π e energia E indica que são estimas de potência e energia respectivamente):

to + Tan
E 1
Π v = T =
Tan Tan ∫v 2
(t )d t ( 6-26 )
to

O nosso medidor de S(f) consiste, então de filtros, detetores quadrático [para obter v2(t)] e circuitos integradores,
conforme indicado na Figura 6-13. Em geral, os analisadores espectrais permitem a seleção dos dois parâmetros:
banda de análise Ban e tempo de integração Tan. A escolha desses dois parâmetros deve considerar os seguintes
fatores:

Voltagem
y(t) igual a

Ban
to + Tan S ( f )
v o
v(t) y(t)
2
∫ Amplificador de
ganho 1/BanTan
fo to
voltagem igual ao valor
filtro de banda Ban detector quadrático integrador
da energia do sinal v(t)
centrado na (inclui filtro passa- na banda Ban durante o
freqüência fo baixa) intervalo de tempo Tan
Figura 6-13 - Diagrama em blocos de um estimador de dep

• a densidade espectral deve ser constante dentro da banda Ban ou, caso o sinal contenha senóides
(linhas espectrais), só deve existir uma linha espectral na banda Ban. Devemos escolher Ban que
atenda esses dois critérios -- a banda de análise Ban deve ser, geralmente, pequena; a capacidade de
distinguirmos duas linhas espectrais próximas (resolução de freqüência) é tão melhor quanto
menor for Ban;

• as características do sinal não devem variar enquanto a análise é feita. Sinais cujas características
estatísticas não variam com o tempo são denominados estacionários. Quando o sinal é
estacionário, Tan deve ser o mais alto possível (maior produto banda×tempo). Quando o sinal for
não estacionário, Tan deve ser escolhido de modo que, dentro daquele intervalo de tempo, o sinal
possa ser considerado estacionário. O tempo de integração deve ser maior que o tempo de resposta
do filtro, aproximadamente igual ao inverso da banda: Tan > 1/Ban;

• quanto maior o produto Ban Tan, melhor será a qualidade da estima de S(f ).

O que ocorre quando um sinal senoidal está presente na banda Ban em meio ao ruído? Se a potência da
componente senoidal for muito maior que a de ruído, então a voltagem medida na saída do bloco integrador será
aproximadamente igual à energia do sinal senoidal e a voltagem na saída do analisador será igual à potência da

†††
adotaremos o subscrito "an'' para indicar grandezas relativas aos dados de análise: Ban para banda, Tan para
tempo de integração.

6-23 VERSÃO 1.0


IPqM-013-0177-ET/97
senóide dividida pela banda Ban. O valor correto desta potência será então o valor medido na saída multiplicado
por Ban. Se mais de uma senóide estiver dentro da banda de análise, o valor assim obtido será a soma das
respectivas potências. Se reduzirmos a banda de análise a potência de ruído diminui, reduzindo o erro da
potência estimada, além de melhorar a resolução.

Exemplo 6-13 No analisador da Figura 6-13, aplica-se um sinal puramente senoidal de amplitude A
Volts e freqüência fc dentro da banda do filtro de entrada. Determine (a) a potência do sinal de
entrada; (b) a amplitude do sinal na saída do filtro, suposto de ganho unitário; (c) a expressão do
sinal na saída do detector quadrático; (d) a expressão da voltagem de saída do integrador; (e) a
expressão da voltagem de saída do analisador.

(a) A potência de um sinal senoidal de amplitude A é A2/2 (Volt)2.

(b) Como o filtro tem ganho unitário e a freqüência do sinal senoidal está dentro da sua faixa, a
amplitude de saída será a mesma da de entrada, A Volts.

(c) Ao elevarmos o sinal A sen(2πfct) ao quadrado, obtemos [A sen(2πfct)]2 = A2(1/2)[1 - cos(4πfct)]. O


filtro passa-baixa incluído no detector elimina a componente de freqüência 2fc, de modo que, na saída
teremos um sinal CC de valor A2/2, igual à potência do sinal de entrada.

(d) Integrando-se o sinal constante A2/2 durante Tan segundos, obtém-se o valor Tan A2/2, que é a
voltagem de saída do integrador.

(e) Na saída do analisador, a voltagem é aquela calculada no item d dividida por BanTan, ou seja,
A2/(2Ban), igual à potência do sinal de entrada dividida pela banda.

6.4.1 Tipos de Analisadores

Análise de Banda Constante. Para estimarmos a dep em uma faixa de freqüências, podemos
empregar um único filtro que possa ser sintonizado em diferentes freqüências, de modo a cobrir toda a faixa de
freqüências de interesse ou podemos utilizar um banco de filtros operando simultaneamente e sintonizados em
freqüências adjacentes de modo a cobrir aquela mesma faixa de freqüências.

Em uma aplicação típica, a dep é estimada em N freqüências igualmente espaçadas entre 0 Hz e F . A


primeira freqüência de sintonia do filtro será f1 = Ban/2, a seguinte, f1 = 3Ban/2 e assim por diante, formando a
progressão

fn = (n - 1/2)Ban, n = 1, 2,... N ( 6-27 )

A Figura 6-14 apresenta as curvas de resposta de freqüência do filtro para as diversas freqüências
sintonizáveis. A banda Ban (largura de banda de -3 dB) foi escolhida de modo que toda a faixa fosse coberta sem
interrupções. Como pode ser visto na Figura 6-14, a faixa de freqüências analisada vai desde zero até a última
freqüência central mais metade da banda de análise: (N-1/2)Ban + Ban/2. Em conseqüência, a banda total de
freqüências coberta é

Btotal = N Ban ( 6-28 )

6-24 VERSÃO 1.0


IPqM-013-0177-ET/97
O procedimento de análise consiste em sintonizar o filtro em uma freqüência, aguardar o tempo Tan de
integração, sintonizar na freqüência seguinte e assim por diante. Como temos N freqüências, o tempo total
mínimo de análise será ‡‡‡

Ttotal = N Tan (um único filtro sintonizável) ( 6-29 )

H(f), dB
Ban Ban Ban
0

-3 • • •

f
0 Ban/2 3Ban/2 5Ban/2 7Ban/2 ⁄⁄ (N-1/2)Ban/2
Figura 6-14 - Respostas de freqüência do filtro de banda constante quando sintonizado em diversas
freqüências

O analisador de filtro sintonizável pode empregar um filtro de sintonia fixa, cuja implementação é
mais simples, precedido de um misturador de freqüências, conforme indicado na Figura 6-15. Supondo que a
freqüência do filtro é fc, para se analisar uma freqüência fi, o oscilador local opera em fl = fc+fi. Na saída do
misturador teremos o sinal de entrada deslocado em freqüência tanto "para cima" (fl + fi) quanto "para baixo" (fl -
fi), o filtro rejeita as freqüências mais elevadas, restando a componente fl - fi = fc+fi - fi = fc. Variando-se a
freqüência do oscilador local, obtém-se o resultado desejado: análise em diferentes freqüências. Este tipo de
analisador é comum na faixa de RF. Tudo se passa, do ponto de vista de resultados, como se o filtro fosse
sintonizável.

fl + fi = fc + 2 fi
e
fi
fl - fi = fc
to + Tan
Ban
× y(t) ∫
2
v(t) Amplificador de
fc to ganho 1/BanTan
filtro de entrada

oscilador local
fl = fi + fc
Figura 6-15 - Analisador de filtro sintonizável empregando misturador de freqüências

‡‡‡
o tempo total de análise será maior porque devemos considerar o tempo gasto para sintonizar o filtro em cada
freqüência.

6-25 VERSÃO 1.0


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Para reduzir o tempo total de análise emprega-se um banco de filtros de mesma banda de análise Ban,
cada um sintonizado em uma das freqüências de interesse. Esses analisadores consistem de vários módulos
iguais ao diagrama de blocos mostrado na Figura 6-13 recebendo o mesmo sinal de entrada. Todos operam
simultaneamente, de modo que o tempo total de análise é igual ao tempo de integração Tan:

Ttotal = Tan (banco de N filtros de sintonia fixa) ( 6-30 )

Uma desvantagem do emprego de um banco de filtros é o custo de implementação. A grande vantagem é a


rapidez da operação, o que facilita a análise de sinais não estacionários.

Exemplo 6-14 Um analisador de banda estreita é ajustado para uma banda de análise de 1 Hz e
faixa de análise de 0 a 250 Hz. A implementação do analisador emprega um único filtro sintonizável.
Determine: (a) a quantidade de freqüências que devem ser sintonizadas e seus valores; (b) o tempo
de integração mínimo a ser empregado; (c) o tempo total de análise se empregarmos este tempo de
integração mínimo?; (d) se o sinal de entrada for ruído branco de dep igual a 20 (mV)2/Hz, qual é o
valor esperado de voltagem na saída do analisador? (e) se o sinal de entrada for um sinal senoidal
de amplitude 10 mV e freqüência igual a uma das de análise, qual a voltagem na saída do
analisador?

(a) Pela Equação ( 6-28 ), a quantidade de freqüências será N = Btotal / Ban = 250 / 1 = 250. Os valores
de freqüência são dados pela Equação ( 6-27 ): fi = (i - 1/2)×1 = i - 1/2 = 0,5 Hz, 1,5 Hz, 2,5 Hz etc.

(b) O tempo de integração mínimo é o próprio tempo de resposta do filtro, igual ao inverso da banda
de análise, 1 s.

(c) O tempo de análise total será, para um único filtro sintonizável, N Tan = 250 s.

(d) Se o sinal for ruído que possa ser considerado branco na banda de análise, a voltagem de saída
do analisador será igual, numericamente, ao valor da dep, conforme indicado na Figura 6-13. Logo, a
voltagem de saída será 20 mV.

(e) Se o sinal de entrada for uma senóide de potência muito maior que a de ruído na banda de
análise, então a voltagem de saída será a potência da senóide dividida pela banda de análise (1 Hz).
Logo, a voltagem de saída será [(10-2)2/2]/1 = 10-4/2 = 50 µV.

Exemplo 6-15 Se fosse empregado um analisador com um banco de filtros no Exemplo anterior, (a)
quantos filtros seriam necessários e (b) qual o tempo total de análise, considerando o menor tempo
de integração possível?

(a) Conforme calculado no Exemplo 6-14, a análise é feita em 250 freqüências. Então, o analisador
deveria ter 250 filtros.

(b) O tempo total de análise coincide com o tempo de integração. No caso, 1 s.

Análise de Banda Proporcional. Os analisadores que acabamos de descrever empregam filtros de


banda constante Ban independente da freqüência de análise. Uma boa estima da dep requer o emprego de
bandas de pequeno valor e, por este motivo, este tipo de análise espectral é denominado de banda estreita. Em
acústica é comum utilizar-se um tipo de analisador que imita o comportamento do sistema auditivo humano. O
homem percebe diferenças de freqüência de forma logarítmica. A percepção de mudança de freqüência quando
se dobra a freqüência de um som é a mesma, seja quando a variação é de 100 Hz para 200 Hz ou de 1000 KHz

6-26 VERSÃO 1.0


IPqM-013-0177-ET/97
para 2000 KHz. A escala de música segue uma progressão geométrica. Os analisadores de banda proporcional
estimam potências (e não dep) de sinais em bandas adjacentes cujas freqüências de corte inferior fi são dadas por

fi = K fi-1 ( 6-31 )

onde fi-1 é a freqüência de corte inferior da banda anterior, conforme indicado na Figura 6-16. A banda do filtro
cuja freqüência de corte inferior é fi vale Bani = fi+1 - fi , o que, empregando a Equação ( 6-31 ), resulta em

Ban1 Ban2 Ban3 Ban4


H, dB
0

-3

f
f1 f2 f3 f4 f5
H, dB
0

-3

f
f1 f2 f3 f4 f5 escala log
Figura 6-16 - Respostas de freqüência de filtros de banda proporcional; observe que as larguras de banda
aparentam ser iguais (banda constante) quando a escala de freqüências é logarítmica.

( 6-32 )
Bani = Kfi - fi = (K - 1)fi

ou seja, a banda de análise é proporcional à freqüência à freqüência de corte do filtro. Esses filtros são
denominados filtros banda proporcional ou de banda larga.

A freqüência central de um filtro fci é dada pela média geométrica das freqüências de corte:

fci = (fi+1 fi)1/2 = K1/2 fi ( 6-33 )

O fator de qualidade Q de um filtro é igual à banda dividida pela freqüência central. Deste modo, filtros de
banda proporcional possuem Q igual a

Q = fci / Bani = K1/2 fi / [(K - 1)fi] = K1/2 / (K - 1) ( 6-34 )

onde foram empregadas as Equações ( 6-32 ) e ( 6-33 ). Observe que o fator de qualidade independe da
freqüência, daí uma outra denominação, filtros de Q constante (e análise de Q constante). Como as bandas de
análise são elevadas, este tipo de análise espectral é denominada também de análise de banda larga.

Conforme mencionado no início desta Seção 6.4, o tempo de análise deve ser maior que o tempo de
resposta dos filtros que, por sua vez, são aproximadamente igual ao inverso da banda Ban. No caso de um banco
de filtros de Q constante, as bandas dos filtros e, em conseqüência, seus tempos de resposta são diferentes:

6-27 VERSÃO 1.0


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Ti ≈ 1/Bani = 1 / [(K - 1) fi] ( 6-35 )

Dois tipos de análise de banda proporcional são muito empregados em acústica submarina. Se
fizermos K = 2, a freqüência de corte superior de cada filtro será igual ao dobro da de corte inferior, resultando
em filtros de uma oitava. Quando K = 21/3 ≈1,26, obtemos os filtros de terço de oitava (ocupa uma banda de 1/3
de oitava em escala de freqüência logarítmica). Em acústica musical, empregam-se filtros de 1/12 de oitava (K =
21/12), correspondente à menor variação de freqüência percebida por um ser humano. Existem normas que
definem filtros proporcionais preferenciais para emprego em laboratórios. A Tabela 6-2 apresenta alguns
valores padronizados de valores de freqüências central.

O analisador de banda proporcional pode ser implementado, como no caso anterior, como um único
filtro sintonizável ou como um banco de filtros. No caso de um único filtro, o tempo total de análise será a soma
dos tempos de análise em cada banda:

Ttotal = Σi Tani (um único filtro proporcional sintonizável)

e, no caso de um banco de filtros, o tempo total de análise será o maior tempo de integração:

Ttotal = max (Tani) (banco de N filtros proporcionais de sintonia fixa)

A Tabela 6-3 apresenta uma comparação entre os tipos de filtro discutidos.

6.4.2 Métodos Digitais

Atualmente, os analisadores empregados em faixas de freqüências baixas são implementados


digitalmente. O sinal é convertido para a forma digital e a implementação dos filtros se dá numericamente
através de um programa executado em um microcomputador.

Quando se trabalha com analisadores digitais, um certo número N de amostras do sinal é armazenada
em memória e processada para obtenção do espectro. Para um período de amostragem Ts (= intervalo de tempo
entre amostras), o sinal de entrada é observado por um tempo (N - 1)Ts. Para entender o processo empregado,
vamos considerar que este intervalo de tempo corresponde a exatamente um período do sinal digital (o que
corresponde a um sinal analógico de período To = NTs) §§§. Conforme visto na Seção 6.2.1, a potência de um sinal
periódico v(t) é igual à soma dos quadrados dos coeficientes da série de Fourier [vide Equações ( 6-3 ) e ( 6-8 )]:


∑ ck
2
Πv = v 2 (t ) = ( 6-8 )
k =−∞

onde os coeficientes ck são dados pela Equação ( 6-3 ):

To
1
ck =
To ∫ v(t )e − j 2πkf ot d t ( 6-3 )
0

§§§
Isto pode ser observado na Figura 6-8b, onde um período do sinal digital é 4 (i.e., contém 4 amostras) e não
inclui a amostra seguinte que completa o período do sinal analógico. Deste modo, um período do sinal digital
corresponde a um intervalo de tempo 4Ts, enquanto o período do sinal analógico é igual a 4Ts.

6-28 VERSÃO 1.0


IPqM-013-0177-ET/97

Tabela 6-2 - Alguns filtros de uma oitava e de um terço de oitava padronizados. Os valores de freqüência
central são definidos em Norma [Ref. 7]; valores de freqüências de corte e tempos de resposta são calculados;
valores de freqüência em negrito dizem respeito aos filtros de uma oitava.

fi fi+1 fci Um Terço de Oitava Uma Oitava Ti, s,


Ti, s, calculado calculado
Hz, calculado Hz, calculado Hz, padronizado

22,3 28 25 0,173

28,1 35,6 31,5 0,137 44,9×10-3

35,6 44,5 40 0,108

44,6 56,1 50 0,0864

56,1 71,3 63 68,5×10-3 22,4×10-3

71,3 89,1 80 54,0×10-3

356 445 400 10,8×10-3

445 561 500 8,64×10-3 2,83×10-3

561 713 630 6,85×10-3

11136 14254 12500 345×10-6

14254 17817 16000 270×10-6 88,4×10-6

17817 22449 20000 216×10-6

(agora empregamos agora o índice 'k' para designar componentes de freqüência). Cada termo ck2 é o valor da
potência da componente (complexa) de freqüência kfo. Para calcular os coeficientes ck a partir dos valores das
amostras v(n) ≡ v(nTs) devemos empregar uma aproximação numérica da integral da Equação ( 6-3 ),
substituindo

dt → Ts
To → N Ts e fo → 1/(NTs)
dt → Ts
t → nTs
para obter
∞ 2π
1 −j
∑ v ( n) e
kn
ck ≈ N
N n =−∞

Não podemos calcular um número infinito de coeficientes ck, e nem precisamos: comparando a expressão acima
com a representação de uma seqüência periódica de período N [vide a Equação ( 6-16 )] verifica-se que os
coeficientes aproximados ck são periódicos de período N, tal e qual o sinal digital v(n) (suposto periódico de
período N ). Basta, então, calcular N valores do ck aproximado, correspondentes a k = 0, 1, 2,...N-1. Em

6-29 VERSÃO 1.0


IPqM-013-0177-ET/97

Tabela 6-3 - Comparação entre analisadores

Analisador de filtros de banda constante Analisador de filtros de banda proporcional

estimam dep (banda estreita), mas podem ser geralmente estimam potência em cada banda (ou
empregados em análise de banda larga podem estimar valor médio da dep em cada banda);
são, intrinsecamente, instrumentos de banda larga

ajustando-se a banda de análise, melhora-se a • freqüências definidas em Norma


resolução

de freqüência • é instrumento de banda larga, não distingue linhas


espectrais (resolução pobre)

empregado na classificação de alvos por permitir empregado na detecção de ruído irradiado por alvos
identificar linhas espectrais

realidade, adota-se calcular o valor X(k) ≈ N ck [vide Equação ( 6-15 )] empregando o algoritmo FFT
mencionado anteriormente. Deste modo, a potência do sinal analógico na freqüência fk = kfo = k / (NTs), será
estimada como ck2 ≈ (X(k)/ N )2

Vamos generalizar o caso de um sinal qualquer, não necessariamente periódico e, geralmente,


aleatório. Dispomos de N amostras do sinal digitalizado correspondente a um tempo de observação do sinal
analógico igual a To = NTs. Como estimar a dep?

• calculamos os valores de X(k), usando a FFT (o que equivale a considerar o sinal como periódico
de período To = NTs); obtemos valores correspondentes às freqüências analógicas fk = kfo = k /
(NTs), k = 0, 1, 2...N-1 [intervalos entre freqüências é constante igual a ∆f = 1 / (NTs)];

• calculamos a potência em cada freqüência fk:

Πv( fk ) = (X(k)/ N )2

• supomos que o sinal é branco entre as freqüências fk adjacentes, i.e., na banda de análise ∆f = Ban =
1/(NTs) e estimamos a dep:

S( f ) ≈ Πv( fk )/Ban = (1/Ts) X(k)2 / N

Esta estimativa é denominada periodograma. Observe que a aplicação da FFT equivale ao banco de filtros de
banda constante indicado na Figura 6-14, cujas bandas de análise valem Ban = ∆f = 1 / (NTs). Usando esta
técnica, estaremos incorrendo em, basicamente, dois tipos de erro. Primeiramente, só observamos um intervalo
de tempo T do sinal e estimamos características válidas para toda a duração do sinal. Este tipo de erro também
ocorre com os analisadores analógicos. No caso digital, porém o produto BanTan é igual à unidade, onde o tempo
Tan é o próprio tempo de observação NTs, deste modo: BanTan = 1/(NTs) × NTs = 1, o que compromete a qualidade
da estima (grande variância da estima). Em segundo lugar, o emprego desta técnica equivale a considerar que o
sinal observado no intervalo NTs repete-se fora do intervalo observado (i.e., é periódico). Mesmo que o sinal
analisado fosse realmente periódico nada pode garantir que o intervalo observado corresponde exatamente a um
período. A solução para esses problemas é o uso de janelas e de médias de espectros.

6-30 VERSÃO 1.0


IPqM-013-0177-ET/97
A média dos espectros compreende calcular uma série de estimativas da dep usando o método descrito
acima (periodograma) e, depois, calcular a média aritmética. Quando se calculam espectro de um mesmo sinal
em diferentes intervalos de tempo pelo método do periodograma, verifica-se que as estimativas apresentam um
desvio padrão da mesma ordem de grandeza que o valor a ser calculado, independente do tamanho N da amostra.
Ao se calcular médias, o desvio padrão tende a diminuir em proporção à raiz quadrada da quantidade de
espectros usados na média (i.e., variância inversamente proporcional ao número de espectros considerados no
cálculo). Uma grandeza empregada para se verificar a qualidade da estima em termos de variância é o número de
graus de liberdade dado por:

n = 2 L Ban T

onde L é a quantidade de periodogramas usados para calcular a média, Ban é a banda de análise e T é o tempo
total da análise. Para aumentar o número de graus de liberdade (e reduzir a variância) devemos aumentar a banda
(piora a resolução em freqüência), o tempo ou a quantidade de espectros na média (aumenta tempo de análise).

6.4.3 Janelas

Não é possível observar um sinal indefinidamente para depois estimar o espectro. O que se faz é
observar o sinal durante um intervalo de tempo T e, a partir desta versão truncada do sinal, estimá-lo. O efeito de
observar o sinal durante uma janela de tempo T equivale a multiplicar o sinal por um pulso retangular de largura
T. Multiplicar sinais corresponde, no domínio da freqüência, a uma operação de convolução. Então, o efeito de
se observar o sinal durante um intervalo de tempo finito é convoluir a sua transformada de Fourier com a
transformada do pulso. Isto tende a "suavizar" o espectro e "distribuir" a potência do sinal para outras
freqüências, como mostrado na Figura 6-17. Ainda com relação a esta figura, quanto maior o intervalo de tempo,
mais "estreito" torna-se o espectro resultante, que tende a se igualar ao original. Se o sinal contivesse mais de
uma senóide, o espalhamento do espectro iria provocar interferência mútua, alterando o valor medido em cada
freqüência.

fc

ló b u lo p r in c ip a l
ló b u lo s
s e c u n d á r io s

fc
Figura 6-17 - Efeito de se observar uma senóide durante um intervalo de tempo finito. Na parte superior
o espectro (exato) é um impulso localizado em f = fc (e outro localizado em f = -fc, não mostrado). Ao se
observar a senóide durante um intervalo de tempo finito, o espectro obtido é mostrado abaixo.

O exemplo da Figura 6-17 corresponde a uma janela retangular ou natural que ocorre pela simples
observação do sinal por um intervalo de tempo finito. Para reduzir o efeito de "interferência" no espectro
resultante deve-se procurar reduzir a magnitude dos lóbulos secundários, o que pode ser obtido multiplicando-
se, propositadamente, o sinal por uma função (janela) com características apropriadas.

Existem várias janelas empregadas para melhorar a estima do espectro e que são empregadas nos
analisadores. Elas se caracterizam por lóbulos secundários reduzidos, em detrimento de um lóbulo principal

6-31 VERSÃO 1.0


IPqM-013-0177-ET/97
mais "largo" que o da janela retangular. Um lóbulo principal mais largo implica na dificuldade de se separar
linhas espectrais de freqüências próximas, ou seja, piora a resolução de freqüências. A janela retangular é a que
apresenta melhor resolução.

Duas janelas encontradas em analisadores são a "Hann" **** (em homenagem ao pesquisador que a
desenvolveu), a Hamming (uma outra homenagem) e a "flat-top" (em homenagem à sua aparência). As
principais características dessas janelas são apresentadas na Tabela 6-4. O principal emprego de janelas é para
reduzir o erro provocado pelos lóbulos secundários no espectro quando há grande diferença de valor do espectro
em freqüências diferentes (presença de linhas espectrais de diferentes magnitudes, por exemplo).

Tabela 6-4 - Algumas janelas empregadas em analisadores espectrais


Janela Largura do lóbulo Magnitude do maior Aplicações
principal (em função lóbulo secundário (dB
da sua largura no abaixo do lóbulo
tempo, T) principal)
retangular, natural 1/T -13 - análise de linhas espectrais
ou uniforme próximas (melhor resolução)
Hann 1,5/T -31,5 - análise de linhas espectrais que
apresentem grande diferença de
amplitude
- análise de ruído banda larga
"flat-top" 2,5/T -90 - análise de linhas espectrais isoladas
- boa resolução de amplitude

Exercícios de Fixação

1. Descrever o que é domínio do tempo e domínio da freqüência.

2. Qual das duas representações contém mais informações?

3. Cite os tipos de sinais determinísticos.

4. Qual a diferença entre sinais determinísticos e aleatórios?

5. O que é espectro de potência?

6. Qual o tempo mínimo gasto por um filtro de banda B para obtenção da potência em uma banda?

7. Qual o tempo de obtenção de um espectro utilizando-se um único filtro com freqüência central variável
e banda constante?

8. E quando se usa um banco de filtros?

9. O que são filtros de banda proporcional e quais as suas vantagens?

10. O que são filtros de banda constante e quais as suas vantagens?

11. Um navio aproxima-se da raia acústica enquanto o ruído captado pelo hidrofone é gravado. O sinal
gravado é estacionário?

****
Esta janela é, erroneamente e usualmente, denominada Hanning.

6-32 VERSÃO 1.0


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PROBLEMAS

6.1 O espectro de ruído irradiado por um contratorpedeiro foi medido em uma raia acústica. Observou-se que a
dep do ruído irradiado pode ser aproximada pela função:


 15
 10 µPa / Hz, 0 < f < 500 Hz
2

S( f ) = 
 2,5 × 10 20
 µPa2 / Hz, 500 Hz < f
 f 2

onde a freqüência f é dada em Hz e a distância foi reduzida a 1 m. Determine: (a) a pressão eficaz na faixa de 0
Hz a 500 Hz; (b) a pressão eficaz nas freqüências acima de 500 Hz; (c) a pressão eficaz total; (d) a intensidade
total e (e) a potência acústica total de ruído irradiado, supondo que ele esteja uniformemente distribuído em um
hemisfério limitado, acima, pela superfície do mar. Resp.: (a) 707 Pa; (b) 707 Pa; (c) 1000 Pa; (d) 0,649 W/m2;
(e) 4,08 W.

6.2 Com um analisador espectral, foi verificado que a voltagem de ruído próprio de um sistema sonar
apresentava espectro branco de valor 2×10-8 V2/Hz na faixa de 7500Hz a 8500 Hz e era desprezível fora desta
faixa. (a) Que valor eficaz de voltagem seria medido por um voltímetro true rms adequado à faixa de
freqüências em questão? (b) Qual seu valor em dBV? Resp.: (a) 4,47 mV; (b) -47,0 dBV.

6.3 Represente a densidade espectral do problema 6.1 e seus resultados como níveis em dB, empregando as
referências usuais de acústica. Resp.: (a) 114 dB re 1µPa; (b) 114 dB re 1µPa; (c) 117 dB re 1µPa; (d) 117 dB
re 114 dB 1µPa ou re 649×10-21 W/m2; (e) 6,1 dBW.

6.4 Qual o nível espectral de ruído ambiente em águas profundas a 1000Hz, considerando os efeitos de um
tráfego marítimo intenso e estado do mar zero? Resp.: 46 dB re 1(µPa)2/Hz.

BIBLIOGRAFIA

[1]. Oppenheim, A.V. & Willsky, A.S. Signals and systems. Englewood Cliffs, New Jersey, Prentice-Hall.
1983.

[2]. Close, Charles M. Circuitos lineares. Rio de Janeiro, Livros Técnicos e Científicos. 1975. 2 vol.
Traduzido por Orlando Marques de Paiva.

[3]. D’Azzo, John D. & Houpis, Constantine H. Análise de sistemas de controle lineares. 2 ed. Rio de Janeiro,
Guanabara Dois. 1984. Traduzido por Bernardo Severo da Silva Filho.

[4]. Haykin, S. Communication systems, 2 ed. New York, John Wiley. 1983.

[5]. Strum, Robert D. & Kirk, Donald E. First principles of discrete systems and digital signal processing.
Reading, Massachussets, Addison-Wesley. 1989.

[6]. Oppenheim, A.V. & Schafer, Ronald W. Discrete-time signal processing. Englewood Cliffs, New Jersey,
Prentice-Hall. 1989.

6-33 VERSÃO 1.0


IPqM-013-0177-ET/97

[7]. AMERICAN NATIONAL STANDARD. ANSI S1.11-1986. Specification for octave-band and
fractional-octave-band analog and digital filters. Acoustical Society of America.

6-34 VERSÃO 1.0


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CAPÍTULO 7 - RUÍDO

A função básica dos sistemas sonar, que deve ocorrer antes de qualquer outra, é a determinação da
presença (ou não) de sinais acústicos de interesse que ocorrem em meio a outros existentes no ambiente de
operação. No caso de sistemas ativos, o sinal de interesse é o eco que é recebido em meio à reverberação e ao
ruído. Nos passivos, é o ruído gerado pelo alvo que deve ser detectado em meio a outros ruídos.

No presente Capítulo vamos analisar os tipos de ruído afetos a sistemas sonar. O ruído irradiado por
navios e outros veículos interessa tanto a projetistas quanto a usuários de sonares passivos por ser a fonte de
sinal para aqueles sistemas. Interessa também aos alvos em potencial, que procuram minimizá-lo ou mascará-lo
na esperança de reduzir as chances de detecção ou identificação da plataforma pelo sonar passivo adversário. O
ruído próprio, gerado a bordo da própria plataforma onde o sonar está instalado, interfere com a operação do
sonar. Busca-se minimizá-lo para aumentar o alcance dos sonares. Finalmente, o ruído ambiente é o existente no
mar independente da plataforma do sistema e também interfere com o processo de detecção.

7.1 RUÍDO AMBIENTE

Quando um hidrofone omnidirecional é colocado na água observa-se uma voltagem de ruído de fundo
nos seus terminais. Parte deste ruído decorre do próprio hidrofone e de vibrações na estrutura que o suporta.
Mesmo se todas as fontes deste ruído próprio do hidrofone e sua estrutura de montagem sejam eliminadas ou
sensivelmente reduzidas, ainda “sobra” um componente de ruído que decorre do próprio mar em si. Este é o
ruído ambiente. Em termos da equação sonar, o ruído próprio e o ambiente somam-se para compor o parâmetro
NL.

7.1.1 Ruído em Águas Profundas [Ref. 1:203-211]

As características gerais do espectro de ruído ambiente em águas profundas é indicado na Figura 7-1.
O espectro pode ser dividido em faixas de freqüência em função de suas características espectrais e das fontes de
ruído:

• Faixa I - freqüências abaixo de cerca de 1Hz - ruído é, provavelmente, de origem sísmica e


hidrostática (ondas e marés);

• Faixa II - de cerca de 1Hz até 10Hz ou 20Hz - ruído de -8 a -10 dB/oitava com ligeira variação
em função do vento - provavelmente decorre da turbulência oceânica;

• Faixa III - de 10 ou 20Hz até cerca de 500Hz - inclinação pequena e variável - o ruído é
provocado, basicamente, por navios distantes (tráfego marítimo); o nível espectral nesta faixa
aumenta em áreas de tráfego intenso;

• Faixa IV - de cerca de 500Hz até por volta de 50KHz - inclinação entre -5 e -6 dB/oitava - ruído
origina-se na superfície do mar em áreas próximas ao ponto de medida; nível espectral apresenta
grande dependência do vento local (estado do mar); os espectros de Knudsen, resultado de
medições realizadas na década de 50 são representativos desta faixa;

• Faixa V - acima de cerca de 50KHz - inclinação de +6dB/oitava - ruído decorrente da agitação


térmica molecular no mar.

A Figura 7-2 apresenta o espectro médio do ruído ambiente em águas profundas para diferentes
condições de tráfego marítimo e estado do mar. Em freqüências baixas, somente uma curva é apresentada, uma
vez que a influência do vento nesta faixa é pequena e incerta. Em uma dada freqüência, o nível espectral total

7-1 VERSÃO 1.0


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Nível espectral, dB re 1µPa

I II III IV V

peixes e mamíferos camarão


80 marinhos

chuva

-8 a -10
60 dB/oitava
inclinação
variável

-5 a -6
40 dB/oitava +6dB/oitava

20
0,1 1 10 102 103 104 105 f, Hz
Figura 7-1 Aspecto geral do nível espectral de pressão do ruído ambiente em águas profundas

será a soma das densidades espectrais (em µPa2/Hz) decorrentes de vento (ou estado do mar), tráfego marítimo e
de freqüência baixa. A soma é de densidades e não de níveis espectrais em dB e deverá ser empregado o
gráfico da Figura 6-12 para se obter o valor do nível espectral total em cada freqüência para uma determinada
condição de vento e tráfego marítimo. A curva de nível espectral da Figura 7-1 foi obtida deste modo.

Nível espectral, dB re 1µPa

100 tráfego marítimo

pesado
80 vento, nós
médio
28-33
leve
60
estado do mar
11-26
4-6
40
<1 6
3
20 1

0
1 10 102 103 104 f, Hz 105
Figura 7-2 - Espectro médio do ruído ambiente em águas profundas

Na Figura 7-1 são indicadas faixas de freqüência onde ocorrem ruídos de natureza biológica e gerado
por chuva. Os ruídos produzidos por organismos marinhos são provocados por três grupos: alguns crustáceos,
alguns tipos de peixes e pelos mamíferos marinhos. Alguns desses são característicos de águas costeiras,
associados a regiões onde abundam certos animais. Outros, como no caso dos mamíferos podem também ocorrer

7-2 VERSÃO 1.0


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em águas profundas. Quando ocorrem, esses ruídos podem predominar sobre os demais tipos de ruído. A chuva
provoca aumentos nos níveis de ruído ambiente em função da intensidade e da área atingida. Este ruído decorre
do impacto das gotas d’água na superfície do mar. Outras fontes de ruído observadas no mar são os vulcões
submarinos e os maremotos, em freqüência baixas (faixa infrasônica até início da faixa audível). Um tipo de
ruído por vezes observado consiste em trens de pulsos regulares de cerca de 20Hz, quase senoidal (CW) e de
alta intensidade. Sua origem parece ser biológica.

7.1.2 Ruído em Águas Rasas [Ref. 1:211-215]

O nível de ruído em águas costeiras e baías, ao contrário do que ocorre em águas profundas, apresenta
grande variabilidade. As principais causas de ruído são o tráfego marítimo, a atividade industrial, a ação do
vento e animais marinhos. Ao longo de um dia, o nível de ruído decorrente de cada uma dessas fontes varia.
Também, em diferentes locais, a proporção da contribuição de cada um varia.

No interior de baías, somente medições locais podem servir como base para predição do nível de
ruído em determinada época do ano e hora do dia. Além dos fatores que contribuem para o ruído em águas
profundas, o ruído em baías decorre de atividade industrial, atividade biológica e da turbulência de correntes de
maré. Estes ambientes são, em geral, bastante ruidosos quando comparados com águas profundas.

Em águas costeiras, na ausência de tráfego marítimo e atividade biológica, verifica-se que o ruído
ambiente segue aproximadamente aquele previsto para águas profundas em idênticas condições, exceto em
freqüências baixas ou quando a velocidade do vento é baixa. Nestes casos, o nível de ruído ambiente pode ser
menor que o encontrado em águas profundas. Quando, por outro lado, o tráfego marítimo, a atividade industrial
ou a atividade biológica são apreciáveis, as águas costeiras tornam-se ruidosas.

Exercícios de Fixação

1. Defina ruído ambiente.

2. Cite as principais fontes de ruído ambiente e as faixas de freqüência onde prevalecem.

3. Qual a diferença, em termos de variabilidade, entre os ruídos ambientes de águas profundas e rasas?

7.2 [Ref. PRÓPRIO


RUÍDO 1:354-376]

A voltagem de ruído observada nos terminais de um hidrofone ou na saída de um conformador de


feixes decorre não só do ruído ambiente como também do hidrofone ou hidrofones que compõem o arranjo
receptor, dos circuitos a eles interligados, de vibrações mecânicas dos hidrofones provocadas pelo casco e
estruturas de suporte dos hidrofones e de emissão sonora da própria plataforma onde o sonar está instalado.
Estes ruídos de origens diversas são denominados ruídos próprios do sistema sonar e compõem, junto com o
ruído ambiente, o termo NL das equações sonar.

7.2.1 Ruído Hidrodinâmico

O ruído hidrodinâmico é produzido pelo fluxo de água nos hidrofones e suas estruturas de suporte e
no casco da plataforma do sonar e inclui:

• pressão produzida na face dos hidrofones na camada limite turbulenta do fluxo (ruído de fluxo);

• vibração induzida pelo fluxo no chapeado do casco;

• cavitação em torno de apêndices;

7-3 VERSÃO 1.0


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• ruído irradiado por vórtices no fluxo.

O ruído de fluxo [Ref. 1:360-367] consiste de variações de pressão na face de hidrofones, criadas pelo
escoamento turbulento na camada limite turbulenta em torno dos hidrofones. A Figura 7-3 apresenta uma
superfície plana rígida onde está montado um hidrofone de pressão, sobre a qual um fluido viscoso flui. As
variações de pressão na camada limite turbulenta são transmitidas ao hidrofone *. O espectro deste ruído de fluxo
é constante em freqüências abaixo de uma certa freqüência f o (da ordem de centenas de Hz) que depende da
velocidade do fluxo e da espessura da camada. Acima desta freqüência, o espectro é inversamente proporcional
ao cubo da freqüência (i.e., cai a -9dB/oitava). O nível espectral aumenta com a velocidade do fluxo. Se a
superfície for rugosa, o nível de ruído de fluxo aumenta. O ruído de fluxo pode ser reduzido pelas seguintes
medidas:

• aumentar área do hidrofone: o ruído de fluxo em dois pontos distantes apresenta pequena
correlação estatística; aumentando-se a área do hidrofone, as pressões do ruído de fluxo na sua
face tendem, em média, a se cancelar;

• instalar o hidrofone próximo à proa: próximo à proa o fluxo tende a tornar-se laminar;

• remover o hidrofone da camada turbulenta: através de sua instalação em um recesso do casco, por
exemplo, o hidrofone fica mais afastado da camada turbulenta;

• ejetar polímeros fluidos: a ejeção, próximo à superfície, de polímeros com moléculas longas de
alto peso molecular provoca um aumento da espessura da subcamada laminar, provocando um
efetivo afastamento do hidrofone da camada turbulenta; reduz-se também a resistência ao
movimento.

fluxo laminar

camada limite
turbulenta

subcamada laminar

superfície

terminais dos hidrofones


Figura 7-3 - Fluxo em um fluido movendo-se sobre uma superfície estacionária. A velocidade do fluxo é
zero na superfície e aumenta com a distância à superfície até atingir o valor u o de velocidade do fluido
[Ref. 1:360].

*
esses processos turbulentos não são som pois não se propagam; são denominados pseudosom e provocam uma
voltagem de ruído nos terminais de hidrofones de pressão.

7-4 VERSÃO 1.0


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7.2.2 Ruído de Máquinas

O ruído de máquinas se origina como vibrações mecânicas das máquinas dos navios. Essas vibrações
são acopladas ao casco onde são transmitidas até as proximidades do transdutor, seja diretamente através do
casco (vibrações), seja através da água.

As máquinas contribuem para o ruído próprio principalmente em freqüências baixas na forma de


componentes tonais (freqüências bem definidas). As máquinas auxiliares geram ruído cujas características
(freqüências e amplitudes) independem da velocidade da plataforma. Em velocidades baixas, onde as outras
formas de ruído apresentam níveis baixos, o ruído das máquinas auxiliares predomina. Maiores detalhes são
apresentados na Seção 7.3.

7.2.3 Ruído de Hélice

O ruído de hélice é gerado diretamente na água e decorre, principalmente de cavitação das pás
provocada pelo movimento de rotação. Observa-se que a cavitação ocorre a partir de uma certa velocidade da
plataforma (denominada velocidade inicial de cavitação - VIC) que depende do projeto e do estado de
manutenção dos hélices. Em velocidades elevadas, o ruído de cavitação é predominante no ruído próprio em
freqüência elevadas, principalmente sob condições de águas rasas e quando o feixe sonar de recepção é
conteirado para a região de popa. Maiores detalhes são apresentados na Seção 7.3.

7.2.4 Domos Sonar [Ref. 1:367-370]

Domos sonar são invólucros ou alojamentos onde são instalados transdutores. Têm formato
hidrodinâmico, e servem, basicamente, para reduzir o ruído de fluxo. Eles atuam pela redução do fluxo
turbulento; retardamento do início da cavitação por eliminar o contato de arestas e protuberâncias dos
transdutores com o fluxo de água e por manter a fonte de ruído de fluxo longe do transdutor.

O material empregado na construção é variado. Os domos mais antigos eram estruturas metálicas com
paredes finas nas regiões onde o som deve penetrar (janela acústica). Borrachas reforçadas com elementos de
aço e materiais compósitos são empregados modernamente. Alguns domos apresentam abafadores, chapas que
isolam, acusticamente, o transdutor da parte de ré do domo, reduzindo a influência do ruído de máquinas e
cavitação do hélice (vide Figura 7-4).

As principais características que os domos devem apresentar são:

• ser acusticamente transparente (exceto na região do abafador, que deve ser absorvedor de som),
para reduzir perda na propagação e evitar o aparecimento de lóbulos espúrios nos diagramas de
irradiação;

• ter formato hidrodinâmico para evitar cavitação na sua superfície; devem, para este propósito, ser
mantidos livres de incrustação e mossas;

• ter resistência mecânica suficiente para suportar os esforços decorrentes do fluxo de água.

7.2.5 Ruído em Hidrofones, Sonares Rebocados e Outras Instalações [Ref. 1:370-372]

Hidrofones pendurados pelo cabo, como encontrado em sonobóias e em instalações provisórias,


sofrem vibrações induzidas no cabo por correntes marinhas de modo similar às vibrações induzidas em cabos
aéreos por ação de vento. Essas vibrações são sentidas pelo hidrofone como acelerações e acarretam o
aparecimento de ruído nos terminais do hidrofone (ruído de flutter ou strumming). Este ruído pode ser
minimizado:

7-5 VERSÃO 1.0


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Aqui entram figuras


dos domos (domos.doc)

Figura 7-4 - Domo sonar de concepção antiga (direita) e (esquerda) domo do sonar AN/SQS-26 que forma
a proa bulbosa do navio [Ref. 1:368-369]

• usando-se um cabo com formato hidrodinâmico, como ocorre em sonares de profundidade


variável (VDS) instalados em navios;

• projetando o cabo de modo a manter suas freqüências naturais de vibração afastadas das de
vibração induzida;

• isolando-se, mecanicamente, o hidrofone do cabo pelo uso, por exemplo, de peças elásticas;

• usando-se hidrofones projetados para cancelamento de acelerações.

Outro tipo de ruído originado nos cabos de hidrofones é o triboelétrico resultante da fricção entre
condutores e blindagem. Qualquer movimento do cabo tende a produzir, por fricção, cargas elétricas variáveis
que surgem em regiões vazias (por falha de fabricação, por exemplo) entre o condutor e seu recobrimento
dielétrico, que atuam como capacitores variáveis a ar. Cargas aplicadas em capacitâncias geram voltagens.
Quando as cargas ou a capacitância variam com o tempo, surgem voltagens variáveis -- ruído nos terminais do
hidrofone. Existem cabos de baixo ruído especialmente projetados para reduzir estes efeitos, o que pode ser
obtido recobrindo-se o dielétrico com grafite ou mantendo-se solidários os condutores e os seus dielétricos.

Hidrofones instalados no fundo do mar são susceptíveis a ruídos produzidos pela ação de correntes
marinhas diretamente ou em seus suportes.

Sonares rebocados (VDS de navios de superfície, arranjos lineares rebocados) são sujeitos a várias
fontes de ruído próprio. O navio rebocador irradia ruído que atinge o transdutor, cuja contribuição é minimizada
quando o transdutor é rebocado a grandes distâncias.. O ruído de fluxo "puro" (decorrente da camada limite
adjacente ao transdutor) e o provocado por acelerações decorrentes de vibrações no cabo de reboque são outros
tipos de ruído característicos desses sistemas. Em arranjos lineares rebocados (Tactical Towed Array Sonar --
TACTAS, por exemplo) ruídos são também gerados pelas flutuações de pressão devido a movimentos verticais
do arranjo; pelas variações de pressão no óleo empregado para preencher o tubo onde os sensores são instalados
e por vórtices gerados no cabo de reboque.

7-6 VERSÃO 1.0


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7.2.6 Medição de Ruído Próprio

O nível de ruído (NL-DI) das equações sonar é medido, conforme descrito no Capítulo 2, na saída do
conformador de feixes. Sonares modernos, implementados digitalmente, por vezes incluem uma função de
medição de ruído. Os de concepção mais antiga, primordialmente analógicos, provêem um ponto de teste na
saída do conformador, de modo que a voltagem de ruído pode ser medida. A medição deve ser realizada em
diferentes conteiras do feixe, com o navio em rumo e velocidade constantes, em regiões em que não haja alvos
próximos e com estado do mar baixo.

Com a plataforma operando em velocidades baixas, o ruído observado decorre, predominantemente,


do ambiente. À medida que a velocidade aumenta, o nível de ruído próprio aumenta e, a partir de uma certa
velocidade, é maior que o ambiente. Quando o hélice cavita, o ruído de cavitação predomina nos feixes
próximos ao setor de popa, embora os demais feixes também sofram sua influência, principalmente quando
lóbulos secundários do diagrama coincidem com a região de popa. Na região de proa o nível de ruído próprio
varia pouco com a marcação. O nível aumenta rapidamente ao nos aproximarmos da direção do setor de popa.

O ruído ambiente pode ser considerado isotrópico. Deste modo, ao medirmos o fator (NL-DI)
podemos somar o fator DI (se conhecido) para obter o nível de ruído isotrópico NL = (NL-DI) + DI. O ruído
próprio, por outro lado não é isotrópico, o que se mede, na realidade é um nível total de ruído NL' que, inclusive,
decorre de ruídos que são acoplados ao transdutor diretamente pelo casco. Para fins de padronização adota-se o
fator (NL-DI) para representar o nível de ruído no feixe, seja ele ambiente (isotrópico) ou próprio. Neste último
caso, o fator NL = NL' + DI deve ser interpretado como um nível isotrópico equivalente e deve ser empregado
com cautela quando se compara diferentes sonares ou diferentes plataformas.

Em sonares ativos e passivos de banda estreita, a faixa de freqüências de operação é pequena. O ruído
pode ser considerado branco (NL constante) e o DI pode ser considerado constante. Tal não ocorre em sonares
passivos de banda larga, onde se procura detectar emissão de ruído irradiado por alvos em faixas de freqüência
relativamente amplas. Este segundo caso requer uma análise para cada modelo de sonar, não se podendo
estabelecer métodos genéricos de medição, embora os conceitos gerais estabelecidos anteriormente (com
respeito a dependência com a velocidade da plataforma e conteira de feixes) sejam aplicáveis. Vamos descrever
a seguir um método de medição aplicável ao caso de sistemas banda-estreita (passivos e ativos).

A Figura 7-5, idêntica à Figura 2-6, representa o diagrama em blocos de um receptor sonar. Durante a
medição do ROS, inicialmente, um transdutor de teste é empregado para se obter o fator de conversão pressão-
voltagem, M o (sensibilidade ou resposta de recepção) em dB re 1 V/µPa. Isto é feito aplicando-se um pulso CW
de pressão conhecida na face do transdutor sonar, conforme descrito no Capítulo 3, Seção 3.2.4, e medindo-se a
voltagem do pulso resultante no ponto de teste. A resposta de recepção assim medida inclui o efeito do
conformador de feixe.

Se empregarmos um analisador de espectro para a medição de ruído, medimos diretamente níveis


espectrais e o resultado da medição será o (NL-DI) espectral empregado nas equações sonar. Caso empreguemos
um voltímetro true rms, o nível obtido será banda larga (NL-DI) BANDALARGA e, conforme mencionado no Capítulo
2 em conexão com a Equação (2-6), deveremos corrigir este valor (supondo ruído branco):

( NL - DI ) = ( NL - DI ) BANDALARGA − 10 log Bn

onde B n é uma largura de banda equivalente que depende das resposta de freqüência do transdutor, dos circuitos
de condicionamento, do conformador de feixes e de circuitos adicionais existentes entre a água e o ponto de
teste (pode ser considerada aproximadamente igual à largura de banda de 3dB). O uso de analisadores de
espectro evita a necessidade de "correção de banda", que pode ser problemática se B n não for especificado, além

7-7 VERSÃO 1.0


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direção
de H(f)dB
escuta
selecionável -3dB
B-3dB ≈ Bn
f
circuitos
de conformador circuitos
condicionamento de adicionais
(amplificadores feixes
e
filtros) demais
circuitos de
recepção do
sonar
DI

ponto de teste
transdutor (voltagem
(array) NL correspondente a
NL)

Figura 7-5 - Medição de (NL-DI)

de permitir verificar a presença de freqüências espúrias que podem indicar problemas com o receptor sonar ou
com o sistema de medição.

PROCEDIMENTO:

• mede-se a resposta de recepção do transdutor/conformador de feixes M o , dB re 1 V/µPa, com o


navio fundeado em uma área de profundidade suficiente para evitar influência de sinais refletidos
(vide Seção 3.2.4); emprega-se um transdutor padrão previamente aferido em laboratório; em
geral esta medição é realizada para um único feixe e o valor de resposta é considerado igual para
os demais. Pode-se aproveitar esta oportunidade para medir M o em uma faixa de freqüências de
modo a se obter a curva de resposta de freqüência indicada na Figura 7-5 e, assim, estimar B n . A
medição de SL é feita na mesma oportunidade;

• mede-se a voltagem †‡ de ruído (nível espectral ou de banda, dependendo do instrumento


empregado) no ponto de teste, com o navio deslocando-se em rumo e velocidade constantes e com
o feixe de recepção conteirado em uma determinada direção (feixe de proa, por exemplo);

• repete-se a medição para as diferentes conteiras de feixe. Obtém-se, deste modo, valores de
voltagem de ruído em diferentes conteiras. O valor médio dessas voltagens (média aritmética ou
geométrica) dá uma indicação do nível global de ruído na velocidade de medição. Um gráfico de
voltagem versus conteira pode servir para se identificar conteiras particularmente ruidosas,
indicando possíveis avarias (mossas no domo, por exemplo);


alguns instrumentos indicam valores diretamente em dB;

devem ser tomados certos cuidados pois os valores de voltagem medidos podem ser da ordem de µV; por
vezes, um amplificador externo deve ser empregado e seu ganho, descontado da voltagem medida.

7-8 VERSÃO 1.0


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• repete-se a medição para diferentes velocidades da plataforma. Um gráfico de nível global de


ruído versus velocidade permite identificar a velocidade máxima de operação eficaz do sonar;

• as voltagens medidas são subtraídas do valor de resposta de recepção, obtendo-se o nível de ruído
no feixe para diversas velocidades da plataforma e em diferentes conteiras:

(NL-DI) BANDALARGA = 20 log (V BANDALARGA /1Volt) - M o [dB re 1 V/µPa]

ou (NL-DI) = 20 log (V ESPECTRAL /1Volt) - M o [dB re 1 V/µPa],

dependendo do instrumento empregado. Se o nível for banda-larga, deverá ser corrigido em banda antes de ser
empregado nas equações sonar.

Os valores obtidos (empregando média das diferentes conteiras em cada velocidade) quando
subtraídos do nível da fonte SL fornecem o rendimento operativo sonar ROS em diferentes velocidades de
operação da plataforma.

Exercícios de Fixação

1. Defina ruído próprio.

2. O que é ruído hidrodinâmico e quais seus principais mecanismos geradores? Indicar, para cada
mecanismo, se o espectro correspondente é de linhas espectrais ou contínuo.

3. Quais as características do espectro de ruído de fluxo (tonal, contínuo ou ambos; faixas de freqüência;
branco, decrescente ou crescente com a freqüência; dependência com a velocidade)?

4. O que pode ser feito para reduzir o nível de ruído de fluxo?

5. Defina ruído de máquinas.

6. Defina ruído de hélice descreva em que condições ele é predominante no ruído próprio.

7. Descreva a contribuição das três fontes de ruído próprio em um sonar de casco com a plataforma
operando em velocidade baixa e com o aumento da velocidade.

8. Qual a finalidade dos domos sonar?

9. Descreva as principais características de um domo sonar de boa qualidade.

10. Quais os mecanismos de geração de ruído próprio em hidrofones pendurados e como reduzi-lo?

11. Quais os mecanismos de geração de ruído próprio em VDS e arranjos lineares rebocados?

12. Por que, ao se medir ruído próprio de um sistema sonar, é necessário operar com condição de mar
calmo?

13. Em que ponto de um sistema sonar o ruído próprio deve ser medido?

14. Defina nível isotrópico equivalente. Por que o fator NL das equações sonar não é, em si, significativo
para descrever ruído próprio?

15. Qual a vantagem de se utilizar analisadores espectrais para medir ruído próprio?

7-9 VERSÃO 1.0


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16. Cite as etapas do procedimento de ruído próprio em um sonar que disponha de um ponto de teste com
sinal analógico.

17. Durante a medição de ruído próprio, verificou-se que a voltagem eficaz média (banda larga) com o
navio operando a 5 nós era de 1mV. A resposta de recepção foi medida anteriormente, obtendo-se -150 dB re 1
V/µPa. Sabendo-se que a banda dos circuitos de entrada do sonar (incluindo transdutor e conformador de feixes)
é de 1000 Hz e o sonar opera a 7 KHz. (a) Qual o nível de ruído no feixe banda-larga e (b) qual o valor a ser
empregado para previsão de alcance sonar? (c) Sabendo-se que o estado do mar durante as medições era 2 e que
o navio operava em águas profundas, o nível obtido deve ser atribuído ao ruído ambiente?

7.3 RUÍDO IRRADIADO [Ref. 1:328-352]

O ruído irradiado por navios e outros veículos é gerado de forma similar ao ruído próprio, porém é
medido em um hidrofone localizado fora da plataforma a uma certa distância no mar. Este ruído é o que dá
origem ao termo SL da equação sonar passivo. O grau de discrição acústica de um veículo é função do grau de
controle do nível de ruído irradiado, e deve ser preocupação do projetista, do mantenedor e dos operadores das
plataformas.

7.3.1 Representação do Ruído Irradiado

O nível de ruído irradiado (NRI) por plataformas é expresso como nível espectral. É medido com a
plataforma em velocidade constante através de um hidrofone ou arranjo de hidrofones instalados no mar em uma
região de baixo nível de ruído ambiental (raia acústica). Os sinais são geralmente gravados e analisados
posteriormente através de analisadores espectrais. O espectro obtido depende das características da plataforma e
contém informações que possibilitam a identificação da plataforma, como uma "impressão digital". Por vezes o
espectro de ruído irradiado é descrito como uma assinatura acústica. Como indicado na Figura 7-6, o espectro
de ruído irradiado pode ser separado em um componente banda-larga de espectro contínuo e um componente
tonal que compreende linhas espectrais distintas ocorrendo em freqüências discretas.

A distância entre a plataforma e o hidrofone de medição é da ordem de dezenas de metros. O valor do


NRI é reduzido para uma distância padrão de 1 m, usando-se, em geral um modelo simples de perdas (20log r é
usualmente empregado). Deste modo, pode-se comparar espectros obtidos em diferentes velocidade ou
configurações de máquinas de uma mesma plataforma ou de plataformas diferentes.

(a) (b) (c)


Figura 7-6 - gráficos de espectro (a) contínuo de banda-larga, (b) de componentes tonais ou de linhas
espectrais e (c) os dois superpostos (todos em dB) [Ref. 1:329]

Medições estáticas, realizadas com a plataforma parada, permitem identificar contribuições


individuais dos diversos componentes de bordo ao ruído irradiado. Os resultados obtidos com as "corridas" e
medições estáticas permitem identificar configurações de máquinas preferenciais do ponto de vista de redução
do NRI e a velocidade inicial de cavitação, bem como problemas existentes com os componentes da plataforma

7-10 VERSÃO 1.0


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(pás de hélice avariadas, eixos com fricção, máquinas desbalanceadas, calços amortecedores de vibração
defeituosos etc.).

Além da representação espectral, o ruído irradiado pode ser apresentado na forma de nível de pressão
sonora em certas bandas de freqüência. Esta representação "esconde" componentes tonais existentes no espectro
(que só são aparentes em representação espectral) e permite visualizar a "aparência geral" da assinatura acústica.
Bandas padrões usualmente empregadas são as de oitava (freqüência superior igual ao dobro da inferior) e de
"terço de oitava" (uma oitava de freqüências dividida em três partes iguais em escala logarítmica). Estes tipo de
representação facilitam o cálculo do nível total em uma dada banda de freqüências, que será a soma dos níveis
em cada sub-banda (oitava ou terço) incluída na banda de interesse.

7.3.2 Fontes de Ruído Irradiado

As fontes de ruído irradiado podem ser classificadas em três grandes grupos: ruído de máquinas; ruído
hidrodinâmico e ruído de hélice.

O ruído de máquinas [Ref. 1:332-334] origina-se de vibrações das máquinas do veículo acopladas
ao casco e daí, para o mar. As fontes de vibrações mecânicas são

• componentes rotativos desbalanceados;

• descontinuidades repetitivas (dentes de engrenagem, ranhuras de armaduras de motores, paletas de


turbinas etc);

• componentes alternativos (explosões de cilindros, por exemplo);

• cavitação e turbulência de fluidos em bombas, tubulações, válvulas e descargas;

• fricção mecânica, como em rolamentos;

No caso das três primeiras fontes de vibração, a freqüência fundamental de vibração é bem definida
(associada à velocidade de rotação de máquinas, engrenagens, motores elétricos etc). Deste modo, dão origem a
linhas espectrais bem definidas na freqüência fundamental do processo mecânico envolvido e suas harmônicas.
As duas últimas fontes dão origem a um espectro de ruído contínuo, banda-larga. Estes dois últimos mecanismos
podem induzir vibrações ressonantes em componentes estruturais próximos. Quando isto ocorre, ao ruído banda-
larga superpõem-se linhas espectrais. O resultado global do ruído de máquinas para um navio em movimento é
um espectro caracterizado por um nível baixo de espectro contínuo banda-larga combinado com linhas
espectrais fortes, apresentando estrutura harmônica complexa (várias harmônicas correspondentes a diferentes
freqüências fundamentais), nível irregular e variáveis com as condições de operação e velocidade do navio.

O ruído hidrodinâmico [Ref. 1:341] decorre do fluxo irregular e variável de fluido no casco do
veículo. As flutuações de pressão podem irradiar à distância como som §, porém, mais importante, podem excitar
vibrações em partes do casco e seus acessórios **. Um exemplo importante de vibrações induzidas pelo fluxo é o
hélice cantante: o fluxo irregular de água nas pás dos hélices podem levá-los a vibrar, provocando a emissão de
uma linha espectral bem definida. Este efeito é típico de hélices em bom estado de manutenção mas pode ser

§
este ruído de fluxo contribui pouco para o ruído irradiado para veículos que se movem em velocidades bem
menores que a velocidade do som (baixos números Mach), o que é comum no mar; é, no entanto, importante do
ponto de vista de ruído próprio.
**
quanto de ruído é irradiado por este processo depende das características do fluxo turbulento, da resposta da
estrutura a este fluxo e da eficiência de irradiação da estrutura vibrante.

7-11 VERSÃO 1.0


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evitado alterando-se um pouco a geometria das pás ou por amortecimento mecânico. Um outro caso de emissão
de linha espectral bem definida é o da excitação, pelo fluxo irregular, de cavidades no casco, de modo análogo
ao que ocorre quando sopramos por sobre o gargalo de uma garrafa. Chapas protuberantes podem também ser
excitadas pelo fluxo. Outras formas de ruído hidrodinâmico são os provocados pela quebra das ondas de proa e
popa de um navio em movimento e pelo fluxo turbulento em aspirações e descargas de água. Como um todo, o
ruído hidrodinâmico contribui pouco para o ruído irradiado pelos veículos e é usualmente mascarado pelo ruído
de máquinas e de hélice. A exceção ocorre quando há vibrações induzidas: nestes casos, o ruído hidrodinâmico
pode ser preponderante na região do espectro de freqüências onde as vibrações ocorrem.

O ruído de hélice [Ref. 1:334-340] origina-se fora do veículo diretamente na água e não depende de
transmissão de vibrações até o casco. Apresenta características e origens comuns tanto ao ruído de máquinas
quanto ao hidrodinâmico. É estudado em separado daqueles devido à sua importância É causado por cavitação
das pás, hélice cantante ou diretamente pelo movimento rotativo das pás. O hélice cantante, decorrente de
excitação ressonante do hélice por vórtices gerados no fluido, gera tons fortes na faixa de 100 Hz a 1000 Hz que
podem ser ouvidos sob a água a vários quilômetros. Pode ser eliminado pelo emprego de ligas de alto
amortecimento nas pás ou pela mudança do formato da ponta das pás. Em freqüências baixas no espectro, o
ruído do hélice contém linhas espectrais que ocorrem a múltiplos da taxa de palhetadas (RPM multiplicada pelo
número de pás do hélice),

f m = mns = mn × RPM / 60 ( 7-1 )

onde f m é a freqüência em Hz do m-ésimo harmônico da série de linhas de taxa de palhetadas, n é o número de


pás, s = RPM / 60 é a velocidade de rotação do hélice em rotações por segundo. Esses componentes tonais
parecem ser intimamente relacionados ao processo de cavitação. Em submarinos foi observado, na década de 40,
que esses tons eram a fonte dominante de ruído irradiado na faixa de 1 Hz a 100 Hz.

O ruído de hélice é afetado pelo estado de conservação dos hélices e aumenta quando o veículo
manobra (guinadas, acelerações). Apresenta características direcionais marcantes: é mais intenso pelo través e
apresenta um mínimo distinto que ocorre em um setor de 30° em torno da proa e da popa.

A potência acústica total de ruído irradiado pode ser obtida pela integração da densidade espectral em
relação à freqüência e espaço angular (ângulo sólido Ω). Valores típicos são da ordem de alguns Watts, uma
fração desprezível, por exemplo, da potência de propulsão. Esses níveis baixos de potência irradiada, entretanto,
são suficientes para comprometer a discrição acústica e possibilitar a detecção, a grandes distâncias, por sonares
passivos. Controlar essa parcela ínfima da potência total envolvida na propulsão constitui-se, na realidade, em
um desafio constante para o projetista de navios de guerra (de superfície e submarinos) e torpedos.

7.3.3 Cavitação [Ref. 1:334-340]

Quando o hélice gira, formam-se regiões de baixa pressão (pressão relativa negativa) na água.
Quando essas pressões negativas tornam-se elevadas o bastante, ocorre ruptura do líquido e surgem minúsculas
bolhas. Estas bolhas colapsam bruscamente, gerando pulsos sonoros estreitos de amplo espectro. Quando ocorre
na face das pás do hélice, este colapso acarreta um efeito destrutivo sobre o material. A cavitação do hélice é
este processo de geração e colapso de bolhas. Quando ocorre, o som assim gerado é predominante em
freqüências elevadas do espectro de ruído irradiado. A cavitação pode ocorrer nas pontas das pás (mais forte) ou
nas suas faces.

O espectro do ruído de cavitação é do tipo contínuo. O espectro apresenta um máximo em uma


freqüência (usualmente na faixa de 100 Hz a 1000 Hz). O nível de ruído e a “freqüência central” variam com a

7-12 VERSÃO 1.0


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velocidade (RPM) e com a profundidade do veículo, conforme ilustrado na Figura 7-7, que apresenta as
características gerais do espectro de ruído de cavitação:

velocidade↑ ou profundidade↓

nível espectral↑ e freqüência central↓
A variação do nível de ruído de cavitação com a velocidade é explorada pelos submarinos: quanto
mais profundo mais silencioso. Esta regra geral deve, entretanto, ser observada com cuidado. Experimentos
indicam e a teoria de formação do ruído de cavitação indicam que, se um submarino estiver cavitando
fortemente em velocidades altas, ao mergulhar observa-se inicialmente um aumento do ruído irradiado quando
o submarino começa a imergir, para depois, a maiores profundidades, o nível de ruído diminuir. Este efeito é
ilustrado na Figura 7-8.

veloc↑ ou profundidade↓
Nível espectral, dB

-6 dB/oitava
+6 dB/oitava

10 100 1000 f, Hz 10000


Figura 7-7 - Nível do espectro de cavitação e freqüência "central" variam com velocidade e profundidade
[Ref. 1:335].

Em velocidades baixas não ocorre cavitação. Verifica-se que, à medida que a velocidade de um
veículo aumenta, o nível de ruído irradiado aumenta lentamente. Em uma certa velocidade crítica ou velocidade
inicial de cavitação (VIC) o hélice começa a cavitar. Alguns nós acima da VIC observa um grande aumento do
nível de ruído em freqüências altas (20 dB a 50 dB). Em velocidades bem acima da VIC, quando a cavitação
está bem desenvolvida, verifica-se, novamente um pequeno aumento do nível de ruído com a velocidade. Este
comportamento é ilustrado no gráfico em S da Figura 7-8. A VIC é função das características de projeto de um
dado veículo e do estado de manutenção dos hélices. Um parâmetro indicador da possibilidade de ocorrer
cavitação é o índice de cavitação, dado por [Ref. 2:264]:

7-13 VERSÃO 1.0


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NRI, dB NRI, dB
180 180

170
170
160
profundidade velocidade
constante 150 constante
160
140

150 130
5 7 9 11 20 60 100
velocidade, nó profundidade, m
Figura 7-8 - Exemplos de comportamento do nível de ruído irradiado (NRI), medido em uma banda de
freqüências, em função da velocidade e da profundidade; observa-se, neste exemplo, uma VIC de cerca de
5 nós e um ligeiro aumento do NRI quando a profundidade do veículo imerge -- somente depois de cerca
de 50 m de profundidade o nível fica menor que a 20 m de profundidade [Ref. 1:337-338].

Po − PV
KT =
( 12)ρ(U + v T2 )
( 7-2 )
2
a

onde P o é a pressão hidrostática nas pás (Pa), P V é a pressão de vapor da água, ρ é a massa específica da água
(Kg/m3), v T é a velocidade da ponta das pás (m/s) e U a é a velocidade de avanço da água. A relação entre
valores de K T e a ocorrência de cavitação depende da uniformidade do fluxo de água na região do hélice
(esteira). Em navios de superfície observa-se que a velocidade da água apresenta grande variação circunferencial
e, à medida que as pás giram, experimentam uma velocidade de fluxo de água variável. Em submarinos de um
eixo e torpedos o fluxo é mais simétrico. A relação entre valores de K T e a possibilidade de ocorrência de
cavitação é apresentada na Figura 7-9.

Início de
Início de Início de cavitação
cavitação cavitação em esteiras
em fluxo em esteiras com pouca cavitação
Forte moderada uniforme simétricas simetria improvável

0,2 0,5 1 2 5
Índice de cavitação KT
Figura 7-9 - Relação aproximada entre cavitação e K T

O valor de K T para o qual a cavitação da ponta da pá se inicia é denominado índice crítico de


cavitação e seu valor depende do projeto do hélice. Considerando que a pressão de vapor é bem menor que a
hidrostática, verifica-se, na Equação ( 7-2 ) que a VIC (correspondente ao valor crítico de K T ) é proporcional à
raiz quadrada da pressão hidrostática na profundidade do hélice,

VIC ∝ v T ∝ (P o )1/2 para K T igual ao valor crítico

Uma característica do ruído de cavitação é sua modulação em amplitude (ruído varia de intensidade
periodicamente acompanhando o movimento de rotação do hélice). Isto se deve a dois fatores. Primeiramente, as
pás de um hélice apresentam pequenas diferenças de modo que a velocidade inicial de cavitação e a intensidade
de cavitação serão diferentes para cada pá . Em segundo lugar, a falta de uniformidade da esteira faz com que as
pás comecem a cavitar em certas posições angulares. Quando a cavitação surge (uma pá cavitando durante um
breve intervalo de tempo em cada rotação), o som emitido é o de um pulso de ruído ocorrendo uma vez a cada

7-14 VERSÃO 1.0


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rotação: verifica-se, então, que a intensidade do ruído varia com uma freqüência igual à RPM. Se o sinal de
cavitação obtido em um hidrofone for demodulado, a análise espectral deste sinal demodulado (denominada
análise DEMON, de DEModulatioN) mostra uma linha espectral de freqüência igual à RPM. Aumentando-se a
velocidade, uma segunda pá cavita (com intensidade diferente da primeira) e a análise demon indica duas linhas
espectrais de freqüências iguais à RPM e 2×RPM. Quando todas as n pás estiverem cavitando (de formas
ligeiramente diferentes), surgem n linhas espectrais no demon, de freqüências iguais à RPM e seus harmônicos
(até o n-ésimo), onde se verifica que o n-ésimo harmônico se destaca (em termos de nível). Se o sinal de
cavitação for bem distinto, verifica-se a ocorrência, no espectro demon, das mesmas freqüências f m observadas
no espectro de ruído irradiado decorrente das palhetadas [vide Equação ( 7-1 )], embora, na prática, isto seja
raro. Quando a velocidade do veículo aumenta, a variação periódica de intensidade tende a tornar-se
imperceptível em meio ao ruído de cavitação. A análise demon é empregada pelos operadores de sonares
passivos para determinação da velocidade de rotação e número de pás de hélices e, por vezes, da quantidade de
hélices de um navio.

Hélices de navios cavitam em velocidades usuais de operação, o que compromete a discrição acústica,
facilitando a detecção (e classificação) por sonares passivos. Um meio relativamente eficaz de reduzir o ruído de
cavitação é emitir bolhas de ar em torno do hélice (sistema agouti das Fragatas classe "NITERÓI") quando há
cavitação. As bolhas de ar substituem ou absorvem as bolhas de cavitação e colapsam de modo mais suave,
reduzindo o ruído emitido.

Exercícios de Fixação

1. Defina ruído irradiado e indique a diferença entre ruído irradiado e próprio.

2. (a) Quais os propósitos da medição de ruído irradiado do seu próprio navio? (b) E de navios de outras
marinhas?

3. Quais os mecanismos de geração do ruído de máquinas e que tipo de espectro é produzido em cada
caso?

4. Que freqüências são geradas diretamente pelo movimento dos dois hélices de um navio, um operando a
100 rpm e outro operando a 101 rpm, sabendo-se os hélices são de quatro pás?

5. Descreva a contribuição das três fontes de ruído irradiado em um sonar de casco com a plataforma
operando em velocidade baixa e com o aumento da velocidade.

6. Quais fontes de ruído ambiente são importantes na faixa de freqüências de interesse para medição de
ruído irradiado em uma raia acústica?

7. Descreva o processo de geração do ruído de cavitação e as características do espectro resultante.

8. Descreva a influência da velocidade e da profundidade no nível ruído irradiado por um submarino.

9. A VIC de um submarino operando na cota periscópica (profundidade de 20 m) é de 5 nós. Estime a


VIC para este mesmo submarino operando a 80 m de profundidade.

10. O navio do exercício 4 está cavitando e é detectado pelo sonar passivo em um submarino. Que
freqüências serão identificadas pelo analisador demon do sonar operando na faixa de 0 Hz a 20 Hz?

11. Em que condições deve ser empregado um sistema do tipo do agouti das fragatas classe “NITERÓI”?

7-15 VERSÃO 1.0


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BIBLIOGRAFIA

[1]. Urick, Robert J. Principles of underwater sound. 3ed. New York, McGraw-Hill. 1983.

[2] Ross, Donald. Mechanics of underwater noise. Los Altos, Peninsula Publishing. 1987.

7-16 VERSÃO 1.0


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7.2.2 Ruído de Máquinas

O ruído de máquinas se origina como vibrações mecânicas das máquinas dos navios. Essas vibrações
são acopladas ao casco onde são transmitidas até as proximidades do transdutor, seja diretamente através do
casco (vibrações), seja através da água.

As máquinas contribuem para o ruído próprio principalmente em freqüências baixas na forma de


componentes tonais (freqüências bem definidas). As máquinas auxiliares geram ruído cujas características
(freqüências e amplitudes) independem da velocidade da plataforma. Em velocidades baixas, onde as outras
formas de ruído apresentam níveis baixos, o ruído das máquinas auxiliares predomina. Maiores detalhes são
apresentados na Seção 7.3.

7.2.3 Ruído de Hélice

O ruído de hélice é gerado diretamente na água e decorre, principalmente de cavitação das pás
provocada pelo movimento de rotação. Observa-se que a cavitação ocorre a partir de uma certa velocidade da
plataforma (denominada velocidade inicial de cavitação - VIC) que depende do projeto e do estado de
manutenção dos hélices. Em velocidades elevadas, o ruído de cavitação é predominante no ruído próprio em
freqüência elevadas, principalmente sob condições de águas rasas e quando o feixe sonar de recepção é
conteirado para a região de popa. Maiores detalhes são apresentados na Seção 7.3.

7.2.4 Domos Sonar [Ref. 1:367-370]

Domos sonar são invólucros ou alojamentos onde são instalados transdutores. Têm formato
hidrodinâmico, e servem, basicamente, para reduzir o ruído de fluxo. Eles atuam pela redução do fluxo
turbulento; retardamento do início da cavitação por eliminar o contato de arestas e protuberâncias dos
transdutores com o fluxo de água e por manter a fonte de ruído de fluxo longe do transdutor.

O material empregado na construção é variado. Os domos mais antigos eram estruturas metálicas com
paredes finas nas regiões onde o som deve penetrar (janela acústica). Borrachas reforçadas com elementos de
aço e materiais compósitos são empregados modernamente. Alguns domos apresentam abafadores, chapas que
isolam, acusticamente, o transdutor da parte de ré do domo, reduzindo a influência do ruído de máquinas e
cavitação do hélice (vide Figura 7-4).

As principais características que os domos devem apresentar são:

• ser acusticamente transparente (exceto na região do abafador, que deve ser absorvedor de som),
para reduzir perda na propagação e evitar o aparecimento de lóbulos espúrios nos diagramas de
irradiação;

• ter formato hidrodinâmico para evitar cavitação na sua superfície; devem, para este propósito, ser
mantidos livres de incrustação e mossas;

• ter resistência mecânica suficiente para suportar os esforços decorrentes do fluxo de água.

7.2.5 Ruído em Hidrofones, Sonares Rebocados e Outras Instalações [Ref. 1:370-372]

Hidrofones pendurados pelo cabo, como encontrado em sonobóias e em instalações provisórias,


sofrem vibrações induzidas no cabo por correntes marinhas de modo similar às vibrações induzidas em cabos
aéreos por ação de vento. Essas vibrações são sentidas pelo hidrofone como acelerações e acarretam o
aparecimento de ruído nos terminais do hidrofone (ruído de flutter ou strumming). Este ruído pode ser
minimizado:

7-5 VERSÃO 1.0


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(abafador)

(janela
transparente
ao som)

Figura 7-4 - Domo sonar de concepção antiga (direita) e (esquerda) domo do sonar AN/SQS-26 que forma
a proa bulbosa do navio [Ref. 1:368-369]

• usando-se um cabo com formato hidrodinâmico, como ocorre em sonares de profundidade


variável (VDS) instalados em navios;

• projetando o cabo de modo a manter suas freqüências naturais de vibração afastadas das de
vibração induzida;

• isolando-se, mecanicamente, o hidrofone do cabo pelo uso, por exemplo, de peças elásticas;

• usando-se hidrofones projetados para cancelamento de acelerações.

Outro tipo de ruído originado nos cabos de hidrofones é o triboelétrico resultante da fricção entre
condutores e blindagem. Qualquer movimento do cabo tende a produzir, por fricção, cargas elétricas variáveis
que surgem em regiões vazias (por falha de fabricação, por exemplo) entre o condutor e seu recobrimento
dielétrico, que atuam como capacitores variáveis a ar. Cargas aplicadas em capacitâncias geram voltagens.
Quando as cargas ou a capacitância variam com o tempo, surgem voltagens variáveis -- ruído nos terminais do
hidrofone. Existem cabos de baixo ruído especialmente projetados para reduzir estes efeitos, o que pode ser
obtido recobrindo-se o dielétrico com grafite ou mantendo-se solidários os condutores e os seus dielétricos.

Hidrofones instalados no fundo do mar são susceptíveis a ruídos produzidos pela ação de correntes
marinhas diretamente ou em seus suportes.

Sonares rebocados (VDS de navios de superfície, arranjos lineares rebocados) são sujeitos a várias
fontes de ruído próprio. O navio rebocador irradia ruído que atinge o transdutor, cuja contribuição é minimizada
quando o transdutor é rebocado a grandes distâncias.. O ruído de fluxo "puro" (decorrente da camada limite
adjacente ao transdutor) e o provocado por acelerações decorrentes de vibrações no cabo de reboque são outros
tipos de ruído característicos desses sistemas. Em arranjos lineares rebocados (Tactical Towed Array Sonar --
TACTAS, por exemplo) ruídos são também gerados pelas flutuações de pressão devido a movimentos verticais
do arranjo; pelas variações de pressão no óleo empregado para preencher o tubo onde os sensores são instalados
e por vórtices gerados no cabo de reboque.

7-6 VERSÃO 1.0


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CAPÍTULO 8 - DETECÇÃO

Os objetivos deste Capítulo são definir o processo de detecção a partir de elementos da teoria da
detecção e do ponto de vista prático de observação de formas de onda; definir teste estatístico e descrever o
diagrama de blocos e parâmetros fundamentais dos receptores ótimos; definir as curvas características de
operação de receptores e estimar o limiar de detecção DT de sonares ativos e passivos.

O processo de detecção consiste na decisão pelo sistema *, em um dado período de tempo, sobre a presença
ou não de um sinal em meio ao ruído e à reverberação. Algum critério deve ser estabelecido para que a decisão seja
tomada.

8.1 CONCEITOS BÁSICOS

A função básica de um sistema sonar de busca é a detecção: a determinação da presença de um sinal


no ambiente. Usualmente, este é um processo de decisão binária, onde o sistema (incluindo o operador) deve
escolher, com base nas informações coletadas no ambiente, qual das duas hipóteses é verdadeira: o sinal está
presente ou o sinal está ausente (em meio a ruído e reverberação). Isto nos leva a quatro situações possíveis às
quais são associadas probabilidades, conforme indicado na matriz de decisão binária na Tabela 8-1. À decisão
correta de sinal presente quando há sinal em meio ao ruído (evento "decidiu presente dado que sinal é presente",
detecção) é associada uma probabilidade de detecção P D . A probabilidade de falso-alarme P FA é associada à
decisão incorreta de sinal presente quando somente ruído está presente na entrada do sistema (evento "decidiu
presente dado que sinal é ausente", falso-alarme).

Tabela 8-1 - Matriz de decisão binária.


Decisão
Sinal presente Sinal ausente
Situação na Sinal + ruído Detecção Perda
entrada
PD 1-P D
do receptor Ruído Falso-alarme Decisão nula
P FA 1-P FA

O sinal de entrada do sistema não é observado diretamente. Conforme ilustrado na Figura 8-1, o sinal é
processado pelo sistema e o resultado é apresentado ao componente do sistema responsável pela decisão (operador).
Este resultado consiste, por exemplo, em um nível de voltagem ou de luminosidade em um ponto de uma tela de
vídeo ou um nível sonoro em um fone. O sistema observa esse nível e o compara com um certo valor preestabelecido
(limiar). Quando o nível ultrapassa aquele limiar, declara-se "sinal presente". Este “observa-e-decide-que-sinal-está-
presente-caso-ultrapasse-o-limiar” é a descrição de um processo real de detecção.

O valor do limiar de detecção é função das probabilidades P D e P FA . Se o nível de sinal aumenta em


relação ao ruído (maior SNR) e o limiar é mantido constante, é de se esperar que seja mais fácil detectar o sinal
(maior P D ). Caso o nível de ruído aumente (menor SNR), a chance de se confundir picos de ruído com sinal
aumenta (maior P FA ). Existe uma íntima relação entre os valores do limiar, das probabilidades P D e P FA e da
SNR. Fixados os valores das probabilidades, o limiar de detecção DT é definido como a relação sinal-ruído
(medida na entrada do receptor) necessária à decisão :

*
podemos considerar o operador como parte integrante do sistema; deste modo, a decisão do operador é uma
decisão do sistema.

8-1 VERSÃO 1.0


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entrada do
receptor: decisão

sinal presente
ou
sinal ausente
alvo ausente ?
display

apresentação alvo presente ?


receptor visual

x(t) z(t)

saída sonora

operador
arranjo de
transdutores

Figura 8-1 - Sistema sonar e processo de decisão

potência de sinal necessária à detecção


DT = 10log
densidade espectral de potência de ruído
( 8-1 )
{para dados P D e P FA},
(ambas medidas na entrada do receptor)

O DT pode ser definido em termos de nível de ruído na banda do sistema (DT Banda ). Por vezes, para evitar
confusão, o DT referente a nível espectral de ruído é simbolizado por DT Hz .

Um outro parâmetro empregado para descrever o desempenho de um receptor é o ganho de


processamento, definido como a diferença, em dB, entre a relação SNR na entrada e a relação SNR na saída do
receptor, ambas referidas à banda do receptor. É um parâmetro útil para comparação de receptores.

Exercícios de Fixação

1. Defina processo de decisão binária.

2. O operador de um sistema sonar foi orientado de modo a só considerar um alvo detectado se em cada
três emissões consecutivas ele observar a presença de eco (na mesma posição) em duas oportunidades (2 em
cada 3). (a) Vamos supor que o operador ainda não tenha observado a presença de eco. Podemos modelar o
processo de observação em uma emissão como sendo um processo de decisão binária? (b) O processo "2 em 3"
como um todo é de decisão binária? Justifique.

3. Com base na matriz de decisão binária, defina as probabilidades de detecção e falso-alarme.

4. Qual a expressão de definição do DT em termos de (a) nível espectral de ruído; (b) nível de ruído na
banda de recepção?

5. Compare ganho de processamento e DT.

8-2 VERSÃO 1.0


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8.2 - TESTE DE HIPÓTESES

O processo de detecção consiste na escolha de uma dentre as duas hipóteses:

H0: x(t) = n(t) (só ruído ou sinal ausente)

H1: x(t) = s(t) + n(t) (ruído+sinal ou sinal presente)

onde x(t) é o sinal de entrada no receptor, s(t) é o sinal desejado e n(t) é o ruído.

8.2.1 - Observação da Forma-de-Onda

O processo de detecção pode ser representado pela comparação do sinal x(t) com um limiar λ. Este
processo é ilustrado na Figura 8-2. Três ecos de um sonar ativo, representando um alvo em distâncias decrescentes,
são apresentados em seqüência. O sinal total x(t) é apresentado embaixo, consistindo dos três pulsos somados a ruído.
Como os ecos têm amplitude diferente, este exemplo representa a situação de potência de ruído constante e três
diferentes SNR. Por simplicidade, vamos supor que o operador observa diretamente a forma de onda de entrada x(t).

SNR1 SNR2 SNR3

sinal desejado
s(t)

ruído n(t)

decide alvo
presente
λ1
λ2

sinal total na entrada x(t)

Figura 8-2 - Observação da forma de onda

Considerando o limiar λ 1 , somente o terceiro eco resulta em um nível acima do limiar e é detectado. Pode
ocorrer que a forma-de-onda ultrapasse o limiar sem que haja sinal: é a situação de falso-alarme. Se reduzirmos o
limiar para o valor λ 2 , aumenta-se a probabilidade de detecção P D (maior número de alvos, incluindo os de menor
SNR, é detectado). Em compensação, o número de ocorrências de falsos-alarmes aumenta (maior P FA )

8.2.2 Modelagem Matemática da Detecção

A descrição do processo de detecção acima nos permite identificar uma interdependência entre SNR, valor
do limiar de comparação e as probabilidades de detecção P D e de falso-alarme P FA . Porém, a avaliação do
desempenho de um sistema sonar (do seu alcance, por exemplo), requer que sejamos capazes de calcular o limiar de
detecção DT a partir de probabilidades preestabelecidas. A teoria da decisão é a ferramenta matemática a ser utilizada.

A modelagem matemática do processo de detecção envolve a determinação de probabilidades associadas


ao ruído e ao sinal de entrada. Um sinal aleatório, como o sinal na entrada de um receptor sonar, é caracterizado por

8-3 VERSÃO 1.0


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uma função densidade de probabilidade (fdp) ou distribuição que permite calcular qual a probabilidade do sinal
assumir certos valores. Esta função pode ser obtida experimentalmente levantando-se o histograma de uma amostra
temporal de sinal gravado. Pode também ser obtida através da análise do processo físico de geração do sinal aleatório.
As probabilidades são dadas por áreas (i.e., por integração) da fdp. Na Figura 8-3 são apresentados dois exemplos de
fdp p(x) de um sinal x(t). A probabilidade deste sinal ter um valor V 1 < x(t) ≤ V 2 é indicada na figura:

V2
P{V1 < x ≤ V2 } = ∫ p( x) dx ( 8-2 )
V1

Uma função p(x) para ser uma fdp deve ter as seguintes propriedades:

• p(x) ≥ 0 (não negativa, pois qualquer área, que representa uma probabilidade,
deve ser não negativa)

• ∫ p( x)dx = 1 (probabilidade de x(t) assumir um valor qualquer no intervalo (-∞,
−∞
∞) é igual a 1)

Como exemplo de fdp, vamos considerar a função

1 / (b − a ), a ≤ x ≤ b

p( x ) = 

 0, outros x

representada na Figura 8-3. Esta é uma fdp ou distribuição denominada uniforme, caracterizada por dois
parâmetros: os valores a e b do intervalo onde p(x) ≠ 0. A probabilidade o sinal x assumir qualquer valor no sub-
intervalo (V 1 , V 2 ] ∈(a, b) é dada por:

V2 V
1 2 V2 − V1
P{V1 < x ≤ V2 } = ∫ p( x )dx =
b − a V∫
dx =
b−a
V1 1

que só depende do valor da diferença (intervalo) V 2 -V 1 (e não dos valores de V 1 ou V 2 em particular).

Um outro exemplo de fdp é a distribuição gaussiana ou normal indicada na Figura 8-3 e dada por

1  ( x − µ ) 2 
p( x ) = N ( µ , σ ) = exp− 
σ 2π  2σ 2 

É caracterizada por dois parâmetros: o valor esperado µ e a variância σ2. Um sinal formado pela soma de um
grande número de outros sinais estatisticamente independentes tende a ter uma distribuição normal. Além desta
propriedade, a distribuição normal é amena a tratamento analítico.

De volta ao problema de detecção, os sinais x(t) , s(t) e n(t) são caracterizados por funções densidade de
probabilidade (fdp). A fdp de x(t) é condicionada às hipóteses:

8-4 VERSÃO 1.0


IPqM-013-0177-ET/97

p(x) p(x) = N(µ,σ)


P{V1 < x ≤ V2} P{V1 < x ≤ V2}
1/(b-a)

x x
a V1 V2 b µ V1 V2

(a) (b)

Figura 8-3 - Exemplos de funções densidade de probabilidade: (a) distribuição uniforme; (b) distribuição
normal

H0: x(t) = n(t) ⇒ p(x|H0) = p o (x) = p(n) (lê-se "p de x dado H0")

H1: x(t) = s(t) + n(t) ⇒ p(x|H1) = p 1 (x) = p(n+s) (lê-se "p de x dado H1"),

Na Figura 8-4 são mostradas as fdp do sinal total de entrada quando o sinal desejado está ausente (só
ruído) p o (x) e quando o sinal desejado está presente (ruído + sinal) p 1 (x). A Figura 8-4 supõe, por simplicidade, que o
operador observa o sinal de entrada x(t) diretamente. A mecânica de detecção é a aquela descrita anteriormente: o
operador observa a forma de onda x(t) no momento em que uma decisão deve ser tomada (t o ); se o valor do sinal
ultrapassa o limiar λ, o operador declara que o alvo está presente (que H1 é verdadeira); caso contrário, declara que o
alvo está ausente (que H0 é verdadeira). Resumidamente, temos:

• Observa-se o valor de x em um dado instante de tempo;


• Se x ≥ λ, s é declarado presente (ou H1 verdadeiro);
• Se x < λ, s é declarado ausente (ou H0 verdadeiro);

Este processo é simbolizado por:

H1 é verdadeira
(alvo presente)
H0 é verdadeira
(alvo ausente)

po(x) p1(x) po(x) p1(x)

PD

PFA

λ ≡ limiar de comparação x λ ≡ limiar de comparação x

operador declara H1 operador declara H1


(a) verdadeira (b) verdadeira

Figura 8-4 - Processo decisório e densidades de probabilidade

8-5 VERSÃO 1.0


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H1
x >
< λ
( 8-3 )
H0

que equivale ao (i.e., tem o mesmo resultado que o) teste estatístico

p1 ( x ) H1
> β ( 8-4 )
<
po ( x ) H0

A relação p 1 (x)/p o (x) é denominada razão de verossimilhança. O teste correspondente é o teste de


verossimilhança.

Conforme mencionado, dada a fdp de um sinal x(t), a probabilidade de seu valor em um dado instante estar
no intervalo (a,b] é igual à área sob a fdp compreendida naquele intervalo [Figura 8-3 e Equação ( 8-2 )]. Observa-se
na Figura 8-4 que ambas as curvas p o (x) e p 1 (x) ultrapassam o limiar λ, indicando que x(t) pode ultrapassá-lo esteja o
sinal presente (detecção) ou não (falso-alarme). No caso da Figura 8-4(a), o sinal desejado está ausente (H0 é
verdadeira) e a fdp é p o (x) (obviamente o operador não sabe disso). Se o operador observa que x(t) ultrapassa o limiar
λ, ele declara que o alvo (sinal desejado) está presente, incorrendo em um erro (falso-alarme). Qual a probabilidade
disto ocorrer? É a mesma de ocorrência de x(t) > λ: a área sombreada sob a curva p o (x):


= P{ x > λ | H0} = ∫ po ( x)dx
( 8-5 )
P FA
λ

No caso da Figura 8-4(b), o sinal desejado está presente (H1 é verdadeira) e a função correta é a p 1 (x) (operador
não sabe disso). Se o operador observa que x(t) ultrapassa o limiar λ, ele declara que o alvo (sinal desejado) está
presente, incorrendo em um acerto (detecção). Qual a probabilidade disto ocorrer? É a mesma de ocorrência de
x(t)>λ: a área sombreada sob a curva p 1 (x):


P D = P{x > λ | H1} = ∫ p1 ( x) dx
( 8-6 )

O operador não observa diretamente a forma de onda de entrada, mas sim a de saída do receptor, conforme
indicado na Figura 8-1. O sinal observado z(t) resulta do processamento, pelo receptor, do sinal x(t). A pdf de z(t)
[p o (z) ou p 1 (z)] é obtida pela transformação de p o (x) ou p 1 (x), conforme o caso. Essa transformação depende dos
circuitos (ou software, em uma implementação digital) do receptor, ou seja, do tipo de processamento de sinal. Ao
limiar λ referido à entrada, corresponderá um limiar γ para comparação com z(t) na saída, que também dependerá do
processamento realizado pelo receptor. Porém, se substituirmos p(x) por p(z) e λ por γ nas expressões de cálculo das
probabilidades P FA e P D obteremos os mesmos resultados. Com essas substituições, os testes estatísticos dados pela
Equações ( 8-3 ) e ( 8-4 ) mantêm-se válidos.

Vamos obter expressões de probabilidades e testes estatísticos para um caso específico. Suponhamos
que, na saída do receptor, o ruído v(t) é gaussiano com média zero e variância σ v 2 e o sinal y(t) tem valor constante
igual a µ, neste caso:

1  z 2 
po ( z ) = p(v ) = N(0, σ v ) = exp −  ( 8-7 )
σv 2π  2σ v2 

8-6 VERSÃO 1.0


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eA

1  ( z − µ ) 2 
p1 ( z ) = p( y + v ) = N( µ , σ v ) = exp − B ( 8-8 )
σv 2π  2σ v2 

Substituindo as expressões de p 1 (z) e p o (z) nas Equações ( 8-5 ) e ( 8-6 ) (com limiar γ), obtemos

∞  z 2   1 γ 
P FA = P{ z > γ | H0} =
1 1

( 8-9 )
exp − 2
dz = erfc  
σv 2π γ  2σ v  2  2 σv 


 ( z − µ ) 2 
P D = P{ z > γ | H1} =
1
σv ∫ − 2σ 2 dz
2π γ
exp
 v 
( 8-10 )
1  1  γ µ  1  1  γ 
= erfc   −   = erfc   − SNR( z )  
2  2  σv σv   2  2  σv 

onde erfc[x] é uma função especial denominada função erro complementar de argumento x. A razão µ/σ v pode
ser interpretada como a razão entre os valores eficazes de sinal e ruído presentes no sinal z(t) , que é igual à raiz
quadrada da relação sinal/ruído, conforme indicado na Equação ( 8-10 ). Observa-se que estas expressões
estabelecem uma relação entre probabilidades, valor de limiar e SNR(z) = (µ2/σ v 2), conforme desejado.

O teste de verossimilhança é obtido substituindo as expressões de p 1 (z) e p o (z) na Equação ( 8-4 ):

 ( z − µ ) 2 
exp − 
p1 ( z )  2σ v2  H1> β
= ( 8-11 )
p0 ( z )  z 2  H0 <
exp − 
 2σ v2 

Aplica-se logaritmo e arranja-se a expressão para obter:

H1
σ v2 µ
z >
( 8-12 )
< = ln χ + =γ
H0
µ 2

onde se verifica que o teste de verossimilhança equivale matematicamente ao teste de comparação de formas de
onda (comparação de z com o limiar γ) e ainda se estabelece uma relação entre os limiares correspondentes
(limiar β para comparação com a razão de verossimilhança e limiar γ para comparação com o sinal).

8.2.3 - Critério de Neyman-Pearson

O caso específico acima [Equações ( 8-7 ) a ( 8-12 )] nos dá uma indicação de como, dadas as
características estatísticas de ruído e sinal, pode-se obter expressões das probabilidades P FA e P D em função da SNR e
dos limiares de comparação.

Uma preocupação surgida quando se começou a utilizar radares e sonares para detecção de alvos foi a de
se como projetar receptores que fossem, segundo algum critério, ótimos. Os testes estatísticos, conforme
exemplificado nas Equações ( 8-4 ), ( 8-11 ) e ( 8-12 ) foram a resposta: a expressão do teste estatístico indicam que
operações devemos executar sobre o sinal (i.e., o processamento de sinal). O critério de detecção a ser adotado nos

8-7 VERSÃO 1.0


IPqM-013-0177-ET/97

permitirá determinar qual o valor do limiar a ser empregado na detecção para dados valores de probabilidades de
detecção e falso-alarme.

O critério de Neyman-Pearson (NP), adotado em sistemas de detecção, estabelece as condição para o


cálculo do limiar e pode ser assim descrito:

• fixa-se o valor da P FA ;

• determina-se o limiar γ que maximiza a P D .

No caso de ruído gaussiano e sinal constante, visto na Seção anterior, dada a P FA , a razão γ /σ v é obtida através
da Equação ( 8-9 ). Substituindo-se essa razão na Equação ( 8-10 ), a P D é obtida em função da SNR(z).
Fixando-se, então a P FA , estabelece-se uma relação entre a P D e a SNR. Para previsão de alcance sonar, fixa-se a
P FA e a P D desejadas e calcula-se a SNR requerida (que, quando transposta para a entrada do receptor, é, em dB,
o valor do parâmetro limiar de detecção DT).

Existem receptores projetados para P FA constante (CFAR - “constant false alarm rate”). Analisando a
Equação ( 8-9 ), verifica-se que a P FA será mantida constante se o limiar γ for diretamente proporcional a σ v , o
valor eficaz do ruído (i.e., γ /σ v = constante). Deste modo, se o nível de ruído aumenta, o limiar deve aumentar
na mesma proporção. Uma voltagem proporcional ao nível de ruído pode ser obtida usando-se um detector
seguido de um filtro passa baixa de grande constante de tempo (de modo que o eco, de duração curta, não
influencie essa voltagem), como encontrado em alguns circuitos de controle automático de ganho (CAG).

Exercícios de Fixação

1. Expresse, em termos do sinal de entrada do receptor, as duas hipóteses que o operador de um sistema
de detecção sonar deve escolher no processo de decisão binária.

2. Explique como variam as probabilidades de detecção e falso-alarme quando (a) o alvo se aproxima do
sonar e o limiar de detecção é mantido fixo; (b) o alvo mantém-se a uma distância fixa e o limiar de detecção é
variado.

3. Expresse, em termos das funções densidade de probabilidade do sinal de entrada do receptor, as duas
hipóteses que o operador de um sistema de detecção sonar deve escolher no processo de decisão binária.

4. Como é simbolizado o mecanismo de detecção em termos (a) do sinal de entrada x(t); (b) da razão de
verossimilhança?

5. Qual o critério de detecção de Neyman-Pearson?

6. Descreva o funcionamento do receptor CFAR.

8.3 - CÁLCULO DO LIMIAR DE DETECÇÃO - SINAL PERFEITAMENTE CONHECIDO

Vamos agora aplicar o teste de hipóteses, empregando o critério de Neyman-Pearson, para o caso de
detecção de um sinal perfeitamente conhecido em meio a ruído branco gaussiano de densidade espectral S( f ) =
N 0 V2/Hz, média zero e variância (valor eficaz ao quadrado) σ n 2. No caso mais simples, o operador observa
somente uma amostra do sinal x(t). Este é o caso analisado na Seção 8.2.2 [Equações ( 8-7 ) a ( 8-12 )], onde se
verificou que o teste de verossimilhança equivale a comparar o valor da amostra com um limiar (calculado de

8-8 VERSÃO 1.0


IPqM-013-0177-ET/97

acordo com o critério NP). Este caso se aplica a sonares ativos se supusermos que o eco tem forma de onda
conhecida †.

Um receptor mais elaborado permite que se usem múltiplas amostras do sinal x(t) para que se tome uma
decisão. Neste caso, pode-se deduzir que o teste de verossimilhança se reduz ao teste estatístico:

M H1
z( M ) = ∑ sm xm >< γ D ( 8-13 )
m=1 H0

onde M é o número de amostras; s m e x m são amostras dos sinais desejado (conhecido) e de entrada
(desejado+ruído) respectivamente e γ D é o limiar a ser obtido pelo critério de NP. O receptor que implementa
este teste estatístico [o que calcula z(M)], é um receptor ótimo denominado correlator de réplica. A Figura 8-5
mostra uma representação deste receptor para M = 4. Nas versões mais antigas, empregava-se uma linha de
retardo analógica, que depois passou a ser implementada digitalmente por meio de registradores de
deslocamento (“shift register”). Atualmente, um programa executado em um processador digital seria a
implementação a ser adotada.

x(t)
linha de retardo

x1 x2 x3 x4
s1 × s2 × s3 × s4 ×

γD
Decide:
+
H1, se z(4) > γD
z(M ), Compara ou
M=4 H0, se z(4) ≤ γD
Figura 8-5 - Correlator de réplica, versão discreta

No caso do receptor operar diretamente com o sinal contínuo, o teste estatístico correspondente é:
tp H1
z (t p) = ∫ s(t ) x(t )dt >< γ C ( 8-14 )
0 H0

onde t p é a duração do sinal. A Equação ( 8-14 ) é uma versão “analógica” da Equação ( 8-13 ). A Figura 8-6(a)
apresenta a versão contínua do correlator, baseada na Equação ( 8-14 ). Na Figura 8-6(b) é apresentado um


isto não ocorre de modo exato na prática pois o sinal transmitido sofre distorções ao se propagar e refletir em um
alvo, mas serve como primeira aproximação.

8-9 VERSÃO 1.0


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receptor matematicamente equivalente ao correlator de réplica: o filtro casado, cuja resposta ao impulso h(t) é
uma versão invertida no tempo e retardada do sinal desejado, dada por:

 s( t p − t ) , 0 ≤ t ≤ t p ( 8-15 )

h( t ) = 

 0, outros t

Deste modo, a saída do filtro, dada pela convolução


∞ t
z(t ) = ∫ x (τ )h(t - τ ) dτ = ∫ x (τ ) s(t p − t + τ ) dτ ( 8-16 )
-∞ t −t p

vale, em t = t p ,
tp
z (t p) = ∫ x(τ ) s(τ ) dτ ( 8-17 )
0

γC decide por
s(t)
tp H1
x(t) z(tp)
×
∫ compara ou
H0
0

(a)

γC decide por

h(t) compara H1
x(t) z(t)
(filtro casado) em ou
t = tp H0

(b)

Figura 8-6 - (a) Outra versão do correlator de réplica; (b) filtro casado

idêntica à integral da Equação ( 8-14 ), o que demonstra a equivalência entre o correlator de réplica e o filtro
casado. O correlator de réplica e o filtro casado são receptores ótimos para detecção de sinais perfeitamente
conhecidos em meio a ruído gaussiano branco.

8.3.1 - Índice de Detecção, PD e PFA

Índice de detecção é a relação sinal ruído medida no ponto onde é feita a comparação com o limiar, ou
seja, SNR(z) do sinal z(M) da Figura 8-5 ou z(t p ) da Figura 8-6. É definida por:

8-10 VERSÃO 1.0


IPqM-013-0177-ET/97

aumento na potência de z quando sinal está presente


d = SNR ( z ) =
potência de z quando sinal esta ausente

Sendo E a energia do sinal (eco) e N o a densidade espectral do ruído ‡, então pode-se demonstrar que

2E ( 8-18 )
d =
No

ou seja, a relação SNR(z) na saída do receptor de correlação ou filtro casado é igual à energia do sinal dividida
densidade espectral de ruído (teórica) N 0 /2.

Conforme visto na Seção 8.2.2 [Equações ( 8-7 ) a ( 8-12 )], a relação entre valor limiar γ, índice de
detecção d = SNR(y) e probabilidades P D e P FA se dá através de funções de erro complementar. Curvas podem ser
traçadas, por exemplo, de P D versus P FA , mantendo d constante e variando o limiar γ. Essas curvas, mostradas na
Figura 8-7, denominam-se ROC (Receiver Operating Characteristics) e são fundamentais para a determinação do DT.

Figura 8-7 - Curvas ROC (Receiver Operating Characteristic) [Ref. 1:383]

8.3.2 - Cálculo do DT

O DT é definido como a relação (potência de sinal)/(potência de ruído em banda de 1 Hz), medida na


entrada do receptor. Para um sinal de energia E e duração t p e ruído branco de potência N 0 em uma banda de 1 Hz, o
DT vale:


a densidade espectral de potência teórica é definida no intervalo -∞<f<∞. Neste caso, seu valor seria No/2. Na
prática, ao se medir espectro de sinais, a densidade medida é aquela que temos empregado, definida no intervalo
0<f<∞ com valor igual ao dobro da densidade teórica.

8-11 VERSÃO 1.0


IPqM-013-0177-ET/97

S E /tp
DT = 10 log = 10 log
N0 N0

A expressão final do DT é obtida através da Equação ( 8-18 ):

d ( 8-19 )
DT = 10 log
2t p

O DT acima aplica-se a receptores de correlação ou filtro casado com detecção limitada por ruído. Para o
seu cálculo, obtém-se o valor de d nas curvas ROC, a partir de valores de P D e P FA desejados. Só usaremos as curvas
ROC da Figura 8-7 para P D = 0,5 (50%). Usualmente, na falta de melhor informação, adota-se P FA =10-4 (10-2 %).
Para estes valores de probabilidade, as curvas ROC nos dão d = 15.

Exemplo 8-1 Um sonar ativo emprega um pulso modulado em freqüência de duração 100 ms. O
receptor é um correlator de réplica. (a) Qual o limiar de detecção para as probabilidades P D =0,5 e
P FA =0,0001 ? (b) Qual o alcance sonar para SL=220 dB re 1 µPa; (NL-DI)=30 dB re 1 µPa @ 1 Hz de
banda; largura de pulso t p =100 ms; TS=15 dB; f=10 KHz; modelo de perdas dado por TL=15 log R + αR;
α=0,5 dB/Km ? (c) Qual o DT e o alcance se o operador sonar selecionar a largura de pulso de 10 ms?

Com os valores de probabilidade acima (atenção: os eixos das curvas da Figura 8-7 estão marcados
em percentual), obtém-se, nas curvas ROC, o índice de detecção d=15.

(a) Substituindo este valor e tp=0,1 na Equação( 8-19 ), calcula-se DT=18,8 dB.

(b) A FOM=2 TL=SL+TS-(NL-DI)-DT=220+15-30-18,8=186,2 dB ⇒ TL=93,1 dB. Calculando o zero da


−3
equação TL = 93,1 = 15 log R + 0,5 × 10 R C por aproximações sucessivas obtém-se R=46,3 Km;

(c) Para tp=0,01 s, obtemos DT=28,8 dB; FOM=176,2 dB; TL=88,1 dB e R=38,6 Km.

Obs: maior tp ⇒ maior energia ⇒ maior alcance

Exercícios de Fixação

1. O que é um receptor ótimo?

2. Faça o diagrama em blocos do receptor ótimo, indicando o teste estatístico implementado e o nome do
receptor, para o caso de sinal perfeitamente conhecido em meio a ruído branco gaussiano: (a) implementação
digital; (b) implementação analógica.

3. Determine os valores de índice de detecção para sinais conhecidos em meio a ruído gaussiano para
probabilidade de detecção 0,5 e probabilidade de falso-alarme (a) 0,5; (b) 0,2; (c) 0,002; (d) 0,0001;

4. Qual a expressão do DT a ser empregada no caso de um sonar ativo operando com pulso FM e que
emprega um correlator de réplica?

8.4 - LIMIAR DE DETECÇÃO - SINAL DESCONHECIDO

Neste segundo caso, não se conhece o sinal a ser recebido. Para relações SNR baixas e grandes produtos
banda do sinal x tempo de observação, foi verificado que as mesmas curvas ROC do caso anterior são aplicáveis,
desde que o índice de detecção seja definido como

8-12 VERSÃO 1.0


IPqM-013-0177-ET/97

2
S
d = Bt p  ( 8-20 )
 N

onde B é a largura de banda do receptor em Hz, t p é a duração do sinal, S é a potência do sinal e N é a potência
de ruído, ambos medidos na banda B. No caso de ruído branco, substitui-se N=N 0 B na fórmula de d e obtém-se
o limiar de detecção, igual à relação S/N 0 em dB:

S S
DT = 10 log = 10 log =
N0 N/B
( 8-21 )
 d  Bd
= 10 log B = 5 log
 B t p  tp

Dados P D e P FA , obtém-se d nas curvas ROC e calcula-se o DT pela Equação ( 8-21 ).

O receptor ótimo consiste, no caso de ruído gaussiano, em um detector de lei quadrática (saída
proporcional ao quadrado do sinal de entrada) precedido de um filtro, conforme indicado na Figura 8-8. Este é um
sistema de detecção de energia (quadrado do sinal seguido de integração resulta em saída proporcional à energia do
sinal de entrada). O filtro de pós-detecção tem por objetivo suavizar flutuações decorrentes de ruído. Quando o tempo
T de integração deste filtro difere do tempo t p de duração do sinal, o DT aumenta:

Bd T ( 8-22 )
DT = 5 log + 5 log
tp tp

Caso outros tipos de dispositivos não lineares substituam o detector quadrático do receptor de energia, o
desempenho do sistema cai. Isto se reflete em um aumento do DT. Por exemplo, um retificador de onda completa
aumenta o DT em 0,3 dB; o de meia onda, em 3,1 dB, ambos referentes ao detector quadrático.

Filtro Filtro Compara


Detector
pré-detecção largura de pós-detecção com
banda tempo de integração limiar
quadrático
B T

x(t)
DT=(S/N)dB decisão
saída z(t)
d=
[(S+N)/N]

Figura 8-8 - Sistema básico de detecção de energia

Quando n sinais repetidos são usados para detecção, como no caso de se somar incoerentemente
(soma de potência) sucessivos ecos antes de se tomar a decisão de detecção, o DT diminui de 5lognD, desde que
n seja pequeno (cerca de 5 para um observador humano) e os ruídos somados aos sucessivos sinais sejam
estatisticamente independentes. Essa redução do DT deve ser observada também no caso de se empregar
correlator de réplica (ou filtro casado).

8-13 VERSÃO 1.0


IPqM-013-0177-ET/97

Exemplo 8-2 Um sonar ativo emite pulso CW e emprega detector de energia com filtro pré-detector
de banda 300 Hz. O integrador pós-detector tem tempo de integração igual à largura do eco. (a) e (b)
Considerando os mesmos dados do Exemplo 8-1, determine o DT e o alcance. (c) Qual o novo
alcance se o sonar integra o resultado de 5 pulsos adjacentes, no caso do item (a)?

O d é o mesmo do Exemplo 8-1 (por quê ?), 15.

(a) Para T = t p = 0,1 s, B=300 Hz e d=15, a Equação ( 8-22 ) nos dá DT=23,3 dB. A FOM=SL+TS-
(NL-DI)-DT=181,7 dB e TL=90,9 dB. Usando este valor de TL no modelo de perdas do Exemplo 8-1,
encontramos R=42,8 Km.

(b) Para T = t p = 0,01 s, encontramos: DT=28,3 dB; FOM=176,7 dB e TL=88,4 dB; R=39,0 Km.

(c) o novo DT será reduzido em 5 log n = 5 log 5 = 3,5 dB em relação ao do item (a), isto é DT = 19,8
dB, resultando em FOM = 185,2 dB, TL = 92,6 dB e R = 45,5 Km.

Exemplo 8-3 Um sonar passivo de banda estreita emprega detector de energia com banda de 0,5
Hz e integrador pós-detector de 100 s, aproximadamente igual à duração esperada do sinal em cada
feixe sonar. Um navio de superfície irradia um tom de 500 Hz com um nível de 125 dB re 1 µPa.
Nesta freqüência, o nível espectral de ruído referente à saída do feixe sonar é de 52 dB re 1 µPa. Foi
especificado P D =0,5 e P FA =0,0001. Qual o DT e o alcance se o modelo de propagação for: (a) TL=20
log R e (b) TL=15 log R + αR, onde α=0,02 dB/Km ?

(a) Da curva ROC temos d=15; com B=0,5 Hz e t p =100 s, calcula-se DT= -5,6 dB; a FOM=TL=SL-
(NL-DI)-DT=125-52+5,6=78,6 dB; usando o modelo TL=20 log R, calcula-se R=8510 m;

(b) Usando o modelo TL=15 log R + 0,00002 R, calcula-se R=120 Km.

Observe a grande influência do modelo de perdas na previsão de alcance.

Exercícios de Fixação

1. Desenhe o diagrama em blocos do receptor ótimo para o caso de sinal desconhecido em meio a ruído
gaussiano, indicando os parâmetros envolvidos no cálculo do DT.

2. (a) Qual a expressão do DT a ser empregada no caso de um sonar ativo operando com pulso FM e que
emprega um detector de energia? (b) E se o receptor empregar três ecos sucessivos adicionados coerentemente?

8.5 - CORREÇÕES AO DT

As curvas ROC convencionais aplicam-se somente a condições idealizadas: sinal constante e meio a ruído
gaussiano estacionário; grandes produtos banda x tempo e que exista somente um sinal a ser detectado de cada vez.
Caso isto não ocorra, correções devem ser introduzidas ao DT calculado conforme as Seções anteriores.

Observa-se, no mar, que os sinais que chegam a um receptor apresentam flutuações. Verifica-se,
também, que o efeito dessas flutuações é aumentar a P D quando o sinal é fraco e reduzi-la quando o sinal é forte,
mantida a P FA constante. Para P D =0,5 não se verifica alteração provocada por flutuações de sinal. Em termos de
sonares de busca, isto implica que a probabilidade de detecção diminua com o aumento da distância de forma
mais lenta que a prevista nas curvas ROC tradicionais.

Uma maneira de se calcular o DT para P D diferente de 0,5 envolve o emprego das curvas de transição,
mostradas na Figura 8-9 para P FA =0,0001. Essas curvas relacionam o excesso de sinal SE quando as equações sonar

8-14 VERSÃO 1.0


IPqM-013-0177-ET/97

são empregadas com o DT referente a P D =0,50 (daqui por


diante referido como DT 50 ). O parâmetro σ indicado na
Figura 8-9 é a variância, expressa em dB, da flutuação da
relação S/N. Dados experimentais são representados por
pequenos círculos. A curva correspondente a σ = 8 dB é a
mais coerente com aqueles dados e será adotada para
correções ao DT.

O procedimento para obtenção do limiar de


detecção é dado a seguir:

• calcula-se o DT 50 empregando as curvas ROC


tradicionais com P D = 0,5 e P FA = 10-4 (d=15);

Figura 8-9 - Curvas de transição log-normal • com o valor do P D desejado, entrar na curva de
para σ = 0, 6, 8 e 10 dB; P FA = 10-4. [Ref.1: 388]
transição correspondente a σ=8 dB e obter SE;

• calcular DT = DT 50 + SE E.

Exemplo 8-4 Determine o DT e o alcance para o


sonar passivo do Exemplo 8.3 para P FA =0,0001 e (a)
P D =0,1 e (b) P D =0,9. Use o modelo de perdas
correspondente a perda esférica sem absorção.

O DT calculado no Exemplo 8.3 é o próprio DT 50 ,


igual a -5,6 dB.

(a) Na curva de transição correspondente a σ =8 dB,


com P D =0,1 obtém-se SE= -10 dB; logo DT= -5,6-10
= -15,6 dB; usando o modelo TL=20 log R, calcula-se
R=26900 m.

(b) Para P D =0,9, a curva de transição nos dá SE=10


dB; logo, DT= -5,6+10=4,4 dB; o modelo de perdas
resulta em R=2690 m.
Figura 8-10 - Aumento do DT para produtos
banda-tempo (wt) menores que 100.[Ref. 1: Uma segunda correção é necessária em detectores
389]
de energia quando o produto Bt p for menor que 100. A Figura
8-10 (onde B é simbolizado por w) é usada para obter o valor que deve ser somado ao DT calculado para detectores
de energia.

Exemplo 8-5 Um sonar ativo possui três modos de operação. No modo 1, a emissão é CW, com
largura de 100 ms e o receptor é formado por um conjunto de 30 detectores de energia em paralelo
ocupando bandas adjacentes de 10 Hz cada (esta estrutura é empregada para estima do doppler do
alvo: cada detector corresponde a um dado desvio doppler). No modo 2, o pulso emitido é o mesmo,
porém o receptor é composto por um único detector de energia de banda 300 Hz. Em ambos os
modos, cada detector de energia é seguido por um filtro de tempo de integração igual à largura do
pulso. No terceiro modo de operação, a emissão é FM com pulso de 250 ms que varre uma banda de
100 Hz e o receptor é um correlator de réplica com capacidade para integrar cinco ecos em

8-15 VERSÃO 1.0


IPqM-013-0177-ET/97

seqüência. Determine o DT em cada modo de operação, considerando uma probabilidade de


falso-alarme de 0,0001 e de detecção 0,5 e 0, 9.

Para P D = 0,5 usaremos a curva ROC (d=15, correspondente a P FA = 0,0001). Para P D = 0,9, a curva
de transição nos fornece SE = 10 dB.

(a) Modo 1. t p = T = 0,1; B = 10; Bt p +1 = 2. Para P D = 0,5, P FA = 0,0001 obtém-se, na curva de


correção de banda, o aumento do DT para wt+1=2 (3,5 dB):

15 × 10 0,1
DT = 5 log + 5 log + 3,5 = 15,9 + 0 + 3,5 = 19,4 dB
0,1 0,1

Para P D = 0,9, SE = 10 dB e a correção banda-tempo é de 8 dB:

15 × 10 0,1
DT = 5 log + 5 log + 10 + 8 = 15,9 + 0 + 10 + 8 = 33,9 dB
0,1 0,1

(b) Modo 2. t p = T = 0,1; B = 300; Bt p +1 = 301 > 100, não há correção banda-tempo. Para P D = 0,5:

15 × 300 0,1
DT50 = 5 log + 5 log = 23,3 dB
0,1 0,1

Para P D = 0,9, SE = 10 dB:

15 × 300 0,1
DT = 5 log + 5 log + 10 = 23,3 + 10 = 33,3 dB
0,1 0,1

(c) Modo 3, t p = 0,25, correlator de réplica com integração de n = 5 ecos. Para P D = 0,5:

15
DT = 10 log − 5 log 5 = 14,8 − 3,5 = 11,3 dB
2 × 0,25

Para P D = 0,9, SE = 10 dB:

15
DT = 10 log − 5 log 5 + 10 = 21,3 dB
2 × 0,25

Exercícios de Fixação

1. Quais são as causas das correções introduzidas no DT nesta Seção?

2. Qual o procedimento e as equações correspondentes para cálculo do DT de um receptor que emprega


detector de energia, quando desejamos calcular o limiar para uma probabilidade de detecção de 0,9 e de
falso-alarme de 0,0001? O tempo de integração pós-detector é fixo em 50 ms.

8.6 DT PARA REVERBERAÇÃO, DTR

Todos os resultados acima aplicam-se a detecção limitada por ruído gaussiano branco. A reverberação não
tem estas características. Na falta de uma melhor aproximação, podemos supor que o limiar de detecção para

8-16 VERSÃO 1.0


IPqM-013-0177-ET/97

reverberação é o mesmo do caso de detecção limitada por ruído. É preciso, no entanto, adaptar a equação sonar ativo
para detecção limitada por reverberação

SL − 2TL + TS − RL = DTR

pois os termos RL e DT R referem-se à potência de reverberação e o DT usado até agora se refere a nível
espectral de ruído.

Como transformar potência em nível espectral? Já que estamos falando em aproximações, vamos supor
que a reverberação é uniformemente distribuída em uma banda B’. Neste caso, o “nível espectral” de reverberação é
dado por

RL − 10log B ′

e podemos escrever a equação sonar usando o DT espectral como

SL − 2TL + TS − RL + 10log B ′ = DT

Comparando esta equação com a anterior, podemos escrever:

Bd
DTR = DT − 10 log B ′ = 5 log ± (correções ao DT ) − 10 log B ′ ( 8-23 )
tp

onde as correções se referem ao produto banda-tempo, valores de P D diferentes de 0,5 e número de ecos
integrados (5log n), conforme o caso (uma equação similar pode ser obtida para o caso do correlator de réplica).

Resta agora estimar o valor de B’, a banda ocupada pela reverberação. Três fatores são considerados.
Primeiramente, como a reverberação decorre do próprio sinal transmitido, ela deverá ocupar uma banda igual à
largura de banda do pulso sonar. Um segundo fator é o movimento dos espalhadores que causam a reverberação, que
acarreta um desvio doppler, o qual resultará em uma distribuição, em freqüência, da energia de reverberação. O
movimento do próprio navio onde o sonar é instalado não deveria acarretar problemas, pois ele é compensado através
de circuitos denominados “own doppler nullifier” no receptor sonar. Porém, a forma com que é implementado não
permite um cancelamento perfeito, resultando em uma terceira causa de aumento da banda da reverberação. Ainda em
termos aproximados, esses três fatores podem ser quantificados como se segue:

B'= Btx + Bmar + Bodn ( 8-24 )

onde B tx é a banda do sinal transmitido:

1 / t , em CW
 p
Btx ≈  ( 8-25 )
 1 / t + ∆f , em FM
 p

e ∆f (Hz) é a banda de freqüência varrida pelo pulso FM; B mar é a banda adicional devido à presença de
espalhadores:

f (KHz)
Bmar (Hz) ≈ , supondo espalhadores a 0,5 nós ( 8-26 )
3

8-17 VERSÃO 1.0


IPqM-013-0177-ET/97

e B odn é a banda residual após a correção de doppler próprio:

  ∆ϕ 
 0,67 f v 1 − cos , no feixe de proa
  2 
Bodn ≈ ( 8-27 )
  ∆ϕ   ∆ϕ 
0,67 f v cos θ -  − cos θ +  , outras marcações
  2   2 

onde f é a freqüência da emissão em KHz, v é a velocidade do navio em nó, θ é a marcação e ∆ϕ é a largura


horizontal do feixe de recepção.

A Equação ( 8-23 ) indica que o DT R será menor que o DT para detecção limitada por ruído. Isto não quer
dizer que o alcance será maior. A combinação com os outros fatores da equação sonar, principalmente o RL é que
fornecerá o resultado correto em termos de alcance.

Vamos obter uma equação sonar com detecção limitada por reverberação que nos permita, ao menos, uma
estimativa grosseira do alcance. Consideremos as seguintes simplificações:

• só há reverberação de superfície e

• TL é o mesmo para eco e reverberação.

Neste caso, a expressão do RL é [vide Equação ( 5-23 )]:

 ct p  ( 8-28 )
RL = SL − 2TL + S s + 10 log Φ R
 2 

onde S S é o parâmetro “poder de espalhamento” em dB, função da freqüência, da rugosidade da superfície


(velocidade do vento) e do ângulo de incidência do raio sonoro na superfície; c (m/s) é a velocidade de
propagação do som, Φ (rad) é a largura de feixe equivalente (característica do arranjo de transdutores e
conformador de feixe, inclui efeito da diretividade de transmissão e recepção) e R (m) é a distância.

Substituindo a expressão de RL na equação sonar e simplificando-a, teremos:

ct p
TS − S s − 10 log Φ R = DTR ∴
2
( 8-29 )
ct p
10 log R = TS − S s − 10 log Φ − DTR
2
Se o alcance for limitado pela reverberação, o que pode o operador sonar fazer para aumentar o alcance?
Esta pergunta pode ser respondida pela análise das equações acima. Os únicos parâmetros que o operador tem a
disposição para variar, normalmente, são o nível da fonte, a largura do pulso e a banda do sinal (através da seleção
CW/FM). Como o SL é simplificado na equação final [Equação ( 8-29 )], mudá-lo não altera o problema. Reduzir a
largura de pulso altera três fatores: reduz o termo 10log(ct p Φ/2), aumenta o termo 5log(Bd/tp) do DTR e aumenta a
banda do sinal e B' - o resultado líquido é aumentar o alcance R. Aumentar a largura de banda pela seleção do modo
FM reduz o DTR, também aumentando o alcance R limitado por reverberação.

Exemplo 8-6 Um sonar opera a 6 KHz em condição de detecção limitada por reverberação. O
ângulo efetivo de feixe é de 16º, a largura de feixe horizontal (recepção) de 3 dB é de 10º, o poder de

8-18 VERSÃO 1.0


IPqM-013-0177-ET/97

espalhamento nas condições ambientais locais é de -45 dB. Quando operando em CW, o receptor é
um detector de energia com banda igual ao inverso da largura de pulso seguido de um integrador
com tempo de integração igual à largura de pulso. Quando operando em FM, o receptor é um
correlator de réplica e o pulso transmitido varre uma faixa de 100 Hz. Para PD = 0,5; PFA = 0,0001 e
TS = 15 dB, qual o alcance quando o sonar opera em (a) CW com pulso de 500 ms? (b) CW com
pulso de 100 ms? (c) FM com pulso de 500 ms? Considerar o feixe sonar a 000 e navio operando a
10 nós.

Dados: SS = -45 dB; Φ = 16º = 0,279 rad; ∆ϕ = 10º; B tp = 1 ⇒ correção banda-tempo = 3,5 dB
(aditivo, detector de energia); TS = 15 dB; d = 15 (curvas ROC); v = 10 nós.

(a) CW, T = tp = 0,5 s ⇒ B = 2 Hz; Btx = 1/tp = 2 Hz; Bmar = 6/3 = 2 Hz; Bodn = 0,67×10×6×
(1-cos(10º/2)) = 0,15 Hz ⇒ B’ = 4,15 Hz:

2 × 15 0,5
DTR = 5 log + 5 log + 3,5 − 10 log 4,15 = 8,89 + 0 + 3,5 − 6,18 = 6,2 dB
0,5 0,5

 1500 × 0,5 
10 log R = 15 − ( −45) − 10 log 0,279 − 6,2 = 33,6 ∴ R = 2290 m
 2 

(b) CW; T = tp = 0,1 s ⇒ B = 10 Hz; Btx = 1/tp = 10 Hz; Bmar = 6/3 = 2 Hz; Bodn = 0,67×10×6×(1-
cos(10º/2)) = 0,15 Hz ⇒ B’ = 12,15 Hz

2 × 15 0,5
DTR = 5 log + 5 log + 3,5 − 10 log 12,15 = 12,4 + 0 + 3,5 − 10,8 = 5,1 dB
0,1 0,5

 1500 × 0,1 
10 log R = 15 − ( −45) − 10 log 0,279 − 5,1 = 41,7 ∴ R = 14800 m
 2 

(c) FM, tp = 0,25 s, ∆f = 100 Hz ⇒ Btx = ∆f +1/tp = 104 Hz; Bmar = 6/3 = 2 Hz; Bodn = 0,67×10×6×(1-
cos(10º/2)) = 0,15 Hz ⇒ B’ = 106,15 Hz

15
DTR = 10 log − 10 log 104,15 = 14,8 − 20,2 = −5,4 dB
2 × 0,25

 1500 × 0,25 
10 log R = 15 − ( −45) − 10 log 0,279 − ( −5,4) = 48,2 ∴ R = 66300 m
 2 

O alcance, no caso do item (c), é muito elevado, indicando que, possivelmente, ele seria limitado (em
uma distância menor) por ruído. Embora os valores de alcance obtidos não sejam confiáveis (o
parâmetro ambiental SS foi ajustado para que o exemplo desse resultados “razoáveis”; não se incluiu
reverberação de volume; e a perda TL para o eco é, em geral, diferente para a perda da reverberação
TLR). As conclusões sobre a influência positiva de se reduzir a largura do pulso ou se operar em FM,
quando a reverberação é o fator limitador da detecção, são válidas.

Exercícios de Fixação

1. Descreva os fatores que influenciam na banda de freqüências de reverberação.

2. Se o DT espectral é dado em dB re 1 Hz, qual é a referência a ser adotada para o DTR?

8-19 VERSÃO 1.0


IPqM-013-0177-ET/97

3. Considere um sonar cujas características são: freqüência 6KHz; largura de pulso 50 ms, CW; largura de
feixe horizontal 10°. Quais os valores de banda devido a (a) pulso transmitido; (b) movimento de espalhadores
no mar; (c) resíduo do cancelador de doppler no feixe de proa.

4. Repita o Exercício 4 para transmissão FM de largura 50 ms e banda varrida de 50 Hz.

5. Use a expressão do DTR [Equação ( 8-23 )], considerando banda de reverberação é igual a 1/tp (o que é
próximo da realidade para pulsos CW relativamente estreitos) e verifique quanto varia o alcance se a largura de
pulso dobrar de valor sob condições de detecção limitada por reverberação de superfície. Resp.: R(2tp) =
0,35R(tp).

8.7 - A PROBABILIDADE DE FALSO-ALARME DURANTE A OPERAÇÃO DO SONAR

Para o cálculo do DT, o ponto de partida são os valores de PD e PFA. A determinação desses valores
decorre de uma análise de risco, cuja base é a teoria da decisão. Na prática, este é um problema extremamente
complexo, envolvendo fatores táticos, estratégicos e ambientais aplicáveis às condições de operação. Freqüentemente,
aquelas probabilidades são obtidas por experiência, desde que haja uma clara compreensão do emprego do sistema.
Além disso, quando um operador humano está envolvido no processo de decisão, o critério sob o qual o sistema
responde alvo ausente ou alvo presente não é, normalmente, muito bem definido e o DT é incerto [Ref. 1].

Ao se estimar a PFA, deve-se ter em mente que o valor das curvas ROC diz respeito à ocorrência de
falso-alarme durante o intervalo de tempo igual ao da duração do sinal tp. De interesse prático, por outro lado, é saber
a probabilidade de ocorrência de falso-alarme em grandes intervalos de tempo (minutos, horas).

Para um dado valor de PFA das curvas ROC, a probabilidade de ocorrerem exatamente m
falsos-alarmes em um intervalo de tempo ∆t é dada pela expressão

e- λ λ m
P F ′A = ( 8-30 )
m!

onde λ=PFA ∆t/tp.

Exemplo 8-7 Um sonar ativo opera com pulsos de 100 ms. O alcance sonar foi estimado com base
em uma probabilidade de falso-alarme de 0,0001. Durante uma hora de operação do sonar, quais
serão as probabilidades de (a) não ocorrer falsos-alarmes? (b) de ocorrer exatamente um
falso-alarme? (c) de ocorrer um ou mais falsos-alarmes?

Neste exemplo, tp = 0,1 s, ∆t = 3600 s, PFA = 0,0001.

(a) a probabilidade de ocorrência de zero falsos-alarmes (m = 0) é de:

3600
λ = 0,0001 = 3,6
0,1
e-3,6 (3,6)0
∴ P F ′A = = 0,0273
0!

(b) para m = 1,

e −3,6 (3,6)1
PF ′A = = 0,0984
1!

8-20 VERSÃO 1.0


IPqM-013-0177-ET/97

(c) “Ocorrer um ou mais falsos-alarmes” (m ≥ 1) é o evento complementar de “ocorrer exatamente


zero falsos-alarmes” (m = 0). Logo:

PF ′A = P{um ou mais falsos - alarmes} = 1- P{zero falsos - alarmes} = 1- 0,0273 = 0,973 F

ou seja. é quase certo que ocorrerão falsos-alarmes durante 1 hora de operação.

Os sonares modernos implementam receptores multicanal que operam como se fossem um conjunto de
receptores em paralelo. Este é o caso, por exemplo, quando o receptor tem um banco de filtros (implementado em
hardware ou por software) de freqüências centrais igualmente espaçadas e pequena largura de banda, que serve para,
simultaneamente, detectar e estimar o desvio doppler de alvos. A chance de ocorrer falso-alarme é maior, pois ele
pode acontecer em qualquer um dos canais. Uma expressão aproximada para a probabilidade de falso-alarme total,
válida para pequenas probabilidades é:

PFA, N = N PFA ( 8-31 )

onde PFA,N é a probabilidade de falso-alarme total desejada, N é a quantidade de canais de recepção e PFA é a
probabilidade de falso-alarme de cada canal, usada na curva ROC.

Exemplo 8-8 Um receptor sonar contém 10 canais de recepção para processamento de sinais CW,
cada um constituído por um detector de energia com banda de 5 Hz e freqüências centrais
igualmente espaçadas. O filtro pós-detector tem tempo de integração igual à largura de pulso de 250
ms. O sistema opera sob condição de detecção limitada por ruído. (a) Qual o DT para probabilidades
de detecção de 0,5 e de falso-alarme (total) de 10-4? (b) Qual a probabilidade de ocorrer um ou mais
falsos-alarmes durante um serviço de 2 horas?

Dados: B = 5 Hz; T = tp = 0,25 s; N = 10; Btp + 1 = 5 × 0,25 + 1 = 2,25; PFA,N = 10-4; ∆t = 7200 s.

(a) A probabilidade de falso-alarme a ser usada nas curvas ROC vale:

PFA, N 10−4
PFA = = = 10− 5
N 10

As curvas ROC fornecem (para PD = 0,5 e PFA = 10-5 ) d ≈ 20 e, para o produto banda-tempo dado,
as curvas de correção indicam um aumento de cerca de 3,6 dB:

20 × 5 0,25
DT = 5 log + 5 log + 3,6 = 16,6 dB
0,25 0,25

que é cerca de 0,6 dB maior do se trabalhássemos com um só canal (usando PFA = 10-4).

(b) a probabilidade de ocorrência de zero falsos-alarmes (considerando todos os canais) (m = 0) é de:

7200
λ = 0,0001 = 2,88
0,25
e-2 ,88 (2,88 )0
∴ P F ′A ( zero falsos - alarmes) = = 0,0561
0!

8-21 VERSÃO 1.0


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“Ocorrer um ou mais falsos-alarmes” (m ≥ 1) é o evento complementar de “ocorrer exatamente zero


falsos--alarmes” (m = 0). Logo:

PF ′A = P{um ou mais falsos - alarmes} = 1- P{zero falsos - alarmes} = 1- 0,0561 = 0,94 G

ou seja. é quase certo que ocorrerão falsos-alarmes durante o serviço. Se considerássemos somente
um dado canal (PFA = 10-5), este valor cairia para 0,25.

8.8 RESUMO

Sonar ativo com correlator de réplica, detecção limitada por ruído (n ≤ 5):

d
DT = 10 log − 5 log n + SE
2t p

Sonar ativo com detector de energia, detecção limitada por ruído (n ≤ 5):

Bd T
DT = 5 log + 5 log − 5 log n + SE + correção banda - tempo
tp tp

Sonar ativo, detecção limitada por reverberação

DTR = DT − 10log B ′

B ′ = Btx + Bmar + Bodn

estima do alcance contra reverberação de superfície:

 ct p 
10 log R = TS − S s − 10 log Φ  − DTR
 2 

Sonar passivo (detector de energia):

Bd T
DT = 5 log + 5 log + SE + correção banda - tempo
tp tp

Probabilidade de um ou mais falsos-alarmes em ∆t segundos de operação:

PF ′A (1 ou mais falso - alarmes) = 1 − e − λ

∆t
λ = PFA
tp

onde PFA é a probabilidade (pequena) de falso-alarme em tp segundos.

Probabilidade de falso-alarme em N canais independentes:

PFA, N = N PFA

8-22 VERSÃO 1.0


IPqM-013-0177-ET/97

onde PFA é o valor (pequeno) correspondente a um canal (usado nas curvas ROC).

PROBLEMAS

Enunciado Básico dos Problemas 8.1 a 8.9

As características de um sonar obtidas no manual ou medidas são indicadas na Tabela 8-1. Quando operando
em CW, o receptor é do tipo detector de energia. Em FM, emprega um correlator de réplica. Observe que o
maior valor de ROS para larguras de pulso 100 ms e 250 ms deve-se a um maior SL, uma característica
específica deste modelo (fictício) de sonar. O navio opera em uma região onde o modelo de perdas é TL = 30 +
10logR + 0,0005R, R em metro. Determine, para operação CW e FM nas condições estabelecidas em cada
problema, (a) o limiar de detecção; (b) a FOM para um alvo de poder de reflexão 15 dB; (c) o alcance
previsto, supondo detecção limitada por ruído, para PD = 0,5 e PFA = 0,0001.

Tabela 8-1 - Características do sonar ativo usado nos problemas


f, Banda de Tempo de Largura Faixa de freqüência ROS (banda estreita),
KHz, Recepção em integração pós- de pulso, varrida em FM, Hz dB
CW, Hz detector, ms ms
50 ms 25 160 @ 10 nós
150 @ 14 nós
5 KHz 500 Hz 100 ms 100 ms 50 175 @ 10 nós
250 ms 125 165 @ 14 nós

8.1 Navio a 10 nós, largura de pulso de 50 ms. Resp.: (a) DT: CW: 28,4 dB; FM: 21,8 dB; (b) FOM: CW:
146,6 dB; FM: 153,2 dB; (c) R: CW: 8,3 km; FM: 11,7 km.

8.2 Navio a 10 nós, largura de pulso de 100 ms. Resp.: (a) DT: CW: 25,4 dB; FM: 18,8 dB; (b) FOM: CW:
164,6 dB; FM: 171,2 dB; (c) R: CW: 19,0 km; FM: 23,7 km.

8.3 Navio a 14 nós, largura de pulso de 100 ms. Resp.: (a) DT: CW: 25,4 dB; FM: 18,8 dB; (b) FOM: CW:
154,6 dB; FM: 161,2 dB; (c) R: CW: 12,6 km; FM: 16,7 km.

8.4 Navio a 14 nós, largura de pulso de 250 ms. Resp.: (a) DT: CW: 24,4 dB; FM: 14,8 dB; (b) FOM: CW:
155,6 dB; FM: 165,2 dB; (c) R: CW: 13,2 km; FM: 19,4 km.

8.5 Resolva o Problema 8.2, considerando que o sonar da Tabela 8-1 integra 5 ecos de forma incoerente.
Resp.: (a) DT: CW: 21,9 dB; FM: 15,3 dB; (b) FOM: CW: 168,1 dB; FM: 174,7 dB; (c) R: CW: 21,4 km; FM:
26,3 km.

8.6 Resolva o Problema 8.3 para PD = 0.9, PFA = 0,0001. Resp.: (a) DT: CW: 35,9 dB; FM: 28,8 dB; (b) FOM:
CW: 144,1 dB; FM: 151,2 dB; (c) R: CW: 7,0 km; FM: 10,6 km.

8.7 Este sonar, quando operando no modo passivo, usa um detector de energia com banda de 500 Hz centrada
em 5 KHz e tempo de integração de 1s. Um outro navio da mesma classe e empregando sonar idêntico está
realizando exercícios anti-submarino em área próxima, com o sonar emitindo pulsos de largura 250 ms (o
manual do sonar indica que o nível da fonte, neste caso, é de 230 dB re 1 µPa @ 1m). A que distância o
operador terá probabilidade de detectar da emissão sonar do outro navio igual a 0,5, sob probabilidade de
falso-alarme de 0,0001. Considerar que o modelo de propagação do enunciado é válido, que o nível de ruído
próprio incluído no ROS é o mesmo para operação no modo passivo e que a plataforma (do receptor sonar no
modo passivo) opera a 10 nós? Resp.: 117 km.

8-23 VERSÃO 1.0


IPqM-013-0177-ET/97

8.8 Qual os alcances do Problema 8.1 (item c) quando o navio opera em uma região onde a profundidade de
camada é de 30m, com estado do mar 2 e temperatura na superfície
Tabela 8-3 - Características de 18 °C? Resp.: CW: 5,5 Km; FM: 7,5 Km.
adicionais do sonar ativo usado nos
problemas 8.9 e 8.10
8.9 Determine o Tabela 8-2 - Resposta do Problema 8.9
Largura do feixe Quantidade limiar de detecção de tp, ms modo 10logB' DTR, dB
6dB, graus de feixes
reverberação (PD = 0,5 50 CW 13,4 15,0
horizontal vertical e PFA = 0,0001) para o
FM 16,7 5,1
8 15 45 sonar da Tabela 8-1
em todas as condições 100 CW 10,7 14,7
de operação definidas. Dados adicionais são indicados na Tabela FM 17,9 0,9
8-3. Resp. A Tabela 8-2 apresenta a resposta. Foi considerado a 250 CW 7,6 16,8
banda devido ao erro de ODN no feixe da marcação 000 (proa).
FM 21,2 -6,4

8.10 Determine o alcance limitado por reverberação da superfície


do mar para as condições do Problema 8.9, considerando um poder de espalhamento da superfície de -50 dB e,
por comparação com os resultados dos problemas anteriores, verifique se a detecção será limitada por
reverberação ou ruído. Resp.: vide Tabela 8-4.

8.11 Qual a probabilidade de não ocorrer falso-alarme algum durante um período de operação de 2 horas para
as condições do Problema 8.1? Resp.: PF 'A = 0.557×10-9 (é certo que ocorrerão falsos-alarmes no período).

8.12 O sonar da Tabela 8-1 possui um receptor para emissão CW constituído de 40 canais de banda 20 Hz para
discriminação de doppler. Quando o operador emprega este sonar, (a) a que PFA total correspondem os alcances
calculados nos problemas anteriores e (b) qual a probabilidade de não ocorrerem falso alarmes durante um
Tabela 8-4 - Resposta do Problema 8.10 período de operação de 2 horas nas
tp, ms modo R, km alcance diferentes larguras de pulso? Resp.: (a)
PFA,N = 0,004; (b) é aproximadamente
50 CW 19,0 @ 10 nós: 8,3 Km por ruído
(Problema 8.1) nula (maior é de 9×10-51 para pulsos de
250 ms).
FM 186 @ 10 nós: 11,7 km por ruído
(Problema 8.1)
100 CW 10,2 @ 10 nós: 10,2 km por
BIBLIOGRAFIA reverberação (Problema 8.2)
@ 14 nós: 10,2 km por
[1]. Urick, Robert J. Principles of underwater
reverberação sound.8.3)
(Problema 3.ed. New York, McGraw-Hill. 1983.

FM 245 @ 10 nós: 23,7 km por ruído


(Problema 8.2)
@ 14 nós: 16,7 km por ruído
(Problema 8.3)
250 CW 2,52 @ 14 nós: 2,52 km por
reverberação (Problema 8.4)
FM 527 @ 14 nós: 19,4 km por ruído
(Problema 8.4)

8-24 VERSÃO 1.0


IPqM-013-0177-ET/97

CAPÍTULO 9 - TÓPICOS SOBRE SISTEMAS SONAR

9.1 - SISTEMAS ATIVOS

A Figura 9-1 mostra o diagrama de blocos de um sistema sonar ativo. O gerador de sinais gera a forma de
onda a ser transmitida, um pulso senoidal modulado. O conformador de feixes inverso forma os sinais que
alimentarão o transdutor de forma a produzir transmissão direcional. A chave TX/RX (ou TR) comuta o transdutor
entre os circuitos de transmissão (amplificador de potência, incluído no bloco do conformador inverso) e os de
recepção.

Arranjo transdutor chave TX / RX Conformador de Gerador de sinal


TX/RX feixes inverso

feixes:
controle de faixa soma
condicionador de dinâmica: Conversor A/D Conformador de
sinal (analógico) feixes digital
CAG, GVT, não
linearidade half
feixes:
soma half
Display (IHM):
Processador: • distância / doppler
Mixagem e deteção; estima de • marcação / distância
filtragem digitais marcação, distância • acompanhamento de marcação
e velocidade;
• acompanhamento de distância
classificação
• classificação

Interação do operador (IHM):


• seleciona modos de
processamento / display
• designa acompanhamento
• verifica detecção e classificação

Figura 9-1 - Sonar ativo genérico [Ref.: 1:1454]

O sinal recebido em cada elemento transdutor [agrupados ou não em pilhas (staves), dependendo da
implementação] é condicionado (i.e., amplificado e filtrado) e sofre a ação dos circuitos de controle da faixa
dinâmica, cujo propósito é manter uma amplitude constante de sinal na entrada do conversor A/D. O CAG (controle
automático de ganho) ajusta o ganho de amplificadores nos estágios iniciais de recepção, em função do nível de
ruído. O GVT (ganho variável com o tempo) ajusta o ganho daqueles circuitos em função do tempo, procurando
compensar a redução do nível do eco decorrente da perda na propagação. Uma outra técnica para controlar a faixa
dinâmica dos sinais consiste em introduzir um amplificador logarítmico, que atua como compressor e provê ganho
elevado para sinais de pequena amplitude e menores ganhos para sinais de grande amplitude. A partir da saída do
conversor A/D, todo o processamento é digital.

Os sinais dos diferentes componentes do transdutor, agora representados por suas amostras discretas, são
combinados no conformador de feixes, de modo que a saída daquele bloco é um conjunto de sinais direcionais. Cada
feixe ou canal direcional contém três sinais: um sinal soma (feixe-soma) e dois half-beams, empregados na função

9-1 VERSÃO 1.0


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acompanhamento, para possibilitar maior acuidade na estima da direção de chegada de ecos (vide Seção 9.2.2). A
mixagem ou deslocamento de banda é empregada para reduzir a complexidade dos circuitos e programas de
processamento. No nosso exemplo ela é realizada no domínio digital, após a formação de feixes, embora existam
alternativas. Por exemplo, o sinal recebido em um sonar que opere com freqüência portadora de 5 KHz deve ser
digitalizado a mais de 10 KHz [vide critério de Nyquist, Equação ( 6-14 )]. No entanto, as informações de interesse
estão localizadas nas suas bandas laterais, que ocupam uma faixa de freqüências bem menor que a portadora. Se o
sinal for convenientemente demodulado (deslocamento da freqüência da portadora para zero), o sinal resultante será
de baixa freqüência e poucas amostras por segundo (uma fração da taxa de amostragem originalmente necessária)
serão necessárias para representá-lo em forma digital, havendo uma redução significativa na quantidade de amostras a
serem processadas por unidade de tempo. Se esta demodulação for realizada antes do conversor A/D, no domínio
analógico, conversores A/D mais lentos e baratos podem ser empregados. Após a filtragem digital, os sinais são
tratados como dados a serem processados para obtenção de informação.

Primeiramente, os ecos devem ser detectados, conforme discutido no Capítulo 8. Posteriormente, as


funções tipicamente implementadas são o acompanhamento (de marcação e distância em um primeiro momento,
seguido das estimas de rumo e velocidade a cargo de um processador externo ─ sistema de direção de tiro, por
exemplo ─ ou do próprio sonar) e a classificação. Esta última visa identificar o tipo do alvo detectado e consiste,
basicamente, na análise de doppler e de detalhes da forma de onda do eco. A classificação e o acompanhamento são
funções interligadas, na medida em que tipos de alvo podem ser caracterizados pela sua dinâmica.

Finalmente, os dados processados são apresentados a um operador, que controla os diversos modos de
operação e apresentação do sistema. Basicamente, o sonar apresenta ao operador os resultados das análises realizadas.
A função de processamento do display é crítica, na medida em que os sistemas modernos tendem a prover um
número crescente de dados aos operadores, o que aumenta a probabilidade de erros. O propósito básico da função de
processamento de display é apresentar os resultados de forma a simplificar a operação do sistema, reduzindo a
demanda por operadores muito habilidosos. Em geral, o operador também dispõe de canais de áudio para escuta de
ecos.

Um dos principais problemas para o projetista e o operador de sistemas ativos é o da seleção da forma-de-
onda do pulso transmitido. O restante desta Seção é dedicado a este problema.

9.1.1 - Sinais, Envoltória Complexa e Detector de Quadratura

Sinais empregados em sonares ativos. A seleção da forma-de-onda a ser transmitida em sonares


ativos afeta o desempenho do sistema em termos do alcance, resolução em distância (erro na estima de distância
e capacidade de discriminar alvos próximos), resolução (erro) na estima de doppler e sensibilidade à
reverberação. Sinais empregados em sonares ativos são indicados na Figura 9-2. Os sinais CW e FM serão
discutidos em maior detalhe. O pulso PRN consiste em pulso modulado em fase, onde a seqüência de mudanças de
fase é pseudo-aleatória. É empregado para detecção a grandes distâncias. Dependendo do projeto da seqüência de
mudanças de fase, este sinal pode apresentar boas características de resolução de distância e doppler. O pulso
codificado em freqüência consiste na soma de pulsos CW em diferentes freqüências e é empregado em sistemas de
comunicação. Na Figura 9-3 apresenta-se, para comparação das bandas de freqüência ocupadas, os espectros desses
sinais. Conforme veremos ao longo deste Capítulo, a largura de pulso e a banda ocupada pelo sinal transmitido são
parâmetros fundamentais para o bom desempenho do sonar.

Sinal transmitido e eco de um alvo pontual lento. O sinal ou pulso CW transmitido pode ser representado
da forma:

9-2 VERSÃO 1.0


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CW 3,3 ms FM (LFM-up)

0 0

codificada em fase (PRN) codificado em freqüência


(soma de diferentes freqüências)

0 0

0° 180° 0° 180°
Figura 9-2 Formas de onda [Ref.: 2].

0 0

FM
CW
dB dB

-10 -10
f f
100 Hz
0 0
pulso
codificado
dB PRN em
dB freqüência

-10 f -10 f
Figura 9-3 - Espectro dos sinais indicados na Figura 9-2.

s(t) = f (t) cos(ωc t) ( 9-1 )

onde f(t) representa o sinal modulador (envoltória) limitado a uma banda B tx = 2πW e ω c =2πf c é a freqüência da
portadora. Para um alvo pontual localizado a uma distância R, o eco recebido é, idealmente, da forma:

e(t) = af(t - 2R/c) cos[ω c (t - 2R/c)] ( 9-2 )

onde a é um fator de atenuação, c é a velocidade de propagação do som e 2R/c é o retardo decorrente do tempo
de propagação de ida e volta ao alvo. Caso o alvo esteja se aproximando do sonar com velocidade radial v, a
distância será R = R o - vt e a Equação ( 9-2 ) torna-se

e(t) = a f(t - τ + 2vt/c) cos[(ω c + ω D )t - ω c τ] ( 9-3 )

9-3 VERSÃO 1.0


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onde τ = 2Ro / c Aé o retardo entre a transmissão e a recepção e ωD = 2 πfD = (2v / c)ωc B é o desvio doppler.
Deste modo, estimando-se τ e ωD do eco obtém-se a distância (Ro = τ c/2) e a velocidade radial do alvo * [v = ωD
c/(2ωc)]. Observa-se que o eco é uma réplica distorcida do sinal transmitido deslocado no tempo (fator τ), com
um desvio de freqüência (fator ωD) e de duração ligeiramente diferente †. Em todas as considerações nas Seções a
seguir, é empregada a aproximação alvo lento, que corresponde a alvos com velocidade v pequenas em
comparação à velocidade do som c. Neste caso, a Equação ( 9-3 ) é simplificada para

e(t) = a f(t - τ) cos[(ωc + ωD)t - ωcτ] ( 9-4 )

e o efeito de compressão da forma de onda no tempo, decorrente do fator (2v/c), desaparece.

Envoltória complexa. Um sinal de banda estreita é aquele que ocupa uma banda de freqüências pequena
em comparação com o valor da freqüência central ωc. Os sinais modulados, típicos de sonares ativos, são um exemplo
deste tipo de sinal. Um sinal de banda estreita s(t) pode ser escrito da forma

s(t) = Re{ ~
s (t)ejωct } ( 9-5 )

onde Re{} representa a parte real de um complexo e ~


s ( t ) C é a envoltória complexa de s(t), cuja parte real é
denominada componente em fase sF(t) e a parte imaginária, componente em quadratura sQ(t). Na forma
s ( t ) D é representado através de funções magnitude a(t) e fase θ(t):
exponencial ou polar, ~

s (t ) = s F (t ) + j sQ (t ) = a (t ) e jθ ( t )
~ ( 9-6 )

A envoltória complexa é obtida a partir do sinal através de uma operação de demodulação, em um circuito
detector de quadratura, conforme mostrado na Figura 9-4. A envoltória complexa é, assim, um sinal de banda
base (freqüência baixa) que modula a "portadora" de freqüência ωc = 2πfc.

2cos(ωct)

× filtro eF(t)
passa-baixa
e (t)
filtro
× passa-baixa eQ(t)

-2sen(ωct)
Figura 9-4 - Detector de quadratura "calcula" os componentes em fase e quadratura da envoltória
complexa (sinal demodulado)

*
o doppler decorrente do movimento do navio onde está instalado o sonar é compensado internamente através
do circuito ODN (Own Doppler Nullifier). Para um eco proveniente da marcação θ, o desvio doppler próprio em
Hz é dado por: 0,69 vpróprio (nó) fc (KHz) cos θ.Erro! Apenas o documento principal.

o fator 2v/c indica uma compressão da forma-de-onda quando v > 0 (alvo aproximando-se), ou enlongamento,
se v < 0 (alvo afastando-se do sonar); este efeito decorre da velocidade do alvo e não de seu comprimento
aparente [vide Exemplo 5.7], o qual é nulo para o alvo pontual.

9-4 VERSÃO 1.0


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Exemplos de envoltórias complexas. Um sinal AM genérico, conforme o representado na Equação ( 9-1


), pode ser escrito como

s AM (t ) = f (t ) cos(ω c t ) = Re{ f (t ) e jω ct} ( 9-7 )


∴ ~
s AM (t ) = f (t ), s F (t ) = f (t ) , sQ (t ) = 0

onde se verifica que envoltória complexa é o próprio sinal modulador f(t).

Um sinal modulado em ângulo (FM ou PM) pode ser representado da forma

jθ ( t ) jω ct
s FM (t ) = cos[ω c t + θ (t )] = Re{e j[ω ct+θ ( t )]} = Re{e e } ( 9-8 )

e a envoltória complexa é:

s (t ) = e jθ ( t ) , s F (t ) = cos[θ (t )], sQ (t ) = sen[θ (t )]


~ ( 9-9 )

onde se verifica que a fase da envoltória complexa é o sinal modulador θ(t).

O eco de um alvo pontual lento, dado pela Equação ( 9-4 ), tem envoltória complexa

e~ (t ) = f (t - τ ) e j (ω Dt-ω cτ )
( 9-10 )

Nos exemplos acima, verifica-se que a envoltória complexa contém todas as informações de interesse de
um sinal modulado, ou seja, o sinal modulador. A envoltória complexa é uma extensão do conceito de envoltória [que
historicamente só se refere às flutuações de amplitude, representada pela magnitude a(t) da envoltória complexa] que
contempla também a componente moduladora em ângulo (fase). O detector de quadratura da Figura 9-4 executa,
assim, as funções de detector de envoltória e de ângulo simultaneamente. No exemplo do eco, verifica-se que as
informações de retardo (distância), doppler (velocidade radial) e forma de onda transmitida estão contidas na
envoltória complexa. Deste modo, por exemplo, a operação de correlação de réplica pode ser realizada empregando-
se as envoltórias complexas do sinal transmitido e do eco, ao invés dos sinais diretamente. A Figura 9-5 mostra um
correlator de réplica que emprega envoltória complexa.

A grande vantagem de se empregar envoltória complexa é que sua representação digital requer uma menor
quantidade de amostras por unidade de tempo (menor taxa de amostragem), uma vez que se trata de um sinal de
banda-base (sem portadora). A operação de detecção de quadratura pode ser realizada com sinais analógicos ou
digitais. A conversão A/D de envoltórias é feita com menores freqüências de amostragem, requerendo circuitos A/D
mais simples e baratos quando a detecção de quadratura é realizada antes da conversão A/D. Quando a detecção é
feita no domínio digital, após a conversão A/D (através de programa executado em um microprocessador, por
exemplo), ela é seguida de um processo de decimação, que consiste em eliminar amostras redundantes (reduzindo a
taxa de amostragem). Uma menor quantidade de amostras digitais a serem processadas por unidade de tempo oferece
a vantagem de requerer processadores mais lentos ou, como ocorre hoje em dia, possibilitar a implementação de
programas de processamento de sinais cada vez mais sofisticados.

9.1.2 - Função Ambigüidade - Estima de Distância e Doppler

A escolha da forma de onda (ou envoltória complexa) do sinal transmitido é feita levando-se em conta as
funções básicas do sistema sonar ativo: detecção e estima de distância e velocidade.

9-5 VERSÃO 1.0


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~
s * ( t - τ ) e - jω D t


~
~ y  2
e (t) d e te c to r d e
q u a d ra tu ra
e (t)
× tp
2
d e c id e
H 0 ou H 1

Figura 9-5 - Correlator de réplica implementado a nível de envoltória complexa seguido de detector
quadrático.

Vimos, no Capítulo 8, que o detector ideal para um sinal perfeitamente conhecido é o correlator de réplica.
Porém, um modelo mais realista do eco deve considerar que tanto a sua amplitude quanto a fase são aleatórias, seja
devido à posição e velocidade desconhecidas do alvo, seja por influência das flutuações do meio de propagação. A
propagação é usualmente representada por um fator de atenuação complexo ~bE, cuja magnitude segue uma
distribuição (fdp) de Rayleigh ‡ e cuja fase tem distribuição uniforme no intervalo (0, 2π). A envoltória complexa do
eco de um alvo pontual lento é então melhor representada por:

~
e~ (t ) = b f (t - τ ) e j (ω Dt-ω cτ ) ( 9-11 )

Neste caso, o receptor ideal é um correlator de réplica (ou filtro casado) seguido de um detector quadrático,
conforme mostrado na Figura 9-5. A réplica empregada no correlator já inclui os efeitos de retardo e doppler.
Diversos correlatores, cada um com uma réplica de diferente retardo e doppler, devem então ser empregados, de
modo a cobrir toda a faixa de distâncias e doppler de interesse. Ao se detectar um alvo verifica-se qual correlator
resultou em um nível de saída ~y2 elevado: a distância e o doppler do alvo são considerados como sendo iguais
à da réplica correspondente.

Idealmente, o receptor deveria ter uma saída alta somente quando o retardo τ (distância) e o doppler ωD do
eco fossem iguais aos da réplica empregada no correlator. Tal, porém, não ocorre. Para verificar o comportamento do
receptor em função de (τ, ω ) ou (τ, f ), calcula-se o valor de saída do detector ~y2F resultante do eco de um alvo
D D

fictício cuja distância e velocidade radial (τ e fD) são variáveis, considerando a condição idealizada de ausência de
ruído. A superfície resultante [~y2 em função de (τ, fD)] é denominada função de ambigüidade.

Na Figura 9-6 é mostrada a função de ambigüidade correspondente a um receptor projetado para receber
um pulso CW de duração 0,2 s. É indicada também uma curva de nível dessa função, correspondente a um limiar de
comparação γ na saída do receptor. Para simplificar, vamos considerar que o receptor foi projetado para doppler zero
e distância R1 correspondente a um retardo τ1: as coordenadas da curva de nível correspondem ao doppler do alvo (fD)
e ao erro entre o retardo (distância) da réplica e o retardo (distância) real do alvo fictício, (τ - τ1). A faixa sombreada
horizontal representa reverberação, cujo doppler é baixo. Um sinal é considerado detectado quando a voltagem de
saída ~y2 estiver acima do nível γ (no caso do alvo fictício, quando sua distância e seu desvio doppler são
representados por pontos dentro da curva de nível apresentada). Para cobrir diferentes valores de distância e doppler,
outras réplicas devem ser empregadas, conforme indicado na Figura 9-7 [vide discussão logo após a Equação ( 9-
11 )].


a distribuição de Rayleigh é caracterizada por um único parâmetro α > 0 e é dada por:
p(x) = (1/α2) x exp[-(x/α)2/2], x > 0

9-6 VERSÃO 1.0


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2
~ 2
y
0
5 1
0 0
-5 -1
4

0
fD, Hz
-4
-1 -0.5 0 0.5 1
τ - τ1, s
Figura 9-6 - Função ambigüidade para um pulso CW de 0,2 s de duração e "curva de nível"
correspondente ao limiar de comparação na saída do receptor. A faixa sombreada corresponde à
influência da reverberação quando se trata do canal de recepção para doppler zero.

fD, Hz

fD1>0

fD2<0

τ1 τ2 τ3 τ4 τ5 τ6 τ, s
Figura 9-7 - Um receptor sonar será composto por vários correlatores com réplicas que cubram as faixas
de distância e doppler de interesse. As curvas acima representam as curvas de nível correspondentes a 18
réplicas do pulso CW de duração 0,2 s (para 3 valores de doppler e 6 distâncias).

A curva de nível da função de ambigüidade encerra uma área finita. Qualquer eco com doppler e retardo
correspondentes àquela área e de nível suficiente para ser detectado ("eco presente") será considerado como tendo
doppler nulo e de estar na distância R1: podemos, portanto, ter um erro nessas estimas de doppler e distância. O erro
em distância é proporcional à largura da curva de nível e o erro em doppler é proporcional à sua altura. Compare a
Figura 9-6 com a Figura 9-8, que mostra a função de ambigüidade de um pulso CW de duração 1,0 s. Com o
aumento da largura de pulso (para proporcionar maiores alcances, por exemplo), o erro em doppler diminuiu à custa
de um aumento do erro em distância. Isto é característico de sinais CW: o erro em distância é diretamente
proporcional e o erro em doppler é inversamente proporcional à largura de pulso tp. Para generalizarmos, o erro
em distância é inversamente proporcional à largura de banda do sinal (Btx ≈ 1/tp para pulsos CW). Se quisermos
empregar um pulso de maior duração (maior energia e menor banda) a fim de obter um maior alcance, o erro em
distância aumenta e o erro em doppler diminui. A resolução em distância, a capacidade de discriminar dois alvos
próximos na mesma marcação, é função do erro em distância e pode ser aproximadamente calculada como:

δR = c/2Btx ( 9-12 )

onde c é a velocidade de propagação do som e Btx é a banda (de 3 dB) ocupada pelo sinal transmitido.

Para se obter maiores alcances sem comprometimento da resolução em distância, é necessário gerar um
sinal que tenha, simultaneamente, duração e banda elevadas. Esse é o caso do pulso FM linear (LFM, chirp FM ou
FM slide), dado por

9-7 VERSÃO 1.0


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2
~ 2
y
0
5 1
0 0
-5 -1
4
fD, Hz
0

-4
-1 -0.5 0 0.5 1
τ - τ1, s
Figura 9-8 - Função ambigüidade: pulso CW de 1 s de duração.

s FM (t ) = A cos(2π f c t + πmt 2) , 0 ≤ t ≤ t p ( 9-13 )

A freqüência instantânea, dada pela derivada da fase, é fi(t) = fc + mtG e varia linearmente com o tempo §.
A banda de freqüência varrida é ∆f = m tp e a banda ocupada é cerca de Btx ≈ (1/tp + ∆f ). A função ambigüidade
de um pulso LFM de duração tp = 1 s e m = 7 é apresentada na Figura 9-9. Uma característica deste sinal é que sua
função ambigüidade tem largura ∆τ ≈ (1/∆f) = 1/(m tp), para fD = 0. Ou seja, quanto maior a duração do pulso (para m
constante), menor o erro (ou melhor a resolução) em distância [a Equação ( 9-12 ) pode ser empregada somente
quando o valor do doppler for conhecido (medido por outros meios), uma característica dos pulsos FM]. Nas três
figuras de função de ambigüidade, a curva de nível mostrada corresponde ao mesmo valor de limiar γ.

2
~ 2
y
0
5 1
0 0
-5 -1
4

0
fD, Hz
-4
-1 -0.5 0 0.5 1
τ - τ1, s
Figura 9-9 - Função ambigüidade: pulso FM de largura 1 s e índice de modulação 7 (i.e., f = fc + 7t;
m =7 > 0 ⇒ "FM-Up").

Um exemplo dos sinais usados para calcular a função de ambigüidade para o pulso FM de duração tp
= 1 s e índice de modulação m = 7 é apresentado na Figura 9-10. Na parte superior está indicado a réplica para
doppler fD nulo e retardo τ1 = 1 s (correspondente a uma distância de 750 m). Logo abaixo é mostrado o eco
correspondente a um alvo na distância zero (τ = 0). O valor da saída ~y2 para τ = 0 é obtido integrando o
produto réplica×eco e elevando o resultado ao quadrado, conforme indicado na Figura 9-5. No presente caso,
obtém-se ~y2 = 0 para τ = 0. Aumentando-se o valor do retardo, o que corresponde a deslocar a forma-de-onda
do eco para a direita [Figura 9-10c], a saída do correlator aumenta até atingir um valor máximo quando o retardo
do eco coincide com o da réplica (1 s). O resultado final, ~y2 em função do retardo τ do eco, é indicado na
parte inferior da Figura 9-10d.

§
quando m é positivo, a freqüência aumenta com o tempo e o pulso é dito ser FM-up ou chirp-up; se m é
negativo, a freqüência diminui com o tempo resultando no pulso FM-down ou chirp-down

9-8 VERSÃO 1.0


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{
Re ~
s * (t ) } 1
{
Im ~
s * (t ) }
τ1 = 1 s τ1 = 1 s
0
fD1 = 0 fD1 = 0

-1 t, s t, s
(a)

1
Re{ e~ (t )} Im{ e~ (t )}
τ=0 0 τ=0
fD = 0 fD = 0
-1 t, s t, s
(b)
1
Re{ e~ (t )} Im{ e~ (t )}
τ = 0,5 0 τ = 0,5
fD = 0 fD = 0
-1 t, s t, s
0 1 2 3 0 1 2 3
(c)

1
(d) (e)
~
y2 γ ~
y2 γ
CW

0 τ ou t, s τ ou t, s
0 1 2 3 0 1 2 3
Figura 9-10 - Exemplo dos sinais em um correlator de réplica para FM (m = 7, tp = 1 s) usados no cálculo
da função ambigüidade: (a) componentes em fase e quadratura da réplica ~s(t); (b) componentes em fase
e quadratura do eco quando τ = 0; (c) componentes em fase e quadratura do eco quando τ = 0,5; (d)
resposta do correlator ~y2 em função do retardo do eco τ, mostrando o limiar de comparação γ (observe
que a saída é máxima quando o retardo do eco é igual ao da réplica; mas o eco é detectado, i.e. a saída tem
nível acima do limiar de comparação, mesmo quando seu retardo é diferente do da réplica); (d) saída do
correlator para um pulso CW de 1 s.

O gráfico de ~y2 em função do retardo do eco na Figura 9-10 pode ser interpretado como a resposta do
correlator a ecos de alvos em função da distância (retardo). Uma outra interpretação é que este gráfico representa a
forma de onda de saída do correlator em função do tempo t à medida que o eco de um alvo chega ao receptor **.
Neste caso, observe que o pulso de saída do correlator tem duração bem menor que a do pulso transmitido (cerca
de 1/∆f em comparação com tp). O correlator de réplica atua como um compressor de pulso ††: a forma-de-onda
~y2 observado pelo operador é mais estreita que o pulso transmitido, possibilitando melhor resolução em

**
os receptores são implementados usando, para um dado valor de doppler, um mesmo correlator para todos os
retardos possíveis. O retardo (distância) é estimado a posteriori medido-se o intervalo de tempo entre a
transmissão e a ocorrência do pulso de saída do correlator.
††
os primeiros correlatores de réplica empregavam linhas de retardo analógicas e o efeito de compressão de
pulso deu origem à denominação compressão de tempo por linha de retardo (delay line time compression --
DELTIC).

9-9 VERSÃO 1.0


IPqM-013-0177-ET/97

distância ‡‡. Este efeito de compressão de pulso é observado em transmissões banda-larga, aquelas cujo produto
Btxtp (banda×duração) seja significativamente maior que a unidade. No caso do FM, este produto vale cerca de
(1+m). Para o caso de pulsos CW, este produto é unitário: Btxtp ≈ (1/tp)tp = 1; em conseqüência, o efeito de
compressão de pulso não é observado. Na Figura 9-10e é mostrada a forma-de-onda do pulso de saída para o
correlator de réplica projetado para um pulso CW de 1 s. Observe a largura do pulso de saída bem maior que no
caso do pulso transmitido FM de mesma duração, indicando uma resolução mais pobre em distância. Na Figura
9-11 é apresentada a forma-de-onda de saída do correlator (em função do tempo) quando dois alvos de mesmo
doppler estão próximos: o correlator de FM permite distinguir os dois alvos [distantes 325 m, correspondendo a
uma diferença de retardo de 0,25 s (= tp/4)], o que não ocorre no caso do correlator para pulsos CW de mesma
duração (1 s). Em geral, o receptor para CW emprega um banco de filtros de banda 1/tp, sintonizados em
freqüências adjacentes cobrindo a faixa de desvios doppler de interesse. Esta implementação é mais barata e
apresenta, na prática, desempenho igual a um banco de correlatores de réplica para CW. As funções
ambigüidade mostradas e as formas-de-onda da Figura 9-10 foram levantadas sem considerar a presença de
ruído. O ruído acarreta o aparecimento de picos espúrios nas funções ambigüidade (i.e., no pulso ~y2),
provocando erros na estima de distância e doppler, redução na capacidade de discriminar alvos próximos e
ocorrência de falsos-alarmes.

As curvas de nível das funções ambigüidade dos sinais mostrados na Figura 9-2 são indicadas na
Figura 9-12. Observe as características de resolução doppler e de distância.

9.1.3 Detecção em Presença de Reverberação

Uma outra consideração quanto à escolha de forma de onda diz respeito à reverberação. Nas figuras
apresentadas, a presença de reverberação é indicada pela faixa sombreada em torno de fD = 0 das curvas de nível
(reverberação tem doppler baixo e está presente em todas as distâncias). Uma dada forma de onda é tão mais sensível
à reverberação quanto mais "mergulhada" a curva de nível estiver na faixa de reverberação: quanto maior a área
sombreada contida na curva de nível, maior a voltagem de reverberação presente na saída do detector. No caso do
pulso CW longo, Figura 9-8, todos os valores de saída do receptor correspondentes a "alvo presente" (área interna à

1
~ 2 CW
 y

FM
γ

t
0
0 0.5 1 1.5 2 2.5 3
Figura 9-11 - Saída (normalizada) do correlator da Figura 9-10 quando da presença de dois alvos
distantes 375 m (correspondente a τ = tp/4) na mesma marcação e com mesmo doppler; no caso de se
empregar FM fica evidente a presença de dois ecos.

‡‡
quanto menor a largura de um pulso de eco observado na saída ~y2, mais facilmente o operador poderá
distinguir os ecos de alvos próximos. Esta largura é função da banda Btx ocupada pelo pulso transmitido. Daí
resulta ser a discriminação em distância função de Btx, conforme a Equação ( 9-12 ). No caso do pulso CW, Btx =
1/tp. Pulsos com alguma forma de modulação em ângulo têm Btx > 1/tp e apresentam melhor discriminação em
distância que o pulso CW de mesma duração, desde que o receptor seja um correlator de réplica.

9-10 VERSÃO 1.0


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fD
CW

0 τ - τ1

fD FM

0 τ - τ1

fD
PRN

0 τ - τ1

fD
pulso codificado em
freqüência

0 τ - τ1
Figura 9-12 - Curvas de nível das funções ambigüidade dos sinais mostrados na Figura 9-2, todas
relativas a um mesmo limiar γ .

curva de nível) estão em meio àquela faixa. Isto significa que alvos em baixa velocidade poderão ter detecção
limitada por reverberação §§. Para esse caso, pulsos CW mais estreitos ou FM são mais aceitáveis: a voltagem de saída
decorrente de reverberação é menor, conforme pode ser visto pela menor interseção da área das curvas de nível com a
faixa de reverberação na Figura 9-6 e na Figura 9-9. É de se esperar que uma combinação de diferentes sinais possa
melhorar o desempenho do sistema para alvos de doppler baixo e alto simultaneamente (por exemplo, transmissão de
dois pulsos em seqüência, um CW largo e um CW estreito ou FM).

Em resumo:

• melhor resolução em distância → maior banda do sinal transmitido: pulsos com modulação (FM, por
exemplo, desde que o doppler seja conhecido) ou pulso CW estreito;

• melhor resolução em doppler → pulso CW longo;

• melhor detecção contra reverberação → maior banda do sinal transmitido: pulsos com modulação ou
CW estreito;

• boas resoluções em doppler e distância simultaneamente → combinação de pulsos: CW longo e pulso


banda larga.

Exercícios de Fixação

1. Desenhe o diagrama em blocos do subsistema de transmissão de um sonar ativo; descreva cada função.

§§
para alvos em alta velocidade, o receptor ou canal de recepção de interesse é (ou melhor, deve ser) projetado para
outros valores de fD que não zero e sua curva de nível não se sobrepõe à faixa de reverberação, conforme mostrado na
Figura 9-7.

9-11 VERSÃO 1.0


IPqM-013-0177-ET/97

2. Desenhe o diagrama em blocos do subsistema de recepção de um sonar ativo e descreva cada função.

3. Verifique que a Equação ( 9-9 ) representa a envoltória complexa do sinal modulado em ângulo
[substituir sF e sQ na Equação ( 9-6 ) e substituir o resultado assim obtido na Equação ( 9-5 ), obtendo a
expressão do sinal FM dado pela Equação ( 9-8 )].

4. Verifique as expressões das funções magnitude e fase das envoltórias complexas dos sinais modulados
em amplitude [Equação ( 9-7 )] e em ângulo [Equação ( 9-8 )].

5. Verifique que a Equação ( 9-10 ) representa a envoltória complexa do eco de um alvo pontual lento
dada pela Equação ( 9-4 ).

6. Desenhe o diagrama em blocos de um correlator de réplica implementado a nível de envoltória


complexa otimizado para detectar alvos a 1500 m de distância com velocidade radial de 40 nós. O sonar
transmite uma forma de onda s(t), 0 < t < tp modulando uma portadora de 3,5 KHz. Supor que o doppler próprio
é cancelado no detector de quadratura.

7. Para cada uma das situações descritas, indique qual o tipo de emissão mais indicado e justifique: (i)
pulso CW estreito; (ii) pulso CW longo; (iii) combinação pulso FM e CW longos; (iv) pulso FM longo; (v)
pulso FM estreito. (a) Detecção limitada por ruído e necessidade de boa estima de doppler a grandes distâncias;
(b) detecção limitada por ruído a grandes distâncias com boa resolução em distância; (c) detecção limitada por
reverberação, boa resolução em distância sem necessidade de conhecimento de doppler; (d) detecção de alvos
rápidos a grandes distâncias.

9.2 - SISTEMAS PASSIVOS

Na Figura 9-13 é apresentado o diagrama em blocos de um sonar passivo digital. O sinal analógico
proveniente do arranjo de hidrofones é condicionado (amplificado e filtrado), sofre redução de faixa dinâmica
através do circuito de controle automático de ganho e é aplicado ao conversor A/D. Nas primeiras
implementações digitais, no lugar do conversor A/D havia um simples circuito clipper que convertia o sinal de
entrada em um sinal que só podia ter dois valores de voltagem (equivalente a uma conversão A/D de um bit) e o

controle de faixa
Arranjo de condicionador de dinâmica: Conversor A/D
hidrofones sinal (analógico)
CAG

áudio
feixes: Display (IHM):
soma Processador:
Conformador de Mixagem e • lofargrama / demongrama
feixes digital filtragem digitais deteção, estima de
marcação • marcação / freqüência
half • marcação / tempo
• acompanhamento marcação

Interação do operador (IHM):


• seleciona modos de
processamento / display
• designa acompanhamento
• verifica detecção e classificação
Figura 9-13 - Sonar passivo genérico [Ref.: 1: 1454].

9-12 VERSÃO 1.0


IPqM-013-0177-ET/97

restante do receptor sonar era implementado com circuitos (hardware) digitais. Atualmente, todo o receptor
(após o conversor A/D) pode ser implementado por software executado em um ou mais processadores. Os sinais
digitais dos hidrofones são aplicados a um conformador de feixes. O conformador gera, em cada direção de
interesse, dois ou mais feixes: um regular (feixe-soma) e outros (por exemplo, os denominados half-beams) que,
em combinação com o primeiro, possibilitam uma maior precisão de estima de marcação (vide Seção 9.2.2). Os
sinais de feixe são filtrados, deslocados em freqüência (mixagem) e aplicados às funções (circuitos ou software)
de detecção e estima de parâmetros relativos ao alvo (marcação, espectro, distância e velocidade, classificação).
Uma interface homem-máquina (IHM) é implementada empregando dispositivos de entrada (teclado, joystick
etc.) e saída (monitor de vídeo, papel) para permitir que o sistema apresente os resultados e receba estímulos do
operador.

O restante desta Seção apresenta descrições de sistemas de processamento de sinais aplicados a


arranjos de sensores.

9.2.1 Redução de Interferências Direcionais

Um dos problemas de operação de sonares passivos é detectar e estimar a marcação de sinais em


presença de interferências. Quando um sonar passivo opera próximo a uma fonte de ruído (o próprio navio que
reboca um sonar tático ou navios próximos), o nível de ruído elevado pode mascarar sinais fracos presentes em
outras marcações. Um modo de reduzir a influência de uma fonte ruidosa próxima é produzir um feixe cujo
diagrama de radiação tenha um nulo na direção da fonte. Um exemplo de conformador de feixe que inclui um
sistema de redução de interferências direcionais é apresentado na Figura 9-14. O primeiro conformador (retardos
τ1, τ2, ... τN) gera um feixe na direção da interferência (sinal T2) e produz uma estima T 2 do sinal interferente
que é subtraída do sinal total. Deste modo, espera-se que o sinal interferente seja anulado. Em seguida, os
retardos usados para estimar T2 são compensados e os sinais são aplicados ao conformador que gera o feixe na
direção desejada (de T1). O efeito final eqüivale a inserir, na direção da interferência, um nulo no diagrama de
irradiação. Para implementação em sonares empregando processadores digitais, existem algoritmos que, para
cada direção de escuta desejada, inserem nulos, simultaneamente, nas direções de todos os outros sinais
presentes.

T1, sinal desejado


T2, interferência
na direção θ1
na direção θ2

Z sinal dos
c1
. . . cN hidrofones com
× c2 × × interferência
retardos
cancelada
correspondentes
τ1 τ2 à direção do τN +
- ∑ τ - τN
sinal interferente : conformador de
: feixes para
+
- ∑ τ - τ2
direção do sinal
+ τ - τ1 desejado
- ∑
compensação dos
retardos
correspondentes estima T 1 do sinal
estima do sinal à direção do desejado, ao
(1/N)∑ detector
interferente, T 2 sinal interferente
Figura 9-14 - Exemplo de conformador de feixe: processador de conteira de nulo [Ref.: 2].

9-13 VERSÃO 1.0


IPqM-013-0177-ET/97

9.2.2 Estima Precisa de Marcação

Uma forma de se estimar a marcação de um sinal é empregar um feixe conteirável e medir o nível de
sinal na saída do conformador. Quando este nível for máximo, nós declaramos que a marcação do alvo é igual à
conteira do feixe. O problema com este procedimento é que o máximo de uma função (por definição, uma região
onde a derivada é nula e, portanto, apresenta variações pequenas) não é bem definido. Um procedimento
alternativo consiste em gerar dois feixes apontados para a mesma direção, usando metade do arranjo para cada
feixe, conforme indicado na Figura 9-15 (denominados half-beams). Se os feixes estiverem exatamente na
direção do alvo, a diferença entre os sinais desses feixes (feixe-diferença) será nula. Qualquer desvio da direção
correta produzirá um sinal perceptível (o nulo de um sinal é mais facilmente identificável que seu máximo).
Conforme indicado no gráfico da Figura 9-15, este feixe-diferença apresenta vários nulos. Qual deles é o
correto? Para identificar o nulo correto, usamos o feixe convencional (feixe-soma, obtido pela soma dos dois
half-beams). O nulo do feixe-diferença que coincidir com o máximo do feixe-soma é o procurado. Este esquema
é denominado split beam null placement. Esses feixe-soma e half-beams são justamente os sinais que aparecem
nos diagramas em blocos dos sonares ativo e passivo genéricos mostrados na Figura 9-1 e na Figura 9-13.

T = (L/c) cosθo

τ = (d/c) cosθo

τ 2τ T T+τ T+2τ

feixe-soma
half-beam half-beam
∑ esquerdo ∑ direito
feixe-
+ + + - feixe diferença diferença
voltagem:
∑ ∑ detector de nulo realimentação
para variar θo
feixe soma θo
Figura 9-15 - Conformador de feixe: processador "split beam" usado para acompanhamento [Ref.: 2:].

9.2.3 Exemplo de Conformador - Sistema DIMUS

A Figura 9-16 apresenta o esquema do conformador de feixes empregado nos sonares passivos
modelo 2007. Este conformador foi o primeiro do tipo digital empregado em sonares (denominado processador
DIMUS -- DIgital MUltiple beam Steering). O sinal proveniente do hidrofone é amplificado e filtrado
(empregando um banco de filtros selecionáveis ou um filtro sintoniozável para a faixa de freqüências desejada -
nesta implementação este filtro é o que determina a banda de recepção) e aplicado a um circuito clipper. A saída
só pode assumir dois valores, adequada, portanto, para aplicação de retardos empregando um circuito digital do
tipo registro de deslocamento (shift register). Após a aplicação de um pré-retardo (que depende da posição do
hidrofone no arranjo e permite introduzir retardos relativos positivos e negativos), o sinal é aplicado a uma
cadeia de registros de deslocamento. A saída de cada registrador (cada bit) é o sinal de entrada retardado.
Somando-se os sinais do bit 1 dos diferentes hidrofones, por exemplo, obtém-se o feixe 1 conteirado para a
direção determinada pelos circuitos de pré-retardo (projetados para que o primeiro feixe da Figura 9-16 seja o

9-14 VERSÃO 1.0


IPqM-013-0177-ET/97

registrador de
deslocamento

Filtro Clipper Pré-retardo 1 bit 1 bit 104


hidrofone 1 - vante clock 1

hidrofone 2 clock 2

hidrofone 3 clock 3
• pré-retardos
• e clocks
• decrescentes

hidrofone 6 - ré clock 6

• pré-retardos calculados para que sinais oriundos de ondas planas + +


na marcação 000 cheguem aos bit 1 dos shift register em fase;
• clocks dos shift register calculados para que sinais oriundos de feixe 1 feixe 104
ondas planas na marcação 180 chegem em fase ao bit 104; (000) (180)
• formam-se 104 feixes distribuidos entre as marcações 000 e 180.
Figura 9-16 - Conformador de feixe tipo DIMUS (primeiro conformador digital) - exemplo
implementado no sonar passivo 2007

que aponta para a proa). O sinal no bit 2 tem um retardo adicional que depende da freqüência de clock de cada
cadeia de registradores. Como os clocks associados a cada hidrofone são diferentes, o bit 2 de cada cadeia
apresentará um retardo (relativo ao bit 1) diferente. Somando-se os sinais de hidrofone correspondentes ao bit 2
obtém-se um feixe que aponta para uma direção ligeiramente diferente da do feixe 1. Desta forma, somando-se
sinais em cada posição (bit) obtém-se feixes apontando em diferentes direções (cobrindo, por exemplo, o espaço
entre 0° e 180°), de forma similar à descrita na Seção 3.4.1. Os pré-retardos e a diferença de freqüências de
clock são projetados de modo que, para um dado bit n nos registradores de deslocamento, o retardo efetivo entre
sinais de hidrofones adjacentes é dado por

τn = (d/c) cos φn ( 9-14 )

onde d é a distância entre hidrofones, c é a velocidade de propagação do som e φn é a conteira do feixe (φ1 = 0°
corresponde à direção da proa e φ104 = 180°, à da popa). Entre bits adjacentes, a diferença de retardos (τn+1 - τn) é
constante (independente de n), resultando em feixes uniformemente espaçados em termos do coseno da
marcação:

τn-1 - τn = (d/c) [cos φn -1 - cos φn] = (d/c) 2/(N - 1) = constante ( 9-15 )

onde N (= 104 no nosso caso) é a quantidade de feixes formados.

Um exemplo de processador para detecção de sinais empregando o DIMUS é apresentado na Figura


9-17. Este esquema é empregado no sonar passivo modelo 2007. Este sonar dispõe de um arranjo de 24
hidrofones em cada bordo do submarino, constituindo-se, na realidade, de dois sonares independentes. Os seis
hidrofones mais a vante (em cada bordo) compõem um sub-arranjo a partir do qual são gerados 104 feixes,
conforme indicado na Figura 9-16. Os seis hidrofones mais a ré formam um segundo sub-arranjo a partir do qual

9-15 VERSÃO 1.0


IPqM-013-0177-ET/97

sub-arranjo a vante

D feixe 1
000
× ∫T saída 1
000
I
M
U
feixe 104 •
S 180 •
feixe 1 •
D 000
I
M
U
S
feixe 104
180
× ∫T saída 104
180
sub-arranjo a ré
Figura 9-17 - Correlator do tipo "split beam" empregando DIMUS - exemplo implementado no sonar
2007 (um bordo mostrado)

são gerados outros 104 feixes nas mesmas direções dos anteriores. Os 12 hidrofones centrais não são
empregados para este tipo de processamento. Os circuitos DIMUS dos dois sub-arranjos (a vante e a ré) são
projetados de tal modo que uma onda acústica proveniente da uma dada direção gera saídas em fase nos dois
feixes conteirados para aquela direção. Os sinais dos feixes de mesma direção são multiplicados e integrados,
formando uma operação de correlação entre feixes correspondentes. Se não existir sinal incidente no arranjo, as
saídas dos feixes consistem apenas de voltagem de ruído. Os sub-arranjos estão afastados o suficiente para que
os ruídos sejam não correlacionados, de modo que a saída do integrador (que é uma estima do valor da
correlação) será praticamente nula. Se, por outro lado, houver uma onda plana acústica, os sinais de saída dos
dois feixes que apontam na sua direção serão praticamente idênticos e a saída do integrador correspondente será
uma voltagem elevada, interpretada como sinal presente. As saídas dos integradores são aplicadas a um
dispositivo de apresentação que traça um gráfico de marcação versus tempo (bearing--time display, BT) onde os
sinais presentes são indicados por um ponto luminoso (no caso de se empregar um monitor de vídeo, por
exemplo) ou um pequeno traço em papel. A Figura 9-18 apresenta um exemplo de traçado marcação-tempo,
onde a faixa de marcações 180BB-000 corresponde ao arranjo linear por bombordo e 180BE-000 corresponde
ao arranjo por boreste: o sonar em cada bordo do submarino atua independentemente e somente a apresentação
final é conjunta. A escala de marcação é não-linear em marcação (é linear em termos do coseno da marcação).

Marcação polar
180 BB 000 180 BE
tempo

alvo alvo

alvo

Figura 9-18 - Apresentação marcação-tempo, BT

9-16 VERSÃO 1.0


IPqM-013-0177-ET/97

Exercícios de Fixação

1. Desenhe o diagrama em blocos de um sistema sonar passivo e descreva cada função.

2. (a) Descreva o funcionamento do processador de conteira de nulo. (b) Idealmente, qual deveria ser o
valor do fator direcional (em dB) na direção de um alvo próximo quando o conformador está conteirado para
outro alvo em uma direção diferente?

3. (a) Descreva o funcionamento do processador "split beam". (b) Porque a medição de marcação usando
um nulo tende a ser mais precisa que a obtida por um máximo observado na saída de um conformador? (c) Qual
o motivo de empregarmos o feixe-soma neste processador?

4. (a) Descreva o funcionamento do processador tipo DIMUS.

PROBLEMAS

9.1 Escreva a expressão do eco de um alvo localizado a 1500 m de um sonar ativo e afastando-se com uma
velocidade relativa de 10 nós. A forma de onda transmitida em t = 0 consiste de um pulso CW de freqüência 5
KHz e duração 1s, de amplitude constante. Considerar a amplitude do eco como unitária. Determine (a) o
retardo; (b) o fator de compressão ou enlongamento no tempo e a correspondente duração do eco; (c) o desvio
doppler; (d) o fator de fase constante devido ao retardo. Resp.: (a) 2 s; (b) 1/75, 1,01 s; (c) 67 Hz; (d) 2000π
rad.

9.2 Determine os componentes em fase e quadratura, a magnitude e a fase da envoltória complexa dos sinais
dados e represente o sinal usando a envoltória complexa: (a) cos(2000πt + π/3); (b) sen(2000πt); (c)
[cos(20πt) + 1]cos(10000πt); (d) cos[10000πt + 0,1cos(20πt)]; (e) [cos(20πt) + 1]cos[10000πt + 0,1cos(20πt)].
Resp.: (a) cos(π/3), sen(π/3), 1, π/3 rad; (b) 0, -1, 1, -π/2 rad; (c) 1+cos(20πt), 0, 1+cos(20πt), 0 rad; (d)
cos[0,1 cos(20πt)], sen[0,1 cos(20πt)], 1, 0,1 cos(20πt) rad; (e) [1+cos(20πt)] cos[0,1 cos(20πt)],
[1+cos(20πt)] sen[0,1 cos(20πt)], 1+cos(20πt), 0,1 cos(20πt) rad.

9.3 Escreva a expressão da envoltória complexa do eco obtido no Problema 9.1, considerando fc = 5000 Hz.

9.4 (a) Estime as larguras e alturas das curvas de nível das funções de ambigüidade dos pulsos CW de 0,2 s e 1
s mostrados na Figura 9-6 e na Figura 9-8 respectivamente [use a curva de nível indicada, que foi calculada para
o mesmo limiar de comparação nos dois casos]. (b) Qual o valor do produto erro de doppler × erro de retardo
em cada caso? (c) Qual o significado do resultado do item b em termos da relação entre resolução de doppler e
de distância propiciadas por pulsos CW? Resp.: (a) CW estreito: ∆fD = 6,0 Hz, ∆τ = 0,17 s; CW longo: ∆fD =
0,9 Hz, ∆τ = 1,3 s; (b) CW estreito: 1,0; CW longo: 1,1.

9.5 Repita o Problema 9.4 para o caso do pulso FM relativo à Figura 9-9. Resp.: ∆fD = 6,4 Hz, ∆τ = 0,97 s,
produto 6,2.

9.6 Determine o tipo (CW longo ou estreito; FM-up ou down), a banda ocupada e a resolução de distância dos
pulsos sonar dados: (a) 10 cos(7000πt), 0 < t < 0,01 s; (b) 5 cos(10000πt), 0 < t < 1 s; (c) 5 cos(10000πt-
1000πt2), 0 < t < 0,1 s; (d) 50 cos(10000πt + 1000t2), 0 < t < 1 s. Resp.: (a) Btx = 100 Hz, δR = 7,5 m; (b) Btx =
1 Hz, δR = 750 m; (c) Btx = 110 Hz, δR = 6,8 m; (d) Btx = 319 Hz, δR = 2,4 m.

9.7 Vamos verificar qual o aumento do DT se, ao invés de empregar correlator de réplica para CW, um receptor
sonar utilize um banco de filtros de banda igual ao inverso da largura de pulso. Seja um receptor para pulsos CW
de duração 1s e 0,1 s. Determine o DT para PD = 0,5 e PFA = 0,0001 caso o receptor seja implementado (a)
através de correlator de réplica; (b) usando filtros de largura 1/tp seguidos de detectores de energia com

9-17 VERSÃO 1.0


IPqM-013-0177-ET/97

integrador pós-detector de constante de tempo igual à duração do pulso [usar d = 15 e correção banda×tempo de
3,5 dB, conforme indicado na Figura 8-10]. Os valores de DT assim obtido seriam mínimos teóricos nunca
obtidos na prática, mas servem para comparação de diferentes implementações. Resp.: tp = 1 s → (a) 8,8 dB; (b)
9,4 dB. tp = 0,1 s → (a) 18,8 dB; (b) 19,4 dB. O banco de filtros acarreta aumento de cerca de 0,6 dB no DT
teórico.

9.8 Determine a resolução em distância das formas de onda mostradas na Figura 9-2, cujos espectros são
mostrados na Figura 9-3. Considere, quando necessário, que o doppler do alvo é conhecido. Resp.: CW: 26 m,
FM: 13 m; PRN: 5,2 m; pulso codificado em freqüência: 4,7 m.

9.9 No processador DIMUS da Figura 9-16 são formados 104 feixes entre proa e popa, uniformemente
espaçados em termos do coseno da marcação, conforme indicado na Equação ( 9-15 ). O espaçamento entre
hidrofones é de 1 m. (a) Qual a diferença entre cosenos do ângulo de conteira de feixes adjacentes? (b) Qual a
correspondente diferença entre retardos correspondentes a feixes adjacentes? (c) Considerando o primeiro feixe
a 0°, qual a conteira do segundo feixe? (d) Quais os ângulos de conteira dos feixes mais próximos de broadside
e qual a diferença entre esses ângulos? Resp.: (a) 0,019417; (b) 12,945 µs; (c) 11,3°; (d) 89,44°, 90,55°, 1,11°.

BIBLIOGRAFIA

[1]. Knight, William C., Prindham, Roger G. e Kay, Steven M. Digital signal processing for sonar, Proceedings
of the IEEE, 69(11):1451-1506, Nov. 1981.

[2]. Baggeroer, A. B. Sonar signal processing, in Applications of digital signal processing, A. V. Oppenheim,
Ed. Englewood Cliffs, Prentice Hall. 1978. Cap. 6.

9-18 VERSÃO 1.0


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ÍNDICE
Folha de Rosto I
Informações sobre a Documentação II
Índice III
Apresentação VII
1.0 O SOM NO MAR 1-1
1.1 INTRODUÇÃO 1-1
1.2 UM BREVE HISTÓRICO 1-1
1.3 GRANDEZAS ACÚSTICAS BÁSICAS 1-3
1.4 VELOCIDADE DE PROPAGAÇÃO DO SOM NO MAR 1-6
1.5 INTENSIDADE ACÚSTICA 1-8
1.6 DENSIDADE DE FLUXO DE ENERGIA 1-10
1.7 O DECIBEL E AS REFERÊNCIAS EM ACÚSTICA 1-14
1.8 ONDAS ESFÉRICAS 1-18
PROBLEMAS 1-20
APÊNDICE 1.A - ALGUNS FATORES DE CONVERSÃO E OBSERVAÇÕES SOBRE DB 1-22
BIBLIOGRAFIA 1-23
2.0 EQUAÇÕES SONAR 2-1
2.1 INTRODUÇÃO 2-1
2.2 PARÂMETROS SONAR 2-2
2.3 EQUAÇÕES SONAR ATIVO 2-5
2.3.1 Equações Sonar Ativo - Detecção Limitada por Ruído 2-5
2.3.2 Equações Sonar Ativo - Detecção Limitada por Reverberação 2-7
2.3.3 Equações Sonar Ativo - Previsão de Alcance 2-7
2.4 EQUAÇÃO SONAR PASSIVO 2-9
2.4.1 Equação Sonar Passivo - Alcance 2-10
2.5 COMBINAÇÕES DE PARÂMETROS 2-11
2.6 FORMA TRANSIENTE DAS EQUAÇÕES SONAR 2-13
2.7 LIMITAÇÕES DAS EQUAÇÕES SONAR 2-15
2.8 RESUMO DAS EQUAÇÕES SONAR 2-16
PROBLEMAS 2-16
BIBLIOGRAFIA 2-17
3.0 TRANSDUTORES SONAR 3-1
3.1 MODELO E CONFIGURAÇÃO BÁSICAS DE TRANSDUTORES 3-1
3.1.1 Modelo de Quatro Terminais 3-1
3.1.2 A Cadeia de Transdução 3-3
3.1.3 Um Exemplo: Transdutor Tonpilz 3-4
3.2 CARACTERÍSTICAS BÁSICAS DE TRANSDUTORES 3-6
3.2.1 Impedância Terminal 3-6
3.2.2 Resposta de Transmissão 3-10
3.2.3 Sensibilidade 3-11
3.2.4 Medição de Resposta de Transmissão e Sensibilidade 3-13
3.3 CARACTERÍSTICAS DIRECIONAIS E NÍVEL DA FONTE 3-17
3.3.1 Diagrama de Irradiação 3-17
3.3.2 Diretividade e Índice de Diretividade 3-19
3.3.3 Nível da Fonte 3-21
3.3.4 Cavitação e Nível da Fonte 3-22

III VERSÃO 1.0


IPqM-013-0177-ET/97

3.4 ARRANJO DE ELEMENTOS 3-24


3.4.1 Arranjos Lineares 3-25
3.4.2 Arranjos Cilíndricos 3-28
3.5 EFEITOS NÃO LINEARES 3-31
3.5.1 Geração de Harmônicos 3-31
3.5.2 Geração de Subharmônicos 3-32
3.5.3 Geração de Freqüência-Diferença 3-32
PROBLEMAS 3-33
BIBLIOGRAFIA 3-35
4.0 PERDAS NA PROPAGAÇÃO 4-1
4.1 DIVERGÊNCIA 4-2
4.1.1 Divergência Esférica 4-2
4.1.2 Divergência Cilíndrica 4-3
4.2 ABSORÇÃO 4-4
4.2.1 Perda por Absorção 4-4
4.2.2 Mecanismos de Absorção 4-4
4.3 VELOCIDADE DE PROPAGAÇÃO DO SOM NO MAR 4-8
4.3.1 Variação com Temperatura, Salinidade e Profundidade 4-8
4.3.2 Perfis Típicos de Velocidade do Som no Mar 4-9
4.4 TEORIA DE PROPAGAÇÃO E TRAÇADO DE RAIOS SONOROS 4-11
4.4.1 Teorias de Onda e de Raios 4-11
4.4.2 Traçado de Raios 4-12
4.4.3 Cálculo de TL pelo Diagrama de Raios 4-14
4.5 AS FRONTEIRAS DO MAR: SUPERFÍCIE E FUNDO 4-17
4.5.1 Reflexão, Transmissão e Espalhamento 4-17
4.5.2 A Superfície do Mar - Perda na Reflexão 4-20
4.5.3 A Superfície do Mar - Efeito Imagem-Interferência 4-21
4.5.4 A Superfície do Mar - Zonas de Sombra 4-23
4.5.5 A Superfície do Mar - Flutuação do Som 4-24
4.5.6 O Fundo do Mar 4-24
4.6 AMBIENTES ACÚSTICOS 4-27
4.6.1 Duto de Superfície 4-28
4.6.2 Canal Sonoro Profundo 4-31
4.6.3 Zonas de Convergência 4-33
4.6.4 Canais Sonoros Internos 4-34
4.6.5 Águas Rasas 4-35
4.6.6 Variabilidade Horizontal 4-36
PROBLEMAS 4-37
APÊNDICE 4.A - DETERMINAÇÃO DE ZERO DE UMA FUNÇÃO 4-40
BIBLIOGRAFIA 4-42
5.0 REFLEXÃO E ESPALHAMENTO - ALVOS E REVERBERAÇÃO 5-1
5.1 CONSIDERAÇÕES PRELIMINARES 5-1
5.2 UM REFLETOR GEOMETRICAMENTE SIMPLES - A ESFERA 5-2
5.2.1 Esfera Grande, Fixa e Rígida 5-2
5.2.2 Esfera Pequena, Fixa e Rígida 5-3
5.2.3 Esferas Reais 5-4
5.3 PODER DE REFLEXÃO DE SUBMARINOS 5-5
5.3.1 Variação com o Aspecto 5-5

IV VERSÃO 1.0
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5.3.2 Variação com a Largura de Pulso 5-6


5.3.3 Redução do TS 5-7
5.3.4 Características dos Ecos 5-8
5.3.5 TS de outros Alvos 5-11
5.4 MEDIÇÃO DE TS 5-12
5.4.1 Método Convencional 5-13
5.4.2 Método da Comparação 5-13
5.4.3 Método do Transpondedor 5-14
5.5 REVERBERAÇÃO - CONSIDERAÇÕES PRELIMINARES 5-15
5.6 REVERBERAÇÃO DE VOLUME 5-16
5.7 REVERBERAÇÃO DE SUPERFÍCIE 5-20
5.8 EQUAÇÃO SONAR ATIVO E REVERBERAÇÃO 5-21
5.9 CARACTERÍSTICAS DE REVERBERAÇÃO DO MAR 5-23
5.9.1 Reverberação da Superfície do Mar 5-23
5.9.2 Reverberação do Fundo do Mar 5-24
5.9.3 Reverberação de Volume - Camada de Espalhamento Profundo 5-24
5.10 CARACTERÍSTICAS DO SINAL DE REVERBERAÇÃO 5-26
PROBLEMAS 5-29
BIBLIOGRAFIA 5-31
6.0 ANÁLISE DE SINAIS 6-1
6.1 INTRODUÇÃO 6-1
6.2 CLASSIFICAÇÕES DE SINAIS 6-1
6.2.1 Sinais Determinísticos 6-1
6.2.2 Sinais Aleatórios 6-6
6.2.3 Sinais Analógicos e Discretos 6-7
6.3 DENSIDADE ESPECTRAL, NÍVEL ESPECTRAL E NÍVEL DE BANDA 6-15
6.4 ESTIMA DE ESPECTRO 6-16
6.4.1 Tipos de Analisadores 6-24
6.4.2 Métodos Digitais 6-28
6.4.3 Janelas 6-31
PROBLEMAS 6-33
BIBLIOGRAFIA 6-33
7.0 RUÍDO 7-1
7.1 RUÍDO AMBIENTE 7-1
7.1.1 Ruído em Águas Profundas 7-1
7.1.2 Ruído em Águas Rasas 7-3
7.2 RUÍDO PRÓPRIO 7-3
7.2.1 Ruído Hidrodinâmico 7-3
7.2.2 Ruído de Máquinas 7-5
7.2.3 Ruído de Hélice 7-5
7.2.4 Domos Sonar 7-5
7.2.5 Ruídos em Hidrofones, Sonares Rebocados e Outras Instalações 7-5
7.2.6 Medição de Ruído Próprio 7-6
7.3 RUÍDO IRRADIADO 7-10
7.3.1 Representação do Ruído Irradiado 7-10
7.3.2 Fontes de Ruído Irradiado 7-11
7.3.3 Cavitação 7-12

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BIBLIOGRAFIA 7-15
8.0 DETECÇÃO 8-1
8.1 CONCEITOS BÁSICOS 8-1
8.2 TESTE DE HIPÓTESES 8-3
8.2.1 Observação da Forma-de-Onda 8-3
8.2.2 Modelagem Matemática da Detecção 8-3
8.2.3 Critério de Neyman-Perason 8-7
8.3 CÁLCULO DO LIMIAR DE DETECÇÃO - SINAL PERFEITAMENTE
CONHECIDO 8-8
8.3.1 Índice de Detecção, P D e P FA 8-10
8.3.2 Cálculo do DT 8-11
8.4 LIMIAR DE DETECÇÃO - SINAL DESCONHECIDO 8-12
8.5 CORREÇÕES AO DT 8-14
8.6 DT PARA REVERBERAÇÃO, DT R 8-17
8.7 A PROBABILIDADE DE FALSO-ALARME DURANTE A OPERAÇÃO SONAR 8-20
8.8 RESUMO 8-22
PROBLEMAS 8-23
BIBLIOGRAFIA 8-24
9.0 TÓPICOS SOBRE SISTEMAS SONAR 9-1
9.1 SISTEMAS ATIVOS 9-1
9.1.1 Sinais, Envoltória Complexa e Detector de Quadratura 9-2
9.1.2 Função Ambigüidade - Estima de Distância e Doppler 9-5
9.1.3 Detecção em Presença de Reverberação 9-10
9.2 SISTEMAS PASSIVOS 9-12
9.2.1 Redução de Interferências Direcionais 9-13
9.2.2 Estima Precisa de Marcação 9-14
9.2.3 Exemplo de Conformador - Sistema DIMUS 9-15
PROBLEMAS 9-17
BIBLIOGRAFIA 9-18

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APRESENTAÇÃO
Em terra, é óbvio que operações militares em regiões
desérticas e florestas tropicais requerem doutrinas,
táticas, materiais e treinamentos diferentes. A operação
em navios de superfície propicia a ilusão de uniformidade
ambiental. Porém, sob a superfície do mar esconde-se
uma espantosa diversidade de ambientes.
- CMG(RRm) Emmanuel Gama de Almeida, ex-Diretor
do Instituto de Estudos do Mar Almirante Paulo Moreira).

Every body of water requires a different set of tactics.


- Almirante Thomas Hayward, ex-Comandante de
Operações Navais, Marinha dos EUA

O presente trabalho tem duplo objetivo. O primeiro é dar suporte aos diversos cursos existentes na
Marinha que abordam Acústica Submarina e sistemas sonar. Em segundo lugar, servir como uma referência básica
para aqueles que, ao longo de suas carreiras, venham a trabalhar com sistemas sonar, seja a nível de reparo,
especificação ou emprego.

Procurou-se seguir a seqüência de assuntos do Principles of Underwater Sound, de Robert J. Urick, um


livro empregado há anos na comunidade de Acústica Submarina e um clássico já consagrado. Na realidade, muito do
material deste trabalho pode ser encontrado de forma mais detalhada naquele livro. O primeiro capítulo consiste em
uma introdução onde são apresentados um histórico, as grandezas físicas pertinentes à Acústica Submarina e o
decibel. O segundo trata das equações sonar, onde são definidos os parâmetros empregados na análise de sistemas
sonar e é introduzido o problema de previsão de alcance. O restante da Apostila pressupõe que o material desses dois
primeiros Capítulos foi adequadamente estudado. No Capítulo 3 são abordados os problemas de geração e recepção
de ondas acústicas: transdutores, suas características e medições acústicas; características direcionais; nível da fonte;
arranjos de sensores e efeitos não lineares em Acústica Submarina. No Capítulo 4 discutem-se modelos de perdas na
propagação; parâmetros oceanográficos que afetam a propagação do som no mar; ambientes acústicos típicos
encontrados no mar e o problema da previsão de alcance. O Capítulo 5 trata da reflexão e espalhamento de ondas
acústicas no mar, incluindo o efeito da superfície, do fundo, de materiais em suspensão e, em particular, de alvos
submersos. No Capítulo 6 discutem-se as formas de representação de sinais e ruídos encontrados em sistemas sonar.
O Capítulo 7 trata da descrição dos tipos de ruído que afetam o desempenho dos sistemas sonar e suas origens: ruído
ambiente, ruído próprio e ruído irradiado. No Capítulo 8 discute-se o problema da detecção sonar e dos parâmetros
envolvidos, incluindo uma introdução à modelagem do processo de detecção; estruturas básicas de receptores
(detectores) e cálculo do limiar de detecção, um parâmetro sonar fundamental para a previsão de alcance sonar.
Finalmente, o Capítulo 9 apresenta diagramas em bloco de sistemas sonar digitais e discute alguns aspectos relativos à
seleção de formas-de-onda e técnicas de processamento empregadas em sonares.

Ao final das seções que compõem os capítulos, são apresentados exercícios de fixação que visam avaliar a
compreensão geral do material apresentado. Consistem de questões de revisão cuja resposta é encontrada no texto da
seção e alguns problemas numéricos simples. Ao final de cada capítulo, exceto o sétimo, há uma lista de problemas
que visam a aplicação do material apresentado. Por vezes, o material do texto é expandido por meio daqueles
exercícios e problemas.

Qualquer curso de Acústica Submarina ou sistemas sonar deve cobrir os dois primeiros capítulos. O
restante do material deve ser escolhido de acordo com o objetivo do curso. Como orientação, um curso abrangente de
princípios de sonar com uma carga horária de cerca de 50 horas-aula pode cobrir toda a Apostila, exceto as Seções
2.6, 3.2.1, 3.5, 5.2.2 e 5.4. O Capítulo 3 deve ser complementado com aulas práticas relativas a medições de
características de transdutores. O material do Capítulo 6, com exceção da Seção 6.3, pode ser coberto em disciplinas
relativas a análise de sinais e instrumentação eletrônica. Se incluído, deve ser apoiado por aulas práticas de análise
espectral. Durante a exposição dos Capítulos 2 e 4 e ao final do Capítulo 8, os alunos devem ter contato com um

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programa de previsão de alcance que inclua traçado de raios sonoros, como o SPARS, desenvolvido pelo Instituto de
Pesquisas da Marinha (IPqM), ou o SISPARS, desenvolvido em conjunto pelo IPqM e pelo Instituto de Estudos do
Mar Almirante Paulo Moreira (IEAPM).

Esta Apostila foi desenvolvida ao longo de 4 anos e seu material utilizado em aulas para turmas do antigo
Curso de Aperfeiçoamento em Eletrônica para Oficiais (CAEO) e pelo menos uma do atual Curso de Especialização
em Eletrônica para Oficiais (CEEO). Com as recentes mudanças na sistemática de ensino da Marinha, é possível que
possa ser utilizada no curso de formação da Escola Naval, no CEEO e nos Cursos de Aperfeiçoamento Avançado
(CApA), além de cursos de treinamento que envolvam Acústica Submarina e emprego de sistemas sonar. Sugestões
para aperfeiçoamento da Apostila devem ser encaminhadas ao Grupo de Sonar do IPqM.

Este trabalho não poderia ter sido realizado sem a colaboração de diversas pessoas. Em particular,
agradeço aos componentes do Grupo de Sonar pela contribuição direta ao conteúdo, às revisões e ao emprego das
versões preliminares nos cursos em que participaram como instrutores. Meus agradecimentos também ao alunos que
foram submetidos àquele material preliminar. Finalmente, agradeço ao CMG(RRm) Carlos Eduardo Parente Ribeiro
por despertar meu interesse pela área de Acústica Submarina.

Espero que este trabalho contribua para estimular o interesse em sistemas sonar, em particular no que
tange à influência ambiental, e eliminar a ilusão de uniformidade sob a superfície do mar.
Luiz Alberto Lopes de Souza
Capitão-de-Mar-e-Guerra (QC-CA)
Rio de janeiro, DEZ/97

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